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CENTRO UNIVERSITÁRIO NOVE DE JULHO

CAMPUS SANTO AMARO


CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

Alexandre Rosa
Gabriel Cardoso Penna
Romilton dos Anjos

PAVIMENTOS DRENANTES

São Paulo
2016
Alexandre Rosa
Gabriel Cardoso Penna
Romilton dos Anjos

PAVIMENTOS DRENANTES

Projeto de graduação apresentado ao


Centro Universitário Nove de Julho como
requisito obrigatório para a obtenção do título de
Bacharel(a) em Engenharia Civil.

Orientador: Prof. Dr. Waldir José Gaspar

São Paulo
2016

1
2
RESUMO

O processo de urbanização é contínuo, tanto nas grandes metrópoles, como em cidades


menores, esse crescimento gera uma redução das áreas de permeáveis, acarretando em menos
vias de escoamento para as águas provenientes de chuvas. Com essa redução, cada dia mais,
são necessários novos elementos que auxiliem a drenagem urbana, exigindo um planejamento
urbano levando em consideração fatores como, mobilidade e permeabilidade das vias pelas
quais a população trafega. O trabalho tem por objetivo apresentar procedimentos de projetos e
execução de obras de pavimentos drenantes, focando mais especificamente o piso permeável
poroso, com a finalidade de retenção de picos de enchentes para cidades que possuem áreas de
solos permeáveis a baixo do requerido de acordo com o nível pluviométrico da região.
Possibilitam a redução da velocidade de escoamento superficial, a retenção temporária de
pequenos volumes na própria superfície do pavimento e a infiltração de parte das águas pluviais.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Asfalto poroso - Marcos Santos ................................................................................ 14


Figura 2- Reservatório de detenção – Associação Brasileira de Cimento Portland ................. 14
Figura 3- Centro de detenção provisória (CDP) – Ministério Público / Poder Judiciário de
Apodi ........................................................................................................................................ 15
Figura 4- Catálogo de produtos Fuminas (site)* ...................................................................... 15
Figura 5- estrutura de pavimento com camada porosa de asfalto............................................. 18
Figura 6- Blocos vazados preenchidos com grama. ................................................................. 18
Figura 7- estrutura de pavimento com blocos de concreto. ...................................................... 19
Figura 8– infiltração total (CIRIA,2007) .................................................................................. 20
Figura 9– sem restrição (CIRIA,2007) ..................................................................................... 20
Figura 10– infiltração parcial (CIRIA,2007) ............................................................................ 21
Figura 11– Sobrecamada porosa sobre um revestimento convencional ................................... 23
Figura 12– Geomembrana resistente a altas temperaturas ....................................................... 25
Figura 13– Agregados miúdos e graúdos ................................................................................. 26
Figura 14– Gramíneos .............................................................................................................. 27
Figura 15– Geocélulas Plásticas ............................................................................................... 28
Figura 16– Bloco de concreto poroso permeável ..................................................................... 29
Figura 17– Blocos de concreto vazados ................................................................................... 30
Figura 18– Blocos de concreto vazados ................................................................................... 31
Figura 19– Pavimento de concreto asfáltico permeável ........................................................... 32
Figura 20 – Pavimento de concreto asfáltico permeável .......................................................... 36
Figura 21- Pavimento permeável com colmatação das juntas .................................................. 38
Figura 22-Crescimento de vegetação nas juntas devido ao acumulo de
sedimentos. ............................................................................................................................... 38

LISTA DE TABELA

Tabela 1 .................................................................................................................................... 10

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Sumário
RESUMO................................................................................................................................... 3

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 8

1.1. JUSTIFICATIVA .............................................................................................................. 9

1.2. OBJETIVOS ........................................................................................................................ 9

2. DRENAGEM URBANA ...................................................................................................... 9

2.1. EVOLUÇÃO DA DRENAGEM EM REGIÕES URBANAS ............................................ 9

2.2. FATORES HIDROLÓGICOS AFETADOS PELA URBANIZAÇÃO ........................... 11

2.3. PROCESSOS DE DRENAGEM URBANA ..................................................................... 12

2.3.1. INFILTRAÇÃO DO SOLO E PERCOLAÇÃO....................................................... 12

2.3.2. ARMAZENAMENTO ................................................................................................. 12

2.3.3. AUMENTO DE EFICIÊNCIA NO ESCOAMENTO: ............................................. 12

2.3.4. DIQUES E ESTAÇÕES DE BOMBEAMENTOS .................................................... 13

2.4. MODELOS DE SISTEMAS DE DRENAGEM ............................................................... 13

2.4.1. SISTEMA CLÁSSICO ................................................................................................. 13

2.4.2. SISTEMA ALTERNATIVO OU COMPENSATÓRIO ........................................... 13

3. PAVIMENTOS DRENANTES – CONCEITOS ............................................................. 16

3.1. CLASSIFICAÇÕES DE PAVIMENTOS PERMEÁVEIS ............................................... 17

3.1.1 CLASSIFICAÇÃO SEGUNDO COMPOSIÇÃO ...................................................... 17

3.1.2. CLASSIFICAÇÃO SEGUNDO INFILTRAÇÃO ..................................................... 19

3.1.3. PAVIMENTOS VOLTADOS PARA DETENÇÃO E ARMAZENAMENTO ...... 21

3.2 COMPONENTES DOS PAVIMENTOS PERMEÁVEIS ................................................. 21

3.2.1. REVESTIMENTO, BASE E SUB-BASE ................................................................... 22

3.2.2. SOBRECAMADA ........................................................................................................ 22

3.2.3. RESERVATÓRIOS ..................................................................................................... 23

3.2.4. GEOTÊXTEIS .............................................................................................................. 24

3.2.5. GEOMEMBRANAS..................................................................................................... 24
3.3 MATERIAIS USADOS EM PAVIMENTOS PERMEÁVEIS ......................................... 25

3.3.1. AGREGADOS .............................................................................................................. 26

3.3.2. GRAMÍNEOS ............................................................................................................... 26

3.3.3. GEOCÉLULAS PLÁSTICAS ..................................................................................... 27

3.3.4. CONCRETO POROSO ............................................................................................... 28

3.3.5. BLOCOS VAZADOS ................................................................................................... 29

