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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE HUMANIDADES


MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE HUMANIDADES

SAMIRA DE SOUZA SANCHES

PERCEPÇÃO DA CIDADE E O POTENCIAL EDUCATIVO DO MERCADO


POPULAR DA VILA RUBIM EM VITÓRIA, ES

Vitória
2020
SAMIRA DE SOUZA SANCHES

PERCEPÇÃO DA CIDADE E O POTENCIAL EDUCATIVO DO MERCADO


POPULAR DA VILA RUBIM EM VITÓRIA, ES

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação


em Ensino de Humanidades do Instituto Federal do
Espírito Santo, campus Vitória, como requisito parcial
para a obtenção do Título de Mestra em Ensino de
Humanidades.

Orientadora: Prof.ª Dra. Eliana Mara Pellerano Kuster

Vitória
2020
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)

S211p Sanches, Samira de Souza.


Percepção da cidade e o potencial educativo do mercado popular da
Vila Rubim em Vitória, ES / Samira de Souza Sanches. – 2020.
144 f. : il. ; 30 cm.

Orientador: Eliana Mara Pellerano Kuster.

Dissertação (mestrado) – Instituto Federal do Espírito Santo,


Programa de Pós-graduação em Ensino de Humanidades, Vitória, 2020.

1. Educação -- Filosofia. 2. Mercados -- Vitória (ES) -- Estudos de


casos. 3. Cidades e vilas -- Vitória (ES). 4. Percepção (Filosofia). 5.
Professores -- Formação 6. Humanidades. I. Kuster, Eliana Mara
Pellerano. II. Instituto Federal do Espírito Santo. III. Título.

CDD 21 – 370.1
Elaborada por Marcileia Seibert de Barcellos – CRB-6/ES - 656
Aos educadores que resistem e lutam cotidianamente
para que a educação seja caminho para emancipação
e libertação humana.
AGRADECIMENTOS

À minha família, em especial meus pais Aracy e Wilson que sempre me ensinaram
amorosamente a questionar as injustiças e a buscar ser instrumento de transformação
no mundo

À minha orientadora, Eliana Kuster, pelos ensinamentos e trocas nesse caminho.


Obrigada por acreditar em mim como pesquisadora e por me abrir o olhar sobre a
poesia e a arte na cidade.

Aos professores do PPGEH, pelo compromisso verdadeiramente humano na


formação de professores, gratidão pela oportunidade de fazer parte desse programa.

À querida turma de Humanidades 2018, em especial às amigas Ariane, Rafaela,


Marcela e Lysia, com quem partilhei angústias e alegrias e ouvi excelentes conselhos
durante todo meu percurso.

Aos pesquisadores e professoras do GEPECH, pelas leituras e discussões que


incentivaram meu interesse pelo estudo da cidade e me ensinaram a buscar ir além
no processo de pesquisa

Às minhas amigas e parceiras de formação Alexsandra e Raquel, pela partilha dos


caminhos de pesquisa, solidariedade e confiança.

Aos professores cursistas da turma “Educação na cidade”, obrigada por darem sentido
à nossa proposta de ensino e partilharem significados e aprendizados essenciais para
a minha caminhada profissional

Aos professores da banca: professora Eneida Mendonça, que me inspira a


compreender os processos da cidade desde a época da graduação; professor
Leonardo Bis, que propôs leituras e discussões essenciais à minha formação
profissional durante os estudos do mestrado; professora Sandra Della Fonte, que me
inspira no estudo do materialismo histórico-dialético com sua forma amorosa de
compartilhar o conhecimento.
Ao professor Donizetti Sgarbi, que sempre se disponibilizou a nos escutar e ensinar,
buscando soluções e nos apoiando nos momentos que mais precisamos. Muito
obrigada.

Aos meus amigos e amigas da vida, impossível citar todos sem cometer injustiças.
Obrigada pelo apoio emocional incansável nos momentos de ansiedade e cansaço
nesses últimos anos. Vocês habitam meus melhores sentimentos.

Às mulheres da minha vida, matriarcas, amigas e irmãs que me salvam, protegem e


apoiam todos os dias.

À Carolina Piazzarollo, por sempre me lembrar de quem eu sou nesses mais de 20


anos de amizade.

Às escolas estaduais Fernando Duarte Rabelo e Aflordízio Carvalho da Silva, onde


vivenciei a maior parte dos meus momentos como professora nos últimos 10 anos e
onde reafirmei minha convicção no ensino público.

Aos meus alunos e alunas queridos, por reforçar em mim a convicção no caráter
dialógico do ensino e por me inspirar a enxergar o mundo com mais esperança,
diversidade e amor. Esperança que renovo em acreditar no nosso reencontro depois
desses tempos de pandemia.

Às psicólogas Carol Leão, essencial para que eu conseguisse retornar à vida


acadêmica; e Lívia Cardoso, que me deu todo suporte para concluir essa tarefa.
Obrigada pelo comprometimento e por toda ajuda durante meu processo terapêutico.

Às companheiras e companheiros de militância por um mundo sem opressão e sem


classes.
De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e
sete maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas.

Italo Calvino.
RESUMO

A pesquisa a seguir articula o conceito de percepção da cidade ao processo de ensino-


aprendizagem nas perspectivas do direito à cidade e da atividade de ensino como
unidade formadora. Seu objetivo é defender a percepção do espaço associada à
topofilia como um instrumento de ensino que contribui na formação de uma cidadania
crítica e emancipatória e de um reencontro com a cultura popular local, podendo sua
metodologia ser aplicada a outros espaços da cidade. A proposta foi testada e
validada em curso de formação continuada de professores de 80 horas de duração
desenvolvido por projeto de extensão do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre
Educação na Cidade e Humanidades (GEPECH) do Ifes, ofertado gratuitamente em
edital intitulado “Educação na cidade: percepção, contradições e sensibilidade na
cidade de Vitória”. Participaram professores do ensino básico de diversas áreas
interessados nas potencialidades pedagógicas da cidade e do entorno da escola para
além dos roteiros turísticos e monumentos históricos. O local escolhido para colocar
em prática a proposta pedagógica foi o tradicional mercado popular da Vila Rubim em
Vitória-ES, em busca de valorização do potencial educativo deste espaço que hoje se
encontra marginalizado e desvalorizado pelos agentes da cidade e pelas
representações sociais midiáticas. O produto educativo do curso é o caderno de
possibilidades pedagógicas “Vamos ao mercado? Percepção da cidade e o Mercado
Popular da Vila Rubim em Vitória, ES” no formato ebook que foi validado junto aos
professores cursistas.

Palavras-chave: Percepção da cidade. Topofilia. Direito à cidade. Representações


sociais. Formação de professores. Vila Rubim.
ABSTRACT

This research articulates the concept of the perception of the city to the teaching-
learning process from the perspective of having a right to the city, and the teaching
activity as a forming unit. The objective of this study is to defend the perception of
space associated with topophilia as a teaching tool that contributes to the formation of
a critical and emancipatory citizenship, and a reencounter with the local popular
culture, being adaptable in methodological terms and applicable to other spaces in the
city. The proposal was tested and validated in an 80-hour teacher education course
developed by an extension project of the City and Humanities Education Study and
Research Group (GEPECH) of the Federal Institute of Espírito Santo (Ifes), offered
free of charge in a public notice entitled “Education in the city: perception,
contradictions and sensitivity in the city of Vitória”. Elementary school teachers from all
areas attended the course interested in the pedagogical potential of the city and the
school surroundings besides the tourist routes and historical monuments. The chosen
site to put the pedagogical proposal into practice was the traditional popular market of
Vila Rubim in Vitória-ES, seeking enhancement of the educational potential of this
area, which is now marginalized and devalued by the agents of the city and the social
media representations. The educational product of the course is a pedagogical
notebook “Let’s go to the market? Perception of the city and the popular market of Vila
Rubim in Vitoria, ES” in e-book format that has been validated along with the teachers
who participated in the course.

Keywords: Perception of the city. Topophilia. Right to the city. Social representations.
Teacher training. Vila Rubim.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Planta da Cidade de Vitória em 1895........................................................ 42


Figura 2 - Estratégia de formação de professores do GEPECH ............................... 65
Figura 3 - Cartaz de divulgação do curso de formação ............................................. 71
Figura 4 - Divulgação institucional do IFES ............................................................... 72
Figura 5 - Sumário do protótipo do material educativo .............................................. 85
Figura 6 - Divulgação do Sarau de Humanidades ................................................... 105
LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 - Pixo é Arte .......................................................................................... 32


Fotografia 2 - Avenida Capixaba no início do séc. XX .............................................. 43
Fotografia 3 - Ponte Florentino Avidos ...................................................................... 44
Fotografia 4 - Avenida Duarte Lemos ........................................................................ 45
Fotografia 5 - Incêndio na Vila Rubim, 1994 ............................................................. 47
Fotografia 6 - Imagem de Iemanjá na Vila Rubim ..................................................... 48
Fotografia 7 - Murais Cidade Quintal na Vila Rubim ................................................ 49
Fotografia 8 - Diversidade de produtos em loja na Vila Rubim.................................. 50
Fotografia 9 - Desfile da escola de samba Unidos da Piedade de 2016 ................... 55
Fotografia 10 - Pesquisadoras em formação............................................................. 63
Fotografia 11 - Professora Eliana Kuster .................................................................. 79
Fotografia 12 - Monitoras do curso............................................................................ 80
Fotografia 13 - Apresentação musical ....................................................................... 80
Fotografia 14 - Apresentação Professor Donizetti ..................................................... 81
Fotografia 15 - Professora Dilza Coco ...................................................................... 81
Fotografia 16 - Professora Sandra Della Fonte ......................................................... 82
Fotografia 17 - Aula inaugural ................................................................................... 82
Fotografia 18 – Segundo episódio de formação ........................................................ 84
Fotografia 19 - Terceiro encontro .............................................................................. 86
Fotografia 20 - Episódio 4: apresentação cidade e literatura .................................... 87
Fotografia 21 - Início do percurso da viagem formativa 1 ......................................... 90
Fotografia 22 - Ponto B: Convento São Francisco .................................................... 91
Fotografia 23 – Ponto C: Viaduto Caramuru ............................................................. 91
Fotografia 24 – Avenida Francisco Araújo ................................................................ 92
Fotografia 25 - Obra Capuaba de João César de Melo............................................. 92
Fotografia 26 – Ponto D: Intervenções na Escadaria Carlos Messina ...................... 93
Fotografia 27 - Escadaria Carlos Messina ................................................................ 94
Fotografia 28 – Ponto A - Ocupação do Edifício Santa Cecília ................................. 96
Fotografia 29 - Ponto B: Santa Casa da Misericórdia ............................................... 96
Fotografia 30 – Ponto C: Vila Rubim ......................................................................... 97
Fotografia 31 - Exposição pesquisadora Raquel Passos ........................................ 100
Fotografia 32 - Avaliação dos materiais educativos ................................................ 101
Fotografia 33 - Iníco da segunda viagem formativa ................................................ 103
Fotografia 34 - Percepção da paisagem na Prainha de Santo Antônio ................... 104
Fotografia 35 - Profª Eliana Kuster abrindo o evento .............................................. 107
Fotografia 36 - Saudação do Fórum de Humanidades ............................................ 107
Fotografia 37 - Participação no Sarau de Humanidades ......................................... 108
Fotografia 38 - Sarau de Humanidades .................................................................. 108
Fotografia 39 - Ebenézer Martins e Claudio Vereza ................................................ 109
Fotografia 40 - Fim do curso ................................................................................... 111
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Análise temática de reportagens sobre a Vila Rubim .............................. 51


Gráfico 2 - Área de formação dos participantes do curso ......................................... 77
LISTA DE MAPAS

Mapa 1 - Trecho Cidade Alta..................................................................................... 89


Mapa 2 - Trecho Moscoso e Vila Rubim ................................................................... 95
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Reportagens analisadas.......................................................................... 52


Quadro 2 - Pesquisadoras envolvidas no curso ........................................................ 64
Quadro 3 - Estratégia avaliativa do curso de formação ............................................. 73
Quadro 4- Organização do curso .............................................................................. 74
Quadro 5 - Apresentações do Sarau de Humanidades ........................................... 106
Quadro 6 - Avaliação final dos professores cursistas sobre o curso ....................... 110
Quadro 7 - Avaliação final da equipe de execução ................................................. 112
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Carga horária do curso de extensão ....................................................... 71


Tabela 2 - Tabela 2 - Relação quantitativa dos professores cursistas ...................... 76
LISTA DE SIGLAS

CEFOR Centro de Referência em Formação e em Educação à Distância


Direx Diretoria de Extensão
FIC Formação Inicial Continuada
GEPECH Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação na Cidade
e Humanidades
GEPAPe Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Atividade Pedagógica
GFDE Gerência de Formação e Desenvolvimento da Educação
Ifes Instituto Federal do Espírito Santo
MNLM Movimento Nacional de Luta pela Moradia
MTST Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto
PPGEH Programa de Pós-Graduação em Ensino de Humanidades
PMV Prefeitura Municipal de Vitória
SEDU Secretaria Estadual de Educação
SEME Secretaria Municipal de Educação de Vitória
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO – SOU PROFESSORA, A FAVOR DA ESPERANÇA ........ 20


1.1 OBJETIVOS ................................................................................................. 23
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................ 25
2 REFLEXÕES SOBRE A CIDADE E O URBANO ........................................ 27
2.1 EDUCAÇÃO NA CIDADE E A PERCEPÇÃO COMO ELEMENTO
FORMADOR ................................................................................................. 29
2.2 O PAPEL DA MÍDIA NA CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO POPULAR ...... 35
3 A CIDADE PARA ALÉM DOS MONUMENTOS .......................................... 38
3.1 A CIDADE DE VITÓRIA NO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO ................... 39
3.2 HISTÓRIAS DA VILA RUBIM ....................................................................... 43
3.2.1 Cobertura Midiática sobre a Vila Rubim – Análise de Dados ................. 50
3.3 AS VOZES QUE RESISTEM E AS POSSIBILIDADES DO CAMPO CEGO 53
4 ATIVIDADE DE ENSINO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES ............... 59
4.1 A IMPORTÂNCIA DA COLETIVIDADE NA FORMAÇÃO – CONTRIBUIÇÕES
DO GEPECH NO ENSINO SOBRE A CIDADE ............................................ 61
4.1.1 Metodologia de Ensino .............................................................................. 64
4.1.2 Estrutura de Avaliação do Curso .............................................................. 66
4.2 PRODUÇÃO DO MATERIAL EDUCATIVO .................................................. 67
5 CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES – EDUCAÇÃO NA
CIDADE.... .................................................................................................... 69
5.1 PARCERIAS E VIABILIZAÇÃO DO CURSO DE FORMAÇÃO .................... 69
5.2 PROCESSO SELETIVO ............................................................................... 72
5.3 CRONOGRAMA DO CURSO E ORGANIZAÇÃO DOS ENCONTROS ........ 73
5.4 PERFIL DOS PARTICIPANTES DO CURSO E EVASÃO ............................ 75
5.5 EPISÓDIOS DO CURSO .............................................................................. 77
5.5.1 Episódio 1 – 20/08 – Aula inaugural .......................................................... 78
5.5.2 Episódio 2 – 28/08: "Vitória: história, imaginário e devires" .................. 83
5.5.3 Episódio 3 – 04/09: Percepção da cidade no ensino e o potencial
educativo da Vila Rubim ............................................................................ 84
5.5.4 Episódio 4 – 11/09: Espaço, lugar e a cidade na literatura ..................... 86
5.5.5 Episódio 5 – 14/09: Viagem formativa “Cidade Alta e o Mercado Popular
da Vila Rubim para além dos monumentos” ............................................ 87
5.5.6 Episódio 6 – 18/09: Direito à Música na cidade: fundamentos, música e
trabalho, contradições da cidade .............................................................. 99
5.5.7 Episódio 7 – 25/09: Reflexões sobre direito à cidade............................ 100
5.5.8 Episódio 8 – 28/09: Viagem formativa 2 .................................................. 102
5.5.9 Episódio 9 - 02/10: Sarau Cultural ........................................................... 104
5.5.10 Episódio 10 – 09/10: Despedida e avaliação do curso .......................... 109
5.6 AVALIAÇÃO DO COLETIVO ORGANIZADOR DO CURSO ...................... 112
5.7 MODIFICAÇÕES NO MATERIAL EDUCATIVO ......................................... 114
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 117
REFERÊNCIAS .......................................................................................... 120
APÊNDICES ............................................................................................... 127
APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
.................................................................................................................... 127
APÊNDICE B – TERMO DE CESSÃO DE IMAGENS E VOZ .................... 130
APÊNDICE C – EMENTA DO CURSO DE EXTENSÃO ............................ 131
APÊNDICE D - ATIVIDADES NÃO PRESENCIAIS DO CURSO ............... 134
APÊNDICE E – DIÁRIO DE PERCURSO VIAGEM FORMATIVA 1 ........... 135
APÊNDICE F – RELATÓRIO DE EXECUÇÃO .......................................... 137
20

1 INTRODUÇÃO – SOU PROFESSORA, A FAVOR DA ESPERANÇA

Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de


tudo. Sou professor contra o desengano que me consome e
imobiliza. Sou professor a favor da boniteza da minha própria
prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que
devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas
condições materiais necessárias sem as quais meu corpo,
descuidado, corre o risco de se amofinar e de já não ser o
testemunho que deve ser de lutador pertinaz, que cansa mas
não desiste.

Paulo Freire, 1996

Esse projeto nasce da motivação pessoal de uma professora que a partir do exercício
da sua profissão detectou a necessidade de um processo formativo que a
reaproximasse do significado do seu trabalho em sala de aula. Viver o espaço escolar
é mergulhar em uma rotina de trabalho intensa, tanto nas interações humanas quanto
nas demandas pedagógicas e sociais. Muitas vezes essa dinâmica nos envolve de tal
forma que temos poucas oportunidades para refletir e sintetizar as experiências que
desenvolvemos com nossos alunos cotidianamente.

Ao mesmo tempo, somos também demandados pela estrutura burocrática do ensino,


registro de notas e organização curricular em um contexto de constante
desvalorização profissional e ataque aos direitos dos trabalhadores. Esse conjunto de
fatores acaba muitas vezes nos afastando da construção de um processo de ensino-
aprendizagem coletivo e refletido, conduzindo a uma reprodução do que já existe ou
do que é visto como mais prático. Esse afastamento da atividade de ensino
consciente, que também podemos chamar de alienação, muitas vezes cria um cenário
incoerente, no qual podemos estar mergulhados na rotina escolar e ao mesmo tempo
afastados do significado do nosso trabalho como professores.

Diante dessas inquietações, me reaproximar do significado do trabalho como


professora é um exercício dialético, de retorno à teoria e reflexão sobre a prática,
nesse processo formativo continuado essencial ao ensino. Sabemos que existem
diversos fatores que determinam essa alienação, mas uma vez que nos
conscientizamos sobre ela, o que fazer? Acredito que a formação continuada de
professores além de contribuir para a construção de um cenário mais amplo de
21

criticidade e questionamentos, também é capaz de oferecer um respiro criativo e uma


oportunidade importante para a síntese de ideias e possibilidades que desafiem o
automatismo e a desmotivação causados pela alienação do trabalho.

Como professora de geografia na escola pública estadual há cerca de 10 anos,


enxerguei essa demanda no meu próprio exercício profissional. Essa inquietação com
o estado das coisas foi fortemente inspirada por diálogos em sala de aula e
experiências que tive o privilégio de construir com meus alunos e alunas ao longo
dessa caminhada. Nos debruçando sobre o estudo do espaço geográfico nas suas
multiplicidades, percebi um enorme potencial dialógico na abordagem de um tema que
sempre foi especial para mim enquanto pesquisadora: a cidade.

A escola pública é um correspondente direto das contradições, limitações e também


potencialidades do espaço urbano, pois se apresenta rica em potencial dialógico e
diversidade, sobretudo pelo público que a frequenta. Entretanto, a prática do ensino
muitas vezes ignora o que o aluno tem a dizer sobre sua percepção acerca do espaço
que habita, apresentando diversos entraves a ações emancipatórias que caminhem
em direção ao desenvolvimento de uma percepção crítica, objetiva e ativa do sujeito
em relação ao mundo.

Partindo da concepção de atividade de ensino como unidade formadora do aluno e do


professor e da compreensão acerca das condições objetivas para sua realização,
acreditamos na possibilidade de articulação dessa perspectiva com a pedagogia
freiriana, principalmente no que diz respeito à partilha de significados através de uma
maneira transformadora de ser e fazer no mundo, que só é possível em uma
concepção emancipadora da educação.

Sobre o conceito de emancipação através da educação, se faz importante considerá-


lo inserido no sentido de emancipação humana na sua visão totalizante, Em “A
questão judaica” (2010), Karl Marx deixa nítido que a verdadeira emancipação
humana só pode ocorrer em consonância com a emancipação política. Dessa forma:

A emancipação humana só estará plenamente realizada quando o homem


individual real tiver recuperado para si o cidadão abstrato e se tornado ente
genérico na qualidade de homem individual na sua vida empírica, no seu
22

trabalho individual, nas suas relações individuais, quando o homem tiver


reconhecido e organizado suas “forces propres” [forças próprias] como forças
sociais e, em consequência, não mais separar de si mesmo a força social na
forma da força política (2010, p.54).

Portanto, se indicamos a educação emancipatória enquanto horizonte, negamos uma


suposta neutralidade do processo educativo e afirmamos também o seu caráter
político que tem como fim a emancipação humana. Partindo da ideia de emancipação
enquanto fim, mas também como processo, a atividade de ensino tem um importante
papel de afirmar essa relação entre a emancipação humana e política. No espaço
urbano, isso se faz através da retomada da escala humana como referência na
redução da distância entre a cidade que herdamos e a que desejamos. Em oposição
à homogeneização desumanizadora do capitalismo, a percepção crítica; em oposição
ao individualismo segregacionista neoliberal, a identidade coletiva comunitária e
popular.

Um exemplo são as experiências de protagonismo cultural desenvolvido pelos jovens


na cidade, como as batalhas de rap, em resistência e à revelia do processo excludente
e invisibilizante que vivenciam. Por isso, se torna desafiador e fascinante formular e
desenvolver práticas e reflexões pedagógicas acerca da questão urbana em sala de
aula e em campo. De acordo com os professores Priscila Chisté e Donizetti Sgarbi:

Todo espaço da cidade é potencialmente educativo. O que torna espaços


efetivamente educativos, como bairros, ruas, casas, prédios, mercados,
praças, árvores, praias, recantos, bares, igrejas, campos de futebol etc., é o
olhar que se tem sobre eles. Quem se interessa pela educação tem um olhar
pedagógico diante das coisas, assim como um filósofo que se espanta diante
das coisas, ou um artista que capta a totalidade do real, enxergando aquilo
que está além das aparências. Assim, aquele que tem um olhar pedagógico
percebe logo o potencial educador de um espaço ou de uma situação. (2015,
p. 94)

Foi com esse pensamento sobre o potencial pedagógico da percepção da cidade e a


importância da formação de professores para além da minha própria, que ingressei
no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Humanidades (PPGEH) do Instituto
Federal do Espírito Santo (Ifes), na linha de pesquisa de formação de professores,
passando a me dedicar aos estudos da educação na cidade no Grupo de Estudos e
Pesquisas sobre Educação na Cidade e Humanidades (GEPECH).
23

Partindo dessa narrativa pessoal no singular misturada à coletividade plural de tantos


outros professores na busca por uma ação pedagógica transformadora, essa pesquisa
se desenvolveu dentro dos parâmetros que se seguem.

1.1 OBJETIVOS

Para melhor delimitar os objetivos da pesquisa, é importante destacar que o PPGEH


é um programa de mestrado da modalidade profissional. De acordo com a CAPES
(2001):

O Mestrado Profissional (MP) é uma modalidade de Pós-Graduação stricto


sensu voltada para a capacitação de profissionais, nas diversas áreas do
conhecimento, mediante o estudo de técnicas, processos, ou temáticas que
atendam a alguma demanda do mercado de trabalho (Resolução CNE/CES
nº 1/2001).

Dessa forma, o PPGEH nasce com a perspectiva de atender a necessidade de


formação continuada de professores das áreas de humanidades do ensino básico,
possuindo duas linhas de pesquisa: práticas educativas e formação de professores.
Esta pesquisa se enquadra na segunda proposta, de acordo com a definição do
próprio programa:

Trata do estudo e investigação sobre a formação inicial e continuada do


professor de Ensino de Humanidades, tendo como foco o trabalho didático-
pedagógico do professor que atua na Educação Básica com objetivo de
sistematizar e implementar cursos de formação de professores com vistas a
produção de material educativo (PPGEH, 2019)1.

Estando enquadrado dentro das definições acima, este trabalho é uma pesquisa
aplicada que desenvolve uma proposta de ensino na área de formação de professores
com um produto educativo como resultado deste processo.

Após estabelecer os parâmetros fundamentais desse trabalho, chegamos finalmente


à pergunta da pesquisa: como o olhar investigativo sobre o espaço urbano pode
contribuir na formação de uma cidadania crítica emancipatória e de um

1PPGEH – Programa de Pós-Graduação em Ensino de Humanidades. Linhas de Pesquisa. Vitória,


ES: PPGEH, 28 mai 2019. Disponível em: https://ppgeh.vitoria.ifes.edu.br/index.php/linhas-de-
pesquisa. Acesso em: 20 de Maio de 2020.
24

reconhecimento da cultura popular local a partir do ensino na escola pública?


Acreditamos que a percepção da cidade pode ser um elemento que aproxime o
professor dessa resposta, sendo adaptável em termos metodológicos a diversos
espaços da cidade.

O objetivo geral dessa pesquisa, portanto é propor o desenvolvimento da percepção


da cidade como instrumento de ensino, na medida em que contribui para uma leitura
de mundo humanizada, colaborativa e coletiva, a partir das diferentes visões de
mundo que existem dentro da comunidade escolar.

Para validação dessa proposta e demanda prática do próprio curso precisamos


determinar um espaço específico onde realizamos a parte prática da formação, com
aulas teóricas e de campo e vivências coletivas. O PPGEH está localizado no Ifes
campus Vitória, que é uma cidade múltipla em possibilidades de estudo e potencial
pedagógico, além de ser relevante historicamente para a compreensão da produção
do espaço no Espírito Santo. Por isso, decidimos buscar dentro da capital capixaba
um lócus de pesquisa que auxiliasse nos objetivos da proposta pedagógica.

Assim, a pesquisa foi desenvolvida a partir de um espaço com significativo potencial


educativo para a cidade de Vitória: o mercado popular da Vila Rubim. Em meio às
suas raízes históricas ligadas ao tradicional mercado de cabotagem nas proximidades
do porto, seu entorno se desenvolve na relação com as consequências do processo
de modernização da cidade de Vitória.

Essa realidade imprime na paisagem suas contradições e riquezas, tornando este


espaço de interesse especial para reflexão e validação da proposta pedagógica desta
pesquisa. Para além dos monumentos históricos e museus da cidade, o que a Vila
Rubim nos diz sobre Vitória?

