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PROJETO DE LEI N° , DE 2023

Institui o Sistema Brasileiro de Comércio de


Emissões, com base na Política Nacional sobre
Mudança do Clima, instituída pela Lei n° 12.187,
de 29 de dezembro de 2009, e nos compromissos
internacionais assumidos a Convenção-Quadro
das Nações Unidas sobre Mudança do Clima; e
dá outras providencias.

O Congresso Nacional decreta:

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1° Esta Lei institui o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases


de Efeito Estufa - SBCE, com base na Política Nacional sobre Mudança do Clima -
PNMC, instituída pela Lei n° 12.187, de 29 de dezembro de 2009, e no Acordo de Paris
sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima - UNFCCC,
promulgado pelo Decreto n° 9.073, de 5 de junho de 2017; e dá outras providencias.

Art. 2° Para os efeitos desta Lei, entende-se por:


I - atividade: qualquer ação, processo de transformação ou operação que emita ou
possa emitir gases de efeito estufa - GEE;
II - cancelamento: anulação da Cota Brasileira de Emissões – CBE – ou de
Redução ou Remoção Verificada de Emissões – RVE – detida pelos Operadores, realizada
para fins de comprovação dos compromissos ambientais definidos sob o SBCE;
III – compensação de emissões de gases de efeito estufa - GEE : mecanismo pelo
qual uma pessoa física ou jurídica compensa emissões de GEE geradas em decorrência
de suas atividades, por meio de suas próprias reduções e/ou remoções contabilizadas em
seu inventário de GEE ou mediante aquisição de créditos de carbono, RVE ou CBE;
IV – conciliação periódica de obrigações: processo pelo qual os operadores
entregam para os órgãos ou autoridades competentes as CBE e as RVE detidas no
Registro Central do SBCE visando a comprovação dos compromissos ambientais
definidos sob o SBCE.
V – Cota Brasileira de Emissões – CBE: ativo intangível, fungível, transacionável,
representativo da emissão de uma tonelada de dióxido de carbono equivalente – tCO2e –
outorgada pelos órgãos ou autoridades competentes, de forma gratuita ou onerosa, para
as instalações ou fontes reguladas no âmbito do SBCE;

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VI – crédito de carbono: ativo intangível, fungível, transacionável, representativo
da efetiva redução de emissões ou remoção de uma tCO2e,obtida a partir de projetos de
redução ou remoção de GEE externos ao SBCE.
VII – dupla contagem: ocorre quando uma mesma CB ou RVE é utilizada para
compensar emissões de diferentes operadores.
VIII - emissões: liberação antrópica de gases de efeito estufa ou seus precursores
na atmosfera numa área específica e num período determinado;
IX - emissões líquidas: saldo da emissões brutas por fontes menos as remoões por
sumidouros de carbono de atividades florestais e solos agrícolas.
X - fonte: qualquer processo ou atividade que libere um GEE, um aerossol ou um
precursor de GEE na atmosfera.
XI – gases de efeito estufa – GEE: constituintes gasosos, naturais ou antrópicos,
que, na atmosfera, absorvem e reemitem radiação infravermelha, incluindo dióxido de
carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hexafluoreto de enxofre (SF6),
hidrofluorcarbonos (HFCs) e perfluorocarbonetos (PFCs), sem prejuízo de outros que
venham incluídos nessa categoria pela UNFCCC;
XII – instalação: qualquer propriedade física ou área onde se localiza uma ou mais
fontes estacionárias associadas a alguma atividade emissora de gases de efeito estufa;
XIII - limite máximo de emissões: limite quantitativo, expresso em tCO2e,
definido por período de compromisso, aplicável ao SBCE como um todo, e que contribua
para o cumprimento de objetivos de redução ou remoção de GEE definidos na PNMC;
XIV – Mensuração, Relato e Verificação – MRV: conjunto de diretrizes e
metodologias utilizado para mensurar, relatar e verificar de forma padronizada as
emissões por fontes ou remoções por sumidouros, bem como as reduções e remoções de
GEE decorrentes da implementação de atividades, programas ou projetos;
XV - metodologias: conjunto de diretrizes e regras que definem critérios de
elegibilidade e orientações de MRV de emissões de atividades e projetos de redução ou
remoção de emissões de GEE por fontes não cobertas pelo SBCE, credenciado pelos
órgãos ou autoridades competentes;
XVI – Operador: qualquer pessoa natural ou jurídica que controla uma instalação
ou fonte associada a alguma atividade emissora de GEE e que tenha poder decisivo sobre
o seu funcionamento técnico;
XVII - período de compromisso: período estabelecido no Plano Nacional de
Alocação para o cumprimento de metas de redução de emissões definidas pelo teto
máximo de emissões;
XVIII – Plano de Monitoramento: documento elaborado pelo operador contendo
detalhamento da forma de implementação da sua sistemática de MRV;
XIX – Plano Nacional de Alocação: instrumento que define, para cada período de
compromisso do SBCE, os limites de emissão de GEE, a quantidade e a forma de
alocação das CBE atribuídas às instalações ou fontes reguladas, bem como suas regras de
comercialização;
XX – Redução de Emissões provenientes de Desmatamento e Degradação
Florestal – REDD+: conjunto de incentivos concebidos no âmbito da UNFCCC voltados
a recompensar ações e atividades de redução das emissões de GEE provenientes do