3.3.6. BLOCOS INTERTRAVADO DE CONCRETO ....................................................... 30

3.3.7. CONCRETO ASFÁLTICO POROSO ....................................................................... 31

3.4. ESTUDO DE PEÇAS PRÉ-MOLDADAS DE CONCRETO .......................................... 32

3.4.1. HISTÓRICO DA USUALIDADE DE PAVIMENTOS INTERTRAVADOS DE


CONCRETO ........................................................................................................................... 32

3.4.2. PAVIMENTO PERMEÁVEL EM BLOCOS DE CONCRETO ............................. 33

3.4.3. TIPOS DE BLOCOS PARA ESTRUTURAS PERMEÁVEIS ................................ 33

3.4.4. PRINCIPIO DE FUNCIONAMENTO ....................................................................... 34

3.4.5. DOMÍNIO DE APLICAÇÃO...................................................................................... 34

3.4.6. MÉTODO DE EXECUÇÃO ....................................................................................... 35

4. ESTUDO DE CASO ........................................................................................................... 38

3 CONCLUSÃO PARCIAL .................................................................................................. 39

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 40

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1. INTRODUÇÃO

Atualmente tem se verificado a crescente impermeabilização das superfícies resultante


da urbanização das cidades. Em uma área com cobertura florestal, 95% da água da chuva se
infiltra no solo, enquanto que nas áreas urbanas este percentual cai para apenas 5%. Com a
drenagem da água através do solo, prejudicada devido às vias pavimentadas e o grande número
de construções, o escoamento e o retorno ao lençol freático tornam-se mais difíceis, resultando
em alterações nos leitos dos rios e dos canais e aumento no volume e constância das enchentes.

Para Canholi (2005), as áreas urbanas cresceram rapidamente e no tocante a drenagem


urbana, pouco se pensou e se fez a respeito. O autor diz que é preciso adotar medidas não
convencionais de drenagem, que diferem do conceito tradicional de canalização, pois elas
promovem uma otimização do sistema. Dentre as medidas não convencionais, cita àquelas que
visam incrementar o processo da infiltração da água.

Deste modo, depreende-se que praças, estacionamentos e calçadas com pavimento


permeável, contribuem para aumentar a taxa de infiltração em regiões urbanas altamente
impermeabilizadas com edificações e pistas pavimentadas de concreto asfáltico não poroso. Por
consequência, podem contribuir de forma significativa para a drenagem pluvial urbana.

Utilizado com sucesso nos Estados Unidos e em alguns países da Europa como
Inglaterra e Alemanha, o uso de pisos permeáveis vem sendo cada vez mais utilizado no Brasil.
(REVISTA PRISMA, 2011). Em âmbito nacional, há exemplo da prefeitura de São Paulo que
recomenda o uso de blocos de concreto do tipo intertravado para auxiliar na infiltração da água
da chuva. (SÃO PAULO, 2010).

O pavimento intertravado de concreto é apresentado atualmente, como uma solução que


abrange duas questões essenciais, que são a drenagem e a mobilidade de áreas urbanas. Várias
vantagens de aplicação do paver são conhecidas, como a capacidade de gerar economia de
iluminação pública, pois é capaz de aumentar a reflexão em até 30% se comparado a outros
pavimentos (Marchioni, Silva 2011).

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A facilidade de manutenção também é notória, visto que o pavimento pode ser instalado
e removido a qualquer tempo, há um ganho de produtividade e de recursos quando se pensa no
grande número de subsistemas existentes sob o pavimento. Cria espaços pavimentados com um
belo efeito estético, pois são várias as formas, texturas e cores destas peças.

Entretanto, o presente trabalho busca conhecer de fato a eficiência drenante de um piso


de concreto poroso.

1.1. JUSTIFICATIVA

Essa pesquisa foi idealizada como fim de apresentar métodos para o auxílio na solução
de um grande problema das grandes metrópoles, a baixa área disponível para escoamento de
águas pluviais. Tendo em vista que essa problemática atinge cada vez mais centros urbanos,
esse trabalho tem como intuito contribuir com a área da Engenharia Civil, na disposição de
possíveis procedimentos para reduzir enchentes e alagamentos.

1.2. OBJETIVOS

Esse material tem como objetivo apresentar os diversos tipos de pavimentos permeáveis,
com o intuito de demonstrar seus meios de execução, índices de escoamento, pontos positivos
e negativos em relação a sua constituição, instalação, e os demais assuntos pertinentes à
abordagem desse recurso de drenagem.

2. DRENAGEM URBANA

2.1. EVOLUÇÃO DA DRENAGEM EM REGIÕES URBANAS

Pode-se observar que, desde o início das primeiras civilizações a humanidade vem sendo
forçada a estabelecer seus centros urbanos ligados a cursos d’água. Essa ligação entre
aglomerados urbanos e bacias hidrográficas, era crucial para o desenvolvimento da sociedade,

9
facilitando a ligação entre cidades através da navegação, auxiliando na agricultura, além das
necessidades básicas da população como consumo e higienização.

Com as cidades, vilas e vilarejos alterando constantemente o curso natural de lagos, rios
e riachos, começaram a surgir problemáticas através dessa prática. Inicialmente os povoados
ribeirinhos sofriam com enchentes e alagamentos, devido sua proximidade das margens, mas
na época isso era tratado apenas como preço a se pagar pela localização próxima aos leitos.

A urbanização foi um dos processos mais significativos nessas alterações. Segundo


Tucci (2003), ao longo da história houveram três grandes etapas no processo de urbanização (I)
pré-industrial; (II) industrial; (III) e a atual, das comunicações. Neste período ocorreram
modificações drásticas nas bacias devido ao acréscimo dos índices populacionais. Um deles foi
a canalização de águas proveniente das chuvas para fora dos centros habitacionais, com fim de
evitar contaminações e proliferação de doenças por exemplo.

Tendo em vista essas modificações realizadas pela população ao decorrer dos anos, as
ações antrópicas na ocupação e uso do solo, tanto em áreas rurais como urbanas, interferem
diretamente na quantidade e qualidade do escoamento superficial, alterando vazões máximas e
mínimas dos mananciais. A degradação de estrutura e impermeabilização em áreas urbanas tem
causado altos picos de vazão e, consequentemente, uma frequência cada vez maior de
inundações (Maus & Righes, 2006).

