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ANAIS - MUDANÇAS CLIMÁTICAS, CONCENTRAÇÃO URBANA E NOVAS TECNOLOGIAS.

Editores
Eduardo Krüger
Solange Maria Leder
Amanda Vieira Pessoa Lima

18 a 20 de Setembro de 2019 | João Pessoa, Paraíba


Promoção e
organização

Apoio
financeiro

Apoio
institucional
Organizadores
Eduardo Krüger
Solange Maria Leder
Amanda Vieira Pessoa Lima

Anais do XV Encontro Nacional de Conforto no Ambiente Construído e XI Encontro


Latino-Americano de Conforto no Ambiente Construído: Mudanças climáticas,
concentração urbana e novas tecnologias.

1ª edição

Porto Alegre
ANTAC
2019

iii
Ficha Catalográfica

Encontro Nacional d e Conforto no Ambiente Construído e Encon tro La tino -


Americano de Conforto no Ambiente Construído (15 e 11: 2019: João Pessoa,
PB)

Anais [do] XV Encontro Nacional d e Conforto no Ambiente Construído e XI


Encontro L atino -Americano de Confo rto no Ambient e Construído: Mudan ças
climáticas, concentraç ão urb ana e novas tecnologias / Associação Naciona l do
Ambiente Construído (ANTAC); organização de Eduardo Kr üger, Solange M aria
Leder e Amanda Vieira Pessoa Lima. Porto Alegr e: ANTAC, 2019.

On-li ne

ISBN : 978-85-89478-45-8

1.Arquitetura – Congr essos. 2. Engenharia Civil – Congressos. 3. Pro jet o de


arquitetur a – Qualidade. 4. Con strução Civil – In terna cionalização –
Congressos. I. Eduardo Krüger. org II. Solange Maria Leder. org III.
Amanda Vieira Pessoa Lima. org IV. Título

iv
PROMOÇÃO
Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (ANTAC)

COORDENADOR GERAL
Prof. Solange Leder (UFPB)

VICE-COORDENADOR
Prof. Lucila Chebel Labaki (UFPB/UNICAMP)

COORDENADOR CIENTÍFICO
Prof. Eduardo Krüger (UTFPR)

COORDENADOR BIENAL AROZTEGUI


Prof. Fernando Oscar Ruttkay Pereira (UFSC)

COORDENADOR LOCAL BIENAL AROZTEGUI


Prof. Juliana Magna da Silva Costa Morais (UFPB)
Prof. Angelina Dias Leão Costa (UFPB)

COMITÊ CIENTÍFICO - Subcoordenadores


Tópico 1. Acústica Arquitetônica e Urbana
Elisabeth Gonçalves (UFAL)
Tópico 2. Clima e Planejamento Urbano
Erico Masiero (UFSCAR)
Tópico 3. Conforto Térmico no Ambiente Construído
Raquel Diniz Oliveira (CEFET-MG)
Tópico 4. Desempenho Térmico do Ambiente Construído
Deivis Marinoski (UFSC)
Tópico 5. Eficiência Energética
Antonio Cesar Silveira Baptista Da Silva (UFPel)
Tópico 6. Iluminação Natural e Artificial
Cláudia Naves David Amorim (UNB)
Tópico 7. Avaliação Pós-Ocupação aplicada ao Conforto Ambiental e à Ergonomia
Rosaria Ono (USP)

COMITÊ ORGANIZADOR – Subcoordenadores


Amanda Vieira Pessoa Lima (UFPB)
Eliana de Fátima da Costa Lima (IFPB)
Jullyanne Ferreira de Souza (UFPB)
Pollyanna Padre Macedo (UFPB)

COMITÊ ORGANIZADOR – Discentes colaboradores


Ana Beatriz Egypto Queiroga da Nóbrega (UFPB)
Andreia Cardoso de Oliveira (UFPB)
Barbara Lumy Noda Nogueira (UFPB)

v
Bárbara Maria Melo de Oliveira (IESP)
Daniel Nunes da Silva Júnior (IESP)
Francisco Edinardo Barroso Alves Júnior (UFPB)
Gianna Monteiro Farias Simões (UFPB)
Giulia Renata Mariz Soares (UFPB)
Heitor Bruno Azevedo (IESP)
Julio Gonçalves da Silveira (UFPB)
Larissa Lins de Souza (UFPB)
Lilian Leite Félix (UFPB)
Marcos Antônio SIlva de Mouraes (IESP)
Maria Paula Alves de Figueiredo (IESP)
Mayara Cynthia Brasileiro de Sousa (UFPB)
Nathália Marques Anízio Silva (UFPB)
Nívea Maria de Souza Vieira (UFPB)
Poliana Moura (IESP)
Rebeca Cristina da Silva Cavalcanti (IESP)
Sophia Taina Costa Silva (UFPB)
Tainá Gomes dos Santos Costa (UFPB)
Túlio Vítor Fernandes Madruga (IESP)

COMITÊ ORGANIZADOR – Docentes colaboradores


Pedro Rossi (IESP)
Aline Montenegro (IESP)
Lúcia Helena Aires Martins(IFSE)
José Rodrigo Monteiro Viana (IFPE)
Lilianne Leal (UFCG)

COMITÊ ORGANIZADOR – Técnicos colaboradores


Dave Lucena (IESP) – Design Gráfico
Chris Guedes (IESP) – Marketing
Romualdo Carvalho (IESP) - Produção

MEMBROS COMITÊ AVALIADOR

Abner Calixter Americo Hiroyuki Hara


Adeildo Cabral da Silva Amilcar José Bogo
Adriana Camargo de Brito Ana Carolina de Oliveira Veloso
Adriana Petito Castro Ana Judite Galbiatii Limongi-França
Aldomar Pedrini Ana Kelly Marinoski Ribeiro
Alejandro Antonio Naranjo Gaviria Ana Lígia Papst de Abreu
Alessandra Prata Shimomura Ana Lúcia Ribeiro Camillo da Silveira
Alexandre Cypreste Amorim Ana Milani
Alexandre Reis Felippe Ana Paula de Almeida Rocha
Alice de Barros Horizonte Brasileiro Ana Paula Melo
Aline Calazans Marques Ana Paula Oliveira Favretto
Aline Lisot Andrea Coelho Laranja
Aline Werneck Barbosa de Carvalho Andrea Elvira Pattini
vi
Andrea Invidiata Douglas Barreto
Andreia Oliveira Edna Aparecida Nico Rodrigues
Angelica Walsh Eduardo Gonzalez
Antônio Augusto de Paula Xavier Eduardo Grala Da Cunha
Antônio C. G. Tibiriçá Eduardo Krüger
Antonio Cesar Silveira Baptista da Silva Elcione Maria Lobato Moraes
Arthur Santos Silva Eleonora Sad de Assis
Barbara Lumy Noda Nogueira Eliana de Fátima da Costa Lima
Bianca Carla Dantas de Araújo Eliane Hayashi Suzuki
Caio Frederico e Silva Eliane Silva Barbosa
Caio Vasconcellos Sabido Gomes Elisa Morandé Sales
Caliane C. O. Almeida Enedir Ghisi
Camila Araujo de Sirqueira Souza Erasmo Felipe Vergara
Camila Campos Gonçalves Novais Erica Umakoshi
Camila Carvalho Ferreira Érico Masiero
Camila Chagas Anchieta Grassi Ernani Simplício Machado
Camila Gregório Atem Evangelos Christakou
Camila Mayumi Nakata Osaki Fábio Oliveira Bitencourt Filho
Camila Tavares Pereira Felipe da Silva Duarte Lopes
Caren Michels Fernando Sá Cavalcanti
Carla Fernanda Barbosa Teixeira Fernando Simon Westphal
Carla Matheus Flávia Maria de Moura Santos
Carlos Alejandro Nome Silva Francine Aidie Rossi
Carlos Frederico Dias Diniz Ruskin Freitas
Carlos Leodário Monteiro Krebs Fúlvio Vittorino
Carolina Lotufo Bueno Bartholomei Geovana Geloni Parra
Carolina Rocha Carvalho Geovany J. A. da Silva
Carolina Silveira Barlem Gemelli Giane de Campos Grigoletti
Celina Maria Britto Correa Gleice Azambuja Elali
César Imai Gogliardo Vieira Maragno
Cintia Akemi Tamura Grace Cristina Roel Gutierrez
Clarissa Zomer Grace Tibério Cardoso
Cláudia Barroso Krause Greici Ramos
Claudia Cotrim Pezzuto Gustavo de Luna Sales
Cláudia Naves David Amorim Heitor da Costa Silva
Claudio Emanuel Pietrobon Henor Artur de Souza
Daniela R Werneck Ingrid Chagas Leite da Fonseca
Danielly Borges Garcia Macedo Isabely Penina Cavalcanti da Costa
Deivis Luis Marinoski Isis Portolan dos Santos
Denise Duarte Ivan Julio Apolonio Callejas
Dennis Flores de Souza João Branco Pedro
Diego Jacques Lemes João Luiz Calmon
Dinara Paixão João Roberto Gomes de Faria
Doris C. K. Kowaltowski Joara Cronemberger

vii
John Martin Evans Marco Romanelli
Jorge Daniel Czajkowski Maria Akutsu
Jorge Emanuel Corrêa Maria Andrea Triana
Jorge Hernan Salazar Trujillo Maria de Fátima Ferreira Neto
Joyce Correna Carlo Maria Elisabete Lopes
Juliana D'Angela Mariano Maria Fernanda de Oliveira
Juliana Oliveira Batista Maria Inês Lage de Paula
Juliane Almeida Maria Julia Oliveira Santos
Karin Maria S. Chvatal Maria Lucia Oiticica
Karla Abrahão Maria Solange Gurgel de Castro Fontes
Karyna de Andrade Carvalho Rosseti Mariela Cristina Ayres de Oliveira
Kelen Dornelles Marieli Azoia Lukiantchuki
Laura Rendón Gaviria Marina da Silva Garcia
Léa Cristina Lucas de Souza Marta Adriana Busto Romero
Leandra Altoe Marta Cristina de Jesus Albuquerque
Leandro Carlos Fernandes Nogueira
Leonardo Marques Monteiro Martin Ordenes Mizgier
Leonardo Mazzaferro Mateus de Carvalho Martins
Leopoldo Eurico G. Bastos Mateus Vinícius Bavaresco
Letiane Benincá Matheus Menezes Oliveira
Letícia de Oliveira Neves Mauricio Nath
Letícia Maria de Araújo Zambrano Michele Fossati
Lina Marcela Guerra Michele Marta Rossi
Lisandra Krebs Miriam Jerônimo Barbosa
Lisiane Ilha Librelotto Miriam Panet
Livia Yu Iwamura Trevisan Natalia Giraldo Vásquez
Lizandra Garcia Lupi Vergara Nathália Barbosa de Queiroz Braga
Lizia de Moraes de Zorzi Nayara Rodrigues Marques Sakiyama
Lorena D´Arc Tork da Silva Nixon Cesar Andrade
Louise Land Bittencourt Lomardo Patrizia Di Trapano
Loyde Vieira de Abreu Harbich Paula Silva Sardeiro Vanderlei
Lucas Arango Díaz Paulo Cesar Machado Ferroli
Luciana Oliveira Fernandes Paulo Fernando Soares
luciane cleonice durante Paulo Henrique Trombetta Zannin
Ludmila Rodrigues de Morais Paulo Sérgio Scarazzato
Luiz Antonio P. F. de Brito Roberto Pimentel
Lygia Niemeyer Rafael Prado Cartana
Maiara Roberta Santos Morsch Ramon Ribeiro Fontes
Marcela Alvares Maciel Ranny Loureiro Xavier Nascimento
Marcela Marçal Maciel Monteiro Michalski
Marcelo de Andrade Romero Raoni Venâncio
Marcelo de Mello Aquilino Raquel Diniz Oliveira
Marcelo Galafassi Rejane Magiag Loura
Marcio José Sorgato Renata De Vecchi

viii
Ricardo Carvalho Cabús Solange V. G. Goulart
Ricardo Forgiarini Rupp Stelamaris Rolla Bertoli
Ricardo Nacari Maioli Teresa Cristina Ferreira de Queiroz
Ricardo Souza Marques Gaudin
Ricardo Victor Rodrigues Barbosa Tereza Maria Moura Freire
Roberta Vieira Thalita Gorban Ferreira Giglio
Roberto Lamberts Thiago Montenegro Góes
Robinson Osorio Hernandez Thiago Toledo Viana Rodrigues
Rodrigo Eduardo Catai Thyago Phellip França Freitas
Rogerio Cabral de Azevedo Trajano de Souza Viana
Rogerio Versage Túlio Márcio de Salles Tibúrcio
Rosana Stockler Campos Clímaco Vanessa Aparecida Caieiro da Costa
Rosaria Ono Victor F. Roriz
Rosilene Regolão Brugnera Virginia Célia Costa Marcelo
Rovadavia Aline de Jesus Ribas Virginia Magliano Queiroz
Rui Jerónimo Virginia Maria Dantas de Araújo
Ruth Cristina Montanheiro Paulino Virginia Maria Nogueira de
Sabrina Andrade Barbosa Vasconcellos
Sandra Helena Miranda de Souza Viviane Suzey Gomes de Melo
Saulo Güths Water José Ferreira Galvão
Sergio Fernando Tavares White José dos Santos
Sheila Walbe Ornstein

ix
APRESENTAÇÃO

O Encontro Nacional de Conforto no Ambiente Construído (ENCAC) é um encontro bienal


destinado a docentes, pesquisadores, alunos de pós-graduação e graduação, construtores,
projetistas, consultores, técnicos de órgãos públicos e profissionais atuantes nas áreas de
construção civil, arquitetura, habitação e outros temas correlatos ao Conforto Ambiental no
ambiente construído. Integra o calendário bienal de eventos da ANTAC- Associação Nacional de
Tecnologia no Ambiente Construído.
Iniciativa do Grupo de Trabalho em Conforto Ambiental e Eficiência Energética, o evento
objetiva contribuir a disseminação, desenvolvimento, documentação e difusão dos princípios da
arquitetura bioclimática e da aplicação de estratégias passivas e inovadoras de aquecimento,
resfriamento, tratamento acústico e iluminação no ambiente construído, sempre considerando
a eficiência energética.
O primeiro ENCAC ocorreu em 1990, na cidade de Gramado, RS. Com a realização, em 2019, do
15° ENCAC, sediado na cidade de João Pessoa-PB, celebramos quase 30 anos de história. Os
primeiros encontros foram realizados em âmbito nacional. A partir de 1995, o Grupo de Trabalho
ampliou sua abrangência para a América Latina, com a incorporação do Encontro Latino-
Americano de Conforto no Ambiente Construído (ELACAC), que ocorre concomitantemente ao
ENCAC.
Simultaneamente ao ENCAC/ELACAC, acontece também, desde 1999, a Bienal de Arquitetura
Bioclimática "José Miguel Aroztegui", Concurso Latino-Americano de Projetos Estudantis de
Arquitetura Bioclimática, homenagem ao grande arquiteto uruguaio, cuja obra e atuação
acadêmica sempre disseminaram e incentivaram o projeto bioclimático.
A gestão do evento é promovida pelo grupo de Trabalho em Conforto Ambiental e Eficiência
Energética da ANTAC. O XV ENCAC e o XI ELACAC têm como organizadores equipe do Laboratório
de Conforto Ambiental (LabCon) da Universidade Federal da Paraíba - UFPB em parceria com o
Instituto de Educação Superior da Paraíba – IESP. A XI Bienal José Miguel Aroztegui, que nesta
edição tem como tema de projeto “Estabelecimentos de saúde”.
O mais importante evento nacional na área de conforto ambiental promovido pela ANTAC
aconteceu pela primeira vez na cidade de João Pessoa, Paraíba. João Pessoa é conhecida como
a “Porta do Sol”, por ser o ponto mais oriental do Brasil e das Américas. Assim, a identidade
visual do evento estabelece uma relação com essa característica, assim como, as cores
escolhidas representam o clima tropical e a forma do portal destaca a história colonial da cidade.
Ao longo dos últimos 30 anos, os encontros bienais ENCAC/ELACAC sustentam um importante
fórum brasileiro de debates e troca de conhecimento. Assim, como forma de homenagem aos
eventos anteriores, os ambientes que sediaram as sessões técnicas e minicursos foram
nomeados com as edições dos ENCAC’s anteriores e as respectivas cidades que os sediaram.

SITE OFICIAL DO EVENTO - https://www.even3.com.br/encac2019


E-MAIL - xvencac@gmail.com
INSTAGRAM - @xvencac

x
MUDANÇAS CLIMÁTICAS, CONCENTRAÇÃO URBANA E NOVAS TECNOLOGIAS
No último quarto de século, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera juntamente
com outros gases de efeito estufa, impulsiona as mudanças climáticas decorrentes do aumento
das temperaturas. As consequências negativas são diversas, como a elevação das temperaturas
máximas, o aumento dos períodos de seca, a elevação do nível do mar, a acidificação do oceano
e o aumento dos eventos extremos como tempestades, enxurradas, ciclones, etc. Ainda estamos
sob o impacto da passagem recente do furacão Dorian nas Bahamas e Estados Unidos.
A temperatura média global em 2017 foi de aproximadamente 1,1 °C acima dos níveis
registrados na era pré-industrial (WMO,2018). O aquecimento global atinge grande parte da
população, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 20-40% do total da população
humana vive em regiões que, na década de 2006-2015, já haviam experimentado o aquecimento
de mais de 1,5 °C acima do período pré-industrial em pelo menos uma temporada. A expectativa
da Organização é de que entre 2030 e 2050 ocorram 250.000 mortes adicionais por ano, em
consequência das mudanças climática.
As temperaturas extremas contribuem diretamente no aumento das mortes por problemas
cardiovasculares e respiratórios, particularmente entre pessoas idosas. As altas temperaturas
também elevam os níveis de poluição e alergênicos do ar, ampliando a ocorrência e riscos de
doenças.
Mais da metade da população mundial reside nos centros urbanos, que concentram agentes do
efeito estufa. As cidades são atraentes por seus aspectos positivos, como a ampla oferta de
comércio e de serviços, a possibilidade de maior crescimento econômico, o maior acesso à
educação, à infraestrutura e a outros serviços governamentais. Muitos aspectos positivos
presentes nos centros urbanos, contudo, se contrapõem às suas vantagens, como a ascensão
econômica que resulta no aumento de veículos automotores, e assim, o aumento da poluição
do ar, da poluição sonora e do congestionamento das vias.
No Brasil o crescimento urbano nas últimas décadas foi intenso, acentuando precariedades
urbanas como a pouca oferta de áreas verdes, o esgotamento da infraestrutura, o aumento da
poluição, além dos problemas sociais, principalmente nas periferias das grandes cidades,
indicadores fortes das desigualdades sociais no Brasil. As cidades possuem grande
responsabilidade no combate ao aquecimento global, estratégias para a redução da poluição e
do consumo de energia devem ser desenvolvidas e implementadas.
As novas tecnologias são possíveis atenuadoras das problemáticas decorrentes do aquecimento
global e da concentração urbana. Contudo, podem ser também a origem de novos problemas.
Assim, no XV ENCAC e XI ELACAC duas problemáticas centrais no cenário atual foram colocadas
em pauta: Mudanças Climáticas e a Concentração Urbana e, em contraponto a elas, as Novas
Tecnologias que, potencialmente, podem solucionar ou atenuar os problemas atuais, mas que
também podem acrescentar novas dificuldades.

TÓPICOS
Os seguintes eixos temáticos serão abordados no evento: Acústica arquitetônica e urbana; Clima
e planejamento urbano; Conforto térmico no ambiente construído; Desempenho térmico no
ambiente construído; Eficiência energética; Iluminação natural e artificial e Avaliação pós-
ocupação aplicada ao conforto ambiental e à ergonomia.

xi
ANTAC – ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO

A Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído – ANTAC, promotora do evento,


é uma associação técnico-científica, de caráter multidisciplinar, que reúne profissionais das
áreas de Habitação, Construção e Tecnologia da Arquitetura, tais como pesquisadores e
docentes vinculados a universidades e institutos de pesquisa, e técnicos de órgãos públicos e
empresas privadas, com representação em âmbito nacional em várias instituições públicas e
privadas.

A Associação mantém projetos de divulgação de conhecimentos científico-tecnológicos, como a


Coleção ANTAC – edição de livros e conteúdos acadêmicos; o portal InfoHab – Centro de
Referência e Informação em Habitação; o periódico eletrônico “Ambiente Construído” e as
Publicações ANTAC & CBIC. A ANTAC ainda mantém parceiras com o PBPQ do Habitat –
Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat, do Ministério das Cidades e com
o HABITARE – Programa de Tecnologia de Habitação (FINEP/Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação).

Fundada em 1987, a ANTAC tem suas atividades organizadas em onze grupos de trabalho:
Argamassas, Conforto Ambiental e Eficiência Energética, Desenvolvimento Sustentável,
Durabilidade, Gestão e Economia da Construção, Qualidade do projeto, Resíduos, Sistemas
Prediais, Tecnologia da Informação e Comunicação, Tecnologia de Sistemas e Processos
Construtivos, Urbano.

O Grupo de Trabalho “Conforto Ambiental e Eficiência Energética” é responsável pela


organização do ENCAC/ELACAC, bem como, a Bienal “José Miguel Aroztegui”. Criado em 1988,
o GT Conforto Ambiental e Eficiência Energética agrega pesquisadores, profissionais, estudantes
e técnicos que se dedicam à pesquisa dos vários aspectos do conforto ambiental: conforto
térmico, conforto acústico, conforto luminoso, ergonomia, bem como inter-relações com a
eficiência energética em edificações. O coordenador do Grupo de Trabalho em Conforto
Ambiental e Eficiência Energética é o coordenador científico do ENCAC/ELACAC.

Mais informações sobre a ANTAC: www.antac.org.br.

DIRETORIA ANTAC
Presidente - Sergio Scheer (UFPR)
Vice-presidente - Roberta Vieira Gonçalves de Souza (UFMG)
Diretor Financeiro - Daniel Tregnago Pagnussat (UFRGS)
Diretor Administrativo - Túlio Márcio de Salles Tibúrcio (UFV)
Diretor de Relações Inter-institucionais - Edna Possan (UNILA)
Diretora de Divulgação - Lúcia Helena de Oliveira (USP)

xii
PROGRAMA DO EVENTO

PALESTRAS
KEVIN KA LUN LAU
The Chinese University of Hong Kong – Institute of Future Cites
Título da Palestra: “Urban climate and outdoor thermal comfort studies at
neighbourhood level in high-density cities and Research initiative towards a global
database on outdoor comfort surveys”

SANDA LENZHOLZER
Wageningen University – Holanda / Landscape Architecture and Spatial Planning Group
Título da Palestra: "Research through design for climate-responsive cities”

ENRIQUE SUAREZ
Universidad Austral do Chile / Instituto de Acústica
Título da Palestra: “Ruido ambiental y el paisaje sonoro como elementos a considerar
en la planificación urbana"

EVYATAR ERELL
Ben-Gurion University of the Negev - Bona Terra Department of Man in the Desert
Título da Palestra: "When shadings is not the answer: A new look at radiant exchange in
thermal and visual comfort.”

ANGÉLICA SEGOVIA WALSH GARCÍA


Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Título da Palestra: "Zoneamento bioclimático baseado no desempenho”

EDUARDO MANUEL GONZÁLEZ CRUZ


University of Zulia - Venezula /Architecture Research Institute
Título da Palestra: "De la arquitectura bioclimática a los edificios de consumo de energía
casi nulo; una mirada a tres décadas de experiencias sobre enfriamiento passivo.”

MESA-REDONDA
- Mudanças climáticas, concentração urbana e novas tecnologias: Monitoramento
ambiental urbano.
Amauri P. de Oliveira - Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da
Universidade de São Paulo
Erico Masiero - Universidade Federal de São Carlos
Lea Cristina - Universidade Federal de São Carlos

xiii
- Mudanças climáticas, concentração urbana e novas tecnologias: Conforto e qualidade
ambiental no meio urbano.
Enrique Suarez - Universidad Austral do Chile
Eleonora Assis - Universidade Federal Minas Gerais
Margarete C. C. T. Amorim – Universidade Estadual Paulista
Elcione M. Lobato de Moraes – Universidade Federal do Pará

- Mudanças climáticas, concentração urbana e novas tecnologias: Qualidade ambiental,


desempenho da edificação e normativa.
Angelica Walsh Garcia - Universidade Estadual de Campinas
Roberto Lamberts - Universidade Federal de Santa Catarina
Roberta de Souza - Universidade Federal Minas Gerais

MINICURSO
Minicurso 01- Los mapas de ruido como herramienta de diagnóstico ambiental y su
relevancia en el diseño urbano.
Enrique Suarez, Universidad Austral do Chile / Instituto de Acústica.

Minicurso 02 - Fundamentos de Análise Ambiental Paramétrica.


Juan Pablo Arango Plazas, Universidad Nacional de Colombia / Grupo Energía, Medio
Ambiente, Arquitectura Tecnología.

Minicurso 03 - Regulamento Técnico da qualidade e eficiência energética -


Etiquetagem.
Letícia Eli, Universidade Federal de Santa Catarina / LabEEE - Laboratório de Eficiência
Energética das Edificações.

Minicurso 04 - Conforto em Ambientes de Saúde.


Fábio Bitencourt, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Minicurso 05 - Simulação da luz natural com o TropLux.


Ricardo Cabús, Universidade Federal de Alagoas / GRILU – Grupo de Pesquisas em
Iluminação.

Minicurso 06 - Acústica de Ambientes com o programa RAIOS.


Roberto Tenenbaum, Universidade Federal de Santa Maria /

GRUPO DE ESTUDOS
DEBATE E COLABORAÇÃO - Formação da base brasileira de conforto térmico: revisão
da NBR 16401-2.
Maíra Afonso de André, Universidade Federal de Santa Catarina

xiv
SUMÁRIO
ARTIGOS COMPLETOS
TÓPICO 1: ACÚSTICA ARQUITETÔNICA E URBANA

A VEGETAÇÃO COMO INSTRUMENTO PARA O PLANEJAMENTO URBANO ACÚSTICO


47
Desirée Kuhn; Rita de Cássia Pereira da Silva.

ANÁLISE ACÚSTICA DE PRAÇAS PÚBLICAS NA CIDADE DE JUIZ DE FORA 56


Thaísa Souza; Silvia Senra; Maria Cassani; Sabrina Barbosa; Klaus Alberto.

ANÁLISE DA INSERÇÃO DAS VARIÁVEIS ACÚSTICAS COMO INSTRUMENTOS DE GESTÃO


65
URBANA ESTUDO DE CASO: CÁCERES-MT
Izabela Carolina Torres Buffon; Erika Fernanda Toledo Borges; Tamáris da Costa Brasileiro.

APLICAÇÃO E ANÁLISE DA ISO 16251-1 PARA DETERMINAÇÃO DA REDUÇÃO SONORA


75
AO IMPACTO DE REVESTIMENTO RESILIENTE FLEXÍVEL
Ricardo Netto Carminatti; Erasmo Felipe Vergara.

ÁREAS DE CARGA E DESCARGA E O RUÍDO AMBIENTAL: ESTUDO DE CASO DE UM


SUPERMERCADO NA CIDADE DE MACEIÓ-AL 85
Ana Caroline Araújo Ferreira Da Silva; Maria Lúcia Gondim da Rosa Oiticica.

AVALIAÇÃO ACÚSTICA DE ESCRITÓRIO EM EDIFÍCIO MODERNISTA NA CIDADE DE SÃO


94
PAULO
Ranny Michalski; Lícia Santiago; Nickolas Pinheiro; Vivian Pancheri; Elcione Moraes.

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA SUPERFÍCIE DE RODAGEM NA VIBRAÇÃO GERADA PELO


104
TRÁFEGO RODOVIÁRIO
Luiz Antonio P. F. de Brito; Liu Ming.

AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DA PAISAGEM SONORA DE UM PARQUE URBANO 114


Elcione Lobato de Moraes; Paulo Chagas Rodrigues; Izabel Bianca Araújo; Mayanne Silva Farias.

AVALIAÇÃO DA PRECISÃO DE ALGORITMOS DE PREDIÇÃO DO RUÍDO DE TRÁFEGO 122


Luiz Antonio Perrone Ferreira de Brito; Caroline Seriani.

AVALIAÇÃO DE INTELIGIBILIDADE EM SALA DE AULA DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA


IDENTIFICAÇÃO DAS CONDIÇÕES ACÚSTICAS DE ESCOLAS PÚBLICAS EM SANTA MARIA 132
– RS
Viviane S. G. de Melo; Yuri M. Pinheiro; João V.G. Paes.

AVALIAÇÃO DO AMBIENTE SONORO EM EDIFICIOS HISTÓRICOS: ESTUDO SOBRE


ESPAÇOS DE TRABALHO NO PAVILHÃO FIGUEIREDO VASCONCELOS DA FUNDAÇÃO 142
OSWALDO CRUZ
Stephanie Livia de Souza da Silva; Marta Ribeiro Valler Macedo; Ana Paula Gama.

xv
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO ACÚSTICO DE LAJE NERVURADA COM DIFERENTES
COMPOSIÇÕES DE PISOS 151
Kelvin Bet; Rafael Ferreira Heissler; Maria Fernanda de Oliveira; Thomas Zorn Arnold; Lorenzo
Azevedo Kerber.

AVALIAÇÃO DO IMPACTO SONORO ATRAVÉS DE MAPAS ACÚSTICOS APÓS


IMPLANTAÇÃO DE DOIS EMPREENDIMENTOS RESIDENCIAIS 161
José Veríssimo; Ênio Góis; Marconi Mendonça; Pedro Gois; Otavio Joaquim da Silva Junior;
Angelo Just.

AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE RUÍDO EM SALA DE AULA EM FUNÇÃO DO TRÁFEGO E


170
COMPARAÇÃO ENTRE OS MÉTODOS DE MEDIÇÃO DE CAMPO E ESTIMADO
Nathali Martins Padovan; Ana Paula Campos Rodrigues; Caio Vasconcellos Sabido Gomes.

CARACTERIZAÇÃO DO RUÍDO DE UM PARQUE EÓLICO E SEU INCÔMODO CAUSADO AOS


180
MORADORES
Bruna S. Alencar; Luiz Henrique M. C. Pereira; Erasmo Felipe Vergara.

CRITÉRIOS E LIMITES PARA AVALIAÇÃO DO INCÔMODO DO RUÍDO EM PARQUES


189
EÓLICOS BRASILEIROS
Jessica L. Moraes; Erasmo Felipe Vergara.

DESEMPENHO ACÚSTICO DE PAREDES DE ALVENARIA COM VERMICULITA EXPANDIDA 199


Lorenzo Kerber; Maira Ott; Hinoel Ehrenbring; Rafael Heissler; Maria Fernanda de Oliveira;
Roberto Christ.

DIRETRIZES DE PROJETO PARA AUDITÓRIOS DESTINADOS À FALA 208


Gabriel Feitoza Carvalho; Elisabeth de A. C. Duarte Gonçalves.

ELABORAÇÃO E ANÁLISE DE PORTFÓLIO BIBLIOGRÁFICO SOBRE MAPEAMENTO


218
SONORO URBANO UTILIZANDO O PROKNOW-C
Lorena Cachuit Cardoso Mota; Simone Queiroz da Silveira Hirashima; Rogério C. de Azevedo.

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE ENSAIOS DE CAMPO E SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS


PARA ISOLAÇÃO DO RUÍDO AÉREO DE VVI CONSTITUÍDAS POR BLOCO CERÂMICO DE 8
227
FUROS
Ênio Remígio; Marconi Mendonça; José Victor Veríssimo; Otávio Joaquim da Silva Junior; Pedro
de Freitas Gois; Angelo Just.

ESTUDO DAS CONDIÇÕES ACUSTICAS DE UM TEMPLO RELIGIOSO PROTESTANTE DA


CATEGORIA “EXPERIENCIAL” EM NATAL/RN 235
José Eugenio Silva de Morais Júnior; Bianca Carla Dantas de Araújo; Alexandre Virginelli
Maiorino.

ESTUDO DE CASO DA PAISAGEM SONORA DE TRÊS ÁREAS NA CIDADE DE SINOP, MT


Lucas Rafael Ferreira; Érika Fernanda Toledo Borges; Willian Magalhães de Lourenço; Edna 245
Sofia de Oliveira Santos; Viviane S. G. de Melo.

xvi
FEIRAS LIVRES NA CIDADE DE MACEIÓ: A CONFORMAÇÃO URBANA LOCAL E A RELAÇÃO
COM O RUÍDO 255
Ana Caroline Araújo Ferreira Da Silva; Bianca Oliveira Pontes; Maria Lucia Gondim da Rosa
Oiticica.

HÁ SILÊNCIO NO CAOS? AVALIAÇÃO DE CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS NO CONTEXTO


URBANO DA CIDADE DE MACEIÓ-AL 264
Stella Silva Oliveira; Mariana Barbosa; Ellen Saraiva; Adrielly Paiva; Fernando H. Guedes; Maria
Lucia Oiticica.

IMPACTOS DA REESTRUTURAÇÃO VIÁRIA NO CENTRO DO RIO DE JANEIRO SOBRE AS


CONDIÇÕES DE RUÍDO URBANO: AVALIANDO UM LEGADO DO PROJETO PORTO 273
MARAVILHA
Marina Cortês; Marilia Fontenelle.

INFLUÊNCIA DAS CONDICIONANTES FÍSICO-AMBIENTAIS NA PROPAGAÇÃO DO RUÍDO


DE TRÁFEGO RODOVIÁRIO: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE AS RODOVIAS BR 163 E BR 283
230
Ana Carolina de Souza; Tamáris Brasileiro; Erika Borges; Bianca de Araújo; Virginia de Araújo.

ISOLAMENTO SONORO AÉREO EM CAMPO E EM LABORATÓRIO DO SISTEMA


293
CONSTRUTIVO CLT
Thais Sacomani Zenerato; Stelamaris Rolla Bertoli.

MAPA DO RUÍDO DE TRÁFEGO VEICULAR NO BAIRRO DO BESSA, EM JOÃO PESSOA/ PB


302
Nathalia Silva; Suiellen Vieira; Tamáris Brasileiro; Juliana Costa Morais; Bianca Araújo; Virginia
de Araújo.

MAPEAMENTO ACÚSTICO COMO FERRAMENTA PARA DETERMINAÇÃO DO ÍNDICE DE


ISOLAÇÃO SONORA DE ESQUADRIAS 312
Marconi Mendonça; José Victor Veríssimo; Matheus Mendonça; Marcos Mendonça; Ênio Góis;
Rayane Mendonça; Otavio Joaquim da Silva Junior; Angelo Just.

OS SONS DA CIDADE: ENTENDENDO A CIDADE PELOS OUVIDOS DAS PESSOAS COM


322
DEFICIÊNCIA VISUAL
Raquel Morano; Zilsa Santiago.

PADRÕES DE TRÁFEGO VEICULAR EM SÃO PAULO-SP: EVOLUÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL


332
(2008-2015)
Carolina de R. Maciel; Elisa M. Sales; Marcelo de M. Aquilino; Maria Akutsu.

PAISAGEM SONORA DE DUAS PRAÇAS DE BELO HORIZONTE (MG), EM ESTAÇÕES


342
DISTINTAS – VERÃO E INVERNO
Simone Queiroz da Silveira Hirashima; Lorena Cachuit Cardoso Mota; Eleonora Sad de Assis.

PERFIL DA POLUIÇÃO SONORA DURANTE OS ANOS DE 2016 A 2018 NA CIDADE DE


352
MACEIÓ – AL
Stella Oliveira; Carine Barbosa; Aleksa Brandão; Arthur Martins; Maria Lucia Oiticica.

xvii
QUALIFICAÇÃO DE CÂMARA REVERBERANTE DE ABSORÇÃO E VALIDAÇÃO DE MODELO
COMPUTACIONAL 362
Tamires Lenhart; Bianca Walter; Rafael Ferreira Heissler; Maria Fernanda de Oliveira; Rafael
Ferreira Heissler.

REVERBERATION TIME AND THE SATISFACTION WITH THE CLASSROOMS ACOUSTIC


371
QUALITY
Cristina Y. K. Ikeda; Fúlvio Vittorino; Rosaria Ono.

RUÍDO DE TRÁFEGO NO CENTRO HISTÓRICO DO RIO DE JANEIRO: A RUA PRIMEIRO DE


379
MARÇO
Felipe Barros; Nayara Gevú; M. Lygia Niemeyer.

TÓPICO 2. CLIMA E PLANEJAMENTO URBANO

A INFLUÊNCIA DA ARBORIZAÇÃO NO COMPORTAMENTO TÉRMICO E NO FATOR DE


389
VISÃO DE CÉU NO MICROCLIMA URBANO NO BAIRRO DE SANTA CECÍLIA
Ana Luiza Thomaz da Silva; Erika Ciconelli De Figueiredo.

A INFLUÊNCIA DA MUDANÇA EM PADRÕES DE OCUPAÇÃO DO SOLO SOBRE AS


CONDIÇÕES AMBIENTAIS URBANAS: O CASO DO POÇO DA DRAGA, EM FORTALEZA-CE 399
Ligia Albuquerque Prata; Sara Cavalcante Ribeiro Lins; Stefane Barbosa Alves Macfranklin;
Tainah Frota Carvalho; Renan Cid Varela Leite; Samuel Bertrand Melo Nazareth.

A INFLUÊNCIA DAS ÁREAS VERDES NO MICROCLIMA URBANO: ESTUDO DE CASO EM


ESPAÇOS PÚBLICOS DE ARAPIRACA-AL 409
Isabel França de Souza; Ricardo Victor Rodrigues Barbos; Isadora Alves Gouveia Silva; Vinicius
Silva Zacarias.

A INFLUÊNCIA DE DIFERENTES MORFOLOGIAS NO CONFORTO TÉRMICO DOS USUÁRIOS


417
EM ESPAÇOS URBANOS ABERTOS
Maria Eugenia Fernandes; Luiz Fernando Kowalski; Érico Masiero.

A INFLUÊNCIA DO SOMBREAMENTO NA MICROGERAÇÃO DISTRIBUÍDA FOTOVOLTAICA


NA ÁREA CENTRAL DA CIDADE DE CHAPECÓ – SC 426
Amanda Fontana; Greissi Kely Z. Gheno; Isadora Zanella Zardo; Laura Bencke Zambarda; Maiara
Tais Wermeier; Miguel Teixeira Gomes Pacheco.

A VOLUMETRIA EDIFICADA E SEUS IMPACTOS NA VENTILAÇÃO NATURAL URBANA. UM


ESTUDO DE CASO EM FORTALEZA, CEARÁ 435
Samuel Bertrand Melo Nazareth; Renan Cid Varela Leite; Amando C. Costa Filho; Sara
Cavalcante Ribeiro Lins.

ANÁLISE BIOCLIMÁTICA COMO FERRAMENTA NA DEFINIÇÃO DE DIRETRIZES ESPACIAIS


NO CAMPUS DA UFRN EM SANTA CRUZ
445
Virginia Maria Dantas de Araújo; Edvaldo Vasconcelos de Carvalho Filho; Hérbete Halamo
Rodrigues Caetano David; Luiz Ricardo de Carvalho; Moacir Guilhermino da Silva; Sileno Cirne
Trindade.

xviii
ANÁLISE TERMO-HIGROMÉTRICA DO PARQUE URBANO TIA NAIR EM CUIABÁ-MT
455
Camila Siqueira; Flávia Maria De Moura Santos; Giovane Mariano Sandrin; João Pereira Da Silva
Neto; Maria Victoria Mendes de Quadros; Marta Cristina De Jesus Albuquerque Nogueira.

AVALIAÇÃO MICROCLIMÁTICA PELO PROGRAMA ENVI-MET: O CASO DO CENTRO


461
URBANO DE COLATINA – ES
Eloiza Baleeiro dos Santos; Alexandre Cypreste Amorim; Renata Mattos Simões.

CIDADES INTELIGENTES, CIDADES SUSTENTÁVEIS E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS: UM


OLHAR ÀS CONTRIBUIÇÕES DOS PLANOS DIRETORES E LEIS URBANÍSTICAS NA
471
METRÓPOLE PAULISTA
Wanessa Karoline Maciel Carvalho; Andrea Oliveira Queiroz; Frederico Pedro Bon; Ricardo
Augusto Souza Fernandes.

CONFIGURAÇÃO URBANA E MICROCLIMAS: UM ESTUDO EM CIDADE DE CLIMA


SEMIÁRIDO NO NORDESTE BRASILEIRO 481
Isadora Alves G. Silva; Simone Rachel L. Moura; Ricardo Victor R. Barbosa; Isabel França de
Souza; Vinicius Silva Zacarias.

CONFORTO E ATMOSFERA: UMA AVALIAÇÃO FOTO-ELICITATIVA DO LARGO DA ORDEM


489
DE CURITIBA
Rafael Fischer; Fernanda Grein Nunes; Aloísio Schmid.

CORRELAÇÃO ENTRE MICROCLIMA E PLANEJAMENTO URBANO: ANÁLISE DE IPATINGA


499
– MG
Géssica Mara Rodrigues; Bárbara Carolina Soares Fortes; Marco Antônio Penido de Rezende.

CORRELAÇÃO ENTRE VARIÁVEIS MICROCLIMÁTICAS E FAIXAS DO UTCI CALIBRADO


509
PARA A CIDADE DE BELO HORIZONTE, MG
Thiago José Vieira Silva; Simone Queiroz da Silveira Hirashima; Lutz Katzschner.

DENSIFICAÇÃO CONSTRUTIVA E ACÚMULO DE CALOR: O CASO DE RECIFE/PE 518


Ruskin Freitas; Julia Alves; Thatianne Silva; Jaucele Azerêdo.

DESENHO URBANO SENSÍVEL À ÁGUA: ANÁLISE PARA APLICAÇÃO DE ESTRATÉGIAS EM


528
ÁREAS URBANAS CONSOLIDADAS
Vanessa de Oliveira Friso; Eleonora Sad de Assis.

DESENVOLVIMENTO DO ANO METEOROLÓGICO TÍPICO PARA A ESTAÇÃO


538
METEOROLÓGICA DO INMET DE COPACABANA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
Marco Antonio Milazzo de Almeida; Virginia Maria Nogueira de Vasconcellos.

DIRETRIZES BIOCLIMÁTICAS EM ÁREAS URBANAS CONSOLIDADAS, UMA ANÁLISE PARA


547
A CIDADE DE FORTALEZA
Ana Luiza Pinheiro Campêlo; Amando C. Costa Filho.

EFECTOS URBANOS EN LA METEOROLOGÍA DEL VALLE DE ABURRÁ - COLOMBIA: ISLA


557
DE CALOR EN UN TERRENO COMPLEJO Y VARIACIONES MICROCLIMÁTICAS
Gisel Guzmán Echavarría; Carlos David Hoyos.

xix
EFEITOS DA VEGETAÇÃO VIÁRIA NO CONFORTO TÉRMICO URBANO: ESTUDO DE CASO
567
NAS AVENIDAS MORANGUEIRA E PEDRO TAQUES NA CIDADE DE MARINGÁ, PR
Beatriz Falco Knaut; Aline Lisot; Igor José Botelho Valques.

ENERGIA NA CIDADE ATRAVÉS DO ENVELOPE SOLAR: UMA REVISÃO DA LITERATURA 577


Jacqueline Alves Vilela; Eleonora Sad de Assis.

ESTIMATIVA DA DISPONIBILIDADE DE LUZ NATURAL E DO PADRÃO DE CÉU NA REGIÃO


584
AMAZÔNICA - MACAPÁ-AP, LAT. 0°.
Marcelle Vilar da Silva; Gabriel Hiroshi Okada Maia de Queiroz; João Vitor Vieira Pereira.

ESTUDO CIENCIOMÉTRICO SOBRE ILHAS DE CALOR URBANAS E ZONAS CLIMÁTICAS


594
LOCAIS
Camila Amaro de Souza; Antonio Conceição Paranhos Filho; Eliane Guaraldo.

ESTUDO COMPARATIVO DE FAIXAS DE CONFORTO OBTIDAS PARA O ÍNDICE TÉRMICO


UTCI PARA DUAS CIDADES BRASILEIRAS 603
Thiago José Vieira Silva; Simone Queiroz Da Silveira Hirashima; Eduardo Krüger; Eduardo Grala
da Cunha; Luísa Alcantara Rosa.

ESTUDO DO AQUECIMENTO URBANO COM MÉTODOS DE TRANSECTO MÓVEL E


613
SENSORIAMENTO REMOTO
Daniela Werneck; Erondina Azevedo; Marta Romero.

EVOLUCIÓN TEMPORAL DE LA ISLA DE FRESCOR DE UN PARQUE URBANO EN ZONA


623
ÁRIDA. CASO PARQUE CENTRAL, MENDOZA-ARGENTINA
Maria Angelica Ruiz; Erica N. Correa; Claudia F. Martinez; M. Florencia Colli.

FLORESTA URBANA COMO ELEMENTO MITIGADOR MICROCLIMÁTICO 633


Daniela Maroni.

FORMA URBANA E CONDIÇÕES DE CONFORTO TERMO-ACÚSTICO: ESTUDO NO


BAIRRO DE CAPIM MACIO EM NATAL/RN
643
José Eugenio Silva de Morais Júnior; Tamáris da Costa Brasileiro; Deyvid Lucas Alexandre
Marques; Evelyn Yasmim de Melo Maia; Jakeline Rayane Barros Felix; Matheus Cesar de Souza
Silva; Pedro Victor Freitas Sarmento.

GERAÇÃO DE ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS PARA EDIFICAÇÕES EM FUNÇÃO DE


653
DIFERENTES ZONAS CLIMÁTICAS LOCAIS DE UMA METRÓPOLE
Natasha Hansen Gapski Pereira; Sergio Leandro Batista Junior; Eduardo Krüger.

ILHAS DE CALOR EM BRASÍLIA 663


Marta Adriana Bustos Romero.
ILHAS DE CALOR NA CIDADE DE SÃO CARLOS, SP: ANÁLISE DO CAMPO TÉRMICO
ATRAVÉS DE MAPAS DE DISTRIBUIÇÃO DA TEMPERATURA DO AR E UMIDADE
673
RELATIVA
Bojana Galusic; Kelen Dornelles.

xx
IMAGENS TERMAIS COMO INDICADORAS DA DEGRADAÇÃO DE SERVIÇOS
ECOSSISTÊMICOS: O CASO DE GUARULHOS, SP, BRASIL 683
Anderson T. Ferreira; Luciana S. Ferreira; Alessandra Prata Shimomura.

IMPACTOS DA CONFIGURAÇÃO DA HABITAÇÃO NA OCUPAÇÃO DOS LOTES, UM


ESTUDO EM ÁREA DE ALTO ADENSAMENTO CONSTRUTIVO NA CIDADE DE 693
CUIABÁ/MT
Wennder Tharso; Karyna de Andrade Carvalho Rosseti.

INDICADORES DE RESÍDUOS SOLIDOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM


COMUNIDADES: APLICAÇÕES, DIFICULDADES E COMPARAÇÕES PARA O MUNICÍPIO
703
DE CUIABA-MT
Marcelo Martins da Cruz Neto; Ivan Julio Apolonio Callejas; Emeli Lalesca Aparecida da
Guarda; Luciane Cleonice Durante.

INFLUÊNCIA DO TEOR DE UMIDADE NA ABSORTÂNCIA DE PAVIMENTOS


711
INTERTRAVADOS DE CONCRETO
Luiz Fernando Kowalski; Érico Masiero; Maria Eugenia Fernandes.

INTENSIDADE E DIREÇÃO PREDOMINANTE DE VENTOS E PRECIPITAÇÃO NO AGRESTE


ALAGOANO 718
Ana Maria Laurindo André Nunes; Mônica Ferreira da Silva; Gianna Melo Barbirato; Ricardo
Victor Rodrigues Barbosa.

LEITURA BIOCLIMÁTICA O USO DA SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL COMO


FERRAMENTA PARA A MELHORIA DO ESPAÇO URBANO E A GERAÇÃO DO 728
MICROCLIMA NA CIDADE DE PALMAS - TO
Mariela Cristina Ayres De Oliveira; Luana Lehnen.

MÉTODO INDIRETO PARA OBTENÇÃO DE ALTURAS DE EDIFICAÇÕES A PARTIR DE


737
IMAGENS DE SATÉLITE
Jeanne Moro; Eduardo Krüger; Silvana Camboim; Clarisse Farian de Lemos.

METODOLOGIA PARA ANÁLISE E QUANTIFICAÇÃO DE SOMBREAMENTO


746
PROVENIENTE DE EDIFICAÇÕES DE ENTORNO SOBRE ESPAÇOS PÚBLICOS ABERTOS
Jeanne Moro; Eduardo Krüger; Silvana Camboim.

MORFOLOGIA URBANA E MICROCLIMAS: ESTUDO DE FRAÇÕES URBANAS NA CIDADE


756
DE ARAPIRACA/AL
Limber Patric Santos Leal; Ricardo Victor Rodrigues Barbosa.

MORFOLOGIA URBANA, ADENSAMENTO CONSTRUTIVO E MICROCLIMA: ANÁLISE DO


DESEMPENHO CLIMÁTICO DE TECIDOS URBANOS NA REGIÃO AGRESTE DE ALAGOAS 765
Maria Vitória da Silva Costa; Aldiranny Luiza de Oliveira Santos; Ruan Victor Amaral Oliveira;
Simone Carnaúba Torres.

O DESENHO URBANO ALIADO AOS PRINCÍPIOS DE SUSTENTABILIDADE URBANA E


775
CONFORTO AMBIENTAL
Thyago Phellip França Freitas; Eleonora Sad de Assis; Fernando Brandão Alves.

xxi
O IMPACTO DE OBSTÁCULOS DO ENTORNO SOBRE O FLUXO DE AR NO INTERIOR DE
UNIDADES HABITACIONAIS
785
Sara Cavalcante Ribeiro Lins; Amando C. Costa Filho; Samuel Bertrand Melo Nazareth; Stefane
Barbosa Alves Macfranklin; Renan Cid Varela Leite.

OPORTUNIDADES E DESAFIOS DA URBANIZAÇÃO PARA ADAPTAÇÃO CLIMÁTICA NA


794
MEGACIDADE DE SÃO PAULO, BRASIL
Denise Duarte; Gabriela Marques di Giulio; Humberto Ribeiro da Rocha.

PALMEIRAS - ATENUAÇÃO SOLAR E CONFORTO TÉRMICO 804


Neusa Longo de Souza Ribeiro; Lucila Chebel Labaki; Adriana Eloá Bento Amorim.

POTENCIAL BIOCLIMÁTICO EM CENÁRIOS DE AQUECIMENTO GLOBAL: ESTUDO DE


CASO PARA CLIMA TROPICAL CONTINENTAL 814
Emeli Lalesca Aparecida da Guarda; Luciane Cleonice Durante; Ivan Julio Apolonio Callejas;
Karyna de Andrade Carvalho Rosseti; Flávia Maria de Moura Santos; Martin Ordenes Mizgier.

PRAÇA BRASIL: ANÁLISE BIOCLIMÁTICA DO ESPAÇO PÚBLICO


824
Amanda Neves Ferreira; Carolina de Jesus Santos; Gian Lucas Batista da Silva; Raphaele Samua
Barata Gomes; Stephanie Ventura; Marcela M. M. Monteiro.

REFLEXÕES SOBRE A INFLUÊNCIA DA VEGETAÇÃO NO CLIMA URBANO 833


Marina Soares Silva; Eleonora Sad de Assis; Maria Rita Scotti Muzzi.

TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE E FORMAÇÃO DE MICROCLIMAS URBANOS, EM


RECIFE/PE 843
Ruskin Freitas; Thatianne Elisa Ferreira da Silva; Julia Medeiros Alves; Jaucele de Fátima
Ferreira Alves de Azerêdo.

VARIAÇÃO CLIMÁTICA ENTRE OS MEIOS URBANO E RURAL NO CONTEXTO DE NOVAS


OCUPAÇÕES NA AMAZÔNIA LEGAL MATO-GROSSENSE 853
João Carlos Machado Sanches; Oscar Daniel Corbella; Emeli Lalesca Aparecida da Guarda;
Renata Mansuelo Alves Domingos; Ana Carolina Vicentim Batista Ribeiro.

VERTICALIZAÇÃO E AMBIENTE TÉRMICO URBANO: ESTUDO DE PARÂMETROS


URBANÍSTICOS EM FRAÇÃO URBANA NA CIDADE DE ARAPIRACA/ AL 863
Luana Karla de Vasconcelos Brandão; Gianna Melo Barbirato; Ricardo Victor Rodrigues
Barbosa.

TÓPICO 3. CONFORTO TÉRMICO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO

A ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DO POC EM EDIFICAÇÕES NATURALMENTE VENTILADAS 873


Tiffany Nicoli Faria Latalisa França; Mario Alves da Silva; Joyce Correna Carlo.

A ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA COMO DETERMINANTE DA EXPERIÊNCIA ESPACIAL


Lívia Ferreira De França; Ruskin Freitas.
882

A DIMENSÃO OCULTA NA VILA MADALENA: ESTUDO DE CONFORTO (TÉRMICO) NO


892
ESPAÇO URBANO ABERTO
Sergio Antonio Dos Santos Junior; Rafael Antonini.

xxii
A INFLUÊNCIA DA CONFIGURAÇÃO GEOMÉTRICA DE MUROS VAZADOS NOS PADRÕES
902
DE COMPORTAMENTO DOS VENTOS EM HABITAÇÕES TÉRREAS
Isabely Penina Cavalcanti da Costa; Ricardo Victor Rodrigues Barbosa; Gianna Melo Barbirato.

A INFLUÊNCIA DA DENSIFICAÇÃO URBANA SOBRE O CONFORTO TÉRMICO NO


912
INTERIOR DE APARTAMENTOS RESIDENCIAIS
Renan Cid Varela Leite; Anésia B. Frota; Samuel Bertrand Melo Nazareth.

ANÁLISE DA ÁREA ENVIDRAÇADA E SUA INFLUÊNCIA PARA CONFORTO TÉRMICO DE


AMBIENTES RESIDENCIAIS EM BRASÍLIA – DF 921
Paulo Cabral de Araújo Neto; Thiago Montenegro Góes; Cláudia Naves David Amorim; Caio
Frederico e Silva.

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DO DISPOSITIVO DE PROTEÇÃO SOLAR EM UMA ESCOLA DE


931
ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO NO INTERIOR DO RIO GRANDE DO NORTE
Wiriany Kátia Ferreira Silva; Eduardo Raimundo Dias Nunes.

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E CONFORTO TÉRMICO EM DOIS EDIFÍCIOS


PÚBLICOS UNIVERSITÁRIOS 941
Elisabeti F. T. Barbosa; Camila de Freitas Albertin; Giani Antonello Borges; Adriana Petito
Castro; Lucila Chebel Labaki.

ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE CONFORTO TÉRMICO DOS USUÁRIOS EM AMBIENTES


NATURALMENTE VENTILADOS: SIMULAÇÃO APLICADA À EDIFICAÇÃO ESCOLAR 950
PÚBLICA
Ludmylla Faria de Freitas; Raquel Diniz Oliveira; Frederico Romagnoli S. Lima.

ANÁLISE DE INCERTEZAS DE PARÂMETROS AMBIENTAIS PARA CONFORTO TÉRMICO


961
HUMANO
Eliane H. Suzuki; Brenda C. C. Leite; Racine T. A. Prado.

ANÁLISE DO CONFORTO TÉRMICO DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS QUANDO


971
SUBMETIDOS À VARIAÇÃO DA TEMPERATURA DO AR
Ruan Eduardo Carneiro Lucas; Erivaldo Lopes de Souza; Luiz Bueno Da Silva.

ANÁLISE DO CONFORTO TÉRMICO NO EDIFÍCIO ESCOLAR CAP-COLUNI EM VIÇOSA-MG 981


Luísa Tristão Barbosa; Ana Carolina de Oliveira Veloso.

ANÁLISE DO CONFORTO TÉRMICO EM UMA EDIFICAÇÃO CERTIFICADA COM O SELO


991
LEED V.4 LOCALIZADA EM GOVERNADOR VALADARES-MG
Bruno Aun Mourao; Ana Carolina de Oliveira Veloso; Roberta Vieira Gonçalves de Souza.

ANÁLISE DO IMPACTO DE SOMBREAMENTO DE ABERTURAS: ESTUDO DE CASO -


1001
PREFEITURA MUNICIPAL DE JOINVILLE/SC
Ellen Flávia Weis Leite; Ana Mirthes Hackenberg.

ANÁLISE DOS REQUISITOS DE CONFORTO TÉRMICO PRESENTES EM CERTIFICAÇÕES


1011
AMBIENTAIS COM APLICABILIDADE EM PROJETOS DE HABITAÇÕES POPULARES
Arthur Sato Gregorio; Hugo Sefrian Peinado.

xxiii
ANO CLIMÁTICO DE REFERÊNCIA PARA CURITIBA: COMPARAÇÃO ENTRE DADOS DE
1021
DUAS ESTAÇÕES
Cristiane Rossatto Candido; Francine Aidie Rossi.

APLICABILIDADE DE FERRAMENTAS GERADORAS DE ESTUDOS BIOCLIMÁTICOS NO


1031
CONTEXTO DA “SALA DE AULA INVERTIDA”
João Victor de Souza Lima; João Roberto Gomes de Faria.

APLICAÇÃO DO MODELO DE FANGER NA AVALIAÇÃO DO CONFORTO TÉRMICO DA


1041
POPULAÇÃO IDOSA FEMININA
Raiana Spat Ruviaro; Giane de Campos Grigoletti; Bruna Zambonato.

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE CONFORTO TÉRMICO EM ESCRITÓRIOS


1051
CERTIFICADOS LEED ID+C
Maíra Nazareth de Macedo; Fúlvio Vittorino.

AVALIAÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO RELACIONADO AO USO DE VIDRO INSULADO EM


1061
ESCRITÓRIOS COM FACHADA ENVIDRAÇADA EM FLORIANÓPOLIS (SC)
Mônica Martins Pinto; Fernando Simon Westphal.

AVALIAÇÃO DE HORAS DE CONFORTO EM RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR LOCALIZADA EM


1071
SÃO PAULO, CONSIDERANDO DIFERENTES SISTEMAS CONSTRUTIVOS
Roberto Bozza Namur; Luana Sato; João Roberto Diego Petreche; Brenda Chaves Coelho Leite.

AVALIAÇÃO DO CONFORTO TÉRMICO SEGUNDO O MODELO DE CONFORTO


ADAPTATIVO DA ASHRAE 55: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE DUAS ESCOLAS NO 1081
SEMIÁRIDO POTIGUAR.
Cleyton Santos; Virginia Maria Dantas de Araújo; Dayany Barreto Vasconcelos.

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DA VENTILAÇÃO NATURAL EM AMBIENTE DE


INTERNAÇÃO HOSPITALAR EM MACEIÓ/AL 1091
Alexandre Henrique Pereira e Silva; Fernando A de Melo Sá Cavalcanti; Erico Albuquerque de
Oliveira; Juliana Oliveira Batista.

CALIBRAÇÃO DE ÍNDICE PET PARA ESPAÇOS ABERTOS EM CLIMA SUBTROPICAL


ÚMIDO 1099
Leonardo Gonçalves Diba Padovan; Guilherme William Petrini da Silveira; João Roberto
Gomes de Faria; Maria Solange Gurgel de Castro Fontes.

CALIBRAÇÃO DE MAPA CLIMÁTICO URBANO DA CIDADE DE JOÃO PESSOA/PB –


APOIADA POR SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL 1106
Vladimir Sobral de Souza; Lutz Katzschner; Caio Frederico e Silva; Ellen Luanda Tavares de
Souza.

CONFORTO TÉRMICO EM RESIDÊNCIAS DE DIFERENTES CARACTERÍSTICAS


CONSTRUTIVAS EM JOINVILLE/SC 1116
Leticia Silveira Moy; Ricardo Forgiarini Rupp; Enedir Ghisi.

xxiv
CONFORTO TÉRMICO E HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL: AVALIAÇÃO PÓS-
1126
OCUPAÇÃO EM UNIDADES DO RESIDENCIAL AGRESTE, ARAPIRACA – AL
Larissa Emily da Silva Santos; Simone Carnaúba Torres.

CONFORTO TÉRMICO EM AMBIENTES INTERNOS NO BRASIL E O DESENVOLVIMENTO


DA BASE BRASILEIRA DE DADOS
1136
Maíra Afonso de André; Greici Ramos; Carolina de Oliveira Buonocore; Renata De Vecchi;
Roberto Lamberts; Cesar Henrique de Godoy Gomes; Christhina Maria Cândido; Maíra
Oliveira Pires; Antônio Augusto de Paula Xavier.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O RACIONAMENTO DO USO DO AR CONDICIONADO EM


SALAS DE AULA NO PERÍODO DA MANHÃ NO CLIMA QUENTE E ÚMIDO 1146
Rafael Ponce de Leon Amorim; Lais Serafim da Rocha; Sheila Elisabeth da Silva; Marina Reis
de Moraes.

CONTROLE DE OPERAÇÃO DE EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS COM VENTILAÇÃO HÍBRIDA:


1154
UMA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO USUÁRIO
Eduardo Rodrigues Quesada; Letícia de Oliveira Neves.

DESEMPENHO TÉRMICO DE UM FORRO COMPOSTO POR GESSO E FIBRA DE SISAL


1164
PARA USO EM RESIDENCIAS DE INTERESSE SOCIAL
Carolina Carvallo; Ricardo Fernandes.

DETERMINAÇÃO DA TEMPERATURA DE NEUTRALIDADE EM EDIFICAÇÕES PÚBLICAS,


COMERCIAIS E DE SERVIÇO NAS ZONAS BIOCLIMÁTICAS 5 E 6 DO ESTADO DE MATO 1174
GROSSO
Alexandra Marsaro Cella; Luciana Tozzo; Karen Wrobel Straub Schneider; Marlon Leão.

DETERMINAÇÃO DA TEMPERATURA DE NEUTRALIDADE EM EDIFICAÇÕES PÚBLICAS,


COMERCIAIS E DE SERVIÇO NAS ZONAS BIOCLIMÁTICAS 5 E 6 DO ESTADO DE MATO 1184
GROSSO
Alexandra Marsaro Cella; Luciana Tozzo; Karen Wrobel Straub Schneider; Marlon Leão.

DISCONFORT LUMÍNICO Y TÉRMICO GENERADO POR LA PROGRAMACIÓN DE LAS


CLASES EN LA UNIVERSIDAD NACIONAL DE COLOMBIA, SEDE MEDELLÍN. 1194
Juan Pablo Arango Plazas; Luisa Maria Barrientos Montoya; Carolina Patiño Vasquez; David
Palacio Zapata; Santiago Barahona

EFEITO DE ORIENTAÇÃO DE JANELA NO AMBIENTE TÉRMICO E NA PERCEPÇÃO DO


USUÁRIO
1204
Eduardo Krüger; Livia Yu Iwamura Trevisan; Gabriel Celligoi; Sergio Leandro Batista Junior;
Deize Lellys da Silva; Cintia Akemi Tamura; Clarisse Di Núbila; Rodrigo José de Almeida Torres
Filho; Daniele Abe Ribeiro

EMPREGO DO UNIVERSAL THERMAL CLIMATE INDEX (UTCI) NA AVALIAÇÃO DO


1214
CONFORTO TÉRMICO DA PRAÇA NOVE DE JULHO, PRESIDENTE PRUDENTE-SP
Murilo Oliveira Ferreira de Araújo; Carolina Lotufo Bueno Bartholomei.

xxv
ESPAÇOS DE TRANSIÇÃO E CONFORTO TÉRMICO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE
1223
LITERATURA
Iara Nogueira Liguori; Lucila Chebel Labaki.

ESTUDO DA TEMPERATURA DE GLOBO EM RELAÇÃO À TEMPERATURA DO AR


DURANTE ATIVIDADES COGNITIVAS EM AMBIENTES DE ENSINO COM ALTERAÇÕES 1231
CLIMÁTICAS EM ÁREAS DAS REGIÕES BRASILEIRAS
Luiz Bueno Da Silva; Flavia Brandao Ramalho De Brito.

ESTUDO DE CONFORTO TÉRMICO EM SALAS DE AULA VENTILADAS NATURALMENTE


NO CLIMA QUENTE E ÚMIDO 1241
Jullyanne Ferreira de Souza; Mayara Cynthia Brasileiro de Sousa; Barbara Lumy Noda
Nogueira; Solange Maria Leder.

ESTUDO DE CONFORTO TÉRMICO EM SALAS DE AULAS CONDICIONADAS


ARTIFICIALMENTE EM CLIMA QUENTE E ÚMIDO 1251
Jullyanne Ferreira de Souza; Amanda Vieira Pessoa Lima; Pollyanna Padre de Macedo; Solange
Maria Leder

ESTUDO DO CONFORTO TÉRMICO DE UMA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL (HIS)


COM ALVENARIA DE TIJOLOS ECOLÓGICOS PRODUZIDOS COM REJEITOS DE RESÍDUOS 1261
SÓLIDOS URBANOS EM ARACAJU/SE
Maria Paula Dunel; Carla Fernanda Barbosa Teixeira.

ESTUDO DO DESEMPENHO ENERGÉTICO E DE ESTRATÉGIAS PARA A GERAÇÃO DE


1271
CONFORTO TÉRMICO EM REFEITÓRIO ESTUDANTIL
Matheus de Andrade Duarte; Frederico Romagnoli S. Lima; Raquel Diniz Oliveira.

FERRAMENTAS DIGITAIS PARA O ENSINO DA ARQUITETURA E URBANISMO


1281
ORIENTADOS PELO CLIMA
Nathália Mara Lorenzetti Lima; Pedro Debiazi

HABITAÇÃO MULTIFAMILIAR EM SANTO ANDRÉ: INFLUÊNCIA DO POSICIONAMENTO


1290
DOS DORMITÓRIOS NA TEMPERATURA INTERNA
Helenice Maria Sacht; Andrea de Oliveira Cardoso; Victor Figueiredo Roriz.

IMPACTO DO FATOR DE VISÃO DO CÉU NO TEMPO DE PERMANÊNCIA DE USUÁRIOS


EM BANCOS DE PRAÇAS 1300
Eduarda de Mattos Previero; Renata Braga Aguilar da Silva; Maria Solange Gurgel de Castro
Fontes; João Roberto Gomes de Faria.

INFLUÊNCIA DA CONFIGURAÇÃO DA FACHADA NO CONFORTO TÉRMICO DO


USUÁRIO: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE SALAS ADMINISTRATIVAS EM EDIFÍCIOS
1310
PÚBLICOS
Elisabeti F. T. Barbosa; Larissa Silva Grego; Letícia Tomé Rosa; Adriana Petito de Almeida Silva
Castro; Lucila Chebel Labaki.

xxvi
INFLUÊNCIA DA UMIDADE DO AR NO CONFORTO TÉRMICO DE USUÁRIOS DE
EDIFICAÇÕES DE ESCRITÓRIOS LOCALIZADAS NO CLIMA SUBTROPICAL ÚMIDO DE 1320
FLORIANÓPOLIS/SC
Candi Citadini de Oliveira; Ricardo Forgiarini Rupp; Enedir Ghisi.

INFLUÊNCIA DE FACHADAS VERDES NOS MICROCLIMAS DE UM ESPAÇO DE


1330
TRANSIÇÃO
Luiza Sobhie Muñoz; Maria Solange Gurgel de Castro Fontes.

INFLUÊNCIA DE FATORES PESSOAIS E SUBJETIVOS NAS RESPOSTAS TÉRMICAS EM


1340
ESPAÇOS ABERTOS NA CIDADE DE PALMAS, TO
Liliane Flávia Guimarães da Silva; Lucas Barbosa e Souza.

O CONFORTO TÉRMICO EM SALAS DE AULA DE EDIFÍCIO DE ENSINO SUPERIOR


1350
Tatiana Paula Alves; Wellington Guilherme Ribeiro de Assis; Lucas Teixeira da Silva; Aureliana
Karen Rodrigues Amancio.

O IMPACTO DA PRESENÇA DE EDIFÍCIOS ALTOS NA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DE


UNIDADES HABITACIONAIS NO ENTORNO IMEDIATO 1360
Samuel Bertrand Melo Nazareth; Renan Cid Varela Leite; Amando C. Costa Filho; Tainah Frota
Carvalho.
O IMPACTO DAS FACHADAS ENVIDRAÇADAS REFLEXIVAS NA CIDADE:
DESENVOLVIMENTO DE METODOLOGIA DE MEDIÇÃO PARA ANÁLISE DO CONFORTO 1369
TÉRMICO URBANO
Maria Claudia de Souza Lemos Soares Brandão Barros; Ricardo Nacari Maioli.

SENSAÇÃO TÉRMICA DE PESSOAS IDOSAS: IDENTIFICAÇÃO DO EFEITO DAS VARIÁVEIS


1379
INDIVIDUAIS
Miriam Panet; Virginia Maria Dantas de Araújo; Eduardo Henrique Silveira de Araújo.

SENSAÇÕES E PREFERÊNCIAS TÉRMICAS DE IDOSOS: ESTUDO EM CONDOMÍNIOS


RESIDENCIAIS IMPLANTADOS EM CLIMAS DISTINTOS NA PARAÍBA. 1386
Julio Gonçalves da Silveira; Mayara Cynthia Brasileiro de Sousa; Guilherme Amorim
Cavalcanti; Solange Maria Leder.

SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DO MICROCLIMA URBANO DA PRAÇA DA ESTAÇÃO NA


1395
CIDADE DE JUIZ DE FORA - MG
Júlia Lima Adário; Aline Calazans Marques; Caio Frederico e Silva.

SIMULAÇÃO DA VENTILAÇÃO NATURAL EM MEIO URBANO: O CASO DOS EDIFÍCIOS


1405
MONOLÍTICOS LARGAMENTE USADOS NO “PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA”
Juliana Magna da Silva Costa Morais; Nair Ribeiro; Iana Alves Rufino.

VENTILAÇÃO EM MEIO URBANO ATRAVÉS DE SIMULAÇÃO EM CFD: O CASO DA ORLA


MARÍTIMA DA CIDADE DE JOÃO PESSOA/PB
1415
Juliana Magna da Silva Costa Morais; Victor Fernandes; Lucila Chebel Labaki.

xxvii
TÓPICO 4. DESEMPENHO TÉRMICO DO AMBIENTE CONSTRUÍDO

A INFLUÊNCIA DA POROSIDADE DAS PORTAS INTERNAS NO DESEMPENHO DA


1425
VENTILAÇÃO NATURAL EM EDIFICAÇÕES RESIDENCIAIS MULTIFAMILIARES
Isabela Cristina da Silva Passos; Leonardo Bittencoutt.

A INFLUÊNCIA DO SOMBREAMENTO DE PAREDES E COBERTURA NO DESEMPENHO


TERMOENERGÉTICO DE UMA EDIFICAÇÃO RESIDENCIAL 1435
Thaisa Carvalho Rodrigues,Kelly F. Aires; Maximo A. U. Gutiérrez; Lisandra Fachinello Krebs;
Eduardo G. da Cunha.

ABSORTÂNCIA SOLAR E TEMPERATURAS SUPERFICIAIS DE TELHAS CERÂMICAS


1445
NATURAIS E RESINADAS.
Lorena Couto; Kelen Dornelles.

ADEQUAÇÃO CLIMÁTICA DE EDIFICAÇÕES COM CAPTADOR DE VENTO E COBERTURA


1455
VERDE EM OITO CIDADES BRASILEIRAS
Nixon Cesar Andrade,Kelen Dornelle

ANÁLISE CLIMÁTICA E BIOCLIMÁTICA: COMPARAÇÃO ENTRE CIDADES CLASSIFICADAS


1465
NA ZONA BIOCLIMÁTICA 03
Laiana Chopek Sarvezuk; Marieli Azoia Lukiantchuki.

ANÁLISE COMPARATIVA DO COMPORTAMENTO TÉRMICO ENTRE PAREDES EM LIGHT


STEEL FRAMING E ALVENARIAS CONVENCIONAIS 1475
Gabriel Carvalho da Silva; Pedro Igor Batista; Gustavo Tenório de Vasconcelos; Débora Vieira
Muniz; Yêda Vieira Póvoas

ANÁLISE COMPARATIVA DO DESEMPENHO TÉRMICO DE FORRO PVC E DE BAMBU


1483
PARA HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL NO CLIMA SEMIÁRIDO
Eduardo Siqueira Cadete; Ricardo Victor Rodrigues Barbosa.

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA UMIDADE NO DESEMPENHO TÉRMICO DE TELHAS


1493
CERÂMICAS
Caren Michels; Saulo Güths; Deivis Luis Marinoski.

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DE CARACTERÍSTICAS DA ENVOLTÓRIA NO DESEMPENHO


TÉRMICO DE HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL UNIFAMILIARES NO RIO GRANDE DO 1503
SUL
Paulo Mezzomo; Fernanda Pacheco; Maria Fernanda de Oliveira.

ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE ÁREA DE ABERTURA E FATOR SOLAR FRENTE AO GANHO


SOLAR NO CONTEXTO BRASILEIRO 1513
Rodolfo Kirch Sampaio Veiga; Cristiano André Teixeira; Matheus Körbes Bracht; Leandra 14C.
Boldrini; Rayner M. e S. Machado; Ana Paula Melo; Roberto Lamberts.

ANÁLISE DA VENTILAÇÃO NATURAL DE UMA EDIFICAÇÃO MULTIFAMILIAR EM


1522
MACEIÓ
Kamyla Jannine Costa Barros; Juliana Oliveira Batista; Leonardo Bittencoutt.

xxviii
ANÁLISE DE DESEMPENHO TÉRMICO DE COBERTURA COM SISTEMA DE TETO VERDE
1532
NO SEMIÁRIDO ALAGOANO
Wellington Souza Silva; Carlos Eduardo Vieira; Ricardo Victor Rodrigues Barbosa.

ANÁLISE DE ENSAIO DE CHOQUE TÉRMICO EM ALVENARIA DE GESSO COM


TERMOGRAFIA INFRAVERMELHA 1542
Gustavo Tenório de Vasconcelos; Yêda Vieira Póvoas; Carlos Wellington de Azevedo Pires
Sobrinho; Nuno Manuel Monteiro Ramos.

ANÁLISE DE SENSIBILIDADE E INCERTEZAS DOS PARÂMETROS RELACIONADOS À


MODELAGEM DO CONTATO DO PISO COM O SOLO NO PROGRAMA ENERGYPLUS 1551
Letícia Gabriela Eli; Amanda Fraga Krelling; Rayner M. S. Machado; Leonardo Mazzaferro;
Lorrany S. Mendes; Ana Paula Melo; Roberto Lamberts.

ANÁLISE DO DESEMPENHO DA VENTILAÇÃO NATURAL DE UMA HABITAÇÃO DE


1561
INTERESSE SOCIAL REFORMADA EM MACEIÓ – AL
Allan Henrique Silva dos Santos; Lara Cecília de Carvalho Verçosa Dias; Juliana Oliveira Batista.

ANÁLISE DO DESEMPENHO DA VENTILAÇÃO NATURAL EM HIS ATRAVÉS DE


1571
SIMULAÇÕES CFD
Ana Clara de Almeida Xavier; Marieli Azoia Lukiantchuki.

ANÁLISE DO DESEMPENHO TÉRMICO DE DIFERENTES ESTRATÉGIAS PARA O PROJETO


1580
DE READEQUAÇÃO DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR NA CIDADE DE CAXIAS DO SUL – RS
Clarissa Sartori Ziebell; Roberta Bertoletti.

ANÁLISE DO DESEMPENHO TÉRMICO DE HIS EM DIAMANTINA/MG E EM


GOVERNADOR VALADARES/MG POR MÉTODO SIMPLIFICADO E ATRAVÉS DE
1590
SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL PELO PROGRAMA ENERGYPLUS
Ana Paula Campos Rodrigues; Bianca da Silva Maia; Mariana Fernandes Balsamão Guimarães
Diniz.

ANÁLISE DO DESEMPENHO TERMOENERGÉTICO DA ENVOLTÓRIA EM HABITAÇÕES


1600
MULTIFAMILIARES DE INTERESSE SOCIAL DE JOINVILLE/SC
Jayne Garcia; Ana Mirthes Hackenberg; Elisa Henning; Janine Garcia.

ANÁLISE DO IMPACTO DA GEOMETRIA DE EDIFICAÇÕES RESIDENCIAIS NO


1610
DESEMPENHO TÉRMICO
Camila Carvalho Ferreira; Henor Artur de Souza.

ANÁLISE HIGROTÉRMICA DE DIFERENTES TIPOS DE VEDAÇÕES VERTICAIS DE MADEIRA


PARA A ZONA BIOCLIMÁTICA BRASILEIRA 2 1619
Gabriela Meller; Mainara Ridiani Palcikoski; Bruna Zambonato; Elaise Gabriel; Liliane
Bonadiman Buligon; Giane de Campos Grigoletti.

APLICAÇÃO PRÁTICA DE UM FLUXO DE TRABALHO PARAMÉTRICO EM PROJETO


1628
ARQUITETÔNICO PARA CIDADES COM DIFERENTES ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS
Gabriela Celestina Bernardi; Marcelo Galafassi.

xxix
APLICAÇÃO PRÁTICA DE UM FLUXO DE TRABALHO PARAMÉTRICO EM PROJETO DE
1637
BRISE-SOLEIL COM AUXÍLIO DO SOFTWARE LADYBUG
Florença Fiedler Pichler Von Tennenberg; Marcelo Galafassi.

AVALIAÇÃO DE FLUXOS DE CALOR EM EDIFICAÇÕES E SUA COMPARAÇÃO A


1647
REGISTROS COM FLUXÍMETROS
Victor F. Roriz; Pedro Henrique Silva Mattia; Rosana Caram.

AVALIAÇÃO DE INTERVENÇÕES PARA MELHORIA DO CONFORTO TÉRMICO EM UMA


EDIFICAÇÃO RESIDENCIAL MULTIFAMILIAR NATURALMENTE VENTILADA EM BELO
1657
HORIZONTE, BRASIL
Janeth Vieira da Silva; Margaret Cristina Pinheiro de Matos Gontijo; Marília Tanure Caram
Pereira; Ana Carolina de Oliveira Veloso; Roberta Vieira Gonçalves de Souza.

AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA DE DIFERENTES ENVOLTÓRIAS PARA HABITAÇÕES DE


1657
INTERESSE SOCIAL EM FLORIANÓPOLIS
Leticia Dalpaz de Azevedo; Matheus Soares Geraldi; Enedir Ghisi.

AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO TÉRMICO DE UM SISTEMA DE COBERTURA


VEGETADA EM GUARITA 1677
Alícia Vieira Sousa; Giovana Leão; Rafaela Ortega Ciutti; Eduardo Krüger; Clarisse Di Núbila;
Silvana Leonita Weber.

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO TÉRMICO DE GALPÕES INDUSTRIAIS DOTADOS DE


FONTE INTERNA GERADORA DE CALOR DE ALTA INTENSIDADE 1687
Bruno Henrique Lourenco Camargos; Henor Artur de Souza; Adriano P. Gomes; Luma de Souza
Dias.

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO TÉRMICO DE TELHADO VERDE NA CIDADE DE ARACAJU 1697


Maria Francielle Santos Menezes; Carla Fernanda Barbosa Teixeira.

AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO TÉRMICO DE PAINÉIS DE


1706
CONCRETO MOLDADOS IN LOCO
Tatiane Pilar de Almeida; Marcos Martinez Silvoso; Alice de Barros Horizonte Brasileiro.

BASE DE DADOS INTERNACIONAL DE PROPRIEDADES DE VIDROS (IGDB):


PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA NO PROCESSO INTER-LABORATORIAL 1716
Ana Kelly Marinoski Ribeiro; Deivis Luis Marinoski; Fernando Oscar Ruttkay Pereira; Saulo
Güths; Roberto Lamberts.

CALIBRAÇÃO DE UM MODELO COMPUTACIONAL DE UMA HABITAÇÃO DE INTERESSE


1726
SOCIAL MULTIFAMILIAR EM BELÉM-PA
Kessily Medeiros Santos; Eduardo Lobo; Márcio Barata.

COMPARAÇÃO ENTRE INDICADORES DE DESEMPENHO E CONFORTO TÉRMICO EM


HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL POR SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL 1736
Tássio Luiz dos Santos; Carlos Fernandes da Cunha Júnior; Arthur Santos Silva.

xxx
COMPORTAMENTO TÉRMICO DO TIJOLODO EM PERÍODO DE PRIMAVERA/VERÃO NA
1746
CIDADE DE PALMAS (TO)
Leandro Pereira Pinheiro; Liliane Flávia Guimarães da Silva; Mariana Brito de Lima.

COMPORTAMENTO TERMOHIGROMÉTRICO DE UM EDIFÍCIO HABITACIONAL EM


1756
CLIMA QUENTE E ÚMIDO, RECIFE-PE
Renato Freitas da Costa; Ruskin Freitas.

DESEMPENHO TÉRMICO DE HABITAÇÃO MULTIFAMILIAR DE INTERESSE SOCIAL:


1766
ESTUDO DE CASO EM MACEIÓ – AL
Míryan Patrícia Tenório Ferreira; Juliana Oliveira Batista.

DESEMPENHO TÉRMICO DE UM SISTEMA DE COBERTURA VEGETADA PARA


CONDIÇÕES SUBTROPICAIS 1776
Clarisse Di Núbila; Eduardo Krüger; Marlos Hardt; Janine Nicolosi Corrêa; Juliana Lundgren
Rose; Endrio Lázaro de Freitas Nascimento; Cintia Akemi Tamura.

DESEMPENHO TÉRMICO DE UMA COBERTURA VERDE TESTADA EM BANCADA


1786
EXPERIMENTAL
Caren Michels; Saulo Güths; Deivis Luis Marinoski.

DESEMPENHO TÉRMICO DE UMA EDIFICAÇÃO MULTIFAMILIAR LOCALIZADA NA ZONA


BIOCLIMÁTICA BRASILEIRA 2 UTILIZANDO COBERTURA DE TELHAS DE FIBROCIMENTO 1795
Giceli Tabarelli; Joaquim Cesar Pizzuti dos Santos; Tobias Pigatto Ottoni; Tuani Zat; Liége
Garlet.

DESEMPENHO TÉRMICO E ENERGÉTICO DE ÁTRIO EM CLIMA TROPICAL: UM ESTUDO


1805
DE CASO NO RIO DE JANEIRO
Rita de Cássia Pereira da Silva; Virginia Maria Nogueira de Vasconcellos.

DESEMPENHO TERMOENERGÉTICO DE EDIFICAÇÕES MULTIFAMILIARES EM WOOD


1815
FRAME
Heitor Bortone; Gustavo Henrique Nunes; Thalita Gorban Ferreira Giglio.

DESEMPENHO TERMO-LUMINOSO DE MICROAPARTAMENTOS NA CIDADE DE SÃO


1825
PAULO
Carolina Leme; Leonardo Monteiro; Joana Gonçalves.

DURACIÓN ÓPTIMA DE UNA MEDICIÓN DE HUMEDAD RELATIVA PARA SIMPLIFICAR


1835
EL TRABAJO DE CAMPO EN CLIMA TROPICAL
Jorge Hernan Salazar Trujillo.

EL CARÁCTER TÉRMICO COMO MÉTRICA PARA LA CALIBRACIÓN DE MODELOS


1845
INFORMÁTICOS DE DESEMPEÑO TÉRMICO
Valentina Zuluaga Puerta; Juan Pablo Arango Plazas.

ESBOÇO DE UM NOVO DIAGRAMA DE ANÁLISE CLIMÁTICA PARA MODELOS DE


1854
CONFORTO ADAPTATIVOS
Leandro Carlos Fernandes.

xxxi
ESTUDOS EMPÍRICOS DO DESEMPENHO TERMO-LUMÍNICO DE
1864
MICROAPARTAMENTOS CONTEMPORÂNEOS NA CIDADE DE SÃO PAULO
Letícia Hein Hsiao; Leonardo Marques Monteiro.

GERAÇÃO DE UMA POPULAÇÃO INICIAL PARA ANÁLISE MULTIOBJETIVO DE


SIMULAÇÕES TERMOENERGÉTICAS EM HIS 1874
Maurício Dorneles Caldeira Balboni; Rodrigo Karini Leitzke; Thalita dos Santos Maciel;
Eduardo Grala da Cunha; Paulo Afonso Rheingantz.

INFLUÊNCIA DA COBERTURA E DA ORIENTAÇÃO NO DESEMPENHO TÉRMICO DE UMA


1883
CRECHE DO PROGRAMA PROINFÂNCIA EM CLIMA QUENTE E ÚMIDO
Mayna Lais Tenório de Araújo; Veridiana Atanasio Scalco; Juliana Oliveira Batista.

INFLUÊNCIA DA VELOCIDADE DO VENTO NO FATOR SOLAR DE VIDROS DE CONTROLE


1892
SOLAR MONOLÍTICOS E LAMINADOS
Bruna Just Meller; Deivis Luis Marinoski; Saulo Güths.

INFLUÊNCIA DAS ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS EM ESCOLAS POR ANÁLISE DE


1900
SENSIBILIDADE LOCAL
Gabriela Hanna Tondo; Ana Mirthes Hackenberg; Elisa Henning.

INFLUÊNCIA DAS PROTEÇÕES SOLARES EXTERNAS ALIADAS A ALTERNATIVAS PARA


REDUÇÃO DO CONSUMO ENERGÉTICO EM EDIFICAÇÕES COMERCIAIS NA ZONA
1910
BIOCLIMÁTICA BRASILEIRA 2
Liége Garlet; Jenifer Godoy Daltrozo; Gabriela Meller; Willian Magalhães de Lourenço;
Joaquim Pizzuti dos Santos.

INFLUÊNCIA DO ENVELHECIMENTO, LIMPEZA E PINTURA DA SUPERFÍCIE DE TELHAS


1917
DE FIBROCIMENTO SOBRE O DESEMPENHO TÉRMICO DA COBERTURA
Amanda Krelling; Milena P. Silva; Rodrigo Souza; Deivis Marinoski; Saulo Güths.

MODELAGEM DA VENTILAÇÃO NATURAL COM A APLICAÇÃO DO OBJETO ENERGY


1927
MANAGEMENT SYSTEM DO PROGRAMA ENERGYPLUS
Rodolfo Kirch Sampaio Veiga; Marcelo Salles Olinger; Ana Paula Melo; Roberto Lamberts.

NORMA DE DESEMPENHO TÉRMICO DE EDIFICAÇÕES ABNT 15.220 PARTE 3: ANÁLISE


1937
CRÍTICA E POSSIBILIDADES DE AVANÇO
Daniel Boscoli; Letícia de Oliveira Neves.

O DESEMPENHO AMBIENTAL EM PROJETO E O NÍVEL DE CONHECIMENTO DOS


ARQUITETOS: UM ESTUDO DE CASO BRASILEIRO 1947
Pedro Henrique Goncalves; Francielle Coelho dos Santos; Michele Tereza Marques Carvalho.

O USO DE SISTEMAS VERTICAIS DE VEGETAÇÃO EM FACHADAS - ESTUDO


COMPARATIVO DE DESEMPENHO TÉRMICO 1957
Aline Sayuri Takeda; Leonardo Marques Monteiro; Alberto Hernandez Neto.

xxxii
POTENCIAL DE MELHORIA DE DESEMPENHO TÉRMICO DE AMBIENTE RESIDENCIAL
POR MEIO DA ADAPTAÇÃO SAZONAL DE ELEMENTOS DA JANELA EM CLIMA 1967
SUBTROPICAL ÚMIDO
Beatriz Arantes; Daniel Cóstola; Lucila Chebel Labaki.

PROCESSO ALGORÍTMICO NA ESTIMATIVA DE CONDICIONAMENTO PASSIVO COM


1977
USO DE PCM
Diego Aristófanes D. Sousa; Aluísio Braz de Melo; Carlos Alejandro Nome Silva.

PROGRAMAÇÃO VISUAL INTEGRADA NA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO TÉRMICO


1987
DURANTE O PROCESSO PROJETUAL
Pedro Henrique Goncalves; Michele Tereza Marques Carvalho

PROPORCIÓN ÓPTIMA DE SUPERFICIES VERDES PARA PLAZAS URBANAS EN ZONAS


1995
ÁRIDAS “EL CASO DE MENDOZA- ARGENTINA”
Susana Stocco; Alicia Cantón; Erica Norma Correa.

REVISÃO BIBLIOMÉTRICA APLICADA AO USO DE SISTEMAS VEGETADOS VERTICAIS EM


2005
SIMULAÇÕES DE DESEMPENHO TÉRMICO DE EDIFICAÇÕES
Lucas Ramos; Raquel Oliveira; Rogério Azevedo.

SHEDS EXTRATORES E CAPTADORES DE AR: SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS E


ENSAIOS NO TÚNEL DE VENTO 2015
Marieli Azoia Lukiantchuki; Alessandra Prata Shimomura; Fernando Marques da Silva; Rosana
Maria Caram.

SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL PARA ANÁLISE DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS PARA


2025
CRESCIMENTO DO MOFO EM RESIDÊNCIAS EM FLORIANÓPOLIS
Vinicius de Castro Silveira; Fernando Simon Westphal.

SOMBREAMENTO X EXPOSIÇÃO AO SOL: ANÁLISE DO BALANÇO DA RADIAÇÃO SOLAR


2035
EM FORMAS INCLINADAS E DESLOCADAS
Marilia Ramalho Fontenelle; Vinicius Mayerhofer; Anna Leticia Amorim.

USO DOS APLICATIVOS DA LADYBUG TOOLS NA ANÁLISE DE DESEMPENHO TÉRMICO


2045
DE UMA ACADEMIA DE MUSCULAÇÃO LOCALIZADA EM SÃO JOÃO DEL-REI
Linda Rodrigues; Laura Resende Tavares.

VALIDAÇÃO DE PROTÓTIPO DE EDIFICAÇÃO RESIDENCIAL PARA SIMULAÇÃO E


2055
CLASSIFICAÇÃO DE VIDROS
Fabíola Arndt; Martin Mizgier; Fernando Westphal.

TÓPICO 5. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

A APLICAÇÃO DE METAS NZEB A EDIFICAÇÃO RESIDENCIAL NA ZONA BIOCLIMÁTICA


BRASILEIRA Nº 2 2065
Leno Pôrto Dutra; Isabel Tourinho Salamoni; Eduardo Grala da Cunha.

xxxiii
A INFLUÊNCIA DOS ELEMENTOS DE SOMBREAMENTO E VIDROS NO CONSUMO DE
2075
ENERGIA EM CLIMATIZAÇÃO E ILUMINAÇÃO EM EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS
Natalia Queiroz; Fernando Simon Westphal; Fernando Oscar Ruttkay Pereira.

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DA ENVOLTÓRIA DE UMA UNIDADE BÁSICA DE


2085
SAÚDE NA ZONA BIOCLIMÁTICA 7
João de Campos Lima Neto; Rafaela Duarte de Almeida; Eduardo Raimundo Dias Nunes.

ANÁLISE DA EVOLUÇÃO TIPOLÓGICA DE EDIFÍCIOS COMERCIAIS CONSTRUÍDOS ENTRE


2093
1950 A 2016 QUANTO À EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DA ENVOLTÓRIA, EM VITÓRIA/ES.
Natiele Dalbó; Ana Dieuzeide Santos Souza; Érica Coelho Pagel.

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA GEOMETRIA ARQUITETÔNICA NA EFICIÊNCIA


2102
ENERGÉTICA DE EDIFICAÇÕES COMERCIAIS
Jonathan Arthur Raiser Tallmann; Carolina Rocha Carvalho; Marcelo Galafassi.

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DE DIFERENTES MODELOS DE ELEMENTOS DE


SOMBREAMENTO NO CONSUMO ENERGÉTICO DE AMBIENTES HIPOTÉTICOS DE USO 2110
COMERCIAL
Methissa de Oliveira; Carolina Carvalho; Marcelo Galafassi.

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO SISTEMA DE VEDAÇÃO VERTICAL EXTERNA NO


CONSUMO ENERGÉTICO DE UM EDIFÍCIO RESIDENCIAL LOCALIZADO NA ZONA
2120
BIOCLIMÁTICA 08
Matheus Mendonça; Marconi Mendonça; Marcos Mendonça; Déborah do Nascimento; Pedro
Gois; Angelo Just.

ANÁLISE DA VALORIZAÇÃO DE IMÓVEIS COM ENERGIA FOTOVOLTAICA 2129


Pedro César Almeida; Matheus Menezes Oliveira; Joyce Correna Carlo,Delly Oliveira Filho.

ANÁLISE DE DESEMPENHO ENERGÉTICO DO EDIFÍCIO DO BDMG EM BELO


2139
HORIZONTE-MG
Junia Ordones da Costa; Ana Carolina de Veloso; Roberta Vieira de Souza.

ANÁLISE DE INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS NAS EDIFICAÇÕES DA UFMS 2149


Giulia Serain Alberto; Marcio José Sorgato.

ANÁLISE DE MEDIDAS APLICÁVEIS À EDIFICAÇÃO PÚBLICA ESCOLAR PARA OBTENÇÃO


2159
DA CLASSIFICAÇÃO A NA ETIQUETA NACIONAL DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA
Evelyn Moraes Hosken de Sá; Raquel Diniz Oliveira.

ANÁLISE DE MÉTODOS DE CÁLCULO PARA DETERMINAÇÃO DA TEMPERATURA DO


SOLO EM SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS 2169
Gustavo Henrique Nunes; Guilherme Vilela Sanches; Rafaela Benan Zara; Thalita Gorban
Ferreira Giglio.

ANÁLISE DE VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICA DA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA


FOTOVOLTAICO CONECTADO À REDE EM UMA EDIFICAÇÃO MULTIFAMILIAR 2179
Gabriela Laguardia de Castro Oliveira; Rodrigo de Mello Morado Penna; Fernanda Mourão
Dutra de Oliveira; Raquel Diniz Oliveira.

xxxiv
ANÁLISE DO POTENCIAL DE GERAÇÃO DE ENERGIA FOTOVOLTAICA EM EDIFICAÇÃO
PÚBLICA DE ENSINO NA CIDADE DE COLATINA-ES 2188
Cassia Salvador; Eduarda L. Bianchi; Antonio V. C. Nunes; Nathália V. Bonifácio; Alexandre C.
Amorim.

ANÁLISE DO POTENCIAL DE INTEGRAÇÃO DE SISTEMAS FOTOVOLTAICOS EM


2197
EDIFICAÇÕES RESIDENCIAIS DE CAMPO GRANDE/ MS
Taís Oliveira da Silva; Marcio José Sorgato.

AUDITORIA ENERGÉTICA EM EDIFICAÇÃO PÚBLICA VISANDO O SELO PROCEL DE


2206
ECONOMIA DE ENERGIA EM EDIFICAÇÕES
Jakeline O. Tomazi; Letícia J. Rodrigues; Paulo S. Schneider.

AUTOMAÇÃO PREDIAL: TECNOLOGIA E GESTÃO EM PROL DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA


2216
EM PRÉDIOS PÚBLICOS
Carmelina Suquere de Moraes; André Luiz Amorim da Fonseca.

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO ENERGÉTICO DE UMA EDIFICAÇÃO HISTÓRICA EM


2226
GOIÂNIA
Jessika Alves Vieira; Lizandra Veiga Silva; Pammila Japiassú.

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO TÉRMICO DA ENVOLTÓRIA DE RESIDÊNCIA


2236
UNIFAMILIAR
Lizzie Monique Pulgrossi; Letícia de Oliveira Neves.

AVALIAÇÃO DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E CONFORTO TÉRMICO DE PROJETOS


EDUCACIONAIS PADRONIZADOS DO FNDE 2246
Camila Correia Teles; Thiago Montenegro Góes; Adriano Felipe Oliveira Lopes; Júlia
Teixeira Fernandes; Cláudia Naves David Amorim; Caio Frederico e Silva.

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO TERMOENERGÉTICO DE ENVOLTÓRIAS COMBINADAS


2256
COM SISTEMAS DE CLIMATIZAÇÃO
Julia Fernanda Dos Santos Blasius; Aloísio Leoni Schmid; Francine Aidie Rossi.

CERTIFICAÇÃO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DE ESCOLA MUNICIPAL (OU PÚBLICO) NO


2266
SUL DO BRASIL
Cristiana Rodrigues; Fernando Grande; Letiane Benincá.

CHALLENGES OF EXPORTING AN IFC FILE TO INTEGRATE THE ENERGY SIMULATION


2276
ANALYSIS WORKFLOW
Marco Antonio Gonçalves Junior; Nathalia Mara Sangion de Abreu; Fabiano Rogério Correa.

CLASSIFICAÇÃO DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA APLICADA À UMA EDIFICAÇÃO


2284
RESIDENCIAL EM BELO HORIZONTE
Bruno Mozelli de Oliveira Reis; Carolina Almeida Paiva; Raquel Diniz Oliveira.

xxxv
DEFINIÇÃO PROJETUAL DE FACHADAS MEDIANTE O DESEMPENHO ENERGÉTICO DA
2294
EDIFICAÇÃO
Anna Carolina Peres; Claudio Morgado; Alice Brasileiro.

DESEMPENHO DE UMA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL PELO PROGRAMA


BRASILEIRO DE ETIQUETAGEM DE EDIFICAÇÃO: ESTUDO DE CASO EM SÃO LUÍS DO 2304
MARANHÃO
Adriana Alice Sekeff Castro; Yuri Alencar Chaves; Gabriela de Medeiros Lopes Martins.

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E ILUMINAÇÃO NATURAL: CRITÉRIOS PARA INTERVENÇÃO


EM EDIFÍCIOS MODERNOS NÃO RESIDENCIAIS DO PLANO PILOTO DE BRASILIA 2314
Cláudia Naves David Amorim; José Manoel Morales Sánchez; Joara Cronemberger; João
Francisco Walter Costa; Elcio Gomes da Silva.

ESTUDO DE CASO: COMPARAÇÃO ENTRE METODOLOGIA DE ETIQUETAGEM DO RTQ-


2323
C E DO INI-C, EM UMA EDIFICAÇÃO MILITAR
Breno Pontes Pimentel; Andréa Teresa Riccio Barbosa.

ESTUDO DE CLASSIFICAÇÃO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DO PRÉDIO 20 DO CEFET-MG


2333
Julia Cordeiro Vieira; Matheus Almeida Evangelista; Frederico Romagnoli Silveira Lima; Raquel
Diniz Oliveira.

ESTUDO PILOTO SOBRE APLICAÇÃO DA NORMATIVA ENERPHIT EM UM EDIFÍCIO


HISTÓRICO DE PELOTAS, RS 2343
Amanda Rosa de Carvalho; Lisandra Fachinello Krebs; Eduardo Grala da Cunha; Ana Lúcia
Costa de Oliveira; Antonio Cesar Silveira Baptista Da Silva.

EXTRAÇÃO DE DADOS DE PROJETO EM BIM PARA ETIQUETAGEM DE EDIFÍCIOS


2353
Laura Elisa Ohlweiler; Mônica Machado dos Santos; Antônio Cesar Silveira Baptista da Silva;
Juliana Al-Alam Pouey; Vitória de Sena Ferreira.

IMPACTO DE LAS FACHADAS VERDES TRADICIONALES EN EL COMPORTAMIENTO


TERMO-ENERGÉTICO DE VIVIENDAS UNIFAMILIARES EN ZONAS ÁRIDAS. CASO 2362
CIUDAD DE MENDOZA.
Pablo Suárez; M Alicia Cantón; Érica Correa.

INFLUÊNCIA DA ÁREA DE ABERTURA E TRANSMITÂNCIA TÉRMICA NO CONSUMO DE


ENERGIA ELÉTRICA EM CUIABÁ-MT 2372
Elaise Gabriel; Renata Mansuelo Alves Domingos; Gabriela Meller; Emeli Lalesca Aparecida da
Guarda; Daniele Laurini; Giane de Campos Grigoletti.

INFLUÊNCIA DO ISOLAMENTO TÉRMICO DE COBERTURAS FRENTE AOS IMPACTOS DAS


MUDANÇAS CLIMÁTICAS 2381
Emeli Lalesca Aparecida da Guarda; Luciane Cleonice Durante; Elaise Gabriel; Renata
Mansuelo Alves Domingos; Martin Ordenes Mizgier; Ivan Julio Apolonio Callejas.

LEVANTAMENTO E ANÁLISE DE DADOS DE CONSUMO DESAGREGADO DE ENERGIA EM


ESCOLA PÚBLICA MUNICIPAL PARA RETROFITTING 2391
Isadora Carvalho Buchala; Beatriz Ribeiro Bartholo; Sabrina de Oliveira Fabiano; Eleonora Sad
de Assis; Roberta Vieira G. de Souza.

xxxvi
MODELO PARA INVESTIGAÇÃO DE RADIAÇÃO INCIDENTE EM PÁTIOS 2401
Tarso de Oliveira Hoffmeister; Heitor da Costa Silva.

O CUSTO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM UMA EDIFICAÇÃO RESIDENCIAL EM BELO


2407
HORIZONTE - MG
Carolina Tavares de Sousa Vilela; Roberta Vieira Gonçalves de Souza.

O PROCESSO DE PROJETO DE EDIFÍCIO ESCOLAR: BARREIRAS E PERSPECTIVAS PARA O


CONFORTO E A EFICIÊNCIA ENERGÉTICA 2417
Ana Carolina Pussi Debrito; Carolina Moreira Barbosa de Brito; Vívian Maurer Bortolotto; Caio
Frederico e Silva; Cláudia Naves David Amorim.

OPTIMIZATION OF AN ENERGY EFFICIENT OFFICE BUILDING IN SUBTROPICAL BRAZIL 2427


Felipe S. D. Lopes; Hua Ge; Radu Zmeureanu; Lucila C. Labaki.

OTIMIZAÇÃO SIMPLIFICADA DO DESEMPENHO DE UMA RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR


2436
LOCALIZADA NA ZBB2
Stifany Knop; Franciele P. Freitas; Thaisa C. Rodrigues; Eduardo Grala da Cunha.

PERSPECTIVAS EM EFICIÊNCIA ENERGÉTICA PARA A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO


2446
MODERNO
Thiago Torres; Alice Brasileiro; Felipe Moura Moraes Cardoso.

PROCESSO DE PROJETO PARA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL VERTICAL DE


BALANÇO ENERGÉTICO NULO NO SOL NASCENTE-DF 2456
Mateus Oliveira de Queiroz; Camila Correia Teles; Orlando Vinicius Rangel Nunes; Félix Alves
da Silva Júnior.

PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO PARA A


UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO 2466
Renata Mansuelo Alves Domingos; Elaise Gabriel; Emeli Lalesca Aparecida da Guarda;
Fernando Oscar Ruttkay Pereira.

RELAÇÃO COMPARATIVA ENTRE FONTES DE ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA E DE


AQUECIMENTO D’AGUA NUMA UNIDADE GEMINADAS DE HABITAÇÃO DE INTERESSE 2476
SOCIAL NO EXTREMO SUL DO BRASIL: UM ESTUDO DE CASO
Vinicius M. Cleff; Bruno B. Teixeira; Antonio Cesar S. B. Da Silva.

SENSITIVITY ANALYSIS APPLIED ON BUILDING SIMULATION IN EARLY DESIGN STAGES


Fernando Simon Westphal; Thaiane Maranho da Silva.
2486

SIMULAÇÃO PARAMÉTRICA DE BRISE-SOLEIL EM FACHADA OESTE PARA REDUÇÃO DE


CONSUMO ENERGÉTICO EM EDIFICAÇÃO COMERCIAL 2494
Ana Julia Maia Mairink; Jacqueline Alves Vilela; Marina da Silva Garcia; Ana Carolina de
Oliveira Veloso; Roberta Vieira Gonçalves de Souza.

SISTEMAS DE CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL DE EDIFICAÇÕES EM ANÁLISE CRÍTICA: LEED


2504
E AQUA
Rita de Cássia Pereira Saramago; João Marcos de Almeida Lopes.

xxxvii
SUSTENTABILIDADE NO AMBIENTE CONSTRUÍDO: ANÁLISE DE VIABILIDADE PARA
2514
IMPLANTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS ATIVAS
Maria Cecília V. Zugliani; Carolina de Rezende Maciel.

USO DE SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL NO PROCESSO DE PROJETO ARQUITETÔNICO


2524
INDUSTRIAL ZEB EM BRASÍLIA.
Roberta Carolina A. Faria; Thiago Montenegro Góes; Caio Frederico e Silva.

VIABILIDADE DE IMPLANTAÇÃO DE SISTEMA FOTOVOLTAICO E DE APROVEITAMENTO


DE ÁGUA PLUVIAL PARA ESTABELECIMENTO ASSISTENCIAL DE SAÚDE A PARTIR DE 2534
CRITÉRIOS AQUA
Ludmila Cardoso Fagundes Mendes; Roberta Vieira Gonçalves de Souza.

VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICA DE TELHAS FOTOVOLTAICAS APLICADAS A UMA


2544
RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR EM BELO HORIZONTE-MG
Ricardo Augusto dos Santos Horta; Rodrigo de Mello Penna; Raquel Diniz Oliveira.

TÓPICO 6. ILUMINAÇÃO NATURAL E ARTIFICIAL

A INFLUÊNCIA DAS ORIENTAÇÕES DAS ABERTUDAS E CONDIÇÕES DE CÉU NOS NÍVEIS


DE ILUMINAÇÃO NATURAL EM UM AMBIENTE HOSPITALAR 2554
Jordana Teixeira da Silva; Renata da Costa Barbosa Medeiros; Renata Camelo Lima; João Paulo
Lima Santos.

A PERCEPÇÃO VISUAL E O ACIONAMENTO DA ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL E DAS


2564
PERSIANAS EM ESPAÇOS INTERNOS
Americo Hiroyuki Hara; Fernando Oscar Ruttkay Pereira.

ANÁLISE ANUAL DA EXPOSIÇÃO À INCIDÊNCIA SOLAR DIRETA, AO OFUSCAMENTO E


AOS NÍVEIS DE ILUMINAÇÃO NATURAL EM AMBIENTE COM PROTEÇÕES SOLARES 2574
INTERNAS
Dayan de Loyola R. Garcia; Fernando O. R. Pereira.
ANÁLISE COMPARATIVA DE MEDIÇÕES DE NÍVEIS DE ILUMINÂNCIA IN LOCO E POR
SIMULAÇÃO (PLUG-IN DIVA/RHINOCEROS) 2584
Elaise Gabriel; Gabriela Meller; Daniele Laurini; Renata Mansuelo Alves Domingos; Emeli
Lalesca Aparecida da Guarda; Giane de Campos Grigoletti.

ANÁLISE DA ILUMINAÇÃO NATURAL A PARTIR DE ELEMENTOS HORIZONTAIS E


VERTICAIS DE PROTEÇÃO SOLAR APLICADOS A ABERTURA LATERAL DE SALAS DE AULA
NA CIDADE DE JOÃO PESSOA / PB
Eliana Costa Lima; Solange Maria Leder; Guilherme Amorim Cavalcanti; Yan Fabio; 2590
Dayane de Melo Almeida; Francisco Edinardo B. Alves Junior; Tainá Gomes dos Santos
Costa.

ANÁLISE DA ILUMINAÇÃO NATURAL E ARTIFICIAL EM ENFERMARIA ATRAVÉS DE


SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS COM OS SOFTWARES AGI-32 E LICASO: ESTUDO DE
2599
CASO LOCALIZADO NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GAFFREÉ E GUINLE (HUGG) – RJ
Alexandre Gois De Andrade; Patrizia Di Trapano; Mauro C. de Oliveira Santos.

xxxviii
ANÁLISE DA ILUMINAÇÃO NATURAL EM AMBIENTE INTERNO DE EDIFICAÇÕES DE
ESCRITÓRIO DE DIFERENTES TIPOLOGIAS NA CIDADE DE VITÓRIA – ES. 2609
Felipe A. Carpanedo; Maria Claudia de S. L. S. B. Barros; Mariana Mardegan; Anna Carolina de
B. Piras; Ricardo N. Maioli; Érica C. Pagel.

ANÁLISE DA ILUMINAÇÃO NATURAL EM SALAS DE AULA: SIMULAÇÕES


2619
COMPUTACIONAIS E ENSAIOS NO HELIODON
Ana Gabriela Cemensati; Izabela Sanches Tessaro; Marieli Azoia Lukiantchuki.

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO TEMPO E DA TRAJETÓRIA DO OLHAR NA PROBABILIDADE


2629
DE OFUSCAMENTO EM AMBIENTES DE ESCRITÓRIO
Gabriela Silva Goedert; Natalia Giraldo Vásquez; Fernando O. R. Pereira.

ANÁLISE DO DESEMPENHO LUMÍNICO DE AMBIENTES INTERNOS A PARTIR DA


2639
ATUAÇÃO DE ELEMENTOS VAZADOS
Gabriela Bolssoni; Lucas Martinez; Andréa Laranja; Cristina Engel de Alvarez.

ANÁLISE DOS NÍVEIS DE ILUMINAÇÃO NATURAL EM SALA DE AULA ATRAVÉS DE


MEDIÇÕES E SOFTWARES DE SIMULAÇÃO AGI-32 E LICASO: ESTUDO DE CASO 2649
LOCALIZADO NO EDIFÍCIO JORGE MACHADO MOREIRA – UFRJ
Patrizia Di Trapano.

ANÁLISE QUANTITATIVA DA ILUMINAÇÃO PÚBLICA NA ORLA DE JOÃO PESSOA 2659


Rebeca Coutinho Gomes; Ítalo Pereira Fernandes.

APLICAÇÃO DE MÉTODO PARA ESTIMAR A AUTONOMIA DA LUZ NATURAL, BASEADO


NA LUZ DIFUSA, PARA A OBTENÇÃO DO POTENCIAL ENERGÉTICO DA ILUMINAÇÃO 2667
NATURAL
Raphaela W. da Fonseca; Suelem de França; Fernando O. R. Pereira.

AS INFORMAÇÕES SOBRE PROPRIEDADES LUMÍNICAS CONTIDAS NAS EMBALAGENS


DE LÂMPADAS: UMA QUESTÃO IMPORTANTE PARA O CONSUMO CORRETO DO
2677
EQUIPAMENTO E PARA SUA ACEITAÇÃO NO MERCADO
Helena C. L. Brandao; Aline S. H. Pinto; Hanna C. F. Peixoto; Laise Gabrielle O. Silva; Mona A.
de Carvalho; Rafaela F. L. Wehrs.

AVALIAÇÃO DA ILUMINAÇÃO NATURAL ATRAVÉS DA PERSPECTIVA DO USUÁRIO –


CONJUNTO RESIDENCIAL VIDEIRAS, SANTA MARIA, RS 2687
Liliana Martins Techio; Giane De Campos Grigoletti; Anderson Claro; Bruna Zambonato.

AVALIAÇÃO DA ILUMINAÇÃO NATURAL COM O PROGRAMA APOLUX – ESTUDO DE


2697
CASO EM SANTA MARIA, RS
Liliana Techio; Giane Grigoletti; Anderson Claro; Bruna Zambonato.

AVALIAÇÃO QUANTITATIVA DA ADMISSÃO DA LUZ NATURAL POR ABERTURAS


ZENITAIS EM MAQUETES FÍSICAS 2707
Rafael Prado Cartana; João Luiz Pacheco; Camila Schweitzer Pauli; Laila Dutra da Rocha; Lucas
Adler R. Procheira.

xxxix
CARACTERÍSTICAS DE USO DE SALAS DE AULA DE EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO
2717
ENTRE OCUPAÇÃO E ILUMINAÇÃO
Natalia Giraldo Vásquez; Fernando O. Ruttkay Pereira.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONFORTO LUMINOSO EM BIBLIOTECA: ESTUDO DE CASO


2727
NA UNIMEP
Lorenzzo A. Casale; Adriana P. de A. S. Castro; Carla Matheus; Raquel L. Rancura.

DESEABILIDAD LUMÍNICA EN AULAS UNIVERSITARIAS CON RELACIÓN A LOS


2737
REQUERIMIENTOS VISUALES DE LOS CURSOS PROGRAMADOS EN ELLAS
Valentina Gallego Arias.

DESEMPENHO LUMÍNICO DE JANELAS IDÊNTICAS EM CIDADES DISTINTAS


Karla Cristina de Freitas Jorge Abrahão; Ana Julia Maia Mairink; Géssica Mara Rodrigues; 2746
Ramiro Felix da Silva Junior; Bárbara Carolina Soares Fortes; Stéphanie Torres; Ana Carolina
de Oliveira Veloso; Roberta Vieira Gonçalves de Souza.

DESEMPENHO LUMÍNICO EM HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL: IMPACTOS NA


ADMISSÃO DA LUZ NATURAL EM AMBIENTES INTERNOS DIANTE DO USO DE 2756
ESQUADRIAS OPACAS E DAS INTERVENÇÕES NO ENTORNO
Ana Paula Campos Rodrigues; Mariana Fernandes Balsamão Guimarães Diniz.

EFEITOS DA ORIENTAÇÃO DE ABERTURAS EM AMBIENTES NA SATISFAÇÃO E


2766
PERCEPÇÃO DA ILUMINAÇÃO EM HUMANOS
Ticiana Patel Weiss Trento; Cintia Tamura; Daniel G. Trento; Eduardo L. Krüger.

EFEITOS DO USO DE VARANDAS NO DESEMPENHO LUMINOSO DE SALETAS


2776
COMERCIAIS DE EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS
Ligia Lisbôa Rodrigues; Letícia de Oliveira Neves.

ESTUDIO DE SENSIBILIDAD DE CLARABOYAS EN EL TRÓPICO, CONSIDERANDO EL


DESEMPEÑO INTEGRADO DE SUFICIENCIA LUMÍNICA, CONFORT VISUAL Y GANANCIA 2786
SOLAR
Juan Pablo Arango Plazas.

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE UM BRISE-SOLEIL E O MUXARABI ARTICULÁVEL


MUART – ESTUDO DE CASO: LUZ E SOMBRA EM UMA SALA COM FACHADA LESTE NO 2796
HEMISFÉRIO SUL
Érica da Costa Urbano de Oliveira; Ana Lúcia Nogueira de Camargo Harris.

ESTUDO DE CONFORTO LUMÍNICO EM ESCOLAS MUNICIPAIS EM CLIMA QUENTE E


2806
ÚMIDO
Amanda V. P. Lima; Luana Maria M. Quirino; Lumy Noda; Yan Fabio; Solange Maria Leder.

IMPACTO DO CONTEXTO URBANO NA DISPONIBILIDADE DE LUZ NATURAL NO


AMBIENTE INTERNO E NO CONSUMO ENERGÉTICO DE ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL 2816
Franciele Fontana da Rosa; Raphaela Walger Fonseca; Fernando O. R. Pereira.

xl
INFLUÊNCIA DE DIFERENTES CONFIGURAÇÕES URBANAS NO DESEMPENHO DA
2826
ILUMINAÇÃO NATURAL EM AMBIENTES INTERNOS DA CIDADE DE FLORIANÓPOLIS
Luciana Mota Beck; Fernando O. Ruttkay Pereira; Veridiana Atanasio Scalco.

LATITUDE E CONDIÇÕES CLIMÁTICAS LOCAIS - VERIFICAÇÃO DA PREDOMINÂNCIA NO


2835
DESEMPENHO DA LUZ NATURAL E NO CONSUMO ENERGÉTICO DE ILUMINAÇÃO
Raphaela W. da Fonseca; Fernando O. R. Pereira; Elaine A. Queiroz; Beatriz Stockhausenn.

METODOLOGIA PARA ANÁLISE DE ILUMINAÇÃO NATURAL ZENITAL EM QUADRAS


2845
POLIESPORTIVAS
Kaila Bissolotti; Fernando Oscar Ruttkay Pereira.

O APROVEITAMENTO DA LUZ NATURAL E O USO CONSCIENTE DA ILUMINAÇÃO


ARTIFICIAL NO EDIFÍCIO VILANOVA ARTIGAS - FAUUSP 2856
Cristiane Mitiko Sato Furuyama; Joana Carla Soares Gonçalves; Eduardo Gasparelo Lima;
Roberta Consentino Kronka Mülfarth; Marcelo de Andrade Romero.

O IMPACTO DA SUBSTITUIÇÃO DO SISTEMA DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA DA


UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO – CAMPUS GOIABEIRAS 2866
Joicy Araujo da Silva; Luísa Galimberti Pires Martins; Eduardo Godoy Pignaton; Felipe
Demuner Magalhães; Ricardo Nacari Maioli.

O USO DA ILUMINAÇÃO NATURAL COMO DIRETRIZ NOS PROJETOS DE ARQUITETURA


2876
ESCOLAR
André Luiz de Souza Silva; Jaucele Azerêdo.

PROPUESTA METODOLÓGICA PARA LA CARACTERIZACIÓN DEL COMPORTAMIENTO


2886
LUMÍNICO DE CORTINAS ROLLER BAJO CONDICIONES DE CIELO CLARO.
Ayelén Villalba; Julieta Yamín; Andrea Pattini; Raúl Mercado

SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DE ILUMINAÇÃO NATURAL: ANÁLISE DA INFLUÊNCIA


2896
DO ENTORNO, VIDROS E REVESTIMENTOS INTERNOS
Bianca de Andrade Krai; Amanda da Cunha Figueira; Maria Fernanda de Oliveira.

SIMULAÇÃO DE ILUMINAÇÃO NATURAL NO AUTODESK REVIT CONFORME


NORMATIVAS BRASILEIRAS
2906
Gabriel Ramos de Queiróz; Cristiano Geraldo Teixeira Silva; Carolina Gomes Leal Ximenes;
Fernando Rocha Campos; Luiza Barrio Peixoto; Ana Carolina de Oliveira Veloso; Roberta Vieira
Gonçalves de Souza.

SOMBREAMENTO COM ILUMINAÇÃO: DESENVOLVIMENTO DE MODELO


PARAMÉTRICO PARA FACILITAR ESCOLHAS DE PROJETO ENVOLVENDO CRITÉRIOS 2916
CONFLITANTES
Raoni Venâncio.

xli
TÓPICO 7. AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO APLICADA AO CONFORTO AMBIENTAL E À
ERGONOMIA

A AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO COMO BASE DE PROJETO ARQUITETÔNICO DE


EDIFICAÇÃO PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL 2926
Michele Barros; Gleice Elali.

A CIRCULAÇÃO EM ARQUITETURA: UMA ANÁLISE GRÁFICA E SUA CONTRIBUIÇÃO AO


PROCESSO DE PROJETO 2936
Evandra R. Victorio; Doris C. C. K. Kowaltowski.

A MOBILIDADE DAS PESSOAS COM CEGUEIRA: UM OLHAR SOBRE AS TECNOLOGIAS


ASSISTIVAS 2945
Ester Rodrigues da Costa Jorge; Zilsa Santiago; Vilma Villarouco.

ACESSIBILIDADE E BARREIRAS ATITUDINAIS: A IMPORTÂNCIA DE UMA METODOLOGIA


EDUCACIONAL E INFORMATIVA
2955
Larissa Scarano P. M. da Silva; Eryane V. Lima; Erica A. Modesto; Hendyara Castro de S. Leao;
Karoline P. de Paulo; Taiane de C. Macedo.

AÇÕES DO USUÁRIO DE ESCRITÓRIOS INDIVIDUAIS PARA OBTER CONFORTO


AMBIENTAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS NA SENSAÇÃO TÉRMICA 2965
Ana Carolina dos Santos; João Roberto Gomes de Faria.

ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE ACESSIBILIDADE NO CAPS II EM BALNEÁRIO CAMBORIÚ


Julia Perin Pellizzaro; Raryana Fernanda Ribeiro; Ana Paula Magalhães Jeffe; Rafael Alves de 2974
Campos; Marcia do Valle Pererira Loch.

AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO DE UM PROJETO PADRÃO DO PROGRAMA PROINFÂNCIA


2982
Karoline Lima do Nascimento; Jaucele Azerêdo; Ana Clara Cavalcanti de Lima.

COLABORAÇÃO MULTIDISCIPLINAR COMO RECURSO PARA AVALIAÇÃO PÓS-


OCUPAÇÃO COM FOCO NA ACESSIBILIDADE DO AMBIENTE CONSTRUÍDO: UM OLHAR
SOBRE UMA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA 2992
Angelina Dias Leão Costa; Larissa Nascimento dos Santos; Marina Holanda Kunst; Hilton
Messias de Souto Filho; Karla Deluze Vieira Ramos e Silva.

COMPARAÇÕES E DISCUSSÕES SOBRE CONFORTO AMBIENTAL ENTRE O SESC 24 DE


MAIO E O SESC POMPEIA 3002
Marina Miraldo Bruno; Juliana Saft.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O DESEMPENHO TÉRMICO, LUMÍNICO E ACÚSTICO DE


SISTEMAS CONSTRUTIVOS INOVADORES EM USO 3012
Mena Cristina Marcolino Mendes; Márcio Minto Fabrício; César Imai.

COPAN: UMA PROPOSTA AINDA ATUAL DE UMA GERAÇÃO PASSADA - REFLEXÕES


SOBRE O MORAR NO CENTRO A PARTIR DA ERGONOMIA COMO EIXO DE ANÁLISE 3022
Eduardo Gasparelo Lima; Sylvia Tavares Segovia; Roberta Consentino Kronka Mülfarth.

xlii
CUMPLIMIENTO DE LA NORMA SOBRE COMODIDAD AMBIENTAL EN AULAS DE
COLEGIOS PUBLICOS EN CALI 3032
Olga L. Montoya.

ENVELHECIMENTO E MORADIA: ESTUDO DE VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICA DE


ADAPTAÇÃO DE RESIDÊNCIA A IDOSOS 3040
Claudia F. Carunchio; Roberta C. Kronka Mülfarth.

ERGONOMIA E O CONFORTO INTEGRADO NO ESPAÇO URBANO PAULISTANO: UM


ESTUDO DE CASO 3050
Gabriel Bonansea de Alencar Novaes; Larissa Azevedo Luiz; Leonardo Marques Monteiro;
Roberta Consentino Kronka Mülfarth.

ESPAÇOS LIVRES PARA BRINCAR: ANÁLISE DE ASPECTOS AMBIENTAIS DAS PRAÇAS DA


GRANDE IBES, VILA VELHA (ES)
3060
Giullianna da Silva Sangali de Mello; Larissa Leticia Andara Ramos; Luciana Aparecida Netto
de Jesus; Hyria Fraga de Oliveira.

ESTUDO DE ACESSIBILIDADE EM HABITAÇÃO ECONÔMICA NA CIDADE DE JOÃO


PESSOA
3068
Amália H. M. Ribeiro; Ana C. de O. Sousa; Heloisa C. S. L. Barbosa; Rui Vanderlei Rocha Júnior;
Vladimir S. De Souza.

FERRAMENTA ERGONÔMICA DE AUXÍLIO À MOBILIDADE E PERCEPÇÃO AMBIENTAL


EMPREGANDO TECNOLOGIA DE PROTOTIPAGEM E IMPRESSÃO 3D 3076
Angelina Dias Leão Costa; Dandara Souza Silva; Eduardo Augusto Monteiro de Almeida.

O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E SEUS IMPACTOS SOBRE OS REQUISITOS DE


DESEMPENHO ERGONÔMICO: ABORDAGEM TEÓRICA E METODOLÓGICA 3085
Claudia F. Carunchio; Roberta C. Kronka Mülfarth.

PARÂMETROS DE PROJETO ESCOLAR E AVALIAÇÃO ARQUITETÔNICA DE ESCOLAS


PÚBLICAS 3094
Larissa Negris de Souza; Doris C. C. K. Kowaltowski.

COMUNICAÇÃO TÉCNICA

TÓPICO 1: ACÚSTICA ARQUITETÔNICA E URBANA

ESTUDO PILOTO DO MAPA DE RUÍDO DE TRÁFEGO VEICULAR DA ÁREA DE INFLUÊNCIA


DA RODOVIA TRANSAMAZÔNICA (BR 230) NA REGIÃO METROPOLITANA DE JOÃO
PESSOA/ PB 3104
Tamáris da Costa Brasileiro; Virginia Maria Dantas de Araújo; Bianca Carla Dantas de Araújo.

TÓPICO 2. CLIMA E PLANEJAMENTO URBANO

DEFINIÇÃO DE ZONA DE CONFORTO TÉRMICO PARA ÁREAS EXTERNAS UTILIZANDO


O ÍNDICE PET PARA PELOTAS - RS
Luísa Alcantara Rosa; Eduardo L. Krüger; Lisandra Fachinello Krebs; Erik Johansson; Maurício 3110
Dorneles Caldeira Balboni; Eduardo Grala da Cunha.

xliii
FATORES ASSOCIADOS AO DESEMPENHO TÉRMICO E ENERGÉTICO DE SUPERFÍCIE
URBANAS 3116
Fabiana Lourenço e Silva Ferreira.

INFLUÊNCIA DAS ÁREAS VERDES NA QUALIDADE TÉRMICA DO MEIO URBANO EM


SÃO JOSÉ DO RIO PRETO – SP 3122
Bianca Sobrinho Bellei; Érico Masiero.

INVESTIGAÇÃO DAS CONDIÇÕES TÉRMICAS DE UMA PRAÇA EM PALMAS-TO, ATRAVÉS


DE SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL COM SOFTWARE ENVI-MET 3128
Igor Naves; Lorena D´arc Tork da Silva.

MAPEANDO PADRÕES DE OCUPAÇÃO DE SALVADOR, BA.


Heliana Mettig Rosa; Tereza Moura; Jussana Nery; Carolina Vieira; Eduardo Prado; Gabriel 3134
Nunes.

TÓPICO 3. CONFORTO TÉRMICO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO

ANÁLISE CLIMÁTICA E DEFINIÇÃO DE ESTRATÉGIAS CONSTRUTIVAS PARA O


MUNICÍPIO DE PAU DOS FERROS/RN 3140
Cecília de Amorim Pereira; Lília Caroline de Morais; Eduardo Raimundo Dias Nunes.

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO COMPORTAMENTO DO USUÁRIO E OPERAÇÃO DO


EDIFÍCIO NO CONFORTO TÉRMICO DE USUÁRIOS DE ESCRITÓRIOS 3146
Graciele Rosana dos Santos Gregorio; Luciana Oliveira Fernandes.

ANÁLISE DOS PARÂMETROS DE CONFORTO TÉRMICO EM EDIFICAÇÕES POPULARES


EM CATALÃO - GO 3151
Sayonara Lanna Alves de Jesus; Suelen Aparecida Silva de Oliveira; Natan da Silva; Juarez
Francisco Freire Junior; Ed Carlo Rosa Paiva.

AVALIAÇÃO DO AMBIENTE TÉRMICO EM ESPAÇOS DE TRANSIÇÃO: EDIFÍCIOS


EDUCACIONAIS 3157
Iara Nogueira Liguori; Lucila Chebel Labaki.

BASE DE DADOS DE COEFICIENTES DE PRESSÃO PARA EDIFÍCIOS NO FORMATO H


3163
Talita Andrioli Medinilha de Carvalho; Lucila Chebel Labaki.

IMPLANTAÇÃO DE CORTINA VERDE COM A ESPÉCIE STICTOCARDIA MACALUSOI PARA


ATENUAÇÃO TÉRMICA DE EDIFICAÇÕES
3169
Kassiana Kamila Pagnoncelli Refati; Cleila Cristina Navarini Valdameri; Ticiane Sauer
Pokrywiecki.

TOWARDS AN UNDERSTANDING OF COMFORT AND WELLBEING OF OLDER PEOPLE


USING OCCUPANT-CENTRIC MODELS 3175
Larissa Arakawa Martins; Veronica Soebarto; Terence Williamson.

USO DE FACHADA VERDES COMO ESTRATÉGIA PARA CONFORTO TÉRMICO.


3181
Cleila Cristina Navarini Valdameri; Lucila Chebel Labaki.

xliv
TÓPICO 4. DESEMPENHO TÉRMICO DO AMBIENTE CONSTRUÍDO

AVALIAÇÃO DAS TEMPERATURAS RADIANTES DE COPAS DE ÁRVORES E SEUS EFEITOS


EM SUPERFÍCIES PRÓXIMAS 3187
Thiago dos Santos Garcia; Lucila Chebel Labaki.

ESTUDO COMPARATIVO DE DESEMPENHO TÉRMICO APLICADO EM CONTÊINER


PADRÃO ISO EM PALMAS-TO 3193
Cleyner Jacome; Lorena D´Arc Tork da Silva.

ESTUDO DO DESEMPENHO TÉRMICO DE ESCOLAS PROINFÂNCIA: PROJETO PILOTO


3199
Cristiana Rodrigues; Luciana Oliveira Fernandes.

PROJETO DE ENSINO CASA SUSTENTÁVEL: UMA ANÁLISE DO PROCESSO PROJETUAL


VISANDO O ATENDIMENTO DE METAS DE DESEMPENHO PARA O SEMIARIDO
POTIGUAR 3205
Francisco Caio de Bezerra Queiróz; Ian Kennedy Viana Noronha; Rafaela Duarte de Almeida;
Bárbara Lais Felipe de Oliveira; Clara Ovídio de Medeiros Rodrigues; Monique Lessa Vieira
Olímpio.

REFLETÂNCIA SOLAR E O DESEMPENHO TÉRMICO DE TELHAS EXPOSTAS AO TEMPO


3211
Ana Carolina Hidalgo Araujo; Kelen Almeida Dornelles.

TÓPICO 5. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

AVALIAÇÃO PRELIMINAR DO POTENCIAL DE GERAÇÃO FOTOVOLTAICA DA


COBERTURA DE UMA EDIFICAÇÃO ATRAVÉS DO MÉTODO SOLAR FAN 3217
Leno Pôrto Dutra; Celina Maria Britto Correa.

TÓPICO 6. ILUMINAÇÃO NATURAL E ARTIFICIAL

ANÁLISE DE DESEMPENHO LUMINOSO DE SALAS DE AULA


Tatiana Paula Alves; Wellington Guilherme Ribeiro de Assis; Lucas Teixeira da Silva; Aureliana 3222
Karen Rodrigues Amancio.

AVALIAÇÃO DE LUZ NATURAL NO AMBIENTE DE SALA DE AULA DA FAU/UFRJ


3228
Alice Cristine Ferreira Dias de Oliveira; Sylvia Meimaridou Rola.

TÓPICO 7. AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO APLICADA AO CONFORTO AMBIENTAL E À


ERGONOMIA

AVALIAÇÃO DO ÍNDICE DE QUALIDADE DAS CALÇADAS DE PALMAS-TO


3234
Lorrana Lys Neves Forte,Ivo Almeida Costa; Thyago Phellip França Freitas.

xlv
AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO DA CÂMARA BIOCLIMÁTICA DE BAIXO CUSTO (CBBC)
Rogério Shibata; Antonia Gambati; Alícia Vieira Sousa; Clarisse Di Núbila; Daniel G. Trento;
Deize Lellys da Silva; Eduardo Lemes Schlemm; Gabriel Celligoi; Jéssica Romanelli; Ticiana 3240
Patel Weiss Trento; Eduardo Krüger.

LABORATÓRIO CASA SUSTENTÁVEL: METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO QUALI-


QUANTITATIVA 3246
Letícia Maria de Araújo Zambrano; Aline Calazans Marques; Miriam Carla do Nascimento Dias;
Cintia Borel Nunes.

xlvi
A VEGETAÇÃO COMO INSTRUMENTO PARA O PLANEJAMENTO
URBANO ACÚSTICO
Desirée Kuhn (1); Rita de Cássia Pereira da Silva (2)
(1) Doutoranda em Arquitetura, Programa de Pós-graduação em Arquitetura, desireekuhn@gmail.com,
(2) Mestranda em Arquitetura, Programa de Pós-graduação em Arquitetura, arqrita.rio@gmail.com
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.

RESUMO
O desenho da paisagem sonora pode ser considerado uma faceta do desenho urbano (REHAN, 2016). O
objetivo principal deste trabalho é sistematizar estratégias do uso da vegetação como instrumento para
auxiliar o planejamento urbano acústico. A partir da técnica de pesquisa de revisão sistemática de literatura,
buscou-se sistematizar e classificar as principais estratégias para a melhoria da qualidade sonora no meio
urbano. Como resultado, foram analisados 39 artigos e documentos compilados em congressos da área e nas
bases de dados do Periódicos Capes e Google Academic. Como produto, o artigo apresenta 21 estratégias de
aplicação de vegetação, distribuído em sete categorias: extensão de áreas verdes urbanas; barreira acústica
vegetal; taludes; grupos arbóreos; forração; paredes e fachadas vegetadas; e telhados verdes. Tornar o som
um aspecto importante do desenvolvimento urbano, e agregar estratégias de uso da vegetação para o
esverdeamento das cidades pode ser uma ferramenta importante para a atenuação de ruído, e mais que isso,
uma ferramenta para qualificar os ambientes sonoros.
Palavras-chave: vegetação, verde urbano, acústica urbana, planejamento urbano.

ABSTRACT
The design of the sound landscape can be considered a facet of urban design (REHAN, 2016). The main
objective of this work is to systematize strategies for the use of vegetation as an instrument to aid urban
acoustic planning. From the research technique of systematic review of literature, we sought to systematize
and classify the main strategies for the improvement of sound quality in the urban environment. As a result,
we analyzed 39 articles and documents compiled in congresses in the area and in the Capes and Goggle
Academic Periodicals databases. As a product, the article presents 21 strategies of vegetation application,
distributed in seven categories: extension of urban green areas; acoustic barrier; slopes; tree groups; lining;
vegetated walls and facades; and green roofs. Making sound an important aspect of urban development, and
adding vegetation use strategies to greening cities can be an important tool for noise attenuation, and more
than that, a tool for qualifying sound environments.
Keywords: vegetation, urban green, urban acoustics, urban planning.

47
1. INTRODUÇÃO
A poluição sonora é atualmente um problema comum nos centros urbanos, e pensar soluções para minimizar
seus efeitos tornou-se um dos novos desafios do planejamento urbano na era da sustentabilidade. Em algum
momento, todos os cidadãos são afetados pelo ruído, e isso pode ter um impacto considerável na qualidade
de vida e bem-estar das pessoas. Embora ainda haja muitas questões entre poluição sonora e seus riscos para
a saúde, estudos existentes mostram que a exposição ao ruído aumenta o risco de pressão alta, estresse,
insônia, entre tantas outras enfermidades relacionadas (NILSSON, 2013).
Muitas cidades no mundo, com destaque na Europa, vêm desenvolvendo pesquisas sobre como
minimizar os impactos do ruído urbano, e que isso requer uma estratégia de redução de longo prazo, a partir
de uma abordagem local. Para isso, muitas medidas precisam ser conciliadas, como redução de frota
automotiva e alternativas mais sustentáveis de transporte, planejamento do uso da terra, planos de
desenvolvimento urbano, entre outros (KLOTH, 2008). Igualmente importante, o planejamento dos espaços
públicos abertos pode ser uma estratégia eficaz para melhorar a qualidade do ambiente sonoro urbano.
De fato, o som se propaga ao ar livre a partir de uma fonte, e os fatores que determinam o nível de som
no receptor estão relacionados à distância entre fonte e receptor, das propriedades do meio e dos obstáculos
no qual o som se propaga (BROWN, 2010). Assim, atribuir dimensão suficiente ao espaço público aberto,
assim como pensar a vegetação nele inserida torna-se uma importante estratégia no planejamento urbano.
Ao passo que as ondas sonoras podem ser influenciadas quando se propagam através da vegetação, o uso
bem planejado da vegetação pode contribuir para uma redução de ruído urbano (KLOTH, 2008).
Muitos são os benefícios provenientes do bom uso de estratégias de vegetação urbana, que além de
auxiliar na redução de poluição sonora, pode sequestrar as emissões de dióxido de carbono e produzir
oxigênio, purificar o ar e água, regular microclima, proteger o solo e água, manter a biodiversidade, produzir
alimentos e matérias-primas, além de ter valores recreativos, culturais e sociais. O planejamento e a gestão
do “esverdeamento urbano” é, portanto, de grande importância para o desenvolvimento urbano sustentável
(LI ET AL, 2005).
Arquitetos, engenheiros, e demais planejadores urbanos desempenham um papel relevante no controle
do ruído através da utilização de estratégias que possam auxiliar na qualificação do ambiente sonoro urbano.
No entanto, poucos estudos na literatura foram encontrados quanto à real contribuição da vegetação como
instrumento para o planejamento urbano e para a redução do ruído. Pesquisas isoladas sobre os efeitos de
isolamento acústico da vegetação incorporada em edifícios ou, então, quando usada como barreiras para
rodovias, ou ainda as contribuições dos telhados verdes são mais frequentes (PÉREZ, 2016).
O objetivo do artigo é sistematizar estratégias do uso de vegetação como instrumento para auxiliar o
planejamento urbano acústico. Além da possibilidade de amenizar os efeitos do ruído urbano, a presença da
arborização urbana também é responsável pela diversidade de vida silvestre, que podem emitir sons que
qualificam diferenciadamente o ambiente (REGO; NIEMEYER; VASCONCELLOS, 2012).

2. A VEGETAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE ATENUAÇÃO DE RUÍDO URBANO


Para pensar a vegetação como instrumento para atenuação do ruído urbano é preciso compreender a
interação entre eles, e isso inclui pensar nos efeitos diretos, como reflexão, difração, espalhamento e
absorção por elementos da planta, como caules, galhos e folhas. Ainda, o tipo de solo e a alteração do
microclima proporcionada pelas copas das árvores podem levar à redução do ruído (NILSSON, 2013).
Segundo NILSSON (2013), os níveis de som são reduzidos interagindo com o material vegetal de duas
formas principais. Na primeira, o som pode ser redirecionado por meio de reflexão, difração ou dispersão, ou
o som pode ser efetivamente absorvido pelo material da planta. Parte da absorção é causada pelas vibrações
amortecidas das folhas. Na vegetação, ocorre dispersão múltipla. Como resultado, parte da energia do som
deixará o caminho direto entre a fonte e o receptor, produzindo níveis mais baixos de pressão sonora naquele
receptor. Além disso, a orientação das folhas em relação às ondas sonoras incidentes desempenha um papel
importante (NILSSON, 2013).
Na realidade brasileira o uso da vegetação se torna ainda mais interessante, pois trata-se de um
elemento de custo muito baixo, com crescimento generoso num clima tropical úmido, baixo custo de
manutenção e grande variedade de espécies.
O planejamento ou o esverdeamento de um espaço aberto existente e as soluções possíveis para os
problemas de ruído urbano podem ser das mais diversas, dependendo da morfologia local, do clima e da
natureza estética da proposta de desenho. Assim, proposta de projeto deve levar em conta todos os
parâmetros locais, e para isso algumas estratégias do uso da vegetação como instrumento para controle do
ruído urbano podem ser adequadas às realidades locais.

48
3. MÉTODO
3.1. Revisão Sistemática de Literatura
A técnica utilizada é a revisão sistemática de literatura, que constitui o processo usado para coletar e analisar
dados sobre o tema de pesquisa proposto. A revisão sistemática é um método realizado em etapas, que visa
realizar pesquisas com o propósito de responder questões específicas e em profundidade de forma
sistematizada, utilizando-se de fontes abrangentes e artigos potencialmente relevantes que tenham passado
por avaliações criteriosas e de qualidade, através de uma estratégia científica de busca explícita e replicável
(COOK; SACKETT; SPITZER, 1995; COOK; MULROW; HAYNES, 1997; MULROW, COOK,
DAVIDOFF, 1997; PETTICREW, 2001).

3.2. Método de Pesquisa


A pesquisa se deu em duas etapas. No primeiro momento, foi realizada uma revisão sistemática de literatura
para investigar os principais resultados do uso de vegetação para atenuação de ruído urbano nas fontes de
dados Periódicos Capes, Google Academic e nos anais dos Congressos ICA (International Congress on
Acoustics) e SOBRAC (Sociedade Brasileira de Acústica). Essas bases foram escolhidas porque concentram
diversos periódicos e pesquisas importantes relacionados ao tema do conforto acústico. No segundo
momento, buscou-se sistematizar as estratégias encontradas do uso da vegetação para a melhoria da
qualidade sonora no meio urbano.

4. RESULTADOS
A revisão sistemática buscou investigar “quais são as principais estratégias do uso de vegetação para
melhorar a qualidade do ambiente sonoro urbano?”. Com base nessa questão de revisão, foi desenvolvido o
protocolo de investigação, que constam com os seguintes requisitos: artigos ou documentos nas línguas
inglesa, espanhola, italiana, francesa ou brasileira; artigos revisados por pares; de publicação recente (no
máximo 20 anos). Para a revisão foram adotadas as seguintes palavras-chave:
“vegeta* AND urban* AND acoustic* AND strateg*”
A busca digital dos artigos e livros foi feita nas bases de dados já referidas, limitada pela
disponibilidade de acesso ao material. O Quadro 1 mostra os resultados da busca realizada.

BASES Período analisado Nº artigos selecionados Nº artigos analisados


Periódicos CAPES 1998-2018 69 13
SOBRAC 2012-2014 01 01
ICA 2016 03 03
Google academic 2008-2018 509 22

Quadro 1. Busca e seleção de artigos para a revisão sistemática.

Posterior à busca dos estudos através das palavras-chaves, fez-se a seleção dos artigos pela leitura
atenta aos resumos, quando foram selecionados aqueles que se enquadravam nos critérios de inclusão da
pesquisa. Por fim, foram analisados minuciosamente 39 artigos e documentos, de onde buscou-se fazer a
extração dos dados de forma sistematizada. Uma vez extraídos os dados das fontes, realizou-se uma
classificação em categorias dos resultados encontrados por tipologia de vegetação e uso.

5. ESTRATÉGIAS VERDES/VEGETAIS DE REDUÇÃO DE RUÍDO


Neste tópico estão descritas e sistematizadas as principais estratégias encontradas sobre uso de vegetação
urbana como instrumento de controle de ruído urbano. Essas estratégias estão classificadas por categorias de
uso e tipo de vegetação, exemplificando e oferecendo soluções para se desenvolver espaços públicos abertos
“mais verdes” e que auxiliam na redução de ruído ao passo que potencializam a qualidade sonora do
ambiente urbano. Além de contribuir para a saúde pública, conforto térmico, aumentar a qualidade de vida
dos cidadãos, essas estratégias podem contribuir para a proteção dos recursos naturais locais, bem como para
a diversidade da vida silvestre.

5.1. Extensão de espaços verdes urbanos


Numa escala de nível urbano, ou até mesmo regional (meso e macroescala) existem um grande número de
sistemas que estão constantemente interagindo. O projeto Sonorus, iniciado a partir do European Noise
Directive (END) em 2002, visa analisar as relações entre tipos de uso de solo e qualidades acústicas
ambientais. Segundo estudos do projeto Sonorus, existe relação direta entre a extensão da chamada
“tranquilidade” nas cidades, ou seja, mais silenciosas, com a base de dados do espaço verde existente. Essa

49
abordagem tem uma base teórica em termos da física da propagação do som, uma vez que áreas verdes,
como parques, geralmente têm baixos níveis de ruído dentro do contexto urbano de uma cidade. A partir
disso novos indicadores foram propostos, como o indicador de porosidade da cidade (Δ porous), que
considera a proporção de áreas verdes para as áreas construídas (construção e pavimentação), conforme
apresentado na Equação 1, descritos no trabalho do grupo de pesquisa (SÁNCHEZ; MAURIZ;
MARGARITIS, 2016). Este indicador também pode ser usado para prever os níveis de ruído de tráfego na
macroescala (ALVES, 2016).

Equação 1: Indicador de porosidade da cidade


Numa escala local, as estratégias na sequência podem ser aplicadas e adaptadas à morfologia e
condições da área.

5.2 Barreiras acústicas vegetais


As barreiras acústicas vegetais abrangem muros e elevações verticais vegetadas, com o objetivo de reduzir os
níveis sonoros das áreas afetadas pelos altos índices de ruído (NILSSON ET AL, 2013). Na Figura 1, um
exemplo de aplicação.

Figura 1: Barreira acústica vegetal.


Fonte: Google imagens. Site < http://www.i-trade.fr/mur-antibruit-vegetalisable>

5.2.1 Barreira de baixa altura - máximo 1m de altura (NILSSON ET AL, 2013).


Área de implantação: calçadas e ciclovias, próximo a um receptor no espaço de menos de 1 metro da
barreira; habitação e espaços livres, como parques, em zonas de sombras de barreiras.
Redução de ruído: 3 a 12 dB(A) em relação a uma estrada urbana; e 9 a 15 dB(A) para vias de trens
elétricos a uma distância de 2 a 50 metros.
Custo benefício: Promove o embelezamento e contribui para a segurança dos pedestres e ciclistas.
Pode tomar algum espaço e reduzir a largura do passeio.

5.2.2 Barreira vegetal leve ao longo de pontes, viadutos e elevados - máximo 1m de altura (NILSSON ET AL,
2013).
Área de implantação: calçadas, ciclovias e áreas livres abaixo de ruas urbanas e trilhos de trens elétricos/
VLT; habitação no mesmo nível ou abaixo.
Redução de ruído: até 5 dB(A) abaixo de pontes de tráfego rodoviário; até 15 dB(A) abaixo de vias de
VLT e trens elétricos.
Custo benefício: promove o embelezamento e contribui com a biodiversidade.

5.3 Taludes
Talude é um plano inclinado de terra, que pode ser coberto com vegetação ou não, e que tem como função
principal dar estabilidade ao aterro. Na Figura 2, um exemplo de aplicação.

50
Figura 2: Talude vegetado em rodovia.
Fonte: Google imagens. Site https://www.engevant.com.br/rodovias-e-ferrovias/

5.3.1 Talude escalonado campado - tamanho máximo 1.20m, altura mínima da barreira 4m (NILSSON ET AL,
2013).
Área de implantação: parques, playgrounds, jardins, ao longo de ciclovias, calçadas, rodovias, para
receptores em zona de sombra de barreira.
Redução de ruído: 6 a 14 dB(A) em uma distância de 1 a 20 metros, comparado com a barreira rígida
reta descampada.
Custo benefício: promove embelezamento, contribui com a biodiversidade. Pode precisar de reforço
na fundação da barreira.

5.3.2 Talude de terra com forte inclinação (NILSSON ET AL, 2013).


Área de implantação: áreas livres e casas ao longo de autoestradas e ferrovias.
Redução de ruído: até 5 dB(A) comparado com um talude trapezoidal suave a uma distância de 1 a 50
metros.
Custo benefício: promove o embelezamento, diminui a poluição visual, contribui para a
biodiversidade. Toma mais espaço que uma barreira.

5.4 Grupos arbóreos


Grupos de árvores de grande porte. Na Figura 3, um exemplo de aplicação.

Figura 3: Cinturão verde.


Fonte: Google imagens < http://institutoaua.org.br>

5.4.1 Árvores em cânions urbanos e pátios (NILSSON ET AL, 2013).


Área de implantação: passeios e fachadas em ruas e pátios.
Redução de ruído: não mais que 2 dB(A) por posicionamento próximo de árvores em rua.
Custo benefício: solução totalmente verde (absorção de CO2, aumenta diversidade) e promove
embelezamento.

5.4.2 Cinturão verde - múltiplas filas de árvores (FANG; LING, 2003).


Área de implantação: próximo de rodovias e autoestradas.

51
Redução de ruído: de 3 a 5,9 dB(A) em faixas de árvores e arbustos menos adensadas, com
visibilidade entre 6m e 19m; redução de até 2,9 dB(A) em áreas com árvores e arbustos esparsos, com
visibilidade de mais de 20m.
Custo benefício: contribui para a redução de CO2, aumenta biodiversidade, promove o
embelezamento. Leva muitos anos para atingir o efeito máximo de redução de ruído. É indicado árvores altas
de folhagem densa e perene.

5.4.3 Cinturão verde - múltiplas filas de árvores (NILSSON ET AL, 2013).


Área de implantação: espaços abertos próximo de rodovias e autoestradas,
Redução de ruído: até 6 dB(A) em uma distância de 50m para um cinturão de árvores de 5m de
profundidade.
Custo benefício: solução totalmente verde (absorção de CO2, aumenta diversidade) e promove
embelezamento, redução da poluição por retenção de partículas no ar. Leva muitos anos para atingir o efeito
máximo de redução de ruído. Devem ser selecionadas espécies que permitem o plantio denso.

5.4.4 Árvores atrás de barreiras acústicas (NILSSON ET AL, 2013).


Área de implantação: áreas atrás de barreiras acústicas em propagação de som a sota-vento.
Redução de ruído: até 5 dB(A) em uma distância de 100m em forte sota-ventos próximo a rodovias.
Custo benefício: reduz fortemente o impacto visual negativo da barreira acústica. Necessita de copas
densas para maximizar o efeito.

5.5 Forração
São plantas de cobertura do solo com crescimento rasteiro, constituído em sua maior parte por plantas da
família das gramíneas. Na Figura 4, um exemplo de aplicação.

Figura 4: Gramado.
Fonte: Google imagens < https://itograss.com.br>

5.5.1 Gramado (BOLUND; HUNHAMMAR, 1999)


Área de implantação: parques, praças, canteiros, trilhos de trens elétricos.
Redução de ruído: até 3 dB(A) em uma distância de 10m.
Custo benefício: baixo impacto visual, permite acesso, e toma mais espaço que uma barreira.

5.5.2 Faixas verdes (NILSSON ET AL, 2013).


Área de implantação: acostamentos e estacionamentos em áreas livres.
Redução de ruído: de 3 a 9 dB(A) em uma distância de 50m.
Custo benefício: promove o embelezamento.

5.5.3 Solo e forração (NILSSON ET AL, 2013).


Área de implantação: espaços abertos em áreas rurais ao longo de autoestradas.
Redução de ruído: até 9 dB(A) em uma distância de 50m.
Custo benefício: promove o embelezamento e aumenta os espaços verdes.

52
5.5.4 Plantações (NILSSON ET AL, 2013).
Área de implantação: espaços abertos em áreas rurais ao longo de autoestradas.
Redução de ruído: até 5 dB(A).
Custo benefício: contribui para o provimento de alimentos. Efeito sazonal.

5.6 Paredes e fachadas vegetadas


Paredes verdes, jardins verticais, fachadas vegetadas são paredes com cobertura vegetal. Podem ser
constituídas por blocos de jardineiras sobrepostas, módulos aplicados a superfície da parede, ou pelo simples
plantio de plantas tipo trepadeiras em jardineiras no piso. Na Figura 5, um exemplo de aplicação.

Figura 5: Fachada vegetada.


Fonte: Google imagens < http://www.cristinamello.com.br/>

5.6.1 Paredes vegetadas (AZKORRA; ZALOA ET AL, 2015).


Área de implantação: instalação de 42 módulos-base, totalizando 10.08m², pré-cultivado de sistema de
parede verde.
Redução de ruído: 14 dB para ruído de tráfego.
Custo benefício: promove o embelezamento. Material sustentável, com reciclagem de resíduos
plásticos na fabricação dos módulos da parede verde.

5.6.2 Fachada frontal (NILSSON ET AL, 2013).


Área de implantação: fachadas principais.
Redução de ruído: de 2 a 3 dB(A) em uma altura de 1,5m a 4m na fachada.
Custo benefício: promove o embelezamento e reduz a poluição do ar.

5.6.3 Fachadas vegetadas em praças urbanas (NILSSON ET AL, 2013).


Área de implantação: fachadas principais.
Redução de ruído: 3 dB(A) em uma altura de 1,5 ao longo da praça.
Custo benefício: promove o embelezamento, o isolamento térmico do edifício. Pode fazer a praça
parecer escura por reduzir a refletância da luz. Alto custo para instalação e manutenção. Ciclo de vida curto:
10 anos.

5.6.4 Fachadas de pátios vegetadas (NILSSON ET AL, 2013).


Área de implantação: fachadas construídas em pátios
Redução de ruído: 4 dB(A) em uma altura de 1,5m ao longo do pátio e ao longo da altura da fachada.
Custo benefício: promove o embelezamento. Reduz a poluição do ar. Promove o isolamento térmico
do edifício. Pode fazer o pátio parecer escuro por reduzir a refletância da luz. Alto custo para instalação e
manutenção. Ciclo de vida curto: 10 anos.

5.6.5 Pátios abertos vegetados (NILSSON ET AL, 2013).


Área de implantação: fachada do edifício.

53
Redução de ruído: 4,5 dB(A) em uma altura de 1,5m ao longo do pátio e ao longo da altura da
fachada.
Custo benefício: promove o embelezamento. Promove o isolamento térmico do edifício. Pode fazer o
pátio parecer escuro por reduzir a refletância da luz. Alto custo para instalação e manutenção. Ciclo de vida
curto: 10 anos.

5.7 Telhados vegetados


Telhado verde, cobertura verde ou vegetada, é uma técnica da arquitetura voltada para o plantio nos telhados
ou lajes de cobertura dos edifícios, muito utilizada para o conforto térmico da edificação. Na Figura 6, um
exemplo de aplicação.

Figura 6: Telhado verde.


Fonte: Google imagens < https://www.hometeka.com.br>

5.7.1 Telhado verde extensivo (VAN RENTERGHEM; BOTTELDOOREN, 2009).


Área de implantação: instalação de telhado verde extensivo (20 cm de substrato) no telhado em edifício em
canyon urbano.
Redução de ruído: de 3 a 5,5 dB(A) por laje de cobertura e de 5 a 6,5 dB (A) por telhado inclinado
em canyon urbano.
Custo benefício: promove o embelezamento. Reduz a perda de calor e a entrada do fluxo de calor
para o edifício. Promove o isolamento térmico do edifício. Melhora o escoamento de água da chuva. Menor
custo de instalação e manutenção. Ciclo de vida longo: 50 anos.

5.7.2 Telhado verde semiextensivo (NILSSON ET AL, 2013).


Área de implantação: instalação de telhado verde semiextensivo (10cm de substrato) no telhado envolta do
pátio.
Redução de ruído: 2,5 dB(A) por cobertura plana e 8dB(A) por telhado inclinado em uma altura de
1,5m em torno do pátio e na fachada ao longo da altura do edifício.
Custo benefício: promove o embelezamento. Reduz a perda de calor e a entrada do fluxo de calor
para o edifício. Promove o isolamento térmico do edifício. Melhora o escoamento de água da chuva. Menor
custo de instalação e manutenção. Ciclo de vida longo: 50 anos.

5.7.3 Barreira de telhado (NILSSON ET AL, 2013).


Área de implantação: 0,64 x 0,96m (largura e altura) de barreira nas bordas do edifício envolta do pátio.
Redução de ruído: 3 dB(A) quando a barreira está colada ao longo dos dois lados do edifício central
em uma altura de 1,5m envolta do pátio e na fachada ao longo da altura do edifício.
Custo benefício: promove o embelezamento. Promove a proteção da cobertura.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com Beatley (2013), o “som é parte integrante do ambiente urbano, e há uma consciência
crescente de que ele deve ser considerado no mesmo nível de importância que a estética visual no

54
planejamento urbano e no processo de desenho" (BEATLEY, 2013). Assim, a paisagem sonora é um aspecto
essencial para qualidade de vida nas cidades.
O desenho da paisagem sonora pode ser considerado uma faceta do desenho urbano (REHAN,
2016). A ideia principal deste artigo foi focar nas estratégias do uso da vegetação como instrumento para o
planejamento urbano acústico. Tornar o som um aspecto importante do desenvolvimento urbano, e agregar
estratégias de uso da vegetação para o esverdeamento das cidades pode ser uma ferramenta decisiva para
atenuação de ruído, e mais que isso, uma ferramenta para qualificar os ambientes sonoros.
A partir da revisão sistemática de literatura foram selecionados e consultados 39 artigos científicos,
que forneceram subsídios para a elaboração das 21 estratégias vegetadas como instrumentos para o
planejamento urbano acústico. A maior parte dessas estratégias resultaram de 3 trabalhos – Nilsson (2013);
Van Renterghem e Botteldooren (2009); e Azkorra (2015). Esses trabalhos trouxeram maior contribuição
para o desenvolvimento das estratégias vegetadas uma vez que especificaram o desempenho da vegetação
urbana em decibéis.
Por fim, este artigo buscou sistematizar informações que possam de alguma forma auxiliar
planejadores urbanos e demais membros da comunidade no processo de planejamento urbano para tornar os
ambientes urbanos mais agradáveis de se viver.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Conference Proceedings. Institute of Noise Control Engineering, p. 2662-2671, 2016.
AZKORRA, Z. et al. Evaluation of green walls as a passive acoustic insulation system for buildings. Applied Acoustics, v.
89, p. 46-56, 2015.
BEATLEY, T. Celebrating the natural soundscapes of cities. The nature of cities, 2013.
<http://sustainablecitiescollective.com/nature-cities/ 111251/celebrating-natural-soundscapes-cities>
BOLUND, P.; HUNHAMMAR, S. Ecosystem services in urban areas. Ecological economics, v. 29, n. 2, p. 293-301, 1999.
BOTTELDOOREN, D. et al. The urban soundscape–a different perspective. Sustainable mobility in Flanders: The livable
city, p. 177-204, 2008.
BROWN, A. L. Soundscapes and environmental noise management. Noise Control Engineering Journal, v. 58, n. 5, p.
493-500, 2010.
FANG, C.; LING, D. Investigation of the noise reduction provided by tree belts. Landscape and urban planning, v. 63, n. 4,
p. 187-195, 2003.
KLOTH, M. et al. Practitioner handbook for local noise action plans-recommendations from the SILENCE project. AVL List
GmbH, Austria, 2008.
LI, F. et al. Comprehensive concept planning of urban greening based on ecological principles: a case study in Beijing,
China. Landscape and urban planning, v. 72, n. 4, p. 325-336, 2005.
NILSSON, M. et al. Novel Solutions for Quieter and Greener Cities. 2013.
PÉREZ, G. et al. Acoustic insulation capacity of Vertical Greenery Systems for buildings. Applied Acoustics, v. 110, p. 218-
226, 2016.
PIOVESAN, T. R. et al. Absorção Sonora de dois sistemas modulares de telhados verdes brasileiros. Anais do XXV
Encontro da Sociedade Brasileira de Acústica, p 369-376, Campinas-SP, 2014.
REGO, A.Q.; NIEMEYER, M. L.; VASCONCELLOS, V. Passeio sonoro: uma metodologia para procedimentos de campo e
registro de dados (Parque Do Flamengo, RJ). 11º Encontro Nacional de Ensino de Paisagismo em Escolas de Arquitetura e
Urbanismo no Brasil. Anais de Congresso, 2012.
REHAN, R. M. The phonic identity of the city urban soundscape for sustainable spaces. Hbrc Journal, v. 12, n. 3, p. 337-
349, 2016.
SÁNCHEZ, G. E.; MAURIZ, L. E.; MARGARITIS, S. Controlling the sound environment. Urban sound planning - the
SONORUS project, 2016.
VAN RENTERGHEM, T.; BOTTELDOOREN, D. Reducing the acoustical façade load from road traffic with green
roofs. Building and environment, v. 44, n. 5, p. 1081-1087, 2009.

AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

55
ANÁLISE ACÚSTICA DE PRAÇAS PÚBLICAS NA CIDADE DE
JUIZ DE FORA
Thaísa Souza (1); Silvia Senra (2); Maria Cassani (3); Sabrina Barbosa (4); Klaus Alberto (5)
(1) Arquiteta e Urbanista, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ambiente Construído,
thaisa.souza@arquitetura.ufjf.br, Universidade Federal de Juiz de Fora, rua José Lourenço Kelmer, s/n - São
Pedro, MG, 36036-900
(2) Arquiteta e Urbanista, Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ambiente Construído,
sil.senra@gmail.com, Universidade Federal de Juiz de Fora, rua José Lourenço Kelmer, s/n - São Pedro,
MG, 36036-900
(3) Graduanda da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora,
maria.cassani@arquitetura.ufjf.br, Universidade Federal de Juiz de Fora, rua José Lourenço Kelmer, s/n -
São Pedro, MG, 36036-900
(4) Arquiteta e Urbanista, Professora Doutora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, sabrina.barbosa@uerj.br, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Av. Ipiranga,
544 - Centro, Petrópolis - RJ, 25610-150
(5) Arquiteto e Urbanista, Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Ambiente Construído,
klaus.alberto@ufjf.edu.br, Universidade Federal de Juiz de Fora, rua José Lourenço Kelmer, s/n - São Pedro,
MG, 36036-900

RESUMO
Este artigo consiste em um estudo que é parte de uma dissertação de mestrado do Programa de Pós-
Graduação em Ambiente Construído da Universidade Federal de Juiz de Fora. Com o crescimento das
cidades e da complexidade da malha urbana, a poluição sonora tem se tornado um mal crescente,
prejudicando a saúde pública e ambiental. Neste contexto, as praças podem atuar como ambientes benéficos
para a população, ajudando no controle do ruído urbano. Assim, essa pesquisa tem como objetivo avaliar o
nível de ruído das praças públicas de Juiz de Fora - MG, contribuindo para a caracterização da poluição
sonora da cidade e aferindo, de maneira indireta, se estas contribuem para o bem estar dos usuários. Para
isso, foram realizadas medições sonoras in loco no período da tarde em dias de semana em 87 praças. Os
valores obtidos foram comparados aos estabelecidos pela NBR 10.151/2003, pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) e por resultados de outras pesquisas realizadas em localizações distintas. A partir dos dados
coletados, percebeu-se que a maioria das praças possui níveis de ruído superiores aos sugeridos pelas
referências citadas. Esse trabalho tem como contribuição o levantamento dos valores de nível de pressão
sonora nas praças, demonstrando ao poder público pontos críticos para que sejam iniciadas ações corretivas.
Palavras-chave: poluição sonora, ruído, praças.

ABSTRACT
This paper consists of a study based on a master’s thesis of the Post-Graduate Program in Built Environment
of the Federal University of Juiz de Fora. With the growth of cities and the complexity of the urban mesh,
noise pollution has become a growing harm, damaging public and environmental health. In this context,
squares can act as beneficial environments to the population, helping in noise control. Therefore, this
research aims to verify the noise level of the public squares in Juiz de Fora-MG, contributing to the
characterization of the noise pollution of the city and assessing, indirectly, if they contribute to the wellbeing
of users. To that, visits in loco were made to perform sound measurements at afternoons of weekdays in 87
squares. The values obtained were compared with those established by the NBR 10.151/2003, the World
Health Organization (WHO) and results of other surveys conducted at different locations. From the data
collected, it was noticed that most of the squares have higher noise levels than those suggested by the
references. The contribution of this research is the gathering of the values of sound pressure level in squares,
demonstrating critical points for the public authorities to initiate corrective actions.
Keywords: sound pollution, noise, squares.

56
1. INTRODUÇÃO
O ruído, definido como um som indesejável, gera diversos efeitos negativos na saúde humana, como perda
de audição e estresse (Bistafa, 2011), e é considerado um dos principais problemas ambientais no mundo,
atrás somente da poluição do ar (WHO, 2018). Por isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) (WHO,
2011) afirma que o ruído não deve ser tratado apenas como um incômodo, mas como preocupação para
saúde pública e ambiental. Dessa forma, pode-se dizer que desde o século XVIII, com a Revolução
Industrial, esse problema vem se agravando (Murgel, 2007), tendo em vista o crescimento da urbanização, da
economia e do aumento do transporte viário, que contribuem para a expansão dessa poluição (WHO Europe,
2011). Contudo, poucas são as iniciativas de mitigação dos efeitos negativos tanto por parte do poder público
quanto do privado. Estudos apresentados pela OMS (2018) mostram que pelo menos 1 milhão de anos de
vidas são perdidas na Europa Ocidental devido ao ruído de diversos tipos de tráfego (WHO, 2018).
Neste contexto, as praças públicas, além de trazerem grandes benefícios à saúde mental e física da
população (McCormack et al., 2010), ajudam no ecossistema das cidades e no controle de ruído. Entretanto,
como estão presentes nos centros urbanos, as praças acabam recebendo alto ruído gerado pelo principalmente
pelo fluxo automobilístico, o que pode diminuir sua eficácia como área de lazer, e consequentemente
reduzindo a presença de pessoas no local (Calleja et al., 2017). Além disso, elas configuram-se como
geradores de ruído a partir dos próprios usuários, seja utilizando o playground, realizando atividades físicas
ou conversando em grupos (Jeon e Hong, 2015).
O diagnóstico de ruídos e seus impactos nos usuários são temas de diversas pesquisas nesses
ambientes. Zannin et al. (2006) avaliaram 6 praças utilizando como referência limites da legislação
municipal de Curitiba-PR (55dB (A)), assim como recomendações europeias de Roma (50dB (A)), Itália, e
Alemanha (55dB (A)). Metade dos espaços estudados possuíam alto nível de ruído causado pelo tráfego de
veículos, falta de planejamento urbano e abordagem pela legislação municipal. Os outros três espaços, no
entanto, apresentaram nível de ruído dentro do permitido pelas normas, devido ao seu afastamento da malha
urbana. Por outro lado, Jeon e Hong (2015) mostram que parques em Madri se encontram dentro dos valores
médios de ruídos do país (55-58dB (A)), apesar de ultrapassar algumas recomendações europeias (45-55dB
(A)). Níveis de pressão sonora similares foram registrados também em praças na Itália, Brasil e China,
estando de acordo com o estabelecido pela Lei de ruído da Espanha (65 dB (A)). Já Zhang et al. (2018)
estudaram uma praça na China com o intuito de descobrir o efeito de quatro dimensões (relaxamento,
comunicação, espacialidade e dinâmica) da paisagem sonora nos usuários. Os autores perceberam que a
dominância das fontes naturais daquele local resultou em um efeito significativo nas quatro dimensões,
sendo que o relaxamento dos usuários acontecia de forma mais evidente quando ouviam,
predominantemente, sons naturais do ambiente do que sons mecânicos, como trânsito. Isso pode ter
acontecido devido ao som mecânico ser algo aleatório e descontínuo, segundo os autores.
Considerando os benefícios de áreas verdes para o meio urbano e para a saúde humana, assim como a
importância de sua preservação, vê-se que ainda são necessários novos estudos em diferentes contextos
geográficos sobre o tema para ampliar a base de dados. Esses estudos podem ser feitos por meio de medições
acústicas, com o uso de equipamentos adequados e devidamente calibrados, que nos permite avaliar se o
ruído existente em um local está em conformidade com as normas específicas e qual impacto está gerando no
ambiente e na comunidade que o cerca (Departament of Environment Malaysia, 2007).

2. OBJETIVO
Considerando os benefícios das áreas livres verdes quanto ao ruído e a importância de sua preservação, o
objetivo deste artigo é avaliar a poluição sonora de 87 praças públicas de Juiz de Fora - MG (78% do total),
cidade localizada no sudeste brasileiro, com pouco mais de 560 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE, 2018). Dessa forma, este estudo contribui para o levantamento dos valores
de nível de pressão sonora nas praças, demonstrando ao poder público pontos críticos para que sejam
iniciadas ações corretivas.

3. MÉTODO
A metodologia usada neste estudo foi dividida em 4 partes principais:
1. Mapeamento e caracterização das praças de Juiz de Fora.
2. Definição do período de realização de medições.
3. Realização das medições sonoras in loco.
4. Avaliação dos dados e comparação com referências normativas.

57
3.1. Mapeamento e caracterização das praças de Juiz de Fora
Para avaliar a poluição sonora nas praças de Juiz de Fora (Figura 1) foi realizado um levantamento de todas
praças da cidade. A prefeitura do município considera 169 Espaços Livres Públicos (ELPs) como praças.
Entretanto, ao consultar o banco de dados do grupo de pesquisa Ágora da Universidade Federal de Juiz de
Fora, constatou-se que dos 169 locais estabelecidos pelo poder público, apenas 104 poderiam de fato ser
denominados como praças, já que alguns desses espaços eram, por exemplo, terrenos baldios, canteiros ou
trevos. Além disso, alguns desses locais foram considerados como inseguros ou estavam demasiadamente
afastados do centro urbano e, por esse motivo, as medições não foram realizadas nos mesmos. Foram
consideradas, portanto, 87 praças públicas da cidade.

Figura 1 – Mapa de Minas Gerais com limite do município de Juiz de Fora.

As praças avaliadas encontram-se distribuídas em todas as regiões urbanas de Juiz de Fora garantindo
variedade amostral, conforme mostrado na Figura 2. Elas possuem áreas para prática de esportes, exercícios
e atividades físicas, contando também com quiosques de alimentação, bancas de revista, playgrounds e
outros equipamentos. A frequência destes elementos varia em qualidade e quantidade, uma vez que certas
praças apresentam apenas um desses aparelhos, enquanto outras apresentam mais. Essas condições, atreladas
à localização, propiciam a presença e circulação de pessoas, além do fluxo de veículos ao redor, o que
contribui para o aumento do nível de ruído. Das praças analisadas, apenas 5 encontram-se no Bairro Centro
(6% do total), as demais também estão inseridas em meio à malha urbana, em diferentes bairros, distribuídas
por toda a área da cidade.

58
Figura 2 – Localização das praças avaliadas pelo município.

3.2. Definição do período de realização das medições


Estabeleceu-se que o melhor horário para executar medições era no turno da tarde (preferencialmente no
limite com o início da noite), pois é o momento que apresenta maior quantidade e diversidade de pessoas
nesses locais. As medições foram realizadas em dias típicos de semana, durante o período escolar e com boas
condições climáticas.

3.3. Realização das medições sonoras in loco


As praças foram visitadas de segunda a sexta feira, durante o período de aproximadamente dois meses. As
medições foram realizadas em dias sem chuva (com sol ou nublado) e com pouco ou nenhum vento de forma
a não interferir nos dados aferidos. Em cada medição, a temperatura local foi anotada em um protocolo
desenvolvido para esta pesquisa, assim como a condição climática, além da data e dos horários inicial e final
da visita.
O nível de ruído foi medido com decibelímetro, previamente testado e calibrado, ou com aplicativo
similar disponibilizado para smartphones. Em campo, foi feito um teste comparativo entre o aplicativo e o
decibelímetro durante três minutos e os resultados obtidos foram similares, o que validou a utilização do
smartphone. A ferramenta ICAM (ITDP, 2018) utilizada como referência também admite uso de aplicativos
simuladores e considera necessária a medição durante pelo menos 20 segundos consecutivos. Assim, o
período adotado para as medições desse estudo foi de 1 minuto. Essa ferramenta, ao avaliar a poluição
sonora em segmentos de calçada, escolhe como local de medição o ponto mais crítico do trecho de análise da
calçada, admitindo que o resultado encontrado nesse trecho extrapole para o restante do segmento. De modo
similar, considerou-se como ponto crítico o centro da praça, sendo muitas vezes o local onde as pessoas se
concentram. Dessa forma, os medidores foram posicionados no centro das praças e os dados, coletados em
decibéis, foram aferidos em apenas um local de cada praça.
O protocolo utilizado para as medições (Figura 3) também incluiu os usos do solo em seu perímetro
(redor imediato), de forma a avaliar em quais áreas o ruído e a presença de pessoas eram maiores. Foram
registrados também o uso (residencial, comercial, serviço, institucional, lotes vazios) dos edifícios do
entorno. Os dados foram organizados em uma planilha de forma a identificar as porcentagens de cada uso e
averiguar qual deles era predominante em cada praça.

59
Figuras 3 – Exemplo de protocolo utilizado.

60
3.4. Avaliação dos dados e comparação com referências normativas
Nesse estudo, para a avaliação do nível de ruído, foram levadas em consideração a norma brasileira NBR
10.151/2003 (Acústica - Avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o conforto da comunidade -
Procedimento) e a recomendação da OMS (1999). A NBR 10.151 estabelece o padrão exigido para avaliação
da aceitabilidade do ruído em comunidades para ambientes externos (Tabela 1). O uso térreo dos lotes do
entorno das praças dessa pesquisa foi avaliado e classificado segundo a norma como “predominantemente
residencial”, adotando um NCA de 55dB (A).
Tabela 1 – Nível de Critério de Avaliação NCA para ambientes externos em db (A).
Tipos de áreas Diurno Noturno
Áreas de sítios e fazendas 40 35
Área estritamente residencial urbana ou de hospitais ou de escolas 50 45
Área mista, predominantemente residencial 55 50
Área mista, com vocação comercial e administrativa 60 55
Área mista, com vocação recreacional 65 55
Área predominantemente industrial 70 60
Fonte: NBR 10151/2003, adaptado pelos autores.

A OMS recomenda dois níveis de ruído para ambientes considerados como áreas de estar externas. O
primeiro limite (55dB (A)) é considerado como efeito crítico para a saúde, gerando um incômodo sério e o
segundo (50dB (A)), um incômodo moderado, conforme demonstrado na Tabela 2. Além disso, ela
estabelece que o tempo de exposição ao qual as pessoas se submetem a esse ruído deve ser de, no máximo,
16 horas.
Tabela 2 – Orientações para ruído na comunidade segundo OMS, 1999.
Ambiente específico Efeito (s) crítico (s) para a saúde dBA Leq Período de tempo (horas) LA máximo
Incômodo sério, dia e noite 55 16 -
Área de estar externa
Incômodo moderado, dia e noite 50 16 -
Clareza de fala e incômodo
Habitação, interior 35 16
moderado, dia e noite
Quartos internos Distúrbios de sono, noite 30 8 45
Quartos externos Distúrbios de sono, noite 45 8 60
Salas de aula e pré- Distúrbios de sono, janela aberta
35 Durante a aula -
escolas, interior (valores externos)
Clareza de fala, distúrbio na
Quartos de pré-escola,
extração de informação, 30 Hora de dormir 45
interior
comunicação por mensagem
Escola, playground
Incômodo (fonte externa) 55 Durante o jogo -
externo
Hospital, quartos da
Distúrbios de sono, noite 30 8 45
enfermaria, interior
O mais
Distúrbios de sono, dia e noite baixo
Hospitais, quartos de
possível
tratamento, interior
Interferência no descanso e na
70 24 110
recuperação
Áreas industriais, de
shoppings comerciais
Perda de audição 100 4 110
e de tráfego, interior e
exterior
Cerimônias, festivais e
Perda de audição (frequentadores:
eventos de 85 1 110
menos de 5 vezes por ano)
entretenimento
Endereços públicos,
Perda de audição 85 #1 1 110
interior e exterior
Música e outros sons - - 140 #2
Perda de audição (valor de campo
através de headphones
livre)
/ fones de ouvido - - 120 #2
Sons de impulso de Perda de audição (adultos) Áreas externas tranquilas existentes
brinquedos, fogos de deveriam ser preservadas e razão entre
artifício e armas de Perda de audição (crianças) ruído intruso e som ambiente deve ser

61
fogo mantida baixa
O mais
Exterior em parques e
Interrupção da tranquilidade baixo
áreas de conservação
possível
#1: Sob headphones, adaptado para valores de campo livre.
#2: Pico de pressão sonora (não LAF, máximo) medido a 100mm do ouvido.
Fonte: OMS (1999), adaptado pelos autores.

Nessa pesquisa, foi adotado o limite mais restritivo para área de estar externa (50dB (A)) de forma a
evitar efeitos negativos à saúde humana. Os valores medidos foram anotados no protocolo que também
contém o horário da medição e o endereço da praça. Posteriormente, esses dados foram agrupados em uma
tabela, de forma que as informações foram reunidas em uma única base de dados.

4. RESULTADOS
A média do ruído nas 87 praças avaliadas de Juiz de Fora foi de 58,6 dB (A), o que está acima dos limites
definidos pelas duas referências adotadas nesse artigo (Figura 4). A praça com nível sonoro mais alto foi a
Alfredo Lage, apresentando 82 dB (A) no momento da medição. Esse valor pode ser explicado devido a sua
proximidade com a Avenida Brasil, importante via da cidade, onde ocorre um fluxo intenso de veículos. Já a
praça Carlos Rutier apresentou 36 dB (A), o nível sonoro mais baixo encontrado. Isso pode ser explicado
também por sua localização, uma vez que se situa no Bairro Granbery, majoritariamente residencial, e não
possui vias de fluxo intenso nas redondezas. Por outro lado, 62% das praças ultrapassam o limite de 55dB
(A), similarmente aos valores encontrados por Zannin (2006). Já a média do ruído nas praças da cidade
(58dB (A)) ficou no limite apontado por Jeon e Hong (2015) em Madri (55-58dB (A)).
Apenas 33 praças (38% do total) atendem ao valor definido pela NBR 10.151. Entretanto, utilizando o
limite recomendado pela OMS, esse percentual reduz para apenas 18% (16 praças). Assim, 71 praças (82%
do total) não atendem simultaneamente aos dois critérios indicados e apenas 16 praças avaliadas encontram-
se adequadas em relação ao nível de pressão sonora. Essas praças são: Adelia Saggioro, Ana Esmeria,
Cardoso Sobrinho, Carlos Rutier, Déa Caputo Monachesi, De Esporte e Lazer Arnaldo Roldão, Gruta Nossa
Senhora Aparecida, Jarbas de Lery Santos, João Bernardino Pires, Linhares, Mahatma Ghandi (Trovadores),
Presidente Kennedy, Santa Paula, Santos Dumont, Sylvia Faria Barros, Vila Esperança. Esses casos podem
ser explicados pelo uso do solo majoritariamente residencial no entorno dessas praças. Além disso, 14 delas
possuem área gramada e todas apresentam de 75 a 100% de visibilidade do entorno, demonstrando que essas
praças não são demasiadamente extensas. Esses casos também se encontram afastados de vias de grande
fluxo (exceto a Praça Jarbas de Lery Santos), o que pode explicar a intensidade sonora dentro dos limites
recomendados. Dentre as praças apresentadas como adequadas, apenas uma encontra-se próxima a uma via
de fluxo intenso, a Praça Jarbas de Lery Santos. O baixo valor de nível sonoro medido pode ser explicado
pela dimensão da praça, que por ser extensa, o aparelho ficou distante da via.

62
Figura 4 – Resultado das medições por praça (Fonte: Autores).

Dentre as praças avaliadas, 8 (9% do total) registraram níveis extremamente elevados de ruído
(acima de 70dB (A)), sendo essas: 1º de abril, Alcides Antônio de Almeida, Antônio Matheus de Oliveira,
Engenheiro Murilo de Abreu, José de Castro Barbosa, Manoel Visona Marques, Parque Halfeld e Sebastião
Prefeito Filho. Morfologicamente, encontram-se localizadas dentro da malha urbana ou próximas ao centro
da cidade, sendo em alguns casos cercadas por vias de grande fluxo. Uma vez que a aferição foi feita
estrategicamente no período da tarde, o fluxo de pedestres no interior e ao redor das praças também pode ter
sido responsável por esse alto nível de ruído, pois algumas praças são frequentadas diariamente nos horários
de maior fluxo.
Para aferir com maior precisão a condição sonora das praças, seria necessário um novo estudo,
considerando pontos de medição não só no centro, mas também nas extremidades das praças de forma a
considerar a heterogeneidade sonora do espaço. Além disso, é importante ressaltar que para aferições mais
acuradas, seria necessário que todas as medições fossem realizadas com decibelímetros. É necessário
observar, contudo, que os limites estabelecidos pelas normas e utilizados como referência neste artigo podem
estar desatualizados para a atual realidade urbana, visto que as cidades apresentam um desenvolvimento
constante e consequentemente, aumento da pressão sonora. Ainda assim, é preciso que as avaliações
considerem os padrões estabelecidos, uma vez que os valores obtidos estão acima dos aceitáveis e podem ser
prejudiciais à saúde humana.

63
5. CONCLUSÕES
Este estudo avaliou o nível de ruído de 78% do total de áreas externas públicas consideradas praças na
cidade de Juiz de Fora - MG, totalizando 87 praças. As definições das praças avaliadas levaram em
consideração a listagem definida pela prefeitura municipal e seu uso. Assim, terrenos baldios, canteiros ou
trevos, foram descartados, apensar de denominados como ‘praças’ pelo poder público. A avaliação se deu
através de medições sonoras in loco com decibelímetros e aplicativos de aferição do nível sonoro e da
comparação com valores limites estabelecidos pela NBR 10.151 (2003) e pela OMS (1999). Vale ressaltar
que a utilização de smartphones é uma limitação do estudo, pois apesar de o equipamento ter apresentado
resultados semelhantes ao decibelímetro no período em que foi testado, esta não é uma ferramenta com
acurácia para a análise.
Das praças avaliadas, 71 casos não atendem aos critérios estabelecidos pelas normas utilizadas como
referência, portanto apenas 16 praças na cidade de Juiz de Fora encontram-se adequadas em relação ao nível
de pressão sonora. Essas praças encontram-se em áreas predominantemente residenciais e, em sua maioria
(93% das praças consideradas adequadas), distantes de áreas de fluxo intenso de automóveis. A avaliação
permitiu entender a realidade da poluição sonora das praças de Juiz de Fora. Deste modo, viu-se que a 82%
delas estão sujeitas ao alto nível de ruído, fazendo com que, muitas vezes não consigam transmitir bem-estar
como área de lazer. Este estudo contribui com o poder público ao fornecer dados que permitam avaliar e
identificar pontos mais ou menos críticos, de forma a indicar ações corretivas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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habitadas, visando o conforto da comunidade - Procedimento. Rio de Janeiro, 2003.
BISTAFA, S. R. Acústica aplicada ao controle do ruído. 2 ed. São Paulo: Blucher, 2011.
CALLEJA, A., DÍAZ-BALTEIRO, L., MERCHAN, C., SOLIÑO, M. Acoustic and economic valuation of soundscape: An
application to the ‘Retiro’ Urban Forest Park. Urban Forestry & Urban Greening, v. 27, p. 272-278, 2017.
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<https://www.doe.gov.my/portalv1/en/info-umum/the-planning-guidelines-for-environmental-noise-limits-and-control/272>.
Acesso em: 21 jan. 2019.
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content/uploads/2018/01/ITDP_TA_CAMINHABILIDADE_V2_ABRIL_2018.pdf>. Acesso em: 19 jan. 2019.
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and Urban Planning, v. 141, p. 100–111, 2015.
MCCORMACK, G. R., ROCK, M., TOOHEY, A. M., HIGNELL, D. Characteristics of urban parks associated with park use
and physical activity: A review of qualitative research. Health & Place, v. 16, p. 712–726, 2010.
MURGEL, E. Fundamentos de Acústica Ambiental. Senac São Paulo, 2017.
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healthy life years lost in Europe 2011. Copenhagen: World Health Organization Regional Office for Europe. Disponível
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ZHANG, X., BA, M., KANG, J., MENG, Q. Effect of soundscape dimensions on acoustic comfort in urban open public spaces.
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64
ANÁLISE DA INSERÇÃO DAS VARIÁVEIS ACÚSTICAS COMO
INSTRUMENTOS DE GESTÃO URBANA, ESTUDO DE CASO: CÁCERES-
MT
Izabela Carolina Torres Buffon (1); Erika Fernanda Toledo Borges (2);
Tamaris da Costa Brasileiro(3).
(1) Graduanda em engenharia civil, izabelabuffon@gmail.com, UNEMAT
(2) Profª Doutora em engenharia civil, erika.borges.acustica@gmail.com, UNEMAT
(3) Profª Doutoranda em arquitetura, tamarisbrasileiro@gmail.com, UFRN

RESUMO
Como forma de ser melhorado o planejamento urbano visando atenuar o ruído nas cidades, normas e
legislações referentes à poluição sonora surgiram, abordando os parâmetros para avaliação do incômodo do
ruído em ambientes externos. No Brasil, destacam-se as resoluções publicadas pelo Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA) e as normas elaboradas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT). Apesar da disposição das normas brasileiras, a utilização de mapeamento sonoro não é uma
ferramenta amplamente difundida no país. Nessa perspectiva surgem os seguintes questionamentos: a) Qual
é a importância dos dados obtidos nos mapas de ruído? b) Quais são os desdobramentos dos mapas de ruído?
c) Qual é a metodologia adotada para introduzir a variável ruído no Plano Diretor das cidades? Este trabalho
teve o objetivo de avaliar o impacto sonoro gerado pelo ruído na cidade de Cáceres-MT e desenvolver uma
metodologia para inserção das variáveis sonoras nos instrumentos de planejamento afim de permitir a criação
de diretrizes projetuais para mitigação do ruído urbano. A metodologia de desenvolvimento baseou-se na
elaboração de um diagnóstico através de mapeamento acústico do ruído de tráfego, avaliação de ruído
ambiental em zonas sensíveis como escolas e hospitais e uma leitura comunitária para avaliação da
percepção da sociedade sobre a poluição sonora, seguido de um prognóstico e de implementação de
estratégias de ação junto às minutas de lei a serem aprovadas pela câmara municipal. Com o resultado foi
possível ser implementado e proposto estratégias e ações para o Plano Diretor Municipal, principalmente em
forma de Minutas de Lei, como a elaboração de Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) para os novos
empreendimentos com atividades geradoras de poluição sonora, estabelece que para todas áreas e usos os
limites de níveis sonoro, em decibéis, serão limitados por aqueles descritos na NBR 10151 (ABNT/ 2019),
sendo que as atividades potencialmente causadoras de ruídos deverão dar solução de tratamento acústico aos
ambientes geradores ou afetados.
Palavras-chave: plano diretor; mapa de ruído; zoneamento sonoro.

ABSTRACT
As a way to improve urban planning in order to mitigate noise in cities, standards and laws regarding noise
pollution have arisen, addressing the parameters for noise nuisance evaluation in outdoor environments. In
Brazil, it is highlighted the resolutions published by the Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)
and the standard developed by the Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Despite the provision
of Brazilian standards, the use of sound mapping is not a widely diffused tool in the country. From this
perspective the following questions arise: a) What is the importance of the data obtained in the noise maps?
b) What are the ramifications of noise maps? c) What is the methodology used to introduce the noise variable
in the cities Master Plan? The objective of this work was to evaluate the sound impact generated by noise in
the city of Cáceres-MT and to develop a methodology for the inclusion of sound variables in the planning
instruments in order to allow the creation of design guidelines for urban noise mitigation. The development
methodology was based on the elaboration of a diagnosis through acoustic mapping of traffic noise,
evaluation of environmental noise in sensitive areas such as schools and hospitals and a community reading
to assess the perception of society about noise pollution, followed by a prognosis and implementation of
action strategies along with Drafts of Law to be approved by the city council. With the result it was possible
to implement and propose strategies and actions for the Municipal Master Plan, mainly as Drafts of Law,

65
such as the elaboration of the Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) for new enterprises with activities that
generate noise pollution, establishes that for all areas and uses the limits of sound levels, in decibels, will be
limited by those described in ABNT NBR 10151 (ABNT / 2019), and the potentially noisy activities should
provide acoustic treatment solutions to the generating or affected environments.
Keywords: master plan; noise map; sound zoning.

1. INTRODUÇÃO
Segundo Vergara & de las Rivas (2004) vivemos em um mundo de cidades. A urbanização é uma evolução
social do homem, fazendo com que mais de 55% da população mundial (Perspectivas da Urbanização
Mundial, NAÇÕES UNIDAS, 2018) viva em complexos urbanos de diferentes formatos, tamanhos e níveis
de desenvolvimento.
Como forma de melhorar o planejamento urbano e combater/atenuar o ruído nas cidades, surgem as
normas e legislações referentes à poluição sonora, abordando os parâmetros para avaliação do incômodo do
ruído em ambientes externos. Existem duas principais organizações para normatização internacional: a
International Organization for Standardization (ISO), que trata especialmente da metodologia e
procedimentos de comparação dos resultados, e a International Electrotechnical Commission (IEC), que
aborda os aspectos relacionados às instrumentações necessárias para avaliação do ruído ambiental (BRÜEL
& KJÆR, 2000).
No Brasil, destacam-se as resoluções publicadas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), referente à preservação do meio ambiente, e as normas elaboradas pela Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT), cujo objetivo é estabelecer parâmetros que devem ser adotados como
referência pelas legislações municipais de controle do ruído ambiental. A norma mais utilizada para o estudo
do ruído no espaço urbano é a NBR 10151 (ABNT/2019), voltada à avaliação do ruído em áreas habitadas
visando o conforto da comunidade.
Observa-se que as normas brasileiras contribuem com parâmetros e diretrizes para o estudo do ruído
urbano, mas não tornam obrigatória a elaboração dos mapas do ruído nas cidades brasileiras, como existe na
União Europeia (DIRETIVE 2002/49/EC, 2002). Além disso, percebe-se que a variável “ruído” não está
presente nos planos diretores da maioria das cidades, demonstrando então uma deficiência nessas referências
para o desenvolvimento de mapeamento sonoro e direcionamento da inserção dos dados em ferramentas de
gestão urbana.
Apesar da disposição das normas brasileiras anteriormente citadas, a utilização de mapeamento
sonoro não é uma ferramenta amplamente difundida (MENDONÇA, et al., 2013). Nessa perspectiva surgem
os seguintes questionamentos: a)Qual é a importância dos dados obtidos nos mapas de ruído? b)Quais são os
desdobramentos dos mapas de ruído? c)Qual é a metodologia adotada para introduzir a variável ruído no
Plano Diretor (PD) das cidades?
Segundo Holtz (2012) o mapeamento de ruídos no Brasil e sua avaliação ainda estão em fase inicial,
com escassez de autores e pouco incentivo dos órgãos de meio ambiente. Como consequência os dados ficam
restritos apenas para aplicação no âmbito acadêmico em estudos de casos específicos.
Diante disto, a presente pesquisa parte do problema da falta de inserção de dados acústicos no
contexto atual de formulação de propostas e diretrizes na legislação urbanística. Como forma de incentivar as
demais cidades brasileiras, Cáceres, situada no estado do Mato Grosso, realizou, em 2019, a revisão de seu
Plano Diretor e evidenciou a importância da inserção das variáveis ambientais. Portanto, adicionou as
variáveis físico-ambientais: climáticas, poluição do ar, da água e sonora. Parte da equipe produtora do artigo
atuou ativamente na elaboração do Plano Diretor, trabalhando nas questões ambientais da cidade, como na
elaboração do mapa de ruído disposto neste trabalho e estudo da variável ruído.

2. OBJETIVO
O objetivo geral da pesquisa é avaliar o impacto sonoro gerado pelo ruído na cidade de Cáceres-MT e
desenvolver uma metodologia para inserção das variáveis sonoras nos instrumentos de gestão urbana a fim
de permitir a criação de diretrizes projetuais para mitigação do ruído urbano.

3. MÉTODO
A metodologia de desenvolvimento do Plano Diretor baseia-se na elaboração de um diagnóstico, seguido de
um prognóstico e posterior implementação de estratégias de ação junto às minutas de lei a serem aprovadas
pela câmara municipal.
A etapa do diagnóstico contou com a elaboração de um mapa de ruído segundo Guilherme (2018) e
avaliação ambiental em pontos estratégicos para identificação dos limites de emissão de ruído segundo a

66
NBR 10151 (ABNT/ 2019) (para analisar proximidade com escolas, hospitais e pontos críticos), bem como
avaliações de emissões em bares e casas de shows.
A cidade de estudo para mapeamento estratégico e avaliação está situado no ponto de confluência
entre o rio Paraguai e as rodovias BR-070, BR–174 e BR-364, com uma área territorial de 24.796,8 km². A
projeção populacional realizada pelo IBGE para o ano de 2017 atualizou a população total do município para
91.271 habitantes, tendo a 5ª maior população do estado de Mato Grosso, o mapa com seu perímetro urbano
e zona de expansão encontra-se na Figura 1.
Figura 1: Mapa do perímetro urbano e zona de expansão do município.

Fonte: Adaptado de Diagnóstico PDM-2017.

A etapa de prognóstico foi desenvolvida junto aos dados técnicos coletados anteriormente. Nesta
etapa foram apontadas as situações problemáticas e ações necessárias para tentar saná-las, após a análise do
mapa de ruído e atividades poluentes no âmbito sonoro. As minutas de lei desenvolvidas como produto do
Plano Diretor Municipal de Cáceres foram pontualmente avaliadas para contemplar a avaliação técnica do
impacto sonoro no meio urbano estudado, seguindo o que sugere Diretiva Europeia e suas obrigatoriedades,
como possíveis adaptações. A metodologia é exemplificada no fluxograma a seguir.

3.1 Diagnóstico
O diagnóstico contém todas a informações relevantes para possível criação de propostas, levantamento de
dados e delimitação das questões urbanas, como aspectos históricos, dados socioeconômicos, saúde,
educação, turismo, cultura, indicadores sociais, aspectos físicos, áreas verdes, poluição: sonora, visual, do ar
e da água, uso e ocupação do solo, aspectos climáticos, habitação, entre diversos outros tópicos. Para o artigo

67
em estudo foram utilizados os dados do diagnóstico publicado, referentes a poluição sonora. A avaliação de
ruído em Cáceres buscou analisar diferentes regiões em diversas situações de uso, pois através disto, surgem
meios para interpretar o nível de exposição da população ao ruído e propor melhorias para adequação aos
níveis de conforto para população.

3.1.1 Mapa de Ruído


O mapa de Ruído desenvolvido foi elaborado seguido os procedimentos a seguir, levando em consideração
diversas adaptações para a cidade de Cáceres, considerada de pequeno porte.

3.1.2 Software Predictor Lima ®


Atualmente existem vários softwares computacionais para elaboração de mapas de ruído urbano, com
diversas características para inserção de dados, o software utilizado foi Predictor LimA, Bruel & Kjaer.
Possui um sistema de modelagem amplo, permitindo que o usuário obtenha resultados do ambiente muito
realistas, calcula o nível de ruído em locais de interesse, com fontes pontuais ou móveis, que se propagam
através de obstáculos.

3.1.3 Coleta de dados


Segundo Brasileiro (2017) para início de inserção de metodologia e avaliação de parâmetros, uma análise
bibliográfica dos conceitos acústicos em espaços urbanos deve ser realizada, a fim de delimitar as variáveis
subjetiva da área em estudo. Para o programa processar os mapas, existe a necessidade de inserção de uma
série de dados relacionados as características físico-ambientais, ao volume de tráfego e as medições sonoras.
As características observadas na modelagem da cidade de Cáceres foram: hierarquia das vias,
configuração das quadras na malha urbana. Na Tabela 2 encontram-se informações referentes a cada tópico,
as principais fontes de informações foram a Prefeitura Municipal de Cáceres, visitas em loco e auxílio do
programa Google Earth. Os parâmetros referentes ao tráfego como dados de volume obtidos nas medições
realizadas, seus métodos, e fontes estão dispostos na Tabela 3. A velocidade média dos veículos foi adotada
de acordo com a velocidade diretriz das vias em estudo.
Tabela 2: Características morfológicas
Características Dados Método
Caracterização das vias em arterial, secundária e de distribuição,
Hierarquia das vias Pesquisa de campo, mapa de arruamento
de acordo com volume de tráfego
Pesquisa bibliográfica e de campo, por
Áreas verdes densas Localização das áreas verdes pertencentes à área urbana
meio de observações
Configuração das Características geométricas das quadras e ruas do perímetro Pesquisa de campo, por meio de
quadras urbano observações, anotações
Fonte: Adaptado de Brasileiro, para o caso de Cáceres-MT (2017).
Tabela 3: Parâmetros de tráfego
Característica Dados Método Fonte Banco
Contagem (veículos leves e pesados) que circulam Pesquisa de campo, Visitas in
Volume do tráfego total Tabelas
nas vias da área em estudo contagem manual loco
Velocidade média dos
Velocidade diretriz da via Pesquisa documental DNIT Tabelas
veículos
Fonte: Adaptado de Brasileiro, para o caso de Cáceres-MT (2017).

Segundo Brasileiro (2017), a configuração geométrica da via influencia o ruído emitido pela fonte
sonora, então se faz necessário o entendimento de cada particularidade das vias. Os tipos de vias, natureza,
característica geométrica e via escolhida para representação estão presentes na Tabela 3.
Tabela 4: Tipos de vias e vias escolhidas
Tipo de via Natureza do tráfego Escolhida
Velocidade média (em torno de 60 km/h) com possibilidade de circulação mais BR 070 - TRAJETO
Arterial
rápida em horário de pouco movimento e noturno. URBANO
Velocidade limitada: 60 km/h. Circulação do tipo acelerada com alterações e freadas.
Avenidas: Talhamares, 7
Secundária Poucos veículos pesados. Todos os tipos de circulação conflitante: motos, pedestres
setembro, Getúlio Vargas
e veículos.
Fraca velocidade. Todos os tipos de circulação: veículos leves, motocicletas e Ruas: Jaburu, Cel. José
De distribuição
pedestres. Poucos veículos pesados. Circulação com acelerações e freadas. Dulce, João Pessoa
Fonte: Adaptado de Brasileiro, para o caso de Cáceres-MT (2017).

Simultaneamente à contagem de veículos, foi realizado o levantamento de campo usando um


sonômetro tipo Classe 1, da fabricante Bruel&Kjaer, 2270, para validação dos dados, com o objetivo de
registrar o LAeq e comparar com o nível equivalente contínuo para o dia-tarde-noite (LDEN), que possibilita

68
avaliar a incomodidade e é parâmetro de comparação entre mapas de ruído desenvolvidos, de acordo com a
Diretiva Europeia. As amostragens são de 10 minutos, no circuito de resposta rápida “Fast” (conforme
sugere Anexo A da NBR 10151 (ABNT/ 2019)), ponderada na curvatura A, aferindo então o LAeq,10 minutos. A
medição seguiu de acordo com todos os requisitos dos itens 5.1 e 5.2 da NBR 10151 (ABNT/ 2019).
Após a coleta de dados, iniciou-se a etapa da modelagem geométrica da região no programa
computacional AutoCAD, deixando como informação somente as dimensões de área, organização de
quadras e ruas. Posteriormente, o desenho foi exportado para o software Predictor LimA no formato (*.dxf),
e recebeu acréscimo de informações, a exemplo dos dados de altura das edificações, que foi determinada
através de pesquisa em campo, chegando a um valor médio de 4 metros de altura.
Inserido os dados e realizado os cálculos pelo programa, fez-se a validação do modelo, comparando
os resultados obtidos em campo (LAeq e LDEN) com os valores exibidos no programa. Foram realizadas
medições em pontos estratégicos (Figura 2), dos quais a escolha objetivava caracterizar as diversas
categorias de vias. Posteriormente, os dados coletados nesses pontos foram extrapolados para vias de mesma
categoria. As Figuras 3, 4 e 5 demostram as medições realizadas em cada tipo de via.

Figura 2: Localização dos pontos na malha urbana com auxílio do software Google Earth Pro. Fonte: Google Earth.

Figura 3: Via arterial, BR - Figura 4: Via secundária, Figura 5: Via de distribuição, Rua
070. Fonte: Diagnóstico Avenida Talhamares. Fonte: Jaburu. Fonte: Diagnóstico PDM
PDM – 2017. Diagnóstico PDM – 2017. – 2017.

Os resultados obtidos na coleta de dados estão expressos na Tabela 5, com informações referentes aos
pontos, contagem de veículos no intervalo de 10 minutos que posteriormente foram ajustados para o
intervalo de 1 hora (nos períodos matutino e vespertino, respectivamente) e valores de LAeq obtidos com o
Sonômetro.
Tabela 5: Contagem de veículos em 10 minutos
Contagem de veículos em 10 minutos (simultâneo a LAeq
medições de LAeq, 10 minutos) dB(A)
Local Sentido motos VL VP caminhão
Centro 30 37 6 5 68
BR070 Cuiabá 42 30 6 4
(Arterial) Centro 7 17 2 4
66,6
Cuiabá 24 25 7 4

69
Centro 46 19 8 2
Av. 70,4
Talhamares BR 33 29 5 1
Centro 51 34 11 1
72
BR 50 39 7 0
único 10 2 0 0 65,3
Rua Jaburu
único 4 4 0 0 61,2
Rua Cel. único 21 29 2 0 63,2
José Dulce único 15 19 7 1 63,7
centro 73 52 5 5
69,8
Av. 7 oposto 95 75 16 5
setembro centro 61 64 7 2
71,6
oposto 130 131 16 1
Rua João único 37 54 10 0 65,5
Pessoa único 53 77 17 3 69,4

prefeitura 38 26 9 5
69,2
Av. centro 24 32 5 1
Getúlio
Vargas prefeitura 69 38 7 0
70
centro 36 27 7 0
Fonte: Adaptado de diagnóstico de PDM de Cáceres – 2017.

Com a inserção dos dados o mapa foi processado pelo Predictor LimA, nos planos horizontais (Grid
Noise Map) de acordo com a Norma ISO 9613-Road, após de introduzidas informações em todas as vias da
cidade, o resultado do mapeamento está disposto na Figura 6, com configuração de malha 100x100, usando
como indicador de ruído o LDEN com valores de ruído variando conforme legenda, referente a todos períodos
de medição). Observam-se extensas áreas onde o nível de ruído está acima de 65 dB (roxo), principalmente
na via arterial (BR-070) e vias secundárias sendo este o limite de exposição no período diurno para todas as
áreas, exceto a industrial, para não gerar efeitos psico-fisiológicos à população. Excede-se todos os limites de
exposição no período noturno para todas as áreas, de acordo com NBR 10151 (ABNT/ 2019).

Figura 6: Mapa de ruído, Cáceres-MT. Fonte: Diagnóstico PDM – 2017.

70
3.1.4 Ruído Ambiental
A avaliação de ruído buscou também analisar diferentes regiões em diversas situações de uso. Analisando as
áreas sensíveis ao ruído, como hospitais (Hospital São Luiz, Figura 7) escolas (Colégio Imaculada
Conceição, Figura 8) e faculdades (Faculdade do Pantanal – FAPAN), sendo as áreas que se encontram na
segunda posição de restrição da NBR 10151 (ABNT/ 2019)). E casas noturnas (Grellas Bar), bares com
música ao vivo no período noturno (Praça Barão) e caixas de som espalhadas pela cidade com intenção de
publicidade no período diurno (em frente do comércio, na Rua Cel. José Dulce, FiguraFigura 10). Os pontos
foram avaliados com auxílio do sonômetro tipo Classe1, da fabricante Bruel&Kjaer, 2270. A tabela 5 mostra
os dados do nível de ruído ambiental in loco.

Figura 8: Levantamento de dados,


Figura 09: Levantamento de dados,
Figura 7: Levantamento de dados, medição de LAeq em frente ao Colégio
medição de LAeq, caixas de som na
medição de LAeq em frente ao Imaculada Conceição. Fonte:
frente do comércio, na Rua Cel. José
Hospital São Luiz.Fonte: Diagnóstico PDM – 2017.
Dulce. Fonte: Diagnóstico PDM –
Diagnóstico PDM – 2017. 2017.

Tabela 6: Nível de ruído em pontos na malha urbana


Ruído ambiental LAeq, 10 min
Local Período
noturno 73,4
Praça Barão
noturno 82,1
CIC matutino 68,3
Hospital São Luiz matutino 69,3
FAPAN noturno 62,6
noturno 77,9 (1 min.)
Grellas Bar
noturno 70,5
Caixa de som em frente do comércio, na Rua Cel. José Dulce diurno 70

Fonte: Diagnóstico PDM – 2017.

Em todas as situações o nível de ruído ultrapassou o permitido pela NBR 10151 (ABNT/ 2019).
Atentando-se para o colégio, hospital e faculdade que ultrapassaram em 19, 18 e 12 dB(A), respectivamente,
os limites estabelecidos, podendo, para esses casos, o nível mais intenso ser justificado por se localizarem em
vias com intenso tráfego de veículos e próximos a ponto de semáforos e cruzamento de ruas, ruído gerado
pela frenagem e aceleração de veículos. A Praça Barão, o Grellas Bar e o comércio encontram-se em área
mista, com vocação recreacional, os limites ultrapassaram valores permitidos em cerca de 27 dB(A) (Praça
Barão), todos se encontram com níveis acima dos limites salutares de 55 dB(A) (noturno) e 65 dB(A)
(diurno), sendo para esses pontos a utilização de caixas e amplificadores de som a principal causa do ruído
tão elevado.

3.1.5 Leitura Comunitária


A participação da sociedade é obrigatória na elaboração e validação do Plano Diretor no qual se faz uma
relação à atual situação de Cáceres, no que tange aos temas abordados na revisão do Plano Diretor. Como
exemplo de uma das atividades com a população, cita-se a oficina realizada com alunos de escolas
municipais, escolhidas de acordo com sua localização no tecido urbano. Escolas localizadas no centro
(Escola Isabel Campos), na região industrial (Escola Raquel Ramão) e em região residencial (Escola
Tancredo Neves). As atividades buscavam analisar a percepção das crianças referentes a poluição e
degradação ambiental. A Tabela 7 refere-se aos dados retirados da Leitura Comunitária publicada no site do

71
Plano Diretor de Cáceres. Ao total foram entrevistadas 115 crianças do 5º ano do ensino fundamental público
e para elas as atividades reconhecidas como poluidoras e degradantes foram, respectivamente, queimadas,
lixo no rio e desmatamento, e as demais ações citadas correspondem a um valor inferior a 10% do total
(foram escolhidas as crianças deste ano pois já obtinham conhecimento sobre poluição, atividades
degradantes e meio ambiente). Percebe-se que nenhuma das crianças citou a poluição sonora como um tipo
de poluição, até mesmo aquelas que estudam em uma das escolas situadas no centro com níveis de ruído
acima de 65 dB, localizada na Avenida Talhamares, demonstrando que o ruído é um agente agressor
imperceptível à população, mesmo afetando de forma direta os estudantes. Isso pode ser justificado pela falta
de atividades no município que busquem conscientizar as crianças do impacto sonoro.
Tabela 7: Adaptado de tabela de atividades consideradas como poluição e degradação ambiental.
Descrição Escola Isabel Campos Escola Raquel Ramão Escola Tancredo Neves Total
1 Queimada 16 12 11 39
2 Desmatamento 4 7 8 19
3 Lixo no rio 5 7 11 23
4 Agressão aos animais 3 1 1 5
5 Poluição do ar 2 3 3 8
6 Lixo na rua 2 2 6 10
7 Lixo na natureza 1 1 1 3
8 Queimada espontânea 1 0 0 1
9 Sem degradação no quintal 0 5 1 6
10 Carros poluindo 0 0 1 1
Total 34 38 43 115
Fonte: Plano Diretor de Cáceres, 2018.

3.2 Prognóstico
Sendo considerada como segunda etapa do Plano Diretor e resultado das informações obtidas, o prognóstico
conta com informações do diagnóstico e propostas, retratando a situação atual e consequências a curto e
longo prazo. Na Tabela 8, encontram-se dados obtidos a partir de pesquisa em campo, das principais
atividades que causam incomodo e/ou níveis de ruído acima do permitido, embora já se tenha constatado que
o ruído do tráfego somente, já impacta de maneira significativa para a poluição sonora na cidade de Cáceres.
Na Tabela 8 encontram-se informações das consequências a curto e longo prazo se nenhuma atividade
corretiva for tomada.
Tabela 8: Diagnóstico Situação Atual
Problemas e restrições encontrados Propostas

- Criação de um órgão de controle e fiscalização comunitário, de


- Falta de fiscalização e controle nas atividades que impactam a fácil acesso através de aplicativos em celulares (uso de imagens e
coletividade com a poluição sonora; sons) para dar agilidade e eficiência no processo de
- Somente o ruído do tráfego já é capaz de expor a população a monitoramento;
níveis sonoros acima dos limites considerados seguros, em - Integração das diversas atividades em diferentes usos do solo
todas as categorias de vias, exceto as vias locais; urbano com o zoneamento urbano, visando menos impacto
- A paisagem sonora no Centro Histórico/Praça Barão está ambiental pelo ruído;
alterada com os efeitos do ruído do tráfego e atividades -Criação de projetos para conscientização da população,
corriqueiras (caixas de som, música ao vivo em ambiente relacionadas a impacto sonoro e suas consequências na qualidade
aberto, som para anúncios). de vida.

Fonte: Adaptado de Prognóstico PDM – 2018.


Tabela 9: Dados do Prognóstico
Prognóstico
Curto prazo Longo prazo
- Maior exposição ao ruído por parte da população;
- Desvalorização imobiliária;
- Mais impacto sonoro na saúde da população.

Fonte: Adaptado de Prognóstico PDM - 2018.


3.3 Minutas de Lei
Incluindo todas as características e particularidades do município, o Plano Diretor deve conter em sua
estrutura propostas, geralmente na forma de Minutas de Lei com as transformações e modificações que se
buscam alcançar. No âmbito sonoro, foram propostas algumas minutas a fim de reduzir e atenuar o ruído e
consequentemente gerar o conforto acústico da população.

72
3.3.1 Minuta de lei do Plano Diretor participativo de desenvolvimento sustentável do município de Cáceres –
MT
De acordo com o art. 86 a paisagem urbana deverá ter como um dos objetivos assegurar o equilíbrio visual e
sonoro entre os diversos elementos que compõem a paisagem urbana.
O art. 49 expõe que o uso do solo foi classificado em residencial, não-residencial ou misto, sendo
que todas as atividades podem se instalar na Macrozona Urbana, desde que atendam às condições
estabelecidas nesta Lei que são determinadas em função de 3 variáveis, sendo uma delas: o Nível de
Incomodidade (disposto na minuta através de um anexo contendo todas as atividades e níveis de incômodo
que varia entre: não incômodo (0) e valores de 1 a 4, como também a obrigatoriedade ou não de se
desenvolver um Estudo do Impacto de Vizinhança (EIV)). Para as atividades analisadas nesse artigo, no
tópico de ruído ambiental, como casas noturnas, hospital geral, estabelecimentos de ensino privado formal
(fundamental e médio) e estabelecimentos de ensino superior a minuta considera obrigatória a elaboração do
EIV. Sendo que para todos as áreas e usos os limites de níveis sonoro, em decibéis, serão limitados por
aqueles descritos na NBR 10151 (ABNT/ 2019).
De acordo com o Estatuto das Cidades (Lei 10257/01) o EIV deve ser executado contemplando os
efeitos positivos e negativos do empreendimento ou atividade em relação à qualidade de vida da população.
Para a cidade de Cáceres os novos empreendimentos que causem grande impacto urbano e ambiental deverão
considerar a elaboração do EIV para as atividades geradoras da poluição sonora, como uma das questões
obrigatórias de estudo e respectiva solução, ponto este não elencado como obrigatório no Estatuto das
Cidades e considerado nas minutas de lei do município. E para os casos que o impacto do ruído ultrapassar
os limites o Poder Público Municipal deverá solicitar, como condição para aprovação do projeto, alterações e
complementações no mesmo, visando à execução de melhorias na infraestrutura urbana e em seus
equipamentos para eliminar ou minimizar eventuais impactos negativos gerados pelo empreendimento,
como: ampliação e adequação do sistema viário, faixas de desaceleração, pontos de ônibus, faixas de
pedestres e semaforização; e proteção acústica, uso de barreiras e outros procedimentos que minimizem os
efeitos de atividades incômodas (art. 162).

