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O Gato de Botas e Bombachas

Música 1

Mentira tem perna curta


Não vai muito longe e cai
Quem mente a boca entorta
Ninguém se importa
E a confiança
Desta criança
Logo se vai

Eu vi em cima do morro
Uma árvore elegante
Logo pedi socorro
Sua fruta era um elefante

- Um pé de elefante?
- Que mentira bem gigante!

No sitio do meu avô


Fui fazer uma piscina
Quando vi meu vô gritou
- O buraco saiu na China

- Um buraco até a china?


- É mentira dessa menina!

Eu saí para pescar


Tirei d’água um lampião
Que estranho ao segurar
Ai! Queimei a minha mão.

- Um lampião molhado, queimando a mão?


- Isso é mentira meu irmão!

1 – Cena – O testamento

Primeiro - Há muito tempo atrás


Quando o Rio Grande era menino
Havia um certo rapaz
Chamado de Clementino

Segundo - Seu pai havia morrido


E depois desse ocorrido

Terceiro - Para os seus três rebentos


Deixou um testamento

Traçando assim seus destinos


Música 2

Primeiro - Para o meu filho primeiro


Deixo o velho moinho
Trabalhe e ganhe dinheiro
Mas faça tudo sozinho

Filho 1 – O moedor vou reformar


E a roda do arroio
Tenho muito a trabalhar
Não vou precisar apoio

Segundo - Para o meu filho do meio


Disposto nas troperiadas
Deixo sem mais receio
A minha mula encilhada

Filho 2 - O moinho é bem melhor


Mas a mula tem serventia
Carrega com seu suor
Qualquer carga dia a dia

Filho 1 - Podes vir ao meu auxílio


Transportar pra cidade vizinha
Traga pra cá o milho
E leve pra lá farinha

Terceiro - Para o meu filho caçula


Não pude dar o moinho
Pro do meio dei a mula
Pra ele sobrou o gatinho

Clementino – Mas que triste sorte a minha


O que farei com um gato
Não posso fazer contrato
Pois não carrega farinha
Só pode me dar despesa
Pois vai querer cama e mesa
Será que não foi engano
Fiquei só com esse bichano
Mas pobre e doce gatinho
O que puder conseguir
Contigo vou repartir
Em troca do teu carinho

2 – Cena – Boris enfeitiça o gato

Primeiro - Os irmão mais velhos


Foram para o trabalho
E o pobre do mais novo
Sem nada o que fazer

Segundo - Não tinha nem o que comer


E foi para o meio do povo
Mendigando o dia a dia
Mas nada conseguia

Clementino - Oh! Por favor, senhora


Podes me ajudar
Dê-me uma esmola agora
Pra minha barriga parar de roncar

Boris - Não me confunda arruaceiro


Com uma simples mulher
Sou Boris, o Feiticeiro
E me transformo no que quiser
Posso virar uma onça feroz
Numa serpente de veneno mortal
No dragão mais atroz
Qualquer gesto poderá ser fatal

Clementino - Perdoe o meu engano


Apenas me confundi
Seus cabelos e seus panos
Não são vestes de guri
Acostumado com bombachas
E lenço vermelho ao pescoço
Não sei o que se passa,
Mas, não estais com feições de moço

Boris - Veja que desaforo


Não tens trava na língua
Já que não tens decoro
Espero que fique a míngua
Catapula, catapola, catapala
Que o feitiço transforme tua fala

(Clementino foge, e o feitiço atinge o gato)

3 - Cena – O gato falante

Gato - Miau!

(Sai Boris)

Clementino - Parece que eu estou bem


Nada me atingiu
Mas o que o gato tem?
O feiticeiro o feriu?
Pobre gatinho parece que está morto.
Mia meu caro amigo
Vim pra te dar conforto
Responda ao que lhe digo

Gato - Calma, miau, miau


Acho que eu to legal!

Clementino - Credo em cruiz, bicho danado


Fiquei todo arrepiado
Que coisa mais importante
O gato ficou falante
Isso parece assombração

Gato - Não é não!


