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15 a 18 de setembro de 2019

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AB/YY

SISTEMA AUTOMATICO DE RELATÓRIOS PARA AUDITORA DE MENSAGENS GOOSE


EM REDES IEC61850

ALBERTO FERREIRA DA SILVA ROBSON GOMES DA SILVA MILANA LIMA DOS SANTOS
Promon Logicalis GENERAL ELECTRIC Universidade de São Paulo

SUMÁRIO

Este artigo aborda os resultados de uma ferramenta computacional desenvolvida para adquirir as
mensagens do protocolo GOOSE (Generic Object Oriented Substation Event), definido na norma IEC
61850, e verificar a sua conformidade com a configuração documentada pelos arquivos SCD (Substation
Configuration Description) definidos no projeto especificado pelo usuário. Essa ferramenta é capaz de gerar
relatórios detalhados e claros à equipe de operação e manutenção, e emitir alertas em caso de falhas
detectadas que possam comprometer a disponibilidade da operação da subestação.

Há, inicialmente, uma breve abordagem sobre a modernização do setor elétrico e mudanças
experimentadas nas subestações devido à adoção da norma IEC61850. Em seguida, uma comparação das
ações realizadas pelas equipes de manutenção e operação na solução de problemas em subestações pré
e pós-norma é feita, sendo abordada a dificuldade na validação da documentação e interpretação dos dados
coletados.

A utilização de mensagens GOOSE em funções críticas como proteção e comando exige cuidado especial
na verificação do seu correto funcionamento. Consequentemente, há a necessidade de ferramentas que
facilitem a manutenção da comunicação horizontal, inclusive considerando dispositivos de diferentes
fabricantes. Desta forma, foi desenvolvido um software para auditar as mensagens GOOSE.

Apesar de haver outras ferramentas com aplicação similar, elas não se mostram amigáveis na situação em
que uma verificação rápida deve ser obtida, ou quando os profissionais responsáveis não são familiarizados
com a estrutura de datagramas e conversões envolvidas.

O software desenvolvido e seus componentes são detalhados, bem como o arquivo ATG (Arquivo de
Tradução GOOSE), elaborado para auxiliar a interpretação dos atributos contidos nos datagramas das
mensagens. Outra contribuição deste artigo é a descrição da metodologia elaborada para o processo de
auditoria.

Ensaios demostram que o software identifica com sucesso divergências entre as mensagens capturadas e
configuradas. Em caso de não haver divergências, os atributos contidos nas mensagens são interpretados
e apresentados de acordo com a tradução infomada no arquivo ATG, usando o vocabulário utilizado pela
equipe de operação.

PALAVRAS-CHAVE

IEC61850, GOOSE, auditoria, manutenção, documentação.

1.0 - INTRODUÇÃO

Em subestações de energia, os diagramas de projeto, como funcionais, lógicos, construtivos, plantas


baixas, manual de instruções de equipamentos, entre outros, são ferramentas essenciais para assegurar a
confiabilidade da operação e a manutenção.

As documentações citadas são suficientes para o rastreamento de lógicas de comando e proteção em


instalações anteriores à norma IEC61850, nas quais os relacionamentos entre os diversos dispositivos
acontecem através de sinais elétricos, que podem ser verificados através de simples instrumentos de
medição. É possível, por exemplo, identificar problemas de falha de interligação ou verificar a presença de
sinais específicos em momentos de validações e testes.

Com a introdução da norma IEC61850, a comunicação horizontal entre os dispositivos pode ser
estabelecida, por meio do protocolo GOOSE e de rede de comunicação, em meio Ethernet e/ou fibra ótica.

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Este novo conceito tem possibilitado a construção e ampliação de subestações em prazos e custos
inferiores ao modelo antigo. Além disso, a garantia da interoperabilidade entre os diversos fabricantes de
equipamentos contribui para a maior agilidade e flexibilidade dos projetos.

Esta nova comunicação horizontal estabelecida, ainda que seja mais enxuta e confiável que a interligação
puramente elétrica, pode precisar, eventualmente, ser rastreada e atestada. Devido a este tópico ainda não
ser previsto na norma, alguns fabricantes tem desenvolvido ferramentas direcionada a sua linha de
equipamento e interesse, assim, não seguindo a norma para a interoperabilidade de falhas.

