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MODELAGEM DE LINHA DE TRANSMISSÃO

MISTA DE 230 kV

Descrição, Cálculos e Dados de Entrada para ATP/ATPDraw

Autores

Fabiano Schmidt

Sérgio Felipe Falcão Lima

Rio de Janeiro, dezembro de 2021


2

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÔNIMOS

ATP - Alternative Transient Program

LT - Linha de Transmissão

TW - Travelling Waves

SIN - Sistema Interligado Nacional

EPE – Empresa de Pesquisa Energética

SE - Subestação

CA - Corrente Alternada

XLPE - Cross-Linked Polyethylene

HDPE - High-Density Polyethylene

CC - Corrente Contínua

SVL - Sheath Voltage Limiter

LCC - Line Constants, Cable Constants and Cables Parameters

PP - Polypropylene

CAA - Condutor de Alumínio com Alma de Aço

EAR - Extra-Alta Resistência

OPGW - Optical Ground Wire

EDS - Every Day Stress

SIL – Surge Impedance Loading


3

Sumário
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 5
2. DESCRIÇÃO GERAL DA LT 230 kV MISTA HIPOTÉTICA ......................... 5
3. TRECHO SUBTERRÂNEO ......................................................................... 6
Cabos Isolados ................................................................................................ 6
Limitações do modelo do ATP/ATPDraw ...................................................... 7
Correções nos dados do condutor ................................................................ 7
Correções nos dados da blindagem metálica ............................................... 9
Correções nos dados da isolação ............................................................... 10
Correções nos dados da cobertura ............................................................. 12
Corte de Vala ................................................................................................. 12
Transposições, Conexões e Aterramento das Blindagens ............................. 13
Modelo do ATP/ATPDraw .............................................................................. 14
Validação do modelo a 60 Hz ..................................................................... 15
Parâmetros distribuídos invariantes na frequência ..................................... 16
Parâmetros distribuídos variantes na frequência ........................................ 19
4. TRECHO SUBAQUÁTICO ........................................................................ 22
Cabos Isolados .............................................................................................. 22
Limitações do modelo do ATP/ATPDraw .................................................... 22
Correções nos dados do condutor .............................................................. 22
Correções nos dados da blindagem metálica ............................................. 23
Correções nos dados da armadura............................................................. 23
Correções nos dados da isolação ............................................................... 24
Correções nos dados do berço de armadura, enchimento e capa anticorrosiva
............................................................................................................................ 25
Correções nos dados da cobertura ............................................................. 27
Configuração de Instalação ............................................................................ 28
Transposições, Conexões e Aterramento das Blindagens e Armaduras ........ 28
Modelo do ATP/ATPDraw .............................................................................. 29
Validação do modelo a 60 Hz ..................................................................... 29
Parâmetros distribuídos invariantes na frequência ..................................... 30
Parâmetros distribuídos variantes na frequência ........................................ 33
5. TRECHO AÉREO ..................................................................................... 34
Cabos Condutores ......................................................................................... 34
Cabo Para-Raios Convencional ..................................................................... 34
Cabo Para-Raios OPGW ............................................................................... 34
Silhueta Típica e Geometria ........................................................................... 36
4

Modelo do ATP/ATPDraw .............................................................................. 37


Validação do modelo a 60 Hz ..................................................................... 37
Parâmetros distribuídos invariantes na frequência ..................................... 37
Parâmetros distribuídos variantes na frequência ........................................ 39
6. SIMULAÇÕES NO DOMÍNIO DO TEMPO ................................................ 40
Efeitos de Simplificações no Modelo do Trecho Subaquático......................... 40
Aplicação de falta ....................................................................................... 41
Energização ............................................................................................... 42
Testes Com a LT 230 kV Completa................................................................ 44
Aplicação de falta ....................................................................................... 44
Energização ............................................................................................... 47
Regime Permanente ................................................................................... 49
7. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................... 51
8. REFERÊNCIAS......................................................................................... 52
5

1. INTRODUÇÃO

Este documento apresenta detalhes de modelagem de uma LT 230 kV mista,


hipotética, composta por trechos subterrâneo, subaquático e aéreo. Os modelos serão
utilizados em um sistema benchmark, no ATP/ATPDraw, desenvolvido para estudos e
testes de funções baseadas em TW. Esse sistema está em desenvolvimento pelo
Working Group B5-55 do Cigre-Brasil.

Tendo em vista que os modelos disponíveis no ATP/ATPDraw apresentam certas


simplificações e limitações, especialmente os de cabos isolados, neste documento
serão apresentadas também as estratégias de correção de dados para entrada no
referido software. Além disso, é feita uma validação a 60 Hz dos modelos obtidos para
os trechos com cabos isolados, comparando-se os resultados com outras referências.
Também são feitas comparações, no domínio do tempo e em regime de transitórios,
entre diferentes opções de modelagem.

2. DESCRIÇÃO GERAL DA LT 230 kV MISTA HIPOTÉTICA

Visando modelos mais realísticos, nas suas definições buscou-se, sempre que
possível, referências e condicionantes de ordem prática. Nesse sentido, os modelos
foram desenvolvidos com base na LT 230 kV Ratones – Biguaçu. Esta LT foi
recomendada pelo planejamento no estudo (EPE, 2016), licitada no Leilão de
Transmissão n° 02/2018, e atualmente está em fase de construção, com entrada em
operação prevista para dezembro de 2022. Na Figura 2-1 pode-se verificar como essa
LT interligará a nova SE 230 kV Ratones à Rede Básica do SIN. Essa ilustração foi
obtida do sistema WEBMAP da EPE (link: https://gisepeprd2.epe.gov.br/WebMapEPE/).

Figura 2-1 LT 230 kV Ratones - Biguaçu. Interligação ao Norte de


Florianópolis. Fonte: WEBMAP-EPE
6

Ressalta-se, porém, que os modelos desenvolvidos neste trabalho não refletem


com exatidão a LT supracitada, na forma como ela foi concebida, projetada e/ou entrará
em operação. As características desse projeto foram usadas apenas como um balizador
nos desenvolvimentos. Destaca-se também que no Anexo Técnico (ANEEL, 2018)
desse empreendimento foram definidos os seguintes requisitos básicos, os quais
também foram observados na definição dos modelos:

Capacidade operativa do trecho subterrâneo: 1100 A

Capacidade operativa do trecho subaquático: 1100 A

Capacidade operativa de longa duração do trecho aéreo: 1004 A

Capacidade operativa de curta duração do trecho aéreo: 1100 A

Resistência elétrica CA a 50 °C máxima do trecho aéreo: 0,0737 Ohm/km

Por fim, na Figura 2-2 está ilustrada a topologia e outros detalhes gerais da LT
230 kV mista hipotética proposta neste documento. Os comprimentos adotados nesta
modelagem são similares àqueles estimados à época do leilão (ANEEL, 2018) da LT
230 kV Ratones – Biguaçu.

Figura 2-2 LT 230 kV mista proposta - trechos aéreo, subaquático e subterrâneo

3. TRECHO SUBTERRÂNEO

Cabos Isolados
Foram adotados cabos monopolares isolados a XLPE, de Alumínio 1600 mm2,
com o condutor formado de partes segmentadas (Milliken). Esta escolha visa atender
ao requisito de corrente apresentado na Seção 2, considerando a instalação típica
apresentada nas Figura 3-1 e Figura 3-2. O cabo adotado possui as seguintes
características principais:

Tabela 3-1 Características principais do cabo subterrâneo – 1600 mm2

Espessura Diâmetro
Camada Material Referência
[mm] [mm]
Condutor Alumínio - 49,0 Típico
Blindagem do condutor Semicondutor 1,8 52,6 Típico
Isolação XLPE 23,0 98,6 (ICEA, 2018)
Blindagem da isolação Semicondutor 2,3 103,2 Típico
Blindagem metálica Dimensionado
Cobre 1,85 106,9
(90 fios, passo de 8) 50 kA/0,5 s
Dimensionado
Capa laminada Alumínio 0,25 107,4
50 kA/0,5 s
Cobertura HDPE 4,5 116,4 Típico
7

Limitações do modelo do ATP/ATPDraw


Os cabos isolados possuem detalhes construtivos bastante particulares, e para
um maior detalhamento geral das suas características, sugere-se verificar a referência
(CIGRE, 2013). Não obstante, é sabido que os modelos de cabos isolados disponíveis
no ATP/ATPDraw apresentam limitações para a representação de todos os detalhes
construtivos reais (Dommel, 1996). Basicamente, os modelos permitem a entrada de,
no máximo, três camadas metálicas e três camadas isolantes. Além disso, essas
camadas são consideradas como tubos de material uniforme. Por outro lado, as
tecnologias que envolvem a fabricação dos mesmos têm evoluído e novos materiais têm
se consolidado. Dentre outros, essa evolução tem sido fortemente capitaneada pela
necessidade de mitigação de efeitos que diminuem a capacidade térmica desse tipo de
instalação. Logo, diversos aspectos construtivos, como encordoamento, fitas
bloqueadoras, camadas semicondutoras, camadas de diferentes materiais etc não
podem ser explicitamente representados. Dessa forma, é prática comum e necessária
realizar correções nos dados físicos para a entrada no software (Gustavsen, 2001),
(Gustavsen, Martinez, & Durbak, 2005), (CIGRE, 2013), (Dután, 2017) e (Rosas, et al.,
2019) visando uma reprodução mais realista nas simulações dos modelos.

Nas subseções seguintes são apresentadas as estratégias adotadas para


correção e tratamento de cada uma das camadas que compõem o cabo isolado. Cumpre
destacar que a premissa básica utilizada neste trabalho foi a de manter as dimensões
das camadas fixas, sem correção, uma vez que a alteração de dimensões das camadas,
embora pudessem melhorar alguns parâmetros, poderiam acabar gerando erros em
outros que não aqueles que se queria ajustar. Portanto, a princípio, esta estratégia de
manter as dimensões fixas apresenta parâmetros com menos erros, minimizando a
quantidade de correções – já que as espessuras das camadas interferem nos
parâmetros calculados -, com a vantagem de manter um melhor registro nos modelos
dos dados reais, pelo menos na estratégia de validação a 60 Hz.

Os valores apresentados na sequência foram obtidos via script implementado em


MATLAB. Logo, devido a truncamentos, são esperadas pequenas diferenças na
reprodução manual dos cálculos que serão detalhados.

Correções nos dados do condutor


No modelo do ATP/ATPDraw é preciso entrar com a resistividade do condutor.
Como o cabo real não é maciço - pelo contrário, é segmentado e/ou encordoado -, o
passo de encordoamento geralmente é desconhecido, e a seção transversal não é
totalmente preenchida, a resistividade do material não pode ser utilizada diretamente
como dado de entrada. Por exemplo, para o condutor de diâmetro de 49 mm tem se:

492
𝜋 = 1885,7 𝑚𝑚2 > 1600 𝑚𝑚2
4

Por outro lado, nota-se que os cabos isolados são normalmente definidos pela
resistência CC e não pela sua bitola (IEC, 2004). No caso do cabo escolhido, a
resistência CC a 20 °C é igual a 0,0186 Ohm/km.

Para o cabo central da vala típica, ilustrada na Figura 3-1, nesta modelagem
adotou-se a temperatura de 50 °C para o condutor. Segundo (IEC, 2014), o coeficiente
de variação da resistência elétrica do alumínio com a temperatura, a 20 °C, é igual a
𝛼 = 0,00403 1/°𝐶. Portanto, a resistência CC a 50 °C do condutor seria igual a:
𝑇 𝑇
𝑅𝑐𝑐2 = 𝑅𝑐𝑐1 [1 + 𝛼 𝑇1 (𝑇2 − 𝑇1 )] = 0,0186[1 + 0,00403(50 − 20)] = 0,020849 𝑂ℎ𝑚/𝑘𝑚
8

Nota-se que este resultado é uma aproximação, pois não considera a


característica não linear da resistência. Uma abordagem simples de se obter a
resistividade corrigida seria através da seguinte equação, que considera o raio do
condutor que será adotado no modelo do ATP/ATPDraw (Gustavsen, 2001):

𝑇 2
492
𝜌𝐴𝑇𝑃 = 𝑅𝑐𝑐2 × (𝜋𝑟𝑐𝑜𝑛𝑑 ) = 0,020849 × 𝜋 × 10−9 = 3,9315 × 10−8 𝑂ℎ𝑚. 𝑚
4

No entanto, como o cabo escolhido é segmentado (Milliken), e tendo em vista que


o modelo considera o condutor como um cilindro uniforme, a resistência CA calculada
pelo ATP/ATPDraw seria bastante superior à do condutor real, já que o efeito pelicular
(Skin) seria sobre estimado (CIGRE, 2013) e (CIGRE, 2013).

Em (IEC, 2014) define-se uma fórmula para o cálculo da resistência CA do


condutor. Esta norma trata de dimensionamento térmico e, portanto, uma boa estimativa
para esse parâmetro é fundamental. Basicamente, essa resistência CA é dada por:
𝑇
𝑅𝐼𝐸𝐶 = 𝑅𝑐𝑐2 (1 + 𝑦𝑠 + 𝑦𝑝 )

Onde 𝑦𝑠 e 𝑦𝑝 são os fatores de efeito pelicular e proximidade, respectivamente.


