Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Editora Unoesc
Coordenação
Tiago de Matia
ISSN: 2595-8003
Tema: Formação de professores: desafios
contemporâneos.
CDD 370
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca da Unoesc de Joaçaba
Reitor
Aristides Cimadon
Vice-reitores de Campi
Campus de Chapecó
Carlos Eduardo Carvalho
Campus de São Miguel do Oeste
Vitor Carlos D’Agostini
Campus de Videira
Ildo Fabris
Campus de Xanxerê
Genesio Téo
Coordenação geral
Maria Teresa Ceron Trevisol
Ana Cristina Coll Delgado
Fernanda dos Santos Paulo
Dilva Bertoldi Benvenutti
Comitê científico
Marilda Pasqual Schneider
Elton Luiz Nardi
Roque Strieder
Escrever exige organização das ideias, é uma prática que revela nossas percepções sobre um
tema e também releva aspectos de nosso estilo de escrita. Quando escrevemos expomos nossas
identidades e, talvez por isso, a revisamos à exaustão e a julgamos imperfeita e sempre incompleta,
afinal, diz respeito também a como nossos textos nos representam.
Na escrita de texto de natureza acadêmico/científico, o desafio posto é relacionar a
criatividade, com conteúdo e formas, na proporção que atenda aos propósitos do gênero escrito.
Para quem escrevemos, sobre quem e sobre o quê, são aspectos básicos norteadores da escrita de
qualquer texto (BALADELI, 2020).
Vale destacar que a escrita reflete um processo de sistematização de ideias e repertórios de
outras escritas e leituras do mundo. Dessa forma, nossos gostos de leitura subsidiam nossas escritas
e assim, aos poucos, aproveitando as contribuições dos conceitos e dos estilos com os quais
interagimos ao longo de nossa trajetória, desenvolvendo nosso estilo de escrita.
Além de representar uma prática que nos permite registrar e recuperar conteúdos e
subjetividades dos contextos em que foi produzido, a escrita favorece o estudo de conteúdos novos,
a partir dos quais tomamos consciência sobre nossas limitações no aspecto linguístico e discursivo.
De posse dessas compreensões ou dessa consciência, temos subsídios para aprimorarmos nossa
relação com a escrita por meio de técnicas e estratégias.
O objetivo deste texto é apresentar um relato de experiência discente sobre o processo de
escrita de texto científico. Para tanto, fundamentamos nossas reflexões em autores que discutem
as especificidades do discurso acadêmico/científico (FIAD, 2001; SOARES, 2011), bem como os
impactos da escrita na formação inicial de professores, sobretudo no que tange na reconstrução
de suas identidades como sujeitos autores (IVANIČ, 1998).
Antes de partirmos para as técnicas e estratégias relevantes o relato de nossa experiência,
Baladeli (2020) discute a dificuldade da escrita acadêmica/científica do discente em formação
inicial, decorrente, em sua percepção da pouca familiaridade com o discurso científico e falta de
oportunidade para a escrita sistemática. Tal falta de oportunidade/incentivo anterior ao âmbito
acadêmico é perceptível por parte dos docentes, “ouvem-se muitas queixas dos professores
universitários dizendo que seus alunos pouco escrevem e que existem sérias dificuldades em produzir
textos acadêmicos.” (VITÓRIA; CHRISTOFOLI, 2013, p. 42).
Com isso, a produção de textos acadêmicos/científicos se torna uma tarefa difícil, razão
pela qual se faz necessário o uso de técnicas e estratégias que auxiliem o discente na escrita
durante sua formação docente, mas antes é importante ressaltar que, “[...] escrever não significa
completar linhas ou laudas em um trabalho para uma disciplina.” (BALADELI, 2020, p. 402). Ademais,
a autora ratifica que escrever é um processo, que demanda técnicas de planejamento da escrita,
organização, esboço, revisão e adição de ideias. Ou seja, ao assumirmos a escrita como processo,
que exige idas e vindas, inserções, exclusões e ajustes, estamos assumindo que dialeticamente, o
sujeito que escreve está em constante reconstrução de si, de sua identidade como escritor.
Ivanič (1998) discute a relação entre escrita e identidade, ou seja, para a pesquisadora o ato
de escrever representa um ato de identidade. Logo, a falta de oportunidade para a produção
textual sistemática de textos acadêmicos, pode impactar inclusive na percepção dos professores
em formação inicial sobre seu desempenho como autor/escritor. Ao assumirmos a escrita como
processo e representativo dos letramentos acadêmicos, destacamos o papel das técnicas de
feedbacks nos textos produzidos. Isso porque, por meio do feedback, o sujeito
autor consegue identificar seu nível de conhecimento sobre textualidade, sua competência
discursiva e, com isso, impactando na melhora dos resultados acadêmicos (BALADELI, 2020;
PERREIRA; FLORES, 2013). Os feedbacks têm sua função de fato, quando o aluno de posse do texto
com as devidas observações feitas pelo docente, faz as correções necessárias, o que na maioria
das vezes não ocorre.
