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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE - CCBS

DEPARTAMENTO DE OCEANOGRAFIA E LIMNOLOGIA- DEOLI

CURSO DE GRADUAÇÃO EM OCEANOGRAFIA

Esterphane Teixeira Pires

Utilização da Tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus) como bioindicador de


qualidade da água na Bacia do Rio Paciência- São Luís (MA)

SÃO LUÍS - MA

2021
1. INTRODUÇÃO

A tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) é um peixe africano da família Cichlidae,


conhecido pelos antigos egípcios já em 2000 a.C. É um peixe de origem africana em que
os primeiros exemplares trazidos para o Brasil chegaram no ano de 1971, e se adaptaram
muito bem ao nosso clima tropical.
Entre os peixes de água doce do Brasil, as tilápias são espécies exóticas invasoras
que têm sido usadas como organismos bioindicadores de poluição por apresentarem
ampla distribuição geográfica e características ecológicas conhecidas. Essa espécie
apresenta qualidades interessantes para a produção píscícola como o curto ciclo de
reprodução e rápido crescimento. São também peixes muito utilizados em estudos que
unem a genética toxicológica e os estudos de biomonitoramento ambiental
A poluição aquática é um dos grandes problemas ambientais da atualidade, e está
comumente associada com a descarga de efluentes domésticos, industriais ou agrícolas.
Os peixes são animais extremamente sensíveis a poluentes aquáticos, e em especial,
àqueles que afetam a permeabilidade à água e aos íons. Os peixes estão sujeitos a duplo
perigo de contaminação por poluentes, pois podem ser contaminados através de
absorção direta de substâncias do meio pelas brânquias ou pelo alimento ingerido.
Sinais de toxicidade evidentes, como diminuição na tomada de alimento, perda do
equilíbrio e da pigmentação, e morte, são precedidas por mudanças bioquímicas,
fisiológicas e ou morfológicas do organismo, que funcionam com respostas biológicas e
que podem ser validadas como biomarcadores.
A avaliação qualitativa ou quantitativa dessas mudanças antes da morte do
organismo fornece indicações antecipadas de toxicidade. Essas respostas biológicas ao
estresse provocado pelos poluentes podem ser utilizadas para identificar sinais iniciais de
danos aos peixes e têm sido sugeridas como biomarcadores em várias espécies. O
epitélio branquial tem importante papel na manutenção osmótica e iônica dos peixes e as
células que o constituem respondem direta ou indiretamente aos fatores ambientais e a
alterações internas do organismo.
Isso ocorre porque os agentes irritantes que se encontram dissolvidos na água e
que entram em contato com os filamentos branquiais e com as lamelas respiratórias em
altas concentrações poderão alterar a morfologia normal das brânquias, no meio cientifico,
o estudo e a utilização de brânquias como biomarcadores ambientais vem sendo
comumente empregada por diversos cientistas e publicada por vários autores. No entanto,
para o estado do Maranhão esses estudos ainda são escassos, sendo realizado apenas
para alguns grupos taxonômicos.
2. OBJETIVO

2.1 Objetivo Geral

Estudar as alterações histológicas nas brânquias de Oreochromis niloticus como


biomarcadores em combinação com a análise microbiológica da água a partir de dois
diferentes locais da Bacia do Rio Paciência.

2.2 Objetivos específicos

Detectar possíveis anomalias nas brânquias da Tilápia-do-Nilo e identificar possíveis


coliformes na água do rio.
3. QUESTÃO / HIPÓTESE

3.1 QUESTÃO
As possíveis alterações encontradas nas brânquias da Tilápias-do-Nilo
(Oreochromis niloticus) possui relação com a qualidade da água?

3.2 HIPÓTESE
As alterações encontradas possuem uma relação direta com a qualidade da água
tendo em vista que os organismos estão diretamente interligados com o meio.