Existem diferentes fórmulas para cálculo destes fatores, que variam em função do tipo
e condições de instalação (IEC, 2014). Para este caso específico, considerando-se os
fatores típicos 𝑘𝑠 = 0,25 e 𝑘𝑝 = 0,15, a Figura 3-1, e a temperatura de 50 °C, tem-se:

8𝜋𝑓
𝑥𝑠 = √ 𝑇2 𝑘𝑠 × 10−7 = 1,3447
𝑅𝑐𝑐 × 10−3

𝑥𝑠4
𝑦𝑠 = = 0,0168
192 + 0,8𝑥𝑠4

8𝜋𝑓
𝑥𝑝 = √ 𝑇2 𝑘𝑝 × 10−7 = 1,0416
𝑅𝑐𝑐 × 10−3

𝑥𝑝4 2
𝑑𝑐𝑜𝑛𝑑 2
𝑑𝑐𝑜𝑛𝑑 1,18
𝑦𝑝 = 4 ( ) 0,312 ( )+ 4 = 3,9169 × 10−4
192 + 0,8𝑥𝑝 𝑠 𝑠 𝑥𝑝
+ 0,27
[ 192 + 0,8𝑥𝑝4 ]
𝑇
𝑅𝐼𝐸𝐶 = 𝑅𝑐𝑐2 (1 + 𝑦𝑠 + 𝑦𝑝 ) = 0,020849 × (1 + 0,0168 + 3,9169 × 10−4 ) = 0,0212 𝑂ℎ𝑚/𝑘𝑚

Tendo em conta as questões apontadas, principalmente em relação ao efeito


pelicular em condutores segmentados, a ideia básica adotada aqui foi a de encontrar
uma resistividade tal que o modelo apresente uma resistência CA para o condutor igual
a 𝑅𝐼𝐸𝐶 . Dessa forma, conforme formulações clássicas (Wedepohl & Wilcox, 1973) e
(Ametani A. , 1980), a solução para o problema seria encontrar a resistividade, 𝜌𝐴𝑇𝑃 ,
que satisfaça a seguinte equação não-linear e que calcula a impedância interna de um
condutor cilíndrico sólido:

𝜌𝐴𝑇𝑃 𝐼0 (𝑚𝑟𝐴𝑇𝑃 ) 𝑗𝜔𝜇0 𝜇𝑟


𝑅𝐼𝐸𝐶 = ℜ [𝑚 ], 𝑜𝑛𝑑𝑒 𝑚 = √
2𝜋𝑟𝐴𝑇𝑃 𝐼1 (𝑚𝑟𝐴𝑇𝑃 ) 𝜌𝐴𝑇𝑃
9

Como 𝜌𝐴𝑇𝑃 não pode ser isolado na equação acima, pois está no argumento das
funções de Bessel, faz-se necessário o uso de algum método iterativo. Essa estratégia,
em particular, não está na literatura e foi desenvolvida por um consultor independente
em estudos realizados para a EPE. Outras variações dessa ideia geral poderiam ser
concebidas. Usando um método iterativo simples com correções, a cada iteração,
proporcionais à diferença entre 𝑅𝐼𝐸𝐶 e a resistência de um condutor cilíndrico ideal, com
𝑟𝐴𝑇𝑃 = 𝑟𝑐𝑜𝑛𝑑 , 𝜇𝑟 = 1 𝑒 𝜇0 = 4𝜋 × 10−7 , chega-se à seguinte solução:

𝜌𝐴𝑇𝑃 = 2,9607 × 10−8 𝑂ℎ𝑚. 𝑚

Nota-se que este valor é cerca de 75 % da estimativa anterior. Isto é, o condutor


segmentado possui uma resistividade aparente 25 % menor que a de um condutor
maciço ideal. Por fim, é importante ressaltar que os cabos laterais – vide Figura 3-1 –
operam a uma temperatura menor que a do central, devido aos aquecimentos mútuos
entre cabos. Quando o central opera a 50 °C, os demais estarão a cerca de 48,9 °C.
Neste caso, a resistividade calculada é de 𝜌𝐴𝑇𝑃 = 2,9424 × 10−8 𝑂ℎ𝑚. 𝑚.

Correções nos dados da blindagem metálica


Conforme Tabela 3-1, a blindagem metálica do cabo adotado é composta por 90
fios de cobre, com diâmetro de 1,85 mm cada, encordoados em uma única camada. O
passo da blindagem é igual a 8 vezes o diâmetro da blindagem da isolação (8 × 103,2),
isto é, a cada 826 mm lineares de cabo os fios de cobre fazem uma revolução completa.
Além disso, sobre a blindagem metálica há uma fina capa laminada de alumínio, com
0,25 mm de espessura, que visa mitigar a penetração de umidade no interior do cabo.

Embora na prática essas duas camadas metálicas sejam separadas por uma fina
camada semicondutora, por simplificação elas serão representadas como uma só. Nota-
se, no entanto, que nos pontos de emenda dos cabos e aterramento das blindagens
essas duas camadas são conectadas no mesmo potencial. Além disso, como essa
semicondutora é muito fina, ela apresentaria uma capacitância extremamente elevada,
o que poderia gerar problemas numéricos ao modelo. Portanto, a estratégia é encontrar
uma resistividade equivalente, tal que a resistência CC da camada metálica
representada no ATP/ATPDraw seja a mesma da resistência CC resultante do
paralelismo entre as duas camadas reais (de Bruyn, Wouters, & Steennis, 2013). Pode-
se demonstrar que essa resistividade equivalente é dada pela seguinte expressão:

𝜌𝐴𝑙 𝜌𝐶𝑢 𝐴𝐴𝑇𝑃


𝜌𝐴𝑇𝑃 = , 𝑜𝑛𝑑𝑒
𝜌𝐶𝑢 𝐴𝐴𝑙 + 𝜌𝐴𝑙 𝐴𝐶𝑢 cos(𝛼)

2 2 2 2 𝜋 2
𝐴𝐴𝑇𝑃 = 𝜋(𝑟𝑐𝑎𝑝𝑎_𝐴𝑙 − 𝑟𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑖𝑠𝑜𝑙 ) , 𝐴𝐴𝑙 = 𝜋(𝑟𝑐𝑎𝑝𝑎_𝐴𝑙 − 𝑟𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑 ) , 𝐴𝐶𝑢 = 𝑛𝑓𝑖𝑜𝑠 𝑑
4 𝑓𝑖𝑜𝑠
1
cos(𝛼) =
𝜋 2
√( ) + 1
𝑝

Nota-se que o fator cos(𝛼) representa o efeito do encordoamento dos fios de cobre
(CIGRE, 2013) e (CIGRE, 2013), e será tão maior quanto maior for o passo. Por
hipótese, caso os fios de cobre fossem paralelos ao eixo do cabo, com passo infinito,
esse fator seria unitário.

Para a obtenção da resistividade equivalente, 𝜌𝐴𝑇𝑃 , se faz necessário considerar


o efeito da temperatura. Com o condutor operando a 50 °C a temperatura da blindagem
metálica é cerca de 45,3 °C. Segundo (IEC, 2014), os coeficientes de variação da
10

resistência elétrica do alumínio e do cobre com a temperatura, a 20 °C, são


respectivamente iguais a 𝛼 = 0,00403 1/°𝐶 e 𝛼 = 0,00393 1/°𝐶. Além disso, as
resistividades do alumínio e do cobre, a 20 °C, são respectivamente iguais a 2,84 × 10−8
e 1,7241 × 10−8 𝑂ℎ𝑚. 𝑚. Portanto, as resistividades corrigidas são calculadas como:
𝑇 𝑇
𝜌𝐴𝑙2 = 𝜌𝐴𝑙1 [1 + 𝛼 𝑇1 (𝑇2 − 𝑇1 )] = 2,84[1 + 0,00403(45,3 − 20)] = 3,1296 × 10−8 𝑂ℎ𝑚. 𝑚

𝑇 𝑇
2
𝜌𝐶𝑢 1
= 𝜌𝐶𝑢 [1 + 𝛼 𝑇1 (𝑇2 − 𝑇1 )] = 1,7241[1 + 0,00393(45,3 − 20)] = 1,8955 × 10−8 𝑂ℎ𝑚. 𝑚

E a resistividade equivalente para o modelo:

107,4 2 103,2 2
𝐴𝐴𝑇𝑃 = 𝜋 [( ) −( ) ] = 694,7004 𝑚𝑚2
2 2

107,4 2 106,9 2
𝐴𝐴𝑙 = 𝜋 [( ) −( ) ] = 84,1554 𝑚𝑚2
2 2
𝜋
𝐴𝐶𝑢 = 90 × × 1,852 = 241,9223 𝑚𝑚2
4
1
cos(𝛼) = = 0,9308
2
√(𝜋) + 1
8

3,1296 × 1,8955 × 694,7004


𝜌𝐴𝑇𝑃 = = 4,7684 × 10−8 𝑂ℎ𝑚. 𝑚
1,8955 × 84,1554 + 3,1296 × 241,9223 × 0,9308

Por fim, para os cabos laterais – Figura 3-1 – estima-se uma temperatura da ordem
de 44,2 °C para a blindagem metálica. Neste caso, a resistividade equivalente é igual a
𝜌𝐴𝑇𝑃 = 4,7496 × 10−8 𝑂ℎ𝑚. 𝑚.

Correções nos dados da isolação


Conforme Tabela 3-1, nas superfícies interna e externa da isolação existem
camadas de material semicondutor, conhecidas como blindagens do condutor e da
isolação, respectivamente. A função dessas camadas envolve a equalização do campo
elétrico na superfície do isolante, dadas as irregularidades dos fios do condutor e da
blindagem metálica.

Em princípio, as camadas entre o condutor e a blindagem metálica poderiam ser


modeladas no software como uma única camada isolante, resultante da associação em
série de três admitâncias (CIGRE, 2013), isto é:

1 1 1 1
= + +
𝑌𝑒𝑞 𝑌𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑐𝑜𝑛𝑑 𝑌𝑖𝑠𝑜𝑙 𝑌𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑖𝑠𝑜𝑙

Quando comparadas com o XLPE (camada isolante), as camadas semicondutoras


têm resistividades muito menores (500 − 1000 𝑂ℎ𝑚. 𝑚 contra ~1012 𝑂ℎ𝑚. 𝑚) e
constantes dielétricas significativamente maiores (> 1000 contra 2,3 − 2,5), vide
(Gustavsen, Martinez, & Durbak, 2005), (CIGRE, 2013) e (IEC, 2014). Além disso,
conforme Tabela 3-1, a espessura dessas camadas é cerca um décimo da isolação.
Esses aspectos indicam que 𝑌𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑐𝑜𝑛𝑑 𝑒 𝑌𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑖𝑠𝑜𝑙 ≫ 𝑌𝑖𝑠𝑜𝑙 e, portanto, 𝑌𝑒𝑞 ≅ 𝑌𝑖𝑠𝑜𝑙 . Outra
forma de compreender esse fenômeno é considerar que a característica do material
11

semicondutor faz com que o potencial na superfície em contato com o isolante seja
praticamente o mesmo do potencial da superfície em contato com o metal.

Como a espessura da camada isolante modelada no software acaba sendo a


soma das espessuras das camadas semicondutoras e isolante reais, caso nenhuma
correção fosse realizada a admitância calculada pelo modelo seria menor que a real.
Portanto, tem sido uma prática bastante difundida a correção na constante dielétrica do
material isolante (Gustavsen, 2001), (Gustavsen, Martinez, & Durbak, 2005), (CIGRE,
2013), (Dután, 2017) e (Rosas, et al., 2019). Pode-se demonstrar que a permissividade
relativa corrigida que resulta no mesmo valor de capacitância equivalente é dada por:

𝑑
ln ( 𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑖𝑠𝑜𝑙 )
𝑟 𝑟 𝑑𝑐𝑜𝑛𝑑
𝜀𝐴𝑇𝑃 = 𝜀𝑖𝑠𝑜𝑙
𝑑𝑖𝑠𝑜𝑙
ln ( )
𝑑𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑐𝑜𝑛𝑑

Neste trabalho adotou-se uma constante dielétrica de 2,5 para o XLPE (IEC,
2014). Assim, a permissividade relativa corrigida para a camada isolante modelada é
igual a:

103,2
ln ( 49,0 )
𝑟
𝜀𝐴𝑇𝑃 = 2,5 = 2,9635
98,6
ln ( )
52,6

É importante ressaltar que nas versões mais recentes do ATPDraw, como a 7.2,
o usuário não necessariamente precisa fazer essa correção, entrando com as
espessuras das camadas semicondutoras. Assim, o software faz o ajuste internamente.
Alternativamente, o modelo do software também permite entrar com uma capacitância
adicional, que é somada à capacitância calculada pelo programa. Essa abordagem tem
a vantagem de não se perder o registro dos dados originais do cabo (Rosas, et al.,
2019). O valor adicional de capacitância para resultar no valor real é dado por:

𝑟 1 1
𝐶𝑎𝑑𝑑 = 𝐶𝑟𝑒𝑎𝑙 − 𝐶𝐴𝑇𝑃 = 2𝜋𝜀𝑖𝑠𝑜𝑙 𝜀0 [ − ]
𝑑𝑖𝑠𝑜𝑙 𝑑𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑖𝑠𝑜𝑙
ln ( ) ln ( )
𝑑𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑐𝑜𝑛𝑑 𝑑𝑐𝑜𝑛𝑑

Onde 𝜀0 ≅ 8,854188 × 10−12 𝐹/𝑚 é a permissividade do vácuo. Assim:

1 1
𝐶𝑎𝑑𝑑 = 2 × 𝜋 × 2,5 × 8,8542 × 10−12 × [ − ] = 3,4618 × 10−11 𝐹/𝑚
98,6 103,2
ln ( ) ln ( )
52,6 49,0

Adicionalmente, neste modo também é possível entrar com a condutância da


camada isolante. Normalmente esse parâmetro é desconsiderado para as camadas
isolantes, dado o seu valor reduzido. No entanto, tendo em vista os objetivos deste
trabalho e visando uma maior acurácia dos resultados, optou-se por representar as
perdas na isolação. Esse parâmetro pode ser calculado como (Dommel, 1996):
𝑟
2𝜋𝜀𝑖𝑠𝑜𝑙 𝜀0
𝐺𝑎𝑑𝑑 = 2𝜋𝑓𝐶𝑖𝑠𝑜𝑙 tan(𝛿) = 2𝜋𝑓 tan(𝛿)
𝑑𝑖𝑠𝑜𝑙
ln ( )
𝑑𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑐𝑜𝑛𝑑
12

Onde 𝑓 é a frequência do sistema e tan(𝛿) um fator de perdas. Considerando


tan(𝛿) = 0,001 (IEC, 2014), tem-se:

2 × 𝜋 × 2,5 × 8,8542 × 10−12


𝐺𝑎𝑑𝑑 = 2 × 𝜋 × 60 × × 0,001 = 8,3444 × 10−11 𝑆/𝑚
98,6
ln ( )
52,6

Correções nos dados da cobertura


Como não há camada semicondutora entre a capa laminada e a cobertura, e tendo
em vista que a modelagem não fez alterações nas dimensões do cabo, não é necessário
fazer nenhuma correção na constante dielétrica desta camada, ou adição de
capacitância ao modelo. Não obstante, similarmente à isolação, também foi
representada a condutância, conforme segue. Nota-se que a constante dielétrica
adotada para o HDPE foi de 2,3 e o fator de perdas de 0,001, conforme (IEC, 2014).

2 × 𝜋 × 2,3 × 8,8542 × 10−12


𝐺𝑎𝑑𝑑 = 2 × 𝜋 × 60 × × 0,001 = 5,9944 × 10−10 𝑆/𝑚
116,4
ln (107,4)

Corte de Vala
Para o trecho subterrâneo foi adotada uma vala típica conforme ilustrado na Figura
3-1, com os cabos dispostos na horizontal. Esse tipo de arranjo é tipicamente
encontrado em instalações de alta e extra alta tensão. Os espaçamentos entre cabos e
profundidade podem variar em função de características da rota, considerando as
condicionantes do projeto, mas entende-se que os valores adotados estão adequados
aos objetivos do trabalho.

