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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS


DEPARTAMENTO DE FITOTECNIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS
DOCENTE: LUCIANA GOMES BARBOSA
DISCENTES: JEAN CARLOS, LAÍS SOUTO E LETHÍCIA MARGARIDA

RELATÓRIO AULA DE CAMPO - PEDRA DO TOURO

AREIA – PB
INTRODUÇÃO

Os inselbergs são formações geológicas elevadas e isoladas, também


denominados afloramentos rochosos (Porembski & Barthlott 2000), frequentemente
encontradas em regiões de clima semiárido e savana (Porembski 2007). No Brasil são
normalmente encontrados no domínio das Caatingas (Ab'Sáber 2003). Apresentam
condições ecológicas únicas, como pouca disponibilidade de substrato e água, e intensa
radiação solar, o que ocasiona diferenças entre a vegetação que se desenvolve sobre a
rocha e ao seu redor (Porembski & Barthlott 2000). Somente plantas resistentes a
condições severas são capazes de sobreviver nesses ambientes. Esses inselbergs são
importantes unidades da paisagem no semiárido do Nordeste brasileiro, contudo, ainda
pouco conhecido em aspectos florísticos, genéticos, biogeográficos e ecológicos. Sendo
necessário estudos profundos desses ecossistemas, pois trata-se de ambientes ameaçados
pela ação antrópica.
Esses afloramentos rochosos são importantes para biodiversidade por fornecer
habitat para muitas espécies de plantas e animais, que são ameaçadas em outros locais,
sendo algumas endêmicas da região. Logo, ajudam a conservar espécies em risco de
extinção. Ademais, muitos inselbergs são considerados locais sagrados e importantes
pelas comunidades locais, devido a cultura e história dos povos. Dessa forma, por serem
montanhas isoladas e encontradas em áreas de transição entre ecossistemas terrestres e
aquáticos, essas rochas são fundamentais para os ecossistemas aquáticos, devido ao fato
de que sua porosidade permite a infiltração da água da chuva, recarga dos aquíferos
subterrâneos e fornecimento de água para rios e corpo d’água próximos. Essas elevações
também abrigam muitas fontes de água de nascentes, que são habitats para espécies
aquáticas, aumentando assim a biodiversidade dos ecossistemas aquáticos vizinhos.
Nesses inselbergs, encontramos tanques de pedra, que são estruturas construídas
a partir de grandes pedras em uma área delimitada para o armazenamento de água. Essas
estruturas eram utilizadas para coletar água de chuva para uso posterior, como irrigação
de plantações e abastecimento de animais. Tanques de pedra também podiam ser usados
para manter a água limpa e fresca durante períodos de seca/estiagem, quando outras fontes
estavam contaminadas ou secas. Portanto, são consideradas patrimônios históricos em
diversas partes do mundo.
Alguns dos desafios para a conservação dos ecossistemas aquáticos em inselbergs
são: alterações no clima, pois afeta o volume e a qualidades das águas, bem como a
distribuição das espécies, ocasionando a seca. Atividades antrópicas, como a exploração
hídrica, poluição do solo e da água, incluindo o descarte inadequado de resíduos, o
desmatamento que leva ao aumento da erosão do solo e da temperatura, afastando
espécies que dependem desse ecossistema. A construção de estradas e barragens que
podem fragmentar esse habitat aquático e, por fim, a introdução de espécies exóticas que
vão competir com as espécies nativas, alterando a dinâmica das comunidades.
MATERIAIS E MÉTODOS

Área de estudo
A composição rochosa da Pedra do Touro é predominantemente granítica, ou seja,
é composta por minerais como quartzo, feldspato e mica. Além disso, também apresenta
veios de quartzo e zonas de alteração hidrotermal, que são áreas onde a rocha sofreu
mudanças devido a processos envolvendo fluidos quentes. Possui uma altitude de
aproximadamente 881 metros acima do nível do mar. O clima é quente e seco, com chuvas
de verão. O período chuvoso é irregular, geralmente de novembro a abril e a precipitação
média é da ordem de 431 mm, com grandes oscilações ao longo dos anos. Sua relevância
econômica, por estar situada na Cidade das Pedras, tem potencialidade turística devido a
realização de diversas trilhas, principalmente no Complexo da Pedra do Touro, onde é
possível praticar rapel, fazer escaladas e ainda visitar mais de 13 sítios arqueológicos
existentes no local.
Figura 1: Pedra do Touro

Fonte: Autoral, 2023.