3.3.2 Minuta de lei do código de obras e posturas do município de Cáceres-MT


Segundo art. 119 as edificações destinadas a atividades potencialmente causadoras de ruídos ou a eles
expostas deverão dar solução de tratamento acústico aos ambientes geradores ou afetados, por intermédio do
planejamento da localização no lote, das barreiras e dos fechamentos, dos vãos e das aberturas, além da
adoção de materiais construtivos e de revestimentos com propriedades absorventes e/ou isolantes, de forma a
assegurar o conforto acústico interno e dos vizinhos.

3.3.3 SEÇÃO VI - Dos locais de reuniões


Considera-se, segundo a minuta, locais de reuniões as edificações, espaços, construções ou conjunto dos
mesmos, onde possa ocorrer aglomeração ou reunião de pessoas, como: clubes, feiras cobertas ou ao ar livre,
logradouro público, entre outros, que deverão conter isolamento e condicionamento acústico, de
conformidade com as normas técnicas pertinentes.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A versão anterior do Plano Diretor da cidade de Cáceres não continha orientações a respeito da variável
ruído e, consequentemente, do impacto sonoro. Por meio do diagnóstico da área, do mapeamento do ruído
(através do mapa acústico) e do prognóstico foi possível identificar vários pontos com nível de ruído acima
do permitido pelas normas nacionais. Esses resultados poderiam ter sido evitados caso houvesse um estudo
prévio da poluição sonora local, diminuindo a exposição da população ao ruído urbano, especialmente o de
tráfego, que expôs a sociedade aos limites estabelecidos pela NBR 10151 (ABNT/ 2019). Contudo, essa
pesquisa permitiu a identificação da problemática e a criação de minutas para a nova versão do Plano Diretor
da cidade, mostrando a eficácia das metodologias aplicadas e o potencial de aplicação das mesmas. Essas
minutas contêm critérios para o planejamento urbano adequado tendo em vista combater a poluição sonora
local de novos empreendimentos/reformas e atividades causadoras de impacto sonoro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.151: Níveis de ruído para conforto acústico. Rio de
Janeiro, 2000.

73
BRASILEIRO, T.; ALVES, L.; FLORENCIO, D.; ARAÚJO, V.; ARAÚJO, B.. Estado da arte dos mapas sonoros no Brasil. In
XXVIII Encontro da Sociedade Brasileira de acústica, 2018, Anais... Porto Alegre.
BRASILEIRO, Tamáris da Costa. Mapeamento sonoro: Estudo do ruído urbano no bairro Castelo Branco, em João Pessoa/PB.
2017. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017
DIRETIVA 2002/49/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 25 de junho de 2002 relativa à Avaliação e Gestão do
Ruído Ambiente. Jornal Oficial das Comunidades Europeias. 2002. Disponível em: < http://eur-
lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2002:189:0012:0025:PT:PDF> Acesso em: abril de 2019.
GUILHERME, Priscila Maria Gonçalves. Exposição da população ao ruído: Considerações para a cidade de Sinop-MT.2018. 57
f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, Universidade de Cuiabá, Cuiabá, 2018.
HOLTZ, Marcos Cesar de Barros. Avaliação qualitativa da paisagem sonora de parques urbanos. Estudo de caso: Parque Villa
Lobos, em São Paulo. São Paulo, 2012.
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pelos níveis de ruídos. Rev. Bgerrasileira de Gestão Urbana, 5(2), 63-77.
Plano Diretor de Cáceres: Diagnóstico. 2017. Disponível em: <http://www.caceres.mt.gov.br/downloads/dpd.pdf>. Acesso em: 30
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content/uploads/2018/12/Progn%C3%B3stico-do-Plano-Diretor-Municipal-de-C%C3%A1ceres-2018.pdf>. Acesso em:
15/04/2019.
Relatório de Leitura Comunitária. 2018. Disponível em: <http://projetos.unemat.br/planodiretorcac/wp-
content/uploads/2018/12/Relatorio_Leitura_Comunitaria_Final.pdf>. Acesso em: 02/02/2019.
VERGARA, A. & DE LAS RIVAS, J. L., 2004. Territórios Inteligentes. Madrid: Fundación Metrópoli.

74
APLICAÇÃO E ANÁLISE DA ISO 16251-1 PARA DETERMINAÇÃO DA
REDUÇÃO SONORA AO IMPACTO DE REVESTIMENTO RESILIENTE
FLEXÍVEL
Ricardo Netto Carminatti (1); Erasmo Felipe Vergara (2)
(1) Eng., Mestrando do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, ricardo@labcon.ufsc.br,
Universidade Federal de Santa Catarina.
(2) Dr. Eng., Professor do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, e.f.vergara@ufsc.br,
Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Engenharia Mecânica, Laboratório de Vibrações e
Acústica, Cx Postal 476, Florianópolis–SC, 88040-870, Tel.: (48) 3721 9227

RESUMO
O ruído de impacto em pisos, no Brasil, vem sendo um tema com maior evidência após a publicação da NBR
15575 (ABNT, 2013), na qual são tratadas as exigências de desempenho em edificações habitacionais.
Fabricantes e fornecedores de materiais acústicos, desta forma, sentem a necessidade de rápido
desenvolvimento de seus produtos, desde a concepção dos materiais utilizados, até os testes em laboratório e
campo, buscando o desempenho requerido pelo setor. A ISO 16251-1 (2014), recentemente publicada, traz
um procedimento alternativo aos métodos tradicionais para determinação laboratorial do isolamento acústico
ao impacto (ISO 10140-3, 2013), contando com uma bancada reduzida, de baixo custo e simplicidade
operacional. Esta pesquisa vem aplicar a ISO 16251-1 (2014) e analisar seus resultados comparativamente a
outros métodos, utilizando um revestimento resiliente flexível, composto de grânulos de pneus reciclados
aglomerados com poliuretano. Os resultados encontrados para a redução sonora ponderada do material, em
três espessuras distintas, foram 24 dB – 3 mm, 25 dB – 5 mm e 29 dB – 8 mm, mostrando-se condizentes
com a ficha técnica do fabricante (21 dB – 3 mm e 26 dB – 8 mm), e com os resultados pelo método
tradicional (24 dB – 5 mm e 25 dB – 8 mm) aplicado na pesquisa de Siqueira et al. (2018). Comparando-se
com um método analítico, encontra-se coerência na inclinação de aumento de 40 dB/década nas bandas de
frequência de terço de oitava, contudo o procedimento experimental adotado possui características que não
são abordadas pelo método teórico, influenciando no distanciamento dos resultados analíticos ao estudo de
caso.
Palavras-chave: isolamento acústico, ruído de impacto em pisos, revestimentos resilientes.

ABSTRACT
The impact noise in floors in Brazil has been a subject with greater evidence after the publication of NBR
15575 (ABNT, 2013), where the performance requirements in residential buildings are addressed. In this
way, manufacturers and suppliers of acoustic materials feel the need for faster development of their products,
from the materials design, to laboratory and field tests, seeking the performance required by the sector. The
recently published ISO 16251-1 (2014) provides an alternative procedure to the traditional methods for
laboratory determination of impact sound insulation (ISO 10140-3, 2013), with a compact slab of low cost
and operational simplicity. This research applies ISO 16251-1 (2014) and analyzes its results comparatively
to other methods, using a flexible resilient covering composed of polyurethane agglomerated recycled tire
granules. The results obtained for the weighted impact sound reduction in three different thicknesses were 24
dB - 3 mm, 25 dB – 5 mm and 29 dB - 8 mm, being compatible with the manufacturer's technical data sheet
(21 dB – 3 mm and 26 dB – 8 mm), and with the research results by the traditional method (24 dB – 5 mm
and 25 dB – 8 mm) applied by Siqueira et al. (2018). Comparing with an analytical method, the increase
slope of 40 dB/decade in the octave third frequency bands is consistent, however the experimental procedure
adopted has characteristics that are not approached by the theoretical method, influencing the distancing of
the analytical results to the case study.
Keywords: acoustic insulation, noise impact floors, resilient coverings.

75
1. INTRODUÇÃO
Uma das causas de ruídos em edifícios é o som de impacto produzido em pisos por objetos caindo ou pessoas
caminhando. Em cada país, as exigências acústicas definem demandas que visem minimizar os problemas
produzidos por ruídos, os quais em geral exigem a verificação dos níveis de ruído de impacto no ambiente
receptor e seu correspondente valor ponderado (PEREIRA et al., 2014). Godinho et al. (2010),
complementam que soluções construtivas que minimizam a transmissão dos ruídos de impacto tem sido um
tema de interesse não somente para a comunidade científica mas também para a indústria da construção.
A norma brasileira de desempenho em edificações habitacionais NBR 15575 (ABNT, 2013),
estabelece requisitos mínimos de atendimento e eficiência acústica. Fabricantes e fornecedores de materiais
acústicos têm sentido a necessidade de desenvolvimento de seus produtos que, em geral, são compostos por
revestimentos flexíveis, pisos flutuantes e lajes flutuantes. Estas soluções, de forma padrão, são avaliadas
experimentalmente em laboratório a partir dos procedimentos definidos pela ISO 10140-3 (2010), e ainda de
acordo com Pereira et al. (2014), esse método envolve o uso de infraestrutura com alto custo de construção e
manutenção, [...] e, no estágio inicial do desenvolvimento de produtos pode ser mais interessante usar outras
metodologias, com custos mais baixos, para prever a redução do impacto do revestimento de pisos.
Sommerfeld (2009), comenta que foi desenvolvida uma compacta instalação de medição que pode ser
usada com poucas adequações e que fornece bons resultados, baixo esforço e fácil manuseio e, ainda, cumpre
os requisitos. O procedimento, descrito no documento técnico da ISO 16251-1 (2014), requer uma instalação
de laje de pequenas dimensões suportada, na qual medidas de vibração são obtidas quando uma máquina de
impacto normalizada excita o sistema, sem e com o revestimento na laje (PEREIRA et al., 2014).
Os revestimentos resilientes flexíveis são muito utilizados em sistemas de pisos flutuantes (camada
intermediária entre piso e contrapiso), ou como acabamento final em ambientes com alto teor de impacto ao
piso, como academias, playgrounds, ou até mesmo ambientes corporativos. Alguns exemplos destes
produtos são os carpetes, os pisos laminados e as mantas emborrachadas (caso deste estudo).
Conforme mensionado por Hopkings (2007), a análise teórica de um sistema composto por uma laje
coberta por um revestimento resiliente flexível sendo excitada pela máquina de impacto, leva em
consideração uma dimensão infinita para a laje. Segundo Beranek e Vér (2006), neste método é assumido
que a laje é homogênea e isotrópica, isto é, que suas propriedades físicas são constantes independentes da
direção. Por outro lado, o estudo de Pereira et al. (2014) verificou que a configuração da laje em formato
reduzido produz pelo menos dois efeitos na faixa de frequências entre 10 Hz e 1000 Hz, sendo a primeira
identificada como a frequência de ressonância do efeito massa-mola-massa, próxima de 40 Hz, e a segunda
como o primeiro modo de flexão da bancada, próxima de 550 Hz.
Outros fatores significativos ao método teórico são intrínsicos à escolha do material empregado para
análise, pois suas características mecânicas, em especial seu módulo de elasticidade dinâmico e sua
espessura, tem influência direta nos resultados teóricos. Sobre a relação entre essas duas variáveis, Beranek e
Vér (2006) comentam que, para a maioria dos materiais elásticos, o módulo de elasticidade dinâmico é
aproximadamente o dobro do módulo de elasticidade estático (módulo de Young). Contudo, para o material
do revestimento em estudo, de acordo com Gere e Goodno (2011), a borracha apresenta valores entre 0,0007
GPa e 0,004 GPa, que reflete uma variação de 571% na característica geral do seu módulo de elasticidade.
Também vale ressaltar, conforme comentado por Bodlund e Jonasson (1983) apud Hopkings (2007) que “os
resultados podem diferir dependendo se a cobertura é solta ou se um adesivo de fixação é usado” 1 na
aplicação do revestimento na laje.
Diante disso, podemos prever diferenças entre o método experimental da bancada em tamanho
reduzido e o método analítico com laje adimensional, assim como variações entre as características
mecânicas teóricas do revestimento, e seu comportamento experimental.

2. OBJETIVO
Aplicar e analisar os procedimentos da ISO 16251-1 (2014), em laboratório, determinando a redução sonora
ao impacto de um revestimento resiliente flexível amostral, a partir da comparação de seus resultados com
dados técnicos fornecidos pelo fabricante, resultados experimentais encontrados na literatura científica pelo
método tradicional da ISO 10140-3 (2010), e por um método analítico.

3. MÉTODO
Esta pesquisa é de caráter quantitativo e pretende gerar conhecimentos para aplicação prática. Desse modo,
quanto a sua classificação e finalidade, esta pesquisa se caracteriza como aplicada ou tecnológica.

1 Tradução livre pelos autores.

76
Dar-se-á ênfase aos procedimentos aplicados de modo experimental em laboratório, conforme
referências normativas (ISO 16251-1:2014 e ISO 717-2:2013), e com um estudo de caso da aplicação destas
em um revestimento resiliente flexível escolhido, a fim de verificar com profundidade as técnicas
empregadas, resultados obtidos e suas variáveis.

3.1. Procedimento operacional


3.1.1. Montagem do sistema
Seguindo os padrões da norma referenciada, foi produzida uma laje de concreto em tamanho reduzido, com
as dimensões de 1,20 m x 0,80 m, com 0,20 m de espessura, e característica estrutural buscando aproximação
ao concreto denso (heavyweight base floors) com densidade de 2.300 kg/m³. A laje foi suportada por quatro
pilares de concreto, isolados por amortecedores elásticos em todas extremidades, com área de contato
máxima de 0,10 m x 0,10 m. Para excitação mecânica do sistema utilizou-se uma máquina de impacto
padrão, e para captação da aceleração vibracional, acelerômetros acoplados abaixo da laje e conectados a um
sistema de processamento de dados (software Siemens LMS – Spectral Impact Test).
A redução da transmissão do ruído de impacto, principal indicador vibroacústico procurado, foi
pesquisado mediante aplicação de um revestimento de grânulos de pneus reciclados aglomerados com
poliuretano. As amostras, em três espessuras diferentes – 3 mm, 5 mm e 8 mm, continham dimensões
padrões de 0,50 m x 0,80 m. Conforme montagem completa do procedimento apresentado na Figura 1, fez-se
a captação da transmissão da aceleração vibracional, com e sem a aplicação do revestimento, determinando
assim, a diferença entre as duas medidas, apresentadas na Equação 1.
Ln = Ln (laje) - Ln (manta) Equação 1

Sendo:
ΔLn é redução sonora ao impacto [dB];
Ln é o nível de aceleração vibracional [dB];

Figura 1 – (a) Bancada de laje reduzida, e (b) Bancada com aplicação do revestimento.

3.1.2. Equipamentos
Abaixo se apresentam as características dos equipamentos, e na Figura 2 sua montagem durante testes.
• Máquina de Impacto Brüel & Kjaer, modelo DK-2850;
• Acelerômetros Brüel & Kjaer, modelo 4519;
• Calibrador de vibração Brüel & Kjaer, modelo 4294;
• Sistema de aquisição de dados LMS Scadas Mobile, modelo SCM201;
• Software Siemens LMS Test Lab – Spectral Impact Test;

77
Figura 2 - Equipamentos
3.1.3. Medições
Antes de iniciar a excitação do sistema, é captado o ruído de fundo por meio da vibração estrutural do
sistema, caso ocorra, inerente ao espaço físico de testes. Após iniciada excitação mecânica, tomam-se
medidas em duas posições para a máquina de impacto, com utilização de quatro acelerômetros na parte
inferior da bancada, e obtêm-se assim, oito resultados de aceleração vibracional para cada ciclo de testes. Na
aquisição de dados, cada ciclo repetiu-se três vezes, gerando uma média para cada um dos oito resultados, e
seus respectivos desvios. Para um ciclo, o tempo total adotado foi de 22,4 s – 70 registros de 0,32 s. Com os
valores captados, aplicou-se a Equação 2, conforme ISO 16251-1 (2014).

1 Tm a(t ) 2 dt
La = 10  log  Equação 2
Tm 0 a 02

Sendo:
La é o nível de aceleração vibracional [dB];
Tm é o tempo total de integração [s];
a(t) é a aceleração vibracional instantânea [m/s²];
dt é o instante de tempo [s];
a₀ é a aceleração vibracional de referência (1x10⁻⁶) [m/s²];2
Os resultados das medições, com e sem revestimento, devem ser corrigidos pelo ruído de fundo,
conforme correspondente indicação na ISO 16251-1 (2014).
A diferença de nível de aceleração vibratória, para cada posição de acelerômetro e posição de
máquina de impacto, é individualmente calculada, para após obter-se a média aritmética da redução total do
impacto sonoro que o revestimento proporciona. Com o resultado final, utilizando os valores encontrados nas
bandas de frequência central de terço de oitava (entre 100 a 3.150 Hz), calculou-se a redução do impacto
sonoro ponderado (ΔLw), aplicando-se a Equação 3, conforme procedimentos da norma ISO 717-2 (2013).
A ponderação dos níveis de redução sonora levam em consideração a curva de referência para impacto
sonoro e os valores para o nível de pressão sonora normalizados do piso de referência da referida norma.
Lw = 78 - Ln, r, w Equação 3

Sendo:
ΔLw é redução sonora ponderada ao impacto [dB];
Ln,r,w é o nível de aceleração vibracional calculado, normalizado ponderado pelo piso de referência [dB];

3.1.4. Referências de redução sonora comparativas


O revestimento escolhido para testes, apresenta duas fontes comparativas com os resultados de níveis de
redução sonora ponderados, conforme Tabela 1. Na ficha técnica solicitada ao fabricante, é apresentado seu
valor individual, sem menção à qual tipo de procedimento laboratorial foi realizado. Na pesquisa de Siqueira

2 Referência normativa segundo a ISO 16251-1 (2014).

78
et al. (2018), os resultados foram encontrados aplicando-se a metodologia tradicional, conforme ISO 10140-
3 (2010).
Tabela 10 – Referências de redução sonora comparativas.
Espessura da manta ΔLw (Fabricante) ΔLw (Siqueira et al., 2018)
3 mm 21 -
5 mm - 24
8 mm 26 25

3.2 Método Analítico


Para Beranek e Vér (2006), a curva padrão que apresenta a melhoria do isolamento ao impacto - Figura 3(a),
com a relação de ΔLn versus a frequência, foi medida e reportada para uma grande variedade de
revestimentos elásticos. Ainda, mencionando que as Figuras 3(a) e 3(b) “permitem selecionar um
revestimento elástico que alcancem o ΔLn especificado” 3 (BERANEK e VÉR, 2006), demonstram que é
possível utilizar estes gráficos para qualquer tipo de revestimento resiliente flexível.

Figura 3 – (a) Redução ao ruído de impacto, ΔLn, em função da frequência normalizada f/f₀, e (b) Seleção de um revestimento
elástico, em função da frequência característica f₀ (VÉR, 1970).

Conforme a publicação de Vér (1970), na Figura 3(a) podemos observar que a característica geral é
de um comportamento nulo abaixo da frequência normalizada do sistema (relação entre frequência requerida
e a frequência característica), e acima desta, apresenta um acréscimo linear de 40 dB/década (12 dB/oitava).
O cálculo da frequência característica do sistema de pisos, excitado pela máquina de impacto, e coberto por
um revestimento resiliente flexível, é apresentada por Vér (1970), como:

1 A E
f0 = Equação 4
2 m h

Sendo:
f₀ é frequência característica do sistema [Hz];
A é a área de contato do martelo de impacto [m²];
m é a massa do martelo de impacto [kg];
E é o módulo de Elasticidade dinâmico do revestimento [N/m²];
h é a espessura do revestimento [m];
Um exemplo trazido por Beranek e Vér (2006), evidencia a possibilidade de análise gráfica reversa
ao método de cálculo, onde, a partir do nível de redução sonora ponderado obtido experimentalmente para
uma dada frequência, descobre-se a frequência característica do sistema, assim como, a razão do módulo de
elasticidade dinâmico pela espessura da manta a ser escolhida.

3 Tradução livre pelos autores.

79
De modo a utilizar os gráficos da Figura 3 com maior precisão, pôde-se reproduzí-los e extraiu-se
suas equações aproximadas, conforme Gráficos 1(a) e 1(b), e Equações 5 e 6, respectivamente.

Gráfico 1 – (a) Reprodução e equacionamento da Figura 3(a), e (b) Reprodução e equacionamento da Figura 3(b).

Ln = 17,372 * ln(f/f 0 ) Equação 5


Sendo:
ΔLn é redução sonora ao impacto [dB];
f/f₀ é a frequência normalizada do sistema [adimensional];
E/h = (0,10 * f 01,9797 ) * 300.000 Equação 64

Sendo:
E/h é a razão do módulo de Elasticidade dinâmico versus espessura do revestimento [N/m³];
f₀ é frequência característica do sistema [Hz];

4. RESULTADOS
Os níveis de aceleração sonora (Ln) para a laje nas frequências entre 80 Hz e 5.000 Hz, com e sem as
mantas, são elucidados no Gráfico 2, e os respectivos níveis de redução sonora (ΔLn) das mantas, no Gráfico
3. Os desvios apresentados nos gráficos correspondem à faixa de variação média de 3 dB para cada uma das
curvas plotadas.

Gráfico 2 – Nível de aceleração vibracional da laje, com e sem mantas.

4 A relação psi/in = 6894,76 (N/m²) / 0,0254 (m), equivale à aproximadamente 3x10⁵ (N/m³).

80
Gráfico 3 – Nível de redução sonora das mantas.

Os valores de redução sonora ponderada, para cada uma das mantas, comparativamente a outras
referências mencionadas na Tabela 1, apresentam-se no Gráfico 4. Com relação à ficha técnica do fabricante,
há proximidade dos dados obtidos, com um erro percentual de 12% para a manta de 3 mm, e 14% para a
manta de 8 mm. Não há dado comparativo diretamente do fabricante para a manta de 5 mm, porém
observando-se as linhas de tendência dos dois resultados, estima-se que também há convergência para esta
avaliação. Pela pesquisa de Siqueira et al. (2018), os resultados apresentam erros percentuais de 4% para a
manta de 5 mm e 16% para a manta de 8 mm. Sua linha de tendência também mostra-se coerente para a
manta de 3 mm na qual não foi experimentada pela pesquisa em questão.

Gráfico 4 – Comparativo entre os dados experimentais e do fabricante.


4.1 Comparação com método analítico
As frequências características calculadas para as três mantas testadas, foram determinadas pela Equação 4, e
utilizando-se os dados divulgados pelo fabricante (razão “E/h”), conforme Tabela 2.
Tabela 2 – Dados para cálculo da frequência característica dos sistemas.
Espessura das mantas “h” (m) 0,003 0,005 0,008
Área de contato do martelo “A” (m²) 0,0007 0,0007 0,0007
Massa do martelo de impacto “m” (kg) 0,5 0,5 0,5
Razão “E/h” (N/m³) 0,34x10⁸ 0,22x10⁸ 0,27x10⁸
Frequência característica “f₀” (Hz) 34,89 28,07 31,09

Tomando como referência o gráfico da Figura 3(b), os valores da relação “E/h” utilizados na Tabela
2 são encontrados graficamente abaixo de 100 Hz para a frequência característica do sistema, que demonstra
coesão nos resultados obtidos pelo cálculo analítico.

81
Quando aplicadas as frequências características analíticas, na relação “f/f₀”, em função das bandas de
frequências centrais de terço de oitava, pela Equação 5, nota-se uma discrepância entre os resultados do
método experimental e analítico, conforme Gráfico 5, onde as linhas de tendência são provenientes da curva
experimental, e a assíntota proveniente do método analítico.

Gráfico 5 – Comparação resultado analítico e experimental de ΔLn versus f/f₀

Apesar das linhas de tendência apresentarem a correta inclinação de 40 dB/década, elas estão
defasadas abaixo da assíntota, diretamente afetadas pelos valores calculados das frequências características,
que por sua vez tem como seu único parâmetro variável, os dados externos da razão “E/h” utilizados
(fabricante).
Como prova desta teoria - utilizando o exemplo de análise gráfica reversa, com os dados
experimentais da redução sonora e as bandas de frequência centrais de terço de oitava aplicados na Equação
5, encontramos os valores para a frequência característica do sistema. Obtem-se assim, o valor médio para
cada uma das três espessuras de revestimentos testados (114,68 Hz para 3 mm; 102,25 Hz para 5 mm; e
70,85 Hz para 8 mm).
Quando plotada no Gráfico 6, a Equação 5 com as novas frequências características pelo método
inverso de cálculo, encontramos a correção ao Gráfico 5 apresentado anteriormente.

Gráfico 6 – Método gráfico reverso com ΔLn versus f/f₀.

82
A partir desta correção aplicada na Equação 6, podemos verificar a relação “E/h” utilizada na Tabela
2, porém os valores encontrados são 3,6x10⁸(N/m³) para a manta de 3mm, 2,8x10⁸(N/m³) para a manta de
5mm, e 1,3x10⁸(N/m³) para a manta de 8mm, respectivamente 406%, 1.293% e 1.325% maiores que os
dados utilizados no primeiro método direto de análise. Estes resultados não são surpreendentes quando
pondera-se a variação do módulo de elasticidade do material utilizado.

5. CONCLUSÕES
A determinação da redução sonora ponderada mediante aplicação da ISO 16251-1 (2014) e ISO 717-2
(2013), mostrou-se eficaz, metodologicamente simples e sistematicamente confiável. Os resultados obtidos
experimentalmente estão de acordo com o esperado, e comparativamente próximos de outras fontes
encontradas. Outros estudos, como o de Sommerfeld (2009), Foret et al. (2011), e Schmidt et al. (2013), já
comprovaram os resultados experimentais da ISO 16251-1 (2014) em comparação com os resultados
experimentais da ISO 10140-3 (2010), demonstrando confiabilidade do método alternativo.
A comparação com um método analítico trouxe diversas considerações sobre as características dos
materiais e do procedimento, como a influência da razão “E/h” e da consequente resposta de ressonância
(característica) do sistema, para verificação gráfica e analítica entre os resultados. Apesar da correção feita
nas frequências características do sistema para que o método gráfico analítico estivesse coerente, em teoria,
os valores de redução sonora (ΔLn) abaixo destas frequências deveriam ser nulos, que divergem do caso real
experimentado em laboratório. Sobre a comparação dos valores da razão “E/h” teóricos pelo método
analítico, e fornecidos pelo fabricante, não há como concluir para qual faixa de valores o comportamento do
sistema é mais adequado. Sugere-se em novas pequisas, a análise preliminar do comportamento elástico do
material em laboratório, para diminuir a suposição e variabilidade deste dado.
Dentre os erros aleatórios e sistemáticos, comentam-se a seguir algumas situações que podem
ocasionar desvios aos métodos experimentais e analíticos, e aos quais sugere-se maior aprofundamento em
estudos futuros.
Assim como a impossibilidade de análise da frequência de ressonância e os modos de flexão da laje
construída para os testes, por não terem sido medidos, é importante ressaltar que desvios inerentes aos
problemas de homogeneidade e isotropia também podem ter ocorrido, já que seriam necessárias uma
quantidade amostral significativa de bancadas para avaliação da ocorrência média desses efeitos. No Gráfico
2 nota-se a presença de dois picos nas frequências de 315 Hz e 800 Hz. Há possibilidade destes pontos
representarem os modos de flexão da bancada (primeiro e segundo modos), porém é inconclusivo sem seu
devido procedimento de medição.
Como uso ideal do revestimento, é recomendado pelo fabricante a aplicação de um adesivo para
fixação deste na laje. Este procedimento não foi realizado em virtude da possibilidade de flexibilizar as
trocas das mantas, e consequente diminuição no intervalo total de testes. Apesar de considerar os desvios
atribuídos neste tema, também ponderou-se as possíveis variações de temperatura, umidade e ruído de fundo,
que não eram controláveis no local de testes, e que seriam mais significativas, conforme mencionado nos
procedimentos da norma.
Esta pesquisa traz uma contribuição significativa para a disseminação do método da ISO 16251-1
(2014) no Brasil, tendo em vista o baixo número de sua abordagem na literatura científica nacional, além das
contribuições já citadas anteriormente ao processo de desenvolvimento de produtos para o setor, provendo
recursos para atendimento das exigências acústicas em face ao conforto ambiental das edificações
habitacionais brasileiras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Janeiro, 2013.
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GERE, J. GOODNO, B. Mecânica dos Materiais – Tradução da 7ª Edição Norte-Americana. 2011.
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83
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SIQUEIRA, A. PIRES, J. HEISSLER, R. OLIVEIRA, M. Análise do desempenho de camadas elásticas de pisos flutuantes. XXVIII
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VÉR, I. L. Impact Noise Isolation of Composite Floors. The Journal of the Acoustical Society of America, 50. p. 1043-1050, 1970.

AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

84
ÁREAS DE CARGA E DESCARGA E O RUÍDO AMBIENTAL: ESTUDO DE
CASO DE UM SUPERMERCADO NA CIDADE DE MACEIÓ-AL
Ana Caroline Araújo Ferreira da Silva (1); Maria Lúcia Gondim da Rosa Oiticica (2)
(1) Arquiteta e Urbanista, carolinearaujofs@gmail.com, Universidade Federal de Alagoas, (82) 98825-6241
(2) Doutora em Arquitetura e Urbanismo, mloiticica@hotmail.com, Universidade Federal de Alagoas, (82)
9982-3775

RESUMO
O indiscriminado crescimento das cidades provoca a formação de cenários desfavoráveis ao conforto e a
tranquilidade da população, seja pelo inchaço das vias pela grande frota de veículos ou pelas grandes zonas
comerciais configuradas em conjunto com zonas residenciais sem a devida proteção, os locais se
transformam e quando não planejados configuram-se locais de alta poluição sonora. Este trabalho tem o
objetivo de avaliar uma área de carga e descarga não regulamentada, de um supermercado da região, quanto
ao impacto sonoro causado para a população residente da área de estudo selecionada, localizada no bairro do
Tabuleiro dos Martins, no município de Maceió-AL. Para isso, medições sonoras foram realizadas no local
em quatro diferentes dias da semana: segunda-feira, dia de descarga de mercadorias no supermercado da
região; quarta-feira, dia típico; sábado, dia de aumento das atividades comerciais existentes em seu entorno
imediato e aos domingos, dia de maior movimentação de pedestres e veículos no local; e em quatro horários
diferentes, a fim de contemplar o horário comercial e obter um panorama geral do local. Dentre os dias
estudados o dia de maior valor do Nível de Pressão Sonora foi a segunda-feira e a fonte de maior produção
de ruído foram os caminhões que aguardavam no local para a descarga de mercadorias. A população
residente encontra-se exposta a altos níveis de pressão sonora devido a essa atividade, conforme a NBR
10151 (ABNT 2000). Dessa forma, o resultado expõe a problemática quanto ao zoneamento e ao
planejamento das cidades, assim como a regular fiscalização dos órgãos gestores a fim de garantir a
população condições básicas de conforto na vivência do espaço urbano.
Palavras-chave: ruído ambiental, acústica urbana, carga e descarga.

ABSTRACT
The indiscriminate growth of cities causes unfavorable scenarios to the comfort and tranquility of the
population, either by the swelling of the roads by the great fleet of vehicles or by the large commercial zones
configured together with residential areas without the proper protection, the places are transformed and when
unplanned locations of high noise pollution are set up. This work has the objective of evaluating an
unregulated loading and unloading area of a supermarket in the region regarding the noise impact caused to
the resident population of the selected study area located in the district of Tabuleiro dos Martins, in the
municipality of Maceió- AL. For this, sound measurements were carried out on the spot on four different
days of the week: Monday, day of unloading of goods in the Supermarket of the region; Wednesday, typical
day; Saturday, day of increase of the commercial activities existing in its immediate surroundings and on
Sundays, day of greater movement of pedestrians and vehicles in the place; and at four different times in
order to contemplate the business hours and get an overview of the place. Among the days studied, the day of
greatest value of the sound pressure level was Monday and the source of the greatest noise production was
the trucks waiting in the area for the unloading of goods. The resident population is exposed to high levels of
sound pressure due to this activity. In this way, the result exposes the problematic of zoning and city
planning, as well as the regular inspection of the management organs in order to guarantee the population
basic conditions of comfort in the experience of the Urban space.
Keywords: environmental noise, urban acoustics, loading and unloading.

85
1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento das cidades livres de planejamento adequado provoca problemas urbanos que interferem
na vivência social de cada localidade. Entre os problemas ambientais que surgem desse crescimento, um de
grande impacto na qualidade de vida da população é a poluição sonora, sendo, de acordo com a Organização
Mundial de Saúde (2017) a segunda maior poluição do mundo. Dentre as principais fontes emissoras
encontram-se o tráfego de veículos, as atividades realizadas no espaço urbano, os estabelecimentos
comerciais, indústria, templos religiosos e obras de construção civil (NUNES, 2006).
No contexto urbano, esses problemas relacionados aos ruídos crescem à medida que as cidades, a
densidade da malha urbana e o volume de tráfego aumentam. (NIEMEYER; SLAMA, 1998 apud
OLIVEIRA, 2014, p. 13). De acordo com Pereira (2014), como consequência, a população sofre com
problemas fisiológicos, como estresse, dores de cabeça e surdez a depender do tempo e da intensidade do
ruído ao qual foi exposto.
“O planejamento urbano consciente tem como objetivo conferir ordem ao desenvolvimento de um
espaço e prever soluções para as necessidades futuras” (PRINZ, 1980 apud NAGEM, 2004).
Sua execução baseia-se no conhecimento do local através da coleta de informações que o
caracterizam. Dessa forma, a identificação da origem do ruído é o primeiro passo para reduzi-lo ou eliminá-
lo. Quando o ruído for produzido através da conduta e hábitos pessoais torna-se necessária a conscientização
das pessoas. Já quando causados pela existência de comércios, indústrias, serviços, torna-se necessário o
planejamento urbano e o zoneamento quanto ao uso do solo a fim de determinar os locais de implantação dos
mesmos, evitando áreas sensíveis. Dessa forma, é possível equilibrar a inserção de novos investimentos sem
prejuízos a qualidade de vida. (COLLADOS, 1998 apud NAGEM, 2004).
A fim de tornar os aspectos sonoros da cidade determinantes para o desenvolvimento de propostas de
planejamento das cidades, surge o mapeamento sonoro, ferramenta de estudo e análise que ilustra a
distribuição geográfica da poluição sonora, destacando pontos mais críticos (GARAVELLI et al, 2010). A
ferramenta auxilia o planejamento e o zoneamento adequado das cidades de modo que as atividades que
tragam algum desconforto a população sejam dispostas em locais adequados e recebam o devido tratamento.
Ao que diz respeito as áreas de carga e descarga, elas devem ser regulamentadas através de
sinalização vertical de regulamentação e de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (1997) será feita
pelo órgão com circunscrição sobre a via.
Dentre as tipologias existentes, as áreas para carga e descarga de mercadorias podem ser
determinadas como estacionamento, normalmente regulamentada em horários específicos, evitando conflitos
com o tráfego de veículos; a área pode ser contemplada com uma infraestrutura segregada prevista na
construção da edificação em formas de baias, vias secundárias ou até mesmo pátios e garagens. Entretanto,
algumas áreas se consolidam sem o devido projeto e/ou correta sinalização visto que a fiscalização é falha.
Quando feitas dessa forma, as áreas, além de afetarem a dinâmica do tráfego local, acarretam uma série de
problemas, como: produção de ruído e acidentes de trânsito.

2. OBJETIVO
O Objetivo deste artigo é avaliar o impacto no cenário acústico local de uma área em zona residencial a partir
da existência de carga e descarga não regulamentada localizada na Rua Cel. Floriano Pimentel, no bairro do
Tabuleiro dos Martins, na cidade de Maceió-AL.

3. MÉTODO
O método deste trabalho está dividido em quatro etapas principais:
1. Reconhecimento e caracterização da área de estudo escolhida.
2. Definição dos dias e horários de medição.
3. Aferição dos dados sonoros.

3.1. Reconhecimento e Caracterização da área de estudo escolhida.


A área de estudo escolhida é o recorte da Rua Cel. Floriano Pimentel, localizada no bairro Tabuleiro do
Martins na cidade de Maceió-AL. O recorte foi escolhido a fim de contemplar uma área de carga e descarga
existente (Figura 1) no local.

86
Figura 1: Esquema de mapas do Brasil com destaque para o estado de Alagoas, de Alagoas com destaque para a capital Maceió, de
Maceió com destaque para o bairro do Tabuleiro dos Martins e do bairro para a Feirinha do Tabuleiro, onde a área de estudo está
localizada.

Localizada em um núcleo comercial conhecido como Feirinha do Tabuleiro a Rua Cel. Floriano
Pimentel, via local, tem fluxo nos dois sentidos e apresenta pavimentação mista de asfalto e barro em alguns
locais, cujo asfalto já se encontra em desgaste.
Estreita, a via de sentido duplo não é corredor de transporte público e contempla apenas o espaço para
a circulação de uma faixa em cada sentido, não apresentando condições espaciais para estacionamento.
Entretanto, apesar de estreita, a via não possui sinalização vertical de regulamentação e, dessa forma, seu uso
fica determinado pela população que trafega na região, o que por ventura, pode causar transtornos.
Por estar localizada em um núcleo comercial, existe um número significativo de edificações
comerciais existentes no recorte. Entretanto, a via em questão recebe os fundos de comércios, murados, com
acesso a funcionários e as áreas de produção e estoque. É nesse contexto que surge a área de carga e descarga
de maneira irregular. O grande comércio da região, um supermercado de vendas em atacado, utiliza a via de
carga e descarga devido ao acesso aos fundos do seu estabelecimento e ao baixo fluxo de pedestres e
veículos.
Apesar do quantitativo de edificações comerciais, observa-se a presença relevante de residências
unifamiliares. Para melhor entender o uso do solo na área de estudo, na Figura 2, mostram-se por cores as
diferentes tipologias de edificações na região: residencial, comercial, uso misto (residencial e
comercial/serviço), serviço, institucional, áreas verdes (praças e canteiros) e vazios. Ademais, destaca-se a
localização do supermercado de vendas em atacado, cuja área de carga e descarga está sendo avaliada, bem
como o local do ponto de medição, destacado com a letra P. As áreas citadas encontram-se na Rua Cel
Floriano Pimentel - identificada na Figura 2 - cujo fluxo veicular se divide nos dois sentidos.

87
Figura 2: Recorte de estudo escolhido com os padrões de uso e ocupação do solo presentes na localidade. Destaque para o ponto P,
local da realização das medições e para o ponto de origem, direção e sentido das Figuras 03, 04, 05 e 06.

A área estudada encontra-se, de acordo com o Código de Urbanismo e Edificações do Município de


Maceió (MACEIÓ, 2007), na Zona Residencial 2. Entende-se:
As Zonas Residenciais do tipo 2 (ZR-2) são as áreas na cidade destinadas à ocupação predominante
do uso residencial, observando também as seguintes diretrizes:
I – incentivo à verticalização alta de edificações populares;
II - possibilidade de implantação de atividades comerciais, de serviços e industriais de todos os
grupos previstos nesta Lei, sem prejuízo da avaliação dos impactos ambientais e urbanos;
III – estímulo à promoção de habitação de interesse social. (Lei Municipal Nº 5.593, 2007, p.
07)

A partir da análise do reconhecimento acerca da Zona a qual a área está inserida foi possível
determinar de acordo com a NBR 10151 (ABNT, 2000) o valor em dB(A) do Nível de Critério de Avaliação5
durante o período diurno, destacado na tabela 1, abaixo.
Tabela 11: Níveis de Critério de Avaliação em dB(A) estabelecido pela NBR 10151 (ABNT, 2000).
Tipos de área Diurno
Áreas de sítios e fazendas 40
Área estritamente residencial urbana e de hospitais ou de escolas 50
Área mista, predominantemente residencial 55
Área mista, com vocação comercial e administrativa 60
Área mista, com vocação recreacional 65
Área predominantemente industrial 70

3.2. Definição dos dias e horários de medição


Posterior à determinação e reconhecimento do recorte de estudo foram escolhidos os dias em que as
medições seriam realizadas. Esta escolha foi embasada de modo a mapear acusticamente diferentes cenários
da Rua Cel. Floriano Pimentel, sendo assim, foram feitas visitas in loco nos sete dias da semana para
reconhecimento do cenário. Posteriormente às visitas, foi possível agrupar cenários similares e determinar
quais os dias de estudo escolhidos. A partir da análise, foram determinados quatro dias da semana: segunda-
feira, quarta-feira, sábado e domingo. Por estar próximo a uma área de comércio, sua rotina de
funcionamento também foi avaliada a fim de analisar possíveis interferências nas dinâmicas do lugar
escolhido.
• Segunda-feira:
O mercado público e a feira livre, próximos a área de estudo, não funcionam, o que diminui o
movimento fazendo com que alguns lojistas também fechem seus comércios neste dia. Entretanto, não é o
que acontece com a maioria, as barracas em frente a feira livre e a grande parte dos estabelecimentos
comerciais funcionam normalmente apesar de apresentarem baixo movimento. Quanto ao fluxo de pedestres
e moradores do recorte analisado, não foi observado fluxo significativo.

5 Valores recomendados para cada localidade após análise do uso do solo local de acordo com a NBR 10151 (ABNT, 2000).

88
No que diz respeito ao tráfego de veículos, o trânsito flui tranquilamente em seu entorno imediato e a
Rua Cel. Floriano Pimentel apresenta um alto fluxo de caminhões que formam filas no aguardo da liberação
das cargas para descarga no supermercado. Ressalta-se que as filas permanecem durante todo o dia e as
cargas aguardam horas para liberação (Figura 3).

Figura 3: Levantamento fotográfico Rua Cel. Floriano Pimentel na segunda-feira.

• Quarta-feira:
A área comercial, no entorno do ponto analisado, apresenta funcionamento normal de todos os
lojistas, do mercado da produção e da feira livre, com ressalvas a feirantes que vêm de outros municípios
apenas no fim de semana. Apesar de ser em menor quantidade, o ponto ainda apresenta alguns caminhões
estacionados na via para realizar a descarga no supermercado (Figura 4). De maneira geral, o trânsito não
apresenta grandes dificuldades. Quanto aos pedestres, o fluxo é similar ao que ocorrem as segundas-feiras.

Figura 4: Levantamento fotográfico Rua Cel. Floriano Pimentel na quarta-feira.


• Sábado:
O funcionamento da área comercial do entorno é normal, todos os lojistas, mercado da produção e a
feira livre, que neste dia recebe feirantes de outros municípios, funcionam. Na Rua Cel. Floriano Pimentel, o
movimento veicular no período da manhã aumenta. Não é realizada carga ou descarga de produtos no local e
a via vira apoio para a área comercial como estacionamento para veículos (Figura 5). Por não ser um dia útil,
moradores da localidade ficam mais em suas residências, o que adiciona uma dinâmica nova ao recorte, visto
que, os mesmos utilizam seus espaços de lazer em frente à própria casa para diversão e descanso.

Figura 5: Levantamento fotográfico Rua Cel. Floriano Pimentel no sábado.


• Domingo:
Quanto a área comercial de entorno o funcionamento é normal, todos os locais encontram-se em
funcionamento. Este é o dia de maior movimentação de pedestres e veículos no entorno, visto que, é o “dia
de feira.” Aos domingos, não é realizada descargas de mercadorias e a via é utilizada como estacionamento
(Figura 6). Não é realizada carga e descarga no local e a via vira apoio para a área comercial como
estacionamento para veículos.

89
Figura 6: Levantamento fotográfico Rua Cel. Floriano Pimentel no domingo.

Além das medições possibilitarem a verificação do comportamento sonoro do recorte em diferentes


dias da semana (cenários), a avaliação buscou mostrar um panorama geral do perfil sonoro durante o período
diurno, contemplando o horário comercial de funcionamento do local. Para isso, foram realizadas medições
em quatro horários diferentes: 08:30h; 11:00h; 13:30h e às 16:00h.

3.3. Levantamento dos dados sonoros


Após determinação dos cenários que seriam investigados, finalizando a escolha de dias e horários, foi feita a
coleta de dados sonoros in loco. Para a coleta foi utilizado o sonômetro classe I Solo da 01dB, equipamento
responsável pela medição do nível de pressão sonora e da intensidade do som em várias bandas de frequência
e filtros de ponderação (A, B, C ou D), cuja unidade de medida é o decibel. Por ser um trabalho que analisa o
impacto do ruído urbano na vida da população, para estas medições foi utilizado o filtro de ponderação A,
ponderação com maior proximidade ao ouvido humano e os níveis de pressão sonora foram obtidos em
LAeq6.

Figura 7: sonômetro Solo da 01 dB.

Para a definição dos parâmetros básicos a fim de nortear e padronizar as medições foram respeitados
procedimentos estabelecidos na NBR 10151 (ABNT, 2000). Na normativa é estabelecido que medições
sonoras externas a edificação devem seguir as seguintes recomendações:
• Quanto ao aparelho de medição: o microfone do sonômetro deverá ser protegido,
com o uso de protetor, contra a ação de ventos.
• Quanto ao posicionamento do aparelho de medição: o aparelho deverá ficar a 1,20m
de altura em relação ao solo em que o tripé será apoiado; o tripé deverá ser colocado
obedecendo a uma distância mínima de 2m de qualquer barreira física vertical.
O ponto medido obedeceu às recomendações descritas, aferindo o nível de pressão sonora durante
cinco minutos. Tendo em vista a importância do tráfego como fonte sonora, durante todas as medições, o
volume de veículos foi contabilizado e categorizado conforme o peso: veículos leves e veículos pesados.
Ressalta-se que devido à grande interferência acústica proveniente de motos, principalmente pela alteração
do cano de escape, elas foram separadas em uma categoria única. Sendo assim, as categorias utilizadas neste
trabalho para a contabilização de veículos foram: motos, veículos leves e veículos pesados.
Além disso, em todos os cenários, foram realizados um levantamento fotográfico e observações
quanto a dinâmica do local de medição a fim de possibilitar uma imersão e melhores conhecimentos ao
ambiente analisado. As imagens foram feitas através de uma câmera de celular cuja propriedade é da autora.

6Nível de pressão sonora equivalente (LAeq): Nível obtido a partir do valor médio quadrático da pressão sonora (com a ponderação
A) referente a todo o intervalo de medição (ABNT, 2000).

90
A partir da escolha do objeto de estudo, foi determinado um ponto de medição na via escolhida,
contemplando a área de carga e descarga. A seguir, serão analisadas as medições do nível de pressão sonora
do objeto de estudo.

4. ANÁLISE DE RESULTADOS
4.1. Analises quantitativas dos níveis de pressão sonora
Esta análise é relacionada aos dados sonoros objetivos (dados quantitativos) obtidos através das medições
acústicas realizadas durante o período diurno. A fim de garantir maior conhecimento do perfil sonoro da
localidade, a partir da realização das medições, a tabela 2 foi preenchida. Nela é possível consultar os valores
medidos do Nível de Pressão Sonora Equivalente (LAeq), em todos os horários e dias da semana, além do
quantitativo de veículos registrado. Para o estudo, foi realizada a média diária do NPS (obtida através de
uma equação matemática de média simples), visto que, o objetivo é reconhecer o perfil sonoro diário e
contrapor com as atividades ali realizadas.
Rua Cel. Floriano Pimentel
QUANT. / PORCENT.
Laeq MÉDIA NBR Ônibus/Camin
DIAS HORÁRIOS Motos Carros leves
(dB(A)) DIÁRIA 10151 hão Total
Nº (% ) Nº (% ) Nº (% )
08:30h 75,2
11:00h 66,1
SEGUNDA - FEIRA 69,3 55 4 50,00% 2 25,00% 2 25,00% 8
13:30h 66,6
16:00h 69,4
08:30h 58,4
11:00h 57,6
QUARTA - FEIRA 63,5 55 1 20,00% 3 60,00% 1 20,00% 4
13:30h 61,6
16:00h 76,3
08:30h 65,4
11:00h 63,4
SÁBADO 63,7 55 3 25,00% 9 75,00% 0 0,00% 12
13:30h 65,2
16:00h 60,7
08:30h 57,9
11:00h 65,7
DOMINGO 64,5 55 5 35,70% 9 64,90% 0 0,00% 14
13:30h 65,6
16:00h 66
Tabela 12: dados sonoros e quantitativo veicular Rua Cel. Floriano Pimentel.
Ao observar a tabela é possível constatar que os dias de maior fluxo veicular são sábado e domingo.
Além disso, nenhum dos dias estudados apresentou valores abaixo do Nível de Critério de Avaliação
recomendado.
A fim de sintetizar os dados levantados e facilitar a compreensão e visualização do comportamento
da área analisada, foi elaborada uma ficha síntese com as informações coletadas e tratadas (quadro 1).

RUA CEL. FLORIANO PIMENTEL


CARACTERÍSTICAS ESPACIAIS
QUANTITATIVO VEICULAR POR DIA DA SEMANA:
PRINCIPAIS

• RUA COM FUNDOS DE ESTABELECIMENTOS


COMERCIAIS;
• RUA PREDOMINANTEMENTE RESIDENCIAL;
• VIA COM FLUXO BAIXO;
• PRESENÇA DE ATIVIDADES DE CARGA E
DESCARGA DESREGULAMENTADA DE UM
GRANDE SUPERMERCADO DA REGIÃO.

GRÁFICO DOS VALORES REGISTRADOS EM dB(A)

91
Quadro 1: Ficha Síntese da área de estudo.
A segunda-feira foi o dia com maior Nível de Pressão Sonora, sendo o ruído excedente ao
recomendado pela NBR 10151 (ABNT, 2000) superior a 14 dB(A).
Durante as segundas feiras a presença de caminhões enfileirados no local aguardando liberação para
descarga de produtos transportados para o supermercado interfere na dinâmica sonora. Apesar dos
caminhões se encontrarem enfileirados e desligados, em sua grande maioria, ruídos constantes de geradores,
responsáveis pela manutenção de alimentos que necessitam de refrigeração, são produzidos. Ressalta-se que
a atividade de descarga de produtos não é regulamentada e é feita de maneira indiscriminada.
Os dias de maior fluxo de veículos, sábado e domingo, apresentaram ruídos excedentes que
ultrapassam 8 dB(A). Sendo assim, registra-se como fonte sonora principal o tráfego. Entretanto, estes dias
são também os dias de maior atividade comercial na Feirinha do Tabuleiro, onde o ponto está inserido.
Nestes dias de feira, caixas de som são colocadas para o anúncio de produtos, pessoas trafegam nas ruas,
calçadas são ocupadas por barracas e o local apresenta diferentes configurações e fontes geradoras de ruído.
Quanto a quarta-feira, dia representativo e similar ao comportamento dos outros dias da semana, foi o
dia que apresentou o menor ruído excedente, equivalendo-se, entretanto, aos valores do fim de semana, visto
que a diferença é mínima.

5. CONCLUSÕES
Diante das avaliações quantitativas realizadas constatou-se que o dia com maior produção de ruído é a
segunda-feira, quando a principal fonte sonora é pontual: caminhões que aguardam autorização para
descarga no local. A fonte sonora mencionada anteriormente apresenta maior impacto ao local do que os
veículos leves e pesados, considerados uma das principais fontes sonoras urbanas e que apresentaram maior
fluxo no sábado e domingo. Além disso, estes dias são os principais dias de feira e, apesar de todas as
diferentes atividades e configurações espaciais que modificam o perfil sonoro do entorno imediato do ponto
em questão, estas, não foram suficientes para produzir grande impacto sonoro aos residentes da área.
O supermercado em questão apresenta pátio interno para a atividade, entretanto, devido a quantidade
de veículos que chegam durante as segundas feiras, não é possível comportar todos em seu espaço, sendo
assim, os caminhões aguardam liberação estacionados na via. Dentre as medidas que podem ser tomadas, o
cumprimento do papel do órgão gestor quanto ao planejamento e devido zoneamento das atividades
comerciais é essencial, ademais a fiscalização e regulamentação devem ser adequadas.
Quanto ao supermercado, medidas como o controle de horários e, consequentemente, do quantitativo
de caminhões que chegam para descarregar mercadorias seriam úteis para que o mesmo não tivesse a
capacidade de seu pátio para cargas e descargas no nível máximo, não utilizando a rua em questão para
estacionamento.

92
Estudos a respeito do tema quando divulgados alertam a população para direitos muitas vezes
desconhecidos. A poluição sonora é um dos principais problemas ambientais e é de responsabilidade do
Estado implantar medidas que possibilitem a população viver confortavelmente em suas cidades.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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o conforto da comunidade - procedimento. Rio de Janeiro, 2000.
BRASIL. Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Lei Nº 9.503, de 23 de Setembro de 1997 que institui o Código de Trânsito
Brasileiro. República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9503.htm>. Acesso em:
05 abr. 2019.
COLLADOS, E. Prevención del impacto acústico de nuevos proyectos. In: CONGRESSO IBEROAMERICANO DE ACÚSTICA,
1; SIMPÓSIO DE METROLOGIA E NORMALIZAÇÃO EM ACÚSTICA DO MERCOSUL, 1; ENCONTRO DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ACÚSTICA, 18, 1998, Florianópolis. Anais... Florianópolis: SOBRAC, 1998. p. 169-177.
GARAVELLI, S. L. et al. Mapa de ruído como ferramenta de gestão da poluição sonora: estudo de caso de Águas Claras – DF. In:
4º CONGRESSO LUSO BRASILEIRO PARA O PLANEJAMENTO URBANO, REGIONAL, INTEGRADO, SUSTENTÁVEL,
2010, Faro. Anais eletrônicos... Faro: PLURIS, 2010. Disponível em: <http://pluris2010.civil.uminho.pt/Actas/PDF/Paper377.pdf>
Acesso em: 05 mai. 2017.
MACEIÓ. Código de Urbanismo e Edificações do Município de Maceió. Lei nº 5.593, de 08 de fevereiro de 2007. Disponível em:
http://www.maceio.al.gov.br/sedet/ legislacao/. Acesso em: 5 jan. 2019.
NAGEM, M. P. Mapeamento e analise do ruído ambiental: diretrizes e metodologia. 2004. 133 f. Dissertação (mestrado) –
Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2004.
NIEMEYER, M. L.; SLAMA, J. G. Ruído e a cidade: elementos do ruído urbano. In: RIO, V. D. (Org.). Arquitetura: pesquisa &
projeto. São Paulo: Proeditores, Rio de Janeiro: FAU UFRJ, 1998. p. 76-89.
NUNES, M. Uma breve visão sobre o Ruído Urbano. Revista Educação e Tecnologia, Espírito Santo, n. 2, p 135-146, out./mar.
2006. Disponível em: <http://www.faacz.com.br/revistaeletronica/links/edicoes/2005_02/edutec_marcus_ruido_2005_2.pdf> Acesso
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OLIVEIRA, P. L. Ruídos da fé: impactos em áreas residenciais. 2014. 94 f. Trabalho Final de Graduação – Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Alagoas, Maceió. 2014.
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Disponível em: <http://www.proacustica.org.br/publicacoes/artigos-sobre-acustica-e-temas-relacionados/oms-considera-poluicao-
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PEREIRA, A. B. dos S. Poluição sonora na cidade de Campina Grande-Paraíba. 2014. 33 f. Trabalho Final de Graduação –
Centro de Ciências Jurídicas, Universidade Estadual da Paraíba, Paraíba. 2014.
PRINZ, D. Tradução Luis Leitão. Urbanismo 1: projecto urbano. Lisboa: Presença, 1980. 189p.

AGRADECIMENTOS
Agradecimento ao Grupo de Estudos do Ambiente sonoro por compartilhar experiências diárias, pelo
empenho ao desenvolvimento de pesquisas científicas que contemplem o espaço urbano e o conforto da
população, além da disponibilização dos equipamentos e auxílio para estudos da temática abordada.

93
AVALIAÇÃO ACÚSTICA DE ESCRITÓRIO EM EDIFÍCIO MODERNISTA
NA CIDADE DE SÃO PAULO
Ranny Michalski (1); Lícia Santiago (2); Nickolas Pinheiro (3); Vivian Pancheri (4); Elcione
Moraes (5)
(1) Doutora, Professora do Departamento de Tecnologia da Arquitetura, rannym@usp.br, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Rua do Lago, 876, São Paulo, SP, 05508-080, Tel.:
(11) 95054 2288.
(2) Arquiteta e Urbanista, liciamns@gmail.com, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal do Pará, Rua Augusto Corrêa, 479, Belém, PA, 66075-110, Tel.: (91) 98493 5759.
(3) Arquiteto e Urbanista, pinheironickolas@gmail.com, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Pará, Rua Augusto Corrêa, 479, Belém, PA, 66075-110, Tel.: (91) 98198 1463.
(4) Graduanda de Arquitetura e Urbanismo, vivian.pancheri@usp.br, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de São Paulo, Rua do Lago, 876, São Paulo, SP, 05508-080, Tel.: (13) 99112 2727.
(5) Doutora, Professora, elcione@hotmail.com, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal do Pará, Rua Augusto Corrêa, 479, Belém, PA, 66075-110, Tel.: (91) 8147 9797.

RESUMO
O trabalho consiste na avaliação da qualidade acústica de um escritório comercial em um edifício ícone da
Arquitetura Modernista Brasileira, localizado no centro da cidade de São Paulo: o edifício do Banco Sul-
Americano (atual Banco Itaú), projetado pelo arquiteto Rino Levi. Os métodos utilizados na pesquisa são
experimental e qualitativo (por meio de levantamentos, entrevistas e medições de parâmetros acústicos, em
campo), apoiados pelo método numérico. São avaliados o nível de pressão sonora, níveis estatísticos, a
modulação equivalente e o tempo de reverberação. Os resultados são analisados e comparados com critérios
de conforto, permitindo assim quantificar suas deficiências acústicas, de forma a elaborar uma proposta de
intervenção para que o local alcance a qualidade acústica adequada para a atividade realizada no mesmo. A
pesquisa pode ajudar a entender o conforto geral do edifício, a fim de alcançar uma análise crítica que vai
além das questões quantitativas de conforto ambiental.
Palavras-chave: acústica arquitetônica, acústica de salas, conforto acústico, escritórios.

ABSTRACT
The research evaluates the acoustical quality of a commercial office in an icon building of the Brazilian
Modernist Architecture, located in São Paulo city: the Sul-Americano Bank building (current Itaú Bank),
designed by the architect Rino Levi. The methods used in the research are experimental and qualitative
(through surveys, interviews, and field measurements of acoustic parameters), supported by numerical
method. The sound pressure level, percentile levels, the equivalent modulation and the reverberation times
are evaluated. The results are analyzed and compared with comfort criteria, allowing to quantify its acoustic
faults, in order to elaborate an intervention proposal so that the place reaches the suitable acoustic quality for
its usual activity. The study can help understand the overall comfort of the building, in order to achieve a
critical analysis that goes beyond the quantitative issues of environmental comfort.
Keywords: architectural acoustics, room acoustics, acoustic comfort, offices.

94
1. INTRODUÇÃO
No Laboratório de Conforto Ambiental e Eficiência Energética, do Departamento de Tecnologia da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, vem sendo desenvolvidas pesquisas de
conforto ambiental (térmico, lumínico e ergonômico) em edifícios ícones da Arquitetura Modernista
Brasileira, produzidos entre 1930 e 1966 na cidade de São Paulo (GONÇALVES et al, 2018; MONROY,
2017). As pesquisas enfatizam a necessidade de se avaliar também o conforto acústico nesses locais.
Neste sentido, o presente trabalho consiste na avaliação acústica de três salas (duas em planta livre e
uma de reunião) de um escritório comercial em um edifício ícone da Arquitetura Modernista Brasileira,
localizado no centro da cidade de São Paulo: o edifício do Banco Sul-Americano (atual Banco Itaú). Os
resultados permitem quantificar deficiências acústicas, e por consequência, elaborar uma proposta de
melhoria.

1.1. Qualidade acústica em ambiente de trabalho


Os layouts mais comuns em escritórios atualmente são aqueles compostos por uma grande planta livre (open
plan), pequenas áreas sociais e alguns ambientes celulares fechados. Escritórios de planta livre e áreas
comuns prezam pela maior comunicação e interatividade entre seus usuários e são importantes para trabalhos
em equipe. As áreas sociais, como cafés, ambientes de descanso ou até de jogos, têm ganho cada vez mais
espaço em locais de trabalho, onde os funcionários podem interagir socialmente, descansar e até realizar
pequenas reuniões informais. Entretanto, esses locais acabam não levando em consideração aspectos de
privacidade da fala, capacidade de concentração e nem conforto acústico. Dessa forma, ambientes fechados
ainda são necessários para trabalhos que exijam concentração e privacidade.
A qualidade acústica nos ambientes de trabalho deve ser fator crucial na etapa de projeto dos mesmos.
Ambientes que não fornecem conforto acústico adequado impactam negativamente na saúde, bem-estar,
satisfação, motivação, produtividade e desempenho dos trabalhadores, podendo inclusive causar
afastamentos e gastos extras por motivos médicos (FONSECA et al, 2017).
Escritórios localizados em grandes centros urbanos acabam sendo impactados pela poluição sonora
presente nas áreas urbanas, tornando-se muitas vezes ambientes ruidosos. Ruído devido a tráfego em vias
com alta concentração de veículos, vizinhos, máquinas, indústrias, atividades comerciais e recreativas ou
outras fontes incomoda e prejudica a qualidade de vida da população. Além das próprias fontes sonoras, a
urbanização e o adensamento vertical nas cidades formam cânions urbanos que funcionam como caixas de
ressonância acústica. A exposição prolongada a altos níveis de ruído pode causar danos à saúde, desde
efeitos psicológicos à perda auditiva.
Além dos efeitos citados anteriormente, ambientes ruidosos tendem a piorar com o tempo, pois as
pessoas começam a falar mais alto à medida que fica mais barulhento ao redor delas (o conhecido efeito
Lombard). Como resultado, a distração e o incômodo aumentam com o aumento do barulho, enquanto a
saúde, a concentração e a produtividade caem substancialmente - a última em até 66%, de acordo com
estudos (STEELCASE 360).
Apesar de muitos edifícios serem inicialmente projetados para determinados usos, os mesmos podem
depois de alguns anos passar a ter novos usos. Isso acontece também com o ambiente externo aos ambientes
construídos. Cidades mudam, ruas mudam, e, portanto, as condições externas aos mesmos também podem
ser alteradas, alterando-se, por consequência, as condições internas. Surge assim a necessidade de se
requalificar ambientalmente alguns edifícios antigos.
No caso de espaços urbanos abertos, o tratamento acústico costuma ser complexo, pois estes
apresentam muitas variáveis que influenciam na qualidade acústica e uma grande variabilidade de condições
tipológicas, microclimáticas e de usos. Apesar da dificuldade, a análise do ruído nos centros urbanos é
necessária para que haja gerenciamento e controle de ruído nas cidades.
No caso de espaços fechados, o tratamento acústico é mais simples, podendo ser obtido por meio de
algumas estratégias, como: aumento ou diminuição da absorção sonora no ambiente; instalação de barreiras
entre a fonte e o receptor; mascaramento sonoro e mudança na orientação da fonte sonora. Equipamentos e
sistemas de ventilação e ar condicionado também influenciam na acústica do local. O maior desafio surge ao
tentar compatibilizar ventilação natural com acústica.

1.2. Edifício Banco Sul-Americano


A arquitetura modernista brasileira seguiu na oposição das vanguardas construtivas, bem como do estilo
internacional, os quais procuravam uma produção arquitetônica universal, a-histórica e a-territorial. Buscou,
na verdade, a consolidação de uma expressão cultural, atendendo diferenças mesológicas e geográficas,
como o clima (LUCCAS, 2005). Nesse contexto, o arquiteto Rino Levi possui uma grande contribuição para

95
o cenário nacional. Racionalista, usou da técnica e da ciência para produzir uma arquitetura que provia
conforto térmico, acústico e lumínico aos usuários. Para além, também buscava uma relação interior-exterior,
integrando a obra com a paisagem e/ou o espaço urbano em que esta estava inserida (TAMANINI, 2011).
O Edifício Banco Sul-Americano, ilustrado na Figura 1, foi projetado pelo escritório Rino Levi
Arquitetos Associados, entre os anos 1961-63, e faz parte do primeiro conjunto de prédios institucionais e de
serviços na Avenida Paulista, pois antes de 1952 a avenida era estritamente residencial. O Edifício foi
tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de
São Paulo (Condephaat) em 2010, e é considerado um dos principais símbolos da arquitetura moderna
comercial brasileira, além de um dos últimos trabalhos e síntese das obras do arquiteto Rino Levi, antes de
sua morte em 1965 (CARVALHO CAVALCANTI, 2009).

Figura 2 - Escritório Sala 1.

Figura 1 - Edifício Banco Sul-Americano. Figura 3 - Escritório Sala 2.

O projeto foi desenvolvido para ser a sede de um banco em um terreno com forma de trapézio, o qual
apresenta uma superfície total de 2.660 m², e está localizado na esquina da Avenida Paulista com a Rua Frei
Caneca, no centro de São Paulo. O conjunto edificado é dividido em dois blocos organizados em formas
geométricas distintas: o edifício base destinado para o banco, horizontal junto ao chão, e o edifício torre para
os escritórios, vertical sobreposto ao primeiro (CARVALHO CAVALCANTI, 2009).
Projetado para o clima local, com estratégias de controle solar, uso de iluminação e ventilação
naturais, uso de materiais e componentes construtivos adequados, estrutura modular em concreto armado,
pilotis, planta livre e estreita, terraço jardim no pavimento entre blocos e grandes panos de vidro com quebra-
sóis nas fachadas, o Edifício Banco Sul-Americano é referência pelas suas características bioclimáticas.
Com relação aos fechamentos, o edifício base possui brises fixos direcionados no sentido vertical e
horizontal, que variam de acordo com a incidência solar. Na torre de escritórios, em formato de lâmina, a
fachada sudoeste, de frente para a Avenida Paulista, é cega e revestida com mármore, proporcionando
proteção à insolação da tarde no verão e, consequentemente, ao ruído da avenida, que na época da sua
construção não era tão movimentada. A fachada nordeste, por simetria, recebeu o mesmo tratamento. Já as
maiores fachadas da torre, noroeste e sudeste, em pele de vidro, possuem brises e, devido à sua orientação,
sua planta retangular e estreita e suas janelas de vidro do chão ao teto, aproveitam a iluminação e a
ventilação naturais, recebendo o vento sudeste, predominante na região. Na fachada sudeste, os quebra-sóis
são fixos, enquanto na fachada noroeste são ajustáveis (MONROY, 2017).
Mais de cinquenta anos após sua construção, o entorno da edificação e as demandas dos seus
usuários sofreram mudanças significativas. Monroy (2017), após estudar o Edifício, constatou que o mesmo
não se comporta mais como naquela época. A cidade cresceu, as fontes de ruído externos aumentaram,
edifícios vizinhos foram construídos e a eficiência dos brises foi comprometida, escurecendo os ambientes
de trabalho.
Além do seu entorno ter mudado ao longo dos anos, o próprio edifício também sofreu alterações.
Entre 1992 e 1995, um retrofit realizado foi a maior intervenção desde sua construção, chegando à forma e
ocupação atual do edifício. Uma série de mudanças foi realizada, entre elas a substituição da ventilação
natural pela climatização artificial. Em cada pavimento foi instalada uma casa de máquinas de ar
condicionado, com tratamento acústico necessário e novo forro para distribuição do ar condicionado. A

96
poluição sonora das vias levou os proprietários a selarem esquadrias e toda a caixilharia foi restaurada para
garantir a estanqueidade acústica dos ambientes.

2. OBJETIVO
O objetivo principal do trabalho é avaliar o comportamento acústico em três salas de escritório de um
edifício ícone da Arquitetura Modernista Brasileira, de uso comercial, localizado na cidade de São Paulo, de
forma a elaborar uma proposta de intervenção para melhorar a qualidade acústica nos ambientes.

3. DESENVOLVIMENTO
A seguir são descritos o objeto de estudo e a metodologia adotada ao longo da pesquisa.

3.1. Caracterização do objeto de estudo


O objeto de análise é um escritório comercial localizado na torre do edifício Banco Sul-Americano. Os
materiais de revestimento predominantes são gesso no teto e nas paredes e taco colado no piso. Apenas
algumas janelas podem ser abertas, embora elas permaneçam fechadas a maior parte do tempo, com o
sistema de ar condicionado funcionando. Os caixilhos apresentavam sinais de desgaste em sua vedação. A
Figura 4 apresenta o layout do pavimento e as salas avaliadas, Salas 1, 2 e 3.

Figura 4 - Layout do pavimento estudado do Edifício Banco Sul-Americano com os pontos de medição utilizados.

As salas possuem dimensões e tipologias distintas e representam situações típicas de escritórios da


Arquitetura Modernista Brasileira, sendo duas salas do tipo planta livre (open plan), Salas 1 e 2, e a outra em
ambiente celular (sala de reunião), Sala 3. A Tabela 1 lista as áreas e volumes das salas, o número de
funcionários que trabalham no local, o número de pontos de medição e as condições de avaliação utilizadas.

Tabela 1 - Dados sobre as salas analisadas.


Número de Número de pontos Condição
Local Área (m²) Volume (m³)
funcionários de medição avaliada
Sala 1 164 410 15 6e8 vazia e ocupada
Sala 2 64 160 14 6 vazia e ocupada
Sala 3 31 77,5 2 4 vazia

3.2. Metodologia
Quanto à metodologia empregada na pesquisa, as atividades estão fundamentadas nos métodos dos tipos
experimental e qualitativo, por meio de levantamentos, entrevistas e medições de parâmetros acústicos em
campo. Tais métodos são apoiados pelo método numérico, com cálculo de parâmetros acústicos.
A primeira etapa foi o levantamento de informações sobre o objeto em estudo. O passo seguinte foi o
levantamento dos dados no local, com medições de variáveis ambientais e entrevistas.

97
Para avaliar o conforto e o desempenho acústico ambiental, são utilizados indicadores objetivos
obtidos através de medições in situ e comparados com critérios e limites estabelecidos em normas ou na
legislação. O parâmetro mais consagrado em acústica é o Nível de Pressão Sonora Contínuo Equivalente
Ponderado em A (LAeq), expresso em dB (ABNT, 2014). Em ambientes fechados e em edificações, outros
indicadores também são utilizados, como o tempo de reverberação, expresso em segundos, e os índices de
isolamento sonoro, expressos em dB. O presente trabalho considerou quatro indicadores: LAeq, nível
estatístico LA90, modulação equivalente Meq e tempo de reverberação.
A realização das medições acústicas seguiu as diretrizes estabelecidas pelas normas NBR 10152
(ABNT, 2017) e NBR ISO 3382-2 (ABNT, 2017). Os equipamentos utilizados nas medições foram dois
sonômetros. Os pontos de medição foram distribuídos ao longo das salas de modo a possibilitar a
representação do campo sonoro do ambiente e diferentes alturas foram utilizadas. Nas salas com áreas
inferiores a 30 m², as medições foram realizadas em três pontos de medição. Nas salas com áreas superiores
a 30 m², aumentou-se um ponto para cada 30 m² adicionais de área do ambiente. Os pontos de medição
podem ser vistos na Figura 4.
As salas foram medidas com as janelas fechadas, com e sem a presença de funcionários, nas condições
comuns de funcionamento. Isso permite identificar o ruído gerado pelas atividades realizadas no local. Após
as medições em cada ponto, foram calculadas as médias espaciais. Foram também realizadas medições ao
longo da sala e ao longo do tempo, além de medições externas, tomadas a 1 metro de distância da fachada,
com a janela aberta, a fim de se avaliar o efeito do ruído das ruas nas salas em estudo.
Os resultados foram tratados e tabulados para posterior análise e avaliação acústica, realizada por
comparação dos indicadores medidos com critérios e limites estabelecidos na legislação e em normas
técnicas. Além da avaliação objetiva, também foi possível avaliar subjetivamente o conforto acústico dos
usuários do escritório, através de questionários sobre conforto e percepção sonora no local. Ressalta-se a
importância de verificar a relação entre as variáveis medidas com as respostas subjetivas obtidas,
enfatizando-se as relações entre sensação e conforto acústico.
A terceira e última etapa da pesquisa corresponde à análise dos resultados das pesquisas de campo e
uma proposta de intervenção, junto com uma síntese dos processos realizados e dos resultados alcançados.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A seguir são apresentados e discutidos os resultados obtidos na pesquisa.

4.1. Nível de pressão sonora


As medições foram realizadas nos dias 22 e 23 de janeiro de 2019, ao longo dos dias. Foram medidos os
níveis de pressão sonora contínuos equivalentes ponderados em A, LAeq, nas três salas, nos pontos de
medição ilustrados na Figura 4, além de um ponto externo ao edifício na mesma altura do pavimento.
As Figuras 5 e 6 mostram os resultados das medições em seis pontos da Sala 1 ocupada (Ponto A a
Ponto F) em dois períodos do dia 22 de janeiro de 2019: manhã (de 09:30h às 13:00h) e tarde (de 14:00h às
17:30h). As médias espaciais (médias de todas as posições) estão representadas em preto nos gráficos.
Pelos gráficos, percebe-se que todos os valores estão acima de 50 dB. Os pontos com maior nível de
pressão sonora são os Pontos E e F, devido à proximidade entre as mesas de trabalho (devido às conversas
ocasionais entre funcionários) e também pela proximidade com a impressora e com a copa.
A Figura 7 mostra o gráfico dos níveis de pressão sonora contínuos equivalentes ponderados em A
externos, para os mesmos períodos pela manhã e pela tarde, além dos níveis médios da Sala 1 ocupada, os
mesmos apresentados nas Figuras 5 e 6.
Pelo gráfico é possível notar que as médias dos níveis de pressão sonora da manhã e da tarde são
parecidas, por volta de 55 dB. Já os níveis externos ficaram bastante elevados durante todo o período
medido, por volta de 68 dB. Isso é reflexo do movimento da Avenida Paulista e das obras que estavam
acontecendo na época. Com essas informações, é interessante ressaltar que nesse andar de escritórios o
isolamento sonoro mostra-se extremamente necessário para o conforto acústico interno.

98
Figura 5 - Medições no período da manhã. Figura 6 - Medições no período da tarde.

Figura 7 - Nível de pressão sonora contínuo equivalente ponderado em A médio ao longo do dia 22 de janeiro de 2019 na Sala 1.

No mesmo dia foi realizada uma medição com 9 horas de duração, das 09:00h às 18:00h, em um ponto
da Sala 1 ocupada, obtendo-se os valores dos níveis em função da frequência e os níveis estatísticos. O
resultado para LAeq foi de 53,1 dB. As Figuras 8 e 9 mostram os gráficos dos níveis em função da frequência
para bandas de 1/1 de oitava e 1/3 de oitava, respectivamente. Ao analisar os gráficos, observa-se que a
maior contribuição sonora acontece nas frequências mais graves (de 63 a 125 Hz), ou seja, o som apresenta
mais componentes nessas frequências, comportamento típico de sistemas de ar condicionado.

Figura 8 - NPS em bandas de 1/1 de oitava. Figura 9 - NPS em bandas de 1/3 de oitava.

No dia 23 de janeiro de 2019, foram realizadas medições com as Salas 1 e 2 ocupadas e vazias, nos
períodos da manhã e da tarde, e com a Sala 3 vazia, no período da tarde. Diferentemente do dia anterior, no
qual foram realizadas medições a cada meia hora no período da manhã e da tarde, nesse dia as medições
foram feitas para um intervalo de tempo no período da manhã e um intervalo de tempo no período da tarde.
A Tabela 2 apresenta uma síntese dos resultados de níveis médios de pressão sonora contínuos equivalentes
ponderados em A LAeq, níveis estatísticos LA90 e modulação equivalente Meq, medidos em cada ambiente do
escritório (e uma observação se a sala estava ocupada ou vazia durante as medições).

99
Tabela 2 - Nível de pressão sonora LAeq, Nível estatístico LA90 e Modulação Equivalente Meq, expressos em dB.
Local Período Condição LAeq LA90 Meq
Manhã Ocupada 56,8 50,7 6,1
Sala 1 Ocupada 54,3 50,1 4,2
Tarde
Vazia 48,8 47,3 1,5
Manhã Ocupada 58,9 49,2 9,7
Sala 2 Ocupada 59,2 52,6 6,6
Tarde
Vazia 48,6 46,3 2,3
Sala 3 Tarde Vazia 47,6 46,3 1,3
Ponto Manhã - 68,3 - -
Externo Tarde - 68,3 - -

Observando a tabela, conclui-se que todos os valores medidos para o nível de pressão sonora estão
acima de 55 dB para salas ocupadas e acima de 45 dB para salas vazias. A diferença entre sala ocupada e sala
vazia chegou a mais do que 10 dB, no caso da Sala 2. Com essas informações, é possível identificar o ruído
gerado internamente. Ao analisar os níveis por pontos de medição, verificou-se que o ponto G na Sala 1 e o
ponto B na Sala 2 apresentaram os menores valores medidos. Isso deve-se ao fato de que tais pontos ficam
em locais menos movimentados nas salas.
Os níveis sonoros equivalentes obtidos em medições na literatura internacional estão geralmente na
faixa de 55 a 65 dB para grandes escritórios (PASSERO e ZANNIN, 2009). De acordo com a norma NBR
10152 (ABNT, 2017) recomendam-se os seguintes valores de referência de LAeq: 45 dB para escritórios
coletivos (open plan), 40 dB para escritórios privativos (gerência, diretoria, etc.) e 35 dB para salas de
reunião. Ambientes com valores iguais ou inferiores aos valores de referência dados na norma são
considerados adequados para uso. Outra norma considerada na pesquisa foi a norma australiana AS/NZS
2107 (2016), que recomenda uma faixa de níveis sonoros para projeto de ambientes de escritórios de 40 a 45
dB. Já para escritórios profissionais e administrativos a faixa é de 35 a 40 dB.
Ao se comparar os valores medidos com os das normas NBR 10152 e AS/NZS 2107, verifica-se que
os níveis de todos os ambientes estão acima dos valores adequados, tanto as salas cheias como as vazias.
Ao se comparar os valores de ruído externo com os da norma NBR 10151 (2019), verifica-se que os
níveis de ruído ultrapassam valores de normas e legislação. Por exemplo, o limite diurno de 60 dB
estabelecido na norma ABNT NBR 10151, para área mista com predominância de atividades comerciais e/ou
administrativas, é ultrapassado. No caso da legislação municipal, Lei de Uso e Ocupação do Solo (SÃO
PAULO, 2016), o limite máximo estabelecido para o período diurno para o zoneamento do local (Zona Eixo
de Estruturação e Transformação Urbana, ZEU) é de 60 dB, sendo também ultrapassado pelo nível medido.
As medições realizadas mostram ser necessário realizar um tratamento acústico nas salas em questão. Seria
ainda interessante que na cidade houvesse alguma ação de planejamento para reduzir ou controlar o ruído
externo no local.

4.2. Nível estatístico LA90 e Modulação equivalente Meq


Níveis estatísticos LN representam os valores do nível de pressão sonora que foram excedidos em uma
porcentagem (N%) do intervalo de tempo considerado, ou seja, o nível estatístico LA90 é o nível sonoro
ponderado em A que foi excedido em 90% do tempo de medição. Muitas vezes esse valor é considerado um
indicador do nível residual (antigamente chamado ruído de fundo). A Tabela 2 apresenta os valores medidos
do nível estatístico LA90.
Um método novo e simples para se avaliar o STI (Speech Transmission Index) e o ISE (Irrelevant
Speech Effect) em escritórios de planta aberta é através do parâmetro chamado Modulação Equivalente
(Meq), obtido pelo cálculo da profundidade de modulação de um sinal, subtraindo-se o LA90 do LAeq (BORIN
e MONTEIRO, 2018). O STI e o Meq são grandezas proporcionais, portanto quanto maior o Meq, maior a
tendência dos ouvintes sentirem o Irrelevant Speech Effect e se incomodarem com o ruído no local.
Os valores obtidos para modulação equivalente, apresentados na Tabela 2, foram de aproximadamente
4 a 10 dB para sala ocupada e de 1,3 a 2,3 dB para sala vazia. O maior valor é 9,7 dB, para a Sala 2 ocupada.
Conforme os resultados dos questionários, a fonte de ruído na Sala 2 que mais causa incômodo são conversas
e passos, além de obras e reformas externas, confirmando a tendência citada acima.

4.3. Tempo de reverberação


O tempo de reverberação de uma sala é o parâmetro mais utilizado na avaliação da qualidade acústica de um
ambiente. Ele equivale ao tempo necessário, a partir do fim da excitação sonora em uma sala, para o nível de
pressão sonora cair 60 dB, isto é, o tempo para a energia sonora total cair a um milionésimo do seu valor
inicial.

100
O tempo de reverberação TR foi calculado a partir de informações sobre o volume do ambiente, todas
as áreas das suas superfícies, seus materiais de revestimento e seus coeficientes de absorção sonora, por meio
da equação de Sabine: TR = 0,161V/A, onde V é o volume do ambiente em m³ e A é a área de absorção
sonora equivalente do local, em m², obtida pelo somatório dos produtos das áreas de cada superfície do
ambiente pelos coeficientes de absorção sonora do material de cada superfície e demais elementos do
ambiente. O uso do método numérico, embora menos preciso que o experimental, é útil para profissionais
que não possuem equipamentos de medição, como no caso do presente trabalho com relação às medições de
tempo de reverberação.
A norma brasileira que aborda tratamento acústico em ambientes fechados é a NBR 12179 (ABNT,
1992). Ela apresenta valores de tempos de reverberação ótimo para alguns tipos de ambientes, mas não
contempla escritórios. Já a norma australiana AS/NZS 2107 (2016) contempla escritórios e apresenta valores
de faixas de tempo de reverberação recomendados para projeto: para ambientes de escritórios, a faixa de TR
recomendada é de 0,4 a 0,7 segundos, e para escritórios profissionais e administrativos a faixa é de 0,6 a
0,8 segundos. Os valores da norma AS/NZS 2107 foram considerados no presente trabalho.
No gráfico da Figura 10, são apresentados os valores de tempo de reverberação encontrados para cada
sala em função da frequência, junto com a faixa recomendada entre 0,4 e 0,7 s. Observa-se que os valores
dos tempos de reverberação nas três salas estão muito acima dos valores recomendados (com exceção das
baixas frequências).

Figura 10 - Tempos de reverberação para cada sala em função da frequência e faixa entre 0,4 e 0,7 s.

4.4. Questionários
Os questionários foram passados aos trabalhadores das Salas 1, 2 e 3. Na sala 1 havia 8 funcionários. Na
Sala 2, havia 12 funcionários e na Sala 3, 2 funcionários. Foram feitas perguntas acerca de ruídos externos e
internos e percepção sobre satisfação, incômodo e capacidade de concentração.
Ao analisar os resultados dos questionários, constatou-se que 100% dos funcionários escutam os
ruídos externos ao escritório, principalmente música (de apresentações que acontecem na Av. Paulista) e
tráfego de veículos. Na Sala 2, além de música e tráfego, se queixaram de ruído de obras e reforma, pois o
edifício estava passando por reformas perto da fachada sudeste, onde se encontra a Sala 2, e isso estava
incomodando os trabalhadores. Um deles chegou a dizer que “acreditava que ao final das obras o conforto
acústico melhoraria”.
Todos os funcionários também disseram ouvir os ruídos internos ao escritório, principalmente os
gerados por pessoas (falas e pisadas), que são ouvidos com mais intensidade que os outros, além do ruído da
impressora localizada na Sala 1 e da máquina de café localizada na copa. Ao serem questionados sobre qual
fonte de ruído causa mais incômodo, os funcionários da Sala 1 responderam ser a impressora e a máquina de
café, além da fala. Para os funcionários da Sala 2, a fonte de ruído que mais causa incômodo são conversas e
passos, além de obras e reformas externas.
Os resultados obtidos vão de acordo com pesquisas que comprovam que uma das fontes de ruído que
mais causa incômodo em escritórios são as conversas dos próprios funcionários (entre si ou ao telefone).
Além de perguntas sobre a satisfação dos funcionários com o ruído do escritório, foram feitas
perguntas sobre a satisfação com a capacidade de concentração no local. Apesar de se queixarem estar
insatisfeitos com o ambiente ruidoso, a maioria se diz satisfeito com sua capacidade de concentração. Isso
mostra o desconhecimento dos funcionários da relação entre conforto acústico e capacidade de concentração.
Os trabalhadores despendem mais energia para se concentrarem, apesar de não perceberam, e isso pode
causar efeitos como o estresse com o passar do tempo.

101
5. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Para melhorar a qualidade acústica do ambiente propõe-se um tratamento acústico com estratégias de
condicionamento acústico e de isolamento sonoro, já que foram identificados os dois tipos de problema.
Os tempos de reverberação podem ser reduzidos com a adoção de materiais de alta absorção sonora,
devidamente calculados, nas áreas do forro de cada escritório. Novos tempos de reverberação foram
calculados após proposta de mudança nos materiais de revestimento e uma análise é apresentada a seguir.
Para se alcançar os valores recomendados de tempo de reverberação na Sala 1, é suficiente aplicar um
material com alto coeficiente de absorção sonora, como, por exemplo, placas acústicas de espuma de
poliuretano com densidade de 11 kg/m³ e 45 mm de espessura, em apenas 1/3 da área do teto (35 m²). No
caso da Sala 2, isto pode ser alcançado cobrindo metade da área do seu teto (32 m²) com o mesmo material.
Na Sala 3, uma área menor ainda do mesmo material (15,7 m², ou cerca da metade da área do teto)
proporciona os valores recomendados de tempo de reverberação.
Para os problemas de isolamento identificados e relatados nos questionários acerca tanto dos ruídos
externos como dos internos, podem ser adotadas estratégias com base nos conceitos de privacidade sonora,
que permitem que espaços open plan sejam utilizados sem que haja interferências ou percepção das
atividades dos usuários das salas, além de tratamento acústico nas aberturas externas, como a troca das
esquadrias antigas por esquadrias acústicas novas, para inibir a transferência do ruído externo ao interior do
recinto.

6. CONCLUSÕES
O presente trabalho avaliou características acústicas de três salas em um escritório. Foram avaliados os
níveis de pressão sonora contínuos equivalentes ponderados em A, o nível estatístico LA90, a modulação
equivalente e os tempos de reverberação. Os valores encontrados de nível de pressão sonora e tempo de
reverberação estão acima dos valores recomendados para ambientes com o uso em questão.
As medições, dentro e fora de edifícios existentes e ocupados, são um recurso essencial para a
compreensão do desempenho ambiental e do conforto dos usuários. Medições como ponto de partida são
importantes para intervenções no projeto, pois revelam o resultado de uma interação e síntese: a resposta do
projeto arquitetônico aos vários fenômenos da física aplicada à construção, que acontecem em paralelo.
Questionários também foram aplicados de maneira a se obter uma análise subjetiva do conforto acústico dos
usuários.
Após a avaliação dos resultados, constatou-se que nenhum dos ambientes em estudo é considerado
adequado acusticamente para as atividades ali realizadas. Dessa forma, foi proposta uma requalificação
acústica dos mesmos, com tratamento acústico para melhoria dos parâmetros avaliados, e consequentemente,
melhoria da qualidade acústica desses ambientes. Vale ressaltar a importância de considerar os fenômenos
acústicos no momento da elaboração do projeto arquitetônico, visto que a acústica no edifício está
diretamente relacionada à forma e aos revestimentos do mesmo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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pressão sonora em áreas habitadas, Aplicação de uso geral. Rio de Janeiro, 2019.
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_____. NBR 16313: Acústica – Terminologia. Rio de Janeiro, 2014.
_____. NBR ISO 3382-3: Acústica – Medição de parâmetros de acústica de salas. Parte 3: Escritórios de planta livre. Rio de Janeiro,
2017.
AS/NZS - Australian/New Zealand Standard. AS/NZS 2107: Acoustics – Recommended design sound levels and reverberation times
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modulação equivalente. In: XXVIII Encontro da Sociedade Brasileira de Acústica, 2018, Proceedings… Porto Alegre,
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DOCOMOMO Brasil: Cidade Moderna e Contemporânea: Síntese e Paradoxo das Artes, 2009, Rio de Janeiro.
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EGAN, M. D. Architectural Acoustics. New York: J. Ross Publishing, 2007.
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102
LUCCAS, Luís Henrique Haas. Arquitetura moderna e brasileira: O constructo de Lucio Costa como sustentação. Vitruvius,
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MONROY, M. Edifício Banco Sul-Americano: proposta de requalificação ambiental para a torre de escritórios. Trabalho final
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(Doutorado em Arquitetura e Urbanismo), Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2011, p. 5.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Programa Unificado de Bolsas de Estudos para Apoio e Formação de Estudantes de
Graduação (PUB) da Universidade de São Paulo (USP) e ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica (PIBIC), na modalidade Estágio PIBIC de Verão (EPV), da Universidade Federal do Pará (UFPA).

103
AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA SUPERFÍCIE DE RODAGEM NA
VIBRAÇÃO GERADA PELO TRÁFEGO RODOVIÁRIO

Luiz Antonio Perrone Ferreira de Brito (1); Liu Ming (2)


(1) Professor Doutor, lapfbrito@gmail.com, Universidade de Taubaté, Programa de Pós Graduação
em Planejamento e Desenvolvimento Regional, Rua Visconde do Rio Branco, 210, Centro,
Taubaté-SP – Brasil, CEP: 12020-040, 12 33073431
(2), Mestre em Engenharia Ambiental, liu.tzeming@gmail.com, Flow Engenharia, Rua Arlindo
Penna 167, Florianópolis-SC CEP 88037-260, 48-98834-3684

RESUMO
A vibração gerada pelas atividades urbanas pode ser avaliada sobre dois aspectos distintos: a incomodidade e
o potencial para danos estruturais. Uma das principais fontes de vibração no meio urbano é o tráfego
rodoviário que faz parte do dia a dia da população em geral estando bem próximo a residências
diuturnamente. Os principais indutores da energia vibratória ão as condições da superfície de rolamento de
uma via associada a velocidade e peso do veículos. O objetivo desse trabalho é avaliar a influência da
superfície de rodagem de uma via na vibração gerada pelo tráfego rodoviário. Foram realizadas medições de
PVP (pico de velocidade da partícula) em cenários diferentes com a pista em terra batida, pavimentada e com
tachão e lombadas redutoras de velocidade. Os resultados indicam que com a pavimentação da pista a
quantidade de PVPs acima do critério normalizado reduziu mas, devido a velocidades elevadas o critério de
danos estruturais foi atingido pelo menos uma vez em cada condição. Nos cenários com tachão e lombadas
redutoras de velocidade as PVPs obtidas foram menores, principalmente devido as menores velocidades. As
ondas vibratórias se propagam no solo por ondas tipo Rayleigh com potencial de acoplamento aos primeiros
modos de vibração das edificações, efeito que pode ser potencializado com os efeitos das intempéries.
Palavras-chave: Vibração, rodovias, edificação popular.

ABSTRACT
The artificial vibration generated by the urban activities can be evaluated on two distinct aspects: the
discomfort and the potential for structural damages. One of the main sources of urban vibration is the road
traffic that is part of the daily life. The main inductors of vibratory energy are the conditions of the road
surface associated with the speed and weight of the vehicles. The objective of this work is to evaluate the
influence of the road surface on the vibration generated by road traffic. PPV (peak particle velocity)
measurements were performed in different scenarios with the unpaved surface, with asphalt surface and with
stud and speed reducing spines. The results indicate that with asphalt surface the amount of PPVs above the
normalized criterion was reduced, but due to high speeds, the criterion of structural damage was reached at
least once in each condition. In the scenarios with studs and speed reducing spines the obtained PPVs were
smaller, mainly due to the lower speeds. The vibrating waves propagate in the soil by Rayleigh waves with
potential of coupling to the first modes of vibration of the buildings, effect that can be potentiated with the
effects of the humidity and the age of the building.
Keywords: Vibration, highways, popular building

104
1. INTRODUÇÃO
A vibração artificial gerada pelas atividades urbanas pode ser avaliada sobre dois aspectos distintos: a
incomodidade e o potencial para danos estruturais. A resposta da estrutura frente a energia vibratória e sua
capacidade de amortecimento são fatores que influem na interação da vibração estrutural e o usuário da
edificação. Características como o tipo de fundação e solo, estado de conservação estrutural e das alvenarias
influenciam os modos naturais de vibração da edificação e consequentemente no seu amortecimento (BS
5828-2, 2009). Não há uma normalização nacional que regule os limites de vibração, tanto no critério de
incomodidade quanto no critério de danos estruturais.
A variável utilizada para quantificação da vibração em uma superfície é o pico de velocidade da
partícula (PVP) sendo esta a somatória vetorial das velocidades medidas simultaneamente nos 3 eixos
ortogonais (X, Y e Z) (ISO 4866, 2010). A aceleração está relacionada com a deformação sendo adotada por
sismologistas em análises de terremotos (ATTEWELL, SELBY, UROMEIHY 1989). Apesar da velocidade
ser reconhecida como um parâmetro indicador de danos ou incomodidade não é ela propriamente dita que os
causa, mas sim o deslocamento diferencial que origina uma torção/flexão na estrutura, ou a mudança do
vetor velocidade (direção ou magnitude) que produz forças inerciais na estrutura (BS 5228-2, 2009). Na
verdade os dois efeitos ocorrem ao mesmo tempo, de forma combinada, que se somarão as tensões e
deformações pré-existentes (NEW, 1990). Os danos ocorrerão quando estes efeitos suplantarem os limites de
tolerância da estrutura caso contrário haverá apenas incomodidade.
Adota-se como referência ao critério de incomodidade gerada pela vibração os valores da ISO 2631-
2 Mechanical vibration and shock -- Evaluation of human exposure to whole-body vibration -- Part 2:
Vibration in buildings (1 Hz to 80 Hz),1997, pois os limites de incomodidade não são dados na versão da
ISO 2631-2 (2003), como apresentado na Tabela 1. A incomodidade dos usuários de uma edificação vem da
percepção física de movimento gerada pela vibração que interfere em atividades que exigem concentração e
em momentos de descanso, além da insegurança devido à movimentação de lustres e janelas (ISO 2631-2,
2003). A partir de uma PVP de 0,14 mm/s a vibração já pode ser perceptível, em 0,30 mm/s a vibração é
perceptível, em 1 mm/s pode motivar reclamações e em 10 mm/s a vibração é intolerável mesmo que seja
por breve exposição. Klaeboe et al (2003) relacionaram a PVP em edificações e o potencial de reclamações
da população. Por exemplo, a possibilidade de se notar a PVP de 0,10 mm/s é de 0%, sendo esta velocidade
exatamente o valor mínimo de incomodidade da norma ISO 2631-2 (1997). No caso de uma PVP de 0,40
mm/s, o limite de incomodidade para residências no período diurno da ISO 2631-2 (1997), a possibilidade de
se notar a vibração é de 50%, sendo que 25% relataram interferência no sono e lazer, como assistir televisão,
mas a chance de reclamação é inferior a 10%.
Tabela 1 – Limites da PVP em mm/s da norma ISO 2631-2 (1997) para incomodidade.
Tipos de Edificação DIURNO, PVP (mm/s) NOTURNO, PVP (mm/s)
Hospitais 0,10 0,10
Residências 0,40 0,14
Escritórios 0,40 0,40
Oficinas 0,80 0,80
Os danos estruturais em uma edificação ocorrem quando o deslocamento imposto pela vibração
supera o limite de deformação da estrutura, provocando fissuras, trincas ou até mesmo danos estruturais
irreversíveis. A norma DIN 4150-3 (1999) Vibration in buildings, effect in structures é a referência indicada
que aborda os limites de PVP em uma edificação para que não haja danos estruturais sendo aceita por toda
comunidade européia (BACCI et al, 2003). Os efeitos estruturais gerados pela vibração em uma edificação
podem ser classificados como cosméticos, com o aparecimento de pequenas fissuras (da espessura de um fio
de cabelo, por exemplo) no reboco ou acabamento em gesso das paredes; de pequena monta com o
aparecimento de trincas (ou evolução de uma fissura para trinca) e queda de revestimentos, reboco ou gesso;
e de grande monta com trincas estruturais em pilares, vigas e lajes. As deformações da estrutura devido à
acomodação natural do solo, a fadiga estrutural devido a longos períodos de exposição, os efeitos da
umidade, temperatura e falta de manutenção e conservação reduzem o amortecimento das edificações, assim,
uma pequena velocidade induzida na estrutura pode acelerar este processo de deterioração (ISO 4866, 2010).
A norma DIN (4150-3, 1999) limita a PVP de acordo com a tipoligia das edificações sendo a
Categoria 1 as edificações com estruturas de concreto armado e madeira em boas condições que possuem
como criterio a PVP de 40 mm/s; a Categoria 2 que abrange edificações em alvenaria em boas condições
com o critério de PVP de 15 mm/s; e a Categoria 3 que se refere a edificações de alvenaria em más
condições de conservação, ou patrimônios históricos com o critério de PVP de 8 mm/s. Neste caso
específico, para a faixa de frequência de 10 a 50 Hz a PVP aceira cai para 3,0 mm/s. Karantoni e
Bouckovalas (1997) avaliaram os efeitos da vibração em casas de alvenaria e em edificios de concreto

105
armado e concluiram que na primeira tipologia os danos são mais sistemáticos e que a idade dos materiais, os
próprios materiais em si e o número de andares também influenciam no processo. Chaves et al (2009) e
Brito, Kamimura e Santos (2015) verificaram que edificações sujeitas a níveis de vibração inferiores ao
normalizado apresentavam claros sinais de danos devido à idade, acima de 60 anos em média, e pela ação
das intempéries. Brito (2013 e 2014) observou danos estruturais em edificações com fundações rasas, sem
estrutura formal e com pouca rigidez, gerados por PVP da ordem de 4 a 6 mm/s. A fadiga estrutural e os
efeitos das intempéries como infiltrações são um potencializador dos danos gerados pela vibração Outra
forma de dano estrutural é a possibilidade de recalques diferenciais nas fundações ocasionadas pelo
adensamento do solo, principalmente os arenosos (ISO 4866, 2010).
Uma das principais fontes de vibração no meio é o tráfego rodoviário e ferroviário, algumas
atividades da construção civil, como o bate-estacas, rolos compactadores vibratórios, detonação de rochas e
algumas atividades ligadas a indústria, como as prensas e peneiras vibratórias. No caso da construção civil a
operação desse tipo de equipamento é temporária limitada ao canteiro de obras, podendo eventualmente
gerar problemas ao se aproximar de edificações (BRITO, SOARES e NAZARI, 2011). No caso do bate-
estacas a vibração pode ser controlada reduzindo a altura de queda do martelo de cravação, por exemplo. As
atividades industriais são desenvolvidas em geral em regiões já delimitadas para isso, a uma grande distância
de zonas de moradia não sendo perceptível para a população em geral. Mas o tráfego, principalmente o
rodoviário, faz parte do dia a dia da população em geral estando bem próximo a residências diuturnamente
(ATTEWELL, SELBY, O’DONNELL, 1992). A vibração gerada pelo tráfego rodoviário é aleatória sendo
influenciada pelo peso e velocidade dos veículos e condições do pavimento. A geração de energia vibratória
aumenta quando há irregularidades na via, que amplificam o impacto das suspensões dos veículos,
principalmente nos solos de baixo amortecimento. O mesmo ocorre com a velocidade, elevadas PVP podem
ser geradas mesmo em pavimentos de boa qualidade (BS 7385-1, 1990).
Para quantificar a PVP (mm/s) devido a desníveis no pavimento de uma via Watts e Krilov (2000)
propuseram a Equação 1, como o tachão de redução de velocidade. Sendo a a profundidade do desnível em
mm, g o Fator de Solo, v a velocidade em Km/h, r distancia do leito da via em metros, p é o fator que indica
se apenas um lado ou dois são afetados pelo desnível e x o coeficiente de atenuação de potência que depende
do tipo de solo, argiloso ou arenoso, por exemplo. Os valores de g e x são fornecidos em Watts e Krilov
(2000).

x
 v  r
PVP = 0,028 * a * g * p *   *   1
 48   6 

O tipo de solo influencia na forma de propagação e atenuação da energia vibratória assim como a
distância entre a fonte e o receptor. As ondas que se formam no solo dependem da fonte, mas em geral são
ondas de compressão ou cisalhamento (como velocidade em apenas uma direção), quando próximas do ponto
de geração da vibração, que se transformam em ondas tipo Rayleigh (com velocidade em duas direções)
quando refletidas pela superfície do solo. Nos solos mais rígidos a propagação da energia vibratória ocorre
em maiores velocidades, sendo que a tensão gerada nas fundações, e consequentemente a vibração induzida,
são inversamente proporcionais a esta, tanto para ondas de compressão quanto para as de cisalhamento. A
velocidade das ondas vibratórias no solo varia de acordo com sua composição devido principalmente a
impedância elástica (KIRZHNER, ROSENHOUSE E ZIMMELS, 2005).

2. OBJETIVO
O objetivo desse trabalho é avaliar a influência da vibração gerada pelo tráfego rodoviário de uma via em
edificações próximas (até 10 m) da superfície de rodagem.

3. MÉTODO
Para a avaliação da influência superfície de rodagem na vibração ambiental foram executadas medidas do
Pico de Velocidade da Partícula (PVP) em mm/s na condição de pista não pavimenta (M1), na condição de
pista pavimentada (M2), da pista pavimentada com tachão de redução de velocidade (M3) e pista
pavimentada com lombada de redução de velocidade (M4). As Figuras de 1 a 4 ilustram as características
das superfícies de rolamento consideradas. Durante as medições foi realizada a contagem de veículos leves,
pesados e carretas.
Os equipamentos utilizados para a medição foram medidor de vibração HVM100, marca Larson
Davis, um acelerômetro triaxial (capaz de fazer a leitura nos 3 eixos simultaneamente) DYTRAM modelo

106
3233AT e o software BLAZE para tratamento dos dados sendo todos calibrados por laboratórios
pertencentes a Rede Brasileira de Calibração do INMETRO. Para coleta de dados o acelerômetro foi
acoplado em um POD metálico por meio de um parafuso de modo que este transmitisse a aceleração ao
equipamento que integrou o sinal para obtenção da velocidade. Os dados foram obtidos nos eixos X
(perpendicular a via), Y (paralelo a via) e Z (perpendicular ao plano formado pelos eixos X e Y) e calculado
o valor resultante final pelo software, sempre considerando o valor de pico. O tempo de coleta de dados foi
de 30 a 60 minutos para cada uma das situações descritas. A faixa de frequência de medição foi entre 6,3 a
100 Hz. O POD metálico com o acelerômetro foi posicionado a 6 m da lateral da pista como ilustrado nas
Figuras 5 e 6.

Figura 1 Vista da pista com pavimento de terra (M1) Figura 2 Vista da pista com asfáltico (M2)

Figura 3 Vista da pista com tachão de redução de velocidade Figura 4 Vista da pista com lombada de redução de velocidade
(M3) (M4)

O critério adotado para incomodidade é de PVP = 0,4 mm/s (ISO 2631-2, 1997) para residências. No
caso de danos estruturais foi adotado o critério de PVP =3 mm/s na faixa de 10 a 50 Hz (DIN 4150-3, 1999).
A vibração nesta faixa de frequência é condizente com a tipologia construtiva e edificações populares de
baixa renda (sem uma estrutura de concreto armado, sustentada apenas pela alvenaria, retangulares, com
poucas divisões internas) que tendem a gerar movimento de corpo rígido (baixas frequências). A ausência de
paredes internas rígidas tende a reduzir as frequências naturais da estrutura de uma edificação
(YESILYURT, ZULFIKAR, PICOZZI 2017). Considere-se também a má qualidade construtiva das
edificações e a sua deterioração. Foi considerada na análise a possível percepção da vibração e motivação
para reclamação segundo Klaeboe et al (2003).

107
Figura 5 Vista do equipamento de medição e da pista de Figura 6 Vista do equipamento de medição e da lombada ao
rolamento ao fundo fundo

4. RESULTADOS
A Tabela 2 apresenta a contagem de veículos leves, médios e pesados realizada durante as medições. As
Figuras 7 a 10 ilustram o Pico de Velocidade da Partícula (mm/s) resultante da somatória vetorial das
velocidades obtidas nos eixos X, Y e Z (PVP Soma).

Tabela 2 – Contagem de veículos por categoria realizada durante as medições


Medição Veículos leves Veículos pesados Carretas
M1 46 16 4
M4 51 28 7
M3 30 25 7
M2 53 51 7

Nas Figuras 7 e 8 é possível fazer a comparação entre a PVP na condição de pista de terra, ilustrada
na Figura 1, e pista pavimentada, ilustrada na Figura 2. No primeiro caso o limite de incomodidade de 0,4
mm/s é ultrapassado constantemente chegando a valores superiores ao critério de dano estrutural adotado
(3,0 mm/s) com PVP de 3,35 mm/s. Com a pavimentação observa-se uma sensível redução, sendo mais raros
os momentos que o critério de incomodidade (0,4 mm/s) é ultrapassado, comprovando o efeito da baixa
rugosidade da superfície de rodagem na propagação da vibração. A despeito da melhora da rugosidade da
superfície de rodagem foi obtido PVP de 3,58 mm/s, ainda maior que medido com a superfície de terra.
Considere-se nesse caso que ao se pavimentar a via a velocidade dos veículos se elevou, para a pista de terra
a velocidade regulamentada era de 60 km/h e para a pista asfaltada a velocidade subiu para 80 km/h,
demostrando também o quão influente é a velocidade do veículo na geração da vibração rodoviária. Com
PVP da ordem de 3,5 mm/s há uma expectativa de percepção de 80% da população e uma grande motivação
para a reclamação de 30% da população de acordo com Klaeboe et al (2003) em pesquisa realizada na
Europa, com os padrões de conforto da população local.
Nas Figuras 9 e 10 é possível fazer a comparação entre a PVP gerada pelos veículos ao passar pelo
tachão redutor de velocidade (50 mm de altura), ilustrado na Figura 3, e uma lombada também redutora de
velocidade, ilustrada na Figura 4. Nas duas situações o limite de incomodidade de 0,4 mm/s foi ultrapassado
apenas seis vezes, mesmo havendo o degrau da pista, sendo que o fator prevalente na PVP foi a baixa
velocidade regulamentada para o local, 60 km/h. Mas nota-se que na condição da lombada os níveis mais
baixos de vibração permanecem por mais tempo sendo que os picos se dão somente em algumas condições,
ao contrário da condição com tachão onde estes picos são mais constantes. Com o tachão redutor de
velocidade a PVP foi da ordem de 1,0 mm/s suficiente para a percepção de 65% da população mas com
motivação para reclamação de apenas 15%. No caso da lombada a percepção seria de 55% da população com
uma motivação para reclamação inferior a 5% (Klaeboe et al., 2003)

108
3,6
3,2 PVP Soma
2,8
2,4
PVP (mm/s)

2,0
1,6
1,2
0,8
0,4
0,0
1 201 401 601 801 1001 1201 1401 1601 1801 2001 2201 2401 2601 2801
Tempo (s)
Figura 7 Histórico do tempo da PVP (mm/s) em superfície de terra

3,6
3,2
PVP Soma
2,8
PVP (mm/s)

2,4
2,0
1,6
1,2
0,8
0,4
0,0
1 201 401 601 801 1001 1201 1401 1601 1801 2001
Tempo (s)
Figura 8 Histórico do tempo da PVP (mm/s) em pavimento asfáltico

Para a condição do tachão foi feita a previsão da PVP gerada no local por meio da Equação 1. Para a
velocidade citada e considerando o solo argiloso a uma distância de 6 m a PVP prevista seria de 0,47 mm/s,
representada na Figura 9 pela linha preta. Observa-se que a uma boa coerência entre o resultado previsto e o
medido, mesmo havendo alguns valores superiores a este. A velocidade de 60 km/h considerada foi a
permitida para o local, podendo haver situações onde esse limite foi ultrapassado. Na Figura 10 é possível
observar que houve uma pequena interferência nas medições entre 800 e 1200 s e após os 2600 s gerado por
um equipamento em operação no campo que não pode ser visualizado no momento das medições.

2,0
PVP Soma Previsto
1,6
PVP (mm/s)

1,2

0,8

0,4

0,0
1 201 401 601 801 1001 1201 1401 1601 1801 2001 2201 2401 2601 2801 3001 3201
Tempo (s)
Figura 9 Histórico do tempo da PVP (mm/s) em pavimento asfáltico com tachão de redução de velocidade e o valor previsto pela
Equação 1

109
2,0
PVP Soma
1,6
PVP ( mm/s) 1,2

0,8

0,4

0,0
1 201 401 601 801 1001 1201 1401 1601 1801 2001 2201 2401 2601 2801
Tempo (S)
Figura 10 Histórico do tempo da PVP (mm/s) em pavimento asfáltico com lombada de redução de velocidade

Ainda por meio da Equação 1 é possível indicar uma distância mínima entre as vias de tráfego com
redutores de velocidade (50 mm) para que o limite de PPV de 0,40 mm/s da ISO 2531 -2 (1997) seja
atendido. As distâncias mínimas são apresentadas para solos argilosos e arenosos na Tabela 3.

Tabela 3 – Distância mínima entre os receptores e a uma via de tráfego com tachão (50 mm) para solos argilosos e arenosos para
atender o critério de incomodidade de 0,40 mm/s da norma ISO 2631-2 (1997)
Velocidade Distância Solos argilosos Distância Solos arenosos
(km/h) (m) (m)
40 5 12
50 6 17
60 7 21
70 9 26
80 10 31

Nas Figuras 11 a 14 são apresentados os resultados obtidos para cada eixo ortogonal, X, Y e Z
individualemte. Na condição de superfície de terra e superfície pavimentada, Figuras 11 e 12 observa-se uma
predominância de PVP no plano paralelo a superfície de rodagem, X e Y, indicando a propagação da energia
vibratória por meio de ondas de superfície tipo Rayleigh como já previsto na literatura (KIRZHNER,
ROSENHOUSE E ZIMMELS, 2005). As PVP perpendiculares à superfície de rodagem são as menores,
indicando menos concentração de energia nessa direção.
Observa-se também que com a pista de terra há uma alternância dos picos de velocidade entre os
eixos X e Y, originado pelas imperfeições da superficie de rodagem já que em cada passagem os veículos
tocavam de maneira diferente as ondulaçãoes da pista. Fato que não se repete com a pista pavimentada onde
os picos de velocidades nos eixos X e Y possuem valores próximos indicando que a pista homogenea gera
energia vibratórias nas duas direções em magnitute próxima.
Na condição da pista com tachão e lombadas redutoras de velocidade, Figuras 13 e 14 a situação
descrita permanece, com a predominância de ondas de superfície tipo Rayleigh e também com alternância na
geração de energia nos eixos X e Y, que nesse caso dependem da suspensão dos veículos e a forma com que
os pneus tocam no tachão e lombada. Observa-se uma predominância de energia sonora na direção do eixo
Y, que é paralelo ao sentido da velocidade dos veículos.
Em muitas situações as faixas de dominio de rodovias e ferrovias são tomadas por ocupação
irregulares sujeitas a niveis de vibração elevados como já demontrado por Hajek e Hein (2006) e Chaves et
al (2009), o que aproxima a fonte de vibração do receptor. Brito, Kamimura e Santos (2015) diagnosticaram
edificações, como as descritas, com trincas devido a PVP de 5,5 mm/s a 10 m da fonte de vibração e devido
a PVP de 2,0 mm/s a 30 m da fonte, e com fissuras devido a PVP 1,0 mm/s a 50 m da fonte. Os tachões
redutores de velocidade geram PVP acima de 3,0 mm/s em solos argilosos e arenosos a distâncias de 1,5 a
3,0 m respectivamente, valores obtidos por meio da Equação 1 considerando veloscidades de 70 a 80 km/h.
Tais valores são proximos aos obtidos por Mhanna, Sadek, Shahrour (2012). Mas deve-se ainda considerar
que em um período de 35 minutos de análise em uma pista irregular de terra batida ou em um pista
pavimentada de boa qualidade foram obtidos pelo menos uma PVP acima de 3,0 mm/s, algo aproximado
com duas ocorrências por hora, ou vinte por dia, considerando 10 horas diárias de tráfego intenso, ou 400 por
mês, considerando cerca de 20 dias úteis, ou ainda cerca de 4800 ao ano. Ou seja algo que não pode ser
desprezado quando se considera a condição temporal da análise.

110
As ondas tipo Rayleigh, predominante em todos os cenários avaliados, com concentração de
velocidade nos eixos X e Y, tendem a se acoplar a esse tipo de edificação onde os primeiros modos de
vibração estrutural são os do eixo X (modo 1), eixo Y (modo 2) e o torcional no eixo X e Y (modo 3). Estas
edificações em geral não possuem uma estrutura de sustentação ligada a fundação, as próprias paredes se
auto sustentam, assim como também sustentam a conbertura. Internamente existem poucas divisões, o que
reduz a rigidez do conjunto (YESILYURT, ZULFIKAR, PICOZZI 2017).
A norma DIN 4150-3 (1999) limita a PVP em edificações sem estrutura de concreto armado em 3,0
mm/s na faixa de frequência de 10 a 50 Hz sendo que está próxima da faixa de frequência da indução da
vibração no solo pelo tráfego de veiculos, 10 a 20 Hz (JU, 2009).
Desta forma, existem vários elementos simultâneos que podem elevar os efeitos da vibração
rodoviária em edificações de baixa renda. Não se compara aqui a incomodidade devido a vibração a outras
deficiências dessas edificações como a ausência de saneamento básico e outros itens mínimos para a
salubridade dos ocupantes dessas edificações como ventilação e insolação. Mas os primeiros efeitos dos
danos estruturais são as fissuras no reboco e alvenaria. A ação das intempéries nestas fissuras,
principalmente o acúmulo de umidade, reduzem o amortecimento da edificação, o que aumenta o
deslocamento das paredes, e consequentemente torna uma fissura em trinca (ISO 4866, 2010). As trincas por
sua vez permitem mais acúmulo de umidade alimentando o processo de deterioração estrutural, fomentado
pela continuidade da excitação devido a vibração, e gerando outras consequências insalubres como ser abrigo
para insetos e local de acúmulo de fungos o que demanda mais investimentos na saúde pública devido as
doenças crônicas associadas a esse tipo de situação. Assim o que pode parecer apenas um problema de
incomodidade pode se tornar um problema de salubridade de moradores pois a vibração potencializa alguns
efeitos já existentes, se juntando a outros, também ligados as mesmas causas, como a poluição do ar e
excesso de ruído.

2,4
PVP X PVP Y PVP Z
2,0
PVP (mm/s)

1,6

1,2

0,8

0,4

0,0
1 201 401 601 801 1001 1201 1401 1601 1801 2001 2201 2401 2601 2801
Tempo (s)
Figura 11 Histórico do tempo da PVP (mm/s) nos eixos X, Y e Z em superfície de terra

2,4
PVP X PVP Y PVP Z
2,0
PVPV (mm/s)

1,6
1,2
0,8
0,4
0,0
1 201 401 601 801 1001 1201 1401 1601 1801 2001
Tempo (s)

Figura 12 Histórico do tempo da PVP (mm/s) nos eixos X, Y e Z em pavimento asfáltico

111
1,2
PVP X PVP Y PVP Z
1,0

PVP (mm/s) 0,8


0,6
0,4
0,2
0,0
1 201 401 601 801 1001 1201 1401 1601 1801 2001 2201 2401 2601 2801 3001 3201
Tempo (s)
Figura 13 Histórico do tempo da PVP (mm/s) nos eixos X, Y e Z em pavimento asfáltico com tachão de redução de velocidade

1,2
PVP X PVP Y PVP Z
1,0
PVP (mm/s)

0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
1 201 401 601 801 1001 1201 1401 1601 1801 2001 2201 2401 2601 2801
Tempo (s)
Figura 14 Histórico do tempo da PVP (mm/s) nos eixos X, Y e Z em pavimento asfáltico com lombada de redução de velocidade

5. CONCLUSÕES
A melhoria da rugosidade da superfície de uma via de tráfego reduz a quantidade de ocorrências de PVPs
acima do normalizado para o critério de incomodidade mas não para o critério de danos estruturais já que
basta uma passagem em excesso de velocidade para a essa ocorrência
No caso de tachão e lombadas redutoras de velocidades as PVP s são de menor intensidade devido a
baixa velocidade de passagem dos veículos, o que pode se alterar com a elevação da velocidade.
As ondas de vibração geradas pelo tráfego de veículos são predominantemente do tipo Rayleigh com
grande potencial de acoplar aos primeiros modos de vibração de edificações populares, principalmente
quando essas não respeitam o recuo mínimo estabelecido.
Os efeitos da vibração em uma edificação, como pequenas fissuras e/ou trincas, podem ser
potencializados pelas intempéries, como a umidade, se tornando foco de fungos, bactérias e insetos, elevando
a condição insalubre do local. Dessa forma faz-se necessário uma normalização que atenda a realidade da
tipologia construtiva e condições climáticas do Brasil que esse efeito seja mitigado.

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112
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113
AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DA PAISAGEM SONORA DE UM PARQUE
URBANO
Elcione Lobato de Moraes (1); Paulo Chagas Rodrigues (2); Izabel Bianca Araújo (3);
Mayanne Silva Farias (4)
(1) Doutora, Docente, elcione@ufpa.br. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/UFPA, Av. Augusto Correa,
01. 66075-110. Belém/PA. Tel: (91) 3201-7301
(2) Engenheiro Civil, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo/UFPA,
pcrenge@gmail.com. Av. Augusto Correa, 01. 66075-110. Belém/PA.Tel: (91) 98057 8203.
(3) Arquiteta e Urbanista, Pós-graduanda Lato Sensu/UFPA, bia.araujo.lopes@gmail.com. Av. Augusto
Correa, 01. 66075-110. Belém/PA. Tel: (91) 98142 7749.
(4) Graduanda, mayannesilvafarias@gmail.com. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/UFPA. Av. Augusto
Correa, 01. 66075-110. Belém/PA. Tel: (91) 98018 4066.

RESUMO
O estudo aqui apresentado tem como objetivo principal identificar como os usuários percebem os sons
naturais e não naturais que configuram a paisagem sonora de um parque público urbano. A pesquisa foi
realizada no Parque Estadual do Utinga, em Belém/Pa, onde foram aplicados 102 questionários com
perguntas dirigidas e outras abertas, assim como a medição do Nível de Pressão Sonora Equivalente
ponderado em A (LAeq). As pessoas visitam o parque principalmente por lazer, atividade física e encontros,
com uma frequência inferior a uma vez ao mês. Os sons naturais são os mais percebidos espontaneamente e
destacados como agradáveis pelos visitantes, enquanto os não naturais são mais facilmente identificados
quando induzidos a percebê-los. O ruído produzido pelos visitantes é notado com maior intensidade, isso foi
comprovado com as medições de LAeq nos pontos de concentração de pessoas
(serviço/apoio/lanchonete/aluguel de bicicletas) onde foram registrados níveis acima dos recomendados pela
norma nacional vigente. Os resultados destacam a relevância da consulta subjetiva e a necessidade de
políticas públicas para a criação e preservação da qualidade sonora de parques públicos urbanos.
Palavras-chave: Paisagem sonora, Parques urbanos, Qualidade sonora.

ABSTRACT
The main objective of this study is to identify how users perceive the natural and unnatural sounds that make
up the soundscape of a public urban park. The research was carried out in the State Park of Utinga, in
Belém/Pa, where 102 questionnaires with direct and open questions were applied, as well as the
measurement of the A-weighted Equivalent Sound Pressure Level (LAeq). People visit the park mainly for
leisure, physical activity and meetings, with a frequency less than once a month. Natural sounds are the most
perceived spontaneously and highlighted as pleasing by the visitors, while the unnatural are more easily
identified when induced to perceive them. The noise produced by the visitors is noticed with greater
intensity, this was proven with the measurements of LAeq in the crowding points (service / support / snack /
bicycle rental) where levels were registered above those recommended by the current national norm. The
results highlight the relevance of the subjective consultation and the need for public policy for the creation
and preservation of the public urban parks’ sound quality.
Keywords: Soundscape, Urban parks, Sound quality.

114
1. INTRODUÇÃO
Com o crescimento das cidades, os sons gerados por elas passaram a ser produzidos e percebidos com mais
intensidade, seja de forma positiva ou negativa (ruído). Em consequência disso, é possível observar o
contraste entre os parques ambientais e o espaço construído.
Os parques ambientais localizados no interior das cidades, têm grande importância socioambiental
nos aglomerados humanos, entretanto devido ao seu caráter urbano sofrem consequências da proximidade de
fonte sonoras geradas pela dinâmica das cidades, tal como descrevem Soares e Coelho (2015) quando
afirmam que o ambiente sonoro urbano é resultante da contribuição de múltiplas fontes sonoras,
considerando a industrial, a construção civil e o tráfego rodoviário e aéreo como as que mais afetam as
pessoas.
Para Scanavaca Junior (2012) os parques ambientais urbanos têm à priori as funções ecológicas
(preservação da fauna, flora e atributos naturais); estéticas (criação de espaços de contemplação); e social
(democratização do espaço público). A gestão e conservação desses parques são subsídios fundamentais para
as políticas de planejamento urbano e de saúde pública (SZEREMETA; ZANNIN, 2013).
Nesse sentido, a preservação da qualidade sonora dos parques ambientais também recai sobre a
manutenção da qualidade de vida da população. Por esta razão, diversos estudos buscam avaliar maneiras de
preservar a qualidade sonora dos parques urbanos (YANG; KANG, 2005; SOARES; MORAES, 2008;
PINA; SANTOS, 2012; BOUBEZARI; BENTO, 2012; SZEREMETA, 2012; HOLTZ, 2012; MOLINA et
al., 2013).
A normativa brasileira vigente avalia o ruído em áreas habitadas, visando o conforto da comunidade,
levando em consideração apenas parâmetros acústicos objetivos, como o Nível de Pressão Sonora
Equivalente (LAeq) (ABNT, 2000). Todavia, Schafer (1977) apresenta o conceito de paisagem sonora
(soundscape), um termo que aprofundou a avaliação de ambientes sonoros, propondo que este deve ter uma
abordagem de caráter multidisciplinar, não podendo ser realizada somente através de variáveis
físicas/acústicas, mas considerando seu contexto, tipos de fontes presentes e expectativas dos ouvintes
quanto ao ambiente, isto é, variáveis subjetivas. Brown (2007) corrobora a visão de Schafer quando
argumenta que a avaliação da qualidade sonora também deve ser feita considerando a distinção entre sons
desejados e sons indesejados em um determinado contexto e a gestão adequada destes.

1.1 Objeto de estudo


A Unidade de Conservação (UC), denominada Parque Estadual do Utinga, localiza-se no bairro do Curió-
Utinga estando a maioria absoluta (99%) de sua área em Belém e apenas 1% no município de Ananindeua,
sua extensão abarca 5 bairros da cidade e pertence a Área de Proteção Ambiental (APA) da Região
Metropolitana de Belém
Segundo o Plano de Manejo da Unidade de Conservação, o parque tem como objetivos garantir a
potabilidade da água através do manejo dos mananciais, recuperar áreas degradadas e a ampliação da vida
útil dos lagos Bolonha e Água Preta, que são os grandes responsáveis pelo abastecimento de água da RMB.
Além disso, disponibiliza à comunidade local e aos visitantes, um espaço para recreação e convivência, áreas
para caminhada, corrida, ciclismo, ecoturismo, trilhas, desenvolvimento de atividades científicas, culturais e
educacionais, bem como, a promoção da preservação de sua abundante biodiversidade residente, nos seus
1.393,083ha.

2. OBJETIVO
Este artigo busca avaliar a qualidade sonora do Parque Estadual do Utinga (PEUt) com base na percepção
subjetiva dos visitantes quanto aos aspectos espaciais e sonoros do parque. A pesquisa conta com medições
objetivas de Níveis de Pressão Sonora Equivalente e aplicação de questionários in situ para coleta de dados
subjetivos.

3. MATERIAIS E MÉTODOS
A coleta de dados de campo incluiu a identificação das principais fontes sonoras no interior e no entorno
imediato do parque, medição de LAeq e aplicação de questionários para avaliação da percepção dos usuários
do parque.
Para a identificação das fontes sonoras, foi utilizada a técnica denominada soundwalk, a qual consiste
na caminhada com paradas intervalares, onde os investigadores, de ouvidos atentos, classificam e localizam
as fontes sonoras na área de análise. Além disso, o soundwalk permite ao investigador escolher de forma
mais criteriosa os pontos de medição e aplicação de questionários em função das fontes predominantes.

115
A fontes são representadas em um mapa da área de análise onde são destacadas suas principais
características (LERCHER; SCHULTE-FORTKAMP, 2013). A figura 1 localiza as 6 principais fontes
sonoras identificadas pelos pesquisadores no interior e entorno imediato do parque.

Figura 1 - Identificação e localização das fontes sonoras a partir do soundwalk.

Os pontos de medição sonora foram escolhidos em função da concentração de pessoas e fontes


sonoras de interesse para a caracterização da paisagem sonora. Neste sentido, foram realizadas as medições
de LAeq em 6 pontos distintos no interior do parque (Figura 2) com uso de um medidor de nível de pressão
sonora apoiado por tripé a uma altura de 1,20 m (Figura 3) e distante de pelo menos 2 m de superfícies
refletoras, conforme estabelecido na normativa brasileira NBR 10151/2000 (ABNT, 2000).

Figura 2 – Localização dos pontos de medição de LAeq.

(a) (b) (c)


Figura 3 – Pontos de medição: Ponto 2 (a); Ponto 5 (b); Ponto 2 (c).

Foram feitas duas medições de 3 minutos de duração por ponto (com exceção do ponto 6 devido a
chuva intensa) e posteriormente calculada a média logarítmica entre os níveis medidos a partir da Equação 1.

Equação 1

Onde:
LAeq é o nível de pressão sonora equivalente ponderado em A [dB(A)];
n é o número de amostras;
NPS é a amostra de nível de pressão sonora ponderado em A [dB(A)].

116
Simultaneamente às medições sonoras, foram aplicados 102 questionários aos visitantes do parque,
escolhidos aleatoriamente, próximos aos pontos de medição. Os questionários possuem um total de 12
questões, as quais coletam informações nos seguintes aspectos:
1) Informações pessoais do visitante: sexo, idade, escolaridade e ocupação;
2) Perfil de uso do visitante: motivo, frequência de visita e tempo de permanência no parque;
3) Satisfação ou insatisfação do usuário: quanto à infraestrutura, estética e ambiente sonoro;
4) Percepção sonora: de sons agradáveis e desagradáveis, de sons de forma espontânea e induzida e
da mudança do ambiente sonoro ao entrar ou sair do parque.
Quanto à percepção espontânea e induzida, os entrevistados foram inicialmente questionados acerca
dos sons que conseguiam identificar, sem apresentação de opções para resposta ou qualquer tipo de sugestão
ou indução provocada pelo investigador. Após o registro das respostas, os visitantes foram questionados
sobre os sons de forma induzida, ou seja, foram apresentadas opções de resposta (sons de tráfego, de
máquinas, naturais e humanos). Além disso, foi solicitado aos entrevistados que avaliassem os sons
percebidos em uma escala de dominância (1: Perceptível; 2: Claramente Perceptível; 3: Domina
completamente).
Os dados coletados foram organizados e tratados em planilhas eletrônicas para representação gráfica e
análise de resultados, correlacionando o parâmetro quantitativo (LAeq) com as informações subjetivas de
percepção dos usuários. Tanto as medições sonoras quanto a aplicação dos questionários foram realizadas
durante o domingo de manhã (24 de março) das 9 às 15 horas, por se tratar do dia da semana de maior
visitação ao parque.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Dados objetivos
A NBR 10151/2000 estabelece níveis critérios de avaliação (NCA) para ambientes externos de áreas mistas
com vocação recreativa de até 65 dB(A) para o período diurno. Deste modo, a partir da leitura do L Aeq
medido no interior do PEUt (Figura 4) é possível observar que nos pontos 3, 4 e 6 foi registrado valores
dentro do recomendado.

Figura 4 - Níveis de Pressão Sonora Equivalente medidos e Nível Critério de Avaliação para áreas mistas com vocação recreativa
durante o período diurno.

Os pontos 3 e 4 apresentaram níveis sonoros menores em função da menor concentração e fluxo de


pessoas e veículos, uma vez que os ciclistas acessavam o interior do parque a partir das vias adjacentes ao
estacionamento e não pelo corredor central. O ponto 6 está localizado em um mirante para o lago Bolonha,
no qual os visitantes costumam pausar seu trajeto para contemplação e descanso. Este é o ponto mais distante
da concentração de pessoas e veículos, e apresentou o menor valor medido de LAeq, aproximadamente 44
dB(A).
Os níveis sonoros elevados nos pontos 1, 2 e 5 se dão principalmente pela concentração de pessoas e
veículos (carros e bicicletas) e pela existência de ambientes semiabertos, a exemplo das edificações onde
estão instalados os serviços do parque.
Os dados objetivos demonstram que os níveis sonoros dentro do parque são principalmente função do
som proveniente da concentração e interação de pessoas. É pertinente, então, avaliar qualitativamente estes
sons e de que forma os visitantes do parque os percebem.

117
4.2. Dados subjetivos
A partir da aplicação dos questionários foi possível realizar um total de 102 entrevistas dentro das limitações
do parque. Neste item serão discutidas as respostas subjetivas dos visitantes quanto à percepção do espaço e
do ambiente sonoro do PEUt.
O parque apresenta uma grande diversidade quanto ao público de visitação e utilização, onde cerca
de 70% dos entrevistados são do gênero feminino e aproximadamente a metade (49%) possui faixa etária
entre 20 e 35 anos. Maior parte dos entrevistados havia cursado ou estava cursando o ensino superior (57%)
e já estava empregada no mercado de trabalho (53%), enquanto os demais entrevistados, ou estavam
estudando (39%), ou possuíam outra ocupação (8%).
A figura 5 ilustra as respostas dos visitantes no que diz respeito aos perfis de utilização do parque,
onde os entrevistados foram questionados quanto à frequência de visita ao parque (a), o motivo da visita (b) e
o período de permanência (c).

(a) (b) (c)

Figura 5 - Perfil de utilização do Parque Estadual do Utinga.

Embora a frequência de visitação ao parque seja reduzida, em que cerca de 81% dos entrevistados
visitam o parque pelo menos uma vez ao mês, o tempo de permanência nas instalações é majoritariamente
superior a uma hora, chegando a duas horas em 42% dos casos. O motivo dessa permanência se dá
principalmente por lazer (50%) e atividades físicas (33%), corroborando com a proposta do parque como um
espaço de função recreativa.
Neste sentido, os entrevistados foram questionados quanto a satisfação em relação à infraestrutura do
parque (a) e a sua estética (b) (Figura 6), uma vez que a paisagem visual contribui tanto para o potencial de
visitação quanto para a percepção da qualidade sonora destes ambientes (SZEREMETA, 2012).

(a) (b)

Figura 6 - Grau de satisfação dos usuários.

É possível notar que a satisfação com relação à estética e beleza do parque (93%) é superior em
comparação à satisfação quanto a infraestrutura (84%), onde 8% dos entrevistados diziam estar insatisfeitos
ou muito insatisfeitos quanto a esse aspecto.
A fim de compreender melhor os fatores que influenciam na satisfação dos usuários, foram
formuladas questões pertinentes aos aspectos mais agradáveis e desagradáveis do parque. Estes
questionamentos revelam que a maioria dos entrevistados (78%) considera a paisagem natural e o contato
com os elementos naturais do parque o fator mais agradável, seguido da estética e beleza do ambiente (10%).

118
Dentre os aspectos desagradáveis, 45% dos entrevistados queixou-se da infraestrutura do parque,
principalmente quanto à ausência de ambientes para descanso e sinalização adequada no trajeto de
caminhada e pedalada. Ressalta-se também que 10% consideram a lotação e a concentração de pessoas um
dos fatores mais desagradáveis, ao passo que 26% não identificam aspectos que causem desconforto ou
incômodo.
Com relação a qualidade sonora, apenas 4% dos entrevistados alegou a tranquilidade do ambiente
como um dos aspectos mais agradáveis, enquanto 9% consideram o ruído e a própria falta de tranquilidade
um fator de insatisfação. Isto indica que a qualidade sonora é pouco relevante na avaliação positiva dos
visitantes, e quando percebida foi classificada de forma negativa.
Deste modo, as questões sobre a identificação dos sons de forma espontânea e induzida
complementam a avaliação do ambiente sob a perspectiva da percepção sonora. A figura 7 agrupa as
respostas dos entrevistados quanto aos sons percebidos de forma espontânea e induzida de acordo com a
escala de dominância (1: Perceptível; 2: Claramente perceptível; 3: Domina completamente).

Figura 7 - Distribuição de respostas na escala de dominância dos sons percebidos espontaneamente e de forma induzida.

Os resultados indicam uma percepção espontânea predominante de sons naturais e humanos,


principalmente na escala de dominância 2, demonstrando que a presença destes sons é claramente percebida
pelos usuários.
A figura 7 também mostra um crescimento de aproximadamente 9 vezes na identificação do ruído de
tráfego e de máquinas, onde os entrevistados passaram a notar estes sons mesmo que com pequena
intensidade. Os entrevistados que antes não haviam identificado os sons humanos, passaram a identificá-los
após a indução, classificando-os principalmente na maior escala de dominância (Domina Completamente),
enquanto os sons naturais, quando identificados, se concentraram na menor escala de dominância
(Perceptível).
Todavia, quando questionados acerca do volume sonoro dentro do parque, metade dos entrevistados
(53%) consideram o volume normal, enquanto 34% o consideram baixo ou não haviam percebido. Além
disso, sobre o grau de incômodo provocado pelo volume sonoro, os entrevistados disseram sentir pouco
(21%) ou nenhum (66%) incômodo, onde apenas 5% se queixaram neste quesito.
Estes dados demonstram que os sons humanos são a fonte dominante no parque, na maioria dos
casos, concorrendo com os sons naturais no mascaramento dos demais sons provenientes dos veículos e
máquinas.
No entanto, é necessário compreender se estes sons dominantes são agradáveis e condizem com a
expectativa do ambiente sonoro sob a perspectiva do usuário. Por esta razão, foram realizados
questionamentos sobre quais sons eram mais agradáveis e desagradáveis, dentro dos que haviam identificado
anteriormente. A maioria dos entrevistados (92%) destacou os sons naturais como os sons mais agradáveis
do parque, dentre estes foram citados os sons dos pássaros (68%), da água corrente (16%), dos ventos na
copa das árvores (13%) e dos insetos (3%), enquanto que os demais (8%) não identificaram sons agradáveis.
A figura 8 mostra a distribuição de sons desagradáveis (ruídos) identificados pelos entrevistados e
um detalhamento da categoria de sons humanos em outras três categorias específicas destacadas durante as
entrevistas.

119
Figura 8 - Percentual de sons identificados como desagradáveis pelos entrevistados.

É possível verificar a partir da figura 8 que os sons humanos são considerados pela maioria (63%)
como desagradáveis, onde 33% destes não foram especificados. Além disso, os sons de conversas altas
(15%), músicas reproduzidas por caixas de som (8%) e do tráfego de bicicletas (8%) compõem o rol de
queixas acerca do ambiente sonoro do parque.
Segundo Pérez-Martinez; Torija e Ruiz (2018), a fonte sonora subjetivamente dominante dentro de
um ambiente influencia grandemente na percepção da qualidade sonora deste. Neste sentido, o fato de a
fonte dominante ser também a fonte destacada pelos entrevistados como a mais incômoda, prejudica a
maneira com que os usuários avaliam a qualidade do ambiente sonoro do parque. Por esta razão,
aproximadamente um quinto dos entrevistados demonstraram neutralidade (9%) ou insatisfação (10%) com
relação à tranquilidade do espaço. Em compensação, 21% dos entrevistados disseram não identificar fontes
sonoras que provocassem incômodo.
Além desses, outros questionamentos foram feitos para avaliar a satisfação com a relação à
tranquilidade do parque, onde 63% disseram estar satisfeitos e 18% muito satisfeitos. E quanto a mudança do
ambiente sonoro ao entrar e sair do parque, 97% apontam haver mudança principalmente quanto ao ruído de
tráfego e de música intensa no ambiente externo ao parque.

5. CONCLUSÕES
O objetivo deste estudo foi caracterizar a percepção do Ambiente Sonoro (Paisagem Sonora) de uma amostra
de frequentadores do Parque Estadual do Utinga (PEUt), em Belém, a partir de consulta subjetivo
(entrevistas) e medição de níveis de pressão sonora equivalentes (LeqA).
Analisando exclusivamente os LAeq é possível constatar que o ambiente sonoro do PEUt está fora da
faixa de conforto acústico para os usuários nos pontos nas áreas de serviço/apoio do parque (pontos 1, 2 e 5).
Todavia, os dados subjetivos evidenciam que o maior incômodo sonoro identificado pelos usuários está
diretamente relacionado com a concentração de pessoas nessas áreas de apoio e com o ruído proveniente dos
ciclistas e das caixas de som instaladas nas bicicletas.
Essas conclusões corroboram com as considerações de Bambrilla et al. (2017) quando afirmam que os
parâmetros acústicos objetivos isoladamente, não são suficientes para caracterizar a qualidade sonora de um
determinado ambiente e tornar efetiva a legislação vigente. Além deles é necessário levar em consideração os
parâmetros subjetivos quanto a percepção das fontes sonoras e a interação entre a expectativa do usuário,
sem desconsiderar a forte coerência entre as paisagens sonora e visual.
Nesta pesquisa ratificou-se, ainda, o que Soares (2017) concluiu em sua tese de doutorado, quando
reitera que a morfologia, a geografia, o clima e os costumes locais, definem comportamentos que alteram os
sons naturais e favorecem a caraterização da paisagem sonora dos parques urbanos, em especial em regiões
de clima quente. No verão os parques são mais utilizados pelas pessoas e aves canoras, propagando seus
cantos por mais tempo. Esse fator foi considerado, nesta pesquisa, como os mais agradáveis pelos usuários.
Conclui-se, portanto, que existe uma dinâmica positiva entre o homem, o parque e os sons que ele
ouve. Quanto maior for a percepção induzida dos ruídos no local, menor é a agradabilidade sentida pelas
pessoas. Por outro lado, quanto melhor forem ouvidos os sons naturais, maior é a sensação de bem-estar.
Logo, a preservação dos sons naturais do parque se torna fundamental para a melhora da qualidade sonora do
mesmo.
Cabe, finalmente, recomendar uma agenda de pesquisas que inclua a percepção da paisagem sonora do
PEUt e sua influência na qualidade ambiental do parque. Principalmente para que se tenha subsídios que

120
possam nortear as políticas públicas de criação e preservação dos parques urbanos, para que possam
promover bem-estar físico (saúde) e psicológico aos frequentadores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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da comunidade – Procedimento. Rio de Janeiro, 2000.
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2012, Nova York. Anais. Nova York: Burroughs, C., 2012. p. 01 - 08.
BRAMBILLA, G; PEDRIELLI, F.; MASULLO, M. Soundscape characterization and classification: a case study. In: 24th
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Curitiba - PR. 2012. 144 f. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-graduação em Educação Física, Setor de Ciência Biológicas,
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AGRADECIMENTOS
Agradecimentos especiais a todos os alunos das turmas de Conforto Ambiental III e dos bolsistas do
Laboratório de Acústica da FAU-UFPA, que participaram da aplicação dos questionários no Parque Estadual
do Utinga.

121
AVALIAÇÃO DA PRECISÃO DE ALGORITMOS DE PREDIÇÃO DO
RUÍDO DE TRÁFEGO
Luiz Antonio Perrone Ferreira de Brito (1); Caroline Seriani (2)
(1) Professor Doutor, lapfbrito@gmail.com, Universidade de Taubaté, Programa de Pós Graduação em
Planejamento e Desenvolvimento Regional, Rua Visconde do Rio Branco, 210, Centro, Taubaté-SP – Brasil,
CEP: 12020-040, 12 33073431
(2) Aluna de graduação do Departamento de Arquitetura, cahseriani@hotmail.com, Universidade de
Taubaté - Programa de Iniciação Científica, Rua Visconde do Rio Branco, 210, Centro, Taubaté-SP – Brasil,
CEP: 12020-040, Tel.: (12) 3625-4151

RESUMO
A poluição sonora já é considerada como a segunda maior fonte de poluição ambiental nos aglomerados
urbanos sendo fonte de incômodo, e em certos casos, doenças para a população em geral. A principal fonte
de ruído nas cidades é o tráfego rodoviário, sendo este importante para a mobilidade da população e está
presente em todas as regiões, centrais e periféricas. O planejamento urbano possibilita a organização das
cidades, e neste caso, agrega uma melhora na convivência da população com a poluição sonora. Os mapas
acústicos são uma ferramenta útil para o planejamento urbano, mas não são acessíveis a todos devido ao
custo e complexidade de conhecimento necessário para sua utilização. Uma alternativa são os algoritmos
matemáticos obtidos na literatura, e portanto livres para o uso, que simulam o ruído de tráfego. Mas estes
podem estar desatualizados e não representarem a realidade brasileira. Este trabalho tem por objetivo avaliar
a precisão de um grupo de algoritmos na realizada brasileira de trafego rodoviário. Foram utilizados dados de
medição de oito trabalhos totalizando 213 medições em várias partes do Brasil. Os resultados obtidos
indicam que não há uma boa precisão nos resultados com uma variação de precisão com o aumento ou
redução no volume de tráfego e velocidade. Foram testados índices de correção que possibilitaram uma
precisão de 93% dos resultados.
Palavras-chave: Ruído de tráfego, planejamento urbano, poluição sonora.

ABSTRACT
Noise pollution is already considered as the second largest source of environmental pollution in cities and is
a source of nuisance, and in certain cases, diseases for population. The main source of noise in cities is road
traffic, which is important for the mobility. Urban planning can organize cities, and in this case, improves the
coexistence of population with noise pollution. Acoustic maps are a useful tool for urban planning but are
not accessible to all because of the cost and complexity of knowledge required for their use. An alternative is
the mathematical algorithms obtained in the literature, and therefore free to use, that simulate traffic noise.
But these may be outdated and do not represent the Brazilian reality. This work aims to evaluate the accuracy
of a group of algorithms in the Brazilian highway traffic. There were used data from eight studies totaling
213 measurements in various parts of Brazil. The obtained results indicate that there is not a good precision
in the results with a variation of precision with the increase or reduction in the volume of traffic and speed.
Correction indices were tested, which allowed an accuracy of 93% of the results.
Keywords: Traffic noise, urban planning, noise pollution.

122
1. INTRODUÇÃO
A União Europeia trata a exposição ao ruído ferroviário, industrial, de rodovias e aeronáutico como um
importante problema ambiental por causar efeitos adversos na qualidade de vida das pessoas e comprometer
o seu bem-estar (LAWTON; FUJIWARA, 2016). A Organização Mundial da Saúde (WHO, 2009) considera
o ruído como a segunda maior fonte de poluição ambiental podendo ser causa stress, irritabilidade e insônia.
Estima também que a cada ano na Europa Ocidental um milhão de pessoas saudáveis tem sua saúde
comprometida por algum distúrbio proveniente da poluição sonora (WHO, 2011). Nos Estados Unidos e na
Europa 26% das pessoas tem alguma deficiência auditiva bilateral com capacidade de se comunicar
comprometida em ambientes fechados e barulhentos (BASNER, 2014). Dessa forma o ruído urbano tornou-
se uma importante fonte de poluição com efeitos na saúde como hipertensão, estresse e dificuldades de
aprendizagem em crianças (MURPHY, 2014). Um dos principais motivos da ação perniciosa do ruído na
população é devido seus efeitos não serem imediatos, exceto o incômodo, gerando perda gradativa da
audição (MARQUES, 2015). Com a persistência, pode causar alterações físicas, mentais e emocionais, afeta
o rendimento no trabalho, interfere negativamente na comunicação das pessoas A redução da performance
cognitiva é outro grave problema encontrado na literatura. Estudos realizados com crianças mostram que
quando expostas a níveis de ruído elevados têm suas habilidades de aprendizado, leitura, memória e atenção
comprometidas (MARQUES, 2015). Exposições excessivas de longa duração, como a gerada pelo ruído de
grandes avenidas, pode ser relacionada com incidência de diabetes (SØRENSEN et al.,2013).
Uma das principais fontes de ruído urbano é o gerado pelo tráfego de veículos. Nas cidades de médio e
grande porte as dificuldades de mobilidade no período diurno têm elevado o fluxo de veículos,
principalmente os pesados, no período noturno com o consequente acréscimo no nível de ruído urbano
justamente no horário de descanso da maioria da população (BRITO, 2009). O ruído gerado pelo tráfego de
veículos é uma fonte de incômodo em cidades de pequeno porte como relatado por Scherer, Piageti e Vani
(2008), em cidades de médio porte segundo conclusões de Giunta, Souza, Viviani, (2012) e Silva, Oliveira
Junior e Oiticica (2017) e também da já esperada influência nas cidades de grande porte (NIEMYER e
CORTÊS, 2012). Esteves et al. (2013) estimaram perdas da ordem de €13 a €38 milhões no ano de 2001 na
atividade econômica de turismo na Europa devido a poluição sonora. Brito e Barbosa (2014), em estudo
sobre o conflito de interesses entre os turistas que procuram o lazer e os turistas e moradores locais que
procuram o descanso, concluíram que o excesso de ruído gerado pelas atividades turísticas atrapalha as
atividades diárias de uma estância. Łowicki e Piotrowska (2015) pesquisaram a relação da desvalorização
imobiliária na Polônia e o excesso de ruído e concluíram que há um decréscimo médio no preço das
edificações de cerca de 2,9% por dB de acréscimo no critério de ruído normalizado, conclusões semelhantes
também foram obtidas por Ivanovic et al (2014) e Szczepanska et al (2015).
A norma brasileira que disserta sobre ruído urbano é a NBR 10151, Avaliação de ruídos em áreas
habitadas visando o conforto da comunidade (ABNT, 2000). Segundo Schimitt (2014) em Porto Alegre,
Aleixo, Constantino e Carvalho (2014) em Goiânia e Guedes, Kohler e Carvalho (2014) em Aracaju, Silva,
Oliveira Junior e Oiticica (2017) em Maceió, o ruído urbano influenciado pelo tráfego de veículos supera os
limites da NBR 10151 (ABNT, 2000).
O planejamento urbano é essencial para a redução dos efeitos do ruído na população em geral, sendo
responsável pela qualidade de vida das cidades, e a mobilidade está inserida neste contexto. A população em
geral convive com a mobilidade urbana, diretamente ligada ao tráfego de veículos automotores, principal
matriz de transporte do Brasil, não podendo simplesmente ser eliminada (BRITO e TOLEDO, 2017).
Cidades de pequeno e médio porte, em algumas situações, são cortadas por rodovias, e cidades de médio e
grande porte, podem possuir anéis de circulação e grandes avenidas. O nível de pressão sonora gerado nestas
vias de circulação, pode ser obtido diretamente por algoritmos matemáticos que não consideram as reflexões
sonoras geradas pelas fachadas dos edifícios, em função do volume de trafego e velocidade (ZHAO et al,
2015). O nível de pressão sonora gerado em uma via é uma informação fundamental para definir, por
exemplo, a distância adequada de bairros residências, hospitais, escolas e outros receptores sensíveis.
O processo de licenciamento ambiental pode auxiliar os gestores públicos no planejamento urbano,
pois possibilita a antevisão dos futuros impactos de um empreendimento com potencial para gerar efeitos
negativos à população, de diversas formas, entre elas, a geração e propagação do ruído. Para tal são
necessárias ferramentas matemáticas que possibilitem a predição futura do ruído gerado por uma via de
tráfego de maneira que possa ser confrontada com a normalização. Os mapas acústicos possibilitam tal
análise e são produzidos por softwares de maneira a representar de forma clara a paisagem acústica de um
local, como os obtidos por Brasileiro e Dantas Araújo (2017) e também simular a evolução do ruído urbano
para uma data futura como o realizado por Costa et al (2017).
Os softwares comerciais que simulam o mapa acústico de uma região, a despeito de serem
fundamentais para o planejamento urbano, possuem um custo elevado o que inviabiliza de certa forma sua

123
utilização nas cidades de pequeno e médio porte, ou em projetos de pequeno orçamento, mas que podem ser
impactantes na geração do ruído ambiental. Os softwares requerem também certo grau de habilidade e
conhecimento na área de informática e acústica ambiental. Desta forma os algoritmos matemáticos
disponíveis gratuitamente na literatura podem suprir essa lacuna preservando a qualidade de vida da
população lindeira a vias e rodovias. Os algoritmos são indicados para cálculos mais simples, onde as
reflexões de fachadas não são consideraras, por exemplo, mas que ao mesmo tempo possibilita obter valores
do nível de ruído gerado por uma via em função principalmente do volume de tráfego e velocidade dos
veículos. Estes, em sua maioria, são desenvolvidos em outros países com realidades diferentes do Brasil,
seja no tipo e conservação do pavimento, tipo e conservação dos veículos e maneira de dirigir. Desta forma é
necessário saber quais desses algoritmos melhor se adaptam a realidade brasileira.

2. OBJETIVO
O objetivo desse trabalho é avaliar a precisão dos algoritmos matemáticos para determinação do nível de
pressão sonora gerado pelo tráfego rodoviário brasileiro.

3. MÉTODO
Os algoritmos avaliados na realidade brasileira de tipologia de veículos, condições de via e modo de dirigir
são os apresentados por Brito, Carvalho Jr e Toledo (2018) que serão retomados brevemente neste trabalho.
A principal característica desses algoritmos é estarem disponíveis na literatura gratuitamente e já terem sido
testados em seus países de origem. Outros algoritmos mais novos, e provavelmente mais precisos, não são
abertos para o uso, não cabendo dessa forma na proposta desse trabalho.
O Her Majesty’s Stationery Office (HMSO, 1988), do Departamento de Transportes do Reino Unido é
apresentado pela Equação 1. O nível de pressão sonora é obtido para uma distância de 13,5 metros da lateral
da via. Como a Equação 1 fornece o nível estatístico L10 (onde apenas 10% das medidas instantâneas obtidas
no período de integração superam este valor) deve-se, através da Equação 2, obter o LAeq(1h), conforme
proposto por Alexandre e Barde (1975). Na Equação v é a velocidade dos veículos em km/h, n o fluxo total
de veículos em v/h e p a quantidade de veículos pesados em relação aos leves (%). Neste algoritmo não está
demonstrada a parcela que considera a declividade da via, pois não faz parte do objetivo deste trabalho. O
nível de ruído gerado pelo tráfego de veículos depende do tipo de pavimento. As equações de correção
podem ser obtidas em HMSO (1988).
 500   5* p 
L10 = 10 * log n + 33 * log v + 40 +  + 10 log1 +  − 26,6 [1]
 v   v 
LA eq (1h ) = L10 − 3 [2]
O algoritmo apresentado pela Equação 3 foi adaptado por Lam e Tam (1998) do original da HMSO
(1988). Para o calculo do LAeq também é necessário utilizar a Equação 2 e também devem ser feitas as
correções para tipo de pavimento e função da velocidade conforme descrito em HMSO (1988). Tang e Tong
(2004) também propuseram uma adaptação no algoritmo proposto por HMSO (1988) para obtenção
diretamente do LAeq, Equação 4, sendo que neste caso não é necessária a correção para o tipo de pavimento
pois já foi considerado o betuminoso.
 500   5* p 
L10 = 10,5 * log n + 34,8 * log v + 40 +  + 10,5 log1 +  − 34,4 [3]
 v   v 
 500   5* p 
LAeq(1h ) = 10 * log n + 41,8 * log v + 40 +  + 10 log1 +  − 50,5 [4]
 v   v 
O algoritmo proposto pela Federal Highway Administration (FHWA, 1998) é apresentado pela
Equação 5. Este calcula o nível de pressão sonora equivalente (LAeq(1h)) para um período de uma hora, para
um observador a 15 m do eixo central da via, baseado no nível de ruído máximo (Lmax) obtido durante a
passagem de uma dada categoria de veículo pelo período de 5 s (L5s), sendo n o número de veículos que
transitam por hora, v/h, para a categoria de veículo considerada, v a velocidade em km/h do veículo, d a
distância entre o ponto de análise o centro da via, t o tempo de análise, em geral uma hora, e α o coeficiente
que considera o tipo de solo. As equações para o cálculo do L5s podem ser obtidas em FHWA (1998). O
LAeq(1h,i) deve ser calculado para cada categoria, automóveis e caminhões, por exemplo, (L5s,z para z
categorias) e todos os resultados devem ser somados na forma logarítmica por meio da Equação 6.
(1+ )
 n   15 
LAeq(1h,i ) = L5 s , z + 10 log  + 10 log  − 13 [5]
 v *t  d

124
z   LAeq 
,i 

L Aeq(Total ) = 10 * Log 10


  10  
[6]
 
i =1  
Uma das dificuldades desse modelo é a obtenção do ruído de passagem do veículo por um período de
5 s (L5s,z). Tansatcha et al (2005) propuseram um modelo matemático, Equação 7, baseado não no Lmax,
obtido em um período de 5 s, gerado por uma dada categoria de veículos, mas no LAeq, em um período de 10
s facilitando a obtenção do ruído de passagem, já que o valor obtido em medições de campo do L5s, pode não
ser preciso devido a dificuldade de acionar o medidor de ruído exatamente 2,5 s antes da passagem do
veículo, ou seja, apesar do final da medição ser facilmente determinada (2,5 após a passagem do veículo
defronte ao medidor) o início não é. Outro fator determinante de erros nesta metodologia são os veículos
longos e lentos que demoram mais de 5 s para passar defronte ao medidor. O cálculo do Leq10s,i é feito por
equações baseadas na categoria e velocidade de cada veículo e podem ser obtidas em Tancatcha et al (2005).
O coeficiente βef também é obtido no mesmo autor e representa o efeito da absorção das ondas sonora devido
a rigidez do solo. Pamanikabud, Tansatcha e Brown (2008), Equação 8, e Zhao et al. (2015), Equação 9
propuseram modelos baseados no tempo de medição inicial de 20 s (L20s, i) para uma melhor amostra dos
veículos longos além de reduzir o erro no tempo de medição. Os valores de L20s são os fornecidos por
Pamanikabud, Tansatcha e Brown (2008). Ambos os algoritmos consideram d0 igual a 15 m; Para se obter o
LAeq(total) utiliza-se a Equação 6.
 ef
 15 
LAeq(1h,i ) = L10 s ,i + 10 log  + 10 log ni − 25,563 [7]
d

d 
LAeq(1h,i ) = L20 s ,i + 10 log 0  + 10 log ni − 22,553 [8]
d 

d    
LAeq(1h,i ) = L20 s , z + 10 log 0  + 10 log ni + 10 log  − 22,55 [9]
 d    
A norma alemã, Guideline for Noise Prediction on Streets RLS 90 (RLS 1990) propõe o algoritmo
dado pela Equação 10 para um período de 1 hora, a 25 m de distância, contados a partir do eixo central da
via, sendo necessária a correção devido a velocidade e tipo de pavimento conforme descrito na publicação.
Outras formulações são a desenvolvida pelo Consiglio Nazionale delle Riecerche, CNR (COCHI, FARINA e
LOPES, 1991), Equação11, que é derivada do algoritmo RLS 90. Este algoritmo precisa ser corrigido de
acordo com a velocidade dos veículos e o tipo de pavimento conforme apresentado pelos autores, sendo nl e
np o fluxo de veículos leves e pesados por hora, d0 a distância de referencia de 25 m. Os coeficientes α e β
são referentes a emissão de ruído de veículos leves e pesados respectivamente, podendo ser alterados dentro
de cada realidade. No modelo padrão italiano os valores de α e β são 35,1 e 6 respectivamente.
L Aeq(1h ) = 37 ,3 + 10 * log[ n * (1 + 0,082 * p )] [10]
L Aeq(1h ) =  + 10 * log( nl +  * n p ) − 10 * log( d / d 0 ) [11]
Para alimentar os algoritmos selecionados foi realizada uma pesquisa bibliográfica em trabalhos
publicados sobre o ruído de tráfego em diferentes cidades do Brasil, que fornecessem a contagem de veículos
leves e pesados, a velocidade considerada na via e a distância entre a via e o sonômetro. Após a tabulação
dos dados o LAeq apresentado nos trabalhos foi calculado para uma distância de 15 m sendo esta padrão para
todo pesquisa. Os dados foram inseridos nos algoritmos e transformados em gráficos para a melhor
visualização dos resultados.

4. RESULTADOS
A pesquisa bibliográfica realizada identificou 23 artigos publicados em anais de congressos, revistas
especializadas e em programas de pós-graduação que tratam do ruído de tráfego no Brasil. Deste foram
utilizados os dados de oito trabalhos, pois os demais não apresentavam todas as informações necessárias
como a contagem de veículos (leves, motocicletas, caminhões e ônibus), velocidade de tráfego, distância da
medição em relação ao eixo da via ou de sua lateral e nível de pressão sonora obtido. Os trabalhos utilizados
foram os de Calixto (2002) realizado no Estado do Paraná, Kawakita (2008) no Estado de São Paulo, Pais et
al (2012) no Estado do Paraná, Pinto (2013) no Estado do Rio Grande do Norte, Melo et al (2015) no Estado
da Paraíba, Silva, Oliveira Junior e Oiticica (2017) no Estado de Alagoas e Brito e Toledo (2017) e Bécard et
al (2017) no Estado de São Paulo. Ao todo foram selecionadas 215 medições das quais 2 foram descartadas
pois a diferença entre o nível de pressão sonora simulado e o medido era superior a 10 dB, indicando a

125
possibilidade de erro na medição ou contagem dos veículos. Em todos os algoritmos foram utilizados os
fatores de correção para o pavimento asfáltico, normalmente utilizado no Brasil, quando pertinente.
As Figuras 1 a 3 apresentam a relação entre o nível de pressão sonora simulado e o medido com os
algoritmos da HMSO (1988), Equações 1 e 2, as correções propostas por Lam e Tam (1998), Equação 2 e 3,
no modelo da HMSO (1988), e as correões propostas por Tang e Tong (2004), Equação 4, também no
algoritmo da HMSO (1998). As retas vermelhas indicam uma faixa de tolerância de ± 2 dB. Nos três
algoritmos testados há uma tendência de subestimar os valores simulados em relação aos medidos (pontos
acima das duas linhas vermelhas) principalmente com o aumento do volume de tráfego (ângulo de inclinação
da linha de tendência maior que 450). Observa-se também um índice de correlação (R2) baixo o que indica
uma dispersão dos resultados.

Figura 2 Resultados obtidos aplicando os dados selecionados no


Figura 1 Resultados obtidos aplicando os dados selecionados no
algoritmo HMSO (1998) com as correções propostas por Lam e
algoritmo HMSO (1998)
Tam (1998)

Figura 3 Resultados obtidos aplicando os dados selecionados no algoritmo HMSO (1998) com as correções propostas por Tang e
Tong (2004)

As Figuras 4 a 6 apresentam os resultados baseados nos algoritmos que adotam o ruído de passagem
dos veículos como método de avaliação. Nesta metodologia se calcula o nível de pressão sonora durante a
passagem do veículo em um dado período, que posteriormente é aplicado no algoritmo proposto. O processo
se repete para cada categoria de veículos. O resultado final é a soma logarítmica de cada uma das categorias
como indicado na Equação 6. Tansatcha et al (2005), Equação 7, propõe um tempo de medição de 10 s (L10s)
e Pamanikabud, Tansatcha e Brown (2008), Equação 8, e Zhao et al. (2015), Equação 9 um tempo de
medição de 20s (L20s). Tansatcha et al (2005) mostra uma tendência de superestimar os resultados simulados
com o volume de tráfego mais baixo (pontos abaixo das duas linhas vermelhas), invertendo a tendência com
o aumento do fluxo (ângulo de inclinação da linha de tendência maior que 450). O mesmo acontece, mas em
menor intensidade com Pamanikabud, Tansatcha e Brown (2008) o que possibilitou mais resultados
simulados dentro do limite de ± 2 dB representados pelas linhas vermelhas. Os resultados obtidos no
algoritmo de Zhao et al. (2015) apresenta um comportamento similar ao de Pamanikabud, Tansatcha e
Brown (2008), inclusive com índices de correlação (R2) similares, o que comprova que um tempo maior na
obtenção do ruído de passagem dos veículos (L20s ao invés de L10s) melhora a precisão destes algoritmos.
Mas os algoritmos que calculam o nível de ruído durante a passagem de uma categoria de veículo foi
determinado por regressão linear de uma amostra que pode ser representativa quanto às características dos
veículos daquele país, mas não do Brasil. Esses algoritmos base para cada categoria de veículos podem ser
obtidos diretamente com nas referências citadas.

126
Figura 4 Resultados obtidos aplicando os dados selecionados no Figura 5 Resultados obtidos aplicando os dados selecionados no
algoritmo Tansatcha et al (2005) algoritmo Pamanikabud (2008)

Figura 6 Resultados obtidos aplicando os dados selecionados no algoritmo Zhao (2015)

A Figura 7 apresenta os resultados baseados no algoritmo proposto por FHWA (1998), Equação 5,
baseado no ruído de passagem dos veículos em 5 s (L5s). Estudou-se também a utilização do algoritmo da
FHWA (1998) com a utilização do L10s proposto por Tansatcha et al (2005), Figura 8, e L20s proposto por
Pamanikabud, Tansatcha e Brown (2008), Figura 9. No algoritmo original da FWHA (1998), L5s, os
resultados simulados foram superestimados, ou seja, ficaram em sua maioria acima do medido. Utilizando o
L10s proposto por Tansatcha et al (2005) os resultados simulados se colocaram dentro da margem de ± 2 dB
mas ainda apresentado a tendência de superestimar os resultados simulados, agora apenas nos fluxos de
tráfego menores. Ao se aplicar o L20s de Pamanikabud, Tansatcha e Brown (2008), Figura 9, no algoritmo da
FWHA (1998) observou-se uma tendência inversa, os resultados simulados foram menores que os reais
medidos, sendo que essa tendência diminui com o aumento do volume de tráfego e velocidade (ângulo de
inclinação da linha de tendência maior que 450). Desta forma o algoritmo inicial da FHWA (1998) baseado
no L5s tem um desempenho melhor quando utilizado o L10s proposto por Tansatcha et al (2005), sendo que o
L20s proposto por Pamanikabud, Tansatcha e Brown (2008) superestima dos resultados simulados. Os índices
de correlação (R2) dos algoritmos que utilizam o ruído de passagem apresentados nas Figuras 4 a 9 são
similares, sendo os modelos L10s de Tansatcha et al (2005) e o L5s do FHWA (1998) os menores valores.
A Figura 10 apresenta os resultados baseados no algoritmo proposto por RLS 90 (1990), Equação 10,
que apresentou resultados subestimados em sua maioria, principalmente com nas maiores velocidades e
volume de tráfego. A Figura 11 apresenta os resultados baseados no algoritmo de Cochi, Farina e Lopes
(1991) utilizado pelo Consiglio Nazionale delle Riecerche, CNR, Equação 11, sendo que este apresentou o
maior número de resultados dentro do limite proposto, bem como o melhor índice de correlação, sendo o
único que obteve valor acima de 0,8.

127
Figura 8 Resultados obtidos aplicando os dados selecionados no
Figura 7 Resultados obtidos aplicando os dados selecionados no
algoritmo FWHA (1998) utilizando o L10s de Tansatcha et al
algoritmo FWHA (1998)
(2005)

Figura 9 Resultados obtidos aplicando os dados selecionados no algoritmo FWHA (1998) utilizando o L 20s de Pamanikabud (2008)

Dos algoritmos utilizados os propostos por Pamanikabud, Tansatcha e Brown (2008), Zhao et al.
(2015) e FHWA (1988) com o L10s proposto por Tansatcha et al (2005) foram o que apresentaram menor
número de valores simulados fora da margem de diferença de ± 2 dB, cerca de 24% com uma correlação de
0,70, 0,79 e 0,70 respectivamente, mas todos com um ângulo de inclinação da linha de tendência superior a
450. Esse comportamento de simulação se deu em todos os algoritmos utilizados o que indica que os
resultados simulados, quando o volume de tráfego e a velocidade são menores, são maiores que os medidos.
Com o aumento desses parâmetros essa tendência se inverte. Essa característica dos algoritmos pode ser
influenciada pela diferença da geração de ruído com a variação da velocidade. Segundo Heckl (1985) a partir
da velocidade de aproximadamente 60 km/h o ruído gerado pelos pneus dos veículos leves predomina sobre
o ruído gerado pelo conjunto motor/transmissão. Isso se dá devido a efeitos vibratórios e aerodinâmicos. O
movimento circular dos pneus e os efeitos vibratórios causados pela deformação na banda de rodagem, causa
a vibração de todo o sistema o que gera ruído (EISENBLAETTER, WALSH, KRYLOV, 2010). O ruído
aerodinâmico é gerado pela passagem forçada de ar pelas cavidades de escoamento de água do pneu. A
geração de ruído se dá na expulsão deste volume de ar em alta velocidade (CESBRON et al, 2009). Assim
um algoritmo que represente bem as características do tráfego rodoviário de uma região, além da precisão em
relação aos valores medidos, necessita também que mantenha uma coerência de resultados com a variação do
volume de tráfego e velocidade dos veículos.
Uma das formas de se propor adaptações nos algoritmos seria simplesmente adicionar ou subtrair um
fator do resultado obtido. Para isso é necessário que a linha de tendência dos resultados obtidos seja o mais
próxima possível de 450. Os algoritmos que melhor apresentam essa possibilidade são dos da FWHA (1998),
Figuras 7 e 9, que foram adaptados e reapresentados na Figura12 (FWHA, 1998) com uma correção de -4,5
dB e na Figura 13 com uma correção de 6,5 dB, sendo que o primeiro apresenta cerca de 22,5% dos
resultados fora da margem de ± 2 dB e o segundo 18,7 %.
Brito e Toledo (2017) propuseram uma alteração nos coeficientes α e β, referentes à emissão de
ruído de veículos leves e pesados respectivamente, de modo a melhora a precisão dos dados simulados pela
Equação 11 e apresentados na Figura 11. Propuseram os valores de 30,5 e 12 para os coeficientes α e β
respectivamente baseados em um volume de dados de 50 medições realizadas e vias de tráfego com
velocidades de 60 a 80 km/h. No presente estudo são consideradas 213 medições em vários locais do país de
forma que são mais representativas como um todo, sendo que as velocidades das vias avaliadas varia entre
45 e 80 km/h. Os valores dos coeficientes α e β propostos são 28,2 e 10,3, apresentados na Figura 14. Em

128
relação aos resultados obtidos com os coeficientes originais (35,1 e 6), Figura 11 nota-se uma elevação de
valores simulados dentro da margem de erro de ± 2 dB representadas pelas linhas vermelhas. Apenas 25
(11,7%) das 213 medições apresentaram diferenças superiores a ± 2 dB entre os valores simulados e
medidos, mas ainda nota-se que a linha de tendência não possui o ângulo desejável de 450 indicando que o
modelo não tem a mesma precisão independente do volume de tráfego e velocidade.
Desta forma, apesar do algoritmo representado pela Equação 11 necessitar de correções devido à
velocidade, como feito nesse trabalho, é possível utilizar coeficientes α e β diferentes para certos grupos de
velocidade, como por exemplo, maiores ou menores que 60 km/h devido a já citada diferença na forma de
geração de energia sonora. Aplicando valores de α e β como especificados na Tabela 1 obtém-se os
resultados da Figura 15, onde apenas 15 (7,0%) das 213 simulações, estão fora da margem de erro de ± 2 dB.
Nessa nova proposta a linha de tendência está bem próxima dos desejáveis 450melhorando a precisão do
modelo independentemente do volume de tráfego e velocidade dos veículos.

Figura 10 Resultados obtidos aplicando os dados selecionados Figura 11 Resultados obtidos aplicando os dados selecionados
no algoritmo RLS (1990) no algoritmo Cochi, Farina e Lopes (1991)

Figura 12 Figura 7 Resultados obtidos aplicando os dados Figura 13 Resultados obtidos aplicando os dados selecionados
selecionados no algoritmo FWHA (1998) com uma correção de no algoritmo FWHA (1998) utilizando o L20s de Pamanikabud
-4,5 dB (2008) com um correção de 6,5 dB

Tabela 1 Coeficientes α e β propostos para velocidades superiores e inferiores a 60 km/h


Velocidade α β
≥ 60 km/h 27,1 15,5
< 60 km/h 32,5 11,2
.

129
Figura 15 Algoritmo de Cochi, Farina e Lopes (1991) com nova
Figura 14 Algoritmo de Cochi, Farina e Lopes (1991) com nova
proposta para valores de α e β por grupos de velocidade (maior
proposta para valores de α e β
ou menor que 60 km/h)

5. CONCLUSÕES
Os algoritmos desenvolvidos em outros países, principalmente os que utilizam regressão linear como base
para cada categoria de veículos, não conseguem reproduzir com um grau de precisão desejável o atual padrão
de emissão sonora no Brasil. Deve-se destacar também, que por serem livres também são antigos, e foram
desenvolvidos em outra realidade de veículos, diferente da atual. A determinação do ruído de passagem (L10s,
L20s) na condição brasileira poderia melhorar a precisão desses algoritmos.
Todos os algoritmos testados não apresentam uma linearidade nas simulações, variando a precisão
com o aumento do volume de tráfego e/ou velocidade, o que inviabiliza a aplicação de um fator de correção,
positivo ou negativo.
O único dos algoritmos que permitem tal ação é o desenvolvido por Cochi, Farina e Lopes (1991)
utilizado pelo Consiglio Nazionale delle Riecerche, CNR, sendo que quando utilizado os coeficientes α e β
por categoria de velocidade se obtém a melhor precisão (93%), com uma linha de tendência próxima a 450, e
com a maior correlação (R2), 0,83.

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AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPQ e a Universidade de Taubaté pelo financiamento dessa pesquisa.

131
AVALIAÇÃO DE INTELIGIBILIDADE EM SALA DE AULA DO ENSINO
FUNDAMENTAL PARA IDENTIFICAÇÃO DAS CONDIÇÕES ACÚSTICAS
DE ESCOLAS PÚBLICAS EM SANTA MARIA – RS

Viviane S.G. Melo (1); Yuri M. Pinheiro (2); João V.G. Paes (3)
(1) DSc, Professora do curso de Engenharia Acústica e do PPGEC, viviane.melo@eac.ufsm.br
Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Tecnologia, Departamento de Estruturas e Construção Civil,
Av. Roraima, 1000, Camobi, Santa Maria, RS, 97105-900, Tel.: (55) 3220 6112.
(2) Bolsista FIEX 2018, Aluno do curso de Engenharia Acústica, yuri.pinheiro@eac.ufsm.br
(3) Bolsista FIEX 2018, Aluno do curso de Engenharia Acústica, joao.paes@eac.ufsm.br

RESUMO
Este artigo reporta um estudo, utilizando testes de articulação, para a avaliação de inteligibilidade da fala em
salas de aula a fim de avaliar as condições acústicas em salas de aula de escolas públicas sediadas no
município de Santa Maria. O tema desenvolvido envolve a qualidade acústica de salas de aula e o
desenvolvimento de novas metodologias em ensaios de acústica para o ajuste adequado dos ambientes de
ensino. Propõe-se a avaliação da inteligibilidade a partir do levantamento das respostas impulsivas
biauriculares nas salas. O sinal sonoro adotado é a varredura em frequência. Para a emissão do sinal sonoro,
é utilizada uma fonte onidirecional e, como receptor, uma cabeça artificial, responsável pela gravação dos
sinais biauriculares. A partir dos sinais obtidos nas medições, são calculados os parâmetros acústicos das
salas de aula e realizado um procedimento de processamento de sinais para a geração de aurilizações. Essas
aurilizações são, em seguida, testadas em crianças por meio de fones de ouvido. De acordo com os
resultados, a maioria das salas possui um tempo de reverberação próximo do adequado para a fala, mas
apresenta isolamento insuficiente para o conjunto paredes e esquadrias, possibilitando a interferência do
ruído de fundo vindo do ambiente externo.
Palavras-chave: inteligibilidade, acústica de salas, qualidade acústica, aurilização.

ABSTRACT
This article reports a study, using articulation tests, to evaluate the word intelligibility in classrooms in order
to evaluate the acoustic conditions in classrooms of public schools located in the city of Santa Maria. The
theme involves the acoustic quality of classrooms and the development of new methodologies in acoustic
tests for the adequate adjustment of teaching environments. It is proposed the evaluation of intelligibility
from the measurement of impulse binaural responses in the rooms. The adopted sound signal is the sweep
sine. For the emission of the sound signal an omnidirectional source is used and as receiver an artificial head
is responsible for the recording of binaural signals. From the signals obtained in the measurements, the
acoustic parameters of the classrooms are calculated and a procedure of signal processing for the generation
of auralizations is carried out. These auralizations are then tested on children by means of headphones.
According to the results, most rooms have a reverberation time close to that suitable for speech, but it
presents insufficient insulation for the due to walls, doors and windows, allowing the interference of the
background noise.
Keywords: intelligibility, room acoustics, acoustic quality, auralization.

132
1. INTRODUÇÃO
A saúde é um componente fundamental da qualidade de vida do ser humano, que se reflete na sua capacidade
produtiva e de aprendizado. Um ambiente ruidoso dá lugar à fadiga, perda de concentração, nervosismo,
reações de estresse, ansiedade, falta de memória, baixa produtividade, cansaço, irritação, problemas com as
relações humanas, dificuldade de aprendizagem etc. (COSTA e QUERIDO, 2009).
As salas de aula das escolas brasileiras — em particular as das escolas públicas —, sabidamente não
proporcionam as condições ideais para o ensino, no que toca às suas condições acústicas. O principal fator de
qualidade acústica em uma sala de aula é a inteligibilidade da fala que, grosso modo, traduz a maior ou
menor facilidade com que os estudantes podem ouvir e entender o que diz o professor em aula.
A capacidade de ouvir é um componente fundamental da qualidade de vida do ser humano, que se
reflete na sua capacidade produtiva e de aprendizado. É bem conhecido o fato de que a inteligibilidade da
fala em salas de aula, principalmente naquelas utilizadas para o ensino fundamental, é fator preponderante na
qualidade e eficácia do aprendizado. Alguns autores consideram que a acústica da sala de aula seria o
principal fator de caráter global responsável pelo assim chamado analfabetismo funcional, que se caracteriza
pela inabilidade do aluno em ler e interpretar adequadamente um texto de seu nível escolar (ENIZA e
GARAVELLIA, 2003).
Diversos autores têm se debruçado sobre essa questão (BRADLEY, 1986, 1996, 1999). Contudo, os
estudos realizados sobre o tema nos países do primeiro mundo concentram-se mais nos aspectos da acústica
interna da sala, uma vez que em países de clima temperado ou frio, a influência do ruído externo sobre a
acústica da sala é pequena, dadas as condições climáticas adversas desses países. No Brasil, a tradição
arquitetônica é de construções de janelas amplas e adoção de ventilação natural, o que propicia a forte
influência do ruído externo em seu interior (MÜLLER, 2004).
A inteligibilidade da fala que, como mencionado, é o fator fundamental para o entendimento do que o
professor diz em sala de aula e, em consequência, para o aprendizado, requer, para sua avaliação, de um
demorado e oneroso ensaio, com a participação dos alunos, denominado teste de articulação, criado por
French e Steinberg (1947). Um teste de articulação, de forma bastante resumida, consiste em se apresentar
um ditado, podendo ser formado por palavras monossilábicas, que deverá ser anotado pelos presentes.
A correção desse ditado, após um adequado tratamento estatístico, fornecerá um valor médio percentual de
acertos que constituirá a inteligibilidade da fala na sala em estudo (um número entre 0 e 100%).

2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é apresentar os resultados de uma pesquisa de extensão tendo como meta principal a
melhoria das condições acústicas das salas de aula de escolas públicas do município de Santa Maria a partir
de apoio técnico da área de acústica e vibrações da UFSM. Esta pesquisa tem, como aspecto relevante, a
importância de um projeto de extensão no aprimoramento da eficácia do ensino fundamental, uma vez que
salas de aula acusticamente inadequadas são um dos maiores responsáveis pela eventual ineficácia na
aprendizagem.

3. MÉTODO
Foram medidas as respostas impulsivas mono e biauriculares para quatro posições de microfone e cabeça
artificial em cada uma de três salas de aula do ensino fundamental. Em seguida, foi avaliada a
inteligibilidade da fala em uma dessas salas, por meio de testes de articulação, onde participaram seus
alunos. O método adotado para o levantamento da inteligibilidade da fala foi a aplicação de testes de
articulação a partir de três listas anecoicas contendo 20 monossílabos cada uma. Finalmente, foi feita a
aurilização de cada uma das listas, a partir da convolução dos sinais anecoicos com a resposta impulsiva
biauricular levantada na sala. As aurilizações foram, então, aplicadas, por meio de fones de ouvido, a alunos
da mesma turma, obtendo-se, assim, testes de articulação virtual.

3.1. Avaliação da inteligibilidade


Quando se faz a análise acústica de um ambiente é necessário que a destinação da sala seja conhecida. Salas
de aula têm como principal fonte sonora a voz, dessa maneira é necessário que parâmetros relacionados a
inteligibilidade da fala, bem como tempo de reverberação, definição, fator de clareza, fator de ganho e STI.
O projeto acústico de salas depende diretamente de sua utilização. Em salas para música, uma das
necessidades básicas é que a sala promova boa espacialidade (TENENBAUM et. al., 2007; BERANECK,
1996), enquanto em plantas industriais a questão que se impõe é o nível sonoro a que o trabalhador estará
exposto (HARRIS, 1998). No que se refere a salas de aula, o propósito essencial é a boa inteligibilidade da
fala, de modo que a comunicação entre professor e estudantes se faça sem esforço, facilitando ao máximo a
compreensão e, consequentemente, o aprendizado.

133
Na caracterização da qualidade acústica de salas, os principais parâmetros objetivos a serem
considerados são: T30 (tempo de reverberação), EDT (tempo de decaimento inicial), C50 (fator de clareza,
para a palavra), Ts (tempo central), D50 (definição), BR (razão de baixos) e a família de IACC (correlação
cruzada interauricular), tal como definidas na norma ISO 3382:2008.
Os ensaios para o levantamento das respostas impulsivas para distintos pares fonte/receptor, utilizaram
sinais de varredura em frequência (sweep sine) (MÜLLER and MASSARANI, 2001), excitando e adquirindo
os sinais de resposta via um programa de processamento digital de sinais implantado em microcomputador.
A Figura 1 ilustra um esquema de testes de articulação (MELO, 2012). No intervalo dos testes de
articulação, conduzidos a partir de ditado com listas de palavras monossilábicas, a fonte sonora, à direita,
emite o sinal sonoro, contendo a varredura em frequência e a cabeça artificial registra a gravação da resposta
impulsiva da sala, enviando os sinais ao computador.

Figura 1 – Ilustração dos testes de articulação conduzidos em sala de aula com emissão e gravação simultâneas (MÜLLER, 2004).

Para o levantamento da inteligibilidade da fala em salas de aula foram executados testes de


articulação, segundo as etapas a seguir.
- Preparação de um conjunto de listas de palavras monossilábicas, a partir de um banco de dados
contendo gravações de 226 monossílabos registradas em câmara anecoica.
- Condução de testes de articulação em salas de aula do ensino fundamental e médio, onde listas
anecoicas são apresentadas aos alunos de cada turma, todas emitidas pela fonte sonora.
- Emissão de varreduras em frequência, com a presença dos alunos, para o levantamento das respostas
impulsivas para algumas posições na sala de aula. São emitidas cinco varreduras, de modo a se extrair uma
resposta impulsiva média, para cada posição em cada sala ensaiada.
- É registrado o nível de ruído de fundo presente em cada uma das salas ensaiadas, bem como a
temperatura ambiente e a umidade relativa do ar.
- A partir dos resultados obtidos para a inteligibilidade da fala nas salas de aula avaliadas, foi
produzido um relatório sobre as condições acústicas encontradas nas escolas participantes do Projeto. Alguns
principais parâmetros de qualidade acústica de salas, especialmente T30, D50, C50, IACC e STI foram
calculados.

3.1.1. Metodologia de medição da resposta impulsiva mono e biauricular


Para cada sala de aula avaliada, realizou-se a medição da resposta impulsiva com auxílio do software
MatLab. Gerou-se um sweep de seis segundos de duração e gravaram-se os sinais de resposta com os
microfones dispostos em quatro pontos de cada sala de aula. A posição da fonte sonora foi centralizada junto
ao quadro negro, enquanto os microfones e a cabeça artificial foram posicionados no lugar de algumas
cadeiras ocupadas normalmente pelos alunos. A Figura 2 apresenta a configuração do posicionamento do
conjunto fonte sonora, microfones e cabeça artificial utilizada em uma das salas de aula ensaiada.

134
Figura 2 – Configuração com o posicionamento da fonte sonora, cabeça artificial – indicada pelo retângulo vermelho – e microfones
distribuídos na sala de aula – indicados pelos círculos vermelhos. (Os autores, 2018).

Ao todo, foram avaliadas neste estudo três salas de aula (Salas 1, 2, e 8). As Salas 1 e 2, são
adjacentes, separadas por uma parede lateral removível, feita de madeira e com vários problemas de
transmissão sonora. A Sala 8 foi escolhida por ser a mais próxima da rua, estando mais suscetível ao ruído de
tráfego. Na Figura 3 é possível observar a parede de madeira que divide as duas salas (seta vermelha). A
Figura 4 ilustra a configuração e layout da Sala 8.

Sala 1

Sala 2

Figura 3 – Salas de aula 1 e 2 com indicação da parede lateral por meio de setas vermelhas. (Os autores, 2018).

135
Figura 4 – Sala 8 da Escola Municipal Padre Nóbrega. (Os autores, 2018).

3.1.2. Diagramas e conexões


O sinal utilizado para a medição é uma varredura exponencial de senos, conforme sugere a norma ISO 3382 -
2, projetada para excitar todas as frequências dentro da faixa audível (20 Hz a 20 kHz) por um tempo
suficientemente grande para excitar a sala até seu estado estacionário em cada frequência. Esse sinal foi
gerado no computador utilizando o pacote ITA Toolbox, no MatLab. O sinal, então, é enviado para a
interface de áudio, responsável pela conversão digital/analógico (DAC) que, por sua vez, o transmite para o
amplificador de potência 2716. Finalmente, completando a cadeia de excitação da sala, o sinal amplificado é
enviado para a fonte dodecaédrica. Os microfones posicionados no interior da sala captam o sinal e o enviam
à interface de áudio, que realiza a conversão analógico/digital (ADC), para gravação do sinal captado, na
forma de um vetor temporal, no MatLab.
A cadeia de medição adotada neste estudo consistiu, de um modo geral, no uso dos microfones
conectados à medusa, e esta, por sua vez, conectada à interface de áudio, conforme mostra a Figura 5.

Figura 5 – Diagrama de blocos do fluxo de sinais para obtenção das respostas impulsivas das salas de aula. (Os autores, 2018).

É importante observar que, mesmo o sinal sendo projetado de 20 Hz a 20 kHz, a reprodução do


mesmo fica limitada devido à função resposta em frequência (FRF) da fonte sonora, assim como o espectro
gravado pelos microfones fica limitado pela FRF destes, impondo desse modo uma coloração imposta pelo
sistema de reprodução-gravação no sinal de interesse. Foram utilizados dois conjuntos de microfones para
captação do sinal na sala. Um par de microfones KE4 da Sennheiser e um trio de microfones WM-61 da
Panasonic. O trio WM-61 foi utilizado como microfone onidirecional, monoauricular, para obtenção da
resposta impulsiva da sala; já o par KE4 foi utilizado para obtenção da resposta impulsiva biauricular da sala.
Os microfones KE4 foram posicionados na entrada do conduto auditivo da cabeça artificial, para possibilitar
a aquisição de sinais biauriculares com a interface de áudio, levando à medição da resposta impulsiva
biauricular da sala.

3.1.3. Realização das medições


Mediu-se uma posição de fonte por sala para quatro posições de receptores (três microfones e uma cabeça).
As Figuras 6 e 7 mostram as plantas baixas das salas avaliadas, assim como o posicionamento da fonte
sonora e dos receptores.

136
Figura 6 – Planta baixa, com indicação do posicionamento da Figura 7 – Planta baixa, com indicação do posicionamento da
fonte e receptores, das Salas 1 e 2, separadas por uma parede fonte e receptores, da Sala 8. (Os autores, 2018).
lateral removível. (Os autores, 2018).

Escolheu-se utilizar a fonte sonora centralizada à frente do quadro negro, já que esta é a região
normalmente ocupado pelo(a) professor(a). A fim de melhor caracterizar as salas, escolheu-se quatro
posições de microfones de maneira que estes estivessem o mais distante possível cada um dos outros,
levando em consideração a limitação de comprimento dos cabos utilizados nas ligações.
Em um primeiro momento, uma cabeça artificial foi colocada na Posição 1 e os demais microfones nas
Posições 2, 3 e 4. Realizaram-se três medições seguidas, objetivando a obtenção de uma média, para, então,
haver a troca de posição. A cabeça artificial ocupa a Posição 2, e o microfone que então ocupava esta posição
foi colocado na Posição 1, realizando-se novamente três medições. Dessa forma, muda-se a cabeça artificial
de posição até que se faça a medida em todos os quatro pontos. Ao todo, a medição de cada sala de aula
durou, em média, 40 minutos e a medição completa demandou 3 horas e meia para sua realização.

4. RESULTADOS
4.1. Tempo de reverberação
A Figura 8 mostra a comparação entre os valores dos tempos de reverberação (TRs) encontrados para as três
salas medidas. Nota-se que o TR da Sala 8 difere notavelmente dos demais. Já os TRs das Salas 1 e 2 se
aproximam, na maioria das bandas de frequência. Isso deve-se ao fato do layout da Sala 8 ser bem diferente
daquele das Salas 1 e 2. De acordo com a norma ANSI/ASA S12.60-2010 o tempo de reverberação em sala
de aula com volume menor que 283 m3 (10.000 ft3) não deve ser superior a 0,6 s nas bandas de 500 Hz,
1 kHz e 2 kHz. Se faz necessário, portanto, o controle do TR em todas as salas examinadas, já que o valor
encontrado é superior ao recomendado. As Figuras 9, 10 e 11 mostram os TRs obtidos em cada uma das
quatro posições das Salas 1, 2 e 8, respectivamente.

Figura 8 – Comparação dos tempos de reverberação (T30) médios Figura 9 – Comparação do tempo de reverberação (T30) nas
entre as salas avaliadas. (Os autores, 2018). quatro posições de medição da Sala 1. (Os autores, 2018).

137
Figura 10 – Comparação do tempo de reverberação (T30) nas Figura 11 – Comparação do tempo de reverberação (T30) nas
quatro posições de medição da Sala 2. (Os autores, 2018). quatro posições de medição da Sala 8. (Os autores, 2018).

4.2. Ganho
Ganho é um parâmetro que mede a influência da sala no loudness, ou seja, a sua amplificação. Em outras
palavras, está associado ao suporte que a sala oferece ao orador. A presença de um campo reverberante ajuda
o orador, no caso da escola, o(a) professor(a), a falar por mais tempo sem se fatigar. Porém, deve-se levar em
conta que aumentar o ganho aumentando o campo reverberante leva a um decréscimo da inteligibilidade,
portanto é necessário que haja um bom compromisso entre esses fatores (BRANDÃO, 2018).
A Figura 12 mostra a comparação entre os ganhos calculados para cada sala de aula medida.

Figura 12 – Comparação do ganho entre salas de aula avaliadas no estudo. (Os autores, 2018).

Nota-se que o ganho da Sala 8 é relativamente menor (aproximadamente 5 dB) ao encontrado nas
Salas 1 e 2, mesmo aquela tendo maior tempo de reverberação médio. Isso se deve ao fato de a sala possuir
maior volume em relação às outras duas. Já que todas elas possuem absorção parecida (materiais e mobiliário
similares compõem todas as salas), as paredes mais distantes do orador na Sala 8 influenciam na queda do
ganho.

4.3. Construção dos ditados de monossílabos


O segundo passo do experimento realizado foi a aplicação de três ditados, contendo 20 monossílabos cada, a
fim de avaliar a inteligibilidade da fala. A construção dos ditados foi feita a partir da escolha de
60 monossílabos anecoicos, distribuídos em três listas diferentes de forma que existissem sons contendo a
maior variedade de sílabas e vogais possível. As listas são apresentadas na Tabela 1. Cada lista tem, em
média, 2 minutos de duração com 5 segundos de intervalo entre um monossílabo e outro, além de um som de
alerta no início e outro ao final do ditado.

138
Tabela 1 – Listas de monossílabos anecoicos, escolhidos para utilização nos testes de articulação. (Os autores, 2018).

4.4. Metodologia de aplicação dos ditados


Adotando a mesma fonte onidirecional utilizada na medição da resposta impulsiva, aplicou-se o sinal do
ditado com a fonte sonora posicionada em frente à turma da Sala 2. Foram distribuídas aos alunos folhas com
instruções e canetas, além de ser feito um breve treinamento com uma lista teste contendo três monossílabos.
Também foram dadas algumas explicações pertinentes sobre acústica, tais como, ruído de fundo, problemas
relacionados ao ruído e inteligibilidade.
Durante a aplicação dos ditados, foi posicionado um microfone para gravação do ruído de fundo. No
intervalo dos testes de articulação foi efetuado o levantamento da resposta impulsiva biauricular, na presença
dos alunos.
Os alunos participantes dos testes de articulação tinham entre 11 e 13 anos de idade. A dificuldade
por parte do corpo docente da escola em liberar os alunos impossibilitou a aplicação dos testes de articulação
nas três salas de aula consideradas.

4.5. Resultados de inteligibilidade


Esta seção irá mostrar os resultados dos ditados, assim como a média de acertos por aluno e a média de
acertos por palavra. As Tabelas 2, 3 e 4 apresentam os resultados dos testes de articulação realizados na
Sala 2.
Tabela 2 – Resultados da Lista 1 para a turma da Sala 2. Tabela 3 – Resultados da Lista 2 para a turma da Sala 2.
(Os autores, 2018). (Os autores, 2018).

Como se observa nos resultados das três listas aplicadas à turma da Sala 2, as médias de acertos para
palavras começadas em F, tais como Fé, Foi, Fá e Fim foi muito baixa. A partir de uma breve análise do
espectro destas palavras, em comparação com o espectro de palavras com alta taxa de acerto, foi constatada a
proeminência de componentes de 1 kHz a 2 kHz, mostrando que falta absorção acústica nessas bandas de
frequência na Sala 2, primordiais para o bom entendimento da voz, e consequentemente, o bom desempenho
em sala de aula.

139
Tabela 4 – Resultados da Lista 3 para a turma da sala 2. (Os autores, 2018).

4.6. Aurilização
Aurilização, segundo Vorländer (2008), é o processo de criar sons audíveis através de dados simulados,
medidos ou sintetizados. Dessa forma, foi feita a aurilização da Sala 2, por meio da convolução da resposta
impulsiva biauricular, gravada no dia da aplicação dos ditados, com as mesmas listas utilizadas nos ditados,
além da adição do ruído de fundo gravado também durante a aplicação dos testes. Assim, os mesmos ditados
foram novamente aplicados aos alunos, através de fones de ouvido, a fim de comparar os seus resultados. Foi
utilizado o fone de ouvido Bose QC25 com controle ativo de ruído, com intuito de diminuir o ruído de fundo,
presente no local durante a realização do teste virtual, e melhorar a relação sinal-ruído do teste.
Nessa etapa, apenas 10 alunos compareceram aos testes, já que foram realizados em dezembro e
muitos deles já se encontravam em férias. Porém como mostram as Tabelas 5, 6 e 7, os resultados dos testes
virtuais se mostraram piores, com índices de acerto inferiores. Dois fatores podem justificar esse resultado.

Tabela 5 – Resultados da Lista 1 aurilizada para a turma da Tabela 6 – Resultados da Lista 2 aurilizada para a turma da
Sala 2. (Os autores, 2018). Sala 2. (Os autores, 2018).

Tabela 7 – Resultados da Lista 3 aurilizada para a turma da Sala 2. (Os autores, 2018).

O primeiro fator deve-se ao fato de uma escolha não muito feliz quanto à localização da cabeça
artificial na Sala 2, onde ela foi posicionada próximo à parede removível, região onde os resultados dos
testes de articulação foram piores devido à interferência dessa parede. O segundo fator deve-se ao fato de que
a cabeça artificial utilizada possuía dimensões antropométricas de adulto, ao passo que os alunos, como já

140
mencionado, eram crianças de 11 a 13 anos, portanto, com funções de transferência associadas à cabeça bem
distintas (FELS, 2008).

5. CONCLUSÕES
Apesar de a acústica de um ambiente como uma sala de aula ser tão importante quanto a cadeira na qual a
criança está sentada, não lhe é dada a devida importância em nosso país. Os resultados dos testes refletem
exatamente isto. Com a exclusão da criança de número 2, que comprovadamente sofre de dislexia, todos os
outros alunos se mostraram aptos à realização do teste, porém como é visto, a taxa de acertos em
determinadas palavras é baixíssima, enquanto em outras muito alta.
Dessa forma, comprova-se a necessidade de condicionamento acústico adequado para que a
aprendizagem não seja prejudicada, melhorando dessa maneira a qualidade de ensino e criando um ambiente
mais saudável.
Um estudo cientificamente fundamentado para a avaliação das condições acústicas das salas de aula
das escolas públicas de ensino fundamental do município de Santa Maria e, em particular, a avaliação da
inteligibilidade da fala nas salas de aula, constitui uma contribuição importante que o Departamento de
Estruturas e Construção Civil do Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Santa Maria pode
oferecer para a melhoria do ensino nas escolas públicas da região.

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Akustik, Aachen University, Aachen, Germany, 2008.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à UFSM pelos recursos financeiros aplicados no financiamento do projeto de extensão
através do Edital FIEX CT 2018.

141
AVALIAÇÃO DO AMBIENTE SONORO EM EDIFICIOS HISTÓRICOS:
ESTUDO SOBRE ESPAÇOS DE TRABALHO NO PAVILHÃO FIGUEIREDO
VASCONCELOS DA FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
Stephanie Livia de Souza da Silva (1); Marta Ribeiro Valle Macedo (2); Ana Paula Gama (3)
(1) Arquiteta e Urbanista, Mestranda em Projeto e Patrimônio no PROARQ/ UFRJ e Pesquisadora CST/
Cogepe / Fiocruz, stephanielivss@gmail.com;
(2) Doutora, Arquiteta e Urbanista, Coordenadora Projeto Gestão do Ruído, CST/ Cogepe / Fiocruz,
marta.ribeiro@fiocruz.br;
(3) Doutora, Arquiteta e Urbanista, CST/ Cogepe / Fiocruz, anapgama@yahoo.com.br.
Avenida Brasil, 4365, Manguinhos – Pavilhão Carlos Augusto da Silva, sala 208. Telefone: (21) 3836-2714

RESUMO
O ruído provoca efeitos que vão além da perda auditiva. Não precisa ser excessivamente alto para causar
problemas, especialmente onde há uma grande demanda intelectual, necessidade de concentração e
comunicação oral. Prever um ambiente sonoro adequado para espaços de trabalho beneficia não somente a
satisfação do usuário, como também seu desempenho profissional. No caso de espaços de trabalho em
edifícios tombados, a adequação acústica levando em consideração as novas demandas contemporâneas é de
fundamental importância para a proteção e preservação do patrimônio cultural. Em vista disso, o artigo tem
como objetivo apresentar a avaliação do ambiente sonoro de espaços de trabalho do Pavilhão Figueiredo
Vasconcelos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), edifício eclético localizado no Núcleo Arquitetônico
Histórico de Manguinhos (NAHM) na Zona Norte do Rio de Janeiro. A metodologia foi desenvolvida
através de estudo quali-quantitativo, aonde, inicialmente, foi realizado inquérito epidemiológico com o
objetivo de identificar as fontes de ruído incômodas e as percepções dos usuários sobre a realidade em que se
inserem. Após a análise dos dados extraídos do inquérito epidemiológico, foram localizadas as áreas com
alto incômodo, feitas visitas técnicas, observações in loco e medições do nível de pressão sonora. Os
resultados foram comparados aos níveis critérios estabelecidos pela norma ABNT NBR 10.152, fornecendo
dados de referência para futuros projetos. Conclui-se que é necessário analisar o contexto acústico de
edifícios históricos, tanto do ambiente urbano quanto do ambiente interno, de modo a garantir qualidade de
vida ao usuário e a perpetuidade do patrimônio construído.
Palavras-chave: conforto acústico, edifícios históricos, ambiente sonoro.

ABSTRACT
Noise causes effects that go beyond hearing loss. It does not have to be too loud to cause problems,
especially where there is a high intellectual demand, need for concentration and oral communication.
Providing a sound environment suitable for workspaces benefits not only the user satisfaction but also their
professional performance. In the case of workspaces in historical buildings, acoustic adequacy taking into
account new contemporary demands is of fundamental importance for the protection and preservation of
cultural heritage. The aim of this article is to present the evaluation of the sound environment of workspaces
in the Figueiredo Vasconcelos Pavilion of the Oswaldo Cruz Foundation (Fiocruz), located in the Historical
Architectural Center of Manguinhos (NAHM) in the Northern Zone of Rio de Janeiro. The methodology was
developed through a qualitative-quantitative study, which initially carried out an epidemiological
investigation with the objective of identifying the uncomfortable sources of noise and the users' perceptions
about the reality in which they are inserted. After analyzing the data extracted from the epidemiological
survey, were identifyed the areas with high discomfort and technical visits, on-site observations and
measurements of the sound pressure level were performed. The results were compared to the criteria levels
established by ABNT NBR 10.152, providing reference data for future projects. Finally, this study concludes
that is necessary to analyze the acoustic context of historical buildings, both the urban environment and the
internal environment, in order to guarantee the quality of life to the user and the perpetuity of the built
heritage.
Keywords: acoustic comfort, historic buildings, sound environment.

142
1. INTRODUÇÃO
O ruído provoca efeitos que vão além da perda auditiva, como: dor de cabeça, dificuldade de concentração,
distúrbios do sono, irritabilidade, ansiedade, entre outros possíveis efeitos (EU-OSHA, 2005). Não precisa
ser excessivamente alto para causar problemas, especialmente onde há uma grande demanda intelectual,
necessidade de concentração e comunicação oral.
Embora devam ser privilegiadas as soluções de controle de ruído nas fontes sonoras, cabe destacar que
o ambiente construído assume um papel determinante na exposição ao ruído. O tratamento acústico nos
caminhos de propagação do som é uma das ações globais de redução do incômodo sonoro nos ambientes de
trabalho, pois, por sua reverberação, o espaço construído pode aumentar o ruído proveniente de máquinas e
equipamentos e afetar todo o ambiente de trabalho (INRS, 2011).
Segundo Cabreira (2009), o conhecimento da influência acústica do entorno em ambientes históricos é
de fundamental importância para a proteção do patrimônio construído. De modo que ao considerar os
conceitos de restauração, as transformações do entorno e o conforto dos usuários, propiciar melhoria no
conforto acústico não se trata apenas da inserção de materiais (absorventes, isolantes, reflexivos), mas de um
conhecimento profundo das relações acústicas existentes entre entorno e edifício e ainda do condicionamento
acústico resultante do projeto concebido (implantação, setorização, volumetria, materiais de acabamento).
Ressalta-se, então que no caso de espaços de trabalho em edifícios tombados, considerando a
conservação da estética e formal de edifícios de valor histórico e artístico, a adequação acústica pode ser por
vezes complexa ou de alto valor econômico. Entretanto, é de fundamental importância para a proteção e
preservação do patrimônio construído considerar tais aspectos do conforto acústico no âmbito dos projetos
de intervenção necessários para adaptações do edifício às demandas contemporâneas. De modo que o usuário
não seja penalizado ao habitar um ambiente incompatível às atividades desenvolvidas e nem mesmo o
edifício seja ocupado por atividades incompatíveis a sua vocação. Ao manter o bem tombado funcionando de
modo satisfatório aos usuários, evita-se o esvaziamento do mesmo e garante sua permanência para as
próximas gerações.
Neste sentido, o presente trabalho apresenta avaliação do ambiente sonoro de espaços de trabalho no
Pavilhão Figueiredo Vasconcelos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), localizado no Núcleo Arquitetônico
Histórico de Manguinhos (NAHM), que é composto por edifícios construídos para abrigar as primeiras
atividades de ensino e pesquisa da instituição de 1900 a 1919, no bairro de Manguinhos, Zona Norte da
cidade do Rio de Janeiro.
Com o desenvolvimento e avanços na saúde e no campus da Fiocruz, os edifícios do NAHM sofreram
alterações na sua tipologia de uso, como no caso do Pavilhão Figueiredo Vasconcelos em que laboratórios se
transformaram em salas para atividades administrativas, pesquisa, ensino, entre outras demandas. Esses
ambientes por vezes possuem características que intensificam a reverberação do som ou transmissão do som
entre salas.
O presente trabalho é um desdobramento do projeto de pesquisa intitulado “Estratégias para a Gestão
do ruído e substâncias ototóxicas na Fiocruz” iniciado no ano de 2012 e aprovado pelo Comitê de Ética da
Fiocruz sob o Nº. 621/11. O projeto é um estudo quali-quantitativo baseado na metodologia da pesquisa-
ação. Tem por objetivo identificar exposição ao ruído e/ou substâncias ototóxicas; relacionar seus efeitos às
características físicas dos ambientes e processos de trabalho; identificar agravos decorrentes das exposições
objeto de estudo e propor um plano de ações que irá contribuir para a implementação de intervenções nos
ambientes de trabalho e atenção à saúde dos trabalhadores.
Por se tratar de parte de um projeto de pesquisa institucional, as avaliações foram definidas a partir do
organograma da Fiocruz que é dividido em 16 unidades técnico-científicas, 1 unidade técnica de apoio, e 4
unidades técnico-administrativas. Neste artigo serão apresentados os resultados para a unidade técnico-
administrativa da Coordenação-Geral de Gestão de Pessoas (Cogepe), localizada parcialmente no 2º
pavimento do Pavilhão Figueiredo Vasconcelos.

2. OBJETIVO
O objetivo geral do trabalho é avaliar o ambiente sonoro dos espaços de trabalhos do Pavilhão Figueiredo
Vasconcelos da Fiocruz, considerando aspectos qualitativos e quantitativos do ambiente.

3. MÉTODO
A metodologia da pesquisa envolveu as seguintes etapas:
▪ Descrição e análise do edifício e do ambiente de entorno;
▪ Análise dos dados extraídos do inquérito epidemiológico;
▪ Visitas ao local para reconhecimento do edifício e medições de nível de pressão sonora;

143
▪ Avaliação dos resultados utilizando como parâmetro os níveis critérios estabelecidos pela
norma ABNT NBR 10152:19877.

3.1. Pavilhão Figueiredo Vasconcelos – Fiocruz


Inicialmente intitulada Instituto Soroterápico Federal, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) foi implantada,
em 1900, em um campus com área de 800 mil m² no bairro de Manguinhos, Zona Norte da cidade do Rio de
Janeiro (Figura 01). Segundo Oliveira (2003), a atual configuração arquitetônica do campus de Manguinhos
foi decorrente de três períodos históricos que podem ser classificados em: eclético (1900-1936), moderno
(1937-1977) e contemporâneo (1977- atual). O objeto de estudo está neste primeiro período, as primeiras
edificações do campus (Figura 02).

Pavilhão Figueiredo
Vasconcelos

Figura 01 - Localização Campus Manguinhos. Fonte: Google Figura 02 - Núcleo arquitetônico original de Manguinhos. J.
Earth, 2018. Adaptado. Pinto, 1910. Fonte: Acervo COC. Disponível em
http://brasilianafotografica.bn.br/brasiliana/handle/bras/5117.
Acesso em 26 junho 2018.

O Pavilhão Figueiredo de Vasconcellos, projetado com dois pavimentos para alojar o Serviço de
Medicamentos Oficiais, teve sua construção iniciada em 1919 e finalizada em 1921. Popularmente, o edifício
foi batizado como Quinino, em referência ao nome do remédio usado para combater a Malária, a quinina.
Devido necessidade de ampliação das atividades e dos laboratórios do Serviço de Medicamentos, na década
de 1940 foram acrescentados 2 pavimentos ao edifício, causando a modificação do seu aspecto formal e
construtivo e a paisagem da Praça Pasteur, vide Figura 03.

Pavilhão Figueiredo
Vasconcelos

Figura 03 – Cavalariça, Pavilhão do Relógio e Quinino, 2015. Fonte: DPH/ COC.

Pertencente ao NAHM tombado em 1981 pelo atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan), o Pavilhão está entre as edificações idealizadas originalmente por Oswaldo Cruz e
projetadas pelo arquiteto Luiz Moraes Júnior para abrigar as atividades laboratoriais e de criação de animais
necessárias à produção de soros e vacinas.
Atualmente, a edificação tem uso administrativo e é ocupada por unidades técnico-administrativas. O
uso administrativo intenso e demandas não planejadas, principalmente por adequações das instalações
prediais, têm trazido à edificação problemas de conservação, inclusive de conforto ambiental, o que indica
que o uso a ele atribuído está inadequado ou superestimado para suas características tanto espaciais quanto
de vocação do edifício.
Outro aspecto importante, além do edifício e o entorno imediato, é a localização do campus de
Manguinhos na cidade, pois a Avenida Brasil corta o terreno da Fiocruz e no entorno do campus se
encontram vias de intenso tráfego, como a Linha Amarela, Linha Vermelha, Rua Leopoldo Bulhões e a linha
férrea. Tal configuração impõe ao campus a incidência constante de ruído em níveis elevados.

7 A metodologia da pesquisa considerou a versão da norma ABNT NBR 10152:1987 pois a revisão de 2017 ainda não havia sido
lançada quando as medições de nível de pressão sonora dos ambientes foram realizadas.

144
3.2. Análise Qualitativa – Inquérito Epidemiológico
De maio de 2012 a janeiro de 2014, foi desenvolvido um inquérito epidemiológico na Fiocruz no qual se
buscou identificar a percepção do ruído no ambiente de trabalho. Este foi disponibilizado na Intranet da
Fiocruz (www.intranet.fiocruz.br) e também aplicado pessoalmente por profissionais da Coordenação de
Saúde do Trabalhador.
Por se tratar de pesquisa, onde os trabalhadores podem se sentir constrangidos ao expor aspectos
concernentes a sua percepção do ambiente de trabalho e gerar respostas tendenciosas, não houve
identificação do respondente no questionário.
O inquérito apresentou caráter anônimo e era auto preenchido, incluindo informações sobre: 1) Fontes
de ruído (a natureza do ruído no local de trabalho, a frequência com que os ruídos incomodam, o impacto do
ruído sobre a comunicação oral); 2) Efeitos do ruído percebidos pelos trabalhadores (irritabilidade, fadiga
física e mental, perda auditiva, ansiedade, dor de cabeça, problemas de sono, ou outros elementos não
contemplados); 3) O local onde desenvolve a maior parte das atividades; 4) Faixa etária e sexo.
Conforme citado anteriormente, como parte de um projeto de pesquisa institucional, a análise dos
resultados apresentados serão da Cogepe, unidade técnico-administrativa localizada parcialmente no 2º
pavimento do Pavilhão Figueiredo Vasconcelos (Quinino).
As informações dos questionários foram digitadas e analisadas no software EPI Info versão 3.5.2,
produzido pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Desta forma, com base em dados
fornecidos por relatório da Cogepe, elaborado em 2013, considerou-se um universo de 283 trabalhadores.
Adotando-se uma margem de erro de 5% e um intervalo de confiança de 95,5%, a amostra desejada para o
mesmo seria de 172 respondentes. Todavia, obteve-se a adesão de 159 trabalhadores, ultrapassando a
margem de erro de 10%, a qual também é confiável.
A análise estatística apontou os locais de alto incômodo, identificando o Quinino como o edifício onde
é reportado o maior incômodo sonoro (Figura 4). Os 79 trabalhadores lotados no Quinino que responderam
ao questionário representam 27,9% do total de 283 trabalhadores da unidade, adotando-se como referência o
ano 2013. Verificou-se que 39,2% (31) dos trabalhadores apresentam alto incômodo sonoro e 38,0% (30)
moderado incômodo sonoro, conforme apresentado na Figura 5.
1; 2%
9; 15%

10; 16%
31; 51%

10; 16%

QUININO CRECHE NI CST Financeiro - IFF

Figura 04 - Gráfico de Incômodo sonoro da Cogepe por edifício. Figura 057 - Níveis de incômodo sonoro da Cogepe no Quinino.

