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OS TROFÉUS METÁLICOS DA TUNA LUSO BRASILEIRA:

DOCUMENTAÇÃO COMO SUBSÍDIO DA CONSERVAÇÃO

Jaiane Lima da Silva*


Flávia Olegário Palácios*
Bernardino da Costa e Silva Junior*
*Universidade Federal do Pará

RESUMO: O presente artigo trata da pesquisa realizada na agremiação paraense Tuna Luso
Brasileira, durante o segundo semestre do ano de 2016 e o primeiro semestre do ano 2017. Seu
principal objetivo foi aprimorar a documentação realizada por Silva Junior em 2014, visando
promover a preservação das informações encontradas na coleção de troféus metálicos da agremiação
centenária e também realizar levantamentos dos danos encontrados nos troféus do clube. A pesquisa se
fez necessária porque a Tuna é uma das mais antigas agremiações do estado do Pará e seu acervo de
troféus metálicos se apresenta como uma grande fonte documental que serve como testemunho da
história do esporte na capital paraense. Apesar da grande contribuição desses artefatos para a história
da cidade, estes sofrem com a falta de práticas de conservação tanto do material, quanto do imaterial,
que fazem parte deles, posto isso, realizar a documentação foi a medida encontrada para dar inicio a
uma série de práticas ligadas a preservação dos troféus. Como forma de aprimorar a documentação
realizada anteriormente, na tentativa de promover a preservação desses bens, foi pensada o
desenvolvimento de uma ficha catalográfica, que objetivou a extração de informações intrínsecas e
extrínsecas encontradas nos objetos, como as possíveis patologias encontradas nos troféus, os
materiais que compõe o acervo e o estado de conservação dos mesmos, compreendendo que estes se
apresentam como documentos da história do esporte paraense e com isso contribuem na construção da
história da cidade de Belém. No período de aproximadamente um ano foram documentados 156
troféus metálicos, onde a grande maioria apresentou danos como corrosão, manchas, alteração de cor e
danos à estrutura. Apesar dos significativos resultados obtidos a partir da pesquisa, compreende-se que
há ainda muito a se fazer se tratando desta temática, com isso faz-se necessário o desenvolvimento de
novos estudos que tratem desta linha de pesquisa.

Palavras-chave: Documentação; Preservação; Tuna Luso Brasileira.


ABSTRACT: The present article aims to discuss the research done in Tuna Luso Brasileira Club, in
the second semester of 2016 and the first half of 2017. Its main objective is to improve the
documentation made by Silva Junior (2014), aiming to promote the preservation of the information
found in the collection of metallic trophies of the centenary association and also to carry out surveys
of the damages found in the trophies. The research was necessary because Tuna is one of the oldest
associations of Pará and its collection of metallic trophies is presented as a great documentary source
that serves as a testimony of the history of sport in Belém. Despite the great contribution of these
artifacts to the history of the city, they suffer from the lack of both material and immaterial
conservation practices, and the documentation was the measure found to initiate a series of practices
related to the preservation of the trophies. As a way to improve the documentation previously made, in
an attempt to promote the preservation of these trophies, was the development of a documentation file,
which aimed at extracting intrinsic and extrinsic information found in the objects, such as alterations
found in the trophies, the materials that compose the collection and their conservation status
understanding that these are presented as historical documents, and contribute to the construction of
the history of Belém. In about one year, 156 metal trophies were documented, where the great
majority presented damages like corrosion, stains, change of color and damage to the structure of the
trophies. Despite the significant results of the research, it is understood that there is still a lot to be
done when dealing with this subject, with which it is necessary to develop new studies that deals with
this line of research.

Key-words: Documentation; Preservation; Tuna Luso Brasileira.