Alguns softwares disponibilizados no mercado, como Wireshark por exemplo, são utilizados na tentativa de
realizar testes e validações do ambiente, porém para que o resultado seja conclusivo, varios outros
documentos precisam ser consultados. Outro problema encontrado são os valores obtidos dos dados,
normalmente precisam ser convertidos, pois estão representados em datagramas no formato hexadecimal.
Em situações de manutenção ou ocorrência, nem sempre os profissionais envolvidos conseguem entender
o resultado da verificação, ou por conta de sua capacitação, ou pelo excesso de informação em uma
situação estressante.

O software desenvolvido e apresentado neste artigo tem como objetivo ser uma ferramente no auxilio dos
usuários finais na detecção de possiveis falhas na rede IEC61850 através da captura e analise das
menagens GOOSE. É esperado que falhas de configurações e possiveis problemas nos dispositivos sejam
detectados. Outro importante auxilio é a possibilidade de verificar a informação do pacote GOOSE conforme
uma tradução da informação para o contexto do projeto, evitando assim que consultas a softwares e outras
conversões sejam necessárias. Toda analise realizada pelo software auditor utiliza a norma IEC61850 como
base de referência, assim garantido sua utilização independente do equipamento e fabricante (1).

2.0 - ARQUIVOS SCL E PROTOCOLO GOOSE

2.1 SCD – Substation Configuration Description e Classe IED

O Substation Configuration Description (SCD) é um arquivo texto baseando na linguagem SCL – System
Configuration Description Language, apresentado no capitulo 6 da norma IEC61850. As classes
estruturadas no arquivo SCD permitem o mapeamento dos pontos físicos e lógicos dos dispositivos
inteligentes instalados nas subestações, assim como relacionar a comunicação entre os dispositivos (1).
Um exemplo da estrutura do arquivo SCD é apresentada na Figura 1. Na estrutura do arquivo é possivel
identificar as seguintes classes:

 SCL, identificação do esquema XML


 Header do arquivo SCD, cabeçalho com informações de identificação do arquivo SCD;
 Communication, contém informações de comunicação dos dispositivos;
 IED, classe individual que contém definições de pontos lógicos e fisicos dos dispositivos e datasets
publicado pelo IED;

Figura 1 – Estrutura de Classe Arquivo SCD.

A classe IED é utilizada para identificar os dispositivos publicadores das mensagens e os atributos
publicados(3). Com base nos dados contidos nesta classe, são identificados os seguintes itens:

 Nome do dispositivo;
 Datasets configurados;
 Atributos publicados.

A Figura 2 mostra um exemplo de identificação do nome do dispositivo SEL451 na linha “<IED” campo
“name”, que é o nome contido no frame GOOSE.
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Figura 2 – Identificação do nome do IED

Um exemplo da identificação do dataset e seus atributos é apresentado na Figura 3. A linha <DataSet


desc="Currents and F" name="DSet15"> e as quatro linhas seguintes indicam os atributos que serão
publicados pelo dataset DSet15 (1).

Figura 3 – Identificação do dataset configurado no arquivo SCD para o IED

Na linha “<GSEControl” o dataset configurado para publicação é identificado através do campo “datSet”,
conforme a Figura 4.

Figura 4 – Identificação do dataset publicado pelo IED

Conforme artigo anterior dos autores (4), a representação dessas informações em diagramas específicos,
constantes dos cadernos de projeto, podem também contribuir para a rápida localização das informações
de interesse.