Figura 3-1 Corte da vala típica - trecho subterrâneo


13

Transposições, Conexões e Aterramento das Blindagens


Considerando a extensão do trecho subterrâneo de 5,4 km, o requisito de corrente
de 1100 A continuamente e a vala típica, se faz necessária a adoção do esquema de
aterramento cross-bonding para que se tenha uma solução técnico-econômica razoável
(seção condutora, isolamento da blindagem metálica etc). Basicamente, via aparato e
acessórios adequados, esse esquema faz uma “conexão cruzada” das blindagens
metálicas visando reduzir – em condições ideais, anular - as tensões e correntes
induzidas nestas camadas. Para uma melhor descrição desse e outros esquemas de
aterramento, vide (CIGRE, 1973), (CIGRE, 1976), (CIGRE, 2005) e (IEEE, 2014).

No esquema cross-bonding a extensão total do trecho subterrâneo é composta


por uma ou mais major sections, cada uma destas compostas por três minor sections,
com comprimentos o mais próximo possível uns dos outros, isto é, 1/3 da major section
correspondente. Nos pontos de emenda dos cabos isolados - interface entre minor e
major sections – é onde se faz as conexões das blindagens, via link boxes. Dentre outras
coisas, o comprimento máximo de uma minor section está associado ao perfil de tensão
nas blindagens ao longo de uma major section. Os limites praticados para esta tensão
variam muito no mundo (IEEE, 2014), em função das práticas de projeto e fornecimento,
e, portanto, é difícil estabelecer objetivamente um limite de comprimento sem uma
especificação técnica do cabo isolado. Neste trabalho, caso o trecho subterrâneo fosse
dividido em 6 minor sections idênticas (2 major sections), cada uma teria 900 m. Com
base na experiência, tanto do ponto de vista de comprimento de bobinas quanto de
sobretensões nas blindagens metálicas, julgou-se este valor elevado. Logo, adotou-se
3 major sections, idealmente com minor sections de 600 m cada. Na prática, porém,
dificuldades de diversas naturezas ao longo do traçado podem resultar em pequenas
diferenças de comprimentos (espaço físico, esforço máximo de puxamento, curvas
acentuadas, logística etc). Assim, visando capturar desequilíbrios que possam
acontecer em campo, utilizou-se valores entre 525 e 675 m, com diferenças máximas
de 50 m dentro de uma mesma major section.

Na interface entre duas major sections todas as blindagens metálicas são


conectadas no mesmo potencial e aterradas. Isso também é feito nos terminais, tanto
na transição subaquático-subterrâneo como na subestação receptora. Intuitivamente,
espera-se que esses aterramentos intermediários sejam menos efetivos que o
aterramento da subestação. Por exemplo, a partir de (CAUE, 2002) infere-se que a
relação entre essas resistências de aterramento pode ficar entre 10 a 100 vezes.
Segundo (Hansen & Pedersen, 2012) a resistência dos aterramentos intermediários
normalmente fica entre 10 e 20 Ohm. Valores das mesmas ordens de grandezas podem
ser encontrados em (CIGRE, 2005). Portanto, neste trabalho adotou-se resistências de
aterramento de 10 Ohm nos pontos intermediários e na transição, e 1 Ohm na
subestação receptora.

Nas link boxes intermediárias não se faz o aterramento direto das blindagens,
muito embora na prática elas sejam conectadas a dispositivos SVL para proteção contra
surtos. As conexões entre as emendas dos cabos isolados e as link boxes normalmente
chegam até 15 m (bonding lead). Para extensões entre 10 e 15 m, é altamente
recomendável o uso de cabos concêntricos, usando as suas duas vias, com o interior
ligando um lado da emenda e retornando para o outro lado pela parte externa. Isso se
deve ao fato de que, neste tipo de arranjo, esses cabos apresentam baixa impedância
de surto tornando a ação dos SVL efetiva para surtos rápidos (Khamlichi, Denche,
Garnacho, & Balza, 2019) e (IEEE, 2014). Por ora, esses dispositivos SVL não foram
representados nos modelos – assim como não foram representados os para-raios de
óxido metálico da LT -, porém buscou-se representar o efeito das conexões das
blindagens. Considerando-se cabos concêntricos de cobre 240 mm2 e extensões
médias de 10 m, estimou-se para cada conexão uma resistência de 0,001 Ohm e uma
14

reatância indutiva de 0,0005 Ohm. Nos terminais, no entanto, considerou-se um


aumento dessa reatância para 0,003 Ohm, haja vista que não há retorno pelo cabo
concêntrico.

Por fim, devido à disposição horizontal, é preferível uma transposição física dos
cabos para uma redução mais efetiva das induções nas blindagens. Essa estratégia tem
outras vantagens, como a mitigação do desequilíbrio nas variáveis de fase e induções
em eventuais elementos paralelos/próximos (circuitos, cabos de comunicação, metais
etc). Na Figura 3-2 estão ilustrados os detalhamentos tratados nesta seção.

Figura 3-2 Transposições, conexões e aterramento das blindagens - trecho subterrâneo

Modelo do ATP/ATPDraw
A partir dos dados e ajustes apresentados anteriormente, a entrada de dados da
rotina LCC do ATP/ATPDraw ficou conforme Figura 3-3 e Figura 3-4. Cumpre ressaltar
que foi adotada uma resistividade de 1000 Ohm.m para o solo.

Figura 3-3 Entrada de dados da rotina LCC para o cabo central - trecho subterrâneo
15

Figura 3-4 Entrada de dados da rotina LCC para os cabos laterais - trecho subterrâneo

Validação do modelo a 60 Hz
Para esta validação, primeiramente foi necessário obter os parâmetros unitários a
60 Hz do trecho subterrâneo. Diferentemente das linhas aéreas, o LCC para cabos
isolados não apresenta em seu relatório de saída os parâmetros de sequência de forma
direta. Além disso, o esquema cross-bonding acarreta em diferenças significativas nas
impedâncias, de forma que, a princípio, não se pode analisar os blocos LCC
separadamente. Portanto, optou-se pelo uso da rotina Line Check, disponível no
ATPDraw. Ainda, apenas para esta validação, foram necessários os seguintes ajustes,
conforme ilustra a Figura 3-5: (i) minor sections idênticas de 600 m; (ii) blindagens
solidamente aterradas nas extremidades; e (iii) modelo pi-nominal.

Figura 3-5 Configuração ajustada para obtenção dos parâmetros unitários - trecho subterrâneo

Tabela 3-2 Parâmetros unitários de sequência a 60 Hz e 50 °C - trecho subterrâneo

Sequência r [Ω/km] x [Ω/km] b [μS/km] Zo [Ω] vo [km/ms]


1 0,0212 0,2436 83,4440 54,03 83,62

0 0,0894 0,0750 83,4440 29,98 150,70

Os parâmetros unitários obtidos neste “ensaio” estão sumarizados na Tabela 3-2.


As condutâncias não são apresentadas pois o modelo pi-nominal não as considera. As
impedâncias de surto e velocidades de propagação são para uma linha ideal, sem
perdas.
16

Algumas constatações iniciais são relevantes: (i) a resistência de sequência


positiva é praticamente a 𝑅𝐼𝐸𝐶 , pois numa situação idealmente equilibrada, em conjunto
com o cross-bonding, não há retorno pelas blindagens e a resistência do cabo é definida
só pelo condutor; (ii) a reatância de sequência zero é cerca de 1/3 da reatância de
sequência positiva, pois o retorno de corrente pelas blindagens acaba reduzindo a
reatância do cabo, fenômeno típico de cabos coaxiais; (iii) as susceptâncias são iguais
devido ao confinamento do campo elétrico promovido pelas blindagens, e muito
próximas de resultados de fórmulas práticas, 83,3 𝜇𝑆/𝑘𝑚 (IEC, 2014); e (iv) devido às
elevadas capacitâncias, são esperados modos com velocidades de propagação
reduzidas, com a sequência zero mais rápida, devido à sua menor reatância.

Para a validação do modelo computacional, normalmente se compara os


parâmetros obtidos com cálculos propostos por bibliografias técnicas, por exemplo
(CIGRE, 2013) e (IEC, 2014), com data-sheets de cabos, com resultados de ensaios de
campo ou laboratório, ou mesmo com outros softwares. Neste trabalho optou-se por
comparar com os parâmetros calculados pelo software CYMCAP (CYME, 2021), que é
uma ferramenta amplamente utilizada no mundo, sendo, portanto, uma referência
confiável. A partir dos resultados dispostos na Tabela 3-3 pode-se concluir que as
diferenças mais importantes estão nas reatâncias, especialmente na sequência zero.
Não obstante, como a maior diferença ainda é inferior a 5 %, julga-se que o modelo
obtido está adequado para este trabalho.

Tabela 3-3 Comparação entre parâmetros do trecho subterrâneo – ATP versus CYMCAP

Fonte r1 [Ω/km] x1 [Ω/km] r0 [Ω/km] x0 [Ω/km] b [μS/km]

ATP 0,0212 0,2436 0,0894 0,0750 83,4440


CYMCAP 0,0212 0,2467 0,0895 0,0785 83,4044
Erro [%] 0,00 % -1,26 % -0,11 % -4,46 % 0,05 %

Parâmetros distribuídos invariantes na frequência


Em geral, pode-se dizer que, para cada tipo de simulação, existe um modelo mais
recomendado em termos de precisão, conservadorismo, simplicidade, estabilidade
numérica etc. Como as velocidades e constantes de atenuação dos modos de
propagação das TW têm impacto importante nas análises a que se destinam este
sistema benchmark, entende-se que a precisão é um aspecto importante para os
modelos desenvolvidos. Em (CIGRE, 2013) são apresentadas recomendações para
modelagem de cabos isolados para diversos tipos de estudos, porém nada em
específico para os objetivos deste trabalho.

Apesar de estes autores não serem familiarizados com o tema das funções
baseadas em TW, parece haver certa discussão na literatura de que o modelo de
Bergeron – com parâmetros distribuídos invariantes na frequência –, pelo menos na
frequência fundamental do sistema em CA, não seria o mais adequado neste contexto.
Não obstante, em um primeiro momento, buscou-se realizar a modelagem considerando
a frequência dominante do fenômeno a ser avaliado. Em suma, esta hipótese foi
motivada pelo compromisso entre a obtenção de modelos mais simples, de fácil
calibragem, mas que ainda provessem certa precisão nos fenômenos estudados.

Durante uma falta em um dos terminais de uma LT, devido às reflexões das TW,
no terminal oposto surge uma componente de tensão transitória, sobreposta à onda da
17

frequência fundamental, com a seguinte frequência teórica (Ametani, Ohno, & Nagaoka,
2015), (Swift G. W., 1979) e (Schweitzer, et al., 2014):
𝑣
𝑓=
2𝑙

Onde 𝑣 é a velocidade do modo de propagação e 𝑙 é o comprimento da LT. Em


princípio, em uma LT trifásica sob falta assimétrica, essa componente de tensão
transitória poderia ter diferentes frequências, já que os modos de propagação possuem
velocidades distintas, vide o caso das LT aéreas, (Lopes, 2016). No entanto, em uma
análise modal de uma LT uniforme, a expressão teórica acima ainda é válida devido ao
desacoplamento entre esses modos. Por outro lado, linhas que possuem trechos com
impedâncias características distintas podem alterar essa frequência devido às reflexões.
Além disso, quanto maior a impedância do sistema - vista pelos terminais da LT -, menor
seria essa frequência, no limite teórico reduzindo-se pela metade (Swift G. W., 1979) e
(Iurinic, Ferraz, & Guimarães, 2013). Para a obtenção de frequências dominantes
associadas a outros fenômenos sugere-se verificar (Ametani, Ohno, & Nagaoka, 2015)
e (Ohno, Bak, Akihiro, Wiechowski, & Sorensen, 2012).

Sabe-se que os parâmetros modais dependem da frequência de cálculo. Quando


ocorre um aumento nessa frequência também aumentam as velocidades de
propagação, convergindo para um determinado valor (CIGRE, 2013), neste caso e para
o modo mais rápido, em torno de 15900 Hz. Na Tabela 3-4 constam os parâmetros
modais unitários do modelo de Bergeron calculados nesta frequência. As frequências
dominantes de cada modo apresentadas nesta tabela foram calculadas considerando a
extensão total do trecho subterrâneo, isto é, 5,4 km. Um aspecto que é importante
destacar é que, a rigor, a frequência da componente de tensão em cada terminal
depende da distância de cada um deles até o ponto de falta. Portanto, em tese, para
cada ponto de aplicação de falta os modelos deveriam ser reajustados em função
dessas distâncias. Não obstante, por simplicidade, e tendo em vista que outros fatores
podem alterar o valor dessa frequência teórica, optou-se por adotar a frequência de
cálculo única de 15900 Hz para todas as minor sections do trecho subterrâneo.

Tabela 3-4 Parâmetros unitários modais a 15900 Hz e 50 °C - trecho subterrâneo

r x g b ℜ(Zc) vc f
Modo
[Ω/km] [Ω/km] [μS/km] [μS/km] [Ω] [km/ms] [Hz]

1 15,3829 137,8570 2868,30 453646 17,46 12,62 1168

2 0,0811 27,0680 1,20 317899 9,23 34,06 3153


3 0,1146 23,0966 0,00 244674 9,72 42,02 3891

4 0,4488 15,3299 0,00 22118,9 26,33 171,55 15884


5 0,2239 7,6651 0,00 44233,6 13,17 171,55 15884
6 0,2237 7,6648 0,64 44235,2 13,16 171,55 15885

É importante notar também que, para o modo mais rápido apresentado nessa
tabela (171,55 km/ms), e considerando uma extensão média de 600 m por minor
section, o tempo de propagação das TW é de cerca de 3,5 μs. Logo, para um passo de
integração de 1 μs – premissa do modelo - não se está respeitando a regra prática de
adotar, no máximo, um passo igual a um décimo do tempo de propagação (Martinez-
Velasco, 2020) e (Siqueira, Bonatto, Martí, Hollman, & Dommel, 2015). Para isso seria
18

necessário aumentar a extensão das minor sections pelo menos para 1,7 km – o que é
infactível na prática como discutido anteriormente – ou reduzir o passo para menos de
0,35 μs - o que tem outras desvantagens, como maior tempo de processamento. Por
outro lado, se o cálculo do tempo de propagação for realizado por major section tem-se
10,5 μs, e 31,5 μs para toda a extensão do trecho subterrâneo. De qualquer forma,
esses modos mais rápidos parecem estar associados às variáveis das blindagens e,
possivelmente, a precisão nas variáveis de fase estaria assegurada mesmo com o
passo de 1 μs. Uma vez que, na prática, linhas subterrâneas possuem extensões
bastante reduzidas, deve-se atentar para a escolha do passo de integração nas
simulações com modelos a parâmetros distribuídos.

