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GOVERNO DO ESTADO
SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA
POLÍCIA CIVIL
CONCURSO PÚBLICO
PROVA DISCURSIVA
Você recebeu este caderno contendo um tema de peça prática a ser desenvolvido e 3
questões discursivas.
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QUESTÃO DISCURSIVA 1
(DIREITO PROCESSUAL PENAL)
Nos últimos anos, o tema do foro por prerrogativa de função passou por uma interpretação
restritiva por parte do Supremo Tribunal Federal, interpretação essa que foi acompanhada pelo
Superior Tribunal de Justiça. Não obstante, todos os dias, novas decisões trazem novos
contornos acerca do alcance do tema.
Considerando a temática, indique a atual jurisprudência dos Tribunais superiores sobre crimes
ocorridos em mandatos distintos, em cenário de reeleição, eleição sucessiva para cargo distinto
e interregno de mandato Indique um exemplo para cada um desses cenários. Ao responder,
analise a situação de Flávio Bolsonaro, colocando o entendimento do Supremo Tribunal Federal.
[valor: 10,00 pontos]
A questão foi amplamente debatida na Pet 3825 QO,1 julgada em 2007, pelo STF. De um lado, o Ministro
Sepúlveda Pertence se posicionou pela possibilidade de a Autoridade Policial investigar pessoas com foro
1
. Pet 3825 QO, Relator(a): Min. Sepúlveda Pertence, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes,
Tribunal Pleno, julgado em 10/10/2007.
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por prerrogativa de função, e, por outro lado, o Ministro Gilmar Mendes, que inclusive liderou seus pares,
entendeu que o Delegado de Polícia não possui atribuição para investigar pessoas com foro por
prerrogativa de função.
O Ministro Sepúlveda Pertence2 motivou sua decisão em três fundamentos: (a) a instauração de
inquérito policial para a apuração de fato em que se verifique a possibilidade de envolvimento de titular
de foro por prerro-gativa de função não depende de iniciativa do Ministério Público vinculado ao
respectivo Tribunal, nem o mero indiciamento formal reclama prévia decisão de um Desembargador
desse Tribunal; (b) tanto a abertura das investigações de qualquer fato delituoso, quanto, no curso
delas, o indiciamento formal, são atos privativos do Delegado de Polícia que preside o inquérito policial;
e (c) a prerrogativa de foro do suposto autor do fato delituoso é critério exclusivo para determinar a
competência jurisdicional originária do Tribunal respectivo, quando do oferecimento da denúncia ou,
eventualmente, antes dela, se se fizer necessária diligência sujeita à prévia autorização judicial, não
abrangendo o procedimento investigatório prévio.
Por outro lado, de acordo com o Ministro Gilmar Mendes, 3 se a Constituição Federal estabelece, por
exemplo, que os agentes políticos respondem, por crime comum, perante o STF (CF, art. 102, I, b), não
há razão constitucional plausível para que as atividades diretamente relacionadas à supervisão judicial
(abertura de procedimento investigatório) sejam retiradas do controle judicial do STF, devendo,
portanto, a iniciativa do procedimento investigatório ser confiada ao MPF com a supervisão do
Ministro-Relator do STF.
O Ministro Sepúlveda Pertence foi voto vencido e fixou-se o entendimento de que não é qualquer
suposto autor de crime que pode ser investigado em um inquérito policial. Apesar de a Constituição
Federal indicar somente o órgão competente para o julgamento das autoridades com foro por
prerrogativa de função e silenciar acerca do procedimento investigatório preparativo para a ação penal,
o Pretório Excelso entende que o foro por prerrogativa de função se estende também à etapa da
investigação criminal.
Em síntese, no que diz respeito às autoridades com foro no STF, o Tribunal 4 entende que a abertura do
procedimento investigativo, as medidas cautelares e o indiciamento pela Autoridade Policial estão
condicionados à autorização do Ministro relator da causa no STF. Nessas hipóteses, a abertura do
procedimento ou ato de indiciamento pela Autoridade Policial apresenta-se como ato complexo por
depender de duas vontades para a sua efetivação.
Segue um exemplo para ilustrar a questão. Trata-se da quebra do sigilo bancário feita pelo STF em 2018
em face do Presidente da República, a fim de instruir inquérito policial em andamento relativo ao “Decreto
dos Portos”, onde supostamente houve favorecimento a determinada empresa. Como um Presidente da
República possui foro por prerrogativa de função no STF, cabe a esse Tribunal decidir sobre as medidas
cautelares relativas às investigações criminais em curso.
E mais, nos casos em que o investigado com foro por prerrogativa de função é identificado no curso da
investigação criminal, ainda assim é necessária a remessa ao Tribunal competente. Nas palavras do STF 5,
“a prerrogativa de foro enseja a imediata remessa do inquérito à corte competente e não seu
trancamento automático por nulidade processual”. Contudo, a caracterização do foro reclama que a
participação da autoridade deva estar fundamentada em elementos de informação aptos a provocar a
convicção de que pode realmente ter havido algum envolvimento dessa autoridade com prerrogativa. Em
2
. Pet 3825 QO, Relator(a): Min. Sepúlveda Pertence, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes,
Tribunal Pleno, julgado em 10/10/2007.
