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A desconstrução de estereótipos de gênero na pesca artesanal: uma fotoetnografia

Nélson Muchagata, muchagatanelson@gmail.com


s Graduado em Pedagogia - USP

Prof. Dr. Alex Vailati (UFPE), alexvailati@gmail.com

Este trabalho ocupa-se da desconstrução de estereótipos de Estratégias na escola: a partir da exposição e


gênero a partir de observações de campo e levantamento experienciação do produto fotoetnográfico, este trabalho
fotoetnográfico feitos na comunidade de pescadoras e propõe e detalha duas modalidades iniciais de intervenção
pescadores do João Paulo, bairro situado na região centro- para a desconstrução de estereótipos de gênero, uma
norte do município de Florianópolis/SC. Em seu escopo, circunscrita às possibilidades e limites do espaço/tempo na
aborda os processos de invisibilização e estereotipização que sala de aula e voltada especificamente aos alunos; outra
atuam sobre indivíduos, grupos e categorias ocupacionais. situada no espaço/tempo ampliado da escola como um todo,
Propõe, a partir da experiência fotoetnográfica, reflexões que com intencionalidade orientada aos professores, gestores,
contribuam para a ampliar a visibilidade e o horizonte pais de alunos e comunidade local.
perceptivo da complexidade nas relações de gênero, assim
como estratégias para a desconstrução de estereótipos no Considerações finais: atuar como professor ou gestor numa
âmbito da escola referenciadas pelo conjunto sequencial das escola pressupõe ser agente propositor de transformações,
74 imagens produzidas entre outubro e novembro de 2016. alguém que não se omite frente às demandas de seus alunos
e da sociedade em geral, apesar do sentimento de
A fotoetnografia, termo cunhado por Luiz Eduardo insuficiência formativa para o tratamento seguro de temas
Robinson Achutti, é uma modalidade própria de fotografia tantas vezes áridos e polêmicos. Neste conflito instala-se
conjugada ao conhecimento antropológico e dedicada às também uma dimensão particular, pessoal e íntima: a de que
características socioculturais de grupamentos humanos. a informação e a formação são condicionantes para a
Constitui, enquanto forma final, na apresentação de uma libertação de nós mesmos, de nossas próprias ignorâncias e
“série de fotos que estejam relacionadas entre si e que preconceitos. A existência deste conflito é, no entanto, o
componham uma sequência de informações visuais” signo da ruptura que precede qualquer salto
(ACHUTTI, 2004, p. 109). qualitativo. Desta forma, oferecer uma resposta a partir do
recurso fotoetnográfico para a desconstrução de estereótipos
Imagem, gênero e escola: relacionar a experiência de gênero pode ser uma tarefa intangível; porém, não é a
fotoetnográfica com a desconstrução de estereótipos envolve resposta em si, mas o caminho de sua busca: um caminho
reconhecer, diferenciar e valorizar a tensão produtiva entre que desnaturalize o papel normativo atribuído às mulheres
ativismo feminista e a fotografia documental. Segundo para edificar papéis relacionais que dêem conta da amplitude
Marilyn Strathern, considerar as mulheres como um singular de cada existência e ajudem a situar a escola no
‘problema’ em todas as sociedades pressupõe uma resposta protagonismo da promoção da dignidade humana.
que dê conta do que são as sociedades e do que são as
relações entre os sexos (STRATHERN, 2006, p.70). A
permanência das desigualdades deve ser reconhecida em
uma escala e perspectiva histórica que considere também a
miríade de avanços e conquistas que permitem destacar
significativas mudanças em nossa sociedade, resultado direto
do impacto causado pelos movimentos sociais e, de modo
especial, nas questões relativas a gênero, pelo movimento
Referências principais
feminista. Entretanto, é necessário trazer para a realidade das ACHUTTI, Luiz Eduardo Robinson. Fotoetnografia da Biblioteca Jardim. Porto Alegre:
relações cotidianas o que muitas vezes é renegado e Editora da UFRGS/ Tomo Editorial, 2004.
obscurecido pela recorrente síndrome da invisibilidade. Nesta GODOLPHIM, Nuno. “A fotografia como recurso narrativo: problemas sobre a apropriação
da imagem enquanto mensagem antropológica”. Horizontes Antropológicos –
seara as questões de gênero ocupam uma posição central, AntropologiaVisual. Porto Alegre: UFRGS, n. 2, 1995. p. 125-142
onde o “não querer ver” nem sempre é uma cegueira NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas, SP: Papirus, 2005. p. 26-46
malévola e rancorosa: na maioria das vezes pode ser SAMAIN, Etienne. “`Ver´ e `dizer´ na tradição etnográfica: Bronislaw Malinowski e a
fotografia”. Horizontes Antropológicos – Antropologia Visual. Porto Alegre: UFRGS, n. 2,
compreendido como um pedido de ajuda ante uma realidade 1995. p. 19-48.
inexorável. Neste contexto a fotoetnografia representa um STRATHERN, Marilyn. O gênero da dádiva: problemas com as mulheres e problemas com
recurso por gênese e definição - a imagem ou o que é dado a a sociedade na Melanésia; André Villalobos, tradutor. - Campinas, SP: Editora da
UNICAMP, 2006.
ver - em contraposição às pulsões invisibizantes: a ausência
de luz ou o que é dado a esconder.

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