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BATISMO DE CRIANÇAS

Ensaios Teológicos - N? 02
1980

EDITOR

Leopoldo Heimann

Departamento de Comunicacão
da
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
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BATISMO
U[
ERIANGAS
Johannes H. Rottmann

BATISMO DE CRIANÇAS

1980
Ano do 450? aniversário da
CONFISSAO DE AUGSBURGO
e
Ano do 4000 aniversário do
LIVRO DE CONCÓRDIA

ENCOMENDAS

CONCÓRDIA S/A. - Av. São Pedro, 639 - Fone: (0512)


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APRESENTANDO

A Igreja Luterana crê, ensina e confessa a exis-


tência de três meios da graça, através dos quais
o Espírito Santo atua no pecador: a palavra de
Deus e os sacramentos do santo batismo e da san-
t a ceia.
Todas as religiões realizam alguma forma de ce-
rimônias batismais. Para as religiões não-cristãs, o
"batismo" não passa de uma solenidade supersti-
ciosa com muitas significações mágicas. Para as re-
ligiões pseudo-cristãs, o batismo é administrado co-
mo um simples simbolismo cristão, negando-lhe
qualquer valor sacramental. As igrejas verdadeira-
5
mente cristãs, porém, com base na Sagrada Escritu-
ra, aceitam o santo batismo como uma instituição
do próprio Deus e o administram como um "lavar
regenerador e renovador do Espírito Santo" (Tito
3.5).
Ainda que haja concordância quanto a sacra-
mentalidade do batismo, nem todas as igrejas cris-
tãs, porém, têm o mesmo posicionamento diante
da pergunta: Quem deve ser batizado? Esta é a
questão: o batismo se destina só a adultos? só a
crianças? ou a adultos e crianças?
Qual é a resposta correta? Que respondem as
Escrituras? Que respondem os pais eclesiásticos?
Que respondem as Confissões Luteranas? No Cate-
cismo Menor, Lutero ignora a pergunta. No Cate-
cismo Maior, porém, o reformador lembra que
"aqui ocorre uma questão com que o diabo, através
de suas seitas, confunde o mundo, a saber, a ques-
tão do batismo infantil: se os infantes também
crêem, ou se é acertado batizá-los", e aconselha
que "quanto a isso dizemos, brevemente: quem é
simples desista da questão e a remeta aos doutos".
E então oferece uma resposta: "Se, porém, queres
dar uma resposta, então replica: Que o batismo in-
fantil agrada a Cristo, prova-o suficientemente sua
própria obra" (Livro de Concórdia, pág. 480). A
Confissão de Augsburgo, contudo, além de afirmar
que "o batismo é necessário e que por ele se ofere-
ce graça", afirma categoricamente "que também se
devem batizar as crianças". E a Apologia confirma:
"Em segundo lugar, é manifesto que Deus aprova o
batismo dos pequeninos" (Livro de Concórdia, pág.
66 e 187).
6
Sabendo que nem sempre os cristãos luteranos
sabem valorizar as bênçãos do batismo, e que cons-
tantemente são assaltados por dúvidas sobre o ba-
tismo de crianças, especialmente quando recebem
visitas de "missionários anabatistas" ou quando se
encontram diante de problemas como os casamen-
tos mistos, solicitamos ao Professor Johannes H.
Rottmann que nos preparasse uma pequena maté-
ria sobre o batismo de criancas. Feita a pesquisa,
respondeu: "O tema é tão importante e maravilho-
so que foi impossível escrever menos".
O Dr. Rottmann - Professor da Cadeira do No-
vo Testamento na Faculdade de Teologia do Semi-
nário Concórdia, Porto Alegre, autor de diversos
livros teológicos e de uma infinidade de estudos pu-
blicrdos nos periódicos de nossa igreja - além de
examinar os documentos dos pais eclesiásticos, ana-
lisa os principais textos bíblicos referentes ao as-
sunto, concluindo que "para o batismo de crianças
as igrejas tradicionais têm provas claras e suficiente-
mente fortes, tanto da própria Bíblia como da his-
tória".
Estamos certos de que através do estudo de
o Batismo de Criancas, o povo de Deus saberá va-
lorizar e encontrar grande consolo no sacramento
do batismo, e estará mais habilitado para

guardar firme a confissão da esperan..

São Leopoldolsetembro/l980

Leopoldo Heimann
Secret. Execut. Depto. de Comunicação
7
Adultos vêm ao conhecimento do seu Senhor e
Salvador Jesils Cristo e, eventualmente, experimen-
tam sua conversão pessoal pela pregação da fé:
"Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espí-
rifo pelas obras da lei, ou pela pregação da fé?" (GI
3.2). A fonte da fé é a palavra de Cristo, como o a-
póstolo escreve: "E assim, a fé vem pela pregacão e
a pregacão pela palavra de Cristo" (Rm 10.17).
Tais adultos, desde o primeiro pentecoste cris-
tão, foram batizados depois de haverem aceito Je-
sus como seu Salvador, mediante a fé. A Escritura
apresenta vários exemplos.
9
Lucas nos relata no fim da gloriosa história do
primeiro pentecoste: "Então os que lhe aceitaram a
palavra foram batizados; havendo um acréscimo na-
quele dia de quase três mil pessoas" (At 2.41).
A história da conversão dos primeiros pagãos
(~ornélioe sua gente em Cesaréia) teve o desfecho
seguinte: "Ainda Pedro falava estas coisas quando
caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a
palavra . . . Então perguntou Pedro: Porventura po-
de alguém recusar a água, para que não sejam bati-
zados (não devemos esquecer que antes disso era
absolutamente inconcebível um judeu ou um pagão
ser aceito no meio do povo de Deus sem ser circun-
cidado) estes que, assim como nós, receberam o Es-
pírito Santo? E ordenou que fossem batizados em
nome de Jesus Cristo" (At 10.44-48).
Dos primeiros cristãos da Europa, ganhos para
Cristo pela obra missionária de Paulo, é dito o se-
guinte (Lucas relata) : "Certa mulher chamada L í-
dia, da cidade de Tiatira . . . nos escutava (a Paulo,
Silas, Lucas e possivelmente também Timóteo, At
16.1~s.);o Senhor lhe abriu o coracão para atender
às coisas que Paulo dizia. Depois de ser batizada,
ela e toda a sua casa, nos rogou, dizendo: "Se jul-
gais que eu sou fiel ao Senhor, entrai em minha ca-
sa, e a i ficai" (At 16.14,15).
O mesmo aconteceu com o carcereiro de Fili-
.
pos, conforme nos conta Lucas:" . . o carcereiro
. . . depois, trazendo-os (Pauloe Silas) parafora,dis:
se: Senhores, que devo fazer para que seja salvo?
Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus, e serás sal-
vo, tu e tua casa. E lhe pregaram a palavra de Deus,
e a todos os de sua casa. Naquela mesma hora da
1o
noite, cuidando deles, lavou-lhes os vergões dos
açoites. A seguir foi ele batizado, e todos os seus"
( A t 16.17-33).
Foi também o que ocorreu em Corinto com
Crispo, o principal da sinagoga, e com outros, co-
mo Lucas relata: "Mas Crispo, o principal da sina%
goga, creu no Senhor, com toda a sua casa; tam-
bém muitos dos coríntios, ouvindo, criam e eram
batizados" ( A t 18.8).
Neste sentido devemos ler e compreender aque-
la história maravilhosa que nos é relatada do Minis-
tro da Fazenda da rainha Candace de Etiópia, um
eunuco, a quem o evangelista Filipe encontrou no
deserto, lendo no livro do profeta Isaías as profe-
cias a respeito do Cordeiro. Tendo sido rogado pelo
eunuco, que não entendia de quem e de que o pro-
feta falava: "Peço-te que me expliques a quem se
refere o profeta? Filipe (o) explicou e, começando
por esta passagem da Escritura, anunciou-lhe a Je-
sus" ( A t 8.34,35). Evidentemente Filipe, em suas
interpretações dos textos bíblicos, também falou
do batismo, explicando seu sentido, seu provei-
to, seu valor, pois quando os dois chegaram "a certo
lugar onde havia água, disse o eunuco: Eis aqui á-
gua, que impede que seja eu batizado?" (v. 36). ln-
felizmente não sabemos qual foi a resposta de Fili-
pe, pois o que em nossas versões está relatado no v.
37, não existe no original (por isso o texto na Al-
meida Revisada foi posto em colchetes e a "Bíblia
na Linguagem de Hoje" elimiria, com razão, o ver-
sículo inteiro) (1). Lucas, porém, nos conta o que
aconteceu naquele oásis no meio do deserto: "En-
tão (o eunuco) mandou parar o carro, ambos des-
ceram à água, e Filipe batizou o eunuco" (v. 38).
Temos, portanto, evidência bíblica de que, no
caso do batismo de adultos, estes foram instruídos
antes de serem batizados e que eles, de uma ou ou-
tra maneira, confessaram sua fé em Jesus como seu
Salvador antes do ato batismal.
A maneira de criancas se tornarem filhos de
Deus era e é diferente. Todas as igrejas tradicionais
levam crianças a Cristo por meio do batismo. So-
mente aquelas igrejas e seitas que têm suas origens
no movimento anabatista do século XVI, ou movi-
mentos posteriores semelhantes, negam às crian-
ças este meio da graça.
As confissões da igreja luterana são bem claras
e explícitas neste sentido, e convém nos lembrar-
mos destas declarações, especialmente quando há
incertezas a respeito do batismo de crianças:
A Confissão de Augsburgo, confissão funda-
mental da igreja luterana, ensina: "Do batismo se
.
ensina . . que também se devem batizar as crian-
Cas, as quais, pelo batismo, são entregues a Deus e a
ele se tornam agradáveis. Por esta razão se rejeitam
os anabatistas, os quais ensinam que o batismo in-
fantil não é verdadeiro" (CA IX, 1-3).
A Apologia da Confissão de Augsburgo é igual-
mente clara ao afirmar: "Em segundo lugar, é ma-
nifesto que Deus aprova o batismo dos pequeninos.
Logo, julgam impiamente os anabatistas, que con-
denam o batismo dos pequeninos. Que Deus, en-
tretanto, aprova o batismo dos pequeninos, de-
monstra-se com o fato de ele dar o Espírito Santo
aos assim batizados. Fosse nulo esse batismo, e a
nenhum seria dado o Espírito Santo, nenhum se
12
salvaria, não haveria, enfim, igreja. Esta só razão já
pode confirmar suficientemente corações bons e
piedosos contra as opiniões ímpias e fanáticas dos
anabatistas" (Apol. IX, 3). (2)
Para o batismo de criancas as igrejas tradicio-
nais têm provas claras e suficientemente fortes, tan-
to da própria Bíblia como da história. As principais
razões que podemos. enumerar para a nossa praxe
do batismo infantil, são as seguintes:
A NECESSIDADE
D O BATISMO