3
. Pet 3825 QO, Relator(a): Min. Sepúlveda Pertence, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes,
Tribunal Pleno, julgado em 10/10/2007.
4
. Inq 2411 QO, Relator(a): Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 10/10/2007.
5
RHC 122338 AgR, Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 22/03/2019. HC 153417 ED-segundos,
Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 12/03/2019.
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outras palavras, a caracterização do foro não pode decorrer de meras alusões genéricas mencionando
o nome da autoridade, sendo imprescindíveis, para tanto, elementos de informação aptos a provocar
a convicção de que pode realmente ter havido algum envolvimento da autoridade com prerrogativa.6
No mesmo sentido é a posição do STJ:
A mera presença de autoridade com foro por prerrogativa de função em conversas captadas por meio
de procedimento de interceptação telefônica não é suficiente para determinar a imediata remessa
dos autos ao foro competente em razão da pessoa. Este procedimento deve ser tomado após exame
acerca da idoneidade e da suficiência dos dados colhidos para se firmar o convencimento acerca do
possível envolvimento do detentor de prerrogativa de foro com a prática dos fatos apurados.
Precedentes.7
Por outro lado, em relação aos foros por prerrogativa dos demais Tribunais, as duas turmas do STJ seguem
linha distinta da sistemática presente no STF. O STJ faz uma interpretação restritiva do entendimento
acima apresentado, no sentido de que o posicionamento do STF sobre o tema se aplica somente ao
respectivo Tribunal, uma vez que a extensão do foro por prerrogativa de função à etapa investigativa
decorre exclusivamente de determinação presente no Regimento Interno do STF. Nessa linha, para o STJ,
o Delegado de Polícia pode investigar e indiciar pessoas com foro por prerrogativa de função sem
ingerência do respectivo Tribunal; a única ressalva seria eventual medida cautelar que deve ser
encaminhada ao Tribunal de foro para análise da representação. Segue o entendimento da 5ª Turma do
STJ: 8
1. No que concerne às investigações relativas a pessoas com foro por prerrogativa de função, tem-
se que, embora possuam a prerrogativa de serem processados perante o tribunal, a lei não
excepciona a forma como se procederá à investigação, devendo ser aplicada, assim, a regra geral
trazida no art. 5º, inciso II, do Código de Processo Penal, a qual não requer prévia autorização do
Judiciário. "A prerrogativa de foro do autor do fato delituoso é critério atinente, de modo exclusivo,
à determinação da competência jurisdicional originária do tribunal respectivo, quando do
oferecimento da denúncia ou, eventualmente, antes dela, se se fizer necessária diligência sujeita à
prévia autorização judicial" (Pet 3825 QO, Relator p/ acórdão: Min. Gilmar Mendes, Pleno, julgado
em 10/10/2007). Precedentes do STF e do STJ.
2. Não há razão jurídica para condicionar a investigação de autoridade com foro por prerrogativa
de função a prévia autorização judicial, sendo certo que a garantia constitucional diz respeito tão
somente ao processamento e ao julgamento de eventual ação penal movida em desfavor de
ocupante de cargo cujo status constitucional assegure privilégio de foro, de modo a evitar
persecução criminal infundada. Por isso, não há que se falar em nulidade quando o procedimento de
investigação instaurado pelo Ministério Público prossegue sem a chancela do Poder Judiciário, pois
trata-se de procedimento pré-processual, não acobertado pela garantia de foro especial.
6
HC 153417 ED-segundos, Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 12/03/2019.
7 HC 482.175/GO, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 19/03/2019.
8
RHC 79.910/MA, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
26/03/2019. No mesmo sentido, julgado analisando de forma mais específica o ato de indiciamento: AgRg
no HC 404.228/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 01/03/2018. No mesmo
sentido, a 6ª Turma do STJ: AgRg no AREsp 1541633/PR, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO,
SEXTA TURMA, julgado em 06/10/2020.
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JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 9/10/2018, DJe 17/10/2018. No mesmo diapasão: RHC n.
93.723/PE, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 7/8/2018, DJe 15/8/2018 e RHC
n. 73.829/CE, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
23/05/2017, DJe 31/05/2017.
4. A defesa tem razão quando sustenta que a quebra de sigilo bancário, além de outras medidas
acobertadas pela reserva de jurisdição, devem partir do Juízo competente para o julgamento da
ação principal. (...)
Por outro lado, para a 2ª turma do STF10, "é indispensável a existência de prévia autorização
judicial para a instauração de inquérito ou outro procedimento investigatório em face de
autoridade com foro por prerrogativa de função em TJ."
O tema teve novo avanço em meados de 2022. Por unanimidade, em 16/05/2022, o STF11
validou dispositivo do regimento interno do Tribunal de Justiça do Amapá que incluiu, entre as
atribuições do desembargador-relator, a prerrogativa de autorizar a instauração de inquérito, a
pedido do procurador-geral de Justiça, contra autoridades com prerrogativa de foro no tribunal.
9
HC 177992 AgR, Relator(a): ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 23/08/2021.
10
HC 201965/RJ, relator Min. Gilmar Mendes, julgamento em 30.11.2021.
11
ADI 7083, Rel. Min. Cármen Lúcia, 13.05.2022.
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alcançava todos os crimes de que são acusados os agentes públicos, inclusive os praticados antes da
investidura no cargo e os que não guardam qualquer relação com o seu exercício.
