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As manifestações do sublime nas

sete cabeças do dragão vermelho-


bíblico
The manifestations of the sublime in the seven heads of the red-biblical dragon

Las manifestaciones del sublime en las siete cabezas del dragón rojo-bíblico

John David Peliceri da SILVA1


Nelson Luis RAMOS2

RESUMO: A figura do Diabo, ainda, é um enigma nas catacumbas discursivas sobre o mal. Na Bíblia, o Diabo é
associado à imagem de um dragão vermelho que possui sete cabeças e dez chifres. Neste artigo, analisaremos as
manifestações do sublime no dragão vermelho, na Bíblia (1990), em meio a suas sete cabeças discursivas – a
retórica, o símbolo, a metafísica, o gênio, o mistério, a idiossincrasia e a mutação – e seus efeitos no contato com
o ser humano, à luz de algumas passagens bíblicas, com o objetivo de elucidar identidades. Baseamo-nos nos
estudos do sublime de Weiskel (1994), Kant (1995) e Burke (1996), bem como na ideia de identidade de Deleuze
(1995) que procura enaltecer o sujeito em multiplicidade de identidades. Aplicando uma análise discursivo-textual,
exporemos como as manifestações do sublime na figura do dragão vermelho atuam como oposição aos ideais 232
teocêntricos, a partir da tentativa de introduzir identidades malignas no cerne do homem. No rastro, percebemos
que as sete cabeças do dragão vermelho funcionam como grandezas em continuidade.

PALAVRAS-CHAVE: Dragão vermelho. Faceta (ou cabeça). Sublime. Identidade.

ABSTRACT: The figure of the Devil, still, is an enigma in the discursive catacombs on evil. In the Bible, the Devil
is associated with the image of a red dragon that has seven heads and ten horns. In this article, we will analyze the
manifestations of the sublime in the red dragon, in the Bible (1990), among its seven discursive heads - rhetoric,
symbol, metaphysics, genius, mystery, idiosyncrasy and mutation - and their effects in the contact with the human
being, in the light of some biblical passages, with the purpose of elucidating identities. We are based on studies of
the sublime of Weiskel (1994), Kant (1995) and Burke (1996), as well as Deleuze's idea of identity (1995) that
seeks to enhance the subject in multiplicity of identities. Applying a discursive-textual analysis, we will expose
how the manifestations of the sublime in the figure of the red dragon act as opposition to theocentric ideals, from
the attempt to introduce malignant identities in the core of the man. In the trace, we realize that the seven heads of
the red dragon function as magnitudes in continuity.

KEYWORDS: Red Dragon. Facet (or head). Sublime. Identity.

1
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Catanduva – IMES/FAFICA. Doutorando do Programa de Pós-
Graduação em Letras da UNESP/Campus de São José do Rio Preto. Catanduva – SP – Brasil. CEP: 15054-000.
E-mail johndavidbrother@hotmail.com
2
Universidade Estadual “Júlio de Mesquita Filho”, Instituto de Biociências Letras e Ciências Exatas de São José
do Rio Preto – UNESP/IBILCE. Departamento de Letras Modernas.
São José do Rio Preto – SP – Brasil. CEP: 15054-000. E-mail: nelson.ramos@unesp.br

Guavira Letras (ISSN: 1980-1858), Três Lagoas/MS, v. 15, n. 29, p. 232-247, jan./abr. 2019.
RESUMEN: La figura del Diablo, aún, es un enigma en las catacumbas discursivas sobre el mal. En la Biblia, el
Diablo se asocia a la imagen de un dragón rojo que tiene siete cabezas y diez cuernos. En este artículo, analizaremos
las manifestaciones del sublime en el dragón rojo, en la Biblia (1990), en medio de sus siete cabezas discursivas -
la retórica, el símbolo, la metafísica, el genio, el misterio, la idiosincrasia y la mutación - y sus efectos en el
contacto con el ser humano, a la luz de algunos pasajes bíblicos, con el objetivo de elucidar identidades. Se basa
en los estudios del sublime de Weiskel (1994), Kant (1995) y Burke (1996), así como en la idea de identidad de
Deleuze (1995) que busca enaltecer al sujeto en multiplicidad de identidades. Aplicando un análisis discursivo-
textual, expondremos cómo las manifestaciones del sublime en la figura del dragón rojo actúan como oposición a
los ideales teocéntricos, a partir del intento de introducir identidades malignas en el corazón del hombre. En el
rastro, percibimos que las siete cabezas del dragón rojo funcionan como grandes en continuidad.

PALABRAS CLAVE: Dragon Rojo. Cara (o cabeza). Sublime. Identidad.

Se traçarmos o rastro do Diabo na Bíblia, sua imagem discursiva é ressaltada na figura


do dragão que possui sete cabeças e dez chifres, conforme a carta de Apocalipse (90-96 dC), do
apóstolo João. O capítulo 12 de Apocalipse marca a presença de um “dragão vermelho” que
persegue uma “mulher vestida de sol”, uma perseguição tão complexa em torno de condições
históricas, nas quais podemos analisar as sete cabeças misteriosas – retórica, simbólica,
metafísica, genial, misteriosa, idiossincrática e transmutativa – coexistentes, de forma
surpreendente, com a propagação do mal, corporificando, no reino das trevas, aquele fenômeno
do hibridismo que disseminou a noção do pecado, desde a presença do homem no jardim do
Éden até nossos dias.
Efetivamente, o dragão vermelho e a união dessas sete cabeças sugerem aos leitores
nexos entre a ideologia e o processo de identidade de uma serpente que vem rastejando pelas
233
areias das gerações humanas. Como matéria discursiva, as sete cabeças do dragão vermelho
resultam na “aparição” que, segundo Octavio Paz, “implica uma ruptura do tempo ou do espaço:
a terra se abre, o tempo se parte; pela ferida ou abertura vemos ‘o outro lado’ do ser.” (PAZ,
1982, p. 168). Provavelmente, cada cabeça do dragão vermelho apresenta um “desconcerto”
dentro de uma cultura orientada pelo “belo sagrado”, enriquecendo a estética do “grotesco”, por
meio de um caleidoscópio discursivo, em meio a diversos prismas, em cronotopos simultâneos.
Nas passagens bíblicas, que constituem o rastro do dragão vermelho, as sete cabeças
demonstram as manifestações do sublime, de forma a retratar múltiplas facetas. Observemos
“Gênesis”, o primeiro livro do velho testamento bíblico:

A serpente era o mais astuto de todos os animais do campo que Javé Deus havia feito.
Ela disse para a mulher: “É verdade que Deus disse que vocês não devem comer de
nenhuma árvore do jardim?” A mulher respondeu para a serpente: “Nós podemos
comer dos frutos das árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio do
jardim, Deus disse: ‘Vocês não comerão dele, nem o tocarão, do contrário vocês vão
morrer’”. Então a serpente disse para a mulher: “De modo nenhum vocês morrerão.
Mas Deus sabe que, no dia em que vocês comerem o fruto, os olhos de vocês vão se
abrir, e vocês se tornarão como deuses, conhecedores do bem e do mal (BÍBLIA,
Gênesis, 1990, p. 16).

