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CAPÍTULO 1

SUMÁRIO

1 O QUE É O ESPIRITISMO

1.1 PRECURSORES DO ESPIRITISMO


1.1.1 Emanuel Swedenborg
1.1.2 Andrew Jackson Davis
1.1.3 Hydesville – As irmãs Fox (o ano de 1848)
1.1.4 As mesas girantes

1.2 ALLAN KARDEC


1.2.1 Um homem destinado a uma missão
1.2.2 Consolador
1.2.3 O que é o Espiritismo

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Curso Básico de Espiritismo O que é o Espiritismo

1. O QUE É O ESPIRITIS
ESPIRITISMO
1.1. PRECURSORES DO ESPI
ESPIRITISMO

1.1.1. EMANUEL SWEDENBORG


Muito culto, este grande vidente
sueco era engenheiro de minas, uma
autoridade em metalurgia, zoólogo, ana-
tomista e uma grande autoridade em
física e astronomia. Grande precursor do
Espiritismo. Viveu em Londres. Em 1787
manifesta-se médium.
O caso de Gothenburg é famoso,
onde o vidente observou e descreveu um
incêndio em Estocolmo, a 300 milhas de
distância, com perfeita exactidão, estan-
do ele num jantar com 16 convidados,
que serviram de testemunhas. Este caso
foi investigado, inclusive, pelo filósofo
Kant, que era seu contemporâneo.
Ele verificou, através da vidência,
que o mundo espiritual, para onde va-
mos após a morte, se compõe de várias
esferas, representando graus de lumino-
sidade e felicidade. Cada um de nós irá
para aquela que se adapte à nossa condição espiritual. Somos julgados, automatica-
mente, por uma lei espiritual de similitudes. O resultado é determinado pelo resulta-
do global da nossa vida, de modo que a absolvição ou o arrependimento no leito da
morte têm pouco proveito. Verificou, nessas esferas espirituais, que o cenário e as
condições deste mundo eram reproduzidos fielmente, do mesmo modo que a estru-
tura da sociedade.
Viu casas onde viviam famílias, templos onde praticavam o culto, auditórios
onde se reuniam para fins sociais, palácios onde deviam morar os chefes.
A morte era suave, dada a presença de seres celestiais, que ajudavam os re-
cém-chegados na sua nova existência.
Eles passavam, imediatamente, por um período de absoluto repouso. Recon-
quistavam a consciência em poucos dias. Havia anjos e demónios, mas eram seres
humanos que tinham vivido na Terra e que, ou eram almas retardatárias (demónios),
ou altamente desenvolvidas (anjos). Levam consigo os seus hábitos mentais adquiri-
dos, as suas preocupações, os seus preconceitos. Todas as crianças eram recebidas
igualmente, fossem ou não baptizadas. Cresciam no outro mundo. Jovens serviam-
lhes de mães até que chegassem as mães verdadeiras. Não havia penas eternas. Os
que se achavam nos infernos podiam trabalhar para sair de lá, desde que quisessem.
Os que se achavam no céu não tinham lugar permanente: trabalhavam por uma po-
sição mais elevada. Havia o casamento, sob a forma de união espiritual. Ele fala da
arquitectura, do artesanato, das flores, dos frutos, dos bordados, da arte, da música,
da literatura, da ciência, das escolas, dos museus, das academias, das bibliotecas e

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dos desportos. Os que saíam deste mundo velhos e decrépitos, doentes ou deforma-
dos, recuperavam a mocidade e, gradativamente, o completo vigor. Os casais conti-
nuavam juntos, se os seus sentimentos recíprocos os atraíam. Caso contrário, era
desfeita a união.
Isto por volta de 1790, quase 100 anos antes de aparecer o Espiritismo, com Allan
Kardec.

1.1.2. ANDREW JACKSON DAVIS


Filho de pais humildes, nasceu nos
EUA, em 1826, num distrito rural do esta-
do de Nova Iorque. Era falto de actividade
intelectual, corpo mirrado, sem nenhum
traço que denunciasse a sua excepcional
mediunidade futura. Nos últimos anos da
infância desabrochavam os seus poderes
psíquicos. Ouvia vozes no campo. Vozes
gentis, que lhe davam bons conselhos e
conforto. Tornou-se vidente. Fazia dia-
gnósticos médicos com a sua vidência.
Olhando o corpo humano, era como se ele
se tornasse transparente. Cada órgão apa-
recia claramente e com uma radiação es-
pecial e peculiar, que se obscurecia em
caso de doença. Via os espíritos e falou
com Swedenborg, já desencarnado. Tinha
pouca cultura e 21 anos de idade. Em transe, proferia discursos sobre os mais varia-
dos temas, dos quais pouco ou nada sabia. Posteriormente, de nada se lembrava.
Escreve cerca de trinta livros, editados com o título de Filosofia Harmónica,
que lhe foram transmitidos por Swedenborg. Assiste ao desencarne de uma senhora,
onde descreve pormenorizadamente os processos da morte no plano espiritual.
Por altura de 1856, antes do seu aparecimento, profetizou detalhadamente o apare-
cimento do automóvel, dos veículos aéreos movidos por uma força motriz de nature-
za explosiva, da máquina de escrever e locomotivas, com motores de combustão
interna, com uma riqueza de detalhes impressionante.
Previu o aparecimento do Espiritismo, em Princípios da Natureza, publicado
em 1847.
Davis fez uma descrição pormenorizada do mundo espiritual, mais completa do que
a de Swedenborg.
Davis apresentou a reencarnação como não obrigatória para o progresso do
espírito (o espírito pode, e deve, progredir no espaço, sem necessidade de reencar-
nar). Com ele nasceu o primeiro liceu espiritual, por ele fundado em 25 de Janeiro de
1863, em Nova Iorque, copiado de um sistema de educação que teria presenciado
no plano espiritual, em desdobramento. O célebre vidente americano sofreu acusa-
ções caluniosas e críticas acervas. Homem superior, a tudo se sobrepunha, com tole-
rância evangélica e larga compreensão. Desencarnou em 1910, com 84 anos.