Contudo, atualmente, o foro não abrange todos os crimes cometidos por essas autoridades, uma vez que
o STF limitou a sua incidência para os casos com a pertinência temática devidamente comprovada. À luz
do que decidido na AP 937 QO,12 a partir de 2018, a comprovação da pertinência temática envolve o
preenchimento de dois requisitos cumulativos:
Requisito temporal: o crime deve ser praticado durante o exercício do cargo, sendo tal requisito
de ordem objetiva (análise de marcos temporais delineados);
Requisito material ou substancial: o crime deve ter sido praticado em razão do cargo, sendo tal
requisito de ordem subjetiva (faz-se necessário analisar à luz das provas o preenchimento do
requisito).
Preenchidos os dois requisitos, estará caracterizada a incidência do foro por prerrogativa de função.
Atenção para a distinção jurisprudencial:
Contudo, como ficam os crimes em que os dois requisitos não estão preenchidos?
Os crimes sem preenchimentos de tais requisitos não ficarão sob a supervisão do respectivo Tribunal, de
modo que a abertura do procedimento investigativo e o indiciamento pela Autoridade Policial são feitos
diretamente pelo Delegado de Polícia sem ingerência do Tribunal, do mesmo modo que as medidas
cautelares serão representadas diretamente ao juiz de primeira instância.
12
AP 937 QO, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 03/05/2018.
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Nessa linha, a fim de evitar uma ampla alteração da competência no cenário narrado, o Tribunal
fixou o seguinte entendimento:
13
AgRg no HC 404.228/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 01/03/2018.
14
AP 937 QO, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 03/05/2018.
15
AP 937 QO, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 03/05/2018.
16
Inq 4420/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 21.8.2018.
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Ainda sobre o tema, considera-se a aposentadoria do cargo uma hipótese em que se deixar de
ocupar o cargo, de modo a cessar, também, o foro por prerrogativa de função (salvo se a
instrução da ação penal já estiver finalizada). Nessa linha é a jurisprudência do STJ para todos os
cargos, inclusive para magistrados e membros do Ministério Público:
Quanto aos dois magistrados que passaram à inatividade e que, como tal, perderam a
prerrogativa de processo perante o STJ, deve ser privilegiado o juízo natural, afastando-se o
foro por prerrogativa de função, que é excepcional, de modo que o requerimento de declínio
de competência pelos fatos atinentes aos julgadores aposentados deve ser integralmente
acolhido. 17
4. Reeleição e mandatos
Os cargos eletivos estão sujeitos a cenários de reeleição ou mesmo eleição para outro cargo,
além da possibilidade de existir interregno entre os mandatos. Por isso, questiona-se: terminado
o mandato devidamente seguido de nova eleição (ou reeleição), ocorrerá a prorrogação
(manutenção) do foro por prerrogativa?
O tema deve ser analisado à luz de três cenários distintos: reeleição, eleição sucessiva para cargo
distinto e interregno de mantado.
O cenário da “reeleição” está caracterizado quando o cidadão era ocupante de um mandato e
consegue se reeleger para o mesmo cargo de forma sequencial. Nesse ponto, de acordo com o
STF, mostra-se desimportante a circunstância de os delitos haverem sido praticados em
mandato anterior, bastando que a atual diplomação decorra de sucessivas e ininterruptas
reeleições. Por isso, o foro por prerrogativa terá a sua competência mantida.18 Por exemplo,
um Deputado Federal está em seu terceiro mandato, todos decorrente de reeleição (sucessivas
e ininterruptas reeleições), e é investigado por um crime praticado no primeiro mandato
durante o exercício do cargo e em razão dele. Nesse exemplo, o foro por prerrogativa no STF
será mantido e a investigação continuará neste Tribunal.
O cenário da “eleição sucessiva para cargo distinto” está caracterizado quando o cidadão era
ocupante de um mandato e consegue ganhar nova eleição sequencial (sem interregno de
mandato), mas para um cargo distinto daquele que ocupava. Nesse cenário, precisamos
distinguir duas situações: a existência ou não de mandatos cruzados.
O mandato cruzado tem incidência quando, por exemplo, um deputado federal é eleito senador
ou vice-versa. Em tal situação, o STF19 decidiu que a existência de mandatos cruzados
sequenciais dentro do Poder Legislativo na esfera federal gera a manutenção do foro por
prerrogativa neste Tribunal (STF).
Ainda sobre esse ponto, se for hipótese de existência de mandatos cruzados sequenciais,
iniciado no Poder Legislativo estadual e finalizado no Poder Legislativo federal, tal cenário gera
a manutenção do foro por prerrogativa? O case guarda relação com Flávio Bolsonaro quando
ele ainda era deputado estadual. No caso, ele era investigado por fatos relacionados à função
de deputado estadual no TJ/RJ e foi eleito Senador de forma sequencial. Esperava-se, à época,
que o caso fosse enviado para o juiz de 1º instância; contudo, a 2ª Turma do STF20 concluiu pela
manutenção do foro no TJ do procedimento que tem por objeto a investigação do mencionado
crime.
17
AgRg na Pet 12.178/DF, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, CORTE ESPECIAL, julgado em
08/04/2019, DJe 11/04/2019.
18 Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019.
