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ÁGUAS RESIDUÁRIAS
EDIÇÃO Nº 1 – 2018
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APRESENTAÇÃO
Prezado aluno,
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SUMÁRIO
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UNIDADE 1
ÁGUAS RESIDUÁRIAS
Caro(a) aluno(a)
Seja bem-vindo(a)!
Nesta primeira unidade, verificaremos os aspectos e conceitos
fundamentais aplicados às águas residuárias.
Conteúdo da unidade
A unidade contará com 2 capítulos (nomeados Capítulo 1 e Capítulo 2). No
capítulo 1, abordaremos a importância do tratamento das águas residuárias e a
evolução do pensamento e das abordagens sanitaristas até o momento atual,
juntamente com a caracterização e a determinação da composição principal
presente nos esgotos (águas cinzas e negras). No capítulo 2, verificaremos a
necessidade de criação de parâmetros para a qualidade das águas residuárias,
como OD, DBO, DQO, resíduos sólidos, nutrientes, enxofre, óleos e graxas, a fim
de qualificar e verificar o estado e/ou as potencialidades aplicadas aos corpos
hídricos receptores.
Acompanhe os conteúdos desta unidade. Se preferir, vá assinalando os assuntos, à medida que
for estudando.
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1. CAPÍTULO 1 – EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO SANITARISTA
1.1. HISTÓRICO
Historicamente, diversos povos antigos desenvolveram técnicas de
captação, condução, armazenamento e utilização da água sofisticadas para a
época. Os egípcios dominavam técnicas de irrigação do solo na agricultura e
métodos de armazenamento de água, pois dependiam das cheias do rio Nilo. Eles
costumavam armazenar água por um ano para que a sujeira se depositasse no
fundo do recipiente (embora ainda não se imaginasse que muitas doenças eram
transmitidas por microrganismos patogênicos, os processos de filtragem e
armazenamento removiam a maior parte desses patógenos), enquanto as
pessoas que tomassem a água ”suja” ou não processada ficariam mais
vulneráveis a doenças.
Na Antiguidade, dentre as práticas sanitárias coletivas mais marcantes,
destacaram-se a construção de aquedutos, de banhos públicos, de termas e de
esgotos romanos, tendo como símbolo histórico a conhecida Cloaca Máxima de
Roma. Entretanto, a falta de difusão dos conhecimentos de saneamento levou os
povos a um retrocesso, ocasionando o pouco uso da água durante a Idade Média,
quando o consumo per capita de certas cidades europeias chegou a 1 L por
habitante por dia. Nessa época, houve uma queda nas conquistas sanitárias e,
consequentemente, sucessivas epidemias.
Desde os tempos de Hipócrates (séc. V a.C.), uma corrente da medicina
acreditava que as doenças eram causadas por miasmas, emanações exaladas
por águas estagnadas, cadáveres ou qualquer outra matéria em decomposição.
Em contato com miasmas, pessoas suscetíveis ou enfraquecidas acabavam por
ficar doentes. Houve mais tarde uma teoria alternativa: era a chamada "teoria do
germe", uma doutrina "contagionista" por excelência que deu, posteriormente,
origem a medidas sanitárias como o isolamento e a quarentena de pessoas.
Porém, essas medidas foram duramente combatidas e chegaram a cair em
desuso nos primeiros tempos da cólera. Em 1822, médicos franceses que
pesquisavam as causas de um surto de febre amarela em Barcelona concluíram a
impossibilidade de contágio direto entre as pessoas infectadas, e assim,
contrapondo-se aos contagionistas, veio o pensamento liberal, que via nas
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medidas de quarentena 1 um embaraço ao livre comércio e no isolamento das
pessoas uma transgressão aos direitos civis.
Entretanto, a partir de 1850 a cólera começou a reverter a balança do
saber médico em direção às teorias do contágio por germes. O primeiro sinal da
mudança surgiu de um verdadeiro trabalho de "médico-detetive" feito pelo inglês
John Snow. Trabalhando como se estivesse conduzindo um experimento, por
tentativa e erro, o médico inglês conseguiu descobrir que um surto violento no
centro da cidade de Londres, que chegou a vitimar 500 pessoas entre 31 de
agosto e 10 de setembro de 1854, provinha de uma bomba d'água contaminada
usada pela população local. Snow propunha-se, ainda, a demonstrar que as
evacuações de um doente, ao atingirem as águas da cidade, podiam disseminar o
"veneno mórbido" para a população que fizesse uso dessas águas. Não eram
eflúvios e exalações pútridas os causadores da doença, dizia ele, mas sim os
germes contidos na água usada para beber. Snow não identificara o bacilo
causador – que o médico e pesquisador alemão Robert Koch descobriria décadas
mais tarde –, mas suas conclusões sobre a forma indireta de contágio punham
em dúvida a validade da teoria miasmática, tendo sido explicadas e aceitas,
posteriormente, por meio dos seus estudos e os de Pasteur, no fim do século XIX.
Somente no século XX é que se começou a dar maior atenção à proteção
da qualidade de água, desde sua captação até sua entrega ao consumidor. Essa
preocupação se baseou nas descobertas que foram realizadas a partir de então,
quando diversos cientistas mostraram que havia uma relação entre a água e a
transmissão de muitas doenças causadas por agentes físicos, químicos e
biológicos.
No Brasil, a preocupação com a questão do saneamento básico surge ao
se entender que ele promove as condições essenciais para garantir a saúde da
população e a melhoria de sua qualidade de vida, fato que reflete na economia do
país. Tal compreensão da necessidade de tomar certas medidas visando à
preservação da saúde das pessoas pode ser percebida desde os primeiros anos
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O valor de 40 dias atribuído ao nome da prática "quarentena" tem origem histórica na China Antiga,
quando, nos primórdios da prática de vacinação antivariólica, observara-se que as crostas extraídas dos
acometidos por varíola permaneciam infectantes por cerca de 40 dias durante o inverno e apenas 20 dias
no verão. Essa observação cotidiana orientou práticas culturais das mais diversas, todas com o objetivo de
purificação ou contenção da propagação de doenças infecciosas. Deve-se considerar também que a
quarentena deve ser entendida como uma medida de saúde pública, visando à contenção de alguma
epidemia.
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de colonização brasileira – de maneira bastante simples, mas já começando a
surtir algum efeito. Essas medidas, no entanto, atendiam somente uma parte da
população, e essa condição se arrastou por vários anos, assinalando um quadro
precário das condições sanitárias da época e favorecendo a proliferação de várias
epidemias até quase metade do século XIX.
Diante desse quadro, a necessidade de melhorar as condições sanitárias
levou o poder público a investir no setor de saneamento. Por conseguinte,
iniciaram-se importantes campanhas sanitárias de controle e erradicação de
doenças infecciosas e parasitárias, cujo ciclo epidemiológico estivesse
relacionado ao meio físico do local. A partir de então, os órgãos responsáveis pela
saúde pública no Brasil instituíram ações de saneamento, em geral bastante
específicas e pontuais.
O Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) foi criado em 17 de julho de
1942, em decorrência de um acordo firmado entre os Estados Unidos e o Brasil,
estabelecendo as seguintes atribuições: o saneamento do Vale do Amazonas, o
preparo de profissionais para o trabalho de saúde pública e a colaboração com o
então Serviço Nacional de Lepra. A proposta norte-americana estabeleceu
acordos bilaterais com países latino-americanos, dentre eles o Brasil. Tais
acordos integravam um plano maior para essa área continental, iniciado na
década de 30, visando a ampliar a cooperação com os países do hemisfério sul.
Porém, com o avanço da Segunda Guerra Mundial, a criação do SESP deveria
garantir as condições sanitárias no Amazonas e, posteriormente, no Vale do Rio
Doce, a fim de expandir a produção de matérias-primas para fins militares, como
a borracha e os minérios. No período pós-guerra, as atividades do SESP se
modificaram, e ele tornou-se um grande prestador de serviços de saúde nas
regiões visadas pelos planos desenvolvimentistas do governo brasileiro. Desse
modo, o modelo de atuação desse serviço passou a se apoiar nas estratégias de
qualificação dos trabalhadores da saúde, de educação sanitária e de construção
de uma rede horizontal integrada e permanente de unidades de serviços de
saúde, o que levou à expansão desse modelo aos demais departamentos
estaduais de saúde.
O investimento em saneamento básico no Brasil, da década de 1950 até o
final do século, ocorreu pontualmente em alguns períodos específicos, com
destaque para as décadas de 1970 e 1980, quando existia um “predomínio da
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visão de que avanços nas áreas de abastecimento de água e de esgotamento
sanitário nos países em desenvolvimento resultariam na redução das taxas de
mortalidade”. Nesse período, foi consolidado o Plano Nacional de Saneamento
(PLANASA), que deu ênfase ao incremento dos índices de atendimento por
sistemas de abastecimento de água, mas que, em contrapartida, não contribuiu
para diminuir o déficit de coleta e tratamento de esgoto na época. Até 2006,
apenas 15% do esgoto sanitário gerado nas regiões urbanas dos municípios do
Brasil era tratado. O Quadro 01 apresenta a evolução histórica envolvendo
saneamento no Brasil.
A política pública de saneamento no Brasil vem experimentando, desde
2003, um novo ciclo, marcado pelo marco legal e regulatório, pela reestruturação
institucional e pela retomada dos investimentos. A reestruturação institucional,
com a criação do Ministério das Cidades e da Secretaria Nacional de Saneamento
Ambiental, inegavelmente permitiu maior direcionamento às ações
governamentais. A criação do Conselho Nacional das Cidades e a realização das
Conferências das Cidades possibilitaram o diálogo entre os segmentos
organizados da sociedade. A Lei n. 11.445/2007 (Lei do Saneamento Básico)
fechou um longo período de indefinição do marco legal, inaugurando uma nova
fase na gestão dos serviços públicos de saneamento básico no país, uma vez que
o planejamento assumiu posição central na condução e na orientação da ação
pública.
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Intensa agitação política em torno da questão sanitária, com a
saúde ocupando lugar central na agenda pública: saúde
pública com bases científicas modernas a partir das
pesquisas de Oswaldo Cruz.
Início do século
Incremento do número de cidades com abastecimento de
XX até a década
água e da mudança na orientação do uso da tecnologia em
de 30
sistemas de esgotos, com a opção pelo sistema separador
absoluto, em um processo marcado pelo trabalho de
Saturnino de Brito, que defendia planos estreitamente
relacionados com as exigências sanitárias (visão higienista).
Elaboração do Código das Águas (1934), que representou o
primeiro instrumento de controle de uso de recursos hídricos
no Brasil, estabelecendo o abastecimento público como
Décadas de 30 e
prioritário.
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Coordenação das ações de saneamento (sem prioridade) e
assistência médica (predominante), essencialmente pelo
setor de saúde.
Surgimento de iniciativas para estabelecer as primeiras
classificações e os primeiros parâmetros físicos, químicos e
bacteriológicos definidores da qualidade das águas, por meio
Décadas de 50 e
de legislações estaduais e em âmbito federal.
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Permanência da dificuldade em relacionar os benefícios do
saneamento com a saúde, restando dúvidas também quanto
a sua existência efetiva.
Predomínio da visão de que avanços nas áreas de
abastecimento de água e de esgotamento sanitário nos
países em desenvolvimento resultariam na redução das taxas
de mortalidade, embora ausentes dos programas de atenção
Década de 70 primária à saúde.
