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CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL POR MERCÚRIO

Diego Wegener <Diegowegener@rede.ulbra.br>


Simone Thomé <simone.thome@ulbra.br>

Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) - Medicina Veterinária


Toxicologia Veterinária
08 de abril de 2023

RESUMO: Introdução: Os níveis de exposição ao mercúrio associados à ingestão de


pescado têm sido demonstrados em populações ribeirinhas ao longo do tempo, a história recente
de desastres ambientais demonstra o quanto as populações residentes destas áreas são expostas
através da alimentação. Objetivo: Expor a problemática sobre a contaminação ambiental
seguida da intoxicação alimentar pelo consumo de peixes contaminados por mercúrio e a
importância do monitoramento das águas para a saúde pública. Metodologia: Revisão
bibliográfica. Conclusão: Diante da gravidade do problema é importante que estudos e políticas
públicas sejam utilizados no combate e na prevenção dos danos causados pela contaminação
por mercúrio.
Palavras-chave: Mercúrio. Intoxicação por mercúrio. Contaminação ambiental.
Metilmercúrio. Contaminação por peixes.

Introdução
O mercúrio é de cor prateada, inodoro e não inflamável, considerado um metal pesado
pelo seu risco de contaminação, é um metal que se apresenta em estado líquido de três formas:
mercúrio elementar, mercúrio inorgânico e mercúrio orgânico. Apresenta características como
lipossolubilidade, que possibilita atravessar barreiras hematoencefálicas e placentárias.
Processos naturais e microrganismos podem alterar o mercúrio para compostos de organo-
mercúrio, o metilmercúrio, e devido a sua característica de bioacumulação em peixes,
mamíferos e plantas é de grande risco a saúde, uma vez que a cadeia de alimentação intoxica
os predadores ao consumir animais ou plantas contaminadas. O consumo de peixes
contaminados por humanos é um grande exemplo da intoxicação alimentar por este elemento,
a gravidade vai depender da quantidade e a frequência com que se consome o alimento
contaminado, podendo apresentar desde sintomas leves como vômitos frequentes, tremor de
pequena amplitude, paresias e dificuldade de coordenação motora, até consequências mais
graves como cegueira, intoxicação pré-natal, que afeta o sistema nervoso central do feto
causando alterações irreversíveis, e ainda podendo ser letal dependendo da gravidade da
intoxicação. Frente a este grave problema de saúde pública é de suma importância o
monitoramento e a realização de estudos que detectem as concentrações de mercúrio e
metilmercúrio nos peixes de forma a avaliar se seu consumo é próprio ou impróprio, e de gerar
dados que possam alertar sobre os riscos de contaminações ao meio ambiente e, por
consequência, outros seres vivos presentes na cadeia.
Revisão Bibliográfica
Os primeiros relatos de sintomas oriundos do mercúrio foram descritos por Hipócrates
em 370 a.C., ao observar quadros de cólicas em trabalhadores que extraíam metais. Em 1930,
em Minamata, no Japão, uma indústria lançava seus dejetos na baía de Minamata e, após duas
décadas, surgiram os primeiros sintomas de contaminação em animais.
Em 1956, os primeiros quatro pacientes deram entrada no hospital de Minamata, com
sintomas em comum, como, convulsões, perda de consciência e coma. Os quatro pacientes
morreram e o caso ficou conhecido como o mal de Minamata. Pescadores e moradores que se
alimentavam de peixes foram afetados, 20.000 (vinte mil) pessoas se declararam afetadas, a
empresa foi processada e condenada, além de ter que realizar a descontaminação da baía. O
desastre ambiental é, até hoje, um marco na história da intoxicação alimentar provocada pela
poluição da indústria.
Em 2005, após quase 50 anos, o governo japonês anunciou diversas medidas para
auxiliar as vítimas do desastre de Minamata, e em 2013 foi realizado um tratado internacional
cuja objetivo é oferecer proteção a saúde humana e ao meio ambiente reconhecendo os impactos
do mercúrio sobre a saúde. Foi aprovada e assinada por 92 (noventa e dois) países inclusive o
Brasil. Com isto o Brasil passa as realizar importação de mercúrio com restrições, sendo
controlada pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis). O mercúrio está entre os 10 (dez) principais produtos químicos de grande
preocupação para a saúde pública conforme a Organização Mundial de Saúde.
O mercúrio é lançado na atmosfera através de fontes naturais por gaseificação da crosta
terrestre, erupções vulcânicas e evaporação da água, contudo, estudos demonstram que são as
fontes antropogênicas que realmente têm aumentado os níveis de mercúrio na atmosfera.
Atividades como agricultura, mineração, indústria e queima de combustíveis fósseis são os
grandes responsáveis. O ciclo do mercúrio passa por inúmeras rotas no meio ambiente,
começando pela sua liberação, transporte, deposição e consequentemente biotransformação, de
inorgânico para metilmercúrio, que é o principal responsável por intoxicações nos humanos
através da ingestão de peixes contaminados, em virtude da bioacumulação na cadeia alimentar.
A mineração de ouro e as queimadas de grandes áreas florestais são apontadas,
atualmente, como os principais causadores de emissões de mercúrio no meio ambiente
brasileiro. Porém o Ministério do Meio Ambiente afirma que existe uma carência de dados
referentes as concentrações de mercúrio.
Visando a segurança alimentar do consumidor, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) possui uma portaria que prevê que a concentração máxima de mercúrio
em peixes predadores não deve ultrapassar 1mg/kg, sob pena de apreensão do lote. No entanto,
os ribeirinhos que consomem peixes que não passam por este controle, não se beneficiam desta
portaria. O alto índice de consumo de peixes na região amazônica é um fator de grande
importância e vem sendo palco de vários estudos que visam avaliar a situação nesta região.
As pesquisas que determinam os níveis de contaminação nos peixes são muito
importantes para determinar parâmetros e gerar conhecimento. Estudos demonstram que
determinadas espécies de peixes acabam sendo mais contaminadas que outras espécies, sendo
os carnívoros os peixes que mais concentram o mercúrio, demostrando o fenômeno da
bioacumulação em relação a cadeia alimentar. Avaliando estas informações podemos afirmar
que, para os ribeirinhos de áreas contaminadas, ter acesso à informação de que os peixes do
topo da cadeia alimentar (carnívoros e onívoros) são os que mais concentram o mercúrio, pode
auxiliar na seleção dos melhores alimentos. Da mesma forma, deve ser consumida água de
poços ou cisternas, evitando a água contaminada do rio, o que também reduz os riscos de
contaminação. As medidas citadas são profiláticas, com o objetivo de minimizar as
contaminações, mas, infelizmente, não resolvem o problema.
Conclusão
Diante de tudo o que foi exposto, essa revisão reforça a importância do monitoramento
através de estudos e pesquisas para auxiliar nas tomadas de decisões de políticas públicas a
respeito da segurança alimentar. As intoxicações por mercúrio podem ser muito perigosas e
desencadear inúmeras patologias. É preciso que cada vez mais sejam empregados recursos
destinados ao combate das fontes de emissão de mercúrio no meio ambiente. Esse metal pesado
afeta todo o ciclo da cadeia alimentar e contamina todo o meio ambiente, o que torna de
fundamental importância a fiscalização preventiva das atividades responsáveis, a fim de evitar
crimes ambientas com danos, muitas vezes irreversíveis, e que afetam inúmeras pessoas.