Figura 2: Tanque de Pedra.

Fonte: Autoral, 2023.

Amostragem
No primeiro método de análise utilizamos o Disco de Secchi, que é um
equipamento feito para medir a transparência da água, ou seja, observamos a visibilidade
do instrumento conforme a profundidade aumenta. O barbante possui medições para
checagem da profundidade.
Foram medidas três áreas do tanque de pedra, obtendo três resultados distintos:
30, 40 e 90 cm.
Figura 3: Disco de Secchi
Fonte: Nexo equipamentos e serviços S.A.C.

Figura 4: Disco de Secchi em campo. Profundidade dessa área equivalente a 90 cm.

Fonte: Autoral, 2023.

Redes de fitoplâncton e zooplâncton


A rede de amostragem é um outro instrumento utilizado para a coleta e
quantificação de organismos em ambiente continentais, como rios e lagoas, a partir da
filtragem de um certo volume de água. A rede de fitoplâncton possui 20 μm, enquanto a
de zooplâncton tem 50 μm.
Figura 5 e 6: Rede de amostragem em campo.

Fonte: Autoral, 2023.


Figura 6.

Fonte: Autoral, 2023.

Figura 7: Amostras coletadas das redes de fitoplâncton e zooplâncton, fixadas


respectivamente com lugol e formol.
Fonte: Autoral, 2023.

Figura 8: Amostra de nutrientes fixado com lugol.

Sonda Multiparamétrica
Esse instrumento foi utilizado para a medição de diversos parâmetros da água, por
exemplo, o pH, condutividade, salinidade, sólidos totais dissolvidos, oxigênio dissolvido
e a temperatura da água.
Figura 8: Sonda Multiparamétrica.

Fonte: Splabor, equipamentos para laboratório.

Parâmetros Lidos
Temperatura 29,1°C
pH 6.39
Condutividade 28 µS
Salinidade
Sólidos totais dissolvidos 15
Oxigênio dissolvido

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontradas um total de 16 espécies, se dividindo em 5 classes diferentes,
com uma densidade total de 967,68 Cels/ml, como evidenciado na Tabela 1. Destas,
48,6% são da Classe das Euglenophyceae, 27,4% são da Classe das Chlorophyceae,
16,4% são da Classe das Zygnematophyceae, 0,68% são da Classe das Cyanophyceae e
6,85% são da Classe das Bacillariophyceae (Figura 1). A espécie mais abundante foi
Trachelomona ovata, da Classe das Euglenophyceae, com 212,10 Cels/ml, seguido por
Sphaerocstes achoeteri, da Classe das Chlorophyceae, com 165,70 Cels/ml e por Phacus
agilis, da Classe das Euglenophyceae, com 152,44 Cels/ml, como evidenciado na Figura
3.
Tabela 1: Densidade Fitoplâncton por Classe e Espécies.

PORCENTAGEM DAS CLASSES


ENCONTRADAS
Bacillariophyceae ;
6,85
Chlorophycea Cyanophycea
e; 27,40 e; 0,68

Euglenophyceae;
Zygnematophyceae; 48,63
16,44

Figura 1: Porcentagem das Classes Encontradas

Figura 2: Porcentagem das Espécies Encontradas. Figura 3 : Abundância de Espécies, Cels/ml.


