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FACULDADE DE TECNOLOGIA DE SOROCABA

TUTORIAL ORCAD CAPTURE CIS DEMO - PSPICE


APLICAÇÃO: CARGA E DESCARGA DE CAPACITORES

Prof. José Luiz Antunes de Almeida

1. Introdução

Capacitores são componentes de circuito que têm como função básica


armazenar cargas elétricas. Entretanto, um capacitor não se carrega
instantaneamente, mas sim seguindo uma curva exponencial, em função do
tempo. O mesmo ocorre com a descarga, que será examinada nesta aplicação.

Para exemplificar o processo de carga de um capacitor, será utilizado o


circuito da Figura 1.
TCLOSE = 0 R1
1 2
U1
100
V1
DC = 12V
AC = C1
TRAN = 100uF

Figura 1 Circuito para análise da carga de um capacitor.

Se esse circuito for simulado em corrente contínua (Bias Point) no


PSpice, o resultado será uma tensão final de 12V, sem a possibilidade de
analisar o processo de carga. Isso só é possível se for parametrizada a análise
transitória. É o que será feito nos próximos itens, sendo posteriormente
analisada sua descarga e o funcionamento em tensão alternada de onda
quadrada.

2. Carga do capacitor

Para o circuito da Figura 1, suponha que se deseje observar a corrente e


a tensão de carga do capacitor. Para tanto, será parametrizada uma análise
transitória para simular um tempo final de 100ms. Como será visto mais
adiante, esse tempo pode ser calculado com base em um parâmetro do circuito
que é chamada “constante de tempo”, que é o produto dos valores do capacitor
e do resistor, através do qual flui a corrente de carga. A Figura 2 mostra a
parametrização correspondente.

Se a análise for efetuada da forma como está parametrizado, o


observador ficará desapontado em notar que o capacitor apresentará uma
tensão constante, desde t=0 e que a corrente será sempre nula. O que ocorre é
que o PSpice assume nas simulações com capacitores, que esses já
apresentam algum valor de tensão e, se nada for especificado, será assumido
que todo o transitório já acabou e que o capacitor entrou em regime. Como no
circuito simulado a tensão final do capacitor será o valor de tensão da fonte, o
capacitor exibirá 12V constantes.

Figura 2 Parametrização da análise transitória.

Para observar a transição, a tela que aparece na Figura 2 terá que ser
modificada, selecionando-se “Skip the initial transient bias point calculation
(SKIPBP)”, que significa pular o cálculo inicial em que é assumido que o
transitório já ocorreu.

Uma nova simulação resultará na Figura 3.


12V

10V

8V

6V

4V

2V

0V
0s 10ms 20ms 30ms 40ms 50ms 60ms 70ms 80ms 90ms 100ms
V(C1:1)
Time

Figura 3 Curva de carga do capacitor do circuito da Figura 1.


Um valor que caracteriza o processo de carga do capacitor é a
constante de tempo, que indica a “velocidade” com a qual o capacitor se
carrega. A constante de tempo é normalmente representada pela letra grega ߬
(tau), sendo calculada por ߬ ൌ ܴ‫ܥ‬. No caso do circuito simulado, a constante de
tempo resulta em 10ms. Se no resultado da simulação for ativado o cursor e
feitas medidas de 10ms em 10ms, poderá ser interpretado o conceito da
constante de tempo. A Figura 4 mostra esse resultado.
12V

(20.000m,10.377) (100.000m,12.000)
(50.000m,11.920)
(30.000m,11.405)
10V

8V

6V (10.000m,7.5745)

4V

2V

0V
0s 10ms 20ms 30ms 40ms 50ms 60ms 70ms 80ms 90ms 100ms
V(C1:1)
Time

Figura 4 O conceito da constante de tempo.

Observe que o valor final da tensão é de 12V e que após uma constante
de tempo, ou seja, 10ms, o capacitor carregou-se até 7,5745V. Esse valor
corresponde aproximadamente à multiplicação de 12V por 0,6312, o que
significa que, após uma constante de tempo, o capacitor carregou-se a um
valor que corresponde a 63,12% do valor que faltava para ele carregar
totalmente.

Se for analisado o segundo valor, após duas constantes de tempo, ou


seja, depois de 20ms, poder-se-á verificar que o capacitor carregou-se até
10.377V. A partir do valor em 10ms, que era de 7,5745V, ainda precisaria
carregar-se cerca de 4,4255V (que resulta de 12V-7,5745V). Se for novamente
considerada a carga de 63,12% em uma constante de tempo (4,4255 x 0,6312
= 2,7934V) o valor de 10.377V seria obtido da soma do valor anterior (7,5745)
com a carga de 2,7934V), o que, de fato, aproximadamente procede.