No decorrer da pesquisa a Vila ultrapassou seu papel de lócus da pesquisa para


adquirir uma maior relevância na defesa da valorização desse espaço para o ensino
na cidade de Vitória. Sua existência se mistura à formação da identidade do povo
capixaba, seus hábitos culturais, culinária, religiosidade e formas de resistência. Ao
mesmo tempo, a especulação imobiliária e os interesses político-empresariais em
25

torno da expansão dos limites da cidade produzem um cenário contraditório, em que


abandono e violência convivem com a efervescência cultural ancestral de uma cidade.
Esse cenário é de especial interesse para o desenvolvimento da proposta de ensino
a partir da percepção da cidade.

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Os objetivos específicos que auxiliaram na delimitação deste tema e os processos


necessários para a realização do trabalho são:

 Incentivar práticas de ensino dentro da cidade de Vitória com os professores


inseridos em sua realidade local para a compreensão das constantes
transformações no espaço urbano e os diversos interesses que nele se cruzam.
 Planejar, acompanhar e executar uma proposta colaborativa de formação de
professores a partir da utilização da percepção da cidade como elemento
formador.
 Desenvolver um produto educativo no formato de um caderno pedagógico
paradidático para professores construído coletivamente com a síntese das
atividades realizadas.

Partindo dos objetivos da pesquisa, elaboramos o curso de formação continuada para


professores do ensino básico: “Educação na cidade: percepção, contradições e
sensibilidade na cidade de Vitória”. O curso oferecido pelo GEPECH percorreu um
caminho pedagógico que se iniciou na discussão sobre percepção da cidade,
imaginário e representações sociais, onde foi inserido o módulo correspondente aos
objetivos dessa pesquisa. Além desse módulo, foram também abordados temas
relacionados a outros olhares sobre a cidade, na literatura e na música. Dessa forma,
o curso trouxe uma proposta abrangente sobre como desvelar e expressar os espaços
da cidade nas mais diversas formas e áreas de conhecimento.

Considerando essa delimitação, achamos necessário expor a fundamentação teórica


sobre a qual a pesquisa foi desenvolvida em conjunto com seus procedimentos
metodológicos, já que defendemos sua possibilidade de adaptação neste sentido.
Assim, no próximo capítulo serão expostos os conceitos chave que guiaram a
26

pesquisa. Nesse sentido, abordaremos as teorias do sociólogo Henri Lefebvre (2009)


e a diferenciação entre cidade e urbano, além de apresentarmos a concepção
emancipatória de educação na cidade aliada à percepção topofílica do geógrafo Yi Fu
Tuan (2012) como instrumento de ensino. Também delimitamos os elementos de
percepção analisados nessa pesquisa, a partir das representações sociais e da
construção do imaginário popular em Castoriadis (1995) e nas análises de José Arbex
Junior (2001) sobre a representação midiática da realidade.

No capítulo seguinte intitulado “A cidade para além dos monumentos” destacaremos


o recorte espacial da pesquisa que fundamentou o material educativo, abordando os
aspectos históricos da cidade de Vitória e o processo de desenvolvimento da região
da Vila Rubim. Também daremos destaque ao imaginário popular sobre a região e o
mercado popular desenvolvido ao longo do tempo, com foco especial na cobertura
midiática como representação social e sua influência na produção do espaço da
cidade. Ao fim dessa análise faremos algumas reflexões com base nas manifestações
de pertencimento, afeto e memória coletiva sobre o espaço que aparecem em outras
representações sociais.

O capítulo seguinte explicita os procedimentos metodológicos da proposta de ensino


na linha de formação de professores que foi desenvolvida no curso de extensão,
baseada no conceito de atividade de ensino em Leontiev (1964) e nas experiências e
metodologias de formação de professores realizadas pelo GEPECH. Também é
detalhado o processo de elaboração dos módulos do curso, seleção do público alvo,
metodologias de análise e registro da formação inspiradas nas experiência do
professor Manoel Oriosvaldo de Moura (2002) e demais pesquisadores do Grupo de
Estudos e Pesquisas sobre a Atividade Pedagógica da USP (GEPAPe-FEUSP). Ao
fim destacamos a formulação do protótipo do material educativo que foi modificado e
validado pelos professores no decorrer do curso.

O último capítulo trará detalhes sobre o processo de execução do curso de formação,


como parcerias, cronograma, perfil dos participantes, relato dos encontros, avaliação
do curso e os resultados obtidos, como a discussão e reformulação do material
educativo validado coletivamente.
27

2 REFLEXÕES SOBRE A CIDADE E O URBANO

A cidade repete seus ciclos, ano após ano. Como reconhecê-


los? Como explicá-los? Essa é a tarefa que temos pela frente.
Desvendar a cidade com múltiplos olhares: o olhar afetuoso e o
olhar indiferente; o olhar do presente e o olhar do passado; o
olhar do professor e o olhar do aprendiz.

Eliana Kuster, 2003

Na cidade moderna que tem como marco histórico o processo de industrialização do


séc. XIX, surge uma nova realidade social que definimos como sociedade urbana. Em
torno dela, a lógica na produção do espaço passa a se desenvolver de forma diferente
da que existia anteriormente no campo. As cidades passam a ser centro de vida social
e política onde se acumulam não apenas as riquezas como também os
conhecimentos, as técnicas e as obras.

A cidade é também e sobretudo uma obra, e a análise das relações entre o homem e
as obras pelas quais realiza sua natureza através do trabalho, revela que essas obras
tendem a lhe escapar, implicando assim num empobrecimento da realização do
humano (LEFEBVRE, 2008, p.12). Em resumo, surge uma cidade moldada e
idealizada de acordo com os interesses econômicos que passa então a excluir e
segregar grupos, classes e o próprio indivíduo.

Investigando os eixos temáticos da disciplina de geografia nas orientações


curriculares para ensino médio do Ministério da Educação (MEC, 2006), a cidade pós
industrial frequentemente é vista como resultado do modo de produção capitalista
moderno e o urbano é tratado como a expressão espacial e social desse processo, ou
seja, tudo o que diz respeito à cidade:

Há uma tendência à homogeneização do espaço urbano que afeta também


as cidades médias, as quais também passam a sofrer com os “problemas
urbanos” semelhantes aos das grandes cidades (violência, poluição,
desigualdades sociais) (2006, p.57).

Acreditamos que ampliar o conceito de urbano seja necessário para apontar as


contradições advindas da apropriação capitalista na produção do espaço, mas
também para estabelecer um horizonte de mudança e reconexão com o sentido
original da urbanidade.
28

Lefebvre (2008), distingue cidade e urbano da seguinte forma:

cidade, realidade presente, imediata, dado prático-sensível, arquitetônico – e


por outro lado o ‘urbano’, realidade social composta de relações a serem
concebidas, construídas ou reconstruídas pelo pensamento (LEFEBVRE,
2008, p.54).

A alienação do espaço urbano ocorre quando o espaço – a cidade – deixa de


expressar o trabalho do ser humano enquanto sociedade e passa ser concebido,
moldado e ordenado de acordo com parâmetros de funcionalidade e organização que
atendem aos interesses de acumulação do capital. Dessa forma, surge o uso maciço
dos automóveis, o isolamento travestido de proteção dos condomínios fechados, a
ampliação das periferias e a dissolução da convivência em vizinhança e dos
encontros. O urbanismo apropriado e transformado em ideologia e estratégia de
classe baseado numa racionalidade fragmentadora intensifica as segregações
através da separação funcional das atividades e da sociedade no espaço. Segundo
Lefebvre

A vida urbana pressupõe encontros, confrontos das diferenças,


conhecimentos e reconhecimentos recíprocos (inclusive no confronto
ideológico e político) dos modos de viver, dos “padrões” que coexistem na
Cidade. No transcorrer do século XIX, a democracia de origem camponesa,
cuja ideologia animou os revolucionários, poderia ter se transformado em
democracia urbana. Como a democracia urbana ameaçava os privilégios da
nova classe dominante, esta impediu que a democracia crescesse. Como?
Expulsando do centro urbano e da própria cidade, o proletariado, destruindo
a “urbanidade” (2009, p.22-23).

Desse ponto de vista, o estudo da produção do espaço através da história ajuda na


compreensão do processo de formação e constituição do espaço urbano, não só como
palco privilegiado de uma nova fase da economia capitalista que nasce a partir do
processo de industrialização, mas como expressão das contradições sistemáticas,
sociais e estruturais de um mundo cada vez mais desigual. Segundo o professor
Milton Santos,

A cidade em si, como relação social e como materialidade, torna-se criadora


da pobreza, tanto pelo modelo socioeconômico, de que é suporte, como por
sua estrutura física, que faz dos habitantes das periferias (e dos cortiços)
pessoas ainda mais pobres. A pobreza não é apenas o fato do modelo
socioeconômico vigente, mas, também, do modelo espacial (2013, p.10).
29

Diante dessa problemática atual, Lefebvre entende que o urbano não se define
somente enquanto realidade acabada, mas como horizonte, como virtualidade
iluminadora (LEFEBVRE, 2008, p.26). Se a cidade se manifesta enquanto a aparência
de um fenômeno em curso, os elementos da vida urbana se constituem enquanto
objeto mas também como potência de uma outra prática urbana que produza sentidos
diferentes e seja capaz de construir o espaço sob outra lógica. Assim, o urbano seria
uma relação dialética entre o real, o possível e o impossível (utópico), que pode tanto
englobar um urbanismo positivista coercitivo quanto um projeto de transformação de
cotidianidade com base na iniciativa popular. Ao falar sobre a rua enquanto local de
encontro e apropriação popular em oposição ao local de passagem, Lefebvre afirma:

O espaço urbano da rua não é o lugar da palavra, o lugar da troca pelas


palavras e signos, assim como pelas coisas? Não é o lugar privilegiado no
qual se escreve a palavra? Onde ela pode tornar-se ‘selvagem’ e inscrever-
se nos muros, escapando das prescrições e instituições? (LEFEBVRE, 2008,
p. 28).

Sinalizando ainda mais o urbano no campo das possibilidades, continua:

As relações sociais continuam a se tornar mais complexas, a se multiplicar, a


se intensificar, através das contradições mais dolorosas. A forma do urbano,
sua razão suprema, a saber a simultaneidade e o encontro, não podem
desaparecer. (...) O uso (o valor de uso) dos lugares, dos monumentos, das
diferenças, escapa às exigências da troca, do valor de troca. (...) o urbano se
torna aquilo que sempre foi: lugar do desejo, desequilíbrio permanente, sede
da dissolução das normalidades e ações, momento do lúdico e do
imprevisível. (...) Desta situação nasce a contradição crítica: tendência para
a destruição da cidade, tendência para a intensificação do urbano e da
problemática urbana (LEFEBVRE, 2008, p. 84-85).

É a partir desse posicionamento crítico acerca do processo de apropriação capitalista


do espaço urbano e da constituição da cidade moderna que pretendemos desenvolver
o presente estudo, sem perder o horizonte, entretanto, das práticas que desafiem o
atual estado das coisas e afirmem as possibilidades de construção de um sentido
urbano renovado.

2.1 EDUCAÇÃO NA CIDADE E A PERCEPÇÃO COMO ELEMENTO FORMADOR

Diante do cenário de naturalização das desigualdades produzidas pelas relações


capitalistas, as contradições contidas na produção do espaço urbano nem sempre se
30

revelam diante dos nossos olhos. Por isso, é necessário um exercício crítico e
investigativo de desvelamento daquilo que se esconde. No ambiente escolar, essa
tarefa é coletiva. Mais do que um palco dos acontecimentos sociais, acreditamos que
a cidade pode revelar elementos importantes para o processo pedagógico:

(...) compreendemos que Educar na Cidade implica mais do que uma simples
maquiagem, embelezamento oriundo de ações instituídas por organizações,
as quais não visam contribuir para o conhecimento da realidade. Cabe pensar
e implementar, pela via de uma educação prioritariamente pública, formas de
promover o desvelamento dos espaços citadinos, muitas vezes configurados
para reproduzirem a sociedade desigual na qual vivemos (COCO; CHISTÉ;
DELLA FONTE, 2019, p. 61).

Assim, é papel do professor desenvolver em seus alunos o olhar crítico acerca das
cidades construídas através do interesse privado e não vivenciadas pela maioria da
população cujos interesses são subjugados pelo poder econômico e sua forte
influência na produção do espaço público. A inequidade no acesso aos serviços
públicos e a diversos espaços na cidade impede o indivíduo de se enxergar como
“alguém” em uma cidade que nega sua identidade coletiva como cidadão e a
expressão da sua singularidade como pessoa.

A retomada da escala humana como referência exige uma diminuição da distância


entre a cidade que herdamos e a que desejamos, trazendo para o centro a percepção
coletiva e afetiva em oposição à homogeneização desumanizadora da globalização
ou à individualidade segregacionista própria do neoliberalismo, atual estágio do
capitalismo.

Por isso, a tarefa de “navegar” criticamente no espaço urbano exige um trabalho


conjunto e curioso de investigação e desvelamento de respostas. É necessário ao
professor, que se encontra no papel de mediador, um olhar apurado sobre as
respostas que podem surgir no percurso e sobretudo como formular as perguntas à
cidade.

Em busca desse olhar apurado se torna necessário fundamentar o conceito de


Percepção, que de acordo com o geógrafo Yi Fu Tuan:
31

compreende tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos, como a


atividade proposital, um entender-se para o mundo, na qual certos fenômenos
são claramente registrados, enquanto outros retrocedem para a sombra ou
são bloqueados (TUAN, 2012, p. 18).

A percepção, segundo o autor, seria condicionada pela visão de mundo, que é a


experiência conceitualizada e parcialmente pessoal, em grande parte social.

Em muitos momentos no processo pedagógico, é possível detectar que o olhar da


população e especialmente dos jovens sobre a cidade é fortemente influenciado pelo
sensacionalismo dos programas televisivos “fiscalizadores da cidade” e por uma visão
superficial– mas não objetiva – acerca da realidade na qual estão inseridos. Pouco se
articula em torno das demandas cotidianas da vida desses jovens, dos seus desejos
e sobretudo das suas potencialidades como sujeitos.

Um exemplo são os “pixos” que se manifestam nos muros e fachadas das cidades em
todo o planeta. Se partirmos do senso comum construído pela classe dominante e
propagandeado no imaginário popular, pixo é um ato de vandalismo e desrespeito ao
direito da propriedade privada e patrimônios da cidade. Porém se, partindo de outra
perspectiva, investigarmos o fenômeno e a sua relação com o processo de
urbanização, encontraremos o pixo enquanto afirmação de existência de milhares de
jovens invisibilizados que gritam sua presença em códigos diversos nos muros das
cidades capitalistas. No artigo intitulado "Pixo Arte. A escrita da presença”, Leandro
Serpa (2019) destaca:

Mais ainda, o Pixo é uma marca nas páginas da cidade. É a ‘letra’ da


contestação, do combate à alienação. Ao assumir-se legitimamente entre
faróis e cartazes da cidade o Pixo impõe sua presença contestadora e ao
mesmo questiona os códigos da civilização, que dividem, segregam, excluem
e marginalizam parte da sociedade em detrimento de parcela menor da
mesma. Pixo é Arte, pela recriação de códigos e elaboração que parte da
escrita rúnica, mas também por ser uma ação politizada que confronta e
mostra as contradições da cidade (SERPA, 2019).
32

Fotografia 1 - Pixo é Arte

Muro da Igreja do Carmo, Centro de Vitória. Fonte: Arquivo pessoal de Raquel Passos, 15 jun 2019.

Dialogar na escola a partir dessa perspectiva que investiga as relações que produzem
o espaço é um exercício de captar o fenômeno no seu movimento e portanto na sua
potência. Dessa forma, os estudantes se tornam capazes de perceber a cidade pra
além da sua aparência e dos valores incutidos e construídos em nossa visão pela
lógica capitalista na produção do espaço.

Por isso, o uso da percepção enquanto instrumento de ensino tem enorme potencial
dialógico na medida em que contribui para uma leitura de mundo colaborativa e
coletiva, a partir das diferentes visões de mundo que existem dentro da cidade. Em
oposição à ideia relativizante da realidade, a percepção como instrumento na
atividade de ensino surge como um elemento humanizador e desmascarador daquilo
que os interesses dominantes procuram esconder ou naturalizar no espaço urbano.

Como desdobramento da percepção, é necessário também considerar o conceito de


atitude. De acordo com Tuan (2012), as experiências sensíveis nos motivam a assumir
posições diante do mundo, gerando posturas culturais que chamamos de atitude. Ou
seja, as atitudes que se iniciam como reação às experiências posteriormente são
conceitualizadas na vida do ser humano em uma visão de mundo que passa a mediar
a percepção que temos dos estímulos ao nosso redor.
33

Para compreender esse processo e promover uma visão de mundo humanizada e


crítica que reconstitua o urbano enquanto possibilidade, consideramos de suma
importância o conceito de Topofilia também trazido por Yi Fu Tuan em sua obra
homônima. Por isso, vamos à sua definição de acordo com o autor:

A palavra ‘topofilia’ é um neologismo, útil quando pode ser definida em


sentido amplo, incluindo todos os laços afetivos dos seres humanos com o
meio ambiente material. Estes diferem profundamente em intensidade,
sutileza e modo de expressão. A resposta ao meio ambiente pode ser
basicamente estética (...). A resposta pode ser tátil: o deleite ao sentir o ar,
água, terra. Mais permanentes e mais difíceis de expressar são sentimentos
que temos para com um lugar, por ser o lar, o lócus de reminiscências e o
meio de se ganhar a vida (2012, p.135).

A topofilia, em resumo, associa sentimento com lugar, sendo o elo entre a pessoa e o
lugar ou ambiente físico. Este sentimento tem relação com o pertencimento de uma
pessoa ou povo por um espaço que tenha relação com a sua história e identidade
individual e coletiva, como por exemplo o entorno da escola e os bairros em que
nossos alunos moram.

Em “A importância do ato de ler”, Paulo Freire diz que “o ato de ler implica sempre
percepção crítica, interpretação e "reescrita” do lido” (1989, p.14). Se a leitura do
mundo conhecido antecede à leitura da palavra, essa leitura pode ser compreendida
a partir da percepção do espaço em sua complexidade quando alunos e professores
partilham significados acerca do mundo que os cerca.

Entretanto, a leitura de mundo na perspectiva freiriana e a percepção crítica dos


lugares não ocorrem sem obstáculos. Como dito anteriormente, a percepção surge
pela resposta dos sentidos aos estímulos do mundo e se constitui de fatores pessoais
e em grande parte sociais, já que a maior parte da nossa vivência enquanto ser
humano é desenvolvida em sociedade. A escola é uma das instituições que socializam
o indivíduo e portanto contribui para coletivizar suas percepções acerca do mundo
onde ele está inserido. Existem outras diversas instâncias e representações sociais
que delimitam a percepção, como a Igreja, a família e a mídia/imprensa.

Essas instituições tem o poder de influenciar nas maneiras como um objeto é


percebido e de instrumentalizar essa percepção em forma de discurso que tem o
34

poder de julgar, por exemplo, se um lugar se apresenta relevante ou não para o ensino
(se tem potencial educativo ou se é um espaço marginalizado sem valor pedagógico).

Nessa pesquisa que investiga a percepção da cidade como instrumento de ensino, se


torna importante delimitar as instâncias que influenciam a percepção e formam um
imaginário social de um lugar. Considerando a elaboração de Foucault (2008) sobre
como se constrói um objeto vemos que:

As condições para que apareça um objeto de discurso, as condições


históricas para que dele se possa "dizer alguma coisa" e para que dele várias
pessoas possam dizer coisas diferentes, as condições para que ele se
inscreva em um domínio de parentesco com outros objetos, para que possa
estabelecer com eles relações de semelhança, de vizinhança, de
afastamento, de diferença, de transformação - essas condições, como se vê,
são numerosas e importantes. (FOUCAULT, 2008 [1969]. p.50)

Entendemos, portanto, que para a abordagem que nos interessa sobre esse tema, um
dos elementos a compor e influenciar esse feixe de relações é exatamente o discurso
da imprensa. Reconhecermos na imprensa uma dos maiores representações sociais
da atualidade, pois seu discurso atinge pessoas de diversas religiões, localidades,
núcleos familiares e tem grande poder de influência na percepção social. Além disso,
a forma como a cidade é apropriada e produzida pelo poder econômico capitalista
estabelece um sistema de influências que não se dá apenas no campo material,
arquitetônico e morfológico, mas também nas relações secundárias como a
estabelecida pelo poder do discurso midiático que articula esses interesses na
produção do espaço.

Apontar essas relações secundárias contribui na compreensão do jogo das


dependências reais que envolvem a formação da percepção e da própria cidade. Esta
pesquisa apresenta o discurso como prática discursiva que busca consistência em
sua proposta pedagógica, ancorada na defesa ideológica de um ensino libertador. A
mídia, em contraponto, defende uma suposta neutralidade no discurso, o que não é
possível, desde que todo discurso desenvolve e seleciona um complexo feixe de
relações para analisar os objetos de que falam. Assim, a cobertura midiática como
representação social dá origem à narrativas que reforçam a estrutura hegemônica e
influenciam fortemente na nossa visão do mundo. Nesse sentido, é importante trazer
35

alguns elementos conceituais que dão suporte a essa afirmação e auxiliam a


compreender as relações entre a percepção da cidade e as representações sociais.

2.2 O PAPEL DA MÍDIA NA CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO POPULAR

A forma como se constitui o conjunto de sentidos e imagens de cada sociedade diz


respeito à dimensão simbólica que produz efeitos materiais e objetivos na vida
humana. Esse conjunto de sentidos e imagens é representado como o imaginário
sobre o qual se constituem as representações sociais. Segundo Castoriadis,

Estendido da sociedade para os grupos, o imaginário grupal é a base para a


produção das representações sociais. É preciso entender que o imaginário
não é material, não pode ser contido, mas dele se podem obter evidências,
que são as produções simbólicas de um grupo. Assim, a arte e a literatura, o
cinema, a poesia, as possibilidades de entendimento do homem e da
natureza, seja através das religiões, da ciência, ou das cosmologias
propostas pela ficção cientifica, todas estas produções não são o imaginário,
mas sim índices de sua presença: toda produção simbólica de um grupo é a
materialização de seu imaginário (CASTORIADIS, 1995, p.31).

Dessa forma, as expressões não materiais, mas igualmente potentes dentro da


constituição social, constituem um sofisticado sistema de representações que
socialmente são capazes de influenciar o olhar de uma sociedade sobre si e gerar
consequências deste olhar no mundo político. O poder em torno da construção desse
imaginário é muitas vezes exercido pelas instituições de uma sociedade, como o
Estado e a Igreja, mas também pode expressar a história e a ancestralidade de um
povo que resiste à dominação política sobre suas relações.

É possível inferir, portanto, que a imprensa seja uma dessas instituições sociais que,
objetivadas a partir do discurso jornalístico sob a forma de narrativa dos fatos,
incorpora um papel de representação coletiva de uma sociedade e influencia na sua
percepção da realidade. Entretanto, essa representação coletiva pode apresentar na
sua origem contradições e interesses de quem percebe no controle da narrativa dos
fatos, a possibilidade de exercício de poder sobre uma sociedade. Segundo
questionamentos do jornalista José Arbex Junior (2001)
36

Como a televisão e a imprensa escrita criam metáforas que "explicam" o


mundo, transformando-as em convicções individuais? Até que ponto a mídia
tem o poder de sedimentar "a" realidade (isto é, como "fatos realmente
acontecem") na memória coletivas, as "suas" imagens dos eventos (isto é, as
imagens por ela selecionadas e editadas)? (ARBEX, 2001, p.37).

Alguns desses questionamentos permeiam a jornada profissional do jornalista e


geraram o livro “Showrnalismo – a notícia como espetáculo” (2001). Diante da
cobertura de fatos históricos mundialmente relevantes, como a queda do Muro de
Berlim, algumas preocupações passaram a se fazer presentes no seu trabalho, como
a mediação do fluxo de notícias em tempo real e como retratar fielmente os
acontecimentos sem reduzi-los a esquemas ou relatos meramente emocionais sem
fins jornalísticos. Ele ainda discute as implicações políticas desse poder de interferir
nos acontecimentos e determinar inclusive o que é ou não notícia.

Esses questionamentos se desdobram em outros mais complexos, como por exemplo


a impossibilidade da existência de um observador neutro dos fatos. Se não existe um
observador neutro e o jornalista desempenha um papel mediador entre os fatos e seu
relato para o público, a mídia tem o poder de sedimentar como realidade, na memória
coletiva, as imagens que fabrica dos eventos. Dessa forma, existe uma crise de
memória em que aquilo que é televisionado passa a ser mais valorizado que o vivido.

A percepção, portanto, precisa ser refletida e considerar os fatores sociais que


influenciam o olhar sobre o espaço geográfico e as representações sociais que
constroem o imaginário popular. É necessário que o professor tenha condições no
processo pedagógico de trabalhar de forma crítica com noticiários e coberturas
midiáticas sobre os espaços, considerando que nessas representações se encontram
interesses diversos na construção de uma narrativa específica sobre os fatos. Um
exemplo de discurso hegemônico que esconde interesses do capital na produção do
espaço são as inúmeras falas que repercutem na mídia sobre modernizar e
“revitalizar” espaços marginalizados da cidade.

Esse discurso é frequentemente utilizado no urbanismo estatal como uma forma de


adequar a cidade a um modelo que atende às necessidades de circulação e
acumulação do capital, mesmo que às custas de despir o espaço de toda sua
originalidade e ancestralidade.
37

Ao contrário de uma percepção “pura”, idealizada e sem mediações sociais, buscamos


então reconhecer criticamente os diferentes aspectos que mediam nossa visão de
mundo e imaginário sobre o espaço em que vivemos, em busca de construir
coletivamente atitudes e novas posturas culturais e pedagógicas. Para isso, vamos
nos aproximar do espaço em que esse exercício de investigação foi desenvolvido
durante a pesquisa.
38

3 A CIDADE PARA ALÉM DOS MONUMENTOS

Sim, lê-se a cidade porque ela se escreve, porque ela foi uma
escrita. Entretanto, não basta examinar esse texto sem recorrer
ao contexto.

Henry Lefebvre, 2008

O espaço urbano (sua história, contradições e potencialidades) tem sido o objeto de


muitas pesquisas acadêmicas nos últimos anos. A produção do espaço urbano
brasileiro, mais especificamente da cidade de Vitória, exige um esforço de buscar na
origem da constituição destes espaços os elementos formadores e articuladores de
uma nova forma de organização espacial e social. Se pretendemos reunir
instrumentos de percepção para enxergar a cidade na sua totalidade, investigar
através da história as contradições que se acumulam no espaço é essencial para
perceber o fenômeno no seu movimento atual.

De acordo com Marcelo Werner da Silva (2012) para ir ao encontro da interpretação


dos lugares (que é o que buscamos fazer a partir da percepção), é papel da geografia
considerar que as formas sociais são produtos históricos, resultado da ação humana
sobre a superfície terrestre, e que expressam a cada momento as relações sociais
que lhe deram origem. “Nesse sentido, a paisagem manifesta a historicidade do
desenvolvimento humano, associando objetos fixados ao solo e geneticamente
datados” (MORAES, 1988, p. 15).

A cidade como objeto de estudo se mostra como um amplo campo com muitas
possíveis abordagens, por ser uma construção espacial e temporal passível de análise
em momentos distintos a partir das metamorfoses influentes na sua configuração
arquitetônica, social, econômica e cultural (QUINTÃO, 2015, p. 16).