Criancas - depois da queda do homem em pe-


cado - nascem pecadoras. Elas necessitam, por-
tanto, do renascimento: "O que é nascido da carne
é carne . . ." (Jo 3.6). "Carne" significa, nesta e em
muitas outras passagens, a natureza corrompida e
pecaminosa do homem pecador, aquela natureza
com a qual ele já nasce. Basta apontarmos às se-
guintes passagens b íblicas:
Gn 5.3: "Viveu Adão cento e trinta anos, ege-
rou um filho a sua semelhanca, conforme a sua
imagem, e lhe chamou Sete." (Antes é constatado:
"No dia em que Deus criou o homem, à semelhan-
ca de Deus o fez; homem e mulher os criou"
15
(v. 1,2). Essa semelhança de Deus, o homem a per-
deu por ocasião da queda em pecado).
Depois da divina catástrofe do dilúvio, quando
Deus resolvera que doravante não mais destruiria a
humanidade, ele mesmo afirmou:
Gn 8.21: "Não tornarei a amaldiçoar a terra
por causa do homem, pois é mau o desígnio íntimo
do homem desde a. sua mocidade . . ." (tradução
mais certa seria 'desde a sua infânciar'; a calamida-
de do homem já começa com o seu nascimento,
nessa terra contaminada pelo pecado).
O estado da pecaminosidade do homem já co-
meça até antes do seu próprio nascimento, como
claramente confessa o salmista:
SI 51.5: "Eu nasci da iniqüidade, e em pecado
me concebeu minha mãe" ("O salmo não alude a
qualquer ato adulteroso da parte da mãe . . . Sim-
plesmente se refere à descendência de pais pecado-
res, à pecaminosidade inata, a qual, junto com sua
culpa e sua condenação, é transmitida pelos pais
aos filhos mediante a procriacão natural, de modo
que são contaminados já desde seu nascimento",
LangeISchaff sobre o texto).
O Antigo ~ e ~ t a m e nestá
t o repleto de passagens
que mostram a pecaminosidade, a culpa e a conde-
nação, não só da humanidade adulta, mas também
das crianças. Os seguintes exemplos são suficientes:
SI 58.3:"Desviam-se os ímpios desde a sua con-
cepção; nascem e já se desencaminham, proferindo
mentiras." Que isto não se refere somente aos ím-
pios, mas a todos os homens, mostram as seguintes
passagens:
Jó 25.4: "Como, pois, seria justo o homem pe-
rante Deus, e como seria puro aquele que nasce da
mulher?"
- A depravacão total de toda a humanidade é
constatada em Ec. 7.20: "Não há homem justo so-
bre a terra, que faca o bem e que não peque", o
que é repetido, confirmado e exposto mais detalha-
damente por Paulo, em Rm 3.10-12: "Como está
escrito: Não há justo, nem sequer um, não há quem
entenda, não há quem busque a Deus; todos se ex-
traviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem
faca o bem, não há nem um sequer." Rm 3.22,23:
". . . não há distincão, pois todos pecaram e care-
cem da glória de Deus" ("glória" no sentido de se-
rem reconhecidos da parte de Deus como justos).
Há muitos outros textos neo-testamentários
que falam da pecaminosidade de toda a humanida-
de, incluindo as criancas. O quinto capitulo da car-
ta de Paulo aos romanos, especialmente, nos ensina
este fato:
Rm 5.72: "Assim como por um só homem en-
trou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte,
assim também a morte passou a todos os homens
porque todos pecaram." A experiência nos ensina
que também crianças -- e muitas delas - morrem.
Isto nos prova plenamente que é por causa do pe-
cado que elas morrem, mesmo se, a nosso ver, ain-
da não podiam cometer qualquer ato pecaminoso.
É, também, o pecado hereditário que corrompeu
a natureza das criancas, pois também para elas vale
que "o salário do pecado é a morte" (Rm 6.23).
É no fim deste capitulo cinco que ambos os
lados da existência humana, neste mundo do pe-
cado, vêm à tona com clareza cristalina - e nenhu-
17
ma das criaturas humanas fica excluída destas pa-
lavras divinamente inspiradas:
Rm 5.18,19: "Pois assim como por uma só
ofensa veio o juízo sobre todos os homens para
condenação, assim também por um só ato de justi-
ca (a morte do Filho de Deus na cruz) veio a graça
sobre todos os homens para a justificacão que dá
vida.
Porque, como pela desobediência de um só
homem os muitos (isto é, a multidão de tljdos os
homens) se tornaram pecadores, assim também por
meio da obediência de um só os muitos foram de-
clarados justos." (Foi um ato jurídico de Deus que
declarou justos os homens pecadores pela morte vi-
cária de Cristo - apesar de, infelizmente, a grande
maioria não aceitar a declaração de Deus, não cren-
do).
A base de tais provas bíblicas, as Confissões Lu-
teranas condenam as seguintes heresias: ". . . que
perante Deus infantes não batizados não são peca-
dores, mas justos e inocentes, os quais em sua ino-
cência, porque ainda não alcançaram o uso da ra-
zão, se salvam sem o batismo (o qual, de acordo
com o que alegam, eles não necessitam). Rejeitam,
desta maneira, toda a doutrina do pecado original
e o que a ele pertence. Que só se deve batizar as
crianças quando tiverem alcançado o uso da razão e
puderem confessar pessoalmente sua fé. Que os fi-
lhos dos cristãos, por isso, que nasceram de pais
cristãos e crentes, são santos e filhos de Deus,mes-
mo sem o batismo e antes dele. Por essa razão tam-
bém não têm o batismo infantil em alta considera-
cão, nem lhe encorajam a prática, contrariamente
as expressas palavras da promessa de Deus, que se
estende apenas aqueles que lhe guardam a aliança e
não o desprezam. Gn 17." (Fórmula de Concórdia,
Epítome XII, 4-6). (2).
Sem dúvida, está de acordo com a palavra de
Deus o que diz um velho provérbio: Uma crianca
não precisa ser educada para o mal, mas sim, para o
bem!
1-1 FAZER DISCIPULOS

Nos recenseamentos da antiguidade, como ain-


da nos de hoje, as criancas são incluídas no número
de habitantes de um povo. Se alguns, porém, que-
rem argumentar que as criancas não são menciona-
das especificamente na ordem final dada por Jesus,
podemos, então, contra-argumentar: tambérn.0~a-
dultos não são especificamente mencionados. É o-
portuno que, neste momento, estudemos uma vez
mais o texto inspirado, em que a ordem de batizar
está contida!

Mt 28.18-20:(a tradução segue o texto original


tão perto quanto possível) 'Jesus falou-lhes, di-
21
zendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na
terra. Portanto,
tendo ido, (não temos o imperativo de "ir" no
texto original, mas sim o particípio do aoristo; o
imperativo de ir já está inerente no seu chamado de
embaixadores, de apóstolos, de mensageiros, Mt
10.1ss)
discipulai (aqui, sim, temos o imperativo: fazei
discípulos! - o verbo grego é "mathetéuo": fazer
de alguém um "mathetês", um seguidor, um
discípulo. A ordem dada aos apóstolos foi, pois,
não a de ir, mas a de fazer discípulos. Pergunta-se
como este imperativo de fazer discípulos pode ser
executado e qual o campo de ação. A segunda per-
gunta é respondida em primeiro lugar):
todas as nações (certamente não é admissivel li-
mitar este termo só a uma parte das nações, isto é,
a adultos. Como nos recenseamentos e na consta-
tação do número de habitantes se incluem, incon-
testavelmente, também as crianças - o número dos
habitantes do Brasil seria diminído por uns 20%
se fossem descontadas as crianças de até 6 anos de
idade! O objeto, portanto, da ordem de fazer discí-
pulos são todos os que pertencem às nações, aos
povos).
E necessário, nesta altura, chamar atenção a um
grave erro de tradução na primeira e segunda edi-
ção da "Bíblia na Linguagem de Hoje", que nesta
passagem diz assim: "Portanto, vão a todos os po-
vos e façam que todos sejam meus discípulos: bati-
zem esses discipulos. . .". O grave erro está na insi-
nuação de que os que devem ser batizados já seriam
disclpulos antes do batismo. É evidente que desta
22
maneira o batismo perde completamente o seu ca-
ráter de meio da graca. Felizmente, Cristo definiti-
vamente não afirma isto. Ao contrário, Jesus diz
com muita clareza como seus apóstolos devem e
podem fazer discípulos de todas as nações. Ele
menciona duas modalidades, ambas no mesmo ní-
vel, tanto no valor como no tempo: batizando-os...,
ensinando-os (temos aqui dois verbos no particípio;
e estes particípios só podem ser tomados como par-
ticípios de modalidade. E, visto que "baptizontes"
- batizando - e "didáskontes" - ensinando - são
iguais em todos os sentidos gramaticais, não pode
ser criada qualquer diferenca entre eles, seja dife-
renca temporal ou acional. Se fosse possível fazer
uma diferença entre os dois particípios então, por
certo, o batizar deveria preceder o ensinar. É signi-
ficativo, e até estranho -- por causa da importância
de suas fontes - que dois dos mais importantes ma-
nuscritos que possuímos (B - Vaticanus - e D -
Bezae Cantabrigiensis) têm no grimeiro dos particí-
pios a forma do aoristo, isto é, "baptízantes", o
que colocaria, definitivamente, o batizar antes do
ensinar: "tendo-os batizado. . . os ensinando". A-
chamos, no entanto, que apesar da importância dos
dois textos, o texto original é aquele que serve por
base da nossa tradução, que colocou os dois parti-
cípios no mesmo nível, indicando que existem, de
acordo com a ordem de Cristo, duas modalidades
de discipular as nações: batizando-os e ensinando-
os!
Que a "Almeida Revisada" emprega o masculi-
no "os", apesar de "todas as naçõesW'serfeminino,
está de acordo com o grego original que, para o
23
neutro, ""ta éthne" - as nações - tem o pronome
reflexivo masculino ""autóus". Não há, portanto,
nada a reclamar contra a tradução da "Almeida Re-
visada" neste ponto. Batizando-os em nome (eis to
onómati) do Pai e do Filho e do Espirito Santo. Eis
a í uma das duas modalidades de discipular, de fazer
discípulos, uma de duas!
Ora, é sem dúvida notável que em todo o Novo
Testamento não se acha texto algum em que a fór-
mula trinitária fosse usada. As passagens que nos
falam do batismo e da fórmula usada são as seguin-
tes:
A t 2.38: (diz Pedro) ". . . cada um de vós seja
batizado em nome (epi tô onómati) de Jesus Cris-
I,
to...
A t 10.48: (Pedro em Cesaréia na casa de Corné-
lia) ". . . ordenou que fossem batizados em nome
(en tô onómati) de Jesus Cristo . . ."
At. 16.15 e 33 fala simplesmente do batismo
em Filipos sem mencionar uma fórmula.
A t 18.8 fala do batismo de Crispo e de outros
que creram no Senhor mas não se menciona uma
fórmula.
Em A t 19.1s~temos a história daqueles discí-
pulos de João Batista que foram batizados "no ba-
tismo de João", fato este que evidentemente não
Ihrs dava sossego completo, visto que naquela épo-
ca ainda não conheciam toda a história da reden-
ção, até a ressurreição de Cristo, e que, a fim de te-
rem certeza da validade de seu batismo, "forari. ba-
tizidos em o nome (eis to ónoma) do Senhor J e
sus". (Esse incidente não diz que o batismo de
João não teve validade; teve validade, sem dúvida,
24
pois o próprio Cristo se deixou batizar por João.
Tratava-se, em Efeso, de um caso em que precisa-
va ser posto fora de qualquer dúvida o estado des-
tes neófitos no cristianismo).
Rm 6.3: ". . . todos os que fomos batizados em
Cristo Jesus (eis) fomos batizados na sua morte."
1 Co 1.13~~: O apóstolo argumenta contra os
grupos e divisões que se criaram em Corinto ao re-
dor de nomes; nesta argumentação chega ao ponto
de apontar para o batismo como sendo o funda-
mento de tal dependência: ". . . foi Paulo crucifica-
do em favor de vós, ou fostes, porventura, batiza-
dos em nome de Paulo?" O argumento visa apon-
tar para o absurdo destes grupos dentro de uma
congregação cristã; é evidente que cristãos não fo-
ram batizados em nome (eis to ónoma) de qualquer
um dos ministros de Cristo, mas sim, em nome do
próprio Senhor Jesus.
G/3,26,27: "Todos vós sois filhos de Deus me-
diante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos
fostes batizados em Cristo (eis), de Cristo vos re-
vest istes."
Portanto, nota-se que o batismo, em nenhum
caso, foi expressamente feito "em nome do Pai e
do Filho e do Espírito Santo". Não é possível darmos
as razões para tal procedimento; mas também não
podemos negar que, aparentemente, não havia una-
nimidade na fórmula batismal - nem na primeira
geração da igreja cristã. Os textos dados acima nos
mostram as seguintes diferenças:
- "em (epi) nome de Jesus Cristo" (At 2.38);
- "em (en) nome de Jesus Cristo" (At 10.48);
- "em nome leis) do Senhor Jesus" (At 19. Iss);
25
- "em (eis) nome de Cristo Jesus" (Rm 6.3);
- "em (eis) Cristd' (GI 3.27).
Evidentemente, havia certa liberdade no uso
da fórmula. O batismo como tal, porém, ficou
aquele batismo que Jesus instituiu como uma das
modalidade de discipular os indivíduos nas nações.
Este batismo foi um batismo no Deus Triúno, por-
que >$o haveria um "Senhor Jesus Cristo" sem o
Pai que o mandou e sem o Espírito Santo que en-
sina a reconhecer Jesus como Senhor.
Neste sentido, desde o primeiro pentecoste cris-
tão até o dia de hoje, o batismo é uma dádiva do
Deus Triúno. No batismo o próprio Deus se dá a
nós: o Pai se torna nosso Pai e nos aceita como seus
filhos (GI 3.16-27; Jo 1.12,13; 1 Jo 3.1); o Filho
torna-se nosso Redentor, obedecendo ao eterno
plano da salvação - somos batizados, purificados
"por meio da lavagem de água pela palavra" (Ef
5.26) e somos unidos com ele na sua morte, pois
"fornur sepultados com ele na morte pelo batis-
mo" (Rm 6.4); desta maneira fomos "revestidos
de Cristo" (GI 3.27); "batizados em um corpo" (1
Co 12.13); somos todos membros de um corpo,
seu corpo, sua igreja (Ef 1.23); sua justiça é nos-
so vestido de glória (1s 61.10; Mt 22.1 1); o Espí-
rito Santo torna-se, neste estado de batizados, o
nosso Consolador, pedido pelo Filho, mandado pe-
lo Pai em nome do Filho (Jo 14.16,26) e enviado
.por Cristo "da parte do Pai" (Jo 15.261, que "é
o Espírito da verdade" e de quem o corpo dos bati-
zados "é santuário" (1 Co 6.19).
Nessas fórmulas batismais também a diferença
das preposições não fazem diferença no sentido.
26
São três as preposições: 'eis", '%n" e "epy. Assim
como uma criança, ao nascer e ser registrada, rece-
be o nome do seu pai, assim a criatura humana, ao
renascer - seja por meio de batismo, seja por meio
do aceitar conscientemente a mensagem da fé - é,
por assim dizer, registrada como filho de Deus,
membro da famllia de Deus. Pelo batismo é recebi-
da, é introduzida - "eis" - na família de Deus, re-
cebendo o nome de Cristo. Visto que o próprio
Cristo ordenou o batismo como uma modalidade
de fazer discípulos, este é feito em seu nome ("en")
e em obediência à sua incumbência; e isto nova-
mente é feito assim como o foi na ocasião do pri-
meiro pentecoste, com o uso do nome ("epi") de
Jesus Cristo. Que glorioso privilégio é esse que te
mos, pois também podemos usar este meio da gra-
ça para os nossos filhos! Desta maneira os mesmos
("carne, nascida de carne") tornam-se filhos de
Deus conosco e com todos que aceitam essa graça.
A PROMESSA DA
SALVAÇAO
PELO BATISMO

