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I.
Tudo estava pronto para o Bispo chegar. O Dono da Casa convidara-o com um
propósito: pedir-lhe para trocar o padre de Varzim, pois ele não aceitava a pobreza da terra,
tinha uma opinião diferente da do Dono da Casa. Certo dia, surgiu uma questão de contas com
um caseiro e o padre tomara a posição do homem. O Dono da Casa explicara que com ele se
tratava as questões práticas e materiais e com o pároco as questões morais, porém ele contra-
argumentou.
Seria um pedido difícil, pois o Abade era um homem muito simples que abdicara da
riqueza para viver como um pobre. As suas missas, em vez de serem sobre paciência eram
sobre caridade, ou seja, diziam respeito ao Dono da Casa, que, apesar de tudo, tinha uma boa
fé, dava esmola aos pobres, ia pontualmente à missa e a qualquer hora tinha pronta a mesa
dos pobres, dos verdadeiros (o Lúcio sem pernas, o Manuel sem braços, o cego Quintino, a
Joana surda, viúva e centenária e a Maria louca). O Pedro da Serra não era um pobre de
verdade, pois tinha dois braços e recebia 15 000 réis.
O Dono da Casa estava feliz com o rumo da conversa e no final da mesma conduzira o
Bispo e o seu convidado inesperado para uma sala isolada. O Homem Importante retomou a
conversa da igreja e o Bispo explicou que tinha sido feita por um antepassado do Dono da Casa
e expôs o problema (seria necessário 100 contos). Ambos os senhores doaram 50 contos e
logo de seguida o anfitrião explicara a situação do padre de Varzim. Ele foi apoiado pelo seu
convidado e o Bispo prometeu a sua substituição. O Abade fora vendido por um teto.
II.
Um mendigo, semelhante à restante gente de Varzim, bateu à porta e, embora
contrariada, Gertrudes a cozinheira teve de recebê-lo. O homem sujara a casa toda e disse que
precisava de falar com o Dono da Casa imediatamente, porém Gertrudes deixou claro que a
esmola era apenas ao sábado, mas o homem insistia que tinha de ser naquele momento. A
cada criado que passava ele pedia que chamassem o dito, mas todos lhe retorquiam o mesmo,
até acrescentavam que como era dia de vistas não se podia interromper. A tempestade lá fora
aumentava. Uma criada chegou à cozinha a queixar-se que tinha de ir preparar o quarto para o
Homem Importante. Ninguém satisfazia o pedido do pobre e agora o mau tempo estava em
cima da casa e a luz fora abaixo. Enquanto na cozinha a velha criada Joana rezava a Magnífica
juntamente com o mendigo, o criado António e duas criadas pegaram numa vela para ir
acender os castiçais da casa e no corredor encontraram João assustado. João questionou o que
se passava na cozinha e lá fora averiguar a situação, aí, a tempestade amainou. O homem
pedira a João que chamasse o seu pai e que dissesse que ele viesse da parte do Padre de
Varzim. Quando o rapaz foi passar o recado a luz regressou. Ele chegou à sala e,
interrompendo a conversa dos três senhores, disse ao pai para ir ver um pobre vindo em nome
do Abade de Varzim que queria falar com ele, porém, o pai, perante as suas insistências,
retorquiu-lhe sempre que não, para vir no sábado e João assim passou a mensagem. O
mendigo agradeceu e foi-se embora. Gertrudes ficou indignada, pois o homem não tocara na
comida por ela preparada e Joana comparou a situação à história de Caim e da sua oferta não
ter sido aceite por Deus – filho de Adão e Eva, Caim matou o seu irmão Abel.
III.
Passado meia hora, o Bispo ia no seu carro de regresso a casa e encontrou um homem
a andar na estrada e perguntou-lhe qual era o seu destino, ele informou-o que era a casa do
Padre de Varzim e o Bispo, depois de perguntar, soube que ele era o mendigo que estava a vir
da Casa Grande. Devido às condições atmosféricas, o Bispo ofereceu-lhe a sua casa durante a
noite, de cabeça baixa, pois custava-lhe olhar para tal sofrimento e quando levantara a face
apenas vira noite. Tanto ele como o motorista procuraram-no mas nada viram e por isso
regressaram à Casa Grande. O Dono da Casa convidou-o a entrar e o Bispo explicara que
naquela noite o Padre de Varzim tinha sido acusado e Deus viera à Terra testemunhar tal
acontecimento. O anfitrião estava estupefacto. O outro continuou: o Abade de varzim também
tinha sido vendido por um telhado de uma Igreja. O Dono da Casa fez-se de despercebido e
“não compreendera” porque ele tinha dito “vendido”. O Bispo devolvera os cheques e na
cabeça do Dono da Casa só lhe apetecia ser frio e devolver-lhe o que ele acabara de recusar
mas não o fizera e voltou a argumentar. Ele achou que seria melhor chamar o Homem
Importante para esclarecer o assunto. António foi chamá-lo, mas não o encontrou; todos os
criados procuraram, até o próprio patrão vasculhara em todo o lado; as marcas do automóvel
desapareceram e o ambiente tornara-se sinistro. O Bispo afirmou que amanhã tratariam de
tudo com mais calma quando o hóspede aparecesse, porém, quando observaram, o cheque
dele desaparecera também. Procuram mas em vão. O Dono da Casa perguntou ao Bispo se
sabia se era nominal ou portador e qual era o banco mas ele não tinha verificado, então
retirou-se. De seguida, os criados voltaram a investigar. António foi ver aos corredores, pois
podia ter voado com a corrente mas Júlia deu a hipótese de ter sido o Diabo a levar. Gertrudes
questionou quem era o homem, mas o criado também não sabia e comparou-o a Lúcifer.
Joana declarou que era possível, mas a cozinheira respondera que não há Deus nem Diabo
apenas pobres e ricos e continuou a limpar as pegadas do mendigo.