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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

PROPOSTA DE LEI DA LIBERDADE RELIGIOSA E DE CULTO

FUNDAMENTAÇÃO

Pela Lei n.º 4/71, de 21 de Agosto, o Governo português promulgou as bases


relativas à liberdade religiosa para vigorar na Província Ultramarina de
Moçambique, através da portaria n.º 14/74, de 10 de Janeiro.

A Constituição da República de Moçambique, no seu artigo 12, prevê que o Estado


moçambicano é laico, e que as confissões religiosas são livres na sua organização e
no exercício das suas funções e de culto e devem conformar-se com as leis do
Estado.

No entanto, o Estado Moçambicano ratificou instrumentos internacionais que


estabelecem o direito de pensamento, consciência e de religião que implica a
liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de
manifestar-se em público como em privado através do ensino, da prática, do culto e
dos ritos (artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, artigo 18 do
Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e artigo 8 da Carta Africana
dos Direitos do Homem e dos Povos).

A religião desempenha um papel preponderante na formação moral do indivíduo e


na transmissão de valores fundamentais que são a base de uma convivência social
harmoniosa. Dados estatísticos publicados por Instituto Nacional de Estatística,
INE, referentes ao Censo de 2017, indicam que cerca de 97.4% da população
moçambicana pratica uma religião.

Outrossim, o Plano Quinquenal do Governo 2020-2024 defende uma política de


inclusão e colaboração com as diferentes instituições e agremiações religiosas, no
interesse da consolidação da harmonia na família moçambicana, da reconstrução,
da reconciliação, da unidade nacional, consolidação da paz e valorização do tecido
ético e social.
Neste âmbito, volvidos 48 anos que a Lei n.º 4/71, de 21 de Agosto, vigora em
Moçambique, torna-se, pois, necessário estabelecer regras e princípios que regulem
a liberdade religiosa e de culto, para que consagrem o reconhecimento do papel das
entidades religiosas, bem como o relacionamento destas entre si, com o Estado e
outras forças vivas da sociedade, tendo em conta o contexto actual do país.

Foi assim, que se decidiu pela realização do exercício que deveria culminar com a
adopção da Lei de Liberdade Religiosa e de Culto. Este processo iniciou em 2019,
tendo sido realizados, durante 90 dias, 23 seminários de auscultação pública em
todo país, nos formatos presencial e virtual, tendo abrangido mais de 632
participantes, mais de 100 pessoas através da Plataforma Zoom, 99 mil
visualizações e 98 compartilhamentos através de outras plataformas como sejam o
Facebook e Whatsapp.

Foram ainda realizados encontros de harmonização técnica bem como um


seminário de validação. Em todos estes encontros os participantes foram
representantes do Governo, líderes religiosos, académicos, da sociedade civil e
outros intervenientes relevantes na matéria.

Através deste exercício foi possível compreender a complexidade bem como reunir
consensos sobre a matéria.

A presente proposta visa estabelecer um regime jurídico que regula a constituição,


organização e funcionamento das confissões religiosas, associações religiosas e
instituições de ensino religioso no território nacional.

É nestes termos, e ao abrigo da alínea c) do artigo 203 que se submete a proposta


de Lei da Liberdade Religiosa e de Culto, para apreciação e aprovação pela
Assembleia da República.

Maputo, Março de 2022

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