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desmatamento e da degradação florestal, de conservação dos estoques de carbono
florestal, manejo sustentável de florestas e aumento de estoques de carbono florestal;
XXI – Redução ou Remoção Verificada de GEE – RVE: ativo intangível, fungível,
transacionável, representativo da efetiva redução de emissões ou remoção de uma tCO2e,
por meio de atividades de projeto, seguindo metologia certificada e com registro efetuado
no âmbito do SBCE, nos termos do regulamento;
XXII - Registro Central do SBCE: plataforma digital para a submissão periódica
de informações padronizadas, consistentes e comparáveis sobre as emissões ou remoções
de GEE das instalações ou fontes reguladas, para registro das CBE e RVE e para
rastreabilidade da transações nacionais e transferências internacionais de resultados de
mitigação, conforme critérios e procedimentos definidos em regulamento;
XXIII - tonelada de dióxido de carbono equivalente – tCO2e: é a medida de
conversão métrica de emissões ou remoções de todos os GEE em termos de equivalência
de potencial de aquecimento global, expressos em dióxido de carbono e medidos
conforme as guias do IPCC; e
XXIV – transferência internacional de resultados de mitigação: transferência de
CBE ou RVE gerados em território brasileiro para fins de cumprimento de compromissos
de outras Partes sob o Acordo de Paris e/ou outros propósitos internacionais, conforme
definições estabelecidas nas decisões sobre o Art. 6º do Acordo de Paris, e sujeita à
autorização formal e expressa dos órgãos ou autoridades competentes designado pelo
governo federal brasileiro perante a UNFCCC.

Art. 3° São objetivos desta Lei:


I - estabelecer as diretrizes para a regulamentação do SBCE como instrumento
para a mitigação de gases efeito estufa no âmbito da PNMC instituída pela Lei nº 12.187,
de 2009, e suas modificações; e
II – estabelecer a estrutura de governança do SBCE sustentada na participação de
órgãos governamentais e em consulta aos setores regulados e à sociedade civil.

Art. 4º Na aplicação desta Lei, serão observados os seguintes princípios:


I – harmonização e coordenação entre os instrumentos disponíveis para alcançar
os objetivos e as metas da PNMC;
II - compatibilidade e articulação entre o SBCE e a UNFCCC e seus instrumentos,
com particular atenção aos compromissos assumidos pelo Brasil nos regimes
multilaterais sobre mudança do clima;
III – participação e cooperação entre governo, setores regulados e sociedade civil;
IV – equilíbrio entre meio ambiente, desenvolvimento econômico e redução de
desigualdades;
V – do poluidor-pagador;
VI – da transparência, da previsibilidade e da segurança jurídica;
VII – promoção da competitividade da economia brasileira;
VIII –redução e remoção de emissões nacionais de forma justa e custo-efetiva,
visando promover o desenvolvimento sustentável e a equidade climática;

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IX – respeito e garantia dos direitos dos povos indígenas e povos e comunidades
tradicionais.