Acoplado por um discurso de refutação, o dragão vermelho apresenta sua primeira


faceta (ou cabeça): a retórica. Essa cabeça procura filtrar o que permaneceu na memória da
personagem “Eva”, a fim de realizar uma contestação sobre o que se tornou registro. Assim,
temos a intersecção dos “dizeres”:

Guavira Letras (ISSN: 1980-1858), Três Lagoas/MS, v. 15, n. 29, p. 232-247, jan./abr. 2019.
Deus disse a Adão – “Você pode comer de todas as árvores do jardim. Mas não pode
comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, com
certeza você morrerá” (BÍBLIA, Gênesis, 1990, p. 15, grifos nosso).
Eva disse à serpente – “[...] Vocês não comerão dele, nem o tocarão” (BÍBLIA,
Gênesis, 1990, p. 16, grifos nosso).
Serpente disse à Eva – “De modo nenhum vocês morrerão [...], os olhos de vocês vão
se abrir, e vocês se tornarão como deuses [...]” (BÍBLIA, Gênesis, 1990, p. 16, grifos nosso).

A construção sintática da personagem Eva, no capítulo 3 do livro de Gênesis, é evasiva


à ordenança de Deus. Esse acréscimo traduz a insegurança de Eva, diante do fruto proibido.
Tendo filtrado a construção sintática de Eva, a retórica da serpente surge com artifícios
discursivos que fizeram a mulher realizar uma transcendência negativa e positiva. Para Weiskel
(1994), a transcendência se caracteriza pela tentativa do ser humano chegar ao absoluto e, nesse
trajeto, o sujeito poderá correr riscos em sua integridade. Esse trajeto foi proposto pela serpente,
para o qual Eva se deslocou na via negativa – experimentação do conceito de morte e anulação
do mesmo – e o resultado foi uma transmutação identitária: Eva possui, agora, características
da serpente. Já aceitando que não morreria, cai, novamente, mas por uma via positiva – ser
como Deus – e o desfecho dessa tentativa era ser um “absoluto” (inerente ao dragão vermelho).
Aqui começa a proliferação do veneno retórico da serpente. Esse veneno retórico do qual Eva
já é portadora – “depois o deu também ao marido que estava com ela, e também ele comeu”
(BÍBLIA, Gênesis, 1990, p. 16). Abriu alas ao rastro da serpente que, agora sai do Éden e faz
seu percurso.
Ora, ao efetivar sua retórica astuciosa, a serpente (ou o dragão vermelho) parece elencar 234
discursos persuasivos em diferentes cronotopos (tempos e espaços): uma retórica que arrebate
a sensibilidade do ser humano, seja pela via negativa (desacordo) para alcançar uma via positiva
(acordo). Nessa esteira, a retórica da serpente se concatena naquilo que Bakhtin (1988) chama
de “gênero opinativo”, no qual, durante o diálogo, as funções de emissor e receptor estão
inseridas no mesmo indivíduo. Por isso, o emissor se coloca no lugar do receptor, a fim de
realizar suas considerações que giram em torno de “intuito” (o objetivo) do emissor e a “forma”
(modo do objetivo).
Daí, frequentemente, em várias passagens bíblicas, a retórica da serpente promover
arrebatamentos e transcendências no interlocutor. Eis o que se vê no capítulo 4 de Mateus, no
novo testamento bíblico:

Então o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Jesus jejuou
durante quarenta dias e quarenta noites, e, depois disso, sentiu fome. Então, o tentador
se aproximou e disse a Jesus: “Se tu és Filho de Deus, manda que essas pedras se
tornem pães!” Mas Jesus respondeu: “A Escritura diz: ‘Não só de pão vive o homem,
mas de toda palavra que sai da boca de Deus’”. Então o Diabo o levou à Cidade Santa,
colocou-o na parta mais alta do Templo. E lhe disse: “Se tu és Filho de Deus, joga-te
para baixo! Porque a Escritura diz: ‘Deus ordenará aos seus anjos a teu respeito, e eles
te levarão nas mãos, para que não tropeces em nenhuma pedra’” Jesus respondeu-lhe:
“A Escritura também diz: ‘Não tente o Senhor seu Deus’. O Diabo tornou a levar
Jesus, agora para um monte muito alto. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e suas
riquezas. E lhe disse: “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me
adorar.” Jesus disse-lhe: “Vá embora, Satanás, porque a Escritura diz: ‘Você adorará
ao Senhor seu Deus e somente a ele servirá’” Então o diabo o deixou. (BÍBLIA,
Mateus, 1990, p. 1241-1242).

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Na tentativa de convencer Jesus, a retórica satânica mais perspicaz aparece na “Tentação
de Jesus”, descrita tanto em Mateus quanto em Lucas, livros do novo testamento bíblico. As
investidas da serpente, usando a retórica, se estabelecem dentro do tipo argumentativo sobre o
qual Koch (1987, p. 4) discorre como “dimensão pragmática” (atitude de convencer),
“dimensão esquemática global” (tese, antítese e síntese) e “dimensão linguística da superfície”
(linguagens próprias). Nesse esquema textual, subdividiremos as investidas retóricas em três
planos discursivos:
I- Sobre a alimentação – Satanás busca sanar a fragilidade carnal e humana de Jesus, já
que este estava em jejum durante 40 dias. A dimensão linguística de superfície se
desdobra pela introdução da “dúvida” que Satanás utiliza: “Se tu és Filho de Deus”.
Essa dúvida, lançada contra Jesus, aponta a duas proposições: a desestruturação da
integridade (provocando insegurança quanto ao caráter de Jesus) e a veracidade da
identidade (Fazer Jesus agir, para provar/demonstrar se possuía a identidade de “Filho
de Deus”). Satanás aparece como “garçom” no deserto e utiliza a dimensão pragmática,
a partir do elemento “pedra” e sua possível (trans)formação em “pão”, mas em uma
forma de subjugar Jesus e subverter a natureza, com o objetivo de saciar a fome. Por
último, a dimensão esquemática global se dá pela fala de Jesus que realiza uma
“antítese” em “nem só de pão viverá o homem” e faz uma relação dialética entre “pão”
(concreto/matéria) e “palavra” (abstrato/verbo)”.
II- Quanto à memória literária – Satanás procura criar contextos e encaixá-los dentro
das passagens do velho testamento bíblico. Ao pegar Jesus e transportá-lo ao pináculo
do templo, Satanás reitera a proposta de dúvida pela dimensão linguística de superfície:
“Se tu és Filho de Deus”. Porém, há um redirecionamento na dimensão pragmática pela
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memória literária – “[...] joga-te para baixo [...] Porque a Escritura diz: ‘Deus ordenará
aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em
nenhuma pedra’ ” – na busca por fazer a Bíblia ter eficácia entre os homens, mas em
contextos sob a orientação e supervisão do próprio Satanás. Já na dimensão esquemática
global, surge Jesus, com a refutação – “Não tente o Senhor seu Deus” – que contesta
toda a metodologia da retórica satânica, em pleno deserto.
III- A respeito das posses – Satanás, agora, aparece como um “negociante”, procurando
um “acordo/barganha”: faz Jesus contemplar todos os reinos e povos subjugados pelas
trevas. Em sua última investida, Satanás realiza a proposta – “Eu te darei tudo isso, se
te ajoelhares diante de mim, para me adorar” – na dimensão linguística de superfície
pela oração subordinada adverbial condicional. A dimensão pragmática se configura nas
imagens dos povos que Jesus via – “mostrou-lhe todos os reinos do mundo e suas
riquezas” – sob uma ótica de não poder perder as almas daqueles reinos. A dimensão
esquemática global, novamente, destaca Jesus, com a contestação – “Você adorará ao
Senhor seu Deus e somente a ele servirá” – que fez distinção entre o “reino terreno”
(povos satânicos) e o “reino espiritual” (Deus e a adoração).

