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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA
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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

ALGUNS ASPECTOS DA
UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA
GLIFOSATO NA AGRICULTURA

Janeiro 2005

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA


GLIFOSATO NA AGRICULTURA

Autores
Antonio J. B. Galli – Gerente Técnico de Agroquímicos – Monsanto do Brasil Ltda.
Marcelo C. Montezuma – PD Especialista – Monsanto do Brasil Ltda.

Revisores
Ecosafe Agricultura e Meio Ambiente Ltda. – Jaboticabal/SP
João Domingos Rodrigues – Prof. Titular da Unesp, campus de Botucatu/SP
José A. Quaggio – Pesquisador Científico do Centro de Solos e Recursos Agroambientais do
Instituto Agronômico - IAC
Pedro J. Christoffoleti – Prof. Associado do Dept.o de Produção Vegetal da Esalq/USP

Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica


Activa Design
www.activadsp.com.br

Editora
ACADCOM Gráfica e Editora Ltda
2005

ISBN e expedientes

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Nossos agradecimentos pela revisão científica


aos Professores Titulares da UNESP
Robinson Antonio Pitelli (Jaboticabal/SP) e
João Domingos Rodrigues (Botucatu/SP);

ao Professor Associado do Deptº de Produção Vegetal da ESALQ/USP,


Pedro J. Christoffoleti;

e ao Pesquisador Científico do Centro de Solos e Recursos


Agroambientais do Instituto Agronômico – IAC,
José A. Quaggio;

Nossos agradecimentos também aos funcionários da Monsanto


que contribuíram para este material:
Cristina Rappa, Daniella Braga, Donna Farmer,
José Eduardo Vieira de Moraes,
Geraldo Ubirajara Berger, Juliana Aoki,
Marcelo Ernandes, Márcio João Scaléa,
Miriam Frugis, Ricardo Miranda e Silvia Yokoyama.

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PREFÁCIO

Desde o início da agricultura e da pecuária, as plantas que


infestavam espontaneamente as áreas de ocupação humana e que não
proporcionavam alimentos, fibras ou forragem eram consideradas
indesejáveis e foram rotuladas de plantas daninhas. Essas plantas, em
termos de nomenclatura botânica, são consideradas plantas pioneiras, ou
seja, plantas evolutivamente desenvolvidas para a ocupação de áreas onde,
por algum motivo, a vegetação original foi profundamente alterada, abrindo
grandes nichos para o crescimento vegetal. Elas têm a função de criar
habitats adequados ao início de uma sucessão de populações, culminando
com o restabelecimento da vegetação original.
Com o desenvolvimento da sociedade humana, ocorreu não
só a continuidade como a expansão geográfica das áreas de agricultura e
pecuária, o que permitiu a evolução das plantas pioneiras e o aparecimento
de novas espécies. Assim, as comunidades infestantes foram se tornando
cada vez mais densas, diversificadas e especializadas na ocupação dos
agroecossistemas, passando a interferir profundamente nas atividades
agrícolas. Assim, esse tipo de vegetação passou a ser alvo de controle.
No início, a atividade de controle restringia-se à monda das
plantas daninhas que se destacavam em termos de porte. Esse tipo de
manejo promoveu uma seleção antropogênica das plantas de pequeno
porte ou de hábito mais prostrado. A queima dos restos culturais logo
após a colheita representava outra prática agrícola com grande impacto
de controle das plantas daninhas e que promovia uma ação de seleção
para plantas de ciclo mais curto, com rápida produção de propágulos,
afetava a biodiversidade local com intensa mortalidade de insetos e outros
animais.

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Mais tarde, com o desenvolvimento dos primeiros


equipamentos agrícolas, a capina manual passou a predominar nos campos
agrícolas, favorecendo a seleção de plantas com propagação vegetativa e
com habilidade de rebrota precoce. Esse tipo de seleção foi incrementado
com a utilização da tração animal, que permitiu a intensificação da
mobilização do solo como uma das formas de eliminação das plantas
daninhas. O plantio em linhas foi uma prática que, se por um lado facilitou
a utilização do cultivo manual e animal, por outro aumentou a
disponibilidade de nichos adequados à instalação e ao desenvolvimento
das plantas daninhas.
Na primeira metade do século 20, a mecanização agrícola foi
a grande arma para o controle das plantas daninhas, devido à força e à
diversidade dos equipamentos de preparo do solo, os quais eram eficientes
nas mais diversas situações da agricultura mundial. Inicialmente, a inversão
da leiva promovida pela aração realocava as sementes depositadas na
superfície do solo para camadas profundas, onde a maioria morria. A
dormência e a capacidade de reconhecimento da posição das sementes
no perfil do solo passaram a constituir um forte fator de seleção para esse
tipo de vegetação espontânea. Assim, após anos de agricultura mecanizada,
as plantas daninhas desenvolveram inúmeros e complexos mecanismos
de dormência de suas estruturas reprodutivas, resistência aos
decompositores e predadores do solo, grande descontinuidade na
germinação e capacidade de germinar e emergir de camadas mais profundas
do solo. Nessa fase do controle de plantas daninhas, o processo erosivo e
a depleção dos teores de matéria orgânica constituíram importantes
impactos ambientais, até hoje não reparados.
Na segunda metade do século 20, houve aumento expressivo
do controle químico com o desenvolvimento da indústria de herbicidas.
Nesse período, grande número de produtos de diferentes classes químicas
e modos de ação foram liberados no mercado. Devido à grande diversidade
dos modos e mecanismos de ação dos herbicidas, não houve uma pressão
de seleção específica de uma ou outra característica da vegetação. Na
última década, com a utilização de herbicidas que atuam em sítios muitos
específicos do metabolismo vegetal, começaram a aparecer as primeiras
populações resistentes, decorrentes da pressão de seleção promovida pelos

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herbicidas ou um grupo de produtos com o mesmo modo de ação. A


confiança que os agricultores depositaram no controle químico foi a
principal responsável pela grande expansão dessa modalidade de manejo
de plantas daninhas.
A evolução da urbanização, o crescimento da população
humana, o avanço tecnológico na produção e conservação de alimentos,
dos meios de transporte, do controle de plantas daninhas, pragas, fungos
e organismos indesejáveis em residências foram praticamente exponenciais,
sendo a conquista mais rápida que a capacidade de entendimento de seus
efeitos ambientais, sociais e econômicos no longo prazo.
Com os pesticidas, devido à sua natureza declaradamente
tóxica, os cuidados foram maiores que para outros produtos, como tintas,
aditivos de alimentos e outros. No entanto, há ainda muito a ser entendido
sobre o comportamento desses produtos no ambiente.
Deste modo, consideramos que esta obra, elaborada para
esclarecer resultados de pesquisa sobre o comportamento ambiental do
glifosato, seja extremamente pertinente, pois essa é uma molécula de
importância fundamental na competitividade de nossa agricultura.
Considerando que o glifosato vem sendo utilizado no Brasil
desde 1978 em numerosas condições de agricultura, áreas urbanas,
manutenção de estradas e ferrovias, envolvendo inúmeras formulações
comerciais, produzidas por empresas com diferentes níveis tecnológicos,
não há evidências cientificamente comprovadas de impactos importantes
no ambiente.

Robinson Antonio Pitelli


Prof. Titular FCAV/ UNESP - Jaboticabal

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ÍNDICE

Introdução ........................................................................................................ Página 11

Capítulo I Forma de atuação nas plantas ......................................................... Página 12

Capítulo II A importância da aplicação correta do glifosato para o


desenvolvimento e a produtividade das culturas ........................... Página 14

Capítulo III Glifosato no manejo de plantas daninhas em culturas perenes ..... Página 19

Capítulo IV Glifosato – segurança para as culturas ........................................... Página 27

Capítulo V A Clorose Variegada dos Citros (CVC) e o glifosato ...................... Página 30

Capítulo VI Comportamento do glifosato no solo e na água ............................. Página 36

Capítulo VII O glifosato e as populações microbianas do solo .......................... Página 44

Capítulo VIII Glifosato e a fixação biológica de nitrogênio na cultura da soja ..... Página 50

Capítulo IX Segurança para o homem e para o meio ambiente ........................ Página 53

Capítulo X Resistência de plantas daninhas ..................................................... Página 56

Considerações Finais ................................................................................................ Página 59

Referências ........................................................................................................ Página 60

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INTRODUÇÃO

Esta publicação visa fornecer informações sobre o uso do


glifosato, um produto com uma história de 30 anos de sucesso no manejo
de plantas daninhas. São abordados seu modo de ação e seu
comportamento no solo, na água e nas plantas, além de ser apresentado
um sumário sobre segurança ambiental e saúde humana.
Discutimos, ainda, os benefícios proporcionados por sua alta
eficácia no controle das plantas daninhas, bem como seu impacto sobre a
flora e sobre os microrganismos do solo.
Tais temas são tratados de forma prática e suas respostas são
sempre fundamentadas nos conhecimentos científicos atuais. Nossa
intenção com esta publicação é oferecer informações sobre diversos pontos
relacionados ao uso deste herbicida, tão popular não apenas na agricultura
brasileira como mundial, pois acreditamos no poder da comunicação para
esclarecer dúvidas e aprimorar o uso dos produtos, beneficiando, dessa
forma, agricultores, fabricantes, a comunidade científica e a sociedade em
geral.

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I
Forma de Atuação
nas Plantas
O glifosato é um herbicida pós-emergente, pertencente ao
grupo químico das glicinas substituídas, classificado como não-seletivo e
de ação sistêmica. Apresenta largo espectro de ação, o que possibilita um
excelente controle de plantas daninhas anuais ou perenes, tanto de folhas
largas como estreitas.
As aplicações do produto devem sempre ser dirigidas sobre
as plantas daninhas seguindo as recomendações técnicas e boas práticas
agrícolas. Se utilizado dessa forma não causará qualquer interferência no
metabolismo, desenvolvimento ou produtividade das culturas para as quais
é recomendado.
Quanto à absorção, lembramos que o glifosato é absorvido
basicamente pela região clorofilada das plantas (folhas e tecidos verdes) e
translocado, preferencialmente pelo floema, para os tecidos meristemáticos.
O glifosato atua como um potente inibidor da atividade da 5-
enolpiruvilshiquimato-3-fosfato sintase (EPSPS), que é catalisadora de uma
das reações de síntese dos aminoácidos aromáticos fenilalanina, tirosina
e triptofano, influencia também outros processos, como a inibição da síntese
de clorofila, estimula a produção de etileno, reduz a síntese de proteínas e
eleva a concentração do IAA (Cole, 1985; Rodrigues, 1994).
Assim, toda vez que for aplicado de forma inadequada e entrar
em contato com a cultura, o produto também expressará sua atividade
herbicida e causará danos, guardadas as proporções de dose e
suscetibilidade da cultura.

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Os trabalhos desenvolvidos com o glifosato e que dão


sustentação às diferentes recomendações de uso elaboradas pela Monsanto,
bem como os trabalhos oficiais desenvolvidos para gerar os dados exigidos
para o registro das marcas comerciais de acordo com a legislação vigente,
são conduzidos em conformidade com as recomendações técnicas e boas
práticas agrícolas, como se recomenda nas aplicações comerciais.
Os resultados obtidos nesses trabalhos, incluindo os dados
de produção, corroboram a segurança do uso e a alta eficácia agronômica
do produto, que, aliadas às práticas culturais adequadas e ao controle de
plantas daninhas, promovem excelente desenvolvimento e rendimento das
culturas.
Isso mostra que, se for utilizado de forma adequada e dentro
das recomendações de bula, o glifosato é bastante seguro para as culturas
e as ajudará a expressar todo o seu potencial produtivo, dentro dos recursos
disponíveis.