Segundo Marten Scheffer e Egbert H. van Nes, 2007, Lagos rasos tornaram-se o
exemplo arquetípico de ecossistemas com estados estáveis alternativos. Normalmente,
estes ecossistemas sofrem alterações drásticas em sua composição, podendo inclusive
ocorrer a seca total em períodos de secas e estiagens, mas, quando ocorre o enchimento
novamente, seu material sedimentar pode ter guardado um banco de organismos vivos
(sementes, esporos, ovos, etc.) para que se estabeleça novamente um ecossistema em um
estado alternativo. Por ser suscetível a eventos estocásticos, devido a condições
climáticas, geográficas, de ordem antrópica ou natural, há uma certa vulnerabilidade
nestes lagos.
Segundo Azevedo & Vasconcelos, 2006, a crescente eutrofização dos ambientes
aquáticos tem sido produzida por atividades humanas, causando um enriquecimento
artificial desses ecossistemas. As principais fontes desse enriquecimento têm sido
identificadas como as descargas de esgotos domésticos e industriais dos centros urbanos
e das regiões agriculturáveis.
Quanto a comunidades presentes, uma vez que as plantas submersas são
abundantes, elas podem reduzir muito a turbidez por uma série de mecanismos que
resultam no controle do desenvolvimento excessivo do fitoplâncton e na prevenção da
ressuspensão dos sedimentos pelas ondas (SCHEFFER & VAN NES, 2007). Ainda,
segundo Marten Scheffer e Egbert H. van Nes, 2007, o aporte excessivo de nutrientes
para o lago tende a favorecer o crescimento da comunidade fitoplanctônica que, por sua
vez, diminui a transparência da coluna d’água. In loco, foi observado a presença de
plantas submersas no lago e que a turbidez da água não estava excessiva, porém, a
transparência da coluna d’água era diminuta, ao ponto que, a medida que o Disco de
Secchi se aprofundava, sua visibilidade diminuía e ao olho nu o fundo do lago não se
podia ver, o que pode ser influenciado pela presença abundante de fitoplâncton, este,
tendo condições favoráveis para seu desenvolvimento.
A espécie mais abundante foi Trachelomona ovata (Figura 3), da Classe das
Euglenophyceae, esta classe tem habitat preferencial em ambientes ricos em matéria
orgânica e também são bioindicadores de ambientes poluídos. Esta relação de poluição e
sua abundância pode explicar sua dominância neste lago, além de suas estruturas de
resistência, que permitem maior taxa de sobrevivência e permanência. O lago com um
alto nível aparente de nutrientes, favorece o desenvolvimento das Euglenophyceae,
evidenciando sua abundância pelos dados obtidos. Disto, podemos aferir que o lago está
em processo de eutrofização ou já eutrofizado.
A Classe das Chlorophyceae, foi a segunda mais abundante (Figura 1), elas são as
principais responsáveis pelo fornecimento de oxigênio e também importantes
consumidoras de nutrientes, contribuído como produtores primários e sendo responsável
pelo estabelecimento de outras espécies, com os da Classe das Euglenophyceae. Também,
são bioindicadoras da qualidade da água.
Os organismos pertencentes à classe Zygnematophyceae, conhecidos como
desmídias lato sensu, constituem um grupo relevante nos ambientes aquáticos
continentais, pela alta diversidade morfológica, riqueza específica e grande importância
ecológica (Brook 1981, Wehr & Sheat 2003). Estes organismos são importantes por
atuarem como produtores primários e na ciclagem de nutrientes.
Bacillariophyceae foi a segunda classe menos abundante (Figura 1), são
conhecidas com diatomáceas e seu habitat são os ambientes marinhos, águas doces e
terrestres úmidas. São importantes economicamente por possuírem sílica em sua
composição morfológica, utilizados na indústria por diversos seguimentos e também por
ser possível realizar analises fósseis para dedução da composição, estado físico-químico
e estado trófico de paleoambientes aquáticos.
Vários gêneros e espécies de cianobactérias que formam florações produzem
toxinas (cianotoxinas). Ainda não se conhece exatamente as causas da produção das
cianotoxinas, mas sugere-se que desempenhem funções protetoras contra herbivoria
(CARMICHAEL, 1992).
Para a espécie Anabaeba sp. e Planktolyngbya sp. são relevantes as neurotoxinas
e hepatoxinas (MENDONÇA, 2019). De acordo com trabalhos de Sant’Anna et al. (2006;
2008) táxons de Aphanocapsa, Planktolyngbya, Synechocystis, Aphanotece, são
considerados potencialmente tóxicos, podendo desempenhar ação hepatotóxica
neurotóxica e dermatotóxica. No corpo d’água estudado a presença de 0,68% são da
Classe das Cyanophyceae (Figura 1), as Planktolyngbya sp representam uma abundância
de 6,63 Cels/ml (Figura 3). Mesmo essa representatividade baixa pode ser um potencial
fator de risco a saúde humana e de outros animais não humanos, esse risco provavelmente
é relevante caso a quantidade de Cels/ml seja alta, o que não é indicado pelos nossos
resultados.
Por fim, se faz necessário o acompanhamento dos corpos d’água que se faz uso,
tanto para agricultura, como dessedentação animal, entre outros usos domésticos, no que
tange a qualidade da água utilizada, afim de evitar contaminações e intoxicações futuras.

