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CAPÍTULO 2

O MERCÚRIO E A POLUIÇÃO DOS RIOS NAS


TERRAS YANOMAMIS

Data de aceite: 03/04/2023

Adna dos Santos Lemos diversas patologias humanas. Os Yanomami


Graduada em Biomedicina pelo UniCEUB. próximos à mina do rio Uraricoera estão
Ciências Biológicas pela CNI.Pedagogia contaminados com mercúrio, um metal com
pela Faculdade Kurios. Pós-graduada em propriedades bioacumulativas. O objetivo
orientação educacional pela Faculdade desse estudo foi revisar a literatura a
CNI, Conhecimentos pedagógicos pelo respeito do mercúrio e a poluição dos rios
Instituto de Ciências Sociais e Humanas nas terras Yanomamis.O uso de mercúrio
e Psicopedagogia Institucional e Clínica
para mineração de ouro em terras indígenas
pela FAMESC
na Amazônia é feito de forma clandestina
https://lattes.cnpq.br/6116481408251089
e tem impactos socioambientais. Povos
Andréa Kochhann tradicionais da Amazônia, incluindo povos
Pós doutora em Educação pela PUC-Go, indígenas e ribeirinhos, têm sido afetados
Doutora em Educação pela UnB, Mestre pelo desmatamento e poluição de rios
em Educação pela PUC-Go, Especialista e peixes por mercúrio. Uso de mercúrio
em Docência Universitária pela UEG, para garimpo de ouro em terras indígenas
Pedagoga pela UEG. Docente efetiva da Amazônia é sigiloso e causa impactos
da UEG no Programa de Pós-graduação
socioambientais. Os Yanomami estão sob
em Gestão, Educação e Tecnologias.
ataque e necessitam de um olhar para
Coordenadora do GEFOPI – Grupo de
essas questões.
Estudos em Formação de Professores e
Interdisciplinaridade PALAVRAS-CHAVE: Mercúrio e poluição.
https://lattes.cnpq.br/9974100649588217 Povo Yanomamis. Poluição dos rios.

MERCURY AND THE POLLUTION OF


RESUMO: A poluição por mercúrio é um THE RIVERS IN THE YANOMAMIS
problema mundial associado às atividades LANDS
de mineração, com profundos efeitos na ABSTRACT: Mercury pollution is a
saúde humana e no meio ambiente. Avanços worldwide problem associated with mining
recentes têm demonstrado uma relação activities, with profound effects on human
causal entre a exposição ao mercúrio e health and the environment. Recent

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advances have demonstrated a causal relationship between exposure to mercury and several
human pathologies. The Yanomami near the mine on the Uraricoera River are contaminated
with mercury, a metal with bioaccumulative properties. The aim of this study was to review
the literature on mercury and river pollution in Yanomami lands. The use of mercury for gold
mining in indigenous lands in the Amazon is done clandestinely and has socio-environmental
impacts. Traditional Amazonian peoples, including indigenous and riverine peoples, have
been affected by deforestation and mercury pollution of rivers and fish. Use of mercury for gold
mining on indigenous lands in the Amazon is confidential and causes socio-environmental
impacts. The Yanomami are under attack and need to look into these issues.
KEYWORDS: Mercury and pollution. Yanomami people. Pollution of rivers.