Considerando o tempo como propriedade fundamental que indica o movimento do


passado ao presente no espaço, limitando e dirigindo as transformações da
sociedade, o estudo do espaço desde uma perspectiva histórica cumpre um papel
importante na percepção não só das transformações da paisagem, mas também na
39

compreensão da estrutura socioeconômica que produz e transforma o espaço através


do tempo.

Quando afirmamos que todos os espaços da cidade tem potencial educativo,


ampliamos nossas possibilidades de trabalho pedagógico para além de uma visão
escolar estática e contemplativa da cidade que muitas vezes reconhece como
educativo somente os monumentos históricos, museus e espaços turísticos
institucionalizados pelo Estado. Conhecemos a beleza e monumentalidade atribuídas
a eles, assim como as histórias de monumentos erguidos em celebração à figuras
políticas, religiosas ou instituições que protagonizaram a produção do espaço da
cidade em determinado momento histórico. A história da cidade está em parte contida
nessas construções, mas onde mais ela pode estar?

E a história que se espalha pelos lugares da cidade, dos comerciantes, trabalhadores


que ocuparam os morros e locais isolados e fizeram surgir bairros populares? Os
locais antigos e atuais de encontros de jovens, desde as paqueras do início do século
XX na Praça Costa Pereira até os locais onde as batalhas de rap surgem e somem na
mesma intensidade. Temos também outras incontáveis histórias que constituem a
cidade, como a dos prédios vazios e reocupados pela mobilização popular de luta pela
moradia; e até dos cemitérios, onde nomes importantes e anônimos se misturam em
meio à memórias e histórias de quem já foi parte da cidade. É com essa cidade-
amálgama de grandes e pequenas histórias que se sucedem umas às outras e deixam
traços por onde caminharmos que queremos ensinar e aprender.

Diante dessa infinidade de possibilidades de espaços com potencial educativo,


abordamos neste trabalho os aspectos históricos da formação da cidade de Vitória e
mais especificamente na região da Vila Rubim, em busca de investigar os elementos
que se combinaram na produção de um mercado que também tem em si grandes e
pequenas histórias para nos contar.

3.1 A CIDADE DE VITÓRIA NO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO

O processo de formação da cidade moderna capitalista tem como marco principal a


Revolução Industrial, no séc. XVII. Sem negar que já houvesse algum nível de
40

desenvolvimento em diferentes momentos da história, a cidade como estudamos e


analisamos nos dias de hoje tem como marco o processo de industrialização, que se
dá de forma diferente entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Esse espaço
se forma em dois níveis: através do movimento migratório (êxodo rural) e da produção
do espaço mediada pela técnica na economia capitalista.

De acordo com Marx ([1859] 1999, p.16): “Inicia-se a lenta marcha para a abolição do
trabalho escravo, novas regras são estabelecidas para a circulação do capital,
transforma-se o conceito e procedimento de apropriação da terra”. No Brasil e nos
países em desenvolvimento e emergentes em especial, este processo expressa
nitidamente as contradições do modelo socioeconômico do modo de produção
capitalista, estando associado à desigualdade socioespacial e ao surgimento das
grandes periferias.

Nesse sentido, é preciso destacar alguns agentes importantes que contribuíram na


regulamentação e concepção do espaço urbano brasileiro de forma geral e em
especial o capixaba, já que esses elementos explicam em grande parte que a
apropriação do espaço público pelos interesses privados encontra raízes seculares
na nossa história.

No Brasil, a institucionalização da Lei de Terras de 1850 foi o marco inicial no processo


de urbanização brasileira. A abolição e a mudança na legislação afetam o
ordenamento espacial e o quadro socioeconômico, ambos associados ao próprio
desenvolvimento do modo de produção capitalista. A Lei de Terras (1850) considerou
a concepção da terra enquanto um bem material inviolável, adquirido com base no
poder do capital.

Entretanto, os prédios urbanos que pagavam o imposto conhecido como a Décima


Urbana2 – e portanto não desenvolviam atividades agrárias – ficaram de fora dessa
obrigação do registro, permitindo uma apropriação privada de terras públicas para fins
de ocupação sob regime de arrendamento. A décima urbana teve grande importância,

2 Imposto territorial urbano.


41

pois ela tornou-se sinônimo de área urbana, ou seja, o espaço urbano da cidade foi
delimitado e comercializado com base na área atingida pela décima urbana.

O século XX marca novas potencialidades entre as cidades e seus portos, pautadas


em empreendimentos urbanos que vão construindo o espaço da cidade industrial
mudando o perfil da economia nacional, que antes se apoiava na produção agrária-
exportadora. Nesse contexto, a cidade de Vitória passa a sofrer grandes alterações,
uma vez que a partir de 1908 se iniciam as obras de construção do porto e o
saneamento da cidade, integradas ao quadro de transformação urbana. A urgência
não estava apenas em urbanizar a cidade, e sim em urbanizar promovendo condições
para o desenvolvimento e expansão do porto cafeeiro que atendia às tendências da
economia agroexportadora brasileira.

Dessa forma, junto com a construção de obras públicas e edificações, se destacam o


comércio de lotes urbanos a primeira intervenção planejada no espaço da Capital,
batizada de Novo Arrabalde (Campos Junior, 1996) e desenvolvida a partir de um
contrato assinado com a concessionária Companhia Torrens, cujo poder se estendia
também para outros serviços na cidade.

O projeto consistia de um novo bairro que estendia a cidade à áreas antes


desabitadas, ordenando uma ocupação de espaço de forma racional e criando um
bairro destinado à elite urbana, com uma série de avanços em saneamento e
iluminação, além de lotes espaçosos e vias largas. Uma dessas obras foi o Plano de
Arruamento para a Vila Moscoso na região do centro conhecida como Lapa do
Mangal, Mangal do Campinho ou Campinho, área alagada que sofreu sucessivamente
vários aterros em nome da salubridade pública. Este contrato inseria-se, junto com a
reformulação da Cidade Alta e a do Largo da Conceição, num projeto que se propunha
a dar ares de modernização à capital capixaba dentro da ótica da nova ordem
republicana.

Se anteriormente as decisões quanto à modificação do espaço público eram


essencialmente centralizadas e executadas pelo governo estadual, a contratação da
concessionária foi um marco importante para estabelecer a nova centralidade do
capital privado na construção da cidade de Vitória.
42

Segundo Campos Junior (1996), por intermédio do político Cleto Nunes, o governo
assinou um contrato com a Companhia Torrens, concedendo-lhe uma série de
privilégios, desde a construção de serviços de água e esgoto até aterros e construção
e aluguel de casas na capital. Entre as vantagens contidas no contrato estão a
exclusividade na exploração de serviços básicos de saneamento, isenção de tributos,
e uma em especial chama atenção:

(...) O concessionário, ou empresa que organizar, também terá o domínio útil


por 20 anos dos terrenos do Estado existentes na ilha em que se acha a
capital. Salvo o sítio de Santo Antônio e bem assim os da Ilha do Príncipe..
(CAMPOS, 1996, p. 166).

Figura 1 - Planta da Cidade de Vitória em 1895

Fonte: CARLONI, 18953.

3 CARLONI, André. Planta Geral da Cidade de Vitória em 1895. 1895. 1 figura. Disponível em:
http://legado.vitoria.es.gov.br/baiadevitoria/imagens/iph1895.jpg. Acesso em: abr. 2019.
43

3.2 HISTÓRIAS DA VILA RUBIM

A partir momento, cresce o volume de iniciativas da empresa para garantir a obtenção


do maior número de áreas possível na Capital, inclusive os terrenos do Estado que
apresentavam proximidade com o porto e se localizavam em áreas por onde ainda
não havia se concretizado a expansão horizontal da cidade, como Ilha do Príncipe, o
Parque Moscoso e a Vila Rubim. Foi nesse contexto que surgiu o bairro da Vila Rubim
no início do século XX, sobretudo devido à posição geográfica vista como passagem
entre o continente e a Ilha, bem como a porta de acesso ao centro de Vitória. Na época
o bairro era conhecido como Cidade de Palha, pois no local predominavam a pobreza
e os casebres que abrigavam famílias de migrantes do interior do Espírito Santo e de
outros estados. De acordo com a Prefeitura de Vitória:

O desenvolvimento da Vila Rubim sempre esteve relacionado à sua situação


de passagem obrigatória para o continente e vice-versa e a expansão do
Centro de Vitória. Depois da década de 20, com os aterros dos mangues que
circundavam a Cidade Alta, a população da antiga Cidade Alta passou a
ocupar outras áreas para moradia. Para a região da Vila Rubim dirigiram-se
as famílias constituídas pelos portuários, dando origem à constituição do
bairro (2011, s/p).

Fotografia 2 - Avenida Capixaba no início do séc. XX

Avenida Capixaba, atual Jerônimo Monteiro, na altura da FAFI, onde se vê o antigo prédio da Mesbla.
Fonte: Acervo Digital Instituto Jones Santos Neves 4, s.d.

41 fotografia. Disponível em: http://www.ijsn.es.gov.br/bibliotecaonline/Record/12217/Similar. Acesso


em: abr 2019.
44

Havia um ponto de desembarque de mercadorias que chegavam à baía de Vitória


provenientes do interior do estado e eram comercializadas por pequenos mercadores.
Nessa época, entretanto, a área não se constituía enquanto um mercado nos moldes
clássicos, já que até o final do século XIX o principal mercado da cidade de Vitória
estava localizado na Avenida Capixaba, atual Avenida Jerônimo Monteiro no centro
da capital. O mercado foi demolido por não atender a demanda da cidade no início do
século XX e em 1926 no mesmo lugar foi edificado um novo imóvel: o Mercado da
Capixaba.

Em 1927, foi inaugurada a ponte Florentino Avidos, atual Ponte Seca. O Mercado da
Vila Rubim surgiu na década de 40, nessa época as mercadorias eram vendidas ao
ar livre. Recebeu o nome de Vila Rubim em homenagem ao coronel português
Francisco Alberto Rubim que foi governador da capitania do Espírito Santo entre 1812
a 1819.

Fotografia 3 - Ponte Florentino Avidos

Ponte Florentino Avidos, atual Ponte Seca. Fonte: Mercado Livre5, s.d.

Até 1955, as mercadorias eram vendidas "a céu aberto" e, posteriormente começou a
funcionar um mercado conhecido como Coréia. Os atuais galpões foram instalados
na administração de Setembrino Pelissari. No início da década de 70 foram realizados

5 Produto à venda no site Mercado Livre, reprodução da fotografia digital disponibilizada na página,
Disponível em: https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-941037064-vix-2712-postal-vitoria-e-s-vila-
rubim-_JM. Acesso em: abr 2019.
45

aterros na região da Vila Rubim que resultou com o fim do cais, porém propiciou a
valorização imobiliária da região.

Fotografia 4 - Avenida Duarte Lemos

Fonte: TATAGIBA6, 1929.

Na primeira metade do século XX a Vila era vista como o lugar mais animado de
Vitória, não apenas pelo comércio varejista, mas também pela cultura. Lá existiam
muitos clubes, bailes e outros eventos (PMV/SEDEC [s.d]). Para o padre Roberto
Camilato, Reitor da Basílica de Santo Antônio e que nasceu na Vila Rubim, “o bairro
foi sempre um centro irradiador de animação popular”. Lá estava a sede do Clube de
Regatas Álvares Cabral que, além do remo, tinha quadras de esportes extensas a
reunir a sociedade capixaba que se concentrava em finais de semana, fazendo da Vila
Rubim um espaço cultural. Um exemplo é o Estrela Futebol Clube. Ele mantinha a
Azul e Branco Escola de Samba Império da Vila (hoje Novo Império).

A partir de 1980, com o processo de expansão da malha urbana e crescente


descentralização habitacional de Vitória, a cidade é ocupada para além do Centro e

6 TATAGIBA, José. Avenida Duarte Lemos, em 1929. À esquerda, fachada do Mercado da Vila
Rubim, já demolido. 1929. 1 fotografia. Disponível em:
http://fotosantigasdevitoria.blogspot.com/2011/03/acervo-jose-tatagiba.html. Acesso em: abr. 2019.
46

seu entorno, gerando outras áreas comerciais e diversificando a oferta de produtos.


Segundo Matos:

(...) o comércio varejista do Centro de Vitória passava, então, a se ver diante


o desenvolvimento urbano de Vitória sempre obrigado a concorrer pela
conquista do mercado consumidor da cidade, sofrendo, inevitavelmente,
certa deterioração e perda de mercado, próprio do aumento da concorrência
e distanciamento da elite consumidora, agora não mais no Centro, mas
alocada em outras porções do território municipal (MATOS, 2011, p.59).

Embora a Vila Rubim tenha características próprias, tradição e importância na história


local, ela passa a sofrer uma perda no seu lugar de circulação prioritária de pessoas
pela cidade, além de redução da sua representatividade comercial. O poder público
também concentrava seu investimento na expansão de outras áreas da cidade e em
dado momento o Mercado começou a receber “significados negativos, relacionados
ao tempo, como antigo, obsoleto, decadente e abandonado” (Matos, 2011.p.74).

Foi nesse contexto de um espaço visto como tradicional mas ao mesmo tempo
marginalizado socialmente e degradado pelo tempo, que a Vila Rubim protagonizou
uma das maiores tragédias da história da cidade. Na manhã de 1º de julho de 1994 o
mercado sofreu um incêndio que durou 3h30min, considerado o maior da história do
Espírito Santo.

Vinte toneladas de fogos de artifício e barris de pólvora que estavam


estocados em três andares da Casa Sempre Rica explodiram, às 11h45m de
ontem, provocando um incêndio que durou 3h30m e destruiu 110 boxes do
mercado da Vila Rubim, 30 lojas e sete veículos estacionados no local ou que
passavam na avenida Duarte Lemos. Dezenas de pessoas sofreram
queimaduras e outros ferimentos (A GAZETA, 02 jul 1994).
47

Fotografia 5 - Incêndio na Vila Rubim, 1994

Fonte: GUEDES, 19947.

Seu funcionamento foi extremamente prejudicado durante alguns anos, obrigando


muitos comerciantes a ocuparem as calçadas do local com barracas para continuarem
a vender seus produtos. O Mercado ficou em estado de total abandono por quase seis
anos, dando lugar a mazelas sociais, como a violência, e recebendo uma significação
social negativa. (SILVA, 2004).

Com o incidente e posterior abandono, o Mercado da Vila Rubim foi então


municipalizado, após reivindicação da Prefeitura de Vitória, que promoveu um
processo de reestruturação do Mercado, visando sua organização e manutenção da
tradicionalidade.

7GUEDES, Chico. Incêndio no mercado da Vila Rubim. 1994. 1 fotografia. Disponível em:
http://www.morrodomoreno.com.br/imagens/noticias/thumbnails/800x600/incendionavilarubim_249.jpg
Acesso em: abr de 2019.
48

Fotografia 6 - Imagem de Iemanjá na Vila Rubim

Imagem de Iemanjá que sobreviveu ao incêndio e ainda hoje se encontra exposta em loja de artigos
religiosos. Fonte: LOYOLA8, 1994.

Em 2002 sua nova estrutura foi entregue aos antigos comerciantes. Foram
construídos quatro novos galpões para abrigar 52 lojas, em uma área de 3.400m2
(SILVA, 2004, p. 157). O comércio tradicional buscou então se se adaptar, recebendo
inclusive novas funções. Por ser local de representatividade histórica para a cidade,
passa a receber atribuição turística e cultural, significando uma atração para aqueles
que querem conhecer parte da história da cidade.

A última iniciativa no sentido de afirmar a identidade popular do Mercado veio do


Grupo Cidade Quintal, que tem o objetivo de produzir intervenções artísticas que
estimulem o uso dos espaços da cidade. Após trabalhos no Morro do Romão e no da
Floresta, o grupo se voltou ao Mercado da Vila Rubim. As pinturas dos murais no pátio
principal do Mercado se iniciaram em maio de 2018 e foram concluídas em Setembro
do mesmo ano.

8 LOYOLA, Gildo [Iemanjá e o incêndio da Vila Rubim]. 02 jul. 1994. 1 fotografia. Disponível em:
http://www.morrodomoreno.com.br/materias/o-incendio-no-mercado-da-vila-rubim.html. Acesso em:
abr. 2019.
49

Fotografia 7 - Murais Cidade Quintal na Vila Rubim

Inauguração dos murais na Vila Rubim. Fonte: Acervo pessoal da autora, 15 set 2018.

Embora o Centro Histórico tenha vivido nos últimos anos um processo de retomada e
ocupação cultural dos espaços públicos, é perceptível que a região da Vila Rubim não
recebe o mesmo tratamento. Em meio a projetos populares de revalorização cultural
e o movimento de comerciantes exigindo melhorias do poder público, o espaço
convive com a negligência do estado e aumento dos problemas de circulação da
cidade, segregação socioespacial e violência urbana.

Diante desse cenário contraditório, o Mercado Popular da Vila Rubim se mostra como
um lugar promissor para o desenvolvimento de uma proposta de ensino e valorização
deste espaço como potencialmente educativo, apoiado em diferentes olhares e
interesses que nele se cruzam desde a sua fundação até os dias de hoje.
50

Fotografia 8 - Diversidade de produtos em loja na Vila Rubim

Fonte: Acervo pessoal da autora, 15 set 2018.

A partir da ideia de desenvolver uma proposta de ensino que alie a percepção


enquanto instrumento de ensino e ao mesmo tempo defenda o potencial educativo da
Vila, encontramos a necessidade de aprofundar essa investigação com um retrato da
percepção atual da sociedade capixaba em relação ao mercado.

3.2.1 Cobertura Midiática sobre a Vila Rubim – Análise de Dados


Considerando o que já foi exposto sobre a importância do imaginário a respeito de um
objeto e o papel da mídia nessa constituição, entendemos que seria importante
discutir um dos aspectos que produzem o imaginário coletivo acerca dessa região da
cidade, optamos pela análise temática de reportagens a partir da representação
midiática sobre a Vila Rubim. Escolhemos essa abordagem por entender a influência
da representação jornalística sobre o imaginário popular e também porque uma das
ferramentas mais utilizadas por professores em sala de aula para discutir a realidade
urbana são as reportagens de jornais.

Assim, essa análise crítica se torna necessária para o diálogo com os professores
cursistas se pretendemos oferecer elementos de criticidade na construção da
percepção da cidade. Analisamos o principal veículo de comunicação do Estado, o
51

jornal A Gazeta, correspondente da Globo no Espírito Santo. Seu veículo no meio


digital é o G1-ES, onde é possível encontrar reportagens jornalísticas textuais e
audiovisuais sobre diversos temas. Chegamos a pesquisar também o veículo Folha
Vitória, correspondente da Record, mas as notícias se repetiam e a análise duplicada
falsearia o mapa temático.

O termo pesquisado foi “Vila Rubim” e foram analisadas 26 reportagens no período


dos últimos cinco anos, entre 2014 e 2019. O acesso ocorreu no dia 30/06/2019. A
partir dessa seleção, foi elaborado um gráfico temático das reportagens escolhidas.
As reportagens foram agrupadas de acordo com os principais temas que surgiram
durante a análise: criminalidade e violência, problemas de infraestrutura, acidentes de
trânsito, cultura e sociedade. Segue a divisão temática da predominância de cada
tema entre as reportagens analisadas:

Gráfico 1 - Análise temática de reportagens sobre a Vila Rubim

15%

Violência e
35% criminalidade
Problemas de
Infraestrutura
23% Acidentes de trânsito

Cultura e sociedade

27%

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Os títulos de cada reportagem e sua data de publicação se encontram no quadro a


seguir:
52

Quadro 1 - Reportagens analisadas

Criminalidade e violência (9 reportagens)

 Comerciantes e consumidores preocupados com violência na Vila Rubim (06/2019)


 Tiroteio deixa duas pessoas feridas na Vila Rubim em Vitória (06/2019)
 Casal é baleado em ataque de criminosos na Vila Rubim (06/2019)
 Usuário de drogas é morto a tiros na Vila Rubim, em Vitória (06/2019)
 Mercado popular na Vila Rubim sofre com usuários de drogas e violência no Centro de Vitória
(06/2019)
 Moradores e comerciantes pedem instalação de DPM na Vila Rubim, em Vitória (06/2018)
 Homem é preso depois de furtar carne em supermercado em Vitória (04/2017)
 Usuários de crack são flagrados no mercado da Vila Rubim em Vitória (08/2016)
 Homem morre esfaqueado por mulher na Vila Rubim em Vitória (11/2015)
Problemas de Infraestrutura (7 reportagens)

 Ruas continuam alagadas após chuva na Grande Vitória (05/2019)


 População reclama de precariedade no destacamento da PM na Vila Rubim, em Vitória (06/2017)
 Mercado da Vila Rubim, em Vitória, vai ser revitalizado, diz prefeitura (2017)
 Relembre o incêndio que destruiu parte do mercado da Vila Rubim (09/2016)
 Vila Rubim em Vitória vai ter 150 vagas de estacionamento rotativo (11/2015)
 Prefeitura vai demolir último prédio na Vila Rubim para dar início ao Portal do Príncipe (10/2015)
 Vinte anos após incêndio, comerciantes querem que Vila Rubim se torne destaque nos pontos
turísticos (07/2014)
Acidentes de trânsito (6 reportagens)
 Protestos afetam circulação de ônibus e atrapalham trânsito na Vila Rubim, em Vitória
(06/2019)
 Jovem embriagado é preso depois de capotar com carro em Vitória (01/2019)
 Acidente deixa trânsito lento na Vila Rubim, em Vitória (05/2019)
 Idoso perde controle de veículo e invade lanchonete na Vila Rubim, em Vitória (06/2018)
 Carro destrói canteiro central de avenida na Vila Rubim e foge (11/2017)
 Moradora de rua é atropelada por motociclista na Vila Rubim (08/2016)
Cultura e sociedade (4 reportagens)
 Moradores de rua e dependentes químicos recebem atendimento de saúde em Vitória
(04/2019)
 Projeto oferece aulas de ginástica artística para crianças e adolescentes em Vitória
(12/2018)
 Grupo promove resgate histórico cultural por meio de murais na Vila Rubim (07/2018)
 Piedade canta passado, presente e futuro da Vila Rubim (01/2016)
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

É inegável que o processo de produção do espaço no entorno da Vila Rubim e no


próprio mercado esteja intimamente relacionado com a lógica de apropriação
capitalista do espaço urbano à qual nos referimos anteriormente. Por isso, muitos dos
problemas apontados são conhecidos no processo de desenvolvimento urbano das
53

cidades nos dias atuais e não são de exclusividade dessa região. Não queremos aqui
questionar a veracidade das notícias retratadas pela imprensa, mas os interesses em
torno desse retrato da Vila Rubim que convenientemente oculta fatos positivos ou os
reduz ao mínimo possível, enquanto destaca outros que formam uma opinião negativa
sobre este espaço diante do imaginário popular.

A partir da análise temática das reportagens, é possível detectar que a imagem


produzida e valorizada pela mídia acerca do mercado popular da Vila Rubim e do seu
entorno reproduzem um imaginário que tem relação com o poder midiático de
sedimentar como realidade - na memória coletiva – a imagem da Vila Rubim como
espaço ligado à violência urbana, ao caos no trânsito e aos problemas não
solucionados de infraestrutura urbana.

As manchetes negativas sobre a região ganham mais destaque no noticiário à medida


que são divulgadas iniciativas urbanísticas governamentais como solução para o
problema, como o projeto Portal do Príncipe do governo do estado, que visa aumentar
o espaço de circulação naquela região da cidade com o argumento de “revitalizar” o
mercado. Ao conjugar a indiferença histórica estatal em relação às demandas
comunitárias no bairro com as novas iniciativas milagrosas de urbanismo
governamental é de se perguntar a quem serve a narrativa midiática sensacionalista
que acompanha esse processo.

Entretanto, é possível enxergar, em algumas das reportagens, vozes de resistência a


essa representação, que possuem por sua vez, outro imaginário sobre aquele espaço.
Um exemplo é o senhor Renato Freixo, que aparece por diversas vezes nas
reportagens ao longo dos anos como liderança comunitária, posicionando-se sobre a
segurança e exigindo melhorias para a região. Se a Vila Rubim é um espaço de
violência e caos urbano, que pertencimento é esse que desafia a poderosa influência
midiática sobre o imaginário popular?

3.3 AS VOZES QUE RESISTEM E AS POSSIBILIDADES DO CAMPO CEGO

Vivemos, segundo Lefebvre (2008), uma fase crítica em que os campos cegos existem
entre campos de força e conflito. São objetos e relações que os olhos não veem, que
54

“necessitam de um espelho”, mas que estão presentes na cotidianidade. É, porém,


nessa fase crítica que também residem as múltiplas possibilidades de ação e
produção de espaço-tempo urbano utópico e ao mesmo tempo real.

Para tentar enxergar esse campo cego presente na cotidianidade vamos “olhar
através do espelho” da Vila Rubim e buscar nas reportagens analisadas as relações
dos comerciantes e lideranças que aparecem denunciando as condições de vida e
trabalho e buscando melhorias para a região.

Em alguns trechos das reportagens encontramos vozes de personagens que tem um


vínculo topofílico com a Vila Rubim: lideranças comunitárias, comerciantes, ativistas
culturais que expressam, em diversos momentos, sentimentos de afeto,
pertencimento e identidade coletiva com aquele espaço, enxergando nele toda sua
riqueza cultural. Por isso achamos importante destacar algumas dessas vozes que
mesmo no contexto da adversidade resistem na luta pela valorização do mercado e
muitas vezes tem a sua história de vida com ele emaranhada.

Um exemplo é a comerciante Gilda Gomes9 que passou por dois incêndios no


mercado. Na segunda vez, em 2010, o fogo por pouco não queimou todas as
mercadorias da sua loja. "Eu tenho é que agradecer a Deus pela minha vida. Da outra
vez nós perdemos tudo, foi pior. Então, esta vez vou começar tudo de novo, em nome
de Jesus".

O diretor da Associação de Comerciantes da Vila Rubim, Renato Freixo 10 é outra vez


importante que apareceu em várias das reportagens analisadas. Sua atuação é
marcada pela cobrança de melhorias na estrutura e segurança da região. “Nós
passamos esse período de total abandono, no sentido de recuperação do que tinha
em torno do mercado em si”, disse ele. Apesar das melhorias de reestruturação, os
comerciantes afirmam que a Vila Rubim ainda precisa de ser cuidada. “Nós pedimos

9 G1 ES. Após 20 anos de incêndio, lojistas pedem melhorias na Vila Rubim, ES. G1, Vitória, 01 jul.
2014. Disponível em: http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2014/07/apos-20-anos-de-incendio-
lojistas-pedem-melhorias-na-vila-rubim-es.html. Acesso em: 30 Junho. 2019.
10 Idem.
55

a restauração da ponte seca, precisamos de ponto de chegada de ônibus de turismo,


para que a Vila Rubim receba as pessoas, como uma referência turística.”

Também é possível encontrar vozes ligadas à cultura e ao ativismo na cidade. Na


reportagem que noticia a inauguração dos murais do Coletivo Cidade Quintal Na Vila
Rubim, a designer Juliana Lisboa11, uma das fundadoras do grupo, explica a escolha
do local para a intervenção artística:

Nós procurávamos algum espaço que tivesse o potencial para trabalhar a


questão da identidade. Logo, chegamos na ideia da Vila Rubim, pois tem
espaços onde caberia uma intervenção-mural e pela questão histórica e
cultural.