Consolidação do Plano Nacional de Saneamento
(PLANASA), com ênfase no incremento dos índices de
atendimento por sistemas de abastecimento de água.
Inserção da preocupação ambiental na agenda política
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brasileira, com a consolidação dos conceitos de ecologia e
meio ambiente e a criação da Secretaria Especial de Meio
Ambiente (SEMA) em 1973.
Formulação mais rigorosa dos mecanismos responsáveis
pelo comprometimento das condições de saúde da
população, na ausência de condições adequadas de
saneamento (água e esgotos).
Década de 80 Instauração de uma série de instrumentos legais de âmbito
nacional definidores de políticas e ações do governo
brasileiro, como a Política Nacional do Meio Ambiente (1981).
Revisão técnica das legislações pertinentes aos padrões de
qualidade das águas.
Ênfase no conceito de desenvolvimento sustentável de
preservação e conservação do meio ambiente, e
particularmente dos recursos hídricos, refletindo diretamente
Década de 90 no planejamento das ações de saneamento.
até o início do Instituição da Política e do Sistema Nacional de
século XXI Gerenciamento de Recursos Hídricos (Lei 9.433/97).
Incremento da avaliação dos efeitos e consequências de
atividades de saneamento que importem impacto ao meio
ambiente.
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poderão fornecer uma remoção parcial dos constituintes orgânicos do efluente. A
maior parte dos efluentes industriais necessita de tratamento biológico para atingir
uma eficiente remoção da matéria orgânica.
A Tabela 01 apresenta os principais inconvenientes do lançamento de
esgotos em corpos d’água:
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Tabela 01 – Inconvenientes do lançamento in natura de esgoto nos corpos d’água (Fonte: NUVOLARI, 2003).
Provoca depleção (diminuição ou mesmo extinção) do oxigênio dissolvido, contido na água dos rios e
estuários. Mesmo tratado, o despejo deve estar na proporção da capacidade de assimilação do curso
Matéria orgânica solúvel
d’água. Algumas dessas substâncias podem ainda causar gosto e odor às fontes de abastecimento
de água. Ex.: fenóis.
Ex.: cianetos, arsênio, cádmio, chumbo, cobre, cromo, mercúrio, molibdênio, níquel, selênio, zinco
Elementos
etc. Apresentam perigo de toxicidade (a partir de determinadas concentrações) tanto às plantas
potencialmente tóxicos
quanto aos animais e ao homem, podendo ser transferidos através da cadeia alimentar.
Indesejáveis do ponto de vista estético. Exigem maiores quantidades de produtos químicos para o
Cor e turbidez tratamento dessa água. Interferem na fotossíntese das algas nos lagos (impedindo a entrada de luz
em profundidade).
Principalmente nitrogênio e fósforo, aumentam a eutrofização dos lagos e dos pântanos. Inaceitáveis
Nutrientes
nas áreas de lazer e recreação.
Aos tratamentos: ex.: ABS (alquil-benzeno-sulfurado). Formam espumas nos rios, e não são
Materiais refratários
removidos nos tratamentos convencionais.
Geralmente, os regulamentos exigem sua completa eliminação. São indesejáveis esteticamente e
Óleos e graxas interferem na decomposição biológica (os microrganismos, responsáveis pelo tratamento, geralmente
morrem se a concentração de óleos e graxas for superior a 20 mg/L).
A neutralização é exigida pela maioria dos regulamentos; dependendo dos valores de pH do líquido,
Ácidos e álcalis
há interferência na decomposição biológica e na vida aquática.
Materiais em suspensão Formam bancos de lama nos rios e nas canalizações de esgoto. Normalmente provocam
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decomposição anaeróbia da matéria orgânica, com liberação de gás sulfídrico (cheiro de ovo podre)
e outros gases malcheirosos.
Poluição térmica que conduz ao esgotamento do oxigênio dissolvido no corpo d’água (por
Temperatura elevada
abaixamento do valor de saturação).
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O lançamento de efluentes in natura nos recursos hídricos resulta, além de
vários problemas socioambientais, em impactos significativos sobre a vida
aquática e o meio ambiente como um todo. Por exemplo, a matéria orgânica
presente nos dejetos ao entrar em um sistema aquático leva a uma grande
proliferação de bactérias aeróbicas, provocando o consumo de oxigênio
dissolvido, que pode ser reduzido a valores muitos baixos ou mesmo se extinguir,
gerando impactos na vida aquática aeróbica (conforme apresentado na Equação
01).
[ ]
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A água, tão necessária à vida do ser humano, pode ser também
responsável por transmitir doenças. As principais doenças de veiculação hídrica
são: amebíase, giardíase, gastroenterite, febres tifoide e paratifoide, hepatite
infecciosa e cólera. Indiretamente, a água também está ligada à transmissão de
verminoses, como esquistossomose, ascaridíase, teníase, oxiuríase e
ancilostomíase. Vetores que se relacionam com a água, como o mosquito Aedes
aegypti2, podem ocasionar a dengue, a febre amarela e a malária.
Os efluentes que compõem o esgoto doméstico podem ser classificados
basicamente em dois tipos: águas cinza e águas negras.
Água Cinza: o termo "água cinza" é utilizado, em geral, para água
servida originada em residências (ou também escolas, escritórios ou
edifícios públicos) que não possui contribuição de efluentes de vasos
sanitários. É a água residuária proveniente do uso de lavatórios,
chuveiros, banheiras, pias de cozinha, máquina de lavar roupa e
tanque. A água cinza é geralmente originada pelo uso de sabão ou de
outros produtos para lavagem do corpo, de roupas ou de limpeza em
geral. Ela varia em qualidade de acordo com a localidade e o nível de
ocupação da residência, faixa etária, estilo de vida, classe social,
costumes dos moradores e o tipo de fonte de água cinza que está
sendo utilizado (lavatório, chuveiro, máquina de lavar etc.). Outros
fatores que também contribuem para as características da água cinza
são: a qualidade da água de abastecimento e o tipo de rede de
distribuição, tanto da água de abastecimento quanto da água de reuso.
Água Negra: são as águas residuárias provenientes dos vasos
sanitários, contendo basicamente fezes, urina e papel higiênico, ou
proveniente de dispositivos separadores de fezes e urina, tendo em sua
composição grandes quantidades de matéria fecal e papel higiênico.
Observação: Alguns autores consideram também as águas amarelas,
que, por sua vez, são provenientes de dispositivos capazes de separar
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De acordo com AZEVEDO (2015), o A. aegypti possui a habilidade de se desenvolver em águas com
diferentes graus de poluição, com diferentes concentrações de matéria orgânica, inclusive em esgoto
doméstico. Essa plasticidade lhe confere uma importante capacidade adaptativa, pois água contendo
matéria orgânica e processos fermentativos podem ter um efeito de atração nas fêmeas para a oviposição.
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a urina das fezes, como o exemplo dos mictórios e dos vasos sanitários
com compartimentos separadores para coleta da urina.
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2. CAPÍTULO 2 – IMPORTÂNCIA AMBIENTAL
O destino final das águas residuárias é, geralmente, o encaminhamento a
um corpo de água, muitas vezes em sua forma bruta. Em consequência desse
lançamento, podem aparecer alguns inconvenientes, como o desprendimento de
maus odores, a presença de sabor na água potável, a mortandade de peixes e a
ameaça à saúde pública. Via de regra, tais impactos são mitigados ou evitados
quando elas são submetidas a tratamento prévio adequado.
Grande parte da poluição hídrica provém de despejos líquidos urbanos
(esgoto doméstico ou municipal) feitos de forma inadequada ou sem o tratamento
necessário. Esses despejos merecem atenção especial, pois apresentam
elevadas concentrações de nitrogênio e fósforo. Esses compostos, quando
dispostos no meio ambiente aquático em concentrações elevadas, provocam a
degradação do corpo hídrico e podem acarretar um processo denominado
eutrofização, caracterizado pela degradação gradual do recurso hídrico,
principalmente dos compartimentados, como lagos ou lagoas.
Os efluentes das estações de tratamento de esgoto, quando tratados para
serem lançados em corpos receptores de água doce, devem, simultaneamente,
atender às condições e padrões de lançamento de efluentes e não ocasionar a
ultrapassagem das condições e padrões de qualidade de água estabelecidos para
as respectivas classes, nas condições da vazão de referência. No Brasil, o
Ministério do Meio Ambiente (MMA), por meio do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA), estabeleceu as resoluções n° 357/2005, 396/2008 e
430/2011, as quais discorrem sobre a classificação dos corpos de água e dão
diretrizes ambientais para os seus enquadramentos, bem como estabelecem as
condições e os padrões de lançamento de efluentes.
O uso dos padrões de qualidade atende a dois propósitos. O primeiro é
manter a qualidade do curso d’água ou definir a meta a ser atingida para o
mesmo; o outro é servir como base para definir os níveis de tratamento a serem
adotados na bacia, de modo que os poluentes lançados não alterem as
características do curso de água que foram estabelecidas pelo padrão. A escolha
dos parâmetros e métodos a serem analisados e utilizados na realização do
monitoramento e do diagnóstico quali-quantitativo dos recursos hídricos (padrão
de qualidade), bem como a realização dos estudos com base em uma variação
temporal e espacial, pode auxiliar enormemente na identificação correta das
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fontes degradadoras da área de estudo e dos impactos causados ao meio
ambiente. Assim, é fundamental que a identificação de tais métodos e parâmetros
seja realizada dentro do contexto e das características e particularidades de cada
região.
Os parâmetros de qualidade da água mais comumente utilizados para a
caracterização de corpos hídricos são temperatura, cor, odor, sólidos totais,
turbidez, condutividade, pH, oxigênio dissolvido, dureza, clorofila, nitrogênio,
fósforo, algas, DQO e DBO. A seguir, serão descritos resumidamente alguns
desses parâmetros.
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encontradas, por exemplo, no esgoto doméstico, em certos resíduos
industriais, no vinhoto3, entre outros. Outro exemplo é os resíduos orgânicos
despejados nos corpos d’água que são decompostos por microrganismos
decompositores aeróbios. Assim, quanto maior a carga de matéria orgânica,
maior será o número de microrganismos decompositores e,
consequentemente, maior o consumo de oxigênio.
Na falta de oxigênio, a matéria orgânica presente no corpo d'água pode ser
degradada por anaerobiose, processo pelo qual os seres decompositores
usam outros elementos que não o oxigênio como aceptores de elétrons na
obtenção de energia para seu metabolismo. Esse processo, entretanto,
necessita de maior período de tempo para os microrganismos completarem a
estabilização da matéria orgânica, além de gerar, como subprodutos, gases
que causam odores desagradáveis. Apenas um número muito restrito de seres
vivos consegue viver em um corpo hídrico em estado anaeróbio, sendo este
considerado um meio ambiente morto. Por essas razões, é desejável evitar
que a estabilização da matéria orgânica no curso d'água aconteça por meio de
processos anaeróbios, tolerando-os apenas em campos próximos a descartes
de efluentes e em regiões próximas aos sedimentos de fundo. Por outro lado,
os processos anaeróbios são bastante utilizados para tratamento de esgotos
domésticos, devido à facilidade de operação dessas estações e ao baixo custo
com energia.
