Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MISTA DE 230 kV
Autores
Fabiano Schmidt
LT - Linha de Transmissão
TW - Travelling Waves
SE - Subestação
CA - Corrente Alternada
CC - Corrente Contínua
PP - Polypropylene
Sumário
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 5
2. DESCRIÇÃO GERAL DA LT 230 kV MISTA HIPOTÉTICA ......................... 5
3. TRECHO SUBTERRÂNEO ......................................................................... 6
Cabos Isolados ................................................................................................ 6
Limitações do modelo do ATP/ATPDraw ...................................................... 7
Correções nos dados do condutor ................................................................ 7
Correções nos dados da blindagem metálica ............................................... 9
Correções nos dados da isolação ............................................................... 10
Correções nos dados da cobertura ............................................................. 12
Corte de Vala ................................................................................................. 12
Transposições, Conexões e Aterramento das Blindagens ............................. 13
Modelo do ATP/ATPDraw .............................................................................. 14
Validação do modelo a 60 Hz ..................................................................... 15
Parâmetros distribuídos invariantes na frequência ..................................... 16
Parâmetros distribuídos variantes na frequência ........................................ 19
4. TRECHO SUBAQUÁTICO ........................................................................ 22
Cabos Isolados .............................................................................................. 22
Limitações do modelo do ATP/ATPDraw .................................................... 22
Correções nos dados do condutor .............................................................. 22
Correções nos dados da blindagem metálica ............................................. 23
Correções nos dados da armadura............................................................. 23
Correções nos dados da isolação ............................................................... 24
Correções nos dados do berço de armadura, enchimento e capa anticorrosiva
............................................................................................................................ 25
Correções nos dados da cobertura ............................................................. 27
Configuração de Instalação ............................................................................ 28
Transposições, Conexões e Aterramento das Blindagens e Armaduras ........ 28
Modelo do ATP/ATPDraw .............................................................................. 29
Validação do modelo a 60 Hz ..................................................................... 29
Parâmetros distribuídos invariantes na frequência ..................................... 30
Parâmetros distribuídos variantes na frequência ........................................ 33
5. TRECHO AÉREO ..................................................................................... 34
Cabos Condutores ......................................................................................... 34
Cabo Para-Raios Convencional ..................................................................... 34
Cabo Para-Raios OPGW ............................................................................... 34
Silhueta Típica e Geometria ........................................................................... 36
4
1. INTRODUÇÃO
Visando modelos mais realísticos, nas suas definições buscou-se, sempre que
possível, referências e condicionantes de ordem prática. Nesse sentido, os modelos
foram desenvolvidos com base na LT 230 kV Ratones – Biguaçu. Esta LT foi
recomendada pelo planejamento no estudo (EPE, 2016), licitada no Leilão de
Transmissão n° 02/2018, e atualmente está em fase de construção, com entrada em
operação prevista para dezembro de 2022. Na Figura 2-1 pode-se verificar como essa
LT interligará a nova SE 230 kV Ratones à Rede Básica do SIN. Essa ilustração foi
obtida do sistema WEBMAP da EPE (link: https://gisepeprd2.epe.gov.br/WebMapEPE/).
Por fim, na Figura 2-2 está ilustrada a topologia e outros detalhes gerais da LT
230 kV mista hipotética proposta neste documento. Os comprimentos adotados nesta
modelagem são similares àqueles estimados à época do leilão (ANEEL, 2018) da LT
230 kV Ratones – Biguaçu.
3. TRECHO SUBTERRÂNEO
Cabos Isolados
Foram adotados cabos monopolares isolados a XLPE, de Alumínio 1600 mm2,
com o condutor formado de partes segmentadas (Milliken). Esta escolha visa atender
ao requisito de corrente apresentado na Seção 2, considerando a instalação típica
apresentada nas Figura 3-1 e Figura 3-2. O cabo adotado possui as seguintes
características principais:
Espessura Diâmetro
Camada Material Referência
[mm] [mm]
Condutor Alumínio - 49,0 Típico
Blindagem do condutor Semicondutor 1,8 52,6 Típico
Isolação XLPE 23,0 98,6 (ICEA, 2018)
Blindagem da isolação Semicondutor 2,3 103,2 Típico
Blindagem metálica Dimensionado
Cobre 1,85 106,9
(90 fios, passo de 8) 50 kA/0,5 s
Dimensionado
Capa laminada Alumínio 0,25 107,4
50 kA/0,5 s
Cobertura HDPE 4,5 116,4 Típico
7
492
𝜋 = 1885,7 𝑚𝑚2 > 1600 𝑚𝑚2
4
Por outro lado, nota-se que os cabos isolados são normalmente definidos pela
resistência CC e não pela sua bitola (IEC, 2004). No caso do cabo escolhido, a
resistência CC a 20 °C é igual a 0,0186 Ohm/km.