Figura 3-7 Performance do modelo de Bergeron a 15900 Hz – seq. positiva - trecho subterrâneo

Figura 3-6 Performance do modelo de Bergeron a 15900 Hz – seq. zero - trecho subterrâneo
19

Por fim, foi realizada uma verificação da performance do modelo, na faixa de


frequência de 0,1 Hz a 100 kHz, através da rotina Verify do ATPDraw. Inicialmente
tentou-se verificar até 1 MHz, porém a rotina apresentou alguns erros desconhecidos.
Parte dos resultados estão apresentados nas Figura 3-7 e Figura 3-6. Verifica-se que,
para frequências abaixo de 1000 Hz, os modelos apresentam erros significativos, mais
pronunciados na sequência zero. A sequência positiva apresenta bom ajuste de 1 kHz
a 100 kHz, enquanto que na sequência zero a performance seria satisfatória apenas
próximo da frequência de cálculo a 15,9 kHz.

Parâmetros distribuídos variantes na frequência


Outra possibilidade avaliada neste trabalho foi o modelo de J. Marti (Marti, 1982)
- com parâmetros distribuídos variantes na frequência. Os modelos finais para as minor
sections ficaram conforme Figura 3-8. Na sequência são apresentadas discussões e
justificativas para os valores adotados. Para maiores explicações sobre esses
parâmetros sugere-se verificar (CAUE, 2002) e (Hoidalen, Prikler, & Peñaloza, 2020).

 Freq. SS [Hz]: Frequência de estado estacionário, utilizada nos cálculos


das condições de regime permanente, logo adotou-se o valor de 60 Hz.

 Freq. init [Hz]: Limite inferior da faixa de frequência em que o modelo será
ajustado (fitting). Tipicamente esse parâmetro pode variar de 0,001 a 1 Hz
(CAUE, 2002), (CIGRE, 2013) e (Dután, 2017). No entanto, verificou-se
que em alguns casos ele poderia interferir na estabilidade numérica das
simulações, logo adotou-se o valor de 0,1 Hz.

 Decades: Número de décadas a partir de Freq. init para definir o limite


superior da faixa de frequência em que o modelo será ajustado (fitting).
Tipicamente este limite é de 1 MHz (CIGRE, 2013), ou seja, esse
parâmetro pode variar de 6 a 9, em função Freq. init. Inicialmente buscou-
se adotar o valor de 7, visando 1 MHz. Contudo, apesar de a rotina LCC
conseguir ajustar o modelo, as simulações de falta apresentaram
instabilidades numéricas e até divergência, sendo necessário reduzir esse
parâmetro até o modelo se estabilizar, logo adotou-se o valor de 5.

 Points/Dec: Número de pontos por década usados no ajuste (fitting) do


modelo. Muito embora em (CIGRE, 2013) seja indicado um valor típico de
100 pontos no total (Decades*Points/Dec), outras referências indicam o
número de 10 pontos por década (CAUE, 2002) e (Dután, 2017). Verificou-
se que em alguns casos esse parâmetro poderia interferir na estabilidade
numérica das simulações, logo adotou-se o valor de 10.

 Freq. matrix [Hz]: Frequência utilizada no cálculo da matriz de


transformação modal. Geralmente essa matriz é calculada na frequência
dominante do fenômeno a ser observado (Ametani, Ohno, & Nagaoka,
2015). Por outro lado, também é recomendado não se utilizar valores muito
elevados (Dután, 2017), logo adotou-se o valor de 15900 Hz.

Além desses parâmetros básicos, é necessária uma série de outros parâmetros


para o ajuste (fitting) do modelo de J. Marti. Por sorte, no ATP/ATPdraw existem valores
padrão para todos estes parâmetros, que em geral funcionam bem (Hoidalen, Prikler, &
Peñaloza, 2020). Não obstante, verificou-se que, para o trecho subterrâneo, o parâmetro
EPSTOL (tolerância máxima de erro no fitting no método de mínimos quadrados)
precisava ser reduzido de 0,3 (valor padrão) para 0,1, visando conferir maior
estabilidade ao modelo em algumas simulações.
20

Figura 3-8 Entrada de dados da rotina LCC para o modelo de J. Marti - trecho subterrâneo

Também foi realizada uma verificação da performance do modelo, na faixa de


frequência de 0,1 Hz a 100 kHz, através da rotina Verify do ATPDraw. Inicialmente
tentou-se verificar até 1 MHz, porém a rotina apresentou alguns erros desconhecidos.
Parte dos resultados estão apresentados nas Figura 3-9 e Figura 3-10. Verifica-se que,
para frequências abaixo de 100 Hz, a sequência positiva apresenta os maiores erros, e
na sequência zero isso ocorre somente abaixo de 10 Hz. Acima de 15,9 kHz também
são observados alguns erros em ambas as sequências, porém menores. Além disso,
diferentemente do modelo de Bergeron - vide Figura 3-7 -, a sequência zero apresenta
um desempenho satisfatório em boa parte da faixa de frequência analisada.

Figura 3-9 Performance do modelo de J. Marti – seq. positiva - trecho subterrâneo


21

Figura 3-10 Performance do modelo de J. Marti – seq. zero - trecho subterrâneo


22

4. TRECHO SUBAQUÁTICO

Cabos Isolados
Foram adotados cabos monopolares isolados a XLPE, de Alumínio 1200 mm2.
Esta escolha visa atender ao requisito de corrente apresentado na Seção 2,
considerando a instalação típica apresentada na Figura 4-1. O cabo adotado possui as
seguintes características principais:

Tabela 4-1 Características principais do cabo subaquático – 1200 mm2

Espessura Diâmetro
Camada Material Referência
[mm] [mm]
Condutor Alumínio - 43,2
Blindagem do condutor Semicondutor 2,4 48,0
Isolação XLPE 20,0 88,0
Blindagem da isolação Semicondutor 1,8 91,6
Liga de
Blindagem metálica 2,5 96,6
Chumbo
HDPE
Capa anticorrosiva 2,11 100,82
semicondutor
(ANEEL, 2018)
Fios de
Enchimento 6,0 112,82
plástico
Fios de PP com
Berço de armadura 2,3 117,42
betume
Armadura
Cobre 3,5 124,42
(94 fios)
Fios de PP com
Cobertura 4,4 133,22
betume

Limitações do modelo do ATP/ATPDraw


As limitações dos modelos são basicamente as mesmas daquelas discutidas na
Seção 3. Portanto, as estratégias adotadas para os ajustes nos dados, em geral,
também são as mesmas. Ressalta-se novamente que as dimensões do cabo foram
mantidas fixas nessas estratégias. Os aspectos que demandaram algum tratamento
diferenciado estão ressaltados nas subseções seguintes.

Correções nos dados do condutor


Similarmente ao cabo subterrâneo, para o cabo subaquático a ser utilizado no
modelo do ATP/ATPDraw, é preciso entrar com a resistividade do condutor. Contudo,
como o condutor real é encordoado, o passo geralmente é desconhecido, e a seção
transversal não é totalmente preenchida, a resistividade do material não pode ser
utilizada diretamente como dado de entrada. Por exemplo, para o condutor de diâmetro
de 43,2 mm tem se:

43,22
𝜋 = 1465,7 𝑚𝑚2 > 1200 𝑚𝑚2
4

Por outro lado, nota-se que os cabos isolados são normalmente definidos pela
resistência CC e não pela sua bitola (IEC, 2004). No caso do cabo escolhido, a
resistência CC a 20 °C é igual a 0,0247 Ohm/km.
23

Nesta modelagem adotou-se a temperatura de 50 °C para o condutor. Portanto, a


resistência CC a 50 °C do condutor seria igual a:
𝑇 𝑇
𝑅𝑐𝑐2 = 𝑅𝑐𝑐1 [1 + 𝛼 𝑇1 (𝑇2 − 𝑇1 )] = 0,0247[1 + 0,00403(50 − 20)] = 0,027686 𝑂ℎ𝑚/𝑘𝑚

Nota-se que este resultado é uma aproximação, pois não considera a


característica não linear da resistência. Uma abordagem simples de se obter a
resistividade corrigida seria através da seguinte equação, que considera o raio do
condutor, que será adotado no modelo do ATP/ATPDraw (Gustavsen, 2001):

𝑇 2
43,22
𝜌𝐴𝑇𝑃 = 𝑅𝑐𝑐2 × (𝜋𝑟𝑐𝑜𝑛𝑑 ) = 0,027686 × 𝜋 × 10−9 = 4,0581 × 10−8 𝑂ℎ𝑚. 𝑚
4

Como o cabo subaquático adotado não é segmentado (Milliken), essa já seria uma
boa estimativa para entrada no software. Não obstante, por coerência com o cabo
subterrâneo, e visando uma validação dessa hipótese, utilizou-se a mesma metodologia
adotada na Seção 3. Considerando-se os fatores típicos 𝑘𝑠 = 1 e 𝑘𝑝 = 0,8, a Figura 4-1,
e a temperatura de 50 °C, a resistência CA do condutor segundo (IEC, 2014) é:
𝑇
𝑅𝐼𝐸𝐶 = 𝑅𝑐𝑐2 (1 + 𝑦𝑠 + 𝑦𝑝 ) = 0,027686 × (1 + 0,1375 + 8,9282 × 10−7 ) = 0,0315 𝑂ℎ𝑚/𝑘𝑚

Da mesma forma que o cabo subterrâneo, usando um método iterativo com


𝑟𝐴𝑇𝑃 = 𝑟𝑐𝑜𝑛𝑑 , 𝜇𝑟 = 1 𝑒 𝜇0 = 4𝜋 × 10−7 , chega-se à seguinte solução que iguala a
resistência CA do condutor modelado à 𝑅𝐼𝐸𝐶 :

𝜌𝐴𝑇𝑃 = 4,0572 × 10−8 𝑂ℎ𝑚. 𝑚

Nota-se que esse valor é muito próximo da estimativa anterior, validando a


hipótese. Por fim, ressalta-se que, uma vez que não há efeito de aquecimento mútuo
devido à elevada separação entre cabos, todos eles operam à mesma temperatura.
Logo, a resistividade de entrada no modelo é a mesma para todos os cabos.

Correções nos dados da blindagem metálica


Conforme Tabela 4-1, a blindagem metálica do cabo adotado é composta por uma
liga de chumbo extrudada, com espessura de 2,5 mm. Para fins de modelagem, essa
camada pode ser representada como um tubo. Portanto, o único ajuste necessário é a
correção da sua resistividade com a temperatura. Com o condutor operando a 50 °C a
temperatura da blindagem metálica é cerca de 40,6 °C. Segundo (IEC, 2014), o
coeficiente de variação da resistência elétrica da liga de chumbo com a temperatura, a
20 °C, é igual a 𝛼 = 0,004 1/°𝐶. Além disso, a sua resistividade, a 20 °C, é igual a 21,4 ×
10−8 𝑂ℎ𝑚. 𝑚. Portanto, a resistividade corrigida é:
𝑇 𝑇
𝜌𝑃𝑏2 = 𝜌𝑃𝑏1 [1 + 𝛼 𝑇1 (𝑇2 − 𝑇1 )] = 21,4[1 + 0,004(40,6 − 20)] = 2,3163 × 10−7 𝑂ℎ𝑚. 𝑚

Nota-se que este resultado é uma aproximação, pois não considera a


característica não linear da resistência.

Correções nos dados da armadura


Conforme Tabela 4-1, a armadura do cabo adotado é composta por 94 fios de
cobre, com diâmetro de 3,5 mm cada, encordoados em uma única camada. A referência
de onde se obteve os dados do cabo (ANEEL, 2018) não apresenta o passo da
armadura. No projeto de um cabo subaquático, diversas questões mecânicas e das
condições de instalação devem ser levadas em conta na definição desse passo, que
24

normalmente fica entre 10 e 30 (Worzyk, 2009). Neste trabalho adotou-se o valor de 10


vezes o diâmetro do berço da armadura (10 × 117,42), isto é, a cada 1174 mm lineares
de cabo os fios de cobre fazem uma revolução completa. Vale destacar que a armadura
é uma camada necessária, especialmente, para prover suporte mecânico no manuseio,
lançamento e proteção do cabo subaquático.

Uma vez que no ATP/ATPDraw a armadura é modelada como um tubo, a


estratégia adotada aqui é encontrar uma resistividade equivalente, tal que a resistência
CC da camada metálica representada no software seja a mesma da resistência CC da
armadura, por unidade de comprimento de cabo. Pode-se demonstrar que essa
resistividade equivalente é dada pela seguinte expressão:

𝐴𝐴𝑇𝑃
𝜌𝐴𝑇𝑃 = 𝜌𝐶𝑢 , 𝑜𝑛𝑑𝑒
𝐴𝐶𝑢 cos(𝛼)

2 2
𝜋 2
𝐴𝐴𝑇𝑃 = 𝜋(𝑟𝑎𝑟𝑚𝑎𝑑𝑢𝑟𝑎 − 𝑟𝑏𝑒𝑟ç𝑜 ) , 𝐴𝐶𝑢 = 𝑛𝑓𝑖𝑜𝑠 𝑑
4 𝑓𝑖𝑜𝑠
1
cos(𝛼) =
𝜋 2
√( ) + 1
𝑝

Para a obtenção da resistividade equivalente, 𝜌𝐴𝑇𝑃 , se faz necessário considerar


o efeito da temperatura. Com o condutor operando a 50 °C a temperatura da armadura
é cerca de 38,0 °C. Portanto, as resistividades corrigidas são estimadas como:
𝑇 𝑇
2
𝜌𝐶𝑢 1
= 𝜌𝐶𝑢 [1 + 𝛼 𝑇1 (𝑇2 − 𝑇1 )] = 1,7241[1 + 0,00393(38 − 20)] = 1,8461 × 10−8 𝑂ℎ𝑚. 𝑚

E a resistividade equivalente para o modelo:

124,42 2 117,42 2
𝐴𝐴𝑇𝑃 = 𝜋 [( ) −( ) ] = 1329,5848 𝑚𝑚2
2 2
𝜋
𝐴𝐶𝑢 = 94 × × 3,52 = 904,3860 𝑚𝑚2
4
1
cos(𝛼) = = 0,9540
2
√( 𝜋 ) + 1
10

1329,5848
𝜌𝐴𝑇𝑃 = 1,8461 = 2,8448 × 10−8 𝑂ℎ𝑚. 𝑚
904,3860 × 0,9540

Por fim, devido a separação entre cabos, será adotado o mesmo valor de
resistividade para todas as armaduras, vide Figura 4-1.

