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Universidade Católica de Moçambique

Faculdade de Engenharia

Licenciatura em Administração Pública

Tema do estudo: A Desconcentração em Moçambique, Participação da comunidade


no Processo de Tomada de Decisões, Estudo de Caso Distrito de Gondola.

Isabel Carlos Josse Bambai

Chimoio,aos 01 de Março de 2016


A desconcentração em Moçambique, participação da comunidade na tomada das decisões, estudo do caso – Distrito de Gondola

DECLARAÇÃO
Declaro que esta Monografia Científica é resultado da minha investigação pessoal e das
orientações do seu supervisor, e o seu conteúdo é original e todas as fontes estão claramente
mencionadas no texto, e nas notas da bibliografia final. Declaro mais que este trabalho não foi
apresentado em nenhuma instituição na obtenção de qualquer grau académico.

Autora

_________________________
Isabel Carlos Josse Bambai

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A desconcentração em Moçambique, participação da comunidade na tomada das decisões, estudo do caso – Distrito de Gondola

DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu falecido pai Carlos Josse Tesoura e a minha mãe Maria Amélia
Banda que me trouxeram com todo carinho a este mundo, nos quais espelhei-me em suas
espiritualidade, humanismo e sabedoria. Ensinando me que a melhor maneira de passar pelos
obstáculos da vida é ser humilde e persistente no que acredito estar certo.

Dedico ainda ao meu esposo Domingos Bambai Almeida, aos meus filhos, Maria Amélia,
Benedito, Frederico, Eufrásio e Cleúsya aos meus irmãos e a família em geral, pelo todo apoio
moral e financeiro que me deram ao longo desta caminhada estudantil.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro, agradeço a Deus que me deu a vida e me protegeu proporcionando-me


saúde durante os meus estudos assim como na redacção desta dissertação para obtenção
do grau de Licenciatura. Em segundo, ao apoio que me foi proporcionado por muitas
pessoas e instituições do governo e do sector privado, muito precisamente do Governo de
Gondola, na pessoa da Administradora Distrital. Os meus agradecimentos ao supervisor
o dr. Ivo Jó, com suas sugestões e comentários ajudou-me a reconsiderar e organizar as
ideias em todos os estágios deste estudo que com sua ajuda e paciência foram factores
determinantes para a conclusão do estudo. Agradecer também aos meus colegas da
faculdade que me ajudaram moralmente e materialmente durante os anos do curso.
Agradecer igualmente a minha família que nunca me abandonou durante todo este tempo
e que esteve sempre presente, dando-me tempo, recursos materiais e financeiros. E por
ultimo e em especial agradecer aos docentes dr. Joel, dra. Dércia, Padre Juliasse pelo
brilhante ensinamento

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RESUMO

O presente trabalho tem em vista analisar o processo de tomadas das decisões no âmbito da
participação dos cidadãos do exercício da acção governativa no Distrito de Gondola. A
desconcentração em Moçambique é desenvolvida através da implementação de um conjunto de
reformas que garantem um maior envolvimento dos cidadãos na gestão do interesse local, levado
acabo pela institucionalização de espaços específicos para o efeito – Os Conselhos Locais.
Quanto a metodologia privilegiou-se a observação directa e indirecta, complementando com as
técnicas usadas que foram entrevistas e inquéritos. Para dar suporte ao trabalho, usou – se várias
referência de autores que abordam o tema em questão. Foi através dos objectivos gerais e
específico, que o estudo baseou-se, tendo constatado que segundo Masalila (1996) citado por
Sousa (Idem) defende que a descentralização oferece um sistema aberto, transparente e
responsável, permitindo a participação dos cidadãos num ambiente democrático, num sistema
onde reconhece-se o envolvimento dos cidadãos na tomada de decisões não apenas como
essencial para o desenvolvimento, mas também como um direito democrático da população e, na
mesma linha, Adalima (Idem) considera a participação comunitária no processo governativo
como um instrumento para a promoção da eficácia na tomada de decisões, gestão, mobilização e
utilização de recursos humanos.

Palavras Chaves:Desconcentração, Governação, Participação da Comunitária e Conselho


Local.

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ÍNDICE ................................................................................................................................... PÁG.

DECLARAÇÃO ............................................................................................................................. ii

DEDICATÓRIA ............................................................................................................................ iii

AGRADECIMENTOS .................................................................................................................. iv

RESUMO ........................................................................................................................................ v

LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS ............................................................................ xii

GLOSSÁRIO ............................................................................................................................... xiii

CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1

1.1 Justificativa da Escolha do Tema .............................................................................................. 2

1.1.1 Importância do tema .............................................................................................................. 3

1.2 Objectivos ................................................................................................................................. 3

1.2.1 Objectivo geral ....................................................................................................................... 3

1.2.2 Objectivos específicos ........................................................................................................... 3

1.3 Formulação do Problema do Estudo ......................................................................................... 4

1.4 Hipótese de Estudo ................................................................................................................... 5

1.4.1 Hipótese principal .................................................................................................................. 5

1.4.2 Hipóteses secundárias ............................................................................................................ 5

1.5 Delimitação da Área de Estudo................................................................................................. 5

1.6 Enquadramento do Tema .......................................................................................................... 6

CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................. 7

2.1 Introdução ................................................................................................................................. 7

2.2 Literatura Teórica...................................................................................................................... 7

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2.2.1 Democracia ............................................................................................................................ 7

2.2.2 Os principais tipos de democracia ......................................................................................... 7

Democracia directa ......................................................................................................................... 8

Democracia indirecta ou representativa .......................................................................................... 8

2.2.3 Administração Pública ........................................................................................................... 8

2.2.4 Governação local ................................................................................................................. 12

2.2.5 Órgãos locais do Estado ....................................................................................................... 14

2.2.6 Distrito ................................................................................................................................. 15

2.2.7 Espécie da Desconcentração Aministrativa ......................................................................... 15

2.2.8 Participação ............................................................................................................................ 9

2.2.9 Tipos de Participação ............................................................................................................. 9

Participação Passiva ........................................................................................................................ 9

Participação Manipulativa .............................................................................................................. 9

Participação por Consulta ............................................................................................................. 10

Participação por incentivos materiais ........................................................................................... 10

Participação funcional ................................................................................................................... 10

Participação interactiva ................................................................................................................. 10

Auto mobilização .......................................................................................................................... 10

2.2.10 Participação Comunitária ................................................................................................... 10

CAPÍTULO III: METODOLÓGICAS E DENHO DA PESQUISA ............................................ 19

3.1 Introdução ............................................................................................................................... 22

3.2 Tipo de Estudo ........................................................................................................................ 22

3.3 Desenho da Pesquisa ............................................................................................................... 23

3.3.1 População de amostra .......................................................................................................... 23

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3.4 Instrumentos de Recolha de Dados ......................................................................................... 23

3.4.1 Pesquisa descritiva ............................................................................................................... 23

3.4.2 Consultas bibliográficas ....................................................................................................... 24

3.4.3 Observação ........................................................................................................................... 24

Observação directa ................................................................................................................ 24

Observação indirecta ............................................................................................................. 25

CAPÍTULO IV: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ............................................. 26

4.1 Introdução ............................................................................................................................... 26

4.1.1 Localização Geográfica e Limites do Distrito de Gondola .................................................. 26

4.1.2 Estrutura político-administrativa ......................................................................................... 26

4.1.3 Divisão Administrativa ........................................................................................................ 27

4.1.4 POPULAÇÃO...................................................................................................................... 27

4.1.5 Aspectos Culturais e Étno-Linguísticos ............................................................................... 27

4.1.6 História e Aspectos Culturais............................................................................................... 27

4.2 Enquadramento Legal do Governo Distrital de Gondola ....................................................... 28

4.3 Analise dos dados da população em estudo ............................................................................ 29

4.3.1 Distribuição dos membros CLD por faixa etária e sexo (perfil da amostra dos membros do
CLD) ............................................................................................................................................. 29

4.3.2 Distribuição dos membros do conselho local do distrito de gondola por nível de
escolaridade................................................................................................................................... 30

4.4 Análise dos Resultados do campo........................................................................................... 30

4.4.1 Entrevista ............................................................................................................................. 31

4.4.2 Objectivos da Entrevista ...................................................................................................... 31

4.4.3 Composição do Conselho Local do Distrito de Gondola..................................................... 32

4.4.4 Funcionamento do Conselho Local do Distrito de Gondola ................................................ 33

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4.4.5 Articulação entre o governo e o Conselho Consultivo Local na planificação distrital ........ 34

CAPITULO V: CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES ............................................................ 37

5.1 Introdução ............................................................................................................................... 37

5.1.1 Conclusão............................................................................................................................. 37

5.2 Recomendações....................................................................................................................... 38

Referências Bibliográficas ............................................................................................................ 39

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LISTA DE GRÁFICOS ........................................................................................................... PÁG.


Gráfico 1: Organigrama do Governo Distrital de Gondola .......................................................... 25
Gráfico 2: Distribuição dos funcionários por nível de escolaridade ............................................. 28

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LISTA DE TABELA ..............................................................................................................PÁG.


