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PROMOÇÃO DE CRESCIMENTO DE MUDAS DE

NIM (AZADIRACHTA INDICA A. JUSS.)


UTILIZANDO ACAULOSPORA LONGULA
Edvaneide Leandro de Lima1, João Ricardo Oliveira2, Renata Gomes de Souza3, Uided Maaze Tiburcio Cavalcante4

Introdução de móveis e objetos e até como fonte de energia, entre


outros fins [1].
O nim indiano (Azadirachta indica A. Juss.) é uma
A planta está adaptada a condições hídricas limitadas [1]
planta originária da Índia também conhecida por neem
e apresenta crescimento rápido que pode ser aumentado
ou margosa, pertencente à família Meliaceae, adaptada
quando em associação com FMA [8,9]. Isso indica que
a ambientes áridos tropicais e subtropicais e cultivada
pode ser cultivada onde a água constitui fator limitante e
em toda América, Ásia e África. O principal princípio
gerar madeira em menor espaço de tempo.
ativo do nim é a azadiractina, substância pertencente ao
Foi testada a hipótese de que a inoculação com
grupo dos triterpenos oxigenados com confirmada ação
Acaulospora longula, cujo gênero tem sido encontrado na
contra pragas e outros insetos, anti-séptico e fins
rizosfera de plantas de nim cultivadas em Pernambuco,
medicamentosos. Além disso, pode ser usado na
contribui para o incremento do crescimento dessas plantas.
produção de carvão ou caibros, fabricação de
O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência da
cosméticos (óleo), como fertilizantes, no
inoculação de dois isolados de FMA (Acaulospora longula
reflorestamento ou com ação repelente, entre outros
Spain & N.C. Schenck, Glomus etunicatum W.N. Becker &
[1,2].
Gerd.) no crescimento de mudas de nim.
Os fungos micorrízicos arbusculares (FMA) formam
associações mutualísticas com as raízes da maioria das
Material e métodos
plantas e apresentam-se bem adaptados a todos os tipos A. Montagem do experimento
de ecossistemas terrestres. Como resultado dessa
associação o micélio fúngico prolifera e cresce ao O estudo foi realizado em casa de vegetação do
longo da raiz, funcionando como extensão do sistema Departamento de Micologia da Universidade Federal de
radicular, contribuindo para o aumento da absorção de Pernambuco (UFPE) durante o período de 19 de março a
água e nutrientes, interação com outros organismos, 19 de dezembro de 2008. Foram utilizados sacos pretos
etc. A planta melhora os mecanismos de defesa, para a produção de mudas com capacidade para 2 Kg. O
apresenta maior absorção de nutrientes particularmente solo foi esterilizado em autoclave (120 °C, por uma hora,
o P, água proporcionando maior vigor vegetal, três dias intercalados) e apresentou as seguintes
tolerância contra patógenos e condições adversas como características: P=4 mgdm3; pH=4,77; Ca=0,75; Mg=0,50;
déficit hídrico e outras condições adversas [3]. Na 0,02; K= 0,02; Al=1,45; H=1,27; S=1,3 cmolc dm3;
Diversos estudos mostram a influência dos FMA no CTC=4,0. Plântulas de nim obtidas de sementes foram
crescimento de plantas proporcionando menor tempo transplantadas para potes e na cova foi colocado solo-
de produção de mudas de diversas fruteiras como inóculo com, aproximadamente, 400 esporos por planta. As
maracujazeiro-amarelo [4], mangabeiras [5]. A resposta mudas foram irrigadas sempre que necessário.
da planta à inoculação micorrízica depende do genótipo B. Avaliação
da planta e do fungo conforme observado em acerola
O número de folhas e medições de altura e diâmetro do
[6].
caule, a três centímetros do solo, foram realizadas a cada
A densidade radial do nim é crescente da medula
30 dias até 300 dias após a inoculação com FMA utilizando
para a casca e apresenta elevada resistência mecânica
régua e paquímetro. Neste estudo são consideradas apenas
[7] e assim a madeira obtida dessa planta constitui
as medições aos 150, 210 e 270 dias após a inoculação. O
importante recurso natural que pode ser utilizada para
incremento, considerando o benefício da inoculação em
fins de construção civil, como estaca, para fabricação