Segundo ela, o conteúdo dos murais “aborda a importância histórica, a relação com a
água, a festividade, a religiosidade e a diversidade de produtos.” Também
encontramos vozes que celebram a Vila em toda sua história e riqueza cultural, como
a escola de samba Unidos da Piedade que em 2016 cantou a Vila Rubim com o enredo
“Vamos ao Mercado?”

Fotografia 9 - Desfile da escola de samba Unidos da Piedade de 2016

Fonte: CARVALHO12, 2016.

11 WAGMAKER, Iures. Grupo promove resgate histórico e cultural por meio de murais na Vila Rubim,
em Vitória. Folha Vitória, Vitória, 18 jul. 2018. Disponível em:
https://novo.folhavitoria.com.br/geral/noticia/07/2018/grupo-promove-resgate-historico-e-cultural-por-
meio-de-murais-na-vila-rubim--em-vitoria. Acesso em: 30 Junho. 2019.
12 CARVALHO, Mariana. Carro-alegórico da Piedade. 2016. 1 fotografia. Disponível em:

http://g1.globo.com/espirito-santo/carnaval/2016/noticia/2016/01/piedade-canta-passado-presente-e-
futuro-da-vila-rubim.html. Acesso: 30 Junho. 2019.
56

A letra do samba descreve a variedade de produtos encontrados no mercado, além


de momentos históricos importantes como o incêndio de 1994

Um mundo fascinante, singular


Aqui tem coisas de Deus duvidar
Do artesanato ao pescado
Um pouco de tudo e misturado
No vai e vem da freguesia, a comunidade embarcou
Num “Ritmo Forte” a bateria, fez a festa, incendiou
Mas entre o fogo Iemanjá emocionou

Trecho do Enredo de Samba da Unidos da Piedade13, 2016.

A escola ainda reflete sobre o futuro do Mercado em meio às mudanças nas formas
de comércio advindas dos avanços da tecnologia, mas afirmando sua confiança na
originalidade da essência da Vila.

Paga um, leva dois quem vai levar?


O futuro a Deus pertence, como será?
Comprar, vender pela rede virtual
Mais a sua essência será sempre original

Trecho do Enredo de Samba da Unidos da Piedade, 201614.

Essas vozes que parecem desconectadas em meio a narrativas sobre diversos temas
são exemplos de relação topofílica com o espaço que se apresentam como campos
cegos possíveis de resistência à lógica mercadológica na produção do espaço da
cidade, particularmente na região da Vila Rubim.

Por isso, acreditamos que a chave para contrapor a narrativa hegemônica está no
processo de interlocução com o outro, como dito por José Arbex Junior:

Apenas e somente no processo de interlocução com o outro, no exercício


cada vez mais difícil de saber identificar e escutar outras vozes, o crítico pode
resgatar a memória dos fatos para além de sua representação estereotipada

13 Enredo: "Vamos ao Mercado?" Compositores: Souza, Marquinho Gente Bamba, Lourival das Neves,
Gibson Muniz, Costa Pereira, Sérgio Índio e Lucianinho.
14 Idem.
57

e manipulada, encontrando as perguntas certas que deverão orientar o seu


trabalho de investigação e compreensão dos fatos. (...) Apenas a interlocução
pode criar um espaço de liberdade que permite, em tese, construir uma
perspectiva de narração da história diferente da história escrita pelas elites e
imposta por uma mídia monodiscursiva (2001, p. 270).

Outro aspecto importante está na identidade social e na memória coletiva apontada


por Carvalho:

Por fim, o reconhecimento do grupo como entidade autônoma é de suma


importância para a defesa dos discursos de grupos, de sua presença como
imagem e linguagem, e da autodeterminação do grupo, contra o preconceito
e a exclusão não apenas econômica, mas efetivamente social. Garantir aos
grupos – qualquer grupo, desde que defensor de uma hegemonia negativa —
espaços para postularem a posse de seu próprio discurso, apoiando-se,
inclusive, naquilo que o próprio grupo "pensa" de si próprio, é também função
do cientista social contra a manutenção da hegemonia de certos discursos na
nossa sociedade (2002, p. 32).

Essa memória coletiva e topofílica de quem desenvolve uma relação de pertencimento


com o espaço não é desprovida de criticidade, já que em muitos momentos as
comunidades populares se revoltam com as condições de vida e com a lógica
hegemônica na produção do espaço. Essa querência humana quando coletiva pode
se transformar em luta social e, assim, transformar a realidade comunitária, com
princípios de integração e na perspectiva da luta pelo reconhecimento, Axel Honneth,
define o que são lutas sociais:

uma luta só pode ser caracterizada de "social" na medida em que seus


objetivos se deixam generalizar para além do horizonte das intenções
individuais, chegando a um ponto em que eles podem se tornar a base de um
movimento coletivo (2003, p. 256).

Nesse horizonte, as lutas sociais podem propiciar elaborações de novos sentidos


desses grupos, coletivos, classes, numa possível nova leitura da realidade que
possibilite rupturas. Assim, a ação política é um caminho emancipatório. Porém, essa
ação infere um caráter coletivo. É uma condição para o reconhecimento do discurso
e da ação a presença de outros, inseridos na pluralidade das relações humanas.

É nesse estado de coisas, contra a apropriação e o domínio econômico sobre a vida


urbana, que Lefebvre (2009) reivindica o Direito à Cidade enquanto prática e teoria de
retomada do urbano:
58

(...) não à cidade arcaica, mas à vida urbana, à centralidade renovada, aos
locais de encontros e de trocas, aos ritmos de vida e empregos do tempo que
permitem o uso pleno e inteiro desses momentos e locais etc.). A
proclamação e a realização da vida urbana como reino do uso (da troca e do
encontro separados do valor de troca) exigem o domínio do econômico (do
valor de troca, do mercado e da mercadoria) e por conseguinte se inscrevem
nas perspectivas da revolução sob a hegemonia da classe operária (p.139).

O Direito à Cidade legitima a recusa de se deixar afastar da realidade urbana por uma
organização discriminatória, segregadora e se manifesta como forma superior dos
direitos, como o direito de liberdade e de enxergar um caminho e um horizonte
histórico e de não ser excluído da centralidade das decisões.

Abordar o imaginário social é enxergar os limites, contradições e possibilidades de


construção de um novo horizonte urbano em meio aos diversos interesses políticos
em ação no espaço que se articulam dialeticamente ao longo da história. O desafio
colocado é lutar contra a hegemonia econômica, política e narrativa construída pelo
projeto capitalista acerca do urbano e substituí-lo por uma hegemonia comunitária
baseada no desejo e na ação coletiva de uma cidade justa e democrática. Foi com
base nesse desejo e em busca desse horizonte que elaboramos a proposta
pedagógica de formação de professores que se encontra nos próximos capítulos.
59

4 ATIVIDADE DE ENSINO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Nenhuma formação docente verdadeira pode fazer-se alheada,


de um lado, do exercício da criticidade que implica promoção
da curiosidade ingênua à curiosidade epistemológica, e de
outro, sem o reconhecimento do valor das emoções, da
sensibilidade, da afetividade, da intuição

Paulo Freire, 1996

Afirmamos nos capítulos anteriores que o diálogo entre o urbano e o pedagógico


contribui para a transformação no nível de consciência acerca deste espaço onde se
materializam todos os aspectos da vida de quem nele vive. Cabe aqui aprofundar a
importância da função do professor, que através do seu papel diretivo no processo de
ensino media as percepções dos jovens. Dessa forma, avança no desvelamento do
objeto em sua totalidade através de procedimentos metodológicos que os auxiliem a
expressar sua pronúncia do mundo, desejos e percepções críticas acerca das
espacialidades que produz.

Portanto, o professor é o profissional que toma o conhecimento como um projeto


humano e busca os meios de fazer com que os seus educandos adquiram este
conhecimento por meio de situações de ensino onde sua área de conhecimento possa
estar. No entanto, os efeitos da atividade de ensino, pela sua natureza de trabalho
não-material (Saviani, 2008. p.13) muitas vezes são de difícil mensuração imediata.
Tal distância entre a finalidade da ação e o motivo da atividade pode alienar o
trabalhador em relação ao objeto do seu trabalho.

A perspectiva dialética de formação contínua do professor, para além da compreensão


e atualização dos conteúdos lecionados, se deve à necessidade de estabelecer uma
ação consciente que afaste o profissional da alienação e o aproxime constantemente
do significado de sua atividade.

As ações para a formação continuada do professor, que se conscientiza sobre o valor


de um conteúdo escolar, são distintas da ação a ser desenvolvida para convencer o
aluno da importância de sua aprendizagem. Essa afirmação precisa ser levada em
conta em todas as iniciativas de formação de professores, respeitando sua autonomia
profissional e seu acúmulo no planejamento e organização das atividades de ensino.
60

Quando falamos de atividade, estamos nos referindo ao conjunto de processos que


dão significado à ação humana em sociedade. As necessidades que surgem ao longo
da vida humana transformam-se em problemas a serem resolvidos para alcançar um
objetivo (Leontiev, 1983, p. 17). E é a partir de um conjunto de ações planejadas e
intencionais com base nos conhecimentos acumulados e nas condições objetivas que
o motivo será alcançado.

O conceito de atividade pode ser aplicado em diferentes áreas da ação humana em


sociedade, já que fundamenta o desenvolvimento humano, e no ensino este conceito
encontra eco especial. O conceito de atividade na educação nos oferece um horizonte
metodológico, pois sendo simultaneamente formadora do aluno e do professor,
permite o desenvolvimento de um trabalho coletivo estabelecido a partir de uma
problemática que estabeleça um plano de ação comum e intencional para obtenção
de um resultado que nesse caso é a formação de professores.

De acordo com Sacristán “(...) Os métodos de formação baseados na tomada de


decisões, realizações de projeto para a prática, resolução de problemas ou a análise
da prática, apoiam-se nesta perspectiva (da atividade como unidade formadora)”
(1991, p.83, apud MOURA, 2002, p.39). Ele ainda conclui que o professor é um "gestor
de problemas". Entendemos essa afirmação não no sentido da responsabilização do
professor por todas as questões sociais que envolvem o processo pedagógico, mas
pelo caráter reflexivo, organizador e solucionador necessário à condução da atividade
de ensino.

O professor Manoel Oriosvaldo de Moura (2002) traz importantes contribuições nesse


aspecto, que foram desenvolvidas a partir das investigações realizadas pelo Grupo de
Estudos e Pesquisa sobre Atividade Pedagógica (GEPAPe-USP), do qual ele é
fundador. De acordo com Moura (2002) se a atividade psíquica é o objeto da
Psicologia, a atividade pedagógica é o elemento básico da Pedagogia, e para ocorrer
precisa de dois movimentos intrínsecos: o de ensino e o de aprendizagem. Dessa
forma, a atividade de ensino enquanto mediadora, na dimensão teórica e prática, da
atividade do professor e do estudante desencadeia:
61

A formação do professor, que tem por objetivo ensinar o aluno e que,


entretanto, nas discussões coletivas, no movimento dos motivos de sua
atividade, das ações, operações e reflexões que realiza, aprende a ser
professor aproximando o sentido pessoal de suas ações da significação da
atividade pedagógica como concretizadora de um objetivo social (MOURA,
2002, p. 226).

Se a professora é autora do seu processo de trabalho e ao mesmo tempo está em um


processo de formação profissional, também precisa estar incluída no planejamento
das ações de formação. As metas das pesquisadoras que motivaram a criação do
curso e a metas dos professores cursistas precisam se encontrar para serem
viabilizadas no coletivo.

A atividade pedagógica só está completa uma vez que esses dois movimentos são
concretizados mutuamente através da troca de conhecimento para a ação conjunta.
É nessa concepção que o processo de formação permanente e continuada do
profissional da educação se torna necessário e é proposta nessa pesquisa. Por isso,
planejamos o curso como uma atividade de ensino, coletiva na sua intenção, objetivo
e execução. A pesquisa formulada nas bases explicitadas se enquadra na concepção
de pesquisa participante, que segundo Gabarrón:

Trata-se de um método de pesquisa científica, no qual a participação da


coletividade organizada - no processo de pesquisa - permite uma análise
objetiva e autêntica da realidade social em que o pesquisador é partícipe e
aprendiz comprometido com o processo (2006, p.113).

Nesse sentido, trabalhamos desde o início do curso para compreender as motivações


dos professores cursistas e criar situações de ensino que possibilitassem discussões
coletivas, críticas e modificações no decorrer da formação.

4.1 A IMPORTÂNCIA DA COLETIVIDADE NA FORMAÇÃO – CONTRIBUIÇÕES


DO GEPECH NO ENSINO SOBRE A CIDADE

O curso de extensão foi formulado a partir das discussões e experiências do Grupo


de Estudos e Pesquisas sobre Educação na Cidade de Humanidades (GEPECH15)
coordenado pelas professoras doutoras Priscila Chisté (Ifes), Dilza Coco (Ifes), Eliana

15Mais informações sobre o GEPECH e detalhes sobre projetos de pesquisa, cursos de extensão e
parcerias: https://gepech.wordpress.com/cursos/. Acesso em: 15 Maio. 2020.
62

Kuster (Ifes) e Sandra Della Fonte (UFES). O grupo tem entre seus objetivos planejar,
executar e avaliar formações de professores da educação básica, que contribuam
para estimular reflexões sobre os espaços da cidade.

Nossa principal referência para o desenvolvimento do projeto do curso de extensão


foi a formação de professores promovida pelo GEPECH em 2017, intitulada
“Educação na cidade: estudos sobre o processo de modernização de Vitória”. Esse
curso foi desenvolvido sob orientação das professoras do grupo de pesquisa pelos
pesquisadores Israel Frois, Patrícia Guimarães e Larissa Pinheiro 16 e teve carga
horária semipresencial de 60h de duração, dividida em módulos com eixos temáticos
complementares relacionados aos temas de pesquisa dos pesquisadores envolvidos.
Além dos encontros presenciais, o curso contemplou atividades na Plataforma Moodle
(Ambiente Virtual de Aprendizagem) e visitas mediadas a espaços da cidade de
Vitória.

Tendo esse modelo como referência, desenvolvemos o curso de extensão “Educação


na cidade: percepção, contradições e sensibilidade na cidade de Vitória”, com duração
de 80h em regime semipresencial. A elaboração do curso e sua divisão em módulos
foi determinada pela afinidade temática entre esta pesquisa e outras duas pesquisas
desenvolvidas por pesquisadoras do GEPECH: a pedagoga Alexsandra Loss Franzin
e a professora de música Maria Raquel Ardisson Passos. Motivadas pela afinidade
em relação ao estudo da cidade e em especial pelo viés do estudo da percepção que
passamos a chamar de “olhar sensível” sobre o espaço urbano, construímos nossa
abordagem a partir de três eixos complementares: percepção da cidade, cidade e
literatura, cidade e música.

16 Israel David de Oliveira Frois, mestre com a dissertação “O entorno da Vale S.A. na perspectiva do
direito à cidade: da miopia verde à catarse do pó preto”; produto educacional: “O entorno da Vale-SA
na perspectiva da cidade educativa”.
Larissa Franco De Mello Aquino Pinheiro, mestra com a dissertação: “O Parque Moscoso como espaço-
memória da cidade de Vitória: a educação na cidade em debate na formação continuada de
professores”. Produto Educacional: “O Parque Moscoso como espaço-memória da cidade de Vitória”.
Patrícia Guimarães Pinto, mestra com a dissertação: “Educação na Cidade: o processo de
modernização da cidade de Vitória em debate na formação de professores”. Produto Educacional:
“Educação e cidade: o processo de modernização da cidade de Vitória em debate”.
Todos os materiais estão disponíveis no endereço eletrônico:
https://gepech.wordpress.com/dissertacoes-e-materiais-educativos/.
63

O curso foi destinado para professores do ensino básico de todas as áreas


interessados em se capacitar em relação às potencialidades pedagógicas da cidade
e do entorno da escola para além dos roteiros turísticos e monumentos históricos. A
decisão de tornar o curso interdisciplinar veio da compreensão de que embora a
síntese curricular sobre o estudo da cidade se encontre frequentemente sob
responsabilidade das disciplinas de história e geografia, o fenômeno urbano é
multifacetado e encontra possibilidades de desenvolvimento nas mais diversas áreas
do ensino e nos diversos estágios da formação escolar.

Um exemplo é o próprio GEPECH, que reúne pesquisadores de diversas áreas de


formação que desenvolvem estudos e propostas de ensino na cidade.

Fotografia 10 - Pesquisadoras em formação

Momento de planejamento do curso, Prainha de Santo Antônio. Fonte: Acervo pessoal da autora, 29
jun. 2019.

O trabalho coletivo foi essencial para a viabilização do curso e coesão da proposta de


formação, já que as três pesquisadoras compartilham do princípio da atividade de
ensino enquanto construção coletiva e dialógica imprescindível no processo de
formação. A complementaridade dos objetos de pesquisa de cada uma foi um fator
importante, pois as três propostas estão na linha de pesquisa de formação de
professores e desenvolvem temáticas relacionadas à educação na cidade e seus
diferentes olhares possíveis sobre os espaços com potencial educativo em Vitória.
64

A seguir, um quadro expositivo com um resumo das demais pesquisas e


pesquisadoras que lecionaram o curso com resumos redigidos pelas respectivas
autoras:

Quadro 2 - Pesquisadoras envolvidas no curso

MONITORAS DO CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES


“Educação na cidade: percepção, contradições e sensibilidade na cidade de Vitória”

Pesquisadora Alexsandra Loss Franzin Maria Raquel Ardisson Passos


Orientadora Dra. Eliana Mara Pellerano Kuster Drª Sandra Soares Della Fonte
Título da MARCOVALDO E OS 12 PASSEIOS CIDADE, EDUCAÇÃO E MÚSICA:
Pesquisa EM VITÓRIA: CONSTRUINDO CONFLITOS E CONTRADIÇÕES
APRENDIZADOS À VÁRIAS MÃOS SOBRE A CIDADE DE VITÓRIA EM
SOBRE EDUCAÇÃO NA CIDADE. CANÇÕES CAPIXABAS
Resumo da “O objetivo dessa pesquisa é promover “Esta pesquisa indaga quais conflitos e
Pesquisa um (re)conhecimento da cidade de contradições sobre a cidade de Vitória-
Vitória com um olhar sensível por meio ES se materializam em canções
da obra Marcovaldo e os 12 passeios capixabas. A opção por vincular música,
em Vitória, no estímulo de percepções educação e cidade ocorreu
sobre a realidade social e cultural especialmente a partir da participação no
urbana buscando desenvolver Grupo de Estudos e Pesquisas sobre e
possibilidades de diálogos e reflexões Educação na Cidade e Humanidades
com os professores da educação que discute as relações da cidade com a
básica.” educação.
Tem-se por objetivo contribuir para uma
educação musical crítica na escola
pública, a partir da perspectiva do direito
à cidade, tendo em vista que os
resultados da pesquisa subsidiam a
elaboração de material educativo a ser
compartilhado e avaliado em formação
de professores da Educação Básica.
Para tanto, recorre às seguintes
discussões: trabalho e cultura; educação
e cidade e educação musical na
perspectiva histórico-cultural.”

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

4.1.1 Metodologia de Ensino


A estratégia de formação de professores desenvolvida pelo GEPECH foi a nossa
principal referência para planejar os momentos pedagógicos do curso e se encontra
resumida na imagem abaixo:
65

Figura 2 - Estratégia de formação de professores do GEPECH

Fonte: CÔCO; LEITE; DELLA FONTE, 2019, p.79.

Dessa forma, dividimos a carga horária do curso de modo a contemplar todos os


momentos previstos pelo modelo do GEPECH, com encontros presenciais e à
distância, discussões teóricas, viagens formativas, oficinas artísticas e a avaliação do
material educativo proposto por cada pesquisadora.

Além das aulas teóricas e discussões sobre a cidade, consideramos importante a


vivência prática da percepção como desdobramento da formação. Para os momentos
de visita aos espaços da cidade, utilizamos o conceito de Viagens Formativas
desenvolvido pelo GEPECH:

Quando afirmamos que as visitas mediadas se situam em um contexto maior


de uma “viagem formativa”, não indicamos apenas que fomentaremos um
caminhar na cidade, um passeio intencionalmente organizado em alguns
lugares citadinos. A viagem possui uma nuança metafórica de evocar a saída
do familiar, da vida citadina e ordinária, para visitar o extraordinário (CÔCO;
LEITE; DELLA FONTE, 2019, p. 72-73).

Dessa forma, preparamos duas viagens formativas para o curso. Os critérios para
estabelecer o caminho e a parada do grupo foram relacionados aos respectivos lócus
de pesquisa de cada pesquisadora. A viagem formativa relacionada à esta pesquisa
e relatada no próximo capítulo teve como proposta de análise do espaço a
reinterpretação dos espaços públicos a partir da observação e da percepção da
66

paisagem com o objetivo de identificar no espaço as marcas deixadas durante o


processo de formação da cidade. Nesse sentido, os estudos de Gordon Cullen (1983)
foram utilizados para embasar a observação do lugar enquanto método – o registro
da experiência. Cullen (1983) instrumentaliza a percepção, de modo a capacitar o
observador para que a transcrição da experiência vivenciada possa ser claramente
compreendida a partir de registros (quer seja de forma escrita, desenhada, fotografada
ou mapeada); podendo ser apreendida e reproduzida enquanto metodologia de
análise.

Dessa forma, consideramos que temos um duplo trabalho: identificar ferramentas de


análise e observação para contribuir na formação e aprimorar a percepção da cidade
dos professores cursistas considerando o seu papel no ensino. Capacitar o professor
é fornecer o instrumental para que como observador ele mude de qualidade para
compreender a experiência vivenciada a partir da percepção do espaço e seja capaz
de aproximar os estudantes do ensino básico de análises mais aprofundadas sobre a
cidade e seus processos de produção do espaço ao longo do tempo.

Em seguida, analisamos em conjunto com os professores o que os registros e


observações do espaço visitado nos dizem sobre a importância do estímulo ao
desenvolvimento da percepção da cidade no ensino. A culminância deste processo foi
o momento de sistematização coletiva da proposta pedagógica em forma de material
educativo que atendesse aos objetivos do projeto e às necessidades dos professores
em formação.

4.1.2 Estrutura de Avaliação do Curso


Para a conclusão e certificação do curso, foi necessário o cumprimento de, no mínimo,
75% de frequência/participação, da carga horária total (tanto da presencial como da
não presencial), conforme critérios de avaliação da aprendizagem, descritos a seguir:

1. Participação nos encontros: nesta etapa os professores foram avaliados por


meio de discussões e participação acerca do tema em debate narrativas (orais
e escritas) acerca do assunto proposto, bem como de sua participação nas
atividades propostas;
67

2. Viagens formativas: ocorreram duas visitas monitoradas em dois pontos da


cidade (objetos de nossas pesquisas), sendo a primeira um roteiro que
percorreu o Centro Histórico de Vitória e a Vila Rubim a outro na Prainha de
Santo Antônio, regiões de importância educativa para a cidade.

3. Atividades on-line: foram disponibilizados materiais (produtos educativos,


textos, atividades) para que os professores tivessem mais tempo para se
apropriarem do conteúdo e desenvolver seus trabalhos de conclusão de curso,
por meio de um monitoramento no ambiente virtual de aprendizagem (Moodle).

4. Trabalho final: Todo espaço da cidade tem potencial educativo? Duas


propostas:
a. Relato de experiência sobre como as reflexões, referências, estudos e
vivências do curso podem colaborar em estudos sobre Educação na
cidade a serem desenvolvidos na escola.
b. Proposta de intervenção pedagógica e prática das reflexões do curso no
entorno da escola ou demais espaços da Grande Vitória.

4.2 PRODUÇÃO DO MATERIAL EDUCATIVO

Para destacar a importância desse material na pesquisa, vale retomar sua origem nos
mestrados profissionais brasileiros, que foram instituídos em 1995 pela Portaria nº 47,
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes1), e pela
subsequente regulamentação expressa na Portaria nº 80/1998, do Ministério da
Educação.

Segundo as regulamentações legais citadas, os mestrados profissionais na Área de


Ensino necessitam gerar produtos educacionais para uso em escolas públicas do
país, além de dissertações e artigos derivados do relato descritivo e analítico dessas
experiências. Tais produtos ou processos precisam ser aplicados e validados em
condições reais de sala de aula ou de espaços não formais ou informais de ensino e
podem assumir as seguintes formas: mídias educacionais; protótipos educacionais e
materiais para atividades experimentais; propostas de ensino; material textual;
materiais interativos; atividades de extensão e desenvolvimento de aplicativos. O
68

trabalho final do curso deve incluir um relato fundamentado dessa experiência, do qual
o produto educacional desenvolvido é parte integrante.

Portanto, a partir desses parâmetros, decidimos pela elaboração de um caderno


pedagógico paradidático para formação continuada de professores em formato de
ebook com o título “VAMOS AO MERCADO? – percepção da cidade e o Mercado
Popular da Vila Rubim - Vitória/ES. Optamos por esse formato digital com o objetivo
de criar um material de fácil acesso que complemente o ensino e possa ser usado em
conjunto com materiais próprios e formais para abordar a cidade e suas
especificidades.

O processo de formulação do protótipo se deu a partir da iniciativa da própria


pesquisadora e sua orientadora com o objetivo de apresentar aos professores uma
proposta inicial que pudesse ser modificada ao longo do processo formativo. A
disciplina “Material educativo” ministrada pelas professoras Priscila Chisté e Dilza
Coco no segundo semestre de 2018 foi também essencial para pensar nas
possibilidades de formato e validação da proposta. O material anexado a esse texto
(ANEXO 1) incorporou as modificações sugeridas e debatidas pelos professores
cursistas no decorrer do término do curso. O conteúdo desenvolvido nesse protótipo
foi um resumo didático da abordagem que se encontra nos próximos capítulos dessa
dissertação.
69

5 CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES – EDUCAÇÃO NA CIDADE

“Vou sair por ai pra encontrar a esperança


que resiste ao breu desta noite tropicana,
pois bem alta brilha a estrela-utopia
a guiar-nos sempre por caminhos mais seguros
onde o ser humano, então possa ser feliz!”

Luzir, de Claudio Vereza e Ebenézer Martins17

Como afirmado no capítulo anterior, o processo do curso desde a sua elaboração até
a sua conclusão foi desenvolvido coletivamente por diversos personagens: o
GEPECH, pesquisadoras em formação, professoras orientadoras, professores
cursistas e colaboradores externos. Embora os dados específicos relacionados à esta
pesquisa e a elaboração do material educativo correspondente tenham recebido mais
destaque em um dos módulos do curso, é impossível nos desvincular totalmente dos
outros momentos que construíram o caminho formativo e dos outros atores e atrizes
que participaram ativamente desse movimento.

Muitos dos dados e imagens contidos neste relato são de autoria do coletivo de
formação, composto pela coordenação do curso, professoras orientadoras e
monitoras, assim, ao encontrarem arquivos referenciados como “Coletivo de
formação”, trata-se do acervo composto pelos arquivos compartilhados,
principalmente, no grupo de whatsapp. Os que não forem de autoria do coletivo de
formação estarão devidamente identificados.

