Você está na página 1de 9

A profetisa Débora (Jz 4,1-16)

O quarto dos juízes que governou o povo judeu após a morte de Josué, não era um
homem, mas uma mulher, uma das mais famosas de todos os tempos, a profetisa
Débora. Antes dela foram Otniel, Eúde e Sangar, este último apenas por um curto
período de tempo.
Após a morte de Ehud os judeus abandonaram os caminhos da Torá e adotaram
muitos dos ídolos. Como consequência Deus os entregou nas mãos do rei de Canaã,
Jabim, cuja residência real era a cidade de Hazor. Seu cruel general, Sísera, oprimiu os
judeus durante vinte anos. Sísera possuía um exército bem treinado de cavalaria. Ele
também tinha carros de ferro que eram os "tanques" daqueles dias. Os judeus
sofreram terrivelmente sob o domínio cruel de Sísera, e em grande desespero
clamaram a Deus.

Foi então que Deus enviou a Profetisa Deborah. Ela era uma das sete profetisas
mulheres, cujas profecias estão registradas na Bíblia. (Ex 15,20; Jz 4,4; 2Rs 22,14; Nee
6,14; Is 8,3; Lc 2,36;)

Débora viveu nas montanhas de Efraim, entre Ramá e Betel. No meio do pecado e da
idolatria, Débora permaneceu fiel a Deus e Sua Torá. Ela foi sábia e temente a Deus, e
as pessoas se aglomeravam ao seu redor para pedir conselho e ajuda. Deborah
julgava debaixo de uma palmeira, ao ar livre. Lá, onde todos pudessem ouvi-la, ela
advertia o povo judeu e os exortava a deixar seus maus caminhos e voltar a Deus.
Toda a nação judaica, respeitava esta grande profetisa.

O história começa mostrando Israel sendo oprimido por Jabin rei de Hazor. Deborah é
uma mulher profeta, alguém que fala com autoridade divina, e ela é a mulher de
Lapidot. Eshet Lapidot que poderia ser traduzido como "esposa de Lapidot", mas
também significa "mulher de tochas." Esta palavra, Lapidot, "tochas", aparece
normalmente onde esperaríamos o nome de um marido, mas é um nome  que soa
estranho para um homem e, além disso, não tem o padrão usado na literatura bíblica 
"filho de".

O leitor deve decidir se vai traduzir Lapidot como um nome ou um substantivo.


Traduzi-lo como "mulher de Lapidot" tem a vantagem de enfatizar que um profeta
pode ser casado e que uma mulher casada pode ter outro papel.

Por outro lado, traduzindo como "mulher de tochas" ou "mulher ardente" se encaixa
na imagem de Deborah e tem muito a ver com a literatura bíblica, na qual, quase
sempre os nomes tem um significado. Na realidade, "mulher tocha", se caracteriza
por  um jogo de palavras significativas, pois é Deborah, não seu marido, que é a tocha
que acende Barak  (cujo nome significa "relâmpago ou aquele que emite raios de luz")
como chamas. Além disso, na mitologia mesopotâmica, a tocha e os relâmpagos
(tsullat e Hanish) são os arautos do deus da tempestade. Da mesma forma, "Mulher
tocha" e "Relâmpago"  são arautos nesta luta contra os cananeus.

 Na Haggadah sobre este texto está escrito: Na escola de Elias foi ensinado: eu
chamo o céu e a terra para testemunhar que seja um pagão ou um judeu, um
homem ou uma mulher, um servo, ou uma serva, o Espírito Santo inunda
qualquer um de acordo com as obras que ele ou ela realiza.E [Quais foram os
feitos meritórios de Débora?] Diz-se que o marido de Débora era analfabeto [na
Torá]. Então sua esposa disse a ele: "Venha, vou fazer pavios para você, levá-los
para o Lugar Santo em Shiloh. Sua parte será, em seguida, estar com homens
valorosos de Israel [que irão estudar à luz dos] pavios, e você merecerá a vida no
mundo por vir. "Ela teve o cuidado de fazer os pavios grossos, de modo que a sua
luz fosse ampla. Ele trouxe estes pavios ao Lugar Santo [em Shiloh]. O Santo, que
examina os corações e as atitudes da humanidade, disse-lhe: Deborah, uma vez
que você teve o cuidado de fazer a luz para o estudo da minha Torá, vou fazer
com que a luz de sua profecia seja ampla na presença das 12 tribos de Israel.

Embaixo da palmeira Débora julgava Israel. Da mesma forma, os sábios judeus,


explicam que Debora se sentava sob uma palmeira para mostrar ao mundo que o
povo judeu era unido e voltava seus olhos para Deus, como as folhas da palmeira
viram para cima juntas, em direção ao céu.

Os "juízes" eram líderes carismáticos de Israel nos tempo anteriores à monarquia.


Esses líderes normalmente adquiriam autoridade política depois que salvavam Israel
através de uma batalha.

Será que Deborah se torna uma juíza da mesma maneira, por liderar um grupo na
batalha? Ou talvez ela adquiriu sua autoridade, oferecendo sábios conselhos que a
levou a uma vitória, ou por previsão de uma questão importante que se tornou
realidade. A história nunca nos diz.