A busca pela propagação do mal, por meio da perspectiva da retórica, não é a única
faceta (ou cabeça) do dragão vermelho. Entre as sete cabeças, temos a simbólica, na qual
Satanás possui alguns símbolos e imagens, no decorrer da Bíblia.
A fim de compreendermos as manifestações do sublime do dragão vermelho, bíblico,
mencionaremos algumas considerações acerca do funcionamento em cada faceta (ou cabeça).

Guavira Letras (ISSN: 1980-1858), Três Lagoas/MS, v. 15, n. 29, p. 232-247, jan./abr. 2019.
A complexibilidade de categorizarmos o “Diabo e o mal” sempre está entre as temáticas
mais analisadas nos estudos sobre estética. O sublime bíblico moldura o Diabo (ou Satanás) na
imagem discursiva do “dragão vermelho” (com sete cabeças e dez chifres): um propósito de
contrastar ou conciliar o “mundo espiritual” e o “mundo humano” (eterno e o transitório). Desde
a descida de Satanás do céu, conforme é descrito na carta de Apocalipse 12, temos um dragão
(ou serpente) que faz o seu rastro sobre a terra e revela os traços do mistério, de acordo com o
contato com a mulher – “O Dragão colocou-se diante da Mulher” (BÍBLIA, Apocalipse, 1990,
p. 1601) – que significa a civilização humana. O dragão vermelho começa, então, a mostrar
suas sete cabeças na tentativa de realizar a cisão com o teocentrismo, a fusão dos ideais humanos
com o mundanismo e, em seguida, a incorporação maligna para a eclosão de identidades.
Efetivamente, as sete cabeças do dragão vermelho conferem um sublime, em particular,
que permeia a historicidade humana e se desdobra em circunstâncias por ciladas; na variação
simbólica ou imagética; no metafísico que agride a sensibilidade; no gênio excêntrico na cultura
humana; no mistério opressor da imaginação; nas idiossincrasias humanas; nas vicissitudes das
trevas; etc., razões essas que comprovam cada faceta (ou cabeça) como lacuna para a análise
do sublime. Dessa forma, cada cabeça do dragão vermelho desenvolve dois cernes: o da
grandeza (totalmente misteriosa) e o da presença, reforçando, assim, via de fato em um modo
de expressão e numa manifestação que procura a consagração do ideal, o pecado (ou desvio),
na estética do sublime.
A estética do sublime é contemplada no Romantismo, pelo ponto de contato do homem
com as potências da natureza divina, como, por exemplo, deuses, o diabo e espíritos que estejam
além da potência humana (WEISKEL, 1994). Por isso, o conceito de sublime está relacionado
ao objeto que cause agressão à sensibilidade e, também, oprima a imaginação, a fim de sugerir
236
abstrações (KANT, 1995). Essas abstrações promovem fantasmagorias que são “uma série
alternada ou sucessiva de [...] figuras imaginárias [...] como evocadas pela imaginação ou como
criadas por descrições literárias” (OXFORD, 1998, p. 658), para a representação de grandezas
e, assim, “tudo que seja capaz de incitar as ideias de dor ou perigo [...] constitui uma forma de
sublime” (BURKE, 1996, p. 48).
As recorrências do sublime no dragão vermelho, bíblico, ocorrem com o objetivo de
declinar a aura do ideal cristão ou da Vontade Divina que se manifesta entre os homens. Eis o
destaque do método estético do dragão vermelho, bíblico: seu âmbito do sublime consiste na
aparição das sete cabeças em uma mesma unidade (corpo do dragão) que dispõe variação de
expressões do ideal satânico.
Nessas expressões, há um caleidoscópio discursivo de fantasmagorias de Satanás, sob a
égide de imagens e símbolos malignos, ou seja, a segunda faceta (ou cabeça) do dragão
vermelho. Em Apocalipse no capítulo 12 – “Esse grande Dragão é a antiga Serpente, é o
chamado Diabo ou Satanás. É aquele que seduz todos os habitantes da terra” (BÍBLIA,
Apocalipse, 1990, p. 1602, grifos nosso) – a mutação de “dragão” para “serpente” parece
distinguir dois cronotopos: “dragão” no céu, arrastando a terça parte dos anjos – “Com a cauda
ele varria a terça parte das estrelas do céu, jogando-as sobre a terra” (BÍBLIA, Apocalipse,
1990, p. 1601) – e a serpente na terra, enganando os homens. Essas imagens, em meio a
metáforas e metonímias, carregam as bestialidades, a deformação e o desregramento do comum.
Entretanto, no capítulo 12 do livro de João, há um símbolo de “príncipe”, como pessoa
humana, – “[...] Agora o príncipe deste mundo vai ser expulso” (BÍBLIA, João, 1990, p. 1373,
grifos nosso) – porém calcado dentro da fantasmagoria do reino das trevas, conforme ressalta
o escritor Paulo, em sua carta aos Efésios no capítulo 6:

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[...] Vistam a armadura de Deus, para poderem resistir às manobras do Diabo. A nossa
luta, de fato, não é contra homens de carne e osso, mas contra os principados e as
autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos do
mal, que habitam as regiões celestes (BÍBLIA, Efésios, 1990, p. 1507, grifos nosso).