Tabela 1: Distribuição da população de estudo por faixa etária....................................................27
Tabela 2: Distribuição da população de estudo por sexo...............................................................27

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LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS

CLD – Conselho Local Distrital


CLPA – Conselho Local do Posto Administrativo
CLL – Conselho Local da Localidade
CLP – Conselho Local da Povoação
CTD – Conselho Técnico Distrital
FEC – Faculdade de Engenharia de Chimoio
FDD – Fundo de Desenvolvimento Distrital
IPCC – Instituição de Participação e Consulta Comunitária
LOLE – Lei dos Órgãos locais do Estado
MAE – Ministério da Administração Estatal
PEDD – Plano Estratégico de Desenvolvimento Distrital
PESOD – Plano Económico-Social e Orçamento Distrital
UCM – Universidade Católica de Moçambique
I – primeiro
II – segundo
III – terceiro
IV – quarto
V – quinto
VI – Sexto
VII – Sétimo
VIII – Oitavo
IX – Nono
X – Décimo
% - Percentagem

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GLOSSÁRIO

A literatura trata a desconcentração como uma política concedida dos órgãos do nível central
para as esferas locais, (Sousa, 2011). Desconcentração implica repartição do poder pelos órgão
subalternos do Governo Central, isto é, a desconcentração é a delegação de competência sem
alteração do poder decisório.
Para Thereza Lobo(2011)
Os órgãos locais do Estado têm como função à representação do Estado ao nível local para a
administração e o desenvolvimento do respectivo território. Ao mesmo tempo, eles contribuem
para a integração e unidade nacionais (art. 262º da Constituição da república de Moçambique).
Órgãos Locais do Estado são centros de decisão dispersos pelo território nacional, mas
habilitados por lei a resolver assuntos administrativos em nome do Estado e, por conseguinte,
fazem parte da administração directa do Estado e devem obediência às instituições do Governo
(Amaral: 1998).

A Desconcentração tem como pano de fundo a organização vertical dos serviços públicos,
consistindo basicamente na ausência ou na existência de distribuição vertical de competência
entre os diversos graus ou escalões da hierarquia (CARLIN,2002)

A desconcentração traduz-se num processo de descongestionamento de competências,


conferindo-se a funcionários ou agentes subalternos certos poderes decisórios, os quais numa
administração concentrada estariam reservados exclusivamente ao superior.
Segundo ALEXANDRINO&PAULO (2002), Quando se fala em Administração Pública, tem-se
presente todo o conjunto de necessidades cuja satisfação é assumida como tarefa fundamental
pela colectividade, através de serviços por esta organizados e mantidos.

Assim, onde quer que exista e se manifeste com intensidade suficiente uma necessidade
colectiva, aí surgirá um serviço público destinado a satisfazê-la, em nome e no interesse da
colectividade.

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Segundo o artigo 250 da Constituição da República, a Administração Pública estrutura-se com


base no princípio de descentralização e desconcentração, promovendo a modernização e a
eficiência dos seus serviços, sem prejuízo da unidade de acção e dos poderes de direcção do
Governo.
Neste contexto, a Administração Pública promove a simplificação de procedimentos
administrativos e a aproximação dos serviços aos cidadãos.
A Desconcentração tem como pano de fundo a organização vertical dos serviços públicos,
consistindo basicamente na ausência ou na existência de distribuição vertical de competência
entre os diversos graus ou escalões da hierarquia (CARLIN,2002)

A desconcentração traduz-se num processo de descongestionamento de competências,


conferindo-se a funcionários ou agentes subalternos certos poderes decisórios, os quais numa
administração concentrada estariam reservados exclusivamente ao superior.

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CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO

O modelo de governação que Moçambique adoptou logo após a independência, não era mais do
que uma herança deixada pelo regime colonial. Até ao início da década noventa, o modelo
concentrado de Administração em Moçambique, era no geral muito dispendioso, moroso e não
privilegiava uma articulação eficaz e diálogo interactivo para com as comunidades locais. Como
resultado, a participação das comunidades e do cidadão na resolução dos seus próprios
problemas era muito fraca.
Com vista a melhorar a articulação dos assuntos governamentais entre as autoridades
governamentais e as comunidades locais foram introduzidas em Moçambique as reformas que
visavam promover mudanças na organização da Administração Pública. O trabalho têm como
tema A desconcentração em Moçambique, participação da comunidade no processo de tomada
das decisões, estudo de caso Distrito de Gondola (DG), e destina-se a obtenção do grau
académico de Licenciatura em Administração Pública pela Faculdade de Engenharia da
Universidade Católica de Moçambique.

No meio rural notava-se a ausência de órgãos representativos das comunidades que pudessem
tomar parte nas discussões de projectos e programas de desenvolvimento e defender os seus
interesses ou necessidades. As comunidades locais não tinham espaço e nem oportunidades para
participar no seu próprio desenvolvimento.
Com o tempo (19831), foi reconhecida a excessiva centralização da autoridade do Estado e a
necessidade de se avançar para um processo de descentralização, dai as sucessivas reformas, que
culminaram com a transição de um modelo de Estado unitário centralizado para um Estado
unitário gradualmente descentralizado.
Segundo Kulipossa (2003) citado por Bilério (2011), Moçambique herdou do regime colonial
português um sistema de administração estatal muito centralizado. O regime instaurado
imediatamente após a independência manteve a centralização do poder político. Neste contexto,
Forquilha (2007) refere que a forte centralização da administração pública aliada à exiguidade de
recursos materiais, financeiros e humanos e à acentuada guerra civil, tornou o estado distante dos

1
A quando a realização do IV congresso da Frelimo

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cidadãos na medida em que, o estado tinha cada vez mais dificuldades em promover aos
cidadãos os serviços básicos em áreas vitais.
O trabalho é apresentado em cinco capítulos: No primeiro (I) capítulo são desenvolvidos os
seguintes itens: Delimitação da área de estudo e do tema; enquadramento do tema, justificativa
da escolha do tema, objectivos (geral e específicos) do trabalho, formulação do problema,
hipóteses.
Segundo capítulo (II) sobre a revisão da literatura consta informações sobre a fundamentação
teórica. Terceiro capítulo (III) metodologia e desenho da pesquisa encontram-se os
procedimentos usados para elaboração do trabalho.
Quarto capítulo (IV) de análise e interpretação de dados são apresentados dados recolhidos
durante o trabalho do campo, os dados estão organizados em gráficos e tabelas, assim como a
discussão científica dos resultados e a comparação dos dados obtidos na observação do trabalho,
permitindo uma análise circunstanciada que estabeleça relações entre eles.
Por último o quinto capítulo (V) conclusão e recomendações são apresentadas as conclusões,
recomendações e dificuldades enfrentadas assim como as sugestões no trabalho.

1.1 Justificativa da Escolha do Tema

Os espaços de participação e a consulta comunitária conheceram ao longo tempo dinâmicas


diferentes e, aliado a esse facto, os instrumentos que regem a existência e funcionamento destes,
conheceram modificações quanto às suas composições, funções, competências e mecanismos de
articulação com o governo local.
Apesar de existirem estudos sobre os espaços de participação e consulta Comunitária, olhando
sobretudo para o contexto e os objectivos da sua institucionalização, estudos são escassos que
abordam questões relacionadas com as funções destas instituições no exercício decisório local,
especificamente do poder que estes órgãos têm na tomada de decisões.
É neste contexto que se julgou de extrema importância levar a cabo o presente estudo, com
intenção da analisar a articulação entre as autoridades administrativas de Gondola com as
comunidades locais sobre os assuntos de desenvolvimento local.

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Para além da contribuição teórica no âmbito das discussões sobre as reformas de


desconcentralização e da participação das comunidades no exercício da governação local, este
trabalho vai contribuir por algumas evidências do impacto que a participação comunitária possa
dar ao nível das intervenções do Governo no âmbito das suas obrigações de prestação de serviços
básicos visando a satisfação das necessidades colectivas, um dos principais desafios
administração pública.
No que respeita a escolha do Distrito de Gondola, deveu-se ao facto da proponente desta
monografia ser residente na cidade Chimoio, cidade capital da Província de Manica e entende a
proponente que fazendo estudos de base sobre a matéria naquele Distrito da Província, vai
minimizar os custos e será fácil o contacto directo com as estruturas administrativas do Distrito;
No que concerne a escolha do espaço temporal 2009-2013, é pelo facto de terem passado 6 anos
após a aprovação da lei dos órgãos locais do Estado e entende o proponente que vale a apenas
fazer a avaliação do nível de participação das comunidades nesta parcela do país.

1.1.1 Importância do tema

O tema ganha maior relevância na busca de possíveis soluções para melhorar o sistema de
articulação entre as autoridades administrativas do Governo Distrital de Gondola com as
comunidades locais.
1.2 Objectivos

1.2.1 Objectivo geral

 Analisar o processo de tomada de decisiões no Distrito de Gondola, tendo em conta o


envolvimento das comunidades locais.

1.2.2 Objectivos específicos

 Compreender o processo de participação comunitário no Distrito de Gondola;


 Identificar os principais actores envolvidos no processo de tomada de decisão no Distrito
de Gondola;

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 Identificar os principais canais de comunicação utilizados entre as estruturas


administrativas de Gondola e as comunidades locais;
 Identificar o fluxo de informação entre estruturas administrativas do Governo Distrital e
as comunidades.

1.3 Formulação do Problema do Estudo

A institucionalização dos Conselhos Locais têm levantado algumas dúvidas, que abriram espaço
para algumas críticas efectuadas em relação ao processo de desconcentração no que se refere aos
mecanismos de funcionamento dos referidos espaços, sobretudo na articulação entre os
Conselhos Locais e os Governos Distritais no processo de tomada de decisões pois, como nota
Forquilha (2010), a legislação não é suficientemente clara no que diz respeito às suas funções no
processo de tomada de decisão a nível local, se trata-se de um órgão deliberativo ou uma mera
instituição de consulta, onde em muitos casos são reduzidos a meros espaços de consulta, sem
praticamente nenhum poder deliberativo, existindo distritos em que as decisões saídas dos
Conselhos Locais nem sempre eram seguidas pelos Governos Distritais, sob o pretexto de que as
IPCC têm função meramente consultiva e não deliberativa.