As enchentes e alagamentos são nada menos que, a superação dos índices


pluviométricos em relação à capacidade de drenagem de uma bacia. Tucci it al. (2001), afirmam
que os problemas causados pela inundação dependem de dois fatores: o grau de ocupação da
bacia pela população e a frequência em que ocorrem inundações.

De acordo com dados da Organização das nações (ONU) 2006, a projeção populacional
em centros urbanos que era de 0,73 bi. Em 1950, será de 4,91bi. de habitantes em 2030.

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População mundial para o período de 1950 - 2030 (bilhões)
1950 1975 2000 2005 2030
URBANA 0,73 1,52 2,84 3,15 4,91
RURAL 1,79 2,56 3,24 3,31 3,29
TOTAL 2,52 4,08 6,08 6,46 8,2
Tabela 1 – População mundial e projeção para 2030 (fonte: World Ubanization Prospects – The 2005 Revision
ONU, 2006)

Tendo em consideração o impacto desse crescimento do grau de ocupação das bacias,


são necessárias medidas para direção do escoamento, como drenagem de águas pluviais, e o
aumento de áreas permeáveis em zonas de alto índice de urbanização.

2.2. FATORES HIDROLÓGICOS AFETADOS PELA URBANIZAÇÃO

Em condições naturais, ou seja, longe de ações humanas, o ciclo hidrológico


pode ser siderado um sistema em estável. Contudo, com o exponencial crescimento urbano,
fatores como a impermeabilização do terreno, a canalização de cursos fluviais e a remoção da
vegetação, desencadeiam ou agravam os processos de erosão e de inundações.

Conforme Scarati Martins (2006), os fatores dos ciclos hidrológicos,


diretamente afetados pela urbanização são:

- O volume de escoamento superficial direto;


- Os parâmetros de tempo do escoamento superficial;
- A vazão de picos em cheias.

Esses efeitos são gerados por fatores como o impacto do aumento das áreas
impermeáveis, ou a modificação de cursos d’água por exemplo. Podem-se constatar picos de
cheia atuais muito superiores aos anteriores do desenvolvimento urbano, devido ao
agravamento desses problemas com o exponencial crescimento populacional.

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2.3. PROCESSOS DE DRENAGEM URBANA

Os processos de drenagem são meios para tornar a capacidade de drenagem superior a


vazão gerada pelos índices pluviométricos, direcionando esse volume com maior alternância de
tempo. De acordo com Tucci (2003), as medidas de controle podem ser classificadas, de acordo
com a sua ação sobre o hidrograma, sendo elas:

2.3.1. INFILTRAÇÃO DO SOLO E PERCOLAÇÃO

Denomina-se infiltração o processo de penetração da água no solo, seguido de


modificação quase instantânea nas condições de pressão e teor de umidade, à superfície do solo,
quando este entra em contato com a água (Virgillis, 2009). Esse sistema é baseado em criar
espaço para que a água seja melhor absorvida pelo solo, tendo como efeito a redução do
escoamento superficial.

2.3.2. ARMAZENAMENTO

Sua função é realizar o armazenamento temporário das águas de escoamento superficial


direto próximo ao ponto de origem e efetuar a liberação das águas de maneira lenta e gradativa,
ou simplesmente deixando a água infiltrar no solo. Trata-se de controle realizado na fonte ou
perto dela (Virgillis, 2009). Esse armazenamento pode ser realizado desde pequenos
reservatórios residenciais, como caixas d‘água, até grandes volumes, com vastas reservas, como
os piscinões por exemplo.

2.3.3. Aumento de eficiência no escoamento:

Drena através de canais e condutos o excesso de volume de água em áreas com


recorrências elevadas de alagamentos. Por muitas vezes esse método pode retirar a ocorrência
de enchentes em uma região e transferir para outra, devido a grande mudança de vazão entre os
locais. Para evitar esse tipo de problema, deve-se aliar esse procedimento a condições de
armazenamento e infiltração e percolação do solo, quando se fizer necessário.

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2.3.4. DIQUES E ESTAÇÕES DE BOMBEAMENTOS

Solução tradicional de controle localizado de enchentes em locais que não possuam


espaço para amortecimento da inundação.

2.4. MODELOS DE SISTEMAS DE DRENAGEM

Em outra concepção do tema, de acordo com Baptista & Nascimento (2005), o assunto
de drenagem pode ser classificado em dois sistemas:

2.4.1. SISTEMA CLÁSSICO

Nos sistemas clássicos as águas pluviais são captadas e conduzidas a condutos


artificiais, preferencialmente subterrâneos, funcionando por gravidade, sendo evacuadas das
zonas urbanas e lançadas em corpos d’água rapidamente. Eles são constituídos, essencialmente,
de dispositivos de captação das águas superficiais, estruturas de condução das águas captadas,
na forma de canais abertos ou condutos enterrados e, eventualmente, obras complementares,
tais como bueiros e dissipadores de energia. (Scarati Martins, 2006) Baseado na recomendação
de uma rápida evacuação de águas pluviais, esse sistema tem como fim principal um preceito
higienista, evitando contaminações.

2.4.2. SISTEMA ALTERNATIVO OU COMPENSATÓRIO

Trata-se de um conceito de tecnologias alternativas de drenagem, que buscam


neutralizar os efeitos da urbanização sobre os processos hidrológicos. Essa compensação é
efetuada pelo controle do excesso de água oriunda da impermeabilização, evitando sua
transferência rápida a jusante (Virgillis, 2009).

Conforme Baptista & Nascimento (2006), as medidas alternativas e compensatórias para


contribuir com a minimização das cheias e inundações, são:

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- Pavimentos porosos ou permeáveis, destinados ao armazenamento temporário e/ou
infiltração d’água;

Figura 1- Asfalto poroso - Marcos Santos

- Bacias ou reservatórios de detenção ou bacias de amortecimento das cheias;

Figura 2- Reservatório de detenção – Associação Brasileira de Cimento Portland

-Estruturas de armazenamento temporário, implantadas por simples adequação de


configuração topográfica em áreas de estacionamento, terrenos esportivos e áreas livres em
geral;

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Figura 3- Centro de detenção provisória (CDP) – Ministério Público / Poder Judiciário de Apodi

- Estruturas que favorecem a infiltração e a percolação, tais como trincheira, poços,


valetas e etç.;

Figura 4- Catálogo de produtos Fuminas (site)*

15
- Canalizações de cursos d’água com técnicas que favorecem o escoamento lento ou
mesmo a detenção temporária das águas;
- Tratamento do fundo dos vales com zoneamento de planícies de inundação e
delimitação de áreas destinadas ao armazenamento temporário.

