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CENTRO UNIVERSITÁRIO FUNDAÇÃO ASSIS GURGACZ JOÃO PEZZINI MOTTA JUNIOR


JOÃO PEZZINI MOTTA JUNIOR

CONTINUIDADES DO BRUTALISMO PAULISTA: ANÁLISE DE UMA RESIDÊNCIA CONTINUIDADES DO BRUTALISMO PAULISTA: ANÁLISE DE UMA RESIDÊNCIA
CONTEMPORÂNEA CONSTRUÍDA EM SÃO PAULO (1990-2018) CONTEMPORÂNEA CONSTRUÍDA EM SÃO PAULO (1990-2018)

Trabalho de Conclusão do Curso de Arquitetura e


Urbanismo, da Fundação Assis Gurgcaz,
apresentado na modalidade Teórico-Conceitual,
como requisito parcial para a aprovação na
disciplina: Trabalho de Curso: Defesa.

Professora Orientadora: Tainã Lopes Simoni.

CASCAVEL
CASCAVEL
2018
2018
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JOÃO PEZZINI MOTTA JUNIOR CENTRO UNIVERSITÁRIO FUNDAÇÃO ASSIS GURGACZ
JOÃO PEZZINI MOTTA JUNIOR

CONTINUIDADES DO BRUTALISMO PAULISTA: ANÁLISE DE UMA RESIDÊNCIA CONTINUIDADES DO BRUTALISMO PAULISTA: ANÁLISE DE UMA RESIDÊNCIA
CONTEMPORÂNEA CONSTRUÍDA EM SÃO PAULO (1990-2018) CONTEMPORÂNEA CONSTRUÍDA EM SÃO PAULO (1990-2018)

Trabalho apresentado no Curso de Arquitetura e Urbanismo, do Centro Universitário Assis


Gurgacz, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob a
DECLARAÇÃO orientação da Professora: Tainã Lopes Simoni.

Declaro que realizei em outubro de 2018 a revisão linguístico textual, ortográfica e gramatical
BANCA EXAMINADORA
da monografia e artigo científico de Trabalho de Curso denominado: Continuidades do Brutalismo
Paulista: Análise de uma Residência Contemporânea Construída em São Paulo (1990-2018), de autoria
de João Pezzini Motta Junior, discente do Curso de Arquitetura e Urbanismo – FAG e orientado por
Tainã Lopes Simoni. ___________________________________________________________________________
Tal declaração contará das encadernações e arquivo magnético da versão final do TC acima Professora Orientadora
Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz
identificado.
Tainã Lopes Simoni
Arquiteta e Docente
Cascavel, 23 de outubro de 2018.

___________________________________________________________________________
Professor Avaliador
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
Marcelo França dos Anjos
Arquiteto, Mestre e Docente

Nome completo
Bacharel ou Licenciado em Letras/sigla instituição/ano de graduação
RG nº (inserir nº do RG, e órgão de expedição). Cascavel/PR, 23 de outubro de 2018.
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RESUMO ABSTRACT

Esta monografia busca apresentar as características de uma série de residências brasileiras This monograph seeks to present the characteristics of a series of contemporary Brazilian residences built
contemporâneas construídas nos últimos vinte e nove anos, em São Paulo, com base na análise da in the last twenty-nine years, in São Paulo, based on the analysis of the Mariante Residence (2001/2002),
Residência Mariante (2001/2002), do escritório MMBB Arquitetos. O objetivo foi identificar a existência from the MMBB Architects office. The objective was to identify the existence of similar characteristics
de características semelhantes relacionadas com as obras do Brutalismo Paulista, das décadas de 1950/70, related to the works of Brutalismo Paulista, from the 1950s and 1970s, particularly with the Butantã’
particularmente, com a Residência Butantã (1964/1966), de Paulo Mendes da Rocha. A problemática de Residence (1964/1966), by Paulo Mendes da Rocha. The research problem, sought to know what are the
pesquisa, procurou saber quais são as características em comum entre as casas Mariante e Butantã, que characteristics in common between the houses Mariante and Butantã that converge to the construction of
convergem para a construção de uma linguagem própria dos projetos construídos entre os anos de 1990 a language own of the projects constructed between the years of 1990 and today? To answer the question,
e hoje? Para responder a pergunta, são aplicadas duas metodologias principais: a primeira, corresponde two main methodologies are applied: the first one corresponds to bibliographical and documentary
as pesquisas bibliográficas e documentais, para levantar informações acerca do assunto/tema, e coletar research, to gather information about the subject / theme, and to collect images of the architectural
imagens dos documentos arquitetônicos das obras estudadas. A segunda, deu-se através da elaboração documents of the works studied. The second was the development of freehand graphic designs to identify
de desenhos gráficos, realizados à mão livre, para identificar as características do Brutalismo Paulista e the characteristics of Paulista’s Brutalism and the model of Francis Ching (2008).
do modelo de Francis Ching (2008).
Keyswords: Brazilian Contemporary Architecture. Paulista’s Brutalism. Brazilian Residences Single
Palavras-Chave: Arquitetura Contemporânea Brasileira. Brutalismo Paulista. Residências Brasileiras Family. Architectural Analysis.
Unifamiliares. Análise Arquitetônica.
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LISTAS DE FIGURAS Quadro 2. Residências “Gêmeas” – 1964/1966, de Paulo Mendes da Rocha, Butantã, São Paulo. ............ 25
Quadro 3. Estruturas da Residência Butantã, 1964/1966, de Paulo Mendes da Rocha, Butantã, São Paulo.
....................................................................................................................................................................................... 26
Figura 1. Residência Ivo Viterito - 1962 (à esquerda) e Residência Ariosto Martirani - 1970 (à direita), Quadro 4. Espaços da Residência Butantã, 1964/1966, de Paulo Mendes da Rocha, Butantã, São Paulo.
de Vilanova Artigas. ................................................................................................................................................. 16 As direitas, planta arquitetônica da mesma. .......................................................................................................... 26
Figura 2. Linha do Cronológica do Tempo das Principais Residências Brasileiras Contemporâneas
Construídas em São Paulo. ...................................................................................................................................... 20
Figura 3. Residência em Ribeirão Preto – 2000/2001, de SPBR Arquitetos + MMBB Arquitetos,
Ribeirão Preto, São Paulo. ....................................................................................................................................... 21 LISTAS DE SIGLAS
Figura 4. Residência no City Boaçava – 2004/2008, de MMBB Arquitetos, City Boaçava, São Paulo. ... 21
Figura 5. Residência na Vila Romana – 2004/2006, de MMBB Arquitetos, Vila Romana, São Paulo. .... 22
Figura 6. Residência T.R. – 2011/2016, de Andrade Morettin Arquitetos, Carapicuíba, São Paulo. ......... 22 FAAP Fundação Armando Alvares Penteado.
As direitas, planta arquitetônica da mesma. .......................................................................................................... 26 FAUUSP Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.
Figura 7. Residência Mariante, 2001/2002, de MMBB Arquitetos, Aldeia da Serra, São Paulo. ............... 27
Figura 8. Espaços da Residência Mariante, 2001/2002, de MMBB Arquitetos, Aldeia da Serra, São USP Universidade de São Paulo.
Paulo. ........................................................................................................................................................................... 28
Figura 9. Princípios de Sólidos Primários. ............................................................................................................ 30
Figura 10. Principais Transformações Dimensionais da Forma. ....................................................................... 30
Figura 11. Elementos Horizontais do Plano de Base, Plano de Base Elevado e Plano Superior................. 31
Figura 12. Elementos Verticais dos Planos Verticais Únicos e Planos Paralelos. ......................................... 31
Figura 13. Relações Espaciais de Espaços dentro de um Espaço e Espaços Adjacentes. ............................. 32
Figura 14. Axonométrica Explodida do Sistema Compositivo da Residência Butantã (1964/1966). ........ 33
Figura 15. Axonométrica Explodida do Sistema de Delimitação da Residência Butantã (1964/1966). .... 34
Figura 16. Axonométrica Explodida do Sistema Espacial da Residência Butantã (1964/1966). ................ 35
Figura 17. Axonométrica Explodida do Sistema Compositivo da Residência Mariante (2001/2002). ...... 36
Figura 18. Axonométrica Explodida do Sistema de Delimitação da Residência Mariante (2001/2002). .. 37
Figura 19. Axonométrica Explodida do Sistema Espacial da Residência Mariante (2001/2002). .............. 38

LISTAS DE QUADROS

Quadro 1. Residência PA - 2003, METRO Arquitetos (à cima) e Residência Mario Masetti – 1968/1970,
Paulo Mendes (à baixo). As direitas, plantas arquitetônicas das mesmas. ...................................................... 18
Quadro 2. Residências “Gêmeas” – 1964/1966, de Paulo Mendes da Rocha, Butantã, São Paulo............. 25
Quadro 3. Estruturas da Residência Butantã, 1964/1966, de Paulo Mendes da Rocha, Butantã, São Paulo.
...................................................................................................................................................................................... 26
Quadro 4. Espaços da Residência Butantã, 1964/1966, de Paulo Mendes da Rocha, Butantã, São Paulo.
As direitas, planta arquitetônica da mesma. .......................................................................................................... 26

LISTAS DE QUADROS

Quadro 1. Residência PA - 2003, METRO Arquitetos (à cima) e Residência Mario Masetti – 1968/1970,
Paulo Mendes (à baixo). As direitas, plantas arquitetônicas das mesmas. ...................................................... 18
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SUMÁRIO 4.2 CONCLUSÃO DO CAPÍTULO......................................................................................................28

Resumo ................................................................................................................................................... 4
Abstract................................................................................................................................................... 4 5 AS ANÁLISES APLICADAS PELA PESQUISA ..........................................................................29

Listas de Figuras ..................................................................................................................................... 5 5.1 Definição do Universo de Metodologia das Análises ......................................................................29

Listas de Quadros.................................................................................................................................... 5 5.1.1 Sistema Compositivo ....................................................................................................................29

Listas de Quadros.................................................................................................................................... 5 5.1.1.1 Sólidos Primários.......................................................................................................................30

Listas de Siglas ....................................................................................................................................... 5 5.1.1.2 Transformação da Forma ...........................................................................................................30


5.1.2 Sistema de Delimitação ................................................................................................................30
5.1.2.1 Elementos Horizontais Definindo Espaço ..................................................................................31
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................ 13
5.1.2.2 Elementos Verticais Definindo Espaço ......................................................................................31
5.1.3 Sistema Espacial ...........................................................................................................................31
2 FUNDAMENTOS ARQUITETÔNICOS DIRECIONADOS ....................................................... 15 5.1.3.1 Relações Espaciais .....................................................................................................................32
2.1 1950-1970: A ARQUITETURA MODERNA DE SÃO PAULO ................................................... 15 5.2 Análise das Residências Paulistanas ................................................................................................32
2.1.1 O Cenário da Arquitetura Moderna Brasileira: O Brutalismo Paulista ......................................... 15 5.2.1 RESIDÊNCIA BUTANTÃ (1964/1966) / PAULO MENDES DA ROCHA ................................32
2.2 1990-2018: A ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA DE SÃO PAULO .................................... 17 5.2.1.1 Sistema Compositivo .................................................................................................................32
2.2.1 O Cenário da Arquitetura Contemporânea Brasileira: A Arquitetura Paulista.............................. 17 5.2.1.2 Sistema de Delimitação .............................................................................................................33
5.2.1.3 Sistema Espacial ........................................................................................................................34
5.2.2 RESIDÊNCIA MARIANTE (2001/2002) / MMBB ARQUITETOS ...........................................35
3 OS PROJETOS CORRELATOS DAS CASAS BRASILEIRAS UNIFAMILIARES COMO
5.2.2.1 Sistema Compositivo .................................................................................................................35
ABORDAGENS DO TEMA............................................................................................................... 20
5.2.2.2 Sistema de Delimitação .............................................................................................................36
3.1 O Universo de Delimitação das Residências Unifamiliares Paulistas.............................................. 20
5.2.2.4 Sistema Espacial ........................................................................................................................37
3.2 As Características das Residências Contemporâneas ...................................................................... 20
3.2.1 2000-2001: Residência em Ribeirão Preto / SPBR Arquitetos + MMBB Arquitetos ................... 20
3.2.2 2004-2008: Residência no City Boaçava / MMBB Arquitetos ..................................................... 21 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................................................38
3.2.3 2004-2006: Residência na Vila Romana / MMBB Arquitetos ..................................................... 22
3.2.4 2011-2016: Residência T.R. / Andrade Morettin Arquitetos ........................................................ 22
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................................................39
3.3 CONCLUSÃO DO CAPÍTULO ..................................................................................................... 23