As fontes de ruído relatadas como mais incômodas são: equipamentos mecânicos em geral (46,8%),
vozes (50,6%), construção civil (32,9%), telefone (13,9%), trânsito de veículos (2,5%), música (8,2%) e ar
condicionado (5,1%) (Figura 6). Vale ressaltar que foi percebido que muitos marcavam o ar condicionado na
categoria de equipamentos mecânicos em geral.

Figura 8 - Principais fontes de incômodo sonoro.

145
Como apresentado na Figura 7, dentre os efeitos extra-auditivos do ruído percebidos pelos
trabalhadores, foram mencionados fatores de estresse, tais como irritabilidade (41,8%), dor de cabeça
(31,6%), fadiga física (10,1%), fadiga mental (20,3%), ansiedade (5,1%), a perda auditiva (7,6%), tendo sido
ainda relatados problemas do sono (1,3%).
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%

Figura 07 - Efeitos extra-auditivos do ruído.

Dos 79 trabalhadores que responderam aos questionários, obtiveram-se os seguintes dados:


▪ 43,0% nunca reportaram queixas ao seu superior hierárquico;
▪ 48 (60,8 %) são do sexo feminino, 31 (39,2 %) do sexo masculino;
▪ Com relação ao tempo de trabalho: 15 (19,0%) tem até 1 ano de trabalho, 44 (55,7%) entre 1
e 5 anos, 9 (11,4%) de 5 a 10 anos, 6 (7,6%) de 10 a 15 anos, 1 (1,3%) de 15 a 20 anos e 4
(5,1%) trabalham há mais de 20 anos.
▪ Com relação à faixa etária: 1 (1,3%) encontra-se entre 15 a 18 anos, 23 (29,1%) encontram-se
entre 19 e 35 anos, 24 (30,4%) entre 36 e 46 anos, 26 (32,9%) encontram-se entre 47 e 56
anos, e 5 (6,3%) destes estão acima de 56 anos.

3.3. Medições de Níveis de Pressão Sonora


Para as medições de níveis de pressão sonora (NPS) foram seguidas as recomendações da Resolução nº
001/1990 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA, 1990)8, que remete para os níveis critério
estabelecidos pela ABNT – NBR 10.152, cujo método de avaliação baseia-se na comparação dos níveis de
pressão sonora equivalente (LAeq) com os níveis de conforto e aceitabilidade para diversos ambientes, como
escritórios, auditórios, entre outros.
A partir das visitas técnicas e entrevistas com os trabalhadores, selecionaram-se dez locais de trabalho
para avaliação do ambiente sonoro, todos no 2° pavimento do Pavilhão Figueiredo Vasconcelos – Quinino. A
Figura 8 apresenta a distribuição em planta dos locais avaliados.

8Conforme definido pela versão da Norma ABNT – NBR 10.152: 1987, os procedimentos de medição adotados foram os
estabelecidos pela Norma ABNT – NBR 10.151:2000.

146
Figura 08 - Planta do 2º pavimento do Pavilhão Figueiredo Vasconcelos – Quinino, sem escala.

Em geral, o ambiente sonoro nas salas do Quinino é caracterizado por superfícies lisas (de piso,
paredes e teto) e o pé direito elevado (cerca de 4 metros), que aumentam o tempo de reverberação no interior
do ambiente. O que potencializa o ruído emitido por equipamentos de ar condicionado, dispostos nas
bandeiras das janelas, cuja vedação é realizada de modo precário, os equipamentos apresentam contato direto
com as estruturas que os sustentam, o que acarreta também o aumento das vibrações.
Os processos de trabalho desenvolvidos nas salas do Quinino, em geral são atividades administrativas
e atendimento ao público. De modo que além do ruído emitido pelos equipamentos de ar condicionado,
constata-se a emissão de ruído da fala e telefones no interior das salas e salas vizinhas, o qual permeia por
portas em folha dupla ou divisórias simples que separam os ambientes. As figuras 9 a 18 apresentam as fotos
dos ambientes de trabalhos avaliados.

Figura 09 - Medição na Sala 203. Fonte: Figura 10 - Medição na Sala 204. Fonte: Figura 11 - Medição na Sala 205. Fonte:
Acervo Projeto Ruído. Acervo Projeto Ruído. Acervo Projeto Ruído.

147
Figura 12 - Medição na Sala 206. Fonte: Figura 13 - Medição na Sala 209. Fonte: Figura 14 - Medição na Sala 210. Fonte:
Acervo Projeto Ruído. Acervo Projeto Ruído. Acervo Projeto Ruído.

Figura 15 - Medição na Sala 212. Fonte: Figura 16 - Medição na Sala 212. Fonte: Figura 17 - Medição na Sala 214. Fonte:
Acervo Projeto Ruído. Acervo Projeto Ruído. Acervo Projeto Ruído.

Figura 18 - Medição na Sala 213. Fonte: Acervo Projeto Ruído.

Conforme previsto nas normas supracitadas, em cada sala foram realizadas medições de LAeq em 3
pontos por um período de integração de 5 minutos, em resposta rápida. O equipamento utilizado foi o
sonômetro Larson Davis modelo LxT1, Tipo 1, de acordo com os procedimentos recomendados de norma
ABNT NBR 10.151. Na Tabela 1, serão apresentados os resultados de medição.
Tabela 1 – Níveis de Pressão Sonora Equivalente medidos por ambiente.
Ambiente Data Fonte de Incômodo Relatadas LAeq (dB)
Sala 203 19/12/2017 Ar condicionado, vozes 60
Sala 204 19/12/2017 Ar condicionado, vozes, telefone 62
Sala 205 19/12/2017 Ar condicionado, vozes, telefone 58
Sala 206 19/12/2017 Ar condicionado, vozes, telefone 60
Sala 209 31/05/2017 Ar condicionado, vozes 80
Sala 210 29/05/2017 Copa contigua à sala, Ar condicionado 81
Sala 212.1 29/05/2017 Ar condicionado, vozes, impressora 81
Sala 212.2 29/05/2017 Ar condicionado, vozes, impressora 80
Sala 213 25/05/2017 Ar condicionado, vozes 83
Sala 214 25/05/2017 Ar condicionado, vozes 86

148
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
A Tabela 2 apresenta os valores de LAeq recomendado pela norma ABNT – NBR 10.152:1987 para
escritórios, de modo os ambientes avaliados estão na categoria de salas de administração.
Tabela 2 – Níveis de pressão sonora equivalente internos para conforto e aceitabilidade acústicos em escritórios, de acordo com a
ABNT - NBR10.152:1987.
Conforto Aceitabilidade
Locais
dB(A) dB(A)
Salas de reunião 30 40
Salas de gerência, Salas de projetos e de administração 35 45
Salas de computadores 45 65
Salas de mecanografia 50 60

O gráfico da Figura 19, mostra comparativamente os valores medidos nos ambientes e os níveis
critérios para conforto e aceitabilidade recomendado pela norma ABNT – NBR 10.152:1987.

90
80
70
60
LAeq (dB)

50
40
30
20
10
0

LAeq (dB) Nível aceitabilidade Nível de conforto

Figura 19 - Gráfico comparativo entre os valores LAeq medidos e os níveis critérios recomendados pela norma ABNT NBR
10.152:1987.

Observa-se que os valores LAeq medidos encontram-se, pelo menos, 15 dB acima do aceitável e 25
dB acima do nível de conforto podendo acarretar agravos à saúde dos usuários decorrentes do incômodo
percebido. Destaca-se que o decibel, por ser uma escala logarítmica, conforme verifica-se na Tabela 3, 20 dB
acima do nível de conforto representa uma mudança na percepção da audibilidade cerca de 4 vezes mais
intensa.
Tabela 3 – Percepção do som em função de mudanças nos níveis de pressão sonora. Fonte: EGAN, 1988.
Alteração do nível sonoro Mudança na percepção da audibilidade
1 dB Imperceptível
3 dB Perceptível
6 dB Claramente notável
10 dB Cerca de 2 vezes (ou metade) mais intenso
20 dB Cerca de 4 vezes (ou ¼) mais intenso

Vale ressaltar que o escopo do projeto de pesquisa abrange a definição de ações de melhoria para os
espaços de trabalho. Assim, foram tratadas diversas recomendações junto ao setor responsável pela
infraestrutura do patrimônio histórico, inclusive especificação de materiais para tratamento acústico dos
espaços de trabalho.
Segundo Beraneck (1971), a melhor forma de se obter a redução do nível de pressão sonora é atuar
diretamente sobre a fonte, substituindo-a, eliminando-a ou tratando-a para modificar a emissão de ruído.
Deste modo, como resposta imediata ao alto incômodo dos usuários recomendou-se a manutenção dos
equipamentos de ar condicionado de janela ou mesmo os splits, pois a substituição de peças desgastadas
pode auxiliar na redução do nível sonoro. Além disso, para a redução da vibração e transmissão do ruído por
frestas, recomendou-se rever a instalação dos equipamentos de ar condicionado dispostos nas esquadrias de
janelas com a instalação de borrachas macias.

149
Especialmente por se tratar de uma edificação de valor histórico tombado pelo Iphan, medidas sobre a
fonte sonora devem ser priorizadas em relação a projetos de tratamento acústico na edificação. Entretanto,
quando em situações que agir sobre a fonte não é suficiente ou cabível, medidas recorrentes para tratamento
acústico não devem ser implantadas sem antes realizar estudos de compatibilidade. O maior desafio
encontrado em bens tombados é responder tal problemática com opções compatíveis aos princípios básicos
de intervenção ao patrimônio material discutidos por Brandi (2004): distinguibilidade, reversabilidade e
mínimo impacto.

5. CONCLUSÕES
A satisfação de necessidades de conforto acústico, privacidade, comunicação, inteligibilidade da fala,
repouso e concentração, deve ser observada através da adoção de medidas que privilegiem a proteção
coletiva da qualidade de vida de trabalhadores e demais usuários da edificação.
Considerando a avaliação elaborada para o Pavilhão Figueiredo Vasconcelos – Quinino, constata-se
que os resultados das medições de nível de pressão sonora confirmam a percepção de alto de incômodo pelos
usuários. Causando efeitos psicossociais na vida dos trabalhadores, como a irritabilidade relatada por 40%
dos usuários que responderam o inquérito epidemiológico.
Nota-se também a influência dos equipamentos e do desempenho dos materiais na qualidade acústica
da edificação. O ar condicionado foi a principal fonte sonora, relatada como incômoda em todas as salas
avaliadas.
Neste sentido, a concepção do ambiente de trabalho tem um papel determinante na exposição ao ruído.
Por sua reverberação, pode haver um aumento do nível sonoro proveniente de equipamentos. O tratamento
acústico faz parte da ação global da redução do incômodo sonoro nos locais de trabalho (INRS, 2011).
Assim, é preciso considerar que os locais de trabalho devem ser projetados e construídos com vistas a evitar
o adoecimento dos trabalhadores.
No caso do Quinino, entende-se que medidas de modernização, como instalação de ar condicionado e
reorganização de salas, são necessárias para manter o edifício histórico em funcionamento, evitando seu
esvaziamento e degradação. Entretanto fazê-las sem antes considerar conceitos de conforto ambiental pode
ter um efeito contrário.
A pesquisa demonstra a importância de conforto acústico em espaços de trabalho em edificações
históricas. A preservação do patrimônio cultural é fundamental para a formação da memória de uma
sociedade, portanto projetos de intervenção em ambientes históricos devem incluir em seu escopo questões
sobre o conforto dos usuários, de modo a garantir, satisfatoriamente, à vida útil do patrimônio cultural às
gerações futuras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.151: Avaliação de ruído em áreas habitadas visando o
conforto da comunidade. Rio de Janeiro, 2000.
_____. NBR 10.152: Níveis de ruído para conforto acústico. Rio de Janeiro, 1987.
BERANECK, L. Noise and Vibration Control. New York, Mac Graw Book Company, 1971.
BRANDI, Cesare. Teoria da restauração. Trad. Beatriz M. Kuhl. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004.
CABREIRA, Cristiane et al. Contexto acústico de ambientes históricos: a influência do entorno na casa de chá da fundação
Oswaldo Cruz. In. Encontro nacional de tecnologia do ambiente construído, vol. 10, Natal, 2009.
Conama – Conselho Nacional de Meio Ambiente. Resolução nº 001/1990 do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Brasília,
IBAMA, 1990.
EGAN, M. DAVID. Architectural Acoustics. McGraw-Hill Science/Engineering/Math. USA,1988.
EU-OSHA – European Agency for Safety and Health at Work. Uma introdução ao ruído no trabalho. Ficha Facts 56-PT. In.
Semana Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, 2005. Disponível em <https://osha.europa.eu/pt/tools-and-
publications/publications/factsheets/56> Acesso em: 02 julho 2018.
Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz. Acervo Arquitetônico. Disponível em <https://portal.fiocruz.br/acervo-arquitetonico> Acesso
em: 27 junho 2018.
INRS – Institute National de Recherche Et de Securite. Traitement acoustique des locaux de travail. Ed. 6103, 2011.
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Processo de Tombamento nº 1.037-T-80, de 17 de novembro de
1980. Acervo Central do IPHAN, seção Rio de Janeiro.
OLIVEIRA, Benedito Tadeu de (coord.). Um Lugar para a Ciência: a formação do campus de Manguinhos. Rio de Janeiro:
Editora Fiocruz, 2003. 264p.

AGRADECIMENTOS
As autoras agradecem ao Programa Fiocruz Saudável pelo apoio financeiro à pesquisa e a equipe do Projeto
Ruído pela colaboração na pesquisa.

150
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO ACÚSTICO DE LAJE NERVURADA
COM DIFERENTES COMPOSIÇÕES DE PISOS

Kelvin Bet (1); Rafael Ferreira Heissler (2); Maria Fernanda de Oliveira (3); Thomas Zorn
Arnold (4); Lorenzo Azevedo Kerber (5);
(1) Acadêmico de engenharia civil, laboratorista, kbet@unisinos.br
(2) MSc., analista de projetos, rheissler@unisinos.br
(3) Dra., Coordenadora PPGArqUrb e Pesquisadora itt Performance, mariaon@unisinos.br
itt Performance/UNISINOS, Av. Unisinos, 950, São Leopoldo (RS), +55 51 3580-8887
(4) Acadêmico de arquitetura, estagiário, thomasza@unisinos.br
(5) Acadêmico de engenharia civil, laboratorista, lorenzoaz@unisinos.br

RESUMO
O desenvolvimento de sistemas construtivos visando o desempenho acústico consiste em um dos principais
desafios para o setor da construção civil habitacional no Brasil. Ineficiências durante o projeto de uma
edificação são oriundas, muitas vezes, da falta de dados técnicos que qualificam os materiais construtivos, os
quais têm sido apresentados ao mercado da construção civil em maior número e, também, com diferentes
características. Dentre os materiais de influência no desempenho acústico, pode-se avaliar os sistemas de
entrepisos. Nesse contexto, tem-se como sistema de uso expressivo no cenário atual, a laje nervurada de
concreto armado. Especificamente em relação a esse sistema, tem-se carência de validação do seu
desempenho acústico, considerando variáveis de revestimento e utilização de gesso, os quais podem ser
utilizados como componentes em sua constituição. Dessa forma, buscou-se avaliar o desempenho da laje
nervurada de concreto armado com preenchimento das cavidades em EPS, quanto ao nível de pressão sonora
de impacto (Ln,w) e índice de redução sonora ponderado (Rw). Todas as composições de pisos apresentaram
uma base estrutural, que corresponde a uma laje nervurada de concreto armado com preenchimento das
cavidades em EPS, com dimensões de 70 x 70 x 20 cm, espessura de mesa de 5 cm e nervura de 20 cm,
totalizando altura de 25 cm. Nas demais tipologias foram utilizados materiais e elementos como incremento
para a avaliação do desempenho acústico. Para a avaliação desses sistemas, foram realizados ensaios em
câmara reverberante acústica de ruído aéreo vertical, construída conforme os preceitos da ISO 10140-5:2010.
Percebeu-se que, com a utilização do rebaixo de gesso, juntamente com a aplicação de manta acústica sob o
contrapiso de argamassa, obteve-se a redução ponderada do nível de pressão sonora de impacto na
magnitude de 43 dB e um aumento no isolamento acústico de 24 dB, em comparação às tipologias distintas.
Palavras-chave: laje nervurada, desempenho acústico, ruído aéreo vertical e de impacto.

ABSTRACT
The development of constructive systems aiming acoustic performance consists in one of the major
challenges for the Brazilian civil construction sector. Inefficiencies during the building process are
originated, in several cases, from the lack of technical data which qualify the constructive materials, which
have been presented to the civil construction market in bigger numbers and also with different
characteristics. Among the materials which influence the acoustic performance of a building, it is possible to
evaluate the crawlspace systems. In this context, concrete waffle slab are used expressively in the current
scenario. Specifically regarding this system, there is lack of validation of its acoustic performance,
considering different topping and using plasterboard downgrade, which may be used as components in its
constitution. Hence, it was evaluated the performance of a concrete waffle slab whose cavities were filled
with EPS regarding the weighed impact sound pressure level (Ln,w) and its sound reduction index (Rw). All
the slabs presented a base typology, which corresponds to a concrete waffle slab with filling of the cavities in
EPS (with dimensions of 70x70x20 cm) slab mesh thickness of 5 cm and rib of 20 cm, totalizing 25 cm. On
the remaining typologies it was used materials and elements as increments in order to assess the acoustic
performance. To validate these systems, tests were performed in reverberating acoustic chambers for vertical
airborne sound, built following the parameters of ISO 10140-5:2010, at itt Performance, from UNISINOS. It

151
was noted that through the utilization of plasterboard downgrade alongside the application of acoustic
covering under the mortar screed, it was obtained a weighed impact pressure level reduction of 43 dB and
also an increase in the acoustic insulation of 24 dB, comparing the different typologies.
Keywords: ribbed slab, acoustic performance, airborne and impact sound.

1. INTRODUÇÃO
É notável que com o crescente adensamento urbano e a verticalização de edificações, questões antes não
representativas vieram à tona no que diz respeito ao desempenho acústico, principalmente quando
evidenciamos os sistemas de piso. Analisar a transmissão sonora é imprescindível, visto que é um fenômeno
complexo, que tem variáveis e se caracteriza por transmissões direta e secundárias. (MATEUS; PEREIRA,
2011). Conforme Patrício (2018), a transmissão sonora é diferente para ruído aéreo e impacto, porém está
diretamente ligada a questões como as características do material, concepção da edificação e ligações
estruturais do elemento.
O som originado do ruído de impacto deriva da transmissão de energia sonora devido a ações de
choque. Alguns exemplos são quedas de objetos e arrastar de móveis em um determinado ponto de um
elemento de compartimentação de um edifício (PATRÍCIO, 1999). Diferentemente do som aéreo, que são
ações diretas da excitação de meios gasosos, o ruído de impacto é definido como a excitação que se propaga
por ondas elásticas a todo elemento, convertendo-o em uma fonte de radiação de energia sonora em
elementos estruturais e não-estruturais que se encontram ligados.
No caso do ruído aéreo de uma edificação, quando se avalia quesitos de sistemas de pisos, nota-se que
o ruído gerado é predominantemente interno e provém da utilização do edifício, por ocupantes da edificação
ou então por equipamentos instalados na edificação (PATRICIO, 2018). A transmissão de ruído aéreo entre
unidades habitacionais, de acordo com Hopkins (2012) é realizada através do próprio sistema de piso,
caracterizado pela transmissão direta e pelos elementos laterais ou paredes, que diz respeito à transmissão
indireta, sendo que essa está diretamente relacionada a questões construtivas adotadas. Nem sempre as
soluções construtivas adotadas atendem simultaneamente desempenho acústico frente ao ruído aéreo e de
impacto. (NUNES et al., 2014)
Paralelamente, é possível identificar a ampla utilização de lajes nervuradas de concreto no mercado
construtivo brasileiro, visto que essas lajes representam economia significativa de consumo de concreto no
caso de edifícios de múltiplos pavimentos (SACRAMENTO et al., 2018). No entanto, quando se refere ao
desempenho acústico desse sistema construtivo, os dados disponíveis no mercado atual são carentes. Dessa
forma, a utilização de meios teóricos para estimar o possível desempenho de sistema entrepiso é de grande
valia e funcionam de acordo como é realizado em sistemas verticais de vedação, no entanto a ampla
utilização de tipologias como contrapiso, revestimento cerâmicos, forros suspensos e outras variações
possíveis, dificultam a aplicação dos modelos teóricos (HASSAN, 2009).

2. OBJETIVO
Neste estudo são analisados resultados de nível de pressão sonora de impacto normalizado ponderado (Ln,w) e
de índice de redução sonora ponderado (Rw) de uma laje nervurada de concreto armado com preenchimento
das cavidades em EPS com diversas composições de revestimentos e forros, em ensaios laboratoriais, para o
atender simultaneamente ao ruído aéreo e de impacto.

3. MÉTODO
Ao longo do trabalho foi analisado a influência da utilização de diferentes composições em uma laje
nervurada perante ao desempenho acústico. A laje constitui sua base estrutural correspondente a uma laje
nervurada de concreto armado com preenchimento das cavidades em EPS (com dimensões de 70 x 70 x 20
cm) com espessura de mesa de 5 cm e nervura de 20 cm, totalizando altura de 25 cm, identificada como
“Laje 0”. As demais composições, apresentadas no Quadro 1 consistiam em incorporações de outros
elementos, como rebaixo em gesso com plenum de 20 cm; argamassa cimentícia de contrapiso nas
espessuras de 5 cm e 7 cm; manta resiliente de polipropileno com espessura de 0,2 cm; e manta resiliente de
polietileno com espessura de 0,5 cm e 1,0 cm.

152
Quadro 01 – Composição dos sistemas de piso ensaiados (unidades em centímetros)
Código da
Características e composições das amostras
amostra

Laje 0

LNPF

LNPA+PE5+AC5

LNPA+PP2+AC5

153
LNPA

LNPA+AC5

LNPA+AC7

LNPA+PE10+AC5

154
Os ensaios foram realizados em câmara reverberante sobrepostas, conforme os procedimentos da
norma ISO 10140-2:2010 e ISO 10140-3:2010 e o valores ponderados foram obtidos conforme aos padrões
normativos ISO 717-1:2013 e ISO 717-2:2013. A câmara acústica utilizada está em concordância com as
premissas da norma ISO 10140-5:2010, conforme representado na Figura 01.

Figura 01: Câmara reverberante para transmissão vertical

A execução das amostras e os ensaios foram desenvolvidos no LAVIT, laboratório do itt Performance
(Instituto Tecnológico em Desempenho e Construção Civil) da Unisinos. A amostra foi concebida no próprio
laboratório e após um período de cura, com auxílio da ponte rolante, foi feito o transporte e colocação da
amostra nas câmaras acústicas. Os demais sistemas, como contrapisos e rebaixos em gesso, foram
confeccionados posteriormente, com a laje instalada nas câmaras acústicas conforme possível identificar na
Figura 02.

155
(a)

(b)
Figura 02 – Etapas iniciais do ensaio; (a) Câmara reverberante para transmissão vertical e (b) Execução da amostra base

4. RESULTADOS
Na Figura 03 é possível identificar o desempenho de cada tipologia por bandas de terço de oitava. Os
resultados analisados na laje da tipologia que apresenta apenas forro sem contrapiso (LNPF- Laje nervurada
com acabamento de gesso em tabica fechada e LNPA- Laje nervurada com acabamento do gesso em tabica
aberta) apresentaram reduções em todas as bandas de frequências analisadas, mantendo o perfil gráfico em
relação à Laje 0. Destaca-se que esses dados são decorrentes de ensaios em instalações sem transmissão por
flancos, que devem sempre ser consideradas nas estimativas teóricas tendo esses valores com base. As
composições com camadas resilientes (LNPA+PE5+AC5, LNPA+PP2+AC5 e LNPA+PE10+AC5)
apresentaram maior eficiência na redução do som de impacto, sendo verificado um comportamento típico de
decaimento dos níveis sonoros a partir da banda de 500 Hz devido ao amortecimento do sistema, conforme
indicado em outros estudos por Oliveira e Patrício (2017).

156
Figura 03 – Resultados das tipologias das amostras frente ao ruído de impacto.

Nota-se que na Figura 04, o desempenho da tipologia que apresentou forro com a tabica fechada
(LNPF) representou uma melhora de 21 dB, em relação a laje sem tratamento, mas distante do desempenho
apresentado quando utilizada a manta resiliente. Nesse caso, a utilização de forro não tem uma eficiência
significativa para a redução dos sons de impacto. No entanto, quando avaliado o sistema frente ao ruído
aéreo, seu desempenho pode ser qualificado com um acréscimo de material absorvente incorporado ao
Plenum instalado entre a laje e o forro, evidenciado pelos resultados obtidos perante ao ruído aéreo vistos na
Figura 06.

Figura 04 – Desempenho das composições que apresentam somente forro + Laje 0

Outro aspecto de suma importância para promover isolamento ao ruído de impacto é o sistema massa-
mola-massa, que corresponde as composições que comtemplam em sua estrutura um material resiliente,
apresentando desempenho ao ruído de impacto melhor em relação as demais. De acordo com Nunes et al.
(2018) esse sistema que é composto por camadas que alternam rigidez e amortecimento como: contrapiso,
camada elástica e laje propriamente dita. Além disso, a utilização de piso flutuante caracteriza-se pelo

157
melhor desempenho frente ao ruído de impacto, pois esse sistema diminui os vínculos rígidos existentes na
edificação, mitigando a transmissão do ruído geradas pela vibração (HOPKINS, 2012).
É possível identificar na Figura 05 que tipologias com acréscimo da manta resiliente, apresentaram
uma melhora no desempenho de 19 dB no nível de pressão sonora ponderado e em bandas de frequências
entre 160 e 400 um decréscimo significativo do ruído de impacto. Outro parâmetro relevante quanto a
utilizado o sistema massa-mola-massa, é grande eficiência ao ruído de impacto, visto que comparando com a
Laje 0, ocorreu uma redução no nível de pressão sonora em 43 dB. Cabe ressaltar que a manta resiliente de
Polipropileno, mesmo com espessura menor que a manta de Polietileno, apresentou resultado no nível de
pressão sonora ao ruído de impacto padrão menor.

Figura 05 – Desempenho das tipologias que apresentam manta resiliente frente ao ruído de impacto

Na Figura 06 é possível verificar o Índice de Redução Sonora Ponderado (Rw) por bandas de terço de
oitava.
Diferentemente do ruído de impacto em que o sistema que apresentou o amortecimento com manta,
demonstrou melhor desempenho, no ruído aéreo é notável que massa superficial do sistema é um aspecto
relevante, visto que as tipologias que apresentaram o acréscimo do contrapiso demonstraram um elevado
desempenho quanto ao índice de redução sonora ponderada (Rw), visto que esse aumento está
consequentemente ligado a massa superficial das tipologias estudadas, visto que isso é abordado por autores
(HOPKINS, 2012; PATRICIO, 2018).

Figura 06 – Resultados das tipologias das amostras frente ao ruído de aéreo.

158
A Figura 07 apresenta o desempenho de todas as tipologias com contrapiso em sua composição.
Verifica-se que o comportamento do sistema construtivo foi muito similar por bandas de terço de oitavas em
composições com diferentes tipos de materiais resilientes.

Figura 07: Resultados das tipologias que apresentam contrapiso frente ao ruído de aéreo.

Diferente de composições em paredes de sistemas leves constituídos por fechamentos em construção a


seco e manta resiliente no interior como, por exemplo, parede de drywall composta por placa de gesso
estruturada em montantes metálicos com lã de vidro no interior, a camada resiliente utilizada em pisos,
possui função somente de amortecimento da vibração, uma vez que não há câmara de ar entre o contrapiso e
a laje de modo que a manta tenha função de absorção sonora.

5. CONCLUSÕES
A avaliação de alternativas para melhorar o desempenho acústico de diferentes sistemas construtivos no
mercado brasileiro está cada vez mais corriqueira. Dessa forma, esse estudo objetivou a avaliação da
utilização de diferentes tipologias de revestimento e forros, em uma laje nervurada de concreto armado com
preenchimento das cavidades em EPS (com dimensões de 70x70x20 cm).
Através dos ensaios realizados em laboratório, é possível constatar que a tipologia que apresentou
melhor desempenho frente ao ruído de impacto e ao ruído aéreo, corresponde a tipologia LNPA+PE10+AC5
que possui, contrapiso, manta resiliente e laje. Visto que a utilização da manta resiliente de maior espessura
(10 mm) nessa tipologia foi fundamental para validade do sistema massa-mola-massa, que evidencia um
aumento de 19 dB frente a mesma tipologia que não apresentou tal material. Além do ruído de impacto, a
análise frente ao ruído aéreo em tipologias que apresentaram contrapiso, mostraram que ao aumentar sua
massa superficial, consequentemente o resultado frente a esse quesito melhorará significativamente.
Dessa forma, é notável que as tipologias que apresentaram a utilização de manta resiliente e
contrapiso, foram as que obtiveram maior desempenho frente ao ruído de impacto e aéreo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HASSAN, O. A. B. Building Acoustics and Vibration: Theory and Practice. London: World Scientific Publishing Company,
Incorporated, 2009.
HOPKINS, C. Sound insulation. Oxford: Elsevier Ltd., 2012
MATEUS, D.; PEREIRA, A. S. C. Influência de pequenos erros de execução em obra no desempenho acústico de edifícios -
exemplos típicos. Cáceres: Proceedings TecniAcustica, 2011. p. 1–8
NUNES, M.F.O.; ZINI, A.; PAGNUSSAT, D. T.; Desempenho acústico de sistemas de piso: estudos de caso para isolamento ao
ruído aéreo e de impacto. Revista Acústica e Vibrações, v. 46, p. 13-19, 2014.
OLIVEIRA, M. F.; PATRICIO, J. V. Impact Noise of Non-homogeneous Floors: Analysis of Different Input Parameters for
Computational Modeling Predictions. Journal of Civil Engineering and Architecture, v. 11, n. 3, p. 274–281, 2017
PATRÍCIO, J. Acústica nos edifícios. 7 ed. Porto: Pubindústria, Edições Técnicas, 2018.

159
PATRÍCIO, J. Comportamento acústico de pavimentos não-homogénos de edifício a sons de impacto: modelo de simulação.
Lisboa: LNEC, 1999
SACRAMENTO, Paulo; PICANÇO, Marcelo; OLIVEIRA, Denio. Lajes Nervuradas de Concreto Armado com Viga-Faixa. RIEM -
IBRACON Structures and Materials Journal, [S.l.], v. 11, n. 5, sep. 2018. ISSN 1983-4195. Available at:
<http://www.revistas.ibracon.org.br/index.php/riem/article/view/1229>. Date accessed: 06 may 2019.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à H.Lar Construções pelos recursos financeiros aplicados no projeto.

160
AVALIAÇÃO DO IMPACTO SONORO ATRAVÉS DE MAPAS ACÚSTICOS
APÓS IMPLANTAÇÃO DE DOIS EMPREENDIMENTOS RESIDENCIAIS
José Veríssimo (1); Ênio Góis (2); Marconi Mendonça (3); Pedro Gois (4); Silva Júnior (5);
Angelo Just (6).
(1) Graduando em Engenharia Civil, victorpoliupe@gmail.com, Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco,
Rua Hermano Lira, 373, Fragoso, Paulista-PE. CEP: 53402-840, 081-995947012.
(2) Graduando, Engenharia Civil, egremigio@gmail.com, Universidade de Pernambuco.
(3) Graduando, Engenharia Civil, marconi.mendonca@gmail.com, UNICAP.
(4) Mestrando em Engenharia Civil, pedro@tecomat.com.br, Universidade Católica de Pernambuco.
(5) Doutorando em Engenharia Civil, otaviojsjunior@gmail.com, Universidade Federal de Pernambuco.
(6) Doutor, Professor do departamento de Engenharia Civil, angelo@tecomat.com.br, UNICAP.

RESUMO
A urbanização das cidades é um dos principais fatores que colaboram para o aumento dos níveis de pressão
sonora devido à implantação de empreendimentos residenciais. Dito isto, o objetivo deste trabalho foi avaliar
o impacto sonoro através de mapas acústicos após implantação de dois empreendimentos residenciais
localizados no bairro de Luzia, Aracaju-SE e no bairro Conjunto Prisco Viana, Barra dos Coqueiros-SE. Para
isso, fez-se uso de medições em campo de níveis de pressão sonora equivalentes em decibels ponderados em
A (LAeq) e contagem do volume de tráfego veicular com um intervalo de 3 anos, além das correspondentes
simulações computacionais no software CadnaA para geração dos mapas acústicos. Como resultado,
verificou-se que a implantação do empreendimento localizado no bairro de Luzia, Aracaju-SE, região de
natureza urbanística elevada, não contribuiu para o aumento de 93% no fluxo de veículos na Av. Dulce Diniz
e para o aumento de 2dBA no nível de pressão sonora correspondente, tendo em vista ser constatado um
fluxo de acesso ao empreendimento de 40 veículos/hora inferior ao fluxo de 480 veículos/hora registrado na
referida avenida. No entanto, a implantação do empreendimento localizado no bairro Conjunto Prisco Viana,
Barra dos Coqueiros-SE, região pouco urbanizada, teve efetiva contribuição no aumento de 233% no fluxo
de veículos da Rua João Vital e no aumento de 5dBA no nível de pressão sonora correspondente, já que todo
fluxo registrado na referida rua foi exclusivamente de veículos originados ou destinados ao empreendimento.
Fica demonstrado, então, que empreendimentos residenciais implantados em regiões pouco urbanizadas
influenciam diretamente no impacto sonoro local.
Palavras-chave: impacto sonoro, mapa acústico, simulação computacional.

ABSTRACT
The urbanization of cities is one of the main factors that contribute to the increase of the sound pressure
levels due to the implantation of residential developments. The aim of this work was to evaluate the sound
impact through acoustic maps after the implementation of two residential developments located in the
neighborhood of Luzia, Aracaju-SE and in the neighborhood of Prisco Viana, Barra dos Coqueiros-SE. For
this, field measurements of equivalent sound pressure levels in A-weighted decibels (LAeq) and vehicular
volume counting with a 3-year interval were used, in addition to the corresponding computational
simulations in CadnaA software for generation of acoustic maps. As a result, it was verified that the
implementation of the project located in the district of Luzia, Aracaju-SE, region of high urban nature, did
not contribute to the increase of 93% in the flow of vehicles in Av. Dulce Diniz and to the increase of 2dBA
in the corresponding sound pressure level, in order to verify a flow of access to the project of 40 vehicles /
hour lower than the flow of 480 vehicles / hour registered in said avenue. However, the implementation of
the venture located in the neighborhood of Prisco Viana, Barra dos Coqueiros-SE, a poorly urbanized region,
made an effective contribution to the increase of 233% in the flow of vehicles of Rua João Vital and the
increase of 5dBA in the sound pressure level correspondent, since all flow registered in said street was
exclusively of vehicles originated or destined to the enterprise. It is demonstrated, then, that residential
developments located in less urbanized regions directly influence the local sound impact.
Keywords: sound impact, acoustic map, computer simulation.
161
1. INTRODUÇÃO
O ruído ambiental tem sido um problema ao homem desde tempos antigos. Não por acaso, na Roma Antiga,
já existiam regras relacionadas ao ruído emitido pelas rodas de carroças em atrito com as pedras que
causavam perturbações do sono e incômodos à população. Da mesma forma, na Europa Medieval,
carruagens e circulação de pessoas a cavalo não eram permitidos durante a noite em certas cidades, para
garantir sono tranquilo aos habitantes (BERGLUND, LINDVALL e SCHWELA, 1999).
Em tempos atuais, sabe-se que estes problemas de ruído se mostram mais relevantes devido à intensa
urbanização das cidades e respectivo aumento do número de fontes sonoras. É nesse ínterim, que como relata
Berglund et al., (1999), a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem abordado este problema com foco na
gestão de ruídos que impactam a saúde das pessoas desde 1980.
Assim, é cada vez maior a necessidade de mensurar este problema de forma a quantificar a situação
atual bem como prever ações que permitam o planejamento futuro. O mapa de ruídos, então, coloca-se como
ferramenta adequada para estudo do problema, pois mostra a distribuição geográfica da poluição sonora,
indicando a localização dos principais pontos críticos, possibilitando a introdução de medidas de gestão e de
redução de ruídos em espaços urbanos. (GARAVELLI, et al., 2010).
Desta forma, para que os softwares computacionais gerem os mapas sonoros, é necessário que seja
informada uma série de dados referentes à área do estudo: parâmetros morfológicos, de tráfego e acústicos.
Os parâmetros de tráfego são obtidos através da contagem do volume do tráfego, classificando-os em
veículos leves e pesados. Os parâmetros acústicos, por sua vez, também obtidos por meio de medições em
campo, são usados para calibrar o modelo, isto é, comparar os valores medidos em campo com os cálculos
gerados pelo programa. (FLORÊNCIO et al., 2017).
Ainda de acordo com Florêncio et al. (2017), a representação do cenário sonoro urbano é constituída
por variáveis quantitativas e qualitativas. Dentre as variáveis quantitativas destacam-se os parâmetros de
tráfego (contagem dos veículos) e os parâmetros acústicos (níveis de pressão sonora). Os parâmetros
morfológicos, por sua vez, (a exemplo da topografia, hierarquia das vias, tipo de recobrimento do solo, áreas
verdes e gabarito das edificações) representam as variáveis qualitativas. As variáveis quantificadas auxiliam
na etapa de calibração do modelo, ao mesmo tempo em que qualitativamente realizam-se as análises a partir
da leitura visual dos dados gerados.
Vale mencionar que, a implantação de edifícios residenciais influencia diretamente no impacto sonoro,
tendo em vista os edifícios serem uma das partes físicas que compõem a forma urbana, pois, segundo Lamas
(2000), a forma urbana pode ser entendida como a maneira pela qual se organizam as partes físicas ou
elementos morfológicos os quais constituem e definem o espaço urbano.
Baseado no exposto, Guedes (2005) conseguiu realizar a predição dos níveis sonoros nas regiões em
fase de expansão, por exemplo, o bairro Jardins, Aracaju-SE, de modo a contribuir para o planejamento na
ocupação de áreas ainda sem construções, através da adequada implantação de edificações em locais que
apresentem níveis sonoros compatíveis as suas futuras atividades ou que essas não exerçam incômodos ao
entorno urbano.

2. OBJETIVO
Avaliar o impacto sonoro através de mapas acústicos após implantação de dois empreendimentos
residenciais localizados no bairro de Luzia, Aracaju-SE e no bairro do Conjunto Prisco Viana, Barra dos
Coqueiros-SE.

3. MÉTODO
Para a avaliação do ruído gerado pelo tráfego veicular nas imediações dos empreendimentos estudados fez-se
uso de medições em campo de níveis de pressão sonora equivalentes em decibels ponderados em A (LAeq),
contagem do volume de tráfego veicular e de simulação computacional no software CadnaA.
Essas coletas foram feitas antes da implantação dos empreendimentos, e novamente com eles já
implantados e ocupados 3 anos após.

3.1. Medições em campo


Para as medições do LAeq foi utilizado o sonômetro digital Impact IP – 170L. De acordo com os
procedimentos preconizados na NBR 10151 (2000), para o empreendimento localizado no bairro de Luzia,
Aracaju-SE, as medições foram realizadas nos dias 28 e 29 de janeiro de 2016 apenas no período diurno por
razões de limitações técnicas correspondentes à logística da equipe de medição em campo; e depois, nos dias

162
19 e 20 de fevereiro de 2019, as medições foram realizadas no mesmo período diurno para padronização da
amostra.
Para o empreendimento localizado no bairro do Conjunto Prisco Viana, Barra dos Coqueiros-SE, as
medições foram realizadas nos dias 26 e 27 de janeiro de 2016 apenas no período noturno pela mesma razão
anteriormente citada; e depois, nos dias 21 e 22 de fevereiro de 2019, as medições foram realizadas no
mesmo período noturno para padronização da amostra.
Todas essas medições foram realizadas com duração de 15 minutos em cada ponto de medição. Os
pontos de medição mencionados podem ser vistos nas Figuras 1 e 2.

Figura 1 – Pontos de medição no entorno do empreendimento localizado no bairro de Luzia, Aracaju-SE (AUTOR, 2019).

Figura 2 – Pontos de medição no entorno do empreendimento localizado no bairro do Conjunto Prisco Viana, Barra dos Coqueiros-
SE (AUTOR, 2019).

163
3.2. Volume de Tráfego Veicular
No que tange à entrada de dados no Software CadnaA foi realizada a contagem do volume de veículos que
transitam nas vias principais nas imediações dos empreendimentos. Para isto, o fluxo das vias foi definido
através de contagem realizada durante 15 minutos em cada via e extrapolado para a quantidade de veículos
por hora.
A Tabela 1 e a Tabela 2 apresentam as vias das quais foram coletados os dados de fluxo veicular nos
respectivos pontos de medição.
Tabela 1 – Principais vias no entorno do empreendimento localizado no bairro de Luzia, Aracaju-SE.
Ponto Vias
01 Avenida Adélio Franco
02 Av. Padre Nestor Sampaio esquina com a Rua Marise Almeida Santos
03 Rua Palmira Ramos Teles esquina com a Av. Dulce Diniz
04 Av. Dulce Diniz (frente ao empreendimento)
05 Rua Palmira Ramos Teles (detrás ao empreendimento)

Tabela 2 – Principais vias no entorno do empreendimento localizado no bairro do Conjunto Prisco Viana, Barra dos Coqueiros-SE.
Ponto Vias
01 Rua João Vital esquina com a Rua G
02 Rua José Almeida esquina com a Rua G
03 Av. Oceânica esquina com a Rua G
04 SE-100
05 Rua João Vital

3.3. Simulação Computacional


Para a simulação computacional realizada no Software CadnaA foram inseridos o empreendimento sob
análise, as vias e as edificações do entorno, respeitando-se os parâmetros acústicos, de tráfego e
morfológicos. A Figura 3 e a Figura 4 ilustram respectivamente a modelagem computacional no entorno dos
dois empreendimentos em questão.

Empreendimento
Avaliado

Figura 3 – Entorno do empreendimento localizado no bairro de Luzia, Aracaju-SE (AUTOR, 2019).

164
Empreendimento
Avaliado

Figura 4 – Entorno do empreendimento localizado no bairro do Conjunto Prisco Viana, Barra dos Coqueiros-SE (AUTOR, 2019).

4. RESULTADOS
No que diz respeito ao empreendimento localizado no bairro de Luzia, Aracaju-SE, a Tabela 3 apresenta a
média do nível de pressão sonora equivalente (LAeq) medidas em cada ponto, a Tabela 4 apresenta a
contagem de veículos no período diurno realizada nas principais vias próximas ao empreendimento sob
análise e a Figura 5 e 6 ilustram a simulação computacional, todos os dados respectivos aos períodos de
janeiro de 2016 e fevereiro de 2019.
Tabela 3 – Resultado das medições (Diurno)
LAeq LAeq
Ponto Vias
(2016) (2019)
01 Av. Adélia Franco 77,0 77,0
02 Av. Padre Nestor Sampaio esquina com a Rua Marise Almeida Santos 74,0 75,0
03 Rua Palmira Ramos Teles esquina com a Av. Dulce Diniz 68,0 69,0
04 Av. Dulce Diniz (frente ao empreendimento) 67,0 69,0
05 Rua Palmira Ramos Teles (detrás ao empreendimento) 62,0 62,0

Tabela 4 – Contagem de Veículos (Diurno)


Veículos Veículos Veículos Veículos
Vias por hora Pesados (%) por hora Pesados (%)
(2016) (2016) (2019) (2019)
Av. Adélia Franco (sentido sul) 1613 4 1646 4
Av. Adélia Franco (sentido norte) 1471 4 1576 4
Av. Padre Nestor Sampaio 975 3 1368 2
Rua Marise Almeida Santos 230 3 446 3
Rua Palmira Ramos Teles 172 3 226 0
Av. Dulce Diniz (frente ao empreendimento) 249 4 480 2
Acesso de veículos do empreendimento - - 40 0

165
Figura 5 – Mapeamento Acústico do entorno do empreendimento localizado no bairro de Luzia, Aracaju-SE (AUTOR, 2016).

Figura 6 – Mapeamento Acústico do entorno do empreendimento localizado no bairro de Luzia, Aracaju-SE (AUTOR, 2019).

Constatou-se, então, quanto ao fluxo de veículos, que houve um aumento de 2% na Av. Adélio Franco
(sentido sul), um aumento de 7% na Av. Adélio Franco (sentido norte), um aumento de 40% na Av. Padre
Nestor Sampaio, um aumento de 94% na Rua Marise Almeida Santos, um aumento de 31% na Rua Palmira
Ramos Teles e um aumento de 93% na Av. Dulce Diniz. Concomitantemente, em relação ao nível médio de
pressão sonora equivalente (LAeq), verificou-se que não houve variação nos pontos 1 e 5, verificou-se um
aumento de 1dBA nos pontos 2 e 3 e um aumento de 2dBA no ponto 4.

166
Levando-se em conta o registro de 40 veículos/hora que acessam o empreendimento pela Av. Dulce
Diniz, conclui-se que a implantação do empreendimento não impactou significativamente no aumento do
fluxo de veículos na Av. Dulce Diniz, e correspondentemente, no aumento do nível de pressão sonora
equivalente, em razão da maior contribuição ser da Av. Dulce Diniz com 480 veículos/hora. Em outras
palavras, a expansão urbana do entorno demonstrou-se mais relevante no impacto sonoro que a implantação
do empreendimento propriamente dito.
No que diz respeito ao empreendimento localizado no bairro do Conjunto Prisco Viana, Barra dos
Coqueiros-SE, a Tabela 5 apresenta a média do nível de pressão sonora equivalente (LAeq) medidas em cada
ponto, a Tabela 6 apresenta a contagem de veículos no período noturno realizada nas principais vias
próximas ao empreendimento sob análise e as Figuras 7 e 8 ilustram a simulação computacional, todos os
dados respectivos aos períodos de janeiro de 2016 e fevereiro de 2019.
Tabela 5 – Resultado das medições (Noturno)
LAeq LAeq
Ponto Vias
(2016) (2019)
01 Rua João Vital esquina com a Rua G 70,0 70,0
02 Rua José Almeida esquina com a Rua G 69,0 69,0
03 Av. Oceânica esquina com a Rua G 74,0 76,0
04 SE-100 74,0 73,0
05 Rua João Vital (frente ao empreendimento) 52,0 57,0

Tabela 6 – Contagem de Veículos (Noturno)


Veículos Veículos Veículos Veículos
Vias por hora Pesados (%) por hora Pesados (%)
(2016) (2016) (2019) (2019)
Rua João Vital 12 0 40 0
Rua G 276 4 326 4
Rua José Almeida 57 16 68 0
Av. Oceânica 797 5 938 6
SE-100 (sentido norte) 816 4 1330 7
SE-100 (sentido sul) 908 5 850 2

Figura 7 – Mapeamento Acústico do entorno do empreendimento localizado no bairro do Conjunto Prisco Viana, Barra dos
Coqueiros-SE (AUTOR, 2016).

167
Figura 8 – Mapeamento Acústico do entorno do empreendimento localizado no bairro do Conjunto Prisco Viana, Barra dos
Coqueiros-SE (AUTOR, 2019).

Constatou-se, então, quanto ao fluxo de veículos, que houve um aumento de 233% na Rua João Vital,
um aumento de 18% na Rua G, um aumento de 19% na Rua José Almeida, um aumento de 17% na Av.
Oceânica, um aumento de 63% na SE-100 (sentido norte) e uma redução de 6% na SE-100 (sentido sul). Da
mesma forma, em relação ao nível médio de pressão sonora equivalente (LAeq), verificou-se que não houve
variação nos pontos 1 e 2, verificou-se um aumento de 2dBA no ponto 3, uma redução de 1dBA no ponto 4 e
um aumento de 5 dBA no ponto 5.
Durante as medições em campo, observou-se que todos os veículos que acessaram o empreendimento
provinham unicamente da Rua João Vital, bem como os veículos que saíam do empreendimento se
destinavam à mesma rua. Isto nos leva a concluir que o fluxo de 40veículos/hora registrados na Rua João
Vital em fevereiro de 2019 representa o impacto sonoro de 5 dBA no ponto 5 causado pela implantação do
empreendimento sob análise.

5. CONCLUSÕES
Portanto, uma das razões para a não contribuição direta do empreendimento localizado no bairro de Luzia,
Aracaju-SE no impacto sonoro do entorno, pode ter relação direta com o fato de sua implantação ser numa
região de natureza mais urbanizada, ou seja, próxima de locais como o Shopping Jardins (distante 1km),
centro da cidade (distante 4,6km), centros comerciais e escolas. Cada um destes fatores urbanísticos pode
influenciar no aumento do fluxo de veículos, pois, segundo Maciel (2009), na medida em que a cidade tenha
todas as construções de edifícios residenciais finalizadas, pode-se esperar um cenário de aumento nos níveis
de ruído com agravamento do problema de poluição sonora devido ao adensamento populacional.
No entanto, em relação ao empreendimento localizado no bairro do Conjunto Prisco Viana, Barra dos
Coqueiros-SE, observou-se que a região de sua implantação é caracterizada pela predominância de casas
populares com poucos edifícios residenciais, além de estar distante 7,3km do centro da cidade de Aracaju,
não apresentando muitos fatores que pudessem demandar um aumento significativo do fluxo de veículos. Por
esta razão, pode-se concluir a efetiva contribuição da implantação do referido empreendimento no impacto
sonoro nas vias vicinais.
Por fim, esta avaliação do impacto sonoro através de mapas acústicos após implantação de
empreendimentos residenciais, pode servir como ferramenta de gestão de ruído para fins de planejamento
urbano, pois, de acordo com Guedes, (2005), esses aspectos mostram a importância de prever os níveis de
ruído gerados pelo tráfego de uma via e utilizar essas informações como partida durante a fase de projeto
tanto na escala urbana quanto na dimensão do edifício, de modo a minimizar os efeitos do ruído urbano nos
ambientes construídos.

168
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 10151 – Acústica, Avaliação do ruído em áreas
habitadas, visando o conforto da comunidade, Rio de Janeiro, 2000.
BERGLUND, B.; LINDVALL, T.; SCHWELA, D.H. (Eds.). Guidelines for community noise. World Health Organization
(WHO). 1999.
FLORÊNCIO, D; BRASILEIRO, T; ARAÚJO, E; ARAÚJO, V; ARAÚJO, B. Análise Estatística do Ruído de Tráfego como
validação para mapeamento acústico. XIV ENCONTRO NACIONAL DE CONFORTO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO. Balneário
Camboriú, 2017.
GARAVELLI, S. L.; MORAES, A. C. M.; NASCIMENTO, J. R. R.; NASCIMENTO, P. H. D. P.; MAROJA, A. M. Mapa
de Ruído como Ferramenta de Gestão da Poluição Sonora: Estudo de Caso de Águas Claras -DF. 4º CONGRESSO LUSO-
BRASILEIRO PARA O PLANEJAMENTO URBANO, REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVL – PLURIS. Faro, 2010.
GUEDES, I. C. M. Influência da Forma Urbana em Ambiente Sonoro: Estudo de Caso no Bairro Jardins em Aracaju
(SE). Dissertação (Mestrado). Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo.
Campinas, 2005.
LAMAS, J. M. R. G. Morfologia urbana e desenho da cidade, 2. ed., Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2000.
MACIEL, B. A.; RIBEIRO, R. J. C.; BIAS, E. S.; GAVARELLI, S. L.; CAVALCANTI, M. M. Modelagem do ruído urbano
como instrumento de gestão ambiental. XIV SIMPÓSIO DE SENSORIAMENTO REMOTO. Natal, 2009.

169
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE RUÍDO EM SALA DE AULA EM FUNÇÃO
DO TRÁFEGO E COMPARAÇÃO ENTRE OS MÉTODOS DE
MEDIÇÃO DE CAMPO E ESTIMADO
Nathali Martins Padovani (1); Ana Paula Campos Rodrigues (2); Caio Vasconcellos Sabido
Gomes (3)
(1) Arquiteta, estudante do curso de Pós-Graduação em Arquitetura Bioclimática - Desempenho Ambiental,
nathalipadovani@gmail.com, PUC Minas, Rua dos Aeronautas, 440/202, BH/MG, Tel.: (31)99825-6258
(2) Gestora Ambiental, estudante do curso de Pós-Graduação em Arquitetura Bioclimática - Desempenho
Ambiental, anapaula-campos@hotmail.com, PUC Minas, R. Profº José de Carvalho, 1044/301, GV/MG,
Tel.: (31)99743-8085
(3) Mestre, Professor do curso de Pós-Graduação em Arquitetura Bioclimática - Desempenho Ambiental,
caiosabido@gmail.com, PUC Minas, Rua Araguari 1383/301, BH/MG, Tel.: (31)98881-1584.

RESUMO
A poluição sonora é uma das consequências mais preocupantes do crescimento desordenado das grandes
cidades. Em ambientes como salas de aula, o atendimento a níveis de ruído confortáveis e a inteligibilidade
da fala são fundamentais para um bom desempenho no processo de aprendizagem, o que depende das
características dos sistemas construtivos do ambiente. Este artigo tem como objetivo apresentar um estudo
sobre a avaliação do nível de ruído presente em uma sala de aula universitária em função do tráfego em um
período típico de uso e ocupação. O método de avaliação foi apresentado por meio de medições in loco e
cálculos estimativos para os níveis de ruído externo e interno, possibilitando a comparação entre as relações
dos níveis atingidos. Os resultados das medições extrapolaram os limites de níveis de ruído estabelecidos por
norma, requerendo um isolamento maior do sistema de vedação externo. Os níveis de ruído externo
estimados apresentaram divergências com níveis medidos. Em contrapartida, o isolamento estimado do
sistema de vedação externo do ambiente apresentou valores similares ao obtido nas medições. Com base nos
resultados, concluiu-se que o estudo serve de parâmetro para novos projetos e para análise dos demais
edifícios situados ao entorno, em especial os numerosos de uso educacional existentes e que, porventura, não
apresentem condições adequadas para o conforto acústico.
Palavras-chave: Acústica de salas de aula, desempenho acústico, medições de campo, controle de ruído.

ABSTRACT
Noise pollution is one of the most growing causes of the disorderly growth of large cities. In environments
such as classrooms, attendance at comfortable noise levels and speech intelligibility are fundamental for a
good performance in learning, which depends on the characteristics of the constructive systems of the
environment. This article aims to present a study about the evaluation of the level of performance present in
a university classroom according to the period of time of use and occupation. The evaluation method was
measured at different levels and estimated the levels of external and internal score, allowing a comparison
between the variables of the levels reached. The measurement results suppose the pattern saturation limits by
standard, requiring greater insulation from the outer wrapping system. The estimated external noise levels
are divergent in comparison with the measured levels, in contrast, the estimated isolation from the
enviromental outer wrap system presented simaler results by the ones obtained with the measurements.
Based on the results, it was concluded that the study would serve for new projects and for the analysis of the
other buildings located around, specially the numerous existing educational use and, perhaps, do not present
the appropriate conditions for acoustic comfort.
Keywords: Classroom acoustics, acoustic performance, field measurements, noise control.

170
1. INTRODUÇÃO
A poluição sonora é uma das consequências mais preocupantes do crescimento desordenado das grandes
cidades, onde o crescimento populacional e a vida em conglomerados elevam, cotidianamente, o ruído nos
centros urbanos, em especial, em decorrência do aumento do número de automóveis, aeronaves e outros
meios de transportes (SOUZA et al., 2006).
Estudos em países da Europa Ocidental mostram que o ruído ambiente é o segundo causador de
doenças relacionadas a fatores ambientais, perdendo somente para a poluição do ar (WHO, 2003). Nagem
(2004), expõe diversos danos à saúde causados pela exposição do indivíduo ao excesso de ruído sonoro,
como surdez temporária ou permanente, irritabilidade, diminuição do desempenho e/ou da concentração,
stress, agressividade, e até mesmo interferência na comunicação.
Em ambientes como salas de aula, além de baixos níveis de ruído, a inteligibilidade da fala é
fundamental para um bom desempenho no processo de aprendizagem. A inteligibilidade é a medida da
proporção do conteúdo de uma mensagem de voz que pode ser entendida corretamente, segundo a definição
da norma internacional IEC 60849 (2002) e pode ser influenciada por ecos e/ou distorções causados pelas
características do ambiente (OLIVEIRA, 2013). Desta forma, a avaliação do desempenho acústico dos
sistemas construtivos das edificações é indispensável para se construir edifícios com ambientes mais
confortáveis.
Neste artigo, buscou-se avaliar os níveis de ruído de uma sala de aula universitária em uma edificação
inserida no meio urbano consolidado por meio de medições realizadas em campo e cálculos estimativos. A
condução dos trabalhos foi guiada pelas normas acústicas NBR 10.151 (ABNT, 2000), NBR 10.152 (ABNT,
2017) e, na ausência de uma norma específica para essa tipologia de uso, adotaram-se os requisitos da norma
NBR 15.575 (ABNT, 2013) para a avaliação do desempenho acústico do sistema construtivo.

2. OBJETIVO
Esse trabalho tem como objetivo avaliar o nível de ruído presente em uma sala de aula universitária em
função do tráfego em um período típico de uso e ocupação e ainda comparar relações de níveis de ruído
medidos e estimados.

3. MÉTODO
A metodologia utilizada para a obtenção dos níveis de ruído foi baseada na realização de medições in loco e
por meio de cálculos prescritivos, possibilitando a comparação dos resultados, conforme indicado a seguir:
1. Apresentação da área, ambiente de estudo e instrumentação utilizada;
2. Nível de ruído externo medido por sonômetros e estimado;
3. Nível de ruído interno medido por sonômetros e estimado.

3.1. Determinação da área de estudo e instrumentação


Para as medições internas, determinou-se como objeto de estudo a sala de aula de informática nº 1102,
situada no 11º andar do Edifício Liberdade da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(coordenadas 19°93’S, 43°93’W), na Rua Cláudio Manoel, nº 1149, bairro Funcionários, no município de
Belo Horizonte/MG. Para as medições externas, foram escolhidos cinco pontos ao longo das ruas Alagoas
(A1, A2, A3, A4 e A5), Cláudio Manoel (C1, C2, C3, C4 e C5) e Sergipe (S1, S2, S3, S4 e S5), vias de
classificação arterial, nos trechos adjacentes à quadra onde se encontra a edificação (Figura 1). O edifício
escolhido representa um dentre os numerosos de uso educacional existentes nessa região do bairro, dos quais
muitos são pertencentes à própria universidade PUC Minas para ensinos de graduação e pós-graduação.
Para as medições, foram utilizados três sonômetros, um da marca Quest Technologies, modelo 1900,
tipo 1 e dois sonômetros da marca Minipa, modelo MSL-1352A, tipo 2, todos calibrados por laboratório
acreditado e com certificado rastreável datado em 20 de fevereiro de 2019. Os instrumentos foram ajustados
para medição na curva de ponderação “A” e com resposta rápida (fast).

171
Figura 1 - Determinação da área de estudo e pontos de medição externos (GOOGLE MAPS, 2019. Adaptado)

3.2. Nível de ruído externo


3.2.1. Medições
Para a medição dos níveis de ruído dos pontos da rua Sergipe, foi utilizado o sonômetro da marca Quest
Technologies, ajustado para a escala de medição entre 40dB e 100dB. Os níveis de ruído dos demais pontos,
nas ruas Cláudio Manoel e Alagoas, foram medidos com os dois sonômetros da marca Minipa, ajustados
para a escala de medição entre 40dB e 90dB.
Preocupou-se em manter a distância mínima de 1,5m das paredes e demais superfícies refletoras,
posicionar o microfone dos instrumentos a uma altura de 1,2m do solo e evitar a influência de sons não
desejados como vento e ruídos de interferências elétricas e condições climáticas extremas, (ABNT, 2000).
As medições foram realizadas em dois dias e horários distintos durante a ocorrência de aula, primeiro,
numa sexta feira entre 19h30 e 20h30, e num sábado entre 13h50 e 15h20, em abril de 2019. Em cada ponto
foram realizadas 13 medições, aferidas a cada 5 segundos, totalizando 60 segundos por ponto. O nível de
pressão sonora medido pelo instrumento a cada instante foi anotado manualmente. Posteriormente, calculou-
se o nível de pressão sonora equivalente referente ao intervalo de tempo total LAeq,60s de cada ponto e, por
último, o nível de pressão sonora equivalente de cada via LAeq, através da Equação 1 especificada na NBR
10.151 (ABNT, 2000).

𝐿𝑖
1
𝐿𝐴𝑒𝑞 = 10 log 𝑛 ∑𝑛𝑖= 1 1010 Equação 1

Onde:
Li é o nível de pressão sonora lido em resposta rápida (fast) a cada 5s, durante o tempo de medição do ruído
[dB(A)];
n é o número total de leituras.

Por fim, a avaliação do ruído foi feita em comparação com o nível de critério de avaliação (NCA)
estabelecido pela NBR 10.151 (ABNT, 2000) e com os limites indicados como não prejudiciais à saúde, à
segurança ou ao sossego público determinados pela legislação estadual e municipal vigentes, expostos na
Tabela 1.

172
Tabela 1 - Nível de critério de avaliação NCA e limites de ruído para ambientes externos, em dB(A).
Recomendação Diurno Noturno Fonte
NBR 10.151 7h às 22h 22h às 7h
Área mista, com vocação ABNT (2000)
60 dB 55 dB
comercial e administrativa
Lei Estadual nº 10.100 6h às 22h 22h às 6h
MINAS GERAIS (1990)
Ambiente externo 70 dB 60 dB
Lei Municipal nº 9.505 7h às19h 22h às 0h 0h às 7h 19h às 22h BELO HORIZONTE
Ambiente externo 70 dB 50 dB 45 dB 60 dB (2008)

3.2.2. Estimativa
Com base em London (1988), para a simulação do ruído de tráfego, o nível de ruído externo estimado foi
calculado com base no número médio de veículos que circularam nas vias analisadas durante o período de
medição com os sonômetros, sendo considerada a velocidade máxima permitida para a via de acordo com o
Código Brasileiro de Trânsito (BRASIL, 1997), e a fração de veículos pesados presentes no fluxo de tráfego,
conforme indicado na Equação 2.

𝟓𝟎𝟎 𝟓𝒑
𝑳𝟏𝟎 = 𝟏𝟎 𝒍𝒐𝒈 𝒒 + 𝟑𝟑 𝒍𝒐𝒈 (𝒗 + 𝟒𝟎 + 𝒗
)+ 𝟏𝟎 𝒍𝒐𝒈 (𝟏 + 𝒗
)− 𝟐𝟔, 𝟔 Equação 2
Onde:
q é o volume de tráfego de veículos/hora;
v é a velocidade média [km/h];
p é a porcentagem de veículos pesados [%].

Para a definição final da classe de ruído externo, levou-se em consideração a distância e a altura das
fachadas da sala de aula localizada no 11º andar com as vias analisadas (Figura 2). Em função da distância
entre a fonte de ruído e o receptor, o nível de ruído decai devido à absorção do som pelo ar. Para o fluxo de
veículos, tem-se 3dB de atenuação de ruído ao ar livre para cada duplicação da distância. Tal relação é dada
pela Equação 3, sendo possível prever os níveis de ruído na fachada da sala de aula em relação ao nível de
ruído estimado pelo tráfego em cada rua para qual a vedação externa está voltada (Alagoas e Sergipe).

Figura 2 - Corte esquemático da Rua Claudio Manoel

𝒅𝟏
𝑵𝑷𝑺𝟎 – 𝑵𝑷𝑺𝟏 = 𝟏𝟎 𝒍𝒐𝒈 (𝒅𝟎) Equação 3
Onde:
NPS: Nível de Pressão Sonora [dB(A)];
d: distância entre a fonte e o receptor, [m].

173
3.3. Nível de ruído interno
3.3.1. Medições
Para as medições internas à sala 1102 (Figura 3), foram estabelecidos quatro pontos P1, P2, P3 e P4, em
diferentes alturas: 1,78m, 1,56m, 1,20m e 1,50m respectivamente. A sala possui uma área de 61,40m² e pé-
direito igual a 2,76m. Para cada ponto P1 e P2, foi utilizado um sonômetro da marca Minipa, ajustado para a
escala de medição entre 30dB e 80dB. Já para as medições dos pontos P3 e P4, foi utilizado o sonômetro da
marca Quest Technologies, ajustado para a escala de medição entre 30dB e 90dB.

Figura 3 - Planta e Corte da sala 1102

Preocupou-se em distar os pontos a 1,0m das paredes, teto, piso, e de elementos com características
reflexivas, como janelas, portas ou entradas de ar, e mobiliário. No momento das medições, as janelas foram
abertas e a porta fechada, e a sala apresentava-se em suas condições normais de uso e ocupação durante as
aulas, com o equipamento de ar condicionado e 50% dos computadores ligados e a presença de 14 pessoas
em seu interior, (ABNT, 2017).
As medições foram realizadas entre 20h30 e 21h00 da sexta feira, no mesmo dia das medições
externas noturnas. Em cada ponto foram realizadas 13 medições, aferidas a cada 5 segundos, totalizando 60
segundos por ponto. O nível de pressão sonora medido pelo instrumento em cada instante foi anotado
manualmente. Posteriormente, calculou-se o nível de pressão sonora equivalente referente ao intervalo de
tempo medido LAeq,60s de cada ponto e, por último, o nível de pressão sonora equivalente do ambiente
interno LAeq, através da Equação 1.
Por último, foi feita a avaliação do ruído de modo simplificado em comparação com o nível de
referência estabelecido na Tabela 2 , admitindo-se tolerância de até 5dB acima dos valores tabelados.

Tabela 2 - Valores de referência para ambientes internos de uma edificação de uso educacional
Valores de referência
Finalidade de uso Fonte
RLAq (dB)

Ambientes educacionais: Salas de Aula 35 + 5dB de tolerância NBR 10.152 (ABNT, 2017)

3.3.2. Estimativa
De acordo com a NBR 15.575 (ABNT, 2013), a partir do método de precisão, baseado em dados tabelados
provenientes de ensaios em laboratórios, foi possível estimar a isolação sonora dos componentes e elementos
construtivos empregados nos fechamentos verticais da sala de aula. Este método permitiu a avaliação do
sistema de vedação externa composto por diferentes elementos (parede com janela), sendo calculado o
isolamento estimado global do conjunto.
Desse modo, estimou-se a média ponderada dos índices de redução sonora, 𝑅𝑤𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 , através da
Equação 4, para o sistema de vedação de cada uma das fachadas sensíveis ao nível de ruído (BISTAFA,
2011) advindo das ruas Alagoas e Sergipe, utilizando as áreas e os valores de Rw, referenciados na Tabela 3,
para cada elemento construtivo.

174
𝜮𝑨
𝑹𝒘𝒕𝒐𝒕𝒂𝒍 = 𝟏𝟎 𝒍𝒐𝒈 𝑨𝟏 𝟏𝟎−𝟎,𝟏𝑹𝒘𝟏 + 𝑨𝟐 𝟏𝟎−𝟎,𝟏𝑹𝒘𝟐 + ...+ 𝑨𝒏 𝟏𝟎−𝟎,𝟏𝑹𝒘𝒏
Equação 4

Onde:
A é a área da superfície dos elementos construtivos;
Rw é o índice de redução sonora ponderado dos elementos construtivos.

Tabela 3 - Dados de área e Índice redução sonora (Rw) dos elementos construtivos.
Sistema Área Rw Fonte
Fachada Rua Alagoas
Alvenaria composta por tijolo revestido com argamassa de 15cm 2,71 40 CBIC (2013)
Janela de vidro simples 4mm abertas (50%) 17,94 25 Souza, et al. (2006)
Ar (janelas abertas - 50%) 2,71 0 ---
Fachada Rua Sergipe
Alvenaria composta por tijolo revestido com argamassa de 1,5cm 2,71 40 CBIC (2013)
Janela de vidro simples 4mm abertas (50%) 19,05 25 Souza, et al. (2006)
Ar (janelas abertas - 50%) 2,71 0 ---

4. RESULTADOS
Os níveis de ruído interno e externo adquiridos nas medições em campo, assim como os valores obtidos por
métodos prescritivos foram indicados a seguir. Vale ressaltar que os levantamentos foram realizados em dias
com condições climáticas normais (sem chuvas, ventos fortes etc.), pista de tráfego seca, asfaltada e com o
pavimento em bom estado de conservação.

4.1. Nível de ruído externo


4.1.1. Níveis de ruído externo obtidos por medições em campo
A partir das medições in loco, foi possível avaliar o nível de pressão sonora (NPS) nas três vias analisadas
para o período noturno e para o período diurno, conforme as medições realizadas, respectivamente, nos dias
26 de abril e 27 de abril de 2019. Visando facilitar a compreensão dos resultados, os dados obtidos foram
compilados e apresentados por meio de gráficos (Figura 4).

(A) (B)

Figura 4 - Níveis de ruídos obtidos por medições externas: (A) Período Noturno; (B) Período Diurno

De acordo com os parâmetros apresentados na Figura 4, o nível de pressão sonora máximo admitido
para o entorno analisado é de 60dB. Sendo assim, verificou-se que durante as medições noturnas, os valores
obtidos em todos os pontos analisados nas três vias ficaram acima do nível de critério de avaliação (NCA)
estabelecido pela NBR 10.151 (ABNT, 2000) e pela Lei Estadual n° 10.100 (MG, 1990), com exceção do
valor medido no ponto 5 da Rua Sergipe.
Os resultados das medições externas diurnas apontaram maior nível de ruído na Rua Alagoas, com
todos os valores acima de 60dB. Apesar do resultado obtido no ponto 2 da Rua Cláudio Manoel ter ficado
um pouco abaixo do limite, os demais resultados também foram acima do NCA. Em contrapartida, todos os
pontos medidos na Rua Sergipe apresentaram nível de pressão sonora satisfatório, ou seja, abaixo de 60dB.

175
4.1.2. Níveis de ruído externo estimados
Com base no levantamento do número de veículos leves (VL) e veículos pesados (VP) que trafegaram pelas
vias analisadas durante o intervalo de medições com sonômetro (300s), no período noturno do dia 26 de abril
de 2019 e no período diurno do dia 27 de abril de 2019, foi possível estimar o número médio de veículos por
hora, equivalente a 3.600s, que circulam nos logradouros lindeiros à quadra do edifício objeto desse estudo,
conforme apresentado na Tabela 4.

Tabela 4 - Levantamento do número médio de veículos nas vias lindeiras


Rua Alagoas Rua Cláudio Manoel Rua Sergipe
Período VL VL VP VL VL VP VL VL VP
(300 s)
(3.600 s) (300 s) (300 s) (3.600 s) (300 s) (300 s) (3.600 s) (300 s)
Noturno 132 1584 2 42 504 0 48 576 2
Diurno 93 1116 0 23 276 0 24 288 1

Através dos levantamentos realizados, a estimativa do ruído proveniente do tráfego foi obtida a partir
da Equação 1, sendo os valores apresentados na Figura 5. Observou-se que, para as três vias analisadas,
considerando o período noturno e o período diurno, todos os resultados estimados ultrapassam o valor
máximo admitido (60dB) para o entorno.

Figura 5 - Níveis de ruído externo estimados

4.1.3. Comparação dos níveis de ruído externo medidos e estimados


A partir dos níveis de ruído adquiridos por meio das medições realizadas nos cincos pontos de cada
logradouro avaliado, tirou-se a média do nível de pressão sonora equivalente (𝐿𝐴𝑒𝑞) obtido em cada via. Os
dados das medições de campo foram comparados com os valores estimados pelo método prescritivo (Figura
6).
(A) (B)

Figura 6 - Comparação dos níveis de ruídos medidos e estimados: (A) Período Noturno; (B) Período Diurno
A partir da análise dos resultados medidos, notou-se que, apesar de alguns valores apresentados na
Figura 4 terem sido considerados satisfatórios, o nível de ruído médio em todos os casos ultrapassou o limite
máximo admitido (60dB), com exceção do nível de ruído medido no período diurno para a Rua Sergipe.
Além disso, percebeu-se que todos os valores estimados foram superiores aos valores medidos em campo.

176
No que se refere ao ruído externo, a NBR 15.575 (ABNT, 2013) apresenta as classes de ruídos para
entornos, necessárias para a caracterização do nível de isolamento acústico a ser proporcionado para as
fachadas (parede + esquadria) e, apesar desses parâmetros serem aplicáveis apenas para o desempenho de
edificações habitacionais, esses requisitos foram considerados para o enquadramento da classe de ruído de
cada via analisada nessa pesquisa, de acordo com os critérios definidos na Tabela 5.

Tabela 5 - Níveis de pressão sonora equivalentes (LAeq) incidentes nas fachadas das edificações para cada classe de ruído

Classe de Ruído Nível de Pressão Sonora Equivalente LAeq,T - dB Fonte


I ≤ 60 ProAcústica (2017)
II 61 a 65 ProAcústica (2017)
III 66 a 70 ProAcústica (2017)

Considerando os níveis de pressão sonora equivalentes (𝐿𝐴𝑒𝑞) incidentes nas fachadas da sala 1102
(Figura 6), a partir da compilação dos valores medidos no período noturno com os diurnos, verificou-se o
enquadramento da Rua Alagoas como Classe III, sendo que as Ruas Cláudio Manoel e Sergipe foram
enquadradas como Classe II (Tabela 6). Nessa tabela também apresenta-se a caracterização do ruído externo
para os valores estimados, notando-se um aumento da classe de ruído nos três logradouros, quando da
comparação dos resultados obtidos por meio de medições com os dados estimados: Rua Alagoas - Classe >
III e Ruas Cláudio Manoel e Sergipe - Classe III.

Tabela 6 - Classificação das vias com base no nível de pressão sonora equivalente (LAeq) externo medido e estimado

Ruído Externo Medido Ruído Externo Estimado


Vias Classe de Ruído Classe de Ruído
dB(A) dB(A)
R. Alagoas 67 III 72 > III
R. Cláudio Manoel 65 II 67 III
R. Sergipe 64 II 67 III

Considerando também que, no caso do fluxo de veículos, tem-se 3dB de atenuação de ruído ao ar livre
para cada duplicação da distância, conforme apresentado na Figura 2, verificou-se que, com base na distância
e na altura da sala de aula localizada no 11º pavimento em relação às vias analisadas, o NPS incidente na
fachada da Rua Alagoas reduz de 67dB para 61dB, passando de Classe III para Classe II; o NPS incidente na
fachada da Rua Cláudio Manoel reduz de 65dB para 62dB, permanecendo na Classe II e o NPS incidente na
fachada da Rua Sergipe reduz de 64dB para 55dB, passando de Classe III para Classe I.
Esse tipo de relação é de extrema importância para o desempenho sonoro de um ambiente interno, uma
vez que é a partir do índice de redução sonora ponderado (Rw) das esquadrias que o isolamento do sistema
de vedação externa é potencializado. Quanto mais precisa a determinação da classe de ruído ao entorno do
andar analisado, mais assertiva é a especificação dos componentes, o que pode contribuir com a redução de
custos, uma vez que, havendo atenuação do NPS em detrimento do aumento da distância do andar em
relação à via, a instalação das esquadrias com maior Rw, e consequentemente com custos mais elevados,
pode ser realizada apenas nos pavimentos inferiores.

4.2. Níveis de ruído interno


4.2.1. Níveis de ruído interno obtidos por medição de campo
A partir das medições internas realizadas em quatro pontos da sala 1102 (Figura 3), foi avaliado o nível de
pressão sonora equivalente (𝐿𝐴𝑒𝑞) de cada ponto, conforme indicado na Figura 7, onde foram constatados
valores bem superiores ao máximo admitido para uma sala de aula, já com 5dB de tolerância (40dB). Com
base nos resultados apresentados, foi calculado o NPS médio da sala, sendo encontrado o valor de 55dB.

177
Figura 7 – Resultados obtidos nas medições internas noturnas

4.2.2. Índice de redução sonora ponderado (Rw) estimado para as fachadas


Além da indicação das classes de ruídos, a NBR 15.575 (ABNT, 2013) apresenta valores de referência para o
índice de redução sonora ponderado, Rw, de fachadas, considerando ensaios realizados em laboratório para
componentes, elementos e sistemas construtivos utilizados nos fechamentos verticais externos, sendo ≥ 25dB
para Classe I, ≥ 30 dB para Classe II e ≥ 35dB para Classe III.
Com base no índice de redução sonora ponderado (Rw) dos componentes e sistemas apresentados na
Tabela 3 e com base na Equação 4, foi possível calcular o Rw estimado para o sistema de vedação composto
por fechamento convencional e janelas de vidro 4mm, sendo obtido um isolamento de 10dB com as janelas
abertas e de 31dB com as janelas fechadas.

4.2.3. Relação do nível de ruído interno medido com o Rw estimado para as fachadas
De acordo com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (2013), numa edificação, a presença de
janelas ou portas sem tratamento acústico numa parede normalmente reduz substancialmente a isolação
acústica, sendo considerados a parte mais sensível do sistema.
A partir do NPS interno medido e do Rw estimado para as fachadas da sala de aula, o alto nível de
ruído interno obtido na sala de aula pode ser justificado pelas circunstâncias em que as medições foram
realizadas, uma vez que, durante os levantamentos, considerou-se a pior condição que envolve o uso de uma
dependência em termos de isolamento acústico: ambiente com janelas abertas. Com as janelas fechadas,
estima-se uma redução de 31dB para o sistema, havendo potencial do NPS interno ser inferior ao nível de
ruído máximo admitido (40dB).
Comparando o maior nível de pressão sonora externo medido na Rua Alagoas (67 dB) e na Rua
Sergipe (64dB) com o nível de pressão sonora interno medido de (55dB), percebeu-se que o valor estimado
para o isolamento da fachada (10dB), considerando medições com janela aberta, foi equiparado com a
diferença padronizada de nível ponderada da vedação externa (D2m,nT,w) obtida na medição de campo,
sendo 12dB.

5. CONCLUSÕES
A partir dos resultados obtidos, foi possível avaliar o nível de ruído presente em uma sala de aula
universitária em função do tráfego em um período típico de uso e ocupação e ainda comparar relações de
níveis de ruído medidos e estimados. Por meio dos dados apresentados, conclui-se que os níveis de pressão
sonora externos apresentaram valores acima do máximo permitido pela NBR 10.151 (ABNT, 2000),
comprometendo a qualidade acústica do ambiente interno analisado, requerendo um isolamento maior do
sistema de vedação externa.
Dentre os valores apresentados, verificou-se que os níveis de pressão sonora externos obtidos através
de medições com sonômetros divergiram consideravelmente do método prescritivo adotado por London
(1988), que visa a estimativa do ruído de tráfego, alterando a caracterização da classe de ruído de todas as
vias. Em contrapartida, o algoritmo utilizado para estimar o Índice de Redução Sonora Ponderado (Rw) do
sistema de vedação externo apresentou valores similares ao obtido por meio da diferença do nível de pressão
sonora equivalente entre o meio externo e o ambiente interno analisado.
No que se refere à caraterização do entorno, a análise da atenuação de ruído ao ar livre para cada
duplicação da distância contribuiu para a redução da classe de ruído de duas das três vias analisadas. Sendo
assim, as recomendações inseridas ao longo desse estudo podem ser utilizadas como parâmetro de análise do
desempenho acústico para os demais edifícios situados no entorno do local escolhido, em especial para os

178
numerosos edifícios de uso educacional existentes e que porventura não apresentem condições adequadas
para o conforto acústico.
Os dados indicados também podem ser adotados como entradas para projetos de reformas ou de novas
construções situadas na área analisada, sejam os mesmos voltados para ambientes corporativos ou
residenciais, devendo ser dada uma atenção especial para a escolha e a instalação de esquadrias que
apresentem melhor isolação acústica compatíveis com o nível de pressão sonora equivalente incidente em
cada fachada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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habitadas, visando o conforto da comunidade – Procedimento. Rio de Janeiro, 2000.
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ambientes internos a edificações. Rio de Janeiro, 2017.
ASSOCIAÇÃO BRASILERIA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR 15.575: edificações habitacionais: desempenho - parte 4:
requisitos para os Sistemas de Vedações Verticais Internas e Externas - SVVIE. Rio de Janeiro, 2013.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA A QUALIDADE ACÚSTICA. PRO-ACÚSTICA: Manual Proacústica para Classe de
Ruído das Edificações Habitacionais - Guia prático e orientativo para classificação acústica de habitações, fachadas e
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s0xa699dcf015c7d1:0x515121aae0ba5458!8m2!3d-19.9330977!4d-43.9360222>. Acesso em mai. 2019.
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NAGEM, Míriam Pompeu. Mapeamento e análise do ruído ambiental: diretrizes e metodologia. Dissertação de Mestrado.
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SOUZA, L.C.L.; ALMEIDA, M.G.; BRAGAN, A.L. Bê-a-bá da acústica arquitetônica: ouvindo a Arquitetura. São Carlos: Ed.
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2003/en/whr03_en.pdf> Acesso em mai. 2019.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Laboratório de Conforto Ambiental da PUC Minas por disponibilizar os
equipamentos utilizados e aos alunos do curso de Pós-Graduação em Arquitetura Bioclimática - Desempenho
Ambiental do IEC - PUC Minas pelas medições experimentais realizadas: Aline Fabiana da Costa, Ana
Augusta Figueiredo Silva, Ana Paula Campos Rodrigues, Andréa Juliana de Oliveira Sá, Daniele Cristiane
Valim, Flaviane Almeida Guimarães, Gabriela Mara Batista de Sousa, Mariana F. B. Guimarães Diniz,
Nathali Martins Padovani, Silvia Gramiscelli Reis, Tamira Daniela Camargo de Souza, Trycia Guerreiro
Sampaio, Victor Alcântara Pedrozo, Victor Augusto Gomes Prosdocimi.

179
CARACTERIZAÇÃO DO RUÍDO DE UM PARQUE EÓLICO E SEU
INCÔMODO CAUSADO AOS MORADORES
Bruna S. Alencar (1); Luiz Henrique M. C. Pereira (2); Erasmo Felipe Vergara (3)
(1) Arquiteta, Mestranda em Arquitetura e Urbanismo na UFSC, bsalencar@gmail.com
(2) Graduando em Engenharia Mecânica na UFSC, luizmcpereira@gmail.com
(3) Doutor, Professor do Departamento de Engenharia Mecânica na UFSC, e.f.vergara@ufsc.br
Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Engenharia Mecânica,
Laboratório de Vibrações e Acústica, Florianópolis–SC, 88040-900

RESUMO
O ruído de aerogeradores de vento deve ser mensurado e analisado de forma específica, visto que é altamente
dependente da velocidade do vento, da temperatura e do relevo do local. O objetivo deste trabalho é
caracterizar o ruído de um parque eólico na região sul do Brasil por meio de medições diurnas e noturnas
durante o funcionamento dos aerogeradores e em momentos que eles permanecem desligados com base na
avaliação de níveis de pressão sonora em áreas habitadas. Os dados foram analisados com os descritores
LAeq,10min; LAeq,global; LA10,10min, LA90,10min e espectro sonoro. As medições no período diurno não apresentaram
grandes variações com e sem a presença de aerogeradores, prevaleceram as medições de LAeq,10min abaixo de
40 dB(A) - limite estabelecido pela norma NBR 10.151 para áreas rurais. O período noturno foi avaliado
apenas com os aerogeradores ligados, o que resultou em níveis entre 37,5 e 43,3 dB(A); superiores aos 35
dB(A) propostos pela norma. O NPI calculado para o período diurno mostra que a fonte de ruído pode ser
considerada perceptível a notável pela comunidade local, podendo ainda ser esperada uma possível resposta
adversa das pessoas até uma resposta adversa concreta. No período diurno, o ruído proveniente do
funcionamento do parque eólico é perceptível pela variação maior que 3 dB do nível de pressão sonora,
entretanto está dentro do limite da norma. Por outro lado, o nível de pressão sonora monitorado à noite, além
de estar acima da norma, pode trazer possíveis efeitos negativos à saúde dos moradores da região.
Palavras-chave: aerogeradores de vento, parque eólico, impacto ambiental acústico, ruído ambiental.

ABSTRACT
Wind turbine noise must be measured and analyzed in a specific technique because it is highly dependent on
the wind speed, temperature and terrain. The goal of this paper is to characterize the noise from a wind farm
in the south of Brazil trough day and night measurements with the wind turbine working and shut down
based on the Brazilian standard NBR10.151. The data were assessed with LAeq,10min; LAeq,global; LA10,10min,
LA90,10min and sound spectrum. The morning measurements didn't show many variations with and without the
shutdown of the wind turbine, the majority of the LAeq,10min were under 40 dB(A) - threshold established by
the Brazilian standard to rural areas. The nighttime was assessed only with turbines on, which resulted in
levels between 37,5 and 43,3 dB(A); above 35 dB(A), which is the limit established by the standard. The
NPI value calculated for daytime shows that the source could be considered perceptible to noticeable for the
community and result in a potentially adverse to an adverse response. In daytime, the noise from wind
turbine is perceived because of the variation above 3 dB in sound pressure level, meanwhile still below the
threshold. Unlike the measurements in nighttime, which besides being above the limit, could affect the
healthy of the community.
Keywords: wind turbine, wind farm, acoustic environmental impact, environmental noise.

180
1. INTRODUÇÃO
Nas últimas cinco edições do Balanço Energético Brasileiro - BEN, a produção de energia elétrica a partir da
energia eólica aumentou exponencialmente (EPE, 2018). É uma fonte renovável, a qual o país possui grande
capacidade de produção e sua geração não está diretamente ligada à liberação de gases poluentes na
atmosfera.
O grande investimento em um parque eólico vem acompanhado de estudos sobre possíveis impactos
ambientais, sendo um deles o ruído. O ruído do funcionamento de um aerogerador de vento mais incômodo é
o aerodinâmico, o qual deve-se à incidência das massas de ar nas pás - ou seja, altamente dependente das
condições atmosféricas e do regime de vento do local (BOWDLER; LEVENTHALL, 2011).
A situação para medição de nível de pressão sonora em um parque eólico é bastante peculiar, diferente
de outras medições em ambientes externos. Apresenta-se por altas velocidades do vento e um nível de ruído
residual que varia de acordo com a velocidade do vento (BOWDLER; LEVENTHALL, 2011). Por isso,
diversos países que utilizam a energia eólica, como Nova Zelândia, Holanda e Austrália, possuem normas
específicas para medição e limites para o nível de ruído produzido por aerogeradores de vento.
O Brasil não possui legislação específica visando os parques eólicos, sendo utilizada a NBR 10.151-
Medição e avaliação de níveis de pressão sonora em áreas habitadas; aplicação de uso geral. Ela
disponibiliza o nível de pressão sonora máximo (LAeq) permitido conforme a área habitada e o período.
Entretanto ela demonstra-se limitada ao caracterizar os requisitos ambientais para medição, os quais não
contemplam a diversidade do ambiente encontrado em parques eólicos.
Outros parâmetros também são usados para caracterizar o ruído em parques eólicos como o LA10, LA90
e o espectro sonoro. Eles permitem entender a variação do nível de pressão sonora em decorrência da
ausência do vento e consequente funcionamento das turbinas, além de possibilitar decifrar o porquê desse
ruído ser incômodo. Esses parâmetros podem ser obtidos por programas habilitados pelo sonômetro utilizado
para medição, como é o caso do dBtrait.
Assim como o ruído produzido pelos aerogeradores é condicionado pela velocidade do vento, o ruído
residual também sofre essa interferência, destacando-se o som atribuído a interação da vegetação com o
vento – muito presente no entorno dos aerogeradores (HESLER e HESLER, 2006). Objetivando uma
identificação correta do ruído produzido apenas pelos aerogeradores nas medições, além da percepção da
mudança do nível de ruído em relação a diferentes condições atmosféricas, diversos autores sugerem um
monitoramento de longa duração como o mais apropriado para estudos em aerogeradores de vento
(HANSEN, C. H., DOOLAN, C. J. e HANSEN, K. L, 2017; HESSLER JR, 2008).
No país ainda não há estudos que visam o conforto acústico em parques eólicos, vale salientar que
diferente de alguns países em que os aerogeradores são instalados em áreas densamente habitadas, no Brasil
eles são instalados em áreas rurais pouco ocupadas. O que diminui a quantidade de pessoas afetadas pelo
problema. Em relação a sua implantação, a resolução do Conama Nº462 determina que em caso de alto
impacto ambiental seja feito um estudo caracterizando os índices de ruído em parques eólicos que estejam
posicionados a menos de 400 m de distância de residências (BRASIL, 2014).
No decorrer dos anos, diversos estudos sobre o efeito do ruído de aerogeradores na saúde humana
apresentaram conclusões adversas, entre elas a influência negativa de infrassons e sons de baixa frequência,
os quais não são audíveis ao ser humano, mas alguns estudos relacionam com problemas de saúde; incômodo
dos ruídos em intervalos regulares, ocorrência de insônia e irritabilidade com níveis de pressão sonora acima
de 40 dB(A), e até mesmo que as reações fisiológicas tenham maior relação com a percepção negativa dos
aerogeradores do que o próprio nível de ruído (KNOPPER e OLLSON, 2011).
Visando o conforto das pessoas expostas, tem-se o critério NPI (Noise Perception Index), o qual
quantifica o aumento do nível de pressão sonora do aerogerador em relação ao nível do ruído residual. O
descritor traz possíveis percepções e reações dos indivíduos expostos com o acréscimo do ruído. Ele pode ser
extremamente útil no auxílio da criação de limites de nível de pressão sonora para parques eólicos
específicos, levando em consideração o nível de ruído residual de determinado local (HUNT e HANNAH,
2009).
Em 2018, a OMS (Organização Mundial da Saúde) publicou recomendações de nível de ruído em
relação a diversas fontes com base em estudos realizados em países europeus. É sugerido, condicionalmente
(em razão dos poucos estudos), que o ruído produzido pelos aerogeradores, em termos do nível dia-
entardecer-noite LDEN, seja menor que 45 dB(A), visto que acima disso pode trazer risco à saúde, como
irritação e problemas no sono (WHO, 2018).

181
2. OBJETIVO
Este artigo tem como objetivo caracterizar o ruído de um parque eólico na região Sul do Brasil, por meio da
análise de medições de nível de pressão sonora realizadas em diferentes situações – durante o período diurno
e noturno, assim como em momentos que os aerogeradores de vento estão em operação ou desligados.

3. MÉTODO
Este trabalho foi realizado em três etapas principais, sendo elas: medições do nível de pressão sonora no
parque eólico; refinamento dos dados a serem utilizados; análise dos dados escolhidos.

3.1. Medições do nível de pressão sonora


O parque eólico foi projetado com 241 aerogeradores em uma área que abriga 29 residências. As medições
ocorreram nos dias 17 e 18 de abril de 2018 por aproximadamente 22 horas. Por falta de comunicação, não
foi possível confirmar se todos os aerogeradores estavam funcionando no período de medição, apenas os
mais próximos. Essas medições foram realizadas com propósito de analisar o ruído causado pelos
aerogeradores de vento, e não para analisar o nível de pressão sonora com e sem o funcionamento dos
mesmos. Logo, não foi possível obter dados do período noturno sem o ruído dos aerogeradores, além das 24
horas completas de medição.
As medições seguiram as orientações da NBR 10.151. O modelo de sonômetro utilizado foi 01dB
Fusion; ele ficou posicionado a uma altura de 1,2 m e foi operado com uma bateria externa por causa da
longa duração da medição. As condições climáticas foram monitoradas por uma base meteorológica
posicionada a pelo menos 2 m do sonômetro. A Figura 1 mostra o posicionamento dos equipamentos no
momento da medição em relação aos aerogeradores no parque eólico e a figura 2 apresenta a distância dos
aerogeradores mais próximos – o aerogerador 1 (AE 1) a 431 m de distância ao norte e o aerogerador 2 (AE
2) a 569 m de distância no sentido noroeste. O local de medição encontra-se afastados das residências do
parque eólico.

Figura 1: Foto da medição no parque eólico (LUZ, 2018). Figura 2: Foto aérea da posição do monitoramento (LUZ, 2018).

O método de medição utilizado foi o de longa duração, apesar das medições não ocorrerem em um dia
completo. Ele é indicado para fins de planejamento urbano, sendo feita uma avaliação diurna e outra noturna
para serem comparadas com o limite estabelecido pela norma (ABNT, 2019).

3.2. Refinamento dos dados


De modo geral, os dados foram separados em três categorias para análise conforme mostra a Tabela 1:
A. Medição no período diurno com funcionamento dos aerogeradores de vento: dia 17/04/2018, terça-
feira, das 12h50 até às 14h50 e das 17h10 até às 22h.
B. Medição no período diurno sem funcionamento dos aerogeradores de vento: dia 17/04/2018, terça-
feira, das 15h até às 16h50 e dia 18/04/2018, quarta-feira, das 8h até às 10h20.
C. Medição no período noturno com funcionamento dos aerogeradores de vento: dia 17/04/2018,
terça-feira, das 22h até às 7h.
Tabela 1 – Dados sobre os períodos de medição realizados
Medição Aerogerador de vento Período Data
A Em operação 12h50-14h50 e 17h10-22h00 17/04/2019
B Desligado 15h00-16h50 e 8h00-10h20 17/04/2019 e 18/04/2019
C Em operação 22h00-7h00 17/04/2019

182
3.3. Análise dos dados
O programa dBtrait foi utilizado para análise dos dados obtidos, o qual permite a visualização de diversos
descritores e a extração dos mesmos. Com os devidos dados selecionados - LAeq,10min; LAeq,global; LA10,10min,
LA90,10min e espectro sonoro - foram escolhidos cinco critérios para caracterizar o parque eólico e incômodo
causado aos moradores.

3.3.1. LAeq,10min - Comparação com o nível de pressão sonora em função da área ocupada e período, segundo
a NBR 10.151.
Conforme a NBR 10.151, a avaliação sonora em ambientes externos deve ter a medição do nível de pressão
sonora comparada com o limite previsto de acordo com o período da medição e uso e ocupação do solo para
ser considerada aceitável ou não (ABNT, 2019).
Em relação ao parque eólico estudado, temos a classificação da área habitada como área de residências
rurais, com nível máximo permitido diurno de 40 dB(A) e noturno, 35 dB(A), como mostra a Tabela 2.
Tabela 2 - Limites de nível de pressão sonora segundo a NBR 10.151 (2019).
RLAeq - Limites de níveis de pressão sonora, dB(A)
Tipos de áreas habitadas
Período diurno Período noturno
Área de residências rurais 40 35

O tempo de integração dos dados escolhidos para a análise do parque eólico foi de 10 minutos,
contados a partir do começo de cada hora. Tal período é conveniente por geralmente também ser adotado
para o armazenamento de dados nas estações meteorológicas, além de ser curto o suficiente para detectar
variações rápidas nos níveis sonoros medidos (HESSLER, 2011). Hansen et al. (2017) sugerem um período
de integração de 10 a 15 minutos.

3.3.2. Relação entre LA10,10min e LA90,10min


O nível estatístico LA10,10min pode ser definido como o nível de pressão sonora excedido em 10% do tempo da
medição e LA90,10min o nível excedido em 90% do tempo. A comparação dos dois reflete a variação do nível
de pressão sonora no decorrer da medição, sendo possível também detectar sons intrusivos ao objetivo do
trabalho.

3.3.3. Relação entre velocidade do vento e LAeq,10min


A relação entre a velocidade do vento a 10 m de altura e o nível de pressão sonora é valiosa para estudos em
parques eólicos, pois pode confirmar a alta dependência do ruído ambiente e dos aerogeradores com o
regime de ventos da região. Entretanto, o tipo do terreno pode afetar a correlação entre esses dois dados
(HESLER e HESLER, 2006).

3.3.4. Espectro da medição


Para complementar a análise das medições foram analisados os espectros sonoros por bandas de frequência
de oitava, de 50 Hz a 10 kHz. A partir da composição espectral por bandas de frequência para os diferentes
períodos é possível caracterizar o som gerado pelos aerogeradores e diferenciá-lo do ruído residual e de
possíveis sons que poluem os dados medidos, como o som proveniente de animais passando pela estação de
medição.

3.3.5. NPI
Proposto por Hessler Jr. (2008), o índice NPI visa oferecer uma avaliação justa e abrangente de uma nova
fonte de ruído com base na percepção dos receptores possivelmente afetados, em medições de no mínimo 7
dias. Admite-se o uso do LA90,10min para ruído ambiente e LAeq para ruído da fonte, por meio da Equação 1:
1
𝑁𝑃𝐼 = ∑𝑁
𝑖=1 {10[10𝐿𝐴𝑒𝑞 /10 + 10(𝐿𝐴90 )𝑖/10 ] − (𝐿𝐴90 )𝑖 } Equação 1
𝑁

Onde:
NPI é o índice de percepção de ruído, dB(A);
LA90,10min é o ruído ambiente a cada 10 minutos, dB(A);
LAeq é o ruído com o funcionamento dos aerogeradores, dB(A);
N é o número de medições de LA90,10min

183
De acordo com o resultado, temos 4 possíveis percepções e respostas da comunidade (HESSLER JR.,
2008), sendo o NPI≤3dB(A) o resultado mais brando, o qual seria classificado como praticamente
imperceptível e não geraria uma resposta da comunidade, até NPI>10dB(A), muito perceptível com respostas
adversas (Tabela 3).
Tabela 3 - Percepção e resposta prevista da comunidade de acordo com NPI calculado segundo Hessler Jr. (2008).
NPI Percepção Resposta prevista da comunidade
≤ 3dBA Praticamente imperceptível Sem resposta
3 a 5dBA Pouco perceptível a perceptível Sem resposta a possível resposta adversa
5 a 10dBA Perceptível a notável Possível resposta adversa a resposta adversa
> 10dBA Facilmente notável Resposta adversa

4. RESULTADOS
Os resultados das medições do nível de pressão sonora serão apresentados de acordo com o período em que
foram realizadas. Conforme apresentado na NBR 10.151, em dias de semana, o horário diurno é
compreendido entre 7h e 22h e o período noturno seu complemento.

4.1. Período diurno


4.1.1. Sem a operação dos aerogeradores
De acordo com a Figura 3, todos os níveis de pressão sonora, LAeq,10min, avaliados estavam abaixo do limite
estabelecido pela norma, ou seja, menores que 40 dB(A). O valor máximo mensurado foi de 37,1 dB(A).

Figura 3: Valores medidos de LAeq,10min no período diurno com os aerogeradores desligados e o limite estabelecido pela NBR10.151
para área de residências rurais.

A Figura 4 apresenta os valores de LAeq,10min, LA10,10min e LA90,10min em dois momentos distintos com os
aerogeradores desligados - o período de 15h até 16h50 e de 8h até 10h20. O segundo período chama atenção
pelo aumento na diferença entre LA10,10min e LA90,10min. Essa maior variação no nível de pressão sonora pode
ser correlacionada a grande variação da velocidade do vento, a qual atingiu valores mais altos do que
registrado nas medições do dia anterior.

Figura 4: Relação entre LAeq,10min, LA10,10min e LA90,10min no período diurno com os aerogeradores desligados.

184
Os espectros sonoros médios do Leq por bandas de frequência de terço de oitava com utilização do
filtro A também foram analisados em dois momentos, apresentando dois perfis diferentes. Segundo a Figura
5, no período de 15h até às 16h50, as médias frequências (de 315 a 1,6k Hz) destacaram-se, enquanto que a
Figura 6, a qual mostra o período de 8h até 10h20, mostrou que os maiores valores eram referentes às baixas
(de 50 a 250 Hz). Apesar disso as bandas de frequências de 6,3k e 8k Hz correspondem a de menor valor.

Figura 5: Espectro sonoro correspondente a medição de Figura 6: Espectro sonoro correspondente a medição de
15h até 16h50 com os aerogeradores desligados. 8h até 10h20 com os aerogeradores desligados.

Foi determinada a regressão linear entre o LAeq,10min e a média da velocidade do vento a cada 10
minutos. Como a estação meteorológica na medição estava a 1,2 metro do chão, as médias de velocidade de
vento foram corrigidas para uma altura de 10 metros do chão. A razão entre as velocidades de vento medidas
nas diferentes alturas do chão é igual à razão entre as alturas de medição elevada a um coeficiente de
gradiente de vento. Este coeficiente depende da rugosidade do solo e da estabilidade atmosférica no local,
neste caso foi utilizado o valor de 0,36, conforme o proposto por Hansen et al. (2017) para terrenos cobertos
por capim com altura de 50 centímetros. No entanto os níveis de pressão sonora calculados não
corresponderam com os medidos, impossibilitando que fosse estabelecida uma relação entre o LAeq,10min e a
velocidade média de vento.

4.1.2. Com a presença dos aerogeradores


No período diurno com os aerogeradores ligados, a maioria dos níveis de pressão sonora, LAeq,10min,
analisados encontram-se dentro do limite estabelecido pela norma, com exceção de três situações - às 19h20,
20h10 e 20h20 (Figura 7).
Ao analisarmos a relação entre LAeq,10min, LA10,10min e LA90,10min pela Figura 8, percebemos 3 picos apenas
nos gráficos do LAeq,10min e LA10,10min, sendo dois deles correspondentes aos valores acima do permitido pela
norma, retratados na Figura 7. Apesar do som durante as medições não ter sido gravado, com base nesses
picos para os valores do LA10,10min e do LA90,10min e na análise dos espectros sonoros específicos para esses
horários, podemos supor que esses picos nos valores do LAeq,10min referem-se a sons intrusivos -
provavelmente de animais, que poderiam ser deletados em análises de parque eólicas mais completas.

Figura 7: Valores medidos de LAeq,10min no período diurno com os aerogeradores ligados e o limite estabelecido pela NBR10.151 para
área de residências rurais.

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Figura 8: Relação entre LAeq,10min, LA10,10min e LA90,10min no período diurno com os aerogeradores ligados.

Os espectros sonoros médios do Leq com o filtro A foram obtidos para dois períodos, expressos na
Figura 9 - correspondente ao período de 12h50 até 14h50 e na Figura 10, correspondente ao período de
17h10 até 22h. Em ambas situações de avaliação percebe-se o mesmo perfil com os maiores valores nas
médias frequências (de 315 a 1,6k Hz). O que corresponde ao espectro esperado para ruído de turbinas
eólicas, o qual apresenta os maiores valores entre 250 e 2,5kHz (HANSEN, C. H., DOOLAN, C. J. e
HANSEN, K. L, 2017).
No segundo período temos um nível de pressão sonora máximo de 37,6 dB(A) na frequência de
10kHz, o qual pode estar relacionado aos três picos de LAeq,10min - possivelmente vinculado ao som de aves
presentes na região durante as medições.

Figura 9: Espectro sonoro correspondente a medição de Figura 10: Espectro sonoro correspondente a medição de
12h50 até 14h50 com os aerogeradores ligados. 17h10 até 22h com os aerogeradores ligados.

Utilizando o mesmo procedimento detalhado na seção anterior, foi determinada a regressão linear
entre o LAeq,10min e a média da velocidade do vento a cada 10 minutos. Não foi possível, porém, estabelecer
uma relação entre a velocidade de vento média e os LAeq,10min medidos, devido à discrepância entre os dados
calculados e observados
4.1.3. Comparações entre os períodos diurnos
Analisando o LAeq,10min do período diurno com e sem o funcionamento do aerogerador percebemos um
pequeno aumento nos níveis de pressão sonora, porém os níveis ainda se encontram majoritariamente dentro
do limite de 40 dB(A) previsto para residências rurais na NBR10.151. Se analisarmos juntamente a
velocidade do vento, temos uma velocidade média maior no período em que o aerogerador esteve desligado.
Logo pode-se esperar níveis de pressão sonora maiores do que os medidos com o aerogerador ligado.
De modo geral a variação do nível de pressão sonora é perceptível para a comunidade, pois houve
uma variação maior que 3 dB com o funcionamento dos aerogeradores. Em relação ao espectro, no segundo
momento as médias frequências (de 315 a 1,6k Hz) continuam se destacando, porém com mais intensidade.
Mesmo com poucos dados disponíveis que representassem todas condições ambientais na região do
parque eólico, o NPI foi calculado. Foi utilizado o LAeq do período de 12h50 até às 14h50 (sem nenhum
ruído intrusivo) e o LA90,10min de todos os períodos diurnos em que o aerogerador estava desligado. O

186
resultado encontrado foi de 9 dB. Esse resultado mostra que a nova fonte de ruído pode ser considerada
perceptível a notável pela comunidade local, podendo ainda ser esperada uma possível resposta adversa das
pessoas ou até uma resposta adversa concreta, segundo os estudos de Hessler Jr. (2008).
É documentado que o incômodo causado pelo ruído das turbinas eólicas aumenta quando o nível
sonoro também aumenta e a proximidade com os aerogeradores diminui; entretanto esse incômodo não é
relacionado apenas ao ruído; sendo levado em consideração também a necessidade de fechar as janelas do
quarto para dormir em razão do ruído das turbinas, vibrações e problemas no sono (MICHAUD et al., 2016).

4.2. Período noturno


No período noturno, representado na Figura 11, a situação é diferente para o LAeq,10min. O funcionamento dos
aerogeradores faz com que os níveis de pressão sonora extrapolem o limite permitido pela NBR 10.151 em
todos momentos, variando de 37,5 a 43,3 dB(A).

Figura 11: Valores medidos de LAeq,10min no período noturno com os aerogeradores ligados e o limite estabelecido pela NBR10.151
para área de residências rurais.

Os valores de LA10,10min e LA90,10min durante a medição não mostraram nenhuma variação drástica e
foram mais altos durante o início da madrugada (00h às 02h) e no final da medição (06h10 até 7h), como
mostra a Figura 12.

Figura 12: Relação entre LAeq,10min, LA10,10min e LA90,10min no período noturno com aerogeradores ligados.

O espectro da medição do período noturno (Figura 13) é similar ao espectro da medição diurna, ambos
com o aerogerador ligado - os maiores valores de pressão sonora encontram-se nas médias frequências (de
315 a 1,6k Hz) - sobressaindo a frequência de 500Hz. Podemos destacar que a partir de 500 Hz, os valores
diminuem à medida que a frequência aumenta até a frequência de 10kHz que sobe novamente.
Novamente foi impossível estabelecer uma relação entre a velocidade do vento média e os valores de
LAeq,10min medidos, visto a diferença expressiva entre os níveis de pressão sonora calculados e medidos.

187
Figura 13: Espectro sonoro correspondente a medição no período noturno com os aerogeradores ligados.

5. CONCLUSÕES
A implantação de um parque eólico é um grande investimento e deve ser muito bem planejada. A análise das
medições de nível de pressão sonora durante o período diurno mostra que o ruído proveniente do
funcionamento do parque eólico é perceptível pela variação maior que 3 dB do nível de pressão sonora,
entretanto está dentro do limite da norma.
Por outro lado, o nível de pressão sonora monitorado à noite com o funcionamento dos aerogeradores
mostra-se inapropriado. Os valores encontrados variam entre 37,5 a 43,3 dB(A), sendo o valor máximo
estabelecido pela NBR 10.151 de 35 dB(A), um limite justamente mais rigoroso por se tratar de um período
de descanso e sono dos moradores da região. Mesmo sem a confirmação de que esse alto nível seja oriundo
das turbinas e não seja característico do período noturno daquela área, ele pode trazer possíveis riscos à
saúde das pessoas da comunidade.
Estudos futuros devem dar a continuidade a esse trabalho, sendo necessário avaliar durante mais
tempo (dias, semanas), com e sem o funcionamento dos aerogeradores de vento, nos dois períodos (diurno e
noturno). Utilizando um volume de dados maior será possível estabelecer relações entre o LAeq,10min e a
velocidade média do vento medidos para os diferentes períodos. Além disso, a gravação de áudio simultânea
dos eventos possibilitará a exclusão dos ruídos intrusivos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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procedimentos para o licenciamento ambiental de empreendimentos de geração elétrica a partir de fonte eólica em superfície
terrestre, e dá outras providências. Publicado no D.O.U. de 25 de julho de 2014. Disponível em
<http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=703> Acesso em: 30 mar. 2019.
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Disponível em <http://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-
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HESSLER JR, G. The noise perception index (NPI) for assessing noise impact from major industrial facilities and power plants in the
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<http://www.euro.who.int/en/publications/abstracts/environmental-noise-guidelines-for-the-european-region-2018> Acesso
em 30 mar. 2019.

188
CRITÉRIOS E LIMITES PARA AVALIAÇÃO DO INCÔMODO DO RUÍDO
EM PARQUES EÓLICOS BRASILEIROS

Jessica L. Moraes (1); Erasmo Felipe Vergara (2)


(1) Arquiteta, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo, jessica.lobo@labcon.ufsc.br
(2) Dr. Eng., Professor do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, e.f.vergara@ufsc.br
Universidade Federal de Santa Catarina, Laboratório de Conforto Ambiental, Cx Postal 476, Florianópolis–
SC, 88040-900, Tel.: (48) 3721 9797

RESUMO
No processo de planejamento e implantação de parques eólicos deve considerar a avaliação do ruído
produzido pelos aerogeradores. Em países como Austrália, Estados Unidos e Canadá já são aplicadas
recomendações de limites e critérios para avaliar a emissão de ruído de aerogeradores, as quais devem ser
adotadas para minimizar os efeitos nos habitantes próximos aos parques. Apesar do Brasil se manter entre os
maiores produtores de energia eólica, o país não possui regulamentações para mensurar e classificar esse tipo
de fonte ruidosa. Este artigo reúne dados atualizados sobre limites, critérios e recomendações dos níveis de
pressão sonora baseadas no incômodo de ruído em parques eólicos localizados em regiões rurais da América
do Norte, União Europeia e Oceania com a finalidade contribuir para auxiliar uma possível normativa no
Brasil. O método definido para este artigo foi compilar, organizar e analisar o material bibliográfico
atualizados destes locais já citados. Foi observado que os descritores de ruído mais adotados nos locais
estudados são o LAeq e o LA90,10 min. A pesquisa também mostrou que a América do Norte, União Europeia e
Oceania possuem regulamentações com valores variados dos níveis sonoros máximos recomendados para
área rural que variam entre 35 dB(A) e 60 dB(A). Cabe salientar que os parâmetros, descritores e
procedimentos de medição devem ser estabelecidos com base em diretrizes normalizadas e estudos mais
aprofundados são adequados de acordo com as características de cada localidade onde o parque eólico opera.
Palavras-chave: parques eólicos, ruído de turbinas eólicas, conforto acústico, diretrizes.

ABSTRACT
An important aspect of the wind farm planning process is the analysis of wind turbine noise. Many countries
Australia, United States and Canada already have recommendations for noise limits and emissions from wind
turbines that must be adopted to minimize the effects of wind turbine noise on the residents. Although Brazil
remains among the largest producers of wind energy, the country has no regulations to measure and classify
this type of noise source. This paper presents an update on limits, criteria and recommendations of sound
pressure levels based on noise disturbance in wind farms located in rural areas of North America, EU and
Oceania in order to contribute to a possible regulation in Brazil. The method defined for this paper was to
compile, organize and analyze the updated bibliographic material already mentioned. It was observed that
the most widely used noise descriptors in Europe, America, and Oceania are LAeq and LA90,10 min. The research
also showed that America, Europe, and Oceania have regulations with varying values of maximum sound
levels recommended for rural areas ranging from 35 dB (A) to 60 dB (A). It should be noted that the
parameters, descriptors and measurement procedures should be established on the basis of standard
guidelines, and further studies are appropriate according to the characteristics of each location where the
wind farm operates.
Keywords: wind farms, wind turbine noise, acoustic comfort, guidelines.

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1. INTRODUÇÃO
Temas relacionados à degradação do meio ambiente e às mudanças climáticas tem sido frequentemente
discutidos por pesquisadores, órgãos públicos, empresas e governos. A questão energética se tornou uma
preocupação urgente pois os processos convencionais para obtenção de energia estão entre os que mais
geram Gases de Efeito Estufa (GEE) (Pazheri et al., 2014).
A energia eólica é umas das fontes mais promissoras para a mitigação de problemas ambientais para
nível nacional e global por possuir um caráter renovável e não lançar poluentes para a atmosfera durante a
operação (PINTO et al., 2017). Embora que os parques eólicos apresentem vantagens, Amponsah et al.
(2014) ressalvam que a energia eólica, como qualquer outra atividade industrial, também pode causar
impactos no ambiente que devem ser considerados e mitigados. Para Fortin et al. (2003), parques eólicos
fazem parte dos grandes projetos de infraestrutura que levantam debates sociais a nível global. Fortin et al.
(2003) e Nadaï e Labussière (2010) explicam que de uma maneira geral os estudos sobre energia eólica
mostraram que existem dificuldades para situá-los, qual grau de aceitabilidade destas tecnologias e que é
necessário um compromisso com a comunidade que vive no entorno para obter um êxito nos projetos.
Na Europa, Estados Unidos e Canadá há grande aceitabilidade da sociedade em relação à projetos
energéticos e nestes locais, os governos, instituições, empresas, pesquisadores, etc. manifestam a importância
de que os fatores sociais possuem nas implementações dos projetos (TOLEDO e FRAGA, 2016). Para a
avaliação do desconforto acústico provocado por aerogeradores em parques eólicos, têm sido criadas
diretrizes e orientações internacionais para minimização dos efeitos provocados nas pessoas.
No Reino Unido foi criada em 1997 a ETSU-R (The Assement and Rating of Noise from Wind Farms)
com atualização em 2013 a qual possui diretrizes específicas e adaptadas à região. Pedersen e Waye (2004,
2007) consideraram que o principal efeito da poluição sonora na saúde humana foi o incômodo ou
desconforto acústico produzido por aerogeradores em parques eólicos. Bakker et al. (2011), Nissembaum et
al. (2012), Jeffery et al. (2013) e McCunney (2004) observaram que para avaliar o incômodo acústico era
necessário o levantamento de dados a partir de simulações ou medições acústicas, mas também era
necessário estudar os fatores sócio-acústicos, como perturbação do sono e do descanso, falta de
concentração, etc. Tanto Phillips (2011) como Schimidt e Klokker (2014) e Sheperd et al. (2011) afirma que
a perturbação do sono foi um dos fatores com maior reclamação para quem mora próximo a parques eólicos,
e a avaliação adequada da qualidade do sono era considerar a qualidade subjetiva desta, a latência, duração,
eficiência habitual, distúrbios, uso de medicações para dormir e disfunção diurna.
No Brasil, a Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) estabeleceu critérios e procedimentos
para o licenciamento de parques eólicos instalados em terra na Resolução nº 462/2014. É uma contribuição
de base legal para que investidores do setor de energia elétrica consigam participar com empreendimentos no
país. Esta resolução deve ser cumprida para que os empreendimentos eólicos possam fornecer energia e
operar no Brasil cumprindo as exigências ambientais estabelecidas relacionadas a impactos ambientais
possíveis de serem provocados no local.
Outra documentação relacionada ao tema a nível nacional são as recentemente atualizadas normas
NBR 10151 (2019) e NBR 10152 (2017). A NBR 10151 (2019) estabelece técnicas, procedimentos medição
e avaliação de níveis de pressão sonora em áreas habitadas com aplicação de uso geral enquanto que a
NBR10152 (2017) estabelece procedimentos técnicos a serem adotados na execução de medições de níveis
de pressão sonora em ambientes internos. Embora estas normas estejam atualizadas, não possuem
especificações (técnicas, procedimentos e avaliação) relacionadas a fontes de ruído produzido por
aerogeradores em parques eólicos.
O Conselho Global de Energia Eólica (Global Wind Energy Council-GWEC) divulgou em fevereiro
de 2019 dados globais em que o Brasil possui a colocação de quinto lugar em capacidade eólica nova
onshore instalada (1,939 MW) em 2018. Apesar do Brasil se manter entre os maiores em produção de
energia eólica, o país não possui regulamentações de ruído como Estados Unidos, Alemanha e Canadá, por
exemplo, que definem limites e critérios.
São escassas, ainda, pesquisas que tenham como foco análise do ruído em pessoas que vivem
próximos de aerogeradores no Brasil e tampouco critérios, recomendações e diretrizes específicas de ruídos
em parques eólicos no país. O estudo desta pesquisa justifica-se pela documentação nacional existente não
ser suficiente e específica para determinar procedimentos de medição e avaliação do conforto acústico do
ruído provenientes de aerogeradores em parques eólicos. Sendo assim, é necessário buscar, consultar,
comparar critérios e metodologias a nível internacional atualizadas, para auxiliar as autoridades
regulamentadoras, pesquisadores e empresas.

190
2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é apresentar e analisar as principais normativas e diretrizes relacionadas a limites de
emissão de ruído em parques eólicos da América do Norte, União Europeia e Oceania, a partir da
comparação entre de métricas de ruído, limites e valores recomendados, e, por fim, contribuir para uma
possível normativa no Brasil.

3. MÉTODO
O método proposto para este trabalho é elaborar uma revisão bibliográfica a partir da compilação,
organização e análise de materiais bibliográficos atualizados (normativas, guias, regulamentações, livros,
artigos científicos) relacionados a diretrizes de ruído de aerogeradores em parques eólicos. Os dados serão
apresentados, comparados e discutidos por meio de tabelas e figuras.
Para a consulta de materiais, levou-se em consideração artigos de periódicos, normativas, guias e
regulamentações publicamente acessíveis. Um dos parâmetros considerados foi que os parques eólicos no
Brasil se situam na área rural, portanto, optou-se por dados referentes a este tipo de região.

4. ANÁLISE DE RESULTADOS
Os principais dados levantados sobre critérios e limites de ruído recomendados foram apresentados para os
locais: América do Norte, União Europeia e Oceania. Para a análise das documentações, buscou-se por
descritores, critérios e limites que foram utilizados com maior frequência. Por fim, a partir das comparações
e análises, foi elaborado uma análise sobre a situação atual das legislações no Brasil, e quais as possíveis
orientações que poderiam ser aplicadas no país.

4.1. Ruído em parques eólicos


O controle de ruído de aerogeradores está se tornando cada vez mais problemático à medida que as turbinas
eólicas se tornaram maiores, por emitirem ruídos individualmente e seus componentes de baixa frequência
em seu espectro aumentarem (MØLLER e PEDERSEN, 2011). De acordo com a ISO 9613-1 de 1993, o som
de baixa frequência é menos atenuado pela atmosfera do que um som de alta frequência, fazendo que as
turbinas eólicas maiores sejam escutadas a uma distância maior.
Uma quantidade significativa do público possui opinião negativa no que se diz respeito às emissões
sonoras de aerogeradores por causa das “qualidades irritantes” sentidas, segundo afirma Laratro et. al (2014).
Estas qualidades do som irritantes aumentam o incômodo do ruído de turbinas eólicas acima do nível de
pressão sonora, em 40 dB(A) (Persson Wayne e Öhrström, 2002).
O som de baixa frequência com essas qualidades citadas terá, portanto, um efeito maior em uma área
mais ampla do que as fontes de ruído de alta frequência. Grande parte das regulamentações no mundo
determinaram a minimização do problema do desconforto dessas qualidades já mencionadas, estipulando o
acréscimo de 5 dB ao nível de ruído para fazer a compensação (EPA South Australia, 2009; NSW
Departamento de Planejamento e Infraestrutura - NSW DPI, 2011).

4.1.1. Métricas de ruído em parques eólicos


Para a formulação de políticas a nível local, nacional e internacional, são utilizadas métricas de ruídos de
aerogeradores, onde nelas são determinados limites de emissão de ruídos em áreas rurais, residenciais e
industriais. Os valores variam de acordo com o país e jurisdições e adaptados de acordo com estudos do
local.
Entre as métricas encontradas nas documentações internacionais, encontrou-se que o nível de pressão
sonora contínuo equivalente (LAeq) é o descritor utilizado para a avaliação de sons contínuos e intermitentes
de sons impulsivos e obtido a partir da média logarítmica ponderada no tempo de resultados integrados em
intervalos de tempo parciais. O nível de pressão sonora (NPS) ponderado em A, então o Leq será em dBA,
denominado LAeq.
O Leq é uma grandeza utilizada por diversas normas e legislações relativas a legislações de ruído
inclusive para a avaliação do ruído das turbinas eólicas (BOWDLER E LEVENTHALL, 2011). Este
descritor também é utilizado nas normativas da Austrália (AS 2009, QLD 2016, NSW 2011 e WA 2004) e na
Nova Zelândia (VIC NSZ 6808:2010).
O NPS equivalente dia-noite ou LDN é uma grandeza desenvolvida pela EPA (Environmental
Protection Agency, USA) que permite a avaliação do ruído em comunidades provenientes de todas as fontes,
sua medida é similar ao Leq para um período de vinte e quatro horas, mas durante o período noturno há a
penalização de 10 dB. A justificativa de penalização de 10 dB, segundo a NBR 10.152 (2017) se deve ao fato

191
de que, durante a noite é considerado o período de repouso da maior parte das pessoas, assim o ruído é
julgado mais perturbador durante a noite do que no período diurno. O LDN para o ruído na comunidade pode
ser calculado a partir do Leq obtidos a cada hora do dia.
Para mapeamento de ruído, a Diretiva de Ruído Ambiental (END, Europa) na Directive 2002/49/EC
recomenda dois indicadores, Lden e Ln. Onde, Ld é o NPS equivalente ponderado em A do período diurno (7 h
às 19 h, durante um ano); Le é o NPS equivalente ponderado em A do período vespertino (19 h às 23 h,
durante um ano); Ln é o NPS equivalente ponderado em A do período noturno (23 h às 7 h, durante um ano).
Os níveis estatísticos ou níveis de excedência são níveis sonoros que representam a porcentagem de
um tempo de um determinado nível sonoro excedido durante o período de medição, é um critério mais usual
e significativo obtido pelo histograma (Bowdler e Leventhall, 2011; ETSU-R-97, 2013). O histograma é uma
forma de apresentar estatisticamente os níveis sonoros que ocorreram em um certo intervalo de tempo. Os
níveis estatísticos mais usuais são o L90, L50 e L10. Bowdler e Leventhall (2011) e ETSU-R-97 (2013)
definem o L90 como uma medida de nível residual, onde seu nível sonoro foi excedido 90% do tempo de
medição, este mede a condição mais característica do ruído medido, é frequentemente utilizado para avaliar o
ruído de fundo, enquanto que o L10 é uma medida de níveis de ruído de pico (intrusivos) que ocorreram no
tempo de medição, seu nível sonoro foi excedido 10% do tempo de medição, é nesta medida em que se
encontram os níveis de pico mais significativos. O L50 é uma medida de nível de ruído mediano (não
necessariamente igual ao do ruído médio), onde seu nível sonoro foi excedido 50% do tempo de medição.
A diferença entre o L10 e L90 é o indicador de variabilidade do ruído durante o período de medição. O
LA90,10min é o padrão adotado no Reino Unido (ETSU-R-97, 2013) e na Nova Zelândia (NZS 6808:2010), e
este descritor é o nível de ruído excedido em 90% do tempo em um período de 10 minutos que comparado ao
LAeq,T, possui cerca de 1,5 a 2,5 dB a menos.

4.1.2. Normas de avaliação de ruído ambiental


Cada país, por intermédio de seus órgãos normatizadores e agências reguladoras, estabelece métodos de
quantificação e avaliação de impacto de ruído proporciona às pessoas. Tais métodos tentam modelar as
características complexas da audição e da psicologia humana em relação ao ruído de aerogeradores.
As normas técnicas internacionais de energia eólica impostas atualmente contêm definições de
requisitos de segurança, técnicas de medição, procedimentos de teste de equipamentos elaboradas pela IEC
(International Eletrotechnical Commission). A IEC 61400-11: Sistemas de Aerogeradores – Parte 11:
Técnica de Medição de Ruído Acústico é a norma internacional mantida como padrão a ser seguido. Nesta
normativa são definidos a qualidade, o tipo e a calibração dos instrumentos de medição que se utilizam para
medição da velocidade do som e do vento, locais e tipos de medições que devem ser realizadas e como
reduzir os dados na medição e elaborar relatórios. Esta norma já foi atualizada para sua terceira edição em
2012, e possui uma nova emenda (Emenda 1), adicionada em 2018, introduzindo novos princípios para
procedimentos de redução de dados. Porém, não estabelece níveis aceitáveis de ruído na comunidade.
A ANSI S12.9-4 de 2005 não especifica níveis máximos permitidos admissíveis com ponderação A,
porém esta norma considera que o nível máximo permitido especificado nos regulamentos deve ter a redução
de 5 dB caso o ruído for impulsivo e adição de 5 dB caso o ruído possua tons identificáveis. É considerado
que o som é de baixa frequência se o nível com ponderação C exceder o nível com ponderação A em 10 dB.
Outras regulamentações ambientais de ruído como a BS75445-3/1991, AS1055.2/1997 e ASTM
E1686-10/2010 não recomendam limites de ruído aceitáveis e apenas oferecem orientações vagas.

4.2. Critérios de ruído


Grande parte das regulamentações e portarias governamentais são baseadas em diretrizes disponíveis
atualmente onde as foram elaboradas. Na maioria dos países onde as regulamentações de ruído definem seus
limites, estes variam de país a país, e no mesmo país, os critérios podem variar de acordo com a condições de
planejamento dos órgãos locais.
Geralmente os critérios sugeridos são distintos para o dia e para a noite e podem variar de acordo com
o entorno em que o parque eólico é inserido. Hansen, Doolan e Hansen (2017) afirmam que cada país deve
ser cauteloso e que o governo local deve confiar em seus próprios regulamentos para especificar níveis de
ruído e quaisquer penalidades para compensação do caráter irritante do ruído.
4.2.1. América do Norte
Estados Unidos e Canadá se destacam pelo crescimento da geração de energia eólica, mas também pela
presença de regulamentações e limites para áreas rurais, residenciais e residenciais próximas a indústrias.
Nas Tabelas 1 e 2 apresentam uma seleção métricas de ruído e dos limites para o ambiente rural nos Estados
Unidos e Canadá. O descritor que se destaca por ocorrer em maior frequência nos Estados Unidos e Canadá é

192
o LAeq, para áreas rurais com valores entre 35 dB(A) e 60 dB(A) tanto durante o período diurno como
noturno (Figura 1).
Tabela 1 – Limites de emissão de ruído (LAeq) do ruído de aerogeradores em parques eólicos nos Estados Unidos.
Rural
País Região Estado Cidade Limites
Dia Noite
Oeste Califórnia Fairfield (a) 45
Oeste Califórnia Morro Bay (a) 45
Oeste Califórnia Riverside 60 60
San
Oeste Califórnia (a) 45
Bernadino
San
Oeste Califórnia 55 50
Francisco
San
Oeste Califórnia (a) 45
Joaquin
Oeste Califórnia Santa Cruz (a) 40
Oeste Califórnia Solano 44 44
Estados Oeste Colorado (b) 50 50
Unidos
Oeste Colorado Arapahoe 55 50
Oeste Nevada Lyon 55 55
Oeste Washington (b) 60 50
Leste Michigan (b) 55 55
Leste Minesota (b) 50 50
Leste Minesota Lincoln 50 50
North
Leste (b) 55 55
Carolina
North
Leste Carteret 35 35
Carolina
Leste Wisconsin Shawano 50 45
(a) Não existe limite para nível de ruído emitido no período diurno
(b) Não há especificação de cidade.
Fonte: Hansen, Doolan, Hansen (2017), adaptado pela a autora.

Tabela 2 – Limites de emissão de ruído (LAeq) do ruído de aerogeradores em parques eólicos no Canadá.

Rural

País Estado Limites

Dia Noite

Alberta (c) 40

Colúmbia
40 40
Britânica

Manitoba 40 40
Canadá New
40 40
Brunswick
Ontario 40 40
Prince
Eduard 40 40
Island
(c) Não existe limite para nível de ruído emitido no período diurno.
Fonte: Hansen, Doolan, Hansen (2017), adaptado pela a autora.

193
Figura 1 – Limites de emissão de ruído (LAeq) do ruído de aerogeradores em parques eólicos na América do Norte.

Fonte: Autora.
Em Manitoba e New Brunswick, no Canadá, o LAeq permissível em áreas rurais e residenciais variam
em função da velocidade do vento a 10 metros de altura (Tabela 3). A variação de limites de acordo com a
velocidade de vento é um método de avaliação interessante, já que países como Canadá, no qual abrange
uma área extensa e suas regiões com potencial eólico distintos.
Tabela 3 – Níveis de ruído permitidos em LAeq em estados canadenses.
Velocidade do vento a 10m de altura (m/s)
Estado Área
4 5 6 7 8 9 10 11
Rural e
Manitoba 40 40 40 43 45 49 51 53
Residencial
New Rural e
40 40 40 43 45 49 51 53
Brunswick residencial
Fonte: Hansen, Doolan, Hansen (2017), adaptado pela a autora.
No México, a Norma 151 de 2006 foi criada para avaliar os impactos ambientais dos parques eólicos,
porém, foi revogada em 2012. Desta maneira coube ao governo definir parâmetros gerais da política eólica
deixando para as autoridades locais definirem procedimentos, escolha de normas e instrumentos que fossem
pertinentes para avaliar o impacto dos parques eólicos nos ecossistemas em suas regiões. É uma prática
comum em muitos países. Entretanto, Toledo e Fraga (2015) criticam este modelo, já que no México
surgiram conflitos com a população local de Oaxaca e Yucatán.

4.2.2. União Europeia


Recentemente foi divulgado orientações de ruído ambiental da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2018)
para a Europa, onde evidenciam que o ruído é um dos principais riscos ambientais para a saúde física e
mental e para o bem-estar no continente. Lançado oficialmente em outubro de 2018, o documento indica os
níveis de ruído que geram impactos significativos na saúde das pessoas e recomenda ações para reduzir a
exposição ao ruído.
Esta versão contém a inclusão de ruído de aerogeradores por meio de uma revisão sistemática
adotando uma abordagem padronizada para avaliar as evidências. Foi definindo a relação entre a exposição
de ruído e parques eólicos, foi evidenciado que existem danos adversos à saúde por exposição ao ruído de
médio a longo prazo.
A exposição média ao ruído de aerogeradores proposto pela OMS (2018) deve corresponder abaixo de
45 dB para o descritor Lden, considerando que acima deste valor já está associado a efeitos adversos a saúde.
Em relação ao Ldn e LAeq, não há nenhuma recomendação a exposição noturna ao ruído de turbinas eólicas,
pois foi observado como um valor baixo para permitir uma recomendação. Também não é especificado
tipologias de áreas habitadas, como áreas rurais, industriais, por exemplo.
Voltada aos tomadores de decisão e especialistas técnicos, as diretrizes da OMS (2018) visam apoiar a
legislação e a formulação de políticas a nível local, nacional e internacional. Apesar das orientações se
concentrarem na Europa e focarem em critérios orientados a Diretiva de Ruído Ambiental da União
Europeia, podem ter relevância global, pois as evidências que sustentam as diretrizes foram baseadas em
pesquisas na América, Ásia e Austrália.
Na tabela 4, está reunido limites para áreas rurais na União Europeia. Entre as métricas de ruído listadas
na Tabela 3, a medida que se destaca por ocorrer em maior frequência na Europa LAeq, para áreas rurais com
valores entre 35 dB(A) e 50 dB(A) durante o período diurno e 35 dB(A) e 47 dB(A) para noturno.
Tabela 4 – Métricas de ruído e limites na União Europeia.
Limites
Métrica
País Cidade
de Ruído Rural

194
Dia Noite
Alemanha (d) LAeq 50 35
Bélgica Flanders LAeq 48 43
Bélgica Wallonia LAeq 45 45
Dinamarca (d) LAeq 42-44 42-44
França (d) LAeq 35 35
Holanda (d) Lden 47 47
Holanda (d) Lnight 41 41
Irlanda (d) LAeq 40 40
Itália (d) LAeq 50 40
Noruega (d) Lden 45 45
Reino LA90, 10
(d) 35-40 43
Unido min
Laeq em
Suécia (d) 35 35
8m/s
Suíça (d) LAeq 50 40
(d) Não há especificação para cidade.
Fonte: Hansen, Doolan, Hansen (2017), adaptado pela a autora
Em vários países na Europa, há uma penalidade de 5dB que deve ser aplicada quando for identificado
sons tonais, para garantir o bem-estar. Na Alemanha é adicionado 3 dB ou 6 dB, de acordo com o som
identificado. Porém, na Noruega, França e Holanda não se aplica nenhuma penalidade tonal.
Na Suécia, segundo a Environmental Protection Agency (EPA) do país, recomenda-se valores de
referência para medições de velocidade do vento, alegando que segundo estudos realizados, as medições
devem ser com velocidade de vento de 8 m/s a 10 m de altura, e estes dados estão normatizados para o uso
do modelo computacional sugerido para cálculos do incômodo do ruído de aerogeradores.
O Lden e Ldn também são descritores importantes. Na Noruega assim como a Holanda, são países de
referência em pesquisa sobre o assunto de ruído provenientes de aerogeradores, utiliza-se o Lden. Na Holanda
além do Lden, utiliza-se também o descritor Ldn.
Os períodos de medição na Europa estão entre 7 e 17 horas (diurno), 17 até 22h (entardecer) e 22 a 7
horas (noite). Algumas exceções são: Reino Unido (onde o período noturno começa às 23h), Itália (o período
diurno engloba de 7h às 21h) e Holanda (onde o período do entardecer está entre 19h e 23h).

4.2.3 Oceania
Na Oceania, mais especificamente na Austrália e Nova Zelândia, há a preocupação em investigar os efeitos
do ruído proveniente de parques eólicos que causam nas pessoas, e em decorrência desta preocupação, foram
elaborados planos de ação referentes à parques eólicos, incluindo limites de emissão de ruído. Na tabela 4,
verifica-se a existência de duas métricas para medição (LA90, 10 min e LAeq). O descritor LAeq novamente
apresenta-se entre os mais utilizados.
Para áreas rurais, o LAeq, são apresentados valores entre 35 dB(A) e 37 dB(A) durante o período diurno
e 35 dB(A) para o noturno. Para áreas rurais, o LA90, 10 min, são apresentados valores de 40 dB(A) durante o
período diurno e 35 e 40 dB(A) para o noturno.
Tabela 5 – Métricas de ruído e limites na Oceania.
Limites

Métrica
País Normativa Rural
de Ruído

Dia Noite

LA90, 10
SA (2009) 40 40
min
Austrália
VIC LA90, 10
40 40
(2010) min

195
QLD
LAeq 37 35
(2016)

NSW
LAeq 35 35
(2011)

WA (2004) LAeq 35 35

Nova NZS 6808 LA90, 10


40 35
Zelândia (2010) min

Fonte: Hansen, Doolan, Hansen (2017) adaptado pela autora.


No sul da Austrália SA (2009) e VIC (2010), há uma distinção entre área residencial rural e área
industrial rural. Segundo estudos realizados nos locais, foi encontrado que os agricultores são suscetíveis a 5
dB(A) a mais comparado à área residencial rural. Desta forma, estas duas normativas determinam o limite de
emissão de ruído de 40 dB, para o dia e noite. Isto demonstra que no país há uma preocupação com o bem-
estar da população em relação a emissão de ruído proveniente de aerogeradores.
Assim como ocorre no Canadá (Manitoba e New Brunswick), o LAeq permissível em áreas rurais varia
em função da velocidade do vento a 10 metros de altura (Tabela 5).
Tabela 6 – Métricas de ruído e limites na Oceania.
Velocidade do vento a 10m de altura (m/s)
Estado Área
4 5 6 7 8 9 10 11
Ontário Rural 40 40 40 43 45 49 51 -
Ontário Residencial 45 45 45 45 45 49 52 -
Fonte: Hansen, Doolan, Hansen (2017) adaptado pela autora.

4.2.4. Legislações Brasileiras


No Brasil, a Resolução nº 001 de 09/03/1990 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabelece
padrões para emissão de ruídos no território brasileiro. É uma resolução a nível federal que visa limitar a
emissão de ruídos em decorrência de quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas no
interesse da saúde e do sossego público. As normas reguladoras emitidas a partir da data desta resolução nº
001 do Conama devem seguir conjuntamente com a resolução.
No Brasil, a NBR 10151 (2019) possui três procedimentos e novas especificações de procedimentos e
avaliação de ruído. O método simplificado é utilizado para medição do NPS global em ambientes internos e
externos às edificações com o objetivo de identificar e caracterizar sons contínuos ou intermitentes utilizando
o descritor LAeq, T.
O segundo é o método detalhado, onde, além de ser utilizado para medição do NPS global, é utilizado
para a medição espectral em ambientes internos ou externos nas edificações. Este método identifica e
caracteriza sons contínuos, intermitentes, impulsivos e tonais. O descritor LAeq, T é utilizado para sons
contínuos e intermitentes. Para o som impulsivo, é obtido a partir da subtração aritmética o LAFmax e o LAeq, T,
e, por fim, o som tonal, que resulta quando o NPS contínuo equivalente na banda 1/3 de oitava exceder os
NPS contínuos equivalentes de ambas as bandas de 1/3 de oitava adjacentes.
O terceiro é o método de monitoramento de longa duração. Este procedimento é utilizado para ser
aplicado em períodos de período completo com a finalidade de planejamento urbano e monitoramento por 24
h. Para medição do período diurno é utilizado os descritores LAd LAn ou o descritor LAdn. É recomendado pela
norma a gravação de áudio para a identificação, durante a análise de dados, de sons específicos, intrusivos
que se destacarem do som residual e no som tonal.
A norma NBR 10151 (2019) e NBR 10152 (2017), em 2017, apesar das recentes atualizações, como já
foi dito anteriormente, no Brasil é ausente de métodos e critérios específicos para efeitos do ruído de
aerogeradores em parques eólicos em comunidades.
No país, foi publicado o Panorama do Potencial Eólico no Brasil (2003), no qual contém informações
sobre velocidade média anual do vento e energia eólica médias a altura de 50 m acima da superfície para
cinco condições topográficas distintas (zona costeira, campo aberto, mata, morro e montanha).
A documentação divulgou dados de Feitosa (2003), onde o autor analisou as regiões considerando o
potencial eólico e classificou em quatro classes de energias. Alguns estados brasileiros possuem Atlas eólico,
como o Rio Grande do Sul (valores de medições de vento a 50, 70 e 100 m), Bahia (medições a 50 e 70 m),
por exemplo. Estas informações fornecidas sobre os regimes de vento do Brasil poderiam ser agregadas se
baseando com as normativas de Manitoba e New Brunswick, Canadá.

196
5. CONCLUSÕES
A partir dos dados bibliográficos levantados e analisados foi possível apresentar informações da América do
Norte, União Europeia e Oceania. Nota-se que nas tabelas e figura apresentados que os critérios são distintos
de região para região, realçando a importância determinar valores com limiares e métricas de ruído
específicos de acordo com a localização dos parques eólicos. As métricas de ruídos mais adotadas nas
documentações encontradas foram LAeq. Este descritor está presente em todos os continentes apresentados e
na Oceania utilizam-se também os níveis LAeq e L90, 10min.
O Ldn e Lden foram descritores que apresentaram menos frequência nas tabelas apresentadas, porém,
também são importantes, para medição e caracterização do ruído. Países como Holanda e Noruega adotam
estas métricas, e são referência em geração de energia eólica, e mais recentemente a OMS (2018)
recomendou o valor abaixo de 45 dB para o Lden como aceitável para exposição de ruído de aerogeradores.
O que pode destacar é que Estados Unidos e Canadá que já incluíram medições e limitações de ruídos
provenientes aerogeradores em parques eólicos em suas normativas. A América do Norte apontou valores do
LAeq diários em área rural maiores comparados aos dos outros continentes, se mantendo entre 35 dB(A) e 60
dB(A). Esta disparidade de valores ocorre, pois, estes países possuem uma vasta área, e seus regimes de
vento variam de região para região, necessitando de estudos específicos para adequar os critérios, portanto,
os valores são adequados com estado ou província.
Os limites diurnos na União Europeia alcançam no máximo 50 dB(A) e na Oceania, 37 dB(A). Os
limites noturnos na Europa alcançam no máximo 47 dB(A) e na Oceania 35 dB(A). Desta forma, estas
diferenças de valores nas normativas entre a América do Norte e os outros continentes sejam porque
possivelmente os Estados Unidos e Canadá possuem regulamentações mais específicas para cada região, no
intuito de adequar a valores que minimizem os efeitos nocivos podem causar nas pessoas decorrentes a
exposição do ruído de aerogeradores.
Foi verificado que a normativa NBR 10151 (2019), embora possua atualização nos métodos de
medição e limites de ruído, não possui nenhuma menção a ruídos de aerogeradores em parques eólicos. Uma
possível adequação de valores para o Brasil relacionadas a emissão de ruído em parques eólicos em áreas
rurais é a utilização do descritor LAeq, por já existir esta métrica em sua normativa.
Com base nas regulamentações, a sugestão seria utilizar o LAeq, de emissão de ruído de aerogeradores
diurno abaixo de 45 dB(A) e noturno abaixo de 47 dB(A). Vale ressaltar que ainda são necessários mais
estudos comparativos.
Cabe salientar que Canadá e Austrália utilizaram valores ajustados de acordo com a velocidade do
vento medida a 10 metros de altura. Esta particularidade poderia ser adotada no Brasil também, pois o país
possui um vasto território, e suas regiões apresentam regimes de vento distintos e existe a possibilidade de
compilar estes dados por estado ou região.
A autora deste trabalho está desenvolvendo uma revisão sistemática integrativa de literatura de estudos
sobre conforto acústico de ruído de aerogeradores em parques eólicos. A Compilação, classificação,
organização e análise do material bibliográfico estarão relacionados ao conforto acústico em residências
instaladas em parques eólicos levando em consideração o incômodo acústico e o dano à saúde das pessoas
provocado pelas turbinas eólicas. As sugestões de critérios de avaliação do ruído de aerogeradores em
parques eólicos construídos serão partir de uma avaliação multi, inter e transdisciplinar utilizando
procedimentos sistemáticos da metodologia de pesquisa científica utilizando um protocolo baseado no estudo
de Okoli e Schabram (2010), onde os autores reuniram técnicas de diversos autores e apresentaram diretrizes
para uma revisão sistemática de literatura.

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2392.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CAPES pelo auxílio financeiro na concessão da bolsa de mestrado.

198
DESEMPENHO ACÚSTICO DE PAREDES DE ALVENARIA COM
VERMICULITA EXPANDIDA
Lorenzo Kerber (1); Maira Ott (2); Hinoel Ehrenbring (3); Rafael Heissler (4); Maria
Fernanda de Oliveira (5); Roberto Christ (6)
(1) Acadêmico de Engenharia Civil, Laboratorista, lorenzoak@unisinos.br
(2) Engenheira Civil, Analista de projetos, mairajo@unisinos.br
(3) M.Sc., Analista de projetos, hzamis@unisinos.br,
(4) M.Sc., Analista de projetos, rheissler@unisinos.br,
(5) Dra., Coordenadora PPGArqUrb e Pesquisadora itt Performance, mariaon@unisinos.br,
(6) M.Sc., Professor e Pesquisador, rchrist@unisinos.br,
itt Performance/UNISINOS, Av. Unisinos, 950, São Leopoldo (RS), +55 51 3580-8887

RESUMO
Alvenaria é um sistema construtivo constituído de um conjunto coeso e rígido de unidades (blocos ou
tijolos), unidas entre si por algum material ligante. Este sistema construtivo é amplamente utilizado na
construção civil e, para não sobrecarregar a estrutura, tem-se utilizado blocos vazados ao invés de elementos
maciços, os quais diminuem o custo e aumentam o isolamento térmico. Por outro lado, esses vazios reduzem
a massa específica superficial do sistema e aumentam as ressonâncias internas nos blocos, prejudicando o
isolamento sonoro. Para minimizar este efeito, as cavidades dos blocos podem ser preenchidas com material
poroso, sendo a vermiculita expandida um material com potencial para tal fim. Desta forma, este estudo
objetivou avaliar a influência da utilização de vermiculita expandida no preenchimento de septos de blocos
cerâmicos de diferentes espessuras em paredes de alvenaria para o aumento do isolamento acústico desses
sistemas construtivos, por meio de ensaios de perda de transmissão sonora, seguindo os parâmetros da ISO
10140:2010, buscando relacionar os resultados obtidos com a massa específica superficial destas tipologias
de parede. Os resultados obtidos dos ensaios foram por bandas de terças de oitavas e por valores ponderados
de índice de redução sonora (Rw), também podendo ser caracterizado como perda de transmissão sonora.
Através dos ensaios realizados, verificou-se uma correlação entre a melhora do desempenho acústico e a
massa específica superficial dos sistemas, onde os maiores valores de isolamento foram obtidos em amostras
que receberam revestimento interno e externo de material argamassado, como as amostras 9A, 11,5B e 14A,
as quais obtiveram um Rw de 50 dB. Além disso, notou-se a atenuação produzida pela vermiculita na curva
de isolamento gerada, em consonância com o que é esperado de um material granular utilizado como insumo
de preenchimento em cavidades de blocos cerâmicos para fins de amortecimento das ressonâncias internas
dos sistemas.
Palavras-chave: vermiculita expandida; desempenho acústico; massa específica superficial; perda de
transmissão sonora.

ABSTRACT
Masonry is a constructive system consisting of a cohesive and rigid set of units (blocks or bricks) joined by
some bonding material. This constructive system is widely used in Civil Construction and, in order not to
overload the structure, it has been using hollow blocks instead of massif blocks, which reduce the cost and
increase the thermal insulation. On the other hand, these cavities decrease the system’s surface mass and
increase the internal resonances in the blocks, damaging the sound insulation. To minimize this effect, the
cavities of the blocks may be filled with porous material, where expanded vermiculite is a material with
potential for this purpose. Thus, this study aimed to evaluate the influence of the usage of expanded
vermiculite in the filling of cavities of ceramic blocks with different thickness in masonry walls to increase
the acoustic insulation of these constructive systems, by means of tests of sound transmission loss, following
the parameters of ISO 10140: 2010, seeking a correlation between the obtained results and the superficial
mass of these walls’ typologies. The results obtained from the tests were by bands of octave-thirds and
weighed values. Through the tests performed, it was verified a correlation between the improvement of the

199
acoustic performance and the systems’ superficial mass, where the greater values of insulation were obtained
in specimens which received internal and external revetment of cementitious material, such as the samples
9A, 11,5B and 14A, obtaining a Rw of 50 dB. Apart from that, it was noted a damping phenomenon
produced by the vermiculite in the generated insulation curve, which is in consonance with what is expected
of a granular material used as filling input in cavities of ceramic blocks in order to damp the systems’
internal resonances.
Keywords: expanded vermiculite; acoustic performance; superficial mass; sound transmission reduction.

1. INTRODUÇÃO
O mercado da cerâmica vermelha encontra-se presente em todos os estados do Brasil, o que justifica a sua
larga utilização, representando cerca de 90% das alvenarias e coberturas construídas no país, com mais de
6.900 fábricas responsáveis pela sua produção e gerando cerca de 293 mil empregos diretos e mais de 900
mil indiretos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2008). Dentro deste
grupo, vem-se utilizando cada vez mais blocos cerâmicos vazados, os quais contribuem para uma
significativa diminuição do peso da construção e aumento do desempenho térmico. No entanto, conforme
exigências para edificações cada vez mais voltadas ao conforto do usuário, surgem limitações quando da
aplicação de cerâmicas de blocos vazados, principalmente relativo ao isolamento acústico.
Enquanto há um aumento nas propriedades térmicas das paredes que fazem uso deste tipo de bloco,
em comparação a paredes que utilizam blocos sólidos, as cavidades reduzem a densidade bruta dos blocos e,
consequentemente, há um menor isolamento sonoro quando comparado com paredes constituídas de
elementos sólidos (FRINGUELLINO, 1999). As cavidades desempenham um papel significativo na
transmissão sonora porque as vibrações não são apenas transmitidas através das conexões estruturais entre os
septos que formam uma cavidade, mas também pelo campo sonoro no interior da própria cavidade. Desta
forma, cavidades em paredes e pisos podem ser parcialmente ou totalmente preenchidas com materiais
porosos de modo a absorver a energia sonora (HOPKINS, 2012).
O preenchimento de blocos tem-se mostrado um artifício interessante para melhorar o desempenho
acústico dos sistemas de vedação vertical. Segundo pesquisa realizada pela National Concrete Masonry
Association (2012), constatou-se que, em paredes de alvenaria de bloco de concreto de diversas geometrias e
revestimentos, com preenchimentos diversos, houve um acréscimo no índice de redução sonora da parede,
resultado que pode, também, ser interpretado como o valor de perda de transmissão sonora do sistema em
análise. Conforme evidenciado na pesquisa, para paredes de blocos de concreto com espessura de 102 mm
(4’’), com densidade específica de 1362 kg/m³, verificou-se um aumento de 5 dB com as cavidades
preenchidas com graute e de 4 dB com as cavidades preenchidas com areia, em seus valores ponderados de
índice de redução sonora, em comparação a parede referência, sem preenchimento. Estes resultados
possibilitam e justificam o estudo de novos materiais possíveis de serem utilizados para o preenchimento de
blocos, principalmente no que diz respeito à sua influência no desempenho acústico.
Os materiais utilizados para preenchimento dos blocos podem ser dos mais diversos. No setor da
construção civil brasileira, observa-se que os materiais e componentes já utilizados são graute, areia, casca
de arroz e, recentemente, também se tem buscado aplicar a vermiculita na sua forma expandida para
preenchimento destas cavidades.
A vermiculita caracteriza-se como um silicato hidratado de magnésio, alumínio e ferro. Este mineral,
quando comercializado sob sua forma expandida, apresenta baixos valores de massa específica aparente e de
condutividade térmica. A densidade aparente da vermiculita expandida é em torno de 80 a 120 kg/m³
(RASHAD, A. M., 2016). Isto, associado a fina granulometria, faz com que a vermiculita expandida seja um
material atrativo para utilização em diversas áreas, dentre as quais destacam-se a construção civil,
agricultura, as indústrias químicas e produtoras de tintas, entre outras (UGARTE et al., 2008).
Destaca-se que a composição química da vermiculita não é alterada durante o processo de exfoliação
(processo de aquecimento a cerca de 800 °C para expansão). Caracterizada como inerte, esta é mais uma das
justificativas de emprego deste material na área de construção civil. A vermiculita é tida como um material
poroso, e a variabilidade de sua porosidade se origina de sua morfologia em variadas interfaces, podendo ser
essas entre camadas, entre partículas e entre agregados, diferenciando-se em sua estrutura. Sob um aspecto
geral, verifica-se que a vermiculita contém poros de diferentes tamanhos e formas e consistência granular.
O preenchimento das cavidades dos blocos com vermiculita busca seguir o princípio de um sistema
citado por Patrício (2018), o qual consiste em dois elementos rígidos, podendo ser dois materiais iguais ou
diferentes, separados por uma camada de amortecimento de determinada espessura, assemelhando-se a um
conjunto de duas massas ligadas por uma mola. A existência dessa camada preenchida com ar entre os dois
meios rígidos resulta na propagação de ondas estacionárias em seu interior, as quais, por sua vez, criam

200
perdas no isolamento do sistema, prejudicando o desempenho acústico. Por isso, uma das principais
preocupações centra-se na eliminação desses vazios que influenciam o aumento das ressonâncias internas,
sendo uma das formas sugeridas, a colocação de material absorvente sonoro na cavidade (PATRÍCIO, 2018).
Estudos de Klippel Filho et al. (2019) mostraram que há maior influência do revestimento
argamassado em blocos que possuem maior quantidade de vazados, ou seja, este tipo de revestimento, o qual
possui densidade específica acima de 1800 kg/m³, agrega massa específica superficial ao sistema (90 kg/m²)
e é mais eficiente para blocos que possuem mais cavidades, representando um aumento de aproximadamente
1dB para cada 1 cm de revestimento. Schiavoni et al. (2016) corroboram com o explicitado acima, ao
apontar, em seu estudo, que relativo ao isolamento ao ruído aéreo, o desempenho é fortemente dependente
das massas dos materiais que compões o sistema, principalmente os componentes do sistema que apresentam
as maiores massas específicas superficiais, onde aponta revestimentos argamassados e concreto como
exemplos característicos. Estes revestimentos, quando utilizados sobre o substrato, além de aumentar a
massa específica superficial do sistema, já contribuindo para uma possível melhoria no isolamento aos sons
aéreos, também propiciam o fechamento de possíveis frestas e aberturas decorrentes de falhas de execução
ou de qualidade do material empregado. Essas falhas podem depreciar significativamente o desempenho
acústico de um sistema, uma vez que representam um canal de transmissão direto para as ondas sonoras
incidentes, em consonância com o que fora verificado nos estudos dos autores Fausti et al. (2010), Carrascal
et al. (2014) e Labres et al. (2018).
A estimativa do isolamento sonoro considera que, num sistema simples e ideal, o incremento de
isolamento sonoro a sons aéreos é de 6 dB/oitava por duplicação de massa específica superficial ou da
frequência de interesse, sendo esta relação comumente referida como “Lei da Massa” (PATRICIO, 2018). O
autor evidencia que, em condições ideais e, considerando-se um modelo inercial na forma de uma placa
plana (a qual pode ser visualizada fisicamente como uma parede de alvenaria), desligada do seu contorno e
indeformável no plano que a contém, é possível estabelecer relações matemáticas logarítmicas que
consideram a pressão sonora incidente sobre o elemento, sua massa e a velocidade de propagação do som no
ar. Assim é possível realizar uma estimação realista da curva de redução sonora respectiva e, através da
metodologia de comparação (curva de referência), calcular o índice de redução sonora. Além disso, o autor
afirma que quando colocado material fonoabsorvente nas câmaras de ar, o incremento no isolamento pode
chegar a 4dB.
Dessa forma, pode-se entender que, em alvenarias com blocos vazados, as cavidades presentes na sua
composição constituam-se como pequenas câmaras de ar, as quais podem ser preenchidas com algum
material absorvente. Nesse estudo, a vermiculita expandida assumiu este papel, de forma a atenuar a energia
sonora no interior de blocos vazados, a fim de melhorar o desempenho acústico do sistema como um todo.
Não é possível, no entanto, assumir a característica de câmara de ar plena para as cavidades dos blocos, uma
vez que há uma interligação entre os seus septos, os quais caracterizam um meio rígido pelo qual o som pode
propagar-se sem barreiras. Porém infere-se que os vazios presentes possam atuar, em menor escala, como
atenuadores das ondas incidentes sobre a tipologia ensaiada, principalmente quando em conjunto com
materiais de preenchimento em seu interior.

2. OBJETIVO
Neste estudo, objetiva-se avaliar o desempenho acústico de paredes de blocos cerâmicos de espessuras
diversas preenchidos com vermiculita expandida. Além disso, pretende-se estabelecer relações entre as
massas específicas superficiais destes sistemas construtivos e a verdadeira eficiência da aplicação de
vermiculita em suas tipologias quanto ao isolamento a sons aéreos.

3. MÉTODO
São avaliadas experimentalmente dez amostras de alvenarias com blocos de espessuras 9, 11,5, 14 e 19 cm
de espessura conforme a Tabela 1.
A execução das amostras e os ensaios foram desenvolvidos no itt Performance da Unisinos. As
amostras foram construídas em um sistema de pórticos (Figura 1), o que possibilitou o transporte, com o uso
de ponte rolante, até as câmaras acústicas.

201
Tabela 1: Tipologia das paredes ensaiadas
Massa específica
Simbologia Caracterização sistema Bloco Cerâmico Características dos Blocos
superficial (kg/m³)

Aplicação de 3 cm de Bloco de concreto


9A argamassa interna e 9x19x29 cm 255,04
externa, com vermiculita Peso: 8,56 kg

Aplicação de 3 cm de Bloco cerâmico


209,33
9B argamassa interna e 9x19x29 cm
externa, com vermiculita Peso: 5,36 kg

Aplicação de 3 cm de Bloco cerâmico


11,5A argamassa interna e 11,5x19x29 cm 205,00
externa, com vermiculita Peso: 4,90 kg

Aplicação de 3 cm de Bloco de concreto


11,5B argamassa interna e 11,5x19x29 cm 275,04
externa, com vermiculita Peso: 11,70 kg

Aplicação de 2,5 cm de Bloco cerâmico


14A argamassa interna e 14x19x29 cm 224,08
externa, com vermiculita Peso: 6,93 kg

Aplicação de 0,5 cm de
14B 109,30
gesso, com vermiculita
Bloco cerâmico
14x19x39 cm
Peso: 6,10 kg
Sem revestimento e com
14C 104,30
vermiculita

Aplicação de 2,5 cm de
19A argamassa interna e 266,25
externa, com vermiculita

Aplicação de 0,5 cm de Bloco cerâmico


19B gesso em ambos os lados, 19x19x39 cm 199,36
com vermiculita Peso: 13,48 kg

Sem revestimento e com


19C 191,36
vermiculita

Para a colocação da vermiculita expandida utilizou-se um aparato de madeira que possibilitou a


colocação da mesma quantidade de material em todos os blocos, sendo o preenchimento realizado a cada
fiada construída (Figura 1(a)). Para possibilitar a colocação do material nos blocos da última fiada da
alvenaria, a vermiculita foi colocada nos blocos antes do assentamento com argamassa.

202
a) b)
Figura 1: a) Construção da amostra em sistema de pórtico; b) Preenchimento das cavidades com vermiculita

Os ensaios foram realizados em câmaras reverberantes horizontais do Instituto itt Performance /


Unisinos, conforme os procedimentos da norma ISO 10140-2:2010 e o valor ponderado foi obtido conforme
a ISO 717-1:2013. As câmaras utilizadas estão em concordância com as premissas da norma ISO 10140-
5:2010. A Figura 2(a) ilustra uma das amostras na câmara de ensaio, enquanto que a Figura 2(b) apresenta
um esquema da câmara reverberante com a amostra.

Parede de alvenaria

(a) (b)
Figura 2: Câmara reverberante para ensaios acústicos, (a) amostra no interior da câmara e (b) esquema das câmaras acústicas

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 3 apresenta as curvas e os resultados obtidos para os diversos sistemas ensaiados neste estudo,
fazendo a comparação dos tipos de revestimento e tipologias de bloco, uma vez que, todos tiveram os
alvéolos preenchidos com vermiculita.
A influência do revestimento nos sistemas testados pôde ser verificada a partir do gráfico da Figura 3.
A adição de 0,5 cm de revestimento de gesso não alterou os resultados ponderados das alvenarias com blocos
de 14 cm, nem das alvenarias com blocos de 19 cm. Pôde-se verificar algumas diferenças nas bandas de
frequências até 315 Hz, com características de alterações no comportamento ressonante do sistema, mas nas
demais bandas analisadas, não são verificadas alterações significativas. Por outro lado, a adição de
revestimento em argamassa no sistema 19A, resultou no aumento do isolamento nas bandas a partir de 2000
Hz, que tem como consequência o aumento do isolamento expresso também no valor ponderado,
evidenciando o efeito da Lei da Massa.

203
Figura 3: Índice de Redução Sonora das amostras com diferentes revestimentos

Observou-se, a partir da Figura 4, que as amostras que utilizaram blocos cerâmicos de maior espessura
(14 e 19 cm, por exemplo) obtiveram um valor ponderado de índice de redução sonora semelhante em
comparação às amostras de menor espessura (9 e 11,5 cm). Isto pode ser explicado pelo revestimento
argamassado de 3 cm nas faces internas e externas das amostras confeccionadas com os blocos de menor
espessura, o que adicionou maior massa específica superficial ao sistema e, consequentemente, aumentou o
seu isolamento ao ruído aéreo. Sabe-se que a capacidade de isolamento do sistema depende, principalmente
de sua massa específica superficial, princípio já identificado em outros trabalhos que abordam o
comportamento de alvenarias de blocos vazados frente ao som aéreo (HOPKINS, 2012; PATRÍCIO, 2018;
KLIPPEL FILHO et al., 2019; SCHIAVONI et al., 2016). Nesse sentido, pôde-se observar, na Figura 4, o
isolamento sonoro crescente até a respectiva frequência de coincidência dos sistemas ensaiados.
A amostra de bloco de 14 cm que obteve resultado ponderado semelhante às paredes de menor
espessura foi a que recebeu revestimento argamassado de 2,5 cm (14A), bem como a amostra de bloco 19 cm
que recebeu 2,5 cm de revestimento argamassado (19A), com massas específicas superficiais de 224,08 e
266,25 kg/m², respectivamente.

Figura 4: Índice de Redução Sonora das amostras com revestimento argamassado

204
O acréscimo de massa específica superficial às amostras através do revestimento argamassado
provocou deslocamentos nas curvas de isolamento, onde tal mudança pôde ser identificada com maior
clareza na banda de frequência de coincidência dos sistemas (compreendida entre 2500 Hz e 4000 Hz), a
qual fora deslocada para maiores frequências quando comparada aos exemplares que receberam uma fina
camada de revestimento ou mesmo nenhum tipo de revestimento. Destaca-se que, devido a maior relevância
do aumento do isolamento sonoro através do princípio da Lei da Massa, o qual pode ser verificado nas
bandas entre 400 e 1600 Hz, atingiram-se maiores valores de isolamento sonoro nas altas frequências.
Seguindo esse mesmo princípio, pôde-se verificar que, no resultado da amostra de bloco de 14 cm, em que a
parede teve adição de massa específica superficial devido ao revestimento cimentício (14A), houve um
deslocamento da frequência de coincidência para 3150 Hz, ao passo que seu exemplar comparativo, sem
revestimento (14C), apresentou a sua frequência de coincidência na faixa de 2500 Hz.
Conforme a Figura 5, as amostras 9A, 11,5B e 14A, revestidas com camada argamassada, foram as
que apresentaram maior desempenho acústico, ao passo que as amostras revestidas com gesso (14B e 19B)
ou sem revestimento (14C e 19C) apresentaram um desempenho menor e sem notáveis diferenças quando
comparadas entre si. Para estas últimas amostras, devido à ausência de revestimento, aumenta a possibilidade
da existência de pequenas frestas, localizadas entre as juntas, as quais prejudicam a estanqueidade do sistema
a passagem de ruído. Fausti et al. (2010), Carrascal et al. (2014) e Labres et al. (2018), abordam a relevância
dos revestimentos argamassados para o incremento do isolamento aos sons aéreos, tanto pela adição de
massa específica superficial ao sistema revestido, quanto pela supressão de pequenas frestas ou defeitos dos
componentes devido a camada que é aderida diretamente sobre o substrato.

Figura 5: Comparativo do Índice de Redução Sonora das amostras com revestimento argamassado e gesso

Os maiores valores de índice de redução sonora ponderado para as amostras deste estudo foram
verificados, principalmente, devido à adição de massa especifica superficial ao sistema. O efeito do
preenchimento das cavidades dos blocos com vermiculita também repercutiu no amortecimento das ondas
sonoras, uma vez que se tornou perceptível um aumento do isolamento sonoro nas frequências
compreendidas entre 400 e 2000Hz, em praticamente todas as amostras. Esse efeito está de acordo com o que
fora indicado anteriormente por Patrício (2018), que apontou que materiais porosos, fibrosos e granulares são
excelentes atenuadores dos efeitos de ressonância gerados no interior das cavidades de blocos vazados.
Complementarmente, a presença de revestimento de maior espessura, como pode ser verificado para as
amostras que receberam 2,5 e 3,0 cm de argamassa também contribuiu para o preenchimento de frestas.
A Figura 6 demonstra, de forma resumida, todos os valores ponderados de índice de redução sonora
encontrados para as amostras ensaiadas, com seus exemplares preenchidos com vermiculita, considerando
suas diversas espessuras e massas superficiais específicas de parede.

205
Figura 6: Síntese geral dos índices de redução sonora para as amostras ensaiadas

Os sistemas com massa específica superficial a partir de 200 kg/m² apresentaram os maiores valores
ponderados de índice de redução sonora, com Rw entre 47 e 50 dB, em concordância com o que é
explicitado em bibliografia no que se refere ao princípio da Lei da Massa, onde sistemas de maior massa
tendem a apresentar um acréscimo no seu índice de redução sonora, quando comparado à sistemas mais
leves. Desta forma, analisando a Figura 6, verifica-se que a diferença no valor ponderado de índice de
redução sonora entre a amostra ensaiada com maior massa específica superficial (Amostra 11,5B, com
275,04 kg/m²) e a amostra com menor massa específica superficial (Amostra 14C, com 104,30 kg/m²)
encontra-se na ordem de 6 dB. Este comportamento é característico pelo fato de o primeiro sistema
apresentar uma massa específica superficial maior que o último sistema, seguindo o proposto pela Lei da
massa e comentado por Klippel Filho et al. (2019).

5. CONCLUSÕES
Com a crescente busca por novas alternativas para melhorar o desempenho acústico de sistemas construtivos
compostos por alvenarias de blocos vazados, principalmente levando-se em consideração a conjuntura atual
da construção civil brasileira, este estudo objetivou a avaliação da utilização de vermiculita expandida no
preenchimento das cavidades de blocos de diferentes espessuras em paredes de alvenaria, buscando o
aumento do isolamento acústico ao ruído aéreo nestes sistemas, relacionando-o, também, com a massa
específica superficial das tipologias ensaiadas.
Através da avaliação dos resultados obtidos com os ensaios realizados em laboratório, constatou-se
que a relação entre o aumento da massa específica superficial e o isolamento ao ruído aéreo também pode ter
uma relação direta em alvenarias com preenchimento das cavidades dos blocos com vermiculita expandida.
Em relação a vermiculita, enquanto material de preenchimento para mitigar as ações de ressonância interna
das cavidades do bloco, tornou-se possível elencá-la como uma alternativa para elevar o desempenho
acústico de sistemas de vedação vertical, conforme a necessidade de um comportamento que demande uma
maior performance da parede com relação ao isolamento a sons aéreos. Além disso, a sua disponibilidade no
mercado nacional e o fato de ser um material inerte, torna ainda mais interessante o emprego deste, podendo
melhorar os seus sistemas com um custo relativamente baixo e sem sobrecarregar a estrutura, por se tratar de
um material extremamente leve.

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206
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Jornada de Iniciação Científica, p. 865-887. Rio de Janeiro, 2008.

207
DIRETRIZES DE PROJETO PARA AUDITÓRIOS DESTINADOS À FALA
Gabriel Feitoza Carvalho (1); Elisabeth de A. C. Duarte Gonçalves (2)
(1) Graduando, Curso de Arquitetura e Urbanismo, GEAS – Grupo de Estudos do Ambiente Sonoro,
gabrielfc9@gmail.com, Universidade Federal de Alagoas – campus Arapiraca, Av. Manoel Severino
Barbosa, Bom Sucesso, Arapiraca-AL, (82) 99831-5009
(2) Doutora, Professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo, GEAS – Grupo de Estudos do Ambiente
Sonoro, elisabeth.goncalves@arapiraca.ufal.br, Universidade Federal de Alagoas – campus Arapiraca, Curso
de Arquitetura e Urbanismo, Av. Manoel Severino Barbosa, Bom Sucesso, Arapiraca-AL, (82) 99973-7784

RESUMO
Auditórios são espaços cada vez mais presentes em edificações nos mais diferentes usos. O bom projeto
acústico de um auditório é proveniente de diversas variáveis ergonômicas e de conforto ambiental, sendo
necessário por vezes a atuação de uma equipe multidisciplinar. Apesar de existir um conhecimento
estabelecido na área de acústica arquitetônica, observa-se uma considerável escassez de referências que
traduzam para o arquiteto tais diretrizes, as quais estão muitas vezes pulverizadas em normas e livros
técnicos e sem conexão com outros parâmetros importantes, como a ergonomia e a acessibilidade,
dificultando o momento da elaboração de projetos de auditórios. O objetivo deste artigo é apresentar
diretrizes para elaboração de projetos de auditórios que possam facilitar o processo criativo do arquiteto no
momento da concepção do projeto e auxiliá-lo para que as decisões projetuais possam se rebater em um bom
desempenho acústico do recinto. Para isso foram levantados através de referências e normas na área, os
parâmetros considerados mais relevantes: geometria interna, inclinação do piso, distribuição e organização
da plateia, desenho das galerias, condicionamento acústico e isolamento sonoro.
Palavras-chave: auditórios para fala, conforto acústico, processo de projeto.

ABSTRACT
Auditoriums are increasingly present in buildings in the most different features. The good acoustic design of
an auditorium comes from several ergonomic and environmental comfort variables, which is necessary at
times a multidisciplinary team for this purpose. Although there is an established knowledge in the area of
architectural acoustics, it has been noticed a lack of references that can translate to the architect such
parameters which are often pulverized in standards and technical books without a connection between other
important precepts, such as ergonomy and accessibility, hindering the process to elaborate auditorium
designs. The purpose of this article is to present guidelines for auditorium designs that can enable the
creative process of the architect at the moment of designing and help it so that the design decisions can result
in a good acoustic performance of the room. The parameters considered most relevant were: internal
geometry, angle of the floor, distribution and organization of the audience, design of the galleries, acoustic
conditioning and sound insulation.
Keywords: auditoriums for speeches, acoustic comfort, design process.

208
1. INTRODUÇÃO
Auditórios são espaços cada vez mais presentes em edificações nos mais diversos usos – educacionais,
culturais, corporativos, etc. Estes ambientes devem atender às demandas ergonômicas de cada projeto,
incluindo o conforto acústico. Tais aspectos não são tão simples de serem atingidos, pois o bom desempenho
acústico do recinto é proveniente de diversas variáveis, o que torna os auditórios locais complexos de serem
desenvolvidos, sendo necessário por vezes a atuação de uma equipe multidisciplinar.
Para que uma boa resposta acústica seja alcançada, certas decisões devem ser levadas em consideração
desde a concepção do projeto, cabendo ao arquiteto entender as diretrizes necessárias a serem atendidas.
Tem-se percebido que grande parte dos erros de projeto nos auditórios são provenientes da falta de
conhecimento sobre princípios básicos de acústica arquitetônica. Este artigo pretende trazer as informações
contidas em referências técnicas na área de acústica arquitetônica para o contexto do arquiteto, para que
assim possa servir como base a fim de buscar atingir o conforto acústico desejado a este tipo de espaço.

2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é apresentar diretrizes para elaboração de projetos de auditórios que possam facilitar
o processo criativo do arquiteto no momento da concepção do projeto e auxiliá-lo para que as decisões
projetuais possam se rebater em um bom desempenho acústico do recinto.

3. MÉTODO
O método aplicado para atingir o objetivo deste trabalho foi dividido nas seguintes etapas:
1. Pesquisar referências que abordam a temática de conforto acústico em auditórios;
2. Analisar e organizar de forma coerente as informações obtidas;
3. Adaptar imagens e informações técnicas para garantir uma melhor compreensão do arquiteto;
4. E, por fim, descrever os principais pontos que devem ser analisados no momento da elaboração do
projeto, a fim de garantir uma boa orientação para aqueles que desejam trabalhar com o tema abordado.

4. DIRETRIZES PROJETUAIS PARA AUDITÓRIOS


É necessário que o auditório forneça conforto nas suas mais variadas formas, tendo em vista que os seus
usuários passarão um longo período acomodados em seu interior durante a aula ou palestra, fazendo com que
a experiência seja agradável e produtiva. Entre os principais aspectos relevantes para o arquiteto estão:
geometria interna, inclinação do piso, distribuição e organização da plateia, desenho das galerias,
condicionamento acústico e isolamento sonoro.

4.1. Geometria interna


A geometria interna de um ambiente impacta diretamente em sua difusão sonora e pode ser considerada um
dos principais elementos para que se consiga uma boa qualidade sonora no espaço. Existem diversas formas
que podem ser escolhidas na elaboração do projeto e cada uma possui determinadas características de
resposta sonora. Em casos onde já há uma geometria estabelecida por terceiros, o arquiteto pode verificar a
necessidade do uso de painéis refletores e/ou superfícies absorventes em tetos, paredes, piso e mobiliário, a
fim de corrigir possíveis erros e obter um controle do tempo de reverberação ideal do recinto.
Em auditórios, existe uma série de erros de projeto que ocorrem quando o conforto acústico não é
levado em consideração. Esses problemas devem ser evitados ao máximo, pois podem prejudicar o
entendimento e o bem-estar do usuário. Dentre estes problemas destacam-se os ecos, as reflexões tardias,
ecos flutuantes, focalização dos raios sonoros, criação de sombras acústicas e coloração inadequada, como
representados na Figura 1.
Segundo Brandão (2016), os ecos flutuantes (Figura 2) são ocasionados por uma ou mais reflexões
entre paredes paralelas e ocasionam interferência destrutiva a uma porção de frequências, o que pode ser
associado a um som metalizado. E já a coloração, é o efeito formado pelo destaque em algumas faixas de
frequência em detrimento de outras, ocasionado, geralmente, pela existência de modos acústicos muito
pronunciados, pelo uso excessivo de apenas um tipo de material de absorção, fazendo com que apenas uma
faixa de frequência seja atenuada, ou até mesmo associada aos ecos flutuantes.

209
Onde:
I representa os ecos ( a+b-c<17m );
II representa as reflexões tardias;
III representa a focalização de ondas;
IV representa a criação de zonas de sombra acústica.

Figura 1 - Ilustração de problemas acústicos que podem acontecer em um auditório. (Fonte: adap. BRANDÃO, 2016)

Figura 2 – Eco Flutuante.

Existem variadas opções de formato de planta de auditórios de acordo com Carrion (1998):
trapezoidal, em leque, em leque invertido, poligonais, circulares, ferradura e retangular. Entre os formatos de
plantas mais adotados para auditórios, estão a planta em forma de leque e a retangular ou tipo “caixa de
sapato”, que serão abordadas a seguir destacando as principais diretrizes projetuais.

4.1.1 Forma de leque


A forma de leque funciona como uma boa solução para aumentar a capacidade da sala, ou seja, aumentar a
sua área, como também diminuir a distância entre a fonte sonora e o ouvinte. Assim como uma de suas
vantagens, em relação à forma caixa de sapato, é o possível direcionamento do raio refletido, a depender do
ângulo de inclinação da parede, direto para o fundo da sala, que trata se do local que mais necessita de
reforço acústico, (SOLER, 2004).
O paralelismo entre as paredes laterais é quebrado pelo ângulo de inclinação de suas paredes, porém
há mais uma característica a ser observada neste ângulo. Segundo Soler (2004), é importante ter em mente
que o formato da sala em leque não deverá ter um ângulo de abertura muito grande, pois prejudica linha de
visibilidade para o palco além do direcionamento das ondas para o fundo da sala.
A forma em leque pode promover uma melhor visibilidade e evitar problemas decorrentes do eco
palpitante gerado por superfícies paralelas muito próximas. Na figura 3, é apresentado o ângulo de abertura
recomendado para garantir raios direcionados para a plateia, sendo o ângulo de 30° o mínimo e o ângulo de
abertura máxima sendo o ângulo de 65°, sugeridos por Mehta, Johnson e Rocafort (1999). O possível

210
problema acústico desta forma seria a ausência das primeiras reflexões laterais na parte central do recinto,
como pode ser observado na Figura 4.

Figura 3 - Angulação de abertura recomendada para o formato em leque. (Fonte: MEHTA; JOHNSON; ROCAFORT, 1999).

Figura 4 – Primeiras reflexões das paredes laterais das plantas em leque

4.1.2. Forma Retangular ou tipo Caixa de Sapato (Shoe box)


Também conhecida como “shoe box” ou caixa de sapato, trata-se de uma sala de planta retangular, longa,
alta e estreita e possui um grande destaque na área de acústica arquitetônica por possuir exemplos de salas
que são consideradas detentoras das melhores qualidades acústicas do mundo, uma delas é o Shymphony
Hall em Boston de acordo com Beranek (2004). Como se pode observar na Figura 5, o auditório possui uma
série de ornamentos que está bastante presente em auditórios antigos (BRANDÃO, 2016), As ornamentações
nas paredes laterais ajudam a criar reflexões difusas, fazendo com que difusão sonora se torne mais eficiente.
As três medidas: comprimento, largura e altura, são de extrema importância como também a sua
relação, pois estas não devem ser múltiplas entre si e não podem possuir fatores comuns entre elas. O
formato retangular possui um som mais claro, mais distinto, especialmente na propagação de notas agudas.
Porém deve-se ter atenção ao optar por este formato, pois a forma retangular, por possuir o paralelismo de
paredes, pode ocasionar ressonâncias e ondas estacionárias que podem interferir em sua acústica. Portanto, é
recomendado alguns cuidados específicos para esta geometria de recinto.
Deve-se evitar paredes lisas e paralelas e é recomendado quebrar o paralelismo com painéis que
possam direcionar o som do palco para a plateia localizada, principalmente, no fundo do ambiente. Se
necessário, pode-se utilizar superfícies absorventes no fundo para absorver as reflexões dos raios sonoros. A
Figura 6 mostra um exemplo de como quebrar o paralelismo entre as paredes laterais, através de placas
refletoras e o uso de painéis absorventes no fundo da sala para controlar o tempo de reverberação. Segundo
Soler (2004), há a possibilidade de utilização de painéis móveis para a palavra falada, que devem estar
rebaixados para realçar as primeiras reflexões. Estes painéis podem ser relativamente pequenos, pois
somente altas frequências são necessárias para a fala.

211
Figura 5 – Auditório em forma de caixa de sapato: Shymphony Hall em Boston. (Fonte: adap. GRIESINGER, 2010).

Figura 6 - Uso de refletores nas paredes laterais e no teto quebram o paralelismo entre as faces do auditório.
(Fonte: adap. VALCHROMAT, 2019).

4.2. Inclinação do Piso


Em auditórios com patamares, é fundamental observar a inclinação do piso, além de verificar a distância
vertical entre as fileiras, para garantir uma boa visibilidade do palco. É recomendado que a diferença entre os
pontos de observação dos usuários esteja entre 10 e 16 centímetros, a fim de garantir uma boa visibilidade
assim como uma melhor recepção do som direto, tendo em vista que a cabeça de um usuário imediatamente à
frente poderá se tornar uma barreira acústica (ROSSING, 2007). A Figura 7 mostra de forma mais clara as
relações espaciais indicadas para auditórios.

212
Figura 7 - Esquema demonstrando medidas que devem ser observadas em um auditório. (Fonte: adap. BRANDÃO,2016).

É possível calcular a inclinação da plateia a partir do estudo trigonométrico, apresentado na equação 1.


Segundo Rossing (2007), esse ângulo pode ser obtido por:

ℎ.𝑏 𝑒 Equação 5
tan(𝜑) = 𝑑.𝑎 − 𝑎
Onde:
e: altura da fonte em relação ao palco [cm];
d: distância entre fileiras [cm];
a: distância entre a fonte e a primeira fila [cm];
h: distância vertical entre fileiras escolhidas [cm];
φ: ângulo de inclinação [°];
b: distância entre a fonte e a última fileira

4.3. Distribuição e organização da plateia


A distribuição e a organização da plateia é o fator que vai causar impactos desde a geometria interna da obra
ao conforto dos usuários. Todos os membros da plateia devem conseguir ver e ouvir tudo que está
acontecendo no palco ou plataforma.
Em relação aos assentos, o padrão de conforto pode variar de acordo com a tolerância de cada tipo de
público, por exemplo, um jovem tende a tolerar assentos menores e mais rígidos, sendo os mesmos
considerados desconfortáveis se o público alvo for de idosos. A quantidade e o tipo de revestimento das
poltronas vão ter uma relação direta com o tempo de reverberação do recinto.
Em geral, os assentos são projetados de acordo com a média de indivíduos que possivelmente irá
utilizá-los, e caso não seja possível estabelecer esta média, é recomendado que a seleção dos assentos
favoreça a aproximadamente 90% da plateia dentro do nível de conforto aceitável. Na Figura 8 e na Tabela
1, é possível observar um resumo das sugestões indicadas por Littlefield (2011) para o dimensionamento das
poltronas.

Figura 8 – Dimensionamento de assentos de auditórios (Ler juntamente à tabela 2), sendo a: planta baixa; b: corte. (fonte:
LITTLEFIELD, 2011).

213
Tabela 1 – Dimensões dos assentos de auditório. (Fonte: LITTLEFIELD, 2011).
Dimensão Descrição Mínimo Máximo Tamanho
padrão
A Profundidade total do assento 600 mm 720 mm 650 mm
Profundidade do assento levantado (equivalente ao comprimento do apoio de
B 425 mm 500 mm 450 mm
braços)
C Espaço livre entre os assentos (espaço vertical desobstruído entre as poltronas) 305 mm 400 mm
D Afastamento entre os espaldares de duas fileiras contíguas 760 mm 850 mm
E Largura do assento com apoio para os braços 500 mm 750 mm 525 mm
Largura do assento sem apoio para os braços 450 mm
F Largura do apoio para os braços 50 mm 50 mm
G Altura do assento 430 mm 450 mm 440 mm
H Altura do apoio para os braços 600 mm 600 mm
I Altura do espaldar 800 mm 850 mm 800 mm
J Inclinação do assento a partir da horizontal 7º 9º 7º
K Inclinação do espaldar a partir da vertical 15º 20º 15º

Para a compreensão das expressões faciais do palestrante em relação a plateia, Egan (1998) indica uma
distância máxima de 20 metros entre o palestrante é a última fileira de cadeiras. Quando não é considerado
fundamental o reconhecimento das expressões faciais do emissor, a distância pode ser aumentada até no
máximo 25 metros.

4.4. Desenho das galerias


Em alguns casos pode ser necessário a utilização de galerias, que auxiliam em aumentar o número de
assentos sem ter que aumentar a distância entre o palco e a plateia. Porém, alguns aspectos devem ser
observados pelo arquiteto para garantir uma boa aplicação das mesmas.
As galerias ocasionam uma divisão de ambientes dentro da sala, causando separação acústica, e se não
forem bem planejadas podem gerar áreas com sombras acústicas. Segundo Long (2006), abaixo da galeria há
menos energia sonora, tendo em vista que a galeria serve como uma barreira acústica para as reflexões do
teto. Assim, é recomendado que a profundidade das galerias seja a menor possível, ao passo que a altura
abaixo delas possa ser suficiente para o som chegar com clareza nas últimas fileiras, logo elas devem seguir a
relação de que sua profundidade não pode ser maior que duas vez a sua altura. Como demonstrado na Figura
9.

Figura 9 – Relação entre profundidade e altura da galeria. (Fonte: adap. SOLER, 2004).

Normalmente, a inclinação do piso da galeria é um pouco maior que a inclinação do piso no térreo,
porém a inclinação não deve ultrapassar os 30°, pois pode causar vertigem (LONG, 2006). As galerias
também podem ser utilizadas de forma estratégica como difusor de onda sonoras (Figuras 10 e 11) assim
como superfície absorventes (Figura 12), a depender do material e da forma de sua estrutura.

214
Figura 10 – Esquema demonstrando alternativas de uso da galeria para melhorar condições acústicas do ambiente
(Fonte: adap. SOLANO,2017).

Figura 11 – Uso de forma convexa para difundir Figura 12 –Uso de superfície absorvente para ajustar o tempo de
os raios sonoros (Fonte: adap. SOLANO,2017). reverberação do ambiente (Fonte: adap. SOLANO,2017).

4.5. Condicionamento acústico


A queda da intensidade sonora em um recinto não é resultado apenas da distância que a onda deverá
percorrer, mas também da absorção de ondas sonoras pelos materiais. Ao incidir em uma superfície, parte da
energia será absorvida pelo material, assim como uma parte será refletida. Geralmente este coeficiente de
absorção é definido pela porosidade do material, quanto mais poroso e fibroso o material, maior será sua
absorção.
Para que um auditório possua um bom desempenho acústico, é necessário que haja uma boa
inteligibilidade do som, distribuição sonora uniforme, controle de problemas acústicos, como ruído, ecos e
sombras e um tempo de reverberação adequado. O uso de superfícies absorventes é um bom caminho para
adequação do tempo de reverberação do recinto.
As superfícies que se encontram próximas ao palco devem ser reflexivas, pois possuem o intuito de
garantir uma distribuição sonora mais uniforme. Os materiais com características absorventes de som, se
necessário, devem ser instalados no fundo da sala inicialmente, como apresentado na Figura 13.

215
Figura 13 – Esquema demonstrando o uso de materiais absorventes e reflexivos em um auditório.

Mehta, Johnson e Rocafort (1999) sugerem uma relação rápida para o dimensionamento de painéis
refletores ou difusores retangulares relacionados com o comprimento de onda, como mostra a Tabela 2.
Tabela 2 – Condição de Mehta, Johnson e Rocafort (1999) para dimensionamento de painéis difusores ou refletores
Paineis serão refletores quando: Paineis serão difusores Painel se torna “invisível” em relação
quando: ao comprimento de onda quando:
𝐿 ≥ 5𝜆 5𝜆 ≥ 𝐿 ≥ 𝜆 𝐿 < 𝜆 ⁄2
Onde L é a largura do painel [m] e λ é o comprimento de onda [m]
(Para auditórios para a fala, pode-se adotar como referência o comprimento de 0,68m para a frequência de 500 Hertz.)

4.6. Isolamento Sonoro


Existem várias formas de controle eficiente para ruídos externos que são captados pelo ambiente interno. Os
desníveis do solo como elemento de barreira e a massa da estrutura podem ser de grande ajuda, como por
exemplo: o uso de uma alvenaria com espessura mais elevada, paredes duplas, triplas ou com a incorporação
de lã de vidro ou fibra mineral no interior das partições.
Para o controle de ruídos internos, que muitas vezes são causados por aparelhos instalados dentro do
recinto, cabe a escolha adequada de aparelhos que produzam menos ruídos ou a diminuição do número de
fontes emissoras ou ainda um distanciamento da fonte.
Os elementos mais prejudiciais para o isolamento acústico de um ambiente são as aberturas, incluindo
portas, frestas, janelas e dutos de ventilação. Como solução, é indicado o uso de antecâmaras que isolem o
interior do auditório do seu exterior. Nessas câmaras, deve-se evitar que as portas fiquem de frente para a
outra e é orientado que as superfícies sejam tratadas com materiais absorventes. Os espaços anexos do
auditório, como camarins, depósitos e circulação podem também servir como isoladores sonoros, como
mostra a Figura 14.

onde:
I – Área do auditório;
II – Áreas de uso público;
III – Áreas de uso restrito.

Figura 14 - Esquema demonstrando como os espaços anexos podem servir como proteção do auditório do ruído externo (Fonte: adap.
SOLANO,2017)

216
5. PROPOSTA DE PROCESSO DE PROJETO DO AUDITÓRIO
Na Figura 15, segue uma representação para auxiliar o arquiteto na elaboração de um projeto de auditório de
forma a atingir um bom conforto acústico aos usuários. As etapas não precisam ser seguidas de forma linear
com exceção da primeira etapa que é primordial, pois antes de qualquer intervenção, faz-se necessária uma
análise do entorno e das possíveis fontes de ruído do lugar.

Figura 15 – Representação gráfica etapas relevantes do processo de projeto de arquitetura para auditórios

6. CONCLUSÕES
Sabe-se que qualquer decisão projetual irá impactar positiva ou negativamente no desempenho acústico de
um recinto, mesmo que este não seja prioridade do arquiteto. Sabe-se também que as melhores e principais
definições para o bom desempenho acústico de uma edificação se encontram nas fases iniciais do projeto de
arquitetura. No entanto, percebe-se que, nas publicações específicas de arquitetura, a acústica um aspecto
pouco considerado, ocorrendo a ideia enganosa de que as decisões do arquiteto não vão ter impacto na
qualidade sonora do recinto, a qual, muitas vezes, só é considerada como parte posterior à construção. Nesse
artigo foram apresentadas diretrizes gerais que poderão auxiliar o arquiteto desde as primeiras decisões de
projeto, buscando orientá-lo a partir de uma série de parâmetros acústicos e ergonômicos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
BERANEK, L. Concert halls and opera houses: music, acoustics, and architecture. 2ª Edição. New York: Springer-Berlarg, 2004.
BRANDÃO, E. Acústica de salas: projeto e modelagem. 1ª Edição. São Paulo: Blucher, 2016.
CARRION, Antoni. Diseño acústico de espacios arquitectónicos. Edicions UPC,1998
CARVALHO, R. P. Acústica Arquitetonica. 2ª Edição. Brasília: Thesaurus, 2010.
EGAN, M. D. Architectural acoustics. New York: McGraw-Hill, 1988.
GRIESINGER, D. Phase Coherence as a Measure of Acoustic Quality, part three: Hall Design. Sydney, Australia: 2010.
LITTLEFIELD, D. Manual do arquiteto: planejamento, dimensionamento e projeto. 3ª Edição. Porto Alegre: Bookman, 2011.
LONG, M. Architectural acoustics. Cambridge: Elsevier Academic Press, 2006.
MEHTA, M.; JOHNSON, J.; ROCAFORT, J. Architectural Acoustics: principles and design. New Jersey: Courier Kendallville
Inc.,1999.
ROSSING, T. Springer handbook of acoustics. New York: Springer-Verlag,2007.
VALCHROMAT Auditorium of Bondy, PARC Architectes, France. Disponível em:
<http://www.valchromat.pt/content.aspx?menuid=268&eid=3520> Acessado em: 09/05/2019.
SOLANO, N. Apostila AEA. São Paulo, 2017.
SOLER, C. Contribuição ao projeto de auditórios: avaliação e proposta de procedimento, --Campinas, São Paulo: [s.n.], 2004.

217
ELABORAÇÃO E ANÁLISE DE PORTFÓLIO BIBLIOGRÁFICO SOBRE
MAPEAMENTO SONORO URBANO UTILIZANDO O PROKNOW-C
Lorena Cachuit Cardoso Mota (1); Simone Queiroz da Silveira Hirashima (2); Rogério C.
Azevedo (3)
(1) Engenheira Civil, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
lorenacmota@outlook.com
(2) PhD, Professora do Departamento de Engenharia Civil, simonehirashima@cefetmg.br, Centro Federal de
Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
Belo Horizonte - MG, 30510-000, Tel.: (31) 3319-6722
(3) Doutor, Professor do Departamento de Engenharia Civil, rogerio@civil.cefetmg.br, Centro Federal de
Educação Tecnológica de Minas Gerais, Departamento de Engenharia Civil, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Belo Horizonte–MG, 30510-000, Tel.: (31) 3319 6848

RESUMO
O mapeamento sonoro urbano é feito a partir de medições de níveis de pressão sonora em campo e
simulações computacionais, podendo ser utilizado para tomada de decisões em diversas escalas (desde
pequenas áreas até cidades inteiras). Este recurso representa valiosa ferramenta de análise de pontos críticos
das cidades uma vez que os elevados níveis de pressão sonora podem acarretar problemas fisiológicos e,
principalmente, psicológicos em seus habitantes, interferindo negativamente na qualidade de vida da
população. Este estudo busca, através da metodologia ProKnow-C, fazer a seleção de um portfólio
bibliométrico sobre mapeamento sonoro urbano que utilizaram os softwares SoundPLAN e Cadna-A. Esses
programas computacionais são recursos que permitem a visualização dos níveis de pressão sonora no mapa
da região a ser analisada e a identificação das situações com níveis excessivos. A partir da elaboração do
portfólio, analisou-se os artigos com foco na resposta às seguintes perguntas: “Quais dados são utilizados
para a obtenção do mapa acústico?”, “Como são utilizados os softwares citados para a obtenção dos mapas?”
e “Quais informações são utilizadas a partir da elaboração dos mapeamentos sonoros?”. Seis artigos foram
selecionados para comporem o portfólio bibliográfico e, a partir disso, as metodologias utilizadas em cada
um deles foram analisadas. Os resultados apontaram que os autores utilizaram informações sobre as
principais fontes de ruído, como o tráfego, sobre a morfologia urbana e sobre o contexto microclimático
(como umidade, temperatura e vento) para a obtenção dos mapas. O software mais utilizado foi o Cadna-A
com a função de simular e avaliar a propagação da energia sonora, e de calcular e apresentar os níveis de
pressão sonora urbana em forma de mapa. A partir da elaboração dos mapas, informações como as áreas de
conflito (onde os valores excedem instruções normativas), o número de pessoas afetadas e os planos de ações
para áreas estudadas puderam ser extraídas. A relevância desta pesquisa se consubstancia no fato de informar
sobre procedimentos utilizados nos estudos até hoje realizados para que, no futuro, seus resultados possam
contribuir para a escolha de métodos para a realização dos mapas sonoros urbanos utilizando softwares de
simulação.
Palavras-chave: mapeamento sonoro, SoundPLAN, Cadna-A, ProKnow-C.

ABSTRACT
The urban sound mapping is based on measurements of sound pressure levels in the field and computational
simulations, and can be used for decision making at different scales (from small areas to whole cities). This
resource represents a valuable tool for analyzing the critical points of cities since the high levels of sound
pressure can cause physiological and, mainly, psychological issues in their inhabitants, interfering negatively
in the quality of life of the population. This study aims, through the ProKnow-C methodology, to select a
bibliometric portfolio on urban sound mapping perfomed by SoundPLAN and Cadna-A. These softwares are
resources that allow the visualization of sound pressure levels in the map of the region to be analyzed and the
identification of situations with excessive levels. From the portfolio elaboration, articles were analyzed
focusing on the answer to the following questions: "What data are used to obtain the acoustic map?", "How

218
are the software used to obtain the maps used?" And " What information is used from the sound mapping? ".
Six articles were selected to compose the bibliographic portfolio and, from this, the methodologies used in
each of them were analyzed. The results showed that the authors used information on the main sources of
noise, such as traffic, urban morphology and microclimatic context (such as humidity, temperature and wind)
to obtain the maps. The most commonly software used was Cadna-A with the function of simulating and
evaluating the propagation of sound energy, and calculating and presenting urban sound pressure levels in
the form of a map. From the preparation of the maps, information such as conflict areas (where values
exceed normative instructions), the number of people affected and the action plans for areas studied could be
extracted. The relevance of this research is based on reporting the procedures used in the studies carried out
so far, so that, in the future, its results may contribute to the selection of methods for the realization of urban
sound maps using simulation software.
Keywords: sound mapping, SoundPLAN, Cadna-A, ProKnow-C.

1. INTRODUÇÃO
Ruído urbano pode ser definido como um som não desejado e emitido por vários tipos de fontes (tráfego
automóvel, ferroviário e aéreo, construções, entre outras), com exceção daqueles gerados em áreas
industriais (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1999). Os estudos sobre ruídos ambientes em centros
urbanos têm demonstrado a importância de políticas incisivas que atuem para a manter os níveis de pressão
sonora abaixo de limites normativos e de valores que, quando ultrapassados, podem afetar diretamente a
saúde da população. Aliados a essa ideia, alguns autores identificam os danos gerados no organismo
humano, dentre eles os danos fisiológicos, psicológicos (motivação e a disposição) e intelectuais, e danos
sociais tais como prejuízos aos ambientes educacionais, que têm relação com baixa produtividade e
dificuldades na aprendizagem. (SOUZA, 1992; ENIZ, GARAVELLI, 2006; LACERDA et al., 2005)
O ruído gerado pelo trânsito de veículos é, em distintas pesquisas, considerado uma das principais
fontes urbanas causadora de incômodos aos habitantes (HIRASHIMA, 2014; PAZ et al., 2005). A situação
dos grandes centros urbanos densamente povoados é agravada pela presença de componentes, como os
edifícios, que modificam a propagação do som por funcionarem como obstáculos à sua passagem (GUEDES,
2005; GARAVELLI et al., 2010).
O mapeamento dos ruídos é uma ferramenta que permite “diagnosticar a situação acústica de uma área
estudada, servindo de suporte em ações de controle e redução da poluição sonora” (VIANNA, 2014). Com o
uso de softwares, como o SoundPLAN e o Computer Aided Noise Abatement Cadna-A, pode-se calcular os
níveis de ruídos de fontes sonoras, simular situações futuras e comparar os resultados com as diretrizes
normativas (GARAVELLI et al., 2010; SOUNDPLAN, 2019; CADNAA, 2019). Desta forma, esses
softwares representam ferramentas importantes quando a pauta é mapeamento sonoro urbano e permitem
facilmente a identificação das faixas de nível de pressão sonora por região por meio de diferenciação de
cores.
Por sua vez, o ProKnow-C foi definido pelo Laboratório de Metodologia Multicritério em Apoio à
Decisão (LabMCDA) vinculado ao Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade
Federal de Santa Catarina, e é uma metodologia em que procedimentos pré-estabelecidos guiam a escolha de
artigos científicos para seleção do portfólio bibliográfico. A partir do interesse específico, o ProKnow-C
permite ampliar o conhecimento do pesquisador para que ele possa conduzir pesquisas acadêmicas.
(AFONSO et al., 2011; AZEVEDO, et al., 2014; ENSSLIN et al., 2013).
Diante do exposto e da relevância de um ambiente acústico de qualidade para a vida urbana, este
estudo busca a elaboração de um portfólio bibliográfico, com o amparo do ProKnow-C, sobre mapeamento
sonoro urbano. Além disso, procura-se responder questões como: “Quais dados são utilizados para a
obtenção do mapa acústico?”, “Como são utilizados os softwares para a obtenção dos mapas?” e “Quais
informações são utilizadas a partir da elaboração dos mapeamentos sonoros?”. Essas informações são
importantes contribuições por permitirem a identificação das metodologias que já foram utilizadas e as
formas com que os softwares, como SoundPLAN e Cadna-A, são utilizados. Com isso, pretende-se uma
visão mais ampla sobre o assunto, identificando as particularidades dos mapeamentos sonoros e as
metodologias utilizadas a fim de nortear estudos futuros na área.

2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é elaborar um portfólio bibliométrico com o uso do ProKnow-C sobre mapeamento
sonoro urbano com o uso dos softwares SoundPLAN e Cadna-A e o analisar.

219
3. MÉTODO
3.1 Seleção do Portfólio Bibliográfico através do ProKnow-C
A seleção do portfólio bibliográfico é dividida nas macro-etapas de (i) seleção de artigos brutos, (ii)
filtragem dos artigos selecionados com base no alinhamento da pesquisa e (iii) teste de representatividade do
portfólio bibliográfico. Para a (i) seleção de artigos brutos, define-se as palavras-chave, as bases de dados,
busca-se os artigos nas bases escolhidas e é realizado o teste de aderência das palavras-chave. Para a (ii)
filtragem dos artigos brutos, verifica-se a presença de artigos repetidos ou redundantes, o alinhamento dos
títulos com o tema, reconhecimento científico dos artigos e o alinhamento dos resumos com o tema. E, por
fim, o (iii) teste de representatividade do portfólio selecionado pode ser feito pelas referências bibliográficas
citados nos artigos escolhidos ou pelo número de citações feitas aos artigos. (ENSSLIN et al., 2013)
O ponto inicial deste trabalho para a (i) seleção de artigos brutos foi a escolha das palavras-chave para,
futuramente fossem inseridas nas bases de dados do Portal da Capes, que contém mais de 45 títulos com
texto completo, 130 bases referenciais, 12 bases de patentes, entre outros (CAPES, 2019). Essa etapa iniciou
no primeiro semestre de 2019 e, a partir do eixo de pesquisa (metodologia para mapas sonoros urbanos) e da
observação de como o assunto era abordado em outros trabalhos, as palavras-chave foram selecionadas. Para
isso, foram testadas várias combinações de palavras até que fossem encontradas as que apresentavam
resultados com maior afinidade com o tema. As palavras-chave escolhidas foram “acoustic urban map”.
As bases de dados foram retiradas do Portal da Capes na área de conhecimento de Engenharia (subárea
Engenharia Civil). Para a pesquisa, utilizou-se como filtro os artigos publicados de 2009 a 2019. Quinze
bases de dados descritas como “texto completo” foram analisadas para escolha das mais representativas
sobre o assunto e foram escolhidas as que continham, no mínimo, 80% do total de artigos no assunto, sendo
elas: Wiley Online Library, Science Direct, SpringerLink e Taylor & Francis Online (Tabela 1). As bases
Scopus (179 artigos) e Engineering Village (143 artigos) foram, posteriormente, adicionadas por
apresentarem diversidade de artigos sobre o assunto e se mostraram relevantes. Com todas as bases de dados,
o total de artigos a serem revisados foram 5500.

Tabela 1 – Número de artigos em cada base utilizando as palavras chaves selecionadas


Número de
Bases
artigos
Wiley Online Library 1538
ScienceDirect (Elsevier) 1422
SpringerLink 1117
Taylor & Francis Online 1101
AIP Scitation - American Institute of Physics 876
American Society of Civil Engineers - ASCE 152
ICE Virtual Library 29
World Scientific 28
Science (AAAS) 19
ASME Digital Collection 14
SciELO Citation Index (Web of Science) 8
IEEE Xplore 7
PNAS - Proceedings of the National Academy of Sciences 6
SciELO.ORG 5
Maney Publishing 0
Fonte: Autora (2019)

Após a listagem dos artigos, três foram escolhidos de forma aleatória para verificação da aderência dos
resultados e foram exportados para o gerenciador de referências Mendeley para início da (ii) filtragem. Nesse
software os artigos repetidos foram excluídos e os títulos dos artigos foram lidos, restando 45 alinhados com
o tema.
As etapas de (ii) reconhecimento científico como processo de filtragem e o (iii) teste de
representatividade não foram realizados pois a quantidade de artigos foi considerada pequena, o que fez com
que a última análise fosse a leitura dos resumos. Como forma complementar e visando a obtenção de artigos
relevantes sobre o tema, outros artigos até então não contemplados foram analisados para a inserção no

220
portfólio. Seis artigos foram selecionados e, ao perceber a falta de informações quanto a metodologia,
utilizou-se apenas de forma completar as dissertações ou teses de estudos que deram origem aos mesmos.

4. RESULTADOS
Os artigos escolhidos para a comporem o portfólio bibliográfico foram analisados a fim de descreverem as
metodologias utilizadas na realização do mapa acústico e responderem às questões levantadas anteriormente.
Em seguida discutiu-se sobre os resultados obtidos.

4.1 Artigos selecionados


A seguir os artigos tiveram suas metodologias descritas e informações relevantes foram expostas.
4.1.1 Main results of strategic noise maps and action plans in Navarre (Spain) (Arana et al., 2013)
Para o trabalho desenvolvido na Comunidade autônoma de Navarra (Espanha) foram produzidos seis mapas
sonoros para um percurso de 120 km em uma estrada principal e um mapa sonoro para a aglomeração de
Pamplona, que possui mais 280 mil habitantes. Trouxeram como resultados a classificação acústica e as
áreas de conflito (definidas como aquelas com níveis de ruído acima pelo RD 136/2007) e as pessoas
afetadas pelo ruído. Além disso, trouxeram planos de ações para as áreas estudadas.
Dados da configuração dos parâmetros de cálculo utilizados no software Cadna-A foram
explicitados, entre eles: a absorção sonora das construções adotada foi de 0,21 (equivalente a 1dB) e do chão
foi de 0,4. Os parâmetros utilizados foram o Ld (dia), Le (tarde), Ln (noite) e o Lden (dia, tarde e noite com
majorantes). Dados descritivos quanto a metodologia para medição não foram apresentados.
Um modelo de terreno digital foi fornecido pela Serviço Cadastral do Governo de Navarra e os
parâmetros foram modelados para um programa computacional com 22.272 edifícios, 7.441 linhas de
tráfego, 538 edifícios industriais, uma ferrovia e um aeroporto. A simulação gerada corresponde a níveis de
ruído a 4 metros de altura, assim como indicado pela Diretiva do Parlamento Europeu e do Conselho (2002)
para fins de elaboração de mapas de ruído estratégicos referente à exposição do ruído dentro de edificações e
em suas proximidades. Os autores classificaram o uso do terreno na região nas seguintes categorias: saúde-
educacional-cultural; residencial; recreação e entretenimento; terciário e infraestrutura.

4.1.2 Incremento do nível de ruído no meio urbano devido às atividades turísticas: estudo de caso na cidade
de Campos do Jordão (Brito, Barbosa, 2014); The use of acoustic maps as excess noise identification tool in
urban áreas (Brito, 2017)
O software SoundPlan 7.3 foi utilizado para a realização de mapas acústicos com o nível do ruído ambiente
em dias úteis e feriados para comparação, no bairro Capivari, na Estância de Campos de Jordão, São Paulo.
O objetivo foi alcançado com o uso das medições de nível de ruído realizadas por Brito e Barbosa (2014) a
partir de 8 medições (4 em dias úteis e 4 em feriados e finais de semana) em cada um dos 15 locais
selecionados e com duração de 15 minutos cada. Os locais selecionados foram definidos como sensíveis
(praças, escolas, hotéis e pousadas).
A primeira e a segunda medições foram coletadas durante um feriado de 8:00 às 12:00 e de 13:00 às
18:00, respectivamente; a terça e a quarta em outro feriado nos mesmo horários; a quinta e a sexta em dias
úteis de 8:00 às 12:00 e de 13:00 às 18:00, respectivamente; e a sétima e a oitava em outro dia útil nos
mesmo horários. A coleta de dados teve duração de 15 minutos e o medidor de pressão sonora utilizado foi
do tipo II com circuito de compensação “A” e resposta rápida, posicionado em um tripé a 1,20m do solo e a,
no mínimo, 1,50m de superfícies rígidas. O protetor de vento estava acoplado ao microfone. Consideraram
que cada pavimento das edificações tinha 3,20m de altura.

4.1.3 Influência Da Forma Urbana Em Ambiente Sonoro: Um Estudo No Bairro Jardins Em Aracaju (Se)
(Guedes, 2005); Influence of urban shapes on environmental noise: A case study in Aracaju (Guedes et al.,
2011)
A pesquisa teve como objetivo analisar a influência das principais características físicas da forma urbana na
propagação do ruído no bairro Jardins na cidade de Aracaju, no Brasil. Para isso, uma simulação acústica foi
feita com o software SoundPlan 6.0 a partir dos seguintes dados coletados: medidas acústicas (nível de
pressão contínua equivalente ponderado - LAeq), dados do tráfego (fluxo de veículos, composição e
velocidade do tráfego), geometria da região (altura dos edifícios, paredes, larguras de ruas e avenidas,
caminhos, divisores de faixa e canteiros centrais) e dados meteorológicos (temperatura, umidade relativa e

221
velocidade do vento). Na região selecionada, 11 pontos estavam localizados ao longo das avenidas que
representavam as principais fontes de ruído e 8 pontos estavam nos limites do condomínio escolhido, com
medição feita a 2 metros de suas fachadas frontais.
As medições foram realizadas nos dias da semana e em períodos típicos. As da avenida foram
realizadas no período de 12:00 a 13:00 e de 18:00 a 19:00, com a finalidade de cobrir o período com maior
quantidade de veículos. As medições realizadas no interior do condomínio aconteceram entre 12:00 e 13:00.
Três níveis de pressão equivalente foram registrados para cada amostra: LAeq com 30 segundos de duração
(o interesse da medição era avaliar os níveis sonoros em situações de fluxo contínuo de veículos e 30
segundos correspondia ao período de abrir e fechar os semáforos), considerando a média logarítmica dos
valores medidos das três amostras obtidas em cada ponto.
Os dados do tráfego (fluxo de veículos e composição) foram coletados durante a medição acústica e
como norma para esse tipo de ruído foi utilizado o padrão alemão RLS-90. Esta foi realizada com o
equipamento Tipo 1 Brüel & Kjaer (2233) calibrado com o Brüel & Kjaer (4231), a 1,20 metros do chão. As
medidas foram ponderadas em tempo de resposta rápido.

4.1.4 Noise mapping of densely populated neighborhoods – Example of Copacabana, Rio de Janeiro – Brazil
(Pinto, Mardones, 2009); Mapeamento dos níveis de ruído em Copacabana, Rio de Janeiro, através de
Simulação Computacional (Mardones, Maysa, 2009)
O estudo foi realizado no Rio de Janeiro, no bairro Copacabana, na região sul, com a finalidade de obter o
mapa sonoro a partir de uma simulação com um software previamente escolhido. O software utilizado foi o
Cadna-A e, segundo os autores, é uma excelente solução para simulação. Esse programa considera as
diretrizes e normas existentes no cálculo e permitiu avaliar o ambiente acústico de uma região, caracterizar
as fontes e seu entorno. Nessa simulação, foi utilizada a topografia da região e as alturas dos edifícios,
informações que, segundo os autores, estão disponíveis para a maioria das grandes cidades. A principal fonte
de ruído foi detectada, o tráfego de veículos, e vários parâmetros foram identificados para gerar o
mapeamento acústico: tipo e número de veículos, tamanho dos edifícios, tipo de pavimentação e largura das
ruas. A simulação gerada corresponde a níveis de ruído a 4 metros de altura, assim como indicado pela
Diretiva do Parlamento Europeu e do Conselho (2002).
Os valores da simulação foram comparados com medições in loco para a validação dos dados e, para
isso, escolheram uma região amostral (com muitos veículos na rua principal e também com áreas silenciosas)
para aferições nos períodos da manhã, tarde e noite em diferentes dias da semana, em 14 pontos e com uma
distância entre 1,2 metros a 1,5 metros do chão. O equipamento utilizado para a medição do nível de pressão
sonora equivalente (LAeq) foi o Tipo 1 Brüel & Kjaer (2233) calibrado com o Larson Davis Model CAL200
(com switch selecionável de 94 e 114dB a uma frequência de 1kHz) durante, no mínimo, 5 minutos. Essa
comparação foi necessária já que na simulação utilizaram a diretiva alemã RLS- 90 e não se pode presumir
que os valores sejam iguais aos do Brasil.
Segundo os autores o estudo do impacto acústico em áreas urbanas envolve o conhecimento de
diversos parâmetros listados na Tabela 2, mas nem todos foram descritos ou citados no artigo.
Tabela 2 – Parâmetros para o estudo do impacto do ruído

Parâmetros

Tipo de veículo

Ruído do tráfego Tipo de motores

Fontes Velocidade média

Ruído industrial

Ruído ferroviário

Entretenimento

Entorno Tipo de asfalto

Altura dos edifícios

Largura das ruas

222
Coeficiente de absorção das fachadas

Meio Ambiente Umidade

Temperatura

Vento

Demográficos Número de habitantes

Número de unidades por construção

Fonte: Pinto, Mardones (2009)

4.1.5 Mapa de ruído de la Comuna de Santiago de Chile mediante modelación (Silva et al., 2011)
Através de um modelo de predição de ruído com o software de modelagem Cadna-A, o artigo apresenta o
mapa de ruído da Comuna de Santiago, no Chile, nos períodos diurnos (Ld) e noturnos (Ln), em dB (A). Para
tal fim, dados foram coletados quanto à altura dos edifícios em imagens de satélites e visitas em campo e
quanto ao fluxo de veículos através da categorização de 364 ruas de acordo com sua função urbana, desde a
Categoria 1 com a finalidade comunicar a cidade com outras cidades até a Categoria 6 para ruas com tráfego
restrito.
Para comprovar os ajustes do modelo, realizaram medições com 15 minutos de duração e, de
maneira concomitante, a contagem dos veículos para a comparação entre valores de LAeq e modelado. Um
total de 52 pontos foram medidos com 106 medições, sendo 54 de 09:00 às 18:00 e de 20:00 às 21:00 e 52
medições de 07:00 às 09:00 e de 18:00 às 20:00, considerados horários de pico. Além disso, para a validação
dos valores, duas estações fixas de monitoramento registraram dados por uma semana cada.

