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ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS DE OSTRAS E DE ÁGUAS COLETADAS

EM BANCOS NATURAIS E EM OSTREICULTURAS

MICROBIOLOGICAL ANALYSIS OF OYSTERS AND WATERS


COLLECTED FROM NATURAL BANKS AND FROM OSTREICULTURES
Thalissa Hiraki Velazquez; Ana Julia Fernandes Cardoso de Oliveira; Edison Barbieri; Vanessa da
Costa Andrade; Cristina Rocha Pereira.
Campus experimental do Litoral Paulista, Ciências biológicas, bolsa PIBIQ reitoria

Palavras chave: Análise microbiológica; água de cultivo; indicador bacteriológico.


Keywords: Microbiological analysis; cultivation water; bacteriological indicator.

1. INTRODUÇÃO
O consumo de organismos marinhos (ostras) como alimento possuem grande relação com a
saúde pública. A qualidade sanitária da água do mar e de organismos utilizados como fonte de
alimento para humanos são extremamente importantes uma vez que a ingestão de alimentos e/ou
águas contaminadas por microrganismos patogênicos é uma importante causa da ocorrência de
doenças diarréicas no Brasil (Vazquez et al., 1999; Instituto Adolfo Lutz, 2004; Pontual et al.,
2006) .
As doenças de maior incidência são aquelas do trato gastrointestinal, associadas à recreação
e ao consumo de peixes e frutos do mar contaminados. Podem ocorrer desde infecções mais graves,
como gastrenterites, hepatite A, cólera e febre tifóide, até outras causadas por patógenos
oportunistas (WHO, 1998).
Análise de água de cultivo é muito importante uma vez que influencia diretamente as
atividades de ostreicultura e criação de organismos marinhos. A ostreicultura tem início a partir da
captação de sementes em coletores artificiais e estende-se até a etapa de engorda. Em 1999 foi
fundada a Cooperostra - Cooperativa dos produtores de Ostras de Cananéia, esta cooperativa,
certificada pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) comercializa ostras provenientes de viveiros de
engorda. Neste estabelecimento, as ostras passam por processos de limpeza, com a retirada de
organismos incrustantes (cracas Ballanus spp e mexilhões Mytella spp), lavagem com água sob
pressão, seleção por tamanho e depuração. Na depuração, estes moluscos são mantidos por
aproximadamente 6 horas (tempo mínimo), em tanques com água bombeada da laguna e
devidamente tratada por filtração e esterilização. Neste processo, as ostras eliminam as substâncias
retidas em seus tecidos, tornando-as aptas para o consumo do ponto de vista microbiológico, pois
elimina a maior parte dos organismos patogênicos (Machado et al., 2002).

2. OBJETIVO
Determinar a densidade de bactérias indicadoras de contaminação fecal (coliformes
termotolerantes, Escherichia coli e Enterococcus sp) na água e nos tecidos moles de exemplares de
ostras Crassostrea braziliana coletados em áreas naturais e em áreas de cultivo do município de
Cananéia; correlacionar os dados obtidos nas águas e nas ostras, verificando quais bactérias
representam melhor a real qualidade da água.

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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 Organismos filtradores
Em organismos filtradores como ostras, mariscos, e outros moluscos, a qualidade da água é
de grande importância, uma vez que ao filtrarem a água para a obtenção de alimento e oxigênio,
concentram em seus tecidos grande parte do material em suspensão, inclusive bactérias patogênicas
(Vieira, 2004).

3.2 Parâmetros da água


No Brasil, existem resoluções específicas quanto à qualidade de águas recreacionais
marinhas, águas destinadas ao cultivo de organismos aquáticos e à qualidade do pescado. Na
primeira, a Resolução CONAMA nº 274/00 (Brasil, 2000), especifica o uso de coliformes
termotolerantes, Escherichia coli e preferencialmente, bactérias do grupo Enterococos, como
indicadores de contaminação fecal.
Entretanto, outras leis como a Resolução CONAMA nº 357/05, que engloba a avaliação da
qualidade de águas destinadas a criação de organismos aquáticos, inclusive as salgadas e salobras,
considera apenas coliformes termotolerantes e E. coli como parâmetros de qualidade.
Estudos mostraram que as bactérias do grupo Enterococos, em comparação com outras
espécies de bactérias, são indicadoras mais apropriadas para determinação da contaminação fecal
em ambientes marinhos, uma vez que são mais resistentes aos fatores estressantes como a
salinidade e a luz, por exemplo, e suas densidades estão diretamente relacionadas à contaminação
de origem fecal e ao risco humano de contrair doenças (Cabelli et. al,1982; Cabelli,1983).