A Tabela 1 resume os valores reais de carga do capacitor, considerando


que o valor correto seria de 0,63212 (1- e-1).

Resumindo, pode-se afirmar que, no intervalo de uma constante de


tempo, o capacitor carrega-se de aproximadamente 63% do que restava para
carregá-lo totalmente. Desse modo, poder-se-ia afirmar que o capacitor nunca
atinge o seu valor final, o que é matematicamente correto, mas que na prática
pode-se afirmar que, após cerca de 10 constantes de tempo (100ms, no caso)
o capacitor já atingiu seu valor final de tensão, como pode ser observado na
Figura 4.

Tabela 1 Evolução da carga do capacitor

constantes tempo Tensão Quanto 0,63212


de tempo (ms) do falta para do que
capacitor carregar falta
(V) (V) carregar
(V)
0 0 0 12 7,5854
1 10 7,5854 4,4146 2,7905
2 20 10,3760 1,6240 1.0266
3 30 11,4026 0,5974 0,3777
4 40 11,7802 0,2198 0,1389
5 50 11,9191 0,0809 0,0511
6 60 11,9703 0,0297 0,0188
7 70 11,9891 0,0109 0,0069
8 80 11,9960 0,0040 0,0025
9 90 11,9985 0,0015 0,0009
10 100 11,9995 0,0005 0,0003

Se desejado, pode-se traçar o gráfico da corrente, mas como esta


possui valores com ordem de grandeza bem menor do que a tensão, é
conveniente exibi-la em outro gráfico. Para tanto, antes de traçar o valor da
corrente, deve-se criar um novo eixo no mesmo gráfico da tensão, para que
ambas possam ser comparadas, a despeito da escala vertical diferente.

No programa PROBE, selecione “Plot/Add Y Axis”, o que fará surgir


mais um eixo vertical. Esse eixo aparece selecionado pela dupla seta que
aparece próximo da origem e também é numerado, ficando o primeiro gráfico
como 1 e o segundo como 2. A comutação entre os gráficos é feita clicando-se
o “mouse” próximo ao eixo vertical de cada um, fazendo com que a dupla seta
movimente-se.

Selecionando-se “Trace/Add Trace” deve ser escolhida a variável


correspondente à corrente do capacitor (I(C1)). A Figura 5 mostra o resultado
da inserção do novo eixo e a evolução da corrente.

Observe que a corrente inicial do capacitor é elevada, caindo


exponencialmente com o passar do tempo. Isso ocorre porque o capacitor não
pode ser carregado instantaneamente (isso significaria que ele aumentou sua
energia instantaneamente, o que não é fisicamente possível). Em t=0, mantido
o capacitor sem carga, a Lei de Kirchhoff para tensões indica que toda a tensão
aparece sobre o resistor, o que resulta em I=12V/100Ω = 120mA, conforme se
vê na Figura 5.

Assim como ocorre com a tensão, a corrente varia exponencialmente


com o tempo, com a mesma constante de tempo. Após dez constantes de
tempo a corrente será praticamente nula, o que indica que um capacitor
carregado comporta-se como um circuito aberto.
12V 120mA
1 2

10V 100mA

8V 80mA

6V 60mA

4V 40mA

2V 20mA

>>
0V 0A
0s 10ms 20ms 30ms 40ms 50ms 60ms 70ms 80ms 90ms 100ms
1 V(C1:1) 2 I(C1)
Time

Figura 5 Formas de onda de tensão e corrente durante a carga do capacitor.

3. Descarga do capacitor

Para estudar a descarga do capacitor, seja o circuito da Figura 6


V

R1
I

100
2

U1 C1
TCLOSE = 0 100uF
IC = 12V
1

Figura 6 Circuito para analisar a descarga do capacitor.

Observe-se que nesse circuito aparece um parâmetro IC=12V,


juntamente com o valor do capacitor. Esse valor significa uma condição inicial
que pode ser fixada, clicando-se duas vezes sobre o símbolo do capacitor e
editando a condição inicial (que é uma tensão previamente carregada no
capacitor) que aparece no quadro da Figura 7. Nesse quadro, após
parametrizar a tensão inicial do capacitor, deve-se clicar sobre o nome IC e,
após apertar a tecla “Display”, selecionar “Name and value” para que esse
parâmetro apareça no esquema elétrico junto ao capacitor.

A Figura 7 mostra o resultado da simulação, com os valores de tensão


em intervalos de 10ms, para caracterizar a constante de tempo, assim como foi
feito no caso da carga do capacitor.

É perceptível da Figura 7 que a cada constante de tempo o capacitor


descarrega aproximadamente 63% do valor faltante para anular a tensão do
capacitor. O conceito de constante de tempo é o mesmo anteriormente
detalhado.

Figura 6 Parametrização da tensão inicial do capacitor.