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1.1.3. HYDESVILLE — AS IRMÃS FOX (O ano de 1848)

Historicamente, o Espiritismo surgiu


motivado pelos fenómenos de movimenta-
ção de objectos, verificados em diferentes
países, na Europa, na América e noutras
partes do mundo.
O marco de tais acontecimentos,
todavia, foram as manifestações ocorridas
na aldeia de Hydesville, no condado de
Wayne, perto de Nova Iorque, nos Estados
Unidos da América. Ali morava o casal Fox,
com três filhas, duas das quais viviam com
os pais; os Fox estabeleceram-se na casa
desde 1847”. (5) (*)
Numa noite do ano de 1848, nas
paredes de madeira do barracão de John
Fox começaram a soar pancadas
incomodativas, perturbando o sono da
família, toda ela metodista. As meninas
Katherine (Katie ou Kate), de nove anos de
idade, e Margaret, de doze anos, correram
para o quarto dos pais, assustadas com os
golpes fortes no tecto e paredes do seu quarto. (3)
As pancadas, ou raps, começaram nessa noite; depois, ouvia-se o arrastar de
cadeiras e, com o tempo, os fenómenos tornaram-se mais complexos; tudo estreme-
cia, os objectos moviam-se, havia uma explosão de sons fortes. (5)
Três noites seguidas, até 31 de Março de 1848, os fenómenos repetiram-se
intensamente, impedindo que os Fox conciliassem o sono. O sr. Fox fez buscas com-
pletas pelo interior e exterior da casa, mas nada encontrou que explicasse as ocor-
rências.
A menina Kate, um dia, já habituada ao fenómeno, pôs-se a imitar as panca-
das, batendo com os dedos sobre um móvel, enquanto exclamava, em direcção ao
ponto onde os ruídos eram mais constantes: “Vamos, Old Splitfoot, faça o que eu
faço”. Prontamente as pancadas do desconhecido se fizeram ouvir, em igual número,
e paravam quando a menina também parava.
Margareth, a brincar, disse: “Agora, faça o mesmo que eu: conte um, dois, três, qua-
tro”, e ao mesmo tempo dava pancadas com os dedos. Foi-lhe plenamente satisfeito
esse pedido, deixando a todos estupefactos e medrosos”. (3)
As meninas Fox eram protestantes e supunham tratar-se do demónio. Cha-
mavam ao batedor sr. Splitfoot (sr. Pé Fendido), que corresponde a pé de bode.
A família Fox estava alarmada; acorreram vizinhos e curiosos. Toda a localida-
de comentava os acontecimentos. Mr. Duesler idealizou, então, o alfabeto, para
poderem traduzir as pancadas e compreenderem o que dizia o invisível.
O batedor invisível contou a sua história: chamava-se Charles B. Rosma; fora
um vendedor ambulante e, hospedado naquela casa pelo casal Bell, ali o assassina-
ram, para roubar-lhe a mercadoria e o dinheiro que trazia, e o seu corpo fora sepul-
tado na cave. (3) Fizeram uma busca no local indicado e aí encontraram tábuas, alca-
(*) Os algarismos colocados entre parênteses correspondem, na bibliografia,
bibliografia no final dos resumos de
cada capítulo, aos mesmos algarismos com que estão assinaladas as fontes que serviram de base ao
texto, ou extraídas as citações.