19 PET 9189, rel. para acórdão Edson fachin, julgado em 14/05/2021.
20 Rcl 41910 MC, rel. Ministro Gilmar Mendes, julgado em30/11/2021.
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Nas demais situações, em que não existam os mandados cruzados citados, a tendência, de
acordo com a doutrina, é que o foro por prerrogativa não seja mantido.
Não se pode esquecer que o STF fixou a premissa de que, uma vez publicado o despacho de
intimação para apresentação das alegações finais, o foro por prerrogativa não terá mais
qualquer alteração. Nessa linha, não importa que o detentor do foro por prerrogativa seja eleito
após um tempo para novo mandato (interregno de mandato), ou mesmo que seja eleito de
forma sequencial para cargo distinto (eleição para novo cargo), ou ainda que não seja eleito (e
fique sem cargo). Em qualquer dessas três hipóteses aqui mencionadas, o Tribunal com foro por
prerrogativa continuará competente para o respectivo julgamento se houver a fixação definitiva
da competência.
SUGESTÃO DE RESPOSTA:
Os cargos eletivos estão sujeitos a cenários de reeleição ou mesmo eleição sucessiva para outro
cargo, além da possibilidade de existir interregno entre os mandatos. A resposta da questão,
portanto, passa pela análise destes
O cenário da “reeleição” está caracterizado quando o cidadão era ocupante de um mandato e
consegue se reeleger para o mesmo cargo de forma sequencial. Nesse ponto, de acordo com o
STF, mostra-se desimportante a circunstância de os delitos haverem sido praticados em
mandato anterior, bastando que a atual diplomação decorra de sucessivas e ininterruptas
reeleições. Por isso, o foro por prerrogativa terá a sua competência mantida. Por exemplo, um
Deputado Federal está em seu terceiro mandato, todos decorrente de reeleição (sucessivas e
ininterruptas reeleições), e é investigado por um crime praticado no primeiro mandato durante
o exercício do cargo e em razão dele. Nesse exemplo, o foro por prerrogativa no STF será
mantido e a investigação continuará neste Tribunal.
O cenário da “eleição sucessiva para cargo distinto” está caracterizado quando o cidadão era
ocupante de um mandato e consegue ganhar nova eleição sequencial (sem interregno de
mandato), mas para um cargo distinto daquele que ocupava. Nesse cenário, faz-se necessário
distinguir duas situações: a existência ou não de mandatos cruzados.
O mandato cruzado tem incidência quando, por exemplo, um deputado federal é eleito senador
ou vice-versa. Em tal situação, o STF decidiu que a existência de mandatos cruzados sequenciais
21
RE 1185838/SP, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 14.5.2019.
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dentro do Poder Legislativo na esfera federal gera a manutenção do foro por prerrogativa no
STF
Ainda sobre esse ponto, se for hipótese de existência de mandatos cruzados sequenciais,
iniciado no Poder Legislativo estadual e finalizado no Poder Legislativo federal, tal cenário gera
a manutenção do foro por prerrogativa. É aqui que se insere o julgado envolvendo o Senador
Flávio Bolsonaro quando ele ainda era deputado estadual, uma vez que o STF concluiu pela
manutenção do foro no TJ do procedimento que tem por objeto a investigação de crime ocorrido
quando ele era deputado estadual.
Por fim, o cenário de “interregno de mandato” está caracterizado quando o cidadão era
ocupante de um mandato, mas não consegue se reeleger; contudo, algum tempo depois,
consegue um novo mandato. Não existe uma sequência entre os mandatos, de modo que
eventual crime cometido no primeiro mandato não terá mantido o foro por prerrogativa de
função em razão do novo mandato.
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QUESTÃO DISCURSIVA 2
(DIREITO CONSTITUCIONAL)
Sobre o tema, conceitue o efeito vinculante, bem como explique em que consiste a teoria da
transcendência dos motivos determinante à luz do entendimento atual do Supremo Tribunal
Federal. Conceitue, ainda, a eficácia repristinatória tácita, explicando como se proceder quando
ela se apresentar indesejada. [valor: 10,00 pontos]
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norte-americano.
25. Nesse sentido, Rcl-AgR 6021, julgada em 1/7/2008, Rel. Ministro Joaquim Barboza; Rcl-AgR 6043, julgada em
25/6/2008, Rel. Ministro Ricardo Lewandowski; e Rcl 3014, julgada em 10/3/2010, Rel. Ministro Ayres Brito.
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reclamação26 e (c) se tratasse da existência de fato atual – e não futuro – e concreto que desrespeite
a decisão do Tribunal27.
Por exemplo, em determinado Estado existia uma lei com conteúdo similar a uma lei de
outro Estado que foi declarada inconstitucional pelo STF. Nesse caso, “o efeito vinculante tem o
condão de impedir a aplicação de uma lei do Estado B ou C, se uma lei de conteúdo semelhante
do Estado A, for declarada inconstitucional”28.
Eis alguns casos em que o STF aceitou a teoria da transcendência dos motivos determinantes
com base em julgado anterior para fins de vinculação de decisão posterior:
• “A decisão paradigma, proferida na ADI 3.460/DF, declarou a constitucionalidade de
dispositivo que regia o concurso do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, no
que tange à exigência, do Bacharel em Direito, de três anos de exercício de atividade jurídica.