Na prática, o aluno realiza a tarefa exigida pelo professor; este corrige e devolve ao
aluno; o aluno, na maioria das vezes, sequer lê as anotações feitas pelo professor. O
trabalho de correção (reconhecidamente extenuante no cotidiano do professor) se
esvazia de sentido, pois é realizado de forma solitária e individual, não agregando
conhecimentos sobre a escrita do aluno, uma vez que o professor corrige para si
mesmo. (VITÓRIA; CHRISTOFOLI, 2013, p.48).
da concepção de escrita como processo, que demanda tempo e pesquisa de referencial teórico,
os autores podem confrontar no percurso da prática da escrita, um sentimento de pressão pela
falta de tempo, tendo em vista a falsa concepção de um material produzido como sendo o melhor,
gerando, portanto, uma sensação de frustração, quando o resultado não se apresenta satisfatório
(SOARES, 2011).
A evidência assumida pela autora é de que, “não há receita mágica tanto para realizar a
pesquisa como para escrever sobre os seus resultados.” (SOARES, 2011, p. 87). Ou seja, a escrita,
independentemente de qualquer gênero textual abordado, mas principalmente do texto cientifico,
não se trata de uma formulação rápida, passível apenas de acertos linguísticos.
Como processo, a escrita em sua totalidade, depende de fatores técnicos para sua
formulação. Para que o sujeito autor tenha posse desses conhecimentos, fazendo com que a escrita
flua da melhor forma possível e, que atenda aos anseios de quem à escreve, os fatores técnicos
abordados pela a autora Soares (2011), são de suma importância.
O texto científico deve ter um estilo marcado pela objetividade, precisão, clareza,
concisão, simplicidade e formalidade e utilizar linguagem que respeite o padrão
culto da escrita, usando terminologia específica da área do saber e recorrência ao
sentido denotativo das palavras. Outra característica marcante do texto científico
é a sua intensa relação com a literatura científica já publicada. Esse tipo de texto
é baseado em questões científicas, ou seja, o que é escrito no texto científico deve
ter referências científicas comprovando sua veracidade (referências bibliográficas).
(SOARES, 2011, p. 84).
O feedback para teve em meu percurso formativo papel decisivo, pois fez e faz com que
tenha subsídios teóricos para praticar a escrita e desenvolver maior conscientização sobre a prática
de pesquisa. Ao praticar de forma sistemática a escrita de texto de natureza científica, ao aceitar
o desafio de tirar o artigo da gaveta, na condição de professor em formação inicial, assumi a
condição não só de sujeito leitor, mas também comecei a vislumbrar novas produções escritas
como forma de pertencimento ao cenário acadêmico.
Para além da especificidade e técnica da produção textual, o presente relato de experiência
discente sobre o processo de escrita de um artigo científico destaca o papel da mediação docente
no percurso construído pelos discentes. Conforme já mencionado, escrever um artigo, inicialmente
pareceu intangível, dada minha pouca familiaridade com os letramentos acadêmicos. Todavia,
ao longo do percurso de leituras, fichamentos, feedbacks, orientações, escritas e revisões, foi
possível compreender que efetivar a escrita como processo demanda diálogo constante com um
interlocutor, no caso a docente. Nas palavras de Motta-Roth (1998, p. 104), “[…] é muito difícil, se
não impossível, escrever no vácuo”, por isso a necessidade de socializamos nossas impressões, ideias
e argumentos, temos condições de ampliar nossas reflexões, favorecendo nas revisões textuais
seguintes.
Dessa forma, na condição de sujeito autor, professor e pesquisador em formação inicial
de Língua Portuguesa, considero que o percurso de escrita contribuiu para que compreendesse
a concepção de escrita como processo como um ato de identidade, que pode impactar
positivamente no desenvolvimento profissional dos acadêmicos, o qual também depende da
atuação e mediação do professor.
Por fim, ter assumido o compromisso de produzir um artigo científico, ainda que exaustivo,
mostrou-se uma experiência gratificante, que ampliou minhas percepções sobre minha formação
inicial. A partir do incentivo e do acompanhamento ao longo do processo de escrita, das idas
e vindas das versões do artigo, compreendi, como professor em formação inicial o papel da
mediação docente na construção de conhecimento, que nesse relato de experiência foi motivado
pelo comentário “artigo não foi feito para ficar na gaveta”.
REFERÊNCIAS
FIAD, Raquel S. A escrita na universidade. Revista da Abralin, v. 10, n. 4, p. 357-369, 2011. Disponível
em: https://revista.abralin.org/index.php/abralin/article/view/1116. Acesso em: 24 maio 2021.
IVANIČ, Roz. Writing and identity: the discoursal construction of identity in academic writing. Ams-
terdam/Philadelphia: John Benjamins, 1998.
PEREIRA, Diana R.; FLORES, Maria A. Avaliação e feedback no ensino superior: um estudo na
Universidade do Minho. Revista Iberoamericana de Educación Superior, v. 4, n. 10, p. 40-54, 2013.
Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2007287213719231#!>. Acesso
em: 11 maio 2021.
SOARES, Maria C. S. Reflexões e orientações sobre a produção de textos científicos. Revista Univap,
São José dos Campos, SP, v. 17, n. 30, p. 81-99, dez.2011. Disponível em: https://revista.univap.br/
index.php/revistaunivap/article/view/25. Acesso em: 16 maio 2021.
VITÓRIA, Maria I. C.; CHRISTOFOLI, Maria C. P. A escrita no Ensino Superior. Revista Educação, Santa
Maria, v. 38, n. 1, p. 41-54, jan./abr. 2013. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/reveducacao/
article/view/5865. Acesso em: 16 maio 2021.