4 AS APLICAÇÕES DELIMITADAS PELA PESQUISA .............................................................. 24


4.1 Seleção e Apresentação das Residências Paulistas Analisadas ........................................................ 24
4.1.1 1964-1966: Residência Butantã / Paulo Mendes da Rocha........................................................... 25
4.1.2 2001-2002: Residência Mariante / MMBB Arquitetos ................................................................. 27
13
1 INTRODUÇÃO Essa produção, no entanto, não pode mais ser enquadrada numa postura única e nem
comunga o mesmo discurso ideológico que respaldava a arquitetura moderna brasileira até
os anos de 1970. Mais que norteada por um pensamento teórico claramente identificável, é
fruto do caminho pessoal de alguns arquitetos (BASTOS, 2003, p. 205).
Houve em inícios dos anos de 1950, no Brasil, o agrupamento de uma série de edificações
construídas com características de uma arquitetura que ficou conhecida como Brutalista Paulista.
Tornando-se a cidade-berço destas obras brutalistas, São Paulo foi uma das mais importantes regiões Visando tais fatores, a produção das obras contemporâneas de São Paulo, principalmente,

brasileiras que, na metade do Século XX, condescendeu com as vontades de um dos movimentos aquelas realizadas nos inícios dos anos de 1990, são construídas com bases nas reinterpretações das

modernistas das vanguardas arquitetônicas brasileiras da época. O Brutalismo Paulista, portanto, é uma características estético-formais do Brutalismo Paulista (GONÇALVES, 2013). Com noções nestes

arquitetura que, inicialmente, limitou-se as atividades profissionais de alguns arquitetos de São Paulo, e panoramas iniciais, as abordagens do trabalho procuram - através da análise da Residência Mariante -,

que só ganharam notoriedade nos finais dos anos de 1950. apresentar as características de uma série de outras residências brasileiras unifamiliares idealizadas entre

Com o agrupamento de todas as edificações construídas pelo Brutalismo Paulista, e sua os períodos de 1990 à 2018, no território da cidade de São Paulo.

reconhecida aceitação apenas nos inícios das décadas de 1960, é, somente por volta das décadas lá de Com isto, o objetivo geral buscou identificar a existência de características semelhantes

1970/80, que elas começaram a tomar, nos meios em que estavam inseridas, um senso de relacionadas com as obras do Brutalismo Paulista, principalmente, com a Residência Butantã

amadurecimento das suas construções. De acordo com Zein (2001), as ideias que se têm da Arquitetura (1964/1966), de Paulo Mendes da Rocha. Estabelecido o foco, é delineado em seguida, alguns objetivos

Paulista Brutalista, irá adquirir as características de “um movimento, uma ‘escola’, inicialmente [...], e específicos, procurando dar corpo ao procedimento das análises. São eles: a) pesquisar uma série de

posteriormente, um ‘estilo’, a face à sua divulgação e sua ampla e vasta influência em outras regiões bibliografias relacionadas com o assunto/tema, intencionando a pesquisa à sempre manter um contato

brasileiras” (ZEIN, 2001, p. 38). direto com o universo de estudos da Arquitetura da Escola Paulista Brutalista; b) realizar as análises e as

Mas, se realmente poder-se a acreditar na existência de um movimento e na conformação de um comparações dos projetos unifamiliares estudados, a partir de conceitos/aspectos que estão presentes no

estilo arquitetônico, propriamente e, exclusivamente, reduzido as formas das construções do Brutalismo modelo de análise de Francis Ching (2008); c) elaborar uma série de desenhos gráficos representados à

Paulista, não é possível predizer que isto estejas prestes a acontecer após os finais das décadas de 1970 mão livre, proporcionando uma análise mais fácil de entender sobre os aspectos analisados.

e, início dos anos de 1980: Entre as décadas de 1990 e 2000, a produção das edificações arquitetônicas que até então eram
realizadas no Brasil, recebeu uma série de influências modernistas. De acordo com Braga & Amorim
(2009), estas influências são levadas a cabo pelas próximas gerações dos arquitetos brasileiros, que as
Entretanto, embora não exista mais uma arquitetura “de modelo”, nem se possa falar de uma usaram como fonte de referência para os modos de projetar atualmente, através das buscas de novos
escola paulista após meados dos anos 1980, isso não significa que suas características
espaciais e construtivas não tenham sobrevivido, nem que ela tenha, enquanto estilo, contextos e tecnologias (BRAGA e AMORIM, 2009). Mediante a esta breve contextualização e, por
esgotados suas possibilidades formais (ZEIN, 2001, p. 39).
intermédio das posturas metodológicas adotadas, abre-se espaço para a problemática. Contudo, a
problematização da pesquisa girou em torno de procurar saber quais são as características em comum
Por isto, foi nas décadas anteriores aos anos de 1980, que uma parcela dos arquitetos da Escola entre as casas Butantã e Mariante, que convergem para a construção de uma linguagem própria dos
Paulista propôs a criação de novas linguagens arquitetônicas aos modos paulistanos de projetar, que fosse projetos construídos entre os anos de 1990 e hoje?
ao mesmo tempo autênticos, extensivos e articulados. Em vista disto, uma parte das arquiteturas Para responder à pergunta, encontrou-se um referencial teórico à altura, norteando assim, os
brasileiras idealizadas nos finais dos anos de 1980 e início das décadas de 1990, foram construídas numa raciocínios adotados nas análises. Portanto, elas foram embasadas nos conceitos do modelo de análise
linha de suma continuidade sendo influenciadas pelas arquiteturas modernas brasileiras: de Francis Ching (2008). Na realidade, este modelo está apoiado em uma aprimorada análise de alguns
dos conceitos empregados por detrás dos elementos, sistemas e organizações arquitetônicas, que lhes são
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característicos das edificações enquanto manifestação física do espaço. Investigando os aspectos dos raciocínio adotado nas metodologias das análises e, por último, nas Considerações Finais, reviu-se alguns
elementos arquitetônicos até as relações conceituais das edificações, o modelo utiliza-se de uma estrutura dos pontos abordados no trabalho, e respondeu-se a pergunta da problemática.
da decomposição do edifício em suas partes. Estas partes, portanto, podem ser classificadas e agrupadas
em torno de uma série de temáticas abordados pelo modelo de Francis Ching, que dentre eles estão: os
“elementos primários, forma, forma e espaço, organização, circulação, proporção e escala e princípios”
(CHING, 1999 apud CORDOVIL, 2003, p. 51). Através disto, os usos das técnicas de desenhos
diagramáticos e ilustrações dá espaço à luz das análises destas temáticas e, para que também, possa ser
conhecido sobre as diferentes formas de manipulação dos elementos arquitetônicos construídos
(BELTRAMIN & MOREIRA, 2013).
Na porção em que o trabalho é desenvolvido, foram utilizadas duas metodologias. Na primeira,
abordou-se as pesquisas bibliográficas e documentais, aonde coletou-se e fichou-se uma série de leituras
feitas através da seleção de livros bibliográficos, artigos, dissertações e teses correspondentes ao
assunto/tema norteadores da pesquisa. Seguindo com as metodologias, as de ordens documentais, visou
levantar e coletar dados por viés de documentos escritos ou não, e outros, a título de exemplos como
fotografias (MARCONI & LAKATOS, 2003). Baseado em fotos ilustrativas, encontrou-se uma série de
imagens internas e externas, assim como de detalhes construtivos e documentos de plantas arquitetônicas,
que estavam disponibilizados, principalmente, nos sites relacionados as casas Butantã e Mariante. Na
segunda, utilizou-se a técnica de análise apoiadas na elaboração de desenhos gráficos, representados à
mão livre.
Por fim, a organização da lógica dos conteúdos do trabalho, em síntese, é estruturada em cinco
capítulos: na Introdução (1.), abordou-se os enquadramentos do assunto/tema de pesquisa, bem como
dos objetivos norteadores da mesma, das metodologias aplicadas, assim como da problemática levantada
e do corpo do referencial teórico das análises. No 2° capítulo, contemplou-se o levantamento de algumas
literaturas mais contextualizadas e, aprofundadas, sobre o universo da Arquitetura Moderna e
Contemporânea de São Paulo, expostos através de conteúdos que formou as bases do problema de
pesquisa. No 3° capítulo, apresentou-se o universo de delimitação das residências unifamiliares
paulistanas, a partir da montagem de uma linha cronológica do tempo e suas respectivas explicações. Foi
também, dado ênfase à este capítulo, apresentar as características de uma série de quatro casas brasileiras
contemporâneos. No 4° capítulo, expõe-se algumas explicações sobre a seleção da Residência Butantã
(1964/1966) e da Residência Mariante (2001/2002), que sequencialmente, são apresentadas mais a fundo,
as características de cada uma, respectivamente. No 5° capítulo, explicou-se quais foram os processos de
15
2 FUNDAMENTOS ARQUITETÔNICOS DIRECIONADOS considerada um símbolo para a Arquitetura Brasileira. Muitas mudanças ocorrerão no campo de atuação
dos arquitetos após a sua construção, provocando uma forte influência nas edificações que até então
Este capítulo é divido em dois itens estruturantes, e que compreende o direcionamento e o vinham sendo produzidas. Voltando duas décadas anteriores aos anos ’70, é possivel perceber, nos finais
levantamento do universo das literaturas bibliográficas relacionadas com o assunto/tema e, com a dos anos de 1940, que ainda há existência de uma visão quase incontestável - até pelo menos o momento
pergunta do problema investigado pelo trabalho. No primeiro item, portanto, apresenta-se os de idealização e construção de Brasília -, de uma “[...] predominância e liderança da Escola Carioca, bem
acontecimentos históricos da Arquitetura Moderna em São Paulo, abrangendo, temporalmente, as como de sua identificação como ‘a’ arquitetura brasileira” (ZEIN, 2005, p. 52) da época.
décadas de 1950/70 – períodos estes, representativos do surgimento da Arquitetura Paulista Brutalista e De acordo com Bastos (2003), o fenômeno de Brasília veio a fomentar a alteração na expressão
suas repercussões. Identifica-se também, quais as principais características derivadas destas edificações da forma em arquitetura, e que, coincidentemente, enquadrou-se com o surgimento das tendências do
modernas paulistas. Já, o segundo item, destina-se a elucidar o cenário contemporâneo das arquiteturas Brutalismo na cidade de São Paulo. Neste panorama têm-se até aqui, o contraponto entre duas
realizadas no Brasil, após as décadas de 1980 e que, cronologicamente, marca o início do que irá arquiteturas, a da Escola Carioca (1920/40) e o da Escola Paulista (1950/70). O ponto de transição entre
acontecer nos anos de 1990, com a produção das novas arquiteturas de São Paulo. estas duas Escolas de Arquitetura, associa-se ao evento que ficou conhecido como o fenômeno do pós-
construção de Brasília (BASTOS, 2003).
2.1 1950-1970: A ARQUITETURA MODERNA DE SÃO PAULO Nas palavras da autora, estas alterações formais vieram a ocorrer, portanto, só lá na metade da
década de 1950, afirmando o momento em que a Arquitetura Paulistana formou uma linguagem própria,
Os objetivos desta primeira parte, como explicados anteriormente, traz algumas breves reflexões que se tornou autônoma e, diferentes daquelas da Escola Carioca:
sobre os acontecimentos históricos das arquiteturas que, entre as décadas de 1950/70, surgi no Brasil,
juntamente, com a produção de uma série de projetos construídos em São Paulo. Estas arquiteturas
[...] ao contrário da arquitetura da Escola Carioca, caracterizada pela leveza e elegância, a
brasileiras, historicamente falando, são reconhecidas como obras referências da Arquitetura da Escola arquitetura paulista explorava o peso, a horizontalidade. Sua forma não procurava mascarar
uma realidade, mas antes, denunciar, não se importando de ser tosca, rude (BASTOS, 2003,
Paulista Brutalista, ou também chamadas pelo nome do Brutalismo Paulista. Também é explicado, p. 6, 7).

sobretudo, quais as principais características arquitetônicas de uma construção do gênero.