A norma afirmada inconstitucional pelas decisões reclamadas, que regeu o concurso do
Ministério Público do Estado do Pará, possui idêntico conteúdo ao daquela declarada
constitucional por esta Corte na ADI 3.460/DF, razão pela qual a presente Reclamação deve
ser conhecida. As decisões reclamadas, ao questionarem a constitucionalidade da exigência
de três anos de bacharelado dos candidatos ao cargo de promotor, reservando vaga para
candidatos que não haviam obtido o grau de bacharel no triênio anterior à nomeação,
efetivamente afrontaram o que foi decidido no julgamento da ADI 3.460/DF.”29
• O STF, numa ADI, entendeu que existe a possibilidade de fixação, pelos estados-membros, de
valor de precatório inferior ao do art. 87 do ADCT da Constituição Federal de 1988, uma vez
que tal valor deve ter por base a capacidade do ente político. Com base nisso, o STF aceitou
reclamação30 em face de decisão judicial, por ter o magistrado julgado inconstitucional lei de um
Município que fixou os valores abaixo dos do art. 87 ADCT da Constituição Federal de 1988.
Não obstante, houve uma significativa alteração no posicionamento do STF sobre o tema.
Após a análise dos inteiros teores dos acórdãos preferidos nas Rcl 11479 AgR31, Rcl 13300 AgR32
e Rcl 11478 AgR33, é possível concluir que o STF entende que a teoria da transcendência dos
motivos determinantes não é mais aceita no controle concentrado de constitucionalidade das
normas. Isso pode ser observado, por exemplo, pela seguinte passagem do voto do Ministro Marco
Aurélio na Rcl11478 AgR:
26. Nesse sentido, Rcl 4906, julgada em 17/12/2007, Rel. Ministro Joaquim Barbosa.
27. Nesse sentido, Rcl 1915, julgada em 4/12/2003, Rel. Ministro Maurício Corrêa.
28. NOVELINO, 2008, p. 76.
29. Rcl 4906, julgada em 17/12/2007, Rel. Ministro Joaquim Barbosa.
30. Rcl 2986, noticiada no Inf. 379 do STF em março de 2005.
31. Rcl 11479 AgR, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 19/12/2012.
32. Rcl 13300 AgR, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 19/12/2012
33. Rcl 11478 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 05/06/2012
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A concessão, em regra, do efeito ex tunc às decisões definitivas de méritos nas ADIs e ADCs
leva à conclusão de que possuem natureza jurídica declaratória. Os atos normativos
inconstitucionais estão contaminados por uma nulidade absoluta, decorrência da adoção, no
controle concentrado, dos mesmos efeitos da teoria norte-americana do judicial review of
34. Rcl 16619 AgR, Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Primeira Turma, julgado em 6/10/2015. No mesmo sentido,
Rcl 31361 AgR, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 14/02/2020.
35. No que diz respeito à ação rescisória, o STF, no RE-ED 328812 (julgado em 6/3/2008, Rel. Ministro Gilmar
Mendes), sedimentou o entendimento de que “cabe ação rescisória por ofensa à literal disposição
constitucional, ainda que a decisão rescindenda tenha se baseado em interpretação controvertida, ou seja,
anterior à orientação fixada pelo Supremo Tribunal Federal”.
36. RE 217141 AgR, julgado em 13/6/2006, Rel. Ministro Gilmar Mendes, conforme noticiado no Inf. 431 do STF.
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legislation. Desse modo, essa teoria dimensiona o STF, para utilizar a expressão presente na sua
jurisprudência37, como um órgão legislativo negativo.
Apesar da regra acima citada, a natureza jurídica declaratória é mitigada em algumas
hipóteses. Com base no art. 27 da Lei nº 9.868/99, tendo em vista razões de segurança jurídica
ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois
terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha
modução eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. Essa é a
pode ser de chamada “modulação dos efeitos da decisão” ou “concessão de efeitos diferidos no tempo” ou
ofício “decisão de inconstitucionalidade com ablação diferida”, em que a Suprema Corte tem
liberdade para alterar os efeitos que serão produzidos pela declaração da inconstitucionalidade,
determinando, por exemplo, que a eficácia da decisão tenha efeitos ex nunc (não retroage). A
modulação de efeitos pela corte pode, inclusive, decorrer de sua própria iniciativa (de ofício)
sem prévio pedido dos legitimados.38
A modulação dos efeitos da decisão teve origem no caso Mapp v. Ohio, julgado em 1961,
pela Suprema Corte Americana, no qual se refutou a possibilidade da utilização das provas
ilícitas pelas Cortes Estaduais nos juízos penais. Ao citado leading case não foi atribuído o
efeito ex tunc, tal como era esperado, a fim de evitar a quebra da confiança no julgado anterior,
o que geraria uma desarrazoada carga de trabalho39.
No Brasil, consoante entendimento do STF40, “o sistema pátrio comporta a modulação de
efeitos, sem que isso signifique violação ao texto constitucional”. A adoção do instrumento
decorre da ponderação entre o Estado de Direito na sua expressão legalidade e na sua vertente
segurança jurídica.
O procedimento da modulação dos efeitos da decisão é “bifásico, escalonado e
progressivo”41. Primeiramente, deve o Tribunal julgar o mérito da ação direta de
inconstitucionalidade para, num segundo momento, efetuar a modulação dos efeitos da decisão.