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Indicação aproximada da fração biodegradável do despejo;
Indicação da velocidade de degradação do despejo;
Indicação da velocidade de consumo de oxigênio;
Determinação aproximada da quantidade de oxigênio necessária
para estabilização da matéria orgânica.
2.4. NUTRIENTES
São três as principais origens dos nutrientes que fertilizam a água:
Escoamento superficial e erosão em áreas de agricultura fertilizada;
Erosão devido ao desmatamento;
Águas residuárias.
Assim, para reduzir a carga de nutrientes que chega a um corpo d’água,
fazem-se necessários o ordenamento territorial e o uso do solo na bacia
hidrográfica, a adoção de boas práticas na agricultura (agricultura orgânica,
controle de erosão, sistema de irrigação apropriado, período correto para
aplicação dos fertilizantes em função da cultura etc.) e agroindústria, e a
minimização e tratamento adequado das águas residuárias domésticas e
industriais.
No campo de águas residuárias, os principais nutrientes de interesse para
a engenharia sanitária são o nitrogênio (N) e o fósforo (P). Os nutrientes são
essenciais para o crescimento dos microrganismos responsáveis pela
degradação da matéria orgânica e para o crescimento de plantas aquáticas
(algas), podendo, em certas condições, conduzir a fenômenos de eutrofização
de lagos e represas.
A eutrofização pode causar danos aos corpos receptores, podendo-se
enumerar: problemas estéticos e recreacionais; condições anaeróbias no
fundo do corpo d’água; eventuais condições anaeróbias no corpo d’água como
um todo; eventuais mortandade de peixes; maior dificuldade e elevação nos
custos de tratamento da água; problemas com o abastecimento de águas
industrial; toxicidade das algas; modificações na qualidade e quantidade de
peixes de valor comercial; redução na navegação; e capacidade de transporte.
Além disso, a amônia pode causar problemas de toxicidade aos peixes e
implicar em consumo de oxigênio dissolvido. Em termos de águas
subterrâneas, a maior preocupação é com o nitrato, que pode contaminar
águas utilizadas para abastecimento, podendo causar problemas de saúde
pública (metemoglobinemia).
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Nos esgotos domésticos brutos, as formas predominantes do nitrogênio
são o orgânico e a amônia, determinados em laboratório pelo método
Kjeldahl4, constituindo o assim denominado Nitrogênio Total Kjeldahl (NTK). O
nitrogênio total inclui:
a. Nitrogênio orgânico: na forma de proteínas, aminoácidos e ureia;
b. Amônia: produzida como primeiro estágio da decomposição do
nitrogênio orgânico;
c. Nitrito: estágio intermediário da oxidação da amônia;
d. Nitrato: produto final da oxidação da amônia.
2.5. ENXOFRE
Dentre dos vários compostos existentes em águas residuárias, o enxofre é
um dos mais importantes nutrientes para o metabolismo de microrganismos.
No esgoto, o enxofre é originário das fezes e águas de abastecimento, e está
presente principalmente como sulfatos e sulfetos inorgânicos e enxofre
orgânico. Ele é constantemente transformado e transportado no meio
ambiente, e muitas dessas transformações podem causar transtornos, como,
por exemplo, a corrosão, a toxicidade e a liberação de odores. As
transformações podem envolver reações de oxidação-redução química,
podem ocorrer espontaneamente ou associadas a processos biológicos, tais
4
O método de Kjeldahl baseia-se na transformação do nitrogênio da amostra em sulfato de amônio por
meio da digestão com ácido sulfúrico e posterior destilação com liberação da amônia, que é fixada em
solução ácida e titulada.
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como a redução assimilatória e dissimilatória, e a dessulfuração. Outro
importante processo biológico a ser considerado é a conversão do enxofre
orgânico em inorgânico durante a degradação do material orgânico pelas
bactérias. Ambientes anaeróbios são ideais para o desenvolvimento de
bactérias redutoras de sulfato, causando um aumento nas concentrações de
sulfeto.
Em reatores anaeróbios, o sulfeto pode provocar efeito inibitório nas
bactérias metanogênicas. Além disso, à presença de sulfato, em altas
concentrações, ele causa uma variação na rotina metabólica da digestão
anaeróbia, pois as bactérias redutoras do sulfato irão competir pelo mesmo
substrato com as bactérias anaeróbias envolvidas na metanogênese. Tendo
em vista os problemas que compostos de enxofre causam em digestores
anaeróbios de alta taxa, o presente estudo monitorou o funcionamento de um
reator UASB em escala real que trata esgoto doméstico.
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tanques de processo, e da geração de odores quando não submetidos ao pré-
tratamento, podem interferir na formação de escumas e até mesmo na inibição
de processos biológicos. Em reatores anaeróbios, em especial os do tipo
UASB, a formação de escumas interfere no caminhamento do biogás,
proporcionando escape para a zona de decantação, podendo alterar a
qualidade do efluente tratado e também causar flotação da biomassa.
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biológico tem muito pouca chance de sucesso, e a oxidação química aparece
como um processo alternativo, conforme apresentado na Figura 03.
(COLOCAR A FIGURA 03 AQUI)
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QUESTÕES
GABARITO
1. A
2. C
3. C
30
UNIDADE 2
Caro(a) Aluno(a)
Seja bem-vindo(a)!
Nesta segunda unidade, verificaremos os principais níveis de
tratamento das águas residuárias e o sistema de crescimento
bacteriano em lodos.
Conteúdo da unidade
A unidade contará com 2 capítulos (nomeados Capítulo 3 e 4). No capítulo 3,
verificaremos os principais níveis de tratamento de águas residuárias e teremos
uma introdução às aplicabilidades e funcionalidades de fossas sépticas, incluindo
suas tipificações, como câmara única, sumidouros, valas de infiltração e filtros
anaeróbicos de fluxo ascendente. No capítulo 4, verificaremos a primeira parte
dos sistemas de tratamento, com base em lodos ativados, funcionamento do
crescimento bacteriano em lodos, sistemas de gradeamento e caixas de areia.
Acompanhe os conteúdos desta unidade. Se preferir, vá assinalando os assuntos à medida que
for estudando.
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3. CAPÍTULO 3 – TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS
Tratamento de águas residuárias são processos artificiais de depuração,
remoção de poluentes e adequação dos parâmetros das águas residuárias, de
modo a torná-las próprias para lançamento e disposição final, visando a preservar
as condições e os padrões de qualidade dos corpos d’água receptores. Os
processos de tratamento de águas residuárias são classificados em dois tipos:
Processos físicos e químicos, como gradeamento, peneiramento,
sedimentação, floculação, decantação, coagulação, correção de pH
(neutralização), entre outros.
Processos biológicos, como lodos ativados, lagoas de estabilização,
lagoas aeradas, filtros biológicos etc.
A depuração de águas ricas em matéria orgânica, como são os esgotos,
consiste na estabilização desse material orgânico com a introdução de oxigênio e,
por meio da oxidação, é possível transformá-lo em substâncias de estrutura
molecular mais simples e com baixo teor energético. A oxidação da matéria
orgânica ocorre com o auxílio de catalisadores que facilitam essa reação, sendo
os microrganismos presentes em grande quantidade no esgoto os responsáveis
pelo suprimento dos catalisadores. No processo de tratamento de esgotos, os
microrganismos (bactérias, fungos e outros) responsáveis pelo processo
alimentam-se da matéria orgânica presente nos esgotos e respiram liberando o
oxigênio necessário para oxidação.
No tratamento de esgotos, o suprimento de oxigênio pode ser feito por meio
de bactérias que respiram o oxigênio livre do ar (bactérias aeróbias), originando o
processo aeróbio; ou bactérias que retiram o oxigênio combinado e presente em
outras substâncias (aceptores de hidrogênio), originando o processo anaeróbio.
As estações de tratamento de esgoto (ETE) são projetadas com diferentes
propósitos, como proteger a saúde pública e a vida aquática. Define-se como
sistemas de tratamento de águas residuárias o conjunto de processos unitários de
tratamento de águas residuárias que funcionam de forma organizada, objetivando
remover poluentes (impurezas, contaminantes, energia etc.) e devendo atender
as condições e padrões de lançamento em corpos d’água e de qualidade das
águas receptoras conforme sua classe, as condições para reuso ou o lançamento
no solo através de infiltração, para irrigação de culturas.
32
Vários estudos acadêmicos demonstram a necessidade de se usarem técnicas
adequadas para a avaliação do melhor sistema de tratamento de esgoto sanitário
a ser instalado em uma cidade. Nesses trabalhos, são utilizadas principalmente
técnicas de tomada de decisão e métodos quantitativos para a criação de
modelos. É importante frisar que a legislação sobre o nível de tratamento
necessário tem sido alterada à medida que aumentam as informações sobre as
características do esgoto, a eficiência dos processos de tratamento e os efeitos
ambientais provocados pelo lançamento de poluentes.
Dependendo do(s) tipo(s) de poluente(s) que se pretende remover das águas
residuárias, será necessário aplicar um ou vários dos níveis de tratamento
disponíveis: preliminar, primário, secundário e terciário ou avançado. A Tabela 02
apresenta uma breve descrição dos tipos de constituintes básicos removidos
pelos diversos níveis de tratamento das águas residuárias.
33
granulares, filtração superficial e membranas. A
desinfecção é normalmente parte do tratamento terciário. A
remoção de nutrientes é frequentemente incluída nesse
nível de tratamento.
Remoção dos sólidos dissolvidos totais e constituintes
Avançado traços conforme seja necessário para aplicações
específicas de reuso da água.
5
No interior da fossa séptica, flota, na sua parte superior, uma espuma cuja denominação é escuma,
constituída de gorduras e substâncias graxas, misturada com gases oriundos da decomposição anaeróbia
que ocorre no interior de sua câmara. A fossa séptica deve possuir defletores ou ser executada em um nível
abaixo da superfície, o que evita que a escuma saia juntamente com o efluente.
6
Fossa séptica ligada à rede coletora de esgoto ou pluvial: quando as águas servidas e os dejetos fossem
esgotados para uma fossa, onde passavam por um processo de tratamento ou decantação, sendo a parte
líquida canalizada para um desaguadouro geral da área, região ou município;
34
da coleta de esgoto na área rural são ressaltadas quando observamos as
diferentes regiões do país. Por exemplo, na mesma pesquisa, ressalta-se que a
região Sudeste apresentou o maior percentual de domicílios com escoamento do
esgoto feito por meio da rede geral ou fossa ligada à rede (89,0%); já o Nordeste
(44,3%) e o Norte (18,9%) registraram os menores percentuais para a mesma
situação.
Entretanto, o efluente líquido de fossas sépticas é, ainda, altamente
contaminado por coliformes fecais e dotado de uma DBO solúvel relativamente
alta, o que deve ser levado em consideração para melhor escolha da destinação
final. Dessa forma, conforme critérios de localização e caracterização do efluente,
ele poderá ser lançado em sumidouros, valas de infiltração, valas de filtração,
filtros anaeróbios e fluxo ascendente, e em corpos d’água receptores. Há
diferentes configurações de fossas sépticas: câmara única, múltiplas câmaras,
com diferentes alternativas construtivas e de configurações finais do destino do
efluente. Para fossas sépticas bem construídas, com manutenção e operação
adequadas, as eficiências de remoção estão descritas no Quadro 02:
Quadro 02 – Eficiência de remoção em fossas sépticas (NUVOLARI, 2011).
