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BATATA: desafios fitossanitários e manejo sustentável

BATATA
E MANEJO SUSTENTÁVEL
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS
Organizadora

Angélica M. C. M. Pitelli Merenda

BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS
E MANEJO SUSTENTÁVEL
Projeto gráfico e capa
Gledson Zifssak – Kalima Editores

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

Batata: desafios fitossanitários e manejo sustentável / organizadora Angélica M. C.


M. Pitelli Merenda. – 1. ed. – Jaboticabal, SP : Angélica Maria de Campos
Machado Pitelli Merenda, 2020.
ISBN 978-65-00-15675-1
1. Alimentos 2. Batata 3. Batata – Cultivo 4. Batata – Doenças e pragas
5. Batata como alimento 6. Manejo fitossanitário I. Merenda, Angélica M.
C. M. Pitelli

21-54212 CDD-635.21

Índices para catálogo sistemático:

1. Batata : Agricultura 635.21

Maria Alice Ferreira – Bibliotecária – CRB-8/7964

“O conteúdo abordado nos Capítulos é de exclusiva responsabilidade de seus autores.”


Membros do CRIAR - NT

Alberto Leão de Lemos Barroso


Universidade de Rio Verde (UNIRV/GEPDC)
Claudio Marcelo Gonçalves de Oliveira
Instituto Biológico
Djalma Euzébio Simões Neto
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
Eliane Dias Quintela
Embrapa Arroz Feijão
Geraldo Papa
UNESP Ilha Solteira
José Usan Torres Brandao Filho
Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Jurema Rattes
Universidade de Rio Verde (UNIRV/GEPDC)
Luís Otávio Saggion Beriam
Instituto Biológico
Marcelo Agenor Pavan
UNESP Botucatu
Paulo Roberto de Camargo e Castro
ESALQ/USP
Robinson Antônio Pitelli
EcoSafe Agricultura e Meio Ambiente
Silvania Helena Furlan
Instituto Biológico
Colaboradores do Livro
“Batata: Desafios Fitossanitários e Manejo Sustentável”

Osnil Alves Camargo Júnior


Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná – UNICENTRO
Rui Scaramella Furiatti
UPG
Rogério Peres Soratto
FCA – UNESP/Botucatu
Fabiana Morbi Fernandes
FCA – UNESP/Botucatu
Adalton Mazetti Fernandes
CERAT – UNESP/Botucatu
Natália Silva Assunção
FCA – UNESP/Botucatu
Magali Leonel
CERAT – UNESP/Botucatu
Juliana Magrinelli Osório Rosa
Instituto Biológico
Renate Krause Sakate
FCA – UNESP/Botucatu
José Alberto Caram de Souza-Dias
IAC – Campinas
Gabriela Romêro Campos
Gabriela Romêro Campos – ESALQ/USP
Suzete Aparecida Lanza Destéfano
Instituto Biológico
Eros Molina Occhiena
Instituto Biológico
Angélica Maria Nogueira
FCA – UNESP/Botucatu
Marcelo Eiras
Instituto Biológico
Flavio Nascimento Silvam
UniRV/GEPDC
Hugo de Almeida Dan
UniRV/GEPDC
Guilherme Cabral Marques
UniRV/GEPDC
Jesus G. Töfoli
Instituto Biológico
Ricardo J. Domingues
Instituto Biológico
SUMÁRIO

CULTIVAR, BATATA-SEMENTE E IMPLANTAÇÃO DA CULTURA........................................ 7


Rogério Peres Soratto • Fabiana Morbi Fernandes • Adalton Mazetti Fernandes
CORREÇÃO DO SOLO E MANEJO DE NUTRIENTES............................................................. 29
Rogério Peres Soratto • Adalton Mazetti Fernandes • Fabiana Morbi Fernandes • Natália Silva Assunção
ECOFISIOLOGIA DA BATATA............................................................................................................. 55
Paulo Roberto de Camargo e Castro • Gabriela Romêro Campos
ANOMALIAS FISIOLÓGICAS DA CULTURA DA BATATA. ..................................................... 73
José Usan Torres Brandão Filho • Osnil Alves Camargo Júnior
DOENÇAS BACTERIANAS NA CULTURA DA BATATA........................................................... 87
Luis Otavio Saggion Beriam • Suzete Aparecida Lanza Destéfano • Eros Molina Occhiena
DOENÇAS FÚNGICAS DA BATATA............................................................................................... 123
Jesus G. Töfoli • Ricardo J. Domingues
VIROSES DA BATICULTURA............................................................................................................ 153
Renate Krause Sakate • José Alberto Caram de Souza-Dias • Marcelo Agenor Pavan
• Angélica Maria Nogueira • Andressa Barbosa Giusto
POTATO SPINDLE TUBER VIROID E O AFILAMENTO
DO TUBÉRCULO DA BATATA.......................................................................................................... 179
Marcelo Eiras
PRAGAS DA BATATA. .......................................................................................................................... 193
Geraldo Papa • Rui Furiatti • João Antonio Zanardi Júnior
NEMATOIDES PARASITOS DA BATATA. ..................................................................................... 231
Claudio Marcelo Gonçalves de Oliveira • Juliana Magrinelli Osório Rosa
INTERFERÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DA BATATA.................... 249
Robinson Antonio Pitelli • Djalma Simões
CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS NA BATATA............................................................... 271
Alberto Leão de Lemos Barroso • Flavio Nascimento Silva • José Arnaldo de Sousa Junior
• Hugo de Almeida Dan • Guilherme Cabral Marques
MERCADO E UTILIZAÇÃO DA BATATA....................................................................................... 301
Magali Leonel • Rogério Peres Soratto
CULTIVAR, BATATA-SEMENTE E IMPLANTAÇÃO
DA CULTURA
Rogério Peres Soratto
Faculdade de Ciências Agronômicas – UNESP
rogerio.soratto@unesp.br

Fabiana Morbi Fernandes


Faculdade de Ciências Agronômicas – UNESP
fabianamorbi90@gmail.com

Adalton Mazetti Fernandes


Centro de Raízes e Amidos Tropicais – UNESP
adalton.fernandes@unesp.br

Escolha da cultivar
A batata (Solanum tuberosum L.) é originária de altiplanos andinos,
próximos à linha do Equador, e da região sul do Chile. Hoje a batata
é cultivada desde regiões com latitudes de 65º N até 50º S e do nível
do mar até 4.000 m de altitude (BRADSHAW et al., 2006), desenvol-
vendo-se com sucesso tanto nas condições de dias longos da primave-
ra-verão de regiões temperadas, como em condições de dias curtos do
outono-inverno de regiões tropicais. As principais cultivares utiliza-
das atualmente no Brasil foram melhoradas na Europa e na América
do Norte, adaptadas a dias longos. Porém, cada cultivar tem adaptação
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

diferente a cada condição de cultivo, além de diferirem quanto às ca-


racterísticas dos seus tubérculos.
A escolha da cultivar a ser plantada é de grande importância dentro da
cadeia de produção da batata. Tal decisão deve levar em consideração di-
versos fatores, dentre eles os mais importantes são: as condições e época de
cultivo e a preferência do mercado consumidor, considerando a versatili-
dade da batata, que pode ser utilizada na forma cozida, assada, frita na for-
ma de palitos ou de chips, etc. Assim, dentre as cultivares disponíveis no
Brasil, há uma divisão de acordo com a finalidade de uso: doméstico (ou
seja, comercialização dos tubérculos frescos diretamente ao consumidor)
e processamento industrial na forma de pré-fritas congeladas e na forma
de chips. Dessa forma, a escolha da cultivar correta pode gerar bons resul-
tados e retorno econômico ao produtor. Além disso, a constante demanda
por produtos que tenham menor impacto ambiental, exige certa evolução
e necessidade por cultivares que, além de serem produtivas, otimizem a
utilização de insumos agrícolas.
Existem mais de 50 cultivares de batata registradas no Brasil (MAPA,
2019), no entanto, são poucas as cultivares plantadas em larga escala e
muitas vezes não são levadas em conta as condições ambientais. A cultivar
Agata ocupa mais de 50% da área plantada com batata no Brasil (RIBEI-
RO et al., 2017). É cultivada em todas as regiões, o que pode ser justifica-
do pela maior demanda do mercado para uso doméstico, ao qual se destina
cerca de 80% da produção brasileira de batata e exige tubérculos com boa
aparência, coloração amarela, formato oval-alongado e tamanho médio,
características atendidas por esta cultivar.
A cultivar Agata também apresenta como características ser produti-
va, ter grande adaptação às diversas condições de cultivo e reduzida dor-
mência dos tubérculos, o que facilita sua disseminação. Porém, seus tu-
bérculos apresentam baixo conteúdo de matéria seca, não servindo para
fritura. Ainda para o uso doméstico, há áreas representativas da cultivar
Cupido e, em menor escala, da cultivar Caesar. Nos últimos anos, tem
se notado aumento do interesse por parte dos produtores pela cultivar
Orchestra.
Para o processamento industrial, na forma de palitos pré-fritos con-
gelados, as cultivares mais plantadas têm sido a Asterix e a Markies, com
uso em menor escala também das cultivares Inovator e Challenger. Já para

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Cultivar, batata-semente e implantação da cultura
Rogério P. Soratto • Fabiana M. Fernandes • Adalton Mazetti Fernandes

a indústria de chips, basicamente o que se usa é a cultivar Atlantic e, em


muito menor escala, a Panda e algumas cultivares protegidas, denomina-
das Frito-Lays (FL) (RIBEIRO et al., 2017).
Existem, de maneira geral, características que são desejáveis, indepen-
dente de seu uso especifico, como por exemplo: elevado potencial pro-
dutivo, resistência a doenças e pragas e rusticidade, ou seja, capacidade
de manter produtividade satisfatória mesmo estando sujeita a condições
climáticas adversas, limitação de nutrientes, ou sob pressão de pragas e
doenças (RIBEIRO et al., 2017). É importante lembrar também que cada
cultivar apresenta especificidades em relação às exigências nutricionais,
época ideal de colheita e resistência ao transporte e armazenamento dos
tubérculos.
Com base na destinação dos tubérculos (uso doméstico ou proces-
samento industrial), alguns pontos devem ser observados na escolha da
cultivar. Para consumo doméstico, o mercado atual brasileiro exige que
os tubérculos tenham boa aparência, com película lisa e brilhante, forma-
to oval-alongado ou alongado, gemas superficiais, polpa de cor creme ou
amarela e resistência ao esverdeamento (EVANGELISTA et al., 2011;
FERNANDES et al., 2011; BORTOLETTO; PEREIRA, 2016). Na
maior parte do Brasil, há preferência por tubérculos de casca amarela, po-
rém, os de coloração rosada ou avermelhada tem nichos de mercado em
algumas regiões (Figura 1). Para o processamento industrial são indica-
das cultivares que apresentam tubérculos com gemas superficiais, além
de adequada porcentagem de matéria seca e teores de açúcares reduto-
res. A percentagem de matéria seca influencia diretamente a qualidade da
batata frita (textura e teor de óleo), bem como o rendimento industrial
e, consequentemente, os custos de processamento. Os açúcares reduto-
res contidos nos tubérculos reagem com aminoácidos durante a fritura,
causando escurecimento ou caramelização do produto final, influenciando
negativamente sua qualidade (FERNANDES et al., 2010; RIBEIRO et
al., 2017). Desse modo, para a fritura na forma de palitos devem ser uti-
lizadas cultivares que produzem tubérculos com formato alongado, com
mais de 19% de matéria seca e baixos teores de açúcares redutores. Para
a produção de chips, são indicadas cultivares com tubérculos arredonda-
dos e com percentagem de matéria seca ainda mais alta (entre 20 e 24%)
(BORTOLETTO; PEREIRA, 2016; RIBEIRO et al., 2017).

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BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Figura 1. Tubérculos de diferentes cultivares de batata, evidenciando os diferentes aspec-


tos externos e dos chips fritos.
Foto: Rogério P. Soratto.

Programas de melhoramento nacionais, como o do IAC e da EMBRA-


PA, têm lançado algumas cultivares mais adaptadas às condições tropicais
e resistentes a alguns patógenos. Contudo, as cultivares nacionais destina-
das principalmente ao segmento de consumo doméstico não têm sido bem
aceitas, alegadamente pela aparência inferior dos seus tubérculos.
A seguir são descritas as principais cultivares utilizadas no Brasil, bem como
as cultivares nacionais mais recentemente lançadas e com potencial promissor:

Agata: Melhorada na Holanda, apresenta porte baixo (comprimento


da maior haste inferior a 60 cm), hastes finas, ciclo variando de precoce
a muito precoce; apresenta tuberização precoce, 35 dias após o plantio
(DAP), com diferenciação de estolões em tubérculos até aproximada-
mente 55 DAP. Tem resistência a algumas viroses e é imune ao cancro
bacteriano (Clavibcter michiganensis), mas é suscetível a requeima (Phy-
tophthora infestans). Os tubérculos são ovalados, com película e polpa
amarelas, indicados para o preparo cozidos ou assados, devido à baixa
percentagem de matéria seca (FERNANDES et al., 2010; EVANGE-
LISTA et al., 2011; PÁDUA et al., 2012; RIBEIRO et al., 2017).

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Cultivar, batata-semente e implantação da cultura
Rogério P. Soratto • Fabiana M. Fernandes • Adalton Mazetti Fernandes

Atlantic: Originária dos Estados Unidos, essa cultivar apresenta cres-


cimento rápido, ciclo semiprecoce, porte médio-alto, com hastes vigo-
rosas e eretas. Tem alta suscetibilidade à canela-preta (Pectobacterium
spp.) e requeima, sendo tolerante à pinta-preta (Alternaria spp.). Os
tubérculos são arredondados, com película branca e meio áspera, que
se esverdeia facilmente quando exposta à luz; a polpa é branca e com
elevada percentagem de matéria seca, sendo indicados para proces-
samento industrial na forma de chips e palha (FERNANDES et al.,
2010; EVANGELISTA et al., 2011; PÁDUA et al., 2012; RIBEIRO
et al., 2017).
Asterix: Procedente da Holanda, a planta apresenta ciclo médio e os
tubérculos são numerosos, devido ao seu elevado potencial produtivo,
e são colhidos entre 90-110 DAP. É suscetível ao vírus do enrolamen-
to (Potatoleaf Roll Virus – PLRV), pinta-preta e sarna prateada (Hel-
minthosporium solani). Os tubérculos são oval-alongados, de película
vermelha, polpa amarelo-clara e com elevada percentagem de matéria
seca, sendo indicados para diversos usos (tanto para o processamen-
to industrial, como para cozimento, assados e purês), sendo excelente
para a produção de pré-fritas congeladas (FERNANDES et al., 2010;
EVANGELISTA et al., 2011; PÁDUA et al., 2012; RIBEIRO et al.,
2017).
Caesar: Melhorada na Holanda, a planta apresenta ciclo semitardio,
alta sensibilidade a sarna comum (Streptomyces scabies) e pouco sensí-
vel ao mosaico (Potato Virus Y- PVY). Os tubérculos são ovais-alonga-
dos, graúdos, com película amarela e polpa amarelo-clara. Apresenta
médio teor de matéria seca, sendo indicados para fritura e cozimento
(PÁDUA et al., 2012).
Cupido: Também melhorada na Holanda, essa cultivar apresenta
ciclo precoce, com porte médio-alto e com grande tendência ao aca-
mamento, suas hastes são vigorosas, porém apresentam desenvolvi-
mento inicial lento. É resistente ao vírus do enrolamento (PLRV), ao
PVY e também à verruga (Synchytrium endobioticium). É suscetível a
requeima. Os tubérculos são oval-alongados, com película amarela e
polpa amarelo-clara, sendo indicados especialmente para o mercado
doméstico e preparo na forma cozida (EVANGELISTA et al., 2011;
PÁDUA et al., 2012; RIBEIRO et al., 2017).

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BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Markies: De origem holandesa, essa cultivar tem ciclo tardio (110-115


DAP), sendo sensível à canela-preta e tolerante à requeima e aos vírus
PLRV e PVY. Seus tubérculos são ovais, com película amarela e polpa
amarelo-clara, apresentando boa percentagem de matéria seca e equi-
líbrio entre os açúcares redutores e amido, o que favorece a dupla apti-
dão culinária, sendo indicados para o uso doméstico e processamento
industrial na forma de pré-fritas congelada e palha (FERNANDES et
al., 2010; EVANGELISTA et al., 2011; PÁDUA et al., 2012; RIBEI-
RO et al., 2017).
Orchestra: Melhorada na Holanda, tem ciclo curto-mediano, apre-
senta hastes que se mantém mais firmes e com coloração verde até as
últimas semanas de cultivo. É medianamente susceptível à requeima
e apresenta boa resistência à canela-preta, pinta-preta, rizoctoniose
(Rhizoctonia solani) e sarna comum, aos vírus PLRV e PVY. Por outro
lado, é ligeiramente susceptível à fusariose (Fusarium spp) (PEREI-
RA; POPP, 2015). Os tubérculos são de formato ovalado, com película
amarela e polpa amarelo-clara, sendo indicados para o uso doméstico e
preparados cozidos e assados.
BRS Ana: Melhorada pela EMBRAPA, essa cultivar foi lançada em
2007. Apresenta ciclo tardio (110-120 DAP), porte ereto, elevado po-
tencial produtivo e rusticidade, com menor exigência nutricional e mo-
derada tolerância ao déficit hídrico. Apresenta suscetibilidade modera-
da à requeima, resistência à pinta-preta e resistência moderada ao PVY
e ao PLRV. Os tubérculos são ovais, com película vermelha e levemen-
te áspera, e polpa branca, apresentando percentagem de matéria seca
média a alta, sendo apta ao cozimento e ao processamento industrial
na forma de pré-fritas congeladas, palha e fécula (PÁDUA et al., 2012;
BORTOLETTO; PEREIRA, 2016; RIBEIRO et al., 2017).
BRS Clara: Também lançada pela EMBRAPA, em 2010, possui ciclo
médio (100-105 DAP), plantas de tamanho médio e hastes vigorosas e
elevado potencial produtivo. É suscetível ao PLRV e PVY e resistente
à requeima e moderadamente resistente à pinta-preta. Os tubérculos
são ovais-alongados, com película amarela e lisa e polpa amarelo-clara.
A percentagem de matéria seca é media, sendo os tubérculos indicados
para preparo de saladas e outros pratos cozidos (PÁDUA et al., 2012;
BORTOLETTO; PEREIRA, 2016; RIBEIRO et al., 2017).

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Cultivar, batata-semente e implantação da cultura
Rogério P. Soratto • Fabiana M. Fernandes • Adalton Mazetti Fernandes

BRSIPR Bel: Desenvolvida pela EMBRAPA e IAPAR e lançada em


2012, essa cultivar tem ciclo médio-tardio (100-110 DAP), plantas
de tamanho médio e hastes moderadamente vigorosas, com hábito de
crescimento semiereto. É moderadamente suscetível à requeima e mo-
deradamente resistente ao PLRV, PVY e pinta-preta. Os tubérculos
são ovais, com película amarela, altamente suscetível ao esverdeamen-
to, e polpa de cor creme. Apresenta percentagem relativamente alta de
matéria seca, sendo indicada preferencialmente para o processamento
industrial nas formas de chips e palha (PÁDUA et al., 2012; BORTO-
LETTO; PEREIRA, 2016; RIBEIRO et al., 2017).
BRS F63 Camila: Lançada pela EMBRAPA em 2015, apresenta ci-
clo médio, elevado potencial produtivo de tubérculos comerciais, mo-
derada suscetibilidade à requeima e à pinta-preta e alta resistência ao
PVY. É indicada para cultivo na região Sul e nas épocas mais frias das
demais regiões produtoras do país. Os tubérculos são ovalados, com
película amarela, lisa e com resistência moderada ao esverdeamento,
e polpa amarela clara. Apresenta média percentagem de matéria seca,
que possibilita maior versatilidade culinária e vida de prateleira mais
longa, sendo indicada para preparação de saladas e pratos cozidos que
exigem textura firme após a cocção (PÁDUA et al., 2012; BORTO-
LETTO; PEREIRA, 2016).
É importante salientar que só é permitida a propagação de cultivares de
batata de domínio público. Para o uso de cultivares protegidas, é necessá-
ria a autorização do detentor da cultivar, que pode ser sujeita a pagamento
de royalties.

2. Batata-semente
A batata é propagada vegetativamente por meio de tubérculos, popu-
larmente chamados de “batata-semente”, e o sucesso da cultura está dire-
tamente relacionado com a sanidade e vigor da mesma. O plantio de bata-
ta-semente de má qualidade pode comprometer a safra, ainda que todas as
outras condições sejam favoráveis ao cultivo (HIRANO; SILVA, 2016).
A aquisição de batata-semente é um dos principais custos de produção na
bataticultura, sendo assim, a utilização de batata-semente com boa sani-
dade, estádio fisiológico e brotação adequada é extremamente importante.

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BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Existem diferenças em relação à batata destinada para consumo e a


batata-semente. A boa sanidade da batata-semente está relacionada com
algumas práticas como: processo de certificação de sementes, colheita, se-
leção, beneficiamento, embalagem e armazenamento (HIRANO; SILVA,
2016). A realização de tais práticas garante níveis toleráveis de doenças,
conforme padrões previstos em normas oficiais vigentes.
Para reduzir os custos com aquisição sistemática de batata-semente
para a implantação de lavouras comerciais, é muito comum a produção de
batata-semente própria, obtida por meio da multiplicação, em condições
adequadas de sanidade, durante duas ou mais gerações a partir da batata-
-semente básica ou certificada (DANIELS, 2003). Em alguns estados, é
necessário fazer a comunicação escrita ao Ministério da Agricultura, Pe-
cuária e Abastecimento (MAPA), avisando sobre este plantio da parcela
de semente própria, principalmente se a cultivar for protegida junto ao
Serviço Nacional de Proteção de Cultivares.
Os campos de produção de batata-semente devem ser localizados em
áreas distantes de lavouras de produção de batata para consumo, ou sepa-
rado destas por obstáculos naturais e preferencialmente em solo ainda não
cultivado com batata. Para multiplicação, o produtor deve considerar que
1 ha produz batata-semente para o plantio de 5 a 8 ha de área comercial.
Para o plantio de um campo destinado a produção de batata-semente, é
importante utilizar tubérculos-sementes bem brotados, para evitar a for-
mação de poucas hastes por planta. Além disso, em campos de produção
de batata-semente, deve-se fazer controle criterioso de pulgões e mosca -
branca (principais vetores das viroses), erradicação das plantas anormais
ou com sintomas de doenças, controle das doenças fúngicas da parte aérea
e colheita antecipada antes da seca natural da rama (HIRANO, 2003; HI-
RANO; SILVA, 2016).
Como os maiores danos nos tubérculos ocorrem no período entre a co-
lheita e a embalagem, os produtores devem tomar os devidos cuidados
evitando que estes afetem futuramente a capacidade de armazenamento,
assim como a sua brotação no campo. Normalmente, os tubérculos-se-
mentes são colhidos e transportados até um barracão, para passarem pelo
processo de cura e posterior classificação e armazenamento.
A classificação é realizada em duas etapas, a primeira a partir da elimina-
ção de tubérculos lesionados por danos mecânicos e a segunda etapa reali-

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Cultivar, batata-semente e implantação da cultura
Rogério P. Soratto • Fabiana M. Fernandes • Adalton Mazetti Fernandes

zada a partir da separação por tamanho. São eliminados tubérculos podres,


embonecados, cortados, queimados, lesionados ou infectados por insetos ou
patógenos que podem transmitir doenças. Normalmente os tubérculos-se-
mentes são classificados em: tipo I (50-60 mm), tipo II (40-50 mm), tipo III
(30-40 mm), tipo IV (23-30 mm) e tipo V (tubérculos menores que 23 mm).
Tubérculos acima de 60 mm podem ser certificados, desde que utilizados
para instalação de plantios para o próprio produtor e não comercializados.
Após a classificação, a batata-semente, normalmente é acondicionada em
caixas plásticas ou sacos de nylon com capacidade aproximada de 30 kg,
podendo também ser armazenados em bags maiores (Figura 2).

Figura 2. Acondicionamento de batata-semente em caixas plásticas, sacos de nylon e bags.


Foto: Rogério P. Soratto.

O armazenamento tem por finalidade manter a batata-semente em


boas condições até o plantio seguinte. O tipo de armazenamento a ser uti-
lizado depende de fatores como: tempo de armazenagem, qualidade da
batata-semente, condições climáticas do local e infraestrutura de armaze-

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BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

nagem disponível na região. É possível armazenar a batata-semente por


até 4 a 5 meses em armazéns comuns ou com luz difusa, desde que esses
tenham ventilação natural e as temperaturas internas não ultrapassem 24
°C (Figura 3). É um método de armazenamento barato, porém, as per-
das podem ser elevadas. O método mais eficiente para o armazenamento de
batatas-sementes são os armazéns refrigerados (câmaras frias). Nesses locais,
a batata-semente pode ser armazenada por até 8 a 9 meses, com controle ar-
tificial da temperatura e da umidade relativa do ambiente. A temperatura em
que a batata-semente se conserva melhor está entre 2 e 4 °C e a umidade rela-
tiva do ar deve ser mantida sempre acima de 85%. Deve haver boa ventilação,
mantendo maiores níveis de oxigênio do que de gás carbônico no interior do
armazém. O tempo de armazenamento varia de acordo com a cultivar, está-
dio de dormência da batata-semente, condições durante a tuberização e tem-
peratura utilizada na câmara. Contudo, deve-se ressaltar que é normal que
ocorram perdas durante o processo de armazenamento, principalmente devi-
do à respiração e à transpiração dos tubérculos (HIRANO, 2003b).

Figura 3. Armazenamento de batata-semente em galpão com luz difusa.


Foto: Rogério P. Soratto.

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Cultivar, batata-semente e implantação da cultura
Rogério P. Soratto • Fabiana M. Fernandes • Adalton Mazetti Fernandes

Após se desligar da planta mãe, a batata-semente tem vida indepen-


dente e apresenta características conforme sua idade fisiológica. Para que
se faça bom manejo, o conhecimento dos estádios fisiológicos da batata-
-semente é muito importante. No geral, a utilização de tubérculos esgo-
tados e murchos, indicativos de uma idade fisiológica muito avançada, ou
com idade fisiológica anterior ao período indicado poderá acarretar perdas
de produtividade. O período recomendado para a idade fisiológica ideal
do tubérculo está entre 4 e 6 meses após o desligamento da planta-mãe.
Em cultivares com curto ou quase ausente período de dormência, as ba-
tatas-sementes podem ser utilizadas cerca de 2 a 4 meses após a colheita.
Os estádios fisiológicos da batata-semente são divididos em: dormência,
dominância apical, brotação múltipla e senescência (Figura 4). Essas fases de-
pendem da cultivar, das condições de armazenamento disponibilizadas pelos
produtores, práticas culturais, época e local de plantio e ciclo vegetativo. Na
fase de dormência, o tubérculo não apresenta capacidade para brotação, mes-
mo que todas as condições externas sejam favoráveis, podendo gerar atraso
na brotação e desuniformidade ou falhas no estande final. A dominância api-
cal é uma subfase da brotação, na qual o tubérculo-semente começa a emitir
brotações a partir da gema apical ou do ápice do tubérculo. Se necessitar de
um campo com plantas com poucas hastes, que produzem poucos tubércu-
los com tamanho maior, como desejado para o consumo in natura ou proces-
samento industrial, esse é o estádio fenológico adequado da batata-semente
para o plantio. A brotação plena é o período em que já ocorreu total rompi-
mento da dormência e da dominância apical dos tubérculos, sendo esta fase a
recomendada, para a obtenção de plantas com muitas hastes e tubérculos de
tamanho regular e uniforme, características desejadas para lavouras destina-
das à produção de batata-semente. Já, durante o estádio de brotação múltipla,
os brotos formados estiolam e começam a ramificar e as plantas originadas são
fracas e com muitas hastes. O último estádio fisiológico é o da senescência,
quando os tubérculos apresentam reduzida turgidez e se encontram murchos,
além do esgotamento da capacidade do tubérculo de emitir brotos vigorosos,
não sendo recomendado o plantio de batata-semente nessas condições, pois,
além de originar plantas fracas o risco de falhas na brotação é muito elevado
(SOUZA, 2003; HIRANO; SILVA, 2016).
Dependendo da cultivar, condições de condução da cultura e de ar-
mazenamento (temperatura e umidade), a dormência da batata-semente

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BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

pode se estender por vários meses. Assim, quando as condições naturais


não são suficientes para garantir uma adequada brotação dos tubérculos
no período desejado para o plantio, pode-se utilizar técnicas para acelerar
o processo de quebra da dormência ou forçamento da brotação. No Bra-
sil, as técnicas mais utilizadas são: luz indireta, choque térmico em baixas
temperaturas e ácido giberélico.
O método da luz indireta consiste em distribuir as batatas-sementes
em caixas plásticas ou de madeira, que serão empilhadas em prateleiras
ou espalhadas sobre o piso do galpão sob luz solar indireta. Para o choque
térmico com baixas temperaturas, utilizam-se câmaras refrigeradas com
temperatura em torno de 4 ºC e umidade relativa entre 80-90%, por um
período de 20 dias, posteriormente, colocando-se as batata-sementes em
galpões com temperatura superior a 20 ºC (Figura 3).
O ácido giberélico pode ser aplicado por imersão dos tubérculos-se-
mentes em uma solução (normalmente em uma caixa de água ou tambor),
por aspersão do produto sobre os tubérculos na esteira rolante da clas-
sificadora, ou ainda por aspersão sobre os tubérculos-semente no sulco
de plantio, juntamente com fungicidas e inseticidas. A desvantagem da
imersão está relacionada à transmissão de doenças e a necessidade de se-
cagem rápida dos tubérculos.
Pode-se utilizar também o bissulfeto de carbono, cuja aplicação expõe
os tubérculos-sementes ao gás por um período de 48 a 72 h, em ambiente
vedado ou mediante a cobertura com lona plástica; contudo, por ser um
gás extremamente tóxico, inflamável e explosivo, seu uso deve ser mais
restrito. As dosagens de ácido giberélico ou bissulfeto de carbono variam
em função da dormência da cultivar e da situação (HIRANO, 2003b).

18
Cultivar, batata-semente e implantação da cultura
Rogério P. Soratto • Fabiana M. Fernandes • Adalton Mazetti Fernandes

Figura 4. Batatas-sementes das cultivares Orchestra no estádio de dominância apical (es-


querda) e Asterix no estádio de brotação múltipla (direita).
Fotos: Rogério P. Soratto.

Implantação da cultura
No Brasil, há cultivo de batata em todas as épocas do ano, porém em
regiões distintas. O conhecimento da época ideal de plantio da cultivar é
um fator crucial, pois as condições de temperatura, pluviosidade e foto-
período influenciam fortemente o desempenho da cultura e a escolha da
cultivar. O plantio em regiões e épocas com altas temperaturas e elevada
precipitação pluvial favorecem o crescimento da parte área da cultura e
reduz a produtividade de tubérculos. Áreas e/ou épocas sujeitas à geadas
também não são recomendadas. Regiões com invernos amenos e secos são
favoráveis ao cultivo da batata, desde que se utilize irrigação.
O sistema radicular da batateira é relativamente raso e delicado, com
maior concentração na camada de 0-30 cm do solo (Figura 5). Além disso,
os tubérculos, que são o produto de interesse comercial da cultura, se de-
senvolvem dentro do solo. Tais fatos fazem com que a escolha do terreno,

19
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

o preparo do solo, o plantio e amontoa sejam práticas fundamentais para


garantir rápida emergência das plantas, penetração das raízes na maior
profundidade possível, boa drenagem de água e adequado desenvolvi-
mento dos tubérculos. Além disso, de acordo com Rowe & Secor (1993),
os cuidados pós-plantio devem ser realizados com a finalidade de pro-
porcionar as melhores condições para que a planta tenha um crescimento
contínuo e uniforme durante todo o ciclo, proporcionando boas condições
de desenvolvimento dos tubérculos, além de prevenir impactos ambien-
tais negativos que podem afetar produções futuras.

Figura 5. Detalhe do sistema radicular da batateira concentrado nas camadas superficiais


do solo e próximo à fileira de plantas.
Fotos: Adalton M. Fernandes.

De maneira geral, são recomendados terrenos planos, uma vez que


o declive no terreno favorece erosões e dificulta a mecanização, além de
solos profundos e bem estruturados. Particularmente para a cultura da
batata, as propriedades físicas do solo são mais importantes. Solos ero-
didos, compactados, ou muito argilosos, além de dificultarem o preparo,
provocam deformação nos tubérculos. Solos sujeitos ao encharcamento
também devem ser evitados pelo fato de prejudicar o arejamento de raízes
e promover o apodrecimento dos tubérculos no solo (SILVA, 2016).

20
Cultivar, batata-semente e implantação da cultura
Rogério P. Soratto • Fabiana M. Fernandes • Adalton Mazetti Fernandes

Devido ao grande número de pragas e doenças que pode ocorrer, na


bataticultura, a rotação de culturas é uma pratica essencial. A rotação de
culturas realizada em conjunto com outras práticas de manejo pode con-
trolar ou minimizar doenças de solo que seriam limitantes para a produção
comercial de tubérculos. De maneira geral, para que a rotação de culturas
tenha sucesso, é importante que os cultivos não sejam da mesma família
botânica (como fumo, pimentão, tomate) ou de outras famílias que tam-
bém hospedam patógenos de solo comuns à batata (cenoura, beterraba,
feijão, etc). A rotação de culturas também apresenta efeito no controle de
plantas daninhas, pois é um meio de prevenção do surgimento de elevadas
populações de plantas infestantes, que apresentam as mesmas exigências e
hábitos de crescimento que a cultura da batata. No período de repouso ou
de rotação de culturas, a colonização de plantas invasoras tolerantes e hos-
pedeiras de patógenos pode ser evitada através da utilização de cultivos
que apresentam elevada capacidade competitiva, associadas com práticas
de capinas, controlando desta forma o surgimento de plantas voluntárias
(VIEIRA; SILVA, 2003).
O preparo do solo pode ser definido como o conjunto de operações agrí-
colas que mobilizam mecanicamente a camada arável do solo, deixando a
área selecionada disponível para a instalação da cultura. A importância do
preparo de solo está correlacionada diretamente com custo de produção e
sustentabilidade, além disso, influencia toda dinâmica física e química do
solo. Ressalta-se que as operações a serem realizadas devem ser adequa-
das de acordo com o sistema de produção. No Brasil, é utilizado o sistema
convencional para cultivo da batata em escala comercial.
O preparo inicial, também conhecido como preparo primário, consiste
em operações mais profundas como aração, escarificação e subsolagem,
normalmente com dois meses de antecedência, para que ocorra completa
decomposição de resíduos de culturas anteriores. A operação de aração
visa à descompactação de camadas até 30 cm além de promover a incor-
poração de restos culturais, corretivos e plantas daninhas. Utilizam-se
arados de aivecas ou de discos. A escarificação também promove descom-
pactação até a profundidade de 30 cm, porém mantendo parte da cober-
tura vegetal existente, ocorrendo menor movimentação do solo. A sub-
solagem, por sua vez, objetiva a descompactação do solo, quando houver
uma camada compactada abaixo de 30 cm que impede o fluxo de água ou

21
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

o sistema radicular das plantas, porque é um processo que utiliza grande


gasto de energia e requer mais operações complementares, já que a super-
fície do solo fica bastante irregular.
Próximo ao plantio é realizado o preparo secundário, que objetiva ni-
velar e destorroar a camada mais superficial do solo para facilitar a im-
plantação e o desenvolvimento inicial das plantas, podendo ser realiza-
das operações com grades e enxada rotativa. Deve ser realizado o mais
próximo possível do plantio, nivelando a superfície do solo e eliminando
plantas invasoras. Utilizam-se grades de discos ou de dentes que, apesar
de estarem mais sujeitas ao acúmulo de palha, possuem a vantagem de
desagregarem menos o solo. As enxadas rotativas têm sido bastante em-
pregadas em solos mais argilosos onde se utiliza colheita mecanizada, com
o objetivo de minimizar a ocorrência de torrões que seriam recolhidos jun-
tamente com os tubérculos. Nessas áreas, alguns produtores têm utiliza-
do a enxada rotativa, inclusive antes da semeadura da cultura precedente,
normalmente uma gramínea (SILVA, 2016). Costa et al. (2017) verifica-
ram que o preparo profundo do solo com subsolagem a 70 cm de profun-
didade mais enxada rotativa, proporcionou atributos físicos do solo mais
favoráveis e produtividade de tubérculos de batata 36% maior que com
preparo convencional a 20 cm de profundidade. Entretanto, o número de
operações e a mobilização do solo, de maneira geral, devem ser os meno-
res possíveis, evitando assim a compactação das regiões mais profundas
do solo ou a pulverização excessiva da camada superficial, aumentando o
risco de erosão.
De maneira geral, a cultura da batata é cultivada em espaçamentos en-
tre fileiras de 70 a 90 cm, de acordo com a finalidade do cultivo. No Brasil,
utiliza-se espaçamento de 80 a 90 cm para produções visando o consumo.
Em plantações com a finalidade de produção de batata-semente, o espa-
çamento varia de 70 a 75 cm, objetivando a obtenção de maior quantidade
de tubérculos por área. O espaçamento entre as plantas varia entre 26-40
cm para produção de batata com a finalidade de consumo e de 18-25 cm
para o cultivo de batata-semente.
Na cultura da batata, a definição da população de plantas (número de
batata-semente por área) é feita levando-se em conta o número de hastes
por planta, quantidade esta que varia dependendo da cultivar e da brota-
ção da batata-semente, o que dificulta o estabelecimento de uma popu-

22
Cultivar, batata-semente e implantação da cultura
Rogério P. Soratto • Fabiana M. Fernandes • Adalton Mazetti Fernandes

lação ideal de plantas. Um número baixo de hastes por área promoverá


baixa produtividade de tubérculos e uso ineficiente dos recursos; contu-
do, um número elevado de hastes por área pode gerar grande competi-
ção entre elas, levando a produção de um grande número de tubérculos,
porém de menor tamanho (SOUZA, 2003). No geral, a população ideal
de plantas estabelecida é de 11 a 15 hastes m2. Normalmente, o tamanho
da batata-semente, até certas proporções, não influência a produtividade
da lavoura (QUEIRÓZ et al., 2013). Dessa forma, a quantidade de bata-
ta-semente utilizada por área varia basicamente em função do tamanho
da batata-semente. Assim, para o plantio de um hectare, a quantidade de
batata-semente pode variar de aproximadamente 1.500 kg, quando os tu-
bérculos têm tamanho de 30-40 mm (~37 g), até mais de 3.000 kg, quando
se utiliza tubérculos com tamanho de 50-60 mm (>100 g) (HIRANO;
SILVA, 2016).
O plantio da batata pode ser feito de forma manual ou mecanizada, em
uma ou duas operações. No plantio manual, a distribuição do fertilizante
de base pode ser feita antes do sulcamento ou diretamente dentro dos sul-
cos já abertos, com posterior plantio manual. No sistema mecanizado, a
distribuição e/ou incorporação do fertilizante pode ser feita em operação
anterior ou simultânea ao plantio, com o uso de plantadoras-adubadoras.
O plantio deve ser feito à profundidade de 10 a 15 cm de profundidade.
Opcionalmente aplica-se nematicida, fungicida e inseticida no sulco de
plantio (Figura 6).
Ao longo do desenvolvimento da cultura, para que ocorra estímulo à
tuberização, crescimento dos tubérculos e proteção dos mesmos contra
a incidência direta dos raios solares que causam esverdeamento, é reco-
mendado realizar a amontoa. Essa operação, característica da cultura da
batata, pode ser definida como um acúmulo de terra, formando uma leira
de aproximadamente 20-30 cm na base das plantas (Figura 7). Midmore
(1992) ressalta que, além de todos os benefícios citados, a amontoa leva
à redução da temperatura do solo, sendo esta pratica vantajosa quando o
plantio é realizado em locais com elevadas temperaturas.
Por ser um dos manejos mais importantes na cultura da batata, deve ser
realizado na época correta e de forma adequada, evitando futuros proble-
mas fitossanitários, garantindo dessa maneira a qualidade dos tubérculos
produzidos. Normalmente, os produtores realizam entre os 20 e 40 dias

23
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

após o plantio (DAP), variando de acordo com a cultivar, idade fisiológi-


ca dos tubérculos (batata-semente jovens demandam maior período para
emergência ao serem comparadas com batata-sementes mais brotadas) e
época do ano (a intensidade metabólica das plantas é menor intensa no
inverno do que no verão, fazendo com que a emergência demore mais).
Associa-se também a realização da operação da amontoa com o tamanho
das plantas de batata, que deve ser próximo de 25 cm de altura (Figura 7).
Mas, de maneira geral, a amontoa deve ser feita antes no início da tube-
rização. Pode-se também realizar a amontoa antecipada, ou seja, antes da
emergência das plantas.

Figura 6. Detalhe do plantio da batata. Na frente, tubérculos descobertos no sulco aberto


e ao fundo sulcos já fechados, no espaçamento de 80 cm entre sulcos.
Foto: Rogério P. Soratto.

O preparo do solo para o plantio está diretamente relacionado com o


sucesso da amontoa. Para que a leira formada não se desfaça, a umidade
do solo deve ser adequada (próxima à capacidade de campo), pois umida-
de em excesso deixa o solo pesado para ser manejado e em contrapartida,

24
Cultivar, batata-semente e implantação da cultura
Rogério P. Soratto • Fabiana M. Fernandes • Adalton Mazetti Fernandes

solos secos podem formar maior quantidade de torrões. Os implementos


utilizados na operação de amontoa são os sulcadores, fresadoras (Figura
7), bem como, enxadas ou enxadões, em pequenas áreas. É muito comum
a realização da adubação de cobertura de fertilizantes nitrogenados e po-
tássicos, sendo que a dose a ser aplicada varia conforme o manejo nutricio-
nal realizado pelo produtor, assim como, a aplicação de insumos agrícolas
para controle de pragas e doenças. Deve-se tomar cuidado na realização da
amontoa para que não ocorram ferimentos nas plantas, abrindo uma porta
de entrada para patógenos.

Figura 7. Detalhe da operação de amontoa (esquerda) e campo com fileiras sem amontoa
e fileiras com a amontoa já realizada (direita).
Fotos: Rogério P. Soratto.

O controle de plantas daninhas é favorecido pela amontoa e pelo


fato de que a cultura apresenta intenso crescimento vegetativo com
fechamento das linhas em poucas semanas após o plantio. Contudo,
em amontoas antecipadas, a ação dos herbicidas de pré-emergência é
prejudicada, devido ao revolvimento da camada superficial do solo,
sendo recomendado a aplicação de herbicidas de pré-emergência após
a amontoa (LUZ et al., 2017).
Dessa maneira, é possível concluir que a escolha de cultivar mais adap-
tada as condições de cultivo e com boa aceitação pelo mercado consumi-
dor, o uso de batata-semente sadia e com boa brotação e a implantação
adequada da lavoura são cuidados imprescindíveis para obtenção de ele-
vada produtividade e qualidade de tubérculos na cultura da batata.

25
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

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28
CORREÇÃO DO SOLO E MANEJO DE
NUTRIENTES
Rogério Peres Soratto
Faculdade de Ciências Agronômicas – UNESP
rogerio.soratto@unesp.br

Adalton Mazetti Fernandes


Centro de Raízes e Amidos Tropicais – UNESP
adalton.fernandes@unesp.br

Fabiana Morbi Fernandes


Faculdade de Ciências Agronômicas – UNESP
fabianamorbi90@gmail.com

Natália Silva Assunção


Faculdade de Ciências Agronômicas – UNESP
nataliaassuncao.ufv@gmail.com

1. Introdução
A correção da fertilidade do solo e o manejo adequado de nutrientes são
fatores essenciais para manter a cultura da batata bem nutrida e, conse-
quentemente, alcançar elevada produtividade e qualidade dos tubérculos
colhidos. A cultura da batata apresenta alta taxa de crescimento, elevada
produção por unidade de área e ciclo relativamente curto, tornando-a exi-

29
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

gente quanto à presença de nutrientes na forma prontamente disponível


na solução do solo. Além disso, devido ao sistema radicular relativamente
delicado e superficial e às elevadas produtividades obtidas num curto pe-
ríodo de tempo, a cultura da batata pode ser altamente responsiva a adi-
ção de nutrientes no solo (SORATTO; FERNANDES, 2015; JOB et al.,
2019; FERNANDES; SORATTO, 2016a; 2016b).
Como o solo pode não suprir os nutrientes em quantidades ou pro-
porções compatíveis com a necessidade da planta, em muitos casos faz-se
necessário recorrer à correção do solo e adubação. Normalmente são apli-
cadas grandes quantidades de fertilizantes na cultura da batata. Contudo,
em muitos casos, a correção da acidez do solo não é adequada e o uso de-
sequilibrado e, algumas vezes, até indiscriminado de fertilizantes, pode
não satisfazer as necessidades das plantas, tornando-as mais suscetíveis a
doenças, gerando declínio da produtividade e, em muitos casos, elevan-
do desnecessariamente o custo de produção, uma vez que, dependendo
da condição de cultivo, os gastos com corretivos e fertilizantes podem re-
presentar mais de 20% do custo total de produção da cultura da batata,
os quais atualmente são bastantes elevados. Para a obtenção de elevadas
produtividades com menor custo, é fundamental que os nutrientes sejam
aplicados de acordo com a sua disponibilidade no solo, com as exigências
da cultura e nas quantidades adequadas e épocas corretas (SORATTO et
al., 2017).

2. Exigências nutricionais
Dependendo do nível de produtividade, as quantidades de nutrientes
extraídas e exportadas pela cultura da batata podem variar, embora não
haja, necessariamente, uma relação direta entre esses fatores, pois podem
existir diferenças na eficiência de utilização dos nutrientes, bem como, in-
fluência da cultivar, solo, clima, espaçamento, sanidade, etc. (FERNAN-
DES et al., 2011; SORATTO; FERNANDES, 2016: FERNANDES et
al., 2017). De maneira geral, a ordem de demanda de nutrientes pela ba-
tateira, em quantidade extraída, é: K>N>Ca>P>Mg>S>Fe>Mn>Zn>-
Cu>B (Tabela 1).
Cerca de 78% do P, 68% do K, 64% do N, 65% do S, 33% do Mg e ape-
nas 9% do Ca absorvidos pela batateira são exportados pelos tubérculos.

30
Tabela 1. Extração de nutrientes por área e por tonelada de tubérculos produzidos (valores entre parênteses) das principais
cultivares de batata plantas no Brasil, em diferentes experimentos.
Cultivares Produtividade N P K Ca Mg S B Cu Fe Mn Zn
___________________ _______________
t ha-1 kg ha-1 (kg t-1 de tubérculos ) ___________________ g ha-1 (g t-1 de tubérculos ) _______________
Atlantic – águas(1) 36,5 140(3,8) 18(0,5) 134(3,7) 22(0,6) 14(0,4) 11(0,3) 107(2,9) 44(1,2) 1229(33,7) 250(6,8) 157(4,3)
Atlantic – seca(1) 24,0 119(5,0) 15(0,6) 139(5,8) 15(0,6) 7(0,3) 7(0,3) 84(3,5) 39(1,6) 790(32,9) 130(5,4) 125(5,2)
(2,3)
Atlantic – inverno 22,5 88(3,9) 14(0,6) 184(8,2) 33(1,5) 9(0,4) 8(0,4) 50(2,2) 81(3,6) 1960(86,9) 544(24,1) 270(12,0)
(4)
Atlantic – inverno 27,9 107(2,7) 12(0,3) 172(4,4) 22(0,6) 13(0,3) 8(0,2) 108(2,8) 127(3,2) 2268(58,0) 160(4,1) 184(4,7)
Agata – inverno (2,3) 37,2 90(2,4) 14(0,4) 166(4,5) 34(0,9) 8(0,2) 7(0,2) 52(1,4) 89(2,4) 1531(41,1) 408(10,9) 295(7,9)
Agata – inverno(4) 38,9 111(2,8) 14(0,4) 226(5,8) 25(0,6) 12(0,3) 8(0,2) 95(2,4) 77(2,0) 2723(70,0) 178(4,6) 118(3,6)
Asterix – inverno(2,3) 40,0 117(2,9) 18(0,4) 230(5,7) 50(1,2) 12(0,3) 8(0,2) 68(1,7) 156(3,9) 1893(47,1) 603(15,1) 375(9,4)
Asterix – inverno(4) 39,1 129(3,3) 14(0,4) 218(5,6) 26(0,7) 15(0,4) 8(0,2) 132(3,4) 137(3,5) 2179(55,7) 207(5,3) 216(5,5)
Markies – inverno(2,3) 28,6 98(3,4) 14(0,5) 185(6,5) 38(1,3) 10(0,3) 7(0,2) 47(1,6) 91(3,2) 1476(51,6) 513(17,9) 300(10,5)
Markies – inverno(4) 30,9 118(3,0) 14(0,4) 240(6,1) 27(0,4) 14(0,4) 8(0,2) 93(2,4) 59(1,5) 2872(73,5) 215(5,5) 147(3,8)
Média geral 32,6 112(3,3) 15(0,5) 189(5,6) 29(0,8) 11(0,3) 8(0,2) 84(2,4) 90(2,6) 1892(55,1) 321(10,0) 219(6,7)

Fonte: (1)Yorinori (2003); (2)Fernandes et al. (2011); (3)Soratto et al. (2011); (4)Extraído do tratamento que proporcionou a maior produtividade, considerando
os dados brutos de Fernandes et al. (2017).
Rogério P. Soratto • Adalton M. Fernandes • Fabiana M. Fernandes • Natália S. Assunção
Correção do solo e manejo de nutrientes

31
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Quanto aos micronutrientes, aproximadamente 49% do Cu, 45% do B e


41% do Zn absorvidos pela cultura ao longo do ciclo são exportados pelos
tubérculos, enquanto que a exportação de Fe e Mn representa apenas 20%
e 11%, respectivamente, do total absorvido pela planta de batata (FER-
NANDES; SORATTO, 2012). O N e o K são exportados em maiores
quantidades pelos tubérculos colhidos, porque, apesar de apresentarem
menor percentual de exportação comparado com o P, estes nutrientes são
absorvidos em quantidades muito maiores (FERNANDES et al., 2011;
SORATTO et al., 2017).
O conhecimento do momento para o fornecimento de cada nutriente
também é essencial para o equilíbrio nutricional da planta, pois os nu-
trientes devem ser aplicados em quantidades adequadas e épocas corretas,
para que estes estejam disponíveis para suprir a demanda da cultura. Con-
siderando um ciclo entre 90 a 110 dias, a absorção máxima de N, P, Ca,
Mg e S ocorre na fase inicial de enchimento dos tubérculos (45 a 70 dias
após o plantio (DAP)). Já o K tem sua absorção mais concentrada entre 40
e 60 DAP (FERNANDES et al., 2011). A fase de maior demanda por B
ocorre logo após o início da formação de tubérculos, entre 35 e 50 DAP,
enquanto a maior exigência por Fe e Mn inicia-se a partir dos 45 DAP e
vai até 65 DAP. O Cu e o Zn são absorvidos em maiores proporções na
segunda metade do ciclo da cultura (SORATTO et al., 2011). Portanto,
existe uma época crítica em que a cultura da batata necessita de, prati-
camente, todos os nutrientes disponíveis em quantidades relativamente
altas, ou seja, desde o início da formação dos tubérculos, em torno de três
a quatro semanas após a emergência, até próximo ao final do ciclo. A fase
de enchimento de tubérculos é uma fase crítica, em que a disponibilidade
de nutrientes e de água no solo deve ser elevada, pois, nesse período, a
acumulação de matéria seca e a absorção de nutrientes são muito rápidas
(FERNANDES; SORATTO, 2012).

3. Diagnose do estado nutricional


A análise de solo para fins de fertilidade é um bom indicativo da su-
ficiência ou deficiência de vários nutrientes essenciais no solo. Porém,
a capacidade da planta crescer e adquirir nutrientes do solo não pode
ser prevista com segurança somente com a análise de solo. Nesse sen-

32
Correção do solo e manejo de nutrientes
Rogério P. Soratto • Adalton M. Fernandes • Fabiana M. Fernandes • Natália S. Assunção

tido, a análise de tecidos das plantas é um meio eficiente de monitorar


o seu estado nutricional e é uma ferramenta auxiliar na calibração das
necessidades de fertilizantes, permitindo, em alguns casos, que defi-
ciências potenciais possam ser detectadas cedo o suficiente para o tra-
tamento dos distúrbios nutricionais durante a estação de crescimento
(SORATTO et al., 2017).
No Brasil, a análise do tecido foliar, com interpretação pelo critério da
faixa de suficiência dos nutrientes nas folhas, utilizando tabelas, ainda é
o método mais difundido. Como a concentração dos nutrientes varia de
acordo com o órgão da planta amostrado e a época de amostragem, estes
aspectos devem ser considerados por ocasião da definição da referência
para fins de comparação (Tabela 2). Para a cultura da batata, deve se
amostrar a folha madura mais jovem, que normalmente é a terceira ou
quarta folha a partir do tufo apical, coletando-se pelo menos 30 folhas
por talhão (LORENZI et al., 1997; RIBEIRO et al., 1999; NEPAR-S-
BCS, 2017). Os talhões devem ser homogêneos e a amostragem deve ser
realizada na época apropriada, ou seja, aproximadamente 30 dias após
a emergência ou no florescimento das plantas. Deve-se atentar para as
aplicações de fertilizantes e defensivos realizadas nos períodos anterio-
res a coleta das folhas, pois, alguns defensivos agrícolas podem conter
concentrações consideráveis de micronutrientes. Destaca-se que, apesar
dos boletins dos estados de São Paulo e do Paraná indicarem como limite
inferior do teor de P na folha da batateira 2,5 g kg-1 (Tabela 2), trabalho
recente de Fernandes & Soratto (2016a) indicou que a cultura responde
a adubação fosfatada mesmo com concentrações foliares entre 2,5 e 2,9 g
kg-1 de P, o que sugere que a faixa de teor adequado de P na folha adotada
para o estado de Minas Gerais é mais apropriada. Outros métodos como
nível crítico, DRIS, CND, etc. podem auxiliar na interpretação dos re-
sultados das análises de folhas.

33
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Tabela 2. Faixa de teores foliares de nutrientes atualmente considerados adequados para


a cultura da batata, nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná.
Nutriente São Paulo(1) Minas Gerais(2) Paraná(3)
______________________________
g kg-1 _______________________________
N 40-50 45-60 40-60
P 2,5-5,0 2,9-5,0 2,5-5,0
K 40-65 93-115 40-115
Ca 10-20 7,6-10 7,5-20
Mg 3-5 1,0-1,2 3-12
S 2,5-5,0 – 2,5-5
___________________________
mg kg-1 __________________________
B 25-50 25-50 25-50
Cu 7-20 7-20 7-20
Fe 50-100 50-100 50-100
Mn 30-250 30-250 30-250
Zn 20-60 45-250 20-60

Fonte: (1)Lorenzi et al. (1997); (2)Ribeiro et al. (1999); (3)NEPAR-SBCS (2017).

Existem dispositivos cujas leituras apresentam uma boa correlação


com o estado nutricional de N, como “clorofilômetros” portáteis, eletro-
dos para determinação da concentração de nitrato na seiva do pecíolo e
outros tipos de sensores, podendo dessa forma auxiliar na definição, em
tempo real na lavoura, a necessidade de adubação nitrogenada. Segundo
Fernandes (2017), o monitoramento com o clorofilômetro portátil foi pre-
ciso em indicar a ausência de deficiência de N, gerando economia de fer-
tilizante sem redução na produtividade de tubérculo em área com baixa
resposta ao N. Contudo, ainda há carência de informações sobre o uso
correto dessas tecnologias e, portanto, ainda são pouco adotadas no Brasil.
Maiores estudos precisam ser conduzidos nas condições brasileiras para
permitir a utilização dessas técnicas com maior precisão e, sobretudo, com
resultados positivos (SORATTO et al., 2017).

4. Correção do solo e fornecimento de cálcio e magnésio


A amostragem de solo é a primeira e mais crítica etapa dentro de um
bom programa de correção do solo e adubação. Para que a análise química

34
Correção do solo e manejo de nutrientes
Rogério P. Soratto • Adalton M. Fernandes • Fabiana M. Fernandes • Natália S. Assunção

represente adequadamente as características do solo avaliado, é de funda-


mental importância que a amostragem seja feita de forma criteriosa. Os
resultados da análise química de solo devem ser considerados não só na
definição da necessidade de calagem, mas também no planejamento da
adubação, levando-se em conta as “tabelas de adubação” obtidas median-
te trabalhos de pesquisa (SORATTO et al., 2017).
A calagem promove importantes modificações no ambiente radicular,
pois diminui a acidez do solo, fornece Ca e Mg e aumenta a disponibilida-
de e eficiência de utilização de vários nutrientes, sendo importante para a
cultura da batata não somente para aumentar a produtividade, mas tam-
bém o tamanho dos tubérculos. Trabalhos de pesquisa evidenciaram que
se obtém a máxima produção de tubérculos quando o ph(CaCl2) encon-
tra-se em torno de 5,5-6,0 e a saturação por bases próxima de 60% (FER-
NANDES; SORATTO, 2012). Para o estado do Paraná, a recomendação
mais recente é manter a saturação por bases entre 51 e 70%, bem como ga-
rantir disponibilidade de Ca no solo superior a 21 mmolc dm-3 e diminuir a
saturação por Al para menos de 10% (NEPAR-SBCS, 2017). Entretanto,
é comum encontrar batata sendo cultivada em solos com pH relativamen-
te ácidos. Muitos produtores não fazem calagem nestes solos, pois, com a
elevação do pH, proporcionada pela aplicação do corretivo, pode ocorrer
aumento na incidência de sarna comum (Streptomyces scabies) nos tubér-
culos. Contudo, nos últimos anos têm sido obtidas altas produtividades e
tubérculos de excelente qualidade, mesmo em solos férteis e com pH ele-
vado, bem como há relatos da incidência de sarna em tubérculos de batata
mesmo em solos com valores de pH de 3,9, sugerindo que o agente cau-
sal é adaptado à condições ácidas (MIRANDA FILHO, 2001). Também
vale lembrar que o Ca é o terceiro nutriente mais extraído pela batateira,
devendo estar disponível em níveis adequados no solo principalmente du-
rante a tuberização e o crescimento dos tubérculos, uma vez que a mobi-
lização de Ca para os tubérculos é reduzida e a presença de baixos teores
desse nutriente nos tubérculos tem sido associada a maior suscetibilidade
à podridão mole (Pectobacterium spp.) e a distúrbios internos, como man-
chas marrons e “coração negro” (FERNADES et al., 2011; MESQUITA
et al., 2011). Plantas de batata bem nutridas em Ca normalmente pro-
duzem tubérculos com melhor aparência e com menor suscetibilidade a
perdas pós-colheita.

35
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

A correção da acidez do solo libera o P adsorvido à superfície dos óxi-


dos hidratados de Fe e Al, que se tornam mais solúveis com o aumen-
to do pH da solução (QUAGGIO, 2000) e, se o solo estiver com o pH
ou saturação por bases adequados, haverá economia de adubo fosfatado.
Com relação ao efeito da calagem no aproveitamento do adubo potássico,
existem na literatura resultados mostrando maior resposta e menor perda
do K aplicado em solos corrigidos, pois, com a elevação do pH do solo
pela calagem, ocorre a liberação de cargas negativas dependentes de pH,
fazendo com que aumentem os sítios de retenção dos íons K, nas camadas
mais superficiais do solo (QUAGGIO, 2000).
No entanto, quando ocorre o aumento do pH, devido à calagem, a dis-
ponibilidade de micronutrientes catiônicos (Cu, Fe, Mn e Zn) é reduzi-
da. A batateira também é exigente em B (SORATTO et al., 2011), cuja
disponibilidade é bastante reduzida com a calagem (QUAGGIO, 2000).
Portanto, interações entre estas práticas agrícolas são esperadas para a
batata, pois, Quaggio & Ramos (1986) verificaram que sem a aplicação
de B, a maior produtividade, correspondente a 16 t ha-1, foi obtida com
saturação por bases de 50%. A adição de B, na dose de 2 kg ha-1, propor-
cionou maior resposta à calagem e, assim, a produtividade alcançou quase
25 t ha-1 com 70% de saturação por bases. Isto demonstra que os produto-
res poderão ter maiores lucros com a prática da calagem, diagnosticando,
através da análise de solo, aqueles micronutrientes mais importantes para
a cultura, os quais poderão ser potencialmente limitantes à produtividade,
caso a disponibilidade deles no solo for baixa e ainda agravada pela cala-
gem (FERNANDES; SORATTO, 2012).
A quantidade de corretivo deve ser determinada com base na análise
de solo, no poder relativo de neutralização total (PRNT) do corretivo
e a profundidade de incorporação. A necessidade de calagem pode ser
determinada, principalmente, por três métodos: o método baseado nos
teores de Ca, Mg e Al trocáveis no solo, o método da solução tampão
SMP e o método da saturação por bases. O custo do produto por unida-
de de PRNT, posto na propriedade, deve ser considerado no momento
de adquirir um corretivo. A escolha do corretivo também deve conside-
rar a disponibilidade de Mg no solo e a necessidade das culturas. Plantas
de batata deficientes em Mg apresentam amarelecimento entre as nervu-
ras foliares, seguido de necroses de coloração marrom, principalmente

36
Correção do solo e manejo de nutrientes
Rogério P. Soratto • Adalton M. Fernandes • Fabiana M. Fernandes • Natália S. Assunção

nas folhas mais velhas, as quais permanecem com as margens verdes; as


folhas tornam-se ainda enroladas para cima, além de ficarem grossas e
quebradiças. Quando ocorre na fase final do ciclo, a deficiência de Mg
pode reduzir teor de amido e a percentagem de matéria seca nos tubércu-
los (MESQUITA et al., 2011; FERNANDES; SORATTO, 2012). Os
corretivos da acidez do solo mais comumente utilizados são os calcários
agrícolas (rocha calcária moída) (SORATTO et al., 2017). Contudo,
além dos calcários agrícolas, outros produtos, como calcário calcinado
agrícola, cal hidratada agrícola, cal virgem agrícola e silicatos de Ca e
Mg, podem ser utilizados para a correção de acidez do solo. Os silicatos,
além da correção da acidez e fornecimento de Ca e Mg, também for-
necem silício (Si) que pode ser um elemento benéfico para a cultura da
batata (FERNANDES; SORATTO, 2012). Além disso, tem surgido
no mercado corretivos contendo basicamente silicato de Mg, os quais
parecem promissores para correção do solo e balanceamento da disponi-
bilidade de Mg no solo.
O corretivo deve ser aplicado com antecedência ao plantio da batata,
utilizando-se, de preferência, materiais com PRNT elevado. A distri-
buição do corretivo deve ser feita de maneira uniforme em toda a área e
incorporado até 20 cm. Caso o corretivo seja incorporado em maiores pro-
fundidades (30 cm), a quantidade necessária deverá ser maior e a distri-
buição deverá ser feita a lanço, metade antes da aração e metade depois,
com posterior gradagem. Para melhores resultados, a incorporação deve
ser homogênea, proporcionando o máximo contato do corretivo com as
partículas de solo úmido, favorecendo, assim, a reação de neutralização da
acidez. O gesso agrícola não possui poder corretivo de acidez, mas pode
ser utilizado como excelente fonte de Ca e S, bem como, para redução da
atividade do Al tóxico em camada mais profundas do solo (SORATTO
et al., 2017).