Sempre te entendi
Mas nunca pude conversar
Quando precisava de ti
Eu começava a miar
Quando o feitiço me alcançou
Minha língua destravou
Agora posso falar
E vou te ajudar meu amigo
A sair deste desespero
Mas para não ter perigo
Sem nenhum exagero
Preciso me disfarçar
Para ninguém me notar
Me de tua pilcha
Pois vou me transformar
Com tua bota e bombacha
Vamos! Patrão !Depressa!
E para esconder teu cuecão
Entre nesse tonel e desapareça

Música do gato

Eu sou um gato e sei falar


Agora tens quem pode te ajudar
Não tinhas nada e mesmo assim
Mostraste que gostas de mim

Eu sou o gato de bota e bombacha


Na minha frente ninguém me esculacha
Sou matreiro, valente e esperto
Pra ajeitar a tua vida eu sou o cara certo

Tenho um plano e a solução


Para sair desta situação
Tu precisas confiar no teu amigo
Pois ao meu lado não correrás perigo

Venha pro xote, pro xote do gatinho


Ele é esperto, valente e bonitinho
A minha lábia, ninguém resiste não
Venha comigo cantar esta canção

4 – Cena – O boteco

Primeiro – O gato foi pro boteco


Escutar todos os fatos
Na venda do seu neco
Sabia-se todos os boatos

Foi entrando de mansinho


Para ninguém o notar

Ladrão 1 - Me dê um martelinho
De canha pra eu tomar

Gato - Me dá um pires de leite

Seu Neco - O que?

Gato - Num caneco seu neco!


Pra que eu melhor aproveite.

Ladrão 1 - Como eu tava te falando


Faremos como das outras vezes
Desviar uma parte do bando
Roubando cinqüenta reses

Seu Neco - Então tudo combinado


Amanhã, no horário marcado
Pegas parte do gado
E deixa tudo apartado
Na sesmaria tapera
Que há tanto tempo espera
O marques de Carabás
Seu dono e capataz

Ladrão 1 - Já que pra cá nunca veio


Que não nos leve a mal
Pois vive em Portugal
Não virá logo, eu creio
E das mil reses tropeadas
Na compra do estancieiro
Levas a parte afanada
Pra Boris o Feiticeiro

Gato - Ah! Ah! Assim é que levam vantagem


Roubam da viagem
Causando grande dano
Já sei qual será o meu plano
Vou até a estância
Pois é de grande importância
A informação desse bichano

5 – Cena – A entrega do gado

Segundo - Logo que o sol nasceu


Na porta da casa da fazenda
Tudo aconteceu
Na entrega da encomenda

Terceiro - Vieram os ladrões tropeiros


Com parte da boiada
E o gato matreiro
Vinha de espreitada

Ladrão 1 - Meu caro Pedro Caetano


Foi dura nossa jornada
Ao passar no pântano
Morreu parte da boiada

Pedro Caetano – Mas que sorte desgraçada


Toda tropa bem comprada
Fica parte da manada
No pântano atolada.

Gato - Com perdão da interferência


Peço atenção do senhor
O relato da ocorrência
Do dia anterior

Pedro Caetano - Mas quem vem lá, intrometido


Com bota e bombacha vestido?

Gato - perdão meu caro Caetano


Desculpe esse bichano
Sou o gato de bota e bombacha
Na minha frente ninguém me esculacha
Vim lhe trazer uma grande informação
Deves saber que este homem é um ladrão

Ladrão 1 - Como ousa seu gato bisbilhoteiro


No fio da minha adaga
Terminará sua saga
De falador traiçoeiro

Gato – Avante ladrão de gado


Não tenho medo de ti
Pois saibas que meu legado
Nunca deixei de cumprir

(brigam e o gato vence)

Pedro Caetano – Agora fales gato manhoso


E digas para que vieste
Estou um tanto curioso
Visto o que fizeste.

Musica -

Uma trama bem montada


Já fazem há muitos meses
Desviando da manada
Uma parte das suas reses
Ele faz esse cambicho
Com seu Neco do bolicho

Não tem vaca atolada


É que parte da boiada
Vai pro Boris feiticeiro
Sem lhe dar nenhum dinheiro
O senhor homem simplório
Caiu no conto do vigário

Meu amigo Clementino


O marques de Carabás
Descobriu esses cretinos
Um que leva outro que traz
Escondendo no seu alambrado
A parte do gado roubado

Pedro Caetano – O misterioso marques


Quero lhe conhecer
Por tudo que ele fez
Preciso lhe agradecer
Este marques tão falado
Há tanto tempo esperado