4. MATÉRIAS E MÉTODOS

4.1 Área de estudo

O estuário do rio Paciência está localizado na porção nordeste da Ilha de São Luís,
compreendido entre 2º 26’ a 2º 29’S e 44º 4’ a 44º 7’W. Possui um perímetro de 58 km,
com 11 km de comprimento e área de 5 km². O ambiente é coberto por aproximadamente
10 km² de manguezais. O Rio Paciência é um curso de água que banha a ilha de Upaon-
Açu, no Maranhão, Brasil. Atravessa os quatro municípios da ilha: São Luís, São José de
Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa. Sua principal nascente está localizada no tabuleiro
do Tirirical, próxima à Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), com direção
preferencial de nordeste e desembocando na Baía de Curupu, próximo a Ilha de Curupu,
após percorrer cerca de 27,3 km.

Figura 1. (a) Localização geográfica da área de estudo na Ilha do Maranhão. (b) Locais de
amostragem no estuário do rio Paciência. (c) Canais de maré: (1) Cristóvão e (2) Grande.
4.2 Coleta de dados

A coleta dos peixes será realizada em dois pontos, (1) Cristóvão e (2) Grande. Em
campo serão coletados os exemplares de tilápia e amostras de água de forma simultânea,
sendo necessário para o estudo 19 exemplares, sendo 10 no ponto 1 (Cristóvão) e 9 no
ponto 2 (Grande) e duas amostras de água, uma de cada ponto.
Após a coleta, os peixes serão acondicionados em gelo e encaminhados para o
laboratório, para a realização dos procedimentos de análise histopatológicas e a água
passará por um processo de análise microbiológica.

Figura 2. Exemplar de tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus

5. ANÁLISE DE DADOS

5.1 Análises histopatológicas

Em laboratório, os exemplares coletados seguiram o procedimento experimental:


eutanásia por comoção cerebral, e a remoção de brânquias. Para a análise
histopatológica das brânquias, será removido o segundo arco branquial esquerdo de cada
amostra, e as mesmas serão fixadas em formol a 10% por 24 horas.
Após as 24 horas, as amostras devem ser descalcificadas para melhor realização dos
cortes histológicos em ácido nítrico a 10% durante 6 horas e incluídas em blocos de
parafina pelo método de inclusão em parafina e confecção de lâminas histológicas. A
leitura das lâminas será feita em microscópio de luz com o auxílio das objetivas de 4x,
10x, 40x, sendo em seguida fotomicrografadas em fotomicroscópio. As lesões que forem
identificadas nos exemplares, serão classificadas em moderadas e intensas, conforme
Bernet et. al. (1999).

5.2 Análise microbiológica da água

As análises da água serão realizadas segundo procedimentos indicados em Apha


et. al (1995). O primeiro procedimento será a identificação do número mais provável de
coliformes totais e termotolerantes, já o segundo procedimento será a contagem padrão
dos microrganismos mesófilos aeróbicos restritos e facultativos em ágar para poder ser
possível determinar o número mais provável de microrganismos.

6. RESULTADOS ESPERADOS

As análises histopatológicas que serão realizadas poderão indicar a presença de


diferentes tipos de alterações morfológicas nos tecidos. Como as principais lesões
observadas, que no caso são descolamento do epitélio sugestivo de edema subepitelial,
fusão de lamelas primárias (fusão total), fusão de lamelas secundárias (fusão parcial) e
aneurisma. Assim como serão observadas as lesões menos frequentes nos exemplares.
As alterações que forem observadas, serão classificadas em moderadas e intensas
de acordo com o grau de severidade das lesões. No final das análises será possível obter
de forma exata a porcentagem de exemplares que obtiveram lesões em suas brânquias,
assim como sua classificação.
Figura 3. Exemplo de lesões branquiais que podem ser observadas Oreochromis niloticus. A)
Padrão normal; B) Descolamento de epitélio lamelar (seta); C) Fusão de lamelas secundárias
(seta), D) Em detalhe, aneurisma (seta). Aumento de 400x, coloração HE.

Figura 4. Exemplo de Lesões intensas que podem ser observadas em Oreochromis niloticus,
onde A) Presença de hemorragia na base das lamelas primárias (seta) B. Infiltrado inflamatório
(seta) C) Eritrofagocitose (seta) e D) Necrose (seta). Aumento de 400 x. Coloração HE.