Contudo, há plasmado na imagem de “príncipe das trevas” a organização desse reino


que se estabelece em “principados” (territórios dos príncipes) e precisam ser conquistados, ou
seja, são regiões, nas quais os homens devem ceder lugar à orientação satânica. Tal orientação
também se inclina à perversão da moral e dos bons costumes, no seio social. As “autoridades”
revelam o poderio de certos líderes do mal que podem assumir figuras históricas e lendárias, ao
longo dos séculos. Tais autoridades são direcionadas pela influência do mal, uma espécie de
homem maquiavélico (príncipe das trevas), dominador de determina região, sociedade ou lugar,
sob a égide do exército sobrenatural que sobrevém aos seres humanos (espíritos do mal).
É interessante destacar que a fantasmagoria de Satanás, também, se dá pela imagem do
“leão”, na passagem de I Pedro no capítulo 5 – “Sejam sóbrios e fiquem de prontidão! Pois o
diabo, que é o inimigo de vocês, os rodeia como um leão que ruge, procurando a quem devorar”
(BÍBLIA, Pedro, 1990, p. 1573, grifos nosso) – e sua principal finalidade é “rugir” contra os
homens cristãos para matá-los. Esse urro é permeado de sons discursivos que provocam no
homem sofrimento e dor, por meio de ciladas e estratégias malignas.
Sabe-se que o “leão” possui uma habilidade para matar os demais leões, em busca de
conquistar o território pretendido. Nesse sentido, Jesus aparece, também, na figura do leão,
evidenciando uma batalha espiritual, constante, contra Satanás – “O Leão da Tribo de Judá, o
Rebento de Davi venceu!” (BÍBLIA, Apocalipse, p. 1989). Há um conjunto de fantasmagorias 237
que define a esfera satânica, elas são divididas em: Fantasmagoria bestialógica – dragão
vermelho, serpente e leão; Fantasmagoria hierárquica – príncipe das trevas, pai da mentira, deus
deste mundo, etc.
Essas imagens, símbolos e figuras enaltecem o conjunto de fantasmagorias que Satanás
vem apresentando, como um camaleão e suas alterações de cores.
Essa coloração não é o suficiente para se observar o fenômeno do sublime no dragão
vermelho da Bíblia. Aparece, então, a terceira faceta (ou cabeça), a epifânica. Na passagem do
livro de Jó, no capítulo 1, temos a aparição de Satanás, no meio de um ritual divino – “Certo
dia, os anjos se apresentaram a Javé e, entre eles, foi também Satã” (BÍBLIA, Jó, 1990, p. 640)
– que é demonstrado apenas no velho testamento bíblico. O acesso de Satanás à presença de
Deus, por duas vezes, demonstra o inconformismo e, nesse sentido, “o rebelde, anjo caído ou
titã em desgraça, é o eterno inconformado” (PAZ, 1982, p. 265). Essa epifania maldita revela a
insatisfação de Satanás com o cronotopo (tempo e espaço) e o trabalho das trevas na vida
humana. A partir dessa epifania, a vida do personagem Jó sofreu alteração: de uma vida
abastada (na casa, vestido) à miséria maligna (sem vestes, no meio das cinzas).
Jó, na pele, sofreu os indícios da epifania maldita do dragão vermelho que, apresentada
somente ao leitor, justifica as mazelas (destruição de bens materiais, matança de animais e filhos
do personagem), realizadas no âmbito do cronotopo humano. A dor e o tormento, pelos quais
o personagem Jó passou, elucidam o sublime ostensivo do dragão vermelho. Esse sublime, em
fusão com o grotesco, pelas aflições de Jó, em Ur dos Caldeus, é inexprimível e traz à baila
uma “chaga maligna” (grotesco – veneno da serpente) contra a qual o personagem luta,
raspando as feridas com um “caco de telha” (antídoto): “Então Jó se levantou, rasgou a roupa,

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rapou a cabeça, caiu por terra [...] Satã feriu Jó (...) Então Jó pegou um caco de telha para se
coçar, sentado no meio da cinza” (BÍBLIA, Jó, 1990, p. 641).
Outra vez, o sublime ostensivo vem à tona em um confronto entre humano e espiritual,
como aponta o fragmento bíblico abaixo:

Depois Javé me fez ver Josué, o chefe dos sacerdotes, parado na frente do anjo de
Javé. E Satanás estava em pé, à direita de Josué, para acusá-lo. E o anjo falou a
Satanás: “Que Javé segure você, Satanás, que Javé o segure, pois ele escolheu
Jerusalém. Esse aí não é, por acaso, um tição tirado do fogo?”. Josué estava vestido
com roupas sujas e parado na frente do anjo falou aos que estavam de pé, à sua frente:
“Tirem dele as roupas sujas”. E disse a Josué: “Veja, eu afastarei de você a sua culpa
e o revestirei com roupas limpas” (BÍBLIA, Zacarias, 1990, p. 1218).

Essa passagem do livro do profeta Zacarias, no capítulo 3, ilustra o projeto ambicioso


do dragão vermelho, no espaço humano, exercendo a materialidade do ideal (opor-se ao
pensamento teocêntrico) e inscrevendo-se na história israelita. Para tanto, essa epifania
conclama uma potência de resistência a algo já mencionado no livro de Zacarias, em que os
israelitas estavam em campanha para a reconstrução do templo. Entretanto, as “vestes sujas”,
grotesco, por excelência, simbolizavam a iniquidade do povo israelita, em consonância ao
“fogo” que tipificaria o exílio babilônico.
Essa potência de resistência recorre à estética do sórdido, aliada à epifania maldita,
apaga os ventos da construção do templo israelita que o sumo sacerdote Josué busca reacender.
Essa passagem bíblica revela que o sumo sacerdote não pretende apenas recuperar o templo,
mas também legitimar a santidade do povo que sofre com as perdas e danos do exílio. Assim, 238
o dragão vermelho evidencia que, em cada aparição, há a demonstração de sujeira no ser
humano (no personagem Jó foi demonstrada por uma chaga maligna).
Mas, no livro Zacarias, o próprio “SENHOR” entra em batalha contra o dragão
vermelho e justifica as impurezas do povo israelita, dando-lhes uma nova oportunidade para a
reconstrução do templo. A epifania maldita gera dois confrontos: o humano (que expõe o
rebaixamento e sofrimento antropocêntricos) e o espiritual (que traz a glória divina e a potência
e teocêntricas).
Ponto de convergência entre mundo físico (homem) e mundo espiritual (espírito), a
epifania maldita destaca a identidade do dragão vermelho e procura batalhar contra todas as
resoluções teocêntricas, como no episódio que o dragão vermelho tenta roubar o corpo do
profeta Moisés – “Na luta com o diabo para disputar o corpo de Moisés, o arcanjo Miguel não
teve a ousadia de acusá-lo com palavras ofensivas; apenas disse: “Que o Senhor castigue você!”
(BÍBLIA, Judas, 1990, p. 1588). Essa batalha espiritual demonstra o “sobre-humano” em uma
equação entre “corpo” e “espírito”. Após essa batalha, a ferocidade do dragão vermelho declina.
O sublime ostensivo do dragão vermelho se constrói na esfera do grotesco:
No personagem Jó – o sórdido maligno está no corpo (vestes rasgadas pelo tormento),
na alma (amaldiçoando sua vida e esposa) e no ciclo “de dentro para fora” (veneno da
serpente que procura ser retirado).
No sumo sacerdote Josué – o sórdido maligno está no corpo (vestes impuras) e o ciclo
é “de fora para dentro” (corrupção moral dentro da cultura judaica).