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trão, cal, cabelos, ossos, utensílios. Uma criada dos Bell, Lucretia Pulver, declara que
viu o vendedor e descreve-o; diz como ele chegara à casa e refere o seu misterioso
desaparecimento. Uma vez, descendo à adega, o seu pé enterrou-se num buraco, e
falando disto ao patrão, ele explicou que deviam ser ratos; e foi apressadamente
fazer os necessários reparos. Ela vira nas mãos dos patrões objectos da caixa do am-
bulante. (5)
Arthur Conan Doyle, no seu livro História do Espiritismo, relata que cinquenta
e seis anos depois foi descoberto que alguém fora enterrado na adega da casa dos
Fox. Ao ruir uma parede, crianças que por ali brincavam descobriram um esqueleto.
Os Bell, para maior segurança, haviam emparedado o corpo, na adega, onde inicial-
mente o haviam enterrado.
Em 23 de Novembro de 1904, o Boston Journal noticiava que o esqueleto do
homem que possivelmente produziu as batidas, ouvidas inicialmente pelas irmãs Fox,
em 1848, fora encontrado e as mesmas estavam, portanto, eximidas de qualquer
dúvida com respeito à sinceridade delas na descoberta da comunicação dos espíritos.
(7)
Diversas comissões se formaram na época dos acontecimentos, com a finalidade de
estudar os estranhos fenómenos e desmascarar a fraude atribuída às Fox. Verificou-
se que eles ocorriam na presença das meninas; atribui-se-lhes o poder da mediunida-
de. Nenhuma comissão, todavia, conseguiu demonstrar que se tratava de fraude. Os
factos eram absolutamente verídicos, embora tivessem submetido as meninas aos
mais rigorosos e severos exames, atingindo, às vezes, as raias da brutalidade.
As irmãs Fox foram, pressionadas. A Igreja excomungou-as, como pactuantes
com o demónio. Foram acusadas de embusteiras, e ameaçadas fisicamente muitas
vezes.
Em 1888, ao comemorar os 40 anos dos fenómenos de Hydesville, Margareth
Fox, iludida por promessas de favores pecuniários pelo cardeal Maning, fez publicar
uma reportagem no New York Herald em que afirmou que os fenómenos que reali-
zaram eram fraudulentos. Todavia, no ano seguinte, arrependida da sua falta de ho-
nestidade para com o Espiritismo, reuniu grande público no salão de música de Nova
Iorque e retracta-se das suas declarações anteriores, não só afirmando que os fenó-
menos de Hydesville eram reais, como provocando uma série de fenómenos de efei-
tos físicos no salão repleto.
A retractação foi publicada na época. Consta da Light e do jornal americano
New York Press, de 20 de Maio de 1889.
Como, porém, a lealdade e a sinceridade não são requisitos dos espíritos apaixona-
dos, ainda hoje, quando se quer denegrir a fonte do Espiritismo, vem à baila a con-
fissão das moças. Na retractação não se toca, ou quando se toca é para mostrar que
não há no que confiar. Os pormenores ficam de lado. (5)
Os fenómenos aqui narrados e as irmãs Fox, suas personagens principais, passaram para a
história do Espiritismo. No entanto, o Espiritismo não surge aqui, mas sim mais tarde, com a edição de
O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, em 18 de Abril de 1857.

1.1.4. AS MESAS GIRANTES

Uma série progressiva de fenómenos deram origem à Doutrina Espírita.


“O primeiro facto observado foi o da movimentação de objectos diversos. De-
signaram-no vulgarmente pelo nome de mesas girantes ou dança das mesas”. (8)
Tal fenómeno parece ter sido notado primeiramente na América do Norte de
forma intensa, e propagou-se pelos países da Europa, como a França, a Inglaterra, a

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Alemanha, a Holanda e até a Turquia, nos meados do século XIX, tendo como mar-
co, especialmente, o ano de 1848, com os fenómenos de Hydesville já estudados,
envolvendo a família Fox.
Todavia, a História regista que ele remonta à mais alta antiguidade, tendo-se
produzido de formas estranhas, como ruídos insólitos, pancadas sem nenhuma causa
ostensiva.
“A princípio quase só encontrou incrédulos, porém, ao cabo de pouco tempo, a mul-
tiplicidade de experiências não mais permitiu que pusessem em dúvida a realidade”.
(8)

O fenómeno das pancadas, ou batidas, foi chamado raps ou echoes; o das


mesas girantes, ou moventes, de table-moving, para os ingleses; table-volante ou
table-tournante, para os franceses. No início, nos Estados Unidos da América, os es-
píritos só se comunicavam pelo processo trabalhoso, e de grande morosidade, de
alguém dizer em voz alta o alfabeto e o espírito era convidado a indicar por raps ou
echoes, no momento em que fossem pronunciadas as letras que, reunidas, deviam
compor as palavras que queria dizer. Era a telegrafia espiritual. (9)
Os próprios espíritos indicaram, em fins de 1850, uma nova maneira de co-
municação: bastava, simplesmente, que se colocassem ao redor de uma mesa, em
cima da qual se poriam as mãos. Levantando um dos pés, a mesa daria (enquanto se
recitava o alfabeto) uma pancada toda a vez que fosse proferida a letra que servisse
ao espírito para formar as palavras. Esse processo, ainda que muito lento, produziu
resultados excelentes, e assim se chegou às mesas girantes e falantes.
Há que notar, que a mesa não se limitava a levantar-se sobre um pé para res-
ponder às perguntas que se faziam; movia-se em todos os sentidos, girava sob os
dedos dos experimentadores, às vezes elevava-se no ar, sem que se descobrissem as
forças que a tinham suspendidas. (9)
O fenómeno das mesas girantes propagou-se rapidamente e durante muito
tempo entreteve a curiosidade dos salões. Depois, aborreceram-se dele, pois a gente
frívola, que apenas imita a moda, o considerou como simples distracção.
As pessoas criteriosas e observadoras, todavia, abandonaram as mesas giran-
tes por terem visto nascer delas algo sério, destinado a prevalecer e passaram a ocu-
par-se com as consequências a que o fenómeno dava lugar, bem mais importantes