Para o cabo central da vala típica, ilustrada na Figura 3-1, nesta modelagem
adotou-se a temperatura de 50 °C para o condutor. Segundo (IEC, 2014), o coeficiente
de variação da resistência elétrica do alumínio com a temperatura, a 20 °C, é igual a
𝛼 = 0,00403 1/°𝐶. Portanto, a resistência CC a 50 °C do condutor seria igual a:
𝑇 𝑇
𝑅𝑐𝑐2 = 𝑅𝑐𝑐1 [1 + 𝛼 𝑇1 (𝑇2 − 𝑇1 )] = 0,0186[1 + 0,00403(50 − 20)] = 0,020849 𝑂ℎ𝑚/𝑘𝑚
8
𝑇 2
492
𝜌𝐴𝑇𝑃 = 𝑅𝑐𝑐2 × (𝜋𝑟𝑐𝑜𝑛𝑑 ) = 0,020849 × 𝜋 × 10−9 = 3,9315 × 10−8 𝑂ℎ𝑚. 𝑚
4
8𝜋𝑓
𝑥𝑠 = √ 𝑇2 𝑘𝑠 × 10−7 = 1,3447
𝑅𝑐𝑐 × 10−3
𝑥𝑠4
𝑦𝑠 = = 0,0168
192 + 0,8𝑥𝑠4
8𝜋𝑓
𝑥𝑝 = √ 𝑇2 𝑘𝑝 × 10−7 = 1,0416
𝑅𝑐𝑐 × 10−3
𝑥𝑝4 2
𝑑𝑐𝑜𝑛𝑑 2
𝑑𝑐𝑜𝑛𝑑 1,18
𝑦𝑝 = 4 ( ) 0,312 ( )+ 4 = 3,9169 × 10−4
192 + 0,8𝑥𝑝 𝑠 𝑠 𝑥𝑝
+ 0,27
[ 192 + 0,8𝑥𝑝4 ]
𝑇
𝑅𝐼𝐸𝐶 = 𝑅𝑐𝑐2 (1 + 𝑦𝑠 + 𝑦𝑝 ) = 0,020849 × (1 + 0,0168 + 3,9169 × 10−4 ) = 0,0212 𝑂ℎ𝑚/𝑘𝑚
Como 𝜌𝐴𝑇𝑃 não pode ser isolado na equação acima, pois está no argumento das
funções de Bessel, faz-se necessário o uso de algum método iterativo. Essa estratégia,
em particular, não está na literatura e foi desenvolvida por um consultor independente
em estudos realizados para a EPE. Outras variações dessa ideia geral poderiam ser
concebidas. Usando um método iterativo simples com correções, a cada iteração,
proporcionais à diferença entre 𝑅𝐼𝐸𝐶 e a resistência de um condutor cilíndrico ideal, com
𝑟𝐴𝑇𝑃 = 𝑟𝑐𝑜𝑛𝑑 , 𝜇𝑟 = 1 𝑒 𝜇0 = 4𝜋 × 10−7 , chega-se à seguinte solução:
Embora na prática essas duas camadas metálicas sejam separadas por uma fina
camada semicondutora, por simplificação elas serão representadas como uma só. Nota-
se, no entanto, que nos pontos de emenda dos cabos e aterramento das blindagens
essas duas camadas são conectadas no mesmo potencial. Além disso, como essa
semicondutora é muito fina, ela apresentaria uma capacitância extremamente elevada,
o que poderia gerar problemas numéricos ao modelo. Portanto, a estratégia é encontrar
uma resistividade equivalente, tal que a resistência CC da camada metálica
representada no ATP/ATPDraw seja a mesma da resistência CC resultante do
paralelismo entre as duas camadas reais (de Bruyn, Wouters, & Steennis, 2013). Pode-
se demonstrar que essa resistividade equivalente é dada pela seguinte expressão:
2 2 2 2 𝜋 2
𝐴𝐴𝑇𝑃 = 𝜋(𝑟𝑐𝑎𝑝𝑎_𝐴𝑙 − 𝑟𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑖𝑠𝑜𝑙 ) , 𝐴𝐴𝑙 = 𝜋(𝑟𝑐𝑎𝑝𝑎_𝐴𝑙 − 𝑟𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑 ) , 𝐴𝐶𝑢 = 𝑛𝑓𝑖𝑜𝑠 𝑑
4 𝑓𝑖𝑜𝑠
1
cos(𝛼) =
𝜋 2
√( ) + 1
𝑝
Nota-se que o fator cos(𝛼) representa o efeito do encordoamento dos fios de cobre
(CIGRE, 2013) e (CIGRE, 2013), e será tão maior quanto maior for o passo. Por
hipótese, caso os fios de cobre fossem paralelos ao eixo do cabo, com passo infinito,
esse fator seria unitário.
𝑇 𝑇
2
𝜌𝐶𝑢 1
= 𝜌𝐶𝑢 [1 + 𝛼 𝑇1 (𝑇2 − 𝑇1 )] = 1,7241[1 + 0,00393(45,3 − 20)] = 1,8955 × 10−8 𝑂ℎ𝑚. 𝑚
107,4 2 103,2 2
𝐴𝐴𝑇𝑃 = 𝜋 [( ) −( ) ] = 694,7004 𝑚𝑚2
2 2
107,4 2 106,9 2
𝐴𝐴𝑙 = 𝜋 [( ) −( ) ] = 84,1554 𝑚𝑚2
2 2
𝜋
𝐴𝐶𝑢 = 90 × × 1,852 = 241,9223 𝑚𝑚2
4
1
cos(𝛼) = = 0,9308
2
√(𝜋) + 1
8
Por fim, para os cabos laterais – Figura 3-1 – estima-se uma temperatura da ordem
de 44,2 °C para a blindagem metálica. Neste caso, a resistividade equivalente é igual a
𝜌𝐴𝑇𝑃 = 4,7496 × 10−8 𝑂ℎ𝑚. 𝑚.
1 1 1 1
= + +
𝑌𝑒𝑞 𝑌𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑐𝑜𝑛𝑑 𝑌𝑖𝑠𝑜𝑙 𝑌𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑖𝑠𝑜𝑙
semicondutor faz com que o potencial na superfície em contato com o isolante seja
praticamente o mesmo do potencial da superfície em contato com o metal.
𝑑
ln ( 𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑖𝑠𝑜𝑙 )
𝑟 𝑟 𝑑𝑐𝑜𝑛𝑑
𝜀𝐴𝑇𝑃 = 𝜀𝑖𝑠𝑜𝑙
𝑑𝑖𝑠𝑜𝑙
ln ( )
𝑑𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑐𝑜𝑛𝑑
Neste trabalho adotou-se uma constante dielétrica de 2,5 para o XLPE (IEC,
2014). Assim, a permissividade relativa corrigida para a camada isolante modelada é
igual a:
103,2
ln ( 49,0 )
𝑟
𝜀𝐴𝑇𝑃 = 2,5 = 2,9635
98,6
ln ( )
52,6
É importante ressaltar que nas versões mais recentes do ATPDraw, como a 7.2,
o usuário não necessariamente precisa fazer essa correção, entrando com as
espessuras das camadas semicondutoras. Assim, o software faz o ajuste internamente.
Alternativamente, o modelo do software também permite entrar com uma capacitância
adicional, que é somada à capacitância calculada pelo programa. Essa abordagem tem
a vantagem de não se perder o registro dos dados originais do cabo (Rosas, et al.,
2019). O valor adicional de capacitância para resultar no valor real é dado por:
𝑟 1 1
𝐶𝑎𝑑𝑑 = 𝐶𝑟𝑒𝑎𝑙 − 𝐶𝐴𝑇𝑃 = 2𝜋𝜀𝑖𝑠𝑜𝑙 𝜀0 [ − ]
𝑑𝑖𝑠𝑜𝑙 𝑑𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑖𝑠𝑜𝑙
ln ( ) ln ( )
𝑑𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑐𝑜𝑛𝑑 𝑑𝑐𝑜𝑛𝑑
1 1
𝐶𝑎𝑑𝑑 = 2 × 𝜋 × 2,5 × 8,8542 × 10−12 × [ − ] = 3,4618 × 10−11 𝐹/𝑚
98,6 103,2
ln ( ) ln ( )
52,6 49,0
Corte de Vala
Para o trecho subterrâneo foi adotada uma vala típica conforme ilustrado na Figura
3-1, com os cabos dispostos na horizontal. Esse tipo de arranjo é tipicamente
encontrado em instalações de alta e extra alta tensão. Os espaçamentos entre cabos e
profundidade podem variar em função de características da rota, considerando as
condicionantes do projeto, mas entende-se que os valores adotados estão adequados
aos objetivos do trabalho.