INTRODUÇÃO

O uso do metal está presente em nosso cotidiano desde o período Pré-Histórico quando os
primeiros indivíduos desenvolveram ferramentas e utensílios que auxiliavam nos seus
afazeres diários. Segundo Silva & Homem (2008), o uso de metais pode ser encarado como
um “marco significativo na inovação tecnológica”, já que a utilização destes colaborou de
forma significativa para a criação de materiais que contribuíram para o desenvolvimento de
diversas civilizações. Algumas características próprias dos metais (maior resistência a
tensões, deformações, compressão; elasticidade; flexibilidade; durabilidade; cor; textura; entre
outros) podem ter sido o ponto crucial para que eles ganhassem destaque no desenvolvimento
de materiais, que iam desde armas utilizadas para a caça e cultivo (VIEIRA, 200-?) até,
posteriormente, edifícios totalmente metálicos (PALÁCIOS, 2011). Os metais mais usados
eram aqueles comumente encontrados na superfície terrestre como o cobre – um dos
primeiros a serem descobertos pelo homem –; o ouro e a prata, conhecidos como metais
nobres. Ao longo do tempo a grande procura, para as mais variadas finalidades, acabou
contribuindo para a escassez desses minérios, que acabaram sendo substituídos por materiais
como bronze e latão.
No Brasil o uso de metais teve destaque durante a época conhecida como Ciclo da
Borracha, período na qual o país encontrava-se no auge da exportação de matérias
provenientes da extração do látex. Durante esse período ocorreram grandes mudanças
urbanísticas nas cidades brasileiras e houve uma enorme demanda pela importação de
materiais produzidos em países europeus, especialmente os metálicos, de intensa produção na
época. Ainda hoje podemos encontrar em diversas cidades brasileiras construções que contam
a história desse período, tais como: edifícios, elementos decorativos, objetos simbólicos,
elementos urbanísticos, entre outros.
Durante essa época surge na capital paraense o que seria hoje a Tuna Luso Brasileira,
uma agremiação esportiva fundada por caixeiros portugueses como forma de amenizar a
saudade da mãe pátria. Ao longo dos seus 114 anos a Tuna conquistou diversas premiações
em diferentes modalidades esportivas que acarretaram em uma enorme coleção de medalhas,
troféus, faixas, entre outros. Dentre as diversas premiações do clube o que chama muita
atenção são os seus troféus metálicos, tanto pela beleza, quanto pelo potencial museológico
que estes apresentam, visto que, como dizem Lima & Granato (2016), “os diversos
significados e usos atribuídos aos objetos metálicos documentam recursos, maestrias
profissionais, modas e requintes, permitindo visualizar o modo de vida das elites e dos
cidadãos comuns”, sendo assim, compreende-se que o estudar e documentar esses artefatos
pode contribuir diretamente para a compreensão do passado (LIMA & GRANATO, 2016).

Figura 1: Sede campestre da Tuna Luso Brasileira.

Fonte: Site Panoramio.

No entanto, apesar do seu grande potencial, a coleção apresenta lacunas na sua


preservação. Diante disso a pesquisa se fez necessária porque a Tuna é uma das agremiações
esportivas mais antigas encontradas na capital paraense e seu acervo de troféus metálicos se
apresentam como uma grande fonte documental que testifica a trajetória da cidade no esporte
paraense. Contudo, os troféus acabam sofrendo ações de degradação naturais, e
principalmente, ações causadas pela falta de ações de preservação voltadas para eles.
Considerando o valor que esses troféus representam para torcedores, sócios e paraenses, foi
desenvolvido, durante um período de aproximadamente um ano, a documentação de 156
troféus metálicos da agremiação e medidas de conservação preventiva em curto prazo, sendo
um dos primeiros passos para a preservação desse acervo. Com isso, foi possível obter
resultados relevantes que constataram a necessidade de se pensarem medidas mais
aprofundadas de conservação preventiva para a preservação desses bens, e surgiram também,
reflexões sobre o patrimônio histórico material da cidade de Belém. Diante disso, este artigo
visa apresentar o desenvolvimento da pesquisa e seus resultados.

SOBRE A TUNA LUSO BRASILEIRA

O clube esportivo Tuna Luso Brasileira surge no ano de 1902, quando comerciantes
portugueses – conhecidos como caixeiros – embarcaram na capital do Pará. A princípio a
agremiação era apenas um grupo de músicos que promoviam reuniões como forma de
amenizar a saudade da saudosa pátria. Durante alguns anos as atividades do grupo foram
inteiramente dedicadas a reuniões beneficentes que tinham como finalidade promover a
socialização entre os conterrâneos portugueses residentes em Belém. Ao longo do tempo o
clube fez usos de diversas nomenclaturas como: Tuna Luso Caixeiral, Tuna Luso Comercial e
por fim Tuna Luso Brasileira nome que perdura até os dias de hoje (COSTA, 2012; SILVA
JUNIOR, 2015).