5.1 PARCERIAS E VIABILIZAÇÃO DO CURSO DE FORMAÇÃO

Inicialmente falaremos sobre as condições e parcerias institucionais para a efetivação


do curso. Sua viabilização se deu por meio de projeto de extensão junto à Diretoria de
Extensão (Direx) do Ifes campus Vitória a partir de edital de curso de extensão na
modalidade Formação Inicial Continuada (FIC) para atualização profissional e lançado

17 Música: Ebenézer Martins. Letra: Cláudio Vereza. Voz: Raquel Passos. Produção musical: Ebenézer
Martins e Dedy Coutinho. Álbum: "Cantos do meu canto" 2006. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=2p50yfohVJo. Acesso em: 01 Julho. 2020.
70

e publicizado digitalmente em link18 próprio. O curso foi coordenado pela professora


Eliana Mara Pellerano Kuster, que acompanhou todo o decorrer da formação, sempre
orientando e colocando-se à disposição para colaboração em resolução de
dificuldades.

Como ação de extensão da instituição, se fez necessária a oficialização de parceria


com a comunidade externa. Considerando a proposta de formação de professores em
destacar espaços com potencial educativo na cidade de Vitória, apresentamos o
projeto de curso à Gerência de Formação e Desenvolvimento da Educação da
Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura Municipal de Vitória (GFDE-SEME-
PMV). A proposta foi bem acolhida, porém a contraparte da SEME se limitou ao
acompanhamento e divulgação do curso para os professores da rede, sem liberação
dos profissionais em horário de expediente para a participação no curso nem
disponibilização de espaço físico da PMV.

Para a organização do curso era ideal que os professores pudessem participar dos
encontros em horário de expediente, já que o processo de formação continuada é
também parte do trabalho do professor e muitos cursos oferecidos fora do horário de
expediente acabam por contribuir na sobrecarga de trabalho tão discutida entre os
educadores. Porém, nossa experiência com essa tentativa foi frustrada, já que a
formação é muitas vezes vista como um processo separado do trabalho pedagógico
e essa noção é hoje predominante nas instituições de ensino. Decidimos por manter
a parceria, mas pensamos em ampliar o público a partir de uma proposta que
valorizasse a participação dos professores e pudesse auxiliar na sua progressão
profissional, com certificação pelo Ifes e carga horária de 80h.

O curso ocorreu em regime semipresencial, com encontros noturnos semanais e duas


viagens formativas em sábados pela manhã, além de atividades no moodle do Ifes e
por e-mail. Também ampliamos o público-alvo para professores licenciados de toda a
Grande Vitória. Uma demanda importante que nos exigiu ajustes no edital foi a
solicitação dos candidatos pela abertura das vagas para professores de escolas

18 IFES CAMPUS VITÓRIA. Direx - Edital 05/2019. Vitória, ES: IFES, 21 ago. 2019. Disponível em:
https://vitoria.ifes.edu.br/editais-do-campus/17034-direx-edital-05-2019. Acesso em: 02 Maio.
2020.
71

particulares. Acatamos essa demanda pois entre as solicitações havia professores de


escolas do entorno do Ifes e entendemos que embora o ensino público seja o nosso
foco, o processo de formação de professores estava sendo oferecido oficialmente pelo
Ifes que atende um público amplo e diverso.

Tabela 1 – Carga horária do curso de extensão

Atividade Quantidade Carga horária


Encontros presenciais 8 encontros 32h
Visitas monitoradas 2 aulas 8h
Atividades on-line __ 40h
Carga horária total: 80h

Fonte: Coletivo de formação, 2019.

Assim, foram disponibilizadas 30 vagas para professores graduados de todas as áreas


de ensino da rede pública e privada da Grande Vitória-ES. Os participantes foram
informados no ato da inscrição que os dados gerados no curso subsidiariam pesquisas
de mestrado, tomando ciência de seu envolvimento a partir da assinatura dos
seguintes documentos: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE
(Apêndice A), na condição de voluntário. Além do Termo de Autorização para
Utilização de Imagem e Som de Voz (Apêndice B) para fins de pesquisa.

Figura 3 - Cartaz de divulgação do curso de formação

Fonte: Coletivo de formação, 2019.


72

Figura 4 - Divulgação institucional do IFES

Divulgação do curso na página oficial do Ifes Campus Vitória no Facebook. Fonte: Assessoria de
Comunicação Social Ifes, 201919.

5.2 PROCESSO SELETIVO

Ao fim do período de inscrições que ocorreram entre os dias 05 e 12 de Agosto (com


prorrogação de uma semana pelas modificações do edital) foi contabilizado o
surpreendente número de 162 professores inscritos, ultrapassando o número de
vagas disponíveis. Portanto, como previsto em edital, contamos com a ajuda do
Centro de Referência em Formação e em Educação a Distância do Ifes (CEFOR) para
efetuar o sorteio aleatório de vagas20 online em software próprio e o vídeo com o
resultado do sorteio foi transmitido ao vivo e publicado na página da instituição.

19 Ifes - Campus Vitória. O Ifes - Campus Vitória promove o curso “Educação na cidade:
percepção, contradições e sensibilidade na cidade de Vitória” [...]. Vitória, 06 ago. 2019. Facebook:
Ifes – Campus Vitória @ifesvitoria. Disponível em:
https://www.facebook.com/ifesvitoria/posts/932674353756647. Acesso em: jul. 2019.
20 O vídeo do sorteio com a classificação final dos candidatos inscritos está no endereço eletrônico:

https://vimeo.com/354056567. Acesso em: 22 Março. 2020. Todo o processo está publicado e divulgado
no edital referenciado na nota anterior. Esse método de seleção foi orientado pela Diretoria de Extensão
73

Dessa forma, sorteamos 30 participantes e 10 suplentes. Os últimos também


receberam convite para a aula inaugural, já que a presença no primeiro encontro era
obrigatória de acordo com o edital e os suplentes poderiam assumir as vagas que
surgissem na eventual ausência dos participantes sorteados.

5.3 CRONOGRAMA DO CURSO E ORGANIZAÇÃO DOS ENCONTROS

Os encontros presenciais em sala de aula foram ministrados no período noturno, com


duração de 4h – entre às 18h e 22h, durante a semana (quartas-feiras), em escala
semanal. Programamos as duas visitas formativas em sábados pela manhã, de 8h às
12h. Além disso, o curso contou, também, com atividades não-presenciais
desenvolvidas em ambiente virtual - Moodle/IFES (textos de apoio, produtos
educativos, entre outros), onde foi postado o relato de experiência ou proposta de
intervenção pedagógica que foram considerados como avaliação final do curso.

O curso foi realizado no CEFOR, através da gentileza de apoio e presença do


professor Antonio Donizetti Sgarbi, que realizou o trâmites para abertura de sala virtual
e estudos e também no agendamento da sala para aulas presenciais, bem como
agenda de recursos e equipamentos didáticos, como Data Show.

Quadro 3 - Estratégia avaliativa do curso de formação

Atividade Data Pontuação


Leituras/Discussões Semanalmente 10 pontos
Questões-síntese e atividades online Semanalmente 40 pontos
Produção Sarau Cultural 02/10 10 pontos
Trabalho final: proposta de intervenção 10/11 (prazo 40 pontos
ou relato de experiência relacionada envio)
aos temas do curso.

Fonte: Coletivo de formação, 2019.

(Direx) do Ifes para democratizar o processo de oferta de vagas, já que o critério de seleção por ordem
de inscrição muitas vezes prejudica os candidatos que não conseguem acesso imediato ao formulário
de inscrição no momento de sua publicação.
74

Quadro 4- Organização do curso

Data Episódio Mediação Conteúdo


20/08/2019 Episódio 1: Aula Professores do Apresentação do curso
Inaugural PPGEH: Eliana Kuster, e palestra: “Educação
Donizetti Sgarbi, Dilza na cidade e
Coco e Sandra Della sensibilidade na
Fonte formação de
professores”
- Apresentação dos
participantes e
avaliação da aula
inaugural.
28/08/2019 Episódio 2: “Vitória: Pesquisadoras: - Detalhamento do
história, imaginário e Samira, Alexsandra e cronograma,
devires”. Raquel assinatura dos termos
Coordenadora do de compromisso e
curso: Eliana Kuster apresentação da
ementa.
- Exposição professora
Eliana. Formação e
crescimento da cidade
de Vitória, imaginário
coletivo e a cidade nas
diversas
representações
sociais.
04/09/2019 Episódio 3: Percepção Pesquisadora: Samira - Exposição conceitual,
da cidade no ensino e Sanches histórica e geográfica
o potencial educativo com protótipo do
do Mercado Popular da material educativo.
Vila Rubim - Discussão sobre o
potencial educativo
dos espaços da cidade
- Abordagem midiática
na sala de aula
11/09/2019 Episódio 4: Espaço, Pesquisadora: - Exposição sobre
lugar e a cidade na Alexsandra Loss literatura no ensino
Literatura – Autora: Eliana Kuster sobre a cidade
Marcovaldo e os 12 - Apresentação da obra
passeios de Vitória com discussões e
participação da autora.
- Como olhar
curiosamente para a
cidade?
14/09/2019 Episódio 5: Viagem Samira e Alexsandra Roteiro pré-definido
formativa 1 – Cidade Convidado: Lucas com o objetivo de
Alta e Mercado Martins – Movimento percorrer espaços
Popular da Vila Rubim Brigadas Populares discutidos em sala de
aula e exercitar a
percepção da cidade a
partir das marcas
deixadas no espaço
percorrido.
(continua)
75

(continuação)
Data Episódio Mediação Conteúdo
18/09/2019 Episódio 6: Direito à Pesquisadora: Raquel Exposição conceitual e
Música na cidade Passos discussão:
fundamentos, música e
trabalho, contradições
da cidade
25/09/2019 Episódio 7: Reflexões Pesquisadoras: Avaliação dos
sobre direito à cidade – Samira, Raquel e protótipos dos
estudo em grupos Alexsandra materiais educativos
das pesquisas
28/09/2019 Episódio 8: Viagem Pesquisadora: Raquel Roteiro pré-definido
formativa II: Prainha de Passos com o objetivo de
Santo Antônio Convidadas: discutir a cidade de
Presidenta do Vitória e sua relação
Movimento com o mar e a
Comunitário de Santo importância da música
Antônio Simone e na cidade.
artista Yvana (galeria
EMPAREDE)

02/10/2019 Episódio 9: Sarau Todos. Apresentação de


cultural – que cidade é Parceria com Fórum de poemas, músicas,
essa? A cidade que Humanidades do Ifes contação de histórias e
temos e a cidade que produção artística dos
Convidados externos:
queremos. participantes do curso.
Claudio Vereza,
Ebenezer Martins,
Joana Penha de Souza
e Nalvinha de Souza.
09/10/2019 Episódio 10: Avaliação Todos Discussão dos
do curso trabalhos finais e
avaliação dos
momentos do curso.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

5.4 PERFIL DOS PARTICIPANTES DO CURSO E EVASÃO

O curso se iniciou com um número reduzido de participantes em relação aos 30


originalmente selecionados e seguiu com uma frequência de 15 participantes por
encontro mesmo após a chamada dos suplentes. Alguns motivos de desistência
relatados tiveram relação com a sobrecarga de trabalho no ambiente escolar e
demandas pessoais que impossibilitaram a presença dos participantes no período
noturno em que os encontros se realizaram.
76

Conseguimos evitar a desistência de alguns participantes prolongando prazos de


entrega e envio das atividades programadas. Conversando com colegas da turma do
mestrado que também promoveram cursos de formação, descobrimos que a evasão
é uma ocorrência comum, mas ainda assim preocupante.

Tabela 2 - Tabela 2 - Relação quantitativa dos professores cursistas

Relação quantitativa dos professores cursistas Frequência


Habilitados para o sorteio de vagas 162
Vagas 30
Suplência 10

Matriculados 30
Desistentes 15
Aprovados para certificação 15

Fonte: Coletivo de formação, 2019.

A única solução possível para esse problema no nosso entendimento, é defender a


formação continuada como parte indissociável do trabalho do professor que deve
ocorrer em horário de expediente com liberação da instituição de ensino onde o
profissional atua. Enquanto essa questão não for superada, a evasão continuará
sendo um problema para os professores que muitas vezes desempenham uma tripla
jornada e trabalho.

Por isso nessa seção faremos uma análise do perfil dos participantes que concluíram
o curso, um panorama geral desses sujeitos da pesquisa. O grupo 15 de professores
que frequentou a maior parte dos encontros do curso é composto por profissionais de
áreas diversas, como história, letras, artes visuais, música, educação física e
pedagogia. A maior parte atua nas séries iniciais do ensino básico, com expressiva
atuação na educação infantil. Alguns relataram que se interessaram pelo curso por já
desenvolverem iniciativas de educação na cidade no entorno de suas escolas, e
esperavam que a formação oferecesse novos elementos e propostas para ampliar o
trabalho que já realizavam.
77

Gráfico 2 - Área de formação dos participantes do curso

Pedagogia
1
1
História

2 Letras
7

1 Artes visuais

Música

4
Educação
Física

Fonte: Elaborado pela autora, 2020.

Quanto ao nível de instrução, a maior parte dos professores participantes possuem


formação complementar em cursos de pós graduação lato sensu na área de ensino,
enquanto uma participante apresenta mestrado na área de história e outra concluiu
doutorado na área de ensino.

A partir desse quadro, percebemos que o interesse dos participantes pela proposta
do curso de formação antecedia o interesse curricular pela certificação. Esse interesse
coletivo e diverso abriu caminho para importantes diálogos e contribuições para a
proposta de formação, além de um olhar solidário em relação à nós pesquisadoras e
colegas de profissão.

5.5 EPISÓDIOS DO CURSO

O curso foi elaborado para desenvolver um movimento pedagógico em que um


encontro se complementa ao outro e são interdependentes entre si. Ao mesmo tempo
que tivemos momentos específicos relacionados à cada uma das três pesquisas
anteriormente mencionadas, também pensamos no movimento do curso como uma
confluência, uma sequência de episódios desdobrados em cenas que ao final
compõem uma obra única, chamada “Educação na cidade: percepção, contradições
e sensibilidade na cidade de Vitória”. A ideia foi um pouco como se várias pequenas
histórias se unissem, compondo uma história maior e que, embora apresente
78

narrativas independentes em seu núcleo, se torna mais potente através dessa união.
Assim como um livro de contos ou uma narrativa cinematográfica.

Partindo dessa ideia, considerei adequado utilizar metáforas cinematográficas como


estratégia narrativa para relatar o movimento de formação, encontros e discussões.
Transitaremos, portanto, ao longo do texto que relata a desenrolar das aulas como se
entrássemos na sala escura para assistir a uma sequência de curtas. Para nós,
professoras do curso, e – imaginamos – para os cursistas, o efeito foi semelhante ao
de assistirmos a um filme: entramos sem saber ao certo como seria o desenrolar
daquela experiência e saímos tocados e modificados. Mais do que uma estratégia
narrativa, portanto, a metáfora que une o desenvolvimento das aulas à um roteiro de
cinema representou o processo que aconteceu em cada um/uma de nós.

Considerando seu caráter de atividade de ensino e portanto de trabalho imaterial, é


impossível aferir verdadeiramente o processo de aprendizagem e os resultados reais
desse curso no trabalho dos professores cursistas. Aqui apontaremos os resultados
que conseguimos aferir qualitativamente e as intervenções que podem indicar essa
mudança de qualidade dos sujeitos da formação.

Nosso roteiro inicial contido na ementa do curso (APENDICE C) foi sendo modificado
nas interações dos diversos personagens que atuaram nesse longa-metragem de 80h
de duração. Problemas de agenda dos convidados, disponibilidade do espaço e outras
demandas modificaram algumas das datas previstas originalmente, sem comprometer
a carga horária do curso e a quantidade de encontros presenciais previstos.

Por isso, vamos aqui relatar textual e fotograficamente cada encontro presencial como
um episódio que se desdobra por nossa narrativa “cinematográfica”, composta de
cenas de diálogo, bastidores e interações diversas que ganharam vida durante o
processo formativo. Os episódios mais detalhados, de número 3, 5 e 7, são os que
dizem respeito diretamente à esta pesquisa.

5.5.1 Episódio 1 – 20/08 – Aula inaugural


Na cena que inicia este episódio, nos preocupamos em receber os professores
cursistas e apresentar as diversas abordagens planejadas no curso para estabelecer
79

as bases de diálogo para os encontros seguintes. Nos bastidores do evento


preparamos um lanche compartilhado e o material inicial para os estudos da segunda
aula, com um formulário de avaliação da aula inaugural, caderno e caneta para
anotações e o texto “Cidade Educativa: reflexões em busca da humanização dos
sujeitos” (Sgarbi e Leite, 2015) que serviria de base para a primeira interação não
presencial do curso (APENDICE D).

Nas cenas seguintes deste episódio de formação contamos com a feliz presença de
professores que contribuíram de forma inestimável não só nesse momento, mas
durante todo o nosso percurso acadêmico no PPGEH. A professora Eliana Kuster
(Fotografia 11), coordenadora do curso de extensão, estabeleceu a primeira interação
em nome do coletivo de formação, dando as boas-vindas aos professores cursistas e
apresentou as linhas gerais da proposta de formação e as expectativas do coletivo de
formação para os próximos encontros. Após essa fala inicial, nós, as pesquisadoras
monitoras do curso (Fotografia 12) nos apresentamos e fizemos uma breve
apresentação musical de boas-vindas com a pesquisadora e musicista Raquel Passos
(Fotografia 13).

Fotografia 11 - Professora Eliana Kuster

Fonte: Coletivo de formação, 2019.


80

Fotografia 12 - Monitoras do curso

Fonte: Coletivo de formação, 2019.

Na cena seguinte, o Professor Antonio Donizetti Sgarbi (Fotografia 14) desenvolveu


um diálogo sobre o potencial educativo dos espaços da cidade em busca da
humanização dos sujeitos. Nosso objetivo nessa cena foi gerar uma interação com o
professor Donizetti – que é um dos autores do texto entregue no início do episódio –
e iniciar um diálogo para os episódios posteriores.

Fotografia 13 - Apresentação musical

Fonte: Coletivo de formação, 2019.


81

Fotografia 14 - Apresentação Professor Donizetti

Fonte: Coletivo de formação, 2019.

Na sequência, a Professora Dilza Coco apresentou as iniciativas do GEPECH de


estudos e formação de professores e a metodologia elaborada pelo grupo e
desenvolvida no curso. A professora Sandra Della Fonte finalizou as exposições,
abordando a cidade como memória e suas contradições na perspectiva do trabalho
enquanto ontologia do ser.

Fotografia 15 - Professora Dilza Coco

Fonte: Coletivo de formação, 2019.


82

Fotografia 16 - Professora Sandra Della Fonte

Fonte: Coletivo de formação, 2019.

Os professores cursistas interagiram com os convidados e convidadas durante todo o


episódio, gerando um ambiente de diálogo e abertura a proposta do curso. Ao término
das falas dos professores do PPGEH fizemos uma rodada de apresentação entre
todos os atores presentes na aula inaugural. A impressão geral das exposições foi
muito positiva, com destaque à fala de um dos participantes que disse ter se inscrito
esperando um bom curso mas que estava surpreso pela profundidade teórica da aula
inaugural.

Fotografia 17 - Aula inaugural

Fonte: Coletivo de formação, 2019.


83

5.5.2 Episódio 2 – 28/08: "Vitória: história, imaginário e devires"


Nesse episódio consideramos importante salientar o papel do professor Donizetti nos
bastidores do curso: ele esteve presente em todos os episódios presenciais no
CEFOR para disponibilizar o equipamento audiovisual que utilizamos durante os
encontros expositivos. Seu apoio e orientação no processo de execução da formação
foram essenciais para que ela fosse realizada.

A primeira cena deste episódio, ocorrida já na sala designada ao curso no CEFOR, foi
um diálogo para estabelecer os combinados básicos do curso entre os atores
envolvidos, como horários, local e cafés compartilhados. Também foi o momento da
entrega da ementa do curso e dos documentos para autorização de uso dos dados
produzidos para as pesquisas das proponentes do curso, como o TCLE e do Termo
de Autorização para Utilização de Imagem e Som de Voz dos próprios cursistas. Além
disso, fizemos um breve panorama sobre o roteiro do curso e os instrumentos de
avaliação para obtenção de certificação.

A cena seguinte foi a exposição dialogada da professora Eliana Kuster com o tema
“Vitória: história, imaginário e devires". Partindo de uma análise do processo de
formação histórica da cidade de Vitória em direção à reflexões acerca do que constitui
o imaginário sobre a cidade, a professora apresentou ainda os desafios e contradições
encontradas no processo de apropriação capitalista do espaço da cidade e as
perspectivas de rompimento com essa lógica a partir da intervenção coletiva no
espaço.
84

Fotografia 18 – Segundo episódio de formação

Segundo encontro de formação – Exposição da professora Eliana Kuster com o tema “Vitória:
história, imaginário e devires". Fonte: Coletivo de formação, 28 ago. 2019.

Essa cena se desdobrou em diversas interações com os professores cursistas sobre


memória, o processo de formação da cidade, as representações cinematográficas e
artísticas do espaço urbano e as possibilidades de intervenção pedagógica dentro
dessas temáticas.

5.5.3 Episódio 3 – 04/09: Percepção da cidade e o potencial educativo da Vila


Rubim
O terceiro episódio marcou o início das exposições das propostas de ensino das
pesquisadoras previstas no roteiro do curso. Na cena inicial buscamos continuar o
diálogo iniciado no episódio anterior e introduzir a percepção como instrumento de
ensino. Dialogamos sobre os desdobramentos pedagógicos no desvelamento dos
espaços da cidade e na possibilidade de desenvolver formas de expressão desse
olhar através da literatura e da música.

O roteiro percorrido pelo material educativo (ANEXO) foi indicado a partir da


apresentação do sumário do mesmo, inspirado em frases da letra do samba-enredo
da escola Unidos da Piedade de 2016 que teve o mercado como tema do desfile. Os
temas desenvolvidos e discutidos no material são um resumo das abordagens
desenvolvidas nesta dissertação.
85

Figura 5 - Sumário do protótipo do material educativo

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Apresentamos ainda alguns vídeos das cenas históricas mencionadas no texto, como
o incêndio de 199421 e a construção do mural do projeto Cidade Quintal22. No decorrer
da exposição, foram constantes as participações dos cursistas, compartilhando
memórias sobre a cidade de Vitória e a Vila Rubim. No final dessa cena que se
desdobrou em muitos diálogos, cantamos juntos o samba-enredo23 de 2016 da
Piedade para aglutinar as diversas abordagens que fizemos durante as discussões.

Um dos desdobramentos mencionados foram os comentários dos professores


cursistas sobre a dificuldade de conseguir autorização para circular com os alunos
nos espaços da cidade, principalmente os menores. Essa reflexão sobre a realidade
da escola e a falta de estrutura para aulas de campo gerou uma discussão sobre os
limites do trabalho pedagógico e as possibilidades de estratégias alternativas de
ensino.

21 Armazenamento irregular de fogos de artifício causou o acidente, em 1994. Quatro pessoas morrera,
26 ficaram feridos e lojas foram destruídas. In: MEMÓRIA CAPIXABA. Incêndio que destruiu o
Mercado da Vila Rubim (TV Gazeta - 01/07/1994). [s.l.], 7 jul. 2018. 1 vídeo (1:38 min). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=3EizQ6Lz-IE. Acesso em: 22 Julho. 2019.
22 Pintura NOSSA VILA, de 3 murais realizados na região do Mercado da Vila Rubim em Vitória - ES,

de julho a setembro de 2018: In: CIDADE QUINTAL. NOSSA VILA | Pintura por Cidade Quintal (Vila
Rubim, Vitória-ES). Vitória, ES, 27 set. 2018. 1 vídeo (2:38 min). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=WbSx3frSsAQ. Acesso em: 22 Julho. 2019.
23 Enredo: "Vamos ao Mercado?" Autores: Souza, Marquinho Gente Bamba, Lourival das Neves, Gibson

Muniz, Costa Pereira, Sérgio Índio e Lucianinho. In: DICESAR P ROSA FO. PIEDADE - SAMBA
ENREDO 2016. [s.l.], 16 dez. 2015. 1 vídeo (6:51 min). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Vh9kV5x1KJA. Acesso em: 22 Julho. 2019.
86

Uma alternativa discutida para desenvolver a percepção como estratégia foi o uso de
material audiovisual e jornalístico para retratar os temas e lugares da cidade. Nesse
ponto do diálogo discutimos a importância do trabalho mediador do professor diante
das representações sociais e a necessidade de criticidade no uso desses materiais.

Fotografia 19 - Terceiro encontro

Terceiro encontro: “Percepção da cidade como ferramenta de ensino e o potencial educativo do


Mercado Popular da Vila Rubim”. Fonte: Coletivo de formação, 04 set. 2019.

5.5.4 Episódio 4 – 11/09: Espaço, lugar e a cidade na literatura


Esse episódio marcou a exposição dialogada da proposta de ensino desenvolvida com
base na pesquisa da colega Alexsandra Loss Franzin que utiliza a literatura e mais
especificamente a obra “Marcovaldo e os doze passeios em Vitória”, de autoria da
professora Eliana Kuster, como fio condutor da sua abordagem.

A cena que iniciou esse diálogo foi desenvolvida a partir de uma noção importante
para a compreensão topofílica do espaço: o conceito de lugar como espaço dotado
de valor a partir das interações e vivências do ser humano (TUAN, 1983). Em seguida,
a pesquisadora Alexsandra Loss afirmou a importância do movimento de ida e volta
entre o olhar familiar e topofílico ao olhar “estrangeiro” que nos capacita a analisar
crítica e objetivamente os espaços da cidade.
87

Fotografia 20 - Episódio 4: apresentação cidade e literatura

Alexsandra Loss expõe sua proposta de ensino. Fonte: Coletivo de formação, 2019.

5.5.5 Episódio 5 – 14/09: Viagem formativa “Cidade Alta e o Mercado Popular


da Vila Rubim para além dos monumentos”
Esse episódio foi o primeiro dos dois episódios especiais nos quais exercitamos na
prática os conceitos e diálogos desenvolvidos nos episódios anteriores. Temos
dificuldade em dividi-lo em cenas pois nossa sensação foi de que ele ocorreu em
plano-sequência, com diálogos e constantes mudanças de ambiente. Os participantes
foram convidados a levarem seus familiares para essa caminhada pelas ruas do
Centro que ocorreu durante uma manhã de Sábado.

O trajeto da viagem formativa foi definido com base nos episódios expositivos 3 e 4
dirigidos pelas pesquisadoras Samira Sanches e Alexsandra Loss e planejado
levando em conta os objetivos das duas abordagens de ensino. No caso de
Alexsandra, foram selecionados alguns pontos importantes na Cidade Alta retratados
pela obra “Marcovaldo e os doze passeios em Vitória”. No caso desta pesquisa que
desenvolvida tendo a percepção da cidade como foco, nossa prioridade foi exercitar
esta ferramenta no espaço para compreender as marcas deixadas pelo tempo e pelos
diferentes atores na cidade, tendo como destino final o mercado da Vila Rubim.
88

Nossa externa foi dividida em dois trechos: Cidade Alta e "Cidade Baixa”. Preparamos
um panorama com os mapas do trajeto e algumas informações sobre o diário de
percurso (APENDICE E) que foi entregue no momento da aula. Um dos objetivos
desse percurso foi observar os lugares que sempre enxergamos de forma desfocada
como espaços de passagem e não de paragem na cidade.