12V

10V

8V

6V

(10.000m,4.4074)

4V

(20.000m,1.6161)
2V
(100.000m,527.736u)
(30.000m,592.615m)
(50.000m,79.682m)

0V
0s 10ms 20ms 30ms 40ms 50ms 60ms 70ms 80ms 90ms 100ms
V(C1:1)
Time

Figura 7 Tensão de descarga do capacitor.

Se for desejado visualizar o valor da corrente, pode-se criar um novo


eixo, de modo idêntico ao já feito anteriormente, resultando no gráfico da
Figura 8.

Na Figura 8 é possível observar que a corrente no capacitor cai,


abruptamente de 0A para -120mA no instante do chaveamento. Isso não
problema algum para o capacitor, que apenas não pode ter variação
instantânea de tensão.
12V 0A
1 2

10V -20mA

8V -40mA

6V -60mA

4V -80mA

2V -100mA

>>
0V -120mA
0s 10ms 20ms 30ms 40ms 50ms 60ms 70ms 80ms 90ms 100ms
1 V(C1:1) 2 I(C1)
Time

Figura 8 Tensão e corrente de descarga do capacitor.

4. O capacitor e a onda quadrada

Para observar carga e descarga do capacitor simultaneamente, é


possível alimentar o circuito RC com uma fonte de onda quadrada, conforme
mostrado no circuito da Figura 9.
V

R1
I

100

V1 = 0V V1
V2 = 12V C1
TD = 0 100uF
TR = 10ns IC = 0V
TF = 10ns
PW = 100ms
PER = 200ms

Figura 9 Resultado da simulação usando o circuito Norton equivalente.

No gráfico da Figura 9 foram parametrizados os valores:

• V1 = 0V (valor inicial da tensão da fonte);


• V2 = 12V (valor final da tensão da fonte);
• TD = 0 (TD = Time Delay, ou seja, o atraso no início da aplicação
da tensão da fonte);
• TR = 10ns (TR = Time Rise, ou seja, tempo de subida da tensão
da fonte);
• TF = 10ns (Time Fall, ou seja, tempo de descida da tensão da
fonte);
• PW = 100ms (PW = Pulse Width, ou seja, largura do pulso da
tensão da fonte);
• PER = 200ms (PER = Period, ou seja, o período da tensão da
fonte, que foi escolhido com um valor duas vezes o valor da
largura de pulso para obter uma onda quadrada.

O valor inicial da carga do capacitor retornou para 0V e, antes da


simulação, o valor “Run to time” foi ajustado para 1s, de modo a permitir a
visualização de alguns ciclos de carga e descarga do capacitor. O valor do
parâmetro “Maximum step size” foi alterado para 200us, de modo a
“arredondar” a forma de onda. A Figura 10 mostra o resultado da simulação.
12V

10V

8V

6V

4V

2V

0V
0s 0.1s 0.2s 0.3s 0.4s 0.5s 0.6s 0.7s 0.8s 0.9s 1.0s
V(C1:1)
Time

Figura 10 Carga e descarga de capacitor com onda quadrada.

É possível observar a tensão da fonte e a do capacitor simultaneamente,


em gráficos diferentes. Para tanto, deve-se selecionar “Plot/Add Plot to
Window” do menu do programa PROBE. No novo eixo que surgirá, pode-se
traçar a curva da tensão da fonte, simplesmente clicando-se sobre o gráfico e
selecionando-se “Trace/Add Trace e escolhendo-se o nome da fonte como
variável. O resultado é o da Figura 11.
12V

8V

4V

SEL>>
0V
V(V1:+)
12V

8V

4V

0V
0s 0.1s 0.2s 0.3s 0.4s 0.5s 0.6s 0.7s 0.8s 0.9s 1.0s
V(C1:1)
Time

Figura 11 Tensão da fonte e do capacitor simultaneamente.


Nesse gráfico em que aparecem tanto a tensão da fonte quanto a tensão
do capacitor, pode-se observar que o capacitor pode ser utilizado como um
filtro, atenuando a variação brusca da tensão da rede, arredondando suas
bordas de subida e descida.

5. Conclusão

Nesta aplicação foram mostrados os processos de carga e descarga de


um capacitor, investigando o conceito de constante de tempo. Foi possível
ilustrar a possibilidade de visualização de duas variáveis em um mesmo
gráfico, porém em escalas diferentes. Também foi possível experimentar a
utilização de uma fonte especial do PSpice, chamada VPULSE, que foi
parametrizada para comportar-se como uma onda quadrada, o que permitiu
visualizar carga e descarga do capacitor. Finalmente, foi também ilustrada a
possibilidade de exibir variáveis em gráficos diferentes, criando-se um novo par
de eixos x,y. Isso permitiu visualizar uma função do capacitor como filtro.

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