São duas apreciações autônomas (caráter bifásico), estando a possibilidade da modulação dos
efeitos vinculada à declaração da inconstitucionalidade (caráter escalonado e progressivo).
Cita-se, como exemplo de modulação de efeitos, o julgamento da ADI 343042. No caso,
houve a contratação de servidores públicos, para a área de saúde, sem concurso público. Alegou
o Estado ser hipótese de contratação temporária, revestida, portanto, do caráter da
temporariedade. O STF julgou a ADI procedente e fixou o entendimento de que o serviço público
de saúde é essencial e jamais poderia ser caracterizado como temporário. No entanto, nos
termos do artigo 27 da Lei nº 9.868/99, modulou os efeitos da decisão para que tivesse eficácia a
partir de 60 dias da data de sua comunicação, tendo em conta a situação excepcional pela qual
passava o país, em virtude do surto da denominada “gripe suína”.
A modulação dos efeitos, além de ser utilizada na ADI, também tem sido largamente aceita
na ADC e no controle difuso. Mesmo nas hipóteses em que o STF analisa a recepção da norma
anterior pelo atual ordenamento jurídico (fenômeno da recepção, analisado dentro da
Teoria do Poder Constituinte), a modulação tem sido admitida43.
É importante ressaltar que o STF já reconheceu a possibilidade de a modulação dos efeitos
da decisão atingir não só seus aspectos temporais, mas, também, os seus aspectos subjetivos. Em
37. RE 493234 AgR, julgado em 27/11/2007, Rel. Ministro Ricardo Lewandwski. RE 485290, julgado em 3/8/2010,
Rel. Ministra Ellen Gracie.
38
Plenário. ADI 5617 ED/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 2/10/2018.
39. LENZA, 2010, p. 199.
40. ADI 3462, julgada em 15/9/2010, Rel. Ministra Cármen Lúcia, conforme noticiado no Inf. 600 do STF.
41. ADI 3462, julgada em 15/9/2010, Rel. Ministra Cármen Lúcia, conforme noticiado no Inf. 600 do STF.
42. ADI 3430, julgada em 12/8/2009, Rel. Ministro Ricardo Lewandowski.
43. RE 600885, Rel. Ministro Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 09/02/2011.
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outras palavras, na ADI 487644, o Tribunal entendeu ser possível modular os efeitos da decisão
para que a mesma incida somente em funcionários públicos federais, ou em funcionários públicos
estaduais, ou mesmo em uma determinada categoria.
Um questionamento ainda deve ser feito: é possível embargos declaratórios com a finalidade
de modulação dos efeitos da decisão da ADI, no caso de silêncio do STF, alegando omissão?
Em tese, quando o STF julga uma ADI e não se pronuncia sobre os efeitos da decisão,
entende-se que o julgado produzirá efeitos ex tunc (eficácia automática do julgado). Qualquer
outro efeito atribuído à decisão deverá ser decorrente da modulação dos efeitos.
No entanto, a resposta ao questionamento não é tão simples e deve ser analisada por meio
de quatro prismas.
Primeiro, quando o legitimado faz um pedido de modulação de efeitos na petição inicial
e o STF não se pronuncia sobre esse pedido. Nesse caso, caberá a utilização dos embargos
declaratórios para suprir a omissão, a fim de que o Pretório Excelso se pronuncie sobre o
cabimento da modulação dos efeitos.
Segundo, se esse pedido específico não constar expressamente da petição inicial e o
STF não se manifestar de ofício sobre a modulação dos efeitos. Nesse caso, o legitimado
também poderá opor os embargos de declaração à decisão final proferida na ação direta com a
finalidade de se postular a modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade. Essa
é a atual posição do STF. Na ADI 2797 ED45, o Pretório Excelso entendeu que existiria uma
presunção relativa da eficácia ex tunc que somente se tornaria absoluta com o trânsito em
julgado da ação direta e que, até esse momento, desde que presentes as razões que
justificassem a modulação de efeitos da declaração de inconstitucionalidade, não haveria
óbice ao seu reconhecimento em sede de embargos de declaração, mesmo que inexistente
um pedido do legitimado à propositura da ADI na petição inicial. O Tribunal entendeu que
os embargos de declaração integrariam a decisão, tratando-se de um instrumento de
aperfeiçoamento da prestação jurisdicional. Os embargos declaratórios configurariam, nesse
contexto, a última fronteira processual apta a impedir que uma decisão de inconstitucionalidade
com efeito retroativo afetassem determinadas relações sociais. Em síntese, o STF46 “admite o
conhecimento de embargos declaratórios para a modulação da eficácia das decisões
proferidas em controle concentrado de constitucionalidade, desde que comprovada
suficientemente hipótese de singular excepcionalidade”.
Terceiro, quando o STF analisa a possibilidade de modulação, mas a rechaça por não
haver Ministros presentes em número suficiente para conceder a modulação dos efeitos.
