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A Via Sacra é uma das mais antigas formas de se meditar a Paixão de Cristo.

A
expressão vem do latim e significa “caminho sagrado”, literalmente falando, nada
mais é que o trajeto percorrido por Nosso Senhor com a Cruz às costas, desde o
pretório de Pilatos, onde foi condenado à morte, até o Calvário, onde foi
crucificado.
Segundo uma piedosa tradição, ninguém menos que a Virgem Maria teria dado início a
este santo exercício: após a morte de seu divino Filho, seja sozinha, seja em
companhia das santas mulheres, ela teria refeito constantemente a via crucis, isto
é, o “caminho da Cruz”.
Seguindo o exemplo de Nossa Senhora, os fiéis da Palestina - e, no correr dos anos,
numerosos peregrinos de todos os lugares do mundo - procuraram visitar aqueles
santos lugares, cobertos pelo suor e pelo sangue de Jesus Cristo; e a Igreja, a fim
de encorajar-lhes a piedade, abriu a esses peregrinos seus tesouros de bênçãos
espirituais.
Como, porém, nem todos podem ir à Terra Santa, a Santa Sé autorizou que fossem
erigidas, nas igrejas e nas capelas de todo o mundo, cruzes, pinturas ou baixos-
relevos representando as tocantes cenas que se passaram na estrada verdadeira ao
Calvário, em Jerusalém.
Ao permitir a construção dessas “estações”, como são chamadas - e que
tradicionalmente são em número de 14 -, os Pontífices Romanos, que compreendiam
toda a excelência e eficácia desta devoção, se dignaram também enriquecê-las de
todas as indulgências que advinham de uma visita de verdade à Terra Santa.
Ainda hoje, segundo o Manual das Indulgências, “concede-se indulgência plenária ao
fiel que fizer o exercício da via-sacra, piedosamente”, levando-se em conta o
seguinte (conc. 63):
1 - “O piedoso exercício deve-se realizar diante das estações da via-sacra,
legitimamente erguidas.
2 - Requerem-se catorze cruzes para erigir a via-sacra; junto com as cruzes,
costuma-se colocar outras tantas imagens ou quadros que representam as estações de
Jerusalém.
3 - Conforme o costume mais comum, o piedoso exercício consta de catorze leituras
devotas, a que se acrescentam algumas orações vocais. Requer-se piedosa meditação
só da Paixão e Morte do Senhor, sem ser necessária a consideração do mistério de
cada estação.
4 - Exige-se o movimento de uma para a outra estação. Mas, se a via-sacra se faz
publicamente e não se pode fazer o movimento de todos os presentes ordenadamente,
basta que o dirigente se mova para cada uma das estações, enquanto os outros ficam
em seus lugares.”
Essa indulgência pode, ainda, ser lucrada todos os dias do ano e aplicar-se aos
defuntos como sufrágio.
Se sempre devemos meditar os sofrimentos de nosso Redentor, a Quaresma, porém, é um
tempo ainda mais propício para isso, especialmente nas suas duas últimas semanas,
tradicionalmente denominadas de “Tempo da Paixão”.
Por isso, publicamos a seguir o texto de uma Via Sacra com meditações e orações do
Cardeal Joseph Ratzinger, do ano 2005. Encontramos essa preciosidade no site
www.vatican.va/news_services/liturgy/documents/index_via-crucis_po.html (onde é
possível rezar com a tradução portuguesa).
De uma estação a outra, é recomendável que se entoe algum canto piedoso, como o
Stabat Mater. Em língua portuguesa, talvez o hino A Morrer Crucificado, seja o mais
conhecido para essa finalidade. Por isso, acrescentamos os seus versos após cada
uma das meditações e orações do Cardeal Joseph Ratzinger (embora eles não sejam de
2005). Também adicionamos, no final da Via Sacra, duas orações tradicionais que
normalmente a acompanham: uma a Jesus crucificado e outra a Nossa Senhora das Dores
(embora também não sejam de 2005).
As imagens das estações, encontram-se no site www.raulberzosa.com/arte-sacro.

Via Sacra - ORAÇÃO INICIAL: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amen.