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nos seus resultados. Deixaram o alfabeto pela ciência, tal o segredo desse aparente
abandono (...)
As mesas girantes representarão sempre o ponto de partida da Doutrina Espí-
rita e merecem, por isso, alguma explicação, para que, conhecendo-se as causas,
facilitada será a chave para a decifração dos efeitos mais complexos. (10)
Para que o fenómeno se realize há necessidade da intervenção de uma ou
mais pessoas dotadas de especial aptidão, designadas pelo nome de médiuns.
Muitas vezes, um poderoso médium produzirá sozinho mais do que vinte ou-
tros juntos. Basta colocar as mãos na mesa para que, no mesmo instante, ela se
mova, erga , revire, dê saltos, ou gire com violência.
A princípio, supôs-se que os efeitos poderiam explicar-se pela acção de uma
corrente magnética, ou eléctrica, ou ainda pela de um fluído qualquer. Outros factos,
entretanto, demonstraram ser esta explicação insuficiente. Estes factos são as provas
de inteligência que eles deram. Ora, como todo o efeito inteligente há-de, por força,
derivar de uma causa inteligente, ficou evidenciado que, mesmo admitindo-se, em
tais casos, a intervenção da electricidade, ou de qualquer outro fluido, outra causa se
achava a essa associada. Qual era? Qual a inteligência? (10)
As observações e as pesquisas espíritas realizadas por Allan Kardec e outros
sábios, demonstraram que a causa inteligente era determinada pelos espíritos que
podiam agir sobre a matéria, utilizando o fluido fornecido pelos médiuns, isto é,
meios ou intermediários entre os espíritos e os homens, gerando, assim, as manifes-
tações físicas e as manifestações inteligentes.
Aperfeiçoaram-se os processos. As comunicações dos espíritos não se detive-
ram nas manifestações das mesas girantes. Evoluíram para as cestas e pranchetas,
nas quais se adaptava um lápis e as comunicações passaram a ser escritas – era a
psicografia indirecta. Posteriormente, eliminaram-se os instrumentos e apêndices; o
médium, tomando directamente o lápis, passou a escrever por um impulso involuntá-
rio e quase febril – era a psicografia directa.

1.2. ALLAN KARDEC

1.2.1. UM HOMEM DESTINADO


DESTINADO A UMA MISSÃO

O professor Hippolyte Léon Denizard Ri-


vail – Allan Kardec – interessou-se pelos fenó-
menos espíritas no ano de 1855, quando o sr.
Carlotti, seu amigo há 25 anos, lhe falou, pela
primeira vez, da intervenção dos espíritos e con-
seguiu aumentar as suas dúvidas sobre tais fe-
nómenos.
Inicialmente, o professor Rivail esteve a
ponto de abandonar as investigações, porquan-
to não era positivamente um entusiasta das ma-
nifestações espíritas. Quase deixou de frequen-
tar as sessões, não o fazendo em atenção aos
pedidos do sr. Carlotti, e de um grupo de inte-
lectuais que, confiando na sua inteligência,
competência e honestidade, lhe delegaram a

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ingente tarefa de compilar, separar, comparar, condensar e coordenar as comunica-


ções que os espíritos lhes ditaram. Assinala Kardec que foram as meninas Baudin
(Julie e Caroline – 14 e 16 anos de idade) as médiuns que mais concorreram para
esse trabalho, sendo quase todo o livro (refere-se ao Livro dos Espíritos) escrito por
intermédio delas e na presença de selecta e
numerosa assistência.
Foi, então, a casa da sonâmbula srª. Roger,
na companhia do sr. Fortier, seu hipnotizador, e ali
encontrou o sr. Pâtier e a srª. Plainemaison, que lhe
falaram dos mesmos fenómenos referidos por
Carlotti, mas em tom mais ponderado.
O sr. Pâtier, funcionário público, de meia-
idade, muito instruído, de carácter sério, frio e
calmo; de falar ajuizado, isento de qualquer arrou-
bo, causou-lhe excelente impressão e, quando o
convidou a assistir às experiências que se realizavam
em casa da srª. Plainemaison, na Rua Grange-
Batelière, n.º 18, em Paris, aceitou com sofregui-
dão. O encontro fora marcado para Terça-feira, 31
de Maio de 1855, às oito horas da noite. (2)
Já anteriormente, em 1854, o prof. Rivail
ouviu “falar, pela primeira vez, das mesas girantes,
pela boca do sr. Fortier, magnetizador, com o qual
entrara em relações para os seus estudos sobre magnetismo”. O sr. Fortier um dia
falou-lhe: “Eis uma coisa mais do que extraordinária: – não somente magnetizam
uma mesa, fazendo-a girar, mas também a fazem falar; perguntam coisas e a mesa
responde”. (2)
Allan Kardec replica: “Isto é outra questão: acreditarei quando puder ver com
os meus próprios olhos e quando me provarem que uma mesa tem um cérebro para
pensar, nervos para sentir e que pode tornar-se sonâmbula: por enquanto, seja-me
permitido dizer que tudo isso me parece um conto para fazer dormir em pé”. (2)
Em Obras Póstumas, Kardec comenta: “Era lógico este raciocínio: eu concebia
o movimento por efeito de uma força mecânica, mas ignorando a causa e a lei do
fenómeno, afigurava-se-me absurdo atribuir-se inteligência a uma coisa puramente
material. Achava-me na posição dos incrédulos actuais, que negam porque apenas
vêem um facto que não compreendem”. (1)
Foi na casa da sr.ª Plainemaison, naquela Terça-feira, 31 de Maio de 1855 já
citada, que Hippolyte Léon Denizard Rivail assistiu pela primeira vez os fenómeno das
mesas que “giravam, saltavam e corriam, em condições tais que não deixavam lugar
para qualquer dúvida. (...) Eu entrevia, naquelas aparentes futilidades, no passatem-
po que faziam daqueles fenómenos, qualquer coisa de sério, como que a revelação
de uma nova lei, que tomei a mim estudar a fundo (...) Os médiuns eram duas se-
nhoritas Baudin (Julie e Caroline). (...) Aí, tive o ensejo de ver comunicações contí-
nuas e respostas a perguntas formuladas, algumas vezes, até a perguntas mentais,
que acusavam, de modo evidente, a intervenção de uma inteligência estranha”. São
declarações do codificador. (3).
E continua ele, em Obras Póstumas: “Compreendi, antes de tudo, a gravidade
da exploração que ia empreender; percebi, naqueles fenómenos, a chave do proble-
ma, tão obscuro e controvertido, do passado e do futuro da Humanidade, a solução
que eu procurava em toda a minha vida. (...) fazia-se mister, portanto, andar com a
maior circunspecção e não levianamente; ser positivista e não idealista, para não me
deixar iludir”. (4)