Durante o percurso nos preocupamos em observar e vivenciar os conceitos e diálogos


teóricos e históricos dos episódios anteriores, apoiados sobre aspectos diferentes do
Centro Histórico que expressa hoje marcas de tempos diferentes e das formas como
o espaço foi sendo produzido ao longo da história. Durante o trajeto fizemos
provocações para potencializar esse olhar, chamando atenção para os contrastes
entre o antigo e o novo nos prédios do nosso entorno, as pichações e grafites que se
manifestam no seu questionamento e efemeridade e as mudanças de funcionalidade
nas construções do bairro.

Aqui contamos com a importante contribuição do cientista social Lucas Martins,


coordenador do movimento Brigadas Populares, que abordou durante todo o percurso
os prédios vazios daquela região e as iniciativas de ocupação junto ao Movimento
Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) e Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
(MTST). Através da sua interlocução, tivemos a oportunidade de conhecer a maior
ocupação da cidade de Vitória atualmente, no Edifício Santa Cecília, Parque Moscoso.
89

Mapa 1 - Trecho Cidade Alta

Ponto A: Praça Irmã Josefa Hosana – em frente à Igreja do Carmo. Ponto B: Convento São
Francisco. Ponto C: Viaduto Caramuru. Ponto D: Vista da Igreja São Gonçalo e descida pela
Escadaria Carlos Messina. Fonte: elaboração própria, 201924.

O caminho que percorremos se iniciou com o ponto de encontro (Ponto A), localizado
na Praça Irmã Josefa Hosana, em frente à Igreja do Carmo. Enquanto aguardávamos
a chegada dos demais colegas, iniciamos nos bastidores do episódio um processo de
reconhecimento através da percepção da cidade, discutida nas aulas anteriores. Outra
provocação que fizemos foi sobre o olhar curioso e inocente do personagem da obra
Marcovaldo e os Doze Passeios em Vitória, pesquisada pela monitora Alexsandra
Loss.

Assim iniciamos dialogando sobre esse cenário que para muitos de nós era apenas
um lugar de passagem para a Cidade Alta. Discutimos sobre as pichações nos muros
da igreja (Fotografia 1), a constante passagem de carros em todos os sentidos no
entorno da praça. O convidado Lucas Martins também chamou a atenção para alguns
prédios com histórico de ocupação social entre os edifícios observados.

24 Trecho da Cidade Alta. 2019. Google Maps. Google. Acesso em: 01 Agosto. 2019.
90

Fotografia 21 - Início do percurso da viagem formativa 1

Início do trajeto, na Praça Irmã Josefa Hosana, em frente à Igreja do Carmo. Fonte: Coletivo de
formação, 2019.

Seguimos pelo trajeto planejado, subindo em direção ao Convento São Francisco.


Uma das observações que surgiram nesse percurso foi sobre a calçada estreita que
nos obrigou a subir em fila indiana para alcançar o próximo ponto. No Ponto B, no
cruzamento próximo ao Convento São Francisco, discutimos os diferentes elementos
históricos presentes na paisagem. A monitora Alexsandra Loss fez a leitura de um
trecho do diário de percurso contido na obra Marcovaldo, salientando os aspectos
históricos deste local da próxima parada, no Viaduto Caramuru (Ponto C). Foi
observado pelos professores cursistas e suas famílias que o Viaduto Caramuru é o
elemento da paisagem que separa o cenário da Cidade Alta da área onde se localizam
o bairro Moscoso e a Vila Rubim.
91

Fotografia 22 - Ponto B: Convento São Francisco

Fonte: Coletivo de formação, 2019.

Fotografia 23 – Ponto C: Viaduto Caramuru

Fonte: Coletivo de formação, 2019.

Uma paisagem que nos chamou a atenção foi um guindaste localizado na Rua
Francisco Araújo (Fotografia 24), onde pudemos observar sua semelhança com a obra
discutida durante o Episódio 4 da formação (Fotografia 25), na discussão mediada
pela pesquisadora Alexsandra sobre as formas de retratar a cidade na arte e
especialmente na literatura.
92

Fotografia 24 – Avenida Francisco Araújo

Fonte: Coletivo de formação, 2019.

Fotografia 25 - Obra Capuaba de João César de Melo

Tela Capuaba (2013) da exposição “Cidades Abstratas” de João César de Melo. Fonte: SESC-ES25,
2019.

25SESC – ES. Exposição Cidades Abstratas, de João César de Melo. Vitória: SESC-ES, c.2019.
Disponível em: https://sesc-es.com.br/event/exposicao-cidades-abstratas-de-joao-cesar-de-melo-2/.
Acesso em: jun. 2019.
93

Fotografia 26 – Ponto D: Intervenções na Escadaria Carlos Messina

Fonte: Coletivo de formação, 2019.

Nesse ponto aproveitamos as duas intervenções feitas no muro da escadaria e


fizemos uma leitura coletiva do texto acima. Discutimos a cidade que temos, um
espaço inseguro especialmente para as mulheres, que nos expõe a diversas camadas
de violência, desde as físicas até as subjetivas.

Na sociedade patriarcal até o espaço geográfico é hierarquizado, designando os


homens à esfera produtiva e à ocupação do espaço público, enquanto as mulheres
são inseridas na esfera reprodutiva e nos espaços privados e domésticos. Embora a
luta das mulheres tenha conquistado avanços nesse sentido, a violência sofrida pelas
mulheres nos espaços públicos expressada no texto que encontramos é uma
realidade inegável. A professora Eliana Kuster, em palestra26 recente expressou: “o
direito à cidade da mulher desaparece em um assovio”, se referindo às cantadas
indesejadas e assédios que sofremos ao caminhar pela cidade. Outra observação
importante foi sobre nossa circulação na cidade: “Ao caminhar pela rua chegamos a
escolher caminhos mais longos, mas que tenham mais iluminação e pessoas

26Encontro virtual “Corpo-Cidade” do projeto cultural “A partir do Centro - VIX/ES” ocorrido em 16 de


Julho de 2020. Cartaz de divulgação disponível em: https://www.instagram.com/p/CCo1yRjjGR8/
94

transitando, para evitar a exposição à violência machista no nosso trajeto.” Ela ainda
afirmou que os homens também são expostos à violência quando transitam pelo
espaço público, mas enquanto eles, em geral, temem pelo seu patrimônio, as
mulheres temem pela integridade dos seus corpos.

Por isso, entendemos que a conquista do direito à cidade possui além dos recortes
sociais de classe, as questões de gênero e raça. Por fim, refletimos sobre o significado
por trás da pichação “útero urbe” como o urbano que desejamos construir e que
precisa ser gestado para nascer no seu sentido renovado.

Fotografia 27 - Escadaria Carlos Messina

Escadaria Carlos Messina, bairro Moscoso. Fonte: Coletivo de formação, 2019.


95

Mapa 2 - Trecho Moscoso e Vila Rubim

Ponto A: Ocupação Edifício Santa Cecília/Ponto B: Hospital Santa Casa da Misericórdia/ Ponto C:
Mercado Popular da Vila Rubim. Fonte: elaboração própria, 201927.

No segundo trecho, nossa primeira parada foi na esquina em frente à ocupação social
do Edifício Santa Cecília. Neste momento contamos mais uma vez com o convidado
Lucas Martins para abordar o processo de especulação imobiliária da cidade de
Vitória, em contraponto com o grande número de prédios desocupados no Centro.
Lucas nos explicou que Vitória tem hoje cerca 16 prédios públicos de responsabilidade
da prefeitura que estão sem utilização ou parcialmente ocupados, a maioria no Centro
de Vitória. No caso do Edifício Santa Cecília, o imóvel havia sido desapropriado pra
ser um conjunto de apartamentos populares, mas até hoje a prefeitura não iniciou as
obras. Hoje vivem cerca de 35 famílias que ocupam o espaço e recebem apoio dos
movimentos sociais organizados e da Defensoria Pública Estadual.

27 Trecho Moscoso e Vila Rubim. 2019. Google Maps. Google. Elaborado em: 01 Agosto. 2019.
96

Fotografia 28 – Ponto A - Ocupação do Edifício Santa Cecília

Fonte: Coletivo de formação, 2019.

A penúltima parada da viagem formativa foi em frente à Santa Casa da Misericórdia,


que se encontrava em obras para a construção de um centro de oncologia. Discutimos
como a paisagem se apresenta diferenciada na simples ausência de um muro, e como
os muros da cidade muitas vezes apresentam barreiras ao olhar.

Fotografia 29 - Ponto B: Santa Casa da Misericórdia

Fonte: Coletivo de formação, 2019.


97

Fotografia 30 – Ponto C: Vila Rubim

Chegada na Vila Rubim. Fonte: Coletivo de formação, 2019.

O último ponto de parada do percurso estabelecido foi o Mercado Municipal da Vila


Rubim. Em meio ao trânsito intenso da região e o movimento do comércio local, fomos
ao encontro da realidade previamente discutida e apresentada em sala de aula. A
mistura de cheiros nas proximidades do mercado – comida, ervas, fumaça do trânsito
– foi um dos destaques do grupo na percepção imediata daquele espaço.

Um interstício importante foi o encontro incidental com Carolina César de Oliveira,


comerciante do mercado há 40 anos que aparece em uma das reportagens que
destacamos durante a análise de cobertura jornalística. Ao ser perguntada sobre o
melhor percurso a seguir dentro do mercado, sua resposta foi: “depende do que você
está procurando”.

E assim decidimos caminhar livremente pelo mercado, empolgados pelos estímulos


sensoriais que experienciávamos. Se durante o curso falamos da importância do
caminho e do caminhar, foi na Vila Rubim que o grupo expressou sua vontade de
caminhar livremente pelo mercado em busca das imagens e cenas discutidos em sala
98

de aula. Nesse sentido, acabamos por romper com a ideia do roteiro pré-estabelecido
no interior do mercado.

Epílogo: Após reflexão posterior sobre esse movimento que ocorreu de forma
espontânea, entendemos tratar-se de uma deriva, conceito situacionista sugerido pela
professora Eneida Mendonça em sua intervenção como banca de qualificação desta
dissertação. Por isso, nos aprofundamos na leitura e desenvolvimento deste conceito
significativo e complementar ao de viagem formativa, que preconiza essa saída do
familiar para um olhar extraordinário sobre os lugares citadinos.

De acordo com Chaparim e Oliveira (2019, p.61), desde muito tempo o caminhar se
tornou um modo de alterar a realidade do ser humano. Este meio de deslocamento
básico, em determinado momento de sua história também passou a carregar
significados simbólicos:

Contudo, apenas no século XX as reflexões em torno do caminhar também


abrangem a apreensão dos afetos urbanos. Isto se deve muito à
psicogeografia, procedimento desenvolvido pelo movimento Internacional
Situacionista, que compreende a cidade enquanto um relevo dos afetos.
A técnica exploratória da psicogeografia é a deriva – um ato de andar “sem
rumo”, com a finalidade de reconhecer e se apropriar do espaço urbano, além
de buscar construir situações e estimular comportamentos afetivos.

Este conceito topofílico por definição nos auxilia a desenvolver na metodologia de


ensino de formação de professores um “caminhar” na cidade que não pressuponha
uma tutela dos olhares e percepções dos sujeitos da formação. Acreditamos que ainda
que seja possível desenvolver a deriva nas práticas educativas escolares, temos
algumas dificuldades relacionadas à nossa responsabilidade com a segurança dos
alunos.

Entretanto, quando se trata de sujeitos adultos, achamos interessante construir


situações que incentivem esta forma de apropriação do urbano, a liberdade de
caminhar de forma espontânea de acordo com os estímulos da percepção e
curiosidade pelo espaço. Dessa forma concluímos nossa primeira viagem formativa,
com professores e seus familiares caminhando livremente pelo mercado, fazendo
compras, comendo pastel, visitando a peixaria e redescobrindo este espaço da
cidade.
99

5.5.6 Episódio 6 – 18/09: Direito à Música na cidade: fundamentos, música e


trabalho, contradições da cidade
Iniciamos esse episódio com uma avaliação da visita formativa ocorrida no episódio
anterior. Debatemos o percurso, as derivas do caminho e as paisagens que
registramos a partir da percepção. Os professores cursistas se mostraram muito
satisfeitos com a experiência, destacando a oportunidade de enxergar os espaços da
cidade sob um outro viés.

Após essa recapitulação, a professora Sandra Della Fonte iniciou uma nova cena com
intervenção dialogada sobre a valorização da dimensão humana do trabalho criativo
a partir das experiências estéticas. Resgatando a abordagem sobre trabalho como
dimensão ontológica do ser humano que nos leva a criar um mundo inédito, em que o
trabalho criativo e não material como a arte e a música estão inseridos.

Na sequência, a pesquisadora Raquel Passos inicia sua exposição sobre cidade e


música, analisando canções de compositores capixabas para evidenciar conflitos,
contradições e histórias sobre a cidade de Vitória e sua região metropolitana. As três
canções analisadas foram: Catraieiro, de Edivan Freitas, Luzir, de Claudio Vereza e
Ebenezer Martins e Dia C, de Patricia Pavesi. Assim, foi desenvolvida uma análise
das letras e estrutura de cada música, além de entrevistas com os compositores.

Foi um episódio muito significativo. Uma das cenas que marcou a interação entre os
professores cursistas e a pesquisadora Raquel Passos foi a tempestade de ideias de
canções capixabas que abordam a cidade e que podem ser trabalhadas em sala de
aula
100

Fotografia 31 - Exposição pesquisadora Raquel Passos

Fonte: Coletivo de formação, 2019.

5.5.7 Episódio 7 – 25/09: Reflexões sobre direito à cidade


Esse episódio foi um desdobramento das discussões das aulas expositivas dialogadas
de cada proposta de ensino das pesquisadoras monitoras do curso. Nos diálogos de
bastidores entre o coletivo de formação, verificamos a necessidade de analisar os
materiais educativos de modo a obter informações mais específicas sobre cada um.
Assim, dividimos a turma em três grupos de estudo e propusemos três questões
principais para análise dos professores cursistas

Na sequência, os grupos apresentaram suas discussões e resultados para o restante


da turma. Neste relato nos concentraremos na avaliação do protótipo do material
educativo “Vamos ao mercado?” feito como produto desta pesquisa, que foi
modificado de acordo com as sugestões e críticas dos professores cursistas que o
analisaram.
101

Fotografia 32 - Avaliação dos materiais educativos

Fonte: Coletivo de formação, 2019.

Elaboramos três questionamentos principais para induzir ao diálogo:

1. O material educativo apresentado permite conhecer conceitos que articulam os


debates mais importantes sobre percepção da cidade e o potencial educativo
do Mercado da Vila Rubim? Justifique.
2. Em que aspectos o conteúdo apresentado necessita de modificações para
melhor alcançar seu público?
3. Você desenvolveria um plano de aula sobre algum dos temas abordados no
material educativo? Qual?

O grupo responsável pela análise do material educativo “Vamos ao mercado?”


apresentou as seguintes observações:

A partir do momento em que sensibiliza e cria um olhar diferenciado


mostrando diversas abordagens levando em conta seu público e a linguagem
utilizada de modo a tornar a cidade viva e não de forma “fria”. Podem ser
apresentados tanto os aspectos históricos e temporais quanto os
instrumentos musicais, as ervas, que evocam diversas sensações e
pluralidade de pessoas que evidencia o contraste das pessoas que por ali
transitam.
A sensibilização do potencial pedagógico inclui um currículo adaptado através
de projeto, podendo-se trabalhar a interdisciplinaridade como história,
geografia, arte, música, etc. Sugerimos a apresentação de maior quantidade
de textos e materiais que enriqueçam ainda mais o conteúdo (apesar de que
reconhecemos o fator do tempo como limitador).
O material selecionado não tinha o de objetivo encerrar o debate sobre o
tema, Cidade Educativa x Cidade Educadora, ao contrário, percebemos o
livro como uma provocação ao diálogo. Dessa forma acreditamos que o
material cumpriu o seu papel.”
102

Outra observação interessante foi de uma professora cursista da área de história, que
respondeu às perguntas em um momento posterior:

O material traz informações históricas desde sua ocupação até hoje. Também
permite trabalhar a memória do povo capixaba na questão do mercado, bem
como as tragédias dos incêndios que comoveram e mudaram a rotina de
tantas pessoas, sua relação com o lugar também.
Acredito que a complexidade de variedades de atrações da Vila Rubim
possibilita atrair vários públicos. O material poderia abordar um pouco mais a
importância do mercado para a cidade de vitória e nesse sentido trazer mais
a vivencia das pessoas e sua relação com esse mercado.
A desnaturalização dos espaços da cidade me chama atenção. Como
professora de história consigo propor um olhar sobre a mudanças na cidade
ao longo do tempo e discutir acerca das mudanças e os usos da cidade
atualmente. Em especial propor acerca da Vila Rubim como um mercado
semelhante a de épocas atrás onde somente nas feiras encontrava-se
determinados produtos como temperos e especiarias. Também podemos
relacionar a situação atual onde há uma representação de área marginalizada
da mesma forma que guetos onde o poder público tem um olhar pouco atento
as necessidades e onde é possível a manifestação de expressões culturais
marginalizadas pela sociedade cristã, caso das religiões de matriz africana.

De forma geral, percebemos que o material cumpre o seu papel ao apresentar uma
estrutura dos principais conceitos e momentos históricos que envolvem esse caminhar
pela Vila Rubim. Uma observação que pudemos captar foi sobre a possibilidade de
ofertar mais elementos de imagem e interação para os professores que forem utilizar
o ebook como referência, com sugestões de abordagem do conteúdo trabalhado e
inclusão do trajeto desenvolvido na primeira viagem formativa. Outra demanda
apresentada foi adaptação do conteúdo do material educativo para o trabalho na
educação infantil.

5.5.8 Episódio 8 – 28/09: Viagem formativa 2


No oitavo episódio de formação ocorreu nossa segunda viagem formativa. Como na
primeira viagem formativa, esse episódio se tornou especial pela presença dos
familiares do coletivo de formação, além das diversas cenas de caminhada, diálogos
e interações constantes com a paisagem. Nosso cenário foi a Prainha de Santo
Antônio, onde seguimos o seguinte roteiro programado: 1) Praça da Bandeira; 2) Cais
do Hidroavião 3) Cais das Barcas de Santo Antônio; 4) Caminho dos pescadores; 5)
visita à casa de Artes EMPAREDE.
103

Fotografia 33 - Iníco da segunda viagem formativa

Fonte: coletivo de formação, 2019.

Houve também um delicioso interstício no caminho, um lanche no espaço de


artesanato dos idosos coordenado pela Associação de Moradores de Anto Antônio.
No trajeto também houve a parada na escola municipal Alvimar Silva, antiga obra
social São José (parada sugerida durante a visita). Uma das convidadas especiais
deste episódio foi a líder comunitária Simone Campos Galdino, que acompanhou todo
o trajeto da visita dos professores à Prainha de Santo Antônio, colaborando em
reflexões e ajudando a fazer memória desse local que ajuda a compor a história de
Vitória, com suas lutas e contradições.

Outra convidada foi a artista plástica Yvanna Belchior, que sedia exposições de arte
e cineclube no espaço artístico (e sua casa) EMPAREDE, onde promove integração
cultural e diálogos junto à comunidade. A pesquisadora Raquel Passos dirigiu a visita
junto com sua orientadora Sandra Della Fonte. Todas as sequências que ligavam uma
parada à outra foram preenchidas com música e diálogos diversos.
104

Fotografia 34 - Percepção da paisagem na Prainha de Santo Antônio

Fonte: coletivo de formação, 2019.

5.5.9 Episódio 9 - 02/10: Sarau Cultural


Esse episódio foi um evento planejado para recapitular os aprendizados, discussões
e produções dos episódios anteriores a partir da produção criativa do elenco do curso.
Também buscamos construir um momento de integração com a comunidade do Ifes
campus Vitória e para isso estabelecemos algumas parcerias importantes para a
realização do evento: além do curso de extensão, tivemos como parceiros o PPGEH,
o HISTOFIC (Grupo de pesquisa de história e filosofia da ciência), o próprio GEPECH
e o Fórum de Humanidades do Ifes. Este último tem o hábito de realizar mensalmente
um evento chamado Sarau de Humanidades como forma de interação com a
comunidade escolar. Por isso, decidimos utilizar o mesmo nome para o evento e
inserir o mote: “Que cidade é essa? A cidade que temos e a idade que queremos entre
cantos e poesias.”

Porém, a produção do evento foi surpreendida por um imprevisto. A data programada


para o sarau coincidiu com o Dia de Paralisação Nacional pela Educação em que não
houve aula no Ifes Vitória nem nas demais instituições de ensino público. Apesar
desse contratempo, decidimos manter o evento e incorporá-lo à agenda da
paralisação, propondo que o Sarau fosse também um espaço de debate sobre a
conjuntura política que estávamos vivendo naquele momento.
105

Figura 6 - Divulgação do Sarau de Humanidades

Fonte: Assessoria de Comunicação Social Ifes28, 2019.

Assim, realizamos o sarau com a participação dos professores cursistas, professores


do PPGEH, convidados externos e o público presente no Ifes. Planejamos uma
programação que foi comandada com muita alegria pelo colega José Ramos da turma
2017 do PPGEH.

28Ifes - Campus Vitória. Para os estudantes que gostam de cantos e poesias, a noite desta quarta-
feira (2) será especial! O Ifes - Campus Vitória sediará o sarau “Que cidade é essa? [...]. Vitória,
02 out. 2019. Facebook: Ifes – Campus Vitória @ifesvitoria. Disponível em:
https://www.facebook.com/ifesvitoria/posts/973136349710447. Acesso em: out. 2019.
106

Quadro 5 - Apresentações do Sarau de Humanidades

Abertura do Sarau Professora Eliana Kuster, coordenadora


do curso de extensão

Saudação em nome do Fórum de Humanidades e Professor Donizetti Sgarbi


apresentação dos poemas “Eu me despeço”, de Pablo
Neruda e Come nos montagner, de Missak
Manouchian.

Apresentação musical de composições musicais para Professor cursista: Plínio Soares do


educação infantil: “Samba do Baiacu”, Borboleta. Carmo

Apresentação de Canto Lírico: “Caro mio bem”, de Professor cursista: Otoniel de Almeida
Giordani Tommaso. Rodrigues

Apresentação da poesia “Capixabéchique” de Elisa Rafaela Soares (turma 2018 do PPGEH e


Lucinda Fórum de Humanidades) e Samira
Sanches (monitora do curso de extensão)

Apresentação de poesias autorais: “A passividade Cláudio Vereza


geral”, “A capital federal”, “Século XXI”, “Minha voz”,
“Onde está a poesia?”

Violão instrumental Ebenézer Martins

Apresentação de poesia: “Somos movidos pelo amor”, Joana Penha de Souza


de Raquel Passos. “Bonjour, Gaby” de Maria das
Graças Andreatta.

Voz e violão. Música autoral: “Pra ver a vida Raquel Passos


acontecer”, de Carlos Oliveira e Raquel Passos.

Contação de histórias e poesias: “Função da arte 1” de Nalvinha de Souza


Eduardo Galeano

Apresentação da canção “Luzir” de Cláudio Vereza e Grupo de professores cursistas e


Ebenézer Martins coordenação do curso de extensão.

Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


107

Fotografia 35 - Profª Eliana Kuster abrindo o evento

Coordenadora do curso de extensão Eliana Kuster. Fonte: Coletivo de formação, 2019.

Fotografia 36 - Saudação do Fórum de Humanidades

Saudação do professor Donizetti em nome do Fórum de Humanidades. Ao fundo, o colega José


Ramos que apresentou o Sarau e a musicista e monitora do curso Raquel Passos. Fonte: Coletivo de
formação, 2019.
108

Fotografia 37 - Participação no Sarau de Humanidades

Professor cursista Plínio, apresentando músicas de sua composição para a educação infantil na
cidade. Fonte: Coletivo de formação, 2019.

Fotografia 38 - Sarau de Humanidades

Fonte: Coletivo de formação, 2019.

Outras participações muito especiais que enriqueceram nosso elenco de convidados


foram do músico Ebenézer Martins e do poeta e escritor Cláudio Vereza, que nos
presentearam com uma apresentação da música Luzir, que foi composta por Cláudio
e musicada por Ebenézer. Pessoalmente, peço licença para expressar minha emoção
com essa cena. Desde a minha adolescência quando iniciei a militância nos
movimentos de juventude, o companheiro Claudio Vereza tem sido uma referência de
109

atuação política e humana, seja como parlamentar, liderança política ou dirigente


partidário. Poder presenciar sua expressão artística foi um privilégio e uma grande
emoção. Os professores cursistas e monitoras do curso de extensão acompanharam
a apresentação da música de sua composição, já que essa música nos tocou
especialmente e nos acompanhou durante o curso.

Fotografia 39 - Ebenézer Martins e Claudio Vereza

Fonte: Coletivo de formação, ano.

5.5.10 Episódio 10 – 09/10: Despedida e avaliação do curso


Nosso último encontro presencial se iniciou com um lanche coletivo, que se tornou
uma tradição desde os primeiros encontros do curso. Como no início de todo episódio
recapitulamos e discutimos o anterior, fizemos uma avaliação do Sarau de
Humanidades e das tantas emoções e momentos poéticos que compartilhamos com
os convidados durante o evento.

Na sequência, partimos para o momento de avaliação final do curso onde discutimos


o desempenho dos cursistas e da equipe de monitoras/professoras, a atuação da
coordenação do curso e as instalações físicas onde os encontros ocorreram (CEFOR).
110

Quadro 6 - Avaliação final dos professores cursistas sobre o curso

Quanto ao desempenho dos No curso “Educação na cidade: percepção, contradições e


discentes: sensibilidade na cidade de Vitória” o desempenho dos discentes foi
de presente participação nos debates, nos grupos de discussão e
também nas agendas de visitação (Viagem formativa), deixando
marcas positivas de interesse e de companheirismo no grupo.

Quanto ao desempenho dos A equipe de professores que organizou o curso mostrou-se sensível
professores: às demandas dos cursistas e buscou, de forma planejada, mediar
as temáticas da formação de forma dinâmica e participativa,
cumprindo com a proposta apresentada no edital, sempre
buscando alternativas para possíveis imprevistos que tenham
ocorrido no decorrer do percurso do curso.

Quanto ao desempenho da A coordenação do curso, através da professora Eliana Mara


coordenação do curso: Pellerano Kuster, acompanhou todo o decorrer da formação,
sempre orientando e colocando-se à disposição para colaboração
em resolução de dificuldades. A coordenação também muito
contribuiu nas reflexões das temáticas desenvolvidas e nos debates
de grupos.

Quanto às instalações e Satisfatórias. O curso foi realizado no CEFOR, através da gentileza


equipamentos utilizados no de apoio e presença do professor Antonio Donizetti Sgarbi, que
curso: realizou o trâmites para abertura de sala virtual e estudos e também
no agendamento da Sala para aulas presenciais, bem como
agenda de recursos e equipamentos didáticos, como Data Show.

Fonte: Relatório de Executação (APENDICE F), 2019.

Nas avaliações dos professores cursistas também foi manifestado o sentimento de


pertencimento ao grupo e os laços que se fortaleceram durante a formação. Uma das
professoras disse que não queria ficar “órfã da cidade” e outros professores se
manifestaram nesse sentido de manter o grupo unido em um aplicativo de mensagens
para compartilharmos conteúdo, imagens e ideias sobre educação na cidade.
Também sugeriram um outro módulo do curso para dar continuidade ao conteúdo
desenvolvido nos encontros.