A promessa da salvação pelo batismo também é


dada expressamente as crianças, Assim Pedro, fa-
lando àquela multidão que participou do início da
missão mundial da igreja cristã no primeiro pente-
coste, diz:
"Arrependei-vos, e cada um de vós seja batiza-
do em nome de Jesus Cristo para remissão dos vos-
OS pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.
Pois para vós é a promessa, para vossos filhos, e pa-
ra todos os que ainda estão longe, isto é, para quan-
tos o Senhor nosso Deus chamar" (At. 2.38,39).
A palavra grega usada neste texto para "filhos"
29
é "téknos"; é o termo mais amplo e genérico para
"filhos"; não determina a idade. No momento do
nascimento, uma criatura humana é "téknon" do
seu pai e de sua mãe. A Escritura desconhece uma
limitação da promessa da salvação pelo batismo a
adultos ou a crianças de uma idade mais avancada.
(Para o termo cf. ainda Lc 1.17; 3.8; At 17.28,29.
Para pesquisa mais profunda recomendamos Walter
Bauer: Worterbuch zum Neuen Testament; Arndtl
Gingrich: A Greek-English Lexicon of the New Tes-
tament; especialmente o parágrafo "'teknon"do ar-
tigo '@áis" de A. Oepke em Theologisches Worter-
buch zum Neuen Testament - Kittel, Vol. V).
BATISMO E
Ci RCUNCISAO

O apóstolo Paulo compara o sacramento do ba-


tismo com a circuncisão.
Circuncisão foi o sacramento vétero-testamen-
tário que levou crianças -. meninos de oito dias de
idade - para dentro da aliança entre Deus e seu po-
vo. Paulo, na sua discussão com os legalistas judai-
zantes da Galácia, afirma que o relacionamento,
confirmado pela aliança entre Deus e Abraão, não
foi uma aliança à base da lei, mas uma aliança à ba-
se da graça, mediante a fé aceita: "Abraão creu em
Deus, e isso lhe foi imputado para justiça - não sua
obra, portanto. - Sabei, pois, que os da fé é que são
filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto
31
que Deus justificaria pela fé os gentios, preanun-
ciou a Boa Nova a Abraão: Em ti serão abençoados
todos os povos" (GI 3.6-8). De acordo com Gn
17.9-14 - texto que nos relata a instituição da cir-
cuncisão - isto seria o "sinal de aliança entre mim
(Deus) e vós" (Abraão e sua descendência). Esse
sacramento da circuncisão deveria constar do se-
guinte: "todo macho entre vós será circuncida-
do"; e tal aliança, que Deus chama de "minha
aliança", valeria tanto para Abraão como para "a
tua descendência no decurso das suas gerações".
O apóstolo Paulo novamente esclarece a inter-
ligação desta antiga aliança com a nova alianca,
centralizada em Cristo, escrevendo aos colossenses:
"Em união com ele (Cristo) vocês foram circunci-
dados, não com a circuncisão que é feita pelos ho-
mens, mas com a circuncisão do próprio Cristo,
que é a libertação do poder do corpo pecador. Por-
que, quando vocês foram batizados, foram enter-
rados em Cristo. No batismo, vocês foram também
ressuscitados com ele, por meio da fé que têm no
grande poder de Deus, Ò mesmo Deus que ressusci-
tou Cristo" (C1 2.1 1,12, tradução da B íblia na Lin-
guagem de Hoje). Que este sacramento da nova
aliança niio ioi mais limitado somente às crianças
de sexo maculino fica evidente de GI 3.28,29:
"Destarte não pode haver judeu nem grego; nem es-
cravo nem liberto; nem homem nem mulher; por-
que todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois
de Cristo, também sois descendentes de Abraão, e
herdeiros segundo a promessa."
Na nova aliança, qualquer homem só pode ser
recebido "pela circuncisão do coração"; só por t a l
32
"circuncisão" alguém se tornava um israelita verda-
deiro, um verdadeiro descendente de Abraão: "Por-
que não é judeu (verdadeiro membro do povo de
Deus) quem é circuncidado somente na carne. Po-
rém judeu (verdadeiro) é aquele que o é interior-
mente, e circuncisão a que é do coração, no espíri-
to, não segundo a letra, e cujo louvor não procede
dos homens mas de Deus" (Rm 2.28,29).
A circuncisão, como sinal de pertencer ao povo
de Deus da antiga aliança, foi ordenada (Lv 12.3) e
a desobediência a essa ordem considerada um pe-
cado tão grave que Deus o castigava com a morte
(cf. Ex 4.23-26). A não-circuncisão dos meninos
no povo seria um opróbio para o povo inteiro (Js
5.2-9). Porém, já na antiga aliança, uma mera cir-
cuncisão na carne não bastava; Deus exigiu tam-
bém, como prova do seu arrependimento, a "cir-
cuncisão do coração" (Dt 10.16) e diz que tal "cir-
cuncisão" não é feita por homens mas pelo próprio
Deus: "O Senhor teu Deus circuncidará o teu cora-
ção, e o coração de tua descendência, para amares
ao Senhor teu Deus de todo o coração e de toda a
tua alma, para que vivas" (Dt 30.6). Como um eco
destas palavras tão antigas, o apóstolo Paulo, milha-
res de anos depois, escreve aos colossenses: "Nele
(em Cristo) também fostes circuncidados, não por
intermédio de mãos, mas no despojamento do cor-
po da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo si-
.do sepultados juntamente com ele no batismo . . ."
(C1 2.12).
BATISMO COMO
MEIO DE SANTIFICAÇAO
DE TODA A IGREJA

Paulo escreve aos efésios: ". . . Cristo amou a


igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para que
a santificasse, tendo-a purificado por meio da la-
vagem de água pela palavra", (Ef 5.25,26). E evi-
dente que também crianças pertencem à 'igreja, e
assim também elas são purificadas "por meio da la-
vagem de água pela palavra", isto é, pelo batismo
que combina os dois elementos: a água e a palavra.
35
BATISMO NA0 E
INVENÇAO DO
NOVO TESTAMENTO