Com a aprovação do novo guião sobre a Organização e Funcionamento dos Conselhos Locais,
como referem Forquilha & Orre (2011), é retirado o poder decisório destas instituições,
limitando-os simplesmente a poder aprovar o financiamento das actividades no âmbito do Fundo
de Desenvolvimento Distrital, tornando-se em instituições essencialmente viradas aos projectos
ligados ao Fundo de Desenvolvimento Distrital, com competência simplesmente para decidir
sobre o financiamento das iniciativas elaboradas e submetidas ao nível local, facto que dificulta a
maximização das oportunidades previstas com a institucionalização dos referidos espaços.

Uma das expectativas decorrentes da desconcentração foi e tem sido de proporcionar maior
aproximação entre os órgãos de administração local do Estado e as respectivas comunidades
locais. A implementação gradual do processo da desconcentração da administração do Estado,
bem como a consolidação, impõe á administração um desafio constante e decorridos cerca de 20
anos de Paz.

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Neste contexto, suscitamos perceber: A forma de influência que os Conselhos Locais exercem
sobre o Governo distrital na tomada de decisões sobre as prioridades de desenvolvimento
local.

1.4 Hipótese de Estudo

Em relação a pergunta deste estudo foram levantadas duas hipóteses. Segundo Vieira & Lubisco
(2001) e Gil (2002), o critério para definir hipóteses duma pesquisa de natureza aplicada, exige-
se que elas sejam: (a) plausíveis; (b) consistentes; (c) específicas; (d) verificáveis; (e) claras; (f)
simples; (g) económicas; e (h) explicativas.

Constituem hipóteses deste estudo, as seguintes:


1.4.1 Hipótese principal: O envolvimento das comunidades locais no processo de tomada das
decisões é a forma mais adequada de participação comunitária das decisões que lhes afectam
directamente através dos seus representantes eleitos;

1.4.2 Hipóteses secundárias: O envolvimento das comunidades locais no processo de


governação é recente, admitindo que a comunidade participa no processo de tomada de decisão,
de forma gradual.

1.5 Delimitação da Área de Estudo

O estudo foi realizado na Província de Manica, Distrito de Gondola, na vila de mesmo nome,
concretamente na Secretaria Distrital de Gondola, localizado na sede do distrito ora citado, no
período de 2009 a 2013.

Foi objecto da presente pesquisa a desconcentração em Moçambique, centralizada na


identificação do nível participação da comunidade no processo de tomadas de decisões em prol
do desenvolvimento local no Distrito de Gondola, se as comunidades locais ao nível do Distrito
são envolvidas de forma efectiva na tomada de decisões em relação aos processos do
desenvolvimento local.

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1.6 Enquadramento do Tema


O tema enquadra-se numa das linhas de pesquisa que é alternativa para o estabelecimento das
reformas administrativas, Reforma do Sector Público, Administração Pública, leccionadas na
Universidade Católica de Moçambique, Faculdade de Engenharia de Chimoio. A nível do
Ministério da Administração Estatal enquadra-se nas alternativas para o melhoramento do
sistema de articulação entre autoridades administrativas e comunidades locais no processo de
desenvolvimento local.

Esta pesquisa terá maior interesse às Instituições Públicas, e a sociedade em geral visto que a
participação das comunidades das decisões locais é fundamental e é de extrema importância; ao
manter o relacionamento com as autoridades administrativas no processo do desenvolvimento
local.

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CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Introdução

Neste capítulo recorreu-se informações em publicações e textos escritos onde encontram-se


todos os conceitos fundamentais que serviram de base do suporte que sustenta a tese do tema.
Neste contexto, à luz desses conceitos, buscar uma compreensão de como se desenvolve e se
apresenta a participação das comunidades no processo do desenvolvimento local através do seu
envolvimento pelas autoridades administrativas na tomada das decisões.

2.2 Literatura Teórica

Da revisão da literatura teórica sobre a desconcentração discutida por diferentes autores vai
permitir analisar os contornos da desconcentração em Moçambique, em particular no Governo
do Distrito de Gondola.
2.2.1 Democracia

Segundo Neto (2005), o termo “democracia” surgiu na antiga Grécia e significa “governo de
todos”.Portanto, democracia é a forma política em que o poder é atribuído ao povo e é exercido
pelo povo em harmonia com a vontade expressa pelo conjunto de cidadãos titulares de direitos
políticos.

2.2.2 Os principais tipos de democracia

Há diferentes variantes da democracia. Estes podem-se classificar por dois tipos principais:
democracia directa e a democracia indirecta. A democracia indirecta executa-se por
representantes, por isso, este tipo também é chamado democracia representativa (ARAÚJO
NETO, 2005)

Além desses dois tipos de democracia se encontram formas de democracia, que têm elementos
de ambos tipos da democracia. Muitas das vezes, a democracia representativa reúne alguns
elementos da democracia directa.

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Democracia directa

A democracia directa acontece quando todos os membros duma colectividade se reúnem para
discutir e resolver os seus próprios problemas. A votação faz-se com a participação de todos,
cada um tem um voto. Uma reunião de todos os membros só pode-se realizar em sociedades
pequenas. A democracia directa aconteceu nas comunidades na antiga Grécia (DIAS,2008).

Democracia indirecta ou representativa

O CAPECE (2007, p.9), afirma que, quando as comunidades tornaram-se maiores e criaram-se
Estados com milhões de habitantes, tornou-se impossível reunirem-se todos ao mesmo tempo e
tratarem dos problemas de interesse geral. Por isso, surgiu um outro tipo de resolver os assuntos
comuns, através de representantes, concretizando-se deste modo a democracia representativa.
Nela, elegem-se os representantes para tratar dos assuntos da sociedade em nome dela. Portanto,
a democracia indirecta, é um sistema de eleger representantes que são mandatados para exprimir
a vontade dos eleitores.

2.2.3 Administração Pública

Segundo ALEXANDRINO&PAULO (2002), Quando se fala em Administração Pública, tem-se


presente todo um conjunto de necessidades cuja satisfação é assumida como tarefa fundamental
pela colectividade, através de serviços por esta organizados e mantidos.

Assim, onde quer que exista e se manifeste com intensidade suficiente uma necessidade
colectiva, aí surgirá um serviço público destinado a satisfazê-la, em nome e no interesse da
colectividade.
Segundo o artigo 250 da Constituição da República, a Administração Pública estrutura-se com
base no princípio de descentralização e desconcentração, promovendo a modernização e a
eficiência dos seus serviços, sem prejuízo da unidade de acção e dos poderes de direcção do
Governo.
Neste contexto, a Administração Pública promove a simplificação de procedimentos
administrativos e a aproximação dos serviços aos cidadãos.

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A Desconcentração tem como pano de fundo a organização vertical dos serviços públicos,
consistindo basicamente na ausência ou na existência de distribuição vertical de competência
entre os diversos graus ou escalões da hierarquia (CARLIN,2002)

A desconcentração traduz-se num processo de descongestionamento de competências,


conferindo-se a funcionários ou agentes subalternos certos poderes decisórios, os quais numa
administração concentrada estariam reservados exclusivamente ao superior.

A “desconcentração de competência”, ou “administração desconcentrada”, é o sistema em que


o poder decisório se reparte entre superior e um ou vários órgãos subalternos, os quais, todavia,
permanecem, em regra, sujeitos à direcção e supervisão daquele2.
2.2.4 Participação

Segundo o PNUD (1993:21), há participação quando “as pessoas estão intimamente envolvidas
nos processos económicos, sociais, culturais e políticos que afectam as suas vidas”. Nesta
perspectiva, pode-se identificar varias áreas de participação, podendo em alguns casos o
envolvimento ser directo e, noutros indirectos, importando apenas que as pessoas tenham acesso
ao processo de tomada de decisões sobre a vida da comunidade.

2.2.5 Tipos de Participação3

Participação Passiva

Os presentes tomam conhecimento, oficialmente, em fóruns apropriados (conselhos oficiais) do


que foi decidido ou já aconteceu, sem contudo ter possibilidade de alterar o curso de acção. É um
anúncio unilateral feito pela administração, dispensando as reacções das pessoas.
Participação Manipulativa

As pessoas participam respondendo as perguntas feitas por investigadores, mas sem


possibilidades de influenciar o curso de acção.

2
www.negict.cse.ufsc.br/ publicacao_imagens/artigocom.pdf [consultado a 16 de Fevereiro de 20015].
3
Jules Pretty (1995:1252) tradução

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A desconcentração em Moçambique, participação da comunidade na tomada das decisões, estudo do caso – Distrito de Gondola

Participação por Consulta

Peritos, depois de recolherem as opiniões da comunidade, analisam a informação e decidem o


que fazer. Estes não estão sobre qualquer obrigação de seguir ou tomar em conta os pontos de
vista das pessoas consultadas.
Participação por incentivos materiais

As pessoas participam pela troca de recursos materiais, como: comida, dinheiro, ou outros
incentivos materiais. Quando os incentivos terminam as pessoas perdem interesse em continuar
com as actividades.
Participação funcional

As pessoas participam em conjunto nas análises que conduzem ao alcance dos objectivos pré
determinados relacionado com o projecto. O envolvimento pode ser imperativo e pode envolver
partilha na tomada de decisões.
Participação interactiva

As pessoas participam na análise conjunta, no desenvolvimento no plano de actividade ou no


fortalecimento de instituições locais. A participação é vista como um direito e não só, como um
meio para alcançar objectivos dos projectos. As pessoas têm controlo sobre as decisões locais.

Auto mobilização

As pessoas participam tomando iniciativas das instituições externas para mudar o sistema.
Desenvolvem contacto com instituições externas para apoio em recursos e capacitações técnicas
mas mantém o controlo sobre como utiliza os recursos.