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Antes de dedicar-se ao estudo dos fenómenos espíritas, quem era Allan Kar-
dec?
Ele nasceu na cidade de Lyon, na França, a 3 de Outubro de 1804, recebendo
o nome de Hippolyte Léon Denizard Rivail.
Os estudos de Kardec foram iniciados em Lyon, tendo-os completado em
Yverdun, na Suíça, sob a direcção do célebre e inesquecível professor Pestalozzi. Teve
uma sólida instrução, servida por uma robusta inteligência. Ele conhecia alemão, in-
glês, italiano, espanhol, holandês, sem falar na língua materna, e tinha grande cultu-
ra científica. (5)
O seu trabalho pedagógico é rico e extenso.
Produziu, em França, quase uma dezena de obras sobre
educação, no período de 1828 a 1849. Os seus livros
foram adoptados pela Universidade de França. Traduzia
para a língua alemã, que conhecia profundamente,
diferentes obras de educação e moral, dentre elas,
Telémaco, de Fénelon.
Foi bacharel em Ciências e Letras. Membro de
sociedades sábias da França, entre outras, da Real
Academia de Ciências Naturais. Emérito educador, criou
em Paris o Instituto Técnico, estabelecimento de ensino
com base no método Pestalozzi; foi professor no Liceu
Polimático. Fundou, em sua casa, cursos gratuitos de
Química, Física, Anatomia Comparada, Astronomia, etc.
Criou um método original, por processos mnemónicos,
que levava o estudante a aprender e compreender as lições com facilidade e rapidez.
No ano de 1832 casou-se com Amélie Gabrielle Boudet, professora com di-
ploma de primeira classe. A sua doce Gabi, como ele carinhosamente a chamava,
ajudou-o intensamente, tanto nas suas actividades pedagógicas quanto no seu fe-
cundo labor pela causa espírita.
Como homem, foi um homem de bem; carácter adamantino. As qualidades
morais marcavam a sua personalidade; na vida, a coragem nunca lhe faltou; nunca
desanimava; a calma foi um destaque do seu carácter; de temperamento jovial; de
inteligência brilhante, marcada pela lógica e pelo bom senso; não fugia à discussão,
quando a finalidade era esclarecer os assuntos.
Allan Kardec foi o escolhido para tão elevada missão – a de Codificador, jus-
tamente pela nobreza dos seus sentimentos e pela elevação do seu carácter, tudo
aliado a uma sólida inteligência. (5)
“Ele sujeitava os seus sentimentos, os seus pensamentos à reflexão. Tudo era
submetido ao poder da lógica. (...) Nada passava sem o rigor do método, sem o crivo
do raciocínio. Filósofo, benfeitor, idealista, dado às ideias sociais, possuía, ainda, um
coração digno do seu carácter e do seu valor intelectual”. (5)
A partir do instante em que se dedicou ao estudo dos fenómenos da inter-
venção dos espíritos, no ano de 1855, na casa da srª. Plainemaison, até ao ano de
1869, quando desencarnou vitimado pelo rompimento de um aneurisma, no dia 31
de Março, trabalhou intensa e incansavelmente, tendo produzido o maior acervo da
Doutrina Espírita.
Do seu trabalho gigantesco, destacamos:
O Livro dos Espíritos (1857),
O Livro dos Médiuns (1861),
O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864),
O Céu e o Inferno, ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo (1865),
A Génese, os Milagres e as Predições (1868).

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Estes livros constituem a base do


Espiritismo ou Doutrina Espírita.
Kardec criou uma terminologia apropriada
aos novos conceitos da Doutrina Espírita. Entre
outros, os vocábulos espírita, espiritista e
espiritismo, que exprimiam, sem nenhum
equívoco, as ideias relativas aos espíritos na
orientação doutrinária espírita. Não confundir com
espiritual, espiritualista e espiritualismo.
Produziu obras subsidiárias e
complementares, de grande valor doutrinário,
como O que é o Espiritismo, Introdução ao Estudo
da Doutrina Espírita e Obras Póstumas. Criou a
Revista Espírita, jornal de estudos psicológicos,
periódico mensal que editou e preparou os
originais de Janeiro de 1858 a Junho de 1869, e
fundou, em Paris, a 1 de Abril de 1858, a primeira
associação espírita regularmente constituída, sob a denominação de Sociedade Pari-
siense de Estudos Espíritas.
Nestas rápidas anotações, não conseguimos dizer tudo a respeito do missio-
nário da Codificação Espírita. Registámos, apenas, aspectos gerais da sua magnífica
personalidade. Sugerimos, entretanto, que os interessados consultem a bibliografia
indicada, para melhor sentirem o valor extraordinário, a sua vida e a sua obra.

