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A menina que fugiu

Adriana Veloso

( A mãe está em casa fazendo as contas e há um palhaço no canto da


parede)

Mãe – Telefone- R$ 230,00, Condomínio – R$ 650,00, Colégio – R$ 720,00,


luz, água, supermercado, combustível... Ai meu Deus, são tantas contas
pra pagar que até me dá desespero. E ainda tem os presentes de Natal, a
ceia, os enfeites!Não vai pra pagar tudo.

Filha – Mãe, eu posso jogar bola?

Mãe – Não.

Filha – Eu posso andar de bicicleta?

Mãe – Não.

Filha – Então deixa eu ir à casa da Silvinha?!

Mãe – Já disse que agora não. Você não está vendo que agora eu estou
muito ocupada, fazendo as minhas contas?

Filha – Ah, deixa mãe...

Mãe – Não. E agora eu tenho que ir ao banco. Vá arrumar o seu quarto


que quando eu voltar a gente conversa. (sai)

Filha – Que droga, minha mãe não me deixa fazer nada, e eu já estou de
férias. O que é que eu vou fazer?

Palhaço – (Abre os olhos) Psiu! Psiu! Hei, menina! (se levanta0 O que
houve que você está assim?

Filha – Você fala, Gargalhada?

Palhaço – Claro. Não está vendo?


Filha – Sabe o que é? Estou cansada de tudo. Todos os dias é a mesma
coisa. Tudo que eu quero fazer, não pode. E ainda por cima eu estou de
férias, e estamos na época do Natal.

Palhaço – Porque você não usa a sua imaginação?

Filha – Usar a imaginação?

Palhaço – Sim! É muito divertido. Você quer ver?

Filha – Claro que sim!

Palhaço – Hei , turma! Podem vir! (entram os palhaços)

1 - Use a imaginação – Daltony Nóbrega


https://www.youtube.com/watch?v=aZqQxYQJFUI

Palhaço – Boa sorte, menina!!! ( saem rindo)

Filha – Usar a imaginação? Já sei! Eu vou fugir de casa! (Sai) ( Entra a


menina de rua e deita. Quando a Filha chega, ela acorda.)

MR – Hei, menina. O que uma menina bonita e bem vestida como você,
está fazendo nas ruas?

F – Eu fugi de casa.

MR – Fugiu de casa? Você é doida? Eu aqui nessas ruas, louca pra terpra
onde ir, e você fugiu de casa?

F – É. Minha mãe não me deixava fazer nada. Mas agora eu me perdi. Já


estou me arrependendo do que fiz, e estou começando a ficar com fome.

MR – Fome? Nem me diga. Essa é a palavra que eu mais conheço.Mas não


fique assustada. Fique comigo que eu te ajudo a voltar pra casa.

F – Promete?

MR – Pode crer.

F – E qual o seu nome?

MR – Fatinha, e o seu?
F – Carolina, mas pode me chamar de Carol.

MR – Falou, Carol. Ih, olha lá quem vem vindo. É a Gata Persa Fifi.

F - O que será que ela está fazendo no meio daqueles gatos vira-latas?

MR – Ela também fugiu de casa.

Gata – Oi meninas!

MR – Oi Fifi. E aí, como vão as coisas?

Gata – Cada dia melhor, e você?

MR – Daquele jeito. Deixa eu te apresentar minha nova amiga: Carol, Fifi.


Fifi, Carol.

G – Muito prazer. Nem parece que você vive nas ruas. Está tão
arrumadinha.

F – É que eu fugi de casa, mas já me arrependi.

G – Eu também fugi. Mas ao contrário de você, estou é muito feliz.

F – E por quê?

G – Vou te contar minha história:

2 – História de uma gata - Os Saltimbancos

|Felino, não reconhecerás

G – Tchau , meninas! Espero que vocês se divirtam, como eu. Vamos


gataria! Miau...

F – É. Parece que ela está feliz. E agora, pra onde é que a gente vai?

MR – Vamos andando que a gente vê.

F – Eu estou ficando com medo. Este lugar aqui é muito feio. Olha, vem
vindo alguém. Que pessoal mais esquisito!

MR – Fica fria, Carol!


(Entram duas gangs e elas se afastam)

1 – E aí, brother? Beleza?

2 – Firmeza!

1 – A galera ta afim de zoar hoje à noite?

2 – É isso aí véi. Que tal a gente dá uma preparada antes?

1 – Tô ligado, vamo lá.

3- Funk

Hoje o bicho vai pegá Eu sou fera e sempre fui

Vamo botá pra quebrá E agora vou falá

Se você quer vir com a gente Se você não interage

Vem com tudo e vem contente Você fica sem vantagem

Vamo dá aquele rolé Porque se ficar sozinho

Vem os mano, vem as mina Você fica no caminho

Vem de frente e vem de quina E sobrar não é legal

Porque se você não vem Que ser da turma é


animal.
Nós vamo ficar também.
Hoje o bicho vai pegá
Hoje o bicho vai pegá
Vamo botá pra quebrá
Vamo botá pra quebrá
Se você quer vir com a
Se você quer vir com a gente gente

Vem com tudo e vem contente


Vem com tudo e vem
contente

1 – Vai ser demais essa noite.

2 – Pode crer, brother. Suave na nave.