Parâmetro % de remoção
DBO 40 a 60
DQO 30 a 60
Sólidos suspensos 50 a 70
Óleos e graxas 70 a 90
Fossa séptica não ligada à rede coletora de esgoto ou pluvial: quando as águas servidas e os dejetos fossem
esgotados para uma fossa, onde passavam por um processo de tratamento ou decantação, sendo a parte
líquida absorvida no próprio terreno;
Outro: Quando os dejetos fossem esgotados para uma fossa rudimentar (fossa negra, poço, buraco etc.), ou
diretamente para uma vala, rio, lago ou mar, ou quando o escoadouro não se enquadrasse em quaisquer
dos tipos descritos anteriormente.
35
principais responsáveis pela contaminação das águas subterrâneas que
abastecem os poços rasos. Elas são construídas a partir de valas ou buracos no
chão, onde as fezes são simplesmente depositadas no solo. Ou seja, são
construídas sem nenhum tipo de preocupação quanto à contaminação do solo,
das águas superficiais e subsuperficiais, expondo a própria população local ao
risco de contrair doenças como diarreia, cólera, hepatite, entre outras, pelo
consumo da água ou de alimentos contaminados direta ou indiretamente por
esses dejetos.
No interior delas ocorre a decomposição da matéria orgânica presente nos
dejetos e, devido à intensa atividade microbiana, é liberado um líquido de odor
desagradável, com elevada concentração de nitrato (NO3-) e presença de
coliformes fecais, denominado chorume. Esse líquido infiltra-se nas paredes da
fossa e percola através do solo, podendo atingir e contaminar as águas
subterrâneas, justificando-se, assim, o aparecimento das fossas sépticas para
amenizar parte do processo polutivo.
Entretanto, os efluentes resultantes das fossas sépticas necessitam de
sistemas de disposição e de tratamento complementar, o que requer maior
conhecimento e atenção por parte de seu operador, e eleva seu custo. De acordo
com a norma NBR-13969, que trata da disposição final e do tratamento
complementar dos efluentes das fossas sépticas, entre as alternativas de
tratamento admitidas estão o filtro anaeróbio de leito ascendente, o filtro
anaeróbio submerso, as valas de filtração e filtros de areia, o lodo ativado por
batelada e a lagoa com plantas aquáticas.
Assim, apareceram as fossas sépticas biodigestoras, que são uma alternativa
de saneamento básico na área rural e podem contribuir para o desenvolvimento
local. Elas foram desenvolvidas no ano 2000 para contribuir com um sistema de
tratamento de esgoto de dejetos humanos, substituindo o esgoto a céu aberto e
as atuais fossas utilizadas em propriedades rurais, em razão dos benefícios que
geram, como a reciclagem dos dejetos e sua vedação hermética (o que impede a
proliferação de vetores de doenças).
Elas são compostas por três caixas coletoras, com 1.000 litros cada uma.
Ficam enterradas no solo, funcionam conectadas exclusivamente ao vaso
sanitário e são interligadas entre si por tubos e conexões de PVC. Ao entrar
nesse conjunto de caixas d’água, o esgoto é tratado pelo processo de
36
biodigestão, que reduz muito a carga de agentes biológicos perigosos para a
saúde humana. O tempo da biodigestão varia conforme a temperatura e a
quantidade de pessoas que estão utilizando a fossa. O líquido que se acumula na
terceira caixa d’água da fossa séptica é um biofertilizante. A Figura 04 apresenta
o modelo Embrapa de fossa séptica biodigestora.
(COLOCAR A FIGURA 04 AQUI)
37
As unidades de fossas sépticas (ou tanques sépticos) podem ser de
forma cilíndrica ou retangular, e são de fluxo horizontal, conforme mostra a
Figura 05.
(COLOCAR A FIGURA 05 AQUI)
( )
Onde:
V = volume útil em litros;
N = nº de pessoas ou unidades de contribuição;
C = contribuição de despejos, em litros/ pessoa x dia ou litro/ unidade
x dia
Td = tempo de detenção em dias;
K = taxa de acumulação de lodo digerido em dias, equivalente ao
tempo de acumulação de lodo fresco;
Lf = contribuição de lodo fresco, em litro/ pessoa x dia ou litro/ unidade
x dia.
38
3.1.2. TRATAMENTO DE FOSSAS SÉPTICAS (SUMIDOUROS, VALAS
DE INFILTRAÇÃO, FILTROS ANAERÓBIOS DE FLUXO
ASCENDENTE)
3.1.2.1. SUMIDOUROS
De acordo com a NBR – 13969 (1997) da ABNT, sumidouros são
poços escavados no solo que têm como função promover a depuração
e a disposição final do esgoto no nível subsuperficial. Porém, há
pesquisadores que definem o sumidouro como uma unidade de
depuração e de disposição final do efluente de tanque séptico
verticalizado em relação à vala de infiltração, o que é mais comum.
Devido a essa característica depurativa, seu uso é favorável
somente nas áreas onde o aquífero é profundo e se possa garantir a
distância mínima de 1,50 m (exceto areia) entre o seu fundo e o nível
aquífero máximo, aumentando a eficiência. A Figura 06 apresenta o
esquema de um sumidouro.
(COLOCAR A FIGURA 06 AQUI)
39
Figura 06 – Esquema explicativo de um sumidouro (Disponível em:
http://araguaina.to.gov.br/aguaservida/pdf/cartilha-agua-servida.pdf>.
Acesso em 01 de mar. 2018).
7
Colmatar é sinônimo de entulhar, preencher, sedimentar. É utilizado como jargão das geociências e
engenharias para indicar o preenchimento de uma depressão por sedimentos finos (siltes, argilas).
40
(COLOCAR A FIGURA 08 AQUI)
41
detenção hidráulica (TDH) reduzidos por meio de baixos gastos
energéticos. Apresenta a capacidade de suportar altas cargas
orgânicas e produzir biogás.
A técnica de tratamento anaeróbio busca intensificar as reações de
digestão da matéria orgânica, estabelecendo condições propícias ao
crescimento e à sustentação de microrganismos no reator. Contudo, a
eficiência dos processos de digestão anaeróbia depende de diversos
fatores, dentre eles o pH, a temperatura, a concentração de matéria
orgânica biodegradável, a concentração de compostos tóxicos e da
composição do efluente, entre outros.
42
4. CAPÍTULO 4 – SISTEMAS DE LODOS ATIVADOS – CRESCIMENTO
BACTERIANO, GRADEAMENTO, DESARENADORES E MEDIDORES DE
VAZÃO
O processo de tratamento de esgotos tem por finalidade separar a fase líquida
da fase sólida, tratando-as separadamente e de forma adequada, objetivando
reduzir ao máximo a carga poluidora. Ao final do processo, tanto a fase líquida
quanto a sólida devem estar aptas segundo legislação ambiental específica em
vigor como a Resolução CONAMA nº 430/2011 ou legislações locais mais
específicas.
A função das ETEs consiste em reproduzir, por meio de processos físicos,
químicos e/ou biológicos, em curto período de tempo, condições necessárias e
suficientes, normalmente encontradas na natureza (em corpos hídricos
receptores, tais como rios, lagos e banhados), para promover a decomposição da
matéria orgânica presente nos esgotos.
O tratamento convencional de águas residuárias é uma combinação de
processos físicos, biológicos e químicos projetados para remover sólidos e
matéria orgânica do meio líquido. Os denominados "lodos ativados" são um
sistema de tratamento de efluentes líquidos que apresenta elevada eficiência de
remoção de matéria orgânica presente em efluentes sanitários e industriais,
sendo considerado uma das tecnologias mais utilizada para o tratamento
biológico de águas residuárias. Esse processo foi desenvolvido em Manchester,
Inglaterra, por Ardern e Lockett em 1914, e tem esse nome devido ao
desenvolvimento de uma biomassa ativa de microrganismos capaz de estabilizar
aerobiamente o esgoto.
O processo de tratamento é exclusivamente de natureza biológica, de modo
que a matéria orgânica é depurada, por meio de colônias de microrganismos
heterogêneos específicos, na presença de oxigênio (processo exclusivamente
aeróbio). Essas colônias de microrganismos formam uma massa denominada
lodo (lodo ativo, ativado ou biológico). Nesse sistema de tratamento, o efluente e
o lodo ativado são intensamente misturados, agitados e aerados em unidades
chamadas tanques de aeração para, em seguida, o lodo ativado ser separado do
efluente tratado por sedimentação em decantadores. Geralmente, parte do lodo
ativado separado retorna ao processo, caso contrário, ele é retirado para um
tratamento característico ou disposição final.
43
A estabilidade do sistema está baseada na habilidade de manter essa
biomassa ativa (lodo ativo) dentro do reator, separando-a no decantador
secundário e retornando-a ao reator biológico. Fatores ambientais, como
temperatura e condições climáticas; variações nas características químicas do
esgoto efluente e flutuações dos parâmetros operacionais, como tempo de
detenção celular (θc), tempo de detenção hidráulica, taxa de fornecimento de
nutrientes, taxa de recirculação e concentração de sólidos em suspensão; podem
causar variações na biomassa e levar a um desequilíbrio do processo.
É um sistema que necessita de um alto grau de mecanização quando
comparado a outros sistemas de tratamento, implicando em uma operação mais
sofisticada e, consequentemente, exigindo maior consumo de energia elétrica.
Algumas características do sistema de tratamento por lodos ativados são:
Necessidade de pequena área física disponível para sua implantação (a
tecnologia exige requisitos mínimos de área);
Elevado grau de eficiência de remoção de matéria orgânica e
nitrogenada;
Flexibilidade de operação;
Necessidade de análises físico-químicas e microbiológicas frequentes
para monitoramento e controle do processo;
Exige operadores qualificados para a operação;
Os custos operacionais estão associados ao consumo de energia
elétrica (alto grau de mecanização e automação), consumo de produtos
químicos (alcalinizantes, por exemplo) e capacitações periódicas dos
responsáveis pela operação.
45
partículas, ajudando na clarificação do efluente; além disso, eles contribuem
para a formação do floco, devido à grande quantidade de excreção de muco
fecal. Esses animais possuem lenta taxa de crescimento e reprodução,
indicando alto tempo de retenção celular e alta idade do lodo. A ocorrência e a
densidade de metazoários são relacionáveis com o índice volumétrico do lodo
(IVL), sugerindo que, quanto maior a densidade desse grupo, maiores
resultados de IVL são encontrados.
Os flocos dos lodos ativados são formados por dois níveis de estrutura: a
micro e a macroestrutura. A microestrutura é formada pelos processos de
adesão microbiana e biofloculação, enquanto a macroestrutura é constituída
pelos organismos filamentosos, os quais formam uma espécie de rede dentro
dos flocos sobre a qual as bactérias aderem. Portanto, os insucessos na
separação do lodo ativado podem estar relacionados a problemas da micro
e/ou da macroestrutura dos flocos.
Para que os microrganismos se desenvolvam e reproduzam, a matéria
orgânica presente no lodo deve ser consumida. A forma, ou maneira, como
ocorre esse processo de degradação pode ser ilustrada pela Figura 10, onde a
curva ABCD representa a variação de biomassa, enquanto a curva EFG, o
decaimento da DBO ao longo do processo. Na fase I, ou também fase de
crescimento exponencial, definida mais precisamente pelo segmento A-B, a
disponibilidade de alimento (substrato) é enorme, permitindo um aumento
apreciável de microrganismos no lodo.