2.2.6 Participação Comunitária

A participação comunitária aparece como um conceito associado a desconcentração e é


considerada condição essencial para o sucesso das decisões e da implementação das políticas.
Para Birou (1982:30), participação significa “ter parte em qualquer coisa, beneficiar dela, ou
tomar parte e, portanto, cooperar”. As formas e graus de participação podem ser variados, já que

ISABEL CARLOS JOSSE BAMBAI 10


A desconcentração em Moçambique, participação da comunidade na tomada das decisões, estudo do caso – Distrito de Gondola

se pode tomar parte nalguma coisa, de modo bem diferente, desde a condição de simples
espectadores mais ou menos marginais os de protagonista de destaque.

Para que a participação aconteça, é necessário que haja diálogo, acções, análise e mudanças.
Quando as comunidades conhecem melhor os seus problemas e respectivas soluções, saberão
dialogar melhor com o governo dos seus Distritos e juntos podem contribuir de forma activa,
para a implementação dos programas de desenvolvimento do Distrito4.

No actual contexto de governação, a comunidade é chamada a participar no desenvolvimento do


Pais e em particular das Localidades, Posto Administrativos e Distritos.

Assim, no “Guião para Participação e Consulta Comunitária na Planificação Distrital” (2003:9),


a participação comunitária é definida como “o processo através do qual pessoas, especialmente
as mais desfavorecidas, tem oportunidade de influenciar as decisões que lhes afectam”. O
principal propósito da participação e de aumentar o envolvimento das pessoas sociais e
economicamente marginalizadas na tomada de decisão, de criar oportunidades para fazer ouvir
as suas vozes e de influenciar a definição de políticas publicas que lhes dizem respeito.

Neste contexto, o principio de participação encontra-se consagrado no artigo 263 da Constituição


da República de Moçambique, onde refere que “no seu funcionamento, os órgãos locais do
estado, (…), garantem a participação activa dos cidadãos…”. Esta norma constitucional e
materializada nas demais leis que passaram a incorporar nos seus artigos matérias relativas a
participação comunitária, e de uma forma particular no Decreto n° 15/2000 de 20 de Junho que
estabelece as formas de articulação dos órgãos locais do Estado com as autoridades comunitárias
e no respectivo regulamento, Diploma Ministerial n° 107A/2000 de 25 de Agosto que tratam de
forma particular da participação comunitária.
Deste modo entende-se, neste trabalho, participação comunitária como o processo pelo qual as
comunidades, através dos seus representantes, são envolvidas no processo de tomada de decisão

4
http://www.comunicação.ufpe.br/erna/ccs/ccs42.htm. arquivo consultado em 16 de Fevereiro de 2014.

ISABEL CARLOS JOSSE BAMBAI 11


A desconcentração em Moçambique, participação da comunidade na tomada das decisões, estudo do caso – Distrito de Gondola

(planificação distrital), na implementação das políticas definidas e na gestão dos problemas que
lhes dizem respeito.
Como se vera mais adiante, a participação comunitária no Distrito de Gondola não se limita ao
processo de tomada de decisões, mas de uma forma geral ao todo processo de governação local,
como são os casos de resolução de problemas de educação, saúde, do saneamento do meio, na
abertura de vias de acesso, entre outros.

Participar é um acto de envolvimento das pessoas, da comunidade, grupos de pessoas,


associações em alguma actividade que lhes afecta, dentro do seu local de vivência (Aldeia,
Povoação, Localidade, Posto Administrativo, Distrito, Província, Região ou Pais).
Participação Comunitária é um processo segundo o qual os membros de uma comunidade
participam de forma activa e organizada na identificação dos seus problemas, na concepção, na
execução, na monitoria e na avaliação de acções visando o seu desenvolvimento5.

Já para Friedman (1996), concebe a participação como um processo pelo qual se envolve as
pessoas em acções sociais, políticas e económicas relevantes, dando a elas o poder de agir como
sujeitos activos.
A participação consciente consiste no exercício da cidadania e a projecção que o voto faz no
nosso dia-a-dia, são dois assuntos que volta a meia deviam entrar no debate. Em virtude do seu
elevado valor estar intimamente ligado as questões sociais no que tange a qualidade da vida de
uma nação inteira ou parte dela, o voto é instrumento que traduz ensaios pelas mudanças.

2.3 Literatura Focalizada

2.3.1 Governação local

A governação local moçambicana tem sido marcada por dois processo, os quais têm sido
implementados simultaneamente: a descentralização (devolução política) e a desconcentração

5
Valá, Salim (1998). Estratégia para o desenvolvimento das Rádios comunitárias em Moçambique. Maputo. Instituto
de Comunicação Social, gabinete de informação

ISABEL CARLOS JOSSE BAMBAI 12


A desconcentração em Moçambique, participação da comunidade na tomada das decisões, estudo do caso – Distrito de Gondola

administrativa. A sua implementação foi acelerada pela democratização do país, mas, desde
então, ambos processos têm sido reticentes, com constantes mudanças legislativas, em especial o
processo de descentralização6.
É importante que o governo moçambicano assuma uma posição mais clara acerca dos processos
de descentralização e desconcentração, seguindo os princípios adoptados pela recentemente
aprovada Carta Africana sobre Democracia, Eleições e Governação, a qual avança que: “(...)
Estados-membros devem descentralizar poder a autoridades locais democraticamente eleitas
como determinado na legislação nacional”.

Um dos princípios fundamentais de organização e funcionamento da administração pública


moçambicana é a desconcentração, através da qual o governo moçambicano pretende reduzir os
poderes administrativos dos órgãos centrais, facilitando a tomada de decisões por parte dos
escalões inferiores.
Em abordagens actuais tem se destacado a importância do distrito, um dos órgãos locais de
Estado e parte do processo de desconcentração, como estrutura administrativa essencial ao
desenvolvimento do país. Tal opção política deveria implicar numa considerável alocação de
recursos ao governo distrital; contudo, nota-se que o distrito, se comparado à província e ao
governo central, continua recebendo menos recursos, apesar das crescentes responsabilidades7.

Por importante que seja a desconcentração de tarefas dos escalões superiores da administração
pública aos inferiores, imperioso reconhecer que tal não implica a redução do poder político ao
nível central, visto que o governo central mantém o controlo do aparelho de Estado em todos
seus níveis.
Para efectuar-se a dispersão do poder político, o foco deve ser no processo de descentralização e
não no processo de desconcentração, cujo principal mérito está na modernização da aparato
administrativo e numa maior aproximação das realidades locais.

6
Moçambique: Democracia e Participação Política
7
Desafios para Moçambique 2010 Governação Distrital

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A desconcentração em Moçambique, participação da comunidade na tomada das decisões, estudo do caso – Distrito de Gondola

O sucesso do processo de desconcentração em Moçambique dependerá fundamentalmente da


participação e do envolvimento das comunidades locais. As experiências já implementadas sobre
o processo de desconcentração em Moçambique mostram que tal processo está ainda pouco
desenvolvido, com estudos a demonstrar que é rarefeita a interacção entre as autoridades
administrativas e as comunidades locais, que há uma frequente falta de informação sobre os
serviços da Administração Pública, e muito baixo contacto popular e seu envolvimento no
processo de tomada de decisões.

2.3.2 Órgãos locais do Estado

Os órgãos locais do Estado têm como função à representação do Estado ao nível local para a
administração e o desenvolvimento do respectivo território. Ao mesmo tempo, eles contribuem
para a integração e unidade nacionais (art. 262º da Constituição da República de Moçambique).
Órgãos Locais do Estado são centros de decisão dispersos pelo território nacional, mas
habilitados por lei a resolver assuntos administrativos em nome do Estado e, por conseguinte,
fazem parte da administração directa do Estado e devem obediência às instituições do Governo
(Amaral: 1998).
A organização e funcionamento dos órgãos locais do Estado obedecem aos princípios da
desconcentração e descentralização. Os órgãos locais do Estado promovem a utilização dos
recursos disponíveis, garantem “a participação activa dos cidadãos e incentivam a iniciativa
local na solução dos problemas da comunidade”(art. 263º n.º 2 da Constituição da República de
Moçambique). Os órgãos locais do Estado garantem nos seus respectivos territórios a realização
de tarefas e programas económicos, culturais e sociais de interesse local e nacional (art. 264º da
Constituição da República de Moçambique).
Órgãos Locais do Estado existem ao nível da Província, dos Distritos, Posto administrativos e
Localidades. Além da constituição são consagrados na Lei n.º 8/2003de 19 de Maio (Lei dos
Órgãos Locais do Estado) com o seu regulamento.

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2.3.3 Distrito

O Distrito é a unidade territorial principal da organização e funcionamento da administração


local do Estado e base da planificação do desenvolvimento económico, social e cultural da
República de Moçambique. O distrito é composto por postos administrativos e localidades. (art.
12º da Lei dos Órgãos Locais do Estado).

2.3.4 Espécie da Desconcentração Administrativa

 Quanto aos níveis de desconcentração há que distinguir entre desconcentração a nível


central e desconcentração a nível local, consoante ela se inscreva no âmbito dos serviços
da Administração central ou no âmbito dos serviços da Administração local8;

 Quanto aos “graus de desconcentração”, ela pode ser absoluta ou relativa: no primeiro
caso, a desconcentração é tão intensa e é levada tão longe que os órgãos por ela atingidos
se transformam de órgãos subalternos em órgãos independentes; no segundo, a
desconcentração é menos intensa e, embora atribuindo certas competências próprias a
órgãos subalternos, mantém a subordinação destes ao poder do superior.