1.2.2. CONSOLADOR

As grandes verdades da Espiritualidade Superior, sempre que são reveladas a


uma certa população, sofrem de um efeito rotineiro: podemos chamar-lhe recuo evo-
lutivo.
Na verdade, segundo a lei do progresso, nenhuma conquista do espírito, uma
vez adquirida, se perde. Daí o itálico.
O recuo evolutivo deriva da média evolutiva de uma população determinada
que, quando as verdades reveladas estão mais um tanto adiante da sua mentalidade,
imiscui nessas ideias novas a sua ganga, as suas imperfeições, de tal forma que da
verdade original resulta uma meia verdade.
Aconteceu com o Cristianismo e provavelmente acontece já com o Espiritis-
mo, etc. Será talvez a única forma de essas populações se associarem à revelação
sem se perderem totalmente dela. Em termos numéricos é uma meia perda e não
uma perda inteira. Do mesmo modo não é uma conquista ou um passo adiante de
forma óptima, mas sim uma meia conquista ou um meio passo adiante.
Quando Jesus no Evangelho fala do Consolador ou Paracleto dominava já
muito melhor do que nós, hoje, esse fenómeno do recuo evolutivo. Por isso disse que
enviaria mais tarde o Consolador, que lembraria os ensinos dele e adiantaria mais
algumas ideias que na época seria inútil referir.
Surge o Espiritismo e, como Allan Kardec define, reúne as características do
tal Consolador. Até aqui tudo bem. O que é menos bom é os espíritas embandeira-
rem em arco e colocarem a etiqueta na testa dizendo que o espiritismo é o tal Con-
solador. A etiqueta, qualquer que seja, ainda traz um resíduo mágico, antiquíssimo. E
depois, de tanto se usar a etiqueta, perde-se o conteúdo.

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O Espiritismo será o Consolador desde que o movimento espírita não se dis-


tancie da Doutrina Espírita, tal como Kardec a codificou.
Será Consolador se dispensar o rótulo e se traduzir em actos e palavras do
quotidiano que façam jus a esse nome.

1.2.3. O QUE É O ESPIRITISMO?

Allan Kardec, em Obras Póstumas, explica que nos seus estudos de Espiritismo
aplicou à nova ciência o método experimental (indutivo) (*), bem como o método
dedutivo (**) e jamais elaborou teorias preconcebidas; observava cuidadosamente,
comparava, deduzia consequências; dos efeitos procurava remontar à causa, por
dedução e pelo encadeamento lógico dos factos, não admitindo por válida uma ex-
plicação senão quando resolvia todas as dificuldades da questão. (4)
Ele diz que um dos primeiros resultados que colheu das suas observações foi
que os espíritos, nada mais sendo que as almas dos homens, não possuíam a plena
sabedoria, nem a ciência integral; que o saber de que dispunham se circunscrevia ao
grau de adiantamento que haviam alcançado. Que reconhecida desde o princípio,
esta verdade o preservou do grave escolho de crer na infalibilidade dos espíritos e o
impediu de formular teorias prematuras, tendo por base o que fora dito por um ou
alguns deles. (4)
O simples facto da comunicação com os espíritos, dissessem eles o que dis-
sessem, provava a existência do mundo invisível ambiente. Já era um ponto essencial,
um imenso campo aberto às nossas explorações, a chave de inúmeros fenómenos
até aqui inexplicados. O segundo ponto, não menos importante, era que aquela co-
municação permitia que se conhecesse o estado desse mundo, seus costumes, etc.
Cada espírito, em virtude da sua posição pessoal e dos seus conhecimentos, desven-
davam-lhe uma face daquele mundo, do mesmo modo que se chega a conhecer o
estado de um país interrogando habitantes seus de todas as classes, não podendo
um só, individualmente, informar-nos de tudo. Compete ao observador formar o con-
junto, por meio dos documentos colhidos de diferentes lados, coleccionados, coor-
denados e comparados uns com os outros. Conduzi-se, pois, com os espíritos, como
houvera feito com os homens. Para ele, eles foram, do menor ao maior, meios de o
informar e não reveladores predestinados. (4)
Tais as disposições com que empreendeu os seus estudos, e nelas prosseguiu
sempre. Observar, comparar e julgar, essa a regra que constantemente seguiu. (4)
E no seu livro O que é o Espiritismo o codificador explica, sumariamente:
“O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutri-
na filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre
nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que
dimanam dessas mesmas relações”.
Tem por divisa: “Fora da caridade não há salvação.”
O Espírito da Verdade adverte: “Espíritas, amai-vos, este o primeiro ensina-
mento; instruí-vos, eis o segundo.”
E conclui: “Podemos defini-
defini- lo as
as sim: o Espiritismo é uma ciência que trata da
natureza, origem e destino dos Espíri
Espíritos, bem como de suas relações com o mundo
corpo
corpo ral”.
ral” (6)
(*) Raciocínio que parte dos efeitos para as causas, dos factos para as leis gerais.
Forma de raciocínio em que procura, a partir da verificação de alguns casos particulares, formular uma
lei que explique todos os casos da mesma espécie.
(**) Raciocínio em que se parte da causa para o efeito, do princípio para as consequências, do geral para o
particular.
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Curso Básico de Espiritismo O que é o Espiritismo