Nas link boxes intermediárias não se faz o aterramento direto das blindagens,
muito embora na prática elas sejam conectadas a dispositivos SVL para proteção contra
surtos. As conexões entre as emendas dos cabos isolados e as link boxes normalmente
chegam até 15 m (bonding lead). Para extensões entre 10 e 15 m, é altamente
recomendável o uso de cabos concêntricos, usando as suas duas vias, com o interior
ligando um lado da emenda e retornando para o outro lado pela parte externa. Isso se
deve ao fato de que, neste tipo de arranjo, esses cabos apresentam baixa impedância
de surto tornando a ação dos SVL efetiva para surtos rápidos (Khamlichi, Denche,
Garnacho, & Balza, 2019) e (IEEE, 2014). Por ora, esses dispositivos SVL não foram
representados nos modelos – assim como não foram representados os para-raios de
óxido metálico da LT -, porém buscou-se representar o efeito das conexões das
blindagens. Considerando-se cabos concêntricos de cobre 240 mm2 e extensões
médias de 10 m, estimou-se para cada conexão uma resistência de 0,001 Ohm e uma
14
Por fim, devido à disposição horizontal, é preferível uma transposição física dos
cabos para uma redução mais efetiva das induções nas blindagens. Essa estratégia tem
outras vantagens, como a mitigação do desequilíbrio nas variáveis de fase e induções
em eventuais elementos paralelos/próximos (circuitos, cabos de comunicação, metais
etc). Na Figura 3-2 estão ilustrados os detalhamentos tratados nesta seção.
Modelo do ATP/ATPDraw
A partir dos dados e ajustes apresentados anteriormente, a entrada de dados da
rotina LCC do ATP/ATPDraw ficou conforme Figura 3-3 e Figura 3-4. Cumpre ressaltar
que foi adotada uma resistividade de 1000 Ohm.m para o solo.
Figura 3-3 Entrada de dados da rotina LCC para o cabo central - trecho subterrâneo
15
Figura 3-4 Entrada de dados da rotina LCC para os cabos laterais - trecho subterrâneo
Validação do modelo a 60 Hz
Para esta validação, primeiramente foi necessário obter os parâmetros unitários a
60 Hz do trecho subterrâneo. Diferentemente das linhas aéreas, o LCC para cabos
isolados não apresenta em seu relatório de saída os parâmetros de sequência de forma
direta. Além disso, o esquema cross-bonding acarreta em diferenças significativas nas
impedâncias, de forma que, a princípio, não se pode analisar os blocos LCC
separadamente. Portanto, optou-se pelo uso da rotina Line Check, disponível no
ATPDraw. Ainda, apenas para esta validação, foram necessários os seguintes ajustes,
conforme ilustra a Figura 3-5: (i) minor sections idênticas de 600 m; (ii) blindagens
solidamente aterradas nas extremidades; e (iii) modelo pi-nominal.
Figura 3-5 Configuração ajustada para obtenção dos parâmetros unitários - trecho subterrâneo
Tabela 3-3 Comparação entre parâmetros do trecho subterrâneo – ATP versus CYMCAP
Apesar de estes autores não serem familiarizados com o tema das funções
baseadas em TW, parece haver certa discussão na literatura de que o modelo de
Bergeron – com parâmetros distribuídos invariantes na frequência –, pelo menos na
frequência fundamental do sistema em CA, não seria o mais adequado neste contexto.
Não obstante, em um primeiro momento, buscou-se realizar a modelagem considerando
a frequência dominante do fenômeno a ser avaliado. Em suma, esta hipótese foi
motivada pelo compromisso entre a obtenção de modelos mais simples, de fácil
calibragem, mas que ainda provessem certa precisão nos fenômenos estudados.
Durante uma falta em um dos terminais de uma LT, devido às reflexões das TW,
no terminal oposto surge uma componente de tensão transitória, sobreposta à onda da
17
frequência fundamental, com a seguinte frequência teórica (Ametani, Ohno, & Nagaoka,
2015), (Swift G. W., 1979) e (Schweitzer, et al., 2014):
𝑣
𝑓=
2𝑙
r x g b ℜ(Zc) vc f
Modo
[Ω/km] [Ω/km] [μS/km] [μS/km] [Ω] [km/ms] [Hz]
É importante notar também que, para o modo mais rápido apresentado nessa
tabela (171,55 km/ms), e considerando uma extensão média de 600 m por minor
section, o tempo de propagação das TW é de cerca de 3,5 μs. Logo, para um passo de
integração de 1 μs – premissa do modelo - não se está respeitando a regra prática de
adotar, no máximo, um passo igual a um décimo do tempo de propagação (Martinez-
Velasco, 2020) e (Siqueira, Bonatto, Martí, Hollman, & Dommel, 2015). Para isso seria
18
necessário aumentar a extensão das minor sections pelo menos para 1,7 km – o que é
infactível na prática como discutido anteriormente – ou reduzir o passo para menos de
0,35 μs - o que tem outras desvantagens, como maior tempo de processamento. Por
outro lado, se o cálculo do tempo de propagação for realizado por major section tem-se
10,5 μs, e 31,5 μs para toda a extensão do trecho subterrâneo. De qualquer forma,
esses modos mais rápidos parecem estar associados às variáveis das blindagens e,
possivelmente, a precisão nas variáveis de fase estaria assegurada mesmo com o
passo de 1 μs. Uma vez que, na prática, linhas subterrâneas possuem extensões
bastante reduzidas, deve-se atentar para a escolha do passo de integração nas
simulações com modelos a parâmetros distribuídos.
Figura 3-7 Performance do modelo de Bergeron a 15900 Hz – seq. positiva - trecho subterrâneo
Figura 3-6 Performance do modelo de Bergeron a 15900 Hz – seq. zero - trecho subterrâneo
19
Freq. init [Hz]: Limite inferior da faixa de frequência em que o modelo será
ajustado (fitting). Tipicamente esse parâmetro pode variar de 0,001 a 1 Hz
(CAUE, 2002), (CIGRE, 2013) e (Dután, 2017). No entanto, verificou-se
que em alguns casos ele poderia interferir na estabilidade numérica das
simulações, logo adotou-se o valor de 0,1 Hz.
Figura 3-8 Entrada de dados da rotina LCC para o modelo de J. Marti - trecho subterrâneo
4. TRECHO SUBAQUÁTICO
Cabos Isolados
Foram adotados cabos monopolares isolados a XLPE, de Alumínio 1200 mm2.