4.1.6 Ferramenta de apoio à decisão para o controle da poluição sonora urbana (Suriano et al., 2015)
A pesquisa foi realizada na cidade de São Carlos, São Paulo, e propôs uma adaptação da classificação
acústica das quadras urbanas para quantificar a população exposta ao ruído em horário de pico de tráfego, em
diversos pontos. Para isso, os autores delimitaram e caracterizaram a área de estudo, coletaram os dados para
a validação e aplicação do modelo de previsão para o mapa acústico, classificaram as quadras quanto à
acústica e analisaram a exposição da comunidade ao ruído.
A região escolhida engloba 3 vias de tráfego relevantes para a cidade e também apresentam
residências, escolas, pontos comerciais e de serviços. O tipo de pavimento e a altura das edificações (dados
da Prefeitura Municipal de São Carlos, visitas in loco e visualização no Google Earth®) foram determinados
sendo considerado 3,0 metros de altura por pavimento e 4,5 metros para o térreo. Pontos de referência foram
distribuídos na malha urbana e situados próximos ao meio das faces das quadras, evitando o cruzamento das
vias. Nesses pontos o fluxo do tráfego e a composição da frota foram caracterizados, contabilizados e
medidos os níveis de pressão sonora.
As coletas foram realizadas em dias de semana em horários considerados de maior fluxo de veículos
na parte da manhã (7:00 às 8:00) e da tarde (17:30 às 18:30). A medida acústica considerada foram os níveis
sonoros contínuos equivalentes (LAeq) através do equipamento Analyser 2270-L da Brüel & Kjaer, tipo
Hand-Held com protetor de vento acoplado ao microfone para minimizar interferências. As medições foram
feitas a 2,0 metros de paredes e 1,2 metros do chão.
O mapeamento acústico foi feito com auxílio do software Cadna-A v.4.1 e o método de cálculo
utilizou o Novo Método de Previsão de Ruído do Tráfego, da França, e que precisava ser previamente
validado por não representar as condições das cidades brasileiras. Os dados de entrada no software foram o
Laeq e os dados referentes às vias. O coeficiente de absorção das fachadas adotado foi 0,37. Para o cálculo
da exposição da comunidade ao ruído estimou-se através dos dados do Instituto Brasileiro e Geografia e
Estatística (IBGE) e das áreas construídas das quadras e setores.

4.2 Discussão
A quantificação da exposição ao ruído urbano é feita por meio do medidor de nível de pressão sonora e de
outros medidores acústicos, que existem para finalidades distintas. Os descritores mais usados são os níveis
anuais de pressão sonora equivalentes ponderados em A de longo prazo que integram a variação do nível de
ruído de uma fonte em determinado tempo (24 horas, parte da manhã ou noite, por exemplo) e medidas com
majorantes do período da tarde e/ou da noite (por exemplo, Ldn ou Lden) (BRINK et al., 2017). A Diretiva
do Parlamento Europeu e do Conselho (2002) estabelece que se deve escolher o Lden para avaliar o

223
incômodo gerado por ruídos e o Ln para avaliar as perturbações do sono mas permite que os Estados-
membros utilizem outros quando ocorrer situação especial. A mesma diretiva estabelece também, em seus
anexos, indicadores de ruído, métodos de avaliação dos indicadores e dos efeitos sobre a saúde, requisitos
mínimos para os mapas de ruído estratégicos e requisitos mínimos para os planos de ação.
A NBR 10151:2000 regulamenta as avaliações em áreas habitadas no Brasil e determina que as
medições devem envolver o nível de pressão sonora equivalente (LAeq) em decibéis ponderados em “A”,
referente a todo o intervalo da medição. O medidor deve atender às especificações da IEC 60651 para o tipo
0, tipo 1 ou tipo 2 e o calibrador deve ser de classe 2 ou superior. Ainda especifica que as medições externas
devem ser feitas a aproximadamente 1,2 metros do piso e 2 metros do limite da propriedade ou de outras
superfícies e as medições internas a 1 metro de quaisquer superfícies.
A partir da Tabela 2 pode-se responder a uma das questões sugeridas para este trabalho quanto aos
dados necessários para se realizar um mapa sonoro. Em nenhum dos artigos foi citado ruídos industriais e
ferroviários de forma específica, dando ênfase aos ruídos de tráfego e fazendo análises quanto ao tipo de
veículo e a velocidade média dos mesmos. Brito, Barbosa (2014) e Brito (2017) consideraram os níveis de
ruído de tráfego, para entrada no software, como fontes lineares e as ligadas à atividade de entretenimento
como pontuais. Silva et al. (2011) utilizou a classificação das vias como forma de obter o fluxo de veículos.
Apenas as pesquisas de Guedes (2005) e Guedes et al. (2011) citaram o uso de dados microclimáticos, como
umidade, temperatura e vento. De forma explicita nenhum artigo informou ter inserido nos softwares os
dados demográficos.
Quanto aos ruídos dos arredores, Brito, Barbosa (2014) e Brito (2017) consideraram a altura por
pavimento de 3,4 metros, Suriano et al. (2015) considerou 3,0 metros para pavimentos diferentes do térreo e
4,5 metros para o térreo e Silva et al. (2011) utilizou informações disponíveis (imagens de satélite, por
exemplo) com visitas ao local. Pinto, Mardones (2009) e Mardones (2009) informaram que a topografia da
região e as alturas dos edifícios foram utilizadas e Guedes (2005) e Guedes et al. (2011) utilizaram a altura
dos edifícios, paredes, larguras de ruas e avenidas, caminhos, divisores de faixa e canteiros centrais.
Dos seis artigos, nenhum deles tiveram os mesmos horários de medição do nível de pressão sonora,
sendo que o de Arana et al. (2013) não especificou os períodos de medição e o de Pinto, Mardones (2009) e
Mardones (2009) apenas informou que foram aferidas na parte da manhã, tarde e noite. Os dias utilizados
para medição também tiveram resultados diversificados como dias da semana, dias úteis e feriados. A
diferença dos horários e dos dias de medição podem ser influenciados pelo objetivo principal de cada artigo
uma vez que cada um tinha intenções diferentes. Apesar disso, a questão sobre a influência na falta de
padronização ou critério a ser seguido pode ser futuramente contestada.
Mais de 50% das pesquisas utilizou como medida acústica o nível de pressão sonora equivalente
contínuo definido pela ISO 1996/1 (1982), e essa escolha depende dos resultados esperados. Como exemplo
pode-se citar Silva et al. (2011) que expos a diferença dos mapas de ruído no período noturno e diurno e,
portanto, as medidas acústicas utilizadas foram Ld e Ln. Outra informação extraída do portfólio foi a
diversidade na quantidade de dados coletados, variando de 14 a 90 pontos, o que pode ser influenciado pelo
tamanho da região que se busca analisar e pelo objetivo esperado com os dados.
Suriano et al. (2015) utilizou como norma para ruído do tráfego o Novo Método de Previsão de Ruído
do Tráfego da França, enquanto Guedes (2005) e Guedes et al. (2011), Silva et al. (2011) e Pinto, Mardones
(2009) e Mardones (2009) utilizaram o RLS-90, da Alemanha. De forma geral, para a medição dos níveis
sonoros, utilizaram a distância de 1,2 metros do solo e entre 1,5 e 2,0 metros de distância de paredes ou
superfícies rígidas. Os equipamentos, quando citados, mais utilizados foram da Brüel & Kjaer nos modelos:
Analyses 2270, Mediator Class 1, 2233 e 2236 Class 1. O tipo de resposta configurado no equipamento foi
rápida para os artigos de Guedes (2005), Guedes et al. (2011) e Brito, Barbosa (2014) e Brito (2017) e lenta
no de Suriano et al. (2015).
Dos artigos selecionados, 67% utilizaram o software Cadna-A. Não houve justificavas quanto a
escolha mas Pinto et al. concluiu que o Cadna-A é uma boa solução para simulação e que permitiu avaliar o
ambiente acústico de um setor, caracterizando as fontes do entorno. Ainda afirmou que as diferenças entre
estes softwares estão relacionados à interface do usuário, ao tipo de geometria e dados topográficos que
podem ser importados e que o cálculo da propagação do ruído pode ser diferente de um para outro. Os
softwares foram utilizados, de forma geral, para calcular e apresentar os níveis de pressão sonora urbana em
forma de mapa, simular e avaliar a propagação da energia sonora.
O artigo de Arana et al.(2013) trouxe como resultado, a partir dos mapas de ruído, as áreas de conflito,
as pessoas afetadas pelo ruído e planos de ações para as áreas estudadas. Guedes (2005), Guedes et al. (2011)
os utilizou para comparar com cenários hipotéticos, Suriano et al. (2015) classificou as quadras urbanas
quanto à acústica e quantificou a população exposta por quadra, Brito, Barbosa (2014) e Brito (2017)

224
permitiram uma análise da diferença da exposição ao ruído em relação aos dias úteis e feriados. Com
exceção do trabalho de Arana et al. (2013), pôde-se ter acesso aos mapas de ruídos urbanos das regiões
analisadas e, a partir de ação conjunta com a sociedade e órgãos públicos, tratar as áreas críticas e garantir os
níveis de regiões com poucos ruídos.

5. CONCLUSÕES
A partir dos artigos selecionados, pode-se perceber a importância do mapeamento sonoro urbano através de
estudos na Europa e na América Latina em que a visualização dos níveis sonoros nas cidades e a estimativa
da população afetada permitem a tomada de decisões do poder público com a finalidade de manter níveis
adequados à saúde humana. Alguns desses artigos não descreverem todos os pontos importantes para a
realização da medição ou simulação dos níveis de pressão sonora, mas, de maneira geral, foi possível exibir
um panorama do assunto. Desta forma, o presente artigo cumpriu a finalidade esperada ao apresentar as
metodologias utilizadas em trabalhos de mapeamento sonoro e os resultados que obtiveram com as análises,
contribuindo para acadêmicos interessados na área e para futuros estudos.
Algumas dessas pesquisas realizadas em outros países também foram analisadas mas, por não
especificarem os Softwares desejados ou não apresentarem informações sobre a metodologia utilizada, não
foram incluídos no portfólio. Ainda acrescenta-se que não foram selecionados dissertações e teses,
preliminarmente, para comporem o portfólio bibliográfico apesar de, em alguns casos, terem sido utilizadas
de forma complementar às informações dos artigos.
As pesquisas apresentadas demonstram a ampla utilização da Diretiva do Parlamento Europeu e do
Conselho (2002) nos estudos para o mapeamento sonoro para distintas finalidades, inclusive no Brasil. Além
disso, percebeu-se ampla utilização do RLS-90 da Alemanha. Porém é essencial um estudo específico para
cada região uma vez que o tipo de emissor de ruído, o tipo de atividade comercial, a paisagem sonora local,
entre outros fatores, interferem na forma de interpretar o incômodo dos moradores, turistas e de quem utiliza
a região.

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226
ESTUDO COMPARATIVO ENTRE ENSAIOS DE CAMPO E SIMULAÇÕES
COMPUTACIONAIS PARA ISOLAÇÃO DO RUÍDO AÉREO DE VVI
CONSTITUÍDAS POR BLOCO CERÂMICO DE 8 FUROS
Ênio Remígio (1); Marconi Mendonça (2); José Victor (3); Otávio Joaquim (4); Pedro Góis
(5); Angelo Just (6).
(1) Graduando, Engenharia Civil, egremigio@gmail.com, Universidade de Pernambuco, Rua São Mateus,
1060, P103, Bairro Iputinga, Recife/PE, 50680-000, (81) 99500-4794
(2) Graduando, Engenharia Civil, mendonca.marconi@gmail.com, Universidade Católica de Pernambuco
(3) Graduando, Engenharia Civil, josevictorpoliupe@gmail.com, Universidade de Pernambuco
(4) Doutorando, Engenheiro Civil, otavio@tecomat.com.br, Universidade Federal de Pernambuco
(5) Mestrando, Engenheiro Civil, pedro@tecomat.com.br, Universidade Católica de Pernambuco
(6) Doutor, Engenheiro Civil, angelo@tecomat.com.br, Universidade de Pernambuco
RESUMO
O desempenho acústico das edificações impacta diretamente na saúde de seus usuários, uma vez que a longa
exposição ao ruído pode aumentar o risco do desenvolvimento de doenças. Dentro desse aspecto, a isolação a
ruídos das vedações internas e externas é uma característica importante a ser considerada na especificação
dos projetos sendo, para esse dimensionamento, largamente utilizada a modelagem computacional realizado
com base no método de cálculo preconizado pelas normas ISO 12354. O objetivo do presente estudo foi
avaliar comparativamente resultados de isolação acústica de vedações verticais internas obtidos por
simulação computacional e resultados de ensaio das mesmas vedações obtidas em ensaios realizados em
campo, realizados segundo método de engenharia preconizado na ABNT NBR 15575-4. Para o estudo foram
avaliadas 14 vedações verticais, todas compostas por alvenarias de blocos cerâmicos de 8 furos
(09x19x19cm) revestidas com pasta de gesso ou argamassa cimentícia. Analisando os resultados das
diferenças entre os valores obtidos na modelagem e nos ensaios de campo, foi obtido um desvio padrão de
1,78dB. Apenas uma das 14 vedações analisadas apresentou diferença entre os valores de modelagem e
medido em campo maior que 2dB e, considerando tal amostra não representativa do universo e retirando-a da
análise, o desvio padrão entre resultados cai para 1,11dB. Conclui-se, portanto, que a modelagem
computacional pode vir a se configurar como uma ferramenta confiável para especificação das vedações
internas considerando os devidos desvios, porém para uma melhor comprobação faz-se necessário o
desenvolvimento de estudos com diferentes tipologias.
Palavras-chave: desempenho acústico, bloco cerâmico, ensaios de campo, simulação computacional.

ABSTRACT
The acoustic performance of buildings directly impacts the health of its users, since the long exposure to
noise can increase the risk of diseases development. In this aspect, the noise insulation of the internal and
external seals is an important characteristic to be considered in the specification of the projects. For this
design, it is widely used the computational modeling performed based on the calculation method
recommended by ISO 12354. The objective of the present study was to evaluate comparatively acoustic
insulation results of internal vertical seals obtained by computational simulation and test results of the same
seals obtained in field tests, performed according to the engineering method recommended in ABNT NBR
15575-4. For the study, 14 vertical fences were evaluated, all composed of masonry of 8 hole ceramic blocks
(9x19x19cm) coated with gypsum paste or cementitious mortar. Analyzing the results of the differences
between the values obtained in the modeling and the field tests, a standard deviation of 1.78dB was obtained.
Only one of the 14 seals analyzed presented a difference between the modeling values and measured in the
field greater than 2dB and considering this sample not representative of the universe and withdrawing it from
the analysis the standard deviation between results falls to 1.11dB. It is concluded, therefore, that the
computational modeling can be configured as a reliable tool for specification of the internal seals considering
the due deviations, but for a better verification it is necessary to develop studies with different typologies..
Keywords: acoustic performance, ceramic block, field tests, computational simulation.

227
1. INTRODUÇÃO
O incômodo gerado pelo barulho dos vizinhos é uma realidade que atinge muitos brasileiros e, de acordo
com Maschke e Niemann (2007), existe uma relação entre o incômodo muito intenso ocasionado por
vizinhanças ruidosas e o diagnóstico de doença como hipertensão, depressão e enxaqueca. Foram 5101
adultos avaliados residentes de oito cidades europeias. A causa para essa relação não pôde ser provada no
estudo, mas é muito provável que o longo tempo de exposição ao barulho dos vizinhos aumente o risco para
desenvolver essas doenças.
Segundo Levy-Leboyer e Naturel (1991), os ruídos da vizinhança julgados como mais incômodos são
aqueles que se julga não ser normal, os possíveis de evitar, os que ocorrem durante a noite e os julgados
como alto. Os autores também afirmam que reações a origem do barulho não parecem estar conectadas com
o nível de perturbação vivenciado, mas sim, com o grau de controle ao qual o morador sente sobre a situação
e os motivos pelos quais a pessoa está fazendo barulho. Como resultado dessas reações, as diferenças
individuais a respeito do isolamento sonoro são grandes mesmo se a isolação é a mesma.
Procurando criar um padrão que fornecesse uma base para o desempenho das edificações, em 2013,
com a publicação da norma de desempenho - ABNT NBR 15575 – os requisitos de desempenho acústico de
edificações se tornaram claros e objetivos. Estabeleceu-se também, que o cumprimento dos critérios
relacionados a acústica deverão ser obtidos através da realização de ensaios em campo, conforme normas
internacionais ISO 140, determinando a Diferença Padronizada de Nível Ponderada (Dnt,w) entre ambientes
(ABNT NBR 15575:2013). No entanto, a própria International Organization for Standardization informa em
seu site que essas ISO foram substituídas pelas ISO 16283 em 2014, sendo estas as atuais referências para
realização dos ensaios.
Com a norma brasileira estabelecendo que o cumprimento de seus critérios para desempenho acústico
se dê apenas após a conclusão da obra, os projetistas, então, necessitam de alternativas para tratar o problema
na origem. Em sua dissertação, Silva (2014) expôs uma pesquisa na qual, dos profissionais que desenvolvem
projetos acústicos no Brasil, 20,88% fazem uso de algum software de simulação computacional. A autora
considera o valor como um percentual bem expressivo e conduz seu trabalho na utilização de simulações
computacionais como método eficaz. Uma de suas constatações é que para o bloco cerâmico comum a
diferença máxima entre os ensaios de campo e a modelagem computacional foi de apenas 2dB.
As normas ISO 12354:2017 são modelos de cálculo para estimar o isolamento acústico proporcionado
pelos sistemas de vedação que compõe dois ambientes. Foram criadas com base nas normas europeias EN
12354:2000, constituem-se como a segunda versão destas. A ISO 12354-1 trata do isolamento acústico a
ruído aéreo, enquanto a ISO 12354-2 aborda o isolamento a ruído de impacto. As normas possuem duas
metodologias de cálculo, para o método simplificado serão obtidos valores globais do Dnt,w como resultado,
enquanto que para se chegar ao valor global pelo método detalhado é necessário proceder cálculos conforme
a norma ISO 717-1, pois os valores obtidos de Dnt,w se darão em bandas de 1/3 de oitava (ISO 12354:2017).
A precisão dos modelos de cálculo propostos pelas ISO 12354 é dependente de fatores como dados de
entrada, geometrias dos modelos, execução construtiva, precisão dos ensaios de campo, entre outros. Tipos
de elementos construtivos e suas junções impactam de forma diferente com relação a sua complexidade.
Sistemas considerados homogêneos, como paredes simples de alvenaria, tem variação de 2dB esperada para
o resultado do valor global, enquanto sistemas mais complexos como paredes duplas ou leves, por exemplo,
apontam uma margem de 4dB em relação aos resultados de campo (ISO 12354:2017).
O presente trabalho investigará um tipo de solução homogênea, como assim considera a ISO 12354,
alvenaria em bloco cerâmico 09x19x19cm, a fim de comparar os resultados entre o método detalhado de
cálculos e o de ensaios de campo, tendo em vista que na execução do projeto não é necessariamente
garantido o controle efetivo dos materiais, se observará também outros fatores na construção do artigo que
podem afetar a precisão dos resultados, para enfim comparar com a margem que a norma estabelece.

2. OBJETIVO
Esse artigo tem como objetivo comparar os resultados de simulação computacional com ensaios de campo a
respeito da isolação de ruído aéreo promovido pela vedação vertical interna (VVI) em 14 situações, nas quais
foi empregado como elemento estruturante à VVI o bloco cerâmico de 8 furos horizontais (09x19x19cm), a
fim de estabelecer um desvio padrão entre os dois métodos de análise para esse tipo de vedação.

3. MÉTODO
O processo de construção desse artigo foi distribuído em quatro etapas, sendo estas:
1. Descrição dos ambientes e dos sistemas de vedação estudados;

228
2. Análise dos ensaios de campo, na qual verificou-se a metodologia empregada e instrumentos
utilizados para execução da mesma;
3. Simulação computacional, para qual desenvolveu-se a modelagem dos ambientes ensaiados
a partir da utilização dos softwares SONarchitect, AutoCAD e INSUL;
4. Cálculo do desvio padrão entre os métodos após a compilação dos resultados.

3.1. Descrição dos Ambientes


Visando elucidar melhor os ambientes a serem estudados e para obtenção de dados necessários à
modelagem, foi feita a descrição dos materiais utilizados nos sistemas de vedações (horizontal e vertical).
Também utilizou-se da ferramenta AutoCAD e das plantas de projeto para descrição de informações como
altura do pé esquerdo e algumas dimensões das vedações.

3.2. Ensaio de Campo


A norma ABNT NBR 15575 orienta que os ensaios de isolação de ruído aéreo promovido pela vedação
vertical interna devem ser realizados de acordo com os procedimentos descritos pelas normas ISO 140-4,
entretanto esta foi substituída pela ISO 16283-1 em 2014. Os resultados são obtidos em bandas de 1/3 de
oitava, sendo assim necessário aplicar o procedimento de cálculos proposto pela ISO 717-1:2006 para
obtenção do valor global da isolação. Os instrumentos utilizados na realização dos ensaios estão de acordo
com a instrumentação necessária proposta pela norma internacional, estando eles descritos na Tabela 01:

Tabela 01 - Instrumentos utilizados nos ensaios de campo

Equipamentos Fabricante

Medidor de Nível de Pressão Sonora (Sonômetro) – Classe 1 01dB


Calibrador Acústico – Classe 1 01dB
Dodecaedro (Omni-12) 01dB
Amplificador 01dB
Software dBBati 01dB

3.3. Simulação Computacional


Para as simulações computacionais foram utilizados três softwares, AutoCAD, INSUL e SONarchitect, este
último, o principal para o cálculo do isolamento. O AutoCAD, útil na primeira etapa do processo, foi o
software que funcionou como ferramenta para o desenho, o INSUL foi necessário para o cálculo do Índice de
Redução Sonora (Rw) dos sistemas de vedações que compõe a edificação e por fim, os cálculos referentes ao
isolamento acústico foram efetuados pelo o SONarchitect, um software desenvolvido com a base de cálculo
proposta pela EN 12354 e com interface gráfica que permite a modelagem do objeto em análise.
O processo para simulação pode ser divido nas seguintes etapas:
1. Com a utilização do software AutoCAD e a planta baixa do pavimento ao qual o ambiente
pertence, traça-se uma linha no eixo de cada parede a fim de simplificar o desenho dessa
planta. Esta consistirá em um novo desenho, em formato de arquivo dxf, contendo apenas as
vedações verticais internas e externas para utilização posterior no software SONarchitect;
2. Através do software INSUL os sistemas de vedação foram caracterizados e, a partir dessas
informações, foi criado no SONarchitect esses materiais a serem utilizados como valores de
entrada na modelagem a ser realizada. O processo de caracterização é de grande importância,
pois os dados de entrada têm influência na precisão dos resultados, entretanto, existe uma
escassez quanto a obtenção de dados laboratoriais dos materiais de construção brasileiros. Os
parâmetros para caracterização utilizados foram então obtidos pelo banco de dados do
INSUL e através de referências bibliográficas como o Guia Orientativo para Atendimento à
Norma ABNT NBR 15575 – Desempenho de Edificações Habitacionais (CBIC, 2013) e a
Tese Nível de Conforto Acústico: Uma Proposta Para Edifícios Residenciais (NETO, 2009).
3. A modelagem computacional do empreendimento é feita no SONarchitect, iniciando-se com
o desenho da planta baixa “simplificada” e posteriormente, inserindo os demais inputs, como
a altura de pé esquerdo e os materiais criados que compõe a edificação.

229
4. Após a inserção de todos os dados, o software calcula e nos fornece os resultados de isolação
detalhados para cada recinto, vedação, flanco e caminho de transmissão, porém nos
atentaremos nesse estudo a somente ao valor global da isolação entre ambientes.
3.4. Cálculo do Desvio Padrão
Com os resultados, a análise se dará por uma comparação entre os métodos, a diferença entre os valores de
DnT,w obtidos em campo pelos da simulação computacional é denominada ΔDnT,w (ΔDnT,w = DnT,w-Campo –
DnT,w-Simulação). A partir dos valores do ΔDnT,w é que será calculado o desvio padrão entre os métodos. Após
essa primeira análise, caso seja observada a possibilidade de novos cálculos, a partir de cenários mais
restritivos, será recalculado o grau de dispersão do novo conjunto.

4. RESULTADOS
4.1. Descrição dos Ambientes
Para melhor entendimento do objeto em estudo foram descritos na 02 os materiais que compõe os
sistemas de vedação de cada situação estudada, dados obtidos a partir de análise de projetos de arquitetura,
estrutura e informações do cliente. Auxiliado pelo software AutoCAD e das plantas de cada empreendimento
pode-se encontrar valores a respeito da dimensão de cada ambiente, expostos na Tabela 03.

Tabela 02 – Descrição dos Sistemas de Vedação

Situação Revestimento da VVI Descrição da Vedação Horizontal

Pasta de Gesso Revestimento Cerâmico + Contrapiso (30mm) + Laje Nervurada


1 (Capeamento de 50mm) + Espaço de Ar (100mm) + Forro de Gesso
(Espessura de 15mm em cada face)
Pasta de Gesso Revestimento Cerâmico + Contrapiso (30mm) +Laje Nervurada
2
(Espessura de 15mm em cada face) (Capeamento de 50mm) + Espaço de Ar (150mm) + Forro de Gesso

Pasta de Gesso Revestimento Cerâmico + Contrapiso (20mm) +Laje Nervurada


3
(Espessura de 15mm em cada face) (Capeamento de 50mm) + Espaço de Ar (150mm) + Forro de Gesso

Pasta de Gesso Revestimento Cerâmico + Contrapiso (30mm) +Laje Nervurada


4
(Espessura de 15mm em cada face) (Capeamento de 50mm) + Espaço de Ar (180mm) + Forro de Gesso

Pasta de Gesso Revestimento Cerâmico + Contrapiso (50mm) +Laje Nervurada


5
(Espessura de 15mm em cada face) (Capeamento de 50mm) + Espaço de Ar (240mm) + Forro de Gesso

Pasta de Gesso Revestimento Cerâmico + Contrapiso (50mm) +Laje Nervurada


6
(Espessura de 15mm em cada face) (Capeamento de 50mm) + Espaço de Ar (240mm) + Forro de Gesso

Argamassa Cimentícia Revestimento Cerâmico + Contrapiso (50mm) +Laje Nervurada


7
(Espessura de 15mm em cada face) (Capeamento de 60mm) + Espaço de Ar (100mm) + Forro de Gesso

Argamassa Cimentícia Revestimento Cerâmico + Contrapiso (65mm) +Laje Nervurada


8
(Espessura de 20mm em cada face) (Capeamento de 60mm) + Espaço de Ar (120mm) + Forro de Gesso

Argamassa Cimentícia Revestimento Cerâmico + Contrapiso (40mm) +Laje Alveolar


9
(Espessura de 20mm em cada face) (Capeamento de 75mm) + Espaço de Ar (100mm) + Forro de Gesso

Pasta de Gesso Revestimento Cerâmico + Contrapiso (45mm) +Laje Nervurada


10
(Espessura de 10mm em cada face) (Capeamento de 70mm) + Espaço de Ar (200mm) + Forro de Gesso

Pasta de Gesso Revestimento Cerâmico + Contrapiso (45mm) +Laje Nervurada


11
(Espessura de 10mm em cada face) (Capeamento de 70mm) + Espaço de Ar (200mm) + Forro de Gesso

Pasta de Gesso Revestimento Cerâmico + Contrapiso (45mm) +Laje Nervurada


12
(Espessura de 10mm em cada face) (Capeamento de 70mm) + Espaço de Ar (200mm) + Forro de Gesso

Argamassa Cimentícia Revestimento Cerâmico + Contrapiso (35mm) +Laje Treliçada


13
(Espessura de 20mm em cada face) (Capeamento de 60mm) + Pasta de Gesso (10mm)

14 Argamassa Cimentícia Revestimento Cerâmico + Contrapiso (35mm) +Laje Treliçada


(Espessura de 20mm em cada face) (Capeamento de 60mm) + Pasta de Gesso (10mm)

230
Tabela 03 – Dimensão dos Ambintes Estudados
Altura de Pé Volume do Volume do Comprimento da Parede
Situação de Geminação (m)
Esquerdo (m) Ambiente 1 (m³) Ambiente 2 (m³)
1 3,00 103,92 103,92 6,67
2 2,88 84,34 84,34 8,01
3 3,00 84,03 84,03 4,92
4 3,00 83,90 83,90 6,90
5 3,00 46,97 83,08 5,00
6 3,00 46,97 83,08 5,00
7 2,89 57,27 63,64 5,65
8 3,00 180,00 180,00 4,63
9 3,04 67,78 61,73 4,80
10 3,00 115,45 115,45 8,57
11 3,00 48,37 48,37 5,27
12 3,00 48,37 48,37 5,27
13 2,60 56,10 56,10 3,95
14 2,60 56,10 56,10 3,95

4.2. Ensaios de Campo


O procedimento para os ensaios de campo estudados foram realizados de acordo com as normas
internacionais vigentes mais atualizadas para época da execução, as informações com o ano de execução, as
normas adotadas e os resultados encontrados estão expressos na Tabela 04.

Tabela 04 – Ensaios de campo

Situação Ano de Execução Normas Adotadas DnT,w-Campo (dB)

1 2011 ISO 140-4:1998 e ISO 717-1:2006 38


2 2012 ISO 140-4:1998 e ISO 717-1:2006 36
3 2012 ISO 140-4:1998 e ISO 717-1:2006 36
4 2013 ISO 140-4:1998 e ISO 717-1:2006 36
5 2017 ISO 16283-1:2014 e ISO 717-1:2006 38
6 2017 ISO 16283-1:2014 e ISO 717-1:2006 41
7 2017 ISO 16283-1:2014 e ISO 717-1:2006 38
8 2017 ISO 16283-1:2014 e ISO 717-1:2006 44
9 2018 ISO 16283-1:2014 e ISO 717-1:2006 41
10 2018 ISO 16283-1:2014 e ISO 717-1:2006 38
11 2018 ISO 16283-1:2014 e ISO 717-1:2006 36
12 2018 ISO 16283-1:2014 e ISO 717-1:2006 35
13 2018 ISO 16283-1:2014 e ISO 717-1:2006 42
14 2018 ISO 16283-1/2014 e ISO 717-1/2006 39

4.3. Simulação Computacional


Conforme citado anteriormente (Ítem 3.3), a simulação computacional consiste em três etapas, após a
primeira de desenho, passou-se para a de criação dos sistemas de vedação no SONarchitect. O banco de
dados do software foi alimentado com a utilização do INSUL, nesse processo foi necessário caracterizar os
materiais que compõe os sistemas descritos na Tabela 02 para então determinar os respectivos índices de
redução sonora das vedações. Dentre os materiais utilizados, a única densidade que não pôde ser obtida
através das fontes preconizadas no Ítem 3.3 foi do bloco estudado. O peso dos blocos cerâmicos também não
foi encontrado nos projetos e não foi possível rastrear o fornecedor dos blocos no momento do ensaio. Dessa
forma, foi realizada uma pesquisa com 3 empresas da região qualificadas no PSQ - Programa Setorial da

231
Qualidade, duas apresentaram em seu catálogo o peso de 2,00Kg e uma 2,20Kg para o bloco cerâmico
9x19x19. Isto posto, para o presente estudo, foi adotado o peso de 2,00Kg para o bloco cerâmico 9x19x19.
Dados utilizados para caracterização estão expostos na Tabela 05.

Tabela 05 – Densidade dos Materiais

Material Densidade (kg/m³)

Bloco Cerâmico (09x19x19cm) 616


Argamassa Cimentícia 1600
Pasta de Gesso 1100
Concreto Armado 2500
Forro de Gesso 900
Placa Cerâmica 1800

Obteve-se então os Rw devidos para cada sistema de vedação e assim completou-se a modelagem no
SONarchitect, como pode ser observado nas Figuras 1 e 2, possibilitando calcular e obter os resultados de
isolamento entre ambientes internos, presentes na

Figura 02 – Modelagem no SONarchitect: Análise entre ambientes


Tabela 06.

Figura 01 – Modelagem no SONarchitec: Edifício completo

232
Figura 02 – Modelagem no SONarchitect: Análise entre ambientes
Tabela 06 – Simulação Computacional

Situação Rw da VVI (dB) Rw da VH (dB) DnT,w-Simulação (dB)

1 37 56 38
2 37 56 37
3 37 56 38
4 37 56 37
5 37 57 36
6 37 57 36
7 38 58 38
8 38 59 43
9 38 59 40
10 37 61 38
11 37 61 36
12 37 61 36
13 38 51 40
14 38 51 40

4.4. Cálculo do Desvio Padrão e Análise dos Resultados


Diante dos resultados dos métodos de análise, foi possível encontrar a diferença entre ambos e, a partir disso,
calcular o desvio padrão entre eles. A Tabela 07 traz os valores para ΔDnT,w em decibéis.

Tabela 07 – ΔDnT,w

Situação DnT,w-Campo (dB) DnT,w-Simulação (dB) ΔDnT,w (dB)

1 38 38 0
2 36 37 +1
3 36 38 +2
4 36 37 +1
5 38 36 -2
6 41 36 -5
7 38 38 0
8 44 43 -1
9 41 40 -1
10 38 38 0

233
11 36 36 0
12 35 36 +1
13 42 40 -2
14 39 40 +1

O desvio padrão das diferenças entre os métodos é de 1,78dB. É possível apontar que somente nas
situações 5 e 6 há uma grande diferença entre os volumes dos ambientes estudados, vide Tabela 03. Para
esses dois casos, o ambiente 1 tem aproximadamente 56,5% do volume do ambiente 2, enquanto o terceiro
pior caso encontrado, situação 7, tem o ambiente 1 saltando para aproximadamente 90% do volume do
ambiente 2.
A ISO 12354 aponta que quanto maior a semelhança da geometria dos ambientes, menor será a
influência desse fator na incerteza dos resultados. Recalculando o desvio padrão retirando as situações 5 e 6
do novo cálculo, encontra-se um valor ainda menor, de 1,11dB. As 12 situações restantes caracterizam-se
pela semelhança entre a geometria dos ambientes em comparação, portanto pode-se enquadrar como uma
característica de cenários de baixa complexidade.
A ISO 12354 estabelece, para metodologia de cálculo detalhada, que sistemas de alvenaria simples
tem uma variação máxima de 2dB em relação aos ensaios de campo, considerando-os como de baixa
complexidade em relação a sistemas leves ou paredes duplas. Entretanto, observando as situações 5 e 6 e as
13 e 14, verifica-se que para cada par, tem-se características de volume entre seus ambientes iguais, contudo
há uma dispersão nos resultados do ensaio in situ de 3dB. Logo, a soma das incertezas é um fator que pode
vir a comprometer a variação máxima dos resultados. Assim, todas as etapas do processo são fundamentais
para melhor controle do produto final.

5. CONCLUSÕES
O presente trabalho consegue definir uma boa relação entre a simulação computacional e o ensaio de campo,
o aprimoramento da análise em projeto é fundamental para obter-se melhor desempenho nas edificações a
serem construídas. Das 14 situações estudadas, aproximadamente 92,86% se encontram dentro da margem
de 2dB (para mais ou para menos) e se considerarmos apenas as situações de ambientes com geometria
semelhantes, 100% dos 12 resultados restantes estarão de acordo com a margem. Sendo assim, pode-se dizer
que o estudo aponta a simulação computacional como ferramenta confiável para análise de projetos em
situações de geometria entre ambientes semelhantes, entretanto faz-se necessário a análise com diferentes
tipologias para melhor comprobação dessa conclusão. O artigo não define conclusões sobre geometrias mais
complexas.
Como recomendação para futuro estudos, observou-se na construção desse trabalho a necessidade do
desenvolvimento de mais informações a respeito da caracterização dos materiais utilizados na construção
civil no Brasil e também a possibilidade de validação da simulação computacional focando em casos de
geometria entre ambientes mais distintas.

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Airbone sound insulation – Geneva, 2014.

234
ESTUDO DAS CONDIÇÕES ACUSTICAS DE UM TEMPLO RELIGIOSO
PROTESTANTE DA CATEGORIA “EXPERIENCIAL” EM NATAL/RN
José Eugenio Silva de Morais Júnior; (1); Bianca Carla Dantas de Araújo (2); Alexandre
Virginelli Maiorino (3);
(1) Professor, Arquiteto, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
eugeniomoraisj@gmail.com; Departamento de Engenharia Civil/UFRN, Campus Universitário, Av. Sen.
Salgado filho, Lagoa Nova – Natal/RN; (84) 9 9818-3707;
(2) Professora, Arquiteta e Doutora em Arquitetura e Urbanismo, dantasbianca@gmail.com; Departamento
de Arquitetura/UFRN, Campus Universitário, Av. Sen. Salgado filho, Lagoa Nova – Natal/RN, (84) 9 9418-
6816;
(3) Professor, Doutor em Arquitetura, Tecnologia e Cidade; maiorino.alexandre@gmail.com; Escola de
Música/UFRN, Campus Universitário, Av. Sen. Salgado filho, Lagoa Nova – Natal/RN, (19) 9 8214-9617.

RESUMO
Igrejas evangélicas são espaços em que predominam usos acústicos distintos e simultâneos, como música e
palavra falada. A literatura reconhece a existência de duas divisões principais dentro da categoria, a saber: as
igrejas tradicionais, vinculadas à ideia original da reforma protestante, e as experienciais, que se configuram
como uma manifestação contemporânea de culto centrada na experiência do usuário por meio da música.
Com base nisso, este trabalho visa caracterizar, do ponto de vista acústico, uma igreja evangélica do estilo
experiencial na cidade de Natal/RN, considerando suas particularidades de culto e os recursos de
amplificação sonora instalados. Os procedimentos metodológicos incluem medição acústica in-loco de
parâmetros como TR, EDT, C80, C50, D50 e %ALCONS, obtidos por resposta impulsiva a partir da excitação
sonora emitida pelo próprio sistema eletroacústico existente, e medição do nível de pressão sonora durante
atividades distintas da edificação, em funcionamento. Os resultados mostram a existência de problemas
acústicos como o flutter echo, decorrente do paralelismo das superfícies laterais, reverberação excessiva nas
altas frequências, além da existência de pontos específicos de audiência com baixo índice de clareza e
definição, que se relacionam prioritariamente com a posição dos receptores em relação à fonte sonora. O
estudo permite concluir que, apesar dos recursos de reforço sonoro contribuírem para uma boa clareza no
ambiente, a presença destes não descarta a necessidade de intervenção na igreja em análise por meio do
projeto acústico.
Palavras-chave: acústica de igrejas, igreja evangélica, eletroacústica.

ABSTRACT
Evangelical churches are places where different and simultaneous functions prevail, such as: music and
speech. The literature recognize that there are two main divisions inside this category: traditional churches,
linked to the original idea of the protestant reform, and experiential church, which is characterized as a
contemporary manifestation of worship focused on the user’s experience through music. Based on that, this
article aims to characterize, from an acoustic viewpoint, an evangelical experiential church in the city of
Natal/RN, considering its particularities of worship and the sound amplification system installed.
Methodological proceadures include acoustic measure of acoustic parameters TR, EDT, C80, C50, D50 and
%ALCONS, from impulsive responses obtained from the sound excitation of the electroacoustic system. It was
also measured the equivalent sound pressure level during distinct parts of the cult. Results showed acoustics
problems such as flutter echo, due to the parallelism from opposite walls, excessive reverberation on high
frequencies, and some specific points of the audience with low levels of clarity and definition, which derive
primarily from the receiver’s position regarding the sound source. This study allows concluding that even
though the resources of sound reinforcement contribute to a good clarity, it does not discard the need for an
acoustic intervention.
Keywords: Acoustics in churches, evangelical church, electroacoustic

235
1. INTRODUÇÃO
Sabe-se que a religião cristã evangélica é uma modalidade que tem crescido consideravelmente no Brasil nos
últimos anos. Em geral percebe-se que as respectivas construções, destinadas aos cultos, muitas vezes
ocorrem sem um projeto pré-definido de arquitetura (LIMA, 2008) e consequentemente de tratamento
acústico, o que contribui para que esta tipologia seja apontada como fonte geradora de ruído, e até mesmo
“sala de audição crítica” (ARAÚJO et. al, 2006), devido à excitação da sala provocada pelo elevado nível de
pressão sonora quando em atividade.
As igrejas evangélicas também são definidas por alguns autores como sendo “espaços de múltiplo
uso” (CUNHA, 2014; OLIVEIRA, 2017), pela existência de fala e música num mesmo ambiente, durante a
mesma sessão de funcionamento. Ao assumir que ambos os usos são condições antagônicas no que diz
respeito aos requisitos para condicionamento acústico, tem-se então uma situação de compatibilização
configurada como complexa de definição, pela multiplicidade de funções envolvidas.
Nesse contexto, o presente trabalho busca identificar quais parâmetros objetivos de condicionamento
acústico podem refletir a qualidade desejada às igrejas evangélicas a partir do estudo de suas particularidades
de culto, pois a literatura brasileira – inclusive a NBR 12179 (ABNT, 1992) – apresenta valores de referência
para o Tempo de Reverberação da “igreja protestante” sem fazer diferenciação entre denominações e
atividades específicas.
Estudos apontam que a religião evangélica se divide em duas grandes categorias: as tradicionais, que
resguardam em seus princípios os ideais da reforma protestante sem muitas adaptações, e as “experienciais”
(JONES, 2011, tradução nossa), que assumem uma identidade diferenciada a partir da experiência de
movimentos alternativos surgidos na contemporaneidade, os quais se desdobram em novas posturas de culto.
Ambas as categorias apresentam ainda inúmeras ramificações cujas particularidades não influenciam este
estudo até o presente momento. Esta classificação básica implica, de alguma forma, em modos de
funcionamento diferenciados no que tange à distribuição sonora dos usos acústicos durante o culto, no qual é
possível identificar uma proporção fala-música em graus distintos de importância.
Sobre a tipologia experiencial, ou seeker-sensitive (JONES, 2011)9, é uma modalidade de culto
centrada na ideia de que “a música está no centro da experiência” (ibid., p. 160, tradução nossa) do usuário,
que deseja encontrar-se com Deus. Neste caso, o papel do sistema eletroacústico assume maior grau de
protagonismo, pois, juntamente com as características absortivas da sala, forma-se um aparato técnico que
permite criar o ambiente tão desejado ao culto proposto.
Com base nisso, propõe-se uma abordagem de identificação dos aspectos de conforto mediante o
estudo aprofundado dos usos acústicos de um caso específico, de modo que o método de medição e
mensuração dos parâmetros objetivos possa predizer, assim, a qualidade desejada ao culto, observando as
características do sistema eletroacústico instalado.

2. OBJETIVO
O objetivo do trabalho é investigar a qualidade acústica de uma igreja evangélica de categoria experiencial
por meio da avaliação dos parâmetros acústicos obtidos com auxílio do sistema eletroacústico existente, a
fim de verificar sua relação com as condições arquitetônicas do espaço.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1. Caracterização do objeto de estudo
3.1.1. Descrição da edificação
A edificação escolhida para o estudo consiste numa igreja vinculada à religião cristã evangélica de categoria
experiencial. Está localizada no bairro de Capim Macio em Natal/RN, numa área de aproximadamente
1500m² cujos ambientes distribuem-se em dois pavimentos e incluem recepção, auditório (espaço de
realização dos cultos), livraria, espaço lounge, copa, depósito, banheiros, espaço kids com 06 salas e apoio
administrativo com 14 salas.
A atividade principal da edificação – o culto religioso – ocorre no auditório, que possui 520m²
incluindo palco, plateia e multimídia, que é o espaço em que são feitos os ajustes de projeção, som e
iluminação (Figura 01). Possui capacidade de 270 assentos determinados em projeto, muito embora esta

9Cuja tradução sugere o termo “sensível aquele que procura” ou “sensível ao candidato”, entendido aqui como o expectador ou fiel
que busca encontrar-se com o sagrado.

236
quantidade seja excedida na maior parte dos cultos e o público excedente, acomodado em cadeiras extras ou
em pé. O auditório consiste na adaptação de um ambiente tipo “galpão”, e a edificação como um todo é fruto
de uma reforma10 de espaço existente de uso anterior desconhecido, ao qual foi acrescentado um anexo.

Figura 01 – Planta do pavimento térreo da edificação, com ênfase no auditório onde são realizados os cultos. Fonte: Elaborado pelos
autores a partir de projeto existente.

Quanto ao sistema construtivo, a edificação foi executada com estrutura de concreto pré-moldada e
alvenaria de tijolo cerâmico, com cobertura de telha tipo fibrocimento apoiada sobre madeiramento, sem laje.
Todas as salas possuem forro, sendo algumas delas do tipo mineral microperfurado (auditório e sala de
ensaio, no apoio administrativo) e as demais de gesso acartonado liso. As paredes do auditório são todas
lisas, paralelas e pintadas com tinta acrílica, e o piso é revestido por carpete no palco e área de público.

3.1.2 Condições de funcionamento


Os cultos típicos ocorrem aos Domingos, nos períodos de 9h, 11h, 16h, 18h e 20h, com duração de
aproximadamente 1h30min. Devido à grande quantidade de público, esta divisão de horários permite que
uma mesma celebração seja assistida por várias pessoas diferentes no mesmo dia, ou seja, há uma repetição
da mesma atividade em 05 momentos distintos. Para efeito de caracterização, ao longo do mês de Abril de
2019 foi realizada uma análise in-loco da distribuição média de público ao longo dos horários de
funcionamento (Tabela 01).
Tabela 01 – Distribuição média de público em relação aos horários de culto, verificada em Abril de 2019. Fonte: Elaboração dos
autores.
Horário 9h 11h 16h 18h 20h
Público 350 521 493 570 615

De modo geral, o culto realizado divide-se em 04 momentos: I) Louvor; II) Oração; III) Recepção; e
IV) Mensagem. O primeiro deles é o Louvor, realizado na abertura do culto por uma banda cujo estilo de
música se aproxima do pop-rock, com ligação ao estilo gospel norte americano devido à filiação ideológica
da igreja. Este tipo de música caracteriza-se por instrumentos como piano eletrônico e teclados, bateria,
guitarras, contrabaixo e sample11. O momento do louvor dura aproximadamente 20 minutos e é seguido do
momento de Oração, que dura 05 minutos.
Em seguida, há o momento de Recepção, onde um representante da igreja se apresenta aos visitantes e
dá as boas-vindas. Há ainda neste momento o ofertório, destinado aos membros, além dos anúncios gerais da
comunicação e dos eventos futuros. Este momento é de transição e dura entre 10-15 minutos, sendo
sequenciado pela Mensagem que consiste na pregação da palavra pelo pastor. Este último dura em média 40
minutos, e possui predominância de palavra falada apesar das intervenções musicais e orações introduzidas
no meio do sermão de maneira intercalada, a critério do ministrante, fazendo com que a atividade “musical”
aconteça com maior presença a depender do dia.

3.1.3 Sistema eletroacústico instalado

10 Projeto de reforma cedido gentilmente pela igreja para esta pesquisa.


11SAMPLE é uma técnica sonora utilizada geralmente na música eletrônica (house, deep, break-beat, etc), no pop e no R&B (Soul),
que consiste na adição de um som já existente à composição, criando uma releitura da música tocada através da mistura/mixagem de
diferentes efeitos.

237
De acordo com Silva (2002), a utilização de som amplificado se faz necessária em virtude da voz humana
irradiar cerca de 50dB, a dois metros da origem da fala. Desta forma, em grandes auditórios, teatros e igrejas,
em que o volume ultrapassa o valor de 1360m³, devem ser previstos estes recursos. Em resumo, um sistema
eletroacústico corresponde ao conjunto de canais (microfones e instrumentos musicais, por exemplo), ligados
a um amplificador que se comunica com vários alto-falantes, ou seja, as caixas de som (ibid., p. 136).
Na igreja em questão, o sistema instalado é do tipo Line Array, que corresponde ao uso de caixas
acústicas de alta performance sobrepostas uma em cima da outra formando um cluster vertical, alimentadas
por microfones, instrumentos sonoros e reprodutores de áudio, que transmitem o sinal sonoro até uma mesa
de som – localizada ao fundo da plateia – por meio de cabos polarizados. Neste sistema, é previsto ainda o
uso de caixas específicas para reforço dos sons graves, a exemplo dos Subwoofers.
Na configuração atual, o espaço conta com 8 caixas amplificadas Mark Audio modelo LMK-8 de
825W e pressão sonora máxima de 128 dB(A) próximas ao palco, sendo 4 em cada extremidade lateral
direcionada ao público. Não há outras caixas distribuídas ao longo das paredes laterais do auditório. No dia
da medição, cada conjunto de 4 caixas se encontrava apoiada no chão do palco, em cima de um dos
Subwoofers. Além disso, o sistema conta com 02 caixas exclusivas para retorno dos cantores e
comunicadores, com exceção dos instrumentistas que se utilizam de retorno sonoro in-ear.

3.2 Parâmetros de avaliação acústica


O primeiro parâmetro em questão, que permite caracterizar a atividade acústica realizada, é o Nível de
Pressão Sonora – NPS, medido em dB, que expressa a sensação de som em relação ao estímulo físico gerado
por uma fonte (SILVA, 2002). Se a propagação sonora é esférica, entende-se que energia sofrerá decaimento
à medida que se afasta da fonte (SOUZA, ALMEIDA, BRAGANÇA, 2012) e, portanto, terá menor valor nos
assentos posicionados ao fundo da plateia. Se este nível sonoro não for superior ao ruído residual em no
mínimo 6dB, poderão ocorrer problemas de compreensão da fala ou de mascaramento do som emitido
(BARRETO, 1991).
Ao tratar acusticamente um espaço interno para o condicionamento, objetiva-se, além da adequação
geométrica das superfícies, o controle do parâmetro denominado Tempo de Reverberação – RT60, que é o
tempo (em segundos) necessário para que o som sofra um decréscimo de intensidade de 60dB dentro de um
ambiente (ABNT, 1992), influenciado pelo volume da sala e pela natureza de seus materiais de revestimento,
que podem ser de absorção ou reflexão (SOUZA, ALMEIDA e BRAGANÇA, 2012). Então, pode-se dizer
que o condicionamento acústico é consequência do equilíbrio entre absorção e reflexão, na proporção
determinada pela exigência do uso acústico da atividade (BISTAFA, 2011).
As recomendações para valores de TR baixos indicam que o espaço deve ser pouco reverberante, e
isto se associa a boas condições de inteligibilidade da fala. Por outro lado, a medida em que o nível de
reverberação aumenta e a compreensão da palavra falada diminui, o espaço tende a se tornar qualificado para
usos “musicais”, ou seja, aqueles cujo predomínio é de sons que devem persistir no ambiente (GERGES,
1992). Desta forma, ambientes como salas de ensaio, salas de concerto, escolas de música, igrejas católicas
em virtude do canto sacerdotal (SANTOS e OITICICA, 2005) tendem a ser mais reverberantes e, portanto,
possuir valores de TR maiores.
Como o ideal de qualidade para o
tempo de reverberação é definido em função
de sua atividade, a literatura indica alguns
valores ou gráficos de referência para
auxiliar na determinação (ABNT, 1992;
BISTAFA, 2011; CARVALHO, 2010;
GERGES, 1992). A exemplo disso, a Figura
2 apresenta um gráfico extraído da NBR
12179 (ABNT, 1992), com a informação do
Tempo Ótimo de Reverberação – TOR para
cada uso acústico indicado, na banda de
frequência de 500 Hz. Para a igreja em
questão, cujo volume aproximado é de
2600m³, o TOR de referência encontrado foi
de 1,3 segundos, considerando a curva
Figura 2 – Tempo ótimo de reverberação em banda de 500Hz, para diferentes
intitulada “igreja protestante”. usos. Fonte: NBR 12179 (ABNT, 1992), adaptado pelos autores.
Embora se afirme que o Tempo de Reverberação seja o principal parâmetro a ser analisado para
qualificar um recinto fechado, alguns autores (BARRON, 2000; EGAN, 1988; LONG, 2006; BRANDÃO,

238
2011; JONES, 2011) mostram que existem outros parâmetros acústicos objetivos e subjetivos que são
associados ao Tempo de Reverberação e permitem estabelecer relações não só entre as características do
ambiente, como também das “sensações espirituais” (LIMA, 2008, p. 19) tão desejadas ao ambiente de culto.
Dentre os parâmetros objetivos, além do Tempo de Reverberação (T60), medidos in-loco ou simulados por
meio computacional, pode-se citar o Tempo de Decaimento Inicial (EDT), Clareza Musical (C80), Clareza
da fala (C50), Definição (D50) e Perda de articulação de consoantes (%ALCONS).

3.3 Descrição do procedimento de medição


As medições acústicas da sala foram realizadas nos dias 27 de Março, 03 e 14 de Abril, ambos dias típicos
para o clima local, sem incidência de chuvas ou interferências de atividades externas ao ambiente analisado.
Foram realizados 02 tipos de medição, a saber:
• Medição do nível de pressão sonora equivalente ponderado em A – LAeq no interior do auditório em
período de funcionamento, em pontos distintos conforme as atividades de culto;
• Medição dos parâmetros acústicos objetivos – TR, EDT, C50, C80, D50 e %ALCONS – obtidos pela
resposta impulsiva da sala vazia;
Além das medições, o tempo de reverberação do auditório em estudo foi calculado utilizando a
fórmula matemática proposta por Sabine12. O cálculo foi realizado com base nos coeficientes de absorção
dos materiais de revestimento da sala encontrados na literatura. Em virtude das incertezas quanto aos
coeficientes de absorção reais, admitiu-se uma tolerância de 10%, inferior e superior, entre o valor obtido em
medição e calculado matematicamente. Este simples cálculo também permitiu analisar em que medida a
reverberação da sala é alterada pela audiência, em situação de lotação.
Para medição dos parâmetros acústicos, foi utilizada a técnica de resposta impulsiva. Os
equipamentos utilizados para medição acústica foram o software Dirac 6.0 da Brüel & Kjær, um microfone
omnidirecional Behringer ECM8000 ligado à uma placa de áudio Focusrite Scarlett 2i2, que por sua vez foi
conectada à mesa de som da igreja para transmissão do sinal de medição para o sistema sonoro. Durante a
medição foram utilizados apenas os 8 PAs, mantendo-se Subwoofers e retornos desligados. Não foi medido o
ruído de fundo, mas observou-se a condição de que a Relação Impulso-Ruído – Impulse to Noise Ratio (INR)
fosse igual ou superior a 45dB em todas as bandas de frequência observadas.
Procurou-se observar as recomendações da norma ISO 3382-1 (2009) sempre que possível durante as
medições. Assim, foram observadas as distâncias mínimas entre fonte e receptor, as alturas dos receptores, a
distância mínima entre receptores e entre receptores e superfícies reflexivas. Os pontos de medição
procuraram abranger a máxima área possível da audiência. A partir da determinação prévia dos pontos de
medição, os parâmetros acústicos foram avaliados a partir da média aritmética de seus valores por banda de
oitava, de modo a representar o ambiente como um todo. Para os parâmetros C80 e C50 foram realizadas as
médias logarítmicas. Os valores obtidos em todos os parâmetros foram discutidos em relação à forma da
sala, aos materiais de revestimento das superfícies, à distribuição espacial dos receptores e às posições dos
alto-falantes.
Considerando que o sistema sonoro estava posicionado em 02 lugares distintos, utilizou-se apenas
uma posição de fonte, ou seja, não foram alteradas as posições das caixas. Desta forma, criou-se um campo
sonoro em que o impulso é emitido por duas fontes distintas, de mesma intensidade, e simultâneas. Por se
tratar de um ambiente simétrico, foram estabelecidos 12 pontos de receptor, P1 a P12, em apenas um dos
lados da sala, e outros 02 pontos, P13 e P14, que correspondem ao “espelho” dos pontos P5 e P10,
respectivamente, no lado oposto, totalizando 14 pontos receptores, como pode ser observado na Figura 03.

12RT60 = 0,161V/A (em segundos), em que “V” corresponde ao volume do recinto, e “A”, a absorção total da sala, ou seja, a soma
dos produtos das áreas das superfícies com seus respectivos coeficientes de absorção (BISTAFA, 2011).

239
Figura 3 – Distribuição dos pontos de medição de ambos os métodos utilizados.
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de projeto existente

A medição do NPS foi realizada com auxílio de um Sonômetro Instrutherm DEC-500 e outro Solo
01dB, ambos Classe 2 com função Leq na ponderação A. Em ambos os equipamentos foi considerada a
leitura dos valores globais. Este procedimento serviu para efeito de caracterização acústica das atividades
realizadas durante o funcionamento da edificação. Procedeu-se esta etapa a partir da verificação do nível de
ruído equivalente na ponderação A (LAeq) durante o culto, em 03 pontos (A, B e C) localizados no interior da
edificação à distância de 4 metros das caixas de som, aproximadamente, e em um quarto, localizado no
fundo da sala, próximo à mesa de som (Ponto D). A distribuição dos pontos de ambos os processos de
medição é exibida na Figura 04. Este procedimento de medição ocorreu de 02 formas distintas, a saber: I) No
momento destinado à música, observando-se os valores mínimo e máximo (Lp) de pico, e II) o valor médio
durante 10 minutos (Leq), ambos na ponderação “A”, em 04 pontos distintos. Por sua vez, no momento
destinado à mensagem (palavra falada) a medição foi realizada a partir dos Pontos “A” e “D”, mediante os
mesmos critérios.

4. RESULTADOS E ANÁLISE
4.1. Nível de Pressão Sonora – NPS por atividade
Os valores dos Níveis de pressão sonora equivalente ponderados em A (LAeq) encontrados estão expressos
na Tabela 2.

Tabela 2 – Valores obtidos para o NPS durante o funcionamento da igreja, por atividade. Fonte: Elaboração dos autores.
Música Palavra Falada
dB(A)
LAeq Lp Mín. Lp Máx. LAeq Lp Mín. Lp Máx.
Ponto A 107 83,1 114 88,5 56,1 99,6
Ponto B 104,1 73,2 111,5
-
Ponto C 103,3 77,7 112,9
Ponto D 96,7 - 84,4 54,5 98,6

É possível perceber que a realização do culto na categoria em análise implica num elevado nível de
pressão sonora, sobretudo durante o momento da música, em que as pessoas cantam, dançam, pulam e se
emocionam. A intensidade desejada ao culto típico desta natureza é tamanha, que aparentemente as pessoas
sequer demonstram incômodo pelo nível sonoro elevado. Ao observar que no fundo do auditório o nível
sonoro durante a música é de 96,7 dB (A), percebe-se que até os assentos mais afastados ainda se submetem
a níveis sonoros elevados, condição que se torna prejudicial à saúde devido ao tempo de exposição.
Em relação à distribuição dos níveis sonoros por atividade, percebe-se que há grande diferença entre
o NPS produzido pela música e pela palavra por várias razões, dentre as quais: A irradiação da voz humana,
cujo espectro audível nunca será superior ao da música (SOUZA, ALMEIDA e BRAGANÇA, 2012); a

240
importância que esta modalidade de culto confere ao aspecto musical, ao valorizar o conjunto de
instrumentos musicais e vozes, ao trabalhar com níveis de pressão sonora intensos; e, por fim, à própria
dinâmica empregada na propagação da mensagem, que alterna entre momentos intimistas e silenciosos com
outros de provocações ao público, que reage com aplausos e vibrações.

4.2. Reverberação
Para analisar a performance da sala quanto à reverberação, foram assumidas algumas considerações.
Inicialmente, buscou-se avaliar os valores de TR obtidos em medição em relação ao TOR previsto na NBR
12179 (ABNT, 1992), considerando as faixas de tolerância inferior e superior no valor de 10%, também
previstas na norma. Esta relação é verificada ainda em relação ao Tempo de Decaimento Inicial – EDT, de
modo genérico, pois este parâmetro indica, dentre outros aspectos, a sensação de “reverberância” da sala.
Considerando os 14 pontos de medição distribuídos ao longo da sala, exibidos na Figura 03, optou-se
por apresentar a média aritmética dos valores obtidos, por banda de frequência. O mesmo procedimento foi
realizado com o EDT. A partir do valor de TOR de 1,3s, determinado para a igreja na banda de 500Hz, foi
possível calcular os valores das demais bandas de frequência, conforme proposto por Bistafa (2011) que
aplica um fator de correção ao TOR na banda de 500Hz.
A partir dos valores obtidos, foi gerado o gráfico apresentado na Figura 4, em que é possível
visualizar: a) A relação entre o TR medido em campo, representado pela linha azul, e os valores calculados
para o TOR a partir da NBR 12179, expressos na linha vermelha; b) as faixas de tolerância para o TOR
calculado são expressas na área correspondente a cor rosa, com seus limites superior e inferior expressos por
meio das linhas tracejadas na mesma cor; c) os valores para o EDT são representados, por sua vez, na cor
verde.

Figura 4 – Reverberação da sala em diferentes frequências. Fonte: Elaborado pelos autores.

Ao observar os valores obtidos pela medição acústica e compará-los aos valores propostos pela norma
percebe-se que o tratamento acústico atual da sala não proporciona uma distribuição homogênea do tempo de
reverberação em função de frequência. Os valores das bandas de 125 Hz a 500Hz estão abaixo dos valores
recomendados e há um aumento considerável nos valores do TR nas bandas mais agudas, de 1 kHz a 4kHz.
O mesmo ocorre com o parâmetro EDT, porém em menor escala. Ainda, observa-se que nas altas
frequências há uma diferença entre o TR e o EDT, em cerca de 0,5s, o que sugere que a sala é percebida
como mais “seca” apesar de sua reverberação real. Isto pode ser justificado pela distribuição não homogênea
de materiais de absorção na sala, uma vez que não há materiais de absorção nas paredes laterais e a maior
área de absorção encontra-se no teto e em parte no piso, como também pela característica do forro existente,
que possui bom rendimento apenas para as médias frequências, próximas da fala.
Em relação aos valores encontrados nas baixas frequências, considera-se que a condição é aceitável,
pois a reverberação excessiva para os graves pode comprometer o desempenho dos Subwoofers instalados.
Além disto, percebe-se que o comportamento dos valores de TR obtidos em medição até 500Hz é semelhante
ao previsto pela norma, ou seja, segue a tendência de decaimento sugerida. Os altos valores de TR
encontrados entre 1000 e 4000Hz são prejudiciais, sobretudo, à música, tendo em vista a predominância
deste uso acústico na igreja em questão.

241
Por sua vez, a Figura 5 apresenta a
diferença entre os valores de TR medidos e
calculados matematicamente, para efeito de
calibração do modelo de simulação de audiência
da sala. Neste sentido, Carvalho (2010) mostra
que a ocupação da sala pelas pessoas é um
importante elemento de absorção sonora. Foi
analisada então, em que medida a quantidade de
público presente na igreja, de acordo com os
valores apresentados na Tabela 01, influencia na
absorção da sala. Para efeito de cálculo,
utilizou-se os valores de absorção para pessoa
sentada, cadeira estofada vazia e pessoa em pé
apresentados na NBR 12179 que, por sua vez, Figura 5 – Tempo de Reverberação da sala medido e calculado
foram extraídos de De Marco (1982). matematicamente. Fonte: Elaborado pelos autores.
Com base nestas informações, é apresentada a Figura 6, na qual é possível perceber: Em vermelho,
os valores simulados para a sala vazia; em azul, o tempo de reverberação correspondente a ocupação prevista
em projeto, de 270 pessoas sentadas; e em verde, o valor de TR calculado para a ocupação máxima
observada cujo valor é de 615 pessoas, distribuídas entre 270 pessoas sentadas e 345 pessoas em pé. Com
base no gráfico, é possível perceber que na audiência prevista em projeto há pouca discrepância em relação à
sala vazia, visto que não foi determinada uma ocupação excessiva. Porém, o crescimento da igreja e aumento
de público mostra que a reverberação existente no momento do culto é muito inferior à obtida em medição
com a sala vazia, que por sua vez, já apresenta divergências em relação ao TOR previsto pela norma.
Entretanto, a absorção causada pelas pessoas na situação da igreja com o máximo de público faz com que o
Tempo de Reverberação da sala se torne mais homogêneo ao longo das frequências, contribuindo para um
melhor equilíbrio sonoro.

Figura 6 – Influência da audiência na reverberação, em diferentes frequências.


Fonte: Elaborado pelos autores.

4.3. Aspectos de Inteligibilidade e Clareza


Ao analisar os resultados dos parâmetros C80 e C50, Jones (2011) afirma que quando os valores de C80 e
C50 encontrados em igrejas são negativos, a posição do ouvinte em questão encontra-se recebendo maior
energia refletida do que direta e, por consequência disto, o índice de clareza é menor tanto para a palavra
falada quanto para a música, sendo preferíveis, portanto, os valores positivos. Adelman-Larsen (2014)
acrescenta que para estilos musicais como pop e rock, distantes da música erudita e com maior grau de
síncope, a faixa de energia compreendida nos primeiros 50ms já é longa o suficiente para analisar, além da
voz cantada, a clareza percebida na harmonização musical.
Para efeito de observação dos parâmetros de Clareza para a sala como um todo, é estabelecida uma
setorização, com a média aritmética de pelo menos 3 pontos, visto que a distribuição dos pontos não é
necessariamente linear. Os valores globais, obtidos através das médias aritméticas de 500 e 1000Hz
conforme ISO 3382-1 (2009), apresentam-se positivos em todas as posições de receptor e, portanto,
adequados.

242
Ao observar os valores conforme o
setor, é possível verificar que há tendência de
diminuição de C80 e C50 à medida em que o
receptor se distancia da fonte sonora, de modo
que os pontos localizados à frente da caixa
apresentam valores médios próximos de 9dB
para a música e cerca de 6dB para a fala,
enquanto aqueles posicionados ao fundo
possuem média em torno de 1,5dB e cerca de
4dB para fala e música, respectivamente. Nos
setores de transição, ou seja, aqueles
localizados no meio da audiência, os valores
de clareza são próximos, sem grandes
variações. Os maiores valores encontrados em
ambos os parâmetros correspondem aos
Pontos 4 e 5, que por sua vez estão na área de Figura 7 – Média do parâmetro Clareza – C50 e C80 em dB por setor do
influência do som direto e próximos à fonte. ambiente.
Fonte: Elaborado pelos autores.

Ainda, ao analisar a curva de energia em


função do tempo, Energy-Time Curve – ETC de
todos os pontos, percebe-se a existência de flutter
echo, ou “eco palpitante” nas primeiras frações de
segundo, antes mesmo do decréscimo total de 60dB.
Uma demonstração gráfica deste problema pode ser
vista na Figura 08, na qual percebe-se alguns picos de
energia ao longo do decaimento sonoro. Isto
evidencia a presença deste problema acústico em
todo o salão da igreja, em virtude do paralelismo das
superfícies laterais, que por sua vez são
predominantemente reflexivas.
Figura 8 – Trecho da curva ETC de um dos pontos analisados.
Fonte: Elaborado pelos autores com auxílio do Dirac 6.0.

Analisam-se ainda outros parâmetros para se estabelecer relações sobre a inteligibilidade da fala, a
exemplo da Definição (D50) e a Perda de Articulação de Consoantes (%ALCONS). Os resultados médios
aritméticos para D50, por frequência (Tabela 3), mostram que há um bom índice para a sala como um todo,
com valores superiores a 60%. Os menores valores encontrados estão nas frequências baixas, entre 125Hz e
250Hz, e os melhores valores, superiores a 80%, nas altas frequências. Embora o TR obtido em medição
mostre que no intervalo de 2000 a 4000Hz os valores da reverberação sejam maiores que no intervalo de
125Hz a 500Hz, os valores de EDT e D50 dão a evidência da sensação de uma sala mais “seca”, e, portanto,
mais propícia para o bom entendimento da palavra falada. Isso possivelmente acontece, assim como nos
parâmetros C80 e C50, devido à diretividade e potência das caixas de som, fazendo com que boa quantidade
de energia do som direto chegue ao ouvinte, consequentemente, melhorando a quantidade de energia inicial.

Tabela 3 – Valores médios obtidos para o parâmetro D50. Fonte: Elaboração dos autores.
D50 médio (%) 0,62 0,70 0,84 0,84 0,80 0,85
Frequência (Hz) 125 250 500 1000 2000 4000

Quanto ao parâmetro %ALCONS, extraem-se os valores relacionados ao STIPA, em virtude do método


de medição utilizado. Considerando o intervalo entre 0 e 10% como ideal para inteligibilidade, todos os
pontos medidos estão em condição desejável, em que o maior valor encontrado é de 5,11% para o Ponto 06,
e o menor valor para o Ponto 05, que é de 2,42%. Isto mostra que todos os pontos são favoráveis para este
parâmetro, e que o Ponto 05 é o mais bem avaliado dentre a amostra analisada. Percebe-se, portanto, que os
pontos com menor %ALCONS estão distribuídos em posições de influência direta do som emitido pelo PA, e
que os valores mais afastados da caixa de som ou próximos às paredes apresentaram menor inteligibilidade
que os demais.

243
5. CONCLUSÕES
Neste estudo foi possível observar que a edificação em questão, correspondente à categoria evangélica
experiencial, embora possua recursos técnicos de alta performance que se adequam ao tipo de culto
realizado, apresenta em sua arquitetura alguns problemas acústicos que, apesar de minimizados pelo sistema
de reforço sonoro existente, não descartam a possibilidade de correção por meio de um projeto acústico. Isto
pode ser confirmado, por exemplo: Pela diferença nos valores entre TR obtido em medição e EDT, para o
intervalo de 2000 a 4000Hz; pela ocorrência de reverberação com valores superiores nas altas frequências e
pela relação inesperada entre os aspectos de definição (D50) e a reverberação da sala, que apesar de alta,
apresenta bom ou excelente grau de compreensão da palavra falada.
Os baixos valores de EDT indicam a sensação de sala mais “seca” e, portanto, adequada à palavra
falada e a música amplificada. Os valores altos de D50 indicam que a sala possui boa definição e por isso,
não há problemas de compreensão do que é falado, o que, em virtude da condição reverberante da sala, só é
possível devido à forte energia inicial proporcionada pelo sistema sonoro. Em geral, os parâmetros de
Clareza – C80 e C50 – e o D50 tendem a piorar à medida em que a posição do ouvinte se distancia da área de
influência direta do sinal emitido pelas caixas, ou se aproxima das superfícies das paredes, o que sugere a
importância da boa distribuição dos alto-falantes para melhoria da abrangência do som na plateia.
Além disso, o paralelismo das superfícies laterais com materiais reflexivos também contribui para a
obtenção dos resultados insatisfatórios, em geral, nos pontos localizados no centro da plateia e próximo às
paredes, pela ocorrência de flutter echo. Portanto, como proposições gerais para o caso estudado, indica-se
sobretudo a correção geométrica das superfícies ou colocação de materiais absortivos ou que proporcionem
difusão sonora para evitar as reflexões laterais das paredes e o decaimento sonoro excessivo nas últimas
fileiras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Janeiro: ABNT, 1987.
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Ouvindo a arquitetura. São Carlos: EdUFSCar, 2012. 149 p.

AGRADECIMENTOS
Ao CNPQ, pelo apoio financeiro à um dos pesquisadores.

244
ESTUDO DE CASO DA PAISAGEM SONORA DE TRÊS ÁREAS NA
CIDADE DE SINOP, MT
Lucas Rafael Ferreira (1); Erika Fernanda Toledo Borges (2); Willian Magalhães de
Lourenço (3); Edna Sofia de Oliveira Santos (4); Viviane S.G. Melo (5).
(1) Engenheiro Civil, Mestrando no PPG em Engenharia Civil, lucasrafael2209@gmail.com, Universidade
Federal de Santa Maria, Av. Roraima, n° 1000 CT – Prédio INPE – Sala 2061, (55) 3220-8837
(2) Arquiteta e Urbanista, Professora Adjunta na UNEMAT, borgesleao@unemat-net.br, Universidade do
Estado do Mato Grosso, Av. dos Ingás, nº 3001, Centro Sinop/MT, (66) 3511-2122/2103
(3) Arquiteto e Urbanista, Mestrando no PPG em Engenharia Civil, creativearquiteto@gmail.com,
Universidade Federal de Santa Maria, Av. Roraima, n° 1000 CT – Prédio INPE – Sala 2061, (55) 3220-8837
(4) Arquiteta e Urbanista, Mestranda no PPG em Engenharia Civil, sofiaoliveirasant@gmail.com,
Universidade Federal de Santa Maria, Av. Roraima, n° 1000 CT – Prédio INPE – Sala 2061, (55) 3220-8837
(5) Arquiteta e Urbanista, Professora Adjunta no PPG em Engenharia Civil, viviane.melo@eac.ufsm.br,
Universidade Federal de Santa Maria, Av. Roraima, n° 1000 CT – Prédio INPE – Sala 2061, (55) 3220-8837

RESUMO
A cidade de Sinop possui 132.934 habitantes e localiza-se no norte do Mato Grosso. A cidade possui grandes
áreas verdes e algumas delas estão sofrendo alteração na paisagem sonora por meio da urbanização, como o
bairro Aquarela Brasil, Parque Florestal e a Av. Tarumãs. As paisagens sonoras nessas três localidades foram
definidas como objetos de estudo por possuírem diferentes tipologias e usos, sendo duas delas arborizadas e
outra com pouca vegetação situada no centro da cidade. O objetivo da pesquisa é identificar os pontos de
preservação da paisagem sonora e definir quais delas interferem na sensação de conforto das pessoas.
Medições sonoras foram coletadas “in loco” e mostram a influência das atividades recreativas, tráfego em
geral e carros com som ligado em suas paisagens sonoras, enquanto usuários se sentem em conforto ou não,
identificando diferentes sons. Os resultados objetivos e subjetivos praticamente antagônicos, porém conexos,
envolvendo variáveis físicas, sensitivas e psicológicas, são apresentados neste artigo. Foi verificado que os
níveis sonoros, existentes nas localidades analisadas, encontram-se acima do limite imposto pela normativa
brasileira, mas ainda há satisfação de conforto definida pela maioria dos usuários desses espaços urbanos.
Palavras-chave: paisagem sonora, urbanismo, ruído, áreas verdes.

ABSTRACT
The city of Sinop with 132.934 inhabitants is located in the north of Mato Grosso. The city has large green
areas and some of them are undergoing alteration in the soundscape through urbanization, such as the
Aquarela Brasil, Parque Florestal and Av. Tarumãs neighborhoods. The soundscapes in these three places
were studied and were chosen because they have different typologies, two of them being well wooded and
one with little vegetation and in the center of the city. The research objective is to identify the points of
preservation of the soundscape and to identify which interferes in the comfort of the people. Sound
measurements were made "in loco" and show the influence of recreational activities, traffic and sound
vehicles connected in their soundscapes, while users feel in comfort or not, identifying different sounds of
the sound landscape. Objective and subjective results that are practically antagonistic, however related,
involving physical, sensory and psychological variables are presented and asked for in this article. The sound
levels are above the limit imposed by the regulations, however there is a satisfaction by the users.
Keywords: sound landscape, urbanism, noise, green spaces.

245
1. INTRODUÇÃO
O crescimento desordenado das cidades, atrelado ao aumento do número de rodovias urbanas, resulta no
aparecimento de fontes de ruído capazes de gerar grande dano à população. Essas fontes, quando em
excesso, resultam no aparecimento da chamada poluição sonora (GUEDES, 2005). Esse tipo de poluição já é
considerado pela Organização Mundial de Saúde – OMS, a segunda maior causa de poluição ambiental no
mundo, perdendo apenas para a poluição do ar (WHO, 2017). Entretanto, é a que apresenta o maior perigo,
em virtude da sua dificuldade de percepção e aceitação imediata de seus efeitos, podendo dessa forma,
interferir na saúde humana (SILVA, 2011).
Uma das ferramentas disponíveis para auxiliar o planejamento urbano das cidades e combater a
poluição sonora é o mapa sonoro. Também denominado mapa de ruído ou carta do som, o mapa sonoro é a
representação geográfica do ruído emitido nas cidades, por meio das curvas isofônicas (SUÁREZ &
BARROS, 2014; LEE et. al., 2018). Curvas isofônicas constituem a interligação dos pontos de medição que
apresentam mesmo nível sonoro e representam graficamente a topografia sonora da cidade (SILVA, 2011).
A cidade de Sinop se encontra no norte do estado de Mato Grosso, também conhecida como a “capital
do nortão”, é um polo agroindustrial e que vem se expandindo gradativa e rapidamente, se destacando pela
pujança econômica e atraindo novas empresas e moradores, crescendo cerca de 10% ao ano (WERNECK,
2015). A mudança na paisagem da cidade de Sinop traz consigo novas características visuais e sonoras.
O crescimento de uma cidade envolve o aumento da população, de residências, do comércio, do
tráfego de veículos, de barulhos noturnos, promovendo um ambiente acústico totalmente diferente daquele
inicialmente existente. Nesse contexto, mesmo sofrendo grandes mudanças em sua paisagem sonora, a
cidade de Sinop ainda possui áreas tranquilas e de significativo valor ambiental para preservação e
contemplação da natureza. Em geral, espaços com grandes áreas arborizadas são os mais valorizados.
Atualmente, a preocupação com o bem-estar do ser humano vem aumentando. Consequentemente a
procura por leis e diretrizes, para nortear a gestão dos espaços urbanos e identificar como as características
do meio influenciam na qualidade de vida das pessoas, acabam surgindo, como por exemplo as utilizadas
para o gerenciamento do ruído através da Diretiva Europeia 2002/49/CE (PARLAMENTO EUROPEU,
2002).
Diante do exposto, torna-se necessária a realização de estudos específicos para identificação das
características das paisagens sonoras e suas consequências. Esses estudos podem servir para identificação de
áreas onde ainda existe uma paisagem sonora adequada para se preservar, além de subsidiar o plano diretor e
o mapeamento acústico da cidade.

2. OBJETIVO
O objetivo desta pesquisa é identificar os pontos de preservação da paisagem sonora e identificar quais
interferem no conforto dos habitantes produzindo uma parcela do mapeamento acústico da cidade, como um
subsídio ao plano diretor municipal.

3. MÉTODO
Os métodos de estudo da paisagem sonora ainda estão em desenvolvimento, sem uma forma de tratamento
unificada. De modo geral, este estudo foi feito por meio de uma junção de metodologias já utilizadas e
descrita na literatura (HOLTZ, 2012; SOARES, 2015; RODRIGUES, 2015).
O estudo teve uma abordagem objetiva e outra subjetiva, ou seja, uma com a captura de dados e a
outra a partir da percepção dos usuários.
As áreas onde foram realizados os estudos são: reserva verde R-11 (Parque Florestal); área verde em
condomínio Aquarela do Brasil; e Av. Tarumãs. Essas áreas estão indicadas na Figura 1.

246
Figura 1 – Localização das áreas de estudo. (GOOGLE, 2017).

3.1. Definição da área de estudo


A pesquisa foi realizada na cidade de Sinop, localizada ao norte do Mato Grosso. Conforme Ferreira (2017),
a cidade foi fundada na década de 1970, quando a Colonizadora Sinop S.A. adquiriu aproximadamente 500
mil hectares de terra, situados a 500 km de Cuiabá na BR 163 (Cuiabá- Santarém), e criou a Gleba Celeste.
Devido à grande procura e migração para o oeste do país, em menos de sete anos o governador
Frederico Campos assinou a Lei 4.156/79, que elevou Sinop à categoria de município. Atualmente possui
uma população estimada de 132.934 habitantes, segundo estimativa do IBGE (2016). Apesar de jovem, a
cidade está em constante desenvolvimento, passando por grandes transformações urbanísticas.
No âmbito da paisagem sonora urbana da cidade, observarmos mudanças significativas com
diminuição das áreas verdes e silenciosas como é o caso da Avenida Tarumãs, antes uma das mais
arborizadas da cidade, e que sofreu uma reforma que extraiu grande parte da vegetação, como mostrado na
Figura 2.

1 2

3 4

Figura 2 – Avenida Tarumãs. antes (NORTÃO NOTÍCIAS, 2014) (1 e 3); depois (SKYSCRAPERCITY, 2010) (2); (ANÚNCIOS-
ABZ, 2017) (4).

A cidade possui ainda as seguintes áreas verdes preservadas: Reserva florestal R-11, Parque florestal e
condomínios (Figura 3), áreas sociais ou comunitárias verdes que são objeto de estudo desse trabalho.

1 2

Figura 3 – Reserva florestal R-11. (GOOGLE EARTH, 2017) (1); Condomínio Aquarela do Brasil. (GOOGLE EARTH, 2017) (2).

247
3.2. Caminhada Exploratória
Nos espaços definidos para o estudo foram realizadas caminhadas, visando identificar o ruído ambiente.
Cobriu-se toda a área acessível dos ambientes, sem ou com o mínimo de interferência no comportamento das
pessoas. Os pontos medidos foram escolhidos conforme apresentaram características interessantes analisadas
durante a caminhada exploratória no ambiente. Cada ambiente possuiu uma quantidade de pontos
necessários para sua avaliação. O bairro Aquarela Brasil teve cinco pontos conforme Figura 4(1), Parque
florestal exposto na Figura 4(2) e Av. Tarumãs utilizam-se de seis pontos conforme a Figura 5.

1 2

Figura 4 – Posicionamento dos pontos de medição acústica no bairro Aquarela Brasil. (GOOGLE EARTH, 2017) (1);
Posicionamento dos pontos de medição acústica no Parque florestal. (GOOGLE EARTH, 2017) (2).

Figura 5 – Posicionamento dos pontos de medição acústica na Av. Tarumãs. (GOOGLE EARTH, 2017).

Para caracterizar a paisagem sonora dos lugares em estudo, realizaram-se medições dos níveis de
pressão sonora equivalente (𝐿eq), além de calcular o nível sonoro ponderado em A (LAeq), com um medidor
de nível de pressão sonora modelo G4, Type 2270, da empresa Brüel & Kjær (Figura 6), instalado a 1,5 m do
solo, com a ajuda de um tripé, pois segundo Rodrigues (2015) essa é a altura média do ouvido humano,
seguindo as recomendações estabelecidas pela norma NBR 10.151 (ABNT, 2000) e sua revisão (ABNT,
2019).

Figura 6 – Medidor de nível sonoro. (BRÜEL&KJÆR, 2015).

A duração das medições em cada ponto foi de dez minutos (LAeq, 10min), com a medição do ruído de
tráfego onde necessário. De posse desses dados montaram-se tabelas e gráficos para a avaliação do ambiente
acústico. As medições foram feitas em dias meteorologicamente favoráveis evitando as precipitações que
poderiam interferir no resultado.
Juntamente com as medições foram feitas anotações comportamentais das pessoas, como também o
levantamento fotográfico e filmagens do ambiente em questão. Nas anotações também constaram os eventos
sonoros ouvidos durante as medições e as características das paisagens nos diferentes ambientes.

248
Para compreender a influência dos aspectos urbanísticos na qualidade da paisagem sonora dos
ambientes, foram medidos pontos em regiões onde o som do tráfego poderia interferir diretamente na
qualidade sonora. A partir dos valores obtidos em cada ponto nas medições realizadas nos diferentes
ambientes, foram elaborados os mapas de ruído de cada ambiente por meio do software de mapeamento
Predictor-limA.
Os mapas permitem a análise da distribuição do ruído em todos os ambientes que fazem parte deste
estudo. Para melhor avaliar a qualidade do ambiente ou da paisagem sonora, foram realizados dois tipos de
avaliação: uma pelo pesquisador e outra pelo usuário do espaço.
Foi realizada uma observação do comportamento das pessoas que permaneciam no ambiente acústico
e as atividades que elas desempenhavam, além de observar a duração de suas atividades. Os usuários
responderam a um questionário para que se obtivesse a noção da relação deles com o ambiente e como é a
percepção deles da paisagem sonora, a motivação da visita, tempo de permanência, seus bairros de origem e
com que frequência costumam frequentar o local.
O questionário aplicado possui questões abertas e fechadas. As perguntas de resposta fechada limitam
o inquirido a um conjunto de respostas fornecidas, enquanto as perguntas de resposta aberta permitem que o
inquirido tenha liberdade de resposta, sem a influência do investigador (REJA et al., 2003).
As perguntas de resposta fechada apresentam maior objetividade e facilidade na sistematização da
informação (CHAGAS, 2000), mas para haver maior confiabilidade no que diz respeito a qualidade do
ambiente sonoro, as perguntas abertas se fazem necessárias, pois assim se obtém respostas espontâneas do
usuário.

4. RESULTADOS
As medições foram realizadas em diferentes dias da semana, visando os dias com fluxo de usuários, de
acordo com a Tabela 1.
Tabela 1 – Configurações das medições.

Locais Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4


Aquarela do Brasil 21/04/18 22/04/18 28/04/18 29/04/18
Parque florestal 23/04/18 25/04/18 28/04/18 29/04/18
Av. Tarumãs
21/04/18 22/04/18 28/04/18 29/04/18

As medições foram feitas em pontos pré-definidos, que foram escolhidos após a caminhada
exploratória em cada ambiente. Os valores obtidos nessas medições foram comparados com os valores
recomendados pela NBR 10151 (ABNT, 2000) e OMS/1999 para o conforto dos indivíduos. Em seguida, as
informações foram organizadas, analisadas e interpretadas, tanto os resultados dos questionários quanto os
valores obtidos nas medições, estabelecendo a equiparação entre respostas subjetivas e resultados obtidos em
campo.

4.1. Caracterização Acústica


Para o bairro Aquarela Brasil, foram obtidos os dados físicos de cinco pontos dentro dos limites da área
verde de recreação e lazer (Figura 7). No Parque florestal avaliaram-se seis pontos (Figura 8), dos quais
cinco foram situados nas trilhas do parque e um deles na via frontal do mesmo. Na Av. Tarumãs foram feitas
medições em seis pontos (Figura 9) distribuídos em pontos onde há recreação durante os fins de semana.
A ocupação do solo do entorno da área verde do Aquarela Brasil e do Parque florestal é
exclusivamente residencial enquanto no entorno da Av. Tarumãs é mesclada entre uso comercial e uso
residencial (Prefeitura de Sinop, 2009). Constatou-se que as vias do entorno da área verde do Aquarela Brasil
e do Parque florestal possuem uma densidade de tráfego relativamente baixa enquanto na Av. Tarumãs é
muito elevada, responsável pelos elevados níveis sonoros medidos.
Para formulação dos gráficos utilizaram-se os valores da média logarítmica dos LAeq máximos das
frequências entre 63 Hz a 16 kHz. Os gráficos (Figuras 7 e 8) mostram a variação acústica nos ambientes nos
diferentes dias de medição, evidenciando a influência do tráfego no ambiente. Observa-se que na Figura 7(1)
há menor variação espacial entre os pontos de medição, ao passo que a Figura 7(2) apresenta uma menor
variação temporal, ou seja, os níveis de ruído pouco variaram de um dia para o outro. Já na Figura 8,
verifica-se uma maior variação tanto espacial quanto temporal.

249
1 2
c
Figura 7 – Variação de LAeq (dB) na área de recreação do bairro Aquarela Brasil (1); Variação de LAeq (dB) no Parque florestal. (2).

Figura 8 – Variação de LAeq (dB) na Av. Tarumãs.

Durante as medições houve sons mais claramente percebidos. No Aquarela Brasil os sons mais
percebidos foram: pássaros cantando, pessoas falando, crianças gritando, sons dos brinquedos do parquinho,
som de queda d’água, sons de tráfego (leve); no Parque Florestal: sons de pássaros, sons de animais, sons de
pessoas conversando, sons de vento batendo nas folhas, sons de tráfego (leve); e na Avenida Tarumãs:
tráfego dominantemente, sons de música, carros de som, pessoas conversando.
As Figuras 9 e 10 apresentam mapas da distribuição sonora nos locais de estudo, para os dias no qual o
nível de pressão sonora LAeq foi mais ameno (A) e para os dias mais onde foi mais elevado (B) determinados
através dos valores medidos (apresentados nas Figuras 7 e 8) utilizando o software Predictor-limA
considerando as barreiras de edificações e de vegetação.

1 2
Figura 9 – Mapas de distribuição sonora da área verde do bairro Aquarela Brasil: (A) dia tranquilo (B) dia agitado (1); Mapas de
distribuição sonora do Parque florestal: (A) dia tranquilo (B) dia agitado (2).

250
Figura 10 – Mapas de distribuição sonora da Av. Tarumãs: (A) dia tranquilo (B e C) dias agitados.

Os mapas mostram como a influência do tráfego domina completamente o ambiente, fazendo com que
o nível de pressão sonora aumente excessivamente. A NBR 10151 preconiza que em locais como Aquarela
Brasil e Parque florestal o limite sonoro, em decibels, com filtro de ponderação A, é de 50 dB no período
diurno (horário das medições) e na Av. Tarumãs é de 55 dB no período noturno (horário das medições).
Observa-se pelos mapas que a Av. Tarumãs é a mais discrepante em relação ao que a norma determina
ultrapassando cerca de 15 dB do valor normatizado para o tipo de região.

4.2. Avaliação Subjetiva


Foram aplicados 60 questionários em cada local de estudo, para se ter uma melhor amostragem. Foi
verificado que a área de recreação do bairro Aquarela Brasil e a Av. Tarumãs têm, em sua maioria, visitantes
do sexo feminino; enquanto no Parque florestal a maioria dos visitantes é do sexo masculino como mostra a
Figura 11.

Figura 11 – Gênero dos visitantes nos pontos de pesquisa.

Em relação às faixas etárias verificou-se que os visitantes são em sua maioria jovens entre 15
e 29 anos, como se pode ver na Figura 12.
Em relação à ocupação dos visitantes em cada local, verifica-se em sua maioria absoluta que
são trabalhadores seguido pelos estudantes e logo depois os autônomos como mostrado na
Figura 13(1).

251
Figura 12 – Faixa etária dos visitantes.

1 2
Figura 13 – Ocupação dos visitantes (1); Frequência de utilização dos locais (2).

Os usuários dos espaços, quando questionados sobre a frequência com que visitam o local,
em sua maioria responderam ir ao menos uma vez ao mês, sendo 61,7% dos inquiridos no Parque
florestal e Av. Tarumãs, e 76,7% dos perguntados na Aquarela Brasil, como mostrado na
Figura 13(2). Quando questionados acerca do tempo de permanência no local, em sua grande parte
permanecem entre uma e duas horas como mostrado na Figura 14(1).

1 2
Figura 14 – Tempo de permanência nos locais pelos visitantes (1); Nível de satisfação da infraestrutura dos locais (2).

Em relação ao nível de satisfação quanto à qualidade da infraestrutura, veja Figura 14(2), e


em relação à beleza do local, veja Figura 15(1), a maioria se mostra satisfeito com uma queda no
número de satisfeitos na Av. Tarumãs.
Quando questionados para que avaliassem o volume do som no ambiente, a Av. Tarumãs é
avaliada como tendo um volume alto por 48,3% dos usuários enquanto nos outros dois locais em
sua maioria avaliam como baixo ou normal como indicado na Figura 15(2).
Ao serem questionados quanto ao incômodo gerado pelo som do ambiente, no Aquarela
Brasil 63,3%, no Parque florestal 91,7% e na Av. Tarumãs 40% afirmaram não serem
incomodados pelo nível sonoro, como podemos ver na Figura 16(1).

252
1 2
Figura 15 – Beleza estética do local (1); Avaliação do volume do som (2).

1 2
Figura 16 – Incômodo gerado pelo som (1); Mudança de som ao entrar e sair do ambiente (2).

Quando interrogados sobre a qualidade do som ao entrar e sair do local 53,3% dos visitantes
do Aquarela Brasil, 90% dos visitantes do Parque florestal e 50% dos visitantes da Av. Tarumãs
dizem que a qualidade sonora muda como mostra a Figura 16(2). Nessa mesma pergunta tiveram
uma questão aberta para dizer se melhorava ou piorava. No Aquarela Brasil e Parque florestal, a
grande maioria disse que melhorava quando estavam no local, enquanto na Av. Tarumãs todos que
responderam “sim” afirmaram que o som era muito exagerado.

5. CONCLUSÕES
A composição da paisagem sonora de cada local possui uma característica diferente. No bairro
Aquarela Brasil, sons da natureza, crianças gritando, pessoas conversando e tráfego dominam a
paisagem sonora do ambiente com grande predominância do som de crianças gritando. No Parque
florestal, sons da natureza, pessoas conversando e tráfego leve formam sua paisagem sonora tendo
como predominância os sons naturais. Na Av. Tarumãs, os sons de tráfego, música, pessoas
conversando formam a paisagem sonora tendo como predominância o som do tráfego.
Os valores de LAeq obtidos nos diversos pontos de medição nos locais de estudo, mostra que
em sua maioria encontram-se em desacordo com o que determina a NBR 10151 e em relação ao
que a Organização Mundial de Saúde – OMS determina para áreas verdes. O local com maior
índice em desacordo é a Av. Tarumãs que possui como menor valor de L Aeq 67 dB graças ao alto
nível de tráfego além das músicas dos veículos. Isso mostra que a hipótese de que o
desenvolvimento urbano influencia efetivamente na deterioração da acústica ambiental dos locais
estudados é um fato.
Os locais com menos influência da urbanização, dando prioridade para a natureza
apresentaram níveis sonoros bem mais próximos aos que prevê a NBR 10151, principalmente nos
pontos mais distantes das vias do entorno. Isso se deve à atenuação através da vegetação e ao
decaimento da energia sonora influenciada pela distância.
De uma forma geral, conclui-se que, independente da tipologia sonora, os ruídos tanto do
bairro Aquarela Brasil e da Av. Tarumãs são elevados. Os níveis mais baixos foram registrados no
Parque florestal, que, por sua alta densidade de vegetação, sofre menos influência do tráfego das
vias em seu entorno.

253
A paisagem sonora que é boa e deve ser mantida é a existente no Parque florestal, possuindo
um LAeq de acordo com a norma NBR 10151 na maioria dos seus pontos e podendo ser visto na
distribuição do som pelo ambiente como mostrado nos mapas (Figura 14). A Diretiva Europeia
2002/49/EC propõe a diminuição dos efeitos prejudiciais à saúde das pessoas que são expostas a
ruído gerado no ambiente, trazendo uma proposta de proteção ao bem-estar de cada pessoa. E o
Parque florestal atende essa proposta tanto na parte subjetiva (alegações dos usuários através dos
questionários) quanto na objetiva (medições feitas nos pontos dentro do ambiente).
Todos os pontos medidos dentro do Parque florestal, sofre mínima influência do tráfego das
vias em seu entorno, deixando as características naturais (sons da natureza e dos animais) mais
evidentes.
Comparando o resultado dos questionamentos com os obtidos pelas medições, observamos
que há uma divergência quanto à satisfação. A qualidade de um determinado ambiente só pode ser
julgada por quem o utiliza e a opinião dos visitantes não tem conformidade com a norma. A
maioria das pessoas, mesmo estando em ambientes que apresentam níveis sonoros acima do
estabelecido por norma, se mostram satisfeitas, mesmo indicando a preferência por sons naturais e
tendo desconforto ante aos sons de tráfego, pois a percepção sonora não leva em consideração
apenas as características acústicas, mas também a percepção dos outros sentidos.
Mesmo os locais sendo, em sua maioria, julgados agradáveis, devemos manter atenção, tendo
em vista que mesmo as pessoas se acostumando com o ruído gerado, o mesmo acima do normal
afeta a saúde dos usuários e a qualidade dos locais. Deve-se investir em mais áreas verdes para
lazer dentro da cidade de forma estratégica garantindo áreas de preservação e com boa paisagem
sonora.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10151:1999 - Avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o conforto
da comunidade – Procedimento, Rio de Janeiro, 2000.
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10151:2019 – Medição e avaliação de níveis de pressão sonora em áreas
habitadas – Aplicação de uso geral, Rio de Janeiro, 2019.
CHAGAS, A. (2000). O questionário na pesquisa científica. Revista Administração On Line. 1.
FERREIRA, J. C. V. História de Sinop: saiba sobre o surgimento da cidade de Sinop. 2017. Disponível em:
<http://portalmatogrosso.com.br/municipios/historia- de-sinop/570>. Acesso em 17 de Junho de 2017.
GUEDES, I. Influência da Forma Urbana em Ambiente Sonoro: Um estudo no bairro de Jardins em Aracajú (SE).
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo) – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.
HOLTZ, M. C. B. Avaliação qualitativa da paisagem sonora de parques urbanos. Estudo de caso: Parque Villa Lobos, em São
Paulo, São Paulo, 2012.
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<https://cidades.ibge.gov.br/v4/brasil/mt/sinop/panora ma>. Acesso em 16 de Abril de 2019.
Lee, S.W.; Chang. S.I.; Park, Y.M. Utilizing noise mapping for environmental impact assessment in a downtown
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PREFEITURA DE SINOP. Plano diretor participativo, Sinop, Mato Grosso, 2009.
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2011.
SOARES, A. C. L. Análise da Paisagem Sonora de Quatro Parques Públicos na Amazônia Brasileira, Sobrac, 2015.
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v. 466-467, p. 539-546.
WERNECK, K. Sinop completa 41 anos de fundação e já projeta mais de 200 mil habitantes. Disponível em:
<http://www.reportermt.com.br/geral/sinop-completa- 41-anos-de-fundacao-e-ja-projeta-mais-de-200-mil-habitantes/45420>.
Acesso em 13 de Abril de 2019.
WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guidelines for community noise, 2017. Disponível em:
<http://www.who.int/docstore/peh/noise/gu> Acesso em: jan. 2017.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a CAPES pelas bolsas de incentivo à pesquisa e extensão, fomentando o pensamento
crítico e científico da acústica ambiental.

254
FEIRAS LIVRES NA CIDADE DE MACEIÓ: A CONFORMAÇÃO URBANA
LOCAL E A RELAÇÃO COM O RUÍDO

Ana Caroline Araújo Ferreira da Silva (1); Bianca Oliveira Pontes (2); Maria Lucia Gondim
da Rosa Oiticica (3)
(1) Arquiteta e Urbanista, carolinearaujofs@gmail.com, Universidade Federal de Alagoas
(2) Mestre em Arquitetura e Urbanismo, biancaopontes@gmail.com, Universidade Federal de Alagoas
(3) Doutora em Arquitetura e Urbanismo, mloiticica@hotmail.com, Universidade Federal de Alagoas

RESUMO
Por serem grandes polos de convergência dos mais diversos interesses da sociedade, as feiras livres atraem
ao seu entorno comércios e serviços interessados nas trocas econômicas que decorrem desta atividade
comercial, modificando assim, o uso do solo das regiões, seu tráfego de pedestres e de veículos, suas
relações sociais e espaciais. Todas estas transformações insere a localidade comercial como referência da
cidade em diversos âmbitos: social, cultural e econômico, além de sonoro para a região ao qual está inserida.
Este trabalho tem por objetivo realizar uma avaliação comparativa do impacto sonoro causado por duas áreas
designadas à feira livre, localizadas em zonas de predominância residencial, na cidade de Maceió – AL. A
metodologia aplicada contou com a caracterização das áreas de estudo e medições de nível de pressão sonora
juntamente com a contagem de veículos leves e pesados que trafegavam pelo local durante as medições in
loco. Os resultados encontrados comprovaram o impacto ruidoso das feiras livres no entorno das mesmas e
como o tráfego veicular e a dimensão da feira faz com que ocorra o aumento dos valores de níveis de pressão
sonora no local, sendo este aspecto um fator a ser considerado para o planejamento urbano de arquitetos,
urbanistas e gestores públicos.
Palavras-chave: feiras livres, ruído, urbanismo.

ABSTRACT
Because they are large convergence points of the most diverse interests of society, the free trade fairs (free
market) attract to their surroundings trades and services interested in the economic exchanges that derive
from this commercial activity, thus modifying, the use of the soil of the regions, its traffic of pedestrians and
vehicles, their social and spatial relations. All these transformations insert the commercial locality as
reference of the city in diverse scopes: social, cultural and economic, as well as sonorous for the region to
which it is inserted. The objective of this work is to carry out a comparative evaluation of the noise impact
caused by two areas designated for the fair, located in residential areas, in the city of Maceió - AL. The
applied methodology counted on the characterization of the study areas and sound pressure level
measurements along with the count of light and heavy vehicles that traveled by the place during the
measurements in loco. The results showed the noisy impact of the free trade fairs around them and as the
vehicular traffic and the size of the fair causes the increase of the values of sound pressure levels in the place,
being this aspect a factor to be considered for the urban planning of architects, town planners and public
managers.
Keywords: free market, noise, urbanism.

255
1. INTRODUÇÃO
A partir do surgimento das feiras livres, uma das mais antigas modalidades de comércio varejista, houve um
destaque das mesmas quanto à sua importância para o desenvolvimento espacial das cidades. Palco de
diversas dinâmicas, variados sons, relações e fluxos de pessoas e veículos, as feiras demonstram função
social, com perfil histórico e identitário, transformam o espaço físico urbano e comportam-se como ponto de
convergência nas cidades. “No Brasil, essa atividade, durante muito tempo foi o aporte do abastecimento de
alimentos dos povoados, sendo assim, responsável pelo surgimento de diversos núcleos de povoamento
urbano no país.” (BARBOSA; SOUZA FILHO; SOUZA, 2011.)
Atualmente o funcionamento das feiras livres possibilita a realização de diversas atividades
comerciais. À medida que a oferta e a variedade de produtos aumentam, seu público alvo é ampliado e, desta
forma, há uma tendência ao crescimento do tráfego local de pedestres e veículos, assim como das atividades
econômicas temporárias – ambulantes, por exemplo.
Como consequência destas alterações urbanas surgem também novas problemáticas, sendo o ruído
urbano, uma das principais. A Organização Mundial da Saúde (WHO, 2018) cita, além das complicações ao
aparelho auditivo, diversas condições não-auditivas que o ruído pode causar aos seres humanos, como:
distúrbios do sono, irritação, doenças cardiovasculares e metabólicas, adversidades no nascimento,
comprometimento cognitivo, problemas de saúde mental e bem-estar. No entanto, a percepção do ruído na
comunidade às vezes é mascarada pela população usuária deste espaço, visto que, a mesma encontra-se
imersa neste ambiente regularmente e muitas vezes está envolvida socialmente e culturalmente na formação
dos mesmos.
A implantação de estabelecimentos comerciais, como as feiras livres, gera ainda modificações no
tráfego veicular local, além do aumento no fluxo de pedestres devido à procura da população pelos produtos
e serviços ofertados. Comportando-se assim, como um polo gerador de ruído para a localidade.
A fim de vender ou comprar produtos, comerciantes e fregueses, deslocam-se da sua região
ultrapassando fronteiras regionais, municipais ou estaduais e marcam um movimento rotativo de distribuição
espacial que faz com que as feiras sejam locais de constante mobilidade comercial e humana proporcionando
a manifestação socioeconômica e cultural (BOECHAT; SANTOS, 2009).
De acordo com a Secretaria Municipal do Trabalho, Abastecimento e Economia Solidária
(SEMTABES) na cidade de Maceió existem seis feiras livres distribuídas em alguns bairros da capital, entre
elas têm-se: feirinha da Jatiúca e feirinha do Tabuleiro. Cada uma apresenta configurações distintas em
relação a área em que está localizada, usos e ocupação do entorno e abrangência de compradores,
possibilitando uma análise comparativa quanto ao seu impacto sonoro em áreas distintas da capital de
Alagoas, Maceió.

2. OBJETIVO
O objetivo geral deste trabalho foi realizar uma avaliação comparativa quantitativa do impacto sonoro
causado por duas áreas designadas à feira livre, localizadas em zonas de predominância residencial, na
cidade de Maceió – AL.

3. MÉTODO
O método deste trabalho é quantitativo e está dividido em duas etapas principais:
1. Caracterização das áreas de estudo;
2. Escolha do ponto de medição;
3. Medições de Níveis de Pressão Sonora;
4. Análise dos dados quantitativos obtidos.

3.1. Caracterização das áreas de estudo


Na cidade de Maceió existem 6 feiras livres localizadas em diferentes bairros da capital, como mostra a
Figura 1. Estas seis feiras atendem tanto aos bairros da cidade como um todo, quanto a compradores das
cidades adjacentes e possuem diferentes dimensões e configurações, sendo as maiores e mais influentes as
feiras do Tabuleiro, do Jacintinho e do Benedito Bentes; e as menores e de influência reduzida as feirinhas da
Jatiúca, Cleto Marques Luz e Village Campestre.

256
Figura 1 – Localização das feiras livres em Maceió, capital de Alagoas.

Neste trabalho serão comparados os níveis de pressão sonora propagados em duas feiras livres: feira
do Tabuleiro e feira da Jatiúca. A escolha foi fundamentada na análise quanto a conformação da feira, sendo
realizado um comparativo entre duas estruturas, a feira de rua, Feirinha da Jatiúca, e a feira concentrada em
um terreno delimitado cedido pelo município, a Feirinha do Tabuleiro.
A “feirinha do Tabuleiro” (Figuras 2 e 3), como é chamada, apresenta a maior área de influência
dentre todas as feiras, confirmando sua importância para a cidade e para os municípios vizinhos. A feirinha
do Tabuleiro ultrapassa os limites da própria feira livre que, atualmente, ocorre em um terreno
disponibilizado pela Prefeitura de Maceió na Av. Maceió, adentrando ruas próximas. Assim, esta feira não
diz respeito apenas à feira livre existente, mas sim a uma região comercial de grande importância localizada
no bairro do Tabuleiro dos Martins.

Figura 2 – Foto da Feirinha do Tabuleiro.

257
Figura 3 – Foto da Feirinha do Tabuleiro.

Já a feira da Jatiúca (Figuras 4 e 5), denominada a partir do bairro em que está localizada, corresponde
a uma área concentrada de barracas estruturadas nas calçadas de algumas vias em meio a um perímetro de
uso comercial e misto. As características gerais de cada uma das feiras livres analisadas estão compiladas na
Figura 6.

Figura 4 – Foto da Feirinha da Jatiúca.

Figura 5 – Foto da Feirinha da Jatiúca.

258
Figura 6 – Esquema de características das Feiras do Tabuleiro e da Jatiúca.

259
3.2. Escolha dos pontos para medição
Anterior a realização das medições foi determinado um ponto de medição em cada feira livre,
correspondente ao local onde o aparelho para medição sonora foi posicionado. Para a escolha, foram levados
em consideração fatores como: proximidade com o ponto de maior convergência entre feirantes, pedestres,
veículos, observados in loco, além da localização do mesmo na via principal da localidade a fim de abranger
as várias dinâmicas sonoras existentes.

Figura 7 – Localização dos pontos de medição em relação às feiras.

3.3. Medição dos Níveis de Pressão Sonora


Para a realização das medições de nível de pressão sonora (NPS) foram seguidos os procedimentos
estabelecidos na NBR 10151 – Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas Visando o Conforto da Comunidade
(ABNT, 2000).
As medições foram feitas adotando o medidor de pressão sonora Solo da 01dB (Figura 7) que já
mostra a média ponderada dos níveis de pressão sonora (LAeq) de modo que o mesmo foi calibrado logo
antes de iniciar cada período de medição e posicionado a uma altura de 1,20m, conforme exigido pela NBR
10151 (ABNT, 2000). O equipamento permaneceu com distância mínima de 2m do limite das edificações
próximas a cada ponto de medição, conforme esquematizado na Figura 8.

Figura 8 -Medidor de Nível de Pressão Sonora. Figura 9- Localização do equipamento durante as medições (OLIVEIRA, 2017).

Junto ao levantamento das medições de Nível de Pressão Sonora (NPS) foi ainda realizada a contagem
de veículos que trafegaram na via onde estava localizado o ponto de medição, sendo este quantitativo
dividido entre veículos leves (motocicletas e carros) e veículos pesados (ônibus e caminhões).

4. RESULTADOS
As análises comparativas foram realizadas considerando os valores de nível de pressão sonora encontrados
nas duas áreas de estudo, realizando o comparativo entre seus decibels. A seguir serão apresentados os

260
resultados obtidos nesta pesquisa com base no que foi medido em relação às férias livres estudadas,
conforme a metodologia descrita acima.

4.1. Níveis de Pressão Sonora


Os valores medidos em ambos os pontos de medição das duas feiras livres estudadas nesta pesquisa estão
sintetizados na Figura 9. Esta apresenta tanto os Níveis de Pressão Sonora (NPS) mensurados quanto a
delimitação do valor estabelecido pela NBR10151 (ABNT, 2000) para as regiões estudadas. Em
concomitante foi sintetizado ainda o quantitativo de veículos leves e pesados nos dias e locais analisados.
Ao observar os valores registrados em dB(A) na Feirinha do Tabuleiro é possível notar que o maior
valor obtido encontra-se no horário de medição durante o sábado, chegando a 24,2 dB(A) acima do NCA
estabelecido pela norma em comparação. Ao observar o comportamento do ponto em questão durante a
semana, percebe-se que apesar de menor 1,4 dB do que o valor obtido no sábado, os dias se comportam de
maneira similar quando analisados sonoramente. Sendo assim, apesar deste ponto apresentar maiores valores
nos dias de maior movimentação da feira, os fins de semana, ele apresenta valores acima do NCA
estabelecido em todos os dias e horários. Isto pode ser justificado, levando em consideração que apesar da
Feirinha do Tabuleiro estar ou não funcionando, o local apresenta um alto quantitativo de veículos
trafegando.
Entretanto, como observado na Figura 9, na Feirinha do Tabuleiro, o quantitativo veicular no sábado é
o dobro do dia da semana, sendo os valores em dB(A) obtidos nos dois dias, similares. Nota-se, a partir do
observado in loco durante as visitas à região, que o fator de maior interferência no perfil sonoro são as
dinâmicas de vendas (carros de som, gritos de oferta de produtos, conversas) e as caixas de som da rádio
interna (funcionamento apenas na área da feirinha do Tabuleiro).
Já quando partimos para avaliar os valores encontrados na Feirinha da Jatiúca, é perceptível que
ambos valores, tanto do dia da semana quanto do final de semana, foram inferiores aos da Feirinha do
Tabuleiro. Os Níveis de Pressão Sonora medidos estão acima do estabelecido como critério confortável para
a comunidade segundo a NBR10151 (ABNT, 2000), no dia de semana o valor ultrapassa 6,9dB(A) e no
sábado 11,5dB(A). Porém estão abaixo pelo menos 15dB(A) quando comparados aos valores da feira livre
do Tabuleiro. O quantitativo de veículos levantados na Feirinha da Jatiúca também é bem inferior ao do
Tabuleiro.

261
Figura 9 – Síntese dos valores de NPS e contagem de veículos nas feiras livres estudadas.

As diferenças encontradas entre os valores de NPS das feiras livres estudadas podem ser atribuídos a
alguns fatores, como: à configuração viária de onde a feira livre está localizada, pois na Jatiúca ela é um via
do tipo local, enquanto que no Tabuleiro é uma via coletora, logo há uma maior quantidade de veículos
trafegando; ao uso e ocupação do entorno, já que na tabuleiro há uma maior quantidade e diversidade de
comércios e serviços nas proximidades da feira, o que agrega valor ao local e contribui para o aumento do
número de usuários, enquanto que na feirinha da Jatiúca há alguns edifícios comerciais próximos, mas
também uma grande área escolar e de usos residenciais do tipo multifamiliar; e à extensão da feira, enquanto
a feira do Tabuleiro possui uma grande área e é um ponto comercial de grande impacto e acolhe
compradores de diversos bairros, a feira da Jatiúca é mais compacta e costuma fornecer serviços para clientes
apenas dos arredores, que normalmente vão a pé até o local ou utilizam do serviço diferenciado por
encomenda através de ligação, na qual o pedido é enviado para o endereço do cliente em questão.

5. CONCLUSÕES
As transformações espaciais que decorrem das atividades das feiras livres originam novas fontes sonoras e
modificam o cenário acústico do local onde estão inseridas, quando não acompanhadas do devido
planejamento trazem ao seu entorno impactos negativos.
A partir das medições realizadas foi possível constatar que 100% dos valores de Nível de Pressão
Sonora levantados estavam acima do estabelecido pela norma brasileira vigente em relação ao conforto
urbano da comunidade. E que há uma diferença significativa em termos de ruído entre a feirinha do
Tabuleiro e a da Jatiúca, sendo esta menos ruidosa.
No âmbito sonoro, a feirinha do Tabuleiro apresenta fontes provenientes dos processos de compra e
venda dos feirantes, o tráfego intensificado e alocado nas ruas próximas, barracas espalhadas nas calçadas,
ambulantes, caixas de som em frente aos estabelecimentos comerciais e autofalantes espalhados ao longo das
ruas nos postes de iluminação para a transmissão da rádio local da feira. Já a feirinha da Jatiúca possui uma

262
menor extensão tanto física quanto em relação a seus usuários, diminuindo ainda mais a quantidade de
compradores no local de venda devido ao serviço de pedido por ligação e entrega em domicílio dos produtos.
Dessa forma, implantação de diretrizes a respeito do ordenamento da malha viária local e fiscalização
dos órgãos gestores torna-se necessária para a diminuição dos níveis de pressão sonora nestes locais sem a
descaracterização da identidade das feiras. O arquiteto e urbanista tem por dever o estudo e a preocupação
com o espaço da cidade. Sendo responsáveis pelo uso de ferramentas que auxiliem no planejamento urbano e
nos projetos arquitetônicos, visto que, as edificações são inseridas em determinados cenários e precisam estar
apropriadas para o conforto dos habitantes que as utilizam, assim como, dos habitantes que transitam pelas
proximidades das mesmas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10151: Acústica – Avaliação do ruído em áreas habitadas, visando
o conforto da comunidade – Procedimento. Rio de Janeiro, jul 2000.
BARBOSA, A. M. F.; SOUZA FILHO, J. A.; SOUZA, R. M. Dinâmica espacial e a formação da feira livre em Demerval Lobão-
Piauí-Brasil. Revista Geográfica da América Central, Costa Rica, Número Especial EGAL, p. 1-15, 2011.
BOECHAT, P. T. V.; SANTOS, J. L. Feira livre: dinâmicas espaciais e relações identitárias. In: VII ENCONTRO BAIANO DE
GEOGRAFIA E X SEMANA DE GEOGRAFIA DA UESB, 2011, Vitória da Conquista. Anais eletrônicos... Vitória da
Conquista: UESB, 2011. Disponível em: <http://www.uesb.br/eventos/ebg/anais/2p.pdf> Acesso em: 24 abr. 2017.
OLIVEIRA, P. L. Habitar entre sons e ruídos: impactos sonoros provocados por templos na paisagem sonora do loteamento
Village Campestre, Maceió-AL. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo): Dinâmica do espaço habitado,
Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2017.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Environmental Noise Guidelines for the European Region. Europe, 2018.
Disponível em:<http://www.euro.who.int/en/health-topics/environment-and-health/noise/publications/2018/environmental-
noise-guidelines-for-the-european-region-2018>. Acesso em: 29 out. 2018.

263
HÁ SILÊNCIO NO CAOS? AVALIAÇÃO DE CONDOMÍNIOS
RESIDENCIAIS NO CONTEXTO URBANO DA CIDADE DE MACEIÓ-AL
Stella Oliveira (1); Mariana Barbosa (2); Ellen Saraiva (2); Adrielly Paiva (2); Fernando H.
Guedes (2); Maria Lucia Oiticica (3)
(1) Arquiteta, graduada em arquitetura e urbanismo, stellarosane@gmail.com, UFAL, 98752-7875
(2) Estudante de arquitetura e urbanismo, mariana.barbosa.19971997@gmail.com, UFAL, 99688-5038
(2)Estudante de arquitetura e urbanismo, ellendyanne@gmail.com, UFAL, 98848-9401
(2) )Estudante de arquitetura e urbanismo, adriellypfp@gmail.com, UFAL, 99955-2355
(2) Estudante de arquitetura e urbanismo, fhrguedes@gmail.com, UFAL, 98218-9797
(3) Professora Drª da faculdade de Arquitetura e Urbanismo, mloiticica@hotmail.com, UFAL, 99982-3775
Universidade Federal de Alagoas, Centro de Tecnologia, Departamento de Arquitetura e Urbanismo,
Campus A. C. Simões, Tabuleiro dos Martins, CEP 57072-970, Maceió-AL

RESUMO
Atualmente, a demanda por moradias em condomínios fechados está em ascensão devido à busca por
segurança, privacidade, comodidade e outros aspectos que o estado não consegue prover. Nos últimos anos
foram realizados diversos estudos que comprovam níveis de pressão sonora superiores aos recomendados,
principalmente em rodovias de grande acesso a cidade, tendo níveis de ruído produzidos pelo tráfego de
veículos, sendo causa não só de poluição sonora, mas também de incômodo para a saúde da população. O
Grupo de Estudos do Ambiente Sonoro (GEAS), com propósito de localizar zonas silenciosas existentes nos
bairros de Santa Amélia e Jardim Petrópolis reuniu dados que serão comprovados através de medições
sonoras realizadas em pontos pré-estabelecidos, através de levantamentos do uso do solo e do fluxo de
veículos da região. A partir do levantamento de dados, esses foram inseridos no software CadnaA para
produção do mapa sonoro e diagnóstico das referidas áreas proporcionarem um ambiente acusticamente
saudável na cidade de Maceió-AL. Assim, o presente trabalho demonstra a existência de áreas silenciosas
nesses bairros e a proximidade com áreas poluídas como a de centros comerciais, bares e restaurantes. Tendo
esse tipo de moradia como uma opção para a preservação de áreas acusticamente adequadas para ambientes
residenciais seguindo os níveis exigidos pela NBR 10151(2000).
Palavras-chave: zonas silenciosas, condomínios residenciais, uso do solo, Maceió.

ABSTRACT
Currently, the demand for homes in gated communities is on the rise due to search for security, privacy,
convenience and other aspects that the State cannot provide. In recent years various studies have been
conducted that prove sound pressure levels higher than those recommended, mainly in big city access
highways, having high levels of noise produced by the flow of vehicular traffic, not being only of noise
pollution, but also uncomfortable for the health of the population. The study Grupo de Estudos do Ambiente
Sonoro (GEAS), with purpose to locate silent areas in the districts of Santa Amélia and Jardim Petrópolis
gathered data that will be proven through noise measurements carried out in pre-set points, through land use
surveys and the flow of vehicles in the region. From the survey data, these are inserted in the software for
production of CadnaA map of the neighbourhoods studied sound and diagnose if these areas provide an
environment acoustically healthy in the city of Maceió. Thus, the present work demonstrates the existence
of silent areas in these neighborhoods and the proximity to polluted areas such as shopping centres, bars and
restaurants. Having this type of housing as an option for the preservation of acoustically suitable for
residential environments areas following the levels required by NBR 10151 (2000).
Keywords: noise pollution, complaints, sound profile, Maceió.

264
1. INTRODUÇÃO
Os condomínios horizontais e os loteamentos fechados residenciais tem sido uma busca constante da
população brasileira principalmente nas cidades de médio e grande porte, que procuram distanciar-se dos
problemas urbanos, que considerável parte da população, acredita terem sido originados nas áreas centrais
das cidades. Os motivos para essa demanda ocorrem para prover benefícios como: a privacidade, segurança e
conforto, aliados à ampliação de entretenimento (LIRA, 2012).
A alta procura por esses tipos de habitações tem ligação direta com a expectativa do proprietário em
possuir um imóvel que além de ter uma boa estrutura arquitetônica, possua conforto ambiental e uma
qualidade de vida para toda a sua família. Esta qualidade de vida está associada, ao sossego e a tranquilidade
para se viver bem. Esses loteamentos, na maioria dos casos, são projetados com o projeto paisagístico, essas
áreas verdes e a arborização, trazem uma agradável sensação de paz, de ar limpo, relaxamento e descanso.
Além disso, a localização costuma ser em áreas mais afastadas dos centros e das principais vias de acesso aos
bairros, consequentemente o trânsito costuma ser menor, diminuindo o ruído urbano.
Segundo Freitas et al. (2015), quando um som possui um alto nível de intensidade e excede os
limites sensíveis à audição humana, torna-se um agente poluente e perturbador, denominado ruído. O ruído
em excesso afeta diretamente na saúde psicológica e fisiológica do ser humano, a exposição prolongada a
esse tipo de poluição prejudica tanto a concentração quanto o descanso, podendo ocasionar outras patologias
mais graves para a saúde humana (MARCELO, 2006).
Para Cortês et al. (2015), o ruído tem como principal gerador de fonte sonora o ruído ocasionado
pelo trânsito e com o desenvolvimento desordenado da inserção de veículos nas cidades, tornou-se o maior
problema para o conforto acústico urbano. Ocorrendo principalmente pela baixa qualidade do transporte
público, motivando o uso dos veículos particulares da população.
Apresentando como uma das consequências da poluição sonora, a exposição do ser humano a níveis
nocivos de ruído ambiental que conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS) adverte sobre os
impactos negativos do ruído na saúde e bem-estar do homem, que causam danos significativos à saúde,
sendo esses não apenas complicações auditivas, mas também danos psicológicos como estresse, distúrbios do
sono e perda de concentração (WHO, 2003).
O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA na resolução nº 001 (BRASIL, 1990a)
determina os padrões de emissão de ruídos decorrentes de quaisquer atividades no território nacional e a
Resolução n° 002 (BRASIL, 1990b) estabelece o Programa Nacional de Educação e Controle da Poluição
Sonora (Lei do SILÊNCIO). Na cidade de Maceió - AL, a Secretaria Municipal de Proteção ao Meio
Ambiente (SEMPMA) é o órgão responsável pela coleta das reclamações da população e a realização de
inspeções de denúncias à poluição sonora.
A NBR 10151:2000 (ABNT, 2000) define os valores aceitáveis de ruídos em dB(A) para os
ambientes urbanos. Esta que atualmente encontra-se atualizada foi utilizada neste trabalho com a versão
anterior, sendo sua original do ano 2000. Além dela existem outras utilizadas como parâmetro para acústica
arquitetônica e urbana que estabelecem e norteiam a poluição sonora, como a NBR 10152:2017 e NBR
15575:2013.
De acordo com Oliveira et al. (2017), providências podem ser de ampla relevância para evitar a
contaminação dessa poluição nas zonas silenciosas da cidade por parte de zonas vizinhas, a criação de uma
base de dados acústico e monitoramento do ruído, assim esses aspectos podem evidenciar a importância do
quadro sonoro das cidades, além de facilitar estratégias para um melhor planejamento urbano, como também
orientando os futuros desmembramentos urbanísticos além de conscientizar o valor da preservação de um
ambiente acusticamente saudável.

2. OBJETIVO
Este trabalho teve o objetivo de avaliar os níveis de ruído residual nos bairros de Santa Amélia e Jardim
Petrópolis na cidade de Maceió-AL, dando voz a modalidade de moradia em condomínios fechados para
protegê-las de futuras exposições do impacto de vizinhança mencionado no Estatuto das Cidades (Lei n.
10.257/01) artigos 36 a 38.

3. MÉTODO
Os procedimentos metodológicos foram divididos em três etapas.
3.1 Seleção e caracterização da área de estudo;
3.1.1 Definição das estratégias de medição;
3.2 Medições sonoras in loco;
3.3 Simulações computacionais.

265
3.1. Seleção e caracterização da área de estudo
Maceió possui aproximadamente 1 (um) milhão de habitantes e é dividida em 50 bairros (Figura 1),
possuindo oito zonas de acordo com a ocupação do solo, apresentando uma crescente implantação de
condomínios fechados que em sua maioria apresentam infraestrutura pertinente de lazer, segurança e
conforto.

Figura 1 – Mapa do Brasil e Alagoas com a localização da cidade de Maceió-AL.

O Bairro de Santa Amélia faz parte da zona administrativa 4 (quatro) com uma população de 10.649
habitantes (IBGE, 2010) e uma área de 2,35 km². O bairro possui uma grande quantidade de condomínios e
sua principal via de tráfego é a Rua Empresário Jorge Montenegro Barros que possui em sua ocupação
edificações de comércios e serviços em grande parte de sua extensão (Figura 2).

Figura 2 – Bairros Santa Amélia com a localização dos pontos de medição.

Conforme o Censo (IBGE, 2010) a população do bairro Jardim Petrópolis (Figura 3) é de 5.081
(cinco mil e oitenta e um) habitantes, apresentando em sua extensão 6 supermercados 3 lojas de móveis, 3
fornecedores de gás, 3 pizzarias, 3 artigos e serviços de decoração, 3 pet shop, 2 dedetização e desratização,
2 organização e promoção de eventos, 2 farmácias e drogarias e 2 escritórios de contabilidade.

266
Figura 3 – Bairros Jardim Petrópolis com a localização dos pontos de medição.

3.1.1. Definição das estratégias de medição


Para a realização das medições foi necessário analisar a base cartográfica de Maceió e do uso do solo de cada
bairro selecionado, observando aspectos como: áreas com maior incidência de ruído (devido a uma alta
concentração de massa construtiva), tráfego viário, uso e ocupação do solo. A partir dos dados obtidos foram
determinados pontos estratégicos de medição nos diferentes bairros sendo 7 (sete) pontos para o bairro de
Santa Amélia e 12 no Jardim Petrópolis.
A localização e o número de medições foram definidos de acordo com características do ambiente,
com distâncias aproximadamente iguais entre si, sendo utilizadas interseções de uma grade de linhas, e
contornos de níveis de ruído iguais (ISO 1996/2, 1987).
Para o mapeamento do ruído ambiental, utilizou-se malha de amostragem regular, com seus pontos
distribuídos homogeneamente pelo espaço com a metodologia que recomendam a quantidade e
distanciamento dos pontos de medição sonora como pode ser encontrado em Nagem (2004), sendo definida
uma malha triangular equilátera, de modo que os desenhos ocupem toda a área de estudo, como pode ser
visto nas Figuras 4 e 5.

3.2. Medições sonoras


O equipamento utilizado foi mantido durante as medições sempre a 1,20 metros do chão, preso a um tripé, e
afastado em 2 (dois) metro de qualquer barreira vertical como paredes ou portões. As medições foram
realizadas no período entre 9:00h às 11:00h e 15:00h às 17:00h entre os dias de terça-feira à quinta-feira.

Figura 4 – Sonômetro. Figura 5 – Sonômetro em uso.

No Brasil, a norma que trata do conforto acústico da comunidade é a NBR 10151 (2000)
estabelecendo os níveis de pressão sonoros adequados e procedimentos de medição que fixam as condições
para avaliação da aceitabilidade do ruído em comunidades, assim limitando o nível de ruído emitido por
fontes sonoras (Figura 6). Atualmente, a NBR 10151 (2000) encontra-se atualizada porem para o uso neste
trabalho foi usada à versão original da mesma. Os níveis máximos de emissão sonora para fontes, conforme
as áreas do uso e da ocupação se encontram:

267
Figura 6 – NCA para ambientes externos, em dB(A) (NBR 10151, 2000).

As medições foram realizadas in loco em período diurno, com os bairros qualificados a partir dos seus
usos ocupacionais, ambos residenciais, de acordo com a norma vigente NBR 10151:2000 (Figura 6).

3.3. Simulações computacionais


O mapa sonoro foi realizado a partir da coleta de dados com o uso do programa computacional CadnaA, que
permite observar os seguintes aspectos: a) as principais fontes de ruído; b) as principais vias com altos e
baixos índices de ruído; c) a análise do entorno e ocupação do solo. Os mapas sonoros dos bairros citados
serão apresentados na etapa seguinte.

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS


Os bairros foram qualificados sendo área mista predominantemente residencial sendo admissível NCA de
55dB(A) para período diurno.
4.1. Contagem de veículos
Durante as medições nos bairros Santa Amélia e Jardim Petrópolis foram feitas contagens de veículos
(veículos leves, veículos pesados e motos), permitindo a análise de dados coletados e relacionando ao nível
de pressão sonora obtida como pode ser visto nas Figuras 7 e 8.

QUANTIDADE

Carros Ônibus/
Pontos Endereços Moto
leves Caminhões Total
Nº Nº Nº
1 Travessa Um 2 7 0 9
2 Rua Empr. Jorge Montenegro Barros 35 74 2 111
3 Rua Geraldo Ferreira dos Santos 0 2 0 2

4 Rua D 1 0 0 1

5 Rua Marquês de Agra 19 59 17 95


Rua Est. Arnoumar Chagas
6 5 6 6 17
(Praça da Colina)
7 Av. Dr. Amilton Falcão 1 2 0 3
8 Av. Dr. Amilton Falcão 2 0 0 2
Figura 7 – Amostragem de veículos do bairro Santa Amélia.

268
QUANTIDADE

Carros Ônibus/
Pontos Endereços Moto
leves Caminhão Total
Nº Nº Nº
1 Rua Empresário Carlos Cansanção Guimarães 0 7 0 7
2 Rua Poeta Alves de Amorim 0 0 0 0
3 Rua Doutor José Camelo Júnior 1 1 1 3

4 Rua 46- Portaria Aldebaran- Beta 2 34 1 37

5 Rua 39- Administração- Beta 0 3 0 3


6 Rua 32 1 4 0 5
7 Rua 47 - Portaria Aldebaran- Ômega 4 15 2 21
8 Rua 58 0 8 0 8
9 Rua 48- Academia 1 8 0 9
10 Rua 1- Portaria Aldebaran- Alfa 45 7 3 55
11 Rua 10 1 0 0 1
Figura 8 – Amostragem de veículos do bairro Jardim Petrópolis.

4.2. Tráfego viário x níveis de Pressão Sonora


A partir das medições realizadas, é possível visualizar os níveis de pressão sonoros (Figura 9) obtidos e a
partir desse compilado de dados e encontrar os pontos que estão inseridos em um ambiente acústico
saudável.

Figura 9 - Resultados das médias dos níveis de pressão sonora em dB(A) no bairro de Santa Amélia.

De acordo com os dados amostrados na Figura 9, percebe-se que o ponto 3 do Bairro Santa Amélia
tem um Laeq acima da norma e níveis máximos de ruído inadequados devido ao tráfego de pessoas que
passaram conversando durante a medição, porém, entre os outros pontos, esse é o que apresenta um melhor
nível de ruído.
A Figura 9 expõe os níveis de pressão sonora do bairro Santo Amélia dos 8 pontos em que foram
realizadas medições nenhum se enquadrou adequadamente com as exigências da norma utilizada. Três
desses pontos não obtiveram níveis aceitáveis principalmente por apresentarem uma quantidade considerável
de veículos que trafegam nessas vias como os pontos 4, 7 e 10 da figura 7.

269
Já os pontos que se enquadraram ou se aproximaram dos valores indicados apresentam um tráfego
veicular mais ameno e alguns apresentaram proximidade com áreas verdes, o que auxilia como barreira
acústica para a dispersão do som.
A figura 10 apresenta os níveis de ruído do bairro Jardim Petrópolis, onde pode ser visto que dos 11
(onze) pontos mensurados 5 deles se enquadraram ou não extrapolaram consideravelmente aos valores
definidos pela norma como pode ser visto nos pontos 2, 3, 5, 9 e 11 da figura 10.
É possível observar que os pontos 4, 8 e 10 são os pontos que apresentam os níveis de ruído, mas
altos sendo dois desses pontos os que obtiveram as maiores quantidades de veículos trafegando durante os 5
min. de medição realizada.

Figura 10 - Resultados das médias dos níveis de pressão sonora em dB(A) no bairro de Jardim Petrópolis.

4.3. Mapas de ruído


Os mapas sonoros dos bairros estudados foram produzidos com a inserção dos dados obtidos in loco, sendo
inseridos no Software CadnaA levando em consideração o tipo de pavimentação, a quantidade de veículos
que trafegam em média e levando em consideração a distribuição do ruído nos pontos medidos.
De acordo com o mapa sonoro do bairro de Santa Amélia (Figura 11), os pontos escolhidos para as
medições apresentam altos índices de ruído e isso se deve a diversos fatores como: o tipo de pavimentação
(que pode produzir mais ruídos ou não que por vezes há irregularidades em sua extensão), quantidade e tipo
de veículos que trafegam no período da medição, ruídos aleatórios de pessoas conversando ou mesmo o
vento nas folhas das árvores.

Figura 11 – Mapa de ruídos do bairro Santa Amélia.

270
Pode-se perceber a partir da legenda da paleta de cores que apesar de nenhum ponto apresentar um
resultado adequado ao valor estipulado pela norma, os pontos 7 e 8 foram localizados no condomínio
residencial Chácaras da Lagoa.
O condomínio em questão é localizado em proximidade com os vestígios de Mata Atlântica, com
uma considerável massa vegetativa servindo como barreira verde, conseguindo assim apresentar um valor
menor que os demais pontos por se tratar de um local mais afastado das vias principais.
No mapa de ruído do bairro Jardim Petrópolis (Figura 12) foi possível observar através da paleta de
cores que se enquadra em níveis de pressão sonora em concordância com a NBR 10151 (2000), estando
esses valores principalmente entre 50 a 60 dB(A), principalmente nos pontos medidos nos condomínios
residenciais do bairro.
Durante o período das medições mais ruidosas dessa área foram ocasionadas por conta do som
produzido pelo vento balançando as folhas, o canto dos pássaros e duas motos que passaram no local e
provocaram por interferir nas medições, apesar de que o ambiente sonoro pode ser considerável bom, já que
as ruas do condomínio são tranquilas e silenciosas.

Figura 12 – Mapa de ruídos do bairro Jardim Petrópolis.

Através do mapa sonoro obtido pela inserção de dados no software CadnaA, pela legenda da paleta
de cores pode-se observar que o ambiente sonoro do bairro Jardim Petrópolis é saudável.
A causa para esse efeito pode ser o fato de ter muitos condomínios no bairro e não ter vias tão
movimentadas, ou seja, o bairro tem uma maior predominância residencial o que o torna um lugar com
índices baixos de ruído e dentro da norma, como no ponto 2 onde o nível de ruído chega a ser menor que o
estipulado pela norma.
Esse fator pode ser considerado o motivo para que tantas pessoas busquem por condomínios
fechados e áreas com predominância residencial para morar, pois no geral são lugares mais tranquilos e
reservados, com baixos níveis de ruídos e sons o que só mostra a importância do conforto acústico no dia a
dia das pessoas, de como é importante que sejam respeitados os níveis de ruído estabelecidos pela norma por
ser também ser uma questão de saúde.

5. CONCLUSÕES
Os condomínios horizontais e os loteamentos fechados residenciais representam-se como uma escolha de
habitação, que vem sendo cada vez mais constante nas cidades brasileiras. Em alguns casos, o sossego e
tranquilidade prometido pelas construtoras, não estão de acordo com as medições in loco, devido à
localização que não foi bem planejada.
De acordo com os resultados obtidos em Laeq pelo sonômetro Solo 01 dB, os condomínios do bairro
de Jardim Petrópolis estão de acordo com os níveis estabelecidos pela norma 10151:2000, por estarem

271
distantes de vias principais e possuírem somente vias de acesso ao condomínio e não possuírem comércio e
serviços.
Já os resultados de alguns pontos no bairro de Santa Amélia, são áreas com ruído excessivo como
(Ponto 2) Rua Empresário Jorge Montenegro Barros que é uma das principais vias de acesso ao bairro e tem
ligação com os bairros do Tabuleiro e Bebedouro, consequentemente ocorre um fluxo intenso de veículos
principalmente de grande porte, contrastando com esse cenário, os pontos 7 e 8 no condomínio Chácaras da
Lagoa tem um ambiente sonoro tranquilo e silencioso, apesar das interferências nas medições realizadas.
Depois da realização da análise do espaço urbano, foi possível destacar que o trânsito torna-se um
dos principais causadores dos níveis de ruído da área de estudo e que se tem necessidade de se ter uma busca
por espaços cuidadosamente mais planejados para melhorar a poluição sonora e assim ocorrer melhor
qualidade sonora do ambiente construído local.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10151: Avaliação do ruído em áreas habitadas visando o
conforto da comunidade. Rio de Janeiro, 2017.
CORTÊS, Marina Medeiros; HOLANDA, Claudia; NIEMEYER, Maria Lygia. Integração de critérios qualitativos à avaliação sonora
da Pedra do Sal e seu entorno, Rio de Janeiro, Brasil. XII ENCONTRO NACIONAL E IX ENCONTRO LATINO-
AMERICANO DE CONFORTO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO – ENCAC 2015. Campinas, SP. Brasil. Anais. 2015.
ESTATUTO DA CIDADE. Lei Federal nº 10.257/2001. 2 ed. Câmara dos Deputados, 2009. Disponível em:
<http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/.../estatuto_cidade_2ed.pdf?...1>.Acessado em: 27 de Abril de 2019.
FREITAS, Ruskin; AZERÊDO, Jaucele; SOUZA, Bárbara Silva e. Mapeamento Acústico, como recurso de avaliação da qualidade
ambiental urbana, em Recife/PE. XII ENCONTRO NACIONAL E IX ENCONTRO LATINO-AMERICANO DE
CONFORTO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO – ENCAC 2015. Campinas, SP. Brasil. Anais. 2015
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 1996/2: Acoustics:Description and measurements of
environmental noise. Part 2: Acquisition of data pertinent toland use, 1996/2. Suiça, 1987.
LIRA, A. H. C. de. (2012) O Fenômeno dos condomínios horizontais em João Pessoa – PB. Dissertação de Mestrado - UFPB.
Setembro de 2012.
MARCELO, C. B. Sons e Formas: As barreiras acústicas na atenuação do ruído na cidade. 2006. Dissertação (Mestrado em
Arquitetura e Urbanismo) - Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Presbiteriana
Mackenzie, São Paulo, 2006.
NAGEM, Miriam Pompeu. Mapeamento e análise do ruído ambiental: diretrizes e metodologia. Dissertação de Mestrado.
Faculdade de Engenharia Civil. Universidade Estadual de Campinas, 2004. 119 p.
OLIVEIRA, S. O. et al. Ouvindo a cidade de Maceió - AL: Identificação e Diagnóstico de Áreas Silenciosas em bairros da
parte baixa da cidade de Maceió-AL. XIV ENCONTRO NACIONAL E X ENCONTRO LATINO-AMERICANO DE
CONFORTO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO – ENCAC 2017. Balneário Camboriú, SC. Brasil. Anais. 2017
PREFEITURA MUNICIPAL DE MACEIÓ. Código de Urbanismo e Edificações do Município de Maceió - Lei Municipal Nº
5593. Maceió, 2006.
WHO (2003). World Health Report 2003 − Shaping the future. Geneva, World Health Organization.

AGRADECIMENTOS
Agradecimento ao CNPq, pela bolsa concedida e custeio para compra dos softwares e ao Grupo de Estudos
do Ambiente Sonoro e Universidade Federal de Alagoas pela disponibilização dos equipamentos.

272
IMPACTOS DA REESTRUTURAÇÃO VIÁRIA NO CENTRO DO RIO DE
JANEIRO SOBRE AS CONDIÇÕES DE RUÍDO URBANO: AVALIANDO
UM LEGADO DO PROJETO PORTO MARAVILHA
Marina Cortês (1); Marilia Fontenelle (2)
(1) Doutora, Arquiteta e Urbanista, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura (PROARQ/UFRJ),
marinamcortes@gmail.com, telefone: (21) 98003-2097
(2) Doutora, Arquiteta e Urbanista, Professora Adjunta do Departamento de Arquitetura da UFF;
mariliafontenelle@id.uff.br, telefone: (21) 2629-5746

RESUMO
Este artigo avalia os impactos nas condições de ruído urbano decorrentes da reestruturação viária realizada
no Centro do Rio de Janeiro, como parte das operações do Projeto Porto Maravilha. Definiu-se como área de
estudos a região adjacente à Av. Rio Branco, onde foram reduzidas as faixas de circulação de veículos para
implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Foram realizadas medições do Nível de Pressão Sonora
in loco antes (2014) e após (2016) intervenção na área para confecção de mapas de ruído, cortes e mapas de
conflito, por meio de simulações computacionais no programa SoundPlan. Verifica-se que a Av. Rio Branco
foi a única beneficiada com a reestruturação viária, apresentando uma redução de 3 e 1% do LA eq e do L90,
respectivamente. Os ganhos na Av. Rio Branco não compensam os prejuízos observados nas demais vias
analisadas, onde se observou um aumento de até 10% do LAeq e 13% do L90. A intervenção praticamente
anulou os poucos trechos que atendiam aos níveis sonoros indicados pela NBR 10151/2000 para áreas
comerciais e administrativas. A intensificação do tráfego em algumas vias decorre sobretudo da
redistribuição dos fluxos, o que demonstra a ineficácia de intervenções pontuais no sistema viário e a
necessidade de conjugar investimentos e transporte público com políticas para desencorajar ou mesmo
proibir a circulação de veículos particulares em algumas áreas do centro do Rio de Janeiro.
Palavras-chave: ruído urbano; mapa de ruído; VLT; centro urbano.

ABSTRACT
This paper evaluates the impacts on the urban noise conditions resulting from the traffic system interventions
in downtown Rio de Janeiro, as part of the Porto Maravilha Urban Operation. The study area includes Rio
Branco Avenue surrounding blocks, where some traffic lanes have been replaced by Light Rail Vehicle
(LRV). Sound Pressure Level measurements were performed before (2014) and after (2016) intervention in
order to produce noise maps, sections and conflict maps, by means of numerical simulations in SoundPlan.
Results show that the benefits from intervention were only perceived in Rio Branco Avenue, where there was
a reduction of 3 and 1% of the LAeq and L90, respectively. The gains in Rio Branco Avenue do not
compensate the losses observed in the other streets, where there was an increase of up to 10% in LAeq and
13% in L90. The intervention practically eliminated the few areas that met the sound levels indicated by
NBR 10151/2000 for financial and commercial districts. The traffic has become more intense on some roads
mainly due to the redistribution of flows. This finding reinforces the importance of combining investments
on public transportation with policies to discourage or even prohibit the circulation of private vehicles in
some areas of downtown Rio de Janeiro.
Keywords: urban noise; noise map; LRT; urban areas.

273
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos 20 anos, observou-se um movimento de revalorização do Centro do Rio de Janeiro como área
financeira da cidade, reduzindo-se a taxa de vacância dos imóveis de 37 para 5% (VEJA RIO, 2008). A
escolha da cidade para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 impulsionou a requalificação do bairro, ao atrair
grandes investimentos com o Projeto Porto Maravilha.
Neste contexto, o Centro passou por sucessivas transformações, especialmente do ponto de vista da
mobilidade urbana. Na Av. Rio Branco, uma das principais vias do Bairro, que conecta o Aterro do
Flamengo à Zona Portuária, teve parte da circulação, antes realizada por ônibus, táxis e veículos particulares,
substituída pelo Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Também sofreu alterações a Rua 7 de setembro,
perpendicular à Av. Rio Branco, que teve sua circulação restrita ao pedestre e ao VLT. Estima-se que a
reestruturação viária realizada na área modificou significativamente o tráfego de veículos na região,
impactando diretamente a qualidade ambiental do meio urbano, com destaque para os aspectos sonoros.
O presente artigo apresenta uma análise comparativa de medições sonoras antes e após as mudanças,
por meio de mapas de ruído, que representa graficamente a distribuição dos níveis sonoros da região
estudada.
Os mapas de ruído estão bastante difundidos principalmente nos países da Comunidade Europeia,
com a Diretiva 2002/49/EC. No Brasil, apesar do estado da arte em pesquisas, não são exigidos nas
legislações federais e são pouco presentes nas municipais. Fortaleza/CE (BRITO; COELHO, 2013),
Belém/PA (MORAES, 2010) e Natal/RN (FLORÊNCIO, 2018) são locais com mapa de ruído para a Cidade
como um todo. Em 2018, foi lançado o Mapa de Ruído Urbano Piloto de uma determinada região da Cidade
de São Paulo (INAD SP, 2018). Existem também pesquisas em Universidades como as de Pinto e Mardones
(2009) com o Bairro de Copacabana/RJ, Garavelli et al. (2010) em Águas Claras/DF, Cantiere et al. (2010)
no Centro de Curitiba/PR, entre outros.

2. OBJETIVO
Avaliar os impactos nas condições de ruído urbano decorrentes da reestruturação viária realizada no Centro
do Rio de Janeiro.

3. METODOLOGIA
A metodologia foi estruturada em quatro partes: Delimitação da área de estudos e coleta de dados
morfológicos; Realização de medições in loco antes e após reestruturação viária; Realização das simulações
acústicas para composição dos mapas de ruído; Análise comparativa dos resultados.

3.1. Etapa 1: delimitação da área de estudos


No centro do Rio de Janeiro, foi selecionado um trecho contendo a avenida por onde percorre o Veículo
Leve sobre Trilhos (Avenida Rio Branco) e algumas vias adjacentes, cujo tráfego foi direta ou indiretamente
afetado pela reestruturação viária (Figura 1).

Figura 1 – Limites da área de estudos. Fonte: adaptado de Google (2017).

Esta área é caracterizada pelo alto adensamento construtivo e populacional, pelo tráfego intenso de

274
veículos (especialmente na Av. Rio Branco, Presidentes Vargas e Primeiro de Março) e pela elevada
concentração de torres corporativas, que conformam cânions urbanos de razão de aspecto entre 3 e 7.
A reestruturação viária afetou diretamente a Avenida Rio Branco. Parte da circulação, antes realizada
em duplo sentido por veículos leves e pesados, foi limitada ao Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) em uma
das vias e a carros na outra. A via do VLT passou a ser de pedra e a de veículos manteve-se asfaltada (Figura
2 e 3).

Figura 2 - Avenida Rio Branco, antes e após intervenção. Fonte: autores.

Figura 3 – Proposta de impalntação do VLT para a área de estudo. Fonte: Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do
Porto do Rio de Janeiro.

Observa-se que parte do tráfego da Av. Rio Branco foi deslocado principalmente para a Rua
Primeiro de Março, que antes das transformações na área já era bastante intenso.
Também sofreu alterações a Rua 7 de setembro, perpendicular à Avenida Rio Branco, que teve sua
circulação restrita ao pedestre e ao VLT. Na pavimentação da via, substituiu-se o paralelepípedo pela pedra,
e na calçada, a pedra portuguesa foi trocada por piso intertravado (Figura 4).

Figura 4 - Rua 7 de Setembro, antes e após intervenção. Fonte: Google (2017) e autores.

3.2. Etapa 2: Medições acústicas


Foram realizadas medições in loco antes e após as obras do VLT: 11 de abril de 2014 (início às 8:00h) e 07
de dezembro de 2016 (início às 9:30h).
O equipamento utilizado foi o medidor de Nível de Pressão Sonora DB200, da KIMO Instruments,
na curva de ponderação “A”, em resposta rápida (fast).
Os procedimentos de medição foram realizados de acordo com as recomendações da norma ABNT –
NBR 10151/2000. O equipamento ficou afastado a aproximadamente 1,2 m do piso e 2 m do limite de
quaisquer superfícies refletoras (muros, paredes, etc.), sempre que possível. Foram realizadas medições do
Nível de pressão sonora equivalente (LAeq), em decibels ponderado em A, simultaneamente à contagem de

275
veículos leves e pesados. Os pontos de medição foram localizados nos centros das quadras, para não sofrer
interferência da aceleração e desaceleração dos veículos nos cruzamentos.
Mostrou-se também medido o nível estatístico L90, pois pode ser aceito como ruído de fundo,
chamado agora de som residual, indicando o nível sonoro que foi ultrapassado durante 90% do tempo de
medição (BISTAFA, 2006).
Durante as medições, além do nível sonoro das vias, foram observadas outras fontes como obras,
locais com música alta, campainhas de garagem, mas em menor escala. Procurou-se, assim, um
distanciamento das mesmas, para não influenciar nos resultados. Este procedimento auxiliou na elaboração
dos mapas de ruído com interesse no impacto do tráfego rodoviário. A Figura 5 localiza os pontos de
medição e as Tabelas 1-3 apresentam os dados levantados nas medições de 2014 e 2016.

Figura 5 – Pontos de medição. Fonte: Adaptado do Google (2017).

Tabela 1 - Características gerais das vias


N. de Recobrimento da Canteiro Largura
P Nome Sentidos
faixas via Central da via
01 R. da Assembleia 2 1 Asfalto - 10,50m
2014: Paralelep.
02 R. 7 de Setembro 1 1 - 12,00m
2016: Pedra
03 R. do Ouvidor 1 1 Paralelepípedo - 3,50m
2014: Asfalto
04 Av. Rio Branco 5 2 - 18,50m
2016: Pedra
05 R. da Quitanda 1 1 Paralelepípedo - 4,00m
06 R. do Carmo 1 1 Paralelepípedo - 4,75m
07 Av. 1° de Março 4 1 Asfalto - 16,00m
08 R. do Rosário 1 1 Paralelepípedo - 4,20m
09 R. Buenos Aires 1 1 Asfalto - 4,20m
10 R. da Alfândega 1 1 Paralelepípedo - 3,60m
Asfalto/
11 Av. Presidente Vargas 4 2 4m 13,00m
Paralelepípedo
12 Av. Presidente Vargas 7 2 Asfalto 6m 13,50m
Tabela 2 - Número de veículos Leves e Pesados
Veículos Leves Veículos Pesados Total
P Nome
2014 2016 2014 2016 2014 2016

276
01 R. da Assembleia 50 39 1 4 51 43
02 R. 7 de Setembro 9 5 0 0 9 5
03 R. do Ouvidor 4 6 1 0 5 6
04 Av. Rio Branco 73 100 62 6 135 106
05 R. da Quitanda 29 23 1 3 30 26
06 R. do Carmo 3 5 0 0 3 5
07 Av. 1° de Março 224 191 28 28 252 219
08 R. do Rosário 7 28 0 0 7 28
09 R. Buenos Aires 28 22 0 0 28 22
10 R. da Alfândega 2 6 0 0 2 6
11 Av. Presidente Vargas 75 39 16 23 91 62
12 Av. Presidente Vargas 229 163 48 55 277 218

Tabela 3 - Nível Sonoro – LAeq e L90


2014 2016 2014 2016
P Nome Diferença Diferença
LAeq LAeq L90 L90
01 R. da Assembleia 70,7 76,9 6,2 65,0 73,3 8,3
02 R. 7 de Setembro 66,3 73,0 6,7 63,0 68,6 5,6
03 R. do Ouvidor 69,1 71,6 2,5 65,0 68,9 3,9
04 Av. Rio Branco 75,0 73,0 -2 69,0 68,3 -0,7
05 R. da Quitanda 74,6 77,7 3,1 68,0 70,8 2,8
06 R. do Carmo 66,9 72,2 5,3 65,0 69,4 4,4
07 Av. 1° de Março 73,6 76,0 2,4 67,0 70,9 3,9
08 R. do Rosário 68,3 71,8 3,5 66,0 68,5 2,5
09 R. Buenos Aires 72,6 72,6 0 69,0 70,9 1,9
10 R. da Alfândega 66,7 71,0 4,3 64,0 68,6 4,6
Av. Presidente
11 69,0 73,0 4 66,0 71,7 5,7
Vargas
Av. Presidente
12 72,9 76,9 4 69,0 72,8 3,8
Vargas

É importante ressaltar algumas alterações observadas nas medições de 2016, que explicam algumas
mudanças nas condições sonoras da área:
→ Ponto 1: A Rua da Assembléia em toda a sua extensão passou a servir como ponto de ônibus
→ Ponto 2: Embora tenha sido fechada para circulação de veículos, a Rua 7 de Setembro
apresentou-se bastante movimentada com o trânsito de pedestres e carro de polícia
→ Ponto 4: Na Av. Rio Branco, foram realizadas duas medições, representando uma situação
com e sem circulação do VLT. Os níveis sonoros foram idênticos nos dois casos. Este foi o
único ponto que diminuiu o nível sonoro.
→ Ponto 5: A Rua da Quitanda apresentou intenso congestionamento durante as medições. Por se
tratar de uma via muito estreita, os carros ficaram muito próximos do equipamento de
medição.
→ Ponto 6 e ponto 10: na Rua do Carmo e Rua da Alfândega, respectivamente, foi observado
ruído provenientes de obra e do funcionamento de aparelhos de ar condicionado.

3.3. Etapa 3: Simulações acústicas


Nesta etapa foram elaborados mapas de ruído, que são uma importante ferramenta de planejamento urbano
para o estudo, diagnóstico e controle do ruído ambiental. Trata-se de uma representação gráfica dos níveis
sonoros de uma região, em um determinado momento, com possibilidades de diversos formatos como

277
perspectivas, cortes, fachadas e plano horizontal (como planta baixa). Através dessa ferramenta é possível
quantificar o nível de ruído existente, identificar as fontes emissoras e as áreas com níveis acima do admitido
pela legislação, verificar o número de pessoas e de edificações sensíveis (habitações, escolas e hospitais)
afetadas, criar diferentes cenários futuros e prever o impacto de novas estruturas e atividades, etc.
Para este trabalho, foi utilizado o programa SoundPLAN, que é um software comercial desenvolvido
pela empresa alemã Braunstein + Berndt GmbH, voltado para análises ambientais.
Para a simulação de 2014, as únicas fontes de ruído consideradas foram as vias de trânsito
rodoviário, como fonte linear. Desta forma, as vias se apresentaram caracterizadas em relação ao número de
faixas, largura, presença e dimensão de canteiro central. Para a simulação de 2016, também foi considerada
outra fonte linear, referente ao VLT.
As simulações foram realizadas em
3 etapas: alimentação dos dados e
elaboração do modelo, simulação
computacional e validação do mapa de
ruído.
Na primeira etapa, foram
introduzidos dados de temperatura,
umidade relativa do ar e rosa dos ventos,
além dos dados obtido nas medições
acústicas.
A modelagem da geometria foi
baseada na planta cadastral da área
disponibilizada pela Prefeitura Municipal Figura 6 - Modelo tridimensional utilizado nas simulações
do Rio de Janeiro (Figura 6). acústicas. Fonte: SoundPlan.

A Tabela 4 sintetiza os parâmetros gerais para a simulação computacional.

Tabela 4 - Parâmetros gerais de cálculo adotados.


Tipo de mapa Mapa acústico horizontal e de conflito; Corte
Tipo de simulação Módulo gráfico Grid noise map e Cross Section
Altura do mapa horizontal acima da cota do solo 1,20 m e 45m
Altura do corte 80 m
Espaçamento dos pontos da malha de simulação Mapa Horizontal - 3 m / Corte – 2,5m
Número de reflexões 3
Índice calculado LAeq diurno – 8:00h às 10:00h / 9:30h às 11:30h
Normas e legislações RLS 90, NBR 10.151/2000
Temperatura do ar - 28 ºC
Dados climáticos
Umidade relativa - 70%

Foram realizadas a validação e calibração dos mapas com o objetivo de confrontar os valores
simulados com os valores medidos. Mesmo quando os dados de entrada são baseados em medições in loco, é
fundamental que ocorra essa comparação para verificar se os valores são condizentes.
As simulações realizadas não ultrapassaram a diferença de 2 dB(A) entre os valores simulados e
medidos, conforme recomendado por Pinto et al. (2004).

3.4. Etapa 4: Análise comparativa


Os resultados são comparados por meio de mapas de ruído, mapas de conflito e cortes. Os mapas de conflito
confrontam os resultados das simulações com o nível sonoro aceitável para área com vocação comercial e
administrativa [<60 dB(A)] estipulado pela NBR 10151/2000. Preferiu-se utilizar como referência a norma
brasileira, por esta ser mais restritiva que a Lei Municipal do Rio de Janeiro (LEI Nº 3.268/2001).

4. RESULTADOS
As Figuras 7-10 apresentam os resultados obtidos com as simulações computacionais.
Verifica-se que a Av. Rio Branco foi a única beneficiada com a reestruturação viária, apresentando
uma redução de apenas 3 e 1% do nível de pressão sonora equivalente (LAeq) e o nível estatístico L90,

278
respectivamente. Esta redução se deve, sobretudo, ao aumento do número de veículos leves e uma
diminuição drástica no número de veículos pesados circulando pela via.
É possível que os ganhos não tenham sido mais expressivos em função da dificuldade de dissipação
do ruído em cânions urbanos profundos (ALLARD; GHIAUS, 2005), conforme evidencia o corte AA’
(Figura 9). A assimetria da propagação sonora no corte revela um impacto pontual da implantação do VLT
nesta área, favorecendo apenas o passeio contíguo aos trilhos.
Em relação ao VLT, mesmo após a sua implantação, verificou-se que os níveis sonoros na Av. Rio
Branco diminuíram. Foram feitas diversas medições com e sem o VLT passando e os resultados do L Aeq se
mostraram iguais. Percebe-se, portanto, que o nível sonoro dos carros se sobressalta em relação ao do VLT.
Entretanto, devido as diferentes frequências das fontes sonoras, principalmente do sinal sonoro emitido pelo
VLT que remete ao som dos bondes antigos, é possível diferenciar a passagem do mesmo.
Os ganhos na Av. Rio Branco não compensam os prejuízos observados nas demais vias analisadas.
Em todas elas, houve um aumento de 3-10% do LAeq, sendo maior na Rua 7 de Setembro. Já o L90 teve um
incremento de 3 a 13%, sendo mais expressivo na Rua da Assembleia. Observa-se também uma
intensificação do ruído em quase todas as vias transversais e paralelas à Av. Rio Branco, nas duas alturas dos
mapas de ruído analisadas (1,2 e 45m) (Figuras 7 e 8). A redução das faixas destinadas à veículos
particulares na Av. Rio Branco pode ter gerado uma redistribuição dos fluxos na área. Em muitas vias
transversais, o número de veículos leves diminuiu significativamente, entretanto, em razão da largura das
vias, intensificou-se o congestionamento, ampliando o nível sonoro na área.
Ressalta-se ainda os impactos expressivos gerados na Av. Presidente Vargas, a despeito de sua baixa
razão de aspecto (relação entre largura da via e altura dos edifícios).
Os mapas de conflito (Figuras 7 e 8) evidenciam que a redução do nível sonoro na Av. Rio Branco
foi insuficiente para atender o Nível Critério de Avaliação de 60 dB(A) indicado pela NBR 10151/2000 para
a região, inclusive à 45m do solo. As ruas do Rosário, do Carmo e do Ouvidor, que antes atendiam à norma,
pelo menos à 45m acima da via, agora também apresentam condições sonoras insatisfatórias. Após a
intervenção, somente em miolos de quadra as condições sonoras permanecem atendendo às restrições para
áreas comerciais e administrativas.

279
Figura 7 – Mapa de ruído e mapa de conflito antes e depois – H = 1,20m

Figura 8 – Mapa de ruído e Mapa de conflito antes e depois – H = 45,00m

280
Figura 9 – Mapa de ruído antes e depois – Corte AA’

Figura 10 – Mapa de ruído antes e depois – Corte BB’

5. CONCLUSÕES
A presente pesquisa evidenciou os impactos negativos da reestruturação viária realizadas pelo Projeto Porto
Maravilha sobre as condições de ruído urbano em um determinado trecho do Centro do Rio de Janeiro, por
meio de estudo com mapas de ruído.
A despeito da implantação de mais uma modalidade de transporte público e restrição da circulação
de veículos leves e pesados na área, houve uma intensificação do tráfego em algumas vias ao redor,
decorrentes da redistribuição dos fluxos. Os benefícios identificados na Av. Rio Branco não compensaram os
prejuízos gerados em outras vias, o que demonstra a ineficácia de intervenções pontuais no sistema viário.
Além disso, verifica-se atualmente que o VLT não atingiu a demanda esperada de usuários e corre o risco de
parar de funcionar, devido à falta de recursos para manutenção do serviço (CHAGAS; ÁVILA, 2019).
A pesquisa reforça a necessidade de direcionar os investimentos para além da ampliação do
transporte público coletivo. É igualmente crucial criar políticas para desencorajar ou mesmo proibir a
circulação de veículos particulares em algumas áreas do Centro do Rio de Janeiro, como já é feito no início
da Av. Rio Branco. Isto pode trazer benefícios diretos não só para a qualidade ambiental dos espaços urbanos
como também do parque edificado, ampliando, dentre outros aspectos, o potencial de aproveitamento da
ventilação natural nos edifícios, principalmente nos pavimentos mais altos, onde os níveis sonoros
normalmente são menores.
A pesquisa demonstrou a importância da utilização da ferramenta de mapa de ruído. Caso fosse
instrumento presente nas nossas políticas urbanas, situações como essa que aconteceu no Centro do Rio de
Janeiro poderiam ser previstas e evitadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ABNT, 2000.
ALLARD, F.; GHIAUS, C. Natural Ventilation in the Urban Environment – assment and Design. London: Earthscan, 2005.
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soundplan.com>. Acesso em 22 de abril de 2012.
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Institute of Noise Control Engineering, 2013.
CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO. Lei nº 3268/2001. Altera o regulamento nº 15, aprovado pelo Decreto n.º 1.601,

281
de 21 de junho de 1978, e alterado pelo Decreto nº 5.412, de 24 de outubro de 1985. Da proteção da coletividade contra a
poluição sonora, Rio de Janeiro, 2001.
CANTIERE, E; CATAI, R. E.; AGNOLETTO, R. A.; et al. Elaboração de um mapa de ruído para a região central da cidade de
Curitiba – PR. Revista Produção Online, Associação Brasileira de Engenharia de Produção – ABEPRO, UFSC, v.10, n. 1,
2010. Disponível em <www.producaoonline.org.br>. Acesso em: 05 fev. 2013.
CDURP - COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO URBANO DA REGIÃO DO PORTO DO RIO DE JANEIRO. Estudo
preliminar e provisório de implementação do Veículo Leve sobre Trilhos na Região Portuária e Centro do Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://www.portomaravilha.com.br/conteudo/estudos/estudo_tecnico_preliminar_vlt_ccr.pdf>. Acesso em abril de 2019.
CHAGAS, P.; ÁVILA, E. VLT corre risco de parar de funcionar por conta de dívidas da prefeitura. G1 portal de notícias,
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DIRETIVA 2002/49/EC do Parlamento Europeu e do Conselho de 25 de Junho de 2002, relativa à avaliação e gestão do ruído
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FLORÊNCIO, D. N. P. Avaliação do mapa sonoro de tráfego veicular no Município de Natal/RN. Tese (Doutorado).
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PINTO, Francisco Ramos; GUEDES, Margarida Guedes; LEITE, Maria João. Projecto-piloto de demonstração de mapas de ruído
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PINTO, F.; MARDONES, M. Noise mapping of densely populated neighborhoods: example of Copacabana, Rio de Janeiro –
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VEJA RIO. No centro dos negócios. São Paulo: Editora Abril, 2008.

AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio CAPES (Código de Financiamento 001) e da Bolsa Nota 10 da
FAPERJ.

282
INFLUÊNCIA DAS CONDICIONANTES FÍSICO-AMBIENTAIS NA
PROPAGAÇÃO DO RUÍDO DE TRÁFEGO RODOVIÁRIO: ESTUDO
COMPARATIVO ENTRE AS RODOVIAS BR 163 E BR 230
Ana Carolina de Souza (1), Tamáris Brasileiro (2), Erika Borges (3), Bianca Araújo (4),
Virgínia Araújo (5)
(1) Graduanda em engenharia civil, carolsouzza14@hotmail.com, UNEMAT
(2) Doutoranda em arquitetura e urbanismo, tamarisbrasileiro@gmail.com, UFRN
(3) Profª Doutora em engenharia civil, erika.borges.acustica@gmail.com, UNEMAT
(4) Profª Doutora em arquitetura e urbanismo, dantasbianca@gmail.com, UFRN
(5) Profª Doutora em arquitetura e urbanismo, virginiamdaraujo@gmail.com, UFRN
Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Laboratório de Conforto Ambiental, Cx Postal 1524, Natal-RN,
CEP 59078-970, Tel (84) 3215 3721

RESUMO
As fontes sonoras propagadas no espaço urbano, em especial o ruído de tráfego rodoviário, têm elevado os
índices de poluição sonora nas grandes cidades. Para avaliação e monitoramento dessa poluição sonora,
surgem os mapas de ruído, que permitem representar, por meio das curvas isofônicas, os níveis de pressão
sonora atuantes no espaço urbano. Nesse contexto, o presente estudo objetiva avaliar a influência das
condicionantes físico-ambientais na propagação do ruído de tráfego rodoviário, por meio da comparação
entre duas rodovias brasileiras, a BR 163 (Sinop/MT) e a BR 230 (João Pessoa/PB). Como resultado,
observou-se que apesar da BR 230 possuir um volume de tráfego bem mais elevado do que a BR 163, porém
a BR 230 em João Pessoa apresentou um cenário menos crítico quanto ao ruído de tráfego rodoviário. Esse
resultado foi decorrente da influência direta que a topografia acidentada e a vegetação densa, presentes nas
margens da BR 230, exerceram na propagação da onda sonora. Em virtude da grande quantidade de vazios
urbanos em Sinop, as ondas sonoras alcançam maiores distâncias, aumentando assim, a área de atuação da
poluição sonora na malha urbana. Além dos vazios urbanos, a malha viária de Sinop é menos concentrada
quando comparada à de João Pessoa. Ambas as cidades apresentam níveis critério de avaliação, em dB(A),
em desconformidade com os parâmetros estabelecidos com a NBR 10.151. A pesquisa demonstrou que o
mapeamento é uma importante ferramenta para visualização do ruído ambiental, podendo ser utilizados
como parâmetros para o estabelecimento de medidas de combate à poluição sonora.
Palavras-chave: poluição sonora, ruído rodoviário, mapa de ruído.

ABSTRACT
The sound sources propagated in urban space, especially road traffic noise, have raised noise pollution rates
in large cities. For the evaluation and monitoring of this noise pollution, the noise maps appear, which allow
to represent, through the isofonic curves, the sound pressure levels acting in the urban space. In this context,
the current study allows to evaluate the influence of physical and environmental factors on the propagation
of road traffic noise, by comparing two Brazilian highways, BR 163 (Sinop / MT) and BR 230 (João Pessoa /
PB). As a result, it was observed that although BR 230 has a much higher traffic volume than BR 163, but
the BR 230 in João Pessoa presented a less critical scenario regarding road traffic noise. This result was due
to the direct influence that the rough topography and the dense vegetation, present in the margins of the BR
230, applied in the propagation of the sound wave. Due to the large number of urban voids in Sinop, sound
waves reach greater distances, consequently increasing noise pollution in the urban mesh. In addition to the
urban voids, the Sinop road network is less concentrated when compared to João Pessoa. Both cities present
areas of evaluation criteria, in dB(A), in disagreement with the parameters established with NBR 10.151.
The research demonstrated that the mapping is an important tool for visualizing environmental noise, and
can be used as parameters for the establishment of measures to combat noise pollution.
Keywords: noise pollution, road noise, noise map.

283
1. INTRODUÇÃO
O crescimento desordenado das cidades resulta no surgimento de fontes de ruído propagadas no espaço
urbano. Essas fontes, quando em excesso, resultam no aparecimento da chamada Poluição Sonora
(GUEDES, 2005; BRASILEIRO, 2017). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição
sonora está em segundo lugar no ranking das poluições que causam maior impacto à população, perdendo
apenas para a poluição do ar (WHO, 2016). Entretanto, em relação aos demais tipos de poluição, ela é a que
apresenta o maior risco, em virtude da sua dificuldade de percepção e aceitação imediata de seus efeitos,
podendo, dessa forma, interferir na saúde humana (SILVA, 2011).
A exposição ao ruído é responsável por diversos fatores de risco à saúde física e mental do ser
humano, como, perda temporária ou permanente da audição, prejuízo ao sono, estresse, irritabilidade,
problemas cardiovasculares e respiratórios (GUEDES, 2005).
Com o desenvolvimento da sociedade e, consequentemente, da urbanização e industrialização, houve
uma extensão na malha de transporte, o que contribuiu para o agravamento da poluição sonora (GUEDES,
2005). Niemeyer (2007) aponta que isso está atrelado ao fato de os automóveis, embora individualmente
menos ruidosos que os veículos de grande porte, são, em conjunto, a maior fonte de ruído urbano. Além dos
automóveis, as características do tecido urbano influenciam diretamente nos resultados sonoros de
determinada área, isto é, os níveis de pressão sonora resultantes de uma mesma fonte podem ser bastante
diferentes, dependendo das características do entorno (NIEMEYER, 2007).
O tecido urbano apresenta cenários sonoros complexos e seus estudos precisam levar em
consideração as diversas fontes sonoras atuantes. Nesse contexto, surgem os modelos computacionais
voltados à realização de cálculos, análises e relatórios rápidos e com certa precisão (VENTURA et al.,
2008). Esses modelos permitem a elaboração de mapas sonoros, que são essenciais para a avaliação do
impacto ambiental causado pelo ruído de tráfego.
Apesar do conhecimento sobre os impactos negativos que a poluição sonora gera na saúde das
pessoas, no Brasil, ainda é reduzido o número de municípios que apresentam estudos relacionados ao ruído
de tráfego, dificultando a introdução da variável ruído nas legislações do país (BRASILEIRO et al, 2018).
Diferente do que acontece no Brasil, a situação no cenário exterior é bem melhor, visto que com a
promulgação da Diretiva Europeia em 2002 (DIRECTIVA, 2002) foram instituídas regulamentações a serem
seguidas nos países europeus, como a elaboração de mapas de ruído para municípios com população acima
de 200 mil habitantes e o estabelecimento de planos de ações de combate à poluição sonora.
Como consequência da Diretiva Europeia foram desenvolvidos diversos modelos computacionais
capazes de representar as fontes sonoras que se propagam no espaço urbano, em especial o ruído de tráfego
rodoviário, ferroviário e aeronáutico (HINTZCHE, et al 2016). De acordo com Santos e Valado (2004), os
mapas desenvolvidos a partir de softwares facilitam a identificação das áreas expostas aos altos níveis de
pressão sonora e, consequentemente, a adoção de medidas para a mitigação do ruído em excesso.
Em 1972 e 1976, em meio à expansão urbana do Brasil, foram inauguradas as Rodovias BR 230,
conhecida como Transamazônica, e a BR 163. Ambas se encaixam no ranking das maiores e mais
conhecidas rodovias do país. A rodovia Transamazônica possui 4.223 km de extensão e percorre, no sentido
Leste-Oeste, sete estados brasileiros (Cabedelo/PB à Lábrea/ AM) (OLIVEIRA NETO, 2013). A rodovia BR
163 possui 4.057 km de extensão e percorre, no sentido Norte-Sul, seis estados brasileiros (Santarém/PA à
Tenente Portela/ RS).
Dentre os municípios expostos ao ruído das referidas rodovias, destacam-se Sinop/ MT e João
Pessoa/PB. Enquanto que a BR 163 margeia o município de Sinop, a BR 230 corta a malha urbana de João
Pessoa.

2. OBJETIVO
O objetivo geral da pesquisa é avaliar a influência das condicionantes físico-ambientais na propagação do
ruído de tráfego rodoviário, tendo como estudo de caso a comparação entre as áreas de influência das
rodovias BR 230 e BR 163 nas cidades de João Pessoa/PB e Sinop/MT, respectivamente.

3. MÉTODO
São disponíveis, atualmente, diversos programas computacionais voltados à área de acústica, a exemplo do
SoundPLAN®. O SoundPLAN® é um software comercial desenvolvido pela empresa alemã Braunstein +
Berndt GmbH que atua no mercado desde 1986. Destina-se à elaboração de mapas de ruído, comparações
entre cenários ambientais e análise dos poluentes atmosféricos (SOUNDPLAN, 2008).

284
Para que o software elabore os mapas sonoros é necessário que seja informada uma série de dados
referentes à área objeto de estudo, em especial os de natureza físico-ambientais, de tráfego e acústica. Com o
levantamento da área é possível organizar uma base de dados para construção e calibração do modelo.
A primeira etapa para a elaboração do mapa de ruído é a definição da área de cálculo. No caso dessa
pesquisa, delimitou-se como área de influência do ruído das rodovias, o valor de 400 metros (200 metros
para cada lado do eixo da rodovia). A extensão estudada de cada rodovia foi definida por meio de
observações em loco, levando em consideração a exposição de edificações com usos sensíveis às áreas de
ruído elevado.
Como forma de avaliar a influência das condicionantes físico-ambientais, foi proposta a construção
de dois cenários sonoros. O primeiro corresponde a representação do ruído de tráfego atual nos municípios.
O segundo, por sua vez, corresponde ao cenário hipotético, onde o volume de tráfego da BR 230 foi inserido
no mapeamento de Sinop e o volume de tráfego da BR 163 foi introduzido em João Pessoa. Isso permitiu a
análise comparativa entre o ruído de tráfego e as condicionantes físico-ambientais, já que os dois retratariam
a mesma condição de tráfego.
Para atingir o objetivo geral da pesquisa, foi necessário seguir as seguintes etapas: levantamento dos
dados; elaboração da base de dados no software QGis®; elaboração de mapas de ruído no programa
SoundPLAN; e análise dos resultados. O software utilizado para a elaboração dos mapas foi o
SoundPLAN®, versão 8.0, disponibilizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

3.1 Levantamento de dados


Os dados necessários para o levantamento da área objeto de estudo são divididos em quatro parâmetros:
condicionantes físico-ambientais, voltados ao mapeamento físico/ morfológico da área; meteorológico,
pontuando as características ambientais; tráfego, quantificação e caracterização do volume de tráfego;
acústico, caracterização e quantificação dos níveis sonoros existentes no bairro. A seguir, são elencados esses
quatro parâmetros.

3.1.1 Parâmetros físico-ambientais


Coletar dados que caracterizam a área de estudo é fundamental, pois características como gabarito das
edificações, uso e ocupação do solo, largura e hierarquia das vias, altimetria, recobrimento do solo, áreas
verdes densas, obstáculos e superfícies reflexivas influenciam diretamente na propagação de ondas sonoras,
bem como na diminuição ou no aumento de nível de pressão sonora.
A Tabela 1 contém os condicionantes físico-ambientais das áreas de influência da BR 163
(Sinop/MT) e da BR 230 (João Pessoa/PB). Esses dados foram coletados em campo e nos arquivos digitais
disponibilizados pela Prefeitura de cada município. Com base nesses dados, foram elaborados os mapas de
uso e ocupação do solo (Figuras 1 e 2).
Tabela 1 – Características morfológicas entre as rodovias BR-163 e BR-230
Características Sinop – BR 163 JP – BR 230
Topografia Plana Acidentada
Vegetação Sem vegetação Vegetação densa
Velocidade diretriz 80 km/h 80 km/h
Localização da rodovia em Margeia a cidade Corta a cidade
relação à cidade
Uso e ocupação do solo Uso comercial, serviço e industrial Residencial e institucional
Número de faixas 4 faixas 4 faixas
População da cidade 140 mil habitantes 721 mil habitantes
Gabarito das edificações Térreo e 2 pavimentos Térreo e 2 pavimentos
Posição das edificações em Edificações afastadas da BR Edificações “coladas” na BR
relação à rodovia
Tipo de recobrimento do solo Asfalto Asfalto
Fonte: Elaborada pelas autoras.

285
1

Figura 01 – Mapa de usos do solo da área de influência da Figura 02 – Mapa de usos do solo da área de influência
BR 163 em Sinop com marcação dos pontos de medição. da BR 230 em João Pessoa com marcação dos pontos de
Fonte: Elaborado pelas autoras. medição. Fonte: Elaborado pelas autoras.

3.1.2 Parâmetros meteorológicos


Sabendo que as condições meteorológicas podem influenciar nos níveis sonoros medidos, as medições
acústicas foram realizadas em dias favoráveis meteorologicamente.

3.1.3 Parâmetros acústicos


A norma ISO 1996/1 coloca o nível de pressão sonora equivalente contínuo ponderado com a curva A como
o melhor relator do ruído ambiental. Logo, as medidas de ruído coletadas, foram expressas em termos desta
grandeza, LAeq.
Para a definição dos pontos de medição, considerou as características físico-ambientais, de tráfego e
acústicas da área objeto de estudo. Dessa forma, foram locados três pontos de medição em cada município.
(Figuras 1 e 2).
Visto que o volume do tráfego é o principal agente causador da poluição sonora, escolheu-se para
realizar a coleta dos dados de tráfego e acústicos os dias e horários de pico. Por esta razão, as medições
foram realizadas em dias típicos da semana (de terça à quinta-feira) (Tabela 2).
Para João Pessoa, foram realizadas medições entre 06:45h e 07:45h (período matutino) e das 18:15h
ás 19:15 horas (período vespertino). As medições tiveram duração de 10 minutos e três repetições.
Em Sinop, das 07:00h às 08:00h (período matutino) e das 17:00 às 18:00 horas (período vespertino)
visto que a grande maioria do setor comercial, escola e igreja iniciam suas atividades dentre esse período. As
medições tiveram duração de 5 minutos e três repetições.

Tabela 2 - Níveis sonoros em dB (A) resultantes nos períodos matutino e vespertino

Fonte: Elaborado pelas autoras.

286
3.1.4 Parâmetros de tráfego
Para a definição das características do tráfego local, fez-se um levantamento específico nos pontos de coleta
de dados durante as medições acústicas, realizando a contagem do volume de tráfego e classificando os
automóveis em duas categorias: veículos leves (carros e motocicletas) e veículos pesados. As contagens
foram realizadas utilizando de contadores manuais.
A Tabela 3 apresenta os dados de tráfego obtidos nos três pontos de medição em cada município. As
medições em João Pessoa foram realizadas em 10 minutos e em Sinop em 5 minutos. Porém, para a
elaboração dos mapas de ruído, os dados foram estatisticamente corrigidos e extrapolados para uma hora.

Tabela 3 - Dados do volume de tráfego nos períodos matutino e vespertino nas cidades de Sinop e João Pessoa. Os
valores contidos na tabela correspondem ao valor extrapolado (1h)

Fonte: Elaborada pelas autoras.

3.2 Metodologia para elaboração dos mapas


Após realizada toda a coleta de dados, iniciou-se a etapa de elaboração dos mapas de ruído por meio da
modelagem geométrica da região. Com os mapas das áreas objeto de estudo disponibilizados tanto pela
Prefeitura de Sinop quanto a de João Pessoa, foi possível exportá-los para o software QGIS® que além de ser
gratuito, dispõe de uma interface simples e, permitiu a utilização de ferramentas para visualizar, editar e
gerenciar. Por fim, o arquivo foi salvo em formato (*.dxf) e exportado para o software SoundPLAN®, que
obteve um acréscimo de informações quanto aos dados topográficos das áreas.
Com a inserção de todos os dados no software, à exemplo das condicionantes físico-ambientais e dos
dados acústicos e de tráfego, e da realização dos cálculos pelo programa, fez-se a aferição do modelo,
comparando os dados obtidos em campo com os resultantes pelo programa. Logo após, foram gerados os
mapas de ruído.

4. RESULTADOS
São apresentados e analisados, a seguir, os resultados encontrados nos dois cenários sonoros (atual e
hipotético).

4.1 Situação atual


Após a inserção dos dados no programa SoundPLAN®, realizou-se o cálculo para a calibração do modelo,
isto é, comparou os resultados obtidos em campo com os valores resultantes do programa. Com isso, afirma-
se que os mapas elaborados estão calibrados.
Observou-se que os valores medidos em campo foram maiores do que os valores calculados pelo
programa. Isso aconteceu porque na modelagem de João Pessoa foi considerado apenas o ruído proveniente
da BR 230 e em Sinop o ruído proveniente da rodovia e duas perimetrais, desconsiderando outras fontes
sonoras existentes na área.
Após a calibração do modelo foram gerados os mapas de ruído no plano horizontal utilizando o
modelo de cálculo RLS-90, uma reflexão, raio máximo de 1.000 e malha de 40x40 metros, representado os
períodos matutino e vespertino (Figuras 3 e 4).
Ao analisar os mapas da cidade de Sinop e comparar os resultados com os parâmetros estabelecidos
pela NBR 10.151 (Área mista, com vocação comercial e administrativa até 60 dB(A) para o período diurno)
observou-se que a maior parte da área de influência da BR 163 apresenta valores em desconformidade com a
norma, em ambos períodos estudados (matutino e vespertino). Destaca-se que a área predominantemente
residencial encontra-se em desconformidade com os 55 dB estabelecidos pela norma, apesar de estar

287
posicionada mais distante da rodovia. Os níveis sonoros atingidos na área predominantemente residencial são
de aproximadamente 65 dB(A). Os níveis de pressão sonora resultante nos dois períodos foram bastante
semelhantes apresentando apenas uma pequena atenuação (de até 5 dB(A)) no período vespertino.

Figura 03 – Mapas de ruído da área de influência da BR 163 na cidade de Sinop, nos períodos matutino e vespertino, situação atual
(fluxo real: matutino (834 veículos leves e 474 veículos pesados), vespertino (1.024 veículos leves e 458 veículos pesados)).
Fonte: Elaborado pelas autoras no software SoundPLAN®.

Figura 04 – Mapas de ruído da área de influência da BR 230 na cidade de João Pessoa, nos períodos matutino e vespertino, situação
atual (fluxo real: matutino (8.191 veículos leves e 314 veículos pesados), vespertino (5.984 veículos leves e 161 veículos pesados)).
Fonte: Elaborado pelas autoras no software SoundPLAN®.

Ao analisar os mapas de João Pessoa e comparar os resultados com os parâmetros da norma NBR
10.151 (Área estritamente residencial urbana ou de hospitais ou de escolas até 50 dB(A) para o período
diurno) observou-se que a maior parte se encontra em conformidade com a norma, exceto nas edificações
expostas diretamente à rodovia. Os resultados obtidos nos períodos matutino e vespertino foram semelhantes,
mas, assim como Sinop, houve uma pequena redução no período vespertino.
Ao compararmos as duas cidades, observou-se que apesar de João Pessoa possuir um volume de
tráfego bem mais elevado em relação à Sinop, o mesmo apresentou um cenário menos crítico quanto ao
ruído de tráfego. Esse resultado foi decorrente da influência direta que a topografia acidentada (9,5m) e a
vegetação densa exerceram na propagação do som. Por conta da grande quantidade de vazios urbanos em
Sinop, as ondas sonoras alcançam maiores distâncias, aumentando, assim, a área de atuação da poluição

288
sonora. Além dos vazios urbanos, a malha viária de Sinop é menos concentrada quando comparada à de João
Pessoa, ou seja, as vias em Sinop são mais largas e espaças entre quadras com dimensões maiores, o que
favorece a propagação sonora em áreas mais distantes em relação a fonte.
As duas cidades apresentam na área de influência da rodovia usos sensíveis ao ruído, à exemplo de
escolas e universidades. Sendo assim, medidas de mitigação sonora devem ser tomadas nas áreas objeto de
estudo de forma imediata, em especial, nos pontos mais críticos.

4.2 Situação Hipotética


Como forma de identificar a influência exercida pelas condicionantes físico-ambientais, em especial a
topografia acidentada e a vegetação densa, foram elaborados os mapas de duas situações hipotéticas:
Mapeamento de Sinop com volume de tráfego correspondente ao de João Pessoa (fluxo: matutino (8.191
veículos leves e 314 veículos pesados), vespertino (5.984 veículos leves e 161 veículos pesados)) e o
mapeamento de João Pessoa com o volume de tráfego de Sinop (fluxo: matutino (834 veículos leves e 474
veículos pesados), vespertino (1.024 veículos leves e 458 veículos pesados)) (Figuras 5 e 6). Esses valores
correspondem a média do resultado obtido na coleta dos dados de tráfego de cada cidade.

Figura 05 – Mapas de ruído da área de influência da BR 163 na cidade de Sinop, nos períodos matutino e vespertino, situação
hipotética (fluxo: matutino (8.191 veículos leves e 314 veículos pesados), vespertino (5.984 veículos leves e 161 veículos pesados)).
Fonte: Elaborado pelas autoras no software SoundPLAN®.

Figura 07 – Mapas de ruído da área de influência da BR 230 na cidade de João Pessoa, nos períodos matutino e vespertino, situação
hipotética (fluxo: matutino (834 veículos leves e 474 veículos pesados), vespertino (1.024 veículos leves e 458 veículos pesados)).
Fonte: Elaborado pelas autoras no software SoundPLAN®.

289
Ao analisar os mapas observou-se que em Sinop, o aumento do fluxo de veículos agravou ainda mais
a poluição sonora da cidade, em contrapartida, o menor volume de tráfego na cidade de João Pessoa pouco
interferiu na propagação da onda sonora, comprovando que a topografia acidentada, que chega a 9,5 metros
em relação ao nível da BR 230, e a vegetação densa da área exercem função de barreira acústica protegendo
as edificações.
Para analisar quantitativamente o acréscimo e a diminuição do nível de pressão sonora, em relação
ao cenário atual e hipotético, selecionou-se três receptores pontuais em cada cidade. Visto a pequena
diferença entre os períodos estudados, optou-se pela análise do período matutino, por ser o período mais
crítico em ambas cidades (Figuras 7 e 8 e Tabela 4).

R1 R1

R2 R2

R3 R3

Figura 08 – Mapas de ruído da área de influência da BR 163 na cidade de Sinop, no período matutino, situação real (834 veículos
leves e 474 veículos pesados) e situação hipotética (8.191 veículos leves e 314 veículos pesados). Marcação dos receptores pontuais.
Fonte: Elaborado pelas autoras no software SoundPLAN®.

R1 R1

R2 R2

R3 R3

Figura 09 – Mapas de ruído da área de influência da BR 230 na cidade de João Pessoa, no período matutino, situação real (8.191
veículos leves e 314 veículos pesados) e situação hipotética (834 veículos leves e 474 veículos pesados). Marcação dos receptores
pontuais. Fonte: Elaborado pelas autoras no software SoundPLAN®.

290
Tabela 4 – Níveis sonoros em dB(A) resultantes nos cenários atual e hipotético no período matutino
NPS dB(A) Sinop – BR 163 JP – BR 230
Receptor Atual Hipotético Aumento Atual Hipotético Diminuição
01 58 63 05 58 57 01
02 63 67 04 44 43 01
03 67 72 05 45 47 02
Fonte: Elaborada pelas autoras.
Analisando os mapas (Figuras 7 e 8) e a Tabela 4, afirma-se que na cidade de Sinop houve acréscimo
médio de 5 dB(A) no cenário hipotético, quando comparado com o cenário atual. Porém, em João Pessoa a
situação foi bem diferente. Com a diminuição do volume do tráfego, houve a diminuição média de apenas
1dB(A). Esse resultado comprova que o desnível de 9,5 metros e a vegetação densa existentes nas margens
da BR 230, são importantes barreiras para a proteção do ruído da rodovia.

5. CONCLUSÕES
Constatou que João Pessoa apresenta cenário sonoro menos crítico que a cidade de Sinop, apesar de
apresentar volume de tráfego 40% maior.
Os vazios urbanos presentes em Sinop impediram que as edificações que margeiam a BR 163
exercessem o papel de barreiras acústicas e protegessem a área predominantemente residencial.
Ambas as cidades apresentam áreas em desconformidade com os parâmetros estabelecidos com a
NBR 10.151 (ABNT, 2000).
A pesquisa demonstrou que o mapeamento do ruído é uma importante ferramenta para visualização do
ruído ambiental e, com base na análise dos mapas é possível estabelecer medidas de combate à poluição
sonora. Duas importantes diretrizes para melhoria da qualidade sonora no meio urbano: presença de
vegetação densa e desníveis naturais do solo, posicionados próximo as vias de grande fluxo de veículos,
comprovados nos resultados dessa pesquisa.
Como sugestão para pesquisas futuras, destacam-se: quantificar a importância da vegetação densa na
atenuação do ruído de tráfego veicular; quantificar a atenuação sonora em uma malha mais distante do eixo
da via.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Horizonte.

291
AGRADECIMENTOS
A Mayara Marques Bezerra, graduanda em arquitetura e urbanismo na Universidade Federal da Paraíba, pela
valiosa contribuição. A Universidade Estadual do Mato Grosso, campus Sinop. Ao Programa de Pós
Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGAU-UFRN).
À CAPES pela concessão de bolsa a uma das pesquisadoras.

292
ISOLAMENTO SONORO AÉREO EM CAMPO E EM LABORATÓRIO DO
SISTEMA CONSTRUTIVO CLT,
Thais Sacomani Zenerato (1); Stelamaris Rolla Bertoli (2)
(1) Mestre, Engenharia Civil, thais.zenerato@hotmail.com, UNICAMP
(2) PhD, Professsora da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da UNICAMP,
rolla@fec.unicamp.br, (19) 3521-2382

RESUMO
O crescente uso de sistemas construtivos inovadores e a necessidade da verificação do desempenho das
edificações brasileiras devido a entrada em vigor da norma de desempenho (NBR 15575:2013) motivou o
estudo de desempenho de vários sistemas inovadores por parte de fabricantes e construtores. O desempenho
acústico é tratado na norma NBR 15575:2013 no item 12 e aplica-se a sistemas de vedação vertical interna e
externa (Parte 4). O sistema construtivo Cross Laminated Timber (CLT) é bastante conhecido no exterior,
mas começou a ser produzido no Brasil somente em 2012. Não existiam informações sobre seu desempenho
acústico até o estudo pioneiro realizado em 2019 que avaliou o desempenho acústico, em campo e em
laboratório, de fachadas construídas com o sistema Cross Laminated Timber. Esse trabalho tem por objetivo
apresentar os resultados da avaliação do desempenho acústico, em campo e em laboratório, de fachadas
construídas com o sistema Cross Laminated Timber. Em campo, foram executados ensaios de isolamento
sonoro aéreo de fachadas para a determinação da Diferença Padronizada de Nível (DnT,) em função de
frequência e efetuados os cálculos para obtenção da Diferença Padronizada de Nível Ponderada (DnT,w). Em
laboratório foram realizados os ensaios de isolamento sonoro aéreo para a determinação do Índice de
Redução Sonora (R) em função de frequência e efetuado o cálculo para a obtenção do Índice de Redução
Sonora Ponderado (Rw). Os resultados de DnT,w e Rw. foram comparados com os critérios de desempenho
indicados na parte 4 da norma NBR 15575, com resultados de estudos de outros sistemas construtivos e
também com estudos do sistema construtivo CLT no exterior. Os valores de DnT,w obtidos variaram de 15 a
21 dB e os valores de Rw encontrados foram 29dB e 34 dB para as superfícies de espessuras 80 e 120mm
respectivamente.
Palavras Chaves: desempenho acústico, isolamento sonoro aéreo em campo, isolamento sonoro aéreo em
laboratório, CLT

ABSTRACT
The increasing use of innovative building systems and the need to verify the performance of Brazilian
buildings due to the implementation of the performance standard (NBR 15575: 2013) motivated the study of
the performance of several innovative systems by manufacturers and builders. The acoustic performance is
treated in the standard in item 12 and applies to internal and external vertical (Part 4). The Cross Laminated
Timber (CLT) construction system is well known abroad, but began to be produced in Brazil in 2012. There
was no information on its acoustic performance until the pioneering study in 2019 that evaluated acoustic
performance in the field and in laboratory, of facades constructed with the system Cross Laminated Timber.
This work aims to present the evaluation and results of the acoustic performance, in the field and in the
laboratory, of façades constructed with the Cross Laminated Timber system. In the field, aerial sound
insulation tests of field façades were performed to determine the Standardized Level Difference (DnT) as a
function of frequency and performed the Standardized Weighted Level Difference (DnT,w) calculations. In the
laboratory, the aerial sound insulation tests were performed to determine the Sound Reduction Index (R) as a
function of frequency and performed the Weighted Sound Reduction Index (Rw) calculations. The results of
DnT w and Rw. were compared with the performance criteria indicated in part 4 of standard NBR 15575 and
with results from studies of other construction systems and also with studies of the CLT construction system
abroad. The obtained DnT,w values ranged from 15 to 21 dB and the Rw values found were 29 dB and 34 dB
for the thickness surfaces 80 and 120 mm respectively.
Keywords: acoustic performance, filed sound insulation, laboratory sound insulation, CLT

293
1. INTRODUÇÃO
A norma brasileira NBR 15575:2013, conhecida como norma de desempenho, estabeleceu diretrizes de
desempenho que devem ser obedecidas por quaisquer sistemas construtivos em todas as edificações
habitacionais. A aprovação e a entrada em vigor da norma promoveu um novo olhar para a forma de projetar
que atualmente está baseada no desempenho da edificação. A norma brasileira incentiva o uso de sistemas
construtivos inovadores na medida em que permite que esses sistemas sejam usados desde que tenham seu
desempenho comprovado. O desempenho acústico é tratado no item 12 dessa norma e aplica-se a sistemas de
vedações verticais internas e externas e a sistemas de piso e foi um dos grandes ganhos dessa norma. Ao
estabelecer requisitos, métodos e critérios para o desempenho acústico de paredes, fachadas e pisos, a norma
motivou a indústria da construção civil a conhecer o desempenho acústico dos seus materiais e sistemas.
Observou-se nas últimas décadas o crescente uso de sistemas construtivos inovadores e juntamente com a
aprovação da norma de desempenho surgiu à necessidade de se avaliar o desempenho desses sistemas
inovadores.
Internacionalmente, o sistema construtivo Cross Laminated Timber (CLT) é bastante conhecido e
usado na construção de diversos tipos de edificações. CLT teve seu uso estabelecido em diversos países da
Europa como Espanha, França, Reino Unido, Noruega, Suécia. Horx-Strathern et al. (2017) indicam que no
ano de 2015, a Aústria foi responsável por 60% das vendas mundiais do CLT, seguida pela Alemanha com
16% do total de 620.000 m³ jáproduzidos desde 1998. Países como Austrália, Japão, Canadá e Estados
Unidostem se tornado potenciais produtores do CLT (HORX-STRATHERN; et. All, 2017).
Existem diversos edifícios construídos no exterior que utilizaram o Cross Laminated Timber como
sistema construtivo completo ou parcial em edifícios. O primeiro prédio do Reino Unido construído
inteiramente de CLT foi o Brid Port House. Entre as vantagens do uso do CLT nessa obra estão a rapidez da
construção (o prédio de 7 andares teve a sua finalização em apenas 12 semanas) e uma redução de mais de
30 toneladas de CO2 pois cada apartamento contém aproximadamente 40 m³ de madeira (STORA ENSO,
2018). A Library at the Dock foi o primeiro prédio público construído com CLT na Austrália. A grande
maioria dos componentes estruturais foi feito com mais de 500 m³ de CLT e o tempo de construção total do
prédio foi de dois meses e meio (STORA ENSO, 2018)
No Brasil, o sistema CLT (Cross Laminated Timber) começou a ser produzido em 2012. A primeira
empresa a produzir o CLT no Brasil iniciou suas atividades construindo residências, realizando reformas,
explorando a construção modular. Em 2018, a prefeitura de Suzano/SP apostou no CLT para a ampliação das
salas de aula de cinco escolas da rede municipal (SUZANO, 2018). Esse uso em novos ambientes ressalta a
importância de um estudo acústico do sistema. Com a aprovação da norma de desempenho para edifícios
habitacionais a necessidade de se conhecer o desempenho acústico do CLT é reforçada.
Segundo Van Damme et al. (2015) existem poucas pesquisas tratando de medição e predição dos
parâmetros acústicos do CLT e, até hoje, a predição do índice de redução sonora do Cross Laminated Timber
ainda não foi alcançada com sucesso. Como hoje esse sistema vem sendo implantado em edifícios para fins
residenciais e até escolas, é de suma importância aumentar a confiabilidade das predições do isolamento
sonoro (VAN DAMME et al., 2015). No Brasil o primeiro estudo realizado sobre avaliação de desempenho
acústico de CLT foi efetuado por Zenerato (2019) com ensaios de isolamento sonoro aéreo em campo e em
laboratório.
. Esse trabalho apresenta a avaliação do desempenho acústico, em campo e em laboratório, de
fachadas construídas com o sistema Cross Laminated Timber. Em campo foram efetuados ensaios do
isolamento sonoro aéreo de fachadas para determinação da Diferença Padronizada de Nível (D nT) em função
de frequência conforme método proposto pela norma ISO 16283-3:2016 e com esses resultados obteve-se o
parâmetro Diferença Padronizada de Nível Ponderada (DnT,w), segundo procedimento da norma ISO 717-
1:2013. Em laboratório foram realizados os ensaios de isolamento sonoro aéreo para a determinação do
Índice de Redução Sonora (R) em função de frequência conforme procedimento indicado na norma ISO
10140-2:2010 e os resultados empregados no cálculo do Índice de Redução Sonora Ponderado (Rw), segundo
a norma ISO 717-1:2013. Os resultados de DnT,w e Rw foram comparados com os critérios indicados pela
parte 4 da norma NBR 15575, para verificar o atendimento do desempenho acústico do sistema.

2. OBJETIVO
Esse trabalho tem por objetivo apresentar a avaliação do desempenho acústico, realizados em campo e em
laboratório, de fachadas construídas com o sistema Cross Laminated Timber (CLT).

294
3. MÉTODO
O método utilizado para o desenvolvimento desse trabalho baseou-se na apresentação do sistema construtivo
estudado, nos procedimentos de ensaio de isolamento sonoro aéreo em campo e laboratório e na análise dos
resultados.

3.1. Sistema construtivo CLT


O Cross Laminated Timber (CLT), conhecido também como madeira laminada colada cruzada, é um
material que compõe um novo sistema construtivo. O produto é um pré-fabricado composto por um número
ímpar de camadas (no mínimo três) de chapas de madeira coladas ortogonalmente e submetidas à pressão
para formação de um painel retangular sólido e plano (Figura 1), podendo ser aplicado como telhados, lajes
ou paredes (PAGNONCELLI e MORALES, 2016).

(a) (b)
Figura 1 – Painel de CLT (a) Foto e (b) Esquema com camadas ortogonais
Fonte: (a) Parry-Jones (2016) e (b) Gagnon e Pirvu (2011)

As placas de CLT que compõem as construções escolhidas nesse estudo foram produzidas com chapas
de madeira da espécie Pinus Taeda. Essas chapas possuem largura variável, podendo ter sido posicionadas
alinhadas ou desencontradas, como mostrado na Figura 2. O comprimento das chapas também é variável,
sendo feita a ligação por finger joint e poliuretano (Figura 3) para que fosse atingido o comprimento final.
Essas chapas foram então coladas com adesivo a frio e prensadas para formação do elemento completo. Após
esse processo foi feito o corte, com precisão de um centésimo de milímetro, resultando em placas com as
dimensões exatas para utilização em campo e com espessuras variando de 80 mm a 145 mm.

(a) (b)
Figura 2 – Alinhamento das chapas
Fonte: (b) Gagnon e Pirvu, 2011.

295
Figura 3 – Ligação Finger Joint
Fonte: O autor

3.2 Ensaio de isolamento sonoro aéreo em Campo


O ensaio de isolamento sonoro aéreo em campo, no caso de vedações verticais externas (fachadas), é
realizado medindo externamente o nível de pressão sonora a 2 metros da fachada (L1,2m) e medidos
internamente à edificação os parâmetros nível de pressão sonora (L2), tempo de reverberação (T) e som
residual (Lb). Todos os parâmetros são medidos em função de frequência em bandas de 1/3 de oitava entre as
frequências de 100 Hz a 3150 Hz. Os procedimentos dos ensaios de isolamento sonoro aéreo em campo para
fachadas são descritos na norma ISO 16283-3:2016 e foram seguidos nessa pesquisa. Com os resultados dos
parâmetros acústicos medidos em campo, calcula-se a Diferença Padronizada de Nível (D2m,nT) em função
de frequência. Esses valores em função de frequência são convertidos em numero único, segundo a norma
ISO 717-1:2013 e denominado de Diferença Padronizada de Nível Ponderada (D2m,nT,w). O parâmetro D2m,nT,w
é o parâmetro acústico usado como critério de avaliação de desempenho acústico para isolamento sonoro
aéreo de fachadas pela norma NBR 15575:2013.
Para a realização dos ensaios de isolamento sonoro aéreo em campo, foi feito o acompanhamento da
construção de duas edificações executadas com o sistema Cross Laminated Timber, ambas localizadas no
estado de São Paulo. Os elementos de interesse do estudo dessas edificações foram as fachadas.
Os elementos de vedação que foram escolhidos para os ensaios em campo foram paredes que não
possuíam nenhum tipo de esquadria e de espessura de 80mm. As três fachadas estudadas nesse trabalho se
enquadraram nesse critério e foram denominadas de Fachada 1, Fachada 2 e Fachada 3. A Fachada 1 fica
numa edificação diferente da edificação das Fachadas 2 e 3.

3.3 Ensaios isolamento sonoro aéreo em Laboratório


O ensaio de isolamento sonoro aéreo em laboratório é executado em duas câmaras separadas por um
elemento a ser testado. Uma das câmaras é denominada sala emissora, onde é mensurado o parâmetro nível
de pressão sonora (L1). A outra câmara é chamada de sala receptora e nela são medidos os parâmetros nível
de pressão sonora (L2), tempo de reverberação (T) e som residual (Lb). Todos os parâmetros acústicos são
medidos em função de frequência em banda de frequência de 1/3 de oitava entre as frequências de 100 Hz a
3150 Hz. As generalidades dos procedimentos de medição dos parâmetros em laboratório são apresentados
na norma a ISO 10140-2:2010 e os detalhes dos procedimentos de medição são apresentados na norma ISO
10140-4:2010.
Os parâmetros nível de pressão sonora (L1 e L2), som residual (Lb) e tempo de reverberação (T) são
usados para o cálculo do Índice de Redução Sonora (R) em função de frequência. Pela aplicação dos
procedimentos da norma ISO 717-1:2013, os valores dos Índice de Redução Sonora em função de frequência
são convertidos em numero único denominado Índice de Redução Sonora Ponderado (Rw). Esse parâmetro
representa o isolamento sonoro aéreo e é usado como critério de avaliação de isolamento sonoro pela norma
NBR 15575:2013.
Em laboratório, os ensaios de isolamento sonoro aéreo foram realizados no Laboratório de Conforto
Ambiental e Sustentabilidade de Edifícios (LCA) pertencente ao Centro Tecnológico do Ambiente
Construído (CETAC) do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). O CETAC faz parte da Rede Brasileira
de Laboratórios de Ensaio (RBLE), acreditado pelo Inmetro. A acreditação do LCA/CETAC refere-se a
realização dos ensaios de isolamento sonoro aéreo e segue todas as diretrizes da norma ISO 10140-2:2013.
O laboratório LCA do CETAC é composto por uma sala emissora e uma sala receptora, divididas por
um pórtico onde são instalados os corpos de prova. O pórtico de concreto armado possui dimensões
aproximadas de 4 metros de largura, 3 metros de altura e 0,3 metros de espessura. Nesse pórtico foram
instalados os corpos de prova dos materiais estudados.

296
Os corpos de prova ensaiados em laboratório são similares aos materiais das fachadas estudadas em
campo. Para os ensaios em laboratório, foram produzidos dois corpos de prova. O primeiro corpo de prova,
denominado “Painel de CLT 80 mm”, é uma divisória formada por um módulo com três painéis de madeira
maciça, com espessuras 20 mm + 40 mm + 20 mm (Figura 4a) com dimensões totais aproximadas de 3,0 m
x 4,0 m x 0,08 m. O segundo corpo de prova, denominado “Painel de CLT 120mm”, é similar ao primeiro
corpo de prova, porém a espessura de cada um dos três painéis de madeira maciça é de 40 mm (Figura 4b). O
painel completo possui dimensões totais aproximadas de 3,0 m x 4,0 m x 0,12 m.
O CETAC forneceu os resultados das medições de nível de pressão sonora do conjunto de pontos das
salas emissora (L1) e sala receptora (L2), o som residual (Lb) e o tempo de reverberação (T) da sala receptora
em função de frequência em bandas de 1/3 oitava entre as frequências de 100 Hz a 3150 Hz. O relatório de
ensaio fornecido pelo laboratório também apresentou os valores calculados do Índice de Redução Sonora
(R) e o respectivo valor do Índice de Redução Sonora Ponderado (Rw).

(a) (b)
Figura 4 – Painéis ensaiados em laboratório: (a) Painel de CLT de 80mm e (b) Painel de CLT de 120 mm
Fonte: Os autores

4. RESULTADOS E ANÁLISES
4.1 Desempenhos acústico em campo
Os dados dos parâmetros acústicos obtidos nas medições (L1, L2, Tr e Lb) foram tratados e usados no cálculo
da Diferença Padronizada de Nível (D2m,nT) em função de frequência de cada fachada avaliada. Os resultados
de D2m,nT em função de frequência para as Fachadas 1, 2 e 3 estão apresentados na Tabela 1 dessa sessão.
Aplicados os procedimentos da norma ISO 717-1:2013, associados ao ajuste da curva de referencia e a
comparação com os dados de Diferença Padronizada de Nível (D2m,nT) em função de frequência, foram
obtidos os valores da Diferença Padronizada de Nível Ponderada (D2m,nT,w) das fachadas estudas e os valores
encontrados estão expresso na Tabela 2
Embora as espessuras das paredes avaliadas sejam as mesmas, os resultados indicam que o isolamento
sonoro da Fachada 1 em relação ao isolamento das Fachadas 2 e 3 é pelo menos 5dB superior. Esse
comportamento reflete o fato de que as medições de isolamento sonoro em campo traduzem o isolamento do
sistema, na forma que foi executado, e as possíveis diferenças entre as transmissões marginais (por flancos)
que possam ocorrer. Como a Fachada 1 fica numa edificação diferente da edificação das Fachadas 2 e 3, as
transmissões marginais podem ter influenciados a diferença desses desempenhos.
O critério brasileiro de desempenho acústicos de fachadas apresentado na tabela 17 da norma NBR
15575-4:2013 indica para habitações localizadas distantes de fontes de ruído intenso de quaisquer naturezas
(Classe de Ruido I), o desempenho mínimo de isolamento sonoro aéreo em campo de D2m,nT,w de 20dB com
acréscimos de 5dB para níveis de desempenho Intermediário e Superior. Comparando os resultados medidos
com o critério verifica-se que somente a Fachada 1 atenderia a norma no seu critério mínimo de desempenho
na condição de Classe de Ruído I (Habitação localizada distante de fontes de ruído intenso de quaisquer
naturezas). Isso também reforça a importância no cuidado da instalação do material no sistema, nesse caso,
de fachada
Tabela 1 – Diferença Padronizada de Nível (D2m,nT) em função de frequência das fachadas estudadas
Fachada 1 Fachada 2 Fachada 3
Frequência(Hz) D2m,nT (dB) D2m,nT (dB) D2m,nT (dB)
100 11,4 16,7 18,3
125 13,7 10,3 14,3
160 13,4 10,5 9,7
200 15,7 11,4 14,9

297
250 17,6 17,0 15,3
315 18,4 13,6 16,8
400 19,4 13,5 17,2
500 17,4 10,2 10,2
630 19,5 13,6 14,2
800 18,2 10,2 12,3
1000 19,9 13,9 15,3
1250 22,3 13,7 14,8
1600 21,7 14,2 16,1
2000 22,2 17,6 18,3
2500 23,8 18,1 20,2
3150 27,1 17,8 17,1

Tabela 2 – Valores da Diferença Padronizada de Nível Ponderada (D2m,nT,w) das fachadas estudadas
Fachada D2m,nT,w (dB)
1 21
2 15
3 16

O desempenho acústico do sistema CLT está muito aquém dos desempenhos de sistemas construtivos
convencionais brasileiros que apresentaram resultados de Diferença Padronizada de Nível Ponderada entre
37 dB e 44 dB para espessuras entre 140 mm e 220 mm. (NETO e BERTOLI, 2010; NETO, BERTOLI e
BARRY 2010; IKEDA e MIRANDA 2015; PINTO, VERGARA e PAIXÃO, 2010; GONÇALVES e
CARVALHO, 2018). Em comparação aos sistemas construtivos inovadores brasileiros ensaiados em campo,
a Fachada 1 teve um resultado próximo a sistemas como Painéis estruturais pré-moldados de concreto
armado – ALTIARE (23 dB) e Painéis JETCASA pré-moldados mistos de concreto armado e blocos
cerâmicos para paredes (24 dB), (BRASIL, 2017). Uma opção para o aumento de isolamento sonoro que
pode ser obtido com um sistema híbrido criando fachadas compostas por CLT, placas de gesso e lãs
minerais.