3. PAVIMENTOS DRENANTES – CONCEITOS

Segundo a NBR-7207/82 da ABNT o pavimento é uma estrutura construída após


terraplenagem e destinada, econômica e simultaneamente, em seu conjunto, a:

a) Resistir e distribuir ao subleito os esforços verticais produzidos pelo tráfego;


b) Melhorar as condições de rolamento quanto à comodidade e segurança;
c) Resistir aos esforços horizontais que nela atuam, tornando mais durável a superfície
de rolamento.

Normalmente, os pavimentos e obras de pavimentação, são tratados como estruturas que


devem trabalhar secas, sem interferência de água, devido aos seus coeficientes de resistência a
compressão e comportamentos físicos, sendo adotados por tanto, pavimentos impermeáveis.

Contudo, devido aos problemas de drenagem urbana, em muitos locais, como opção de
deslocamento e contenção do escoamento superficial, são usados os pavimentos permeáveis,
definidos por possuírem espaços livres (poros) entre sua estrutura, por onde a água pode escoar,
podendo infiltrar no solo ou ser transportada através de sistema auxiliar de drenagem. Esse tipo
de pavimentação tende a influenciar a hidrologia local de maneira significativa, causando algum
benefício ao meio ambiente por reduzir a velocidade em que essa água chegará a bacia local.

Desde 1978, a França lançou um programa de pesquisa e desenvolvimento para


amenizar o efeito das inundações. O pavimento permeável se destacou como uma das soluções
mais pertinentes, devido sua facilidade de adequação ao meio urbano, além de poder ser usado
como reservatório de retenção dos picos de cheia. (Acioli, L.A. 2005 apoud Azzout et al., 1994)
*virgillis

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Em uma estrutura genérica de um pavimento permeável, o escoamento é infiltrado
rapidamente pela camada fina porosa, podendo ser de asfalto ou concreto, seguindo por dois
filtros de agregados, um com uma camada com diâmetros menores, e o seguinte servindo como
uma espécie de reservatório, com diâmetros maiores. A partir desse reservatório, o escoamento
pode seguir ao subsolo ou coletado por tubos de drenagem. (Araújo et. Al., 2000 – apostila
pavimentos permeáveis e sua influencia sobre a drenagem)****

Os pavimentos drenantes porosos possuem, além da funcionalidade de redução do


escoamento superficial, outros dois fatores significativos para a escolha de sua aplicação, que
valem ser ressaltados. O primeiro deles é a redução de ruídos, uma vez que quando as ondas
passam pelos poros, perdem sua força reduzindo seu impacto, e o segundo é reduzir o efeito da
aquaplanagem em rodovias, garantindo melhor segurança e dirigibilidade.

3.1. CLASSIFICAÇÕES DE PAVIMENTOS PERMEÁVEIS

Os pavimentos permeáveis são conhecidos como estruturas reservatório. De acordo com


Rimbaud et al., (2002)(virgillo), essa denominação refere-se às funções realizadas pela matriz
porosa de que são constituídos:

Função mecânica: associada ao termo estrutura, que permite suportar a solicitação da


carga imposta.

Função hidráulica: associada à retenção parcial e temporária da água no solo, seguido


de drenagem ou infiltração ao solo.

3.1.1 Classificação segundo composição

Esses pavimentos também podem ser classificados quanto a sua composição, sendo
divididos em:

- Pavimentos de asfalto poroso:


17
A camada superior de asfalto é uma forma similar às convencionais, mas com retirada
de fração de areia fina da mistura dos agregados do pavimento. É conhecida como "camada
porosa de asfalto " (CPA). Essa graduação resulta em uma mistura asfáltica que pode conter de
18% a 25% de vazios.

Figura 5- estrutura de pavimento com camada porosa de asfalto.

- Pavimentos de bloco de concreto vazado:

Os blocos de concreto vazado são assentados sobre material granular, como areia, e
preenchidos com Vegetação rasteira, como grama. Filtros geotêxtis, a serem colocados sob a
camada de areia, são importantes para prevenir o carreamento de areia fina para as camadas
granulares inferiores.

Figura 6- Blocos vazados preenchidos com grama.

18
- Pavimentos de bloco de concreto paralelepípedos:

Os blocos intertravado de concreto também possuem permeabilidade, cuja magnitude


depende da permeabilidade do concreto do bloco em si e da granulometria do material de
assentamento e das juntas. A permeabilidade desse tipo de pavimento, que já é menor que a dos
demais tipos de pavimento permeável, diminui com o tempo e chega a metade do valor original
após apenas cinco anos de vida em média

Figura 7- estrutura de pavimento com blocos de concreto.

Outro revestimento semirrígido e modular é o composto por paralelepípedos. As


considerações em relação à permeabilidade e o material granular de assentamento são similares
às apresentadas para os blocos de concreto.

3.1.2. CLASSIFICAÇÃO SEGUNDO INFILTRAÇÃO

Segundo o destino da água, os pavimentos permeáveis podem ser classificados em:

- Pavimento com infiltração total

Todo o volume coletado infiltra no solo. Este pavimento é instalado quando o solo do
subleito apresenta alta permeabilidade ou o nível do lençol freático for suficientemente baixo.

19
Figura 8– infiltração total (CIRIA,2007)

- Pavimento sem infiltração

Todo o volume é coletado por sistema de drenagem com drenos (tubos) perfurados e
espaçados de 3 a 8 m para a condução da água à rede de drenagem. Condição quando solo do
subleito apresenta baixa permeabilidade ou o nível do lençol freático encontra-se elevado

Figura 9– sem restrição (CIRIA,2007)

20
- Pavimento com infiltração parcial

Situação intermediária das condições de solo ou do lençol freático, permitindo


infiltração parcial.

Figura 10– infiltração parcial (CIRIA,2007)

3.1.3. PAVIMENTOS VOLTADOS PARA DETENÇÃO E ARMAZENAMENTO

Em áreas urbanas, as superficies destinadas ao sistema viário e de estacionamento


podem ocupar espaços consideráveis, chegando a 30% da área da bacia de drenagem , em áreas
densamente ocupadas. Assim, a adoção de pavimentos permeáveis pode auxiliar no controle de
produção do escoamento superficial no próprio sistema viário.