Consoante decidido na ADI 2949 QO, uma vez ocorrida a proclamação do resultado do
julgamento, descabe a reabertura em sessão subsequente para fins de modulação. Na espécie,
na data do julgamento estavam presentes dez Ministros da Corte, porém, não se teria obtido a
maioria de dois terços (oito votos) para se modular os efeitos da decisão e o julgamento fora
encerrado. Na sessão subsequente, tendo em conta o comparecimento do Ministro ausente da
sessão anterior, cogitou-se prosseguir no julgamento quanto à modulação. Contudo, como a
análise da proposta de modulação ocorrera na data do julgamento do mérito, seria impossível
readmiti-la. Em outras palavras, uma vez que a apreciação do feito fora concluída e
proclamado o resultado, não se poderia reabrir o que decidido. Por conseguinte, estaria
preclusa, à luz do postulado do devido processo legal, a possibilidade de nova deliberação.
Quarto, o qual será analisado a luz do caso julgado do STF. No curso de uma ADI, o STF
decidiu que certo artigo de lei era inconstitucional. Em seguida, um dos legitimados opôs
embargos de declaração com pedido de modulação dos efeitos, os quais foram compreendidos
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como intempestivos pelo Tribunal. No entanto, o STF, apesar de não conhecer dos embargos,
entendeu pela modulação dos efeitos da decisão por iniciativa própria (de ofício).47
Esse efeito ocorre de forma tácita, ou seja, mesmo que não haja determinação expressa do
Tribunal. Declarada a inconstitucionalidade da norma, o efeito repristinatório ocorrerá
automaticamente.
Uma questão interessante acerca do efeito repristinatório reside na possibilidade de esse
efeito ser afastado no julgamento final da ADI, o que tem sido aceito pelo STF. O caso clássico
ocorreu nas ADIs em face das legislações estaduais referentes a sistemas de sorteios e lotéricas,
matéria que somente poderia ser veiculada por lei federal (competência privativa da União). Ao
declarar a inconstitucionalidade das legislações estaduais, ocorreria a repristinação tácita da
legislação anterior, ou seja, voltavam à vida as legislações sobre sistemas de sorteios e lotéricas
com o mesmo vício da que foi declarada inconstitucional. Deu-se a chamada eficácia
repristinatória indesejada, em razão de existirem “atos normativos, que, embora revogados,
exteriorizem os mesmos vícios de inconstitucionalidade que inquinam a legislação
revogadora”49. Assim, a ADI não deveria impugnar somente o ato legislativo vigente, mas
também aqueles revogados que tivessem o mesmo conteúdo, entendimento que foi ementado
na ADI 314850 nos seguintes termos:
Ação direta que impugna, não apenas a Lei estadual nº 1.123/2000, mas, também, os diplomas
legislativos que, versando matéria idêntica (serviços lotéricos), foram por ela revogados.
Necessidade, em tal hipótese, de impugnação de todo o complexo normativo. Correta
formulação, na espécie, de pedidos sucessivos de declaração de inconstitucionalidade
tanto do diploma ab-rogatório quanto das normas por ele revogadas, porque também
eivadas do vício da ilegitimidade constitucional. Reconhecimento da inconstitucionalidade
desses diplomas legislativos, não obstante já revogados.
47
ADI 5617 ED/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 2/10/2018.
48. ADI 3148, julgada em 13/12/2006, Rel. Ministro Celso de Mello.
49. ADI 3148, julgada em 13/12/2006, Rel. Ministro Celso de Mello.
50. ADI 3148, julgada em 13/12/2006, Rel. Ministro Celso de Mello.
13/03/2008.
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SUGESTÃO DE RESPOSTA:
A Ação Direita de Inconstitucionalidade possui, por ocasião da sua decisão final, quatro
efeitos, quais sejam, efeitos vinculantes, erga omnes, ex tunc e repristinatório tácito. Dois desses
efeitos devem ser mais bem analisados à luz do que foi abordado na questão.
Até alguns anos atrás, o Supremo Tribunal Federal admitia que tais efeitos recaíssem
também sobre os motivos determinantes dos julgados. Trata-se do que a doutrina chama de
Teoria da Transcendência dos Motivos Determinantes das decisões do controle concentrado de
constitucionalidade. Contudo, atualmente, não mais se admite a utilização da reclamação com
a finalidade de impedir que uma lei de determinado Estado seja aplicada quando existir outra
lei de outro Estado com conteúdo similar que foi declarada inconstitucional em certa Ação Direta
de Inconstitucionalidade.
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QUESTÃO DISCURSIVA 3
(DIREITO PENAL)
Tourinho Filho (2013, p. 250) compreende que, no curso de uma investigação criminal, o
investigado constitui verdadeiro objeto da investigação e não sujeito de direitos, qualidade que
ele passa a ter somente quando se inicia a segunda fase da persecutio criminis (a ação penal).
Malachias (1987, p. 62), em obra anterior a 1988, marco da atual Constituição, parte da
distinção das figuras do Estado-juiz e do Estado-punitivo, de modo a diferenciar a atuação
do magistrado e do delegado de polícia, no sentido de que a primeira figura seria
direcionada pela investigação criminal e a segunda figura regeria a investigação criminal.
A autoridade policial, com isso, não deveria ter maiores preocupações em pautar sua
atuação tendo como referência os direitos fundamentais do investigado ou do indiciado.
Em síntese, o suposto autor do fato, com isso, estaria à disposição das Polícias Judiciárias
para mera complementação da investigação, de modo que sua atuação seria secundária e
até desnecessária, apresentando-se, com isso, como verdadeiro objeto do procedimento
investigativo.