Esta escolha visa atender ao requisito de corrente apresentado na Seção 2,
considerando a instalação típica apresentada na Figura 4-1. O cabo adotado possui as
seguintes características principais:
Espessura Diâmetro
Camada Material Referência
[mm] [mm]
Condutor Alumínio - 43,2
Blindagem do condutor Semicondutor 2,4 48,0
Isolação XLPE 20,0 88,0
Blindagem da isolação Semicondutor 1,8 91,6
Liga de
Blindagem metálica 2,5 96,6
Chumbo
HDPE
Capa anticorrosiva 2,11 100,82
semicondutor
(ANEEL, 2018)
Fios de
Enchimento 6,0 112,82
plástico
Fios de PP com
Berço de armadura 2,3 117,42
betume
Armadura
Cobre 3,5 124,42
(94 fios)
Fios de PP com
Cobertura 4,4 133,22
betume
43,22
𝜋 = 1465,7 𝑚𝑚2 > 1200 𝑚𝑚2
4
Por outro lado, nota-se que os cabos isolados são normalmente definidos pela
resistência CC e não pela sua bitola (IEC, 2004). No caso do cabo escolhido, a
resistência CC a 20 °C é igual a 0,0247 Ohm/km.
23
𝑇 2
43,22
𝜌𝐴𝑇𝑃 = 𝑅𝑐𝑐2 × (𝜋𝑟𝑐𝑜𝑛𝑑 ) = 0,027686 × 𝜋 × 10−9 = 4,0581 × 10−8 𝑂ℎ𝑚. 𝑚
4
Como o cabo subaquático adotado não é segmentado (Milliken), essa já seria uma
boa estimativa para entrada no software. Não obstante, por coerência com o cabo
subterrâneo, e visando uma validação dessa hipótese, utilizou-se a mesma metodologia
adotada na Seção 3. Considerando-se os fatores típicos 𝑘𝑠 = 1 e 𝑘𝑝 = 0,8, a Figura 4-1,
e a temperatura de 50 °C, a resistência CA do condutor segundo (IEC, 2014) é:
𝑇
𝑅𝐼𝐸𝐶 = 𝑅𝑐𝑐2 (1 + 𝑦𝑠 + 𝑦𝑝 ) = 0,027686 × (1 + 0,1375 + 8,9282 × 10−7 ) = 0,0315 𝑂ℎ𝑚/𝑘𝑚
𝐴𝐴𝑇𝑃
𝜌𝐴𝑇𝑃 = 𝜌𝐶𝑢 , 𝑜𝑛𝑑𝑒
𝐴𝐶𝑢 cos(𝛼)
2 2
𝜋 2
𝐴𝐴𝑇𝑃 = 𝜋(𝑟𝑎𝑟𝑚𝑎𝑑𝑢𝑟𝑎 − 𝑟𝑏𝑒𝑟ç𝑜 ) , 𝐴𝐶𝑢 = 𝑛𝑓𝑖𝑜𝑠 𝑑
4 𝑓𝑖𝑜𝑠
1
cos(𝛼) =
𝜋 2
√( ) + 1
𝑝
124,42 2 117,42 2
𝐴𝐴𝑇𝑃 = 𝜋 [( ) −( ) ] = 1329,5848 𝑚𝑚2
2 2
𝜋
𝐴𝐶𝑢 = 94 × × 3,52 = 904,3860 𝑚𝑚2
4
1
cos(𝛼) = = 0,9540
2
√( 𝜋 ) + 1
10
1329,5848
𝜌𝐴𝑇𝑃 = 1,8461 = 2,8448 × 10−8 𝑂ℎ𝑚. 𝑚
904,3860 × 0,9540
Por fim, devido a separação entre cabos, será adotado o mesmo valor de
resistividade para todas as armaduras, vide Figura 4-1.
dielétrica de 2,5 para o XLPE (IEC, 2014). Assim, a permissividade relativa corrigida
para a camada isolante modelada é igual a:
𝑑 91,6
ln ( 𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑖𝑠𝑜𝑙 ) ln (43,2)
𝑟 𝑟 𝑑 𝑐𝑜𝑛𝑑
𝜀𝐴𝑇𝑃 = 𝜀𝑖𝑠𝑜𝑙 = 2,5 = 3,0999
𝑑𝑖𝑠𝑜𝑙 88,0
ln ( ) ln ( )
𝑑𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑐𝑜𝑛𝑑 48,0
1 1
𝐶𝑎𝑑𝑑 = 2 × 𝜋 × 2,5 × 8,8542 × 10−12 × [ − ] = 4,4406 × 10−11 𝐹/𝑚
88,0 91,6
ln (48,0) ln (43,2)
1 1 1 1
= + +
𝑌𝑒𝑞 𝑌𝑎𝑛𝑡𝑖𝑐𝑜𝑟𝑟𝑜𝑠𝑖𝑣𝑎 𝑌𝑒𝑛𝑐ℎ𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑌𝑏𝑒𝑟ç𝑜
1 2𝜋
𝑌 = 𝐺 + 𝑗𝐵 = ( + 𝑗𝜀 𝑟 𝜀0 )
𝜌 𝑑
ln ( 𝑒𝑥𝑡 )
𝑑𝑖𝑛𝑡
Tabela 4-2 Propriedades elétricas dos materiais das camadas externas do cabo subaquático
𝜀𝑟 𝜌
Material Referência Referência
[p.u.] [Ohm.m]
(Gustavsen, (Gustavsen,
HDPE
1000 Martinez, & 1000 Martinez, &
semicondutor
Durbak, 2005) Durbak, 2005)
(Gejo, Kuruvilla, 1
PP 2,5 E.R., E. Tomlal, ~1,2x1011
& K.C., 2013) 𝜀𝑟 𝜀0 tan(𝛿)
(Chen, Taylor, (Chen, Taylor,
Betume 3,0 Kringos, & ~2x108 Kringos, &
Birgisson, 2015) Birgisson, 2015)
(Gustavsen,
(Swift & Klein,
Água do mar 75 1 Martinez, &
1977)
Durbak, 2005)
1
𝜌𝑒𝑛𝑐ℎ𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = ≅ 1000 𝑂ℎ𝑚. 𝑚
1 1
99,9% + 0,1%
𝜌𝑝𝑙á𝑠𝑡𝑖𝑐𝑜 𝜌á𝑔𝑢𝑎
𝑟 𝑟 𝑟 𝑟
𝜀𝑏𝑒𝑟ç𝑜 = 𝜀𝑃𝑃 50,0% + 𝜀𝑏𝑒𝑡𝑢𝑚𝑒 49,9% + 𝜀á𝑔𝑢𝑎 0,1% ≅ 2,8
1
𝜌𝑏𝑒𝑟ç𝑜 = ≅ 1000 𝑂ℎ𝑚. 𝑚
1 1 1
𝜌𝑃𝑃 50,0% + 𝜌𝑏𝑒𝑡𝑢𝑚𝑒 49,9% + 𝜌á𝑔𝑢𝑎 0,1%
Ressalta-se que esses valores foram obtidos apenas no âmbito deste trabalho.