5. Adubação nitrogenada
A deficiência de N causa clorose, principalmente das folhas mais ve-
lhas, plantas pouco vigorosas, com crescimento lento, hastes finas, inter-
nódios curtos e folhas eretas, além de produzirem tubérculos pequenos
e em menor quantidade (Figura 1). Quando a deficiência de N é severa,

37
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

pode haver manchas necróticas e abscisão de folhas, bem como o encurta-


mento dos entrenós. Em solos arenosos, ácidos e pobres em matéria orgâ-
nica, que não receberam adubação nitrogenada, a deficiência de N é mais
marcante (FERNANDES; SORATTO, 2012; SOUZA et al., 2019). O
excesso de N, especialmente no início do ciclo, pode provocar crescimento
excessivo da parte aérea e tornar a planta mais suscetível a tombamen-
tos, criando dessa maneira condições favoráveis à ocorrência de doenças,
como requeima, canela-preta e podridão-mole. Também pode retardar o
ciclo planta, além de contribuir para a formação de distúrbios fisiológi-
cos, como “embonecamento” e “coração oco” (MESQUITA et al., 2011),
além reduzir a taxa de armazenamento de amido e aumentar o teor de açú-
cares redutores nos mesmos, refletindo em menor produtividade e quali-
dade dos tubérculos.
De maneira geral, as doses de N que propiciam a máxima produtivi-
dade de tubérculos na batateira são muito variáveis, dependendo de vá-
rios fatores: cultivar, tamanho do tubérculo-semente, densidade de has-
tes, época de plantio, tipo de solo e, principalmente, cultivo precedente
(histórico da área). Por exemplo, cultivar de ciclo curto, tubérculos-se-
mentes de menor tamanho e plantio em solo cultivado anteriormente
com gramíneas (maior relação C/N) demandarão mais N do que quan-
do se utiliza tubérculos-semente maiores e, principalmente, se realiza o
cultivo após leguminosas. Além disso, deve-se levar em conta que a ab-
sorção de N pela cultura aumenta substancialmente após os 35-40 DAP,
quando se inicia o crescimento intenso dos tubérculos (FERNANDES
et al., 2011).

38
Correção do solo e manejo de nutrientes
Rogério P. Soratto • Adalton M. Fernandes • Fabiana M. Fernandes • Natália S. Assunção

Figura 1: Plantas de batata com deficiência de N (centro), contrastando com plantas sem
deficiência (frente e fundo), em solo arenoso.
Foto: Rogério P. Soratto.

Em Viçosa-MG, Silva et al. (2009) verificaram que na época “da


seca” somente a aplicação de N em pré-plantio proporcionou incremen-
tos na produção, sendo que a máxima produção comercial de tubérculos
de 39,9 t ha-1 foi obtida com a aplicação de 190 kg ha-1 de N, ou seja,
a aplicação de doses crescentes em cobertura não influenciou na pro-
dutividade comercial. Porém, na época “das águas”, esses autores ob-
servaram influência da aplicação de N em pré-plantio e em cobertura,
sendo que a máxima produtividade comercial de 44,5 t ha-1 foi obtida
com a aplicação de 50 kg de N ha-1 em pré-plantio e 255,9 kg ha-1 em
cobertura antes da realização da amontoa. Estudo realizado por Coelho
et al. (2010) demonstrou que a produtividade máxima de tubérculos co-
mercializáveis foi de 45 t ha-1 para a cultivar Agata e 46,5 t ha-1 para As-
terix, com as doses de 297 e 250 kg ha-1 de N aplicadas em pré-plantio,
respectivamente. Em solos arenosos da região Sudoeste de SP, Souza et

39
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

al. (2019), verificaram que houve aumento na produtividade de tubér-


culos da cultivar Agata plantada no inverno até doses entre 136 e 160
kg ha-1 de N, parceladas no plantio e amontoa. Considerando que, em
média, a percentagem de aproveitamento do N proveniente dos fertili-
zantes nitrogenados pelas plantas está em torno de 60% e a extração das
principais cultivares de batata utilizadas atualmente, seria necessária a
aplicação de aproximadamente 150 a 200 kg ha-1 de N, para satisfazer
as necessidades da cultura da batata na safra de inverno em sucessão a
gramíneas (FERNANDES; SORATTO, 2012).
No Brasil, encontram-se recomendações de adubação nitrogenada para
a cultura da batata variando de 60 a 250 kg ha-1 de N. Nos estados do Rio
Grande do Sul e Santa Catarina, a estimativa da necessidade de aplicação
de N é determinada em função do teor de matéria orgânica do solo, va-
riando de 120 a 160 kg ha-1 de N, em solos com teores de matéria orgânica
>5,0% e <2,5%, respectivamente (PEREIRA et al., 2005). No estado de
São Paulo a recomendação varia de 80 a 160 kg ha-1, dependendo da época
de cultivo (LORENZI et al., 1997). No Paraná, a dose de N é baseada no
teor de matéria orgânica do solo, na cultura anterior e na produtividade
esperada, sendo que para produtividades maiores que 30 t ha-1 as doses
variam de 121 a 180 kg ha-1 de N em plantio após gramíneas e de 81 a 140
kg ha-1 de N após leguminosas (NEPAR-SBCS, 2017).
No estado do Paraná, a recomendação é aplicar o N totalmente no
plantio, sendo o parcelamento indicado apenas em condições de solo e cli-
ma muito específicos (NEPAR-SBCS, 2017). Entretanto, na ausência de
informações científicas, recomenda-se, como orientação geral, que não é
aconselhável aplicar menos que 40 kg ha-1 e nem mais que 100 kg ha-1 de N
no sulco de plantio. Quando o agricultor optar pelo parcelamento da adu-
bação nitrogenada, o que é interessante, sobretudo, na época chuvosa e em
solos arenosos, o adubo nitrogenado deve ser aplicado em filete contínuo
alguns centímetros ao lado da fileira de plantas, sobre o solo. A incorpo-
ração do fertilizante deve ser feita em seguida, promovida pela operação
de amontoa. Principalmente nas cultivares utilizadas com a finalidade
industrial e com ciclo mais longo, a aplicação de N em períodos após a
amontoa, o que pode ser feito via água de irrigação, pode ser benéfico, já
que favorece a manutenção de área foliar fotossintetizante e o enchimento
dos tubérculos por um maior tempo (SORATTO et al., 2017).

40
Correção do solo e manejo de nutrientes
Rogério P. Soratto • Adalton M. Fernandes • Fabiana M. Fernandes • Natália S. Assunção

Cada fonte de fertilizante nitrogenado tem vantagens e desvanta-


gens, dependendo de como é feito o seu manejo. Em solos arenosos e
períodos chuvosos devem ser evitadas fontes nítricas, diminuindo as
perdas por lixiviação. Na maioria das situações de cultivo de batata no
Brasil, a forma em que o N é fornecido tem importância reduzida, já
que a nitrificação converte de forma relativamente rápida, boa parte do
N fornecido na forma amoniacal em nitrato (SORATTO et al., 2016).
Contudo, Souza et al. (2019), em estudo com fontes de N em solos are-
nosos, verificou que o fornecimento de uma fonte contendo N nítrico e
amoniacal associada a um inibidor de nitrificação teve maior eficiência
agronômica na cultura da batata do que a aplicação de N na forma de
sulfato de amônio ou ureia.

6. Adubação fosfatada
Plantas de batata deficientes em P têm crescimento reduzido e folíolos
miúdos e sem brilho (Figura 2). As folhas inferiores podem apresentar cor
púrpura na parte abaxial; as raízes e os estolões tornam-se reduzidos em
número e em comprimento. O P tem importante efeito no crescimento
e desenvolvimento radicular (MESQUITA et al., 2011; FERNANDES;
SORATTO, 2012). Como o P é importante para os processos de divisão
celular, metabolismo de carboidratos, síntese e alocação do amido para os
tubérculos, sob sua deficiência a produção de tubérculos é muito reduzida
(FERNANDES; SORATTO, 2016a; 2016b), além disso, os tubérculos
podem ainda apresentarem lesões internas. Dificilmente é constatado sin-
tomas de excesso de P em plantas de batata. Apesar do P ser extraído em
quantidades relativamente pequenas pela cultura da batata (Tabela 1), a
disponibilidade de P no solo interfere fortemente na resposta da batatei-
ra à adubação fosfatada (Figura 3), pois, a cultura tem sido considerada
como pouco eficiente em absorver P de solos com baixos teores de P dis-
ponível. Esse fato contribui para que grandes quantidades de P solúvel
sejam aplicadas no sulco de plantio, a fim de garantir altas concentrações
de fosfato na solução do solo.

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BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Figura 2. Crescimento de plantas de batata sem adubação fosfatada (frente) em condição


de solo com baixo teor de P disponível (Presina = 14 mg dm-3).
Foto: Adalton M. Fernandes.

Em solos contendo baixos teores de P disponível, a cultura da bata-


ta apresenta respostas econômicas à aplicação de fertilizantes fosfatados,
obtendo acréscimos na produção de tubérculos com doses de P relativa-
mente elevadas. Fernandes & Soratto (2016b), avaliando cinco cultivares
de batata, verificaram que, em solo com baixa disponibilidade de P (Presina
= 14 mg dm-3), a produtividade relativa de tubérculos aumentou 76% e até
aproximadamente a dose de 500 kg ha-1 de P2O5 (Figura 3). Nos solos com
média (Presina = 36 mg dm-3) e alta (Presina = 70 mg dm-3) disponibilidade
de P houve incremento de 30% e 18% na produtividade de tubérculos e
apenas até aproximadamente 250 e 125 kg ha-1 de P2O5, respectivamente.
Embora Fontes et al. (1997) tenham considerado que a máxima produti-
vidade comercial de tubérculos seria obtida com a dose estimada de 991
kg ha-1 de P2O5, em solo com teor de P(Mehlich-1) de 2,9 mg dm-3, nota-se que
os incrementos de produtividade a partir da dose de 320 kg ha-1 de P2O5

42
Correção do solo e manejo de nutrientes
Rogério P. Soratto • Adalton M. Fernandes • Fabiana M. Fernandes • Natália S. Assunção

(superfosfato simples) foram pouco expressivos e provavelmente não eco-


nômicos. Além disso, tem-se tornado cada vez mais comum o cultivo da
batata em solos muitas vezes adubados e que, normalmente, já apresen-
tam teores de P médios/altos. Assim, é de fundamental importância reali-
zar a análise de solo com antecedência ao plantio da batata. Em condições
de médios ou altos teores de P disponível no solo, é recomendado aplicar
doses menores de fertilizante fosfatado, levando-se em consideração as re-
servas acumuladas no solo (análise de solo), pois, em solos bem supridos
com P, a sua adição pouco interfere na produção ou na qualidade dos tu-
bérculos. Ademais, o uso de doses elevadas de P, especialmente em solos
já com elevados teores de P disponível pode proporcionar desequilíbrio
nutricional na cultura, especialmente deficiência induzida de Zn (fato que
não ocorre com maior frequência porque fungicidas que contém Zn são
aplicados constantemente na cultura), bem como aumentar desnecessa-
riamente o custo de produção (SORATTO et al., 2017).

Figura 3. Produtividade relativa de tubérculos de batata em resposta a doses de P, em


solos com diferentes disponibilidade do nutriente. Dados médios das cultivares Agata,
Asterix, Atlantic, Markies e Mondial.
Fonte: Adaptado de Fernandes & Soratto (2016b).

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BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

No estado de São Paulo, a recomendação varia entre 100 e 300 kg ha-1


de P2O5, de acordo com o teor de P disponível no solo, determinado atra-
vés do método da resina trocadora de íons (LORENZI et al., 1997). Como
o teor de argila interfere na capacidade de fixação de P no solo, o mesmo,
normalmente também é levado em conta na definição das doses de P a
serem aplicadas na cultura da batata, em alguns estados, principalmente
quando a análise de solo não é feita pelo método da resina (RIBEIRO et
al., 1999; PEREIRA et al., 2005; NEPAR-SBCS, 2017).
Dependendo da disponibilidade de P no solo, a dose de P2O5 recomen-
dada pode variar de 50 a 500 kg ha-1. Apenas em solos com teores de P dis-
ponível muito baixos e em condições específicas poderá haver necessidade
de aplicação de doses superiores a 500 kg ha-1 de P2O5, objetivando-se al-
cançar elevada produtividade na cultura da batata. A cultura pode ainda
responder a pequenas doses de P (50-100 kg ha-1 de P2O5), mesmo em
solos com elevada disponibilidade do nutriente, no entanto, mesmo nes-
tes solos pode ser vantajosa a aplicação alguma quantidade de fertilizante
fosfatado no sulco de plantio (FERNANDES; SORATTO, 2016b).
Devido a sua alta taxa de fixação no solo e sua baixa difusão, geralmen-
te, toda a dose de P recomendada é aplicada no sulco de plantio. Porém,
em solos muito pobres em P, a fosfatagem em área total com termofosfato
e, depois, a aplicação localizada de P solúvel no sulco de plantio pode gerar
maiores produtividades (SORATTO et al., 2017).

7. Adubação potássica
A cultura da batata extrai o K em maiores quantidades que qualquer
outro nutriente, e esta extração pode variar muito em função da cultivar e
da condição de cultivo (Tabela 1), sendo sua exportação pelos tubérculos,
em média 1,8 vezes maior que a de N e 10 vezes superior à de P (FER-
NANDES et al., 2011; SORATTO et al., 2017).
Plantas deficientes em K possuem porte reduzido, ocasionado pela dimi-
nuição no tamanho das folhas, os caules ficam mais finos e curtos e a folha-
gem apresenta aparência murcha pelo fato das folhas se arquearem para baixo
(MESQUITA et al., 2011; FERNANDES; SORATTO, 2012). Como o K é
importante na translocação de açúcares e síntese de amido, torna-se requerido
quando se objetiva a obtenção de produções mais elevadas de tubérculos, e,

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Correção do solo e manejo de nutrientes
Rogério P. Soratto • Adalton M. Fernandes • Fabiana M. Fernandes • Natália S. Assunção

como estes são ricos em amido, ocorre desta forma, elevada demanda de K,
podendo haver morte precoce das plantas sob condições de deficiência severa
(Figura 4). Contudo, nem sempre há resposta positiva à adubação com K,
provavelmente, devido aos elevados níveis deste elemento em determinados
solos. Além disso, a aplicação de elevadas doses de K no sulco de plantio,
como quando se utiliza doses elevadas de fertilizantes concentrados de K,
pode reduzir a população de plantas e a produção de tubérculos, devido ao
aumento significativo da condutividade elétrica e ao desequilíbrio da relação
K/Ca+Mg no solo (SORATTO et al., 2017). Doses excessivas de K também
podem causar redução na percentagem de matéria seca e no peso específico
dos tubérculos (SILVA; FONTES, 2016), o que é devido, em parte, ao au-
mento do conteúdo de água (WESTERMANN et al., 1994), pois, com o au-
mento na absorção e acúmulo de K na planta, o potencial osmótico e hídrico
da planta tornam-se mais negativos, o que gera aumento na absorção de água
e causa diluição da matéria seca nos tubérculos.

Figura 4. Parcela com plantas de batata que senesceram precocemente devido a defi-
ciência de K, pois foram cultivadas sem adubação potássica em solo com baixo teor de K
trocável (0,7 mmolc dm-3).
Foto: André L.G. Job.

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BATATA
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Para a realização da adubação potássica, é de extrema importância le-


var em consideração o teor de K trocável no solo, para que a elevação dos
níveis de K atinjam valores considerados satisfatórios às plantas e estas
alcancem produtividades correspondentes à máxima eficiência agronômi-
ca, sem elevar demasiadamente os custos de produção (SORATTO et al.,
2016). Assim, associando-se os valores de extração de K pela cultura da
batata, a percentagem média de recuperação do K dos fertilizantes e os
teores de K disponível no solo é possível realizar adubações balanceadas,
visando otimizar o uso de fertilizantes potássicos e aumentar a produtivi-
dade de tubérculos da batateira (FERNANDES; SORATTO, 2012). No
geral, a percentagem de aproveitamento de K2O pelas plantas é de aproxi-
madamente 70% (VITTI; MAZZA, 2002). Com isso, para fornecer toda
a quantidade de K extraída pela cultura da batata (Tabela 1), seria neces-
sário aplicar entre 230 e 410 kg ha-1 de K2O. Desse modo, quando o teor de
K trocável no solo é baixo, seriam necessárias altas doses para a obtenção
de elevadas produtividades (Figura 5) (JOB et al., 2019), dessa forma, a
recomendação pode chegar a 350 kg ha-1 de K2O (LORENZI et al., 1997;
RIBEIRO et al., 1999; PEREIRA et al., 2005), ou até mais, se os teores
forem muito baixos e a produtividade esperada for maior que 45 t ha-1 de
tubérculos (NEPAR-SBCS, 2017). Por outro lado, em solos com elevada
disponibilidade de K, pode não ocorrer resposta da cultura da batata à
adubação potássica, ou esta, quando ocorrer, ser pequena. Diante dessa
condição, podem ser feita apenas a aplicação de uma dose de reposição,
variando de 150 a 200 kg ha-1 de K2O.

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Correção do solo e manejo de nutrientes
Rogério P. Soratto • Adalton M. Fernandes • Fabiana M. Fernandes • Natália S. Assunção

Figura 5. Produtividade relativa de tubérculos de batata cv. Agata em resposta a doses de


K, em solos com diferentes disponibilidades do nutriente.
Fonte: Adaptado de Job et al. (2019).
Em alguns casos, especialmente quando são necessárias elevadas do-
ses de fertilizante potássico, em épocas mais chuvosas e solos arenosos, o
uso do parcelamento da adubação potássica, juntamente com a nitrogena-
da, se faz necessário, pois essa prática proporciona, no caso do K, menor
perda por lixiviação e redução do efeito salino no solo, favorecendo dessa
forma, o desenvolvimento das plantas e a produtividade de tubérculos.
Quando se utilizar doses elevadas de K, a retirada de parte do fertilizante
potássico do sulco de plantio torna-se interessante, podendo ser aplicado
a lanço imediatamente antes ou após o plantio, ou ainda no período entre
a emergência das plantas e a amontoa. O fertilizante potássico aplicado no
sulco de plantio deve ser bem incorporado ao solo, evitando dessa forma
problemas com injúrias às plantas (SORATTO et al., 2016).
Alguns trabalhos sugerem o sulfato de potássio como a melhor fonte
de K para a cultura da batata por proporcionar maior qualidade dos tu-
bérculos, especialmente para a indústria, porém, a unidade do nutriente é

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BATATA
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mais barata no cloreto de potássio e vários experimentos demonstram não


haver diferenças nítidas na produtividade e na coloração dos chips proces-
sados ao se aplicar uma ou outra fonte (FILGUEIRA, 2003; REIS, 2008;
Silva et al., 2018). Entretanto, doses elevadas de K na forma de cloreto po-
dem afetar a qualidade culinária dos tubérculos, ocasionando redução do
teor amido e do peso específico dos tubérculos, bem como aumentando o
teor de água dos mesmos (PANIQUE et al., 1997), o que reflete em menor
rendimento industrial da batata destinada a indústria de processamento.

8. Adubação com enxofre e micronutrientes


A deficiência de S faz com que as folhas mais novas da batateira fiquem
cloróticas e apresentem crescimento lento, sendo que estas geralmente não
secam, como acontece na deficiência de N (FERNANDES; SORATTO,
2012). Contudo, o uso frequente de fórmulas NPK, como o 04-14-08, que
incluem o superfosfato simples e é muito comum na bataticultura, evita a
deficiência de S na cultura. A utilização de sulfato de amônio em cobertura
é outra garantia de fornecimento adequado de S para a batateira, pois, as
quantidades de S extraídas pela cultura variam de 0,2 a 0,4 kg de S para
cada tonelada de tubérculos produzidos (Tabela 1). Contudo, a carência
de S em batata pode surgir quando são adotadas fórmulas NPK concen-
tradas, pobres em S, juntamente com a aplicação de ureia em cobertura.
Atenção deve ser dada a estes fatores com a finalidade de evitar limitação
da produtividade da cultura por carência de S. Na impossibilidade de uti-
lização adubos contendo S, o nutriente também pode ser fornecido perfei-
tamente pela utilização de gesso agrícola ou fontes contendo S elementar
(SORATTO et al., 2017).
Dentre os micronutrientes, a deficiência de B é a mais comum na cul-
tura da batata no Brasil (MESQUITA et al., 2011). Os sintomas de defi-
ciência são primeiramente visualizados nas partes mais novas da planta,
podendo ocorrer morte dos brotos principais, maior brotação lateral e
desenvolvimento de muitas hastes, o que leva à produção de tubérculos
menores. Os folíolos se enrolam semelhantemente ao sintoma de vírus.
As folhas são mais grossas e os internódios mais curtos. Nos tubérculos
pode-se observar dificuldade de brotação, baixa conservação, rachaduras
internas e “coração oco” (FERNANDES; SORATTO, 2012). Especial-

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Correção do solo e manejo de nutrientes
Rogério P. Soratto • Adalton M. Fernandes • Fabiana M. Fernandes • Natália S. Assunção

mente quando cultivada em solos deficientes em B, a cultura da batata tem


apresentado resposta à aplicação desse nutriente (GARGANTINI et al.,
1970; MESQUITA et al., 2007). Em contrapartida, o excesso de B tam-
bém pode ser prejudicial à batateira, provocando queima dos bordos das
folhas, encarquilhamento e redução do crescimento e produtividade. Por
estas razões é de fundamental importância realizar a análise de solo com
antecedência ao plantio da batata para se avaliar a necessidade ou não da
adubação boratada na cultura.
Para os micronutrientes Fe, Mn e Cu, não foram encontrados relatos
de deficiência na batateira, o que é resultado da alta disponibilidade, es-
pecialmente de Fe e Mn nos solos brasileiros. Além disso, como a batata
normalmente é cultivada em solos ligeiramente ácidos, situação em que
a disponibilidade de micronutrientes catiônicos aumenta, provavelmen-
te não ocorre limitação à absorção desses micronutrientes pela cultura
(FERNANDES; SORATTO, 2012). A utilização na cultura da batata de
defensivos que contem Cu, Mn e Zn em sua formulação pode também mi-
nimizar o aparecimento de deficiência destes micronutrientes (MOREI-
RA et al., 2000; SORATTO; FERNANDES, 2015). Contudo, é possível
que casos de “fome oculta” possam estar ocorrendo, sobretudo, devido
às aplicações excessivas de P, que sabidamente diminuem a absorção
de Zn pela planta (FILGUEIRA, 2003; FERNANDES; SORATTO,
2012). Desta forma, é recomendado para solos com baixos teores de B e
Zn, principalmente naqueles mais arenosos e com menor teor de matéria
orgânica, a adição de 1 a 2 kg ha-1 de B e 3 a 4 kg ha-1 de Zn (LORENZI et
al., 1997; FERNANDES; SORATTO, 2012; NEPAR-SBCS, 2017). O
B deve ser aplicado no sulco de plantio ou no máximo até a amontoa, pois
grande parte da absorção de B pela batateira ocorre no início da formação
de tubérculos, ou seja, entre 35 e 50 DAP (FERNANDES et al., 2011;
SORATTO et al., 2016).

9. Adubação orgânica
A adição de compostos orgânicos ou o plantio de espécies de plantas
em pré-cultivo de batata, sejam elas comerciais ou apenas como adubo
verde, é recomendado, podendo diminuir a quantidade de adubo mineral
a ser aplicado. Assim, sempre que disponível o uso de adubação orgânica

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BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

em substituição a adubação mineral, total ou parcialmente, é desejável, des-


de que economicamente viável. São vários os produtos que podem ser utili-
zados, sendo que as quantidades a serem aplicadas devem ser compensadas,
considerando-se os teores de nutrientes e os respectivos índices de conver-
são, ou seja, a disponibilização de nutrientes em função do tempo (decom-
posição e mineralização). Todo o K aplicado comporta-se como mineral,
pois não participa de compostos orgânicos estáveis. Com relação ao P, 60%
é disponibilizado no primeiro cultivo e 20% para o segundo. Para o N esta
relação é de 50% e 20% para os dois primeiros cultivos, respectivamente.
No terceiro cultivo a totalidade do N, P e K já se encontra mineralizada. No
caso do composto e estercos, deve-se ter cuidado para que estes estejam bem
curtidos e sejam incorporados uniformemente no solo, evitando-se contato
direto com os tubérculos-semente e para se obter um maior aproveitamento
do P e redução nas perdas de N por volatilização.
Quanto à adubação verde em pré-plantio de batata, deve-se selecionar
as espécies para serem utilizadas de acordo com o ciclo vegetativo, quan-
tidade de biomassa acumulada, facilidade de incorporação, tempo para
decomposição e mineralização, suscetibilidade a doenças e relação C/N.
Outro fator importante é o sincronismo entre a liberação do N do adubo
verde e a demanda pela cultura. As gramíneas apresentam maior relação
C/N e podem ocasionar imobilização de parte do N do solo e/ou aplicado
durante sua decomposição.
Para a realização de adubações mais racionais e equilibradas, deve-se
dar a devida atenção ao histórico da área, exigências das cultivares e, prin-
cipalmente, a disponibilidade de nutrientes no solo. Além disso, as reco-
mendações de adubação são referenciais e podem ser ajustadas de acordo
com o sistema de produção e a finalidade da cultura da batata.

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BATATA
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ECOFISIOLOGIA DA BATATA
Paulo Roberto de Camargo e Castro
Universidade de São Paulo, ESALQ – Piracicaba
prcastro@usp.br

Gabriela Romêro Campos


Universidade de São Paulo, ESALQ – Piracicaba
campos.gab@usp.br

Desenvolvimento inicial
Segundo Li (1985), após a colheita, o comprimento do período de dor-
mência, ou seja, da colheita até a retomada do crescimento, varia de 1 a
15 semanas, em função das variedades, mas é pouco influenciada pelas
condições ambientais durante o seu crescimento ou armazenamento dos
tubérculos.
Após a quebra de dormência, as gemas começam a crescer a uma taxa
determinada largamente pela temperatura. A gema apical é a primeira a
iniciar o crescimento e as outras seguem na sucessão basípeta. À medida
que o crescimento progride, a dominância apical é estabelecida na popu-
lação de brotações, com as maiores inibindo as menores.
O crescimento das brotações produz um estímulo que leva à hidrólise
do amido e das proteínas no tubérculo. O estímulo, de natureza hormo-

55
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

nal, é rapidamente transmitido através do tubérculo pela rede de floema,


sendo dependente do crescimento da brotação. A degradação do amido
parece ocorrer através da sacarose fosfato sintetase, levando à produção
de sacarose, e sua hidrólise à glucose e frutose, pela invertase. As concen-
trações de invertase e açúcares redutores aumentam durante a formação
da brotação. Embora o número de brotações em crescimento, por tubér-
culo, seja controlado pelo mecanismo de dominância apical, a taxa em
que as brotações crescem parece ser determinada pela taxa de suprimento
de algum substrato, pelo menos, a temperaturas acima de 10°C. A uma
temperatura qualquer, a taxa de aumento de peso seco de brotações dos
tubérculos com uma única brotação, é constante por um longo período e
é proporcional ao tamanho do tubérculo. Em tubérculos com várias bro-
tações, o crescimento dos mesmos está relacionado positivamente com o
peso do tubérculo, sendo dependente do espaçamento entre brotações.
A emergência das brotações é favorecida pelo escuro, calor e condições
de umidade. As brotações crescem e formam as hastes da planta; as gemas
formam um nódulo intumescido ao longo da haste; folhas e hastes secun-
dárias desenvolvem-se de nódulos aéreos; as raízes e as hastes subterrâ-
neas (estolões) desenvolvem-se de nódulos subterrâneos; os tubérculos
desenvolvem-se no final dos estolões.
O amido, presente nos segmentos da batata-semente, fornece a energia
para o crescimento da brotação e seu desenvolvimento. Aproximadamen-
te metade do amido é esgotado, até quando a planta inicia a produção de
energia suficiente para suportar o crescimento e desenvolvimento, e acu-
mular reservas para a produção de tubérculos.

Desenvolvimento das Raízes


Em plantas originadas por sementes, as raízes originam-se da radícula
do embrião. Quando originadas a partir dos tubérculos, todas as raízes são
de natureza adventícia.

Desenvolvimento do Caule
A planta de batata possui três tipos de tubérculos: o caule aéreo; os es-
tolões, que são ramificações subterrâneas do caule aéreo; e os tubérculos,
que se originam nas extremidades dos estolões.

56
Ecofisiologia da batata
Paulo Roberto de Camargo e Castro • Gabriela Romêro Campos

O crescimento do caule é acelerado por altas quantidades de radiação


solar e é devido, principalmente, aos efeitos sobre a formação de ramos
axilares.
Os estolões são diferenciados inicialmente no crescimento de uma
brotação, e vários estão, usualmente, presentes no plantio. Eles crescem
rapidamente depois do plantio, e novos estolões brotam de nódulos sub-
terrâneos.
Os tubérculos normalmente formam-se nos topos dos estolões, cujo
desenvolvimento é acelerado por condições de dias curtos, baixa tempe-
ratura, alta radiação diária e baixo fornecimento de nutrientes. A inicia-
ção do tubérculo, na parte apical do estolão, está correlacionada com uma
mudança na orientação do plano de divisão celular e a um rápido aumento
na formação de amido. As atividades da amido sintase, amido fosforila-
se, ADP glucose pirofosforilase e UDP glucose pirofosforilase aumentam
durante a iniciação do tubérculo ou durante os estágios iniciais do seu
desenvolvimento. Enquanto a fosforilase e UDP glucose pirofosforilase
aumentam à medida que o tubérculo aumenta em diâmetro, mudanças na
amido sintase e ADP glucose pirofosforilase são caracterizadas por uma
fase “lag” curta, seguida por um aumento dramático, antes que o diâme-
tro do tubérculo alcance 7,3 mm.
A maioria dos tubérculos destinados à comercialização são formados
dentro do período de duas semanas. Logo depois da iniciação do tubér-
culo, há um aumento de duas a três vezes na assimilação de CO2 e a pro-
porção de assimilados exportados das folhas é dobrada, sendo a maioria
destes conduzidos para os tubérculos (Moorby, 1968).
Mudanças diurnas rítmicas no peso fresco e volume de um tubérculo
em crescimento mostram que há um movimento considerável de água que
sai dos tubérculos em resposta à transpiração, durante as horas mais quen-
tes do dia. Este movimento interrompe o fluxo de íons através do xilema
para os tubérculos, mas o fluxo pelo floema parece não ser interrompido.

57
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Figura 1. Fatores ambientais e hormônios vegetais relacionados com a indução da tube-


rização de Solanum tuberosum.
Fonte: Figueiredo-Ribeiro, Chu e Almeida (2004).

O processo de tuberização é iniciado a partir de fatores ambientais,


fotoperíodo e temperatura, e por processos endógenos, como aumento
de citocinina e ácido jasmônico. O fotoperíodo é um importante fator
ambiental que controla a formação dos tubérculos de batata. Noites lon-
gas favorecem a indução da tuberização, portanto a batata é considerada
uma planta de dias curtos. Quando a planta está sob condições de foto-
período longo há um atraso na tuberização e um maior crescimento da
parte aérea e dos estolões (FIGUEIREDO-RIBEIRO; CHU; ALMEI-
DA, 2004).
Fotoperíodo curto e alta intensidade luminosa gera, nas folhas das
plantas, um estímulo para a tuberização, induzindo um ou mais estí-
mulos nas folhas da planta de batata e estes estímulos são translocados
para as regiões de resposta. A alta intensidade luminosa também acar-
reta no aumento da captação de gás carbônico, aumento da concen-
tração de sacarose e transporte de carboidratos para os tubérculos em
formação.

58
Ecofisiologia da batata
Paulo Roberto de Camargo e Castro • Gabriela Romêro Campos

A temperatura também possui uma grande influência sobre os ní-


veis de tuberização, Solanum tuberosum requer, como temperatura
ideal para tuberização, 17°C e, temperaturas superiores a 30°C são
inibitórias para a tuberização. A quantidade de nitrogênio disponível
para a planta é outro fator ambiental importante para o processo de
tuberização, níveis altos de nitrogênio reduzem a tuberização. Porém,
baixas temperaturas podem inibir a absorção do nitrogênio e favorecer
a tuberização.
Dentre os hormônios responsáveis pela tuberização, giberelina é indi-
cada como um hormônio de restrição, uma vez que os fatores ambientais
que levam à tuberização causam um decréscimo da concentração deste
hormônio. Altas temperaturas estimulam a síntese de giberelina em ge-
mas caulinares e, baixa irradiância solar, tende a aumentar a síntese de
giberelina nas folhas, mesmo quando estas se encontram sob fotoperíodo
curto. Portanto, giberelinas são consideradas inibidoras da tuberização.
As citocininas estão envolvidas na indução de tubérculos através de
estímulos das divisões celulares, que constituem uma das primeiras alte-
rações morfológicas do processo de tuberização (FIGUEIREDO-RIBEI-
RO; CHU; ALMEIDA, 2004). Entretanto, a interrupção nas divisões ce-
lulares no meristema apical e o decorrente alongamento, divisão e acúmu-
lo de amido no meristema subapical do estolão não tem sido relacionado
aos efeitos desse hormônio. Os níveis de citocinina aumentam no ápice do
estolão durante a tuberização, no entanto, esse aumento é pequeno e decai
após quatro dias, o que desfavorece essa hipótese de atuação da citocinina.
O ácido jasmônico e seus derivados são compostos fenólicos que podem
atuar como sinalizadores da tuberização. O ácido jasmônico pode promo-
ver a tuberização da batata quando o processo é inibido por giberelinas in
vitro ou por fotoperíodo longo. Segundo Figueiredo-Ribeiro, Chu e Al-
meida (2004) esse hormônio está envolvido no transporte de informações
provenientes das folhas para os órgãos-alvos e atua na tuberização através
de um estímulo à expansão radial, à formação de tecido de sustentação e à
inibição do alongamento.
Poliaminas também encontram-se relacionadas com o processo de tu-
berização pois aumentam o número de tubérculos e reduzem seu tama-
nho, o que revela seu envolvimento na distribuição dos carboidratos ar-
mazenados (Figura1).

59
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Desenvolvimento das Folhas


A batata é uma planta C3, onde as folhas não são somente sítios de per-
cepção de estímulos ambientais, mas também fornecedoras de nutrientes
para o crescimento do caule e dos tubérculos. As folhas se desenvolvem
a partir das hastes que emergem do solo e, logo após a sua formação, a
planta é capaz de produzir toda a energia necessária para o posterior cres-
cimento e desenvolvimento.
O desenvolvimento da superfície foliar depende principalmente da
expansão das folhas já existentes e da produção de ramos axilares. À me-
dida que esses começam a crescer, logo após a emergência, a expansão da
superfície foliar é relativamente mais rápida do que de muitas outras es-
pécies. Após a iniciação e o crescimento dos tubérculos, as folhas novas
paralisam a sua expansão e as folhas existentes senescem rapidamente. O
crescimento do tubérculo diminui quando o índice de área foliar (IAF) cai
abaixo de 1 (Figura 2).

Figura 2. Diagrama mostrando os modelos gerais de área foliar e órgãos de armazena-


mento (adaptado de Milthorpe e Moorby, 1979).

Fatores ambientais
No sentido de minimizar os riscos que a bataticultura oferece e obter alta
produtividade e um produto final de boa qualidade, o produtor deve estar
ciente da importância de alguns fatores que exercem grande influência em
todas as fases de desenvolvimento da cultura, tais como: exigências climáti-
cas, fisiologia da planta, solo, nutrição, ocorrência de pragas e doenças.

60
Ecofisiologia da batata
Paulo Roberto de Camargo e Castro • Gabriela Romêro Campos

Por ser uma cultura que exige dos produtores muita dedicação, em vis-
ta da complexidade de cultivo, o ideal é que o produtor disponha sempre
da assistência técnica de um engenheiro agrônomo durante todas as etapas
de desenvolvimento da lavoura.

Temperatura
É importante observar que a batata apresenta todo o seu potencial de
produção quando a média de temperatura diurna é de 20-25°C e as notur-
nas de 10-16°C. Temperaturas elevadas estimulam a planta a um maior
desenvolvimento vegetativo diminuindo a produção. Variações bruscas na
temperatura também afetam o desenvolvimento da cultura, pois além de
diminuir a produção ocasionam vários distúrbios fisiológicos nos tubér-
culos destacando-se o crescimento secundário ou embonecamento, cho-
colate e rachaduras.
O produtor deve evitar o plantio tardio (1ª quinzena de junho) em re-
giões de invernos rigorosos, com risco de geadas.
Há uma relação estreita entre a emergência da planta de batata e a tem-
peratura média do solo à profundidade do tubérculo, sendo ótima de 22 a
25°C. As temperaturas superiores retardam a emergência (MIDMORE,
1984).
A temperatura do ar afeta o desenvolvimento da superfície foliar, sen-
do a mínima e a ótima, respectivamente, 7 e 21°C, segundo Moorby e
Milthorpe (1975). Para o alongamento do caule e produção de brotações, a
temperatura ótima está em torno de 25°C (BODLAENDER, 1963). Nas
zonas tropicais de baixas altitudes, onde as temperaturas do ar e do solo
são altas, ocorre redução na longevidade das folhas, após o início da tube-
rização, acelerando a senescência e resultando numa menor interceptação
da energia solar e crescimento dos tubérculos (NELSON; MIDMORE,
1986). Segundo Doorenbos e Kassam (1979), a temperatura ótima para
a formação de tubérculos é de 15 a 18°C, uma vez que a disponibilidade
líquida de produtos fotossintéticos aproveitáveis, para a sua acumulação
nos tubérculos, diminui com o aumento de temperatura acima de 20°C.
Regiões com temperatura máxima entre 20 e 30°C e mínima entre 8 e
15°C são mais favoráveis para o cultivo, do que regiões com pouca ampli-
tude térmica.

61
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Umidade
A quantidade de água no solo e a pluviosidade podem afetar a pro-
dução dos tubérculos uma vez que interferem em processos fisiológicos
tais como, a absorção de nutrientes, taxa de fotossíntese e crescimento da
planta. Existe uma correlação direta entre a quantidade de água no solo e
o aumento de produção, sendo esse aumento gradativo até certo ponto e
invertendo o resultado a partir deste. A época de maior consumo de água
ocorre normalmente quando a planta se encontra em seu máximo desen-
volvimento vegetativo e na fase de enchimento dos tubérculos, intervalo
compreendido de 60 dias após o plantio até a maturação dos tubérculos.
O excesso de umidade no plantio favorece o apodrecimento dos tubér-
culos-semente e, no período próximo à colheita, o aparecimento de doen-
ças que causam o apodrecimento dos tubérculos recém colhidos. A falta
de água no solo diminui drasticamente a produtividade da cultura devido
à diminuição do número de tubérculos por planta e além de afetar, tam-
bém, o desenvolvimento (enchimento) destes.
A umidade relativa do ar quando elevada ou em regiões sujeitas a ne-
voeiros, limita a produtividade, pois favorece a incidência de doenças,
principalmente a requeima e a pinta preta causadas pelos fungos Phyto-
phtora infestans e Alternaria solani, respectivamente.
O suprimento hídrico é talvez o fator ambiental mais crítico para o cresci-
mento e desenvolvimento da planta de batata, uma vez que é particularmente
importante para o estabelecimento da cultura. Entretanto, o excesso de umi-
dade, como chuvas pesadas (2000-4000 mm) e não eventualmente distribuí-
das durante o ano, aumentam a incidência de bactérias e fungos, bem como as
infestações de insetos e nematoides (MUSSELL; STAPLES, 1979).

Radiação Solar
Nos trópicos, a radiação solar excessiva, particularmente durante dias
claros, representa, para a planta de batata, uma fonte inútil, uma vez que
pode resultar num aquecimento das folhas, caso não seja dissipada pelo
incremento da transpiração (MIDMORE; RHOADES, 1988). Se a cul-
tura não intercepta eficientemente a radiação solar, o solo é aquecido, e a
refletividade da energia radiante pelo solo, em forma de ondas curtas, e
emissão, através de ondas longas, pode provocar estresse na planta.

62
Ecofisiologia da batata
Paulo Roberto de Camargo e Castro • Gabriela Romêro Campos

Segundo Midmore e Rhoades (1988), o consórcio de batata com outras


culturas, que formam sombra, pode ser uma alternativa viável nos trópi-
cos, onde a radiação solar é excessiva.

Ventos
A ocorrência de ventos fortes aumenta o risco de acamamento da
cultura até mesmo antes da amontoa, eleva a transpiração e o consumo
de água pela planta e contribui para a disseminação de patógenos na
lavoura.

Condições edáficas
A cultura da batata apresenta um elevado potencial de produção, po-
rém é exigente em solos ricos em nutrientes, principalmente quanto ao
fósforo disponível. Dá-se preferência por solos areno-argilosos, leves, sol-
tos e arejados. É desejável que o solo esteja livre de pragas e doenças. Apli-
cações antecipadas (1 a 2 meses antes do plantio) de esterco de galinha ou
torta de mamona na dose de 1 ton ha-1 ou esterco de curral curtido na dose
de 14 a 16 ton ha-1, têm proporcionado bons resultados. Deve ser ressalta-
do que o uso de fontes de esterco fresco ou que não estão completamente
decompostos, podem favorecer o aparecimento de sarna-comum.
A cultura da batata exige solos com pH entre 5,5 a 6,0. Não é recomen-
dável elevar o pH do solo a valores acima de 6,0, uma vez que isto pode
contribuir para a ocorrência de sarna-comum. Portanto, a calagem deve
ser feita de acordo com o resultado da análise química do solo, corrigindo
o solo adequadamente e garantindo teores de cálcio e magnésio de confor-
midade com as exigências da cultura.

Nutrição mineral
O elevado potencial de produção da cultura traduz-se em grandes reti-
radas de nutrientes do solo em intervalos de tempo muito curtos, daí ser de
fundamental importância a adoção de um programa de nutrição adequado.
Durante muito tempo, a nutrição da cultura da batata ficou restrita no uso
de uma ou duas formulações de fertilizantes. Entretanto, hoje o conceito nu-
trição mineral de plantas engloba fatores tais como: cultivar a ser plantado,

63
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

espaçamento, tamanho e tempo de armazenamento das sementes, época de


plantio, tipo e fertilidade do solo, irrigação entre outros, envolvidos dire-
tamente com a produtividade final. Portanto, não existe uma fórmula que
possa atender a todas as necessidades da cultura. Sabe-se que a cultura da
batata pode retirar em 1 hectare, quantidades de 200 kg de nitrogênio, 270
kg de fósforo, 221 kg de potássio, 9 kg de cálcio, 18 kg de magnésio, 40 g de
manganês, 60 g de boro, 40 g de cobre e 6 g de molibdênio.
A exigência nutricional de uma cultura varia de acordo com as fases de
seu ciclo de desenvolvimento. No caso da batata, o máximo de absorção
para nitrogênio, potássio, magnésio e enxofre, ocorre entre 40 e 50 dias após
a emergência da planta. Para o fósforo e o cálcio a absorção ocorre durante
todo o ciclo vegetativo, até aos 80 dias do plantio. Baseando-se nessas in-
formações, pode-se efetuar a aplicação de fósforo e potássio por ocasião do
plantio e para os nitrogenados, o recomendado seria a aplicação de pequena
parcela no plantio e o restante em cobertura, antes da amontoa.
A batata é tolerante à acidez, produzindo bem na faixa de pH, em água,
entre 5,5 e 6,0. A elevação do pH acima de 6,0 aumenta a suscetibilidade
da planta a certos patógenos do solo.
O nitrogênio favorece o desenvolvimento geral e a formação de clo-
rofila. Aumentos no seu fornecimento estimulam a produção de ramos e
aumentam as áreas de folhas individuais, mas aceleram a senescência de
folhas menores. Um nível relativamente alto de N, nos tecidos radicula-
res, resulta numa alta relação ácido giberélico/ácido abscísico, o que inibe
ou retarda a iniciação do tubérculo. A interrupção do fornecimento de N
produz um aumento no nível de ácido abscísico e uma diminuição no áci-
do giberélico, o que promove a distribuição para os tubérculos.
O fósforo, em níveis adequados, estimula a tuberização, acelera a ma-
turação, aumenta a produção de tubérculos graúdos e regula a produção.
O potássio é essencial à formação da fécula, melhorando a qualidade e
conservação do tubérculo.

Aspectos biológicos
Quando a absorção de água é menor do que a transpiração, durante um
período quente, o estresse hídrico nas folhas causa o fechamento estomá-
tico, o que reduz a fotossíntese, devido a menor absorção de CO2. O resul-

64
Ecofisiologia da batata
Paulo Roberto de Camargo e Castro • Gabriela Romêro Campos

tado é a interrupção no fluxo de carboidratos que mantêm o crescimento


normal do tubérculo. Quando as condições tornam-se novamente favorá-
veis para a fotossíntese e há aumento no nível de carboidratos, melhoran-
do o fornecimento aos tubérculos, o crescimento individual dos mesmos
pode tornar-se irregular. Algumas áreas do tubérculo podem crescer mais
do que outras, e algumas podem não retomar o crescimento. Esse cresci-
mento irregular dos tubérculos resulta em vários tipos de malformação,
denominadas de desordens de crescimento secundário. As partes do tu-
bérculo que crescem menos, ou não retomam o crescimento, podem ter
menor concentração de amido e maior teor de açúcares.
Li (1985) relata que as condições mais favoráveis para a tuberização e
para o crescimento do tubérculo, consistem em dias curtos (10 horas de
luz) e temperaturas diurnas altas (24°C) e noturnas baixas (12°C). Nessas
condições, as plantas têm poucas hastes, porém folhas grandes e bem ex-
pandidas, que formam uma eficiente superfície exposta para a fotossíntese
e translocação de fotoassimilados (fonte) para os tubérculos (dreno). En-
tretanto, sob dias longos e com o mesmo regime de temperatura diurna,
as plantas têm um número grande de hastes, maiores e mais pesadas, com
folhas pequenas e numerosas. Plantas sujeitas a dias curtos e temperaturas
diurna e noturna, baixa e alta, respectivamente, tendem a ter ramos abun-
dantes, formando um grande dossel vegetal.
A distribuição de fotoassimilados para os caules ou tubérculos é in-
fluenciada pela relação ácido giberélico/ácido abscísico. Uma relação re-
lativamente alta prolonga o crescimento da parte vegetativa e limita ou
diminui o crescimento dos tubérculos. Ao contrário, uma relação baixa
limita o crescimento vegetativo e promove o crescimento do tubérculo.
Em alguns clones e espécies de batata, os fotoperíodos longos também
produzem altos níveis de ácido giberélico e retardam o crescimento do tu-
bérculo. De um modo geral, a exposição da folhagem a dias curtos induz a
tuberização, enquanto que a exposição a dias longos induz o florescimento
e a ramificação lateral, além de restringir a tuberização.

Fenologia da cultura
O ciclo de vida da batata divide-se em cinco estádios fenológicos, con-
forme o esquema na Figura 3.

65
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Figura 3. Estádios fenológicos da cultura da batata.


Estádio I – Período relativamente curto, compreendido entre o plantio
e a emergência (10 dias) das hastes. A plântula se desenvolve graças às
reservas do tubérculo-matriz.
Estádio II – Período de desenvolvimento vegetativo. Intervalo entre a
emergência e o início da tuberização (20 dias). Neste período estão presen-
tes de forma balanceada todos os hormônios promotores de crescimento
(auxinas, giberelinas e citocininas). O estabelecimento da cultura se dá a
partir de 20-30 dm2 / planta de área foliar. Ao final deste estádio, efetua-
-se a adubação de cobertura e posteriormente a amontoa.
Estádio III – Esse estádio é caracterizado pelo desenvolvimento ace-
lerado da parte aérea e acumulação de fotoassimilados nos tubérculos. O
processo de tuberização inicia-se por volta dos 35-40 dias após o plantio.
O crescimento dos tubérculos é muito rápido, com duração de cerca de
duas semanas.
Estádio IV – Nesse estádio, a planta atinge o seu máximo de desen-
volvimento vegetativo. Verifica-se um incremento substancial do peso dos
tubérculos (aumenta cerca de uma tonelada/dia/ha). A maturação dos tu-
bérculos se estende dos 80 até aos 110 dias, variando conforme o cultivar.
Estádio V – É caracterizado pela senescência e seca da parte aérea.
Após a morte da folhagem, é conveniente esperar duas semanas para o
início da colheita para firmar a casca do tubérculo e reduzir, dessa forma,
perda da qualidade por esfolamento.

Fases reprodutivas
O florescimento e a frutificação ocorrem a partir da oitava à décima
semana após o plantio, dependendo da precocidade da cultura. Estes pro-
cessos são abundantes apenas no plantio de primavera-verão.

66
Ecofisiologia da batata
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Usualmente ocorre abscisão das flores no estágio inicial, algumas


vezes antes de sua abertura e, em outras vezes, após a antese. Rara-
mente os frutos são formados e desenvolvidos em plantas produtoras
de tubérculos.
Durante o período de maturação, o conteúdo de matéria seca do tubér-
culo alcança o seu valor máximo e a planta entra em senescência. Ocorre
o amarelecimento e queda das folhas, diminuindo a fotossíntese. O au-
mento no peso seco dos tubérculos, durante este período, verifica-se prin-
cipalmente devido ao movimento dos carboidratos da parte aérea para os
tubérculos. Durante este período, as gemas tornam-se dormentes e a sín-
tese de amido diminui, cessando finalmente, quando a parte aérea morre.
Nesse estádio, os tubérculos não brotam, ainda que as condições do am-
biente sejam favoráveis.
A dormência dos tubérculos é um processo que está associado a um
balanço entre promotores e inibidores da brotação. Entre os inibidores, o
ácido abscísico é o seu principal componente e, dentre os promotores, as
giberelinas são as principais. Ambos estão presentes na periderme e nas
gemas dos tubérculos (MARES, 1981; TIZIO, 1982). Em tubérculos re-
cém colhidos, o nível de inibidores é alto, enquanto a capacidade de bro-
tação é nula, na maioria dos cultivares. A aplicação exógena de giberelinas
favorece a brotação dos tubérculos, o que promove o início de um novo
ciclo de produção.

Zoneamento agroclimático e adaptações ao ambiente


A batata é considerada uma cultura de clima frio, normalmente não
adaptada a altas temperaturas do ar e do solo. Nos trópicos, é geralmente
cultivada nas regiões de altitude elevada, na época chuvosa. Entretanto,
nesta última década, o cultivo está se desenvolvendo nas regiões tropicais
de baixa altitude, através do uso de cultivares adaptados geneticamente
ao calor, do controle da irrigação e da manipulação microclimática. Entre
essas áreas, estão os vales do Peru, as planícies da Índia, Bangladesh e Pa-
quistão, e os oásis irrigados no Norte da África.
Segundo Mussell e Staples (1979), o trabalho do Centro Internacional
da Batata é direcionado para a obtenção de germoplasma, com uma fre-
quência maior de genes para adaptação, produção e resistência à pragas.

67
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Para as regiões tropicais de baixa altitude, dentre os vários germoplasmas


que estão sendo utilizados, pode-se citar o Germoplasma Tuberosum e o
Germoplasma Neo-Tuberosum, os dois tolerantes à dias longos e tempe-
raturas altas.

Estratégias para altas produções


Segundo Li (1985) as estratégias para a obtenção de altas produções, na
cultura da batata são:
• Germoplasma melhorado e novos cultivares: Os resultados do
Programa de Gerações de Populações dos Centros Internacionais de
Batata (CIP’s) não são cultivares por si só, mas linhas avançadas e
clones selecionados, que programas nacionais podem utilizar no de-
senvolvimento ou seleção de seus cultivares.
• Sistemas de propagação: Diversas de técnicas, incluindo cultura de
tecido e multiplicação rápida in vitro, estão sendo usadas por vários
programas nacionais na África, Ásia e América Latina, destinados à
limpeza, manutenção e estoque básico de reprodução, para posterior
multiplicação e uso pelos produtores.
• Manejo de pragas: De 6000 cultivares primitivos da coleção de
batata do mundo e 500 amostras de espécies selvagens, 43 clones
altamente resistentes estão atualmente sendo usados pelo CIP para
progênies produtivas, altamente resistentes ao ataque de traças. Mais
de 500 amostras de feromônios, para controle da traça do tubérculo,
foram enviadas para 15 países, para evolução e aplicação em armadi-
lhas de captura.
• Armazenamento sob luz difusa: Resultados indicam que as per-
das pós-colheita são reduzidas em 8 a 15 %, na maioria dos casos,
e as produções aumentadas em quantidades semelhantes, através do
armazenamento sob luz difusa. Nas Filipinas, por exemplo, o uso ex-
perimental do armazenamento de sementes com luz difusa aumentou
a produção em 25% sobre o armazenamento tradicional. As vanta-
gens desse método, em relação ao método tradicional, são a redução
no brotamento, o aumento na densidade de hastes, a emergência mais
rápida no campo, o aumento de produção e o controle da traça do
tubérculo.

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Ecofisiologia da batata
Paulo Roberto de Camargo e Castro • Gabriela Romêro Campos

Efeitos de biorreguladores
A incorporação de ácido indolilacético (IAA), em meio de cultura, in-
duz a tuberização de segmentos de hastes e brotações axilares (Li, 1985).
Entretanto, outros trabalhos demonstraram que o IAA pode inibir ou di-
minuir a tuberização de brotações de batata cultivados in vitro.
A incorporação do ácido naftalenacético (NAA), no meio em que seg-
mentos de brotações de batata e gemas axilares foram cultivadas in vitro,
resultou em estímulo à formação e iniciação do tubérculo.
O ácido 2,4-diclorofenoxiacético (2,4-D) estimula a tuberização de
brotos excisados e brotos axilares, em cultivo in vitro. O 2,4-D é usado em
produção comercial de batata para melhorar a coloração dos tubérculos de
casca vermelha, aumentar o número de tubérculos e uniformizar o tama-
nho dos mesmos.
As citocininas são consideradas substâncias estimulantes da tuberiza-
ção. Aplicações de citocinina, em estolões isolados, induzem a formação
de tubérculos.
Plantas crescidas sob condições de campo e tratadas com chlormequat
tendem a iniciar a formação de tubérculos mais cedo e aumentar o número
dos mesmos (Li, 1985). Esse retardador de crescimento inibe a síntese de
giberelinas ou remove a fonte desse promotor da planta.
Os efeitos do etileno sobre a tuberização parecem ser dependentes do
método de aplicação e dos tecidos utilizados. Plantas de batata imersas em
solução de ethephon produziram mais tubérculos do que plantas não tra-
tadas (GARCIA-TORRES; GOMES-CAMPO, 1972; 1973). O ethe-
phon, em meio de cultura, acelerou a tuberização e aumentou o número
de tubérculos nas brotações.
As giberelinas (GAs) agem como inibidores da tuberização e do cresci-
mento do tubérculo. A sua aplicação em brotações, estolões ou tubérculos
paralisam o crescimento do tubérculo e a formação de novos estolões.
A tuberização e o crescimento do tubérculo são controlados por um ba-
lanço entre substâncias inibidoras e substâncias promotoras. Há evidência
de que o ácido abscísico (ABA) é um agente neutralizante do efeito do áci-
do giberélico sobre a tuberização, pelos seguintes fatos: (a) o conteúdo de
ABA endógeno aumenta sob condições de dias curtos; (b) sob condições
de dias longos, a tuberização pode ser induzida pela aplicação de ABA; (c)

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BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

a aplicação de ABA, seguida da aplicação de GA, induz a tuberização; e


(d) a aplicação de ABA, sobre os estolões de plantas cultivadas sob condi-
ções não indutivas, induzem a tuberização (Li, 1985).

Senescência
Durante o período de maturação, o conteúdo de matéria seca do tubér-
culo alcança o seu valor máximo e a planta entra em senescência. Ocorre
o amarelecimento e a queda de folhas, diminuindo a fotossíntese. O au-
mento no peso seco dos tubérculos, durante este período, verifica-se prin-
cipalmente devido ao movimento dos carboidratos da parte aérea para os
tubérculos. Durante esse período, as gemas tornam-se dormentes e a sín-
tese de amido diminui, cessando finalmente, quando a parte aérea morre.
Nesse estádio, os tubérculos não brotam, ainda que as condições do am-
biente sejam favoráveis.
A dormência dos tubérculos é um processo que está associado a um
balanço entre promotores e inibidores da brotação. Entre os inibidores,
o ácido abscísico é seu principal componente e, dentre os promotores,
as giberelinas são os principais. Ambos estão presentes na periderme e
nas gemas dos tubérculos (MARES, 1981; TIZIO, 1982). Em tubércu-
los recém colhidos, o nível de inibidores é alto, enquanto a capacidade
de brotação é nula, na maioria dos cultivares. A aplicação exógena de
giberelinas favorece a brotação dos tubérculos, o que promove o início
de um novo ciclo de produção.

Referências bibliográficas
BODLAENDER, K.B.A. Influence of temperature, radiation and photoperiod
on development and yield. In: IVINS, J.D.; MILTHORPE, F.L. (Eds.). The
growth of the potato. Butterworths, London, 1963, p. 199-210.
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71
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

72
ANOMALIAS FISIOLÓGICAS DA CULTURA
DA BATATA
José Usan Torres Brandão Filho
Universidade Estadual de Maringá – UEM

Osnil Alves Camargo Júnior


Professor Adjunto da Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná –
UNICENTRO

Introdução
Com uma produção de mais de 350 milhões de toneladas, a cultura da
batata se destaca no cenário mundial como uma das hortaliças de maior
importância econômica, social e nutricional. A cultura atualmente ocupa
uma área de aproximadamente 20 milhões de hectares em várias regiões
do mundo, sendo já considerada por muitos o alimento do futuro.
No Brasil a cultura da batata tem criado, safra após safra, emprego e
renda em praticamente todas as suas fases da cadeia produtiva. Contudo,
muitas vezes esta mão-de-obra não se apresenta qualificada, o que aca-
ba ocasionando em um desbalanço entre o volume produzido e o volume
comercializado, ou seja, uma parte considerável da produção nacional se

73
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

perde por não atender aos padrões de qualidade exigidos por lei e por parte
dos consumidores.
Dentre os fatores responsáveis por esta perda podemos destacar as
anomalias fisiológicas ou distúrbios fisiológicos, os quais podem ser
definidos como desordens causadas por fatores abióticos ou por mau
manuseio dos tubérculos. Grande parte destes distúrbios só são veri-
ficados durante ou após a colheita quando não é mais possível resolver
estes problemas. Além das questões ambientais e de manuseio vários
distúrbios apresentam influência genética da cultivar, sendo algumas
notadamente resistentes.
A partir de uma pesquisa recentemente realizada em vários países
com vários consumidores foi questionado o que era mais importante a
aparência ou os aspectos nutricionais das hortaliças e a grande maio-
ria dos entrevistados destacou a qualidade visual destes alimentos. Por
isso a importância da legislação no que se refere a classificação e padro-
nização de hortaliças.
São vários os distúrbios fisiológicos que afetam a qualidade dos tubér-
culos de batata, todavia serão enfatizados somente os mais recorrentes nas
condições de cultivo aqui no Brasil.

Principais distúrbios fisiológicos e/ou danos encontrados


em tubérculos de batata

1. Rachadura
Durante o estádio de enchimento dos tubérculos rachaduras longitu-
dinais podem ser observadas (Figura 1). Esta anomalia pode ser explicada
por meio de diversos fatores, entre estes podemos destacar a ocorrência de
um período de umidade em excesso, por causa da chuva ou de irrigações
mal planejadas, seguido por um período de escassez de água. Outros fa-
tores também determinantes na ocorrência deste distúrbio são o excesso
do uso de fertilizantes nitrogenados, deficiência de boro, ação de alguns
grupos de vírus, efeito residual de alguns herbicidas (principalmente da
classe das sulfoniluréias) e o uso de cultivares geneticamente predispostas
a apresentar este distúrbio.

74
Anomalias fisiológicas da cultura da batata
José Usan Torres Brandão Filho • Osnil Alves Camargo Júnior

Uma explicação para a ocorrência destas rachaduras é que estes fatores


citados anteriormente, podem provocar um desenvolvimento acelerado e
uma assincronia entre o desenvolvimento interno e o externo do tubércu-
lo, ou seja, a camada interna se desenvolve com maior rapidez do que a
camada mais externa.
Como observado na figura 1 as rachaduras podem ser classificadas
como defeitos graves, conforme a legislação vigente, pois, as mesmas po-
dem ser superficiais ou como observado em várias situações apresentar
rachaduras profundas, comprometendo a valorização ou até mesmo a co-
mercialização do produto.
A prevenção é a melhor medida de controle deste distúrbio, onde de-
ve-se realizar uma adubação nitrogenada balanceada de acordo com a
análise da amostra de solo da área de cultivo, quando possível controlar
o excesso de água e utilizar cultivares geneticamente mais resistentes a
este distúrbio.

Figura 1: Tubérculo de batata com a anomalia fisiológica denominada rachadura.


Fonte: Shimoyama.

75
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

2. Crescimento secundário ou embonecamento


Deformações nos tubérculos são as principais características desta
anomalia fisiológica, o que compromete a comercialização dos mesmos
devido à sua aparência grotesca (Figura 2).
As principais causas do crescimento secundário estão relacionadas a
um período de estresse ambiental durante o desenvolvimento dos tubér-
culos seguido da normalização das condições ambientais, como tempe-
ratura, suprimento de água e adubação. Durante o período de estresse
ocorre uma diminuição do desenvolvimento da planta e dos tubérculos e
com a normalização destas condições, um desenvolvimento irregular dos
tubérculos se manifesta, sendo que a intensidade varia com a cultivar.
Pesquisas desenvolvidas, relacionadas ao tema, citam que após um período
de déficit hídrico durante a safra das águas (no qual as temperaturas também
são elevadas) o distúrbio se torna mais frequente. Vale ressaltar ainda, que não
somente a temperatura do ar influencia na ocorrência do embonecamento mas
também a temperatura do solo, mesmo com o teor de umidade adequado.
Com base nos relatos da literatura cientifica, pode-se afirmar então que as
principais estratégias de controle desta anomalia estão relacionadas a uma adu-
bação nitrogenada equilibrada, a um stand adequado de plantas por hectare e a
um fornecimento de água adequado em cada estádio fisiológico da cultura.

Figura 2: Tubérculo de batata com a anomalia fisiológica denominada embonecamento.


Fonte: Shimoyama).

76
Anomalias fisiológicas da cultura da batata
José Usan Torres Brandão Filho • Osnil Alves Camargo Júnior

3. Coração-oco
Pode correr no centro de tubérculos grandes e de cultivares genetica-
mente suscetíveis o aparecimento de cavidades de tamanhos diferentes,
denominadas por ‘coração oco”. Esse distúrbio ocorre quando em condi-
ções de estresse hídrico, excesso de nitrogênio e quando as plantas apre-
sentam uma desfolha grande. Ao redor destas cavidades pode ocorrer um
escurecimento do tecido, sendo somente observado após um corte longi-
tudinal do tubérculo (Figura 3).
Como forma de controle, o recomendado é que sejam realizadas adu-
bação balanceada, irrigação equilibrada e que o espaçamento entre plantas
também seja o adequado para a cultura. Destaca-se que o mais eficiente é
a utilização de cultivares resistentes a este distúrbio.
O produtor deve estar sempre atento as características ambientais do
seu local de cultivo e do período de safra, ou seja, há períodos em que esta
anomalia se torna mais comum, assim o recomendado muitas vezes é que
seja reduzido o espaçamento entre plantas ocasionando a formação de um
maior número de ramas e consequentemente reduzindo o tamanho dos
tubérculos, pois é sabido que o crescimento excessivo dos tubérculos é o
principal causador deste distúrbio.

Figura 3: Tubérculo de batata com a anomalia fisiológica denominada coração-oco.


Fonte: Shimoyama.