4. METODOLOGIA
O local de amostragem selecionado está situado no complexo estuarino do município de
Cananéia, no estado São Paulo, Brasil. As amostras de água foram coletadas de pontos específicos
(Tabela 1) em frascos estéreis mantendo-as refrigeradas até seu processamento no laboratório.
Alguns dados foram obtidos in situ por meio de equipamentos portáteis, a salinidade medida com
um refratômetro; a Temperatura e o pH por sonda (HANNA)

Ponto de coleta Latitude Longitude


Mandira S 25°00'345" W 48°01'023"
Itapitangui S 25°00'210" W 48°00'058"
Saída do Estuário S 25°03'45" W47°55'09,8"
Mosquiteiro S 24°59'652" W 47°56'788"
Cooperostra Antes S 24°57'418" W 47°54'073"
Cooperostra Depois S 24°57'418" W 47°54'073"
Tabela 1: Coordenadas geográficas dos pontos de coleta de água e ostra realizados em Cananéia, São Paulo.

4.1 Análise da água


A Análise da água foi realizada em laboratório seguindo as técnicas de membrana filtrante
para determinação de Enterococcus sp utilizando o Agar Menterococcus, encubado por 24/48 horas
e contando as colônias marrom- avermelhadas. A confirmação do gênero Enterococcus será feita,
por amostragem, através da repicagem de colônias em tubos de ensaio contendo Enterococosel
Caldo. Os tubos que apresentarem enegrecimento do meio após incubação a 35 °C por 24h serão
considerados positivos. As culturas correspondentes aos tubos que apresentarem enegrecimento

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serão submetidas aos testes bioquímicos de produção de catalase, crescimento na presença de 6,5%
de NaCl, crescimento a 45°C e produção de pirrolidonil arilamidase (PYR) (Facklam and Collins,
1989). Todos os testes serão também realizados com cepa padrão de Enterococcus sp. Os resultados
das densidades médias de Enterococcus sp na água serão expressos como Unidades Formadoras de
Colônias em 100 ml (UFC 100 ml-1).
Para determinação das densidades de coliformes totais e termotolerantes nas amostras de
água foi realizada a técnica de túbulos múltiplos (APHA, 1999), utilizando-se como meios de
cultura para coliformes totais o Caldo Lauril Sulfato de Sódio e o Caldo Verde Brilhante Bile 2% e
para coliformes termotolerantes o Caldo EC. Os resultados das densidades médias de bactérias
coliformes serão expressos como número mais provável em 100 ml (NMP 100 ml-1).
Para determinação da densidade de Escherichia coli também será utilizada a técnica de
Membrana Filtrante (APHA, 1999). Os volumes serão filtrados, em membranas de 0,45 µm de
porosidade as quais serão transferidas para placas de petri contendo meio de cultura Ágar mTEC
modificado. Estas são incubadas a 35o C por 2 horas e em seguida a 44,5° C por 22 horas. Após o
período de incubação serão contadas como E. coli as colônias de coloração amarela.
Para confirmação dos resultados, uma porcentagem representativa das colônias
selecionadas contadas como E. coli serão submetidas a 26 testes bioquímicos (indol, Voges-
Proskauer, citrato Simmons, produção de H2S, hidrólise da uréia, triptofano desaminase,
descarboxilação de lisina, arginina, ornitina e controle, malonato, utilização de glicose oxidativa e
fermentativa, utilização de açucares lactose, sacarose, manitol, adonitol, sorbitol, mioinositol,
rafinose, ramnose, maltose, melobiose, ONPG, hidrólise da esculina, oxidase). Todos os testes serão
também realizados com cepa padrão (ATCC) de Escherichia coli.
Os resultados das densidades médias de Escherichia coli nas águas do estuário e de cultivo
serão expressos como Unidades Formadoras de Colônias em 100 ml (UFC 100 ml-1).

4.2 Análise das ostras


As ostras foram coletadas nos mesmos pontos de coleta da água, com exceção da Saída do
Estuário, aonde não há coleta nem consumo das mesmas pela população.
As ostras foram lavadas sob água corrente e limpas com o auxílio de uma escova, para
retirar os sedimentos e organismos incrustados da parte externa. Os organismos foram medidos em
espessura, largura e altura. Após abertos com auxilio de um instrumento esterilizado, foram
separados 20 gramas de carne e liquido intravalvar. O peso separado foi homogeneizado em um
liquidificador com 180 mL de água estéril por 2 minutos, o aparelho foi esterilizado com hipoclorito
de sódio e neutralizado com tiossulfato de sódio a 10% de concentração, antes do uso e entre o
processamento das amostras.
As partir da solução obtida, as análises dos materiais foram feitas da mesma maneira à da
água. Utilizando as mesmas técnicas e procedimentos.

5. RESULTADOS ESPERADOS
Os dados obtidos pelo projeto proposto mostrarão a necessidade de incluir as bactérias do
grupo Enterococos como critério para avaliação da qualidade de alimentos de origem marinha e
para avaliação águas destinadas ao cultivo dos mesmos, nas legislações pertinentes, CONAMA
357/05 e Anvisa RDC 12/01. E avaliar o grau de contaminação bacteriológica nas águas do sistema
estuarino, relacionando os valores encontrados nas amostras de ostras e verificando a eficácia do
processo de depuração da Cooperostra.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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