Certamente numa modelagem real deve-se ter um cuidado maior com essas constantes
equivalentes. Além disso, como essas camadas equivalentes possuem resistividades
não tão elevadas quanto as dos isolantes, por conta da penetração de água, para uma
modelagem mais acurada deveriam ser consideradas nos cálculos dos parâmetros a
suas impedâncias longitudinais (Ametani, Miyamoto, & Nagaoka, 2004) e (CIGRE,
2013). Não obstante, o ATP/ATPDraw irá considerar essas camadas como isolantes,
sem condução longitudinal de corrente. A partir das fórmulas e constantes equivalentes,
as admitâncias de cada camada e a equivalente da associação série são as seguintes:
27
2𝜋
𝑌𝑎𝑛𝑡𝑖𝑐𝑜𝑟𝑟𝑜𝑠𝑖𝑣𝑎 = (10−3 + 𝑗2 × 𝜋 × 60 × 103 × 8,8542 × 10−12 )
100,82
ln ( 96,6 )
= 0,1469 + 𝑗0,4905 × 10−3 𝑆/𝑚
2𝜋
𝑌𝑒𝑛𝑐ℎ𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = (10−3 + 𝑗2 × 𝜋 × 60 × 2,6 × 8,8542 × 10−12 )
112,82
ln ( )
100,82
= 0,0559 + 𝑗0,4849 × 10−6 𝑆/𝑚
2𝜋
𝑌𝑏𝑒𝑟ç𝑜 = (10−3 + 𝑗2 × 𝜋 × 60 × 2,8 × 8,8542 × 10−12 )
117,42
ln (112,82)
= 0,1572 + 𝑗1,4694 × 10−6 𝑆/𝑚
1
𝑌𝑒𝑞 = = 0,0322 + 𝑗0,2376 × 10−4 𝑆/𝑚
1 1 1
𝑌𝑎𝑛𝑡𝑖𝑐𝑜𝑟𝑟𝑜𝑠𝑖𝑣𝑎 + 𝑌𝑒𝑛𝑐ℎ𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 + 𝑌𝑏𝑒𝑟ç𝑜
A permissividade relativa para ser usada como dado de entrada do modelo, e que
resultaria nesse mesmo valor de susceptância, é dada por:
𝑟
𝐵𝑒𝑞 1 𝑑𝑏𝑒𝑟ç𝑜 0,2376 × 10−4 1 117,42
𝜀𝐴𝑇𝑃 = ln ( )= ln ( ) = 221,1
2𝜋𝜀0 𝑑𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑 2 × 𝜋 × 60 2 × 𝜋 × 8,8542 × 10−12 96,6
Como entre a armadura e a parte externa do cabo não há nenhuma outra camada,
e tendo em vista que a modelagem não fez alterações nas dimensões do cabo, não é
necessário fazer nenhuma correção na constante dielétrica desta camada, ou adição de
capacitância ao modelo. Não obstante, devido ao reduzido valor de resistividade da
cobertura, foi representada a condutância, conforme segue:
28
1 2𝜋 1 2×𝜋
𝐺𝑎𝑑𝑑 = = 0,091941 𝑆/𝑚
𝜌𝑐𝑜𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎 ln ( 𝑑𝑐𝑜𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎 ) 103 ln (133,22)
𝑑𝑎𝑟𝑚𝑎𝑑𝑢𝑟𝑎 124,42
Configuração de Instalação
Para o trecho subaquático foi adotada uma configuração de instalação conforme
ilustrado na Figura 4-1, com os cabos dispostos na horizontal e enterrados no leito
marinho. Nota-se o elevado espaçamento entre eles. Como a profundidade do leito não
é elevada, essa estratégia visa mitigar a extensão dos danos de um eventual acidente
com âncoras de embarcações, pois caso o acidente ocorresse os danos seriam
limitados a apenas uma fase. Certamente as configurações de instalação variam caso
a caso, em função das condicionantes do projeto, mas entende-se que os valores típicos
adotados aqui estão adequados aos objetivos do trabalho.
Modelo do ATP/ATPDraw
A partir dos dados e ajustes apresentados anteriormente, a entrada de dados da
rotina LCC do ATP/ATPDraw ficou conforme Figura 4-2. Cumpre ressaltar que foi
adotada uma resistividade de 1 Ohm.m para o solo molhado do leito marinho
(Gustavsen, Martinez, & Durbak, 2005), que é basicamente a resistividade da água do
mar, vide Tabela 4-2.
Figura 4-2 Entrada de dados da rotina LCC para o cabo central - trecho subaquático
Validação do modelo a 60 Hz
Para esta validação, primeiramente foi necessário obter os parâmetros unitários a
60 Hz do trecho subaquático. Similarmente ao trecho subterrâneo, optou-se pelo uso da
rotina Line Check do ATPDraw. Ainda, apenas para esta validação, foram necessários
os seguintes ajustes, conforme ilustra a Figura 4-3: (i) blindagens e armaduras
solidamente aterradas nas extremidades; e (ii) modelo pi-nominal.
Figura 4-3 Configuração ajustada para obtenção dos parâmetros unitários - trecho subaquático
30
Tabela 4-4 Comparação entre parâmetros do trecho subaquático – ATP versus CYMCAP
r x g b ℜ(Zc) vc f
Modo
[Ω/km] [Ω/km] [μS/km] [μS/km] [Ω] [km/ms] [Hz]
r x g b ℜ(Zc) vc f
Modo
[Ω/km] [Ω/km] [μS/km] [μS/km] [Ω] [km/ms] [Hz]
Figura 4-4 Performance do modelo de Bergeron a 6300 Hz – seq. positiva - trecho subaquático
Figura 4-5 Entrada de dados da rotina LCC para o modelo de J. Marti - trecho subaquático
5. TRECHO AÉREO
Cabos Condutores
Foi adotado 1 (um) cabo condutor CAA Ruddy (900 MCM) por fase, uma vez que
este atende aos requisitos apresentados na Seção 2, e foi a solução referencial indicada
pelo planejamento (EPE, 2016). Este cabo possui as seguintes características,
conforme (EPRI, 1982):
2 𝐴𝑡𝑢𝑏𝑜 26,01
𝑟𝑖𝑛 = √(𝑟𝑒𝑥𝑡 − 𝑑𝑓𝑖𝑜𝑠 ) − = √(6,65 − 3,09)2 − = 2,096 𝑚𝑚
𝜋 𝜋
𝜌𝐴𝑙 28,4
𝑅𝑡𝑢𝑏𝑜 = = = 1,0919 𝑂ℎ𝑚/𝑘𝑚
𝐴𝑡𝑢𝑏𝑜 26,01
1 1
𝑅𝑓𝑖𝑜𝑠 = = = 1,9348 𝑂ℎ𝑚/𝑘𝑚
1 1 1 1
𝑅𝑂𝑃𝐺𝑊 − 𝑅𝑡𝑢𝑏𝑜 0,698 − 1,0919
𝑇 𝑇
𝑅𝑐𝑐2 = 𝑅𝑐𝑐1 [1 + 𝛼 𝑇1 (𝑇2 − 𝑇1 )] = 1,9348[1 + 0,0032(35 − 20)] = 2,0277 𝑂ℎ𝑚/𝑘𝑚
𝑇2
1 1
𝑅𝑂𝑃𝐺𝑊 = = = 0,737 𝑂ℎ𝑚/𝑘𝑚
1 1 1 1
𝑇2 + 𝑇2 2,0277 + 1,1579
𝑅𝑓𝑖𝑜𝑠 𝑅𝑡𝑢𝑏𝑜
36
Figura 5-1 Disposição geométrica dos cabos do trecho aéreo - silhueta típica
Onde:
Modelo do ATP/ATPDraw
A partir dos dados e ajustes apresentados anteriormente, a entrada de dados da
rotina LCC do ATP/ATPDraw ficou conforme Figura 5-2. Cumpre ressaltar que foi
adotada uma resistividade de 1000 Ohm.m para o solo. Além disso, devido à reduzida
extensão do trecho, não foram adotadas transposições de fase.