Guavira Letras (ISSN: 1980-1858), Três Lagoas/MS, v. 15, n. 29, p. 232-247, jan./abr. 2019.
No profeta Moisés – o sórdido maligno está na necrose do corpo e o ciclo é “de cima
para baixo” (batalha hierárquica entre o arcanjo e o diabo).

Entre epifanias e batalhas espirituais, o dragão vermelho necessita de outras facetas (ou
cabeças) para eclodir modos reativos ao pensamento teocêntrico, há a necessidade de
observarmos a quarta faceta (ou cabeça), a genial (ou gênio). A passagem bíblica, abaixo,
demonstra de modo cabal a questão do gênio:

Como é que você caiu do céu, estrela da manhã, filho da aurora? Como é que você foi
jogado por terra, agressor das nações? Você pensava: “Vou subir até o céu, vou
colocar meu trono acima das estrelas de Deus; vou sentar-me na montanha da
Assembléia, no cume da montanha celeste. Subirei até as alturas e me tornarei igual
ao Altíssimo”. E agora, aí está você precipitado na mansão dos mortos, nas
profundezas do abismo. (BÍBLIA, Isaías, 1990, p. 961).

Uma visão de decadência: a geográfica (do Céu às mais baixas profundezas), a cultural
(do reino celestial ao reino das trevas) e a satânica (de querubim ao anátema). Essa passagem
de Isaías, no capítulo 14, traça a origem do dragão vermelho que faz seu rastro, como serpente,
até os dias atuais. Essa visão esboça, por meio do sublime decadente, a precipitação,
preenchendo os elementos do espaço sideral “estrela da manhã” com “estrelas de Deus” que
tipificam os demais anjos de luz, com os quais o ex-querubim habitava – “Fiz de você um
querubim protetor de asas abertas. Você ficava na alta montanha de Deus, passeando entre
pedras de fogo” (BÍBLIA, Isaías, 1990, p. 1117). Tem-se uma correspondência entre “anjo
querubim”, que se desnuda em “dragão vermelho”, cujo trajeto oferece uma luta contra a
piedade. A seguir, teremos um gênio de “decadente” constante pela correspondência entre 239
“dragão” e “serpente” que se dá na subjetividade não estática, mas um gênio oscilante em meio
à transitoriedade dos acontecimentos históricos entre os homens. Ora, o gênio decadente dialoga
com outros que desafiam o retrato do dragão vermelho, exposto ao leitor, mesmo em diversas
obras literárias sobre o “Diabo”, pois impõe mobilidade no discurso literário.
Sendo assim, o gênio do dragão vermelho vem sendo traçado em diferentes contextos,
dentro de um retrato, carregado de imagens do sublime que testemunha a colisão entre as forças
espirituais e humanas – “Que ele não seja recém-convertido, a fim de que não fique cheio de
soberba e seja condenado como o foi o diabo” (BÍBLIA I Timóteo, 1990, p. 1531). Aqui, o
substantivo abstrato “soberba” põe em choque a situação de igualdade entre o diabo e o homem
que, em diversas situações do cotidiano, pode se enquadrar no gênio anátema. Seria mais um
gênio o “corrupto” – “Javé viu que a maldade do homem crescia na terra e que todo projeto do
coração humano era sempre mau” (BÍBLIA, Gênesis, 1990, p. 19) – que em permanência
provocou a insuficiência da criação humana e, como desfecho, o dilúvio de Noé no Gênesis.
A partir desse ponto, a questão do gênio diabólico passa a ser polissêmico, visto que se
demonstra diferentemente em cada cultura, como na judaica, após a saída do povo hebreu do
Egito – “Quando o povo notou que Moisés estava demorando para descer da montanha, reuniu-
se em torno de Aarão, e lhe disse: “Vamos! Faça para nós um deus que caminhe à nossa frente”
(BÍBLIA, Êxodo, 1990, p. 105). O primeiro desvio israelita foi à idolatria, vendo que Moisés
não descia do monte Sinai, conforme a leitura do livro de Êxodo, no capítulo 32. A partir desse
ato de eleger outro “deus” para guiar o povo hebreu, na jornada do deserto, o gênio “idólatra”
passa a ser disseminado entre o povo, o que resultou em rebelião contra a liderança de Moisés,
posteriormente. É por essa natureza cultural que os homens incorporam o desregramento do
divino, dando à luz excentrismo e propagando outro ideal, sendo o “proscrito” – “Sabemos que

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somos de Deus, ao passo que o mundo inteiro está sob o poder do Maligno” (BÍBLIA, I João,
1990, p. 1583). A natureza humana, em contato com o “outro”, define a cultura local e, nessa
esteira, João, em sua I epístola, no capítulo 5, deixa em aberto a polissemia do gênio do dragão
vermelho, criando um “mundo” do qual alguns homens fazem parte e prolifera o mal que se
repete entre os homens, em cada geração.
O gênio do dragão vermelho pontua o sublime cultural que engenha subculturas
excêntricas, anátemas e proscritas à cultura cristã (elencada pela Bíblia). É preciso se atentar
aos componentes da malícia para a verificação do “maldito”. Os componentes da malícia, na
cultura humana, trazem à baila a quinta faceta (ou cabeça) do dragão vermelho, a misteriosa
(ou mistério) que agride a sensibilidade do leitor, conforme veremos, a seguir, em três tipos de
possessões:

[Possessão I]
Logo que Jesus saiu da barca, um homem possuído por um espírito mau saiu de um
cemitério e foi ao seu encontro. Esse homem morava no meio dos túmulos e ninguém
conseguia amarrá-lo, nem mesmo com correntes. Muitas vezes tinha sido amarrado
com algemas e correntes, mas ele arrebentava as correntes e quebrava as algemas. E
ninguém era capaz de dominá-lo. Dia e noite ele vagava entre os túmulos e pelos
montes, gritando e ferindo-se com pedras. Vendo Jesus de longe, o endemoninhado
correu, caiu de joelhos diante dele e gritou bem alto: “Que há entre mim e ti, Jesus,
Filho do Deus Altíssimo? Eu te peço por Deus, não me atormentes!” O homem falou
assim, porque Jesus tinha dito: “Espírito mau, saia desse homem!” Então Jesus
perguntou: “Qual é o seu nome?” O homem respondeu: “Meu nome é ‘Legião’,
porque somos muitos”. [...] Os espíritos maus suplicaram: “Manda-nos para os porcos.
E a manada – mais ou menos uns dois mil porcos – atirou-se monte abaixo para dentro
do mar, onde se afogou. (BÍBLIA, São Marcos, 1990, p. 1287). 240