77
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

4. Coração-preto
A baixa concentração de oxigênio no interior dos tubérculos induz a
formação de manchas geralmente irregulares com coloração acinzentada
a totalmente enegrecida na região central dos tubérculos, denominada de
coração-preto (Figura 4).
Para que possamos diferenciar este distúrbio fisiológico de uma doença
causada por algum microrganismo é importante destacar que na ocorrên-
cia desta anomalia os tecidos se apresentam consistentes. Como citado an-
teriormente, qualquer situação que reduza a quantidade de oxigênio dos
tubérculos pode ocasionar este problema. Desta maneira estes sintomas
podem ser verificados tanto durante o cultivo da batata como no perío-
do de pós-colheita. No período de cultivo, principalmente, no estádio de
formação dos tubérculos, o distúrbio se manifesta com maior intensidade
geralmente na safra das águas na qual o solo fica bastante encharcado e a
temperatura é alta.
É importante ainda destacar que solos argilosos com baixa aeração
também favorecem o aparecimento dos sintomas típicos do coração-pre-
to. No período de pós-colheita o produtor deve armazenar os tubérculos
em galpões bem arejados e durante o transporte o mesmo deve ser obser-
vado, ou seja, sempre utilizar transportes adequados.
Para prevenir a ocorrência deste distúrbio é necessário que algumas
medidas sejam tomadas, dentre elas pode-se destacar o plantio em solos
de textura média bem aerados e com temperaturas mais amenas. Quando
necessário realizar a irrigação, que a mesma seja feita conforme a reco-
mendação de um especialista da área, evitado assim os excessos de umi-
dade no solo. Após o dessecamento ou morte natural das plantas, deve
ser evitado que os tubérculos permaneçam por longos períodos no solo.
E finalmente, durante o armazenamento deve se evitar altas temperaturas
dentro do galpão por meios do próprio desenho da instalação ou até mes-
mo por meio de aeradores artificiais.

78
Anomalias fisiológicas da cultura da batata
José Usan Torres Brandão Filho • Osnil Alves Camargo Júnior

Figura 4: Tubérculo de batata com a anomalia fisiológica denominada coração-preto e


coração-oco.
Fonte: Shimoyama.

5. Mancha chocolate
Manchas marrons irregulares podem ser observadas pela polpa quan-
do os tubérculos são cortados ao meio transversalmente (Figura 5). Tal
anomalia também pode ser denominada na literatura de mancha ferrugi-
nosa ou “internal heat necrosis”.
A causa da mancha chocolate pode ser associada a um desbalanço hí-
drico no solo, ou seja, períodos chuvosos seguidos por períodos de baixa
pluviosidade durante o estádio de desenvolvimento dos tubérculos. Tem-
peraturas altas no solo também induzem tal anomalia nos tubérculos, os
quais quase sempre são descartados pelos consumidores.
Como este distúrbio ocorre principalmente em solos arenosos, os
quais secam rapidamente, o recomendado é que seja realizado um ma-
nejo eficiente da água por meio da irrigação. Outra recomendação é a
utilização de cultivares de batatas lançadas recentemente, pois é sabi-
do que os materiais mais antigos são mais propensos a apresentar estas
manchas.

79
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Figura 5: Tubérculo de batata com a anomalia fisiológica denominada mancha chocolate


e coração-oco.
Fonte: Shimoyama.

5. “Unhadura”:
Como a própria designação desta anomalia indica, os sintomas se as-
semelham a danos causados pela pressão de unhas sobre os tubérculos
originando pequenas fendas superficiais com formato curvado (Figura 6).
As prováveis causas estão relacionadas a variações da umidade do solo
e a danos físicos provocados na fase de colheita e pós colheita.
Para se evitar este distúrbio é necessário, quando possível, manter ba-
lanceada a umidade do solo e também cuidados ao colher e embalar os
tubérculos, o que muitas vezes não é observado pelos trabalhadores no
campo e nos galpões de beneficiamento, exercendo uma compressão ex-
cessiva nos tubérculos.

80
Anomalias fisiológicas da cultura da batata
José Usan Torres Brandão Filho • Osnil Alves Camargo Júnior

Figura 6: Tubérculos de batata com a anomalia fisiológica denominada “unhadura”.


Fonte: Shimoyama.

6. Lenticelose
Para a compreensão deste distúrbio é importante enfatizar a presença
de estruturas nos tubérculos de batata chamadas lenticelas, as quais apre-
sentam uma função respiratória. Em situações de solo encharcado e con-
sequentemente com níveis baixos de oxigênio, as lenticelas apresentam
um desenvolvimento exagerado e anormal ocasionando assim pontuações
salientes e com coloração esbranquiçada na camada superficial dos tubér-
culos (Figura 7).
Uma provável explicação para o que ocorre neste distúrbio é que,
com a falta de oxigênio no solo, as lenticelas se desenvolvem excessi-
vamente com o “propósito” de alcançar regiões com níveis maiores de
oxigênio.
Como consequência a esta anomalia os tubérculos geralmente apresen-
tam uma aparência estranha, o que gera uma repulsa por parte do con-
sumidor. Outro fato importante é que estas estruturas podem servir de
“porta de entrada” a microrganismos fitopatogênicos.
Para que seja evitado a lenticelose, não se deve realizar o cultivo em
áreas sujeitas ao fácil alagamento e ou em períodos de chuvas abundantes.

81
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Figura 7: Tubérculos de batata com a anomalia fisiológica denominada lenticelose.


Fonte: Shimoyama.

7. Vitiligo
Em razão da absorção das lenticelas em água devido ao cultivo em so-
los mal drenados, os tubérculos podem apresentar superficialmente uma
coloração esbranquiçada e posteriormente escurecidas. Geralmente os tu-
bérculos apresentam também pequenas “bolhas” na casca.
Outros distúrbios também podem surgir simultaneamente a este,
como por exemplo a coração preto, coração oco e a lenticelose.
Neste caso fica claro que para que não ocorra este distúrbio deve se
evitar o cultivo em solos com baixa capacidade de drenagem.

8. Esverdeamento
O esverdeamento ou esverdecimento da batata é considerado um dos
principais distúrbios fisiológicos da cultura no Brasil, sendo que o mesmo
pode ocorrer no campo ou na fase de pós-colheita.
Bioquimicamente, esta anomalia pode ser explicada suscintamente
pela produção de clorofila nos tubérculos. Quando ocorre a incidência
de luz, mesmo em baixa intensidade (3 a 11w/m2 por 24 horas), sobre os

82
Anomalias fisiológicas da cultura da batata
José Usan Torres Brandão Filho • Osnil Alves Camargo Júnior

tubérculos há uma transformação de amiloplastos em cloroplastos. Gli-


coalcalóides também são produzidos, dentre eles o principal é a solanina,
substancia que confere ao tubérculo sabor amargo e quando ingerido em
concentrações elevadas (2 a 56mg 100g-1 de matéria fresca de polpa e cas-
ca respectivamente) pode provocar problemas ao sistema nervoso e tam-
bém problemas gastrointestinais. Além da luz, o esverdeamento pode ser
influenciado pela temperatura e por fatores genéticos.
Sob temperaturas acima de 15ºC, o esverdeamento é mais intenso,
tanto no campo como durante o armazenamento. Em temperaturas
mais amenas, em torno de 4,5ºC, a ocorrência desta anomalia é de me-
nor intensidade. Geneticamente há cultivares que apresentam maior
resistência ao esverdeamento, devendo se tomar cuidado com aquelas
com película mais escura pois podem mascarar visualmente a presença
dos glicoalcalóides.
Durante o cultivo o esverdeamento pode ocorrer pela exposição dos
tubérculos a luz, devido a não realização da amontoa ou de uma amontoa
mal realizada. Esta pratica é de extrema importância a cultura da batata,
principalmente para as cultivares que produzem tubérculos mais próxi-
mos a superfície.
Na fase de pós-colheita, durante o armazenamento tanto a temperatura
como a ocorrência de luz podem induzir a formação de clorofila, o mesmo
pode ocorre nas gôndolas de um mercado. Muitos produtores realizam a
lavagem da batata, retirando algumas camadas protetoras dos tubérculos,
favorecendo assim o aparecimento dos sintomas desta anomalia.
Como prevenção ao esverdeamento várias fases devem ser observadas,
ou seja, no campo, no armazém e na prateleira. Para o cultivo, o produ-
tor deve inicialmente lançar mão de uma cultivar resistente, respeitando a
preferência do consumidor local, e no momento correto realizar a amon-
toa sem danificar os tubérculos, pois há relatos que danos físicos também
induzem o esverdeamento. O ato de lavar as batatas deve ser substituído
gradualmente, mesmo não sendo muito aceito pelos consumidores brasi-
leiros, pela a escovação o que manterá uma certa proteção nos tubérculos
contra a radiação luminosa. Durante o armazenamento, seja no galpão ou
em casa, os tubérculos devem ser acondicionados em embalagens apro-
priadas, mantendo temperatura e aeração adequadas e ainda protegendo
contra a luz.

83
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Figura 8: Tubérculos de batata com a anomalia fisiológica denominada esverdeamento.


Fonte: Shimoyama.

8. Batata mal-encascada
Batata mal-encascada, “despelamento” ou “esfolamento” apresenta
como principal sintoma o fácil desprendimento da película que envolve o
tubérculo (Figura 9), o que além de prejudicar a aparência dos tubérculos
reduz o seu período de pós-colheita por facilitar a infecção por microrga-
nismos.
Para que a película fique bem aderida ao tubérculo o recomendado é
realizar a colheita aproximadamente cinco dias após a senescência total da
planta. É importante ainda ser observado por parte do produtor, a realiza-
ção de uma cura adequada dos tubérculos, ou seja, evitar realizar a colhei-
ta em condições de alta umidade do solo e em períodos de baixa tempera-
tura. Vale ressaltar ainda que este distúrbio é mais comumente observado
quando o produtor realiza o dessecamento por meio de produtos químicos
reduzindo o ciclo da cultura, assim os tubérculos provavelmente ainda es-
tarão fisiologicamente imaturos.
Um teste simples que pode ser realizado pelo produtor durante a
colheita é retirar amostras de tubérculos e esfrega-los entre os dedos
observando se há algum dano a camada superficial dos mesmos, se
caso houver o recomendado é esperar mais alguns dias para se efetuar
a colheita completa.

84
Anomalias fisiológicas da cultura da batata
José Usan Torres Brandão Filho • Osnil Alves Camargo Júnior

Figura 9: Tubérculos de batata com a anomalia fisiológica denominada batata mal encascada.
Fonte: Shimoyama.

Considerações Finais
A partir do exposto fica evidente a importância da compreensão, da
identificação e controle dos distúrbios fisiológicos que acometem a cultura
da batata. Grandes prejuízos podem ser evitados por meio de um sistema
de cultivo bem planejado, onde o produtor deverá estar sempre atento a
várias questões técnicas.
A grande maioria das anomalias citadas são afetadas pela água no solo,
assim o produtor deve estar sempre atento ao manejo de água no solo evi-
tando os extremos, períodos de excesso de umidade seguido de escassez. A
realização de adubações equilibradas conforme o estádio em que a cultura
se encontra e também de acordo com a análise química de amostras de solo
são de extrema relevância. Vários são os agrotóxicos recomendados para a
cultura, todavia, aplicações realizadas em períodos inadequados podem
ocasionar fitotoxicidade nos tubérculos.
Questões também relacionadas ao período da colheita e pós-colheita
necessitam ser observadas, entre algumas podemos destacar o manuseio
correto dos tubérculos durante a colheita onde os mesmos devem apre-
sentar uma maturidade fisiológica, com a pele bem aderida ao tubérculo.

85
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Cuidados ao colocar os tubérculos em caixas para que danos físicos sejam


evitados também é de extrema relevância. Durante a fase de pós-colheita
os tubérculos devem ser escovados e acondicionados em embalagens e em
ambientes propícios para sua conservação.
Buscando sempre acatar as recomendações técnicas é certo que o pro-
dutor e as industrias irão obter sucesso na obtenção de um produto final
diferenciado, alcançando cada vez mais consumidores desta hortaliça tão
importante à humanidade.

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86
DOENÇAS BACTERIANAS NA CULTURA
DA BATATA
Luis Otavio Saggion Beriam
Suzete Aparecida Lanza Destéfano
Eros Molina Occhiena

As fitobactérias representam um grupo de extrema importância entre


os principais fitopatógenos na cultura da batata. As principais doenças
bacterianas já relacionadas na literatura internacional são as seguintes: (a)
“podridão mole”, “canela preta”, ocasionadas por um grupo de bactérias
pectinolíticas, envolvendo principalmente os gêneros Pectobacterium e
Dickeya; (b) a “murcha bacteriana”, causada pela bactéria Ralstonia sola-
nacearum; (c) a “podridão anelar”, que tem como agente causal a bactéria
Clavibacter sepedonicum, (d) a “sarna bacteriana”, causada por diversas
espécies de Streptomyces spp.
É conveniente lembrar que a batata, por ser rica em carboidratos,
é utilizada rotineiramente em laboratórios de Fitopatologia e Micro-
biologia como constituinte básico de diversos meios de culturas e nada
mais lógico e esperado que seja atacada por um grande número de mi-
crorganismos.

87
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Em nosso país, já foram relacionadas as seguintes doenças de etiologia


bacteriana: as podridões moles, ocasionadas por pectobactérias, a murcha
bacteriana ou “murchadeira”, causada por R. solanacearum, a sarna bac-
teriana, causada por várias espécies de Streptomyces spp.
Há ainda na literatura nacional referências de outras espécies bacte-
rianas já descritas na cultura da batata – Bacillus polymixa, Pseudomonas
aeruginosa, P.fluorescens, P viridiflava, de importância secundária para
a cultura da batata e C. michiganensis subsp. sepedonicum, ainda con-
siderada Praga Quarentenária Ausente (PQA) (IN 45, de 22 de agosto
de 2018) (antiga “Praga Quarentenária A-1), ainda não relacionada em
nosso país.
Segundo Natalino Shimoyama (informação pessoal), no Brasil a prin-
cipal doença da batata no campo atualmente é a podridão bacteriana cau-
sada por várias bactérias pectinolíticas, em segundo lugar estão os proble-
mas causados por Ralstonia solanacearum – murchadeira e, por último,
mas não menos importante, a sarna, ocasionada por diversas espécies de
Streptomyces.

CANELA PRETA/TALO OCO


As bactérias causadoras de quadros de podridão mole, pertencen-
tes ao grupo das “Enterobacteriaceas causadoras de podridões mole”
(“SOFT ROT ENTEROBACTERIACEAE”), incluem: Pectobac-
terium atrosepticum (antiga Erwinia carotovora subsp. atroseptica),
P. carotovorum subsp. carotovorum (antiga E. carotovorum subsp. ca-
rotovorum), P. carotovorum subsp. brasiliensis (antiga E. carotovorum
subsp. brasiliensis), P. wasabie e várias espécies de Dickeya (antiga E.
chrysanthemi), incluindo D. dianthicola, D. dadantii, D. zeae e, mais
recentemente, D. solani. Essas bactérias são as responsáveis pelos qua-
dros de “podridão mole” e da “canela preta” na cultura da batata. Al-
guns autores ainda sugerem que P. carotovorum subsp. odoriferium e
P. betavasculorum também possam ocasionar podridão mole em batata
(CZAJKOWSKI et al., 2015). Esse grupo de bactérias está entre os
dez mais importantes patógenos bacterianos na agricultura, limitando
a produção e a qualidade de alimentos.

88
PARASITAS
Doenças bacterianas na cultura da batata
Luis O. S. Beriam • Suzete A. L. Destéfano • Eros M. Occhiena

Sintomatologia
Os sintomas são caracterizados por lesões úmidas e negras nas
hastes que se espalham a partir do tubérculo-mãe já apodrecido,
atingindo as hastes da batata, especialmente em condições de umi-
dade (Figura 1).

Figura 1. Sintomas de Pectobacterium carotovorum subsp. carotovorum em hastes.


Quando as condições são mais secas, os sintomas tendem a ser de na-
nismo, amarelecimento e murcha, com dissecação das hastes e folhas. Sob
condição de chuva persistente, podridões externas nas hastes iniciam-se
no topo e progridem para a base (Figura 2).

89
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Figura 2. Lesões de Pectobacterium carotovorum subsp. carotovorum a partir de hastes.


Quando os tubérculos começam a apodrecer no campo, antes da emer-
gência, podem ser visualizadas falhas no campo.
Nos tubérculos, as lesões iniciam-se pelas lenticelas, pelo estolão ou
por ferimentos, que ocorrem em ambientes úmidos. As lesões podem se
espalhar por todo o tubérculo e dali para tubérculos vizinhos, durante a
estocagem. Os tubérculos, quando atacados, passam a ter uma consistên-
cia cremosa e tornam-se negros na presença do ar e passam a exalar um
mau cheiro quando invadidos por organismos secundários. Cabe ressaltar
que os odores fétidos em batata não são causados pelas bactérias pectino-
líticas, mas sim pelos organismos secundários, que invadem os tecidos já
degradados e provocam o mau cheiro. Daí ser um erro tentar diagnosticar
as podridões moles pelo cheiro exalado no campo.
Em condições inadequadas de armazenamento, a podridão pode dis-
seminar-se para tubérculos vizinhos, através do liquido que percola dos
tubérculos apodrecidos (Figura 3).

90
PARASITAS
Doenças bacterianas na cultura da batata
Luis O. S. Beriam • Suzete A. L. Destéfano • Eros M. Occhiena

Figura 3. Podridões causadas por Pectobacterium carotovorum subsp. carotovorum du-


rante armazenamento e transporte.

Epidemiologia
As bactérias que causam podridão mole sobrevivem no solo por pou-
co tempo – uma semana a seis meses, na dependência das condições am-
bientais, temperatura do solo, umidade e pH. A sobrevivência da bactéria
pode ser mais longa quando associada com material da planta ou mesmo
com plantas voluntárias. A maior fonte de infecção da canela preta é a
infecção latente no tubérculo mãe (Figura 4). Quando tubérculo mãe apo-
drece, a bactéria é liberada no solo, sendo transmitida para os tubérculos
vizinhos via água contaminada.

91
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Figura 4. Sintomas de apodrecimento em tubérculos-mãe causados por Pectobacterium


carotovorum subsp. carotovorum.
No solo, a bactéria também pode colonizar as raízes da batata e em se-
guida ser veiculada via sistema radicular. Uma vez nas hastes, a bactéria
pode não expressar sintomas, mas sobrevive de forma sistêmica. A con-
taminação também pode ocorrer por via aérea. As bactérias causadoras
de podridão mole podem ser disseminadas por insetos, que podem levar
a bactéria a longas distâncias. As bactérias ainda podem sobreviver em
aerossóis. Águas da superfície, utilizadas na irrigação também podem
ser fontes de contaminação, além de ser fonte de novas variantes do pa-
tógeno. A contaminação ainda pode ocorrer durante a colheita ou mesmo
na classificação mecânica de tubérculos, que são quebrados e a bactéria é
disseminada por todo o lote. Um importante fator ambiental para o de-
senvolvimento da “canela preta” é o nível de água no solo. A presença de
um filme de água na superfície dos tubérculos cria uma condição da anae-
robiose, favorecendo a multiplicação bacteriana e o início do processo in-
feccioso. A anaerobiose afeta a resistência do hospedeiro, dependente do
oxigênio, permitindo a multiplicação bacteriana e a produção de enzimas
que degradam a parede celular, resultando em apodrecimento (FUQUA
et al., 2001, apud CZAJKOWSKI et al., 2011) (Figura 5).

92
PARASITAS
Doenças bacterianas na cultura da batata
Luis O. S. Beriam • Suzete A. L. Destéfano • Eros M. Occhiena

Figura 5. Podridão mole causada por Pectobacterium carotovorum subsp. carotovorum


em tubérculos de batata.
A capacidade de causar apodrecimento de tubérculos da P. carotovo-
rum subsp. carotovorum é muito rápida, causando grandes prejuízos em
condições de armazenamento e transporte do local de colheita e processa-
mento dos tubérculos até os pontos de comercialização. Quando uma pe-
quena porção de inóculo entra em contato com um tecido sadio, em menos
de 24 h observa-se a deterioração inicial dos tecidos e em 48h o tubérculo
está totalmente comprometido, desde que ocorram condições de umidade
e temperatura favoráveis ao desenvolvimento da bactéria (Figura 6).

11/05/2016 – 16:00 h 12/05/2016 – 10:00 h 13/05/2016 – 16:00 h


Figura 6. Danos de Pectobacterium carotovorum subsp. carotovorum em tubérculos de
batata com menos de 24 h e 48 h após uma pequena porção de tecido infectado entrar
em contato com um tecido sadio. Foto: E.M.Occhiena
Recentemente, foi detectada a presença de infecção mista em tubércu-
los de batata. Os sintomas mais conspícuos são aqueles de podridão mole,

93
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

com maceração de tecidos e presença de extensas áreas necrosadas, de co-


loração negra, visualizadas quando os tubérculos são seccionados trans-
versalmente. Esses mesmos tubérculos também mostraram a presença de
extensa exsudação bacteriana na região dos vasos (Figura 7). Nos isola-
mentos efetuados foram isoladas as bactérias Dickeya sp., agente causal
dos quadros de podridão mole e também Ralstonia solanacearum, agente
causal da “murcha bacteriana” da batata. Convém ressaltar que essa in-
fecção mista já havia sido relatada por CARVALHO & DIAS, 2010.

Figura 7. Presença de exsudação bacteriana nos vasos dos tubérculos, sintoma característico de infecção cau-
sada por Ralstonia solanacearum

Algumas estratégias de controle


O controle das bactérias pectinolíticas, em condições de campo, é mui-
to difícil pela complexidade dos agentes que atuam como disseminadores
da doença e deve-se pensar em um programa integrado de práticas para
minimizar os danos causados pelas pectobactérias.

94
PARASITAS
Doenças bacterianas na cultura da batata
Luis O. S. Beriam • Suzete A. L. Destéfano • Eros M. Occhiena

Cuidados durante o plantio, estabelecimento e desenvolvimento da


cultura, colheita e armazenamento são fundamentais para diminuir o po-
tencial de inóculo e evitar danos em hastes e tubérculos.
Práticas adequadas de pós-colheita e a utilização de batata semente sa-
dia, produzidas em ambientes livres da bactéria, devem ser consideradas
em um programa de manejo.
Os tratamentos de plantio para controle de insetos, entre eles a larva-
-alfinete (Diabrotica speciosa) e outras lagartas, associados a produtos que
promovam a redução dos danos por Rhizoctonia solani, contribuem para
diminuir as lesões em estólons e hastes não favorecendo a infecção pela
pectobactéria.
O manejo adequado da água de irrigação, com áreas bem drenadas e
uso de fungicidas e bactericidas durante o estabelecimento da cultura de-
vem ser considerados como prática de manejo, embora muitas vezes os
níveis de controle não sejam adequados pela interação de vários fatores
que interferem na propagação da pectobácteria.
Técnicas como vapor d´água, ar quente e radiação de tubérculos, po-
dem funcionar para pequenas áreas de plantio, mas tem valor duvidoso
quando considerado para grandes áreas.
No Brasil, vários ativos estão registrados para o controle de canela-pre-
ta da batata, mas com diferentes denominações no sistema AGROFIT do
Ministério da Agricultura, o que dificulta um pouco a consulta e o enten-
dimento que se referem ao mesmo agente, tais como, Erwinia carotovora,
Pectobacterium carotovorum, Pectobacterium carotovorum subsp. carotovo-
rum, Pectobacterium carotovorum subsp. carotovorum. Dentre os produtos
registrados encontram-se os ingredientes ativos, sulfato de cobre, oxiclo-
reto de cobre, óxido cuproso, hidróxido de cobre, casugamicina, cloreto
de benzalcônio, cimoxanil+famoxadona, famoxadona+manconzebe e
Melaleuca alternifolia (extrato de folhas).
Não existem produtos comerciais biológicos registrados no controle de
podridão mole e canela preta da batata assim como variedades resistentes
a P. carotovorum subsp. carotovorum.
Devem ser adotadas, na medida do possível, além das ações já men-
cionadas, a rotação de culturas com gramíneas, adubação equilibrada, a
destruição de materiais que funcionem como fonte de inóculo na área,
evitar atrasos na colheita não deixando restos de materiais contaminados

95
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

na área, com armazenamento dos tubérculos em condições adequadas de


temperatura e umidade.
As plantas com canela preta são as principais fontes de inóculo da cul-
tura. Desta forma, o controle da doença deve ser atingido por um sistema
da certificação. Os testes de indexação também devem incluir a casca, para
detectar infecções nas lenticelas ou mesmo em ferimentos. A utilização
de minitubérculos produzidos em ambientes livres da bactéria, através da
cultura aeropônica ou em condição de solo artificial é uma alternativa de
controle de tem dado bons resultados. O problema é que esse estoque,
inicialmente livre da bactéria, torna-se contaminado após do terceiro ano
no campo. O uso de campos bem drenados reduz o risco dos tubérculos
serem cobertos por um filme de água, que cria condições da anaerobiose,
com o consequente surgimento de tubérculos podres. Outro problema são
as colheitas tardias, que permitem a multiplicação da bactéria em folhas e
em restos de cultura. Isso pode resultar na contaminação dos tubérculos
da progênie durante as condições de clima úmido

MURCHADEIRA ou MURCHA BACTERIANA


Essa doença é causada pela bactéria Ralstonia solanacearum, assinalada
em nosso país desde o início do século passado. Trata-se de uma das fito-
bactérias mais estudadas em todo o mundo pela sua importância. É uma
espécie complexa, em virtude da variabilidade fenotípica e genotípica.
Possui um grande círculo de plantas hospedeiras, incluindo mais de 450
espécies, de 50 famílias botânicas diferentes, estando presente em todo o
mundo, nas regiões tropicais, subtropicais e temperadas. É uma das fito-
bactérias mais monitoradas no mundo, devido a sua letalidade, persistên-
cia e extrema distribuição geográfica.
O solo é a principal fonte de inóculo para o patógeno, podendo sobre-
viver nele por longos períodos de tempo – vários anos, quando as tempe-
raturas estão na faixa de 20 – 25oC, mesmo na ausência de plantas hos-
pedeiras (DENNY, 2006 apud SINGH et al., 2015). Em nosso país, já
foi assinalada em mais de 90 espécies vegetais. Para a cultura da batata,
o grande problema está relacionado com a produção da batata-semente.
Um único tubérculo infectado condena o campo para a produção de se-
mente (TABELA 1).

96
PARASITAS
Doenças bacterianas na cultura da batata
Luis O. S. Beriam • Suzete A. L. Destéfano • Eros M. Occhiena

Sintomatologia
Plantas infectadas mostram sintomas de murcha nas folhas e nos folío-
los nos períodos mais quentes do dia. Nos períodos iniciais da infecção,
as plantas podem recuperar a turgidez durante a noite ou mesmo nos pe-
ríodos mais frios durante o dia. Com o avanço da doença, além das folhas,
as hastes também passam a apresentar sintomas de murcha, que passa a
ser irreversível. Também é possível a ocorrência de infecção latente, sem
a presença de sintomas conspícuos. Isso ocorre em função da resistência
da cultivar, das condições climáticas e da virulência do isolado bacteriano.
Essa forma de infecção é uma das principais responsáveis pela dissemina-
ção da bactéria a longas distâncias, visto que o tubérculo contaminado não
apresenta sintomas.
Plantas originadas de batata-semente contaminada, via tubérculo
mãe, exibem os sintomas de murcha já na emergência das plantas. Nos
tubérculos, os sintomas são observados nos vasos vasculares, quando o
tubérculo é cortado transversalmente. É possível observar-se exsudação
bacteriana nos vasos dos tubérculos quando são levemente pressionados
com a mão (Figura 8).

Figura 8. Presença de pus bacteriano na região dos vasos

97
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Uma das maneiras de se fechar o diagnóstico da murcha bacteriana é


através do chamado “teste do copo” (Figura 9). A partir de hastes de plan-
tas suspeitas de infecção, são seccionados pequenos pedaços logo abaixo
da epiderme, onde estão localizados os vasos do xilema. Esses pedaços são
colocados em um recipiente com água, de tal forma que a região dos vasos
fique em contato com a água. Em poucos minutos pode-se observar a ex-
sudação de pus bacteriano, característico da infecção por R. solanacearum.
Além do “teste do copo”, uma outra alternativa para a rápida diagnose
é a chamada “câmara superúmida”, que consiste no seguinte: uma has-
te suspeita de infecção é seccionada transversalmente e colocada em um
recipiente com água. Na porção superior da haste, coloca-se um tubo de
ensaio emborcado.

Figura 9. “Teste do Copo” – notar a presença de pus bacteriano sendo exsudado pelos
vasos da planta
Quando a água começa a subir nas hastes, vias vasos do xilema, é pos-
sível observar pequenas gotículas de pus bacteriano emergindo dos vasos
do xilema, o que também permite fechar o diagnóstico (Figura 10). Nos
dois casos, os diagnósticos são presuntivos, permitindo afirmar que a in-
fecção é ocasionada por R. solanacearum, porém para que sejam conhe-
cidas e raça e o biovar envolvidos são necessários testes em hospedeiros
diferenciais para determinação da raça (Tabela 2) e ainda a condução de
alguns testes bioquímicos, com carboidratos e alguns álcoois, para a de-
terminação do biovar (Tabela 3). Em estágios mais avançados da infecção,
os feixes vasculares tornam-se enegrecidos. Nos estágios finais de infec-
ção, vários organismos secundários também invadem os tubérculos, in-
cluindo aquelas bactérias causadoras de podridões moles. Normalmente,

98
PARASITAS
Doenças bacterianas na cultura da batata
Luis O. S. Beriam • Suzete A. L. Destéfano • Eros M. Occhiena

na fase final de infecção ocorre exsudação bacteriana pelos “olhos” dos


tubérculos, o que acarreta aglutinação de solo nesses locais (Figura 11).
Essa aderência de solo nos tubérculos é um indicativo da presença de R.
solanacearum no tubérculo.

Figura 10. Câmara super úmida. Notar presença de exsudação bacteriana na haste

99
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Figura 11. Notar aglutinação de solo nos tubérculos nas áreas onde ocorre exsudação
bacteriana
Comparando os sintomas de murcha causados por R. solanacearum
com aqueles ocasionados por outras infecções bacterianas, a murcha de
R. solanacearum é rápida e não precedida por clorose, amarelecimento ou
necrose.
Os prejuízos de maior intensidade ocorrem nas áreas de baixio, onde
predominam condições de alta umidade. Os sintomas mais característicos
ocorrem no final da cultura e podem ser confundidos com a própria ma-
turação fisiológica. Os sintomas também são variáveis, na dependência

100
PARASITAS
Doenças bacterianas na cultura da batata
Luis O. S. Beriam • Suzete A. L. Destéfano • Eros M. Occhiena

do período em que a planta é infectada. Plantas infectadas no início da


cultura não produzem tubérculos; quando a infecção ocorre no meio do
ciclo da cultura, os tubérculos são pequenos e em menor número, quando
comparados às plantas sadias; se a infecção ocorre no fim da cultura, os
tubérculos são menores, mas mais numerosos.
Em plantas muito jovens, as hastes infectadas murcham e se decom-
põe, com podridão mole. Em alguns casos, esses sintomas podem ser
confundidos com aqueles ocasionados por bactérias pectinolíticas, o que
reforça a necessidade de se fechar o diagnóstico com exames laboratoriais,
incluindo o isolamento e a caracterização do agente causal. Também foi
descrita uma sintomatologia atípica nos tubérculos, com lesões arredon-
dadas e necróticas na epiderme. Abaixo da casca, é possível notar a pre-
sença de pequenas cavidades na polpa, com exsudação bacteriana (RO-
DRIGUES NETO et al., 1984).

Controle
O controle da murcha bacteriana é extremamente difícil por uma série
de fatores que incluem: (a) o grande número de plantas hospedeiras de R.
solanacearum; (b) plantas da vegetação espontânea ou mesmo ervas dani-
nhas que podem abrigar a bactéria sem que apresentem sintomas cons-
pícuos, permitindo que populações bacterianas mantenham-se elevadas
mesmo em períodos de entressafra; (c) a presença da bactéria em solos
nunca cultivados. Desta forma, o controle deve ser adotado dentro do cha-
mado “Manejo integrado de pragas”, que envolve basicamente:
a) Utilização de batata semente sadia;
b) Escolha de áreas de plantio que não tenham sido anteriormente cul-
tivadas com outras solanáceas ou mesmo com outras plantas que even-
tualmente possam ser hospedeiras de R. solanacearum;
c) Quando possível, rotacionar cultura com gramíneas;
d) Se disponível, utilizar cultivares de batata mais resistentes a murcha
bacteriana. O produtor deve procurar aquelas variedades/cultivares
indicadas pelos melhoristas quando o material for para o campo;
e) Evitar plantio durante o verão ou períodos com alta umidade e tem-
peratura, que favorecem a doença;
f) Evitar que haja contaminação através de água de irrigação oriundas
de campos vizinhos contaminados;

101
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

g) Sempre que possível, evitar o trânsito de máquinas, animais e pes-


soas em terrenos infectados. As bactérias são veiculadas aderidas aos
pneus ou botas de trabalhadores. É importante lembrar que o homem
é o principal agente disseminador de qualquer fitobactéria;
h) Plantas que apresentem sintomas de murcha devem ser imediata-
mente arrancadas e destruídas, evitando ou diminuindo a dissemina-
ção da bactéria no campo.

Há uma série de dificuldades para o controle da murcha bacteriana


causada por R. solanacearum, podendo ser citadas (1) não há medidas
preventivas para áreas já contaminadas; (2) os tratos culturais apresentam
resultados limitados, uma vez que a bactéria tem um grande número de
plantas hospedeiras, como plantas da vegetação espontânea que albergam
a bactéria, mas não expressam sintomas, além da bactéria sobreviver no
solo por um longo período de tempo; (3) a complexidade dos isolados bac-
terianos (raças, biovares, sequevares, etc), a interação entre bactéria/am-
biente/planta hospedeira, que dificulta os programas de melhoramento,
visando a procura de variedades com algum grau de resistência a R. sola-
nacearum; (4) o uso de antibióticos contra a bactéria é um outro desafio. A
bactéria coloniza os vasos do xilema e os antibióticos não mostram efeitos;
(5) alguns fumigantes podem mostrar efeitos contra a bactéria, mas são
deletérios ao homem, a animais e a insetos.
O controle biológico tem sido investigado, com alguns resultados po-
sitivos, com o uso de Bacillus amyloliquefaciens, Ralstonia pickettii e Pseu-
domonas mallei, porém métodos simples de aplicação desses microrganis-
mos, bem como a sobrevivência deles têm sido as barreiras para a aplica-
ção em larga escala.
Como os métodos convencionais de controle, principalmente o contro-
le químico e a rotação de culturas, não são efetivos no controle da “mur-
cha bacteriana”, há algumas alternativas práticas, seguras e efetivas para o
controle da murcha bacteriana. Entre esses métodos podem ser citados a
solarização , a aplicação de matéria orgânica e a chamada “Biological Soil
Disinfestation (BSD). Na BSD, as condições de anaerobiose do solo são in-
duzidas pelo aumento da respiração microbiana, através da incorporação de
matéria orgânica, com a consequente redução da quantidade de oxigênio
no solo. Nestas condições, muitos patógenos de solo, incluindo Fusarium

102
PARASITAS
Doenças bacterianas na cultura da batata
Luis O. S. Beriam • Suzete A. L. Destéfano • Eros M. Occhiena

oxysporum, Meloidogyne spp, Rhizoctonia solani, entre outros, têm suas


populações fortemente reduzidas ou mesmo eliminadas em campos onde
esses experimentos foram conduzidos nos últimos dez anos (MESSIHA et
al.,2007).
Quando se usa a solarização do solo, há um efeito significativo na asso-
ciação da solarização com a adição de cama de frango, em áreas infestadas
no Rio Grande do Sul. A adição de resíduos orgânicos de origem animal
ou vegetal no solo também pode ser utilizada em conjunto com a solariza-
ção. A decomposição de compostos orgânicos, ricos em nitrogênio, libera
amônia e ácido nitroso no solo, que são tóxicos aos fitopatógenos. Um re-
sumo das alternativas de controle pode ser visualizado na Tabela 4.

ZEBRA CHIP
Há uma nova doença descrita na cultura da batata, denominada “Ze-
bra Chip, ocasionada por uma bactéria que coloniza dos vasos do floema,
denominada Candidatus Liberibacter solanacearum, que tem ocasiona-
do prejuízos de alguns milhões de dólares nos países/regiões onde já foi
detectada, incluindo México, Estados Unidos, alguns países da América
Central, Nova Zelândia e, mais recentemente, no Canadá. Todas as culti-
vares comerciais de batata são suscetíveis. Trata-se de bactéria veiculada
por insetos vetores, psilídeos, a exemplo do que ocorre com o Huanglon-
ging em citrus no Brasil, ocasionado por Candidatus Liberibacter ameri-
canus e asiaticus, e, para o Zebra Chip, o controle desses insetos vetores
parece ser até o momento a principal e única tática para manejar a doen-
ça. Essa doença teve importância esporádica até 2004, quando começou
a causar perdas de milhões de dólares nas Américas, o que provocou o
abandono de muitos campos cultivados.
Essas bactérias são Gram negativas, limitadas aos vasos do floema, não
cultiváveis em meios de cultura, pertencentes ao grupo Alfaproteobac-
téria, sendo disseminadas de planta para plantas por insetos vetores, os
psilídeos, sendo também propagadas por enxertia. Liberibacter solana-
cearum já foi descrita em várias solanáceas, incluindo, além da batata, o
tomate, o pimentão, a berinjela, Physalis spp, Solanum betaceum, além de
várias plantas daninhas pertencentes às solanáceas, também tendo sido
detectada em cenoura.

103
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

A ocorrência em cenoura abre a possibilidade de que Liberibacter sola-


naceraum esteja presente em plantas de outras famílias botânicas e ainda
possa ter outros insetos vetores potencialmente transmissores da doença,
até então não relacionados na literatura.

Sintomas
Os sintomas estão caracterizados por um padrão severo de listras claras e
escuras nos tubérculos (crus ou fritos) (Figura 12), afetando o sabor da batata
e tornando o produto inviável para o consumo. Causa ainda podridão inter-
mitente, manchas necróticas, estrias, cloroses, encurtamento e alongamento
dos entrenós e má formação dos frutos. Os sintomas foliares lembram aqueles
ocasionados pelos danos causados por psilídeos, denominados “Yellow Di-
sease”, incluindo enrolamento das folhas superiores, com descoloração ama-
rela ou arroxeada, proliferação de gemas axilares, tubérculos aéreos, clorose
foliar, podendo levar a morte rápida das plantas. Os sintomas do Zebra Chip
também lembram aqueles ocasionados por fitoplasmas, com plantas anãs,
cloróticas, com folhas enroladas e internódios curtos e grossos, frutos nume-
rosos, pequenos, malformados e de má qualidade (Figura 13).

Figura 12. Sintomas nos tubérculos e em batatas fritas (Foto J. Munyaneza, USDA)
A transmissão se dá por insetos sugadores (Bactericera cockerelli, B.
trigonica, B. tremblay, B. nigricornis e Trioza apicalis). Até o presente, es-
sas espécies de psilídeos não foram detectadas no Brasil. O Ministério da
Agricultura e Abastecimento – MAPA considera essa doença como “Pra-
ga Quarentenária Ausente – PQA” e desta forma medidas devem ser to-
madas visando impedir a entrada desse patógeno no nosso país.

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PARASITAS
Doenças bacterianas na cultura da batata
Luis O. S. Beriam • Suzete A. L. Destéfano • Eros M. Occhiena

Figura 13. Sintomas foliares do Zebra Chip, mostrando semelhanças com danos causados
por psilídeos ou então sintomas ocasionados por fitoplasmas
O MAPA tem autorizado a importação de tubérculos da batata do Ca-
nadá, para fins de consumo. Como até o momento os insetos vetores não
foram detectados no Brasil, a detecção da praga no Canadá não significa
aumento de risco para o Brasil

SARNA DA BATATA
A sarna da batata pode ser causada por diferentes espécies do gênero
Streptomyces. Essas espécies apresentam diferenças na morfologia, fisio-
logia e características moleculares e vem sendo encontradas em diferen-
tes países. A principal espécie causadora da sarna comum e amplamente
distribuída no mundo é Streptomyces scabiei, encontrada em solos secos,
neutros a alcalinos (LAMBERT; LORIA, 1989a). Outras espécies tam-
bém já foram descritas causando sintomas de sarna como S. acidiscabies
causadora da sarna em solos ácidos, com pH abaixo de 5,2 no Canadá
(LAMBERT; LORIA, 1989b); S. caviscabies/S. setonii (syn. S. griseus)
causadoras de lesões profundas (deep-pitted scab) (GOYER; FAUCHER;
BEAULIEU, 1996; LIU et al., 2005; MILLARD; BURR, 1926); S. tur-
gidiscabies, descrita no Japão como causadora de lesões erumpentes (MI-
YAJIMA et al., 1998); S. europaeiscabiei e S. stelliscabiei, consideradas
duas genomoespécies dentro da espécie S. scabiei (BOUCHEK-MECHI-
CHE et al., 2000); e S. luridiscabiei, S. puniciscabiei e S. niveiscabiei, cau-
sando lesões erumpentes em solos ácidos na Coréia (PARK et al., 2003).
Ainda, foram relatadas duas novas linhagens na América do Norte, de-
nominadas Streptomyces sp. IdahoX e Streptomyces sp. DS3024 (HAO et
al., 2009; WANNER, 2007). São citadas, ainda, as espécies S. reticulis-

105
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

cabiei, descrita na França como responsável pela sarna reticulada (netted


scab) (BOUCHEK-MECHICHE et al., 2000), S. aureofaciens e S. griseus
causadoras da sarna avermelhada (FAUCHER et al., 1993), S. sampsonii,
considerada saprófita, mas que já foi isolada de lesões de sarna (LAM-
BERT; LORIA, 1989a) e S. ipomoeae causadora da sarna em batata-doce
(LABEDA; LYONS, 1992; PERSON; MARTIN, 1940; WAKSMAN;
HENRICI, 1948). Recentemente, estudos efetuados com materiais pro-
venientes de diferentes regiões produtoras de batata no Brasil confirmaram
a presença de S. scabiei, S. caviscabies, S. europaeiscabiei e S. sampsonii no
território nacional, mas também revelaram a ocorrência de novas espécies
de Streptomyces, ainda não descritas na literatura (CORRÊA, 2015).
Sintomatologia
A primeira espécie descrita como causadora da sarna foi S. scabiei (sin.
S. scabies), presente em todas as regiões produtoras do mundo, principal-
mente em solos secos de neutros a alcalinos. É considerada a espécie patogê-
nica dominante (LAMBERT; LORIA, 1989a). As lesões são tipicamente
arredondadas, mas podem coalescer cobrindo porções significantes do tu-
bérculo. Podem ser mais elevadas, ter pontos aprofundados no centro ou
serem superficiais (CULLEN; LEES, 2007) (Figura 14). A profundidade
da lesão está associada à virulência do patógeno, lesões elevadas e profundas
caracterizam maior virulência do patógeno (LORIA et al., 1997). Apresen-
tam uma textura áspera e corticosa e variam em profundidade e coloração,
de pardo-clara a pardo-escura (LORIA et al., 1997). Os sintomas causados
por S. europaeiscabiei são muito semelhantes aos causados por S. scabiei e
isso se deve ao fato de que essas duas espécies bacterianas possuem carac-
terísticas genéticas muito próximas, podendo ser diferenciadas por algumas
características bioquímicas (BOUCHEK-MECHICHE et al., 2000).

Figura 14. Diferentes tipos de lesões de sarna em tubérculos de batata causados por Strep-
tomyces spp.

106
PARASITAS
Doenças bacterianas na cultura da batata
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Os sintomas causados por S. acidiscabies são semelhantes aos causados


por S. scabiei, enquanto que os causados por S. caviscabies são caracte-
rizados como “sarna profunda”, com lesões mais escuras que chegam a
atingir cerca de um centímetro de profundidade (GOYER; FAUCHER;
BEAULIEU, 1996; LIU et al., 2005).
No caso de infecções com S. turgidiscabies, os sintomas são do tipo
erumpente, e assemelham-se à sarna comum, produzindo um tipo de hi-
pertrofia dos tecidos, de modo a formar erupções (elevações) na superfície
dos tubérculos infectados (MIYAJIMA et al., 1998). Há também sinto-
mas causados por S. reticuliscabiei, que se caracterizam por lesões escu-
ras, superficiais e com aspecto de rede (reticulado); e S. stelliscabiei com
sintomas de sarna em forma de estrela (BOUCHEK-MECHICHE et al.,
2000). S. luridiscabiei, S. puniciscabiei e S. niveiscabiei, espécies ainda não
descritas no Brasil, induzem sintomas de lesões erumpentes em batata
cultivada em solos ácidos (PARK et al., 2003).

Epidemiologia
Os esporos de Streptomyces (Figura 15) normalmente são dissemina-
dos pela água de chuva, vento, vetore s, ou ainda, por tubérculos conta-
minados que podem, inclusive, propiciar a introdução de outras espécies
de Streptomyces em novas áreas (WILSON; RANSON, PEMBERTON,
1999). Esses patógenos podem sobreviver em solos por muito tempo su-
portando calor e seca devido à presença de um envoltório externo e parede
espessa de seus esporos (MAYFIELD et al., 1972).

Figura 15. Streptomyces scabiei (A) Esporos; (B) Micromorfologia de hifas espiraladas.

107
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

A penetração do agente causal se dá através de estruturas como estôma-


tos, lenticelas, ou por ferimentos (AGRIOS, 1997). O início da tuberização
é o período de maior suscetibilidade do tubérculo, pois as lenticelas jovens
ainda não estão completamente suberizadas. Após a entrada, o patógeno co-
loniza primeiramente os espaços intercelulares e logo após os intracelulares
(ADAMS; LAPWOOD, 1978), crescendo entre as camadas da periderme,
nutrindo-se de tecido morto (AGRIOS, 1997). Nesta etapa, ocorre a pro-
dução de fitotoxinas, como a taxtomina, que induzem a produção de sube-
rina nas células adjacentes levando à formação de uma camada corticosa ao
redor do tecido infectado. O crescimento desta camada força a periderme
infectada para o exterior tornando a superfície áspera e suberificada (sinto-
mas da sarna) (BABCOCK; ECKWALL; SCHOTTEL, 1993).

Controle
A sarna da batata é uma doença complexa, o que torna seu controle muito
difícil. Vários fatores podem influenciar diretamente o desenvolvimento da
doença como a presença e quantidade do patógeno no solo, cultivar de batata
plantada e condições ambientais de umidade, pH e temperatura do solo.
Desta forma, diferentes estratégias de manejo são sugeridas com o
objetivo de diminuir a incidência da doença: uso de cultivares resisten-
tes, batata semente certificada (WILSON; RANSON; PEMBERTON,
1999; FISCHER et al., 2005), rotação de culturas (WIGGINS; KIN-
KEL, 2005; JADOSKI et al., 2009), irrigação controlada (LAPWOOD;
HERING, 1970; LEWIS, 1971), nutrição das plantas, mudança no pH
do solo (WHARTON et al., 2011), uso de produtos químicos (SINGH;
SONI, 1987; ZAMBOLIM et al., 2011) e biológicos (GOUWS; WEH-
NER, 2004; WANNER, 2007; WANNER et al., 2013), entre outros.
Dentre as cultivares plantadas no Brasil, Ágata, Asterix e Atlantic re-
presentam em torno de 60%, 15% e 3% da produção brasileira, respectiva-
mente, embora sejam consideradas suscetíveis à sarna comum de acordo
com estudos de avaliação da severidade e observações nos campos de pro-
dução (IMARK, 2007; GARCIA, 2008; FISCHER et al., 2009; HAY-
NES et al., 2010; NAVARRO et al, 2012; ALPISTE, 2018). Da mesma
forma, esta suscetibilidade também tem sido relatada para as cultivares
Caesar, Cupido, Markies e Monalisa (ANDREATTA, 2002; GARCIA,

108
PARASITAS
Doenças bacterianas na cultura da batata
Luis O. S. Beriam • Suzete A. L. Destéfano • Eros M. Occhiena

2008; FISCHER et al., 2009; CORRÊA, 2011; MARGOSSIAN SE-


MENTES, 2016; ALPISTE, 2018).
A utilização de batata semente certificada constitui-se numa estratégia
importante para garantir a sanidade do material vegetal. Esta medida visa
garantir que a batata semente seja inspecionada e avaliada de acordo com as
normas de certificação estabelecidas do Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (MAPA) (ZAMBOLIM et al., 2009; LOPES, 2011).
Com relação à rotação de culturas, especial atenção deve ser dada a
faixa de plantas hospedeiras de Streptomyces, pois já foram relatados ca-
sos da ocorrência deste patógeno em beterraba, rabanete, cenoura, nabo,
repolho, salsa, batata-doce, berinjela e cebola (RODRIGUES NETO;
DESTÉFANO; SHIMOYAMA, 2008).
Dados de literatura referentes à manipulação do pH mostraram que o
crescimento de Streptomyces scabiei diminui significativamente em solos
com pH entre 5,0 – 5,2 (LORIA et al., 1997); entretanto, cabe ressaltar
que esta estratégia não será eficiente se o solo já estiver contaminado com
S. acidiscabies ou S. turgidiscabies, espécies tolerantes a valores baixos de
pH (LINDHOLM et al., 1997). Recentemente, Marques (2019) verifi-
cou que os tratamentos em pH 4,5 foram os que apresentaram as meno-
res notas de incidência da doença para diferentes espécies de Streptomyces
testadas, sendo exceção S. acidiscabies.
No caso da alternativa referente ao sistema de irrigação, os resultados são
muito contraditórios. De acordo com Lewis (1971), uma maior umidade do
solo pode propiciar o aumento da taxa de crescimento de microrganismos an-
tagonistas, e esses têm a capacidade de locomoção mais rápida pelas películas
de água do solo que as espécies fitopatogênicas de Streptomyces, colonizan-
do primeiro as lenticelas e competindo com o patógeno. Alguns estudos su-
gerem que o tratamento com menos água durante o período de tuberização
pode levar ao aumento da incidência doença (WILSON; PEMBERTON;
RANSOM, 2001), porém, há relatos do aumento de 10 a 50% de incidência
da doença em condições de alta umidade (LARKIN et al., 2011).
Com relação ao controle químico, resultados positivos foram descritos
com o tratamento químico de tubérculos-semente com fungicidas como
Fluazinam, Flusulfamida (doses elevadas), Fenipiclonil, Pentacloronitro-
benzeno e Mancozeb, porém o emprego desses produtos no tratamento
do solo no momento do plantio não resultou em redução da incidência

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BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

da doença (PUNG; CROSS, 2000; WILSON; PEMBERTON; RAN-


SOM, 1999; LEYVA-MIR et al., 2014; APPY, 2018).
Até o momento, não há disponível no mercado um produto químico
com eficácia comprovada no controle da sarna.
Alguns microrganismos têm sido citados como agentes de biocontro-
le da sarna da batata. Linhagens de Streptomyces não patogênicas (LIU et
al., 1995; NEENO-ECKWALL et al., 2001; SCHOTTEL et al., 2001;
DOUMBOU et al, 2001; BEAUSE´JOUR et al., 2003; RYAN et al., 2004;
ZADEH et al., 2006; HILTUNEN et al., 2011); fungos do gênero Tri-
choderma (LOBO JÚNIOR et al., 2009; TAVARES, 2009; JOSHI et al.,
2010). Dentre o gênero, os mais utilizados para o controle biológico são: T.
harzianum, T. virens e T. viride (HERMOSA et al., 2000; SILVA e MEL-
LO, 2007). Linhagens de Bacillus sp. também já foram descritas para o con-
trole da doença (HAN et al., 2005), assim como Bacillus amyloliquefaciens
BAC03 (MENG et al., 2013) e Bacillus subtilis (CAMPARONI, 2015).

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BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

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118
PARASITAS
Doenças bacterianas na cultura da batata
Luis O. S. Beriam • Suzete A. L. Destéfano • Eros M. Occhiena

Tabela 1 – Níveis de tolerância em porcentagem de tubérculos atacados para pragas não


quarentenárias regulamentadas, danos e mistura na batata semente a ser produzida, im-
portada e comercializada no país*
TOLERÂNCIA
PRAGAS, DANOS E MISTURA
CLASSES/CATEGORIAS
básica registrada certificada
A.Viroses
 PVX 2,0 3,0 5,0
 PVY 3,0 6,0 8,0
 PLRV 2,0 5,0 6,0
Limite 4,0 8,0 12,0
B. Rhizoctonia solani, sarna comum e prateada
  Rhizoctonia solani
Tubérculos acima de 1/8 da superfície atacada 2,0 3,0 5,0
Tubérculos abaixo de 1/8 da superfície atacada 3,0 6,0 8,0
Tubérculos com até 1/16 da superfície atacada 2,0 5,0 6,0
  Streptomyces spp.
Tubérculos acima de 1/8 da superfície atacada 2,0 3,0 5,0
Tubérculos abaixo de 1/8 da superfície atacada 20,0 20,0 20,0
Tubérculos com até 1/16 da superfície atacada 30,0 30,0 30,0
  Helminthosporium solani
Tubérculos acima de 1/8 da superfície atacada 2,0 3,0 5,0
Tubérculos abaixo de 1/8 da superfície atacada 20,0 20,0 20,0
Tubérculos com até 1/16 da superfície atacada 30,0 30,0 30,0
C. Outras pragas
Ralstonia solanacearum 0,0 0,0 0,0
Erwinia sp. 1,0 1,0 2,0
D.Danos causados por insetos
  Traça (Phthorimaea operculella) 2,0 3,0 5,0
  Outros insetos 5,0 7,0 10,0
Limite 5,0 7,0 10,0
*Adaptado da Instrução Normativa n. 32, de 20de novembro de 2012 – ANEXO 1

Tabela 2 – Raças de Ralstonia solanacearum


RAÇAS HOSPEDEIROS
1 Solanáceas a algumas bananeiras diploides
2 Bananeiras e helicônias
3 Batata e tomate
4 Gengibre
5 Amoreira

119
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Tabela 3 – Biovares de Ralstonia solanacearum


BIOVARES
UTILIZAÇÃO DE 1 2 3 4 5
Maltose - + + - +
Lactose - + + - +
Celobiose - + + - +
Manitol - - + + +
Sorbitol - - + + -
Dulcitol - - + + -

Tabela 4 – Sucessos e limitações das diferentes práticas de manejo para o controle da


murcha bacteriana*.
TIPO DE MANEJO SUCESSO LIMITAÇÕES
Medidas preventivas
 Quarentena
  Práticas fitossanitárias Apresenta resultado quando o Não aplicável em local já
  Sementes certificadas patógeno não está presente contaminado
  Desinfecção de equipamentos
  Uso controlado de irrigação

Medidas Culturais Patógeno capaz de


sobreviver no solo por
Sucesso limitado longo tempo. Pode estar
presente em outras plantas
hospedeiras ou mesmo
  Variedades resistentes Tem sido reportado como o em plantas da vegetação
mais efetivo e prático método espontânea
de controle da murcha
As complexas interações entre
patógeno/planta/ambiente
dificultam a obtenção
de cultivares resistentes.
Ralstonia solanacearum
é uma espécie complexa e
  Aplicação de alterações heterogênea, com um larrgo
 Orgânicas Reportado para reduzir a círculo de hospedeiras. A
doença alta variabilidade em suas
propriedades bioquímicas,
Medidas culturais serológicas, dificultando o
melhoramento para resistência
  Desinfecção de equipamentos
  Controle na irrigação Sem limitações observadas
  Rotação de culturas Sucesso limitado
Patógeno capaz de
sobreviver no solo por longos
períodos ou mesmo em
hospedeiros assintomáticos

120
PARASITAS
Doenças bacterianas na cultura da batata
Luis O. S. Beriam • Suzete A. L. Destéfano • Eros M. Occhiena

Controle químico É controlar a bactéria com


 Fumigantes produtos químicos

Chloropicrin foi a formulação Os fumigantes apresentam


que proporcionou efeito altos riscos à saúde.
controle, quando comparado A exposição crônica a
com outros produtos Chloropicrin pode causar
 Antibióticos câncer. Proibido em alguns
países pelo risco para
aplicados, pássaros e abelhas
  Água sanitária Sem sucesso quando aplicado
em campo ou em casa-de- Baixa supressão
vegetação

Reduz população bacteriana Hipoclorito de sódio (4-6%)


e severidade da doença em pode produzir irritação
pequena escala na pele e no olho ou
queimaduras gástricas. Pode
inativar matéria orgânica e
liver gás cloro tóxico quando
mistura com amônia ou em
meio ácido
*Dados baseados em KARIM & HOSSAIN,2018

121
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

122
DOENÇAS FÚNGICAS DA BATATA
Jesus G. Töfoli
Ricardo J. Domingues
APTA – Instituto Biológico – Centro Pesquisa de Sanidade Vegetal

Requeima – Phytophthora infestans

Introdução
A requeima representa uma das mais importantes e severas doenças
da cultura da batata. Afeta drasticamente folhas, pecíolos, caules e tubér-
culos, podendo causar sérios prejuízos quando interagem fatores como
cultivares suscetíveis, condições climáticas favoráveis e falhas no controle.
Considerada uma doença de importância histórica a requeima foi a res-
ponsável por causar a Grande Fome da Irlanda (1845-1849) que causou a
morte e a imigração de um grande contingente de pessoas para a América.
Apesar de todos os avanços obtidos no ultimo século para o manejo da
requeima, a doença continua sendo considerada uma grande ameaça para
a segurança alimentar, visto a grande importância sócio-econômica da ba-
tata na produção agrícola mundial.

123
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Etiologia
Phytophthora infestans (Mont.) de Bary pertence ao Domínio Eukaryo-
ta, Reino Stramenopila, Filo Oomycota, Classe Oomycetes, Ordem Pero-
nosporales e Família Peronosporaceae. Apresenta características morfo-
lógicas semelhante aos fungos, porém está mais relacionada a organismos
aquáticos, como as algas marrons e as diatomáceas. Trata-se um microor-
ganismo diplóide para a maior parte do seu ciclo de vida, além de isento
de pigmentos fotossintéticos. A parede celular é constituída por celulose e
outras glucanas, enquanto que a dos fungos verdadeiros é composta prin-
cipalmente por quitina. Outra característica marcante do gênero Phyto-
phthora é não possuírem capacidade de sintetizar o próprio esterol e tia-
mina, sendo esses obtidos diretamente na planta hospedeira ou ambiente.
P. infestans apresenta crescimento micelial característico, porém não
apresenta a formação de septos (micélio cenocítico). Os esporângios são
hialinos, globosos, papilados e possuem dimensões que variam de 21 a 38
X 12 a 23 mm). Os esporangióforos são desenvolvidos, com ramificação
simpodial, e emergem através dos estômatos. Em condições especificas de
temperatura de umidade no interior dos esporângios formam-se os zoós-
poros (esporos móveis) com dois flagelos que os tornam capazes de nadar
indicando uma ancestralidade aquática.
O sequenciamento do genoma do P. infestans evidenciou a presença
de numerosos elementos transposons e regiões hipervariáveis. Tal fato,
explica a nível genético as grandes variações de fenótipo, agressividade e
capacidade de adaptação apresentadas por esse oomiceto.
P. infestans pode se reproduzir de forma assexuada e sexuada. As estru-
turas assexuadas de propagação são os esporângios e zoósporos. Em geral,
nos locais onde ocorre apenas um grupo de compatibilidade, a população
é constituída por uma ou poucas linhagens de indivíduos geneticamente
semelhantes a um ancestral comum. A reprodução sexual, por sua vez,
pode ocorrer de duas formas, com linhagens homotálicas (auto-férteis)
ou com linhagens heterotálicas. As homotálicas são capazes de produzir
oósporos nos tecidos do hospedeiro ou em meio de cultura através de um
mecanismo de auto-fertilidade. Nas espécies heterotálicas os indivíduos
são classificados em dois tipos de compatibilidade A1 e A2. Esse tipo de
reprodução ocorre quando os dois grupos coexistem na mesma área, na

124
Doenças fúngicas da batata
Jesues G. Töfoli • Ricardo J. Domingues

mesma planta ou na mesma lesão, e ocorre a troca de material genético.


Inicialmente, os grupos A1 e A2 só podiam ser encontrados no Vale de To-
luca, no México. Nas demais áreas, predominavam indivíduos do grupo
A1 e a reprodução assexuada. No entanto, a partir do ano de 1986 indiví-
duos do grupo A2 passaram a ser observados em vários países, inclusive
no Brasil. Como resultado da reprodução sexuada (homotálica ou hetero-
tálica) são formados os oósporos, esporos de parede espessa, adaptados a
resistir a condições adversas do ambiente. Esses são formados em maior
número em caules do que em folhas, provavelmente pelo fato desses so-
breviverem por mais tempo no campo. Os oósporos são liberados no solo
após a decomposição completa das plantas afetadas, e atuam como fonte
de inóculo inicial para futuros ciclos da doença. A presença da reprodução
sexuada de P. infestans, em maior escala, contribuiu para o aumento da
variabilidade genética, surgimento de linhagens mais agressivas e menos
sensíveis a fungicidas.
Quanto à população brasileira de P. infestans, inicialmente sabia-se
que o grupo A1 era associado predominantemente ao tomateiro e o grupo
A2 à batata, não havendo evidências da ocorrência da reprodução sexuada
no país. Estudos mais recentes têm mostrado a ocorrência de isolados au-
to-férteis e a presença simultânea dos grupos A1 e A2 na mesma área de
cultivo, porém sem evidencias claras de reprodução sexuada heterotálica.

Sintomas
Nas folhas, os primeiros sintomas são caracterizados por manchas de
tamanho variável, coloração verde-clara ou escura e aspecto úmido. Ao
evoluírem essas se tornam pardo-escuras a negras, necróticas e irregula-
res, podendo ou não apresentar halo clorótico. Na face inferior das lesões
observa-se um crescimento branco-acinzentado, de aspecto aveludado,
localizado principalmente ao redor das lesões, nos limites entre o tecido
sadio e o necrótico (anel de esporulação). Esse é composto por esporângios
e esporangióforos do patógeno e forma-se, especialmente, em condições
de alta umidade e temperaturas que variam de 12 a 18°C. À medida que
as lesões coalescem, o tecido foliar escurece e exibe um aspecto de queima
generalizada. Nos ponteiros, a doença causa a morte das gemas apicais
e brotos paralisando o crescimento das plantas. Nos caules e pecíolos as

125
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

lesões são pardo-escuras a negras, alongadas, aneladas, e quando muito


severas, podem causar a quebra desses órgãos ou a morte das áreas pos-
teriores ao ponto de infecção. Nos frutos, quando presentes, a doença é
caracterizada por manchas irregulares, deformadas, profundas, de colora-
ção marrom-escura. Nos tubérculos, as lesões são castanhas, superficiais,
irregulares e com bordos definidos. No interior dos mesmos, a necrose
geralmente é assimétrica, de coloração castanho-avermelhada, aparência
granular e mesclada. Os sintomas em tubérculos são mais frequentes em
regiões sujeitas à ocorrência simultânea de baixas temperaturas e alta umi-
dade no solo durante as fases de formação e crescimento de tubérculos.

Ciclo da doença
Na reprodução assexuada os esporângios germinam diretamente quan-
do as temperaturas variam de 18 e 24°C, ou podem produzir zoósporos
biflagelados quando essas se encontram na faixa de 12 a 17°C. Nessas
condições, cada esporângio origina em média 8 zoósporos, o que aumenta
de forma significativa a quantidade de inóculo e consequentemente a se-
veridade e potencial destrutivo da doença.
Na reprodução sexuada ocorre a formação de gametângios masculino
(anterídio) e feminino (oogônio). A meiose ocorre tanto no gametângio
masculino quanto feminino. Um tubo de fertilização se desenvolve entre o
anterídio e o oogônio, sendo transmitido um único núcleo haplóide para o
gametângio feminino, ocorrendo a fusão e a formação de um único oósporo.
Depois de liberados no solo e sob condições climáticas favoráveis, os oós-
poros podem germinar originando esporângios que ao entrarem em contato
com plantas de batata suscetíveis iniciam um novo ciclo da doença.
Quanto à umidade a doença é favorecida por períodos molhamen-
to foliar superiores a 12 horas e ambientes de névoa e chuva fina. Em
algumas situações a altitude associada à presença de orvalho e a queda
da temperatura noturna são suficientes para epidemias importantes da
doença. Após o inicio do processo infeccioso a colonização dos tecidos
é extremamente rápida, podendo o período de incubação variar de 48
a 72 horas. A penetração do pró-micélio resultante da germinação dos
esporângios ou dos zoósporos encistados, é direta no tecido vegetal, com
a formação de apressórios.