________________
1. Primeiro Autor é Aluna do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Manuel de
Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP: 52171-900. E-mail: edvaneidell@hotmail.com
2. Segundo Autor é Mestre em Biologia de Fungos, Universidade Federal de Pernambuco. Av. Prof. Nelson Chaves, s/n, Cidade Universitária,
Recife, PE, CEP 50670-420. E-mail: jrgoliveira@yahoo.com.br
3. Terceiro Segundo Autor é Doutor em Biologia de Fungos, Universidade Federal de Pernambuco. Av. Prof. Nelson Chaves, s/n, Cidade
Universitária, Recife, PE, CEP 50670-420. E-mail: renatags@hotmail.com
4. Quarto Autor é Professor Visitante do Programa de Pós-Graduação em Biologia de Fungos, Universidade Federal de Pernambuco. Av. Prof.
Nelson Chaves, s/n, Cidade Universitária, Recife, PE, CEP 50670-420. E-mail: umaaze@yahoo.com.br
.
Apoio financeiro: UFPE.
relação ao controle, foi calculado de acordo com caule em plantas de nim.
Weber et al. [10] utilizando a seguinte fórmula: Nesse aspecto, os resultados obtidos indicam que o nim é
favorecido pela associação com FMA resultando em mudas
I (%) = 100 [(X-Y) / Y] onde I = incremento de
mais vigorosas e produzidas mais rapidamente. A
qualquer variável; X = planta micorrizada e Y = planta
micorrização pode ser importante para a expansão da
controle.
cultura no Estado, tendo em vista que, além de outras
finalidades, o nim é uma planta promissora para a geração
C. Delineamento experimental e análise dos dados
de madeira.
O experimento foi conduzido em delineamento A hipótese de que a inoculação com Acaulospora
inteiramente casualizado com três tratamentos longula, gênero encontrado na rizosfera de plantas de nim
(inoculação com A. longula e G. etunicatum e controle cultivadas em Pernambuco, contribui para o crescimento
não inoculado) e dez repetições. A análise de variância dessas mudas, foi confirmada, principalmente quanto ao
e o teste de comparação de médias (Tukey 5%) foram incremento no diâmetro do caule, indicando a necessidade
feitos utilizando o Programa Assistat. de mais pesquisas em campo.