Isto, foi o que lhes acabou conferindo uma identidade, unicamente, e exclusivamente, próprias
2.1.1 O Cenário da Arquitetura Moderna Brasileira: O Brutalismo Paulista
dos arquitetos da Escola Paulista e que, rapidamente, foram influenciados pelos modos de projetar
Brutalistas do Brasil, durante as décadas de 1960. Em face destes acontecimentos, as obras do Brutalismo
Uma grande parte das obras construídas em São Paulo, classificadas com o rótulo da Escola
Paulista serviram de modelos para as construções modernistas da época, principalmente, pelo viés de
Paulista, e, sendo geralmente chamadas de Brutalista Paulista, representam um dos mais autênticos
suas novas formas de expressão:
movimentos de vanguardas brasileiras da arquitetura em meados do século XX, “[...] cuja afirmação
principia a fermentar entre arquitetos de São Paulo nos anos ‘50, consolidando-se localmente nos anos
‘60 e expandindo nacionalmente sua influência formal nos anos ’70” (ZEIN, 2001, p. 10). O Brutalismo Paulista foi uma tendência que partia de um discurso defendendo uma postura
ética para a sociedade. Foi messiânica e salvadora na medida em que propagou novas ideias
Este movimento começa, mesmo não possuindo um completo reconhecimento, a tomar forma, em busca de um mundo melhor. Acreditava na verdade, na correção, na virtude e na
igualdade dos homens. Esta ideologia conduzia soluções arquitetônicas nas quais nada havia
principalmente, em um dos momentos em que à Arquitetura Brasileira buscava dar início a aquisição de a esconder. Sugeria a vida comunitária decorrente da utilização do espaço único. As
segregações não eram bem aceitas, assim como as compartimentações evitadas
novas alternativas, mostrando aos arquitetos modernistas que o país poderia, sim, alcançar outros (SANVITTO, 2013, p. 11).

caminhos a serem percorridos (BASTOS, 2003). Portanto, a cidade de Brasília, construída no Brasil, é
16
Através da postura ética do Brutalismo Paulista, Bastos (2003) alega dizendo, que,
Figura 1. Residência Ivo Viterito - 1962 (à esquerda) e Residência Ariosto Martirani - 1970 (à direita), de
Vilanova Artigas.
[...] surgia a ideia de uma nova sociedade, tanto da parte de um arquiteto como Artigas, [...]
como, por exemplo, da parte de Paulo Mendes da Rocha, que por meio dos seus programas
residenciais procurava soluções que valorizavam os espaços comuns, [...] procurando levar
a um uso mais comunitário da casa (BASTOS, 2003, p. 6).

Em consequência destas ideias, as arquiteturas de São Paulo são, portanto, um dos resultados
do amadurecimento de novas argumentações arquitetônicas impregnadas pelo discurso ético, e que em
muitos dos casos, eram defendidos pelos usos de volumes arquitetônicos criados numa série de modelos
de construções:

Fontes: ensaiosfragmentados.com (à esquerda) e joaoalvimcortes.tumblr.com (à direita). Editado pelo Autor.

O Brutalismo Paulista trabalhou com um conjunto de regras compositivas que ordenava as


partes da edificação. Princípios como univolumetria, utilização de um núcleo ordenador, Em razão disto, uma ‘caixa volumétrica’ abriga e acomoda todos os espaços internos dos
unificação espacial interna, continuidade interior-exterior e configuração de espaços por
volumes fechados assim o demonstram. Por outro lado, as questões de caráter ficaram cômodos. Isto ocorre, pois, de acordo com Petrosino (2009), toda a estrutura, até mesmo, à da ‘caixa’, é
vinculadas à expressão de uma arquitetura própria de São Paulo, em que a partir das
residências os arquitetos procuraram criar um jeito paulistano de morar (ACAYABA, 1986, executado em concreto armado mostrados aparentes. A cobertura, portanto, parte que compõe a ‘caixa’,
p. 429 apud SANVITTO, 2013, p. 14).
é construída com lajes de ranhuras nervuradas, e acaba por descarregar as forças exercidas pelo volume,
diretamente, para os quatro pilares de sustentação das vigas e das empenas laterais cegas, que fluem até
Decerto, estes conjuntos de regras são vistos como as principais características encontradas nas as fundações da casa (PETROSINO, 2009).
arquiteturas de São Paulo das décadas de 1950/70. A competência para compreender claramente as Um outro exemplo, é também usado pelo próprio Artigas, só que agora na Residência Ariosto
características das construções idealizadas entre estes períodos, é, segundo Zein (2000), apenas Martirani, construída oito anos após as conclusões das obras da Ivo Viterito, explorando a mesma
possibilitado pelo auxílio de um exaustivo levantamento de pesquisa, catalogando e agrupando-as a partir temática da “[...] utilização de um caixa estrutural que cobrisse o invólucro da construção” (RAMOS,
de algumas temáticas projetuais e através de uma linha cronologicamente datada de suas décadas de 2013, p. 12). Uma série de pesquisas voltadas para a exploração da ‘caixa única’, como solução para
produção (ZEIN, 2000). proteger os espaços arquitetônicos, é, se não uma das principais características das residências
Exemplos, são as influências criadas pelos partidos formais/volumétricos das residências desenhadas pelo Vilanova Artigas.
paulistanas Ivo Viterito (1962) (Figura 1, à esquerda) e Ariosto Martirani (1970) (Figura 1, à direita), Uma das características mais marcantes destas arquiteturas paulistas, é a sua capacidade de
ambos projetos de Vilanova Artigas. As regras compositivas estabelecidas nos desenhos da Residência solucionar os problemas da construção através da criação de uma volumetria única, possibilitando assim,
Ivo Viterito, irá determinar como a concepção da forma arquitetônica acomoda as atividades domesticas abrigar todas as atividades ocorridas nos espaços internos das condições impostas pelo tempo e pelo
dos ambientes internos, e ainda, como o próprio arquiteto, no caso de Artigas, vêm a explorar as empenas clima. Estes espaços internos são organizados com uma maior flexibilidade de usos e, geralmente,
de concreto das paredes cegas laterais. Na Figura 1, observa-se como os formatos dos volumes de ambas trabalhados com uma série de vazios internos, variando as alturas de seus pés-direitos entre pavimentos
as residências construídas em São Paulo, influencia na percepção de quem está caminhando pelas - chamados de meio-níveis -, para que deste modo, possa ser destacado alguns visuais e percursos,
calçadas. estrategicamente posicionados. As estruturas são executadas com materiais construtivos de concreto
17
armado e são tidos como aparentes, e em muitos dos casos, construídos com sistemas de lajes nervuradas arquiteturas vieram das datas de 1950/70 – períodos de maiores reconhecimentos do Brutalismo Paulista
unidirecionais – em uma direção - ou bidirecionais – nas duas direções. Estes lances de pilares, vãos -, a conformar um movimento brasileiro e, posteriormente, um estilo arquitetônico, em razão das
livres, balanços são também construídos com concreto armado concebidos in loco, porém, o excesso de influências dos seus projetos terem sofridos nas outras cidades brasileiras (ZEIN, 2001).
aplicação deles, eventualmente, são aproveitados nas estruturas das paredes e das divisórias internas Um grande número de obras construídas em São Paulo, em inícios da década de 1990,
(BASTOS & ZEIN, 2010). começaram a apresentar uma série de mudanças significativas, geralmente, relacionadas aos aspectos
Dispensando o ponto de que estas, e entre outras características, encontram-se presentes em plásticos e construtivos de suas arquiteturas. Assim sendo, isto deu-se através de algumas reconquistas
grandes partes das obras construídas pelos arquitetos de São Paulo, Bastos e Zein (2010) consideram que de certas características e influências estético-formais, daquelas obras que ficaram reconhecidas com os
a existência das mesmas e, consequentemente, das arquiteturas construídas “tampouco é exclusiva do rótulos do Brutalismo Paulista (GONÇALVES, 2013).
Brutalismo brasileiro ou paulista” (BASTOS & ZEIN, 2010, p. 78), e, em muitas das situações, pode até
estar presentes em outras obras não associadas aos gostos brutalistas.
As residências hoje projetadas, diversas vezes apontam um discurso relevante de
organicidade, fluxos, tecnologias, porém é preciso um estudo analítico desta arquitetura e
suas influências, para discorrer sobre outros aspectos elevados pela Arquitetura Moderna,
2.2 1990-2018: A ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA DE SÃO PAULO mais especificamente, a Paulista de residências. [...] E atualmente, podemos observar um
alastramento de projetos de residências em outras regiões, que apresentam certas
similaridades com obras modernistas (LIMA, 2015, p. 2).

Os objetivos desta segunda parte, expõe os acontecimentos advindos após as décadas de 1980,
com o campo da produção contemporânea das arquiteturas brasileiras. O início dos anos 1990, no
De acordo com Montaner (1994), os retornos dos aspectos estético-formais, baseados nestas
entanto, é marcado por uma série de mudanças significativas e, uma delas, se refletirá por intermédio de
arquiteturas modernas, são tomados como referências para as próximas gerações de arquitetos. Porém,
uma recém-chegada tendência que ganha peso, até hoje, nas obras dos novos arquitetos, principalmente,
isto não significa que, atualmente, os arquitetos contemporâneos as tenham copiados das mesmas
daqueles situados em São Paulo. Em consideração à isto, apresenta-se também, o levantamento de
maneiras. Em consequência disto, os anos de 1990 terá a consciência por uma série de novas linguagens
literaturas sobre os trabalhos realizados pela presente geração de arquitetos, especialmente, dos
projetuais, divulgadas através de projetos idealizados pelos jovens arquitetos brasileiros da nova geração
encarregados pela construção do cenário contemporâneo das arquiteturas paulistanas. Sequencialmente
contemporânea. Estas linguagens, portanto, estão voltadas para as tendências de uma arquitetura com
ao corpo do texto, expõe-se ainda, como a presente geração destes arquitetos está aplicando o uso da
toques minimalistas (MONTANER, 1994 apud FILHO, 2014).
linguagem que foi deixada pelos arquitetos modernistas da época.
O conceito da ideia de Minimalismo em arquitetura, segundo Montaner (2001), é baseado nas
arquiteturas aonde são predominantes os usos de um número delimitado e articulado de elementos,
2.2.1 O Cenário da Arquitetura Contemporânea Brasileira: A Arquitetura Paulista
materiais construtivos e linguagens simplificadas, e preservadas,

Conhecida como uma das cidades-berços da produção arquitetônica brasileira idealizadas entre
as décadas de 1950, 1960 e 1970, São Paulo é uma das regiões brasileiras consagradas como espetáculo [...] pela busca de um sentido comum tectônico presente no uso rigoroso e asséptico dos
materiais, na recriação de espaços diretos e puros, na utilização de formas volumétricas e
do cenário moderno daquela época. No entanto, a cidade como palco para da Arquitetura Moderna geométricas simples, na austera utilização de repertórios significativos, na economia de
materiais e energias, e na integração com o entorno (MONTANER, 2001, p. 260).
Brasileira, começará a exercer, pós as décadas de 1980/90, uma série de referências que contribuiu para
os modos de fazer arquitetura contemporânea em São Paulo. Portanto, não mais havendo pronuncias da
sobrevivência de que, as obras da Escola Paulista Brutalista tenhas continuado sua produção após as Segundo Bastos & Zein (2010), as características dos projetos contemporâneos paulistas, dos
décadas de 1980, uma coisa é, sem sombras de dúvidas, certa em alegar: que o conhecimento destas anos posteriores de 1990/2000, são evidenciadas e divulgadas,
18
[...] pelo emprego da abstração em sólidos regulares [...], pelo eventual uso de camadas atuantes de arquitetura contemporânea, sediados na própria cidade de São Paulo (NOBRE, MILHEIRO
sobrepostas de vedação, pela exploração dos materiais de acabamento na confecção de
texturas, pelos anteparos que filtram a luz, com o uso de materiais que permitem ampla & WISNIK, 2006).
gama de variação entre o transparente e o opaco, por lançar mão de contrastes [...], por vezes
na relação com o existente (BASTOS e ZEIN, 2010, p. 379). Para demonstrar isto, têm-se como exemplo, as relações mantidas em comum entre o grupo do
escritório paulistano METRO Arquitetos Associados, e suas muitas parcerias com os trabalhos do