CAPÍTULO II
DO SISTEMA BRASILEIRO DE COMÉRCIO DE EMISSÕES

Seção I
Das Características do SBCE

Art. 5º Fica criado o SBCE como um regime de comércio de CBE e de RVE no


país.
Parágrafo único. Os órgãos ou autoridades competentes definirão limite máximo
de emissões de GEE para o conjunto das fontes e instalações reguladas, distribuído na
forma de CBE de acordo com o Plano Nacional de Alocação.

Art. 6º O SBCE observará os princípios e características:


I – promoção da redução dos custos de mitigação de GEE para o conjunto da
sociedade;
II – contribuição à integridade ambiental e a geração de benefícios
socioeconômicos dos projetos de redução e remoção de GEE;
I - critérios transparentes para definição das atividades emissoras de GEE
associadas a fontes reguladas, cuja participação será obrigatória;
II – definição de sistemática de relato anual das emissões ou remoções de GEE
pelas fontes e instalações reguladas, de forma a garantir a integridade e comparabilidade
das informações geradas;
III – conciliação periódica de obrigações entre as quantidades de CBE e RVE
entregues e o nível de emissões líquidas relatado pelos Operadores;
IV – implementação gradual do sistema, com o estabelecimento de períodos de
compromisso sequenciais e limites máximos de emissões em conformidade com as metas
definidas na PNMC;
V - estrutura confiável, consistente e transparente para MRV de emissões e
remoções das fontes reguladas;
VI – garantia da rastreabilidade eletrônica da emissão, detenção, transferência e
cancelamento das CBE e RVE;
VII – abrangência geográfica nacional, com previsão de interoperabilidade com
outros sistemas internacionais de comércio de emissões que sejam compatíveis com o
SBCE;
VIII – mecanismo de estabilização de preços das CBE;

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IX – reciclagem de recursos eventualmente arrecadados pelos órgãos ou
autoridades competentes, inclusive visando estimular os investimentos em tecnologia de
baixo carbono, e a pesquisa e desenvolvimento para fins de inovação tecnológica,
conforme disposto no art. 35; e
X – sanções para o não cumprimento das obrigações desta lei.

Art. 7º Ficam incluídas no SBCE as instalações ou fontes que emitem acima de


25.000 tCO2e (vinte e cinco mil tCO2e) por ano.
§ 1º. Os operadores das instalações ou fontes de que trata o caput ficam obrigados
a disponibilizar aos órgãos ou autoridades competentes as quantidades de CBE ou RVE
correspondentes às emissões líquidas de GEE relatadas nos termos da Seção IV desta Lei,
visando ao seu cancelamento, conforme regulamento.
§ 2º. Visando um processo de implementação gradual do SBCE, os órgãos ou
autoridades competentes poderão propor patamares de emissão de GEE pelas fontes e
instalações reguladas temporariamente superiores ao definido no caput.

Secão II
Da Governança e das Atribuições

Art 8º Compõem a governança do SBCE:


I – o Comitê Interministerial de Mudança do Clima - CIM, instrumento
institucional da PNMC definido pelo art. 7º da Lei n. 12.187, de 2009;
II – os órgãos ou autoridades competentes, conforme estabelecido em ato do poder
executivo; e
III – o Grupo Técnico Permanente, estabelecido no âmbito do CIM.

Art. 9º O CIM é o órgão deliberativo e recursal ao qual compete:


I – estabelecer a orientação estratégica e as diretrizes gerais do SBCE;
II – regulamentar o SBCE;
III – aprovar o Plano Nacional de Alocação, com base nos subsídios técnicos
fornecidos pelos órgãos ou autoridades competentes, e em consonância com a orientação
estratégica do SBCE; e
IV - estabelecer grupo técnico permanente para o fornecimento de subsídios
técnicos e recomendações para o aperfeiçoamento do SBCE.
Parágrafo único. O grupo técnico permanente será formado por representantes do
Poder Executivo federal, de entidades setoriais representativas de operadoress regulados
pelo SBCE, da academia e do terceiro setor com notório conhecimento sobre a matéria.