Quanto às propostas de intervenção e relatos de experiência programados como


trabalho final, os professores relataram suas ideias de plano de aula e utilização dos
111

materiais educativos desenvolvidos durante o curso. Um destaque dos professores


foi sobre a mudança do olhar sobre a cidade despertado pelo curso. Uma das
professoras manifestou: “eu antes andava olhando pra baixo ou pra frente na cidade.
Hoje olho pra cima e tento observar a amplitude da paisagem. Hoje lá na Serra eu
ando observando isso em todos os lugares. ”

Outra professora expressou: “eu cheguei achando que a proposta era algo bem
mecânico e eu conheci óticas totalmente distintas. Pra gente foi bom. Porque temos a
vivência cidadã de viver na cidade mas o que vocês trouxeram foi muito novo. Cada
encontro foi um olhar diferente. Vocês conseguiram fazer um curso diferente.”

Um problema levantado pelos professores cursistas foi relacionado ao uso do


Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) no moodle do Ifes. A maioria teve
dificuldade de acesso ao login e senha e a equipe de formação precisava solicitar
constantemente a inclusão ou exclusão de nomes dos cursistas ao CEFOR, o que
dificultou a execução das tarefas não-presenciais. A solução encontrada foi utilizar o
e-mail do curso criado pela organização para compartilhar os textos e atividades que
foram discutidos e realizados ao longo do curso.

Fotografia 40 - Fim do curso

Fonte: Coletivo de formação, 2019.


112

5.6 AVALIAÇÃO DO COLETIVO ORGANIZADOR DO CURSO

Aqui destacaremos a avaliação do curso realizada pela organização após a conclusão


do curso e a avaliação dos professores cursistas. A maior parte das informações aqui
descritas estão contidas no Relatório de Execução (APENDICE F) devolvido à Direx
como parte do processo de finalização do processo de extensão para emissão de
certificado aos participantes do curso.

Quadro 7 - Avaliação final da equipe de execução

Quanto a metodologia aplicada ao projeto para o A metodologia utilizada foi elaborada junto ao
planejamento e execução das aulas: GEPECH (Grupo de Estudos e Pesquisas
sobre Educação na Cidade e Humanidades)
do curso de Pós-Graduação em Ensino de
Humanidade, tendo sido discutida
amplamente para garantir a qualidade na
formação de professores proposta. Tal
metodologia que se propõe colaborativa com
a participação dos cursistas contribuiu para a
qualidade na realização e no decorrer do
curso, de modo que os possíveis problemas
foram previamente visualizados e houvesse
abertura para participação ativa dos cursistas.
Quanto aos conteúdos previstos na matriz Entendemos que os conteúdos previstos na
curricular em relação ao perfil de formação matriz curricular atenderam às expectativas
desejado: dos cursistas, em alguns momentos até
superando às expectativas em relação à
profundidade do conteúdo abordado. De
acordo com relatos dos cursistas, o curso
proporcionou discussões e reflexões para
além daquilo que se imaginou inicialmente.
Quanto a interação da turma entre si e com os A turma de cursistas interagiu sempre
professores (cooperação / trabalho em equipe): positivamente e humanamente, tanto entre si
como com os professores e coordenação,
através da ajuda mútua, através da partilha
em geral (lanches coletivos, troca de saberes,
nos diálogos no grupo virtual, etc.). A
possibilidade de trabalhar com momentos
musicais e permitir a participação de familiares
nas viagens formativas também proporcionou
uma maior conexão entre os participantes e
professores.
Quanto ao planejamento e trabalho conjunto As professoras conseguiram se organizar
entre os professores: para planejar todo o trajeto do curso, sendo
realizadas muitas reuniões presenciais e
também vários diálogos à distância, sempre
em parceria.
Quanto ao trabalho de toda a equipe executora O trabalho de toda a equipe executora com os
com os estudantes: estudantes trouxe resultados que fizeram
diferença para todos os envolvidos, com a
113

partilha novos saberes, novos olhares sobre a


temática principal, que era a Educação na
cidade, a partir de uma experiência sensível e
crítica.
Resultados das Avaliações dos Estudantes do A metodologia utilizada para avaliação dos
Ifes – membros da Equipe Executora: (baseada na momentos do curso contou com questionários
metodologia de avaliação utilizada) e interações no início das aulas
correspondente à aula anterior, com
participação dos cursistas e sugestão de
possíveis modificações. De uma forma geral,
pudemos notar que os cursistas
demonstraram satisfação em relação ao curso
e afirmaram sua vontade de permanecer
enquanto grupo para uma possível
continuação da extensão.
Quanto à relação com a sociedade, dos impactos Compreendemos que a oferta do curso
produzidos pela oferta do curso: (Contribuições colabora para o processo contínuo da
para resolução de problemas sociais, ampliação das formação e emancipação humana, para
oportunidades educacionais e de inclusão social, reflexões críticas sobre o espaço em que
transferência de conhecimentos, tecnologia e vivemos, circulamos e habitamos, na
inovação) expectativa de cooperação para uma cidade
cada vez mais justa para o ser humano e para
o planeta. Além disso, pudemos interagir com
lideranças comunitárias (como a presidenta
da Associação de Moradores de Santo
Antônio), proporcionando uma troca entre a
instituição e a sociedade.
Pontos positivos a destacar: - Interação constante com os cursistas através
da música e outras linguagens artísticas
- Ampliação do universo cultural, por exemplo
para novas apreciações artísticas, para além
daquelas apresentadas pela cultura de
massa, pelo mercado convencional
- Reaproximação dos professores do
significado do trabalho em sala de aula e
motivação para explorar a cidade como um
espaço de ensino
- Valorização de espaços da cidade de Vitória
pouco explorados pelo turismo e pelas escolas
- Incentivo à formação continuada dos
professores, que se interessaram pelo
mestrado em Ensino de Humanidades
(PPGEH).
Desafios a superar e soluções: - Evasão dos cursistas, que esperamos
solucionar com maior compreensão sobre as
motivações de abandono e sugestão de
colaboração do Ifes junto às instituições
públicas de ensino para cessão dos
profissionais em horário de trabalho para
formação continuada.
- Problemas de acesso à Sala Virtual de
estudos. Publicamos todas as aulas e
atividades no ambiente virtual, mas muitos
cursistas tiveram dificuldade de acesso. Uma
possível solução seria liberar o acesso para
que as monitoras do curso pudessem
adicionar participantes ao ambiente virtual por
114

conta própria sem precisar constantemente


solicitar ao órgão responsável.
Produtos acadêmicos resultantes: Confecção e validação de três produtos
educativos, sob o formato de E-book, sob as
temáticas:
1) O potencial educativo do Mercado
Popular da Vila Rubim;
2) Cidade na Literatura –
Marcovaldo e os 12 passeios de
Vitória;
3) Cidade, educação e música.

Todos serão disponibilizados para os


cursistas e publicizados no repositório próprio
do PPGEH.
Observações: A oportunidade de aprendizado na elaboração
do Curso de Extensão junto ao IFES trouxe
ricos saberes para as professoras/ estudantes
do PPGEH, experiência que aspiramos
partilhar em nossa caminhada profissional na
educação, na busca e exercício para
promoção humana.

Fonte: Relatório de Execução (APENDICE F), 2019.

5.7 MODIFICAÇÕES NO MATERIAL EDUCATIVO

O protótipo do material educativo, um guia pedagógico paradidático intitulado “Vamos


ao Mercado? Percepção da cidade e o Mercado Popular da Vila Rubim, em
Vitória/ES”, foi modificado de acordo com as sugestões e críticas dos professores
cursistas. Analisando a receptividade em relação ao material, ficamos felizes com os
elogios sobre a sua coesão estética e de conteúdo. O material foi elaborado no
software online de design Canva29, que oferece diversas possibilidades de elementos
visuais e diagramação que o diferenciam dos programas tradicionalmente utilizados
para esse trabalho.

Como relatado no episódio 7 da formação em que o material foi analisado pelos


cursistas, os sujeitos da pesquisa expressaram de uma forma geral que o material
cumpre o seu papel ao apresentar uma estrutura dos principais conceitos e momentos
históricos que envolvem esse caminhar pela Vila Rubim. No entanto, algumas
observações e sugestões merecem a nossa atenção. Organizamos as problemáticas

29 Site: https://www.canva.com/
115

por temas para refletir melhor sobre a forma como as demandas foram apresentadas
e as soluções encontradas na reformulação do material junto aos professores
cursistas. A versão final e validada do material se encontra em anexo.

Público-alvo: Uma das demandas que surgiu com mais frequência foi o pedido de
adaptação da linguagem e abordagem do material para as séries iniciais e educação
infantil. Entendemos as demandas de adaptação para o ensino e gostaríamos de
conseguir construir um desdobramento desse material especificamente para esse
público, porém nossa proposta nesta pesquisa foi criar um caderno pedagógico para
professores do ensino básico. Assim, acreditamos que a partir desse material os
professores podem subsidiar discussões, adaptações e possíveis abordagens sobre
a temática contida no ebook.

Por isso, detectamos a necessidade de delimitar o público-alvo do material e detalhar


melhor a sua função. Ampliamos a sessão de diálogo no início do caderno
pedagógico, mantendo a linguagem conceitual e abordagem das informações
contidas no ebook. E expressamos aqui nossa esperança de futuramente publicar um
volume específico com contribuições dos professores para as séries iniciais e
educação infantil.

Possibilidades pedagógicas: Diante do objetivo de criar um material aberto às


diversas aproximações possíveis sobre o tema proposto e adaptável para diferentes
áreas de ensino, decidimos que o formato do material seria melhor definido como um
caderno de possibilidades pedagógicas. Dessa forma, expressamos que não temos o
objetivo de criar um manual para ensino do tema, mas buscamos subsidiar o trabalho
dos professores com a nossa proposta. Também ampliamos as sugestões de
exercícios e abordagens contidas no último capítulo do material para oferecer mais
elementos interativos e demonstrações do que pode ser realizado em sala de aula.

Interações audiovisuais: Os professores demandaram que os vídeos que


trabalhamos durante o diálogo expositivo fossem citados e incorporados ao material
final. Por isso, incorporamos os links interativos em alguns pontos do texto para
subsidiar o planejamento pedagógico dos professores.
116

A experiência de elaboração do material educativo foi difícil e ao mesmo tempo


bastante prazerosa. Por um lado, encontrei dificuldades no processo de diagramação
e revisão técnica, pois nunca tinha elaborado um material pedagógico dessa
complexidade. Muitas sugestões surgem na coletividade do processo de validação e
nem sempre conseguimos acolher todas devido às limitações do formato ou da
proposta em si. Por outro, a principal vantagem foi a liberdade para utilizar uma
linguagem mais livre que permitiu o diálogo direto com o público a que se destina o
material, além da criatividade artística para elaborar um produto vivo e afetuoso que
traduz o esforço da pesquisa e dos professores e professoras que dela participaram.
117

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Aqui chegamos ao ponto de que talvez devêssemos ter partido.


O do inacabamento do ser humano. Na verdade, o
inacabamento do ser ou sua inconclusão é próprio da
experiência vital.

Paulo Freire, 1996

Antes de tecer as considerações finais sobre esta pesquisa, é necessário uma breve
digressão. O processo criativo de uma pesquisa aplicada exige constantes
movimentos de ir e vir entre a teoria e a prática, o idealizado e o vivido. Esse
movimento dialético envolve também a escrita e o relato que nunca se desconectam
da realidade social em que estamos inseridas. Enxergar significado no trabalho
formativo de ensino é um desafio em meio a uma conjuntura de ataques sistemáticos
à educação e ao fazer pedagógico humano, por isso não são raros os momentos de
insegurança na trajetória de quem pesquisa buscando contribuir para transformar
essa realidade.

A intencionalidade de reafirmar esse compromisso por diversas vezes no decorrer do


texto vem da urgência do momento político, que exige posicionamento das lutadoras
e lutadores pela educação pública que não abram mão da defesa desse projeto de
humanidade. Por isso, negamos a neutralidade no saber científico, no ensino e na
escrita. Somos humanos reafirmando a humanidade, mulheres reafirmando seu direito
de formular e pronunciar um novo mundo. Nas palavras de Gloria Anzaldua:

Porque a escrita me salva da complacência que me amedronta. Porque não


tenho escolha. Porque devo manter vivo o espírito de minha revolta e a mim
mesma também. Porque o mundo que crio na escrita compensa o que o
mundo real não me dá. No escrever coloco ordem no mundo, coloco nele
uma alça para poder segurá-lo. (...) Finalmente, escrevo porque tenho medo
de escrever, mas tenho um medo maior de não escrever (ANZALDUA, 2000.
p. 232.).

Esse posicionamento inegociável é o pano de fundo sobre o qual essa pesquisa se


desenvolve. Nesse movimento de levar reflexões sobre a cidade a um processo
formativo de professores (do qual também somos sujeitos), consideramos que um
elemento essencial para o desenvolvimento da pesquisa foi a responsabilidade ética
com a autonomia do ser dos professores em formação. Trabalhar com formação de
118

professores também é considerar os conhecimentos prévios e experiências


pedagógicas dos colegas que se somam à nossa proposta e nos desafiam a pensar
nos desdobramentos na sala de aula, sem desconsiderar as condições e obstáculos
encontrados na prática de ensino. Nessa mediação crítica, o professor contribui para
o fortalecimento da escola que visa a emancipação humana e das formas de
protagonismo juvenil e resistência urbana à lógica capitalista na produção do espaço
e da vida.

Essa pesquisa se iniciou tendo como objetivo geral propor o desenvolvimento da


percepção da cidade como instrumento de ensino, na medida em que contribui para
uma leitura de mundo humanizada, colaborativa e coletiva, a partir de um espaço com
potencial educativo na cidade de Vitória: o mercado popular da Vila Rubim. Após seu
encerramento, consideramos justo afirmar que diante do desafio proposto e
conscientes das nossas limitações, desenvolvemos uma proposta de ensino coerente
metodologicamente com nossos princípios teóricos.

Encontramos ainda muitos desafios no movimento da pesquisa, já que a organização


do curso, planejamento das aulas e confecção do protótipo do material educativo nos
afastaram temporariamente do texto da dissertação. Em meio a isso tudo, o trabalho
na escola também se intensificou ao longo do ano e exigiu de nós uma dupla, às vezes
tripla jornada de trabalho.

Além disso, o momento do curso foi intenso e especialmente gratificante pelos


encontros proporcionados e momentos de emoção e troca junto aos sujeitos da
pesquisa. Tendo participado de processos formativos protocolares no decorrer do
nosso exercício profissional, que nem sempre respeitavam nossos conhecimentos e
experiências prévias, buscamos desenvolver uma formação que gostaríamos de
participar e dividir com outros colegas e acreditamos que fomos bem sucedidas nesse
objetivo.

Retornando aos objetivos propostos, descobrimos no decorrer do movimento de


pesquisa que abordar o imaginário social é enxergar os limites, contradições e
possibilidades de construção de um novo horizonte urbano em meio aos diversos
interesses políticos em ação no espaço que se articulam dialeticamente ao longo da
119

história. O desafio colocado é lutar contra a hegemonia econômica, política e narrativa


construída pelo projeto capitalista acerca do urbano e substituí-lo por uma contra
hegemonia30 comunitária baseada no desejo e na ação coletiva de uma cidade justa
e democrática.

A retomada da escala humana como referência e a redução da distância entre a


cidade que herdamos e a que desejamos passa por recuperar as capacidades de
integração e participação da cidade através da prática social, de uma nova práxis.
Nesse sentido, valorizar a Vila Rubim enquanto espaço de potencial educativo passa
pela valorização da nossa história e identidade local; e a luta pela sua existência se
afirma através da resistência das comunidades populares que tornam aquele espaço
vivo de encontros e possibilidades.

Portanto, ler de forma crítica e topofílica o entorno imediato onde o indivíduo exerce
sua cotidianidade e onde reproduz a sua existência inserido no contexto urbano
possibilita o surgimento de uma pronúncia crítica e transformadora da realidade. As
iniciativas de formação de professores dentro dessa concepção de educação e leitura
de mundo têm importante papel de contribuir na luta pela transformação da
consciência e impulsionar iniciativas coletivas de mudança social que retomem o
sentido do urbano renovado e humanizado.

30 Contra-hegemonia como conceito marxista elaborado por Gramsci (1982): reação à hegemonia das
classes dominantes associada à cultura na perspectiva da elaboração e da construção da cultura das
classes subalternas.
120

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Ibero-Americano em Investigação Qualitativa, 6., 2017; International Symposium on
Qualitative Research, 2., 2017, Salamanca. Anais [...]. Salamanca: [...], 2017.
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CARLA, Daniela. Jovem embriagado é preso depois de capotar com carro em


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ESTV 1ª EDIÇÃO. Comerciantes e consumidores preocupados com a onda da


violência na Vila Rubim. Vitória: ESTV, 15 jun. 2019. 1 vídeo (5 min). Disponível em:
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FALCÃO, André. Moradores de rua e dependentes químicos recebem atendimento


de saúde em Vitória. G1 ES, Vitória, 23 abr. 2019. Disponível em:
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dependentes-quimicos-recebem-atendimento-de-saude-em-vitoria.ghtml. Acesso
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FELIX, Jorge. Projeto oferece aulas de ginástica artística para crianças e


adolescentes, em Vitória. G1 ES, Vitória, 22 dez. 2018. Disponível em:
https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/2018/12/22/projeto-oferece-aulas-de-
ginastica-artistica-para-criancas-e-adolescentes-em-vitoria.ghtml. Acesso em: 30
Junho. 2019.

FROIS, Israel David de Oliveira. O entorno da Vale S.A. na perspectiva da cidade


educativa: da miopia verde à catarse do pó preto. 2018. 215 f. Dissertação
(Mestrado profissional em Ensino de Humanidades) - Instituto Federal do Espírito
Santo, Vitória, 2018.

FROIS, Israel David de Oliveira. O entorno da Vale S.A. na perspectiva do direito


à cidade: da miopia verde à catarse do pó preto. Vitória, ES: Instituto Federal de
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G1 ES. Acidente deixa trânsito lento na Vila Rubim, em Vitória. G1 ES, Vitória, 03
mai. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/es/espirito-
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Acesso em: 30 Junho. 2019.

G1 ES. Após 20 anos de incêndio, lojistas pedem melhorias na Vila Rubim, ES. G1
ES, Vitória, 01 jul. 2014. Disponível em: http://g1.globo.com/espirito-
santo/noticia/2014/07/apos-20-anos-de-incendio-lojistas-pedem-melhorias-na-vila-
rubim-es.html. Acesso em: 30 Junho. 2019.

G1 ES. Carro destrói canteiro central de avenida na Vila Rubim e foge. G1 ES,
Vitória, 18 nov. 2017. Disponível em: https://g1.globo.com/es/espirito-
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G1 ES. Homem morre esfaqueado por mulher na Vila Rubim em Vitória. G1 ES,
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vitoria.html. Acesso em: 30 Junho. 2019.

G1 ES. Mercado da Vila Rubim vai passar por revitalização no Centro de Vitória. G1
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vitoria.ghtml. Acesso em: 30 Junho. 2019.

G1 ES. Moradora de rua é atropelada por motociclista na Vila Rubim. G1 ES, Vitória,
24 ago. 2016. Disponível em: http://g1.globo.com/espirito-
santo/noticia/2016/08/moradora-de-rua-e-atropelada-por-motociclista-na-vila-
rubim.html. Acesso em: 30 Junho. 2019.

G1 ES. Moradores e comerciantes pedem instalação de DPM na Vila Rubim, em


Vitória. G1 ES, Vitória, 07 jul. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/es/espirito-
santo/noticia/moradores-e-comerciantes-pedem-instalacao-de-dpm-na-vila-rubim-
em-vitoria.ghtml. Acesso em: 30 Junho. 2019.

G1 ES. Usuário de drogas é morto a tiros na Vila Rubim, em Vitória. G1 ES, Vitória,
12 jun. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/es/espirito-
santo/noticia/2019/06/12/usuario-de-drogas-e-morto-a-tiros-na-vila-rubim-em-
vitoria.ghtml. Acesso em: 30 Junho. 2019.

G1 ES. Vila Rubim, em Vitória, vai ter 150 vagas de estacionamento rotativo. G1 ES,
Vitória, 30 nov. 2015. Disponível em: http://g1.globo.com/espirito-
santo/noticia/2015/11/vila-rubim-em-vitoria-vai-ter-150-vagas-de-estacionamento-
rotativo.html. Acesso em: 30 Junho. 2019.

GORRITTI, Eliana. População reclama de precariedade no destacamento da PM na


Vila Rubim, em Vitória. G1 ES, Vitória, 31 mai. 2017. Disponível em:
https://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/populacao-reclama-de-precariedade-no-
destacamento-da-pm-na-vila-rubim-em-vitoria.ghtml. Acesso em: 30 Junho. 2019.

GORRITTI, Eliana. Ruas continuam alagadas após chuva na Grande Vitória;


semana inicia com transtornos e protesto. G1 ES, Vitória, 20 mai. 2019. Disponível
em: https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/2019/05/20/ruas-continuam-
alagadas-apos-chuva-na-grande-vitoria-semana-inicia-com-transtornos-e-
protesto.ghtml. Acesso em: 30 Junho. 2019.

LINHARES, Fábio. Usuários de crack são flagrados no mercado da Vila Rubim, em


Vitória. G1 ES, Vitória, 29 ago. 2016. Disponível em: http://g1.globo.com/espirito-
santo/noticia/2016/08/usuarios-de-crack-sao-flagrados-no-mercado-da-vila-rubim-
em-vitoria.html. Acesso em: 30 Junho. 2019.

MACHADO, Viviane. Piedade canta passado, presente e futuro da Vila Rubim. G1


ES, Vitória, 31 jan. 2016. Disponível em: http://g1.globo.com/espirito-
santo/carnaval/2016/noticia/2016/01/piedade-canta-passado-presente-e-futuro-da-
vila-rubim.html. Acesso em: 30 Junho. 2019.
125

PINHEIRO, Larissa Franco de Mello Aquino. O Parque Moscoso como espaço-


memória da cidade de Vitória: a educação na cidade em debate na formação
continuada de professores. 2018. 314 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de
Humanidades) - Instituto Federal do Espírito Santo, Vitória, 2018.

PINHEIRO, Larissa Franco de Mello Aquino. O Parque Moscoso como espaço-


memória da cidade de Vitória: a educação na cidade em debate na formação
continuada de professores. 2018. 314 f. Dissertação (Mestrado profissional em
Ensino de Humanidades) – Programa de Pós-graduação em Ensino de
Humanidades, Instituto Federal do Espírito Santo, Vitória, 2018. Disponível em:
http://biblioteca.ifes.edu.br:8080/pergamumweb/vinculos/000013/000013D4.pdf
Acesso em: 01 Março. 2019.

PINTO, Patrícia Guimarães. Educação na cidade: o processo de modernização da


cidade de Vitória em debate na formação de professores. 2018. 182 f. Dissertação
(Mestrado profissional em Ensino de Humanidades) - Programa de Pós-graduação
em Ensino de Humanidades, Instituto Federal do Espírito Santo, Vitória, 2018.
Disponível em:
http://biblioteca.ifes.edu.br:8080/pergamumweb/vinculos/000014/00001479.pdf.
Acesso em: 01 Março. 2019.

PINTO, Patrícia Guimarães. Educação na cidade: o processo de modernização da


cidade de Vitória em debate. Vitória, ES: Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Espírito Santo, 2018.

QUINTÃO, Leandro do Carmo. A expansão ferroviária em solo capixaba. In.: SILVA,


Igor Vitorino da & QUINTÃO, Leandro do Carmo. (Org.). O Espírito Santo da
Primeira República. Vitória: Flor & Cultura, 2012. p. 9-48.

RIBEIRO, Elton. Mercado popular da Vila Rubim sofre com usuários de drogas e
violência no Centro de Vitória. G1 ES, Vitória, 15 jun. 2019. Disponível em:
https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/2019/06/15/mercado-popular-da-vila-
rubim-sofre-com-usuarios-de-drogas-e-violencia-no-centro-de-vitoria.ghtml. Acesso
em: 30 Junho. 2019.

RODRIGUES, André; SILVA, Diony. Protestos afetam circulação de ônibus e


atrapalham trânsito em Vitória. G1 ES, Vitória, 14 jun. 2019. Disponível em:
https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/2019/06/14/protestos-afetam-
circulacao-de-onibus-e-atrapalham-transito-em-vitoria.ghtml. Acesso em: 30 Junho.
2019.

SILVA, Rafael. Homem é preso depois de furtar carne em supermercado em Vitória.


G1 ES, Vitória, 22 abr. 2017. Disponível em: https://g1.globo.com/espirito-
santo/noticia/homem-e-preso-depois-de-furtar-carne-em-supermercado-em-
vitoria.ghtml. Acesso em: 30 Junho. 2019.

TEDESCO, Leandro. Idoso perde controle de veículo e invade lanchonete na Vila


Rubim, em Vitória. G1 ES, Vitória, 04 jun. 2018. Disponível em:
126

https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/idoso-perde-controle-de-veiculo-e-
invade-lanchonete-na-vila-rubim-em-vitoria.ghtml. Acesso em: 30 Junho. 2019.
127

APÊNDICES

APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO - CAMPUS VITÓRIA
Avenida Vitória, 1729 – Jucutuquara – 29040-780 – Vitória – ES - 27 3331-2110

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

Caro(a) Professor(a),

Gostaríamos de convidá-lo(a) a participar como voluntário(a) da Pesquisa Projeto Curso de Extensão


em Formação de Professores “Educação na cidade: percepção, contradições e sensibilidade da cidade
de Vitória”a ser realizada pelo Programa de Pós Graduação em Ensino de Humanidades (PPGEH) e
Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Educação na Cidade e Humanidades (GEPECH) – Ifes,
organizado, enquanto pesquisa para validação, pelas mestrandas Alexsandra Loss Franzin, Maria
Raquel Ardisson Passos e Samira de Souza Sanches. Nosso público alvo são profissionais da
educação básica de qualquer área de ensino.

Inspirada em visão sobre educação e cidade, a partir dos estudos no Grupo de Estudos e Pesquisas
sobre Educação na Cidade e Humanidades (GEPECH) sob a temática da cidade e do ensino
humanidades, essa proposta busca contribuir na formação continuada de professores da rede pública
de educação, especialmente na área da Grande Vitória, através da redescoberta de espaços da cidade
de importância histórica e cultural.
Em consonância com pesquisas desenvolvidas no GEPECH, do Mestrado em Ensino de Humanidades
(PPGEH) no IFES/ Campus Vitória, o objetivo geral desse projeto é propor o desenvolvimento da
percepção da cidade como ferramenta de ensino, na medida em que contribui para uma leitura de
mundo humanizada, colaborativa e coletiva, a partir de diferentes visões de mundo que existem dentro
da comunidade escolar. Para tanto, a pesquisa adotará a abordagem qualitativa articulada à
metodologia da Pesquisa Colaborativa e a produção de dados ocorrerá a partir de uma postura teórico-
metodológica problematizadora por meio das discussões e de atividades promovidas por esse curso
de extensão. Também serão contempladas reflexões e experimentações resultantes de oficinas de arte
a serem mediadas junto aos participantes do curso e também poderão ser realizadas entrevistas para
a complementariedade dos dados.