3.2 COMPONENTES DOS PAVIMENTOS PERMEÁVEIS

Tanto os pavimentos porosos como os convencionais são constituídos basicamente dos


mesmos componentes. Cada camada tem suas características físicas e funções próprias bem
delimitadas, e sua composição ao se unirem precisa ser muito bem estudada de acordo com as
características do ambiente de aplicação.

21
3.2.1. REVESTIMENTO, BASE E SUB-BASE

É muito comum a construção de pavimentos com duas camadas acima do subleito até o
revestimento. Diferentes camadas podem ser otimizadas para propósitos especiais definidos
para o pavimento. Além disso, a combinação de materiais em diferentes camadas pode tornar o
pavimento mais econômico (Virgillis, 2009).

O revestimento recebe diretamente o carregamento de trafego transferindo esforços para


as camadas inferiores. De maneira geral o revestimento é economicamente mais caro por ser
constituído de material resistente ao desgaste. Subjetivamente ao revestimento são atribuídas
características tais como aparência e acessibilidade.

Uma ampla variedade de materiais pode satisfazer os requisitos da durabilidade,


economia, aspecto e facilidade de execução dos revestimentos.

A camada da base confere espessura à estrutura do pavimento e se encarrega de


distribuir o carregamento sobre o subleito. Caso seja necessária, a camada de sub base pode ser
adicionada com a finalidade de aumentar a espessura ou para armazenar água no caso dos
revestimentos porosos.

Nos pavimentos de superfície impermeável, água não pode infiltrar em nenhuma parte
da estrutura ou solo do subleito, mesmo que a base na estrutura de muitos pavimentos
convencionais seja feita de material poroso. Essa superfície inviabiliza o funcionamento de um
pavimento poroso.

3.2.2. SOBRECAMADA

Trata-se de qualquer camada de revestimento aplicado sobre o pavimento preexistente.


A Figura X mostra o tipo usual de Sobrecamada de material poroso aplicada sobre revestimento
convencional denso ou impermeável. Os departamentos de estradas de rodagem utilizam a
sobrecama como ilustrada, como objetivo de drenar o escoamento superficial, melhorar a
visibilidade, aumentar a aderência e reduzis o barulho e o reflexo. Isso faz com que as rodovias

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sejam mais seguras de dirigir além de aumentar a capacidade de transporte reduzindo os custos
(Virgillis, 2009).

Figura 11– Sobrecamada porosa sobre um revestimento convencional

As Sobrecamada porosas, ou CPA (camada porosa de atrito), são aplicadas apenas sobre
determinados trechos de rodovias para eliminação dos efeitos da aquaplanagem e “spray”
provocados pelos veículos em dias chuvosos.

3.2.3. RESERVATÓRIOS

Para os pavimentos permeáveis, reservatório é considerado como qualquer parte da


estrutura que pode armazenar e transportar água para um exudório ou saída, através de tubo de
drenagem ou filtrá-la diretamente para o solo (Virgillis, 2009). Inclui todo o material do
pavimento que recebe água mesmo que ocasionalmente, podendo ser o mesmo material que
possui funções estruturais.

O volume de água é estocado nos espaços vazios entre agregados, esses reservatórios
podem ser chamados de colchões drenantes. A água armazenada no pavimento poderá ser
eliminada lentamente através de tubo laterais. A baixa velocidade de descarga retarda o pico de

23
cheia, minimiza os efeitos da erosão além de reduzir os custos das estruturas dos sistemas de
drenagem.

Quando a água armazenada infiltra para o subleito, além dos benefícios acima, contribui
adicionalmente para a recarga de aquíferos aumentando nível do lençol freático e o escoamento
básico.

Toda água que passa através do poros de qualquer camada de pavimento, naturalmente
é filtrada e tratada pela atividade bioquímica dos microrganismos (Tucci, 2003)

De maneira geral a estrutura de armazenagem que possui funções hidráulicas em


determinada camada do pavimento é denominada de “Reservatório Base”, que poderá ser
drenado por tubos em qualquer altura dividindo a base em dois segmentos; um que tem a função
de escoar a água excedente de dentro do reservatório para fora da estrutura e outro segmento
abaixo que retém a água para infiltração. Ambos os segmentos possuem função estrutural,
porém o segmento de baixo também possui função hidráulica.

3.2.4. GEOTÊXTEIS

Material aplicado entre duas camadas ou entre a camada de base e o subleito com a
finalidade de separação de seus materiais. A separação é necessária para manter a porosidade
evitando o carregamento de partículas para outra camada além de manter a integridade
estrutural das camadas. Trata-se de manta não-tecida de filamentos de polipropileno que
possibilita a livre passagem das águas de infiltração para o meio drenante ou camada adjacente.
Alternativamente a separação entre camadas pode ser feita de material granular selecionado de
tamanho intermediário. Os geotêxteis são permeáveis e inibem a movimentação de pequenas
partículas atuando como filtros. Em alguns pavimentos o geotêxtil proporciona ainda
resistência às tensões de deformação.

3.2.5. GEOMEMBRANAS

Alguns pavimentos porosos têm sua parte inferior revestida com o propósito de impedir
a penetração de água para o subleito. O termo técnico para extensos lençóis de plásticoresistente

24
é “geomembrana” que s eaplica a um tecido impermeável geralmente plástico ou Polietileno de
Alta Densidade (PEAD) utilizando sistemas

Figura 12– Geomembrana resistente a altas temperaturas

3.3 MATERIAIS USADOS EM PAVIMENTOS PERMEÁVEIS

Fergunson B.K., 2005, classificou genericamente os pavimentos permeáveis em


famílias de materiais. No presente trabalho selecionamos sete principais, quais sejam?

1) Agregados
2) Gramíneos
3) Geocélulas plásticas
4) Concreto poroso
5) Blocos vazados
6) Blocos intertravados de concreto
7) Concreto asfáltico poroso

A seguir, descreve-se sucintamente cada um desses materiais.