126
Doenças fúngicas da batata
Jesues G. Töfoli • Ricardo J. Domingues

A disseminação da requeima ocorre principalmente através de batata-


-semente infectada, ação de ventos, dispersão de gotas de água de orvalho,
chuva ou irrigação, circulação de pessoas e maquinários etc.
Além da batata, P. infestans pode afetar as culturas do tomate (Solanum
lycopersicum L.), pimentão (Capsicum annuum L.), berinjela (Solanum me-
longena L.), petúnia (Petunia hybrida) e plantas invasoras como: figuei-
ra do inferno (Datura stramonium L.), picão branco (Galinsoga parvifora
Cav), corda de viola (Ipomea purpurea L.), falso joá de capote (Nicandra
physaloides L.) Gaertn, joá de capote (Physalis angulata L.), maria-preti-
nha (Solanum americanum L.), maravilha (Mirabilis jalapa L.) e Nicotiana
benthamiana Domin.

Manejo
O manejo da requeima deve ser baseado em medidas integradas de
controle como:
• Realizar o plantio de batata-semente sadia. A medida permite atrasar
possíveis epidemias no campo e reduz a possibilidade de introdução
novas linhagens.
• Evitar plantios em áreas sujeitas ao acúmulo de umidade, circulação
limitada de ar e próximos a reservas de água. Esses locais apresentam
lenta dissipação da umidade, o que favorece o desenvolvimento da
requeima. O plantio deve ser realizado preferencialmente em áreas
planas, ventiladas e distantes de lavouras em final de ciclo.
• Plantio de cultivares com algum nível de resistência.
Quanto à resistência a requeima as cultivares disponíveis no país po-
dem ser classificadas em:
 Resistentes: Ibituaçú, Itararé, Araucária, Cristal, Pérola, Catucha,
BRS Clara, IAPAR Cristina, Monte Alegre 172, SCS 365 – Cota,
UPFSZ Atlantucha.
  Moderadamente resistentes: Crebella, Apuã, Aracy e Aracy Rui-
va, Cristina, Cristal, Naturella, Panda.
 Moderadamente suscetíveis: Baraka, Baronesa, BRS Ana, BRS
Eliza, Caesar, Catucha, Emeraude, Florice, Itararé, Innovator, Mar-
kies, Marlen, Melody, Soléia, Caesar, Oceania, Voyager, Éden, Colo-
rado, Novella, e BRSIPR Bel.

127
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

 Suscetíveis: Ágata, Almera, Arrow, Armada, Artemis, Asterix,


Atlantic, Amorosa, Bailla, Bintje, Canelle, Chipie, Contenda, Cupi-
do, Delta, Elodie, Eole, Fontane, Gourmandine, Gredine, Isabel,
Monalisa, Maranca, Mondial, Omega, Opilane, El Paso, e Sinora.

A suscetibilidade das cultivares pode variar em função das condições


climáticas locais, linhagens do patógeno existente na área, pressão de
doença, época de plantio, espaçamento adotado, nutrição das plantas, etc.
• Impedir o plantio sucessivo de batata e de outras solanáceas na mes-
ma área.
• Evitar plantios adensados. Estes favorecem a má circulação de ar e o
acúmulo de umidade nas folhas, além de dificultarem a penetração
dos tratamentos com fungicidas.
• Irrigação controlada. Evitar longos períodos de molhamento foliar é
fundamental para o manejo da requeima. Para tanto, deve-se: evitar
irrigações noturnas ou em finais de tarde; minimizar o tempo e re-
duzir a frequência das regas em campos com sintomas da doença. A
adoção de sistemas de irrigação localizada pode reduzir a ocorrência
da requeima.
• Adubação equilibrada. Níveis elevados de nitrogênio e deficiência de
zinco originam plantas mais suscetíveis à requeima. Por outro lado, a
suplementação adequada de fósforo, cálcio, boro, magnésio, silício e
cobre pode reduzir a sua incidência e severidade.
• Manejo correto das plantas invasoras. Além de concorrerem por espaço,
luz, água e nutrientes, essas dificultam a dissipação da umidade e a circu-
lação de ar na folhagem favorecendo a requeima. Destaca-se ainda que
em alguns casos essas possam ser hospedeiros alternativos da doença e
dificultar que os fungicidas aplicados atinjam a folhagem da batata.
• Aplicação preventiva de fungicidas registrados.
• Eliminar e destruir tubérculos remanescentes no campo e plantas vo-
luntárias. As plantas voluntárias são originadas de tubérculos deixados
no campo na colheita e podem ser uma importante fonte de inóculo
para novos campos. Estas devem ser eliminadas pelo uso de herbicidas
ou por métodos mecânicos. A eliminação completa de tubérculos após
a colheita evita o surgimento de plantas voluntárias, bem como, impe-
de que esses possam perpetuar o patógeno no campo.

128
Doenças fúngicas da batata
Jesues G. Töfoli • Ricardo J. Domingues

• Limpar e desinfestar equipamentos utilizados em culturas afetadas.


• Eliminar e destruir tubérculos doentes e descartes.
• Vistoriar constantemente a cultura visando identificar focos da doen-
ça com o objetivo de facilitar e agilizar a tomada de decisões.
• Promover condições adequadas de temperatura, umidade, circulação de
ar e higiene durante o armazenamento de batata-semente e tubérculos.

Pinta Preta, Mancha de Alternaria – Alternaria spp.

Introdução
Considerada uma doença de importância mundial, a pinta preta ocorre
em especial nas áreas tropicais e subtropicais, podendo causar elevadas
perdas. Nos últimos anos, a doença também tem crescido em importância
na América do Norte e Europa, causado perdas consideráveis na produ-
ção. Alguns autores têm atribuído a crescente importância da pinta preta
às mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global.
A pinta preta é caracterizada pela redução prematura da área foliar,
queda de vigor das plantas, quebra de hastes, redução do ciclo e quedas
significativas no rendimento e na qualidade dos tubérculos. O aumento
de suscetibilidade à doença está geralmente associado à maturidade dos
tecidos, ao florescimento e ao período de formação e crescimento dos tu-
bérculos. A maior demanda de nutrientes e fotoassimilados exigidos pela
tuberização tornam as folhas mais velhas mais vulneráveis à doença.

Etiologia
O fungo Alternaria solani Sorauer tem sido relatado como o agente
causal da pinta preta da batata por inúmeros autores. Porém, a doença
também pode estar associada a outras espécies do gênero como: Alternaria
alternata (Fries) Keissler e Alternaria grandis E.G. Simmons.
As três espécies diferem quanto ao tamanho e morfologia dos coní-
dios. Os conídios de A. solani são geralmente individuais, ovais, poden-
do apresentar variações longas, curtas, largas e estreitas. Os conídios com
apêndices único são longos, ovóides ou elipsóides com comprimento de
109-115 µm e largura entre 18-26 µm e um apêndice de 80-118 µm. Co-

129
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

nídios com dois apêndices podem atingir tamanhos de 80-106 µm e 16-


21 µm de largura, acrescido de um primeiro apêndice com 58-88 µm de
comprimento e um segundo com 64-88 µm. Apresentam coloração palha,
parda, marrom-oliváceo ou ouro claro, com 7 a 11 septos transversais
e poucos ou nenhum, longitudinais. Os conídios são inseridos em
conidióforos septados retos ou sinuosos que ocorrem isolados ou em
grupos, com 6 a 10 µm de diâmetro e 100 a 110 µm de comprimento e
coloração idêntica aos conídios. A. alternata apresenta conídios em forma
de clava ou pera invertidos, ovóides ou elipsóides, formados em longas ca-
deias catenuladas, com apêndices curtos, cilíndricos ou cônicos, e compri-
mento inferior a um terço do corpo, possuindo até oito septos transversais
e vários longitudinais ou oblíquos. A. grandis possui conídios com morfo-
logia semelhante a A. solani, porém com dimensões 50 a 100 % maiores.
Os conídios com apêndice único são longos, ovóides ou elipsóides com
comprimento de 141-192 µm e largura entre 26-38 µm e um apêndice de
160-200 µm. Conídios com dois apêndices possuem corpos na faixa de
128-198 µm e 24-30 µm de largura, acrescido de um apêndice com 99-160
µm de comprimento e um segundo com 64-88 µm.
A ocorrência das três espécies pode variar em função da localidade. Na
Europa observa-se que a doença é causada pelo complexo A. solani e A.
alternata, enquanto que nos Estados Unidos prevalece a ocorrência de A.
solani em relação a A. grandis. No Brasil, estudos recentes têm sugerido
predominância da espécie A. grandis.
A nível mundial novas espécies de Alternaria têm sido descritas as-
sociadas a cultura da batata como: Alternaria infectoria, Alternaria albo-
rescens e Alternaria tenuissima. Essas espécies ainda não foram descritas
no Brasil.

Sintomas
A pinta preta é caracterizada por manchas foliares necróticas, circula-
res, elípticas ou angulares, pardo-escuras, isoladas ou em grupos, com a
presença de anéis concêntricos, bordos bem definidos, podendo apresen-
tar ou não halo amarelado ao redor das mesmas. O aumento da intensida-
de da doença no campo ocorre tanto pelo surgimento de novas lesões como
pela expansão das mais velhas, que podem coalescer destruindo todo lim-

130
Doenças fúngicas da batata
Jesues G. Töfoli • Ricardo J. Domingues

bo foliar. As lesões em hastes e pecíolos podem surgir em plantas adultas


e caracterizam-se por serem pardas, alongadas, deprimidas, apresentando
ou não halos concêntricos. Nos tubérculos as lesões são castanho-escuras,
de formato irregular, deprimidas e tendem a provocar podridão seca.

Ciclo da doença
O gênero Alternaria sobrevive entre um cultivo e outro em restos de
cultura, em solanáceas suscetíveis ou no solo na forma de micélio, esporos
ou clamidósporos. Os conídios caracterizam-se por serem altamente re-
sistentes a baixos níveis de umidade, podendo permanecer viáveis por até
dois anos nestas condições. Havendo umidade e calor suficientes, os coní-
dios germinam e infectam as plantas rapidamente, podendo o fungo pene-
trar diretamente pela cutícula ou através de estômatos. Após a penetração
os sintomas da doença são evidentes de 4 a 7 dias após o inicio da infecção.
A ocorrência da pinta preta está associada a temperaturas na faixa de
22 a 32°C, elevada umidade e alternâncias de períodos secos e úmidos. A
doença é mais severa em verões chuvosos, mas também pode ocorrer no
inverno, desde que haja condições favoráveis. Plantas sujeitas a desequi-
líbrios nutricionais, estresses causados por rizoctoniose, viroses, nematoi-
des e pragas ou cultivadas em solos pobres em matéria orgânica são mais
suscetíveis à doença.
A disseminação da pinta preta ocorre principalmente pelo plantio de
batatas-semente infectadas, ação de ventos, água de chuvas e irrigação,
circulação de pessoas e equipamentos agrícolas.
Os fungos A. solani e A. alternata também podem estar associados a
outros cultivos como do tomateiro (Solanum lycopersicum L.), pimentão
(Capsicum annuum L.), berinjela (Solanum melongena L.), petúnia (Pe-
tunia hybrida Hort.), tabaco (Nicotiana tabacum L.) e plantas invasoras
como: maria-pretinha (Solanum americanum L.) e Physalis spp.

Manejo
Entre as medidas integradas para o manejo da pinta preta destacam-se:
• Plantio de semente sadia.
• Evitar plantios em áreas sujeitas ao acúmulo de umidade e baixa cir-
culação de ar.

131
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

• Evitar plantios adensados.


• Plantio de cultivares com algum nível de resistência.
 Resistentes: Ibituaçú, Aracy, Aracy Ruiva, Apuã, Éden, Monte
Alegre 172.
 Moderadamente resistentes: APTA 16.5, Asterix, Catucha,
Cupido, Itararé, Delta, Ágata, Eliza, Novella, APTA 21.54, Baro-
nesa, Baraka, Itararé, Ana, Clara, Cristal, SCS 365 – Cota, BRSIPR ,
Bel Amorosa, Armada, El Paso, Fontane, Innovator, Maranca, Mar-
len e Sinora..
  Moderadamente suscetíveis: Atlantic, Asterix, Monalisa, Melody,
Vivaldi, Caesar, Colorado, e APTA 12.5.
• Suscetíveis: Achat, Àgata, Almera Arrow, Bintje, Markies, Vivaldi,
Mondial.
A suscetibilidade das cultivares pode variar em função das condições
climáticas, espécies do patógeno existente na área, pressão de doença,
época de plantio, espaçamento adotado, nutrição das plantas, etc.
• Rotação de culturas com gramíneas. Evitar o plantio sucessivo de so-
lanáceas.
• Eliminar tubérculos remanescentes, plantas voluntárias, e hospedei-
ros intermediários.
• Irrigação controlada. Evitar longos períodos de molhamento foliar é
fundamental para o manejo da pinta preta. Para tanto, deve-se: evitar
irrigações noturnas ou em finais de tarde; minimizar o tempo e redu-
zir a frequência das regas em campos com sintomas. Uso de irrigação
localizada pode reduzir a ocorrência da doença.
• Adubação equilibrada. Deficiências de nitrogênio causam a senes-
cência prematura das plantas, tornando-as mais suscetíveis. Níveis
adequados de nitrogênio, potássio, magnésio e matéria orgânica no
solo aumentam o vigor e a longevidade das plantas e podem reduzir a
severidade da pinta preta.
• Manejo correto das plantas invasoras.
• Aplicação de fungicidas registrados.
• Incorporar restos culturais visando a rápida decomposição.
• Eliminar e destruir tubérculos doentes e descartes.
• Vistoriar constantemente a cultura visando identificar focos da doen-
ça com o objetivo de facilitar e agilizar a tomada de decisões.

132
Doenças fúngicas da batata
Jesues G. Töfoli • Ricardo J. Domingues

• Promover condições adequadas de temperatura, umidade, circulação de


ar e higiene durante o armazenamento de batata-semente e tubérculos.

Rizoctoniose, crosta negra – Rhizoctonia solani

Introdução
A rizoctoniose ou crosta negra é uma doença de ocorrência generali-
zada na cultura da batata, sendo comum em áreas úmidas e intensamente
cultivadas. A doença afeta diretamente a germinação, emergência, desen-
volvimento das plantas, a produtividade e a qualidade de tubérculos. Esti-
ma-se eu a rizoctoniose possa causar perdas no rendimento de tubérculos
comerciais de até 30%.

Etiologia
Rhizoctonia solani J.G. Kühn (teleomorfo Thanatephorus cucumeris [A.
B. Frank] Donk) possui micélio vigoroso com coloração marrom a ocre,
hifas septadas e ramificações laterais em ângulo reto. A sua disseminação
ocorre através de batata-semente infectada, máquinas, ferramentas e im-
plementos contaminados com solo infestado e pelo escorrimento de água
de superfície durante a ocorrência de chuvas e irrigação).
A rizoctoniose na cultura da batata é causada principalmente pelos
grupos de anastomose AG-3 e AG-4. O grupo AG-3 causa podridões ra-
diculares em batata, tomate e berinjela (subgrupo AG-3 PT) e manchas
foliares em fumo (subgrupo AG-3 TB). O grupo AG-4 é menos especifico
podendo causar podridão de sementes, tombamento de pré e de pós-e-
mergência e, em algumas situações, podridão de raízes em culturas como
soja, feijão, amendoim, tomate, melão, melancia, espinafre, pimentão e
brócolis.

Sintomas
A rizoctoniose é caracterizada por causar lesões castanho-avermelha-
das (deprimidas) em brotos subterrâneos, hastes jovens e estolões; ger-
minação lenta; redução de estande no campo; baixo vigor e crescimento
desigual das plantas; amarelecimento e crescimento limitado das plantas;

133
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

enrolamento de folhas; emissão de tubérculos aéreos; formação de tubér-


culos pequenos, deformados, enrugados e associados a presença de es-
cleródios. O termo crosta negra refere-se aos escleródios ou corpos de
repouso do fungo que se formam e permanecem aderidos à superfície do
tubérculo. Esses são estruturas individuais, firmes que possuem colora-
ção marrom escura a negra, apresentam tamanhos e formatos variáveis (1
mm a 5 mm de espessura e 1 mm a 10 m de comprimento) e são formados
pelo enovelamento do micélio do fungo. A formação dos escleródios nos
tubérculos geralmente ocorre após a seca da parte área das plantas, poden-
do em algumas situações continuar durante o armazenamento. De modo
geral, os escleródios tornam-se evidentes nos tubérculos após a lavagem
dos mesmos.

Ciclo da doença
A rizoctoniose no campo inicia-se através de inoculo presentes nas ba-
tatas- semente ou no solo e restos de cultura. Quando os tubérculos infec-
tados são plantados, o fungo cresce da superfície da semente para as gemas
e brotos em desenvolvimento, podendo infectar primórdios foliares, radi-
culares e estolões. O inoculo transmitido pelas sementes é mais eficiente
em causar doença do que o existente no solo devido a sua proximidade as
gemas e brotos. Quando presente no solo R. solani vive associada a restos
de cultura e detritos orgânicos e podem causar a doença independente-
mente ou em conjunto com o inoculo presente nas sementes. O inoculo
presente solo pode ser tão prejudicial quanto o inoculo da semente, no
entanto, para que a infecção ocorra os brotos devem se desenvolver nas
proximidade do micélio. A infecção pode ocorrer a qualquer momento
durante o ciclo, embora a maioria das infecções ocorra durante a germina-
ção e emergência das plantas.
A doença é favorecida por solos argilosos, neutro a ácidos (pH=7 ou
menor), frios, úmidos, mal drenados, matéria orgânica mal decompos-
ta,plantios profundos e temperaturas entre 5 a 25° C (ótima 18 e 22° C).
O fungo pode sobreviver no solo por longos períodos, mantendo-se na
forma de escleródios ou micélio colonizando restos de cultura. Quando
condições climáticas são favoráveis, os escleródios germinam e infectam
as gemas e hastes recém-emergidas.

134
Doenças fúngicas da batata
Jesues G. Töfoli • Ricardo J. Domingues

Além das culturas citadas anteriormente, os grupos de anastomose


de R. solani associados a cultura da batata podem também afetar plan-
tas invasoras como: joá-de-capote (Nicandra physaloides L.) beldroega
(Portulaca oleracea L.), caruru (Amaranthus deflexus L.) e maria pretinha
(Solanum americanum L.) .

Manejo
Para o manejo da rizoctoniose recomenda-se a integração de medidas
de controle como:
• Plantio de batata-semente sadia.
• Evitar o plantio com histórico recente da doença.
• Preparo correto do solo. Eliminar possíveis de “pés de grade” com o
objetivo de favorecer a aeração do se permitir que não haja acúmulo
de umidade nas camadas superficiais do solo.
• Realizar o plantio de batata-semente, entre 5 e 7cm, para favorecer a
rápida emergência das plantas.
• Evitar o plantio em solos argilosos (pesados) ou excessivamente úmidos.
• Realizar o tratamento sementes e/ou a aplicação de fungicidas regis-
trados no sulco de plantio e na amontoa.
• Plantio de cultivares com algum nível de tolerância como: Vivaldi,
Bailla, Chipie, Colorado, Gredine, Opaline, Soleia, Markies, Voya-
ger, Sinora, Novella e Innovator.
• Realizar a adubação com base na análise de solo. Excesso de nitrogê-
nio e matéria pode tornar as hastes mais tenras e mais suscetíveis à
doença.
• Manejo adequado da irrigação para evitar acúmulo de umidade no
solo.
• Rotação de culturas por 2 a 3 anos para reduzir o potencial de inóculo
na área. Deve-se selecionar culturas que não sejam suscetíveis aos
grupos de compatibilidade que afetam a cultura da batata.
• Plantio e a incorporação de adubos verde (gramnineas). R solani não
é um decompositor de celulose eficiente, portanto as populações
do fungo são grandemente reduzidas pela microflora competidora.
Além disso, a decomposição de resíduos libera dióxido de carbono, o
que reduz a capacidade competitiva do patógeno.

135
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

• Evitar ferimentos às hastes durante a operação de amontoa.


• Eliminar da área restos de cultura, plantas voluntárias e hospedeiros
alternativos.
• Realizar a lavagem e desinfestação de implementos, ferramentas, bo-
tas e caixas de colheita.
• Impedir a circulação de implementos e pessoas provenientes de áreas
infestadas.
• Evitar atrasos e ferimentos aos tubérculos durante a colheita.
• Eliminar e destruir tubérculos doentes.
• Promover condições adequadas de temperatura, umidade, circulação
de ar e higiene durante o armazenamento de batata-semente e tubér-
culos.
• Controle biológico. Formulações de Trichoderma harzianum aplica-
dos no sulco de plantio ou na batata-semente podem reduzir a severi-
dade da doença nas hastes e a presença de escleródios nos tubérculos.
Pesquisas com formulações de Bacillus subtilis também tem sido pro-
missoras para o controle da rizoctoniose.

Sarna Prateada – Helminthosporium solani

Introdução
A sarna prateada da batata é uma doença cada vez mais importante na
cultura da batata. Afeta especialmente os tubérculos não ocorrendo em
outros órgãos aéreos ou subterrâneos. Essa raramente interfere na pro-
dutividade, porém afeta de forma significativa o aspecto visual e o valor
comercial de tubérculos lavados. Muitas vezes a doença é considerada um
problema de armazenamento, no entanto, a infecção costuma ocorrer no
campo antes da colheita.

Etiologia
O ascomiceto Helmintosporium solani Durieu & Mont. possui micélio
septado, ramificado e escuro. Os conidióforos são simples, longos e sep-
tados. Os conídios são encontrados em verticilos das extremidades dis-
tais das células e têm até oito septos. Os conídios são castanhos escuros,

136
Doenças fúngicas da batata
Jesues G. Töfoli • Ricardo J. Domingues

redondos na base e afilados para o final. Conídios variam de 15 a 64 µm


de comprimento e de 4 a 8 µm de largura. Temperaturas de 15 a 25 C e
umidade alta (90%) estimulam a germinação de conídios.

Sintomas
A doença afeta os tubérculos tanto no campo como no armazenamento,
provocando o aparecimento de manchas claras superficiais que ao evoluí-
rem apresentam um aspecto circular, escuro e indefinido. A colonização
por H. solani é geralmente limitada a células da periderme e córtex. A morte
celular nessas camadas causa a perda de água das células medulares o que
acaba causando enrugamento superficial, redução do peso e da consistência
dos tubérculos. A casca apresenta-se alterada, com aspecto seco, áspero e
brilho prateado, principalmente quando úmida ou molhada. A coloração
prateada é causada pela perda de pigmentos por causa da degradação das
células e da deposição de suberinas na parede celular. Quando a colheita é
realizada em condições de alta umidade as manchas podem apresentar-se
recobertas por conidióforos e conídios do fungo. No armazenamento em
câmaras frias a doença causa a desidratação de tubérculos e pode estar asso-
ciada a patógenos dos Gêneros Fusarium, Pectobacterium e Dikeya.

Ciclo da doença
A sarna prateada é transmitida principalmente por batatas-semente in-
fectadas, sendo comum sua presença em material importado. A doença é
favorecida por temperaturas acima de 5°C e umidade elevada (90%). Após
a germinação dos conídios o fungo penetra nos tubérculos pelas lenticelas
ou pela epiderme, antes da colheita e continua seu desenvolvimento durante
o armazenamento. A doença pode ser intensificada pelo atraso na colheita.
Além da batateira o fungo é relatado em leucena (Leucaena leucocepha-
la), Solanum sp. e Solanum viride. Sabe-se que H. solani pode sobreviver
em restos de cultura e diferentes substratos orgânicos como folhas mortas
de aveia

Manejo
Entre as medidas e a serem considerados para o manejo da sarna pra-
teada destacam-se

137
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

• Plantio de batata-semente sadia.


• Optar por cultivares com algum nível de resistência a doença. A cul-
tivar Ludmilla é considerada resistente a sarna prateada.
• Plantio em solos drenados e bem preparados.
• Após a retirada da câmera fria, permitir que os tubérculos sequem
antes do plantio.
• Evitar o plantio sucessivo de batata na mesma área.
• Eliminar e destruir plantas voluntárias da batata.
• A colheita deve ser realizada logo após a secagem das ramas e o com-
pleto amadurecimento dos tubérculos. Deve-se evitar ainda que essa
ocorra em períodos muito úmidos e que ocorra ferimentos nos tubér-
culos durante o processo.
• Eliminar e destruir restos de cultura e tubérculos doentes.
• Promover condições adequadas de temperatura, umidade, circulação de
ar e higiene durante o armazenamento de batata-semente e tubérculos.

Sarna Pulverulenta – Spongospora subterranea

Introdução
A sarna pulverulenta afeta diretamente os tubérculos reduzindo o seu
valor comercial ou inviabilizando-os para o mercado. A doença já foi ob-
servada em varias regiões produtoras brasileiras, sendo sempre associada
ao plantio de batata-semente infectada.

Etiologia
Spongospora subterranea (Wallr.) Lagerh) é um parasita obrigado que
pertence ao Filo Protozoa, Classe Plasmodiophoromycetes, Ordem Plas-
modiophorales. Apresenta cistossoros ovóides, irregulares com 19-85
µm de diâmetro. Os esporos são poliédricos com 3,5-4,5 µm de diâme-
tro, com paredes lisas, finas e amareladas. Os zoósporos responsáveis pelo
processo de infecção são ovóides, biflagelados e possuem a capacidade de
se movimentarem em água livre. Os cistossoros atuam como estruturas de
resistência que permitem o patógeno sobreviver no solo por períodos de
3 a 10 anos e são facilmente disseminados por tubérculos infectados, es-

138
Doenças fúngicas da batata
Jesues G. Töfoli • Ricardo J. Domingues

corrimento de água de superfície (chuvas e irrigação) e solo aderido a fer-


ramentas, implementos, botas etc. Além da sarna pulverulenta S. subter-
ranea f. sp. subterranea pode ser vetor do Potato mop-top virus (PMTV).

Sintomas
Os sintomas iniciais da doença manifestam-se através de pequenas
manchas de cor clara na superfície do tubérculo. Em seguida, estas se
convertem em pústulas abertas, escuras, arredondadas e com bordas ir-
regulares compostas por fragmentos da epiderme. Os centros das lesões
são deprimidos apresentando tecidos irregulares e esponjosos. Nas raízes,
formam-se galhas (0,5 a 1,5 cm) escuras e enrugadas que reduzem o vigor
das plantas. Associados às lesões encontram-se zoósporos e cistossoros.
As lesões causadas pela doença favorecem a entrada de outros agentes
causadores de podridões como Fusarium spp, Pectobacterium spp e Dicke-
ya spp que podem dificultar o diagnóstico.

Ciclo da doença
A presença de raízes de hospedeiros suscetíveis estimula germina-
ção dos esporos e a produção de um zoósporo primário. Esses ao pe-
netrarem as raízes e estolões formam plasmídios multinucleados que
produzem zoósporos secundários que são os responsáveis pela infec-
ção de raízes e tubérculos. Os zoósporos secundários induzem a célula
hospedeira a formar galhas, no interior das quais formam-se esporos
de repouso.
A sarna-pulverulenta é favorecida por solos frios e úmidos, tempera-
turas na faixa de 11 a 18°C e pH do solo entre 4,7 a 7,6. A cultura da ba-
tata é mais suscetível à doença no período de três a quatro semanas após o
inicio da tuberização. A doença é típica de climas temperados e tropicais
de altitude, podendo ser limitante em condições de baixas temperaturas e
umidade elevada. Não se conhece cultivares resistentes à doença.
Entre os hospedeiros de S. subterranea descritos pela literatura desta-
cam-se o tomate (Solanum lycopersicum), o pimentão (Capsicum annuum),
o nabo (Brassica rapa subsp. rapa), a canola (Brassi canapus), o agrião
(Nasturtium sp.) e plantas invasoras como maria pretinha (Solanum ame-
ricanum), Solanum sp. e figueira do inferno (Datura stramonium).

139
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Manejo
As principais medidas recomendadas para o manejo da sarna pulveru-
lenta são:
• Plantio de batata-semente sadia. A exclusão é uma das medidas mais
importantes para evitar a entrada e a disseminação da doença.
• Optar por cultivares com algum nível de resistência a doença. A cul-
tivares Ludmilla e Markies são consideradas tolerantes a sarna pul-
verulenta.
• Preparo correto do solo. Eliminar possíveis compactações.
• Realizar o plantio em solos leves e livres do acúmulo de umidade.
• Irrigação controlada. Evitar altos níveis de umidade nos primeiros 50
dias do ciclo. Em condições extremas, a irrigação deve ser suspensa
para evitar que a doença seja disseminada por toda cultura.
• Eliminar plantas voluntárias, restos de cultura e hospedeiros inter-
mediários.
• Rotação de cultura por 5 a 10 anos.
• A adição de fontes de enxofre e zinco no solo pode reduzir a severi-
dade da doença.
• Aplicar fungicida registrado em dose única no sulco de plantio ou
parcelada no plantio e no colo da planta antes da amontoa.
• Eliminar e destruir tubérculos infectados.
• Evitar ferimentos aos tubérculos durante a colheita.
• Impedir a circulação de implementos e pessoas provenientes de áreas
infestadas.
• Evitar o uso de implementos, ferramentas, botas e caixas utilizados em
áreas infestadas. Realizar a lavagem e a desinfestação dos mesmos.
• Promover condições adequadas de temperatura, umidade, circulação de
ar e higiene durante o armazenamento de batata-semente e tubérculos.

Murcha de Fusarium e Podridão Seca – Fusarium spp.

Introdução
A murcha de Fusarium é uma das doenças mais comuns na cultura
da batata. A doença pode causar falhas na germinação, morte de plan-

140
Doenças fúngicas da batata
Jesues G. Töfoli • Ricardo J. Domingues

tas, perda de vigor, queda significativa de produtividade e qualidade de


tubérculos. A podridâo seca durante o armazenamento e pode causar a
depreciação e descarte significativo de tubérculos. A doença pode causar
perdas de 25% no campo e de 60% durante o armazenamento.

Etiologia
Várias espécies do gênero Fusarium podem estar relacionadas à cul-
tura da batata causando prejuízos no campo e durante o armazenamen-
to. A doença pode estar associada às espécies Fusarium solani (Mart.)
Sacc., Fusarium avenaceum (Fr. : Fr.) Sacc., Fusarium solani f. sp. eumar-
tii (C.W. Carp.) W.C. Snyder & H.N. Hansen e Fusarium oxysporum f.
sp. tuberosi Snyder et Hansen. O gênero Fusarium possui micélio vigoro-
so que pode variar do branco ao roxo, apresenta hifas septadas e produz
macro e microconídios curvos, fusiformes, septados ou não. Apresenta
ainda estruturas de resistência denominadas clamidósporos que podem
perpetuar o patógeno no solo por longos períodos.

Sintomas
A Murcha de Fusarium é caracterizada pela murcha progressiva das
plantas; escurecimento externo das hastes e descoloração dos tecidos vas-
culares de hastes e tubérculos. Clorose, bronzeamento das folhas, forma-
ção de tubérculos aéreos e escurecimento das gemas (olhos negros) tam-
bém são sintomas típicos.
A podridão seca de tubérculos é observada durante o armazena-
mento, e está associada principalmente as espécies F. solani e F. alve-
naceum. Os sintomas da doença são expressos por lesões e pelo apodre-
cimento generalizado dos tubérculos, escurecimento dos tecidos inter-
nos e presença de bolor branco-rosado sobre as lesões. A doença afeta
diretamente a aparência dos tubérculos e reduz o rendimento devido
o descarte de tubérculos doentes. De maneira geral, a infecção ocorre
através de ferimentos na colheita e os sintomas se tornam evidentes
durante o armazenamento. A associação com outros patógenos como
Helminthosporium solani, Pectobacterium spp., Dikeya spp, pode tornar
as perdas mais significativas.

141
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Ciclo da Doença
As diferentes espécies de Fusarium podem sobreviver no solo por lon-
gos períodos, infectando plantas e tubérculos. Plantio em solos infestados,
uso de sementes infectadas e armazenamento inadequado dos tubérculos
favorecem a infecção. No campo o fungo penetra através das raízes colo-
nizando rapidamente o sistema vascular. Nos tubérculos o fungo penetra
através de ferimentos causados durante a colheita, sendo os sintomas ob-
servados durante o armazenamento.
A doença é favorecida por temperaturas ao redor de 25°C, umidade
relativa em torno de 60-75% e solos ácidos.

Manejo
Para o manejo da murcha de Fusarium e podridão seca recomenda-se:
• Evitar o plantio em área com histórico recente da doença.
• Plantio de sementes sadias.
• Quando possível optar por cultivares com algum nível de resistência.
As cultivares Asterix e Markies são consideradas tolerantes a doença.
• Tratamento de sementes com fungicida registrado.
• Uso de adubação equilibrada e pH adequado (6,0-6,5). Utilizar adu-
bos de liberação lenta. Elevados níveis de adubação nitrogenada pode
aumentar a suscetibilidade à doença.
• Evitar ferimentos às plantas durante os tratos culturais.
• Irrigação equilibrada. Plantas de batatas ficam mais suscetíveis à
doença em condições de estresse hídrico.
• Impedir a circulação de implementos e pessoas provenientes de áreas
infestadas.
• Colher tubérculos completamente maduros. Evitar ferimentos nos
tubérculos durante a colheita e o armazenamento.
• Eliminar tubérculos remanescentes no campo, plantas voluntarias e
hospedeiras alternativas e tubérculos doentes.
• Promover condições adequadas de temperatura, umidade, circulação
de ar e higiene durante o armazenamento de batata-semente e tubér-
culos.
• Lavar e desinfestar implementos, ferramentas, equipamentos de la-
vagem e classificação.

142
Doenças fúngicas da batata
Jesues G. Töfoli • Ricardo J. Domingues

Murcha de Verticíllium – Verticillium dahliae

Introdução
No Brasil, a murcha de Vertícillium é considerada uma doença espo-
rádica na cultura da batata, sendo relatada principalmente nos estados de
São Paulo e Rio Grande do Sul. A doença pode causar redução significa-
tiva na produtividade e no tamanho dos tubérculos.

Etiologia
O ascomiceto Verticillium dahliae Kleb. apresenta micélio hialino sep-
tado e ramificado, conídios simples unicelulares ovais e hialinos. Trata-se
de um fungo polífago que pode parasitar mais de 400 hospedeiros incluin-
do espécies herbáceas anuais (hortaliças, ornamentais, cereais etc) e pere-
nes (frutíferas, florestais etc). Esse pode sobreviver por longos períodos no
solo associado à matéria orgânica ou através de estruturas de resistência
denominadas microescleródios.

Sintomas
A doença causa amarelecimento e seca de folhas e folíolos, murcha pro-
gressiva, escurecimento dos vasos condutores, necroses em hastes e morte de
plantas. Tubérculos afetados podem apresentar descoloração vascular casta-
nha semelhante às hastes. A doença pode Além de redução na produtividade

Ciclo da Doença
Verticillium dahliae infecta a planta através das raízes e coloniza o sis-
tema vascular, resultando em uma menor absorção de água e nutrientes.
Como conseqüência ocorre o amarelecimento prematuro da folhagem,
murcha progressiva e a morte de prematura de plantas. A doença é mais
severa em plantas mal nutridas e em situações de estresse favorecida por
constantes mudanças climáticas e falta de água. O agente causal pode so-
breviver no solo associado à matéria orgânica, na forma de microescleró-
dios e no interior de tubérculos.
A doença é favorecida por temperaturas que variam de 21 a 28° C e alta
umidade do solo. Essa pode ocorrer isolada ou em complexo com outras

143
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

doenças como canela preta, murcha de Fusarium e nematoides. Os feri-


mentos causados por nematóides no sistema radicular e tubérculos podem
aumentar a incidência e severidade da doença.
A prevenção é a melhor maneira de controlar esta doença potencial-
mente grave. Praticas que evitem a entrada do patógeno na área e medidas
integradas de controle devem ser observadas com rigor.

Manejo
Para o manejo da murcha de Verticillium recomenda-se:
• Plantio de batata-semente sadia.
• Adubação equilibrada
• O uso de nitrogênio amoniacal e níveis adequados de manganês, co-
bre e zinco podem reduzir a doença.
• Rotação de culturas com gramíneas e/ou adubos verdes por 3 a 4
anos.
• Evitar irrigações excessivas e injúrias às plantas durante os tratos cul-
turais.
• Eliminar e destruir de restos de cultura e plantas voluntárias.
• Manejo adequado dos nematóides.
• Eliminar tubérculos remanescentes, plantas voluntarias e hos-
pedeiras alternativas tais como figueira do inferno (Datura stra-
monium), maria pretinha (Solanum americanum), fisális (Physalis
sp.), joá vermelho (Solanum incarceratum), jurubeba (Solanum
paniculatum).
• Em áreas afetadas pela doença antecipar a colheita com o objetivo de
reduzir as perdas e impedir o aumento do inóculo na área.
• Lavar e desinfestar botas, equipamentos e implementos utilizados
em áreas infestadas.

Mofo Branco – Sclerotinia sclerotiorum

Introdução
O mofo branco ocorre em áreas intensamente cultivadas e sujeitas à
alta umidade e temperaturas amenas. A doença encontra as condições

144
Doenças fúngicas da batata
Jesues G. Töfoli • Ricardo J. Domingues

favoráveis para o seu desenvolvimento nas safras de inverno, sendo fre-


quente a sua ocorrência em áreas de pivô central infestadas.

Etiologia
O ascomiceto Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary apresenta micélio
vigoroso de coloração branca e produz estruturas de resistência denomi-
nadas escleródios Esses são grandes (20-10 mm de diâmetro), lisos, com
formatos que variam do arredondado ao irregular. Os escleródios além de
germinarem diretamente no solo possuem a capacidade de produzir apo-
técios em condições específicas. Os apotécios são corpos de frutificação
que produzem ascósporos que são ejetados e em seguida dispersos pelo
vento ou água. Esses, em contato com a planta germinam e dão início à
infecção. Os ascósporos podem sobreviver por até duas semanas antes de
iniciar uma infecção. A sobrevivência de escleródios está intimamente
relacionada com o tipo de solo; pH; cultura anterior; sua localização no
perfil do solo; umidade e temperatura e de presença de micro-organismos
que causam sua degradação.

Sintomas
Os sintomas da doença se caracterizam por lesões úmidas, recobertas de
micélio branco e escleródios negros que afetam folhas e hastes. Nas hastes,
as lesões tendem a anelar as hastes culminando com a murcha e morte das
mesmas. A doença causa também a destruição da medula interna do caule
que se torna parda e repleta de escleródios negros no seu interior. Os escle-
ródios são estruturas de resistência que podem germinar e produzir micélio
ou apotécios. O micélio é produzido em condições de alta umidade e tem-
peraturas na faixa de 21 a 25° C. O micélio cresce na superfície do solo,
colonizando inicialmente folhas senescentes próximas do solo e em seguida
tecidos sadios. Os apotécios são produzidos em condições de alta umidade e
temperaturas em torno de 11 a 20º C. Estes liberam os ascósporos que uma
vez ejetados atingem e infectam a parte aérea das plantas. Os escleródios
podem sobreviver no solo por períodos de 6 a 8 anos.
S. sclerotiorum tem um amplo espectto de plantas hospedeiras, sendo
relatada em mais de 350 espécies.

145
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Manejo
As principais medidas recomendadas para o manejo do mofo branco são:
• Evitar o plantio em áreas com histórico recente da ocorrência da
doença.
• Preparo adequado da área, evitando a formação de pés de grade e o
acúmulo de umidade no solo.
• Plantio de cultivares com menor desenvolvimento vegetativo.
• Evitar plantio adensado.
• Rotação de culturas por períodos mínimos de 4 anos, evitando o plan-
tio de espécies suscetíveis como feijão, tomate, soja, girassol, entre
outras.
• Irrigação controlada nos períodos críticos à doença.
• Adubação equilibrada. A doença é favorecida pelo excesso de aduba-
ção nitrogenada. Nestas condições, a cultura apresenta desenvolvi-
mento vegetativo, excessivo o que favorece a formação de micro-cli-
ma favorável ao desenvolvimento da doença.
• Aplicação de fungicidas registrados.
• Eliminar e destruir restos de culturas infestados
• Impedir o tráfego de implementos e pessoas provenientes de áreas
infestadas.
• Lavar e desinfestar ferramentas, implementos e botas.

Olho pardo – Calonectria brassicae


O olho pardo e caracteriza-se por afetar apenas os tubérculos redu-
zindo diretamente o valor comercial dos mesmos. Na cultura da batata a
doença é relatada apenas no Brasil, sendo mais comum em cultivos reali-
zados em área de cerrado.

Etiologia
O ascomiceto Calonectria brassicae (Pamwar & Bohra) Lombard, M.J.
Wingf. & Crous. (Sin. Cylindrocladium clavatum Hodges & L.C. May)
possui conídios cilíndricos, hialinos e uni-septados com 37,6-47,9 x 3,4-
5,6 μm de diâmetro. Além da batata o fungo é relatado nas culturas do
pimentão, pimenta, mandioca, eucalipto, soja etc.

146
Doenças fúngicas da batata
Jesues G. Töfoli • Ricardo J. Domingues

Sintomas
As lesões são irregulares levemente depressivas e de coloração parda
a negra. No centro das lesões pode ser mais claro e pode estar recoberto
por conídios e conidióforos do fungo. A doença é observada com maior
freqüência em solos de cerrado, principalmente em áreas anteriormente
cultivadas com soja, amendoim, ervilha e soja, que também são hospedei-
ras do patógeno.

Ciclo da doença
O gênero Calonectria agrupa parasitas facultativos que, devido à capa-
cidade de produzir microescleródios, tanto em meio de cultura artificial,
como no solo e sobre os hospedeiros, sobrevivem às mais adversas condi-
ções ambientais. As estruturas infectivas germinam e, penetram direta-
mente pelas lenticelas presentes na superfície dos tubérculos, não sendo
necessária da existência de ferimentos.
O olho pardo é favorecido por temperaturas ao redor de 25°C e alta
umidade. O processo infeccioso ocorre no campo, porém os sintomas, na
maioria das vezes, são observados somente na pós-colheita. A associação
do olho pardo com outros patógenos como Helminthosporium solani, Fu-
sarium spp, Pectobacterium spp e Dikeya spp, pode causar perdas significa-
tivas durante o armazenamento e a comercialização.

Manejo
As principais medidas recomendadas para o controle do olho pardo são:
• Plantio de sementes sadias.
• Evitar o plantio em área com histórico recente da doença
• Optar por cultivares com algum nível de resistência. Em estudo com
inoculação do agente causal em tubérculos de batata as cultivares
Caesar, Ibituaçú e Asterix foram as mais tolerantes enquanto que
Ágata e Itararé as mais suscetíveis;
• Rotação de culturas.
• Colher tubérculos com a pele firme.
• Evitar ferimento dos tubérculos durante a colheita e armazenamento.
• Eliminação e destruição de tubérculos doentes.
• Lavar e desinfestar caixas, equipamentos de lavagem e classificação.

147
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

• Promover condições adequadas de temperatura, umidade, circulação de


ar e higiene durante o armazenamento de batata-semente e tubérculos.

Podridão Aquosa – Globisporangium spp.

Introdução
No Brasil, a podridão aquosa foi observada pela primeira vez no estado
de São Paulo em 2006 e posteriormente em outros estados produtores. A
doença pode afetar a cultura da batata em qualquer estado de desenvolvi-
mento, causando perdas significativas em pré e pós-colheita, principal-
mente sob temperaturas altas e alta umidade do solo.

Etiologia
A podridão aquosa pode estar associada a diversas espécies do gênero
Globisporangium tais como: Globisporangium ultimum (Trow) Uzuhashi, Tojo
& Kakish (Sin. Pythium. ultimum Trow); Globisporangium splendens (Hans
Braun) Uzuhashi, Tojo & Kakish. (Sin. Pythium splendens Hans Braun), Glo-
bisporangium sylvaticum (W.A. Campb. & F.F.Hendrix) Uzuhashi, Tojo &
Kakish. (Sin. Pythium sylvaticum W.A. Campb. & F.F. Hendrix), Pythium
aphanidermatum (Edson) Fitzp., e Pythium deliense Meurs.
A maioria das espécies citadas possuem um grande numero de hos-
pedeiros, o que limita a escolha de espécies a serem utilizadas na rotação
de culturas. Destaca-se ainda Pythium spp. têm elevada capacidade de
produzir estruturas de resistência denominadas oósporos, que podem
permanecer viáveis no solo por longos períodos.

Sintomas
Os sintomas iniciais são caracterizados por pequenas lesões escuras
que se observam sobre a superfície dos tubérculos. Os tubérculos afetados
podem apresentar apodrecimento generalizado e eliminar um vazamento
aquoso geralmente sem odor fétido. Os tubérculos infectados quando cor-
tados assumem rapidamente uma coloração negra. A doença pode ainda
gerar estandes irregulares devido a baixa emergência e em algumas cir-
cunstâncias causar a murcha e a morte de plantas no campo e o apodreci-

148
Doenças fúngicas da batata
Jesues G. Töfoli • Ricardo J. Domingues

mento do sistema radicular. A doença pode também causar sérias perdas


no armazenamento e na comercialização. A podridão aquosa é transmiti-
da principalmente por batata-semente infectada.

Ciclo da Doença
O gênero Globisporagium é muito comum no solo e pode atacar um
grande numero culturas. O patógeno penetra nos tubérculos através feri-
mentos durante as operações de plantio, tratos culturais e colheita. Após o
período infeccioso o mesmo pode sobreviver no solo por longos períodos,
graças à produção de esporos de resistência, denominados oósporos.
A doença é favorecida por temperaturas elevadas na faixa de 25 a 32°C
e alta umidade. Temperaturas abaixo de 10°C e solos drenados podem
dificultar o processo infeccioso. A disseminação do agente causal ocorre
através de batatas-sementes contaminadas, água de chuvas e irrigação,
implementos, ferramentas etc.
As principais medidas recomendadas para o manejo da podridão aquo-
sas são:
• Plantio de sementes sadias.
• Evitar o plantio em áreas com histórico recente da doença
• Plantio em áreas drenadas e não sujeitas ao acúmulo de umidade.
• Adubação equilibrada. Monitorar a adubação nitrogenada para evi-
tar o crescimento vegetativo excessivo. Níveis adequados de cálcio e
silício podem reduzir a doença. A podridão aquosa é desfavorecida
por pH do solo acima de 7,0. Resultados de pesquisa tem provado
que o uso de fosfito de potássio pode reduzir a doença.
• Irrigação equilibrada, principalmente nas semanas que antecedem a
colheita.
• A colheita não deve ser realizada em dias muito quentes e úmidos.
Os tubérculos devem estar maduros e a pele completamente definida.
• Evitar que os tubérculos fiquem expostos ao sol por muito tempo an-
tes do armazenamento.
• Evitar ferimentos durante a colheita, transporte e beneficiamento.
• Os tubérculos doentes devem ser eliminados e destruídos.
• Rotação de culturas por no mínimo 4 anos, para redução do inóculo
na área.

149
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

• Promover condições adequadas de temperatura (abaixo de 15° C),


umidade, circulação de ar e higiene durante o armazenamento.
• Lavar e desinfestar caixas, equipamentos de lavagem e classificação.

Controle químico
O uso de fungicidas registrados para o controle de doenças fúngicas na
cultura da batata deve ser realizado dentro de programas de controle inte-
grado e deve seguir todas as recomendações do fabricante quanto à dose,
estádio fenológico, tecnologia de aplicação, uso de equipamento de proteção
individual (EPI), armazenamento de produtos e descarte de embalagens.
Para evitar a ocorrência de fungos resistentes a fungicidas recomenda-
-se que produtos com mecanismo de ação específicos sejam utilizados de
forma alternada ou formulados com produtos multissítios e que se evite
o uso repetitivo de produtos com o mesmo mecanismo de ação. Deve-se
evitar também a aplicação de
O uso de fungicidas no controle da rizoctoniose, murcha de Fusarium e
sarna pulverulenta podem ser realizados através do tratamento de semen-
tes, aplicação em sulco, ou ainda através de aplicação nas hastes antes da
amontoa. O tratamento apresenta caráter preventivo e foca diretamente o
patógeno presente no solo ou associado à batata-semente. Em áreas com
histórico de mofo branco, a aplicação de fungicidas deve ser iniciada assim
que se inicie o fechamento da cultura.

Controle biológico
O controle biológico caracteriza-se pela intervenção de organismos
não patogênicos no sitio de infecção, de forma a impedir ou limitar a ação
do patógeno, bem como aumentar a resistência do hospedeiro. Na cul-
tura da batata o emprego de Trichoderma sp. utilizado no tratamento de
sementes, aplicado no sulco de plantio ou no momento da amontoa pode
reduzir a severidade de doenças de solo causadas por fungos dos gêneros
Fusarium, Sclerotinia, Verticillium e Rhizoctonia.
Estudos têm provado que o uso de formulações de Bacillus subtilis po-
dem ser efetivas no controle do mofo branco e sarna prateada na cultura
da batata.

150
Doenças fúngicas da batata
Jesues G. Töfoli • Ricardo J. Domingues

O emprego de produtos biológicos pode ser realizado em sistemas or-


gânicos e em programas de controle integrado. Para resultados efetivos
recomenda-se seguir todas as recomendações do fabricante quanto à dose,
condições climáticas adequadas no momento da aplicação, formas de tra-
tamento entre outras.

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BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

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152
VIROSES DA BATICULTURA
Renate Krause Sakate
FCA/UNESP – Botucatu – SP

José Alberto Caram de Souza-Dias


IAC – Campinas – SP

Marcelo Agenor Pavan


FCA/UNESP – Botucatu – SP

Angélica Maria Nogueira


FCA/UNESP – Botucatu – SP

Andressa Barbosa Giusto


IAC – Campinas – SP

Introdução
Devido ao sistema de propagação vegetativa, os problemas fitossani-
tários da bataticultura se concentram no material de propagação: tubér-
culos/batata-semente, isto é, tubérculos-filhas (ou progênies) infectados,
produzidos por planta-mãe (planta-cova) infectada por vírus, bactérias,
fungos ou outras pragas durante o ciclo (transmissão vertical ou infecção
primária).

153
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Os sintomas primários ocorrem na folhagem, no entanto, pode ocorrer


translocação do patógeno para os tubérculos. Os tubérculos dessas plan-
tas passam a ser portadores (muitas vezes assintomáticos) da praga, cau-
sando enormes prejuízos à produção de batata-semente, pois atuam como
perpetuadores da doença.
A transmissão horizontal, também denominada infecção secundária
ocorre para a maioria dos vírus que infectam a batateira. Portanto, se con-
centram as atenções fitossanitárias na produção de batata-semente sadia.
Vários patógenos podem estar presentes na epiderme ou polpa e no
sistema vascular dos tubérculos (incluindo resíduos de solo), mas os mais
importantes são os vírus, por não apresentarem sinais ou sintomas distin-
tos nos tubérculos.
A maioria das quase 40 diferentes espécies de vírus já constatadas na
bataticultura no mundo apresenta diferentes níveis na capacidade de con-
centração viral, invasão de tecidos e velocidade de translocação de partícu-
las virais da parte aérea para os tubérculos, podendo afetar a eficiência de
transmissão vertical (perpetuação via tubérculos-progênies) e horizontal
(durante o ciclo da cultura).
A transmissão horizontal está associada a fatores que interferem na
relação vírus-vetor, fatores esses relacionados tanto à variabilidade gené-
tica do vírus (variantes de espécies como o PVY) como do inseto vetor
(espécies de afídeos, no caso de PVY) favorecendo ou não a capacidade e
eficácia da transmissão.
Os principais vírus que infectam a bataticultura brasileira são espécies
pertencentes a gêneros distintos. No Brasil temos como importantes as
seguintes viroses: Enrolamento da Folha da Batateira (Potato leafroll vi-
rus – PLRV), Mosaico Y e A da Batateira (Potato virus Y – PVY e Potato
virus A – PVA), Vírus X da batateira (Potato virus X – PVX), Vírus S da
batateira (Potato virus S – PVS), Anel Amarelo da Batateira (Tobacco ratle
vírus – TRV) e Mosaico Cálico da Batateira (Alfafa mosaic virus– AMV).
Nos últimos vinte anos, houve a redução e quase o desaparecimento
de algumas espécies comuns como o PLRV, o aumento de incidência de
outras espécies como o PVY, bem como o aparecimento de novas espécies
como o Tomato chlorosis virus (ToCV) (gênero Crinivirus, família Clos-
teroviridae) e Tomato severe rugose virus (ToSRV) (gênero Begomovirus/
família Geminiviridae). Como são espécies de vírus cuja transmissão hori-

154
Viroses da baticultura
Renate K. Sakate • José A. C. de Souza-Dias • Marcelo A. Pavan
Angélica M. Nogueira • Andressa B. Giusto

zontal depende da presença de insetos vetores e do tipo de relacionamento


que os insetos vetores mantêm com as espécies de vírus, é bastante prová-
vel que a redução da ocorrência de uma espécie e a emergência de outra,
seja em grande parte, associada também à maior ou menor incidência dos
insetos vetores.
Espécies de vírus com ampla gama de hospedeiros podem resultar em
aumento da fonte de inóculo e este aumento refletir em aumento de dissemi-
nação do vírus, mesmo em relação indireta com a incidência do inseto vetor.
É importante destacar o fato de haver anos ou ciclos de plantio da
batata, particularmente quando associado com clima quente e seco, em
que há o aumento de insetos vetores de vírus que afetam a bataticultura.
Como exemplo pode-se citar o caso da população de tripes, transmissores
de espécies de vírus do gênero Orthotospovirus causadores da doença ge-
nericamente denominada “vira cabeça” ou “necrose do topo”. No Brasil
essa interação não apresenta sérias implicações, ainda, para a produção de
batata-semente. Estudos recentes revelaram a ausência de sintomas e/ou
transmissão vertical via tubérculo-progênie de plantas naturalmente e ex-
perimentalmente infectadas e sintomáticas (folhagem apenas) pela espécie
Groudnut ringspot virus (GRSV), a mais comum dentre os orthotospovírus
na bataticultura e solanáceas de importantes regiões produtoras do Sul e
Sudoeste brasileiro. Entretanto, pesquisadores e inspetores de campos de
produção de batata-semente devem ficar vigilantes nessa relação tripes x
vírus da batata, pois, registros de transmissão vertical por outras espécies
de orthotospovírus foram constatados em países como Austrália, EUA e
Argentina.
Os constantes avanços no conhecimento da epidemiologia em relação
à fitoviroses em geral vêm refletindo no maior interesse no estudo da in-
teração vírus-vetor, particularmente na bataticultura, demandando cons-
tante atenção à epidemiologia e conseqüentemente também aos aspectos
de reconhecimento da doença, sintomatologia, técnicas de diagnose, ava-
liações de danos e demais fatores que têm o foco de atenção na produção
de batata-semente. Nesse aspecto, a atuação da virologia-fitotécnica, tem
tido, como foco, a diagnose/epidemiologia/controle, sendo que na bata-
ticultura, os avanços têm sido no sentido de mitigar os efeitos da rápida
degenerescência causada por vírus em lotes de tubérculo/batata-semente
classe básica (categoria denominada: geração zero, ou “G-0”).

155
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Atualmente, as denominações de classes na produção e certificação de


batata-semente são: básica (categorias G-0 a G-3), seguida de classes certi-
ficadas (C1 e C-2) e a apenas supervisionada (S), destinada para produção
apenas de consumo, com níveis mais altos de tolerância às viroses, conforme
definidas e estabelecidas por legislação específica, elaboradas e inspeciona-
das pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). (Quadro 1).
Os vírus causadores de degenerescência de lotes de batata-semente,
de forma rápida, isto é, logo nas primeiras gerações (geralmente 3 ou 4)
ou durante a multiplicação sucessiva de lotes de batata-semente básica
importada ou nacional, com menos de 4% de viroses, podendo chegar a
superar 20 %, com apenas um ou dois dos principais vírus o PLRV e, ou
PVY. Esses dois vírus mais comuns na bataticultura brasileira e mundial
somam-se a outros dois vírus, PVS e PVX, totalizando quatro regula-
mentados, conforme a legislação vigente: MAPA - IN 32 de 21-11-2012
(Quadro 1).

Quadro 1. Classificação de classes e tolerância a viroses, conforme regulamentado na


Legislação da produção e comercialização da batata-semente no Brasil: MAPA IN 32 de
21-11-2012.

156
Viroses da baticultura
Renate K. Sakate • José A. C. de Souza-Dias • Marcelo A. Pavan
Angélica M. Nogueira • Andressa B. Giusto

Principais problemas na bataticultura brasileira associado


a vírus
As viroses dos batatais, que apresentaremos a seguir, estão focadas nos
possíveis fatores agros ecológicos associados à ocorrência e implicações
com a produção de batata-semente. São fatores relacionados com mudan-
ças nos cultivares, como ocorreu com a cv. Monalisa, que vinha crescendo
em área de plantio para consumo (in natura) nas principais regiões pro-
dutoras do país, chegando, no final dos anos 90, a superar 70% da área
cultivada com batata, e, a partir da segunda metade de 2000, praticamente
desapareceu, sendo substituída pela cv. Agata, que desde então vem sendo
a principal para o mercado. Essa mudança de cultivar teve sua ocorrência
em função de problemas relacionados com a emergência do PVY. Em sín-
tese, os fatos que levaram a essa substituição de cultivares e às implicações
em termos de viroses na bataticultura, decorrentes dessa mudança, foi à
constatação, no fim dos anos 90, de uma nova estirpe do PVYN: NTN
(PVYNTN), causadora de sintomas não tão severos na folhagem, mas des-
trutivo e indesejável na superfície (epiderme) dos tubérculos, em forma de
anéis ou arcos inicialmente eruptivos da epiderme, seguidos de depressão
e necrose, deixando uma ou várias lesões com formato semelhantes aos
números “6”, “8”, “9”, ou letras “S”, “C”, “O”.
Infelizmente não adiantaram os alertas registrados para os riscos que a
bataticultura brasileira enfrentava em ter a nociva variante PVYNTN (até
então desconhecida) introduzida via crescente importação anual de ba-
tata-semente da cv. Atlantic, até então exclusivamente do Canadá. Essa
previsão e alerta foi sustentada pela constatação de que essa temida, in-
desejável e prejudicial variante do PVY, causadora de necrose superficial
nos tubérculos, havia sido identificada naquele país e nessa mesma culti-
var. Também sustentava essa previsão o fato de a cv. Atlantic estar sendo
importada como classe básica (G-0), mas apresentando casos de mais de
10% de plantas com sintomas de mosaico leve na folhagem, manifestado
desde a emergência.
Nesse aspecto, dois fatores, até então totalmente anormais para a ba-
taticultura dos principais estados produtores, particularmente o do Es-
tado de São Paulo, estavam ocorrendo simultaneamente: Primeiro fator:
plantas com folhagem manifestando sintomas na forma de mosaico e não

157
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

do conhecido e praticamente único sintoma de virose que era o do enro-


lamento das folhas, causado pelo PLRV. Segundo fator: alta incidência
de virose em batatal plantado com batata-semente “de caixa” (referência
que na ocasião se fazia aos lotes de tubérculo/batata-semente de primeiro
plantio no Brasil: recém importado).
Tradicionalmente, as importações de batata-semente que o Brasil faz
anualmente, para fins de renovação do estoque básico (G-0), devido à rá-
pida degenerescência por viroses, sempre tiveram origem de países da Eu-
ropa: Holanda, Alemanha e Suécia, e sempre mantiveram alta sanidade,
com praticamente 0% de PVY e PLRV. Mas foi a partir da introdução da
batata-semente cv. Atlantic, originada do Canadá, que a epidemiologia de
viroses da bataticultura no Brasil foi alterada, mudando do tradicional e
quase que único vírus: PLRV, para o PVY. Com a introdução do PVYNTN,
primeiramente constatado na cv. Atlantic revelou-se, logo em seguida a
alta suscetibilidade que a cv. Monalisa, geralmente cultivada simultanea-
mente, apresentava a essa nova estirpe do PVY, expressando várias lesões
necróticas circulares na epiderme dos tubérculos, lesões essas típicas do
PVYNTN, confirmadas molecularmente, tornando-os depreciativos ao
mercado.  
Na tentativa de controle do mosaico, causado pelo PVY, aplicações
intensivas e constantes de inseticidas para o controle de vetores afídeos
de várias espécies foram realizados sem grande eficiência, pois estes in-
setos transmitem o PVY de forma “estiletar” (picada de prova), isto é, de
maneira não persistente. Conseqüentemente, essa estratégia de controle
levou ao quase desaparecimento do principal vírus da bataticultura brasi-
leira o PLRV, transmitido por afídeos, sendo o Myzus persicae (SULZ) o
vetor principal. A transmissão do PLRV por afídeos é de forma persisten-
te circulativa, na qual o inseto necessita de horas para a aquisição do vírus,
bem como para transmissão.
Em conseqüência da alta sensitividade dos tubérculos da cv. Monalisa
na expressão de sintomas do PVYNTN, o cultivo da batata no Brasil passou
a ter a cv. Agata como líder. Essa conquista foi em parte pela tolerância
que a cv. Agata apresenta à infecção tanto primária como secundária ao
PVYNTN, não manifestando lesões nos tubérculos e muito pouco ou rara-
mente na folhagem.

158
Viroses da baticultura
Renate K. Sakate • José A. C. de Souza-Dias • Marcelo A. Pavan
Angélica M. Nogueira • Andressa B. Giusto

Tomato chlorosis virus em batata transmitido por mosca


branca
A partir de 2011 o Tomato chlorosis virus (ToCV), espécie do gênero
Crinivirus,família Closteroviridae, foi identificado em plantações de batata
na região Centro-Oeste do Brasil com alta infestação de mosca branca B.
tabaci Middle East – Asia Minor 1 (também conhecido por biótipo B).
O ToCV é transmitido por mosca branca de forma semi-persistente, ou
seja, o vírus é adquirido pelo inseto em alguns minutos de alimentação em
uma planta infectada pelo vírus. Os sintomas ocasionados pelo ToCV em
batata lembram uma deficiência de Magnésio e também se assemelham
aos ocasionados pelo PLRV, o que pode ter acarretado inicialmente em
atribuição da doença a este vírus (Figura 1A, B e C).