2.2 Estrutura do protocolo GOOSE

A Figura 5Erro! Fonte de referência não encontrada. apresenta um exemplo de mensagem GOOSE. Os
campos que são objeto da auditoria são os seguintes:

 Control Reference Block, contém a identificação do dispositivo que publicou a mensagem GOOSE;
 DataSet;
 timeStamp, momento em que a mensagem foi publicada;
 SequenceNumber, número que é incrementado a cada repetição da mensagem GOOSE;
 dataEntries, quantidade de atributos contidos na mensagem;
 data, atributos contidos na mensagem.
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Figura 5 – Estrutura do Protocolo GOOSE

3.0 - SOFTWARE AUDITOR E METOLOGIA DE AUDITORIA


3.1 Software Auditor GOOSE

O software auditor, desenvolvido em C# .Net, para ambiente Windows, utiliza a biblioteca pcap , distribuída
de forma livre, para realizar a captura dos pacotes através da interface de rede da plataforma
computacional. Para isto, ela deve ser conectada na mesma estrutura fisica de rede que os dispositivos
inteligentes, pois protocolo GOOSE funciona na camada 2 (enlace) do modelo OSI (2).

3.2 ATG – Arquivo de Tradução GOOSE

O Arquivo de Tradução GOOSE (ATG) é estruturado com base na linguagem SCL. Ele foi elaborado para
auxiliar no processo de auditoria das mensagens GOOSE e contém as informações definidas no projeto
inicial da subestação e que serão sempre auditadas.

A Figura 6 mostra um exemplo do arquivo ATG configurado. Nele, é possível identificar que a auditoria será
realizada para os modos publicador e assinante, ou seja, as validações serão realizadas para as
mensagens GOOSE que o dispositivo deve enviar e para as mensagens GOOSE que o dispositivo deve
receber. As validações são realizadas para os seguintes itens:

 Configuração Publicador;
o Nome do IED publicador;
o Dataset do publicador;
o Atributos do dataset do publicador.

 Configuração Assinante;
o Nome do IED;
o Dataset;
o Atributos
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Figura 6 – Estrutura do arquivo ATG

3.3 Auditoria

A Figura 7 apresenta a metodologia utilizada pelo software auditor na análise das mensagens GOOSE
recebidas. Os arquivos SCD e ATG são armazenados em diretórios especificos do sistema operacional,
para que, quando localizados pelo software, seus dados sejam interpretados e carregados para a memória
e acessados em tempo real.

Quando identificado o recebimento de qualquer pacote através da interface de rede, o software insere a
informação do horário em que a messagem foi recebida. Posteriormente, o tempo é validado com a estampa
de tempo da mensagem GOOSE. Se identificado que o pacote recebido é um pacote GOOSE, identificação
88b8 do quadro Ethernet (IEEE 802.3), o conteúdo do pacote é analisado, relacionando-se as informações
recebidas com os dados dos arquivos SCD e ATG. Quando são detectadas divergências entre o pacote
recebido e as informações de referência, o sistema apresenta um alerta para o usuário indicando a
inconsistência encontrada. Por outro lado, caso não seja encontrada nenhuma divergência, é apresentada,
de forma traduzida, a informação do pacote.

Figura 7 – Sequencia aplicada pelo software auditor


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4.0 - RESULTADOS

A Figura 8 é um exemplo de um pacote GOOSE capturado pelo software, onde se pode observar a inserção
do registro de tempo da chegada.

Figura 8 – Evidência do quadro GOOSE capturado com a estampa de tempo.

A Figura 9 contém o resultado da interpretação do pacote GOOSE. Os campos de interesse são


identificados e analisadas:

 Dataset: SEL451CFG/LLN0$Dset15;
 Publicador da mensagem: SEL451;
 Estampa de tempo do da geração da mensagem no publicador: 1560709962 e 0,7886963;
 Identificação da sequencia do pacote, devendo ser sequêncial se não houver alteração de estado:
537;
 Identificação da quantidade de atributos contidos na mensagem: 4. Este valor deve ser o mesmo
especificado nos arquivos SCD e ATG;
 Caso o pacote esteja sem divergência, os valores dos atributos são apresentados de forma
amigavel para o usuário.

Quando detectada divergência entre o pacote GOOSE capturado e as informações indicadas nos arquivos
SCD e ATG, a falha é indicada através de uma mensagem de alerta. A Figura 10 mostra um alarme de
detecção de divergência devido à falta de um atribudo no pacote GOOSE.
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Figura 9 – Interpretação do pacote GOOSE realizado pelo software auditor

Figura 10 – Mensagem de alerta quando detectado divergência.