RESUMO

HYDSVILLE
HYDSVILLE – As irmãs Fox – O ano de 1848

O marco histórico dos acontecimentos que motivaram o aparecimento do Es-


piritismo foi o episódio de Hydesville, aldeia do Condado de Wayne, no Estado de
Nova York, nos Estados Unidos da América do Norte, no ano de 1848. Ocorreram aí
manifestações estranhas de pancadas, ruídos, movimentos de objectos e utensílios,
sem causa visível, chamadas raps, na residência da família Fox. Essa família era for-
mada pelo pai, John Foz, mãe e três filhas, duas das quais moravam com o casal nes-
sa ocasião – Katherine (Katie ou Kate) de nove anos e Margareth de doze anos. Foi
idealizado um alfabeto de comunicação por pancadas e o estranho batedor contou a
sua história, informando que fora um vendedor ambulante de nome Charles B. Ros-
ma e que fora assassinado naquela casa pelo casal Bell, que o hospedara, para rou-
bar-lhe o dinheiro e a mercadoria; o seu corpo fora enterrado na adega. Era uma
prova da imortalidade e da comunicação dos espíritos. A família Fox era metodista e
supunham tratar-se do demónio (Mr. Splifoot – Sr. Pé de Bode). Formaram-se três
comissões sucessivas para estudar o caso, cada uma visando demonstrar o embuste
das meninas Fox, consideradas as responsáveis pelos fenómenos que ocorriam em
presença delas, mas, ao contrário, todas concluíram que o fenómeno era verídico.
Lucrétia Pulver, uma criada dos Bells, declarou ter visto o mascate e descreve-
o; disse que certa vez descendo à adega, o seu pé se enterrou num buraco e falou
disso ao seu patrão. O Sr. Bell disse que deviam ser ratos e apressadamente foi fazer
os reparos. Ela vira na mão dos patrões objectos da caixa do ambulante.
Cinquenta e seis anos mais tarde ruiu uma parede da casa e foi encontrado
um esqueleto, possivelmente do homem que produziu as batidas ouvidas pelas irmãs
Fox em 1848 e as mesmas estavam, portanto, eximidas de qualquer dúvida com res-
peito à sinceridade delas na descoberta da comunicação dos espíritos. O episódio de
Hydesville e as irmãs Fox passaram para o histórico do Espiritismo.

AS MESAS GIRANTES

Uma série progressiva de fenómenos deram origem à Doutrina Espírita. O


primeiro foi o do movimento de objectos diversos, conhecido vulgarmente pelo
nome de mesas girantes ou dança das mesas. Foi notado primeiramente na América
do Norte e propagou-se rapidamente por países da Europa, até à Turquia e outras
partes do mundo. Todavia, a História regista tais fenómenos em todas as épocas. A
princípio só encontrou incrédulos, mas múltiplas experiências provaram a sua reali-
dade. Passaram, então, a ser uma distracção dos salões; chamaram a atenção de
estudiosos e foram, por fim, pesquisados por sábios e cientistas.
O fenómeno das batidas ou pancadas, foi chamado raps ou echoes; o das
mesas girantes ou moventes, de table-moving pelos ingleses e de table-volante ou
table-tournante pelos franceses.
Em finais de 1850, os espíritos indicaram uma nova maneira de comunicação,
em que as pessoas se colocavam ao redor de uma mesa, com as mãos sobre ela;
levantando um dos pés, a mesa dava uma pancada toda a vez que, na recitação do

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O que é o Espiritismo Curso Básico de Espiritismo

alfabeto, fosse proferida a letra que servia para o espírito formar palavras. Além dis-
so, a mesa movia-se em todos os sentidos, girava sob os dedos dos experimentado-
res, elevava-se no ar e, às vezes, respondia até a perguntas feitas mentalmente.
Supôs-se, em princípio, que esses efeitos fossem explicados pela acção magnética, ou
eléctrica, ou ainda pela de um fluido qualquer. Todavia, esta explicação tornou-se
insuficiente, quando os factos demonstraram inteligência. E, para um efeito inteli-
gente, faz-se necessário uma causa inteligente. Foram as pesquisas e estudos feitos
por Allan Kardec e outros sábios que demonstraram ser a causa inteligente determi-
nada pelos espíritos, os quais podiam agir sobre a matéria, utilizando-se de um fluido
fornecido por pessoas dotadas de uma aptidão especial, chamadas médiuns – meios
ou intermediários entre os espíritos e os homens, gerando, assim, as manifestações
inteligentes.
Na evolução do processo, passou-
passou- se das mesas girantes para as cestas e
pranchetas, nas quais se se adaptava um lápis e os espíritos escreviam – psicografia
indirecta, até à psicografia directa, quando os médiuns passaram a segurar directa-
directa-
mente o lápis e a escrever por um impulso involuntário e quase febril.