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II
A Importância da Correta
Aplicação do Glifosato para o
Desenvolvimento e a
Produtividade das Culturas

A ampla utilização do glifosato em várias culturas, incluindo


as perenes, desde a sua instalação (pré-plantio) até a fase produtiva, tem-
se mostrado vantajosa em relação a vários métodos de controle de plantas
daninhas, inclusive a capina manual. Aspectos relacionados à toxicologia,
ecotoxicologia, facilidade de manuseio, eficácia de controle, ganhos de
produtividade etc. tornaram o produto líder mundial no controle de plantas
daninhas.
O glifosato, por ser um herbicida não-seletivo e altamente
eficiente, se utilizado de forma inadequada poderá ocasionar fitotoxicidade
ou mesmo levar à morte as plantas de interesse econômico. Por outro
lado, o uso do produto como maturador para cana-de-açúcar, aplicado
em baixas doses conforme recomendação de bula, promove ganhos

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significativos de sacarose, sem qualquer efeito negativo sobre a cultura.


Em ensaio conduzido para se avaliar a movimentação do
glifosato em frutíferas, Putnam em 1976 aplicou o produto em plantas jovens
de maçã, pêra, cereja e pêssego. O autor observou que, quando o produto
foi aplicado na região basal do tronco, houve injúria somente em mudas
de pêssego recentemente transplantadas, chegando a causar a morte dos
vasos, sem contudo danificar outras partes das mudas. Quando a aplicação
foi realizada em ramos baixos de plantas de maçã, foram observadas injúrias
localizadas, que não foram visíveis em outras partes da planta. Quando o
glifosato com carbono marcado foi aplicado na parte basal do tronco de
maçã de 4 anos de idade e de pêra de 5 anos, não produziu radioatividade
detectável em folhas, gemas ou frutas no período de colheita. Aplicações
em folhas produziram radioatividade somente em tecidos tratados e
adjacentes e não em outras partes da planta. O glifosato com carbono
marcado moveu-se prontamente das folhas tratadas dos ramos mais baixos
para outras folhas, gemas e frutos em desenvolvimento no mesmo ramo,
mas não foi detectável em outras áreas da planta. Esses resultados mostram
que, em frutíferas em produção, as partes basais, mais passíveis de contato
com o produto durante as aplicações, têm seu metabolismo mais restrito
aos ramos.
A dinâmica do glifosato é de compreensão muito simples, ou
seja, o produto atua muito bem como herbicida onde é aplicado e, desde
que seguidas as recomendações da bula e respeitadas as boas práticas
agrícolas para a pulverização, não apresentará efeito onde não foi aplicado,
pois a molécula não se move no solo, por apresentar rápida e alta taxa de
adsorção (Prata et al., 2000). Como já comentado anteriormente, a molécula
não se move no solo. Assim, na eventual ocorrência de morte de ponteiros
de árvores adultas, a causa pode estar relacionada a outros aspectos como,
por exemplo, a deficiência nutricional, o ataque de pragas e doenças ou,
ainda, as condições estressantes bióticas e abióticas do meio.
A segurança para as culturas, quanto ao uso do produto, pode
ser atestada pelas áreas e culturas onde o glifosato é utilizado. Um

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importante exemplo são as áreas de plantio direto, que tiveram um


crescimento bastante expressivo no mundo, sendo que atualmente só no
Brasil já atingem aproximadamente 20 milhões de hectares. Esse
crescimento da área de plantio direto é fundamentado em pesquisas
científicas desenvolvidas por instituições públicas e privadas,
demonstrando, nas condições brasileiras, o seu sucesso nos aspectos de
preservação, sustentabilidade e aumento de produtividade, sendo que a
maioria dessas áreas recebem mais de três aplicações de glifosato por
ano, algumas delas há mais de 20 anos. É inegável que a adoção do plantio
direto reduziu de forma expressiva as perdas de solo pelos processos
erosivos laminar e eólico.
Outros trabalhos que refletem a segurança do uso do glifosato
foram os desenvolvidos pela Embrapa (Carvalho et al., 1999) na cultura de
citros no Nordeste, onde o produto foi avaliado por 9 anos consecutivos,
em três diferentes localidades, considerando aplicações de glifosato na
linha e entrelinha, associado ao plantio direto de leguminosas nas
entrelinhas. Tal sistema possibilitou um incremento de produção de até
62,3% em relação ao manejo praticado pelos produtores onde não se
utilizava o glifosato. Nessa mesma linha, Carvalho et al. (2003) conduziram
por um período de 2 a 6 anos mais quatro trabalhos, em diferentes
localidades do Estado de São Paulo. Nesses ensaios, aplicaram glifosato
na dose de 1.080 g e.a./ha nas linhas de plantio, associado a diferentes
sistemas de manejo nas entrelinhas, envolvendo inclusive o plantio direto
de gramíneas ou leguminosas e roçada. Os resultados mostraram que os
tratamentos onde se aplicou glifosato nas entrelinhas, com ou sem o plantio
direto de leguminosa (feijão de porco), proporcionaram aumento médio
de produção que superou de 4 a 10% os tratamentos em que, nas
entrelinhas, a área foi mantida apenas roçada, ou se introduziu o plantio
de uma gramínea (milheto), no período crítico de mato-competição da
cultura. Nesses trabalhos, um dos principais fatores observados foi o
aumento do sistema radicular e da atividade microbiológica do solo nas
áreas onde se utilizou o glifosato na dose de 1.440 g e.a./ha (linha e

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entrelinha), associado ou não ao manejo de coberturas em sistema de


plantio direto na entrelinha, em relação aos outros sistemas de manejo.
Esses mesmos autores (Carvalho et al., 2002b), em trabalho
publicado no XXIII Congresso Brasileiro de Ciência das Plantas Daninhas
(CBCPD), realizado em Gramado (RS) em 2002, compararam o sistema
radicular de um manejo tradicional (capina na linha e grade na
entrelinha) com um sistema de plantio direto de coberturas na entrelinha
e glifosato na linha. Os resultados mostraram que no sistema normalmente
utilizado pelo produtor a maior parte das raízes (76,9%) encontrava-se na
camada superficial do solo (0-20 cm), enquanto no manejo de coberturas
vegetais houve melhor distribuição do sistema radicular, observando-se
um acréscimo de 102% na área radicular da planta cítrica nas ruas e de
46% nas linhas de plantio, passando de uma profundidade efetiva média
de 40 cm no sistema tradicional para 80 cm no sistema avaliado.
Estudos realizados em diversas culturas (café, soja, milho,
aveia, pinus e eucalipto), apresentados parcialmente nos trabalhos de Alves
et al. (2000), Queiroz et al. (2002) e Costa et al. (2004), permitiram
desenvolver uma metodologia simples, fundamentada na detecção e
quantificação espectrofotométrica do ácido chiquímico, para determinar
se as plantas apresentam intoxicação por glifosato. Os estudos indicaram
que a metodologia é funcional, permitindo detectar a acumulação do ácido
chiquímico mesmo quando as quantidades de glifosato absorvidas são
inferiores às necessárias para promover reduções de crescimento.
Avaliações complementares do efeito de subdoses do glifosato indicaram,
em ambientes protegidos, estímulos de crescimento na maioria das
espécies testadas quando receberam doses de glifosato entre 1,8 e 36 g
e.a./ha (Figura 1). Em condições de campo, os resultados têm sido erráticos
possivelmente, segundo os autores, em função da limitação do orvalho e
chuva para a absorção do glifosato em doses tão baixas. Esse herbicida
necessita de um intenso gradiente de concentrações para que a fase inicial
de penetração da cutícula ocorra rapidamente. Isso mostra claramente
que o produto, quando em subdoses, tende a agir como estimulante de

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crescimento, não causando efeito deletério às plantas.

Glifosato Controle

Figura 1: Plantas de eucalipto submetidas à dose de 7,2 g e.a./ha de


glifosato, em casa de vegetação. FCA, Unesp, Botucatu, Queiroz et al. (2002).

Em praticamente todos os trabalhos experimentais envolvendo


o uso do glifosato comparativamente à capina manual ou ao controle
mecânico o produto mostrou-se muito mais efetivo no controle, mais
econômico e vantajoso e sempre se destacando entre os tratamentos mais
produtivos.
Desde que o glifosato seja aplicado de forma adequada,
utilizando a tecnologia de aplicação e doses recomendadas, não existe
absolutamente nenhum efeito sobre plantas não-alvos. Eventuais derivas
do produto devem ser evitadas pelo aplicador, que deve fazer uso de
equipamentos corretos e realizar as aplicações em condições climáticas
favoráveis. A utilização do produto conforme recomendação de bula não
representa risco potencial de redução no crescimento, desenvolvimento e
produtividade das culturas para as quais o produto é registrado.

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III
Glifosato no Manejo de Plantas
Daninhas em Culturas Perenes

As plantas daninhas surgiram com a agricultura por meio de


um processo evolutivo, acumulando características que permitem sua
coexistência nas culturas ou ocupando nichos ecológicos não explorados
pela planta cultivada. Tal processo evolutivo permitiu que as plantas
daninhas adquirissem características biológicas de grande agressividade,
principalmente relacionadas com alta capacidade competitiva por água,
luz e nutrientes, além de possíveis efeitos alelopáticos de algumas espécies.
A permanência das plantas daninhas nos ambientes agrícolas é garantida
pelos seus mecanismos de sobrevivência e disseminação eficientes,
destacando-se a alta produção de dissemínulos e a persistência (dormência)
do banco de sementes. As culturas econômicas, por outro lado, foram
selecionadas pelo homem para expressar maior qualidade e produtividade,
perdendo a capacidade de competição em relação às plantas daninhas.
Vários trabalhos de competição entre espécies (mato-
competição), desenvolvidos no Brasil com culturas perenes, mostraram
que a convivência das plantas daninhas com as culturas comerciais, mesmo
por período curto de 3 a 4 meses durante os meses mais quentes e chuvosos
do ano, já é suficiente para causar perdas significativas de produtividade.
Isso pode ser observado em trabalhos desenvolvidos com a cultura de
citros, nos quais Blanco & Oliveira (1978) concluíram que a variedade
Pêra, com 6 anos de idade, em área infestada principalmente por capim
marmelada (80%), guanxuma (10%) e outras folhas largas, apresentou
perdas de produtividade de até 41%, e que as maiores perdas ocorreram

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quando se deixou de realizar o controle das plantas daninhas nos


quadrimestres de agosto a novembro e dezembro a março. Em trabalho
conduzido em Rio Real, na Bahia, Carvalho et al. (1993) encontraram perda
de produtividade dos citros de até 76% devido à concorrência das plantas
daninhas, especialmente Brachiaria decumbens, durante os meses de
novembro a janeiro. Ainda em citros, Carvalho et al. (2002a), também
avaliando a mato-competição, conduziram trabalhos em Boa Esperança e
Taiaçu, no Estado de São Paulo. Nesses trabalhos, os tratamentos que
apresentaram as menores produtividades foram aqueles onde a convivência
ocorreu nos períodos de agosto a janeiro, de novembro a janeiro e de
novembro a abril, sendo que o período mais crítico foi de novembro a
janeiro, com perdas de produtividade que chegaram a 34,3% em Nova
Esperança do Sul e 25% em Taiaçu. Com esses resultados, os autores
concluíram que o período crítico de prevenção (PCPI) de plantas infestantes
em citros nos pomares paulistas inicia-se de outubro a novembro (floração
dos citros) e se estende até fevereiro ou março, dependendo da distribuição
das chuvas.
Trabalhos, também conduzidos por Carvalho et al. (2001,
2003), em quatro regiões do Estado de São Paulo, tiveram por objetivo
estudar o manejo de plantas daninhas com glifosato aplicado na linha da
cultura de citros, associado ou não ao plantio direto de várias coberturas
nas entrelinhas (Figura 2). Essas áreas foram conduzidas por um período
de 2 a 5 anos e os resultados médios obtidos mostraram que as melhores
produtividades foram obtidas quando se utilizou o plantio de leguminosas
(feijão de porco, Canavalia ensiformis) como cobertura (41,4 ton/ha),
seguido pelo tratamento com aplicações de glifosato, nas doses de 1.080 g
e.a./ha e 540 g e.a./ha, respectivamente, na linha e entrelinha, com
produtividade de 41,1 ton/ha.