4.2 Desempenho acústico em laboratório


Os resultados dos ensaios de isolamento sonoros aéreos realizados em laboratório foram disponibilizados em
relatório pelo CETAC. Os valores de Índice de Redução Sonora (R), em função de frequência foram para
dois painéis de CLT com espessuras respectivamente de 80mm e 120mm. Os valores encontrados são
apresentados na Tabela 3.
Observa-se que o índice de redução sonora (R) em função de frequência apresenta o comportamento
esperado para uma partição simples Nas baixas frequências onde a transmissão sonora é dependente da
rigidez da placa, ocorre uma diminuição do isolamento com o aumento das frequências. A partir das
frequências médias, o comportamento é regido pela lei das massas, ocorrendo o aumento da isolação sonora
dos painéis em função de frequência, até atingir a frequência de coincidência.
Pela comparação dos valores do índice de Redução Sonora (R) em função de frequência com as curvas
de referência ajustadas segundo a norma ISO 717-1:2013 obteve-se os valores de Índice de Redução Sonora
Ponderado (Rw) dos painéis cujos valores estão indicados na Tabela 4, como esperado o isolamento sonoro
aéreo aumentou com a espessura
O critério brasileiro de desempenho acústico para os ensaios em laboratório de sistemas verticais
externos são apresentados na tabela 17 da norma NBR 15575-4:2013. O critério indica, para a Classe Ruído I
(Habitação localizada distante de fontes de ruído intenso de quaisquer naturezas.), o valor de RW de 25 dB
para o nível de desempenho mínimo com acréscimos de 5dB para os níveis de desempenho Intermediário e
Superior. No caso do painel CLT de espessura de 80mm, ele atende ao critério mínimo da Classe de Ruído I
e o painel de espessura de 120mm atende ao critério intermediário da Classe de Ruído I. Considerando a
Classe de Ruído II (Habitação localizada em áreas sujeiras a situações de ruído não enquadráveis nas classes
I e III), o painel de espessura 120mm atenderia ao nível de desempenho mínimo. Os dois painéis avaliados
em laboratório (80mm e 120mm) não atendem a nenhum nível de desempenho para fachadas, se for
considerada a Classe III (Habitação sujeita a ruído intenso de meios de transporte e de outras naturezas,
desde que conforme a legislação).

298
Tabela 3 – índice de Redução Sonora (R) em função de frequência dos painéis de CLT avaliados
Painel 80mm Painel 120mm
Frequência (Hz) R (dB) R (dB)
100 25,5 28,1
125 28,0 25,1
160 22,6 22,0
200 24,4 24,0
250 23,4 24,7
315 21,7 24,7
400 21,9 26,6
500 21,1 27,8
630 24,3 28,7
800 27,7 32,3
1000 31,7 36,8
1250 34,8 40,5
1600 37,9 43,4
2000 40,3 46,1
2500 43,2 47,8
3150 46,0 50,7

Tabela 4 – Valores do Índice de Redução Sonora Ponderado (Rw) dos painéis as avaliados
Rw (dB)
Painel
80mm 29
120mm 34

Os Índices de Redução Sonora (Rw) dos dois painéis avaliados são relativamente baixos quando
comparado aos índices de 40 dB de uma parede que utiliza um sistema convencional brasileiro de 120 mm
de espessura (NETO e BERTOLI, 2010). O CLT possui menor isolamento em relação aos sistemas
construtivos tradicionais brasileiros ensaiados em laboratório, sendo esse um resultado esperado (segundo a
Lei da Massa) uma vez que a densidade do CLT é menor que a densidade dos sistemas convencionais.
É importante observar que os resultados do isolamento sonoro obtidos em laboratório são referências
para projetistas e os resultados em campo são valores obrigatórios a serem atingidos para as edificações
habitacionais construídas a partir de 2013. Destaca-se que os painéis de CLT ensaiados em laboratório não
possuíam aberturas ou adição de janelas e outros componentes e essa inclusão pode representar uma variação
do isolamento sonoro da vedação vertical por essa inserção, reduzindo o isolamento sonoro do conjunto..
Foram comparados os resultados de desempenho acústico de laboratório dos painéis ensaiados com os
resultados de isolamento de outros sistemas construtivos inovadores, obtidos na consulta de Documentos de
Avaliação Técnica (DATec) válidos na data da revisão de literatura (BRASIL, 2017).Os valores de
isolamento sonoro aéreo para o CLT foram inferiores aos dos sistemas consultados. Os resultados obtidos
para os Índices de Redução Sonora Ponderado dos painéis de CLT ensaiados (29 dB e 34 dB) são pelo
menos 5 dB menores que os sistemas construtivos inovadores que apresentaram o menor isolamento
sonoro aéreo dentre as DATecs válidas. Dentre as DATec pesquisadas o sistema de menor desempenho foi
um sistema híbrido denominado Sistema Construtivo LP Brasil OSB em Light Steel Frame e fechamento em
chapas OSB revestida com placa cimentícia. Para o sistema de pré-moldados de blocos cerâmicos e nervuras
de concreto armado para paredes da PREMIERE – Fachada, a diferença atingiu 22 dB. Apesar da diferença
de desempenho acústico encontrada entre os sistemas inovadores e o CLT vale destacar que a avaliação foi
realizada no painel de CLT “puro”, isto é, sem nenhuma composição para torna-lo um construtivo híbrido.
Na pratica e em campo muitas vezes o CLT é combinado como outros materiais..
Os resultados de ensaios de outros sistemas construtivos de madeira encontrados na literatura indicam
um índice de redução sonora similar ao encontrado para o CLT. Esses mesmos resultados mostram o
acréscimo do isolamento sonoro quando adicionado o concreto, que possui maior densidade superficial
quando comparado à madeira (PARRY-JONES,2016). A adição de 100 mm de concreto trouxe um aumento
de isolamento, principalmente em altas frequências, da ordem de 11 dB no Índice de Redução Sonora
Ponderado (Rw). Esses resultados indicam uma oportunidade para o aumento do isolamento sonoro do CLT
como sistema construtivo.

299
O Painel de CLT de 120 mm de espessura que apresentou um valor de Rw de 34 dB, tem o mesmo
resultado encontrado em ensaios realizados em placas de CLT por uma empresa fabricante europeia quando
utilizado um corpo de prova de espessura 90 mm. (PAGNONCELLI e MORALES, 2016). Nesse mesmo
estudo, quando utilizada uma placa de gesso combinada com o CLT, o aumento de isolamento sonoro foi de
4 dB e corpos de prova combinados com placas de gesso e lãs minerais apresentaram resultados de até 70
dB. Outro estudo apresentou um valor de Rw de 33 dB para o CLT de 95 mm Esses resultados indicam uma
superioridade do isolamento sonoro aéreo do CLT europeu sobre o CLT nacional.

5. CONCLUSÕES
O presente estudo foi pioneiro no Brasil ao estudar o desempenho acústico do sistema construtivo inovador
Cross Laminated Timber (CLT). Particularmente, esse estudo apresentou o modo como o sistema construtivo
está sendo aplicado no país e os resultados e análises de ensaios de isolamento sonoro aéreo, realizados em
campo e em laboratório.
Considerando que o CLT foi pouco explorado no país, o acompanhamento de obras realizadas com o
sistema construtivo CLT auxilia o entendimento do sistema como um todo. A forma como a edificação é
construída pode ter muita influência sobre o isolamento sonoro aéreo de uma edificação. Além disso, falhas
construtivas, frestas e esquadrias mal instaladas podem resultar em quedas acentuadas de isolamento.
Os resultados dos ensaios foram utilizados para verificação do enquadramento do CLT no
desempenho acústico exigido pela norma brasileira de desempenho NBR 15575-4:2013. Os resultados dos
ensaios laboratoriais apontaram valores de Índice de Redução Sonora Ponderado (Rw) de 29 dB para o
Painel de CLT com 80mm de espessura e de 34 dB para o Painel de CLT 120 mm de espessura. O Painel de
CLT 80 mm se enquadra nos requisitos da norma brasileira de desempenho NBR 15575-4:2013 podendo ser
utilizado apenas em fachadas de edificações distantes de ruídos intensos (Classe de Ruído I), atendendo ao
nível de desempenho mínimo. Já o Painel de CLT de 120 mm de espessura pode ser utilizado nesses mesmos
locais, atendendo ao nível de desempenho Intermediário, e em locais com incidência de ruídos intensos,
atendendo ao nível de desempenho Mínimo. Em campo, o resultado do valor da Diferença Padronizada de
Nível Ponderada (D2m,nT,w) também se enquadra apenas no nível de desempenho Mínimo para edificações
construídas em locais distantes de ruídos intensos. Esses resultados indicam que o painel simples de até 120
mm do CLT nacional não pode ser utilizado nas grandes cidades brasileiras, onde existe o ruído constante de
tráfego e outras fontes de ruído intenso.
Nos ensaios realizados em laboratório, sistemas convencionais brasileiros apresentaram isolamento
sonoro 6 dB superior se comparados ao isolamento do Cross Laminated Timber, devido a densidade
superficial do material. Outros sistemas construtivos inovadores apresentaram, no mínimo, um aumento de 5
dB de isolamento em relação ao CLT, comportamento justificado tanto pela densidade superficial quanto
pelo aumento da espessura ou adição de outras variáveis. Comparativamente, o CLT nacional apresentou
resultados de Índices de Redução Sonora Ponderado (Rw) inferiores ao CLT ensaiado no exterior, chegando
a resultados similares considerando espessuras de 120mm e 90mm, respectivamente.
Os ensaios desse trabalho foram realizados considerando o CLT como sistemas de vedações verticais
externas para isolamento sonoro aéreo. Para um entendimento mais completo do desempenho acústico do
CLT são necessários estudos adicionais como isolamento a ruídos de impacto de pisos (em campo e em
laboratório) e ensaios de isolamento sonoro aéreo vedações verticais internas em campo.
Conclui-se que o CLT é um material que atende a norma de desempenho brasileira se enquadrando
nos critérios mínimos exigidos tanto em campo quanto em laboratório. Porém, o sistema construtivo, como é
aplicado no Brasil, não atenderia a exigências internacionais de desempenho acústico e não alcança o mesmo
isolamento sonoro do CLT de outros países. Esses resultados indicam uma necessidade de estudos para
melhoria do desempenho acústico do CLT nacional, de modo a atingir o potencial já demonstrado
internacionalmente.

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NETO, M. de F. F.; BERTOLI, S. R. Desempenho acústico de paredes de bloco/tijolo cerâmico uma comparação entre Brasil e
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NETO, M. de F. F.; BERTOLI, S. R.; BARRY, P. J. Diferença entre testes de desempenho acústico em laboratório e campo em
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PAGNONCELLI, L; MORALES, F. Cross Laminated Timber System (CLT): laboratory and in situ measurements of airborne and
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SUZANO, Prefeitura Municipal. Tecnologia inovadora garante rapidez na ampliação do númerode salas de aula. Disponível em:
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ZENERATO, T.S. Desempenho acústico do cross laminated timber (CLT). Dissertação de mestrado. Universidade Estadual de
Campinas. Campinas, 2019.

AGRADECIMENTOS
À CAPES, ao IPT e à FIPT pelo financiamento da pesquisa. À equipe do CETAC pela disponibilidade e
suporte.

301
MAPA DO RUÍDO DE TRÁFEGO VEICULAR NO BAIRRO DO BESSA, EM
JOÃO PESSOA/ PB
Nathalia Silva (1); Suiellen Vieira (2); Tamáris Brasileiro (3); Juliana Costa Morais (4);
Bianca Araújo (5); Virgínia Araújo (6)
(1) Graduanda em arquitetura e urbanismo, nathalialima.arquitetura@outlook.com, UFPB;
(2) Graduanda em arquitetura e urbanismo, suiellenvieira@gmail.com, UFPB;
(3) Doutoranda em arquitetura e urbanismo, tamarisbrasileiro@gmail.com, UFRN;
(4) Profª Doutora em arquitetura e urbanismo, julianamcosta2013@gmail.com, UFPB (83) 3216 7115
(5) Profª Doutora em arquitetura e urbanismo, dantasbianca@gmail.com, UFRN.
(6) Profª Doutora em arquitetura e urbanismo, virginiamdaraujo@gmail.com, UFRN.
Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Laboratório de Conforto Ambiental, Cx Postal 1524, Natal-RN,
CEP 59078-970, Tel (84) 3215 3721

RESUMO
Os mapas de ruído são um modo de representar visualmente os níveis de pressão sonora de uma determinada
área e se constituem atualmente em importante ferramenta de planejamento urbano. Sua relevância consiste
tanto no diagnóstico do problema quanto na proposição de planos de ação e/ou estratégias de controle do
ruído urbano. Pesquisas anteriores acerca da poluição sonora na cidade de João Pessoa, capital do estado da
Paraíba, registraram que, dentre os bairros com maior número de denúncias de poluição sonora informadas
nos órgãos de fiscalização ambiental, está o bairro do Bessa. Portanto, este artigo teve como objetivo geral
avaliar o impacto sonoro provocado pelo ruído de tráfego no bairro do Bessa, em João Pessoa/PB, de forma a
subsidiar estratégias de ações para área para controle de ruído. Para tal, metodologicamente realizou-se
pesquisa bibliográfica e documental, atualização dos dados cedidos pelos órgãos públicos, coleta de dados
em campo, confecção do mapa de ruído no software soundPLAN® e análise/discussão dos resultados. Os
mapas de ruído mostraram que o bairro apresenta níveis sonoros superiores aos parâmetros estabelecidos
pela Norma ABNT NBR 10151:2000, no período matutino e vespertino. Houve uma diferença máxima de 5
dB (A) entre os resultados obtidos nos dois períodos analisados, visto que a coleta dos dados foi realizada em
dois horários de pico representando a situação mais crítica. Afirma-se que, mesmo que tenha sido analisado o
ruído de tráfego, observou-se que além dos níveis mais elevados, há também o problema de poluição sonora
devido a fontes pontuais, portando o cenário é ainda mais problemático. A pesquisa demonstrou que o mapa
de ruído é uma importante ferramenta para a análise e compreensão dos cenários sonoros urbanos
contribuindo para um melhor planejamento das cidades.
Palavras-chave: acústica urbana, poluição sonora, mapa de ruído, ruído de tráfego.

ABSTRACT
Noise maps are a way of visually representing the sound pressure levels of a given area and are currently an
important tool in urban planning. Its relevance consists in both the diagnosis of the problem and the
proposition of action plans and / or urban noise control strategies. Previous research about noise pollution in
the city of João Pessoa, the capital of Paraíba, reported that among the neighborhoods with the highest
number of noise complaints reported in the environmental inspection agencies, is the Bessa neighborhood.
Therefore, this article has the general objective of evaluating the noise impact caused by traffic noise in the
neighborhood of Bessa, in João Pessoa / PB, in order to subsidize action strategies for noise control area. For
this, methodologically, bibliographical and documentary research was carried out, updating the data provided
by public agencies, field data collection, noise mapping in soundPLAN® software and analysis / discussion
of results. The noise maps showed that the neighborhood has sound levels higher than the parameters
established by Standard ABNT NBR 10151:2000, in the morning and evening periods. There was a
maximum difference of 5 dB (A) between the results obtained in the two analyzed periods, since the data
collection was performed at two peak times representing the most critical situation. It is argued that, even if
traffic noise was analyzed, it was observed that in addition to the higher levels, there is also the problem of

302
noise pollution due to point sources, making the scenario even more problematic. The research showed that
the noise map is an important tool for the analysis and understanding of the urban sound scenarios
contributing to a better planning of the cities.
Keywords: urban acoustics, noise pollution, noise map, traffic noise.

1. INTRODUÇÃO
O mapa de ruído é um modo de representar visualmente o ruído ambiental de uma determinada área. Nele os
níveis sonoros são representados de maneira gráfica em forma de curvas, denominadas curvas isofônicas, em
que seus limites são diferenciados por linhas, ou manchas, por meio de gradação de cores (SILVA, 2011).
Esses mapas surgem não como etapa final de análise, mas como ferramenta auxiliadora no
planejamento urbano, promovendo a qualidade do ambiente sonoro das cidades e a criação de planos e
projetos de ordenação territorial (SANTOS e VALADO, 2004). Isso permite não só identificar as principais
fontes de ruído, como também identificar zonas que excedem os níveis permitidos por normas e legislações,
a exemplo da NBR 10151:2000. Dessa forma é possível avaliar a exposição da população e até criar
simulações de situações futuras, servindo como suporte na tomada de decisões estratégicas quanto ao
controle de ruído (GUEDES e BERTOLI, 2014).
A criação da Diretiva 2002/49/CE (PARLAMENTO E CONSELHO EUROPEU, 2002) tornou
obrigatória a elaboração de mapas acústicos em cidades europeias com mais de 250 mil habitantes. Os
resultados obtidos nos mapas são utilizados como base para a elaboração de Planos de Ação, a fim de
prevenir e reduzir o ruído ambiental, de modo a evitar seus efeitos nocivos para saúde humana.
Nas cidades brasileiras, problemas relacionados ao crescimento desordenado e ao tráfego de veículos
motivaram a criação de alguns planos de ação a nível municipal, a exemplo das cidades de Belém/PA
(MORAES; LARA, 2004) e Fortaleza/CE (BRITO, 2013). Contudo, a realização de mapeamentos de ruído
ainda tem ocorrido de maneira pontual no país. Além dessas, a cidade de Natal/RN teve recentemente seu
mapa de ruído concluído e a cidade de São Paulo está em fase de elaboração. No entanto, diversas outras
cidades brasileiras apresentam o mapeamento de alguns bairros ou ruas isoladas. A concentração desses
mapas acontece nas capitais do nordeste e sul do país (BRASILEIRO et al, 2018).
A metodologia para mapeamento vem sendo desenvolvida nos últimos anos. No Brasil, em 2004 os
mapas eram produzidos a partir de medições acústicas pontuais em uma determinada área. Essas medições
ocorriam num espaço de tempo de 12 horas, em diferentes meses e em dias padrão, sem grande variação de
movimento, como terças, quartas e quintas-feiras. Então os dados coletados formariam uma malha, regular
ou não, que resultaria no mapa de ruído (NAGEM, 2004).
No mesmo ano, em Portugal, a criação dos mapas era feita através de modelagens computacionais
com base na obtenção de dados relacionados à planimetria, altimetria, metrologia e de tráfego. Havia então o
tratamento desses dados na forma de mapas e tabelas. E por fim, esses parâmetros seriam introduzidos no
software para a elaboração do mapa (SANTOS e VALADO, 2004).
A primeira vantagem dos modelos computacionais é a otimização de tempo, já que não seria
necessário dispor de vários meses nem de um grande volume de medições. O produto em si também se
mostra mais vantajoso já que o mapa feito a partir de softwares possibilita identificar, por exemplo, quais
edificações e fachadas estão expostas a altos níveis de pressão sonora e fazer simulações para prever e
avaliar as possíveis medidas de mitigação (SANTOS e VALADO, 2004).
Brasileiro (2017) levanta alguns softwares disponíveis comercialmente como o SoundPLAN
(Braunstein+Berndt), utilizado nessa pesquisa, o Preditor-LimA (da Brüel & Kjær), o CadnaA e o Mithra (da
empresa 01 dB). Infelizmente, a aquisição desses programas ainda se mostra bem onerosa, o que dificulta o
acesso, e por consequência, a produção dos mapas.
É preciso salientar que apesar do aumento de pesquisas relacionadas à importância do mapeamento
acústico no país, ainda há a carência de iniciativas por parte do poder público para utilização dessa
ferramenta no planejamento urbano. A exemplo disso, o estado da Paraíba não possuía registro de mapas
acústicos, tendo o trabalho de Brasileiro (2017) como pioneiro, com a elaboração do mapa do bairro Castelo
Branco, em João Pessoa, capital do mencionado estado. Sendo assim, faz-se necessário dar continuidade a
investigação de poluição sonora nesta capital, pois como constatado por Brasileiro et al (2016) existem
alguns bairros que são campeões em denúncias de poluição sonora registradas nos órgãos de fiscalização
ambiental. Um desses bairros, o Bessa, foi o escolhido para servir de cenário a esta pesquisa, que através do
seu mapeamento de ruído poderá ter este problema diagnosticado, servindo de base norteadora a futuras
intervenções projetuais e de planejamento urbano. Além disso, esta pesquisa amplia o banco de dados ou
recorte espacial já mapeado acusticamente na cidade de João Pessoa/PB.

303
2. OBJETIVO
O trabalho teve como objetivo geral avaliar o impacto sonoro provocado pelo ruído de tráfego no bairro do
Bessa, em João Pessoa/PB.

3. MÉTODO
Para atingir seu objetivo, este artigo contou com etapas metodológicas que vão desde a pesquisa
bibliográfica, caracterização da área de estudo, levantamento de dados, atualização e tratamento dos mesmos,
pesquisa de campo e pesquisa experimental. A pesquisa bibliográfica permeou a maior parte deste estudo
onde foram identificados outros exemplos de mapeamento de ruído e sua metodologia de elaboração.

3.1 Caracterização da área de estudo


O bairro do Bessa, área objeto de estudo da pesquisa, possui aproximadamente 2,00 km² de extensão,
correspondente a cerca de 1% da área total da cidade de João Pessoa. Situa-se no setor leste da cidade e
limita-se ao norte e oeste com o bairro de Intermares, pertencente ao município de Cabedelo, a sul com os
bairros Aeroclube e Jardim Oceania, e a leste com o Oceano Atlântico (Figura 1).
b

(a) (b) (c)

Figura 1 – Mapa de localização da área objeto de estudo.


Legenda: (a) Brasil; (b) Estado da Paraíba e cidade de João Pessoa; (c) Bairro do Bessa

A área estudada apresenta forte apelo turístico, fator que contribui diretamente para seu crescimento
e valorização. A partir da década de 1980 e, sobretudo, na atual década, tem atraído grandes investimentos
no que tange a construção de residências unifamiliares e edifícios multifamiliares, de médio/alto padrão,
além de estabelecimentos de comércio e prestação de serviços.
Dessa forma, no que diz respeito à caracterização morfológica do Bessa, o bairro possui malha
urbana predominantemente ortogonal, com vias principais asfaltadas e a maior parte das demais em
paralelepípedo, contando com pequena quantidade em solo natural. Possui topografia pouco acidentada. Em
relação ao gabarito, é predominante composto por edificações com 1 e 2 pavimentos.

3.2 Levantamento de dados


Inicialmente foi necessário escolher um software para confecção do mapa de ruído. Nesse caso, optou-se
pelo software alemão SoundPLAN, destinado a elaboração de mapas, avaliação de impactos acústicos,
comparações entre cenários ambientais e análise dos poluentes atmosféricos. Esse programa é utilizado por
algumas universidades brasileiras, inclusive pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
cuja licença permitiu o desenvolvimento dessa pesquisa. Verificou-se que seria necessário levantar os
seguintes dados da área de estudo: dados morfológicos, ambientais, de tráfego e acústicos.
Iniciando pelos dados morfológicos, levantou-se o que havia de disponível sobre a área e verificou-
se que no site da própria prefeitura havia arquivos DWG que, embora desatualizados, dispunha de
informações acerca de topografia, áreas verdes, gabarito e uso do solo. Então, com exceção da topografia,
iniciou-se a etapa de atualização destes dados.

3.3 Atualização e tratamento dos dados


Verificou-se que os dados obtidos através da prefeitura se encontravam georreferenciados, no entanto, como
mencionado acima, muitos deles estavam desatualizados, necessitando a atualização dos mesmos por meio
de imagens de satélite e visitas ao local. Para confeccionar novos mapas urbanos, optou-se por trabalhar com
um software QGis (versão 4.1), por ser um programa de código aberto e gratuito, com interface simples e
que oferece várias ferramentas que possibilitam visualizar, gerenciar, editar e analisar dados.

304
As características físicas/morfológicas urbanas exercem importante papel sobre a propagação das
ondas sonoras, contribuindo, por exemplo, para o aumento ou diminuição dos níveis de pressão sonora.
Mapas atualizados dos perímetros edificados, da topografia, áreas verdes, uso e ocupação do solo, gabarito
das edificações, hierarquia e recobrimento das vias, e a localização dos semáforos, são parte fundamental do
processo para obtenção de um mapa de ruído que reflita verdadeiramente o cenário acústico da área em
questão. Assim, foram obtidos os mapas de parâmetros morfológicos atualizados do Bessa, como mostram as
figuras 02 a 05.

Figura 2 – Mapa de topografia do Bessa. Figura 3 – Mapa de usos do solo do Bessa.

Figura 4 – Mapa de categorização das vias do Bessa. Figura 5 – Mapa de recobrimento das vias do Bessa.

305
Os parâmetros metodológicos, de tráfego e acústico foram obtidos em pesquisa de campo realizada
no bairro do Bessa entre os dias 17 e 19 de maio de 2018 (correspondentes a terça, quarta e quinta feira) que
contou com auxilio de uma equipe de 9 alunos do curso de graduação de arquitetura e urbanismo da UFPB,
além de autoras deste artigo. Foram definidos oito pontos de medição (figura 6), distribuídos em diversas
ruas do bairro, contemplando tanto vias principais como secundárias, de modo a obter um mapa de ruído
mais completo, que retratasse os diversos cenários existentes na área.

Figura 6 – Mapa do Bessa com marcação dos pontos de medição.

3.3.1 Parâmetros meteorológicos


As características climáticas também influenciam o comportamento das ondas sonoras, principalmente
quando se trata de acústica urbana. Dessa forma, foram coletados, com o auxílio do medidor multi
parâmetros Instrutemp ITMP 600 (fornecido pela UFPB), dados referentes à temperatura, umidade relativa
do ar e direção e velocidade dos ventos.

3.3.2 Parâmetros de tráfego


Os automóveis são, em conjunto, a maior fonte de ruído urbano, contribuindo para a composição do cenário
acústico das cidades. Por esse motivo, durante as medições acústicas, realizamos também a contagem do
volume de tráfego nas ruas escolhidas para análise, classificando os veículos em três categorias: carros,
motos e veículos pesados.
As tabelas 01 e 02 apresentam os dados de tráfego obtidos nos três dias de medição, nos períodos
matutino e vespertino, nos oito pontos escolhidos, considerando duas ruas por ponto, visto que os pontos
foram locados nas esquinas das quadras. A contagem foi realizada utilizando contadores manuais. Destaca-se
que os valores contidos nas tabelas correspondem à contagem realizada nos dez minutos de medição. Para
introduzi-los no SoundPLAN® foi necessário corrigi-los, visto que o software necessita da quantidade de
veículos por hora.
Ao comparar os três dias de coleta de dados, em ambos os períodos estudados, percebeu que o
volume de veículos apresentou, estatisticamente, pouca variação. O maior fluxo de tráfego local
correspondeu aos veículos de pequeno porte (automóveis e motocicletas), nos dois períodos analisados.
Destaca-se, ainda, que as motocicletas corresponderam a aproximadamente 1/3 do volume do tráfego de
automóveis.

306
Tabela 01 – Dados de volume do tráfego coletado em campo no período matutino.
Legenda: PP (pequeno porte – automóveis e motos); GP (grande porte – ônibus e caminhões).
CONTAGEM DE VEÍCULOS - MATUTINO
DIA 1 - 17/04 DIA 2 - 18/04 DIA 3 - 19/04 Dados de entrada – média 3 dias
PONTO
Carros Motos GP Carros Motos GP Carros Motos GP PP GP
1A 48 7 1 64 9 1 47 16 1 382 6
1B 6 1 0 10 0 0 5 2 0 48 0
2A 115 13 3 83 22 2 58 13 1 608 12
2B 55 12 2 60 18 3 59 14 3 436 16
3A 19 2 0 16 3 0 9 1 0 100 0
3B 4 2 0 5 0 0 22 3 0 72 0
4A 51 8 4 51 8 4 65 17 1 400 18
4B 81 11 5 81 11 5 82 9 4 550 28
5A 13 3 0 5 9 0 6 4 0 80 0
5B 2 1 0 0 1 0 1 0 0 10 0
6A 23 5 0 23 5 0 22 4 2 164 4
6B 136 31 4 124 26 3 116 27 4 920 22
7A 35 6 6 27 5 4 46 20 1 278 22
7B 5 0 0 3 0 0 8 0 0 32 0
8A 111 19 4 112 16 4 130 33 1 842 18
8B 20 7 0 28 4 3 33 2 0 188 6

Tabela 02 – Dados de volume do tráfego coletado em campo no período vespertino.


Legenda: PP (pequeno porte – automóveis e motos); GP (grande porte – ônibus e caminhões).
CONTAGEM DE VEÍCULOS - VESPERTINO
DIA 1 - 17/04 DIA 2 - 18/04 DIA 3 - 19/04 Dados de entrada – média 3 dias
PONTO
Carros Motos GP Carros Motos GP Carros Motos GP PP GP
1A 101 9 0 119 11 4 89 12 0 682 8
1B 16 1 1 18 1 0 10 5 0 102 2
2A 55 4 3 52 10 1 61 7 1 378 10
2B 10 0 0 5 2 0 7 1 0 50 0
3A 19 0 0 16 2 1 18 3 0 116 2
3B 3 0 0 6 1 0 4 3 0 34 0
4A 72 6 2 35 4 0 126 25 2 536 8
4B 5 0 0 40 0 1 126 28 2 398 6
5A 8 7 0 6 1 1 6 2 0 60 2
5B 3 9 0 5 1 0 3 3 0 48 0
6A 32 7 44 5 0 34 11 1 266 2
6B 108 28 3 139 27 1 137 33 3 944 14
7A 45 13 1 63 21 3 55 10 3 414 14
7B 11 6 0 16 10 0 23 4 0 140 0
8A 76 9 0 150 17 3 175 21 1 896 8
8B 34 7 0 60 6 0 83 10 1 400 2

3.3.3 Parâmetros acústicos


Como o intuito do trabalho era registrar os maiores níveis de ruído em diferentes áreas do bairro, optou-se
por realizar as medições em horários de pico do tráfego, em dias típicos de semana. Assim, elas ocorreram
nos dias mencionados anteriormente, das 07 às 8h (período matutino) e das 17:30 às 18:30h (período
vespertino), com duração de 10 minutos por ponto, por turno (matutino e vespertino) e por dia.
O medidor multifunção utilizado (multi parâmetros Instrutemp ITMP 600 - temperatura, umidade,
decibéis, lux, vazão, velocidade do vento) não apresenta a função de gravação dos dados aferidos e não
calcula a média de acordo com um período. Por esse motivo, efetuaram-se anotações e gravações em vídeo
dos valores apresentados, que posteriormente foram organizados em tabelas no Excel (tabela 3).
É importante destacar que o software acústico necessita que sejam inseridos dados referentes ao
volume de tráfego de todas as vias da área em estudo. Dessa forma, como a coleta desses dados, tanto a
contagem de veículos, como as medições acústicas e meteorológicas, aconteceu apenas em oito pontos de
medição, foi necessário realizar uma análise estatística para complementar os dados não coletados, e assim,
caracterizar a área de forma mais precisa. Utilizou o método estatística de vizinhança, visto que os pontos de
medição compreenderam todas as áreas de bairro e os diferentes tipos de vias existentes. Pontua-se que a
coleta de dados e a análise estatística são fundamentais para a obtenção de resultados que caracterizem com
maior precisão a situação real.
Os “-” presentes na tabela 3 referem-se aos dados que não foram possíveis obter, em virtude da
reduzida quantidade de equipamentos disponíveis. Contudo, a ausência desses dados não prejudicou a

307
elaboração dos mapas, visto que os dados acústicos são utilizados apenas para calibrar o modelo. Dessa
forma, para calibrar o modelo não foi necessário coletar os dados sonoros em todos os pontos.
Tabela 3 – Níveis Sonoros Equivalentes, em dB(A), coletados em campo.
NÍVEIS SONOROS EQUIVALENTES (Laeq) - média por dia
DIA 01 [12/02/19] DIA 02 [14/02/19] DIA 03 [15 e 20/02/19]
PONTOS
matutino vespertino matutino vespertino matutino vespertino
1 - 65 60 66 - 64
2 - 64 64 64 - 67
3 - - 53 - - -
4 67 - - - - -
5 53 52 53 51 52 51
6 65 65 66 64 68 65
7 64 59 57 60 59 63
8 68 65 60 64 62 65

3.4 Elaboração do mapa de ruído


Após a atualização e tratamento dos dados, onde novos mapas e tabelas foram gerados, subsidiando os dados
de entrada no software acústico, finalmente iniciou-se a etapa de elaboração do mapa de ruído. Inicialmente
os mapas produzidos no programa computacional QGis®, foram exportados para o software SoundPLAN®,
no formato (*.dxf), e receberam acréscimo de informações.
Com a inserção de todos os dados (morfológicos, acústicos e de tráfego) e realização dos cálculos
pelo programa, fez-se a aferição do modelo, comparando os resultados obtidos em campo com os valores
resultantes do programa. Em seguida, foram gerados os mapas de ruído, nos planos horizontal (a 1,5m do
solo) e vertical. Os mapas horizontais foram elaborados com o grid 20x20m, raio máximo de 1.000 e uma
reflexão, conforme estudo apresentado por Florêncio (2018). Essa configuração permite que o
processamento dos dados seja acelerado, sem que haja redução da qualidade dos mapas de ruído. O modelo
de cálculos utilizado foi o RLS 90.

4. RESULTADOS
Antes da elaboração dos mapas de ruído, foi realizada a calibração do modelo, onde os dados acústicos
medidos em campo foram comparados aos valores calculados pelo programa. Afirma-se que a diferença
máxima presente na área foi de 4 dB(A). Consequentemente, podemos afirmar que os mapas estão calibrados
e representam a realidade sonora da área em estudo. Os mapas de ruído do plano horizontal do bairro do
Bessa, nos períodos matutino e vespertino, são representados, respectivamente, nas Figuras 7 e 8. Os mapas
verticais correspondem as Figuras 9 e 10.
Ao comparar os níveis sonoros resultantes na área objeto de estudo com os parâmetros estabelecidos
pela norma NBR 10151:2000, para o período diurno correspondente das 07 às 22h, afirma-se que estes estão
acima dos 55 dB recomendados pela norma para o uso residencial em quase todos os pontos de medição,
especialmente nas principais avenidas do bairro.
Os níveis sonoros nos períodos matutino e vespertino, nos horários de pico, são bastante
semelhantes, assim como o fluxo de veículos. No entanto, em algumas áreas (a exemplo da Rua Washington
Luis), é perceptível a atenuação sonora no período vespertino, com decréscimo máximo de 5 dB(A).
O bairro do Bessa apresenta uma malha urbana ortogonal, com um eixo central bastante definido, por
meio de duas vias arteriais, a Rua Paulo Roberto de Souza Acioly e a Rua Tertuliano Castro. A área de
vegetação é bastante reduzida, o que favorece a propagação das ondas sonoras. Nota-se que o eixo central do
bairro emite cerca de 80 dB(A) nos horários de pico.
Os pontos críticos de ruído urbano no Bessa são encontrados nas proximidades da Rua Paulo Roberto
de Souza Acioly (P8), Rua Tertuliano Castro (P7) e Av. Presidente Nilo Peçanha (P6). Essas vias são
arteriais, possuem recobrimento asfáltico e apresentam alto fluxo de veículos em ambos horários analisados.
Observou-se que o fluxo de veículos no bairro é predominantemente contínuo em virtude da
inexistência de semáforos por toda área do bairro. Acredita-se que a instalação de semáforos no bairro
permitirá o surgimento de concentrações de ruído com alto nível sonoro, provocadas pela aceleração e
desaceleração dos veículos.
Um dos principais pontos de encontro no bairro é a Praça do Caju (marcação em azul na Figura 7),
posicionada no eixo ruidoso. O ruído local é de aproximadamente 65 dB(A), em ambos os períodos.

308
Corte BB

Corte AA

Figura 7 – Mapa de ruído do Bessa no período matutino com marcação da Praça do Cajú (em azul).

Corte BB

Corte AA

Figura 8 – Mapa de ruído do Bessa no período vespertino com marcação da Praça do Caju (em azul).

309
Figura 9 – Corte AA, referente aos períodos matutino e vespertino, respectivamente.

Figura 10 – Corte BB, referente aos períodos matutino e vespertino, respectivamente.

5. CONCLUSÕES
A principal fonte sonora local corresponde ao ruído proveniente dos veículos automotivos. Os níveis sonoros
resultantes apresentam problemas referentes à acústica urbana local, estando a maior parte dos pontos de
medição em desacordo com os parâmetros estabelecidos na NBR 10151:2000, em ambos os períodos
estudados. Houve uma pequena diferença entre os resultados obtidos no período matutino e vespertino, visto
que a coleta dos dados foi realizada em dois horários de pico.
A aferição do modelo identificou que os oito pontos de medição, distribuídos na malha urbana do
Bessa, estão calibrados, comprovando que os mapas elaborados se aproximam à realidade acústica do bairro
no que tange ao ruído de tráfego veicular. Afirma-se, contudo, que as simulações podem ter gerado algumas
incertezas experimentais, especialmente por ter sido considerado apenas o ruído de tráfego, desconsiderando
outras possíveis fontes sonoras existentes na área objeto de estudo. A equipe prevê, como análise
complementar na próxima etapa da pesquisa, a inclusão das fontes sonoras pontuais propagadas no bairro.
Com essa análise mais detalhada, será possível realizar a correlação dos dados com as denúncias de poluição
sonora feitas pela população.
A pesquisa demonstrou que o mapa de ruído é uma importante ferramenta para a análise e
compreensão dos cenários sonoros urbanos contribuindo para um melhor planejamento das cidades. Sua
utilização torna-se necessária para a identificação de pontos sensíveis e críticos quanto ao ruído, facilitando a
adoção de medidas de mitigação de altos níveis de pressão sonora e da poluição sonora por fontes pontuais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.151: Níveis de ruído para conforto acústico. Rio de
Janeiro, 2000.
BRASILEIRO, Tamáris da Costa. Mapeamento sonoro: Estudo do ruído urbano no bairro Castelo Branco, em João Pessoa/PB.
2017. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017.
BRASILEIRO, T.; ALVES, L.; ARAUJO, R.; FLORENCIO, D.; ARAÚJO, V.; ARAÚJO, B.. Concentration mapping of noise
pollution complaints in João Pessoa-PB (Brazil) between 2012 and 2015. In International Congress on Acoustics, 2016,
Anais... Buenos Aires.
BRASILEIRO, T.; ALVES, L.; FLORENCIO, D.; ARAÚJO, V.; ARAÚJO, B.. Estado da arte dos mapas sonoros no Brasil. In
XXVIII Encontro da Sociedade Brasileira de acústica, 2018, Anais... Porto Alegre.
DIRECTIVA 2002/49/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 25 de junho de 2002 relativa à Avaliação e Gestão do Ruído
Ambiente. Jornal Oficial das Comunidades Europeias. 2002. Disponível em: < http://eur-
lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2002:189:0012:0025:PT:PDF> Acesso em: maio de 2018.
FLORÊNCIO, Débora N. P.. Avaliação do mapa sonoro de tráfego veicular no município de Natal/RN. 2018. Tese (Doutorado
em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Natal, 2018.
GUEDES, Italo C. M.; BERTOLI, Stelamaris R. Mapa acústico como ferramenta de avaliação de Ruído de tráfego veicular em
Aracajú – Brasil. PARC Pesquisa em Arquitetura e Construção, Campinas, v. 5, n. 2, jul. /dez. 2014, p. 40-51.
NAGEM, M. P. Mapeamento e análise do ruído ambiental: diretrizes e metodologia. 2004. Dissertação (mestrado em engenharia
civil) – Programa de Pós-graduação em engenharia civil, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2004.
SANTOS, Luís Conde; VALADO, Fátima. O Mapa de Ruído Municipal como Ferramenta de Planeamento. Acústica 2004.

310
Guimarães, Portugal, 2004. Disponível em: < http://www.sea-acustica.es/Guimaraes04/ID162.pdf> Acesso em: maio de
2018.
SILVA, Prof. Pérides. Acústica Arquitetônica & Condicionamento de AR. 6ª ed. Belo Horizonte: Empresa Termo Acústica
LTDA, 2011.

AGRADECIMENTOS
Ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (PPGAU-UFRN). Aos Laboratórios de Conforto Ambiental da Universidade Federal da Paraíba e da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Aos alunos do curso de arquitetura e urbanismo da UFPB que
participaram da etapa de coleta de dados, em especial Lorena Mendonça, Marina Arcoverde e Renato Régis.
À CAPES pela concessão de bolsa a uma das pesquisadoras.

311
MAPEAMENTO ACÚSTICO COMO FERRAMENTA PARA
DETERMINAÇÃO DO ÍNDICE DE ISOLAÇÃO SONORA DE ESQUADRIAS

Marconi Mendonça (1); José Victor (2); Matheus Mendonça (3); Marcos Mendonça (4); Ênio
Góis (5); Rayane Mendonça (6); Otávio Joaquim (7); Angelo Just (8).
(1) Graduando, Engenharia Civil, mendonca.marconi@gmail.com, Universidade Católica de Pernambuco,
Rua Bernardino da Costa, (81) 9.9961-6530
(2) Graduando, Engenharia Civil, josevictorpoliupe@gmail.com, Universidade de Pernambuco
(3) Graduando, Engenharia Civil, matheusmendonca.b@gmail.com, Universidade Católica de Pernambuco
(4) Graduando, Engenharia Civil, marcosmb.eng@gmail.com, Universidade Católica de Pernambuco
(5) Graduando, Engenharia Civil, egremigio@gmail.com, Universidade de Pernambuco
(6) Graduanda, Arquitetura e Urbanismo, ray.mendonca@hotmail.com, Universidade Estácio do Ceará
(7) Doutorando, Engenheiro Civil, Otavio@tecomat.com.br, Universidade Federal de Pernambuco
(8) Doutor, Engenheiro Civil, Angelo@tecomat.com.br, Universidade Católica de Pernambuco

RESUMO
Esta pesquisa tem por finalidade mensurar e avaliar o ruído ambiental gerado por veículos automotores e
analisar a interferência do ruído urbano em ambientes como salas de aula, de acordo com os parâmetros da
norma NBR 10152/2017. Para tanto, delimitou-se uma área de estudo, contendo as principais vias do entorno
do edifício, sendo destacados 06 (seis) principais pontos avaliados. Em seguida, realizou-se medições dos
níveis de pressão sonora com base na norma NBR10151/2000, fixando condições para avaliação da
aceitabilidade do ruído, para efetuar coleta de dados do estudo de tráfego veicular que, servirá como entrada
de dados para a simulação computacional. Nesta análise, constatou-se que as principais vias possuem o
volume tráfego de veículos bastante denso e o nível de pressão sonora (NPS) encontra-se com patamares de
ruído acima dos níveis permitidos pela norma NBR 10151/2000. A partir do critério de 35dB(A)
estabelecido pela norma NBR 10152/2017 para salas de aula, foi calculado o índice de isolação sonora (RW)
das esquadrias nos ambientes do estudo de caso. Por fim, conclui-se que a análise do ruído ambiental tem o
papel fundamental para o atendimento ao critério de conforto interno que, por sua vez, determinará o RW
necessário das esquadrias.
Palavras-chave: índice de isolação sonora, ruído urbano, simulação computacional, conforto acústico, salas
de aula.

ABSTRACT
This research aims to measure and evaluate the environmental noise generated by automotive vehicles and to
analyze the interference of urban noise in environments such as classrooms, in accordance with the
parameters of standard NBR 10152/2017. For that, a study area was defined, containing the main roads of
the surroundings of the building, being highlighted six (6) main points to be evaluated. Then, measurements
of the sound pressure levels were carried out and the standard NBR 10151/2000 was used, establishing
conditions for the evaluation of the noise acceptability, to carry out data collection of the vehicular traffic
study, which will serve as data input for the simulation computational. In this analysis, it was found that the
main routes have a very dense traffic volume and the sound pressure level (NPS) is with noise levels above
the levels allowed by standard NBR 10151/2000. From the criterion of 35dB(A) established by standard
NBR 10152/2017 for classrooms, the sound insulation index (RW) of the frames in the case study
environments was calculated. Finally, it is concluded that the analysis of environmental noise plays a
fundamental role in meeting the criterion of internal comfort, which, in turn, will determine the necessary R W
of the frames.
Keywords: sound insulation index, urban noise, computational simulation, acoustic comfort, classrooms.

312
1. INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas a urbanização vem apresentando aumento no crescimento da população e também um
incremento nas suas atividades. Num contexto geral, o desenvolvimento urbano no Brasil foi acompanhado
por um transporte público ineficiente e aumento no número de carros nas cidades. Isso é um problema para
as grandes cidades, onde o planejamento urbano não considera o ambiente acústico, nem qualquer programa
efetivo de controle de ruído. Isso ocorre devido ao crescente número de veículos que circulam nas cidades e
ao aumento da população mundial que são fatores que contribuem para os altos níveis de ruído que estão
presentes em grandes regiões urbanas. (GIUNTA et al, 2012)
Recintos ruidosos ocasionam falas em intensidade mais forte e a demanda contínua pode gerar
desgastes nas estruturas de fonação e produzir, ao longo do tempo, alterações vocais. Neste contexto, o
ambiente de trabalho do professor pode ser considerado inadequado (Behlau et al, 2004), pois além do ruído
existem outros fatores desencadeantes de tensões inerentes ao exercício profissional. Tais fatores podem ser
identificados como a falta de informação sobre o processo de produção da fala com funcionalidade ideal para
as diferentes tarefas do ensino e os hábitos de vida. (LIBARDI et al, 2006)
A norma NBR 10152/2017 - Nível de ruído para conforto acústico estabelece os níveis de ruído
máximos admissíveis nos ambientes segundo o tipo de uso. Segundo a norma os ruídos intensos dificultam a
comunicação verbal, acarretando as pessoas o aumento da tensão psicológica e diminuição do nível de
atenção.
Goines e Hagler (2007) definem ruído como um som não desejado, qual vem se intensificando cada
vez mais, devido ao crescimento da população associado à utilização de fontes de poluição móveis.
Considerando, portanto, os veículos automotores, sejam leves ou pesados, como uma das principais fontes de
ruído urbano, Niemeyer (2007) afirma que os veículos leves, embora individualmente, menos ruidosos que
os veículos de grande porte, em conjunto, são a maior fonte de ruído urbano.
Considerando ainda o problema da poluição sonora para o ambiente escolar, não há uma consciência
sobre o problema por parte dos gestores, e até dos estudantes, talvez por desconhecer sua influência no
rendimento escolar dos alunos e na saúde dos profissionais de educação. O fato de haver uma visão
incipiente por parte de toda a comunidade torna esta realidade preocupante (ENIZ et al, 2006).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição sonora está em segundo lugar na
classificação das poluições que causam maior impacto à população, perdendo apenas para a poluição do ar.
Sendo uma ação psicológica, a influência do ruído afeta as pessoas de maneiras diferentes, podendo causar
danos significativos à saúde como complicações auditivas, danos psicológicos como estresse, distúrbios do
sono e perda de concentração (WHO, 2011).
Conforme Martins et al (2002), um indivíduo precisa dispensar mais ou menos 20% de energia extra
para efetuar uma tarefa, em presença de um ruído intenso. Níveis sonoros excessivos em espaços escolares,
além de influenciarem a qualidade da comunicação verbal, acarretam uma série de problemas no
desenvolvimento intelectual dos alunos como: demora na aquisição da linguagem, dificuldades com a
linguagem escrita e falada, limitações na habilidade de leitura e na composição do vocabulário.
Para avaliação e gestão do ruído ambiental, tem-se ferramentas de análise acústica do espaço urbano, a
exemplo do mapeamento. O mapeamento acústico se refere a uma ferramenta de análise sonora do espaço
urbano adequada ao estudo da poluição sonora, pois permite a localização dos principais pontos críticos de
ruído de uma determinada área e tem como objetivo principal o controle, a melhoria e a preservação da
qualidade sonora urbana (GARAVELLI et al., 2010).
Ao avaliar uma possível solução para os problemas supracitados, a fim de atenuar os efeitos da
poluição sonora, Ventura et al (2008, p.3) propõem e definem: O mapeamento sonoro é uma ferramenta
fundamental para o estudo do ruído ambiental. Baseado no levantamento dos níveis de ruído de uma cidade,
através da medição, o mapa acústico nada mais é do que a representação de curvas isofônicas (pontos de
ruído com a mesma intensidade) de certa área geográfica. Os diversos níveis de intensidade sonora são
separados por zonas com cores padronizadas em trechos, geralmente de 5 dB.
Para que os softwares computacionais gerem os mapas sonoros, é necessário informar uma série de
dados referentes à área do estudo: parâmetros morfológicos, de tráfego e acústicos. Os parâmetros de tráfego
são obtidos através da contagem do volume do tráfego, classificando-os em veículos leves e pesados. Os
parâmetros acústicos, por sua vez, também obtidos por meio de medições em campo, são usados para validar
o modelo, isto é, comparar os valores medidos em campo com os cálculos gerados pelo programa.

313
2. OBJETIVO
O objetivo geral deste estudo é analisar o ruído de tráfego veicular como auxilio para determinar o índice de
isolação sonora necessário das esquadrias da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) com base na
simulação computacional usando o software Sonarchitect, tendo a finalidade de atender o critério de conforto
interno dos ambientes de salas de aula, segundo a norma NBR 10152/2017.

3. MÉTODO
Com o propósito de estar em concordância com o objetivo, o método adotado para o desenvolvimento desta
pesquisa se divide nas seguintes etapas:
• Escolha de uma área de estudo e indicação dos principais pontos a serem avaliados;
• Critérios para medição do ruído ambiental e coleta dos dados;
• Simulação computacional por intermédio dos Softwares: AutoCAD, CadnaA e SONarchitect.

3.1. Área de estudo


A universidade que faz parte deste estudo está situada na cidade de Recife/PE, conforme exibida na Figura
01. Para investigar o volume do tráfego urbano das principais vias do entorno do bloco G da Universidade
Católica de Pernambuco, inicialmente, delimitou-se uma área de estudo e indicou-se 6 principais pontos para
realizar a medição in loco, levando em consideração as recomendações da norma NBR 10151/2000.

Figura 01 – Área de estudo (Autores, 2019).

3.2. Nível de critério de avaliação (NCA)


Visando o conforto do ambiente, a norma NBR 10151/2000 estabelece o nível de critério de avaliação
(NCA) para ambientes externos, vide Tabela 01, sendo caracterizado pelos diferentes tipos de áreas. O bairro
onde está situado o edifício em questão não possui finalidades apenas residências, uma vez que a sua
exploração é de forma preponderante comercial e administrativa e por essa razão, caracteriza-se segundo a
norma supramencionada, como uma área mista, com vocação comercial e administrativa. De modo que o
NCA para o período diurno é de 60dB(A) e no período noturno é 55dB(A).

314
Tabela 01 – Classificação do NCA em diferentes áreas de uso (NBR 10151, 2000).

3.3. Procedimentos para o levantamento do ruído ambiental


As medições do volume de tráfego veicular foram realizadas nos dias 08 e 12 de março de 2019, o fluxo
horário foi escolhido no período entre picos (das 07h00min às 09h00min e 17h00min às 19h00min). Vale
salientar que o horário escolhido tem a finalidade de garantir o fluxo contínuo de veículos, sabendo que o
horário de funcionamento da universidade é de 07h30min até às 22h00min. A duração da medição do nível
de pressão sonora e do levantamento de veículos foi de 15 minutos em cada um dos pontos, conforme já
exibidos na Figura 01 e estabelecidos na norma NBR 10151/2000. As medições realizadas atendem os
procedimentos da norma NBR 10151/2000. Seguindo os parâmetros da norma, a altura do instrumento deve
estar entre 1,2 m a 1,5 m do nível do solo, o microfone deve ser posicionado distante de pelo menos 2 m de
paredes, muros, veículos, ou outros objetos que possam refletir as ondas sonoras e também seja determinado
o nível sonoro equivalente na escala “A” (LAeq). Para a realização desses procedimentos, foram utilizados
três equipamentos:
• Sonômetro digital Impact IP – 170L (Classe: 1 / Certificado RBC: CACV500277/18)
• Tripé (suporte para o sonômetro);
• Contador manual analógico (para a contagem dos veículos).

3.4. Simulação Computacional


3.4.1. CadnaA
O mapa acústico foi realizado por meio do software CadnaA, que permite observar os seguintes aspectos: as
principais fontes de ruído, as vias do entorno do empreendimento e podendo determinar o nível de pressão
sonora atuante em cada fachada do edifício avaliado. A modelagem inicia-se com a utilização do AutoCAD
como auxílio para construir as edificações, as vias principais, os muros e a vegetação que, estão indicados na
Figura 01. A apresentação do modelo a ser simulado realizado pelo CadnaA mostra o bloco G da
universidade Católica de Pernambuco, vide a Figura 02:

Figura 02– Modelagem computacional pelo CadnaA (Autores, 2019).

3.4.2. SONarchitect e INSUL


Para avaliar o índice de isolação sonora das esquadrias do bloco G, incialmente foi disponibilizado pela
equipe de manutenção da Universidade a planta baixa e a descrição dos sistemas do edifício para prosseguir
com a modelagem. A análise se divide nas seguintes etapas:

315
• Etapa 1: para realizar a simulação computacional, utilizamos o software AutoCAD para traçar as
linhas de eixo dos sistemas verticais internos e externos;
• Etapa 2: deve-se caracterizar três sistemas, sendo, o sistema de vedação vertical interna (SVVI),
sistema de vedação vertical externa (SVVE) e o sistema de vedação horizontal (SVH). Para elaborar
os sistemas foi utilizado o software INSUL que em sua plataforma permite criar os elementos que
compõe o SSVI, SVVE e SVH. O referido software define o índice de isolação sonora do ruído aéreo
(Rw) e o índice de isolação sonora quanto ao ruído de impacto (L´n,w);
• Etapa 3: através da modelagem realizada pelo AutoCAD, utiliza-se o SONarchitect para modelar e
simular o edifício avaliado e também deve-se caracterizar cada sistema utilizado (SVVI, SVVE e
SVH) com os dados gerados por intermédio do INSUL. Onde, é valido esclarecer que o SONarchitect
é um software que calcula valores em banda de um terço de oitava. Neste estudo, o Sonarchitect
determinará o RW (parâmetro de laboratório) necessário das esquadrias, de acordo com a isolação ao
ruído externo (D2m,nTw – parâmetro de campo), com o objetivo de atender os critérios de conforto
interno para salas de aula, segundo a norma NBR 10152. Cabe destacar que a variável mais importante
a ser definida para determinar o Rw mínimo das esquadrias é estabelecer nível de pressão sonora (NPS)
atuante em cada orientação da fachada do edifício avaliado. A Figura 03 ilustra a modelagem
computacional do bloco G da UNICAP.

Figura 03 – Modelagem computacional pelo SONarchitect (Autores, 2019).

4. RESULTADOS
4.1. Análise das medições em campo
Após a realização da medição em campo, preencheu-se uma ficha que contém a quantidade de veículos
(leves e pesados) e o nível de pressão sonora equivalente (LAeq), de cada ponto avaliado. Vale lembrar que os
resultados apresentados são referentes a 15 minutos de medição, como já abordado no item 3.2. A Tabela 02
apresenta a coleta de dados do volume de tráfego veicular.

316
Tabela 02 – Ficha de medição no período diurno e noturno.
Quantidade de veículos
Ponto Local Diurno Noturno
Leves Pesados Leves Pesados
Rua do Príncipe 438 20 418 21
1
Rua Afonso Pena 161 2 151 1
Av. Visconde de Suassuna 284 13 514 21
2
Rua Afonso Pena 113 12 201 2
Rua Almeida Cunha 62 1 119 0
3
Rua Afonso Pena 135 2 233 1
Rua do Príncipe 295 17 360 21
4
Rua General José Semeão 36 3 29 1
Av. Visconde de Suassuna 306 20 422 22
5 Rua Bispo Cardoso Ayres 122 1 191 2
Rua Treze de Maio 200 4 180 7
Rua Almeida Cunha 35 0 52 0
6
Rua General José Semeão 15 0 22 0

Os pontos 1, 2, 3, 4 e 5 apresentados na Tabela 02 estão com o nível de pressão sonora (NPS) acima
do critério indicado na Tabela 01. No período diurno o NPS chega a 12dB (ponto 1) acima do Nível de
critério de avaliação (NCA), enquanto no período noturno o NPS é de 18dB (ponto 2) acima do NCA. O
período diurno apenas um ponto de medição está 2dB (ponto 6) abaixo do nível máximo permitido.

Tabela 03 – medição do NPS no período diurno e noturno.


Nível de pressão sonora
Diurno Noturno
Ponto
LAeq(dB) LAeq(dB)
1 71 71
2 70 73
3 66 70
4 72 70
5 67 71
6 58 60
Critério (dB)
Norma NBR 60 55
10151/2000

4.2. Mapeamento acústico - CadnaA


Tendo em mãos os resultados do levantamento de tráfego e o NPS obtidos pelas medições em campo e a
construção das edificações do entorno do edifício avaliado, foi iniciada a simulação computacional pelo
CadnaA. O estudo de tráfego veicular serve como INPUT (entrada de dados) para o software calcular a
propagação do ruído, tendo como principal emissor as vias de tráfego veicular e havendo necessidade faz-se
o levantamento do NPS emitido por uma fonte pontual. O software gera um mapa acústico por meio de
curvas isofônicas e disponibiliza dois cenários diferentes da propagação do ruído: o diurno e noturno.
Observa-se que o mapa acústico exibido na Figura 04 e Figura 05 corresponde, respectivamente, ao
período diurno e o período noturno. O mapa ilustra a propagação sonora gerada pelo tráfego de veículos das
vias principais, sendo a Rua do Príncipe e a Avenida Visconde de Suassuna. A área simulada é considerada
bastante densa, com muitas edificações próximas das vias de tráfego e uma parcela dessas edificações que se
localizam frente às vias vai dificultar a propagação do ruído sonoro, comportando-se como barreiras
acústicas.

317
Figura 04 – Mapa acústico no período diurno (Autores, 2019).

Figura 05 – Mapa acústico no período noturno (Autores, 2019).

318
A Figura 06 ilustra o modelo 3D gerado pelo software que fornece em escala de cores os níveis de
pressão sonora atuantes em cada pavimento do edifício avaliado, esses dados servem para identificar o RW
mínimo que as esquadrias devem ter para atender aos critérios da norma NBR 10152/2017. Esta norma
estabelece níveis de pressão sonora para ambientes internos. Para presente estudo, serão utilizados os
critérios estabelecidos para ambientes de sala de aula, cujo critério mínimo interno é de 35dB(A).

Figura 06 – Ilustração do NPS atuante em cada pavimento no período diurno (Autores, 2019).

4.3. Análise do edifício avaliado - SONarchitect


Baseando-se na interpolação das curvas isofônicas pelo software CadnaA, foi concebido o NPS externo.
Observou-se que nos períodos diurno e noturno, o NPS externo incidente em cada orientação do edifício teve
uma variação de 50dB a 65dB, esses resultados serviram como fundamento para a análise do RW das
esquadrias.
Na simulação computacional pelo SONarchitect foi adotado os critérios exigidos pela norma NBR
10152/2017. No item 10 da norma são especificados valores de referência para avaliação sonora em função
das finalidades de uso. Segundo a norma, foi estabelecido o critério interno para ambiente de salas de aula de
35dB(A). A Figura 07 ilustra a seleção de um ambiente de sala de aula do estudo de caso (Bloco G) por
simulação computacional, onde as variáveis para esta análise são o volume do ambiente, o SVVE e a área da
esquadria.

Figura 07 – Simulação de uma sala de aula do bloco G através do SONarchitect (Autores, 2019).

319
Na análise, foi utilizado o maior NPS que incide em cada pavimento. Com base nisso, foi determinado
o RW mínimo das esquadrias para cada pavimento do bloco G da UNICAP. Para haver conformidade com a
norma NBR 10152/2017, a diferença entre o NPS externo e o critério mínimo interno deverá ser assegurada
pela esquadria, visando o atendimento à norma. A Figura 08 mostra a obtenção do índice de isolação
acústica ao ruído externo (D2m,nTw – parâmetro de campo) de 30dB(A), isso significa que no período noturno o
NPS externo do segundo pavimento do bloco G é de 65dB(A), essa isolação se dá pela utilização de uma
janela com o RW de 23dB(A), exibida na Figura 09.

Figura 08 – Índice de isolação acústica ao ruído externo através do SONarchitect (Autores, 2019).

Figura 09 – determinação do RW das esquadrias através do SONarchitect (Autores, 2019).

Os resultados do RW obtidos pela simulação para os dois períodos estão apresentados na Tabela 04.
Assim, para o atendimento às exigências normativas é necessário o uso de uma esquadria com RW mínimo de
23dB(A) para os pavimentos 1 ao 6, e de 17dB(A) para os pavimentos 7 e 8. É importante destacar algumas
variáveis que vão interferir diretamente na determinação do RW, sendo elas: a dimensão da esquadria, o
volume do ambiente e a área da parede. Para garantir a isolação sonora promovida pelas esquadrias, faz-se
necessária boa qualidade na fabricação e na montagem in loco.
Tabela 04 – RW requerido pelas esquadrias.
Índice de isolação sonora requerido das
esquadrias (RW)
Diurno Noturno
Pavimento
(dB) (dB)
1 17 23
2 17 23
3 17 23
4 17 23
5 17 23
6 17 23
7 17 17
8 17 17

320
5. CONCLUSÕES
Esta pesquisa destaca a importância da utilização do mapeamento sonoro para avaliação do ruído ambiental,
servindo como uma ferramenta para a análise acústica que permite identificar e controlar o ruído através de
levantamento de medições em campo e coleta do tráfego urbano, com isso, pode-se utilizar medidas
preventivas para a atenuação e tratamento do ruído.
As medições dos níveis de pressão sonora em sua maioria mostram que os pontos levantados
ultrapassam ao nível aceitável de conforto acústico, chegando a 18dB do nível máximo permitido de acordo
com a norma NBR 10151/2000. Diante desses resultados, verifica-se a necessidade de se adotar estratégias
para a atenuação acústica, podendo ser: limitação do tráfego veicular, estudo de novas rotas, alteração nas
sinalizações e entre outras. Estas estratégias vão contribuir para a redução do impacto sonoro, sobretudo, nas
áreas mais críticas onde o NCA está superior ao permitido.
De todo modo, mesmo com os altos níveis de pressão sonora observadas nas medições realizadas no
local, a simulação computacional com o SONarchitect indicou que a adoção de esquadrias com R W de
23dB(A) nas salas de aula servia suficiente para alcançar o conforto mínimo estabelecido pela norma NBR
10152/2017 no estudo de caso realizado.
Portanto, conclui-se, que visando contribuir para um melhor conforto acústico nas salas de aula, o
levantamento do ruído ambiental faz-se fundamental para a determinação do RW das esquadrias que, por sua
vez, o atendimento ao critério de conforto interno possibilitará um cenário com menos desconforto acústico
nas salas de aula, garantindo assim, melhor inteligibilidade entre os alunos e professores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10151/2000: Avaliação do ruído em áreas habitadas,
visando o conforto da comunidade – Rio de Janeiro, 2000.
_____. NBR 10152/2017: Níveis de pressão sonora em ambientes internos a edificações. Rio de Janeiro, 2017.
BEHLAU M.; DRAGONE ML, NAGANO L. A voz que ensina: o professor e a comunicação oral em sala de aula. Rio de
Janeiro: Revinter; 2004.
ENIZ, A.; GARAVELLI S. L. A contaminação acústica de ambientes escolares devido aos ruídos urbanos no Distrito Federal,
Brasil, Holos Environment, v. 2, p. 137-150, 2006.
GARAVELLI S.; MORAES. ; NASCIMENTO. ; MAROJA. ; Mapa de ruído como ferramenta de gestão da poluição sonora:
estudo de caso de águas claras – DF. In Pluris. 4 Congresso Luso-Brasileiro para o planejamento urbano, regional,
integrado e sustentável, Anais... Belo Horizonte.
GIUNTA, M. et al. Environmental noise and conflict areas in a medium sized city. In: euronoise – european conference on noise
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GOINES, LISA; HAGLER, LOUIS. Noise Pollution: A Modern Plague. Southern Medical Journal, 2007, 100(3): p. 287-294.
LIBARDI A, GONÇALVES GO, VIEIRA TP, SILVERIO KC, ROSSI D, PENTEADO RZ. O ruído em sala de aula e a
percepção dos professores de uma escola de ensino fundamental de Piracicaba. Distúrb Comum. 2006;18(2):167-78.
MARTINS, MARIELAINE IRIA MERLI; TAÚ, MAYRA DE CASTRO; UNZUETA, VERÔNICA MARIANA PALENQUE;
MOMENSOHN-SANTOS, TERESA M.. A interferência do ruído no reconhecimento da fala: análise do ambiente e da
voz do professor. In: ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ACÚSTICA, 20; SIMPÓSIO BRASILEIRO DE
METROLOGIA EM ACÚSTICA E VIBRAÇÕES, 2, 2002, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: SOBRAC, 2002.
NIEMEYER, MARIA LYGIA ALVES DE. Conforto acústico e térmico, em situação de verão, em Ambiente Urbano: uma
proposta metodológica. 2007. Tese de doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Burden of disease from environmental noise, 2011. Disponível em
<http://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0008/136466/e94888.pdf>. Acesso em 10/02/2019.

321
OS SONS DA CIDADE: ENTENDENDO A CIDADE PELOS OUVIDOS DAS
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL
Raquel Morano (1); Zilsa Santiago (2)
(1) mestre, arquiteta e urbanista, raquelmorano20@gmail.com, Universidade Federal do Ceará (UFC),
PPGau+d - DAUD Av. da Universidade 2890 - Campus Benfica - Fortaleza - CE (85) 9.9952.9915
(2) doutora, arquiteta e urbanista, zilsa@arquitetura.ufc.br, Universidade Federal do Ceará (UFC),
PPGau+d - DAUD Av. da Universidade 2890 - Campus Benfica - Fortaleza - CE (85) 9.9983.9269

RESUMO
Dentre as inúmeras críticas realizadas à herança utilitária e funcionalista, tem-se a hipervalorização do
sentido da visão em seu sentido óptico como instrumento primordial de percepção de mundo e o mais nobre
e valorizado dos sentidos (PALLASMAA, 2011). Neste artigo, acredita-se que a hegemonia da visão na
produção de espaços, além de não estimular os outros sentidos, é um fator de exclusão social para as Pessoas
com Deficiência Visual (PcDV), uma vez que é imposta a essas pessoas – através dos ambientes construídos
- valores e culturas conflitantes com a sua habilidade perceptiva. Assim, o objetivo é analisar como a PcDV
utiliza os sons e a audição para entender, se localizar e reconhecer determinados lugares na cidade, além
disso, tencionar os sons como possível entrada analítica para o estudo da percepção da cidade pelas PcDV.
Os métodos utilizados foram: Percursos Comentados (THIBAUD, 2001) e Entrevistas. Como resultado, foi
visto que a audição proporciona o entendimento ou o reconhecimento de determinado lugar, podendo
contribuir para a orientação e localização das PcDV na cidade.
Palavras-chave: pessoas com deficiência visual, audição, percepção, acústica urbana.

ABSTRACT
Among the incidences were applied to the utilitarian and functional inheritance, having as main objective the
vision of its systemic sense as a primordial instrument of world perception and the most noble and valued of
the senses (PALLASMAA, 2011). This article, it is believed that the hegemony of vision in the production of
spaces, in addition to not encouraging the other senses, is a factor of social exclusion for People with Visual
Impairment (PwVI), since it is imposed on these people - through the constructed destinations - values and
cultures conflicting with their perceptive ability. Thus, it is like a PwVI using hearing to understand, locate
and be in the place of the city, in addition, to envisage the children as possible analytical input for the study
of the perception of the city by the PwVI. The tests used were: Commented Paths (THIBAUD, 2001) and
Interviews. As a result, it was seen as a recognition audience or the recognition of a particular place and
could contribute to the orientation and location of the PwVI in the city.
Keywords: people with visual impairment, hearing, perception, urban acoustics.

322
1. INTRODUÇÃO
O entendimento da cidade, em termos cotidianos e científicos, normalmente acontece e é abordado através de
experiências visuais, pois é entendido que a visão é o canal sensorial mais utilizado pelo indivíduo,
principalmente no que se refere ao reconhecimento e localização de ambientes, no controle dos movimentos
oculares e, ainda, em como suas informações são utilizadas para o controle da postura e movimentos dos
próprios membros (LUNDY-EKMAN, 2008).
Pallasmaa (2011), desenvolve a ideia de que, apesar da percepção ser formulada por informações
provenientes dos cinco sentidos – mesmo que recebidas por canais diferentes –, muito da arquitetura
produzida considera apenas um deles – a visão, suprimindo os outros sentidos.
Dentre as inúmeras críticas realizadas à herança utilitária e funcionalista, se tem a hipervalorização do
sentido da visão em seu sentido óptico como instrumento primordial de percepção de mundo e o mais nobre
e valorizado dos sentidos (PALLASMAA, 2011). Neste artigo, acredita-se que a hegemonia da visão na
produção de espaços, além de não estimular os outros sentidos, é um fator de exclusão social para as Pessoas
com Deficiência Visual (PcDV), uma vez que é imposta a essas pessoas – através dos ambientes construídos
- valores e culturas conflitantes com a sua habilidade perceptiva.
Valentini (2012) afirma que as PcDV enxergam com as mãos, ouvidos, nariz, pés, com a boca - com o
corpo todo - e, os estímulos são recebidos quando estão paradas ou em movimento e, percebem o ambiente
com a ajuda do vento, da umidade, temperatura e sentem os deslocamentos de ar.
As pessoas percebem boa parte da realidade à sua volta por meio da visão, o que não
significa que as com deficiência visual estejam impossibilitadas de conhecer e se relacionar
com o mundo. Ela deve se utilizar de outras percepções sensoriais, como a audição que
envolve as funções de ecolocalização, localização dos sons, escutar seletivamente e sombra
sonora; o sistema háptico ou tato ativo; a cinestesia; a memória muscular; o sentido
vestibular ou labiríntico; o olfato e o aproveitamento máximo de qualquer grau de visão que
possa ter (LORA, 2003, p. 58).
Masini (1994), em concordância com Lora (2003), aponta que a PcDV se encontra inserida em uma
cultura na qual o “conhecer” se confunde com o “ver”. Existe um senso comum que acredita que a visão é o
sentido capaz de perceber o ambiente, porém, é a união dos vários canais perceptivos que possibilitam a
percepção do espaço, mesmo que não se tenha consciência disso (DISCHINGER, 2006).
Segundo Figueira (1996), a carência ou diminuição da apreensão da informação visual faz com que a
percepção da realidade de uma PcDV seja de modo diferente dos que enxergam. Muitas vezes, a criança com
deficiência visual demora para andar sozinha por sentir-se insegura. A falta de domínio visual assusta e tende
a retardar esse processo. Além disso, o não ver, acarreta diferença motora entre as crianças que enxergam,
principalmente, pela ausência de estímulos, como: correr atrás de bichos e objetos; não pular; não abaixar;
não estender as mãos para pegar objetos só percebidos com a vista; entre outros (VEIGA, 1946).
Lynch (2014) – primeiro estudioso a fazer conexão entre orientação, percepção espacial e projetação
dos espaços – em seu livro “A Imagem da Cidade”, examina a qualidade visual de algumas cidades norte-
americanas e o faz por meio de um estudo da imagem mental que seus habitantes têm delas. Ele reconhece a
importância de orientar-se na cidade e atribui o termo “legibilidade” para determinar a facilidade com que
essas pessoas reconhecem, estabelecem e organizam partes da cidade em um modelo coerente. A noção de
identidade aos lugares também é trabalhada por Lynch como a existência de elementos que podem ser
reconhecidos pelas pessoas (THIBAUD, 2010). Para Lynch (2014, p.03), “uma cidade legível seria aquela
cujos bairros, marcos ou vias fossem facilmente reconhecíveis e agrupados num modelo geral.”. A
construção da imagem visual desenvolvida
limita e enfatiza apenas o que é visto, enquanto a imagem em si é testada, num processo de
interação, contra a informação perceptiva filtrada. Desse modo, a imagem de uma
determinada realidade pode variar significativamente entre observadores diferentes.
(LYNCH, 2014, p. 07).
Cohen (2010), acredita que algumas características do ambiente podem proporcionar sensações, o que
se pode chamar de “ambiente sensível” que significa, a capacidade que um lugar possui de provocar
sentimentos, laços, emoções e proporcionar certa afetividade. Assim, pode-se pensar o corpo, os sentidos, os
gestos, as ações, as práticas e as percepções como fatos diretamente ligados ao ambiente material,
caracterizando a cidade como configuração prática e a percepção como situada no contexto local de uma
determinada ambiência (COHEN, 2006).
Nesse sentido, é necessário entender e definir a percepção. Para Lawson (1994), a percepção é um
processo complexo por meio do qual os indivíduos selecionam, organizam e interpretam estímulos
sensoriais. Para Sternberg (2000, p.110), a percepção é definida como “um conjunto de processos

323
psicológicos pelos quais as pessoas reconhecem, organizam, sintetizam e fornecem significação - no cérebro
- às sensações recebidas dos estímulos ambientais - nos órgãos dos sentidos.”.
Já de acordo com Bernardi (2007), um indivíduo, na sua percepção espacial, adquire informações
através dos receptores do corpo humano e das próprias informações do ambiente.
Existe uma série de estímulos ambientais – ruído, temperatura, luz, sombra, etc – que são
transformados em sensações percebidas pelo homem. Castillo (2009) afirma que o estudo de percepção
geralmente se relaciona com os processos psicológicos nos quais intervêm as experiências prévias ou a
memória e o juízo.
A vivência cotidiana é fator determinante para a leitura completa do ambiente. As PcDV vivenciam
uma realidade multissensorial pela qual aquelas que enxergam não passam no seu cotidiano. Determinadas
referências estimulam os sentidos remanescentes das pessoas cegas e com baixa visão, preservando-as na
memória para identificar pessoas e lugares posteriormente, dessa forma
percebem de maneira intuitiva, com sensibilidade e experiência, com a ajuda da memória,
com as suas referências culturais e a experiência dos momentos vividos, partilhados.
Entendem e se apropriam das razões do interlocutor pela entonação da sua voz, identificam
pessoas pelo seu perfume, pelos seus passos, seu jeito de chegar. Exercitam constantemente
a memória, e por esse motivo destaca-se pela capacidade de acumular dados e referências.
Utilizam-se de todo esse conhecimento na sua vida profissional, pessoal e social,
desempenhando com eficácia e criatividade inúmeros papéis (VALENTINI, 2012, p. 03).
A percepção pode ser entendida, ainda, como conhecer o mundo a partir dos sentidos, como a visão, o
tato, a audição, o olfato e o paladar (SILVA, 2011). É por meio desses sentidos que o sujeito consegue
apreender o espaço, adquirindo informações relevantes dos ambientes e dos produtos que, de acordo com
suas características, despertam os esquemas perceptivos - tato, audição e olfato.
Através dos sentidos, o espaço arquitetônico é percebido e transformado em espaço
simbólico, o espaço pensado e representado na mente (imagem mental). A interpretação do
espaço simbólico, através da consciência e do pensamento (onde estão incluídas todas as
características do indivíduo), levará a uma tomada de decisão, ao comportamento,
transformando o espaço arquitetônico em espaço vivencial (CARLIN, 2004, p. 50).
Para as PcDV, a percepção é um processo cuidadoso e lento, pois exige muita atenção para unir as
informações coletadas dos pequenos estímulos do ambiente (QUEIROZ, 2014). A forma com que as PcDV
se apropriam do lugar é inversa ao que se tem, de um modo geral, na formação do arquiteto e urbanista em
que a percepção sobre determinado espaço edificado acontece inicialmente com a apreensão visual do todo e,
depois das partes e suas conexões entre si.
Assim, julga-se imprescindível estimular o debate no campo acadêmico, buscando ressaltar a
importância de conhecer as potencialidades dos canais perceptivos - visão, audição, olfato, tato e paladar -
que auxiliam na apreensão do espaço e, assim, contribuir para a prática do projetar o sentido de lugar
valorizando a multissensorialidade.
Esse artigo se justifica visto que até o presente momento foi possível verificar que na literatura
acadêmica pesquisas relacionadas à orientação, percepção e entendimento da cidade através dos sons e da
audição são temas de baixa recorrência e, que, dentre os estudos realizados com produtos publicados,
identifica-se tendência em tratar o som como um problema, como ruído, como causador de poluição sonora,
como fator prejudicial à saúde. Além disso, é importante pontuar que o sistema auditivo “pode ser
considerado como o sentido ‘rei’ para as PcDV e é o único pelo qual a pessoa cega pode perceber a distância
e a profundidade em qualquer ambiente” (LORA, 2003, p. 58). Esse sistema utiliza o ouvido interno a função
de órgão receptor capaz de captar as vibrações do ar, dessa forma, consegue perceber a natureza e os
estímulos sonoros (GIBSON, 1966) reconhecendo-os e, assim, possibilitando a localização individual por
meio desses sons (DISCHINGER, 2000). Apesar dos indivíduos não estarem cientes da importância da
audição na experiência espacial, ela é responsável por articular e estruturar a experiência e o entendimento
do espaço, e ainda fornecer “o continuum temporal no qual as impressões visuais estão inseridas”
(PALLASMAA, 2011, p.47).
É preciso falar também que a grande maioria dos estudos elaborados que são desenvolvidos por
pesquisadores do campo da Arquitetura e Urbanismo é voltada para questões relacionadas às Pessoas com
Deficiência Física (PcDF). Esse fato demonstra a necessidade de pesquisas e questionamentos que abranjam
também as outras Deficiências como: Auditiva, Mental e Visual, a fim de aumentar a compreensão da
utilização do espaço público e os desafios encontrados por essas pessoas além de auxiliar no planejamento
para que as propostas urbanas e edilícias alcancem o caráter universal.
O recorte espacial deste artigo é a cidade de Fortaleza, mais precisamente os Percursos Cotidianos de
PcDV, e o recorte social, como já ficou implícito, são as pessoas com deficiência visual.

324
2. OBJETIVO
Analisar como a PcDV utiliza os sons e a audição para entender, se localizar e reconhecer determinados
lugares na cidade, além disso, tencionar os sons como possível entrada analítica para o estudo da percepção
da cidade pelas PcDV.

3. MÉTODO
O presente artigo faz parte de uma pesquisa de mestrado intitulada “Caminhos Invisíveis: Análise dos
Percursos Cotidianos de Pessoas com Deficiência Visual em Fortaleza” (MORANO, 2018), e obedeceu os
preceitos éticos de pesquisa em que todos os participantes estavam cientes dos procedimentos metodológicos
e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que garante o respeito devido à dignidade
humana, indivíduos ou grupos que, por si e/ou por seus representantes legais, manifestem a sua anuência à
participação na pesquisa.
Os métodos escolhidos são considerados qualitativos, pois envolve a obtenção de dados descritivos de
pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a realidade estudada,
procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos participantes da situação em estudo
(GODOY, 1995).
Os métodos utilizados foram: Percursos Comentados e Entrevistas. A aplicação do método Percursos
Comentados, desenvolvido por Thibaud (2001) tem como objetivo principal qualificar os ambientes de um
lugar a partir das percepções que os usuários têm dele e de suas práticas (JOLÉ, 2005). O uso dessa
metodologia foi importante, pois trouxe um aporte qualitativo ao contemplar a opinião do usuário em relação
ao espaço. Dessa maneira, o entendimento das dificuldades encontradas na cidade por PcDV foram melhor
compreendidas por terem sido vivenciadas in loco.
A palavra foi dada ao participante enquanto a rota foi percorrida. Assim, foi possível acompanhar a
dinâmica que se estabeleceu no percurso, em tempo real, por meio da observação participante e verbalização
das experiências vividas e relatadas pelos participantes, proporcionando ao pesquisador compreender
problemas de situações complexas vividas pelo usuário no ambiente através da verbalização de suas ações.
Junto à metodologia dos Percursos Comentados foram realizadas as Entrevistas baseadas em um
roteiro previamente estabelecido, porém, no seu decorrer, perguntas surgiram e foram colocadas no roteiro
de maneira informal. Haguette (1997, p.86) define entrevista como um “processo de interação social entre
duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de informações por parte do
outro, o entrevistado”. Além disso, é “uma das principais técnicas de trabalho em quase todos os tipos de
pesquisas utilizadas nas ciências sociais” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 32) através desse método os
pesquisadores buscam informações e dados subjetivos, que só poderão ser obtidos através da entrevista, pois
nela há uma interação direta do entrevistador com os valores, atitudes e opiniões dos sujeitos entrevistados
(BONI e QUAREMA, 2005).
O método de entrevista escolhido para a presente pesquisa foi a Entrevista Semiestruturada. Para
Manzini (1990/1991, p.154), “a entrevista semiestruturada está focada em um assunto sobre o qual
preparamos um roteiro com perguntas principais complementadas por outras questões que podem surgir ao
longo da entrevista.”.
Para o autor, esse tipo de entrevista pode extrair informações de forma espontânea, tendo em vista que
respostas não estão condicionadas a uma padronização de alternativas. Esse tipo de entrevista é muito
utilizado quando se deseja delimitar o volume das informações, obtendo assim um direcionamento maior
para o tema, intervindo a fim de que os objetivos sejam alcançados. Como se trata de Percursos Cotidianos,
os participantes não pararam para responder as entrevistas, então, esse método teve que ser adaptado e,
utilizou como referência a Tese de Doutorado de Valentini (2012), onde a cidade emprestou diversos
cenários para a realização das entrevistas, que foi desde o interior das residências das PcDV, lanchonetes,
pontos de ônibus, ônibus, centros culturais até bibliotecas públicas. As entrevistas em movimento tiveram
resultados positivos, pois perguntar algo relacionado a ação do momento permitiu uma maior interação do
participante e melhor entendimento da autora. Além de participar ativamente, foram obtidos vários
desdobramentos das respostas dadas pelos entrevistados. A inserção do entrevistador no mundo do
participante permitiu o aprofundamento dos comentários, trazendo à tona a emoção e a subjetividade do
depoimento em tempo real ao acontecimento durante o percurso.
As perguntas feitas em tempo real do acontecimento ou atividade tiveram papel fundamental na
obtenção de informações sobre como essas pessoas entendem o espaço, como se orientam, como percebem o
espaço, se/como fazem seus mapas mentais, como os outros sentidos compreendem o ambiente e ajudam nos
deslocamentos das PcDV, além de apreender as emoções ali contidas. Aqui, entende-se emoção como uma
resposta do organismo diante de um estímulo externo, podendo ter impacto positivo ou negativo.

325
Os percursos cotidianos não foram escolhidos e nem estabelecidos previamente, foram, na verdade,
definidos pela rotina de cada participante em seus deslocamentos diários. São percursos como
Residência/Trabalho; Trabalho/Almoço; Casa/Estudo; entre outros realizados por PcDV. Foi decidido
analisar os Percursos Cotidianos, para entender o dia-a-dia, o porquê da escolha de determinado caminho em
detrimento de outro, como construíram as suas referências e, também, para verificar a acessibilidade nesses
caminhos - invisíveis para o restante da sociedade. Em cada percurso, a autora foi ao encontro dos
participantes no ponto inicial de seu percurso e, os acompanhou até o seu destino. O percurso foi feito
exatamente como o participante faz em seu cotidiano. A autora teve que se adaptar à realidade do
participante e não vice-versa.
Participaram 26 PcDV e foram classificados em três grupos: Baixa Visão (BV); Cegueira Adquirida
(CA) e Cegueira Congênita (CC), sendo: 11 com BV (6 homens e 5 mulheres); 8 com CA (5 homens e 3
mulheres) e 7 com CC (5 homens e 2 mulheres) (Ver Quadro 4.3). As pessoas com CC e com CA foram
separados em grupos diferentes, pois os com CA – em algumas situações – conseguem ter uma compreensão
melhor do espaço porque possuem memória visual, ou seja, conseguem se lembrar de algumas características
físicas de determinados locais que já estiveram, e isso facilita seu deslocamento e sua orientação do espaço.
Para se ter uma melhor visualização dos percursos que foram realizados, foi produzido um mapa com os
trajetos georreferenciados e localizados no mapa da cidade de Fortaleza (Ver Figura 01).

Figura 01 – Mapa georreferenciados dos Percursos Cotidianos realizados a pé (2019).

Ao término da compilação do total dos percursos, baseado nos discursos, nas condições físicas do
ambiente e da demanda dos participantes – foram analisados parâmetros sensoriais e físicos: percepção –
análise do discurso dos sujeitos participantes; qualidade das calçadas – discursos dos sujeitos x
normatização; Sinalização; Barreiras/Obstáculos.
Este artigo vai se deter sobre a análise da Percepção dos sons da cidade, já que a PcDV utiliza esse
recurso para sua orientação no espaço. Nesse item a análise é realizada através das entrevistas, pois entende-
se que foi uma das formas que o participante conseguiu descrever de que maneira percebe e interpreta alguns

326
elementos da cidade, e através da observação das autoras junto aos Percursos Cotidianos. Um bom
exemplo que justifica a análise da percepção dos Sons é o trecho a seguir de umas das entrevistas realizadas:
R: E, por qual sentido você mais se orienta?
MCA4: É pela audição! Menina, eu nunca pensei nisso! Mas eu acho que é pela audição!
[Muitos Risos]. É um conjunto, né? Mas o que eu fico mais atenta é na audição, porque eu
consigo entender o que tá acontecendo longe de mim. O tato é eu consigo sentir só o que tá
perto, que a bengala alcança, né?
(Entrevista realizada em um dos Percursos cotidianos realizados e acompanhado. Fonte:
MORANO, 2018).
4. RESULTADOS
Por meio das entrevistas e dos relatos durante os percursos, verificou-se que os sons são elementos que
podem beneficiar as PcDV em relação a sua orientação na cidade por meio do reconhecimento de
características sonoras específicas de determinados lugares, edificações, e muitas vezes, também aspectos
comportamentais das pessoas, que podem mudar de um lugar para outro, dependendo do uso e atividade que
o espaço oferece. Mas os sons também podem prejudicar a orientação destas pessoas quando é muito intenso,
por exemplo, uma chuva forte, além do perigo de não saber onde pisam no molhado, o som mais forte,
diminui a percepção de distância de outros sons que podem auxiliar na localização, como retira a
possibilidade da percepção da diferença de temperatura de estar na sombra ou no sol, além da percepção da
ventilação dos cruzamentos de ruas.
Com a utilização do software Atlas.ti, foi feito um fluxograma (Ver Figura 02) a partir de trechos de
todas as entrevistas, e, as que, por ventura, tinham discursos repetitivos, foram retirados e deixados somente
aqueles que pudessem dar uma visão geral de como os sons interferem na vida cotidiana e na relação das
PcDV com a cidade.
Ademais, pôde-se perceber também, que os participantes têm o desejo em relação à sinalização sonora
na cidade, por exemplo: a necessidade de sinal sonoro nas esquinas em lugares que eles mais utilizam e
transitam em seu cotidiano; acessibilidade comunicacional dentro dos transportes públicos e terminais de
ônibus e metrôs com acessibilidade sonora e tátil.
É importante ser dito que o som, seja um som posto propositalmente para ajudar a orientação – como
as sinalizações sonoras – seja sons de elementos ou situações cotidianas na cidade, é um recurso fundamental
para fornecer informações de alerta e orientação para as PcDV, de tal forma que, proporcionam a capacidade
de localização das PcDV na cidade, e sinalizam lugares difíceis de serem identificados que podem ocasionar
acidentes se não forem utilizados com cuidado.

327
Figura 02 – Fluxograma de Entrevistas sobre sons da cidade. Fonte: Elaborado pelas autoras utilizando o Software Atlas.ti (2019).

Ao analisar as respostas e comentários dos participantes da pesquisa sobre os sons da cidade, pode-se
observar que existem sons que podem prejudicar, mas também auxiliar positivamente a orientação, e
consequentemente, em seu caminhar pela cidade. É possível visualizar do fluxograma os pontos negativos e
positivos conforme a Tabela 1.
ausência de sinalização sonora para informação;

a mistura de muitos sons em um ambiente;


Pontos Negativos
ausência de sinalização sonora em travessias;

ausência de sinalização sonora que possibilite a criação de referências positivas na


cidade.
os bairros possuem sons diferenciados, possibilitando o reconhecimento e a
diferenciação de cada bairro;
Pontos Positivos a utilização da ausência de som (silêncio) para realizar a travessia mais segura;
sinal sonoro e equipamentos urbanos com sons específicos que orientam e
permitem as PcDV se localizarem na cidade.
Tabela 1 – Pontos positivos e negativos. Fonte: Autoras, 2019

328
As pessoas com baixa visão, apesar de também se orientarem pelos ruídos da cidades, não sentem
tanta dificuldade em relação a alguns “Pontos Negativos” apresentados na tabela em relação “a mistura de
muitos sons em um ambiente” e na “ausência de sinalização sonoro para informação”, isso porque possuem
um resíduo visual que buscam utilizar, principalmente, em situações de perigo e conflito.
As pessoas com cegueira adquirida, tem uma “vantagem” sobre as com cegueira congênita,
principalmente se já conhecerem aquele lugar, pois além de utilizarem os sons da cidade, conseguem
entender e interpretar rapidamente a natureza do som e entender melhor de onde foi emitido. Isso foi
percebido durante o acompanhamento dos percursos, quando algum som ou sinalização sonora estava sendo
emitido, as pessoas com cegueira adquirida tinham a maior habilidade em descobrir e até entender de que
material o som era emitido, e de uma forma quase que espontânea, já se direcionavam ou se afastavam do
som. Já as com cegueira congênita, foi percebido que precisavam de um instante – algumas pessoas
precisavam de mais tempo, outras esse “instante” era quase que imperceptível – para que se pudessem
entender e tomar a decisão de como agir.
A sinalização sonora de um modo geral, mas principalmente nas travessias quando é indicado o exato
momento em que o semáforo está fechado para carros, é uma das maiores necessidades das PcDV,
principalmente as pessoas com CA e CC, pois segundo os participantes, traz a sensação de segurança na hora
de atravessar, proporciona autonomia e evita acidentes graves. Ou seja, a ausência desta sinalização causa
insegurança e pode ocasionar acidentes. Ainda segundo os participantes, o ato de atravessar as vias é o maior
medo que eles sentem, pois por mais difícil que seja caminhar e vencer vários obstáculos presentes na
cidade, o atravessar é quando há um agrupamento de vários tipos de transporte, tornando o pedestre
vulnerável, e sendo uma PcDV, pode-se considerar que essas pessoas são vulneráveis duplamente. A
sinalização sonora também beneficia as pessoas com BV, porém, como algumas delas conseguem identificar
cores, o semáforo é um recurso que proporciona esse entendimento.
É importante ser mencionado que os participantes relataram que, muitas vezes, as PcDV andam juntas
pela cidade e elegem um guia – também PcDV – que seja BV ou que seja uma pessoa muito experiente
quando se trata em entender a cidade. Muitas vezes essas pessoas tornam-se responsáveis em guiar,
intermediar, explicar e criar essa relação das PcDV com a cidade. O que foi relatado é que quando eles são
guiados por uma PcDV, normalmente, conhecem a cidade por meio dos outros sentidos e passam a escutar e
sentir mais as suas nuances.
A mistura dos sons foi relatada em um bairro específico, o Centro da Cidade. É importante falar que o
Centro da cidade apresenta uso predominantemente comercial, com grande fluxo de pedestres, carros e
comércios informais, ou seja, existem sons sendo emitidos de muitos lugares, como: propagandas; carros de
som; buzinas e muitas pessoas falando. Há, portanto, no Centro, ausência de sinalização sonora informativa
direcionada para PcDV, o que dificulta o entendimento e pode tornar a orientação confusa, até causar
acidentes. Essa dificuldade foi relatada por todos os participantes, inclusive, as pessoas com BV, pois como
são sons vindos de todos os lados e sinalizando muitas coisas ao mesmo tempo, causa desorientação.
É interessante assinalar que em um dos trechos das entrevistas, o participante menciona que “O Centro
é confuso. Muito rápido”, ou seja, a presença de muitos sons traz a sensação que as pessoas estão com
pressa, e que a cadência do lugar se diferencia de outros bairros da cidade.
A ausência de referências sonoras e positivas na cidade, não é citado explicitamente pelos
participantes, porém, foi uma percepção das autoras, que ao acompanhar os percursos cotidianos das PcDV
na cidade, perceberam que, tirando a sinalização sonora dos semáforos, não há equipamentos sonoros e
lúdicos que proporcionem a identificação dos lugares e/ou que facilite e ajude na orientação das PcDV. A
cidade muda, ou seja, sem sonorização, se torna um obstáculo para as pessoas cegas.
Além dos pontos negativos, foram observadas situações em que o som é utilizado de forma a
beneficiar os participantes.
Foi observado que as PcDV (participantes) conseguem identificar bairros por meio de algumas
características físicas e sensoriais de cada lugar. A experiência ensina e a vivência aperfeiçoa o
conhecimento acerca dos lugares que mais transitam. Assim como as pessoas que enxergam, possuem
lugares na cidade que já são mais familiarizadas e, por isso, identificam características e referências que
permitem essa distinção. É importante ressaltar que, para sentir e perceber as diferenças de um bairro para
outro é necessário que exista um prévio conhecimento da região para conseguir isso.
Pode-se perceber que as PcDV conseguem identificar alguns bairros específicos, porém, quando estão
em regiões muito próximas que possuem os mesmos aspectos físicos e sensoriais essa diferenciação torna-se
mais difícil. É constatado, no entanto, que existe uma grande diferenciação sonora entre os bairros mais
centrais de Fortaleza (Aldeota, Meireles, Centro) de bairros mais afastados (Quintino Cunha, Carlito

329
Pamplona). Os bairros que as PcDV conseguem identificar com maior precisão, normalmente, são bairros
que possuem algum componente marcante inserido em seu trajeto, por exemplo: o Centro da Cidade.
Nos bairros de maior infraestrutura e de localização privilegiada na cidade, como os bairros da
Aldeota e Meireles, há presença do ruído do ruído normal de trânsito de carros, tornam-se “bairros mais
silenciosos”. Já os bairros mais afastados, como Quintino Cunha e Carlito Pamplona são bairros que tem
mais pessoas nas ruas, existe uma constância de passagem de carros de propaganda, existem pessoas que
ficam com seus sons nas calçadas, ou seja, é possível perceber que são bairros que possuem um uso diferente
do espaço público e, por isso, os sons são diferentes e facilmente identificáveis.
A ausência de som também é um recurso para se proteger e é utilizado, principalmente pelas pessoas
com CC e com CA, para atravessar as ruas. Isso só é possível em bairros mais calmos, pois é possível
perceber quando um veículo está perto ou longe através da altura do ruído que emite. As pessoas com BV,
utilizam esse recurso a noite, pois seu resíduo visual fica muito prejudicado com a ausência de luz. Pode-se
dizer que, normalmente, as PcDV (participantes) esperam o ruído diminuir para atravessarem.
Observou-se, também, a utilização de sons de equipamentos urbanos – que não foram colocados
propositalmente para orientação das PcDV –, porém, como as essas pessoas tem uma maior sensibilidade
para identificar ruídos, em determinados lugares utilizam até o som que é emitido pela cerca elétrica, no caso
do entrevistado, que utiliza esse som para saber quando está próximo da esquina para atravessar.
A busca por elementos sonoros que norteiam os caminhos e a utilização de equipamentos urbanos que
emitem ruídos, mas que não tem a função de guiar, como forma de se orientar, aponta e ressalta a ausência
de referências e de sinalização adequada para as PcDV na cidade.

5. CONCLUSÕES
Como visto nesta pesquisa, apesar da percepção ser formulada por informações provenientes dos cinco
sentidos, muito da arquitetura produzida considera sobremaneira a visão, em detrimento dos outros sentidos.
Diante dos novos paradigmas de uma sociedade mais igualitária e levando em conta a diversidade e
condição de possibilidades de percepção dos espaços da cidade, fomos levadas a estudar como a pessoa com
deficiência visual utiliza os sons e a audição para entender, se localizar e reconhecer determinados lugares na
cidade de forma a contribuir para estudos que venham implementar novos processos de sinalização nos
espaços públicos para todas as pessoas, inclusive as pessoas com deficiência visual.
Apesar de toda a experiência que os participantes desta pesquisa têm em caminhar na cidade, em
muitos momentos precisam de pessoas que os ajudem, pois existem pontos críticos – faixa de pedestre,
espera do ônibus, avenidas largas, locais muito movimentados, ausência de calçada e de pavimentação, etc. –
em que a cidade não oferece recursos de sinalização – sonora e tátil – eficazes para a autonomia dessas
pessoas.
A falta de sinalização e a ausência de recursos que traduzam as informações do espaço para as PcDV
são fatores mais comentados pelos participantes. Por exemplo, todos os participantes apontam para a
ausência de sinalização sonora nas travessias, e o quão simples e pontual seria inserir esse elemento de forma
a ser um grande facilitador na mobilidade dessas pessoas. Ressaltando que a sinalização sonora otimiza a
atenção de todos os pedestres.
Ressalta-se que na análise das respostas às entrevistas, a audição proporciona o entendimento ou o
reconhecimento de determinado lugar, podendo contribuir para a orientação e localização das PcDV na
cidade. É visto também que, a sinalização sonora proporciona sensação de segurança, e atende a alguns
quesitos de acessibilidade em determinados lugares, como por exemplo, a autonomia de atravessar as vias.
Esse entendimento sobre a necessidade de meios sinalizadores, nos mostra que a cidade é carente de
elementos que facilitem a percepção por meio de outros sentidos, e que já são utilizados em outras cidades,
como: sinais sonoros, sinalização sonora nos transportes coletivos e nos terminais, bem como mapas táteis.
Além disso e pensando em uma cidade mais lúdica, sugere-se aqui outras maneiras criativas que poderiam
proporcionar a percepção de lugares na cidade, bem como criar pontos perceptivos que facilitariam a
condição de referências sensoriais paras as PcDV, como: bolsões com vegetação com cheiro, música em
determinadas vias turísticas, arte de rua sonora etc., pois alimentando a cidade com elementos positivos,
contribui para orientar e ajudar a PcDV a se localizar na cidade, além disso, cria uma atmosfera inclusiva,
proporcionando conforto e acessibilidade para todos.

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AGRADECIMENTOS
Especialmente a todos os 26 participantes que contribuíram e compartilharam suas vivências cotidianas, suas
angústias e felicidades. Sem cada um de vocês não haveria a pesquisa. Ao Instituto dos Cegos Hélio Góes,
por permitir o uso de seu espaço e o contato com os alunos. A Associação dos Cegos do Ceará, por
disponibilizarem as informações de seu banco de dados, e por permitirem uma aproximação com os alunos
com Deficiência Visual.

331
PADRÕES DE TRÁFEGO VEICULAR EM SÃO PAULO-SP: EVOLUÇÃO
ESPAÇO-TEMPORAL (2008-2015)
Carolina de R. Maciel (1); Elisa M. Sales (2); Marcelo de M. Aquilino (3); Maria Akutsu (4)
(1) Doutora, Arquiteta e Urbanista, carolina.maciel@mackenzie.br , Universidade Presbiteriana Mackenzie
(UPM), Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), Rua da Consolação 930, +55 (11) 21l4-8383.
(2) Doutora, Física, elisams@ipt.br, Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Centro Tecnológico do Ambiente
Construído, Av. Prof. Almeida Prado 532, +55 (11) 3767-4125.
(3) Doutorando, Físico, aquilino@ipt.br, Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Centro Tecnológico do
Ambiente Construído, Av. Prof. Almeida Prado 532, +55 (11) 3767-4579.
(4) Doutora, Física, akutsuma@ipt.br, Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Centro Tecnológico do Ambiente
Construído, Av. Prof. Almeida Prado 532, +55 (11) 3767-4582.

RESUMO
Este trabalho teve como objetivo analisar os padrões espaço-temporais de tráfego veicular na cidade de São
Paulo e relacioná-los com as possíveis consequências para o ambiente acústico. Para análise da evolução
espaço-temporal dos padrões de tráfego na cidade de São Paulo foram utilizados dados compilados pela CET
(Companhia de Engenharia de Tráfego) por meio da pesquisa sistemática de monitoração da fluidez,
divulgados sob a forma do Relatório da Mobilidade no Sistema Viário Principal (MSVP), para o período de
2008-2015. Para inferir sobre a poluição resultante a partir das variáveis estudadas, foi realizado o cálculo do
volume equivalente, considerando a ponderação pelo fator de equivalência dos veículos de acordo com sua
composição; considerou-se também a soma dos fluxos dos dois sentidos (centro e bairro). Os resultados
deste estudo indicam uma redução no volume de automotores nas vias monitoradas pela CET para o período
considerado. Esta redução, no entanto, não é observada nos valores de frota veicular para o mesmo período
(DENATRAN), levando a crer que pode haver uma influência de aplicativos de navegação sobre a decisão
de mudança de rotas por parte dos motoristas. Como consequência, existe uma diminuição nos níveis de
ruído de uma mesma via, porém com o incremento de níveis de ruído em vias próximas, resulta em uma
maior incomodidade sob o ponto de vista da acústica.
Palavras-chave: ruído urbano; poluição sonora; tráfego veicular.

ABSTRACT
This paper aimed to analyze the spatial-temporal patterns of vehicular traffic in the city of São Paulo and to
relate them to consequences for the acoustic environment. In order to analyze the spatial-temporal evolution
of traffic patterns in the city of São Paulo, data compiled by CET (Traffic Engineering Company) were used
through a fluidity monitoring systematic research, published as “Relatório da Mobilidade no Sistema Viário
Principal” (MSVP), for the period 2008-2015. In order to infer about the resulting pollution from the studied
variables, the calculation of the equivalent volume was performed, considering the weight by the equivalence
factor of each vehicle according to traffic composition; and it was considered the sum of the flows in the two
ways (center and neighborhood). The results of this study indicate a reduction in the volume of vehicles in
the tracks monitored by the CET for the period considered. This reduction, however, is not observed in the
values of vehicle fleet for the same period (DENATRAN), leading to believe that there may be an influence
of navigation mobile apps on the decision to change routes by the drivers. As a consequence, there is a
decrease in the noise levels of the same route, but with the increase of noise levels in nearby streets, it results
in a greater discomfort from the point of view of acoustics.
Keywords: urban noise; noise pollution; vehicular traffic.

332
1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento tecnológico de nossa sociedade, caracterizado pelo avanço nos meios de transporte e de
comunicação, tem proporcionado diversas melhorias nas condições de vida, resultando no aumento do bem-
estar e diminuição da distância entre as pessoas e as culturas. No entanto, o uso de tais equipamentos e
soluções também acarreta em uma parcela que pode trazer prejuízos à qualidade de vida, conforto e saúde
dos habitantes de determinado local, denominada poluição (ANSAY, 2014).
As fontes de ruído são as mais distintas e constituem causa de poluição sonora dependendo da sua
localização, da intensidade e periodicidade do ruído produzido. O ruído urbano é considerado um ruído
complexo, pois é composto de várias parcelas de ruídos secundários, provenientes de fontes e atividades
diversas, dentre as quais se pode citar: ruído de tráfego (rodoviário, ferroviário, aeronáutico), ruído
proveniente de instalações (industriais e comerciais), ruído proveniente de atividades (construção civil,
entretenimento, propaganda), entre outras. (MURGEL, 2007; PAZ et al., 2005; ANSAY, 2014).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde - OMS, a poluição sonora é considerada uma
questão de saúde pública, ocupando o segundo lugar entre os fatores que provocam o estresse ambiental,
juntamente com a poluição da água e do ar (GIUNTA, 2013; CALIXTO, 2002; WHO, 1999).O ruído pode
causar efeitos nocivos fisiologicamente aos humanos, como distúrbio no sono, distúrbio gástrico, fadiga,
alteração da capacidade auditiva, dor de cabeça, hipertensão, tonturas e distúrbios hormonais (PINTO et al.,
2013; WHO, 1999; CHEPESIUK, 2005). Dentre os problemas psicológicos, destaca-se perda de
concentração, perda de reflexos, irritabilidade, perturbação do sono, sensação de insegurança, nervosismo e
interferência na capacidade de aprendizagem das crianças (BISTAFA, 2011; LACERDA et al., 2005). Além
de impactos de ordem socioeconômica, tais como: perda auditiva, prejuízo das atividades produtivas
motivadas por licenças-saúde, redução da capacidade de trabalho e de aprendizado, além da desvalorização
imobiliária (BLUHM et al., 2007; ZANNIN et al. 2013).
No meio urbano, o ruído de tráfego veicular é apontado como principal causa de poluição sonora por
diversos autores (GUEDES & BERTOLI, 2014; ZANNIN & BUNN, 2014; BISTAFA, 2011). Neste
ambiente, o ruído do trânsito sofre influência das características de fluxo (composição e velocidade dos
veículos, acelerações e desacelerações), forma urbana, distância em relação à fonte de ruído, topografia,
condições meteorológicas, além da postura individual de cada motorista (GUEDES, 2005; WANG &
KANG, 2011). Em resposta a esta problemática, diversas iniciativas são observadas em diferentes
localidades do globo, sendo mais expressivo o caso da União Europeia (EU). Desde 2002, a EU instituiu a
Directiva EU END 2002/49/EC, tornando obrigatória a apresentação de mapas estratégicos de ruído para
aglomerações urbanas com população superior a 250.000 habitantes até 30/06/2007, e, até 30/06/2012, para
aglomerações com mais de 100.000 habitantes, reforçando a importância do mapeamento do ruído como
ferramenta no planejamento e gestão de centros urbanos (SOUZA FILHO, 2012).
Em âmbito nacional, até o presente momento, não existe a obrigatoriedade da realização destes
mapeamentos pelas cidades. Questões relativas ao ruído ambiental são abordadas pelo CONAMA - Conselho
Nacional do Meio Ambiente, por meio da Resolução N.º 1, de 8 de março de 1990, e pela ABNT -
Associação Brasileira de Normas Técnicas, por meio da NBR 10.151 - Acústica - Avaliação do ruído em
áreas habitadas , visando o conforto da comunidade - Procedimentos, do ano de 1987, atualizada em 2000 e,
atualmente em revisão. Porém, somente tratam acerca dos níveis recomendados e dos procedimentos de
aferição do ruído, não contemplando este tema na forma de mapeamentos sistemáticos, (SOUZA &
GIUNTA, 2011; MURGEL, 2007).
Desta forma, dentro do contexto brasileiro, fica a cargo das prefeituras o papel de definir e
implementar medidas de monitoramento e controle do ruído urbano. Na cidade de São Paulo, área de estudo
desta pesquisa, foi sancionada a Lei Nº 16.499 em julho de 2016, que dispõe sobre a elaboração do Mapa do
Ruído Urbano da Cidade de São Paulo, estabelecendo o prazo de até 4 (quatro) anos para elaboração do
mapa para Macroárea de Urbanização Consolidada e 7 (sete) anos para as demais áreas da cidade.
Outros exemplos a serem citados são a carta acústica de Fortaleza (CE), de iniciativa da Secretaria
do Meio Ambiente e Controle Urbano, o mapeamento de Belém (PA) por MORAES et al. (2003), de
Curitiba (PR), por ZANNIN et al. (2002), de Campo Grande (MS), por SOUZA FILHO (2012), de Sorocaba
(SP), por COSTA & LOURENÇO (2011), da cidade do Rio de Janeiro (RJ), por PINTO & MARDONES
(2009), entre outros. No entanto, devido à complexidade e escassez de dados e informações cartográficas em
países em desenvolvimento, estas iniciativas são pontuais, muitas vezes limitando-se a uma área restrita
dentro da cidade (DACOL, 2013; HOLTZ, 2012; SOUZA & GIUNTA, 2011).
Tais mapeamentos são realizados por meio de programas computacionais que simulam a propagação
sonora ao ar livre fazendo uso de algoritmos que estimam a variável dependente Nível de Pressão Sonora
(NPS) para um grande número de pontos de uma determinada área. Para isso, são consideradas as influências

333
sofridas em função das variáveis independentes, utilizadas como dados de entrada: padrões de tráfego e
características acústicas das fontes (nível de potência sonora), juntamente com as características físicas do
local em estudo (geometria urbana, topografia) e condições meteorológicas (vento, temperatura, umidade
relativa), (GERGES, 2000; BRÜEL & KJÆR, 2000; PINTO, 2013). Como resultado da interação destas
variáveis é obtido o mapeamento do ruído de determinada região, que representa uma fotografia dos níveis
de pressão sonora em determinado período de tempo. Como consequência do fato de ser um instrumento
datado, é recomendado que este seja revisto e atualizado regularmente, de modo a acompanhar mudanças e
representar novas configurações e dinâmicas do espaço urbano.
Neste contexto, informações a respeito dos padrões de tráfego veicular são fundamentais no auxílio
ao entendimento da dinâmica espaço-temporal do ruído urbano. Destaca-se então o serviço prestado pela
CET – Companhia de Engenharia de Tráfego que desde 1977 publica regularmente relatórios a respeito do
desempenho do sistema viário (volume e composição do fluxo, velocidade média, proporção de atrasos, entre
outros) da cidade de São Paulo.

2. OBJETIVO
Este trabalho teve como objetivo analisar os padrões espaço-temporais de tráfego veicular na cidade de São
Paulo e relacioná-los com as possíveis consequências para o ambiente acústico.

3. MÉTODO
3.1. Materiais
O estudo foi realizado utilizando os dados disponíveis para a cidade de São Paulo, capital do estado de São
Paulo, localizado na região sudeste do Brasil. De acordo com o último Censo realizado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2010, a população acumulava 11.253.503 habitantes,
sendo 99% residentes em zona urbana e 1% residentes em zona rural, distribuídos em uma área territorial de
1.521,110 km2 (IBGE, 2010). A projeção para 2016 foi de 12.106.920 habitantes, de acordo com IBGE
(2017).
Segundo informações do Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo), os carros
correspondem ao tipo de veículo mais utilizado na capital paulista, constituindo cerca de 70% da frota de 8,3
milhões de automotores (valores referentes a 2017), que inclui motos (13%), caminhões (1,9%) e ônibus
(apenas 0,5% do total), (VALLE, 2017).
Analisando-se os dados referentes ao período selecionado para o presente trabalho (2008-2015),
observa-se que a frota de São Paulo acompanhou a tendência nacional (figura 1), apresentando aumento
anual no número de veículos em circulação. Enquanto a frota nacional aumentou cerca de 7,5% ao ano, a
frota da cidade de São Paulo apresentou crescimento médio de 4% ao ano.
A infraestrutura viária (ruas, avenidas, viadutos, pontes), no entanto, não acompanhou o crescimento
no número de veículos da cidade. De acordo com dados divulgados pela CET registram um aumento de 21%
na infraestrutura, frente a um crescimento de 400% no número de veículos para o período compreendido
entre a década de 1970 e meados da década de 2000, (CET, 2007).
Para análise da evolução espaço-temporal dos padrões de tráfego na cidade de São Paulo foram
utilizados dados compilados pela CET por meio da pesquisa sistemática de monitoração da fluidez,
divulgados sob a forma do Relatório da Mobilidade no Sistema Viário Principal (MSVP), (CET, 2017).

8 100
Frota veicular - São Paulo

Frota veicular - Brasil

7,5 90
(em milhões)

(em milhões)

7
80
6,5
70
6

5,5 60

5 50
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
São Paulo Brasil

Figura 1 – Frota veicular* municipal (São Paulo) e nacional, para o período 2008-2015;
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de DENATRAN, (2017).
O monitoramento é realizado desde o ano de 1977, por meio da coleta de dados de contagem
volumétrica classificada de veículos, velocidade e tempo de percurso com retardamento nas principais vias

334
da cidade de São Paulo, distribuídas em 47 rotas. A frequência de monitoramento de cada rota é variável,
algumas sendo acompanhadas anualmente e outras à uma menor frequência. Desta forma, para o presente
estudo foi selecionada a amostra das 10 rotas que foram monitoradas anualmente para o período
compreendido entre 2008-2015, a saber:
As 10 rotas selecionadas abrangem as seguintes vias:
- Rota 01G: Av. Eusébio Matoso, Av. Rebouças, R. da Consolação;
- Rota 02G: R. Clélia, R. Guaicurus, Av. Francisco Matarazzo, Av. São João;
- Rota 04G: Av. Zaki Narchi, Av. Santos Dumont, Av. Prestes Maia;
- Rota 07G: Av. Radial Leste (R. Melo Freire, Av. Alcântara Machado);
- Rota 10G: Av. Washington Luís, Av. Rubem Berta, Av. Vinte e Três de Maio;
- Rota 13G: v. Heitor Penteado, Av. Dr. Arnaldo, Av. Paulista;
- Rota 14G: Elevado Costa e Silva, Ligação Leste-Oeste;
- Rota 15G: Rótula Central (R. Maria Paula, Av. Senador Queiroz, Av. Ipiranga);
- Rota 19G: Av. dos Bandeirantes, Av. Pres. Tancredo Neves;
- Rota 32G: R. Vergueiro, Av. Liberdade.

3.2. Métodos
Os relatórios de MSVP apresentam os dados em formato de tabela, dividindo cada rota monitorada em
pontos e trechos de coleta. Para análise dos padrões de tráfego foram consideradas as variáveis de volume
equivalente e velocidade de trajeto. A contagem volumétrica classificada de veículos tem como objetivo
determinar a quantidade, composição e o sentido do fluxo em uma seção do sistema viário por unidade de
tempo. A rota é dividida em pontos de medição, os veículos são classificados em automóveis, motocicletas,
ônibus urbanos, ônibus fretados, caminhões e bicicletas (CET, 2017). A contagem é feita considerando os
dois sentidos do fluxo (centro e bairro) e dois períodos: manhã (7h-10h) e tarde (17h-20h), apresentando o
valor horário acumulado. Para a elaboração dos mapas, os valores de volume por vias foram agrupados em
categorias conforme Mehdi et al., (2011).
Tabela 1 – Categorias de volume de tráfego veicular horário (Adaptado de Mehdi et al., 2011)

Categoria Número de veículos por hora


Muito baixo Menos de 2.500
Baixo 2.500-5.000
Moderado 5.000-10.000
Alto 10.000-15.000
Muito alto Acima de 15.000

A pesquisa de velocidade mede uma corrente de tráfego ao longo de uma via ou rota, com o objetivo
de aferir a facilidade ou dificuldade em percorrê-la. Cada rota é dividida em trechos e a velocidade é medida
pelo método de veículo-teste com cronômetro, que consiste em percorrer a rota analisada com dois
pesquisadores munidos de um cronômetro cada e mapa da rota com os pontos de controle assinalados. A
contagem é feita considerando os dois sentidos do fluxo (centro e bairro) e dois períodos: manhã (7h-10h) e
tarde (17h-20h), apresentando o valor horário acumulado.

3.2.1. Padrões de tráfego x ruído urbano


De acordo com Cyril & Koshi (2013), o ruído urbano pode ser correlacionado principalmente ao volume, à
velocidade e à composição do tráfego veicular. Desta forma, para inferir sobre a poluição resultante a partir
das variáveis estudadas, foram admitidas algumas considerações: (1) Para incorporar a composição de
tráfego à variável volume foi considerado o volume equivalente de veículos, cujo cálculo é ponderado pelo
fator de equivalência dos veículos, conforme Equação 1 (CET, 2007); (2) Ainda para a variável volume,
considerando que o ruído resultante de uma via é proveniente do total de veículos que a percorre, para cada
rota analisada foram somados os fluxos dos dois sentidos (centro e bairro), resultando em um único valor de
volume por via; (3) Para as duas variáveis (volume e velocidade), foi considerado o valor médio horário para
cada período (manhã e tarde), sendo para velocidade a média dos três trechos que compõe cada rota, e para o
volume a média dos três pontos de coleta.
Volume Equivalente = A + M + (0,33 x B) + 2 (Ou + Of + C) Equação 1
Onde:

335
A = quantidade de automóveis;
M = quantidade de motos;
B = quantidade de bicicletas;
Ou = quantidade de ônibus urbano;
Of = quantidade de ônibus fretado;
C = quantidade de caminhões.

4. RESULTADOS
Nas figuras 2 e 3 são apresentados os mapas de volume equivalente de tráfego para cada período (manhã e
tarde), para o período em estudo – 2008 a 2015.

Figura 2 – Evolução do volume equivalente de tráfego veicular horário – período matutino (7h-10h).
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir de CET (2017)

Pode-se observar que, das rotas avaliadas neste trabalho, para o período matutino (7h-10h) três rotas
apresentam valores de volume equivalente de até 5.000 veículos por hora – categoria “Baixo” (rotas 02G,
15G e 32G) e cinco rotas apresentam valor “Moderado” de 5.000 a 10.000 veículos por hora (01G, 04G,
13G, 14G e 19G). As rotas que apresentaram maior volume equivalente de tráfego foram as rotas 07G –
categoria “Alto”, de 10.000 a 15.000 veículos e rota 10G – categoria “Muito alto”, com mais de 15.000
veículos. Ao longo do período estudado, observou-se que as rotas mantiveram um valor relativamente
constante de fluxo de veículos, havendo uma mudança de categoria de “Baixo” (até 2013) para “Muito
baixo” (2014 e 2015) somente para rota 32G (Rua Vergueiro, Av. Liberdade).
Para o período vespertino (17h-20h) apresentado na figura 3, observa-se o mesmo padrão que o
período matutino, porém com valores menores de volume equivalente. As mesmas três rotas (02G, 15G e
32G) apresentam valores de volume equivalente de até 5.000 veículos por hora – categoria “Baixo”,
enquanto as mesmas cinco rotas (01G, 04G, 13G, 14G e 19G) apresentam valor “Moderado” de 5.000 a
10.000 veículos por hora. Neste período as rotas que apresentaram maior volume equivalente de tráfego
continuam sendo as rotas 07G e 10G – no entanto ambas na categoria “Alto”, de 10.000 a 15.000 veículos.
Em nenhuma rota foi registrado valor “Muito alto”, ou seja, mais de 15.000 veículos.
Ao longo do período abrangido (2008-2015), observou-se também para o horário vespertino que as
rotas mantiveram um valor relativamente constante de fluxo de veículos, havendo uma mudança de categoria
na rota 15G de “Baixo” (até 2012) para “Muito baixo” (2013 a 2015) e na rota 32G “Baixo” (até 2013) para
“Muito baixo” (2014 e 2015).

336
Figura 3 – Evolução do volume equivalente de tráfego veicular horário – período vespertino (17h-20h).
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir de CET (2017)

Nos dois horários (matutino e vespertino), destaca-se que as duas rotas que apresentaram maior
volume durante o período caracterizam-se como importantes ligações entre diferentes regiões da cidade –
07G sendo Av. Radial Leste (acesso à zona Leste da cidade) e 10G Av. Washington Luís, Av. Rubem Berta,
Av. Vinte e Três de Maio (Corredor Norte-Sul).

Figura 4 – Evolução da velocidade média (km/h) para as rotas selecionadas – período matutino (7h-10h).
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir de CET (2017)

Em relação à velocidade média das rotas monitoradas, observa-se que os valores de velocidade para
o período matutino (figura 4) são mais elevados do que os do período vespertino (figura 5), porém sem
apresentar uma tendência clara ao longo do período estudado. Para o período matutino, as rotas 10G e 14G
são as que apresentaram valores mais elevados, variando de 30,6km/h (em 2012) a 42,2km/h (em 2009), e
36,2km/h (em 2013) a 47,7km/h (em 2008), respectivamente. As rotas que apresentaram os menores valores
foram 15G e 32G, com 14,2km/h (em 2014) e 13,3km/h (em 2012), respectivamente.

337
No período vespertino, as rotas que apresentaram as maiores velocidades médias também foram 10G
e 14G, com máximas de 34,3km/h (em 2014) e 32,9km/h (em 2010). Os menores valores foram registrados
nas rotas 15G e 32G, com 12,4km/h (em 2009) e 13,3km/h (em 2010), respectivamente.

Figura 5 – Evolução da velocidade média (km/h) para as rotas selecionadas – período vespertino (17h-20h).
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir de CET (2017)

Na figura 6 são apresentados os valores referentes às das 10 rotas em estudo, somados para o tráfego
acumulado por ano (leitura dos valores no eixo esquerdo) e valor médio para a velocidade. Analisando-se os
valores totais acumulados, nota-se uma tendência à redução do volume total equivalente durante a amostra
de tempo avaliada, variando de 156.087 em 2008 para 153.423 veículos em 2009, 152.650 veículos em 2010,
com um pequeno aumento para 152.722 veículos em 2011, reduzindo novamente para 147.429 veículos em
2012, depois para 144.279 veículos em 2013, 139.824 veículos em 2014 e seu menor valor em 2015, com
139.764 veículos. Em relação à velocidade média anual, não se observou uma tendência clara, variando de
um valor mínimo de 23,44km/h, em 2013, até o valor máximo de 25,59km/h, em 2010.
160 26
Volume equivalente acumulado

155 25
Velocidade média
(em milhares)

150 24
(km/h)

145 23

140 22

135 21

130 20
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Volume manhã + tarde Velocidade média

Figura 6 – Volume equivalente acumulado e velocidade média – período 2008-2015


Fonte: Elaborado pelos autores, a partir de CET (2017)
Na figura 7 são apresentados os valores de volume de tráfego simplificado e da frota veicular da
cidade de São Paulo. Apesar de se verificar o aumento anual na frota veicular para o período analisado,
quando observamos o volume de tráfego acumulado nas rotas selecionadas para este estudo, constata-se a
redução no número de veículos circulando nestas vias. Esta redução se apresenta de forma mais acentuada a
partir do ano de 2011, enquanto os números referentes à frota veicular mantêm o crescimento desde 2008 até
2015, período analisado neste trabalho.
Uma hipótese para esta divergência observada na figura 7 é a de que poderia haver um aumento no
retardamento das rotas monitoradas pela CET, resultando, consequentemente, em um menor número possível
de veículos circulando nestas vias no período amostrado.

338
150 8

Frota veicular (em milhões)


Volume total simplificado
7,5
145
(em milhares)

140 6,5

6
135
5,5

130 5
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Acumulado rotas Frota São Paulo

Figura 7 – Comparativo entre volume de tráfego e frota veicular para São Paulo – período 2008-2015
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir de CET (2017) e DENATRAN (2017).
A CET também fornece dados de retardamentos no sistema viário, categorizando-a em atrasos
devido a congestionamento, semáforo, ponto de parada de ônibus, e outros. Na figura 8 encontram-se os
dados referentes às dez rotas selecionadas para esta pesquisa, apresentados em termos de tempo absoluto de
retardamento e percentual de tempo total gasto em retardamento.
0:11 35

Percentual de tempo total gasto


0:10 30

em retardamento (em %)
Tempo de retardamento

0:08
25
(em minutos)

0:07
20
0:05
15
0:04
10
0:02
0:01 5

0:00 0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Manhã Tarde Manhã Tarde

Figura 8 – Tempo de retardamento e Percentual de tempo total gasto em retardamento – período 2008-2015
Fonte: Elaborado pelos autores, a partir de CET (2017).

Em relação ao tempo gasto em retardamento, observa-se que os valores do período vespertino são
mais elevados que o do matutino em todo o período analisado, de 2008 a 2015. O tempo de retardamento
para o período matutino teve seu menor valor, 5 minutos de atraso, registrado em 2008 e 2010, enquanto o
maior valor, de 8 minutos, em 2014. No período vespertino, o limite inferior foi registrado em 2010, 2011 e
2012, de 7 minutos de atraso, enquanto o maior valor, 10 minutos, foi encontrado também em 2014.
O dado de “Percentual de tempo total gasto em retardamento” para o período matutino variou de um
mínimo em 2008, de 24%, até cerca de 30% em 2014. Para o período vespertino, este dado apresentou seu
menor valor em 2011, de 27% até um valor máximo de 32% observado em 2009. Constata-se, portanto, que
os dados referentes ao retardamento do sistema, nas vias selecionadas para este estudo, permaneceram
relativamente estáveis e sem uma tendência clara ao longo do período analisado.
Desta forma, acredita-se que a divergência observada nas tendências dos números referentes à frota e
ao volume acumulado nas rotas pode ocorrer em função do uso de aplicativos de navegação e monitoramento
de trânsito, tais como Waze e GoogleMaps. Estes aplicativos utilizam a localização do usuário,
compartilhada por meio do GPS (Global Positioning System) para estimar o tráfego de veículos de uma
determinada via, sugerindo trajetos alternativos quando identificada uma situação de tráfego intenso e
congestionamento, resultando no chamado “Efeito Waze”, (RIBEIRO, 2016).
De acordo com dados da empresa, somente o aplicativo Waze conta com 3 milhões de usuários
ativos na Grande São Paulo, o que corresponde à mais de um terço da frota veicular para o mesmo período,
(MANS, 2016).

4.1 Consequências para poluição sonora


O ruído proveniente do tráfego veicular é a principal causa de poluição sonora (MCALEXANDER et al.,
2015; CYRIL & KOSHY, 2013; GUEDES & BERTOLI, 2014; ZANNIN & BUNN, 2014; BISTAFA,
2011). Com base nos resultados apresentados, observa-se que, para o período considerado neste estudo, o
volume de tráfego apresentou redução nas rotas monitoradas pela CET, resultando, consequentemente em
uma redução no nível de ruído oriundo de suas vias. Porém, quando observados os números referentes à frota
veicular para o período, esta redução não é constatada. Uma das possibilidades apontadas para estes

339
resultados pode se dever ao fato de motoristas fazerem uso de aplicativos de navegação, desviando o tráfego
para vias até então com menor intensidade de tráfego.
Neste sentido, a redução verificada no nível de ruído proveniente das vias estruturais da cidade seria
convertida em uma maior abrangência nas áreas afetadas por níveis de ruído considerados desconfortáveis
conforme normas aplicáveis, como a NBR 10.151 (2000).
Embora estes níveis de ruído sejam atenuados por barreiras físicas quando alcançam o interior das
edificações, o mesmo não ocorre em relação aos ambientes externos, aos quais pedestres, ciclistas, usuários
de transporte público ou mesmo os próprios motoristas estão expostos. Ademais, as condições de conforto
acústico dos ambientes internos também podem ser comprometidas, havendo necessidade de serem utilizadas
soluções construtivas e/ou componentes mais robustos, que confiram melhor desempenho ao sistema.
Ressalta-se que estas conjecturas e os resultados apresentados nesta pesquisa abrangem o período de
2008-2015. Em estudos relacionados ao ruído urbano, quando considerado o horizonte de projeção de curto
prazo (5-10 anos), o número de veículos automotores é diretamente proporcional ao nível de ruído resultante.
Quando considerado um horizonte de projeção mais longo (>10 anos), outros fatores devem ser levados em
conta, como por exemplo, a tecnologia disponível. Atualmente, a frota brasileira é composta
majoritariamente de veículos que fazem uso de motores à combustão, mas outros países já possuem
alternativas menos poluentes, tanto do ponto de vista da poluição do ar quanto da poluição sonora.
Os veículos movidos à eletricidade têm se tornado uma opção plausível nos últimos anos e o impacto
da adoção destes sistemas sobre os níveis de ruído já está sendo investigado. VERHEIJEN & JABBEN
(2010) afirmam que os veículos elétricos podem contribuir significativamente para a redução dos níveis de
ruído urbano para tráfegos com velocidades até 50km/h. CAMPELLO-VICENTE et al. (2017) estimaram
reduções da ordem de 9dB(A), para velocidade de tráfego de 10km/h, seguido de 4dB(A) para velocidades
de 20km/h, 2dB(A) para 30km/h e cerca de 1dB(A) para 40km/h. A partir de 50km/h, a principal fonte de
ruído passa a ser o atrito entre pneu e pavimento, extrapolando os níveis de ruído dos motores.
Conforme observado nas figuras 4 e 5, as velocidades aferidas nas rotas selecionadas para o presente
estudo apresentaram valores inferiores a 50km/h. Para a cidade de São Paulo, portanto, a adoção de veículos
elétricos poderia contribuir para a diminuição da incomodidade acústica dos ambientes urbanos.

5. CONCLUSÕES
O mapeamento sonoro é uma ferramenta fundamental para o diagnóstico do ruído em ambientes urbanos,
possibilitando o embasamento e subsídio às ações de planejamento e de gestão territorial futuras, buscando a
melhoria da qualidade acústica destes ambientes.
Neste sentido, os resultados deste estudo indicam uma redução no volume de automotores nas vias
monitoradas pela CET para o período considerado. Esta redução, no entanto, não é observada nos valores de
frota veicular para o mesmo período, levando a crer que pode haver uma influência de aplicativos de
navegação sobre a decisão de mudança de rotas por parte dos motoristas. Como consequência, existe uma
diminuição nos níveis de ruído de uma mesma via, porém com o incremento de níveis de ruído em vias
próximas, resulta em uma maior incomodidade sob o ponto de vista da acústica.
Este estudo mostrou que os dados disponibilizados pelas companhias de tráfego podem ser utilizados
como fonte de entrada de programas de simulação de propagação sonora, levando-se em consideração que
apenas algumas vias são descritas nos estudos disponibilizados à sociedade. Desta forma, mesmo se tratando
de dados oficiais de um órgão público, dependendo da região analisada ainda são necessários fatores de
correção para uma avaliação mais precisa dos níveis de ruído.

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341
PAISAGEM SONORA DE DUAS PRAÇAS DE BELO HORIZONTE (MG),
EM ESTAÇÕES DISTINTAS – VERÃO E INVERNO

Simone Queiroz da Silveira Hirashima (1); Lorena Cachuit Cardoso Mota (2); Eleonora Sad
de Assis (3)
(1) PhD, Professora do Departamento de Engenharia Civil, simoneqsh@civil.cefetmg.br
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Departamento de Engenharia Civil, Avenida
Amazonas, 7675, Nova Gameleira, Belo Horizonte–MG, 30510-000, Tel.: (31) 3319 6810
(2) Engenheira Civil, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
lorenacmota@outlook.com
(3) PhD, Professora do Departamento de Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo, elsad@ufmg.br
Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Arquitetura, Departamento de Tecnologia da Arquitetura e
do Urbanismo, Rua Paraíba, 697, Funcionários, Belo Horizonte–MG, 30130-140, Tel.: (31) 3409 8830

RESUMO
A qualidade de vida nas cidades está intrinsecamente relacionada ao conforto ambiental global que seus
habitantes vivenciam diariamente em seus espaços, o qual inclui a qualidade do ambiente sonoro dos recintos
urbanos. Os estudos de paisagem sonora são importantes ferramentas na análise dos ambientes sonoros ao
indicarem o conjunto de sons presentes em determinados locais e a forma como esses sons são percebidos,
entendidos e julgados pelos indivíduos daquela sociedade. O presente artigo tem como objetivo a
apresentação das respostas de usuários de espaços urbanos abertos com relação à descrição e à avaliação da
paisagem sonora local. Duas campanhas para coletas de dados foram realizadas em duas estações (verão e
inverno) do ano de 2013, em duas praças do município de Belo Horizonte, MG. Durante os levantamentos de
campo, dados acústicos foram medidos simultaneamente à aplicação de formulários, utilizados para coleta de
variáveis relativas à descrição (identificação dos sons) e à avaliação da paisagem sonora (classificação destes
sons como agradáveis ou desagradáveis). Os resultados demonstram a importância do estudo da paisagem
sonora na avaliação dos ambientes sonoros urbanos, devendo este abarcar a avaliação subjetiva
conjuntamente com a objetiva para fornecer subsídios para projetos na área de acústica urbana.
Palavras-chave: paisagem sonora, níveis sonoros urbanos, acústica urbana.

ABSTRACT
The quality of life in cities is intrinsically related to the global environmental comfort that its inhabitants
experience daily in their spaces, which includes the quality of the sound environment of the urban areas.
Soundscape studies are important tools in the analysis of sound environments by indicating the set of sounds
present in certain places and the way in which these sounds are perceived, understood and judged by the
individuals of that society. The present article aims to present and discuss the responses of users of open
urban spaces with regard to the description and analysis of the local soundscape, based on data collected in
two seasons (summer and winter) of the year 2013, in two squares of the municipality of Belo Horizonte,
MG. During the field surveys, acoustic data were measured simultaneously to the application of forms, used
to collect variables related to the description (identification of sounds) and to the evaluation of the
soundscape (classification of these sounds as pleasant or unpleasant). The results demonstrate the importance
of the study of the soundscape in the evaluation of the urban sound environments, which should encompass
the subjective together with the objective evaluation of sounds to provide subsidies for projects in the area of
urban acoustics.
Keywords: soundscape, urban sound levels, urban acoustic.

342
1. INTRODUÇÃO
O ambiente sonoro urbano é um importante indicador de qualidade de vida nos assentamentos urbanos
(PEREIRA, 2003; SZEREMETA, ZANNIN, 2009). O ruído, assim considerado o som indesejável, ou o som
inútil e sem informação relevante (FUCHS, 1975) - ou ainda o som desprovido de significado, constitui-se
um importante fator de degradação ambiental nas cidades, uma vez que influencia negativamente a saúde
humana e a qualidade de vida da população. Em Belo Horizonte, é crescente o número de queixas na
Prefeitura referentes à poluição sonora, sendo, aproximadamente, 26 reclamações recebidas por dia
(JORNAL ESTADO DE MINAS, 2019). Se, inicialmente, a influência do ruído sobre a qualidade de vida
urbana vinha sendo tradicionalmente estudada com foco nos efeitos negativos sobre o homem, tais como o
incômodo e a perturbação do sono, em momento posterior, o estudo das paisagens sonoras13 - abordagem
mais holística, que inclui aspectos positivos e negativos, bem como funções não-residenciais do ambiente
urbano – ganhou interesse renovado (BOTTELDOOREN et al., 2006).
O estudo da paisagem sonora representa, portanto, uma mudança de paradigma das políticas de
controle do ruído para uma nova abordagem multidisciplinar que envolve não apenas medições físicas
(aspectos objetivos), mas também a diversidade de sons das diferentes culturas e regiões (aspectos
subjetivos), com foco na forma como as pessoas percebem os sons no ambiente. Essa nova abordagem
considera os sons ambientes mais como “recursos” e menos como “resíduos” (KANG et al., 2016).
Em 2014, foi publicada a norma internacional ISO 12913-1 “Acoustics – Soundscape – Part 1:
Definition and conceptual framework”, a qual define o conceito de ambiente acústico, como sendo “os sons
que chegam ao receptor provenientes de todas as fontes sonoras, como modificados pelo ambiente”; e de
paisagem sonora, como “o ambiente acústico como percebido, ou experimentado e/ou entendido por uma
pessoa ou grupo de pessoas em um contexto” (ISO 12913-1, 2014). Essa norma traz ainda uma estrutura
conceitual da paisagem sonora, indicando os elementos presentes na sua construção perceptual e ressaltando
a importância do contexto em sua avaliação. A “Parte 2: Acoustics – Soundscape – Data collection and
reporting requirements” desta norma, foi recentemente publicada (ISO 12913-2, 2018).
Com relação ao ambiente acústico das cidades, de um modo generalizado, o aumento do trânsito de
veículos automotores tem contribuído significativamente para mudanças na paisagem sonora
(RAIMBAULT, DUBOIS, 2005). O trânsito representa a principal fonte de ruído ambiental urbano
(BJÖRKMAN et al., 1991; ZANNIN et al., 2003) e a principal fonte de incômodos em áreas urbanas
(GARCIA, FAUS, 1991; CALIXTO et al., 2003; MARTIN et al., 2011).
No contexto das paisagens sonoras, é importante estudar também a influência das diferentes estações
e épocas do ano na paisagem sonora, objeto de estudo do presente trabalho, uma vez que um estudo de Björk
(1994) conclui que a paisagem sonora, característica de uma determinada cidade, pode também variar
sazonalmente. Björk (1994) avaliou fontes de ruído em meio urbano nas diferentes estações, em Kuopio -
Finlândia, e encontrou diferenças tanto nos níveis de ruído quanto nos eventos sonoros de pico nas diferentes
estações. Segundo o autor, no inverno, há menos eventos sonoros de pico causados pelo trânsito, pois a
mobilidade das pessoas nesta estação é menor e os hábitos de direção são mais conservadores, devido às
pistas escorregadias. Nesta época do ano, a absorção do ruído pela neve também é significativa. Com relação
aos dias da semana, em geral, pouca diferença foi encontrada entre os padrões de níveis sonoros medidos de
segunda a sexta. Já Sommerhoff et al., (2004) concluíram que o nível de ruído não muda significativamente
durante as estações (inverno) ou durante os dias da semana (fim de semana), em Valdivia (Chile). Zhao et
al.(2018) investigaram, entre outros pontos, a diferença na paisagem sonora em uma rua comercial na China
no verão e o inverno. Os resultados mostraram que o nível de pressão sonora foi maior no inverno do que
verão apesar de não haver diferenças significativas do número de falantes nas duas estações. Além disso,
concluiu que, com o aumento da densidade de pessoas, o nível de pressão sonora aumentou 0,9 dBA a mais
no verão do que no inverno.
Apesar de a paisagem sonora ter começado a ser considerada como um campo de pesquisa no final
dos anos de 1960, essa área de pesquisa começou a receber significativa atenção somente a partir do ano de
2000, inicialmente por estudiosos das áreas de ruído comunitário e acústica ambiental e mais recentemente
por políticos e tomadores de decisão (KANG et al., 2016). Kang et al., (2016), em seu estudo apresenta um

13Em 1977, foi introduzido o termo Soundscape (traduzido nos países latinos por “Paisagem Sonora”) pelo músico e compositor
canadense R. Murray Schafer, que o definiu como “o nosso ambiente sonoro, o sempre presente conjunto de sons, agradáveis e
desagradáveis, fortes e fracos, ouvidos e ignorados, com os quais convivemos” (SCHAFER, 2001). O conceito de paisagem sonora
refere-se, então, ao ambiente sonoro, ou seja, às variações de sons, no espaço e no tempo, provocadas pela topografia do ambiente
natural, pelos edifícios e por suas diferentes fontes de som (GIDLÖF-GUNNARSSON-GUNNARSSON, ÖHRSTRÖM, 2007), com
ênfase na maneira como é percebido e entendido pelo indivíduo, ou pela sociedade (TRUAX, 1978).

343
gráfico que mostra o crescimento do número de estudos sobre paisagem sonora entre os anos de 2000 e 2015.
Este gráfico indica que o número de artigos científicos sobre paisagem sonora retornados em busca no banco
de dados Scopus®, segundo critérios específicos, em 2015, era de pouco mais de 100 (entre 100 e 120)
artigos (KANG et al., 2016). Um número ainda bem reduzido.
Dessa forma, tendo em vista a relevância do estudo da paisagem sonora para a qualidade de vida
urbana, o fato de a paisagem sonora ser um tema relativamente recente e ainda pouco explorado,
principalmente no cenário brasileiro, o presente trabalho aborda esse importante aspecto do conforto
ambiental. Espera-se, com os resultados deste estudo, contribuir para o esclarecimento de questões referentes
à paisagem sonora de Belo Horizonte - MG e à avaliação desta pela população local, nas diferentes épocas
do ano.

2. OBJETIVO
Apresentar e discutir a resposta de usuários de espaços urbanos abertos com relação à descrição
(identificação dos sons) e à análise da paisagem sonora (classificação desses sons como agradáveis ou
desagradáveis). As paisagens sonoras de duas praças do município de Belo Horizonte serão analisadas, sob
os aspectos objetivos e subjetivos, em duas estações distintas (verão e inverno).

3. MÉTODO
O método empregado neste trabalho está dividido em três etapas principais, descritas a seguir.

3.1. Etapa de planejamento


A etapa de planejamento iniciou-se com o processo de definição da amostra, que considerou a população
adulta (de 20 a 59 anos) e residente ininterruptamente há mais de um ano no município. Os entrevistados
também não deveriam apresentar visivelmente problemas de audição (uso de aparelhos auditivos) ou
nenhuma das situações previamente estabelecidas que poderiam vir a alterar a percepção de sensações
acústicas no momento das entrevistas (como, por exemplo, estar utilizando fones de ouvido ou estar falando
ao celular anteriormente à abordagem para a entrevista).
A seleção das áreas de estudo considerou a variabilidade de fontes sonoras, tendo, porém, o trânsito
de veículos como a principal fonte de ruído; o intenso fluxo de pessoas, com vistas a viabilizar a aplicação de
grande número de formulários e diferentes ambiências, associadas às diferentes percepções de conforto
global. As diferentes ambiências foram representadas por características contrastantes da morfologia urbana,
como arborização, fator de visão do céu, altura dos edifícios, tipo de cobertura do solo e presença de fontes
de água, e por diferentes usos predominantes do espaço – espaço de permanência (lazer) e espaço de
passagem (deslocamento). Diante destas características, optou-se pela realização dos levantamentos de
campo nas Praças da Liberdade e Sete de Setembro (Figuras 1 e 2).

Figura 1 – Praça da Liberdade. Figura 2 – Praça Sete de Setembro.

Em cada uma das praças, foram realizados levantamentos prévios de níveis de pressão sonora, com
vistas à definição dos pontos de medição. Dessa forma, objetivando o registro das variações nos níveis
sonoros espacialmente, dois pontos foram selecionados para a medição: um, no local de maior nível de
pressão sonora; e outro, no local de menor nível de pressão sonora.
Na definição da época do ano em que seriam realizados os levantamentos de campo, considerou-se a
possibilidade de se obter diferentes respostas com relação à ocorrência de sons ambientais nas diferentes
estações do ano, conforme estudo de Björk (1994), mencionado anteriormente. Desta forma, a etapa de
coleta de dados ocorreu nos meses de março (verão) e julho (inverno) de 2013.

344
Na etapa de planejamento também foram definidas as variáveis a serem coletadas: variáveis
acústicas (níveis de pressão sonora equivalentes contínuos, medidos na curva de ponderação A, durante 1
minuto – LAeq,1min) e variáveis relacionadas à paisagem sonora local (identificação dos sons e julgamento
destes quanto aos aspectos de agradabilidade e desagradabilidade). A utilização do LAeq, 1min foi
determinada considerando os trabalhos de Yang e Kang (2005a) e Kang e Zhang (2010) e a duração da
aplicação dos questionários.
A elaboração das questões do formulário foi embasada no estudo de Pereira (2003), que utilizou uma
metodologia testada e validada pelo Groupe de Recherche Environnement et Conception – GRECO para o
projeto SagaCités. Nessas questões, solicita-se aos entrevistados, por meio de questões abertas, que
identifiquem sons presentes no ambiente sonoro e que indiquem sons agradáveis e desagradáveis. As
respostas a essas questões foram codificadas, pelos entrevistadores, em 10 (dez) categorias das fontes
sonoras citadas (Tabela 1), com base na primeira evocação, como na metodologia utilizada por Pereira
(2003). As categorias foram estabelecidas tendo como base os estudos de Schafer (2001) e de Szeremeta e
Zannin (2009).

Tabela 1 – Identificação dos sons e julgamento destes quanto aos aspectos de agradabilidade e desagradabilidade (HIRASHIMA,
2014).
Variáveis Questões Categorias de resposta
Com relação aos sons que você está [1] Nenhum/Não
Identificação de sons ouvindo, quais deles você consegue [2] Silêncio
identificar? [3] Trânsito
[4] Sons Humanos
Julgamento de sons quanto a sua Há algum som específico no momento [5] Sons Naturais
agradabilidade que você considera agradável? [6] Sons de Animais
[7] Sons Mecânicos
Julgamento de sons quanto a sua Há algum som específico no momento [8] Sons Musicais
desagradabilidade que você considera desagradável? [9] Sinalização/comunicação
[10] Outros

A escolha dos instrumentos de medição e também os procedimentos utilizados para obtenção das
variáveis medidas observaram as recomendações da norma NBR 10.151 (2000). Anteriormente à realização
dos levantamentos de campo, todos os instrumentos de medição utilizados foram calibrados e aferidos, assim
como os formulários e os procedimentos gerais de coleta de dados foram testados por meio de pesquisas
exploratórias e pré-testes realizados em campo. Ambos os levantamentos de campo foram precedidos de
treinamento da equipe.

3.2. Etapa de coleta de dados


A etapa de coleta de dados ocorreu em dois dias dos meses de março (verão) e julho (inverno) de 2013, um
dia em cada praça, em cada uma das estações: dias 11 de março de 2013, na Praça da Liberdade, e 13 de
março de 2013, na Praça Sete de Setembro; e dias 08 de julho de 2013, na Praça da Liberdade, e 09 de julho
de 2013, na Praça Sete de Setembro. Em todos os dias, a coleta de dados ocorreu no período das 7 às 17h. Os
instrumentos de medição (medidores de níveis de pressão sonora – marca HOMIS, modelo SL-401) foram
montados em tripés, a 1,2m do piso, e a, pelo menos, 2m de quaisquer superfícies refletoras, como muros,
paredes, entre outros. Não foram realizadas medições na ocorrência de chuvas, trovoadas ou quaisquer outros
fenômenos da natureza que pudessem causar interferências audíveis durante os registros. Anteriormente aos
trabalhos de campo, os medidores de pressão sonora foram devidamente ajustados com o calibrador acústico,
sendo o mesmo procedimento realizado após a coleta de dados, para conferência da calibração do
equipamento. Os valores de LAeq, 1min foram registrados a cada 5 minutos.

3.3. Etapa de tratamento dos dados coletados


A etapa de tratamento dos dados coletados iniciou-se com a digitalização dos dados obtidos em campo por
meio dos formulários aplicados. A análise descritiva apresentada neste artigo foi realizada por meio da
utilização de planilhas do Microsoft Excel®.

4. RESULTADOS
A seguir serão apresentados e analisados os resultados obtidos com a aplicação de um total de 1.693
formulários válidos: 748 na Praça da Liberdade e 945 na Praça Sete de Setembro.

345
4.1. Medições dos níveis sonoros
Os valores dos níveis sonoros medidos em ambas as praças, durante os levantamentos de campo de verão e
de inverno, são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 – Valores dos níveis de pressão sonora equivalentes -1min- ponderados na curva A (LAeq, 1min) para os levantamentos de
campo de verão e de inverno.
Março (Verão) Julho (Inverno)
Praça Sete de Praça Sete de
Praça da Liberdade Praça da Liberdade
Setembro Setembro
LAeq,1m LAeq,1m LAeq,1m LAeq,1m LAeq,1m LAeq,1m LAeq,1mi LAeq,1m
in dB(A) in dB(A) in dB(A) in dB(A) in dB(A) in dB(A) n dB(A) in dB(A)
(Ponto de (Ponto de (Ponto de (Ponto de (Ponto de (Ponto de (Ponto de (Ponto de
menor maior menor maior menor maior menor maior
NPS) NPS) NPS) NPS) NPS) NPS) NPS) NPS)
Minimo 57,3 59,6 66,7 70,4 57,0 59,3 65,1 69,8
Média Logarítmica
dos valores de
LAeq,1min, 60,6 62,2 71,3 76,0 62,2 63,8 71,1 73,7
considerando as 10h
de medição
Máximo 64,7 66,7 80,2 95 68,6 68,9 78,0 79,8
Amplitude 7,4 7,1 13,5 24,6 11,6 9,6 12,9 10,0
DP 1,4 1,5 2,4 3,5 2,2 1,9 2,9 1,9
CV (%) 2,3 2,4 3,4 4,5 3,5 3,0 4,1 2,5
Fonte: Hirashima, 2014.

Com relação aos valores do LAeq, 1min medidos, em março e julho, os valores mais elevados foram
registrados na Praça Sete de Setembro. Nota-se que, na Praça da Liberdade, além de os valores da média
logarítmica dos LAeq,1min, considerando as 10h de medição, serem mais baixos para ambos os pontos de
medição, a menor amplitude dos valores medidos mostra que o nível sonoro não é tão variável quanto na
Praça Sete de Setembro, na qual a amplitude dos valores medidos foi maior, indicando uma maior
variabilidade dos níveis sonoros, e na qual também os valores da média logarítmica dos LAeq,1min,
considerando as 10h de medição, foram bastante elevados.
Nota-se, ainda, que os níveis sonoros das duas praças apresentam diferenças significativas entre si,
em ambas as estações: por exemplo, ao se comparar os níveis sonoros medidos na Praça da Liberdade com
os medidos na Praça Sete de Setembro, no verão; e ao se comparar os níveis sonoros medidos na Praça da
Liberdade com os medidos na Praça Sete de Setembro, no inverno. Porém, a comparação dos níveis sonoros
medidos nas mesmas praças em cada uma das estações não apresenta diferenças significativas: por exemplo,
ao se comparar os níveis sonoros medidos na Praça da Liberdade, no verão e no inverno; e na Praça Sete de
Setembro, no verão e no inverno.
Na Praça da Liberdade, os valores medidos em campo oscilaram em torno dos 60dB(A), estando, em
grande parte do período considerado, um pouco acima deste valor – 60dB(A), que é o limite diurno
estabelecido para conforto acústico em ambientes externos pela NBR 10.151 (ABNT, 2000), para área mista,
com vocação comercial e administrativa. Já na Praça Sete de Setembro, os valores medidos oscilam na faixa
entre 65 e 80dB(A), representando níveis sonoros acima desse mesmo limite estabelecido pela NBR 10.151
(ABNT, 2000).

4.2. Identificação dos sons


As Figuras 3 e 4 apresentam os gráficos referentes à resposta dos usuários, para cada um dos levantamentos
de campo e para ambas as praças analisadas, com relação à identificação dos sons.
Com relação à identificação dos sons nos levantamentos de campo de março - verão, ao se considerar
carros e ônibus na mesma categoria de trânsito, o trânsito responde por 84,4%, na Praça da Liberdade, e por
62%, na Praça Sete de Setembro, das evocações espontâneas referentes à identificação dos sons no momento
da entrevista. Ressalta-se que pouquíssimos sons naturais, como o de pássaros, vento, folhas foram
identificados na Praça Sete de Setembro.

346
Figura 3 - Principais sons identificados pelos entrevistados nas praças durante o
levantamento de março – verão (HIRASHIMA, 2014).

Figura 4 – Principais sons identificados pelos entrevistados nas praças durante o levantamento de julho – inverno
(HIRASHIMA, 2014).

No levantamento de campo de julho - inverno, ao se considerar carros, ônibus e buzina na mesma


categoria de trânsito, o trânsito responde por 75%, na Praça da Liberdade, e por 53,9%, na Praça Sete de
Setembro, das evocações espontâneas referentes à identificação dos sons no momento da entrevista.
Ressalta-se que, assim como no levantamento de campo de verão, pouquíssimos sons naturais, como o de
pássaros, vento, folhas foram identificados na Praça Sete de Setembro.
Com relação à paisagem sonora em cada uma das diferentes estações, considerando os dados de
ambas as praças, nota-se que, no verão, foram identificados mais sons provenientes do trânsito de veículos e
mais sons musicais (música de rua) do que no inverno; enquanto que, no inverno, foram identificados mais
sons humanos (conversas e fala ao microfone) e naturais (pássaros, fontes de água) do que no verão.
Com relação à paisagem sonora em cada uma das diferentes praças, considerando os dados de ambas
as estações, observa-se que, na Praça da Liberdade, foram identificados mais sons provenientes do trânsito
de veículos e mais sons naturais (pássaros, fontes de água), enquanto que, na Praça Sete de Setembro, foram
identificados mais sons humanos (conversas e fala ao microfone) e música de rua do que na Praça da
Liberdade.
Considerando a resposta dos usuários com relação à identificação dos sons (em ambas as praças e em
ambas as estações), e em conformidade com os estudos mencionados na Introdução, nota-se que realmente o
trânsito de veículos automotores tem contribuído significativamente para mudanças na paisagem sonora e na
percepção desta pelos pedestres. Apesar de os sons provenientes do trânsito de veículos terem sido
mencionados com mais frequência no verão (do que no inverno) e na Praça da Liberdade (do que na Praça
Sete de Setembro), o trânsito de veículos automotores é a principal fonte de ruído ambiental identificada em
ambas as praças analisadas, e em ambas as estações, sendo, portanto, um importante contribuidor para o
ambiente sonoro urbano.

4.3. Classificação dos sons como agradáveis


As Figuras 5 e 6 apresentam a resposta dos usuários, para ambos os levantamentos de campo, para ambas as
praças analisadas, com relação à classificação dos sons percebidos como agradáveis.

347
Figura 5 – Principais sons agradáveis identificados pelos entrevistados nas praças durante o levantamento de verão
(HIRASHIMA, 2014).

Figura 6 – Principais sons agradáveis identificados pelos entrevistados nas praças durante o levantamento de inverno
(HIRASHIMA, 2014).

No levantamento de campo de março - verão, com relação aos sons considerados agradáveis, as
respostas dos entrevistados chamam muita atenção, uma vez que a maioria deles não identificou nenhum
som agradável na Praça Sete de Setembro e, da mesma forma, quase 1/3 deles não identificou nenhum som
agradável na Praça da Liberdade. Em primeiro lugar na Praça da Liberdade o som dos pássaros foi apontado
como agradável por 38,4% dos entrevistados, enquanto na Praça Sete de Setembro esse som foi apontado por
apenas 0,8% dos entrevistados.
No levantamento de campo de julho - inverno, com relação aos sons considerados agradáveis,
novamente a maioria dos entrevistados (93,4%) não identificou nenhum som agradável na Praça Sete de
Setembro e, da mesma forma, na Praça da Liberdade, quase 16% dos entrevistados não identificou nenhum
som agradável. Outra vez também, assim como no levantamento de campo de verão, em primeiro lugar na
Praça da Liberdade o som dos pássaros foi apontado como agradável por 46% dos entrevistados, enquanto na
Praça Sete de Setembro esse som foi apontado por apenas 0,6% dos entrevistados.
Com relação à classificação dos sons como agradáveis em cada uma das diferentes estações,
considerando os dados de ambas as praças, nota-se que, no verão, houve uma proporção maior de indivíduos
que citaram como sons agradáveis os musicais (música de rua), enquanto que, no inverno, houve uma
proporção maior de indivíduos que mencionaram como sons agradáveis a opção “nenhum” e os sons naturais
(pássaros, fontes de água e outros).
Com relação à classificação dos sons como agradáveis em cada uma das diferentes praças,
considerando os dados de ambas as estações, observa-se que, na Praça da Liberdade houve uma proporção
maior de indivíduos que mencionaram os sons naturais (pássaros, fontes de água e outros sons naturais). Já
na Praça Sete de Setembro, houve uma proporção maior de indivíduos que mencionaram como sons
agradáveis a opção “nenhum”, seguida dos sons humanos (música de rua e conversas).
Ressalta-se que a opção “nenhum/não”, apesar de ter sido a resposta mais frequente em ambas as
estações (com maior número de citações no inverno do que no verão), não foi a resposta mais frequente em

348
ambas as praças. Na Praça Sete de Setembro, a opção “nenhum/não” foi a mais frequentemente mencionada.
Porém, na Praça da Liberdade, as respostas referentes aos sons naturais (pássaros, fontes de água, entre
outros) preponderam.

4.4. Classificação dos sons como desagradáveis


A seguir são apresentados os gráficos referentes à resposta dos usuários, para ambos os levantamentos de
campo, para ambas as praças analisadas, com relação à classificação dos sons percebidos como
desagradáveis (Figuras 7 e 8).

Figura 7 – Principais sons desagradáveis identificados pelos entrevistados nas praças durante o levantamento de verão
(HIRASHIMA, 2014).

Ao serem questionados sobre os sons considerados desagradáveis, no levantamento de campo de


março - verão, os entrevistados das duas praças concordaram com relação ao principal som desagradável: o
som do trânsito que, de uma maneira geral, foi apontado por 74,7% dos entrevistados na Praça da Liberdade
e por 53,8% dos entrevistados na Praça Sete de Setembro. A opção nenhum foi citada por 20,3% dos
entrevistados na Praça da Liberdade e por 18,9%, na Praça Sete de Setembro. Na Praça Sete de Setembro,
foram também apontados como sons desagradáveis aqueles provenientes de conversas, música de rua e de
lojas, sons mecânicos, gritos, fala ao microfone, dentre outros.
No levantamento de campo de julho - inverno, ao serem questionados sobre os sons considerados
desagradáveis, os entrevistados das duas praças concordaram com relação ao principal som desagradável: o
som do trânsito que, de uma maneira geral, foi apontado por 58% dos entrevistados na Praça da Liberdade e
por 42% dos entrevistados na Praça Sete de Setembro. A opção nenhum foi citada por 14% dos entrevistados
na Praça da Liberdade e por 13%, na Praça Sete de Setembro. Em ambas as praças, foram também apontados
como sons desagradáveis aqueles provenientes de conversas e gritos, dentre outros.

Figura 8 – Principais sons desagradáveis identificados pelos entrevistados nas praças, levantamento de inverno
(HIRASHIMA, 2014).
Com relação à classificação dos sons como desagradáveis em cada uma das diferentes estações,
considerando os dados de ambas as praças, nota-se que, no verão, houve uma proporção maior de indivíduos
que julgaram que os sons desagradáveis foram os de trânsito, enquanto que, no inverno, houve uma

349
proporção maior de indivíduos que julgaram que os sons desagradáveis foram os humanos. A opção
“nenhum” foi mais frequente no verão do que no inverno.
Com relação à classificação dos sons como desagradáveis em cada uma das diferentes praças,
considerando os dados de ambas as estações, observa-se que, na Praça da Liberdade houve uma proporção
maior de indivíduos que mencionaram os sons de trânsito e a opção “nenhum”. Já na Praça Sete de
Setembro, houve uma proporção maior de indivíduos que mencionaram como sons desagradáveis os sons
humanos (conversas, música de rua e gritos).
Considerando a resposta dos usuários com relação à classificação dos sons como desagradáveis (em
ambas as praças e em ambas as estações), nota-se que, apesar de os sons provenientes do trânsito de veículos
terem sido mencionados com mais frequência no verão (do que no inverno) e na Praça da Liberdade (do que
na Praça Sete de Setembro), o trânsito de veículos automotores é o som mais frequentemente citado como
desagradável em ambas as praças analisadas, e em ambas as estações.

5. CONCLUSÕES
Os resultados demonstram que, a comparação dos níveis sonoros medidos nas mesmas praças em cada uma
das estações – verão e inverno - não apresenta diferenças significativas. Uma detalhada descrição da
paisagem sonora das praças foi apresentada, separada por estações do ano (verão e inverno). O trânsito de
veículos automotores é a principal fonte de ruído ambiental identificada em ambas as praças analisadas, e em
ambas as estações, sendo, portanto, um importante contribuidor para o ambiente sonoro urbano. O trânsito de
veículos é também o som mais frequentemente citado como desagradável em ambas as praças analisadas, e
em ambas as estações. Os sons naturais (pássaros, fontes de água, entre outros) e os sons musicais são
mencionados com frequência como sons agradáveis. Notavelmente, na praça Sete de Setembro, onde foi alta
a porcentagem de respostas “nenhum” à pergunta sobre os sons agradáveis, os valores medidos de ruído
ambiente representam níveis sonoros acima do limite estabelecido para conforto acústico em ambientes
externos pela NBR 10.151 (ABNT, 2000). No caso específico do presente estudo, como medidas de
planejamento para um ambiente sonoro de melhor qualidade, sugere-se, para ambas as praças estudadas, na
medida do possível, a redução do ruído proveniente do trânsito de veículos, buscando o ajuste do ruído
ambiente aos padrões das normas de conforto acústico urbano. Essa redução pode ser viabilizada por meio da
adoção de medidas de gerenciamento do tráfego rodoviário como as mudanças no fluxo de veículos e as
mudanças de rotas, dentre outras, ou por meio de medidas como: substituição de pavimentos, adequado
posicionamento das áreas de permanência em relação às principais fontes de ruído, dentre outras. Porém, no
contexto da qualidade do ambiente sonoro, a garantia de um ambiente saudável e confortável do ponto de
vista acústico, não depende unicamente da aplicação da legislação pertinente visando à redução dos níveis de
pressão sonora, da obtenção do “silêncio”, mas também de conseguir espaços com qualidade sonora,
agradáveis, confortáveis. Tendo em vista essa vertente, sugere-se também a inserção de sons avaliados de
maneira positiva pelos usuários (sons considerados agradáveis) – como os sons provenientes de fontes
d’água, música, sons de pássaros e animais, marcos sonoros, dentre outros, assim como a utilização de
vegetação. Portanto, assim como a landscape, o soundscape precisa ser planejado, projetado, tendo sempre
em mente que, conforme ressaltado por Rychtáriková e Vermeir (2013), os requisitos para o projeto da
paisagem sonora desejável devem ser embasados em pesquisas sociológicas as quais reflitam as expectativas
dos principais usuários da área urbana. Espera-se, portanto, que os resultados deste estudo contribuam como
embasamento para a tomada de decisões no sentido de apoiar políticas municipais de redução dos sons
julgados desagradáveis pela população, por meio da implantação de medidas de planejamento e controle, e
de estimular a inserção e a preservação de sons considerados positivos pela população de Belo Horizonte.
Espera-se, por fim, que essas considerações possam vir a contribuir para a construção de paisagens sonoras
de melhor qualidade, refletindo no conforto acústico, e consequentemente, melhorando a qualidade de vida
dos usuários dos espaços urbanos de Belo Horizonte.

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351
PERFIL DA POLUIÇÃO SONORA DURANTE OS ANOS DE 2016 A 2018 NA
CIDADE DE MACEIÓ – AL
Stella Oliveira (1); Carine Barbosa (2); Aleksa Brandão (3); Arthur Martins (4); Maria Lucia
Oiticica (5)
(1) Arquiteta, graduada em arquitetura e urbanismo, stellarosane@gmail.com, UFAL, 98752-7875
(2) Estudante de arquitetura e urbanismo, carinebalexandre@gmail.com, UFAL, 99810-0824
(3) Estudante de arquitetura e urbanismo, aleksabrandao@gmail.com, UFAL, 99808-8820
(4) Estudante de arquitetura e urbanismo, arthurdd96@gmail.com, UFAL, 99665-1602
(5) Professora Drª da faculdade de Arquitetura e Urbanismo, mloiticica@hotmail.com, UFAL, 99982-3775
Universidade Federal de Alagoas, Centro de Tecnologia, Departamento de Arquitetura e Urbanismo,
Campus A. C. Simões, Tabuleiro dos Martins, CEP 57072-970, Maceió-AL

RESUMO
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição sonora e foi classificada como a
segunda causadora de poluição ambiental no mundo. Com a preocupação no controle do meio ambiente, a
Secretaria de Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente (SEDET) na cidade de Maceió-AL o órgão
municipal é responsável por receber as denúncias realizadas e fiscalizar os poluentes ambientais. O presente
trabalho objetivou-se a continuar o levantamento de denúncias e caracterizar o perfil da poluição sonora de
Maceió – AL, nos anos de 2016 a 2018 e confrontar os dados obtidos com os levantamentos já realizados
anteriormente durante o período de 2011 a 2015. O estudo visa gerar subsídios para os órgãos municipais
responsáveis pelo combate à poluição sonora, aplicando a metodologia na análise de 2.234 denúncias,
classificadas por tipo de poluição-alvo, frequência por mês e por ano, fonte emissora de ruído e localização
nos bairros da capital alagoana. Os dados obtidos nos períodos estabelecidos expõem o bairro da Ponta
Verde como o principal foco de poluição sonora, causada majoritariamente por bares e casas noturnas. A
segunda maior concentração de denúncias foi registrada no Tabuleiro dos Martins, em que tiveram também
como focos de reclamação os bares e estabelecimentos comerciais. É perceptível a necessidade de
fiscalização ostensiva na cidade de Maceió influencia na diminuição significativa dos índices de denúncias
realizadas pela população e a necessidade da reestruturação no modo como se aplicam as normas acústicas e
reforçam a urgência de campanhas de conscientização e de prevenção à poluição sonora.
Palavras-chave: Poluição sonora, denúncias, perfil sonoro, Maceió.

ABSTRACT
According to the World Health Organization (WHO), noise pollution and was ranked as the second cause of
environmental pollution in the world. With the concern in the control of the environment, the Ministry of
environment and Territorial Development (SEDET) in the city of Maceió-AL, the municipal body is
responsible for receiving complaints and monitor environmental pollutants. The present work aimed to
continue the survey of complaints and to characterize the noise profile of Maceió-AL, in the years 2016 to
2018 and confront the data obtained from the surveys already carried out previously during the period of
2011 to 2015. The study aims to generate subsidies to the municipal bodies responsible for combating noise
pollution by applying the methodology on 2,234 analysis reports, classified by type of target pollution, per
month and per year, source of noise and location in neighborhoods of the capital of Alagoas. The data
obtained in periods expose the Ponta Verde district as the main focus of noise pollution, caused mainly by
bars and nightclubs. The second largest concentration of complaints was registered on the Tabuleiro dos
Martins, who had also as sources of complaint the bars and shops. It is noticeable the need overt surveillance
in the city of Maceió influences in the significant decrease of complaints carried out by the population and
the need for restructuring the way acoustic standards apply and reinforce the urgency awareness campaigns
and prevention of noise pollution.
Keywords: Noise polution, complaints, sound profile, Maceió.

352
1. INTRODUÇÃO
O ruído é um dos problemas resultantes do funcionamento da cidade, causando efeitos negativos para a
saúde humana como: dificuldade em repousar, perda de privacidade, trauma auditivo, alterações nos
batimentos cardíacos e até prejuízo econômico (MARCELO, 2006).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), EM 2003 os problemas como a poluição
do ar, das águas e, por sequência, a poluição sonora são problemas recorrentes nas grandes cidades (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2003).
Estudos realizados por Lacerda et al (2005), na cidade de Curitiba sobre o ambiente urbano e
percepção quanto ao incomodo de poluição sonora, o tráfego de veículos foi considerado a principal fonte de
ruído tanto para homens (31,28%) quanto para mulheres (29,18%) (Quadro 1).
Quadro 1 - Ruídos que incomodam segundo os participantes (LACERDA et al, 2005)
Tipos de ruídos Feminino Masculino
Trânsito 336 (29,14) 259 (31,28)
Vizinhos 172 (14,91) 123 (14,85)
Templos religiosos 31 (2,68) 27 (3,26)
Casas noturnas 44 (3,81) 17 (2,05)
Construção civil 117 (10,14) 70 (8,45)
Animais 96 (8,32) 94 (11,35)
Sirenes 127 (11,01) 81 (9,78)
Eletrodomésticos 77 (6,67) 39 (4,71)
Brinquedos infantis 48 (4,16) 28 (3,38)
Fogos de artifício 70 (6,07) 58 (7,00)
Outros 35 (3,03) 32 (3,86)
Todos 1153 (100%) 828(100%)
Em pesquisas realizadas no Rio de Janeiro por Niemeyer (2013) confirmaram que o tráfego urbano
tem contribuído para a poluição sonora além do crescimento sem controle e falta de planejamento urbano das
cidades. Para facilitar a adoção de medidas de combate à poluição sonora, a União Europeia determinou, no
final do século XX, que os países e cidades deveriam se responsabilizar pelo controle do ruído ambiental de
suas respectivas áreas.
Em meio a esse contexto foi instituída, pelo Parlamento Europeu e Conselho da União Europeia, a
Diretiva 2002/49/CE, relativa à avaliação e gestão do ruído ambiental. O principal objetivo dessa Diretiva é
definir uma abordagem comum para evitar, prevenir ou reduzir, numa base prioritária, os efeitos prejudiciais
da exposição ao ruído ambiente, incluindo o incômodo dela decorrente (DIRECTIVE 2002/49/EC, 2002).
No Brasil, a lei que predomina em vigor é a NBR 10151 (ABNT, 2000) que define os valores
aceitáveis em dB (A) considerados aceitáveis para ambientes externos que variam entre 35 e 70 dB (A),
considerando os níveis adequados para a preservação da saúde da população durante os períodos do dia.
A cidade precursora no combate à poluição sonora foi à cidade de Fortaleza – Ceará. Os seus estudos
e levantamentos retratam a produção da primeira carta de ruído no Brasil, que identifica as fontes emissoras
de ruído e suas categorizações.
Atualmente, na cidade de São Paulo foi sancionada a Lei 16.499/2016 que oficializa o mapeamento
das emissões sonoras, criando bases concretas para a revisão e aperfeiçoamento da defasada legislação sobre
ruído na cidade, como uma ferramenta de apoio às decisões para o planejamento e ordenamento urbano com
vistas à gestão de ruído na cidade, com identificação de áreas prioritárias para redução de ruídos e
preservação de zonas com níveis sonoros apropriados.
Esse estudo motivou outras cidades a procurarem gerenciar o controle da poluição sonora, onde,
hoje, a cidade de Maceió através do Grupo de Estudos do Ambiente Sonoro (GEAS) da FAU-UFAL realiza
sua carta sonora a qual visa auxiliar na elaboração de medidas para atenuar e precaver a poluição sonora na
cidade (ALENCAR et al., 2012) e gerar contribuições aos órgãos municipais responsáveis ao combate à
poluição sonora assim como é constituído pelo Estatuto das Cidades.
Este trabalho é a continuação do estudo para apurar a situação da poluição sonora em Maceió. Na
capital alagoana, a Secretaria de Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente (SEDET) recebe denúncias
referentes a ruído, ano a ano, mas conta com um sistema deficiente de registro e averiguação de queixas. No
levantamento de dados referente ao trabalho de campo, foram verificadas algumas falhas significativas na
fiscalização e monitoramento das denúncias no item referente a poluição sonora estudadas, o que implica nas
altas taxas de reincidência apresentadas por alguns agentes poluidores.

353
2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é caracterizar o perfil da poluição sonora na cidade de Maceió-AL, mediante o
levantamento de ocorrências registradas das denúncias de poluição ambiental e sonora na Secretaria de
Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente (SEDET) entre os anos de 2011 e 2018. O estudo visa gerar
subsídios para os órgãos municipais responsáveis pelo combate à poluição sonora, conforme estabelecido no
Estatuto das Cidades e assim, monitorar a problemática desde 2011.

3. MÉTODO
Os procedimentos metodológicos foram divididos em três etapas.
1. Visita ao órgão responsável pela apuração de denúncias de poluição na cidade de Maceió;
2. Levantamento de dados da poluição de 2016 a 2018;
3. Seleção da amostra de denúncias;
4. Análise e classificação das denúncias.
3.1. Levantamento das denúncias
Maceió possui aproximadamente 1 milhão de habitantes e é divida em 50 bairros (Figura 1), possuindo oito
zonas de acordo com a ocupação do solo. A única norma que trata da poluição sonora em Maceió é o Código
de Urbanismo e Edificações do Município de Maceió (Artigo 305), que define como obrigatório o tratamento
acústico em qualquer local com apresentações musicais, folclórica, artísticas ou culturais, entre outras e o
Código de Postura do Município de Maceió.

Figura 1 – Mapa do Brasil e Alagas com a localização da cidade de Maceió

Em um breve histórico, no ano de 2016 houve a junção da Secretaria Municipal de Planejamento e


Meio Ambiente (SEMPMA) para a Secretaria de Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente (SEDET),
com essa modificação, a atual secretaria responsável iniciou o processo de fiscalização e autuação de
empreendimentos que apresentaram reclamações por parte da população.
De acordo com o Coordenador de Fiscalização da SEDET – José Soares Barbosa, órgão está atuando
ativamente nas reclamações e principalmente em ações afirmativas junto aos proprietários que receberam as
denúncias para que haja o devido tratamento acústico de acordo com a demanda exigida.
A comunicação entre a Secretaria e os acusados ocorre a partir da comprovação in loco com uso de
decibelímetro e assim ser aplicada a Lei municipal 4.548/96, Art. 34 onde a multa é aplicada de acordo com
o porte do empreendimento e com a falta de licença ambiental do mesmo.
Visitas foram realizadas para o levantamento de dados referentes às denúncias na Secretaria de
Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente (SEDET) e atualmente o órgão municipal onde são
registradas as denúncias ambientais da cidade de Maceió-AL. O procedimento de recebimento das denúncias
é feito pessoalmente ou através do telefone e são encaminhadas a um fiscal, que vai ao local aferir a
veracidade da queixa. Depois de registrada a denúncia, pode ser feita uma notificação, autuação ou interdição
do local.

3.2 Levantamento de dados da poluição sonora existentes


Nos anos de 2011 a 2015, foram efetivados estudos do perfil da poluição sonora na cidade de Maceió com os
materiais coletados na Secretaria Municipal de Planejamento e Meio Ambiente (SEMPMA), órgão
responsável pelas denúncias na ocasião. O estudo foi produzido por conta do reconhecimento que a
Organização Mundial da Saúde (OMS) deu para poluição sonora, sendo a segunda maior causadora de
poluição no mundo (WHO, 2003).

354
Os estudos foram realizados através de visitas ao órgão coletor das acusações relacionadas à poluição
sonora para a contabilização delas. Nos resultados dos dados, referente aos anos 2011 e 2012. A poluição
sonora caracterizou-se com 37% e 26% do total das denúncias por poluição sonora respectivamente.
Nesses primeiros anos de levantamentos 2011 a 2012, foi concluído que por haver uma queda de
denuncia nos meses de dezembro e janeiro, meses de festividades, ocorreu uma busca da população por lazer
e descanso fora da cidade.
Com relação às fontes emissoras de ruído, foi averiguada uma variedade nos tipos dessas fontes,
durante os dois anos em Maceió. A fonte principal indicada nos anos estudados foram os estabelecimentos
comerciais. Em 2011, 28 bairros da capital alagoana sofreram queixas, enquanto em 2012, o número
ascendeu para 37. O bairro do Centro foi evidenciado nas denúncias, juntamente com o bairro da Jatiúca,
exatamente pelo fato deles abrigarem muitos espaços com atividades comerciais, além de que muitas
edificações possuem uso misto no bairro. Na figura 2, tem-se melhor visualização da análise do estudo dos
dois anos.

Figura 2 – Bairros de Maceió e a poluição sonora (ALENCAR et al., 2012)

Nos anos de 2013, 2014 e 2015, foi observado que a poluição sonora obteve destaque com o segundo
lugar das reclamações, atingindo de 21,2 %, 22% e 20% respectivamente. Os tipos de poluições ambientais
detectadas com maior constância de ocorrências de denúncias nos anos de 2013 a 2015 foram à poluição
hídrica, a poluição sonora e a poluição atmosférica, respectivamente.
Observando os 50 bairros da cidade de Maceió, 24 (vinte e quatro) deles são destacados nos
formulários de denúncias sobre a poluição sonora. Em 2013, 24 bairros se destacaram, e 53 ocorrências. Os
bairros da Ponta Verde, Benedito Bentes e Antares foram os principais focos das denúncias, com 18 queixas,
somados entre os três. Na Figura 3, é possível visualizar os bairros que receberam denúncias referentes à
poluição sonora a partir de 2013 até 2015. Este fato explica-se pelo aumento do mercado imobiliário nessas
regiões.

2015
2014
2013

Figura 3 – Bairros de Maceió e a poluição sonora (FIRMINO, 2016)

355
3.3. Seleção da amostra de denúncias
O estudo para criação de um perfil sonoro para a cidade de Maceió é apresentado na amostra de denúncias
coletadas em visitas junto à Secretaria, no período de janeiro a dezembro de 2016 e 2018. Os formulários de
denúncia tiveram que ser fotografados, visto que a SEDET não possui um banco de dados informatizado
disponível para consulta, nem qualquer relatório sobre poluição na capital.
A figura 4 apresenta o formulário de denúncias que se compõem de informações sobre o
denunciante, a atividade denunciada (localização da atividade, bairro, ponto de referência, denunciado e
atividade), e o tipo da denúncia (poluição hídrica, poluição por resíduos sólidos, mortandade de peixes,
extração de barro, construção irregular, corte de árvores, pesca predatória, poluição sonora, poluição
atmosférica, extração de areia, aterros, corte de mangues, queimadas e/ou outros). Com base nesse
formulário foi possível extrair todas as informações pertinentes referenciando a poluição sonora.

Figura 4 - Formulário padrão de Denúncia

3.4. Análise e classificação das denúncias


As denúncias foram separadas por uma tabela elaborada com as denúncias por ano, na segunda coluna
gráficos apresentando os tipos de poluição e atividades poluidoras.
Através dos gráficos, foram comparadas as informações nos anos de 2011 a 2018 para diagnosticar o
perfil da poluição sonora. O estudo foi restringido pela quantidade de dados proveniente nos formulários
elaborados pela SEDET, os quais não possuíam dados necessários para realização de um estudo
aprofundado, como por exemplo, a medição feita no local da denúncia.

4. RESULTADOS
Os resultados apresentados serão discutidos a partir do levantamento das denúncias com auxilio de gráficos e
mapas explicativos.
4.1. Denúncias de poluição ambiental
Em 2016 (Tabela 1), três tipos de poluições foram detectadas como as mais frequentes foram elas: poluição
hídrica (55%), poluição sonora (19%) e poluição atmosférica (5%). A poluição sonora no nesse ano de 2016
apresentou 19% das queixas registradas pela secretaria, sendo o equivalente a 38 registros das denúncias.
Nos registros de 2017 (Tabela 1.19), aumentou o número de denúncias referentes aos tipos de
poluição sonora mencionados acima (de 38 para 40), o que representou 19% do total de queixa de poluição,
havendo um leve aumento em número absoluto. Em 2018 (Tabela 1.23), diminuiu o número de denúncias
referentes aos tipos de poluição sonora mencionados acima (de 40 para 14), o que representou 27% do total
de queixa de poluição ambiental em Maceió. A poluição sonora, com queda em número absoluto, diminuiu
em sua frequência relativa, em 2018, de 27% para 16%.
Tabela 1 – Denúncias expostas por ano

356
Denúncias por poluição
Ano Denúncias em geral Fontes emissoras de ruído
ambiental
2011 1 2 3

2012 4 5 6

2013 7 8 9

2014 10 11 12

2015 13 14 15

16 17 18

2016

19 20 21

357
2017

2018 22 23 24

É possível observa com a Tabela 1, que os índices de denúncias por poluição sonora diminuíram
consideravelmente no decorrer dos anos, sendo, resultado das ações realizadas pela SEDET, e que os índices
em crescente nos últimos anos está concentrados em construção irregular que de 2011 a 2018 representou de
2% para 75%, respectivamente.

4.3. Poluição sonora: fontes emissoras de ruído


Neste estudo, foi verificado que há heterogeneidade nos tipos de fontes emissoras de ruído em Maceió.
Apesar da construção civil aparecer nos últimos anos como uma fonte de reclamação constante, bares, casas
de eventos, igrejas e escolas apresentam-se constantes durante todos os anos de análise.

Figura 5 – Fontes emissoras de ruído, 2011 a 2018

Já a figura 6 apresenta a q quantidade de denúncias por poluição sonora registrada por ano em cada
bairro, sendo possível perceber a recorrência dos bairros durante os anos, principalmente nos bairros que
apresentam a maior concentração de bares e estabelecimentos comerciais (Ponta Verde, Jatiúca e Centro).
É possível perceber que nos últimos anos de análise que os bairros periféricos estão com crescentes
reclamações de bares, casas de eventos e estabelecimentos comerciais, pela demanda da população que não
quer se deslocar para a parte baixa da cidade, sendo esses principalmente: Benedito Bentes, Cidade
Universitária e Jacintinho).

358
Figura 6 - Denúncias de poluição sonora distribuídas pelos bairros de Maceió, de 2011 a 2018

359
Percebe-se que dos 50 bairros da cidade de Maceió, 36 deles apresentaram queixas por poluição
sonora, alguns dos bairros com maiores densidades demográficas da capital aparecem nessa lista, como são
os casos de Benedito Bentes, Santa Lúcia, Jatiúca e Jacintinho. A figura 7 apresenta a localização no mapa
com a localização dos bairros com incidência de reclamações de poluição sonora de 2016 a 2018.

Figura 7 – Bairros de Maceió com maiores índices de poluição sonora, 2016 a 2018
É perceptível nas análises realizadas que não há uma estabilidade com relação às denúncias, visto
que é possível perceber que nos anos de 2014, 2015, 2016 e 2018 apresentam uma significativa redução nos
índices de denúncias em número absoluto, mas em equivalência (%) essa diminuição foi significativa apenas
no ano de 2018 (figura 16 e 17).

Figura 8 – Denúncias de poluição sonora, 2011 a 2018 Figura 9 - Índice de poluição sonora, 2011 a 2018
Essa equivalência demonstra também que não só houve a diminuição de queixas relacionadas à
poluição sonora, mas também houve o aumento significativo de outras denúncias, sendo majoritárias as
reclamações por ruído oriundo de bares, casas noturnas, igrejas e de construção civil (Figura 8), fator
ocasionado principalmente pelo crescimento imobiliário significativo na cidade de Maceió.

360
5. CONCLUSÕES
A partir dos estudos realizados, foi possível compreender que o bairro da Ponta Verde ainda é um dos focos
principais da poluição sonora na cidade de Maceió, devido à significativa abundância de bares e restaurantes
que o bairro apresenta.
Entre os bairros com altos índices de reclamações por poluição sonora está a concentração de
denúncias em bairros periféricos como Tabuleiro dos Martins, Cidade Universitária e Benedito Bentes que
apresenta uma grande concentração de estabelecimentos comerciais, implantados sem um devido
planejamento urbano, apresentando comércios em áreas que já foram predominantemente residenciais, além
de estar em processo de verticalização pela valorização e localização do bairro na cidade de Maceió.
Apesar de serem distintos com relação à valorização e dimensões, Mangabeiras e Benedito Bentes, é
possível perceber que estão aparecendo entre os bairros denunciados, ambos apresentam importantes
shoppings Centers e verticalização devido à expansão da cidade.
Conclui-se que bares e casas noturnas ainda são focos graves de denúncias e que apesar do trabalho
de inspeção desenvolvido pela SEDET, há a necessidade de apoio nas campanhas de emprego das normas
acústicas vigentes, e que ocorram fiscalizações permanentes trabalhando em áreas, sobretudo, nas que
possuem maior incidência das reclamações para sufrágio das populações prejudicadas por ela.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10151: Avaliação do ruído em áreas habitadas visando o
conforto da comunidade. Rio de Janeiro, 2017.
ALENCAR, B. S. et al. Perfil Da Poluição Sonora Na Cidade De Maceió – AL. v. 2000, n. 1, p. 1–10, 2012.
CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Projeto de lei 75/2013. Mapa do Ruído na íntegra; altera a Lei 16.499, de 20 de
julho de 2016. Disponível em: http://documentacao.camara.sp.gov.br/iah/fulltext/leis/L16499.pdf . Acesso em: 29 abr. 2019.
EUROPEIA. J. O. 2002/49/CE. Diretiva (UE) 2015/996 da Comissão. Estabelece métodos comuns de avaliação do ruído de acordo
com a Diretiva 2002/49/CE do Parlamento Europeu e do Conselho. União Europeia. 15 de Junho de 2017.
LACERDA, A. B. M. de; MAGNI, C.; MORATA, Thais Catalani; MARQUES, Jair Mende; ZANNIN, Paulo Henrique Trombetta.
Ambiente urbano e percepção da poluição sonora. Campinas, 2005.
MARCELO, C. B. Sons e Formas: As barreiras acústicas na atenuação do ruído na cidade. Dissertação (Mestrado em
Arquitetura e Urbanismo) - Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Presbiteriana
Mackenzie, São Paulo, 2006.
NIEMEYER, Maria Lygia; CORTÊS, Marina Medeiros; RIBAS, Leandro. Influência dos padrões de ocupação do solo na
propagação sonora. X ECONTRO NACIONAL E VII LATINO AMERICANO DE CONFORTO NO AMBIENTE
CONSTRUIDO – ENCAC 2013. Brasília, DF. Brasil. Anais. Brasília, DF. Brasil. 2013. 1 CD ROM.
PREFEITURA MUNICIPAL DE MACEIÓ. Código de Urbanismo e Edificações do Município de Maceió - Lei Municipal Nº
5593. Maceió, 2006.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Burden of disease from environmental noise: Quantification of healthy life
years lost in Europe. W.H.O. Regional Office for Europe: Denmark, 2011.

AGRADECIMENTOS
Agradecimento ao CNPq, pela bolsa concedida e custeio para compra dos softwares e ao Grupo de Estudos
do Ambiente Sonoro e Universidade Federal de Alagoas pela disponibilização dos equipamentos.
Agradecimento também ao Coordenador de fiscalização da Secretaria de Desenvolvimento
Territorial e Meio Ambiente – José Soares Barbosa.

361
QUALIFICAÇÃO DE CÂMARA REVERBERANTE DE ABSORÇÃO E
VALIDAÇÃO DE MODELO COMPUTACIONAL
Tamires Lenhart (1); Bianca Walter (2); Rafael Ferreira Heissler (3); Maria Fernanda de
Oliveira (4)
(1) Acadêmica de Arquitetura e Urbanismo, Bolsista IC tlenhart@edu.unisinos.br , itt Performance,
(2) Acadêmica de Arquitetura e Urbanismo, Estagiária, biancagw@edu.unisinos.br , itt Performance,
(3) M.Sc., Analista de projetos, rheissler@unisinos.br, itt Performance,
(4) Drª., Coordenadora MPArqUrb, mariaon@unisinos.br, itt Performance,
itt Performance UNISINOS, São Leopoldo, RS 93022-750, Rio grande do Sul

RESUMO
A qualidade acústica de ambientes influi diretamente nas atividades de um local e a especificação adequada
dos materiais de acabamento e revestimentos internos pode solucionar diversos problemas relacionados a
falta de inteligibilidade em ambientes internos. A indústria de materiais da construção civil tem mostrado
uma preocupação maior com a qualidade de seus produtos para que esses atendam ao mínimo apontado nas
normas, levando mais conforto para a população no geral. Nesse sentido, pode-se indicar que a falta de
qualidade acústica das edificações, vem sendo estudada mais afundo, como pesquisa e nicho de mercado,
pois comprovadamente o condicionamento precário dos ambientes, bem como a especificação e uso indevido
de materiais, pode afetar a saúde física e psicológica do usuário. Para a resolução desses problemas, ensaios
acústicos de laboratório são essenciais para a adequada caracterização dos materiais, com a redução dos
níveis sonoros e o consequente aumento da satisfação dos usuários desses lugares. Além dos ensaios de
laboratório, ainda existem softwares que oferecem um meio mais ágil para verificação do condicionamento
acústico dos espaços. Dessa forma, os laboratórios de acústica precisam que suas câmaras estejam
qualificadas para a determinação dos coeficientes de absorção dos materiais a serem utilizados em ambientes
internos. Este trabalho apresenta o registro do processo de qualificação da câmara reverberante do itt
Performance da Unisinos para ensaios de determinação do coeficiente de absorção de materiais. Este ensaio
acontece conforme prescrito na norma, que preconiza os passos a serem seguidos, o método de ensaio é de
ruído interrompido. A qualificação consiste na instalação gradual de difusores com o acompanhamento da
estabilidade do tempo de reverberação na câmara reverberante. O estudo envolveu ensaios de medição do
tempo de reverberação na câmara e a simulação computacional com o software Catt Acoustic, v09. Foram
realizadas comparações a partir dos resultados dos ensaios experimentais em laboratório, conforme a norma
ISO 354, e os modelos de simulações computacionais para a validação do modelo digital, a partir da
comparação de tempo de reverberação e do coeficiente de absorção sonora e dissipação do som pela da
câmera com amostra padrão e sem amostra padrão. Além disso, foram realizados estudos da dispersão do
som para diferentes comprimentos de onda, em bandas de terço oitava entre 100 Hz e 5 kHz, através de
repetitivos ensaios, designando a área total necessária de difusores de 15 m². Conclui-se com a pesquisa que
a comparação foi satisfatória sendo que a diferença máxima de variação apresentada em todos os casos
comparados do tempo de reverberação foi de 9,02%.
Palavras-chave: Acústica arquitetônica, Ensaios em laboratório, Simulação computacional.

ABSTRACT
The acoustic quality of environments directly influences the activities developments in the place and the
proper specification of the materials of finishing and internal coatings can solve several problems related to
lack of intelligibility in internal environments. The construction materials industry has shown a greater
concern with the quality of its products so for this purpose they meet the minimum stated in the norms,
bringing more comfort to the people in general. In this sense, it can be pointed out that the lack of acoustic
quality of the buildings has been studied more deeply, such as academics research and market opportunity,
since the precarious conditioning of the environments, as well as the specification and misuse of materials,
can affect the physical and psychological health of the user. To solve these problems, acoustic laboratory

362
tests are essential for the adequate characterization of the materials, with the reduction of sound levels and
the consequent increase of the user satisfaction in these places. In addition to the laboratory tests, there are
still software’s that offer a faster way to verify the space acoustic conditioning. This way, acoustic
laboratories need their rooms to be qualified for determining the absorption coefficients of the materials to be
used indoors. This work presents the recording of the qualification process of the Unisinos, Itt Performance
reverberant room for tests to determine the material absorption coefficient. This test proceeds through the
standard’s description, which dictates the steps to be followed, the test is conduct by the method interrupted
noise. The qualification consists of the gradual installation of diffusers with the accompaniment of the
stability of the reverberation time in the reverberant room. The study involved measurements of
reverberation time in the chamber and computer simulation with Catt Acoustic software, v09. Comparisons
were made from the results of the experimental tests in the laboratory, according to ISO 354, and the
computer simulations models for the validation of the digital model, from the comparison of reverberation
time and sound absorption coefficient and sound dissipation by the room with standard sample and no
standard sample. In addition, sound dispersion studies were performed for different wavelengths, in third-
octave bands between 100 Hz and 5 kHz, through repetitive tests, designating the total area required for
diffusers that was an area of 15 square meters. It was concluded with the research that that the comparison
was satisfactory and that without the sample or with sample the maximum difference of variation in
reverberation time was reached in 9.02%.
Keywords: Architectural Acoustics, Laboratory Tests, Computer Simulation.

1. INTRODUÇÃO
Para se obter a qualidade acústica de salas é necessário que tenha a compreensão sobre a geração e
transmissão do som (VORLÄNDER, 2010). Para se garantir a adequada inteligibilidade são necessários,
muitas vezes, estudos em laboratório, em campo e o uso de ferramentas computacionais afim de se
proporcionar condições sonoras adequadas aos usuários, para o desenvolvimento de análises dos parâmetros
de qualidade acústica com base no comportamento de materiais para diferentes bandas de frequências
(CULLING, 2016).
Os ensaios para determinação dos coeficientes de absorção sonora são essenciais para a obtenção de
informações a serem utilizadas nos projetos de condicionamento acústico de salas, que tem como principal
parâmetro o tempo de reverberação. A absorção sonora é uma característica de materiais para o controle da
reverberação através da redução da reflexão do som incidente na superfície desses materiais. Afim de se
obter resultados para os materiais a serem utilizados nas soluções de condicionamento acústico, os
coeficientes de absorção sonora são definidos em ensaios em câmaras reverberantes, com amostras instaladas
no interior da câmara, que podem ser compostas por diferentes tipos de objetos, como mantas, cadeiras,
tapetes, cortinas, forros, entre outros sistemas e dispositivos.
As simulações computacionais, atualmente, apresentam grande importância nos processos de projeto
de acústica de salas, com possibilidades de maior agilidade e diversidade nos testes a serem realizados, a
partir do desenvolvimento de modelos que expressem determinada realidade sonora de um espaço. Além
disso, os estudos realizados a partir de simulações podem ter como vantagem o aprofundamento de
conhecimento sem a complexidade que pode existir nas questões operacionais e de custos do transporte de
amostras, e no tempo dispendido para se testar condições específicas, que podem até mesmo inviabilizar a
abordagem experimental de uma pesquisa (BIES; HANSEN, 2017). Segundo Wang (2013), o termo
“modelo” pode adquirir significados diferentes dentro da literatura de simulações computacionais, sendo
que, conforme destaca o próprio autor, a representação através de um modelo pode significar uma simples
representação por meio de imagem fixa de um objeto real. Nesse caso, as designações de “modelo
tridimensional”, “modelo de sala”, “modelo poligonal”, “modelo CAD” são utilizadas para identificar os
objetos de estudo. No entanto, a representação isoladamente não é capaz de gerar novas informações, pois
para que se possa utilizar a denominação de “modelo” são necessários: as definições das formas de interação
entre a representação gráfica; e os atributos de cada elemento do modelo. Dessa forma, a validação dos
modelos computacionais são uma importante etapa desse tipo e pesquisa, para que a expressão de uma
determinada realidade seja devidamente aceita.
A validação de um modelo consiste na comparação de resultados obtidos em uma situação real e
obtidos na simulação, sendo que, nos estudos de acústica de salas, usualmente, são comparados resultados de
tempo de reverberação de ambientes internos (VORLÄNDER, 2010; BIES; HANSEN, 2017). As etapas
podem ser resumidas em: estimação, calibração, validação e aplicação. A estimação ocorre com o uso de
parâmetros ou coeficientes do modelo mensurados anteriormente, como, por exemplo, os coeficientes de
absorção de materiais. A calibração consiste no ajuste desses parâmetros do modelo, com a finalidade de
reproduzir um conjunto de dados de referência. A etapa de validação é a comparação propriamente dita, que

363
deve expressar uma condição adequada de semelhança entre os sistemas a partir de informações de
referências. A validação sendo bem-sucedida, pode-se utilizar o modelo em análises e avaliações de sistemas
ainda não observados. Dessa forma, pode-se afirmar que a etapa de validação é um processo iterativo não
linear, pois envolve diversas etapas e procedimentos de ajustes (WANG, 2013; VORLÄNDER, 2008).
Nessas simulações, a técnica mais conhecida para essas estimativas da propagação do som, também
considerada confiável e eficaz, é o método de rastreamento de raios Ray tracing (ONDET, 1989;
SEQUEIRA; CORTINEZ, 2012).
Os ensaios realizados para a obtenção dos coeficientes de absorção sonora são realizados em câmara
reverberante, a qual deve atender à requisitos da norma ISO 354:2003, sendo necessárias verificações
periódicas da capacidade de se obter resultados válidos nesses ensaios. Dessa forma, a qualificação das
câmaras é um dos principais processos de validação dos ensaios experimentais, com a necessidade de
controle do campo sonoro a partir da instalação de difusores em seu interior. Esse processo de qualificação
da câmara se faz importante para que haja mais precisão na determinação dos coeficientes de absorção em
diferentes materiais utilizados no condicionamento acústico de salas. Complementarmente, as simulações
computacionais são uma importante ferramenta para tornar esse processo mais ágil, pois a instalação desses
difusores pode ser previamente testada, antes da sua instalação definitiva.
Este trabalho buscou validar os modelos computacionais de uma câmara reverberante para ensaios de
determinação de coeficientes de absorção, para a execução de processos mais ágeis de qualificação da
câmara e consequente controle metrológico nesses ensaios, a partir de análises comparativas do tempo de
reverberação dos ensaios de laboratório e nas simulações no software.

2. MÉTODO
O estudo foi realizado na câmara reverberante para determinação de coeficientes de absorção do itt
Performance da Unisinos. Para o levantamento das informações necessárias e dados da geometria da câmara
foram utilizados equipamentos de medições, como trena e estação total. Os dados foram registrados por meio
eletrônico com o uso dos softwares Autocad e SketchUp, sendo posteriormente exportados para o software
Catt Acoustic V09.01 para a elaboração do modelo computacional.
Na implementação do modelo foram consideradas as fontes sonoras pertinentes, os receptores e a
geometria da sala. As superfícies planas desse modelo foram caracterizadas por sua capacidade de absorver e
dispersar a energia sonora incidente, tendo como dados características os coeficientes de absorção e de
espalhamento. A temperatura mínima no interior da câmara deve ser de 15 ºC, e a umidade relativa do ar
deve estar na faixa entre 30 e 90%. Além disso, a norma ISO 354 indica algumas caracterizações relativas a
geometria da câmara reverberante, conforme Tabela 1:
Tabela 1 - Características de geometria pela norma
Características Quantidades
Área do piso (m²) 59,8
Volume total (m³) 200,3
Área superficial (m²) 218,00
Área total de difusores após a qualificação (m²) 15,35
Quantidade de difusores após a qualificação (unid) 17

2.1. Medição em laboratório


No procedimento de ensaio, primeiramente são medidas temperatura, pressão atmosférica e umidade relativa
no interior da câmara, pois, estes fatores podem alterar significativamente os resultados. Nesse ensaio, as
medições resultaram na temperatura média de 26,8 ºC, a umidade relativa do ar de 63,6 % e a pressão
atmosférica igual a 100,4 kPa.
O ensaio é realizado conforme procedimentos da norma ISO 354:2003, para cada posição da fonte
são utilizadas 4 posições de microfone, totalizando 12 pontos de microfone/fonte. Para a repetibilidade
correta e adequada a amostra é posicionada de forma não paralela em relação às paredes, conforme ilustrado
na Figura 1, em que podem ser observadas também as posições de microfone e fonte emissora nos pontos
demarcados. O tempo de excitação sonora, em que a fonte permanece em funcionamento, é a metade do
tempo de reverberação da sala, sendo de aproximadamente 8 segundos.

364
(a) (b)
Figura 1 – Geometria da câmara (a) planta baixa e corte sem amostra (b) planta baixa e corte com amostra

O ensaio para qualificação foi conduzido primeiramente com a câmara vazia, pelo método descrito
anteriormente. No segundo ensaio, foi colocado um grupo de difusores, totalizando uma área equivalente a
5m². O ensaio foi novamente realizado, do mesmo método anterior e como a difusão do som não foi
estabilizada, o método foi repetido por mais quatro vezes, da mesma forma e a cada ensaio o número de
difusores aumentava por grupos de difusores aletoriamente colocados pela câmara, sempre com cuidado para
que os grupos fossem mantidos com área máxima até 5m². Segundo o que a norma orienta, os difusores
devem ser constituídos de material com baixa absorção sonora, a massa por unidade de difusor não deve
passar de 5 kg/m², sendo assim, foram usados difusores de acrílico. Os difusores devem ter tamanhos
diferentes, as áreas devem variar de 0,8 m² a 3,0 m², assim como podem ser moldados com superfícies
curvas, podendo estar espalhados aleatoriamente pela sala.
A amostra padrão, para teste verificação da difusão do som, deve ter espessura de 5 cm a 10 cm, ser
um material absorvente, poroso e homogêneo, e deve também ter um coeficiente de absorção sonora maior
que 0,9. No caso dessas amostras que são materiais independentes de dimensões 0, 50 x 1,20 m devem ser
unidas, para que alcancem a dimensão demonstrada em norma (conforme Figura 2), com área total entre 10
m² e 12 m², segundo a ISO 354:2003.

Figura 2 – Câmara reverberante de absorção com amostra considerada padrão de lã de vidro, com as medidas de 2,50x3,60m
2.2. Modelagem computacional
Na simulação computacional, primeiramente a geometria da câmara foi criada através de coordenadas, assim

365
como a fonte emissora e o microfone receptor. As bandas de frequências consideradas no software a serem
utilizadas serão em terços de oitava, nas bandas de frequências centrais de 125 Hz a 4000 Hz. Na câmara
reverberante, a fonte emissora, nesses ensaios, está assumindo três posições diferentes, enquanto os
microfones permanecem na mesma posição. A altura da fonte está diretamente no chão a 0,20 m de altura até
seu eixo, já para o microfone receptor usa-se um tripé e do chão até seu eixo tem-se 1,30 m.
Os procedimentos de simulação via software consistem no uso de vários arquivos de base, para as
configurações corretas das coordenadas para cada elemento que compõe a geometria da câmara reverberante.
O arquivo base para definições gerais do objeto de estudo é denominado de PROJECT. File, sendo as
coordenadas dos vértices que formam o modelo geométrico inseridas no arquivo de GEO.File. Já as
coordenadas referentes as posições da fonte sonora são indicadas em arquivo denominado SCR.File, nele
também são definidas as configurações de ruído rosa e de níveis de pressão sonora para essas fontes. As
configurações do microfone são definidas no arquivo de REC.File, sendo informadas todas as 4 posições do
microfone e as suas respectivas coordenadas. Para as configurações da câmara, como pressão atmosférica,
temperatura e umidade, no momento do ensaio foram definidas na ferramenta Acoustic Enviroment. Depois
das coordenadas ajustadas em todos estes arquivos, formato TXT, foram inseridas as informações das
qualificações, como referência para as análises comparativas das simulações. As análises da dissipação
sonora no interior da câmara reverberante foram realizadas com o uso da ferramenta Time Trace, sendo
configurados o Time Step em 2 ms e o Max Order em 3, ou seja, a representação visual do som direto com
duas reflexões. O número de raios simulados foi de 5000 raios, para melhor visualização da dispersão do
som.
Depois de ter ajustado todas as configurações, o modelo da câmara foi gerado, primeiramente com a
câmara de absorção vazia, conforme ensaio sem amostra e sem difusores (Figura 3). Na simulação as
posições assumidas para fonte (A0, A1 e A2) e microfone (01, 02, 03 e 04) foram consideradas de forma
simultânea, com comparações entre as médias de todos os ensaios.

(a) (b)
Figura 3 – Geometria da câmara vazia retirada do software (a) vista superior (b) vista lateral esquerda

Após a modelagem da câmara vazia, a etapa posterior consistiu na inserção do elemento


correspondente à amostra, ainda sem difusores na câmara. Pode-se perceber o posicionamento da amostra na
câmara, representado pelo retângulo interno, conforme modelo adotado neste estudo (Figura 4).

366
(a) (b)
Figura 4 – Amostra padrão dentro da câmara; (a) Vista superior e (b) Perspectiva

Posteriormente a amostra ter sido posicionada, foram colocados os grupos de difusores, em grupos
que correspondiam a área de 5m², com a difusão sonora já definida no ensaio experimental em laboratório.
Dessa forma, no modelo computacional, os difusores foram inseridos conforme a quantidade definida em
laboratório. Os difusores têm tamanhos diferentes, sendo sua fixação feita em tirantes com posicionamento
aleatório. Foram utilizadas peças retangulares de acrílico, moldadas em formato côncavo, antes da instalação.
Para a simulação no software, a modelagem dos difusores seguiu o padrão de composição de triângulos,
conforme indicado por Vorländer (2008), seguindo as medidas utilizadas no laboratório.
Esta modelagem dos difusores seguiu o sistema meshing, em que os elementos do modelo são todos
compostos por uma malha, que funciona como um sistema de pontos e coordenadas nas suas superfícies,
formando planos e nós (Figura 5). Essa simplificação geométrica, com os adequados atributos do modelo,
traz maior agilidade ao processo de validação de um modelo computacional (HOPKINS, 2007;
VORLÄNDER, 2008). A calibração do modelo computacional foi realizada a partir de comparações entre os
valores de tempo de reverberação dos ensaios em laboratório e dos valores obtidos na simulação
computacional. Para essa etapa os coeficientes de absorção da amostra (Tabela 2) e a geometria da câmara
não sofreram alterações. A etapa posterior de validação do modelo teve como principal critério a expressão
da condição de semelhança entre os valores de tempo de reverberação da câmara reverberante do laboratório
e do modelo computacional.
Tabela 2 – Coeficientes de absorção da amostra admitidos na modelagem computacional
Banda de frequência (Hz) 125 250 500 1k 2k 4k
Coeficiente de absorção 0,16 0,52 0,82 0,92 0,94 0,96

3. RESULTADOS
A verificação dos coeficientes de absorção durante o ensaio ocorreu a partir da instalação dos difusores, em
grupos de 5 m² conforme a ISO 354:2003. No entanto, para um estudo mais aprofundado, a qualificação foi
realizada com grupos com área de 2,5 m². No gráfico da Figura 5 são mostrados os resultados dos ensaios de
qualificação da câmara a partir de ensaios experimentais em laboratório. A partir do aumento gradual na área
de difusores, foi considerado o resultado, para fins de quantificação dos difusores, o coeficiente de absorção
médio de 0,93, o que corresponde a área de 15,35 m² de difusores.
A partir desses resultados, foram realizadas as análises da dispersão do som no interior da câmara
reverberante para diferentes bandas de frequências, com o uso da ferramenta Time Trace, conforme a
configuração adotada neste estudo para representar a reverberação do som.
Para os resultados de dissipação do som, para cada frequência, demonstram a diferença e efeito do
desempenho do material absorvente, neste caso a lã de vidro, que já tem um coeficiente de absorção
conhecido. A dissipação do som apresenta resultados diferentes, pelo tempo calculado de reverberação e de
formas diferentes, conforme os posicionamentos da fonte sonora e dos microfones. As fontes foram
analisadas separadamente e, para ilustrar os resultados, foi considerada a fonte A0 (Figura 6). Para a
representação da dispersão do som são utilizadas cores para que o mapeamento da influência da reverberação
possa ser realizado de forma visual.

367
Figura 5 – Gráfico do coeficiente de absorção médio nos ensaios em laboratório.

Na Figura 6 são apresentados alguns dos resultados da modelagem da dispersão do som na banda de
500 Hz na câmara reverberante, com destaque para o início das reflexões de 2ª e 3ª ordem nos primeiros 5
ms de excitação sonora (Figura 6a); o aumento da influência das reflexões de 3ª ordem no tempo de 15 ms
(Figura 6b); e o momento em que da última incidência direta da onda aos 25 ms (Figura 6c).

(a)

(b)

(c)
Figura 6 – Modelagem da dispersão do som na câmara reverberante na banda de 500 Hz no tempo de (a) 5 ms, (b) 15 ms e (c) 25 ms

368
Com a verificação da dispersão sonora em todas as bandas de frequências analisadas foi possível
verificar o funcionamento do modelo, com expressão do ambiente reverberante interno da câmara. A
inserção dos difusores no modelo computacional seguiu os procedimentos da modelagem geométrica
triangular, com o posicionamento aleatório adotado na câmara reverberante do laboratório. Na Figura 7
pode-se visualizar o modelo da câmara reverberante com difusores de acrílico modelados com o
posicionamento aleatório também na altura.

(a) (b) (c)


Figura 7 – Modelo da câmara com difusores de acrílico (a) vista superior (b) vista lateral esquerda e (c) perspectiva

Para a calibração do modelo computacional foram comparados os valores de tempo de reverberação


dos ensaios em laboratório e dos valores obtidos na simulação computacional. Na etapa de validação, ou
seja, a comparação propriamente dita, foi verificado que os valores médios de tempo de reverberação
atenderam aos critérios de semelhança de resultados. Na simulação foram analisados os resultados para a
câmara com amostra e sem difusores e com o número de difusores apontado nos resultados da qualificação
(Figura 8).

(A) (B)
Figura 8 – Resultados para o tempo de reverberação condizente com os resultados de laboratório (A) com amostra (B) sem amostra

4. CONCLUSÕES
As ferramentas computacionais podem ser utilizadas tanto para a etapa de projetos de ambientes, quanto no
controle da qualidade metrológica de laboratórios que geram informações relevantes para esses projetos, pois
os ensaios de laboratório são essenciais para a adequada caracterização dos materiais. Este trabalho
apresentou um dos procedimentos utilizados na qualificação da câmara reverberante para determinação dos
coeficientes de absorção sonora do itt Performance da Unisinos, a partir da validação de um modelo
computacional. Através da comparação entre os resultados dos ensaios experimentais de qualificação da
câmara reverberante, os modelos computacionais foram validados no Software Catt Acoustic, considerando-
se a quantificação e posicionamento dos difusores na câmara, com a amostra de referência, como pode-se
verificar nas diferentes bandas de frequência o máximo de variação sem amostra foi de -8,37 % frequência
de 4kHz e com amostra a variação foi máxima foi maior chegando a 9,06% frequência de 2kHz, sendo
satisfatório não tendo ultrapassado os 10% de diferença na comparação dos resultados.

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WANG, D. Simulation Research. Architectural Research Methods. Architectural Research Methods. New York: John Wiley & Sons,
2013. p. 480. 9781118418512.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Unidade Acadêmica de Pesquisa e Pós-Graduação – UAPPG – da Unisinos no apoio
da Bolsa de Iniciação Científica UNIBIC.

370
REVERBERATION TIME AND THE SATISFACTION WITH THE
CLASSROOMS ACOUSTIC QUALITY

Cristina Y. K. Ikeda (1); Fulvio Vittorino (2); Rosaria Ono (3)


(1) PhD, researcher, cristinak@ipt.br, Institute for Technological Research - IPT, Av. Prof. Almeida
Prado, 532 – Prédio 1 – 1º andar – Butantã - 05508-901, São Paulo, SP, Brazil, telephone number:
55 11 3767-4555
(2) PhD, director, fulviov@ipt.br, Institute for Technological Research - IPT, Av. Prof. Almeida Prado,
532 – Prédio 1 – 1º andar – Butantã - 05508-901, São Paulo
(3) PhD, professor, rosaria@usp.br, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP – FAU-USP, Rua do
Lago, 876 – 05508-080 - SP, Brazil, telephone number: 55 11 3091-9370
(4) , SP, Brazil, telephone number: 55 11 3767-4961

ABSTRACT
With the objective of studying an acceptable reverberation time range from the point of view of the students
satisfation with the acoustic quality of classrooms, acoustic measurements were carried out in classrooms of
Brazilian schools located in the metropolitan area of Greater São Paulo. Questionnaires were administered to
the sudents of those classrooms in which the measurements took place in order to assesss the occupants
satisfaction with the rooms. The results determined by the students indicate that the classical limits are more
conservative and tend to value "drier" rooms (with lower reverberation times) even when furnished and
unoccupied. However, more "lively" rooms (with greater reverberation times) were also considered
satisfactory by the users of this research.
Key words: Reverberation time, classroom.