1 | INTRODUÇÃO
A poluição por mercúrio proveniente das atividades de exploração tem sido objeto
de pesquisas no Brasil e no mundo. As atividades de extração mineral podem alterar o meio
ambiente e se tornar uma fonte de degradação se medidas de controle adequadas não
forem tomadas. (PAULA et al., 2018).
A poluição por mercúrio é comum em áreas de mineração e afeta vastas áreas
do Brasil. Os garimpeiros utilizam o mercúrio para coletar o ouro dos concentrados na
forma de amálgama e recuperam o ouro metálico por meio da “queima”, volatilizando o
mercúrio, que é levado pelo vento e então precipitado (SCARPELLI, 2003). Devido à falta
de conhecimento técnico operacional sobre o processo, falta de cultura para reciclar o
mercúrio, aliado ao custo relativamente baixo do metal líquido, grandes quantidades de
mercúrio são liberadas no solo, na água e no ar.
A mineração de ouro produz rejeitos contendo mercúrio metálico, além de problemas
como descaracterização das formas topográficas originais, supressão de vegetação e
assoreamento de rios (TANNÚS, 2001). O uso inadequado da terra também pode aumentar
os níveis de metilação do mercúrio. A erosão pode transportar mercúrio para os corpos
d’água locais e contaminar os lençóis freáticos (HIMENES et al., 2005). Fatores como pH,
condutividade, disponibilidade de oxigênio, temperatura, atividade biológica e concentração
de nutrientes estão associados à organicização do mercúrio e outros metais pesados ​​no
solo e na água (PAULA et al., 2018).
A mineração na região amazônica, enquanto atividade mineradora, significa
necessariamente a transformação da paisagem e da natureza, além de uma série de
problemas sociais. Os conflitos sociais e os impactos ambientais da invasão das terras
indígenas são evidentes. Entre eles, desmatamento, assoreamento e poluição de rios,
animais selvagens e seres humanos.
A mineração artesanal é responsável por 37% das emissões antropogênicas globais
de mercúrio (GIBB; O’LEARY, 2014). As informações sobre a quantidade de mercúrio
lançada no ambiente amazônico são controversas, mas estima-se que o metal seja
utilizado na proporção de 1:1. Estimativas não oficiais estimam que na década de 1980

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foram produzidas de 1.000 a 2.000 toneladas de ouro, presumivelmente usando a mesma
quantidade de mercúrio (RAMOS,2020).
As maiores concentrações de mercúrio natural do mundo são encontradas em solos
amazônicos (WASSERMAN JC; HACON; WASSERMAN MA, 2003). O desmatamento e
a mineração erodem os solos, trazendo o mercúrio para os ambientes aquáticos, onde
é metilado por microorganismos e entra nas redes tróficas (GUIMARÉES et al., 2000). O
metilmercúrio se acumula nos peixes, que são os principais vetores de mercúrio orgânico
para o ser humano (MAHAFFEY, 2004).
Estudos recentes (FIOCRUZ, 2016; VEGA et al., 2018) confirmaram níveis
preocupantes de contaminação por mercúrio, metal tóxico com propriedades
bioacumulativas, entre povos indígenas de comunidades próximas às áreas de garimpo
do rio Uralikola, especialmente na forma de metilmercúrio, causando graves e danos
permanentes à saúde (OLIVEIRO, 2014).
Apesar da responsabilidade do Estado e da reconhecida vulnerabilidade dos
povos indígenas, os Yanomami estão expostos ao mercúrio de forma contínua há pelo
menos três décadas. Estudos documentaram altos níveis de poluição nas comunidades de
Roraima, mas pouco se sabe sobre os efeitos clínicos diretos na saúde e bem-estar dessas
populações. (VEGA, 2018)
O objetivo desse estudo foi revisar a literatura a respeito do mercúrio e a poluição
dos rios nas terras Yanomamis.

2 | METODOLOGIA
A metodologia utilizada neste estudo é o método bibliográfico, que se refere à
pesquisa sistemática baseada em materiais publicados em livros, revistas, jornais, redes
eletrônicas, ou seja, materiais acessíveis ao público. Após selecionar um tema, definir um
levantamento bibliográfico preliminar e fazer perguntas, foi elaborado um projeto provisório
sobre o tema. O objetivo principal da fase exploratória é analisar o problema, tendo como
principal forma a pesquisa bibliográfica.
A pesquisa científica existe em todos os campos da ciência, e na educação
encontramos algumas publicadas ou em andamento. É o processo investigativo de
resolver, responder ou investigar questões no estudo de fenômenos. Bastos e Keller (1995,
p. 53) definem: “Pesquisa científica é a investigação sistemática de um assunto, destinada
a elucidar vários aspectos do estudo”.
Para Gil (2002, p. 17) “A pesquisa é necessária quando não há informações
suficientes para responder à pergunta, ou quando as informações disponíveis são muito
confusas para serem adequadamente relevantes à pergunta”.
A pesquisa científica se apresenta de diversas formas, uma delas é a pesquisa
bibliográfica que será discutida neste artigo, revelando todos os passos que devem ser

