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163.22 SETOR NORTE

A Tuna Luso Brasileira: um


patrimônio esportivo da Amazônia
Paraense
Danielle da Silva Gomes, Wanessa Pires Lott  23 de janeiro de 2023

1. A trajetória da Tuna
Durante o período de exploração da borracha na Amazônia, datado de meados do
século XIX até o início do século XX, o fluxo migratório na região foi extremamente
intenso. De acordo com o censo brasileiro do ano de 1872, tem-se a chegada de 6.529
estrangeiros no Pará, sendo a maioria de europeus, com proeminência para os
portugueses, os espanhóis, os franceses, os ingleses, os alemães, os italianos e os
austríacos. Dentre os cinco grupos migratórios supras citados, os portugueses formam
os primeiros, chegando ao Pará principalmente homens sem família, que, além da
esperança de ter um trabalho trouxeram na bagagem vivências culturais, como a do
futebol (EMMI, 2013). Privacidade - Termos
Apesar do futebol já se encontrar em terras brasileiras, destacamos a relevante
contribuição com a fundação de clubes de futebol pelos lusos: o Clube de Regatas
Vasco da Gama (Rio de Janeiro), a Associação Atlética Portuguesa (Santos), a
Associação Portuguesa de Desportos (São Paulo) e a Tuna Luso Brasileira (Belém). Este
último foi fundado com o nome Real Tuna Luso Caixeiral, em 01 de janeiro de 1903 em
Belém do Pará, nome este que fazia referência a uma orquestra popular local com forte
participação dos comerciantes portugueses.

Fonte: Wikipédia

O time é detentor dos seguintes títulos de campeão paraense nos anos de 1937, 1938,
1941, 1948, 1951, 1955, 1958, 1970, 1983, 1988; vencedor da Taça Cidade de Belém, do
Campeonato Centenário da Federação Paraense de Futebol e do Torneio Início do
Paraense em 1985. Em âmbito nacional foi campeão do Brasileiro da Série B em 1985 e
do Brasileiro da Série C em 1992 (TUNA LUSO BRASILEIRA, 2023).

A sua primeira sede do clube não existe mais, pois ela não conseguiu acompanhar as
possibilidades múltiplas das práticas esportivas da Tuna. Desta forma, em 7 de julho de
1935 foi inaugurada a nova sede. O estádio denominado como Francisco Vasques,
conhecido popularmente como “Souza”, tem capacidade para 6.500 torcedores e
apesar das inúmeras conquistas no remo, futsal e natação, o futebol é o grande
responsável por seu reconhecimento da Tuna no cenário esportivo nacional. O futebol
tunante iniciou na década de 1930, quando o clube deixou a prática no largo do Batista
Campo e passou a competir nos campeonatos locais e nacionais, consagrando-o como
parte da tríade do futebol paraense, juntamente com o Clube do Remo e Paysandu
Sport Club (MEMORIA TUNANTE, 2023: sem página).

“Já em 1957, a partir do desenvolvimento de outras atividades esportivas no clube, viu-


se a necessidade de transformar o Estádio do Souza em cidade olímpica, criando, para
tanto, um complexo de edifícios e equipamentos que seria a Sede Campestre da Tuna”
(ARAÚJO, 2011: 06). Nesse complexo, destaca-se o edifício administrativo, no qual está
inserido a diretoria, o restaurante, o bar e a boate. Em uma análise arquitetônica, pode-
se afirmar que as composições volumétricas revelam uma linguagem próxima à Le
Corbusier, mas com a interface regional típica do movimento moderno de Belém
(GRIBEL e SANJAD, 2016).

Foto: Reprodução Facebook

2. O reconhecimento como Patrimônio Cultural Imaterial 


Não obstante a sua importância referência arquitetônica, que poderia caminhar para a
tradicional ideia de salvaguarda do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN), a Tuna Luso Brasileira recebeu o reconhecimento como Patrimônio
cultural de natureza imaterial do Estado do Pará de acordo com a lei n° 7.693, de 3 de
janeiro de 2013. “Esta Lei declara o Castanhal Esporte Clube (japiim), Águia de Marabá
Futebol Clube, São Raimundo Esporte Clube, Cametá Sport Club e Tuna Luso Brasileira
integrantes do patrimônio cultural de natureza imaterial do Estado do Pará, nos termos
do art. 286 da Constituição Estadual” (PARA, 2013: art. 1º).