A possessão (ou incorporação) diabólica aparece somente no Novo Testamento, embora


haja indícios de opressão maligna no Velho Testamento, como no rei Saul – “O espírito de Javé
afastou-se de Saul, e ele começou a ficar agitado por um espírito mau, enviado por Javé”
(BÍBLIA, I Samuel, 1990, p. 319). Há a possibilidade de mistério, do sinistro, do macabro e
dos fenômenos espirituais que passaram a acontecer no corpo humano. Ora, os acontecimentos
trágicos demonstram a fúria do dragão vermelho que, diante da chegada de Jesus na terra,
começa a demonstrar uma faceta mais instigante. Contudo, é na presença de Jesus que as
manifestações de possessão acontecem, como modo de mostrar as sombras e os enigmas do
mundo espiritual. Nota-se que o personagem Gadareno vivia nos cemitérios e atormentava
todos os habitantes de Gadara. Os habitantes da cidade eram oprimidos pela atuação espiritual
e até agredidos, fisicamente. O mistério das trevas se abria ao ser humano e este questionava:
como lidar com esses fenômenos espirituais? A possessão surge como palco do reencontro cujo
diálogo é o ponto de contato entre o homem e os espíritos maus:

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[Possessão II]
[...] Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar. [...] Nesse momento, estava na
sinagoga um homem possuído por um espírito mau, que começou a gritar: “Que
queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o
Santo de Deus!” Jesus ameaçou o espírito mau: “Cale-se, e saia dele!”. Então o
espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu dele.
(BÍBLIA, São Marcos, 1990, p. 1282).

Assim, a possessão alcança um mistério intransponível para os homens, posto que as


sombras das trevas pousaram sobre algumas pessoas e estas possuíam duas vozes: a voz própria
(pessoal, com sua própria historicidade) e a voz concedida (entidade, com outra historicidade).
A junção dessas vozes permeia a realidade, provoca terror e concede um impacto, pela alteração
de nível que pode ser fonológico, discursivo e imagético.
Outras vezes, a reação de um possesso pode assumir uma estrutura bem descomunal que
reforça um tom do mistério e ultrapassam os cinco sentidos humanos.

[Possessão III]
Alguém da multidão respondeu: “Mestre, eu trouxe a ti meu filho que tem um espírito
mudo. Cada vez que o espírito o ataca, joga-o no chão e ele começa a espumar, range
os dentes e fica completamente rijo. Eu pedi aos teus discípulos para expulsarem o
espírito, mas eles não conseguiram. [...] Quando o espírito viu Jesus sacudiu
violentamente o menino, que caiu no chão e começou a rolar e a espumar a boca. Jesus
perguntou ao pai: “Desde quando ele está assim?” O pai respondeu: “Desde criança.
E muitas vezes já o jogou no fogo e na água para matá-lo [...]” (BÍBLIA, São Marcos,
1990, p. 1294).
241
O mesmo livro de Marcos, no capítulo 9, intensifica a questão da possessão como um
mistério do poderio das trevas. Esse mistério se evidencia no acúmulo de reações imprevistas e
ignorância dos espectadores diante das possessões. Devemos observar que, mesmo a possessão
ser uma instância espiritual, a demonstração ocorre de diversos modos na historicidade do
sujeito humano, em razão da historicidade da entidade espiritual no corpo habitado. Fazendo
um paralelo entre as três possessões, observamos traços peculiares do sublime misterioso:
Na possessão I – há alguns atributos que rondam o mistério: a voz do personagem
“Gadareno” aparece agressiva (como de um animal feroz – fazendo alusão a um possível
“leão bramando”), o discurso da entidade maligna (no corpo do personagem) é o ponto
ápice para o entendimento do mistério espiritual (plano de terror maligno naquela região
de Gadara), a imagem do personagem aparece na esfera peculiar do grotesco
(personagem se encontrava nu, com aspectos lúgubres, feria-se com pedras e agredia os
demais moradores de Gadara) e o espaço físico que se alterna (região de Gadara e
cemitério).
Na possessão II – demonstra uma tendência do mistério: a voz do “homem” aparece
modificada, o discurso da entidade maligna (no corpo do personagem) entrega a missão
de Jesus (destruir o poder das trevas), a imagem do personagem também se remonta na
instância do grotesco (sob orientação de um espírito imundo) e o espaço físico (na
sinagoga, entre os religiosos).
Na possessão III – exprime uma possibilidade maior do mistério: o jovem lunático não
possui voz e audição, o discurso da entidade maligna é apenas em reações fisiológicas,
a imagem do jovem é comparado às fases da “lua” que serão representados por quatro
verbos “espumar” / “ranger os dentes” / “vai secando” / “tem lançado no fogo e na água”

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(esses verbos são enigmáticos, pois são as reações do jovem, em consonância com a
entidade ali incorporada) e, por último, o espaço (entre a multidão desconhecedora de
possessão).

O mistério do dragão vermelho, tanto na possessão como nos demais enigmas, ainda se
perdura ao longo dos séculos, em diferentes obras literárias. Na Bíblia, esse mistério foi
minguando, a partir do ministério de Jesus, com as últimas palavras, antes de sua ascensão ao
Céu – “Os sinais que acompanharão aqueles que acreditarem são estes: expulsarão demônios
em meu nome” (BÍBLIA, São Marcos, 1990, p. 1307). Todavia, o mistério é o sublime que
opera na manifestação das entidades (demônios) que, no corpo humano, transmuta a voz, realiza
o discurso verbal e desfoca a imagem humana em qualquer lugar. Porém, é dentro do espaço
humano que o mistério, em meio a espaços físicos, se levanta. Para isso, faz-se necessário
conhecer a sexta faceta (ou cabeça) do dragão vermelho, a idiossincrática (ou idiossincrasia)
que acontece nos ideais humanos.
Essa idiossincrasia se apresenta no “ser humano” como forma “anti-humanista”, em
diferentes sociedades, ou seja, são estereótipos da realidade humana em convívio. Assassinos,
terroristas e maquiavélicos tendem a realizar um clichê, ou uma moda que oriente o
comportamento dos demais sujeitos:

Depois de algum tempo, Caim apresentou produtos do solo como oferta a Javé. Abel,
por sua vez, ofereceu os primogênitos e a gordura do seu rebanho. Javé gostou de
Abel e de sua oferta, e não gostou de Caim e da oferta dele. [...] Entretanto, Caim disse
a seu irmão Abel: “Vamos sair”. E quando estavam no campo, Caim se lançou contra
o seu irmão Abel e o matou. (BÍBLIA, Gênesis, 1990, p. 17).
242