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Art. 10. Os órgãos ou autoridades competentes são a instância executora do SBCE,
aos quais compete, entre outras atribuições:
I – definir as atividades, fontes e gases a serem regulados sob o SBCE a cada
período de compromisso;
II – elaborar e submeter ao CIM proposta de Plano Nacional de Alocação para
cada período de compromisso;
III – implementar o Plano Nacional de Alocação em cada período de
compromisso;
IV – normatizar o processo de conciliação periódica de obrigações;
V – criar e manter o Registro Central do SBCE ;
VI – aplicar as sanções cabíveis em caso de infração às regras do SBCE e tomar
todas as medidas necessárias para garantir a sua execução;
VII – conceber, gerir e operacionalizar mecanismos de estabilização de preços de
CBE;
VIII – gerir eventuais processos de interligação do SBCE com outros sistemas
internacionais de comércio de emissões;
IX – regulamentar, no âmbito de suas competências, os requisitos e processos de
credenciamento e descredenciamento de metodologias de geração de RVE;
X – disponibilizar, de forma acessível e interoperável, em ambiente digital,
informações sobre as metodologias credenciadas e sobre os projetos validados nos
respectivos padrões de certificação; e

XI – estabelecer critérios para compatibilização, quando viável técnica e


economicamente, de outros ativos representativos de redução ou remoção de gases de
efeito estufa com RVE reconhecidas pelo SBCE, por proposição do Grupo Técnico
Permanente ou da entidade ou órgão público regulador dos referidos ativos.

Parágrafo único. As competências da instância executora do SBCE serão


atribuídas a órgão ou entidade específico ou a arranjo institucional composto por mais de
um órgão ou entidade que deverá atuar de maneira coordenada.

Secão III
Do Plano Nacional de Alocação

Art. 11. O Plano Nacional de Alocação, observados os objetivos e princípios do


SBCE, deverá definir para cada período de compromisso:
I – as instalações ou fontes abrangidas, bem como patamares mínimos de
emissão para sua inclusão no SBCE, conforme disposto no parágrafo único do art. 7º;
II – a quantidade de CBE a ser distribuída para os operadores de instalações ou
fontes reguladas, em consonância com os demais objetivos e metas da PNMC;
III – as formas de alocação das CBE, gratuitas ou onerosa, para as instalações ou
fontes reguladas;

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IV – o percentual máximo de RVE admitidos na conciliação periódica de
obrigações dos Operadores;
V – a gestão e operacionalizaão dos mecanismos de suavização de volatilidade
nos preços de CBE, garantindo o incentivo econômico à mitigação das emissões de GEE;
e
VI – outros dispositivos relevantes para a implementação do SBCE, conforme
definido em regulamento.
§1º O Plano Nacional de Alocação deverá:
I – ter abordagem gradual entre os consecutivos períodos de compromisso, sendo
assegurada a previsibilidade para os Operadores;
II – ser aprovado com antecedência de pelo menos 12 (doze) meses antes do seu
período de vigência;
III – estimar a trajetória dos limites de emissão para os dois períodos de
compromisso subsequentes;
IV – levar em conta a necessidade de garantir CBE adicionais para eventuais
novos Operadores sujeitos à regulação desta lei; e
V – dispor de mecanismos de proteção contra o risco de reversão de remoções e
vazamento de emissões.
§ 2º – O Plano Nacional de Alocação poderá:
I – prever regras para eventuais interligações com outras jurisdições, garantidos o
funcionamento, o custo-efetividade e a integridade ambiental do SBCE;
II – estabelecer tratamento diferenciado para determinados Operadores em razão
de seu faturamento, níveis de emissão, setor econômico e localização, entre outros
critérios estabelecidos em regulamento; e
III – dispor de mecanismos de promoção de competitividade internacional.
§ 3º As alocações de CBE, bem como a forma gratuita ou onerosa da sua
distribuição, serão estabelecidas em função:
I - do estágio de desenvolvimento tecnológico;
II - dos custos marginais de abatimento;
III - das remoções e ganhos de eficiência históricos, e
IV – de outros parâmetros definidos em regulamento.
§ 4º Respeitadas as competências federativas constantes da Lei Complementar nº
140, de 2011, é competência da União estabelecer limites de emissão às instalações e
fontes reguladas, nos termos do Plano Nacional de Alocação, vedada a dupla regulação
por entes federados distintos;
§ 5º A transferência internacional de resultados de mitigação será regulamentada
com base no regime multilateral sobre mudança do clima e com particular atenção aos
compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, conforme disposto no Art. 36.
Art. 12. As CBE geradas em determinado período de compromisso poderão ser
usadas para a conciliação periódica de obrigações em períodos de compromisso
diferentes, nos termos do regulamento, desde que autorizado pelo Plano de Alocação.