Tal reconhecimento, que vai ao encontro da ampliação do conceito de Patrimônio


Cultural citado na Constituição de 1988, que deixa de focar apenas nos bens
patrimoniais de natureza material e abre para a valorização dos bens de natureza
imaterial. Ora, o Estado do Pará, ao optar pelo reconhecimento do futebol como
manifestação de lazer, esporte e cultura, dá uma guinda na tradicional linha que
prioriza o tombamento de estádios de futebol. No entanto, ao procurarmos pelo
inventário e/ou processo de registro dos clubes paraenses, este não foi localizado.

A dúvida que permeia é: a valorização foi apenas uma citação na legislação ou houve
um estudo para o registro dos clubes? A ação de preservação é de suma relevância,
mas esta não completa o ciclo efetivo para tal. Para o reconhecimento de um
Patrimônio Cultural pelo Estado, se faz necessária seguir os procedimentos da
instauração e instrução do processo administrativo de Registro de Bens Culturais de
Natureza Imaterial do IPHAN datado de 2006, que, por sua vez, orienta as legislações
estaduais.

Segundo essa legislação “para iniciar o processo administrativo é necessária a


apresentação de um requerimento, que pode ser feita pelo ministro da Cultura, pelas
instituições vinculadas ao Ministério da Cultura, pelas Secretarias Estaduais, Municipais
e do Distrito Federal, e por associações da sociedade civil. Além da justificativa, dentre
outras exigências, esse documento deverá conter a descrição sumária do bem
proposto para o Registro, as informações históricas, e uma declaração formal de
representante da comunidade produtora do bem ou de seus membros, expressando o
interesse e anuência com a instauração do processo de Registro” (IPHAN, 2023:01).
Assim sendo, apesar da Tuna ter recebido o reconhecimento local de Patrimônio
Cultural acreditamos que devido sua grande importância no cenário esportivo
paraense, se faz necessária a efetiva inserção do time nos Livros de Registro.

Referências
ARAÚJO, Camilla Leandra da Costa; FLORENZANO, Luciana da Silva; GRIBEL, Renata
Lucena; HOHLENWERGER, Samia Salim; SETTON, Raquel Paiva Arquitetura moderna
na sede campestre da Tuna Luso Brasileira em Belém do Pará 9º Seminário
Docomomo Brasil: interdisciplinaridade e experiências em documentação e
preservação do patrimônio recente. Brasília: Docomomo, junho de 2011. Disponível em
https://docomomo.org.br/wp-content/uploads/2016/01/123_PB_OR-
ArquiteturaModernaNaSede-ART_renata_gribel.pdf Acesso dia 16/01/2023.

EMMI, Marília Ferreira Um século de imigrações internacionais na Amazônia brasileira


(1850-1950) Belém: Editora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade
Federal do Pará, 2013.

GRIBEL, Renata e SANJAD, Thais A. B. Caminha O corredor de arquitetura moderna de


Belém e os desafios teóricos e conceituais de sua preservação In.: TEIXEIRA, Rubenilson
Brazão e DANTAS, George Alexandre Ferreira (orgs.) Arquitetura em cidades “sempre
novas”: modernismo, projeto e patrimônio Natal: EDUFRN, 2016.

GONÇALVES, J. R Autenticidade, memória e ideologias nacionais: o problema dos


patrimônios culturais. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, 1996.

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Registro de Bens


Culturais 2023 Disponível em
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Registro%20de%20Bens%20Cult
urai1.pdf  Acesso dia 16/01/2023.

MEMÓRIA TUNANTE A Tuna Disponível em 


https://memoriatunante.tumblr.com/tagged/tuna Acesso dia 16/01/2023.

PARÁ. Lei nº. 7.693, de 03 de janeiro de 2013. Declara o Castanhal Esporte Clube
(japiim), Águia de Marabá Futebol Clube, São Raimundo Esporte Clube, Cametá
Sport Club e Tuna Luso Brasileira integrantes do patrimônio cultural de natureza
imaterial do Estado do Pará. Diário Oficial do Estado do Pará, Belém, 4 jan. 2013.

TUNA LUSO BRASILEIRO Títulos Disponível em 


https://www.tunalusobrasileira.com.br/institucional/titulos Acesso dia 16/01/2023.

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Danielle da Silva Gomes

Wanessa Pires Lott

Como citar
GOMES, Danielle da Silva; LOTT, Wanessa Pires. A Tuna Luso Brasileira: um patrimônio esportivo da Amazônia Paraense.
Ludopédio, São Paulo, v. 163, n. 22, 2023.

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