Figura 1. Sintomas causados pelo vírus Tomatochlorosisvirus (ToCV), espécie do gênero


Crinivirus (Foto A), transmitido por moscas brancas de diferentes espécies (Foto C) e tendo ambos
os vírus, a planta de Daturastramonium (Foto C) como excelente planta-indicadora (bio-diagnose),
para testes de transmissão tanto por afídeos (PLRV) como por mosca branca (ToCV), apresentando os
sintomas de amarelecimento internerval, com enrolamento e ondulação das folhas medianas

159
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

O ToCV foi reportado pela primeira vez no Brasil em tomateiros (So-


lanum lycopersicum) em 2006, conforme já vinha sendo registrado em ou-
tros países da Europa e América do Norte, também causando danos na
produção de tomate. ToCV apresenta partícula longa e flexuosa com apro-
ximadamente 800 a 850nm de comprimento e genoma bipartido consti-
tuído por duas moléculas de RNA fita simples senso positivo. O ToCV é
transmitido por diferentes espécies de mosca branca (B.tabaci, B. argenti-
folii, Trialeurodes vaporariorum and, T. abutilonea).
A mosca branca Bemisia tabaci é considerada um complexo de espécies
crípticas constituída por pelo menos 43 espécies. Atualmente B. tabaci
tem ganhado um destaque de grande importância no cenário agro econô-
mico por causar enormes danos a plantios agrícolas e em culturas orna-
mentais devido ao seu hábito alimentício polífago e pelo fato de transmitir
diversas espécies de vírus. As espécies B. tabaci MEAM 1 (antigo biótipo
B) e Mediterranean (MED – antigo biótipo Q) destacam-se por serem
mais invasivas e com maior distribuição mundial causando grandes per-
das em diversas culturas de importância agrícola. No Brasil, MEAM 1 é a
espécie predominante, no entanto MED vem se tornando um grande pro-
blema com relatos de sua detecção no Estado de São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e em Minas Gerais. Estudos de monitoramento freqüentes das
espécies de B. tabaci no Brasil são necessários a fim de fornecer subsídios
para detecção precoce e evitar sua disseminação em culturas economica-
mente importantes como a batata.
Na batata, além de transmitir ToCV, a mosca-branca pode transmitir
também o begomovírus ToSRV que também infecta tomateiro, pimentão,
berinjela e jiló, além de diversas plantas daninhas que atuam como reser-
vatórios e contribuem para disseminação desses vírus em batata.

Disseminação dos vírus


A intensiva movimentação de lotes de tubérculos/batata-semente
dentro ou fora da região produtora é realidade em países como o Brasil,
onde as condições agroclimáticas são favoráveis à atividade agrícola o ano
inteiro. As áreas de regiões sub-tropicais com microclimas favoráveis ao
cultivo intensivo de batata são: Regiões do Sul de Minas Gerais, Chapada
da Diamantina (BA) e Cristalina (GO). Dessa forma, também o ano in-

160
Viroses da baticultura
Renate K. Sakate • José A. C. de Souza-Dias • Marcelo A. Pavan
Angélica M. Nogueira • Andressa B. Giusto

teiro ocorre condições favoráveis para a presença de solanáceas cultivadas


(como tomate, pimenta, berinjela e tabaco) e voluntárias, de vegetação es-
pontânea (soqueiras de batatal, joás, jurubebas, daturas, fisalis, nicandras,
etc) que desempenham um papel fundamental na disseminação de vírus
na bataticultura.
Essas plantas são reconhecidas hospedeiras (fontes de inóculo) tanto
de vírus comuns da bataticultura, como de insetos transmissores desses
vírus. Entretanto, nem sempre são as outras espécies, que não a batata, a
fonte original dos vírus à bataticultura, como observado no caso do PLRV
(por muitas décadas o principal e quase único vírus de maior importância
na degenerescência da batata-semente), que foi constatado em espécies
de solanáceas da vegetação espontânea: joás, jurubebas e daturas, porém,
apenas em áreas onde se pratica a bataticultura, mas não em áreas onde
não é praticada ou nunca se teve registro dessa cultura na região.

Etiologia e sintomas dos vírus regulamentados para a


produção de batata-semente nacional

Enrolamento da folha da batateira – Potato leafroll virus – PLRV


O PLRV, pertence ao gênero Polerovirus e à família Luteoviridade.
Apresenta partículas icosaédricas, com 24nm de diâmetro e tem como
ácido nucléico um RNA de fita simples senso positivo linear, com aproxi-
madamente 5,9kb. Em plantas de batata, os sintomas morfológicos cau-
sados pelo PLRV podem ser de dois tipos: os provenientes de infecção na
estação corrente devido à inoculação pelo inseto vetor, chamados primá-
rios, e os provenientes de tubérculos contaminados oriundos de plantas
infectadas na estação anterior, chamados secundários.
A infecção primária pode ocorrer na fase de brotos da batata-semente
(nas caixas, antes do plantio) ou nas plantas recém-emergidas (3 a 5 cm
de altura, com três ou quatro folíolos). Os sintomas primários aparecem
nas folhas jovens, no topo da planta, que mostra folhas mais eretas com
bordas dos folíolos enroladas para cima. Estes ficam quebradiços, com
uma cor amarelo pálido, sendo que em algumas cultivares pode apresen-
tar epinastia e arroxeamento ou avermelhamento. Se a infecção primária

161
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

ocorrer no final do ciclo, a planta pode não mostrar nenhum sintoma, mas
pode haver translocação dos vírus para os tubérculos. No entanto, existem
casos em que plantas infectadas no início do ciclo da cultura, como plan-
tas emergidas a partir de brotos contaminados, são severamente afetadas
podendo apresentar alterações semelhantes às observadas nos sintomas
secundários.
Na infecção secundária, a intensidade dos sintomas pode ocorrer em
função da insolação, variedade e idade da planta geralmente aos 20 – 30
dias após a emergência. Os sintomas secundários ocorrem principalmente
nas folhas inferiores e as demais folhas formam um ângulo agudo em rela-
ção à parte superior da planta, que fica enfezada, com internódios curtos e
maior ramificação, produzindo tubérculos pequenos e escassos e apresen-
tando, em alguns casos, clorose, arroxeamento das bordas dos folíolos e
necrose dos vasos próximos do estolão (Figura 2A e B).

Figura 2. Planta de batata cv Bintje, infectada pelo Potato leafroll virus (PLRV), espécie de
Polerovirus. Sintomas da infecção secundária (vertical) em que o vírus perpetua via tubér-
culo/batata-semente (A). Destaca-se na sintomatologia da infecção pelo PLRV, o amarele-
cimento internerval e enrolamento (para cima) das folhas baixeiras (tornam-se corticosas);
sendo que o arroxeamento do bordo foliar é também parte desse quadro sintomatológico,
devido acumulo de anticianina e carbohidratos, decorrente do bloqueio que o PLRV causa
nos vasos de floema da planta (B).

Na infecção secundária a doença é sempre mais severa, mesmo não


sendo tão pronunciada no topo da planta, como ocorre na infecção pri-

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Viroses da baticultura
Renate K. Sakate • José A. C. de Souza-Dias • Marcelo A. Pavan
Angélica M. Nogueira • Andressa B. Giusto

mária. Em plantas de batata, os sintomas citológicos do PLRV prove-


nientes de infecção secundária, mostram uma necrose na região dos tubos
crivados e nas células companheiras, na porção da haste localizada logo
acima do tubérculo. As células afetadas pelo PLRV mostram um tipo de
goma amarelada, que lembra lignina ou suberina, e que aparece nas pare-
des celulares e no lúmen das células que sofreram colapso. As células do
parênquima ficam hipertrofiadas, comprimindo as células necróticas. A
necrose do floema caminha tanto em direção ao topo como em direção as
raízes e também aparece antes dos sintomas externos se tornarem visível.
Já nas infecções primárias, a necrose caminha primeiramente em direção
ao topo, de modo que, em alguns casos, é possível perceber o ponto de in-
fecção pela posição em que começa o enrolamento das folhas. Uma grande
quantidade de calose é depositada nos tubos crivados do floema de pecío-
los, hastes e tubérculos infectados.
O PLRV não é transmitido mecanicamente, apenas por afídeos de ma-
neira persistente circulativa. Os vírus para serem adquiridos precisam ser
ingeridos por afídeos durante a alimentação no floema de plantas infec-
tadas o que exige um tempo maior para aquisição e transmissão do que
o requerido por outros tipos de vírus. O tempo necessário para aquisição
é variável, dependendo da estirpe do vírus, do inseto vetor e da planta
hospedeira. Os dados existentes na literatura são variáveis, relatando um
tempo mínimo de aquisição desde 2 minutos até 4 horas. O Myzus persicae
pode adquirir o PLRV de uma planta infectada num período curto como
dois minutos. A eficiência de transmissão do vírus pelo inseto aumenta
com o período de aquisição. Para o PLRV esse período foi de 5 a 7 dias.
Para a maioria dos luteovírus, é possível se conseguir uma transmissão
eficiente com um período de aquisição e de inoculação igual há 24 horas.
O período de latência, compreendido pelo tempo necessário para que o
afídeo comece a transmitir o vírus, após a sua aquisição, também não é
muito constante, podendo variar de um para outro vírus. Para o PLRV,
o período de latência em seu inseto vetor, varia entre 12 e 54 horas. Esse
período pode ser também influenciado pela temperatura, aumentando
quando esta diminui. Apesar de ser observado que o conteúdo de vírus
em afídeos que se alimentaram a 27 ºC era menor que o daqueles que se
alimentaram a 15 ºC, não foi notado nenhuma influência dessas tempera-
turas no período de latência do vírus. O período de latência é um parâme-

163
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

tro difícil de ser estimado, sujeito a muitas variações, portanto autores têm
optado por trabalhar com o período médio de latência chamado LP50. O
pulgão Macrosiphum euphorbiae é altamente ineficiente para transmitir o
PLRV, o que não ocorre com Myzus persicae. Entretanto, após se alimen-
tar em plantas infectadas, uma quantidade razoável de partículas pode ser
detectada em M. euphorbiae. Essas observações sugeriram primeiramente
que a especificidade vírus-vetor seria determinada não propriamente pela
falha do vetor em adquirir o vírus e que a maior barreira não estaria no in-
testino do inseto, mas sim na eficiência das glândulas salivares acessórias.
Portanto, a especificidade vírus-vetor depende de três fatores principais:
a) restrição de partículas de vírus no floema; b) habilidade das partículas
virais em passar da hemolinfa para a saliva; e c) estabilidade da partícula
viral no intestino, na hemolinfa e na saliva do inseto.
A bactéria endossimbionte do gênero Buchnera presente no inseto tam-
bém interfere na transmissão do PLRV através do pulgão Myzus persicae.
Essa bactéria teria um papel fundamental na determinação da natureza de
persistência do vírus no vetor, e a proteína denominada simbionina seria
um ponto chave para essa interação.

Mosaico Y da batateira – Potatovirus Y – PVY


O PVY, pertence ao gênero Potyvirus e à família Potyviridade e é dis-
tribuído mundialmente. Apresenta partículas alongadas, flexuosas e heli-
coidais, com 730nm de comprimento por 11nm de diâmetro e tem como
ácido nucléico um RNA de fita simples senso positivo linear, com aproxi-
madamente 9,7kb. Em batateirais, é o agente etiológico do mosaico mais
comumente detectado. Os sintomas causados pelo PVY, dependem da
variedade e das condições de fertilidade do solo, temperatura, umidade,
e, principalmente, da estirpe do PVY. Os sintomas do mosaico começam
nas nervuras e são geralmente visíveis com maior intensidade em folhas
novas de plantas em crescimento ativo e diminuem quando cessa o cres-
cimento. Quanto às estirpes, são conhecidas pelo menos três a nível mun-
dial: PVYN, PVYO e PVYC.
A estirpe PVYN é predominante na Europa e inclusive na Rússia, bem
como partes da África e América do Sul. No Brasil, foi detectada em lo-
tes de batata-semente oriundos da Argentina. Foi também detectada

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Viroses da baticultura
Renate K. Sakate • José A. C. de Souza-Dias • Marcelo A. Pavan
Angélica M. Nogueira • Andressa B. Giusto

na América do Norte, em um surto ocorrido no início da década de 90.


Quanto aos sintomas, na infecção primária, ocorrem geralmente anéis
ou pontuações necróticas nas folhas. Infecção sistêmica do vírus leva o
aparecimento de sintomas de mosaico nas folhas apicais geralmente leve
e no final do ciclo. Pode haver casos de apenas uma haste da planta-cova
expressar sintomas, porém testes de hastes sem sintomas de uma mesma
planta-cova (oriundas de uma mesma batata-semente) mostram a presen-
ça do vírus. Os sintomas secundários são difíceis de serem visualizados
em campos com condições nutricionais adequadas e com plantas isentas
de vírus, no entanto, geralmente ocorrem na forma de mosaico com re-
dução do tamanho foliar. Sintomas de depressão das nervuras nas folhas
apicais e redução no crescimento podem ser visualizados, dependendo
das condições climáticas (difíceis de serem reconhecidas em temperaturas
abaixo de 10ºC ou acima de 21ºC). Em infecções tardias geralmente não
são observados sintomas na folhagem, embora o vírus possa ser transloca-
do para os tubérculos onde é assintomático. No entanto, existe evidências
de perdas relacionadas com o aumento no teor de açúcares nos tubérculos
de algumas variedades, afetando o processamento. Nos últimos anos, a
estirpe PVYNTN tem recebido atenção mundial devido à alta virulência e
agressividade e a sua capacidade de ocasionar doença em variedades de
batata resistentes às estirpes mais comuns de PVY. No Brasil, o vírus foi
detectado pela primeira vez em 1997. Os sintomas, além de mosaico bas-
tante evidente, com folíolos apicais ondulados e de tamanho menor que
os de plantas sadias, têm característica marcante em hospedeiros com alta
suscetibilidade, quase que exclusiva e distinta dentre as demais, que é a
da expressão inicial de sintomas de arcos e anéis em forma de erupção da
epiderme que avançam para necrose dos tecidos após colheita e armazena-
mento (Figuras 3A, B, C e D).

165
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Figura 3. (A) Plantas de batata cv Atlantic, com infecção de perpetuação do Potato virus Y
(PVY), Potyvirus. Os sintomas da infecção geralmente são observados na forma de clorose ou
amarelecimento do limbo foliar, de folíolos apicais; (B) As folhas sintomáticas apresentam
ligeira ondulação do limbo foliar; sugerindo aprofundamento e enrugamento das nervuras
secundárias; Notar que esses sintomas foliares, genericamente denominado de “mosaico”,
são de difícil reconhecimento em campo, principalmente em dias ensolarados, sendo neces-
sária o sombreamento da planta para facilitar e permitir a observação, reconhecimento da
planta infectada. (C) O vírus PVYN é reconhecido biologicamente pela expressão de necrose
em nervuras das folhas de plantas-testes de fumo (Nicotiana tabaccum cv Turkish)

A estirpe PVYO é predominante na América do Norte, porém encon-


tra-se disseminado no mundo todo. Na infecção primária, os sintomas po-
dem variar desde mosaico a amarelecimento dos folíolos apicais que podem
apresentar também nervuras enrugadas e aspecto deformado. As folhas

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Viroses da baticultura
Renate K. Sakate • José A. C. de Souza-Dias • Marcelo A. Pavan
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geralmente desenvolvem necrose nas nervuras acompanhadas de anéis ou


riscas pardas. A necrose pode avançar para o pecíolo, derrubando a folha ou
deixando-a pendurada à haste, restando apenas às folhas do ponteiro que
mostram encarquilhamento. Desse modo, a planta adquire aparência de
uma palmeirinha ou pinheirinho, podendo expressar sintomas em apenas
uma haste da planta-cova, o que torna a presença do vírus bastante sugesti-
va da ocorrência de infecção primária (disseminação durante a estação cor-
rente). Os sintomas secundários possuem menor severidade, caracterizados
por um mosaico brando, menor desenvolvimento da planta e afundamento
das nervuras das folhas que se curvam para baixo em relação às hastes. A
necrose nas folhas e hastes nem sempre é observada, no entanto quando
ocorre é mais fraca do que na infecção primária. Algumas variedades rea-
gem de forma hipersensível ao PVYO, manifestando sintomas de riscas e
anéis necróticos, parecidos aos do PVYC, inclusive com reação de necrose
nos tubérculos. Quando o PVYO ocorre em infecção mista com o Potato
virus X (PVX), os sintomas da infecção secundária são muito mais severos,
mas sempre limitados à parte aérea, conferindo às folhas um aspecto áspero,
enrugado, denominado de mosaico rugoso.
A estirpe PVYC conhecida como estirpe comum ocorre com mais fre-
qüência na Austrália e algumas regiões da Europa. Não há relatos de sua
ocorrência no Brasil. Quanto aos sintomas, na infecção primária, ocorre
geralmente mosaico e enrugamento das folhas. Na infecção secundária é
comum aparecer necrose em forma de risca, terminando com círculo ou
ponto necrótico. As folhas também apresentam mosaico rugoso, seme-
lhante aos da interação com PVX. As necroses são mais severas que na
infecção primária e podem causar morte da planta. Geralmente ocorrem
necroses internas e externas aos tubérculos. Há um grande número de va-
riedades de batateira hipersensíveis ao PVYC.
O PVY pode ser transmitido por extrato vegetal, por enxertia de haste
e por afídeos. São várias as espécies de afídeos capazes de adquirir e trans-
mitir o PVY, mesmo àquelas que não se alimentam na planta de batata.
A transmissão por afídeos ocorre de maneira não persistente e, portanto
o vírus fica estrito ao aparelho bucal do afídeo vetor. Os períodos de aqui-
sição e inoculação são muito rápidos entre 10 a 20 segundos e o tempo de
retenção do vírus no estilete é em torno de uma a duas horas, podendo
ocorrer limpeza ou perda das partículas virais durante as picadas de prova.

167
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Assim, antes mesmo de se estabelecerem na planta e decidirem proceder à


alimentação, inserindo os estiletes em células mais profundas (floema), as
partículas do PVY podem ser inoculadas e conseqüentemente causarem a
infecção da planta.
A disseminação do PVY ocorre dentro da plantação, a partir de plan-
tas fontes de inoculo introduzidas via tubérculos infectados. Em geral, a
planta com infecção primária ou secundária de PVY tem sua produção
reduzida em 15 a 80%sendo geralmente maior em infecções secundárias.
Perdas relevantes são geralmente encontradas quando em associação com
outros vírus, como o PVS e PVX.

Vírus X da batateira – Potato virus X – PVX


O PVX, pertence ao gênero Potexvirus, família Alphaflexiviridae. Apre-
senta partículas alongadas e flexíveis, com 515nm de comprimento por
13nm de diâmetro e tem como ácido nucléico um RNA de fita simples,
com aproximadamente 6,4 kb. A manifestação de sintomas causados pelo
PVX é de difícil visualização a campo e geralmente consiste de mosaico
leve nas folhas e mosaico internerval em pequenas faixas. Em comparação
com plantas sadias pode-se verificar também ligeira redução no tamanho
foliar e no desenvolvimento da planta. Os sintomas tornam-se acentuados
quando em interação sinérgica com outros vírus como PVY, consistindo
de mosaico severo e rugosidade nas folhas.
Existem muitas variedades resistentes ao PVX, e também outras que
respondem à infecção por meio de lesões necróticas impedindo a propaga-
ção sistêmica do vírus. A cultivar Atlantic, muito utilizada na indústria de
processamento no Brasil, é considerada imune a esse vírus.
O PVX não é transmitido por insetos vetores. Devido à alta estabilida-
de das partículas virais é facilmente transmitido por contato entre folhas
(vento, animal), pelo toque mecânico de plantas (tratos culturais, irriga-
ção), de tubérculos (classificadeiras, cortes de batata-semente, plantadei-
ras) e brotos (praticamente qualquer manipulação do tubérculo brotado
ou na movimentação dentro de caixas ou plantadeiras).
Muitos pesquisadores acreditam que a patogenicidade do PVX não está
limitada a uma única mudança no aminoácido e sugerem que outras regiões
do genoma do vírus, além do gene da proteína da capa, podem estar envol-

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Viroses da baticultura
Renate K. Sakate • José A. C. de Souza-Dias • Marcelo A. Pavan
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vidas na interação vírus-hospedeiro. Assim como outros vírus do gênero, o


PVX não é transmitido pela semente verdadeira, mas eficientemente per-
petuado pelos tubérculos semente. O PVX é capaz de sobreviver indefini-
damente em células hospedeiras vivas, de modo que, uma vez presente esse
pode permanecer infectivo nos tubérculos, desde que o tubérculo mantenha
a sua capacidade fisiológica de brotação. No Brasil, nos últimos 20 anos, o
PVX praticamente desapareceu dos campos de produção de consumo plan-
tados com batatas-semente oriundas de programa nacional de certificação,
mesmo após ter passado por várias multiplicações sucessivas.

Vírus S da batateira – Potato virus S – PVS


O PVS, pertence ao gênero Carlavirus e a família Betaflexiviridae.
Apresenta partículas alongadas e flexíveis, com 650nm de comprimento
por 12nm de diâmetro e tem como ácido nucléico um RNA de fita simples
senso positivo linear, com aproximadamente 7 kb. Os sintomas provoca-
dos pelo PVS geralmente são latentes, de modo que é muito difícil, e às
vezes impossível, fazer a sua diagnose visual em condições de campo. Al-
guns cultivares são mais suscetíveis e mostram um aprofundamento das
nervuras na parte superior da folha, que pode se tornar rugosa. Outras
reagem com um mosqueado leve, e às vezes a formação de uma banda
quase imperceptível ao longo das nervuras. As folhas velhas geralmente
não ficam uniformemente amarelas, podendo apresentar manchas acin-
zentadas, às vezes bronzeadas. Em raras ocasiões, dependendo da culti-
var e da severidade da estirpe, as folhas podem apresentar bronzeamen-
to, rugosidade severa e desenvolver pontuações esverdeadas ou manchas
necróticas na sua superfície superior. O crescimento das hastes de uma
planta-cova é mais aberto e espalhado.
A maioria dos isolados de PVS conhecidos não possuem vetor, embo-
ra existam evidências de que Myzus persicae e Aphys nasturtii atuam na
transmissão de maneira não persistente da estirpe PVSA, não encontrada
no Brasil. Esses vírus possuem alta estabilidade, concentração e infectivi-
dade e podem ser mantidos infectivos por horas em materiais como alumí-
nio, ferro, solo e madeira. A transmissão ocorre por enxertia, inoculação
mecânica e pelo contato entre a planta sadia e a planta infectada. Desse
modo, o principal meio de introdução do PVS no campo é através de se-

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BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

mentes contaminadas, onde a disseminação ocorre facilmente através do


contato natural entre as plantas vizinhas, implementos agrícolas, roupas,
operações mecânicas durante o transporte, classificação, e também duran-
te o armazenamento na fase de desenvolvimento dos brotos.
As perdas devido ao PVS são questionáveis, havendo evidências de que
o PVS sozinho pode reduzir de 10 a 15%. Porém, se ocorrer infecção con-
junta com PVX ou PVY, as perdas na produção podem passar dos 30%.
Geralmente plantas infectadas possuem maior número de tubérculos do
tipo III a IV (<40 mm), já plantas com infecção primária podem ter ape-
nas parte de seus tubérculos infectados.
No Brasil o PVS continua ausente em plantações comerciais onde se
utiliza batata-semente derivada de programas de certificação.

Medidas Gerais de Controle das Viroses da Batateira


As medidas gerais de controle seguem as indicadas para os países de
clima temperados, tradicionais produtores e exportadores de batata-se-
mente para o Brasil, como Holanda, Alemanha e Suécia.
São recomendados os seguintes procedimentos para a produção e ma-
nutenção de batata-semente: 1. Escolha de local isolado de outras plantas
de batateira ou solanáceas que sirvam de reservatório de vírus; 2. Escolha
de variedades com bons níveis de resistência; 3. Uso de batata-semente
com altos níveis de sanidade; 4. Plantio em época mais adequada para
multiplicação do lote em função da menor população de afídeos (região de
altitude e época de janeiro a abril); 5. Erradicação de plantas sintomáticas
com viroses ou outras anomalias; 6. Controle de afídeos com aplicação
de inseticida mais óleo mineral; 7. Proteção física e química da batata-se-
mente até o plantio contra a visita e estabelecimento de afídeos.

A Tecnologia do Broto/Batata-semente: Um exemplo


da criatividade brasileira na ciência e tecnologia
transformando o sistema mundial de produção e
comercialização de batata-semente
Após quebra de dormência fisiológica, os tubérculos de batata (So-
lanum tuberosum L.) emitem brotos. Esses brotos são também denomina-

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Viroses da baticultura
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dos “gema”, “muda”, “talo”, “estaca”, “haste” etc. É uma estrutura dife-
renciada que se desenvolve inicialmente a partir dos “olhos” localizados
na “roseta” ou seja, na parte extrema, apical, dos tubérculos. Os olhos da
parte mediana até a região do estolão emitem brotos de forma mais precoce
ou mais tardia, em maior ou menor quantidade, mais ou menos vigoroso,
sempre em função da interação de diferentes fatores, tais como: genéticos,
temperatura de armazenamento; idade fisiológica, ação de agentes quími-
cos (gás bissulfureto de carbono, rendite, resíduo de herbicida, hormonais
etc.) ou de microorganismos (ex. fusariose). Entre esses fatores estimu-
lantes (promotores) de brotação, inclui-se também a própria desbrota, ou
seja, a retirada dos brotos apicais (dominantes), que resultam em rebrota
num mesmo olho e emergência de brotos em outros olhos do tubérculo.
No Brasil, produtores de batata-semente, geram um grande volume de
brotos ao prepararem os lotes de tubérculos/batata-semente, geralmente
das classes mais altas de sanidade, como é a “classe Básica”. Os lotes de
tubérculo/batata-semente classificados como básico é geralmente de ori-
gem nacional ou importada.
Entre os inovadores sistemas de produção de batata-semente básica, o
sistema que se utiliza de broto como “semente”, para produção e multipli-
cação de estoques básicos de batata-semente, seja na forma de minitubér-
culos ou tubérculos de tamanho normais, produzidos dentro de telados
anti-afídeos, destaca-se a “Tecnologia do Broto/Batata-semente”.
A inovação que a “Tecnologia do Broto/Batata-semente” apresen-
ta éa de fazer uso do broto como um material adicional na produção de ba-
tata-semente básica, em larga escala, sem prejudicar, ou até melhorar o tu-
bérculo/batata-semente no qual os brotos se desenvolvem. Nessa tecno-
logia, os brotos passam a ser utilizados como um material de propagação
adicional àquele que foi produzido como tal: Tubérculo/Batata-semente.
Passa a ser então, um sub-produto a ser obtido “em cima”, ou “na mesma
plataforma” dos sistema de produção de batata-semente básica, na forma
convencional de tubérculo-semente. Passa-se a ter dois e não apenas um
material de propagação a partir do sistema tradicional de produção de ba-
tata-semente básica: Tubérculos e Brotos.
Ao ser avaliado e aperfeiçoado, tanto por produtores de alta e média
infra-estrutura, sob diferentes níveis de qualificação tecnológica, a tecno-
logia do broto/batata-semente vem sendo, cada vez mais, uma inovadora

171
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

opção (alternativa) para produtores de alto ou médio nível econômico-es-


trutural, que visam reduzir custos na produção de batata-semente básica,
de alta sanidade.
Embora denominado “mini” os tubérculos produzidos podem variar de
1 a acima de 5 cm de diâmetro, dependendo do espaçamento entre plantas.
Aspectos tecnológicos do Broto/Batata-semente que merecem
destaque:
• Mesmo no momento atual da nanotecnologia, aparece e recebe des-
taque a nível internacional, esta tecnologia do broto/batata-semen-
te que prima pela simplicidade. Sua importância vem penetrando
no ambiente científico-tecnológico e, ao mesmo tempo, despertan-
do interesse do mercado, particularmente no âmbito da produção e
comercialização de batata-semente a nível nacional e internacional.
Isso tudo decorrente de fatores como: criatividade, pragmatismo e
não aceitação de preconceitos. Somam se a esses fatores a dedicação e
persistência dos idealizadores da tecnologia do broto/batata-semen-
te. O entusiasmo e a capacidade de divulgação dos resultados de alta
qualidade e baixo custo dos lotes de mini-tubérculos produzidos na
tecnologia do broto/batata-semente tem possibilitado aos criadores
dessa inovadora tecnologia, conquistar colaboradores, tanto da área
científica como produtora. São colaboradores que se destacam pelo
profundo conhecimento técnico/científico/aplicado, bem como na
persistência e disposição de avaliação/validação da tecnologia.
• O embasamento técnico-científica que a tecnologia do broto/batata-
-semente apresenta, tem levado à transposição de barreiras solidifica-
das pelo pré-conceito, pela tradição e conseqüentemente pelo incô-
modo, natural que se tem frente ao “novo” ; descrença inicial frente
ao “simples”, comparado com sistemas convencionais complexos de
produção e comercialização-transporte.
• Pela evidente baixa complexidade na execução da tecnologia, esta
tem alcançado vários níveis de produtores. A tecnologia do broto/
batata-semente tem começado a ser ouvida em sistemas consolida-
dos, há décadas ou séculos, de produção e comercialização de batata-
-semente, despertando atenção e interesse da comunidade científica
e produtora de norte a sul, leste a oeste, tanto no território brasileiro
como na esfera global.

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Viroses da baticultura
Renate K. Sakate • José A. C. de Souza-Dias • Marcelo A. Pavan
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Considerações Finais
Dentre os inúmeros problemas fitossanitários que afetam a cultura da
batata estão às moléstias causadas por vírus, conforme se nota pelos inú-
meros autores que atribuíram e atribuem às viroses os mais sérios prejuí-
zos econômicos que se verificavam na cultura da batata, principalmente
no que se refere à degenerescência da batata-semente. A cultura da batata
é afetada por mais de 40 diferentes espécies de vírus, relatadas em várias
localidades produtoras do mundo. Apesar do grande número de vírus ca-
pazes de infectar a batateira, poucos vírus destacam-se como causadores
de doenças importantes, tanto no Brasil como em outras partes do mundo.
Dentre os poucos vírus causadores de degenerescência da batata-semente
no mundo, destacam-se o PLRV e o PVY como os mais importantes. Em
menor escala aparece o PVX e o PVS, estes dois vírus são considerados
causadores de perdas não significativas economicamente e de modo geral
estão ausentes ou raramente encontrados em batata-semente produzida
sob sistema de certificação no Brasil. Enquanto no Brasil esses dois vírus
não estão presentes, praticamente, e, portanto com índices de tolerância
inferior a 5% na batata-semente de menor classificação (Certificada de 2ª
geração), em outros países, destacando-se os países do Cone Sul, o per-
centual oficial de tolerância chega a ser 10 vezes superior. Conforme ante-
riormente mencionado, há países da América do Norte em que níveis de
100% do PVS e, ou PVX são considerados passíveis de classificação como
batata-semente o que torna necessário proteger a bataticultura nacional
contra a introdução de sementes com baixa qualidade fitossanitária, que
poderiam comprometer os campos brasileiros de produção.

Referências bibliográficas
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Marcelo Eiras
Laboratório de Fitovirologia e Fisiopatologia, Centro de Pesquisa de Sanidade
Vegetal, Instituto Biológico, São Paulo, SP. E- mail: eiras@biologico.sp.gov.br

Viroides: minúsculos RNAs dotados de propriedades únicas


Os viroides são considerados um caso particular dentre os patógenos
que infectam plantas. São minúsculos RNAs circulares de cadeia simples,
com tamanho que oscila entre 246 a 401 nucleotídeos, genoma 10 vezes
menor que o genoma do menor vírus de plantas conhecido. Além disso,
são “desnudos”, ou seja, diferentemente dos vírus, não possuem envol-
tório proteico (capa proteica) para proteger seu RNA. Embora aparente-
mente bastante simples, os viroides, com seus genomas mínimos, são ca-
pazes de infectar plantas causando, em determinadas situações, doenças,
algumas delas de grande relevância econômica (Eiras et al., 2006; Flores
et al., 2005; Hadidi et al., 2017).
Considerados parasitas da maquinaria de transcrição celular, os viroi-
des apresentam similaridades estruturais e evolutivas com alguns RNAs

179
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

satélites de vírus de plantas, além de terem em comum a replicação via


círculo rolante. Porém, são os únicos capazes de completar seu ciclo infec-
cioso de maneira autônoma, sem codificar proteínas e sem a necessidade
de um vírus auxiliar (Eiras, 2017). Os viroides se replicam por meio de
um mecanismo de círculo rolante com intermediários exclusivamente de
RNA, recrutando algumas enzimas chave no metabolismo dos ácidos nu-
cleicos da célula hospedeira (Steger & Riesner, 2018).
As cerca de 30 espécies conhecidas de viroides estão classificadas em duas
famílias: Pospiviroidae e Avsunviroidae (Di Serio et al., 2014; 2017). Além
de particularidades estruturais de suas moléculas de RNA, os membros da
família Pospiviroidae possuem uma região central conservada (CCR), repli-
cam-se no núcleo da célula hospedeira por um mecanismo de círculo rolan-
te assimétrico, sem a participação de ribozimas (RNAs autocatalíticos). A
replicação desses viroides ocorre com a participação da RNA polimerase II
DNA dependente (associada a fatores de transcrição celulares e proteínas
ribossomais), RNAse III (um tipo de Dicer) e DNA ligase I, enzimas pre-
sentes na célula hospedeira que são recrutadas pelos viroides para mediar,
respectivamente, a replicação, corte (dos oligômeros) e circularização dos
RNAs monoméricos (Eiras et al., 2011; Dissanayaka Mudiyanselage et al.,
2018; Jiang et al., 2018; Nohales et al., 2012a). Há cinco gêneros pertencen-
tes a esta família: Pospiviroid, Hostuviroid, Cocadviroid, Apscaviroid e Cole-
viroid (Di Serio et al., 2014; 2017). Para os membros da família Avsunviroi-
dae, a replicação ocorre nos cloroplastos e segue um mecanismo de círculo
rolante simétrico, mediado pela NEP (uma RNA polimerase cloroplástica)
com a participação de ribozimas cabeça de martelo (hammerhead) presen-
tes nas moléculas de ambas as polaridades do RNA dos viroides, que pro-
movem a autoclivagem dos oligômeros em monômeros lineares. A ligação
dos monômeros (circularização) é realizada pela tRNA ligase cloroplástica
(Nohales et al., 2012b). Os membros pertencentes à família Avsunviroidae
são classificados em três gêneros: Avsunviroid, Pelamoviroid e Elaviroid (Di
Serio et al., 2014; 2017).
Além de sua importância por serem patógenos de plantas, os viroides são
considerados modelos muito interessantes para estudos de diferentes aspec-
tos da biologia dos ácidos nucleicos e podem ser utilizados como poderosas
ferramentas biotecnológicas (Daròs et al., 2018; Steger & Riesner, 2018). Ao
contrário de outros agentes subvirais como RNAs defectivos interferentes,

180
Potato Spindle Tuber Viroid e o afilamento do tubérculo...
Marcelo Eiras

RNAs satélites e vírus satélites, os viroides não requerem a presença de um


vírus auxiliar para o estabelecimento das infecções nas células hospedeiras.
Um viroide, portanto, contém em seu minúsculo genoma toda a informação
(e estrutura) que garante a sua replicação, seu movimento intracelular (entre
compartimentos da célula), o movimento célula a célula (a curtas distâncias)
até atingir o floema (movimento a longas distâncias na planta), que o permi-
te estabelecer a infecção sistêmica na planta hospedeira. O processamento,
replicação, movimento e patogênese dos viroides envolvem a participação
de fatores, enzimas e rotas presentes na célula hospedeira (Owens & Ham-
mond, 2009; Hammann & Steger, 2012; Flores et al., 2015).

Potato spindle tuber viroid (PSTVd)


A descoberta dos viroides, há cerca de 50 anos, foi consequência dos
trabalhos de alguns grupos de pesquisa que tentavam elucidar os agentes
causais de doenças com características similares àquelas induzidas por ví-
rus como o “afilamento do tubérculo da batata”, a “exocorte dos citros” e
o “nanismo do crisântemo” (Singh, 2014). Em 1971, o Prof. Dr. Theodor
O. Diener identificou o agente causal do “afilamento do tubérculo da bata-
ta” (em inglês: potato spindle tuber) como sendo um viroide, propondo essa
terminologia para um grupo novo de patógenos, não convencionais, com
propriedades genéticas e estruturais distintas dos vírus (Diener, 1971; Die-
ner, 2003). Portanto, o “afilamento do tubérculo da batata”, relatado pela
primeira vez no início da década de 1920, doença que inicialmente era atri-
buída a um possível vírus, foi comprovada ser induzida por um viroide, que
foi denominado Potato spindle tuber viroid (Diener, 1971), e que atualmente
corresponde à espécie tipo do gênero Pospiviroid, família Pospiviroidae (Di
Serio et al., 2014; 2017). A sequência e a estrutura secundária desse viroide
foram determinadas anos mais tarde por Gross et al. (1978).
O potato spindle tuber viroid (PSTVd) foi relatado pela primeira vez
na América do Norte, e em seguida foi disseminado para outros continen-
tes por meio do intercâmbio de tubérculos (batata-semente) infectados,
tendo sido, até o momento, descrito nos seguintes países: Afeganistão,
África do Sul, Argentina, Austrália, Canadá, China, Costa Rica, Egito, Es-
tados Unidos, Índia, Japão, Nigéria, Nova Zelândia, Peru, Polônia, Rússia
e Ucrânia (Hadidi et al., 2017). Este patógeno não ocorre no Brasil, é consi-

181
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

derado praga quarentenária A1, e já foi detectado e interceptado em batata


importada mantida em serviço de quarentena por técnicos da Embrapa (Ba-
tista et al., 1995; Batista et al., 2002; Eiras et al., 2006).
Em batata, o PSTVd induz os seguintes sintomas: (i) afilamento dos
tubérculos (Figura 1), que dá nome à doença (e também ao viroide); (ii)
presença de pequenos “olhos-superficiais” nos tubérculos, os quais podem
evoluir para rachaduras, inviabilizando a comercialização; (iii) redução do
desenvolvimento e crescimento da planta (nanismo) com consequente re-
dução do tamanho dos tubérculos, afetando a produção; (iv) folhas e fo-
líolos com tamanho reduzido, malformados, com alteração na coloração e
encrespamento das margens; e (v) pontos necróticos em pecíolos e ramos
principais. Os sintomas podem ser mais severos em condições de elevadas
temperaturas e luminosidade, evidenciando um risco ainda maior para os
cultivos em casas de vegetação e nas regiões de climas tropical e subtropical.
É importante ressaltar que tanto em plantas de batata como em muitas ou-
tras espécies hospedeiras, principalmente ornamentais, infecções por PST-
Vd costumam transcorrer sem a indução de sintomas, facilitando a difusão
desse viroide via trânsito de material vegetal infectado (Owens, 2007).

Figura 1. À esquerda, tubérculo de batata (Solanum tuberosum) ‘Ágata’ com sintoma de


afilamento induzido pelo potato spindle tuber viroid (PSTVd); à direita, tubérculo sadio,
livre do viroide.

182
Potato Spindle Tuber Viroid e o afilamento do tubérculo...
Marcelo Eiras

A gama de hospedeiros do PSTVd é dependente do seu genoma, ou


seja, simples mutações podem alterar tanto a sua capacidade de infectar
um determinado hospedeiro, como também a severidade dos sintomas in-
duzidos (Wassenegger et al., 1996; Owens & Hammond, 2009). Porém,
de uma maneira geral, o PSTVd possui uma ampla gama de hospedeiros,
podendo infectar mais de 160 espécies de plantas em pelo menos 13 famí-
lias botânicas (Singh et al., 2003), incluindo outras solanáceas de impor-
tância econômica como pimentão (Capsicum annuum), berinjela (Solanum
melongena) e o tomateiro (Solanum lycopersicum). Os sintomas iniciais de
uma infecção por PSTVd em tomateiro podem levar a uma redução do
crescimento e clorose no topo da planta (doença conhecida por ‘bunchy top’
do tomateiro), podendo evoluir para um subdesenvolvimento (nanismo)
da planta. Pode ocorrer também uma paralisação da floração e da produ-
ção de frutos, comprometendo a produção. Além disso, é importante res-
saltar que a severidade dos sintomas pode variar de acordo com a cultivar
e a estirpe (ou variante de sequência) do PSTVd. Por exemplo, no cultivar
de tomateiro ‘Rutgers’ (suscetível), um isolado severo de PSTVd pode
induzir enrolamento foliar e nanismo, enquanto no cultivar ‘Moneyma-
ker’ (tolerante) este mesmo isolado não induz nanismo, embora o viroide
se acumule em concentrações elevadas na planta (Wang et al., 2011). Os
sintomas induzidos pelo PSTVd em pimentão são geralmente bem mais
brandos, podendo se observar, em algumas situações, uma distorção das
margens das folhas do ápice da planta (Owens & Verhoeven, 2009).
O PSTVd é considerado também um patógeno importante para orna-
mentais e já foi descrito, em outras partes do mundo, infectando as seguin-
tes espécies: Argyranthemum frutescens, Brugmansia suaveolens, Calibra-
choa spp., Cestrum spp., Dahlia spp., Datura sp., Diascia sp., Lycianthus
rantonnetii, Matricaria chamomilla, Petunia spp., Solanum jasminoides, S.
rantonnetii e Streptosolen jamesonii. É importante lembrar que a infecção
nessas espécies ornamentais transcorre sem a indução de sintomas apa-
rentes. Com isso, os cultivos de ornamentais podem representar um sério
risco para os cultivos de batata e tomate, servindo de fonte de inóculo do
viroide. Além disso, devido à sua ampla gama de hospedeiros, é possível
que o PSTVd possa infectar muitas outras espécies, o que significa que
sua entrada, no Brasil, poderia ser desastrosa para diferentes setores da
agricultura nacional. Vale ressaltar também que é muito comum a intro-

183
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

dução (muitas vezes de maneira informal) de variedades novas de horta-


liças e plantas ornamentais, o que pode facilitar a introdução do viroide
(Gobatto & Eiras, 2017).
As perdas causadas devido às infecções pelo PSTVd em plantios de
batata variam de acordo com o isolado (patógeno) e o cultivar (hospedei-
ro), podendo causar um decréscimo de mais de 60% no rendimento da
cultura (Owens, 2007; Matsushita & Tsuda, 2015; Mackie et al., 2016;
Hammond, 2017). O PSTVd afetou, no século XX, tanto plantios comer-
ciais de batata como também a produção de batata-semente em várias par-
tes do mundo. Estimativas de perdas de rendimento devido às infecções
pelo PSTVd foram calculadas em cerca de 1% relativo ao total de batata
produzida na América do Norte. Atualmente, devido aos testes eficien-
tes de diagnóstico e às certificações extensivas que vêm sendo realizados
durante a produção de batata-semente, houve uma redução substancial
do impacto do PSTVd sobre a produção de batata na maioria dos países.
Em tomateiro, o PSTVd ocasionalmente causa perdas de produção, mas
é pouco significativo, pois o número de surtos registrados ainda é muito
baixo (Owens, 2007; Owens & Verhoeven, 2009).

Transmissão e aspectos da epidemiologia do PSTVd


O intercâmbio internacional de material de propagação vegetativa (tu-
bérculos e estacas) têm sido uma das principais vias de difusão do PSTVd.
Além disso, a facilidade de transmissão mecânica do PSTVd por meio de
ferramentas contaminadas (canivetes e tesouras), normalmente emprega-
das em sistemas de propagação vegetativa, também contribui para a di-
fusão desse patógeno. Vale lembrar que o PSTVd, assim como os outros
viroides, pode ser transmitido por enxertia, sementes verdadeiras (trans-
missão vertical) e pólen (transmissão vertical e horizontal) (Mink, 1993;
Matsushita et al., 2018). O PSTVd teve sua transmissão por pólen com-
provada para plantas de batata, tomateiro e petúnia (Singh et al., 2003),
e, mais recentemente, comprovou-se que porções específicas da molécula
do viroide interferem na sua capacidade de serem transmitidos vertical e
horizontalmente por pólen (Yanagisawa et al., 2019).
O agricultor também tem seu papel na disseminação do PSTVd, pro-
movendo sua transmissão durante as práticas culturais, principalmente

184
Potato Spindle Tuber Viroid e o afilamento do tubérculo...
Marcelo Eiras

em campos de produção de batata e tomate, podendo-se muitas vezes ob-


servar que o viroide se alastra ao longo das linhas de cultivo (Owens &
Verhoeven, 2009). A transmissão do PSTVd por afídeos foi relatada em
associação com partículas do potato leafroll virus (PLRV; Polerovirus),
porém, a importância dessa transmissão é relativa e a epidemiologia do
viroide, nesse caso específico, é dependente da epidemiologia do vírus
(Singh et al., 2003).
O PSTVd tem aspectos epidemiológicos complexos, principalmen-
te em função da ampla gama de espécies hospedeiras, sendo que a in-
fecção na maioria das vezes transcorre sem indução de sintomas. Além
disso, o PSTVd apresenta diversas possibilidades de transmissão, o que
inclui múltiplas variáveis possíveis no entendimento da epidemiologia
da doença, que podem ocorrer simultaneamente. A propagação vege-
tativa contribui para a fácil disseminação do PSTVd, principalmente
em infecções assintomáticas, como nos casos da batata-semente, que
é propagada por tubérculos, e algumas espécies de plantas ornamen-
tais, propagadas por estacas infectadas. A transmissão pode ocorrer
também por meio de maquinário ou ferramentas contaminadas, além
de pulgões que podem carregar o PSTVd de carona em partículas do
PLRV. Sementes infectadas também podem ser fontes de infecção para
algumas culturas como o tomateiro e o pimentão, que são cultivados
a partir de sementes verdadeiras. A proximidade de cultivos de hor-
taliças e ornamentais também pode facilitar a manutenção do PSTVd
no campo, tanto nas próprias plantas cultivadas como em espécies da
vegetação espontânea (Gobatto & Eiras, 2017; Gobatto et al., 2019;
Mackie et al., 2016).

Os desafios para o manejo e controle do PSTVd


As medidas preventivas são as mais importantes e efetivas para o con-
trole dos viroides. Especificamente, no caso do PSTVd, é fundamental
que se utilizem materiais de propagação vegetativa (batata-semente ou es-
tacas para ornamentais) sadios. Iniciar um novo cultivo sem a presença do
viroide é a base para o sucesso do controle desses patógenos. Porém, esta
medida preventiva de controle está diretamente associada ao bom desem-
penho de outras práticas e cuidados, tais como: (i) a redução do trânsito

185
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

de materiais propagativos a partir de áreas de ocorrência do PSTVd; (ii) a


adoção de programas de indexação e certificação fitossanitária eficientes;
(iii) serviços de quarentena bem implementados com métodos de detecção
que apresentem elevada especificidade e sensibilidade; (iv) acompanha-
mento da cultura e eliminação de plantas com sintomas; (v) controle de
plantas daninhas, que podem ser hospedeiras alternativas do PSTVd; (vi)
desinfecção de ferramentas (canivetes e tesouras de poda) com solução de
hipoclorito de sódio 5%.
É muito importante também evitar a introdução de viroides através
de atividades humanas. Devido à sua fácil transmissão mecânica, o PS-
TVd pode ser introduzido em um cultivo através das mãos, roupas ou
equipamentos usados por pessoas que trabalham ou visitam as casas de
vegetação. Recomenda-se o uso de luvas descartáveis, roupas e equipa-
mentos, que devem permanecer dentro das casas de vegetação, dificul-
tando a introdução do viroide no interior dos cultivos protegidos. Re-
comenda-se também que se mantenha uma única cultura, ou se houver
mais de uma, que sejam separadas em lotes, de preferência em diferentes
compartimentos no interior das casas de vegetação. Além disso, como o
PSTVd pode ser transmitido por afídeos, recomenda-se plantar bata-
tas-semente livres de PLRV e, se possível, controlar as populações de
pulgões (Owens, 2007; Owens & Verhoeven, 2009).
A resistência genética representa o modo mais efetivo de controle de
vírus e também de viroides. Porém, embora fontes de resistência tenham
sido identificadas em Solanum berthaultii (Singh, 1985), e tolerância (in-
fecção pelo viroide sem a manifestação de sintomas – latência) tenha sido
observada em S. tuberosum, até o momento não há disponível no mercado
variedades de batata resistentes ao PSTVd. Entretanto, já foi demonstra-
do que batatas transgênicas, expressando uma ribozima (do tipo cabeça-
-de-martelo) que atua em trans nas fitas de polaridade negativa do PST-
Vd (clivando as moléculas de RNA do viroide), comportaram-se como
altamente resistentes (Yang et al., 1997), e plantas de batata transgênicas
expressando o gene da ribonuclease de levedura Pac1 também foram re-
sistentes ao PSTVd (Sano et al., 1997). Porém, não há no mundo grandes
esforços nesse sentido, uma vez que se trata de um patógeno que pode ser
contido por meio de outras medidas preventivas de controle (Pfannenstiel
& Slack, 1980; Owens, 2007).

186
Potato Spindle Tuber Viroid e o afilamento do tubérculo...
Marcelo Eiras

A erradicação de um patógeno é uma decisão extrema, e está baseada


na eliminação de plantas infectadas, seguida de limpeza dos equipamen-
tos e casas de vegetação onde essas plantas foram cultivadas. Entretanto,
essa prática, apesar de difícil, trabalhosa e muitas vezes onerosa, pode ser
bastante eficiente se bem realizada. No campo, rotações sucessivas de cul-
turas podem ajudar a eliminar as plantas espontâneas infectadas (fontes/
reservatório) de viroides). Em casa de vegetação, a eliminação do patógeno
deve seguir procedimentos exaustivos de lavagens, limpeza e desinfecções
de todos os materiais utilizados, incluindo vasos, tubos plásticos, bicos de
irrigação, gotejadores, etc. (Owens & Verhoeven, 2009).

Métodos de detecção
A detecção dos viroides, incluindo o PSTVd, se baseia em técnicas bio-
lógicas e moleculares. Os viroides, ao contrário dos vírus, não possuem
capa proteica e não codificam proteínas, sendo constituídos exclusiva-
mente por moléculas de RNA, o que impossibilita o uso de técnicas soro-
lógicas para o seu diagnóstico (Eiras, 2012). As principais técnicas empre-
gadas para a detecção do PSTVd são: (i) inoculação mecânica em plantas
indicadoras, principalmente o tomateiro ‘Rutgers’, que é suscetível ao
PSTVd; (ii) dupla eletroforese em géis de poliacrilamida (PAGE), técnica
bastante utilizada, que se baseia na estrutura e propriedades físico-quími-
cas dos viroides e visa à separação das moléculas de RNA circulares das
moléculas lineares; (iii) hibridização com sondas específicas de RNA ou
de DNA (dot-blot ou northern-blot); (iv) RT-PCR empregando-se primers
específicos para o PSTVd ou primers universais para o gênero Pospiviroid,
seguido ou não de sequenciamento para confirmar a identidade dos frag-
mentos amplificados; e (v) RT-PCR em tempo real, que tem apresentado
elevada especificidade e sensibilidade para a ampla detecção de isolados
do PSTVd (Boonham et al., 2004). É importante lembrar que, indepen-
dentemente do método de diagnóstico empregado, os controles (negativo
e positivo) são necessários para a correta interpretação e validação dos re-
sultados (Eiras, 2012). Os métodos de detecção de viroides estão direta-
mente relacionados ao sucesso dos principais métodos de controle, que
se baseiam em programas de indexação e certificação de batata-semente
sadias (Owens, 2007; Eiras, 2012).

187
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

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191
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

192
PRAGAS DA BATATA
Geraldo Papa
Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho” – UNESP
Ilha Solteira – SP
gpapa@bio.feis.unesp.br

Rui Furiatti
Universidade Estadual de Ponta Grossa – PR
furiatti@myzus.com.br

João Antonio Zanardi Júnior


Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho” – UNESP
Ilha Solteira – SP

Introdução
A batata é hospedeira de diversos insetos e ácaros, os quais podem cau-
sar expressivos danos, dependendo das condições climáticas e da varieda-
de cultivada. No entanto, a importância de cada espécie varia nas diferen-
tes regiões produtoras dos três estados do sul do Brasil.
Entre as espécies de insetos de maior importância econômica encon-
tram-se os afídeos, a mosca-minadora, a mosca-branca e traça-da-batata.
Os primeiros têm grande importância na produção de batata-semente,

193
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

em virtude da transmissão de vírus. A mosca minadora ocasiona perda


de área foliar e predispõe a planta ao ataque de doenças, principalmente
nas épocas mais quentes do ano. A traça-da-batata é mais importante nos
armazéns, porém pode ocasionar danos na parte aérea, sob determinadas
condições climáticas.
Este capítulo trata da caracterização, de aspectos biológicos, dos danos
e do manejo dos principais insetos-praga da cultura da batata, incluindo
as pragas consideradas secundaria de ocorrências localizadas.

1. Afídeos – Pulgões (Myzus persicae; Macrosiphum


euphorbiae; Aphis gossypii e Aulacorthum solani)
Diversas espécies de afídeos colonizam as plantas de batata, destacan-
do-se: Myzus persicae (Sulzer); Macrosiphum euphorbiae (Thomas); Aphis
gossypii (Glover) e Aulacorthum solani (Kltb.), sendo as duas primeiras
espécies as mais importantes.
O M. persicae é capaz de transmitir mais de cem viroses de plantas em,
aproximadamente, 30 famílias diferentes, incluindo culturas de caráter
econômico no mundo inteiro, sendo considerado por inúmeros autores,
como o mais importante vetor do Potato leafroll virus (PLRV) e do Potato
virus Y (PVY). Esses vírus são apontados como os mais importantes da
batata e os principais responsáveis pela degenerescência da batata-semen-
te. O M. persicae pode transmitir, ainda, outros vírus, como o Potato virus
A (PVA) e o Potato virus M (PVM).
Nas regiões tropicais, o M. persicae, assim como os demais afídeos
que colonizam a batata, se reproduzem de forma assexuada durante o ano
todo, por partenogênese telítoca (dos óvulos não fertilizados resultam so-
mente fêmeas). Porém, machos de M. persicae foram capturados em ar-
madilhas em várias regiões do Brasil, o que põe em relevo a possibilidade
da presença de populações sexuadas, nos hospedeiros primários, durante
os meses mais frios do ano, principalmente na Região Sul do país. As for-
mas ápteras de M. persicae, possuem corpo de formato ovóide, de cor geral
verde clara a verde transparente, sem manchas no corpo. Porém, em mui-
tas regiões produtoras de batata, têm-se observado populações ápteras
de coloração rosada ou avermelhada, sobretudo nos cultivos de outono.
A forma alada mantém a cor geral do corpo verde clara, com tonalidades

194
Pragas da batata
Rui Scaramella Furiatti • Geraldo Papa

amareladas, rosadas, roxas e com manchas escuras características no dor-


so. A cabeça e o tórax são de cor preta.
A duração do ciclo de M. persicae, em condições de laboratório, com
temperatura média entre 23 e 24oC, é de cinco a oito dias, com longevi-
dade média de 20 dias. A fêmea é capaz de produzir até 80 descendentes.
O M. euphorbiae é outro importante vetor de viroses em batata e capaz
de transmitir o PLRV e o PVY. Esse inseto, sem asas, possui o formato do
corpo ovóide alongado, de coloração geral esverdeada, com extremidades
do corpo escuras. Quando alado, possui a cabeça e o tórax verde-amarela-
do e o abdômen rosa-esverdeado, sem manchas.
Os prejuízos causados pelos afídeos em batata não se restringem à
transmissão de viroses. Alguns trabalhos demonstram que as perdas de-
correntes da alimentação de M. persicae, na folhagem, podem ser severas,
dependendo da ocasião na qual ocorre à infestação; durante o período de
desenvolvimento da planta, o seu peso seco pode ser reduzido em até 54 %
(Petitt; Smilowitz, 1982). A saliva de M. persicae e de M. euphorbiae têm
ação toxigênica sobre as plantas, induzindo o aparecimento de necroses,
principalmente ao longo das nervuras.
O sucesso da colonização de uma planta de batata no campo por afí-
deos é considerado dependente do estado fisiológico da planta. Assim,
o M. persicae tem o seu foco inicial de colonização localizado invaria-
velmente nas folhas inferiores da planta, e daí, vai dispersando para as
folhas da parte superior à medida que estas passam para o estágio se-
nescente. No entanto, em plantas cultivadas em ambiente protegido,
ocorrem grandes infestações nas folhas superiores, as quais, em alguns
casos, são significativamente maiores do que aquelas observadas nas fo-
lhas inferiores, mesmo em plantas mais velhas. Esse fato pode demons-
trar que a escolha do estrato da planta pelo M. persicae depende também
de fatores climáticos, além do conteúdo de nutrientes das folhas, embora
se saiba que essa espécie apresenta uma sobrevivência e fecundidade in-
trínseca maior nas folhas inferiores. O M. euphorbiae prefere as folhas
superiores, brotos e as inflorescências das plantas de batata. No arma-
zém, os brotos de batata-semente podem ser colonizados, principalmen-
te, por A. solani e M. persicae.
No monitoramento de afídeos alados, infestantes ou não da cultura da
batata, são utilizados diversos tipos de armadilhas, em muitas das quais a

195
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

atração exercida pela cor tem fundamental importância. Os afídeos que


infestam as plantas de folhas largas são mais atraídos pela cor amarela, in-
cluindo M. persicae e M. euphorbiae, ao contrário dos afídeos que infestam
as gramíneas. Baseadas na atração pela cor são utilizadas as armadilhas
amarelas de água e adesivas planas e cilíndricas. As armadilhas de sucção,
auxiliadas ou não pela cor, são muito utilizadas em outros países.
O número de afídeos coletados em armadilhas, principalmente M. per-
sicae, tem relação com a infecção de PLRV nas plantas de batata, consi-
derando a idade das últimas na qual se observou a revoada, porém não há
relação com o PVY. Isso se deve, provavelmente, ao fato de que o PVY é
transmitido por diversas espécies de afídeos vetores de viroses. No entan-
to, não há um nível confiável de controle de afídeos em batata baseado nas
coletas através de armadilhas ou na população de afídeos nas plantas, para
as condições brasileiras.
A utilização de dados climáticos e de armadilhas pode resultar na pre-
visão de revoadas de afídeos vetores de viroses em batata.
O controle de afídeos em batata-semente deve ser rigoroso, não per-
mitindo o desenvolvimento de colônias nas plantas, já nas áreas de bata-
ta-consumo pode-se aceitar populações maiores. No entanto, não há nível
de controle estabelecido para as condições brasileiras.
Para as áreas de produção de batata-semente, é importante adotar
uma série de medidas visando o controle cultural dos afídeos e das viro-
ses. Inicialmente a área escolhida deve apresentar baixa degeneração ou
baixa atividade dos vetores, o que pode ser conhecido através de um cri-
terioso estudo com armadilhas. A presença de ventos constantes é uma
característica desejável. A adubação deve ser equilibrada, evitando-se,
principalmente, o uso excessivo de nitrogênio, o qual mascara os sin-
tomas de viroses e beneficia o crescimento das colônias de afídeos. Evi-
tar o estresse hídrico, que favorece a alimentação dos afídeos até certo
ponto. Durante o cultivo, as plantas com sintomas de viroses e também
as plantas voluntárias e plantas daninhas devem ser erradicadas, e ime-
diatamente embaladas em sacos plásticos, para descarte longe da área de
produção. A dessecação das ramas deve ser realizada não somente para
brecar o crescimento dos tubérculos, como também para evitar a descida
do vírus para os mesmos, a qual é influenciada pela data da inoculação,
idade da planta e temperatura.

196
Pragas da batata
Rui Scaramella Furiatti • Geraldo Papa

No controle químico de M. persicae deve-se optar pelo uso de inseti-


cidas com modos de ação distintos, em rotação, na parte aérea. Insetici-
das granulados ou aplicados por via líquida podem ser utilizados no sul-
co de plantio ou após a emergência inicial das plantas ou, ainda, durante
a amontoa. Existem estudos que comprovam a redução na transmissão
de viroses não persistentes com a aplicação sistemática de óleo mineral.
Porém, as dosagens e o número de aplicações não estão definidos para as
nossas condições, o que pode acarretar fitotoxicidade, dependendo, prin-
cipalmente, da temperatura do ambiente e da variedade cultivada.
O PLRV, vírus do tipo persistente é controlado eficientemente com
inseticidas. Esse vírus não é transmitido durante a picada de prova, que
o afídeo faz na planta logo após o pouso, dando ao inseticida a oportu-
nidade de atuar. O afídeo adquire o vírus ao se alimentar em plantas
infectadas e, após um período de latência, passa a transmiti-lo durante
toda a sua vida.
O controle de PVY através de inseticidas é limitado. O PVY é um vírus
não persistente, sendo transmitido durante a picada de prova, não per-
mitindo a atuação do inseticida antes que a transmissão seja efetuada. O
afídeo também adquire o vírus em plantas infectadas, porém não há pe-
ríodo de latência e o inseto permanece virulento por, aproximadamente,
uma hora.
As falhas no controle de M. persicae, na maioria das vezes, estão li-
gadas ao seu hábito de colonizar preferencialmente o estrato inferior
das plantas, o que dificulta a penetração da calda inseticida e também
a translocação do mesmo em folhas mais velhas ou senis. O momento
da intervenção e a qualidade da pulverização são fundamentais para o
controle desse inseto.
A presença de populações de M. persicae resistentes a inseticidas, em
áreas de produção de batata-semente, pode resultar no aumento de inci-
dência de viroses.

2. Mosca-branca (Bemisia tabaci)


A mosca-branca, Bemisia tabaci (Gennadius, 1889) (Hemiptera:
Aleyrodidae) é considerado inseto polífago e está presente em países de
clima temperado e na maioria dos países tropicais e semitropicais.

197
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Figura 1. Adultos de mosca-branca colonizando folha de batata. Ponta Grossa, PR.


Fonte: Rui Scaramella Furiatti.

O primeiro relato como praga foi feito na Grécia em 1889, em fumo,


depois surgiu como praga na Índia, Sudão e Israel na década de 1970.
Na década de 1980 foi registrada na Flórida e depois em várias partes do
mundo. Na América Latina e Caribe está presente em muitas culturas,
incluindo a batata e tomate.
No Brasil os primeiros relatos da B. tabaci foram realizados na década
de 1920, porém a partir da década de 1990 o inseto vem aumentando a sua
importância causando maiores prejuízos em diversas culturas.
A partir da década de 50, foi proposta a existência de raças ou biótipos
de B. tabaci em virtude da existência de populações morfologicamente
idênticas, que, no entanto, apresentavam características biológicas distin-
tas, como diferenças na colonização de plantas e também na transmissão
de vírus. Mais recentemente se sugeriu os nomes de mosca-branca da ba-
tata doce (raça A) e mosca-branca da folha prateada da abóbora (raça B).
Constatou-se que a raça A tem pouco mais de 100 plantas hospedeiras,
enquanto que a raça B foi encontrada em mais de 500 espécies de vegetais,
com diferenças biológicas, como: diversidade de hospedeiros; adaptação
diferenciada ao hospedeiro e capacidade de transmissão de vírus.