371
1. INTRODUCTION
In the school building, the performance of the students can be impaired by poor environmental conditions of
the building and by the frequent poor acoustical conditions of the speech transmission and perception.
Around speech, much of the educational activity within the classroom is revolved. According to DFES
(2003), for 80% of all the classroom activities, listening and speaking are required. Therefore, it is important
that effective communication of spoken language is allowed by the acoustic characteristic of the classroom.
The design of a classroom should consider not only the external noise, the location of the building
and its parts on a site, the acoustic performance of walls, windows and doors; but also the acoustic quality of
the classrooms, taking into account the level and reverberation of the sound inside of it.
Post-occupacy evaluations have been performed in Brazilian schools (FRANÇA, 2011; ORNSTEIN,
ONO, 2010; MONTEIRO, 2009; FERREIRA et al., 2006; ELALI, 2002) showing that the environmental
comfort aspect, along with others, should present optimal performance conditions for a good learning
experience. Nevertheless, those post-occupancy evaluations did not consider the aspects of acoustic
reverberation inside the classrooms.
There are many acoustic descriptors such as EDT, STI, BR, Ts, and D50 applied to evaluate the
acoustic quality of spaces, and some of them are usually more considered when the understanding of the
spoken message is fundamental, as discussed by Ikeda (2019). The present research focused on the
reverberation time parameter. It is generally considered the most important acoustic parameter that defines
the acoustic climate of a room. The reverberation time is the time (in seconds) the sound of a source
decreases its level by 60 dB after it has stopped. A decrease of 60 dB represents a reduction of 1/1,000,000
of the original sound intensity (CRANDELL and SMALDINO, 2000).
The limits established by the standard NBR 12179 (1992) range from from 0.4 s to 0.6 s, for 500 Hz.
The ones established by France (apud Zannin et al., 2013) range from 0.4 s to 0.8 s (arithmetic mean between
500 Hz, 1000 Hz and 2000 Hz), by Fukuchi and Ueno (2003) the ideal reverberation time is of 0.6 s
(arithmetic mean between 500 Hz and 1000 Hz), by ANSI S 12.60 (2010) of 0.6 s (arithmetic mean between
500 Hz, 1000 Hz and 2000 Hz), and by Great Britain Department of Education and Skills (2015) of 0.6 s
(arithmetic mean between 500 Hz, 1000 Hz and 2000 Hz). This research intended to review the reverberation
time operating range, in which the students were satisfied with the acoustic quality of classrooms, and detail
it by frequency band.
The just-noticeable difference (JND) that is the amount that must be changed so that there is a
noticeable difference was used to evaluate the differences of values from one octave band to another. For the
reverberation time the JND is a relative difference of 5% (Bork, 2000) and (Bradley, 1986) apud ODEON
A/S (2018).

2. OBJECTIVE
Study the reverberation time by frequency range in classrooms as well as evaluate if those existing ranges are
conservative.

3. METHOD
For this study, 35 schools were contacted and 5 of them allowed the conduction of the research. They are
located in the metropolitan area of São Paulo, known as Greater São Paulo. Most of them are private schools
with subsidized education. The schools began their operation from 1962 to 2013.The classrooms analyzed in
these schools are those used by students in the 8th and 9th years of elementary school and 1st, 2nd and 3rd
years of high school, ages ranging from 12 to 19 years old. These classes were chosen, since it was
expectated better understanding of the questions of the questionnaires by this age group than the ones by
younger students.
As for external noise, there were schools located in quieter areas and schools located in more
urbanized areas that suffer more influence of the traffic noise. In these schools, the 32 classrooms considered
in this study are either located on both sides of the corridor, as illustrated in Figure 1, or on just one side of
the corridor, as illustrated in Figure 2. Classrooms located on both sides of the corridor set the direct path of
the sound generated from one room to another and classrooms located on just one side of the corridor are an
advantage in acoustic terms, because they make it more difficult the transmission of noise from one room to
another, creating longer paths to be covered by the direct sound.

372
Figure 1 – Classrooms on both sides of the corridor Figure 2 – Classrooms on one side of the corridor
The classrooms considered had glass or wooden doors and windows in metal or wooden frames with
float glass. The tables had metal tubular structure and wooden composite top finished with melamine
material. The chairs had metal tubular structure and its back and seat with plastic material or wooden
composite finished with melamine. The ceiling was composed of painted slabs, plaster or mineral tiles. An
example of one of those classrooms is illustrated in Figure 3. The materials that compose these classrooms
were generally poorly absorbing: painted mansory walls, glass on windows and doors, stone flooring,
furniture in plastic or melamine composite. The most absorbent materials that could be found in these rooms
were curtains, and mineral tiles.

Figure 3 – View of one of the classrooms considered in this study

Post-Occupancy Evaluation methods were adopted to obtain qualitative data with the use of
questionnaires for the students; and quantitative data with the use of acoustic measurements made in the
rooms in which the questionnaires were applied. As the research involved data collection from individuals
(high school and middle school students), the research project was submitted to the Research Ethics
Committee to ensure the safety and protection of the participants' rights.

3.1. Acoustic measurements


The method chosen for the acoustic measurements was the impulse response technique. Using a known
excitation signal, a sine sweep, the behavior of the sound field inside the classroom was analyzed. The signal
was produced by the software Dirac. The sine sweep signal passes through all frequencies continuously so
that the system is excited sequentially in each of them (BERTOLI and GOMES, 2005). The logarithmic sine

373
sweep in which the frequency increase is given by the same octave fraction at each fixed time interval, ie, the
spectrum declines by 3 dB / octave was used so that every octave contains the same energy (MÜLLER and
MASSARANI, 2002).
The acoustic measurements were made in unoccupied furnished rooms, with two configurations: all
windows and curtains closed; and all windows closed and curtains open. In each room, there were 9
microphone positions.

The measurement system, illustrated by Figure 4, was composed by:


▪ ½" pre-polarized diffuse field microphone;
▪ ½" preamplifier;
▪ 1-channel power supply with indication of overload and gain adjustment;
▪ omnidirectional sound source that meets the requirements of ISO 3382-1: 2009;
▪ power amplifier;
▪ portable computer with Dirac software installed for the generation of the excitation signal and
data acquisition;
▪ external sound card with 192kHz, 24-bit conversion, with a frequency response of 20Hz to
20kHz.

Figure 4 – Measurement system

3.2. Questionnaires
The questionnaire is a tool used to collect information from a large number of people, about pre-established
and well-defined topics, to which the same questions are asked to all members of the group of people, and
their answers are statistically treated for analysis (ELLIS, 2014). In the Post-Occupancy Evaluation, its
application is a way of collecting data on users' opinions and satisfaction regarding the various aspects of the
use and occupation of the built environment.
Based on the response scales of standards ISO 28802 (2012), ISO 10551 (1995) and the
questionnaire of the work "Design for educationally appropriate acoustic characteristics in open plan
schools" by Charlton Smith Partnership (2005), a new questionnaire was elaborated for the evaluation of the
school environment with focus on the acoustic comfort sensation in classrooms for students. The
questionnaires did not start directly focusing on the "acoustic" theme. They began with a more general
question to make the respondents aware of the topics of their greatest attention, among them, ergonomics,
thermal, lighting and acoustic comfort. Then the questions lead the student to evaluate the outdoor spaces of
their classrooms, following this sequence: schoolyard, sports court, corridors, classrooms and region next to
their desks. For the questionnaire to be considered valid, the student should indicate the position he occupied
in the room, making it possible, in this way, to correlate his evaluation with the acoustic parameters
measured in the position occupied by him.
The questionnaire was pre-tested in one group of middle school students and two groups of graduate
students. Through the feedback received in the pre-test and in the light of scientific articles related to the use
of questionnaires in research, a critical analysis was performed to discuss the criteria used to elaborate
questions, as well as to make improvements in the developed questionnaire. More details of the questionnaire
can be found at Ikeda, Ono and Vittorino (2016).

374
3.3. Procedure for the definition of limit values
The values were selected from the answers given by respondents who indicated satisfaction with the acoustic
quality of the indoor environment. In order to identify the respondents satisfied with the acoustic
environment, four questions were made.
• Does noise in this classroom prevent you from hearing the teacher well?
• Does noise in this classroom prevent the teacher from listening to the students?
• Noise generated inside this classroom (people, fans …)
• Noise from outside the classroom (vehicles, sports activities, playground …)
The indication of satisfaction was for those respondents who answered the most favorable alternatives.
For the determination of the reverberation time values by frequency range, the ones that comprised 5% of
occurrence of the minimum values and 5% of occurrence of the maximum values were discarded so that the
values considered were in the range of 90% of occurrence. The intention was to discard values that could
have been disturbed by random phenomena that occurred during the measurements.

4. RESULTS
The total number of respondents in these schools was 155 students. It should be emphasized that the type of
questionnaire here is the one that the respondent answered autonomously without the support of an
interviewer.
The questionnaires were answered by almost the same proportions of boys (44% of the respondents)
and girls (46% of the respondents). The remaining 10% did not declare their gender. "Noisy" was one of the
most used adjectives to describe the school building as a whole, as illustrated in Figure 5. The students were
able to read the main environmental aspects of the school and it is estimated that this process conducted the
attention of the students for the following questions focused in acoustics.

Figure 5 – Words that describe the school building as a whole

The answeres “students would like it to remain unchanged” and “students would like it to be a little
quieter” were considered as answers signalling satisfaction. As illustrated in Figures 6, 80% of the students
were satisfied with the acoustics of the schoolyard. As for the sports court, according to Figure 7, most of the
students (92%) were satisfied with its acoustics. As for the school corridors, as illustrated in Figure 8, almost
2/3 of the students (62%) were satisfied with their acoustics. As for classrooms, according to Figure 9,
almost half of the respondents (46%) were satisfied with their acoustics. Regarding the region next to each
respondent's desk, 74% of the students were satisfied with its acoustics, as illustrated in Figure 10.

Figure 6 – Schoolyard Figure 7 – Sports court Figure 8 – Corridors Figure 9 – Classrooms Figure 10 – Near the
student’s desks

375
As illustrated in Figures 11 to 14, for most of the students, noise makes them lose concentration (83%
of respondents), it makes activities more difficult to do (76% of the respondents), it does not help to perform
activities better (88% of respondents), and it does not help to cover up distractions (79% of respondents).
And as illustrated in Figures 15 and 16, for most of the students (58% of the respondents), noise sometimes
prevents them from listening to the teacher. The teacher is prevented from listening to the students because
of the noise all the time, sometimes to 47% of respondents; and often for 36% of respondents.

Figure 11 – Noise makes Figure 12 – Noise makes Figure 13 – Noise helps to Figure 14 – Noise helps to
students lose concentration activities more difficult to do perform activities better cover up distractions

Figure 15 – Noise prevents students from Figure 16 – Noise prevents teachers from
listening to the teacher listening to the students
The answeres “very disturbing” and “disturbing” were considered as answers signalling
dissatisfaction. As illustrated in Figures 17 and 18, 42% of the students are dissatisfied with the noise
generated inside their rooms by people. As for the noise coming from outside the classroom, from vehicles,
sports activities and recreation, for example, 40% of the respondents were dissatisfied.

Figure 17 – Noise generated inside the Figure 18 – Noise coming from outside
classroom by people and equipment the classroom, from vehicles, sports
activities and recreation, for example

376
The fact that 31% of students are prevented from listening to the teacher because of noise all or most
of the time is disturbing, as almost than 1/3 of the respondents did not receive some of the information they
were supposed to. For 46% of the students, because of the noise, the teacher is also prevented from listening
to them, all the time or often, is also worrying, because for almost half of the students, their questions or
comments do not reach the teacher or both sides have to strain to make themselves understood.
Given this universe of the respondents satisfied with the acoustic quality of the classrooms, there was
a great deal of answers and among these values, the limits were selected according to item 3.3. The values of
Reverberation Time, taking into account the selected points of the classrooms of all the schools, by octave
band and by configuration (closed windows and closed curtains, closed windows and curtains open) are in
Table 1.
Table 1 – Minimum and maximum values of reverberation time at the positions considered satisfactory by the students.
Frequency (Hz) 63 Hz 125 Hz 250 Hz 500 Hz
Reverberation time (s) 0.6 2.2 0.9 2.2 0.8 2.5 0.8 2.1
Frequency (Hz) 1000 Hz 2000 Hz 4000 Hz 8000 Hz
Reverberation time (s) 0.6 2.0 0.6 2.0 0.6 1.8 0.6 1.4

While there were no clear tendency for the minimum values, in general the maximum values
decreased, the higher the frequencies were, with the exception for 250 Hz. From one octave band to another,
the difference, when existing, was above the JND.
Considering the limits established by the standard NBR 12179 (1992), the range obtained in this study
has the minimum limit greater than the maximum limit of this norm. In relation to the limits established by
France (apud Zannin et al., 2013), Fukuchi and Ueno (2003), ANSI S 12.60 (2010) and Great Britain
Department of Education and Skills (2015), lower and upper limits are higher. These results are presented
graphically in Figure 19.

Where:

Figure 19 – Reverberation time values obtained in this study and stipulated by other standards and researches.

The ranges obtained in this study were more comprehensive and one reason would be that the answers
considering satisfaction for the questions “Does noise in this classroom prevent you from hearing the teacher
well” and “Does noise in this classroom prevent the teacher from listening to the students” were not only
“never” but also “sometimes”. And the answers considering satisfaction for the questions “Noise generated
inside this classroom (people, fans) …” and “Noise from outside the classroom (vehicles, sports activities,
playground) …” were “does not disturb” but also “it is slightly disturbing”. There was more tolerance in the
options considered.

5. CONCLUSIONS
The results determined by the students’ answers indicate that the classical limits are more conservative and
tend to value "drier" rooms (with lower reverberation times) even when furnished and unoccupied. However,
more "lively" rooms (with greater reverberation times) were also considered satisfactory by the users of this
research.
The acoustic quality depends also on the choices made by the designer. The possibility of using more
comprehensive limit ranges grants the designer more freedom in the design process. On the other hand, in
order to evaluate the acoustic quality of the project, more refined methods are necessary, such as computer

377
simulations. It is important to state that accuracy of computer simulations is directly proportional to the
quality of overall object modeling process. In particular, the availability of reliable data about material
properties is a sensitive subject. There are few libraries with this information, but their increase will just
occur in response to the designers demands. The suggested range was based on the concept of performance
rather than of prescriptive solutions, such as preset recipes, hence the importance of using computer
simulation to test design solutions.

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378
RUÍDO DE TRÁFEGO NO CENTRO HISTÓRICO DO RIO DE JANEIRO: A
RUA PRIMEIRO DE MARÇO
Felipe Barros (1); Nayara Gevú (2); M. Lygia Niemeyer (3)
(1) Graduando, felipeoliveira.arq@gmail.com, FAU/UFRJ, (21) 9.8165-9337
(2) Doutoranda, arquiteta e urbanista, nayaragevu@gmail.com, FAU/PROARQ/UFRJ, (21) 9.9750-1035
(3) Drª, arquiteta e urbanista, lygianiemeyer@gmail.com, FAU/PROARQ/UFRJ, (21) 9.8142-8616

RESUMO
Com os eventos internacionais sediados na cidade do Rio de Janeiro, diversas mudanças foram feitas,
sobretudo, nas principais vias de tráfego da mesma. Tais modificações afetaram toda a dinâmica de
deslocamento da população no centro urbano, principalmente no ano de 2016 com o advento do VLT
(Veículo Leve Sobre Trilhos) e as alterações das linhas de ônibus. Em consequência disso, a principal rua do
centro histórico, a Rua Primeiro de Março, foi sobrecarregada com o tráfego de veículos, inclusive pesados.
O presente artigo busca estudar os impactos do ruído emitido pelo trânsito ao longo do dia, sobretudo nas
fachadas dos edifícios históricos escolhidos. Tal estudo se fez com levantamentos e registros em campo
aliados à medição de Nível de Pressão Sonora (NPS) e o uso de simulações computacionais no software
Soundplan, para a elaboração de mapas de ruído. Os resultados obtidos foram confrontados com os valores
permitidos pela legislação vigente na zona urbana a que pertence o recorte estudado. Através disso, concluiu-
se que a emissão de ruído de tráfego ao longo da Rua Primeiro de Março está acima do permitido
necessitando-se, assim, de medidas para a redução da poluição sonora.
Palavras-chave: tráfego, edifícios históricos, simulação computacional.

ABSTRACT
With the international events based in the city of Rio de Janeiro, several changes were made, mainly, in the
main traffic routes of the same. These changes affected the entire dynamics of population displacement in the
urban center, especially in the year of 2016 with the advent of the VLT (Light Rail Vehicle) and the changes
in the bus lines. As a result, the main street in the historic center, the Primeiro de Março Street, was
overburdened with vehicular traffic, including heavy ones. This article aims to study the impacts of traffic
noise during the day, especially on the facades of the chosen historic buildings. This study was carried out
with field surveys and records in conjunction with the Sound Pressure Level (NPS) measurement and the use
of computer simulations in Soundplan software for the elaboration of noise maps. The obtained results were
confronted with the values allowed by the legislation in force in the urban area to which the studied study
belongs. Through this, it was concluded that the emission of traffic noise along the Primeiro de Março Street
is above the permitted level, thus necessitating measures to reduce noise pollution.
Keywords: traffic, historic buildings, computer simulation.

379
1. INTRODUÇÃO
A cidade do Rio de Janeiro – fundada por Estácio de Sá em 1565 - teve sua base transferida, em 1567, para o
morro do Castelo. Durante o século XVII a cidade estendeu-se para além dos limites do morro e se
desenvolveu em uma área de várzea compreendia em um quadrilátero irregular (LAMARÃO,1991)
delimitado pelos morros da Conceição, Santo Antônio, São Bento e Castelo. (Figura 1)
Durante os séculos seguintes, muitos desmontes e outras inúmeras transformações urbanas ocorreram
no território (incluindo a demolição total do morro do Castelo e parcial do morro de Santo Antônio) levando
a perdas consideráveis do patrimônio histórico. Por isso a Rua Primeiro de Março (antes chamada de rua
Direita), uma das mais antigas da cidade, apresenta-se hoje como eixo chave para a compreensão das origens
do Rio de Janeiro Colonial, onde podemos encontrar importantes exemplares da arquitetura brasileira
remanescente dos séculos XVII, XVIII e XVIX no trecho compreendido entre a rua da Assembleia e o limite
do túnel Rio 450 (que integra a via Binário do Porto).

Figura 1 – Cidade do Rio de Janeiro já no século XIX/ Local do atual Centro da Cidade
Fonte: Autores sobre mapa de Nonato e Melhem Santos (2010).

Tal rua, com sua grande variedade de edificações que narram diferentes recortes históricos, carrega
marcas das épocas que passaram, possui trechos que se alargam ou se estreitam, que divisam becos e
esquinas - partes que foram modificadas de acordo com as diferentes demandas da dinâmica urbana. Nos
limites da via se dispõem edifícios ora altos, como os prédios empresariais, ora baixos, como os sobrados
remanescentes dos séculos passados, ou afastados da rua, ou próximos a ela. Os mesmos podendo conter em
seu conjunto lojas, restaurantes, bares, padarias, livrarias, atividades culturais, empresariais, institucionais ou
religiosas, atividades características do imaginário pertencente ao centro da atraente cidade carioca e que
demandam um certo nível de qualidade acústica para a sua plena realização.
Com um calendário de eventos internacionais realizados nos últimos anos (como as Olimpíadas de
2016), o Rio de Janeiro vivenciou mudanças urbanísticas em trechos estratégicos, sobretudo na sua estrutura
viária, principalmente na área central. Por conseguinte, a avenida Rio Branco, uma das principais vias da
cidade, foi adaptada para receber o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), um tipo de bonde elétrico que se
desloca sobre trilhos cuja linha em parte de sua extensão ocupa metade da caixa de rolamento, e em outra
parte possui exclusividade total na avenida, que se fecha para os demais veículos (na altura da região
conhecida como Cinelândia) (Figura 2).

380
Figura 2 – Esquema de alterações no trânsito do Centro/ Figura 3 - Trilhos do VLT na Avenida Rio Branco (Foto:
RJ. Fonte: PCRJ (2015). Nayara Gevú, 2018).

Em decorrência de tais mudanças, a partir do ano de 2016 a Rua Primeiro de Março passou a receber o
trânsito dos veículos pesados que foram retirados da Avenida Rio Branco, um grande fluxo de ônibus e
caminhões, além de ter seu traçado estendido até o túnel subterrâneo Rio 450 que atravessa a base do
histórico Morro de São Bento. Em consequência disso, aumentou-se consideravelmente o fluxo de veículos
nessa via, de modo a agravar os níveis de ruído e poluição na referida área.
Tal cenário está em desacordo, por exemplo, com as características desejadas para a região no Projeto
de Lei Complementar nº 57/2018 da Cidade do Rio de Janeiro que define a área como Macrozona
Controlada, ou seja, área consolidada e com patrimônio cultural e natural de grande valor e sítio da Paisagem
Cultural declarado Patrimônio Mundial pela Unesco. Que necessita de controle do adensamento e da
intensidade de uso para não ultrapassar sua capacidade de suporte.

2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é investigar os impactos que o tráfego de veículos causa no ambiente urbano com
foco nos edifícios históricos destacados ao longo da Rua Primeiro de Março (Fig.9), através de recursos de
simulação no programa Soundplan (BRAUNSTEIN e BERNDT, 2004), para que possam subsidiar futuras
propostas de intervenção.

3. MÉTODO
O método deste trabalho consiste em:
1. Observação e medição do Nível de Pressão Sonora (NPS) em campo;
2. Preparação do modelo e simulação no programa Soundplan;
3. Comparação dos resultados da simulação com a situação real medida para calibragem do modelo
computacional de modo a possibilitar testes de outras situações possíveis;
4. Análise comparando os resultados obtidos com os parâmetros aceitáveis definidos por lei.

3.1. Observação e medição em campo


As características acústicas da rua são condicionadas pela interação entre sua morfologia (relação entre a
largura da rua/ altura dos edifícios, continuidade e volumetria dos limites laterais, materiais de revestimento
do piso e fachadas, topografia) e as fontes sonoras (potência, geometria e localização) (NIEMEYER, 2010).
Buscando entender essas características, a etapa de observação e medição consiste no levantamento
em campo de informações sobre a rua, o conjunto de elementos do seu contexto e as presentes fontes de
ruído através de medições, croquis e observações do cenário atual (tanto ambiental quanto morfológico e
material), de modo a ter uma aproximação do local e vivência do mesmo, além de destacar suas
características, potencialidades e conflitos.

381
3.1.1. Observação
O percurso começou na praça ao lado do Centro Cultural do Banco do Brasil, local amplo e movimentado
em frente ao trecho da Rua Primeiro de Março onde muitos ônibus contornam a Candelária. Em seguida nos
encaminhamos para os locais predefinidos em função dos pontos próximos aos edifícios escolhidos para
nortearem a pesquisa. Tal análise se deu, além da medição, por meio de observação somada ao registro
fotográfico (Figuras 4, 5 e 6), escrito e em croquis (Figura 7).

Figura 4 – Intenso fluxo de veículos gerando um ambiente


hostil para os pedestres, que atravessam apressadamente
(Foto: Felipe Barros, 2019).

Figura 5 – À direita, calçada estreita, rua sobrecarregada de


veículos entre edifícios altos. (Foto: Felipe Barros, 2019).

Figura 6 –
Acima,
trânsito à
porta da
igreja
Nossa
Senhora
do Monte
Carmo.
(Foto:
Autor,
2019).

Figura 7 – À
esquerda, limite
entre a Avenida
Gov. Carlos
Lacerda e o
começo da Rua
Primeiro de
Março e abaixo,
croqui do recorte
urbano estudado,
o ponto preto no
mapa indica o
local do desenho
(Desenho: Autor, feito em campo, 2019).

3.1.2. Medições de NPS


Por consequência da diversidade de fontes e da variação temporal do ruído emitido, a medição instantânea do
nível de pressão sonora não basta para caracterizar o ambiente acústico em áreas urbanas. Como referência
para avaliação de ruído ambiental é adotado o Nível de Pressão Sonora Equivalente (LAeq) ponderado na
curva “A” (Figura 8), por definição, “o nível que, na hipótese de poder ser mantido constante durante o
período de medição, acumularia a mesma quantidade de energia acústica que os diversos níveis variáveis
acumulam no mesmo período” (ABNT, 2000).

382
Figura 8 – fórmula para obtenção dos valores de LAeq (ABNT, 2000).

Para tal, as medições em campo foram feitas com o medidor integrador digital marca Instrutemp,
modelo ITDEC4080 e calibrador Instrutemp, modelo ITCAD5000, com função para cálculo automático de
Nível de Ruído Equivalente na curva "A" (LAeq) e do ruído de Pico na curva "C" (LCpk). Os níveis foram
medidos na escala A, expressa em dB(A) e utilizou-se o tempo de ponderação fast (rápido) do medidor. As
medições seguiram os procedimentos recomendados pela norma ABNT NBR 10151/2000 (Acústica -
Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas Visando o Conforto da Comunidade), com aferição do equipamento
dentro dos padrões determinados para o ensaio e com o posicionamento a 1,20m acima do piso e afastado em
pelo menos 2,00m do limite de qualquer superfície refletora, tais como paredes, muros, etc.
Foram selecionados 10 pontos estratégicos para a realização das medições do nível de pressão sonora,
com base na proximidade de bens de importante valor histórico e cultural ao longo da via. Conforme exposto
no mapa da figura 9.

Figura 9 – Mapa da Rua Primeiro de Março (em vermelho) com os edifícios históricos (em laranja) e pontos de medição (em vinho).
Autor sobre mapa retirado do site ArcGIS.

Figura 10 – Ficha de campo 01 com informações dos pontos e momentos de medição (Planilha: Autores, 2019).

383
Figura 11 – Ficha de campo 02 relacionando os pontos aos seus respectivos valores medidos (Planilha: Autores, 2019).

3.2. Preparação do modelo e simulação no programa Soundplan


Para a avaliação da situação estudada, escolhemos o recurso de simulação computacional através do
programa Soundplan. Esse método consiste na preparação de um modelo digital a partir de informações
extraídas da base cadastral do centro da cidade fornecida pela prefeitura do Rio, o qual é utilizado para gerar
um mapa de ruído, através dos valores de LAeq e das características morfológicas do sítio: número de pontos
de cálculo, altura do mapa em relação ao solo, número de reflexões além dos indicadores de níveis sonoros,
topografia, volume e proximidade dos edifícios.
Como não existem outras fontes sonoras significativas na área de estudo, a quantificação das emissões
considerou apenas as vias de tráfego (fonte linear), usando como base as informações de fluxo de veículos
encontradas no site da CET RIO e no aplicativo “vá de ônibus” da FETRANSPOR, através dos quais foi
elaborado um histograma contendo a variação do trafego sentido Centro/ Zona Norte pelas vias contidas no
recorte estudado em diferentes horários do dia.
O mapa inicial e os cortes foram gerados considerando a Norma RLS90, a partir de uma malha de 5x5
para o mapa e 2,5 x 2,5 para os cortes, considerando 3 reflexões com interpolação de 3x3.

3.3. Calibração do modelo


Para a calibração do modelo, foram utilizados os dados, obtidos em sítio, de NPS nos 10 pontos de medição
como parâmetros norteadores para assegurar a confiabilidade dos mapas gerados.
A calibração se deu a partir da comparação entre esses valores e os resultantes da simulação. O
primeiro resultado teve de ser revisado e, a partir de correções com a inclusão dos dados obtidos sobre a
porcentagem de veículos pesados, estimada em função das linhas de ônibus, obteve-se o resultado coerente
exposto no item 4 (Análise de resultados). O fluxo considerado na Rua Primeiro de Março foi de 25000
veículos/dia, média das contagens na altura da Rua Sete de Setembro e Av. Presidente Vargas.

384
Figura 12 – Histograma feito no Soundplan contendo a relação entre o fluxo de veículos e as horas do dia na Rua Primeiro de Março.
(Autores, 2019).

4. ANÁLISE DE RESULTADOS
Os resultados obtidos nesta pesquisa foram avaliados tendo como base os níveis de Pressão Sonora (NPS)
aceitáveis definidos pelo uso e ocupação previsto para a área em questão segundo a Resolução SMAC Nº
198 de 22 de fevereiro de 2002.
Em nível nacional, a Resolução nº 1 do CONAMA (1990) determina como parâmetro para controle da
poluição sonora a adoção dos valores estabelecidos pela NBR-10151, “Avaliação do Ruído em Áreas
Habitadas Visando o Conforto da Comunidade” (ABNT, 2000). No Rio de Janeiro, o Nível Critério para
Avaliação (NCA) de ruído ambiental (Figura 14) é estabelecido pela similaridade entre a NBR 10151 e o
Zoneamento Municipal de Uso e Ocupação do Solo pela Lei 3268, 2001.

Figura 13 – Recorte da cidade do Rio de Janeiro com as APs, Figura 14 – Recorte da cidade do Rio de Janeiro com indicação da
com indicação da AP1, que contém a zona da área estudada zona (AC2) que contém a área estudada, a Rua Primeiro de Março
(ampliada na imagem à direita). (Autores sobre mapa da está indicada por uma linha vinho. (Autores sobre mapa da
legislação bairro a bairro, 2019) legislação bairro a bairro, 2019)

385
Figura 15 – Nível de Critério de Avaliação em dB(A). (ABNT, 2000).

O NCA para área (Área Central- AC2) corresponde a 65 dB (período diurno) e 55 dB (período
noturno). Os níveis de ruído de pico, de fundo e os valores máximos e mínimos foram utilizados para
caracterizar a paisagem sonora da rua.

4.1. Mapa de ruídos horizontal da situação atual


Em toda a área que compreende a Rua Primeiro de Março observou-se que os limites do Nível de Pressão
Sonora se encontram acima do recomendado pela norma, que é para o período analisado (diurno) de 65 dB.
O ruído emitido pela linha de tráfego se apresenta numa grandeza de 80-50 dB. O que significa que a linha
de fachada das edificações que são mais próximas à via, que é o caso da maioria dos bens históricos dessa
região, se encontra fora do limite aceitável. Ao longo da Rua Primeiro de Março pôde-se observar que na
fachada do CCBB e das edificações mais próximas à rua os níveis encontrados ficam em torno de 75-80 dB,
e os edifícios que se localizam um pouco mais distantes, possuem o NPS, em suas fachadas, em torno de 70-
75 dB.
Já os edifícios dispostos mais distantes da Rua Primeiro de Março, principalmente os que se
encontram a norte desta via, têm seus entornos com valores de Nível de Pressão Sonora dentro dos limites.
Uma das razões dessa diferente ambiência sonora deve-se ao fato de que nem todas essas vias locais dão
acesso a veículos, e, quando possuem acesso, este se dá forma restrita.

Figura 16 – Mapa de ruído horizontal com indicação dos cortes para os mapas verticais. Obtido no programa Soundplan (Autores,
2019).

O mapa de ruído foi desenvolvido para a situação existente, a nível deste trabalho, apenas como instrumento
de análise. Porém, além de proporcionar um conhecimento do ambiente sonoro da área estudada, poderá
servir de subsídios para futuras propostas de intervenções no entorno da Rua Primeiro de Março.

386
4.2. Mapa de ruído vertical da situação atual
Através das análises dos mapas de ruído verticais observa-se que as duas áreas analisadas apresentam
características acústicas distintas. No caso do Corte BB | CCBB, pode-se observar a intensificação do ruído
urbano de tráfego por reflexão sobre as superfícies das fachadas. Na outra situação, Corte AA | Praça XV, o
campo aberto em um dos sentidos mostra a propagação do ruído de tráfego de forma mais dispersa, devido
ao alto nível de absorção atribuído a ambientes abertos, onde não há muitas superfícies refletoras, ou de
proporções relevantes. Além disso, entende-se também que a verticalização desses edifícios tem a
capacidade de interferir nas condições sonoras do espaço. Nas duas situações analisadas, todas as fachadas
frontais dos edifícios históricos se encontram com o limite do Nível de Pressão Sonora acima do
recomendado pela norma.
Na fachada do CCBB analisada no Corte BB, o NPS anteriormente citado no item referente ao mapa
de ruído horizontal em torno de 75-80dB vai mudando de acordo com a dissipação do ruído no sentido
vertical, chegando a uma faixa de 70-75 dB no ponto mais alto da edificação. No corte AA, pode ser
observado claramente a diferença de propagação sonora nos dois lados dessa fonte linear (via de tráfego), no
primeiro caso onde existe uma edificação como barreira, gerando uma sombra acústica, e a propagação desse
ruído em campo aberto, no sentido da Praça XV.

Figura 17 – Mapa de ruído vertical. Obtido


no programa Soundplan (Autores, 2019).

5. CONCLUSÕES
Constata-se, então, que as fachadas históricas da área de estudo estão submetidas a excessivos níveis de
pressão sonora. Por se tratar de patrimônio histórico, as limitações de intervenções para adequação nessas
fachadas podem inviabilizar o uso das áreas mais expostas da edificação. O tráfego de veículos, além de
gerar incômodo nos usuários com o alto nível de ruído, também é caracterizado como uma das fontes
artificiais de vibração no meio urbano, que podem gerar além da incomodidade danos estruturais nas
edificações (GEVÚ, 2017).
Conclui-se que o recurso de mapeamento do ruído apresenta-se como uma excelente ferramenta de
planejamento urbano para estudar o problema da poluição sonora. Além disso, este se mostra eficiente tanto
nos momentos de diagnóstico dos problemas, quanto nas estratégias para prevenir ou solucionar os mesmos.
Sendo, assim, uma fonte de informações essenciais para a elaboração de ações visando o controle do ruído.
Embora o espaço urbano seja dinâmico e suscetível a modificações em sua dinâmica de fluxos e atividades
ao longo do tempo, devem ser estudados os efeitos dessas alterações.
Sabemos, pois que a boa comunicação verbal é um dos principais indicadores de qualidade no espaço
público urbano que, entretanto, tem sido gradualmente degradada, em função do aumento do nível de ruído
do tráfego de veículos. A oportunidade de encontrar pessoas e conversar com elas na cidade, algo antes
natural, passou a ser mais e mais difícil (GEHL, 1936).
Desse modo, faz-se importante para arquitetos e urbanistas considerar - além do impacto sobre bens
de valor histórico, artístico e simbólico - a influência do ambiente sonoro urbano para a qualidade das
relações sociais e de usos e vivências dos espaços. Deve-se, portanto, estudar propostas de intervenção que

387
minimizem tais impactos e ofereçam uma melhor perspectiva para o centro histórico da cidade do Rio de
Janeiro.
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635c91?OpenDocument>. Acesso em 05 de abril de 2019.

AGRADECIMENTOS
Ao CNPq e à CAPES pelas bolsas concedidas.

388
A INFLUÊNCIA DA ARBORIZAÇÃO NO COMPORTAMENTO
TÉRMICO E NO FATOR DE VISÃO DO CÉU NO MICROCLIMA
URBANO NO BAIRRO DE SANTA CECÍLIA

Ana Luiza Thomaz da Silva (1); Erika Ciconelli De Figueiredo (2)


(1) Aluna de graduação, analu.thomaz@gmail.com, Universidade Presbiteriana Mackenzie, Rua Itambé, 143,
Prédio 9, Higienópolis, São Paulo, SP, (11) 95787-4707
(2) Doutora em Arquitetura e Urbanismo, erika.figueiredo@mackenzie.br, Universidade Presbiteriana
Mackenzie, Rua Itambé, 143, Prédio 9, Higienópolis, São Paulo, SP, (11) 2114-8369

RESUMO
A pesquisa tem objetivo de analisar o microclima urbano no bairro de Santa Cecília, na cidade de São Paulo,
para verificar a influência da massa arbórea e da urbanização no comportamento térmico da área. O método
empregou medições in loco com um termo higrômetro e simulações com o software ENVI-Met. A
urbanização no bairro de Santa Cecília se diferencia da urbanização do bairro de Higienópolis,
circunvizinho, em diversos aspectos, sendo a arborização um dos pontos de destaque. O estudo do
comportamento térmico da área para os pedestres é relevante, pois a região reúne vários equipamentos
importantes, como hospital Santa Casa de Misericórdia e a estação Santa Cecília do Metrô, gerando um fluxo
pedonal intenso. A largura das vias do bairro em questão é menor, se comparada ao bairro de Higienópolis,
cuja urbanização privilegiou o conforto térmico das edificações. Para desenvolver a pesquisa foi necessário
um inventário arbóreo da via principal do objeto de estudo, assim como a verificação da influência do Fator
de Visão do Céu (FVC), proporcionado pela urbanização para compreender a variação resultante na
temperatura do ar. A temperatura do ar na via varia de 31,7ºC a 33,1ºC como verificado na medição in loco.
O estudo comparou, por meio de simulações computadorizadas, o resultado da variação do Fator de Visão do
Céu da área em estudo, com e sem a arborização.
Palavras-chave: comportamento térmico, arborização, simulação computadorizada.

ABSTRACT
The research aims to analyze the urban microclimate in the district of Santa Cecília, in the city of São Paulo,
to verify the influence of tree mass and urbanization in the area thermal behavior. The method used in-situ
measurements with a thermo hygrometer and simulations with the software ENVI-Met. The urbanization in
the district of Santa Cecília differs from the urbanization of the neighborhood of Higienópolis in several
aspects, such as tree mass and street width. The study of the area thermal behavior is relevant, since the
region gathers several important equipment, such as Santa Casa de Misericórdia Hospital and Santa Cecília
subway station, hence generating an intense pedestrian flow. The district of Higienópolis was designed on a
thermal comfort basis, which resulted on better ventilation in buildings, compared to the surroundings. In
order to develop the research, it was necessary to have an inventory of the main path of the study object, as
well as to verify the influence of the Sky View Factor (SVF) provided by urbanization to understand the
variation in air temperature. The air temperature in the street varies from 31.7 ° C to 33.1 ° C as verified in
the in-situ measurement. The study compared, through computer simulations, the result of the variation of
the Sky View Factor of the researched area with and without vegetation.
Keywords: thermal behavior, vegetation, computer simulation.

389
1. INTRODUÇÃO
O bairro de Santa Cecília, próximo ao centro antigo da cidade de São Paulo, apresenta, desde seu
surgimento, uma urbanização distinta da que ocorreu no bairro de Higienópolis. A urbanização do bairro de
Higienópolis foi planejada visando a arborização das vias e a ventilação dos lotes (MACEDO, 2012),
resultando na disposição dos terrenos em patamares, como indica a Figura 1. Na Figura 2 pode-se perceber
que o conceito inicial do bairro se perdeu ao longo das décadas, em relação aos desníveis. A arborização, no
entanto, permaneceu marcante em toda a região. A urbanização de Santa Cecília, no entanto, não apresentou
um planejamento inicial. As chácaras da região foram loteadas sem as mesmas preocupações urbanísticas do
bairro vizinho (IACOCCA, 1998).

Figura 1 Casarão na Rua Piauí, no bairro de Higienópolis. Fonte: Figura 2 Rua Piauí atual. Fonte: GOOGLE STREET VIEW,
GOOGLE STREET VIEW, 2019, s/p. 2019, s/p.

Os dois bairros supracitados iniciaram o processo de verticalização das edificações em meados de


1940 (ANTONUCCI, 2006). Contudo, em sua configuração atual, Higienópolis possui mais edificações
verticalizadas e com um gabarito maior do que as presentes na Santa Cecília. A Avenida Higienópolis, uma
das principais avenidas do bairro, e a Rua Dona Veridiana, que pertence ao bairro de Santa Cecília e liga o
bairro de Higienópolis ao centro antigo de São Paulo, apresentam distinções com relação à verticalização e à
arborização. A Rua Dona Veridiana apresenta uma urbanização semelhante à defendida por Jacobs (2001),
que favorece o fluxo constante de pedestres, devido aos hospitais, comércios, instituições da região e
edifícios residenciais voltados para a rua. No entanto, o deslocamento pedonal pela Rua Dona Veridiana não
proporciona uma experiência agradável, do ponto de vista do conforto térmico, se comparado com outras
vias próximas, como à Avenida Higienópolis (bairro de Higienópolis).
Isso deve-se também ao fato das vias em questão apresentarem dimensões diferentes: a Avenida
Higienópolis apresenta de 11,3 metros a 16,4 metros de leito carroçável e 4, 5 metros de calçada de cada
lado, totalizando até 25 metros de largura; já a Rua Dona Veridiana apresenta de 9 a 10 metros de leito
carroçável e 3 metros de calçada, totalizando 16 metros de largura, resultando em uma diferença de até 9
metros de espaço público nas vias. Há uma diferença de 3 metros entre a dimensão das calçadas das duas
vias, de modo que a Avenida Higienópolis apresenta uma dimensão maior para o percurso do pedestre. As
Figura 3 e Figura 4 demonstram a situação atual das vias, destacando principalmente a diferença quanto a
arborização viária. Essas diferenças influenciam no comportamento térmico da área e, consequentemente, no
conforto dos pedestres.
A falta de vegetação e de sombreamento fazem com que a experiência do pedestre, ao caminhar ao
longo da Rua Dona Veridiana, seja desconfortável principalmente nos dias quentes. A impermeabilização do
solo contribui para a criação das ilhas de calor bem como a densidade dos materiais empregados nas
construções. O efeito Ilha de Calor corresponde à diferença de temperatura entre um ambiente urbano e uma
área rural. Essa alteração no clima é decorrente da urbanização das cidades, que a partir do século XIX
representam porções significativas do território, alterando a paisagem natural (LOMBARDO, 1985). A
capacidade dos materiais de conduzir calor (condutividade térmica) é ampliada de acordo com a cor das
superfícies, sendo que cores escuras contribuem para que o calor fique retido no microclima (FROTA,
SCHIFFER, 2001; LAMBERTS, DUTRA, PEREIRA, 2014), o que impacta diretamente no conforto do
pedestre. Frota e Schiffer (2001) apontam o sombreamento do caminho do transeunte como uma estratégia
para melhorar o conforto térmico e reduzir a incidência de radiação solar direta no percurso. As autoras
recomendam a seleção de materiais e cores que retenham menos calor para a pavimentação das calçadas, por
exemplo.

390
Figura 3 Vista atual da Avenida Higienópolis. Fonte: ACERVO Figura 4 Vista da Rua Dona Veridiana. Fonte: ACERVO
PESSOAL, 2018. PESSOAL, 2019.

Lombardo (1985) afirma, em seu estudo sobre Ilha de calor em São Paulo, que as áreas verdes
amenizam os efeitos da mancha urbana1, característica das metrópoles, e, consequentemente, alteram as
características do clima na sua região de influência. A evapotranspiração da vegetação influencia na umidade
local e melhora o conforto térmico em locais de clima quente e úmido.
O estudo da vegetação nas cidades possui não apenas relevância ambiental, mas social. O Plano
Diretor de São Paulo (PDE), de 2014, incentiva a mobilidade do pedestre, seja a pé ou de bicicleta, para
reduzir os congestionamentos e/ou ampliar a percepção da cidade. Gehl (2013) ressalta a importância do
percurso do pedestre para ampliar o senso de cidadania e de comunidade, no entanto, em um dia de verão, se
o conforto térmico não for contemplado nos projetos dos passeios públicos, os transeuntes podem optar por
outros meios de deslocamento.
Ferreira e Collischonn (2016) realizaram um estudo a respeito
do clima urbano utilizando o recurso da fotografia com lente olho de
peixe, como meio da estimativa do Fator de Visão do Céu (Figura 5),
que possibilita a verificação da radiação solar obstruída Figura 5
Imagem do estudo de Fator de Visão do Céu. Fonte: MINELLA,
ROSSI, KRÜGER, 2009como forma de demonstrar o impacto da
urbanização no comportamento térmico da área. O trabalho enfatiza
que a variação da quantidade de folhas das copas das árvores
influencia na obstrução da radiação solar direta e consequentemente
Figura 5 Imagem do estudo de Fator de
no conforto térmico.
Visão do Céu. Fonte: MINELLA, ROSSI, Segundo Fiori (2001), estudos sobre a influência vegetal no
KRÜGER, 2009 conforto térmico da cidade foram desenvolvidos a partir da
experiência e do método proposto por Labaki e Santos (1999), no
projeto Conforto Térmico em Cidades: Efeito da Arborização no Controle da Radiação Solar. As autoras
demonstraram a atenuação da radiação solar por parte da copa das árvores. Fiori (2001) afirma que Labaki e
Santos (1999) estabelecem quatro parâmetros ambientais para suas pesquisas, sendo eles: umidade relativa
do ar, velocidade do ar, temperatura e temperatura radiante média2. O método consiste em analisar as árvores
plantadas em locais isolados, com equipamentos de medição fixados sob a copa das árvores, a 1,30m do solo.
O trabalho apresenta a porcentagem de atenuação solar resultante da influência da copa de algumas espécies.
Bueno (1998) utiliza o método descrito acima para gerar gráficos de cinco espécies analisadas na
pesquisa - Sibipiruna (presente na área), Chuva-de-ouro, Jatobá, Magnólia, Ipê-roxo - detalhando os estudos
iniciados por Labaki e Santos (1999). Em outra pesquisa, Bueno – Bartholomei3 (2003) estuda a interferência
desses dados coletados em um ambiente construído e verifica que há a redução da temperatura do ar dentro
de uma sala de aula devido à sombra gerada pelas árvores do entorno.
Segundo Bueno – Bartholomei e Labaki (2003) a diferença de atenuação solar deve-se ao tamanho
da copa, densidade e altura das árvores. Abreu e Labaki (2010) realizaram um estudo em Campinas

1
Mancha urbana: “[...] é a expressão espacial do processo de metropolização, resultante do crescimento demográfico que a
cidade de São Paulo sofreu desde o final do século XIX até a Segunda Guerra Mundial” (LOMBARDO, 1985, p.68).
2 Valor médio entre a radiação térmica incidente na superfície e a radiação emitida pela mesma.
3 Bueno – Bartholomei corresponde ao nome de casada da pesquisadora Bueno.

391
analisando as variáveis de conforto proporcionadas por árvores durante o ano, por meio da atenuação da
radiação solar. O estudo compreende as espécies: Jabolão, que proporciona 92,8% de atenuação; Cassia,
88,6%; Sibipiruna, 88,5%; Chuva-de-ouro, 87,3%; Jatobá, 87,2%; Ficus, 86,3%; Magnólia, 82,4%; Pata-de-
vaca, 81,7%; Sombreiro, 78,6% no verão e 70,2% no inverno; Cedro-rosa, 75,6% no verão e 29,9% no
inverno; Ipê Roxo, 75,6%; e Aroeira, 73,6%. Algumas espécies de árvores apresentam variação quanto da
quantidade de folhas nas copas durante as estações do ano, o que influencia na atenuação solar destas. As
autoras concluíram que “todas as espécies arbóreas avaliadas foram capazes de alterar a sensação de conforto
térmico no entorno imediato” (ABREU; LABAKI, 2010, p.115), sendo que algumas espécies estudadas
possuem maior interferência térmica no verão ou no inverno, devido às suas características
termorreguladoras.

2. OBJETIVO
A pesquisa tem o objetivo de analisar o microclima urbano no bairro de Santa Cecília, na cidade de São
Paulo, para verificar a influência da massa arbórea no comportamento térmico e no Fator de Visão de Céu,
resultante da urbanização da área.

3. MÉTODO
O método aplicado nesta pesquisa pode ser elencado em três principais etapas:
1.Levantamento arbóreo da Rua Dona Veridiana;
2.Medição in loco de temperatura do ar e umidade relativa do ar na Avenida Higienópolis e na Rua
Dona Veridiana;
3.Simulações computadorizadas no programa ENVI-Met: arborização e Fator de Visão de Céu;

3.1. Levantamento arbóreo


O levantamento arbóreo realizado por Chrysostomo et al. (2009) contempla apenas as quadras da Rua Dona
Veridiana entre a Rua Sebastião Pereira e a Rua Canuto do Val (indicado na Figura 6), não abordando toda a
extensão da Rua Dona Veridiana. Na análise deste levantamento foram encontradas disparidades com a
situação real das árvores da via. Isso deve-se à queda e/ou retirada de alguns exemplares, ou plantio a
posteriori. A atualização desse levantamento de 2009 e o levantamento arbóreo das demais quadras foi
realizado durante a pesquisa de Iniciação Científica, de 2017 a 2018. As Figura 3, Figura 4 e Figura 7
demonstram a situação das vias supracitadas.

Figura 6 Mapa da região com destaque para as ruas abordadas na pesquisa. Fonte: A partir de GOOGLE EARTH, 2019, s/p.

392
Figura 7 Vista das Ruas Martinico Prado, Canuto do Val e Sebastião Pereira, respectivamente, da esquerda à direita.
Fonte:GOOGLE EARTH, 2019, s/p.

3.1.1 Coleta de dados


Realizou-se o registro fotográfico da via, bem como o desenho das quadras por meio do programa
AutoCAD, com a utilização da base de dados do GeoSampa, que disponibiliza digitalmente as informações
do município de São Paulo, como a malha urbana e a locação das árvores nas calçadas.

3.1.2 Identificação das árvores


A identificação das árvores foi feita a partir da literatura produzida por Lorenzi (2003, 2008, 2009), Pivetta e
Silva Filho (2002), Murasaki et al. (2009) e Minas Gerais (2017) que possibilitou a identificação da espécie,
nome popular, altura e dimensão da copa dos exemplares da via. Realizou-se a verificação da existência das
árvores com visitas ao local e por meio do Google Street View.
A organização do novo levantamento foi feita por meio da divisão das quadras da Rua Dona
Veridiana; resultando no desenho da via com as árvores identificadas por espécie e com a dimensão da copa
em escala, gerando assim um mapa das espécies arbóreas e uma tabela compilando todos os dados
encontrados sobre a arborização e a quantificação.

3.2. Medição in loco

Figura 8 Aparelho utilizado na medição: Minipa


MT-241, dados correspondem ao 20º ponto Figura 9 - Mapeamento dos pontos da medição in loco. Fonte: A partir de
medido. Fonte: ACERVO PESSOAL, 2018. GOOGLE MAPS, 2018, s/p.

Para a realização da medição de temperatura do ar e umidade relativa do ar in loco, ao longo da


Avenida Higienópolis e da Rua Dona Veridiana, utilizou-se um termo higrômetro Minipa MT-241, Figura 8.
Este aparelho permite a medição de temperatura do ar e da umidade relativa do ar, com variação de 0ºC a
50ºC e de 20% a 90% da umidade relativa do ar. A medição seguiu as orientações do fabricante do aparelho,
e foram realizadas na área de sombra a 1,30 metro de altura do piso acabado.
O percurso estabelecido foi destacado na Figura 9 e indica os locais onde a coleta de temperatura do
ar e umidade relativa do ar foram feitas. Esta coleta de dados iniciou-se na da Praça Esther Mesquita (ponto
1 na Avenida Higienópolis) em direção à Rua Dona Veridiana, até o metrô Santa Cecília, e foi subdividido
em 20 pontos de medição. A medição foi realizada no dia 9 de fevereiro de 2018 das 12:00h às 12:40h.
A escolha dessa data deve-se à estabilidade de temperatura nos dias anteriores, à ausência de
previsão de chuva para o período de medição, sendo um dos horários críticos para o deslocamento pedonal.

393
Os dados primários obtidos durante o percurso foram organizados em um mapa com os pontos do
levantamento e em uma tabela com a temperatura e a umidade de cada ponto. Os pontos destacados na
Figura 9 indicam os locais onde a coleta de temperatura do ar e umidade relativa do ar foram feitas.

3.3. Simulação computadorizada com o programa ENVI-Met: arborização e Fator de Visão


de Céu
A dimensão das áreas de estudo foi determinada a partir das limitações da versão gratuita do programa, que
possibilitou a simulação do ambiente urbano de 200m x 200m. A quadra da Rua Dona Veridiana escolhida
para modelagem (quadra 3, destacada em amarelo na Figura 13) possui uma variedade de gabaritos de
edifícios, sendo que a maioria possui menos de 10m de altura e apenas 5 edifícios tem mais de 40m. A área
possui 24 árvores, sendo 8 são da espécie Caelsalpinia peltophoroides; 9 da Ligustrum lucidum; 2 da
Tipuana tipu; 2 da Millettia dura; 1 da Coffea sp; 1 da Caesalpinia ferrea e 1 da Eucalyptus ficifolia.

Figura 11 Simulação da quadra em sua Figura 12 Simulação da quadra sem a


Figura 10 – Foto aérea da quadra situação atual. Fonte: AUTORIA arborização viária. Fonte: AUTORIA
simulada no programa ENVI-Met. Fonte: PRÓPRIA, 2018. PRÓPRIA, 2018
A partir de GOOGLE EARTH, 2018, s/p.
As simulações compreendem a duas situações ambientais microclimáticas, visto que a Rua Dona
Veridiana foi analisada com e sem a arborização existente. Contudo, devido ao programa ENVI-Met não
contemplar espécies brasileiras, as árvores utilizadas na modelagem correspondem à uma espécie padrão do
programa, que apresenta características muito próximas de altura e dimensão em relação às árvores
levantadas. A Figura 10 expõe a situação atual da quadra que foi simulada e permite a visualização da
quantidade de massa arbórea da via. O programa ENVI-Met necessita da modelagem 3D da área, criando
assim uma maquete virtual para a análise do microclima. As Figura 11 e Figura 12 demonstram as duas
situações simuladas: com e sem vegetação.
A inserção dos materiais no modelo ENVI-Met foi realizada a partir do grid de 5 x 5 m no qual a
área foi inserida para a modelagem. As informações quanto à altura dos edifícios foram incorporadas ao
modelo.
Conforme supracitado, foram realizadas duas simulações na Rua Dona Veridiana: com e sem
arborização para verificar o comportamento térmico da área. As simulações computadorizadas foram
realizadas no Laboratório de Conforto da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Campus Higienópolis e
demoraram cerca de 36 horas cada uma.
O programa LEONARDO foi utilizado ao término das simulações no ENVI-Met, pois ele faz a
leitura dos dados obtidos na simulação e a sua conversão em mapas. Contudo, as legendas de temperatura od
ar, necessitaram de ajuste manual do gradiente de cores para uma melhor leitura dos dados presentes nos
mapas.
Além das simulações visando a variação de temperatura do ar, também foi realizada a análise do
Fator de Visão do Céu. Os mapas gerados a partir dessa análise foram organizados na escala de 0 a 1, sendo
que quanto mais próximo do 0, mais obstruído o céu. As áreas mais expostas à radiação solar apresentam o
Fator de Visão do Céu mais próximo do 1, estando assim menos obstruídas.
Foram realizados mapas de temperatura do ar no programa LEONARDO às 9:00h, às 12:00h e às
16:00h, à 1,25m do solo, altura utilizada no levantamento in loco.

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS


O resultado do levantamento arbóreo realizado foi compilado no formato de mapa (Figura 13Figura 13) e
tabela Tabela 1.
A partir da Tabela 1 nota-se que a via destacada (Rua Dona Veridiana) apresenta 82 indivíduos

394
arbóreos em seus 0,8 km de extensão. Algumas quadras apresentam uma quantidade maior de árvores,
chegando ao número de 24 indivíduos, enquanto outras apresentam apenas 3. A diversidade de espécies
arbóreas também é um ponto relevante para a configuração do microclima, sendo que, na via em questão,
identificou-se 21 espécies diferentes.
Na Rua Dona Veridiana há a presença de espécies que foram analisadas por Bueno – Bartholomei e
Labaki (2003) de forma isolada e o levantamento arbóreo realizado nessa pesquisa permite analisar essas
espécies em um ambiente construído. Uma das espécies presentes na área é a Caesalpinia peltophoroides,
que atenua 88,5% da radiação solar que recebe (BUENO – BARTHOLOMEI; LABAKI; 2003), sendo que a
via possui 21 unidades. Outras espécies presentes no referencial teórico levantado são a Bauhinia variegata
que atenua 81,7% e possui 1 unidade, e a Ficus benjamina que atenua 86,3% e representa 28% do conjunto
de 82 árvores da área de estudo.
Basso e Corrêa (2014) analisaram 13 espécies arbóreas, considerando a sombra da árvore na calçada
e a radiação solar direta no asfalto. Quatro espécies estudadas por eles estão presentes no levantamento
realizado da Rua Dona Veridiana, sendo estas: Caesalpinia peltophoroides (21 árvores), Bauhinia variegata
(1), Michelia champaca (1) e Tibouchina granulosa (2). Por meio dos dados informados pelos autores é
possível mensurar a diferença média de temperatura de superfície da calçada entre uma área sob a sombra da
copa das árvores e uma a pleno sol. Com isso, a espécie Caesalpinia peltophoroides pode atenuar 10,6ºC; a
Bauhinia variegata corresponde a 13ºC; a Michelia champaca demonstra uma diminuição de 15ºC; e a
Tibouchina granulosa reduz 6,8ºC da temperatura de superfície.

Figura 13 Mapa da Rua Dona Veridiana com as


Tabela 1 - Espécies arbóreas identificadas. Fonte: AUTORIA PRÓPRIA,
espécies arbóreas locadas. Fonte: A partir de
2018.
GEOSAMPA, 2014, s/p

A Tabela 2, medição na Avenida Higienópolis, indica uma variação de temperaturas de 29,1ºC a


31,6ºC, enquanto na Rua Dona Veridiana foram medidas temperaturas que variam de 31,7ºC a 33,1ºC.
Portanto, enquanto a temperatura média da primeira via (no dia aferido e simulado) é de 30,3º C a da
segunda é de 32,4ºC, que corresponde a 2,1ºC de diferença. Essas diferenças quanto ao comportamento
térmico no microclima influenciam no conforto do pedestre. A umidade relativa do ar da Avenida
Higienópolis variou de 33% a 42%, a da Rua Dona Veridiana variou de 30% a 34%. Sendo assim a primeira
é mais confortável para o percurso do pedestre do que a segunda, tanto em relação à umidade relativa quanto
à temperatura do ar.

395
Local Avenida Higienópolis

Ponto de medição 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Temperatura 29,1°C 29,4°C 30,2°C 30,5°C 31,5°C 30,9 °C 31,6°C 30,2°C 31,3°C 31,2°C

Umidade 33% 40% 43% 41% 41% 35% 38% 42% 34% 38%

Local Rua Dona Veridiana

Ponto de medição 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Temperatura 31,9°C 31,7ºC 31,8°C 32,3°C 32,4°C 32,2°C 31,9°C 32,1°C 32,4°C 33,1°C

Umidade 34% 30% 30% 32% 30% 32% 33% 30% 31% 31%
Tabela 2 - Dados da medição in loco. Fonte: AUTORIA PRÓPRIA, 2018.

As simulações possibilitam a verificação da temperatura do ar à altura de 1,25m em diferentes


horários do dia. A partir disso, elencou-se três diferentes horários para a análise da temperatura do ar nessa
quadra. Para a confirmação da veracidade dos dados obtidos no programa ENVI-Met verificou-se a
correspondência com os dados obtidos na medição in loco. As Figura 14, Figura 15 e Figura 16 mostram a
variação de temperatura na quadra, principalmente na via, no espaço público no ambiente simulado com
arborização.

Figura 14 – Temperatura do Ar com arborização às 9:00h. Figura 15– Temperatura do Ar com arborização às 12:00h.
Fonte: AUTORIA PRÓPRIA, 2019. Fonte: AUTORIA PRÓPRIA, 2019.

A simulação computadorizada com


arborização apresentada na Figura 14 indica que, às
9:00h, a temperatura do ar na via varia de 28,5ºC a
29,0ºC. A Figura 15 indica que às 12:00h a
temperatura varia de 32,4ºC a 33,5ºC. Enquanto a
Figura 16 demonstra que às 16:00h a variação ao
longo da via é de 1°C (de 32,9ºC a 33,9ºC).
As simulações computadorizadas sem a
arborização das calçadas apresentaram aumento de
até 0,2ºC de temperatura do ar, em comparação com
as simulações com a arborização. As simulações
também possibilitaram verificar a influência das
árvores no Fator de Visão do Céu dentro de um
Figura 16 – Temperatura do Ar com arborização às 16:00h.
Fonte: AUTORIA PRÓPRIA, 2019.
ambiente urbano. Para isso, a partir dos dados
obtidos pelo ENVI-Met foram gerados dois mapas
para a análise desse quesito. As Figura 17 e Figura 18 expõem esses dados.

396
Figura 17 – Fator de Visão do Céu do ambiente com Figura 18 – Fator de Visão do Céu do ambiente sem
Arborização. Fonte: AUTORIA PRÓPRIA, 2019. Arborização. Fonte: AUTORIA PRÓPRIA, 2019.

A partir das Figura 17 e Figura 18 foi possível perceber que a arborização pode influenciar em até 0,2
do Fator de Visão do Céu, principalmente quanto observa-se a diferença entre as imagens no encontro das
ruas Dona Veridiana e Martinico Prado. Nota-se que há uma presença maior das colorações do gradiente
vermelho ao rosa na Figura 18, demonstrando que há uma maior exposição de céu quanto não há a presença
das árvores nas calçadas. Isso resulta em uma maior exposição ao sol no caminho do pedestre.
Como por exemplo, a porção mais ao norte da Rua Dona Veridiana que apresenta de 0.46 a 0.69 de
Fator de Visão do Céu e simultaneamente apresenta também as temperaturas mais altas da via nos três
períodos do dia (destacados pela Figura 14, Figura 15 e Figura 16), essa diferença deve-se tanto as
edificações quanto a menor quantidade de arborização nesse ponto. A urbanização apresenta em média um
impacto de 0.39 no FVC, como é possível notar nas Figura 17 e Figura 18.
A análise demonstrou que os pontos de temperaturas mais elevados ao longo das vias correspondem a
porções nas quais o Fator de Visão do Céu é maior, nos quais há uma menor obstrução de céu. Com isso,
identificou-se por meio dos mapas que a arborização é um dos fatores que influenciam na diferença de
temperatura do ar ao longo da rua.

5. CONCLUSÕES
A pesquisa possibilitou a análise da influência da arborização e do Fator de Visão de Céu em um ambiente
urbano. Por meio do levantamento arbóreo foi possível identificar a quantidade e espécies das árvores da via,
o que permitiu um levantamento do referencial teórico direcionado para a obtenção de informações quanto à
atenuação solar e à redução na temperatura de superfície dessas árvores. A diferença de temperatura nas
áreas analisadas com e sem vegetação, por meio das simulações computadorizadas no programa ENVI-Met,
resultaram em uma diferença de 0,2°C, visto que a arborização da via é mais escassa devido a sua
urbanização. Na Avenida Higienópolis, que devido a sua urbanização possui mais arborização, há uma
diminuição de 2,1ºC na temperatura do ar média em relação à temperatura da Rua Dona Veridiana,
ressaltando a importância da vegetação no meio urbano para o conforto do pedestre.
O Fator de Visão do Céu (FVC) também é um dos fatores que interferem na temperatura do ar, visto
que, no estudo, áreas com uma maior obstrução (mais próximas do 0 na escala do mapa) apresentam uma
temperatura do ar menor do que as áreas mais expostas à radiação solar (com o FVC mais próximo do 1). Os
mapas de FVC, também gerados por meio das simulações computadorizadas, demonstraram que a árvore
modelo do programa, empregada na simulação, pode obstruir 0,2 do FVC, sendo efetiva no conforto térmico
do pedestre. A urbanização tem um impacto de 0,39 no FVC, no entanto, sua eficiência é menor se
comparada à vegetação devido à qualidade ambiental proporcionada pelas árvores e o aumento da umidade
relativa.
O estudo demonstra a influência massas vegetais e da urbanização para o comportamento térmico e
para ampliar o conforto do pedestre, incentivando assim percursos a pé.

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AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao MackPesquisa, pertencente à Universidade Presbiteriana Mackenzie, pelo apoio financeiro
durante o período da iniciação científica realizada em 2017/2018.

398
A INFLUÊNCIA DA MUDANÇA EM PADRÕES DE OCUPAÇÃO DO SOLO
SOBRE AS CONDIÇÕES AMBIENTAIS URBANAS: O CASO DO POÇO DA
DRAGA, EM FORTALEZA-CE

Lígia Prata (1); Sara Lins (2); Stefane Alves (3); Tainah Carvalho (4); Renan Cid Varela
Leite (5); Samuel Bertrand Melo Nazareth (6)
(1) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, ligia_prata@outlook.com, Universidade Federal do Ceará
(2) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, saracrliins@gmail.com, Universidade Federal do Ceará
(3) Graduada em Arquitetura e Urbanismo, arqstefanealves@gmail.com, Universidade de Fortaleza
(4) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, tainahfrota@arquitetura.ufc.br, Universidade Federal do Ceará
(5) Doutor, Professor Adjunto do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará
(6) Mestrando, Arquiteto e Urbanista, bmnsamuel@gmail.com, Universidade Presbiteriana Mackenzie

RESUMO
A cidade de Fortaleza está sendo alvo de um grande programa que prevê seis Operações Urbanas
Consorciadas (OUC), cada uma localizada em diferentes trechos com forte potencial imobiliário. Cada OUC
estabelece novos parâmetros de ocupação para cada região, modificando o que está definido no Plano Diretor
atual. O presente trabalho tem como foco um recorte da OUC Litoral Centro que compreende partes dos
bairros Centro e Praia de Iracema, tratando-se de uma área de grande potencial turístico para a cidade. Neste
processo, chamou atenção a permissividade construtiva resultante da alteração de parâmetros urbanísticos na
área em questão, a qual circunda o precário assentamento do Poço da Draga, no bairro Centro. . A
verticalização da paisagem no entorno desta comunidade com a elevação no gabarito das edificações e a
ampliação do índice de aproveitamento têm influência direta nas condições ambientais urbanas e no interior
de edificações. No presente artigo, dois cenários de ocupação do solo são comparados para avaliar o impacto
das mudanças nas prescrições edilícias deste trecho da capital cearense sobre as condições ambientais
urbanas, mais especificamente o acesso ao sol e o potencial de ventilação natural. Foram realizadas análises
da projeção de sombras através de ferramenta computacional e a técnica de dinâmica dos fluidos
computadorizada (CFD) foi empregada para avaliar a ventilação natural. Os resultados indicam a redução na
incidência solar devido à maior obstrução causada pelos edifícios altos propostos para a área no entorno do
assentamento e a diminuição do potencial de ventilação natural da área com a redução da intensidade das
correntes que chegam até a região de interesse do estudo.
Palavras-chave: prescrições urbanísticas, condições ambientais, simulação computacional.

ABSTRACT
The city of Fortaleza is currently being targeted by a huge program that envisions six Consortium Urban
Operations (Operações Urbanas Consorciadas – OUC – in portuguese, CUO, in English), each on a
different location that have great real state potential. Each CUO stablishes new occupational parameters for
each region, changing what is currently defined in the present City Master Plan. The work in question focus
on the Central Litoral CUO, that encompass the Centro and Praia de Iracema neighborhoods, which are part
of one of regions with greatest tourist potential for the city. In this process the contructive permissiveness
resulting from the changes in urban parameters of the region, that encircles the informal settlements of Poço
da Draga caught our attention. The verticalization of the landscape around this community caused by the
height limit increase of the buildings along with the enlargement of the occupation index, have a direct
influence on the urban environmental conditions and, consequently, the environmental conditions inside the
buildings. In the present article, two land use scenarios are being compared to evaluate the urban
environmental condition impact caused by the proposed changes in the building regulations on this section of
the capital of Ceará, specifically the access of the community to sufficient sunlight and natural ventilation.
Shadow projection analyzes were performed using a computational tool to analyze the sunlight, and the
computational fluid dynamics (CFD) technique was used to evaluate the natural ventilation. Results indicate

399
the reduction in the solar incidence due to the obstruction caused by the higher buildings proposed for the
area around the settlement and, also, the decrease of the natural ventilation potential of the area with the
reduction of the intensity of the air currents that arrive in the region of the study.
Keywords: urban prescriptions, environmental conditions, computational simulation.

1. INTRODUÇÃO
O crescimento das cidades constitui um desafio para a agenda de governos e o cotidiano de populações
urbanas. A ordenação e orientação do espaço resultante das múltiplas relações entre o homem e o meio,
responsáveis por moldar a forma do tecido da cidade, tornam-se, assim, essenciais para um desenvolvimento
sustentável do ambiente urbano. É sabido que a urbanização é capaz de alterar o comportamento dos
parâmetros climáticos locais e, conseqüentemente, as condições de conforto térmico nas cidades, mantendo,
portanto, estreita ligação com a atividade de planejamento urbanístico (CHANDLER, 1976; MONTEIRO,
1976; OKE, 1987).
As sociedades urbanas contemporâneas estão se desenvolvendo em cidades cujas dimensões nunca
foram tão expressivas. Ademais, a maior parte desta população está concentrada em países em
desenvolvimento, onde os impactos ambientais adquirem contornos preocupantes devido à especulação do
solo urbano. Do ponto de vista do clima, as mudanças geradas pela urbanização sobre cidades tropicais são
consideradas mais severas, gerando situação de estresse bioclimático pelo aumento da temperatura do ar,
diminuição da umidade relativa e decréscimo da ventilação natural, elevando o consumo energético para
condicionamento ambiental dos edifícios. Romero (2001) observa, ainda, que dentre todos os componentes
do clima, as condições de ventilação sofrem as maiores alterações durante o processo de urbanização.
No Brasil, o desenvolvimento de trabalhos e o conhecimento das questões relacionadas ao vento e ao
planejamento urbano podem ser considerados relativamente recentes. As consequências de tal deficiência no
embasamento científico quando das tomadas de decisões por parte das gestões públicas têm efeitos diretos
sobre as cidades e sua população. Nesse sentido, cabe citar as pesquisas desenvolvidas por Silva (1999),
Costa (2001), Prata (2005), Souza (2006), Leite (2008) e Leite (2010; 2015) que tratam da substituição das
estruturas existentes pela inserção de novas formas, a verticalização da paisagem, o maior adensamento
construtivo e seus reflexos no comportamento do vento na escala da cidade.
Na cidade de Fortaleza, à semelhança de outros grandes centros urbanos, problemas ambientais já são
fatos de características próprias e merecedores de estudos mais aprofundados. Entre estes, ressalta-se a
presença de possíveis ilhas de calor, a expressiva verticalização de determinadas áreas da cidade em paralelo
à expansão horizontal para locais cada vez mais distantes, a diminuição da arborização no interior da malha
urbana, as altas taxas de impermeabilização do solo e a poluição de mananciais. Tais fatores, de ordem mais
abrangente, têm influência direta sobre aspectos mais específicos do conforto térmico no âmbito do espaço
construído, agravados, sobretudo, pela condição subequatorial da cidade.
A capital cearense, através dos Programas Fortaleza Competitiva em concordância com o Fortaleza
2040 a Prefeitura identificou, através de um estudo, seis áreas para serem objetos de intervenções por meio
do instrumento de Operação Urbana Consorciada, dentre elas, a OUC Litoral Central. As mudanças nas
prescrições edilícias deste trecho da cidade, de potencial turístico e imobiliário, despertaram o interesse em
avaliar os impactos do aumento do índice de aproveitamento e elevação do gabarito das edificações sobre as
condições de ventilação natural e sombreamento no trecho estudado, sobretudo na comunidade Poço da
Draga, área de extrema vulnerabilidade social.

2. OBJETIVO
O presente artigo tem por objetivo avaliar o impacto das mudanças nas prescrições edilícias na região do
Poço da Draga, em Fortaleza, Ceará, sobre as condições ambientais urbanas através de simulação
computacional. Mais especificamente, analisa-se a ventilação natural e o sombreamento na escala urbana
causados pela possibilidade de verticalização de um trecho da cidade, que se encontra em fase de estudo para
uma possível modificação de seus parâmetros urbanísticos.

3. MÉTODO
A pesquisa partiu da caracterização da área de estudo, tanto no que se refere à morfologia deste trecho do
tecido urbano quanto em relação aos processos que estão acontecendo e que podem vir a produzir
modificações da paisagem desta área da cidade. Em seguida, são apresentados os cenários tridimensionais
virtuais submetidos às simulações computacionais para análise da ventilação natural.

400
3.1. Caracterização da área de estudo
O aglomerado urbano Poço da Draga constitui-se enquanto assentamento precário já consolidado na região
analisada, a qual é um importante polo cultural e turístico na região norte da cidade de Fortaleza. Nos
últimos anos, o trecho de estudo atravessou uma série de modificações espaciais com a inauguração do
Centro Cultural Dragão do Mar, a realização do Aterro da Praia de Iracema e a construção do Acquário do
Ceará, além de outros empreendimentos e equipamentos instalados na área. Tais alterações refletem a
condição da área como centro de atrativos imobiliários, com investimentos associados à vocação turística
deste trecho (BESSA, 2015). Esses atrativos impulsionaram a criação da OUC Litoral Central, que estuda
uma reestruturação no zoneamento existente, com o objetivo de ampliar o potencial criativo, comercial e
turístico da região.
A área de estudo, demonstrada na figura 1, é bastante heterogênea quanto ao uso do solo, existindo
galpões industriais desocupados, comércio, serviços como hotelaria e propriedades para aluguel turístico e
edificações residenciais, com destaque para a comunidade do Poço da Draga, em ocupação irregular.
Atualmente, de acordo com o zoneamento proposto pelo plano diretor, a área se divide em ZPA 2 (Zona de
Proteção Ambiental 2), onde não é permitida a edificação, e ZO3 (Zona de Orla 3). Essa segunda por sua
vez, subdivide-se em SBZ 1 (Subzona), SBZ 2 - S1 e SBZ 2 - S2 (Subzonas Setores 1 e 2), como é possível
observar no mapa a seguir (figura 2).

Figura 1 – Mapa da região de estudo. Figura 2 - Zoneamento da região de estudo (PDPFor, 2009).

A Zona de Orla é caracterizada por estar próxima à faixa de praia e ter potenciais paisagísticos e
turísticos cuja ocupação se baseia na disponibilidade de infraestrutura e serviços urbanos e na presença de
imóveis não utilizados e subutilizados. Ela se subdivide em sete trechos, sendo a Praia de Iracema o terceiro.
Mais especificamente, na região do trecho III da ZO, o PDPFor prevê índice de aproveitamento máximo de
2,0, taxa de ocupação de 60% e altura máxima de 48 m.
Em 2018, entretanto, a Prefeitura elaborou um relatório onde define áreas que sofrerão impactos
através da implementação de Operações Urbanas Consorciadas, sendo Fortaleza a capital brasileira com
maior número deste instrumento. Tal relatório especifica quais as áreas da cidade serão afetadas,
estabelecendo um novo zoneamento e alteração dos parâmetros urbanísticos. A área de estudo ficará sob a
legislação da OUC Litoral Centro. A figura 3, a seguir, ilustra o novo zoneamento, contendo cinco das seis
novas zonas propostas cujos parâmetros.

Figura 3 - Zoneamento da região de estudo proposto pela OUC

A Zona 1 mantém as prescrições urbanísticas da ZPA II, que antes se estendia por toda a área em
proximidade com o mar. A nova proposta, no entanto, se limita a um pequeno trecho ao lado direito da área
de estudo. Boa parte do terreno que correspondia a essa zona de proteção foi transformado na Zona 6, cujos
parâmetros urbanísticos são os mais permissíveis dentre as novas zonas. De acordo com a OUC, os antigos
galpões existentes, localizados entre a ZPA II e a ZO3, poderão dar lugar a edifícios de até 95 metros de
altura. O objetivo para a criação da Zona 6, de acordo com o relatório, é o fomento a equipamentos de
cultura, lazer e turismo.

401
A Zona 2 corresponde a Subzona 2 - Setor 2 da legislação vigente, mantendo-se praticamente igual.
No entanto, nota-se a extinção da Subzona 01 e de uma Zeis presente na atual legislação (Luos 2017) dando
lugar a nova Zona 3. Caracteriza-se pelo estímulo do uso do comércio varejista e serviços. O gabarito da
zona que antes não poderia ultrapassar 48m passa a ter uma permissividade de 72m de altura.
A Zona 5, antiga Subzona 2 - Setor 1, faz parte da ZEPH Praia de Iracema, sendo submetida às
restrições impostas por esse tipo de zoneamento, como a manutenção de edifícios históricos tombados. A
OUC espera encorajar o uso residencial, comercial, serviços e, principalmente de cultura e lazer. Aumenta-se
o índice de aproveitamento máximo, a taxa de ocupação e o gabarito que passa de 48 para 60 metros.
Entre as Zonas 5 e 6 situa-se a Comunidade do Poço da Draga que continua se ser classificada
como uma ZEIS. A proposta da OUC é de regularizar e reinserir a comunidade nesse espaço de forma
urbanizada, visando também a recuperação ambiental da foz do Rio Pajeú que atravessa a comunidade. Essa
área, localizada no meio de tantas mudanças urbanísticas, é de grande interesse para o presente estudo, que
busca entender de que forma essas alterações podem interferir na ventilação natural deste lugar. A tabela 1, a
seguir, reúne os parâmetros de cada zona, fatores determinantes para o adensamento construtivo permitido
para esta região da cidade.
Tabela 1 - Parâmetros OUC Litoral Central. Fonte: Relatório de desenvolvimento OUC Litoral Central.
Índice de Taxa Taxa Altura Test.
Área. Min Prof. Max. Fração
Zona aprov. perm Ocup máxima Min lote
lote (m) Lote (m) lote
max (m) (%) (%) (m) (m)

ZONA 1 0 100 0 0 0 0 0 SF*

ZONA 2 2.5 20 80 10,5 125 5 25 SF*

ZONA 3 5 20 80 72 250 10 25 SF*

ZONA 5 3 20 80 60 125 5 25 SF*

ZONA 6 4 40 60 95 125 5 25 SF*

3.2. Cenários de ocupação do solo


Na elaboração dos cenários de ocupação do solo a serem submetidos às simulações de ventilação na escala
urbana, os modelos são compostos pelas edificações existentes e/ou previstas, sendo, entretanto, fundamental
que sua geometria seja simplificada. A medida diminui consideravelmente o tempo de processamento e a
capacidade computacional necessária para os cálculos (PRATA, 2005; LEITE, 2008). Mesmo preservando,
ao máximo, as características do trecho, arestas e faces curvas de pequena dimensão foram desconsideradas,
bem como distâncias entre as edificações menores do que 5 m, unificando-as em blocos para extrusão.
Para a modelagem tridimensional dos cenários, partiu-se do levantamento das informações
cartográficas desta área em base CAD. O primeiro cenário de ocupação do solo elaborado consiste no
modelo base e representa a situação atual da ocupação do solo na área de estudo.
Adotou-se uma altura de 3 m para o pé-direito dos edifícios, excluindo-se a vegetação, muros e demais
obstáculos de pequena dimensão. Percebe-se, neste modelo, que a relativa horizontalidade na ocupação desta
parte da cidade é rompida pela presença pontual de torres de edifícios, mais a leste do conjunto, que
contrastam com as edificações de baixo gabarito (figura 4).

Figura 4 – Cenário 1: atual ocupação do solo na área de estudo.

402
Um outro cenário de ocupação do solo foi modelado à luz dos novos parâmetros estabelecidos pelas
OUC apresentados na tabela 1 e de acordo com a prática imobiliária percebida na capital cearense no que
tange a atividade hoteleira e residencial multifamiliar. Partiu-se de algumas premissas, como a forma de
atuação do mercado imobiliário, que, hipoteticamente, se daria através da compra de edificações de menor
valor de venda e/ou terrenos não edificados e subutilizados, remembrando-os para aumentar as dimensões
dos terrenos a construir e,com isso, erguer edifícios com a altura máxima permitida. Assim, elaborou-se uma
possível ocupação da área com novos edifícios altos, contando com o maior gabarito permitido, entre 60 e 95
metros e índice de aproveitamento máximo, o que resultou num modelo de expressiva verticalização a ser
comparado ao cenário 1 em termos para avaliação das condições de escoamento do ar, como pode-se
perceber na figura 5.

Figura 5 – Cenário 2: possibilidade de ocupação do solo na área de estudo.

3.3. Simulações computacionais


Os dois cenários de ocupação do solo elaborados foram submetidos à programas computacionais para
simulação do percurso solar e análise da ventilação natural em cada conjunto edificado.
A verificação da insolação em cada cenário foi realizada pelo programa Autodesk Ecotect Analysis
2011, valendo-se das manchas de sombreamento e máscaras do entorno em ponto específico de interesse da
pesquisa, localizado no trecho do Poço da Draga.
No caso da ventilação natural, a dinâmica dos fluidos computadorizada, mais conhecida pela sigla
CFD (Computacional Fluid Dynamics), proporciona uma análise qualitativa e quantitativa do desempenho da
ventilação natural em várias fases do projeto. Em avaliações envolvendo prescrições urbanísticas e conjuntos
edificados, é possível verificar alterações ocasionadas na área de estudo em cenários futuros e seus impactos
sobre a cidade (TOLEDO; PEREIRA, 2004; PRATA, 2005).
Nesta investigação, as simulações computacionais da ventilação natural na escala urbana foram
realizadas no programa ANSYS CFX em regime estacionário, isotérmico, incompressível e turbulento. A
pressão adotada como referência é de 1 atm e a temperatura é de 25 °C. Utilizou-se um domínio circular
como forma de permitir análises com o vento incidindo de diferentes direções. Uma malha desestruturada
formada por tetraedros e camadas de prismas foi gerada para compor os dois modelos de ocupação em
função da geometria irregular dos edifícios presentes na área. Adotou-se, ainda, o modelo de turbulência K-
epsilon padrão e todas as simulações foram calculadas visando atingir o nível de resíduos mínimo de 1x10-5.
Aplicou-se uma equação para corrigir o perfil vertical de velocidades do ar em função da rugosidade
do meio. Na equação 1, a seguir, largamente utilizada em estudos de ventilação natural urbana, valores de
velocidade do ar medidos em estações localizadas em pontos desobstruídos são multiplicados por fatores (k e
a) em função do tipo de terreno (área urbana), determinando a velocidade do ar na cota z desejada.
V = Vref x k x za Equação 1

Onde:
V = velocidade média do vento à determinada altura [m/s];
Vref = velocidade média do vento na estação meteorológica registrada a 10 m [m/s];
z = altura determinada [m];
k, a = coeficientes segundo a rugosidade da superfície do terreno, segundo a tabela 2.

403
Tabela 2 - Coeficientes de rugosidade segundo as características do terreno
Coeficientes do terreno k a
Área aberta plana 0,68 0,17
Campo com obstáculos espaçados 0,52 0,20
Área urbana 0,35 0,25
Centro de cidade 0,21 0,33

4. RESULTADOS
A visualização das regiões sombreadas pelos edifícios constitui um referencial acerca da interferência ou
obstrução causada pelas construções da área. Paralelamente, o acesso ao sol nas fachadas pode constituir um
recurso prático e objetivo para demonstrar, visualmente, o quanto os edifícios obstruem o percurso das
correntes de ar antes de atingirem as fachadas das edificações.
As figuras 6 e 7, a seguir, apresentam a projeção de sombras durante todo o solstício de verão para
os dois cenários, permitindo apreender o nível de obstrução de cada conjunto modelado. Na figura 6, que
retrata o cenário 1, é possível perceber que são poucas as obstruções ao percurso solar, permitindo que as
fachadas dos edifícios recebam grande carga de radiação solar ao longo do dia. Em comparação a este
cenário, a maior obstrução do cenário 2 em todos os níveis é evidente em função da maior verticalização das
edificações previstas neste, o que contribui para reduzir a quantidade de radiação solar sobre as superfícies
dos edifícios, como apreende-se a partir da figura 7.

Figura 6 – Projeção de sombras cenário 1 Figura 7 – Projeção de sombras cenário 2


A maior verticalização das edificações do cenário 2, permitida pela legislação proposta, produz um
aumento na obstrução ao percurso solar, como é possível perceber ao comparar as máscaras do entorno do
assentamento Poço da Draga no cenário 1, na figura 8. Em função de edifícios mais altos localizados
próximos ao assentamento, ocorre uma redução de grande parte da incidência solar sobre as fachadas das
casas da comunidade, sobretudo nas primeiras horas do dia ao longo do ano, como é possíve perceber na
máscara do entorno gerada na figura 9.

Figura 8 – Máscara do entorno no Poço da Draga cenário 1 Figura 9 – Máscara do entorno no Poço da Draga cenário 2

404
Em termos da análise dos resultados de ventilação natural na área, são utilizados planos horizontais a
1,5 m do piso (nível do pedestre) e a 30 m de altura (cerca de metade da altura dos edifícios mais altos da
área de estudo) com contornos de velocidades e vetores, além de planos verticais e perfis verticais de
velocidade em diferentes pontos do domínio. A velocidade de escoamento e a perturbação dos fluxos
causada pelas formas construídas constituem a base para análise dos resultados.
No cenário 1, a figura 10 apresenta os contornos de velocidades a 1,5 m de altura do solo, em que é
possível perceber que a maior ocupação do solo reserva às ruas a possibilidade de maiores fluxos de ar.
Assim, são verificadas correntes ao longo das vias que permitem que a ventilação natural adentre mais o
modelo, acelerando os fluxos para velocidades acima dos 3 m/s. Na região do Poço da Draga, mais
especificamente, são verificadas velocidades mais baixas, assim como em regiões entre edificações com
maior massa construída, que ocupam quase toda a quadra, como ao centro do modelo.
Com a maior verticalização de edificações proposta pelo cenário 2, apresentada pela figura 11,
ocorre uma maior diluição das correntes e as vias não assumem mais a condição de únicos trechos
aceleradores de fluxos, como verificado no cenário 1. A menor taxa de ocupação das edificações ao centro
deste cenário determinam maiores intensidades às correntes de ar, com valores entre 1,0 e 2,0 m/s em grande
parte dos trechos em que as edificações foram substituídas por edifícios altos. Na parte sudeste do modelo é
possível perceber, ainda, que há maior permeabilidade às correntes em comparação ao cenário 1

Figura 10 – Plano horizontal de velocidades a 1,5 m no cenário 1. Figura 11 – Plano horizontal de velocidades a 1,5 m no cenário 2.

No plano horizontal a 30 m do solo, a pouca presença de obstáculos do cenário 1 é evidente. Tal


aspecto gera, consequentemente, pouca resistência ao fluxo de ar sobre o conjunto, como indicado pela
figura 12. Há velocidades do ar acima dos 2,5 m/s em grande parte do modelo, sendo verificada uma zona de
vórtices somente no trecho mais a sudeste do cenário. Mais especificamente, sobre a região do Poço da
Draga ocorre a aceleração de correntes de ar, com valores próximos dos 4,5 m/s, o que atesta a melhor
circulação do ar sobre este trecho do cenário, que conta com grande número de residências.
Em contrapartida, no cenário 2, a presença de diversos edifícios mais altos gera uma série de vórtices
e áreas com baixas velocidades no modelo, variando entre 0,2 e 1,25 m/s, como é possível perceber na figura
13. Analisando mais especificamente o trecho acima do Poço da Draga, há uma redução expressiva da
velocidade dos fluxos em função da presença de torres mais altas, sobretudo devido àquela mais alongada no
sentido leste-oeste, que determinam duas zonas de arrasto mais significativas ao centro do modelo.

405
Figura 12 – Plano horizontal de velocidades a 30 m no cenário 1. Figura 13 – Plano horizontal de velocidades a 30 m no cenário 2.

A visualização das linhas de corrente reforça a influência das torres mais altas na redução dos fluxos
sobre a região como um todo. Observando o comportamento dos fluxos no cenário 1, apresentado na figura
14, percebe-se uma presença de correntes adentrando o conjunto em maior número e de maneira mais livre,
enquanto que no cenário 2 (figura 15) o efeito de barreira na porção sudeste do conjunto é melhor
caracterizado.

Figura 14 – Linhas de corrente no cenário 1. Figura 15 – Linhas de corrente no cenário 2.

Através dos planos verticais o impato de obstáculos sobre o fluxo de ar pode ser melhor detalhado. Na
figura 16 é possível perceber que o baixo gabarito das edificações que compõem o conjunto não gera uma
região de vórtices a sotavento tão expressiva, sobretudo avaliando, mais especificamente o impacto sobre a
região do Poço da Draga. Ao sofrer o efeito de barreira devido ao edifício mais alto presente no trecho em
que o plano vertical foi traçado, verificam-se contornos de velocidade acima dos 1,50 m/s em praticamente
toda a seção.
Em contrapartida, ao analisar a figura 17, que apresenta o mesmo plano de seção no cenário 2, a
sequência de edifícios altos determina uma série de zonas de recirculação do ar em baixas velocidades. Mais
especificamente, o plano vertical permite perceber uma zona de arrasto com valores abaixo de 0,5 m/s sobre
a região do Poço da Draga, comprometendo o potencial de ventilação das edificações residenciais do trecho.

406
Figura 16 – Plano vertica no cenário 1. Figura 17 – Plano vertical no cenário 2.

Finalmente, apresentam-se os perfis verticais de velocidade do ar para os dois cenários de ocupação do


solo tomando como base um ponto específico na região do Poço da Draga e comparando-os ao fluxo não
perturbado. A medida permite quantificar o impacto do conjunto edificado no comportamento da velocidade
ao longo de um eixo vertical, indicando a modificação na intensidade das correntes de ar em função da
rugosidade imposta pelo meio. Com base no gráfico a seguir (figura 18), é possível verificar reduções
significativas na velocidade do ar até 70 m de altura, gabarito máximo dos edifícios presentes nos dois
cenários. A redução que ocorre em comparação ao fluxo não alterado que adentra o domínio é, em média, de
80% no cenário 1 e de 292% cenário 2, indicando a influência do maior nível de verticalização deste último
conjunto proposto para a região de estudo.
A expressiva redução da velocidade do ar através do perfil vertical de velocidades ocorre devido à
elevação da camada limite no trecho, impondo um novo comportamento do ar em movimento ao entrar em
contato com cada conjunto de edificações.

Figura 18 – Comparação dos perfis verticais de velocidade do ar entre os cenários 1 e 2.

5. CONCLUSÕES
Através do conjunto de simulações computacionais apresentado, tanto em relação à ventilação natural quanto
ao sombreamento causado pelos edifícios em cada cenário, é possível concluir que a permissividade
construtiva no que se refere às possibilidades reservadas pela OUC Litoral Centro para ampliar o potencial
comercial e turístico da região, produzirá impactos significativos na qualidade ambiental da área de estudo,
em especial, na comunidade Poço da Draga.

407
O presente estudo intencionou avaliar sob o viés qualitativo e quantitativo os aspectos desta
transformação que pode ocorrer na região. As preocupações recaem, especialimente, sobre o assentamento
precário do Poço da Draga devido sua vulerabilidade socioambiental. No entanto, apesar da noção de outros
processos sociais, políticos e econômicos envolvidos nestre trecho da malha urbana fortalezense, a
abordagem deste estudo tratou tão somente de aspectos ambientais, mais especificamente o acesso ao sol e à
ventilação natural, aspectos fundamentais ao conforto térmico numa localidade quente e úmida como
Fortaleza. Se, por um lado, tem-se à redução da carga térmica devido à insolação com a maior obstrução do
cenário mais verticalizado sobre o assentamento, como visto nos resultados, ocorre, paralelamente, uma
diminuição efetiva e de grandes proporções no potencial de ventilação natural das habitações. Tal aspecto
poderia, inclusive, ser objeto de estudo específico em outra etapa.
Diante do dinamismo da forma urbana e seus impactos no comportamento da ventilação natural,
reforça-se o papel de estudos através de ferramentas capazes de prever, com precisão, o campo de vento
resultante da relação entre as prescrições urbanísticas e a produção do espaço da cidade como uma forma de
tentar ajustar da melhor maneira possível os produtos desta ação.

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408
A INFLUÊNCIA DAS ÁREAS VERDES NO MICROCLIMA URBANO:
ESTUDO DE CASO EM ESPAÇOS PÚBLICOS DE ARAPIRACA-AL
Isabel França Souza (1); Ricardo Victor R. Barbosa (2); Isadora Alves Gouveia Silva (3);
Vinicius Silva Zacarias (4)
(1) Discente, Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, isabelfranca22@gmail.com
(2) PhD, Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, rvictor@arapiraca.ufal.br
(3) Discente, Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, isadoraalvesgouveiasilva@gmail.com
(4) Discente, Graduando em Arquitetura e Urbanismo, viniciuszacarias.vs@gmail.com
Universidade Federal de Alagoas, Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Avenida Manoel Severino
Barbosa - Bom Sucesso, Arapiraca - AL, 57309-005, (82) 3482-1800.

RESUMO
A importância das áreas verdes no cenário urbano refere-se, entre outros fatores, à minimização dos impactos
da urbanização, contribuindo para a redução da temperatura do ar, aumento da umidade relativa do ar e
direcionamento dos ventos. Assim, este trabalho tem por objetivo analisar a influência da vegetação no
microclima urbano, a partir do monitoramento das variáveis temperatura do ar e umidade relativa do ar em
espaços urbanos na cidade de Arapiraca-AL. Os procedimentos metodológicos adotados para o
desenvolvimento da investigação consistiram em cinco etapas: escolha das unidades amostrais, seleção dos
pontos de medição, instalação dos sensores, obtenção e análise dos dados registrados. Foram selecionados
como áreas de estudo o Parque Municipal Ceci Cunha, o Bosque das Arapiracas e a Área Verde Dom
Constantino Lüers. Os resultados obtidos demostraram uma redução de temperatura de até 2,7 ºC e um
aumento da umidade relativa do ar em locais com vegetação em relação a outros onde a vegetação é ausente.
Palavras-chave: vegetação urbana, conforto térmico, clima urbano.

ABSTRACT
The importance of green areas in the urban scenario refers, among other factors, to minimizing the impacts
of urbanization, contributing to the reduction of air temperature, increase of relative air humidity and
direction of the winds. The objective of this work is to analyze the influence of vegetation on the urban
microclimate, by monitoring the variables air temperature and relative humidity in urban spaces in the city of
Arapiraca-AL. The methodological procedures adopted for the development of the research consisted of five
steps: selection of sample units, selection of measurement points, installation of sensors, acquisition and
analysis of recorded data. The Ceci Cunha Municipal Park, the Bosque das Arapiracas and the Green Area
Dom Constantino Lüers were selected as study areas. The results obtained showed that in the points located
in spaces with greater concentration of vegetation the lower air temperatures were registered in the hottest
period of the day.
Keywords: urban vegetation, thermal comfort, urban climate.

409
1. INTRODUÇÃO
Os impactos da urbanização sem a devida gestão ambiental têm prejudicado o bem-estar da população
urbana. A temperatura do ar nas cidades é mais elevada do que as registradas nas áreas rurais circunvizinhas.
Esse fato deve-se, especialmente, à morfologia urbana, às propriedades térmicas dos materiais das
superfícies, à produção de calor antropogênico, à impermeabilização do solo e, também, à redução de
superfície coberta por vegetação.
A cidade de Arapiraca, cidade média que está situada a 264 m de altitude na mesorregião do Estado
de Alagoas, enfrenta esses mesmos impactos. Na década de 1970, a cidade era conhecida como a “Capital do
Fumo” por ser uma das maiores produtoras de tabaco do país. Nessa época a cidade recebeu muitos
investimentos e sofreu um rápido crescimento populacional. Atualmente, embora a produção do fumo tenha
reduzido significativamente, entre 2000 e 2010, a sua população cresceu aproximadamente 19,12%,
enquanto no mesmo período a população urbana do Brasil cresceu 16,62% (IBGE, 2010). Possui população
de 181.481 habitantes, segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), o
que a torna a segunda cidade mais populosa do estado. Entretanto, em razão da falta de planejamento esse
expressivo crescimento resultou no aumento dos problemas socioambientais.
Quanto ao clima, Arapiraca é classificada como uma cidade de clima semiárido. Segundo Silva e
Barbosa (2014), possui clima composto basicamente de duas estações, que podem ser descritas como: úmida,
no período entre os meses de maio e setembro, no qual as temperaturas do ar são menos elevadas e a
umidade relativa do ar é alta; e seca, no período entre os meses de outubro e abril, quando as temperaturas
atingem níveis relativamente altos e a umidade do ar é baixa. Além disso, Arapiraca apresenta pluviosidade
extremamente irregular, com um regime de chuvas concentradas nos meses de maio, junho e julho.
Em cidades de clima quente, como Arapiraca, áreas verdes bem planejadas podem ser importante
recurso para o conforto térmico dos usuários. Nesse sentido, muitos pesquisadores (DIAS et al, 2010;
AMORIM, LEDER, 2011; LABAKI et al, 2011; ZHINZATO, 2014; MARTELLI, SANTOS, 2015; SILVA
et al, 2015; PEREIRA, BARBOSA, 2016) apontam que o uso de áreas verdes é uma alternativa para reduzir
o rigor térmico urbano. Além de proporcionarem benefícios no contexto da qualidade de vida urbana, essas
áreas podem atuar na redução da temperatura do ar, no aumento da umidade do ar e no direcionamento dos
ventos.
O fenômeno de redução térmica pela vegetação urbana ocorre pela capacidade das plantas em
armazenar energia térmica. Segundo Labaki et al. (2011), a vegetação absorve cerca de 90% da radiação
visível e 60% da infravermelha. Isso se deve à capacidade das plantas de captarem luz para o seu processo de
fotossíntese. A clorofila presente nas folhas absorve energia da luz solar para a produção de glicídios,
substâncias orgânicas capazes de armazenar grandes quantidades de energia potencial química, que são
necessárias para o metabolismo das plantas. A maior parte da energia solar absorvida se converte em calor
latente pela evapotranspiração da água de suas folhas. Dessa forma, há o resfriamento da planta e do ar em
sua volta.
As árvores funcionam como um filtro da radiação solar, minimizando o calor que é irradiado a partir
do solo. Assim, consequentemente há uma diminuição da temperatura do ar próximo. Segundo Dias et al.
(2010), foi detectado uma redução de temperatura do ar de até 2°C e um aumento de até 5,5% da umidade
relativa do ar em sítios com arborização em relação a recintos não arborizados. Assim, podemos afirmar que
a arborização está entre as melhores estratégias para o controle da radiação solar. Tanto em regiões de clima
tropical, no qual a radiação solar é intensa, quanto em clima temperado, cuja a radiação é mais intensa no
verão, o uso de vegetação tem-se mostrado eficiente para melhorar os microclimas urbanos.
De acordo com Barbosa (2005, p. 31), “a influência da vegetação nas condições higrotérmicas dos
ambientes urbanos se dá, essencialmente, pela interceptação e captação da energia solar incidente. O maior
ou menor grau de interceptação depende diretamente do tipo e estrutura da copa”. Assim, a vegetação
arbórea pode alcançar altos índices de radiação absorvida, dependendo da densidade da copa e do tamanho e
espessura das folhas.
Além disso, a energia acumulada durante o dia é liberada durante a noite. Dessa forma, a temperatura
sob as árvores, nesse período, é superior à temperatura do ar nos espaços abertos e se intensifica de acordo
com o fluxo dos ventos. Quanto maior a circulação do ar maior sua amplitude térmica (MASCARÓ;
MASCARÓ, 2005).

2. OBJETIVO
Diante das considerações supracitadas, percebe-se a importância das áreas verdes para minimizar os
impactos da urbanização. Assim, o presente artigo teve como objetivo analisar a influência das áreas verdes
no microclima urbano, a partir do monitoramento do comportamento das variáveis temperatura do ar e

410
umidade relativa do ar, tendo como universo de estudo a cidade de Arapiraca, localizada no semiárido
alagoano.

3. MÉTODO
Os procedimentos metodológicos adotados para o desenvolvimento da investigação compreenderam cinco
etapas distintas: escolha das unidades amostrais, seleção dos pontos de medição, instalação dos sensores,
obtenção e análise dos dados registrados. Os seis sensores registradores de temperatura do ar e umidade
relativa do ar são da marca HOBO, modelo U23 PRO V2 (Figura 1a), que apresenta faixa de medição -40 ° a
70 °C, precisão ± 0,21 °C e resolução 0,02 a 25 °C. Os mesmos foram aferidos entre si por um período de
uma semana. Após a aferição, os sensores foram programados para o registro das variáveis climáticas em
intervalos de uma hora.
Os sensores foram instalados nas áreas urbanas protegidos da radiação solar direta por um escudo de
radiação solar RS1 – específico para esses sensores (Figura 1b) – e instalados em postes de iluminação
pública ou árvores urbanas a uma altura de 4 m do solo. A campanha de monitoramento compreendeu o
período de 16 dias consecutivos (10 a 26 de março de 2018).

(a) (b)
Figura 1 – Equipamento para medição de variáveis climáticas e escudo de proteção da radiação direta.

Foram selecionadas duas áreas na cidade com diferentes configurações de vegetação urbana. A
primeira área consistiu no Parque Municipal Ceci Cunha e a área contigua denominada Bosque das
Arapiracas. A segunda área consistiu na Área Verde Dom Constantino Lüers, Rua Minervina Francisca da
Conceição e Avenida Elvira Barbosa Lopes. Em cada área foram delimitados três pontos de monitoramento
com características distintas de permeabilidade do solo e tipo de vegetação, conforme Tabela 1.

Tabela 1 – Caracterização dos pontos de medição


Parque Ceci Cunha e Bosque das Arapiracas Área Verde Dom Constantino Lüers e arredores
Ponto
P1 P2 P3 P4 P5 P6

Foto

Tipo de
Pavimentação Inexistente Paralelepípedo Inexistente Paralelepípedo Concreto Asfalto
do Local/Rua
Gramíneas e Arbustos e
Tipo de Gramíneas e árvores de árvores de
Inexistente Gramíneas Inexistente
Vegetação arbustos médio e grande médio e grande
porte porte

O Parque Municipal Ceci Cunha está localizado na parte central da cidade e possui área total de
65.442,71 m². A vegetação existente corresponde a gramíneas, trepadeiras e árvores de porte distintos (P1).
Entretanto, há áreas de estacionamento com pavimentação em paralelepípedos e ausência de vegetação (P2).
O Bosque das Arapiracas possui área total de 106.583,53 m² e corresponde a maior área verde da cidade
(P3). A figura 2 mostra a localização dos pontos de monitoramento na área.

411
N

Parque Ceci Bosque das Arapiracas

Figura 2 – Localização dos pontos no Parque Ceci Cunha e no Bosque das Arapiracas

A Área Verde Dom Constantino Lüers (P5) possui uma extensão de 900 m e está localizada em uma
área predominantemente residencial. Apresenta características que subsidiam diversos usos, como prática de
atividades físicas e recreação. A vegetação é constituída por arbustos e árvores de médio e grande porte,
apresentando grandes áreas impermeáveis, sendo o restante em solo nú ou gramado. A Rua Minervina
Francisca da Conceição (P4) caracteriza-se, predominantemente, por residências térreas e pavimentação com
paralelepípedos, ao tempo que a Avenida Elvira Barbosa Lopes (P6) é composta, principalmente, por
residências de dois pavimentos e apresenta pavimentação asfáltica. A figura 3 mostra a localização dos
pontos de monitoramento na área.

Área Verde Dom Constantino


Lüers
Figura 3 – Localização dos pontos na Área Verde Dom Constantino Lüers e arredores

Para a presente pesquisa, selecionou-se para análise os três dias em que foram registradas as
temperaturas do ar mais elevada, por meio dos dados da estação meteorológica automática do Instituto
Nacional de Meteorologia (INMET), localizada no povoado Batingas, zona rural do município de Arapiraca.
Conforme ilustra a figura 3, esse período correspondeu aos dias 12, 13 e 14, os quais apresentaram máximas
de 36,7°C, 36,5°C e 35,4°C respectivamente.

412
37

Temperatura do ar (°C)
36
35
34
33
32
31
30
10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
Dias

Figura 4 – Temperaturas do ar máximas diárias em Março de 2018, INMET

Para a análise dos dados foram elaborados gráficos que apresentam a diferença entre os valores de
temperatura do ar registrados nos seis pontos pesquisados comparados com valores de temperatura do ar
registrados na estação meteorológica do INMET, adotado como estação de referência.

4. RESULTADOS
4.1. Parque Ceci Cunha e Bosque das Arapiracas
No período noturno, as temperaturas do ar foram mais altas nos pontos localizados na cidade comparado às
temperaturas do ar registradas pela estação meteorológica do INMET. No período diurno, esse cenário se
inverte. Esse fato pode ser justificado pelo armazenamento de calor pela estrutura urbana durante o dia,
devido aos materiais usados nas construções e pavimentação. O calor armazenado é liberado à noite para a
atmosfera.
No dia 12, das 7h às 15h, os três pontos apresentaram menores temperaturas do ar em relação à
estação meteorológica. Nesse período, em P3, ponto que está localizado no Bosque das Arapiracas, foram
registradas as menores temperaturas. Já em P2, ponto que está localizado em uma área do Parque Ceci Cunha
onde não há vegetação, foram registradas as maiores temperaturas do ar. Às 11h, P3 apresentava 2,2°C a
menos que o ponto da estação meteorológica, P1 estava com menos 1,9°C e P2 estava com menos 1,4°C. Já
às 13 horas P3 estava com 2°C a menos que o ponto da estação meteorológica, P1 estava com menos 1,6°C e
P2 estava com menos 1,2°C (figura 5). Como no horário mais quente do dia as plantas perdem mais água por
evapotranspiração, nesse período é possível constatar maiores amplitudes térmicas entre áreas com vegetação
predominante e outras áreas.

Figura 5 – Variação da temperatura do ar nos pontos 1, 2 e 3 em relação à estação meteorológica automática do INMET (dia 12/03)

No dia 13, a variação de temperatura nos três pontos nesse mesmo período foi semelhante ao dia 12.
Às 11h P3 apresentava 2,3°C a menos que o ponto da estação meteorológica, P1 estava com menos 2°C e P2
estava com menos 1,5°C. Já às 13h, P3 estava com 2°C a menos que o ponto da estação meteorológica, P1
estava com menos 1,6°C e P2 estava com menos 1,2°C (figura 6). Como no dia anterior, em P3 (Bosque das
Arapiracas) foram registradas as menores temperaturas e em P2 (Parque Municipal Ceci Cunha) foram
registradas as maiores temperaturas do ar. Apesar da amplitude térmica máxima entre esses dois pontos ser
de 1°C, esse resultado demonstra a importância das árvores para reduzir o impacto da radiação solar.

413
Figura 6 – Variação da temperatura do ar nos pontos 1, 2 e 3 em relação à estação meteorológica automática do INMET (dia 13/03)

No dia 14, a variação de temperatura nos três pontos apresentou um comportamento diferente em
relação aos dois dias anteriores. Das 7h até às 12h, em P1, ponto que apresenta vegetação rasteira, foram
registradas temperaturas mais altas que em P2, no qual não há vegetação. Às 11h, P3 (Bosque das
Arapiracas) estava com 1,9°C a menos que o ponto da estação meteorológica, P1 (Parque Municipal Ceci
Cunha) estava com menos 1°C e P2 (Ginásio Municipal João Paulo II) estava com menos 1,4°C. Já às 13h,
P3 estava com 2,2°C a menos que o ponto da estação meteorológica, P1 estava com menos 1,4°C e P2 estava
com menos 1,2°C (figura 7). A partir desse resultado, pode-se inferir que apenas a presença de vegetação
rasteira não é suficiente para amenizar significativamente a temperatura do ar local.

Figura 7 – Variação da temperatura do ar nos pontos 1, 2 e 3 em relação à estação meteorológica automática do INMET (dia 14/03)

4.2. Área Verde Dom Constantino Lüers e entorno


Nos três dias analisados, no período das 9h às 15h, no ponto localizado na Área Verde Dom Constantino
Lüers (P5) foram registradas as menores temperaturas do ar em comparação às registradas na estação
meteorológica do INMET. Isso se deve à presença de arborização e vegetação baixa no local. Em P4 (Rua
Minervina Francisca da Conceição) e P6 (Avenida Elvira Barbosa Lopes), a variação de temperatura do ar
foi semelhante, pois nessas duas vias não há arborização.
No dia 12, às 11h, P4 apresentava 1,9°C a menos que o que o ponto da estação meteorológica e P5
estava com menos 2,6°C e P6 estava com menos 1,6°C. Já às 13h, P4 estava com 0,9°C a menos que o ponto
da estação meteorológica, P5 estava com menos 2,3°C e P6 estava com menos 1,7°C (figura 8). Nesse dia, a
amplitude térmica entre P4 (Rua Minervina Francisca da Conceição) e P5 (Área Verde Dom Constantino
Lüers) alcançou 1,7°C. Apesar de em P5 apresentar piso em concreto, a concentração das árvores de médio e
grande porte contribuíram para filtrar a radiação solar e, consequentemente, reduzir a temperatura do ar.

414
Figura 8 – Variação da temperatura do ar nos pontos 4, 5 e 6 em relação à estação meteorológica automática do INMET (dia 12/03)

No dia 13, a variação de temperatura nos três pontos foi semelhante ao dia 12. Às 11h, P4 estava com
2°C a menos que o ponto da estação meteorológica, P5 estava com menos 2,7°C e P6 estava com menos
1,7°C. Já às 13h, P4 estava com 0,9°C a menos que o ponto da estação meteorológica, P5 estava com menos
2,3°C e P6 estava com menos 1,7°C (figura 9). Como no dia anterior, em P5 foram registradas as menores
temperaturas e em P4 foram registradas as maiores temperaturas do ar.

Figura 9 – Variação da temperatura do ar nos pontos 4, 5 e 6 em relação à estação meteorológica automática do INMET (dia 13/03)

No dia 14, às 11h, P4 (Rua Minervina Francisca da Conceição) estava com 1,5°C a menos que o ponto
da estação meteorológica, P5 (Área Verde Dom Constantino Lüers) estava com menos 1,9°C e P6 (Avenida
Elvira Barbosa Lopes) estava com menos 1,4°C. Já às 13h, P4 estava com 1,3°C a menos que o ponto da
estação meteorológica, P5 estava com menos 2,5°C e P6 estava com menos 1,8°C (figura 10). Nesse dia, em
P4 e P6 a variação de temperatura do ar foi semelhante em relação aos dia anteriores e a amplitude térmica
entre P4 e P5 alcança 1,3°C.

Figura 10 – Variação da temperatura do ar nos pontos 4, 5 e 6 em relação à estação meteorológica automática do INMET (dia 14/03)

415
5. CONCLUSÕES
De acordo com a análise dos resultados obtidos por meio de investigação experimental foi possível
identificar o impacto que diferentes formas de disposição de áreas verdes exercem no microclima urbano.
Em áreas onde há a maior concentração de vegetação de grande porte registraram‐se os menores valores de
temperatura no seu entorno imediato, como foi possível verificar em P3 e P5. Os dados analisados
apontaram uma redução de temperatura do ar de até 2,7 ºC em espaços urbanos com arborização em relação
à estação meteorológica automática do INMET. Além disso, observou-se que os espaços urbanos que
possuem apenas vegetação rasteira apresentaram temperaturas do ar semelhantes às registradas em espaços
sem vegetação.
Embora os resultados obtidos demonstram a importância das áreas verdes, principalmente
arborizadas, para a redução do rigor térmico urbano, faz-se necessário novos trabalhos nessa temática.
Outras variáveis como velocidade e direção dos ventos, umidade relativa do ar e materiais que compõem o
entorno edificado podem ser levadas em consideração para a obtenção de dados mais significativos.

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416
A INFLUÊNCIA DE DIFERENTES MORFOLOGIAS NO CONFORTO
TÉRMICO DOS USUÁRIOS EM ESPAÇOS URBANOS ABERTOS
Maria Eugênia Fernandes (1); Luis Fernando Kowalski (2); Érico Masiero (3)
(1) Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana, Arquiteta e Urbanista,
fernandes.me88@gmail.com
(2) Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana, Engenheiro Civil,
luizfernando.lfk@gmail.com
(3) Doutor, Professor do Departamento de Engenharia Civil, erico@ufscar.br
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Engenharia Civil, Laboratório de Conforto, Rod.
Washington Luiz, s/n, São Carlos - SP, 13565-905, Brasil, Tel:.+55 (16) 3351-8263

RESUMO
Os impactos climáticos negativos gerados pela urbanização, tendem a influenciar na saúde da população,
cabendo ao planejamento urbano promover espaços com maior qualidade térmica. O desenho urbano tem
sido estudado como uma estratégia capaz de controlar as variáveis climáticas e melhorar as condições de
conforto. Dessa forma, o objetivo dessa pesquisa é analisar o conforto térmico em dois espaços públicos
abertos e a sua relação com as diferentes configurações urbanas Para isso, duas frações urbanas da cidade de
São Carlos foram caracterizadas de acordo com o sistema de classificação das Zonas Climáticas Locais,
posteriormente foram realizadas coletas de dados microclimáticos e entrevistas para investigar a satisfação,
percepção e o nível de conforto dos usuários. Os resultados mostram que a região caracterizada como LCZ
65, com maior porcentagem de área permeável, maior FVC e menor relação H/W ofereceu melhores
condições de conforto às 10h e 16h. Às 19h ambos os espaços se comportaram de maneira semelhante. No
entanto, os entrevistados se mostraram mais satisfeitos no espaço com mais áreas verdes. Essa análise
ressalta a importância de espaços urbanos com abundância de vegetação e estruturas de sombreamento,
incluindo arborização na promoção de maior qualidade térmica para a população.
Palavras-chave: conforto térmico, geometria urbana, índice PET, Zonas Climáticas Locais.

ABSTRACT
The negative climatic impacts generated by urbanization, impact on the health of the population, being the
responsibility of urban planning to promote spaces with higher thermal quality. Urban design has been
studied as a strategy capable of controlling climatic variables and improving comfort conditions. Thus, the
objective of this research is to analyze the thermal comfort in two open public spaces and its relation with the
different urban configurations. For this, two urban fractions of the city of São Carlos were characterized
according to the classification system of the Local Climate Zones. Later, microclimatic data collections and
interviews were conducted to investigate users' satisfaction, perception and level of comfort. The results
show that the region characterized as LCZ 65, with higher percentage of permeable area, higher FVC and
lower H / W ratio offered better comfort conditions at 10h and 16h. At 19h both spaces behaved in a similar
way. However, respondents were more satisfied in the space with more green areas. This analysis highlights
the importance of urban spaces with abundant vegetation and shading structures, including afforestation to
promote higher thermal quality for the population.
Keywords: thermal comfort, urban geometry, PET index, Local Climate Zones.

417
1. INTRODUÇÃO
Mills et al. (2010) e Santamouris (2015) relatam a influência da urbanização sobre o clima natural. O
crescimento das cidades acarreta uma série de disfunções, onde a substituição do pavimento natural por
impermeável e a remoção de vegetação podem influenciar em eventos como aumento de ondas de calor,
precipitação e ocorrência de ilhas de calor urbano, impactando na qualidade de vida da população. Dessa
forma, observa-se a importância de proporcionar melhores condições de conforto aos usuários dos espaços
urbanos.
Diversas pesquisas mostram o importante papel da geometria urbana para mitigar os problemas
climáticos. Oke (1981) estudou a influência do fator de visão do céu (FVC) na formação de ilhas de calor
urbano, questão também discutida por Souza et al. (2010).
Middel et al. (2013) analisaram o impacto da geometria na temperatura em diferentes cenários urbanos
baseados na classificação das Zonas Climáticas Locais (Stewart e Oke, 2012), visando estabelecer padrões
de desenho que contribuíssem para a redução das temperaturas urbanas e concluíram que o sombreamento
causado pelos edifícios mais altos e são capazes de contribuir para o resfriamento. Além disso, os autores
concluíram também que o sistema das ZCL pode ser importante para analisar e propor soluções urbanas
bioclimáticas.
Emmanuel (2016), aponta que o desenho urbano sensível ao clima pode ser uma ferramenta para
controlar determinadas variáveis climáticas. Assim, à medida em que a geometria interfere nas condições
climáticas, também podem influenciar no conforto térmico das cidades.
Achour-Younsi e Kharrat (2016), analisaram a influência da geometria, através da relação H/W, FVC
e orientação das vias no conforto térmico e relatou que maiores H/W resultavam em melhores condições de
conforto térmico em condições de clima subtropical mediterrâneo. Gonzalez e Krüger (2016) estudaram o
impacto de diferentes albedos no conforto térmico através da substituição dos materiais de superfície em
cânions urbanos e concluíram que, apesar da diminuição da temperatura do ar, o aumento do valor do albedo
das superfícies tende a piorar as condições de conforto térmico.
Thorson et al (2011) apresentaram a influência da geometria urbana no aumento da temperatura
radiante média. Os resultados mostraram que a geometria pode causar grandes diferenças intra-urbanas na
temperatura radiante média (trm) na escala horária, diária ou anual. Os autores mencionam que áreas abertas,
em geral, tendem a ser mais quentes, dessa forma, áreas compactas poderiam atenuar os aumentos de trm e
melhorar o conforto ao ar livre. A pesquisa ressalta, ainda, a importância dos estudos sobre a trm ou o
conforto térmico na análise de cenários climáticos, visando mostrar melhor o impacto sobre os seres
humanos.

2. OBJETIVO
O objetivo desse trabalho é analisar o conforto térmico em dois espaços públicos abertos e a sua relação com
as diferentes configurações urbanas.

3. MÉTODO
A presente pesquisa dividiu-se em três etapas descritas a seguir:
1 – Definição e caracterização dos espaços;
2 – Coleta de dados microclimáticos e pessoais para cálculo do índice de conforto;
3 – Coleta de dados da percepção térmica e satisfação dos usuários.

3.1. Definição e caracterização das áreas


Foram analisados dois recortes urbanos da cidade de São Carlos-SP. Ambos os espaços são públicos e
abertos com grande fluxo de pessoas e localizados em fundo de vale.
A figura 1 mostra a localização dos pontos dentro da malha urbana.

418
Figura 1 – Posição das áreas de estudo na cidade de São Carlos
Fonte: Adaptado de Google Earth Versão 7.3.1.4507 (2019)
A Praça “Maria Apparecida Resitano” (figura 2a), conhecida como Praça do Mercado, localiza-se na
região central da cidade, cujo entorno é composto por estabelecimentos comerciais. A área passou por uma
revitalização em 2012, onde o córrego ali existente foi tamponado. Atualmente a área é utilizada para shows,
feiras e eventos, além de ser um local de passagem para a população que frequenta o comércio.
O Parque do Kartódromo (figura 2b) se localiza na porção noroeste da cidade, na área onde existia
uma pista de Kart, desativada em 2004 a pedido da população. Desde então, o espaço sofreu uma
revitalização com a criação das pistas de caminhada, instalação de academia ao ar livre e parque infantil,
além da substituição de piso, instalação de mobiliário urbano e melhoria na iluminação. Atualmente o espaço
é utilizado para práticas de atividades físicas e lazer.

a b

Figura 2 – a) Praça do Mercado e b) Parque do Kartódromo


Fonte: Adaptado de Google Earth Versão 7.3.1.4507 (2019)

419
A caracterização desses espaços foi realizada conforme o sistema de classificação das Zonas
Climáticas Locais, proposto por Stewart e Oke (2012). Tal classificação se dá através da identificação de
parâmetros como: Fator de Visão do Céu, Relação H/W, Porcentagem de área construída, permeável e
impermeável, altura média dos elementos e classe de rugosidade.
Para o cálculo do FVC foram obtidas fotos com o auxílio de uma câmera fotográfica com lente olho de
peixe. A foto foi, então, submetida ao software RayMan 1.2 (RUTZ; MATZARAKIS; MAYER, 2000) que
realizou o cálculo entre a proporção de céu aberto e fechado da imagem. Como as áreas não possuem
características homogêneas, foram tiradas fotos em diferentes pontos e, após o cálculo do FVC, gerou-se a
sua média aritmética.
Para o cálculo da relação H/W foi realizada a média geométrica das alturas dos edifícios e árvores e da
largura das vias, considerando passeio e recuos frontais. As dimensões foram obtidas através das imagens do
Google Street View (Google Maps, 2017) com checagem no local.
O cálculo das áreas permeáveis, impermeáveis e construídas foi realizado com o auxílio do software
autoCAD® sobre a imagem de satélite do Google Earth (2017) com a checagem no local do estudo a partir
das dimensões de cada área.
A classe de rugosidade urbana considerou a classificação de Davenport et al. (2000), conforme
recomendado por Stewart e Oke (2012).

3.2 Coleta de dados microclimáticos e das variáveis pessoais


Foram realizados dois dias de coletas em cada um dos pontos analisados, nos horários das 10h-11h, 16h-17h
e das 19h-20h4. Na Praça do Mercado a pesquisa foi realizada nos dias 17 e 20 de dezembro de 2018 e no
Parque do Kartódromo nos dias 28 e 29 de janeiro de 2019.
O índice de conforto adotado para essa pesquisa foi o Physiological Equivalent Temperature (PET)
(HOPPE,1999), sendo para tal necessários dados de temperatura do ar, umidade relativa, velocidade do vento
e temperatura média radiante, além de dados pessoais dos usuários.
Para a coleta dos dados de temperatura do ar e umidade relativa do ar (UR) foi utilizado um termo
higrômetro HOBO Pro V2 U23-001 inserido em um escudo de PVC para proteção contra a incidência direta
da radiação solar (1), a velocidade do vento foi medida com um termo -anemômetro Digital Instrutherm
TAVR – 650 (2).
A trm foi obtida através da equação 1, conforme a ISO 7726/1998.
1
1,1𝑥108 𝑥 𝑉𝑎0,6 4
𝑇𝑟𝑚 = [(𝑡𝑔 + 273)4 + 𝑥|𝑡𝑔 − 𝑡𝑎|] − 273 Equação 1
𝐸𝑔 𝑥 𝐷0,4

Onde,
tg = Temperatura de globo [°C]
Va = Velocidade do ar [m/s]
Eg = Emissividade do globo
D = Diâmetro do globo [m]
ta = Temperatura do ar [°C]

Para tanto, foi necessário também coletar a temperatura de globo, o que foi realizado utilizando um
termômetro de globo cinza concebido a partir de um termo-anemômetro Kimo VT200, sendo que o sensor
deste foi posicionado no interior de uma bola de ping pong (D=40mm.) pintada na cor cinza médio (3).
Conforme mostra a Figura 3, os equipamentos foram posicionados em um pedestal a
aproximadamente 1,7m do solo, conforme recomendação da ISO 7726/1998 e, também, respeitando a
limitação de altura do suporte.

4 Os horários consideram o horário brasileiro de verão (GMT -2)

420
1
3 2

Figura 3 – Equipamentos utilizados para medição

Também foram realizadas, simultaneamente às medições, entrevistas com os usuários visando obter a
idade, peso, altura. Além disso investigou-se o tipo de vestimenta e a atividade realizada por cada usuário
para identificar o coeficiente de isolamento térmico da vestimenta (CLO) e a taxa metabólica (MET),
conforme a ISO 7730/2005.
A amostragem foi definida em função do maior número de usuários disponíveis nos pontos em cada
período. Foram realizadas 185 entrevistas, sendo 97 na Praça do Mercado e 88 no Parque do Kartódromo.
Do total de entrevistados 60% pertence ao sexo masculino e 40% ao feminino, a idade média dos usuários foi
de 36 anos, com 75kg e 1,70m. A média do coeficiente de isolamento foi 0,29 CLO e da taxa metabólica 230
W.
O cálculo do Índice PET foi realizado utilizando o software RayMan 1.2 (RUTZ; MATZARAKIS;
MAYER, 2000) e considerou as variáveis pessoais declaradas por cada um dos usuários, bem como os dados
microclimáticos coletados.

3.3 Coleta de dados da percepção térmica e satisfação dos usuários


Foram realizadas ainda entrevistas estruturadas, visando obter a percepção térmica dos usuários e a sua
satisfação com o ambiente térmico.
O questionário utilizado para avaliar a sensação de conforto adotou a escala de sete pontos, baseado na
Norma Internacional - ISO 10551 (1995) e o que mede a satisfação foi baseado na ASHRAE 55 (2003),
porém adotando-se uma escala de cinco pontos.
As entrevistas e coletas de dados foram realizadas juntamente com a etapa anterior e em dias com céu
claro, ventos fracos, atmosfera estável e predominância de atuação da Massa de ar Tropical Atlântica,
conforme CEPTEC/INPE (2018, 2019).

4. RESULTADOS
A caracterização dos espaços, de acordo com o sistema de Zonas Climáticas Locais, resultou em duas classes
diferentes, conforme tabela 1.

421
Tabela 1 – Classificação das ZCL
Praça do Mercado Parque do Kartódromo

Fator de Visão do Céu 0,54 0,65


Relação HxW 0,35 0,29
Superfície construída 57,09% 51,86%
Superfície impermeável 34,85% 23,53%
Superfície permeável 8,06% 24,61%
Altura média 5,28m 4,49m
Classe de rugosidade 6 5

Zona Climática Local +

Fonte: Os autores

A Praça do Mercado foi caracterizada como “Compact midrise (ZCL 2) “, segundo Stewart e Oke
(2012) é um espaço com densa mistura de prédios médios (3 a 9 pavimentos), solo coberto por pavimentação
e a presença de materiais como pedra, tijolo, telha e concreto, com pouca ou nenhuma árvore. O local possui
grande porcentagem de área construída e impermeável, além disso por se localizar em região central e
comercial, recebe um alto fluxo de veículos favorecendo o aumento do calor antropogênico.
Conforme Stewart e Oke (2012) sugerem, em algumas situações uma única classe pode não definir a
área estudada devido à sua heterogeneidade, sendo necessária a combinação entre as classes. Dessa forma, o
Parque do Kartódromo foi classificado como “open low-rise com open midrise“, com abundância de
cobertura permeável (plantas baixas, árvores dispersas), a presença de materiais como concreto, aço, pedra,
vidro e com edifícios baixos (1-3 pavimentos) e médios (3-9 pavimentos).
Com relação a geometria dos cânions urbanos, nota-se que a Praça do Mercado possui maior relação
H/W e altura média, enquanto o Parque do Kartódromo possui menor FVC, indicando áreas com maior
porção de céu livre.
A figura 4 apresenta o resultado do índice PET nos três horários (10h, 16h e 19h) em cada um dos
pontos.
10h 16h 19h

Muito Quente
Muito Quente Muito Quente

Quente Quente Quente

Morno Morno Morno

Figura 4 – Conforto térmico (PET)


Fonte: os autores

422
O conforto térmico calculado (PET) mostra que a Praça do Mercado (ZCL 2) apresenta piores
condições de conforto para os horários da manhã e tarde. Nesse ponto o índice PET variou de 37°C a 45°C,
no horário das 10h e de 33°C a 42°C às 16h. No Parque do Kartódromo a variação foi de 29°C a 41°C de
manhã e 33°C a 39°C no período da tarde.
No horário das 19h, o Parque do Kartódromo apresentou maior variação do índice PET, indo de 27°C
a 36°C, enquanto o outro ponto foi de 31°C a 34°C. No entanto, o valor médio de ambos foi
aproximadamente 32°C, permanecendo na faixa de Calor. Tal fato pode se justificar pelo sombreamento que
os edifícios maiores geram na região da Praça do Mercado.
As faixas de conforto do índice PET foram analisadas de acordo com a calibração proposta por
Monteiro e Alucci (2010) para a cidade de São Paulo – SP (Quadro 1).
Quadro 1 – Calibração para a cidade de São Paulo - SP
PET Percepção térmica
≤4°C Muito frio
4°C<PET≤ 12°C Frio
12°C<PET≤18°C Pouco frio (Fresco)
18°C<PET≤26°C Neutra
26°C<PET≤31°C Pouco calor (Morno)
31°C<PET≤43°C Calor (Quente)
>43°C Muito Calor (Muito Quente)
Fonte: Adaptado de Monteiro e Alucci (2010)

Dessa forma, observa-se que o Parque do Kartódromo permaneceu predominantemente na faixa de


“Quente”, enquanto na Praça do Mercado 25% dos usuários chegaram a atingir a percepção de “Muito
Quente” às 10h.

10h 16h 19h


100% 100% 3% 8%
9% 10%
90% 6% 90% 2%
5%
80% 80% 28% 17%
18%
70% 25% 70%
9%
60% 60%
38%
50% 50%
40% 40%
68%
30% 60% 30% 59%
20% 20% 35%
10% 10%
0% 0%
Praça do Parque do Praça do Parque do
Mercado Kartódromo Mercado Kartódromo

Figura 5 – Percepção Térmica


Fonte: os autores

A percepção informada pelos usuários (figura 5) também apontou piores condições na Praça do
Mercado, onde aproximadamente 90% dos usuários estiveram entre as sensações de quente e muito quente,
enquanto no Parque esse número cai para 65% no período da manhã. No período da tarde o primeiro atingiu
86% e o segundo, 85%.
O resultado pode se justificar pela configuração urbana observada no Parque, onde os espaços mais
abertos e edifícios de diferentes alturas podem facilitar a circulação de vento e maior refletância da radiação
de ondas longas para a atmosfera, favorecendo o conforto térmico.
Analogamente ao apresentado pelo índice PET, a percepção térmica às 19h também mostrou maior
desconforto por calor no Parque do Kartódromo, com 73% dos usuários declarando “Muito quente” ou
“Quente”, enquanto na Praça do Mercado essa percepção atingiu 68% dos usuários.

423
10h 16h 19h
100% 6% 5% 100% 5% 100% 3% 6%
90% 90% 15% 90%
19%
80% 80% 35% 80% 34%
18%
70% 10% 55% 70% 70% 50%
60% 60% 60%
50% 50% 20% 50% 25%
39% 41%
40% 40% 5% 40% 10%
30% 15% 30% 30%
22%
20% 20% 35% 20% 29%
26% 25% 26%
10% 10% 10% 16%
0% 0% 0% 4%
Praça do Parque do Praça do Parque do Praça do Parque do
Mercado Kartódromo Mercado Kartódromo Mercado Kartódromo

Figura 6 – Satisfação térmica


Fonte: os autores

No entanto, a satisfação (figura 6) relatada pelos usuários mostrou que nos três horários o ambiente
térmico é mais satisfatório no Parque do Kartódromo, podendo ser justificado pela presença de parâmetros
qualitativos, como a arborização, segundo o exposto por Brusantin e Fontes (2009). Somente no horário das
19h a satisfação aumenta na Praça do Mercado, embora ainda permaneça inferior ao outro ponto.

5. CONCLUSÕES
Esse trabalho analisou a influência de diferentes configurações urbanas no conforto térmico de usuários em
dois espaços abertos da cidade de São Carlos - SP. As áreas foram caracterizadas como ZCL 2 e ZCL 65,
sendo a primeira composta por grande porcentagem de área construída e impermeável e a segunda com
abundante vegetação. A geometria aponta para edifícios mais altos (maior relação H/W e altura média) na
Praça do Mercado (ZCL 2). Enquanto o Parque do Kartódromo (ZCL 6 5) apresenta menor fator de visão do
céu e, por tanto, menor obstrução.
Nos horários de 10h e 16h, a área mais vegetada (ZCL 65) apresentou melhores condições de conforto
térmico, embora a percepção térmica indique desconforto por calor em ambos os pontos. Às 19h o índice
PET teve uma maior variação no Parque do Kartódromo (ZCL 65), no entanto, os valores médios de ambos
os pontos foram bastante semelhantes. Ainda assim, o nível de satisfação dos usuários foi maior no Parque
do Kartódromo nos três horários, mesmo quando observado desconforto térmico.
Os resultados aqui encontrados corroboram com as demais pesquisas da área, ressaltando a
importância de espaços arborizados, com grande quantidade de áreas vegetadas e sombreamento para o
conforto térmico dos usuários em áreas urbanizadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Mediterranean Subtropical Climate – Case Study Tunis, Tunisia. Procedia - Social and Behavioral Sciences, v. 216, n.
October 2015, p. 689–700, 2016.
BRUSANTIN, G. N.; FONTES, M. S. G. C. Conforto Térmico em Espaços Públicos de Permanência: uma experiência na cidade de
Bauru-SP. In: ENCONTRO NACIONAL, 10.; ENCONTRO LATINO-AMERICANO DE CONFORTO NO AMBIENTE
CONSTRUÍDO, 6., Natal, 2009. Anais... Porto Alegre: ANTAC, 2009. p. 441-449.
GOOGLE, INC. Google Earth PRO. Versão 7.3.1.4507. 2017.
GOOGLE, INC. Google Maps. [São Carlos -SP]. 2017. Disponível em: <https://goo.gl/maps/nBzgYtrK1ozpuyjA7>
HÖPPE, P. The physiological equivalent temperature - a universal index for the biometeorological assessment of the thermal
environment. International Journal of Biometeorology, v. 43, n. 2, p. 71–75, 1999.
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 7726. Ergonomics of the thermal environments –
Instruments for measuring physical quantities. Genève: ISO, 1998.
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 7730. Ergonomics of the thermal environments –
Analytical determination and interpretation of thermal comfort using calculation of the PMV and PPD indices and local
thermal comfort criteria. Genève: ISO, 2005

424
RUTZ, F; MATZARAKIS, A.; MAYER, H. RAYMAN. Versão 1.2. Meteorological Institute of the University of Freiburg,
Germany. 2000. Disponível em: < https://www.urbanclimate.net/rayman/>
MIDDEL, A. et al. Impact of urban form and design on mid-afternoon microclimate in Phoenix Local Climate Zones. Landscape
and Urban Planning, v. 122, p. 16–28, 2014.
MILLS, G. et al. Climate Information for Improved Planning and Management of Mega Cities (Needs Perspective). Procedia
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MONTEIRO, L. M.; ALUCCI, M. P. Índices de conforto térmico em espaços urbanos abertos. v. 3, n. 2, p. 1–24, 2010.
OKE, T. R. Canyon Geometry and the Urban Heat Island. Journal of Climatology, v. 1, p. 237–254, 1981.
THORSSON, S. et al. Potential changes in outdoor thermal comfort conditions in Gothenburg, Sweden due to climate change: The
influence of urban geometry. International Journal of Climatology, v. 31, n. 2, p. 324–335, 2011
SANTAMOURIS, M. Regulating the damaged thermostat of the cities - Status, impacts and mitigation challenges. Energy and
Buildings, v. 91, p. 43–56, 2015.
SOUZA, L. C. L. et al. Fator de visão do céu e intensidade de ilhas de calor na escala do pedestre. Ambiente Construído, v. 10, n. 4,
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STEWART, I. D.; OKE, T. R. Local climate zones for urban temperature studies. Bulletin of the American Meteorological
Society, v. 93, n. 12, p. 1879–1900, 2012.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa
de mestrado concedida.

425
A INFLUÊNCIA DO SOMBREAMENTO NA MICROGERAÇÃO
DISTRIBUÍDA FOTOVOLTAICA NA ÁREA CENTRAL DA CIDADE DE
CHAPECÓ - SC
Amanda Fontana (1); Greissi Gheno (2); Isadora Zanella Zardo (3); Laura Bencke Zambarda
(4); Maiara Tais Wermeier (5); Miguel Teixeira Gomes Pacheco (6)
(1) Estudante de graduação em Arquitetura e Urbanismo, amandafontana@unochapeco.edu.br
(2) Estudante de graduação em Arquitetura e Urbanismo, greissigheno@unochapeco.edu.br
(3) Estudante de graduação em Arquitetura e Urbanismo, isadorazardo@unochapeco.edu.br
(4) Estudante de graduação em Arquitetura e Urbanismo, laurabz@unochapeco.edu.br
(5) Estudante de graduação em Arquitetura e Urbanismo, maiarawermeier@unochapeco.edu.br
(6) Doutor. Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo, miguelpacheco@unochapeco.edu.br
Universidade Comunitária da Região de Chapecó, Área de Ciências Exatas e Ambientais, Curso de
Arquitetura e Urbanismo, Projeto Integrado do Ambiente Construído e Energia, Cx Postal 1141, Chapecó -
SC, 89809-900, Tel.: (49) 3321 8044

RESUMO
No cenário mundial atual, verifica-se uma mudança de matriz energética dependente de fontes fósseis para
renováveis. No Brasil, a matriz elétrica é prioritariamente dependente da geração hidrelétrica, que não supre
a demanda nos períodos de seca. Desde 2012 é permitida no Brasil a microgeração distribuída de energia
elétrica, um sistema compensatório de produção de energia de fontes renováveis, onde 99% dos sistemas são
fotovoltaicos. A geração fotovoltaica se estabelece por atender as demandas nos períodos secos, quando o
Brasil ainda depende de fontes de energia fósseis. As residências foram responsáveis por 80% da produção
por sistemas fotovoltaicos em 2017. Alguns programas incentivam a microgeração distribuída fotovoltaica, e
o acesso solar é essencial para que ela ocorra, já que a partir do sombreamento os sistemas fotovoltaicos
deixam de produzir. A verticalização das cidades aumenta o sombreamento nos sistemas de microgeração
distribuída fotovoltaica urbanos, principalmente quando instalados em residências unifamiliares. A falta de
legislação que garanta o acesso solar pode reduzir a produtividade desses sistemas no contexto urbano. Este
trabalho simula a influência do sombreamento na geração fotovoltaica, a partir do aumento dos índices
urbanísticos no Plano Diretor de Chapecó, comparando a geração de energia elétrica das edificações
existentes com a geração após o sombreamento do potencial máximo construtivo. Para efeito de simulação
foi utilizado o programa EnergyPlus e escolheu-se a cidade de Chapecó devido à crescente verticalização na
área central da cidade e na área limítrofe da macroárea área urbana de transição. Os resultados mostram que
a adoção de índices máximos na Área Urbana de Transição apresentou de 55% do valor da geração
fotovoltaica no cenário sem verticalização. Sazonalmente, a geração em junho no cenário índice máximo foi
45% do valor da geração sem verticalização. A alteração dos índices urbanísticos na área urbana de
transição, resultam na redução da geração anual significativas com um impacto mais acentuado durante os
meses de inverno
Palavras-chave: microgeração distribuída, geração fotovoltaica, planejamento urbano, acesso solar.

ABSTRACT
In the current world scenario, there is a shift of the energy matrix from fossil to renewable sources. In Brazil,
the electric matrix is primarily dependent on hydroelectric generation, which doesn’t meet the demand in
drought periods. Since 2012, distributed microgeneration of electricity has been allowed in Brazil, a
compensatory system for the production of energy from renewable sources, where 99% of the systems are
photovoltaic. Photovoltaic generation is established by meeting the demands in the dry periods, when Brazil
still depends on fossil energy sources. Households accounted for 80% of photovoltaic system production in
2017. Some programs encourage distributed photovoltaic microgeneration, and solar access is essential for
this to occur, as photovoltaic systems cease the production from shading. City verticalization increases
426
shading in urban photovoltaic distributed microgeneration systems, especially when installed in single-
family homes. The lack of legislation guaranteeing solar access can reduce the productivity of these systems
in the urban context. This work simulates the influence of shading on photovoltaic generation, from the
increase of urban indexes in Chapecó's Master Plan, comparing the potential electric power generation of
existing buildings with the resulted generation after shading from the maximum constructive potential. For
the purpose of the simulation, the EnergyPlus program was used and the city of Chapecó was chosen due to
the increasing verticality in the central area of the city and in the border area of the transition macroarea. The
results show that the adoption of maximum indices in the Transition Urban Area presented 55% of the value
of photovoltaic generation in the non-vertical scenario. Seasonally, photovoltaic generation for June in the
maximum index scenario accounted only 45% of the non-vertical generation value. The increase of the
transition macroarea resulted in a significant reduction of the overall annual photovoltaic generation with a
more sharp reduction for the winter months
Keywords: distributed microgeneration, photovoltaic generation, urban planning, solar access.

1. INTRODUÇÃO
Verifica-se atualmente uma mudança mundial de matriz energética, de fóssil para renovável (Baborska-
Narozny, Stevenson e Ziyad, 2016; Fouquet, 2010, 2016; Smil, 2016). Esta mudança é impulsionada pela
necessidade de políticas para mitigação de alterações climáticas (IPCC, 2014, 2018) e pelo início do
esgotamento do petróleo (Bentley e Bentley, 2015). Adicionalmente, a dependência de combustíveis fósseis
expõe a economia riscos econômicos advindos das variações do preço do petróleo que sofre variações desde
a década 1970 (Kerschner et al., 2013). A transição para fontes renováveis implica aumentar a geração
renovável para substituir a energia hoje gerada por combustíveis fósseis de duas formas. Em primeiro lugar,
a substituição implica substituir a energia elétrica hoje gerada por termoelétrica. Adicionalmente, implica
gerar energia elétrica para setores que hoje ainda não a utilizam, como no setor de transportes, substituindo
motores de combustão interna por motores elétricos (Jones et al., 2018; Rebecca Le, 2016).
A geração renovável difere da geração fóssil pela sua inerente variabilidade decorrente das
mudanças constantes das condições climáticas. A transição para uma matriz renovável passa pela criação de
uma matriz com diferentes fontes de geração renovável, pois para as mesmas condições climáticas diferentes
fontes de energia renovável apresentam diferentes eficiências de geração.
A geração hidrelétrica desempenha um papel fundamental no Brasil, correspondendo a 64% da
oferta nacional de eletricidade de 2019, segundo o Banco de Informações de Geração da ANEEL. No
entanto, crescentes restrições ambientais e as distâncias dos centros urbanos levaram a um aumento dos
preços para os usuários finais. “Diante deste cenário, o Brasil, atualmente, vem passando por uma séria crise
energética, em razão de matriz, que é pouco diversificada e altamente dependente de recursos hídricos como
principal insumo para geração de energia, o que se torna um risco diante das previsões de escassez”
(BEZERRA, 2016). Dessa forma, é importante que o Brasil diversifique suas fontes de energia para não estar
tão dependente da geração hidrelétrica. A geração hidroelétrica é vulnerável às variações anuais de
pluviosidade. Em anos com menor quantidade de chuva, é necessário recorrer a geração termoelétrica, com
maiores custos ambientais e econômicos.
Dentre as possibilidades de fontes renováveis, a fotovoltaica se destaca no Brasil em função das suas
condições favoráveis. A localização geográfica do Brasil, com 90% do seu território na zona tropical,
favorece a geração fotovoltaica. O Brasil conjuga altos níveis de insolação e boa uniformidade de irradiação
solar (1500-2500 Wh/m²) em todo o país. Estes valores ultrapassam países europeus com elevadas
implantações de sistemas fotovoltaicos como Alemanha (900-1250 Wh/m²), França (900-1650 Wh/m²) e
Espanha (1200-1850 Wh/m²) (Nascimento, 2017).
Outro diferencial da geração fotovoltaica é ser contracíclica da matriz hidrelétrica, principal fonte de
energia abastecedora do país (Rüther e Zilles, 2011). A geração hidrelétrica depende da pluviosidade. Nos
períodos chuvosos, a geração hidrelétrica aumenta, e a geração fotovoltaica é reduzida, em função da
escassez de luz solar. Já no período de secas, quando as usinas hidrelétricas não produzem tanta energia e o
país recorre a geração termelétrica, os sistemas de geração de energia elétrica fotovoltaicos atingem seu
potencial máximo em função da intensa radiação solar. Mesmo com crescente participação das fontes
renováveis na matriz energética brasileira, a energia solar ainda não tem valor representativo em comparação
às demais.
No contexto brasileiro, os edifícios são o setor como o maior consumo de energia elétrica,
respondendo por 50,63% do total segundo dados do Balanço Energético Nacional de 2019 (ano base 2018)

427
(EPE, 2019). Como já mencionado, a geração fotovoltaica apresenta a vantagem de permitir a instalação na
cobertura dos edifícios, o que permite um melhor uso do solo, sem obrigar a utilização de novas áreas para
geração de energia. Esta possibilidade permite aos edifícios gerarem energia para suprir seu consumo. Os
módulos fotovoltaicos que permitem geração podem ser utilizados como material de cobertura. A adoção de
sistemas fotovoltaicos em residências agrega também, benefícios econômicos. Nos Estados Unidos, edifícios
com sistemas fotovoltaicos têm maior valor de mercado e maior velocidade de vendas.
Para transformar os edifícios de consumidores passivos para produtores e consumidores é possível
realizar a instalação de sistemas de microgeração distribuída fotovoltaica, que atuam produzindo energia
elétrica a partir da irradiação solar. Dessa forma, os edifícios entram em uma relação de exportação e
importação de energia elétrica com a rede da concessionária de energia elétrica. Quando a geração de energia
elétrica do sistema renovável do edifício é superior ao consumo dos equipamentos no seu interior, o
excedente é exportado para a rede, criando um crédito com a concessionária. Quando a geração é inferior ao
consumo do edifício, os créditos são resgatados, importando energia da rede e abatendo o custo na fatura
mensal de eletricidade.
A microgeração distribuída é um sistema compensatório de produção e consumo de energia elétrica
através de fontes renováveis de geração como fotovoltaica, eólica ou hídrica. Essa possibilidade se
estabelece em função da sua importância na compensação do consumo energético pelos maiores
consumidores: os edifícios. A microgeração no Brasil iniciou-se em 2012, quando a Agência Nacional de
Energia Elétrica - ANEEL, autarquia regulamentadora e fiscalizadora do setor elétrico brasileiro
regulamentada pela Lei de 9427/1996 e do Decreto nº 2335/1997 do Ministério de Minas e Energia, publicou
a Resolução Normativa nº 482, que estabelece as condições para instalação e ligação à rede das
concessionárias de energia elétrica. A reduzida capacidade dos sistemas de geração renovável permitem a
sua instalação em edifícios. Das diferentes fontes renováveis de geração de energia elétrica, a geração
fotovoltaica representa 99% dos sistemas de microgeração distribuída no Brasil, que em 2016 cresceu 407%.
Com relação à participação, as residências representam 80% da microgeração distribuída fotovoltaica
(ANEEL, 2017).
No ranking brasileiro de micro e minigeradores por estado, a maior concentração do sistema está em
Minas Gerais, seguido por São Paulo, e o estado de Santa Catarina encontra-se em 6º lugar com 546
unidades geradoras (ANEEL, 2017).
Em Santa Catarina a concessionária de energia CELESC é responsável pela implementação do
Programa de Eficiência Energética da ANEEL, de 2013, que tem como objetivo promover o uso eficiente e
racional de energia elétrica, transformando o mercado através do estímulo e desenvolvimento de novos
hábitos e tecnologias. O Programa de Eficiência Energética (PEE) implementado no estado, visa combater os
desperdícios e reduzir a demanda do consumo de energia elétrica. De grande impacto social, o programa
atende a diversas classes de consumidores que recebem investimentos de até 60%. Tais benefícios acontecem
através do Projeto Bônus Fotovoltaico (CELESC, 2018), que incentiva a microgeração a partir da instalação
de sistemas completos para a geração de energia.
A geração fotovoltaica pressupõe a exposição ampla e ininterrupta à irradiação solar. Isto é a
ausência de sombreamento nos módulos fotovoltaicos. Nos Estados Unidos algumas cidades têm provisões
legais que garantem a ausência de sombreamento nos sistemas fotovoltaicos. Esta garantia é designada de
acessos solar (solar access) (ASHLAND, 2015; BOULDER, 2006).
No Brasil, no entanto, não existem garantias legais ao acesso solar (Pacheco et al., 2017). No país
verifica-se um cenário de adensamento urbano e consequente verticalização. Alterações frequentes de planos
diretores aumentam os índices urbanísticos e zonas de residências unifamiliares com baixas taxas de
ocupação previstas no plano diretor podem, no período de poucos anos, ser objeto de alteração de índices
urbanísticos resultando na verticalização do entorno. A verticalização possibilita o adensamento
populacional, o que permite maior aproveitamento da infraestrutura urbana. Entretanto, tal verticalização
aumenta a probabilidade de redução do acesso solar, ameaçando a geração fotovoltaica em função das
grandes zonas de sombreamento.
Em zonas urbanas, a falta da garantia de acesso solar pode impactar a viabilidade econômica da
instalação de sistemas fotovoltaicos. Para fins de cálculos, estudos de viabilidade preveem vinte anos como
tempo mínimo de vida útil e expectativa de operação no cálculo para o retorno financeiro dos investimentos.
Sem garantias legais para o acesso solar, não é possível estimar o retorno do investimento em sistemas
fotovoltaicos dada a incerteza sobre qual o período no qual a incidência desimpedida de irradiação solar nos
módulos está garantida. Sabendo que o acesso solar não está garantido no contexto urbano, torna-se

428
necessário estimar quais os impactos o aumento do sombreamento causado pela verticalização teria em
sistemas fotovoltaicos instalados no seu entorno.
Chapecó é um exemplo desta problemática. É uma cidade média, com população estimada em 220
mil habitantes (“Projeções da População | IBGE”, 2019), polo na mesorregião do oeste catarinense, o que
resulta num crescimento populacional acima da média nacional. O grande crescimento populacional da
cidade intensificou a verticalização das edificações, de acordo com a legislação de zoneamento (Plano
Diretor) que especifica os índices urbanísticos. No caso de Chapecó, o Plano Diretor de 2014 teve alterações
dos índices em 2017 e 2018, que permitiram edificações mais altas através da mudança do zoneamento
vigente, transformando áreas residenciais limítrofes a Área Urbana Central (AUC) em zonas de transição.
Dessa forma, no espaço de 4 anos, zonas anteriormente com baixas densidades tiveram seus índices alterados
para permitir edifícios de alturas maiores, através da criação de uma Área Urbana de Transição (AUT).
A Figura 1 ilustra o caso de um edifício no centro de Chapecó, localizado na transição entre as
macrozonas da Área Urbana Central (AUC) e Área de Urbana de Transição (AUT), com sistema
fotovoltaico. Atualmente localizado em uma zona de baixa densidade, ele sofre influência de uma quadra a
norte na qual o Plano Diretor de Chapecó permite a construção de edifícios de mais de 30 pisos, ameaçando
o seu acesso solar fotovoltaico em função do sombreamento.

Figura 1 - Exemplo de sistema de microgeração distribuída fotovoltaico instalado entre a AUC e AUT (Autores, 2019).

É portanto necessário estimar os efeitos do sombreamento acrescido decorrente da verticalização nos


centros urbanos nos sistemas de microgeração distribuída. Para estimar geração fotovoltaica existem vários
softwares mais especializados como o PVSyst ou mais genéricos como EnergyPlus. Para o estudo dos
impactos de sombreamento de geometrias complexas em sistemas fotovoltaicos, o EnergyPlus facilita
levantamento dos modelos dos edifícios por ser possível importar modelos 3D criados no software
SketchUp. O SketchUp um programa de projetos 3D, é utilizado por sua praticidade e facilidade de criação
de formas que atuam como edificações, além de importar informações topográficas diretamente do Google
Maps.

2. OBJETIVO
O objetivo do trabalho é estimar a influência da sombra ocasionada pela verticalização dos centros urbanos
nos sistemas de microgeração distribuída, que utilizam de sistema de geração fotovoltaica em residências
unifamiliares.

3. MÉTODO
O método divide-se em três etapas. Na primeira, escolheu-se uma quadra de estudo e lote de referência, onde
se localiza o sistema fotovoltaico a ser simulado. Para o levantamento de dados sobre a incidência de
sombras, escolheu-se a quadra número 372, Figura 2, delimitada pelas ruas Clevelândia, Independência,
Nicácio Portela Diniz e Bento Gonçalves, localizada na unidade territorial Área Urbana de Transição - AUT.
A área encontra-se próxima da Área Urbana Central - AUC, a qual tem os maiores índices urbanísticos da
legislação vigente de Chapecó. A AUT hoje conta com uma variação muito grande entre edifícios de grande
altura e residências unifamiliares de um ou dois pavimentos, por ser uma região anteriormente classificada
como Unidade de Moradia, e que hoje sofre aumentos de índices construtivos.

429
Figura 2 – Mapa de localização da quadra de estudo e do lote de referência (Autores, 2019).

A Tabela 1 apresenta os potenciais construtivos calculados a partir dos índices urbanísticos do Plano
Diretor de Chapecó - PDC. Foi considerada uma proposta de edificações hipotéticas além da já existente,
levando em consideração o Coeficiente de Aproveitamento Máximo do PDC. Os índices seguidos são
referentes a Área Urbana de Transição (AUT), na qual o Coeficiente de Aproveitamento máximo é igual a 6
e a Taxa de Ocupação de base é 80% e de torre é 60%. O cálculo do potencial construtivo foi realizado
utilizando o valor da área do lote multiplicado pelo índice apresentado no PDC. Para definir o potencial
construtivo máximo, atingido com outorga onerosa para a Prefeitura de Chapecó, foi multiplicado o valor da
área do lote por 6.

Tabela 1 - Potencial Construtivo e cálculo dos Índices Urbanísticos.


Número da Número do Área do lote [m²] Número de pavimentos Potencial construtivo
quadra lote existentes máximo [m²]

1 1200 1 7200

3 600 1 3600

4 600 1 3600

5 600 2 3600

6 600 2 3600

7 600 0 3600
372
8 600 0 3600

9-10 1200 1 7200

11-12 1600 1 9600

13-14 800 4 4800

15 600 1 3600

16 600 1 3600
(Autores, 2019)

A partir desses resultados, a quantidade e a metragem dos pavimentos foram obtidas relacionando
esses valores à taxa de ocupação permitida. O número máximo de pavimentos de base é 4, e eles podem
ocupar até 80% da área do terreno, portanto o valor da área do terreno foi multiplicado por 80% para definir
a área dos pavimentos. A quantidade de pavimentos de torre é definida pela metragem quadrada restante da
subtração entre o potencial construtivo total e a metragem dos pavimentos de base. Como a taxa de ocupação
de torre é de 60% da área do terreno, o valor resultante da subtração é dividido pela área de ocupação,
resultando na quantidade de pavimentos de torre. No caso da quadra 372, lote 1, cada um dos 4 pavimentos
de base tem 960m². Isso resulta em 3840m² do potencial construtivo. Para os pavimentos de torre, o potencial
construtivo restante é calculado com a subtração de 7200 - 3840 = 3360m². Com a taxa de ocupação de 60%,

430
cada pavimento de torre terá 720m² e para descobrir o número de pavimentos é feita a divisão 3360 / 720 =
4,6 ≅ 4. Dessa forma, a edificação do lote 1, segundo os índices máximos atuais, tem 7 pavimentos.
Tabela 2 - Potencial Construtivo de acordo com o índice máximo.

Número de Área máxima Número de Área máxima


Número da Número pavimentos permitida para os pavimentos permitida para os
quadra do lote permitidos para a pavimentos de base permitidos para pavimentos de
base [m²] torre torre[m²]

1 4 960 4 720

3 4 480 4 360

4 4 480 4 360

5 4 480 4 360

6 4 480 4 360
372
7 4 480 4 360

8 4 480 4 360

9-10 4 960 4 720

11-12 4 1280 4 960

13-14 4 640 4 480

15 4 480 4 360

16 4 480 4 360
(Autores, 2019)
A segunda etapa visa estimar através de simulação a geração fotovoltaica de três cenários. Em todos
os cenários é estimada a geração fotovoltaica em um único lote, o lote 8 (ver figura 2). Este lote foi escolhido
por se encontrar atualmente sem construção nenhuma, a sua testada estar virada a sul e por não ser um lote
de esquina. Dessa forma o lote 8 é sujeito a sombreamento no início do dia pelo edifício presente no lote 9-
10, durante o dia pelos edifícios presentes nos lotes 12+11, 13+14, e no fim do dia pelo edifício locado no
lote 7.
Os três cenários visam estimar os efeitos na geração fotovoltaica no lote 8 de regimes com crescente
intensidade, começando no cenário existente (menos sombreamento), para o cenário máximo e o cenário
bloqueio (pior caso). O primeiro cenário (cenário existente) estima a geração de acordo com a volumetria dos
edifícios presentes hoje na quadra 372 (ver figura 3). O segundo cenário (cenário máximo) apresenta uma
situação em que todos os lotes da quadra 372 (menos o lote 8) são implantados edifícios aproveitando o
potencial máximo construtivo permitido atualmente para a AUT pelo Plano Diretor de Chapecó (ver figura
4). O terceiro cenário (cenário bloqueio) pressupõe que um mesmo empreendedor comprou os lotes 7,
14+13, 12+11 e 9+10 para construir um edifício único aproveitando todo o potencial máximo, onde o Plano
Diretor de Chapecó teria sido alterado para permitir que a torre tivesse a mesma taxa de ocupação hoje
permitida para a base 80%. O cenário bloqueio, dessa forma, assume um pior caso futuro (ver figura 5).

Figura 3 - Cenário existente Figura 4 - Cenário máximo Figura 5 - Cenário máximo


(Autores, 2019). (Autores, 2019). (Autores, 2019).

431
Para fazer a estimativa de geração fotovoltaica em todos os 3 cenários, foi usado o programa de
simulação EnergyPlus versão 8.7. As geometrias dos edifícios nos três cenários foram levantadas no
software de desenho 3D sketchup com plugin Euclid 0.93 para permitir a exportação posterior para o
EnergyPlus. O EnergyPlus 8,7 não é o mais recente, mas é a versão mais atual compatível com o plugin
Euclid 0.93.
Os três modelos (existente, índice máximo e bloqueio), apresentam o mesmo modelo de sistema
fotovoltaico. O sistema simulado está orientado ao azimute 0º com uma inclinação de 10º do plano do solo,
instalado numa cobertura plana a 3,5 m do chão e 0,5 m da cobertura com uma área de 20 m². Apresentando
uma potência de 2800 Wp. A simulação no Energyplus usou o objeto do energyplus
“PhotovoltaicPerformance:Simple” com uma eficiência fixa de 12%..
Para o cálculo de sombras definido no objeto do Energyplus “ShadowCalculation” os parâmetros
foram:
ShadowCalculation,
TimestepFrequency, !- Calculation Method
20, !- Calculation Frequency
150000, !- Maximum Figures in Shadow Overlap Calculations
SutherlandHodgman, !- Polygon Clipping Algorithm
DetailedSkyDiffuseModeling; !- Sky Diffuse Modeling Algorithm
Para a simulação é necessário um arquivo climático do local com séries históricas de dados, como
temperatura do ar, umidade, velocidade e direção dos ventos, radiação solar, entre outros. Dado Chapecó não
possuir arquivo climático, no formato epw (EnergyPlusWeather), necessário para o software EnergyPlus, foi
utilizado o arquivo climático de Xanxerê, da cidade mais próxima com arquivo disponível. Xanxerê dista 45
Km de Chapecó, tendo um clima semelhante.

4. RESULTADOS
A tabela 3 compara as gerações mensais e anuais entre os três cenários, destacando os impactos do
sombreamento em cada caso apresentado.

Tabela 3 - Gerações mensais e anuais dos três cenários analisados.


Cenário existente Cenário máximo Cenário bloqueio
[kWh] [kWh] [kWh]

Janeiro 175 102 92

Fevereiro 152 89 81

Março 151 83 74

Abril 98 50 44

Maio 82 41 32

Junho 56 25 15

Julho 81 39 25

Agosto 99 51 44

Setembro 131 71 64

Outubro 137 75 68

Novembro 186 108 98

Dezembro 214 130 119

Anual 1563 863 758


(Autores, 2019).

Percentualmente, os resultados mostram uma redução significativa da geração anual no cenário


existente comparado com o cenário do cenário máximo (55% da geração anual) e o cenário bloqueio (49%

432
da geração anual). A redução da geração fotovoltaica é verificada em todos os meses mas não é constante
quando analisada sazonalmente. Comparando a geração mensal entre os três cenários, a diferença entre as
gerações mensais dos três cenários aumenta no inverno. No mês com menor geração nos três cenários
(junho) o cenário existente apresenta uma geração de 56 kWh para somente 25 kWh e 15 kWh nos cenários
máximo e bloqueio, respectivamente. Esta diferença ocorre dadas as menores alturas solares no inverno, que
resultam em maiores áreas de sombreamento.

A tabela 4 visa mostrar como a verticalização tem um maior impacto nos meses de inverno,
comparando a diferença, dentro de cada cenário, entre o mês com maior geração (dezembro, com valor
100%, servindo de base) e a geração dos restantes meses apresentados como percentual em relação a
dezembro.

Tabela 4 - Influência sazonal da verticalização na geração fotovoltaica.


Cenário existente Cenário máximo Cenário bloqueio

Janeiro 82% 78% 77%

Fevereiro 71% 68% 68%

Março 70% 63% 62%

Abril 46% 39% 37%

Maio 38% 31% 27%

Junho 26% 19% 13%

Julho 38% 30% 21%

Agosto 46% 39% 37%

Setembro 61% 55% 54%

Outubro 64% 58% 57%

Novembro 87% 83% 82%

Dezembro 100% (mês referência) 100% (mês referência) 100% (mês referência)

(Autores, 2019).

A eliminação dos afastamentos entre os edifícios afeta mais a geração no inverno. Possivelmente, os
afastamentos entre os edifícios permitem pontualmente a incidência de radiação solar direta nos módulos
durante o inverno. Adicionalmente é possível que o afastamento entre os edifícios também permita maior
índices de radiação difusa. No entanto, os dados só permitem constatar a tendência, mas não comprovar a
razão para este desempenho.

5. CONCLUSÕES
Os resultados validam a premissa central do trabalho. A verticalização pode ter um impacto significativo na
geração fotovoltaica em zonas urbanas. No caso específico, para o lote estudado (o lote 8 na quadra 372) a
verticalização máxima permitida segundo a AUT (no cenário máximo) estima-se que implicará uma numa
geração anual com o valor de 55% comparada com o cenário existente, de residências de poucos pavimentos.
Os recuos são importantes para atenuar a redução da geração nos meses de inverno. A verticalização
provoca uma redução mais intensa na geração fotovoltaica nos meses de inverno, decorrente da menor altura
solar, onde a geração no mês de junho para o cenário máximo é somente 45% da geração do mês de junho

433
para o cenário existente. A redução sazonal de geração pode ser intensificada através da eliminação dos
recuos entre os edifícios, como os resultados do cenário bloqueio mostram.
Nota-se que a legislação atual, pode permitir situações semelhantes ao cenário bloqueio, caso um
empreendedor cerque um lote pela compra de todos os seus lotes vizinhos. Desta forma, do ponto de vista da
geração fotovoltaica, seria proveitoso introduzir alterações ao PDC, que mantenham os índices atuais,
reduzam taxas de ocupação de base e torre. Tal implicaria em edifícios mais altos mas permitindo maior
insolação.
É preciso notar as limitações deste estudo de caráter exploratório. O lote 8 escolhido para o estudo
apresenta possivelmente, um pior caso. Um lote orientado a norte, poderia ter um melhor desempenho pelo
afastamento que a rua apresentaria dos lotes da próxima quadra, embora dependente da largura da via e da
altura dos edifícios na quadra a norte. Esta problemática de sombreamento entre edifícios em diferentes lotes
é válida mas não foi abordada neste trabalho, que focou o somente sombreamento entre lotes da mesma
quadra.
A microgeração distribuída fotovoltaica, adotada por privados, tem dado um contributo expressivo
para a diversificação da matriz energética brasileira com vantagens de ser complementar à matriz
predominantemente hidrelétrica brasileira e no uso do solo. Dada a maioria da população brasileira residir
em zonas urbanas, garantir o acesso solar é um fator importante para o futuro crescimento da microgeração
distribuída.

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SMIL, V. Examining energy transitions: A dozen insights based on performance. Energy Research & Social Science, v. 22, p. 194–
197, dez. 2016.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o apoio do Programa de Bolsas Universitárias de Santa Catarina (UNIEDU),
viabilizado por meio da Universidade Comunitária da Região de Chapecó - UNOCHAPECÓ, a partir do
Edital n.013/REITORIA/2019 e do Programa de Bolsas Universitárias PIBIC/FAPE a partir do Edital
n.032/REITORIA/2019.
434
A VOLUMETRIA EDIFICADA E SEUS IMPACTOS NA VENTILAÇÃO
NATURAL URBANA. UM ESTUDO DE CASO EM FORTALEZA, CEARÁ

Samuel B. M. Nazareth (1); Renan C. V. Leite (2); Amando C. Costa Filho (3); Sara
Cavalcante Ribeiro Lins (4);
(1) Mestrando, Arquiteto e Urbanista, bmnsamuel@gmail.com, Universidade Presbiteriana Mackenzie
(2) Doutor, Professor, Arquiteto e Urbanista, renancid@bol.com, Universidade Federal do Ceará
(3) Doutor, Professor, Arquiteto e Urbanista, amandocosta@unifor.br, Universidade de Fortaleza
(4) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, saracrliins@gmail.com, Universidade Federal do Ceará

RESUMO
Este trabalho é proposto para estudar o impacto de um condomínio, denominado de A, na ventilação urbana
e no processo de ventilação natural de um condomínio localizado a sotavento, aqui denominado de B. O
condomínio A detém 70 metros de altura, onde 12 metros são destinados a um sobressolo de garagem sem
aberturas a barlavento. O condomínio B, localizado a sotavento do condomínio A, possui 30 metros de
altura. A partir de simulações fluidodinâmicas, objetivou-se analisar os impactos do condomínio A tanto da
perturbação aerodinâmica a nível urbano como o impacto de sua volumetria na pressão exercida pelos ventos
nas esquadrias do condomínio B. Para tanto, utilizou-se de simulações numéricas em malha desestruturada
para esta análise a um plano a 1,5 metros do solo e nos dados numéricos do centro das esquadrias do
condomínio B. Concluindo, portanto, que a construção do condomínio A, além de provocar grandes
perturbações ao nível do pedestre, possui a capacidade de diminuir a capacidade de ventilação natural do
condomínio B de forma considerável.
Palavras-chave: Ventilação Urbana, Aerodinâmica, Morfologia Urbana, Volumetria, Edifício Residencial

ABSTRACT
This work is proposed to study the impact of a condominium, denominated of A, in the urban ventilation and
in the process of natural ventilation of a condominium located to leeward, denominated here of B. The
condominium A holds 70 meters of height, where 12 meters are intended for a garage area without openings
to windward. The condominium B, located on the leeward side of condominium A, is 30 meters high. Based
on fluid dynamics simulations, the impacts of the condominium A as much of the aerodynamic perturbation
at urban level as the impact of its volumetry on the pressure exerted by the winds in the squares of the
condominium B were analyzed. For that, numerical simulations were used in unstructured mesh for this
analysis to a plane at 1,5 meters from the ground and in the numerical data of the center of the frames of the
condominium B. Concluding, therefore, that the construction of condominium A, besides causing great
disturbances at the level of the pedestrian, has the capacity of decrease the natural ventilation capacity of
condominium B considerably.
Keywords: Urban Ventilation, Aerodynamics, Urban Morphology, Building Shape, Residential Building.

435
1. INTRODUÇÃO
Como principal espaço de consolidação humana, a cidade comporta cerca de 2% do espaço terrestre,
abrigando mais da metade da população mundial e consumindo entre 60% e 80% da energia. Até 2050 a
população mundial deverá aumentar em 2.5 bilhões. Mais especificamente, no entanto, o maior crescimento
de áreas urbanas deverá se concentrar em cidades de países menos desenvolvidos (UNITED NATIONS,
2010). No Brasil, o total de habitantes em áreas urbanas atinge 80% do contingente populacional (IBGE,
2010). Portanto, o setor de edificações foi levantado como o líder global de emissões de gás carbônico pelo
relatório produzido no painel internacional de mudanças climáticas. Todavia, este relatório também indica
que este mesmo setor possui a oportunidade de avanços tecnológicos que propiciam uma possível redução da
emissão deste gás do efeito estufa (IPCC, 2007).
Muito embora a urbanização constitua um meio para alcançar a desejada sustentabilidade
econômica, social e ambiental, o rápido crescimento das grandes cidades revela, muitas vezes, o descaso com
as características ambientais locais e a reverência para além de um modelo de cidade globalizada, mais uma
sociedade de consumo. Para Hui (2001), o aumento populacional e novos parâmetros econômicos
direcionam a um aumento da densidade de pessoas na região urbana, a fim de reduzir custos de serviços
públicos.
O adensamento urbano é contemplado em diversas vertentes do urbanismo contemporâneo como um
modelo benéfico. As consequências deste modelo são: A maior concentração populacional, a melhor
prestação de serviços e o melhor aproveitamento da infraestrutura instalada (GEHL, 2014). A condição de
concentração urbana possibilita, ainda, a criação de espaços de interação social e cultural e, ao mesmo
tempo, alivia as pressões do crescimento populacional sobre as zonas rurais, indicando que a vida em cidades
mais adensadas é uma tendência irreversível para o desenvolvimento dos centros urbanos (UNFPA, 2011).
As cidades brasileiras passam por um processo de agravação de problemas socioambientais dos mais
variados espectros face a persistência em incluir, em suas diretrizes urbanísticas e edilícias, estratégias
potencialmente danosas ao ambiente urbano, principalmente ao reproduzir modelos de cidades planejadas
para o transporte individual.
O Ceará possui aumento anual em sua frota de veículos particulares, acontecendo de modo
vertiginoso desde 2007, com um crescimento de 4,48% no interior do estado e 2,43% na capital no ano de
2018 (VARELA, 2018). Na capital cearense, é perceptível o aumento do número de empreendimentos com
garagens sobressolo, a fim de tentar resolver a quantidade de vagas de garagem necessárias para o transporte
individual. A solução de edificar garagens é vista também como um fator econômico, tendo em vista a
oneração e complicações técnicas intrínsecas no movimento de terras na construção civil com o intuito de
construir subsolos.
A lei de uso e ocupação do solo de 1996 no seu artigo 60 parágrafo primeiro determina que “nas
edificações com mais de quatro pavimentos as medidas de todos os recuos deverão ser acrescidas de 20 cm
(vinte centímetros) por pavimento que excederem ao quarto, medidos a partir do térreo”. Portanto,
permitindo a construção de até 4 pavimentos em afastamentos mínimos e contabilizando os recuos para os
pavimentos excedentes. A construção nesta tipologia também é incentivada a partir do artigo 266 da lei de
uso e ocupação do solo de 1996, que determina o aumento da taxa de ocupação de 0,5 sem ônus para o
empreendedor.
Nesta opção de construção constitui uma volumetria que compreende quase a totalidade do terreno
de construção com uma altura de um pequeno prédio de 12 andares aproximadamente, o que pode vir a
promover impactos sobre a ventilação da região imediata, tanto ao nível do pedestre quando repercutindo na
região a sotavento.
É sabido que a discussão acerca da otimização do espaço urbano passa, necessariamente, pela
questão do adensamento dos centros das cidades e os impactos ambientais consequentes. Considerando que a
qualidade ambiental de edificações é reflexo da qualidade ambiental urbana, as variáveis e processos
climáticos devem ser considerados na adequação climática das edificações como forma de otimizar o
conforto térmico e reduzir o consumo energético (BARBIRATO; SOUZA; TORRES, 2007). Miana (2010)
avalia que o impacto ambiental, positivo ou negativo, que qualquer construção vai causar ao meio urbano
pode ser resumido nas influências sobre a ventilação ao redor dos edifícios e a dispersão da poluição, a
ventilação natural das edificações, a insolação e iluminação natural, o acúmulo de radiação solar e o ruído
urbano. Tais aspectos têm implicações diretas sobre a saúde e o conforto térmico, acústico e luminoso e
desempenho termoenergético das edificações. Mais especificamente, em relação à ventilação natural, a
presença de obstáculos no entorno constitui uma séria restrição ao potencial de ventilação das fachadas de
edifícios, uma vez que num ambiente adensado, comumente ocorre a redução da velocidade do ar. Autores
como Cóstola (2006), Prata-Shimomura (2009), Leite (2015), Costa Filho (2017) elucidam, com suas

436
pesquisas, que o uso de simulações fluidodinâmicas podem abranger tanto a esfera urbana quanto a
residencial.

2. OBJETIVO
Analisar o impacto de uma edificação com sobressolo sobre a ventilação natural urbana ao nível do pedestre
e em relação ao potencial de ventilação da fachada principal de um edifício localizado na região a sotavento
deste.

3. MÉTODO
3.1. Características do objeto de estudo
Na área leste da cidade de Fortaleza, nas regiões limítrofes ao Parque do Cocó, a produção imobiliária
recente da capital cearense concentra diversos empreendimentos residenciais multifamiliares em altura.
Esta região é propícia para estudos de ventilação natural, dada sua localização privilegiada sem
grandes impedimentos a leste e a sudeste, sentidos dos ventos predominantes na cidade. Tal característica
acaba por conformar uma espécie de corredor natural de vento. Dito isso, o objeto de estudo se encontra em
uma região de vale, próximo ao rio Cocó, em uma altitude que varia da cota de 5 metros a 12 metros em
relação ao nível médio do mar.
Dentre os empreendimentos residenciais em altura na região, despertou interesse a volumetria de um
edifício em altura dotado de sobressolo. O condomínio residencial analisado possui duas torres com 20
pavimentos tipo, dois apartamentos por andar e 4 pavimentos de sobressolo (Figura 1). Os pavimentos de
sobressolo, por sua vez, estão afastados 3 metros em relação ao muro de divisa entre os condomínios
estudados. Este conjunto edificado foi denominado condomínio A (Figura 2).

Figura 1 - Localização do entorno e objeto de estudo. Em Figura 2 - Nomenclatura dos adotada dos objetos de estudo.
amarelo - Entorno imediato considerado; em vermelho -
Objetos de estudo.
As curvas de nível do local se apresentam paralelas aos ventos dominantes na cidade, oriundos de
leste. Afirma-se, então, que a topografia se apresenta a favor do fluxo de ventos, visto que a área está
localizada em um aclive, tendo como referência um dos principais sentidos de ventilação local, eliminando
as possibilidades de bolsões de ar causados em declives.

Figura 3 – Condomínio A.

Na região posterior ao condomínio A, de construção mais recente, há um condomínio construído na


década de 80 com 8 pavimentos, 6 apartamentos por andar e uma área de lazer entre os prédios. Para melhor

437
caracterizar as construções, o condomínio B foi dividido em torre norte e torre sul conforme a figura 2. O
condomínio A segue estas mesmas características de nomenclatura.

3.2. Simulações computacionais


Foram empregadas simulações computacionais fluidodinâmicas a partir do método numérico dos elementos
finitos, com a utilização do software ANSYS no seu sistema de análise Fluid flow CFX. Antes da análise dos
dados, foi seguido a metodologia da figura 4.

Figura 4 – Fluxograma da metodologia aplicada.

O modelo volumétrico digital simulado foi produzido no programa Autodesk AutoCAD e os dados
de alturas para esta modelagem foram levantados a partir de visitas técnicas a região de estudo, admitindo 3
metros de altura para cada pavimento construído. Para importar esta geometria ao programa de simulação de
fluidos é necessário que haja um domínio que represente o espaço para escoamento do ar. O domínio
escolhido para esta simulação foi o circular. Esta geometria permite simular facilmente qualquer direção dos
ventos em análises futuras, porém com a desvantagem de demandar maior capacidade computacional. COST
(2004) recomenda que o tamanho do domínio siga uma proporção baseada nas relações entre a largura, o
comprimento e o maior gabarito da região. Assim, adotou-se uma distância de 15 vezes a altura do maior
elemento presente no conjunto para o raio do domínio (figura 5), haja vista que este estudo se propõe em
estudar o efeito imediato das geometrias e nos efeitos de esteira na região a sotavento.

Figura 5 - Modelagem e domínio circular.

Após a construção do domínio a geometria pode ser importada ao ANSYS para a construção da
malha de análise (CFX – Meshing), a qual é desestruturada, composta majoritariamente por tetraedros e com
cinco camadas de prismas sobre as paredes das construções e o piso para melhor apreender o fenômeno do
desprendimento da camada limite.
Com a malha construída é necessário inserir os dados iniciais das condições de entorno da simulação
(CFX – Pre). Estas simulações CFD (Computational Fluid Dynamics) foram desenvolvidas em regime
estacionário, isotérmico, incompressível e turbulento. Foi indicado o vento no sentido Leste-Oeste a uma
velocidade de 4,5 m/s, média de velocidade para este sentido (figura 6) (LEITE, 2015).

438
Figura 6 – Rosa dos ventos de Fortaleza - Ceará.

O gradiente da velocidade do vento produzido a partir do efeito da rugosidade de uma região é


essencial para uma simulação mais próxima da realidade, que considere possíveis perturbações urbanas. Para
tanto, foi utilizada a Equação 1 (BRE,1978).

𝑉 = 𝑉𝑀 × 𝐾 × 𝑍 𝑎 Equação 1
Onde:
V = velocidade média do vento à determinada altura [m/s];
Vm = velocidade inicial de referência do estudo [m/s];
z = altura determinada [m];
k, a = coeficientes de rugosidade do terreno.
Considerou-se a região de implantação do objeto de estudo como campo dotado de obstáculos
esparsos com coeficientes de k = 0,52 e a = 0,20 (figura 7).

Figura 7 - Representação gradiente dos ventos.

Com estes dados é prosseguido para a simulação (CFX – Solver), onde é aguardado a convergência
dos resíduos até valores menores ou iguais a 10-4. E por fim, a simulação está pronta para extração dos dados
calculados (CFX – Post).

4. RESULTADOS
As análises dos resultados foram feitas em dois níveis. Primeiro, utilizando planos a 1,5 metros do solo,
compreendendo o nível do pedestre, e, segundo, analisando os contornos de pressões na fachada a barlavento
do condomínio B.
A figura 8 representa o provável caminhamento dos ventos na situação onde o condomínio A ainda
não havia sido construído. Nesta situação, as ruas paralelas ao condomínio B possuem velocidades de 3 a 4
m/s, os picos de maior velocidade ocorrem haja vista o efeito de canto proporcionado pela aerodinâmica dos
prédios. A figura 9 ilustra a aproximação da situação real, com a intensificação na velocidade do ar maior
que 5 m/s na rua inferior e um fluxo de vento entre as duas ruas paralelas de forma transversal em provável
decorrência da maior pressão exercida pela rua inferior. Está maior pressão é criada em função do efeito de
canto que o volume do sobressolo do condomínio A exerce no fluxo de ar.

439
Figura 8 - Simulação sem o condomínio A; em magenta: efeito Figura 9 - Simulação com o condomínio A; Em magenta-
de canto; em preto: Efeito Venturi. Efeito de canto intensificado na rua inferior; em preto - Fluxo
transversal entre as ruas paralelas.
Verifica-se o efeito Venturi produzido pela zona de estreitamento entre prédios do condomínio B,
que intensifica a velocidade de escoamento do vento na figura 8 até aproximadamente 4 m/s. Todavia, o que
se observou após a construção do condomínio A é que esta velocidade é diminuída pela metade,
aproximadamente.
A figura 10 demonstra um corte perpassando o centro do prédio sul do condomínio B na situação
anterior a construção do condomínio A, onde a região de esteira a sotavento do condomínio B é menor e com
ventilação direta a barlavento. Na figura seguinte, o condomínio B recebe a ventilação de forma indireta,
provocada pela construção do condomínio A, o qual promove uma região de estagnação do ar com 30 metros
de altura a partir do topo do prédio sul do condomínio B. Além de afetar edificações mais distantes a
sotavento com sua região de esteira aerodinâmica.

Figura 10 - Velocidade do vento em corte transpassando o Figura 11 - Velocidade do vento em corte transpassando o
edifício sul do condomínio B. edifício sul do condomínio B; Em preto- Região de estagnação;
Em magenta- região de esteira intensificada.
As figuras 12 e 13, a seguir, apresentam as curvas de pressão na fachada leste dos prédios do
condomínio B. Os pontos em azul são pontos específicos de pressão retirados para análises quantitativas no
centro das esquadrias do primeiro pavimento habitado e do último pavimento habitado. Ainda existem
pontos em porções laterais e no fosso de exaustão na porção central da volumetria. Estes pontos estão
marcados nos cômodos: Sala, quarto 1, banheiro compartilhado, quarto 2, quarto suíte, banheiro da suíte,
dependência de empregada, área de serviço e janela da cozinha que se comunica internamente com o fosso
no prédio. Estes pontos irradiam do centro para os limites dos prédios, respectivamente.
Na situação da figura 12, os mapas de pressão nas fachadas a barlavendo, sem a presença do
condomínio A, demonstram contornos de pressões mais elevados, principalmente no edifício sul. Já o
edifício norte apresenta contornos de pressões menos intensos em uma porção mais baixa da construção
devido a interferências aerodinâmicas causadas pelo entorno.
A figura 13 ilustra uma diminuição de pressões de forma significativa, de pressões elevadas de 20 Pa
para pressões em torno de 9 Pa. Todavia, a torre norte, apesar de também ser afetada, mantém pressões
elevadas em uma parcela da fachada da torre norte devido ao efeito aerodinâmico causado pelo sobressolo do

440
condomínio A, o qual faz aumentar a velocidade do ar com o efeito de canto produzido a partir do sobressolo
de garagem e do prédio vizinho ao condomínio A norte.

Figura 12 - Mapa de pressões fachada leste do condomínio B sem condomínio A; prédio sul e norte respectivamente.

Figura 13 - Mapa de pressões fachada leste do condomínio B com condomínio A; prédio sul e norte respectivamente.

O impacto também pode ser verificado nas figuras 12 e 13, que ilustram a diminuição de pressão a
barlavento do condomínio B. Numericamente, a perda de pressão devido ao vento pode ser percebida nas
tabelas 1 a 4. As tabelas 1 e 2 comparam as pressões no prédio sul, em seu primeiro e último pavimento. É
possível perceber uma maior diferença de pressão na esquadria na sala, onde reduziu-se 16 pascal de pressão
na região central da esquadria neste nível do edifício. As janelas do prédio sul apresentavam grandes
diferenças de pressão antes da construção do condomínio A, o que, certamente, levaria a uma capacidade de
fluxo de ar no interior dos apartamentos maior do que após a construção deste empreendimento, onde todas
as esquadrias apresentam pressões negativas, comprometendo, significativamente, o potencial de ventilação
natural dos apartamentos.
No edifício norte a maior diminuição de pressão de esquadria também é na esquadria da sala,
apresentando diminuições de até 12 pascal. Neste prédio é possível perceber uma intensificação de pressão
em janelas a sotavento no primeiro pavimento (janelas do banheiro suíte, dependência de empregada, janela
de serviço).

441
Tabela 1 - Pressão nas esquadrias do prédio sul com a obstrução do condomínio A
Prédio Sul com Condomínio A
Pressões
Esquadrias
Primeiro Pavimento Último Pavimento
Janela Sala -3,77 Pa -2,72 Pa
Janela Quarto -3,45 Pa -2,38 Pa
Janela Banheiro Compartilhado -2,85 Pa -2,22 Pa
Janela Quarto 2 -2,65 Pa -2,05 Pa
Janela Quarto Suíte -2,92 Pa -2,05 Pa
Janela Banheiro Suíte -2,62 Pa -2,32 Pa
Janela Dependência Empregada -2,58 Pa -2,30 Pa
Janela Área de Serviço -2,55 Pa -2,26 Pa
Janela Cozinha -3,70 Pa -3,55 Pa

Tabela 2 - Pressão nas esquadrias do prédio sul sem a obstrução do condomínio A.


Prédio Sul Sem Condomínio A
Pressões
Esquadrias
Primeiro Pavimento Último Pavimento
Janela Sala 13,11 Pa 14,30 Pa
Janela Quarto 12,42 Pa 12,89 Pa
Janela Banheiro Compartilhado 12,15 Pa 12,59 Pa
Janela Quarto 2 10,41 Pa 12,85 Pa
Janela Quarto Suíte 5,40 Pa 10,78 Pa
Janela Banheiro Suíte -1,11 Pa -1,29 Pa
Janela Dependência Empregada -1,11 Pa -1,33 Pa
Janela Área de Serviço -1,11 Pa -1,29 Pa
Janela Cozinha -0,09 -0,69 Pa
Este efeito decorre do aumento das pressões no primeiro pavimento, provavelmente devido ao efeito
de canto que resulta da volumetria do trecho de sobressolo do corpo do edifício condomínio A. Todavia, este
efeito só influi nos primeiros pavimentos, pois no último pavimento do condomínio norte, estas mesmas
esquadrias apresentam pressões menores que as iniciais sem o condomínio A.

Tabela 3 - Pressão nas esquadrias do prédio norte com a obstrução do condomínio A.


Prédio Norte Com Condomínio A
Pressões
Esquadrias
Primeiro Pavimento Último Pavimento
Janela Sala -3,87 Pa -2,27 Pa
Janela Quarto 5,95 Pa 8,38 Pa
Janela Banheiro Compartilhado 5,20 Pa 7,24 Pa
Janela Quarto 2 5,52 Pa 11,36 Pa
Janela Quarto Suíte 8,22 Pa 17,52 Pa
Janela Banheiro Suíte 7,34 Pa -2,76 Pa
Janela Dependência Empregada 7,70 Pa -1,34 Pa
Janela Área de Serviço 7,72 Pa -2,62 Pa
Janela Cozinha -3,91 Pa -4,65 Pa

442
Tabela 4 - Pressão nas esquadrias do prédio norte sem a obstrução do condomínio A.
Prédio Norte Com Condomínio A
Pressões
Esquadrias
Primeiro Pavimento Último Pavimento
Janela Sala 8,61 Pa 13,46 Pa
Janela Quarto 12,37 Pa 12,72 Pa
Janela Banheiro Compartilhado 12,29 Pa 11,73 Pa
Janela Quarto 2 11,68 Pa 13,79 Pa
Janela Quarto Suíte 11,14 Pa 17,87 Pa
Janela Banheiro Suíte 3,68 Pa 3,12 Pa
Janela Dependência Empregada 6,20 Pa 2,64 Pa
Janela Área de Serviço 6,11 Pa 1,81 Pa
Janela Cozinha 0,70 Pa 0,31 Pa

5. CONCLUSÕES
Considerando o conjunto de simulações realizadas, é possível inferir que, com a construção do condomínio
A, ocorrem perturbações turbulentas ao nível do pedestre, elevando a velocidade do ar para valores maiores
que 5,4 m/s. É válido destacar que a sociedade de engenheiros civis americanos recomenda que valores
acima destes se tornam desconfortáveis para pedestres devido à resistência imposta ao deslocamento e outros
aspectos (ASCE, 2003).
Portanto, tomando como base as análises realizadas neste estudo, conclui-se que a construção do
condomínio A representou um grande impacto nas condições de circulação do ar em seu entorno imediato.
Pode-se perceber, para além das perturbações aerodinâmicas a nível do pedestre, o impacto causado sobre a
ventilação natural do condomínio B. É válido destacar, contudo, que ainda que este novo condomínio esteja
de acordo com as leis de uso e ocupação do solo vigentes, a influência desta volumetria permitida deveria ter
sido melhor avaliada e explorada nas diferentes possibilidades que se colocam nos cenários urbanos em que
possa integrar, a fim de mitigar o seu impacto nas condicionantes ambientais na sua área de influência.

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444
ANÁLISE BIOCLIMÁTICA COMO FERRAMENTA NA DEFINIÇÃO DE
DIRETRIZES ESPACIAIS NO CAMPUS DA UFRN EM SANTA CRUZ
Virginia Maria Dantas de Araújo (1); Edvaldo Vasconcelos de Carvalho Filho (2); Hérbete
Halamo Rodrigues Caetano David (3); Luiz Ricardo de Carvalho (4); Moacir Guilhermino
da Silva (5); Sileno Cirne Trindade (6)
(1) Doutora, Professora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
virginiamdaraujo@gmail.com
(2) Doutor, Professor da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi – FACISA/UFRN,
edvaldovasconcelos@facisa.ufrn.br
(3) Mestre, Diretor de Meio Ambiente da Superintendência de Infraestrutura da UFRN,
herbete@infra.ufrn.br
(4) Especialista, Chefe do Setor de Logística e Infraestrutura Hospitalar do HUAB/UFRN/EBSERH,
luiz.carvalho@ebserh.gov.br
(5) Doutor, Professor do Curso de Engenharia Civil da UFRN, moacirufrn@gmail.com
(6) Mestre, Diretor de Projetos da Superintendência de Infraestrutura da UFRN,
silenocirne@infra.ufrn.br
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Campus Universitário – Av. Salgado Filho n3.000 –
Natal/RN, 59078-990, Tel. (84) 99401-0160.

RESUMO
A consolidação da política de interiorização da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), na
última década, tem acarretado a expansão física dos seus campi para atender as demandas decorrentes das
atividades acadêmicas e administrativas, necessitando de um ordenamento físico-territorial. A UFRN vem se
consolidando, na última década, dentro da política de interiorização o que, consequentemente, tem acarretado
a expansão física dos seus campi para atender as demandas decorrentes das atividades acadêmicas e
administrativas, necessitando de um ordenamento físico-territorial. Nessa perspectiva, a administração
central designou comissões para atualização e elaboração dos planos diretores dos seus campi. O presente
trabalho apresenta as atividades desenvolvidas pela comissão que realizou o processo de elaboração do plano
diretor do campus de Santa Cruz, localizado em Santa Cruz/RN. Os trabalhos consideraram aspectos
fundamentais como, a missão da instituição, seus objetivos e organização administrativa e física, resultando
na definição da estrutura e dos objetivos do plano. Também, foram levantados os aspectos históricos, os
indicadores acadêmicos e os projetos de expansão previstos. Ao longo do processo de construção do plano
diretor, a participação da comunidade universitária ocorreu por meio de oficinas de leitura comunitária e de
audiências e pela participação de comissão local designada para acompanhamento e colaboração na
elaboração dos trabalhos. A análise bioclimática realizada para o campus em estudo foi desenvolvida a partir
de conceituação, diretrizes e referenciais teóricos de métodos consolidados e aplicados em outros campi da
instituição. Com base nas análises qualitativas dos atributos bioclimatizantes da forma do campus e na sua
tipologia, desenvolveram-se estratégias para redução de impactos ambientais e de consumo energético,
definindo diretrizes para o seu ordenamento territorial, optando por um plano diretor baseado na forma,
mapeando os tipos de edificações, além de definir técnicas de abastecimento de água, aproveitamento de
água de chuva, gestão de águas pluviais, redes de esgotamento sanitário, coleta de resíduos sólidos, dentre
outras diretrizes.
Palavras-chave: plano diretor, campus, análise bioclimática.

ABSTRACT
The consolidation of the internalization politic from the Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN),
through the past decade, has resulted in the physical expansion of its campuses to meet the demands arising
from academic and administrative activities, necessitating a physical-territorial ordering. Through such

445
perspective, the central administration designated commissions to update and elaborate the campuses master
plans. This paper presents the activities developed by the commission that performed the process of
elaboration of the work plan for the Santa Cruz campus, at Santa Cruz/RN. The activities started considering
fundamental aspects, the institution mission, its goals and administrative and physical organization, resulting
in the definition of the plan´s framework and goals. The historical aspects, the academical indicators and the
planned expansion projects were also considered. Throughout the process of the master plan elaboration, the
university community has participated through community reading workshops and hearings, and also
through the participation of a local commission designated to monitor and collaborate with the activities. The
bioclimatic analysis performed to such campus was developed based on theoretical concepts, guidelines and
references from consolidated methods also applied to other UFRN campus. Considering the qualitative
analysis of the campus’ form bioclimatic attributes and its typology, strategies for environmental impacts and
energy consumption reduction were developed, also defining guidelines for the territorial organization,
deciding for a master plan based on the form, mapping the types of buildings, besides defining techniques of
water supply, rainwater harvesting, rainwater management, sewage networks, solid waste collection, among
other guidelines.
Keywords: master plan, campus, bioclimatic analysis.

1. INTRODUÇÃO
A administração central da UFRN constituiu comissões para atualização e elaboração dos planos diretores
dos seus campi. Nessa perspectiva o presente trabalho levanta sucintamente os aspectos conceituais,
históricos, acadêmicos e comunitários, e apresenta a utilização da análise bioclimática como ferramenta na
definição de diretrizes espaciais no processo de elaboração do plano diretor do campus localizado na cidade
de Santa Cruz-RN.
Quanto aos aspectos conceituais, partiu-se da missão da instituição, seus objetivos e sua organização
administrativa e física atuais. Além disso, foram definidos os conceitos de campus e de plano diretor de
campus universitário, além da estrutura do plano diretor de um campus e os objetivos do plano diretor a ser
elaborado.
De acordo com o documento denominado Diretrizes para uma Política de Interiorização (UFRN,
1994), o processo de expansão da UFRN foi deflagrado no apogeu dos governos militares (1967-1974), à
semelhança das demais instituições públicas de ensino superior. No contexto da interiorização, a relação da
UFRN com o município de Santa Cruz teve início em 1966 quando foi criado o Centro Rural Universitário
de Treinamento e Ação Comunitária (CRUTAC), cujo objetivo era interiorizar a UFRN por meio de
treinamento e extensão universitária, na forma de prestação de serviços à comunidade do interior do estado.
Instalado em Santa Cruz, no Hospital Universitário Ana Bezerra (HUAB), inaugurado em 04 de
fevereiro de 1952, com recursos dos governos estadual e municipal e federalizado em 1966, o CRUTAC
alcançou tamanha relevância social que passou a ser referência nacional no campo da extensão universitária
e da ação comunitária no âmbito da universidade brasileira.
Nesse cenário, o CRUTAC propunha-se a ser um campo de treinamento profissional, pretendendo
oportunizar a professores e alunos a melhor compreensão da realidade social, a partir de seu relacionamento
com as condições de vida e sobrevivência da população rural. Durante um período de aproximadamente dez
anos, concentrou seus serviços na região do Trairi nas áreas de saúde, educação, atividades jurídicas e outras.
Ao final da década de 1970, o CRUTAC foi submetido a alterações, prevalecendo a prestação de serviços
médicos oferecidos por meio de dois hospitais-escola que a UFRN mantinha nas cidades de Santa Cruz e
Santo Antônio.
A suspensão do caráter de obrigatoriedade do estágio curricular no CRUTAC para a maioria dos
cursos de graduação, descaracterizando o Programa, enquanto recurso de complementação de formação
profissional concorreu para o que se poderia considerar uma segunda fase do processo de interiorização da
UFRN que se deu mediante a criação de unidades de ensino superior em cinco municípios distintos: Caicó
(1973); Currais Novos (1977); Macau (1977); Nova Cruz (1980); e Santa Cruz (1983).
O Núcleo Regional de Ensino Superior do Trairi foi criado por meio da Resolução nº 013/83 do
CONSUNI, de 03 de março de 1983, com os efeitos da autorização para criação retroagindo a 14 de
fevereiro de 1981, e instalou-se nos antigos prédios da Escola de Iniciação Agrícola de Santa Cruz, do
Ministério da Agricultura, na propriedade Caiçarinha. Nesse momento, o núcleo passou a ofertar os cursos
de Ciências Contábeis, Letras e Pedagogia, os quais, no entanto, apresentaram diversos problemas para o seu
funcionamento com eficiência e qualidade.
Em 1994, após um longo processo de discussão coordenado pela então Pró-reitoria de Assuntos
Acadêmicos, foram aprovadas as Diretrizes para uma Política de Interiorização, que teve como base
princípios e medidas em curto, médio e longo prazo, que deveriam ser periodicamente avaliados, de maneira

446
a imprimir mais significado à presença da UFRN no interior do Estado. Além disso, ocorre ainda a
aprovação da suspensão da oferta de ensino em caráter permanente e a lotação, sob forma de remoção, dos
professores vinculados às referidas unidades de ensino nos Departamentos do Campus Central.
Entre os anos de 1997 a 2006, o Núcleo Regional de Ensino Superior do Trairi passou a funcionar
apenas com cursos convênios por intermédio do Programa Docente para Rede Pública de Ensino
(PROBÁSICA).
Em 2005, após audiência pública realizada em Santa Cruz com a participação de diversas autoridades
locais e do Reitor da UFRN, discutiu-se a vinda do curso de Enfermagem para o município, tendo sido,
posteriormente, constituída uma comissão com o objetivo de demonstrar a viabilidade técnica e política para
implantação do Curso de Bacharelado em Enfermagem na cidade de Santa Cruz.
Em 2006, o Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (CONSEPE) aprovou a criação do Curso de
Graduação em Enfermagem, do Centro de Ciências da Saúde, fora de sede, a funcionar no Município de
Santa Cruz. No segundo semestre do ano seguinte, as aulas do curso de Enfermagem tiveram início,
ocorrendo dentro das instalações do Hospital Universitário Ana Bezerra (HUAB), enquanto era construído o
prédio que abrigaria as atividades acadêmicas e administrativas do curso, no centro da cidade em terreno
doado à UFRN pela prefeitura local.
Com a adesão da UFRN, em 2007, ao REUNI (SESu/MEC, 2007), deu-se início a uma série de
expansões de cursos de graduação e pós-graduação na Universidade, contribuindo significativamente para o
processo de interiorização da instituição.
Nesse contexto, em 2008 é criada a Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi – FACISA, Unidade
Acadêmica Especializada no Ensino da Saúde da UFRN em Santa Cruz, composta pelos cursos de graduação
em Fisioterapia, Nutrição e Enfermagem, tendo este último sido desvinculado do Centro de Ciências da
Saúde e se incorporado à estrutura da FACISA.
Em 2012, com base na política de expansão de vagas em cursos de Medicina e criação de novos cursos
de Medicina nas Universidades Federais, a UFRN criou o curso de graduação em Medicina Multicampi. Esse
novo curso de Medicina apresentou-se com uma proposta inovadora de ensino em saúde, pautada nos
princípios da educação na comunidade e da aprendizagem baseada em problemas, privilegiando a inserção
dos estudantes nas atividades práticas desde o início da formação e funcionando com instalações sediadas em
três unidades: Centro de Ensino Superior do Seridó, Campi Caicó e Currais Novos; e na FACISA. Tendo
sido criada posteriormente, em 2014, para gerenciamento administrativo e acadêmico do referido curso, a
Escola Multicampi de Ciências Médicas do RN (EMCM), ligada à Reitoria, com localização e atuação nos
campi do CERES (Caicó e Currais Novos) e de Santa Cruz, na região do Trairi.
No ano de 2013, a UFRN, em consonância com as diretrizes propostas para fortalecimento da política
de interiorização, aprova a criação do Curso de Graduação em Psicologia, modalidade Bacharelado, da
FACISA, com a primeira turma de alunos ingressando na unidade no primeiro semestre letivo do ano de
2015.
Dando prosseguimento à expansão das atividades no campus Santa Cruz, a UFRN aprovou no ano de
2015, dois Programas de Mestrado Acadêmico: o Programa de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação e
o Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva, Tais programas de pós-graduação receberam a aprovação
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e entraram em funcionamento
na FACISA ano de 2016.
Para o Plano Diretor do campus de Santa Cruz, tornou-se necessário inicialmente o levantamento do
modo como as atividades fins e meios se organizam e se expressam no espaço territorial. Portanto, tornou-se
necessária a construção de uma base comum e consistente entre planejamento institucional e planejamento
físico.
A participação da comunidade universitária foi facilitada na primeira etapa de construção do plano
diretor pela efetivação da leitura comunitária, realizada a partir do levantamento de questões pertinentes às
capacidades e aos limites de desenvolvimento local. Esses elementos foram debatidos com a comunidade
tendo-se o cuidado de descrevê-los no espaço. Além disso, houve a necessidade de identificar elementos que
caracterizavam a realidade local, tais como: usos e manutenção das edificações, mobilidade e acessibilidade
e aspectos ambientais e de infraestrutura. Essa etapa consistiu no que se compreende como construção do
cenário atual. Ao longo do processo de elaboração do plano diretor do campus de Santa Cruz, a participação
da comunidade universitária ocorreu por meio de oficinas de leitura comunitária, das audiências realizadas e
pela participação de comissões locais.
A análise bioclimática foi desenvolvida a partir de conceituação e referenciais teóricos. Com base nas
análises qualitativas dos atributos bioclimatizantes da forma do campus e quanto à sua tipologia
desenvolveram-se estratégias para redução de impactos ambientais e de consumo energético, definindo
diretrizes para o seu ordenamento territorial, optando por um plano diretor baseado na forma, mapeando os

447
tipos de edificações e de espaços abertos, além de definir técnicas de abastecimento de água, aproveitamento
de água de chuva, gestão de águas pluviais, redes de esgotamento sanitário, coleta de resíduos sólidos, dentre
outras definições.

2. OBJETIVO
O presente trabalho tem o objetivo de apresentar a utilização da análise bioclimática como ferramenta para
definição das diretrizes espaciais no processo de elaboração do plano diretor do campus da UFRN,
localizado na cidade de Santa Cruz-RN.

3. MÉTODO
3.1 Caracterização da região objeto de estudo
O município de Santa Cruz (Figura 1) está localizado na mesorregião do Agreste Potiguar e na microrregião
da Borborema Potiguar, próximo à divisa do estado do Rio Grande do Norte com o estado da Paraíba. Sua
sede possui uma altitude média de 236 m e coordenadas 6°13’44” de latitude sul e 36°01’22” de longitude
oeste, distante 111 km de Natal (capital do estado), com população de acordo com o último censo de 2010,
de 35.797 habitantes (IBGE, 2010), com projeção estimada de 39.355 habitantes em 20185.
Segundo a NBR 15220-3 (ABNT, 2005), o município de Santa Cruz está enquadrado na Zona
Bioclimática Z8, caracterizada por clima quente e úmido (Figura 2). As estratégias de condicionamento
térmico passivas mais indicadas para a essa zona bioclimática são: ventilação cruzada permanente para a
remoção do calor do interior das edificações; refrigeração artificial necessária em algumas épocas do ano e
horários do dia; e o sombreamento das aberturas, para evitar o ganho por radiação solar. Os dados registrados
na Estação Meteorológica Automática de Santa Cruz/RN (A367-81876), do Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET), permitiram encontrar os parâmetros estatísticos do período de 2010 a 2016,
conforme apresentado na Tabela 1.

Figura 1 – Município de Santa Cruz – RN. Figura 2 – Zoneamento bioclimático brasileiro, em


Fonte:httpps://commons.wikimedia.org/wiki/File:RioGrandedoNorte_ destaque a região do campus objeto de estudo.
_Municip_SantaCruz.svg. Fonte: Adaptado da NBR 15220-3 (ABNT, 2005).

A ventilação se destaca como a principal estratégia de resfriamento passivo possível nessa zona
climática. A ventilação pode proporcionar a remoção de calor interno da edificação e o aumento da perda de
calor dos indivíduos devido ao movimento do ar, influenciando na sensação de conforto ou de desconforto
dos usuários das edificações.
Tabela 1 – Estatísticas meteorológicos do município de Santa Cruz (2010-2016).
Variáveis Média Anual
Máxima: 27 C
Temperatura do ar Média: 26,3 C
Mínima: 25,7 C
Umidade relativa 66 %
Velocidade do vento 2,6 m/s
Direção do vento SE -132
Precipitação pluviométrica 381,36 mm
Fonte: http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=estacoes/estacoesAutomaticas.

5 População estimada: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais, Estimativas da população
residente com data de referência 1 de julho de 2018.

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A ventilação cruzada é uma das técnicas mais eficientes em um ambiente e apresenta melhor resultado
quando as entradas de ar são localizadas na área de alta pressão – pressão maior ou área que recebe os ventos
– e as saídas de ar localizadas na área de sucção – pressão menor.
Além de remover o calor interno dos ambientes, é necessário evitar a entrada de calor pela envoltória,
por meio de estratégia como: dificultar a chegada da radiação às superfícies opacas do edifício; posicionar o
edifício de maneira a obter a mínima carga térmica devido à energia solar; proteger as aberturas contra a
entrada da radiação; minimizar a absorção da radiação e a transmissão do calor pelas superfícies externas.
O sombreamento é uma estratégia recomendada pela NBR 15220 (ABNT, 2005) para a maior parte do
território brasileiro, por causa dos verões quentes e de muito sol em várias regiões. Como o clima quente e
úmido ocorre na região próxima da linha do equador, onde a trajetória solar está perto do seu zênite, os
telhados recebem radiação muito intensa. Na prática, deve-se evitar o ganho de calor pelas coberturas,
propondo soluções como: telhado com superfície refletora; forro separado, formando um sótão; ventilação
adequada no espaço do sótão; superfície refletora, com baixa emissividade, para o lado de dentro do telhado;
isolamento no forro ou sob a coberta.
Os usos de cores claras, de baixa absortância, também reduzem a radiação solar absorvida. Por isso a
NBR 15220 (ABNT, 2005) recomenda vedações externas leves e claras, para refletir grande quantidade de
radiação e evitar que o calor fique acumulado nos elementos de vedação.

3.2 Análise bioclimática do campus de Santa Cruz


A análise bioclimática realizada para o campus da UFRN de Santa Cruz foi desenvolvida a partir de
conceituação, diretrizes e referenciais teóricos já utilizados em campi da instituição (ANDRADE, Cícero O.
et al., 2014).
Com base nas informações da área, recorreu-se a analise qualitativa dos atributos bioclimatizantes da
forma do campus (relevo e natureza do solo) e quanto à tipologia (formato, rugosidade, porosidade,
permeabilidade e vegetação), de maneira a desenvolver estratégias para redução de impactos ambientais e de
consumo energético.
A partir das análises realizadas no campus objeto de estudo foram definidas as estratégias
bioclimáticas que, por sua vez, foram incorporadas pela comissão de elaboração do referido Plano Diretor.

3.3 Estratégias bioclimáticas para o campus de Santa Cruz


Quanto ao uso do solo da área do campus de Santa Cruz, percebe-se uma predominância do uso residencial,
seguido dos usos institucional, comercial e misto, com gabarito de um a dois pavimentos. Com relação às
edificações e aos terrenos da UFRN, observa-se que se encontram dispersos em uma área central da cidade,
conforme Figura 3.
O grau de rugosidade da forma urbana depende da diversidade de alturas das edificações, do índice de
fragmentação das áreas edificadas e do diferencial de alturas encontradas. Desse modo, uma baixa
rugosidade desfavorece a ventilação dos seus espaços e edificações, a retirada de poluentes aéreos e mais
trocas térmicas entre o ar e a massa edificada. Nesse sentido, a diversidade de altura do campus é classificada
como muito baixa, apresentando, no máximo 4 pavimentos (Figura 4).
A topografia da área do campus da UFRN em Santa Cruz apresenta-se entre a cota 225 e 250 m
(Figura 5). De acordo com a literatura, quanto mais movimentado é o terreno, melhor para a dissipação do
calor nos climas quentes. O solo da região apresenta-se arenoso e argiloso, com baixa capacidade de
drenagem, assentado diretamente sobre rochas ou materiais da rocha (IDEMA, 2008).
As formas mais dispersas apresentarão mais possibilidades de trocas térmicas, sendo, portanto,
aconselháveis para o clima quente e úmido. Quanto maior a densidade de construção e a ocupação do solo,
maiores as atividades antrópicas, consequentemente, maior também a captação e difusão da radiação solar
para o ambiente climático urbano e menor a ventilação. Observa-se que as vias onde se encontram as
edificações da UFRN são asfaltadas, destacando-se a BR 226 (Figura 6).
Ademais, a presença de áreas verdes possui funções importantes do ponto de vista bioclimático,
como o controle das temperaturas, o aumento da umidificação do ar, os direcionamentos dos ventos, a
ocorrência de sombra, a criação de áreas abrigadas e a captação da poluição do ar. Na área do campus da
UFRN existem poucas áreas com vegetação, no caso constituído apenas de espécies nativas (que resistem
aos períodos de estiagem), predominantemente nos canteiros centrais de algumas vias e nas calçadas.
O município não dispõe de mananciais com qualidade e quantidade que permitam a implantação de
obras de abastecimento. Portanto, faz-se necessário o beneficiamento de oferta de água por meio do Sistema
Adutor Agreste/Trairi/Potengi, conhecido como Adutora Monsenhor Expedito, o sistema possui uma
extensão total de 316 km, a captação de água é feita no Sistema Lacustre Bonfim, localizado no município de

449
Nísia Floresta, com possibilidade de vazão total de 452,32 l/s ou 1.628,35 m³/h (IDEMA, 2008). O sistema
de água e esgotos é administrado pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE).

4. DIRETRIZES
Com base nas análises técnicas, comunitárias, bioclimáticas e ambientais, a comissão de elaboração do Plano
Diretor definiu diretrizes para o ordenamento territorial da área do campus de Santa Cruz e optou pelo Plano
Diretor e definições de edificações baseados na forma (FARR, 2013).
O zoneamento convencional geralmente ignora a forma das edificações e foca apenas em usos,
recuos, gabaritos e densidades. Os planos baseados na forma, no mínimo, definem como cada tipo de
edificação terá detalhada sua implantação, suas exigências de uso e seu gabarito.
O Plano Diretor definiu a forma das edificações e substituiu o recuo por uma área do terreno que
deve ser ocupada. As diretrizes detalham como os terrenos do campus serão ocupados e definem questões de
abastecimento de água, gestão de águas pluviais, redes de esgotamento sanitário, coleta de resíduos sólidos e
definições de materiais para as superfícies impermeáveis.
Em complementação às diretrizes propostas, devem ser desenvolvidos projetos de paisagismo,
projetos elétricos e de telecomunicações (dados e telefonia), bem como de segurança eletrônica e sinalização
gráfica. A gestão do Plano Diretor deve ser definida, assim como o planejamento das obras deve ser
elaborado, facilitando as reformas, ampliações e construções das edificações e de infraestruturas propostas.

Figura 3 - Uso do solo da área do campus de Santa Cruz, em 2017. Figura 4 - Gabarito da área do campus de Santa Cruz, em 2017.

450
Figura 5 – Topografia da área do campus de Santa Cruz, em 2017. Figura 6 – Revestimento das vias da área do campus de Santa
Cruz, em 2017.

Fonte: Acervo da Comissão de elaboração do Plano Diretor do campus de Santa Cruz.

4.1 Diretrizes para expansão da FACISA


Na perspectiva de clarificar tal processo apresenta-se a descrição e algumas representações espaciais e
descrição pontual das diretrizes para a expansão da FACISA, campus de Santa Cruz.
1. Construção de dois blocos de seis pavimentos sobre pilotis para agrupar todas as atividades
acadêmicas e administrativas dos novos cursos propostos pela FACISA, e para transferência das estruturas
dos cursos existentes, atendendo também os cursos técnicos e de ensino a distância, no terreno da expansão
com área de 21.589,09m2 (Figura 7).

Figura 7 – Síntese das diretrizes para a expansão da FACISA.