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3.3.1. AGREGADOS

Agregados em pavimentos porosos podem ser tratados como quaisquer materiais


particulados tal como cascalho, pedregulho, pedra britada, RDC (resíduo de construção civil),
material reciclado de blocos de concreto ou granito em decomposição dentre outros. A gradação
uniforme deve resultar num volume de vazios da ordem de 30 a 40%, constituindo material
extremamente permeável ao ar e a água. Além de ser o material mais utilizado na base e sub-
base dos pavimentos, é também o principal componente dos concretos porosos. É utilizado para
preenchimento de blocos vazados, grelhas e geocélulas. Possui vantagens econômicas e
ambientais por ser o material mais abundante e natural encontrado.

Figura 13– Agregados miúdos e graúdos

3.3.2. GRAMÍNEOS

Uma superfície gramada pode suportar tráfego de pedestres e algum tráfego veicular. A
permeabilidade dos gramíneos é maior quando não compactados por excesso de trafego. A
transpiração desse tipo de revestimento reduz a formação de ilhas urbanas de calor. Quando
plantadas sobre argila plástica possuem maior possibilidade de serem danificadas pela
passagem repetitiva que empurra a argila para dentro da placa de grama e colmata a superfície.

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São muito usadas em passeios e áreas de estacionamento que sejam utilizados com frequência.
Com a ajuda de grelhas plásticas, geocélulas e blocos vazados de concreto podem suportar
carregamentos maiores de tráfego.

De qualquer maneira requer manutenção constante com replantio, espalhamento de


terra, irrigação e uso de fertilizantes. Deve-se escolher o tipo de gramíneo específico para o
clima do local e para a insolação visto que alguns tipos crescem melhor à sombra que outros.

Figura 14– Gramíneos

3.3.3. GEOCÉLULAS PLÁSTICAS

São constituídas de tiras de polietileno de alta densidade (PEAD), soldadas entre si, que
quando abertas formam células contíguas tridimensionais semelhantes a uma colmeia que pode
ser preenchida com areia, brita concreto ou solo conforme for a disponibilidade e a finalidade.
Foi concebida originalmente com o objetivo de fazer da areia um material de construção. Sua
utilização pioneira se deu na construção de estradas de acesso a praias e desertos. Pode ser
usada em várias aplicações como suporte de cargas na estabilização de pavimentos rodoviários
e ferroviários, em estruturas de contenção de terra e na prevenção e controle da erosão de
taludes. Na maioria dos modelos, as tiras de plástico ocupam uma pequena parte da área de

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superfície permitindo, quando preenchidas com material poroso de alta permeabilidade,
controle térmico e apelo visual ecológico no caso de preenchimento com grama vegetal.

Figura 15– Geocélulas Plásticas

3.3.4. CONCRETO POROSO

Trata-se de uma sutil diferença na mistura convencional de cimento Portland, pois os


agregados devem no caso possuir gradação uniforme. Quando aplicado sobre as camadas da
estrutura do pavimento, resulta numa placa rígida. Tem custo alto de fabricação no início, mas
ao longo do tempo esse custo vai diminuindo. Não deve ser aplicado sobre subleito fraco, pois
a movimentação da estrutura como um todo poderá ocasionar trincas (Ferginson B.K., 2005).

O concreto poroso é apropriado para suportar carregamentos de baixo volume de tráfego


como em calçados e áreas de manobra de estacionamentos residenciais, além de suportar carga
de tráfego médio em estacionamentos comerciais e ruas residenciais. Poderá sob condições
específicas de dimensionamento receber carregamentos de tráfego pesado. O concreto poroso
quando acabado tem grande permeabilidade. Como desvantagem, há sempre a possibilidade de
colmotação e constantes gastos com a manutenção e limpeza.

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Figura 16– Bloco de concreto poroso permeável

3.3.5. BLOCOS VAZADOS

Unidades de blocos de concreto desenhados com células ou aberturas que permitem o


preenchimento com agregados ou gramináceos. São implantados lado a lado resultando numa
superfície semelhante a uma grelha ou desenho simétrico em ângulo reto ou diagonal. Como
pavimento não são relativamente econômicos. Muitos tipos são duráveis e possuem
considerável vida útil. A maior parte é capaz de suportar bem a carregamentos pesados.

Não existem muitas empresas que fabricam esse tipo de material de revestimento, por
isso seu custo é alto em relação a outros materiais inclusive em comparação aos blocos de
concreto intertravado.

Para adquirir boa resistência a compreensão as peças são executadas em concreto de no


mínimo 25 Mpa (ABNT 9780/87 e ABNT 9781/87). Devem trabalhar solidamente unidas e
confinadas a borda de concreto. Em termos de porosidade e condutividade hidráulica são
excelentes.

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Figura 17– Blocos de concreto vazados

3.3.6. BLOCOS INTERTRAVADO DE CONCRETO

Esse tipo de revestimento permite tráfego de vários tipos. Blocos maciços de concreto,
alinhados lado a lado são os mais comuns. São geralmente assentados sobre camada de areia
que confere ao conjunto porosidade e permeabilidade.

Muitos blocos que possuem boa durabilidade e resistência permitindo a vida útil mais
longa e consequentemente economia sob o aspecto custo beneficiam. Alguns blocos podem
suportar tráfego pesado, porem são relativamente caros quando comparados a outros
pavimentos. São sensíveis as deformações longitudinais assim como as deformações na base e
no subleito. Quando assentados devem ser confinado as bordas rígidas que impedem que as
peças fiquem livres de tensão e possam se soltar. Geralmente são limitados nas suas
extremidades a sarjetas ou vigotas de concreto.

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Figura 18– Blocos de concreto vazados

3.3.7. CONCRETO ASFÁLTICO POROSO

É a mistura entre ligante betuminoso e agregados de tamanho uniforme. Concreto


asfáltico de maneira geral é bem conhecido como material relativamente barato e de diversas
aplicações. O concreto asfáltico poroso é uma variação do convencional com a propriedade de
ser permeável, entretanto, é susceptível a colmotação causada pelo próprio ligante. Onde o
ligante é muito fluido ou quando a união entre ligante e agregado é fraca, o ligante betuminoso
pode escorrer gradualmente da superfície do revestimento através dos poros ate acumular-se
em um ponto dentro da estrutura deixando as partículas da superfície segregadas.