Na fase II, bem como no segmento B-C, percebe-se que a fase atinge um
máximo e começa a decrescer. Nessa fase, o alimento disponível está
terminando, e tal evento provoca o decaimento da taxa de crescimento. A
46
variação da biomassa (ΔX) entre o ponto A e o ponto C representará a
quantidade líquida do aumento de microrganismos.
A fase III é uma fase de decrescimento, chamada de "respiração
endógena", definida pelo segmento C-D. Nesse ponto, acontece um fenômeno
de auto-oxidação: as reservas de alimentos estão esgotadas, os
microrganismos passam a sintetizar seu próprio material celular sem
reposição. Além disso, há a destruição de suas células sem a geração de
novas espécies. Nessa fase, ocorre o fenômeno denominado “lise celular”, no
qual os nutrientes liberados pela célula morta passam a ser usados pelas
demais células, ainda em atividade. A variação da biomassa (ΔX) entre o
ponto C e D representará a quantidade liquida da diminuição de organismos
nessa fase.
4.2. GRADES
Os dispositivos de remoção de sólidos grosseiros (grades) são constituídos
de barras paralelas de ferro ou de aço, posicionadas transversalmente no
canal de chegada dos esgotos na estação de tratamento, perpendiculares ou
inclinadas, dependendo do dispositivo de remoção do material retido. As
grades podem ser classificadas de acordo com o espaçamento entre as
barras, conforme a Tabela 03, baseada na NBR 12.209/2011.
Tabela 03: Classificação das grades.
Tipo Espaçamento (cm)
Grade grosseira 4 – 10
Grade média 2–4
Grade fina 1–2
49
Figura 13 – Esquema de funcionamento da Calha Parshal (Disponível em:
<http://www.dec.ufcg.edu.br/saneamento/PARSHALL.html>. Acesso em 07 de
mar. 2018.).
⁄
( ⁄)
Onde:
H0 = altura do nível de água no ponto 0 (m)
W = largura da garganta (m)
50
As calhas Parshall são identificadas pela largura do seu estrangulamento,
também conhecido como garganta. Assim, para cada garganta atribui-se uma
faixa de vazão para dimensionamento e medição. Por exemplo, as calhas
com garganta de 1”, ou 2,54 cm, devem ser utilizadas para unidades com
vazões média, mínima e máxima, variando entre 0,3 e 5,0 L/s.
51
QUESTÕES
53
e. por lagoas profundas, entre 3 e 5 metros, para reduzir a penetração de luz
nas camadas inferiores. Além disso, é lançada uma grande carga de
matéria orgânica, para que o oxigênio consumido seja várias vezes maior
que o produzido. O tratamento ocorre em duas etapas. Na primeira, as
moléculas da matéria orgânica são quebradas e transformadas em
estruturas mais simples. Já na segunda, a matéria orgânica é convertida
em metano, gás carbônico e água.
GABARITO
1. D
2. C
3. C
4. C
54
UNIDADE 3
Caro(a) Aluno(a)
Seja bem-vindo(a)!
Nesta terceira unidade, verificaremos os principais aspectos
aplicados a sistemas de lodos ativados (peneiras,
decantadores e sistemas de aeração).
Conteúdo da unidade
A unidade contará com 2 capítulos (nomeados Capítulo 5 e 6). No capítulo 5,
verificaremos os principais aspectos e tipos aplicados a peneiras, decantadores
(tipos, tempos de detenção e dimensionamento) e reatores biológicos
(características principais e tipificação – PFR e mistura completa). No capítulo 6,
verificaremos os sistemas de aeração (características e propriedades principais),
decantadores secundários (propriedades) e espessamento do lodo.
55
5. CAPÍTULO 5 – SISTEMAS DE LODOS ATIVADOS – PENEIRAS,
DECANTADORES E REATORES
O processo físico de peneiramento consiste em remover os sólidos de uma
corrente líquida por sua própria natureza. É um processo simples, econômico e de
baixo custo. Esses dispositivos são constituídos de malhas de arames, chapas
perfuradas ou equivalentes, podem ser limpas manualmente ou desobstruídas por
mecanismos automáticos. O diâmetro dos furos pode variar de 0,25 a 10,0 mm.
As peneiras, quando corretamente projetadas e operadas, permitem
economizar energia elétrica e produtos químicos nas unidades subsequentes,
como, por exemplo, os equalizadores, que possuem a função de homogeneizar
por meio da mistura realizada por um aerador flutuante. No equalizador também é
feito o ajuste de pH por meio da adição de cal hidratada, buscando atingir uma
faixa entre 8,0 e 11,0, o que irá depender das características do efluente de
entrada do equalizador.
A NBR 12.209 (2011) classifica como peneiras os equipamentos com
aberturas de 0,25 mm a 10 mm, classificando-as em:
Peneiras estáticas: projetadas para promover a autolimpeza; o material
fica retido através do efeito do fluxo do líquido durante o processo de
peneiramento. A principal vantagem está no fato de não requererem
energia e não possuírem peças móveis, porém, ocupam maior área do
que outras peneiras similares;
Peneiras móveis de fluxo frontal: constituída por um conjunto de barras
com espaçamento reduzido, de 0,6 a 10,0 mm, que se deslocam
continuamente alçadas por uma roda guia ao longo da seção do canal
em que são instaladas;
Peneiras móveis de fluxo tangencial ou externo: o efluente chega até a
peneira e segue um fluxo tangencial em relação ao tambor rotativo. Os
sólidos removidos seguem até uma lâmina raspadora, que os
encaminha para uma caçamba, onde são armazenados;
Peneiras móveis de fluxo axial: diferem das de fluxo tangencial apenas
em relação à admissão do líquido, que se dá internamente, no sentido
do eixo de rotação do cilindro, e à remoção do material retido.
56
A Figura 14 apresenta o esquema de funcionamento de uma peneira (tipo fluxo
axial).
(COLOCAR A FIGURA 14 AQUI)
57
Tabela 05 – Principais formas de sedimentação
Tipo de
Descrição Aplicação / Ocorrência
sedimentação
Partículas sedimentam-se como entidades individuais, e não ocorre
Discreta interação significativa com partículas vizinhas (baixa concentração de Remoção de areia
sólidos).
Partículas aglomeram-se durante a sedimentação, aumentando o Decantadores (primários e
Floculenta tamanho e sedimentando-se com velocidades superiores (suspensões secundários) e tanques de
diluídas). sedimentação
Partículas tendem a permanecer em uma posição fixa em relação às
Zonal partículas vizinhas, e sedimentam-se com uma massa única de Decantadores secundários
partículas (suspensões concentradas).
A concentração de partículas é tão elevada que ocorre a formação de
Decantadores secundários e
Compressão uma estrutura, e a sedimentação ocorre apenas pela compressão
adensadores por gravidade.
dessa estrutura, devido ao peso das partículas
58
5.1.2. Tempos de detenção hidráulica e detenção celular
Os processos biológicos podem ser classificados ainda em função da
retenção ou não de biomassa, entendendo-se por biomassa os
microrganismos responsáveis pela degradação de matéria orgânica dos
esgotos. Em decantadores, o esgoto irá fluir vagarosamente, permitindo
que os sólidos em suspensão com densidade maior do que o líquido
sedimentem gradualmente no fundo (agentes coagulantes podem ser
utilizados para aumento da eficiência nessa etapa). Como boa parte
desses sólidos contém matéria orgânica em suspensão, sua remoção
acarreta também a redução da carga orgânica do efluente.
Óleos e graxas e materiais flutuantes também podem ser removidos
nos decantadores primários, por meio de raspadores superficiais. Em
decantadores primários, ocorre frequentemente a chamada sedimentação
floculenta: as partículas, apresentando-se em pequenas concentrações,
floculam e unem-se, formam partículas maiores, fazendo com que a
velocidade de sedimentação (q) aumente com o passar do tempo;
considerando que a partícula irá percorrer uma trajetória (h) de
sedimentação, essa será função de sua velocidade de sedimentação e do
tempo, de acordo com a Equação 09:
59
5.1.3. Dimensionamento de Decantadores
De acordo com a NB-570, os decantadores primários devem ser
dimensionados com base na vazão máxima horária de esgotos sanitários,
e para vazões de dimensionamento superiores a 250 L/s deve-se empregar
mais de um decantador. A norma ABNT NBR 12.209/2011 determina tal
vazão máxima (Qmáxh), que deve ser utilizada para dimensionamento do
decantador primário:
Onde:
Pop = população
QPC = consumo per capita de água (L/hab.dia)
R = coeficiente de retorno
Erc = extensão da rede coletora
Rinf = razão de infiltração
61
Tabela 06 – Critérios básicos para decantadores do tipo fluxo horizontal.
62
5.2. REATORES
Sistemas biológicos de tratamento trabalham com microrganismos
"confinados" em um sistema para degradação da matéria orgânica. Dessa
forma, a degradação que ocorreria no corpo receptor acontece dentro de uma
unidade projetada especificamente para esse fim. Tais unidades são
denominadas "reatores biológicos" ou "biorreatores", uma vez que a remoção
(conversão) biológica é realizada por meio de microrganismos, que utilizam a
matéria orgânica como alimento (fonte de carbono e energia). A matéria
orgânica é convertida em produtos gasosos ou incorporada como massa
microbiana, gerando sólidos.
A formulação de um modelo matemático que expresse a degradação da
matéria orgânica presente no esgoto pela atividade metabólica da biomassa
demanda o conhecimento não apenas de como se dá o crescimento dos
microrganismos com o tempo, mas também exige a ciência da velocidade com
que tais organismos consomem o substrato orgânico disponível e, também,
dos fatores de que depende esse fenômeno. Para tal, podem-se empregar
reatores de laboratório em que se introduz um substrato orgânico que é
consumido por uma massa de microrganismos ali presente, com concentração
XA [mg/L]. Em seguida, suspende-se a introdução de substrato e mede-se a
variação ΔS da concentração do substrato em um tempo Δt bastante curto,
para que seja lícito considerar constante a concentração S de substrato.
Determina-se, então, a variação ΔS/Δt [mg/L.d] da concentração do substrato
ao longo do tempo, referida à concentração XA de microrganismos presentes,
ou seja:
63
durante determinado período no reator, os esgotos deverão ser retidos pelo
mesmo período, o que torna as dimensões do sistema relativamente elevadas.
Dentre os principais aspectos a serem observados no projeto de reatores
convencionais, ressaltam-se:
Comprimento e largura do reator que permitam uma distribuição
homogênea dos aeradores na superfície do tanque;
Profundidade útil do reator dentro da faixa de 3,5 a 4,5 m
(aeração mecânica) e 4,5 a 6,0 m (para ar difuso);
Borda livre do reator de aproximadamente 0,50 m;
Flexibilidade operacional em casos de manutenções
necessárias;
Possibilidade de drenagem do tanque para eventual
esvaziamento, por meio de bombas submersíveis ou por
descargas de fundo.