Validação do modelo a 60 Hz
Tendo em vista que estes modelos para LT aéreas são amplamente utilizados,
julgou-se desnecessária uma validação neste caso. De qualquer forma, apresenta-se
na Tabela 5-2, de forma ilustrativa, os parâmetros elétricos unitários de sequência
calculados para 60 Hz, com condutores a 50 °C. Ressalta-se que, por definição, estes
parâmetros foram calculados considerando o trecho idealmente transposto, muito
embora ela não tenha sido efetivamente modelado desta forma. Nota-se que os valores
obtidos estão dentro do esperado e próximos daqueles tipicamente obtidos para LT
aéreas de 230 kV com características similares. As impedâncias de surto e velocidades
de propagação são para uma linha ideal, sem perdas.
r x g b ℜ(Zc) vc f
Modo
[Ω/km] [Ω/km] [μS/km] [μS/km] [Ω] [km/ms] [Hz]
Figura 5-3 Performance do modelo de Bergeron a 15000 Hz – seq. positiva – trecho aéreo
Figura 5-4 Performance do modelo de Bergeron a 15000 Hz – seq. zero - trecho aéreo
39
Figura 5-5 Entrada de dados da rotina LCC para o modelo de J. Marti - trecho aéreo
Por fim, nas Figura 5-6Figura 5-5 e Figura 5-7 pode-se verificar o desempenho do
modelo na faixa de 0,1 Hz a 1 MHz, obtida através da rotina Verify do ATPDraw.
Diferentemente do modelo de Bergeron, ambas as sequências apresentam
desempenho satisfatório em ampla faixa, de 10 Hz a 1 MHz.
De forma a contribuir para os ajustes e escolha final dos modelos, também foram
realizadas simulações no domínio do tempo (regimes transitório e permanente),
comparando-se resultados entre diferentes modelos e avaliando-se suas consistências.
Em todos os testes apresentados na sequência foi considerado um passo de integração
de 1 μs e uma janela de simulação de 500 ms. Avaliações similares podem ser
encontradas em (Faria da Silva, 2016) e (Hoidalen & Soloot, 2010).
Figura 6-1 Arranjo para representar as condutâncias do trecho subaquático de forma concentrada
Aplicação de falta
Considerando as condições pré-falta ilustradas na Figura 6-1, foi aplicado um
curto-circuito fase-terra, na fase A do terminal receptor, através de resistência de falta
de 0,1 Ohm, e no instante de tempo igual a 18 ms. Na Figura 6-2 pode-se observar as
primeiras reflexões das TW na fase A do terminal emissor para os dois modelos. A curva
em vermelho representa o modelo (i) e a em verde o modelo (ii). Nota-se que as TW
demoram cerca de 0,08 ms para chegarem até o terminal, com uma velocidade de cerca
de 162,5 km/ms, próximo ao valor da Tabela 4-6. Além disso, o período dessa onda
sobreposta está em torno de 0,16 ms, com frequência dominante de aproximadamente
6,25 kHz, muito próxima do valor previamente estimado. A “olho nu” as diferenças entre
as curvas são muito pequenas. De fato, como pode ser observado na Figura 6-4, que
ilustra o erro percentual entre os dois sinais, a diferença entre eles chega a no máximo
5 % nas primeiras reflexões. Cumpre ressaltar que, a medida em que a frequência de
cálculo dos parâmetros diminui, há uma tendência de esses erros aumentarem. Em
regime permanente essa diferença também é pequena, conforme Figura 6-3, que
apresenta a tensão na fase A do emissor com o receptor em falta, no final da simulação.
275
[kV]
200
125
50
-25
-100
18.0 18.1 18.2 18.3 18.4 [ms] 18.5
(f ile Valida_Simplif icacao_Subaquatico.pl4; x-v ar t) v :SEND1A v :SEND2A
-1
-2
-3
-4
-5
-6
18.0 18.1 18.2 18.3 18.4 [ms] 18.5
(f ile Valida_Simplif icacao_Subaquatico.pl4; x-v ar t) t:ERRO_S
Figura 6-4 Erro percentual entre as reflexões no emissor – falta na fase A do receptor - trecho
subaquático
200
[kV]
150
100
50
-50
-100
-150
-200
0.4833 0.4854 0.4875 0.4896 0.4917 0.4937 0.4958 0.4979 [s] 0.5000
(f ile Valida_Simplif icacao_Subaquatico.pl4; x-v ar t) v :SEND1A v :SEND2A
Figura 6-3 Tensão em regime permanente no emissor - falta na fase A do receptor - trecho
subaquático
Energização
Apesar de não ser o objetivo principal do sistema benchmark, também foi realizada
uma simulação de energização para verificar a consistência dos modelos. Nela foi
considerada a condição ideal com os três contatos do disjuntor do terminal emissor
fechando no mesmo instante de tempo, em 16,67 ms. Os resultados para a tensão da
fase A no terminal receptor, para os dois modelos, estão ilustrados na Figura 6-5. Nota-
se que o período da componente transitória da tensão de energização é cerca do dobro
daquele da Figura 6-2, com frequência dominante de aproximadamente 3 kHz. A “olho
nu”, as diferenças entre as curvas também são muito pequenas. De fato, como pode ser
observado na Figura 6-6, que ilustra o erro percentual entre os dois sinais, a diferença
43
entre eles chega a no máximo 2 % nas primeiras reflexões. Cumpre ressaltar que, a
medida em que a frequência de cálculo dos parâmetros diminui, há uma tendência de
esses erros aumentarem. Já em regime permanente essa diferença também é pequena,
conforme Figura 6-7, que apresenta a tensão na fase A do receptor com o terminal
aberto, no último ciclo da simulação.