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Figura 2. Plantio direto de feijão de porco (Canavalia ensiformis) na entrelinha da cultura de citros.

Resultados interessantes a respeito do manejo de plantas


daninhas na cultura dos citros foram obtidos por Tersi (2001), em um
ensaio de longa duração conduzido na região de Itápolis, uma das principais
regiões citrícolas do Estado de São Paulo, cujos resultados médios de
produção e qualidade dos frutos de sete colheitas foram resumidos no
Quadro 1. Fica evidente o efeito prejudicial das plantas daninhas sobre a
produção total e tamanho dos frutos cítricos, o que pode ser observado
comparando-se a testemunha, onde não foi feito nenhum controle das
plantas daninhas durante os sete anos, com os demais tratamentos.
Numa análise geral, observa-se que nos tratamentos em que
se utilizou glifosato como parte do sistema obteve-se produtividade 52,4%
superior à testemunha no mato e quando comparou-se o sistema glifosato
na linha mais roçadeira na entrelinha obteve-se 19,4% a mais de
produtividade em relação ao tratamento apenas com roçadeira. Vale
ressaltar que o melhor tratamento de controle de plantas daninhas foi o

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obtido com a aplicação de glifosato na linha de plantio e roçadeira na


entrelinha (T1). Nos demais tratamentos que se destacaram, o controle do
mato na linha de plantio foi feito com glifosato e o mesmo foi observado
no tratamento no qual o glifosato foi aplicado em área total (T6). O autor
comenta que o uso do glifosato apresentou a melhor relação custo—
benefício no manejo do mato na cultura dos citros. Observou-se efeito
pouco acentuado dos tratamentos com manejo de mato sobre as
características internas dos frutos, como sólidos solúveis totais e grau de
maturação.
Esse trabalho contempla ainda minucioso estudo dos métodos
de manejo de plantas daninhas sobre propriedades físicas do solo, como
agregação, porosidade, retenção de água e densidade. De modo geral,
apenas o uso da enxada rotativa reduziu a estabilidade dos agregados e,
portanto, provocou perdas na qualidade do solo. Entre os demais, as
propriedades físicas do solo foram bem preservadas, inclusive com a
aplicação de glifosato em área total.

Quadro 1. Resultados médios de produção e qualidade dos frutos em sete colheitas de Laranja-Pêra
na região de Itápolis - Estado de São Paulo.

Manejo do mato Produção Tamanho S. solúveis Ratio


t/ha do fruto, g kg/cx
T1 Glifosato (L) + roçadeira (R) 41,3 171 2,52 15,4
T2 Roçadeira (L) + roçadeira (R) 34,6 166 2,61 15,5
T3 Glifosato (L) + grade (R) 38,9 168 2,48 16,4
T4 Grade (L) + grade (R) 32,4 166 2,40 15,6
T5 Rotativa (L) + grade (R) 33,3 161 2,58 15,4
T6 Glifosato (L) + Glifosato (R) 37,3 167 2,41 15,5
T7 Testemunha sem controle 25,6 158 2,52 16,5

DMS Tukey 5% 11,2 12,3 0,29 2,1


(L) e (R)= controle do mato na linha de plantio e meio da rua respectivamente.
Fonte: Tersi (2001).

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

Vários estudos sobre mato-competição também foram


conduzidos na cultura do café; dentre eles podemos citar o conduzido
por Blanco et al. (1982), que observaram que a concorrência com o mato
provocou queda na produção entre 55,9 e 77,2% em cafeeiros em formação.
O resultado positivo do glifosato também pode ser visualizado
em outras culturas perenes. Para observar o efeito de diferentes sistemas
de manejo das plantas daninhas na cultura de maçã e seu impacto, Merwin
& Stilles (1994), em Ithaca (Nova York, EUA), conduziram um trabalho
onde avaliaram, por seis anos, diferentes sistemas de manejo de plantas
daninhas em duas variedades. Os autores chegaram à conclusão de que o
tratamento onde se adicionou 30 kg/planta/ano de cobertura vegetal sob
a copa da cultura, numa faixa de 2,5 m, apresentou as menores
produtividades finais, pois chegou a provocar 38% de mortalidade de
plantas em função da alta incidência de Phytophthora spp e coleópteros
(Microtus pennsylvanicum), apesar da drenagem da área e do controle de
insetos. Os tratamentos nos quais se utilizou o glifosato estiveram entre os
mais produtivos.
A opção pelo uso de coberturas nas entrelinhas valendo-se de
espécies agressivas, como gramíneas perenes, deve ser analisada com certa
cautela, pois, além do possível efeito alelopático que elas podem provocar
sobre as culturas, são também bastante agressivas na competição por água
e nutrientes. O capim braquiária, por exemplo, é uma espécie de gramínea
forrageira exótica no território brasileiro. Sua alta adaptação às condições
de solos de baixa fertilidade tem-lhe conferido alta agressividade nas áreas
infestadas, o que reduz a diversidade específica de plantas no ambiente,
dominando de forma agressiva a população de plantas espontâneas. Dessa
forma, é importante que estratégias de manejo baseadas na cobertura do
solo com vegetação de capim braquiária sejam cuidadosamente analisadas
sob o ponto de vista de impacto na flora, na produtividade e na qualidade
do fruto. Por essas razões, é altamente recomendável no manejo do mato
em pomar de citros manter faixas com o mato controlado nos dois lados

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da planta, cuja largura deve exceder em pelo menos 30% o raio da copa,
para se evitar competição por água, nutrientes e ainda possíveis efeitos
alelopáticos de algumas espécies.
Prática de manejo de mato que vem sendo difundida
atualmente na citricultura consiste na utilização de roçadeira sem proteção
lateral, que permite que o mato ceifado seja depositado nas linhas de
plantio, com o objetivo de proteger o solo com palha na superfície. Nesse
caso, deve-se ressaltar que tal prática pode reduzir a disponibilidade de
nitrogênio no solo para as plantas cítricas, principalmente quando as ervas
infestantes são espécies do gênero Brachiaria , que possuem relação
carbono/nitrogênio (C/N) muito larga na biomassa. Portanto, nesse caso
é necessária a utilização de doses de nitrogênio complementares em relação
às adubações normais nos primeiros anos para compensar o consumo
extra de nitrogênio por microrganismos decompositores da matéria orgânica.
É importante lembrar ainda que essa prática não exclui a necessidade de
manter o mato controlado com herbicidas nas linhas de plantio e tem
como grande inconveniente o aumento da concentração de sementes de
plantas daninhas sob a copa da cultura. Sem o tratamento adequado, essa
concentração levará a uma maior competição e poderá exigir, inclusive,
um controle manual, encarecendo sobremaneira os custos com o manejo
do mato, além de dificultar o controle de pragas e doenças. Caso o controle
dessas plantas daninhas seja realizado com o uso de altas doses de nitrato
de amônio, aplicado com altos volumes de água, vale lembrar alguns riscos
que essa prática pode trazer. Sabe-se que o excesso de nitrogênio pode
causar um desequilíbrio nas plantas, promovendo excesso de crescimento
vegetativo, levando a um aumento do auto-sombreamento e trazendo como
conseqüência severa diminuição da produtividade, além de maior
atratividade ao ataque de pragas e doenças, especialmente afídeos, a Teoria
da Trofobiose. Por essa teoria, Francis Chaboussou, em 1969, concluiu
que os adubos químicos solúveis (principalmente os nitrogenados) e os
agrotóxicos promovem a formação de substâncias orgânicas simples na

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

seiva das plantas, através do estímulo a um processo chamado proteólise,


tornando-as mais vulneráveis e atrativas às pragas e doenças. Por outro
lado, a resistência a elas é favorecida por uma nutrição equilibrada, que
reduz a concentração de compostos simples na seiva das plantas. O sistema
enzimático dos vegetais, ao sofrer uma interrupção por causa de
desequilíbrios nutricionais ou estresse, conduz ao acúmulo de alguma
substância do metabolismo celular que poderá alimentar pragas e doenças
especializadas na sua digestão. O ponto-chave da sanidade das lavouras
passa pelo adequado suprimento de nutrientes. Chaboussou lembra que
as plantas necessitam de um pouco de cada nutriente (mais de 40 minerais
diferentes) e não muito de alguns.
Além dos problemas citados, para se aplicar essa dose de nitrato
serão necessários grandes volumes de água e maior estrutura de aplicação
(pessoas, tratores, tanques de pulverização, oficina etc.), aumentando os
custos diretos e indiretos e reduzindo a vida útil de todo maquinário
envolvido nas aplicações, por causa da corrosão provocada por adubos
nitrogenados.
Assim, podemos dizer que a proposta do uso de nitrato de
amônio, como parte de um sistema de manejo de plantas daninhas, pode
representar certo risco para a cultura e meio ambiente e deveria demandar
mais estudos. Malavolta et al. (1994) comentam que podem aparecer nos
pomares sintomas causados pelo excesso de nutrientes e cita como
exemplo o nitrogênio, que pode provocar crescimento geral exuberante,
folhas verde-escuras e grossas, folhas com maior suculência nos tecidos,
maior suscetibilidade a enfermidades, interferência sobre outros elementos,
citando possível deficiência de cobre, e reduzir a resistência das plantas
ao frio.
O risco dessa alternativa deveria ser bem analisado, visto o
ocorrido no golfo do México e no delta do Mississipi, como mostrado na
apresentação do Prof. Robert Hoeft, no simpósio da Potafos realizado em
Piracicaba em 2003. A absurda adubação nitrogenada no Corn Belt

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americano gera grande quantidade de nitratos, que são carregados pelas


águas de drenagem, atingindo córregos, rios e finalmente o rio Mississipi,
para dali cair no golfo do México, afetando uma área de dimensões
continentais. Outro fato que vale a pena enfatizar é que o excesso de
nutrientes presentes em reservatórios de água tem provocado problemas
quase que incontroláveis de plantas daninhas aquáticas, o que tem causado
intenso problema de manutenção e perdas da capacidade de geração de
energia em muitas hidrelétricas.
Finalmente, a alta competitividade das plantas daninhas e o
prejuízo potencial que elas podem causar nas culturas exigem que sejam
bem controladas, e é solidamente comprovada na literatura a alta eficácia
do glifosato, que, por ser um herbicida sistêmico, atua em plantas daninhas
anuais ou perenes, de folhas largas ou estreitas, sendo, portanto, uma das
melhores opções para o manejo das plantas daninhas.