65
6. CAPÍTULO 6 – SISTEMAS DE LODOS ATIVADOS – SISTEMAS DE
AERAÇÃO, DECANTADOR SECUNDÁRIO E ESPESSAMENTO DO LODO
O sistema de lodos ativados é utilizado, em escala mundial, para o
tratamento de despejos domésticos e industriais em situações nas quais é
necessária uma elevada qualidade do efluente a ser lançado em um corpo
receptor, e reduzidos requisitos de área. O sistema de lodos ativados, sob
certas condições, permite também a remoção biológica de nitrogênio e fósforo.
O sistema de lodos ativados tradicional, como etapa secundária, é formado
por um tanque de aeração e um decantador secundário.
No tanque de aeração ocorre a remoção da matéria carbonácea, podendo
ocorrer, também, a remoção de matéria nitrogenada. Os microrganismos
presentes no esgoto decompõem o substrato (matéria orgânica) e se
desenvolvem. O esgoto é transferido, então, ao decantador secundário, onde
ocorre a sedimentação dessa biomassa, permitindo que o efluente saia
clarificado. Parte do lodo sedimentado é recirculado para o tanque de aeração,
já que esse lodo acumulado é constituído, em sua maior parte, por
microrganismos ainda ativos (“lodo ativado”), do ponto de vista da assimilação
do substrato. Com esse retorno de lodo, a concentração de biomassa no
tanque de aeração aumenta, permitindo um aumento no consumo da matéria
orgânica. Essa recirculação garante a eficiência do sistema, pois, com esse
aumento da biomassa, o tempo de permanência dos microrganismos passa a
ser suficiente para que quase a totalidade da matéria orgânica dos esgotos
seja metabolizada, resultando em maior quantidade de DBO removida.
Deve-se ressaltar que o estresse hidrodinâmico gerado pela aeração,
fluidização e colisão de partículas é um parâmetro chave na investigação dos
fatores que influenciam a formação dos flocos biológicos do lodo ativado. Uma
maior taxa de cisalhamento aplicada resultaria em um floco mais denso e
compacto, em oposição às baixas taxas de cisalhamento, as quais tendem a
originar flocos mais fracos, de baixa coesão. Com o aumento da taxa de
cisalhamento, haverá um momento em que a força de coesão dos flocos de
grandes dimensões passará a ser mais fraca do que a força hidrodinâmica
aplicada, tornando-os mais frágeis. A consequência é o surgimento de novas
faixas de tamanho de aglomerados, as quais podem ser monitoradas por
66
análise de imagens a cada nível de estresse diferente submetido ao lodo
ativado.
O lodo ativado é o floco produzido no tratamento do esgoto bruto ou
decantado, devido ao crescimento de bactérias zoogleias ou outros
organismos e a presença de oxigênio dissolvido, acumulado em concentração
suficiente graças ao retorno de outros flocos previamente formados. Vale
ressaltar que esse processo apresenta algumas vantagens e desvantagens
em relação a outros processos, como destacado na Tabela 07.
67
aeração, a qual geralmente contribui com, aproximadamente, 40 - 50% de
toda a eletricidade demandada em uma estação de tratamento de esgotos.
No tanque de aeração, é fornecido oxigênio e micro/macro nutrientes que
já estarão disponíveis no próprio esgoto, uma vez que a urina apresenta uma
grande quantidade de nitrogênio, e o fósforo está muito presente nos
detergentes utilizados. É importante um controle frequente destes parâmetros.
A Figura 15 apresenta os principais parâmetros de processo aplicados aos
tanques de aeração (TA).
(COLOCAR A FIGURA 15 AQUI)
Onde:
Qe, Qs, Qr e Qdle: vazões de entrada, saída, retorno de lodo, e
de descarte de lodo em excesso, em m3/d;
DBOe e DBOs: valores de DBO de entrada e saída;
COe e COs: cargas orgânicas de entrada e saída, em kg DBO/d;
CA: capacidade de aeração, kg O2/d, propiciada pelo sistema
de aeração, dependendo do tipo de equipamento;
TO: taxa de oxigenação: relação entre a quantidade de oxigênio
propiciada pelo sistema de aeração e a carga orgânica de
entrada no tanque de aeração, expressa em kg O2/kg DBO:
68
⁄
( )
70
remoção de DBO/DQO cairá e comprometerá a eficiência do processo como
um todo.
Portanto, no decantador secundário se dá a separação das fases sólida
(lodo) e líquida (efluente tratado). O efluente tratado é descarregado para um
corpo receptor (riacho, rio, oceano, lagoa etc.), enquanto o lodo em parte é
recirculado, e em parte é descartado para posterior digestão. A Figura 16
apresenta uma foto do decantador secundário.
71
Quadro 03 – Características dos sólidos e dos lodos produzidos durante o tratamento das águas residuais convencional.
Tipos de sólidos ou
Descrição
lodos
Os sólidos obtidos no gradeamento incluem todos os tipos de materiais orgânicos e inorgânicos com
Gradeamento tamanho suficiente para serem removidos por grades. O teor de matéria orgânica varia, dependendo da
natureza do sistema e das estações do ano.
As areias são normalmente constituídas por sólidos inorgânicos mais pesados do que a água, e
sedimentam com velocidades relativamente elevadas. Dependendo das condições de operação, as
Areias
areias também podem conter significativas quantidades de matéria orgânica, especialmente óleos e
gorduras.
As escumas consistem em matérias flutuantes raspadas da superfície de decantadores primários e
secundários. As escumas podem conter gorduras, óleos vegetais e minerais, gorduras animais, cera,
Escumas ou gorduras sabões, resíduos de alimentação, vegetais e peles de frutas, cabelos, papéis e algodão, pontas de
cigarros, materiais de plástico, preservativos, partículas de areia e materiais similares. A densidade das
escumas é inferior a 1,0, e normalmente à volta de 0,95.
Os lodos provenientes dos decantadores primários são habitualmente cinzentos e viscosos, e, na
Lodos primários grande maioria dos casos, têm um odor extremamente repulsivo. Os lodos primários podem ser
facilmente digeridos sob condições adequadas de operação.
Os lodos da precipitação química com sais metálicos são usualmente escuros, embora a sua superfície
Lodos obtidos por
possa ser avermelhada, se contiverem muito ferro. Os lodos de cal são cinzentos acastanhadas. O
precipitação química
odor dos lodos químicos pode ser repulsivo, mas não é tão ruim quanto o do lodo primário. Enquanto
72
os lodos químicos são viscosos, a presença de hidratos de ferro ou alumínio conferem-lhe
características gelatinosas. Quando armazenados durante algum tempo, decompõem-se como os
lodos primários, mas a uma taxa mais lenta. Podem ser produzidas elevadas quantidades de gás, e a
densidade das lamas pode ser incrementada por uma permanência elevada num espessador.
Os lodos ativados têm geralmente um aspecto acastanhado e floculento. Se a cor é escura, o lodo
pode estar próximo de atingir condições sépticas. Os lodos em boas condições têm um cheiro de terra
Lodo ativado
inofensivo. O lodo tende a tornar-se séptico rapidamente, e então apresenta um desagradável odor de
putrefação. Os lodos ativados digerem bem sós ou misturados com lodos primários.
Os lodos digeridos anaerobiamente são castanho-escuros a pretos, e contêm grandes quantidades de
biogás. Quando drenados para leitos porosos em camadas finas, os sólidos são primeiro arrastados
Lodos digeridos para a superfície pelos gases entranhados, formando uma camada de água relativamente clarificada. A
anaerobiamente água drena rapidamente e permite que os sólidos penetrem lentamente no leito. À medida que o lodo
seca, os gases escapam, deixando uma superfície com fendas bem delineadas e com um odor que se
assemelha à terra argilosa.
73
O espessamento tem como objetivo remover a água do lodo, reduzindo,
assim, o volume. Isso ocasiona a redução da capacidade volumétrica dos
digestores e o tamanho de bombas, redução de consumo de produtos
químicos no desaguamento e menor consumo de energia no aquecimento de
digestores.
O material resultante continua a ser um fluido. Os lodos são espessados
fundamentalmente para diminuir os custos de operação e os custos a jusante
do processamento do lodo. Ao reduzir de 1 para 2% a percentagem de
sólidos, diminui em metade o volume dos mesmos. Os processos mais
comuns de espessamento são: espessamento gravítico no decantador
secundário ou em tanques separados do decantador secundário; flotação por
ar dissolvido; e centrifugação, por gravidade em filtros de banda ou em
tambores rotativos.
Destacam-se os espessadores gravíticos (ou por gravidade) e os por
flotação do ar dissolvido (FAD), que serão descritos a seguir:
Os espessadores por gravidade são as unidades mais utilizadas e
disseminadas, tendo como formas de alimentação por batelada ou contínua, e
sendo gerados em unidades de espessamento. Para o projeto de tais
unidades, os principais parâmetros são:
Taxa hidráulica de aplicação superficial (TAS): valor máximo de
vazão do lodo por unidade de área útil (em planta) do adensador
para obter um determinado grau de clarificação e de adensamento
do lodo (m3 de lodo/m2 de área. d);
Taxa de aplicação (ou descarga) de sólidos (TCS): define o fluxo de
sólidos aplicados por unidade de área útil (em planta) do adensador
para obter um determinado grau de clarificação e adensamento do
lodo. Expresso em termos de massa seca (kg) de sólidos totais
aplicados por unidade de tempo (dia) por unidade de área (m2) de
adensador (kg de SST/m2.d).
Algumas das vantagens do espessamento por flotação por ar dissolvido em
relação ao espessamento por gravidade podem ser destacadas, como:
maiores taxas de aplicação de sólidos e de clarificação – portanto, são
unidades mais compactas, maiores concentrações de sólidos no lodo
espessado e maior versatilidade operacional de instalação devido à
74
possibilidade de controle da quantidade de ar fornecida para a flotação. A
flotação pode ser definida como a separação de sólidos ou líquidos de uma
fase líquida por meio de bolhas de gás não solúvel em água, normalmente o ar
atmosférico. Essas bolhas aderem-se às partículas de lodo pré-condicionado
com polímero, aumentando o empuxo atuante sobre as mesmas e provocando
seu movimento em direção à superfície, onde são devidamente coletadas.
Seus parâmetros de projeto são semelhantes ao método gravítico.
Os processos de desaguamento podem ser divididos em métodos de
secagem natural e métodos mecânicos. Os métodos de secagem natural mais
comuns são os leitos de secagem e as lagoas de lodos. Dentre os processos
mecânicos, citam-se: filtros prensa de esteira, centrífugas, filtros prensa de
placas e prensa parafuso. O processo de filtração do lodo leva a uma maior
concentração de sólidos do que o processo de adensamento. Nos processos
em que são utilizados condicionantes químicos, as filtrações do lodo
aumentam a concentração de sólidos de 20 a 40%, dependendo do tipo de
lodo e da forma de filtração. Quanto maior a porcentagem de sólidos fixos no
lodo, mais fácil será o processo de desaguamento desse resíduo. A Tabela 08
apresenta os teores de sólidos no resíduo do tratamento de esgoto de acordo
com o tipo de estabilização.
Tabela 08 – Teor de sólidos no resíduo do tratamento de esgoto de acordo
com o tipo de estabilização e equipamento utilizado para o deságue (Fonte:
PEDROZA, 2010).
