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RESUMO
Neste ensaio objetivou-se contribuir para a melhor pododermatite), grupo II (fase inicial de pododermatite –
compreensão dos fenômenos fisiopatológicos associados sem lesão aparente), grupo III (pododermatite interdigital
às lesões podais, por meio da determinação dos parâmetros vegetativa) e grupo IV (pododermatite necrosante). Análi-
leucocitários e dos níveis de fibrinogênio plasmático, de se do leucograma dos bovinos do grupo II revelou elevação
fêmeas bovinas com e sem pododermatite, criadas extensi- na contagem global número de leucócitos, neutrófilos
vamente em regiões do Estado de Goiás. Utilizaram-se 59 bastonetes, neutrófilos segmentados e linfócitos, e redu-
animais distribuídos no grupo I (controle – sem ção no número de eosinófilos.
ABSTRACT
LEUKOGRAM AND PLASMA FIBRINOGEN VALUES OF THE BOVINE FEMALES WITH PODODERMATITIS
The experiment aimed tocontribute about the without pododermatitis), group II (initial phase of
aethiopathogenesis elucidation of the lesions the deter- pododermatitis – without apparent lesion), group III
mination of epidemic clinical and laboratorial parameters (interdigital hiperplasia) and group IV (pododermatitis with
(leukogram, erytrogram and biochemical tests) in bovine heel erosion). In the leukogram of the group II, elevation
females, raissed extensively with and without pododer- was verified in the leukocytes, rods, neutrophiles and
matitis. 59 animals were distributed as: group I (control – lymphocite numbers, and reduction in the eosinophil number.
KEY WORDS: Bovine, fibrinogen, leucocyts, pododermatitis.
Vários autores (NOCEK, 1993; cias adrenocorticais no início de uma doença in-
RADOSTITIS et al., 1994; RUTTER; 1994; DIAS fecciosa ou inflamatória, causa de moderada à
1996) afirmam que, após as doenças reprodutivas e marcada alteração no quadro leucocitário dos bo-
as mastites, as enfermidades do aparelho locomotor vinos, é caracterizado por leucopenia transitória,
são mundialmente consideradas como uma das con- linfocitopenia e eosinopenia, com retorno aos valo-
dições que mais afetam a produção e a produtivida- res normais ou até aumento dos leucócitos devido à
de dos rebanhos bovinos, em especial os leiteiros. neutrofilia, após o quarto dia de curso da doença
A falta de uma nomenclatura uniforme para a (COLES, 1980; SCHALM et al., 1981; JAIN,
descrição das diversas lesões que acometem os dí- 1993).
gitos dos bovinos tem sido fator limitante no estudo Segundo KIDD (1991), ruminantes não apre-
das enfermidades podais. SILVA (1997), utilizando- sentam grandes reservas de neutrófilos na medula
se das diversas classificações sugeridas pela literatu- óssea e em resposta ao estresse e aumento da ativi-
ra, caracterizou clinicamente os animais portadores dade adrenal, linfócitos são destruídos em número
de lesões podais em três categorias: bovinos com que excede o aumento dos neutrófilos circulantes,
pododermatite em fase inicial, com sinais evidentes resultando em marcada leucopenia.
de um processo inflamatório agudo ou subagudo, Outro achado clássico diz respeito à avalia-
mostrando dor e claudicação, porém sem lesões ção sérica/plasmática das proteínas totais, em bovi-
macroscópicas aparentes; bovinos com podo- nos com processos inflamatórios, em que se obser-
dermatite interdigital vegetativa; e aqueles portado- va aumento de fibrinogênio plasmático e das
res de pododermatite necrosante. globulinas séricas (HORADAGODA &
Por serem patologias de etiologia multifatorial, ECKERSALL, 1993; JAIN, 1993; KANEKO,
as lesões podais acarretam dificuldades para o esta- 1997). O fibrinogênio plasmático, além de outras
belecimento preciso de sua etiopatogenia, e seu propriedades, é uma proteína de fase aguda que se
determinismo está associado a um conjunto de fato- encontra aumentada nos processos inflamatórios
res relacionados ao meio ambiente, práticas de ma- (HORADAGODA & ECKERSALL, 1993;
nejo, doenças infecciosas, idade, parto, período de KANEKO, 1997). Segundo JAIN (1993), o nível
lactação, problemas nutricionais e genéticos. de fibrinogênio plasmático é melhor indicador de
A pododermatite tem sido relatada com fre- doença inflamatória nos bovinos, sendo superior à
qüência em rebanhos leiteiros confinados ou avaliação do quadro leucocitário.
semiconfinados (RUTTER, 1994). No entanto, SIL- Neste trabalho foram avaliados e compara-
VA et al. (1996) chamam a atenção para a forma dos as varáveis leucocitárias e o nível de fibrinogênio
como a pododermatite vem apresentando-se no Es- de animais sem pododermatite e de animais com
tado de Goiás em animais cruzados e criados exten- pododermatite em diferentes fases do processo, com
sivamente. Esses autores relatam que na maioria dos o objetivo de contribuir com a caracterização da
casos, durante a fase aguda, não se notam quaisquer fisiopatologia desta enfermidade nos bovinos.
lesões macroscópicas nas extremidades dos mem-
bros, apenas claudicação intensa, e acrescentam que MATERIAL E MÉTODOS
a ocorrência desta enfermidade tem variado de 0,2%
a 10% nestas condições.