É meu vizinho de lado


Mas nunca foi avistado
Sabia-se que esse tal
Era marques em Portugal
Que bela notícia esta
Enfim um vizinho que presta

Gato – Pois será de grande alegria


Receber-te em sua sesmaria
Se me ceder um cavalo
Vou na frente aguardá-lo
Para avisar o marques
Da vinda de vosmeces

Pedro Caetano – Irei me preparar


Para o marques encontrar
E depois o traiçoeiro
Boris o feiticeiro
Será por mim castigado
Por tudo que tem me roubado

Gato – Agora que vou fazer


Para essa mentira dar certo
Fui dar uma de esperto
E não sei como vou resolver
Assim no mas,
Este gato sagaz
Vai transformar o menino
Conhecido por Clementino
No marques de Carabás

6 – Cena – O banho

Clementino – Meu amigo gato até que enfim chegastes


Estava preocupado, por onde andastes?
Eu estava aqui, com fome e com frio
E tu vestido e montado em cavalo
Tentei sair em teu encalço, vadio!
Mas, assim nu, não consegui procurá-lo

Gato - Não te assustes Clementino


Tudo corre como o planejado
(para o público) Embora não tenha nada pensado
Confiarei no meu tino

Clementino – O que planejaste meu fiel escudeiro


Arranjaste trabalho, conseguiste dinheiro?
Minhas tripas se dobram de fome
Já não tenho casa, nem roupas nem nome

Gato - Te enganas meu caro companheiro


Tens nome e um título real
Coloca um sorriso e fica faceiro
Sou teu amigo leal
És agora marquês, por sobre nome Carabás
És rico e amigo do rei, fique feliz meu rapaz

Clementino - Ora que bobagem eu nunca serei da nobreza


Não tenho nem comida na mesa.
Que dirá títulos e propriedades
Essa é a realidade
Um homem com fome e vestido de barril

Gato - Não sabes o que fala, senhoril


És famoso na estância do Pedro Caetano
Descobriste o plano do roubo do gado
E para fazer-te um agrado
Pelo feito do ano
Virá o estancieiro e sua comitiva
Para uma ceia festiva

Clementino - O que fizeste gato travesso


Essa história não faz sentido
Seu Pedro está iludido
E esse conto do avesso
É um caso perdido
Vamos perder o apresso
Pelo mal entendido

Gato - Estimado deixe comigo


Está tudo controlado
Vou dar um jeito e lhe digo
Não fiques envergonhado
Faça uma cara de assustado
(chega a comitiva, altiva)
Que vou te apresentar pelado

Acudam nobres senhores


Socorram-nos deste horror
Vieram ladrões mal feitores
Nos trazendo enorme dissabor
O Marques de Carabás estava nadando
Refrescando-se do calor
Os malevas foram roubando
Suas vestes sem nenhum pudor
Agora está envergonhado e com frio
Escondido dentro de um barril

Pedro Caetano - É minha obrigação


Ajudar o nobre Marquês
Como sinal de gratidão
Por tudo que ele fez
Antes mesmo de me apresentar
Vou trazer-lhe roupa confortável
A cavalo posso me apressar
Fica filha, e seja agradável

Gato - Seja bem vinda, prenda formosa


Talvez um dedo de prosa
Enquanto teu pai não vem
E a providência também

Prenda – Senhor gato muito prazer


Meu pai falou bem de ti
Seu patrão quero conhecer
Pena não poder vir aqui

Gato – A situação o deixa incapaz


Visto estar pelado
Mas logo o verás
Pois se encontra ali d’outro lado

Prenda - Oh! Que situação constrangedora


Deve estar com os nervos a flor da pele

Gato – És realmente encantadora


E certamente gostará dele

Clementino - Gato venha cá me ouça


Quem é tão bela moça?
De sorriso delicado
Acho que estou apaixonado

Gato – Fale com ela nobre marques


Apresente-se decidido
Seja amável e cortes
Mas lembre-se que não estás vestido

Prenda – Ouço alguém conversando?


Ou será o vento a cantar?
Por favor estás me escutando?
Posso lhe ajudar?