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de 1988, ainda é possível encontrar autores que seguem a mesma linha de raciocínio ao
visualizarem o investigado como objeto da investigação.
Tourinho Filho (2013, p. 250) compreende que, no curso de uma investigação criminal,
o investigado constitui verdadeiro objeto da investigação e não sujeito de direitos,
qualidade que ele passa a ter somente quando se inicia a segunda fase da persecutio
criminis (a ação penal). Rangel (2009, p. 73 e p. 89) também compreende o investigado
como um objeto da investigação, mas, supostamente, com os direitos previstos na
Constituição Federal, embora sem possuir direito a algum nível de contraditório ou
mesmo de uma mínima capacidade de influenciar a investigação criminal, tanto que o
delegado de polícia pode indeferir, de acordo com a sua vontade, as diligências requeridas
pelo ofendido ou pelo indiciado se, de algum modo, prejudicar a investigação, tratando-
se tal atribuição de um poder discricionário e, por isso mesmo, inviável de algum controle.
De igual modo, Nucci (2014, p. 113-114) afirma que o indiciado como objeto da
investigação se apresenta como “[...] a posição natural ocupada pelo indiciado durante o
desenvolvimento do inquérito policial [...]”, não sendo sujeito de direitos como na etapa
seguinte da ação penal. A questão, no entanto, se insere em um tema mais amplo, que
ganha corpo com Jakobs e Meliá, em razão do debate envolvendo a dualidade entre
Direito penal do inimigo e Direito penal do cidadão. A ideia do Direito penal do inimigo
foi gestada dentro de uma proposta em que o Estado estivesse em guerra ou lidando com
situações terroristas, de modo a traçar uma linha de atuação contrária a se assegurar
direitos fundamentais, como garantir a incomunicabilidade do preso, o uso
indiscriminado de prisões cautelares, a aplicação de medidas cautelares (busca e
apreensão ou interceptação telefônica), sem a fundamentação ou justificação necessária
(JAKOBS, 2012, 29). Não só tal ideia se mostra intolerável, mas acaba por gerar ainda
mais controvérsia quando essas premissas passam a incorporar o Direito Penal e
Processual Penal, mesmo quando não existe uma situação de guerra ou de terrorismo, de
modo a tratar o investigado como verdadeiro objeto da investigação.
A violação de direitos fundamentais passa a ser vista como um dano colateral tolerado
para um bem maior, que é a suposta proteção da sociedade, como se essa proteção não
passasse, inclusive, pela necessária e imprescindível reinserção gradual no convívio
social daqueles que infringiram a lei. Os cidadãos de um Estado, com isso, deixam de ser
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concebidos como sujeitos de direito e a teoria geral do Direito Penal passa a fornecer os
instrumentos necessários para o crescimento do Direito Penal do inimigo:
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para a sociedade possui mais peso do que o fato por ele praticado, de modo a direcionar
as ferramentas repressivas do estado contra determinados grupos previamente
estabelecidos. Assim, o Direito penal do inimigo se distancia do Direito Penal do fato,
apresentando-se como um “[...] desenvolvimento degenerativo no plano simbólico-social
do significado da pena e do sistema penal [...]” (MELIÁ, 2012, p. 74), cujo uso ou cuja
implementação devem ser evitados a todo o custo, a fim de se garantir os direitos
fundamentais por meio do Direito penal do cidadão.
SUGESTÃO DE RESPOSTA:
Existe um grande debate doutrinário sobre o alcance dos direitos fundamentais no âmbito
da investigação criminal, o qual diferencia o investigado como um objeto da investigação
ou como um sujeito de direitos. Esse debate, apesar de, atualmente, pender para o
investigado como um sujeito de direitos, possui raízes em outro debate igualmente
relevante sobre o Direito Penal do Inimigo e o Direito Penal do Cidadão.
Essa dualidade guarda estreita relação com a dualidade inerente ao Direito Penal do
Inimigo e o Direito Penal do Cidadão ou do Fato.
A ideia do Direito penal do inimigo foi gestada dentro de uma proposta em que o Estado
estivesse em guerra ou lidando com situações terroristas, de modo a traçar uma linha de
atuação contrária a se assegurar direitos fundamentais, como garantir a
incomunicabilidade do preso, o uso indiscriminado de prisões cautelares, a aplicação de
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Não só tal ideia se mostra intolerável, mas acaba por gerar ainda mais controvérsia quando
essas premissas passam a incorporar o Direito Penal e Processual Penal, mesmo quando
não existe uma situação de guerra ou de terrorismo, de modo a tratar o investigado como
verdadeiro objeto da investigação. A violação de direitos fundamentais passa a ser vista
como um dano colateral tolerado para um bem maior, que é a suposta proteção da
sociedade.
O Direito Penal do Cidadão, por outro lado, guarda íntima relação com o investigado
enquanto sujeito de direitos. Essa teoria parte do pressuposto constante da presença de
direitos fundamentais dentro da investigação criminal, em que o suposto autor do fato tem
efetivas condições de influenciar a tomada de decisão final do Delegado de Polícia,
quesitar peritos, participar da oitiva de testemunhas por meio do seu advogado, entre
outros. Eventual restrição desarrazoada de direitos presentes Direito Penal e Processual
Penal
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