REFERÊNCIAS

Scheffer, Marten, and Egbert H. van Nes. "Shallow lakes theory revisited: various
alternative regimes driven by climate, nutrients, depth and lake size." Shallow Lakes in a
Changing World: Proceedings of the 5th International Symposium on Shallow Lakes,
held at Dalfsen, The Netherlands, 5–9 June 2005. Springer Netherlands, 2007.
Brook, A.J. 1981. The Biology of Desmids. Oxford: Berkwell, Scientific Public.
University of California Press.
Wehr, J.D. & Sheat, R.G. 2003. Freshwater Algae of North America. Ecology and
Classification. Academic Press, New York.
OLIVEIRA, Ivania Batista de; BICUDO, Carlos Eduardo de Mattos; MOURA, Carlos
Wallace do Nascimento. Contribuição ao conhecimento de Cosmarium Corda ex Ralfs
(Desmidiaceae, Zygnematophyceae) para a Bahia e o Brasil. Hoehnea, v. 37, p. 571-600,
2010.
CARMICHAEL, W. W. Cyanobacteria secondary metabolites - The Cyanotoxins.
Journal Applie of Bacteriology, v.72, p.445-459. 1992.
MENDONÇA, Renata Oliveira Luís. IDENTIFICAÇÃO DE PERIGOS DA
QUALIDADE DA ÁGUA DE ABASTECIMENTO HUMANO E PROPOSIÇÃO DE
SOLUÇÕES APLICADAS À ATUAÇÃO DA VIGILÂNCIA SANITÁRIA
MUNICIPAL. In: V Seminário dos Estudantes de Pós-Graduação-IFMG-Campus
Bambuí. 2019.
SANT’ANNA, C.L.; AZEVEDO, M.T.P.; WERNER, W.R.; DOGO, C.R.; RIOS, F.R.;
CARVALHO, L.R. Review of toxic species of cyanobacteria in Brazil. Algological
Studies, v.126, p. 249-263, 2008.
Porembski S, Becker U, Seine R. 2000. Islands on islands: habitats on inselbergs. In:
Porembski S, Barthlott W. (eds.) Inselbergs – biotic diversity of isolated rock outcrops in
tropical and temperate regions. Berlin, Springer-Verlag. p. 49-67.
Porembski S (2007) Tropical inselbergs: habitats types, adaptative strategies and diversity
patterns. Revista Brasileira de Botânica 30: 579-586.
Ab’Sáber NA (2003) Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas.
3ª ed. Ateliê. Editorial, São Paulo. 151p.

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