Senhor Jesus Cristo, por nós aceitastes a sorte do grão de trigo que cai na terra e
morre para produzir muito fruto. E convidais-nos a seguir-Vos pelo mesmo caminho
quando dizeis: «Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo aborrece a sua
vida conservá-la-á para a vida eterna». Mas nós estamos agarrados à nossa vida. Não
queremos abandoná-la, mas reservá-la inteiramente para nós mesmos. Queremos possuí-
la; não oferecê-la. Mas Vós seguis à nossa frente e mostrais-nos que só dando a
nossa vida é que podemos salvá-la. Acompanhando-Vos na vossa Via-Sacra, quereis que
sigamos o caminho do grão de trigo, o caminho duma fecundidade que dura até à
eternidade. A cruz – a oferta de nós mesmos – custa-nos muito. Mas, na vossa Via-
Sacra, carregastes também a minha cruz, e não o fizestes num momento remoto
qualquer, porque o vosso amor é contemporâneo à minha vida. Hoje mesmo carregais a
cruz comigo e por mim, e, de modo admirável, quereis que agora também eu, como
outrora Simão de Cirene, carregue convosco a vossa cruz e, acompanhando-Vos, me
coloque convosco ao serviço da redenção do mundo. Ajudai-me para que a minha Via-
Sacra não seja apenas um fugidio devoto sentimento. Ajudai-nos a acompanhar-Vos não
somente com nobres pensamentos, mas a percorrer o vosso caminho com o coração,
antes, com os passos concretos da nossa vida diária. Ajudai-nos para que sigamos
com todo o nosso ser o caminho da cruz, e permaneçamos no vosso caminho para
sempre. Livrai-nos do medo da cruz, do medo perante a troça alheia, do medo de
poder fugir-nos a nossa vida se não agarrarmos tudo o que ela nos oferece. Ajudai-
nos a desmascarar as tentações que prometem vida, mas cujas ofertas no fim nos
deixam apenas vazios e desiludidos. Ajudai-nos a não querer apoderarmo-nos da vida,
mas a dá-la. Ajudai-nos, acompanhando-Vos pelo percurso do grão de trigo, a
encontrar, no «perder a vida», o caminho do amor, o caminho que verdadeiramente nos
dá a vida, e vida em abundância.

Via Sacra - 1ª ESTAÇÃO - Jesus é condenado à morte

V. Nós Vos adoramos, ó Cristo, e Vos bendizemos.


R. Porque pela Vossa Santa Cruz redimistes o mundo.

«Disse-lhes Pilatos: «Então que hei de fazer de Jesus, chamado Cristo?». Disseram
todos: «Seja crucificado!». Ele afirmou: «Mas que mal fez?». Eles, porém, gritavam
ainda mais, dizendo: «Seja crucificado!». Pilatos, ao ver que nada conseguia e que,
pelo contrário, o alvoroço se tornava maior, tomando água, lavou as mãos diante da
multidão, dizendo: «Estou inocente deste sangue! É lá convosco». E, em resposta,
todo o povo disse: «Que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos!».
Libertou-lhes, então, Barrabás e, depois de mandar flagelar Jesus, entregou-o para
ser crucificado.» (Mt 27, 22-26)

MEDITAÇÃO: O Juiz do mundo, que um dia voltará para nos julgar a todos, está ali,
aniquilado, insultado e inerme diante do juiz terreno. Pilatos não é um monstro de
malvadez. Sabe que este condenado é inocente; procura um modo de O libertar. Mas o
seu coração está dividido. E, no fim, faz prevalecer a sua posição, a si mesmo,
sobre o direito. Também os homens que gritam e pedem a morte de Jesus não são
monstros de malvadez. Muitos deles, no dia de Pentecostes, sentir-se-ão
«emocionados até ao fundo do coração» (Act 2, 37), quando Pedro lhes disser: A
«Jesus de Nazaré, Homem acreditado por Deus junto de vós, (...), matastes,
cravando-O na cruz pela mão de gente perversa» (Act 2, 22.23). Mas naquele momento
sofrem a influência da multidão. Gritam porque os outros gritam e como gritam os
outros. E, assim, a justiça é espezinhada pela cobardia, pela pusilanimidade, pelo
medo do censura da mentalidade predominante. A voz subtil da consciência fica
sufocada pelos gritos da multidão. A indecisão, o respeito humano dão força ao mal.

ORAÇÃO: Senhor, fostes condenado à morte porque o medo do olhar alheio sufocou a
voz da consciência. E, assim, acontece que, sempre ao longo de toda a história,
inocentes sejam maltratados, condenados e mortos. Quantas vezes também nós
preferimos o sucesso à verdade, a nossa reputação à justiça. Dai força, na nossa
vida, à voz subtil da consciência, à vossa voz. Olhai-me como olhastes para Pedro
depois de Vos ter negado. Fazei com que o vosso olhar penetre nas nossas almas e
indique a direcção à nossa vida. Àqueles que na Sexta-feira Santa gritaram contra
Vós, no dia de Pentecostes destes a contrição do coração e a conversão. E assim
destes esperança a todos nós. Não cesseis de dar também a nós a graça da conversão.

Pai-Nosso... Ave-Maria... Glória...


Tem misericórdia de nós, Senhor, tem misericórdia de nós.

A morrer crucificado,
Teu Jesus é condenado
Por teus crimes, pecador.
Pela Virgem dolorosa,
Vossa Mãe tão piedosa,
Perdoai-me, meu Jesus.

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