Até aqui, pôde-se perceber que os arquitetos contemporâneos buscaram aplicar uma série de arquiteto modernista Paulo Mendes da Rocha1. Pode-se perceber em uma série de obras construídas pelo

conceitos minimalistas, sem perder as características estético-formais das construções do Brutalismo grupo, principalmente, as de cunhos residenciais, o emprego de uma linguagem estética e construtiva

Paulista daquela época de 1950/70. Logo, e entendidos pelo viés de retomada das mesmas, Gonçalves aproximadas com relação das características do Brutalismo da Escola Paulista, das décadas de 1950/70,

(2013), entende que a construção destas novas arquiteturas, não são consideradas uma continuidade dos assim como também, das obras do próprio Paulo Mendes da Rocha (SAMURIO, 2015).

projetos modernistas produzidos durante o século XX (GONÇALVES, 2013). Já, para Zein (2012), elas
muito menos possam “ser consideradas ‘uma reafirmação de prestígio’ da chamada arquitetura paulista Quadro 1. Residência PA - 2003, METRO Arquitetos (à cima) e Residência Mario Masetti – 1968/1970, Paulo
Mendes (à baixo). As direitas, plantas arquitetônicas das mesmas.
brutalista” (ZEIN, 2012, p. 118), estando nesta sua última definição, as diferenças impostas pelos jovens
arquitetos paulistanos.
Ao contrário do que se pensa sobre estas questões, os arquitetos contemporâneos de São Paulo
sempre buscaram reconquistar algumas relações compreendias através das linguagens arquitetônicas do
Brutalismo Paulista. Portanto, o que se expõe aqui, é que estes, os arquitetos, estão sendo responsáveis
por apresentar, delicadamente, algumas diferenças e alguns novos caminhos, “cujas raízes e tradições
[...], está na forte influência da estética brutalista” (FILHO, 2014, p. 94, 95).
Nos inícios da década de 1990, as arquiteturas brasileiras encontram-se, portanto,

[...] diante da produção de um grupo, e de um grupo que define a si próprio em parte por
uma afinidade de geração, em parte pelo peso que seus integrantes atribuem à sua formação
universitária. No panorama contemporâneo da arquitetura no Brasil isto não é apenas
significativo: é admirável (NOBRE; MILHEIRO & WISNIK, 2006, p. 18).

Contemporâneos aos arquitetos modernistas da Escola Paulista, a definição deste grupo é


compreendida pela aceitação de uma série de profissionais-arquitetos recém saídos da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAUUSP, que em partes, se formaram entre
os anos de 1986 e 1996. Atualmente, eles compõem a estrutura de alguns dos principais escritórios

Fontes: metroo.com.br (à cima) e leonardofinotti.com (à baixo). Editado pelo Autor.

1
O escritório METRO Arquitetos Associados, foi fundado em meados dos anos de 2000, em São Paulo. Seus integrantes constituem-se pela formação dos arquitetos
Martin Corullon, Gustavo Cedroni e Marina Ioshi, graduados pela Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo - FAUUSP, apenas sendo Gustavo Cedroni,
graduado pela Fundação Armando Alvares Penteado - FAAP.
19
No Quadro 1 ilustrado à cima, é apresentando dois exemplos projetuais sobre como realizou-se
a construção das linguagens arquitetônicas entre os contemporâneos e os modernos. Na porção superior,
vê-se uma das fachadas laterais da Residência PA (2003) - de METRO Arquitetos Associados -, seguidas
dos desenhos de sua planta arquitetônica. Já, na porção inferior da mesma ilustração, o mesmo é
mostrado, só que agora com relação as da Residência Mário Masetti (1968/1970), construída por Paulo
Mendes da Rocha.
As proximidades da casa construída pelos arquitetos do METRO, idealizadas décadas depois da
finalização das obras da Mário Masetti (1968/70), apresentou uma variedade de soluções adotadas
também nos projetos residenciais de Paulo Mendes da Rocha, “quer por seus partidos compactos, quer
pela concentração e internalização dos elementos de composição irregulares” (COSTA e SAMURIO,
2016, p. 9).
Criando certas conexões formais e construtivas com a casa de Paulo, a composição volumétrica
da Residência PA (2003), é definida pela idealização de um retângulo prismático levantado do chão, e
apoiado, diretamente, em uma estrutura de seis pilares de concreto armado. Associado as maneiras como
as superfícies das fachadas são tratadas na casa de Mendes da Rocha, a PA apresenta “empenas
longitudinais mais fechadas, [...] contrapostas a superfícies transversais mais envidraçadas” (COSTA e
SAMURIO, 2016, p. 10).
Até aqui, pode-se perceber, por intermédio dos projetos mostrados acima, que as arquiteturas
realizadas pela geração dos grupos de arquitetos contemporâneos, busca utilizar-se das influências das
obras construídas pelos arquitetos do Brutalismo Paulista, assim como também de muitos dos conceitos
do minimalismo. Sem perder as relações estéticas das obras modernistas, observou-se que os pilares da
casa do grupo METRO, são mais delicados e finos e que a sua composição volumétrica é ditada pelas
referências da casa de Paulo Mendes da Rocha. Concentrados em torno das soluções projetuais criadas
por Paulo, principalmente, na Residência Mario Masetti (1968/70), os projetos construídos pelos
arquitetos do escritório paulistano apresentou uma forte influência das “reverberações e derivações da
produção moderna na produção contemporânea brasileira (BASTOS & ZEIN, 2010 apud COSTA &
SAMURIO, 2016, p. 13).
20
3 OS PROJETOS CORRELATOS DAS CASAS BRASILEIRAS UNIFAMILIARES COMO
Figura 2. Linha do Cronológica do Tempo das Principais Residências Brasileiras Contemporâneas Construídas em
ABORDAGENS DO TEMA São Paulo.

Este capítulo está divido em dois itens organizadores, e compreende breves reflexões sobre o
recorte cronológico das residências brasileiras contemporâneas construídas entre os períodos de 1990 à
2018: a Ribeirão Preto (2000/2001), City Boaçava (2004/2008), Vila Romana (2004/2006) e a T.R.
(2011/2016). Além destas reflexões, o capítulo ainda abrange o fundamento dos objetivos da pesquisa,
lhes atribuindo características ao assunto e a temática do trabalho.
Portanto, no primeiro item é exposto algumas questões e alguns atributos que auxiliou no
universo de delimitação do recorte cronológico dos projetos contemporâneos construídos, com base nos
principais escritórios de arquitetura paulista. Sequencialmente a leitura, apresenta-se então uma série de
quatro residências unifamiliares brasileiras, aonde foram enfatizadas as suas principais características
arquitetônicas.

3.1 O Universo de Delimitação das Residências Unifamiliares Paulistas

Atendendo ao enunciado dos objetivos do trabalho, foi feito um levantamento das principais
casas brasileiras contemporâneas construídas, com foco, principalmente, naquelas paulistanas. Tendo Fontes: Própria do Autor.

isto em vista, o sentido do levantamento destas casas é de criar uma pequena listagem cronológica de
3.2 As Características das Residências Contemporâneas
modo a identificar as casas que podem ser enquadradas no cenário da produção Contemporânea
Brasileira. Portanto, atribuiu-se como critério básico de levantamento destas casas, a delimitação das
Após a finalização da linha do tempo cronológico das casas contemporâneas paulistas, é
datas históricas e definidas pelo início das décadas de 1990 até a presença de meados dos anos de 2018.
apresentado em seguida, as características de cada projeto a partir das exposições dos conceitos de alguns
Ilustrando a delimitação do recorte, é mostrado na Figura 2, como foi montado a estrutura desta
dos principais escritórios de arquitetura de São Paulo. Lembrando que, todas estas casas selecionadas e
linha do tempo cronológica, contempladas pelos últimos vinte e nove anos da produção das residências
ilustradas na figura 2 à cima, foi considerada pela sua relevância e influencia dentro do cenário das
contemporâneas construídas nas regiões de São Paulo. Por intermédio do recorte entre as datas de 1990
arquiteturas brasileiras, pois, cada uma delas demonstrou certas semelhanças e relações com os modos
à 2018, foi possivel saber quais são as casas unifamiliares que se construíram até o momento. Partindo
de projetar e/ou com as características daquelas obras do Brutalismo Paulista, das décadas de 1950/70.
deste posicionamento, realizou-se uma seleção daquelas que se apresentaram mais próximas com
Mais à baixo, elas são explicadas, rapidamente, com o apoio de textos relativos as características de cada
algumas das características das obras do Brutalismo Paulista, construídas entre as décadas de 1950/70.
um dos quatro projetos, seguidos das ilustrações de algumas imagens fotográficas dos mesmos.

3.2.1 2000-2001: Residência em Ribeirão Preto / SPBR Arquitetos + MMBB Arquitetos


21
Situada em um dos municípios brasileiros do Estado de São Paulo, a região de Ribeirão Preto - maiores comprimentos da cobertura, aonde estende-se quatro tirantes produzidos em aço. Estes, transfere
que aliás, dá origem ao nome da casa -, é composto por uma das cidades localizadas à Noroeste da o papel de sustentação do peso exercido pelo primeiro pavimento da residência (SERAPIÃO, 2012).
metrópole paulista. Com bases na linha cronológica mostrada anteriormente, o primeiro projeto
apresentado é o da Residência em Ribeirão Preto (2001/2002). Construída entre os inícios dos anos de 3.2.2 2004-2008: Residência no City Boaçava / MMBB Arquitetos
2000 e concluídas em meados de 2001, todos os seus desenhos foram elaborados com as colaborações
dos escritórios de arquitetura SPBR Arquitetos, juntamente, com o grupo MMBB Arquitetos. Construída entre os períodos de 2004 e 2008, três anos após a conclusão das obras da Residência
A geometria de sua planta, imprime em si, o formato da letra “U”. Nas duas pernas verticais da em Ribeirão Preto (2001/2002), o segundo projeto apresentado e selecionado com bases na linha
letra, estão distribuídos todos os espaços sociais, íntimos e de serviços. Já, no miolo da mesma, há a cronológica, é o da Residência no City Boaçava (2004/2008). De autoria, desta vez, somente do escritório
existência de um pátio externo. Vale explicar, que a distribuição dos compartimentos internos de cada MMBB Arquitetos, esta casa é situada em dos bairros localizados na região Oeste de São Paulo,
um dos cômodos, destacam-se acima do nível do terreno, através de uma primeira laje construída em conhecidos como City Boaçava, que também origina no nome da mesma. Com aspectos singulares, o
concreto armado, aonde perfura-se uma série de quatro pilares distribuídos, estrategicamente, volume é composto por uma única estrutura de concreto armado, que, portanto, apresenta uma leve
ocasionando na sustentação de sua estrutura (SERAPIÃO, 2012). alteração de partido: a casa é apoiada em uma série de quatro pilares redondos, elevando-se para cima
do terreno, que apoiam os pesos de duas empenas paralelas, também de concreto armado (FERNANDES,
2011).
Figura 3. Residência em Ribeirão Preto – 2000/2001, de SPBR Arquitetos + MMBB Arquitetos, Ribeirão Preto,
São Paulo. Segundo Grunow (2009), a ideia que se têm de todo o projeto, não está no volume que ele
conforma, mas sim, na estrutura de suas empenas cegas laterais. Logo, estas empenas não se prolongam
até tocar o chão, pois, em partes, elas estão encostadas apenas nas colunas destes quatro pilares com
formatos redondos, distribuídos em número de dois em cada uma das empenas (GRUNOW, 2009).