Gato – Clementino não demora


Venha logo e apareça
Poderá ser uma boa hora
Para que ela o conheça

Clementino – Mas assim desse jeito


Nessa roupa de madeira
É falta de respeito
Apresentar-me desta maneira

Gato – Vai lá seu medroso


Deixe de ser rogado
Seja audacioso
E mostre-se apaixonado

7 – Cena – O rapaz e a prenda

Prenda – Valha–me meu Senhor


Quem és tu que vens á minha frente
Num ímpeto e sem pudor
Fiquei inibida de repente

Clementino – Perdoe-me nobre donzela


Não queria importuná-la
O gato fez a mazela
Empurrando-me para encontrá-la

Prenda – És o marquês, que veio de Portugal?


Fico feliz em conhecê-lo
Embora não seja normal
Apresentar-se assim em pêlo

Mesmo assim, fico honrada


Pois tua façanha já é uma lenda
Solucionaste o roubo da boiada
E os ladrões em nossa fazenda

Meu pai está muito agradecido


E lhe tem em grande apreço
E se bem lhe conheço
Não passará despercebido

Clementino - As vezes o que chega ao nosso ouvido


Não é bem o causo acontecido
E a versão que nos é contada
Pode muito bem ser inventada

Prenda - Ora, não seja modesto


Nobre rapaz
Sabemos do que és capaz
E da nobreza de teus gestos

Música romântica

Eu não quero te enganar


Inventando outras histórias
Gostaria de contar
A verdade não tem glórias
Mas é sincero o que senti
Quando te vi

Não pretendo enganar


Não gosto de falsidade
Sei que sempre vai durar
As palavras de verdade
E verdadeiro é o que senti
Quando te vi

A verdade tenho que falar


Eu não quero mais me esconder

Prenda – Não por favor fique no barril

Porque não se pode confiar


se a verdade não prevalecer

Gato – fique quieto imbecil

E verdadeiro é o amor
que senti
Quando te vi

Gato - Então conta, faça já o dano!


E lá se foi meu grande plano.
O que poderá acontecer?
Nem quero ver

Clementino – Minha querida, é sincero o que falei...

Prenda – Eu também, nosso futuro já planejei


Serão três filhos, dois guris e uma prendinha
Eles morenos ela loirinha

Clementino – Espere minha prenda, antes preciso te contar..

Prenda – Não fales, não quero para de sonhar!

Clementino – Mas eu preciso ser franco

Prenda – Não fales, deixe passar em branco.

Clementino – Perdoe-me a insistência...

Prenda – Quieto Marquês, ta me tirando a paciência!


8 – Cena – Boris e o rapto da menina

Boris – Então és tu o Marquês ordinário


Que contou pra aquele otário
Minha trama do roubo de gado
Nunca serás perdoado
Marquesinho de araque
Vou te reduzir a um traque
Mas que esquisito
Parece já ter te visto

Clementino – Calma seu Boris eu posso explicar


As coisas não são como o senhor ouviu

Boris – Não gasta tua saliva, que não vai adiantar


Foi meu comparsa quem tudo viu
E foi me relatar, depois da surra que tinha sofrido
De um gato, pilchado e intrometido

Prenda – Oh! Marquês, salve-me deste feiticeiro?


Não me deixe só meu nobre lanceiro

Clementino – Não toque na moça, ou vais te arrepender


Pois meu fiel guardião irá me defender.

Gato onde tu ta? Responde bichano


Preciso consertar esse engano.

Boris – Não adianta gritar, teu amigo não pode escutar


Devias aprender a nunca dizer a um oponente
A quem defendes de unhas e dentes
Porque é a este que ele irá atacar

Catapalada, catapaleda, catapalado


O marquês vai ficar congelado

Porque não ficas parado


O que fiz de errado

Clementino - Não consegues me atingir


Mesmo sendo um feiticeiro genial
(Para o público)
Alguém deve estar sem agir
Lá em Portugal
O feiticeiro enfeitiçou o Marquez
Não foi pra mim desta vez

Boris – Como assim? explique essa história!