198
Pragas da batata
Rui Scaramella Furiatti • Geraldo Papa

Em Portugal há referência da existência de uma raça hibrida entre as


raças B e uma terceira, denominada raça Q, porém ainda não está carac-
terizada. A raça Q foi nominada na Espanha e constatada no norte da
África, China, França, Itália, Japão, Holanda e Estados Unidos. Em 2008
foi encontrada em plantações de Queensland, Austrália. Essa raça é mor-
fologicamente idêntica as raças A e B, as quais podem ser distinguidas
apenas usando técnicas químicas de laboratório (enzimas) ou moleculares
(DNA). A raça Q é portadora do vírus do enrolamento da folha do algo-
doeiro, presente no Paquistão e Estados Unidos, e tem a habilidade de
selecionar resistência rapidamente a alguns grupos de inseticida. Hoje já
se constatou resistência da raça Q ao pyriproxyfen (Horowitz et al., 2003)
e buprofezin e suscetibilidade reduzida ao imidicloprid, acetamiprid e
thiamethoxam. Na Espanha foi identificada a raça S, que não tem tido
impacto agronômico naquele país
Os métodos de identificação de raças de B. tabaci incluem o de-
senvolvimento de marcadores moleculares raça-específicos e, adicio-
nalmente, o desenvolvimento de kits para detecção e identificação de
raças diferentes de B. tabaci. A identificação correta e simples propor-
cionada pelo uso do kit pode ser de grande efetividade na indicação de
controle fitossanitário. Muitos trabalhos de eficácia de inseticidas são
feitos no país sem a devida identificação das raças, o que pode trazer
resultados imprecisos e com grande variação entre as diferentes regiões
produtoras.
A mosca-branca é um inseto sugador e possui rostro formado por um
lábio trissegmentado, cujo interior aloja quatro estiletes, sendo duas ma-
xilas e duas mandíbulas. É opistognata, o que permite sucção contínua de
seiva e possui a câmara filtro, que está ligada a produção do honeydew e
indiretamente a presença da fumagina.
A reprodução da B. tabaci é sexuada ou por partenogênese arrenóto-
ca (machos estéreis). Há a possibilidade de muitas gerações por ano. Os
ovos são recobertos por uma espécie de cola sobre um pedúnculo, o qual
é inserido no tecido. Os ovos são colocados próximos, agrupados ou não,
na face abaxial das folhas. Inicialmente são de coloração branca amare-
lada e depois marrom-metálica. As ninfas passam por quatro instares.
O primeiro instar tem a cera transparente, aparece também com cerdas
marginais e locomove-se por poucos milímetros, por horas ou dias, até

199
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

introduzir o aparelho bucal na nervura do floema fixando-se. O segundo


instar, tem transparencia cremosa com pernas e antenas rudimentares, o
orifício vasiforme é triangular e aberto posteriormente. O terceiro instar
possui também transparencia cremosa, porém aumenta de tamanho e tem
orifício vasiforme triangular pouco desenvolvido. O quarto instar tem três
formas distintas. A primeira é achatada e translúcida e ainda se alimenta,
a segunda é mais larga, branca opaca e mostra a formação inicial de cer-
das serosas dorsais e laterais e já não se alimenta. A terceira, chamada de
“pupa”, é amarelada e mostra ocelos vermelhos e a forma do adulto, atra-
vés do tegumento da ninfa.
Para o manejo químico é importante considerar que os três primeiros
instares da B. tabaci sugam a seiva da planta, podendo se contaminar pela
alimentação em condições onde se tem a aplicação de inseticidas sistêmi-
cos. Já no quarto instar, o inseto já não se alimenta, sendo que a ação trans-
laminar dos inseticidas.
Para o manejo químico é importante considerar que os três primei-
ros estágios ninfais da B. tabaci se alimentam, enquanto que o quarto
estágio tem duas formas nas quais o inseto já não se alimenta. A ação
translaminar ou sistêmica dos inseticidas pode controlar o inseto até a
primeira forma do quarto instar, porém é ineficaz contra a “pupa” e à
forma que a antecede.
Em tomate e batata, a B. tabaci prefere estar agrupada, sendo co-
mum encontrar folíolos com altas populações e outros desabitados ou
com baixa população. Com chance de escolha, o tomate e a abobrinha
foram as hospedeiras que atraíram mais adultos de B. Tabaci raça B e
que receberam o maior número de ovos. A mortalidade dos ovos é ge-
ralmente mínima, porém o clima e inimigos naturais causam alta taxa
de mortalidade até o segundo instar, com efeitos moderados nos está-
gios posteriores.
Os danos da B. tabaci podem ser considerados como diretos e indiretos.
Os danos diretos na batata são o depauperamento da planta resultante da
sucção da seiva e as deformações nas folhagens. Entre os danos indiretos,
a criação de ambiente propício ao aparecimento da fumagina é o principal,
já que a transmissão de vírus em escala não está confirmada.
Para o tomate, a transmissão de geminivírus (complexo de vírus) é
de grande importância, destacando-se o TYLCV (Tomato Yelow Leaf

200
Pragas da batata
Rui Scaramella Furiatti • Geraldo Papa

Curl Virus) e TYMV (T. Y. L. Mosaic V.), entre outros. Na batata te-
mos registros de ocorrência de mosaico causando deformação das fo-
lhas de batata no Rio Grande do Sul. Daniels et al. (1985) sugeriram
que os sintomas eram semelhantes aos observados em batatais na Ar-
gentina, conhecido como mosaico-deformante-da-batata. No entanto,
não havia suspeita de transmissão por B. tabaci. No final da década de
1980, a batata-semente (Achat) plantada em São Paulo com semente
proveniente do Rio Grande do Sul, mostrou alta incidência do mosai-
co-deformante com identificações preliminares de que se tratava de
geminivírus, com transmissão pela B. tabaci confirmada. Souza-Dias
et. al. (2007) registraram a presença do Tomato Severe Rugosevirus(-
ToSRV) em batata na região de Campinas. Esses autores observaram
que onde há cultivo de tomate intercalado ao cultivo de batata há o
risco de transmissão do vírus e possível queda na produção em batata
consumo.
Em áreas comerciais até o momento não se encontram plantas com sin-
tomas característicos das viroses citadas. No entanto, não temos certeza
de que isso é verdade para todo o país. As raças atuais de B. tabaci pre-
sentes no Brasil podem vir no futuro transmitir em larga escala, vírus já
adaptados à cultura como também aqueles provenientes do nosso próprio
meio, como já ocorreu no tomate.
Entre os fatores responsáveis pelo aumento da população da B. tabaci
capaz de levá-la a condição de praga estão: sobreposição de estações de cul-
tivo durante o ano; temperaturas elevadas; plantas hospedeiras adequadas
e ambientes com grande estresse por pesticidas. Entretanto, os fatores que
contribuíram ou têm contribuído para o aumento da importância da B.
tabaci na agricultura são assunto de grande controvérsia.
Dentro do manejo da B. tabaci, o monitoramento constante da popu-
lação é fundamental. Há várias formas descritas para o monitoramento
do adulto do inseto, como as armadilhas adesivas, inspeções foliares ou o
auxílio de coletor a vácuo, entre outras. O monitoramento do adulto pode
mostrar a tendência geral de uma população em grandes áreas, revelar a
taxa de imigrações nos campos e a dispersão dos adultos. Já a amostragem
das ninfas e “pupas”, embora bastante trabalhosa, tem a vantagem de for-
necer uma melhor estimativa da densidade populacional atual da B. tabaci
no campo.

201
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

O monitoramento em áreas comerciais de pragas e doenças da batata,


incluindo a B. tabaci, teve início na Chapada Diamantina, em Ibicoara –
BA, em 2004 quando iniciou o programa de uso racional de inseticidas
(URI) na cultura. Hoje esse programa está implantado em áreas expressi-
vas da bataticultura nacional e constitui o primeiro degrau para o desen-
volvimento de um futuro Manejo Integrado de Pragas (MIP) da batata.
O URI tem sido confundido sistematicamente com o MIP, no entanto, a
bem da verdade, é preciso salientar que monitorar as pragas e recomendar
inseticidas baseando-se em níveis de ação propostos é apenas uma etapa
do MIP.
Os níveis de dano propostos para a tomada de decisão no controle com
inseticidas da B. tabaci são discutíveis. Em tomate, por exemplo, é comum
encontrar na literatura recomendações de aplicação de pesticidas quando
a população do inseto alcança um indivíduo por planta ou meio indivíduo
por planta. Esses níveis de ação consideram a B. tabaci como vetor de ví-
rus, no entanto, quando os vírus historicamente não estão presentes em
determinada região ou não são importantes para a cultura, não há nível de
ação proposto ou são sugeridos níveis surrealistas.
O resultado dessas propostas, ou ausência delas, é a aplicação de inse-
ticidas diariamente – há casos de duas aplicações diárias – ou a presença
de áreas com ataque imenso de fumagina oriunda de populações imensu-
ráveis da B. tabaci. Esses dois casos ocorrem constantemente em tomate
e batata.
No momento, o nível de ação para a B. tabaci em batata é baseado
no bom senso, pois o estabelecimento do mesmo envolve problemas
complexos, tais como: alto valor de produção; preço do produto agrí-
cola no mercado; sanidade da cultura e relação custo / benefício; re-
gião e época de plantio; variedade e destino da produção; presença de
outras pragas; água; nutrição, possibilidade de transmissão de vírus,
entre outras.
Nos campos de batata comercial temos encontrado fungos parasitan-
do parte pequena da população de B. tabaci, principalmente em áreas
irrigadas. No entanto, há registro de epizootia ocasionada pelo fungo
Verticillium lecanii (Zimm) Viegas em soja na região de Balsas – MA,
a qual desapareceu, com a consequente re-infestação da praga, quando
as chuvas cessaram. Concluiu-se que somente a umidade proporciona-

202
Pragas da batata
Rui Scaramella Furiatti • Geraldo Papa

da pela irrigação do pivô central é insuficiente para provocar epizootias


desse fungo.
Entre as medidas de controle mais utilizadas na entomologia está a ro-
tação de culturas, a qual deve ser adotada mesmo para uma praga polífaga
como a B. tabaci. A explicação está no favorecimento dos insetos benéfi-
cos, cujas atividades são aprimoradas com as rotações.
O plantio escalonado de batata em áreas contíguas é uma prática que
gera alimento abundante e contínuo, além de promover o desequilíbrio na
população do inseto e seus inimigos naturais (Figura 2).

Figura 2. Plantio escalonado de batata.


Fonte: Rui Scaramella Furiatti.

O plantio de batata ao lado do cultivo de soja (Figura 3) e feijão tem re-


sultado em populações incontroláveis da B. tabaci, principalmente quan-
do as áreas dos grãos entram em final de ciclo infestadas e o inseto migra
para a batata. O monitoramento e controle − em área total ou bordadura −
da B. tabaci nas áreas de cultivo que circundam a batata são procedimen-
tos importantes, os quais devem estar previstos nos custos dessas áreas.

203
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Figura 3. Plantio de batata ao lado de soja infestada com Bemisia tabaci.


Fonte: Rui Scaramella Furiatti.

O controle químico é o mais usado contra a B. tabaci, no entanto, esse


importante controle é mal utilizado, na maioria das vezes. O contato do
inseticida com as formas imaturas do inseto na face abaxial das folhas e na
parte inferior da planta, a grande diversidade de hospedeiros e a possibi-
lidade de resistência, devem ser levados em conta na escolha do produto e
da metodologia de aplicação.
A realidade brasileira no tocante ao controle químico de pragas e doen-
ças em batata e outras hortaliças está longe do URI e muito mais do MIP.
Podemos resumir essa realidade constatando: grande volume de inseticidas
aplicados; falta de critérios na rotação dos inseticidas; rotação de marcas co-
merciais; rotação de ativos com o mesmo sítio de ação no inseto; uso abusivo
de novos inseticidas; mistura de tanque; subdosagens ou “cheirinho”; uso
de produtos de largo espectro e persistência elevada; tecnologia de aplicação
inadequada e ausência ou atuação fraca da extensão rural no campo.
O uso de inseticidas deve levar em consideração as recomendações
clássicas, como rotação de ativos com sítio de ação distinto no inseto, apli-

204
Pragas da batata
Rui Scaramella Furiatti • Geraldo Papa

cação no momento correto, dosagem adequada, entre tantas outras boas


práticas agrícolas. Porém, igualmente importante é a responsabilidade
de engenheiros agrônomos e técnicos, assim como dos produtores, em
adotá-las. A recomendação de químicos sem acompanhamento criterioso
dos campos é causa de erros crassos e cada vez mais comuns, evidentes
principalmente durante períodos de grande incidência da praga, como no
momento atual. Não há um controle mágico da B. tabaci, mas está à dis-
posição o trabalho meticuloso de acompanhamento dos cultivos, medidas
preventivas e tomada de decisões conscientes, tudo visando um sábio con-
vívio com esse versátil inseto.

3. Mosca-minadora (Liriomyza huidobrensis Blanchard)


É uma praga importante da batata na Região Sul do Brasil, principal-
mente nos plantios de verão. Outras espécies, além da L. huidobrensis,
têm sido observadas minando as folhas da batata. A mistura de espécies,
a dificuldade de identificação e a falta de informações básicas de biologia
dificultam os trabalhos com esse inseto.
A polifagia é incomum em na família Agromyzidae, porém há 11 espé-
cies consideradas polífagas, das quais cinco pertencem ao gênero Liriomy-
za. Esse gênero contém mais de 300 espécies, das quais 23 são economi-
camente importantes.
Os problemas com as moscas minadoras de folhas têm aumentado muito
nos últimos anos, devido, provavelmente, ao ciclo de vida curto; alta mo-
bilidade; período pupal longo, podendo ocorrer no solo ou na planta; alta
capacidade reprodutiva, e ovos e larvas protegidas no interior das folhas.
A fêmea tem cerca de 1,5 mm e o macho é menor, ambos apresentam
no prótorax um ponto amarelo. A diferença entre eles é observada pela
presença de ovipositor na parte terminal do abdome da fêmea.
Os ovos, elípticos e transparentes, são depositados no interior do teci-
do, geralmente, na página inferior das folhas, em número que pode variar
entre 500 a 700, por fêmea. As larvas são cilíndricas e hialinas antes do
primeiro ínstar e amarelas a partir do segundo, medindo entre 0,6 e 2,3
mm, quando completamente desenvolvidas.
O período de incubação dos ovos leva de dois a oito dias, dependendo da
temperatura. Após a eclosão, as larvas, que vivem entre 7 e 15 dias, imedia-

205
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

tamente abrem minas nas folhas, que de início são estreitas, e vão se alar-
gando à medida que as larvas crescem. As minas se entrecruzam, e às vezes,
as larvas penetram nas nervuras principais e até mesmo no pecíolo da folha,
principalmente quando há um grande número de larvas por folha. As minas
podem se apresentar serpentiformes ou até mesmo expandidas.
As pupas de L. huidobrensis ocorrem nas folhas, caules ou mais comu-
mente no solo, permanecendo nesse estágio de nove até 15 dias, em média,
dependendo da temperatura. Ocorre grande mortalidade de pupas com
96% de umidade relativa do ar, sendo o ideal em torno de 70%. O ciclo
completo de L. huidobrensis varia de 21 a 28 dias, dependendo das condi-
ções climáticas.
A fêmea se alimenta do conteúdo celular que exsuda de perfurações
realizadas por ela nas folhas; curvando o abdome perpendicularmente à
mesma e realizando movimentos rápidos com o ovipositor. Essas perfura-
ções, denominadas puncturas, são alargadas através de torções do abdome
e ocorrem em ambas as páginas das folhas, com maior incidência na pági-
na superior.
As puncturas têm sido utilizadas como indicativo para o controle de
adultos e larvas da mosca, porém, dependendo da temperatura (ideal en-
tre 20 e 270C), pode não haver posturas, como se observa a partir do início
do outono na região sul. Além disso, a proporção entre as puncturas de
alimentação e oviposição varia entre 1:1 até 1:40. A presença de punc-
turas pode ser importante no monitoramento da mosca minadora, desde
que se observe, para cada microrregião, os dados climáticos e o histórico
de ocorrência do inseto. É importante lembrar que as minas geralmente
aparecem primeiro nas folhas localizadas no estrato inferior das plantas,
para depois, dependendo do nível de infestação, passarem para os estratos
superiores.
As minas e puncturas ocasionadas pela mosca minadora reduzem a
área foliar, chegando a provocar a morte de folíolos, folhas ou da planta
inteira. As lesões nas folhas debilitam as plantas predispondo-as a doen-
ças fúngicas, como a Alternaria solani.
Os inimigos naturais da mosca minadora são de grande importância
no manejo da praga em áreas de batata comercial. Entre esses destacam-se
os himenópteros Halticoptera arduine (Walk), Chrysocharis phytomyzae
(Bret) e Opius sp.

206
Pragas da batata
Rui Scaramella Furiatti • Geraldo Papa

O controle químico de adultos e larvas pode ser realizado com inseti-


cidas pertencentes ao grupo dos fosforados, carbamatos, piretróides, re-
guladores de crescimento e outros, tomando-se o cuidado de rotacionar
inseticidas com modos de ação diferentes.
Na escolha dos inseticidas, deve-se optar pelos seletivos aos inimigos
naturais e também a outros insetos que não se encontram no nível de con-
trole. Muitas vezes os inseticidas não seletivos são mais tóxicos aos inimi-
gos naturais do que à mosca minadora.
Não há nível de controle estabelecido. O início das aplicações de inse-
ticidas é realizado tomando-se como base à presença de adultos na área e/
ou as puncturas, como foi discutido anteriormente. Armadilhas amarela
adesiva ou amarela de água podem ser utilizadas para monitorar a popu-
lação da mosca adulta, no entanto ainda não há uma relação estabelecida
entre os insetos capturados e o nível de controle, servindo as mesmas so-
mente para estudos de flutuação populacional.
A incorporação dos restos culturais é uma prática de grande im-
portância no manejo da mosca, pois esses abrigam-na no estágio de
pupa ou larva, servindo de fonte para a disseminação do inseto para áreas
vizinhas.

4. Ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus Banks)


A fêmea adulta possui o corpo oval e convexo no dorso, mede cerca de
0,25 mm de comprimento por 0,15 mm de largura. A cor é muito variável,
de branca-amarela ou marrom-amarela a verde-clara ou escura.
O macho adulto apresenta as mesmas cores da fêmea e tem uma carac-
terística marcante no corpo, uma reentrância na lateral.
As fêmeas depositam os ovos nos brotos terminais e na face ventral
das folhas jovens, preferencialmente junto à nervura central, formando
colônias.
Os machos têm o comportamento de transportarem as fêmeas para ou-
tras partes da planta, o que ajuda alastrar a infestação.
Há consenso de que a infestação do ácaro branco em batata seja em
decorrência do desequilíbrio causado pelo uso constante e intenso de inse-
ticidas na parte aérea da planta, como por exemplo, para controlar a mosca
minadora.

207
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

A infestação do ácaro branco ocorre principalmente durante períodos


secos e em lavouras com desenvolvimento avançado (após a amontoa).
Embora a infestação sempre se inicie em manchas (reboleiras), pode se
alastrar rapidamente por áreas maiores ou toda a lavoura.
As plantas infestadas pelo ácaro tornam-se de cor verde-escura, sem
brilho e de aspecto coriáceo, parecendo queimadas. Em sequência, as
plantas morrem, podendo não haver a formação de tubérculos ou ficarem
estes muitos pequenos.

5. Burrinho (Epicauta atomaria Germar)


Os adultos são besouros com formato oval alongado, cor cinza e as-
pecto aveludado devido aos pelos finos e curtos que recobrem o cor-
po. As asas anteriores e o tórax são ornados com várias pontuações e
manchas escuras. Medem entre 10 a 15 mm de comprimento. Chegam
às lavouras massivamente e também, por motivos ainda não conhe-
cidos, deixam as lavouras em grandes revoadas. Comem vorazmente
os folíolos, principalmente aqueles do terço superior das plantas. Em
determinadas condições, como, por exemplo, no início do período ve-
getativo, a desfolha pode ser total, restando apenas as nervuras e talos
das plantas. Podem reduzir o estande, o número de hastes e a produção
de tubérculos. As infestações geralmente ocorrem em reboleiras, mui-
to raramente estendem-se por grandes áreas.
As fêmeas ovipositam no solo, normalmente em grupos de 50 a 80
ovos. As larvas desenvolvem-se no solo, mas não danificam as raízes ou
os tubérculos.

6. Larva-alfinete (Diabrotica speciosa)


A larva-alfinete, D. speciosa (Germar, 1824) (Coleoptera: Chrysomeli-
dae) destaca-se por ser multivoltina e polífaga, sendo considerada impor-
tante praga das lavouras brasileiras (Milanez et al., 2001).
Trata-se de um besouro que em sua fase adulta é conhecido popularmen-
te como vaquinha, patriota ou brasileirinho, devido à coloração de seu corpo
ser verde-amarelo e em sua fase jovem, é conhecido como larva alfinete, por
apresentar o corpo alongado e fino. Os ovos da praga são depositados na

208
Pragas da batata
Rui Scaramella Furiatti • Geraldo Papa

base das plantas hospedeiras e após a eclosão caminham para as raízes e tu-
bérculos para se alimentarem (ÁVILA; PARRA, 2002; GASSEN, 1986).
Os danos na cultura da batata são provocados na fase jovem, quan-
do o inseto é uma larva e em sua fase adulta. As larvas possuem hábito
subterrâneo e promovem orifícios nos tubérculos, ocorrendo a deprecia-
ção comercial e até mesmo tornando-os impróprios para consumo em
ataques mais severos. Na fase adulta, consomem a área foliar das plan-
tas, reduzindo a capacidade fotossintética da planta (LARA et al., 2004;
SILVA et al., 2010).

7. Larva-arame (Conoderus scalaris)


Além da larva-alfinete, outra praga também proporciona danos nos
tubérculos da batata, trata-se da larva-arame, Conoderus scalaris. A lar-
va-arame é a forma imatura de besouros da família Elateridae. Os adultos
de C. scalaris medem de 1 a 1,5 cm de comprimento, apresentam protó-
rax preto com élitros marrom-avermelhados, movimentam-se de manei-
ra rápida, quando colocados na posição dorsal saltam à semelhança dos
vagalumes. A fase adulta do inseto alimenta-se apenas da parte aérea da
batateira (WAQUIL, 1986; SOUZA; SILVA, 2007).
As fêmeas adultas fazem as posturas no solo próximo a base das plan-
tas e após alguns dias ocorre a eclosão das larvas, que vão aumentando de
tamanho à medida que se alimentam, podendo atingir até 3 cm de com-
primento. No geral são achatadas e pouco flexíveis, de onde originou-se
o nome “larva-arame” com coloração amarelo-escura. Os danos são oca-
sionados pelas perfurações nos tubérculos, resultando em orifícios bem
maiores quando comparados aos causados pela larva alfinete, promoven-
do a depreciação comercial, podendo em ataques severos se tornarem im-
próprios para o consumo (SOUZA; SILVA, 2007).
Observa-se maior atividade dos adultos de C. scalaris nos meses quen-
tes e chuvosos do ano (primavera-verão), com temperaturas favoráveis ao
seu desenvolvimento, além da disponibilidade de hospedeiros. No entan-
to, as larvas atacam e perfuram tubérculos de batata tanto nos plantios das
águas e também da seca. O controle químico preventivo com aplicações
no plantio ainda se constitui a principal ferramenta para a proteção de tu-
bérculos (SOUZA; SILVA, 2007).

209
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

8. Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon)


A lagarta-rosca Agrotis ipsilon (Hufnagel, 1767) é considerada uma
praga polífaga. As lagartas da espécie atacam principalmente hortaliças
como: solanáceas, curcubitáceas e crucíferas, ocorrendo também em ou-
tras espécies de diferentes famílias de plantas, como nas culturas do milho,
soja e cultivos de subsistência como feijoeiro (SILVA et al., 1968; LINK;
PEDROLO, 1987).
Os adultos são mariposas que medem de 35 mm a 50 mm de enver-
gadura, com asas anteriores marrons possuindo algumas manchas pretas
e asas posteriores semitransparentes. As fêmeas têm hábito noturno e,
nesse período, realizam a postura dos ovos, com capacidade de 600 a 100
ovos durante seu ciclo. Os ovos são depositados em rachaduras do solo,
sobre plântulas e matéria orgânica no solo próximo à planta hospedeira. O
período de incubação médio dos ovos é de cinco dias, apresentando colo-
ração amarelo-esbranquiçado, tornando-se mais escuro próximo a eclosão
das lagartas. As lagartas possuem coloração pardo-acinzentada escura a
marrom-escura, medindo de 45 mm a 50 mm, apresentando sutura epi-
cranial na forma de Y invertido. Durante o dia, encontram-se na base da
planta, protegidas sob torrões, ou a poucos centímetros de profundidade
no solo, na posição de rosca, hábito que lhe confere o nome, e no período
noturno sai para se alimentar, período que proporciona danos nas plantas.
A fase de lagarta dura em média 28 dias e a fase de pupa, que ocorre no
solo, tem duração aproximada de 15 dias (CAPTAN et al., 2018).
Assim como em outras espécies vegetais que a lagarta-rosca é conside-
rada praga, os danos são ocasionados devido ao hábito de corte das plantas
rente ao solo pelas lagartas já presentes na área. Os danos são mais comuns
nos primeiros 30 dias, resultando em redução da densidade de plantas na
área de cultivo, com possíveis danos aos tubérculos de acordo com a inten-
sidade do ataque e infestação (SALAS et al., 2020).

9. Lagarta-militar (Spodoptera frugiperda)


O adulto da lagarta-militar (Spodoptera frugiperda) é uma mariposa
que mede 35mm de envergadura, com asas anteriores mosqueadas e as
posteriores esbranquiçadas, com bordo cinza. As fêmeas realizam postura

210
Pragas da batata
Rui Scaramella Furiatti • Geraldo Papa

em grupos de 50 a 100 ovos, depositados geralmente sobre folhas, cada


fêmea é capaz de colocar até 1000 ovos. O período de incubação dos ovos
dura aproximadamente três dias. Após a eclosão, as lagartas possuem
coloração que varia de esverdeada a pardo-escura, apresentando linha
mediana longitudinal, cor marrom-clara, uma característica marcante da
espécie é uma sutura em forma de “Y” invertido na capsula cefálica. O pe-
ríodo larval varia de 12 a 30 dias, dependendo principalmente de tempera-
tura, sendo o ciclo mais curto quanto maior for a temperatura (SANTOS,
2015; SALAS et al., 2020).
Quando presentes no solo, as lagartas proporcionam o corte na base
das plantas, semelhantes aos ocasionados pela lagarta-rosca A. ipsilon,
podendo ocorrer a confusão e muitas vezes a identificação incorreta. A
espécie possui diversos hospedeiros e na batata inglesa os danos são pro-
porcionados devido ao corte na base das plantas, porém a preferência para
o ataque é a parte aérea da planta. (SALAS et al., 2020).

10. Traça (Phthorimaea operculella Zeller)


Constitui um sério problema em regiões de clima quente, danificando
a folhagem e os tubérculos de batata, sendo que temperaturas entre 25 e
30oC são favoráveis ao desenvolvimento da espécie.
Os adultos são mariposas de hábitos noturnos, permanecendo durante
o dia, refugiados nas folhas das plantas de batata, na vegetação vizinha ou
sob torrões e detritos. Perturbados, realizam vôos curtos e erráticos. Tem
cerca de 12 mm de envergadura, asas anteriores de coloração acinzentada,
com pequenas manchas irregulares escuras, ornadas com pêlos nas bordas
e asas posteriores branco acinzentadas. Vivem de 10 a 15 dias, podendo
ser encontradas durante o ano todo, tanto no campo quanto nos armazéns
de batata. Durante esse período, as fêmeas colocam cerca de 300 ovos, de
coloração branca a amarelada, lisos, ovalados e com aproximadamente 0,5
mm. São depositados individualmente (raramente há posturas com mais
do que um ovo) junto às nervuras das superfícies inferiores das folhas, nos
pecíolos, gemas e brotações novas dos tubérculos, nas caixarias, estrados e
na sujeira deixada sobre e entre os tubérculos.
A eclosão ocorre cerca de cinco dias após a oviposição. As lagartas têm
coloração branca a amarelada, cabeça marrom escura e atingem cerca de

211
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

10 mm de comprimento ao final de seu desenvolvimento. Podem ser reco-


nhecidas pela presença de uma placa dorsal retangular escura no primeiro
segmento do tórax. A superfície dorsal pode exibir tonalidade verde clara
se a lagarta se alimentar de folíolos e/ou pecíolos, ou tonalidade rosada se
o mesmo se alimentar de tubérculos.
Na parte aérea das plantas são encontradas preferencialmente nas folhas
baixeiras, junto ao solo, nas quais, ao alimentarem-se do parênquima, escavam
largas galerias. Minam também as nervuras e pecíolos, causando redução do
tecido foliar, necrose dos pontos de crescimento, ruptura dos talos e secamento
das folhas. Usualmente, junto às galerias, nas folhas que estão em contato com o
solo, observa-se um abrigo construído com fios de seda e recoberto com grânu-
los de terra. Em infestações mais severas ou à medida que as folhas mais velhas
senescem, folhas medianas e apicais podem ser igualmente atacadas.
Praga de infestação cruzada, danificam os tubérculos tanto no campo
quanto nos armazéns, escavando largas galerias irregulares, profundas ou
superficiais. Normalmente, as lagartas penetram nos tubérculos através
dos olhos ou gemas, deixando junto a estes orifícios de entrada fios de
seda, detritos e excrementos. Os tubérculos atacados perdem seu valor
comercial, devido à presença das galerias, perda de peso, enrugamento e
infecção secundária por microrganismos.
No campo, o ataque se dá principalmente quando as plantas começam
a secar devido à senescência natural ou ao uso de dessecantes químicos.
As lagartas alcançam os tubérculos através das hastes ou penetrando o
solo por entre fendas e rachaduras. Entretanto, os maiores danos são ob-
servados nos tubérculos armazenados, uma vez que dentro dos armazéns
as condições são favoráveis em relação à temperatura, umidade, proteção,
disponibilidade de alimento e de sítios de postura, possibilitando um rá-
pido aumento na população da traça.
Duas semanas após a eclosão, as lagartas deixam folhas e tubérculos,
buscando um local adequado para a empupação. As pupas têm coloração
castanha e cerca de 6 mm de comprimento. No campo, são encontradas
em folhas velhas e secas das plantas, torrões, gemas dos tubérculos e restos
de cultura, enquanto nos armazéns a empupação ocorre nas rachaduras
das paredes e do piso, caixarias e detritos. Uma a duas semanas após a
empupação, os adultos emergem. O ciclo ovo-adulto estende-se, assim,
por 25 a 30 dias, havendo sobreposição de gerações.

212
Pragas da batata
Rui Scaramella Furiatti • Geraldo Papa

Dentre as principais pragas da batata, P. operculella talvez seja a espécie


com as maiores possibilidades de um eficiente manejo, devido às diversas
táticas de controle disponíveis, sejam práticas culturais, uso de feromô-
nios e inimigos naturais e controle químico. Dentre as praticas culturais
podemos destacar:
• Plantar sementes sadias: Dentro dos armazéns os tubérculos conti-
nuam sendo infestados pela traça. O plantio destes tubérculos recon-
duz ovos, lagartas e pupas para o campo, constituindo importantes
focos de disseminação da praga na lavoura. Adicionalmente, semen-
tes sadias originam plantas com maior capacidade de suporte ao ata-
que de pragas e doenças, potencialmente mais produtivas, com maior
número de hastes e de tubérculos, reduzindo-se o percentual de dano
causado pela traça.
• Preparar adequadamente o solo: evita a formação de torrões que ser-
virão de abrigos a adultos da traça e possibilita o plantio a uma pro-
fundidade adequada.
• Plantar na profundidade adequada à época: Plantios muito profun-
dos retardam a emergência dos brotos, prolongando o ciclo da cul-
tura e, consequentemente, o tempo em que as plantas permanecem
suscetíveis ao ataque da praga. Por outro lado, plantios muito rasos
facilitam o acesso de adultos e lagartas da traça aos tubérculos, prin-
cipalmente no final do ciclo da cultura quando os camalhões já estão
desgastados.
• Realizar uma amontoa adequada: A amontoa é importante barreira
física, dificultando o acesso de adultos e lagartas da traça aos tubér-
culos e deve ser realizada de modo a evitar-se a formação de fendas e
gretas. Com o crescimento das plantas, o engrossamento das hastes e
desenvolvimento dos tubérculos mais superficiais, abrem-se fendas e
rachaduras nos camalhões, principalmente junto ao colo das plantas,
por onde as fêmeas e lagartas da traça podem alcançar os tubérculos
mais profundos. Maior importância ainda tem a amontoa, quando se
considera que há cultivares que têm por característica emitir estolões
superficiais; estas são geralmente mais suscetíveis ao ataque da traça
do que as cultivares que lançam estolões mais profundos.
• Manter o solo úmido: Em solos úmidos há uma adesão maior das
partículas, com consequente redução de fendas e gretas. Assim, a ir-

213
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

rigação por aspersão, diminuindo as rachaduras no solo, dificulta o


acesso de adultos e lagartas aos tubérculos. Em áreas em que se dis-
põe de irrigação por aspersão, deve manter-se o solo úmido, mesmo
após a dessecação das plantas, como medida de prevenção aos danos
nos tubérculos, principalmente se o período entre a dessecação e a
colheita se alongar. Adicionalmente, as lagartas não toleram condi-
ções de umidade prolongada. Desta forma, o uso de irrigação durante
períodos de seca, favoráveis à praga, constitui-se em eficiente método
de controle.
• Eliminar outros hospedeiros da traça das proximidades das lavouras,
principalmente outras espécies de solanáceas.
• Eliminar restos de cultura, tubérculos não colhidos ou descartados
durante a colheita e plantas voluntárias (socas, gaudérias) pois são
fontes de alimento e abrigo para a traça, mantendo populações da
praga nas áreas de plantio, entre uma safra e outra.
• Não atrasar a colheita. Após a dessecação das plantas as lagartas da
traça descem para o solo, infestando os tubérculos e as fêmeas, na
ausência de plantas verdes, buscam os tubérculos expostos e os mais
superficiais para realizarem as posturas.
• Durante a lavagem e classificação, separar e eliminar os tubérculos
infestados.
• Armazenar em locais limpos, desinfestados e protegidos. Popula-
ções da traça encontram condições favoráveis em armazéns sujos e
mal manejados. A limpeza e a desinfestação do armazém e caixarias
(através de pulverizações e expurgos) evitará o plantio de tubérculos
infestados e a consequente reinfestação das lavouras pela traça. O uso
de telas impedindo o acesso dos adultos da traça aos armazéns, às cai-
xas e sacarias, após a desinfestação, evita novas posturas nos tubér-
culos. O armazenamento em câmaras frias reduz a infestação nos tu-
bérculos, uma vez que o ciclo de vida de P. operculella é interrompido
em temperaturas inferiores a 10oC. Armadilhas luminosas equipadas
com lâmpadas de “luz negra UV” têm sido empregadas com sucesso
em armazéns para atrair e eliminar adultos da traça.

Além destas práticas culturais e os cuidados durante o beneficiamento


e armazenamento dos tubérculos, duas outras táticas de controle podem

214
Pragas da batata
Rui Scaramella Furiatti • Geraldo Papa

ser inseridas em um programa de manejo da traça da batata: o uso do fero-


mônio sexual e o controle biológico.
O feromônio da traça tem sido utilizado tanto a campo quanto em
armazéns com o intuito de monitorar o nível populacional da praga.
Dentro dos armazéns, o uso conjunto das armadilhas com feromônio
e armadilhas luminosas tem resultado em níveis elevados de controle,
com consequente redução da aplicação de agroquímicos nos tubérculos
armazenados.
Lagartas de P. operculella têm entre seus inimigos naturais várias es-
pécies de parasitóides e predadores, que contribuem efetivamente para a
redução da população da praga nas lavouras. Contudo, em termos práti-
cos, o controle biológico da traça da batata tem se fundamentado no uso
do Baculovirus phthorimeae. Tubérculos são tratados com formulações do
vírus e as lagartas, após infectadas, tornam-se lentas, deixando de alimen-
tar-se e morrendo em poucos dias.
Embora eficientes todas essas táticas aqui discutidas, o controle da
traça baseia-se larga e quase que exclusivamente no uso de agroquími-
cos. Princípios ativos dos grupos dos carbamatos, fosforados, piretrói-
des, além de fisiológicos e microbianos, estão registrados para o con-
trole de adultos e lagartas de P. operculella em batata e outras culturas.
O correto emprego destes produtos envolve o uso das doses recomen-
dadas, as épocas corretas de aplicação, a observância dos períodos de
carência e a rotação dos ativos de modo a evitar-se o surgimento de
populações resistentes aos inseticidas. Os próprios hábitos das lagar-
tas, alimentando-se em folhas baixeiras, protegidas no interior de ga-
lerias e ocultando-se em “casulos”, torna mais difícil aos inseticidas
atingirem com eficiência o alvo biológico. O uso de bicos leque, de
preferência AI, pressão adequada para o tipo de bico utilizado e velo-
cidade de pulverização compatível determinarão uma maior eficiência
no controle químico da traça da batata.

11. Lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens)


A lagarta falsa-medideira, Chrysodeixis includens (Walker, 1857),
pertence à família Noctuidae. Em sua fase larval apresentam coloração
verde claro, com linhas brancas longitudinais sobre o dorso. Uma das

215
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

características marcantes da espécie é o fato de apresentam apenas três


pares de falsas pernas na região abdominal, fazendo com que, no seu
deslocamento, ocorra intenso movimento do corpo, parecendo medir
palmos, dando o seu nome comum, “falsa-medideira” (GALLO et al.,
2002).
O ciclo de vida da praga tem duração aproximada de 46 dias, sendo
cinco dias ovo; 20 dias lagarta; sete dias pulpa e 14 dias adulto. A capaci-
dade reprodutiva é um fator importante, pois a fêmea chega a ovipositar,
em média, 700 ovos, os quais são depositados individualmente na face
inferior das folhas, sendo pequenos e esbranquiçados. Entretanto podem
ocorrer variações entre 500 e 1300 ovos por fêmea. Os ovos são postos pela
mariposa no período da noite, são esbranquiçados, translúcidos e brilhan-
tes, sendo difíceis de perceber por serem pequenos (SALAS et al., 2020,
JOST; PITRE, 2002).
Após seis instares larvais, com duração variando de 11 a 18 dias, trans-
forma-se em pupa, que ocorre na própria folha, envolta por um casulo fino
de teia branca. (ZUCCHI et al., 1993).
As mariposas da espécie podem chegar a medir 35 mm de envergadu-
ra, apresentam asas dispostas na forma de uma quilha quando a mariposa
está em repouso, de cor marrom ou cinza, com brilho cúpreo, com duas
manchas prateadas em cada uma das asas do primeiro par. As asas poste-
riores também são marrons.
O ataque de Chrysodeixis includens na cultura da batata tem se tornado
cada vez mais importante. A literatura ainda carece de estudos de biolo-
gia e comportamento de C. inlcudens em diferentes variedades de batata,
porém informações oriundas de outras culturas auxiliam na identificação
e manejo da espécie. As infestações mais intensas geralmente ocorrem
quando a cultura possui boa densidade foliar, quando é criado um mi-
croclima ideal para o desenvolvimento da praga, principalmente para os
fatores umidade e temperatura (SALAS et al., 2020).

216
Pragas da batata
Rui Scaramella Furiatti • Geraldo Papa

Figura 4. Lagarta falsa-medideira, (Chrysodeixis includens) colonizando folha de batata.


Selvíria, MS. 2020.
Foto: Laboratório de Manejo Integrado de Pragas da UNESP/ Campus de Ilha Solteira.

12. Lagarta-preta (Spodoptera cosmioides)


Os adultos da Spodoptera cosmioides são mariposas de hábito no-
turno, com aproximadamente 40 mm de envergadura, possuindo asas
posteriores brancas e anteriores pardas, com coloração mais amarelada
nos machos e desenhos em forma de mosaico. Os ovos, agrupados em
massas, geralmente são depositados pelas fêmeas nas folhas da parte
inferior das plantas. Após a eclosão, as lagartas passam por seis insta-
res, podendo este número variar entre quatro e oito, dependendo da
planta hospedeira. As lagartas constituem a fase que causa os danos às
culturas, e apresentam variação no padrão de manchas e na coloração,
podendo ser cinza-claro, castanhas, ou mais comumente, pretas (BA-
VARESCO et al., 2002, 2003, 2004; ZENKER et al., 2007).
217
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Nos instares iniciais são gregárias e de coloração esverdeada, muito


semelhante a outra espécie do gênero, a Spodoptera eridiana. Ainda nos
primeiros ínstares, apresentam uma região enegrecida bem característica
entre o metatórax e o primeiro segmento abdominal. Já nos últimos insta-
res tornam-se pardas e possuem listras longitudinais alaranjadas, a mais
próxima do dorso possui manchas brancas na base dos triângulos dorsais
presentes nos segmentos abdominais. O ciclo de vida em condições ideais
varia de 26 a 31 dias (SALAS et al., 2020).

Figura 5. Lagarta da espécie Sodoptera cosmioides colonizando folha de batata. Selvíria,


MS. 2020.
Foto: Laboratório de Manejo Integrado de Pragas da UNESP/ Campus de Ilha Solteira.

13. Lagarta-das-folhas (Spodoptera eridania)


As mariposas da espécie S. eridania medem de 33 a 38 mm de enver-
gadura, possuem asas de coloração cinzenta e marrom, com marcas pretas
e marrons escuras de formas irregulares. O padrão da asa é variável, pois
alguns adultos possuem um ponto de forma pronunciada no centro da asa,
outros não o possuem ou apresentam uma faixa preta larga que se estende
do centro da asa até a margem (CAPINERA, 2005).
Após a postura os ovos são recobertos com as escamas do corpo da ma-
riposa e apresentam coloração esverdeada e cada fêmea oviposita cerca de
800 ovos durante seu ciclo de vida, dependendo do hospedeiro sobre o qual

218
Pragas da batata
Rui Scaramella Furiatti • Geraldo Papa

a lagarta se desenvolveu. Normalmente as lagartas passam por seis ínstares


e podem alcançar 35 mm de comprimento (SANTOS et al., 2005).
Após o segundo instar se tornam escuras (pretas) e apresentam duas
fileiras triangulares na região dorsal. A partir do terceiro instar iniciam a
dispersão para outras partes da planta e outras plantas. Na fase final do de-
senvolvimento larval, possuem três faixas longitudinais, podendo variar a
coloração entre brancas ou amarelas na lateral. O período que compreen-
de desde a postura dos ovos até a fase adulta da praga é muito variável, de
acordo com o alimento e a temperatura, por exemplo, sendo que em média
é aproximadamente de 28 até 35 dias (SANTOS et al., 2005).
Tanto para S. cosmioides, quanto para S. eridania, os danos proporciona-
dos na cultura da batata são ocasionados devido a alimentação das lagartas,
provocando a desfolha da cultura e por consequência a redução de área fotos-
sintetizante. Relata-se a ocorrência de S. cosmioides como S. eridania de forma
pontuada nas lavouras de batata, proporcionando a desfolha da cultura (Figu-
ra 6), porém o aumento dessas lagartas em soja e algodão pode contribuir para
o crescimento em outras culturas como a batata (SALAS et al., 2020).

Figura 6. Desfolha da batata causada pelas lagartas das espécies Spodoptera eridania e Spo-
doptera cosmioides (A), comparado com área tratada com inseticidas (B). Selvíria, MS. 2020.
Foto: Laboratório de Manejo Integrado de Pragas da UNESP/ Campus de Ilha Solteira.

219
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Controle químico
A seguir, no Quadro 1, estão descritos todos os inseticidas registrados
junto ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA)
para as pragas citadas nesse capitulo na cultura da batata.

Quadro 1 – Inseticidas registrados no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abaste-


cimento, 2020).
Praga ingrediente ativo/ grupo químico
acefato (organofosforado)
acetamiprido (neonicotinóide)
tiametoxam (neonicotinóide)
metomil (metilcarbamato de oxima)
azadiractina (Tetranortriterpenóide)
imidacloprido (neonicotinóide)
metanol (álcool alifático) + metomil (metilcarbamato de oxima)
Ciantraniliprole (antranilamida)
tiacloprido (neonicotinóide)
Myzus persicae
pimetrozina (piridina azometina)
beta-ciflutrina (piretróide) + imidacloprido (neonicotinóide)
lambda-cialotrina (piretróide) + tiametoxam (neonicotinóide)
alfa-cipermetrina (piretróide) + Dinotefuram (neonicotinóide)
diafentiurom (feniltiouréia)
acetamiprido (neonicotinóide) + bifentrina (piretróide)
Esfenvalerato (piretróide)
acetamiprido (neonicotinóide) + piriproxifem (éter piridiloxipropílico)
metomil (metilcarbamato de oxima) + metomil (metilcarbamato de oxima)
acefato (organofosforado)
Macrosiphum euphorbiae
metomil (metilcarbamato de oxima)
Aphis gossypii –
Aulacorthum solani –
abamectina (avermectina)
ciantraniliprole (antranilamida)
bifentrina (piretróide)
lambda-cialotrina (piretróide)
clorfenapir (análogo de pirazol)
Espinetoram (espinosinas)
acetamiprido (neonicotinóide) + etofenproxi (éter difenílico)
Liriomyza huidobrensis zeta-cipermetrina (piretróide)
abamectina (avermectina) + clorantraniliprole (antranilamida)
milbemectina (Milbemicinas)
abamectina (avermectina) + Ciantraniliprole (antranilamida)
clorfenapir (análogo de pirazol)
clorpirifós (organofosforado)
espinosade (espinosinas)
ciromazina (triazinamina)

220
Pragas da batata
Rui Scaramella Furiatti • Geraldo Papa

abamectina (avermectina)
acefato (organofosforado)
clorantraniliprole (antranilamida) + lambda-cialotrina (piretróide)
metaflimizona (semicarbazone)
teflubenzurom (benzoiluréia)
clorfluazurom (benzoiluréia)
indoxacarbe (oxadiazina)
metomil (metilcarbamato de oxima)
metanol (álcool alifático) + metomil (metilcarbamato de oxima)
ciantraniliprole (antranilamida)
cloridrato de cartape (bis(tiocarbamato))
triflumurom (benzoiluréia)
fostiazato (organofosforado)
Phthorimaea operculella clorfenapir (análogo de pirazol)
lufenurom (benzoiluréia)
clorantraniliprole (antranilamida)
zeta-cipermetrina (piretróide)
novalurom (benzoiluréia)
lufenurom (benzoiluréia)
alfa-cipermetrina (piretróide) + teflubenzurom (benzoiluréia)
abamectina (avermectina) + clorantraniliprole (antranilamida)
clorfluazurom (benzoiluréia)
abamectina (avermectina) + Ciantraniliprole (antranilamida)
cipermetrina (piretróide) + profenofós (organofosforado)
indoxacarbe (oxadiazina)
Espinosade (espinosinas)
metomil (metilcarbamato de oxima) + novalurom (benzoiluréia)
lambda-cialotrina (piretróide) + tiametoxam (neonicotinóide)
Epicauta atomaria
alfa-cipermetrina (piretróide)
Polyphagotarsonemus latus enxofre (inorgânico)
Ciantraniliprole (antranilamida)
piriproxifem (éter piridiloxipropílico)
acetamiprido (neonicotinóide) + etofenproxi (éter difenílico)
dinotefuram (neonicotinóide) + piriproxifem (éter piridiloxipropílico)
Abamectina (avermectina) + Ciantraniliprole (antranilamida)
acetamiprido (neonicotinóide)
Bemisia tabaci
Espiromesifeno (cetoenol)
diafentiurom (feniltiouréia)
dlupiradifurona (butenolida) + Espiromesifeno (cetoenol)
Flupiradifurona (butenolida)
acetamiprido (neonicotinóide) + bifentrina (piretróide)
acetamiprido (neonicotinóide) + piriproxifem (éter piridiloxipropílico)
cloridrato de cartape (bis(tiocarbamato))
Agrotis ipsilon clorpirifós (organofosforado)
carbaril (metilcarbamato de naftila)
Chrysodeixis includens Espinetoram (espinosinas)
Spodoptera frugiperda acefato (organofosforado)
Spodoptera cosmioides –

221
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Spodoptera eridania –

tiametoxam (neonicotinóide) 
clorantraniliprole (antranilamida) + lambda-cialotrina (piretróide) ,
beta-Cipermetrina (piretróide)
fipronil (pirazol) 
cadusafós (organofosforado) 
tebupirinfós (organofosforado)  
beta-ciflutrina (piretróide)  
bifentrina (piretróide)  
fostiazato (organofosforado) 
cipermetrina (piretróide)
clorfenapir (análogo de pirazol)  
clorpirifós (organofosforado)  
beta-ciflutrina (piretróide) + imidacloprido (neonicotinóide)
deltametrina (piretróide)
Diabrotica speciosa lambda-cialotrina (piretróide) + tiametoxam (neonicotinóide)
acetamiprido (neonicotinóide) + etofenproxi (éter difenílico) 
alfa-cipermetrina (piretróide) + Dinotefuram (neonicotinóide) 
alfa-cipermetrina (piretróide)
Gama-cialotrina (piretróide)
bifentrina (piretróide) + imidacloprido (neonicotinóide)
alfa-cipermetrina (piretróide) + teflubenzurom (benzoiluréia) 
alfa-cipermetrina (piretróide) + fipronil (pirazol) + piraclostrobina
(estrobilurina) 
benfuracarbe (metilcarbamato de benzofuranila) 
cipermetrina (piretróide) + profenofós (organofosforado) 
alfa-cipermetrina (piretróide) + fipronil (pirazol) 
carbaril (metilcarbamato de naftila) 
acetamiprido (neonicotinóide) + bifentrina (piretróide) 
lambda-cialotrina (piretróide)

tiametoxam (neonicotinóide)
Conoderus scalaris cadusafós (organofosforado) 
fipronil (pirazol)

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NEMATOIDES PARASITOS DA BATATA
Claudio Marcelo Gonçalves de Oliveira
Juliana Magrinelli Osório Rosa
INSTITUTO BIOLÓGICO1

Os fitonematoides ou nematoides parasitas de plantas causam perdas


na forma de redução de produção e na depreciação da qualidade dos tu-
bérculos, por alimentar-se diretamente das raízes e tubérculos da bata-
ta. Os sintomas na parte aérea, em geral, não são específicos, mas podem
causar desenvolvimento insatisfatório, amarelecimento, murcha e morte
das plantas. A infestação nos órgãos vegetais subterrâneos também pode
ocorrer sem causar sintomas específicos, mas a produtividade e qualidade
dos tubérculos podem ser afetadas.
As perdas induzidas por nematoides dependem da espécie parasita,
do tipo de dano e do destino final da cultura: batata semente, produto in
natura ou processado (Palomares-Rius et al., 2014). Os nematoides pa-
rasitos de plantas podem ainda contribuir em complexos de doenças que
resultam em interações sinergísticas com outras pragas ou patógenos,

1 Centro Avançado de Pesquisa em Proteção de Plantas e Saúde Animal – Laboratório de Nematologia


Alameda dos Vidoeiros, 1097, Sítios Recreio Gramado – CEP 13101-680 – Campinas – SP

231
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

incluindo a perda da resistência a outras doenças, como o verificado em


Globodera-Verticillium dahliae e Pratylenchus-Verticillium dahliae (Back
et al., 2002), Meloidogyne spp. e fungos (Verticillium, Fusarium e Rhi-
zoctonia spp.) ou bactérias (Ralstonia solanacearum e Erwinia spp.) em
regiões quentes (Brodie et al., 1993). As viroses da batata transmitidas
pelos nematoides das raízes em coto (tricodorídeos) também represen-
tam preocupação importante em algumas regiões produtoras, principal-
mente da Europa.
No mundo, as principais espécies de nematoides que causam danos em
batata são Globodera spp., Meloidogyne spp., Naccobus aberrans, Praty-
lenchus spp. e Trichodorus spp. No entanto, como reflexo de práticas agro-
nômicas, condições climáticas e histórico de introdução/distribuição,
algumas espécies apresentam importância regional, como por exemplo,
Scutellonema bradys, que foi relatada em 2009 como um novo potencial
problema em batatas cultivadas na Nigéria (Palomares-Rius et al., 2014,
Oliveira et al., 2017).
No Brasil, várias espécies têm sido relatadas em associação a batata,
mas os nematoides das galhas (Meloidogyne incognita e M. javanica) e das
lesões (Pratylenchus brachyurus e P. coffeae) são reconhecidamente os mais
importantes. Durante levantamento nacional, 168 amostras foram cole-
tadas nas principais áreas de produção de batata no Brasil (Goiás, Minas
Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo) (Silva, 2009). Baseando-
-se nesse levantamento, as espécies prevalentes foram: M. javanica (pre-
sente em 50% das amostras), M. incognita (10%), M. arenaria (3,5%), P.
brachyurus (40%), P. penetrans (3%) e P. coffeae (2,4%).

Nematoides das galhas radiculares – Meloidogyne spp.


De acordo com Oliveira et al. (2017), as espécies desse gênero mais
importantes à cultura da batata são Meloidogyne javanica e M. incognita
(Fig. 1).

232
Nematoides parasitos da batata
Claudio Marcelo Gonçalves de Oliveira • Juliana Magrinelli Osório Rosa

Figura 1 – Meloidogyne sp.: A) Fêmeas (corpo inteiro); B) região anterior do macho de M.


incognita; C) juvenis (J2)
Foto: C.M.G. Oliveira & J.M.O. Rosa.

O sintoma mais característico desses nematoides visualizado no campo


é a formação de galhas. Galhas são protuberâncias que ocorrem nas raízes
e na superfície dos tubérculos, nesse caso chamadas de “pipocas” (Fig.
2), infestados por nematoides do gênero Meloidogyne, daí o nome vulgar
desses parasitos. As galhas sempre se formam no local em que fêmeas de
Meloidogyne estão localizadas. Abrindo-se cuidadosamente uma galha e
observando-se atentamente, é possível visualizar uma ou mais dessas mi-
núsculas fêmeas. Em culturas infestadas com o nematoide das galhas, a
batata produzida é de qualidade muito inferior, pelo aspecto “empipoca-
do” dos tubérculos, pela facilidade com que esses tubérculos apodrecem,
diminuição de tamanho/peso e pela perda de amido no tecido em torno
das “pipocas”.

233
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Figura 2 – Galhas ou “pipocas” na superfície dos tubérculos de batata


Foto: C.M.G. Oliveira.

Os sintomas de campo causados pelos nematoides normalmente ocor-


rem em reboleiras. As plantas de batata infestadas podem ser reconhe-
cidas por murchar mesmo que o solo esteja úmido, presença de folhas
amareladas e normalmente crescerem pouco. Tanto os nematoides das
galhas como os das lesões podem causar tais sintomas na parte aérea. Nem
sempre, porém, os sintomas de campo são observados, devido à pesada
adubação que a cultura da batata recebe, que ajuda a mascarar os efeitos
dos nematoides na parte aérea. Por outro lado, os danos que causam nas
raízes e nos tubérculos são geralmente muito comprometedores, ocorren-
do 100% de perda, dependendo da cultivar e do nível de infestação.
Mais um fator aumenta a importância de M. incognita e M. javanica:
cada uma delas tem mais de 1.000 espécies de plantas hospedeiras conhe-
cidas. Assim quase qualquer cultura que anteceda a batata pode aumentar
a população desses nematoides. Vale destacar que Meloidogyne enterolobii
é uma espécie que vem causando problemas fitossanitários em diferentes
culturas, principalmente as pertencentes da família das solanáceas ao qual
se incluem as batatas. Até o momento não existem relatados comprovados
de danos provocados diretamente a essa cultura, no entanto, Silva (2009)
observou que cultivares comerciais, quando infestados com M. enterolobii,
foram suscetíveis, conferindo um potencial reprodutivo ainda maior quan-
do comparado a M. javanica e M. incognita. O que ressalta a importância do
controle preventivo, evitando assim, a disseminação em novas áreas.

234
Nematoides parasitos da batata
Claudio Marcelo Gonçalves de Oliveira • Juliana Magrinelli Osório Rosa

Nematoides das lesões radiculares – Pratylenchus spp


A principal espécie dos nematoides das lesões que parasitam a batata no
Brasil é P. brachyurus (Fig 3). Outras duas espécies, P. penetrans e P. coffeae,
também foram relatadas provocando danos à cultura da batata. Pratylen-
chus penetrans na região Sul e P. coffeae em áreas anteriormente cultivadas
com café localizadas, no Sudeste e Sul do país (Charchar, 1999). São espé-
cies de clima tropical, bem adaptadas às condições climáticas brasileiras. Os
nematoides das lesões radiculares são endoparasitos e migradores e todas
as suas fases de desenvolvimento pós-emergentes do ovo são consideradas
como infestantes. A penetração nos tecidos ocorre entre as células epidér-
micas (penetração intercelular) ou através de uma célula (penetração intra-
celular) (Fig. 4). Após penetrarem nos tubérculos, os nematoides nutrem-se
das células e causam lesões. Um agravante desse fato é que através dessas
aberturas ou ferimentos ocorre a penetração de fungos e bactérias patogêni-
cas. Cada fêmea de Pratylenchus deposita em média 80 ovos.

Figura 3 – Pratylenchus brachyurus: A) ovos, juvenis e fêmeas; B) fêmeas (corpo inteiro);


C) região anterior da fêmea; D) região posterior da fêmea.
Foto: C.M.G. Oliveira & J.M.O. Rosa.

235
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Figura 4 – Pratylenchus coffeae no interior da raiz de batata cv. Atlantic.


Foto: C.M.G. Oliveira.
Os nematoides das lesões ao se alimentarem das raízes e tubérculos
provocam galerias nos tecidos, resultando em manchas ou lesões escuras.
Os nematoides das lesões costumam entrar nos tubérculos pelas lentice-
las, e daí invadir tecidos em volta, produzindo lesões circulares de tama-
nho variável, conforme a população do nematoide e o grau de resistência
da cultivar de batata. Lesões pequenas podem passar despercebidas, con-
fundidas com as lenticelas, mas quando maiores, apesar de serem sempre
superficiais, prejudicam o aspecto visual do tubérculo (Fig. 5). Às vezes
as lesões formadas pelos nematoides podem ser colonizadas por micror-
ganismos saprófitas e o tubérculo se tornar imprestável para comerciali-
zação. Além disso, os tubérculos com lesões geralmente transpiram mais
intensamente que os sadios. Por essa razão, outro dano causado pelos ne-
matoides das lesões é a redução do tempo de prateleira do tubérculo. No
caso de P. brachyurus, que se multiplicam em capim-jaraguá, colonião e
braquiárias, podem causar perdas em culturas de batata instaladas em su-
cessão a pastagens.

236
Nematoides parasitos da batata
Claudio Marcelo Gonçalves de Oliveira • Juliana Magrinelli Osório Rosa

Em experimento conduzido em casa de vegetação, na Noruega, P. pe-


netrans induziu lesões nos tubérculos de batata cv. Saturna semelhantes
aos sintomas causados pela bactéria Streptomyces scabies. Além disso, ino-
culação em conjunto da bactéria e do nematoide aumentaram a expressão
dos sintomas. Dessa forma, os sintomas causados pelo nematoide podem
ser facilmente confundidos com aqueles causados pelo agente causal da
sarna comum. Os autores sugerem que o limiar de dano de P. penetrans na
batata cv Saturna é de 100 indivíduos por 250 g de solo, com redução da
produção de até 50% (Holgado et al., 2009).
Tradicionalmente, as espécies de Pratylenchus extraídas de raízes e tu-
bérculos de batata são identificadas com base na sua morfologia, mas a
presença de Pratylenchus spp. em tubérculos pode ser detectada utilizan-
do-se a técnica do código de barras do DNA. Por exemplo, pesquisadores
do Instituto Biológico relataram a identificação precisa de P. penetrans,
proveniente de batata semente, demonstrando a utilidade de técnicas mo-
leculares na identificação de nematoides de importância quarentenária
(Oliveira et al., 2009).

Figura 5 – Tubérculos de batata Monalisa. A: sadios, sem nematoides; B: com lesões cau-
sadas por Pratylenchus coffeae; C: com lesões causadas por Pratylenchus brachyurus
Foto: R.K. Kubo

Nematoide da casca preta do inhame – Scutellonema


bradys
Scutellonema bradys é nematoide migrador e parasita principalmen-
te plantas de inhame, considerada como hospedeira preferencial des-
se patógeno (Ferraz, 1995). Coyne & Claudius-Cole (2009) relataram
que batatas cultivadas no Oeste da África estavam parasitadas por

237
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

S. bradys. Posteriormente, na Nigéria, Coyne et al. (2011) comprova-


ram o potencial de patogenicidade dessa espécie em batatas cultiva-
das em casa de vegetação, no campo e tubérculos comerciais. Batatas
inoculadas com S. bradys apresentavam-se com a pele com aparência
escamosa e sintomas de rachaduras, necrose e escurecimento de partes
da superfície do tubérculo.
No Brasil, S. bradys é o causador da doença conhecida como casca
preta do inhame (Dioscorea spp.). Atualmente, esta doença é considera-
da um dos principais problemas fitossanitários do inhame no Nordeste,
mas também ocorre no estado de São Paulo (Moura et al., 2006). No
entanto, até o presente, não há relatos de associação de S. bradys à danos
em batata no país.

Nematoide das raízes em coto – Paratrichodorus spp. e


Trichodorus spp
Paratrichodorus spp. e Trichodorus spp. apresentam uma ampla gama
de plantas hospedeiras. São nematoides ectoparasitos que se alimentam
de células meristemáticas, na ponta das raízes, causando danos na zona de
alongamento, resultando em raízes curtas e grossas, conhecido como raí-
zes em coto. Além dos danos diretos causados nas raízes, que resultam em
diminuição da produção, pelo menos 13 espécies de tricodorídeos podem
transmitir Tobacco rattle virus (TRV), incluindo Paratrichodorus minor e P.
porosus, espécies que ocorrem no Brasil. No entanto, ainda não há relatos
dessas espécies transmitindo TRV em plantas de batata no Brasil.

Nematoides de importância quarentenária


Os nematoides de cisto da batata (Globodera rostochiensis e G. pallida),
outras espécies de nematoides das lesões (como P. scribneri) e das galhas
(como Meloidogyne chitwoodi e M. fallax), o nematoide da podridão da
batata (Ditylenchus destructor) e o falso nematoide das galhas (Nacob-
bus aberrans) são tão ou mais daninhos que as espécies de Meloidogyne e
Pratylenchus presentes no Brasil, porém felizmente ainda não detectados
no país.

238
Nematoides parasitos da batata
Claudio Marcelo Gonçalves de Oliveira • Juliana Magrinelli Osório Rosa

Nematoides de cisto da batata – Globodera rostochiensis e


G. pallida
Globodera rostochiensis e G. pallida são conhecidos como parasitas da
batata, mas outras solanáceas, tais como tomate e berinjela também são
plantas hospedeiras. O centro de origem das duas espécies é a região dos
Andes (América do Sul). Atualmente, encontram-se disseminadas em vá-
rios países da Europa, na América do Norte, e na maioria dos nossos países
vizinhos: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela.
Os sintomas de ataque de Globodera spp. não são específicos. Geralmente,
as folhas de batata exibem clorose e desenvolvimento insatisfatório e os tu-
bérculos apresentam-se menores. O ataque de G. rostochiensis ou G. pallida
pode provocar perdas de até 80%. Para a diagnose segura desses nematoi-
des, é necessário detectar os cistos (fêmeas maduras, contendo ovos no seu
interior) no solo ou nas raízes. A identificação das espécies requer exame em
microscópio de luz realizado por especialista altamente treinado. Também,
essas espécies podem ser identificadas por meio de técnicas moleculares.
Vários métodos de diagnose tem sido desenvolvidos para identificação das
espécies e quantificação por PCR tempo real (qPCR).

Nematoide da podridão da batata – Ditylenchus destructor


O nematoide da podridão da batata (Ditylenchus destructor) encontra-
-se amplamente disseminado em regiões de clima temperado. É encon-
trado na América do Norte e Europa, na região do Mediterrâneo e Ásia,
mas é considerado como praga quarentenária em diversos países, inclusi-
ve o Brasil. Essa espécie apresenta uma ampla gama de plantas hospedei-
ras. Na batata, os danos são favorecidos pela combinação de temperatura
(15-20°C) com alta umidade relativa. Os danos também podem ocorrer
durante o armazenamento, caso os tubérculos não sejam refrigerados ade-
quadamente. Tubérculos de batata infectados apresentam inicialmente
pequenas manchas brancas abaixo da casca, que coalescem e ficam cir-
cundadas por tecido apodrecido, com infecção por organismos secundá-
rios. Na superfície do tubérculo há desenvolvimento de áreas ligeiramente
afundadas; a pele pode apresentar aspecto enrugado e rachaduras (Fig. 6)
(Gonzaga e Oliveira, 2018).

239
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Figura 6 – Tubérculos de batata infectados com Ditylenchus destructor.


Foto: L. Kuzmina, Laboratory of Plant Health and Microbiology, Saku, Estonia.