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

IV
Glifosato - Segurança
para as Culturas

Considerando as características de comportamento do glifosato


no solo, se a aplicação do produto for feita dentro de padrões técnicos
recomendados quanto à tecnologia de aplicação, dose e alvo a serem
controlados, é praticamente nula a possibilidade de vir a atingir as plantas
cultivadas, principalmente via solo.
Quanto ao potencial risco do produto vir a afetar a produção
de fitoalexinas, é importante citar que a produção desses compostos pelas
plantas está relacionada a diversos fatores, como, por exemplo, estado
nutricional, fatores estressantes do meio, estágio fenológico das plantas etc.
Segundo Rodrigues (2004)1, as fitoalexinas são originadas nas
plantas por, pelo menos, quatro rotas metabólicas conhecidas, sendo que
a do ácido chiquímico é a única que poderia ser afetada pelo glifosato.
Essa rota metabólica, segundo ele, não é a principal, pois a enzima chalcona
sintetase (que catalisa uma das reações de formação dos flavonóides, que
são compostos fenólicos precursores de alguns tipos de fitoalexinas) utiliza
carbonos advindos não só do ciclo do ácido chiquímico, mas também do
ciclo do ácido malônico, além de outras fontes.
Adicionalmente, é importante ressaltar que existem diferentes
fitoalexinas, as quais podem variar, inclusive, por espécie de planta, e que
sua efetividade é ainda muito variável. Rodrigues (2004) cita ainda que,
além das fitoalexinas fenólicas já relatadas, existe enorme variedade de
fitoalexinas formadas na rota dos terpenos, pela via do ácido mevalônico,
que nada tem a ver com a rota do ácido chiquímico. Assim, não há como

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o glifosato interferir nessa rota tão importante para grande parte das
fitoalexinas sintetizadas. Por outro lado, muitas plantas podem liberar,
pelas raízes e folhas, grande variedade de metabólitos secundários, como
os ácidos fenólicos, principalmente caféico e ferúlico, que podem reduzir
o crescimento de muitas plantas e mesmo inibir a germinação. Esses
compostos sintetizados por plantas daninhas, quando liberados no solo,
poderiam afetar o desenvolvimento das plantas citrícolas. Nesse aspecto,
a ação do glifosato, em doses comerciais, é bastante efetiva, pois, como
inibe a atividade da EPSPS, acaba inibindo a rota do ácido chiquímico, a
via metabólica da formação dos ácidos fenólicos, não ocorrendo liberação
desses compostos no solo e não ocorrendo, portanto, o efeito da redução
do desenvolvimento das plantas cultivadas (Taiz & Zieger, 2004).
Liu et al. (1995) observaram que a aplicação de glifosato não
afetou significativamente o acúmulo ou exsudação de fitoalexinas
(kievitone, phaseollinisoflavan e phaseolin) nas raízes do feijoeiro
(Phaseolus vulgaris L.) inoculadas com Pythium spp, quando cultivadas
em sistema de hidroponia. Já em plantio do feijoeiro em areia esterilizada
e inoculado com Pythium spp, o glifosato não afetou significativamente o
acúmulo de fitoalexinas até o terceiro dia; entretanto, no quinto dia a
presença da fitoalexina phaseollin, detectada nas raízes inoculadas de
plantas tratadas com glifosato, foi significativamente maior que nas plantas
não tratadas e também inoculadas, mostrando que o glifosato não afetou
negativamente a produção de fitoalexinas.
Outros trabalhos procuraram avaliar a relação da molécula
do glifosato e sua interferência com patógenos. Kassaby & Hepworth (1987)
demonstraram o efeito do glifosato na redução do crescimento radicular,
na produção de esporos e no potencial de inóculo de Phytophthora
cinnamomi, responsável por doença radicular em Pinus radiata. Esses
resultados foram corroborados por Azevedo (2003); Toftaneli (1997) e Alves
Jr. (1997), para condições brasileiras, com fungos entomo e fitopatogênicos,
onde observaram que a ação do glifosato chegou a ser fungistática, porém
não fungicida.

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

A relação entre o glifosato e a incidência de patógenos em


uva e citros também foi motivo de estudos no meio científico. Altman
(1995) discutiu essa relação e, com base em sua ampla revisão de literatura,
não identificou qualquer evidência de que as aplicações de glifosato tenham
modificado as características de absorção das raízes das plantas de uva e
nem mesmo facilitado o processo de infecção por bactérias do grupo da
Xylella fastidiosa em uva ou citros.
Com relação à dessecação da vegetação para a prática do
plantio direto, também não se observou qualquer aumento da incidência
de doenças na cultura implantada a seguir sobre a palha em decomposição
(Embrapa, 2003).
Portanto, com base nas informações acima referidas e nos
resultados de produtividade obtidos nos ensaios de manejo de plantas
daninhas em várias culturas, inclusive citros, podemos afirmar que o
glifosato é um produto bastante seguro para as culturas nas quais é
registrado, desde que observadas as condições de recomendação descritas
em bula, não havendo qualquer relação entre o uso do mesmo e o aumento
da susceptibilidade a doenças.
A utilização desse princípio ativo por mais de trinta anos, em
vários países e em sistemas agrícolas de maior sustentabilidade, como o
plantio direto, tem confirmado a alta eficiência agronômica do glifosato
em seus diversos usos.

1
Comunicação pessoal do Prof. Titular Dr. João Domingos Rodrigues, da Unesp de Botucatu.

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V
A Clorose Variegada
dos Citros (CVC) e o Glifosato
A Clorose Variegada dos Citros (CVC), ou “amarelinho”,
representa hoje uma das principais ameaças à citricultura brasileira, pois
ataca todas as variedades comerciais de laranja doce, base da nossa
indústria de suco de laranja. Constatada pela primeira vez no Brasil em
1987, em pomares de Colina (SP), e logo depois no Triângulo Mineiro e
nas regiões norte e noroeste do Estado de São Paulo, ela representa hoje
uma das maiores preocupações da citricultura nacional (Rosseti et al.,
1997).
A doença é mais severa em plantas jovens, pois quando as
infecta precocemente, inviabiliza a continuidade dos pomares. Em plantas
adultas, os danos iniciais são menores, mas a doença também compromete
a qualidade dos frutos, tornando-os pequenos e com pouco suco, portanto
imprestáveis para o mercado in natura e, muitas vezes para a indústria.
Neste caso, nem sempre é necessária a erradicação do pomar.

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

Desde a sua constatação, muitas hipóteses, como causa


virótica, desequilíbrio nutricional etc., foram levantadas no sentido de se
identificar e caracterizar a causa do problema. Em 1989, materiais sadios e
sintomáticos foram enviados aos laboratórios do INRA (Institut National
de la Recherche Agricole) em Bordeaux, na França, reconhecido centro de
excelência em pesquisa sobre doenças cítricas, coordenado pelo Dr. José
M. Bové. Havia suspeita de que os sintomas da CVC eram semelhantes
aos do greening , doença causada por bactérias de taxonomia ainda
indefinida, conhecidas como Liberobacter spp, que atacam o floema de
plantas, causando colapso desses vasocondutores. Após exames de
microscopia eletrônica de alta resolução, não foi constada a presença de
bactérias do greening, mas sim de bactérias do grupo da Xyllela fastidiosa
nos vasos do xilema de plantas com sintoma, a primeira constatação
internacional da doença (Rosseti et al., 1990). Esse foi o primeiro passo
para a compreensão da etiologia ou causa da CVC.
Entretanto, a confirmação final de que a CVC era realmente
uma doença e não resultado de outra causa abiótica, como desequilíbrio
ou deficiência nutricional, toxicidade por produtos químicos etc., veio
com os trabalhos de Chang (1993), em colaboração com o Instituto
Biológico, e de Beretta et al. (1993), que simultaneamente, em dois diferentes
centros de pesquisa, reportaram que reisolaram a bactéria e após seu
isolamento e crescimento em meio de cultura puro, inocularam-na em
plantas sadias que vieram a expressar os sintomas. Fecharam-se, assim,
os postulados de Koch, considerados pelos fitopatologistas como a prova
final necessária para definir a etiologia ou causa de uma doença de plantas.
Dessa forma, ficou demonstrado que os problemas nutricionais que
aparecem na sintomatologia da CVC, conforme descritos por Quaggio
(1988), Vitti (1989) e Malavolta (1990), eram apenas a conseqüência e não
a causa da doença. A partir de então ficou provado que todas as outras
possíveis causas aventadas para a ocorrência da doença eram na verdade
conseqüências dela (Bologna, 2003).

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Os prejuízos que a CVC traz à fisiologia das plantas cítricas,


como sintomas de murcha nos ramos e galhos secos, frutos pequenos e
desordens nutricionais diversas, são decorrentes da redução do fluxo de
água nos vasos do xilema, provocando a presença de grande número de
bactérias dentro desses vasos, que, juntamente como uma matriz gelatinosa
usada por elas para se prender às paredes do xilema, reduzem a seção
disponível ao fluxo de água, conforme pode ser vista em fotografia de
microscopia eletrônica na Figura 3.

Figura 3. Fotografias de microscópio eletrônico mostrando a obstrução dos vasos do xilema em função da
presença de bactérias Xyllela fastidiosa.

O trabalho de Machado et al. (1994) avaliou os efeitos da CVC


nos processos fisiológicos vitais às plantas cítricas, como fotossíntese,
respiração, trocas gasosas e relações hídricas ao longo de todo período do
dia. Eles mostraram que a redução da água disponível para as plantas,
causada pela obstrução dos vasos do xilema, é semelhante àquela
observada em plantas cítricas afetadas pelo declínio, nas quais também
há a obstrução dos vasos do xilema por filamentos de proteínas de origem
ainda desconhecidas e que levam à morte das plantas enxertadas em porta-
enxertos sensíveis. Esse é o caso do limão-cravo, conforme mostram os
resultados do Quadro 2, que indicam que no início da manhã, quando a
disponibilidade hídrica é máxima, as plantas afetadas por CVC já apresentam
menor potencial de água em seu interior, o que demonstra a dificuldade
de condução da água do solo para a parte aérea das plantas.

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

Quadro 2. Potencial da água em plantas cítricas sadias e


afetadas por Clorose Variegada e Declínio dos citros em diferentes períodos
do dia.

Horas Plantas sadias Plantas doentes


CVC Mpa
9:00 -0,84 -1,45
14:00 -1,17 -2,49
Declínio
9:00 -1,3 -1,9
14:00 -1,7 -2,6
1 Mpa = 145 lb/inch2.
Fonte: Machado et al. (1994).