 Por último, quanto às “formas de desconcentração”, temos de um lado a desconcentrarão


originária, e do outro a desconcentração derivada: a primeira é a que decorre
imediatamente da lei, que desde logo reparte a competência entre o superior e os
subalternos; a segunda, carecendo embora de permissão legal expressa, só se efectiva
mediante um acto específico praticado para o efeito pelo superior. A desconcentração
derivada, portanto, traduz-se na delegação de poderes.

Segundo Abrahamson & Nilsson (1994:325), definem a desconcentração como sendo um


processo restrito, que implica a responsabilidade pela implementação de decisões tomadas a
nível central passa para níveis mais baixos de administração.

8
http://www.apase.hpg.eg.com.br. Acesso em 28 – 02 – 2015 – 07:56

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Para Amaral (1999:661), a desconcentração quanto a forma pode ser originária ou derivada.
 A desconcentração originária é aquela que decorre imediatamente da lei, que desde
logo reparte a competências do superior e os subalternos. É a própria lei que confere ao
órgão da administração competência para decidir sobre uma determinada matéria. É o
poder que nasce da lei e é directamente atribuído a um órgão.
 A desconcentração derivada por sua vez é aquela que efectiva-se mediante um acto
específico praticado para o efeito pelo superior, a desconcentração derivada, traduz na
delegação de poderes.

Quanto a forma a desconcentração em Moçambique é classificada como sendo mista, na medida


em que os OLE apresenta competências originárias, decorrentes imediatamente da própria lei,
que desde logo transfere atribuições e poderes de decisão até ai pertencente a órgãos centrais
para os níveis provinciais e distritais, por um lado, e por outro apresentam competências
derivadas, que carece de permissão e efectiva-se mediante um acto específico praticado para o
efeito pelo superior. Traduz-se na delegação de poderes.
Contudo, independentemente da forma de desconcentração, a relação da hierarquia não cessa os
órgãos centrais, continuando a ter o poder sobre as decisões dos OLE, ou seja, mantém-se a
subordinação destes aos poderes do superior.
Certos autores9, consideram a desconcentração como uma forma de descentralização
(Administrativa), consideração esta que não encontra fundamento jurídico no quadro de
ordenamento jurídico de Moçambique.
Segundo a Constituição da Republica, a descentralização (poder local) pressupõe a existência de
duas pessoas colectivas do direito público (Estado e Autarquias), enquanto a desconcentração
(OLE) ocorre dentro da mesma pessoa colectiva pública, ou seja, é um processo mas restrito,
apesar de tal como a primeira (descentralização), tratar-se de uma oportunidade para
proporcionar maior aproximação a participação dos cidadãos no processo político, a sua
capacidade de influenciar a formulação das políticas públicas, a abertura do governo às

9
Parker (1995), Manor (1998), Chichava (1997:15) entre outros.

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demandas da população e a transparência com que o governo trata dos assuntos públicos são
indicadores da qualidade da democracia.
Para Alves & Godoy (2005) citando Crook & Manor (1998) e Agrawal & Ribot (1999)
defendem que a descentralização refere-se à transferência de autoridade e responsabilidade do
governo central aos níveis mais baixos de hierarquia político-administrativa e territorial e/ou para
comunidades locais. Referem ainda que a descentralização significa que o Governo e/ou
comunidade local passam a tomar decisões relativas às atribuições designadas por uma lei maior
e concernente à sua jurisdição. Existe uma partilha de responsabilidades e autoridades entre o
governo central e os governos estaduais ou locais em algumas questões, onde os poderes são
distribuídos entre os diferentes níveis e de forma regulamentada.
Para L. Adamolekun citado por Forquilha, trata-se de descentralização quando há uma delegação
de autoridade e da responsabilidade de gestão para as organizações fora da estrutura do governo
central para funções específicas.
Forquilha (s/d) citando L. Adamolekun, defende ainda que a descentralização pode-se referir, em
primeiro lugar, a uma medida administrativa implicando a transferência de gestão de
responsabilidades e de recursos para os agentes do governo central situados a um ou vários
níveis (província, distrito, posto administrativo e localidades), um modelo de descentralização
administrativa vulgarmente conhecido por desconcentração. Em segundo lugar, o conceito de
descentralização é empregue para designar um arranjo político implicando a devolução de
poderes, de funções e de recursos específicos pelo governo central para as unidades de governo
do nível sub-nacional […] inclusive regionais, provinciais e locais ou municipais.

Para além da forma mais elementar de participação política que é o voto livre e periódico para a
escolha dos representantes, um regime democrático deve oferecer aos cidadãos outras formas de
participação e envolvimento no processo político.

Tal participação depende das liberdades e direitos formalmente estabelecidas por uma
Constituição, mas, também, da capacidade real de organização administrativa do Estado.
Segundo Moreira (1983:13), a Administração é concentrada “quando os problemas que se lhe
deparam só podem ser resolvidos pela autoridade que se situa e actua no topo da hierarquia,

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limitando-se os serviços a preparar os processos que irão a despacho dessa autoridade e a


cumprir as ordens emanadas da mesma”. Neste caso, o superior da hierarquia é o único
competente para tomar decisões, estando os agentes subalternos limitados a informar e executar.
Dos pressupostos desta abordagem nas reformas de descentralização e nos seus objectivos,
Manor (1998) e Masalila (1996), defendem que a efectividade da descentralização pode ser
garantida se esta for considerada como um sistema em permanente interacção com os outros
agentes sociais, frisando que a descentralização por si só não garante o funcionamento eficaz das
instituições, defendendo a interacção entre as instituições. Por outro lado, temos a perspectiva
institucionalista que, de acordo com Scott citado por Lopes et al (s/d), concede maior atenção aos
aspectos legais e a ordenação administrativa das estruturas do governo, tendo o enfoque sido nas
décadas 40 e 50 orientado ao comportamento individual, onde focalizava, não apenas aos
atributos formais das instituições governamentais como também nas atribuições de poder, as
atitudes e o comportamento político para buscar explicação para as políticas e “outputs”
políticos.
Segundo Pilatti (s/d) a perspectiva institucionalista assenta em premissas segundo as quais é
possível encontrar explicações endógenas para os processos decisórios que ocorrem em cenários
institucionais (no seio das organizações e conforme procedimentos predeterminados por regras) e
de que os participantes de tais processos são “razoavelmente racionais”, comportam-se
estrategicamente e se distinguem, de outros atributos, por suas preferências e capacidades. O
mesmo autor refere ainda que a perspectiva institucionalista orienta-se para o estudo dos
condicionalismos organizacionais e procedimentos das dinâmicas decisórias, seus possíveis
efeitos sobre a formulação e a implementação das estratégias desses actores e sobre os resultados
do próprio processo, dando ênfase igualmente às instituições, partindo do pressuposto de que as
características institucionais e dinâmicas decisórias têm impacto significativo sobre o conteúdo
das decisões.

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2.4 Literatura Empírica

2.4.1 Desconcentração

A consagração da democracia como o regime político mais adoptado no mundo a partir do final
do século XX e princípios do século XXI, é inquestionável (Diamond, 2000). Inquestionável
também é o alcance da democracia em termos de participação política dos cidadãos e canalização
eficiente das suas demandas, quando comparados a outros regimes que se tem registo na
história(Macuane, 2000).

A teorização acerca da democracia contém alguns elementos chaves, nomeadamente o exercício


de direitos, a participação política, a concepção de liberdade política e a forma de
entender uma sociedade política ordenada e participativa, o compromisso do homem
democrático em relação a sua cidadania(Dahl, 2000).

2.4. 2 Democracia

De acordo com Roselma Évora(2004.pp.19) citando Przeworski, uma condição mínima


para se definir um regime democrático seria “…um regime no qual os cargos governamentais são
preenchidos em consequência de eleições competitivas [onde] a oposição estiver
autorizada a competir, vencer e tomar posse dos cargos”. No entanto, essa seria uma concepção
mínima, na medida em que pelo simples facto de haver eleições e a possibilidade de troca de
dirigentes não garante, por si, só, que um regime seja classificado de democrático, não obstante
serem condições básicas para a democratização, devendo por isso serem acompanhadas de
outros requisitos indispensáveis para se considerar se um regime é democrático.

Um regime democrático moderno é aquele que “garante aos cidadãos os seus direitos na
constituição e no qual existe competição entre os actores para governar. O sistema
político oferece múltiplos canais e processos de expressão de interesses, permitindo que estes
interesses, sejam eles individuais ou colectivos, possam ser representados” (Évora,2004.pp.19-
20) citando Schmiter e Karl.

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Por outro lado, “ uma característica fundamental de um regime democrático moderno seria
a responsabilidade dos políticos pelos seus actos perante os cidadãos, o accontability”
(Roselma Évora, 2004) citando Alberto dos Santos e Santos Cardoso. Define-se democracia
como um sistema institucional de tomada de decisões políticas, em que os indivíduos adquirem
poder de estatuir sobre essas decisões na sequência de uma luta concorrencial por votos
do povo (Rosário, 2007) citando Schumpeter. Contudo, não se deve entender que o povo
efectivamente governe, mas apenas o povo aceita ou afasta os homens chamados a
governar, através da livre concorrência entre candidatos aos postos hierarquicamente superior,
pelos votos dos eleitores.

(…) será democrático, para o nosso tempo, todo o regime no qual, livremente, uma
maioria popular determine e assuma o controlo do governo e da legislação. A noção de número
não basta, é preciso juntar-lhe a liberdade (…). E diz mais (…) para ser democrático, um regime
deve assegurar quantitativa e qualitativamente a participação do maior número, na vida pública
(…) (Victor Henriques e Belmiro Cabrito,1995), citando Marcel Prelot.