Teor de sólidos no
Tipo de estabilização Desaguamento
resíduo (%)
Filtro prensa de placas 30 a 40
Filtro prensa de esteiras 16 a 25
Digestão Anaeróbia
Centrífugas 25 a 30
Leitos de secagem 20 a 30
Filtro prensa de placas 25 a 35
Filtro prensa de esteiras 13 a 18
Digestão Aeróbia
Centrífugas 20 a 25
Leitos de secagem 25 a 30
75
Terminado o tratamento secundário, as águas residuais tratadas
apresentam um reduzido nível de poluição por matéria orgânica, podendo, na
maioria dos casos, ser admitidas no meio ambiente receptor.
76
QUESTÕES
77
IV. Lagoa Anaeróbia seguida de Lagoa Facultativa -
Tecnologia com baixa remoção de matéria orgânica e
alta remoção de nitrogênio e fósforo.
4. Assinale a alternativa que apresenta a(s) afirmativa(s) correta(s).
a. I
b. I, II e IV
c. III
d. II
e. Todas as afirmativas estão corretas.
GABARITO
1. D
2. D
3. C
78
UNIDADE 4
Caro(a) Aluno(a)
Seja bem-vindo(a)!
Nesta quarta unidade, verificaremos os aspectos relacionados
à utilização de lagoas de estabilização aplicadas em águas
residuárias e as principais técnicas de desinfecção.
Conteúdo da unidade
A unidade contará com dois capítulos (nomeados Capítulo 7 e 8). No capítulo 7,
verificaremos as lagoas de estabilização (facultativas, aeradas, mistura completa,
anaeróbias, maturação e polimento), reatores anaeróbicos (UASB e EGSB) e
filtros biológicos. No capítulo 8, verificaremos os processos mais comuns de
desinfecção, como: cloração-descloração, ozonização e radiação UV.
79
7. CAPÍTULO 7 – LAGOAS E DESINFECÇÃO
7.1. LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO
Lagoa de estabilização é um tanque usado como tratamento de esgoto
secundário ou terciário, especialmente nas áreas rurais. As lagoas de
estabilização tornaram-se populares em pequenas comunidades devido a
seus baixos custos de construção e operação. Elas são usadas para tratar
uma variedade de efluentes domésticos e industriais sob uma ampla gama de
condições climáticas.
Esse sistema constitui uma forma simples de tratamento de esgoto,
baseando-se principalmente em movimento de terra de escavação e
preparação de taludes. Além do objetivo principal de remoção da matéria rica
em carbono, as lagoas realizam, também, o controle de organismos
patogênicos em alguns casos. Entre os sistemas de lagoa de estabilização, o
processo é mais simples, dependendo unicamente de fenômenos naturais. O
esgoto afluente entra em uma extremidade da lagoa e sai na extremidade
oposta. Ao longo desse percurso, que demora vários dias, uma série de
eventos contribui para a purificação dos esgotos.
Os sistemas de lagoas podem ser classificados pelo tipo de reação
biológica dominante, duração e frequência de descarga, tipo de tratamento
após a lagoa, ou o arranjo das células. A classificação mais básica de lagoa
depende do tipo de reação biológica que ocorre nela, e se dividem em quatro
principais tipos: facultativa (aeróbia-anaeróbia), aerada, aeróbia e anaeróbia.
Esses tipos de lagoa dependem da interação dos componentes biológicos in
situ para o tratamento, e podem ser considerados “sistemas naturais de
tratamento”.
80
sedimentar, formando o lodo de fundo. Este sofre tratamento anaeróbio na
zona anaeróbia da lagoa. Já a matéria orgânica dissolvida (DBO solúvel) e
a em suspensão de pequenas dimensões (DBO finamente particulada)
permanecem dispersas na massa líquida. Elas sofrerão tratamento aeróbio
nas zonas mais superficiais da lagoa (zona aeróbia). Nessa zona, há
necessidade da presença de oxigênio, o qual é fornecido por trocas
gasosas da superfície líquida com a atmosfera e pela fotossíntese
realizada pelas algas presentes, fundamentais ao processo. Para isso, há
necessidade de suficiente iluminação solar, portanto, essas lagoas devem
ser implantadas em lugares de baixa nebulosidade e grande radiação solar.
Na zona aeróbia há um equilíbrio entre o consumo e a produção de
oxigênio e gás carbônico. Enquanto as bactérias produzem gás carbônico e
consomem oxigênio, por meio da respiração, as algas produzem oxigênio e
consomem gás carbônico na realização da fotossíntese.
81
grande o suficiente para que todo o sólido fique em suspensão no meio
líquido. A denominação "mistura completa" vem do fato de toda matéria
orgânica, além das bactérias, ficar no meio líquido, propiciando uma maior
concentração das bactérias e aumentando o contato bactérias-matéria
orgânica. Por isso, a eficiência no tratamento é aumentada, permitindo que
o volume da lagoa aerada seja bastante reduzido. O tempo de detenção na
lagoa aerada fica bastante reduzido, em torno de 2 a 4 dias. Apesar da
elevada eficiência do tratamento, um novo problema passou a ser criado. A
biomassa permanece em suspensão e sai juntamente com o efluente para
o corpo receptor. Ainda que tratada, a biomassa é matéria orgânica,
ocasionando no corpo receptor uma demanda por oxigênio, degradando a
qualidade das águas. Para que isso não ocorra, é introduzido nesse
sistema uma lagoa de decantação, em que essa biomassa, com o tempo,
possa decantar no fundo da lagoa, onde são acumulados e removidos
depois de alguns anos de utilização.
Os aeradores das lagoas aeradas de mistura completa têm dupla
função: manter a oxigenação necessária para a aerobiose e manter a
biomassa dispersa no meio líquido. Para isso, é necessário que a
densidade de potência dos aeradores não seja inferior a 3,0 W/m3.
82
mais profundas retêm mais calor, o que é fundamental no processo de
digestão.
A construção de lagoas anaeróbias deve seguir algumas
recomendações em relação à distância de centros urbanos, uma vez que
processos anaeróbios tendem a gerar maus odores. Para tanto, a distância
de pelo menos 500 m deve ser atendida.
83
extremamente complexos. Do ponto de vista hidráulico, as definições de
projeto devem ser tais que permitam resultar em um tempo de detenção
hidráulica (TDH) conhecido e suficiente para que as reações biológicas
ocorram, a partir de um modelo cinético definido para elas. Portanto, trata-
se de um conceito também relativamente simples. Entretanto, essas
premissas são apenas teóricas, e podem ocultar fenômenos de curtos-
circuitos, zonas de estagnação e de troca lenta, linhas de fluxo com
recirculação, dispersão, estratificação térmica, influência do vento e do lodo
acumulado, entre outros, que tornam o TDH real e o comportamento
hidrodinâmico diferentes dos teóricos, podendo resultar na redução das
eficiências de tratamento. No caso das lagoas de maturação ou polimento,
por serem dimensionadas principalmente para remoção de patógenos, a
exemplo de ovos de helmintos, vírus e bactérias, o TDH pode ter, ainda,
maior influência na eficiência.
84
Com a primeira opção, a partida do reator se torna rápida e satisfatória;
com a segunda, há a necessidade de aclimatação do lodo; e com a terceira,
mais demorada e desfavorável, há a retenção e seleção dos microrganismos
contidos no esgoto a ser tratado.
O afluente a ser tratado deve entrar pelo fundo do reator de manta de lodo,
sendo distribuído uniformemente para que seja possível um contato íntimo
entre a biomassa e o substrato, garantindo um melhor regime de mistura e
uma diminuição da ocorrência de zonas mortas no leito de lodo. Ao percorrer
em fluxo ascendente, o afluente passa pela zona de digestão, onde ocorrerá a
mistura com o lodo e a digestão anaeróbia, com consequente produção de
biogás e crescimento de lodo. O efluente tratado sai do reator pelo topo, junto
ao compartimento de decantação, após passar por um sistema de placas
defletoras que separam as fases líquida, sólida e gasosa.
As vantagens dos reatores de fluxo ascendente e manta de lodo UASB
sobre os outros sistemas são fundamentalmente operacionais e econômicas.
Na Tabela 09, são analisadas as vantagens e desvantagens dos reatores
anaeróbios de fluxo ascendente e manta de lodo UASB.
Vantagens Desvantagens
Baixo consumo de energia elétrica, A partida do UASB é lenta, pois as
devido à não utilização de equipamento bactérias anaeróbicas têm uma
eletromecânico velocidade de crescimento
pequena
Sistema compacto, não necessitando de Pequena remoção de organismos
grandes áreas patogênicos
Esse tratamento suporta variações de Esse sistema tem baixa
carga orgânica e hidráulica, quando o capacidade de tolerar cargas
sistema estiver estabilizado e o lodo, tóxicas
ativo
Eficiência de DBO e DQO na ordem de Geração de odor desagradável por
65 a 75% causa da degradação de
compostos contendo enxofre e gás
85
sulfídrico.
Produção de energia na forma de metano Necessidade de pós-tratamento,
para remoção de DQO
remanescente, amônia e outros
compostos
Pequena produção de lodo. Tal lodo não
precisa de tratamento, pois já sai
estabilizado, havendo apenas a
necessidade de desidratação
Baixo requerimento de nutrientes
Baixo custo de implantação e operação
Em caso de necessidade, a alimentação
do reator pode ser parada por vários
meses, sem perdas significativas para a
biomassa
87
permite a predominância de organismos facultativos. As populações
microbianas nos leitos dos filtros biológicos são principalmente bactérias
heterotróficas, consumidoras da matéria orgânica predominante e, por isso,
consideradas os principais agentes primários da purificação.
A coexistência entre condições aeróbias, anóxicas e anaeróbias é uma
importante característica dos sistemas com biofilmes, possibilitando a remoção
de nutrientes, principalmente o nitrogênio, por meio do processo de
nitrificação.
88
8. CAPÍTULO 8 – DESINFECÇÃO E TRATAMENTO BIOLÓGICO
8.1. DESINFECÇÃO
Preservar os recursos hídricos para garantir o abastecimento de água de boa
qualidade ao longo das próximas décadas será o grande desafio. O Brasil, como
vários outros países do mundo, vem enfrentando crises econômicas cada vez
mais drásticas. O crescimento desordenado dos grandes centros e a falta de
recursos para saneamento básico colaboraram para que, na década de 90,
ressurgissem doenças de veiculação hídrica praticamente erradicadas no país,
como, por exemplo, a cólera.
A desinfecção dos esgotos deve ser considerada quando se pretende reduzir
os riscos de transmissão de doenças infectocontagiosas. Nesse sentido, os
requisitos de qualidade da água devem ser avaliados em função dos usos
previstos para a mesma. O objetivo principal da desinfecção é destruir os
microrganismos enteropatogênicos, que podem estar presentes no efluente
tratado, para tornar segura a água receptora de uso posterior. O risco de
contaminação está relacionado ao fato de que os esgotos contêm uma série de
organismos patogênicos, excretados juntamente com as fezes de indivíduos
infectados.
Nem sempre os processos convencionais de tratamento de esgotos são
suficientes para a remoção de microrganismos patogênicos. Nesse sentido, a
desinfecção dos esgotos deve ser considerada, a fim de reduzir os riscos de
propagação de doenças infecciosas quando é provável que ocorra contato
humano com águas contaminadas. Na maioria das estações de tratamento de
esgotos sanitários do Brasil inexistem processos de desinfecção e, quando
existem, eles se dão comumente, por meio de cloração do efluente produzido no
tratamento secundário. Durante as décadas recentes, o cloro tem sido o
desinfetante mais largamente utilizado no mundo todo, sendo reconhecida, a
partir de então, uma grande melhoria na saúde da população mundial.