Correções nos dados da isolação


Conforme Tabela 4-1, nas superfícies interna e externa da isolação existem
camadas de material semicondutor, conhecidas como blindagens do condutor e da
isolação, respectivamente. Na realidade, a espessura apresentada também considera
as fitas/barreiras contra penetração de umidade, que compõem as partes internas do
cabo. Porém, apesar de serem camadas distintas, como são material similar serão
tratadas como uma só neste trabalho, por simplificação. Dessa forma, o mesmo
tratamento dado para o cabo subterrâneo se aplica. Adotou-se também uma constante
25

dielétrica de 2,5 para o XLPE (IEC, 2014). Assim, a permissividade relativa corrigida
para a camada isolante modelada é igual a:

𝑑 91,6
ln ( 𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑖𝑠𝑜𝑙 ) ln (43,2)
𝑟 𝑟 𝑑 𝑐𝑜𝑛𝑑
𝜀𝐴𝑇𝑃 = 𝜀𝑖𝑠𝑜𝑙 = 2,5 = 3,0999
𝑑𝑖𝑠𝑜𝑙 88,0
ln ( ) ln ( )
𝑑𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑_𝑐𝑜𝑛𝑑 48,0

Alternativamente, o valor adicional de capacitância para resultar no valor real da


isolação é dado por:

1 1
𝐶𝑎𝑑𝑑 = 2 × 𝜋 × 2,5 × 8,8542 × 10−12 × [ − ] = 4,4406 × 10−11 𝐹/𝑚
88,0 91,6
ln (48,0) ln (43,2)

Considerando um fator de perdas tan(𝛿) = 0,001 (IEC, 2014), a condutância da


isolação é dada por:

2 × 𝜋 × 2,5 × 8,8542 × 10−12


𝐺𝑎𝑑𝑑 = 2 × 𝜋 × 60 × × 0,001 = 8,6503 × 10−11 𝑆/𝑚
88,0
ln (48,0)

Correções nos dados do berço de armadura, enchimento e capa anticorrosiva


Entre a blindagem metálica e a armadura do cabo adotado existem três camadas:
(i) capa anticorrosiva, de HDPE semicondutor; (ii) enchimento, de fios de plástico; e (iii)
berço de armadura, de fios de PP embebidos em betume. Para um maior detalhamento
das funcionalidades dessas camadas, e outras possibilidades construtivas, sugere-se
verificar as referências (Worzyk, 2009) e (CIGRE, 2013). Dadas as limitações do
software, a princípio, elas poderiam ser modeladas como uma única camada isolante,
resultante da associação em série de suas admitâncias, isto é:

1 1 1 1
= + +
𝑌𝑒𝑞 𝑌𝑎𝑛𝑡𝑖𝑐𝑜𝑟𝑟𝑜𝑠𝑖𝑣𝑎 𝑌𝑒𝑛𝑐ℎ𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑌𝑏𝑒𝑟ç𝑜

Assumindo-se camadas tubulares, preenchidas com material uniforme, a


admitância de cada uma delas é dada por:

1 2𝜋
𝑌 = 𝐺 + 𝑗𝐵 = ( + 𝑗𝜀 𝑟 𝜀0 )
𝜌 𝑑
ln ( 𝑒𝑥𝑡 )
𝑑𝑖𝑛𝑡

Como as propriedades dos materiais adotados não foram detalhadas em (ANEEL,


2018), fez-se um levantamento de valores típicos para suas resistividades e
permissividades, os quais estão sumarizados na Tabela 4-2. Para o PP não foi
encontrada uma referência direta de resistividade, que então foi estimada considerando-
se as fórmulas de capacitância e condutância e um fator de perdas de tan(𝛿) = 0,001.
Também foi assumido que os fios de plástico possuem as mesmas propriedades do PP.
Além do fato de o berço de armadura ser composto por diferentes materiais, os fios de
PP – também usados na cobertura – permitem, durante a operação, a penetração de
água do mar até o enchimento (Worzyk, 2009) – wet-design -, tornando suas
propriedades relevantes para o modelo.
26

Tabela 4-2 Propriedades elétricas dos materiais das camadas externas do cabo subaquático

𝜀𝑟 𝜌
Material Referência Referência
[p.u.] [Ohm.m]
(Gustavsen, (Gustavsen,
HDPE
1000 Martinez, & 1000 Martinez, &
semicondutor
Durbak, 2005) Durbak, 2005)
(Gejo, Kuruvilla, 1
PP 2,5 E.R., E. Tomlal, ~1,2x1011
& K.C., 2013) 𝜀𝑟 𝜀0 tan(𝛿)
(Chen, Taylor, (Chen, Taylor,
Betume 3,0 Kringos, & ~2x108 Kringos, &
Birgisson, 2015) Birgisson, 2015)
(Gustavsen,
(Swift & Klein,
Água do mar 75 1 Martinez, &
1977)
Durbak, 2005)

Diante desses fatos, vislumbrou-se a estratégia de se encontrar resistividades e


permissividades equivalentes para essas camadas. Supondo-se capacitores de placas
paralelas infinitas, com diferentes blocos de materiais uniformes dispostos lado a lado,
pode-se mostrar que as constantes equivalentes seriam basicamente uma soma das
constantes ponderadas pelo volume ocupado por cada material. Não obstante, para este
caso, constatou-se ser muito difícil estimar a quantidade de cada material usado e a
água penetrada, além da forma como eles são distribuídos fisicamente na camada, que
é tubular. De qualquer forma, para o prosseguimento do trabalho foram adotadas as
seguintes premissas:
𝑟 𝑟 𝑟
𝜀𝑒𝑛𝑐ℎ𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = 𝜀𝑝𝑙á𝑠𝑡𝑖𝑐𝑜 99,9% + 𝜀á𝑔𝑢𝑎 0,1% ≅ 2,6

1
𝜌𝑒𝑛𝑐ℎ𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = ≅ 1000 𝑂ℎ𝑚. 𝑚
1 1
99,9% + 0,1%
𝜌𝑝𝑙á𝑠𝑡𝑖𝑐𝑜 𝜌á𝑔𝑢𝑎
𝑟 𝑟 𝑟 𝑟
𝜀𝑏𝑒𝑟ç𝑜 = 𝜀𝑃𝑃 50,0% + 𝜀𝑏𝑒𝑡𝑢𝑚𝑒 49,9% + 𝜀á𝑔𝑢𝑎 0,1% ≅ 2,8

1
𝜌𝑏𝑒𝑟ç𝑜 = ≅ 1000 𝑂ℎ𝑚. 𝑚
1 1 1
𝜌𝑃𝑃 50,0% + 𝜌𝑏𝑒𝑡𝑢𝑚𝑒 49,9% + 𝜌á𝑔𝑢𝑎 0,1%

Ressalta-se que esses valores foram obtidos apenas no âmbito deste trabalho.
Certamente numa modelagem real deve-se ter um cuidado maior com essas constantes
equivalentes. Além disso, como essas camadas equivalentes possuem resistividades
não tão elevadas quanto as dos isolantes, por conta da penetração de água, para uma
modelagem mais acurada deveriam ser consideradas nos cálculos dos parâmetros a
suas impedâncias longitudinais (Ametani, Miyamoto, & Nagaoka, 2004) e (CIGRE,
2013). Não obstante, o ATP/ATPDraw irá considerar essas camadas como isolantes,
sem condução longitudinal de corrente. A partir das fórmulas e constantes equivalentes,
as admitâncias de cada camada e a equivalente da associação série são as seguintes:
27

2𝜋
𝑌𝑎𝑛𝑡𝑖𝑐𝑜𝑟𝑟𝑜𝑠𝑖𝑣𝑎 = (10−3 + 𝑗2 × 𝜋 × 60 × 103 × 8,8542 × 10−12 )
100,82
ln ( 96,6 )
= 0,1469 + 𝑗0,4905 × 10−3 𝑆/𝑚

2𝜋
𝑌𝑒𝑛𝑐ℎ𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = (10−3 + 𝑗2 × 𝜋 × 60 × 2,6 × 8,8542 × 10−12 )
112,82
ln ( )
100,82
= 0,0559 + 𝑗0,4849 × 10−6 𝑆/𝑚

2𝜋
𝑌𝑏𝑒𝑟ç𝑜 = (10−3 + 𝑗2 × 𝜋 × 60 × 2,8 × 8,8542 × 10−12 )
117,42
ln (112,82)
= 0,1572 + 𝑗1,4694 × 10−6 𝑆/𝑚

1
𝑌𝑒𝑞 = = 0,0322 + 𝑗0,2376 × 10−4 𝑆/𝑚
1 1 1
𝑌𝑎𝑛𝑡𝑖𝑐𝑜𝑟𝑟𝑜𝑠𝑖𝑣𝑎 + 𝑌𝑒𝑛𝑐ℎ𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 + 𝑌𝑏𝑒𝑟ç𝑜

A permissividade relativa para ser usada como dado de entrada do modelo, e que
resultaria nesse mesmo valor de susceptância, é dada por:

𝑟
𝐵𝑒𝑞 1 𝑑𝑏𝑒𝑟ç𝑜 0,2376 × 10−4 1 117,42
𝜀𝐴𝑇𝑃 = ln ( )= ln ( ) = 221,1
 2𝜋𝜀0 𝑑𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑 2 × 𝜋 × 60 2 × 𝜋 × 8,8542 × 10−12 96,6

Alternativamente, caso quiséssemos entrar apenas com valores adicionais de


capacitância e condutância no modelo, mantendo-se a permissividade do berço de
armadura fixa, os valores seriam dados por:
𝑟
𝐵𝑒𝑞 2𝜋𝜀𝑏𝑒𝑟ç𝑜 𝜀0 0,2376 × 10−4 2 × 𝜋 × 2,8 × 8,8542 × 10−12
𝐶𝑎𝑑𝑑 = − = −
 𝑑𝑏𝑒𝑟ç𝑜 2 × 𝜋 × 60 ln (
117,42
)
ln ( ) 96,6
𝑑𝑏𝑙𝑖𝑛𝑑
= 6,2235 × 10−8 𝐹/𝑚

𝐺𝑎𝑑𝑑 = 𝐺𝑒𝑞 = 0,032192 𝑆/𝑚

Uma vez que a condutância da camada equivalente é muito maior que a


susceptância, basicamente devido à penetração de água, a princípio, ela não pode ser
desprezada. Portanto, o modo de entrada no ATP/ATP Draw com valores adicionais se
mostra mais interessante, já que no outro modo a condutância não é representada.

Correções nos dados da cobertura


Conforme citado anteriormente e apresentado na Tabela 4-1, a cobertura do cabo
subaquático é composta por fios de PP embebidos em betume. Além disso, como essa
camada não é impermeável, haverá alguma penetração de água do mar (Worzyk, 2009).
Em razão dos argumentos também expostos anteriormente, adotou-se os mesmos
valores equivalentes de resistividade e permissividade relativa do berço de armadura,
𝑟
isto é, 𝜌𝑐𝑜𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎 = 1000 𝑂ℎ𝑚. 𝑚 e 𝜀𝑐𝑜𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎 = 2,8.

Como entre a armadura e a parte externa do cabo não há nenhuma outra camada,
e tendo em vista que a modelagem não fez alterações nas dimensões do cabo, não é
necessário fazer nenhuma correção na constante dielétrica desta camada, ou adição de
capacitância ao modelo. Não obstante, devido ao reduzido valor de resistividade da
cobertura, foi representada a condutância, conforme segue:
28

1 2𝜋 1 2×𝜋
𝐺𝑎𝑑𝑑 = = 0,091941 𝑆/𝑚
𝜌𝑐𝑜𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎 ln ( 𝑑𝑐𝑜𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎 ) 103 ln (133,22)
𝑑𝑎𝑟𝑚𝑎𝑑𝑢𝑟𝑎 124,42

Configuração de Instalação
Para o trecho subaquático foi adotada uma configuração de instalação conforme
ilustrado na Figura 4-1, com os cabos dispostos na horizontal e enterrados no leito
marinho. Nota-se o elevado espaçamento entre eles. Como a profundidade do leito não
é elevada, essa estratégia visa mitigar a extensão dos danos de um eventual acidente
com âncoras de embarcações, pois caso o acidente ocorresse os danos seriam
limitados a apenas uma fase. Certamente as configurações de instalação variam caso
a caso, em função das condicionantes do projeto, mas entende-se que os valores típicos
adotados aqui estão adequados aos objetivos do trabalho.

Figura 4-1 Configuração de instalação típica no leito marinho – trecho subaquático

Transposições, Conexões e Aterramento das Blindagens e Armaduras


Normalmente não é algo prático a realização de emendas de cabos e conexões
de blindagens e armaduras no leito marinho (Ametani, Ohno, & Nagaoka, 2015), pois
isso demandaria link boxes estanques. Logo, o esquema cross-bonding não se aplica.
Além disso, tendo em vista a extensão de 13 km do trecho subaquático, caso as
blindagens não fossem aterradas em ambos os terminais as tensões nelas seriam muito
elevadas.

No caso de cabos subaquáticos, portanto, o esquema de aterramento mais


indicado é o both-ends, no qual tanto as armaduras quanto as blindagens são
diretamente aterradas em ambos os terminais, embora as perdas térmicas sejam
consideravelmente mais elevadas que no esquema de cross-bonding em função das
correntes circulantes nas blindagens. Cumpre destacar que, a despeito da simplicidade
desse esquema, nota-se que praticamente toda a corrente de fase retorna pela
armadura e blindagem (Worzyk, 2009), proporcionalmente às suas impedâncias,
impactando sobremaneira o dimensionamento térmico de cabos subaquáticos.
29

Uma vez que ambos os terminais do trecho subaquático se conectam às estações


de transição, os aterramentos foram representados via resistências de 10 Ohm, mesma
premissa do trecho subterrâneo. Por fim, não são previstas transposições físicas dos
cabos, até por conta do elevado afastamento entre eles.

Modelo do ATP/ATPDraw
A partir dos dados e ajustes apresentados anteriormente, a entrada de dados da
rotina LCC do ATP/ATPDraw ficou conforme Figura 4-2. Cumpre ressaltar que foi
adotada uma resistividade de 1 Ohm.m para o solo molhado do leito marinho
(Gustavsen, Martinez, & Durbak, 2005), que é basicamente a resistividade da água do
mar, vide Tabela 4-2.

Figura 4-2 Entrada de dados da rotina LCC para o cabo central - trecho subaquático

Validação do modelo a 60 Hz
Para esta validação, primeiramente foi necessário obter os parâmetros unitários a
60 Hz do trecho subaquático. Similarmente ao trecho subterrâneo, optou-se pelo uso da
rotina Line Check do ATPDraw. Ainda, apenas para esta validação, foram necessários
os seguintes ajustes, conforme ilustra a Figura 4-3: (i) blindagens e armaduras
solidamente aterradas nas extremidades; e (ii) modelo pi-nominal.

Figura 4-3 Configuração ajustada para obtenção dos parâmetros unitários - trecho subaquático
30

Os parâmetros unitários obtidos neste “ensaio” estão sumarizados na Tabela 4-3.