Fonte: Acervo da Comissão de elaboração do Plano Diretor do campus de Santa Cruz.

2. Construção do ginásio poliesportivo incluindo salas de atividades acadêmicas, piscina


semiolímpica e campo de futebol society para as atividades do curso de Educação Física.
3. Limitação a dois do número de acessos à área de expansão: 1. sul (próximo a via vicinal da BR
226); 2. norte (próximo ao Bairro DNER).

451
4. Construção de estacionamentos para automóveis, motos e bicicletas, além de projeção de garagem
para veículos institucionais, considerando a possibilidade de aproveitamento de subsolos, visando ao
atendimento da demanda de expansão.
5. Garantia de condições de acessibilidade e livre circulação de pessoas com deficiências à toda
estrutura proposta, de acordo com a legislação vigente.
6. Adequação do sistema de abastecimento de água incluindo a construção de: reservatórios
inferiores e elevados (nas lajes de cobertura); redes de distribuição de água potável e do sistema de
prevenção e combate a incêndios; rede de água de reuso (esgoto tratado) para irrigação devidamente
identificada e protegida.
7. Aproveitamento da água de chuva possível de ser coletada das coberturas dos blocos, para
consumo como bebida e outros usos, por meio de sistema de captação e reserva em cisternas com proteção
sanitária.
8. Esgotamento sanitário por intermédio de rede coletora interna, conectada à estação de tratamento
de esgoto (ETE) própria, possibilitando o uso do esgoto tratado (reuso da água) para irrigação de áreas
verdes e árvores do projeto de paisagismo, localizada na menor cota de nível do terreno.
9. Utilização de painéis fotovoltaicos para captação de energia solar nos telhados dos blocos
propostos.
10. Utilização de piso intertravado nas calçadas, nas áreas entre as edificações e nos estacionamentos
a serem construídos, privilegiando o pisograma, reduzindo o escoamento superficial e os riscos de
alagamentos.
11. Coleta seletiva dos resíduos sólidos produzidos, com projeção das lixeiras para coleta seletiva
apenas de resíduos viáveis de serem encaminhados para reciclagem, e também para a coleta de não
recicláveis.
12. Implantação de Unidade de Armazenamento Temporário de Resíduos (UATR), localizada na
proximidade do acesso 2, permitindo a adequada gestão dos resíduos perigosos (classe I).
13. Projeto de sistemas integrados de abastecimento de água, reuso de águas, esgotamento sanitário,
drenagem e manejo de águas pluviais, limpeza pública e manejo dos resíduos sólidos.
14. Desenvolvimento de projeto de instalações elétricas e de telecomunicações (dados e telefonia),
bem como implantação de sistema de segurança.
15. Paisagismo deverá ser objeto de plano específico e abrangente a ser desenvolvido por uma
equipe de especialistas na área, privilegiando o uso de espécies nativas.
16. Sinalização gráfica externa da área de expansão e interna das edificações deverá ser objeto de
projeto específico a ser desenvolvido por equipe de especialistas na área.
17. Proposição de solução adequada de segurança para travessia de pedestres na BR 226, bem como
a regularização dos passeios públicos que interligam os imóveis do campus da UFRN.

4.2 Diretrizes para expansão do HUAB


1. Construção de bloco de três pavimentos para abrigar todas as atividades assistenciais do HUAB, em
terreno de 2.675,15 m2, com potencial construtivo de 4.012,73 m² acima da cota do pavimento térreo, com a
adição de um semi-subsolo com 1.849.12 m², no terreno atualmente denominado Anexo Miguel Lula de
Farias (Figura 8).
2. Reforma e ampliação da edificação que abriga atualmente as atividades do hospital (edificação
original), para abrigar as atividades de assistência ambulatorial, as atividades de apoio administrativo e as
atividades acadêmicas, preservando dentro do possível as características originais do prédio e mantendo a
Unidade de Alimentação e Nutrição, bloco edificado mais recente, construído dentro do programa REUNI.
3. Interligação dos dois imóveis (HUAB e Anexo Miguel Lula de Farias) por meio de um equipamento
de conexão entre as edificações, atendendo à demanda da administração do hospital.
4. Construção de estacionamento no semi-subsolo para automóveis, motos e bicicletas, bem como
projeção de garagem para veículos institucionais.
5. Garantia de condições de acessibilidade e livre circulação de pessoas com deficiências à toda
estrutura proposta, de acordo com a legislação vigente.

452
LEGENDA:
Lavanderia / Apoio logístico / Estacionamento
Internação / Internação semi-intensiva / UTI Adulto / UTI Pediátrica
Centro cirúrgico / Laboratório / Central de material esterilizado
Barrilete e reservatório elevado
Equipamentos de conexão entre as edificações.
Figura 8 – Síntese das diretrizes para a expansão do HUAB.

Fonte: Acervo da Comissão de elaboração do Plano Diretor do campus de Santa Cruz .


6. Adequação do sistema de abastecimento de água incluindo a construção de: reservatórios inferiores
e elevados (na laje de cobertura); redes de distribuição de água potável e de sistema de prevenção e combate
a incêndios.
7. Aproveitamento da água de chuva possível de ser coletada da cobertura do bloco, para consumo
como bebida e outros usos, por meio de sistema de captação e reserva em cisternas com proteção sanitária.
8. Esgotamento sanitário dar-se-á por intermédio de rede coletora operada pela Serviço Autônomo de
Água e Esgoto (SAAE).
9. Projeto de sistemas integrados de abastecimento de água, reuso de águas, esgotamento sanitário,
drenagem e manejo de águas pluviais e dos resíduos sólidos.
10. Utilização de painéis fotovoltaicos para captação de energia solar nas coberturas das edificações do
HUAB.
11. Sinalização gráfica externa da área de expansão e interna das edificações deverá ser objeto de
projeto específico a ser desenvolvido por equipe de especialistas na área.
12. Desenvolvimento de projeto de instalações elétricas e de telecomunicações (dados e telefonia), e
implantação de sistema de segurança.
13. Previsão de área para armazenamento temporário de resíduos perigosos (classe I), permitindo a sua
adequada gestão.

4.3 Diretriz Geral


1. A implantação e o gerenciamento do Plano Diretor do campus de Santa Cruz estarão sob a
responsabilidade de comissão que será designada pelo Reitor e homologada pelo CONSAD, devendo ter um
representante da direção da FACISA e da Superintendência do HUAB, um da Superintendência de
Infraestrutura, um especialista da área de Engenharia, um da área de Arquitetura e Urbanismo e um da área
ambiental.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Plano Diretor do campus de Santa Cruz da UFRN se constituiu como o primeiro documento elaborado sob
uma perspectiva técnica que contempla o planejamento dos seus espaços.
O referido plano refletiu o modo pelo qual são compreendidas e operadas as suas atividades, como
são concebidos e alcançados os seus objetivos e quais as perspectivas de expansão. Efetivamente, objetivou-
se expressar a compreensão dos problemas na concepção e na manutenção dos espaços físicos, de modo
acessível aos responsáveis pela gestão universitária, criando-se um instrumento de planejamento físico.

453
Na fase de implantação das futuras edificações ou de infraestrutura que não tenham sido tratadas
neste plano, a comissão de gerenciamento do Plano Diretor deverá ser consultada para emissão de parecer
baseado nas diretrizes definidas.
Conclui-se que o Plano Diretor se configura como um instrumento de ordenamento territorial do
campus de Santa Cruz, que deve contribuir para um processo de ocupação do espaço de forma planejada,
considerando os aspectos socioambientais da comunidade universitária e de seu entorno. Além disso, é uma
ferramenta importante na consolidação da política de interiorização desenvolvida pela instituição, podendo
servir como aporte não somente para as melhorias que se almeja realizar, mas também para a expansão das
atividades acadêmicas.
Nesse sentido, a comunidade universitária que integra a FACISA e o HUAB – gestores, docentes,
discentes, técnicos e técnicos-administrativos – precisa apropriar-se do conteúdo deste plano, pois somente
conhecendo as análises e diretrizes que contempla é que se pode vislumbrar sua transição de plano à
realidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Cícero O.; GALVÃO, Edneide M. P.; MORAIS, Ione R. D.; SILVA, Moacir G.; DANTAS, Petterson M.; ARAÚJO,
Virgínia M. D. Plano Diretor dos campi do Centro Superior de Ensino do Seridó – CERES. Natal. EDUFRN, 2014.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15.220-3: desempenho térmico de edificações. Rio de Janeiro,
2005.
FARR, Douglas. Urbanismo sustentável: desenho urbano com a natureza. Tradução Alexandre Salvaterra. Porto Alegre:
Bookman, 2013.
IDEMA. INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE DO RIO GRANDE DO NORTE. Perfil do
Município - Santa Cruz. Natal, 2008. Disponível em
<http://www.idema.rn.gov.br/Conteudo.asp?TRAN=PASTAC&TARG=875&ACT=&PAGE=14&PARM=&LBL=>. Acesso em 12
jun. 2017.
MEC/UFRN. Proposta de Diretrizes para uma Política de Interiorização. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal,
1994.
SESu/MEC. Diretrizes gerais do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais.
Brasília, 2007.

AGRADECIMENTOS
À administração central da UFRN e as direções da FACISA e do HUAB, pelo apoio durante a elaboração do
referido plano diretor. À comissão técnica de elaboração e a comunidade local pela participação no processo.

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ANÁLISE TERMO-HIGROMÉTRICA DO PARQUE URBANO TIA NAIR
EM CUIABÁ-MT
Camila Borges Siqueira (1); Flávia Maria de Moura Santos (2); Giovane Mariano
Sandrin (3) João Pereira da Silva Neto (4); Maria Victoria Mendes de Quadros (5); Marta
Cristina de Jesus Albuquerque Nogueira (6)
(1) Estudante de Arquitetura e Urbanismo, UFMT, camilabsiq@gmail.com
(2) Orientadora no Programa de Pós-Graduação em Física Ambiental, UFMT, flavia_mms@hotmail.com
(3) Estudante de Engenharia Civil, UFMT, sandringiovane@gmail.com
(4) Estudante de Engenharia Civil, UFMT, jaonetopereira@gmail.com
(5) Estudante de Arquitetura e Urbanismo, UFMT, mendes.mavi25@gmail.com
(6) Orientadora no Programa de Pós-Graduação em Física Ambiental, UFMT, mcjanp@gmail.com

RESUMO
A importância dos parques urbanos é notória como um elemento para a regulação termo higrométrica dos
ambientes urbanos, melhorando a sensação de conforto térmico dos usuários e da região de entorno. Esta
pesquisa está sendo realizada no município de Cuiabá-MT, situado entre as coordenadas geográficas de
15º10’, 15º50’ de latitude sul e 50º50’, 50º10’ de longitude oeste, na região central do Brasil, denominada
depressão cuiabana. A proposta é coletar dados na estação quente e úmida no período de novembro de 2017
a março de 2018, e analisar a influência do microclima da região e a relação entre os revestimentos do solo
na determinação do desempenho térmico do Parque Tia Nair. Os resultados obtidos convergem com as
análises das bibliografias teóricas consultadas, visto que, a diferença entre um ponto de maior e menor
temperatura tem como fatores determinantes a distribuição desigual entre superfície permeável - cobertura
vegetal - e revestimentos pouco permeáveis ao longo trajeto.
Palavras-Chave: conforto térmico, microclima, revestimento.
ABSTRACT
The importance of urban parks is notorious as an element for regulating the hygrometric conditions of urban
environments, improving the thermal comfort of users and the surrounding region. This research is being
carried out in the municipality of Cuiabá-MT, located between the geographic coordinates of 15º10 ', 15º50'
south latitude and 50º50 ', 50º10' west longitude, in the central region of Brazil, called cuiabana depression.
The proposal is to collect the data in the two seasons of the year (hot-dry and hot-humid) and to analyze the
influence of microclimate and the relationship between soil surface coatings in determining the thermal
performance of the Tia Nair Park. The results obtained differ from those of the theoretical bibliographies
consulted being one of the determining factors of the uneven distribution between permeable surface /
vegetal cover and poorly permeable coatings.
Keywords: thermal comfort, microclimate, lining.

455
1. INTRODUÇÃO
A crescente urbanização das cidades tem trazido desafios ao controle microclimático urbano, com a
diminuição dos revestimentos naturais e maior impermeabilização dos solos, as cidades têm sofrido com o
aumento de suas temperaturas e com fenômenos de ilhas de calor. A necessidade dos parques urbanos é
notória como um elemento para a minimização das influências das ilhas de calor nos ambientes urbanos,
melhorando a sensação de conforto térmico dos usuários e da região de entorno.
Nos centros urbanos observa-se um verdadeiro microclima urbano gerado através da interferência
dos fatores que se processam sobre a camada desse limite urbano, e que agem alterando o clima em escala
local, criando uma atmosfera com características próprias, diferentes das verificadas nas áreas
circunvizinhas. Devido ao tipo e níveis de adensamento e uso do solo associados aos diversos aspectos que
circundam o espaço urbano, os elementos que compõe as camadas do ar são consideravelmente modificados.
(SANTOS et.al, 2013)
Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso, situa-se na confluência de três importantes ecossistemas
brasileiros: o Pantanal, o Cerrado e a Floresta Amazônica. A vegetação característica é o Cerrado, com
densidade de cobertura vegetal maior nas proximidades dos cursos d’água (CALLEJAS, 2012). A cidade
presencia duas estações bem distintas, um período úmido entre os meses de outubro a abril e seco de maio a
setembro, com índice médio de precipitação anual de 1.500 mm e a temperatura média mensal varia entre
21,9ºC a 31,3ºC. (MACIEL, et. al, 2014).
Neste contexto, esta pesquisa busca analisar a temperatura do ar e a umidade relativa do ar do parque
urbano Tia Nair em Cuiabá-MT (Figura 1), durante o período de novembro de 2017 a março de 2018 na
estação quente-úmida, visto que é a mais agradável ao longo do ano, durante três dias de cada mês, em dois
períodos: 8h e 14h, por transecto móvel feito em 10 pontos no parque.

Figura 1 - Satélite da localização do Parque Tia Nair na cidade de Cuiabá-MT

2. OBJETIVO
O trabalho desenvolvido teve como objetivo geral realizar a análise termo-higrométrica do Parque Urbano
Tia Nair em Cuiabá-MT. Para atingir este objetivo foram realizadas as seguintes etapas: análise das variáveis
climáticas, como a temperatura do ar, a umidade relativa do ar através do transecto móvel e a temperatura
superficial dos vários revestimentos que compõem o eixo urbano deste local. A partir disso verificou-se
diante dos resultados quantitativos como as variações de temperatura do ar e umidade relativa do ar
interferiram nas superfícies dos revestimentos.
3. MÉTODO
3.1. Materiais
O Parque Tia Nair localiza-se na área urbana de Cuiabá-MT e foi inaugurado no ano de 2015. Foram
escolhidos dez pontos ao longo do mesmo para que se percebesse a influência da temperatura do ar e da
umidade relativa do ar nos revestimentos escolhidos para a análise e como as temperaturas colhidas nestes
pontos interfere nas sensações do usuário.
A coleta dos dados se deu por transecto móvel realizado ao longo dos 10 pontos escolhidos dentro do
perímetro do parque (Figura 2), onde foram colhidos dados de temperatura superficial por meio do uso de
termômetro digital infravermelho com mira a laser, modelo TI-800, marca Instrutherm (Figura 3). A coleta
da temperatura do ar e umidade relativa do ar foram realizadas por meio de sensor HOBO U12-012 com
cabo externo TMC20-HB, em abrigo móvel vertical, sendo um modelo adaptativo, construído com Tubo de
PVC1 (Figura 4).

456
Figura 2 - Mapeamento dos dez pontos de medição superficial.

Figura 3- Termômetro digital infravermelho com mira a laser, modelo TI-800, marca Instrutherm.

Figura 4 - Sensor HOBO U12-012 com cabo externo TMC20-HB, em abrigo móvel vertical, sendo um modelo adaptativo,
construído com Tubo de PVCl.

Com o HOBO gera-se um desenho gráfico (Figura 5) que relaciona a umidade do ar e a temperatura
do ar no intervalo de tempo da medição ocorrida.O período de coletas abrangeu a estação quente-úmida, de
novembro de 2017 a março de 2018, e foi organizado em medições matutinas e vespertinas, realizadas às 8
(oito) horas e às 14 (catorze) horas, respectivamente, em três dias consecutivos de cada mês, baseado na
orientação da Organização Mundial de Meteorologia (OMM).

457
Figura 5 - Desenho do gráfico gerado a partir da leitura do sensor HOBO.

Os dados superficiais (Figura 6) foram coletados em pontos específicos com as mais variadas
cobertura de solo (áreas sombreadas, ao sol, permeáveis e pavimentadas) com diferentes materiais (asfalto,
concreto, grama, terra, pedra e folha seca), pois assim se obtém uma maior variedade de situações, o que
permite uma melhor avaliação dos resultados. Além disso, se aplica um questionário (Figura 7) durante as
medições aos usuários do parque, referente a sensação térmica individual.

Figura 6 - Arquivamento dos dados superficiais.

4. RESULTADOS
Diante dos resultados arquivados desse período de medição, foi possível desenvolver gráficos que
relacionam os dados obtidos pelo sensor HOBO e assim demonstrar o cruzamento entre as informações
quando se trata da temperatura do ar e umidade relativa do ar. Isto acontece devido a inversão existente entre
esses dois elementos, quanto maior a temperatura do ar menor será a umidade relativa do ar e vice-versa.
Observou-se que em novembro (Figura 8), no período matutino a temperatura se manteve constante e
a umidade variou acentuadamente do ponto 1 para o 2, sendo este último o mais próximo do corpo d’água, já
no período vespertino há uma intersecção entre a temperatura do ar e a umidade relativa do ar. No mês de
dezembro (Figura 9), destaca-se uma variação de 3,4°C de temperatura do ar pela manhã e a umidade
relativa do ar oscilou entre 41 a 48% a tarde.

Figura 8 - Resultado do mês de novembro/2017

458
Figura 9 - Resultado do mês de dezembro/2017

Em janeiro (Figura 10), houve novamente uma mudança abrupta na umidade entre os pontos 1 e 2
nos dois períodos, sobre a temperatura verificou-se uma variação de 1,66°C pela manhã e de 3,86°C a tarde.
Sobre fevereiro (Figura 11), observou-se uma variação relevante na temperatura no período da manhã de
3,54°C e a diferença de umidade entre os pontos 1 e 2 foi de -6,23%. Por fim, foi observado que no mês de
março (Figura 12) as linhas do gráfico vespertino ficaram ainda mais distantes evidenciando a temperatura
máxima de 31,6°C e a umidade relativa do ar de 60,1%.

Figura 10 - Resultado do mês de janeiro/2018

Figura 11 - Resultado do mês de fevereiro/2018

Figura 12 - Resultado do mês de março/2018

Ao verificar os resultados obtidos durante este período da coleta, quente e úmido, pode-se observar

459
que as temperaturas mantêm-se altas e com variação significante no ponto próximo do corpo d’água, e viu-se
também uma grande amplitude da umidade relativa do ar entre os períodos matutinos e vespertinos.

5. CONCLUSÃO
Os resultados obtidos pela pesquisa apresentaram temperaturas relativamente altas, porém constantes em
áreas com corpo d’água e vegetação próximas e variando consideravelmente na umidade quando próximos
destes elementos. Tal quadro pode ser justificado pela proporção entre superfícies com revestimento
permeáveis e revestimentos pouco permeáveis: calçamento de concreto e vias asfálticas.
O mês com maior temperatura do ar foi dezembro no período da manhã com 30,54 ºC e a tarde 35,56
ºC. Já o mês com menor temperatura foi janeiro marcando de manhã 28,9 ºC e de tarde 30,92 ºC. Quanto ao
que se refere a temperatura superficial dos revestimentos de dezembro/2017, o material com maior
temperatura é o asfalto e o concreto no ponto 10, ambos com temperatura de 57ºC a tarde e 47ºC de manhã.
Já o revestimento que apresentou menor temperatura foi a grama variando entre 41ºC de média máxima e
26ºC de média mínima. Em janeiro/2018, o concreto e o asfalto continuam com as maiores temperaturas
variando entre 47ºC e 44ºC a tarde e mantendo-se com 42ºC de manhã e o material que apresentou menor
temperatura foi a terra tendo uma diferença de 5ºC pela manhã e 6ºC a tarde.
O ponto 10 se caracteriza com cobertura asfáltica predominante e distante da cobertura vegetal e
corpo d’água, além da proximidade com veículos, já que se localiza em vaga do estacionamento. Por conta
disso viu-se a ocorrência das maiores temperaturas do ar. O ponto 2, devido a alta proximidade como o corpo
d’água e com a cobertura vegetal gramínea, mesmo não tendo árvores por perto, apresentou a menor média
de temperatura superficial entre todos os outros pontos.
A partir disso, os revestimentos que são escolhidos para estes locais são de extrema importância para
promover efetivamente o conforto ambiental visto que, mesmo no período quente úmido, os pavimentos
impermeáveis como o asfalto e concreto ainda se apresentaram desfavoráveis ao conforto ambiental.
No contexto de clima tropical que a capital Cuiabá está localizada, percebe-se a partir desta análise a
importância de locais com alto índice de cobertura vegetal e com lâminas d’água, visto que a cidade é
caracterizada pelas altas temperaturas e consideráveis amplitudes térmicas. Logo, lugares como o Parque
Urbano Tia Nair apresenta influências muito favoráveis para o microclima urbano.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA JÚNIOR, Nicácio Lemes de. “ESTUDO DE CLIMA URBANO: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA”. 2005.
109 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Física, Pós-graduação em Física e Meio Ambiente, Universidade Federal de Mato Grosso,
Cuiabá-mt, 2005.
MACIEL, C. R.; LUZ, V. S.; SANTOS, F. M. M.; NOGUEIRA, M. C. J. A.; NOGUEIRA, J. S. Interação das Variáveis
Microclimáticas e Cobertura do Solo em Região Urbana e Limítrofe-Urbana na Cidade de Cuiabá/MT. Caminhos de
Geografia (Revista Online), v. 15, n. 51, p. 199–215, Setembro, 2014.
NINCE, P. C. C. Vegetação e revestimentos urbanos: Implicações na sensação térmica de usuários do campus da UFMT em
Cuiabá-MT. Cuiabá/MT, 2013. 90f. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-graduação em Física Ambiental, Universidade Federal de
Mato Grosso.
VALIN JR, M. O.; ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO DE ABRIGOS TERMOHIGROMÉTRICOS ALTERNATIVOS PARA
PONTOS FIXOS. Dissertação (Mestrado - Programa de Pós-graduação em Fí sica Ambiental) – PGFA/UFMT. Cuiabá, 2015.
CALLEJAS, I. J. A. Avaliação temporal do balanço de energia em ambientes urbanos na cidade de Cuiabá-MT. 2012. 242f.
Tese (Doutorado em Física Ambiental) – Programa de Pós-Graduação em Física Ambiental, Universidade Federal de Mato Grosso,
Cuiabá, 2012.
SANTOS, F.M.M. Influência da ocupação do solo na variação termo-higrométrica na cidade de Cuiabá-MT. 2012. 87f. Tese
(Doutorado em Física Ambiental) – Programa de Pós-Graduação em Física Ambiental, Universidade Federal de Mato Grosso,
Cuiabá, 2012.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao órgão fomentador da bolsa de pesquisa CNPq.

460
AVALIAÇÃO MICROCLIMÁTICA PELO PROGRAMA ENVI-MET: O
CASO DO CENTRO URBANO DE COLATINA - ES
Eloiza Baleeiro dos Santos (1); Alexandre Cypreste Amorim (2); Renata Mattos Simões
(1) Arquitetura e Urbanista, elobaleeiro@gmail.com, instituição ou empresa, endereço de correspondência,
telefone de contato
(2) Mestre, docente, cypreste@ifes.edu.br, Instituto Federal do Espírito Santo, endereço de correspondência,
telefone de contato
(3) Mestre, docente, renatamattos@ifes.edu.br, Instituto Federal do Espírito Santo, endereço de
correspondência, telefone de contato

RESUMO
O modo negligente de se edificar o espaço urbano tem promovido significativas mudanças. A desconexão na
forma de se pensar a morfologia e o clima gera situações adversas, podendo assim, agravar os efeitos de um
clima regional que, por si só, já possui elevadas temperaturas em determinadas épocas do ano. Através dessa
perspectiva, o presente trabalho busca de forma analítica e descritiva investigar a interferência dos elementos
morfológicos no microclima partindo de um recorte da região central da cidade de Colatina-ES.
Relacionando desse modo, a importância do planejamento urbano para a obtenção de níveis agradáveis de
conforto térmico para o usuário da cidade. O procedimento metodológico envolve simulações
microclimáticas de três cenários distintos através do software ENVI-Met 4.3.2. Como produto, o programa
oferece mapas referentes a temperatura, umidade, velocidade dos ventos e o voto médio predito dos usuários.
Após gerados os mapas, dados pontuais foram extraídos de forma randômica ao longo do cenário para
análises comparativas mais aprofundadas. Por conseguinte, o índice de conforto térmico dos usuários foi
avaliado através do índice de desconforto térmico (IDT), do voto médio predito (PMV) e da temperatura
efetiva em função do vento (TEv). Para todos os horários analisados, o primeiro cenário urbano, referente a
configuração morfológica atual, apresentou os dados mais críticos. De modo inverso, a aplicação da taxa de
porosidade permitiu que o terceiro cenário apresentasse temperaturas mais uniformes e sensações térmicas
mais agradáveis. Tais resultados revelam a importância do sombreamento e da ventilação para a redução dos
sintomas de calor urbano e a obtenção de sensações térmicas mais agradáveis para os usuários.
Palavras-chave: Conforto térmico, calor urbano, microclima, ENVI-met.

ABSTRACT
The negligent way of building cities has promoted significant space changes. The disjointed treatment
between morphology and climate generates adverse situations, and can thus, aggravate the effect of a
regional climate that naturally promotes high temperatures in some months of the year. From this
perspective, the present work seeks to analytically and descriptively investigate the interference of
morphologic elements in the microclimate of a section of the central region of the city of Colatina – ES.
Relating this way, the importance of urban planning to obtain pleasant levels of thermal comfort for the
population. The methodological procedure involves microclimate simulations of three different scenarios
through the software ENVI-met 4.3.2. As a product, the program offers maps regarding temperature,
humidity, wind speed and the predicted mean vote of users. After generating the maps, point data were
extracted randomly throughout the scenario for further comparative analyses. Therefore, the thermal comfort
index of the users were evaluated through the index of thermal discomfort (IDT), the mean vote of users
(PMV) and the effective temperature as a fiction of the wind (TEv). For all the analyzed schedules, the first
urban scenario, referring to the current morphologic configuration, presented the most critical data.
Conversely, the application of the porosity rate allowed the third scenario to present more uniform
temperature and pleasant thermal sensations. These results reveal the importance of shading and ventilation
for the reduction of urban heat symptoms and the achievement of more pleasant thermal sensations for users.
Keywords: Thermal comfort, urban heat microclimate, ENVI-met.

461
1. INTRODUÇÃO
O processo de urbanização provoca a alteração da paisagem natural por uma paisagem edificada. A
materialização da urbe produz efeitos que alteram substancialmente os ecossistemas naturais e propicia
condições climáticas, sociais e morfológicas diferentes de áreas não urbanas. Dessa forma, o clima urbano
pode ser entendido como “[...] o resultado das modificações causadas pelo processo de urbanização da
superfície terrestre e da interferência dessa urbanização nas características da atmosfera de um determinado
local” (OKE,1987 apud. CALLEJAS et al., 2011).
Para Silva (2009), os grandes problemas urbanos são ocasionados pelo contínuo tratamento desconexo
entre clima, configuração urbana e vegetação. De modo semelhante, Lechner (2015) afirma que diversos
fatores podem modificar o clima local, de forma resumida, pode-se dizer que a morfologia do solo, da
paisagem e da forma urbana são fatores que condicionam o microclima. Quando tais elementos não
interagem de forma coesa, as cidades passam a enfrentar os efeitos negativos do clima urbano.
Como resposta imediata às modificações sofridas pela urbe, os usuários passam a sentir desconfortos
adicionais, reflexos de um clima urbano em desequilíbrio. Para Barbirato, Souza e Torres (2007), os diversos
estudos existentes comprovam o quanto que a qualidade da vida humana está relacionada à interferência da
ação do homem no meio urbano. Desse modo, Souza e Nery (2012) afirmam que as variáveis individuais e
ambientais podem influenciar no conforto térmico dos indivíduos. Dentre as variáveis ambientais os autores
destacam a temperatura, umidade relativa e a velocidade dos ventos; entre as individuais existem as
características das vestimentas e do metabolismo individual.
Visto dessa forma, a problemática que antes era um fenômeno exclusivo de grandes metrópoles, passa
a gerar efeitos em cidades suburbanas. Meriguete et al. (2017), ao estudar a cidade de Colatina-ES,
detectaram possíveis sintomas do fenômeno de ilhas de calor em pontos distintos da região central do
município. As análises comparativas entre as principais avenidas do centro com o campus do Instituto
Federal do Espírito Santos (Ifes), localizado na franja urbana da cidade, atingiram diferenças entre as
temperaturas máximas registradas, de até 8,6ºC em determinados horários.
Sendo assim, o presente estudo se volta para a análise microclimática de um trecho central da cidade
de Colatina-ES. Propõe-se a estudar de forma mais pontual as características dessa região, buscando
relacionar a importância do planejamento urbano para a obtenção de níveis agradáveis de conforto térmico
para a população através da simulação e análise de diferentes cenários.

2. OBJETIVO
Investigar, através de simulações, a interferência que a morfologia urbana causa no microclima de uma
parcela da área do centro de Colatina-ES, em diferentes cenários.

3. MÉTODO
3.1. Objeto de estudo
Localizada na região noroeste do estado capixaba, Colatina conta com 124.525 mil habitantes distribuídos
em um território de 1.416,804 km² (IBGE, 2018). De acordo com a Prefeitura Municipal de Colatina, 88% da
população vive em área urbana e 12%, na zona rural. Predomina o clima quente e úmido com inverno seco,
típico do vale do rio Doce (PMC, 2018). A sua temperatura média é de 24,1ºC e está classificada segundo
Köppen, como Aw, sendo o clima tropical com estação seca de inverno (CPRM, 2014).
O objeto escolhido para avaliação microclimática do presente estudo foi uma amostra que abarca parte
da região central da cidade. O centro representa a área mais urbanizada, edificada e adensada do município, é
caracterizada por uma grande quantidade de edificações antigas, sem afastamento lateral ou frontal e com
gabarito médio predominante de 2 a 5 pavimentos. Trata-se de uma região com grande fluxo de veículos e
pedestres, que concentra não só o comércio e serviço local, mas também residências e algumas áreas livres
pouco exploradas pelo poder público.
A região amostral foi determinada através de visitas a campo e análise de imagens de satélite por meio
da ferramenta Google Earth (Figura 1). A seleção do recorte urbano, envolvendo a Praça Municipal foi
motivada pelo interesse em compreender a influência que o espaço de uso público, em meio às quadras
edificadas, exercia no microclima local. Ao mesmo tempo, o sítio deveria conter características que
representassem a unidade de paisagem do centro. Visto dessa forma, buscou-se estender a área de influência
da Praça Municipal para abarcar uma extensão maior do centro, podendo então, representar melhor o local
através de uma amostra.

344
Figura 1 – Poligonal da região amostral para estudo.

3.2. Simulação dos modelos e modelagem microclimática


Neste estudo foi utilizado o software ENVI-met versão 4.3.2 para simular o desempenho ambiental da área
selecionada. O programa microclimático tridimensional simula as interações entre superfícies, atmosfera e
vegetação em uma escala reduzida. Entre os parâmetros existentes, foram extraídos do modelo dados
referentes à temperatura do ar, velocidade dos ventos, umidade relativa, além do índice PMV(do inglês
Predictedmean vote); todos disponíveis na versão gratuita do programa, o Basic.
Após a identificação da área de estudo, foram propostos três cenários urbanos. O primeiro reproduz o
sítio em seu estado atual, o segundo e terceiro apresentam previsões de um espaço futuro com maior
verticalização e adensamento.

3.2.1. Primeiro cenário urbano


Como já explanado, a escolha
da área de estudo foi através
da ferramenta Google Earth e
de visitas a campo, de forma
semelhante foi feito o
levantamento de dados acerca
das características do primeiro
cenário.
Foram levantados dados
de gabarito das edificações,
tipos de cobertura do solo,
além da densidade e forma das
Figura 2 – Modelagem do primeiro cenário urbano em 3D.
massas vegetadas. Os materiais
adotados para o modelo foram
selecionados de modo que fosse o mais próximo ao existente. A Figura 2 apresenta a configuração do
primeiro cenário urbano.

3.2.2.. Segundo cenário urbano


O segundo cenário urbano prevê um espaço com o gabarito mais elevado, seguindo o que é atualmente
permitido pelo zoneamento. De acordo com o Plano Diretor Municipal de Colatina (Lei nº 5273, de março de
2007), a região do centro é classificada como zona de uso diverso 2 (ZUD-2), nela fica permitido o uso
residencial, misto e comercial.
Tratando-se de gabarito máximo, a zona não estabelece um limite a ser tolerado; dessa forma, fica
livre desde que atenda os demais índices urbanísticos. Na primeira observação referente a ZUD-2, a Lei nos
traz que o primeiro pavimento, não um subsolo, poderá ocupar toda a área remanescente do terreno; fica
permitido também, a ocupação de toda a área do segundo ao quinto pavimento. Ainda conforme o Plano
Diretor Municipal (2007), no bairro centro o afastamento frontal não será exigido e o coeficiente de
aproveitamento máximo poderá ser de 7.

463
Visto dessa forma, para estabelecer um gabarito máximo para as edificações, os cálculos dos índices
urbanísticos foram feitos de acordo com uma média dos lotes existentes no cenário atual. Adotou-se então
um lote padrão de 300m²; do primeiro ao quinto pavimento foi considerado o aproveitamento total do lote,
para os demais gabaritos adicionou-se os afastamentos laterais. O afastamento nos fundos foi desconsiderado
já que grande parte dos edifícios existentes não contam com tal recuo. A partir dos índices considerados
obteve-se um gabarito de 7
pavimentos.
Os materiais
empregados para a cobertura
do solo no modelo
tridimensional permaneceram
os mesmos do cenário 1,
mantiveram-se também os
modelos de vegetação
adotados. Diferente do
primeiro cenário (Figura 3), o
segundo, conta com um
gabarito mais elevado e Figura 3 – Modelagem do segundo cenário urbano em 3D.
apresenta o aproveitamento
total do lote.

3.2.3. Terceiro cenário urbano


O terceiro cenário segue a proposta de mitigação sugerida por Meriguete (2017) para o centro urbano de
Colatina. Segundo a autora, o não estabelecimento de um gabarito máximo para a Zona de Uso Diverso 2
poderá, no futuro, ser um grande problema para a região. A problemática parte do princípio que o aumento
desenfreado no gabarito urbano influencia de forma direta no fluxo de ventos e no armazenamento de calor.
Dessa forma, Meriguete (2017) faz um alerta sobre a influência negativa que os atuais índices
apresentam para o desenho urbano de Colatina, sendo necessário então, uma legislação mais eficiente que
atue em favor a qualidade urbana. Para isso, a autora sugere que sejam exigidos os afastamentos necessários
e que se evite o contínuo surgimento de quadras adensadas em níveis próximos à rua. Além disso, é sugerida
a criação de um índice não previsto na legislação existente, intitulado “taxa de porosidade”.
A autora, porém, não estabelece um percentual a ser adotado para a taxa de porosidade. A partir disso,
estabeleceu-se, para esse trabalho, uma taxa mínima de 15% que deve ser implementada no primeiro ao
segundo pavimento; priorizando assim, a ventilação mais próxima ao nível do pedestre. O estabelecimento
de 15% para a taxa de porosidade parte da intenção de incentivar a criação de pavimentos livres ao longo do
edifício; visto que, através das taxas permitidas pelo Plano Diretor vigente a porcentagem corresponde a
aproximadamente um pavimento, se considerada a ocupação total do lote.
A Figura 4 ilustra a
composição completa do
terceiro cenário urbano. Por
limitações do programa, o
modelo considera apenas a
aplicação da taxa de
porosidade no nível térreo
através de pilotis livres.
Apesar da estrutura livre
apresentar índices mais
interessantes ao nível do
pedestre, a sua aplicação real
na área de estudo apresenta
Figura 4 – Modelagem do segundo cenário urbano em 3D.
limitações, já que se trata de
uma área comercial; porém
esse fato foi desconsiderado nessa fase posto que o objetivo era se verificar o quanto a ventilação poderia
interferir no conforto urbano.

464
3.3. Análise dos dados
Para a análise da região amostral, faz-se uso de estudos comparativos entre diferentes horários e cenários por
meio dos mapas extraídos pelo plugin Leonardo com os diferentes parâmetros de velocidade dos ventos,
temperatura relativa e umidade do ar, além do PMV. Seguindo a recomendação da Organização
Meteorológica Mundial, foram definidos para o estudo os horários de 9h, 15h e 21h (SILVA, 2009).
Após as simulações, foram estabelecidos 12 pontos distintos, eleitos de forma randômica ao longo da
amostra para a extração de dados pontuais de temperatura e umidade. A partir dos dados coletados, foi feita a
classificação dos pontos segundo o índice de desconforto térmico (IDT) utilizado por Santos e Amorim
(2018).
O índice criado por Thom (1959) e adaptado para a cidade de João Pessoa – PB por Santos et al.
(2012), determina em graus Celsius o nível de desconforto para as diversas combinações de temperatura e
umidade relativa do ar, classificando desde confortável até o índice muito desconfortável. Para encontrar o
índice se utilizou a fórmula constante na Equação 1 (LEAL et al., 2017):

IDT = Ta – (0,55 – 0,0055 * UR) * (Ta – 14,5) Equação 1

Onde, Ta é temperatura do ar (ºC) e UR é umidade relativa (%). A Tabela 1 apresenta as faixas de


sensações térmicas do IDT. O índice não considera o desconforto ocasionado pelo frio, desprezando assim as
sensações abaixo de 24ºC.
Tabela 1 – Faixas de sensações térmicas do IDT (Santos e Amorim, 2018 adaptado Santos et al., 2018).
Faixas IDT(ºC) Nível de desconforto térmico
1 IDT < 24,0 Confortável
2 24 ≤ IDT ≤ 26,0 Parcialmente confortável
3 26 < IDT < 28,0 Desconfortável
4 IDT ≥ 28,0 Muito Desconfortável

Em todos os cenários, foram extraídos os dados de temperatura e umidade do ar para a classificação


segundo o IDT. De modo semelhante, dados referentes ao índice PMV foram extraídos dos 12 pontos eleitos.
Criado por Fanger em 1972, o PMV correlaciona as sensações dos usuários através de quatro variáveis
ambientais sendo elas: a temperatura, a umidade do ar, temperatura radiante média e a velocidade dos ventos.
Além das variáveis citadas, o índice considera também a vestimenta e a atividade metabólica do usuário
(LIMA et al, 2005). Trata-se de uma classificação numérica que traduz a sensibilidade humana em uma
escala que permuta entre -3 a +3, onde o conforto térmico é indicado pelo PMV 0, o frio através dos valores
negativos e o calor pelos valores positivos.
Para a simulação do parâmetro biometeorológico PMV, foram inseridos dados referentes a um
humano adulto do sexo masculino, com idade de 35 anos, 1,75m de altura e peso de 80kg. A escolha da
idade do usuário partiu do preceito de que a faixa etária entre 35 e 40 anos caracteriza um indivíduo de idade
média.
De acordo com Lamberts, Dutra e
Pereira (2014), a estimativa do
equivalente metabólico (MET) para um
homem adulto caminhando é de 300w.
Dessa forma, foi adotada uma velocidade
média de 1m/s, correspondendo a uma
caminhada tranquila ao longo do trecho.
Ainda segundo os autores, a resistência
térmica de vestimentas leves segundo o
índice clo é de 0,5.
É importante ressaltar que os
pontos estabelecidos se mantiveram
constantes. A Figura 5 apresenta o
posicionamento dos 12 pontos na região
amostral.
Por fim, ao interpolar os dados de Figura 5 – Localização dos 12 pontos ao longo do cenário
PMV e IDT, percebeu-se a necessidade
de incluir um índice de conforto a mais

465
para uma análise mais apurada a respeito da influência da ventilação para o conforto humano. Desse modo, a
temperatura efetiva em função do vento (TEv) também foi analisada. O índice TEv estabelece onze faixas
distintas de níveis de conforto através de uma relação entre os dados de temperatura, velocidade e umidade
do ar. A Equação 2 (LEAL et al., 2017) apresenta a fórmula aplicada para se obter o índice de temperatura
efetiva em função do vento.

TEv= 37- {(37-Ta)/ [0.68-(0.0014*UR) + (1/ (1.76+1.4*v^0.75)]} – {0.29*a*[1- (UR/100)]} Equação 2

Onde, Ta é a temperatura do ar (ºC), UR é a umidade relativa (%) e v é a velocidade dos ventos (m/s).
A Tabela 2 apresenta a classificação das faixas de sensações térmicas segundo o TEv.

Tabela 2 – Faixas de sensações térmicas do TEv (adaptado de MASTER, 2018).


Faixas Tev (°C) Sensação Térmica (Tipo de CT) Grau de estresse fisiológico
1 < 05 Muito Frio (MMFF) Extremo estresse ao frio
2 05 |– 10 Frio (FF) Extremo estresse ao frio
3 10 |– 13 Moderadamente Frio (MFF) Tiritar
4 13 |– 16 Ligeiramente Frio (LFF) Resfriamento do corpo
5 16 |– 19 Pouco Frio (PFF) Ligeiro resfriamento do corpo
6 19 |– 22 Ligeiramente fresco (LF) Vasoconstrição
7 22 |– 25 Confortável (C) Neutralidade térmica
8 25 |– 28 Ligeiramente quente (LQ) Ligeiro suor; vasodilatação
9 28 |– 31 Quente Moderado (QM) Suando
10 31 |– 34 Quente (Q) Suor em profusão
11 > 34 Muito quente (MQ) Falha na termoregulação

4. RESULTADOS
Os gráficos 1,2 e 3 apresentam os dados referentes ao voto médio predito para um usuário de idade média
vestido com roupas leves em uma caminhada tranquila ao longo do perímetro urbano definido. É perceptível
que o conforto do usuário tende a aumentar do primeiro ao último cenário, contudo, em nenhuma das
simulações a amostra apresentou PMV 0, indicando sensações psicológicas de neutralidade térmica.
Os dados pontuais, extraídos dos cenários, permitem uma análise mais apurada a respeito do voto
médio predito. Dessa forma, através dos resultados para o horário das 9h, é possível dizer que em nenhum
dos pontos houve sensações de conforto, sendo o primeiro cenário o que apresentou os dados mais críticos
no geral, indicando um usuário com sensações psicológicas de muito calor em relação ao ambiente (Figura
6).
Para o período da manhã, o ponto 3 foi o que indicou o maior desconforto, apontando 4,48 de PMV
(muito quente). De modo inverso, o ponto 12 apresentou PMV de 2,58 indicando, segundo a classificação,
um cenário quente. Os dados apresentados correspondem, respectivamente, ao primeiro e ao terceiro cenário
urbano. No total analisado, os pontos 3 e 4 apresentam as piores sensações para o usuário em todos os
cenários, segundo o PMV. Já os pontos 1 e 12 apresentam os melhores resultados, apesar de ainda indicarem
sensações de calor.
Às 15h, todos os pontos apresentaram PMV acima de 3, indicando dessa forma um cenário muito
quente (Figura 7). A sensação máxima de
desconforto ocorreu no ponto 1 durante o
6
primeiro cenário e apontou aproximadamente
6 de PMV. A diferença entre os outros 5
cenários para o mesmo local aponta cerca de 2 4
PMV. 3
Durante a tarde, o ponto 12 surge 2
novamente com o menos desconfortável do 1
cenário, indicando PMV de 3,57. Tal 0
fenômeno se repete novamente às 21h (Figura P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 P 6 P 7 P 8 P 9 P 10 P 11 P 12
8), e pode estar relacionado com a maior
CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3
disposição do ponto em sofrer com o efeito da
ventilação, uma vez que está localizado em um Figura 6 – Voto médio predito dos 12 pontos estabelecidos no
canal que dispõe de maiores velocidades dos cenário as 9h.
ventos.

466
Durante à noite, os usuários tendem a
apresentar a sensação psicológica de um 6
ambiente quente, todos os pontos beiram 2 de 5
PMV. O ponto 10 apresenta as maiores 4
sensações térmicas do horário. 3
Quanto classificação segundo o índice 2
de desconforto térmico (IDT), o terceiro 1
cenário foi o que apresentou mais pontos
0
confortáveis para o período da manhã. O único
P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 P 6 P 7 P 8 P 9 P 10 P 11 P 12
ponto que se “manteve fora da curva” foi o 5,
CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3
que, para o horário, apresentou o índice
parcialmente confortável. De modo geral
nenhum dos cenários apresentou sensações de Figura 7 – Voto médio predito dos 12 pontos estabelecidos no cenário
desconforto para o usuário. as 15h.
A Figura 9 apresenta os dados obtidos
para cada ponto, durante o período diurno, a 6
partir do IDT. Para simplificar a representação 5
gráfica as classificações confortável, 4
parcialmente confortável, desconfortável e 3
muito desconfortável foram traduzidas,
2
respectivamente para os números 1, 2, 3 e 4.
Às 15h, em todos os cenários, 100% dos 1
pontos obtiveram o índice parcialmente 0
desconfortável (Figura 10). De modo P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 P 6 P 7 P 8 P 9 P 10 P 11 P 12
semelhante, às 21h todos os cenários CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3
apresentaram 100% de pontos confortáveis
(Figura 11).
Figura 8 – Voto médio predito dos 12 pontos estabelecidos no
Interpolando os dados obtidos através cenário as 21h.
dos dois índices de conforto, o que se tem
como resultado são duas classificações muito diferentes. Segundo o voto médio predito, em todos os
horários, os cenários apresentam sensações psicológicas de calor ou muito calor para os usuários. Enquanto o
índice de desconforto térmico apresenta em todos os cenários, índices que variam entre confortável e
parcialmente confortável.
Tal discrepância pode ser justificada, principalmente, pelo fato de que a classificação elaborada por
Fanger (1972) determina que as preferências térmicas são as mesmas para todos os seres humanos,
independente de localização geográfica ou clima. Dessa forma, existe o consenso entre pesquisadores de que
o modelo não se aplica adequadamente para regiões tropicais, uma vez que considera um cenário agradável
segundo as sensações de indivíduos do hemisfério norte, adaptados a climas mais frios (LIMA et al., 2005).
Enquanto isso, o índice de desconforto térmico criado por Thom (1959), e adaptado por Santos et. al
(2012), considera faixas de temperaturas que se adequam ao clima tropical. Contudo, o cálculo relaciona
apenas temperatura e umidade, deixando fora da equação dados importantes como vestimenta do usuário,
radiação solar e velocidade dos ventos.
Para Lima et al. (2005, p. 1049), “a
ventilação é um dos fatores mais importantes 4
para a termo-regulação do ser humano,
principalmente em climas quente e úmido 3
[...]”. De acordo com o autor, o movimento do
ar proporciona a sensação de frescor dos 2
usuários, uma vez que, através dela, ocorre a
1
perda de calor por convecção e pelo
incremento da evaporação do suor da pele. 0
Segundo Cândido (2006), a condição de P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 P 6 P 7 P 8 P 9 P 10 P 11 P 12
conforto em ambientes naturalmente
CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3
ventilados depende da temperatura e da
velocidade do ar. Em situações com baixas
velocidades, o conforto térmico é tão sensível à Figura 9 – Índice de desconforto térmico dos 12 pontos
temperatura radiante quando à do ar. Para estabelecidos no cenário as 9h.
velocidade mais altas, a temperatura do ar

467
estabelece a percepção do conforto, possuindo 4
grande impacto no bem-estar do usuário. Ainda
de acordo com Cândido (2006), há indícios de 3
que o movimento do ar possa produzir
sensações de conforto sob temperaturas acima 2
de 30ºC e velocidades dos ventos aceitáveis. 1
Contudo, para temperaturas entre 33ºC e 37ºC
a velocidade dos ventos não apresenta efeitos 0
significativos sob a sensação térmica. Desse P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 P 6 P 7 P 8 P 9 P 10 P 11 P 12
modo, o autor ressalta que “[…] a proximidade
CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3
entre a temperatura do ar e da temperatura da
pele reduz, consideravelmente, o potencial das
Figura 10 – Índice de desconforto térmico dos 12 pontos
trocas térmicas por convecção entre o corpo estabelecidos no cenário as 15h.
humano e a corrente de ar” (CÂNDIDO, 2006,
p. 18).
Visto a importância da ventilação natural para uma determinação mais aproximada do conforto do
usuário, a temperatura efetiva em função do 4
vento (TEv) foi analisada para os três horários.
Segundo a classificação, em todos os cenários, 3
o índice confortável prevaleceu, de modo geral
os resultados oscilaram entre as faixas 6 a 8, 2
indicando um cenário de levemente fresco a 1
levemente desconfortável.
A Figura 12 expõe os resultados 0
relacionados ao período da manhã e a escala P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 P 6 P 7 P 8 P 9 P 10 P 11 P 12
numérica, estabelecida no gráfico, indica uma
CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3
parte das faixas do TEv. Dessa forma, os
valores correspondem respectivamente a sua
faixa, sendo classificados como: ligeiramente Figura 11 – índice de desconforto térmica dos 12 pontos
frio (4), pouco frio (5), ligeiramente fresco (6), estabelecidos no cenário as 21h.
confortável (7), ligeiramente quente (8), quente
moderado (9) e quente (10).
Os dados pontuais referentes às 9h revelam que todos os pontos no primeiro cenário apresentaram o
índice confortável, proporcionando assim um grau de neutralidade térmica ao usuário (Figura 12). No
segundo cenário urbano, os pontos 1, 6, 11 e 12 indicaram o índice ligeiramente fresco, enquanto os demais
apontaram sensação térmica de conforto. Os pontos que obtiveram as sensações de frescor correspondem às
regiões que estão sob maior influência dos ventos, sendo todos localizados em canais de ventilação urbana.
Nesses locais, a ventilação mínima foi de 1m/s e ocorreu no ponto 6, a velocidade máxima atingiu 1,63m/s
no ponto 12. No terceiro cenário, os pontos 11 e 12 apresentaram sensações de ligeiro frescor enquanto os
demais se mantiveram confortáveis. Assim como no segundo cenário, os pontos 11 e 12 estão sob o efeito de
uma maior ventilação, sendo estes os únicos que apresentaram velocidade dos ventos acima de 1m/s.
Às 15h, os cenários começam a
apresentar sensações de ligeiramente quente 10
com estresse fisiológico de ligeiro suor e 9
vasodilatação (Figura 13). No primeiro cenário 8
os pontos 4 e 11 foram os únicos a 7
apresentarem sensações de conforto. Tal fato 6
pode estar associado a temperatura do ar, uma 5
vez que o ponto 12, mesmo indicando
4
velocidade dos ventos próxima a do ponto 11, P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 P 6 P 7 P 8 P 9 P 10 P 11 P 12
se manteve ligeiramente quente.
Os dados referentes ao segundo e o CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3
terceiro cenário mantiveram a mesma
dinâmica, obtendo o índice confortável para os
Figura 12 – Temperatura efetiva em função do vento dos 12 pontos
pontos 1, 3, 6, 11 e 12. estabelecidos no cenário as 9h.
No segundo cenário, os pontos que
obtiveram o índice confortável correspondem aqueles com velocidade dos ventos superior a 0,6m/s. Já no
terceiro cenário, houve pontos onde a temperatura e a umidade juntos contribuíram para a obtenção do

468
índice, uma vez que outros pontos 10
apresentaram velocidade dos ventos 9
significativas, contudo permaneceram
8
ligeiramente quentes.
No período da noite (Figura 14), uma 7
parte significativa dos pontos apresenta o 6
índice confortável e surgem em todos os 5
cenários locais ligeiramente frescos. No 4
primeiro cenário, os pontos 1, 4, 11 e 12 P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 P 6 P 7 P 8 P 9 P 10 P 11 P 12
apresentam ligeiro frescor, no segundo os
CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3
pontos 1, 6, 11 e 12 e durante o terceiro
cenário apenas os pontos 11 e 12. Em todos
Figura 13 – Temperatura efetiva em função do vento dos 12 pontos
estes citados, a velocidade dos ventos se estabelecidos no cenário as 15h.
manteve acima de 0,7m/s.
Os dados encontrados, a partir do índice
10
TEv, vão de encontro aos obtidos através do
IDT. De modo geral, nas duas análises 9
predominou o índice confortável nos cenários. 8
Dessa forma, fica perceptível a discrepância 7
que o PMV proporciona na caracterização das 6
sensações térmicas de usuários em regiões 5
tropicais. 4
Apesar dos resultados divergentes, P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 P 6 P 7 P 8 P 9 P 10 P 11 P 12
todos os índices convergem para o fato de que
o primeiro cenário apresenta os dados mais CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3
graves e que o período da tarde é quando a
região tende a apresentar desconforto para os Figura 14 – Temperatura efetiva em função do vento dos 12 pontos
usuários. De forma semelhante, todos os estabelecidos no cenário as 21h.
índices despertam para a importância da
ventilação para o meio urbano.

5. CONCLUSÕES
As simulações microclimáticas alertam para a forma inadequada em que o espaço urbano está sendo tratado.
O que se percebe é que, em vista da morfologia existente, que já conta com um elevado adensamento, o
aumento dos gabaritos tende a promover uma melhoria no ambiente térmico através do sombreamento das
superfícies e pelo incremento da velocidade dos ventos nos canais de ventilação.
Tais observações levam a afirmar que o efeito do sombreamento e da ventilação são os principais
aliados para melhoria do clima urbano e também para o conforto humano. Contudo, é importante destacar
que, apesar dos resultados encontrados, o adensamento, em principal a excessiva verticalização, podem não
ser a melhor solução para a trama urbana; visto que o presente trabalho analisa apenas as questões
relacionadas ao conforto térmico, desconsiderando, dessa forma, aspectos do conforto lumínico, acústico e
outros que envolvam as sensações humanas.
Uma vez que o adensamento inadequado e mal planejado não é recomendável, propostas de mitigação
devem ser utilizadas para reduzir o efeito do calor urbano em regiões que já sofrem com a problemática.
Entre elas, a vegetação urbana surge como uma das principais alternativas. Para Mascaró (2012), o
sombreamento proporcionado por uma vegetação de médio e grande porte com copa densa, ajuda a reduzir o
aquecimento superficial em 9ºC a 10ºC. As massas vegetadas contribuem ainda para a redução dos ruídos
urbanos e uma melhor qualidade do ar. Outro aspecto a ser trabalhado é a utilização de pisos e coberturas
frescas. É importante ressaltar que o adensamento aqui tratado e indesejado se refere a aquele onde inexiste
os afastamentos e canais de ventilação. A verticalização de forma ordenada e projetada é capaz de
proporcionar mais sombreamento para a região urbana, interferindo também na dinâmica de ventos do
espaço. Tal afirmação pode ser comprovada através dos resultados significativos que a aplicação da taxa de
porosidade a níveis próximos aos usuários revelou, o que demonstra a sua importância e pertinência com
alternativa de controle urbano. Aliando as estratégias de mitigação com taxas mais rígidas de ocupação do
solo é possível construir um ambiente urbano mais equilibrado e confortável para a população.

469
Por fim, conclui-se que os problemas climáticos existentes na cidade de Colatina- ES possuem fortes
ligações com a sua estrutura urbana. Dessa forma, o arranjo que deveria atenuar o clima regional, que por si
só apresenta elevadas temperaturas, acaba contribuindo para o seu agravamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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83, maio/ago, 2012.

470
CIDADES INTELIGENTES, CIDADES SUSTENTÁVEIS E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: UM OLHAR ÀS CONTRIBUIÇÕES DOS PLANOS
DIRETORES E LEIS URBANÍSTICAS NA METRÓPOLE PAULISTA
Wanessa Karoline Maciel Carvalho (1); Andrea Oliveira Queiroz (2); Frederico Pedro
Bon (3); Ricardo Augusto Souza Fernandes (4)
(1) Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana, E-mail: wanessamaciel@ufscar.br, Universidade
Federal de São Carlos, Rodovia Washington Luís, km 235, 13565-905, São Carlos, SP, Brasil. Telefone: (98)
98856-9743.
(2) Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana, E-mail: andolq@hotmail.com, Universidade
Federal de São Carlos, Rodovia Washington Luís, km 235, 13565-905, São Carlos, SP, Brasil. Telefone: (11)
98637-0000.
(3) Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana, E-mail: fredericoejr@gmail.com, Universidade
Federal de São Carlos, Rodovia Washington Luís, km 235, 13565-905, São Carlos, SP, Brasil. Telefone: (19)
99874-4009.
(4) Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana, E-mail: ricardo.asf@gmail.com, Universidade
Federal de São Carlos, Rodovia Washington Luís, km 235, 13565-905, São Carlos, SP, Brasil. Telefone: (16)
98129-7589.

RESUMO
Estudos sobre os tipos de abordagem das mudanças climáticas e as implicações para a governança urbana
reconheceram a necessidade de integrar políticas voltadas para o clima, que habitualmente se concentram em
níveis internacionais e nacionais, negligenciando o nível local. Buscando investigar ações locais, este artigo
tem como objetivo analisar Planos Diretores e legislações municipais vigentes nos 39 municípios da região
metropolitana de São Paulo para explorar se há políticas voltadas para adaptação e mitigação das mudanças
climáticas. A análise feita com base em 10 questões revela que mais de 90% dos 39 municípios não cita de
forma direta o termo “mudanças climáticas” em seus Planos Diretores, número que cai para 72% quando
analisadas apenas as legislações urbanísticas municipais. Verificou-se ainda que cerca de 70% de municípios
não institui a Política Municipal de Mudanças Climáticas, enfatizando a necessidade de uma discussão sobre
a política climática e o planejamento adaptativo das cidades.
Palavras-chave: Governança, Mudanças Climáticas, Plano Diretor, Leis Urbanísticas, Região Metropolitana
de São Paulo.

ABSTRACT
Studies about how climate change is tackled and the implications for urban governance have recognized the
need to integrate policies focused on climate, which concentrate on international and national levels,
disregarding the local level. Looking to investigate local actions, this article aims to analyze current Master
Plans and municipal laws in 39 municipalities of the metropolitan region of São Paulo to explore the
existence of policies dedicated to adaptation and mitigation of climate change. The analysis based on 10
questions reveals that more than 90% of the 39 municipalities do not cite directly the term "climate change"
in their Master Plans, number that drops to 72% when only municipal planning legislation is analyzed. It was
also verified that nearly 70% of municipalities do not establish the Municipal Climate Change Policy,
emphasizing the need for a discussion on climate policy and adaptive planning of cities.
Keywords: Governance, Climate Change, Master Plan, Urban Planning Laws, Metropolitan Region of São
Paulo.

471
1. INTRODUÇÃO
Nas últimas duas décadas, as cidades foram reconhecidas como agentes responsáveis por um papel
significativo na resposta às mudanças climáticas. No campo político, o número de redes municipais
engajadas com a questão da mudança climática aumentou, enquanto sua participação se diversificou. E
dentro da comunidade de pesquisa, formas semelhantes de organização inteligente da rede são visíveis e os
estudos estão avançando, por exemplo, na contabilidade de carbono no meio urbano, avaliações do
metabolismo urbano, uso e ocupação do solo, interação entre urbanização, vulnerabilidade e mudança
climática, e políticas e processos de governança que podem ser mais capazes de enfrentar esses desafios
(BULKELEY, 2010).
A crescente importância desse campo de pesquisa é agora reconhecida pelo Painel Intergovernamental
sobre Mudança do Clima (IPCC – sigla em inglês para Intergovernmental Panel on Climate Change), que
incluiu capítulos específicos sobre as dimensões urbanas da mudança climática em sua Quinta Avaliação
(IPCC, 2014). A cidade, por assim dizer, está agora no centro do mapa da mudança climática.
Conforme Adger (2006), a mudança climática representa um problema clássico de mudança global em
múltiplas escalas, caracterizada por atores infinitamente diversos, múltiplos estressores e múltiplas escalas de
tempo. As evidências sugerem que os impactos das mudanças climáticas aumentarão substancialmente os
encargos para as populações que já são vulneráveis aos extremos climáticos, e suportarão o peso das
mudanças projetadas (e cada vez mais observadas) que são atribuíveis à mudança climática global.
Em muitas circunstâncias, essa abordagem fragmentada pode ser aplicada, mas as experiências das
localidades, estados e nações que começaram a enfrentar essa questão, mostram que as instituições existentes
nem sempre têm a informação, autoridade, motivação ou conhecimento necessário para abordar
adequadamente a adaptação a mudanças do clima. Sendo assim, as duas necessidades institucionais mais
significativas que emergiram de contextos díspares são (1) integração da consideração do clima na tomada de
decisão cotidiana de uma instituição, e (2) coordenação, ou o engajamento construtivo de múltiplas agências
ou departamentos do governo (SMITH, 2009).
Em essência, os municípios que adotaram uma abordagem abrangente e planejada para a governança
climática são poucos e distantes entre si e a maioria enfrentou desafios significativos relacionados à
capacidade institucional e economia política. Por outro lado, o número de iniciativas e intervenções nas
cidades que buscam abordar a mudança climática parece estar se proliferando rapidamente. Se estas
iniciativas estão relacionadas a desenvolvimentos ecológicos, novas tecnologias, políticas específicas,
iniciativas baseadas na comunidade, edifícios corporativos, programas de renovação de infraestrutura ou
similares, as mudanças climáticas estão cada vez mais ligadas ao desenvolvimento, reparo e manutenção da
cidade (BULKELEY & BROTO, 2012). Surgem então inúmeros desafios, particularmente em contextos
urbanos de baixa renda, onde a vulnerabilidade aos efeitos das mudanças climáticas é mais significativa e a
capacidade de lidar com eles é mais limitada.
Em termos de análise e verificação das respostas urbanas à questão das mudanças climáticas, uma
preocupação central tem sido a avaliação das estratégias e iniciativas que foram desenvolvidas. No entanto,
tanto nos governos locais como em outras organizações, os pesquisadores concluem que a mudança climática
continua sendo uma questão marginal, geralmente confinada à ala ambiental das autoridades locais e
desarticulada de outras áreas de formulação de políticas (ALBER, 2008).
Sabe-se que uma solução orientada por políticas para evitar os efeitos mais drásticos da mudança
climática requer uma arquitetura política de longo prazo. E apesar dos governos centrais e formuladores de
políticas internacionais serem os agentes a fornecer uma resposta global satisfatória, a maioria das ações
orientadas para identificar os efeitos da mudança climática surgem das cidades, mais precisamente dentro da
estrutura “Cidades Inteligentes” (CONTRERAS, et al., 2018). Diante dos riscos e vulnerabilidades
associados às mudanças climáticas, novos desafios de governança surgem para as cidades, resumidos por
McCarney et al. a seguir:

[...]seis principais desafios de governança para as cidades no enfrentamento das mudanças


climáticas podem ser resumidos como: um, uma governança local mais fortalecida em
termos políticos e financeiros; dois, abordando as fronteiras jurisdicionais, de modo a
construir sistemas de governança metropolitanos para lidar melhor com as mudanças
climáticas; três, estabelecendo práticas mais eficazes de planejamento e gestão urbana;
quatro, abordando dados e medições por meio de formulação e monitoramento de políticas
baseadas em evidências; cinco, abordando riscos mais profundos e duradouros e
vulnerabilidades de longo prazo nas cidades, especialmente relacionadas à pobreza; e seis,
construindo uma governança mais inclusiva.[...]” (McCARNEY, et al., 2011 p. 267)

472
Como locais-chave, as cidades têm um papel significativo, de forma que entidades globais dedicadas à
agenda da mudança climática apontam cada vez mais para importância dos municípios na formulação da
agenda e seu papel na tomada de ação local também está ganhando força (McCARNEY, et al., 2011 p. 250).
Dito isto, e sendo a governança um dos pilares de “Cidades Inteligentes”, retorna-se a este conceito,
que, segundo Sujataa, Sakshamb, et al. (2016), são cidades ambientalmente sustentáveis e assistidas por
tecnologias da informação e comunicação. Nesta medida, entende-se por “Governança Inteligente” uma nova
forma de repensar e reinventar o governo balizado por um modelo mais participativo, transparente,
democrático e responsivo (TOWNSEND, 2014). Destarte, considera-se que a estrutura legal e política dos
sistemas de gestão de terras é crucial para entender o potencial das cidades para mitigar e adaptar-se às
mudanças climáticas.
No Brasil, estratégias para lidar com a mudança climática através de negociações interestaduais têm
sido realizadas, mas nota-se que ainda há inúmeras lacunas existentes entre os poderes de negociação das
cidades e dos estados, o que por vezes tornava essas iniciativas estagnadas e potencialmente ineficazes. No
entanto, vários novos atores e processos começam a desafiar as autoridades tradicionalmente exclusivas dos
países para criar regras e administrar questões climáticas por meio de intervenções pontuais com o
engajamento de municípios.
Grandes centros urbanos, polos de investimentos, podem ser afetados de diversas maneiras por conta
de alterações no clima, estando sujeitos a eventos climáticos de grandes proporções e cada vez mais
complexos, o que torna ainda mais urgentes ações adaptativas e mitigadoras. No Brasil, o estado de São
Paulo é a região mais populosa e economicamente desenvolvida. A região metropolitana do estado está
localizada nos subtópicos, é composta por 39 municípios e é altamente industrializada, com cidades
extremamente populosas e densas. Conforme dados do Governo do Estado de São Paulo, em 2015, o Produto
Interno Bruto (PIB) da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) correspondia a aproximadamente 17,6%
do total brasileiro e a quase metade do PIB paulista (54,5%). Vivem nesse território quase 50% da população
estadual, aproximadamente 21,6 milhões de habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) para 2018.
A RMSP é influenciada por sistemas climáticos extratropicais e tropicais. Tem uma estação chuvosa
de verão bem definida e um inverno muito seco e é bastante sensível a anomalias climáticas (DUFEK &
AMBRIZZI, 2007). Sabendo-se que a metrópole paulista centraliza uma população expressiva, além de
importantes complexos industriais, comerciais e, principalmente, financeiros, que dinamizam as atividades
econômicas no país, faz-se importante entender como as legislações municipais atuam e como influenciam o
que é definido nos termos de governança ambiental para adaptação e mitigação às mudanças do clima.
Isto dito, o presente artigo propõe analisar as contribuições do governo local da Região Metropolitana
de São Paulo ao enfrentamento das questões das mudanças climáticas. Neste sentido, o artigo segue
organizado em 4 seções, a saber: (2) objetivos; (3) procedimentos metodológicos; (4) apresentação e análise
dos resultados obtidos; e (5) considerações finais.

2. OBJETIVO
O objetivo do presente estudo busca entender o atual estado de ações de municípios da Região Metropolitana
de São Paulo perante as alterações do clima, analisando se há e quais as legislações vigentes a nível local,
que inclui 39 municípios, dada a sua grandeza e importância para o estado brasileiro.

3. MÉTODO
Sabe-se que dadas as dificuldades de formular políticas climáticas consistentes em nível nacional e global, as
cidades ambientalmente conscientes podem recorrer às leis e regulamentações do uso da terra como
instrumentos de mitigação governados e operados na escala urbana, de forma que podem influenciar
fortemente as emissões de gases de efeito estufa (LEIBOWICZ, 2017), e, portanto, mitigar os efeitos e
causas das mudanças climáticas.
Deste ponto, norteia-se este estudo, que por meio de pesquisa exploratória-descritiva a respeito do
planejamento e gestão urbanos e as mudanças do clima, adotou a abordagem quanti-qualitativa como
metodologia de análise dos dados obtidos. Para a reflexão proposta, elaborou-se análise dos Planos Diretores
e leis urbanísticas das 39 cidades integrantes da Região Metropolitana de São Paulo, a fim de identificar e
mensurar as contribuições do arcabouço legal urbanístico ao enfrentamento das mudanças climáticas.
Cabe dizer que a escolha da região de estudo considerou o rótulo de “Cidades Inteligentes”, visto que
das 39 cidades que integram a região metropolitana de São Paulo, a 4ª edição do Ranking Connected Smart
Cities - 2018 aponta 15 destas cidades, quais sejam: São Paulo, São Caetano do Sul, Barueri, São Bernardo

473
do Campo, Guarulhos, Caieiras, Cotia, Poá, Santo André, Mauá, Santana de Parnaíba e Osasco, em ao menos
uns dos 11 setores da pesquisa (URBAN SYSTEM, 2018).
Antecedendo a execução da pesquisa proposta, elaborou-se a pesquisa bibliográfica, que possibilitou
estabelecer o devido alinhamento do assunto ao contexto que está inserido, agregando, ainda que de forma
introdutória, alguns conceitos pertinentes ao estudo.
Quanto a análise proposta, trata-se de um diagnóstico elaborado a partir da leitura dos 39 Planos
Diretores e Leis Urbanísticas respectivos às cidades que compõem a Metrópole Paulista. Desta forma,
buscou-se responder as perguntas previamente definidas e relacionadas na Tabela 1, o que tornou possível
transformar os dados qualitativos dos corpos textuais em quantitativos tabuláveis, e então construir-se por
meio de gráficos o cenário resultante.

Tabela 1 - Questões para avaliação dos Planos Diretores e das legislações urbanísticas municipais.
RESPOSTA
CÓDIGO QUESTÃO A OBSERVAR
ADMITIDA
BLOCO 1 – EXCLUSIVO AOS PLANOS DIRETORES
P1 Faz menção, de forma direita, às mudanças (ou alterações) climáticas?
Faz menção ao desenvolvimento sustentável ou a garantia de meio
P2
ambiente preservado as futuras gerações?
Prevê diretrizes urbanas para a mitigação dos efeitos e causa das mudanças
P3
climáticas? Sim /Não
P3a Incentiva zonas de uso diversificado?
Incentiva ocupação dos vazios urbanos em detrimento da expansão do
P3b
perímetro urbano (cidade compacta)?
P3c Restringe a ocupação de áreas de risco?
BLOCO 2 - NAS LEIS URBANÍSTICAS MUNICIPAIS, INCLUSIVE OS PLANOS DIRETORES
P4 Prevê incentivos para o reuso de água?
P5 Prevê incentivos para a eficiência energética?
P6 Prevê incentivos para mitigação de ilhas de calor (eg. telhado verde)? Sim(S1;S2;S3;S4)¹
P7 Prevê taxa de permeabilidade do solo ou área vegetada no lote? /Não
P8 Prevê incentivos ou o plano de arborização urbana?
P9 Prevê o reuso de resíduos da construção civil?
BLOCO 3 - EXCLUSIVO ÀS LEIS URBANÍSTICAS MUNICIPAIS
P10 Instituiu a Política Municipal de Mudanças Climáticas? Sim(Sim; S-CI)²
P11 Faz menção, de forma direita, às mudanças (ou alterações) climáticas? /Não
P12 Se P11 resultar em SIM, citar o instrumento Legislação
¹ S1, quando Sim, no Plano Diretor; S2, quando Sim, no Código de Obras; S3, quando Sim, na Lei de Uso,
Ocupação e Parcelamento do Solo; e S4, quando Sim, em leis específicas.
Nota:
² Sim, quando em lei municipal específica; S-CI, quando em Plano de Ação de Enfrentamento às Mudanças
Climáticas do Grande ABC

As questões para o diagnóstico foram estabelecidas de modo que possibilitar a identificação de


medidas urbanas favoráveis ao enfrentamento das causas e efeitos das mudanças climáticas. Considerando,
por exemplo, fatores e parâmetros urbanos que contribuem para a organização do espaço urbano. A forma
urbana pode afetar a vulnerabilidade de uma cidade aos impactos das mudanças climáticas. Devido ao seu
potencial impacto na energia e nos materiais de construção, a gestão da forma urbana é uma área crítica de
intervenção para a promoção da mitigação e adaptação ao clima (BLANCO et al., 2011)

4. RESULTADOS
A cidade, como um organismo, vem sendo cada dia mais impactada pelas alterações climáticas. A ocupação
urbana e seus instrumentos como a impermeabilização, a retirada de áreas verdes em função de novas
edificações, o despejo de esgotos sanitários em corpos hídricos em quantidades muito além do que eles
podem degradar, a vulnerabilidade social, a segregação sócio espacial na qual as comunidades de baixa renda
tem sido locadas nos extremos e até mesmo em áreas de risco, entre tantos outros fatores, tem causado
prejuízos às cidades, sentido muitas vezes contrário aos compromissos internacionais para enfrentamento das
mudanças climática.

474
A estrutura, a orientação e as condições das construções e das ruas podem aumentar a necessidade de
resfriamento e aquecimento dos edifícios, que estão associados ao nível de uso de energia e às emissões de
gases de efeito estufa em uma cidade. Faixas de superfícies impermeáveis podem intensificar a inundação e
são determinantes diretos do efeito de ilha de calor. A presença ou ausência de árvores e parques de rua e a
extensão dos sistemas de esgoto e drenagem podem impedir ou intensificar os processos naturais de
evapotranspiração, além de amplificar os efeitos da inundação e da seca (ROSENZWEIG et al., 2011).
Dito isto, pode-se afirmar que as mudanças climáticas têm relação intrínseca com a ocupação urbana
desordenada. Com base no problema exposto, foram então avaliados os planos diretores e legislações
municipais das chamadas cidades inteligentes da Região Metropolitana de São Paulo, buscando o
comprometimento do arcabouço legal com o enfrentamento da problemática estabelecida, a fim de
identificar a resiliência dessas cidades frente aos novos desafios.

4.1. Análise dos Planos Diretores da RMSP – Bloco 1


O Bloco 1, primeira seção de perguntas da Tabela 1, procurou identificar a familiaridade dos 39 Planos
Diretores com as mudanças climáticas, se existem e quais são as propostas de mitigação, diretrizes e
mecanismos aplicáveis a preservação ambiental e a orientação da ocupação do perímetro urbano das áreas de
risco.
Analisando a alternativa gráfica, é possível perceber que apenas 03 (três) municípios apresentam o
termo mudança ou alteração climática diretamente (Figura 1 – P1) sendo eles São Paulo, São Bernardo do
Campo e Franco da Rocha. Isso corresponde a menos de 8% dos municípios em um grupo de 39 (trinta e
nove). O plano diretor de São Paulo propõe de forma efetiva o comprometimento que deve permear a gestão
do município nesse aspecto no artigo 7 inciso XI ao afirmar que este deve:

Contribuir para mitigação de fatores antropogênicos que contribuem para a mudança


climática, inclusive por meio da redução e remoção de gases do efeito estufa, da utilização
de fontes renováveis de energia e da construção sustentável, e para adaptação aos efeitos
reais ou esperados das mudanças climáticas. (SÃO PAULO, 2017).

Além disso, o artigo 119 do plano da cidade de São Paulo ainda sustenta a Política de Mudança do
Clima - Lei nº 14.933, de 5 de junho de 2009, exemplificando tecnologias e procedimentos construtivos
sustentáveis que deverão ser adotados pelos empreendimentos.
O município de São Bernardo do Campo apresenta mecanismos genéricos e ineficazes. Propõe no
artigo 10 incisos V e VI do Plano Diretor, que apenas as indústrias adotem técnicas menos impactantes e
afirma serem necessárias ações de adaptação às mudanças do clima.
Já no caso de Franco da Rocha, o artigo 47 do plano institui uma série de mecanismos para mitigar os
impactos das mudanças climáticas de forma muito mais precisa, como economia de energia, preservação e
ampliação da vegetação, tratamento adequado aos resíduos sólidos com aproveitamento dos gases gerados,
promoção do pedestre e do ciclista além da substituição dos combustíveis fósseis por combustíveis com
baixa emissão de poluentes no transporte público.
Por sua vez, 36 dos 39 municípios, cerca de 92% (Figura 1 - P2), fazem menção nos Planos Diretores
ao desenvolvimento sustentável ou garantia de preservação do meio ambiente tendo em vista as futuras
gerações. Apenas Osasco, Pirapora do Bom Jesus e Santana do Parnaíba não fazem menção.
As diretrizes de mitigação dos efeitos causados por alterações no clima (Figura 2 - P3) apresentaram
resultados surpreendentes, com cerca de 95% dos municípios propondo pelo menos uma das três diretrizes
selecionadas (Figura 3 - P3a, P3b e P3c), haja vista que mais de 92% dos planos não faz menção explícita ao
termo “mudanças climáticas”. Apenas os municípios Santana do Parnaíba e Pirapora do Bom Jesus
negligenciaram as diretrizes.

475
Figura 1 – Resultado da avaliação da P1 e P2 do Bloco 1 – exclusivo aos Planos Diretores da RMSP.

Após análise deste primeiro bloco de questões, pode-se afirmar com base em criteriosa análise dos
Planos Diretores, que a grande maioria não assegura mecanismos eficientes, diante da proposta de
desenvolvimento sustentável, preservação do meio ambiente e mitigação das alterações do clima. Tornou-se
comum aos planos, delimitar áreas de interesse ambiental que estão protegidas da especulação imobiliária e
dos loteadores, porém não foram encontradas ferramentas de fiscalização e/ou punição com o intuito de
saber se estas áreas estão efetivamente protegidas. Além disso, outro recurso que se tornou corriqueiro entre
os Planos Diretores foi o ajardinamento de canteiros centrais de avenidas e plantio de árvores de pequeno
porte nas calçadas que incorrem no interior do perímetro urbano, como forma de colocar tais diretrizes em
prática.

Figura 2 – Resultado da avaliação da P3 do Bloco 1 – exclusivo aos Planos Diretores da RMSP.

Os Planos Diretores também foram avaliados quanto a sua abrangência em questões relacionadas ao
uso e a ocupação do solo, à ocupação urbana e seus instrumentos (Figura 2 - P3a e P3b). A maioria dos
municípios analisados (85%) apresenta zonas de uso diversificado ou misto, concentrando atividades
comerciais e residenciais em uma mesma área. Também incentivam a ocupação dos vazios urbanos dotados
de infraestrutura, em detrimento da expansão do perímetro (92%). Nessas zonas, a legislação na esfera

476
municipal acolhe as diretrizes da legislação federal expostas na Política Nacional de Mobilidade Urbana
(PNMU), Lei nº 12.587/2012.
Sabe-se que as cidades devem ser adaptadas para reduzir a vulnerabilidade às ameaças climáticas
existentes e durar como estrutura que mantém a vida em sociedade sem causar danos ao ambiente ou ampliar
o processo de aquecimento global (LEMOS; ROOD, 2010, p. 121). Portanto, a orientação da expansão da
mancha urbana, a delimitação de suas fragilidades e correta compreensão dos riscos e vulnerabilidades que
eles submetem a população, são imprescindíveis à manutenção das cidades inteligentes (Gráfico 1 – P3). É
imprescindível ao bem comum, que áreas de risco tenham ocupação restringida. Sabe-se que nos centros
urbanos, as encostas e áreas suscetíveis a deslizamentos comumente são ocupadas, muitas vezes ilegalmente,
por comunidades de baixa renda. Além da restrição dessas áreas, como já acontece em 92% dos municípios
analisados, é importante manter a fiscalização constante, a fim de impedir as ocupações antes que se
consolidem e de políticas públicas habitacionais que direcionem essa parcela da população para habitação
digna e segura.

4.2. Análise das Legislações Urbanísticas incluindo os Planos Diretores da RMSP – Bloco 2
O Bloco 2, por sua vez, analisou não só dos Planos Diretores, mas também outras legislações urbanísticas da
esfera municipal. O principal intuito foi identificar e analisar os mecanismos mais aplicados e sua eficácia.
Percebeu-se que o reuso da água, o incentivo a eficiência energética, os mecanismos de mitigação as
ilhas de calor, a previsão de taxa de permeabilidade do solo, a arborização urbana e reutilização dos resíduos
de construção civil (RCC), são esmagadoramente previstos apenas pelos Planos Diretores. Notou-se que
muitas vezes os Planos necessitam de legislação complementar que regule esses mecanismos. A citação
genérica, sem parâmetros de aplicação ou incentivos à população, pode ser danosa ao mecanismo porque este
acaba caindo em desuso. Poucas cidades que não apresentam esses mecanismos no plano, apresentam em
outra legislação.
O reuso da água (Figura 3 – P4) pôde ser encontrado como reaproveitamento de águas cinzas ou coleta
e uso de águas provenientes de precipitação pluviométrica. A crise hídrica, enfrentada por muitos municípios
nos últimos anos, acabou colaborando para que as câmaras municipais legislassem sobre o assunto. Algumas
leis até associam o mecanismo a algum meio para de redução de impostos, como o Imposto Predial e
Territorial Urbano (IPTU).
Os mecanismos de incentivo à eficiência energética (Figura 3 – P5) estão associados muitas vezes aos
gastos do município com iluminação pública. As administrações incentivam que as concessionárias
energéticas façam uso de alternativas mais eficientes com o intuito de diminuir os gastos.
Os incentivos para mitigação de ilhas de calor (Figura 3 – P6) foram os mais diversos, e em alguns
casos o Plano ou legislação não especificava que esse era estritamente o objetivo, porém sabe-se que
cobertura vegetal, redução nas emissões de gases e poluentes na atmosfera, materiais de construção com
menor retenção térmica, telhados verdes e superfícies claras cumprem esse papel.

Figura 3 – Resultado da avaliação da P4, P5 E P6 do Bloco 2 – nas Leis Urbanísticas Municipais e nos Planos Diretores da RMSP.

Os incentivos em relação à parcela de mitigação proporcionada pelo solo (Figura 4 – P7 e P8) são
encontrados em aproximadamente 90% dos Planos e legislações, porém a tendência foi o tratamento

477
genérico em vários casos. Foi comum encontrar a previsão de permeabilidade nas edificações e vias públicas
e o plantio de árvores nestas, da mesma forma que era comum a legislação não especificar um tamanho para
a área, ou relacionar o tamanho da área de plantio/permeabilidade com o tamanho do lote/edificação. A falta
de instrumentos específicos para aplicação dificulta que o objetivo da proposta seja atingido.
Os RCC, ou resíduos de construção civil (Figura 4 – P9) merecem atenção redobrada por parte das
gestões. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei nº 12.305/2010, define o manejo e a destinação
ambientalmente corretos desses resíduos, além de instituir metas de redução e reaproveitamento.

Figura 4 – Resultado da avaliação da P7, P8 e P9 do Bloco 2 – nas Leis Urbanísticas Municipais e nos Planos Diretores da RMSP.

4.3. Análise das Legislações Urbanísticas da RMSP – Bloco 3


No Bloco 3, foram analisadas as legislações urbanísticas da esfera municipal, procurando identificar os
municípios que instituíam a Política Municipal de Mudanças Climáticas além de procurar a menção a
“alterações/mudanças climáticas” e por meio de qual instrumento.
A grande maioria dos municípios, 70% aproximadamente, não instituem a política (Figura 5 – P10). O
fato demonstra a urgente necessidade de adequação das legislações da esfera municipal para enfrentar as
mudanças que estão por vir.

Figura 5 – Resultado da avaliação da P10 do Bloco 3 – exclusivo às Leis Urbanísticas Municipais da RMSP.

A menção ao termo “alterações/mudanças climáticas”, aumenta consideravelmente em relação à busca


do termo nos Plano Diretores. Nos planos, apenas 8% faziam menção, enquanto nas legislações urbanísticas,
o termo foi encontrado em quase 30% do montante analisado. Conforme a Figura 6 – P11 a seguir, foram
encontrados 9 instrumentos diferentes entre Leis, Políticas, Programas e Secretarias relacionados ao tema.

478
Figura 6 – Detalhamento da avaliação da P11 do Bloco 3 – exclusivo às Leis Urbanísticas Municipais da RMSP.

5. CONCLUSÕES
O estudo se propôs avaliar, no contexto das cidades inteligentes e da sustentabilidade, o Plano Diretor e
Legislações Urbanísticas de 39 cidades da região metropolitana de São Paulo. O intuito da avaliação foi
verificar a responsividade dessas cidades frente aos novos desafios que se apresentam devido às mudanças
climáticas. O posicionamento de cada município, além de mitigar as causas das mudanças, torna populações
menos suscetíveis aos impactos. Porém, as alterações do clima estão associadas a complexos regimes de
urbanização. Além do exposto, a resiliência das cidades está associada às suas estruturas sociais,
econômicas, políticas, culturais e geográficas/geológicas. Portanto, os impactos das mudanças climáticas, a
vulnerabilidade e a forma com que cada população irá se adaptar irão variar de acordo com a localidade.
Apesar da urgência, muitos municípios não entendem ainda como e quando devem atuar em relação ao
cenário das mudanças climáticas. É preciso que legislam sobre o assunto, o façam de forma prática, através
de leis objetivas, que realmente buscam alcançar metas aplicando instrumentos bem definidos e incentivados,
ao invés da simples menção do instrumento no corpo do texto, postergando os parâmetros executivos para
legislações posteriores.
A neutralidade do município frente o problema mostra-se preocupante. Os custos das catástrofes
relativas às alterações climáticas são altos, principalmente os atrelados ao capital humano. Com o tempo e o
contínuo adensamento dos centros urbanos, mais suscetíveis, as perdas tendem a ser ainda maiores. Além das
perdas econômicas, existem as perdas sociais e materiais. Logo, posicionamentos extemporâneos, além de
encarecidos, podem ser paliativos, de forma a adaptar as comunidades ao cenário já consolidado, enquanto
posicionamentos mais precipitados propõem soluções mais consistentes e mitigação das causas do problema.
Nesse contexto, o planejamento urbano é a ferramenta capaz de propor alterações significativas no
modo com que as populações ocupam e fazem uso do espaço, no estilo de vida e nos âmbitos culturais,
sociais e econômicos, com intuito de mitigar e não só de adaptar. O espaço deve ser pensado não só pela
ótica dos loteadores, mas deve atender as populações carentes, proteger os maciços verdes e as águas
fluviais, além de políticas que estimulem o consumo consciente, a reciclagem, a arborização e a eficiência
energética.
Apesar das incertezas e da diversa gama de fatores que influenciam as mudanças climáticas, a
comunidade científica deve estar a par do planejamento e deve ter voz ativa. A atenção ao cenário
internacional com o intuito de conhecer e entender novas práticas deve ser propagada na inter-relação
ciência-política.
Por fim, a forma com que as cidades se relacionam com a natureza deve ser repensada se elas almejam
alcançar a resiliência através da inteligência. A voracidade com que se ocupa o espaço a fim de gerar riqueza
deve ser gradativamente substituída pela atenção ao meio ambiente que precisa ser visto e entendido como
promotor da vida humana. Mitigar as causas e não apenas adaptar-se aos efeitos, reduz a vulnerabilidade e
busca perpetuar a vida com qualidade, deixando as cidades aptas para alcançar a resiliência urbana perante as
mudanças do clima e dentro do contexto das cidades inteligentes.

479
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URBAN SYSTEM. Ranking Connected Smart. Urban System. 2018. pp. 1-68.

AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001 e da Fundação de Amparo à Pesquisa ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FAPEMA) – Processo nº BM-08469/17.

480
CONFIGURAÇÃO URBANA E MICROCLIMAS: UM ESTUDO EM CIDADE
DE CLIMA SEMIÁRIDO NO NORDESTE BRASILEIRO
Isadora Alves G. Silva (1); Simone Rachel L. Moura (2); Ricardo Victor R. Barbosa (3);
Isabel França Souza (4); Vinicius Silva Zacarias (5)
(1) Discente, Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, isadoraalvesgouveiasilva@gmail.com
(2) Mestra, Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, simone.romao@arapiraca.ufal.br
(3) Doutor, Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, rvictor@arapiraca.ufal.br
(4) Discente, Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, isabelfranca22@gmail.com
(5) Discente, Graduando em Arquitetura e Urbanismo, viniciuszacarias.vs@gmail.com
Universidade Federal de Alagoas, Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Avenida Manoel Severino
Barbosa – Bom Sucesso, Arapiraca – Al, 57309-010, (82) 3482-1800.

RESUMO
O uso e a ocupação do solo são fatores que influenciam diretamente na formação dos diferentes microclimas
urbanos. Tais microclimas podem ser tidos como decorrentes da expansão das cidades (ocasionada por
intenso processo de urbanização), desvinculada do planejamento urbano, o que viria por afetar a qualidade de
vida dos usuários. Diante disso, foi objetivo da pesquisa avaliar a influência da configuração urbana na
formação de microclimas urbanos em Arapiraca, AL. O método utilizado se fundamentou na coleta, análise
de dados e simulação de cenários, mediante uso de sensores que registraram a temperatura e umidade do ar –
em seis pontos com distintas configurações na referida cidade – e do software ENVI-Met®. Após a
discussão e análises dos resultados, concluiu-se que os parâmetros urbanísticos adotados no município
acarretam em mudanças climáticas, especialmente no aumento da temperatura do ar. Em contrapartida, as
áreas com menores densidades construtivas, com presença de vegetação e vias largas, contribuíram para que
essas áreas resgistrassem as menores temperaturas do ar durante todo o dia. Por fim, pôde-se confirmar a
importância do estudo da formação do microclima urbano como uma ferramenta relevante para o auxílio no
planejamento urbano, visto que esses resultados podem servir de orientação nas decisões projetuais de
futuras intervenções na cidade, bem como na tomada de decisão dos gestores urbanos, amenizando assim
possíveis situações de desconforto local e a busca de realização concreta de uma cidade com qualidade de
vida para todos.
Palavras-chave: clima urbano, conforto ambiental, planejamento urbano, Arapiraca.

ABSTRACT
The use and occupation of the soil are factors that directly influence the formation of the different urban
microclimates. Such microclimates can be taken as as arising of the expansion of cities (caused by an intense
urbanization process), unlinked to urban planning, which would affect the quality of life of users. Therefore,
the objective of this research was to evaluate the influence of the urban configuration on the formation of
urban microclimates in Arapiraca, AL. The method used was based on the collection, data analysis and
simulation of scenarios, using sensors that recorded the temperature and humidity of the air – in six points
with different configurations in the city – and of the ENVI-Met® software. After the discussion and analysis
of the results, it was concluded that the urban parameters adopted in the municipality lead to climatic
changes, especially in the increase of the air temperature. On the other hand, the areas with lower
constructive densities, with presence of vegetation and wide roads, contributed to these areas achieving the
lowest air temperatures throughout the day. Finally, it was possible to confirm the importance of the study of
the formation of the urban microclimate as a relevant tool for aiding urban planning, since these results can
serve as a guide in the design decisions of future interventions in the city, thus alleviating possible situations
of local discomfort and the search for concrete realization of a city with quality of life for all.
Keywords: urban climate, environmental comfort, urban planning, Arapiraca.

481
1. INTRODUÇÃO
No final do século XX, a população mundial mudou sua característica predominantemente rural para urbana.
Desde então, essa mudança acompanhada, na maioria das vezes, de um planejamento urbano ineficiente,
vem contribuindo de forma significativa para variações no clima das cidades, especialmente no que diz
respeito ao aumento da temperatura do ar.
As condições particulares do meio urbano – rugosidade, ocupação do solo, orientação, propriedades
termodinâmicas dos materiais constituintes, entre outros fatores – modificam as feições climáticas da cidade,
formando um clima particular: o clima urbano (LANDSBERG, 1981; OKE, 1996). À medida que as cidades
crescem em tamanho e densidade, as mudanças que produzem no ar, no solo e na água, no interior e em volta
da malha urbana, agravam os problemas ambientais que afetam o bem-estar de cada morador (SPIRN, 1995).
Givoni (1998) destacou que os principais fatores de modificação das condições iniciais do clima pela
urbanização são a localização da cidade dentro da região, o tamanho das cidades, a densidade da área
construída, a cobertura do solo, a altura dos edifícios, a orientação e a largura das ruas, a divisão dos lotes, os
efeitos dos parques e áreas verdes e detalhes especiais do desenho dos edifícios. Branco (2001) complementa
dizendo que a forma das cidades e o tamanho dos espaços públicos devem ser projetados de modo à
amenizarem as condições climáticas; ou seja, devem adotar características que sejam adaptadas ao clima
local trazendo melhorias, não apenas para edificação em si, mas também para seu entorno construído.
A interação do clima com a configuração e o uso do espaço urbano, segundo Nogueira (2011), pode
provocar uma desorganização na dinâmica climática, contribuindo para formação de ambientes climáticos
diferenciados, fazendo com que cada cidade ou bairro (dentro de um mesmo limite) possa ter seu próprio
microclima.
O homem é o principal agente transformador dos centros urbanos. Ao construir e ocupá-los, ele
interfere significativamente sobre o meio climático. Dependendo dessas transformações, as consequências
podem ser favoráveis ou prejudiciais à vida humana. Segundo Roriz (2003), os microclimas provocados pela
ação humana podem ser extremamente desconfortáveis e, para reestabelecer o conforto, geralmente são
desperdiçados preciosos recursos energéticos. Oliveira (1988) ainda complementa que a forma urbana é
produto estabelecido pelo homem e, a partir dos instrumentos de controle climático, é possível obter
condições de conforto e salubridade do espaço citadino.
A preocupação com a qualidade ambiental urbana deve estar inserida em todo processo de
urbanização, considerando, assim, o estudo da climatologia urbana um instrumento importante no processo
de planejamento das cidades, como também na busca de estratégias para amenização dos problemas
climáticos já existentes (ALMEIDA, 2006).
Visto a preocupação atual da gestão municipal de Arapiraca em realizar estudos técnicos para
atualização do plano diretor neste ano de 2019, este estudo visa contribuir para este novo cenário de
discussão sobre planejamento urbano. A universidade tem sido um parceiro em potencial que vem
contribuindo nestas discussões, inclusive, percebe-se um interesse constante por parte da equipe gestora de
revisão do referido plano, em relação as pesquisas científicas que se relacionam ao planejamento urbano, a
necessidade de controle das áreas expandidas do perímetro urbano e o uso da climatologia urbana para
subsidiar possíveis critérios definidores de ocupação do espaço da cidade.

2. OBJETIVO
Frente aos argumentos expostos, segue-se que o objetivo da presente pesquisa consiste em analisar as
influências das configurações urbanas na formação de microclimas urbanos em áreas distintas da cidade de
Arapiraca, em Alagoas, visando contribuir com o planejamento público local.

3. MÉTODO
O estudo de caso se desenvolveu no município de Arapiraca, cidade de porte médio, localizada no interior do
estado de Alagoas e pertencente a mesorregião do agreste alagoano. Segundo estimativas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2018) –, o município possui área de 345.655 km² e densidade
demográfica de 230.417 habitantes (proporção essa distribuida, aproximadamente, em 78% na zona urbana e
22% na zona rural)
Os procedimentos metodológicos adotados na pesquisa visaram a análise do clima em escala de
abordagem microclimática, de modo a verificar a geometria urbana como fator condicionante do clima na
cidade.

3.1 Abordagem microclimática


Nessa abordagem são levadas em considerações os efeitos das ações humanas sobre o ambiente urbano

482
(ROMERO, 2004). Assim, foram analisadas as influências da geometria urbana na formação de microclimas.
Essa etapa foi dividida em cinco fases: escolha de áreas amostrais; seleção dos pontos de monitoramento;
instalação dos sensores; obtenção e análise dos dados registrados.

3.1.1 Escolha de áreas amostrais


A definição de clima urbano está relacionada ao comportamento térmico diferenciado nos recintos urbanos,
decorrente da configuração urbana e das propriedades termofísicas das superfícies do seu entorno
(ALMEIDA, 2006). Oke (1996) complementa afirmando que o clima urbano é resultado da modificação
substancial das feições climáticas locais pelas condições particulares do meio ambiente urbano, seja pela
morfologia e geometria do tecido urbano, pela permeabilidade ou propriedades termodinâmicas dos materiais
das superfícies, pelo aumento do fluxo de automóveis, entre outros, provocando alterações no balanço
energético local.
Assim, a escolha dos pontos buscou contemplar os diferentes revestimentos de solo como também a
variedade do entorno. Dessa forma, foram selecionadas três áreas da cidade (Mapa 1) com cenários distintos
de uso e ocupação do solo. A área 1 está localizada próximo ao Centro da cidade, em uma fração urbana de
uso misto, com residências unifamiliares e edificações de prestação de serviços. A área 2 está localizada no
centro comercial da cidade. A área 3 está localizada em fração urbana de uso residencial, com edificações
unifamiliares de até 2 pavimentos.

Área 1 (Ouro Preto)

Área 2 (Parque Ceci Cunha)

Área 3 (Novo Horizonte)

R. Prof. Domingos Correia

R. Minervina Francisca
Conceição
R. Elvira Barbosa Lopes

Entorno do Ginásio João Paulo II

Praça Ceci Cunha

Mapa 1 – Áreas urbanas selecionadas da cidade de Arapiraca – AL

3.1.2 Seleção de pontos amostrais nas três áreas urbanas


Os estudos no campo da climatologia urbana detectaram que a qualidade, quantidade e a forma do uso dos
espaços públicos na malha urbana são definidos em grande parte por suas condições microclimáticas, e que
os elementos como o tipo de pavimentação, a geometria dos espaços e a presença de vegetação, são
importantes para determinação de sua qualidade bioambiental6 (LEVERATTO, 1999).
Assim foram selecionadas três áreas com características distintas. A área 1 foi selecionada devido à
presença de edificações verticais e pelos materiais utilizados nas mesmas. Essa área possui ruas asfaltadas e
com pouca vegetação. A área 2 constitui-se de espaços abertos e diferentes tipos de pavimentação e presença
de vegetação. A área 3 corresponde a duas vias próximas entre si, porém distintas quanto ao tipo de

6Metodologia que se caracteriza pela inserção das variáveis ambientais no decorrer do processo de definição do desenho urbano, ou
mesmo observada no modo como edifícios são construídos e utilizados. A finalidade última é representada pela tentativa de redução
do consumo energético.

483
pavimentação, largura das vias e características do entorno.
Os critérios utilizados para análise e escolha dos pontos de monitoramento encontram-se sintetizados
no quadro a seguir:
Quadro 1 – Caracterização dos pontos de medição

3.1.3 Instalação dos sensores


Os equipamentos de monitoramento, protegidos da radiação solar direta, foram instalados em postes de
iluminação pública a uma distância de 4 metros do solo. Para monitoramento de dados climáticos foram
dispostos cinco dataloggers, sendo definido dois pontos amostrais na área 1; dois pontos na área 2 e dois
pontos na área 3. Os parâmetros urbanos adotados para análise dessas diferenças foram: tipo de
pavimentação, presença de vegetação, largura das vias, intensidade do tráfego de veículos e caraterísticas do
entorno.
Na área 1, o ponto P1 foi localizado na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE),
edificação localizada frente ao prédio da Universidade Norte do Pará – UNOPAR. O ponto P2 fora locado na
mesma rua, porém a uma distância de 600 metros do primeiro ponto, nos limites da escola de língua
estrangeira CCAA. Na área 2, os dois equipamentos, P3 e P4, foram instalados na praça Ceci Cunha, porém
em locais com configurações distintas. Na área 3, os equipamentos foram instalados na rua Mivervina
Francisca da Conceição (P5) e na avenida Elvira Barbosa Lopes (P6).

3.1.4 Definição do período de análise


Optou-se por fazer o estudo no final da estação correspondente ao verão, período no qual há os registros de
maiores temperatura do ar. O período de monitoramento dos dados compreendeu intervalo de 16 dias
consecutivos, entre os dias 10 a 26 de março de 2018.
Inicialmente, pretendia-se tomar os dados climáticos da estação do Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET) como referência para análise das variações térmicas causadas pela configuração urbana dos pontos
monitorados. Entretanto, coincidentemente no período de campanha da presente pesquisa, a estação do
INMET não registrou dados climáticos. Dessa forma, optou-se por selecionar o dia com as temperatura do ar
mais elevadas registradas nos seis pontos monitorados, fazendo análise do comportamento térmico diário em
cada ponto. A partir desse critério, selecionou-se o dia 13/03/2018, com temperatura do ar máxima de
36,4°C.

484
3.1.5 Simulação computacional através do software ENVI-Met®
Após a etapa feita em campo, foi selecionado apenas uma área que apresentasse características distintas,
possibilitando verificar e confrontar os dados coletados pelos sensores com os gerados através do software
computacional ENVI-Met®. A área selecionada foi a área 3, formada pela rua Minervina Francisca da
Conceição, avenida Elvira Barbosa Lopes. Na mesma área foi incluído mais um sensor presente no Parque
Área Verde.

4. RESULTADOS
A partir dessa seleção, foram tabelados os dados de temperatura do ar e umidade relativa do ar registrados
em todos os pontos amostrais, esses foram colocados em uma planilha e gerado um gráfico, como é possivel
analisar a seguir:

Gráfico 1 – Temperatura do ar nos seis pontos

Em consideração ao gráfico supracitado, percebeu-se a ocorrência de uma variação de temperatura nos


cinco pontos, fato que pode ser justificado pela diferença do uso e ocupação do solo nessas áreas. Uma vez
que, as diferenças nas composições físicas da cidade – no que diz respeito à orientação, alturas das
edificações, densidades construtivas, proximidades do centro da cidade ou à sua periferia – criam condições
favoráveis a microclimas no meio urbano. Logo, cada parte da cidade possui características térmicas
diferentes.
De acordo com os dados aferidos, notou-se que os equipamentos instalados nos pontos P1 e P2,
pertecentes a área 1, registraram as maiores temperaturas, enquanto P5 e P6, localizado área 3, registraram as
menores.
O equipamento de monitoramento instalado em P1 foi locado no prédio da APAE que fica defronte ao
edifício da UNOPAR, cuja fachada frontal é coberta por uma pele de vidro reflexivo, permanecendo voltada
para o poente. Sabe-se que os revestimentos artificiais de urbanização interferem decisivamente no clima.
Logo, contribuiu bastante para que essa área tenha apontado as maiores temperaturas, uma vez que os raios
solares, que são lançados nessa pele de vidro, são refletidos por meio de ondas longas para os espaços que
estão em seu entorno.
Dentre as áreas escolhidas para pesquisa, essa é caracterizada por ser o espaço que possui uma maior
densidade construtiva, aspecto relevante para que haja um aumento na temperatura do ar. Visto que a
densidade de várias áreas construídas em uma cidade afeta diretamente o microclima urbano, modificando,
principalmente, a direção dos ventos, o balanço da radiação e, consequentemente, a temperatura do ar.
Outro fator é a ausência de vegetação nesse local, que diminuem de forma significativa a temperatura
do ar, uma vez filtrando os raios solares de forma a impedir com que os mesmos cheguem diretamente ao

485
solo. Além disso, coberturas verdes contribuem de forma significativa para o estabelecimento de
microclimas e têm influência no comportamento social, na poluição do ar, no amortecimento no nível de
barulho e na estética das cidades. A via da área 1 é asfaltada e estreita, outro fator que contribui para o
aumento da temperatura. A principal característica desse tipo de revestimento é seu coeficiente de
absortância da radiação solar, suas capacidades de armazenar calor e seus índices de impermeabilidade. A
permeabilidade e o tipo de recobrimento do solo são um dos fatores morfológicos condicionantes do clima
urbano e da melhoria das condições microclimáticas dos mais diversos espaços urbanos.
O fato do edifício da UNOPAR possuir uma altura de aproximadamente 30 metros, também é uma
justificativa para esse aumento de temperatura nessa área, uma vez que a verticalização e o adensamento das
edificações são alguns dos fatores que mais servem de contribuição para formação de ilhas de calor – já que
os mesmos reduzem os espaços de dispersão de energia térmica acumulada nos materiais utilizados nas
construções, além de dificultarem a circulação do ar encarregado de provocar uma melhor sensão térmica aos
usuários.
Já o equipamento instalado em P2, por sua vez, registrou a segunda maior temperatura. Apesar da
pequena distância entre os pontos P1 e P2 (600 metros), às 10:00 h do dia 13 de março registrou-se uma
variação de 1,3°C. Concluiu-se que as condições climáticas podem variar consideravelmente a pequenas
distâncias do ponto de observação, devido à alterações locais.
As características que diferem os dois ultimos pontos citados são a presença de vegetação que
provocam o aumento da umidade relativa do ar, devido sua função fisiológica de evapotranspiração que
liberam umidade ao ambiente, reduzem a radiação solar pelo sombreamento gerados pelas árvores e,
consequentemente, favorecem a diminuição da temperatura do ar. Analisando o prédio da instituição CCAA,
nota-se que a edificação não possui muros mas sim grades, a mesma possui um recúo coberto por gramas de
aproximadamente 5 metros do muro até o início edificação. E além de gramas, há árvores de pequeno e
médio porte. Outro característica é o material empregado na construção, que consiste em alvenaria rebocada,
emassada e pintada.
O sensor instalado em P5 foi locado em uma área residencial pouco adensada, via larga e com
presença de muitos vazios urbanos. As residências presentes nesta área não ultrapassam o gabarito de dois
pavimentos. O material de recobrimento do solo é o paralelepípedo e a intesidade do fluxo de veículos é
média. A presença de vazios urbanos nessa área favorece a circulação do ar, aumentando a ventilação além
de promover a diminuição da temperatura do ar.
O equipamento P6 instalado, também na área 3, foi o que registrou as menores temperaturas. Ele foi
locado em uma área de uso residencial, com fluxo médio de veículos, ruas largas e com presença de vazios
urbanos. Essas características contribuem para que esse ponto tenha marcado as menores temperaturas do ar
uma vez que a intensidade do fluxo de pessoas e veículos, ruas largas e edificações com até dois pavimentos
contribuem para que haja uma melhor circulação dos ventos, também responsáveis por dispersar as massas
de calor tornando o ambiente, em uma área mais agradáveis.
Depois desta etapa, foi feita a simulação computacional através do software ENVI-Met®. Dadas suas
características, a área 3 foi selecionada como foco na análise, formada pela rua Minervina Francisca da
Conceição, avenida Elvira Barbosa Lopes e no Parque Área Verde, espaço composto por um corredor verde
com recobrimento do solo em concreto e algumas faixas em solo nú. A data selecionada para análise foi o
dia 12 de Março de 2018, por ter sido o dia que registrou os maiores valores para a temperaturas nos 3
pontos.
Confrontando os dados colhidos pelos sensores e pela simulação, obtivemos os seguintes resultados:
Tabela 1 – Dados sensores e dados do simulador

Localização Rua Minervina Avenida Elvira Parque Área Verde

Dados sensor 34,0° 34,2° 32,7°

Dados simulador 29,58° 29,3° 28,9°

Diferença 4,4° 4,9° 3,8°

De acordo com a tabela 1, percebe-se que houve uma diferença considerável entre os equipamentos
utilizados. Muitos são os fatores que influenciam na temperatura do ar

486
como pôde ser visto no decorrer de toda pesquisa, sendo que tais condições não puderam ser colocadas na
simulação feita pelo ENVI-Met®, devido à falta de tempo para realizar novas simulações a fim de se chegar
a resultados mais próximos aos da realidade, como também, pela pouca experiência com o programa.
O horário em que foram registradas as maiores temperaturas pelo simulador foi às 12:00 e 15:00
horas, como pode ser visto na imagem abaixo:

Figura 1 – Simulação do software ENVI-Met®


Analisando a imagem acima, nota-se que a região leste, sudeste e sul são as áreas que registraram as
maiores temperaturas. O fato pode ser justificado de um modo geral por essa área possuir um recobrimento
do solo com material impermeável e pelo adensamento das construções. Como pode se observar, as demais
áreas possuem muitos vazios urbanos que favorecem a diminuição da temperatura do ar.
Já as áreas que possuem edificações muito próximas e com alturas que variam entre 2 a 3 pavimentos,
funcionam como uma espécie de barreira para ventilação fazendo com que os ventos tracem outras direções,
perdendo forças, e, assim, contribuam para o aumento da temperatura do ar visto que o mesmo não terá tanta
intensidade para mover essas massas de ar que se encontram ilhadas.

5. CONCLUSÕES
Com o estudo concluiu-se que dentre os diversos parâmetros urbanos existentes, os que foram levados em
consideração para presente pesquisa foram bastante relevantes para que ocorresse a variação da temperatura
do ar em distintas frações urbanas em Arapiraca. Espera-se que os resultados obtidos na pesquisa possam
subsidiar a gestão pública no planejamento urbano tanto no atual processo de revisão do plano diretor da
referida cidade estudada, bem como na definição de diretrizes de ocupação de novas áreas, a fim de que essas
respondam a uma melhor forma as condições do clima local, além de também contribuírem como auxílio
para criação de políticas públicas eficientes para o planejamento urbano.
Oliveira (1988) ressalta a importância de que haja um estudo microclimático nas cidades ao afirmar
que as intensas modificações geradas pelo homem nas cidades estão subordinadas as características da forma
urbana, que consequentemente, são condicionantes do clima urbano. Lynch e Hack (1986) também
enfatizam a importância das condições microclimáticas para os planejadores urbanos, uma vez que tais
condições interferem nas trocas térmicas e na umidade entre o ambiente urbano e os espaços construídos,
resultantes dos materiais escolhidos ainda na fase de projeto.
Tanto os dados coletados na primeira fase da pesquisa, quanto as informações levantadas a partir das
simulações feitas com auxílio do software ENVI-Met®, atestam para a relevância dos dados encontrados
para o planejamento urbano. As consequências da ausência desse último são perceptíveis: surgimento de
ilhas de calor; baixa proporção de áreas verdes em meio urbano; cidades com espaços amplamente
densificados, entre outros aspectos negativos.
Esta pesquisa revelou que a qualidade de vida e o conforto ambiental dos usuários nos centros
urbanizados, a exemplo de Arapiraca, historicamente, tem ocupado um segundo plano no planejamento,

487
tornando os resultados da gestão pública ineficientes, dentro desta lógica da expansão urbana então evidente.
E que o despertamento atual da gestão municipal em discutir na revisão da sua legislação mostra-se um
momento oportuno para adoção destas medidas no planejamento local.
Tendo em vista o exposto, nota-se, portanto, que o crescimento das cidades, a forma e os materiais
utilizados na malha urbana acarretam em variações climáticas. Assim, conclui-se que o estudo da
climatologia local e um planejamento urbano mais eficaz é indispensável para formação de ambientes
adequados ao clima de uma região.

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488
CONFORTO E ATMOSFERA: UMA AVALIAÇÃO FOTO-ELICITATIVA
DO LARGO DA ORDEM DE CURITIBA
Rafael Fischer (1); Fernanda Grein Nunes (2); Aloísio Schmid (3)
(1) Mestre em engenharia da construção civil, arquiteto e urbanista, doutorando,
rafaelsanfischer@gmail.com, Universidade Federal do Paraná.
(2) Mestre em engenharia da construção civil, arquiteta e urbanista, professora, fernanda.grein@gmail.com,
Centro Universitário Campos de Andrade.
(3) Doutor em engenharia mecânica, engenheiro mecânico, professor nos programas de graduação em
Arquitetura e Luteria e de pós-graduação em engenharia da construção civil e em design, iso@ufpr.br,
Universidade Federal do Paraná.

RESUMO
Este artigo tem como objetivo compreender as variações de conforto emocional de usuários e frequentadores
do largo da ordem de Curitiba, e como as diferentes atmosferas deste lugar afetam os mesmos, por meio da
foto-elicitação. Para isso, foi realizada uma pesquisa na qual foram apresentadas fotos do espaço em
diferentes momentos e condições de uso para um grupo não-aleatório de entrevistados. Estes responderam
quais sensações as diferentes imagens os fizeram sentir, além de seu estado emocional prévio à pesquisa.
Utilizando o modelo de emoções de Desmet (2002), foi possível descobrir como os pesquisados se sentem
emocionalmente em relação às várias atmosferas do Largo. Também foi possível inferir como as variações
de elementos que compõem a atmosfera de um lugar pode influenciar nas sensações de seus frequentadores e
usuários. Os resultados correspondem ao senso comum, com espaços mais agitados sendo associados à
estimulação e espaços vazios noturnos causando certo grau de medo. Outro ponto marcante é que as pessoas,
independente do seu estado prévio, se sentem bem ou são estimuladas positivamente em situações de tempo
estável, principalmente em dias ensolarados.
Palavras-chave: atmosfera, conforto ambiental, avaliação de pós-ocupação, foto-elicitação.

ABSTRACT
This article aims to understand the variations of emotional comfort of users and frequenters of the order of
Curitiba, and how the different atmospheres of this place affect them, through photo-elicitation. For this,
research was carried out in which photos of the space were presented at different moments and conditions of
use for a non-random group of interviewees. These answered what sensations the different images made
them feel and what was their emotional state prior to the research. Using Desmet's (2002) model of emotions,
it was possible to find out how respondents feel emotionally about the various atmospheres of Largo. It was
also possible to infer how the variations of elements that make up the atmosphere of a place can influence the
sensations of its regulars and users. The results correspond to common sense, where more agitated spaces
being associated with stimulation and nocturnal empty spaces produce a certain level of fear. Another
important point is that people, regardless of their previous state, feel good or are positively stimulated in
stable weather situations, especially on sunny days.
Keywords: atmosphere, environmental comfort, post-occupation evaluation, photo-elicitation.

489
1. INTRODUÇÃO
A palavra conforto tem origem no latim e significa consolar. Originalmente, a ideia de conforto era muito
associada ao bem estar físico. Mais recentemente, no contexto da arquitetura e urbanismo, o termo tem sido
frequentemente relacionado ao controle de condições ambientais, como a temperatura, ventilação ou
iluminação (SCHMID, 2018). Este trabalho busca fugir do viés tecnicista associado ao conceito de conforto,
buscando fazer uma avaliação espacial com enfoque na atmosfera do lugar, utilizando-se da foto-elicitação.
Nos parágrafos a seguir são apresentados alguns conceitos fundamentais relacionados às noções de
foto-elicitação e atmosferas.

1.1. Foto-elicitação
A foto-elicitação é uma abordagem de pesquisa empírica (IPIRANGA, 2016) na qual são utilizadas
fotografias para identificar reações emocionais de pessoas em relação à elicitações-visuais (BIGNANTE,
2010). Neste método, as fotografias podem tanto ser tiradas e selecionadas previamente, quanto registradas
pelos próprios participantes da pesquisa de maneira ativa (MEO, 2010).
Em ambas as situações, o conteúdo dos registros fotográficos é avaliado pelos participantes. Desta
maneira, é possível que as suas reações emocionais às mesmas sejam verificadas, permitindo ao pesquisador
que conduz o trabalho realizar inferências acerca das mesmas (HARPER, 2002).

1.2. Atmosferas
A definição do conceito de atmosfera não é unânime. No entanto, pode-se defini-la como sendo o conjunto
de sensações, sentimentos, impressões e significados transmitidos pelos espaços arquitetônicos (JACQUET;
GIRAUD, 2012). Zumthor (2006) e Droog (2010) corroboram com tal definição afirmando que a atmosfera é
uma qualidade estética, capaz de influenciar no comportamento e sensações das pessoas. A atmosfera
contribui para a definição da qualidade arquitetônica de um lugar. Trata-se de um conceito sempre está
presente como a qualidade do espaço que nos cerca, sendo primordialmente interpretada pelos sentidos.
Kotler (1973-1974) afirma que a atmosfera de um lugar é normalmente descrita em termos sensoriais, como
a visão, audição, olfato e tato.
Atmosferas são complexas, podendo variar severamente mesmo em um mesmo lugar geográfico. Tal
variação ocorre de acordo com fatores temporais (momento do dia, estação do ano, temperatura, clima e
tempo), antropológicos (presença ou ausência de pessoas) e as configurações do espaço arquitetônico (forma,
cor, texturas, aberturas e escala).
Russell e Snodgrass (1987) definiram um sistema circumplexo para determinar a afetividade
ambiental que determinado espaço causa nos seus usuários e assim caracterizar sua respectiva atmosfera.
Esse sistema é baseado em um eixo cartesiano que determina o grau de estimulação causado pelo espaço.
Como se pode verificar na Figura 1, a seguir, espaços podem variar de estimulantes a desestimulantes, bem
como essa presença ou ausência de estímulos pode variar entre negativa e positiva. Um espaço estimulante e
positivo pode gerar estados emocionais relacionados à aventura, segundo o sistema. Já um espaço
desestimulante e negativo tende a ser associado com estados emocionais característicos do tédio.

Figura 1. Sistema Circumplexo e suas respectivas sensações.

490
O sistema circumplexo, portanto, define quatro quadrantes, cada um podendo ser associado à estados
emocionais específicos como Perigo (estimulante negativo), Aventura (estimulante positivo), Tédio
(desestimulante negativo) e Conforto (desestimulante positivo). Estes estados emocionais, por sua vez,
podem ser desmembrados em diversas sensações, conforme a figura 2, a seguir.

Figura 2. Sistema Circumplexo e seus respectivos estados emocionais.

Schmid (2018) ressalta que o sistema circumplexo já nos permite visualizar que a ideia de conforto
está associada a espaços com características positivas e desestimulantes, sendo, portanto, bastante restrita e
específica. Neste sentido, surge a crítica de que nem todo o espaço deve, necessariamente, ser confortável.
Um bar, parque de diversões ou casa noturna costumam proporcionar atmosferas mais relacionadas ao estado
emocional de aventura, sendo o estado de conforto indesejável.
É importante notar também que as atmosferas não causam estados emocionais nos usuários de forma
determinística. Logo, é totalmente possível que uma mesma atmosfera cause tédio e conforto em duas
pessoas distintas. Esse fenômeno pode ser explicado em parte pelo modelo básico de emoções descrito por
Desmet (2002). O modelo evidencia que determinado estado emocional é resultado direto de duas variáveis
(TONETTO, 2011): um estímulo (o espaço arquitetônico) e um estado emocional prévio por parte do
indivíduo (concern), conforme se pode observar na Figura 3, a seguir.

Figura 3. Modelo de Emoções de Desmet (2002) adaptado à percepção das Atmosferas.

2. OBJETIVO
Sabendo-se que atmosferas distintas surgem em função de alterações das componentes temporal, espacial e
antropológica, o presente artigo tem como objetivo compreender as variações de estado emocional causadas

491
por atmosferas distintas de um mesmo local. Desta forma, pretende-se entender melhor como as diferentes
componentes atmosféricas podem influenciar emocionalmente seus usuários.

3. MÉTODO
Para a realização da análise de como diferentes atmosferas influenciam no estado emocional das pessoas, foi
utilizado o método de foto-elicitação. Imagens do Largo da Ordem de Curitiba com variação nas
componentes atmosféricas temporais e antropológicas foram apresentadas a um grupo de usuários e
frequentadores do local.
A amostra dos 82 participantes do estudo foi definida com base na rede de contatos dos
pesquisadores, não sendo, portanto, aleatória do ponto de vista estatístico. Eles participaram da foto-
elicitação por meio de um formulário criado no Google Forms cujo protocolo e as questões serão
apresentadas mais adiante.
As fotografias que compuseram o estudo foto-elicitativo correspondem ao mesmo lugar do Largo da
Ordem de Curitiba, apresentando o trecho da Rua Dr. Claudino dos Santos, entre a Rua José Bonifácio e a
Rua do Rosário. Apesar de conterem ligeiras variação de ângulo e enquadramento, todas foram tiradas no
mesmo sentido, porém em momentos com configurações dos elementos que compõe as atmosferas distintos
entre si.
Os participantes tiveram que selecionar o estado emocional que melhor correspondia às sensações
que sentiram ao observar as imagens das atmosferas apresentadas. Além disso, o estado emocional prévio
dos participantes também foi verificado.
Desta forma, foi possível obter o estado emocional gerado pelas diferentes atmosferas, segundo o
modelo de sensações de Desmet (2002). Os foram então tabulados, para facilitar a comparação, e analisados
pelos pesquisadores.

3.1. Lugar de estudo: Largo da Ordem de Curitiba


O Largo da Ordem está localizado no bairro São Francisco, na capital paranaense. Nele está situado o Setor
Histórico de Curitiba, um dos principais pontos turísticos da cidade. Local de estabelecimento dos primeiros
moradores de Curitiba, o Largo da Ordem é caracterizado por conter edificações de diferentes estilos
arquitetônicos, dentre elas: a Igreja de Nossa Senhora do Rosário de São Benedito; a Igreja da Ordem
Terceira de São Francisco de Chagas; as famosas ruínas da inacabada Igreja de São Francisco de Paula; o
Palácio São Francisco, antiga sede do governo paranaense, hoje Museu Paranaense; e a Sociedade Garibaldi,
reduto de italianos (IPPUC, 2015).
Estas construções demonstram que, desde as primeiras ocupações, o local possui um caráter
intrínseco de encontro cívico e religioso. Atualmente, o Largo da Ordem é conhecido por seus bares, intensa
vida noturna e pela feira de artesanato que acontece todo domingo. Esta, inclusive, se tornou patrimônio
imaterial de Curitiba, registro aprovado em votação unânime no Conselho Municipal de Patrimônio Cultural.
Para melhor contextualizar a delimitação do recorte geográfico trabalho, destaca-se na figura 4 a área estuda
e seus principais edifícios históricos.

Figura 4. Recorte da área estudada.

492
3.2. Protocolo da foto-elicitação
Para assegurar que o trabalho pudesse ser replicado por outros pesquisadores, estabeleceu-se um protocolo
para a sua realização:
• Registro Fotográfico do mesmo ambiente construído: Deve ser realizado de maneira que
exista variação dos elementos que compõem as atmosferas, como os antropológicos (pessoas)
e temporais (período do dia, estação, tempo). O espaço estudado deve ser os mesmos, devendo
haver o mínimo de variação possível no enquadramento e no tratamento de cada fotografia.
• Apresentação dos registros fotográficos para foto-elicitação: as imagens correspondentes às
diferentes atmosferas devem então ser apresentadas a uma amostra de pessoas e usuários que,
preferencialmente, já tenham frequentado o local em questão.
• Registro do estado emocional prévio: o modelo de Desmet (2002) ressalta a influência do
estado emocional prévio na reação a determinada atmosfera. Portanto, é necessário que o
pesquisador registre qual é o estado emocional prévio do participante da pesquisa.
• Registro das reações de estado emocional: o estado emocional de cada individua participante,
quando impactado por cada um dos registros das atmosferas, deve ser registrado.
• Tabulação das reações emocionais: recomenda-se a tabulação dos estados emocionais
aferidos, classificando-os segundo o estado emocional prévio. Desta forma, permite-se a
reprodução do modelo de Desmet (2002) e uma analise mais contextualizada dos resultados de
cada atmosfera.
• Discussão: finalmente, pode-se analisar os estados emocionais de cada uma das atmosferas,
verificando-se como as mesmas afetaram de forma diferente os usuários segundo os elementos
que as compõem (antropológicos e temporais), bem como o estado emocional prévio dos
participantes da pesquisa.

3.3. Questionário da foto-elicitação


A pesquisa foi estruturada em um questionário realizado na ferramenta Google Forms. As perguntas foram
enviadas para uma amostra não-aleatória de 82 participantes. As questões contidas no formulário e seus
respectivos objetivos são apresentados a seguir:

Questão 01. Você já foi ao Largo da Ordem?


a. Sim.
b. Não.
O objetivo desta questão era confirmar que os entrevistados já estiveram em algum momento de sua
vida no lugar selecionado como objeto de estudo desta pesquisa.

Questão 02. Caso a resposta para a questão 01 tenha sido positiva, com qual frequência você
vai ao largo da ordem?
a. Só estive no local uma única vez na vida.
b. Vou ao local uma vez ao ano, em média.
c. Vou ao local uma vez ao mês, em média.
d. Vou ao local uma vez por semana, em média.
e. Frequento o local diariamente.

O objetivo desta questão era avaliar o nível de familiaridade que os entrevistados têm com o lugar
selecionado para a pesquisa.

Questão 03. Qual alternativa melhor descreve seu estado emocional na última hora?
a. Alarmado, Temeroso, Tenso, Aflito, Zangado e/ou Frustrado.
b. Superexcitado, Excitado, Estimulado, Surpreso, Deleitado, Alegre e/ou Feliz.
c. Miserável, Deprimido, Triste, Sombrio, Aborrecido, Prostrado e/ou Cansado.
d. Agradado, Satisfeito, Contente, Sereno, Calmo, Leve, Relaxado, Sonolento.

O objetivo desta questão é avaliar o estado emocional prévio do participante, visto que, conforme
visto no modelo de emoções de Desmet (2002), ele possui influência sobre a percepção de uma determinada
atmosfera. Para melhor retratar este estado emocional, pede-se na questão para que o usuário o descreva
levando em consideração a última que antecedeu o ato de responder esta pesquisa.

493
Questões 04, 05, 06, 07, 08 e 09. Qual alternativa melhor descreve seu estado emocional ao
observar a imagem? – a figura 5 apresenta todas as imagens que foram utilizadas na pesquisa.
a. Alarmado, Temeroso, Tenso, Aflito, Zangado e/ou Frustrado.
b. Superexcitado, Excitado, Estimulado, Surpreso, Deleitado, Alegre e/ou Feliz.
c. Miserável, Deprimido, Triste, Sombrio, Aborrecido, Prostrado e/ou Cansado.
d. Agradado, Satisfeito, Contente, Sereno, Calmo, Leve, Relaxado, Sonolento.

Atmosferas 1 e 2, Questões 04 e 05
Rua Doutor Claudino dos Santos em dia ensolarado, entre 11:00 e 13:00. Na imagem da esquerda da Figura
6 quase não há pessoas no espaço. Na imagem da direita da Figura 5, há muitas pessoas no espaço.

Figura 5. O elemento antropológico (pessoas) foi variado. Os elementos Tempo e Espaço são os mesmos.

Atmosferas 3 e 4, Questões 06 e 07
Rua Doutor Claudino dos Santos em dia nublado, entre 11:00 e 13:00. Na imagem da esquerda da Figura 6
quase não há pessoas no espaço. Na imagem da direita da Figura 6, há muitas pessoas no espaço.

Figura 6. O elemento antropológico (pessoas) foi variado. Os elementos Tempo e Espaço são os mesmos.

Atmosferas 5 e 6, Questões 08 e 09
Rua Doutor Claudino dos Santos em dia nublado, entre 19:00 e 20:00. Na imagem da esquerda da Figura 7
quase não há pessoas no espaço. Na imagem da direita da Figura 7, há muitas pessoas no espaço.

494
Figura 7. O elemento antropológico (pessoas) foi variado. Os elementos Tempo e Espaço são os mesmos.

4. RESULTADOS
As 82 pessoas foram entrevistadas entre os dias 06/04/2019 e 07/04/2019. Todos os participantes afirmaram
que já estiveram no local retratado nas imagens ao menos uma vez na vida. Assim sendo, todos os
participantes tiveram os resultados das questões seguintes, relativas ao estado emocional prévio e ao estado
emocional frente cada atmosfera, analisados.

4.1. Frequência de visitas ao Largo da Ordem


Como pode ser observado na Tabela 01, apresentada adiante, a frequência de visita ao local pelos
participantes foi: Só estive no local uma vez na vida, com 9,8%; Vou ao local uma vez por ano, em média,
com 40,2%; Vou ao local uma vez por mês, em média, com 36,6%; Vou ao local uma vez por semana, em
média, com 7,3%; Frequento o local diariamente, 6,1%. A maior parcela dos entrevistados possui uma
frequência de uma vez por mês a uma vez por ano, totalizando 76,8%.

4.2. Estado emocional prévio do entrevistado antes da pesquisa


A fim de levantar o estado emocional prévio do entrevistado, pediu-se que o usuário o descrevesse seu
estado levando em consideração a última hora anterior à participação na pesquisa. Como fica evidente na
Tabela 01, 73,2% dos entrevistados afirmaram estar no estado Agradado, Satisfeito, Contente, Sereno,
Calmo, Leve, Relaxado, Sonolento; 14,6% no estado Superexcitado, Excitado, Estimulado, Surpreso,
Deleitado, Alegre e/ou Feliz; 9,8% no estado Alarmado, Temeroso, Tenso, Aflito, Zangado e/ou Frustrado; e
2,4% no estado Miserável, Deprimido, Triste, Sombrio, Aborrecido, Prostrado e/ou Cansado.

4.3. Tabela de resultados das questões 04, 05, 06, 07, 08 e 09


Conforme visto no modelo de emoções de Desmet (2002), o estado emocional prévio do entrevistado possui
influência sobre a percepção de uma determinada atmosfera. Para possibilitar um panorama de análise para
as questões 04, 05, 06, 07, 08 e 09, os resultados também são representados de maneira gráfica na Tabela 01,
a seguir. A primeira coluna da tabela traz os estados emocionais prévios e as colunas seguintes os resultados
que cada grupo de pessoas com o mesmo estado prévio respondeu. Na última linha da tabela estão os
resultados gerais de cada questão/ imagem, sem levar em consideração o estado prévio, a fim de obter ainda
a relação do estado do grupo com a amostra geral.

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Tabela 01 – Tabulação das respostas obtidas durante a pesquisa.

4.4. Estado Emocional Prévio: Perigo


A maior parte dos entrevistados relacionou a atmosfera ensolarada-vazia a sensações de conforto. Já para as
atmosferas nublada-vazia e noturna-vazia, a percepção predominante foi de sensações relacionadas à
aventura e ao conforto.
Os participantes associaram as atmosferas enrolarada-cheia e nublada-cheia a sensações de perigo,
mantendo seu estado emocional prévio. Já na atmosfera cheia-noturna, houve forte associação com sensações
de conforto e aventura.
Com base nos resultados, percebe-se que indivíduos em estado emocional prévio com sensações
relacionadas ao perigo: associam atmosferas com muitas pessoas durante o dia a sensações de perigo;
associam atmosferas com muitas pessoas durante a noite a sensações de aventura e conforto; e associam
atmosferas vazias ao longo de todo dia a sensações de conforto.

4.5. Estado Emocional Prévio: Aventura


A maior parte dos entrevistados relacionou atmosferas com muitas pessoas, como as atmosferas ensolarada-
cheia, nublada-cheia e noturna-cheia, às sensações justamente ligadas à aventura, tendo seu estado emocional
prévio sido consolidado.
Atmosferas ensolarada-cheia e noturna-vazia foram classificadas principalmente como confortáveis
por esse grupo. Já a atmosfera nublada-vazia foi percebida associada, em certo nível de significância, ao
tédio.
Com base nos resultados, percebe-se que indivíduos em estado emocional prévio com sensações
relacionadas à aventura: têm esse estado emocional reforçado quando expostos à atmosfera com mais
pessoas; associam o espaço vazio em um dia limpo à sensações de conforto, e são influenciadas
negativamente por atmosferas de dias nublado em que não há pessoas no espaço.

4.6. Estado Emocional Prévio: Tédio


A maior parte dos entrevistados associou sensações de estados emocionais diferentes do qual se encontrava
antes, com exceção da situação da atmosfera nublado-vazio. Esta, por sua vez, foi um reforçador bastante
eficaz de sensações ligadas ao tédio.

496
Todas as outras atmosferas foram associadas às sensações ligadas ao conforto de maneira
significativa, tendo as atmosferas ensolarada-cheia e noturna-vazia também gerado sensações ligadas à
aventura.
Com base nos resultados, percebe-se que atmosferas vazias do ponto de vista humano e com tempo
nublado contribuem significativamente para sensações de tédio. Mesmo pessoas com estados emocionais
prévios distintos ao de tédio também associaram esse espaço, em algum grau, às sensações de tédio.

4.7. Estado Emocional Prévio: Conforto


A maior parte dos entrevistados associou sensações ligadas ao Conforto às atmosferas ensolarado-vazio,
nublado-vazio, noturno-vazio e noturno-cheio, consolidando seu estado emocional prévio.
Também foi possível perceber que a presença de pessoas, característica das atmosferas cheio-
ensolarado, cheio-nublado e cheio-noturno elicitou, em certo grau de intensidade, sensações ligadas à
aventura nesse grupo.
Outro fato interessante é que as sensações associadas ao perigo também passaram a se manifestar
com certa significância na maior parte das atmosferas, com exceção da ensolarada vazia.

5. CONCLUSÕES
O presente trabalho permitiu a aplicação do método de foto-elicitação e do modelo de sensações de Desmet
(2002). Ambos se apresentaram como ferramentas bastante úteis para a avaliação de atmosferas
arquitetônicas, permitindo que fossem tiradas conclusões a respeito dos estados emocionais que as mesmas
causam em seus usuários.
Quanto aos resultados, percebeu-se que: o estado emocional prévio influencia de maneira
significativa na percepção das atmosferas, o que contribui para validar e consolidar o modelo de sensações
de Desmet (2002); atmosferas de espaços externos e com dias nublados tendem a causar sensações
relacionadas ao tédio nas pessoas, indo de encontro com o que se difunde no senso comum e com o que foi
confirmado por diversas pesquisas (DENISSEN et al, 2008); atmosferas com grande quantidade de pessoas
tendem a gerar sensações mais estimulantes, sejam positivas ou negativas, enquanto que atmosferas mais
vazias do ponto de vista humano costumam resultar em sensações mais desestimulantes – e no caso da
atmosfera vazia-noturna, em sensações de perigo. Novamente, os resultados vão de encontro com o que se
percebe no senso comum, com espaços mais agitados sendo associados à estimulação e espaços vazios
noturnos causando certo grau de medo.
Ainda, de forma geral, pode-se concluir que as pessoas, independente do seu estado prévio, se
sentem bem ou são estimuladas positivamente em situações de tempo estável, principalmente em dias
ensolarados.
Para estudos futuros, sugere-se que uma maior quantidade de atmosferas sejam avaliadas, testando-
se diferentes combinações entre seus agentes constituintes. Desta forma, seria possível definir com maior
precisão as sensações geradas nos usuários. Além disso, o mesmo estudo pode ser feito em diferentes
espaços, mesmo quando internos e, teoricamente, não afetados tão intensamente pela variável temporal.
Basta que a mesma seja informada aos entrevistados para que eles compreendam o contexto. Outra
recomendação seria realizar pesquisas semelhantes utilizando-se uma amostra de pessoas maior e mais
variada, para evitar possíveis resultados enviesados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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EchoGéo. Vol. 11, 2010.
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approach. Emotion. Vol. 8, N. 5. P. 662-667, 2008.
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<https://experiencingarchitecture.com/2010/01/10/how-to-design-atmospheres-attuned-to-the-concerns-of-the-user/>, consultado em
abril de 2019.
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JACQUET, Benoît; GIRAUD, Vicent. From the things themselves: Architecture and Phenomenology. Kyoto: Kyoto University
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City of Buenos Aires. International Journal of Qualitative Methods, Vol. 9, 2010.
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John Wiley e Sons, 1987.
SCHMID, A. L. Conforto como atmosfera. Uma exploração da literatura sobre base da psicologia ambiental e da fenomenologia.
Arquitextos. 214, ano 18, março de 2018.
TONETTO, L. M. Design Emocional: conceitos, abordagens e perspectivas de pesquisa. Strategic Design Research Journal. Vol. 4.
P. 132-140, 2011.
ZUMTHOR, Peter. Atmospheres. Architectural Environments - Surrounding Objects. Birkhäuser. Base, 2006.

498
CORRELAÇÃO ENTRE MICROCLIMA E PLANEJAMENTO URBANO:
ANÁLISE DE IPATINGA - MG
Géssica Mara Rodrigues (1); Bárbara Carolina Soares Fortes (2); Marco Antônio Penido
de Rezende (3)
(1) Arquiteta e Urbanista, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ambiente Construído e Patrimônio
Sustentável, gessica_mr@yahoo.com.br, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte
(2) Arquiteta e Urbanista, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ambiente Construído e Patrimônio
Sustentável, barbaracsfortes@gmail.com, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte
(3) PhD, Professor do Departamento de Tecnologia, marco.penido.rezende@hotmail.com, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte

RESUMO
As alterações climáticas podem, cada vez mais, ser associadas aos grandes centros urbanos, os quais sofrem
seus efeitos, assim como as edificações e o próprio homem. A identificação de zonas críticas e intervenções
mitigadoras desses efeitos poderiam melhorar as condições de conforto ambiental. Nesse contexto, este
trabalho apresenta uma análise da relação entre planejamento urbano e microclima em Ipatinga, uma cidade
de porte médio, localizada no estado de Minas Gerais. Foram selecionados 32 pontos dentro do perímetro
urbano da referida cidade, com diferentes ocupações, a fim de comparar a relação entre a largura das vias e
altura dos edifícios. Os resultados mostram que o uso e ocupação do solo interferem nas variáveis climáticas
e, consequentemente, no conforto térmico das cidades.
Palavras-chave: microclima, planejamento urbano, geometria urbana, ilhas de calor.

ABSTRACT
Climate change can increasingly be associated with large urban centers, which suffer their effects, as well as
buildings and man himself. The identification of critical zones and mitigating interventions of these effects
could improve the conditions of environmental comfort. In this context, this paper presents an analysis of the
relationship between urban planning and microclimate in Ipatinga, a medium city located in the state of
Minas Gerais. 32 points were selected within the urban perimeter of that city, with different occupations, in
order to compare the relationship between the width of the roads and the height of the buildings. Results
indicated that the use and occupation of the soil interfere in the climatic variables and, consequently, in the
thermal comfort of the cities.
Keywords: microclimate, urban planning, urban geometry, heat islands.

499
1. INTRODUÇÃO
Os centros urbanos têm apresentado diversos problemas ambientais, como: poluição dos recursos hídricos,
destinação e tratamento inadequado de resíduos, redução da cobertura vegetal, poluição atmosférica, dentre
outros. Tais problemas prejudicam a vida de todas as espécies e trazem consequências que já são sentidas
pela população.
As mudanças climáticas advindas desses problemas fazem com que a qualidade ambiental das cidades
diminua e um esforço cada vez maior seja necessário para se alcançar ambientes mais confortáveis. Além
disso, características urbanísticas, como a orientação e o dimensionamento dos lotes e quadras, podem afetar
a disponibilidade de luz e ventilação natural no interior dos edifícios.
Marins e Roméro (2012) afirmam que a malha urbana é uma consequência da combinação de
múltiplos elementos como espaços ocupados e livres, como os mais variados tipos de cobertura, formas,
volumes e vegetação, influenciando diretamente na mobilidade urbana e no projeto de edifício. Os autores
ainda dizem que a mobilidade urbana está condicionada às características de uso e ocupação do solo, devido
à demanda de passageiros transportados e ao espaço físico necessário para a implantação de infraestrutura de
circulação e transporte. Marins e Roméro (2012, p. 118) também relatam que “no que tange às edificações,
as características de cânion urbano e a orientação e o dimensionamento dos lotes e quadras podem afetar a
disponibilidade de luz e ventilação natural no interior dos edifícios”.
Neste cenário, esse artigo se propõe a analisar a relação entre geometria urbana e a possibilidade do
surgimento de ilhas de calor urbano. O estudo de caso para tal é a cidade de Ipatinga – MG, uma vez que sua
criação se dá a partir de um plano urbano na década de 1960, embora ocorra, nos anos seguintes, o seu
crescimento desordenado. Assim, é possível comparar o microclima em diferentes formas de ocupação e
discutir os possíveis impactos microclimáticos resultantes da expansão da cidade.

1.1. Microclima e conforto térmico das cidades


Um aspecto comum nas cidades é a alteração climática, havendo a elevação da temperatura local, que torna
diferenciada das condições climáticas da região. “Esse fenômeno é denominado microclima urbano, e se
desenvolve em escalas diferentes, sendo determinado pelas estruturas de cada cidade (pavimentação, área
verde, indústrias, etc.)” (FRANCISCO, 2018).
O microclima urbano encontra-se em contínua mudança. Podem-se observar os efeitos locais do clima
urbano na escala microclimática, seja em distribuição espacial ou temporal, sendo esses: a ilha urbana de
calor, as modificações no balanço energético em comparação com os sítios naturais do entorno e a interação
com as mudanças globais, que aumentam os riscos sociais e ambientais em eventos extremos
(GONÇALVES; BODE, 2015). O estudo do microclima em áreas urbanas permite identificar zonas mais
críticas que, através de intervenções mitigadoras, poderiam melhorar as condições de conforto ambiental.
O calor excessivo pode afetar o desempenho, uma vez que gera prejuízos na execução de tarefas
motoras e mentais mais complexas, o comportamento, gerando aumento da irritabilidade, e, ainda, a saúde
das pessoas, sendo a exaustão física evidente (ASSIS et al., 2016). Devem-se gerar ambientes que interajam
com a atmosfera, criando microclimas nos quais as pessoas se sintam confortáveis, seja do ponto de vista
térmico, luminoso, acústico, tátil, dentre outros, o que, consequentemente, melhora a qualidade ambiental
das cidades. Para isso, é importante identificar quais os elementos do microclima que mais comprometem o
conforto humano e saber distinguir quais podem ser modificados pelo planejamento urbano (GONÇALVES;
BODE, 2015).
Tanto na escala urbana, quanto na do edifício, as variáveis ambientais podem ser controladas pela
atividade de planejamento e projeto (legislações de uso e ocupação do solo e código de edificações), ainda
que, com algumas limitações (GONÇALVES; BODE, 2015). Informações climáticas podem compor o
planejamento e a gestão das cidades por meio de um “planejamento urbano climaticamente responsável, pelo
desenho urbano e pelo entendimento do papel dos edifícios na estratégia de climatização das cidades”
(GONÇALVES; BODE, 2015, p. 156).

1.2. A influência do planejamento urbano sobre o microclima


A ocupação do solo em uma cidade é, sobretudo, caracterizada por elevada densidade edificada, áreas
pavimentadas e impermeáveis, o que contribui para o aumento da temperatura na região, caracterizando as
ilhas de calor urbanas. “Quanto maior a densidade de construção e a ocupação do solo, maiores as atividades
antrópicas, e, consequentemente, maior a captação e difusão da radiação solar e menor a ventilação no
ambiente climático urbano” (ROMERO, 2011, p. 9).

500
Com isso, deve-se compatibilizar adensamento e qualidade ambiental. Há uma relação entre densidade
e morfologia urbana que deve ser explorada como critério de desempenho ambiental a fim de subsidiar
políticas públicas, decisões de projeto urbano e de projeto de edificações.

São muitos os pontos a serem tratados: adensamento e acesso ao sol e à luz natural (para
iluminação natural, conforto térmico, aquecimento de água e geração de energia),
adensamento e ventilação urbana (para conforto térmico e dispersão de poluentes),
adensamento e mobilidade (por razões óbvias), adensamento e resíduos sólidos,
adensamento e qualidade do ar, adensamento e ruído urbano, além de muitas questões
sociais e econômicas advindas da maior concentração e diversidade de pessoas, tais como
os conflitos que podem surgir em áreas residências com diversidade de renda
(GONÇALVES; BODE, 2015, p. 160-161).

Em regiões tropicais, o desconforto térmico está relacionado à radiação, sendo seu controle a maneira
mais eficiente de minimizar os ganhos de calor pela envoltória e nas superfícies urbanas. Já no desenho
urbano, os traçados das vias, a densidade construída, a altura dos edifícios, as diferenças de alturas entre eles,
as tipologias dos edifícios, a infraestrutura verde, dentre outros, são os mecanismos de controle desse
armazenamento de calor (GONÇALVES; BODE, 2015).

Ao longo de um ciclo diário, as superfícies que constituem a rua experimentam diferenças


espaciais e temporais de temperatura, devido aos diferentes níveis de exposição solar. Os
materiais de construção são também, tal como a vegetação, elementos com uma elevada
absorção e baixa refletividade e, como tal, uma grande parte da radiação solar que neles
incide é absorvida (ROMERO, 2011, p.12).

Segundo Romero (2011), as regiões mais opacas acumulam mais calor devido às propriedades
térmicas dos materiais, necessitando de maior ventilação para realizar trocas térmicas. Assim, a porosidade
do tecido urbano permite a ventilação natural em ambientes internos. Nas regiões muito porosas, há melhores
trocas térmicas, renovação do ar e possibilidade de ventilação cruzada, o que é o ideal para regiões quentes.
Os diferentes parâmetros que conformam a disposição de edifícios criam amoldamentos urbanos com grande
permeabilidade, com média permeabilidade (em que podem ocorrer barreiras ao vento) e com baixa
permeabilidade dos ventos (com grande possibilidade de ocorrência de efeitos barreira e de canalização).
O canyon urbano é uma estrutura afetada diretamente pelo balanço de radiação, “[...] definido como o
espaço tridimensional formado pela rua e pelos edifícios lindeiros à via” (GONÇALVES; BODE, 2015, p.
169). Boa parte da visão da abóbada celeste é bloqueada pelos outros edifícios, o que causa múltiplas
reflexões da radiação solar e, geralmente, restringe o movimento do ar, contribuindo para o aquecimento
noturno. No canyon urbano, há uma estreita relação entre o padrão de temperatura das superfícies e a
geometria das ruas (ROMERO, 2011).
Muitos modelos de simulação energética de edifícios trabalham com o edifício isolado, porém para
resolver corretamente o balanço de energia, os edifícios do entorno devem ser considerados. Também se
devem considerar os efeitos das superfícies no ofuscamento em espaços urbanos, em função das reflexões. O
ofuscamento provoca desconforto no espaço externo, o que é causado, em muitos casos, pelas reflexões dos
raios solares nas fachadas envidraçadas.
Para analisar os processos de planejamento e a reestruturação do meio urbano, os elementos de
sensoriamento remoto, como as imagens orbitais e fotografias aéreas, são extremamente necessários. Esses
elementos permitem a visualização de origens e características das causas transformadoras dos espaços, além
da verificação da extensão e intensidade das mudanças causadas pelo homem (OLIVEIRA FILHO, 2015).
Embora se reconheça a importância de considerar o clima no planejamento urbano, pode-se ressalvar
que muito pouco do conhecimento de climatologia é usado no planejamento das cidades. Assis (2005) já
alertava sobre a necessidade do desenvolvimento de modelagem para a simulação, com base em situações
observadas, para subsidiar o planejamento urbano.

1.3. Geometria Urbana e Ilhas de Calor


A geometria urbana (W/H) é a relação entre a largura das vias e a altura dos edifícios. “[...] é fundamental no
controle da ilha de calor, por ter influência no processo de absorção da radiação solar e da radiação de ondas
longas emitida pelas superfícies dos edifícios e do solo, na redução das perdas de calor, devido aos ventos e
na produção antropogênica de calor” (ROMERO, 2011, p. 11). Ou seja, “Quanto maior for a relação H/W do

501
recinto urbano considerado, menor será a área de céu visível e menor a dissipação da radiação, reduzindo
assim o resfriamento do ar em recintos urbanos” (NAKATA, SOUZA, RODRIGUES, 2014, p. 2).
Conforme Romero (2011), para o cálculo da estimativa H/W considera-se que a altura média das vias
é a média das alturas dos edifícios analisados (H), em que cada pavimento tem em média três metros de
altura, além de serem acrescentados dois metros correspondentes a cobertura do edifício. Para a largura da
via (W) deve estar inclusa as larguras dos passeios. O resultado encontrado permite a classificação dos
espaços urbanos, em três formas: claustrofóbicos, de recolhimento e expansivos, as quais possuem a seguinte
definição:

Os espaços claustrofóbicos, em áreas de densidade alta com as proporções W="1/8H,"


W="1/4H" W="1/2H," absorvem calor muito acima do nível do solo. Existe um
amortecimento do ciclo térmico e normalmente a temperatura permanece estável (calor ou
frio) durante o dia e só é alterada por um fator extremo.
Em espaços de recolhimento, em áreas de densidade média com proporções W="H,"
W="2H" e W="3H," a absorção de calor se dá próxima ao nível do solo. Existe uma menor
possibilidade de inversão térmica, ou seja, a temperatura no interior dos edifícios tende a
ser igual à da parte exterior.
Nos espaços expansivos, em áreas de densidade baixa com proporções W ≥ 4H,0 a maior
parte da radiação é refletida. A possibilidade de inversão térmica é mínima e a temperatura
no interior dos edifícios tende a ser igual à exterior, dada a exposição aos parâmetros
meteorológicos a que estão submetidos (ROMERO, 2011, p. 11).

2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é analisar a relação entre geometria urbana e a possibilidade do surgimento de ilhas
de calor urbano na cidade de Ipatinga-MG.

3. MÉTODO
Para a realização deste trabalho, inicialmente foi feito um levantamento do histórico da criação, formação e
ocupação urbana da cidade de Ipatinga-MG e, também, a busca de dados climáticos da região em que a
cidade está inserida. Em seguida, foi feito o estudo da geometria urbana de Ipatinga-MG, adaptado da
metodologia utilizada por Romero (2011), conforme apresentado no subtítulo “Geometria Urbana e Ilhas de
Calor” deste artigo. Por fim, é feita uma comparação dos resultados.
Assim, foram escolhidos 32 pontos na cidade para analisar e comparar a relação entre a largura das
vias e altura dos edifícios. Estes pontos foram divididos entre quatro bairros, sendo que os dois bairros mais
populosos foram projetados pela Usiminas e os outros dois bairros, também com maior densidade
populacional, cresceram após a implantação do plano urbano feito de década de 1960.

3.1. Processo histórico da formação urbana de Ipatinga - MG


A cidade de Ipatinga, no Estado de Minas Gerais, está localizada na Região Metropolitana do Vale do Aço, a
220 km da capital Belo Horizonte. A área total do município é de 166,50 km², dos quais 92,50 km² são de
zona rural e 74 km² de área urbana, sendo que 7,27 km² pertencem à Usiminas. Segundo o IBGE (2010), o
Censo Demográfico 2010 constatou que a cidade possuía uma população de 236.968 habitantes, com
população estimada de 261.203 habitantes para 2017. A região é classificada, de acordo com Köppen (1948),
como tendo clima tropical subquente e seco, com clima tipo Aw, com invernos secos e amenos e verões
chuvosos, com temperaturas moderadamente altas. De acordo com Dias (2011), Ipatinga era um povoado na
década de 1930, até que, em 1956, foi criada legalmente a Usiminas. Assim, houve a necessidade de elaborar
um plano urbanístico, com população estimada de 10 mil pessoas. Foram criados, então, nove bairros, cuja
intenção era que cada um fosse independente, tendo sua própria área de comércio, lazer, saúde e educação.
Porém, com a geração de uma grande oferta de emprego, foram atraídas muitas pessoas para a região,
o que fez com que a cidade crescesse além dos limites projetados. Com isto, foram surgindo problemas de
saneamento básico, infraestrutura, educação e saúde. Como solução, foi criada a Companhia Urbanizadora
do Vale do Aço, CURVA, na década de 1980. O objetivo era corrigir os problemas da estrutura urbana,
traçando um sistema viário e paisagístico que atendesse as necessidades da cidade para a época, conforme
relata Almeida (2004).
No entanto, segundo Aza (2016), o crescimento e desenvolvimento de Ipatinga, ao longo dos anos,
resultaram em bairros com diferentes características em relação à dimensão territorial e à densidade

502
demográfica. Aza (2016) realizou uma pesquisa na qual foi constatado que mais da metade da cobertura
arbórea da cidade está localizada justamente nos bairros que foram planejados pela Usiminas e que, para os
bairros mais populosos, não houve esta preocupação, devido o crescimento desordenado, conforme a Tabela
1.
Tabela 1: Concentração da cobertura arbórea por bairros de Ipatinga-MG. Fonte: Adaptado de Aza (2016).

Número de Concentração da
Unidades Administrativas
Habitantes cobertura arbórea

USIMINAS, Usipa, Industrial, Vila Ipanema,


Castelo, Cariru, Das Águas, Bela Vista, Bom
65.475 52,84%
Retiro, Imbaúbas, Horto, Ferroviários, Ideal,
Novo Cruzeiro
Iguaçu, Cidade Nobre, Veneza, Parque
Ipanema, Centro, Caravelas, Jardim Panorama,
161.911 23,64%
Canaã, Vila Celeste, Betânia,Bom Jardim,
Esperança e Limoeiro
Chácaras Oliveira, Chácaras Madalena, Barra
9.582 23,52%
Alegre, Córrego Novo, Granjas Vagalume

3.2. Análise climática de Ipatinga - MG


A cidade de Ipatinga não possui estação meteorológica dentro de seu território, sendo a estação mais próxima
localizada a 24 km na cidade de Timóteo (INMET, 2019). Assim, as análises de climas apresentadas são
oriundas da Análise Retrospectiva da Era Moderna (MERRA-2, na sigla em inglês) da NASA
(WEATHERSPARK, 2019) e refere-se à cidade de Ipatinga como um todo, não se limitando aos recortes
específicos desse estudo.
Conforme visto, o clima em Ipatinga é considerado como tropical subquente e seco. O Gráfico 1 é um
resumo meteorológico da cidade. A análise demonstra que, em boa parte do ano, a cidade apresenta
características como poucas nuvens, sensação de abafamento, períodos quentes e secos, os quais contribuem
para uma sensação de desconforto térmico para a população.

Gráfico 1: Resumo meteorológico de Ipatinga – MG. Fonte: Weatherspark (2018).

Ao analisar a temperatura média ao longo do ano (Gráfico 2), nota-se que a estação quente
permanece por volta de 2 meses com temperatura máxima média diária acima de 31 °C. O dia mais quente
do ano é 12 de fevereiro, cuja temperatura máxima média é de 32 °C e a mínima média é de 23 °C. Já a
estação amena permanece por 3 meses com temperatura máxima diária em média abaixo de 28 °C. O dia
mais frio do ano é 20 de julho, com média de 17 °C para a temperatura mínima e 27 °C para a máxima.

503
Gráfico 2: Temperatura do ar máxima (linha vermelha) e mínima (linha azul) médias de Ipatinga – MG.
Fonte: Weatherspark (2018).

O Gráfico 3 representa a temperatura média horária. Neste gráfico, percebe-se que, ao longo do ano,
somente na parte da manhã e no período de maio a setembro, durante a madrugada, é que a temperatura é
considerada agradável, com variação entre 18º e 24º Celsius. Nos períodos da tarde e noite a cidade é
considerada morna e, principalmente, quente, nos períodos entre setembro e abril. E, apenas no início da
manhã, no mês de junho, é que a cidade de Ipatinga possui temperaturas amenas, ou seja, entre 13º e 18º
Celsius.

Gráfico 3: Temperatura média horária de Ipatinga – MG. Fonte: Weatherspark (2018).

Já no Gráfico 4, foram demonstrados os níveis de conforto de umidade da cidade. A análise revela


que, em boa parte do ano, a cidade é abafada, principalmente no período de outubro a abril. No restante do
ano, entre maio e setembro, o clima pode ser úmido, agradável ou seco.

504
Gráfico 4: Nível de conforto em umidade de Ipatinga – MG. Fonte: Weatherspark (2018).

Portanto, diante da análise dos gráficos 1,2 e 3, independente do bairro, a cidade tem como
característica elevadas temperaturas e abafamento. Assim, torna-se imprescindível que haja planejamento
urbano na cidade, levando em consideração o seu comportamento térmico.

3.3. Análise da geometria urbana de Ipatinga - MG


Ipatinga, conforme dito anteriormente, tem como característica na sua conformação urbana a divisão entre
uma parte da cidade, que foi planejada na década de 1960, e outra que, posteriormente, cresceu de forma
desordenada. Assim, para a escolha dos pontos de análise da geometria urbana foram selecionados os quatro
bairros mais populosos dessas duas partes da cidade – dois bairros de cada uma. De acordo com IBGE,
divulgado no Censo Demográfico 2010, os maiores bairros da cidade, seguindo os critérios determinados na
metodologia, são Canaã, Bethânia, Ideal e Cariru, sendo estes dois últimos planejados pela Usiminas. A
figura 1 é um mapa de localização dos bairros e a tabela 2 trás a população total e a área que cada um ocupa
no município.

Figura 1: Mapa da cidade de Ipatinga com a demarcação dos bairros Cariru, Ideal, Canaã e Betânia. Fonte: Autoras (2018) com base
do Google Earth.

505
Tabela 2: Bairros com maior número de habitantes de Ipatinga. Fonte: IBGE/Censo 2010.

Bairro Nº de Habitantes Área (km²)

Canaã 28.510 3,3


Bethânia 27.910 3,6
Ideal 9.695 1,7
Cariru 4.719 1,2

De acordo com o último Censo realizado no Brasil, em 2010, o bairro Canaã possui 28.510 pessoas e
área territorial 3,3 km², ou seja, a densidade demográfica é de 8.639,39 pessoas por km². Já o bairro Bethânia
conta com 27.910 habitantes, 3,6 km² de área e densidade demográfica de 7.752,78. O bairro Ideal, 9.695
moradores e 1,7 km², ou seja, apresenta densidade demográfica de 5.702,94 pessoas por km². E, por fim, o
bairro Cariru, com 4.719 habitantes, área de 1,2 km² e com densidade demográfica de 3.932,5 pessoas por
km². Assim, ao analisar a densidade demográfica, percebe-se que os bairros Ideal e Cariru, que foram
planejados pela Usiminas, são justamente os menos densos, sendo que, o Canaã chega a ser duas vezes mais
denso que o Cariru.
Conforme visto, quanto maior a densidade populacional, mais propícia a área se torna para a formação
de ilhas de calor urbano. Romero (2011) diz que a geometria urbana é fundamental para o controle da
formação de ilhas de calor e que quanto menor este valor, maiores são as chances de ocorrer este fenômeno.
A autora ainda classifica os espaços urbanos como claustrofóbicos, de recolhimento e expansivos.

3.4. Análise comparativa


Os resultados foram comparados entre si, o que possibilitou observar qual deles é mais propenso à formação
da ilha de calor urbana. Além disso, foi feita a classificação de cada ponto em claustrofóbico, de
recolhimento ou expansivo, conforme a metodologia utilizada.

4. RESULTADOS
A Tabela 3 trás a geometria dos bairros, obtidas através de análise de oito vias, sendo elas as principais
avenidas e também as ruas que representavam a conformação urbana mais recorrente em cada bairro. Na
tabela abaixo, os espaços em amarelos são considerados de recolhimento e em vermelho são os espaços
classificados como claustrofóbicos. As alturas das edificações e larguras das vias foram obtidas e medidas no
Google Earth e os cálculos feitos conforme Romero (2011): W é a soma da largura das vias com as calçadas.
Já a altura das edificações (H) foi obtida através de uma análise dos tipos de edificações de cada rua,
considerando três metros de altura cada andar e mais dois metros para a cobertura.

506
Tabela 3: Geometria urbana dos bairros mais populosos de Ipatinga. Fontes: Autoras, 2018.
Largura da Altura da Média do
Bairro Via Relação W/H
Via (m) Edificação (m) bairro
Av. Selim José
38,45 18 2,14
de Salles
Av. Gerasa 20 14 1,43
Rua Arão 7,5 10 0,75
Rua dos
9 10 0,9
Canaã Cânticos 1,01
Rua Abdan 8,8 14 0,63
Rua Cádiz 9,5 10 0,95
Passagem
3,5 5 0,7
Gerivã
Rua Jonas 8 14 0,57
Av. Selim José
29 18 1,61
de Salles
Rua Argel 8 17 0,47
Rua Lion 6 8 0,75
Bathânia Rua Berlim 10,5 17 0,62 0,87
Rua Ravena 10,5 10 1,05
Rua San Remo 9,5 10 0,95
Rua Lausanne 6,5 10 0,65
Rua Lagos 6 7 0,86
Av. Pedro
24 11 2,18
Nolasco
Rua Manoel
7 19,5 0,36
Izídio
Rua Manoel
7 8 0,88
Ataíde
Rua Mestre
12 5 2,40
Ideal Vitalino 1,35
Rua Lupicínio
9 6 1,50
Rodrigues
Rua Vicente
9 6 1,50
Celestino
Rua Noel Rosa 9 8 1,13
Rua Ari Barroso 7 8 0,88
Av. Japão 16,5 11 1,5
Rua Hungria 6,5 5 1,3
Rua Portugal 10,6 8 1,33
Rua México 12 5 2,40
Cariru 1,92
Rua Equador 12 5 2,40
Rua Síria 12 5 2,40
Rua Guatemala 9,5 5 1,90
Rua França 10,6 5 2,12

A análise da geometria urbana revela que entre as vias analisadas, e, consequentemente, os bairros,
não existem nenhum espaço que possa ser classificado como expansivo, isto é, com W>4H. A maioria dos
bairros – Canaã, Ideal e Cariru – é classificada como de recolhimento (em cor amarela na tabela), ou seja, a
temperatura interna dos edifícios tende a ser igual à da parte exterior, havendo, portanto, uma menor
possibilidade de inversão térmica.
Entretanto, deve ser ressaltado que o bairro Ideal, apesar de ser classificado como de recolhimento,
obteve resultado claustrofóbico em três das quatro ruas analisadas, ou seja, o bairro não tem um
comportamento microclimático uniforme. Neste contexto, destaca-se o bairro Canaã, que, apesar de ter sido
classificado como de recolhimento, este resultado só foi obtido devido às duas avenidas que nele estão
inseridas, as quais influenciaram a média. Mas, ainda sim, este resultado ficou próximo de 1,00 e as demais
ruas são classificadas como claustrofóbicas. Desta forma, pode-se concluir que o Canaã tem uma tendência
maior para a formação de uma ilha de calor.
O bairro Bethânia, quando se verifica a média das relações W/H das vias analisadas, é classificado
como claustrofóbico, em cor vermelha, quer dizer que é um espaço que absorve calor acima do nível do solo.
Nesta área, portanto, há um amortecimento do ciclo térmico e a estabilidade da temperatura, ocasionando,
assim, uma maior possibilidade de ocorrer o fenômeno da ilha de calor.

507
5. CONCLUSÕES
Conforme visto, a ilha de calor urbano é o aumento da temperatura em determinada região, causada pela
elevada densidade edificada e as áreas pavimentadas e impermeáveis. E que em regiões tropicais, como é o
caso de Ipatinga, uma forma de controlar o armazenamento de calor, através do desenho urbano é o
planejamento. Isto é, por meio do controle da altura dos edifícios, da densidade construída, traçados das vias,
entre outros.
Assim, este trabalho buscou relacionar o planejamento urbano com o microclima presente nas cidades,
através de análise das características urbanísticas. Mesmo com o trabalho de campo restringindo-se a uma
amostra pequena, foi possível verificar a influência existente sobre o microclima e como é possível controlá-
la através de políticas públicas.
Ao analisar a geometria urbana da cidade de Ipatinga-MG, pode-se observar como o adensamento
populacional somado ao desenho urbano incompatível favorece a formação das ilhas de calor. Áreas com
edifícios altos precisam de ruas largas, que permitam a circulação dos ventos. A variação de altura dos
edifícios também é uma forma de impedir a formação de “muros”, que mantêm o ar quente aprisionado. Isto
ficou claro quando se compara os bairros que foram planejados com os que surgiram com o crescimento de
Ipatinga-MG. Canaã e Bethânia, que não foram planejados pela Usiminas, apresentaram uma maior
tendência para formação de ilhas de calor urbana.
O estudo do microclima urbano permite identificar soluções estratégicas para seus diversos elementos
que afetam as cidades, edificações e, consequentemente, o conforto humano. O planejamento urbano
apresenta-se como uma solução possível para tal situação. Sendo assim, o uso de informações climáticas,
como integrantes do planejamento e gestão das cidades, é fundamental para a mitigação de efeitos adversos
da mudança climática.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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sobre Conforto no Ambiente Construído, 2005, Maceió. Anais... Maceió: ENCAC-ELACAC, 2005.
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regional, integrado e sustentável. Maceió, 2016.
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socioeconômicas. Dissertação (Mestrado) - Curso de Programa de Pós-graduação em Ciência Florestal, Universidade Federal
de Viçosa, Viçosa, 2016. Disponível em: http://www.locus.ufv.br/handle/123456789/9295. Acesso em: set. 2018.
DIAS, F. C. O tratamento dos espaços livres em uma cidade média planejada: o caso de Ipatinga-MG. Dissertação (Mestrado em
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130-1.
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/1822/31313/1/1982-Pluris2014_paper918.pdf. Acesso em: out. 2018.
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Patrimônio, Belo Horizonte, v. 4, n. 1, p. 9-22, 2011.
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caracter%C3%ADstico-em-Ipatinga-Brasil-durante-o-ano. Acesso em: out. 2018.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Capes pelos recursos financeiros aplicados no Programa de Pós-Graduação em
Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável da Universidade Federal de Minas Gerais.

508
CORRELAÇÃO ENTRE VARIÁVEIS MICROCLIMÁTICAS E FAIXAS DO
UTCI CALIBRADO PARA A CIDADE DE BELO HORIZONTE, MG.
Thiago José Vieira Silva (1); Simone Queiroz da Silveira Hirashima (2); Lutz Katzschner (3)
(1) Arquiteto, Urbanista e Engenheiro Civil, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil
do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, vieira.thiago@gmail.com, Av. Amazonas,
7675, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil - CEP 30510-000 - +55 31 3319-6848
(2) PhD, Professora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil do Centro Federal de Educação
Tecnológica de Minas Gerais, simonehirashima@cefetmg.br, Av. Amazonas, 7675, Belo Horizonte, Minas
Gerais, Brasil - CEP 30510-000 - +55 31 3319-6848
(3) PhD Meteorologista, Universidade Kassel, Institute Climate and Energy, katzschn@uni-kassel.de,
Schillerstr.50, Lohfelden, Germany +49 5608 9587511

RESUMO
As condições microclimáticas dos recintos urbanos podem influenciar sobremaneira o conforto térmico de
seus usuários e habitantes. A avaliação de níveis de conforto e desconforto térmico podem ser realizadas por
meio da utilização de índices térmicos calibrados para a população local. O Universal Thermal Climate
Index (UTCI), dentre os índices térmicos existentes, mostra-se aplicável às pesquisas de conforto térmico em
espaços abertos. Em seu cálculo e calibração, fatores microclimáticos, termofisiológicos e
psicossociais/culturais são integrados, buscando representar a sensação térmica de determinada população.
Uma pesquisa de campo anterior, realizada entre os meses de agosto de 2018 e janeiro de 2019 (inverno,
primavera e verão), coletou variáveis microclimáticas, pessoais e subjetivas com o propósito de calibrar o
UTCI para a cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. A partir destes dados, o objetivo deste artigo é avaliar
a influência das variáveis microclimáticas: Temperatura do ar (Ta), Temperatura radiante média (Trm),
Umidade Relativa do ar (UR) e Velocidade do vento a 10 metros de altura (V10m) sobre as faixas de
conforto térmico do UTCI calibrado para a capital mineira. Para isso foram utilizados modelos univariados
dos dados microclimáticos e multivariados para avaliar relação entre as variáveis microclimáticas e o UTCI
calibrado. Utilizou-se para este fim o software BIOKLIMA, para o cálculo dos valores do UTCI, e os
softwares “R” e o MS Excel. Como resultados, verificou-se que há efeito significativo da Ta e da Trm sobre
as faixas de “desconforto frio”, “conforto” e “desconforto calor” calibradas para Belo Horizonte. Já a UR
apresentou baixo efeito sobre a variabilidade do UTCI e a V10m, mostrou-se com efeito quase nulo.
Conclui-se que a Ta e a Trm são fatores extremamente importantes para o cálculo e a calibração do UTCI.
Novas pesquisas precisam ser realizadas buscando a compreensão dos reais efeitos existentes entre a UR e
V10m sobre a predição da sensação térmica pelo índice UTCI.
Palavras-chave: biometereologia; clima urbano; conforto térmico; UTCI.

ABSTRACT
The microclimatic conditions of the urban areas can greatly influence the thermal comfort of its users and
inhabitants. The evaluation of levels of comfort and thermal discomfort can be performed through the use of
calibrated thermal indices for the local population. The Universal Thermal Climate Index (UTCI), among the
existing thermal indices, is applicable to thermal comfort surveys in open spaces. In their calculation and
calibration, microclimatic, thermophysiological and psychosocial / cultural factors are integrated, seeking to
represent the thermal sensation of a given population A previous field survey, conducted between August
2018 and January 2019 (winter, spring and summer), collected microclimatic, personal and subjective
variables with the purpose of calibrating the UTCI to the city of Belo Horizonte, Minas Gerais. From this
data, the objective of this article is to evaluate the influence of the microclimatic variables: Air temperature
(Ta), Average radiant temperature (Trm), Relative humidity of the air (RH) and Wind speed 10 meters high
(V10m) on the bands of thermal comfort of the calibrated UTCI for the mining capital. For this, univariate

509
models of the microclimatic and multivariate data were used to evaluate the relationship between the
microclimatic variables and the calibrated UTCI. For this purpose, the BIOKLIMA software was used to
calculate the values of UTCI, and the software "R" and MS Excel. As results, it was verified that there is a
significant effect of Ta and Trm on the ranges of "cold discomfort", "comfort" and "heat discomfort"
calibrated for Belo Horizonte. On the other hand, the RH showed low effect on the variability of the UTCI
and the V10m, with almost no effect. It is concluded that Ta and Trm are extremely important factors for the
calculation and calibration of the UTCI. Also, new research needs to be carried out in order to understand the
real effects between UR and V10m on the prediction of the thermal sensation by the UTCI index.
Keywords: biometereologia; urban climate; thermal comfort; UTCI.

1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento das grandes metrópoles, de um modo geral, gera interferências sobre o clima local,
configurando o clima urbano. Oke et al. (2017), mencionam que este cenário pode ser percebido em macro,
meso e microescala. As cidades, segundo Burt, O`rourke, Terjung (1982 apud MAYER; HÖPPE, 1987),
possuem diferentes microclimas, relacionados às diferentes estruturas urbanas edificadas, que devem ser
avaliados separadamente do bioclima da cidade como um todo.
Porém, para a consideração dos resultados da climatologia urbana como um entre os muitos
fundamentos do planejamento urbano, é necessário considerar o ser humano como referência, nesse caso,
avaliar os diferentes microclimas urbanos de forma termofisiologicamente relevante (MAYER; HÖPPE,
1987). Esses estudos são realizados por meio da utilização dos índices de conforto térmico calibrados para
determinada população, os quais integram o efeito de variáveis microclimáticas, individuais e subjetivas (as
quais incluem fatores sócio-culturais). Dentre as variáveis ambientais utilizadas nos estudos de conforto
térmico em ambientes externos destacam-se a Temperatura do ar (Ta), Temperatura radiante média (Trm),
Umidade Relativa (UR) e Velocidade do ar (Va). Segundo Potcher et al. (2018) os índices térmicos são
importantes ferramentas para equacionar o ambiente térmico urbano, quando calibrados. A calibração dos
índices pressupõe o estabelecimento de categorias de sensação térmicas em função dos valores desses índices
(HIRASHIMA et al., 2018).
O Universal Thermal Climate Index (UTCI) é frequentemente adotado por pesquisas focadas em
conforto térmico em espaços abertos. Foi desenvolvido em 2000, pela UTCI ISB Commission 6 gerenciada
pela International Society of Biometeorology (ISB).As categorias de conforto e estresse térmicos
originalmente propostas pelo UTCI são apresentadas pela Tabela 01. Como ambiente de referência, o
referido índice propõe: ambiente isotérmico, baixa velocidade do ar à 1,1m de altura do solo
(aproximadamente 0,3m/s), umidade relativa do ar e pressão de vapor de água, respectivamente, 50% e
20hPa e calor metabólico típico relacionado a atividades físicas de 135W/m².
Tabela 01 - Faixas de estresse térmico do UTCI.
Faixas de UTCI Categorias de estresse
> 46 ºC extremo estresse para o calor
38 ºC a 46 ºC muito forte estresse para o calor
32 ºC a 38 ºC forte estresse para o calor
26 ºC a 32 ºC moderado estresse para o calor
18 ºC a 26 ºC conforto térmico
9 ºC a 18 ºC sem estresse térmico
0 ºC a 9 ºC pouco estresse para o frio
0 ºC a -13 ºC moderado estresse para o frio
-13 ºC a -27 ºC forte estresse para o frio
-27 ºC a -40 ºC muito forte estresse para o frio
<-40 ºC extremo estresse para o frio
Fonte: adaptado de Bröde et al. (2011)

Em âmbito nacionalSilva e Hirashima (2018), por meio de uma análise bibliométrica e sistemática
utilizando o Knowledge Development Process - Constructivist (ProKnow-C) elaboraram um Portfólio
Bibliográfico sobre o uso do índice UTCI no cenário Brasileiro, que culminou em um total de apenas 13
trabalhos publicados (BRÖDE et al., 2012; BRÖDE et al., 2013; KRÜGER et al., 2012; KRÜGER et al.,
2015; KRÜGER et al., 2017a; KRÜGER et al., 2017b; KRÜGER, 2017; KRÜGER; DRACH, 2016; 2017;
2017a; 2017b; MARTINI et al., 2014; MINELLA; KRÜGER, 2016; ROSSI et al., 2012). Dentre esses,
somente o trabalho de Rossi et al. (2012) teve como objetivo realizar a calibração do índice para a cidade de
Curitiba, Paraná. Salienta-se que após a realização do referido levantatamento de referencial teórico, Silva e
Hirashima (2018a) e Silva (2019) calibraram o UTCI para a cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais.

510
A relevância deste trabalho figura-se no crescimento de estudos relacionados a clima urbano, conforto
térmico em espaços abertos e calibração de índices térmicos enquanto ferramenta de apoio às decisões de
natureza urbanística e de saúde coletiva.

2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é avaliar a influência das variáveis microclimáticas: Temperatura do ar (Ta),
Temperatura radiante média (Trm), Umidade Relativa do ar (UR) e Velocidade do vento a 10 metros de
altura (V10m) sobre o UTCI calibrado para Belo Horizonte, MG, em cada uma das faixas de
conforto/desconforto térmico.

3. MATERIAIS E MÉTODOS
Este estudo foi dividido em cinco etapas, detalhadas nos itens a seguir:
1. Caracterização de Belo Horizonte, MG e geração do banco de dados;
2. Análise descritiva das variáveis microclimáticas contidas no banco de dados;
3. Cálculo de UTCI (software BIOKLIMA 2.6);
4. Calibração do UTCI por Regressão Logística Ordinal (RLO); e
5. Correspondência entre variáveis microclimáticas e UTCI calibrado por faixas de
conforto/desconforto.

3.1. Caracterização de Belo Horizonte, MG e banco de dados


Localizada na região central de Minas Gerais, Belo Horizonte apresenta-se com clima tropical e inverno seco
(Aw), conforme classificação Köppen-Geiger. As normais climatológicas do Brasil 1981-2010 do Instituto
Nacional de Meteorologia (INMET, BRASIL, 2018) relata as seguintes médias para a capital mineira:
temperatura do ar de 21,8°C, umidade relativa 67,2% e intensidade do vento 1,7m/s.
O banco de dados considerado por esta pesquisa encontra-se descrito por Silva (2019). A coleta foi
realizada entre os meses de agosto de 2018 e fevereiro de 2019 (inverno, primavera e verão), em três
campanhas e quatro pontos de coletas diferentes (Figuras 01A, 01B, 01C e 01D) selecionados por
apresentarem distintas caracterizações de influência do ambiente térmico, como por exemplo, arborização,
adensamento urbano, materiais e altura das edificações do entrono dos pontos de coleta.
Figura 01A – Ponto de Coleta P1 - Praça Rio Branco.

Fonte: adaptado de Silva (2019)

511
Figura 01B – Ponto de Coleta P2 - Praça Sete de Setembro.

Fonte: adaptado de Silva (2019)

Figura 01C – Ponto de Coleta P3 - Praça Tiradentes.

Fonte: adaptado de Silva (2019)

Figura 01D – Ponto de Coleta P4 - Praça Benjamim Guimarães.

Fonte: adaptado de Silva (2019)

512
Com registros de cinco em cinco minutos, entre 10:00h e 15:00h dos 12 dias de coleta de dados, foram
coletados: Temperatura do ar (Ta), Umidade Relativa (UR), Velocidade do ar (Va) e Temperatura do globo
(Tg). Os equipamentos foram montados em tripés com altura de 1,10m. Em todas as coletas os equipamentos
foram preparados com 30 minutos de antecedência para que o termopar contido no termômetro de globo
atingisse o equilíbrio. O referido termômetro utilizado possui 40mm de diâmetro e cor cinza. Os demais
equipamentos utilizados, termohigrômetro e anemômetros, foram previamente calibrados, conforme descrito
por Silva (2019).
O cálculo da Trm levou em consideração a equação de convecção forçada determinada pela ISO 7726
(1998). A velocidade Va, coletada a 1,10m de altura em relação ao solo, foi convertida para valores da
velocidade do vento à 10m de altura, por meio da fórmula logarítmica proposta por Bröde et al. (2012).
Simultaneamente à coleta dos dados microclimáticos foram aplicadas entrevistas subsidiadas por um
questionário on-line hospedado na plataforma e-surv. O referido questionário subsidiou a coleta das variáveis
individuais e subjetivas dos usuários dos espaços abertos. A amostra considerou os indivíduos que vivem em
Belo Horizonte há mais de seis meses e que estavam no espaço aberto há mais de trinta minutos.
Foram coletados dados biométricos: gênero (feminino, masculino ou outro) idade (anos), altura (m),
peso (kg), classificação da cor da pele segundo o censo do IBGE (branca, parda, preta, amarela, indígena);
também taxa metabólica de atividades físicas (W/m²), subsidiada pelas diretrizes da ISO 8996 (2004) e
resistência térmica do vestuário (clo), amparada pela ISO 9920 (1995). A avaliação do estresse térmico foi
mediada pelas determinações da ISO 10551 (2015); foram avaliadas em dois âmbitos: estado térmico pessoal
e tolerância térmica. O primeiro divide-se em percepção térmica, avaliação pessoal e preferência térmica; o
segundo relaciona-se à aceitação pessoal e tolerância térmica.

3.2. Análise descritiva das variáveis microclimáticas contidas no banco de dados


Para a análise descritiva das variáveis microclimáticas realizou-se os cálculos: valor Máximo (Máx.), valor
Mínimo (Mín.), Média (M), Desvio Padrão (D.P.), Variância (V) e Coeficiente de Variação (C.V.). Foi
realizada de forma global, ou seja, foram considerados todos os dados levantados em campo, sem distinção
de campanha, pontos de coleta, tão pouco, estação climática. Para a tabulação e elaboração dos gráficos
utilizou-se o software MS Excel 2010.

3.3. Cálculo do UTCI


Para o cálculo do UTCI utilizou-se o BIOKLIMA 2.6, elaborado por Michal Blazejczyk e Krzysztof
Blazejczyk (2010). Trata-se de um software de domínio públicoo objetivo, dentre outros, de aplicação em
análises biometereológicas. Os dados de entrada devem estar em arquivos de texto, extensão “.txt”, conforme
indicações e legendas do próprio programa:
• variáveis microclimáticas: Temperatura do ar (t), Umidade Relativa do ar (f), Temperatura
radiante média (Mrt), Velocidade do vento a 10m de altura (V10m); e
• variáveis individuais: Gênero (Sex), Calor metabólico (M) e Isolamento de vestuário (Icl).

3.4. Calibração do UTCI por Regressão Logística Ordinal (RLO)


Para a calibração do UTCI, foi ajustada uma RLO, haja vista que os dados coletados não apresentam relações
lineares. Esta metodologia é comumente utilizada para modelos estatísticos que relacionam um conjunto de
preditores e uma resposta ordinal. Neste caso, o conjunto de preditores são as faixas do UTCI e a resposta
ordinal foi a sensação térmica classificada em três categorias: “com frio”, “conforto” e “com calor”. A
categoria “frio” incluiu “com muito frio”, “com frio” e “com pouco frio”, a categoria “conforto” incluiu
“sem frio nem calor”, e a categoria “calor” incluiu “com pouco calor”, “com calor” e “com muito calor”
(SILVA, 2019). O software utilizado nas análises foi o R (versão 3.5.0).

3.5. Correspondência entre variáveis microclimáticas e faixas de conforto/desconforto do


UTCI calibrado para Belo Horizonte. MG.
Para esta análise de correspondência utilizou-se o método estatístico de hipóteses Valor-p. Também foi
considerado um intervalo de 95% de confiança e avaliado o coeficiente de força entre as variáveis. Como
ilustração, utilizou-se gráficos de dispersão.

344
4. RESULTADOS
4.1 Variáveis Microclimáticas
A Tabela 02 apresenta a análise descritiva das variáveis microclimáticas coletadas. A variável mais
heterogênea foi velocidade do vento a 10m de altura (C.V. = 124,65%). Em média, a velocidade do vento a
10m de altura foi 1,2m/s com desvio padrão de 1,53, sendo que a velocidade mínima foi de 0m/s e máxima
foi 11,0m/s.
A Temperatura do ar (Ta) apresentou média de 26,8°C, mínima de 20,9ºC e máxima 34,2ºC. O valor
da média está aproximadamente 5° acima do valor da temperatura média anual de 21,8°C declarada pelas
Normais Climatólogicas 1981-2010 (INMET, 2018). A temperatura radiante média (Trm) apresentou valor
máximo de 75,0°C, mínimo de 24,2°C e um alto desvio padrão, 8,41.
No que concerne a Umidade Relativa do ar (UR) a média anual apontada pelas Normais
Climatológicas (INMET, 2018), 67,2% aproximou-se do valor máximo monitorado pelas coletadas de dados,
66,7%. A UR apresentou média de 53,3%.
Tabela 02 – Análise descritiva das variáveis microclimáticas.
Variáveis Microclimáticas N M D.P. V. C.V. Min. Máx.
Temperatura do ar (°C) 755 26,8 2,96 8,78 11,03 20,9 34,2
Temperatura radiante média (°C) 755 34,2 8,41 70,76 24,58 22,2 75,0
Umidade relativa do ar (%) 755 53,3 5,33 28,40 9,99 38,7 66,7
Velocidade do vento à 10m de altura (m/s) 755 1,2 1,53 2,33 124,65 0,00 11,0
Fonte: adaptado de Silva (2019)
Legenda: N = número de amostras; M = média; D.P. = Desvio Padrão; V =Variância; C.V. = Coeficiente de Variação; Min. = Valor
Mínimo; e Máx. = Valor Máximo.

4.2 Cálculo do UTCI


A Tabela 03 apresenta a análise descritiva dos resultados relacionados aos valores de cálculo do UTCI com a
utilização do BIOKLIMA® 2.6.
Tabela 03 – Análise descritiva dos valores de UTCI.
Variável N M D.P. V. C.V. Min. Máx.
UTCI (°C) 755 28,3 3,46 11,94 12,18 18,1 39,8
Fonte: adaptado de Silva (2019)
Legenda: N → número de amostras; M → média; D.P. = Desvio Padrão; V →Variância; C.V. → Coeficiente de Variação; Min. →
Valor Mínimo; e Máx. → Valor Máximo.

4.3 Calibração do UTCI


Por meio do Figura 02, resultado da calibração do UTCI por RLO no software R, percebe-se a faixa de
conforto térmico entre as temperaturas de 16°C, limite inferior, e 27°C, limite superior. Então abaixo de
16°C UTCI a probabilidade predita de sensação térmica em % é de desconforto para frio; já acima de 27°C
UTCI essa probabilidade passa a ser desconforto por calor.
Figura 02 – Calibração do UTCI para Belo Horizonte (n=755), por meio de Regressão Logística Ordinal.

16 27

Fonte: adaptado de Silva (2019).

514
4.4 Correlação entre as variáveis microclimáticas e o UTCI calibrado.
O UTCI calibrado foi correlacionado com a Temperatura do ar (Ta), Temperatura radiante média (Trm),
Umidade Relativa (UR) e Velocidade do ar a 10m de altura (V10m), conforme apresentado a seguir pela
Tabela 04.

Tabela 04 – Correlação entre o UTCI calibrado e variáveis microclimáticas


Faixas de Conforto/Desconforto
Variáveis β I.C. - 95% Valor-p
do UTCI calibrado
“Desconforto frio” 0,86 [0,57; 1,16] < 0,001
Temperatura do ar (Ta) “Conforto” 1,05 [0,97; 1,12] < 0,001
“Desconforto calor” 1,07 [1,02; 1,12] < 0,001
“Desconforto frio” 0,18 [0,11; 0,26] < 0,001
Temperatura radiante média (Trm) “Conforto” 0,20 [0,17; 0,23] < 0,001
“Desconforto calor” 0,32 [0,29; 0,35] < 0,001
“Desconforto frio” -0,32 [-0,51; -0,12] 0,002
Umidade relativa (UR) “Conforto” -0,20 [-0,27; -0,13] < 0,001
“Desconforto calor” -0,22 [-0,28; -0,16] < 0,001
“Desconforto frio” -0,28 [-0,77; 0,21] 0,274
Velocidade do ar a 10m de altura (V10m) “Conforto” 0,11 [-0,11; 0,32] 0,323
“Desconforto calor” 0,40 [0,15; 0,65] 0,002
Fonte: adaptado de Silva (2019)
Legenda: I.C 95% = Intervalo de 95% de confiança; β = coeficiente de força das relações entre as variáveis; Valor-p = síntese de
teste de hipóteses.

A Ta apresentou efeito significativo, valor-p < 0,001, sobre as três faixas do UTCI calibrado. Na
faixa “desconforto frio”, a Ta foi capaz de elucidar 41,9% da variabilidade do UTCI calibrado; já na faixa
“conforto”, foi capaz de explicar 72,6% de sua oscilação; e na faixa de “desconforto calor”, 80,2% (Figura
03).
Figura 04 – UTCI calibrado e Trm.

Figura 03 – UTCI calibrado e Ta.

Fonte: adaptado de Silva (2019)

Fonte: adaptado de Silva (2019)

Similarmente, a Trm apresentou correspondência relevante sobre as três faixas do UTCI calibrado. A
Trm foi capaz de explicar 32,7%, 32,4% e 52,0%, da variabilidade do UTCI calibrado para, respectivamente,
as faixas de “desconforto frio”, “conforto” e “desconforto calor” (Figura 04).
Em contraposição às variáveis microclimáticas Ta e Trm, a UR apresentou baixa correspondência
com as faixas do UTCI calibrado, Figura 05; já a V10m apresentou efeito quase nulo, Figura 06.

515
Figura 05 – UTCI calibrado e UR. Figura 06 – UTCI calibrado e V10m.

Fonte: adaptado de Silva (2019) Fonte: adaptado de Silva (2019)


Para a faixa “desconforto frio” a UR apresentou baixa correspondência com a variabilidade do UTCI
calibrado, sendo capaz de explicar 17,5%. Com correlações ainda menores para as faixas “conforto” e
“desconforto calor”, a UR elucidou, nessa ordem, 9,2% e 12,3% da variabilidade do UTCI calibrado.
A V10m não apresentou correspondência significativa sobre a variabilidade do UTCI calibrado, se
consideradas as faixas “desconforto frio” e “conforto”. Para a faixa “desconforto calor” a V10m foi capaz de
explicar, tão somente, 2,2% da variabilidade do UTCI.

5. CONCLUSÕES
Este estudo traz resultados capazes de contribuir com pesquisas relacionadas a conforto térmico em espaços
abertos. Por meio da calibração do UTCI foi possível avaliar a sua relação com as variáveis microclimáticas
contidas no banco de dados analisado. Conclui-se que as variáveis que apresentaram significativa relação
com o índice UTCI foram a Ta e a Trm. Para as variáveis UR e V10m, as quais apresentaram relações mais
fracas, percebe-se a necessidade de pesquisas mais direcionadas a fim de investigar sua relação com a
percepção das sensações térmicas. Esses resultados contribuem para pesquisas que abordam o UTCI
incentivando seu uso e ressaltando a importância da obtenção fidedigna das variáveis microclimáticas de
entrada para o cálculo do índice, principalmente Ta e Trm. Demonstra ainda a relevância dessas variáveis
(Ta e Trm) para a sensação térmica avaliada por meio do UTCI.

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Urban Environment, New York, 2018a.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq – Brasil,
o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - Fundação CEFET.MG e ao Instituto de Clima
e Energia da Universidade de Kassel.

517
DENSIFICAÇÃO CONSTRUTIVA E ACÚMULO DE CALOR: O CASO DE
RECIFE/PE
Ruskin Freitas (1); Júlia Alves (2); Thatianne Silva (3); Jaucele Azeredo (4)
(1) Doutor, Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, ruskin37@uol.com.br
(2) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, juliamedeiros.ufpe@gmail.com
(3) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, thatianne.ferreira@gmail.com
(4) Doutora, Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, jaucele_azeredo@hotmail.com
Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Laboratório de Conforto
Ambiental, Cidade Universitária, 50780-970, Recife–PE, Tel.: (81) 2126 8771

RESUMO
A constante substituição da cobertura natural por materiais impermeabilizados provoca alterações nas
características microclimáticas e morfológicas locais, provocando um aumento de temperatura, produzindo a
sensação de desconforto térmico. Este trabalho teve como objetivo verificar a intensificação do acúmulo de
calor na cidade de Recife/PE entre os anos de 1998 e 2018, a partir do estudo de alterações na cobertura do
solo e de valores das variáveis climáticas. Para tanto, foram analisadas variáveis climáticas em pontos
pariformes a um estudo realizado pelo Laboratório de Conforto Ambiental (Lacam) da UFPE, em 1998.
Verificou-se que todos os dez bairros explorados apresentaram aumento do acúmulo de calor. Os bairros das
Graças e do Morro da Conceição, que há 20 anos estavam com temperaturas mais baixas que o registrado na
estação meteorológica de referência, apresentam, atualmente, maior acúmulo de calor, sobretudo, devido a
processos de adensamento construtivo. O Morro da Conceição revelou adensamento espontâneo, tendo em
vista o seu caráter de Zona Especial de Interesse Social. O bairro das Graças por sua vez, foi densificado pelo
mercado imobiliário formal, com substituição de unidades habitacionais unifamiliares e de vegetação, por
edificações verticalizadas e por solo impermeável, que modificaram amplamente as dinâmicas locais. Isso
demonstra, principalmente, que a intensificação do processo de urbanização da cidade provocou, nos recintos
estudados, agravamento do desconforto em microclimas urbanos.
Palavras-chave: acúmulo de calor, microclimas urbanos, conforto térmico.

ABSTRACT
The constant replacement of the natural cover with impermeable materials causes changes in the local
microclimatic and morphological characteristics, causing an increase of temperature, resulting in a sensation
of thermal discomfort. This work aimed to verify the intensification of heat accumulation in the city of
Recife/PE between 1998 and 2018, from the study of changes in soil cover and climatic variables. For that,
climatic variables were analyzed in pariform points in 2017-2018 to a study made by the Laboratory of
Environmental Comfort (Lacam) of UFPE in 1998. It was verified that all ten quarters explored showed an
increase in the accumulation of heat. The neighborhoods of Graças and Morro da Conceição, which showed
20 years ago lower temperatures than those registered at the station, currently present a greater accumulation
of heat, mainly due to processes of constructive densification. The Morro da Conceição revealed
spontaneous increase, considering its character of Special Zone of Social Interest. The Graças neighborhood,
on the other hand, had its densification produced by the real estate market, with replacement of single-family
housing units and vegetation, by vertical buildings and by impermeable soil, which altered greatly the local
dynamics. This shows mainly that the intensification of the urbanization process resulted in the studied
precincts, worsening discomfort in microclimates in urbanization.
Keywords: heat accumulation, urban microclimates, thermal comfort.

518
1. INTRODUÇÃO
É indispensável o estudo climático, em meios arquitetônico e urbano, objetivando a sensação de conforto
ambiental do usuário, a eficiência energética e a sustentabilidade do ambiente construído. No sentido de se
projetar cidades resilientes e sustentáveis, é necessário conhecer as influências de seus padrões climáticos,
em escala regional e local, ou seja, como se comportam as variáveis climáticas, temperatura, umidade e
ventilação, visando à qualidade do ambiente e ao bem-estar das pessoas, em escalas arquitetônica e urbana.
Herzog (2013, p. 155) define clima como sendo uma “compilação estatística de informações sobre o
tempo, descrevendo a sua variação em um determinado local e em um intervalo temporal”. Essa definição
dialoga com as ideias de Romero (2000, p. 18-21), quando afirma que o estudo do clima, caracterizado por
seus diversos fatores e elementos, torna-se importante para a compreensão do que deve ser controlado no
ambiente, de forma a atender às necessidades do projeto. Esta autora considera como fatores climáticos
globais os que condicionam, determinam e originam o clima, como a radiação solar, a latitude, a altitude, os
ventos, as massas de água e de terra. Como fatores climáticos locais, segundo Freitas (2008, p. 65-92),
destacam-se aqueles que modificam localmente o comportamento dos elementos climáticos, originando os
microclimas. Juntamente com a topografia e a vegetação, sobretudo, sobressaem-se os fatores antrópicos, tais
como, tecido urbano, volumes edificados, a superfície do solo e as atividades antrópicas, em geral.
Em relação aos elementos climáticos, que representam os valores relativos a cada tipo de clima,
Romero (2000, p. 21-27) cita a temperatura, a umidade, o movimento do ar e as precipitações. Herzog (2013,
p. 155-156) ainda menciona a pressão atmosférica e os fenômenos meteorológicos monitorados e medidos
por longos períodos, como elementos que influenciam o clima de um lugar, de uma região ou do planeta
como um todo. As condições climáticas sofrem, assim, influência da forma urbana local, que é reflexo dos
sistemas geológico, hidrológico e biológico, e do uso e ocupação do solo, no decorrer do tempo.
Recife se localiza na zona bioclimática oito (NBR 15220-3:2005), em clima tropical litorâneo quente
e úmido (Figura 1), com as seguintes especificidades: baixa amplitude térmica, diária e estacional, médios e
altos valores de temperatura do ar e de umidade relativa do ar, durante todo o ano, duas estações bem
definidas: a estação seca e a estação chuvosa (com pluviosidade acima dos 2.000mm), com pequena variação
de temperatura entre elas. A predominância da direção dos ventos é de sudeste, seguida das direções leste e
sul.
Kruger e Drach (2017, p. 231-232) estudaram a influência da geometria urbana na sensação térmica
de usuários de espaços ao ar livre na cidade do Rio de Janeiro. Os autores concluíram que a geometria
urbana pode alterar a sensação de conforto a depender da densidade construída do entorno. É imprescindível
a aplicação de estratégias de minimização do calor no planejamento das cidades, de forma a adaptar as
cidades às mudanças climáticas locais. No atual contexto de Recife, é cabível propor diretrizes bioclimáticas
que possam ser implantadas a depender das características do clima, com o intuito de corrigir, atenuar ou
transformar determinadas variáveis climáticas, proporcionando maior conforto térmico ao usuário.

Figura 1 – Vista panorâmica de Recife – PE (Ruskin Freitas, 2011).

2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo foi verificar o acúmulo de calor gerado pela urbanização de Recife/PE, a partir da
comparação entre valores das variáveis climáticas: temperatura do ar, umidade relativa do ar, velocidade e
direção dos ventos, entre os anos de 1998 e 2018, como também, a partir da observação da produção do
espaço, a partir da densidade construtiva de ocupação.

519
3. MÉTODO
Neste trabalho, foi utilizado o método hipotético-dedutivo, considerando que o processo de urbanização em
Recife tem gerado um acúmulo de calor ao longo dos anos, contribuindo para o desconforto em ambiente
urbano. Os procedimentos metodológicos foram divididos em quatro etapas principais:
3.1. Avaliação de dados das variáveis climáticas: temperatura do ar, umidade relativa do ar e
velocidade e direção dos ventos, coletados em 1998.
3.2. Comparação dos valores das variáveis climáticas a partir de medições realizadas durante
2017/2018: temperatura do ar, umidade relativa do ar e velocidade e direção dos ventos, nos mesmos pontos
da pesquisa anterior, desenvolvida há 20 anos.
3.3. Análise dos dados coletados visando à verificação de ocorrência de acréscimo de acúmulo de
calor, entre a pesquisas realizadas em 1998 e 2018.
3.4. Estudo da evolução da urbanização em Recife/PE, a partir de mapas e diretrizes da Prefeitura da
Cidade do Recife.

3.1. Avaliação de dados de 1998


Foi desenvolvida, em setembro de 1998, uma pesquisa acerca da diversidade microclimática na cidade do
Recife, pelo Laboratório de Conforto Ambiental/Lacam/UFPE. Os dez pontos observados naquela pesquisa
foram escolhidos com base na variedade morfológica da cidade do Recife, que apresentam diferentes
qualidades ambientais e diferentes dinâmicas antrópicas, que influenciam na formação de distintos
microclimas, localizados em dez diferentes bairros, em recintos urbanos com alta e baixa densidade
construtiva, com e sem verticalização, na planície e no morro, com alta e baixa densidade de vegetação.
Os pontos foram divididos em dois roteiros, sendo ambos percorridos e medidos, quatro vezes,
simultaneamente, entre 8h e 12h da manhã e 14h e 16h da tarde. Os dados coletados, em quatro turnos, em
duas manhãs e em duas tardes, foram sistematizados, e comparados aos dados meteorológicos
disponibilizados pela Estação Meteorológica de Observação de Superfície Convencional, localizada no
bairro Curado, em mesmas datas e horários em que ocorreram as medições.
Mais importante do que os valores absolutos, foi destacada a diferença em relação aos valores
registrados na estação de referência. Por exemplo, naquela ocasião, quando a média de temperatura do ar, na
estação meteorológica, no período observado, foi de 29,8°C, na avenida Boa Viagem, no bairro do Pina, a
média de temperatura foi de 28,4°C, ou seja, 1,4°C menor. Ao contrário, no cruzamento da avenida
Domingos Ferreira com a rua Antônio Falcão, bem perto dali, no bairro de Boa Viagem, no mesmo período,
a média de temperatura foi de 30,7°C, sendo notado um acúmulo de calor de 0,9°C, em relação à estação de
referência. Salienta-se que o ponto localizado no Pina, foi na orla, próximo à vegetação e solo natural e
exposto à ventilação de 3,8m/s, enquanto o ponto localizado em Boa Viagem foi em meio a barreiras
edificadas, em vias de grande fluxo de automóveis e exposto à ventilação de 0,6m/s.

3.2. Medições de variáveis climáticas, 2017-2018


Em 2017, foram formadas duas equipes de quatro integrantes. Cada equipe percorreu um roteiro, abrangendo
cinco pontos, totalizando dez pontos, em dez diferentes bairros da cidade de Recife: Boa Viagem, Boa Vista,
Bongi, Encruzilhada, Graças, Ipsep, Morro da Conceição, Pina, Santo Antônio e Várzea. As medições foram
realizadas durante o mês de setembro, em período próximo ao equinócio de primavera - mesmo período em
que foi realizada a pesquisa de 1998.
Em 2018, todos os procedimentos foram realizados, novamente, em cada ponto análogo à pesquisa
de 1998, registrando as variáveis climáticas: temperatura do ar, umidade relativa do ar e direção e velocidade
dos ventos dominantes, períodos manhã e tarde. Os dados foram sistematizados e foram feitas médias
aritméticas referentes aos dois períodos, aqui sendo sintetizados e nomeados como etapa realizada em 2018,
ou seja, com uma diferença de 20 anos, em relação à pesquisa anterior.
Para a medição de temperatura do ar e de umidade relativa do ar, foram utilizados termohigrômetros
digitais INSTRUTHERM HT-350, ao longo de cinco minutos, posicionados à altura aproximada de 1,50m
do chão e afastados do corpo e de qualquer outro obstáculo, a essa mesma distância, protegidos da incidência
de radiação solar direta por um guarda-sol, revestido, na parte superior, por um tecido acetinado branco, de
modo a auxiliar na reflexão dos raios solares diretos, e na parte inferior, por um tecido opaco preto, de modo
a impedir a reflexão indireta, a partir de outras superfícies, e evitar o contato direto com o instrumento.
Para registrar a velocidade dos ventos, foram utilizados anemômetros digitais, INSTRUTHERM
Mod TAD-500, também à altura aproximada de 1,50m do chão e afastados do corpo e de qualquer outro
obstáculo, a essa mesma distância. Os instrumentos estavam voltados para a direção predominante de ventos,
aferida constantemente por uma bússola magnética.

520
Em cada ponto, houve a necessidade de estabilização dos instrumentos, durante um período de cinco
minutos, já considerados suficientes. Ao se observar a direção do vento predominante, direcionava-se o
anemômetro ao seu encontro e anotavam-se os valores da velocidade do vento, um a cada minuto, bem
como, anotava-se o ângulo em relação ao norte (azimute). Ao estabilizar o termohigrômetro, fazia-se a
anotação dos valores da temperatura do ar e da umidade relativa do ar.

3.3. Análise do acúmulo de calor em Recife/PE


Para a investigação do acúmulo de calor na cidade, foi feita a comparação entre os dados obtidos em cada
ponto e os dados registrados pela Estação Convencional do Inmet. Em paralelo, observou-se como os
diferentes bairros evoluíram em termos de adensamento construtivo, entre outras modificações referentes à
forma urbana e às atividades antrópicas, nos últimos 20 anos, cruzando observações empíricas com dados
obtidos junto ao banco de dados da Prefeitura da Cidade do Recife.
Em comparação aos dados levantados há cerca de vinte anos, todos os pontos analisados
apresentaram aumento no acúmulo de calor (Tabela 1), sendo, em alguns casos, como Morro da Conceição e
Graças, com acréscimo mais expressivo. Alguns bairros não apresentaram acúmulo de calor significativo,
atualmente, mas em comparação com os dados anteriores, a variação foi pertinente, como no bairro do Pina,
onde houve acréscimo de 1,4°C, deixando claras as alterações nas variáveis ponderadas.
É importante ressaltar que as Estações Meteorológicas, Convencional e Automática, estão
localizadas em pontos afastados de espaços edificados, o que representa um ambiente mais próximo ao seu
estado natural. Portanto, os resultados de acúmulo de calor representam a diferença de temperatura causada
por fatores climáticos antrópicos, ou seja, pela conformação do espaço urbano produzida pela ação humana.
Para a análise dos valores, tendo em vista o conforto ambiental passivo, ou seja, considerando a
possibilidade de uso do espaço, contando a ventilação natural, tomou-se como referência a zona de conforto
térmico, para Recife, cidade situada em clima tropical litorâneo quente e úmido - valores de temperatura
entre 24°C e 28°C e valores de umidade relativa do ar entre 50% e 70%. Quando o valor de temperatura do
ar for um pouco superior ao limite citado, a velocidade do vento necessária para proporcionar a inserção em
zona de conforto deve alcançar valores iguais ou superiores a 0,5m/s.
Esses valores são fruto de pesquisas desenvolvidas por autores diversos, que já se tornaram
clássicos, tais como, Olgyay (1963), Koenigsberger (1977), Szokolay (1987), Givoni (1991) e Lamberts,
Dutra e Pereira (2012), até pesquisas mais recentes e no contexto da cidade de Recife, tais como, Freitas
(2005), Freitas e Azerêdo (2013) e Freitas, Azerêdo e Freitas (2017).
A tabela 1 apresenta, portanto, os valores de referência para classificação dos níveis de conforto nos
pontos observados, também tendo sido considerada a quantidade de acúmulo de calor no ponto em relação à
estação, por exemplo, se o ponto não apresentava acúmulo de calor, apresentava baixo acúmulo (até 1°C),
como o bairro do Pina ou da Várzea, ou alto acúmulo (mais de 1°C), como visto na Boa Vista e no bairro das
Graças.
Tabela 1 - Condições de conforto térmico em recintos urbanos.
CONDIÇÕES DE
Temperatura do ar Umidade relativa do Velocidade dos
CONFORTO EM
(°C) ar (%) ventos (m/s)
RECINTOS URBANOS
CONFORTÁVEL 24 a 28 50 a 70 1,5 a 3,0

INTERMEDIÁRIO 22 a 24 e 28 a 30 20 a 50 e 70 a 80 1,0 a 1,5 e 3,0 a 4,5

DESCONFORTÁVEL <22 e >30 <20 e >80 <1,0 e >4,5


Fonte: Lacam, 2019.

3.4. Evolução da urbanização em Recife/PE


Acerca da densificação construtiva no processo de evolução urbana na cidade de Recife, foram observados
dados sobre os processos de uso e ocupação do solo da cidade (RECIFE, 1996), a partir de dados coletados
pelos setores censitários do IBGE, cadastro de lotes da Prefeitura da Cidade do Recife (RECIFE, 2012) e do
Diagnóstico Propositivo do Plano Diretor de 2008, que analisou as dinâmicas urbanas de Recife desde 30
anos antes de sua publicação. Por se enquadrar melhor para esta análise, foram usados os dados a partir da
década de 1990.
Observou-se que as diretrizes urbanísticas que preveem altos coeficientes de utilização, em
determinados bairros, principalmente do litoral sul e margem norte do Rio Capibaribe, contribuíram para o
adensamento e para a verticalização (Figura 2), que coincidiram com os pontos de maior acúmulo de calor.

521
Salienta-se que, apesar desses mapas terem sido usados como referência para as análises, foram observados
erros, tais como, aqueles referentes aos coeficientes urbanísticos para os bairros da Várzea e da Guabiraba.

Figura 2 – (A) Coeficiente de aproveitamento e (B) Unidades com mais de 20 pavimentos na cidade do Recife (RECIFE, 2008).

Segundo dados fornecidos pelo Diagnóstico para o Plano Diretor (RECIFE, 2008), durante a década
de 1990, os bairros com maior concentração de área construída eram Boa Viagem (929.832 m²) e Boa Vista
(832.808 m²); o bairro das Graças apresentava intenso processo de verticalização. Em um estudo posterior,
realizado em 2003, foi constatado o crescimento de 43% de área construída em Boa Viagem, sendo o maior
crescimento de área construída do município, enquanto Santo Antônio não apresentou nenhum acréscimo de
área construída. Foi essa pesquisa que caracterizou as áreas com maiores densidades construtivas, entre elas
a orla de Boa Viagem, bairro das Graças, morros da zona norte e proximidades dos eixos da zona oeste
(avenidas Caxangá, Abdias de Carvalho e Dr. José Rufino).
O processo de verticalização também foi analisado e constatou-se sua intensificação em
determinadas áreas da cidade. Na década de 1990, Boa Viagem tinha cerca de 40% de suas unidades
habitacionais em imóveis com mais de 10 pavimentos, passando para quase 60% em 2010. Dessas,
aproximadamente 5% localizavam-se em edificações com mais de 20 pavimentos. O bairro das Graças, por
sua vez, tinha cerca de 40% de suas unidades habitacionais em prédios com mais de 10 pavimentos,
passando na década de 2010 a representar 62%.

522
Salienta-se que a verticalização, em si, não é o maior fator para a diminuição da ventilação e para o
aumento da temperatura, quando vista de maneira isolada e sim quando de maneira justaposta, sem grandes
afastamentos. Em Recife, esse fenômeno tem ocorrido em substituição às unidades habitacionais isoladas,
mantendo-se padrão semelhante de parcelamento do solo e baixo afastamento entre edificações, agora bem
maiores em altura, em número de usuários e de potencial gerador de atividades antrópicas, sobretudo, fluxo
viário.

4. ANÁLISE DE RESULTADOS
Também valorizando menos os valores absolutos, foi destacada a diferença em relação aos valores
registrados na estação de referência. Por exemplo, quando a média de temperatura do ar, na estação
meteorológica, no período observado, foi de 27,9°C, na avenida Boa Viagem, no bairro do Pina (Figura 3), a
média de temperatura foi de 27,7°C, ou seja, 0,2°C menor. Ao contrário, no cruzamento da avenida
Conselheiro Rosa e Silva, com rua Amélia, no bairro das Graças (Figura 4), no mesmo período, a média de
temperatura foi de 30,4°C, sendo notado um acúmulo de calor de 2,5°C, em relação à estação de referência.
Salienta-se que o ponto localizado no Pina repetiu o mesmo desempenho na pesquisa anterior, sendo o ponto
de menor acúmulo de calor, entre os dez pontos verificados, em condições ambientais, próximas ao natural,
enquanto o ponto localizado nas Graças, foi em meio a barreiras edificadas, em vias de grande fluxo de
automóveis e intensas atividades antrópicas.

Figuras 3 e 4 – Pina e Graças, respectivamente.

A tabela 2, a seguir, apresenta o acúmulo de calor na cidade de Recife, nos anos de 1998 e 2018. A partir dos
dados, é possível tecer uma comparação entre os resultados das duas pesquisas.
Tabela 2 - Acúmulo de calor em Recife nos anos de 1998 e 2018. A gradação de cores indica a intensidade do acúmulo de calor, do
azul, menos intenso, ao vermelho, mais intenso.
ACÚMULO DE CALOR (°C)
Em relação à estação meteorológica de referência
LOCAL
Variação entre
1998 2018
1998 e 2018
Pina -1,4 -0,2 1,2
Boa Viagem 0,9 1,3 0,4
Ipsep 0,1 1,5 1,4
Bongi -0,1 0,6 0,7
Várzea -0,5 0,1 0,6
Santo Antônio -0,1 1,1 1,2
Boa Vista 0,4 1,4 1,0
Graças 0,6 2,5 1,9
Encruzilhada 0,5 1,9 1,4
Morro da Conceição -0,6 1,4 2,0
Fonte: Lacam, 2019.

Ao cruzar os resultados das variáveis climáticas com o acúmulo de calor, foi possível identificar
como a sensação de conforto foi sendo prejudicada com o passar do tempo (Figura 5). No ano de 1998, dos
dez pontos analisados, três foram considerados desconfortáveis e quatro estavam com bom desempenho,
baixo acúmulo de calor e sensação de conforto para o usuário. Na investigação atual, três pontos são
reconhecidos como confortáveis, enquanto o número de pontos desconfortáveis ou intermediários aumentou.

523
A Figura 5 apresenta as condições de conforto térmico em dez recintos urbanos de Recife/PE, em
1998 e 2018, respectivamente. A cor azul representa os pontos confortáveis, a cor amarela, os pontos
intermediários e a cor vermelha, os pontos desconfortáveis termicamente.