Figura 4. Residência no City Boaçava – 2004/2008, de MMBB Arquitetos, City Boaçava, São Paulo.

Fontes: arcoweb.com.br/projetodesign. Editado pelo Autor.

Sobre a estrutura da Residência em Ribeirão Preto (2001/2002), nota-se, primeiro, a existência


de uma primeira laje de pavimento, caracterizada por não apresentar o que é chamado, de acordo com os Fontes: arcoweb.com.br/projetodesign. Editado pelo Autor.
termos técnicos, de vigas de sustentação, pois, sua carga está sendo apenas apoiada através da própria
espessura da mesma. A segunda laje, é ocupada por uma de superfície de cobertura. Esta estrutura, ao Logo, estas empenas laterais não se prolongam até encostar no chão, mas em partes, até que
contrário da primeira, possui duas grandes vigas dispostas paralelamente entre as extremidades de suportariam serem apoiadas, porém de acordo com as questões funcionais do projeto, estas são
encostadas apenas na estrutura de quatro pilares com formatos redondos, sendo distribuídos dois em cada
22
uma delas. Portanto, esta característica é revelada pela consequência de os dois pilares frontais estarem estúdio, encontram-se resolvidas dentro de um volume fechado, sem aberturas e semienterrado na porção
distantes das áreas sociais: “parece, então, que todo o volume construído se apoia apenas em dois pontos inferior do volume da própria residência. Configurado para responder as atividades que exigem graus de
estruturais” (GRUNOW, 2009, sp.), porque os mesmos estão posicionados no nível inferior da concentração maiores, este volume semienterrado apenas possui uma generosa porta pivotantes toda
residência, aonde está a garagem e as dispensas de serviços. envidraça, proporcionado a integração deste espaço com relação a área verde situado em frente ao estúdio
(MACEDO, 2009, sp.).
3.2.3 2004-2006: Residência na Vila Romana / MMBB Arquitetos
3.2.4 2011-2016: Residência T.R. / Andrade Morettin Arquitetos
O terceiro projeto contemporâneo apresentado é também de responsabilidade exclusiva do
escritório paulistano MMBB Arquitetos. É o projeto da Residência na Vila Romana (Figura 6), O quarto e último projeto contemporâneo apresentado é o da Residência T.R., construída entre
construída entre 2004-2006, mesmo ano de início das obras da Residência no City Boaçava (2004-2008), 2011-2016, sete anos após o início da construção da Residência na Vila Romana (2004-2006), de MMBB
e está implantada em um dos bairros da região oeste de São Paulo. Como ocorre na Residência em Arquitetos. Este projeto é de autoria da equipe Andrade Morettin Arquitetos, e está implantada em uma
Ribeirão Preto (2000-2001), construída em parceria com o escritório SPBR Arquitetos, a solução adotada das cidades da região oeste da metrópole paulistana, chamada de Carapicuíba.
para organizar grande parte dos ambientes atendidos pelo programa de necessidades deste projeto,
também estão elevados do chão através da distribuição estratégica e do apoio de quatro pilares Figura 6. Residência T.R. – 2011/2016, de Andrade Morettin Arquitetos, Carapicuíba, São Paulo.

equidistantes.

Figura 5. Residência na Vila Romana – 2004/2006, de MMBB Arquitetos, Vila Romana, São Paulo.

Fontes: galeriadaarquitetura.com.br. Editado pelo Autor.

Fontes: archdaily.com.br. Editado pelo Autor. Como ocorre na Residência no City Boaçava (2004-2008), construída pela equipe do MMBB
Arquitetos, a solução adotada para organizar grande parte dos ambientes atendidos pelo programa de

O programa solicitava uma dupla função: teria que conter ao mesmo tempo as necessidades de necessidades deste projeto, também é delimitado pelo posicionamento de dois planos verticais

uma residência e de um estúdio de artes, e que ainda deveriam ser acomodados “espacialmente juntos e construídos em estruturas metálicas, que definem a volume da cobertura desta residência.

funcionalmente separados” (SAMBIASI, 2011, sp.). Na parte elevada do chão, encontram-se os Segundo Farias (s.a.), os arquitetos responsáveis pelo projeto explicam que sobre está cobertura,

ambientes da residência, ou seja, as áreas sociais, a cozinha e áreas de serviços e os dormitórios, todos existe uma segunda estrutura com aspectos de caixa, abrigando as funções das atividades mais

resolvidos dentro deste volume independente do programa. Todo o perímetro deste volume é envidraçado residenciais: “O espaço intersticial, propiciado pelo afastamento entre essas duas estruturas, funciona

com janelas intercaladas tanto corrediças como basculantes, posicionadas com a intenção de como uma área de transição entre as áreas internas e o amplo jardim externo” (FARIAS, s.a., sp.),

proporcionar a contemplação da paisagem urbana periférica. Já, a parte requerida pelas atividades do abrangendo as áreas impostas pelos limites do terreno.
23

3.3 CONCLUSÃO DO CAPÍTULO

Concluindo com as reflexões do capítulo, foi apresentado nesta etapa, a estruturação de uma
linha cronológica mostrando as principais residências brasileiras construídas dos períodos entre as
décadas após os anos de 1990, até meados dos anos de 2018. Além disto, é explicado depois de montado
e delimitado o universo das casas da linha do tempo, quais as características de cada um dos quatro
projetos contemporâneos selecionados.
Sendo esta última parte, afinal, o objetivo das conclusões deste capítulo, é importante explicar
que, o universo de amostragem de cada uma das quatro casas brasileiras descritas à cima, por mais que
ainda não sejam as únicas, chegando à existência mesma, de um número muito mais superior de
exemplares construídos tanto em São Paulo, como nas outras regiões do Brasil, mantiveram-se de acordo
com alguns conhecimentos e esforços envolvidos até esta etapa da pesquisa.
Portanto, considerou-se que possui sim, a existência de uma certa quantidade de obras
relativamente delimitadas, temporalmente como geograficamente no Brasil, que se pode chegar mesmo
a identificar um universo muito mais completo e extenso sobre as arquiteturas brasileiras construídas
entre os anos de 1990/2018. Segundamente, que todas elas faziam parte integrante do panorama
vivenciado pela produção arquitetônica dos períodos pós anos ’90, realizadas pela geração dos
contemporâneos e jovens arquitetos brasileiros e, finalmente, que toda elas, também contou com uma
série de influências e referências projetuais das obras do arquiteto Paulo Mendes da Rocha,
particularmente, pelas semelhanças apresentadas com a Residência Butantã (1964/66). Esta última é
clara, ficou por conta das pesquisas de literaturas feitas sobre quais dentre as casas brasileiras
contemporâneas possuíam mais proximidades com a casa unifamiliar de Paulo.
24
4 AS APLICAÇÕES DELIMITADAS PELA PESQUISA mais com o ambiente urbano à sua volta – espaços internos e externos relacionando-se em
permanente continuidade e por isso mesmo proporcionando grande integração
socioambiental, inspiração que julga fundamental para todos os arquitetos 1 (CICCACCIO,
2006).
Este capítulo é organizado em dois itens sucessivos, de maneira que o segundo fosse uma
continuidade das leituras do primeiro. Após apresentar nas etapas realizadas anteriormente, quais os
critérios do universo de delimitação, a montagem da estrutura da linha cronológica, e as características As Casas do Butantã se tornaram verdadeiros ícones da arquitetura brasileira, obras-primas de

arquitetônicas das quatro residências brasileiras unifamiliares construídas entre os períodos das décadas Paulo Mendes da Rocha que expressaram com clareza a sensibilidade do artista com relação aos

de 1990/2018, em São Paulo, é no presente capítulo que vêm a ser feito a discriminação, ou melhor, as problemas sociais enfrentados pelo país, ao mesmo tempo sua preocupação com a adequação da

especificações sobre qual é, e para que verdadeiramente, serviu os propósitos do recorte da temática de arquitetura brasileira ao novo quadro de industrialização no qual o Brasil se encontrava. Enquadrada à

pesquisa. realidade brasileira, as obras de Mendes da Rocha são a reflexão do que acontecia na época. Seu concreto

Este capítulo, também cria uma relação com os conteúdos apresentados, anteriormente, no solidificava sua ideologia e trazia autenticidade a suas obras, o tornando um dos maiores e mais geniais

capítulo três: Os Projetos Correlatos das Casas Brasileiras Unifamiliares como Abordagens do Tema. arquitetos da história (COSTA, 2015, sp.).

Portanto, no primeiro item foi justificado quais os motivos de ter-se selecionado as duas residências De acordo com a rápida exposição da linha cronológica delimitada pelas casas brasileiras

paulistanas, à Mariante (2001/2002), do grupo MMBB Arquitetos e a Butantã (1964/1966), do arquiteto contemporâneas construídas nos últimos vinte e nove anos, é importante explicar que dentre todos os

Paulo Mendes da Rocha, ambas servindo como um objeto à serviço das análises. Já, no segundo item, quatro projetos lá enunciados, obteve-se a aptidão de selecionar apenas o modelo construído de uma

apresenta-se algumas informações mais aprofundadas e completas a respeito das casas paulistanas delas. Com vista nisto, e com bases em todas aquelas quatro casas, o trabalho esbarrou-se com o modelo

estudadas. Primeiro, expõe-se algumas breves contextualizações sobre as implantações de ambas as da Residência Mariante (2001/2002), desenhadas pelo escritório paulistano MMBB Arquitetos, e

casas, seguidos das explicações sobre suas características formais/volumétricas, estruturais e espaciais, construída em Aldeia da Serra, região Oeste de São Paulo.

ilustradas através de imagens ilustrativas sobre cada um dos aspectos comentados. Conforme Samurio (2015), ela é considerada uma das mais notórias residências unifamiliares
construídas nos moldes dos tempos atuais do contemporâneo, chegando ela mesma, a conservar e resgatar

4.1 Seleção e Apresentação das Residências Paulistas Analisadas em seus princípios compositivos, construtivos e espaciais, “à tradição da Escola Paulista” (SAMURIO,
2015, p. 1).

A partir de 1963/64 não há propriamente ‘fases’ no desenvolvimento dos projetos residenciais Porém, justificou-se sua seleção, porque ela foi a que mais aproximou-se das relações criadas

de Paulo Mendes da Rocha, verificando-se sua plena maturidade conceitual e construtiva, que de resto com os universos projetuais das obras de Paulo Mendes da Rocha, em específico, com as da Residência

já ocorrera desde há algum tempo, muito precocemente em sua carreira. E sem dúvida o tema por Butantã (1964/66). Na proporção em que a Mariante (2001/2002), é apontada como uma das principais

excelência, que percorre a grande maioria de sua obra residencial é a ideia de casa-apartamento, obras construídas atualmente, ela, em si só, ainda se justifica por apresentar características fundamentais,

geralmente elevada sobre pilotis, em propostas de caráter mais prototípico ou mais circunstancial, se comparadas com os modos de projetar de Paulo. Exemplificando isto, têm-se como fator, os modelos

mesclando-se, em cada caso, a diferentes aproximações estruturais e volumétricas (ZEIN, 2000, p. 220). das casas-apartamentos erguidas e repousadas sobre a estrutura de quatro pilares de concreto, com
ambientes organizados através de uma solução espacial que é típico da distribuição de grande parte do
programa de necessidades em um único plano solto do chão (ZEIN, 2005).
A obra de Paulo Mendes da Rocha “refinou” a linguagem da arquitetura paulista e a integrou

1
Depoimento de Cândido Malta Filho – professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) – retirado de uma parte do
artigo escrito pela autora Ana Maria Ciccaccio, e redigido na seção de Arquitetura da Revista Nossa América.
25
Como pronunciados anteriormente, portanto, é apresentado em seguida, as características
Quadro 2. Residências “Gêmeas” – 1964/1966, de Paulo Mendes da Rocha, Butantã, São Paulo.
individuais das duas residências unifamiliares paulistanas introduzidas anteriormente, uma sendo
idealizada nas décadas de 1960, e a outra nos anos de 2000/2001, na cidade de São Paulo.