No "Cântico", Deborah descreve um colapso total da ordem em Israel. “Ficaram


desertas as aldeias em Israel, repousaram, até que, Débora, se levantou, se levantou
como mãe em Israel. (Juízes 5,7)". De alguma forma, Deborah impôs a ordem em
Israel. Como isso aconteceu, nem o poema nem os registros da história dizem. Seu
silêncio sobre tais assuntos importantes é um lembrete de que nem a história nem a
canção foram enquadradas como um registro da vida de Débora.

E Debora “mandou chamar Barac” (Jz 4,6). O que levou Deborah a chamar Barak?
Debora chama Barak em seu papel profeta, uma enviada de Deus. Além disso, se dá a
entender que Debora está seguindo uma chamada anterior a Barak. Ela diz: “O Deus
de Israel não te deu uma ordem?” Deus tinha falado com Barak, e o chamado de
Deborah é uma segunda convocação. Barak está relutante em ir, como Moisés antes
dele, como Gideão e Samuel mais tarde na história de Israel, e outros chamados por
Deus para serem enviados. Ele procura uma certeza de que Deus está realmente com
ele e insiste em que Débora deve ir com ele para a área de batalha onde os guerreiros
estão reunidos. Ele diz: “Se fores comigo, irei; porém, se não fores comigo, não irei.” 
(4,8) E Debora responde: “Certamente, irei contigo, porém não será tua a honra da
investida que empreendes; pois às mãos de uma mulher o Senhor entregará a Sísera.

Barac é “fraco”por isso precisa de Debora?

Os leitores ficam muitas vezes incomodados pela relutância de Barak em não querer ir
sem Deborah, declarando que sua hesitação torna "menos viril" ou macula a sua
glória. Mas Barak tem boas razões para estar inseguro: Jabin, afinal, tem novecentos
carros! Além disso, os profetas desempenhar vários papéis em batalhas: eles reúnem
e inspiram as tropas, e também declaram o tempo correto, auspicioso para começar.
Os profetas são uma presença tão importante na batalha que Elias e Eliseu são
chamados de "carruagem e cabalaria de Israel."

Profetas Femininas, Mulheres em Guerra

Muitos leitores desta história ficam particularmente preocupados com a presença das
mulheres na guerra, pensam que elas estão lá de alguma forma fora de lugar. Mas a
maioria dos profetas assírios eram mulheres, e os relatórios, tanto do antigo e
próximo Oriente Médio mostram um padrão consistente da presença de mulheres
para inspirar as tropas e insultar o inimigo. Não há nenhuma razão para pensar que os
leitores bíblicos achem estranho o pedido de Barak a Deborah, como uma mulher
profeta

A arma de Débora, a Palavra, mostra Deus como verdadeiro Salvador de Israel

No Monte Tabor, Deborah, a profetisa, anuncia a vitória dizendo: “Não saiu o Senhor
diante de ti”? (4,14). Então, Barak desceu o monte. Ela mesma não desce para a
batalha. Como Moisés, Deborah não é um comandante de batalha. Seu papel é
inspirar, prever e comemorar com um cântico. Sua arma é a palavra, e seu nome é um
anagrama de "ela falou" (dibberah). A batalha em si não é essencial. É importante
apenas para lembrar que Deus foi à frente:. Debora anunciou a vitória de Deus, Barak
facilitou, mas foi Deus quem salvou Israel. O Cântico de Débora dá uma ideia de como
Deus derrotou Canaã: Deus trouxe uma enchente que fez um pântano de
deslizamento de lama em que os carros eram inúteis.

Mulher e mãe

Tanto a história como o cântico enfatizam o fato de que Deborah é uma mulher. A
história diz-nos que ela era uma mulher profetisa, acrescentando a palavra "mulher",
ishah, também o substantivo feminino "profetisa", nebi'ah, já transmite essa
informação.
E a canção sublinha que Deborah foi uma "mãe em Israel." A feminilidade não é nem
oculta nem incidental: é parte integrante da história. A maternidade da "mãe em
Israel" vai além da biologia. Ele descreve seu papel como conselheira durante os dias
que antecederam a guerra, e indica seu papel na preservação da herança de Israel, no
seu caso, aconselhando na batalha.
O sentido mais amplo de Deborah como mãe, é revelado em seu nome, que não é
apenas um anagrama de "ela falou", mas é, também, um substantivo que significa
"abelha". Como a abelha rainha, ela levanta o enxame para a batalha, enviando os
zangões para proteger a colmeia e conquistar novos territórios.

47924 visitas
A História e Biografia de DéboraA História e Biografia de Débora

Conhecida como a Mãe de Israel, a profetisa e juíza Débora, por


volta de 1150 a.C., reorganizou as tribos de Israel para derrotar o rei Jabin de Canaã e
seu comandante militar, Sísara, na grande planície de Jezrael, banhada pelo rio Kishon,
perto de Megido. Essa vitória uniu as tribos autônomas e dispersadas de Israel – Issacar,
Zabulon e Neftali, do Norte, e Efraim, Benjamim e Manassés, do Sul – com o elemento
unificador da religião, e trouxe 40 anos de paz.
A história é dramatizada vividamente na ode triunfal Cântico de Débora, no capítulo 5
do Livros dos Juízes do Velho Testamento da Bíblia.