Por se tratar de pesquisa vinculada ao Mestrado Profissional, recomenda-se na Portaria 80/1998 da


Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) que versa sobre área 46 de
ENSINO, o desenvolvimento de um processo ou produto educativo. Portanto, além da formação
destinada aos profissionais da educação pública da Grande Vitória, essa formação/ pesquisa prevê a
verificação e validação de três (03) E-books que irão conter as temáticas abordadas durante o curso,
bem como as intervenções apresentadas pelos participantes, acrescentando à proposta dos E-book
uma coletividade em sua construção.

Consideramos benefícios para esta formação: oportunidade de troca de informação entre pares/
professores na Investigação de possibilidades de contribuir para o resgate da cultural local em relação
aos espaços do município de Vitória no seu cotidiano, tendo como horizonte o “direito à cidade;
incentivo de práticas de ensino dentro da cidade de Vitória com os professores inseridos em sua
realidade local para a compreensão das constantes transformações da cidade e os diversos interesses
que nele se cruzam; acompanhamento da elaboração de cadernos de formação de professores
construídos coletivamente com a síntese das atividades realizadas.
128

Ponderando o envolvimento de pessoas nesta pesquisa, temos a preocupação quanto à importância


em considerar as relações entre os envolvidos, e os riscos, mesmo que mínimos, que possam ser
gerados, como: constrangimento ou insulto entre os participantes; desprezo às considerações e
contribuições dos participantes; acidentes que possam ocorrer nos encontros que serão realizados nos
dois espaços da cidade. Diante disso, as ações das pesquisadoras para evitar tais riscos, serão:
proporcionar tratamento adequado, considerando a diversidade, a todos(as) os(as) participantes, para
que seja evitado e/ou minimizado sentimentos de constrangimento e incômodo a todos os envolvidos
na pesquisa; atuar em conjunto para que seja garantido atendimento coletivo e individualizado aos
professores cursistas, quando necessário; será solicitado aos participantes tomar precauções possíveis
durante esses os momentos em que estaremos visitando espaços da cidade. Além disso, será
solicitada a utilização de sapato fechado, calça, boné, filtro solar e repelente. Observaremos a
necessidade de diagnosticar outros riscos sempre tentando resolver ou minimizá-los.

Quanto à relação estabelecida entre pesquisadoras e cursistas, essa acontecerá de forma profissional,
priorizando as relações dentro de valores morais e éticos. Haverá garantia da não utilização por parte
das pesquisadoras, das informações obtidas na pesquisa sem prejuízo dos seus participantes. Será
assegurada a garantia de confidencialidade das informações, da privacidade e da proteção de sua
identidade, inclusive do uso de sua imagem e voz, não havendo qualquer dano ao participante.

A proposta de desenvolvimento do curso de formação tem o intuito de investigar, identificar e analisar


o conhecimento já adquirido pelos professores participantes acerca do tema “educação na cidade” e
desenvolvê-lo a partir de outras perspectivas que serão abordadas e desenvolvidas ao longo do projeto.
Iremos mensurar tais temas e apropriação por meio de atividades, debates, discussões dialógicas e
prática que nos possibilitem avançar nos trabalhos.
Durante o desenvolvimento do curso de formação serão realizadas rodas de conversa, dinâmicas,
observações, gravações de áudio, vídeo e fotografias; no entanto, as informações dessa pesquisa são
confidenciais. Em relação à identificação do(a) participante, o(a) mesmo(a) poderá ter o nome alterado
para outro, fictício, e será mantido em sigilo, a menos que o(a) mesmo(a) faça questão de ter a
participação identificada. Será assegurada assistência durante toda pesquisa, bem como garantido o
livre acesso a todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo e suas consequências.
Enfim, tudo o que o(a) participante queira saber antes, durante e depois de sua participação.

Em qualquer etapa da investigação, haverá acesso às pesquisadoras 1. Maria Raquel Ardisson Passos,
residente à rua São Jorge, 27, Quadra 43, Arlindo Villaschi - Viana/ ES. CEP: 29136-196, Telefone:
(27) 99953-4819 (celular pessoal); 99829-6341 (recado), e-mail: raquelpassosmusica@gmail.com, que
tem como orientadora a professora Drª Sandra Soares Della Fonte - e-mail: sdellafonte@uol.com.br. 2.
Samira de Souza Sanches, residente à rua Saturnino de Brito, 1175/502 – Vitória/ES. CEP: 29055-245.
Telefone (27) 98825-2627, e-mail: sanchessamira@gmail.com, que tem como orientadora a professora
Drª Eliana Mara Pellerano Kuster – e-mail: eliana@ifes.edu.br. Ainda será possível acessar o Conselho
de Ética (CEP) do IFES, que se trata de um colegiado interdisciplinar e independente, com “múnus
público”, criado para defender os interesses dos sujeitos em sua integridade e dignidade, e que tem a
responsabilidade de analisar as pesquisas envolvendo seres humanos com vistas a contribuir no
desenvolvimento da pesquisa dentro dos padrões éticos. O referido comitê está localizado à Av. Rio
Branco, nº 50 - Santa Lúcia - Vitória/ ES, com telefone (27) 3357-7518 e e-mail:
etica.pesquisa@ifes.edu.br. Você será esclarecido(a) sobre qualquer dúvida e estará livre para
consentir ou não, quanto à sua participação na pesquisa e poderá retirar este consentimento ou
interromper a sua participação a qualquer momento, sem nenhum prejuízo, represália ou necessidade
de justificativa.

Os dados coletados nessa pesquisa, como gravações, entrevistas, fotos e filmagens, entre outros,
ficarão armazenados sob a responsabilidade das pesquisadoras, pelo período mínimo de 05 (cinco)
anos após o término da pesquisa, ficando assegurado de que os mesmos serão utilizados somente
para fins de pesquisa, restrita aos conhecimentos científicos e acadêmicos, observando as normas
éticas da pesquisa. As informações fornecidas para as pesquisadoras serão armazenadas por ela em
arquivo, físico ou digital, em computador próprio e/ou em impressos e/ou em CDs/DVDs (áudio e vídeo),
e, posteriormente, transcritas e não serão utilizadas em prejuízo aos participantes ou de outras
pessoas, inclusive na forma de danos à estima, prestígio e prejuízo financeiro.
129

Caso após a leitura integral deste Termo de Consentimento ainda haja informação que você não
compreenda, as dúvidas poderão ser tiradas com as pesquisadoras. Quando todos os esclarecimentos
forem dados e você concordar com a participação como voluntário no estudo, solicitamos que rubrique
as folhas e assine ao final deste documento, que está em duas vias, uma via será entregue a você e a
outra ficará com a pesquisadora responsável.

A assinatura deste documento indica que você compreende o objetivo do referido estudo e manifesta
seu livre consentimento em participar, voluntariamente, da pesquisa por meio do curso de extensão,
estando totalmente ciente de que não há nenhuma gratificação financeira a receber, ou a pagar, por
sua participação.

Ressaltamos que é garantida a plena liberdade de participação na pesquisa. Você é livre para decidir
se participará ou não da pesquisa. A participação no curso de extensão não está condicionada ao aceite
em participar da pesquisa. Contudo, reiteramos que o seu aceite a este convite para participação na
pesquisa consistirá uma grande contribuição para estudo, investigação e aprofundamento da temática
proposta. Informamos, ainda, que se depois de decidir pela sua participação você vier a desistir da
permissão, tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, seja
antes ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua pessoa.

Esclarecemos ainda que ao participar do curso de extensão, o participante receberá um certificado de


80h que será emitido pelo Instituto Federal do Espírito Santo – Ifes, mediante frequência mínima de
75% na participação do curso, bem como a participação de 90% nas atividades propostas e a entrega
do Relato de Experiência, estando ciente de que o descumprimento desses critérios acarretará o não
recebimento da certificação.

Caso aceite participar da pesquisa, poderá preencher os dados a seguir:


Eu, ________________________________________________________________, portador do R.G.
nº ______________________, declaro que li e compreendi este Termo de Consentimento, bem como
os objetivos da pesquisa e a forma de participação na mesma. Portanto, concordo em participar
voluntariamente da pesquisa e, por meio deste documento, as pesquisadoras ficam autorizadas a
utilizar, divulgar e publicar para fins acadêmicos, científicos e culturais, imagens e depoimentos,
coletados no decorrer da pesquisa, no todo ou em parte, editado ou não, com a ressalva de garantia
da integridade de seu conteúdo.
Quanto a minha identificação, declaro que:
( ) Desejo ter o meu nome identificado nos trabalhos de pesquisa a serem desenvolvidos, com os dados
produzidos.
( ) Não desejo ter meu nome identificado nos trabalhos de pesquisa a serem desenvolvidos com os
dados produzidos.
( ) Gostaria de ser identificado com o nome fictício de minha escolha: _______________
( ) Não tenho interesse em escolher um nome fictício para me representar nas pesquisas a serem
desenvolvidas, podendo ficar a critério das pesquisadoras.

___________________________________________________________
Assinatura do(a) participante do curso

______________________________ _____________________________
Prof.ª Drª Sandra Soares Della Fonte Maria Raquel Ardisson Passos
Orientadora Pesquisadora

_______________________________ ___________________________
Prof.ª Drªa Eliana Mara Pellerano Kuster Samira de Souza Sanches
Orientadora Pesquisadora

Data: ___/ ____/ ____


130

APÊNDICE B – TERMO DE CESSÃO DE IMAGENS E VOZ


PARA FINS EDUCACIONAIS

Nome: Idade:
Nacionalidade: Estado Civil:
CPF: Telefone: E-mail:
Endereço: UF:
Cidade: CEP:

Ora designado CEDENTE, firmo e celebro com o Ifes – Instituto Federal de Educação Ciência
e Tecnologia do Espírito Santo, por meio da pesquisadora Samira de Souza Sanches, inserida no
Grupo de Pesquisa em Educação na Cidade e Humanidades (Gepech), aluna do Programa de Pós-
Graduação em Ensino de Humanidades (PPGEH), situado na Avenida Vitória, nº 1729, Bairro
Jucutuquara – CEP: 29040-780– Vitória – ES, designado CESSIONÁRIO, o presente TERMO DE
AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E VOZ PARA FINS EDUCACIONAIS mediante as cláusulas e
condições abaixo discriminadas, que voluntariamente aceitam e outorgam:
Por meio do presente instrumento autorizo a pesquisadora a utilizar minha imagem e/ou voz,
captados por meio de fotografias, gravações de áudios e/ou filmagens de depoimentos, declarações,
videoconferência, exercícios, conferência web, entrevistas e/ou ações outras realizadas a serem
utilizados exclusivamente com fins educacionais e de pesquisa relacionadas a este projeto de
mestrado. Afirmo ter ciência que a transferência é concedida em caráter total, gratuito e não exclusivo,
não havendo impedimento para que o CEDENTE utilize o material captado como desejar para os fins
científicos e educacionais. Declaro que a pesquisadora está autorizada a serem proprietária dos
resultados do referido material produzido, com direito de utilização, de forma científica e por um prazo
indefinido no que se refere à concessão de direitos autorais, utilização e licenciamento a terceiros, para
que façam uso, no todo ou em parte, deste material ou de qualquer reprodução. Declaro ainda que
renuncio a qualquer direito de fiscalização ou aprovação do uso da imagem e outras informações ou
de utilizações decorrentes da mesma.
A cessão objeto deste Termo abrange o direito do CESSIONÁRIO de utilizar a IMAGEM E VOZ
PRODUZIDOS DURANTE O CURSO do CEDENTE sob as modalidades existentes, tais como
reprodução, representação, tradução, distribuição, entre outras, sendo vedada qualquer utilização com
finalidade lucrativa. A cessão dos direitos autorais relativos à IMAGEM E VOZ PRODUZIDOS
DURANTE O CURSO do CEDENTE é por prazo indeterminado, a não ser que uma das partes notifique
a outra, por escrito, com a antecedência mínima de 180 (noventa dias). Fica designado o foro da Justiça
Federal, da seção Judiciária do Espírito Santo, para dirimir quaisquer dúvidas relativas ao cumprimento
deste instrumento, desde que não possam ser superadas pela mediação administrativa.

Local, _________ de ____________________ de _________.

___________________________________________
Assinatura do CEDENTE
131

APÊNDICE C – EMENTA DO CURSO DE EXTENSÃO


132
133
134

APÊNDICE D - ATIVIDADES NÃO PRESENCIAIS DO CURSO

Episódio 2: Sobre o texto "Cidade educativa: reflexões em busca da humanização dos


sujeitos", responda:
1. De acordo com o texto, por que o conceito de "cidade educadora" promovido pela
UNESCO apresenta contradições?
2. Defina as cidades educativas na visão freiriana.
3. De acordo com o texto, se não existe olhar neutro sobre o mundo, o processo
pedagógico também estaria repleto de ingredientes ideológicos e políticos. De que
forma essa afirmação se reflete na sua prática educativa em sala de aula?

Episódio 5: De acordo com o roteiro pedagógico apresentado, responda:


4. O material educativo apresentado permite conhecer conceitos que articulam os
debates mais importantes sobre percepção da cidade e o potencial educativo do
Mercado da Vila Rubim? Justifique.
5. Em que aspectos o conteúdo apresentado necessita de modificações para melhor
alcançar seu público?
6. Você desenvolveria um plano de aula sobre algum dos temas abordados no material
educativo? Qual?

Atividade final – Proposta de ensino ou relato pedagógico


Desenvolva um relato de experiência vivenciada em sala de aula ou uma proposta
de roteiro pedagógico (plano de aula) relacionado aos conteúdos e metodologias
abordadas durante o curso de formação. Uma sugestão é pensar que se todos os
espaços da cidade tem potencial educativo, como podemos abordar o entorno da
nossa escola a partir desse olhar sensível que debatemos? Além disso, como valorizar
espaços da cidade através do ensino? Como a percepção da cidade, a literatura e a
música podem ser incorporados ao seu trabalho?
135

APÊNDICE E – DIÁRIO DE PERCURSO VIAGEM FORMATIVA 1

Diário de Campo – Viagem formativa 1


"De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas
a resposta que dá às nossas perguntas.” CALVINO, Italo. As cidades invisíveis.
Companhia das Letras, 1990. [Le cittá invisibili, 1972].

APRESENTAÇÃO:
A Viagem formativa de hoje tem o objetivo de refletir sobre sobre aspectos diferentes
do Centro Histórico a partir da percepção crítica deste espaço que expressa hoje
marcas dos diferentes tempos e formas que produziram o espaço ao longo da história.
Em alguns momentos, nosso olhar será familiar, em outros, o distanciamento do olhar
estrangeiro será necessário para refletir sobre os processos que estão por trás da
aparência que contemplamos. Nas próximas páginas estão nossos mapas do trajeto
e espaço para anotações, observações e relatos que futuramente formarão nossos
diários de percurso.
136

Trecho 1 - Cidade Alta


Ponto A: Praça Irmã Josefa
Hosana – em frente à Igreja do
Carmo
Ponto B: Convento São
Francisco
Ponto C: Viaduto Caramuru
Ponto D: Vista da Igreja São
Gonçalo e descida pela
Escadaria Carlos Messina

--------------------------------------------
--------------------------------------------
--------------------------------------------
--------------------------------------------
--------------------------------------------
--------------------------------------------
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--------------------------------------------
-----------------------------------
Trecho 2 – Moscoso e Vila Rubim
Ponto A: Ocupação Edifício Santa Cecília
Ponto B: Hospital Santa Casa da Misericórdia
Ponto C: Mercado Municipal da Vila Rubim

___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
137

APÊNDICE F – RELATÓRIO DE EXECUÇÃO

FORMULÁRIO DE RELATÓRIO FINAL DE EXECUÇÃO DE CURSO DE EXTENSÃO


Orientação Normativa Caex 01-2018 – Institucionalização de Ações de Extensão

I. IDENTIFICAÇÃO

Título da Ação “Educação na cidade: percepção, contradições e sensibilidade na


cidade de Vitória”

Número do Processo XXX

Nome do Coordenador Doutora Eliana Mara Pellerano Kuster

Período de execução do Início: 20 / 08 / 2019 Tipo de Relatório:


curso Fim: 10 / 11 /2019 ( ) Parcial ( X ) Final

II. INFORMAÇÕES GERAIS

Abrangência Municípios efetivamente atendidos: Municípios da

(considerar o período de Grande Vitória

execução Unidade(s) Administrativa(s) (UA) efetivamente Ifes – Campus


do Curso) envolvidos: Vitóra e CEFOR.

Ifes: R$---------------------

Recursos financeiros Agências oficiais de fomento:


R$---------------------
investidos: ( ) Capes ( ) CNPq ( ) Finep ( ) Fapes ( ) Outros
(considerar o período de
Contrapartidas de parceiros: R$---------------------
execução
do Curso) Arrecadação própria: R$ 800,00

Outro: R$---------------------

III. PÚBLICO ATENDIDO E PARCEIROS ENVOLVIDOS

Descrição do público que foi


A B C D E F Total
efetivamente atendido pela ação

Público interno do Ifes:

Público de outras instituições


X
educacionais:
138

Público de outras instituições públicas: 28

Público de empresas: 02

Público de organizações não-governamentais:

Público de grupos comunitários: 04

Outro tipo de público: 10

Número total de pessoas que participaram da ação: 44

Legenda: A) Docentes; B) Técnico-administrativos em Educação; C) Discentes de Curso Técnico;


D) Discentes de Graduação; E) Discentes de Pós-Graduação; F) Outros.

Houve participação de pessoas ou comunidades


( X ) Sim ( ) Não
em situação de vulnerabilidade?

Descrição dos grupos ou comunidades em Contribuíram no curso de Extensão “Educação na


situação de vulnerabilidade que participaram da cidade: percepção, contradições e sensibilidade na
ação: cidade de Vitória” pessoas que representam
comunidades em situação de vulnerabilidade, como
foi o caso das duas Viagens Formativas ocorridas
durante o curso:
Viagem formativa I, feita no Centro de Vitória e Vila
Rubim. Nesse momento participou da formação
Lucas Martins que é um jovem é vinculado aos
grupos em situação de luta por moradia,
especialmente pelo grupo que ocupa o prédio Santa
Cecília, no Centro de Vitória.
Viagem formativa II, feita na Prainha de Santo
Antônio. Participou a líder comunitária, Simone
Campos Galdino, que acompanhou a agenda do dia
28 de setembro de 2019, sábado, quando foi feita a
visita mediada nesse mesmo local. A Simone
acompanhou todo o trajeto da visita dos professores
à Prainha de Santo Antônio, colaborando em
reflexões e ajudando a fazer memória desse local
que ajuda a compor a história de Vitória, com suas
lutas e contradições.

Parcerias externas
(somente preencher caso tenha tido mudança no projeto)

Nome da instituição Sigla Descrição das contribuições/contrapartidas


dos parceiros na execução das atividades
139

Prefeitura Municipal de PMV Apoio na elaboração do projeto de curso e


Vitória divulgação do curso entre os professores
da rede

IV. INFORMAÇÕES SOBRE OFERTA E EXECUÇÃO DE CURSOS DE EXTENSÃO


(considerar o período de referência deste Relatório)

Condições de oferta do curso por turma

Turmas Carga horária Data de efetivo Data de efetivo Turno de oferta Horário de
ofertadas executada início término oferta

01 80 horas 20/08/2020 10/11/2019 Noturno 18h às 22h

Matrículas e concludentes

Turma Número de Número de Número de Número de Turno Horário


vagas matrículas concludentes evasões
ofertadas realizadas

01 30 30 15 15 Noturno 18h às
22h

Identificação dos motivos da evasão Os principais motivos para evasão tem relação com a
e possíveis intervenções: sobrecarga de trabalho dos professores participantes, que
com o avanço do ano letivo encontraram dificuldades em
acompanhar um curso presencial noturno e conciliar com o
trabalho. Além disso, a distância física entre a instituição e
o destino dos participantes também foi um dos fatores
citados.

Nesse sentido, acreditamos que uma possível intervenção


seria que o Ifes incentivasse junto às instituições de ensino
(sobretudo públicas) a liberação dos profissionais em
horário de trabalho para participação nas ações de extensão
140

e formação de professores, contribuindo assim para evitar a


evasão.

V. RESULTADOS DA AVALIAÇÃO DE CURSO DE EXTENSÃO PELO DISCENTE


(considerar as avaliações respondidas pelos discentes)

Quanto ao desempenho dos No curso “Educação na cidade: percepção, contradições e


discentes: sensibilidade na cidade de Vitória” o desempenho dos discentes foi
de presente participação nos debates, nos grupos de discussão e
também nas agendas de visitação (Viagem formativa), deixando
marcas positivas de interesse e de companheirismo no grupo.

Quanto ao desempenho dos A equipe de professores que organizou o curso mostrou-se sensível
professores: às demandas dos cursistas e buscou, de forma planejada, mediar as
temáticas da formação de forma dinâmica e participativa, cumprindo
com a proposta apresentada no edital, sempre buscando alternativas
para possíveis imprevistos que tenham ocorrido no decorrer do
percurso do curso.

Quanto ao desempenho da A coordenação do curso, através da professora Eliana Mara


coordenação do curso: Pellerano Kuster, acompanhou todo o decorrer da formação, sempre
orientando e colocando-se à disposição para colaboração em
resolução de dificuldades. A coordenação também muito contribuiu
nas reflexões das temáticas desenvolvidas e nos debates de grupos.

Quanto às instalações e O curso foi realizado no CEFOR, através da gentileza de apoio e


equipamentos utilizados no presença do professor Antonio Donizetti Sgarbi, que realizou o
curso: trâmites para abertura de sala virtual e estudos e também no
agendamento da Sala para aulas presenciais, bem como agenda de
recursos e equipamentos didáticos, como Data Show.

VI. RESULTADOS DA AVALIAÇÃO DE CURSO DE EXTENSÃO PELA EQUIPE EXECUTORA


Os itens abaixo devem resultar da avaliação do curso de extensão feita pela equipe executora, em
função do resultado da avaliação feita pelos discentes matriculados no curso de extensão a respeito
ao curso.

Quanto a metodologia aplicada ao projeto para o A metodologia utilizada foi elaborada junto ao
planejamento e execução das aulas: GEPECH (Grupo de Estudos e Pesquisas sobre
Educação na Cidade e Humanidades) do curso
de Pós-Graduação em Ensino de Humanidade,
tendo sido discutida amplamente para garantir a
qualidade na formação de professores
141

proposta. Tal metodologia que se propõe


colaborativa com a participação dos cursistas
contribuiu para a qualidade na realização e no
decorrer do curso, de modo que os possíveis
problemas foram previamente visualizados e
houvesse abertura para participação ativa dos
cursistas.

Quanto aos conteúdos previstos na matriz Entendemos que os conteúdos previstos na


curricular em relação ao perfil de formação matriz curricular atenderam às expectativas dos
desejado: cursistas, em alguns momentos até superando
às expectativas em relação à profundidade do
conteúdo abordado. De acordo com relatos dos
cursistas, o curso proporcionou discussões e
reflexões para além daquilo que se imaginou
inicialmente.

Quanto a interação da turma entre si e com os A turma de cursistas interagiu sempre


professores (cooperação / trabalho em equipe): positivamente e humanamente, tanto entre si
como com os professores e coordenação,
através da ajuda mútua, através da partilha em
geral (lanches coletivos, troca de saberes, nos
diálogos no grupo virtual, etc). A possibilidade
de trabalhar com momentos musicais e permitir
a participação de familiares nas viagens
formativas também proporcionou uma maior
conexão entre os participantes e professores.

Quanto ao planejamento e trabalho conjunto As professoras conseguiram se organizar para


entre os professores: planejar todo o trajeto do curso, sendo
realizadas muitas reuniões presenciais e
também vários diálogos à distância, sempre em
parceria.

Quanto ao trabalho de toda a equipe executora O trabalho de toda a equipe executora com os
com os estudantes: estudantes trouxe resultados que fizeram
diferença para todos os envolvidos, com a
partilha novos saberes, novos olhares sobre a
temática principal, que era a Educação na
cidade, a partir de uma experiência sensível e
crítica.
142

Resultados das Avaliações dos Estudantes do A metodologia utilizada para avaliação dos
Ifes – membros da Equipe Executora: (baseada na momentos do curso contou com questionários e
metodologia de avaliação utilizada) interações no início das aulas correspondente à
aula anterior, com participação dos cursistas e
sugestão de possíveis modificações. De uma
forma geral, pudemos notar que os cursistas
demonstraram satisfação em relação ao curso e
afirmaram sua vontade de permanecer
enquanto grupo para uma possível continuação
da extensão.

Quanto à relação com a sociedade, dos impactos Compreendemos que a oferta do curso
produzidos pela oferta do curso: (Contribuições colabora para o processo contínuo da formação
para resolução de problemas sociais, ampliação das e emancipação humana, para reflexões críticas
oportunidades educacionais e de inclusão social, sobre o espaço em que vivemos, circulamos e
transferência de conhecimentos, tecnologia e habitamos, na expectativa de cooperação para
inovação) uma cidade cada vez mais justa para o ser
humano e para o planeta. Além disso, pudemos
interagir com lideranças comunitárias (como a
presidenta da Associação de Moradores de
Santo Antônio), proporcionando uma troca entre
a instituição e a sociedade.

Pontos positivos a destacar: - Interação constante com os cursistas através


da música e outras linguagens artísticas
- Ampliação do universo cultural, por exemplo
para novas apreciações artísticas, para além
daquelas apresentadas pela cultura de massa,
pelo mercado convencional
- Reaproximação dos professores do significado
do trabalho em sala de aula e motivação para
explorar a cidade como um espaço de ensino
- Valorização de espaços da cidade de Vitória
pouco explorados pelo turismo e pelas escolas
- Incentivo à formação continuada dos
professores, que se interessaram pelo
mestrado em Ensino de Humanidades
(PPGEH).

Desafios a superar e soluções: - Evasão dos cursistas, que esperamos


solucionar com maior compreensão sobre as
143

motivações de abandono e sugestão de


colaboração do Ifes junto às instituições
públicas de ensino para cessão dos
profissionais em horário de trabalho para
formação continuada.
- Problemas de acesso à Sala Virtual de
estudos. Publicamos todas as aulas e
atividades no ambiente virtual, mas muitos
cursistas tiveram dificuldade de acesso. Uma
possível solução seria liberar o acesso para que
as monitoras do curso pudessem adicionar
participantes ao ambiente virtual por conta
própria sem precisar constantemente solicitar
ao órgão responsável.

Produtos acadêmicos resultantes: Confecção e validação de três produtos


educativos, sob o formato de E-book, sob as
temáticas:
1) O potencial educativo do Mercado
Popular da Vila Rubim;
2) Cidade na Literatura – Marcovaldo
e os 12 passeios de Vitória;
3) Cidade, educação e música.

Todos serão disponibilizados para os cursistas


e publicizados no repositório próprio do
PPGEH.

Observações: A oportunidade de aprendizado na elaboração


do Curso de Extensão junto ao IFES trouxe
ricos saberes para as professoras/ estudantes
do PPGEH, experiência que aspiramos partilhar
em nossa caminhada profissional na educação,
na busca e exercício para promoção humana.

VII. ANEXOS
(Descrever abaixo quais são os anexos deste relatório)

Número do Anexo Descrição do Anexo

1 Edital do curso de formação


144

2 Divulgação oficial IFES

3 Convite aula inaugural

4 Fotos dos encontros

5 Material educativo ebook - “Percepção da cidade e o potencial educativo da


Vila Rubim”

6 Material educativo ebook - “Cidade na literatura - Marcovaldo e os 12


passeios de Vitória”

7 Material educativo ebook - “Cidade, educação e música”

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