Falso nematoide das galhas – Nacobbus aberrans


O falso nematoide das galhas, Naccobus aberrans, é um complexo de
espécies que apresenta ampla gama de plantas hospedeiras, incluindo ba-
tata, beterraba açucareira, pimentão, tomate e crucíferas. Esse nematoide
ocorre em regiões de clima temperado e tropical das Américas do Nor-
te e do Sul. Diferentes patótipos foram descritos, sendo que o patótipo
“batata” é parasito de solanáceas e ocorre no México e regiões andinas
da Argentina, Bolívia, Chile e Peru. Esse patótipo causa danos severos
em batata, com redução da produção em até 65% nas regiões andinas e
36% no México (Manzanilla-López et al., 2002; Otazú et al., 1985). Os
sintomas na parte aérea não são específicos, sendo que as plantas apresen-
tam-se com desenvolvimento insatisfatório. As raízes apresentam galhas
semelhantes as galhas causadas por Meloidogyne spp. O falso nematoide
das galhas pode sobreviver sob a casca dos tubérculos. Dessa forma, pode

240
Nematoides parasitos da batata
Claudio Marcelo Gonçalves de Oliveira • Juliana Magrinelli Osório Rosa

ser dispersos de uma área para outra pelos tubérculos infectados. Esses
nematoides são endoparasitos e migradores, invadindo e alimentando-se
dos tecidos das raízes e tubérculos, causando lesões, necrose e cavidades.
As fêmeas permanecem se alimentando nas raízes, estabelecem um sítio
permanente de alimentação, tornam-se sedentárias, incitam a formação
de galhas e depositam os ovos. Cabe ressaltar que os juvenis de terceiro e
quarto estádio podem entrar em dormência nas raízes e tubérculos, sobre-
vivendo a condições adversas e facilitando a dispersão.

Medidas de controle
Tendo em vista que a erradicação dos fitonematoides é praticamente
impossível, o manejo integrado utiliza-se de técnicas que visam mantê-los
abaixo do nível populacional de dano econômico.
De acordo com Palomares-Rius et al. (2014), o manejo inclui todas
as medidas agronômicas, legais e genéticas aplicadas para reduzir ou
manter os números de nematoides parasitos da batata sob o limite do
nível econômico. O histórico de cultivo, análise nematológica da área
(identificação e quantificação), experiência com o solo local e expecta-
tiva de lucro são todos fatores importantes que devem ser considerados
ao se decidir sobre o manejo de nematoides. Identificação confiável,
baseada na integração das técnicas clássicas e moleculares, é decisiva
no planejamento de estratégias como rotação de culturas ou uso de cul-
tivares resistentes.
Dessa forma, para implementação de programas de manejo, necessita-
-se inicialmente a identificação taxonômica dos fitonematoides envolvidos
na cultura, bem como da sua importância, aspectos biológicos, hábitos, e
hospedeiros.
Os principais métodos que podem ser utilizados são:
1. utilização de batata semente sadia (controle preventivo);
2. rotação de culturas com plantas não hospedeiras, incluindo os adu-
bos verdes e plantas antagonistas;
3. controle químico com nematicidas granulados no plantio;
4. uso de cultivares resistentes;
5. controle biológico;
6. outras práticas culturais.

241
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Controle preventivo ou exclusão: são mais eficientes e econômicos


quando comparados aos tratamentos curativos. A exclusão é uma das
estratégias mais importantes para o controle de nematoide parasitos de
plantas porque uma vez que o campo esteja infestado, a completa erra-
dicação do nematoide é difícil de ser alcançada e pode incorrer em custos
significativos de curto e longo prazo. Nematoides se movimentam por
distâncias pequenas no solo, assim a dispersão de áreas infestadas para
as não infestadas está principalmente associada com atividades humanas
tais como a movimentação de solo contaminado aderido a equipamentos
agrícolas, sapatos e cascos de animais, e principalmente material vegetal
contaminado (batata semente), incluindo água de irrigação reutilizada
(Palomares-Rius et al., 2014; Santo, 1994).
Tem como estratégias principais a utilização de batatas sementes
isentas de nematoides e plantio em áreas não infestadas, cuja informação
é obtida através da prévia análise nematológica do solo e raízes da cultu-
ra anterior na área a ser cultivada. Nematoides podem ser introduzidos
em áreas de cultivo principalmente por meio dessa batata semente. Des-
sa forma, o uso de batata semente certificada é crucial para evitar a in-
trodução, principalmente de nematoides de importância quarentenária.
A lavagem das batatas sementes e implementos agrícolas retirando-se o
solo aderido também diminui a possibilidade de introdução dos nema-
toides em áreas indenes.
Nematoides das galhas, do cisto, das lesões radiculares e outras
espécies endoparasitas e semi-endoparasitas são exemplos de nema-
toides que podem ser introduzidos em áreas cultivadas por batatas
sementes, sendo o uso de sementes certificadas essencial para evitar
novas introduções. É necessária especial atenção para identificar ba-
tatas sementes assintomáticas que estejam infectadas por M. chitwoodi
e/ou M. hapla nas áreas de produção mais frias em razão do menor pe-
ríodo de crescimento (Santo, 1994). Também, viroses como TRV po-
dem ser disseminadas por clones de batatas assintomáticas e diferentes
combinações virus-nematoide vetor apresentam interações específicas
com as cultivares (Xenophontos et al., 1998). Dessa maneira, técnicas
sensíveis como RT-PCR são mais apropriadas para a certificação de
sementes contra TRV.

242
Nematoides parasitos da batata
Claudio Marcelo Gonçalves de Oliveira • Juliana Magrinelli Osório Rosa

Instrução normativa para produção de batata semente


A INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 32, de 20 de Novembro de 2012
e Anexos estabelece que a batata-semente deve ser produzida conforme
as normas empregadas para nematoides quarentenários, Meloidogyne spp.
e Pratylenchus spp. vigentes nessa normativa, visando à garantia de sua
qualidade (MAPA, 2012).

Rotação de cultura: é acessível à maioria dos produtores e visa à di-


minuição do nível populacional dos nematoides por meio do cultivo de
plantas não hospedeiras em áreas infestadas por esses nematoides. Em
áreas infestadas por M. javanica, sugere-se rotação com cultivares de algo-
doeiro, amendoim, sorgo e mamona resistentes a essa espécie. Para áreas
infestadas com M. incognita ou com infestação conjunta de M. javanica
e M. incognita, o amendoim e as braquiárias (Brachiaria brizantha e B.
decumbens) são indicados. O uso de milhos resistentes no verão e o cultivo
de batata no inverno é altamente recomendável, pois a população de M.
javanica será reduzida após o cultivo do milho e será desfavorecida pelas
baixas temperaturas durante o cultivo da batata no inverno. Ressalte-se
que correta identificação da espécie de Meloidogyne é importante no caso
de uso de milho como cultura de rotação, pois quase todos os híbridos
disponíveis no mercado são suscetíveis a M. incognita. Também alguns
adubos verdes, como Crotalaria spectabilis e C. breviflora, prestam-se
para o controle dos nematoides das galhas, reduzindo a população desses
nematoides e favorecendo as condições físico-químicas do solo (Oliveira,
2018). Segundo Pinheiro et al. (2009), algumas brássicas apresentam bons
níveis de resistência aos nematoides das galhas, sendo a mostarda consi-
derada altamente resistente a M. incognita e M. javanica, tornando essa
planta uma boa opção rotacional.
Para o controle das espécies de Pratylenchus as opções de rotação são
menores. Nesse caso, indica-se o plantio de crotalárias acima citadas. Os
cravos-de-defunto, principalmente Tagetes patula e T. erecta apresentam
efeito antagônico principalmente a Pratylenchus spp., sendo esse efeito
atribuído a compostos nematicidas encontrados nas raízes dessas plantas.
Em áreas isentas de Meloidogyne spp., a cenoura pode ser utilizada com
cultura de rotação para o controle de P. brachyurus. A ocorrência de Me-

243
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

loidogyne spp. e Pratylenchus spp. concomitantemente reduz as opções de


plantas resistentes, uma vez que milho, braquiária, mamona e amendoim
são plantas hospedeiras dos nematoides das lesões.
A rotação de culturas pode ser útil dependendo da espécie de nematoi-
de envolvida. Porém, para Globodera spp. e Meloidogyne spp. esta estra-
tégia é menos eficiente e períodos longos de rotação devem ser usados em
razão do longo período de sobrevivência de ovos dormentes dentro dos
cistos de G. pallida e G. rostochiensis ou por causa do grande número de
hospedeiros de Meloidogyne spp. (Palomares-Rius et al., 2014). As taxas
médias de declínio para os nematoides do cisto da batata são aproxima-
damente 20-30% por ano nas condições do Reino Unido (Clayton et al.,
2008) e sete rotações anuais entre cultivos de batata é uma recomendação
comum (EPPO).

Controle Químico: em áreas infestadas tanto por espécies de Meloido-


gyne ou Pratylenchus, o controle químico com nematicidas granulados sistê-
micos constitui-se, embora de altíssimo custo e alta toxicidade, em alterna-
tiva eficiente de controle. No Reino Unido, nove milhões de libras esterlinas
são gastos anualmente em nematicidas para controlar os nematoides de cisto
(DEFRA, 2004) e 20 milhões de dólares no estado de Washington, Estados
Unidos (Santo, 1994) para controlar M. chitwoodi e M. hapla.
Os produtos comerciais registrados para a batata no Brasil podem ser
consultados pelo site: http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/
principal_agrofit_cons

Cultivares resistentes: existem poucas informações sobre cultivares


de batatas resistentes a nematoides. Segundo Charchar e Moita (1997), as
cultivares Achat, Esperant e Gigante apresentaram, tanto em condições
de campo como de casa-de-vegetação, resistência moderada a M. incogni-
ta raça 1 e M. javanica. Porém, a grande maioria das cultivares atualmente
em uso no Brasil é suscetível a Meloidogyne spp. e a Pratylenchus spp. En-
tretanto, mesmo com a utilização de uma cultivar considerada resistente,
perdas de até 35% podem ser ocasionadas se não forem empregados ma-
nejos preventivos no local.
Cultivares resistentes carregando o gene H1, derivado de Solanum tu-
berosum L. ssp. andigena (CPC 1673), tem sido extremamente eficientes

244
Nematoides parasitos da batata
Claudio Marcelo Gonçalves de Oliveira • Juliana Magrinelli Osório Rosa

na redução de populações de G. rostochiensis na Europa, apresentando re-


sistência aos patótipos Ro 1 e Ro 4 (Dale et al., 2010).

Controle biológico: os principais agentes biológicos utilizados no


controle de nematoides são os fungos. Esses microrganismos podem atuar
em todas as fases de vida dos nematoides, desde os ovos até os adultos,
dependendo do agente a ser utilizado. Assim, podemos destacar a ação
dos fungos predadores, Arthrobotrys oligospora e Arthrobotrys musiformis
que, na presença dos nematoides, liberam hifas armadilhas que os pren-
dem e se alimentam do conteúdo interno, matando-os; e os fungos opor-
tunistas, Purpureocillium lilacinum (conhecido anteriormente como Paeci-
lomyces lilacinus) e Pochonia chlamydosporia que atuam parasitando os ovos
de nematoides, destruindo o embrião e na colonização e morte das fêmeas
adultas. Atualmente, existem disponíveis no mercado brasileiro produtos
bionematicidas a base de fungos registrados no MAPA, dentre eles: Pocho-
nia chlamydosporia (Rizotec), recomendado para a redução de Meloidogyne e
Pratylenchus; e Purpureocillium lilacinum (Nemat) recomendado em todas
as culturas atacadas por M. incognita. Em geral, a aplicação desses produtos
é realizada no plantio das batatas sementes ou durante a amontoa.
Outras práticas culturais: a aplicação de material orgânico, além
de melhorar as propriedades físico-químicas do solo, favorece o cresci-
mento das plantas, tornando-as mais tolerantes ao ataque de nematoides.
Também propicia o crescimento das populações de inimigos naturais dos
nematoides. Vale ressaltar que a decomposição da matéria orgânica libera
compostos altamente tóxicos aos fitonematoides. A erradicação de plantas
daninhas e destruição de tubérculos, principalmente durante o pousio ou
durante a rotação com planta não hospedeira, evita que os nematoides da
batata sobrevivam ou multipliquem nessas plantas.

Coleta e envio de amostras para análise nematológica


Nem sempre é possível reconhecer e diagnosticar a presença de fito-
nematoides exclusivamente pela observação dos sintomas. Para tanto, é
imprescindível a realização de análise laboratorial.
Considerando que os principais nematoides parasitam órgãos vegetais
subterrâneos (raízes e tubérculos) o bom senso prevalece na coleta e en-

245
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

vio de amostras nematológicas. Assim, para cultura da batata, de 10 a 20


subamostras por hectare devem ser coletadas, totalizando uma amostra
composta de aproximadamente 1 kg solo (com a umidade natural) e 20 g
de raízes ou 1 kg de tubérculos. Deve-se evitar a coleta sob condições de
chuva, de umidade alta e de encharcamento do solo. As amostras (solo +
parte vegetal) devem ser acondicionadas em sacos plásticos resistentes e
encaminhadas com brevidade para análise laboratorial.

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248
INTERFERÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS NA
CULTURA DA BATATA
Robinson Antonio Pitelli
EcoSafe Agricultira e Meio Ambiente – rapitelli@ecosafe.agr.br

Djalma Simões
Universidade Federal Rural de Pernambuco

Introdução
A cultura da batata, como qualquer população natural, está sujeita aos
efeitos de uma série de fatores ecológicos que afeta seu crescimento, de-
senvolvimento e produtividade. Os fatores ecológicos podem ser (i) de na-
tureza abiótica como temperatura, luz, disponibilidade de nutrientes ou
elementos tóxicos no solo e (ii) de natureza biótica como predação, para-
sitismo, competição, alelopatia e outros. Define-se como fatores bióticos
aqueles que são decorrentes diretos da atividade dos seres vivos que coa-
bitam a cultura, como insetos-pragas, fitopatógenos, plantas infestantes,
roedores e outros.
As atuais plantas daninhas que colonizam espontaneamente áreas agrí-
colas são designadas como plantas ruderais, evoluíram a partir das antigas

249
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

plantas pioneiras e apresentam tipos de evolução adaptativa adequada


para cada ambiente de infestação (PITELLI & PAVANI, 2005). Segundo
Grime (1979) são duas as condições ambientais que determinam a estraté-
gia de colonização das plantas superiores: o estresse e o distúrbio. Plantas
submetidas a baixas condições de distúrbio, mas elevados graus de estres-
se, são as consideradas plantas daninhas “tolerantes ao estresse” que são
mais comuns em pastagens e em sistemas de plantio direto, como capim-
-amargoso (Digitaria insularis), buva (Conyza bonariensis), malva estrela
(Wissadula subpeltata) e outras. Por outro lado, locais de elevado distúrbio
e baixo estresse, são colonizados pelas plantas daninhas classificadas como
“ruderais”. Para sobrevivência nestas condições, as plantas necessitam
apresentar fácil e rápida reprodução, rápido e intenso crescimento inicial,
farta produção de sementes ou de outra estrutura reprodutiva, sempre do-
tados de complexos e diversificados processos de dormência.
Normalmente, as plantas daninhas que ocorrem na cultura da batata
são as classificadas como altamente ruderais, apresentando elevada agres-
sividade dos indivíduos e rusticidade das populações; são plantas que ger-
minam bem em solo preparado, crescem de forma rápida e abundante no
ciclo da cultura e a diversidade genética das populações as permite adap-
tarem rapidamente às alterações ambientais, incluindo desenvolvimento
de resistência aos herbicidas.
Em artigo sobre plantas daninhas na cultura da batata, Gelmini & Ch-
ristoffolleti (1997) citaram Brachiaria plantaginea, Cenchrus echinatus, Di-
gitaria spp, Eleusine indica, Echinochloa spp, Brachiaria decumbens. Com-
melina benghalensis, Cyperus rotundus, Ageratum conyzoides, Bidens pilosa,
Galinsoga parviflora, Gnaphallium spicatum, Lepidium virginicum, So-
lanum americanum, Richardia bransiliensis, Portulaca oleracea, Sida spp.,
Coronopus didymus, Sonchus olraceus e Amaranthus spp como as plantas
daninhas mais comuns na cultura de batata no Brasil. Silva et al. (2011)
citaram várias destas espécies e acrescentaram Acanthospermum australe,
Amaranthus lividis, Digitaria horizontalis, Emilia sonchifolia, Oxalis lati-
folia, Portulaca oleracea e Raphanus raphanistrum, dentre as plantas dani-
nhas mais comuns na cultura da batata. Algumas desta espécies também
foram citadas em publicações de pesquisas de controle químico realizadas
por Zagonel et al. (1999) e Costa el al.; (2008). Todas estas espécies ocor-
rem com maior frequência em áreas de agricultura intensiva e olericultura

250
Interferência das plantas daninhas na cultura da batata
Robinson Antonio Pitelli • Djalma Simões

e apresentam características “ruderais”. É importante considerar que a


batata é cultivada do sul ao norte do Brasil e em diferentes épocas do ano,
por isso, muitas outras espécies podem infestar esta cultura, dependendo
da região, época de cultivo e histórico da área (BLANCO, 2008).
O objetivo do presente capítulo é realizar uma análise das relações en-
tre as plantas daninhas e a cultura da batata, considerando que o controle
desta vegetação consome bastante tempo e recursos dos agricultores.

Interferências das plantas daninhas


Na ciência das plantas daninhas, o termo interferência se refere ao
conjunto de pressões impostas a uma determinada cultura em função das
plantas que infestam sua área de plantio e cercanias (PITELLI & PITEL-
LI, 2008). Estas pressões podem ser de natureza abiótica ou abiótica. A
presença das plantas infestante pode alterar o microclima ao nível de dos-
sel e facilitar a ação de pragas e fitopatógenos. Plantas infestantes de cres-
cimento predominante podem interceptar a luz que é fundamental para o
processo fotossintético das plantas de batata.
Dentre os fatores bióticos, a competição pelos recursos de crescimento
é o mais evidente dos efeitos das plantas daninhas sobre as culturas agrí-
colas, incluindo a da batata. Além da competição, há os efeitos diretos de
alelopatia e indiretos atuando como reservatórios de fitopatógenos (AL-
VAREZ & SRINIVASAN, 2005; SRINIVASAN et al., 2008, LIMA,
2005), hospedeiros alternativos de pragas (FERNANDEZ-QUINTA-
NILLA et al., 2002, MICHELOTTO et al., 2005, RAJAGOPALBA-
BU & ALVAREZ, 2011 , LOURENÇÃO & NAGAI, 1994, HAJI et al.,
2004, HAJI et al., 2004) e integrando os dois no caso de insetos vetores de
doenças (DAVIES, 2007, ALVAREZ & SRINIVASAN, 2005, SRINI-
VASAN et al., 2008).
Também dentro do conceito de interferência são inseridos os efeitos
prejudiciais na colheita dos tubérculos (BRASIL, 2020, DAVIES, 2007),
na aplicação de defensivos agrícolas e nos custos da água. Por este moti-
vo, quando nos referimos aos efeitos agrícolas e econômicos das plantas
daninhas na cultura da batata não utilizaremos o termo competição e sim
interferência. O termo competição apenas será utilizado quando nos refe-
rimos ao processo em si.

251
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Pitelli (1985) propôs uma adaptação do esquema dos fatores que afe-
tam a relação competitiva entre culturas anuais e comunidades de plantas
daninhas (BLEASDALE, 1956; BLANCO, 1972) o qual é agora apre-
sentado na Figura 1, de outra forma mas com o mesmo conceito e conteú-
do, apenas modificado para maior facilidade de entendimento.

Figura 1. Representação esquemática dos fatores que afetam o grau de interferência en-
tre plantas daninhas e culturas agrícolas. Adaptado de Pitelli (1985).

Segundo o esquema apresentado, são quatro os grupos de fatores de


atuam no processo de interferência entre as comunidades infestantes e as
culturas agrícolas: (i) fatores ligados à própria cultura; (ii) fatores ligados
a comunidade infestante; (iii) fatores ligados ao ambiente de convivência
e (iv) a época e a extensão do período de convivência da cultura com as
plantas daninhas. Todos estes fatores são importantes na relação de in-
terferência entre plantas daninhas e a cultura da batata e a importância
relativa de cada grupo de fatores depende da circunstância em que ocorre
a convivência batata – comunidade infestante.

1. Fatores ligados à cultura


Na convivência das plantas daninhas com a cultura da batata, a com-
petição se estabelece apenas quando a demanda conjunta por algum ou

252
Interferência das plantas daninhas na cultura da batata
Robinson Antonio Pitelli • Djalma Simões

mais dos fatores essenciais ao crescimento das plantas suplanta a capaci-


dade do meio ambiente em fornecê-los (PITELLI & PITELLI, 2008).
Por isso, são muitos importantes o desenvolvimento inicial e a velocidade
de aquisição de recursos para suprimento do ciclo produtivo da cultura.
Os recursos que são mais comumente passíveis de competição são: água,
luz, nutrientes e espaço.
A batata é plantada em solos bem preparados no sistema convencional
com mobilização intensa do solo para o preparo do leito de plantio. Nesta
situação, as plantas daninhas ruderais encontram condições ótimas para a
germinação, emergência e rápido crescimento inicial (BLANCO, 2008).
Segundo Davies (2007), Blanco (2008) e Cavalieri et al. (2018), a bro-
tação e emergência da batata são lentas quando comparadas as das plantas
daninhas e, por isso, o controle inicial é fundamental para que a cultura
não seja prejudicada pela comunidade infestante. Blanco (2008) comenta
que no final do ciclo, há rápida desfolha das ramas e, consequentemente,
maior penetração de luz nas entrelinhas, permitindo o rápido crescimen-
to das plantas daninhas, mas destaca que não há efeitos significativos na
produtividade. Neste período, a cultura já mobilizou os recursos necessá-
rios para plena produtividade. No entanto, Cavalieri et al. (2018), Davies
(2007) e Brasil (2020) ressaltam que. em algumas situações, as plantas
daninhas crescem muito rapidamente neste período podem prejudicar o
processo de colheita dos tubérculos.
Há bastante diferença quando são comparadas as capacidades de cres-
cimento e sombreamento das cultivares da batata e para reduzir a interfe-
rência das plantas daninhas são preferidas aquelas de rápido crescimento
e formação do dossel, cobrindo rapidamente o solo (CAVALIERI et al.,
2018, SILVA, 2011). Cultivares de lento crescimento são as mais prejudi-
cadas pela matointerferência (DAVIES, 2007).
Monteiro et al. (2011) avaliaram o comportamento de 10 cultivares de
batata em convivência com as plantas daninhas e não observaram efeitos
diferenciais destas cultivares nas capacidades de redução do acúmulo de
biomassa seca pela comunidade infestante. No entanto, houve diferenças
nas capacidades de produção frente à presença das plantas daninhas. As
velocidades de brotação e crescimento inicial da cultivar foram fortemente
relacionadas com a produtividade em condições de controle deficiente das
plantas daninhas. Esta é mais uma evidência de que a velocidade de mobi-

253
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

lização dos recursos para o crescimento e desenvolvimento é um atributo


fundamental para a capacidade produtiva de uma cultura frente à interfe-
rência das plantas daninhas.
Hutchinson et al. (2011), usando modelo de série substitutiva, estuda-
ram a competição entre duas cultivares de batata e plantas de Solanum sar-
rachoides em duas situações de transplante das mudas da planta daninha
com duas folhas verdadeiras: (i) no plantio dos tubérculos e (ii) na emer-
gência dos brotos da batata. Para a cultivar ‘Russel Burbank’ na medida
em que a participação das plantas de batata foi diminuindo houve incre-
mento da biomassa por indivíduo em ambas as situações de transplante
das plantas daninhas, indicando capacidade competitiva maior que So-
lanum sarrachoides. Para a cultivar ‘Russel Norkot’ este comportamento
apenas ocorreu quando a planta daninha foi transplantada na emergência
da batata. Este comportamento permite inferir que há necessidade de uma
vantagem temporal na competição para esta segunda cultivar.
Cavalieri et al. (2018) ressalta que a variação na maturidade da cultivar
pode ser um fator determinante na sua capacidade competitiva. As bata-
teiras de maturação tardia mostraram maior capacidade competitiva que
as precoces, mas este comportamento estava associado às menores produ-
tividades das cultivares.
Além da capacidade competitiva do cultivar de batata, o arranjo das plan-
tas no campo, com espaçamento e densidade de plantio adequados, permite
que a cultura ocupe mais rápida e efetivamente os recursos do ambiente, es-
pecialmente determinando um sombreamento mais precoce, com reflexos na
redução da biomassa de plantas daninhas (AHMADVAND et al., 2009).

2. Fatores ligados à comunidade infestante


As comunidades de plantas daninhas que infestam as culturas de ba-
tata são bastante diversificadas, compostas por inúmeras populações com
variadas composições fitossociológicas. Cada espécie de planta daninha
tem um hábito de crescimento e necessidade nutricional específicos e por-
te diferenciados, que afetam de forma diversa as plantas de batata. Outro
aspecto muito importante das plantas daninhas é a atuação como hospe-
deiros intermediários de pragas e moléstias, mas este tipo de interferência
merecerá um item específico mais adiante neste capítulo.

254
Interferência das plantas daninhas na cultura da batata
Robinson Antonio Pitelli • Djalma Simões

Em função do controle químico tem ocorrido uma seleção de flora nas


áreas de plantio intensivo de batata e, provavelmente por isso, grande
parte da literatura sobre competição com plantas daninhas específicas são
realizadas com solanáceas.
Estudo interessante foi conduzido, em condições de campo, por Hut-
chinson et al. (2011) avaliando a interferência entre duas cultivares de ba-
tata e a planta daninha S. sarrachoides. As mudas destas plantas daninhas
foram transplantas nas densidades de 0, 1, 2, 3 e 100 plântulas (2 folhas)
por metro linear do sulco por ocasião da emergência dos brotos da batata.
O acúmulo de biomassa, número de caules, de frutos e de sementes de S.
sarrachoides foram reduzidas apenas pela interferência da cultivar ‘Russet
Burbank’, devido ao sombreamento mais precoce e intenso em compara-
ção com o cultivar ‘Russet Norkotah’. A cultivar ‘Russet Burbank’ não
sofreu interferência de S. sarrachoides na densidade de uma planta por
metro linear, apenas mostrando sinais de interferência com duas plantas
ou mais por metro linear. A cultivar ‘Russet Norkotah’ sofreu interferên-
cia significativa desde a menor densidade das plantas daninhas.
Lindsey et al. (2013) avaliaram as relações de interferência entre a cul-
tura da batata e as plantas daninhas Chenopodium album, Setaria faberi e
S. sarrachoides em três condições de fertilização orgânica do solo (0, 4 e 8
t.ha-1 de composto orgânico). A fertilização orgânica, embora tivesse favo-
recido a cultura, não afetou o acúmulo de biomassa e nem a produção de
sementes em qualquer das plantas daninhas . Na densidade de 5.2 plan-
tas.m-2, S. faberi e S. sarrachoides reduziram a produção da batata em 20%,
enquanto C. album a reduziu em 45%. A redução de produção ocasionada
por S. faberi e S. sarrachoides foi simples reflexo da redução da massa mé-
dia dos tubérculos, enquanto a redução promovida por C. album, além da
massa média, reduziu o número de tubérculos.
Vangessel & Renner (1990) observaram que a convivência de 4 plan-
tas.m-2 de Echinochloa crusgalli ou de Amaranthus retroflexus durante todo
o ciclo da batata reduziram a produção de tubérculos comercializáveis em
33% e 55%, respectivamente. Estes resultados são bastante ilustrativos do
fato de que a plantas daninhas interferem em diferentes intensidades e
formas na produção da cultura da batata.
É muito importante esclarecer que dentre as diferentes formas de inter-
ferência das plantas daninhas na cultura da batata, além do processo com-

255
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

petitivo, as plantas daninhas podem atuar como hospedeiros intermediários


de pragas e moléstias, aumentando os potenciais de predação ou de inóculos
para a cultura. Neste aspecto, são muito importantes as plantas que coabi-
tam com a cultura e as que ocorrem nas cercanias do campo cultivado.
Grande parte das pragas de batata são organismos polífagos e com
baixa especificidade de hospedeiros e frequentemente são alojados em
plantas daninhas (MICHELOTTO et al., 2005, RAJAGOPALBABU
& ALVAREZ, 2011 , HAJI et al., 2004, MOREIRA, 2001 e LOUREN-
ÇÃO & NAGAI, 1994)
Myzus persicae é um afídeo importante para a batata em várias regiões
do mundo, encontra-se associado às plantas daninhas e culturas de grande
importância econômica e é capaz de atuar como vetor de grande diversida-
de de vírus fitopatogênicos (MICHELOTTO et al., 2005). Dependendo
da espécie de planta daninha, o desempenho biológico de M. persicae é
variável. Fernandez-Quintanilla et al. (2002) comparando várias plantas
daninhas em condições controladas observaram que Veronica hederifolia
e Solanum nigrum foram as espécies mais procuradas por este afídeo, mas
foi em Brassica kaber que teve o seu melhor desempenho reprodutivo. Em
V. hederifolia este inseto mostrou seu maior potencial biótico em função
do curto período para maturidade sexual.
Rajagopalbabu & Alvarez (2011) observaram que o afídeo Macrosi-
phum euphorbiae, também polífago, ataca plantas de batata, mas tem fla-
grante preferência por S. sarrachoides. Além disso, observaram que ape-
nas na batata este inseto não é capaz de completar seu ciclo de desenvolvi-
mento, apenas o completa em S. sarrachoides. Neste sentido, Srinivasan et
al., 2008 e Alvarez & Srinivasan, 2005 destacam que S. sarrachoides é uma
planta ubíqua em campos de batata e áreas não agrícola em Idaho (USA),
é importante hospedeiro alternativo de M. persicae e M. euphorbiae e im-
portante reservatório de vírus do enrolamento da folha da batata (PLRV),
o que torna o seu controle fundamental na cultura e área adjacentes.
Phytophora infestans é outro agente fitopatogênico bastante importante
para a cultura da batata que tem a produção de oósporos aumentada quan-
do coabitam as plantas daninhas Solanum nigrum e Solonum dulcamara
(Flier et al., 2003, citado por LIMA, 2005). Este resultado mostra como a
composição específica de comunidade infestante é importante na determi-
nação da interferência global das plantas daninhas em culturas agrícolas.

256
Interferência das plantas daninhas na cultura da batata
Robinson Antonio Pitelli • Djalma Simões

Outra praga da batata que é extremamente cosmopolita e polífaga é a


mosca-branca (Bemisia tabaci). Haji et al. (2004), citando Mound & Halsey
(1978), apresentaram uma relação muito grande de plantas que são hospe-
deiras alternativas de B. tabaci biotipo B. Nesta grande relação de plantas
hospedeiras estão citadas muitas espécies que habitam áreas de agricultura
intensiva, como é o caso da cultura da batata. Podem ser citadas: Datura
stramonium, Nicandra physaloides, Solanum nigrum, Oxalis corniculata,
Cynodom dactvton, Euphorbia heterophylla, Chamaesyce hirta, Euphorbia
pilurifera, Phyllanthus niruri, Sida cordifolia, Sida rhombifolia, Convou-
volus arvensis, Ipomoea hederacea e Ipomoea purpúrea. Lourenção & Nagai
(1994) relataram vários surtos de mosca branca na região centro sul do Bra-
sil no início dos anos 90 e verificaram densas colonizações deste inseto em
Sida rhombifolia, Sonchus oleraceus, Solanum viarum e Ipomoea acuminata.
No Rio Grande do Norte, Moreira (2001) elaborou uma lista de hospedei-
ros alternativo do B. tabaci biotipo B, destacando Euphorbia heterophylla,
Amaranthus deflexus, Amatanthus spinosus, Physalis angulata, Acanthosper-
mum hispidum, Ipomoea granfiflora, Heliotropium indicum, Sida glaziovii,
Sida cordifolia, Croton glandulosus, Cucumis anguria, Phyllanthus tenellus e
Sonchus oleraceus. A capacidade de hospedar a mosca branca constitui um
exemplo de que sempre as plantas daninhas em áreas não atingida por pro-
gramas de controle, como as cercanias da cultura, permitem rápidas reinfes-
tações e, mesmo sem coabitarem a cultura, contribuem sobremaneira para
aumento do seu custo de produção.
Uma forma de interferência positiva de uma espécie de planta daninha
sobre a população de pragas é afetando o desempenho de seus inimigos
naturais. Silva et al. (2004) compararam o crescimento de Chrysoperia ex-
terna alimentada com B. tabaci biótipo B criada em pepino, couve e E.
heterophylla. Embora o peso dos machos e das fêmeas de C. externa não
tenham sido diferentes nos hospedeiros da mosca branca, os adultos do
inimigo natural alimentado com B. tabaci criada em E. heterophylla apre-
sentaram desempenhos biológicos inferiores em relação aos alimentados
com a presa oriunda de pepino e couve. A produção de ovos foi reduzida
ao redor de 50% e os ovos tiveram menor viabilidade que foi de 62,8% r
57,7% inferior ao verificado quando o inseto foi alimentado de B. tabaci
criada em couve e pepino.

257
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

3. Fatores ligados ao ambiente de convivência


O ambiente da área em que coabitam a cultura e as plantas daninhas
pode afetar o grau de interferência. Alterações ambientais afetam de for-
ma diferencial a cultura e a comunidade infestante e podem ter grande in-
fluência no grau de interferência. Davies (2007) ressalta a importância dos
cuidados com o ambiente da cultura, especialmente no tratamento fitos-
sanitários, pois as plantas de batata lesionadas por pragas e moléstias são
menos competitivas e sofrem efeitos mais severos das plantas daninhas.
A comunidade infestante é mais estável frente as variações ambientais,
uma vez que é composta por várias espécies com diferentes susceptibili-
dades aos fatores ambientais, e estas diferenças são importantes, pois uma
população de planta daninha mais tolerante pode compensar o menor
crescimento da população mais susceptível. Blackshaw et al. (2003) pon-
dera que as plantas daninhas são menos exigentes que as plantas melho-
radas, o que lhe dá certa vantagem competitiva quando a fertilização não
é bem direcionada à planta cultivada. Certas espécies de plantas daninhas
são bem mais rápidas que muitas culturas na mobilização inicial de fertili-
zantes do solo (Pitelli & Pitelli, 2008). A batata pelo seu lento crescimento
inicial, provavelmente apresenta este comportamento.
Chamanabad (2011) estudou a interferência das plantas daninhas
na cultura da batata em diferentes condições de adubação (0, 100 e 200
kg.ha-1) e observou que apenas na dose intermediária da batata aumentou
sua capacidade competitiva. Na dose de 200 Kg.ha-1, a cultura respondeu
positivamente à adubação, mas as plantas daninhas responderam em in-
tensidade bem maior e prejudicaram mais intensamente a produção.
Lindsey et al. (2013) estudaram a interferência entre a cultura da bata-
ta e C. album, S. faberi e S. sarrachoides em diferentes condições de adu-
bação orgânica do solo e observou que, diferente da batata, a fertilização
não afetou o acúmulo de biomassa e a produção de sementes das plantas
daninhas. Em condições de agricultura orgânica, Michael et al. (2005) es-
tudaram os efeitos da cobertura da palha (2,5 e 5,0 t.ha-1) nas relações de
interferência entre plantas daninhas e a cultura da batata em 12 experi-
mentos de campo e não observaram efeitos desta prática sobre a densidade
e a biomassa das plantas daninhas. Lindsey et al. (2013) observaram re-
sultados diferentes: quando a palha foi colocada por ocasião de plantio da

258
Interferência das plantas daninhas na cultura da batata
Robinson Antonio Pitelli • Djalma Simões

batata houve supressão da comunidade infestante, mas quando foi aplica-


da após a amontoa, os efeitos não foram significativos no crescimento das
plantas daninhas.
Nem sempre a comunidade infestante consegue manter estabilidade
fitossociológica e de crescimento frente à fertilização orgânica. Segundo
Yamamoto et al. (2014), o composto produzido pelo processo de acidula-
ção é produzido tem condições termofílicas e ácida e pode afetar de forma
diferencial as espécies de plantas daninhas. Asagi et al (2016) testaram
esta hipótese e realizaram adubação orgânica com composto obtido por
acidulação com ácido lático, esterco de curral, fertilizante inorgânico e ob-
servaram que o composto acidulado reduziu as populações de dicotiledô-
neas nos primeiros 30 a 40 dias do ciclo da batata.
Quando se planeja o manejo das plantas daninhas alterando o ambiente
de convivência com a cultura da batata, o ideal é utilizar práticas de controle
de forma integrada, visando obter maior pressão direcionada para as plantas
daninhas salvaguardando a cultura e evitar evolução adaptativa de popula-
ções adquirido resistência à uma ou outra pratica, especialmente aos herbi-
cidas. Kołodziejczyk (2015) avaliou o rendimento da batata em resposta a
vários métodos integrados de controle de plantas daninhas, incluindo con-
trole químico, controle mecânico, coberturas vivas com mostarda branca,
ervilhaca comum, trevo persa e facélia azul. A integração mecânico-quí-
mica reduziu a biomassa das plantas daninhas em 78%, enquanto apenas
com medidas mecânicas essa redução foi de 32%. A aplicação de tratamento
mecânico combinado com a semeadura de coberturas vivas após amontoa
também contribuiu para a diminuição de plantas daninhas.

4. Fatores ligados à época e extensão do período de convivência


De modo geral quanto maior for o período de convivência das plantas
daninhas na cultura da batata, maior será o efeito sobre sua produtivida-
de. No entanto, esta afirmativa é relativa, porque depende da época do
ciclo da cultura em que este período foi concedido. Dentre os períodos de
convivência cujos conhecimentos dos efeitos são importantes na análise
das relações competitivas entre as plantas daninhas e as culturas da batata
destacam-se três. Pitelli & Durigan (1984) criaram designações adequa-
das para estes períodos e que serão indicados a seguir.

259
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

O Período Anterior à Interferência (PAI) que representa o período,


desde o plantio ou a emergência em que a cultura pode conviver com as
plantas daninhas antes que sua produtividade seja comprometida signi-
ficativamente. O final do PAI indica que a falta de um ou mais recursos
essenciais para a cultura da batateira passou a comprometer irreversivel-
mente sua capacidade produtiva. Se o controle for realizado antes do final
deste período a produtividade é assegurada (Pitelli & Durigan, 1984; Pi-
telli & Pitelli, 2008). Este período indica qual é a época mais tardia para
realização de controle das plantas daninhas em pós-emergência. A exten-
são do PAI depende dos inúmeros fatores citados na Figura 1.
O segundo período de importância fundamental é o Período Total de
Prevenção da Interferência (PTPI) que pode ser definido como o período
mínimo em que a cultura deve ser mantida livre das plantas daninhas,
desde o plantio ou emergência, de modo que a comunidade infestante que
se instalar posteriormente não comprometerá mais a sua produtividade
de forma irreversível. No período até o final deste período a cultura terá
recrutado a maior parte dos recursos que são fundamentais para manuten-
ção de seu potencial produtivo, terá grande poder de interferência no cres-
cimento das plantas daninhas e a comunidade infestante não terá tempo
suficiente para desenvolver biomassa bastante para afetar a produção de
tubérculos (Pitelli & Durigan, 1984; Pitelli & Pitelli, 2008).
O final do PTPI indica a período que deve ser abrangido pelas medidas
de controle de plantas daninhas, seja pelo residual de herbicidas pré-e-
mergentes ou medidas pontuais de controle, como no caso de herbicidas
de contato ou sistêmicos sem ação residual. No caso da utilização de méto-
do manual ou mecânico, este é o período que deve receber as operações de
controle. Também para o PTPI, os resultados obtidos na literatura são va-
riáveis e a sua extensão depende dos inúmeros fatores citados na Figura 1.
Finalmente, o terceiro período importante é o chamado de Período Crítico
De Prevenção Da Interferência (PCPI) que, basicamente, é o período que inicia
imediatamente antes que os recursos sejam disputados (final do PAI), prolon-
gando-se até o momento a partir do qual as plantas daninhas que emergirem
não mais concorra com a cultura a ponto de comprometer a produtividade eco-
nômica (final do PTPI). (Pitelli & Durigan, 1984; Pitelli & Pitelli, 2008).
Devido às grandes variações das épocas e extensões destes períodos, em
função de diferentes regiões do Brasil e do mundo, com variadas condições

260
Interferência das plantas daninhas na cultura da batata
Robinson Antonio Pitelli • Djalma Simões

climáticas, de preparo e adubação do solo, de manejo de pragas e agentes


fitopatogênicos, composições especificas e densidades de comunidades in-
festantes, estes trabalhos devem ser realizados nas várias regiões de plantio
de batata, dentro das condições específicas de nível da agricultura.
A elaboração destes trabalhos consta de tratamentos em que a cultura
convive com a comunidade infestante por períodos crescentes. (i) um gru-
po de tratamentos a cultura convive com a comunidade infestante desde
o plantio ou a emergência por períodos crescentes e depois mantidas no
limpo até a colheita. No final do ciclo a produtividade da cultura é avalia-
da, definindo o grau de interferência; (ii) o segundo grupo, os períodos de
convivência se iniciam após períodos crescentes em que a cultura é man-
tida no limpo.
Seguindo o esquema acima Costa et al. (2018) estudaram os efeitos
de períodos de convivência das plantas daninhas com a cultura da bata-
ta. Os efeitos na produtividade de tubérculos foram analisados segundo
curvas de tendência seguindo o modelo de Boltzman. Utilizando a equa-
ção publicada pelos autores foram estimados os valores dos efeitos épocas
e extensões do período de convivência ou de controle na produtividade
relativa da batata. Para os cálculos da produtividade relativa de cada tra-
tamento, foram separados os grupos de tratamentos e o valor relativo de
100% foram considerados 0 dias no mato (primeiro grupo) e 90 dias no
limpo (segundo grupo). Os resultados estão apresentados na Figura 2.

Figura 2. Apresentação esquemática das curvas que representam os efeitos de períodos


crescentes de convivência com as plantas daninhas (esquerda) e de controle (direita) so-
bre a produtividade relativa da cultura da batata (adaptado de Costa et al., 2018).

261
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Os resultados mostram que quando as plantas daninhas não foram


controladas desde o início da cultura foram suficientes 9 dias (PAI) para
houvesse restrições de recursos suficientes para reduzir a produtividade
acima de 5% (perda limite aceitável). Para garantir a produtividade, a épo-
ca limite para controle pós-emergente das plantas daninhas é ao redor de
9 dias. O controle inicial das plantas daninhas por um período de 22 dias
(PTPI) foi suficiente para assegurar a produtividade plena de tubérculo
(dentro de uma perda máxima aceitável de 5%). A comunidade infestante
que emergiu após os 22 dias não foi capaz de afetar a produtividade da ba-
tata. Este resultado indica que após este período, as plantas daninhas que
emergiram não afetaram a capacidade da cultura em adquirir os recursos
para a produtividade, mesmo porque a própria batata já promoveu dos-
sel bastante denso para bloquear expressivamente a radiação solar. Nas
condições em que foi desenvolvido o presente experimento, 22 dias é o
período que deverá ser coberto pelas medidas de controle, como o efeito
residual de um herbicida pré-emergente.
Estes valores foram obtidos nas condições específicas em que foi con-
duzido o experimento de Costa et al. (2018). É esperado que em outras
condições de clima, comunidade infestante, cultivar e tratos culturais, ou-
tros resultados sejam obtidos.
Em relação ao PAI foram encontrados valores de 19 dias (KARIM-
MOJENI et al., 2014), 15 dias (BAIRAMKENGA & LEROUX, 1994,
MONDANI el al., 2011), 19-24 dias (AHMADVAND et al., 2009) e 11-
24 dias (HUTCHINSON, 2014). Outros autores preferem expressar em
termos de estádio da cultura, antes que a batateira atinja 20 cm de altura
(CIUBERKIS et al., 2007).
Em relação ao PTPI foram encontrados valores de 19 dias em 2010 e 22 dias
em 2011 (KARIMMOJENI et al., 2014), 51 dias (MONDANI el al., 2011),
22-24 dias (HUTCHINSON, 2014) e de 42-46 dias para cultivares de lento
crescimento ou prejudicada por fatores ecológicos (MONDANI et al., 2011).
Uma abordagem mais interessante é a comparação entre os valores dos
dois tipos de períodos avaliados como está apresentado na Figura 3, utili-
zando os dados de Costa et al., 2018 trabalhados na Figura 2. Este gráfico
mostra que as plantas daninhas afetaram a produtividade da batata a par-
tir dos 9 dias de convivência e necessitou de um controle até 22 dias para
que a produção de tubérculos fosse assegurada. Este período entre 9 dias

262
Interferência das plantas daninhas na cultura da batata
Robinson Antonio Pitelli • Djalma Simões

(fim do PAI) e 22 dias (final do PTPI) é designado por período crítico de


interferência das plantas daninhas (PCPI).

Figura 3. Apresentação esquemática das curvas sigmoidais que representam os efeitos


de períodos crescentes de convivência e de controle na produtividade relativa da cultura
da batata (adaptado de Costa et al., 2018).

O período abrangido pelo PCPI é a época ideal para o controle das plantas
daninhas, pois este procedimento começa antes que a interferência se instale
e será prolongado até o momento em que a cultura já mobilizou os recursos
para o seu crescimento e produção e, também, interfere decisivamente no
crescimento das plantas daninhas. No trabalho de Costa et al. (2018), PCPI
foi dos 9 aos 22 dias. Resultados diversos têm sido observados na literatu-
ra, em função da diversidade de fatores climáticos, cultivares, comunidades
infestantes e tratos culturais. Os valores observados na literatura foram 19-
21 dias (KARIMMOJENI et al., 2014), 19 a 51 dias (AHMADVAND et
al., 2009), 19 a 65 dias (MONDANI et al., 2011) e 26-66 dias no período
chuvoso e de 20 a 61 dias no período seco (MONTEIRO et al., 2011). Ka-
rimmojeni et al. (2014) observaram valores idênticos de 19 dias para o PAI
e o PTPI em 2010, indicando que uma única operação de controle realiza-
da nesta data era suficiente para assegurar a produtividade da batata. No
entanto, esta é uma situação difícil de ocorrer e no sentido prático o que se

263
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

recomenda é a manutenção da cultura no limpo até o fechamento do dossel


da batata. Quando a cultivar não promove o fechamento do dossel, se reco-
menda a manutenção no limpo até a plena floração da batata.

A batata como planta daninha


O conceito de planta daninha é de toda e qualquer planta que ocorre
onde não é desejada e, de qualquer forma, promova prejuízo ao homem.
Lutman (1977) divulga os resultados de uma pesquisa nos campos de batata
mostraram que até 370.000 tubérculos / ha podem permanecer no campo
após a colheita. A maioria desses tubérculos tinha menos de 4 cm de diâme-
tro e sua distribuição no solo sugere que eles haviam caído entre as barras
dos elevadores da colheitadeira. Apesar da alta mortalidade durante o in-
verno, foram encontradas populações substanciais de plantas de batata em
culturas subsequentes. Até 50.000 brotações/ha foram registradas em vá-
rios campos de trigo de inverno. O surgimento desses brotos começou em
abril e continuou até o final de maio, e em outros ensaios novos brotos ainda
estavam surgindo no final de junho. Vários experimentos indicaram que as
temperaturas do solo e os níveis de umidade na primavera e também a pro-
fundidade dos tubérculos afetaram a emergência e os tubérculos mais pro-
fundos surgiram mais tarde. Verificou-se que a batata daninha nas culturas
de cereais produz uma média de dois tubérculos novos, proporcionando
assim uma maior população de tubérculos para infestações no ano seguinte.
Na região de Tokachi no norte do Japão, a profundidade do gelo dimi-
nuiu desde o final dos anos 1980, facilitando a sobrevivência no inverno
de tubérculos pequenos de batata que emergem como plantas daninhas na
próxima safra. O controle da geada do solo por meio da remoção de neve,
que permite que as baixas temperaturas do solo matem os tubérculos de
batata, está se espalhando como um método prático de controle. No en-
tanto, a técnica ainda é considerada empírica e o nível de conhecimento
varia muito entre os agricultores (TOMOTSUGU et al., 2012).

Considerações finais
A batata normalmente é cultivada em área com solos bem preparados,
bem adubados e recebe irrigação adequada, criando condições ideais para

264
Interferência das plantas daninhas na cultura da batata
Robinson Antonio Pitelli • Djalma Simões

a instalação e desenvolvimento de plantas daninhas com características


ruderais, de rápido crescimento inicial, precoce e abundante produção de
propágulos. Em Idaho, Ciuberkis et al. (2007), observaram que o grande
fluxo de emergência das plantas daninhas ocorre desde o plantio até a flo-
ração da batata. Nestas condições de solos ricos em nutrientes e umidade
adequada, a forma de interferência mais provável de afetar a produção
é a capacidade das plantas daninhas de interceptação de radiação solar,
promovendo a competição por luz. Nestas condições as plantas daninhas
afetam a taxa de crescimento relativo (TCR), taxa de assimilação líqui-
da (TAA) da batateira e duração da área foliar (MOURSI, 1954, MON-
DANI et al., 2011), reduzindo expressivamente a eficiência fotossintética
das plantas. Com isso, os efeitos desta interferência refletem no número
(NELSON & THORESON, 1981), tamanho (NELSON & THORE-
SON, 1981, VANGESSEL & RENNER, 1990 e COSTA et al., 2018),
massa específica e promove deformações nos tubérculos afetando o valor
comercial (VANGESSEL & RENNER, 1990). Costa et al. (2018) ava-
liando os impactos de períodos crescentes de convivência com as plantas
daninhas observaram efeitos na distribuição dos tamanhos dos tubérculos
e observaram que na medida em que houve atraso no controle da comuni-
dade infestante foi reduzido o tamanho médio das batatas (Figura 4).

Figura 4. Representações gráficas das equações de segundo grau obtidas por Costa et al.,
2018 em avaliação dos efeitos do período de convivência com a comunidade infestante
sobre a distribuição de tamanhos de tubérculos de batata.

265
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Pelas características do ambiente de plantio, das comunidades infes-


tantes deste tipo de agricultura e do crescimento da batateira, as interfe-
rências das plantas daninhas são bastante prejudiciais e devem ser contro-
ladas tanto para garantir a produtividade, qualidade do produto, reduzir
os problemas fitossanitários e evitar interferência na colheita e valor eco-
nômico dos tubérculos.
Na redação do presente capítulo e na consulta bibliográfica relativa, des-
tacou-se a injustificável pequena quantidade de trabalhos básicos de eco-
logia e relações de interferência das plantas daninhas na cultura da batata.

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270
CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS
NA BATATA
Alberto Leão de Lemos Barroso
UniRV/GEPDC

Flavio Nascimento Silva


GEPDC

José Arnaldo de Sousa Junior


GEPDC

Hugo de Almeida Dan


GEPDC

Guilherme Cabral Marques


Mestrando/GEPDC

1. Importância da cultura da Batata


A produção nacional da batata representa aproximadamente 3,5 mi-
lhões de toneladas/anual, com área de cultivo em torno de 130 mil hec-
tares, de acordo com Associação Brasileira da Batata (ABBA), a cultura
da batata envolve em média 5 mil produtores em 30 regiões, dentre os
principais estados, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Goiás e Bahia (EMBRAPA, 2016). Na cultura da batata,
encontra-se uma variação no sistema de produção, do seu plantio à colhei-

271
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

ta, associado aos fatores climáticos e mercado, tornando-se assim os as-


pectos fitossanitários presentes na cultura o fator principal do sucesso de
exploração desta cultura. O plantio desta cultura é complexo favorecen-
do a infestação de diversos grupos de plantas daninhas por estarem sem-
pre presentes nos agroecossistemas o que as tornam responsáveis direta
(competição, alelopatia etc.) ou indiretamente (reservatório de patógenos,
atrativas para insetos-praga etc.) pela diminuição drástica na produção
econômica da cultura. As perdas provocadas pela presença das plantas
daninhas na cultura exigem do agricultor medidas de manejo adequado
desde a implantação bem como na dessecação da cultura em pré-colheita.
Portanto, o controle das plantas daninhas destaca-se como um essen-
cial componente da produção agrícola, introdução de produtos tecnológi-
cos e de tecnologias que possibilitem qualidade aos sistemas de produção
de batata proporcionando crescimento da produtividade, visando garantir
sustentabilidade, autonomia e competitividade da cadeia brasileira da ba-
tata.

2. Interferência de Plantas Daninhas


A batata (Solanum tuberosum L.) pertence à família botânica Solanácea,
e tem a produção afetada pela convivência com as plantas daninhas, e em
função da variação nos sistemas de produção da cultura, a flora daninha
associada a esta cultura é muito diversificada. Isto faz com que desde o
preparo do solo para o plantio até a sua colheita, deve-se tomar ações para
o controle das plantas daninhas, assegurando que a cultura possa expres-
sar seu potencial produtivo, livre da convivência com as plantas daninhas.
Diante disto o manejo adequado da população de plantas daninhas as-
sume significativa importância por interferir diretamente no desenvolvi-
mento da cultura.
Para implementação de programas de manejo integrado de plantas da-
ninhas, é imprescindível o conhecimento dos períodos de convivência en-
tre as plantas daninhas e a planta de batata, a predição da emergência das
plântulas e do seu impacto sobre a cultura.
Em geral, é na primeira metade do ciclo vegetativo que ocorre maior
competição entre as plantas daninhas e a cultura, podendo reduzir drasti-
camente a produção.

272
Controle de plantas daninhas na batata
Alberto L. de L. Barroso • Flavio N. Silva • José A. de S. Jr. • Hugo de A. Dan
• Guilherme C. Marques

Nesse contexto, a densidade de plantas e a época e extensão do período


de convivência destacam-se em importância, uma vez que estarão direta-
mente envolvidas nas tomadas de decisões quanto à utilização de herbici-
das (Pitelli, 1985; Locke et al., 2002).
Vários pesquisadores verificaram que a convivência da comunidade de
plantas daninhas com a cultura da batata pode reduzir a produção de tu-
bérculo sem cerca de 6,4 a 65%, entre eles Ciuberkis et al., 2007.
Para Vieira, 2000, o ideal é manter a cultura no limpo nos primeiros 30
a 50 dias, época em que se faz a amontoa.
As plantas daninhas exercem interferência direta e indireta, influen-
ciando no crescimento, desenvolvimento e produtividade, competindo
por recursos naturais do meio ambiente, dentre estes água, luz, nutrientes
e espaço físico, exercem inibição química em outras plantas por meio da
liberação de compostos alelopáticos, além de serem hospedeiras de pragas
e patógenos, gerando impactos negativos e acarretando perdas na colheita
consequentemente depreciação do produto colhido
O período de interferência é delimitado pelo ambiente de convivência
entre as plantas cultivadas e as plantas daninhas, quanto maior a convi-
vência, maior será a interferência, em função da comunidade infestante,
densidade, distribuição e comunidade especifica, correlacionados a pró-
pria cultura, espécie, espaçamento e densidade de plantio, das condições
de solo e clima, e manejo adotado ao sistema de produção.
Os impactos negativos gerados pelas plantas daninhas acarretam per-
das na colheita, na qualidade e na produtividade final das batatas, além de
aumentar o custo de produção ao requerer medidas de controle. COSTA
et al, 2008, considerando a perda de 5% na produtividade como aceitável,
foi possível determinar o período anterior à interferência (PAI), que foi de
20 dias; o período total de prevenção à interferência (PTPI), de 21 dias; e o
período crítico de prevenção da interferência (PCPI), de cerca de um dia,
dos 20 aos 21 dias após o plantio, pode implicar uma série de dificuldades
ou impossibilidades na execução de operações de controle, principalmen-
te se as áreas são extensas e em condições de clima desfavorável ao manejo.
O período crítico de competição (PCC), tendo em vista como época
ideal de controle destas plantas, na cultura da batata, este compreende-se
entre a implantação até os 50 DAS. A partir dos cinquenta dias as plantas
daninhas não geram interferência a cultura, devido ao desenvolvimento

273
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

vegetativo, proporcionando fechamento de entre-linhas, iniciando-se en-


tão a produção de tubérculos (SILVA et al., 2011).
No entanto, o efeito da interferência da comunidade de plantas dani-
nhas sobre a cultura da batata pode apresentar-se extremamente variável,
uma vez que essa interação está correlacionada com as espécies de plan-
tas daninhas presentes na comunidade infestante, com o tipo de cultivar e
bem com as características do meio.
Na implantação de cultivos agrícolas, são realizados manejos de pre-
paração do solo, buscando retirar a vegetação nativa, além de revolver o
solo, provocando o desequilíbrio entre espécies locais, podendo ocasionar
a quebra de dormência e aumentando a incidência de luz no solo, favore-
cendo então a multiplicação de espécies adaptadas.
Zoschke & Quadranti (2002) ressaltam que o manejo integrado de plan-
tas daninhas com o uso de diferentes técnicas para prever os problemas
causados por essas espécies e, assim, antecipar o manejo principalmente
quando já estão presentes, convivendo com a cultura poderia contribuir
para prevenção de produção de banco de semente e sua germinação, mini-
mizando assim a competição entre as plantas daninhas e a cultura.
Uma única eliminação da comunidade das plantas daninhas no térmi-
no do PAI ou do PTPI seria necessário para que a cultura pudesse expres-
sar completamente todo o seu potencial produtivo (Velini, 1997), sem que
haja perdas acima de 5%.
A aplicação de herbicidas em pós-emergência com ou sem efeito resi-
dual no PCPI, bem como o uso de cultivadores no período da amontoa,
rotação de culturas e a utilização de cobertura morta combinada com her-
bicidas, destacaram-se como excelentes alternativas de manejo da comu-
nidade de plantas daninhas na cultura da batata (Bellinder et al., 2000;
Bailey et al., 2001; Boydston & Vaughn, 2002; Hutchinson et al., 2003).
Diante do conhecimento do período crítico, é possível realizar o mane-
jo adequado, posicionando os métodos de controle no intervalo de tempo
ideal, minimizando as falhas no controle de plantas daninhas, somando de
maneira impar para tomada de decisão ideal.

274
Controle de plantas daninhas na batata
Alberto L. de L. Barroso • Flavio N. Silva • José A. de S. Jr. • Hugo de A. Dan
• Guilherme C. Marques

Fonte: Paulo Vinicius da Silva, 2018

3. Manejo integrado de plantas daninhas


Dentre os métodos eficazes de controle de plantas daninhas na cultura
da batata, envolvem uma série de opções, demonstrando elevada impor-
tância na bataticultura em função da perda de produtividade. A seleção de
métodos de controle para diferentes espécies é atribuição da mão de obra,
da morfoanatomia das espécies, das condições econômicas do produtor e
das condições edafoclimáticas da região. As principais espécies infestantes
em áreas de plantios comerciais de batata na região Centro-Sul do Brasil
estão apresentadas na Tabela 1 (BLANCO, 2007; COSTA et al., 2008).

Tabela 1 – Principais plantas daninhas encontradas nos cultivos comerciais de batata na


região Centro-Sul do Brasil.
Nome comum Espécie Família
Caruru Amaranthus sp. Amaranthaceae
Picão-preto Bidens sp. Asteraceae
Falsa-serralha Emilia fosberge Asteraceae
Serralha Sonchus oleraceus Asteraceae
Tiririca Cyperus rotundus L. Cyperaceae

275
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Trapoeraba Commelina benghalensis Commelinaceae


Nabiça Raphanus raphanistrum L. Bassicaceae
Maria-pretinha Solanum americanum Solanaceae
Carrapicho-rasteiro Acanthospermum australe Asteraceae
Beldroega Portulaca oleraceae L. Portulacaceae
Trevo-azedo Oxalis latifólia L. Oxalidaceae
Grama-seda Cynodon dactylon Poaceae
Capim-pé-de-galinha Eleusine indica Poaceae
Capim-marmelada Urochloa plantaginea Poaceae
Capim-carrapicho Cenchrus echinatus L. Poaceae
Capim-colchão Digitaria horizontalis Poaceae
Capim-arroz Echinochloa sp. Poaceae
Guanxuma Sida sp. Malvaceae
Picão-branco Galinsoga parviflora Asteraceae
Poaia-branca Richardia brasiliensis Rubiaceae
Mentrasto Ageratum conyzoides Asteraceae
Mentruz Lepidium virginicum Bassicaceae
Mastruço Coronopus didymus L Bassicaceae

Os métodos de controle de plantas daninhas abrangem uma larga esca-


la, dentre as medidas, o controle preventivo, controle mecânico, controle
cultural, controle físico, controle biológico e o controle químico são al-
ternativas para erradicação de plantas indesejáveis. Para adotar uma boa
estratégia de manejo, é ideal que se associe métodos de controle, consti-
tuindo-se o controle integrado, visando promover eficiência, preservar o
meio ambiente e o trabalhador, gerando redução de custos.

3.1 Controle Preventivo.


Adoção de ações que impeçam a entrada de novas comunidades florís-
ticas na área de plantio, propágulos (sementes ou estruturas de propaga-
ção) de plantas daninhas, onde elas não ocorrem, bem como seu estabele-
cimento, inviabilizando os prejuízos futuros. Dentre as medidas, consiste
em limpeza de máquinas e implementos agrícolas, utilização de sementes
certificadas de alta pureza, vigor e germinação, ser de boa procedência
fitossanitária e limpa, sem terra aderida, evitando assim propágulos de
plantas daninhas exóticas a área de plantio inspecionar roupas e sapatos
dos trabalhadores, erradicação de plantas daninhas nas margens de estra-
das e canais de irrigação, se usar mudas em torrões, deve ser de procedên-

276
Controle de plantas daninhas na batata
Alberto L. de L. Barroso • Flavio N. Silva • José A. de S. Jr. • Hugo de A. Dan
• Guilherme C. Marques

cia devidamente registrada junto aos órgãos de defesa e que atendam as


normas estabelecidas e efetuar a quarentena de animais introduzidos na
propriedade.

Fonte: André Filho 2018

3.2 Controle Cultural.


O controle cultural implica no manejo correto da lavoura e do ambien-
te ao redor, refere-se ao uso de práticas culturais ou agrícolas, para obter
eficiente redução de plantas daninhas, proporcionando aumento do po-
tencial competitivo da cultura, minimizando possíveis interferências de
plantas indesejáveis, a integração do controle cultural eleva a eficiência
dos outros métodos de controle utilizados.
Densidade de plantas, cobertura verde e morta, o bom manejo do solo,
da água e da fertilização da cultura (Deuber, 2003)
Destacam-se as seguintes medidas de controle cultural (OLIVEIRA
JR et.al, 2011).
• Manejo de plantas daninhas na entressafra: O controle de plantas da-
ninhas nos sistemas agrícolas não deve restringir apenas no momento
da safra, mas deve ser adotado no intervalo entre cultivos, impedindo
o surgimento de plantas daninhas e a produção de propágulos, pro-
movendo decréscimo no nível de infestação próximo ao plantio das
culturas, com isso a interferência será minimizada e os controles sub-
sequentes serão facilitados, o manejo na entressafra compreende em
associação de métodos de controle no período antecessor a instalação
da cultura, promovendo um ambiente livre de competição e interfe-
rência de plantas invasoras.

