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ATÉ QUANDO VAMOS PERMITIR MANIPULAÇÕES DE MERCADO COMO NA AMERICANAS

Mercado brasileiro assiste atônito a mais um show de impropriedades contábeis, conivência de

auditorias, omissão de órgãos reguladores, oportunismo bancário e prejuízos "pornográficos",

principalmente aos pequenos investidores.

A arte imita a vida... e a história tem ciclos que se repetem! Fraudes bilionárias no mercado já

ocorreram aos montes mundo afora. E no Brasil não foi diferente.

Mas repetirmos o mantra de que "ninguém sabe, ninguém viu" é dar um atestado de idiotice ao
mercado investidor brasileiro.

Vivemos em uma era onde isso não cola mais! Com tantos sistemas integrados, digitais,

inteligência artificial, time de estrelas profissionais em todas as área de atuação da empresa...

Chega a ser ridículo ler notas oficiais dizendo que "sentimos muito", "fomos afetados" ou coisa do

gênero! Mas o patrimônio em paraísos fiscais, blindado por estruturas corporativas inatingíveis

ninguém abre mão, né?

A mídia alardeia milhares de futuros desempregados... milhares de fornecedores pequenos e

médios em desespero, quebradeira e inadimplência geral à vista - e medidas judiciais um tanto

quanto... digamos... interessantes!

Não me espantaria se sobrar para o Governo ter que resgatar a brincadeira com a justificativa de
salvar os empregos e a função social da empresa. Afinal o dinheiro dos contribuintes é para isso:
salvar grandes (bem grandes) empresas fraudulentas, certo?

O Brasil não conseguiu abandonar, mesmo depois de 522 anos, o estigma da corte real - quando

o título de nobreza fala mais alto do que o bom senso, as evidências, as auditorias, as estatísticas

e, porque não, até mais alto do que a liquidez efetiva de uma empresa e seus números.

É mais do que óbvio que todos os empréstimos bancários e o endividamento absurdo da

Americanas estava lastreado no "trio" calafrio! - os três maiores bilionários do pais... porque se

preocupar?
Cada vez mais a teoria da economia comportamental se faz presente em situações desastrosas
como essa.

O que se observou nesse episódio, como em tantos outros da historia incluindo a pirâmide

financeira de Madoff nos EUA é algo conhecido como "efeito halo" onde a impressão primeira

impressão é a que fica - ou seja - imagina se alguém em são consciência desconfiaria de uma das

empresas do grupo dos 3 maiores investidores de risco do país?

Existe inclusive um estudo da Havard Business Review sobre o tema, seu efeito no mundo dos

negócios e a maneira como ele influencia fortemente as atitudes que tomamos em virtude de

nossas crenças e simpatias por determinada empresa, marca, CEO, gestor etc. A admiração

pessoal e o respeito público por um "Sonho grande" impactam fortemente nisso.

Outro interessante artigo português sobre o tema da influência do Gestor Midiático, nos dá a

dimensão de quanto podemos ser manipulados por histórias de superação, sucesso, riqueza e

metas ambiciosas... mesmo que muitas vezes isso seja obtido à base de gestão desumana,

máquinas de moer gente (nas palavras do CEO do Grupo Gaia) ou criatividade contábil duvidosa

e de alto risco.

A bem da verdade, o mercado foi enganado e ponto!

Ninguém consegue esconder 20 bilhões de passivo "apenas" não classificando contas contábeis
com outros nomes ou simplesmente não apropriando informações de endividamento bancário via
"cartas de circularização". Risco sacado virou a palavra do momento para justificar "não
contabilizado como deveria".

Quem atua nesse mercado e no dia contábil das empresas sabe que mágicas desse tipo contam

com a participação de muita gente... e muita gente do alto escalão das empresas, dos bancos,

das auditorias, dos órgãos controladores.

Não estamos falando em milhões de reais (o que já seria uma ilegalidade absurda) - estamos

falando de BILHÕES em dívidas que simplesmente não apareceram. Precisamos rever

urgentemente o papel das auditorias (que de independentes não tem nada!) e dos próprios

balanços contábeis.
A contabilidade como ela é vem enfrentando resistências a ser modernizada, automatizada e ser
incorporada pela inteligência artificial. Querem mesmo que acreditemos que não havia meios de
conferir, verificar, cruzar e documentar um valor a descoberto dessa magnitude?

O mercado e os pequenos investidores vão sair perdendo nessa brincadeira. E os alertas de que

outras empresas do grupo possuem questões semelhantes em seus balanços já circula pela boca

pequena do mercado... quem viver verá.

Será se alguém vai pagar pra ver?

Bom, vai depender do próximo livro a ser lançado contando uma história de superação e que nos

envolva novamente no efeito halo de que tudo não passou de um mal entendido contábil -

justamente no país da fiscalização e o mais burocrata do mundo!

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