O que te fez ter tamanha vitória
Clementino - É simples, eu não sou marques tão falado
Foi meu gato quem inventou
Por isso não fiquei parado
E seu feitiço falhou

Prenda - Oh! Era o que tentaste me contar


Em tão bela canção
Agora sei que vou te guardar
Para sempre em meu coração
Pois és um homem honesto
E mesmo não sendo da corte
Mostraste o quanto és forte
Com a grandeza de teu gesto

Boris - Parem seus abobados


Fiquem calados
Catapalada, catapaleda, catapalado
O bobo do barril vai ficar congelado

E tu prendinha assanhada
Ficarás aprisionada
E quando vierem te buscar
Então saberão meu plano
Um a um irei exterminar
E a estância do teu pai Caetano
Para mim vou anexar
Sem ninguém pra me atrapalhar

(sai Boris com a prenda e clementino fica paralizado e começa a chamar pelo amigo)

9 Cena - A mentira continua

Clementino - Gato, Gato


Eu to aqui não posso falar direito
Vem cá por favor de um jeito
Para eu sair deste estado
Não me deixa paralizado

(Chega seu Pedro Caetano com as roupas)

Pedro Caetano - Com licença meu rapaz, sou Pedro Caetano


Sabes onde está o marques de Carabás?
Vim lhe trazer uns panos
Pois está sem roupa assim no más

Clementino – Sou eu, embora não seja eu


Entendeu?

Pedro Caetano – Fales direito, e não fiques ai pasmado


Pareces que estás congelado
Clementino - Sou Clementino, e não o marquês
O Mago me congelou e não posso me mexer
Quero desfazer essa grande confusão
Foi o gato que me colocou nessa situação

Pedro Caetano – Não entendo nada estás engasgado?


Um pouco descontrolado?
Nem parece que falo com gente
Desembucha e não te engasga vivente

Gato – (para o público)


Está tudo desfeito
Esse pobre sujeito
Abriu o verbo e de um talho
Terminou com meu trabalho
Vou ver se ajeito o meu lado
Pro seu Pedro não ficar irado
(para seu Pedro)
Olá seu Pedro, já deves saber da história
Mas não foi minha intenção
Enganar vossa senhoria
Este ai é meu patrão

Pedro Caetano – Mas é claro um homem em um barril


Só pode ser o marques que ficou pelado
Mas porque estás assim paralizado
Me conte como isso lhe atingiu
Pois não entendo o que comenta
Nesta triste vestimenta

Gato – Mas que sorte a minha


Clementino ficou calado
Por estar paralizado

Clementino – gato me escuta foi o Boris que me atingiu


com um feitiço maleva, me entenda
me deixou congelado e levou minha prenda

Gato – (para seu Pedro)


Não entendes o que ele diz?

Seu Pedro – Não!

Gato – Vou lhe dizer o que consigo entender

Clementino – Meu amigo felino, vamos esclarecer


A verdade vai prevalecer
Explique tudo a seu Pedro
Termine já com esse enredo
Gato – O marques lhe agradeceu
As roupas que lhe concedeu
Contou que após grande batalha
Quase feriu a navalha
O algoz feiticeiro
Num relance ligeiro
Em um feitiço gigante
Boris o acertou
Deixando ele inoperante
E no mesmo instante
Sua filha seqüestrou.

Clementino – Gato mentiroso, pare esta mentira


Conte logo a verdade
Vai provocar-lhe a ira
Não perca a dignidade

Gato - Seu Pedro o marques tem um pedido


Que lhe faça companhia
E me ordenou no sentido
Que traga a prenda ainda dia
Enfrentarei o maleva
E mesmo em densa treva
Cumprirei minha missão
Trarei sua filha segura
Mesmo em grande agrura
Serei sua salvação

Clementino – volte aqui gato mentiroso


Estou muito furioso

Gato – O marques pede que o protejamos


Já que está congelado
E que ao fundo o escondamos
Com o senhor ao lado
(para Clementino)
Perdoe meu amigo, foi o que pude fazer
Um dia vais me entender

Seu Pedro – Vou cuidar de seu patrão


Força em tua jornada
Traga minha filha amada
E terás minha eterna gratidão

Primeiro – o gato andou sorrateiro


Até a morada do feiticeiro
Para tentar consertar
O erro cometido
Na tentativa de enganar
O feiticeiro tão temido

10 – Cena – Boris e o Gato

Gato – E agora? O que poderei fazer


Nada pra me defender
Nem armas nem munição
O mago poderosíssimo
Num simples palavriado
Pode me deixar congelado
Deixei tudo péssimo
Meu amigo é uma estátua viva
A prenda ficou cativa
Seu Caetano vai ficar uma fera
Como vou resolver
Essa farsa inteira
Onde fui me meter
Quem dera tivesse ficado
Um gato normal e calado