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seguidos para alcançá-la. Esse tipo de pesquisa foi idealizado por diversos autores, entre
eles Marconi e Lakatos (2003) e Gil (2002).
A pesquisa bibliográfica está inserida primordialmente em um ambiente acadêmico e
visa aprimorar e atualizar o conhecimento por meio da investigação científica de trabalhos
publicados.
Essa estratégia hipotética é o ponto de partida para um projeto de pesquisa e, à
medida que a leitura avança e o consequente amadurecimento do entendimento e dos
requisitos da pesquisa, contornos claros vão emergir das mudanças absorvidas.
Além dos livros de leitura atual, a pesquisa será realizada em recursos que
enfatizem outras fontes de interesse para a pesquisa bibliográfica: referências, artigos e
teses, periódicos científicos e indexação de periódicos e resumos. Esses recursos serão
utilizados para pesquisa e incluídos na bibliografia.
A leitura de partes do material bibliográfico terá como objetivo a verificação de
trabalhos de interesse. A partir desse momento, faremos uma leitura analítica do texto
selecionado, identificaremos as ideias-chave, categorizá-las-emos e sintetizaremos.
Para Prodanov e Freitas (2013, p. 24), o método é considerado um método para
um fim. No passado, muitos pensadores defenderam que só há uma forma de atender a
todos os campos do conhecimento. Eles defendem “uma abordagem de tamanho único”.
No entanto, cientistas e filósofos da ciência defendem muitas outras abordagens. Esses
métodos devem ser utilizados de acordo com o que está sendo estudado e o tipo de
proposição. Para Lakatos e Marconi (2003, p. 84), porém, é o conceito moderno de método
que importa. Para tanto, o autor “pensa, como Bunge, que o método científico é a teoria da
investigação”.
Para Prodanov e Freitas (2013, p.24), se um método “é um procedimento ou uma
forma de atingir um fim, e o fim da ciência é a busca do conhecimento”, pode-se dizer que
o método científico “é um conjunto de programa”. Segundo Trujillo Ferrari (apud Prodanov
e Freitas, 1974), o método científico é “uma característica da ciência que constitui uma
ferramenta fundamental que comanda inicialmente a mente em um sistema e traça o
programa do cientista ao longo do caminho”. Até que seja cientificamente objetivo.

3 | REFERENCIAL TEÓRICO
A indústria de mineração no Brasil tem a tradição de representar a base de um
importante setor da economia nacional (VASSEN,2017). A mineração é uma das mais
antigas atividades produtivas exercidas pela humanidade, movimentando a economia de
muitas nações durante séculos. No entanto, desde o surgimento do capitalismo, a atividade
mineradora também provoca um intenso debate sobre sua capacidade de promover
desenvolvimento econômico e social frente as suas externalidades, exaustão do minério
(recursos não renováveis), primarização versos industrialização, tendência à formação de

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economia de enclaves e impactos socioeconômicos negativos (ROCHA,2020).
Segundo Silva, 2014, os principais impactos ambientais das atividades de mineração
são: disputas de uso e ocupação do solo, desmatamento, retirada de solo fértil, poluição
da água, poluição do ar, ruído, vibração, impacto visual e degradação da paisagem. Além
desses efeitos, mudanças na topografia e movimentação do solo, instabilidade de taludes
e aumento dos processos de erosão e assoreamento também podem ocorrer (CABRAL et
al., 2012), que podem ser questões importantes para os municípios abordarem, a fim de
evitar riscos geológicos.
Segundo Pontes et al., 2012 os impactos das atividades de mineração estão ligados
à competição pelo uso e ocupação da terra, gerando conflitos socioambientais que, por
vezes, decorrem da falta de políticas públicas que reconheçam a diversidade de interesses
envolvidos.
Como uma das atividades produtivas mais antigas da humanidade, a mineração
vem impulsionando o desenvolvimento econômico de muitos países há séculos. Desde o
advento do capitalismo, as atividades de mineração têm enfrentado suas externalidades,
esgotamento de minério (recursos não renováveis), primária e industrialização, formação
de uma economia de enclave e impactos socioeconômicos negativos (MESQUITA,2016).
Segundo Fernandes (2014), as diversas etapas da exploração de uma propriedade
mineral, desde a mineração, transporte, beneficiamento do minério, até o fechamento da
mina ou cessação da atividade, têm impactos negativos na extração.
O mercúrio é um agente químico neurotóxico (LARINI, 1997) que perturba o equilíbrio
orgânico e atravessa as barreiras hematoencefálica e hematoplacentária em humanos,
causando alterações graves na homeostase corporal. Pelas suas propriedades aditivas
ao ouro, é utilizado no processo de extração de ouro de outros minérios, seguido de “por
aquecimento em tanques, o mercúrio evapora ao ar livre, caracterizando-se por agressão
ao meio ambiente e à saúde dos garimpeiros” (SOUZA; LINS, 1989, p. 9) porque o mercúrio
se liquefaz e evapora em baixas temperaturas.
Além de poluir o solo, o mercúrio pode indiretamente causar sérias complicações de
saúde para mineiros ou outros. Segundo a pesquisa, o metilmercúrio se acumula na cadeia
alimentar e se estabelece na natureza. Mesmo quando jogado sobre leitos de córregos e
rios, o material pode cair no curso d’água devido às chuvas. Em humanos, sabe-se que
causa distúrbios neurológicos graves, como aconteceu durante a intensa corrida do ouro
em Serra Pelada, no Pará, na década de 1980. Os garimpeiros que inalaram mercúrio
sofreram sérias complicações de saúde e até morreram. (FOLHAWEB, 2019). Yanomami
Davi Kopenawa afirma que o garimpo ilegal em terras indígenas é a principal causa da
poluição (ROCHA, 2016).
Nos últimos anos, os povos indígenas têm enfrentado uma série de desafios dentro
de seus próprios territórios, principalmente devido à contínua invasão por atividades de
garimpo ilegal, através do desenvolvimento do garimpo ilegal, da agricultura predatória