Agradecimentos
Resultados
À Profa. Leonor Costa Maia por ter facilitado o uso de
A análise de variância mostrou diferenças, altamente materiais do Laboratório de Micorrizas do Departamento
significativas (P<0,01) para as variáveis e períodos de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco.
estudados (Tabela 1). As mudas de nim inoculadas com
A. longula apresentaram maior crescimento em relação
Referências
às inoculadas com G. etunicatum e as não inoculadas,
nos três períodos avaliados. Aos 270 dias o diâmetro [1] NEVES, B.P.; OLIVEIRA, I.P. & NOGUEIRA, J.C.M. 2003.
Cultivo e utilização do nim indiano. Circular Técnica, 62. Santo
do caule das mudas associadas aos dois FMA foi o Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão. 12 p.
dobro do apresentado aos 150 dias, o que não ocorreu [2] PRATES, H.T.; VIANA, P.A. & WAQUIL. J.M. 2003. Atividade de
nas plantas não inoculadas. estrato aquoso de folhas de nim (Azadirachta indica) sobre
O incremento no crescimento proporcionado pela Spodoptera frugiperda. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 38: 437-
439.
inoculação com FMA aumentou com o tempo, exceto [3] MEHROTRA, V.S. 2005. Mycorrhiza: a premier biological tool for
para o número de folhas, o que é explicado pela perda managing soil fertility. In: MEHROTRA, V.S. (Ed.) Mycorrhiza;
de folhas observada durante o período experimental. Role and Applications. New Delhi: Allied Publishers. p. 1-65.
Embora as mudas inoculadas com G. etunicatum [4] CAVALCANTE, U.M.T.; MAIA. L.C.; COSTA, C.M.C.;
CAVALCANTE, A.T.; & SANTOS, V.F. 2002. Efeito de fungos
tenham apresentado respostas semelhantes ao controle, micorrízicos arbusculares, da adubação fosfatada e da esterilização
esse FMA promoveu incrementos no crescimento entre do solo no crescimento de mudas de maracujazeiro amarelo. Revista
33 e 38%, em relação às mudas não inoculadas (Tabela Brasileira de Ciência do Solo, 26: 1099-1106.
1). [5] COSTA, C.M.C.; CAVALCANTE, U.M.T.; LIMA JR., M.R. &
MAIA, L.C. 2003. Inoculum density of arbuscular mycorrhizal
fungi needed to promote growth of Hancornia speciosa Gomes
seedlings. Fruits, 58: 247-254.
Discussão [6] COSTA, C.M.C.; MAIA, L.C.; CAVALCANTE, U.M.T. &
As mudas de nim foram inoculadas apenas com 10 NOGUEIRA, R.J.M.C. 2001. Influência de fungos micorrízicos
esporos de A. longula por 50 ml de solo e apresentaram arbusculares sobre o crescimento de dois genótipos de aceroleira
(Malpighia emarginata D.C.). Pesquisa Agropecuária Brasileira,
ótimo aspecto e mais vigor do que aquelas com G. 36: 893-901.
etunicatum e controle, percebido já aos 30 dias após a [7] MELO, R.R.; PAES, J.B.; LIMA, C.R. & FERREIRA, A.G. 2006.
inoculação. Na Índia foi avaliado por Sumana & Estudo da variação radial da densidade básica de sete madeiras do
Bagyaraj [8] o efeito de quatro espécies de Glomus semi-árido. Revista Científica Eletrônica de Engenharia Florestal,
(7).
(Glomus geosporum (T.H. Nicolson & Gerd.) C. [8] SUMANA, D.A. & BAGYARAJ, D.J. 2003. Influence of VAM
Walker, Glomus deserticola Trappe, Bloss & J.A. fungi on growth response of neem (Azadirachta indica A. Juss.).
Menge, Glomus fasciculatum (Thaxt.) Gerd. & Trappe Journal of Tropical Forest Science, 15: 531-538.
emend. C. Walker & Koske e Glomus mosseae (T.H. [9] VENKATESWARLU, B.; PIRAT, M.; KISHORE, N. & RASUL, A.
2008. Mycorrhizal inoculation in neem (Azadirachta indica)
Nicolson & Gerd.) Gerd. & Trappe e os autores enhances azadirachtin content in seed kernels. World Journal of
observaram maior crescimento de nim com G. mosseae Microbiology and Biotechnology, 24: 1243-1247.
(65 esporos por 50 ml de solo). No entanto, avaliando [10] WEBER, O.B.; SOUZA, C.C.M.; GONDIN, D.M.F.; OLIVEIRA,
os efeitos da inoculação com G. fasciculatum e G. F.N.S.; CRISOSTOMO, L.A.; CAPRONI, A.L. & SAGGIN
JUNIOR, O. 2004. Inoculação de fungos micorrízicos arbusculares e
mosseae Venkateswarlu et al. [9] não encontraram adubação fosfatada em mudas de cajueiro-anão precoce. Pesquisa
diferenças entre os tratamentos quanto ao diâmetro do Agropecuária Brasileira, 39: 477-483.
Tabela 1. Efeito da inoculação micorrízica no crescimento de mudas de nim (A. indica).

270 dias
Altura** Incremento Diâmetro caule** Incremento Número folhas** Incremento
Tratamentos (cm) (%) (cm) (%) (%)
Acaulospora longula 46,00 a 101,66 0,62 a 113,79 20,50 a 78,26
G. etunicatum 31,61 b 38,57 0,39 b 34,48 15,33 b 33,3
Controle 22,81 b - 0,29 b - 11,50 b -
CV (%) 19,42 - 20,30 - 18,39 -
210 dias
Altura** Incremento Diâmetro Incremento Número Folhas** Incremento
(cm) (%) Caule** (cm) (%) (%)
A. longula 31,06 a 99,61 0,44 a 100,0 15,50 a 144,86
G. etunicatum 16,85 b 8,29 0,25 b 13,63 7,16 b 13,11
Controle 15,56 b - 0,22 b - 6,33 b -
CV (%) 13,55 - 17,39 - 32,45
150 dias
Altura** Incremento Diâmetro Incremento Número Folhas** Incremento
(cm) (%) Caule** (cm) (%) (%)
A. longula 16,35 a 23,11 0,33 a 65,0 7,66 a 318,57
G. etunicatum 13,16 b -0,9 0,21 b 5,0 2,16 b 18,03
Controle 13,28 b - 0,20 b - 1,83 b -
CV (%) 9,38 - 9,13 - 22,02 -
Médias seguidas da mesma letra, na coluna em cada período, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. .**P< 0,001.

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