Durante os seus 114 anos, a agremiação promoveu diversas modalidades esportivas bem
como: hipismo, futebol, voleibol e natação. Com isso o clube arrecadou em sua história uma
enorme coleção de premiações (COSTA, 2012) dentre as quais se destaca o seu acervo de
troféus metálicos (Figura 2), que apresentam uma gama de informações intrínsecas e
extrínsecas que colaboram para a construção da história do clube e do esporte paraense.
Figura 2: Alguns troféus metálicos que compõem o acervo da Tuna Luso Brasileira.

O clube luso-brasileiro é um dos grandes contribuintes da construção da história da capital


paraense. A agremiação é uma das mais antigas no estado do Pará e suas conquistas no meio
esportivo contribuem de forma direta para o desenvolvimento desse meio. No entanto, apesar
do seu valor histórico e afetivo, a história do clube e sua importância para a sociedade
paraense, encontram barreiras relacionadas a falta de divulgação do acervo e a mesmo a falta
de acesso a ele, visto que os troféus fazem parte de um acervo privado, logo, o que acaba
dificultando o seu reconhecimento por uma grande parcela da população. Diante disso
compreendemos que há uma necessidade de desenvolvimento de práticas que visem à
divulgação e a preservação dessa história.

A DOCUMENTAÇÃO COMO FORMA DE PRESERVAÇÃO

Considerando que, dentre as diversas instituições encontradas na cidade de Belém do Pará,


a Tuna Luso Brasileira é detentora de um rico acervo de medalhas, faixas, fotografias, troféus
que contribuí para o desenvolvimento da história do esporte paraense e com isso se apresenta
como uma grande contribuinte da história da cidade, a agremiação serviu como base de estudo
para a pesquisa realizada por Silva Junior que se iniciou a partir do ano de 2014.
A pesquisa teve como objetivo a aplicação de práticas de documentação museológica como
a seleção, o registro, a catalogação e a divulgação, com o intuito recuperar e promover a
salvaguarda das informações intrínsecas e extrínsecas do acervo (FERREZ, 1991). Contudo a
pesquisa apresentou algumas lacunas no âmbito da documentação, como por exemplo:
informações mais aprofundadas sobre os danos encontrados nos troféus, e diante disso foi
desenvolvida uma nova pesquisa iniciada durante o segundo semestre do ano de 2016 que
objetivou aprimorar as informações encontradas na documentação realizada a priori.
A pesquisa se fez necessária porque a Tuna Luso é uma das agremiações esportivas mais
antigas encontradas na capital paraense e seu acervo de troféus metálicos se apresenta como
uma grande fonte documental que testifica a trajetória da cidade no esporte paraense.
Contudo, esses troféus acabam sofrendo com as ações de degradação naturais dos objetos e,
principalmente com a falta de ações de preservação voltadas para os mesmos. Diante disso
compreende-se que há uma necessidade de se pensar medidas de preservação deles.
A documentação destes bens foi o meio encontrado para salvaguardar as informações que
fazem parte dos objetos, posto que se pretenda desenvolver futuramente práticas que
preservem diretamente não só as informações, mas também a materialidade dos troféus.
Seguindo a linha de pensamento encontrada em Silva & Homem (2008) de que:

os objectos metálicos de tempos mais recuados tendem a apresentar uma


diversidade e riqueza tecnológicas que espelham um carácter intrínseco de
irrefutável precisa fonte documental. É, pois, essencial que sejam protegidos
de vários agentes de deterioração de modo a serem preservados, quer para
nosso deleite perante a sua beleza quer para a observação e estudo pelo seu
interesse científico e tecnológico. (SILVA & HOMEM, 2008, p.9)
Diante disso, compreendemos que os troféus da Tuna Luso Brasileira apresentam um
grande valor, tanto pela estrutura quanto pela história, para o desenvolvimento de projetos e
trabalhos acadêmicos que podem beneficiar desde o meio cientifico em geral até o meio
tecnológico. A documentação dos troféus foi a forma mais adequada e mais próxima
encontrada para a preservação desses bens.
Como resultados preliminares a pesquisa gerou o desenvolvimento de uma ficha
catalográfica (Figura 3) baseada em diretrizes de Padilha (2014) e Costa (2006) que foram
adaptadas para as necessidades do acervo de troféus metálicos da Tuna Luso Brasileira. A
ficha conta com campos voltados para informações sobre os danos antrópicos (ranhuras,
amassados, fraturas, entre outros) e danos causados por ações do intemperismo (corrosão,
alteração de cor) no acervo.
Figura 3: Ficha catalográfica

Identificação
Dimensões
Descrição intrínseca
Descrição extrínseca
Estado de conservação
Observações
Imagens

A ficha serviu como auxilio para a coleta de informações encontradas nos troféus e
posteriormente foi usada para o desenvolvimento da catalogação dos 156 troféus
documentados durante o período em que se realizou a pesquisa in loco (Figura 4).
Figura 4: Preenchimento manual das fichas catalográficas.

Sendo assim, durante o intervalo de aproximadamente um ano, entre o segundo


semestre do ano de 2016 e o primeiro semestre de 2017, foram realizadas práticas de
documentação como: arrolamento, preenchimento de fichas catalográficas e também medidas
em curto prazo de conservação preventiva como: o armazenamento provisório dos objetos
documentados.

PRIMEIROS PASSOS PARA A CONSERVAÇÃO PREVENTIVA DOS TROFÉUS DA


TUNA

Durante o desenvolvimento da pesquisa realizada na Tuna Luso Brasileira foi possível


notar a grande lacuna que a agremiação apresenta no âmbito da conservação de alguns dos
seus acervos, visto que, tanto os demais troféus, quanto os selecionados para o
desenvolvimento da pesquisa, enfrentam grandes dificuldades para preservarem a sua
materialidade a começar pelo ambiente inadequado para o armazenamento de acervos que não
apresenta condições favoráveis para a preservação destes (Figura 5).
Figura 5: Dano localizado na sala de armazenamento dos troféus usados na pesquisa realizada entre 2016 e
2017.

Compreendendo a existência de uma problemática relacionada à conservação dos troféus


localizados na sala de armazenamento que foi cedida pela instituição, surgiram
questionamentos sobre o estado de conservação do acervo. Para isso foi pensado um
parâmetro para identificar o estado de conservação dos objetos, e logo, o estado de
conservação do próprio acervo, sendo assim seriam:
 BONS: os troféus que apresentaram ao menos 30% da estrutura comprometida por
danos;
 REGULARES: os troféus que apresentaram ao menos 50% da estrutura
comprometida por danos;
 RUINS: os troféus que apresentaram acima de 70% da sua estrutura comprometida
por danos.
A partir dos parâmetros definidos para a pesquisa se chegou à conclusão de que a maioria
dos troféus está em um estado de conservação ruim, já que a maioria tem mais da metade da
estrutura comprometida por patologias como corrosão, alteração de cor, manchas e danos à
estrutura do objeto (Figura 6).

Figura 6: (A) Corrosão no troféu ATT.020.2017, (B) Alteração de cor no troféu ATT.151.2017, (C) Manchas
esbranquiçadas no troféu ATT.135.2017, (D) Dano à estrutura do troféu ATT.150.2017.
Sabendo da falta de práticas que visam a conservação desse acervo, foi pensado o
armazenamento provisório dos troféus como uma medida de conservação, em curto prazo, da
materialidade desse acervo. Para isso foram usadas caixas de papelão que com etiquetas
indicando a numeração dos troféus armazenados, organizando assim o acervo (Figura 7).

Figura 7: Armazenamento provisório dos troféus metálicos da Tuna Luso Brasileira.