As condutâncias não são apresentadas pois o modelo pi-nominal não as considera. As
impedâncias de surto e velocidades de propagação são para uma linha ideal, sem
perdas. Algumas constatações iniciais são relevantes: (i) dado o esquema de
aterramento, a resistência de sequência positiva é maior que a 𝑅𝐼𝐸𝐶 , pois leva em conta
o efeito do retorno pelas blindagens e armaduras; (ii) as impedâncias de sequência
positiva e zero são muito próximas, devido ao afastamento entre cabos, e reduzidas,
pois o retorno de corrente pelas blindagens e armaduras acaba reduzindo a reatância
do cabo, fenômeno típico de cabos coaxiais; (iii) as susceptâncias são iguais devido ao
confinamento do campo elétrico promovido pelas blindagens, e muito próximas de
resultados de fórmulas práticas, 86,4 𝜇𝑆/𝑘𝑚 (IEC, 2014); e (iv) devido às elevadas
capacitâncias, são esperados modos com velocidades de propagação reduzidas, porém
praticamente iguais devido às similaridades entre parâmetros.

Tabela 4-3 Parâmetros unitários de sequência a 60 Hz e 50 °C - trecho subaquático

Sequência r [Ω/km] x [Ω/km] b [μS/km] Zo [Ω] vo [km/ms]


+ 0,0525 0,0930 86,493 32,79 132,92
0 0,0524 0,0927 86,493 32,74 133,14

Neste caso também foi feita validação comparando-se os parâmetros calculados


pelo ATP com aqueles calculados pelo CYMCAP. A partir dos resultados dispostos na
Tabela 4-4 pode-se concluir que as diferenças mais importantes entre os softwares
novamente estão nas reatâncias. Não obstante, como a maior diferença ainda é inferior
a 5 %, julga-se que o modelo obtido está adequado para este trabalho.

Tabela 4-4 Comparação entre parâmetros do trecho subaquático – ATP versus CYMCAP

Fonte r1 [Ω/km] x1 [Ω/km] r0 [Ω/km] x0 [Ω/km] b [μS/km]

ATP 0,0525 0,0930 0,0524 0,0927 86,4930


CYMCAP 0,0527 0,0945 0,0525 0,0942 86,4618

Erro [%] -0,38 % -1,59 % -0,19 % -1,59 % 0,04 %

Parâmetros distribuídos invariantes na frequência


Similarmente ao trecho subterrâneo, também buscou-se representar o trecho
subaquático via modelo de Bergeron na frequência dominante. Nesta seção serão
tratados apenas os aspectos particulares dos cabos subaquáticos e, portanto, sugere-
se verificar as discussões anteriores para contextualização. Na Tabela 4-5 constam os
parâmetros modais unitários do modelo de Bergeron, calculados a 6300 Hz. A
convergência no cálculo da velocidade do modo mais rápido se dá antes deste valor,
por volta de 5 kHz. As frequências dominantes apresentadas nesta tabela foram
calculadas considerando a extensão total de 13 km do trecho subaquático.
31

Tabela 4-5 Parâmetros unitários modais a 6300 Hz e 50 °C – completo - trecho subaquático

r x g b ℜ(Zc) vc f
Modo
[Ω/km] [Ω/km] [μS/km] [μS/km] [Ω] [km/ms] [Hz]

1 4,0600 18,2915 205753000 -1448820 0,23 1,02 39


2 3,8044 19,7723 183882000 180532 0,26 1,02 39

3 3,8510 21,4507 166199000 1240300 0,28 1,02 39


4 0,3969 1,7523 32195600 2492540 0,19 7,95 306
5 0,3969 1,7523 32195600 2492540 0,19 7,95 306
6 0,3969 1,7523 32195600 2492540 0,19 7,95 306
7 0,5791 6,3794 0,0952 9081,88 26,53 164,28 6319
8 0,5791 6,3794 0,0952 9081,88 26,53 164,28 6319
9 0,5791 6,3794 0,0952 9081,88 26,53 164,28 6319

No modelo de Bergeron para cabos isolados do ATP/ATPDraw existem duas


opções para o cálculo das impedâncias modais. Uma considera a LT ideal, sem perdas,
com 𝑍𝑜 = √𝐿⁄𝐶 , e a outra a parte real da impedância característica, ℜ [√𝑧⁄𝑦]. Nesse
sentido, um aspecto que é importante ser destacado é que, devido às elevadas
admitâncias das camadas mais externas do cabo, podem surgir parâmetros negativos,
a depender da frequência de cálculo, vide modo 1 da tabela. Devido a isto, o ATP
apresenta erros na escrita e leitura do arquivo ‘.pch’, da rotina LCC, quando se escolhe
a opção de cálculo para uma LT ideal. Nestes casos o argumento da raiz fica negativo,
o que pode justificar os erros do programa. Portanto, adotou-se neste trabalho a
segunda opção para ambos os trechos com cabos isolados, inclusive para viabilizar a
modelagem e também por entender-se que o efeito das perdas dos cabos (série e
transversais) poderia ter algum impacto nas simulações.

Outro aspecto relevante é que as resistências unitárias dos modos 1 a 6 são


maiores que as suas impedâncias modais. No ATP está implementada uma lógica que
impede a simulação no domínio do tempo quando 𝑟 × 𝑙 > 4ℜ(𝑍𝑐 ) (Dommel, 1996).
Neste caso, o trecho subaquático teria que ser divido em seções menores, de menos
de 300 m, para que essa restrição fosse atendida. Obviamente isso geraria outros
problemas, pois os tempos de propagação das TW poderiam resultar muito próximos do
passo de integração utilizado. Por outro lado, como as admitâncias das camadas mais
externas dos cabos são muito elevadas, na prática, é como se a armadura e a blindagem
estivessem continuamente aterradas ao longo do trecho subaquático. Além disso, o
próprio esquema de aterramento both-ends faz esse aterramento sólido nas
extremidades do trecho. Nesse sentido, foram realizados alguns testes e chegou-se à
conclusão de que eliminar essas camadas não resultaria em mudanças importantes nas
variáveis de fase – similarmente ao que é feito com os cabos para-raios de LT aéreas.
No ATPDraw isso pode ser realizado marcando-se a opção ‘ground’ da Figura 4-2.

Na Tabela 4-6 constam os parâmetros modais após a redução do modelo,


“eliminando-se” a blindagem e a armadura através do seu aterramento contínuo. Pode-
se verificar que, exceto para as condutâncias, as mudanças são mínimas em relação
aos modos 7 a 9 da Tabela 4-5. Mas como as condutâncias são muito menores que as
susceptâncias, não se espera mudanças relevantes de resultados, o que reforça a
32

hipótese de se poder “eliminar” as camadas externas. A outra possibilidade vislumbrada


para viabilizar as simulações no domínio do tempo seria dividir o trecho subaquático em
seções menores (por exemplo, 4) representando-se as condutâncias de forma
concentrada nos terminais de cada seção. Como as diferenças nas variáveis de fase
são mínimas – vide Seção 6 – adotou-se a opção mais simples de apenas aterrar
continuamente a armadura e a blindagem, “eliminando-as” do problema.

Tabela 4-6 Parâmetros unitários modais a 6300 Hz e 50 °C – reduzido - trecho subaquático

r x g b ℜ(Zc) vc f
Modo
[Ω/km] [Ω/km] [μS/km] [μS/km] [Ω] [km/ms] [Hz]

1 0.5791 6.3788 0.0865 9082.77 26.53 164.28 6319


2 0.5791 6.3788 0.0865 9082.77 26.53 164.28 6319
3 0.5791 6.3788 0.0865 9082.77 26.53 164.28 6319

Figura 4-4 Performance do modelo de Bergeron a 6300 Hz – seq. positiva - trecho subaquático

Por fim, foi realizada uma verificação da performance do modelo, na faixa de


frequência de 0,1 Hz a 1 MHz, através da rotina Verify do ATPDraw. Parte dos
resultados estão apresentados na Figura 4-4. A sequência zero não é apresentada por
conveniência, uma vez que seus resultados são muito próximos da sequência positiva
– devido ao afastamento entre fases e esquema de aterramento. Verifica-se que o
modelo apresenta desempenho satisfatório apenas na faixa entre 1 kHz e 20 kHz. Fora
dessa faixa os erros são bastante pronunciados.
33

Parâmetros distribuídos variantes na frequência


Para o trecho subaquático também foi realizada a representação via modelo de J.
Marti. O modelo final para cada seção ficou conforme Figura 4-6. Para maiores
explicações sobre esses parâmetros sugere-se verificar a Seção 3 de cabos
subterrâneos. Cumpre destacar, no entanto, que não foram encontradas dificuldades no
ajuste do modelo, sendo inclusive possível usar os parâmetros padrão de fitting.
Acredita-se que a eliminação das blindagens e armaduras tenha facilitado esse
processo de ajuste, o que não pode ser realizado no trecho subterrâneo devido ao
esquema de aterramento das blindagens. Na Figura 4-5 pode-se verificar o desempenho
do modelo na faixa de 0,1 Hz a 1 MHz, obtida através da rotina Verify do ATPDraw. Os
maiores erros ocorrem apenas abaixo de 10 Hz, e para todo o resto da faixa avaliada o
desempenho é satisfatório, diferentemente do modelo de Bergeron.

Figura 4-5 Entrada de dados da rotina LCC para o modelo de J. Marti - trecho subaquático

Figura 4-6 Performance do modelo de J. Marti – seq. positiva - trecho subaquático


34

5. TRECHO AÉREO

Cabos Condutores
Foi adotado 1 (um) cabo condutor CAA Ruddy (900 MCM) por fase, uma vez que
este atende aos requisitos apresentados na Seção 2, e foi a solução referencial indicada
pelo planejamento (EPE, 2016). Este cabo possui as seguintes características,
conforme (EPRI, 1982):

Raio interno: 0,3594 cm

Raio externo: 1,4364 cm

Resistência CC a 25 °C: 0,0648 Ohm/km

Adotou-se a temperatura de 50 °C para os cabos condutores na modelagem da


LT. Segundo (EPRI, 2005), o coeficiente de variação da resistência elétrica do alumínio
com a temperatura, a 20 °C, é igual a 𝛼 = 0,00403 1/°𝐶. Portanto, a resistência CC do
cabo utilizado a 50 °C seria aproximadamente igual a:
𝑇 𝑇
𝑅𝑐𝑐2 = 𝑅𝑐𝑐1 [1 + 𝛼 𝑇1 (𝑇2 − 𝑇1 )] = 0,0648[1 + 0,00403(50 − 25)] = 0,0713 𝑂ℎ𝑚/𝑘𝑚

Nota-se que este resultado é uma aproximação, pois não considera: a


característica não linear da resistência; o efeito da variação da resistência da alma de
aço; e 𝛼 à temperatura 𝑇1 = 25 °𝐶.

Cabo Para-Raios Convencional


Foi adotado um cabo de aço galvanizado EAR 3/8’’, classe A. Este cabo de aço
possui as seguintes caraterísticas, conforme (EPRI, 1982):

Raio interno: 0,0 cm

Raio externo: 0,4572 cm

Resistência CC a 25 °C: 4,188 Ohm/km

A partir de condições ambientais médias, estimou-se que os cabos para-raios


operam a cerca de 35 °C. Segundo (EPRI, 2005), o coeficiente de variação da
resistência elétrica do aço galvanizado com a temperatura, a 20 °C, é igual a 𝛼 =
0,0032 1/°𝐶. Portanto, a resistência CC do cabo utilizado a 35 °C seria
aproximadamente igual a:
𝑇 𝑇
𝑅𝑐𝑐2 = 𝑅𝑐𝑐1 [1 + 𝛼 𝑇1 (𝑇2 − 𝑇1 )] = 4,188[1 + 0,0032(35 − 25)] = 4,322 𝑂ℎ𝑚/𝑘𝑚

Nota-se que este resultado é uma aproximação, pois não considera: a


característica não linear da resistência; e 𝛼 à temperatura 𝑇1 = 25 °𝐶.

Cabo Para-Raios OPGW


Foi adotado um cabo OPGW 13,3 mm, com tubos de aço inoxidável e alumínio,
cobertos por fios de aço galvanizado. Este cabo possui as seguintes características,
conforme (FURUKAWA Electric, 2021):
35

Área nominal da seção transversal: 101 mm2

Fios de aço galvanizado (quant. x diâmetro): 10 x 3,09 mm

Raio externo: 0,665 cm

Resistência CC a 20 °C: 0,698 Ohm/km

O modelo para o cabo aéreo disponível na rotina LCC do ATP/ATPDraw não


contempla todos os detalhes físicos/construtivos deste OPGW. Portanto, aproximações
precisam ser realizadas nos dados de entrada. Além disso, normalmente os catálogos
dos fabricantes não apresentam todas as informações necessárias e alguns dados
precisam ser estimados. A área equivalente dos tubos internos do OPGW é dada por:
𝜋 2 𝜋
𝐴𝑡𝑢𝑏𝑜 = 𝐴𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 − 𝐴𝑓𝑖𝑜𝑠 = 𝐴𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 − 𝑛𝑓𝑖𝑜𝑠 𝑑𝑓𝑖𝑜𝑠 = 101 − 10 3,092 = 26,01 𝑚𝑚2
4 4

Já o raio interno do OPGW foi estimado desta forma:

2 𝐴𝑡𝑢𝑏𝑜 26,01
𝑟𝑖𝑛 = √(𝑟𝑒𝑥𝑡 − 𝑑𝑓𝑖𝑜𝑠 ) − = √(6,65 − 3,09)2 − = 2,096 𝑚𝑚
𝜋 𝜋

Para a correção da resistência equivalente do OPGW com a temperatura é preciso


considerar os diferentes materiais do cabo. Assumindo-se que a espessura do tubo de
alumínio é significativamente superior à do aço inoxidável, pode-se considerar que o
tubo equivalente é composto somente por alumínio. Dessa forma, considerando a
𝑂ℎ𝑚.𝑚𝑚2
resistividade do alumínio igual a 𝜌𝐴𝑙 = 28,4 , a resistência CC a 20 °C do tubo
𝑘𝑚
equivalente pode ser estimada como:

𝜌𝐴𝑙 28,4
𝑅𝑡𝑢𝑏𝑜 = = = 1,0919 𝑂ℎ𝑚/𝑘𝑚
𝐴𝑡𝑢𝑏𝑜 26,01

Por consequência, a resistência CC equivalente dos fios de aço é estimada como:

1 1
𝑅𝑓𝑖𝑜𝑠 = = = 1,9348 𝑂ℎ𝑚/𝑘𝑚
1 1 1 1
𝑅𝑂𝑃𝐺𝑊 − 𝑅𝑡𝑢𝑏𝑜 0,698 − 1,0919

As resistências CC do tubo e dos fios de aço a 35 °C seriam aproximadamente:


𝑇 𝑇
𝑅𝑐𝑐2 = 𝑅𝑐𝑐1 [1 + 𝛼 𝑇1 (𝑇2 − 𝑇1 )] = 1,0919[1 + 0,00403(35 − 20)] = 1,1579 𝑂ℎ𝑚/𝑘𝑚

𝑇 𝑇
𝑅𝑐𝑐2 = 𝑅𝑐𝑐1 [1 + 𝛼 𝑇1 (𝑇2 − 𝑇1 )] = 1,9348[1 + 0,0032(35 − 20)] = 2,0277 𝑂ℎ𝑚/𝑘𝑚

Por fim, para se obter a resistência CC do OPGW a 35 °C basta calcular a


resistência equivalente do paralelismo entre os fios de aço e o tubo equivalente, isto é:

𝑇2
1 1
𝑅𝑂𝑃𝐺𝑊 = = = 0,737 𝑂ℎ𝑚/𝑘𝑚
1 1 1 1
𝑇2 + 𝑇2 2,0277 + 1,1579
𝑅𝑓𝑖𝑜𝑠 𝑅𝑡𝑢𝑏𝑜
36

Silhueta Típica e Geometria


Para o trecho aéreo foi adotada uma silhueta típica “cara de cão”, em circuito
simples, com disposição geométrica dos cabos conforme ilustrado na Figura 5-1.
Considerando uma temperatura de 50 °C nos cabos condutores e vão médio de 450 m,
as coordenadas dos cabos na estrutura e suas respectivas flechas estão dispostas na
Tabela 5-1. A obtenção das flechas para uma temperatura qualquer envolve a solução
de equação transcendente de mudança de estado (Labegalini , Labegalini, Fuchs, & de
Almeida, 1992). Portanto, para este cálculo utilizou-se o software ELEKTRA (CEPEL,
2021), considerando uma tração nos cabos condutores de 20 % da sua carga de ruptura,
na condição EDS. Cumpre ressaltar que essa alocação na estrutura permite que nos
limites operativos desta LT 230 kV, tanto em regime normal (73 °C - 1004 A) como em
emergência (81 °C - 1100 A), a altura cabo-solo não viole os limites mínimos de 7,4 m
e 7,3 m, respectivamente, estabelecidos em (ABNT, 1985) para “locais onde circulam
máquinas agrícolas”.