277
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

• Rotação de culturas: Dentre as práticas adotadas no manejo cultural


a rotação de cultura promove elevação da autonomia, pois auxilia na
prevenção de ataque de pragas, patógenos e modifica a população de
plantas daninhas remanescentes, diversificando os métodos de con-
trole, além do mas, abre a oportunidade de optar por diferentes me-
canismos de ação de herbicidas, consequentemente aumenta o leque
de ingredientes ativos a serem utilizados, auxiliando para o decrésci-
mo da seleção de biotipos de plantas daninhas resistentes, dificultan-
do o surgimento em áreas agricultáveis, com o programa de sucessão
e rotação de culturas, é possível alterar o ambiente em comparação
a um processo de monocultura. A rotação de culturas também per-
mite a rotação de herbicidas, e com a sucessão de culturas, tem-se
a possibilidade de manter a área ocupada pela espécie desejada, não
permitindo a infestação por espécies daninhas (GAZZIERO, 1998).
• Escolha de cultivares: A cultura é fator determinante para obtenção
de sucesso no controle de plantas daninhas, as cultivares exploradas
devem apresentar arquitetura moderna com alto potencial germi-
nativo e vigor, proporcionando rápido desenvolvimento vegetativo,
com isso ocorre o rápido fechamento de entre linhas, cobrindo o solo
de maneira intensa, inibindo então o ambiente competitivo e abafan-
do por consequência as plantas invasoras.
• Cobertura morta: A palha da cultura antecessora auxilia efetivamente
no controle de plantas daninhas, através de efeitos físicos e liberação
de compostos alopáticos, que por consequência ocasionam decrésci-
mo no potencial germinativo, em áreas onde o plantio direto e con-
duzido corretamente, a cobertura propicia boa amplitude térmica,
mantendo o solo umedecido e temperatura favorável as culturas , au-
xilia na diminuindo a interceptação de radiações solares retardando a
quebra de dormência de sementes remanescentes nas áreas de culti-
vo, além de atuar como uma barreira mecânica inibindo a emergên-
cia de plântulas infestantes. Além do mais, o emprego de cobertura
morta na superfície do solo é uma prática de disseminada importân-
cia para o estabelecimento de um sistema de plantio direto, processo
pelo qual contribui beneficamente para a construção do perfil do solo
contribuindo para melhora da integridade física, composição da fer-
tilidade e protegendo-o contra erosões, disponibilizando carbono or-

278
Controle de plantas daninhas na batata
Alberto L. de L. Barroso • Flavio N. Silva • José A. de S. Jr. • Hugo de A. Dan
• Guilherme C. Marques

gânico a próxima cultura (AMOSSÉ; JEUFFROY; DAVID, 2013;


TEODORO et al., 2011).
• Adubação verde: geralmente são utilizadas em áreas de pousio ou inter-
calada com culturas perenes e anuais, dentre os benefícios encontra-se o
controle de plantas daninhas, pois o solo é mantido coberto, dificultando
a instalação de plantas não desejáveis, além de aumentarem a microbiota
do solo, aeração e ciclagem de nutrientes, promovem maior capacidade de
retenção, diminuindo a temperatura do solo e evitando ocorrência de ero-
sões. A maioria das culturas utilizadas como cobertura verde possui sis-
tema radicular agressivo, os quais modificam a rizosfera, diminuindo por
consequência o nível de compactação do solo, plantas de cobertura como
a mucuna, nabo-forrageiro, crotalária, apresentam alto potencial sinérgi-
co para o ambiente produtivo, pois os compostos aleloquimicos além de
diminuir a taxa de germinação de espécies invasoras, promovem ativida-
des de microrganismos no solo, reduz a produção de biomassa de plantas
daninhas, além de tornar o ambiente livre de competição, minimizando a
interferência de plantas daninhas (JABRAN et al., 2015).

Fonte: Paulo César Tavares de Melo 2017

279
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

• Espaçamento e densidade de plantio: quanto menor o espaçamen-


to adotado, maior será a densidade de plantas por área, com isso
mais precoce e efetivo torna-se o fechamento da cultura, aumen-
tando a interceptação de luz pela cultura, regredindo a germina-
ção de plântulas de espécies invasoras, entretanto ao extrapolar o
limite haverá concorrência entre as plantas da cultura de interesse,
pensando no controle de plantas daninhas na cultura da batata é
ideal trabalhar no limite adequado para cada cultivar de acordo
com a região, pois o altas densidades de plantas contribuem para
o aumento da murcha bacteriana causada por Ralstonia solanacea-
rum, consistindo numa das principais doenças da batata (CAR-
VALHO et al., 2017).
• Época de plantio: Ao realizar o plantio na época ideal, disponibiliza a
cultura ótimas condições de fotoperíodo e precipitações, para o cres-
cimento e desenvolvimento, devidamente resulta em rápido fecha-
mento da cultura, estabelecendo eficiência no controle.
• Adubação e correção do solo: os nutrientes de solo quando dis-
ponibilizados corretamente promovem a cultura rápido desenvol-
vimento, com isso ocasiona o fechamento da cultura. A grande
maioria dos solos brasileiros onde se cultiva a batata são ácidos,
ou seja, com pH abaixo da faixa ideal de cultivo, que é entre 5,5 e
6,0. A calagem promove importante modificação no ambiente ra-
dicular, pois diminui a acidez do solo, fornece Ca e Mg e aumenta
a disponibilidade e eficiência na utilização de vários nutrientes.
Assim, apesar de ser considerada relativamente tolerante à acidez
do solo, a cultura da batata responde positivamente à aplicação
de corretivos da acidez, além do mas o pH baixo indisponibiliza
micronutrientes catiônicos afetando a absorção por parte da cul-
tura, e existem plantas daninhas adaptadas a condições de acidez.
A correção de solo delimita a presença de plantas daninhas mais
adaptadas a condições desfavoráveis, ex: picão-preto desenvolvem
em solos com deficiência de micronutrientes e excesso de nitrogê-
nio, já a samambaia, sapé e tiririca são indicadores de solos ácidos
e com presença de óxidos de Ferro e Alumínio.

280
Controle de plantas daninhas na batata
Alberto L. de L. Barroso • Flavio N. Silva • José A. de S. Jr. • Hugo de A. Dan
• Guilherme C. Marques

3.3 Controle Biológico


As medidas de controle biológicas utilizam inimigos naturais das plan-
tas daninhas, como fungos, vírus, bactérias e insetos, ou seja, agentes na-
turais que parasitam as plantas não desejadas. O controle biológico não
é um método amplamente empregado no controle de plantas daninhas,
devido a ineficácia de produtos e dificuldade de manuseio por parte dos
produtores. Na cultura da batata apresenta desvantagem devido a hete-
rogeneidade de espécies infestantes, delimitando uma enorme dificuldade
de encontrar agentes com a capacidade de infestar todas as espécies (OLI-
VEIRA JR. et al., 2011).
O controle biológico de plantas daninhas iniciou-se aproximadamente
na mesma época que o controle químico (ENNIS, 1985), no entanto, so-
mente a partir da década de 50 começou a despertar maior interesse, pois,
nesse período, iniciou-se a preocupação com o ambiente (GAZZIERO,
1998). São dois os métodos de controle biológico: o clássico (ou inoculativo)
e o micoherbicida (ou inundativo). O método inundativo aplica-se melhor
as culturas anuais cujo ambiente é frequentemente perturbado pelo mane-
jo do solo e da cultura. Esse método preconiza o uso de fungos que, após
multiplicados e formulados, são aplicados como um herbicida qualquer.
Algums herbicidas comerciais micoherbicidas consistiram em relatos de
sucesso nos Estados Unidos (GAZZIERO, 1998). Existe a possibilidade
de controle de algumas espécies, como o leiteiro (Euphorbia heterophylla),
com o uso de micoherbicidas pelo fungo Helminthosporium sp., obtendo-se
nível de controle superior a 60% com o uso desse fungo (DEUBER, 1997).

3.4 Controle Mecânico


O controle mecânico de plantas daninhas é bastante utilizado em siste-
mas orgânicos de produção, mas também pode ser uma ferramenta usual
no sistema convencional. O método implica no desbaste de plantas dani-
nhas remanescentes, é realizado manualmente, em pequenas áreas, tam-
bém pode ser controlado por capina manual, por meio de enxadas, porém
necessita de mão de obra, e apresenta baixo rendimento, mas se utilizando
catação ou repasse apresenta eficiência, podendo ser empregados perfeita-
mente no sistema de plantio direto (OLIVEIRA JR. et al., 2011).

281
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Após a implantação da cultura, pode-se utilizar os cultivadores, en-


tretanto, o uso desses implementos é viável economicamente, desde que
haja adequado dimensionamento entre a área, a cultivar, o tamanho e o
rendimento dos equipamentos utilizados (DEUBER, 1997). Alguns cui-
dados devem ser tomados com o uso de cultivadores: no primeiro cultivo,
não aproximar o cultivador junto as linhas, pois as plantas de batata ainda
estão muito pequenas; orientar quanto a profundidade do cultivador no
segundo cultivo, para não afetar o sistema radicular superficial, e não fazer
os cultivos com o solo úmido, para evitar a compactação.
Plantas daninhas que se multiplicam através de estruturas vegetativas
como rizomas, tubérculos e estolões podem ter seu número aumentado se o
equipamento empregado fragmentar a planta, e se realizado na presença de
umidade quando mal realizado só trocam as plantas daninhas de lugar, não
apresentando eficácia. Para plantas anuais e bienais, o controle mecânico é
altamente eficiente, mas para plantas perenes que desenvolvem sistema ra-
dicular profundo há maiores dificuldades de controle. No caso do controle
mecânico não deve ser adotado como uma única opção de manejo de plantas
daninhas ele deve estar associado ao controle químico para apresentar eficácia

Fonte: Danilo Miranda, 2016

282
Controle de plantas daninhas na batata
Alberto L. de L. Barroso • Flavio N. Silva • José A. de S. Jr. • Hugo de A. Dan
• Guilherme C. Marques

O manejo mecânico inclui, também, a capina manual e mecânica, que


são úteis principalmente em pequenas e médias propriedades. A capina
manual assume grande importância em campos de produção de sementes,
e se disponível, constitui uma boa alternativa para ser utilizada isolada-
mente, ou em complementação a outro método de controle. Também é
importante para um programa de catação de espécies em disseminação
(GAZZIERO, 1998).

Fonte: Paulo Vinicius da Silva, 2018

A medida de controle também pode ser realizada por tração animal, em


pequenas propriedades, ou tração mecanizada, que consiste na utilização
de tratores para acoplamento dos implementos (roçadeiras, cultivadores,
enxada rotativa), o controle mecânico é utilizado em larga escala devido à
redução de custos, além de apresentar eficiência e rapidez no controle de
plantas daninhas principalmente em condições de solo seco (OLIVEIRA
JR. et al., 2011).

Fonte: Fernando Domingo Zinger 2017

283
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Citam ainda que pode ocorrer a não eliminação de plantas na linha de


plantio, danos às raízes superficiais da cultura, perda de solo pela erosão,
formação de camadas adensadas no solo e a dispersão de propágulos para
áreas não infestadas.

3.5 Controle Físico


O método físico de controle consiste na utilização de recursos naturais,
dentre estes a água, promovendo a inundação e drenagem, pois grande
número de plantas não sobrevivem quando a água submerge totalmente
as plantas presentes na área. O vapor, que consiste em formas de utiliza-
ção do calor, utilizando caixas onde se insufla calor implicando na este-
rilização e desinfecção de substratos e canteiros. O calor, o qual provoca
coagulação do protoplasma de células vegetais, o ponto letal para a maio-
ria das células vegetais é de 45 a 55ºC, o fogo destrói a população existente,
porém não evita o desenvolvimento de novas espécies, equivale salientar
que a utilização de queimadas, o qual é o principal método de controle
utilizando o calor, causa efeitos nocivos ao sistema, gerando desequilíbrio
ambiental, pois elimina a cobertura do solo e ocasiona a morte de agentes
naturais (OLIVEIRA JR. et al., 2011).

3.6 Controle Químico


O controle químico consiste na pulverização de produtos denomi-
nados herbicidas, estes ao entrarem em contato com solo e plantas da-
ninhas, inibem processos fisiológicos e bioquímicos, podendo afetar
negativamente a germinação, desenvolvimento e crescimento podendo
levar a morte de plantas, diminuindo consequentemente a infestação
em áreas de cultivo.
O método de controle químico possui várias vantagens em relação a
outros métodos, quando posicionado corretamente promove autonomia,
reduzida dependência de mão-de-obra, controle eficiente em períodos
com elevada umidade, eficácia no controle das plantas daninhas nas linhas
de plantio, e controle das que multiplicam vegetativamente. Ao serem
aliadas a outras ferramentas de controle conferem melhorias ao sistema,
consistindo em uma alternativa crescente no manejo integrado de plantas
daninhas (OLIVEIRA JR. et al., 2011).

284
Controle de plantas daninhas na batata
Alberto L. de L. Barroso • Flavio N. Silva • José A. de S. Jr. • Hugo de A. Dan
• Guilherme C. Marques

Os herbicidas a serem utilizados na cultura da batata podem ou não


apresentar seletividade a cultura, as aplicações podem ser realizadas de
forma preventiva (Manejo preventivo/ outonal), em pré-plantio ou plan-
te e aplique (pré-emergente) anterior a emergência da cultura e plantas
daninhas, no sulco de plantio ou pré-plantio-incorporado (PPI), e em pós
emergência (PÓS) da cultura e plantas daninhas.
A eficiência da absorção de herbicidas por diferentes estruturas morfo-
lógicas das plantas é refletida pela época de aplicação. Herbicidas absor-
vidos geralmente por raízes ou estruturas subterrâneas, são aplicados no
solo após a semeadura ou plantio, anterior a emergência da cultura e das
plantas daninhas. Os herbicidas (pós-emergentes), são aplicados à parte
aérea das plantas, onde a absorção ocorre por estruturas foliares, no en-
tanto, é impreterível que a cultura apresente tolerância à exposição direta
com o produto. O manejo químico de herbicidas é amplamente utilizado
no cultivo de inúmeras culturas, devido a agilidade e eficiência promovi-
da no controle de plantas daninhas, principalmente onde se tem grandes
áreas comerciais de produção.
Visto que a seleção de biótipos resistentes tem sido cada vez mais cres-
cente, é ideal racionalizar o uso de herbicidas, posicionando de maneira
sequencial promovendo rotação de mecanismos de ação, além disso torna-
-se importante a integração de outros métodos de controle, visando pro-
mover efetiva eliminação de plantas daninhas.
Os herbicidas deve conter registro junto ao MAPA para uso na cultu-
ra da batata devendo ser posicionados de maneira correta, respeitando a
sensibilidade e seletividade da cultura, estádio das plantas daninhas para
aplicar, se é herbicida de contato ou sistêmico, levando em consideração
aspectos econômicos, ambientais e eficiência, visando promover autono-
mia na eliminação de plantas invasoras.
A tecnologia de produção de batata no País é bastante variada, mas
existem dois grandes grupos distintos: batatas tipo “comum” e “tecnifica-
da”. No cultivo dos tipos comum as técnicas de produção são tradicionais,
com baixa utilização de batata-semente selecionada e insumos (adubos
e agrotóxicos). Nas batatas “tecnificadas”, a utilização destes insumos é
intensa, bem como a utilização de técnicas de manejo e utilização de cul-
tivares com alto teto produtivo. Entre as técnicas de manejo, a amontoa
constitui um fator importante no desenvolvimento da planta visto estimu-

285
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

lar a produção de tubérculos que se formam acima e ao lado da batata-mãe


(FILGUEIRA, 1982).
Entre os insumos utilizados, o uso de herbicidas é um fator importante
nas lavouras tecnificadas e a aplicação de herbicidas na cultura da batata
devem estar atrelada a época de aplicação; as características físico-quími-
cas e/ou de recomendação dos produtos para que alcance maior eficácia.
O ambiente de produção, seletividade para cultura, eficácia agronômica
no controle de plantas daninhas, avaliação da rotação de culturas visando
o carryover, são partes importantes para o manejo integrado, com o obje-
tivo de manterem a cultura livre de plantas daninhas nos períodos iniciais
do desenvolvimento da cultura, no qual a presença destas mais interfere
na produtividade.
Quando a cultura atinge em torno de 40 dias após o plantio e foi sub-
metida ao processo de amontoa há pelo menos dez dias em média, ob-
serva-se a necessidade de aplicação de um herbicida do tipo graminicida.
Neste momento, normalmente, as gramíneas estão no estádio de início de
perfilhamento, tanto na entrelinha como na linha submetida ao processo
de amontoa.
Dentreos ingredientes ativos comerciais, apenas três são seletivos em
pós emergência, como exemplo os graminicidas fenoxaprop, cletodin e
fluazifop e apenas seis são seletivos à cultura da batata quando aplicados
em pré-emergência. Os demais são dessecantes, ou seja, não seletivos à
cultura da batata (AGROFIT, 2016).

Tabela 2. Principais herbicidas registrados no Ministério da Agricultura Pecuária e Abaste-


cimento para cultura da batata com possibilidades de aplicação e controle (Agrofit, 2018).
Herbicida Recomendações Planta daninha Dose (p.c/ha)
Carfentrazona-etílica (a) Aplicação em pós- Corda – Viola 50 – 75 (ml) + 0,5% de óleo
(Exemplo: Aurora) emergência das plantas mineral
GQ: triazolona MA: infestantes e no préplantio da
Protox -PPO cultura (dessecação). 100 – 125 (ml) + 0,5% de
óleo minera
(b) Aplicar na dessecação das
ramas.

286
Controle de plantas daninhas na batata
Alberto L. de L. Barroso • Flavio N. Silva • José A. de S. Jr. • Hugo de A. Dan
• Guilherme C. Marques

Cletodim (Exemplo: É efetivo contra ampla Capim-marmelada 0,35 – 0,45 (L)* Variando
Select) GQ: oxima faixa de gramíneas anuais (Urochloa plantaginea); de acordo com o número
ciclohexanodiona e perenes, apresentando Capim-colchão (Digitaria de perfilhos das plantas
pouca ou nenhuma atividade horizontalis); e/ou tamanho Adicionar
sobre as plantas daninhas Capim-carrapicho óleo mineral emulsionavel
de folhas largas e ciperáceas. (Cenchrus echinatus); na concentração de
Altamente seletivo para Capim-pé-de-galinha 0,5%v/v.
cultura da batata. Aplicar (Eleusine indica);
uma única vez em qualquer Capim-rabo-de-raposa
estagio de desenvolvimento (Setaria geniculata);
da cultura, na pós- Capim-custódio
emergência das plantas (Pennisetum setosum);
infestantes. Capim-arroz(Echinochloa
crusgalli);
apim-camalote (Rottboellia
exaltata);
Capim-mimoso (Eragrostis
ciliaris)
Clomazona Aplicação em pré emergência Capim-marmelada 0,35 – 0,45 (L)* Variando
(Exemplo:Gamit) das plantas infestantes e da (Urochloa plantaginea) de acordo com o número
GQ: isoxazolidinona cultura. Aplicar o produto, de perfilhos das plantas
MA: Inibidores de imediatamente após a e/ou tamanho Adicionar
caroteno semeadura da cultura (plante óleo mineral emulsionavel
e aplique) em solo livre de na concentração de
torrões através de uma boa 0,5%v/v.
gradagem.
Dibrometo de diquate Dessecação na pré-colheita: ------ 1,0 L
(Exemplo:Reglone) Aplicar no mínimo 7 dias
GQ: bipiridílio MA: antes da colheita. Única
Fotosistema I aplicação durante a safra.
Dicloreto de É um herbicida para ------ 1,5 a 2,0 (L)
Paraquate (Exemplo: aplicações em pósemergência Observações:
Gramoxone) GQ: das plantas infestantes, com Na dessecação da batata,
bipiridílio MA: ação não-sistêmica (ação de não usar espalhante e
Fotosistema I contato): não pulverizar quando a
a) Em jato dirigido em folhagem estiver murcha.
culturas estabelecidas;
b) Em área total antes da Aplicação após o
semeadura, no sistema de plantio nos estádios de
plantio direto; desenvolvimento inicial
c) Em dessecação de culturas da cultura, não apresenta
atividade residual.

287
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Fenoxaprope- É um herbicida seletivo, Capim marmelada 0,75 (L)


Petílico Exemplo: aplicado na pós-emergência (Urochloa plantaginea);
(Podium) GQ: da cultura e das plantas Capim colchão (Digitaria
ácido ariloxifenoxi daninhas, indicado para horizontalis);
propiônico MA: o controle das plantas Capim-pé-de-galinha
ACCase daninhas monocotiledôneas. (Eleusine indica)
Recomenda-se aplicar
nos estádios entre 5 a 10 Controle com plantas de 2 a
cm da cultura da batata 4 perfilhos
totalmente estabelecida após
o transplante. Recomenda-
se uma única aplicação por
ciclo da cultura
Fluazifope-P- Aplicação na pós -emergência Capim-marmelada Até 8 folhas – aplicar
butílico Exemplo: da cultura e das plantas (Urochloa plantaginea); 0,5 L. Reaplicar se
(Fusilade) GQ: daninhas. houver rebrote ou nova
ácido ariloxifenoxi Capimcarrapicho (Cenchrus germinação. Máximo 2
propiônico MA: É um herbicida muito ativo e echinatus); aplicações (folha estreita).
ACCase específico para o controle de • 2 - 4 perfilhos - ( 0,75 L)
gramíneas anuais e perenes. Capim-pé-degalinha (dose única) (folha estreita)
(Eleusine indica); • Até 2 - 4 perfilhos -
Realizar uma única Aplicar 0,5 L. Reaplicar
pulverização 20 a 30 dias Capim-colchão (Digitaria se houver rebrote ou nova
após a emergência da cultura, horizontalis); germinação. Máximo 2
quando as plantas infestantes aplicações. (folha estreita).
estiverem com 2 a 4 perfilhos. Grama-seda (Cynodon • 4 - 6 perfilhos - (0,75 L)
dactylon) dose única). (folha estreita)
Realizar duas pulverizações • Até 4 folhas - Aplicar
em pós -emergência da 0,5 L. Reaplicar se
cultura sendo a primeira houver rebrote ou nova
quando as plantas infestantes germinação (folha larga).
estiverem com ate 8 folhas e a Máximo 2 aplicações.
segunda após 5 a 10 dias. • Até 2 perfilhos - ( 0,75
L) (dose única) (Folha
estreita)
• Estolões com até 15 cm
de comprimento 0,75 a
1,0 L. Reaplicar se houver
nova germinação. Máximo
2 plicações
Flumioxazina Exem- gência da cultura e das Capim-colchão (Digitaria 70g
plo: (Flumioxazin) GQ: plantas daninha horizontalis);
ciclohexenodicarboxi- Caruru (Amaranthus Observações:
mida MA: Protox hybridus); Corda-de-viola Recomenda-se utilizar
(Ipomoea purpurea); em condições de baixa
Picão-preto (Bidens infestação
pilosa);
Trapoeraba (Commelina
benghalensis

288
Controle de plantas daninhas na batata
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Glufosinato - sal de Aplicação em pré- Caruru (Amaranthus 2,0L + 0,2 % v/v de óleo
amônio Exemplo: emergência da cultura e viridis); vegetal ou mineral
(Finale) GQ: pós emergência das plantas Picãopreto (Bidens pilosa);
homoalanina daninhas. Guanxuma (Sida Recomenda-se uma única
substituída MA: rhombifolia); aplicação por ciclo da
Inibidor da GS Aplicar em jato dirigido ou Beldroega (Portulaca cultura
na linha de plantio quando oleracea);
as plantas daninhas de folha Nabo (Raphanus
larga estiverem com 2 a 6 raphanistrum );
folhas, e as de folha estreita Carrapicho rasteiro
com até 1 perfilho. (Acanthospermum australe);

Ervaquente (Spermacoce
alata) Controle com 2 a 4
folhas

Capim-colchão (Digitaria
sanguinalis);
Capim-carrapicho
(Cenchrus echinatus)
Controle até 1 perfilho
Isoxaflutole Exemplo: Fazer a aplicação em joá-de-capote (Nicandra 100 g aplicação em solos
(Provence) GQ: préemergência das plantas physaloides) de textura média e argilos
isoxazol MA: Inibidor infestantes e da cultura, logo Guanxuma (Sida
da Biossíntese de após o plantio dessa cultura. rhombifolia Não aplicar o produto em
Carotenoides solos arenosos
Realizar no máximo 1
aplicação por ciclo da cultura
Linurom Exemplo: Aplicar somente em Carrapicho-rasteiro Aplicação em solo Médio
(Afalon) GQ: uréia préemergência da cultura (Acanthospermum australe); 2,0 L Solo Argiloso 2,2
MA: FSII e das plantas infestantes.
Realizar 1 aplicação por ciclo Carrapicho-de-carneiro
da cultura. (Acanthospermum
hispidum);

Caruru roxo (Amaranthus


hybridus);
Mentrasto (Ageratum
conyzoides);
Picão Preto (Bidens pilosa);
Mentruz (Coronopus
didymus); Falsa-
Serralha(Emilia sonchifolia);
Picão Branco (Galinsoga
parviflora);
Beldroega (Portulaca
oleracea); Serralha (Sonchus
oleraceus)

289
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Metribuzim A aplicação deve ser realizada Picão-preto (Bidens pilosa); 0,75 - 1,5 L
Exemplo: (Sencor) em pré-emergência total Caruru-roxo (Amaranthus
GQ: triazinona MA: (préemergência da cultura e hybridus); Beldroega (Por- Recomenda-se as menores
FSII das plantas daninhas) tulaca oleracea); Serralha doses para solos de textura
(Sonchus oleraceus); Nabo arenosa a média e as
Logo após a emergência (Raphanus raphanistrum); maiores doses para solos
da cultura e das plantas Guanxuma (Sida rhombifo- argilosos.
daninhas (com no máximo lia); Cipó-deveado (Polygo-
4 folhas) num convolvulus ); Picão- Para as aplicações após a
-branco (Galinsoga parvi- emergência da cultura, não
Pode ser aplicado de forma flora); Mentruz (Coronopus se deve aplicar sobre as
sequencial, nessa situação didymus); Corda-de-viola plantas de batata se estas
a dose total não deve (Ipomoea aristolochiaefo- estiverem com mais de 5
ultrapassar o dose máxima lia); Maria-mole (Senecio cm de altura.
recomendada. brasiliensis); Desmódio
(Desmodium tortuosoum); Restrições no estado do
Caruru-de mancha (Ama- ES; RJ e RS
ranthus viridis );Apaga-fogo
(Alternanthera tenella);
hortelã (Hyptis lophanta);
Erva-quente (Spermacoce
latifólia); Mentrasto (Agera-
tum conyzoides); Quebra-
-pedra ( Phyllanthus tenel-
lus); Mostarda (Brassica
rapa); Falsa-serralha (Emilia
sonchifolia); Poaia-branca
(Richardia brasiliensis);
Joá-de-capote (Nicandra
physaloides)

Fonte: Agrofit, 2018


*Ler a instrução de uso na bula do produto comercial; Pré = pré emergência das plantas infestantes.

Existe informações de pesquisa que comprovam que, mesmo com até 10


% das hastes rompendo a barreira superficial do solo, é possível aplicar um
dessecante de contato (não sistêmico – Paraquat, por exemplo) para dessecar
as plântulas de daninhas, reduzindo assim, o banco de sementes não dormen-
tes. Para esta modalidade de aplicação sugere-se a aplicação de Paraquat ou
Diquat, na dosagem de 0,4 a 0,6 L/ha, sem adjuvantes. Essa estratégia de ma-
nejo reverte a vantagem competitiva adquirida pela planta daninha em prol
da cultura, sem lhe causar danos produtivos, mesmo deixando a área sob o
mato nos dias que antecedem a emergência da maioria das hastes.
Os herbicidas tanto isolados como em associação apresentaram contro-
le de 100% para as espécies Eleusine indica e Digitaria horizontalis. Para o

290
Controle de plantas daninhas na batata
Alberto L. de L. Barroso • Flavio N. Silva • José A. de S. Jr. • Hugo de A. Dan
• Guilherme C. Marques

controle de Commelina benghalensis, clomazone isolado ou em associa-


ção com metribuzin ou linuron proporcionaram melhor controle. Parcelas
tratadas com clomazone apresentaram sintomas de fitotoxicidade aos 10
DAE, porém as plantas se recuperaram aos 30 DAE Luz et al.,(2016).

Tabela 3. Eficácia dos herbicidas no controle de plantas daninhas


Controle %
Tratamentos COMBE ELEIN DIGHO
10 DAE 30 DAE 10 DAE 30 DAE 10 DAE 30 DAE
Testemunha 0c 0c 0b 0b 0b 0b
Testemunha capinada 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a 100 a
Clomazone (360 gha-1) 100 a 87,5 bc 100 a 100 a 100 a 100 a
Metribuzin (480 gha-1) 75 b 72,5 d 100 a 100 a 100 a 100 a
Linuron (990 gha-1) 75 b 81,3 c 100 a 100 a 100 a 100 a
Clomazone (360 gha-1) + Metribuzin (480
100 a 93,8 ab 100 a 100 a 100 a 100 a
gha-1)
Clomazone (360 gha-1) + Linuron (990
100 a 96,3 a 100 a 100 a 100 a 100 a
gha-1)
DMS 0 8,3 0 0 0 0
CV (%) 0 5,3 0 0 0 0

Fonte: Flavio Irokawa (FMC), 2008


Médias seguidas por letras distintas na coluna diferem entre si pelo Teste de Tukey a 5% de significância.

Os herbicidas influenciaram de forma significativa a produtividade da


batata. Na safra 2014, os maiores níveis de produtividade “total” foram
observados com linuron (34,48 g ha-1) e para batata “especial” clomazone
(20,21 g ha-1) e linuron (21,13 g ha-1). Na safra 2015, a produtividade da
batata foi maior com clomazone [batata “especial” (20,98 g ha-1) e batata
“total” (35,11 g ha-1)] e metribuzin [batata “especial” (20,85 g ha-1) e ba-
tata “total” (35,45 g ha-1)] seguida de clomazone + linuron (30,95 g ha-1).
Portanto, os herbicidas metribuzin e linuron podem ser utilizados no con-
trole de Eleusine indica e Digitaria horizontalis. Entretanto, pode reduzir a
qualidade da batata. O clomazone pode ser uma opção no manejo de plan-
tas daninhas na cultura da batata para controle de Eleusine indica, Digita-
ria horizontalis e Commelina benghalensis sem afetar a produtividade e teor
de sólidos solúveis da batata Luz et al.,(2016) Fonseca (2016) Tabela 4. Os
maiores níveis de produtividade foram observados nos tratamentos com
clomazone e metribuzin aplicados isolados. No entanto, metribuzin redu-
ziu o teor de sólidos solúveis, o que afeta o rendimeno industrial. Dessa

291
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

forma, para esta cultivar os herbicidas considerados mais seletivos foram


clomazone e linuron, aplicados isolados ou em associaçãoFonseca et al.
(2016). Santos et al (2018). Trabalhando com bata-doce verificaram que
o crescimento e acúmulo de biomassa pelas plantas foi influenciado pelo
genótipo e pelo método de controle. O metribuzin proporcionou diminui-
ção de rendimento em todas as plantas, por outro lado, o clomazone pro-
porcionou plantas mais produtivas ou semelhantes ao controle mecânico.
A metodologia de quantificação de herbicidas foi positiva para o linuron,
sendo detectados até 0,327 ng g-1 nas raízes das plantas de batata-doce.

Tabela 4. Teor de sólidos solúveis na batata em função da aplicação de herbicidas em pré


emergência.
Nº Tratamentos Sólidos solúveis (%)
1 Testemunha 18,7 ab
2 Testemunha capinada 18,2 ab
3 Clomazone (360 gha-1) 18,8 a a
4 Metribuzin (480 gha-1) 18,1 b
5 Linuron (990 gha-1) 18,2 ab
6 Clomazone (360 gha-1) + Metribuzin (480 gha-1) 18,1 b
7 Clomazone (360 gha-1) + Linuron (990 gha-1) 18,3 ab
DMS 0,6
CV (%) 1,5

Médias seguidas por letras distintas na coluna diferem entre si pelo Teste de Tukey a 5% de significância;

Tabela 5. Produtividade e classificação da batata em função do controle de plantas dani-


nhas por herbicidas
Produtividade da Batata (kg ha-1 )
Tratamentos
Especial Primeira Segunda Total
Testemunha 17963,6 b 7760,4 b 2942,7 a 28666,7 bc
Testemunha capinada 18072,9 b 7651,1 b 2968,8 a 28692,7 bc
Clomazone (360 gha-1) 20989,6 a 10869,8 a 3260,4 a 35119,8 a
Metribuzin (480 gha-1) 20859,4 a 11333,4 a 3276,0 a 35468,8 a
Linuron (990 gha-1) 17942,7 b 8750,0 b 3317,7 a 30010,4 bc
Clomazone (360 gha-1) + Metribuzin (480 gha-1) 14671,9 c 8692,7 b 3599,0 a 26963,6 c
Clomazone (360 gha-1) + Linuron (990 gha-1) 17213,5 bc 10630,2 a 3119,8 a 30963,6 b
DMS 2554,5 1350,7 781,9 3242,1
CV (%) 6,0 6,2 10,4 4,5

Fonte: Flavio Irokawa (FMC), 2008


Médias seguidas por letras distintas na coluna diferem entre si pelo Teste de Tukey a 5% de significância.

292
Controle de plantas daninhas na batata
Alberto L. de L. Barroso • Flavio N. Silva • José A. de S. Jr. • Hugo de A. Dan
• Guilherme C. Marques

Aplicação, na condição de pós-emergência de plantas daninhas : car-


fentrazone a 5, 10, 20, 30 e 50 g ha-1, visando o controle de Ipomoea nil, I.
grandifolia, I. quamoclit e C. benghalensis Tabela 5. As avaliações de con-
trole visual foram realizadas aos 15, 30 e 45 dias após a aplicação dos her-
bicidas (Christoffoleti, et al., 2006). Citam ainda que a ordem decrescente
de suscetibilidade das espécies de corda-de-viola ao carfentrazone-ethyl é
a seguinte: I. hederifolia e» I. quamoclit > I. nil > I. grandifolia; C. bengha-
lensis, por sua vez, é controlada satisfatoriamente pelo carfentrazone-ethyl
a partir da dose de 5 g ha1. Nota-se que as espécies apresentaram dife-
rentes graus de suscetibilidade: I. grandifolia mostrou-se a espécie menos
sensível ao produto e C. benghalensis a espécie mais facilmente controlada,
ou seja, a mais suscetível.

Tabela 6. GR50 do herbicida carfentrazone-ethyl sobre I. hederifolia e» I. quamoclit > I. nil


> I. grandifolia; C. benghalensis, em todas as variáveis analisadas.
Controle % Massa Média das
Espécie
7 DAA1 14 DAA 21 DAA 28 DAA Fresca (%) Avaliações

I. hederifolia 6,9 6,7 6,3 5,7 5,7 6,26


I. quamoclit 7,5 8,1 8,4 8,8 2,1 6,98
I. grandifolia 16,3 21,0 25,4 59,1 14,8 27,32
I. nil  11,4 10,8 9,6 9,4 5,1 9,26
C. benghalensis 5,2 5,2 4,3 2,1 1,6 3,68

1
Dias Após Aplicação

Segundo Miranda filho e Novo nos municípios de Casa Branca e Aguaí


em 2004 foram observados anormalidades na tuberização da batata em
áreas de plantio cultivadas com as cultivares Atlantic e Lady Rosetta.
Foi então verificado que o equipamento usado aplicara, anteriormente,
metsulfuron-methyl em triticale. Na bula do produto recomenda-se hi-
gienização especial do equipamento de pulverização. Isso foi realizado e
os sintomas deixaram de ser observados. Contudo, quando do início de
tuberização, notou-se que quase a totalidade dos tubérculos de todas as
plantas apresentavam numerosas rachaduras, semelhantes às descritas
por Thornton & Eberlein (2001) como relacionadas à contaminação com
sulfoniluréias.

293
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Segundo Borges et al., 2014 as plantas de batata que receberam o her-


bicida apresentaram sintomas visuais de fitotoxicidade. A produtividade
foi reduzida pelas doses de 10% e 100% quando aplicadas na fase inicial de
desenvolvimento das plantas (37 DAP). O herbicida tembotrione é fitotó-
xico quando aplicado na fase inicial da cultura da batata, cultivar Asterix.
O herbicida afeta o desenvolvimento da parte aérea causando fitotoxici-
dade, mesmo em baixas concentrações, porém a produtividade é reduzida
apenas quando as plantas são expostas a altas concentrações do herbicida
na fase inicial do seu desenvolvimento.

Na dessecação é importante destacar que esta deve ser feita quando a


planta de batata já transferiu ao tubérculo a maior parte de suas reservas

294
Controle de plantas daninhas na batata
Alberto L. de L. Barroso • Flavio N. Silva • José A. de S. Jr. • Hugo de A. Dan
• Guilherme C. Marques

nutricionais, quando ocorreu o máximo de enchimento e ganho de peso


dos tubérculos.
Em torno dos 70 dias após o plantio, a cultura, normalmente, inicia
a fase de “enchimento” dos tubérculos, que consiste na translocação dos
fotoassimilados produzidos nas folhas para os tubérculos. A partir daí,
inicia-se um processo fisiológico de redução do vigor das hastes do batatal,
com o amarelecimento e queda das folhas, gerando aberturas na folha-
gem, e assim permitindo incidências de luz solar no solo, propiciando a
emergência de algumas plantas daninhas de rápido desenvolvimento que
aproveitam o excesso de nutrientes proveniente da adubação, caracterís-
tica da cultura. No entanto, estas plantas daninhas não devem ser motivo
de preocupação dos produtores, pois não irão interferir na produtividade
final da cultura, e serão eliminadas através da operação de dessecação nor-
malmente feita em pré-colheita.
A dessecação pode evitar a entrada de doenças ou pragas nos tubércu-
los, possibilitando programar a colheita para conseguir um melhor pre-
ço, e também evitando que os tubérculos fiquem muito graúdos ou de cor
inadequada. A dessecação deve ser realizada após o ponto de maturação
mínimo, que vai depender da cultivar e de acordo com os interesses do
produtor. O uso incorreto desta técnica apresenta inconvenientes quan-
to à economia e à qualidade do tubérculo produzido. Por isso, devem ser
observados a dosagem, época, horário e a técnica mais adequada para a
aplicação do produto. A colheita deve ser realizada quando as hastes esti-
verem completamente secas e os tubérculos com a película firme (10 a 14
dias após a morte completa da parte aérea.

295
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

Esquema para dessecação das ramas de batata com herbicidas para colheita

Fonte:Paulo Vinicius da Silva, 2018

O uso de herbicida tem mostrado ser um método eficiente para controlar


a soqueira da batata. Diversos herbicidas atuam nos tubérculos e plantas;
entretanto, poucos são aqueles que têm baixa ou nenhuma ação residual no
solo. Os produtos 2-4-D, dicamba, diquat e paraquat aplicados em pós-e-
mergência diminuem a formação de novos tubérculos, mas somente os dois
primeiros reduzem a capacidade de brotação dos tubérculos. Glyphosate
e aminotriazole podem controlar completamente o crescimento da batata,
porém, isso depende da completa emergência dos tubérculos. Aminotriazo-

296
Controle de plantas daninhas na batata
Alberto L. de L. Barroso • Flavio N. Silva • José A. de S. Jr. • Hugo de A. Dan
• Guilherme C. Marques

le mata os tubérculos filhos já presentes durante a aplicação, enquanto que


glyphosate afeta a vabilidade destes, assim como a habilidade para produ-
zir novas plantas. O glyphosate bloqueia a produção de novos tubérculos,
principalmente, quando aplicado no início da tuberização. Em geral, a ação
do glyphosate, diquat e paraquat pode ser melhorada com a adição de sulfa-
to de amônio ou uréia à 0,2 – 0,3% na calda.

Eficiência no controle de soqueira de batata, avaliando a Brotação do tubérculos – Nº Bro-


tos / tubérculo aos 90 dias após a colheita em aplicação de herbicidas.

Fonte: Flavio Irokawa, 2016

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300
MERCADO E UTILIZAÇÃO DA BATATA
Magali Leonel
Centro de Raízes e Amidos Tropicais – UNESP

magali.leonel@unesp.br

Rogério Peres Soratto


Faculdade de Ciências Agronômicas – UNESP

rogerio.soratto@unesp.br

1. Introdução
A batata é a quarta cultura alimentar mais importante do mundo, com
388,17 milhões de toneladas produzidas em 2017, atrás apenas do arroz
(769 Mt), trigo (774 Mt) e milho (1039 Mt) (FAOSTAT, 2020).
Os maiores produtores mundiais desse tubérculo são a China, Índia,
Rússia, Ucrânia e Estados Unidos, respondendo por mais de 50% da pro-
dução mundial (FAOSTAT, 2020). A produção brasileira em 2018 foi de
3,85 milhões de toneladas, sendo as regiões Sudeste e Sul as de maior pro-
dução nacional. A produção nacional concentra-se em sete estados: Bahia,
Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul (IBGE, 2020).
O aumento da produção mundial de batata na última década indica
uma resposta positiva da produção diante do aumento da população, re-
presentando, assim, um bom indicador no contexto da preocupação com
a segurança alimentar.

301
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

A batata é considerada o alimento básico mais consumido após o arroz


e o trigo, com uma ingestão média per capita global de 33 kg ano-1, com os
EUA destacando-se com a maior média mundial de consumo (54 kg ano-1)
(CAMIRE, et al., 2009; BIDEL et al., 2018). Importante fonte de ener-
gia, devido ao seu considerável teor de carboidratos, a batata é também
boa fonte de potássio, cobre, fósforo, ferro, zinco, magnésio e manganês
(WHITE et al., 2009; LEWU et al., 2010). Além disso, a batata é tam-
bém considerada fonte interessante de outros nutrientes, como proteínas
de alta qualidade e compostos bioativos, como fibras alimentares, com-
postos fenólicos e carotenóides (NARVÁEZ-CUENCA et al., 2018).
Na comercialização in natura, a batata é um produto vegetal padro-
nizado, seguindo um padrão oficial de classificação, com os requisitos de
identidade e qualidade, a amostragem, o modo de apresentação e a mar-
cação ou rotulagem, estabelecidos no Regulamento Técnico da Batata
(BRASIL, 2017).
A demanda por alimentos de conveniência e de preparo rápido deu ori-
gem a uma grande variedade de produtos de batata: batatas minimamente
processadas, batata chips, batatas pré-fritas e congeladas, e uma variedade
de produtos congelados e desidratados; com até 60% da batata sendo con-
sumida na forma processada em países desenvolvidos (PEDRESCHI et
al., 2018).
Em 2015, um estudo de grupos holandeses e também discutido pela
ABBA (Associação Brasileira de Batata) apontou que na distribuição da
produção nacional de batata o setor industrial absorve 17% da produção,
9% são sementes, 73% consumo fresco, e as perdas foram estimadas em 1%
(AGRIMENT, 2015). Na industrialização, os principais produtos pro-
cessados são as batatas pré-fritas congeladas (33%), as batatas fritas em
pacote (50%) e 17% são destinados para a produção de batata palha, flocos/
granulados e batata descascada (AGRIMENT, 2015). Contudo, segundo
Deleo (2017) as projeções de crescimento eram maiores no consumo do
produto processado do que in natura no Brasil. Enquanto a quantidade e o
faturamento das vendas de batata in natura teriam aumento de 1% ao ano
entre 2016 e 2021, o segmento de snacks, no mesmo período, cresceria o
dobro em faturamento no varejo, e o de congelado, o quádruplo (+4% ao
ano). Tal tendência tem se confirmado e, também, tem sido projetada para
os próximos anos.

302
Mercado e utilização da batata
Magali Leonel • Rogério Peres Soratto

Além desses produtos derivados da batata, um setor de grande expressão


é o de obtenção de amido (fécula) de batata, produto este não produzido pe-
las empresas brasileiras. Dados publicados pela Fortune Business Insights
(2019) apontam que o mercado mundial de amido de batata foi de 473,06
milhões de dólares em 2018, com projeção de alcançar 762,63 milhões de
dólares em 2026. O amido de batata tem sido utilizado por diversos seg-
mentos industriais sendo as indústrias têxteis e de papel importantes consu-
midoras desse amido, e a indústria alimentícia com várias aplicações.
O processamento de batata em nível mundial tende crescer expres-
sivamente. Dados econômicos revelam que no segmento de produtos à
base de batata, o volume deverá atingir 22.420,1 mkg até 2023. A receita
prevista para 2020 é de US$ 40.736 milhões, com a maior parte da receita
gerada pelos Estados Unidos (STATISTA, 2020).

2. Produtos da batata
Anteriormente ao processamento da batata, um fator decisivo é o de-
senvolvimento/seleção de cultivares que atendam às exigências de quali-
dade de cada tipo de processo, sendo os principais parâmetros divididos
em: características agronômicas, características físicas e composição quí-
mica (LEONEL et al., 2011).

2.1 Batata minimamente processada


A produção de batatas descascadas, ou seja, minimamente processadas,
advém como uma alternativa para a valorização dos tubérculos com menor
classificação para a comercialização in natura, o que agrega valor e aumenta
o retorno e a sustentabilidade econômica da cadeia produtiva da batata.
O processo consiste das operações de seleção, pré-lavagem, corte, sani-
tização, enxágue, centrifugação, embalagem e refrigeração.
As operações de descascar e cortar no processamento mínimo de bata-
ta aumentam significativamente o dano tecidual dos tubérculos, limitan-
do o prazo de validade (5 a 7 dias a 4-5oC).
O escurecimento dos tubérculos com o processamento é um dos entra-
ves desse processamento, pois afeta a aparência e as propriedades organo-
lépticas (ROCCULI et al., 2007). Para superar o escurecimento são utili-

303
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

zadas substâncias químicas, em diferentes combinações e concentrações,


sendo as mais utilizadas os sulfitos e os ácidos (LAURILA et al., 1998;
LOVATTO et al., 2012). O bissulfito de sódio tem sido utilizado na con-
centração de 0,2 g kg-1 e, a combinação de ácido ascórbico (20g kg-1) e áci-
do cítrico (20 g kg-1) têm mostrado bons resultados (IERNA, et al., 2017).
Além disso, a descontaminação microbiana, o uso de embalagens ade-
quadas e a manutenção da cadeia de refrigeração são essenciais para a ma-
nutenção da segurança e qualidade do produto no armazenamento (ROC-
CULI et al., 2007; GÓMEZ-LÓPEZ et al., 2009).
A sanitização por cloro é geralmente efetiva para a descontaminação
e utiliza-se de 100 a 150 mg de cloro ativo por litro de água limpa, com a
imersão dos tubérculos por 10 minutos na temperatura de 0 a 5 ºC (PINE-
LI; MORETT, 2004).
A perecibilidade das batatas minimamente processadas é maior, pois
devido ao estresse mecânico ocorre maior perda de água e, também, al-
terações microbianas e fisiológicas. Assim, este tipo de produto necessita
de embalagens que possibilitem a extensão da vida de prateleira. Os ma-
teriais para embalagens devem ter alta permeabilidade a gases e etileno ou
conter absorvedores de gás, sendo necessário que o filme seja de 3 a 6 vezes
mais permeável ao CO2 que ao O2 (PILON, 2017).
A comercialização de batatas minimamente processadas ainda é inex-
pressiva no Brasil; contudo, considerando o elevado consumo per capi-
ta, bem como, a tendência cada vez maior dos consumidores que buscam
praticidade no preparo, aliada à característica de frescor dos produtos mi-
nimamente processados, é esperado um crescimento neste tipo de proces-
samento de batata (PINELI et al., 2011). Além disso, batatas das mais
diversas cultivares e tamanhos podem ser utilizadas para essa modalidade
de processamento.

2.2 Batatas fritas


Na seleção de cultivares de batata para o processamento industrial por
fritura é de grande importância a observação das características físicas e
químicas do tubérculo. Como parâmetros físicos, a forma do tubérculo, a
espessura e, a cor da casca são importantes para o tipo de corte e otimiza-
ção do descascamento.

304
Mercado e utilização da batata
Magali Leonel • Rogério Peres Soratto

Com relação às características químicas, as cultivares de batata para


o processamento devem apresentar tubérculos com elevado teor de ma-
téria seca (preferencialmente 20-24%), peso específico acima de 1,080, e
açúcares redutores entre 200 e 300 mg 100 g-1 de batata (massa fresca)
(VENDRUSCOLO; ZORZELLA, 2002; ZORZELLA et al., 2003;
QUADROS et al., 2010). O conteúdo de matéria seca afeta o rendimento
industrial e a textura da batata processada (ROMMENS et al., 2010), já
os açúcares redutores podem reagir com aminoácidos, causando escure-
cimento e conferindo sabor amargo à batata processada (SANNY et al.,
2012).
Além dessas características, os tubérculos de preferência não devem
apresentar defeitos fisiológicos, tais como coração oco, mancha ferrugino-
sa, rachadura e crescimento secundário (LEONEL et al., 2011).
Após a seleção do material, do tipo de processamento por fritura, faz-
-se importante destacar que a qualidade do alimento processado por fritu-
ra abrange os aspectos tecnológicos, sensoriais e, também, a presença de
contaminantes.
Dentre os contaminantes em batatas fritas, a acrilamida, formada em
alimentos ricos em carboidratos processados em temperaturas elevadas
(>120ºC), tem sido alvo de grande preocupação devido aos seus efeitos
tóxicos. A acrilamida é formada basicamente pelo aminoácido asparagina
e açúcares redutores (glicose, frutose), dependendo das condições de ar-
mazenamento, temperatura de cozimento, e concentração dos precurso-
res no alimento (ARISSETO; TOLEDO, 2006; VINCI; MESTDAGH;
MEULENAER, 2012). A determinação de acrilamida em batatas fritas
demonstrou grande variação em produtos comerciais brasileiros, com
teores variando de 144 a 1999 µg kg-1 em batata chips, 146 a 2528 em ba-
tata French fries, e 198 a 803 em batata palha (ARISSETO et al., 2007).
De acordo com Matoso et al. (2019), o Comitê Conjunto de Especialistas
em Aditivos Alimentares da FAO (Food and Agriculture Organization of
the United Nations) relatou a ocorrência de acrilamida na dieta alimentar,
destacando seus efeitos nocivos à saúde humana, a necessidade de reduzir
os níveis de acrilamida nos alimentos, e, também, a contribuição dos pro-
dutos de batata para a ingestão de acrilamida: 6 a 30% para batatas French
fries e 6 a 46% para batatas chips.

305
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

2.2.1 Batata chips e palha


Os processamentos industriais de batatas fritas nas formas chips e pa-
lha são semelhantes; contudo, algumas características em relação à for-
ma dos tubérculos ideais são diferentes. Para o processo de batata chips,
cultivares com tubérculos de forma redonda ou oval são preferíveis, além
de tamanho maior, para permitir a obtenção de rendimento elevado de
fatias dentro dos padrões comerciais. Já para a produção de batata palha, o
tamanho dos tubérculos não é a característica mais importante, mas a uni-
formidade dentro do lote, o que proporciona maior eficiência no processo
de descasque e corte. Neste tipo de processamento é essencial obter filetes
de tamanho semelhante, o que resulta em uma fritura melhor e uniforme
(ARAÚJO et al., 2016).
Os equipamentos para o corte das batatas são ajustados de acordo com
o tipo de corte: chips lisa, chips ondulada, palha. Na batata chips a espes-
sura das fatias deve ser de 1 a 2 mm. Na produção de batatas palha, as
batatas descascadas e inspecionadas são encaminhadas manualmente ou
através de esteiras para cortadores manuais ou cortadores rotativos de alta
velocidade. O equipamento deve ser ajustado para a espessura desejada.
É importante que a espessura seja uniforme e que as fatias apresentem o
mínimo possível de células rompidas (TFOUNI et al., 2003).
No processamento, o processo de fritura consiste na imersão do pro-
duto em óleo sobre altas temperaturas, por um curto período de tempo.
Temperaturas entre 150 e 180ºC não têm efeito significativo na absorção
de óleo. A relação superfície/volume do alimento em contato com o meio
de fritura é muito importante em relação à absorção de óleo (JORGE;
LUNARDI, 2005; DEL RÉ; JORGE, 2006).
O sistema descontínuo de fritura é o mais indicado para indústrias de
pequeno e médio porte. A linha contínua de fritura é a mais utilizada por
empresas de grande porte. No processo descontínuo a quantidade de ba-
tata a ser frita por batelada deve estar na proporção de 1 kg de batata para
6 litros de óleo para evitar o resfriamento do óleo, e a quantidade de repo-
sição do óleo deve ser a mesma que a absorvida pelas batatas durante a fri-
tura. Na linha contínua de fritura é necessário manter a alimentação cons-
tante de óleo no equipamento. A temperatura do óleo deve ser mantida em
180°C ± 5ºC e o tempo de fritura entre 2 e 3 minutos. A adição de sal pode
ser feita manualmente ou por pulverização automática (10 a 20 g de sal/kg

306
Mercado e utilização da batata
Magali Leonel • Rogério Peres Soratto

de produto). Os fatores determinantes da qualidade são: cor, teor de óleo


residual, sabor, crocância e rendimento (TFOUNI et al., 2003).
O rendimento do processamento é atributo essencial para a industriali-
zação. O rendimento do processo para a produção de batata chips ou palha
é de cerca de 30%, ou seja, são necessários 3,0-3,5 kg de batata para pro-
duzir 1 kg de batata frita quando considerado conteúdo médio de 18% de
matéria seca (GRIZOTTO, 2005).
Um dos mais importantes parâmetros de qualidade de produtos fritos
é a quantidade de óleo absorvido durante o processo, principalmente pelo
fato de ser incompatível com a tendência mundial do consumo de produtos
saudáveis e com baixo teor de calorias e gordura (LEONEL et al., 2011).
A absorção de óleo em batatas fritas oscila de 0,2 a 0,7 g de óleo/g sóli-
dos secos, e o grau de absorção é significativamente afetado pelos pré-tra-
tamentos aplicados, as características físico-químicas da batata, as condi-
ções do processo (temperatura, tempo), a origem e composição química
do óleo, entre outros (LUVIELMO et al., 2015).

2.2.2. Batata pré-frita e congelada


O mercado de batata pré-frita congelada no Brasil até 2006 era abas-
tecido principalmente pela importação, e a partir de então, plantas pro-
cessadoras nacionais começaram a competir com o produto importado
(PEREIRA, 2011). Estudo recente de mercado aponta crescimento signi-
ficativo das batatas congeladas, com o tipo mais consumido a batata pré-
-frita congelada em forma palito. Contudo, cortes variados vêm ganhando
maior espaço nas vendas e preferências do consumidor.
O processo de obtenção das batatas pré-fritas congeladas inicia com a
lavagem e descascamento. As batatas descascadas são aparadas, classifi-
cadas e cortadas ao longo do maior eixo para produzir fatias com uma se-
ção transversal de 1,0 a 1,3 cm2. As fatias de batata são branqueadas para
tornar a cor mais uniforme após a fritura e, para formar uma camada de
amido gelatinizado que limita a absorção de óleo e melhora a textura. Em
seguida, ocorre a fritura e a retirada do excesso de óleo. As batatas pré-fri-
tas são congeladas, classificadas e embaladas. O teor de óleo das batatas
varia de 5 a 7% em peso (MIRANDA; AGUILERA, 2006).
Além do branqueamento, os hidrocoloides podem ser utilizados como
revestimentos devido às propriedades de barreira a gases e vapor de água,

307
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

propriedades mecânicas e barreira à gordura, o que reduz a absorção de


óleo durante a fritura (GARCÍA et al., 2002).
A fritura confere características únicas aos produtos que não podem ser
replicadas por outros métodos de processamento. Para que a batata frita
seja estável e mantenha sua qualidade ao longo da cadeia de comercializa-
ção e consumo, ela é congelada e embalada. O processo de congelamento
pode afetar significativamente a qualidade final do produto frito. A rapi-
dez com que o produto é congelado determina o tamanho dos cristais de
gelo formados e a grau de mudança estrutural que pode ocorrer. Grandes
cristais de gelo são sinônimos de dano mecânico, perda de estrutura e bai-
xa qualidade do produto após a fritura final (ADEDEJI; NGADI, 2018).

2.3 Batatas desidratadas


Recentemente, a popularidade dos vegetais desidratados está aumen-
tando devido à sua facilidade de transporte e vida útil longa e segura. As-
sim, o processamento de batatas por secagem pode ser um mercado bas-
tante interessante para as indústrias de alimentos. A batata em pó pode ser
vendida como um ingrediente, um produto semipronto ou pronto. Porém,
a qualidade dos produtos desidratados de batata é afetada negativamente
por danos enzimáticos durante as etapas de preparação e, por danos térmi-
cos durante a secagem, sendo que a otimização do processo de produção
envolve principalmente a redução da ação das enzimas de oxidação e a
redução da intensidade do processo de secagem (CARILLO et al., 2012).
A farinha de batata é um produto viável para o processamento de tubér-
culos de baixa qualidade para comercialização in natura, bem como, para tu-
bérculos com aparência mais rústica e com considerável teor de massa seca. A
farinha de batata tem considerável valor agregado devido à sua versatilidade
como ingrediente em produtos de panificação, sopas e produtos extrusados.
A farinha de batata é preparada através da secagem de fatias descascadas
em um secador de ar quente ou pela secagem da massa cozida de batata em
drum dryer (flocos de batata), seguido de moagem, peneiramento, e emba-
lagem. As propriedades da farinha de batata podem ser influenciadas pelo
método de preparação, severidade do tratamento térmico, tipo de modifica-
ção (química ou enzimática), presença de outros componentes, como fibra,
proteína, etc. Além disso, as mudanças na estrutura do amido que ocorrem

308
Mercado e utilização da batata
Magali Leonel • Rogério Peres Soratto

como resultado do processamento pode trazer funcionalidades específicas


para a farinha de batata (AVULA et al., 2006; AVULA; SINGH, 2009).
Considerando a composição química dos tubérculos de batata, é possí-
vel afirmar que a farinha de batata é boa fonte de nutrientes essenciais para
a boa saúde, como proteínas, fibras e carboidratos. Seu teor de proteínas
é superior ao da farinha de mandioca e inhame, e semelhante ao do arroz.
A farinha de batata tem níveis mais altos de fibra do que a farinha de trigo
refinada, farinha de milho e arroz. Seu conteúdo de carboidratos e ener-
gia é comparável ao de alimentos similares (KULAKARNI et al. 1996;
AVULA; SINGH, 2009).

2.4 Amido de batata


Aproximadamente sessenta milhões de toneladas de amido são extraí-
das anualmente em todo o mundo, a partir de várias culturas. O amido é
encontrado nas plantas na forma de grânulos com tamanhos que variam
de 1 a 100 μm, dependendo da planta. Estruturalmente, o amido é forma-
do por dois polímeros, a amilose e a amilopectina. A amilose é polímero
linear de α-1,4-glucanos. Possui massa molar de aproximadamente 105-
106 g mol-1, grau de polimerização (DP) de 324-4920 com aproximada-
mente 9 a 20 pontos de ramificação equivalentes a 3 a 11 cadeias por molé-
cula (TESTER et al., 2004). A amilopectina consiste em cadeias lineares
de unidades de glicose ligadas por ligações α-1,4 e é altamente ramificada
nas posições α-1,6 por cadeias de glucose a intervalos de 10 nm ao longo
do eixo da molécula. Constitui entre 70 a 85% do amido (ALCÁZAR-
-ALAY; MEIRELLES, 2015). Componentes menores, como lipídios,
fosfatos e proteínas, também podem ser encontrados em alguns amidos.
O teor de amilose encontra-se nos intervalos entre 15 e 30% em amidos
normais, algumas variedades classificadas como ceroso (waxy) são consti-
tuídas basicamente por amilopectina, enquanto amidos com teor de ami-
lose acima de 50% são denominados como high amilose.
Os grânulos de amido estão organizados em regiões chamadas de cris-
talinas e amorfas. Assim, grânulos de amido apresentam estruturas cris-
talinas com padrões de difração de raios-X específicos, denominados A, B
e C, dependendo da origem botânica. Outra característica importante é o
tamanho e a forma de grânulos de amido Os grânulos de maior tamanho

309
BATATA
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS E MANEJO SUSTENTÁVEL

têm sido evitados em produtos comestíveis, como molhos e sobremesas


lácteas, que exigem uma sensação de maciez na boca. Já os grânulos me-
nores podem ser usados como substitutos de gordura devido ao tamanho
semelhante ao dos micélios de lipídeos.
A viscosidade da pasta do amido é determinada pelo grau de incha-
mento dos grânulos e pela resistência desses grânulos à dissolução pelo
calor ou fragmentação pela agitação mecânica. Há amidos com alto po-
der de inchamento como os de batata, ou seja, os grânulos incham muito
quando cozidos em água e as forças que mantêm sua estrutura se tornam
frágeis frente à agitação mecânica, o que é revelado pela instabilidade ao
cozimento. A retrogradação consiste em transformações que ocorrem du-
rante o resfriamento e armazenamento das pastas de amido gelatinizado.
As características dos amidos, como relação amilose/amilopectina, estru-
tura cristalina, tamanho, forma, teor de fósforo, poder de inchamento, solu-
bilidade e propriedades de pasta e térmicas, fornecem informações relevantes
que contribuem para a aplicabilidade dentro de todos os ramos industriais.
Portanto, as aplicações de amidos nativos são dependentes de suas
propriedades físicas e químicas, as quais variam de uma cultura para ou-
tra, genótipos, ou são influenciadas por fatores ecológicos e agronômicos
(ADEBOWALE et al., 2005).
No mundo, o milho é a principal fonte de amido e o maior produtor
são os EUA. O amido de batata é produzido principalmente nos países da
União Européia. O principal mercado são as indústrias de alimentos (pro-
dutos de padaria, molhos, sopas, doces, xaropes, sorvetes, salgadinhos,
embutidos, alimentos para bebês, substitutos de gordura, cafés especiais,
cervejas e outras bebidas), mas a indústria farmacêutica, biomédica e de
biopolímeros também têm sido importantes consumidoras de amido para
usos em fins diversos como: fertilizantes, revestimentos de sementes, pa-
pel, papelão, material de embalagem, adesivos, produtos têxteis, fraldas,
bioplásticos, materiais de construção e na perfuração de petróleo (BUR-
RELL, 2003, AFOLABI et al. 2012).
Na seleção de cultivares de batata para o processamento industrial de
amido, o elevado teor de amido é um dos principais requisitos (> 17% base
fresca). Na indústria alimentícia, o amido de batata é muitas vezes deseja-
do, pois forma gel com elevada clareza e sabor neutro. A clareza da pasta
de amido é atribuída ao alto teor de ésteres de fosfato no amido de batata.

310
Mercado e utilização da batata
Magali Leonel • Rogério Peres Soratto

No ramo industrial, especialmente na indústria de papel e têxtil, amido


com maior teor de amilopectina é o mais solicitado. Inversamente, o ami-
do com maior teor de amilose pode ser usado na produção de plásticos
biodegradáveis (ŠIMKOVA et al., 2013).
Estudo das características do amido de algumas cultivares de batata plan-
tadas no Brasil (Asterix, Atlantic, BRS Clara, Agata, Mustang e Fontane)
mostrou que o teor de amilose dos amidos apresentou baixa variação, com
o maior teor (23,43%) observado no amido da cultivar Asterix, enquanto o
amido da cultivar Mustang apresentou o menor valor (16,10%). Já o teor
de fósforo dos amidos, importante característica para claridade da pasta,
viscosidade, e tendência a retrogradação, variou de 633 mg kg-1 (Asterix) a
966,7 mg kg-1 (Atlantic). Com relação às propriedades de pasta e térmicas
dos amidos, o amido da cultivar Asterix teve o menor pico de viscosidade,
o que pode estar relacionado ao menor teor de fósforo. Os amidos extraídos
das cultivares Asterix, Agata e Atlantic apresentaram baixa estabilidade ao
calor e agitação. Além disso, as temperaturas, inicial, de pico e final de ge-
latinização dos amidos variaram de 64,64-66,66ºC, 67,32-70,17ºC e 71,13-
74,80ºC, respectivamente. (SANTOS et al., 2016).
Além do fósforo, o amido de batata tem outros minerais que interferem
nas propriedades tecnológicas. Garcia et al. (2019) analisando as caracte-
rísticas do amido das cultivares: BRS Ana, Colorado, Marlen, Snowden,
Harley Blackhell, Beacon Chipper e Marcy concluíram que os teores de
fósforo, potássio e magnésio estão relacionados a maiores pico de viscosi-
dade, tendência à retrogradação, porcentagem de amido resistente e ental-
pia de gelatinização. Já o teor de cálcio e o conteúdo de amilose têm efeito
oposto sobre essas propriedades.

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316
BATATA: desafios fitossanitários e manejo sustentável
BATATA
E MANEJO SUSTENTÁVEL
DESAFIOS FITOSSANITÁRIOS

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