400
[kV]
310
220
130
40
-50
16.60 16.98 17.36 17.74 18.12 [ms] 18.50
(f ile Valida_Simplif icacao_Subaquatico.pl4; x-v ar t) v :REND1A v :REND2A
3.0
2.5
2.0
1.5
1.0
0.5
0.0
-0.5
-1.0
16.670 16.975 17.280 17.585 17.890 18.195 [ms] 18.500
(f ile Valida_Simplif icacao_Subaquatico.pl4; x-v ar t) t:ERRO_R
Figura 6-6 Erro percentual entre as tensões no receptor – energização - trecho subaquático
200
[kV]
150
100
50
-50
-100
-150
-200
0.4833 0.4854 0.4875 0.4896 0.4917 0.4937 0.4958 0.4979 [s] 0.5000
(f ile Valida_Simplif icacao_Subaquatico.pl4; x-v ar t) v :REND1A v :REND2A
Aplicação de falta
Considerando as condições estabelecidas acima, foi aplicado um curto-circuito
fase-terra, na fase A do terminal receptor, através de resistência de falta de 0,1 Ohm, e
no instante de tempo igual a 18 ms. Na Figura 6-8 pode-se observar as primeiras
reflexões das TW na fase A do terminal emissor para os três modelos. O primeiro
aspecto relevante a ser observado é a diferença entre os tempos de propagação das
TW. No primeiro modelo o tempo necessário para a primeira reflexão é cerca de 0,176
ms, no segundo 0,142 ms e no terceiro 0,133 ms. Se calculássemos a soma dos tempos
de propagação dos modos mais rápidos de cada trecho - vide Tabela 3-4, Tabela 4-6 e
Tabela 5-3 - obteríamos cerca de 0,144 ms, valor bastante próximo do modelo (ii). Por
outro lado, se assumíssemos a velocidade de 213,5 km/ms do modelo (iii) como
referência, essas diferenças, em termos de distância percorrida, seriam cerca de 9,2
45
300
[kV]
200
100
-100
-200
18.0 18.4 18.8 19.2 19.6 [ms] 20.0
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :SEND1A v :SEND2A v :SEND3A
200
[kV]
150
100
50
-50
-100
-150
-200
0.4833 0.4854 0.4875 0.4896 0.4917 0.4937 0.4958 0.4979 [s] 0.5000
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :SEND1A v :SEND2A v :SEND3A
Figura 6-9 Tensão em regime permanente no emissor - falta na fase A do receptor – LT completa
resultados entre os modelos (i) e (iii) ficam muito próximos, e ambos bastante distintos
do modelo (ii), vide Figura 6-9. Conclusões similares podem ser obtidas das Figura 6-10
e Figura 6-11, que ilustram, respectivamente, as tensões nas blindagens do trecho
subterrâneo nos regimes transitório e permanente. Foram testados pontos de falta
distintos o longo da LT e conclusões similares foram obtidas. Particularmente, para uma
falta na transição aéreo-subaquático, observa-se, nos modelos (i) e (ii), o efeito das
diferenças entre as velocidades dos modos de propagação (aéreo e terra), que resulta
em duas componentes de frequência melhor caracterizadas nas primeiras reflexões. Já
no modelo (iii) essa mesma evidência não é facilmente observada, vide Figura 6-12.
30
[kV]
20
10
-10
-20
-30
18.0 18.4 18.8 19.2 19.6 [ms] 20.0
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :SHUG1A v :SHUG2A v :SHUG3A
10.0
[kV]
7.5
5.0
2.5
0.0
-2.5
-5.0
-7.5
-10.0
0.4833 0.4854 0.4875 0.4896 0.4917 0.4937 0.4958 0.4979 [s] 0.5000
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :SHUG1A v :SHUG2A v :SHUG3A
Figura 6-11 Tensão em regime permanente nas blindagens - falta na fase A do receptor – LT
completa
47
350
[kV]
250
150
50
-50
-150
18.00 18.04 18.08 18.12 18.16 [ms] 18.20
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :SEND1A v :SEND2A v :SEND3A
Energização
Também foi realizada uma simulação de energização, apenas para verificar a
consistência dos modelos. Nela foi considerada a condição ideal com os três contatos
do disjuntor do terminal emissor fechando no mesmo instante de tempo, em 16,67 ms.
Os resultados para a tensão da fase A no terminal receptor, para os três modelos, estão
ilustrados na Figura 6-13. Os tempos para as TW chegarem no terminal receptor foram
de 0,177 ms no primeiro modelo, 0,142 ms no segundo e 0,134 ms no terceiro,
basicamente os mesmos valores da condição com falta. No entanto, durante a
energização, e para os três modelos, a frequência dominante observada é de cerca de
500 Hz. Para esses tempos de propagação, de acordo com as fórmulas teóricas
simplificadas discutidas na Seção 3, esperava-se uma frequência maior, da ordem de
1,4 a 1,9 kHz. Novamente, suspeita-se que isso esteja associado à impedância do
terminal emissor, às transições e ao cross-bonding do trecho subterrâneo.
450
[kV]
280
110
-60
-230
-400
16.0 17.5 19.0 20.5 22.0 23.5 [ms] 25.0
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :REND1A v :REND2A v :REND3A
250.0
[kV]
187.5
125.0
62.5
0.0
-62.5
-125.0
-187.5
-250.0
0.4833 0.4854 0.4875 0.4896 0.4917 0.4937 0.4958 0.4979 [s] 0.5000
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :REND1A v :REND2A v :REND3A
5000
[V]
2800
600
-1600
-3800
-6000
16.0 17.5 19.0 20.5 22.0 23.5 [ms] 25.0
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :SHUG1A v :SHUG2A v :SHUG3A
10.0
[V]
7.5
5.0
2.5
0.0
-2.5
-5.0
-7.5
-10.0
0.4833 0.4854 0.4875 0.4896 0.4917 0.4937 0.4958 0.4979 [s] 0.5000
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :SHUG1A v :SHUG2A v :SHUG3A
Regime Permanente
Por fim, apenas para fins de validação dos modelos, também foram comparados
os resultados durante a operação em regime permanente da LT, por exemplo, antes da
ocorrência de uma falta. Nas Figura 6-18 e Figura 6-17 estão ilustradas
respectivamente, para os três modelos, as tensões no receptor e as correntes no
emissor, fase A. Como já observado na maioria dos resultados anteriores, os modelos
(i) e (iii) apresentam boa coerência em regime permanente. Já o modelo (ii) apresenta
erros da ordem de 11 %, para baixo, tanto para as tensões como para as correntes.
Basicamente isso se deve ao fato de a impedância longitudinal calculada por este
modelo ser maior, haja vista as frequências de cálculo adotadas.