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Figura 19– Pavimento de concreto asfáltico permeável

3.4. ESTUDO DE PEÇAS PRÉ-MOLDADAS DE CONCRETO

3.4.1. HISTÓRICO DA USUALIDADE DE PAVIMENTOS INTERTRAVADOS


DE CONCRETO

Blocos com a finalidade de pavimentação são utilizados há muito tempo na história da


humanidade. Após a 2ª Guerra Mundial, algumas cidades europeias foram reconstruídas tal
como eram no período pré-guerra com ruas pavimentadas por blocos de pedra. Porém pela
dificuldade em se conseguir esse tipo de material, nessa época algumas companhias passaram
a desenvolver tecnologia para a produção de blocos de concreto visando substituir com
economia a malha viária sem perder, no entanto características essências como resistência,
baixa abrasividade em aderência, facilidade de execução além de custo de transporte das peças
(Smith, 1999).

No inicio da década de 60, na Alemanha, a fabricação de blocos pré-moldados recebeu


uma grande impulsão, e a tecnologia foi expandida mundo a fora, a países como Inglaterra,
Austrália e África do Sul por exemplo.

Desde então a indústria de blocos pré-moldados vem se desenvolvendo, gerando


pesquisas de novas tecnologias, como estudos de projeto de construção de pavimentos em
blocos intertravados de concreto. Hoje no Brasil, com a decorrência de problemas com
32
enchentes, esse tipo de recurso vem sendo cada vez melhor visto pelos profissionais da área de
engenharia, como fonte de auxilio parcial ao escoamento de fluídos superficiais, e também
como benefício estético, gerando uma visão mais natural do ambiente trabalhado.

3.4.2. PAVIMENTO PERMEÁVEL EM BLOCOS DE CONCRETO

Estruturas com superfície em blocos de concreto poroso ou vazados possibilitam a


infiltração do escoamento superficial de água, sendo constituídas de dois polos: superior e
inferior.

O polo inferior é constituído pelo subleito e a camada de base em brita graduada. Já o


polo superior apresenta uma camada de instalação composta por areia grossa e a superfície em
blocos porosos ou vazados que são rejuntados com o mesmo material utilizado na camada de
instalação.

Nessa estrutura, o conjunto de camadas deve dispor de uma capacidade de drenagem


compatível com a do subleito. Respeitando essa condição, a quantidade de partes finas deve ser
reduzida, porem, é necessário evitar que os agregados de diferentes camadas venham a se
misturar.

3.4.3. TIPOS DE BLOCOS PARA ESTRUTURAS PERMEÁVEIS

Tendo em vista as vantagens proporcionadas pelo uso do pavimento permeável em


blocos de concreto, foram desenvolvidas várias classes desse material, sendo subdivididas em
três:

- Bloco de concreto poroso – Possui estrutura aberta, o que o torna permeável em todo
seu volume. Essa estrutura aberta é permitida de acordo com uma composição específica do
concreto;
- Bloco de concreto com juntas alargadas – Trata-se de blocos de utilização comum em
pavimentação, no entanto, possuem afastadores que permitem a criação de junta mais larga no
momento da execução. Tais juntas permitem que a água escoe mais rapidamente;

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- Bloco de concreto com aberturas de drenagem – São blocos com aberturas em forma
de meia-lua que permitem a infiltração da água existente na superfície.

A escolha do tipo de bloco depende essencialmente do local de aplicação. Para se tornar


viável a utilização desses blocos, a capacidade das camadas da estrutura deve possuir drenagem
compatível com a permeabilidade do subleito.

3.4.4. PRINCIPIO DE FUNCIONAMENTO

A função das estruturas de pavimentos drenantes está dividida em três elementos. A


água proveniente de escoamentos superficiais é estocada nos vazios dos blocos permeáveis e
nos vazios da estrutura do pavimento que posteriormente se infiltram no solo do subleito em
função de seu grau de permeabilidade e quantidade de água que não se infiltra é drenada por
sistemas tradicionais de escoamento.

3.4.5. DOMÍNIO DE APLICAÇÃO

A utilização de pavimentos permeáveis não pode colocar em perigo a estabilidade e a


durabilidade do pavimento. Deve-se limitar o seu campo de aplicação tendo em vista o trafego
o qual o mesmo ira suportar.

Esse tipo de pavimento deve, portanto, ser utilizado em locais de trafego leve, muito
leve e em locais onde não existe trafego de veículos pesados.

Podem-se citar estacionamentos, pátios industriais, ruas residenciais, praças, ruas para
pedestres, ciclovias, terraços, centros comerciais, entre outros, como locais para aplicação dos
pavimentos permeáveis.

34
3.4.6. MÉTODO DE EXECUÇÃO

Etapa 1: Preparação do subleito

O subleito poderá ser constituído pelo solo natural do local ou proveniente de


empréstimo, devendo apresentar índice de suporte Califórnia (CBR) maior que 2% e expansão
volumétrica menor ou igual a 2%. Toda a camada de subleito deve estar limpa, sem a presença
de plantas, raízes e qualquer tipo de matéria orgânica. Antes da execução da base e sub-base
deve ser verificado se o subleito atende a cota e os caimentos definidos no projeto. Quando
existente, a tubulação de drenagem deve ser feita conforme projeto e direcionada para uma
caixa de detenção ou para sistema de drenagem.

Etapa 2: Posicionamento da manta geotêxtil não-tecido

Quando especificado em projeto, a manta geotêxtil tem como principal função evitar o
carreamento de finos para a camada de sub-base. A manta deve ser posicionada logo acima do
subleito e deve ser deixada uma sobra nas laterais de 0,3 m no caso de solos com Índice de
Suporte Califórnia (CBR) maior que 5 e de 0,6 m em solos mais fracos, com CBR menor ou
igual a 5.

Etapa 3: Execução das camadas de sub-base e base

A sub-base é espalhada em camadas de 100 mm a 150 mm e compactada usando uma


placa vibratória ou um rolo compactador. A base possui uma espessura de 100 mm e pode ser
executada em uma camada e compactada utilizando placa vibratória ou rolo compactador.