Mestres e rabis judeus falam de batismos no


Antigo Testamento. Assim, por exemplo, testifica
Maimônides (3):"O povo de Israel entrou na alian-
ça mediante três observações: pela circuncisão, pelo
batismo e pelos sacrifícios. A circuncisão já existia
no exílio do povo no Egito, pois está escrito: 'lncir-
cunciso nenhum dele comerá' (alusão ao pão não
-fermentado, usado no êxodo pelos israelitas). Batis-
mo foi introduzido no deserto, exatamente antes
da promulgação da lei, como está escrito: 'Santifi-
ca-os todos hoje e amanhã, e manda-os a lavarem
seus vestidos' (o lavar dos vestidos foi considerado
como lavagem do corpo inteiro). Os sacrifícios
estão descritos em Ex 24.5".
No Novo Testamento também lemos dos ''bap-
tismôn didachês", do ensino de batismos dos ju-
deus (Hb 6.2) e de "ordenariças da carne . . . e di-
versas ablucões" (baptismóis), Hb 9.1 0. Algumas
destas abluções ou batismos incluíam uma lava-
gem OU um aspergir com água ou sangue: a Arão e
seus filhos à porta da tenda "lavarás com água",
(Êx 29.4); "tomarás então do sangue sobre o al-
tar. . . e o aspergirás sobre Arão e suas vestes, e so-
bre seus filhos e as vestes de seus filhos com ele; pa-
ra que ele seja santificado. . .", (Êx 29.21); sobre
o leproso curado com sangue" aspergirás sete vezes";
o que se deve purificar "banhar-se-á com água" e
ao sétimo dia mais uma vez "lavará as suas vestes,
banhará o corpo" (Lv 14.7-9; cf. ainda Lv 16.14-
19; Nm 19.7, 13-21; Ez 36-25).
É evidente que tais batismos - e havia ainda
muito mais do que os mencionados - não foram
batismos cristãos; também não sabemos se aqueles
batismos, aos quais Maimônides se refere, foram de
instituição divina ou não. Sabemos, isto sim, que os
fariseus na época de Jesus chamavam suas lavagens
cerimoniais (a mesma palavra que estas lavagens é
usada como para o batizar de João Batista e de
Cristo, a saber,"baptízein') de batismos: eles "não
comem sem lavar cuidadosamente as mãos; quando
voltam da praca, não comem sem se aspergirem
("baptizein'),. e há muitas outras coisas que rece-
beram para observar, como a lavagem ("'baptismós"')
de copos, jarros e vasos de metal . . ." (Mc 7.3,4;
38
Lc 11.39). O que queremos demonstrar com essas
referências é o fato de que estes "batismos" foram
conhecidos pelos judeus e praticados não só com
adultos, mas também com crianças, porque tam-
bém elas precisavam ser "purificadas". Diante deste
fato, pois, não se compreenderia que Cristo tivesse
excluído as criancas do seu batismo, sem que esta
exceção fosse expressamente mencionada.
BATISMO DE
PROSÉLITOS

Autoridades teológicas judaicas afirmam que,


quando um pagão se convertia para a religião de
Jeová, ele e seus filhos eram batizados. Assim se
constata nos "Gemara" do Talmude Babilônico
(4): "Se os filhos e as filhas forem convertidos com
um prosélito, então eles receberão o mesmo trata-
.
mento. . Numa tal conversão exige-se que estes
prosélitos sejam batizados, mesmo na sua infân-
cia." Os preceitos, tanto do Talmude de Jerusalém
como no Babilônico, falam de prosélitos que deve-
riam ser batizados com menos de três anos de ida-
de.
Maimônides (cf. 3) é ainda mais explícito quan-
41
do, nas suas interpretações destas tradições, escre-
ve: "O gentio que se tòrna um prosélito (converti-
do para o judaismo) como o escravo que foi liber-
tado, eis que são como crianças, nascidas de no-
vo." Este "nascer de novo" (o renascimento) se
concretizou, segundo Maimônides, no seu batismo:
"O israelita que adota uma pequena crianca pagã,
ou a achar abandonada, e a manda batizar, com is-
t o faz dela uma prosélita" (convertida).
De novo deve ser mencionado que, naturalmen-
te, não se trata de um batismo cristão. O ponto que
queremos destacar é que o batismo de crianças não
era uma coisa desconhecida na época de Cristo,
praticado pelo povo de Israel. Teria sido uma exce-
ção se Jesus tivesse limitado o seu batismo apenas a
adultos.
O TIPO DE BATISMO
NO ANTIGO
TESTAMENTO

Num texto algo enigmático, o apóstolo Paulo


fala de um tipo mui significativo de batismo no
Antigo Testamento. Em 1 Co 10.1,2 Paulo escreve:
"Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos
pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram
pelo mar, tendo todos sido batizados, assim na nu-
":
vem como no mar, com respeito a Moisés acres-
centando no v. 6: "Ora, estas cousas se tornaram e-
xemplos para nós. " Notemos nessa passagem, em
primeiro lugar, que nos primeiros versículos deste
capítulo, o apóstolo destaca três vezes que todos os
membros do povo de Deus passaram por essa expe-
riência. A base histórica da afirmação do apóstolo
43
temos em Éx 12.37, onde se fala da saída do povo
do exllio: "Assim, partiram os filhos de Israel. ..
cerca de seiscentos mil a pé, somente de homens,
':
sem contar mulheres e crianças e nas histórias se-
guintes que falam da libertação final dos israelitas
ao atravessar o Mar Vermelho e a conseqüente des-
truição dos seus inimigos nas águas do Mar Verme-
lho.
Notemos ainda aquela frase algo enigmática na
tradução:" tendo todos sido batizados . . . com res-
peito a Moisés É evidente que não se pode tratar
I'..

de um batismo eth nome de Moisés assim como ':


nós o temos no Novo Testamento" em nome de Je-
sus Cristo Y O que significava este batismo simbóli-
co de todos os membros do povo de Deus (notem:
também crianças!) foi que por ele os israelitas fo-
ram unidos com Moisés, o representantede Deus e o
mediador do Antigo Testamento, em quem o Me-
diador do Novo Testamento, Jesus Cristo, foi pre-
figurado (Dt 18.18). A libertacãó da escravidão no
Egito por Moisés, simbolizado por este batismo
pela nuvem e pelo mar, é também típica de nossa
libertação da escravidão do pecado e da morte por
Cristo, . i ~ ' j & i - l a todos os filhos de Deus por meio
do batis3.3. Eis o significado deste tipo e símbolo
do batismo no Antigo Testamento, que certamente
incluiu as crianças do povo!
N A 0 EXISTE TEXTO
N A BiBLIA QUE
EXCLUI CRIANÇAS
DO BATISMO

Muitos costumes dos judeus foram abolidos pe-


la igreja neotestamentária. Se também o batismo de
crianças fosse abolido ou considerado iníquo ou
desaconselhável, então deveríamos ter um texto
que nos indicasse isto no Novo Testamento. Isto
não acontece. Ao contrário, os textos do Novo Tes-
tamento que, de uma ou outra maneira, falam do
batismo, indicam dentro do contexto histórico e
textual, que as crianças foram, como algo natural,
incluídas nas cerimônias batismais.
É verdade, não temos uma ordem direta: Bati-
zem crianças! Porém a prática do batismo infantil
se baseia firmemente na dedução lógica e necessá-
ria daquelas palavras da Escritura nas quais é ensi-
45
nado, plenamente, que a humanidade inteira, inclu-
sive as crianças do momento de seu nascimento, é
corrompida pelo pecado e perdida e que, portanto,
precisa de um Salvador suficiente e divino e que o
-
batismo é um meio pelo qual uma pessoa seja ela
adulta ou na idade infantil - se apropria daquela fé
em Jesus Cristo, que é a única fé que salva. Como
não existem passagens b íblicas que diretamente
exigem o batismo infantil, também existem outras
doutrinas - aceitas universalmente nas igrejas cris-
tãs - sem tais textos, como por exemplo, a doutri-
na da Trindade, que ensina a existência de um úni-
co Deus em três pessoas divinas distintas: Pai, Filho
e Espírito Santo, portanto uma Trindade ou Tri-
unidade. É uma doutrina que se deriva de deducões
lógicas e legítimas das doutrinas bíblicas sobre a es-
sência do único Deus verdadeiro. Leia-se, para essa
doutrina, o Credo A tanasiano ! Portanto defende-
mos o batismo infantil como doutrina bíblica, sem
hesitação, e com base firme na palavra de Deus.
A DENOMINADA
"DEDICACAO DE
CRIANÇAS" NAO
TEM FUNDAMENTO
B~BLICO

Algumas igrejas tentam preencher a lacuna que


elas de fato sentem na falta do batismo infantil,
com uma cerimônia na qual as crianças são levadas
pelos pais, pouco depois do seu nascimento, ao al-
tar para ali serem abencoadas e dedicadas. Tal ceri-
mônia, certamente é linda e confortante, especial-
mente quando isto coincidir com a primeira partici-
pação da mãe num culto depois do parto. No en-
tanto, não temos mandamento divino para uma tal
cerimônia, enquanto o temos para o batismo - e
batismo não só de adultos, nem batismo só de
crianças mas, simplesmente, batismo de todos.
47
BATISMO DE
FAMíLIAS INTEIRAS

O batismo de algudm "com toda a sua casa"


foi, de acordo com o testemunho do Novo Testa-
mento, largamente praticado na igreja antiga. Tal
batismo certamente nSio excluiu as crianças da res-
pectiva casa. O conceito da famllia, tanto entre os
judeus como entre os gregos e romanos, incluiu
até os escravos e seus filhos. Lucas nos relata que o
comandante Cornélio, em Cesardia, tinha "reunido
seus parentes e amigos Intimos" quando esperava
por Pedro (At 10.24), e em conseqüência da prega-
ção do apóstolo "caiu o Espkito Santo sobre to-
dos os que ouviam a palavra" (v. 44). Pedro, vendo
esta manifestação do próprio Deus, apesar de seus
49
escrúpulos iniciais de seguir à ordem do seu Senhor
de pregar a pagãos, certamente perguntou a si mes-
mo e às seis testemunhas (At 11.12): "Porventura
pode alguém recusar a água para que não sejam ba-
tizado~estes que, assim como nós, receberam o Es-
pírito Santo?" E a resposta foi esta: "ordenou que
fossem batizados em nome de Jesus Cristo" (v. 47,
48). E quando, ao voltar a Jerusalém, esta congre-
gação lhe exige prestação de contas sobre sua ativi-
dade entre pagãos, Pedro relata, apontando para
"estes seis irmãos" como testemunhas, que Deus
havia comunicado a Cornélio que ele deveria cha-
mar a Pedro. assegurando-lheque este "te dirá pala-
vras mediante as quais serás salvo, tu e toda a tua
casa" (At 11.13,14). A salvação de Cornélio e de
toda a sua casa se deu mediante a palavra de Pedro,
que confirmou a obra do Espírito Santo nesta casa,
aplicando o batismo com água a todos que ouviram
esta palavra.
Temos diversos exemplos, especialmente rela-
tados em Atos, de batismos de "casas" inteiras, is-
to é, de famílias completas. Em Filipos, Lídia foi
"batizada, ela e toda a sua casa", (At 16.15, Bíblia
na Linguagem de Hoje diz "todas as pessoas de sua
casa", o que é de acordo com o sentido original).
Do carcereiro, em Filipos, Lucas nos relata que ele,
na "mesma hora da noite" em que experimentou a
presença de Deus através das palavras de Paulo e Si-
Ias, "lavou-lhes os vergões dos açoites. A seguir foi
ele batizado, e todos os seus" (At 16.33).
Em Corinto foi "Crispo, o principal da sinago-
ga" que, tendo ouvido a mensagem da salvação,
"creu no Senhor, com toda a sua casa; também
50
muitos dos corintios, ouvindo, criam e eram batiza-
dos" (At 18.8). E quando, mais tarde, surgiram as
facções ao redor de alguns nomes, na igreja de Co-
rinto, Paulo, negando de que ele tivesse tido qual-
quer intenção de criar um partido com seu nome,
enumera s6 poucos que ele pessoalmente batizou
e que, por isso, só bem poucos teriam tido qual-
quer razão de evocar o seu nome como originador
duma nova vida. O apóstolo, entretanto, diz ex-
pressamente que "batizei a casa de Estéfanas" ao
lado de alguns poucos daquela igreja. Incidental-
mente, temos nesta argumentação do apóstolo uma
prova, se bem que acidental, de que batismo era
considerado algo mui importante, um ato de ini-
ciação, e que era de sumci importância o nome em
que alguém fora batizado. Isto nos leva a mais um
ponto de discussão.
O ARGUMENTO
NEGATIVO
A RESPEITO
DO BATISMO:
JESUS E PAULO