Segundo Feichtenberger et al. (1997), existem algumas


sugestões para manejo de pomares com incidência de CVC. São elas: uso
de mudas livres de Xylella fastidiosa em plantios novos e replantes, controle
de plantas daninhas no pomar, realização de inspeções freqüentes nos
pomares para identificar focos iniciais da doença, poda de ramos afetados
(50 cm abaixo da última folha inferior com sintomas), manutenção do
pomar em boas condições nutricionais e fitossanitárias e uso de quebra-
vento.
Além disso, é fundamental o controle de insetos vetores da
doença, que são as cigarrinhas sugadoras de seiva do xilema, das famílias
Cicadellidae e Cercopidae (Gravena et al., 1997).
Medina (2002) cita que plantas bem nutridas e sem limitações
nutricionais que impeçam as atividades metabólicas podem sobreviver
melhor à CVC por atingir melhores taxas de fotossíntese e rápido
crescimento, o que dilui a população bacteriana nos tecidos e reduz seus
efeitos deletérios, já que as bactérias crescem lentamente. O contrário é
observado em plantas subnutridas, as quais apresentam os sintomas da
doença agravados.

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Na literatura encontram-se ainda trabalhos que demonstram


que elementos minerais como Ca (cálcio), Mn (manganês), Cu (cobre), Bo
(boro), Mo (molibdênio) e S (enxofre) podem ter influência nos processos
de resistência das plantas aos ataques de pragas e doenças. Como exemplo
podemos citar Malavolta (1987), que relata que o cálcio estimula o
desenvolvimento das raízes, aumenta a resistência a pragas e doenças e
aumenta o pegamento da florada. Outro trabalho que também mostra essa
relação foi o desenvolvido por Silveira & Higashi (2003), que analisaram
os principais efeitos dos nutrientes na ocorrência de doenças fúngicas,
com ênfase para eucalipto. Os autores citam que o excesso e/ou a falta de
alguns nutrientes alteram as estruturas anatômicas e as propriedades
bioquímicas, tornando as plantas mais suscetíveis a doenças; citam também
que observaram evidências dessa tendência com relação a elementos como
silício, boro, manganês, nitrogênio, fósforo, cálcio e zinco.
É importante ressaltar que a atual condição nutricional e
sanitária dos pomares de citros em São Paulo é um reflexo da situação
econômica pela qual passou o setor nos últimos anos. Os baixos
investimentos em tratos fitossanitários e, principalmente, em adubação,
assim como o uso abusivo de grades para controle das plantas daninhas,
têm levado em última análise ao desequilíbrio químico, físico e biológico
dos solos. A carência de nutrientes, agravada pela redução dos teores de
matéria orgânica e por problemas de compactação do solo, tornou as
plantas muito mais sensíveis a pragas e doenças, mesmo em pomares que
eram razoavelmente bem manejados antes da crise. Além disso, nos últimos
anos tem-se observado uma profunda alteração no regime de chuvas, o
que, aliada a altas temperaturas, também favorece a maior expressão de
doenças como a CVC.
O glifosato, utilizado para o controle de plantas daninhas em
várias pesquisas que procuraram avaliar diferentes sistemas de manejo
em citros, sempre se mostrou um dos tratamentos de maior produtividade
praticamente em todos os ensaios conduzidos por vários anos (ver capítulo

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

III). Esses dados mostram que essa molécula é bastante segura para a
cultura de citros, não tendo qualquer relação com doenças como a CVC,
sendo seu uso recomendado pelas principais instituições especializadas
no manejo de plantas daninhas. Como já citado no capítulo IV, Altman
(1995) discutiu essa relação e não identificou qualquer evidência de que
as aplicações de glifosato tenham modificado as características de absorção
das raízes das plantas de uva ou mesmo facilitado o processo de infecção
por bactérias do grupo da Xylella fastidiosa em uva ou citros.

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VI
Comportamento do
Glifosato no Solo e na Água
A principal rota de degradação do glifosato são os
microrganismos de solo e água (por processos aeróbicos e anaeróbicos),
que o decompõem em compostos naturais. Uma característica importante
do glifosato é a sua capacidade de ser adsorvido pelas partículas de solo e
permanecer inativo até sua completa degradação. O glifosato é rapidamente
degradado por microrganismos do solo, sendo que sua meia-vida média
(tempo médio necessário para que metade da quantidade aplicada do
produto seja degradada) é de 32 dias. Esse resultado foi obtido em 47
estudos conduzidos em campos agrícolas e áreas de reflorestamento em
diferentes localidades geográficas (Giesy et al, 2000).
As plantas são seletivas quanto ao processo de absorção e
liberação de substâncias ao meio. Dentro desse contexto, a molécula de
glifosato, por ser um derivado de glicina (um aminoácido essencial presente
nas plantas), não é percebida pelas plantas como um potencial agressor e,
portanto, normalmente é muito pouco exsudada pelas raízes, o que foi
demonstrado por vários trabalhos, como por exemplo o desenvolvido por
Coupland & Peabody (1981), que avaliaram a quantidade de glifosato
exsudado pelas raízes após aplicação sobre plântulas de gramínea.
Mantendo-as em laboratório com as raízes em água deionizada, esses
autores observaram que apenas 0,36% da dose aplicada sobre as mesmas
foi exsudado pelas raízes. No caso da solução do solo, essa pequena
concentração liberada seria adsorvida pelos colóides e íons metálicos
presentes na solução e decomposta por microrganismos, ou seja, a
concentração na solução do solo seria praticamente nula.

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Outro trabalho nessa linha foi conduzido por Rodrigues (1979),


que verificou, em casa de vegetação, a possibilidade de ocorrência de
exsudação do glifosato pelas raízes de trigo, utilizado como cobertura em
diferentes populações (5 a 30 plantas por vaso), e a possível implicação
no desenvolvimento das culturas de soja e milho em plantio direto,
simulada em vasos. O autor observou pequena interferência no
desenvolvimento das plantas de milho e soja somente quando se empregou
a dose de 5,04 kg/ha de equivalente ácido e apenas para a maior densidade
de plantas de trigo por vaso (30). Nas densidades menores (5 plantas por
vaso), essa mesma dose chegou inclusive a favorecer o desenvolvimento
das culturas de soja e milho.
Quando o glifosato é aplicado, parte do produto é diretamente
absorvida, ficando nas plantas daninhas, e parte é depositada no solo. A
parte do produto que é retirada nos tecidos vegetais contribui para reduzir
sua disponibilidade no ambiente, e este produto somente irá atingir o solo
quando a matéria seca dessas plantas daninhas for decomposta pelos
organismos heterotróficos do solo e na maior parte das vezes não mais
como glifosato.
Por outro lado, o glifosato é um composto orgânico dipolar e,
por isso, apresenta rápida e alta taxa de adsorção aos óxidos e hidróxidos
de ferro e alumínio e à matéria orgânica do solo, como evidenciado em
diversos estudos, inclusive em solos brasileiros (Prata et al., 2000). Tal
fato praticamente elimina o risco de absorção radicular da molécula pelas
culturas no mesmo ecossistema nas doses normalmente recomendadas
em bula. Devido aos quatro mecanismos de ligação apresentados, que
podem inclusive atuar concomitantemente, sendo que o principal deles
para solo sob clima tropical é a formação de ligação covalente dativa com
os óxidos metálicos do solo (semelhante à adsorção específica dos fosfatos
inorgânicos), a sorção do glifosato torna-se um processo irreversível (Prata
et al., 2000). Sendo assim, na dinâmica das substâncias dos solos, a sorção
do glifosato e de seu principal metabólito, o ácido aminometilfosfônico

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(AMPA), coloca-os na categoria de resíduo-ligado (Prata, 2002; Prata et al.,


2003). O resíduo-ligado é a fração do defensivo que não retorna à solução
do solo e dessa forma torna-se totalmente indisponível para absorção pelas
plantas.
Em condições de campo, a inativação do glifosato é ainda
mais rápida, pois ali surgem fatores que não são controlados, como: i)
maior atividade microbiana, o que acarreta aceleração da degradação do
glifosato; ii) maiores concentrações de cátions metálicos, principalmente
o Ca+2 proveniente da calagem e também das fertilizações, os quais formam
complexos com o glifosato; iii) maior instabilidade da umidade do solo
nas camadas superficiais, que normalmente concentra as moléculas na
superfície externa dos colóides e, assim, acelera o processo de adsorção
na matriz coloidal do solo; e vi) maior variação da temperatura do solo
(Prata, 2002).
Estudos em solos brasileiros mostraram que, em argissolo
vermelho-amarelo de textura média, a meia-vida do glifosato foi de apenas
8 a 9 dias e não houve influência do histórico de uso do produto. O mesmo
se observou em latossolo argiloso, no qual a meia vida do produto foi de
12 dias no solo sem aplicação prévia de glifosato de 22 dias no mesmo
solo, após 11 anos de aplicação do produto. Ainda que a meia-vida tenha
mostrado pequena variação no solo com o histórico de aplicação do
produto, a persistência do glifosato nas condições de solos tropicais em
geral é muito curta (Araújo et al., 2003).
A degradação do glifosato no solo é muito rápida e realizada
por grande variedade de microrganismos que usam o produto como fonte
de energia e fósforo, por meio de duas rotas catabólicas (Figura 4),
produzindo o ácido aminometil fosfônico (AMPA) como o principal
metabólito, e sarcosina como metabólito intermediário na rota alternativa
(Dick & Quinn, 1995).

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

O
COOH-CH2-NH-CH2-P-OH
Glifosato OH

C-P liase
O
COOH-CH2-NH-CH3 NH2-CH2-P-OH
OH
Sarcosina
Ácido Aminometil fosfônico

Figura 4. Degradação do glifosato por bactérias do solo, com produção dos metabólitos ácido aminometilfosfônico (AMPA) e
sarcosina (Dick & Quinn, 1995).

Vários trabalhos de pesquisa procuraram analisar a mobilidade


da molécula de glifosato no solo. Tucker (1977), visando estudar a absorção
do glifosato pelas raízes de mudas de citros, aplicou o produto em três
diferentes momentos, dentro de um período de 18 meses, nas doses de
3,3; 6,6 e 13,5 kg/ha de equivalente ácido de glifosato, em vasos com
capacidade de 19 litros. O autor cita que não observou qualquer sintoma
de fitotoxicidade, caracterizado pelo desenvolvimento de folhas anormais,
ou redução no desenvolvimento das mudas.
Em outro trabalho, conduzido por Souza (1998), procurou-se
avaliar a lixiviação de glifosato em colunas deformadas de solo, com alturas
de 1, 5, 10, 15 e 30 cm e com diâmetro aproximado 10 cm, em dois tipos
de solo (franco arenoso e argiloso). Após umedecimento das colunas à
capacidade de campo, uma solução de glifosato equivalente a 1,44 kg/ha
de equivalente ácido de glifosato foi aplicada sobre a superfície do solo, e
posteriormente simulou-se uma chuva de 40 mm, por um período de 4
horas, imediatamente após a aplicação. Para avaliação da presença de
glifosato no lixiviado, diferentes concentrações desse material (0,0; 6,25;
12,5; 25; 50 e 100%) foram colocadas em vasos com capacidade de 2 litros,
nos quais foram transplantadas plântulas de tomateiro com 5 dias de idade.