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Secão IV
Da Mensuração, Relato e Verificação de Emissões do SBCE

Art. 13. Os operadores responsáveis pelas instalações ou fontes que emitam acima
de 10.000 (dez mil) tCO2e por ano ficam obrigados a relatar anualmente suas emissões e
remoções, conforme definido em regulamento.
Parágrafo único. Visando à implementação gradual do SBCE, os órgãos ou
autoridades competentes poderão estabelecer temporariamente patamares superiores de
emissão de GEE para fins da obrigação de relato de que trata o caput.

Art. 14. Os operadores responsáveis pelas emissões e remoções por instalações ou


fontes de que trata o art. 13 ficam obrigados a submeter aos órgãos ou autoridades
competentes o Plano de Monitoramento para análise e aprovação prévia.
Parágrafo único. Os Planos de Monitoramento serão elaborados em conformidade
com modelos e nos prazos definidos em regulação específica a ser editada pelos órgãos
ou autoridades competentes.

Art. 15. Caberá ao Operador submeter anualmente aos órgãos ou autoridades


competentes:
I - o relatório anual de emissões e remoções das instalações ou fontes
reguladas, conforme Plano de Monitoramento aprovado; e
II - o relatório da conciliação periódica de obrigações, no caso daqueles
responsáveis por instalações ou fontes definidas no art. 7º.
Parágrafo único. Os modelos, prazos e procedimentos para os relatórios de que
trata o caput serão estabelecidos em regulação específica a ser editada pelos órgãos ou
autoridades competentes.

Art. 16. Os relatórios anuais de emissões e remoções serão submetidos a processo


de validação conduzido por verificador independente credenciado, em conformidade com
regulação específica editada pelos órgãos ou autoridades competentes.
Parágrafo único. Os dados dos relatórios de que trata o caput, após validação,
serão inseridos no Registro Central do SBCE, em conta específica de cada operador.

Art. 17. As iniciativas estaduais de relato de emissões e remoções de GEE de


natureza obrigatória, bem como os respectivos registros, deverão ser gradualmente
integrados à sistemática de MRV do SBCE.

Art. 18. O primeiro período de compromisso será precedido por dois ciclos de
relatórios anuais de emissões e remoções.

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Seção V
Do Registro Central do SBCE

Art. 19. Os órgãos ou autoridades competentes devem tomar medidas para a


implementação e manutenção do Registro Central do SBCE, visando consolidar dados
sobre emissões e remoções de GEE e assegurar uma contabilidade precisa da concessão
ou aquisição, detenção, transferência e cancelamento de CBE e de RVE.
Parágrafo único. Cabe aos órgãos ou autoridades competentes definir as regras de
organização e implementar os procedimentos necessários ao funcionamento do Registro
Central do SBCE, observado o disposto em regulamento.

Art. 20. Caberá ao Registro Central do SBCE:


I – gerenciar dados sobre as emissões e remoções anuais de GEE de cada
instalação ou fonte regulada;
II – gerenciar dados sobre as CBE de cada operador;
III – efetuar as comprovações associadas à conciliação periódica de obrigações; e
IV – fornecer informações sobre as transações com RVE originadas no país
necessárias para garantir a integridade dos compromissos internacionais assumidos pelo
Brasil no âmbito da UNFCCC.

Art. 21. O Registro Central do SBCE deverá garantir a interoperabilidade com


outros registros e a promoção de dados abertos, conforme estabelecido na Lei nº 14.129,
de 29 de março de 2021.

Seção VI
Das Reduções ou Remoções Verificadas de Emissões

Art. 22. Somente serão considerados RVE os créditos de carbono:

I - originados a partir de metodologias credenciadas pelos órgãos ou autoridades


competentes;

II - inscritos no Registro Central do SBCE.

Art. 23. Os critérios para credenciamento de metodologias para geração de RVE


serão estabelecidos em regulação específica visando:

I – assegurar a credibilidade e a segurança jurídica da originação;

II – garantir a integridade ambiental; e

III – evitar a dupla contagem.