O fato mencionado no ponto anterior, a saber,


que o apóstolo Paulo evidentemente não batizou -
ele mesmo! - regularmente os que por sua prega-
ção foram convertidos, acrescentado pela afirma-
ção contida em Jo 4.1-3 de que Jesus também não
batizava, é tomado como argumento contra a ne-
cessidade do batismo, tanto para adultos como
para crianças. Convém, portanto, colocarmos os fa-
tos relatados nos seus respectivos contextos.
Lemos em Jo 4.1-3: "Quando, pois, o Senhor
veio a saber que os fariseus tinham ouvido dizer
que ele, Jesus, fazia e batizava mais disclpulos que
João (se bem que Jesus mesmo não batizava, e,
53
sim, os seus discípulos) .. . deixou a Judéia, reti-
rando-se outra vez para a Galiléia". Que este não
era um batismo de segunda categoria, já se vê pelo
fato de que os fariseus viram nestes atos batismais
um perigo até maior do que nos batismos de João.
Como Jesus, pessoalmente, não executava o batis-
mo como rito, certamente seus discípulos o faziam
em seu nome e por sua ordem; portanto um batis-
mo absolutamente válido. Existem outras passa-
gens, no mesmo Evangelho, que apontam para ba-
tismos realizados na presença de Jesus e pelo círcu-
lo dos seus mais íntimos seguidores. Vejamos al-
guns exemplos.
"Depois foi Jesus com seus discípulos para a
terra da Judéia: ali permaneceu com eles e batiza-
va" (Jo 3.22). "Ora, entre os discípulos de João e
um judeu suscitou-se uma contenda com respeito à
purificação. E foram ter com ~ o ã oe lhe disseram:
Mestre, aquele que estava contigo além do Jordão,
do qual tens dado testemunho, está batizando, e to-
dos lhe saem ao encontro" (Jo 3.25,26). Os batis-
mos, nestas passagens, atribuídos a Jesus, foram e-
xecutados por seus discípulos, e certamente não
eram menos válidos do que os batismos realizados
hoje por sua igreja.
Apesar de Jesus nunca ter realizado um ba-
tismo pessoalmente, ele, sem embargo, nos deu
na sua própria vida um exemplo convincente de
que o batismo definitivamente pertenceria à sua
atividade aqui na terra, ao se deixar batizar por
João Batista (Mt 3.13-171, ato esse com o qual
começava toda a sua atividade profética entre os
homens. Com esse ato, no início de sua obra re-
54
dentora, Jesus certamente também deu um exem-
plo a seus seguidores, exemplo que deveriam se-
guir. Sabemos que, quando o Batista ao reconhecer
Jesus como o Salvador do mundo, hesitou em ba-
tizá-lo, afirmando: "Eu é que preciso ser batizado
por ti". Reconheceu, com essas palavras, que o ba-
tismo fazia parte da vida cristã de um pecador e
não do Redentor. Jesus lhe respondeu que, na rea-
lidade, não precisava ser batizado por causa dos
seus pecados mas que seu próprio batismo perten-
cia à sua tarefa, a saber, que ia cumprir a lei em lu-
gar dos pecadores: ". . . assim nos convém cum-
prir toda a justiça", isto é, cumprir tudo que a jus-
tiça de Deus exigia dos homens. A realização de
batismos pertence não tanto à obra redentora ativa
de Jesus, mas pertence à pregação, à conversão
dos homens redimidos por Cristo. O batismo per-
tence ao ministério da divulgação e propagação
da redenção obtida por Cristo. São os seus minis-
tros na terra que, como parte integral de sua men-
sagem, pregam o batismo para a remissão dos pe-
cados, para o que exatamente foram enviados, a
saber "fazer discípulos de todas as nações, batizan-
do-os e ensinando-os a guardar todas as cousas que
eu vos tenho ordenado". Portanto, não podem os
adversários do batismo infantil apontar para o
exemplo de Jesus, nem para o exemplo do apósto-
lo Paulo.
É verdade, Paulo escreve: "Não me enviou Cris-
to para batizar, mas para pregar o evangelho" (1 Co
1.17), porque era justamente essa a ordem dada
também aos outros apóstolos; pois não se pode
"discipular" povos sem a mensagem salvadora da
55
graça de Deus em Jesus Cristo. Mas, ainda que Pau-
lo não tenha c~nsideradoo batizar como sendo o
centro de sua atividade, de modo nenhum des-
prezou o batismo. Ao contrário, a vida apostolar
de Paulo começou com seu próprio batismo (At
9.18), e ele mesmo, quando as circunstâncias o exi-
giram, batizou, como se vê nos casos de Crispo e
Gaio, a "casa de Estéfanas" e de outros, dos quais
não se pôde lembrar (1 Co 1.14-17). Que ele pare-
ce colocar o batismo em segundo plano estava den-
tro da ordem que ele recebeu, e que era algo dife-
rente da dos apóstolos, aos quais o batismo fora
dado pelo próprio Jesus, como uma das modalida-
des de discipularem, enquanto Paulo teve consigo
sempre companheiros, que certamente batizaram
aqueles que, pela pregação com autoridade de Pau-
lo, foram convertidos. No caso dos coríntios, o
próprio apóstolo dá a razão porque ele, em certo
sentido, está muito satisfeito de não ter batizado a
muitos entre eles, a saber, "para que ninguém diga
que fostes batizados em meu nome" (v. 15). Con-
cluindo este ponto podemos, portanto, constatar
que os exemplos de Cristo e Paulo de maneira ne-
nhuma são negativos com respeito ao batismo, e
nem mesmo com respeito ao batismo infantil.
TESTEMUNHO D A
IGREJA ANTIGA
A RESPEITO DO
BATISMO INFANTIL

Mesmo não querendo entrar em todos os por-


menores da discussão sobre o batismo infantil na
igreja antiga (51,torna-se necessário apontarmos
para algumas referências que nos parecem funda-
mentais e decisivas. ( 6 )
Uma das mais antigas testemunhas entre os pais
apostólicos é, sem dúvida, Justino, o mártir (89-166
p.C.1. Em sua "Apologia", endereçada a Antonio
Pio, ele afirma dos cristãos: "Muitos cristãos, tan-
to homens como mulheres, que desde sua infância
já se tornaram discípulos (no grego ele usa o mes-
mo verbo que Jesus usou na sua ordem aos apósto-
los de discipularem as nações (Mt 28.19), a saber,
57
"mathetéuein"), ficaram solteiros e imaculados até
a idade de sessenta anos." Essa afirmação mostra
que essas pessoas devem ter sido feitas discípulos
ainda durante a época dos apóstolos. O mesmo de-
fensor do cristianismo diz no seu "Diálogo com
Trifo": "O batismo é a circuncisão do Novo Testa-
mento."
lreneu, um dos maiores teólogos do segundo s é
culo (era bispo de Lião, no sul da França, desde
177 d.C.), um discípulo de Policarpo, bispo de Es-
mirna, que fora discípulo de João, o evangelista, es-
creve na sua obra fundamental "Contra os Heréti-
cos": "Cristo veio para salvar a todos; digo a todos
que mediante dele foram regenerados e redimidos
para Deus: os infantes /"infantes"l e as crianças pe-
quenas ("@arvulos"), bem como os meninos,jovens
ou gente de idade." É verdade, Ireneu não mencio-
na o batismo diretamente; porém, olhando para to-
da a sua argumentação fica claro que ele, falando
de crianças pequenas, só pode pensar no batismo
como meio de sua regeneração.
Origenes, o grande teólogo de Alexandria no
Egito (184-254), apesar de suas muitas heresias,
dá, em vários lugares de suas obras um testemunho
claro sobre o batismo infantil. Eis alguns destes
textos: "Segundo o costume da igreja, o batismo é
aplicado à crianças pequenas. Se elas não tivessem
algo em sua natureza que necessitasse de perdão
-e misericórdia, a graça do batismo não Ihes seria
necessária". "Por esta razão a igreja, desde os tem-
pos dos apóstolos, tem a tradição de batizar até
crianças, porque aqueles aos quais os mistérios divi-
nos foram confiados sabiam que toda a criatura hu-
58
mana é polulda pelo pecado, e que deve ser purifi-
cada com a água e o Espírito; por isso também o
corpo é chamado um corpo pecaminoso." E:
"Crianças pequenas devem ser batizadas para a re-
missão dos pecados."
Tertuliano (200 d.C.), o teólogo conhecido da
Africa do Norte, foi o único dos pais da igreja que
polemizou contra o batismo infantil. Masjustamente
porque ele estava, tão acerbamente, polemizando
contra este batismo, prova que era praxe batizar
crianças na igreja do seu tempo. Eis alguns dos
seus argumentos contra o batismo infantil: "Por
causa da natureza, da disposição e também da ida-
de das pessoas é muito mais proveitoso adiar o ba-
tismo; e este é, especialmente, o caso das crianças
pequenas . . . Que elas venham quando já cresce-
ram; que elas venham quando já aprenderam o que
se dá com elas (no batismo). Por que se leva essas
criaturas inocentes, precipitadamente, ao perdão
dos pecados? Com respeito às cousas terrenas se
age com muito maior precaução: aos que não se
confia bens terrenos, são entregues cousas celestiais
(perdão dos pecados às crianças). Que as crianças,
em primeiro lugar, aprendam a pedir pela salvação,
de modo que tenhamos boa consciência de ter dado
a salvação a tais que a pediram. As mesmas razões em
favor do adiamento do batismo são aplicáveis às
pessoas ainda solteiras. Qualquer um que veio a re-
conhecer a importância do batismo, certamente
procura adiar mais o batismo do que precipitá-
10." Lutero considerou Tertuliano como sendo o
Carlstadt (iniciador do movimento anabatista no
século XVI) do terceiro século.
59
Cipriano, o segundo dos grandes teólogos nor-
te-africanos (Agostinho foi o terceiro), bispo de
Cartago (+ 258 d.C.1, era amigo de Tertuliano, mas
não um seguidor de sua teologia. Entre as obras
de Cipriano existe uma carta em forma de trata-
do. endereçada a um dos presbíteros da igreja da
Numídia, de nome Fido, na qual ele repreendeu
severamente a Fido porque este ensinou que crian-
ças, antes de terem alcançado a idade de 8 dias, não
deveriam ser batizadas, apontando o fato de que no
Antigo Testamento os filhos do povo de Israel fo-
ram circuncidados no oitavo dia. "E assim, caríssi-
mo irmão, foi a decisão final do nosso Concílio
(em Cartago): que ninguém deveria ser impedido de
ser batizado e, desta maneira, participar da graça de
Deus, o qual é misericordioso, bom e fiel para com
todos. Daí este divino propósito deve ser procura-
do para todos, e mui especialmente para crianças
pequenas e recém-nascidos". Essa decisão foi toma-
da no Concilio de Cartago, com a presença de 66
bispos, no ano de 254 d.C.
Agostinho, o maior dos doutores da igreja an-
tiga (354-430), foi, sem dúvida, também um dos
grandes defensores do batismo infantil. Em sua
grande luta contra Pelágio, ele reconheceu que, a-
pesar de todas as suas outras heresias, nunca nega-
ram a validade do batismo infantil: "Os pelagia-
nos nunca ousaram negar o batismo infantil, por-
que eles sabem que, se o negassem, teriam contra si
toda a igreja." Numa outra passagem, Agostinho
diz com respeito ao batismo das crianças que "toda
a igreja está praticando batismo infantil" e que este
uso foi "herdado dos próprios apóstolos." Num
60
dos sermões, ele admoesta seus ouvintes: "Não dei-
xai que alguém vos perverta com doutrinas falsas.
O batismo de crianças foi praticado na igreja intei-
ra desde seu início, e foi por ela guardado até os
nossos dias, continuamente."
O próprio Pelágio (nasc. 330 d.C.1 escreve nu-
ma das suas obras, com muita clareza: "Nunca ouvi
de um herético ímpio que tivesse afirmado que re-
cém-nascidos não deveriam ser batizados."
Tais testemunhos são certamente suficientes
para demonstrar que a igreja antiga não só conhe-
ceu e reconheceu a validade do batismo infantil
mas que a igreja toda o estava praticando universal-
mente. Estes homens estiveram muito mais perto,
cronologicamente, dos tempos do Novo Testamen-
to do que nós. Mas, também se pode constatar que
heréticos dentro da igreja, já desde mui cedo, tenta-
ram negar e combater o batismo infantil.
AS CRIANCAS
PODEM CRER?