Figura 5-1 Disposição geométrica dos cabos do trecho aéreo - silhueta típica

Tabela 5-1 Coordenadas dos cabos na estrutura e flechas – silhueta típica

Elemento X [m] Y [m] Flecha [m]


Fase A -4,30 26,40 17,8
Fase B 0,00 30,60 17,8
Fase C 4,30 26,40 17,8

Para-raios 1 -3,50 33,30 14,9


Para-raios 2 3,50 33,30 14,9

É comum em projetos de LT aéreas que as trações dos cabos para-raios sejam


ajustadas para que, na condição EDS, as suas flechas fiquem entre 80 % e 90 % da
flecha dos cabos condutores nesta condição. Logo, as flechas dos para-raios podem
ser calculadas aproximadamente como:
37

𝑝𝐴2 1,5105 × 4502


𝑓𝑃𝑅 = 0,9 × = = 0,9 × 16,6 = 14,9 𝑚
8𝑇0 8 × (0,2 × 11521)

Onde:

𝑝 - Peso unitário do cabo condutor: 1,5105 kgf/m

𝑇0 – Tração do cabo condutor: 20 % de 11521 kgf (carga de ruptura)

𝐴 – Vão médio da LT: 450 m

Modelo do ATP/ATPDraw
A partir dos dados e ajustes apresentados anteriormente, a entrada de dados da
rotina LCC do ATP/ATPDraw ficou conforme Figura 5-2. Cumpre ressaltar que foi
adotada uma resistividade de 1000 Ohm.m para o solo. Além disso, devido à reduzida
extensão do trecho, não foram adotadas transposições de fase.

Figura 5-2 Entrada de dados da rotina LCC - trecho aéreo

Validação do modelo a 60 Hz
Tendo em vista que estes modelos para LT aéreas são amplamente utilizados,
julgou-se desnecessária uma validação neste caso. De qualquer forma, apresenta-se
na Tabela 5-2, de forma ilustrativa, os parâmetros elétricos unitários de sequência
calculados para 60 Hz, com condutores a 50 °C. Ressalta-se que, por definição, estes
parâmetros foram calculados considerando o trecho idealmente transposto, muito
embora ela não tenha sido efetivamente modelado desta forma. Nota-se que os valores
obtidos estão dentro do esperado e próximos daqueles tipicamente obtidos para LT
aéreas de 230 kV com características similares. As impedâncias de surto e velocidades
de propagação são para uma linha ideal, sem perdas.

Tabela 5-2 Parâmetros unitários de sequência a 60 Hz a 50 °C - trecho aéreo

Sequência r [Ω/km] x [Ω/km] b [μS/km] Zo [Ω] vo [km/ms]


+ 0,0729 0,4803 3,4442 373,45 293,10
0 0,4663 1,3639 2,2017 787,05 217,55

Parâmetros distribuídos invariantes na frequência


Similarmente aos trechos subterrâneo e subaquático, a parte aérea também foi
representada via modelo de Bergeron na frequência dominante. Na Tabela 5-3 constam
os parâmetros modais unitários do modelo, calculados a 15000 Hz. Neste caso
observou-se poucas mudanças na velocidade do modo mais rápido com o aumento da
38

frequência de cálculo, vide Tabela 5-2. As frequências dominantes apresentadas foram


calculadas considerando a extensão total de 10 km. Os únicos aspectos que valem
serem destacados são: (i) foi adotado o uso de matriz real de transformação no modelo,
conforme recomenda (Hoidalen, Prikler, & Peñaloza, 2020) para estudos de transitórios;
e (ii) os cabos para-raios foram considerados continuamente aterrados e “eliminados”.

Tabela 5-3 Parâmetros unitários modais a 15000 Hz e 50 °C - trecho aéreo

r x g b ℜ(Zc) vc f
Modo
[Ω/km] [Ω/km] [μS/km] [μS/km] [Ω] [km/ms] [Hz]

1 13,4027 224,5537 - 558,5002 634,37 266,02 13301


2 0,6079 120,8480 - 826,8250 382,31 298,16 14908
3 0,6234 111,9384 - 887,9123 355,06 298,95 14947

Figura 5-3 Performance do modelo de Bergeron a 15000 Hz – seq. positiva – trecho aéreo

Figura 5-4 Performance do modelo de Bergeron a 15000 Hz – seq. zero - trecho aéreo
39

Foi realizada também uma verificação da performance do modelo, na faixa de


frequência de 0,1 Hz a 1 MHz, através da rotina Verify do ATPDraw. Parte dos
resultados estão apresentados nas Figura 5-4 e Figura 5-3. Pode-se dizer que na faixa
de 10 Hz a 100 kHz a sequência positiva apresenta um desempenho satisfatório. Já na
sequência zero isso só é verificado na faixa de 1 kHz a 30 kHz. Fora desta faixa os erros
são bastante pronunciados.

Parâmetros distribuídos variantes na frequência


Também foi realizada a representação via modelo de J. Marti. O modelo final para
cada seção ficou conforme Figura 5-5Figura 5-6. Para maiores explicações sobre esses
parâmetros sugere-se verificar a Seção 3 de cabos subterrâneos. Cumpre destacar, no
entanto, que não foram encontradas dificuldades no ajuste do modelo, sendo inclusive
possível usar os parâmetros padrão de fitting.

Figura 5-5 Entrada de dados da rotina LCC para o modelo de J. Marti - trecho aéreo

Figura 5-6 Performance do modelo de J. Marti – seq. positiva – trecho aéreo


40

Figura 5-7 Performance do modelo de J. Marti – seq. zero – trecho aéreo

Por fim, nas Figura 5-6Figura 5-5 e Figura 5-7 pode-se verificar o desempenho do
modelo na faixa de 0,1 Hz a 1 MHz, obtida através da rotina Verify do ATPDraw.
Diferentemente do modelo de Bergeron, ambas as sequências apresentam
desempenho satisfatório em ampla faixa, de 10 Hz a 1 MHz.

6. SIMULAÇÕES NO DOMÍNIO DO TEMPO

De forma a contribuir para os ajustes e escolha final dos modelos, também foram
realizadas simulações no domínio do tempo (regimes transitório e permanente),
comparando-se resultados entre diferentes modelos e avaliando-se suas consistências.
Em todos os testes apresentados na sequência foi considerado um passo de integração
de 1 μs e uma janela de simulação de 500 ms. Avaliações similares podem ser
encontradas em (Faria da Silva, 2016) e (Hoidalen & Soloot, 2010).

Efeitos de Simplificações no Modelo do Trecho Subaquático


Conforme discutido na Seção 4, por conta das elevadas admitâncias –
especialmente devido às condutâncias - as blindagens e armaduras dos cabos
subaquáticos podem acarretar em dificuldades para a simulação e ajustes dos modelos
a parâmetros distribuídos. A hipótese levantada naquela seção era de que o efeito
dessas camadas nas variáveis de fase era pequeno. Portanto, foram comparadas
simulações com dois modelos: (i) blindagens e armaduras continuamente aterradas,
portanto “eliminadas” do problema; e (ii) todas as camadas representadas de forma
explícita, porém com as condutâncias concentradas nos terminais de quatro seções,
metade de cada lado. Ressalta-se que o modelo (ii) foi a única forma vislumbrada para
viabilizar a simulação com as camadas representadas explicitamente, muito embora o
número ideal de seções não tenha sido investigado. Na Figura 6-1 está ilustrado o
arranjo para a simulação do modelo (ii).

Nestas simulações foi adotada uma impedância equivalente reduzida no terminal


emissor, de 0,01 + 𝑗0,1 Ω por fase, visando mitigar os seus efeitos nos resultados. A
tensão na fonte foi ajustada em 1,0 p.u. ângulo zero, e a carga do receptor foi
representada com um RL série, estrela aterrada, de 111,1 + 𝑗47,3 Ω por fase, que
representa uma corrente de 1100 A com fator de potência de 0,92. Para eliminar os
efeitos do resto da LT, foi considerado nestas simulações apenas o trecho subaquático.
41

Além disso, por conveniência, foi simulado somente o modelo de Bergeron na


frequência dominante previamente estimada (6300 Hz), pois foram encontradas
dificuldades em ajustar o modelo de J. Marti com todas as camadas, similarmente ao
trecho subterrâneo.

Figura 6-1 Arranjo para representar as condutâncias do trecho subaquático de forma concentrada

Aplicação de falta
Considerando as condições pré-falta ilustradas na Figura 6-1, foi aplicado um
curto-circuito fase-terra, na fase A do terminal receptor, através de resistência de falta
de 0,1 Ohm, e no instante de tempo igual a 18 ms. Na Figura 6-2 pode-se observar as
primeiras reflexões das TW na fase A do terminal emissor para os dois modelos. A curva
em vermelho representa o modelo (i) e a em verde o modelo (ii). Nota-se que as TW
demoram cerca de 0,08 ms para chegarem até o terminal, com uma velocidade de cerca
de 162,5 km/ms, próximo ao valor da Tabela 4-6. Além disso, o período dessa onda
sobreposta está em torno de 0,16 ms, com frequência dominante de aproximadamente
6,25 kHz, muito próxima do valor previamente estimado. A “olho nu” as diferenças entre
as curvas são muito pequenas. De fato, como pode ser observado na Figura 6-4, que
ilustra o erro percentual entre os dois sinais, a diferença entre eles chega a no máximo
5 % nas primeiras reflexões. Cumpre ressaltar que, a medida em que a frequência de
cálculo dos parâmetros diminui, há uma tendência de esses erros aumentarem. Em
regime permanente essa diferença também é pequena, conforme Figura 6-3, que
apresenta a tensão na fase A do emissor com o receptor em falta, no final da simulação.

275

[kV]

200

125

50

-25

-100
18.0 18.1 18.2 18.3 18.4 [ms] 18.5
(f ile Valida_Simplif icacao_Subaquatico.pl4; x-v ar t) v :SEND1A v :SEND2A

Figura 6-2 Reflexões no emissor – falta na fase A do receptor – trecho subaquático


42

-1

-2

-3

-4

-5

-6
18.0 18.1 18.2 18.3 18.4 [ms] 18.5
(f ile Valida_Simplif icacao_Subaquatico.pl4; x-v ar t) t:ERRO_S

Figura 6-4 Erro percentual entre as reflexões no emissor – falta na fase A do receptor - trecho
subaquático

200
[kV]
150

100

50

-50

-100

-150

-200
0.4833 0.4854 0.4875 0.4896 0.4917 0.4937 0.4958 0.4979 [s] 0.5000
(f ile Valida_Simplif icacao_Subaquatico.pl4; x-v ar t) v :SEND1A v :SEND2A

Figura 6-3 Tensão em regime permanente no emissor - falta na fase A do receptor - trecho
subaquático

Energização
Apesar de não ser o objetivo principal do sistema benchmark, também foi realizada
uma simulação de energização para verificar a consistência dos modelos. Nela foi
considerada a condição ideal com os três contatos do disjuntor do terminal emissor
fechando no mesmo instante de tempo, em 16,67 ms. Os resultados para a tensão da
fase A no terminal receptor, para os dois modelos, estão ilustrados na Figura 6-5. Nota-
se que o período da componente transitória da tensão de energização é cerca do dobro
daquele da Figura 6-2, com frequência dominante de aproximadamente 3 kHz. A “olho
nu”, as diferenças entre as curvas também são muito pequenas. De fato, como pode ser
observado na Figura 6-6, que ilustra o erro percentual entre os dois sinais, a diferença
43

entre eles chega a no máximo 2 % nas primeiras reflexões. Cumpre ressaltar que, a
medida em que a frequência de cálculo dos parâmetros diminui, há uma tendência de
esses erros aumentarem. Já em regime permanente essa diferença também é pequena,
conforme Figura 6-7, que apresenta a tensão na fase A do receptor com o terminal
aberto, no último ciclo da simulação.
400

[kV]

310

220

130

40

-50
16.60 16.98 17.36 17.74 18.12 [ms] 18.50
(f ile Valida_Simplif icacao_Subaquatico.pl4; x-v ar t) v :REND1A v :REND2A

Figura 6-5 Tensão da fase A no terminal receptor - energização - trecho subaquático

3.0

2.5

2.0

1.5

1.0

0.5

0.0

-0.5

-1.0
16.670 16.975 17.280 17.585 17.890 18.195 [ms] 18.500
(f ile Valida_Simplif icacao_Subaquatico.pl4; x-v ar t) t:ERRO_R

Figura 6-6 Erro percentual entre as tensões no receptor – energização - trecho subaquático

Tendo em conta os resultados apresentados nota-se, portanto, que as


simplificações propostas no modelo (i) não acarretariam em maiores prejuízos ao
sistema proposto no benchmark.
44

200
[kV]
150

100

50

-50

-100

-150

-200
0.4833 0.4854 0.4875 0.4896 0.4917 0.4937 0.4958 0.4979 [s] 0.5000
(f ile Valida_Simplif icacao_Subaquatico.pl4; x-v ar t) v :REND1A v :REND2A

Figura 6-7 Tensão em regime permanente no receptor - energização - trecho subaquático

Testes Com a LT 230 kV Completa


Conforme Seções 3, 4 e 5, para cada trecho da LT foram desenvolvidos modelos
de Bergeron na frequência dominante estimada e de J. Marti. Na sequência são
apresentados testes com a LT completa, já considerando a simplificação proposta para
o trecho subaquático. Para efeitos comparativos e de verificação de consistência de
resultados, também foram simulados modelos de Bergeron na frequência fundamental
(60 Hz). Para os gráficos apresentados em seguida, as cores vermelho “1”, verde “2” e
azul “3” representam, respectivamente, os modelos de: (i) Bergeron a 60 Hz; (ii)
Bergeron na frequência dominante estimada; e (iii) J. Marti.