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e da extração ilegal de madeira, principais fatores de risco e reassentamento dos povos
indígenas, áreas de vulnerabilidade: cultura, bioma, saúde física e mental.
As terras indígenas Yanomami, aprovadas por decreto em 1992 (BRASIL, 1992),
estão localizadas no extremo norte do Brasil, a oeste do estado de Roraima e ao norte do
estado do Amazonas, dentro da Amazônia legal. Em 2018, um xamã Yanomami afirmou
que cinco mil garimpeiros se dedicavam ao garimpo (FOLHA WEB, 2018), fato confirmado
em documento oficial da Fundação Nacional da Índia (FUNAI), publicado em dezembro de
2016, apontando a presença do mesmos cinco mil garimpeiros (FUNDAÇÃO NACIONAL
DO ÍNDIO, 2016), e um estudo de caso apontando a atuação do exército brasileiro na
captura de oitocentos garimpeiros em um garimpo (RAMOS; RODRIGUES, 2018), mosaico
Sobre mais de 9 milhões de hectares de terras indígenas terra. Garimpeiros são “todos os
trabalhadores envolvidos na extração de substâncias minerais” (RODRIGUES, 2017, p.
29).
Aprovada em 1992, a Terra Indígena Yanomami está localizada nos estados de
Roraima e Amazonas, estendendo-se até a fronteira com a Venezuela, com uma área de
9.419.108 hectares, similar em tamanho a Portugal, e uma estimativa de 26.780 povos
indígenas (SESAI, 2019 ) de 8 raças diferentes, incluindo 6 grupos étnicos isolados. Na
Venezuela, os Yanomami vivem na Reserva da Biosfera Alto Orinoco-Casiquiare, com 8,2
milhões de hectares. Juntas, essas áreas formam o maior território indígena florestal do
mundo. Do lado brasileiro, as Terras Indígenas (TI) continuam aparecendo nos anúncios do
Imazon4 como uma das TIs mais estressadas da Amazônia.
Os Yanomami permaneceram isolados do resto do mundo até a década de 1940,
quando mantiveram contato permanente com a sociedade. Isso começou a mudar
drasticamente na década de 1970, quando não-índios começaram a garimpar ilegalmente
na área. Assim, o conflito continuou a se intensificar até 1992, quando a terra indígena
Yanomami foi concedida, abrangendo tanto os Yanomami quanto os Yequana, mas isso
não significou o fim da atividade ilegal (FERNANDES,2021).
Ao longo da história, podemos perceber que a terra indígena Yanomami é um
território queimado pelo garimpo ilegal e cobiçado pelo garimpo legal. No que diz respeito
à mineração legal, a área foi alvo de 464 estudos ativos e pedidos de mineração onde
os requerentes apenas esperavam ter direitos sobre o processo de mineração e de
fato qualquer atividade de mineração nessas áreas era considerada crime ambiental e
apropriação de bens públicos, em além de cinco títulos de autoridade ativa, que incluem
bolsas de pesquisa e disponibilidade, onde a mineração ou pesquisa já é possível na área
desejada (FERNANDES,2021).
Os Yanomami são um povo agrícola e caçador-coletor do norte da floresta
amazônica que habita a confluência dos afluentes das bacias do Amazonas/Rio Negro
(Brasil) e Orinoco (Venezuela). Existem várias superfícies históricas de contato, mas uma
grande parcela da população pode ser descrita como contato recente (NILSSON,2017).