Diante desses dados podemos compreender a necessidade de se aplicarem medidas de


conservação preventiva que visem prolongar a vida desses troféus. Uma medida a se pensar a
priori é a adequação do ambiente onde os troféus encontram-se armazenados, visto que este
não apresenta uma estrutura apropriada as especificidades do material que compõe o acervo e
apresenta lacunas na climatização, o que acaba colaborando para a degradação dos troféus.

Apesar de compreendermos que a história da Tuna Luso Brasileira não se faz apensas
pelos seus bens matérias, preservar a estrutura desses troféus é uma das formas de levar
adiante a história desse clube centenário que é um dos pioneiros no esporte paraense. Os
troféus metálicos da agremiação são testemunhos de uma trajetória de conquistas realizadas
pelo clube e diante disso compreendesse que nada mais justo do que buscar medidas para
preservá-los.

OS TROFÉUS METÁLICOS DA TUNA LUSO BRASILEIRA: PATRIMÔNIO


DESCONHECIDO

A capital paraense é uma grande detentora de bens culturais que vão desde seus edifícios
históricos até seus contos populares. Esses bens compõem o rico patrimônio arquitetônico,
artístico, histórico, entre outros, sejam eles materiais ou imateriais. O Forte do Castelo e o
Mercado do Ver-O-Peso são de longe, grandes símbolos da capital e juntamente com outros
edifícios como igrejas, casarões e palacetes, constroem o patrimônio arquitetônico da cidade.
Há também os museus que contam um pouco da história da cidade através de acervos que vão
desde imagens de santos católicos encontrados no Museu de Arte Sacra até obras de arte
contemporânea expostas no museu localizado na Casa das Onze Janelas.
Posto isso, compreendemos que Belém é uma cidade permeada de artefatos históricos que,
apesar das problemáticas, contam uma parte da sua história. No entanto, podemos levantar
uma reflexão acerca da localização de boa parte desse rico acervo. Entre os bens patrimoniais
mais aclamados da cidade das mangueiras, podemos notar que, em sua maioria, estes se
encontram localizados no Centro Histórico que para Queirós (2007), de uma forma geral,
pode ser entendido como “um livro de memórias materiais e imateriais, que possui
importantes referências e indicações de identidades dos povos que aí habitam e habitaram ao
longo do tempo”.
Acontece que, assim como em diversas outras cidades brasileiras, uma grande parcela da
população apresenta certa tendência a afirmar como patrimônio tudo àquilo que está
localizado no Centro Histórico, mesmo que essa população não apresente a menor relação de
identificação com esse patrimônio. Diante disso, podemos levantar uma reflexão acerca dos
diversos patrimônios que apesar de não estarem localizados nos grandes centros históricos
apresentam um forte potencial para a construção da história e da identidade de uma sociedade.
Durante a realização de pesquisa in loco entre os anos de 2016 e 2017, foi possível
constatar que o clube Tuna Luso Brasileira apresenta um enorme potencial patrimonial por ser
um dos mais antigos clubes do estado e pela sua rica coleção de acervos, que dentre estas se
destaca a coleção de troféus metálicos que foram o objeto de estudo de pesquisas iniciadas a
partir do ano de dois mil e quatorze. A partir das práticas de documentação realizadas pela
pesquisa, foi possível constatar a importância das informações que fazem parte desses troféus
por apresentarem valor histórico e afetivo não somente para os sócios e torcedores do clube,
mas também para a sociedade paraense em geral, considerando que a agremiação é uma das
mais antigas do estado do Pará. No entanto, apesar do enorme potencial patrimonial
apresentado por essa coleção, grande parte da população não tem conhecimento algum acerca
desses objetos e da sua potencial contribuição para a construção das identidades belenenses.
Com a pesquisa realizada no clube luso-brasileiro surgiram ainda reflexões acerca do
patrimônio privado, já que apesar de a Tuna ser uma agremiação paraense, ela é uma
instituição fechada. Diante disso há certa dificuldade de todos os grupos de pessoas
encontradas em Belém terem acesso a esse acervo. Sendo assim, compreende-se que a
agremiação, juntamente com profissionais especializados, deve buscar medidas de divulgação
que alcancem os diferenciados públicos da cidade, tendo em vista que, se a população não
conhece os acervos do clube, as chances destes se identificarem com ele acabam se tornando