ALLAN KARDEC – UM HOMEM DESTINADO A UMA MISSÃO


MISSÃO

Hippolyte Léon Denizard Rivail nasceu em Lyon, na França, a 3 de Outubro de


1804. Fez os seus estudos iniciais nessa cidade e completou-os em Yverdun, na Suí-
ça, com o célebre educador Jean Henri Pestalozzi. Bacharelou-se em Ciências e Le-
tras. De volta a Paris, dedicou-se à educação, divulgando o método de Pestalozzi na
França. Produziu quase uma dezena de obras, que foram adoptadas pela Universida-
de de França. Fundou o Instituto Técnico; leccionou no Liceu Polimático e dava aulas
gratuitas de diversas ciências aos jovens, na sua residência. Tinha grande cultura e
robusta inteligência. Conhecia o alemão, o inglês, o italiano, o espanhol, o holandês,
além da língua materna. Foi membro de sociedades sábias da França, entre outras,
da Real Academia de Ciências Naturais. Casou-se em 1832 com Amélie Gabrièle
Boudet. Homem de bem, inteligência brilhante, nobre de sentimentos, elevação de
carácter, submetia os seus sentimentos à reflexão e ao poder da lógica e ao rigor do
método, do raciocínio e do bom senso. Filósofo, idealista, benfeitor. Dedicou-se ao
estudo dos fenómenos espíritas de 1855 até 1869, quando desencarnou a 31 de
Março pelo rompimento de um aneurisma. Produziu o maior acervo da Doutrina Es-
pírita, com o pseudónimo de Allan Kardec – nome que teve numa encarnação entre
os sacerdotes Druidas das Gálias, no tempo de Júlio César, segundo revelação dos
espíritos. Das suas obras espíritas fundamentais destacam-se: O Livro dos Espíritos
(1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864), O
Céu e o Inferno (1865), A Génese (1868). Escreveu outras obras subsidiárias e com-
plementares do Espiritismo; fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas
(1858); criou e editou a Revista Espírita (1858).
No seu livro O que é o Espiritismo, Allan Kardec explica sumariamente: “O Es-
piritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica.
Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os
espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que dimanam
dessas mesmas relações”. E concluiu: “Podemos defini-lo assim: O Espiritismo é uma
ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bem como das suas
relações com o mundo corporal”.

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Curso Básico de Espiritismo O que é o Espiritismo

CONSOLADOR

As grandes verdades da Espiritualidade Superior, sempre que são reveladas a


uma certa população, sofrem de um efeito rotineiro: podemos chamar-lhe recuo evo-
lutivo.
Na verdade, segundo a lei do progresso, nenhuma conquista do espírito, uma
vez adquirida, se perde. Daí o itálico.
Quando Jesus no Evangelho fala do Consolador ou Paracleto dominava já muito me-
lhor do que nós, hoje, esse fenómeno do recuo evolutivo. Por isso disse que enviaria
mais tarde o Consolador, que lembraria os ensinos dele e adiantaria mais algumas
ideias que na época seria inútil referir.
O Espiritismo será o Consolador desde que o movimento espírita não se dis-
tancie da Doutrina Espírita, tal como Kardec a codificou.
Será Consolador se dispensar o rótulo e se traduzir em actos e palavras do quotidia-
no que façam jus a esse nome

O QUE É O ESPIRITISMO?

“O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutri-


na filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre
nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que
dimanam dessas mesmas relações”.
E conclui: “Podemos defini-
defini- lo assim: o Espiritismo é uma ciência que trata da
nature
nature za, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo
corpo
corpo ral”.
ral”

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O que é o Espiritismo Curso Básico de Espiritismo

BIBLIOGRAFIA

(1) Allan Kardec, Obras Póstumas, 2.ª Parte, Projecto 1868, 13.ª Edição, 1973, Federa-
ção Espírita Brasileira.
(2) André Moreil, Vida e Obra de Allan Kardec, 1.ª Parte, A Vida Espírita de Allan
Kardec, Cap. III, 1.ª Edição, tradução de Miguel Maillet, Edicel – S.P.
(3) Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, Allan Kardec (Pesquisa Bibliográfica e Ensaios de
Interpretação), VOL. II, Cap. I, 1980, Federação Espírita Brasileira.
(4) Allan Kardec, Obras Póstumas, 2.ª Parte, Previsões, A minha primeira iniciação ao
Espiritismo, 13.ª Edição, 1973, Federação Espírita Brasileira.
(5) Carlos Imbassahy, A Missão de Allan Kardec, 1.ª Parte, Edição da Federação Espírita
do Paraná, 1957.
(6) Allan Kardec, O Que É o Espiritismo, Introdução, 14.ª Edição, Federação Espírita
Brasileira.
(7) Arthur Conan Doyle, História do Espiritismo, Cap. IV, O Episódio de Hydesville,
Editora Pensamento, São Paulo, tradução de Júlio Abreu Filho, 1978.
(8) Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Introdução, Item III, 33.ª Edição, Federação
Espírita Brasileira.
(9) Zêus Wantuil, As Mesas Girantes e o Espiritismo, Caps. 1 e 2, 1.ª Edição, Federação
Espírita Brasileira.
(10) Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, Cap. II, 30.ª Edição, 1972, Federação
Espírita Brasileira.
(11) Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Caps. I e VI, 51.ª Edição, Federa-
ção Espírita Brasileira.

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