O argumento principal dos adversários do ba-


tismo infantil é a afirmação categórica: Crianças pe-
quenas não' podem crer!
Contra este argumento queremos afirmar e pro-
var biblicamente: Crianças podem ter fé! Ora, nin-
guém está afirmando que a fé das crianças seja uma
fé refletiva ("fides reflexa"), isto é, uma fé que já
pode raciocinar, tirar conclusões, etc.; mas a sua
fé também não é simplesmente uma fé em potên-
cia ou "fé potencial", uma fé que só existe numa
mera possibilidade e faculdade de crer ("potentia
credendi"). Não, a fé das crianças é uma fé real,
uma fé atual ("fides actualis"), uma f é que de fato
63
e reaimenre agarra o oDjero aa te, a sauer, Jesus
Cristo, seu Senhor e Salvador, que apreende as pro-
messas contidas na palavra anunciada no batismo,
e por isso é uma fé que salva, a única fé que salva.
Para essa afirmação não temos palavras oriundas do
raciocinar, do filosofar, ou do refletir sobre as po-
tencialidades porventura inatas no homem. Baseia-se
essa afirmação nas palavras daquele que é o Criador
e Salvador, ao mesmo tempo, e que de fato sabe e
conhece as potencialidades e a realidade no ho-
mem, também do homem recém-nascido. Diz o
próprio Filho de Deus, feito homem para salvar a
humanidade, o que está em Mt 18.2-6,10:
"Em verdade vos digo que (note-se a solenidade
deste pronunciamento, que desta maneira quase se
torna um juramento!), se não vos converterdes e
não vos tornardes como criancas (note-se "como"!
crianças - "hôs ta paid;ar'), de modo algum entra-
reis no reino dos céus". O "converter-se" e o "tor-
nar-se como crianças" é um único ato. Porém o pri-
meiro dos dois verbos está na voz passiva no grego
("trafête"), o que mostra plenamente que o con-
verter não é uma ação que provém das forças, da
atividade do homem; o homem é convertido por um
ato de Deus, do Espírito Santo que, pela palavra,
nos coloca bem no início de uma nova vida. Assim
como uma criança nasce aqui na terra, não por sua
própria vontade e força, mas que é nascida - até,
por assim dizer, contra a sua própria vontade - as-
sim uma pessoa que pelo poder do Espírito Santo
renasce, se converte, é no próprio ato ao menos
passiva; ela é renascida, ela é convertida.
Temos, portanto, já aqui uma cousa que foge
64
ao nosso raciocinar, assim como fugiu ao racioci-
nar do grande teólogo Nicodemos a afirmação do
Mestre: "Em verdade, em verdade te digo que se
alguém não nascer de novo, não pode ver o reino
de Deus" (Jo 3.3). É necessário que os racionalis-
tas, que negam a possibilidade de uma criança ter
fé, também neguem a possibilidade de um homem,
por si só, renascer. E se a conversão do homem
adulto foge ao nosso raciocínio, por que então que-
remos aplicar este nosso filosofar na questão da fé
das crianças? Também aqui se aplica a palavra do
Mestre ao teólogo Nicodemos: "Em verdade, em
verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e
testificamos o que temos visto, contudo não acei-
tais o nosso testemunho. Se tratando de cousas
terrenas não me credes, como crereis, se vos falar
das celestiais?" (Jo 3.1 1,121.
"Portanto, aquele que se humilhar como esta
criança, esse é o maior no reino dos céus" (Nova-
mente o termo grego usado é "paidion" - que sig-
nifica criança pequena). "E quem receber uma
crianca ("paidion"), tal como esta (tão pequena e
tão humilde), em meu nome, a mim me recebe.
Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes
pequeninos (é impressionante, que Jesus aqui des-
taca a pequenez, usando o termo "mikrós" - tão
pequeno que quase não pode ser medido), que
crêem em .mim, melhor lhe fora que se lhe pendu-
rasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e
fosse afogado na profundeza do mar." Neste versí-
culo temos a grande pedra que os racionalistas têm
que remover, a fim de poderem afirmar: Crianças
pequenas não podem crer! Como se maltrata um
65
texto tão claro! Visto que, de acordo com seu pre-
conceito, crianças não podem crer, eles simples-
mente negam que Jesus tenha falado de crianças
pequenas nestes verslculos. O texto é forçado e
simplesmente tirado do seu contexto. Não adian-
tam, no entanto, maquinações filosóficas. Todo o
contexto fala tão claramente de crianças. É neces-
sário que o texto seja fortemente distorcido para
que ele diga o que eles raciocinam, de que Jesus
aqu; fala apenas de adultos algo infantis, adultos
pueris, simples, humildes.
Ora, crer, em primeiro lugar, quer dizer con-
fiar. Mesmo a fé de adultos, sejam eles cheios de
pensamentos profundos, conhecimentos científicos
e raciocínio natural, digo, a fé de -tais adultos, se
realmente é fé, sempre é simplesconfiança, confian-
ça tal como uma criança pequena a tem. Quando se
fala desta confiança, então justamente a criança se
torna o modelo para o adulto - não vice-versa. Je-
sus, neste texto, está apontando para a característi-
ca de uma criança, para ilustrar o que ele deseja que
os seus discípulos sejam. Assim como uma criança
pequena é capaz de, naturalmente, confiar em sua
mãe, em seu pai, assim ela também é capaz de ter
confiança espiritual no seu coração. Não o aspecto
racional é a essência da fé, mas sua qualidade essen-
cial de confiança. Sabemos que a fé está presente
no crente mesmo durante o sono, quando está em
coma, na insanidade, na senilidade; assim, a fé
pode ser ativa mesmo em recém-nascidos (cf. 1.41,
44).
Neste contexto devemos ler também o v. 10
(Mt 18.10): "Não desprezeis a qualquer destes pe-
66
queninos; porque eu vos afirmo que os seus anjos
nos céus vêem incessantemente a face de meu Pai
celeste." Notemos: Jesus está falando a seus discí-
pulos sobre como devem tratar crianças pequenas,
que nele crêem: ninguém deve desprezá-las. Aos
olhos de Deus, as crianças são tão preciosas que
Deus mesmo encarrega seus próprios anjos para
cuidar delas. Devemos tomar cuidado em não falar
e pensar em "anjos da guarda". A idéia de "anjo
da guarda" para cada uma das crianças não é bíbli-
ca. A alusão no livro apócrifo de Tobias (cap. 51,
não pode servir de base para uma tal idéia. É ver-
dade que Deus usa e emprega seus anjos muitas ve-
zes para determinadas tarefas, inclusive o guiar de
seus filhos, embora o texto de A t 12.15, onde se
fala do "seu (de Pedro) anjo", não pode ser toma-
do como prova, visto que nestas palavras se expres-
sa uma idéia supersticiosa de alguns da congregação
reunida, quando ouviram o que aquela serva Rode
relatou. Certamente também em nossa passagem
Jesus não quer estabelecer uma doutrina sobre "an-
jos da guarda" das crianças. O que o Senhor quer
destacar é que os próprios anjos de Deus estão
prontos para cuidar das crianças, porque elas são
importantes para Deus. É notável como as duas ca-
tegorias de ministros de Deus são colocadas: os a-
póstolos, certamente, são chamados a servirem a
Deus, cuidando para que nenhuma das criancas pe-
quenas se perca espiritualmente. Cuidado! Se eles,
os apóstolos, os discípulos, nós, sim, se nós não to-
marmos cuidado para com as crianças, ai de nós!
Abençoados somos, no entanto, se levarmos as
crianças a entrarem no reino de Deus, porque esta-
67
mos, então, na mesma linha de ministério como os
próprios anjos de Deus. Quão importantes são para
Deus as crianças pequenas!

Essa verdade sempre de novo vem à tona no


Novo Testamento. Alguns destes textos são os que
seguem:

Mt 18.14: "Assim, pois, não é da vontade de


vosso Pai celeste que pereça um só destes pequeni-
nos" (de novo "mikrós").

M t 19.14: Jesus fala de '@equeninos"e manda


que os discípulos não os deviam embaraçar de vir
a ele, "porque dos tais é o reino dos céus" (de no-
vo o termo empregado por Jesus é 'paidia"). Deve-
mos, portanto, ser como eles em sua fé para tam-
bém nós podermos entrar no reino, pela fé, no rei-
no de Deus. Os pequeninos na sua fé são os melho-
res exemplos e modelos de candidatos ao reino.
Pois Jesus afirma :

Lc 18.17: "Em verdade vos digo: quem não re-


ceber o reino de Deus como uma criança ('pai-
díon"), de maneira alguma entrará nele."

Lc 10.21 (Mt 11.25): "Naquela hora (quando


os setenta haviam retornado de sua primeira missão
com grande alegria sobre a autoridade que pos-
suíam em nome do seu Senhor e mediante a sua
palavra) exultou Jesus no Espírito Santo e excla-
mou: Graças t e dou, ó Pai, Senhor do céu e da ter-
ra, porque ocultaste estas cousas aos sábios e enten-
68
didos, e as revelaste aos pequeninos" (aqui temos a
termo que significa crianças lactentes,"nêpioi").
M t 21.15,16: Quando os líderes do povo e os
principais adversários de Jesus reclamavam sobre os
cânticos que as crianças ("paidia") entoavam na
entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, "Hosana
ao Filho de Davi", Jesus os repreendeu, citando um
salmo que eles conheciam: "Nunca lestes: Da bo-
ca dos pequeninos ("kêpioi") e crianças de peito
("thelazóntoon" - os que estão mamando) tiraste
perfeito louvor?" Será que uma criatura humana
que louva a Deus, não pode crer em Deus?
Mc 10.13-16 (Mt 19.13-15; Lc 18.15-17):Aqui
nos é relatado que "traziam-lhe também as crian-
ças ("bréfoi" - um outro termo marcante para
crianças de peito) para que as tocasse". Quando en-
tão os discípulos (racionalistas que eram neste ins-
tante, porque pensavam que tais criaturas ainda na-
da tinham a ver com Jesus) não queriam permitir
que Jesus fosse molestado pelas crianças, este deu
uma ordem bem clara para eles e para todos os
tempos: "Deixai vir a mim os pequeninos ('paidia")
e não os embaraceis, porque dos tais é o reino de
Deus."
Deve ser notado que o Novo Testamento em-
prega os termos "téknoi" (crianças), 'paidia"
(crianças pequenas), "'thelazóntes" (crianças que
ainda mamam) e "'bréfai'" (crianças lactentes - um
termo, aMs, também usado até para o feto ainda
unido com a mãe - cf. Lc 1.41,44 - e para recém-
nascidos - cf. Lc 2.12,16) de maneira variável. Isso
nos mostra plenamente que estas crianças pequenas,
69
até recém-nascidas, de acordo com a palavra inspi-
rada de Deus, crêem, são do reino de Deus, louvam
a Deus e são postas como exemplos de simplicida-
de para todos, como também na confiança, que é a
essência da verdadeira fé em Cristo Jesus. Sim,
crianças pequenas podem crer, e o Espírito Santo,
mediante a palavra no batismo, .opera nelas esta fé
salvadora.
"DEIXA1 VIR A
MIM OS PEQUENINOS"

Esta ordem que se encontra três vezes no Novo


Testamento (Mc 10.13,16; Mt 19.13,15; Lc 18.15,
17) não nos ordena batizar as criancas, e não quere-
mos e nem precisamos desta passagem para provar
o batismo infantil. Como, no entanto - assim per-
guntamos aos céticos -, podemos levar crianças a
Cristo de uma outra maneira do que pelo batismo,
quando é plenamente dito que "todos quantos fos-
fes batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes"?
(GI 3.27). Deixemos, pois, que nossos filhos, tão
cedo quanto possivel - ainda crianças de peito -
sejam revestidos de Cristo, da justiça de Cristo, da
única justiça que nos pode salvar, pelo batismo!
71
BATISMO É
NECESSARIO?