Os ”juízes” bíblicos eram pessoas que lutavam pela liberdade, conhecidos não apenas
por seus sábios julgamentos legais e religiosos, mas também por sua liderança militar.
Débora, a única juíza entre tantos homens, era casada com Lapidot e vinha da tribo de
Issacar, que habitava a região entre Betel e Ramá, nas colinas de Efraim. As tribos
israelitas geralmente viviam nas regiões montanhosas, enquanto os cananeus, com suas
bigas, cavalaria e fortificações estratégicas em Tanac, Megido e Betsã, controlavam as
planícies e passagens das montanhas por onde seguiam as rotas de caravanas.

Gustave Doré. Rainha Débora, séc.


XVIII.

Débora convocou Barac e o instruiu a arregimentar um exército de 10 mil homens para


ir ao encontro de Sísara. Barac só concordou em fazê-lo com a condição de que ela o
acompanhasse, o que ela fez, prevendo que ”é nas mãos de uma mulher que Lahweh
entregará Sísara” (Juízes 4:9). Os israelitas expulsaram o inimigo e Sísara fugiu a pé
para o assentamento de Héber, o Quenita, amigo do rei Jabin. Enquanto dormia na tenda
de Héber, Jael, esposa de Héber, matou Sísara com uma estaca da tenda, cumprindo
assim a profecia de Débora. (Juízes 4:21).
Para comemorar o acontecimento, Débora (ou talvez um contemporâneo seu) compôs o
Cântico de Débora. O mais antigo escrito na Bíblia e o mais sofisticado de todos os
antigos cânticos de guerra, esse é tido pelos estudiosos como uma obra-prima da poesia
judaica e considerado uma das odes mais refinadas da literatura mundial. Cantado
sempre por Débora no festival anual que se seguiu à vitória, quando as pessoas
ofereciam presentes em ação de graças a Lahweh, é também um documento de grande
importância histórica para nosso conhecimento da história de Israel. Além disso, é único
pelo fato de duas mulheres – Débora e Jael – aparecerem como heroínas.
Conhecida como a Mãe de Israel, a profetisa e juíza Débora, por
volta de 1150 a.C., reorganizou as tribos de Israel para derrotar o rei Jabin de Canaã e
seu comandante militar, Sísara, na grande planície de Jezrael, banhada pelo rio Kishon,
perto de Megido. Essa vitória uniu as tribos autônomas e dispersadas de Israel – Issacar,
Zabulon e Neftali, do Norte, e Efraim, Benjamim e Manassés, do Sul – com o elemento
unificador da religião, e trouxe 40 anos de paz.

A história é dramatizada vividamente na ode triunfal Cântico de Débora, no capítulo 5


do Livros dos Juízes do Velho Testamento da Bíblia.

Os ”juízes” bíblicos eram pessoas que lutavam pela liberdade, conhecidos não apenas
por seus sábios julgamentos legais e religiosos, mas também por sua liderança militar.
Débora, a única juíza entre tantos homens, era casada com Lapidot e vinha da tribo de
Issacar, que habitava a região entre Betel e Ramá, nas colinas de Efraim. As tribos
israelitas geralmente viviam nas regiões montanhosas, enquanto os cananeus, com suas
bigas, cavalaria e fortificações estratégicas em Tanac, Megido e Betsã, controlavam as
planícies e passagens das montanhas por onde seguiam as rotas de caravanas.
Gustave Doré. Rainha Débora, séc.
XVIII.

Débora convocou Barac e o instruiu a arregimentar um exército de 10 mil homens para


ir ao encontro de Sísara. Barac só concordou em fazê-lo com a condição de que ela o
acompanhasse, o que ela fez, prevendo que ”é nas mãos de uma mulher que Lahweh
entregará Sísara” (Juízes 4:9). Os israelitas expulsaram o inimigo e Sísara fugiu a pé
para o assentamento de Héber, o Quenita, amigo do rei Jabin. Enquanto dormia na tenda
de Héber, Jael, esposa de Héber, matou Sísara com uma estaca da tenda, cumprindo
assim a profecia de Débora. (Juízes 4:21).

Para comemorar o acontecimento, Débora (ou talvez um contemporâneo seu) compôs o


Cântico de Débora. O mais antigo escrito na Bíblia e o mais sofisticado de todos os
antigos cânticos de guerra, esse é tido pelos estudiosos como uma obra-prima da poesia
judaica e considerado uma das odes mais refinadas da literatura mundial. Cantado
sempre por Débora no festival anual que se seguiu à vitória, quando as pessoas
ofereciam presentes em ação de graças a Lahweh, é também um documento de grande
importância histórica para nosso conhecimento da história de Israel. Além disso, é único
pelo fato de duas mulheres – Débora e Jael – aparecerem como heroínas.

Você também pode gostar