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§1º. Para o credenciamento de que trata o caput, as metodologias credenciadas
deverão, sempre que aplicável, manter-se aderentes às definições multilaterais sobre a
matéria e aos demais requisitos definidos em regulamento.

§2º O credenciamento de metodologias aplicáveis a territórios tradicionalmente


ocupados por povos indígenas, povos e comunidades tradicionais fica também
condicionado à observância do disposto na SeçãoVII desta Lei.

§3º Será automático o credenciamento e descredenciamento de metodologias


aprovadas nos âmbitos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de
Quioto e do Art. 6º, § 4º, do Acordo de Paris, observados os critérios definidos no Plano
Nacional de Alocação.

§ 4º Os órgãos ou autoridades competentes não têm função ou competência para


validar, verificar ou qualificar projetos de geração de RVE.

Art. 24. Os créditos de carbono gerados no país que venham a ser utilizados para
transferência internacional de resultados de mitigação deverão ser registrados como RVE,
nos termos desta lei e regulação superveniente, ficando eventual transferência
condicionada a autorização prévia da autoridade nacional designada para o art. 6º do
Acordo de Paris, conforme o art. 36.

Art. 25. A geração de RVEs por meio de atividades relacionadas a REDD+ deverá
observar os limites estabelecido pelo Nível de Referência Florestal aprovado no âmbito
da UNFCCC e seus respectivos resultados, bem como as diretrizes e normativas do órgão
colegiado federal competente, em particular a alocação de resultados REDD+.

Seção VII
Dos Créditos de Carbono em Áreas Tradicionalmente Ocupadas por Povos
Indígenas, Povos e Comunidades Tradicionais

Art. 26. Fica assegurado aos povos indígenas e povos e comunidades tradicionais,
por meio das suas entidades representativas no respectivo território, o direito à
comercialização de créditos de carbono gerados nas terras que tradicionalmente ocupam,
condicionado ao cumprimento das salvaguardas socioambientais e às seguintes
condições:

I – o consentimento livre, prévio e informado nos termos do Inciso LXXII do Art.


2º do Decreto nº 10.088, de 5 de novembro 2019;

II – a definição de regra para repartição justa e equitativa e gestão participativa


dos benefícios monetários derivados da comercialização dos créditos de carbono e RVE
provenientes das terras que tradicionalmente ocupam, depositados em conta específica;

III- o apoio por meio de programas, subprogramas e projetos voltados para as


atividades produtivas sustentáveis, a proteção social, a valorização da cultura e a gestão
territorial e ambiental; e

IV – o direito a indenização e multa de 150% do valor do projeto para


compensação de danos individuais e coletivos, materiais e imateriais, decorrentes de

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projetos de geração de créditos de carbono emitidos por terceiros nas terras que
tradicionalmente ocupam;

Parágrafo único: O órgão colegiado federal competente para Redução das


Emissões de Gases de Efeito Estufa Provenientes do Desmatamento e da Degradação
Florestal, Conservação dos Estoques de Carbono Florestal, Manejo Sustentável de
Florestas e Aumento de Estoques de Carbono Florestal - REDD+ estabelecerá diretrizes
e normas para regulamentar o disposto neste artigo.

Art. 27. Consideram-se áreas aptas ao desenvolvimento de projetos de geração


de créditos de carbono e RVE, observados os demais requisitos estabelecidos neste
Capítulo e no regulamento desta Lei:

I – as terras indígenas, os territórios quilombolas e outras áreas legitimamente


ocupadas por povos e comunidades tradicionais;

II – as áreas públicas ainda não destinadas onde encontram-se os povos indígenas


e povos e comunidades tradicionais que promovam ações legítimas de preservação,
conservação, recuperação e uso sustentável dos recursos naturais;

III – as unidades de conservação do Grupo Unidades de Uso Sustentável das


categorias estabelecidas nos incisos III a VI do art. 14 da Lei nº 9.985, de 18 de julho de
2000;

IV – os assentamentos agroextrativistas; e

V – aquelas definidas como aptas para emissão de Cota de Reserva Ambiental –


CRA, conforme art. 44 da Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012.

Parágrafo único. O desenvolvimento de projetos e programas de geração de


créditos de carbono e RVE nas áreas de domínio público fica subordinado ao
acompanhamento, manifestação e anuência prévia dos órgãos responsáveis pela gestão
dessas áreas.