A resposta a essa pergunta vem do próprio Sal-


vador. No colóquio teológico entre Jesus (que, co-
mo ele mesmo afirma, "desceu do céu" Jo 3.13) e
o teólogo-mor dos judeus da época, Nicodemos,
temos o seguinte diálogo que contém a primeira
resposta a nossa pergunta: "Nicodemos . . . que, de
noite, foi ter com Jesus, lhe disse: Rabi, sabemos
que és Mestre vindo da parte de Deus; porque nin-
guém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus
não estiver com ele. A isto respondeu Jesus: Em
verdade, em verdade te digo que se alguém não nas-
cer de novo, não pode ver o reino de Deus. Pergun-
tou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nas-
73
cer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ven-
tre materno e nascer segunda vez? Respondeu Je-
sus: Em verdade, em verdade te digo: Quem não
nascer da água e do Espírito, não pode entrar no
reino de Deus" (Jo 3.1-5). Duas vezes uma afirma-
ção solene,quase um juramento: Não pode . . . a
não ser . . . Não pode entrar no reino de Deus, a
não ser que seja batizado ("nascer da água e do Es-
pírito"). Sem dúvida, batismo é necessário!
Entre as últimas palavras que Jesus, segundo
o Evangelho de Marcos, disse aos seus discípulos
está esta, como se fosse a última vontade, o testa-
mento do Senhor: "Quem crer e for batizado será
salvo; quem, porém, não crer será condenado", Mc
16.16. Pais que recusam batizar seus filhos são co-
mo os fariseus e os intérpretes da lei que "rejeita-
ram, quanto a si mesmos, o desígnio de Deus, não
tendo sido batizados por ele" (João Batista, Lc
7.29,30). Os que rejeitam o batismo, portanto, re-
jeitam o desígnio de Deus. Não temos consolo para
alguém que rejeita o batismo, o desígnio de Deus.
Quem desprezar este sacramento, este meio da gra-
ça, pode procurar subterfúgios, mas não achar4 pa-
lavra de Deus que justifique sua atitude. O batismo,
segundo o desígnio de Deus, é necessário!
NO E PELO
BATISMO O
ESPIRITOSANTO
OPERA O
RENASCIMENTO
OU A CONVERSA0

O erro fundamental de todos os que nem a vali-


dade do batismo infantil é o sinergismo (syn = com;
ergo = obra - sinergismo, portanto, é a heresia que
ensina o homem precisar "operar junto com"
Deus). Os adversários do batismo infantil iniciam
sua argumentação com a afirmação de que uma
criança ainda não pode raciocinar e que, portanto,
ela precisa chegar primeiro a uma idade em que
pode dar conta de seus atos, a fim de poder render-
se, decidir por si mesmo, optar por ou procurar a
Jesus como seu Salvador pessoal. A palavra de
Deus, no entanto, diz claramente que a nossa salva-
ção não está em nossas mãos; que somos salvos Uni-
ca e absolutamente só pela graça de Deus. A deci-
são está com Deus - nunca conosco; nunca podemos
decidir por nossa própria força de vir a Deus; Deus
vem ao nosso encontro e não somos nós que vamos
ao seu encontro. Se pudéssemos decidir por nós,
então a nossa decisão de crer seria uma boa obra
que precederia a fé; com tal decisão seriamos ao
menos colaboradores de Deus antes da nossa con-
versão - o que é absolutamente impossível, pois
segundo a Escritura, somos mortos em pecado até
o momento em que Deus nos vivifica espiritual-
mente. Como, porém, um cadáver não pode mexer
nenhum dos seus membros, assim os espiritualmen-
te mortos não podem, de modo nenhum, fazer al-
go espiritual. Deus Espírito Santo é a única força
ativa no nosso renascimento; nós somos, nesse ato,
absolutamente passivos - sim, mais ainda, o ho-
mem natural não quer saber nada da vida espiri-
tual, nem pode querer algo espiritual, pois somos,
segundo o homem natural, "mortos em nossos de-
litos e pecados" (Ef 2.1 ).
Como este é o caso, ninguém pode, antes do
seu renascimento, fazer algo que tenha valor diante
de Deus. Ninguém se pode salvar por obras. Quem
se salva, é salvo mediante a fé, mediante a confian-
ça completa na obra meritória de Cristo. Provas?
Leia-se as seguintes passagens: Rm 3.21 -28; 5.15,18;
11.6; T t 3.5; Ef 2.8,9; GI 2.1 1. Salvação existe só
como dádiva da graça de Deus, que se recebe so-
mente pela fé.
Salvação existe só como obra exclusiva de Cris-
to e nos é oferecida unicamente pela'palavra de
Deus. Provas? Leia-se as seguintes passagens: Jo
76
Lutero, em sua explicação escriturística, afirma
("O Sacramento do Santo Batismo" - Primeiro:
Que é o batismo?):
"O batismo não é apenas água simples, mas é a
água compreendida no mandamento divino e ligada
com a palavra de Deus." É por isso que afirmamos:
o batismo é meio da graça: o batismo de fato salva.
A Escritura menciona muitas bênçãos ofereci-
das pelo batismo:
Mc 16.16: "Quem crer e for batizado será sal-
vo. "
A t 2.38: ". . . Arrependei-vos, e cada um de vós
seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão
dos vossos pecados, e recebereis o dom do Esplíito
Santo. "
A t 19.5,6: "Eles, tendo ouvido isto, foram bati-
zados em o nome do Senhor Jesus. E, impondo-
Ihes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo;
e tanto falavam em línguas, como profetizavam"( re-
ceberam o dom de pregar e anunciar a mensagem
da salvação).
A t 22-16 (Ananias em Damasco falando a Sau-
IoIPaulo): "Levanta-te, recebe o batismo e lava os
teus pecados, invocando o nome dele."
Rm 6-3-74: Deste grandioso texto seguem as
seguintes afirmações: "lgnorais que todos os que
fomos batizados em Cristo Jesus, fomos ba-
tizado~na sua morte? (a sua morte foi 'vicária, e
portanto tem todo o poder de salvar). Fomos, pois,
sepultados com ele na morte pelo batismo; (Note-
mos os verbos no passivo: Não somos n6s que faze-
77
mos algo no nosso batismo; Cristo faz tudo por
nós; porém pela fé, operada no batismo, agarramo-
nos àquilo que Cristo fez por nós: morreu por nós,
e os nossos pecados com ele; foi sepultado por nós,
e os nossos pecados com ele!) para que, como Cris-
to foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do
Pai, assim também andemos nós em novidade de
vida (o que seria impossível se Cristo não tivesse
ressuscitado, e nós, pela fé, com ele) . . . foi crucifi-
cado com ele o nosso velho homem, para que o
corpo do pecado seja destruido, e não sirvamos o
pecado como escravos; porquanto quem morreu,
declarado justo (libertado) está do pecado . . . Por-
que o pecado não terá domínio sobre vós; pois não
estais debaixo da lei, e sim, da graca." Notemos:
tudo isto é porque fomos batizados!

I Co 6.11: "Tais fostes (impuros, idólatras, a-


dúlteros. . ., cf. v. 9 e 10) alguns de vós; mas vós
vos lavastes (melhor "fostes lavados" isto é, pelo
batismo), mas fostes santificados, mas fostes justi-
ficados, em o nome do Senhor Jesus Cristo e no
Espírito do nosso Deus" (é como um eco das pala-
vras de Jesus a Nicodemos: "Quem não nascer da
água e do Espírito, não pode entrar no reino de
Deus" 1.

1 Co 12.13: "Pois em um só Espírito, todos


nós fomos batizados em um corpo (isto é,no corpo
de Cristo, sua igreja - o batismo, portanto, é o
meio pelo qual nos tornamos membros do corpo de
Cristo) . . . E a todos nós foi dado beber de um só
Espírito. "
78
Gl 3.26,27: "Pois todos vós sois filhos de Deus
mediante a fé; porque todos quantos fostes batiza-
dos em Cristo, de Cristo vos revestistes" (pelo ba-
tismo recebemos a vestidura da justiça operada por
Cristo).

Ef 4.3-6: ". . . esforçando-vos diligentemente


por preservar a unidade do Espírito no vinculo da
paz: Há somente um corpo e um Espírito.. . há
um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só
Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por
meio de todos e está em todos."

Ef 5.25-27: ". . . Cristo amou a igreja, e a si


mesmo se entregou por ela, para que a santificasse,
tendo-a purificado por meio da lavagem de água pe-
la palavra, para a apresentar a si mesmo igreja glo-
riosa, sem mácula, nem ruga, nem cousa semelhan-
te, porém santa e sem defeito."

Tt 3.5-7:".. . não por obras de justiça pratica-


das por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos
salvou mediante o lavar regenerador e renovador do
Espírito Santo, que ele derramou sobre nós rica-
mente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador,
a fim de que, justificados por graça, nos tornemos
seus herdeiros, segundo a esperança da vida eter-
na. "

1 Pe 3.2021: ". .. nos dias de Noé, enquanto


se preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito
pessoas, foram salvos através da água, a qual, figu-
rando o batismo, agora também vos salva . . ."
79
Pergunta-se, com todas estas provas que tão
claramente demonstram o poder regenerador do
batismo, por que ainda existem cristãos, que por
causa de raciocínio falho, baseado numa lógica hu-
mana falha, negam às crianças este glorioso meio
de se tornarem membros do corpo de Cristo e se-
rem salvas de uma condenação que pesa sobre to-
da a carne, nascida da carne, isto é, sobre todos
os homens nascidos aqui na terra?!
QUESTÕES E
CONSIDERAÇÕES
SUPLEMENTARES

A primeira pergunta que aflige a muitos é esta:


então não pode ser salvo quem não for batizado?
É o batismo absolutamente necessário para a sal-
vação?
Que podemos dizer a pais, dos quais um filho
morre antes de poder ser batizado? A nossa res-
posta pode ser que tais pais - se são cristãos, que
realmente crêem no Salvador Jesus, que tiveram a
intenção de batizar seu filho e que não querem re-
jeitar o batismo - possam ser consolados com as
palavras que se acham nas liturgias antigas da igreja
luterana: "Encomendamos esta criança à misericór-
dia de Deus!"
81
Para t a l resposta temos boas razões bíblicas:
O contexto daquelas passagens que aparente-
mente ensinam a necessidade absoluta do batismo,
indica que em todos os casos tais palavras perten-
cem à lei e não ao evangelho. Jo 3.5 e Lc 7.29,30
são palavras dirigidas aos fariseus que rejeitaram o
batismo. As palavras em Mc 16.16 não contêm a
cláusula negativa e condenatória: ". . . quem não
for batizado será condenado". O que realmente
condena é a incredulidade. Não é a falta do batis-
mo que condena; o que condena é a rejeicão do ba-
tismo. Diz Lutero: "'O crente não batizado não é
condenado; aquele que não crer, este, sim, está
condenado" (St. Louis Xll, 1706).