Esse trecho, no capítulo 4 do livro de Gênesis, destaca o primeiro homicídio entre os


irmãos Caim e Abel. Caim, envolto de inveja, mata subitamente seu próprio irmão, Abel, em
um passeio pelo campo. O homicídio hediondo chegou, de acordo com a passagem bíblica, a
Deus, quem, como Juiz, dialogou com Caim – “O que foi que você fez? Ouço o sangue do seu
irmão, clamando da terra para mim” (BÍBLIA, Gênesis, 1990, p. 17). Contudo, Caim é genitor
de uma idiossincrasia maligna, recebe uma marca – “Javé lhe respondeu: “Quem matar Caim
será vingado sete vezes. E Javé colocou um sinal em Caim, a fim de que ele não fosse morto
por quem o encontrasse” (BÍBLIA, Gênesis, 1990, p. 17) – e, depois, constrói uma “cidade” –
“Caim construiu uma cidade, e deu à cidade o nome de seu filho Henoc” (BÍBLIA, Gênesis,
1990, p. 18) – e as demais gerações se emolduraram na idiossincrasia cainita – “Lamec disse
para as suas mulheres: “Ada e Sela, ouçam [...]: Por uma ferida, eu matarei um homem, e por
uma cicatriz matarei um jovem. Se a vingança de Caim valia por sete, a de Lamec valerá por
setenta e sete” (BÍBLIA, Gênesis, 1990, p. 18).
Já no livro de Gênesis temos as primeiras civilizações que edificaram as primeiras
cidades. A violência, inerente ao anti-humanismo, passou a sequenciar o mal sobre a terra. O
sinal, colocado no personagem Caim, serviu como clichê para os demais cidadãos se tornarem
assassinos meticulosos e, ainda, elucubrar liras e filosofias sobre os homicídios, durante os
banquetes e cerimônias realizadas em casas e ajuntamentos. A idiossincrasia do dragão
vermelho sobre Caim repercute no Novo Testamento, quando João, em sua I epístola, no
capítulo 3, menciona o hediondo comportamento cainita – “Não como Caim: pertencendo ao
Maligno, ele matou o seu próprio irmão” (BÍBLIA, Epístola, 1990, p. 1581).

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Psicólogo e astucioso, o dragão vermelho incide sobre o comportamento, nas seguintes
ações humanas – “O ladrão só vem para roubar, matar e destruir” (BÍBLIA, João, 1990, p.
1370). Orientando os homens a se digladiarem, alastra o maligno na convivência humana, por
meio do sublime hediondo.
A idiossincrasia hedionda reaparece no personagem bíblico “Absalão”:

Absalão ordenou a seus servos: “Fiquem de olho. Quando Amnon estiver alegre por
causa do vinho, e eu lhes disser para feri-lo, vocês o matem. Não tenham medo, porque
sou eu que estou mandando. Tenham coragem e sejam valentes!” Os servos de
Absalão fizeram conforme ele havia ordenado. Então todos os filhos do rei se
levantaram, cada um montou no seu asno, e fugiram (BÍBLIA, II Samuel, 1990, p.
348).

A “elevação” do poderio do filho do rei Davi e o desejo de vingança culminaram no


assassinato de Amnon. Jerusalém, nessa época, estava sendo palco de uma idiossincrasia
rebelde e pecaminosa. Os crimes hediondos passaram a efetivar a “bravura” e a “ferocidade”
do dragão vermelho que ganha personificação nos personagens bíblicos, como “Caim” e
“Absalão”. Tal personificação justifica o sublime idiossincrático, de conformidade com os
personagens bíblicos, em questão:
Personagem Caim – sublime idiossincrático pela conurbação de cidades, antediluvianas.
A personificação do dragão vermelho é por meio da administração pública. Caim era
como um prefeito da cidade de Enoque.
Personagem Absalão – sublime idiossincrático no cetro do rei Davi. A personificação 243
do dragão vermelho é através do reinado de Jerusalém. Absalão era um revolucionário
e disseminou a depravação entre os hebreus.
O sublime idiossincrático, ainda, perdura na contemporaneidade, principalmente em
figuras históricas e vilões de diversos contextos mundiais. A Bíblia, livro de estudo selecionado
como corpus deste trabalho, trabalha com a idiossincrasia maldita, tratando o dragão vermelho
como o “iníquo”:
E agora vocês já sabem o que está impedindo a manifestação do adversário, que
acontecerá no tempo certo. O mistério da impiedade está agindo. Falta apenas
desaparecer aquele que o segura até agora. Só então manifestará o ímpio. O Senhor
Jesus o destruirá com o sopro de sua boca e o aniquilará com o esplendor da sua vinda.
(BÍBLIA, II Tessalonicenses, 1990, p. 1526).

Por este excerto, contemplamos a “operação do erro”, uma idiossincrasia, em


continuidade, que promove identidades, operantes e mutativas. Além do mais, devemos
destacar: serão por meio da vontade humana que as identidades se tornam vicissitudes. Se o
homem pudesse aderir a um comportamento ímpio dentro do sistema maligno (atuante),
promoveria rupturas com o cristianismo e dissolveria a moral e os bons costumes. Assim, a
reverência ao contraste é uma das idiossincrasias pertinentes, como a questão de vacilação aos
princípios teocêntricos.
A sétima e última faceta (ou cabeça) do dragão vermelho será a transmutativa (ou
transmutação) no desejo humano.

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Além disso, as obras dos instintos egoístas são bem conhecidas: fornicação, impureza,
libertinagem, idolatria, feitiçaria, discórdia, ciúme, ira, rivalidade, divisão,
sectarismo, inveja, bebedeira, orgias e outras coisas semelhantes. Repito o que já
disse: os que fazem tais coisas não herdarão o Reino de Deus. (BÍBLIA, Gálatas, 1990,
p. 1499).

Essa mudança de comportamento atua no desejo humano de realizar deleites. O dragão


vermelho provoca a insaciedade na carne humana, propício ao homem capitalista, como sujeito
social. O homem revela suas mudanças de personalidade e caráter, sob um número significativo
de circunstâncias que podem resultar em identidades, sobre as quais teceremos algumas
considerações:
- Prostituição: o prostituto busca constantemente a depravação sexual. Arrebatando-o
por uma transcendência imoral, o dragão vermelho instaura desejos sexuais e atos
libidinosos.
- Impureza: o impuro cede a imaginação a devaneios por uma transcendência depravada.
O dragão vermelho procura perverter a moral e os bons costumes na esfera sexual.
- Lascívia: o lascivo almeja concretizar todos os seus desejos imorais. O dragão
vermelho estimula a prática imoral, por meio de exposições sexuais.
- Idolatria: o idólatra cultua outros deuses (não cristãos) ou confia no alheio. O dragão
vermelho procura projetar formas de adoração a deuses e pessoas.
- Feitiçarias: o feiticeiro procura usar meios hediondos para as práticas de feitiçaria. O
dragão vermelho procura realizar ritual (ou cultos) que envolvam sacrifícios, com carne
e sangue expostos. 244
- Inimizades: o ser humano, revestindo-se como um “inimigo”, aplica a antipatia a
outrem. O dragão vermelho incita o sentimento de desavença entre os homens.
- Porfias: o porfiador procura promover as oposições entre os homens. O dragão
vermelho atua nas brigas, fazendo com que os homens se enalteçam diante de outros.
- Emulações: o emulador não se contenta com a prosperidade alheia. O dragão vermelho
procura personificar no corpo de homens que não aceitam a felicidade da outridade.
- Iras: o irascível reage de modo explosivo diante das circunstâncias adversas. O dragão
vermelho trabalha com ações violentas, por meio de palavras e atitudes humanas.
- Pelejas: o pelejante nunca se contenta com posições inferiores. O dragão vermelho
intencionou colocar um trono acima de todas as potências divinas.
- Dissensões: o dissensor procura ensinar o erro na sociedade. O dragão vermelho deseja
espalhar uma retórica cuja antítese seja o modo mais fácil de ajustar-se às práticas
teocentristas.
- Heresias: o herege constitui grupos fragmentados dentro do teocentrismo. O dragão
vermelho atua como o destruidor da unidade e da fraternidade e professor do ensino
errôneo.
- Invejas: o invejoso aspira à posição de igualdade com seu semelhante. O dragão
vermelho atuou em rebeldia, com o propósito de assumir o Trono Divino.