Boris –(foi entrando devagar enquanto o gato falava)

Então és o gato daquele pedinte


Agora sei o que aconteceu
Estás falando como gente
Pois meu raio em ti bateu

Música do duelo

Gato – Salve Boris Feiticeiro, o grande mago de luxo


Especial gaúcho, de campo, de serra e de rio
Segundo maior bruxo
Que o rio grande já viu

Boris –O rio grande já viu, eu sei, gato embombachado


Vens me fazer desagrado, me deixando em segundo
Sou o maior deste estado
E quiçá, de todo o mundo

Gato – Quiçá, de todo o mundo, exploro tua tolerância


Conheço tua importância, mas Osíris é o campeão
Só ele com elegância
Se transforma em leão

Boris – Se transforma num leão, pra mim isso é besteira


Não me fala tal asneira, pr’um mago da minha raça
Viro leão de brincadeira
E de Osíris tiro a taça

(Boris transforma-se num leão)

Gato – De Osíris tiro a taça, temos agora um empate


Para ganhar o embate, e não ficar empardado
Tens que mostrar teu quilate
Num truque diferenciado

(Boris volta ao normal)

Boris – Num truque diferenciado, diga que eu realizo


Faço o que for preciso, pra ganhar essa disputa
Ninguém faz Boris de riso
Pois não desparo da luta

Gato - não disparo da luta, esse é macho de fato


Osíris não sabe o trato, pra virar um pequeno animal
Se te transformar num rato
Osiris não fará igual

Boris – Osiris não fará igual, então já sou o maior


Vou me fazer de roedor, e ficarei em primeiro
Eu sempre fui sabedor
Que era o maior feiticeiro

(Boris se transforma em rato)

Gato – Era o maior feiticeiro, isso eu tenho certeza


Não contavas com a esperteza, deste pequenito gato
No final tenha a certeza
Comida de gato é rato

(o gato come o rato)

11 – Cena – Revelação

Primeiro – Quando um bruxo falece


Tudo que transformou
Tudo que enfeitiçou
Logo desaparece
Congelado descongela
Liberdade pra donzela
Aqueles que se distanciaram
De novo se encontraram

Pedro Caetano – Minha filha, que saudade


Não te fizeram nenhum mal?

Prenda - Acabou-se a maldade


De Boris o infernal.

Pedro Caetano – Vamos pra nossa fazenda


Pro nosso eterno remanso
Depois de toda essa contenda
Precisamos de descanso
Venha estimado marquês
Por tudo que tu fez
Quero te convidar
Para vir me visitar

Clementino – Caro Pedro Caetano


Preciso me desculpar
Pois meu amigo bichano
Estava a te enganar

Nunca fui homem de riquezas


Nem tenho sangue real
Sou um homem da pobreza
Dono de um único animal

Não descobri o roubo da gadaria


Nem sua filha salvei
Não tenho grande honraria
Por isso lhe pedirei

Perdoe as mentiras e estrepulias


Que meu amigo inventou
Causando tanta anarquia
Que tanto me envergonhou

Prenda – Papai perdoe o Clementino


Ele já havia me contado
E agora nossos destinos
Parecem estarem traçados

Pedro Caetano - Meu caro rapaz


Tu és meu convidado
Para ser meu capataz
Tua sinceridade me apraz
Porque és um homem honrado
E pelo visto enamorado

E o gato?
O que aconteceu?

Gato – Miau
Clementino – Emudeceu,
Talvez seja o castigo desse sujeito
Por tudo que tenha feito.
Mas pobre e doce gatinho
O que puder conseguir
Contigo vou repartir
Em troca do teu carinho

Música final

Mentira tem perna curta


Não vai muito longe e cai
Quem mente a boca entorta
Ninguém se importa
E a confiança
Desta criança
Logo se vai

Eu vi em cima do morro
Uma árvore elegante
Logo pedi socorro
Sua fruta era um elefante

- Um pé de elefante?
- Que mentira bem gigante!

No sitio do meu avô


Fui fazer uma piscina
Quando vi meu vô gritou
- O buraco saiu na China

- Um buraco até a china?


- É mentira dessa menina!

Eu saí para pescar


Tirei d’água um lampião
Que estranho ao segurar
Ai! Queimei a minha mão.

- Um lampião molhado, queimando a mão?


- Isso é mentira meu irmão!

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