4.1.1 1964-1966: Residência Butantã / Paulo Mendes da Rocha

Os assuntos que estavam sendo discutidos no período em que se deram início às obras da
residência idealizada pelo arquiteto paulistano - datadas dos anos de ‘64/66 -, rigorosamente, era apoiado
pelas questões que giravam em torno de ordens políticas. Neste tempo, os processos originados pela
industrialização das construções habitacionais, resultantes do alargamento das obras de Brasília, do
crescimento desordenado do território urbano brasileiro e das demandas de uma nova política de
desenvolvimento para o país, tornaram-se, entre os arquitetos modernistas, um dos principais temas
centrais marcados pelo início das décadas de ‘60: Fontes: arquiteturabrutalista.com.br (à esquerda e à direta em cima); ABE, 2009, p. 60 (à direita em baixo).
Editado pelo Autor.

Dentre os problemas que então se colocavam para os arquitetos brasileiros estava o desafio
de testar soluções projetuais capazes de permitir um salto decisivo para a construção em Logo no primeiro contato feito por intermédio da visão, percebe-se que as duas casas possuem
massa de uma arquitetura de qualidade. Daí o investimento em pesquisas tecnológicas, a
busca de soluções econômicas, a ênfase na organização do canteiro e a preocupação política muitos traços semelhantes, causando ao mesmo tempo um contraste se comparada com as moradias à
e programática com a habitação de baixa renda, temas centrais de um debate que [...],
conduziu a um repertório significativo de experiências arquitetônicas com as quais a sua volta. O curioso, é que o fato delas possuírem as mesmas características, ou ao menos é o que se
residência Paulo Mendes da Rocha à princípio se alinha (NOBRE, 2007, sp.).
pode dizer, “contribuiu para que as duas obras fossem designadas, na literatura especializada, como as
‘as Casas Gêmeas’ do Butantã” (FIORINI, 2014, p. 142).
Após inícios da década de ’60, Paulo Mendes da Rocha, um dos arquitetos mais reconhecidos Parando para observar as características de sua forma/volume, pode-se perceber que a sua
por aceitar as influências do Brutalismo Paulista, que além do mais, é característica marcada em uma composição é univolumétrica, definida através da superposição de um retângulo prismático de concreto.
série de residências unifamiliares construídas, é encarregado por desenhar a Residência Butantã O volume do prisma é levantado do chão através da disposição de quatro pilares quadrados, permitindo
(1964/1966) - construída em um dos bairros de mesmo nome, situado à oeste da metrópole paulistana -, que a todos os ambientes internos da casa pudessem ser transferidos para o primeiro pavimento. Este
é uma das casas mais significativas e importantes idealizadas pelo arquiteto. aspecto – o do prisma elevado -, é considerado um dos agentes fundamentais de toda a ideia geradora do
Na realidade, este projeto é consequência da estruturação de duas casas unifamiliares, partido volumétrico desta residência paulistana (SANVITTO, 1994).
concebidas próximas umas das outras. No Quadro 2, é mostrado uma perspectiva do ponto de vista do Uma das sensações transmitidas pelo emprego desta estratégia, está associado a uma série de
passeio público, sendo ilustrada no canto esquerdo da imagem. Nos cantos da direita à cima, corresponde experiências visuais e volumétricas causadas pelo motivo do mesmo estar levantado do chão, ou seja,
aos fundos do terreno, e à baixo, os das esquinas do mesmo. quem está caminhando pelas calçadas, aparentemente, é tocado pela impressão de que esta residência é
conformada por apenas um único pavimento térreo. Segundo Zein (2000), de acordo com as palavras do
arquiteto:
26
Essa suspensão da casa em relação ao solo também se refere a uma questão de implantação,
de espacialidade em relação a própria cidade. Aquilo era uma colinazinha na beira do rio,
mas a rua principal que passa na frente já tinha sido cortada e, portanto, descaracterizada. O espaço interno arquitetônico é, geometricamente e, espacialmente, entendido pelo viés da
Suspendi a casa nesses quatro pilares e cortei o território da colina só por baixo da casa,
criando um patiozinho estrategicamente protegido de modo que não aparecesse como uma configuração de três porções, ou partes que tendem a dividir e, subdividir os ambientes existentes do
ofensa àquela colina e ao traçado da rua existente (ZEIN, 2000, p. 235 apud ABE, 2009, p.
63). programa. Observa-se, portanto, que a divisão destes espaços domésticos acontece através da
“distribuição racional e quase simétrica dos ambientes [...], tendo como eixo de simetria à faixa central

Sobre a estrutura, nota-se, primeiro, a existência de quatro pilares de concreto armado, dos dormitórios e serviços” (FIORINI, 2014, p. 155).

posicionados ao ponto de formar um perímetro quadrado instruídos na parte centralizada da planta, das
quais estão apoiadas duas vigas mestras orientadas nos sentidos transversais e que, ao mesmo tempo, Quadro 4. Espaços da Residência Butantã, 1964/1966, de Paulo Mendes da Rocha, Butantã, São Paulo.
As direitas, planta arquitetônica da mesma.
permite que duas lajes de ranhuras nervuradas se encontrem engastadas nestas mesmas vigas, só que em
seus sentidos longitudinais. Por segundo, pode-se observar a maneira como estão montadas e penduradas
as duas empenas verticais que delimita o perímetro, tanto da estrutura, como da forma/volume e do
espaço arquitetônico. Paralelas umas das outras, estas empenas encontram-se encostadas nas porções
superiores da última laje da cobertura de concreto (SANVITTO, 1994).
Duas vigas chamadas de vigas de bordo alcançam o comprimento de toda a extensão da
cobertura, que responde ao último elemento da estrutura. Estas vigas, cumprem a função de dar apoio à
estas empenas laterais, ocasionando na impressão de estarem apenas penduradas pela sua borda superior.
Totalizando os valores de 2m22cm de dimensão, estas vigas de bordo afastam-se à 0.20cm com relação
da última viga nervurada da cobertura (ZEIN, 2000).
No Quadro 3 á baixo, é ilustrado como estes elementos se relaciona com a estrutura existente.
Nos cantos da esquerda, mostra-se um dos quatro pilares distribuídos no pavimento térreo,
correspondendo ao nível do terreno, e ao lado, um dos pilares do pavimento superior da residência.

Quadro 3. Estruturas da Residência Butantã, 1964/1966, de Paulo Mendes da Rocha, Butantã, São Paulo.

Fontes: arquiteturabrutalista.com.br (à esquerda à cima e à baixo); ABE, 2009, p. 60 (à direita). Editado pelo
Autor.

Na primeira porção, situa-se um corredor de passagem, que logo adquire características de um


espaço de permanência e, ao mesmo tempo, de transição para os outros ambientes, que neste caso, são
formados pelos dormitórios. Na segunda porção, que é a parte mais centralizada da planta, subdivide-se
todos os cinco dormitórios. Estes, juntamente com as quatro áreas dos banheiros, encontram-se
Fontes: leonardofinotti.com. Editado pelo Autor. arranjados uns aos lados dos outros, e delimitados pela ocupação de uma série de paredes situadas
27
paralelamente entre si. Ainda na porção centralizada está à cozinha da casa, que é apenas afastada das
áreas dos dormitórios e banheiros, por intermédio de uma estreita passagem de circulação. Na terceira e, Figura 7. Residência Mariante, 2001/2002, de MMBB Arquitetos, Aldeia da Serra, São Paulo.

última parte, agrupa-se os ambientes das três áreas sociais: uma delas é a sala de refeições, a outra é a de
convivência e por último um escritório, todos compartilhando assim, o mesmo espaço de ocupação
(ABE, 2009).

4.1.2 2001-2002: Residência Mariante / MMBB Arquitetos

O cenário urbano de São Paulo é conhecido pela aglomeração caótica de prédios disputando
espaços em meio aos 17 milhões de habitantes residentes, convivendo, juntamente, com o crime, a
Fontes: mmbb.com.br. Editado pelo Autor.
poluição emitida e os congestionamentos causados durante o trânsito. Por conta destes fatores, uma
grande porção dos habitantes instalados nas regiões centrais da cidade, começaram a se dispersar para
alguns locais mais afastados desta confusão urbana que é o morar em São Paulo (GUERRA, 2004). Sobre a estrutura, percebe-se que a estrutura geradora da residência é composta pela

Entre os municípios de Santana de Parnaíba e a região de Barueri, nas proximidades oeste da sobreposição de duas lajes de concreto com nervuras. Cada uma das lajes possui 16m20 em ambos os

cidade paulista, situa-se como refúgio deste cenário urbano, um condomínio chamado como Morada dos lados, subdivididas em uma série alinhada de 18 alvéolos, que são cavidades com dimensões de 90cm x

Pássaros, localizado na região de Aldeia da Serra. De características bucólicas, o condomínio é uma 90cm. A vantagem deste tipo de sistema permite a construção de vãos mais largos, liberando

dispersão em meio a natureza, um modo de vida não tanto comum para quem compartilhava o visual consequentemente a ocupação de maiores espaços. Por isso, sua estrutura é elevada do terreno apenas

com as construções de concreto. No entanto, uma das casas, ou melhor dizendo, uma caixa executada pela sustentação de quatro pilares de concreto armado, distribuídos igualmente com a relação dos outros,

em concreto e vidros é uma visão não muito comum para as pessoas em que lá vivem (GUERRA, 2004). à uma distância de 9m90 a partir do eixo central da planta (GUERRA, 2004, 2005).

Resgatando os estilos da Escola Paulista, o desenho da Residência Mariante (2001/2002),


carrega em suas linhas, uma série de referências próximas de algumas das casas materializadas pelo
A equipe de profissionais optou pelo sistema de construção racionalizado e moldado in loco.
Brutalismo Paulista, das décadas de 1950/70. Porém, se olharmos com uma visão um pouco mais crítica, Foram alugadas fôrmas plásticas que possibilitam a construção racional de lajes nervuradas,
com a eliminação do uso de compensado, simplificando a armadura e proporcionando
poder-se a notar que muitas de suas características são encontradas, também, nos projetos das residências rapidez e economia (ASSIS, 2006, sp.).

Gerassi (1988/1991) e Butantã (1964/1966), ambas desenhadas pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha.
Parando para observar as características de sua forma/volume, pode-se perceber que a sua A organização dos ambientes internos é distribuída em volta de duas escadas metálicas de
composição é univolumétrica, definida através da composição de uma caixa geométrica, idealizadas em circulação que interligam os três níveis da residência. Ambas possuem apenas um lance de projeção,
concreto armado. O volume da caixa, portanto, é erguido do chão através da disposição de quatro pilares sendo deslocadas lateralmente em relação ao eixo principal da planta (GONÇALVES, 2013). Segundo
quadrados, e recuados para dentro dos perímetros da planta, também de aspectos quadrados Guerra & Ribeiro (2006), “essa assimetria acaba reverberando nos espaços internos, permitindo o
(GONÇALVES, 2013). surgimento de áreas distintas para acomodar os usos necessários” (GUERRA & RIBEIRO, 2006, sp.),
tais como os ambientes dos dormitórios, da cozinha, das áreas dos banheiros e das salas.
28
regras atribuidas aos aspectos formais, espaciais e construtivos das obras do Brutalismo Paulista, aquelas
Figura 8. Espaços da Residência Mariante, 2001/2002, de MMBB Arquitetos, Aldeia da Serra, São Paulo.
lá das décadas de 1950/70, ainda é conservada e sobrevive nos meios contemporâneos da produção de
algumas das principais arquiteturas brasileiras realizadas atualmente, particularmente, naquelas
conferidas aos usos residenciais, como é neste caso, o exemplo da Residência Mariante (2001/2002).
Na verdade, o processo de idealização dos desenhos e os significados atribuídos por detrás de
sua construção, cria algumas formas de diálogo com algumas das ideias de Paulo Mendes da Rocha,
trazendo referências arquitetônicas, “[...] como a planta quadrada, o talude de grama, o espelho d’água
da cobertura, os pilotis e a liberação do solo para usos diversos” (ASSIS, 2006, sp.).

