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Continua a ser uma festa marcante no concelho da Maia, numa das freguesias mais

povoadas do concelho. Uma devoção com mais de 300 anos, que roda em torno de uma
capela construída no ido ano de 1633. Estão aí as festas em honra de Nossa Senhora da
Guadalupe, em Águas Santas, que estão a ser celebradas desde hoje e prolongam-se até
à próxima terça-feira.

Se no ano passado as dificuldades económicas já se faziam sentir, este ano a situação


piorou. Quem o diz é o presidente da Comissão de Festas em honra de Nossa Senhora
da Guadalupe, Manuel Melo, porque “as pessoas não estão a contribuir como
costumavam contribuir”. “Há uma quebra aproximada de 10 por cento nos peditórios
porta-a-porta”, o que leva Manuel Melo à frase seguinte: “é caso para dizer que a coisa
está preta!”. A provar mesmo o tom negro das finanças, está a quebra registada nas
esmolas da capela. Aí o número é bem superior: regista-se uma quebra pela metade, ou
seja, 50 por cento. Mesmo assim, garante o presidente da comissão de festas que tudo
está a ser feito para levar as festividades a bom porto. “Não sei se vamos ter dinheiro
para tudo, mas acho que sim. Vai ser muito difícil”, desabafa Manuel Melo. Com um
orçamento estimado de 35 mil euros, o cartaz mantém-se “mais ou menos” semelhante
ao do ano passado. Para 2010 está reservada “uma surpresa no fogo-de-artifício de
segunda-feira”, revela o responsável pelas festas.

A grande “bandeira” das festividades continua a ser a procissão. O ponto alto das
celebrações, que merece atenções especiais por parte da organização, que garante “fazer
tudo por tudo para que nada falhe”. Recorde-se que há muitas promessas feitas a Nossa
Senhora da Guadalupe. E apesar do elevado peso do andor (cerca de 250 quilos), há
uma lista de espera para o segurar, pelo menos até 2015. Números que mostram a
imponência e a grande devoção à santa por parte da população aquissantense. A lista de
espera não é só para segurar o andor, mas também para os “devotos e devotas” o
enfeitarem.

Por falar em enfeitar, a Feira de Artesanato continua a ser realizada, apesar das
dificuldades já referidas. Dela vão fazer parte 35 expositores. Manuel Melo promete
“uma feira diferente da dos anos anteriores, mas sempre dentro das nossas
possibilidades. Será uma feira de artesanato interessante”, confessa. A única limitação,
neste caso, é mesmo o espaço.
E se no ano passado as festividades tinham direito ao enfeite de várias artérias com um
tapete de flores, isso não vai acontecer este ano. “Este ano não vai haver tapete porque
pura e simplesmente as pessoas não estão disponíveis e temos de compreender isso”,
desabafa Manuel Melo, que promete também que o tapete vai regressar já para o ano.
Pelo menos é essa a vontade expressa pela comissão de festas aquissantense. O
problema, desta vez, foi mesmo a falta de disponibilidade. Porque Manuel Melo já se
mostrou disponível para contribuir financeiramente para o tapete do ano que aí vem.

Apesar de todas as dificuldades sentidas, tanto financeiras como humanas, Manuel Melo
mostra vontade de continuar à frente dos destinos da comissão de festas. É quase uma
certeza, não total, porque segurança a 100 por cento “só no fim das festividades”,
confessa. “A comissão de festas são oito pessoas e se não me quiserem à frente eu saio.
Aqui quem manda é o padre da freguesia, não sou eu”, remata.

A devoção a Nossa Senhora da Guadalupe


Os dias são festivos, mas o motivo para a devoção não é dos mais agradáveis. Diz a
história que um popular de Águas Santas fugiu para Espanha, depois de ter sido acusado
de um crime que, alegadamente, não cometeu. Em terras dos nossos vizinhos ibéricos, o
habitante de Águas Santas encontrou refúgio no Real Mosteiro de Santa Maria de
Guadalupe, em Cáceres. Ainda em território espanhol, prometeu à virgem fazer nascer
um santuário em Águas Santas, caso fosse ilibado do crime de assassinato do qual era
acusado. Assim foi e assim começou a história da devoção em torno de Nossa Senhora
da Guadalupe. O popular, depois de ilibado, começou a construir um “nicho” no Lugar
do Paço, que prevalece até aos dias de hoje, mas já sofreu algumas transformações.
Depois de obras em 1746 e 1754, são mais recentes as intervenções que reabilitaram
quase por completo o santuário aquissantense. Em 1972 foram feitas obras de
consolidação das paredes exteriores e colocados azulejos nas duas paredes do
frontispício, para evitar as fortes batidas da chuva e assim impedir a degradação das
pinturas murais. Já em 1985, foram recuperados o altar-mor e dois altares laterais em
talha dourada. No ano 2000, foi recuperada a fachada da capela. A recuperação do
interior, mais recente, deu pano para mangas. Muitos dos fiéis tiveram de penhorar bens
para angariar toda a soma necessária para a recuperação do edifício religioso. Outro dos
problemas prendeu-se com os pareceres do Instituto Português do Património
Arquitectónico, que tentou travar a obra por diversas vezes, mas acabou por ceder.

Pedro Póvoas

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