F - Fatinha, eu to ficando com medo. A gente se afastou muito do cebtro


da cidade.

MR – É que a gente está num bairro barra pesada. Vamos sair daqui.

F – Pra onde?

MR – Vamos andando. (andam)

F – Acho que a gente saiu da cidade. Só estou vendo mato.

MR – É. Você tem razão.

F – Que mata estranha. Olha que tamanho de buraco.

MR – Cuidado pra não cair aí dentro. Olha lá as araras, vamos perguntar


pra elas o que aconteceu. Elas vêm cantando.

4 - Passaredo - Chico Buarque

Araras – Esta mata quase tinha sido destruída pelo homem, mas nós
conseguimos expulsá-lo daqui e vencer.

F – E como foi isso?

A1- Um dia eles chegaram e começaram a cavar um buraco. Dona Mata


ficou curiosa: – Que bicho estranho! Cava mais rápido que o Tatu!

A2 – Esse bicho estranho é o homem, Doma mata.Disse o Tucano.


A3 – O Homem! Nunca imaginei um dia receber uma visita tão
importante. – gritou dona Mata.

A4 - Dona Mata ficava dia e noite admirando o Homem cavar aquele


buraco. O tempo foi passando e o buraco só aumentando. Dona Mata se
encantava.

A5 - O macaco comentou: Cuidado, dona Mata! Quanto mais Homens


chegarem, mais perigo corremos. Tenho medo.

A1– Que mal eles podem causar? São tão engraçadinhos!

A2 - Um dia, dona Mata espiava os Homens, quando um deles apareceu e


disse: – Bom dia, dona Mata! Estamos aqui para garimpar ouro. Como
precisamos construir casas para morar, então pensei em cortar algumas
árvores.

A3 – Fique à vontade, Homem! – ela respondeu. Sentindo-se importante


em poder ajudar o Homem, dona Mata nem ligou pela perda de algumas
árvores e tampouco notou o sumiço de alguns passarinhos. Quando o
Homem terminou a primeira casa, dona Mata ficou emocionada.

A4 - Mas a Andorinha alertou: Tome cuidado, dona Mata! Já voei muito


por esse mundo. Vi o Homem destruir tantas coisas... Não se esqueça de
que dependemos da senhora para viver.

A5 - O tempo foi passando e dona Mata diminuindo, diminuindo e os


bichos também. Era preciso fazer alguma coisa. Os bichos se reuniram e
resolveram ter uma conversa com a dona Mata.

A1 - O papagaio falou: Dona Mata, sei que a senhora não está bem, mas
precisamos conversar. Decidimos que é hora de fazer alguma coisa, se
quisermos continuar vivos.

A2 - E a coruja falou: Se o Homem continuar por aqui, será o nosso fim!

A3 - Sinto muito. Estou fraca... Acho que não dá para fazer mais nada –
falou dona Mata.

A4 – Não, aí é que a senhora se engana! – discordou dona Coruja. – Vamos


semear a terra! A natureza vai nos ajudar. Temos a chuva a nosso favor e
logo, logo, chegará o vento. Outras árvores irão brotar e crescer. Tudo que
os homens fizerem durante o dia, nós desmanchamos à noite. O que a
senhora acha?

A5 – Aí ela disse: – Vamos tentar! Acho que vale a pena. E assim eles
faziam. O homem abria de dia e eles fechavam à noite.

A1 – E o homem dizia: Nossa tem alguma coisa errada com esse buraco,
toda noite ele desaba. O homem fazia novas casas e os bichos iam
desmanchando.

A2 – E ele dizia: Venta demais nessa terra. As casas não ficam em pé.
Assim não dá. Vamos embora.

A3 – Aí eles partiram levando suas máquinas, procurando outro lugar para


garimpar.

A4 – Os bichos se reuniram e resolveram que o buraco não seria mais


tapado. Ficaria aberto para que todos se lembrassem que por ali o homem
tinha passado.

A5 – E deixado aquela cicatriz no coração da mata.

F – Que história linda.

A1 – É, a gente se orgulha dela.

MR – Obrigada amiguinhas, Agora a gente tem que ir andando que a Carol


tem que voltar pra casa.

A2 – Boa sorte, meninas!

F – Boa sorte, amiguinhas. Continuem firmes na luta de vocês.

A3 – Pode deixar.

Araras – Adeus!

F – Fatinha, já está anoitecendo. Como vamos poder voltar pra cidade?

MR – Bora lá.(saem)
Mãe – (Entrando) Carol! Onde você está? Carol, quero falar com você.
Carol...Carol?... Meu Deus! Ela não está aqui! Onde ela foi parar? (sai)
( entra Filha e Menina de Rua)

F – Fatinha, só agora estou começando a entender aminha mãe. Ela


trabalha o dia inteiro para poder me dar o melhor e acaba ficando
cansada, coitada. Por isso, ás vezes ela perde a paciência comigo. Mas ela
me deixa fazer muitas coisas. Me leva aos parques nos finais de semana, a
gente gosta de viajar e acampar juntas. Ela uma vez fez hora extra só pra
me comprar uma boneca que falava. Estou com saudade da mamãe. Só
ela me dá proteção.

5 - De Umbigo a Umbiguinho - Toquinho

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