Fontes: mmbb.com.br. Editado pelo Autor.

Um dos aspectos interessantes deste projeto, é a ocupação do nível principal da residência


elevada sobre uma estrutura de quatro pilares: esse partido é como uma espécie de térreo suspenso com
relação ao nivelamento do terreno. Sua racionalidade espacial é um componente facilitador no que se
refere ao livre caminhar dos moradores entre todos os compartimentos de cada ambiente. Em uma das
extremidades deste pavimento encontram-se as salas social, de estar e jantar, no seu lado oposto, as
repartições dos dormitórios e dos banheiros são apenas separadas espacialmente pelas paredes da
cozinha, posicionada centralmente no espaço (ASSIS, 2006).
Nas superfícies frontais e posteriores (oeste e leste), há dois panos de vidros corrediços
caracterizando uma fachada mais translucida com relação às voltadas para as laterais (norte e sul), que
são mais homogêneas, pois carregam o peso das empenas de concreto, e pelo volume da lareira, engastada
em uma das laterais da superfície: “Assim, enquanto a abstração geométrica regula a concepção
estrutural, as calibradas distorções da dupla simetria dão a medida dos hábitos e da vivência” (GUERRA,
2004, sp.).

4.2 CONCLUSÃO DO CAPÍTULO

Concluindo as reflexões do capítulo, pôde-se perceber até aqui, que as relações mantidas entre
estas duas residências paulistanas, ambas construídas em dois períodos diferentes do tempo e da
geografia – uma de meados dos anos de 1960 e a outra, de começo dos anos 2000 -, demonstrou que as
29
5 AS ANÁLISES APLICADAS PELA PESQUISA geralmente, desvinculada dos sistemas das paredes internas, como das vedações externas, trabalhando
independentemente das outras características.
Este capítulo está estruturado em três itens principais, que dão luzes as reflexões das análises Após identificar os conteúdos dos três grupos e/ou eixos temáticos norteadores do Brutalismo
das residências paulistanas estudadas: a Residência Butantã (1964/1968) e a Residência Mariante Paulista, parte-se para a conceitualização do modelo das análises de Francis Ching (2008), e
(2001/2002). Lembrando que nos capítulos anteriores, principalmente no terceiro, foram apresentadas posteriormente, para uma definição de três grupos temáticos identificados dentro do modelo.
uma série de quatro casas brasileiras contemporâneas e suas características arquitetônicas, é aqui, que Esclarecendo que a identificação dos mesmos, estarão relacionados com referências nas listagens das
elas irão prestar recursos para basear as análises. Em prol disto, e visto do prisma de que o caracterizações das obras do Brutalismo Paulista, explicados anteriormente.
desenvolvimento do trabalho compõe parte integrante do exercício de análise, esta etapa irá contemplar Neste prisma, o modelo selecionado, portanto, é baseado nos conceitos das análises de Francis
as explicações sobre o processo de raciocínio das metodologias que foram usadas para o estudo das duas Ching (2008). Apoiado em um estudo aprimorado de conceitos relativos à arquitetura enquanto
residências paulistanas. manifestação físico-espaciais, o modelo de Francis investiga uma série de aspectos identificados pelos
Foi apresentado, portanto, no primeiro item, a leitura das abordagens do universo de elementos arquitetônicos e suas relações conceituais presentes na composição das edificações (CHING,
metodologias das análises, seguido das definições de cada um dos Sistemas Arquitetônicos e elementos 2008 apud BELTRAMIN & MOREIRA, 2013).
analisados com parâmetros fundamentados no modelo de Francis Ching, e compreendidos pelo Sistema Aplicados ao estudo dos elementos formais da arquitetura, os conhecimentos adquiridos pelos
Compositivo, de Delimitação e Espacial. Já no segundo item, estende-se as ações tomadas anteriormente, estudos de Francis, “é essencial para analisar as organizações do espaço arquitetônico” (TAGLIARI,
através da elaboração e apresentação das análises dos Sistemas e dos elementos, realizados com o auxílio 2009, p. 219) fundamentado em um sistema de decomposição do todo em partes, aonde é analisado uma
de uma série de desenhos gráficos de perspectivas exonométricas explodidas. série de sete temáticas, que dentre elas são: os Elementos Primários – pontos, linhas e retas -, as Formas,
as relações da Forma com o Espaço Arquitetônico, a Organização deste espaço, a Circulação através do
5.1 Definição do Universo de Metodologia das Análises mesmo, as Proporções e as Escalas e por último os Princípios ordenadores de toda a composição das
obras arquitetônicas (CHING, 1999 apud CORDOVIL, 2003). Cada uma destas temáticas encontra-se
Na Introdução (1.), foi apresentado de modo sucinto uma parte da metodologia, contudo, é subdivididas e agrupados dentro do que Ching chama de Sistemas Arquitetônicos, reconhecidos pelos
detalhado na sequência qual o raciocínio empregado por detrás das análises das residências propriamente elementos do Sistemas Espacial, Estrutural, de Delimitação, de Circulação e Contexto.
ditas. Para começar, primeiro, houve a importância de saber sobre quais são as características de uma Em face do processo de identificar quais os grupos/eixos temáticos das características do
construção que se destaca com as tendências do Brutalismo Paulista, das décadas de 1950/70. Portanto, Brutalismo Paulista e os elementos e sistemas analisados no modelo de Francis Ching, a última etapa
elas foram definidas em torno de três principais grupos e/ou eixos temáticos. O primeiro grupo, é os das que falta apenas, é definir e saber o que de fato será analisado nas duas casas paulistanas – a Butantã
1) Características volumétricas, sendo então, compostos pelos volumes idealizados em torno de um (1964/1966) e a Mariante (2001/2002). Portanto, é apresentado no próximo item, a composição dos
“único abrigo” em formato de “caixa”, que na verdade é apenas um monobloco de concreto, isolado e Sistemas baseados no modelo e, quais os elementos que serão analisados.
retirado do chão. O segundo grupo, é das 2.) Características espaciais, sendo elas, atribuidas aos espaços
arquitetônicos, criados quase sempre com algumas diferenças de alturas entre seus pavimentos, que 5.1.1 Sistema Compositivo
geralmente, está locado nos interiores deste “único abrigo” de concreto, ou seja, dentro dos limites da
característica volumétrica. Por fim, o último e terceiro grupo, é concentrado em torno das 3.) Fundamentado nos prismas do modelo de Ching, foram reunidos dentro das análises do Sistema
Características construtivas, sendo encarregadas pela formação destas outras duas características Compositivo uma das categorias abordadas durante os estudos elaborados pelo autor: a Forma. Com isto,
anteriores, associa-se ao tratamento de estruturas executadas em concreto armado, que neste caso é,
30
foram analisados dentro deste Sistema, dois de seus conteúdos secundários: os Sólidos Primários e a
Figura 10. Principais Transformações Dimensionais da Forma.
Transformação da Forma.

5.1.1.1 Sólidos Primários

Nas análises dos Sólidos Primários é observado qual a aparência ou formato inicial do sólido
que define as características próprias ao volume arquitetônico das residências paulistanas estudadas. Na
Figura 9 à baixo, ilustra-se os cinco princípios de formas sólidas abordadas nos estudos realizados por
Francis Ching: a Esfera, o Cilindro, o Cone, a Pirâmide e o Cubo.

Figura 9. Princípios de Sólidos Primários.

Fontes: CHING, 1998. Editado pelo Autor.

5.1.2 Sistema de Delimitação


Fontes: CHING, 1998. Editado pelo Autor.

Se no Sistema Compositivo foi analisado o passo-a-passo mostrando a composição e a


5.1.1.2 Transformação da Forma
manipulação da forma arquitetônica e dos desenhos da planta, no Sistema de Delimitação é considerado
apenas uma das categorias abordadas nos estudos elaborados por Francis: a Forma e Espaço. Foram,
Durante as análises da Transformação da Forma procurou ser visto se o sólido/volume das
portanto, analisados dentro deste Sistema, dois dos seus conteúdos secundários: os Elementos
residências paulistanas passou por algum processo de manipulação, variação ou alteração em sua
Horizontais Definindo Espaço + os Elementos Verticais Definindo Espaço, procurando reconhecer as
composição. Existindo maneiras para que ocorra, Ching apresenta três principais transformações
funções dos planos que são encarregados de proteger os espaços internos das condições climáticas
formais, são elas: as Dimensionais, Subtrativas e Aditivas. Na Figura 10, ilustra-se como acontece cada
impostas pelo tempo.
uma, respectivamente.
31
5.1.2.1 Elementos Horizontais Definindo Espaço Se durante as análises dos Elementos Horizontais é verificado quais as características dos planos
deitados e suas relações com a superfície do chão, nos Elementos Verticais procurou ser analisado os
Procurou, ao analisar os Elementos Horizontais das residências paulistanas, identificar como efeitos contrários, ou seja, quais são as configurações e as orientações dos planos levantados ou,
são configurados e orientados os elementos dos planos deitados existentes ou, fundamentalmente naturalmente considerados por Ching como: Elementos Retilíneos Verticais, Plano Vertical Único,
considerados por Ching como: Plano de Base, Plano de Base Elevado, Plano de Base Rebaixado e Plano Planos em “L”, Planos Paralelos, Plano em “U” e Quatro Planos, e como cada um deles foram utilizados
Superior, e como cada um deles cumprem suas relações e funções de encerramento dos espaços internos para delimitar e separar, verticalmente, os espaços internos um dos outros e dos externos. Na Figura 12,
e cobertos, ao ponto de criar limites físicos e visuais com os espaços externos. Como ilustrado na é indicado apenas dois dos Elementos que serão analisados.
Figura11 à baixo, é apresentado as características e o comportamento de três deles que serão analisados
de acordo com os seus usos e funções.
Figura 12. Elementos Verticais dos Planos Verticais Únicos e Planos Paralelos.

Figura 11. Elementos Horizontais do Plano de Base, Plano de Base Elevado e Plano Superior.

Fontes: CHING, 1998. Editado pelo Autor.

Fontes: CHING, 1998. Editado pelo Autor.

5.1.3 Sistema Espacial


5.1.2.2 Elementos Verticais Definindo Espaço

Se no Sistema de Delimitação foi analisado como são configurados os planos horizontais e


verticais dos elementos arquitetônicos da forma, no Sistema Espacial foram observados como os espaços,
32
propriamente ditos, são organizados dentro do Sistema de Delimitação. Foram reunidos, portanto, nas exonométricas explodidas, os desenhos de cada elemento do Sistema são representados em partes
análises espaciais, apenas uma categoria extraída do modelo de Francis: a Organização. Optou-se, separadas do todo que é a composição, promovendo assim, a compreensão do que se está sendo analisado
portanto, ser analisado dentro do Sistema Espacial o conteúdo das Relações Espaciais. em cada um dos Sistemas.

5.1.3.1 Relações Espaciais 5.2.1 RESIDÊNCIA BUTANTÃ (1964/1966) / PAULO MENDES DA ROCHA

Nas análises das Relações Espaciais é observado as maneiras fundamentais pelas quais os Idealizada em meados das décadas de 1960, mais especificamente entre os anos de 1964 e 1966,
espaços internos das residências paulistanas são ligados uns com relação aos outros e como estes são a Residência Butantã foi desenhada pelo arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, e construída num
organizados de maneira a criar uma padronização no formato de arranjo dos espaços. Na Figura 13, dos bairros localizados na região Oeste de São Paulo, conhecido como Butantã, próximos do campus da
ilustra-se dois dos modos existentes que serão analisados de acordo com os conceitos do modelo de Universidade de São Paulo – USP.
Francis Ching: Espaço dentro de um Espaço e Espaços Adjacentes.
5.2.1.1 Sistema Compositivo
Figura 13. Relações Espaciais de Espaços dentro de um Espaço e Espaços Adjacentes.