Nestas simulações foi adotada uma impedância equivalente no terminal emissor


de 0,3 + 𝑗3,3 Ω na sequência positiva e 1,0 + 𝑗10,0 Ω na sequência zero, visando níveis
de curto-circuito compatíveis com sistemas de 230 kV. A tensão na fonte foi ajustada
em 1,04 p.u. ângulo zero, e a carga do receptor foi representada com um RL série,
estrela aterrada, de 111,1 + 𝑗47,3 Ω por fase, que representa uma corrente de 1100 A
com fator de potência de 0,92.

Aplicação de falta
Considerando as condições estabelecidas acima, foi aplicado um curto-circuito
fase-terra, na fase A do terminal receptor, através de resistência de falta de 0,1 Ohm, e
no instante de tempo igual a 18 ms. Na Figura 6-8 pode-se observar as primeiras
reflexões das TW na fase A do terminal emissor para os três modelos. O primeiro
aspecto relevante a ser observado é a diferença entre os tempos de propagação das
TW. No primeiro modelo o tempo necessário para a primeira reflexão é cerca de 0,176
ms, no segundo 0,142 ms e no terceiro 0,133 ms. Se calculássemos a soma dos tempos
de propagação dos modos mais rápidos de cada trecho - vide Tabela 3-4, Tabela 4-6 e
Tabela 5-3 - obteríamos cerca de 0,144 ms, valor bastante próximo do modelo (ii). Por
outro lado, se assumíssemos a velocidade de 213,5 km/ms do modelo (iii) como
referência, essas diferenças, em termos de distância percorrida, seriam cerca de 9,2
45

((0,176 − 0,133) × 213,5) e 1,9 km ((0,142 − 0,133) × 213,5), respectivamente, o que


reforça a importância da precisão dos modelos.

300

[kV]

200

100

-100

-200
18.0 18.4 18.8 19.2 19.6 [ms] 20.0
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :SEND1A v :SEND2A v :SEND3A

Figura 6-8 Reflexões no emissor – falta na fase A do receptor – LT completa

200
[kV]
150

100

50

-50

-100

-150

-200
0.4833 0.4854 0.4875 0.4896 0.4917 0.4937 0.4958 0.4979 [s] 0.5000
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :SEND1A v :SEND2A v :SEND3A

Figura 6-9 Tensão em regime permanente no emissor - falta na fase A do receptor – LT completa

A partir da Figura 6-8 também é possível observar que os resultados do modelo


(iii) são os que apresentam os menores “ruídos”. Apesar das diferenças pronunciadas
de magnitude entre os sinais, os resultados dos modelos (ii) e (iii) apresentam certa
coerência. Já o modelo (i), como esperado, apresenta o menor amortecimento,
totalmente diferente dos demais.

Para os três modelos é praticamente impossível definir uma frequência dominante


a “olho nu”, pois os sinais possuem muitas componentes. Acredita-se que isso de deva
à impedância equivalente do terminal emissor, às transições (aéreo – subaquático e
subaquático – subterrâneo) e ao cross-bonding do trecho subterrâneo, porém uma
conclusão definitiva merece maiores investigações. Em regime permanente os
46

resultados entre os modelos (i) e (iii) ficam muito próximos, e ambos bastante distintos
do modelo (ii), vide Figura 6-9. Conclusões similares podem ser obtidas das Figura 6-10
e Figura 6-11, que ilustram, respectivamente, as tensões nas blindagens do trecho
subterrâneo nos regimes transitório e permanente. Foram testados pontos de falta
distintos o longo da LT e conclusões similares foram obtidas. Particularmente, para uma
falta na transição aéreo-subaquático, observa-se, nos modelos (i) e (ii), o efeito das
diferenças entre as velocidades dos modos de propagação (aéreo e terra), que resulta
em duas componentes de frequência melhor caracterizadas nas primeiras reflexões. Já
no modelo (iii) essa mesma evidência não é facilmente observada, vide Figura 6-12.

30
[kV]

20

10

-10

-20

-30
18.0 18.4 18.8 19.2 19.6 [ms] 20.0
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :SHUG1A v :SHUG2A v :SHUG3A

Figura 6-10 Reflexões nas blindagens - falta na fase A do receptor – LT completa

10.0
[kV]
7.5

5.0

2.5

0.0

-2.5

-5.0

-7.5

-10.0
0.4833 0.4854 0.4875 0.4896 0.4917 0.4937 0.4958 0.4979 [s] 0.5000
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :SHUG1A v :SHUG2A v :SHUG3A

Figura 6-11 Tensão em regime permanente nas blindagens - falta na fase A do receptor – LT
completa
47

350

[kV]

250

150

50

-50

-150
18.00 18.04 18.08 18.12 18.16 [ms] 18.20
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :SEND1A v :SEND2A v :SEND3A

Figura 6-12 Reflexões no emissor – falta na fase A na transição aéreo-subaquático – LT completa

Energização
Também foi realizada uma simulação de energização, apenas para verificar a
consistência dos modelos. Nela foi considerada a condição ideal com os três contatos
do disjuntor do terminal emissor fechando no mesmo instante de tempo, em 16,67 ms.
Os resultados para a tensão da fase A no terminal receptor, para os três modelos, estão
ilustrados na Figura 6-13. Os tempos para as TW chegarem no terminal receptor foram
de 0,177 ms no primeiro modelo, 0,142 ms no segundo e 0,134 ms no terceiro,
basicamente os mesmos valores da condição com falta. No entanto, durante a
energização, e para os três modelos, a frequência dominante observada é de cerca de
500 Hz. Para esses tempos de propagação, de acordo com as fórmulas teóricas
simplificadas discutidas na Seção 3, esperava-se uma frequência maior, da ordem de
1,4 a 1,9 kHz. Novamente, suspeita-se que isso esteja associado à impedância do
terminal emissor, às transições e ao cross-bonding do trecho subterrâneo.
450

[kV]

280

110

-60

-230

-400
16.0 17.5 19.0 20.5 22.0 23.5 [ms] 25.0
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :REND1A v :REND2A v :REND3A

Figura 6-13 Tensão da fase A no terminal receptor - energização – LT completa


48

O modelo (i) apresenta o maior pico de sobretensão e o menor amortecimento,


por conta da frequência de cálculo menor (60 Hz). O modelo (ii) apresenta menor
sobretensão e maior amortecimento se comparado ao modelo (iii). Entende-se que isso
se deva ao fato de a frequência de cálculo dos parâmetros ter sido sobrestimada em
relação ao fenômeno observado. Já em regime permanente as diferenças entre os
modelos são pequenas, conforme Figura 6-15, que apresenta a tensão na fase A do
receptor com o terminal aberto, no último ciclo. Como a LT está a vazio, infere-se que
esse comportamento similar é devido às admitâncias não variarem com a frequência.

250.0
[kV]
187.5

125.0

62.5

0.0

-62.5

-125.0

-187.5

-250.0
0.4833 0.4854 0.4875 0.4896 0.4917 0.4937 0.4958 0.4979 [s] 0.5000
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :REND1A v :REND2A v :REND3A

Figura 6-14 Tensão em regime permanente no receptor - energização – LT completa

5000

[V]

2800

600

-1600

-3800

-6000
16.0 17.5 19.0 20.5 22.0 23.5 [ms] 25.0
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :SHUG1A v :SHUG2A v :SHUG3A

Figura 6-15 Tensões nas blindagens - energização – LT completa


49

Na Figura 6-14 pode-se observar as tensões transitórias nas blindagens do trecho


subterrâneo, para os três modelos. Novamente o modelo (i) apresenta o menor
amortecimento. Por outro lado, para as blindagens, agora o modelo (ii) apresenta menor
amortecimento do que o modelo (iii). Isso porque a tensão transitória na blindagem tem
componentes de frequência muito mais elevadas, e mais próximas das frequências de
cálculo quando comparadas às tensões de fase no receptor, indicando uma maior
aderência dos modelos. Por fim, na Figura 6-16 está ilustrada a tensão nas blindagens
em regime permanente, no final da simulação. Observa-se que os modelos (i) e (iii),
embora similares em magnitude, estão em oposição de fase. Neste caso,
diferentemente dos demais, os modelos (i) e (ii) apresentaram uma maior coerência.
Não obstante, pelo fato de a LT estar a vazio, as tensões são bastante reduzidas, da
ordem de 5 V, portanto com pouca relevância prática.

10.0
[V]
7.5

5.0

2.5

0.0

-2.5

-5.0

-7.5

-10.0
0.4833 0.4854 0.4875 0.4896 0.4917 0.4937 0.4958 0.4979 [s] 0.5000
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :SHUG1A v :SHUG2A v :SHUG3A

Figura 6-16 Tensão em regime permanente nas blindagens - energização – LT completa

Regime Permanente
Por fim, apenas para fins de validação dos modelos, também foram comparados
os resultados durante a operação em regime permanente da LT, por exemplo, antes da
ocorrência de uma falta. Nas Figura 6-18 e Figura 6-17 estão ilustradas
respectivamente, para os três modelos, as tensões no receptor e as correntes no
emissor, fase A. Como já observado na maioria dos resultados anteriores, os modelos
(i) e (iii) apresentam boa coerência em regime permanente. Já o modelo (ii) apresenta
erros da ordem de 11 %, para baixo, tanto para as tensões como para as correntes.
Basicamente isso se deve ao fato de a impedância longitudinal calculada por este
modelo ser maior, haja vista as frequências de cálculo adotadas.
50

200
[kV]
150

100

50

-50

-100

-150

-200
0.4833 0.4854 0.4875 0.4896 0.4917 0.4937 0.4958 0.4979 [s] 0.5000
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) v :REND1A v :REND2A v :REND3A

Figura 6-18 Tensão em regime permanente no receptor – pré-falta – LT completa

1500
[A]

1000

500

-500

-1000

-1500
0.4833 0.4854 0.4875 0.4896 0.4917 0.4937 0.4958 0.4979 [s] 0.5000
(f ile Modelo_LT_mista_rev 6_Valida_TEM.pl4; x-v ar t) c:X0132A-SEND1A c:X0130A-SEND2A
c:X0128A-SEND3A

Figura 6-17 Corrente em regime permanente no emissor – pré-falta – LT completa


51

7. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho tratou de diversos aspectos de modelagem de uma LT 230 kV mista


hipotética no ATP/ATPDraw, para estudos de regime permanente e transitório. Os
modelos para cabos isolados disponíveis nesse programa possuem algumas
simplificações e limitações, logo, para a devida representação dos mesmos, foram
necessários ajustes nas constantes dos materiais das diversas camadas que os
compõem. Nesse sentido, foram apresentadas diversas estratégias de correção,
algumas delas disponíveis na literatura técnica especializada. De fato, na pesquisa
realizada não foram encontradas muitas referências sobre os diversos detalhes que
envolvem os cabos subaquáticos, especialmente suas camadas mais externas. Os
modelos de linhas aéreas são mais difundidos e, portanto, não se tem grandes
observações. Apenas ressalta-se que a representação de cabos OPGW também é feita
de forma simplificada, por conta das limitações dos modelos. Os parâmetros de
sequência positiva e zero dos trechos, a 60 Hz, foram validados a partir de referências
conhecidas.

A representação dos trechos com cabos isolados também necessita de outros


detalhamentos, por conta dos esquemas de aterramento de blindagens e armaduras,
sendo adotados o cross-bonding para o subterrâneo e o both-ends para o subaquático,
de forma alinhada com a prática nesse tipo de instalação. Não obstante, para o trecho
subaquático, foram necessárias simplificações adicionais para as simulações no
domínio do tempo, com o aterramento contínuo das blindagens e armaduras – solução
mais simples encontrada. Cumpre ressaltar, no entanto, que isso não causa grandes
implicações nas variáveis de fase e também está em consonância com o tipo construtivo
do cabo adotado (wet-design com penetração de água até a capa anticorrosiva).

Em relação aos modelos a parâmetros distribuídos, considerando os


compromissos entre conservadorismo, simplicidade, estabilidade numérica e precisão
dos resultados quanto aos fenômenos observados, foram testados modelos de
Bergeron nas frequências fundamental e dominante (previamente estimada) e de J.
Marti. Se por um lado o modelo de Bergeron é mais simples, em análises preliminares
com varredura em frequência ficou evidenciado que os modelos de J. Marti são mais
acurados, apesar de terem sido encontradas dificuldades no ajuste dos modelos
referentes ao trecho subterrâneo apenas. Já nos testes realizados no domínio do tempo,
em geral, ficou caracterizado que os modelos de Bergeron na frequência dominante e
de J. Marti apresentam uma certa coerência, sendo o de J. Marti composto por menos
“ruídos”. Por outro lado, em regime permanente os resultados dos modelos de J. Marti
são muito mais próximos do modelo de Bergeron a 60 Hz. Apesar de os modelos
propostos para o benchmark visarem fenômenos transitórios, isto representa um ponto
negativo para o Bergeron na frequência dominante, pois torna-se mais difícil a
reprodução de condições pré-falta, por exemplo.

Em suma, o modelo de J. Marti, apesar de ser um pouco mais complicado de ser


ajustado, tem a vantagem de apresentar bom desempenho tanto em regime transitório
como permanente. Além disso, as frequências dominantes dos fenômenos a serem
observados dependem de vários fatores, como: impedância equivalente vista pelos
terminais da LT; transições, transposições e descontinuidades ao longo da LT; esquema
cross-bonding, ponto de aplicação de falta dentre outros. Na prática, caso fosse adotado
o modelo de Bergeron, o uso do sistema benchmark poderia ficar comprometido para
os estudos de TW, uma vez que, a rigor, em cada simulação de falta o usuário precisaria
redefinir a frequência dominante e reajustar os modelos. Adicionalmente, a definição da
frequência dominante com fórmulas teóricas simplificadas pode resultar em erros
significativos, o que demandaria simulações prévias de transitórios para a estimação
dessa frequência dominante. Portanto, entende-se que os modelos de J. Marti são os
52

mais adequados para a LT mista do benchmark. Não obstante, a partir dos resultados
observados, percebe-se que o modelo de Bergeron pode ser válido e útil para outras
análises e aplicações, a depender do fenômeno que se queira observar como, por
exemplo, em estudos de transitórios eletromagnéticos de manobras em LT.

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