Secão VIII
Das Infrações e Sanções

Art. 28. Constitui infração administrativa punível com base nesta Lei:
I – não possuir, no prazo da conciliação periódica de obrigações, as quantidades
de CBE ou RVE correspondentes às emissões líquidas de GEE relatadas nos termos da
Seção IV desta Lei;
II – descumprir a obrigação de relato e verificação periódicos de emissões e
remoções;
III – não dispor de Plano de Monitoramento aprovado previamente ao início do
relato ou descumprir o Plano de Monitoramento aprovado;
IV - deixar de fornecer aos órgãos ou autoridades competentes documentos, dados
ou informações cuja remessa seja devida; e

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V - fornecer aos órgãos ou autoridades competentes ou inserir no Registro Central
do SBCE informações ou dados falsos, incorretos ou em desacordo com os prazos e as
condições estabelecidos; ou
VI - opor embaraço à fiscalização, assim entendida qualquer conduta, não prevista
nos demais incisos deste artigo, que imponha obstáculos ao exercício da função
fiscalizadora dos órgãos ou autoridades competentes;
§1º No caso das infrações previstas nos incisos II a VI do caput, as emissões serão
estimadas com base no relato de emissões válido mais recente ou estimadas com base em
parâmetros de referência, definidos em regulamento, calculados com base em unidades
reguladas com características similares.
§2º Não se aplica às infrações previstas no caput o disposto na Lei nº 9.605, de 12
de fevereiro de 1998.

Art. 29. Sem prejuízo da obrigação de aquisição de CBE ou RVE restantes para
completar o cumprimento da conciliação de emissões líquidas de GEE, as infrações
previstas no art. 28 sujeitam os responsáveis às seguintes penas, cumulativa ou
isoladamente:
I – advertência;
II – no caso de empresa, multa de até 5% (cinco porcento) do faturamento bruto
no ano anterior à instauração do processo administrativo, atualizado pela taxa do Sistema
Especial de Liquidação e de Custódia – SELIC, publicada pelo Banco Central;
III – no caso das demais pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado,
bem como quaisquer associações de entidades ou pessoas constituídas de fato ou de
direito, ainda que temporariamente, com ou sem personalidade jurídica, que não exerçam
atividade empresarial, não sendo possível utilizar-se o critério do valor do faturamento
bruto, a multa será de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) a R$ 5.000.000,00 (cinco
milhões de reais);
IV – publicação, em meia página e a expensas do infrator, em meio de
comunicação indicada na decisão, de extrato da decisão condenatória por dois dias
seguidos, de uma a três semanas consecutivas; e
V – interdição temporária das instalações associadas às emissões irregulares de
GEE.
Parágrafo único. O Regulamento estabelecerá critérios de gradação das
penalidades previstas no caput, levando em consideração a gravidade da infração, o
volume de emissões irregulares de GEE decorrentes da infração, a boa-fé do infrator, a
situação econômica do infrator e a reincidência.

Art. 30. Para fins de apuração de infrações e aplicação das sanções previstas nesta
Seção, os órgãos ou autoridades competentes deverá instaurar processo administrativo
sancionador, com direito a ampla defesa e contraditório, com prazo de defesa de 30
(trinta) dias.

Seção IX

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Da Negociação de CBE e RVE no Mercado Financeiro

Art. 31º Os CBE, RVE e créditos de carbono são títulos negociáveis, nos termos
da regulamentação a ser expedida pelo Poder Executivo.
Parágrafo único. Os CBE, RVE e créditos de carbono poderão ser admitidos à
negociação no mercado de valores mobiliários, hipótese em que estarão sujeitos ao
regime da Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976.

Art. 32º A titularidade dos títulos presume-se pela inscrição do nome do titular
no Registro Central do SBCE, no caso de CBE e RVE, e em registro pertinente, no caso
de crédito de carbono.
Parágrafo único. A transferência de titularidade, constituição de direitos reais ou
quaisquer outros ônus sobre os títulos deverão ser averbados no Registro Central do
SBCE, no caso de CBE e RVE, e em registro pertinente, no caso de crédito de carbono.