50
200
[kV]
150
100
50
-50
-100
-150
-200
0.4833 0.4854 0.4875 0.4896 0.4917 0.4937 0.4958 0.4979 [s] 0.5000
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :REND1A v :REND2A v :REND3A
1500
[A]
1000
500
-500
-1000
-1500
0.4833 0.4854 0.4875 0.4896 0.4917 0.4937 0.4958 0.4979 [s] 0.5000
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) c:X0132A-SEND1A c:X0130A-SEND2A
c:X0128A-SEND3A
mais adequados para a LT mista do benchmark. Não obstante, a partir dos resultados
observados, percebe-se que o modelo de Bergeron pode ser válido e útil para outras
análises e aplicações, a depender do fenômeno que se queira observar como, por
exemplo, em estudos de transitórios eletromagnéticos de manobras em LT.
8. REFERÊNCIAS
Ametani, A., Miyamoto, Y., & Nagaoka, N. (2004). Semiconducting Layer impedance
and its effect on cable wave-propagation and transient Characteristics. IEEE
Transactions on Power Delivery, vol. 19, no. 4, pp. 1523-1531.
Ametani, A., Ohno, T., & Nagaoka, N. (2015). Cable system transients : theory, modeling
and simulation. John Wiley & Sons Singapore Pte. Ltd.
ANEEL. (2018). Edital de Leilão n° 02/2018-ANEEL. Anexo 6-01 - Lote1 - LTs 230 kV
Biguaçu - Ratones C1 e C2 e SE 230/138 kV Ratones.
CAUE. (2002). ATP Rule Book. Argentinian EMTP/ATP User group. CAUE - Comité
Argentino de Usuarios del EMTP/ATP.
Chen, F., Taylor, N., Kringos, N., & Birgisson, B. (2015). A study on dielectric response
of bitumen in the low-frequency range, Road Materials and Pavement Design.
pp. 153-169.
CIGRE. (1973). The design of specially bonded cable systems, ELT_028_2. WG 21.07.
ELECTRA.
CIGRE. (1976). The design of specially bonded cable systems (Second part),
ELT_047_3. WG 21.07. ELECTRA.
CIGRE. (2005). Special bonding of high voltage power cables. Technical Brochure n°
283. WG B1.18.
CIGRE. (2013). Power System Technical Performance Issues Related to the Application
of Long HVAC Cables. Technical Brochure n° 556. WG C4.502.
de Bruyn, B., Wouters, P., & Steennis, E. (2013). Equivalent single-layer power cable
sheath for transient modeling of double-layer sheaths, 2013 IEEE Grenoble
PowerTech Conference., (pp. 1-6). Grenoble.
EPRI. (1982). Transmission Line Reference Book: 345 kV and Above/Second Edition.
Palo Alto, CA.
EPRI. (2005). EPRI AC Transmission Line Reference Book - 200 kV and Above, Third
Edition. Palo Alto, CA.
Gejo, G., Kuruvilla, J., E.R., N., E. Tomlal, J., & K.C., G. (2013). Dielectric behaviour of
PP/jute yarn commingled composites: Effect of fibre content, chemical
treatments, temperature and moisture. Composites Part A: Applied Science and
Manufacturing. Volume 47. pp. 12-21.
Gustavsen, B. (2001). Panel session on data for modeling system transients insulated
cables. 2001 IEEE Power Engineering Society Winter Meeting. Columbus, OH,
USA.
Gustavsen, B., Martinez, J. A., & Durbak, D. (2005). Parameter determination for
modeling system transients-Part II: Insulated cables. IEEE Transactions on
Power Delivery,Volume: 20, Issue: 3, July 2005, pp. 2045 - 2050.
Hoidalen, H. K., & Soloot, A. H. (2010). Cable Modelling in ATP – from NODA to TYPE94.
EEUG Meeting 2010,European EMTP-ATP Conference.
Hoidalen, H. K., Prikler, L., & Peñaloza, F. (2020). ATPDraw version 7.2 for Windows
Users's Manual.
ICEA. (2018). ICEA S-108-720-2018: Standard for Extruded Insulation Power Cables
Rated Above 46 Through 500 kV AC.
54
IEC. (2014). IEC 60287-1-1 Electric cables – Calculation of the current rating – Part 1-1:
Current rating equations (100 % load factor) and calculation of losses – General.
Edition 2.1.
IEEE. (2014). IEEE Std 575-2014, IEEE Guide for Bonding Shields and Sheaths of
Single-Conductor Power Cables Rated 5 kV through 500 kV (Revision of IEEE
Std 575-1988).
Iurinic, L., Ferraz, R., & Guimarães, A. B. (2013). Transmission Lines Fault Location
Based on High-Frequency Components Technique: a general formulation for
estimation of the dominant frequency. Proceedings of the International
Conference on Power Systems Transients (IPST). Vancouver.
Khamlichi, A., Denche, G. C., Garnacho, F. V., & Balza, X. L. (2019). Transient
overvoltage distribution in sectionalized screens of HV joints. Jicable'19:
International Conference on Cables and LV, MV, HV & EHV Cables and Cable
Systems. Versalles, France.
Labegalini , P. R., Labegalini, J. A., Fuchs, R. D., & de Almeida, M. T. (1992). Projetos
Mecânicos das Linhas Aéreas de Transmissão - 2° edição. São Paulo, SP:
Edgard Blucher Ltda.
Ohno, T., Bak, C., Akihiro, A., Wiechowski, W., & Sorensen, T. (2012). Derivation of
Theoretical Formulas of the Frequency Component Contained in the Overvoltage
Related to Long EHV Cables. IEEE Transactions on Power Delivery, vol. 27, no.
2, pp. 866-876.
Rosas, G. B., Miguel, P. M., Gonçalves, M. M., de Oliveira, F. G., de Oliveira, H. P., de
Oliveira, V. R., . . . Shimomura, J. (2019). Desafios da Modelagem no ATP dos
Parâmetros Elétricos da LT 230 kV Curitiba Centro - Uberaba, Circuito Duplo
Subterrâneo. XXV SNPTEE. Belo Horizonte, MG.
Schweitzer, E. O., Guzmán, A., Mynam, M. V., Skendzic, V., Kasztenny, B., & Marx, S.
(2014). Locating faults by the traveling waves they launch. 67th Annual
Conference for Protective Relay Engineers, (pp. 95-110). College Station.
Siqueira, J. G., Bonatto, B. D., Martí, J. R., Hollman, J. A., & Dommel, H. W. (2015). A
discussion about optimum time step size and maximum simulation time in EMTP-
based programs. International Journal of Electrical Power & Energy Systems,
Volume 72, pp. 24-32.
55
Swift, C., & Klein, L. (1977). An improved model for the dielectric constant of sea water
at microwave frequencies. IEEE Journal of Oceanic Engineering, vol. 2, no. 1,
pp. 104-111.