Etapa 4: Assentamento das peças pré-moldadas de concreto

Antes de iniciar a execução da camada de assentamento devem ser posicionadas as


contenções laterais que garantam a estabilidade horizontal do sistema. Estas são constituídas de
estrutura rígida ou de dispositivos fixados na base do pavimento, de modo a impedir o seu
deslocamento. A camada de assentamento deve ser espalhada uniformemente com uma
espessura suficiente para que após compactação tenha uma espessura final de 50 mm. O

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material de assentamento é então nivelado manualmente por meio de régua metálica, correndo
a régua sobre as mestras ou de modo mecanizado, resultando em uma superfície sem
irregularidades. Após o nivelamento a camada de assentamento não deve ser submetida ao
tráfego de equipamentos ou pedestres antes da instalação das peças de concreto. Os espaços
deixados pela régua metálica devem ser preenchidos com material de assentamento. O
assentamento das peças pode ser manual ou mecanizado, e deve ser executado sem modificar a
espessura e uniformidade da camada de assentamento. A primeira fiada deve ser assentada de
acordo com o padrão de assentamento estabelecido no projeto, respeitando-se o esquadro e o
alinhamento previamente marcados e a peça não deve ser arrastada sobre a camada de
assentamento até sua posição final. Manter as linhas guia na frente da área de assentamento das
peças, verificando-se regularmente o alinhamento longitudinal e transversal e efetuar os ajustes
de alinhamento das peças, mantendo-se a espessura das juntas uniforme.

Etapa 5: Rejuntamento

Após assentar as peças, espalhar o material de rejuntamento seco sobre a camada de


revestimento, formando uma camada fina e uniforme em toda a área executada e então se
executa a varrição do material de rejuntamento até que as juntas entre as peças e destas com a
contenção lateral, sejam preenchidas a 5 mm do topo das peças (Figura 13).

Figura 20 – Pavimento de concreto asfáltico permeável

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Etapa 6: Compactação

A compactação deve ser executada utilizando-se placas vibratórias, que proporcionem


a acomodação das peças na camada de assentamento, mantendo a regularidade da camada de
revestimento sem danificar as peças de concreto e seguindo os seguintes critérios:

- A compactação deve ser realizada com sobreposição entre 15 cm a 20 cm em cada


passada sobre a anterior;

- Alternar a execução da compactação com o espalhamento do material de rejuntamento,


até que as juntas tenham sido preenchidas até 5 mm do topo do pavimento;

- A compactação deve ser executada aproximadamente até 1,5 m de qualquer frente de


trabalho do assentamento, que não contenha algum tipo de contenção.

Manutenção

Os sedimentos que se acumulam no pavimento permeável tendem a diminuir a sua


capacidade de infiltração com o tempo. Considera-se que em 10 anos o pavimento permeável
tenha uma redução de 90% nessa capacidade. A velocidade que o acúmulo de sedimentos ocorre
depende do volume de tráfego e da existência de fontes de sedimentos próximos ao pavimento,
como jardins e áreas propensas a carreamentos de sólidos. Os sedimentos, porém, ficam
limitados ao topo do rejunte do pavimento, dessa forma após esse período pode ser feita a
substituição do material de rejuntamento, devolvendo assim ao pavimento sua capacidade de
infiltração. Para aumentar a vida útil do pavimento permeável recomenda-se uma limpeza anual
retirando os sedimentos acumulados. Podem ser utilizados equipamento de aspiração para
limpeza do pavimento permeável. Outro item que deve ser observado é o crescimento de
vegetação nas juntas, que devem ser retirados, pois afetam a infiltração de água.

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Figura 21- Pavimento permeável com colmatação Figura 22-Crescimento de vegetação
das juntas
nas juntas devido ao acumulo de
sedimentos.

4. ESTUDO DE CASO

Neste projeto de graduação será apresentado um estudo de caso, sobre a implementação


de um pavimento de concreto poroso (bloquete), em um estacionamento de um edifício
residencial situado no bairro Porueva em Itapecerica da Serra, onde o nível do lençol freático
se encontrar bem elevado. O uso desse tipo de pavimente tem como fim manter a porcentagem
da área permeável em relação à área total do lote (Norma xxx abnt), e auxiliar na redução do
escoamento superficial da água no terreno, redirecionando essa vazão à um reservatório.

A obra será iniciada no mês de Dezembro de 2016, e serão acompanhadas todas as fases
de implementação do pavimento. De acordo com o projeto, o nível da água no subsolo se
encontra a 80cm do nível do terreno, tendo a necessidade de redirecionar o fluxo de águas
pluviais a um reservatório, com o fim de não gerar saturação do solo, assim evitando o possível
recalque do edifício com a alteração na vazão do lençol freático.

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Será realizado um enchimento de 40cm do terreno, que já possui uma camada pré-
existente de concreto como pavimento. O idealizado para a canalização de águas pluviais, será
manter o concreto da camada existente in loco, acrescentando apenas uma leve inclinação, e
construindo sob ele, as camadas drenantes, junto ao pavimento de concreto poroso. Essa prática
foi adotada com o fim econômico de privar a demolição do atual pavimento, o reutilizando para
evitar o escoamento excessivo direto ao solo, se fazendo também dispensável a aplicação de
uma geomembrana.

3 CONCLUSÃO PARCIAL

Foi concluído com as pesquisas realizadas até o presente momento, que a


implementação de pavimentos Drenante requer um estudo específico para cada projeto,
podendo transferir seu escoamento superficial tanto para o solo lençol freático, quanto para
drenagem a reservatórios de reutilização.

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REFERÊNCIAS

BAPTISTA, Márcio Benedito, Técnicas Compensatórias para o Controle de Cheias


Urbanas, nível 2 e 3, Belo Horizonte : ReCESA, (2007);

SCARATI MARTINS, J.R., Programa de Capacitação em Drenagem Urbana e manejo


Sustentável de Águas Pluviais – Apostila de Curso Volume II, (2006). FCTH – FUNDAÇÃO
CENTRO TECNOLOGICO DE HIDRAULICA

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Solo – Índice de


Suporte Califórnia – Método de Ensaio, NBR 9.895

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Pavimento , NBR


7207/82

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Solo –


Determinação do Coeficiente de Permeabilidade de Solos Granulares a Carga Constante –
Método de Ensaio, NBR 13.292

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Solo –


Determinação do Coeficiente de Permeabilidade de Solos Argilosos a Carga Variável, NBR
14.545

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Peças de Concreto


para Pavimentação - Especificação, NBR 9.781

CANHOLI, A.P. (Drenagem urbana e controle de enchentes/Oficina de Textos - São


Paulo, 2005)

TUCCI, Carlos E. M. (Inundações Urbanas na América do Sul/ABRH 2003)

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VIRGILIIS, Afonso Luís Corrêa (Execução de Pavimentos Permeáveis/A.L.C Virgiliis
– ed. rev.- São Paulo, 2009)

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