Art. 33º Ato do Poder Executivo poderá admitir ou determinar que os CBE, RVE
e créditos de carbono assumam a forma escritural.
§1º A escrituração dos CBE, RVE e créditos de carbono será realizada por
instituições financeiras autorizadas a prestar esse serviço pela Comissão de Valores
Mobiliários, nos termos do art. 34, §2º, da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976.
§2º A titularidade dos CBE, RVE e créditos de carbono escriturais presume-se
pelos registros do escriturador.
§3º A transferência de titularidade, a constituição de direitos reais ou quaisquer
outros ônus sobre os títulos deverão ser averbados pelo escriturador.

Art. 34º Compete à Comissão de Valores Mobiliários - CVM, sem prejuízo das
competências atribuídas ao Conselho Monetário Nacional - CMN e à própria CVM pela
Lei nº 6.385, de 1976:
I – exigir que os CBE, RVE e créditos de carbono negociados em mercado
organizado sejam custodiados em depositário central, nos termos do art. 23 da Lei nº
12.810, de 15 de maio de 2013;
II – dispensar os registros de que tratam os artigos 19 e 21 da Lei nº 6.385, de
1976;
III – estabelecer registros e requisitos especiais para admissão dos CBE, RVE e
créditos de carbono no mercado de valores mobiliários;
IV – prever regras informacionais específicas aplicáveis aos CBE, RVE e
créditos de carbono; e
IV – regular a negociação dos CBE, RVE e créditos de carbono no âmbito do
mercado de valores mobiliários.

Seção X

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Da Utilização dos Recursos do SBCE

Art. 35. A totalidade dos recursos oriundos da operação do SBCE e da aplicação


de sanções administrativas previstas nesta Lei deverá ser destinada, nesta ordem de
prioridade:
I– à operacionalização e manutenção do SBCE;
II– ao investimento em pesquisa, fomento ao desenvolvimento de tecnologias de
baixo carbono nos setores regulados;
III– ao financiamento e apoio a outras atividades relacionadas à implementação
da PNMC; e
IV – compensação pela contribuição dos povos indígenas e povos e comunidades
tradicionais para a conservação da vegetação nativa e dos serviços ecossitêmicos.
Parágrafo único. Respeitada a ordem de prioridade estabelecida, a destinação dos
eventuais recursos oriundos da aplicação de sanções administrativas previstas nesta Lei
será definida por planos anuais de aplicação propostos pelos órgãos ou autoridades
competentes e ouvida a estrutura de governança do SBCE.

CAPÍTULO III
Disposições Finais

Art. 36 Ato do órgão federal designando como Autoridade Nacional Designada


para fins da aplicação do Art. 6º do Acordo de Paris estabelecerá o processo para
autorização de transferência internacional de resultados de mitigação.
§ 1º O ato de que trata o caput deverá observar as decisões multilaterais
relacionadas ao tema e estabelecerá os critérios e condições para autorizações de
transferência internacional de resultados de mitigação, inclusive sendo facultado à
autoridade estabelecer limites máximos para cada ano, com base nas Estimativas Anuais
de Emissões de GEE no Brasil, de forma a assegurar que a aplicação de eventuais ajustes
correspondentes seja coerente com os compromissos internacionais do país.
§ 2º A criação, emissão, registro ou aprovação de CBE e RVE, ou de quaisquer
unidades equivalentes, não ensejam direito de autorização para transferência
internacional de resultados de mitigação.
Art. 37. O art. 4º da Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009, passa a vigorar
com a seguinte redação:
“Art. 4º .........................................................................................................
......................................................................................................................
VIII – ao estímulo ao desenvolvimento do Sistema Brasileiro de Comércio
de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE)
Art. 38. Fica revogado o art. 9º da Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009.

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Art. 39. O inciso XXVII do artigo 3º da Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012,
passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 3º ...................................................................................................
................................................................................................................
XXVII - Crédito de Carbono: ativo intangível, fungível, transacionável,
representativo da efetiva redução de emissões ou remoção de uma tonelada
de dióxido de carbono equivalente, obtida a partir de projetos de redução
ou remoção de GEE externos ao SBCE.

Art. 40. O Poder Executivo deverá, em até 2 (dois) anos a partir da publicação
desta Lei, regulamentar os procedimentos de MRV e estabelecer as estruturas necessárias
à implementação e ao funcionamento do SBCE.

Art. 41. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

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