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- Homicídio: o homicida, imbuído de avareza, extermina o “outro” para tirar proveito
de certas situações. O dragão vermelho faz perseguição à raça humana, para exterminá-
la.
- Bebedice: o bêbado encontra no álcool um refúgio contra as dificuldades. O dragão
vermelho se figura na carnalidade e na sujeira humana, elencadas no grotesco.
- Glutonarias: o glutão não consegue refrear suas ingestões e não tem domínio próprio.
O dragão vermelho introduz drogas e outras formas para tirar a vida na depravação
moral.
O conjunto de identidades, sempre em mutação, é oriundo do sublime hipnótico que o
dragão vermelho, por meio de suas retinas, suscita na mente humana. Ora, uma verdadeira
transmutação mirabolante que procura incitar qualquer desejo/vontade no sujeito, de sorte que
as trevas (veneno da serpente) intentem inocular na personalidade humana – “porque, embora
conhecendo a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças. Pelo contrário,
perderam-se em raciocínios vazios, e sua mente ficou obscurecida” (BÍBLIA, Romanos, 1990,
p. 1442).
O coração, enquanto matiz ou reflexo do estado espiritual humano, pode estar
iluminado, ou, simplesmente, escuro. As obras da carne levarão à escuridão das ideias, à
abstração dos sentidos e à criação de novas ideologias em uma plurissignificação que estará na
contramão do universo teocêntrico. Essa contramão é inerente à apostasia, coração da
idiossincrasia do dragão vermelho, pois recruta os indivíduos cristãos a renunciarem suas
ideologias bíblicas e consagrarem uma nova doutrina, fácil e mais ameno ao convívio humano
na sociedade.
245
Althusser (1992) afirma que a ideologia recruta indivíduos em sujeitos de seu próprio
discurso, é comum notar que na idiossincrasia do dragão vermelho haja a proliferação de ideais
desarmônicos a princípios cristãos e os sujeitos que a esses ideais se aderem são “diabos” –
“Jesus disse aos doze: “Vocês não são os doze que eu escolhi? Apesar disso, um de vocês é um
diabo” (BÍBLIA, João, 1990, p. 1364, grifos nosso). A identidade “diabo” realça o papel da
transmutação: formação de novos integrantes. Mas esta formação promove as vicissitudes e
sugere um perigo: o de deixar-se recrutar nessa capacitação maligna que proporciona novas
identidades diabólicas (não apenas um diabo, mas outros sucessores), porquanto, como
enfatizou Deleuze (1995), toda a identidade se esconde; a unidade esconde a multiplicidade.
Com essa citação indireta, é preciso enfatizar a zona de conflitos (humanos e sociais) para a
eclosão de identidades.
Essas identidades são provenientes da degradação moral do homem e dá à luz
transmutação pela via discursiva do sórdido, obtendo sujeitos anômalos ou desprovidos de
moralidade. Isso não significa que os homens não podem ser vistos como pessoas normais ou
idôneas – “E não é de estranhar! O próprio Satanás se disfarça em anjo de luz!” (BÍBLIA, II
Coríntios, 1990, p. 1490) –, pelo contrário, possui uma falsa aura. São as operações
circunstanciais que fazem o sujeito se transformar, como o dragão vermelho, com suas sete
facetas (ou cabeças).

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Considerações finais

As manifestações do sublime no dragão vermelho-bíblico elucidaram as


particularidades de cada uma das sete cabeças, visto que são faces em desempenho e
continuidade cujo objetivo, no ponto de contato com o homem, é (re)produzir identidades
excêntricas à ordem teocêntrica; relações identitárias que se promovem por meio de batalhas
espirituais e disseminação de ideais malignos na sociedade humana. Para tanto, cada cabeça
aparece como sustentáculo ideário de geração em geração pelo culto à dissonância, ao grotesco
e ao desvio da moral e dos bons costumes. Com efeito, o rastro da serpente (ou dragão
vermelho) sugere não apenas uma articulação ao sublime maldito, mas também manifestar o
poderio das trevas na convivência social, inerente ao reino maligno.
Sob essa característica, as sete cabeças do dragão vermelho-bíblico apontam aos sete
sublimes imaginários: na retórica se constata que o sublime utópico se projeta na difusão de um
projeto gracioso, pela via da refutação do teocentrismo. Tanto com a personagem Eva quanto
em Jesus temos uma transcendência humana, forjada pelo dragão vermelho, com o intuito de
provar que o ideário maligno é o sonho real. Na simbólica, o sublime é traduzido como grotesco
– as bestialidades formam o grito da ferocidade maligna que qualificam o homem à moda
anômala. Na epifânica, o sublime é ostensivo, visto que o estado humano é demonstrado no
clico de dentro para fora, ou seja, as intenções humanas são expostas e o homem apresenta suas
próprias identidades. Na genial, o sublime decadente edifica o desnudamento do anjo querubim
para dragão vermelho e, assim, por diante, interfere na vida humana para torná-la excêntrica e
maldita. Na misteriosa, construiu-se o sublime misterioso cuja incorporação da entidade
maligna, no corpo humano, trouxe os processos de rupturas – interrupção da historicidade
246
humana e o início da historicidade maligna que, operante, produz discursos. Na idiossincrática,
observa-se que os clichês e estereótipos, acima da potência terrena (projeções malignas),
representam o sublime hediondo ou maquiavélico em figuras humanas, em diferentes contextos
históricos e sociais. Por último, na mutativa, o dragão vermelho figura como uma “serpente”
em processo de hipnose – o sublime hipnótico matiza, pela via do desejo, a personalidade e o
caráter humanos, ou seja, promove múltiplas identidades no seio social.
Essas sete cabeças do dragão vermelho-bíblico dão uma sugestão de como o mal se
prolifera em outras literaturas, dado o ideal sobre a representação do Diabo. No entanto, esse
dragão produz um rastro discursivo que perscruta a expressão do ideal maligno. Assim, este
rastro do dragão apresenta as recorrências do sublime que não são suficientes para delimitarmos
um panorama estético eficaz do Diabo na Literatura, porém permite o esclarecimento da atuação
do poder do mal e contribui para contornar a figura do dragão vermelho na Bíblia.

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Janeiro: Imago, 1994.

Recebido em 10/02/2019
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Aprovado em 30/04/2019
Publicado em 22/09/2019

Guavira Letras (ISSN: 1980-1858), Três Lagoas/MS, v. 15, n. 29, p. 232-247, jan./abr. 2019.

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