A limitação do poder, o respeito pelo primado da lei, a liberdade de crítica e de opinião são
elementos fundamentais para definir a democracia (Espada, 2000). Para Popper, a alternância de
propostas concorrentes no exercício do poder e que impeçam que uma vez chegados ao poder,
qualquer delas possa anular as regras que lhes permitiram lá chegar, através de um conjunto de
regras, é o que este autor defende. E o governo representativo ou democrático, perfila-se como
uma, senão apenas uma dessas regras de limitação do poder.

A separação de poderes entre o executivo, o parlamentar e o judicial são elementos essenciais do


modelo democrático, na medida em que estas instituições visam impedir que o poder
político se torne demasiado forte, de modo a que as liberdades dos cidadãos sejam
preservadas ( Victor Henriques e Belmiro Cabrito,1995).

Para Thereza Lobo(2011) a descentralização envolve necessariamente alterações dos núcleos


do poder decisório até então centralizado em poucas mãos. Sob esse ponto de vista, há, em
verdade, três possíveis vertentes nas quais a descentralização se expressa: da administração
directa para a indirecta, entre níveis do governo e do Estado para a sociedade civil.

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A primeira, trata-se da proliferação de empresas públicas, sociedades de economia mista,


autarquias, funções que, sob a justificativa da necessidade de agilização das acções
governamentais, compõem hoje um corpo poderoso à margem do controle central. A segunda
vertente refere-se às relações intergovernamentais. Num país federativo, tais relações são
definitivas para caracterizar o maior ou menor grau de centralização do sistema. A grande
demanda por descentralização passa principalmente por esta vertente.

A terceira vertente refere-se à transferência de funções, hoje executadas pelo sector


público, que poderiam ser melhor executadas exclusivamente ou em cooperação com o
sector privado. Entenda-se aqui sector privado não apenas do ponto de vista de instituições
económicas (empresas), mas também incluindo organizações civis, sejam de classe ou
comunitárias. Apesar de políticas descentralizadas estarem em voga na maioria dos países, o
conceito de descentralização é vago e ambíguo, como refere Celina Souza.

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CAPÍTULO III: METODOLÓGICAS E DESENHO DA PESQUISA

3.1 Introdução

Nesta etapa do trabalho aborda-se assuntos relacionados com os procedimentos usados para
colecta de informações. A recolha de informações baseou-se no estudo do método misto
qualitativo e quantitativo, como instrumentos de recolha de informações foram privilegiados a
pesquisa descritiva; consultas bibliográficas e observação; a observação consistiu em dois
momentos sendo observação directa e observação indirecta.

3.2 Tipo de Estudo

Para a elaboração do presente trabalho será usado o método de estudo qualitativo e a abordagem
também será qualitativa, devendo para o efeito, ser usado o método descritivo, que consistirá na
descrição dos fenómenos que serão verificados durante a realização do trabalho de campo no
Distrito de Gondola.

Este método difere, em princípio, do quantitativo, à medida que não emprega um instrumental
estatístico como base na análise de um problema, não pretendendo medir ou numerar categorias
(RICHARDSON, 1989).

Sob ponto de vista dos seus objectivos a pesquisa é explicativa, porque procura identificar
factores que contribuem para a ocorrência do uso dos métodos tradicionais e do ponto de vista
dos procedimentos técnicos a pesquisa é bibliográfica, porque será elaborada a partir de materiais
já publicados, constituído principalmente de livros, artigos periódicos e material disponível na
internet.

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3.3 Desenho da Pesquisa

3.3.1 População de amostra

Para alcançar os objectivos do estudo sobre a participação comunitária no processo de tomada de


decisões no Distrito de Gondola, resulta de um apropriado processo de amostragem que dá
informações suficientes a amostragem aleatória simples. Esta técnica de amostragem é usada
quando todos os membros de uma amostra da população têm a mesma probabilidade de ser
entrevistados Marconi & Lakatos (1999). Neste caso a amostragem vai abranger um universo de
cinquenta e sete (55) indivíduos, cujo grupo-alvo serão os membros do Conselho Local do
Distrito de Gondola (CLDG) e membros do Governo Distrital.

São membro do Conselho Local do Distrito de Gondola a administradora do distrito, três (3)
Chefes dos Postos Administrativos, oito (8) Chefes das Localidades, e trinta e oito (38) membros
representantes das comunidades ao nível do distrito. Para além destes são convidados
permanentes do conselho local o secretario permanente distrital e quatros (4) directores dos
serviços distritais.
Os membros das comunidades são eleitos pelas respectivas comunidades para as representar nos
conselhos locais de vários escalões sendo de localidade, posto administrativo e do distrito, com
estas duas individualidades vai-se perceber melhor como é feita o envolvimento das
comunidades locais no processo de tomada das decisões locais; ajudando a perceber melhor o
tema em pesquisa e o problema identificado neste Distrito de Gondola.

3.4 Instrumentos de Recolha de Dados

3.4.1 Pesquisa descritiva

“Esta tem como objectivo primordial a descrição de determinados fenómenos ou populações.


Destacam-se também na pesquisa descritiva descrever características de grupo, descrição de
uma organização…” (CAPECE, 2007,p.9).
A pesquisa vai se basear no método descritivo, descrevendo os fenómenos que serão verificados
durante a realização do trabalho de campo na Secretária Distrital de Gondola.

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3.4.2 Consultas bibliográficas:

“É desenvolvida com base em material já elaborado, constituídos principalmente de livros,


artigos, revistas científicas e textos retirados da internet ”. (CAPECE, 2007, p. 9).
Foram usadas várias bibliografias como livros escritos por vários pensadores, trabalhos usados
durante as aulas, artigos da internet, para retirar dessas obras alguns conceitos úteis para
confrontar as ideias do trabalho a se realizar e o que já foi pesquisado por outros autores esses
conceitos deram maior suporte a pesquisa do tema em questão.

3.4.3 Observação:

“É o conjunto de actividades destinadas a obter dados e informações sobre o que se passa no


processo de desconcentração em Moçambique com finalidade de, mais tarde proceder a uma
análise do processo numa ou noutra das variáveis em foco.” (ALARCÃO & TAVARES,
1987:103) citado por (DIAS, 2008:62).
Este método foi aplicado de duas formas para obter todas as informações desejadas, com base na
observação directa e indirecta que segundo pensadores é definida da seguinte forma:

 Observação directa:

De acordo com CAMPENHOUDT & QUIVY (1988) citados por DIAS (2008:61) a observação
directa consiste na recolha de informações de forma directa sem se dirigir aos sujeitos
interessados, isto é, apela directamente ao sentido de observação.
A recolha de informações foi realizada directamente no campo baseado na observação do
ambiente de trabalho, a participação da comunidade no processo de tomada das decisões ao nível
do Distrito de Gondola, não terá a intervenção de nenhum responsável, o autor vai observar
sozinho os fenómeno

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 Observação indirecta‫׃‬

“O inquiridor contacta o sujeito para obter informações desejadas” (CAMPENHOUDT &


QUIVY, 1988:164) citado por (DIAS, 2008:61).Com este método foram contactados os
funcionários de vários níveis, estas individualidades ajudaram a obter informações necessárias
para prosseguir com a pesquisa. Neste método foi usado, a técnica de entrevista e inquérito.

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CAPÍTULO IV: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

4.1 Introdução

Nesta etapa do trabalho são abordados assuntos relacionados com a recolha de dados durante o
trabalho de campo e sua posterior análise. A recolha de dados teve duas fases começando com a
entrevista aos membros do Governo Distrital (Administradora Distrital, ao Secretário
Permanente do Distrito, aos directores dos serviços distritais e aos dois chefes de posto
administrativo), terminando com o inquérito dirigido aos 40 membros do Conselho Local do
Distrito e representantes dos vários extracto sociais da comunidade.
Análise e interpretação dos dados recolhidos durante o trabalho de campo. Os resultados obtidos
durante a pesquisa foram organizados em tabelas e gráficos, permitindo uma análise
circunstanciada que estabeleça uma visão geral do tema e do problema em questão.

4.1.1 Localização Geográfica e Limites do Distrito de Gondola


Geograficamente, o distrito de Gondola esta situado na zona central a leste da Provincia de
Manica, tendo como limites: a Norte o rio Pungué e Mudzingadze separa-o do distrito de
Vanduzi; a Nordeste o distrito de Gorongosa (Provincia de Sofala), a sul o rio Revué, que
estabelece a separação com o distrito de Sussundenga e Macate e a Oeste confina com o Distrito
de Chimoio através do Rio Toa.

4.1.2 Estrutura político-administrativa

A estrutura do aparelho do Estado ao nível do distrito de Gondola é composta pelo gabinete da


administradora distrital; pela Secretaria distrital, e por serviços distritais segundo o (Decreto
11/2005, art. 48)10.
Tal como este Regulamento sobre Lei dos Órgãos Locais prevê, o governo do distrito de
Gondola é dirigido pela administradora do distrito, apresenta a seguinte composição:
administradora distrital; o secretário permanente distrital e 4 directores dos serviços distritais,
compreendendo os seguintes serviços:

10
Artigo 45 do decreto 11/2005, referente ao Regulamento da Lei dos Órgãos Locais do Estado.

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 Serviço Distrital de Educação, Juventude e Tecnologia;


 Serviço Distrital de Actividades Económicas;
 Serviço Distrital de Saúde, Mulher e Acção Social e;
 Serviço Distrital de Planeamento e Infra-estrutura.