39
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O autor não observou qualquer prejuízo ao desenvolvimento das plântulas,


avaliado através do comprimento de raiz e produção de biomassa. Como
conclusão, o autor cita que o glifosato aplicado nas colunas sofreu forte
retenção na matriz coloidal do solo, responsável pela inativação do produto.
Estudos mostram que a sorção do glifosato no solo ocorre em
duas fases, sendo a primeira delas praticamente instantânea, contribuindo
com a retenção de mais de 90% do total aplicado, e a segunda um pouco
mais lenta. Todavia, a fase lenta foi quantificada por Prata et al. (2004) em
aproximadamente 10 minutos, tanto no solo sob plantio direto como sob
plantio convencional.
Os mecanismos de adsorção do glifosato são bem conhecidos
e correlacionados com a capacidade dos solos em adsorver íons fosfatos e
também com as concentrações de determinados cátions como Zn+2, Mn+2,
Cu+2, Fe+2, Fe+3, Al+3 e Ca+2. Prata et al. (2000) mostraram que a adsorção do
glifosato foi extremamente elevada em solos com diferentes atributos
mineralógicos e teores contrastantes de matéria orgânica, classificados
como nitossolo vermelho eutroférrico (NVef), latossolo amarelo ácrico
(Law) e gleissolo (G). Esse estudo mostrou ainda alta taxa de retenção do
glifosato, mesmo após a eliminação da matéria orgânica num solo com
baixa capacidade de adsorção de fosfato. Esse fato é mais uma evidência
de que a molécula apresenta vários mecanismos de ligação aos solos
tropicais, podendo tanto ligar-se à fração oxídica do solo como ser adsorvida
eletrostaticamente aos minerais de argila e à matéria orgânica, ou mesmo
pela formação de pontes de hidrogênio com a própria matéria orgânica do
solo (Prata & Lavorenti, 2002). (Figura 5).

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

Interação eletrostática - -- -- - Forças de van der Waals

OHFe O H H
pk b O
Covalente dativa
O P C NH2 + C C
dupla
pk a
O
O H H pk a
pk a
Ponte de hidrogênio
+++
+++
+++
+++
+++
+++

Figura 5. Esquema dos mecanismos (interação eletrostática, forças de Van der Waals, pontes de hidrogênio e ligação covalente
dativa dupla) envolvidos na sorção do glifosato em solo (Prata & Lavorenti, 2002).

Além dos fatos mencionados, é importante lembrar que a


superfície do solo apresenta variação brusca de umidade, ou seja, os
primeiros milímetros do perfil do solo, que compõem a faixa de recebimento
do glifosato após a aplicação, variam do “encharcado” ao “seco” num
intervalo muito rápido de tempo, o que acelera a adsorção do glifosato.
Portanto, em função da forte adsorção do glifosato na matriz
coloidal do solo, bem como sua rápida degradação por microrganismos,
é pouco provável que a molécula de glifosato quando aplicada sobre as
plantas daninhas possa atingir, em doses elevadas, as raízes de culturas
perenes ou anuais do mesmo ecossistema e causar dano a pomares de
citros ou lavouras de café ou outras culturas para as quais o produto é
recomendado.
Outro aspecto relacionado ao comportamento do glifosato no
solo refere-se à adoção de práticas conservacionistas como o plantio direto.
O sistema de plantio direto das culturas é beneficiado pelo comportamento
do glifosato no solo, pois é realizado após aplicação do produto para

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controle das plantas daninhas ou coberturas vegetais. A eficácia e a


segurança do plantio direto (Mello, 2002; Embrapa, 2003) associadas ao
uso do glifosato possibilitaram um aumento na adoção desse sistema no
Brasil nos últimos 25 anos, já atingindo aproximadamente 20 milhões de
hectares. O plantio direto é um sistema conservacionista por excelência,
preservando e melhorando a qualidade de nossos solos, sendo considerado
por muitas instituições como um grande passo para a sustentabilidade da
agricultura. Além disso, esse sistema de plantio é hoje adotado em várias
culturas perenes importantes, como a cana-de-açúcar e o eucalipto.
Além disso, o glifosato é altamente eficiente no controle das
plantas daninhas, proporcionando excelentes condições de
desenvolvimento para que as culturas atinjam seu potencial máximo de
produtividade, quando comparado a outros sistemas de manejo das plantas
daninhas. Em resumo, o glifosato utilizado de acordo com as
recomendações de bula e práticas agrícolas corretas é seguro às culturas
em geral, sem risco de absorção do produto pelo sistema radicular e
aparecimento de sintomas de fitotoxicidade.
Quando se fala em meia-vida de um produto, é preciso
ressaltar que muitos desses valores são referentes a estudos de laboratório.
Quando passamos a considerar as condições de campo, certamente surgem
fatores que contribuem de forma muito significativa para a redução desses
valores. Por exemplo, quando realizamos uma aplicação, temos que
considerar que apenas uma parte da dose aplicada atinge diretamente o
solo, visto que grande parte do produto é interceptada e absorvida pelas
plantas daninhas. O produto que vai para dentro das plantas daninhas
será liberado ao solo de forma gradativa, dependendo da sua
decomposição, e muitas vezes já na forma de seu metabólito AMPA. Esse
processo poderá ser bastante lento, pois depende da relação C/N, que no
caso de algumas plantas é bastante alta.
Com relação à sua solubilidade em água, o glifosato é um
herbicida altamente solúvel, apresentando valor de 11.600 ppm a 25oC

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

(Kollman & Segawa, 1995). Experimentos procurando avaliar a estabilidade


da molécula indicaram que o glifosato mostrou-se estável em água com
pH 3, 5, 6 e 9, a uma temperatura de 35oC. Mostrou-se também estável à
fotodegradação em pH 5, 7 e 9, em solução tampão sob luz natural, e a
meia-vida por hidrólise foi maior que 35 dias (Kollman & Segawa, 1995).
Bronstad & Friestad (1985) também indicaram que o glifosato mostrou
pequena propensão à decomposição por hidrólise. Estudos conduzidos
em Manitoba, Canadá (Kirkwood, 1979), mostraram que a perda do
glifosato na água ocorreu através da adsorção a sedimentos e degradação
microbiana. Ghassemi et al. (1981) concluíram que a taxa de degradação
em água é geralmente menor porque existem menos microrganismos na
água que na maioria dos solos. Estudos conduzidos em um ecossistema
florestal (Feng et al., 1990; Goldsborough et al., 1993) mostraram que o
glifosato dissipou-se rapidamente na água de lagoas com muitos sedimentos
suspensos, com a meia-vida variando entre 1,5 a 11,2 dias.
Já em ambiente florestal, ensaio conduzido em Oregon, EUA,
por Newton et al. (1984), analisou a presença do produto aplicado
diretamente sobre áreas a serem amostradas. Os autores observaram que
os níveis mais altos de resíduo encontrados foram os do dia da aplicação,
em que os valores no solo foram de 0,07 ppm, e na água do riacho, de 0,27
ppm. No quarto dia do tratamento esse nível caiu abaixo do limite de
detecção do método (0,025 ppm). Os dados de meia-vida do produto
encontrados no ambiente foram de 9 dias nas folhagens das árvores, 12
dias em arbustos, 14 dias nas plantas daninhas e 10 dias nas folhas que se
encontravam sobre o solo em processo de decomposição.
Resumindo, as propriedades que determinam o
comportamento do glifosato caracterizam o produto como sendo de
reduzido impacto ambiental, tendo em vista a amplitude de uso dessa
molécula. O produto é degradado por microrganismos tanto no solo como
na água; no solo é fortemente retido na forma de resíduo-ligado; na água,
é altamente solúvel, sendo a volatilidade e evaporação insignificantes.

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VII
O Glifosato e as Populações
Microbianas do Solo
O solo é um sistema bastante complexo, constituído por
material mineral, matéria orgânica, microrganismos, água e ar; sendo que
a variação de um desses componentes pode provocar alterações nos demais
(Alexander, 1961). Populações complexas e diversificadas de
microrganismos estão presentes no solo e provocam grandes interferências
na qualidade dos mesmos, juntamente com os processos bioquímicos que
neles ocorrem (Tiedje et al., 1999). A presença de microrganismos no solo
pode ser facilmente influenciada por inúmeros fatores, como propriedades
físico-químicas, matéria orgânica, umidade, temperatura, pH, sistemas de
manejo e outros (Alexander, 1961; Buckley e Schmidt, 2001). Portanto,
variações em populações específicas de microrganismos são esperadas
sempre que se introduz alguma prática agrícola que altere
significativamente os fatores citados.
No ambiente agrícola, o glifosato não causa impacto
significativo sobre as populações microbianas em função da grande

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

diversidade dos microrganismos, da composição físico-química dos solos


e da dose efetiva para exercer alguma ação sobre eles. Grossbard & Harris
(1979), observaram que concentrações de glifosato capazes de inibir
microrganismos em culturas puras estão geralmente muito acima daquelas
que poderiam estar disponíveis nos solos após as aplicações de campo.
Citam ainda que o glifosato é altamente adsorvido ao solo, o que colabora
para sua inativação e indisponibilização. Segundo Roslycky (1982), o
glifosato aplicado ao solo não tem efeito adverso nas populações
microbianas.
O estudo desenvolvido por Gomez et al. (1989) mostrou que
o glifosato não teve efeito prejudicial sobre microrganismos no campo,
mesmo em doses de até 14,4 kg e.a./ha em solos arenosos. Entretanto,
quando usado na concentração de 1%, em condição de laboratório, o
produto afetou significativamente algumas estirpes de bactérias. Grossbard
(1985) também observou que em meio de cultura puro muitos
microrganismos tiveram seu desenvolvimento inibido pelo glifosato, mas
que esse efeito dificilmente é reproduzido no campo, onde há incremento
no número de propágulos de fungos com o aumento da dose do glifosato,
uma vez que os microrganismos utilizam o próprio produto como substrato.
Um dos aspectos mais interessantes observados durante a utilização do
glifosato é que ele não reduz a nitrificação no solo, ao contrário de outros
herbicidas. Grossbard (1985) enfatizou que não há risco de a fertilidade
do solo ser comprometida pelo uso de glifosato.
Gomez e Sagardoy (1985) estudaram o efeito de doses do
glifosato de 0 (zero) a 2.880 g e.a./ha sobre o número total de bactérias
aeróbicas, microartrópodos e ácaros presentes nos solos durante 96 dias
em solo arenoso de uma região semi-árida na província de Buenos Aires,
Argentina. Alterações significativas que pudessem prejudicar a microflora
e a mesofauna não foram observadas em nenhuma das doses testadas.
Chakravarty e Chatarpaul (1990) avaliaram o efeito do herbicida
glifosato no crescimento de mudas novas de Pinus resinosa e no
desenvolvimento de micorrizas em simbiose com fungos Paxillus involutus,

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em ensaios desenvolvidos em casa de vegetação. Efeitos adversos do


produto não foram observados, mesmo na dose de 3,23 kg e.a./ha. Os
mesmos resultados foram encontrados em avaliação de campo, porém
nas parcelas não tratadas houve uma mortalidade de 49% do Pinus resinosa,
o que foi atribuído à competição pelas plantas daninhas, pois nas parcelas
tratadas com glifosato todas as plantas mostraram excelente
desenvolvimento.
O aumento da atividade microbiológica do solo com a
aplicação do glifosato tem sido observado em vários trabalhos. Sabe-se
que muitos microrganismos utilizam a molécula do glifosato como fonte
de fósforo, quando da ausência deste no meio (Liu et al., 1991; Pipke et
al., 1987).
Araújo (2002) avaliou a biodegradação do glifosato em dois
tipos de solo (podzólico vermelho-amarelo e latossolo vermelho) durante
32 dias e observou o aumento da atividade microbiana após a aplicação
da dose de 2,16 mg de e.a./kg de solo. Os fungos e actinomicetos
apresentaram aumento de população, enquanto as bactérias permaneceram
em número constante durante todo período de incubação.
Estudo em andamento (Pitelli, 2003 – UNESP Jaboticabal) vem
demonstrando que a adição de glifosato no solo incrementa a atividade
microbiana, o que é medido pela evolução de CO2 do solo. As Figuras 6
e 7 mostram a resposta de microrganismos que utilizam a molécula de
glifosato no seu metabolismo e aparentemente são favorecidos pelo
aumento da dose do produto, podendo-se inferir que ocorre rápida
dissipação do herbicida.