mínimas.
Posto isso podemos retornar a reflexão sobre a localização do patrimônio da cidade de
Belém e nos questionarmos sobre o fato de a grande maioria dos “holofotes do patrimônio” se
voltar para os centros históricos. O patrimônio de Belém é somente aquele que se encontra
disposto no centro histórico? Somente os edifícios históricos, museus e as igrejas constroem a
cultura belenense e a identidade de todas as classes dessa população? Essas são algumas
perguntas, ainda sem respostas, que podem nos instigar a refletir sobre a situação em que o
patrimônio, em todos os âmbitos, da cidade das mangueiras está fincado. Mesmo que ainda
não tenhamos encontrado respostas para os questionamentos podemos refletir acerca disso
visando futuramente apresentar formas de conseguir voltar nossas visões para os patrimônios
desconhecidos de Belém.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Desde os primeiros passos dados por Paul Otlet ao final do século XIX, pode-se dizer que
a documentação é uma forma eficiente e acessível de preservar as informações de um objeto,
um momento, entre outros. Com o surgimento dessa área de estudo começariam as primeiras
especulações sobre o que seria o documento e durante um considerável tempo a noção de
documento aceita pelos especialistas da documentação era a ampla visão “otletiana” de que
documento poderia ser tudo poderia ser considerado um documento, inclusive o que é
encontrado na natureza, porque para ele o documento não estava necessariamente ligado à
materialidade e sim a função que ele representaria (OTLET, 1934 apud SMIT, 2008).
Contudo, no decorrer do tempo surgiram novas teorias que beberam na fonte do “pai da
documentação”, mas passaram a afunilar a definição do que de fato poderia ser tido como
documento. Com isso, Suzanne Briet (1951) propôs em seu manifesto “O que é a
documentação?” afirma que documento será todo registro que afirma um fato. Para a teórica o
objeto por si só não seria documento, mas a relevância das informações encontradas nele
indicaria se este seria ou não um documento (BRIET, 1951 apud SMIT, 2008).
Seguindo a lógica de Briet, podemos compreender que as informações encontradas nos
troféus metálicos da Tuna Luso Brasileira apresentam enorme relevância para que estes sejam
considerados uma fonte documental que registram os primeiros passos da construção do
esporte paraense. Mediante a isso tornasse necessário se pensar medidas que visem conservar
tanto o material, quanto o imaterial desses bens. Algumas medidas já foram iniciadas para que
se preservem estes bens, mas entendemos que os primeiros passos para promover essa
preservação é pensar de forma conjunta formas de deixar esse acervo mais próximo dos
diferentes grupos sociais encontrados na cidade porque se compreende que quando “uma
sociedade atribui valor a um objeto, imediatamente a sua conservação se torna necessária” (LIMA &
GRANATO, 2016) e se a própria população não encontra formas de se identificar com estes bens,
tampouco se importará com a sua preservação.
Contudo, para que se possam pensar medidas de preservação voltadas para o acervo da
Tuna Luso Brasileira, é de suma importância compreender também, que o patrimônio
artístico, histórico, arquitetônico, entre outros, localizados na capital paraense, sejam eles
materiais ou imateriais, devem ser pensados para além das áreas aclamadas pelos órgãos
públicos e por algumas parcelas da população. É necessário compreender que a capital
paraense é rica em todos os seus aspectos e que a sua história foi construída a partir dos
grandes centros, mas não somente neles.

REFERÊNCIAS

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Sistema Estadual de Museus/Secretaria de Estado da Cultura, 2006.

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1991.

LIMA, Jéssica Tarine Moitinho de; GRANATO, Marcus. Entre a ciência e o patrimônio: a
aplicação de procedimentos analíticos na preservação de acervos metálicos. IV Seminário
Internacional Cultura Material e Patrimônio de C&T. Rio de Janeiro, 2016.

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troféus que contam a história de um clube centenário. Belém, 2015.

SMIT, Johanna Wilhelmina. A documentação e suas diversas abordagens. MAST


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para a salvaguarda da arquitetura do ferro no Brasil. Salvador, 2011.

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