4.1.3 Divisão Administrativa

Administrativamente o distrito de Gondola divide-se em 3 (Três) Postos Administrativos,


nomeadamente: Inchope, Amatongas e Cafumpe e 8 (oito) Localidades designadamente Muda
Serração, Inchope Sede, Doeroi, Amatongas Sede, Nhambonda, Cafumpe Sede, Mudima,
Chiongo, além do Conselho Municipal instalado em 2009 ao nível da Vila Sede de Gondola.

4.1.4 POPULAÇÃO

Segundo a projecção do INE, actualmente o Distrito possui 194.808 habitantes, dos quais 96.820
homens e 97.988 mulheres. Contra um total de 189.031 habitantes registados em 2014.

4.1.5 Aspectos Culturais e Etnolinguísticos

Existem no distrito três principais grupos étnicos nomeadamente: Chiuté, Ndau e Sena falando as
respectivas línguas, com maior predominância para o Chiuté.

4.1.6 História e Aspectos Culturais

Gondola, em conformidade com a história oral, a etimologia da palavra Gondola provém de uma
lagoa situada algures na zona do actual cemitério na sede do Distrito, que no passado era
conhecida por “Gandua”, onde os primeiros comboios abasteciam-se da água e quando os
portugueses chegaram ao local não conseguiram pronunciar a palavra Gandua e acabaram
dizendo Gondola.

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4.2 Enquadramento Legal do Governo Distrital de Gondola

Obedecendo a organização e funcionamento dos órgãos Locais do Estado, aos princípios da


desconcentração e da desburocratização administrativas, visando o descongestionamento do
escalão central e a aproximação dos serviços públicos às populações de modo a garantir
celeridade e adequação das decisões às realidades locais, o governo Moçambicano iniciou a
reestruturação e estruturação dos Órgãos Locais do Estado, aplicando a Lei n.°8/2003, de 19 de
Maio, a Lei dos Órgãos Locais (LOLE).

Neste contexto, o Governo definiu o distrito como unidade territorial principal da organização e
funcionamento da administração Local do Estado e base da planificação do desenvolvimento
económico, social e cultural da República de Moçambique, de acordo com o artigo 12 Lei
n.°8/2003, de 19 de Maio.

O estatuto orgânico do governo distrital foi posto numa nova base com o Decreto n.º6/2006 de
12 de Abril e consoante o mesmo, o governo distrital tem a seguinte estrutura:

Organigrama 1: Organigrama do Governo Distrital de Gondola.

Administrador Distrital

Gabinete do Administrador

Secretaria Distrital(inclui funções


não atribuídas a outros serviços
distritais)

Serviço Distrital de Serviço distrital de Serviço distrital Serviço Distrital


Planificação e Infra- Educação, juventude de Saúde, de Actividades
estrutura e tecnologia Mulher e Acção Económicas
social

Fonte: MAE/DNAL.

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De acordo com o número 1 do artigo 12 da Lei n.°8/2003, de 19 de Maio a O Distrito é a


unidade territorial principal da organização e funcionamento da administração local do Estado e
a base da planificação do desenvolvimento económico, social e cultural da República de
Moçambique. É neste contexto em que o Distrito de Gondola enquadra-se.
Imagem do Governo Distrital de Gondola

4.3 Analise dos dados da população em estudo

4.3.1 Distribuição dos membros CLD por faixa etária e sexo (perfil da amostra dos
membros do CLD)

No grafico1: Consta-se que os membros do conselho local e população em estudo, apresentam-se


distribuídos por faixa etária e sexo, de forma não equitativa, sendo jovens e adultos com idades
compreendidas dos 21 a 60 anos, onde maior concentração aparece entre aqueles com idades
entre 31 a 50 anos. Este facto permite concluir que são cidadãos com uma certa capacidade de
análise sobre diversos assuntos de desenvolvimento local.
Tabela 1: Distribuição da população de estudo por faixa etária
Idade (anos) Membros do Conselho Local de Gondola
Frequência %
21 – 30 10 18
31 – 40 20 36
41 – 50 13 24
51 – 60 12 22
Total 55 100
Fonte: Dados primários, Março 2015

Em relação a distribuição dos membros do conselho local do distrito de gondola por sexo,
verifica-se que 20 são do sexo feminino correspondente a 36% e 35 são do sexo masculino que
por sua vez corresponde a 64%, entre homens e mulheres estão distribuídos de forma variável,
com maior frequência dos homens em relação as mulheres, cuja diferença é relativamente
considerável.

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Tabela 2: Distribuição da população de estudo por sexo


Sexo Conselho Local do Distrito de Gondola
Frequência %
Masculino 35 64
Feminino 20 36
Total 55 100
Fonte: Dados primários, Março 2015

4.3.2 Distribuição dos membros do conselho local do distrito de gondola por nível de
escolaridade

O estudo pode comprovar também que quanto ao nível de escolaridade os membros do CLD
podem ser considerados pouco privilegiados. O gráfico 1 mostra que a SDG é composta
maioritariamente por membros de nível elementar (38%), dos que possuem nível médio e
superior são os que fazem parte do sistema do governo (chefes das localidades, dos postos
administrativos e membros do governo distrital) sendo; seguindo-se (8%) de nível básico, (33%)
de nível médio, e por fim(21%) do nível superior.

Gráfico 1: Distribuição dos funcionários por nível de escolaridade

38%

33%

21%

8%

Fonte: Dados primários, Março 2015

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4.4 Análise dos Resultados do campo


4.4.1 Entrevista
Entrevista é uma técnica de recolha de dados que envolve perguntas aos respondentes quer
individualmente, quer em grupo, e as respostas podem ser registadas por escrito ou gravadas
durante a entrevista.
Segundo GOOD & HATT citado por MORCONI e LAKACTOS (2005: 198) “Entrevista
consiste no desenvolvimento de precisão, focalização, fidedignidade e viabilidade de certo acto
social como a conversação”.
Ela é importante instrumento de investigação ou de trabalho nos vários campos das ciências
sociais ou outros sectores de actividades, trata-se de uma conversa com propósitos bem
definidos.
Etnologicamente, a palavra entrevista é constituído de duas palavras: entre (lugar ou espaço que
separa duas pessoas ou coisas) e vista (acto de ver, perceber).
No trabalho de campo realizado, a entrevista, além de permitir uma obtenção mais directa dos
dados, serviu para aprofundar o estudo complementado com outras técnicas de colecta de dados.
Porém, as informações adquiridas tem maior credibilidade quando transmitidas directamente sob
forma de entrevista, ela é particularmente vantajosa com pessoas de pouca instrução e que têm
dificuldades de se expressar por escrito. Mais ela também pode ser vantajosa com pessoas com
grandes conhecimentos pois permite ao entrevistado saber emergir aspectos que não são
normalmente contemplados por simples questionário.
O acesso as informações mais significativas durante a entrevista exigiu do entrevistador atenção,
respeito ético e cuidado especial para garantir a eficiência do presente trabalho.

4.4.2 Objectivos da Entrevista

 A entrevista tinha como objectivos a obtenção de informações dos entrevistados sobre o


envolvimento das comunidades no processo de tomada de decisões;
 Verificar o nível de conhecimento da importância sobre o assunto em destaque pelos
membros do CLD;

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 Descobrir até que ponto as autoridades administrativas locais estão trabalhando no


sentido de melhorar o nível de envolvimento dos membros das comunidades no
processo de tomada de decisões.

4.4.3 Composição do Conselho Local do Distrito de Gondola

A composição do Conselho Local de Gondola obedeceu os critérios estabelecidos na lei 8/2003,


de 19 de Maio sobre os órgãos locais, sendo que este órgão é constituído por cinquenta (50)
membros, de referi que este órgão é dirigido pela administradora Distrital na qualidade de
presidente do órgão, na sua composição conta com os chefes dos posto administrativos e
localidades para além dos membros eleitos das comunidades desde os povoados até ao nível do
Distrito representando os vários seguimentos sociais do Distrito de Gondola.

O processo de selecção dos membros ao Conselho Local do Distrito (CLD) é feito a


partir das comunidades ao nível dos povoados, onde foram escolhidos os membros para o
Conselho Local da Localidade e neste órgão foram escolhidos membros para composição
do Conselho Local do Posto Administrativo (CLPA) e dos 3 (três) posto administrativos
ao nível do Distrito, foram eleitos os membros para composição do Conselho Local do
Distrito (CLD)… portanto, como pode se perceber o processo inicia desde a base,
garantindo a representatividade em todo Distrito[…]11
Ao nível do Posto Administrativo, o processo da constituição do CLPA inicia de igual
modo nas comunidades do respectivo povoado, onde são escolhidos os membros para o
Conselho Local da Localidade e neste órgão também são escolhidos membros para
composição do Conselho Local do Posto Administrativo (CLPA).[ ]

Do Conselho Local do Distrito pode se identificar duas categorias de membros, sendo: membros
composto por chefes das localidades, dos postos administrativos e administradora do distrito em
representação do Governo local a todos os níveis, e outros provenientes das comunidades locais,
isto é, que representam as suas comunidades ou grupos de interesse sem estar vinculado a

11
Entrevista com Administradora do Distrito, 28 de Março de 2015.
11.1. Entrevista Com Chefe do Posto Administrativo de Gondola Sede, 28 de Março de 2015.

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nenhuma instituição pública a nível do distrito(líder religioso, representantes da ametramo,


líderes comunitários, camponeses entre outros extractos sociais ou representante da sociedade
civil).
Os Conselhos Locais, em todos os níveis são superiormente dirigidos pelos dirigentes do
respectivo órgão local do Estado daquele escalão territorial, ou seja, o conselho local do distrito,
do posto administrativo, e das localidades são presididos respectivamente pelo administrador do
distrito, chefe do posto administrativo, chefe da localidade administrativa12.