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Os Yanomami foram despovoados por doenças no passado. Há um debate
considerável sobre a regulação populacional nos Yanomami em níveis aceitáveis ​​para
manter um equilíbrio que pressupõe limitar a quantidade de proteína necessária para o
sustento e crescimento populacional. A restrição de proteínas significa que a população
precisa ser mantida em baixa densidade populacional (NILSSON,2017).
O ouro foi e é o principal minério que atrai garimpeiros ilegais (DE THEIJE, 2020),
transformando esta terra e outras terras aborígenes no Arco Norte das Terras Fronteiriças
em uma nova fronteira para a exploração mineral. O alto número de solicitações pode
ser explicado pela expectativa de “salvar um lugar”, já que os candidatos se candidatam
com o objetivo de desregulamentar a mineração no futuro em terras aborígines. O atual
presidente da república, Jair Bolsonaro, tem reiteradamente feito discursos contrários às
iniciativas ambientalistas e indígenas, claramente favoráveis ​​à exploração e à mineração
(WANDERLEY et al., 2020), o que tem incentivado os interesses da mineração legal e
ilegal, conforme relatado por várias organizações indígenas e ambientais, bem como
veículos e organizações de notícias (GONZALEZ, 2020).
A mineração ilegal representa uma ameaça significativa para as pessoas que vivem
nas terras indígenas Yanomami. Além de destruir o ecossistema, os Yanomami não só têm
uma ligação espiritual com o ecossistema, mas também mantêm as condições materiais de
sua existência. O garimpo ilegal de ouro é a principal causa da poluição por mercúrio nos
rios Uraricoera e Mucajaí, os mais longos de Roraima. Com isso, os peixes do ecossistema
fluvial também estão contaminados com mercúrio, assim como os Yanomami e os Ye’kuana
que se alimentam desses animais (LIMA, 2016).
Os garimpeiros usaram o mercúrio para concentrar o ouro em potes, comprovando a
necessidade de um processo bem estudado e de descontaminação das áreas contaminadas
pelo metal. Vários métodos foram desenvolvidos para remover o mercúrio de águas
residuais industriais e resíduos de processos de amalgamação. Em geral, o tratamento
envolve técnicas físico-químicas como separação por decantação, precipitação química,
coagulação, absorção, troca iônica e extração por solvente, eletro-oxidação e flotação.
Métodos biológicos também estão sendo avaliados para processamento hidrometalúrgico,
biolixiviação de concentrados e monitoramento, remoção e recuperação de metais em
efluentes líquidos por bioabsorção (HIMENES et al., 2005).
A toxicidade do mercúrio decorre de sua capacidade de interferir nas reações
metabólicas enzimáticas. Os efeitos do mercúrio no organismo se manifestam na forma de
doenças agudas, que, quando inaladas em grandes quantidades, podem causar danos aos
pulmões, rins e sistema nervoso central, levando à morte. (PAULA et al., 2018).

4 | CONCLUSÃO
Dada a gravidade do envenenamento por mercúrio e o fato de estar simultaneamente

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exposto a outros fatores de risco no ambiente, deve-se considerar que as populações
expostas ao mercúrio em minas e mineração em escala industrial precisam de ajuda e
podem se voluntariar para pesquisas científicas aprofundadas.
Povos tradicionais da Amazônia, incluindo povos indígenas e ribeirinhos, têm sido
afetados pelo desmatamento e poluição de rios e peixes por mercúrio. Uso de mercúrio
para garimpo de ouro em terras indígenas da Amazônia é sigiloso e causa impactos
socioambientais. Os Yanomami estão sob ataque e necessitam de um olhar para essas
questões.

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