89
forma que nem toda dose aplicada estará disponível para desinfecção.
Assim, a cinética da inativação microbiana deverá ser baseada na dose
residual, que estará efetivamente presente no esgoto após a satisfação da
demanda, e não na dose aplicada.
A informação essencial para o projeto de um sistema de desinfecção é
a taxa de inativação dos organismos-alvo. O efeito da concentração ou da
intensidade do agente desinfetante sobre a velocidade de destruição é
imprescindível para a associação com o tempo de contato e a definição
das doses a serem utilizadas. O preceito fundamental da cinética de
desinfecção foi enunciado por Chick em 1908, atualmente conhecido como
Lei de Chick, a qual reconheceu que a inativação dos microrganismos em
função do tempo obedece ao modelo de uma reação de primeira ordem,
conforme a Equação 20:
Em que:
90
Figura 17 – Inativação de microrganismos em função do tempo para
valores observados (◊ = 0,45 ; □ = 2,64) e estimados (-◊- = 0,45 ; -□- =
2,64), segundo modelo de Chick (FONTE: CAMARGO, 2004).
8
No intumescimento filamentoso (bulking), o lodo tem sedimentação difícil, mesmo com decantação
prolongada. Ocorre por microrganismos filamentosos que não se aglomeram como no lodo normal.
91
acarretar na formação de subprodutos organoclorados, como tri-
halometanos, ácidos haloacéticos, halocetonas, entre outros.
O impacto do cloro livre ou combinado em corpos d’água, resultante
da desinfecção de efluentes, tem sido controlado por padrões ambientais e
resoluções. Diversos compostos têm se mostrado eficientes no processo
de descloração do cloro livre (Cl2), como carvão ativado e peróxido de
hidrogênio, com a vantagem de controlar odores. Alguns agentes
desclorantes, como Dióxido de Enxofre (SO2), Sulfito de Sódio (Na2SO3),
Bissulfito de Sódio (NaHSO3), Metabissulfito de Sódio (Na2S2O5) e
Tiossulfato de Sódio (Na2S2O3), também apresentam bons resultados.
A utilização de dióxido de cloro apresenta grandes vantagens como
alternativa de desinfecção em relação ao cloro. Tem sido testado e
aplicado em efluentes para reuso na China, França, Israel e Estados
Unidos. Para utilização na indústria, nos processos de tratamento de água
residuária, o ClO2 pode ser obtido de várias maneiras, utilizando-se o
clorito de sódio com os seguintes reagentes: cloro dissolvido, ácido
clorídrico, cloro gasoso, ácidos orgânicos e reações eletroquímicas. A
característica química mais destacada do dióxido de cloro é a sua
capacidade de oxidar outras substâncias, através de um mecanismo de
transferência de um único elétron em que o ClO2 é reduzido a clorito (ClO2-
), sem a produção de hipoclorito ou cloro gasoso. Por essa razão e por
oxidar seus precursores, o ClO2 apresenta reduzida formação de
subprodutos organoclorados.
8.1.3. Ozonização
Basicamente, o que diferencia o ozônio dos diversos agentes
desinfetantes é o seu mecanismo de destruição dos microrganismos. O
cloro, por exemplo, atua por difusão através da parede celular, para então
agir sobre os elementos vitais no interior da célula, como enzimas,
proteínas, DNA e RNA. O ozônio, por ser mais oxidante, age diretamente
na parede celular, causando sua ruptura, demandando menor tempo de
contato e tornando impossível sua reativação. Dependendo do tipo de
microrganismo, o ozônio age mais rapidamente do que o cloro na
inativação celular.
92
Embora o ozônio seja um desinfetante bastante utilizado para águas
de abastecimento, ele não é muito aplicado para desinfecção de águas
residuárias em função da alta exigência em quantidade de ozônio. A
matéria orgânica é rapidamente oxidada pelo ozônio, e pode ser realizada
antes (pré-ozonização) ou após o tratamento biológico; porém, a aplicação
após o tratamento biológico é mais comumente realizada como etapa de
polimento, a fim de atender aos padrões químicos e microbiológicos para
lançamento nos corpos receptores, ou naqueles casos em que se deseje
reusar o efluente.
8.1.4. Radiação UV
A radiação UV, emitida por lâmpadas especiais, é um mecanismo
físico no qual a inativação microbiana ocorre por meio da absorção da luz,
que promove uma reação fotoquímica capaz de alterar componentes
moleculares essenciais para as funções celulares, causando danos nos
ácidos nucléicos (DNA e RNA) dos microrganismos, inativando-os.
O efeito germicida das lâmpadas UV é devido à energia associada ao
comprimento de onda 254 nm (472,3 kJ.mol-1), responsável por provocar
alterações no DNA e RNA nas células atingidas. As lesões decorrentes de
modificações no RNA são menos expressivas, pois o RNA é encontrado no
interior da célula na forma de RNA mensageiro, transportador e
ribossômico, possibilitando sua reparação. Já a unicidade do DNA no
interior celular o torna alvo de lesões muitas vezes irreversíveis,
provocadas principalmente pela dimerização de bases nitrogenadas, as
quais podem originar organismos debilitados e não hábeis à sua replicação
e sobrevivência, aumentando a eficiência de inativação de patógenos,
tanto no tratamento de água de abastecimento quanto no esgoto
doméstico.
A radiação UV apresenta como principais vantagens: simplicidade
operacional, requisito mínimo de área para implementação, custo
relativamente baixo (em comparação à cloração de esgotos, que deve ser
acompanhada de subsequente descloração, o que torna o custo da
radiação UV competitivo), pouca exigência de operação e manutenção,
eficácia de inativação para grande variedade de microrganismos, e
93
ausência do uso de produtos químicos e de geração de subprodutos
tóxicos na água ou efluente final, sendo que as poucas alterações que
ocorrem na matéria orgânica pela ação da radiação UV não são
prejudiciais à saúde humana nem ao meio ambiente.
O produto entre a "Intensidade de Radiação" e o "Tempo de
Exposição" é definido por "Dosagem de Radiação Aplicada". A literatura
científica tem reportado que efluentes secundários e terciários necessitam
de dosagens de radiação UV entre 30,0 e 45,0 mW.s.cm-2 para garantir
redução de 3,0 a 5,0 log no número de coliformes fecais, coliformes totais e
Streptococcus faecalis sobreviventes. Entretanto, doses maiores podem
ser necessárias para efluentes com elevada concentração de sólidos em
suspensão (acima de 100,0 mg.L-1), devido ao efeito de barreira que
dificulta a passagem da radiação, ou mesmo para efluentes com elevada
contaminação (em termos do número de microrganismos), ou ainda frente
a microrganismos mais resistentes à radiação UV, necessitando da
combinação de técnicas desinfetantes para potencialização.
94
Quadro 04 – Aplicabilidade das principais alternativas de desinfecção (Fonte: OLIVEIRA, 2003).
Parâmetro Cloração com Cl2 Cloração e Descloração Dióxido de Cloro Ozônio Ultravioleta
Todos os
Tamanho da estação Todos os tamanhos Pequeno a médio Médio a grande Pequeno a médio
tamanhos
Nível de tratamento Todos os níveis Todos os níveis Secundário Secundário Secundário
Confiabilidade dos
Boa Razoável a boa Razoável a boa Razoável a boa Razoável a boa
equipamentos
Bem Razoável a bem Razoável a bem Razoável a bem Razoável a bem
Controle de processo
desenvolvido desenvolvidos desenvolvidos desenvolvidos desenvolvidos
Complexidade relativa da Simples a
Moderada Moderada Moderada Simples a moderada
tecnologia moderada
Preocupação com segurança Alta Alta Alta Alta Moderada
Efeito bactericida Bom Bom Bom Bom Bom
Efeito virucida Ruim Ruim Bom Bom Bom
Toxicidade para os peixes Tóxico Não tóxico Tóxico Não esperada Não tóxico
Subprodutos prejudiciais Sim Sim Sim Não esperados Não
Persistência do residual Longa Não Moderada Não Não
Tempo de contato Longo Longo Moderado a longo Moderado Curto
Contribuição para oxigênio
Não Não Não Sim Não
dissolvido
Reação com amônia Sim Sim Não Sim (com pH elevado) Não
Remoção de cor Moderada Moderada Sim Sim Não
Aumento de sólidos
Sim Sim Sim Não Não
dissolvidos
Dependência do pH Sim Sim Não Pequena (pH elevado) Não
95
QUESTÕES
96
3. (IBFC – 2017) O tratamento de esgotos consiste na remoção de poluentes, e o
método a ser utilizado depende das características físicas, químicas e
biológicas. O sistema de tratamento por lodos ativados é um dos métodos
mais utilizados nas grandes estações de tratamento. Esse método foi
desenvolvido na Inglaterra, em 1914, e é amplamente utilizado para
tratamento de esgotos domésticos e industriais. Sobre o sistema de lodos
ativados, assinale a alternativa correta.
a. Num sistema de lodos ativados convencional, a concentração de biomassa
no reator é bastante elevada, devido à recirculação dos sólidos (bactérias)
sedimentados no fundo do decantador secundário. A biomassa permanece
mais tempo no sistema do que o líquido, o que garante uma elevada
eficiência na diminuição da demanda bioquímica de oxigênio (DBO).
b. A recirculação do lodo num sistema de lodos ativados convencional tem
como objetivo manter uma baixa concentração de sólidos no reator e uma
idade de lodo menor que o tempo de detenção hidráulica.
c. O efluente tratado por um processo de lodos ativados possui elevado grau
de potabilidade.
d. O processo de tratamento por lodos ativados é essencialmente anaeróbio e
visa a desacelerar a oxidação da matéria orgânica, tal como verificado nos
corpos d’água, onde a matéria orgânica é convertida em CO2 e água.
e. Similar ao sistema convencional, o sistema de lodos ativados com aeração
prolongada difere no que diz respeito à biomassa, que permanece menos
tempo no sistema. Além disso, os tanques de aeração são maiores, a aeração
é mais intensa e é necessária a estabilização do lodo excedente.
GABARITO
1. C
2. D
3. A
97
REFERÊNCIAS
98
Programa de Pós-Graduação em Entomologia, Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia, Manaus, 2015.
103
MELLO, E. J. R.. Tratamento de esgoto sanitário - avaliação da estação de
tratamento de esgoto do bairro Novo Horizonte na cidade de Araguari - MG.
Monografia (Pós-Graduação). Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Sanitária, Uniminas, Uberlândia, 2007.
104
Curso. Graduação em Engenharia Ambiental e Sanitária, Universidade Federal de
Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2014.
OTENIO, M. H.; et. al.. Como montar e usar a fossa séptica modelo Embrapa:
cartilhas adaptadas ao letramento do produtor. Brasília: Embrapa, 2014.
105
lodos ativados convencional e aeração prolongada. Trabalho de Conclusão de
Curso (Graduação). Graduação em Engenharia Ambiental, Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
RIBEIRO, J. W.; ROOKE, J. M. S.. Saneamento básico e sua relação com o meio
ambiente e a saúde pública. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização).
106
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