Referências Bibliográficas

Organização Mundial da Saúde (OMS), Programa Internacional de Segurança Química


(IPCS). Critérios de saúde ambiental 118 mercúrio inorgânico. Genebra: Organização
Mundial da Saúde, 1991.

SA, Andréa Lima de et al. Exposição humana ao mercúrio na região Oeste do Estado
do Pará. Rev. Para. Med. [online]. 2006, vol.20, n.1, pp.19-25. ISSN 0101-5907.

SANTOS, Fabiano Lucas de Oliveira dos et al. PRESENÇA DE MERCÚRIO EM


PEIXES E SUA CORRELAÇÃO COM A INTOXICAÇÃO ALIMENTAR. 2006.
Disponível em:
https://www.seer.uscs.edu.br/index.php/revista_ciencias_saude/article/view/427/237. Acesso
em: 07 abr. 2023.

SANTOS, Amanda Carolina Pedro dos. Resíduos de mercúrio em peixes comerciais


consumidos na Pan-Amazônia. Orientador: Ruy Bessa Lopes. 2022. 69 f.: il. Dissertação
((Mestrado em Biociências) – Programa de Pós-Graduação em Biociências, Universidade
Federal do Oeste do Pará, Santarém, 2022. Disponível em:
https://repositorio.ufopa.edu.br/jspui/handle/123456789/709

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