1.) As características compositivas da construção são consideradas uma variação da forma


cúbica, delimitada pela presença de seis lados iguais, confeccionando um volume único
prismático. De início, observou-se que o mesmo passou por algumas transformações
nas estruturas dimensionais de sua forma, isto é, o cubo, passou a ter características
retangulares, pois a manipulação de suas alturas e larguras foram comprimidas até
promover a existência dos aspectos reais e visuais do volume.
2.) Dando luz a este volume único, foi, após serem comprimidos suas alturas e larguras,
subtraídos três porções do mesmo, o que dá, ao mesmo tempo, o caráter de uma “caixa”
volumétrica construída em concreto armado, criada para proteger os ambientes internos
das condições externas.
3.) Além das partes subtraídas da composição volumétrica, observou-se também que
foram adicionadas duas formas, ocupando um pequeno espaço de ambos os lados dos
planos verticais da “caixa” de concreto. Estas formas, porém, são definidas pelo
formato de dois retângulos anexados juntos das empenas cegas laterais, criando assim,
Fontes: CHING, 1998. Editado pelo Autor.
5.2 Análise das Residências Paulistanas duas aberturas em sua estrutura.

Após ter reunido todas as informações sobre os Sistemas Arquitetônicos que serão estudados, é
apresentado à seguir, os resultados das análises alcançadas através da elaboração dos desenhos gráficos
das residências Butantã (1964/1966) e Mariante (2001/2002). Apresentados na forma de perspectivas
33

Figura 14. Axonométrica Explodida do Sistema Compositivo da Residência Butantã (1964/1966).


5.2.1.2 Sistema de Delimitação

1.) As características das superfícies horizontais do Plano de Base ou Plano de Solo, é


demarcado pelo preenchimento de uma área de espaço construída dentro dos
perímetros do lote. Desta maneira, observou-se a configuração de um traçado
contornado pelas linhas de uma figura plana desenhadas no solo, a partir dos quais são
determinados o formato volumétrico da edificação.
2.) Já, a superfície do Plano de Base Elevado encontra-se posicionada acima do Plano de
Solo, configurando uma plataforma que apoia as estruturas do volume. Isolado do chão,
ela é considerada um elemento de proteção e abrigo para os ambientes das áreas de
serviços localizados embaixo desta plataforma.
3.) Por último, percebe-se a existência de uma série de aberturas retangulares, localizadas
estrategicamente, nas superfícies horizontais do Plano Superior ou Plano de Cobertura,
de maneira a direcionar parte da iluminação promovida pelos raios solares, diretamente
aos ambientes dos dormitórios, banheiros e áreas sociais. Além delas, observou-se
ainda um pequeno recorte em sua composição, e ocupando toda a extremidade da sua
cobertura. Possuindo cerca de 1m de largura, este recorte é caracterizado, ao mesmo
tempo, como uma espécie de “faixa de iluminação” e proteção contra os raios solares.

Fonte: Desenhos do Próprio Autor, 2018.


34
5.2.1.3 Sistema Espacial
Figura 15. Axonométrica Explodida do Sistema de Delimitação da Residência Butantã (1964/1966).

1.) Os espaços internos são caracterizados pela existência de duas soluções presentes no
Sistema Espacial: primeiro, observou-se que uma delas acontece por meio da
acomodação de Espaços Adjacentes que estão próximos uns dos outros, e localizados
dentro dos limites internos da forma enquanto “caixa” volumétrica. Isto significa que,
os ambientes existentes – como os dormitórios, os banheiros, cozinha e as áreas de
serviços -, são separados física e, visualmente, pelo intervalo de uma série de Planos
Paralelos - ou paredes, verticalmente distribuídas, uma ao lado das outras e
posicionadas em uma área internamente centralizada no espaço.
2.) Depois, notou-se que estes Espaços Adjacentes estão coexistindo em uma configuração
que está alinhada centralmente na planta, e que os Planos Paralelos de cada um dos
ambientes nada mais encontram-se do que arranjados em um Espaço dentro de um
outro Espaço. Isto é, toda a porção ocupada pela massa dos espaços menores – que é
aonde estão localizadas as únicas paredes existentes -, são contidos e envolvidos dentro
de um volume de espaço como um todo – que é aonde encontra-se os ambientes socais,
íntimos e de serviços.
3.) Uma única massa de volume encontra-se construída em cima do Plano de Base do
pavimento térreo. Acomodando as dimensões dos ambientes das áreas de serviços, esta
massa volumétrica é preenchida pela divisão de algumas paredes que separam os
ambientes internos, isoladamente, das demais áreas edificadas.

Fonte: Desenhos do Próprio Autor, 2018.


35
5.2.2 RESIDÊNCIA MARIANTE (2001/2002) / MMBB ARQUITETOS
Figura 16. Axonométrica Explodida do Sistema Espacial da Residência Butantã (1964/1966).

Idealizada em inícios da década de 2000, mais especificamente entre os anos de 2001 e 2002, a
Residência Mariante é desenhada pelos arquitetos Fernando de Mello Franco, Marta Moreira e Milton
Braga - do escritório paulistano MMBB Arquitetos -, e construída numa das regiões metropolitanas
localizadas à Oeste de São Paulo, conhecida como Aldeia da Serra, próximos dos municípios de Santana
de Parnaíba e Barueri.

5.2.2.1 Sistema Compositivo

1.) Considerado uma variação da forma cúbica, as características compositivas da


construção são confeccionadas pela criação de um volume único prismático. Sofrendo
apenas transformações nas dimensões reais de suas alturas, o volume da construção
que, anteriormente possuía aspectos cúbicos, foi manipulado em face de suas áreas ao
ponto de possuir, após a redução de suas alturas, uma forte presença retangular.
2.) Depois do volume ser simplificado à um retângulo, foram subtraídos da composição
duas porções de massa do mesmo, resultando em uma “caixa” volumétrica construída
em concreto armado, e arquitetado para abrigar os ambientes internos das condições
climáticas.
3.) Além das partes subtraídas da composição volumétrica, observou-se também que
foram adicionadas duas novas formas. Uma delas, ocupando as superfícies laterais de
um dos planos verticais da “caixa” - aonde encontra-se a estrutura da lareira -, e a outra,
ocupando a superfície do Plano de Cobertura - aonde está presente o volume da caixa
d’água.

Fonte: Desenhos do Próprio Autor, 2018.


36
5.2.2.2 Sistema de Delimitação
Figura 17. Axonométrica Explodida do Sistema Compositivo da Residência Mariante (2001/2002).

1.) As características das superfícies horizontais do Plano de Base ou Plano de Solo, é


demarcado pela ocupação de uma área de espaço construída e repousada em relação a
declividade topográfica do lote. Esta base configura-se pelo contorno de linhas, ora em
sentidos retilíneos, ora em traços mais orgânicos.
2.) Localizado acima do Plano de Solo, encontra-se o Plano de Base Elevado,
configurando uma plataforma que está embasada pelas superfícies de dois Planos
Verticais Únicos. Isolada e levantada do chão, ela comporta duas funções: primeiro, de
proteger e abrigar os ambientes internos das áreas de serviços presentes embaixo de
sua estrutura, e segundo, de definir e delimitar o acesso dos moradores do térreo até o
primeiro pavimento, através de uma abertura retangular, recortada e localizada de
forma descentralizada com relação dos eixos estruturantes da planta baixa.
3.) Acima desta plataforma elevada, percebe-se a existência de uma Plano Superior ou
Plano de Cobertura. Nele, também se encontra apenas uma abertura, assim como
acontece no Plano de Base Elevado, só que neste caso, proporcionando o acesso direto
do primeiro pavimento até a cobertura habitada, e ao mesmo tempo levando parte da
iluminação promovida pelos raios solares, diretamente aos ambientes dos banheiros e
cozinha.

Fonte: Desenhos do Próprio Autor, 2018.


37

Figura 18. Axonométrica Explodida do Sistema de Delimitação da Residência Mariante (2001/2002).


5.2.2.4 Sistema Espacial

1.) A organização dos ambientes arquitetônicos é resultante da composição arranjada de


Espaços Adjacentes, separados física e, visualmente, pela disposição de uma série de
Planos Paralelos – ou paredes, alinhadas e posicionadas uma ao lado das outras em um
intervalo de corredores formados por duas massas de espaço que estão localizadas
dentro dos limites internos da “caixa” volumétrica. Na primeira, encontrada próximo
de uma das suas laterais, estão as áreas dos dormitórios. Já, na segunda, revela-se as
áreas dos banheiros e da cozinha que está desvinculada do corpo das paredes dos
banheiros.
2.) Estruturando toda a configuração das paredes verticais paralelas, observou-se que elas
nada mais encontram-se que coexistindo em um Espaço situado dento de outro Espaço.
Isto significa que, o volume formado pelo agrupamento de todas as paredes, criam dois
volumes espaciais posicionados um à frente do outro, e localizados dentro da
volumetria do espaço como um todo – que é aonde encontra-se os demais ambientes
das salas sociais, de televisão e de jantar, como também de um pequeno escritório.
3.) Repousado acima do Plano de Solo do pavimento térreo, um único volume espacial de
dimensões retangulares acomoda os ambientes das áreas internas de serviços. Esta
massa de volume é preenchida pela divisão de algumas paredes posicionadas para
separar cada pequeno ambiente, isolados da demais áreas construídas.

Fonte: Desenhos do Próprio Autor, 2018.


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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 19. Axonométrica Explodida do Sistema Espacial da Residência Mariante (2001/2002).

Este trabalho visou compreender a produção e o pensamento contemporâneo da geração de


arquitetos radicados em São Paulo, e formados na FAUUSP entre 1986 e 1996, através das abordagens
de suas casas construídas no prisma dos últimos vinte e nove anos de arquitetura no Brasil. O objetivo,
portanto, é simples: partindo dos estudos de análise da Residência Mariante (2001/2002), de Fernando
de Mello Franco, Marta Moreira e Milton Braga – MMBB -, pretendeu-se identificar a existência de
características semelhantes com relação as obras do Brutalismo Paulista, e em particular da Residência
Butantã (1964/1966), de Paulo Mendes da Rocha. Foram analisados, com o apoio do modelo de Francis
Ching, o Sistema Compositivo, o Sistema de Delimitação e o Sistema Espacial das casas paulistanas
estudadas. Elaboradas por intermédio de desenhos gráficos na forma de perspectivas exonométricas
explodidas, procurou-se decompor as partes do todo composto, para então identificar, isoladamente, as
características dos elementos de cada um dos Sistemas e assim atingir os objetivos.
Lembrando que, tudo o que foi alcançado até agora está pautado na busca de apresentar
hipóteses para a problemática, portanto, viu-se que, parte das arquiteturas contemporâneas construídas
entre as décadas de 1990 e 2000, no Brasil, apresentou influências extraídas das obras modernas e, que
muitos dos arquitetos hoje são responsáveis por aplicá-las em seus modos de projetar, a pergunta de
pesquisa objetiva saber quais são as características em comum entre as casas Butantã e Mariante, que
convergem para a construção de uma linguagem própria dos projetos construídos entre os anos de 1990
e hoje? O bloco único levantado do solo a partir de pilotis, a configuração do volume em “caixa”
prismática abrigando os ambientes internos do clima, o tratamento de aberturas e empenas laterais
delimitando as formas da “caixa”, o emprego de estruturas executadas em concreto armado, as
existências de núcleos centrais organizadores dos ambientes, são os exemplos de algumas características
mais compreensíveis entre tantas outras que vão além dos volumes prismáticos.
Por mais que as casas Butantã (1964/1966) e Mariante (2001/2002) possam parecer, em síntese,
de naturezas similarmente iguais, têm-se um, porém nisso tudo. Por exemplo, pelo fato da Mariante
(2001/2002) ter sido construída quase três décadas e meia depois, é notado que o emprego de novas
tecnologias construtivas mais avançadas no tratamento das empenas laterais, no sistema construtivo das
edificações, na exploração dos materiais de acabamentos internos, são algumas das situações existentes,
fazendo com que os arquitetos busquem hoje, um sentido tectônico direcionado para a criação de uma
linguagem contemporânea fortemente presentes no Brasil como para a cultura arquitetônica dos edifícios
Fonte: Desenhos do Próprio Autor, 2018. paulistas.
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