As análises que serão realizadas com a água coletada nos pontos 1 e 2, terá como
objetivo identificar o número mais provável de coliformes totais e termotolerantes. De
acordo com os resultados obtidos poderemos obter o índice de coliformes tanto no ponto
1 quanto no ponto 2 da Bacia do Rio Paciência.
Esse resultado vai indicar a contaminação da água do rio, e se as mesmas
alterações se encontram em relação ao valor máximo indicado pela legislação em vigor.

A técnica da contagem padrão de microrganismos mesófilos aeróbicos restritos e


facultativos da amostra de água crescidos em ágar pode nos informar se os valores de
mesófilos aeróbicos estão altos ou baixos, se estiver alto, pode indicar uma possível
contaminação da água.
Vários autores têm observado e associado a presença das lesões morfológicas em
brânquias de peixes com diferentes tipos de poluentes no corpo d’água. Vários estudos
realizados sugerem que as alterações morfológicas das brânquias podem ocorrer durante
mudanças ambientais como tentativas adaptativas de se conservar funções fisiológicas.
As alterações do epitélio branquial parecem ser uma resposta generalizada à maioria dos
agentes tóxicos que pode comprometer a função do órgão.
A fusão das lamelas causadas pela proliferação celular que podem ser encontradas
nos peixes pode ser um mecanismo de defesa utilizado pelo organismo para diminuir o
acesso dos poluentes às brânquias.
Pesquisas mostram que a proliferação e a presença de edemas podem reduzir e
até mesmo impedir a passagem da água entre as lamelas secundárias, dificultando o
acesso do poluente ao sangue, mas prejudicando, contudo, a realização de trocas
gasosas.
Os aneurismas nas tilápias podem estar relacionados com dificuldades
respiratórias, uma vez que estas podem ser responsáveis pela indução da vasodilatação.
A vasodilatação do eixo vascular da lamela, conduzem por sua vez, à ruptura das células
pilares com perda de sua capacidade de suporte, levando ao aparecimento dos
aneurismas lamelares.
A origem da poluição que podem causar lesões nas tilápias pode ser difusa, pois a
área da Bacia do Rio Paciência pode receber durante muito tempo, poluentes originários
das mais diversas fontes, como esgotos domésticos, industriais e hospitalares.
A poluição difusa pode ser apontada como o principal motivo de aparecimento das
alterações histopatológicas, oriunda de esgotos lançados no rio na sua forma in natura,
não sendo possível estabelecer a relação com um poluente específico.
Estudos da composição química da água e do sedimento devem ser realizados
concomitantemente às análises dos biomarcadores nos peixes da região, a fim de se
estabelecer uma discussão aprofundada sobre os tipos de poluentes que podem estar
ocasionando as lesões branquiais nos peixes.
Os resultados dos biomarcadores podem subsidiar programas de monitoramento
do Rio Paciência, visto que a espécie selecionada se mostrou em diversos estudos
apropriada para diagnósticos sobre a saúde da biota desse importante ecossistema
aquático localizado no aglomerado urbano de São Luís MA.
2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SOARES, Leonardo Silva et al. Comunidade de peixes como Indicador de


Qualidade Ambiental de alguns canais de maré do estuário do Rio Paciência, São Luís–
MA. Boletim do Laboratório de Hidrobiologia, v. 24, n. 1, 2011.

PEREIRA, Dayane Pestana et al. Alterações morfológicas em brânquias de


Oreochromis niloticus (Pisces, cichlidae) como biomarcadores de poluição aquática na
Laguna da Jansen, São Luís-MA (Brasil). Bioscience Journal, v. 30, n. 4, 2014.

SILVA, Aline Callegari. Toxicidade da deltametrina (formulação Butox® CE25) nas


respostas cardio-respiratórias da tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus). 2011.

DE MELO OLIVEIRA, Vagne. Morfologia das brânquias de tilápia-do-nilo como


biomarcador de exposição a metal pesado.

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