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

300
Evolução do CO2 (mg /Kg de solo) TESTEMUNHA
250 0,10%
0,20%
200 0,50%
1,00%
150

100

50

0
0 5 10 15 20 25 30
Dias após incorporação
Figura 6. Efeitos da incorporação de diferentes concentrações de glifosato sobre a atividade respiratória de um latossolo vermelho-
escuro, textura média, em condições de incubação em laboratório (período de 22 de junho a 14 de julho de 2003).
Pitelli, R. A. - UNESP, Jaboticabal, 2003, ensaio 1 (gráfico publicado com autorização expressa do autor).

250
Evolução do CO2 (mg /Kg de solo)

TESTEMUNHA
200
0,10%
0,20%
150 0,50%
1,00%
100

50

0
0 5 10 15 20 25 30
Dias após incorporação

Figura 7. Efeitos da incorporação de diferentes concentrações de glifosato sobre a atividade respiratória de um latossolo vermelho-
escuro, textura média, em condições de incubação em laboratório (período de 22 de junho a 14 de julho de 2003).
Pitelli, R. A. - UNESP, Jaboticabal, 2003, ensaio 2 (gráfico publicado com autorização expressa do autor).

Quinn et al . (1988) e Amrhein et al . (1983) mostraram


claramente que ocorre uma relação inversa entre a degradação do produto
e o crescimento da população de microrganismos durante a degradação
do glifosato (Figura 8). A população de microrganismos pode adaptar-se
à aplicação do produto, tornando-se pouco sensível à sua presença, sendo
capaz de crescer satisfatoriamente, mesmo em concentrações elevadas.

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b)
5,0 . a). . . .... 0,5 2,5 Não adaptada
. .
Concentração Crescimento
(sem glifosato)
de glifosato 2,0
..

Densidade de células, A 650 nm


microbiano 0,4
4,0 Não adaptada
Densidade de células, A650 nm

Adaptada
(5 mmol L-1)
. (5 mmol L-1)

Glifosato, mmol L-1


1,5
3,0 . 0,3

0,2 1,0
2,0

. 0,1 0,5
1,0
.
.... . . 0,0
0 0
0 10 20 30 40 50 60 0 5 10 15 20 25 30
Tempo, horas Tempo, horas

Figura 8. Crescimento de uma população microbiana do solo adaptada em meio de cultura enriquecido com 0,5 mmol L-1 de
glifosato (Quinn et al., 1988) e crescimento de população de Aerobacter aerogenes adaptada e não adaptada ao glifosato (Amrhein
et al., 1983).

Os estudos realizados até hoje, inclusive em área que recebeu


aplicação de glifosato por dezenove anos, não mostrou qualquer efeito
adverso significativo sobre a microbiologia do solo (Hart e Brookes, 1996)
e não se observou impacto sobre a biomassa microbiológica, bem como
sobre a mineralização de carbono e nitrogênio, nas doses recomendadas
(Biederbeck et al., 1997). Trabalhos mais recentes feitos por Haney et al.,
(2000, 2002) também confirmam a degradação do produto sem impacto
negativo sobre a comunidade microbiana do solo. Da mesma forma, Giesy
et al. (2000) concluíram em seu relatório de avaliação de risco
ecotoxicológico para a molécula de glifosato que, nas doses recomendadas,
não há qualquer evidência de que o produto possa causar danos à
microbiologia do solo.
Giesy et al. (2000) concluíram que o glifosato utilizado nas
doses recomendadas não causa danos sobre a microbiologia do solo.
Jansen (1999) analisou o impacto do uso de herbicidas em
plantio direto e concluiu que os herbicidas geralmente representam menor
risco para os seres humanos e para a fauna silvestre, quando comparados
com os inseticidas, em razão de agirem basicamente sobre processos
fisiológicos existentes apenas em plantas. Além disso, a presença de

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

organismos vivos em solo onde o plantio direto é realizado é muito maior


do que em solo de plantio convencional. Isso mostra claramente que os
microrganismos encontram um ambiente mais favorável nas áreas de
plantio direto, ocorrendo em maior quantidade e diversidade,
independentemente do tipo de solo. Outra conclusão foi que diferentes
herbicidas e doses aplicadas nas áreas de plantio direto têm menor efeito
negativo sobre os componentes biológicos do solo que o preparo mecânico
para o plantio convencional e os herbicidas utilizados nesse sistema.
Finalmente, os microrganismos são agentes importantes na degradação
da maioria dos herbicidas. Portanto, segundo Jansen (1999), o risco de
aparecimento de resíduos de herbicidas é maior nas áreas de plantio
convencional que em áreas de plantio direto, em razão da maior atividade
biológica nessas áreas.
O glifosato é um dos ingredientes ativos que viabilizaram o
estabelecimento e o crescimento das áreas de plantio direto no mundo e é
considerado um sistema sustentável e conservacionista por excelência,
trazendo benefícios como proteção do solo contra os processos erosivos
e perda de umidade (Giesy et al, 2000). Dentre outros benefícios podemos
ainda citar melhoria das características físico-químicas do solo, aumento
do nível de matéria orgânica, aumento da biodiversidade, aumento da
capacidade de retenção de água, melhor aproveitamento dos nutrientes
do solo pela planta etc.
Muitos desses benefícios podem ser comprovados, por
exemplo, pela maior ocorrência de minhocas e maior atividade microbiana
nas áreas de plantio direto na decomposição da palhada e dos restos de
culturas sobre o solo.
Todos esses fatores são muito importantes no desenvolvimento
das culturas implantadas nessas áreas, tornando-as mais resistentes às
condições de estresse, aumentando seu potencial de produção e trazendo
benefícios diretos e indiretos para o agricultor, o meio ambiente e a
sociedade em geral.

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VIII
Glifosato e a Fixação Biológica de
Nitrogênio na Cultura da Soja
A fixação biológica de nitrogênio é o processo através do
qual o nitrogênio atmosférico (N2, forma não absorvida pelas plantas)
é reduzido a NH 3 por bactérias do gênero Rhizobium , dentro de
estruturas especiais desenvolvidas nas raízes, chamadas nódulos.
Posteriormente, o NH3 é transferido para a planta, fazendo parte de
compostos nitrogenados vitais para o seu desenvolvimento, tais como
aminoácidos, proteínas, ácidos nucléicos, etc.
Dentre outros fatores, o processo de fixação do nitrogênio
pode variar com a estirpe do inóculo de solo, condições ambientais e
também com o cultivar utilizado. Trabalhos conduzidos em laboratório
indicaram que o glifosato pode afetar as bactérias fixadoras do
nitrogênio, porém, apenas quando se aplicam concentrações de
glifosato muito acima daquelas passíveis de ocorrer na solução do
solo, em condições reais de campo (Moorman et al., 1992; Santos &
Flores, 1995).
Segundo Goring & Laskowski (1982), os herbicidas podem
reduzir a nodulação de leguminosas no campo, inibindo a ação de
Rhizobium e Bradyrhizobium , e essa redução é maior quando se
utilizam altas doses dos produtos em culturas com tolerância marginal,
sendo a redução geralmente devida aos danos causados pelos
herbicidas. Bethlenfalvay et al . (1979), em estudo semelhante
concluíram que mesmo com o uso de herbicidas mais seletivos,
aplicados em doses recomendadas, pode ocorrer redução temporária

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

na fixação do N 2 em função da redução da fotossíntese provocada pelo


herbicida. Nessa mesma linha, outros autores concluíram que as
reduções na nodulação não são necessariamente acompanhadas por
perdas de rendimento da cultura (Bollich et al ., 1984; Kapusta &
Rouwenhorst, 1973; Parker & Dowler, 1976; Rennie & Dubetz, 1984).
Kapusta & Rouwenhorst (1973) e Moorman (1989) concluíram ainda
que as aplicações de herbicidas em doses recomendadas não têm
reduzido as populações de Bradyrhizobium no solo abaixo do nível
necessário para uma nodulação adequada.
Muitas estirpes da família Rhizobiaceae foram testadas na
sua habilidade de degradar o glifosato. Todos os organismos testados
(7 estirpes de Rhizobium meliloti , Rhizobium leguminosarum ,
Rhizobium galega , Rhizobium trifolii, Agrobacterium rhizogenes e
Agrobacterium tumefaciens ) cresceram utilizando glifosato como única
fonte de fósforo, embora esse crescimento não tenha sido tão rápido
como quando se utilizou o fósforo inorgânico. Esses resultados sugerem
que a habilidade de degradação do glifosato pela família Rhizobiaceae
é ampla (Liu et al., 1991).
Outra questão importante, e que deve ser ressaltada, é o
fato de os referidos trabalhos terem utilizado meios de crescimento
ricos em nutrientes e culturas de bactérias aclimatadas para as condições
artificiais de laboratório. A extrapolação desses dados para as condições
de campo é questionada por muitos pesquisadores (Estok et al., 1989;
Wan et al., 1998). É importante citar ainda que o enriquecimento de
meios de cultura com nitratos ou outros adubos químicos também
pode prejudicar o crescimento de colônias de Rhizobium spp. Burity
et al. (1999), observaram que o nitrato, na concentração de 5 mM,
inibiu fortemente a produção de nódulos, chegando a uma redução de
49,5%.

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Conforme Mallik & Tesfai (1985), o glifosato apresenta


menor efeito tóxico na nodulação e fixação de nitrogênio que diversos
herbicidas comumente utilizados, como os ingredientes ativos
trifluralina e metribuzin.
É importante enfatizar que o processo de nodulação e
atividade dos nódulos resultantes da interação soja— Rhizobium é
bastante dependente das condições ambientais e especialmente das
práticas culturais empregadas, como a correção de acidez do solo, a
aplicação de fertilizantes químicos e o uso de implementos mecânicos
que causam distúrbios no solo. Todos esses fatores podem alterar
expressivamente o processo. No entanto, o uso do glifosato, em doses
recomendadas para o manejo de plantas daninhas, não afeta
significativamente a nodulação ou a atividade dos microrganismos
fixadores de nitrogênio em associação simbiótica com a cultura da
soja.