Os dirigentes dos Órgãos Locais do Estado desde o distrito até a localidade são automaticamente
membros dos Conselhos Locais correspondente a respectiva área de jurisdição, o que significa
que desde a administradora distrital; os 3 (três) chefes dos postos administrativos e 8 (oito) das
localidades administrativas ao nível de Gondola são membros do Conselho Local do Distrito,
isto é, estes dirigentes dos diferentes níveis desde a localidade até ao distrito simultaneamente
são membros do conselho Local do órgão que dirigem.

4.4.4 Funcionamento do Conselho Local do Distrito de Gondola


Dados colhidos no campo do presente estudo indicam que o funcionamento do Conselho Local
do Distrito de Gondola obedece a legislação sobre os órgãos locais do Estado, que prevê a
realização de duas sessões ordinárias por ano. A primeira sessão é realizada ao longo do primeiro
trimestre cuja sua agenda é prevista na mesma legislação que é: Balanço das actividades
realizadas no ano transacto e aprovação das actividades que serão realizadas no ano vigente,
enquanto a segunda sessão ocorre durante o terceiro trimestre do ano com vista a fazer a
avaliação do cumprimento do plano das actividades em curso.

Para além das sessões ordinárias, à luz do previsto no regulamento, o Conselho Local do Distrito
de Gondola realiza sessões extraordinárias, que são convocadas sempre que necessário, ficando
explícito que, não há periodicidade em termos de espaço temporal durante o ano, para a
realização deste tipo de sessões. As sessões extraordinárias ao nível do Conselho Local de
Gondola, normalmente, são convocadas para analisar e discutir assuntos sobre desenvolvimento
12
Guião sobre a Organização e Funcionamento dos Conselhos Locais (Art. 36, nº 1)

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socioeconómico, político e cultural do distrito e sempre que a necessidade o justificar13.


Igualmente são convocadas as sessões extraordinárias para preparação de visitas de nível
provincial, central e presidencial ao distrito, onde são convidadas algumas pessoas influentes e
representantes de diversos grupos de interesse (de carácter económico, social ou cultural)

Uma vez tratar-se por um órgão onde discute-se assuntos de maior relevo para a vida do distrito,
e sendo um espaço de interacção entre o Estado e os membros representantes das comunidades,
onde o Governo colhe sensibilidades das comunidades sobre diversos assuntos importantes para
o distrito, as propostas de agenda e a data de realização de cada sessão do Conselho Local do
distrito de Gondola são divulgadas com antecedência de modo a permitir que os Conselhos
Locais hierarquicamente inferiores discutam e assumam uma posição sobres os assuntos a serem
discutidos e, na sessão do CLD, os seus representantes façam chegar as opiniões ou
sensibilidades do órgão e da região a que representa a respeito de cada assunto que corporiza a
agenda de cada sessão. Neste sentido, as sessões dos Conselhos Locais dos Postos
Administrativos e das Localidades que integram o distrito de Gondola antecedem as do nível
hierarquicamente superior, cabendo ao Governo Distrital (GD) a determinação da periodicidade
das respectivas sessões.

4.4.5 Articulação entre o governo e o Conselho Consultivo Local na planificação distrital

Para o Governo do Distrito de Gondola alcançar os objectivos preconizados depende em grande


medida da relação entre os Conselhos Locais e o Governo a vários níveis da estrutura hierárquica
e administrativa instalada localmente. Os conselhos locais têm um grande papel na concepção e
implementação dos planos de desenvolvimento distrital, na elaboração do plano económico,
social e posterior aprovação. São estes espaços que garantem a participação da comunidade, na
definição da vida económica, social e cultural do distrito em prol do desenvolvimento local.

As comunidades são parte integrante do processo de governação a quem recai as acções do


governo e são as comunidades que melhor conhecem suas necessidades e de indicar a hierarquia

13
Para discussão de outros assuntos de relevo ao nível do Governo distrital.

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das necessidades prioritárias a serem satisfeitas nas suas vidas, dai o seu envolvimento na busca
de soluções para os mesmos pelo Governo Local. Neste contexto, é responsabilidade do
Governo criar um conjunto de condições básicas para garantir uma vida estável e condigna aos
seus cidadãos, que pode se traduzir na concepção e implementação de iniciativas visando a
satisfação das necessidades colectivas e sempre com o envolvimento das respectivas
comunidades.

O governo distrital de Gondola junto com as comunidades através dos Conselhos Locais,
identificam a forma mais adequada de resolver os problemas que afectam o distrito, buscando
soluções que reúna consenso entre o governo e os representantes das comunidades no seio das
discussões levantadas a respeitos das iniciativas ou projectos que são submetidos ao debate onde
cada parte apresenta argumentos que conferem mérito às suas posições por elas assumidas dentro
da visão daquilo que deve ser o rumo dos assuntos em debate.

Portanto, o Conselho Local do distrito de Gondola, constitui um espaço de interacção entre o


Governo e as comunidades locais, que serve, não só para dar a conhecer aos cidadãos as
realizações do Governo, mas também, é o mais importante, colher opiniões dos cidadãos sobre as
prioridades a serem tomadas no exercício de governação local.

O Governo do Distrito de Gondola em contacto e coordenação directa com as comunidades


através dos Conselhos Locais a vários níveis (CLD, CLPA e CLL), estes últimos participam na
definição de infra-estruturas consideradas prioritárias dentro das suas necessidades e na
identificação de locais viáveis para a sua implantação, desenvolvendo neste exercício, uma
relação de articulação entre os dois (2) órgãos (governamental e o Conselho Local do Distrito),
onde a comunidade identifica as suas necessidades dando a conhecer as estruturas
governamentais e o executivo em coordenação com os Conselhos locais, buscam as melhores
alternativas de solução para a satisfação das necessidades levantadas, não só, como também a
comunidade participa no acompanhamento da implementação dos projectos localmente
concebidos no âmbito das iniciativas do governo distrital.

Portanto, o Conselho Local do Distrito constitui um órgão que representa o mais alto nível da
planificação participativa a nível do distrito de Gondola onde a comunidade através da sua

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representação participa na definição de prioridades de desenvolvimento e gestão de recursos


naturais ao nível local.

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CAPITULO V: CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

5.1 Introdução

Feita a análise dos dados obtidos no campo de estudo e do seu enquadramento na literatura
teórica, segue-se as conclusões da presente pesquisa no Governo do Distrito de Gondola,
recomendações e referências bibliográficas mencionadas como suporte da abordagem do tema do
trabalho.

5.1.1 Conclusão

O presente trabalho tinha como objectivo analisar o processo de tomada de decisões no Distrito
de Gondola, tendo em conta o envolvimento das comunidades locais a quem recai as acções do
governo e são as comunidades que melhor conhecem suas necessidades e de indicar a hierarquia
das necessidades prioritárias a serem satisfeitas nas suas vidas, dai o seu envolvimento na busca
de soluções para os mesmos pelo Governo Local.

Entre vários objectivos específicos, foram igualmente alcançados a destacar o de compreender o


processo de participação comunitário no Distrito de Gondola em que os membros das
comunidades participam na definição de infra-estruturas consideradas prioritárias dentro das suas
necessidades e na identificação de locais viáveis para a sua implantação, desenvolvendo neste
exercício, uma relação de participação comunitária, como também a comunidade participa no
acompanhamento da implementação dos projectos localmente concebidos no âmbito das
iniciativas do governo distrital.

Em relação a hipótese principal levantada, no presente estudo, foi confirmado que as autoridades
administrativas de Gondola privilegiam o envolvimento das comunidades locais no processo de
tomada das decisões como forma mais adequada de participação comunitária das decisões que
lhes afectam directamente através dos seus representantes eleitos. Verificou – se igualmente que
para o Governo do Distrito de Gondola alcançar os objectivos preconizados depende em grande
medida da relação entre os Conselhos Locais e o Governo a vários níveis da estrutura hierárquica
e administrativa instalada localmente.

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O Conselho Local do Distrito de Gondola exerce também uma influência significativa nas
decisões locais referentes aos assuntos sobre o desenvolvimento socioeconómico e cultural do
distrito, com destaque para plano Económico-Social e Orçamento do Distrito, as opiniões
emitidas por este órgão, dentro das suas competências neste processo, mostram-se essenciais e
determinantes nas decisões do executivo do governo de gondola sobre este instrumento.

5.2 Recomendações

 A necessidade de fortalecer e potenciar o processo de desconcentração, permitindo deste


modo, uma ampla participação dos cidadãos na gestão das questões do desenvolvimento
local. Neste contexto, torna-se imprescindível capacitar os Conselhos Locais ao nível do
Distrito, dotando-lhes de capacidades de intervenção no processo de participação
comunitária.
 O processo de capacitação dos membros dos conselhos locais a todos os níveis, tem vista
elucida-lo de modo a que estes tenham consciência da lógica da existência do órgão na
estrutura administrativa local, essencialmente, do seu papel e responsabilidade (como
membros) neste órgão e do papel que esta instituição desempenha ao nível local.
 Estabelecer meios de comunicação que possam possibilitar uma interacção entre os
conselhos locais e o governo de forma efectiva; visto que a comunicação não serve
apenas para informar aos membros dos conselhos locais sobre suas actividades, mas têm
como objectivo o de despertar e activa-los da vontade e o orgulho de fazerem parte do
órgão, o sentimento de que fazem parte do trabalho na totalidade.
 Melhorar as condições de trabalho dos membros dos conselhos locais a todos níveis e
garantir o aperfeiçoamento das suas tarefas; consciencializá-los sobre objectivos, valores
e missão do seu envolvimento no processo de desenvolvimento local.

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Referências Bibliográficas

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arquivo consultado em 16 de Agosto de 2014.

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