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5.0 - CONCLUSÃO
Nas implantações da norma IEC61850 em subestações, além de se atentar aos dispositivos inteligentes e
suas características, às topologias das redes de comunicação, é preciso buscar a clareza e a facilidade na
prevenção, detecção e solução das falhas e discrepâncias de comunicação horizontal, que podem impactar
o funcionamento coordenado da proteção e dos automatismos. Dessa forma, as intervenções e análises de
ocorrências podem ser mais eficientes.

O software aqui apresentado visa prevenir falhas e auxiliar os usuários finais, responsáveis pela operação
e manutenção da subestação, nos ensaios e validações de mensagens GOOSE, considerando também
dispositivos de diferentes fabricantes. Além de realizar a comparação entre as mensagens capturadas e as
configuradas, o software também oferece a tradução da informação para o contexto do projeto, reduzindo
a necessidade de consulta a outras ferramentas.

6.0 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) International Electrotechnical Commission, IEC 61850 Communication network and systems for
power utility automation. Switzerland
(2) www.winpcap.org/docs/docs_41b5/html/group__packetapi.html
(3) SOUZA, F., MARCOS, A., Proposta de um sistema de monitoramento e validações de
comunicação de subestações elétrica, Campo Limpo Pta-SP: Faculdade Campo Limpo Paulista,
2012.
(4) SILVA, R. G., SILVA, A. F. Silva e SANTOS, M. L., Metodologia de documentação do protocolo goose
da norma iec61850 para integração com a documentação atual das subestações,: XVIII ERIAC 2019. Brasil

7.0 - BIOGRAFIAS

Alberto Ferreira da Silva nasceu em Osasco, SP, em abril de 1981. Recebeu em 2000 o título de Técnico
Eletrônico pelo Instituto Tecnológico de Barueri na cidade de Barueri. No ano de 2006 recebeu o título de
Analista de Sistemas pela Universidade Bandeirantes de São Paulo. Pós-Graduado como Engenheiro
Especialista de Analise e Sistemas de Automação e Controle de Subestação de Energia pelo Instituto
Nacional de Telecomunicações – INATEL. É aluno de mestrado em Engenharia Elétrica na área de
Sistemas de Potência pela Universidade de São Paulo. Desde novembro de 1998 atua na área de redes e
automação de subestação de energia como Analista de Sistema Sênior sendo atualmente contratado pela
empresa Promon Logicalis. Tem interesse na área de Gerenciamento e Automação de Redes para
Subestação de Energia.

Robson Gomes da Silva nasceu em Osasco, SP, em setembro de 1981. Recebeu em 2003 o título de
Técnico Eletrônico pela Escola Técnica Estadual Guaracy Silveira na cidade de São Paulo. No ano de 2009
recebeu o título de Engenheiro em Telecomunicações pela Universidade Bandeirantes de São Paulo. É
aluno de mestrado em Engenharia Elétrica na área de Sistemas de Potência pela Universidade de São
Paulo. Desde 2009 atua na área de redes e automação de subestação de energia como engenheiro sendo
atualmente contratado pela empresa General Electric. Tem interesse na área de Gerenciamento e
Automação de Redes para Subestação e Redes de Distribuição de Energia Elétrica.

Milana Lima dos Santos é professora doutora no Departamento de Engenharia de Energia e Automação
Elétricas (PEA) da Escola Politécnica da USP desde 2013. Concluiu a graduação em Engenharia Elétrica
na Universidade Federal da Paraíba em 1998. Entre 1998 e 2009, trabalhou como engenheira no Consórcio
de Alumínio do Maranhão (ALUMAR), ABB Ltda e Eletrobrás Eletronorte. Nessas empresas, desenvolveu,
principalmente, atividades de especificação, engenharia de fábrica e de campo relativas a sistemas de
supervisão e comando para instalações de transmissão. Concluiu o mestrado e o doutorado na área de
Sistemas de Potência em 2010 e 2012, respectivamente, na Universidade de São Paulo.

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