As variáveis leucocitárias são sempre utiliza- O experimento foi realizado no período de
das pelos clínicos, para detectar e monitorar pro- abril a junho de 1997, em diferentes propriedades
cessos inflamatórios (MEYER et al., 1995). rurais do Estado de Goiás.
LINFORD (1994) relata que, freqüentemente, a Foram utilizadas 59 fêmeas bovinas, da raça
eosinopenia pode ser detectada nos animais com Girolanda, com idade entre 30 e 192 meses, sendo
pododermatite asséptica aguda. selecionado um animal saudável para cada animal
Estresse induzido pela liberação de substân- portador de lesão digital, dentro da mesma proprie-
dade. Os animais eram submetidos a uma ordenha interdigital é quando se observa crescimento de teci-
diária e mantidos exclusivamente em regime de pas- do fibroso no espaço interdigital sem ulceração do
to, onde predominava a gramínea Brachiaria tecido mole ou do estojo córneo; a fase de
decumbens, suplementados ad libitum com sal mi- pododermatite infecciosa necrosante é quando se
neral no cocho. constatam ulceração de tecido mole e fissuras de te-
A classificação adotada para caracterização cido córneo, necroses e/ou fibrose e odor nausea-
da pododermatite baseou-se nos critérios estabele- bundo.
cidos por SILVA (1997), a saber: a fase inicial da Os grupos de animais experimentais foram di-
pododermatite é aquela em que os animais apresen- vididos de acordo com a etapa evolutiva da doença
tam claudicação e ausência de lesões macroscópicas (Quadro 1).
aparentes; a fase de pododermatite vegetativa
QUADRO 1. Caracterização dos grupos e número de animais (n), em cada grupo, e os critérios clínicos utilizados na
definição dos grupos
cioso, segundo os autores antes citados, não foi ob- lise da Tabela 1 e também da Figura 1, evidencia-se
servada neste trabalho, provavelmente em decorrên- diminuição dos valores dos eosinófilos, o que pode
cia de a pododermatite ser doença de curso longo e respaldar a fase aguda do processo de
de os animais usados no grupo II (fase definida como pododermatite (LINFORD, 1994).
aguda) já terem cursado mais de quatro dias da do- Mesmo não sendo estatisticamente significa-
ença. Esta afirmativa encontra respaldo no fato de tivo, o aumento numérico dos leucócitos, em conse-
não ter ocorrido diminuição dos linfócitos, visto que qüência do aumento dos neutrófilos, caracteriza o
em ruminantes, em resposta à atividade adrenal, se- processo inflamatório-infeccioso, sob uma forma
gundo KIDD (1991), na fase aguda ocorre destrui- mais aguda em relação aos grupos III, IV, de acor-
ção dos linfócitos resultando em lifocitopenia. do com MEYER et al. (1995).
Apesar de o quadro leucocitário de fase agu- O número de monócitos encontrados no gru-
da não ter sido caracterizado nos animais do grupo po IV (pododermatite necrosante) está acima dos
II, ou seja, leucopenia transitória decorrente de valores dos demais grupos, caracterizando a
linfocitopenia e eosinopenia (COLES, 1980; cronicidade do processo inflamatório, segundo JAIN
SCHALM et al., 1981; JAIN, 1993), mediante aná- (1993).
TABELA 1. Valores médios e desvio padrão dos leucócitos totais (Lc), bastonetes (Bast), segmentado (Seg), linfócito (Lin),
eosinófilo ( Eos), Monócito (Mon), basófilo (Bas) e do fibrinogênio (Fib), dos grupos de animais sem pododermatite (grupo
I – controle) e com pododermatite (grupo II – inflamação; grupo III – fibrose interdigital; grupo IV – necrose)
Grupos Lc x103/mL Bast/mL Seg/mL Lin/mL Eos/mL Mon/mL Bas/mL Fib mg/dL
Grupo III 9.3 108.6 3204.2 a 4135.9 1131.7 671.0 48.7 580
±0.80 ±40.05 ±392.00 ±417.07 ±150.94 ±109.46 ±49.45 ±149.66
Obs.: Letras diferentes na vertical indicam diferença significativa (p < 0,05), pelo teste de Tukey.
L e u c ó c ito s d e b o v in o s s e m e c o m P o d o d e r m a tite
12,000
Número de células /uL Leuct
10,000
8,000
.
6,000
S e g t.
4,000
2,000 E o s f.
0,000
G rp . 1 G rp . 2 G rp . 3 G rp . 4
G r a u d a s le s o õ e s
FIGURA 1. Valores médios dos leucócitos totais, dos segmentados e dos eosinófilos de bovinos sem e com pododermatite
em diferentes fases da lesão.
700
Fibrinogênio em g/dL
600
500
400
300
200
100
0
G rp. 1 G rp. 2 G rp. 3 G rp. 4
G rau s de lesões
FIGURA 2. Nível de fibrinogênio de bovinos sem e com pododermatite em diferentes fases da lesão.
CORBELLINI, C.N. Factores nutricionales de NOCEK, J. E. Hoof care for dairy cattle. Fort
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