Apesar de nós, os homens na igreja, estarmos


comprometidos por Deus a usar os meios da graca
(palavra de Deus e sacramentos), devemos lembrar
que Deus não está amarrado, nem pode ser, visto
ser ele o Senhor de tudo isto. Deste modo ele pode,
se ele assim o quisesse, criar fé em crianças até sem
batismo, assim como ele poderia ter suscitado "fi-
lhos a Abraão", como Jesus afirma, "destas pe-
dras", se assim o quisesse, Mt 3.9.

Existem indicações de que Deus não somente


poderia criar, mas realmente criou fé sem mei~s:
- João Batista, ainda no ventre materno (Lc 1.
15,41,44);
-as filhasdos crentes no povodaAntiga Aliança;
- o filho de Daviede Bate-Seba (2 Sm 12.18,23);
-aqueles pequeninos e crianças de peito que
dão "perfeito louvor" citados por Jesus, Mt
21.16 do SI 8.2;
82
- os pequeninos e crianças de peito, nascidos
antes da aliança da circuncisão.
Estes exemplos evidentemente não podem ser
citados para justificar a rejeição do batismo.
Pais cristãos entregam seus filhos em oração a
Deus, mesmo antes de nascerem, no próprio nasci-
mento e logo depois do mesmo. Isto não significa
que a oração seja um meio da graça, o que ela real-
mente não é; porém, temos a promessa: "Muito
pode, por sua eficácia, a súplica do justo" (Tg
5.16).
Existe uma passagem algo enigmática na qual
Paulo fala sobre a influência benéfica de um dos
pais de uma criança, quando este é crente, sobre a
vida desta (1 Co 7.14). Esse texto deve ser posto na
luz da palavra de Paulo em 1 Tm 4.43: ". . . tudo
que Deus criou é bom, e, recebido com ações de
graça, nada é recusável, porque pela palavra de
Deus, e pela oração, é santificado."
Todos estes pontos são dados como puro con-
solo evangélico para pais cristãos, cujas crianças
morreram antes de que eles pudessem ter tido a o-
portunidade de as batizar. Entregamos, nestes ca-
sos, os filhos às mãos do misericordioso Deus. É
um consolo, isto é evidente, que é procurado por
cristãos aflitos - não para os incrédulos e rejeita-
dores da palavra de Deus e dos meios da graça nos
sacramentos.
Porque padrinhos no batismo? Podemos res-
ponder com as razões dadas na explicação do Cate-
cismo Menor de Lutero, ainda em uso em muitas
das nossas congregações: Padrinhos são chamados
1 ) a testemunhar que as crianças foram batizadas
83
corretamente; 2) a ajudar na sua educação cristã;
3) a orar por elas. É, portanto, uma instituição mui
benéfica, se bem que não prescrita na Bíblia. A exi-
gência da presença de testemunhas no ato do batis-
mo é baseada em conselhos dados na própria Bíblia
(Dt 19.15; Mt 18.16; Jo 8.17;2 Co 13.1).
Que Deus nos dê aquela confiança na verdade
de suas promessas, que nunca deixemos, por razões
puramente racionais e falhas, de batizar crianças
- e que as batizemos tão cedo quanto posslvel!
ANOTAÇOES

1) Neste caso, Jeffrey Kinery, em "Christian


News", julho de 1978, tenta provar demais, citan-
do os v. 36-38 como prova de uma confissão de fé
pessoal antes do batismo. É provável que assim
sempre foi feito, apesar de ser algo dificil imaginar
essas confissões individuais no dia do pentecoste,
no caso do batismo dos 3.000. Kinery simplesmen-
te segue, sem se preocupar com a genuinidade deste
texto, a J. T. Mueller (Dogmática Cristã 11, 176) e
Franci's Pieper (Christliche Dogmatik, Vol.' 111, pg.
325). Lenski (Interpretation of the Acts of the
Apostles, pg. 346) caracteriza bem a situação,
quando diz: "A evidência textual deste versículo é
85
fraca demais para este ser admitido como genuíno.
Diz o que pode ter acontecido. A objeção, no en-
.
tanto, é só textual. . . A confissão de Jesus ser o
Cristo sempre foi um pré-requisito para o batis-
mo." O v. 37 realmente não ocorre em nenhum
manuscrito antes do século X. Em todo o caso é
aconselhável não tentar provar algo com evidências
incertas.

2) Os textos citados das Confissões Luteranas


são da nova tradução das mesmas feita por Arnal-
do Schuler.

3) Rabi Moisés Maimônides, um dos maiores


pensadores e teólogos judeus da Idade Média, nasc.
em 1135 em Córdoba, Espanha, falec. em 1204 no
Cairo, Egito. Sua obra magna é a "Mishna Tora",
uma exposição extensa e erudita de leis, costumes e
prescrições cerimoniais do povo de Israel até sua
extincão como nação no ano 70 A.D. pela destrui-
ção de Jerusalém e a completa dispersão dos ju-
deus remanescentes.

4) O Talmude, realmente os Talmudes, porque


existem duas formasdeste livro das leis, ordenanças,
costumes e interpretações do Antigo Testamento:
o Talmude de Jerusalém, o mais antigo e o mais bre-
ve, e o Talmude Babilônico, o mais extenso e o
'mais importante dos dois. A palavra "Talmude"
(hebr. "lamád") significa "o aprender", e concreto:
a doutrina. Estes documentos, pouco a pouco co-
lecionado~,são interpretações, leis e costumes que,
depois da volta do exílio da Babilônia pelos mais
86
conceituados rabis do judaismo, foram escritos ou
ensinados. Os "Gemara" são suplementos e inter-
pretações acrescentados às ordenanças originais e
datam de 200 até 500 A.D. As ordenanças dos ra-
bis, que cresceram nos últimos séculos antes de
Cristo ao lado das leis escritas, são, no Novo Testa-
mento, chamados de "tradições dos anciãos" (Mc
7.3 e 5; Mt 15.2) e foram, pelos fariseus, considera-
das de valor mais alto que as leis escritas nos livros
do A.T. Muitas das discussões de Jesus com os fari-
seus basearam-se nesta superavaliação da parte dos
fariseus destas tradicões.

5) Com respeito ao batismo infantil na igreja


arlt,, , apontamos para um estudo mais profundo
da situação inteira, também durante a época neo-
testamentária, a discussão sobre o tema havia atra-
vés de vários anos entre dois dos mais eminentes
teólogos alemães da atualidade, e mundialmente
conhecidos por serem autoridades no campo do
N.T. e da patristica: Joachim Jeremias e Kurt
Aland. Os resultados destas discussões se acham
reunidas nas obras citadas sob o nome deles em
nossa bibliografia.

6) As citações são traduções nossas dos textos,


à nossa disposição em língua inglesa, contidas nas
coleções ed. Wm, B. Eerdmans Publishing Co.,
Grand Rapids, Mich., USA. - The Ante-Nicene
Fathers - 10 vols. (ed. A. Roberts &J. Donaldson);
The Nicene and Post Nicene Fathers, (ed. Philipp
Schaff) - 2 séries de 14 vols. cada. - Para poupar
87
espaço deixamos a indicação individual dos volu-
mes e páginas citadas, referindo o leitor para os vo-
lumes destas séries que contém o "Comprehensive
General Index". - As citações dadas, evidentemen-
te, não podem ser exaustivas e completas, mas são,
ao nosso ver, suficientes para provar os pontos refe-
ridos; elas seguem, em certo sentido, uma ordem
cronolbgica.
BIBLIOGRAFIA

Foram consultados principalmente os seguintes comen-


tários do N.T.:
Das Neue Testarnent Deutsch, GBttingen, 1968 - 4 vols.
The Interpretation of the Books of the N. T., by R.C.H.
Lenski, Columbus, Ohio, - 11 vols., várias datas.
The New International Cornrnentary on the New Testarnent,
vários autores, Grand Rapids, Mich, 16 vols., várias
datas.
Kritisch-Exegetischer Cornrnentar iiber das Neue Testarnent,
H.A.W. Meyer, Goettingen, 4. Aufl., 1858s.
Lange's Cornentary on the Holy Scriptures - New Testa-
ment - ed. Philipp Schaff, Grand Rapids, Mich., várias
datas.
Outra literatura:
Concordia Triglotta, St. Louis, Mo., Concordia Puhlishing
House, 1921.
Christian Dogrnatics by Francis Pieper, St. Louis, Mo., 1953,
vol. 111.
Christian Dogrnatics by John T. Mueller, St. Louis, Mo.,
1955.
A Surnary of Christian Doctrine by Edward W. A. Koehler,
St. Louis, Mo., 1952.
The Abiding Word, Vol. 11, St. Louis, Mo., 1947, pg. 398ss.
Jerernias, Joachirn: Die Kindertaufe in den ersten vier
Jahrhunderten, Goettingen, 1958.
Aland, Kurt: Taufe und Kindertaufe, Guetersloh, 1971.
Tratados:
Dallrnan, Williarn: Infant Baptism. St. Charles, Mo., sem data.
Why baptize children? - Conc. Publ. HouseTract, sem data.
Twenge, S.: Baptism - Who and Why? -em "The Faithful
Word", Vol. 13, nr 4.
Kinery, Jeffrey C.: Our position on Infant Baptism - em
"Christian News", July 31, 1978.
Apresentando .......................... 5

Introdução ............................ 9

1. A Necessidade do Batismo . . . . . . . . . . . . . . . 15
2. A Ordem de Fazer Discípulos . . . . . . . . . . . . . 21
3. A Promessa da Salvação Pelo Batismo . . . . . . . . 29
4. Batismo e Circuncisão . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
5. Batismo Como Meio de Santificação de Toda a
Igreja . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
6. Batismo Não é Invenção do Novo Testamento . . 37
7. Batismo de Prosélitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
8. O Tipo de Batismo no Antigo Testamento . . . . 43
9. Não Existe Texto na Bíblia que Exclui Crian-
ças do Batismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
10. A Denominada "Dedicação de Crianças" Não
Tem Fundamento i3 íblico . . . . . . . . . . . . . . 47
11. Batismo de Famílias Inteiras . . . . . . . . . . . . . . 49
12. O Argumento Negativo a Respeito do Batismo:
Jesus e Paulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
13. Testemunho da Igreja Antiga a Respeito do Ba-
tismo Infantil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
14. As Crianças Podem Crer? . . . . . . . . . . . . . . . . 63
15. "Deixai vir a mim os Pequeninos" . . . . . . . . . . 71
16. Batismo é Necessário? . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
17. No e Pelo Batismo o Espírito Santo Opera o Re-
nascimento ou Conversão . . . . . . . . . . . . . . . . 75
18. Questões e considerações Suplementares . . . . . . 81
Anotações ............................. 85

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