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

IX
Segurança para o Homem
e para o Meio Ambiente
A propriedade herbicida dessa molécula foi descoberta pela
Monsanto em 1970 e a primeira formulação comercial foi lançada nos
Estados Unidos em 1974, com o nome comercial de Roundup. Hoje ela é
utilizada em mais de 130 países, sendo aplicada para controle de plantas
daninhas nas áreas agrícolas, industriais, florestais, residenciais e ambientes
aquáticos, de acordo com os registros obtidos em cada país.
O glifosato é uma das moléculas mais eficientes já introduzidas
no mercado para controle de plantas daninhas e por isso seu uso continua
em expansão em todas as principais áreas agrícolas do mundo.
O herbicida glifosato foi o principal responsável pela adoção
mundial de práticas agrícolas como o plantio direto e também possibilitou
um grande avanço na produção mundial de alimentos com a introdução
de culturas geneticamente modificadas, tolerantes ao glifosato.
Devido principalmente à sua alta eficácia no controle de
plantas daninhas e às propriedades ambientais favoráveis – forte fixação

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aos solos e rápida degradadação por microrganismos em compostos naturais


- o glifosato é a melhor escolha para o controle de plantas daninhas. Nos
Estados Unidos e em outros países, herbicidas à base de glifosato estão
entre os poucos autorizados para uso em jardinagem, assim como ocorre
na internacionalmente conhecida reserva ecológica de Galápagos e nas
ruínas de Pompéia, na Itália.
O glifosato é uma das moléculas herbicidas mais estudadas
mundialmente em termos de segurança ambiental e saúde humana e possui
uma das maiores bases de dados solicitados a respeito de pesticidas
(Williams et al., 2000; Giesy et al., 2000). Esses dados têm sido avaliados e
reavaliados por inúmeros e rigorosos testes conduzidos ao longo de vários
anos pelas principais agências regulatórias e organizações científicas
mundiais (United States Environmental Protection Agency – US EPA., 1993;
European Commission - EC, 2002; Health Canadá, 1991; World Health
Organization - WHO, 1994), que concluíram que o glifosato não possui
propriedades carcinogênicas, mutagênicas, teratogênicas ou que causem
qualquer problema reprodutivo. Além disso, dados de laboratório e de
campo indicam baixa toxicidade e baixo risco para a vida selvagem na
exposição direta ao glifosato e suas formulações (US EPA, 1993).
No Brasil, a linha Roundup® de herbicidas a base de glifosato
da Monsanto encontra-se devidamente registrada no Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA para fins agrícolas e no
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
– IBAMA do Ministério do Ministério do Meio Ambiente para fins não
agrícolas. Os registros são concedidos com base nas avaliações
agronômicas, toxicológicas e ambientais realizadas pelo MAPA, Agência
Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA do Ministério da Saúde e IBAMA,
respectivamente, em conformidade com a Lei no 7.802, de 11 de julho de
1989, regulamentada pelo Decreto no 98.816, de 11 de janeiro de 1990, este
substituído pelo Decreto no 4.074, de 4 de janeiro de 2002 e Portarias e
Instruções Normativas pertinentes.

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

Os órgãos governamentais, tanto internacionais como


nacionais, exigem avaliações de resíduos em produtos agrícolas para a
obtenção dos registros de uso de agrotóxicos.
No Brasil, a legislação de agrotóxicos em vigor representa um
grande avanço nessa área, o que contribuiu para que o país pudesse se
ajustar às exigências de qualidade internacionais para produtos agrícolas.
O Ministério da Saúde, através da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa),
publicou normas e tem a competência de monitorar resíduos de agrotóxicos
e estabelecer o limite máximo de resíduo para um determinado produto
ser utilizado nas culturas.
Atendendo a essas exigências regulatórias, a Monsanto realizou
ensaios supervisionados de resíduos em todas as culturas para as quais
tem seus produtos registrados. Em café e citros, por exemplo, a somatória
das doses de glifosato utilizadas chegou a 12,96 kg/ha de equivalente ácido
de glifosato, fracionadas em três aplicações de 4,32 kg/ha, realizadas aos
90, 60 e 30 dias antes da colheita dos frutos para as análises de resíduos.
As análises foram realizadas em laboratórios credenciados nas redes
oficiais da Anvisa e/ou do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento: Instituto Adolfo Lutz (SP); Embrapa/Meio Ambiente,
Jaguariúna (SP); Unicamp, Campinas (SP); e CEPPA, Curitiba (PR). Os
resultados das análises realizadas por esses laboratórios, segundo
metodologia validada internacionalmente, apresentaram valores de glifosato
abaixo do nível de quantificação do método analítico-laboratorial. Tais
resultados estão em conformidade com o limite máximo de resíduo de
glifosato estabelecido pelo Ministério da Saúde na respectiva monografia
do produto, que é 0,2 mg/kg para citros e de 1,0 mg/kg para café, o que
demonstra que o produto não foi absorvido e translocado pelas plantas
dessas culturas, nas doses utilizadas nos experimentos.
Portanto podemos dizer que quando utilizado de acordo com
as recomendações de bula, o glifosato não representará risco à saúde
humana ou ao meio ambiente.

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X
Resistência de Plantas Daninhas
É importante ressaltar que a presença de plantas daninhas
resistentes em uma área é um fenômeno natural. O herbicida é apenas um
agente de seleção dos indivíduos resistentes que normalmente se encontram
em freqüência muito baixa.
Christoffoleti et al. (2003) definem resistência como a
capacidade natural e herdável de alguns biótipos, dentro de uma
determinada população de plantas daninhas, de sobreviver e se reproduzir
após a exposição à dose de um herbicida que seria letal a uma população
normal (suscetível) da mesma espécie.
Fica muito claro por esse conceito que não é o herbicida que
cria um biótipo resistente, mas que ele já existe no ambiente e se deve à
ampla variabilidade genética das plantas daninhas, uma das principais
características que lhes permite se adaptar e sobreviver em diversas
condições ambientais e do agroecossistema (Christoffoleti et al., 2003). O
que ocorre nesse processo é que o herbicida elimina os indivíduos
suscetíveis, e a sua utilização de forma sistemática e intensiva como fator
de seleção cria um ambiente favorável ao crescimento da população dos
biótipos resistentes, ou seja, o herbicida não é o agente causador, mas sim
o selecionador dos indivíduos resistentes.
Esse processo vem ocorrendo na agricultura desde a mais
remota antiguidade em razão das práticas agrícolas imposta pelo homem.
A monda, por exemplo, selecionou gramíneas aquáticas na cultura do
arroz e acabou favorecendo um biótipo com aparência morfológica similar
em sistema inundado, como é o caso da Echinochloa crusgalli (capim-
arroz). Outro exemplo é que o preparo de solo convencional praticamente
eliminou espécies que possuíam pouca capacidade de dormência das

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

sementes ou dos propágulos vegetativos, e o plantio direto as trouxe de


volta, como é o caso de Erigeron canadensis, Digitaria insularis, Cissampelos
glaberrima e outras plantas que ocorrem no sistema de plantio direto
realizado nas áreas de cana colhidas sem queimar (cana-crua) (Pitelli,
2004).
Na década de 1980, a região agrícola do sul do Brasil
experimentou uma poderosa seleção de flora pelo uso continuado das
mesmas combinações de herbicidas, na mesma seqüência de culturas (soja-
milho). Nesse modelo agrícola, as populações de Brachiaria plantaginea e
Euphorbia heterophylla atingiram densidades que prejudicavam
decisivamente a agricultura de grãos.
Na década de 1990, a introdução de modernos herbicidas
parecia ser a solução para o controle das altas populações de Brachiaria
plantaginea e Euphorbia heterophylla, que prejudicavam decisivamente
as culturas de soja e milho. Porém, o que se viu dentro de pouco tempo foi
o desenvolvimento de grande número de subpopulações de Bidens pilosa,
Euphorbia heterophylla , Sagittaria motevidensis , etc. resistentes aos
herbicidas inibidores da ALS e de Brachiaria plantaginea e Digitaria ciliaris
resistentes aos inibidores de ACCase (Christoffoleti et al., 2003), herbicidas
muito mais recentes e de uso mais restrito que o glifosato no Brasil.
A resistência ao glifosato é um evento muito raro de ocorrer e
muito menos freqüente se comparado com outros grupos de herbicidas;
isso se deve a fatores como propriedade química da molécula, ao
mecanismo de ação único e também à ausência de atividade residual no
solo. O produto apresenta alta eficácia de controle e os resultados
insatisfatórios decorrem basicamente de razões agronômicas como erros
de aplicação ou condições ambientais desfavoráveis.
Depois de quase três décadas de larga utilização nas principais
regiões agrícolas produtoras do mundo, a resistência ao glifosato até hoje
foi confirmada apenas em biótipos de quatro espécies de plantas daninhas:
Lolium rigidum (Austrália, África do Sul e Estados Unidos); Lolium

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multiflorum (Chile e Brasil); Eleusine indica (Malásia) e Conyza canadensis


(Estados Unidos) (Weed Science, 2003). Das quatro espécies relatadas,
três ocorreram em áreas onde não se plantava culturas geneticamente
modificadas (tecnologia Roundup Ready).
Em todas as áreas, os biótipos resistentes têm sido
eficientemente controlados por meio de produtos químicos ou práticas
culturais, porém o glifosato continua sendo o principal tratamento herbicida
por causa de sua alta eficácia no controle das demais espécies presentes.
As recomendações básicas para manejo de plantas daninhas
com glifosato incluem:
• Programa de controle sustentado em práticas agronômicas mais
indicadas para cada região, procurando melhor atender às
necessidades locais.
• Assegurar que a dose recomendada em bula seja a dose efetivamente
aplicada, ou seja, utilizar a dose certa no momento certo e no estágio
adequado de desenvolvimento da planta daninha.
• Acompanhar casos de baixo desempenho para a correta avaliação e
solução do problema.
Na realidade é impossível prever quando ou onde aparecerão
novos casos de resistência, mas o fato é que eles são muito raros com o
glifosato.
Nas regiões onde a tecnologia de culturas geneticamente
modificadas para resistência a glifosato já foi aprovada há alguns anos, o
uso contínuo do produto, aplicado na dose certa e mesclado com produtos
que apresentam outros modos de ação, tem proporcionado excelente
controle das plantas daninhas, sem a observação de ocorrência de nenhum
caso de resistência até o momento.
Programas de controle fundamentados em sistemas de
produção adequados e na utilização de doses corretas e aplicadas no
momento certo levarão a resultados seguros, reduzindo, assim, a
possibilidade de desenvolvimento de biótipos resistentes.

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ALGUNS ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DO HERBICIDA GLIFOSATO NA AGRICULTURA

Considerações Finais
Poderíamos ainda incluir aqui inúmeras páginas sobre a
segurança e os benefícios da utilização do Roundup, marca comercial da
Monsanto para o glifosato, o herbicida mais estudado pela comunidade
científica mundial. Essa molécula mudou a história da agricultura mundial,
tendo desempenhado um papel relevante na adoção e implementação de
práticas agrícolas conservacionistas, como o plantio direto, permitindo
sustentabilidade e constantes aumentos de produtividade.
Com as informações contidas nesta publicação procuramos
abordar tópicos importantes relacionados ao comportamento desse
herbicida no solo, na água, na planta e no ambiente. Abordamos também
benefícios proporcionados por sua alta eficácia no controle das plantas
daninhas.
Essa molécula, descoberta na década de 1950, teve sua
propriedade como herbicida desenvolvida por cientistas da Monsanto
Company no início da década de 1970 e sua comercialização iniciada em
1974, quando foi aprovada nos Estados Unidos.
No ano 2000, mais de 150 marcas comerciais já eram vendidas
em 119 países. No Brasil, há mais de 25 marcas disponíveis comercializadas
por cerca de 18 empresas nacionais e multinacionais.
Somente um produto com baixa toxicidade para o homem,
reduzido impacto ambiental e elevada eficácia agronômica poderia ter
uma trajetória de sucesso como essa.

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