Figura 5 - Condições de conforto térmico em dez recintos urbanos de Recife/PE. (A) em 1998; (B) em 2018 (Lacam, 2019).

Percebe-se, ao comparar os valores obtidos nas medições com os valores registrados na Estação
Convencional, que em 1998 apenas cinco recintos urbanos (Boa Viagem, Ipsep, Boa Vista, Graças e
Encruzilhada) apresentavam acúmulo de calor, sendo em Boa Viagem o mais significativo, com o acúmulo
de 0,9ºC. Em 2018, todos os bairros avaliados apresentaram médias de temperatura do ar acima do valor
registrado na Estação Convencional.
No ano de 1998, quatro dos pontos estudados foram considerados confortáveis, enquanto três bairros
figuravam como conforto intermediário e os três restantes, desconfortáveis. A situação no último estudo
revela que três bairros permanecem confortáveis. O bairro da Várzea se apresenta como o segundo com
menor acúmulo de calor e menor variação deste. Não coincidentemente, o bairro é um dos mais vegetados do
município, com taxa de solo natural de 50%, coeficiente de utilização de 3,0 e recuos iguais a: frontal, de
7m, laterais, de 1,5m ou nulo e de fundo, de 3m.
O ponto de medição no bairro da Várzea foi na Praça Pinto Dâmaso (Figura 6), que possui vegetação
de grande porte e copa variada e o seu entorno imediato é caracterizado por edificações de até dois
pavimentos, de usos residencial, comercial e de serviços de pequeno porte.
O bairro do Bongi também foi estudado no entorno de uma praça vegetada (Figura 7), o que
contribuiu para seu desempenho satisfatório. Tal contexto influi para um maior equilíbrio no balanço
energético, uma vez que a vegetação absorve parte do calor irradiado pelo sol e os materiais e volumes
edificados no entorno retêm menos calor que em outros bairros analisados. De acordo com Givoni (1998,
p.303-307), os vegetais possuem baixa difusividade térmica e alto poder de absorção da radiação solar pelas
folhas, apresentando baixo albedo. Além disso, a taxa de evaporação é mais alta no seu entorno, criando o
que foi caracterizado por Hernandez (2013, p.103) como uma zona de resfriamento. Dessa maneira, certifica-
se que a presença de solo natural gramado e com arborização nos espaços livres é fundamental para a
qualidade climática urbana.
No Morro da Conceição, embora tenha acontecido o processo de densificação horizontal nos
arredores, pelo fato do ponto de medição se situar na parte mais alta do morro, não houve influência das
edificações (Figura 8). O que possivelmente veio a contribuir para o aumento do acúmulo de calor foi a
construção de uma quadra de concreto onde antes havia um campo de terra batida. As vias também
receberam pavimentação asfáltica em função da criação de um terminal de ônibus na proximidade do ponto.
A alta difusividade térmica do material contribui para o acúmulo de calor e é um dos principais contribuintes
para a formação de ilhas de calor urbano pelo seu grande volume nas cidades.

524
Figuras 6, 7 e 8 – Várzea, Bongi e Morro da Conceição, respectivamente.

Ambos os bairros da Encruzilhada e do Ipsep registraram o aumento de 1,4°C no acúmulo de calor


entre 1998 e 2018. A Encruzilhada representa um importante polo comercial para a cidade, caracterizando-se
como um centro secundário, trazendo grande vivacidade e consequentemente, alta taxa de ocupação e grande
tráfego de pedestres e veículos (Figura 9). O Ipsep figura como um dos bairros com maior desenvolvimento
econômico (RECIFE, 2008). Este bairro sofreu um acréscimo de 150% de área total construída entre 1996 e
2003 (RECIFE, 2008), ocorrendo adensamento e impermeabilização do solo, porém, sem verticalização,
devido a sua proximidade com o Aeroporto Internacional do Recife, que limita seu gabarito a três
pavimentos.

Figuras 9 e 10 – Encruzilhada e Ipsep, respectivamente.

No caso do bairro da Boa Vista, as variáveis climáticas foram aferidas no cruzamento da avenida
Conde da Boa Vista com a rua do Hospício, área de alto adensamento construtivo, já consolidado, sem
grandes transformações nos últimos anos, com edificações altas e justapostas, onde ocorre intenso fluxo de
pedestres, de veículos e comércio ambulante (Figura 10).
O bairro de Santo Antônio está inserido na Zona Especial de Proteção Histórica (ZEPH) 10 e o ponto
de medição, no pátio do Carmo (Figura 11), situa-se num trecho de preservação rigorosa. Embora não tenha
sofrido acréscimo de área construída ou mudança nas formas edificadas nos últimos anos, as alterações no
entorno e crescimento da cidade como um todo, modificaram as dinâmicas locais, acrescentando calor
devido a fatores antrópicos, a exemplo do aumento no fluxo pendular, uma vez que, o centro histórico por
inteiro não detém de população residente expressiva, chegando a apresentar 1,2°C de aumento no acúmulo
de calor.

Figuras 10 e 11 – Boa Vista e Santo Antônio, respectivamente.

As atividades humanas desenvolvidas nessas áreas urbanas dinâmicas, com grande número de
atividades concentradas, como o bairro da Encruzilhada e também o centro principal, onde se situam Boa
Vista e Santo Antônio, liberam energia, modificando o ambiente, de maneira análoga a uma sala climatizada
quando tem sua temperatura elevada conforme mais pessoas adentram. Os fatores antrópicos, como traçado

525
viário, densidade construtiva, verticalização e a concentração de atividades alteram características naturais,
comumente causando aumento da temperatura do ar e diminuição da sua umidade relativa.
Pina e Boa Viagem possuem parâmetros urbanísticos e dinâmicas urbanas muito similares e o que
particularizou os resultados foi o local específico para medição de cada bairro. No Pina, o ponto foi na orla
oceânica, o que favoreceu a ventilação, que se configurou como o fator que mais contribuiu para a condição
de conforto térmico. Em Boa Viagem, o ponto foi no cruzamento da rua Antônio Falcão com a avenida
Domingos Ferreira, distante três quadras, aproximadamente, 400 metros do Oceano Atlântico. A distância da
massa d’água deveria configurar uma melhoria de conforto, mas devido às quadras adensadas, a direção dos
ventos é modificada e sua velocidade reduzida. Além disso, devido ao maior volume de materiais com
grande difusividade térmica, como asfalto e concreto, a temperatura se eleva. Enquanto o entorno do ponto
em Boa Viagem já estava consolidado nos anos 1990 (Figura 12), o Pina acentuou seu processo de
urbanização mais recentemente. A influência da urbanização e da densificação construtiva foram
evidenciadas ao notar que, embora ainda seja considerado satisfatório, o bairro do Pina apresentou um
aumento de 1,3°C no acúmulo de calor em relação à pesquisa realizada em 1998.

Figura 12 - Crescimento da mancha urbana de Boa Viagem, entre 1996 e 2012. (RECIFE, 2012). Elaborado por Júlia Alves (2019).

Isso valida, principalmente, que a elevação do processo de urbanização causou, em todos os recintos
estudados, maior acúmulo de calor e agravamento dos microclimas urbanos. Na década de 1990, o mercado
imobiliário passou a se expandir para além de Boa Viagem, atingindo os bairros da zona norte, e as
atividades comerciais e de serviços se instalaram, em especial, nas suas principais vias (RECIFE, 2008).
O bairro das Graças registrou um acúmulo de calor de 2,5°C, quando comparadas as duas pesquisas,
o que pode ser justificado pelo processo de adensamento construtivo alcançado a partir da verticalização,
além da contínua diminuição da vegetação e consequente impermeabilização do solo ocorrido nas últimas
décadas, levando também a uma intensificação das atividades antrópicas. Segundo o Atlas do
Desenvolvimento Humano no Recife (2005), o bairro das Graças é um dos que apresentam a maior
proporção de pessoas que moram em domicílio com carro, 87,60%.
De acordo com Romero (2000, p.48-50), alguns princípios de desenho urbano podem ser
implantados para diminuir a temperatura de um recinto urbano. Neste caso, é necessário reduzir a produção
de calor e evitar a absorção de umidade, reduzindo também a pressão de vapor. De acordo com Romero
(2000), Mascaró (1996) e Hernández (2014), a vegetação proporciona boas taxas de evaporação, auxilia a
filtragem do ar, promove sombreamento, diminuindo a incidência de radiação solar direta sobre as
superfícies. Hernández (2014, p.27) afirma que o uso de vegetação, sobretudo, arbórea, é praticamente a
única solução para modificar o microclima de uma área urbana consolidada.

5. CONCLUSÕES
Com a análise comparativa de dados atuais e históricos, foi possível perceber os resultados da intensificação
do processo de urbanização a partir dos valores das variáveis climáticas. Em vinte anos, todos os dez locais
estudados apresentaram potencial ganho de calor, tendo ocorrido o registro do maior acúmulo (2,5 ºC) no
bairro das Graças. Isso significa que a forma desse recinto urbano, juntamente com a intensificação de
atividades antrópicas, favorece o aumento de temperatura, resposta indesejada para a promoção da sensação

526
de conforto térmico em condições de clima tropical quente e úmido, como o de Recife. A orla do Pina foi o
local em que esse acúmulo foi menos significativo, devido à ventilação constante e com moderada
velocidade.
Em contexto de revisão de legislação urbanística, Plano Diretor Municipal e Lei do Uso e Ocupação
do solo, pode-se apontar a importância de diminuir a taxa de ocupação e aumentar a taxa de solo natural,
bem como o afastamento entre as edificações, como importantes fatores para a diminuição da temperatura do
ar e aumento da velocidade de ventilação. Em ações de planejamento, desenho urbano e requalificação
urbana, a utilização de solo permeável e a ampliação de espaços livres, distribuídos pela cidade, também
poderiam constituir diretrizes básicas. Por conseguinte, em uma condição de clima tropical quente e úmido,
essas ações representam fatores microclimáticos que contribuem para o conforto ambiental dos usuários,
para a eficiência energética das edificações e para a sustentabilidade das cidades.
É necessário, portanto, que o conhecimento do ambiente de estudo, sob o viés climático, seja
compreendido e assimilado pelos técnicos e gestores de planejamento, em escalas urbana e arquitetônica,
objetivando a qualidade do ambiente, de maneira que os usuários finais se encontrem na zona requerida de
conforto térmico. Ressalta-se que a gestão dos espaços urbanos deve ocorrer de modo interdisciplinar e de
maneira que as decisões possam ser materializadas em benefício da população usuária.

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527
DESENHO URBANO SENSÍVEL À ÁGUA: ANÁLISE PARA APLICAÇÃO
DE ESTRATÉGIAS EM ÁREAS URBANAS CONSOLIDADAS
Vanessa de Oliveira Friso (1); Eleonora Sad de Assis (2)
(1) Arquiteta-Urbanista, Especialista em Sustentabilidade do Ambiente Construído, vanessafriso@ufmg.br
(2) D.Sc., Professora do Dep. Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo, elsad@ufmg.br,
Laboratório de Conforto Ambiental da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais,
Rua Paraíba, 697, Belo Horizonte - MG, 30130-141, Tel.: (31) 3409-8873

RESUMO
A substituição da cobertura natural do solo pela ocupação urbana colabora para a alteração do ciclo da água,
o que contribui para reforçar as mudanças climáticas e para a recorrência de trágicos acontecimentos
relacionados, principalmente, a inundações e deslizamentos, podendo provocar graves desordens e danos
socioeconômicos imediatos às cidades, cujos espaços não foram projetados para mitigar ou resistir a tais
efeitos. Nesse contexto, o conceito de Desenho Urbano Sensível à Água tem sido desenvolvido buscando
integrar a gestão do ciclo da água ao processo de desenvolvimento urbano. No entanto, o poder público não
satisfaz as cidades nesse aspecto, ao passo em que o cidadão pode ser tratado como importante agente de
transformação urbana. Este trabalho teve por objetivo identificar medidas de Desenho Urbano Sensível à
Água aplicáveis em áreas urbanas consolidadas, que não demandem grande aporte financeiro e possam ser
implementadas pelos próprios cidadãos, com exemplos em mecanismos e estratégias elaborados para a
cidade de Adelaide, na Austrália. Assim, partindo-se de uma abordagem teórica, explorou-se o conteúdo do
Manual Técnico de Desenho Urbano Sensível à Água para Região da Grande Adelaide, estabelecendo-se
critérios de análise que permitiram concluir se as medidas de Desenho Urbano Sensível à Água atendem à
problematização proposta neste trabalho, cujo resultado expressa-se em quadro analítico representativo de
tais relações. Por fim, considera-se que uma sistematização como a pretendida relaciona-se prioritariamente à
conscientização ambiental e apropriação do espaço público pela comunidade.
Palavras-chave: drenagem urbana, desenho urbano sensível à água, controle sustentável de águas urbanas.

ABSTRACT
The replacement of natural land cover by urban occupation contributes to the alteration of the water cycle,
which contributes to reinforce climate change and the recurrence of tragic events related mainly to floods
and landslides, which can lead to serious disorders and cities socioeconomic damages, whose spaces were
not designed to mitigate or resist such effects. In this context, the concept of Water Sensitive Urban Design
has been developed seeking to integrate the management of the water cycle to the process of urban
development. However, the public authorities do not satisfy the cities in this regard, whereas the citizen can
be treated like important agent of urban transformation. The objective of this work was to identify measures
of Water Sensitive Urban Design applicable in consolidated urban areas, which do not require a large
financial contribution and can be implemented by the citizens themselves, with examples in mechanisms and
strategies developed for Adelaide’s city. Thus, starting from a theoretical approach, the contents of the
Technical Manual of Water Sensitive Urban Design for the Region of Greater Adelaide, was explored
establishing criteria of analysis that allowed to conclude if the measures of Water Sensitive Urban Design
attend to the problematization proposed in this paper, whose result is expressed in an analytical framework
representative of such relations. Finally, it is considered that a systematization like the one intended is related
to environmental awareness and appropriation of public space by the community.
Keywords: urban flooding control, water sensitive urban design, urban sustainable hydrology.

528
1. INTRODUÇÃO
A existência de uma cidade condiciona o meio e seus ciclos ecológicos criando um microclima urbano
característico e ao se alterar os ciclos ecológicos há interferência nos ecossistemas locais, o que modifica
importantes ciclos naturais, aparecendo, então, os ciclos ecológicos urbanos, ou ciclos do ecossistema
urbano, diferentes daqueles do ambiente natural (HIGUERAS, 2006).
Ainda segundo Higueras (2006), as consequências da urbanização sobre o território são relacionadas
ao ar, tendo impacto sobre a saúde dos cidadãos pela atmosfera cheia de contaminantes; à água, entre outras
coisas, pela alteração da capacidade de absorção dos solos e eliminação da cobertura vegetal; e ao solo e
subsolo, pelo esgotamento de nutrientes em algumas zonas urbanas, assim como o excesso em outras, e a
significativa quantidade de solos contaminados.
Além de alterar os ciclos ecológicos do meio natural, segundo Odum (1986), a cidade é um sistema
incompleto, dependente de grandes áreas externas a ele para obtenção de energia, alimentos, água e ar puro,
e exporta rejeitos, ar poluído e mais quente e água poluída.
A incrementar a extrema dependência da cidade em relação a recursos externos, some-se a velocidade
e relativa desordem com que ela se desenvolve, em função do rápido aumento da população urbana pelo
mundo. Com isso, não apenas grande parte de recursos extraídos da natureza são canalizados para as cidades,
como água e materiais diversos, mas já existe, inclusive, a percepção de que há uma relação entre a
urbanização e as mudanças climáticas, de acordo com o último relatório do IPCC (REVI et al, 2014, p. 551):
“A grande extensão espacial e a significativa quantidade de área construída em
megacidades (10 milhões ou mais de habitantes) pode ter impactos significativos no
balanço energético local e regional, e no clima, tempo atmosférico e outras qualidades
ambientais associadas, como a qualidade do ar. Grimmond (2011) encontrou uma crescente
evidência de que as cidades podem influenciar o tempo atmosférico (p. ex., chuvas,
concentração de relâmpagos) através da complexa relação de feedback entre o uso do solo
urbano, tempo atmosférico e clima [...].” (Tradução livre das autoras)
A Organização Mundial de Meteorologia também já havia indicado que a quantidade de energia
consumida no meio urbano é, indiretamente, a maior fonte de gases de efeito estufa (WMO, 1996),
considerados os principais responsáveis pela tendência de aquecimento global. Além disso, a pressão sobre
as terras marginais, ou periféricas, pela crescente população urbana, gera instabilidade social e colabora para
o declínio ambiental (ROGERS; GUMUCHDJIAN, 2000). Assim, pode-se dizer que os efeitos do
desenvolvimento e crescimento urbano desordenado e acelerado são capazes de criar um cenário de crise
ambiental, resultando em má qualidade de vida e maior vulnerabilidade às mudanças climáticas aos
habitantes das cidades que na sua maioria são, segundo Ribeiro (1998, p. 225), “[...] carentes de
infraestrutura elementar”.
Em 1990, 75% da população brasileira já vivia em cidades; no entanto, os desequilíbrios ambientais
ainda não tinham a devida importância nas agendas governamentais. Atualmente, apesar do tratamento sobre
esse tema ter passado a ocupar outra posição, com destaque para programas que visam incentivar o
enfrentamento das questões referentes à resiliência urbana, a população das cidades ainda vive em más
condições ambientais e com baixa qualidade de vida (RIBEIRO, 1998).
Num contexto no qual as cidades são consideradas como, possivelmente, as formas mais agressivas de
alteração do ambiente natural (FRITZEN; BINDA, 2011), enfatizam-se as interferências no ciclo da água,
primeiramente, pela redução da infiltração causada pelas superfícies agora impermeabilizadas, “[...] de modo
geral, com a construção de obras de alvenaria, acessos públicos para pedestres e pavimentação asfáltica em
vias de circulação de veículos” (FRITZEN; BINDA, 2011, p. 244), o que, segundo Tucci (1997), causa os
seguintes impactos, ilustrados na Figura 1:
• O volume que deixa de infiltrar fica na superfície, aumentando do escoamento superficial;
• Aumento da velocidade do escoamento devido às soluções convencionais de captação de
água;
• Com a redução do tempo de escoamento, sua máxima vazão é atingida mais rapidamente;
• Diminuição do nível do lençol freático pela falta de alimentação dos aquíferos.
Essa realidade colabora para que as populações urbanas sofram com eventos extremos, como chuvas
concentradas, enchentes, inundações e deslizamentos, causados, entre outros fatores, pela alteração da
cobertura natural da superfície (TUCCI, 1997).
Por outro lado, há a redução da evapotranspiração, fato relacionado à formação das chamadas “ilhas de
calor urbanas”, fenômeno caracterizado pelas temperaturas mais elevadas nas áreas urbanas em relação às
áreas naturais ou rurais adjacentes, que ocorre pelo fato das superfícies das cidades terem maior inércia

529
térmica, maior barreira à ventilação, conservação de calor nas áreas mais densas e verticalizadas e sensível
diminuição de áreas verdes e permeáveis (TUCCI, 1997; CREA-MG, 2009).

Figura 1 - Caracterização do ciclo da água em meio natural e em meio urbano. Fonte: Greater Auckland (2017)

Para fazer face a tais problemas, novas abordagens devem ser adotadas pelos planejadores urbanos
visando entender cada situação geoclimática como geradora de um urbanismo característico e diferenciado
(HIGUERAS, 2006), em contraposição ao urbanismo tradicional, no qual os conceitos urbanísticos,
hidrológicos e ambientais estão desarticulados ou são desconsiderados durante o processo de planejamento
(ANDRADE; MELO; VIANA, 2016).
Assim, conceitos como “desenho sensível à água” (WSUD, 2009), “desenvolvimento urbano de baixo
impacto” (SOUZA; CRUZ; TUCCI, 2012), “infraestrutura verde” (BENEDICT; McMAHON, 2006) e
“soluções baseadas na natureza” (WWAP, 2018) tornam-se importantes nas agendas dos planejadores e
gestores urbanos. Ainda, o usuário passa a ser visto como peça chave do processo, de modo que a educação
para a sustentabilidade se torna parte de uma transformação cultural ampla, atingindo a consciência de cada
cidadão para que colabore com a melhoria e proteção do meio em que vive (RIBEIRO, 1998).
Deve-se esclarecer também que, ao longo dos anos, muitas técnicas foram desenvolvidas mundo afora
para buscar atender aos requisitos da gestão sustentável da água urbana, gerando uma série de termos
relacionados ao tema, característicos a cada país, como apresentado no Quadro 1, embora representem quase
sempre as mesmas intenções, indicando que a preocupação com a água em meio urbano é global.

Quadro 1 - Termos usados para gestão de águas pluviais no mundo


Termo Origem Significado Descrição
BMP Europa Best Management Practices Medidas para gestão sustentável de águas pluviais.
DRWM Alemanha Decentralised Medidas e técnicas para gestão de águas de chuvas e
Rainwater/Stormwater tempestades.
Management
GI EUA Green Infrastructure Gestão de águas pluviais e fluviais, e práticas que
reduzam ou eliminem os riscos de inundação ou
enxurradas através da infiltração local, evaporação e
reuso de água de chuva.
IURWM Mundial Integrated Urban Resource Water Abordagem integrada para gestão de águas urbanas,
Management não apenas pluviais.
LID EUA Low Impact Development Abordagem de planejamento e desenho urbano para
gestão sustentável de escoamento de águas pluviais
NbS Europa Nature-based Solution Soluções inspiradas ou baseadas na natureza; usam ou
imitam processos naturais para contribuir com um
melhor gerenciamento hídrico.
SUDS Reino Sustainable Urban Drainage Medidas para a gestão sustentável de águas pluviais.
Unido Systems
WSUD Austrália Water Sensitive Urban Design Abordagem que visa integrar gestão sustentável da
água, principalmente a gestão descentralizada de águas
pluviais, no desenho urbano.
Fonte: adaptado pelas autoras, com base em Hoyer et al (2011).

530
No entanto, o termo comumente encontrado na literatura é “desenho urbano sensível à água”, ou water
sensitive urban design (WSUD), definido, segundo o Manual da UNESCO (HOYER et al, 2011), como
sendo uma cooperação interdisciplinar de gestão hídrica, desenho urbano e planejamento paisagístico,
objetivando combinar as demandas do gerenciamento sustentável de águas pluviais com as do planejamento
urbano e, assim, aproximar o ciclo urbano da água ao ciclo natural.
O mesmo Manual considera ainda que, para que haja sucesso na combinação entre a descentralização
do gerenciamento de águas pluviais e o desenho urbano, é importante que as soluções de “desenho urbano
sensível à água” atendam aos 5 tópicos listados abaixo e que os mesmos façam parte de um planejamento
integrado:
• Sensibilidade à água: as soluções devem usar métodos descentralizados para aproximar a
gestão da água urbana ao ciclo hidrológico natural;
• Estética: as soluções devem ser aplicadas para proporcionar benefício estético onde for
possível e ser adaptadas ao desenho da paisagem urbana do seu entorno;
• Funcionalidade: as soluções devem ser implementadas de acordo com as condições locais e o
uso pretendido, além de considerar a manutenção necessária e a possibilidade de adaptação a
variabilidade de condições básicas, como eventos climáticos extremos;
• Usabilidade: as soluções devem ser desenvolvidas para criar espaços com propósitos de
recreação e conservação da natureza;
• Percepção e aceitação pública: as medidas, além de considerar as necessidades de todos os
envolvidos, devem integrá-los ao processo de planejamento, assim como ter seus custos
compatíveis aos de soluções convencionais.

2. OBJETIVO
A partir da análise de medidas extraídas do Manual Técnico de Desenho Urbano Sensível à Água para a
Região da Grande Adelaide (Department of Planning and Local Government, 2009), este artigo objetiva
identificar estratégias de “desenho urbano sensível à água” que, além de serem aplicáveis em áreas urbanas
consolidadas, não tenham o custo como um fator impeditivo, não dependam de iniciativa do poder público e
que possam ser implementadas pelos próprios cidadãos.

3. MÉTODO
Este trabalho foi desenvolvido através de revisão bibliográfica de manuais técnicos e artigos científicos sobre
a aplicação do “desenho urbano sensível à água”. Os manuais e artigos foram identificados e coletados por
busca de palavras-chave no GoogleTM e portais técnico-científicos. No GoogleTM foi possível encontrar
manuais e relatórios, notando-se a grande relevância da produção da Austrália no que tange ao
desenvolvimento do tema. As principais palavras ou expressões-chave usadas foram: drenagem urbana;
desenho urbano sensível à água; controle sustentável de águas urbanas; urban flooding control; urban flash
flooding control; urban sustainable hydrology; water sensitive urban design.
Dentre os materiais produzidos na Austrália, destaca-se o Manual Técnico de Desenho Urbano
Sensível à Água para a Região da Grande Adelaide (Department of Planning and Local Government, 2009)
pelo volume de informações nele apresentado, oferecendo um guia bastante completo para implementação de
medidas de “desenho urbano sensível à água”.
Sendo assim, o método aqui aplicado consiste em identificar essas medidas, relacionando-as a critérios
que demonstrem se os objetivos propostos pelo presente trabalho foram atendidos. Para tanto, fez-se
necessário determinar e descrever tais critérios.

3.1. Critérios para análise de estratégias de “desenho urbano sensível à água”


Os critérios considerados foram definidos a partir do estudo sobre as estratégias propostas no Manual
Técnico de Desenho Urbano Sensível à Água para a Região da Grande Adelaide (Department of Planning
and Local Government, 2009), destacando-se suas possibilidades de aplicação relacionadas ao tempo,
espaço, agentes participativos e investimentos.

3.1.1. Escalas de aplicação


Tendo como objetivo a identificação de medidas de desenho urbano sensível à água que possam ser adotadas
de forma menos institucional, ou seja, sem que dependam necessariamente do tempo político e da iniciativa

531
pública, tendo o usuário como possível agente executor, inclusive, faz-se necessária a identificação das
possíveis escalas de aplicação:
• Escala do lote: refere-se ao lote individual, com uso habitacional ou não, que pode abrigar
tanto uma habitação unifamiliar, como uma multifamiliar ou edifício multiuso;
• Escala de quarteirão: estabelece relação entre lotes individuais e a via;
• Escala de bairro: refere-se à análise da relação entre mais de um quarteirão e suas vias,
estabelecendo um sistema de captação de água e efluentes.

3.1.2. Participatividade
Representa a possibilidade da participação da comunidade no processo de decisão de implementação de
determinada medida. Pressupõe empoderamento comunitário criado através de informações compartilhadas
entre população e técnicos, do setor público ou não, entendendo-se o termo “comunitário” como sendo o que
se relaciona a todos os possíveis envolvidos na gestão de determinada área.

3.1.3. Agentes
Remete aos possíveis responsáveis pela implementação da medida escolhida. Nesse trabalho, o agente não é
considerado, necessariamente, o executor direto da medida, podendo ser aquele que gerencia sua
implementação, sendo:
• Público: caso a gestão aconteça através do setor de serviços públicos e suas concessionárias;
• Privado: caso o gestor seja um líder comunitário, uma associação de moradores, o próprio
morador ou um empresário.
A importância desse critério de análise dá-se ao fato de refletir a possibilidade de apropriação do
espaço público pelo usuário de maneira estendida, ou seja, não apenas como quem usufrui, mas como quem
também o constrói e mantém.

3.1.4. Fontes de investimentos


Trata-se de uma análise das possibilidades de origem de investimento para a implementação de determinada
medida. Tal análise baseia-se, principalmente, na possível escala de aplicação da intervenção, considerando-
se não apenas o aporte financeiro, mas, também, a infraestrutura física e de mão de obra necessários para a
realização da proposta.

3.1.5. Objetivos alcançados


Refere-se à possibilidade de atendimento pela determinada medida de cada um dos objetivos listados. A
escolha de tais objetivos baseia-se naqueles estabelecidos no Manual Técnico de Desenho Urbano Sensível à
Água para Região da Grande Adelaide (Department of Planning and Local Government, 2009) e que podem
produzir efeito na resolução de problemas de áreas urbanas consolidadas, mitigando as consequências da
alteração do ciclo natural da água, bem como das mudanças climáticas no meio urbano:
• Reduzir riscos de inundação;
• Prevenir erosão;
• Melhorar a saúde pública e segurança;
• Restaurar e conservar as condições ambientais;
• Criar vizinhanças mais atrativas e habitáveis;
• Realçar os valores culturais e sociais da paisagem urbana;
• Melhorar o uso dos espaços abertos e realçar as oportunidades de recreação;
• Melhorar a consciência ambiental da comunidade.

4. ESTRATÉGIAS DE DESENHO URBANO SENSÍVEL À ÁGUA


4.1. Redução de demanda
Segundo o Department of Planning and Local Government (2009), o volume d’água necessário para
satisfazer as necessidades dos consumidores, somadas às perdas e desperdícios, pode ser reduzido através de
mudanças comportamentais, da tecnologia e do design.
Algumas das medidas que representam essa estratégia são:
• Uso de equipamentos mais eficientes;

532
• Uso de dispositivos, como aeradores nas torneiras;
• Boa manutenção das instalações;
• Redução de uso da água da rede para irrigação com medidas como seleção de plantas,
limitação da extensão de gramados, proteção contra sol e vento e fontes alternativas de água;
• Educação ambiental.

4.2. Tanque de chuva


Tanques de chuva captam e armazenam a água através de calhas ou tubos de queda.
Segundo o Department of Planning and Local Government (2009), sua principal função é a
conservação d’água, porém é também uma medida que exerce importante contribuição para a redução do
escoamento superficial (CORMIER; PELLEGRINO, 2008). A Figura 2 apresenta exemplos de tanques de
chuva.

Figura 2 – Exemplos de tanques de chuva: no sentido horário, tanque de chuva metálico, de concreto, plástico e “bexiga”.
Fonte: Department of Planning and Local Government (2009).

4.3. Jardim de chuva


Jardins de chuva são depressões topográficas rasas que recebem o excesso de escoamento de água pluvial de
telhados e outras construções, permitindo a infiltração, o que colabora para a recarga do lençol freático e
redução do pico de fluxo de concentração de chuvas (Department of Planning and Local Government, 2009,
p. 299).
A escolha das espécies para serem plantadas deve considerar sua ocorrência natural em área úmidas e
alagadas, como pântanos.
Além disso, deve-se considerar o volume de chuva a ser infiltrado para que não haja concentração de
água excessiva que favoreça a proliferação de mosquitos, havendo a possibilidade de projetar os jardins para
gerenciar os menores e maiores eventos pluviais.
O jardim de chuva, conforme mostrado na Figura 3, é uma opção para reabilitação de áreas e suas
instalações são simples de serem realizadas, com exceção da possível conexão de mecanismos de
transbordamento para a rede pública de águas pluviais, que deve ser feito pelo serviço público responsável.

Figura 3 – Esquema de jardim de chuva. Fonte: Cormier e Pellegrino (2008).

533
4.4. Telhado Verde
Telhados verdes são coberturas vegetais
plantadas compostas de uma série de camadas
(vegetação, substratos, camada de drenagem).
Absorvem águas das chuvas, reduzindo o
volume de escoamento, além de contribuir para
o arrefecimento térmico das edificações
(Department of Planning and Local
Government, 2009, p. 308).
A Figura 4 apresenta um corte típico de
telhado verde. Figura 4 – Corte típico de telhado verde. Fonte: Department
of Planning and Local Government (2009).

4.5. Sistemas de infiltração


Sistemas de infiltração consistem, geralmente,
em valas superficialmente escavadas, projetadas
para deter, e reter, um determinado volume de
escoamento e infiltrar a água armazenada nas
terras circundantes (Department of Planning
and Local Government, 2009, p. 318).
A Figura 5 apresenta um esquema de
trincheira de infiltração como exemplo de
sistema de infiltração.

Figura 5 – Trincheira de infiltração. Fonte: Rossi (2012).

4.6. Pisos Permeáveis


De acordo com o Department of Planning and
Local Government (2009), os pisos permeáveis
são estruturas de pavimento permeável à água e
podem ser classificados como:
• Pavimento poroso: composto por
material de alta porosidade;
• Pavimento permeável: composto
por blocos impermeáveis
arranjados de forma a permitir a
infiltração por ranhuras verticais
ou tubos com cascalho.
A Figura 6 representa uma seção típica de
Figura 6 – Pisos urbanos drenantes. Fonte: Marchioni e Silva (2011).
piso permeável.

534
4.7. Coleta e reuso de água urbana
A coleta e reuso de água são indicados para usos
não potáveis, como descarga de vasos
sanitários, lavagem de passeios e veículos, e
irrigação de áreas verdes públicas ou privadas.
A Figura 7 mostra um exemplo.

Figura 7 – Esquema de coleta de água de chuva, reservatórios e usos


em uma residência. Fonte: adaptado de culturamix.com

4.8. Sistemas de biorretenção


De modo geral, sistemas de biorretenção
são medidas que envolvem algum
tratamento por vegetação antes da filtragem
do escoamento, processando uma limpeza
da água da chuva.
Um sistema de biorretenção está
representado na Figura 8, com um esquema
de biovaleta ou valeta de biorretenção
vegetada.

Figura 8 – Esquema de biovaleta ou valeta de biorretenção vegetada.


Fonte: Cormier e Pellegrino (2008).

5. RESULTADOS
O Quadro 2 apresentado a seguir demonstra a relação das estratégias de “desenho urbano sensível à água”
selecionadas a partir do Manual Técnico de Desenho Urbano Sensível à Água para Região da Grande
Adelaide (Department of Planning and Local Government, 2009) com os critérios descritos anteriormente.
As indicações feitas sobre cada estratégia (“Aplica-se” ou “Não se aplica”) foram baseadas nas
informações coletadas, prioritariamente, naquele Manual e no material sobre “soluções baseadas na
natureza” (WWAP/ UM-WATER, 2018), levando-se em conta, ainda, outros trabalhos referenciados ao
longo dessa pesquisa como forma de validação das informações assim colhidas.
As relações criadas pelo cruzamento das informações contidas no Quadro 2 demonstram que todas as
estratégias são aplicáveis na escala do lote, havendo a possibilidade de serem tratadas em processos
participativos e sendo implementadas pelo serviço público ou pelos próprios cidadãos, considerando-se que
os investimentos também podem partir do setor privado, não dependendo exclusivamente da iniciativa
pública.
A única estratégia considerada como não aplicável na escala de quarteirão é a de telhado verde. Já na
escala de bairro, além do telhado verde, não são reconhecidas como aplicáveis os tanques de chuva, os pisos
permeáveis e coleta e reuso de água urbana.
Finalmente, sobre os objetivos alcançados, percebe-se maior atendimento, mais uma vez, pelas
estratégias relacionadas à paisagem urbana: jardim de chuva, sistemas de infiltração e sistemas de
biorretenção. Nesse critério, nota-se que a redução de demanda é a medida que menos atende aos objetivos

535
propostos, mas ainda está relacionada aos objetivos de conservação e consciência ambiental, o que faz com
que tal medida seja de grande valia.

Quadro 2 – Quadro analítico de estratégias de “desenho urbano sensível à água”

Fonte: Elaborado o pelas autoras, 2018.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho objetivou identificar quais medidas de “desenho urbano sensível à água” seriam as mais
indicadas para serem implementadas em ambientes urbanos construídos e consolidados, no qual houvesse a
possibilidade de aplicação de tais estratégias pela própria população. Isso porque buscou-se desvincular sua
execução do tempo político, bem como do orçamento público, que frequentemente impossibilitam que certos
programas prossigam ou sejam executados adequadamente.
Os resultados obtidos no Quadro 2 permitiram concluir que todas as estratégias apresentadas poderiam
ser aplicadas, sendo as relacionadas à paisagem urbana (jardim de chuva, sistemas de infiltração e sistemas
de biorretenção) mais impactantes por atingirem maior número de objetivos.
No entanto, a primeira necessidade a ser suprida relaciona-se à conscientização ambiental sobre o bem
público. Acredita-se que isso pode acontecer, assim como o necessário compartilhamento de informações
técnicas, através de processos participativos que são importantes ferramentas para a apropriação da cidade,
assim como de seus problemas, pela população.
Nesse contexto, pequenas intervenções, como a execução de jardins em lotes individuais, ou apenas
mudanças de comportamento, como as relacionadas a redução de demanda de água potável, poderiam gerar
tantos ou mais frutos do que grandes obras de infraestrutura, pois são capazes de formar novas maneiras de
compreender e compartilhar o meio urbano.
Porém, tais intervenções não podem ser tratadas como soluções para todas as questões relacionadas à
gestão hídrica nas cidades, mas é necessário que um tema tão importante e impactante no cotidiano das
populações urbanas, principalmente das economicamente menos favorecidas, seja tratado com apropriação,
gerando consciência do que cada um, enquanto cidadão, pode fazer para tornar o ambiente urbano mais
amigável e habitável.
Além disso, é imprescindível considerar, como deixa claro o Manual Técnico de Desenho Urbano
Sensível à Água para Região da Grande Adelaide (Department of Planning and Local Government, 2009),
que a eficácia das medidas de “desenho urbano sensível à água” está diretamente relacionada a uma
combinação de estratégias, que deverá estar de acordo com as necessidades e potencialidades de cada local.
Por fim, considera-se que, para que seja possível uma análise de cada localidade, assim como o
estabelecimento da específica combinação de estratégias a serem aplicadas, o conhecimento das etapas do

536
processo (técnicas e as burocráticas) para a sua efetiva implementação, seria de extrema valia a existência de
um guia, ou roteiro, que proporcionasse um direcionamento aos agentes responsáveis.
Sugere-se para futuros trabalhos, portanto, o desenvolvimento de material técnico de apoio para a
implementação de estratégias de “desenho urbano sensível à água” para uma municipalidade.

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537
DESENVOLVIMENTO DO ANO METEOROLÓGICO TÍPICO PARA A
ESTAÇÃO METEOROLÓGICA DO INMET DE COPACABANA NA
CIDADE DO RIO DE JANEIRO
Marco Antonio Milazzo de Almeida (1); Virgínia Maria Nogueira de Vasconcellos (2)
(1) Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Arquiteto, milazzo@ufrj.br
(2) Doutora, Professora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Arquiteta,
virginia.vasconcellos@gmail.com
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Av. Pedro Calmon, 550, sala 433, Prédio da Reitoria, Ilha do
Fundão, Rio de Janeiro, RJ, CEP 21941-590 , tel.: + 55 (21) 3938-1661 , + 55 (21) 3938-1662

RESUMO
O Ano Meteorológico Típico (TMY) é uma das bases de dados utilizada, mundialmente, no desenvolvimento
de simulações térmicas de edificações, sistemas de condicionamento de ar e de energia solar. Também pode
ser aplicado à análise do conforto higrotérmico em espaços externos. Nos últimos anos, as novas estações
meteorológicas instaladas no Brasil, puderam disponibilizar informações climáticas para a criação dos TMY,
caracterizando melhor a diversidade dos climas no País. O objetivo deste estudo é apresentar,
detalhadamente, o desenvolvimento do Ano Meteorológico Típico (TMY e TMY2), utilizando o Método
Sandia, na base de dados da Estação Meteorológica Automática do Inmet, do Bairro de Copacabana, na
Cidade do Rio de Janeiro. Neste método, para cada mês do ano, é selecionado um, aquele que apresenta o
menor desvio da função de distribuição acumulada, entre todo o período, no conjunto de dados climáticos
disponíveis da Estação. O resultado se mostrou muito adequado, permitindo a construção de uma base de
dados próxima dos valores médios de todo o período, e descartando os valores considerados atípicos. Ao se
comparar a base de dados desenvolvida por este estudo com a base existente da Estação do Aeroporto Santos
Dumont, foram encontradas diferenças significativas entre os valores de seus elementos climáticos,
apontando a necessidade da utilização de bases mais adequadas, que caracterizem com maior precisão, os
diferentes climas da cidade. Espera-se que o procedimento aqui apresentado possa ser aplicado a outras bases
de dados.
Palavras-chave: ano meteorológico típico, estações meteorológicas, dados climáticos, Rio de Janeiro

ABSTRACT
The Typical Meteorological Year (TMY) is one of the databases used worldwide for the development of
thermal simulations of buildings, HVAC systems and solar energy. It can also be applied to hygrothermal
comfort analysis in outdoor spaces. In recent years, new weather stations in Brazil have been able to provide
weather information for the creation of TMY, better characterizing the climate diversity in the country. The
objective of this study is to present in detail the development of the Typical Meteorological Year (TMY and
TMY2), using the Sandia method, using Inmet Automatic Meteorological Station, from Copacabana, Rio de
Janeiro. Using a spreadsheet software, a typical month is selected for each month of the year, which presents
the smallest deviation from the long-term cumulative distribution function. The method fits the construction
of a database close to the mean values of the whole period, and discarding atypical values. Significant
differences were found comparing the developed Copacabana database with Santos Dumont Airport Station
Database, indicating the necessity of using more adequate databases, which characterize more accurately the
different cities climates. It is expected that the procedure presented here can be applied to other cities
databases.
Keywords: Typical Meteorological Year, Meteorological Stations, Weather Databases, Rio de Janeiro

538
1. INTRODUÇÃO
Os dados climáticos de uma localidade são fundamentais para uma série de aplicações, como na agricultura,
previsão do tempo, na determinação do potencial de energia solar e eólica, na estimativa de consumo
energético nas edificações, no conforto higrotérmico em ambientes construídos, entre outras aplicações. As
variáveis climáticas são alteradas a cada ano, sendo que, muitas vezes, estas alterações são bastante
significativas. Para garantir uma maior confiabilidade nos resultados de estudos e simulações, é
recomendado que se estabeleça um ano meteorológico típico, que passe a representar as condições climáticas
mais recorrentes na localidade avaliada.
A Sociedade Americana de Engenheiros de Aquecimento, Refrigeração e Condicionamento de Ar
(ASHRAE) recomenda dois métodos para o desenvolvimento de um ano climático típico para a realização de
simulações: o Test Reference Year (TRY) e o Typical Meteorological Year (TMY) (ASHRAE, 2003). O
modelo TRY possui uma metodologia de desenvolvimento simples e é muito utilizada no Brasil, porém
pouco representativa, pois seleciona, integralmente, um ano mais significativo dentro do período estudado. O
modelo TMY é uma metodologia mais complexa, muito utilizada internacionalmente, e que caracteriza
melhor os elementos climáticos típicos de uma certa região, pois conjuga os meses mais significativos de
diferentes anos, não constituindo, portanto, um ano real. (RUDUKUS E LEŠINSKIS, 2015; MAKLAD,
2014; OHUNAKIN ET.AL., 2013; LUIZ ET.AL., 2012; JIANG, 2010; KALOGIROU, 2003). Dentre os
diversos métodos existentes, para montar o TMY, o método utilizado pelo presente trabalho foi desenvolvido
por Hall et.al. (1981) para o Sandia National Laboratories, do Novo México, EUA. Por este motivo, é
denominado método Sandia, e foi utilizado por Roriz (2012) para o desenvolvimento de uma série de TMYs
para os dados de estações meteorológicas brasileiras, porém a metodologia detalhada utilizada pelo autor não
foi publicada.
Dentre as redes de estações meteorológicas existentes no Brasil, o sistema do Inmet (Instituto
Nacional de Meteorologia) apresenta dados de estações convencionais desde 1960, e dados de estações
automáticas (EMAs) desde 2007. As estações meteorológicas automáticas são muito novas, mas já
disponibilizam onze anos completos de medições, fornecendo importantes informações das características
climáticas de diversas regiões. Apesar de ser a rede mais ampla e com maior quantidade de dados
disponíveis no Brasil, os dados fornecidos necessitam de correções e complementações, e a maioria das
estações não realizam medições da nebulosidade do céu e da radiação difusa. As estações automáticas do
Inmet instaladas a partir do ano de 2007 usualmente fornecem dados horários de temperatura média, máxima
e mínima (°C), umidade relativa média, máxima e mínima(%), temperatura de ponto de orvalho média,
máxima e mínima (°C), velocidade do vento média (m/s), direção do vento (angular), rajadas de vento (m/s),
radiação acumulada horária (radiação global horizontal em kJ/m²) e precipitação acumulada horária
(milímetros), medidos relativamente as Coordenadas Universais de Tempo (UTC).

2. OBJETIVO
O presente artigo tem como objetivo apresentar, de forma detalhada, o desenvolvimento do Ano
Meteorológico Típico (TMY e TMY2) para os dados da Estação Meteorológica Automática do Inmet em
Copacabana, Rio de Janeiro, entre os anos de 2007 e 2018, gerando uma base de dados com as características
típicas do clima local, que possa ser utilizada em simulações.

3. ÁREA DE ESTUDO
O Bairro de Copacabana, espremido entre o mar e a montanha, é um bairro bastante consolidado que apesar
dos 4,5 km de litoral, com um grande faixa livre (Avenida Atlântica), tem uma malha urbana consolidada e
apresenta altas densidades (construída e populacional). A Estação Meteorológica do Inmet do Forte de
Copacabana está localizada em um ponto estratégico, livre da interferência das edificações, em espaço
aberto, em uma pequena península entre as praias de Copacabana e Arpoador, nas coordenadas 22.988286º
de latitude Sul e 43.190436º, de longitude Oeste, numa altitude de 26 metros. A estação iniciou seu
funcionamento em julho de 2007, possuindo, portanto, 11 anos e 6 meses de dados disponíveis, até o final do
ano de 2018.

4. MÉTODO
4.1. Análise e Correção da Base de Dados
Os dados brutos, da Estação Meteorológica Automática de Copacabana, foram fornecidos em arquivo digital,
pelo Inmet, corrigidos e complementados utilizado o software Microsoft Excel 2016. Os dados foram

539
testados pelos processos de controle de Shafer e Hughes (1996), pelos testes de consistência interna
recomendados pela Organização Mundial de Meteorologia (Zahumenský, 2004), e os valores de precipitação
foram comparados com os dados da Estação Pluviométrica de Copacabana da Prefeitura do Rio de Janeiro.
Os dados reprovados pelos testes e os dados ausentes foram corrigidos ou interpolados.
Tanto para a inserção de dados em grande parte dos softwares de simulação, quanto para uma análise
mais detalhada da influência da radiação, na temperatura dos ambientes externos e internos, é importante
determinar os componentes de radiação direta e difusa. Segundo Rangarajan et. al (1984), é possível calcular
essas duas variáveis pela mediação da nebulosidade. Porém, a maioria das estações meteorológicas do Inmet
só mede a radiação global no plano horizontal e não mede a nebulosidade. A decomposição da radiação
global pode ser feita por cálculos, comparando a radiação direta teórica com a radiação medida. Para esta
determinação, foram realizados os cálculos pelo método de Munner (1997), utilizado por Roriz (2012), que
comprovou apresentar os melhores resultados para locais de clima quente.

4.2. Montagem no Ano Meteorológico Típico


No método para elaboração do TMY, deve ser escolhido um único mês típico, para cada mês do ano, dentro
do conjunto total de meses disponíveis, dentro de todo o período analisado. Assim, no conjunto de 11 anos
completos, mais os seis meses do ano de 2007, disponíveis da Estação Meteorológica de Copacabana, deve
ser escolhido o mês de janeiro mais representativo dentro do conjunto de 11 meses disponíveis, e assim por
diante. O resultado final apresentará 12 meses inteiros reais, escolhidos dentro do conjunto de 138 meses
disponíveis, com as suas descontinuidades suavizadas por interpolações realizadas nos 6 dados horários
iniciais e finais de cada mês, para todos os elementos climáticos.
Para a escolha dos 12 meses que compõem o TMY, devem ser analisados os valores médios diários,
obtidos a partir dos valores horários, da Temperatura de Bulbo Seco Média, Máxima e Mínima, a
Temperatura de Ponto de Orvalho Média, Máxima e Mínima, a Velocidade do Vento Média e Máxima, e a
Radiação Solar Total Global. Este trabalho desenvolve, além do TMY, uma atualização do método,
denominado TMY2, desenvolvida por Marion e Urban (1995), onde, além dos dados climáticos utilizados
para o TMY, deve ser incluída a Radiação Solar Direta Total Diária. Todos os cálculos para obtenção dos
meses que compõem o TMY e o TMY2 foram realizados utilizando o Software Microsoft Excel 2016.
Para o início do processo de seleção dos meses típicos, é necessário construir, para cada elemento
climático, as Funções de Distribuição Acumuladas (FDAs), para cada mês de cada ano do período total,
denominadas médias diárias “short-term”. Também devem ser construídas as Funções de Distribuição
Acumuladas (FDAs) denominadas médias diárias “long-term”, compostas por todas as médias diárias dos
dias pertencentes a um mês específico de todos os anos do período. As FDAs descrevem a distribuição da
probabilidade de alguma variável, e são calculadas da seguinte forma: seja N o número de dias em um
determinado mês, então, para o parâmetro dado, temos N valores no mês. Portanto, a probabilidade de o
parâmetro assumir qualquer valor diário é 1 / N. O primeiro passo no cálculo do FDA é classificar os dados
em ordem crescente. Depois, o cálculo para o FDA de um determinado valor é obtido pela Equação 1.

(𝑗−0,5)
𝐹𝐷𝐴𝑗 = , 𝑗 = 1,2,3,4, … 𝑁 Equação 1
𝑁

Onde:
FDA é o valor da função de distribuição acumulada de um elemento climático
j é o índice do elemento, dentro do conjunto de elementos ordenados
N é o número total de elementos

O mês de janeiro possui 31 dias, portanto, para a montagem do “short-term” FDA deste mês
específico, os valores de j serão de 1 a 31, e o seu respectivo FDA1 = (1-05)/31=0,01344, FDA2=(2-
0,5)/31=0,04032, FDA3=(3-0,5)/31=0,06720, e assim consecutivamente. Para a montagem do “long-term”
FDA do mês de janeiro de todos os anos, considerando que estamos trabalhando com 11 anos, a base de
dados terá, portanto, 372 dias. Os valores de j serão de 1 a 372, e o seu respectivo FDA 1=(1-
05)/372=0,0001344, FDA2=(2-0,5)/372=0,004032, FDA3=(3-0,5)/372=0,006720, e assim consecutivamente,
até FDA372=(372-0,5)/372=0,099861.
Com as planilhas “short-term” e “long-term” montadas, para cada um dos meses do ano, calculamos
os valores da estatística de Finkelstein-Schafer (FS), que compara a somatória de todas as diferenças
absolutas entre as duas curvas, e pode ser definida pela Equação 2.

540
1
FSj = ∑𝑛𝑖=1 𝛿𝑖 , Equação 2
𝑛
Onde,
FS é o valor da estatística de Finkelstein-Schafer
j é o índice de um determinado elemento climático
n é a quantidade total de dias no determinado mês
δi é a diferença absoluta entre os valores da curva “long-term” e da curva “short-term”
i é o número do dia do mês
Quanto menor for o valor calculado para FS, mais próximos estão os valores, das duas curvas que
estão sendo comparadas. É calculado um valor de FS para cada elemento climático, para cada mês, de cada
ano analisado. Para a montagem do TMY teremos 9 elementos, 12 meses e 12 anos, totalizando o cálculo de
1.296 valores para FS. Para a montagem do TMY2 teremos 10 elementos, 12 meses e 12 anos, totalizando o
cálculo de 1.440 valores para FS. Marion e Urban (1995) definem diferentes pesos, para cada elemento
climático, no desenvolvimento do TMY e TMY2, assim, cada um dos valores encontrados de FS deve ser
multiplicado pelo seu respectivo peso, apresentados nas tabelas 1 e 2. Após esta multiplicação, todos os
valores, de um determinado mês, devem ser somados, de acordo com a Equação 3. Teremos um valor de WS
para cada mês de cada ano analisado. Analisando todos os valores de cada ano, para um determinado mês, o
que apresentar menor WS será selecionado para fazer parte do TMY.

WS = ∑𝑚
𝑗=1 𝑊𝑗 𝑥 𝐹𝑆𝑗, Equação 3
Onde,
WS é a soma dos índices de um determinado mês multiplicado pelo seu respectivo peso
Wj é o peso atribuído ao respectivo FSi
FSj é o valor da estatística de Finkelstein-Schafer
j é o índice do elemento climático de um determinado mês
m é a quantidade de elementos climáticos utilizados no cálculo

Tabela 1 – Pesos das Estatísticas FS de cada Elemento Climático para o TMY (MARION e URBAN, 1995)
Parâmetro Peso
Temperatura de Bulbo Seco Máxima 1/24
Temperatura de Bulbo Seco Mínima 1/24
Temperatura de Bulbo Seco Média 2/24
Temperatura de Ponto de Orvalho Máxima 1/24
Temperatura de Ponto de Orvalho Mínima 1/24
Temperatura de Ponto de Orvalho Média 2/24
Velocidade Máxima do Vento 2/24
Velocidade Média do Vento 2/24
Radiação Global 12/24

Tabela 2 – Pesos das Estatísticas FS de cada Elemento Climático para o TMY2 (MARION e URBAN, 1995)
Parâmetro Peso
Temperatura de Bulbo Seco Máxima 1/20
Temperatura de Bulbo Seco Mínima 1/20
Temperatura de Bulbo Seco Média 2/20
Temperatura de Ponto de Orvalho Máxima 1/20
Temperatura de Ponto de Orvalho Mínima 1/20
Temperatura de Ponto de Orvalho Média 2/20
Velocidade Máxima do Vento 1/20
Velocidade Média do Vento 1/20
Radiação Global 5/20
Radiação Direta 5/20
Cada elemento climático pode ser considerado mais ou menos importante, dependendo para qual
aplicação será utilizado o arquivo TMY. No TMY2, as temperaturas do bulbo seco e do ponto de orvalho
possuem uma ênfase maior que a velocidade do vento, que é de menor importância para os sistemas de
conversão de energia solar e para a análise térmica em edifícios (MARION e URBAN, 1995).

5. RESULTADOS
A etapa de análise dos dados brutos, da Estação Meteorológica de Copacabana, identificou 7,41% de dados
ausentes, e 7,88% de dados reprovados pelos testes de consistência. Os cálculos e procedimentos de

541
interpolação permitiram correção de grande parte dos dados, porém, o período de julho de 2009 a julho de
2010 apresentou muitas inconsistências, e por este motivo, os meses deste período, se fossem selecionados,
não seriam utilizados na formação do ano meteorológico típico.
Para o cálculo dos valores de FDA, para as curvas “long-term”, foi criada uma planilha, com todos os
valores dos 10 elementos climáticos, para cada mês do período analisado, em ordem crescente, totalizando
12 planilhas. Parte da planilha, com os valores para o mês de novembro, está apresentada na tabela 3.

Tabela 3 – Tabela parcial com os elementos climáticos, em ordem crescente, para o mês de novembro, de todos os anos do período
analisado, e os seus respectivos valores de FDA.
T Ponto T Ponto T Ponto Veloc. Veloc.
Temp. Temp. Temp. Radiação Radiação
FDA Orv. Orv. Orv. Vento Vento
Média Máxima Mínima Global Direta
Média Máxima Mínima Média Máxima
0.00139 18.43 19.40 16.10 13.59 16.00 10.40 0.78 3.80 2618.44 12.16
0.00417 18.46 19.80 16.90 14.04 16.40 10.50 0.95 4.00 2634.45 12.52
0.00694 18.61 20.80 17.50 14.11 16.50 11.00 1.08 4.00 3238.94 20.51
0.00972 19.27 21.10 17.50 14.26 16.60 11.00 1.09 4.30 3421.01 20.89
0.01250 19.31 21.30 17.60 14.53 16.80 11.50 1.10 4.30 3473.65 22.38
0.01528 19.35 21.40 17.61 14.91 17.00 11.90 1.12 4.40 3488.25 22.64
0.01806 19.36 21.50 17.62 14.97 17.70 12.00 1.14 4.50 3673.01 23.54
0.02083 19.39 21.52 17.70 15.00 17.80 12.20 1.18 4.70 3692.78 25.84
0.02361 19.45 21.60 17.71 15.07 18.00 12.20 1.19 4.70 3803.57 28.52
0.02639 19.52 21.80 17.72 15.83 18.15 12.60 1.22 4.80 3849.46 31.48
0.02917 19.55 21.90 17.73 15.85 18.20 12.90 1.22 4.80 4017.60 34.26
0.03194 19.58 22.00 17.80 15.95 18.20 13.20 1.23 4.90 4054.68 34.32
0.03472 19.62 22.10 17.90 15.96 18.23 13.30 1.23 5.00 4060.31 37.27
0.03750 19.77 22.30 18.00 15.97 18.30 13.40 1.24 5.10 4535.55 40.27
0.04028 19.83 22.30 18.00 16.36 18.50 13.50 1.27 5.20 4598.92 44.97
0.04306 19.92 22.30 18.10 16.43 18.50 13.50 1.27 5.20 4647.73 54.42
0.04583 20.13 22.40 18.10 16.49 18.50 13.60 1.27 5.20 5355.69 55.10
0.04861 20.13 22.50 18.10 16.50 18.50 13.90 1.28 5.30 5387.99 63.07
0.05139 20.16 22.60 18.10 16.63 18.60 13.90 1.28 5.40 5666.46 85.20
0.05417 20.21 22.70 18.10 16.68 18.60 13.90 1.29 5.50 5904.70 87.06
0.05694 20.29 22.70 18.10 16.69 18.70 13.90 1.32 5.50 5944.14 105.48
0.05972 20.30 22.80 18.10 16.78 18.70 14.00 1.33 5.60 6033.68 113.63
0.06250 20.32 22.90 18.10 16.82 18.80 14.10 1.33 5.60 6093.02 113.85
0.06528 20.36 23.00 18.10 16.82 18.81 14.10 1.35 5.80 6128.39 118.00

Posteriormente, foi criada uma planilha para cada mês, de cada ano, totalizando 144 planilhas,
utilizando o mesmo processo para o FDA das curvas “short-term”. Parte da planilha, com os valores para o
mês de novembro de 2007, está apresentada na tabela 4.

Tabela 4 – Tabela parcial com os elementos climáticos, em ordem crescente, para o mês de novembro do ano de 2007, e os seus
respectivos valores de FDA.
T Ponto T Ponto T Ponto Veloc. Veloc.
Temp. Temp. Temp. Radiação Radiação
FDA Orv. Orv. Orv. Vento Vento
Média Máx. Mín. Global Direta
Média Máx. Mín. Média Máx.
0.01667 19.58 21.90 17.70 15.95 18.80 12.90 1.27 4.00 2618.44 12.52
0.05000 20.13 22.50 18.10 16.43 19.20 13.20 1.62 4.70 3473.65 22.64
0.08333 20.82 23.40 18.30 17.02 19.40 13.50 1.84 6.20 6093.02 105.48
0.11667 20.86 23.80 18.60 17.14 19.70 14.50 1.94 6.60 6532.57 238.44
0.15000 20.97 24.30 18.90 17.33 19.90 14.50 2.10 6.90 6537.38 546.18
0.18333 21.43 24.60 19.20 17.71 19.90 14.90 2.13 7.00 7475.64 565.34
0.21667 21.62 24.70 19.50 18.28 20.00 15.40 2.24 7.40 8626.24 638.33
0.25000 21.68 25.10 19.60 18.53 20.10 16.00 2.25 7.80 9328.48 1823.12
0.28333 21.73 25.40 19.70 18.70 20.50 16.40 2.36 8.00 10940.82 2322.92
0.31667 22.02 25.40 19.80 18.70 20.90 16.50 2.53 8.40 14157.67 2365.20

Os valores dos elementos climáticos da primeira linha da planilha “short-term” (Tabela 4) devem ser
encontrados na planilha “long-term”, indicados em negrito na Tabela 3, e deve ser calculada a diferença entre
os seus respectivos valores de FDA. Deve ser feito o mesmo procedimento para cada uma das linhas
seguintes da planilha “short-term”, e todos os valores de FDA devem constituir uma terceira planilha. A
Tabela 5 apresenta os valores das diferenças dos FDAs, das 7 primeiras linhas da tabela 3 com o seu

542
correspondente na tabela 4. O valor da estatística de Finkelstein-Schafer (FS) de cada elemento climático,
para o mês de novembro de 2007, é a média aritmética de todos os valores de cada coluna da tabela 5.

Tabela 5 – Tabela parcial com a diferença absoluta, da primeira linha, entre o FDA de 2007 e o FDA de todo o período, para o mês
de novembro.
T Ponto T Ponto T Ponto Veloc. Veloc.
Temp. Temp. Temp. Radiação Radiação
Orv. Orv. Orv. Vento Vento
Média Máxima Mínima Global Direta
Média Máxima Mínima Média Máxima
0.01528 0.01250 0.00417 0.01528 0.04583 0.01250 0.02639 0.01250 0.01528 0.01250
0.00417 0.00139 0.00694 0.00694 0.03194 0.01806 0.05972 0.02917 0.03750 0.03472
0.02917 0.02361 0.00972 0.00694 0.01528 0.04306 0.12639 0.00139 0.02083 0.02639
0.00139 0.02083 0.00139 0.00694 0.00972 0.03472 0.12639 0.00417 0.04028 0.03194
0.01806 0.02639 0.02361 0.02639 0.01250 0.06806 0.15417 0.01250 0.06806 0.00972
0.02639 0.03472 0.04028 0.02917 0.04583 0.07639 0.13194 0.00139 0.08194 0.02083
0.02083 0.00972 0.04861 0.00417 0.06250 0.08472 0.15417 0.00694 0.06528 0.04583

Os valores das planilhas “short-term” e da planilha “long-term” podem ser apresentados, graficamente.
Na figura 1 estão representadas as curvas para o mês de novembro, de todos os anos, para a Temperatura
Média Diária.

Figura 1 – Curvas Short-Term de 2007 a 2018 e curva Long-Term, da Temperatura Média Diária para o mês de novembro
31
30
29
28
Temperatura (oC)

27
26
25
24
23
22
21
20
19
18
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Função de Distribuição Acumulada (FDA)
LongT 2007 2008 2009 2010
2011 2012 2013 2014 2015
2016 2017 2018

Neste exemplo, pode-se identificar que a curva para o ano de 2009 possui distribuição muito diferente
das outras. Essa característica da curva reforça os resultados obtidos no tratamento inicial dos dados, onde o
ano de 2009 apresentou uma quantidade grande de dados inconsistentes.
Foram montados os 24 quadros com as estatísticas de Finkelstein-Schafer (FS), multiplicadas pelos
seus respectivos pesos, para a montagens de TMY e TMY2. O quadro das estatísticas FS do mês de
novembro, e o seu somatório WS, para a montagem do TMY estão apresentados no Tabela 6, e para a
montagem do TMY2, estão apresentados no Tabela 7.

543
Tabela 6 – Valores da estatística de Finkelstein-Schafer (FS) multiplicados pelos seus respectivos pesos, e o total WS, para o mês de
novembro, para a montagem do TMY.
T Ponto T Ponto T Ponto Veloc. Veloc.
Temp. Temp. Temp. Radiação Total
Ano Orv. Orv. Orv. Vento Vento
Média Máxima Mínima Global WS
Média Máxima Mínima Média Máxima
2007 0.0031 0.0026 0.0012 0.0033 0.0018 0.0027 0.0109 0.0079 0.0384 0.0718
2008 0.0106 0.0057 0.0051 0.0057 0.0034 0.0033 0.0027 0.0047 0.0568 0.0980
2009 0.0343 0.0147 0.0180 0.0314 0.0163 0.0091 0.0035 0.0046 0.0646 0.1963
2010 0.0068 0.0029 0.0038 0.0208 0.0106 0.0091 0.0051 0.0053 0.0216 0.0859
2011 0.0215 0.0094 0.0114 0.0203 0.0110 0.0087 0.0135 0.0085 0.0189 0.1232
2012 0.0143 0.0060 0.0077 0.0095 0.0047 0.0040 0.0081 0.0030 0.0202 0.0775
2013 0.0103 0.0047 0.0084 0.0137 0.0077 0.0060 0.0040 0.0043 0.0505 0.1096
2014 0.0071 0.0025 0.0038 0.0064 0.0052 0.0022 0.0050 0.0067 0.0551 0.0941
2015 0.0135 0.0038 0.0098 0.0240 0.0108 0.0102 0.0030 0.0020 0.0535 0.1307
2016 0.0097 0.0029 0.0057 0.0062 0.0027 0.0029 0.0097 0.0085 0.0322 0.0805
2017 0.0043 0.0026 0.0034 0.0161 0.0073 0.0083 0.0025 0.0041 0.0260 0.0745
2018 0.0037 0.0023 0.0027 0.0095 0.0043 0.0037 0.0027 0.0030 0.0196 0.0515

Tabela 7 – Valores da estatística de Finkelstein-Schafer (FS) multiplicados pelos seus respectivos pesos, e o total WS, para o mês de
novembro, para a montagem do TMY2.
T Ponto T Ponto T Ponto Veloc. Veloc.
Temp. Temp. Temp. Rad. Rad. Total
Ano Orv. Orv. Orv. Vento Vento
Média Máx Mín Global Direta WS
Média Máx Mín Média Máx
2007 0.0018 0.0032 0.0028 0.0020 0.0021 0.0065 0.0065 0.0047 0.0192 0.0175 0.0663
2008 0.0064 0.0069 0.0122 0.0034 0.0041 0.0080 0.0016 0.0028 0.0284 0.0284 0.1022
2009 0.0206 0.0176 0.0431 0.0188 0.0196 0.0218 0.0021 0.0027 0.0323 0.0363 0.2149
2010 0.0041 0.0035 0.0090 0.0125 0.0127 0.0218 0.0031 0.0032 0.0108 0.0092 0.0898
2011 0.0129 0.0113 0.0274 0.0122 0.0132 0.0208 0.0081 0.0051 0.0094 0.0094 0.1299
2012 0.0086 0.0072 0.0185 0.0057 0.0057 0.0095 0.0049 0.0018 0.0101 0.0094 0.0813
2013 0.0062 0.0056 0.0202 0.0082 0.0092 0.0144 0.0024 0.0026 0.0252 0.0262 0.1203
2014 0.0043 0.0030 0.0090 0.0038 0.0063 0.0053 0.0030 0.0040 0.0276 0.0272 0.0935
2015 0.0081 0.0045 0.0235 0.0144 0.0129 0.0245 0.0018 0.0012 0.0268 0.0245 0.1423
2016 0.0058 0.0035 0.0137 0.0037 0.0032 0.0069 0.0058 0.0051 0.0161 0.0159 0.0797
2017 0.0026 0.0031 0.0081 0.0096 0.0088 0.0199 0.0015 0.0025 0.0130 0.0138 0.0828
2018 0.0022 0.0028 0.0065 0.0057 0.0052 0.0089 0.0016 0.0018 0.0098 0.0110 0.0555

Neste caso, os menores valores totais WS, para o mês de novembro, tanto para TMY, quanto para
TMY2, foram do ano de 2018. É possível verificar, que as diferenças entre os valores de WS, dos métodos
TMY e TMY2, são pequenas, e, consequentemente, alguns dos meses escolhidos para compor o TMY e o
TMY2 foram os mesmos. A seleção final dos anos utilizados para a composição do TMY e do TMY2 da
Estação Meteorológica Automática de Copacabana estão apresentadas na Tabela 8. Na tabela também foram
inseridos os anos selecionados do arquivo TMY da Estação Meteorológica Santos Dumont, arquivo
amplamente utilizado em simulações na Cidade do Rio de Janeiro, que utilizou os dados dos anos 2003 a
2017 (Climate One Building Org, 2019). Para a montagem do Ano Meteorológico Típico das duas estações,
os cálculos indicaram a extração dos meses em anos diferentes.

Tabela 8 – Seleção dos anos calculados para composição do TMY e do TMY2 da EMA Copacabana e do TMY da EM
Santos Dumont
EMA Copacabana EM Santos Dumont
MESES TMY TMY2 TMY
JANEIRO 2018 2018 2003
FEVEREIRO 2013 2015 2011
MARÇO 2015 2013 2005
ABRIL 2015 2013 2006
MAIO 2008 2008 2009
JUNHO 2018 2018 2017
JULHO 2011 2014 2007
AGOSTO 2013 2011 2012
SETEMBRO 2016 2016 2012
OUTUBRO 2013 2013 2003
NOVEMBRO 2018 2018 2016
DEZEMBRO 2015 2015 2003

Os valores dos elementos climáticos das bases de dados TMY de Copacabana e do Aeroporto Santos
Dumont também apresentam muitas diferenças. Na Figura 2 e 3 estão apresentadas as médias diárias da

544
Temperatura do Ar, do mês de junho e do mês de novembro respectivamente, do TMY da Estação
Meteorológica de Copacabana (Ano 2018 e 2015) e do TMY da Estação Santos Dumont (Ano 2017 e 2003),
onde é possível verificar diferenças de até 6oC para um mesmo dia.

Figura 2 – Temperaturas Médias Diárias do mês de junho do TMY da EMA Copacabana e do TMY da EM Santos Dumont
30
Temperatura (oC) 28

26

24

22

20

18
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

Dia
Copacabana 2018 Santos Dumont 2017

Figura 3 – Temperaturas Médias Diárias do mês de novembro do TMY da EMA Copacabana e do TMY da EM Santos
Dumont
32
30
Temperatura (oC)

28
26
24
22
20
18
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

Dia
Copacabana 2015 Santos Dumont 2003

6. CONCLUSÕES
O desenvolvimento do Ano Meteorológico Típico (TMY) é importante para as simulações do desempenho
térmico dos ambientes construídos e dos sistemas de energia, pois representa as características típicas da
região analisada. Atualmente, existem poucos arquivos TMY disponíveis para as cidades brasileiras, e para o
Rio de Janeiro, as simulações são feitas utilizando, principalmente, as informações da Estação do Aeroporto
Santos Dumont, que não caracterizam, adequadamente, a diversidade climática do Rio de Janeiro. Muitas
estações meteorológicas foram instaladas nos últimos 10 anos, permitindo a criação de bases que sejam mais
adequadas para simulações em diferentes regiões da cidade. Entretanto, as estações apresentam
inconsistências e falta de dados, montando-se poucos anos inteiros, e necessitam de um tratamento prévio.
O método Sandia foi utilizado neste trabalho, passo a passo, com ilustrações, e resultados
intermediários, para facilitar a compreensão do método, que poderá ser replicado para as outras estações
meteorológicas brasileiras. A aplicação deste método alcançou resultados satisfatórios para o
desenvolvimento de bases de dados TMY e TMY2, pois os dados meteorológicos selecionados se
aproximam muito das médias de todo o período, e os dados esporádicos foram naturalmente descartados.
Porém, os arquivos resultantes apresentam baixa representatividade estatística das ocorrências climáticas
históricas e poderão ser aperfeiçoados, na medida em que forem agregados períodos mais longos de registro.
O método também permite que sejam criadas bases de dados mais adequadas para aplicações específicas,
quando utilizado com diferentes pesos para cada elemento climático.
Os resultados encontrados mostram que as características do arquivo TMY desenvolvido para a
Estação Meteorológica Automática de Copacabana são diferentes dos dados do arquivo existente do TMY do

545
Aeroporto Santos Dumont, comprovando que não é adequado utilizar a mesma base de dados para as
simulações realizadas nas diferentes localidades da Cidade do Rio de Janeiro.
O avanço dos softwares de simulação e da capacidade de processamento dos computadores permite,
cada vez mais, o processamento de grandes quantidades de informação, e portanto, apesar do Ano
Meteorológico Típico (TMY) ser amplamente utilizado mundialmente, poderia ser substituído pela utilização
da base de dados completa, o que permitiria fazer uma análise , não só das características climáticas típicas
de uma certa localidade, como também de períodos com características climáticas extremas. Além disso,
com o aumento da temperatura global, períodos mais antigos poderiam ser descartados, pois podem estar
mascarando a realidade atual.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Disponível em: <http://climate.onebuilding.org/>. Acesso em: 03 jun. 2019.

AGRADECIMENTOS
Este trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -
Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.Agradecemos a colaboração dos pesquisadores Drury B.
Crawley e Spyridon P. Lykoudis.

546
DIRETRIZES BIOCLIMÁTICAS EM ÁREAS URBANAS CONSOLIDADAS,
UMA ANÁLISE PARA A CIDADE DE FORTALEZA
Ana Luiza Pinheiro Campêlo (1); Amando Candeira Costa Filho (2)
(1) Arquiteta, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Cidade, analucampelo@gmail.com
(2) Doutor, Professor do Mestrado em Ciências da Cidade, amandocosta@unifor.br
Universidade de Fortaleza, Mestrado de Ciências da Cidade, Laboratório de Conforto Ambiental

RESUMO
Este artigo busca analisar diretrizes bioclimáticas de projeto urbanístico e seus possíveis impactos ambientais
em áreas urbanas consolidadas, através da implementação de estratégias indicadas em outros estudos, tais
como: pocket parks, parklets, agricultura urbana, paredes verdes e arborização. A análise dessas táticas
urbanas será realizada através do estudo de um recorte na cidade de Fortaleza, permitindo verificar a situação
atual da ocupação e a viabilidade de implementação dessas estratégias, considerando possíveis melhorias
ambientais. Para tanto, o mapeamento da ocupação urbana, áreas livres e áreas verdes da cidade são
importantes no intuito de nortear a implantação das intervenções em áreas fragilizadas, compondo uma rede
conectada ao sistema de espaços livres e integrada ao microplanejamento urbano, considerando os princípios
do urbanismo bioclimático. Diante disso, os resultados alcançados apontam um incremento expressivo nas
áreas verdes e um pequeno acréscimo de áreas livres, revelando o potencial que as práticas urbanas
selecionadas podem desempenhar na promoção de melhorias ambientais em áreas urbanas consolidadas.
Palavras-chave: urbanismo bioclimático, desenho urbano, sistema de espaços livres.

ABSTRACT
This article aims to analyze bioclimatic guidelines of urban design and its possible environmental impacts in
consolidated urban areas, through the implementation of strategies indicated in other studies, such as: pocket
parks, parklets, urban agriculture, green walls and afforestation. The analysis of these urban tactics will be
accomplished through the study of a stretch in the city of Fortaleza, allowing to verify the current situation of
the occupation and the feasibility of implementing these strategies, considering possible environmental
improvements. In order to do so, the mapping of urban occupation, free areas and green areas of the city are
important in order to guide the implementation of interventions in fragile areas, forming a network connected
to the system of free spaces and integrated with urban micro-planning, considering the principles of
urbanism bioclimatic. Therefore, the results show a significant increase in green areas and a small increase in
free areas, revealing the potential that selected urban practices can play in promoting environmental
improvements in consolidated urban areas.
Keywords: bioclimatic urbanism, urban design, free space system.

547
1. INTRODUÇÃO
A paisagens urbanas se configuram com frequência, antagônicas às paisagens naturais, reforçando
equivocadamente o aspecto destruidor das cidades em relação à Natureza, como se cidade e Natureza não
pudessem dividir o mesmo espaço de maneira harmônica. Em pleno século XXI, o espaço urbano não
prioriza o meio ambiente e a qualidade de vida urbana, visando primordialmente o lucro. Em seu livro
Natureza e Cidade, Hough (1998, p. 12) afirma que: “os valores conservadores do desenho urbano
tradicional que moldaram a formação das paisagens das cidades, contribuíram muito pouco com a saúde do
meio ambiente e para o conceito de lugares civilizados e enriquecedores para se viver.”
Nesse sentido, percebe-se a necessidade de compreender a importante relação existente entre clima e
espaço urbano. “Trata-se de conhecer, com rigor e profundidade, as consequências ambientais sobre o
território e o clima que condicionaram as decisões acerca da classificação do solo, o traçado dos sistemas
gerais e o planejamento geral, o traçado da rede viária, o sistema de áreas verdes e espaços livres e as
ordenanças do edifício.” (HIGUIERAS, 2006, p. 174) A ilha de calor urbana consiste em consequência não
intencional da urbanização, decorrente da mudança humana do habitat urbano, dentre elas estão: a
impermeabilização, o grande número de edificações com materiais de construção de alta capacidade térmica
que aprisionam e armazenam a radiação incidente, além de uma atmosfera mais poluída absorver e refletir
mais calor. (ADLER, COLBY, 2015)
Diante disso, cidades de todo o mundo buscam reverter o quadro de degradação ambiental onde estão
inseridas, tentando executar diversas ações a fim de permitir o desenvolvimento urbano de modo sustentável,
impactando positivamente na qualidade de vida urbana. Nesse sentido, a prefeitura de Fortaleza tem
implementado programas como a Certificação Fator Verde, que tenta amenizar os impactos causados pela
construção civil, quer seja pelo consumo de recursos naturais, pela modificação da paisagem ou pela geração
de resíduos. (FORTALEZA, 2015)
Todavia, ainda há muito a ser feito no que tange à promoção da qualidade ambiental urbana, a
exemplo das intervenções para aumentar a área verde da cidade, cujo déficit é reflexo direto do processo de
urbanização e produção imobiliária que devastou significativamente grande parte de sua cobertura vegetal,
ignorando características naturais como fauna, flora, recursos hídricos e solo. (FORTALEZA, 2015)
Nesse contexto, a cidade de Fortaleza não alcançou um índice de adensamento de áreas verdes
considerado adequado, apresentando metragem insuficiente diante do recomendado pela OMS (Organização
Mundial de Saúde). (FORTALEZA, 2015) Portanto, é importante ressaltar que a vegetação desempenha
papel fundamental na melhoria da qualidade ambiental urbana, melhorando o microclima e regulando o ciclo
hidrológico, purificando o ar, dentre outros. Romero (2000) destaca que o desequilíbrio do meio provoca
consequências no que diz respeito ao conforto e salubridade das áreas urbanas, uma vez que o desenho
urbano vem desconsiderando os impactos que ocasiona ao ambiente. A autora afirma ainda que
características como topografia, revestimento do solo, ecologia, latitude, objetos tridimensionais e clima
devem orientar e condicionar as intervenções para o espaço urbano. (ROMERO, 2000)
Diante desse cenário, vale destacar a produção imobiliária como setor que interfere diretamente na
construção de um espaço urbano onde a mais valia se constitui em objetivo primordial, em detrimento da
preservação e respeito ao meio ambiente, desconsiderando muitas das características naturais presentes no
local. Percebe-se, ainda, uma outra questão que impacta na qualidade de vida urbana, a existência de vazios
urbanos, na malha da cidade, o que acarreta insegurança para a população, além da degradação ambiental
que esses espaços, em situação de abandono, podem apresentar.
Desse modo, a presente pesquisa possui natureza exploratória e visa propor diretrizes bioclimáticas
para orientar o desenho urbano em áreas consolidadas. Para tanto, um trecho será selecionado e algumas
alternativas já utilizadas em estudos por diversos autores, dentre eles Higuieras (2006), Djedjig, Bonzonnet e
Belarbir (2006), Maluf e Gonçalves (2015), serão definidas como possíveis estratégias de desenho urbano.
Essas estratégias representadas por: pocket parks, parklets, agricultura urbana, parede verde e arborização
serão analisadas com base nas diretrizes bioclimáticas, avaliando a possibilidade de adotá-las com o objetivo
de promover um desenho urbano adequado às características bioclimáticas e também à morfologia da cidade
de Fortaleza. O complexo sistema de espaços livres de Fortaleza, composto por áreas livres e áreas verdes,
será palco para essas intervenções.
Os resultados alcançados, diante da possível utilização das táticas urbanas, serão analisados através da
estimativa de cálculo referente ao incremento de áreas verdes e áreas livres que essas intervenções podem
provocar no espaço urbano. Apresenta as conclusões obtidas a partir da definição das estratégias e dos
resultados alcançados com a proposta para o recorte selecionado. E, ainda, enfrenta a dificuldade de
viabilizar soluções para as áreas urbanas consolidadas, onde os lotes ociosos se tornam cada vez mais
escassos e a densidade de ocupação do solo é alta.

548
2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é propor diretrizes bioclimáticas para a melhoria ambiental de áreas urbanas
consolidadas, através da implementação de estratégias de desenho urbano adequadas ao clima quente e
úmido.

3. MÉTODO
O método deste trabalho está dividido em três etapas principais, sendo a primeira delas a seleção de uma área
para estudo na cidade de Fortaleza. Por conseguinte, faz-se necessário o mapeamento da ocupação e seus
vazios urbanos, área verde e ventos dominantes do recorte selecionado. Para finalizar, a definição de
estratégias de desenho urbano capazes de gerar mudanças no microclima da cidade.

3.1. Seleção da área para estudo


A cidade de Fortaleza possui clima quente e úmido, classificada pelo Zoneamento Bioclimático como (Z8)
Zona 8, nessa área ocorrem pequenas variações de temperatura durante o dia, sendo os dias quente e úmidos.
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2003, p. 3) À noite, a temperatura é mais
amena e a umidade aumenta. Basicamente, existem somente duas estações bem definidas, sendo verão e
inverno e em virtude da umidade aumentada, a radiação difusa elevada é contida pela grande quantidade de
vapor d’água que se acumula nas nuvens, evitando a radiação direta intensa (ROMERO, 2000). A área para
estudo se caracteriza como área urbana consolidada, o que é possível verificar na Figura 1, onde a malha
urbana apresenta nas áreas próximas à região periférica uma maior quantidade de vazios distribuídos. Ainda
na Figura 1, a porção mais central, assim como a área mais próxima ao litoral, revela uma menor quantidade
de vazios urbanos, em virtude da especulação imobiliária, que reforça a intensa valorização dos imóveis
localizados nessas áreas consideradas “nobres”. Na legenda, a referida área encontra-se destacada como área
urbana consolidada, dotada de poucos vazios urbanos. (FIGURA 1)

Figura 1- Mapa que aponta os vazios urbanos na cidade de Fortaleza. Fonte: http://mapas.fortaleza.ce.gov.br/#/2018. Acesso em 16
dez. 2018, adaptado pela autora.

549
Diante do cenário predominante na cidade de Fortaleza, foi selecionado um trecho que representa a
situação que se repete em grande parte da paisagem urbana, ou seja, uma área consolidada com poucos lotes
vagos, caso que merece ser analisado uma vez que possibilita intervenções restritas no que tange ao desenho
urbano, em virtude da densa ocupação dos lotes. A área a ser estudada neste artigo é formada por um
polígono situado no Bairro Dionísio Torres compreendido entre as Avenidas Desembargador Moreira,
Antônio Sales, Padre Valdevino e a Rua Joaquim Nabuco, como mostra a figura 2. Trata-se de um bairro
predominantemente residencial, segundo levantamento do Fortaleza 2040, contemplado pelo Plano de
Arborização de 2014 de modo pouco expressivo. (FORTALEZA, 2018) Nos arredores da área de estudo,
áreas livres e áreas verdes compõem o espaço urbano, a mais expressiva é a Praça da Imprensa, dotada de
grande cobertura vegetal, localizada na porção sudeste do trecho. Uma outra importante área é a Praça João
Dummar, que apesar de compacta, modifica a paisagem urbana com sua vegetação.

Figura 2- Recorte da área a ser estudada Fonte: Elaborado pela autora.

3.2. Caracterização físico-ambiental urbana


A caracterização físico-ambiental da área selecionada foi realizada utilizando a metodologia adotada por
Katzschener (1997), através da classificação qualitativa das características espaciais urbanas, considerando a
ocupação dos lotes, a distribuição de áreas verdes, o traçado das vias, a orientação geográfica e a ventilação
dominante. Para tanto, foi realizada visita ao local, levantamento fotográfico e busca de imagens no Google
Earth, facilitando dessa forma a elaboração do mapa apresentado na figura 3. A partir dele, é possível
perceber o polígono demarcado, limite com o bairro Aldeota, através da Avenida Padre Valdevino, que fica a
norte. A orientação da Rua Dom Expedito Lopes, Avenida Antônio Sales e Avenida Pe. Valdevino encontra-
se a favor dos ventos dominantes. A figura 3 apresenta um trecho cuja verticalização ocorre de modo
equilibrado, as edificações existentes foram divididas em edificações com até quatro pavimentos e acima de
quatro pavimentos. Quanto ao uso predominante no recorte, trata-se de uma área densamente ocupada por
edificações residenciais, comerciais e de uso misto, restando poucas áreas livres ao longo do tecido urbano.
A classificação das vias está representada na figura 3, através das vias arteriais e coletoras que compõem a
malha urbana da área de estudo. Todos os aspectos anteriormente comentados podem ser visualizados
através das legendas criadas na figura 3.

550
Figura 3- Caracterização físico-ambiental da área selecionada Fonte: Elaborado pela autora.

3.3. Definição de estratégias de desenho urbano para cidades de clima quente e úmido
A definição de estratégias de desenho urbano adequadas às cidades de clima quente e úmido foi realizada a
fim de buscar alternativas capazes de melhorar o microclima, integrando essas intervenções ao
microplanejamento urbano de áreas urbanas consolidadas. Segundo Romero (2000), o desenho dos espaços
urbanos deve se adaptar às características do meio, e ainda estar condicionado a elementos como: topografia,
ecologia, clima, dentre outros.
Nesse sentido, os princípios bioclimáticos de Romero (2000) para o planejamento urbano de regiões
tropicais de clima quente e úmido, são de grande relevância, sendo eles: localização, ventilação, insolação e
morfologia. E ainda, os critérios de Maluf e Gonçalves (2015) para implantação de um pocket park também
contribuíram na definição das condicionantes, as autoras utilizaram em sua matriz de critério as seguintes
condicionantes: área, clima, orientação geográfica, contiguidade, ponto de interesse, vizinhança imediata e
morfologia. Portanto, utilizando as condicionantes de Romero (2000) e Maluf e Gonçalves (2015), a tabela 1
considera para uma cidade de clima quente e úmido as seguintes condicionantes: dimensão, localização,
ventilação, orientação geográfica, umidade e morfologia. Essas condicionantes foram analisadas de acordo
com cada uma das estratégias urbanas definidas: pocket park, parklet, agricultura urbana, paredes verdes e
arborização. Uma vez que todas essas estratégias já foram alvo de estudos, o preenchimento da tabela 1 foi
realizado com base em pesquisa bibliográfica de diversos autores, manuais e legislação, estando devidamente
referenciados.

551
Tabela 1- Tabela de condicionantes para as estratégias de desenho urbano

4. ANÁLISE DE RESULTADOS
A partir do exercício metodológico desenvolvido, foi possível propor a aplicação das estratégias urbanas
definidas e orientadas pelo urbanismo bioclimático, demonstrados na Tabela 1. A seguir, serão apresentados
os resultados obtidos através da implementação de pocket park, parklet, agricultura urbana, paredes verdes e
arborização ao longo do trecho selecionado nesta pesquisa. No sentido de facilitar a compreensão, a figura 4
apresenta um mapa esquemático, ilustrando as práticas urbanas descritas anteriormente conforme a legenda.
Considerando que essas propostas têm como objetivo promover melhorias na qualidade ambiental do espaço
urbano e que a rede de áreas verdes e áreas livres constitui espinha dorsal de qualquer intervenção, como
afirma Higuieras (2006), os subitens subsequentes estarão divididos em áreas verdes e áreas livres.
A análise das intervenções propostas no recorte apresentado na Figura 4 pode ser visualizada na
Tabela 2, onde foi possível perceber o incremento de vegetação e áreas livres. O cálculo de áreas verdes foi
realizado de maneira estimada, considerando a área ocupada pelo diâmetro da copa das árvores existentes e
propostas, somando ainda as áreas de vegetação rasteira e as áreas verticais das paredes verdes. A vegetação
rasteira e as paredes verdes foram estimadas utilizando o dimensionamento disponível no site Google Earth,
calculando a área em m². Contudo, a estimativa da área arborizada foi realizada a partir da Equação 1
proposta por Dionísio et al. (2017), que permitiu definir a área de ocupação de cada árvore existente,
utilizando o diâmetro aproximado da copa das árvore encontradas na imagem de satélite.

AC=(DC².ℼ)/4
Equação 1
Onde:
AC é a área de copa [m²];
DC é o diâmetro da copa [m];
ℼ é a razão entre a circunferência de qualquer círculo e seu diâmetro [3,14].

O cálculo das áreas livres foi realizado excluindo a ocupação das edificações da área total em estudo.
O resultado foi alcançado através do site Google Earth, verificando a área dos elementos que integram o
sistema de áreas livres públicas, no caso, passeios, ruas e praças.

552
Figura 4- Mapa esquemático com as intervenções propostas. Fonte: Elaborada pela autora.

(A) (B)

Figura 5 - Gráfico que representa a ocupação no trecho selecionado. (A) Ocupação e Sistemas de Espaços Livres (B) Ocupação e
Sistema de Espaços Livres públicos e privados Fonte: Elaborado pela autora.

4.1. Áreas Livres


Nesta pesquisa, foram consideradas as áreas livres, compostas por espaços livres públicos e privados que
segundo Queiroga et al. (2011) constituem o sistema de espaços livres tão importantes para as cidades. O

553
sistema de espaços livres pode considerar espaços privados, inseridos em áreas particulares, ou públicas.
(MALUF e GONÇALVES, 2015) Essa distinção entre os espaços ficou bastante clara na figura 5, mostrando
através dos gráficos (A) e (B) que as áreas verdes privadas são superiores às públicas e que as áreas livres
públicas superam as áreas livres privadas, reafirmando o alto adensamento do espaço urbano representado
pelo percentual de 59,4% de ocupação.
Diante disso, as estratégias urbanas propõem, no caso da Figura 6, que um terreno privado possa ser
utilizado para abrigar um pocket park, viabilizando o uso público de um espaço privado que se encontra
abandonado. Outra alternativa é a instalação de parklets ao longo do leito carroçável das vias, sendo proposta
a ampliação do passeio, na área selecionada com um parklet (FIGURA 07), respeitando as condições
previstas em sua respectiva legislação (FORTALEZA, 2015). Ao todo, como mostra a tabela 2, o acréscimo
de áreas livres corresponde a 2,50% em relação às áreas livres existentes.

Figura 6- Terreno vago existente na área selecionada. Figura 7- Vagas para veículos podem ser substituídas por parklet.
Fonte: Elaborada pela autora Fonte: Elaborada do pela autora

4.2. Áreas Verdes


“A vegetação está presente nas áreas urbanizadas através de jardins, espaços livres, espaços recreativos e
hortas, principalmente.” (HIGUIERAS, p.174, 2006) Nesse sentido, o incremento de áreas verdes que as
estratégias de desenho urbano propõem nesta pesquisa considera a possibilidade de utilizar os espaços
públicos e, ainda, os privados. A agricultura urbana é sugerida em um lote particular que aguarda
empreendimento imobiliário, permitindo uso público de um espaço privado, oferecendo 1.168m², como
mostra a tabela 2, de área verde para a cidade (FIGURA 04). Uma outra estratégia são as paredes verdes que
representam uma grande alternativa em áreas densamente ocupadas, caso da área em análise. Dessa forma,
foram sugeridas a aplicação de paredes verdes em faces cegas de muros e edificações particulares como
mostra a Figura 8, capazes de contribuir na melhoria do microclima urbano, acrescentando cerca de 537m²
de área verde. (TABELA 2)

Figura 8- Sugestão de parede verde em fachada cega. Figura 9- Terreno sem uso existente na área selecionada.
Fonte: Elaborado pela autora. Fonte: Elaborado pela autora.

554
Tabela 2- Estratégias urbanas integrando o sistema de espaços livres

Ainda sobre as paredes verdes, nesta pesquisa não foram definidas as espécies ou o modo de aplicação
das mesmas, acreditando na eficiência que as paredes verdes representam em relação a sua capacidade de
redução térmica na edificação e no entorno, comprovada por estudos como os de Morelli (2016). A
arborização foi intensificada, utilizando as premissas do Manual de Arborização, inserindo 19 árvores de
médio porte, 4m de diâmetro, sempre que a dimensão do passeio permitia. (FORTALEZA, 2015) Utilizando
a Equação 1, foi obtida área de 238m², representando um acréscimo de vegetação capaz de atender
aproximadamente 20 habitantes, considerando a metragem verde de 12m² por habitante, índice mínimo
recomendado pela OMS conforme Certificação Fator Verde. (FORTALEZA 2015) Portanto, é possível
estimar um incremento de 44,52% no total de áreas verdes, incluindo arborização, paredes verdes e
agricultura urbana quando comparado ao total de áreas verdes existentes na área em estudo. (TABELA 2)

5. CONCLUSÕES
De acordo com o resultado final, foi observado um expressivo incremento no total de áreas verdes e áreas
livres no trecho analisado, representando aproximadamente 9,91% de acréscimo em relação à situação
existente. Por se tratar de uma área urbana consolidada, dotada de poucos lotes vagos, a implementação de
intervenções de grande porte não seria viável diante da intensa ocupação dos lotes, entretanto esses espaços
oferecem alternativas de desenho urbano como as estratégias definidas neste artigo, orientadas pelos
princípios bioclimáticos.
Vale destacar o potencial que essas estratégias representam, fazendo parte de uma rede conectada ao
sistema de espaços livres, tão importantes para as cidades, sobretudo quando integradas ao
microplanejamento urbano. Desse modo, a proposta resulta na ampliação das áreas livres e das áreas verdes
em diversos pontos da cidade, aumentando assim o índice de adensamento de áreas verdes, proporcionando
melhorias ambientais, inclusive, modificando o microclima. Como consequência, a cidade poderia obter um
incremento legítimo na metragem verde, à medida que a distribuição de áreas verdes se desse de modo mais
homogêneo, abrangendo trechos em áreas diversificadas, gerando melhorias significativas para a cidade e
seus habitantes. A Prefeitura de Fortaleza contabiliza, sem esclarecer o modo como foi estimado, o valor
total de 8m² por habitante de área verde, dado que não reflete a situação real observada na cidade uma vez
que ocorre uma distribuição desequilibrada da vegetação ao longo da cidade.
Diante do exposto, é possível perceber que as intervenções de projeto urbano desta pesquisa
apresentam resultados que, apesar de estimados, oferecem possiblidades de melhorias ambientais em áreas
urbanas consolidadas de clima quente e úmido. É necessário ressaltar ainda, que ao sugerir paredes verdes ou
arborização, não foram especificadas as espécies adequadas, nem mesmo o tipo de parede verde mais
eficiente, portanto sugere-se a recomendação para estudos futuros nesse sentido, comprovando com maior
precisão o resultado no que tange à melhoria do microclima urbano.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Medina. São Paulo: Oficina de Textos, 2015.
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DJEDJIG, R.; BONZONNET, E. ; BELARBI, R. Experimental study of the urban microclimate mitigation potential of green
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KATZSCHNER, L. “Urban Climate Studies as Tools for Urban Planning and Architecture”, In: IV Encontro Nacional de Conforto
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AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao laboratório de Conforto Ambiental, situado na Universidade de Fortaleza, que
apoiou esta pesquisa.

556
EFECTOS URBANOS EN LA METEOROLOGÍA DEL VALLE DE ABURRÁ
- COLOMBIA: ISLA DE CALOR EN UN TERRENO COMPLEJO Y
VARIACIONES MICRO-CLIMÁTICAS
Gisel Guzmán (1); Carlos Hoyos (2)
(1) Msc Ingeniería – Recursos Hidráulicos Universidad Nacional de Colombia (UNAL), Analista de proyectos
en SIATA, gguzmane@unal.edu.co
(2) PhD, Profesor Departamento de Geociencias y Medio A mbiente UNAL, director de SIATA,
cdhoyos0@unal.edu.co
Sistema de Alerta Temprana de Medellín y el Valle de Aburrá (SIATA), Carrera 48A # 10 Sur-123,
Medellín, Colombia (teléfono: 4038870).
RESUMEN
En este trabajo se analizan efectos urbanos en la meteorología del Valle de Aburrá (noroccidente de
Colombia) a través de datos representativos de una escala climática local y micro. La complejidad del
territorio hace que el esquema tradicional de estudio del efecto isla de calor no sea apropiado, por lo que éste
se analiza a través de cambios en el gradiente de temperatura con la altura. A su vez, para investigar
variaciones de microclima en el dosel urbano se consideran dos fuentes de datos; una primera que permitió
realizar un análisis en diferentes rangos de altura (Proyecto Ciudadanos Científicos V2), y una segunda con
la cual se estudió el contraste de microclimas entre sitios con alturas similares (Campaña con sensores
multiparamétricos). Los resultados indican que la ubicación altitudinal y latitudinal determina los tipos de
climas que se encuentran en el Valle; sin embargo, la influencia de la urbanización es notable a través de una
modificación del gradiente de temperatura en función del entorno de medición (tanto a escala local como
micro). Las mediciones micro climáticas realizadas a alturas similares mostraron que hay diferencias en el
comportamiento térmico (y posiblemente de sensación térmica) en función principalmente del acceso solar,
debido a la geometría urbana y la vegetación situada alrededor de los sensores. Estos resultados indican que
la complejidad del Valle de Aburrá (tanto urbana como topográfica) podría ser incorporada en la creación de
estrategias de diseño energéticamente eficientes para espacios exteriores que aprovechen el clima como
criterio básico. Por ende, estas estrategias no sólo deben basarse en promedios mensuales, sino también en
variaciones intradiurnas.
Palabras clave: efecto isla de calor, microclima, terreno complejo, ciencia ciudadana, vegetación urbana.

ABSTRACT
In this paper, we analyze urban effects in the meteorology of the Aburrá Valley (northwest of Colombia)
through data of a local and microclimatic scale. The complexity of the territory makes inappropriate the use
of the traditional scheme for the study of urban heat island effect; therefore, this effect is analyzed through
changes of the temperature with altitude (environmental lapse-rate). At the same time, to investigate
microclimate variations in the urban canopy we considered two datasets. The first allowed us to perform an
analysis in different altitude ranges (Ciudadanos Científicos V2), and with the second one dataset, we studied
the contrast of microclimates between sites with similar altitudes (Campaign with multiparameter sensors).
The results indicate that the altitudinal and latitudinal location determines the climate types found in the
Valley; However, the influence of urbanization is notable through a modification of the altitudinal
temperature gradient depending on the measurement environment (both local and micro). The microclimatic
measurements made at similar heights showed that there are differences in the thermal behavior (and
possibly on thermal sensation) depending mainly on solar access, due to the urban geometry and vegetation
located around the sensors. These results indicate that the complexity of the Aburrá Valley (both urban and
topographic) could be incorporated into the creation of energy-efficient climate-sensitive design strategies to
outdoor spaces. Therefore, these strategies should not only be based on monthly averages, but also on intra-
day variations.
Keywords: Urban heat island effect, microclimate, complex terrain, citizen science, urban vegetation.

557
1. INTRODUCCIÓN
La atmósfera urbana está sujeta a fenómenos de un contexto espacial y temporal mayor, como procesos de la
escala sinóptica, sistemas regionales (como los vientos de montaña), o por la ocurrencia de eventos
meteorológicos extremos. Por ello es importante separar la influencia urbana de la no urbana en estudios de
clima en ciudades, y para ello se puede tomar como referencia una modificación del marco conceptual de
Lowry (Oke et al., 2017). Este marco indica que el valor medido de una variable meteorológica (como
temperatura, humedad relativa o velocidad del viento, etc.) se asume conceptualmente como la suma linear
de 3 contribuciones: un valor de fondo de la variable debido al macroclima de la región, una desviación dada
por efectos climáticos locales o por el paisaje (ej. cuerpos de agua, sistemas montañosos) y por una
desviación dada por efectos de actividades humanas, como, por ejemplo, los efectos urbanos.
La influencia urbana en el clima también tiene su expresión en diferentes escalas espaciales, siendo
uno de los efectos más estudiados el de isla de calor urbano, que se expresa cómo el aumento de la
temperatura en las ciudades frente a zonas rurales. Este calentamiento no es homogéneo al interior de las
ciudades, ya que el gradiente ciudad-campo se ve interrumpido por puntos fríos y calientes localizados en
áreas de densidad urbana alta o baja (Oke, 1982).
Específicamente en el dosel urbano —la porción de atmósfera que va desde el suelo hasta el tope de
las edificaciones— se establecen microclimas diferentes debido a la heterogeneidad de los elementos
urbanos, con un régimen de viento y balance energético que son determinados por la naturaleza física del
entorno inmediato (Oke et al., 2017).
En ciudades situadas en terrenos complejos las diferencias de altura interponen un gradiente natural
de temperatura, por ende, el enfoque tradicional de comparar directamente estaciones rurales y urbanas en
estudios del efecto isla de calor no es apropiado. Lo cual ante la falta de mediciones preurbanas para
cuantificar el cambio por la urbe según lo establecido en Lowry (1997), hace necesario que se busquen
enfoques alternos para su estudio, como en Saaroni; Ziv (2010).
El Valle de Aburrá (Figura 1 – Arriba; Localización del Valle de Aburrá y de las redes de medición
empleadas en este estudio. Medio: Perfil topográfico de la zona más Ancha del Valle de Aburrá. Abajo:
emplazamiento y exposición de los sensores meteorológicos empleados.Figur) es un cañón estrecho
localizado sobre los Andes tropicales al noroccidente de Colombia (7°N) con áreas urbanas entre los 1300 y
2000 m.s.n.m, y hogar de aproximadamente 3.9 millones de personas, de las cuales un 90% vive en zonas
urbanas. En un trabajo paralelo se abordó la expresión del efecto isla de calor superficial en el Valle
(Guzmán, 2018 e Guzmán et al., 2019), teniendo en cuenta sus particularidades topográficas. En este se
encontraron diferencias térmicas independientes a la altura y orientación de las superficies, de acuerdo con el
tipo de forma urbana y la densidad de vegetación

2. OBJETIVO
El objetivo de este trabajo es analizar los efectos urbanos en las condiciones térmicas del Valle de Aburrá a
través del análisis de datos representativos de una escala climática local y micro climática, con énfasis en el
dosel urbano, como nivel de estadía de la población.
Aquí se aborda este problema desde un enfoque con alcance regional o general —con datos
distribuidos en distintas cotas de altura— que permite analizar la meteorología en el territorio con su
complejidad, para luego para pasar al análisis de casos particulares de microclima bajo diferentes
configuraciones urbanas. Este artículo hace parte de los resultados de la tesis de maestría “Análisis de la
influencia del diseño urbano del Valle de Aburrá” (Guzmán, 2018).

3. MÉTODO
Los procedimientos que se llevaron a cabo para alcanzar el objetivo de este trabajo se dividen por el tipo de
datos analizados y su distribución espacial:
Alcance regional:
a. Efectos urbanos en el contexto térmico local del Valle: Red de estaciones meteorológicas SIATA.
b. Meteorología en el dosel urbano: Proyecto Ciudadanos Científicos V2.
Casos de estudio:
Meteorología en el dosel urbano: Campaña con sensores multiparamétricos.
Todos los datos empleados provienen del proyecto de Ciencia y Tecnología Sistema de Alerta
Temprana de Medellín y el Valle de Aburrá – SIATA (https://siata.gov.co/). SIATA es una estrategia
regional para la gestión del riesgo, que a través del monitoreo ambiental del territorio busca fortalecer la
toma de decisiones. El proyecto tiene como pilares fundamentales cuatro tareas: el monitoreo ambiental,

558
alertas y gestión, modelación, y comunicación y educación. Por ende, en su misión está además promover la
divulgación científica y apropiación social del conocimiento a través de las investigaciones del proyecto.

Figura 1 – Arriba; Localización del Valle de Aburrá y de las redes de medición empleadas en este estudio. Medio: Perfil topográfico
de la zona más Ancha del Valle de Aburrá. Abajo: emplazamiento y exposición de los sensores meteorológicos empleados.
Cabe mencionar que aunque se usan tres sensores distintos para medir temperatura (Vaisala
WXT520, Davis Temperature/Humidity Sensor 6830 y Thiess Clima sensor US) se cumple con los
requerimientos de precisión para estudios de confort y estrés térmico de acuerdo con el estándar
internacional ISO 7726:1998 (Johansson et al. 2014), ya que la precisión de estos sensores es ±0.3°C y
cuentan con escudo contra la radiación. Por lo tanto, Las variaciones en cada una de las fuentes de datos se
atribuye a la naturaleza del balance energético del entorno que lo rodea (sub-capa residual o dosel urbano).

3.1 Alcance regional:


3.1.1 Red de estaciones meteorológicas SIATA
En esta sección se analizaron datos de 15 estaciones pertenecientes a la red meteorológica de SIATA con
registros de más de 5 años (2013-2018) de cada minuto, distribuidas entre 1335 y 2781 m.s.n.m (Figur). Los
emplazamientos de estas estaciones tienen un único sensor multiparamétrico (Vaisala WXT520), y están
situados sobre torres en su mayoría —por encima del nivel de las edificaciones o el suelo— que varían en
altura desde 3 a 12 metros. Se considera que estas mediciones representan en mayor medida una influencia
agregada de escala local, y en menor medida la influencia de elementos cercanos al emplazamiento de la
estación. La excepción a lo anterior es la estación más alta de la red situada en el Altiplano de Santa Elena,
que está a 30 metros del suelo que es representativa de la escala sinóptica. Los análisis de esta sección se
enfocaron a:
- Describir la existencia de diferentes regímenes climáticos y la ocurrencia del efecto isla de calor
desde una modificación en el gradiente altitudinal de temperatura.
- Establecer un estado de referencia de escala local para detectar diferencias respecto a mediciones
micro climáticas en el dosel urbano.
El análisis de estos datos requirió un remuestreo a escala horaria y diurna (mínimos, medios y
máximos). Luego se obtuvieron regresiones lineales entre la altura del sensor y los estadísticos diurnos y
mensuales de temperatura, bajo los cuales se analizó el gradiente térmico.
Posteriormente, para obtener una clasificación Köppen-Geiger de la región (Peel et al., 2007), se hizo uso de
una climatología de precipitación derivada de datos de radar meteorológico (Sepúlveda, 2015) y de mapas

559
de temperatura media mensuales obtenidos a partir de los coeficientes de la regresión. Para esto se hizo uso
de un modelo digital de elevación ALOS-1 PALSAR RTC remuestrado a 30m (ASF DAAC, 2015).
Por último, para analizar las implicaciones energéticas del comportamiento medio de temperatura y
humedad, a lo largo del día y del año, se emplearon diagramas psicrométricos. Este tipo de diagramas
permiten analizar el estado termodinámico de la mezcla de aire seco con vapor de agua. Aquí se usa el
diagrama basado en las ecuaciones de ASHRAE (2009) empleando el paquete de Python 3: Psychrochart.

3.1.2 Proyecto Ciudadanos Científicos V2 (CC)


El proyecto Ciudadanos Científicos V2 es un proyecto de ciencia ciudadana de SIATA, el cual inicia en
2015 con la implementación de 100 sensores de bajo costo desarrollados por el proyecto de PM2.5, PM10,
temperatura y humedad relativa. Para el 2018 en su versión 2 amplía su cobertura y aumenta el número de
sensores a 250, y cambia los sensores de temperatura y humedad por unos más robustos (Davis
Temperature/Humidity Sensor 6830). Estos sensores se encuentran distribuidos por todo el Valle de Aburrá
(Figur), principalmente en altitudes entre 1400 y 1800 m.s.n.m, y en fachadas, balcones y terrazas de
edificaciones en contacto con el exterior entre los pisos 1 y 4 de altura.
En estas mediciones, al igual que las de la sección 3.2 cobran interés los rasgos individualizados del
entorno de medición, por lo que se asume que son mediciones influenciadas por la geometría urbana, la
cobertura vegetal, la altura de la medición respecto al piso y nivel del mar, y cercanía a fuentes de calor.

Figura 2 – Ubicación sensores del proyecto Ciudadanos Científicos V2. Atributos de izquierda a derecha: Fracción de cobertura
vegetal, altura del piso al sensor, fracción de cielo visible, fuentes de calor cerca al sensor.

Con estos datos se hizo un análisis similar al de la sección 3.1.a en cuanto a que se revisó la relación
de los valores medios de temperatura y humedad con la altura. Estos gradientes se compararon respecto al
observado en las estaciones meteorológicas. También, se hizo uso de diagramas psicrométricos para analizar
la variación a lo largo del día de estas dos variables, esta vez separando las mediciones en rangos por altura
sobre el nivel del mar. Para esta sección se tienen en cuenta datos entre mayo y diciembre del 2018.

3.2 Campaña con sensores multiparamétricos (CMP)


Esta campaña se realiza con el objetivo de medir microclimas determinados por unas propiedades
superficiales contrastantes en el Valle de Aburrá, en términos de geometría urbana, tipos de materiales y
cobertura vegetal. Para estas mediciones, el análisis se centró en las variables objetivas involucradas en el
ambiente térmico humano: Temperatura, humedad, velocidad del viento y radiación (Parsons, 2014).
La elección de los sitios de medición se hizo a partir de los resultados obtenidos del análisis de
temperatura superficial (Ts) con datos de Landsat 8 (Guzmán, 2018), eligiendo sitios con: altas Ts, Ts
moderadas y alta densidad de vegetación, y Ts moderadas con baja densidad de vegetación. Además, se
buscó aislar el efecto de la topografía en las mediciones, por ende, se escogieron sitios en la base del Valle
(ciudad de Medellín) con alturas que rondan entre 1470 y 1543 m.s.n.m (Ver, Figur).
La campaña inició en marzo del 2017 y finalizó en abril del 2018, y se emplearon dos sensores
Thiess Clima sensor US con los que se realizaron mediciones simultáneas. La campaña inició con una
medición piloto (medición 1) de 6 mesess, luego en los siguientes sitios se realizaron mediciones simultáneas
por pares (un sitio con vegetación escasa y otro con vegetación abundante) con una duración entre 2 y 3
meses por sitio. El cambio de lugar de los sensores no fue simultáneo, se contó con una diferencia de 20 días
entre cambio de lugares para contar con datos de traslapo entre 3 lugares. Estas mediciones se hicieron en
espacios exteriores a 1.5 m de separación de la fachada, y en su mayoría, a 7 metros de altura del suelo (2 o 3
planta). Para mayor detalle del entorno de las mediciones remitirse a Guzmán (2018), Anexo A.

560
Figura 3 – Metadatos sitios de medición CMP, agrupados en: cañón urbano cerrado (tono gris), sitios con poca vegetación (colores
cálidos), sitios con vegetación (colores verdes). En las fotografías de tipo ojo de pescado las líneas rosas corresponden a las rutas
solares durante el tiempo de medición. Los puntos rojos corresponden a la ubicación del sensor en cada lugar.

En este apartado se realizaron análisis más detallados, y se examinaron los siguientes aspectos:
- Comparación del microclima de cada lugar respecto a las mediciones de la estación meteorológica más
cercana, a través de estadísticos descriptivos y de los ciclos diurnos de cada variable (la radiación se obtuvo a
través de una regresión de iluminancia horaria, para más detalle consultar (Guzmán, 2018)).
- Análisis de las posibles implicaciones en el confort térmico de la población de cada microclima mediante
análisis cuantitativos (diagramas psicrométricos y estimación de índices térmicos). Para lo último, se empleó
el modelo RayMan Pro (Matzarakis et al., 2010), y se analizó temperatura media radiante, una modificación
de la temperatura fisiológica equivalente (mPET) y el índice Universal Thermal Climate Index (UTCI).
- Variaciones en el microclima de acuerdo con la disponibilidad energética, a través de la respuesta en la
amplitud térmica.

4. ANALISIS DE RESULTADOS
4.1 Efectos urbanos en el contexto térmico local del Valle
El sistema de clasificación del clima Köppen-Geiger clasifica el clima de un lugar de acuerdo a los valores
medios mensuales y la estacionalidad de la precipitación y temperatura. En el Valle el mes más seco del año
no presenta en promedio menos de 60 mm, por ende, la mayoría se clasifica en categorías asociadas a lugares
húmedos con precipitación constante a lo largo de año (Af: tropical húmedo y Cfb: Templado, sin estación
seca, verano suave). La categorización del clima del Valle según este sistema se da en base principalmente a
la isoterma 18°C, ya que la media mensual de temperatura no varía en más de 1°C a lo largo del año. Las
estaciones de SIATA en su mayoría están se sitúan en clima Af en zona urbanas y periurbanas con
temperaturas medias que no superan los 23°C. Aquellas estaciones de tipo Cfb, se encuentran en zonas
rurales o periurbanas por encima de los 2000 m.s.n.m.

Figura 4 – Izquierda: Relación entre la temperatura y altura de las estaciones de


la red meteorológica de SIATA (los colores del fondo corresponden a categorías:
tropical y templado de la clasificación Köppen-Geiger). Derecha: Clasificación
Köppen-Geiger en el Valle de Aburrá (Línea negra: zona urbana, puntos rojos:
estaciones de SIATA).

De acuerdo con el diagrama de dispersión entre altura y temperatura las estaciones más
cálidas son aquellas que se ubican en la zona urbanizada del centro del Valle entre 1400 y
1600 m.s.n.m (Figura 5), razón por la cual la pendiente de la regresión de las temperaturas medias es cercana
a -0.7 K/km. Esta modificación del gradiente de temperatura ambiental promedio (0.65 K/km) se puede
considerar como una expresión del efecto isla de calor urbano, ya que las estaciones ubicadas por debajo de
1400 m.s.n.m al norte del Valle no son las más cálidas, y estas pertenecen a zonas con menor densidad
poblacional o periurbanas (Figura 5).
Figura 5 - Relación temperatura (percentil 10,
media, percentil 90) - altura de las estaciones de
SIATA cercanas al eje del río Aburrá. La
comparación entre el gradiente térmico teórico
(línea negra) que muestra que las estaciones del
centro del Valle (la zona más urbanizada) son
más cálidas respecto a la temperatura de
referencia que las otras ubicadas en zonas con
menor densidad poblacional.

A través del uso de diagramas psicrométricos se analizan las variaciones a lo largo del año y del día
de cada estación. (Figura 6, izquierda y derecha respectivamente). Lo primero que salta a la vista es que son

561
mayores las variaciones del estado del aire a lo largo del día, que, a lo largo del año, con amplitudes térmicas
promedio que rondan entre 5 y 9°C, y medias mensuales que no varían ampliamente.

Figura 6 – Diagramas psicrométricos del ciclo anual (izquierda) y ciclo diurno (derecha) de humedad relativa y temperatura. Los
colores de los polígonos son únicos por estación y varían de acuerdo con su altura en m.s.n.m.

Adicionalmente si se compara el comportamiento medio anual y diurno, respecto a la desviación de


una zona de confort (área gris en Figura 6), se puede reafirmar que la altura determina el tipo de clima dado
que ubica el comportamiento mensual de las estaciones de clima temperado (Cfb) en zonas frías y húmedas;
y a medida que baja la altura, ubica las estaciones dentro de la zona de confort o en un estado ligeramente
húmedo. Lo que permite concluir que el clima del Valle de Aburrá es muy deseable por su cercanía a la zona
de confort. Sin embargo, al observar el comportamiento de los ciclos diurnos, se puede notar que
dependiendo del momento del día las condiciones pueden ser confortables o no.
Separando las estaciones por rangos de altura, y sin tener en cuenta el efecto del viento y la radiación, se
puede intuir que:
- Las estaciones ubicadas en el corregimiento de Santa Elena en Medellín (a alturas mayores de 2100
m.s.n.m) tienen condiciones de frías y húmedas todo el tiempo.
- Las estaciones ubicadas entre 1500 y 2100 m.s.n.m, durante el día presentan condiciones que se
incluyen dentro de la zona de confort y durante la noche tienen condiciones frías y húmedas.
- Las condiciones térmicas de las estaciones ubicadas en la base del Valle hasta una altura de 1450
m.s.n.m permanecen la mayoría del tiempo dentro de la zona de confort. Sin embargo, unas pocas
horas durante las madrugadas se presentan condiciones frías y húmedas y cerca al mediodía se dan
condiciones cálidas.
- Las estaciones ubicadas en la parte norte, a una altura menor a 1400 m.s.n.m, durante el día
permanecen dentro de condiciones de confort con unas pocas horas cerca al mediodía con
condiciones cálidas.
Por ende, para el Valle de Aburrá dependiendo de la altitud, y el grado de urbanización del lugar, se pueden
pensar estrategias diferentes para el acondicionamiento ambiental de edificaciones y espacios públicos.

4.2 Meteorología en el dosel urbano: análisis regional (Datos CC)


En este apartado, extendemos el análisis a datos micro climáticos distribuidos por todo el Valle. Para estudiar
los mismos aspectos de la sección 4.1 se agruparon los sitios de medición por rangos de altura de 100 m
Figura 7). En este caso, los diagramas psicrométricos muestran ciclos diurnos aplanados, lo cual significa
que estas mediciones, que están más cerca de la superficie, miden procesos que están asociados a un mayor
intercambio de calor sensible que las estaciones meteorológicas de SIATA. Respecto a las estaciones, las
amplitudes térmicas son más grandes, y la humedad, aunque es mayor tiene una amplitud más pequeña. Este
set de datos también muestra más tiempo del día por fuera de la zona de referencia de confort térmico
(especialmente cerca del medio día) con temperaturas que superan los 30°C en condiciones medias, situación
que no ocurre en las estaciones meteorológicas.

Figura 7 – Izquierda: ubicación de los 250 sensores del proyecto


Ciudadanos Científicos V2 (cyan) y de los sensores de la campaña
multiparamétrica (Azul). Derecha: diagramas psicrométricos con el
ciclo diurno de humedad relativa y temperatura por rangos de altura.

Lo observado con el diagrama psicrométrico para CC se confirma con el análisis del gradiente
altitudinal de la temperatura y la humedad (Figura 8). Comparando estos gradientes con el de las estaciones,
en todos los rangos de altura predominan mediciones más cálidas y húmedas en el dosel urbano. Los puntos
negros de estas figuras corresponden a las mediciones de la CMP, los cuales se incluyen para poner de

562
manifiesto que las diferencias de temperatura y humedad en alturas similares tienen mucho que ver con las
características propias de cada entorno de medición.

Figura 8 – Diagrama de dispersión entre la temperatura (izquierda) y


humedad relativa (derecha) media diurna y la altura del sensor. En
colores: datos CC (purpura) y CMP (negro), ajuste lineal en estaciones
SIATA (Rojo), Ajuste lineal en sensores CC (negro).

Para remover el efecto de los cambios de elevación y cuantificar las diferencias de los 250 sitios de
acuerdo a una desviación del gradiente termico local, se remueve la tendencia de la altura de las estaciones
de SIATA a los datos medios de CC. En la Figura 8, se puede notar que la dispersión en las medias a una
altura fija es bastante grande. Por ejemplo, para alturas entre 1400 y1600 m.s.n.m la media de temperatura en
el dosel urbano aumenta del valor de la estación en promedio 1.8°C, pero puede variar entre -1 y 4°C. Para
explicar esto se acude a las distintas propiedades de cada entorno de medición (Figura 9), pero en este caso
no es muy clara la relación. Lo cual podría indicar que no hay un único factor dominante que explique el
efecto urbano en cada sitio de medición.
Figura 9 – Diagrama de dispersión entre altitud y temperatura con
tendencia removida (de estaciones meteorológicas) para descontar
efectos por cambios en la elevación. Los puntos en cada grafico
varían en una escala de color de acuerdo con (de izquierda a
derecha) altura piso-sensor, fracción de cobertura vegetal 100 m a
la redonda, y fuentes de calor cercanas a la ubicación del sensor.

4.3 Meteorología en el dosel urbano: microclima en un rango de altura similar y diseño


urbano contrastante (CMP)
El entorno de medición y las formas de instalación en los datos de CC son muy diversas (balcones, fachadas
o terrazas), en esta sección se abordan específicamente variaciones microclimáticas en entornos contastantes,
con mediciones más controladas en cuanto al emplazamiento y ubicación del sensor en altura.
Para facilitar la interpretación de los resultados de esta sección, se agrupan los sitios de medición en
tres categorías de acuerdo con la escala de color mostrada en la Figura 3. El sitio correspondiente a cañón
cerrado se mostrará en gris, los sitios con poca vegetación se mostrarán en colores cálidos, y los sitios con
vegetación se muestran en escala de verdes. El color más verde, pertenece al sitio con más vegetación y el
color más rojo al sitio con más superficies impermeables.

4.3.1. Estadísticos descriptivos y variaciones a lo largo del día


El primer aspecto que se revisó en cada lugar fueron los estadísticos descriptivos y su ciclo diurno,
comparando estos con los datos para el mismo periodo de tiempo de la estación meteorológica más cercana
(Figura 10). A pesar de que las mediciones fueron en diferentes épocas del año, las mediciones de referencia
de las estaciones entre sí mostraron pocas variaciones de temperatura y humedad, y una variación un poco
mayor en velocidad del viento e irradiación total diurna (no mostrado).

Figura 10 – Arriba: diagrama de cajas a partir de datos minutales de la


campaña multiparamétrica, los puntos negros corresponden al valor
medio para el mismo periodo de tiempo de la estación meteorológica
más cercana. Abajo: desviación del ciclo diurno para cada lugar de
medición en el dosel urbano respecto al valor de la estación
meteorológica (línea negra). De izquierda a derecha: temperatura,
humedad relativa, radiación y velocidad del viento.

Al comparar las mediciones del dosel urbano frente a las estaciones (Figura 10 puntos negros y 10), se
notaron los siguientes patrones.
- La temperatura del dosel urbano (al igual que en la sección 4.2) es más alta que la medida en las
estaciones, especialmente durante el día. Las temperaturas más altas se dan en sitios con poca
vegetación y prevalencia de materiales impermeables (mediciones 1,2,6). La única medición que
presenta temperaturas considerablemente más cálidas durante todo el día y la noche es la medición

563
del cañón urbano cerrado. Los sitios con sombra de vegetación sobre el sensor (mediciones 5,7)
presentan temperaturas similares a las estaciones meteorológicas.
- El entorno en el dosel urbano tiende a ser un más húmedo que el de las estaciones, siendo más
húmedo en los sitios con más vegetación. Sólo en los lugares con vegetación nula (mediciones 1,6)
la humedad tendió a ser igual o incluso un poco menor a las estaciones.
- La radiación se vio altamente condicionada por el acceso solar de cada sitio, por ende, aquellos más
abiertos (mediciones 2,6) presentaron valores más cercanos a las estaciones. En el resto de los
lugares la radiación varió de acuerdo con la ubicación de los obstáculos (como edificaciones y
árboles) con picos en las horas de exposición directa al sol.

4.3.2. Implicaciones en términos de confort térmico en espacios exteriores a través de análisis cuantitativos
Las variaciones descritas (sección 4.3.1) indican que cada lugar tiene un comportamiento micro climático
característico, influenciado por aspectos como la geometría urbana, la cantidad de vegetación, y materiales
de construcción. Si se tienen en cuenta los factores fundamentales que definen el ambiente térmico en
humanos (Parsons, 2014), entonces cada entorno de medición influencia de manera única cómo la población
puede percibir su microclima. En este apartado, se analizan las posibles implicaciones en confort térmico en
exteriores a través de análisis cuantitativos, con el diagrama psicrométrico, pero se añade además el uso de
índices térmicos como mPET (Chen; Matzarakis, 2017) y UTCI (Błazejczyk et al., 2013). Estos índices en su
planteamiento teórico tienen en cuenta los flujos individuales de calor del balance energético humano.
Los ciclos diurnos en el diagrama psicrométrico (Figura 11) muestran las diferencias micro climáticas
que se pueden inducir cuando la vegetación hace parte del entorno (mediciones 3,4,7) y cuando hay ausencia
de esta (1,2,6). Las zonas con vegetación presentan condiciones dentro la zona de confort durante gran parte
del día, y en la noche, madrugada y primeras horas de la mañana muestran condiciones húmedas. En las
zonas con vegetación escasa, el comportamiento es más variable, pero tiende a presentar condiciones cálidas
durante más tiempo. Aquí se presta especial atención a la medición 6, ya que tiene una amplitud térmica
mayor, a causa de que allí prevalecen superficies impermeables (calles asfaltadas) que alcanzan altas
temperaturas en el día. Otra forma de analizar este diagrama es mediante la cantidad de tiempo en qué un
lugar está o no dentro de condiciones confortables. En este caso analizando sólo la temperatura (Figura 11,
derecha), se puede notar de una mejor manera contraste entre las categorías con y sin vegetación. Aquí es
especialmente notable la medición en el cañón cerrado (medición 1) que, si bien presenta un mayor número
de horas bajo temperaturas confortables, no presenta horas frías, y un número de horas cálidas similar al de
las otras mediciones con vegetación escasa. Esto es resultado del balance radiativo dado por su geometría,
donde en horas de la noche es posible que no se dé una liberación de calor de onda larga eficiente.

Figura 11 – diagrama psicrométrico con el ciclo diurno de humedad


relativa y temperatura para cada lugar de medición de la campaña
multiparamétrica. Los colores de cada polígono corresponden a la
leyenda de Figura 2 y 8.

Por otra parte, los índices térmicos confirman lo que muestran los diagramas
psicométricos, ya que manifiestan condiciones térmicas cercanas al confort térmico en el dosel urbano
durante gran parte del día —especialmente el UTCI—, con particularidades que varían entre sitios con y sin
vegetación. También, se nota el contraste entre el comportamiento de los índices en el día y la noche de las
estaciones meteorológicas (línea negra, en Figura 12) versus los datos en el dosel.

Figura 12 – desviación del ciclo diurno de temperatura


media radiante, mPET y UTCI para las mediciones 01, 06,
07 (los lugares más contrastantes de la campaña) respecto al
valor de la estación meteorológica (línea negra). Los colores
del fondo corresponden a las categorías estándar de estrés
térmico para los índices PET y UTCI.

Durante el día los sitios sin vegetación, más que los otros,
podrían propiciar condiciones térmicas que induzcan estrés térmico por

564
calor, especialmente en las horas pico de radiación de cada lugar, lo cual puede estar ligado a la carga
térmica impuesta por la radiación incidente (Tmrt: temperatura radiante media, en Figura 12). Asimismo, los
rangos alcanzados en mPET y UTCI, muestran que los lugares sin vegetación se calientan y enfrían más
durante el día, o al menos pueden producir sensaciones térmicas más cambiantes a lo largo de las horas con
sol. Mientras que en el sitio con vegetación y el cañón urbano cerrado (mediciones 1 y 7) se dan índices
con valores más cercanos al rango “Sin estrés térmico” durante todo el día, por ende, son lugares con una
mejor regulación térmica.
Durante la noche los resultados de PET (no mostrado), mPET, y UTCI están dentro o cerca del rango
“Sin estrés térmico” y muestran valores más altos que los índices de las estaciones (que alcanzan valores de
estrés por frío ligero), por ende, la sensación térmica en el dosel urbano es un poco más cálida que aquella
dada por encima del nivel de techo.

4.3.3. Cambios en el microclima de acuerdo con la disponibilidad energética en el dosel urbano


En este apartado, se analiza la disponibilidad energética de cada lugar de medición en función de la
geometría del entorno. Con datos de la red meteorológica de SIATA se evidenció una relación directa entre
la amplitud térmica y la irradiación diurna, es decir que el cambio de temperatura entre la madrugada y la
tarde es una respuesta a la disponibilidad energética del lugar durante el día (Guzmán, 2018). Esto también
se confirma para los datos de esta campaña (Figura 13) donde, además, se puede notar que cada sitio de
medición presenta un comportamiento particular. En este caso, las mayores irradiaciones y amplitudes
térmicas se presentan en los espacios abiertos (mayor porción de cielo visible) y con menor vegetación
(mediciones 2,4,6); mientras que las menores irradiaciones se dan en los lugares con más obstáculos (sitios
con vegetación). El cañón cerrado presenta un comportamiento intermedio entre los sitios con y sin
vegetación.
Figura 13 Relación entre la irradiación diurna y la amplitud térmica para
variables medidas en el dosel urbano (izquierda). Regresión lineal entre la
irradiación diurna medida dentro y fuera del dosel con el respectivo coeficiente de
Pearson.

El comportamiento descrito en la Figura 13 implica que para días con cielo despejado se darán
amplitudes térmicas más altas, y por ende se podrán alcanzar mayores temperaturas especialmente en sitios
con alto acceso solar en el dosel urbano. Por ende, se pueden pronunciar los efectos urbanos descritos en la
sección la sección 4.3.1. Un caso claro es la temperatura, porque en estaciones el promedio máximo diurno
en Medellín no supera los 28°C, aunque en condiciones de cielo despejado se han alcanzado temperaturas de
hasta 32°C. Pero en promedio, en un día despejado en el dosel urbano se pueden encontrar entre 28.4 y 33.6
°C, con mayores temperaturas en las mediciones 1, 5 y 6 asociado a las horas pico de radiación. Esto se
describe con más detalle en los capitulos 4 y 5 de Guzmán (2018).

5. DISCUSIÓN Y CONCLUSIONES
A través del uso de datos representativos de una escala climática local y micro climática fue posible analizar
efectos urbanos en distintas variables meteorológicas en el Valle de Aburrá. Teniendo en cuenta la topografía
del Valle se examinó el comportamiento térmico en relación con la altura, y se encontró que hay
modificaciones del gradiente de temperatura que responden al entorno de medición, y que el dosel urbano
tiende a mostrar mediciones más cálidas y húmedas (Datos CC y CMP) que las mediciones realizadas por
encima de este (Datos estaciones meteorológicas de SIATA).
A través del análisis de casos de estudio en sitios con alturas similares, pero con distintas
configuraciones urbanas (datos CMP), se encontró que la meteorología en el dosel urbano (y posiblemente la
sensación térmica) varía en función principalmente del acceso solar, debido a la geometría urbana, el tipo de
coberturas y la vegetación situada alrededor de los sensores.
Por ende, los resultados hallados plantean la posibilidad de pensar en estrategias de diseño urbano, tanto
para edificaciones como espacios públicos que aprovechen el clima del Valle, con sus complejidades, como
criterio básico de diseño. De acuerdo con los resultados de esta investigación por rangos de altura se podría
proponer lo siguiente:
- En lugares situados en la zona de clima frío y húmedo (alturas mayores a ~2000 m.s.n.m y tipo de
clima Cfb) es recomendable usar estrategias para la noche que propicien la conservación del calor sensible
del día, y para el día que disminuyan la exposición al viento en ambientes al aire libre.

565
- Entre 1500 y 2100 m.s.n.m las condiciones térmicas durante la mayor parte del día son deseables (de
acuerdo con los referentes de confort térmico) y las noches son un poco más frías y húmedas, por lo que se
recomienda propiciar espacios que conserven calor sensible del día y que generen sombra en las horas de
mayor radiación.
- Para lugares situados hasta ~1450 m.s.n.m, dependiendo del grado de cobertura vegetal y de
superficies impermeables en el entorno, las estrategias de diseño urbano podrían enfocarse a evitar disconfort
por calor. Por ende, para las horas de mayor carga térmica, se puede propiciar espacios en los que se eviten
altas temperaturas superficiales, y especialmente que minimicen el almacenamiento de calor sensible del día.
Se recomienda también propiciar sombra (a través de vegetación y disposición de elementos con materiales
de buena inercia térmica) y remoción convectiva de calor a través de la ventilación natural.
Dicho lo anterior, no hay que perder de vista que el Valle de Aburrá cuenta con un régimen climático
deseable, puesto que las variaciones en el comportamiento mensual de temperatura y humedad relativa en las
zonas urbanas tienden a estar cerca de referentes de confort térmico. Por lo que dependiendo de las
necesidades de aclimatación una estrategia enfocada a mejorar el microclima para una porción dada del día
puede funcionar durante todo el año, siendo más relevante conocer el comportamiento a escala subdiaria que
mensual.
Cabe mencionar que la discusión generada en este estudio está más enfocado al microclima en
espacios exteriores, y que para extender el alcance a espacios interiores se requiere de otro tipo mediciones y
análisis. Para generar espacios interiores energéticamente eficientes el microclima exterior (no sólo el dato
promedio de las estaciones climáticas de aeropuertos) condiciona, por ejemplo, el tipo de diseño bioclimático
a emplear, por ende, es un dato válido y necesario, pero no es el único criterio a tomar en cuenta (otros
pueden ser limitaciones de espacio, limitantes de ruido externo, calidad de aire, tipos de materiales).
Para futuros trabajos se propone realizar un análisis de exposición de la población a diferentes
microclimas en sus rutinas diarias (con una mejor representación de la temperatura media radiante), que
permita alimentar el debate sobre cuál es el clima que se considera para diseñar. Esto último siendo relevante
al considerar las tendencias locales de cambio climático y la inexistencia de una línea base de estudios en
confort térmico que soporte las acciones de adaptación climática locales.

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del Valle de Aburrá, 2015. Universidad Nacional de Colombia.

AGRADECIMENTOS
Este trabajo fue apoyado por el Área Metropolitana del Valle de Aburrá (AMVA), el municipio de Medellín,
Grupo EPM e ISAGEN bajo el contrato CD511, 2017. Gisel Guzmán fue financiada parcialmente por la
Universidad Nacional de Colombia bajo el programa de becas de la Facultad de Minas. Los autores también
desean reconocer el uso de software libre que incluye Python y Matplotlib.

566
EFEITOS DA VEGETAÇÃO VIÁRIA NO CONFORTO TÉRMICO
URBANO: ESTUDO DE CASO NAS AVENIDAS MORANGUEIRA E PEDRO
TAQUES NA CIDADE DE MARINGÁ, PR
Beatriz Falco Knaut (1); Aline Lisot (2); Igor José Botelho Valques (3)
(1) Arquiteta e Urbanista, discente do Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Engenharia Urbana (PEU)
da Universidade Estadual de Maringá, beatrizfknaut@gmail.com, (44) 99131-3803
(2) Prof.ª Dr.ª do Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Engenharia Urbana (PEU) da Universidade
Estadual de Maringá, alinelisot@uem.br, (44) 99928-8129
(3) Prof. Dr. do Programa de Pós-Graduação – Mestrado em Engenharia Urbana (PEU) da Universidade
Estadual de Maringá, ijbvalques@uem.br, (44) 99749-1111

RESUMO
Cada vez mais o planejamento urbano tem integrado elementos naturais aos espaços da cidade, inclusive
com relação à arborização urbana em geral e arborização viária, visando assim a melhoria da qualidade de
vida nos ambientes urbanos. Entretanto, algumas situações estão em desacordo com essa política. Um
exemplo é o que ocorre na cidade de Maringá (PR), na qual algumas de suas avenidas mantiveram a
arborização original, como a Avenida Pedro Taques, enquanto outras tiveram as árvores de seus canteiros
centrais removidas para dar lugar a novas pistas viárias, como é o caso da Avenida Morangueira. O atual
trabalho teve como propósito avaliar variáveis climáticas, como temperatura e umidade do ar, relacionando-
as ao posicionamento de indivíduos arbóreos em duas avenidas da cidade de Maringá, uma com e outra sem
o agrupamento vegetal, sendo elas as Avenidas Pedro Taques e Avenida Morangueira, respectivamente.
Posteriormente foi analisada a sensação térmica dos usuários do local, a fim de compreender se eles notaram
diferença com relação ao conforto térmico na avenida que teve sua vegetação removida. Os resultados
obtidos apontam para a positiva contribuição da presença arbórea no microclima do local avaliado, e a nítida
percepção dos usuários perante a isso. Por outro lado, a Avenida Morangueira ficou prejudicada pela retirada
das árvores do canteiro central. Os dados encontrados ressaltam a importância da arborização urbana viária
nas condições microclimáticas dos centros urbanos, o que contribui diretamente para a melhoria do conforto
térmico urbano.
Palavras-chave: arborização urbana, microclima urbano, variáveis climáticas, percepção dos usuários

ABSTRACT
Increasingly, urban planning has integrated natural elements into the spaces of the city, including in relation
to urban tree-planting in general and tree-planting in avenues, aiming at improving the quality of life in
urban environments. However, some situations are in disagreement with this policy, an example is what
happens in the city of Maringá (PR), in which some of its avenues maintained the original afforestation, such
as Avenida Pedro Taques, while others had trees from their flowerbeds removed to give way to new
roadways, as is the case of Avenida Morangueira. The present work had the purpose of evaluating climatic
variables, such as temperature and humidity of the air, relating them to the positioning of arboreal
individuals in two avenues of the city of Maringá, one with and another without the vegetal grouping, being
the Avenues Pedro Taques and Avenida Morangueira, respectively. Later, the thermal sensation of the
individuals occupying the place was analyzed in order to understand if they noticed a difference in relation to
the thermal comfort in the avenue that had its vegetation removed. The results obtained point to the positive
contribution of the tree presence in the microclimate of the evaluated site, and the clear perception of the
users regarding this. On the other hand, Avenida Morangueira was damaged by the removal of trees from the

567
central plot. The data found highlight the importance of urban tree planting in the microclimatic conditions
of urban centers, which contributes directly to the improvement of urban thermal comfort.
Keywords: urban afforestation, urban microclimate, climatic variables, users perception
1. INTRODUÇÃO
O aumento da população mundial é um fator recorrente ao longo dos anos e após as duas primeiras
Revoluções Industriais a população urbana é cada vez maior. As cidades cresceram em alta velocidade, o que
dificultou a execução de um planejamento urbano adequado quanto ao uso do solo, tornando-as mais áridas e
quentes (MASCARELLO, et al., 2017). Outro problema encontrado é a necessidade de se adequar espaços
existentes à nova realidade das cidades, muitas vezes as áreas verdes são removidas dando lugar a novas vias
e loteamentos, prejudicando ainda mais o espaço urbano. Nesse cenário, a vegetação nessas áreas tem
decrescido cada vez mais.
O rápido processo de urbanização é capaz de provocar impactos sobre o clima local, originando
condições atmosféricas específicas sobre a cidade, o que é chamado de "clima urbano" (LOMBARDO,
1985). Os diferentes microclimas são causados pelas diversas características de ocupação espacial, pois o
espaço urbano tem a capacidade de acentuar ou atenuar as alterações climáticas, uma delas é a ocorrência de
vegetação e/ou massas d'água significativas (JUNIOR E AMORIM, 2016). Muitos dos problemas típicos
causados pela urbanização sem planejamento também têm influência sobre o conforto térmico urbano. A
desconsideração das variáveis ambientais pode trazer consequências negativas para a saúde, a qualidade de
vida, as atividades sociais, econômicas e recreacionais realizadas em ambiente externo e até para o conforto
termo-higrométrico interno dos edifícios (FURTADO, 1994).
Quando se busca o conforto térmico humano em áreas urbanas é importante destacar a qualidade do
sombreamento pela vegetação arbórea presente em determinado local. Sabe-se que as árvores oferecem
grandes benefícios ambientais: produzem a sombra e a evapotranspiração necessárias à regulação de
temperatura e umidade na melhoria das condições microclimáticas e retém a água da chuva por tempo
suficiente para permitir um escoamento gradual. Além disso, a vegetação reduz a velocidade local dos ventos
(ZAIDAN, et al., 2017).
Assim, as massas vegetais têm papel fundamental no microclima urbano e na qualidade do ambiente
construído porque os controles que exercem estão diretamente relacionados com o conforto térmico em
espaços externos (LABAKI, et al., 2011). Segundo Adam (2001) onde o conforto ambiental se torna crítico,
a arquitetura de paisagem, pensando ecologicamente, propõe como medida fundamental o enriquecimento
das áreas verdes remanescentes e a criação delas onde não existem.
Gomes e Amorim (2003) realizaram uma pesquisa avaliando as diferenças térmicas e higrotérmicas
entre uma praça densamente arborizada e outra desprovida de cobertura vegetal e concluíram que, quanto às
condições térmicas, a vegetação é importante como agente regulador do campo térmico do entorno. Isso
devido à praça mais arborizada ter apresentado melhores índices de conforto em relação aos demais pontos
observados, onde resultados de temperatura efetiva foram mais elevados, agravando as sensações térmicas de
estresse ao calor percebido pelo organismo humano.
O Estatuto da Cidade (BRASIL, 2002), em seu 2º artigo, define que a política urbana, entre outras
coisas, deveria garantir o direito a cidades sustentáveis e que o planejamento do desenvolvimento das
cidades deveria "evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio
ambiente" (inciso IV).
A literatura citada traz aspectos relativos à arborização urbana em geral, mas percebe-se que pouco
se comenta sobre a arborização urbana viária. Este estudo visa, realizar uma discussão sobre o assunto e isso
serve de motivação para trabalhos que quantifiquem a contribuição da arborização urbana no conforto
térmico, levando em consideração o controle da radiação solar pela vegetação e como esta influencia a
temperatura e a umidade local do ar.
Portanto este trabalho visa verificar a adequação ambiental, do ponto de vista termo-higrométrico,
comparando duas áreas urbanas na cidade de Maringá, sendo elas duas avenidas de mesma classificação
viária, vias coletoras, uma com vegetação no canteiro central e outra sem, buscando compreender a
diversidade microclimática em uma porção reduzida da cidade. A Avenida Morangueira atualmente possui
uma vegetação de pequeno porte no canteiro central, que não realiza um bom sombreamento, pois em 2016
houve uma reforma que retirou o canteiro central original, juntamente com sua arborização, para aumentar
uma faixa de rolamento, já a Avenida Pedro Taques, segundo objeto de estudo, manteve o maciço arbóreo do
canteiro central existente desde sua origem. As diferenças encontradas com relação aos dados de temperatura

568
e umidade coletados foram de 3°C e 12,5%, respectivamente, para o horário das 06h00min até às 07h00min,
e uma variação na temperatura de 4,3°C e 9% para umidade entre às 14h00min até 15h00min.

Além disso, objetiva-se averiguar se a retirada da vegetação viária influencia no aumento da


sensação térmica de calor para os usuários, uma vez que aumenta a área de insolação das fachadas,
ocasionando uma falta de sombreamento e proteção contra a radiação, acarretando um aumento na sensação
térmica dos comerciantes e prestadores de serviço presentes no local. Os dados foram obtidos a partir de uma
análise realizada em áreas com presença e ausência de arborização urbana viária, e posteriormente foram
comparados com uma pesquisa, que visou analisar a percepção térmica dos usuários na área sem arborização.

2. OBJETIVO
Caracterizar a influência de agrupamento arbóreo no estabelecimento de condições microclimáticas
favoráveis ao meio urbano, particularmente em ruas e calçadas.

3. MÉTODO
A pesquisa exploratória é realizada a partir de dois delineamentos, o primeiro está relacionado com a
realização de uma pesquisa ex-post facto, pois o estudo foi realizado após a ocorrência de variações em um
dos objetos de estudo, a Avenida Morangueira. O segundo delineamento é a realização de um estudo de caso,
que abrange a avaliação de dois objetos de estudo pré-selecionados.
A pesquisa é estruturada dentro de três etapas, sendo a primeira uma apresentação da área de estudo,
seguida por um procedimento de coleta e comparação de dados, referente aos parâmetros higro-térmicos
dessas áreas e por fim a aplicação de um questionário para avaliação da percepção dos usuários na área sem
arborização.

3.1. Apresentação da área de estudo


A pesquisa foi realizada em duas áreas distintas de Maringá, cidade localizada no Paraná, a 427 km de
Curitiba, capital do estado (Figura 1), conhecida por ser uma das cidades mais arborizadas e limpas do país.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população estimada para
Maringá, em 2018, é de 417.010 habitantes.

Curitiba

Figura 1- Localização de Maringá (GEOGRAFIA DE MARINGÁ, 2018).

Conforme a NBR 15220-3 (2003) Maringá está localizada na Zona Bioclimática 3, ou seja, possui
um verão longo e quente e um inverno curto e ameno. Nos últimos 10 anos a temperatura mínima registrada
foi de 06°C e a máxima de 33°C, a média variou entre 20°C e 25°C (Tabela 1). Na cidade, a temperatura
raramente é inferior a 9°C ou superior a 35°C (INMET, 2019).

Tabela 1 – Temperatura e Umidade Relativa do ar em Maringá (INMET, 2019).

ANO T máx (°C) T min (°C) T média (°C) U máx (%) U min (%)
2018 27 11 24 94 33
2017 30 09 22 95 25

569
2016 31 11 23 100 30
2015 30 13 22 100 24
2014 31 12 25 100 27
2013 29 06 20 100 28
2012 31 12 25 99 27
2011 30 07 22 96 26
2010 33 12 26 97 15
2009 30 10 24 97 38
2008 31 10 23 94 30

Os locais escolhidos para realizar a pesquisa foram duas avenidas localizadas no bairro Vila Santo
Antônio, na porção norte da cidade: Avenida Morangueira e Avenida Pedro Taques (Figura 3). Essas
avenidas foram projetadas e implantadas com as mesmas características: ambas estão locadas no sentido
nordeste-sudoeste, possuíam um canteiro central largo (5 metros), duas faixas de circulação, faixa de
estacionamento em ambos os lados e calçadas largas (4 metros), além de serem vias arteriais da cidade
destinadas ao uso de comércio e serviço. Dessa forma, a ocupação dessa área se dá basicamente durante o
horário comercial de Maringá, das 08h00min às 18h00min. A hipótese, devido ao horário de ocupação, é que
a arborização viária influencie no conforto térmico dos usuários.

Legenda:
Avenida Morangueira
Avenida Pedro Taques
Avenida Colombo
N Avenida Alexandre Rasgulaeff
Sem escala

Figura 2 - Localização das Avenidas em Maringá (Adaptado de MARINGÁ, 2018).

A intensa arborização urbana é uma das principais características de Maringá, cidade marcada por
largos canteiros e árvores de grande porte em quase todas suas avenidas. No entanto, em 2016, se iniciou
obras na Avenida Morangueira para viabilizar um corredor de circulação de ônibus exclusivo, inaugurado em
2018. Como consequência da mesma, o canteiro central da avenida foi desmanchado e as árvores existentes
foram removidas (Figura 3 e 4), dando lugar a um canteiro estreito e uma nova pista de circulação viária.
A escolha da Avenida Morangueira como um dos objetos de estudo se deu devido a essa
modificação, pois, dessa forma é possível avaliar a percepção dos usuários do local diariamente após a
retirada do agrupamento arbóreo. A segunda área foi escolhida por ser próxima a Avenida Morangueira e
possuir características semelhantes às vistas antes da obra mencionada, como um canteiro largo e presença
de vegetação formando um corredor verde ao longo da via, além da mesma configuração de desenho viário

570
(Norte-Sul), para que, dessa forma, as medições microclimáticas realizadas apresentassem resultados
próximos aos que pudessem ser medidos na própria avenida.

Figura 3 - Av. Morangueira pré-obras (RIGON, 2017). Figura 4 - Av. Morangueira pós-obras (Os AUTORES).
Devido a essa diferença na arborização das avenidas a tendência é que haja contraste nos dados
coletados, pois a Avenida Pedro Taques apresenta trechos arborizados em ambos os lados e no canteiro
central, formando um túnel verde (Figura 5), e a Avenida Morangueira possui trechos sem arborização, como
o canteiro central, e pouca arborização em ambos os lados das vias (Figura 6).

4,0 9,0 5,0 9,0 4,0

Figura 5 - Corte esquemático da Avenida Pedro Taques (OS AUTORES).

4,0 11,0 1,0 11,0 4,0


Figura 6 - Corte esquemático da Avenida Morangueira (OS AUTORES).

Ambos os trechos analisados possuem uma extensão de 1,5 Km, iniciado no cruzamento das
avenidas em análise com a Avenida Colombo e finalizando no cruzamento com a Avenida Alexandre
Rasgulaeff. A largura da via da Avenida Pedro Taques é de nove metros, em cada um dos lados, a largura do
canteiro central é de cinco metros. A vegetação presente nas calçadas é a Sibipiruna (Caesalpinia
peltophoroides) e a espécie arbórea presente no canteiro é o Ipê-Roxo (Tabebuia impertiginosa), como é
possível observar na Figura 7.

571
Figura 7 - Imagem Avenida Pedro Taques (OS AUTORES).

Já com relação à Avenida Morangueira a largura das vias é de onze metros e a vegetação presente
nas calçadas também é a Sibipiruna (Caesalpinea pluviosa), porém não se apresenta de maneira constante
como acontece na outra avenida, a largura original do canteiro era a mesma da Avenida Pedro Taques e a
espécie vegetal presente no local era a Grevílea (Grevillea robusta). Após as obras, a largura do canteiro
central passou de cinco metros para um metro e atualmente possui arborização desordenada, ou seja, sem um
espaçamento padrão, deixando grandes extensões sem vegetação (Figura 8). Além disso, a espécie plantada
foi a Palmeira Imperial (Roystonea oleracea), que praticamente não sombreia a via.

Figura 8 - Imagem Avenida Morangueira (OS AUTORES).

O contraste físico entre as duas avenidas é evidente, a partir disso procura-se analisar se existe uma
diferença entre os parâmetros higro-térmicos e se alguma mudança foi percebida pelos usuários da Avenida
Morangueira, por conta da maior incidência solar.

3.2. Procedimento de coleta de dados


Foram demarcados, na área de estudo, quatro pontos em cada uma das avenidas, distanciados de 500m em
500m (Figura 10). Os dados coletados foram temperatura ambiente e umidade relativa do ar. Essa escolha se
deu para que fosse possível a tomada de dados dentro de um período máximo de uma hora, pois, dessa
forma, a variação térmica não seria muito significativa e os dados poderiam ser comparados.

572
Ponto 04

Ponto 08

Ponto 03

Ponto 07

Ponto 02

Ponto 06

LEGENDA:
Ponto 01 Avenida Morangueira
Avenida Pedro Taques
Avenida Colombo
Ponto 05
Avenida Alexandre Rasgulaeff
Pontos de medições

Figura 9 - Pontos de medição (Adaptado de GOOGLEMAPS, 2018).

As medições foram realizadas no mês de novembro, nessa época a temperatura normalmente varia
entre 18°C e 30°C. Optou-se por uma análise pontual no dia 20 de novembro de 2018, pois, com base nos
dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), seria um dia quente e ensolarado, com a seguinte
previsão do tempo: temperatura máxima de 29°C; temperatura mínima de 15°C; sem chuva e nascer do sol
previsto para 06h33min. Dois horários foram definidos para a coleta de dados: das 06h00min às 07h00min, o
mais fresco e úmido, e das 14h00min às 15h00min, o mais quente e seco.
Para a coleta dos indicadores térmicos o equipamento utilizado foi o Termo-Higrômetro Digital
Portátil modelo DT-321, da marca CEM que opera medição de temperatura e umidade através de um sensor
semicondutor nas seguintes escalas: Temperatura: -20°C a 60°C e -4°F a 140°F; Umidade 0% RH a 100%
RH, precisão: ±3,5% RH (em 25b, 5%~95%RH), resolução: 0,1% RH, 0,1°C/°F, com umidade de operação
máxima de 80%RH, calibrado do Laboratório de Conforto Ambiental do Departamento de Engenharia Civil
da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
O aparelho foi posicionado na calçada, afastado a 1 metro do alinhamento predial, direcionado para
a rua e locado a 1,20 metros de altura. Após o procedimento os dados foram anotados manualmente e
transferidos para uma planilha eletrônica do Excel®.

3.3. Aplicação de questionário para a avaliação da percepção dos usuários na área sem
arborização
A fim de compreender a percepção dos usuários com relação às mudanças que ocorreram a partir da
modificação da Avenida Morangueira foi elaborado um questionário, que foi respondido por 56 usuários do
local no dia 13 de novembro de 2018. O questionário era composto das seguintes indagações:
• Você percebeu alguma mudança na sensação térmica ao caminhar pela calçada? Quando a resposta
era afirmativa perguntou-se qual foi a mudança percebida.
• Você percebeu alguma variação na sensação térmica dentro de sua edificação?
Como o uso da área é predominantemente comercial e serviço, essa pesquisa foi realizada
basicamente com os comerciantes locais, com objetivo principal de compreender se essas pessoas notaram
diferenças climáticas, tanto dentro dos estabelecimentos, quanto ao longo da avenida, após a retirada do
agrupamento arbóreo.

573
4. RESULTADOS E ANÁLISES
Na Tabela 2 são apresentados os resultados das medições.

Tabela 2 - Dados Climáticos

06h00min às 07h00min 14h00min às 15h00min


Ponto
Temperatura (°C) Umidade Relativa (%RH) Temperatura (°C) Umidade Relativa (%RH)
1 24,4 53,2 32,7 43,2
2 23,8 53,6 32,7 43,6
3 24,2 53,4 32,5 42,8
4 24,3 54,2 32,5 40,5
Média 24,2 53,6 32,6 42,5
5 21,6 64,9 28,4 49,6
6 21,6 65,3 28,9 47,8
7 21,7 65,5 28,6 48,8
8 21,4 66,1 28,4 47,8
Média 21,6 65,45 28,6 48,5

No horário das 06h00min às 07h00min, o mais fresco e úmido, percebe-se que os índices de
temperatura na área não arborizada são maiores dos que obtidos na área arborizada e os índices de umidade
são maiores na área com mais arborização. Nesse horário, a presença dos elementos arbóreos exerce maior
influência na umidade, com uma diferença de 12,5%, variando de 53,2% no ponto 1 até 66,1% no ponto 8,
do que na temperatura do ar, a qual possui uma variação de 3ºC, indo de 21,4°C no ponto 8 até 24,4°C no
ponto 1.
Já com relação ao horário mais quente e seco, das 14h00min às 15h00min, evidencia-se a influência
das árvores na diminuição das temperaturas e no aumento da umidade relativa. Nesse momento a
temperatura apresenta uma diferença de 4,3°C, variando de 28,4°C nos pontos 5 e 8 até 32,7°C nos pontos 1
e 2, enquanto que a umidade relativa apresenta uma diferença de 9,1%, variando de 40,5% no ponto 4 a
49,6% no ponto 5.
A partir das medições pode-se notar que o maciço arbóreo exerce grande influência na variação de
temperatura do ambiente, principalmente nos horários com maior incidência solar, por exemplo, durante o
período vespertino a variação média de temperatura foi 4,02ºC e a variação média da umidade relativa do ar
foi de 5,97%, sendo esse um aumento significativo, prejudicando o conforto térmico dos usuários.
Isso porque a arborização faz com que o bloqueio dos raios solares diretos diminua a temperatura
relativa do ar, mantendo o ambiente mais fresco na Avenida Pedro Taques quando comparada à Avenida
Morangueira. A umidade relativa também sofre uma variação média significativa com a presença do
agrupamento vegetal, principalmente no período noturno, sendo de 11,85%, pois não há incidência solar,
aumentando a capacidade da vegetação de reter a umidade.
Por fim, pode-se dizer que a remoção das árvores presentes no canteiro central da Avenida
Morangueira influenciou diretamente no aumento da temperatura do local. Tal fenômeno foi comprovado
também em um estudo realizado por Bueno (1998), o qual mostra que espécies como o ipê-roxo (Tabebuia
impertiginosa) e a sibipiruna (Caesalpinia peltophoroides), promovem, respectivamente, cerca de 75,6% e
88,5% de atenuação da radiação solar incidente.
A pesquisa realizada com os usuários locais da Avenida Morangueira revela que a maioria das
pessoas percebeu o aumento da temperatura na área externa, como vias e calçadas (Figura 10). Já com
relação ao conforto térmico dos edifícios presentes na avenida a percepção muda, uma vez que muitos
estabelecimentos fazem uso de condicionadores de ar, portanto a quantidade de usuários que notaram
alterações na temperatura interna dos ambientes foi maior que 50% (Figura 11).

574
16%
41%
59%
84%

Sensação de aquecimento Sensação de aquecimento

Mesma sensação térmica Mesma sensação térmica

Figura 10 - Conforto térmico na área externa (OS AUTORES). Figura 11 - Conforto térmico na área interna (OS AUTORES).

De qualquer maneira é visível, tanto por meio das medições realizadas, quanto por meio da avaliação
da sensação térmica dos usuários locais, que os elementos vegetais atuam reduzindo a temperatura do ar e
aumentando a umidade, como afirma Oliveira (2011), em seu estudo que comprova que a temperatura do ar é
amenizada pela vegetação através do controle da radiação e pela umidade liberada através das folhas.

5. CONCLUSÃO
Buscando analisar a adequação ambiental de um ambiente urbano, do ponto de vista termo-higrométrico,
este trabalho mostrou que pode haver uma relativa diversidade microclimática num recinto urbano pequeno,
se comparado ao tamanho da cidade, que geralmente não é perceptível em abordagens de escala mais largas.
Através desse estudo pode-se observar a influência positiva da arborização urbana viária no conforto
térmico urbano. Na área em que ocorre a presença de árvores de grande porte as temperaturas do ar medidas
foram inferiores quando comparadas aos dados coletados na área sem arborização, assim como a umidade
relativa do ar foi maior, favorecendo o conforto térmico.
Desta forma, conclui-se que o maciço arbóreo influencia diretamente nas áreas de fachadas
ensolaradas, causando sombreamento e proteção contra a radiação solar direta nas superfícies urbanas,
interferindo assim, na sensação de conforto térmico humano, tanto ao longo das avenidas, como dentro das
edificações.
O trabalho foi realizado em um dia quente, após uma semana de chuvas frequentes, teria sido
importante expandir o estudo para outras estações do ano, para uma maior amostragem de variáveis. Outro
ponto importante é que a arborização viária seja também estimulada por meio de planejamento e legislação
específica, evitando o plantio de simples gramados, como tem acontecido em muitas cidades no Brasil e nas
reformas de avenidas, que antes eram arborizadas, na cidade de Maringá.

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<http://www.infohab.org.br/encac/files/2017/topico2artigo26.pdf>. Acesso em nov. 2018.

AGRADECIMENTOS
À Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo suporte financeiro à
mestranda

576
ENERGIA NA CIDADE ATRAVÉS DO ENVELOPE SOLAR: UMA
REVISÃO DA LITERATURA
Jacqueline Alves Vilela (1); Eleonora Sad de Assis (2)
(1) Arquiteta, Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ambiente Construído e
Patrimônio Sustentável (UFMG), arqjacvilela@gmail.com
(2) Arquiteta, D. Sc., Professora do Dep. de Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo (UFMG),
eleonorasad@yahoo.com.br
Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Arquitetura (EA-UFMG), Rua Paraíba, 697,
30130-141 - Belo Horizonte - MG, Tel. (31)3409-8823

RESUMO
Diante da imensa população mundial que se abriga nas cidades e da demanda crescente por energia
renovável, o uso dos envelopes solares, que pode garantir o acesso a energia solar, coloca-se como um
conceito fundamental e indispensável para as cidades no século XXI. Assim, o objetivo deste artigo é
realizar uma revisão da literatura que aborde o envelope solar e sua aplicação dentro do tecido urbano. A
revisão abrangerá os estudos de conceituação e aplicação disponíveis. Como metodologia de pesquisa,
adotou-se o método qualitativo-descritivo e como procedimento técnico a pesquisa documental e
bibliográfica em bases de portais eletrônicos disponíveis. Foram triados e analisados 16 estudos publicados,
além de textos clássicos e conceituais. Os resultados foram contextualizados e comparados evidenciando-se
convergências e divergências entre os estudos. Apesar de alguns autores evidenciarem a importância do uso
da técnica do envelope solar e disponibilizarem metodologias e software para geração dos mesmos, na fase
de concepção de projetos, a grande lacuna é evidenciada quando se coloca que não existe ainda, nas cidades
brasileiras, nenhuma legislação que proponha e assegure o acesso ao sol em edifícios para uma efetiva
mudança da matriz energética brasileira.
Palavras-chave: Envelope Solar, Energia solar.

ABSTRACT
Faced with the immense world population that is sheltered in cities and the growing demand for renewable
energy, the use of solar envelopes, which can guarantee access to solar energy, is a fundamental and
indispensable concept for cities in the 21st century. Thus, the objective of this article is to carry out a
literature review that addresses the solar envelope and its application within the urban fabric. The review will
cover the available conceptualization and application studies. As a research methodology, the qualitative-
descriptive method was adopted, and as a technical procedure, the documentary and bibliographic research
was carried out on the basis of available electronic portals. Sixteen published studies and classical texts were
screened and analyzed. The results were contextualized and compared, revealing convergences and
divergences between the studies. Although some authors highlight the importance of the use of the solar
envelope technique and provide methodologies and software to generate them, in the project design phase,
the great gap is evidenced when it is stated that there is no legislation in Brazilian cities which proposes and
ensures access to the sun in buildings for an effective change in the Brazilian energy matrix
Keywords: Solar envelope, Solar energy.

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1. INTRODUÇÃO
Nos últimos dois séculos, assistiu-se no mundo ocidental, a um grande impulso no desenvolvimento das
cidades, de tal forma que, as áreas urbanas abrigam hoje aproximadamente 54 % população mundial, uma
proporção que se espera, venha a aumentar para 66% em 2050, segundo dados do Relatório de Prospecção da
População Urbana das Nações Unidas (2014). No Brasil a população urbana chegará a 88% do total, sendo
que 1/6 deste número estará habitando favelas (BRASIL, 2007).
As cidades brasileiras cresceram sendo o reflexo da aplicação de Leis de Uso e Ocupação do Solo
(LUOS) que as setorizam, de forma geral, com base em permissividade de usos, onde a orientação do
edifício é geralmente determinada pelo layout do arruamento e conseqüentemente, um edifício pode
facilmente projetar sombra sobre o outro. Neste contexto, poucos estudos e projetos consideram as vantagens
de uma boa orientação solar, diretrizes bioclimáticas e ganhos energéticos através das envoltórias, que a
implantação do edifício pode propiciar. Estas vantagens devem ser levantadas, principalmente, quando se
considera que a produção de energia constitui-se em uma das principais questões a serem enfrentadas na
cidade do século XXI (CALVILLO, SÁNCHEZ-MIRALLES, VILLAR, 2016).
Segundo Geller (2003), a energia permeia a vida humana e afeta diretamente todas as atividades deste
ser, sejam elas, sociais, econômicas ou culturais. O autor mostra ainda, que as tendências mundiais de
produção de energia, baseadas em combustíveis fósseis, não são sustentáveis, causando mudanças climáticas
aceleradas, uma rápida depleção dos recursos naturais e um colapso urbano, quando se levam em
consideração, a poluição do ar, as opções de transporte, além da oferta de serviços básicos, como o
fornecimento de energia para uma população urbana sem precedentes.
Dentre os grupos setoriais estratificados pelo Balanço Energético Nacional (BRASIL, 2015), o setor
residencial brasileiro apresenta-se como o segundo maior consumidor de energia elétrica, atrás apenas do
setor industrial. A participação relativa ao consumo de energia elétrica do setor residencial foi de 22,6% em
2004, evoluindo para 24,6% em 2014. Conforme as premissas do Plano Nacional de Energia 2030(PNE-
2030), elaborado em 2007, a participação relativa do consumo de energia elétrica do setor residencial, para
quatro diferentes cenários em 2030, foi projetada entre 24,3% e 28,7% (BRASIL, 2007). Percebe-se então,
uma mudança de comportamento no padrão de consumo energético do setor residencial brasileiro, bem como
a consolidação de uma situação de dependência. Pode-se inferir que se for mantida esta situação atual,
poderá haver um comprometimento da segurança de fornecimento de energia, um aprofundamento nas
questões ambientais e bem estar das gerações futuras.
A energia elétrica é a segunda maior fonte energética consumida no Brasil, atrás somente das fontes
derivadas do petróleo, e seu consumo relativo no ano de 2014, dentre as demais fontes, foi de 17,2%. A
principal fonte geradora de energia elétrica no Brasil ainda é a hidráulica. Todavia, o objetivo do governo
brasileiro (BRASIL, 2015) é ter, até 2030, uma matriz com fontes renováveis variando entre 28% e 33%,
sem contar com a fonte hídrica, ou seja, a partir de usinas eólicas, solares e a biomassa. Segundo dados do
GreenPeace Brasil (2016) é possível chegar a 34% da eletricidade oriunda dessas fontes renováveis, isso
porque existe um grande potencial para implementar medidas de eficiência energética e grandes áreas de
captação de energia eólica e solar no Brasil. Entretanto, Pereira(2010) indica em sua tese, que envolve a
compreensão das variáveis que interferem no consumo energético das edificações e os padrões de
implantação das edificações, que o parque edificado brasileiro não foi dimensionado ou preparado para
atingir este potencial, o que levanta um grande desafio para os planejadores urbanos.
O acesso à radiação solar e a produção de energia dela advinda, seja para aquecimento de água ou para
geração de energia, deve ser pensada desde a concepção dos projetos de parcelamento do solo e de edifícios,
já que a forma dos edifícios e as suas superfícies devem servir tanto de base para a utilização dos sistemas
solares ativos, como para a maximização de ganhos solares passivos. Desta forma, o acesso à energia solar,
está ligado à forma, orientação e disposição das envoltórias dos edifícios no tecido urbano. Projetos de
edifícios e de parcelamento urbanos que viabilizem o melhor aproveitamento e o uso de fontes renováveis de
energia, como a solar, por exemplo, podem minimizar os impactos ambientais e promover e diversificação
da matriz energética brasileira. Sistemas solares fotovoltaicos integrados ao envelope da construção podem
ser, atualmente, utilizados como elemento arquitetônico em coberturas, fachadas e janelas. Para tanto, a
indústria vem produzindo uma diversificada série de produtos capazes de coletar e armazenar a energia solar,
em diversos materiais - como módulos em aço inoxidável e vidros especiais autocolantes - para produção de
energia fotovoltaica, que podem ser aplicados nas envoltórias dos edifícios (RÜTHER, 2004).
Para Calvillo, Sánchez-miralles e Villar (2016) a cidade inteligente do século XXI deve gradualmente
migrar para um esquema completo de energia renovável, uma meta que pode ser facilitada pela Geração
Distribuída (GD). Em 2012, a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, publicou a Resolução
Normativa 482/12, que assegura que qualquer cidadão brasileiro que produzir a própria energia poderá

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reivindicar sua integração à rede elétrica comum e terá o valor da conta de luz reduzido. Além de poder
enviar energia para a rede elétrica. Com isso, será gerado um crédito onde, o valor pago na conta de energia
será apenas a diferença entre a energia produzida e enviada à rede e a consumida. Caso haja excedente, a
energia produzida a mais será usada como crédito nos 36 meses seguintes. Inúmeros são os exemplos de
realizações recentes com princípios solares nos cinco continentes, tanto nos projetos de edificações isoladas,
como em conjunto, utilizando o potencial para o aproveitamento da energia solar no aquecimento e
resfriamento de água e ambientes, e na conversão de energia solar em energia elétrica.
Assim, frente ao desafio da diversificação da matriz energética brasileira e da assimilação da nova
definição de cidade, que deve estar embasada na sustentabilidade, o conceito de Envelope Solar, que se
busca explorar neste estudo, abrange alguns conceitos fundamentais e indispensáveis para as cidades no
século XXI: a possibilidade de se garantir o acesso ao sol nas envoltórias e se trabalhar com energia solar
renovável e a possibilidade de geração distribuída dentro do tecido urbano.

2. OBJETIVO
Tendo em vista a contextualização apresentada, o objetivo deste artigo é realizar uma revisão da literatura
que aborde o envelope solar e sua aplicação dentro de cidades. A revisão abrangerá os estudos de
conceituação e aplicação disponíveis.

3. MÉTODO
Como metodologia de pesquisa, adotou-se o método qualitativo-descritivo e como procedimento técnico a
pesquisa documental e bibliográfica (LAKATOS; MARCONI, 2003). A fase de coleta de dados contou com
múltiplas fontes de evidência, publicações clássicas, periódicos nacionais e internacionais, além de consulta
em Anais de eventos nacionais e internacionais. As buscas foram feitas através de portais eletrônicos, nas
bases Scielo, Scopus(Elsevier), Web of Sciences, Google Scholar e Academic e sem limite de data,
utilizando-se o descritor "solar envelope". Os resultados foram armazenados e organizados no programa
Mendeley para análise. Foram triados e analisados 16 estudos publicados, em Anais de eventos e revistas
internacionais de alto impacto e textos clássicos e conceituais. Posteriormente, Os resultados foram
contextualizados e comparados evidenciando-se convergências e divergências entre os estudos Além disso,
ressaltaram-se os resultados mais relevantes acerca do uso dos envelopes solares e sua aplicação no tecido
urbano.

4. O ENVELOPE SOLAR
4.1. Definição
O Envelope Solar tem seu conceito básico proposto pela Escola de Arquitetura da cidade de Los Angeles, na
Califórnia, Estados Unidos, pelas equipes dos professores Ralph L. Knowles e Richard D. Berry (1980). Foi
desenvolvido em resposta ao programa “Solar City Program”, que quando anunciado em 1976, tinha como
objetivo incentivar o uso da energia solar nas residências, em virtude dos problemas com a matriz energética
naquela cidade. O método foi simulado em uma área selecionada, de densidade moderada, da cidade de Los
Angeles em duas hipóteses: uma para edifícios comerciais e outra para casas residenciais.
O método propõe um novo conceito de zoneamento para as Leis de Uso e ocupação do Solo e tem
como objetivo principal garantir aos edifícios e à parcela do solo, o acesso ao sol. O envelope solar é
definido dentro de um espaço tridimensional, no qual o edifício pode se desenvolver. Através de uma larga
possibilidade de combinações volumétricas, nos projetos dos edifícios, é possível trabalhar os volumes, de
forma a não permitir o sombreamento dos edifícios e das parcelas de terrenos vizinhos em determinadas
horas e locais. Pode ser utilizado para novas construções e para reconstruções dentro da malha urbana
(KNOWLES, 2003).
O Envelope Solar foi desenvolvido para limitar e modular a volumetria dos edifícios em determinado
contexto, em determinada localização, devendo ser desenvolvido especificamente para cada propriedade ou
parcela de terra urbana, pois são derivados do movimento do sol, o qual proporcionará uma incidência
específica, dependendo da localização do objeto de estudo no globo terrestre (KNOWLES, 2003). Em
comparação com as práticas convencionais de zoneamento, o envelope solar produz uma geometria
diferente: os limites do envelope derivam suas dimensões verticais dos movimentos diários e sazonais do sol.
Assim, enquanto os envelopes de zoneamento convencionais, das LUOS, têm a forma de um paralelepípedo,
o envelope solar tem espaços verticais e inclinados. Como resultado, os edifícios e blocos que preenchem
esses envelopes solares imaginários são mais propensos a ter formas únicas. Ruas assumem um caráter
direcional onde a orientação solar é claramente reconhecida.

579
O envelope solar não é definido apenas pelo caminho do sol, mas também por parâmetros fixos
definidos pelo projetista. A escolha destes determinará o equilíbrio entre o acesso solar e o potencial de
desenvolvimento do projeto. A escolha mais importante é a definição das horas durante as quais se quer
evitar a projeção de sombras em terrenos adjacentes. Quanto mais longo for o período de acesso solar diário,
menor será o volume desenvolvível sob o envelope. Obviamente, definir os tempos de corte como iguais ao
período entre o nascer e o pôr-do-sol não funcionaria, porque, nesse caso, poucos ou quaisquer edifícios
poderiam ser construídos. Para o projeto solar passivo, no mínimo 6 horas por dia no inverno é
considerado ideal, dependendo do clima (KNOWLES, 2003)(Figura 1).

Figura 1- Estudo da implantação dos envelopes (esquerda) e desenho dos edifícios gerados através dos envelopes (direita)
em Southpark, Los Angeles. (KNOWLES, 2003)

4.2. Ferramentas de geração do envelope solar


Muitos trabalhos já foram feitos ao longo dos anos para criar ferramentas computacionais para gerar
envelopes solares. Henkhaus (2012) descreve alguns dos softwares de geração de envelope solar existentes:
-SolCAD®: Esta ferramenta foi desenvolvida por Manu Jayal e Karen Kensek na USC School of
Architecture. Esta ferramenta pode gerar envelopes solares e é compatível com programas CAD, como o
AutoCAD e o form_Z.
-CalcSolar®: Foi desenvolvido por Karen Kensek na USC School of Architecture, em 1995,
usando o AutoLisp. Esta ferramenta foi conectada ao AutoCAD, e todas as entradas, cálculos e resultados do
usuário podem ser visualizados no AutoCAD.
-DIVA for Rhino: O DIVA for Rhino é um componente do plug-in do Grasshopper® para o
Rhinoceros®. Os recentes lançamentos do plug-in DIVA incluem um gerador de envelopes solares, que são
gerados usando a técnica de interseção booleana. Há uma extrusão para cada um dos dois tempos de corte
(manhã e noite) no solstício de verão e inverno.
-Ladybug: O ladybug é um plug-in que funciona conectado ao software Grasshopper® e que
permite a parametrização de variáveis associando-as aos arquivos tridimensionais gerados no Rhinoceros®
para identificar os envelopes solares, além de identificar a radiação solar global disponível nas superfícies
das fachadas da envoltória das edificações, dada em kWh/m², considerando o entorno.
-Gerador de envelope solar para BIM usando o Revit® API. Desenvolvido por Alicyn Henkhaus,
em 2012, juntamente com Karen Kensek, esta ferramenta trabalha com o plug-in para o Revit arquitetura. O
método de geração seguido nesta ferramenta é o método dos sólidos cortados. O usuário é solicitado a inserir
informações sobre o local e requisitos de acesso solar. O sólido do local extrudado é cortado pelos sólidos
vazios, para gerar o envelope solar final.
-Cityzoom®: Turkienicz, Oliveira e Grazziotin (2008) criaram um software, que trabalha em
interface com programas CAD e GIS e gera simulações do que seriam os envelopes em determinadas
condições

4.3. Aplicações
Knowles(2003) desenvolveu em Los Angeles vários estudos (Figura 2) sobre o potencial de aplicação do
envelope solar. Estes foram feitos em diferentes locais, topografias, orientações de rua e características de
vizinhança, a fim de testar a eficácia do envelope em uma variedade de condições urbanas e ambientais.
Além disso, os estudos abordaram diversas densidades demograficas, que podem ser medidas de duas formas
basicamente: A primeira calcula a quantidade de unidades habitacionais por unidade de área e a segunda
determina a quantidade de pessoas por unidade de área. Knowles e seus alunos atingiram densidades de até
100 unidades habitacionais(UH) por acre (4046,86 metros²), para projetos residenciais. Ao se contabilizar

580
uma média de duas pessoas por apartamento, tem-se 200 pessoas por acre, o que significa 1 pessoa para cada
20 m². Segundo Knowles, na maior parte dos estudos, as densidades demográficas das regiões são mantidas.

Figura 2- Edifícios projetados dentro do envelope solar em Los Angeles (KNOWLES, 2003)
Existem alguns trabalhos importantes que estudam a implantação das edificações dentro de um
contexto urbano específico, que otimizem as relações entre o edifício e o meio ambiente.
Brown e Dekay (2004) ensinam a gerar envelopes solares em ambiente 3D Studio Max8® e Google
SketchUp®, usando o comando de insolação dos dois softwares para a introdução dos dados de latitude,
longitude, mês, dia e hora, obter os azimutes e alturas solares, que serviram para gerar os envelopes solares.
Com a maquete eletrônica definida foi possível analisar as sombras em diversos horários a partir de dados
pré-estabelecidos e os envelopes solares.
Shaviv e Capeluto (2001) desenvolveram um sistema de malhas urbanas com considerações de direito
ao sol, em que o modelo permite a geração e avaliação das configurações do edifício, preservando os direitos
ao sol para cada edifício vizinho e para os espaços abertos entre eles. É possível alcançar uma alta densidade
urbana de cerca de 160% a 180%, mantendo os direitos solares de todos os edifícios, bem como alcançar
calçadas insoladas. Densidades mais altas podem ser alcançadas ao longo da rua orientada para nordeste-
sudoeste. Em segundo lugar, é a rua leste-oeste. A menor densidade é alcançado ao longo da rua noret-sul.
Alturas diferentes dos edifícios são necessários, dependendo da orientação da rua ao longo da qual eles são
localizados.
Vilela et al. (2010) desenvolveu um estudo gerando os envelopes solares na Praça da Liberdade, em
Belo Horizonte, MG, utilizando o Cityzoom® e concluiu que o programa apresenta algumas limitações ao
trabalhar com lotes irregulares e de topografia com grandes aclives ou declives. Os resultados dos envelopes
gerados neste estudo são apresentados na Figura 3.

Figura 3- Envelopes solares gerados às 9 horas na Praça da Liberdade em Belo Horizonte, MG, através do software Cityzoom®
(VILELA et al., 2010)

Pérez (2013) propôs verificar o potencial do envelope solar, como possível critério para criação de
diretrizes urbanísticas aplicáveis no controle da ocupação do solo urbano, em estudos de caso na cidade de
Campinas, SP. Iniciou seu trabalho utilizando o software Autocad® para o desenho dos quarteirões e
perímetro das edificações, exportando as polilinhas para o Google SketchUp®, onde foi executada a
modelagem dos quarteirões, a volumetria das edificações e dos envelopes solares. Posteriormente, utilizando
os softwares Rhinoceros®, com os aplicativos Grasshopper® e Diva®, inseriu os dados de radiação solar,
iluminação natural, energia e ofuscamento. Desta forma, foi possível averiguar o potencial construtivo
máximo que os novos envelopes solares gerados poderiam fornecer. Foram criados módulos construtivos de
3,0m x 3,0m x 3,0m para que se pudesse extrair as áreas de construção por pavimento e o número de
pavimentos que poderiam estar contidos nos envelopes solares, bem como definir as taxas de ocupação,
áreas livres e CA (Coeficientes de Aproveitamento) Máximos, como se apresenta na Figura 4.

581
Figura 4- Envelopes solares gerados por Pérez, em Campinas, SP, para incidência solar de 10 às 14 hs. (PÉREZ, 2013)

Bhattacharjee (2016) estudou os efeitos de envelopes solares para locais com edifícios existentes. Para
isso, uma ferramenta de geração de envelope solar foi desenvolvida usando a plataforma de scripts visuais do
Dynamo, para trabalhar com o Revit. Duas geometrias de construção foram testadas. A primeira geometria é
um edifício retangular. A segunda geometria considerada foi um edifício em forma de L, que fica no mesmo
local que antes, e tem a mesma altura. Quatro geometrias de teste para o edifício em forma de L foram
consideradas. Os mesmos parâmetros de latitude que antes eram considerados foram testados. Todas as
quatro geometrias foram testadas em cinco latitudes diferentes, mas com o mesmo tempo de corte. O
objetivo deste estudo foi calcular a área de piso adicional possível por causa da adição de envelopes solares
aos edifícios. A área escolhida foi no centro de Los Angeles em uma área principalmente comercial. Os
resultados indicam que é possível adicionar volume a um edifício existente sem lançar sombras extras.
A latitude do local está diretamente relacionada à quantidade de volume que possivelmente poderia ser
adicionada. O valor da latitude é inversamente relacionado ao volume adicionado. Isto significa que quanto
mais longe do equador, menos volume total poderá ser adicionado.
Nos Estados Unidos da América do Norte, o U.S. Department of Energy, pela Office of Energy
Effciency and Renewable Energy – EERE, através de seu site, disponibiliza o Consumer’s Guide (Manual
para o consumidor) que define que o acesso solar é considerado como a disponibilidade de (ou o acesso à)
luz solar desobstruída, direta. Trinta e quatro estados americanos têm algum tipo de proteção para o acesso a
energia solar. No entanto, mesmo aqueles estados que têm Leis de acesso solar têm uma necessidade real de
aplicação simplificada, pois estas questões de aplicação podem tornar as leis ineficazes ou sujeitas a litígio
(KETTLES,2008). O Código Civil da Califórnia estabelece a criação de servidões para assegurar o direito de
receber a luz solar para todo sistema de energia solar. O Solar Access Regulations (1991), no estado do
Colorado, limita a quantidade de sombra permitida por nova construção e requer que todos os novos edifícios
sejam situados para permitir um bom acesso solar, além da legislação, publica um manual de acesso ao sol,
ou de análise de sombras solares para ajudar arquitetos, engenheiros, empreendedores e construtores em
geral a trabalhar com o direito ao sol. A POLIS - Identificação e Mobilização do Potencial Solar via
estratégias Locais (POLIS, 2010) é um projeto de cooperação europeia que visa programar estratégias e
políticas locais de planejamento urbano que impulsionem o potencial solar de estruturas urbanas nas cidades
desse continente.

5. CONCLUSÕES
O presente estudo teve como objetivo realizar uma revisão da literatura que abordasse o envelope solar e sua
aplicação dentro das cidades, abrangendo os estudos de conceituação e aplicação disponíveis. Considera-se
que o estudo atingiu o objetivo, pois levantou os principais grupos e estudos que utilizam o envelope solar
como forma de garantir o acesso solar as edificações dentro do meio urbano.
Apesar de alguns autores já terem disponibilizado metodologias e softwares que podem intervir nas
LUOS garantindo o acesso ao sol na fase de concepção de projetos, tal como fez Pérez (2013), não existe
ainda, nas cidades brasileiras, nenhuma legislação que proponha e assegure o acesso ao sol em edifícios para
uma efetiva mudança da matriz energética brasileira.
Com este trabalho, contribuiu-se para a confirmação de que existem imensas oportunidades de

582
melhoria das possibilidades de se garantir o acesso ao sol nas envoltórias, de se trabalhar com energia solar
renovável e geração distribuída dentro do tecido urbano, uma vez que as principais tecnologias necessárias já
se encontram disponíveis, abrangendo todas as etapas do ciclo de vida dos edifícios. Urge o estabelecimento
políticas urbanas que incentivem o aumento da utilização da energia solar.
Espera-se que os resultados do presente estudo contribuam para a maior compreensão e adoção da
técnica do envelope solar no meio urbano. Estudos futuros podem contemplar aplicações diversas no tecido
urbano.

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AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio PROAP/CAPES-PACPS-UFMG.

583
ESTIMATIVA DA DISPONIBILIDADE DE LUZ NATURAL E DO PADRÃO
DE CÉU NA REGIÃO AMAZÔNICA: MACAPÁ-AP, LAT. 0°.
Marcelle Vilar da Silva (1); Gabriel Hiroshi Okada Maia de Queiroz (2); João Vitor Vieira
Pereira (3)
(1) Mestra, Professora do curso de Arquitetura e Urbanismo, cellevilar86@yahoo.com.br
(2) Fisioterapeuta, graduando do curso de Arquitetura e Urbanismo, gabrielokada_mq@hotmail.com
(3) Graduando, discente do curso de Arquitetura e Urbanismo, 2joaovp@gmail.com
Universidade Federal do Amapá, Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas, Curso de Arquitetura
e Urbanismo, Rod. Juscelino Kubitschek, KM-02, Jardim Marco Zero, Macapá – AP, CEP 68.903-419,
Tel.: (96) 33121-1791

RESUMO
Em que pese a importância da quantificação da luz natural disponível para dar base aos projetos dos edifícios
e da cidade, esse dado nunca foi mensurado para a cidade de Macapá e é de fundamental importância para a
elaboração de sistemas de janelamento que aproveitam melhor a luz natural, levam qualidade e eficiência
energética para os ambientes tanto na escala edilícia, quanto na escala urbana, garantindo que a luz natural
externa chegue às fachadas das edificações. Nesse sentido, o trabalho tem como objetivo caracterizar o
comportamento do céu em Macapá, fornecendo uma estimativa da disponibilidade de luz e os padrões de
céu, dados que podem embasar futuros estudos sobre a luz natural na capital amapaense. Para tal, foram
realizadas pesquisas bibliográficas sobre o tema, coleta de dados sobre nebulosidade, precipitação e
insolação no banco de dados do Instituto Nacional de Metereologia (INMET). Os dados sobre radiação solar
incidente para superfície horizontal foram obtidos no programa Luz do Sol e foram realizadas medições dos
níveis de iluminância para plano horizontal, juntamente como a tomadas de fotografia dos padrões de céu.
Todos os dados foram coletados em solstícios e equinócios, ou datas próximas, no período de junho de 2017
a março de 2019, num intervalo de horário de 9h as 18h, com registros a cada hora, organizados em forma de
gráficos e histogramas para caracterizar a frequência de ocorrência. Os resultados para o período
demonstram que Macapá é uma cidade com variações extremas de regimes de chuva (33,7mm a 415mm), de
nebulosidade (6,0 a 9,6) resultando em variações de radiação solar de 3.698Wh/m² e 8.153Wh/m² e de
insolação entre 83,10horas e 282,3 horas, em que as máximas sempre figuram em setembro e as mínimas ora
em março, ora em dezembro. Sobre as iluminâncias medidas, as médias diárias variaram entre 73.412 lux
(setembro) e 11.888 lux (dezembro), mas os níveis chegaram a atingir 121.565 lux em setembro de 2017. O
padrão de céu característico da cidade é o céu encoberto ocorrendo em 58,67% das horas e os níveis de luz
disponível mais frequentes são os de intervalo entre 10.000 e 20.000lux, ocorrendo em 21,79% das horas.
Palavras-chave: disponibilidade de luz natural, iluminâncias externas, padrão de céu, Macapá.

ABSTRACT
Despite the importance of the quantification of the available natural light to provide basis to buildings and
cities design, that kind of data has never been measured for the city of Macapá and it is the key to support the
elaboration of window’s systems that take advantage of the natural light, improving quality and energy
efficiency to the environments on both the building scale and the urban scale, ensuring that external natural
light reaches the façades of buildings.In this sense, the objective of this article is to characterize the behavior
of Macapá’s sky, providing an estimate of light availability and sky patterns, data that may support future
studies on natural light in the capital of the state of Amapá. In order to achieve this, bibliographic research on
the subject was carried out, collecting data on cloudiness, precipitation and insolation in the National
Institute of Meteorology (INMET) database. The data on incident solar radiation for horizontal surface were
obtained in “Luz do Sol” program and measurements were made of the levels of illuminance for horizontal
plane, together with measurements of sky patterns. All data were collected at solstices and equinoxes, or near
that dates, from June 2017 to March 2019, at a time interval from 9:00 am to 6:00 p.m., with hourly records
organized in the form of graphics and histograms to characterize the frequency of occurrence. The results for

584
the period shows that Macapá is a city with extreme variations of rainfall regimes (33.7mm to 415mm),
cloudiness (6.0 to 9.6) resulting in variations of solar radiation of 3,698Wh / m² and 8,153 Wh / m² and
sunshine between 83.10 hours and 282.3 hours, in which the maximum illuminance always appears in
September and the minimum illuminance appears in sometimes March and sometimes in December. On
measured illuminances, daily averages ranged from 73,412llux (in September) to 11,888 lux (in December),
but the levels reached 121,565lux in September 2017. The characteristic sky pattern of the city is the
overcast sky occurring at 58, 67% of the measured hours and the most frequent available light levels are
those between 10,000 and 20,000lux, occurring in 21.79% of the measured hours.
Keywords: availability of natural light, external illuminances, sky pattern, Macapá.

1. INTRODUÇÃO
Este estudo é proveniente de resultados do projeto de pesquisa “Avaliação da qualidade ambiental em
espaços educacionais: diretrizes de conforto para edificações” registrado na Universidade Federal do Amapá
(UNIFAP) desde 2016, o mesmo está inserido em um projeto multidisciplinar da administração da
universidade, criado para reforma e melhoria de salas de aula, chamado Sala 2.0 e há três anos vem sendo
realizado o monitoramento de uma sala aula, por meio da mensuração de dados de iluminâncias internas e
externas.
A partir do projeto de pesquisa e da necessidade evidente de se coletar dados climáticos e reunir
publicações sobre o clima de Macapá, notou-se a enorme dificuldade de se obter referências publicadas sobre
o clima local, algumas bases de dados não contemplam a capital amapaense e muitos programas de
simulação para Conforto Ambiental não possuem a cidade cadastrada, o que é corroborado por Tavares
(2014) que afirma que, a falta de publicações científicas sobre os aspectos do clima do município de Macapá,
tem sido um problema enfrentado por diversos setores produtivos, como a economia, a agricultura, a geração
de energia, o planejamento urbano, a construção civil, etc.
A ausência de informações é ainda mais grave em relação aos níveis de iluminâncias para a cidade,
por não ser uma variável base utilizada para previsões climáticas como a temperatura, por exemplo. Este é
um problema comum para outras capitais também, pois os valores para a luz natural externa não estão
disponíveis nos principais sites de obtenção dos dados climáticos, isto porque as estações meteorológicas
utilizadas para a obtenção desses dados, que são as dos aeroportos, não registram dados de iluminância.
Portanto não há dados medidos e nenhuma publicação existente sobre a disponibilidade de luz para
Macapá, tornando este trabalho relevante, como um indicativo do comportamento do céu e da quantidade de
luz natural disponível para a cidade.
A importância da luz natural para o homem justifica-se pelo fato de que ele teve a maior parte de sua
evolução, até os dias atuais, em um ambiente dominado predominantemente por esta fonte que lhe garante o
contato com o meio externo, satisfazendo uma necessidade psicológica dos usuários dos espaços
(MAJOROS, 1998).
De acordo com Lim e Ahmad (2014) como a luz do dia é dinâmica, não há uma solução comum para
todos os cenários e o entendimento das condições do céu é o fundamento para uma iluminação natural eficaz
nos recintos.
Segundo Souza e Pereira (2004) é mundialmente recente a quantificação da disponibilidade de luz
natural, apenas em 1996 foi lançado o primeiro Atlas Europeu de Iluminação Natural. No Brasil, apenas a
partir de dezembro de 2001, iniciou-se a medição sistemática de níveis de iluminação natural externa pela
Estação de Medição de Iluminação Natural de Florianópolis/SC – EMIN Floripa, havendo uma segunda
estação, localizada em Belo Horizonte/MG, em operação desde 2003.
É notória a necessidade de obtenção desses dados relativos à quantidade de luz natural externa
disponível, pois não é possível avaliar e projetar um sistema de iluminação natural para um ambiente de
forma eficiente sem essas informações, e isso interfere ainda no planejamento urbano da cidade uma vez que
segundo Hopkinson, Petherbridge e Longmore (1975) é necessário garantir que todos os edifícios recebam
boa iluminação e isto está relacionado aos efeitos das obstruções circunvizinhas, que pode ser grave em áreas
adensadas. Já existem vários códigos relacionados a isso e para salvaguardar esse direito os instrumentos
urbanos precisam limitar a altura e estabelecer recuos para que a fachada de cada edifício receba uma
quantidade adequada de luz natural.

2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é caracterizar o comportamento do céu em Macapá quanto à sua disponibilidade de
luz e os padrões de céu e fornecer dados ainda não mensurados para embasar futuros estudos sobre a luz

585
natural e dar condições para que projetos que visam o aproveitamento da luz natural em ambientes tenham
uma base de dados verificados in loco, logo mais real, como referencial.

3. MÉTODO
Primeiramente realizou-se um levantamento bibliográfico sobre a importância da luz natural na escala do
edifício e na escala da cidade, assim como sobre o clima de Macapá. Para em seguida construir uma
caracterização do céu de Macapá, por meio dos dados de nebulosidade, precipitação, insolação, radiação
solar incidente na superfície horizontal, relacionando-os com medições dos níveis de iluminância externa e
verificação do padrão de céu para a cidade Macapá, latitude 0°.
Os dados de nebulosidade e insolação foram obtidos a partir de tabelas mensais para os anos de 2017,
2018 e 2019, no Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa (BDMEP) no site do Instituto
Nacional de Meteorologia (INMET), organizados e demonstrados graficamente.
A radiação solar incidente foi obtida no programa Luz do Sol (RORIZ, 1995) para cada uma das oito
datas das medições realizadas aplicando-se a nebulosidade mensal correspondente, obtida nas tabelas do
INMET, das quais foi extraída apenas a coluna que representa a superfície horizontal (a cobertura) para
quantificação da radiação recebida em cada uma das datas.
A caracterização dos tipos de céu foi realizada de acordo com a classificação da Comissão
Internacional de Iluminação (CIE), utilizando de fotos do céu obtidas durante as medições das iluminâncias,
onde a cada hora para as datas descritas anteriormente foi tomada uma imagem do céu, e sua ocorrência
também foi organizada por meio de histogramas para demonstrar qual o tipo de céu mais frequente na
cidade.
Para a verificação da disponibilidade de luz externa, foram realizadas medições dos níveis externos de
iluminâncias no plano horizontal, a uma altura do solo de 70cm. O luxímetro foi colocado sobre o uma
carteira escolar (Figura 1) em local o mais desobstruído possível de edificações, dentro do campus
universitário, para ter uma base segura e nivelada. Estas medições foram realizadas a cada hora, de 9h as 18h
e sempre que possível nos solstícios e equinócios ou em datas próximas, sendo realizadas nas oito datas
seguintes: 29 de junho de 2017, 28 de setembro de 2017, 16 de dezembro de 2017, 07 de abril de 2018, 23 de
junho de 2018, 22 de setembro de 2018, 15 de dezembro de 2018 e 23 de março de 2019. Os dados foram
compilados e organizados em histogramas para demonstrar a frequência de ocorrência da iluminância em
Klux para Macapá.

Figura 1 – Ponto de medição externa, a direita, visto da sala de aula e a esquerda, visto de cima (círculo vermelho).

O equipamento utilizado para a medição foi o luxímetro, marca Intrutherm, modelo LD -300, (Figura
2).
.

Figura 2 – Luxímetro digital portátil modelo LD300

586
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.1. Caracterização do céu de Macapá
Situada no estado do Amapá, na região norte do país, Macapá é a única capital brasileira cortada pela Linha
do Equador, por essa condição, recebe durante todo o ano uma grande quantidade de energia solar,
configurando-se num clima quente e úmido, que se caracteriza principalmente pelo regime de precipitação,
sujeito a grandes variações sazonais devido à migração anual da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)
(TAVARES, 2014).
Segundo Tavares (2014)o regime de chuva de Macapá tem 169 dias com chuva, durante a estação
chuvosa e 196 dias sem chuva, durante a estação seca. A estação chuvosa se estende de dezembro a julho e a
estação seca se estende de agosto a novembro, sendo o mês de julho, o mês de transição entre as duas
estações. Com relação às datas das medições realizadas nesta pesquisa, os meses de março de 2016 e 2018
dezembro de 2018, foram os mais chuvosos, porém cabe destacar que em março de 2019, não se manteve a
alta quantidade de chuva padrão dos anos anteriores. Já setembro foi o mês menos chuvoso, ou também
caracterizado como seco. (Figura 3).
Vilhena (2017) afirma que “de acordo com a classificação de Köppen, a Ilha de Santana possui
domínio climático do tipo “Am”. Equatorial Úmido que corresponde a Zona de Convergência Intertropical
(ZCIT). Sob o domínio das Massas de Ar Equatoriais (ME) e Massas Tropicais Marítimas Quentes
(MTMq)”. Uma vez que a Ilha de Santana faz parte da Região Metropolitana de Macapá, na metodologia de
Köppen, a cidade de Macapá também é classificada como “Am”. Já na meotologia de classificação climática
de Strahler o clima da cidade é equatorial úmido, controlado pelas massas de ar equatoriais e tropicais,
continentais e marítimas, segundo Tavares (2014 apud MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007).
É possível fazer uma aproximação com as classificações gerais de clima, realizadas por Romero
(2013), apesar da autora utilizar médias anuais, ao avalilarmos o mês em que a precipitação foi menor,
setembro de 2018, com 33,7mm, chega-se a uma situação considerada como desértica, já a máxima
registrada de 415mm, em dezembro de 2018, enquadra-se em uma classificação de semi-árido, o que
evidencia que há uma grande variação na quantidade de chuva registrada no período.

Figura 3 – Precipitação total mensal para os meses medidos

Sabe-se que, a formação de nuvens está diretamente ligada à precipitação, uma vez que a evaporação
das águas de superfície leva à formação de nuvens que redistribuem a água através das chuvas. (ROMERO,
2013). A nebulosidade expressa essa quantidade de nuvens no céu, sendo registrada no período destacado,
entre 6,0 e quase 10,0, apresentando-se mais elevada em março 2018 e 2019, dezembro de 2018 e junho de
2017, estando entre 8,0 e 10,0 e em setembro de 2017 e 2018 tem os menores valores registrados em torno de
6,0 (Figura 4).

Figura 4 – Nebulosidade média mensal em décimos para os meses medidos

587
A cobertura do céu também influencia diretamente na radiação terrestre, pois segundo Romero (2013)
ela será maior quando a atmosfera está clara e seca e menor quando quantidade de vapor d’água, poeira e
nuvens aumentam, já que elas formam uma barreira a radiação. Como pode-se notar no gráfico da figura 5,
os meses de setembro apresentam maior quantidade de radiação e menor nebulosidade, já dezembro de 2018
e março de 2019 são os de maior nebulosidade e menor radiação.

Figura 5 – Radiação Solar para superfície horizontal nos dias medidos

Quanto às horas de sol disponível (Figura 6), para os meses do período medido, com exceção de junho
e dezembro de 2017 e abril de 2018 que não tinham registro nas tabelas de dados do INMET, setembro
continua com mais horas de sol disponível, já que tem também a maior quantidade de radiação solar e menor
nebulosidade e março de 2019 com menos horas de sol, menos radiação e mais nebulosidade.

Figura 6 – Insolação total mensal para os meses medidos

Segundo Tavares (2014) essa grande quantidade de energia que chega à superfície contribui para as
temperaturas sempre elevadas em Macapá. E devido à alta umidade ao longo de todo o ano, a amplitude
térmica é muito pequena, não excedendo 10°C, os maiores valores ocorrem nos meses de equinócios, quando
o sol passa na vertical da Linha do Equador, em março e setembro, porém no período registrado março não é
um mês que se caracteriza por grande quantidade de radiação e insolação uma vez que é o mês que se
apresenta como o mais chuvoso e de maior nebulosidade, logo, apesar de ser um mês do equinócio as
condições do céu em Macapá, o tornam um mês de radiação baixa.

4.2. Padrão de céu registrados


A CIE7 propõe cinco tipos de céu homogêneos, baseados na nebulosidade: encoberto, encoberto
intermediário, médio intermediário, claro intermediário e claro. No entanto, considera-se que são três as
categorias de céu mais relevantes para a caracterização das condições de iluminação natural: céu encoberto,
céu claro e céu intermediário (ou parcialmente encoberto) (SOUZA e PEREIRA, 2004)
De acordo com Santos (2003 apud COUTINHO, 2009, p. 5) a CIE estabelece três tipos de céu para os
estudos quantitativos e qualitativos da luz natural:

7COMMISSION INTERNATIONALE DE L’ÉCLAIRAGE (CIE) - Spatial Distribution of Daylight: Luminance Distribution of


Various Reference Skies. Technical Report. CIE, Pub. CIE Nº 110, Vienna, 1994

588
a) Céu Claro – o céu encontra-se azul sem nuvens e o sol é visível. A luminosidade varia tanto no
horizonte como no zênite, dependendo também da posição do sol, onde a zona mais próxima deste
chega a alcançar uma intensidade luminosa 40 vezes maior que na linha do horizonte;
b) Céu intermédio – representa uma situação intermédia entre céu limpo e céu encoberto. Esta
situação representa o céu parcialmente encoberto ou parcialmente limpo e é considerado o tipo de
céu mais freqüente.
c) Céu encoberto – condições de céu completamente coberto por espessas nuvens escuras.
Apesar de receber grande quantidade de radiação solar, devido à sua localização, o padrão de céu de
Macapá é decisivo na quantidade de radiação que chega a superfície terrestre e consequentemente na
quantidade de luz, logo, é fundamental entendermos qual o padrão de céu é mais característico para a
cidade, a Figura 7, mostra os padrões de céu que ocorreram durante as medições.

Figura 7 – Padrões de céu em Macapá: céu claro a esquerda (22.09.18 – 12h), céu encoberto ao centro (23.03.19 – 13h) e céu
parcialmente encoberto a direita (23.06.18 – 16h).

É preciso frisar que, segundo Franco (2012 apud SILVA, 2013, p.66), a nebulosidade é um valor
médio mensal que não representa o comportamento do céu real, pois a nebulosidade não acontece como um
valor médio durante todo o dia, por isso para demonstrar esse comportamento é fundamental o registro dos
tipos de céu a cada medição.
Nota-se na tabela 1, a seguir, que ao longo do dia o céu de Macapá sofre pouca variação, para o
intervalo demonstrado (9h as 18h), o padrão de céu se manteve estável, onde nos meses chuvosos, e de maior
nebulosidade, menos insolação e radiação, dezembro e março, o padrão de céu é encoberto. Já no equinócio
de setembro, mês mais seco e com menor nebulosidade, maior radiação e insolação, o padrão de céu é claro,
sendo que em 28.09.2017, o dia permaneceu com céu claro pela manhã e céu parcialmente encoberto a tarde,
os meses de junho caracterizam-se com um céu intermediário, pacialmente encoberto, variando em
29.06.2017, em que o céu permaneceu encoberto e apenas às 14h e 15h ele se apresenta como parcialmente
encoberto, o que caracteriza justamente que junho é um mês intermediário entre os secos e chuvosos, tendo
uma nebulosidade e quantidade de radiação também intermediárias (estando em uma posição entre os
máximos e mínimos).

Tabela 1 – Tipos de céu registrados nas medições.


Hora/Data 23.03.19 15.12.18 22.09.18 23.06.18 07.04.18 16.12.17 28.09.17 29.06.17
9H céu encob. céu encob. Céu claro sem registro céu encob. céu encob. sem registro céu encob.
céu parcial.
10H céu encob. céu encob. Céu claro céu encob. céu encob. Céu claro céu encob.
encob
céu parcial.
11H céu encob. céu encob. Céu claro céu encob. céu encob. Céu claro céu encob.
encob
céu parcial.
12H céu encob. céu encob. Céu claro céu encob. céu encob. Céu claro céu encob.
encob
céu parcial.
13H céu encob. céu encob. Céu claro céu encob. céu encob. Céu claro céu encob.
encob
céu parcial. céu parcial. céu parcial.
14H céu encob. céu encob. Céu claro céu encob. céu encob.
encob encob. encob.
céu parcial. céu parcial.
15H céu encob. céu encob. Céu claro céu encob. céu encob. sem registro
encob encob.
sem céu parcial. céu parcial.
16H céu encob. céu encob. céu encob. céu encob. céu encob.
registro encob encob.
céu parcial. céu parcial. céu parcial.
17H céu encob. Céu claro sem registro céu encob. céu encob.
encob encob encob.
céu parcial. céu parcial. céu parcial. céu parcial.
18H céu encob. Céu claro céu encob. céu encob.
encob encob encob encob.

Dos três tipos de céu, verifica-se que, para o período estudado o céu que mais ocorre em Macapá é o
céu encoberto, ocorrendo em 58,67% das vezes, seguido do parcialmente encoberto que ocorre em torno de
25% e por útimo do céu claro com 17,33% (Figura 8).

589
Figura 8 – Ocorrência dos tipos de céu em Macapá.

4.3. Níveis de iluminâncias externas


Os níveis de iluminância externa medidos em 29 de junho de 2017, 28 de setembro de 2017, 16 de dezembro
de 2017, 07 de abril de 2018, 23 de junho de 2018, 22 de setembro de 2018, 15 de dezembro de 2018 e 23 de
março de 2019, foram organizados graficamente para fazer uma estimativa da disponibilidade de luz natural
para a cidade de Macapá.
Na Figura 9 e 10, observa-se, como esperado, que as datas que possuem as médias mais elevadas de
iluminância são as de setembro em torno de 60.000 a 70.000 lux, seguido de 29.06.17 entre 40.000 e 50.000
lux, já na escala de 30.000 a 40.000 lux, seguem os dia 23.03.19 e 23.06.18, e por útimo entre 10.000 e
20.000 lux encontram-se os dias de 07.04.18 e 15.12.18. O comportamento da luz ao longo do dia no plano
horizontal, configura-se pelo pico que ocorre as 12h, com níveis de aproximadamente 65.000 lux e dentro do
horário mensurado (9h às 18h) o fim da tarde, onde encerra-se a iluminação, tem a menor média registrada às
18h de 2.500 lux.

Figura 9 –Iluminâncias médias diárias Figura 10 –Iluminâncias médias horárias

Depois de uma análise horária e diária, faz-se necessária a compilação de todos os valores medidos
para compreender qual a escala dos níveis de iluminância seria mais representativa para caracterizar a
disponibilidade de luz natural em um plano horizontal para a cidade de Macapá. Na figura 11 apresenta-se
um histograma com escalas de intervalo de 10.000 lux, onde percebe-se que a escala de valores que mais
ocorre entre as medições é a de 10.000 a 20.000 lux, tendo uma frequência de ocorrência 21,79% dentre os
dados, mas também nota-se um destaque dos níveis de até 10.000 lux e entre 20.000 e 30.000 lux
apresentando-se com uma ocorrência em torno de 15% destacando-se dos demais. A máxima registrada no
período medido foi de 121.565 lux em 28.09.17 às 12h, que representa o momento em que sol está mais alto,
tendo uma inclinação de 90° com relação a superfície terrestre atingindo-a de forma perpendicular, logo
apresentando-se com a maior quantidade de radiação recebida durante o ano todo e que é caracterizado pelo
padrão de céu claro e a mínima de 1.148lux em 07.04.18 às 18h, no momento do fim do dia, o pôr-do-sol,
quando o sol está a quase 0° com relação a superfície e a média foi de 38.923lux.

590
Histograma de Valores de Iluminância (Klux) de Macapá
para todos os tipos de Céus e Plano Horizontal
25,00%

Frequência Relativa (%)


20,00%

15,00%

10,00%

5,00%

0,00%
0-10
10--20
20-30
30-40
40-50
50-60
60-70
70-80
80-90
90-100
100-110
110-120
120-130
Iluminâncias (Klux)
Figura 11 – Frequência de ocorrência das iluminâncias em Klux para plano horizontal

Conhecendo-se agora o padrão de céu que mais ocorre em Macapá, céu encoberto e os níveis de
iluminâncias para plano horizontal, sendo entre 10.000 e 20.000 lux, é importante relacionar essas duas
variáveis, demonstrando qual a média de iluminância em Klux, disponível para cada tipo de céu. O céu claro
tem uma disponibilidade média de 77.000 lux, o céu parcialmente encoberto gera uma diponibilidade média
de 39.700 lux e por último o céu encoberto com uma média de 28.800 lux diponível. (Figura 12)

Figura 12 – Níveis de iluminâncias para cada tipo de céu

5. DISCUSSÕES
Observando outros estudos em climas tropicais, destacam-se pesquisas realizadas para a cidade de Belém,
latitude -1,40°, capital do Pará, estado vizinho ao Amapá, que possui latitude muito próxima à Macapá e para
Malásia, com clima também equatorial, quente e úmido, e localidades próximas a Linha do Equador, mais
especificamente as cidades de Subang Jaya (latitude 03,03°), Kota Kinabalu (latitude 5,58°), Johor Bahru
(latitude 1,33°), Shah Alam (latitude 3,08°) e Bangi (latitude 2,90°).
Sobre os padrões de céu, Scarazzato (1995 apud SILVA, 2013) criou um programa, o DLN
(Disponibilidade de Luz Natural) que reúne valores de iluminâncias para as cidades brasileiras para os planos
verticais e para o plano horizontal dividido em verão, inverno, outono e primavera. No caso de Belém, o céu
parcialmente encoberto foi considerado a condição típica de céu para a cidade, um pouco diferente de
Macapá que tem como céu típico o céu encoberto de acordo com as medições (com 58,67% das ocorrências,
restando apenas 25% parcialmente encoberto e 17,33% com céu claro), porém em uma outra pesquisa Silva
(2015) mostra através de medições realizadas entre julho de 2013 e junho de 2014, que Belém apresentou na
maior parte do ano uma predominância de horas com céu encoberto, com uma média de 54% das horas
diurnas do ano com esse padrão. O mês com maior percentual de horas diurnas com padrão de céu encoberto
ocorreu em fevereiro, com 85%, já o menor percentual foi encontrado em julho com quase 36%.
Já nos estudos sobre a Malásia, segundo Ahmed et al. (2002 apud LIM, 2014), o céu em Subang,
Malásia Ocidental, indica que 85,6% do tempo o céu foi predominantemente intermediário, 14% nublado e
0% azul. Djamila et al. (2011 apud LIM, 2014) estudaram ainda mais a condição de céu em Kota Kinabalu,

591
Malásia do Leste, os resultados mostraram de 70 a 90% de ocorrências de céu intermediário, nos estudos de
Zain-Ahmed et al. (2002) verifica-se que em 85,6% do tempo, o céu também foi predominantemente
intermediário (2,3% nublado intermediário, 66% média intermediária e 16,3% intermediário azul) e 14%
nublado, e destacou que na região o céu nunca é azul (ou sem nuvens). Assim a variação predominante para
céu tropical ocorre entre o céu intermediário (parcialmente encoberto ou parcialmente claro) e o céu
encoberto.
Quanto aos níveis de iluminâncias, do período medido em Macapá, a média foi de 38,92Klux atingiu-
se a máxima de 121,56 Klux em setembro (primavera) às 12h e mínima de 1,14 Klux em abril (outono) às
18h, mas com maior ocorrência de valores entre 10 e 20Klux. Já em Belém, segundo simulações, Scarazzato
(1995 apud SILVA, 2013) apresenta maior ocorrência de valores entre 90,1 Klux e 100 Klux, com máxima
de 98,2Klux as 12h no verão e mínima de 0,3Klux as 18h na primavera e média de 58,92 Klux e nos estudos
de Silva (2015), apesar de não organizar as iluminâncias por hora ou data, as tabelas de dados externos
mostram valores com médias acima de 100Klux, e ocorrências em torno de 100 a 150Klux.
Nos estudos realizados na Malásia, segundo Zain-Ahmed et al. (2002) os níveis globais de iluminância
são geralmente elevados, com médias horárias que excedem 80 KLux, as 12h, e as máximas ocorreram em
março, mês mais quente e de irradiação solar mais elevada. Mesmo durante os meses de menor irradiação
solar, a iluminância pode chegar a 60 KLux, as mínimas foram registradas no mês de dezembro, mês mais
frio e no mês de agosto foram registrados os valores médios, sendo este mês um intermediário entre os mais
quentes e mais frios.
Lim (2014) afirma que no clima tropical, a iluminância global pode ser muito elevada e que a
aplicação dos padrões para a simulação de um céu tropical realizada pela CIE, apresentam valores
subestimados, isto porque, a iluminância externa no trópicos pode ser tão alta quanto 130 Klux, enquanto a
simulação da CIE fornece valores de iluminância externa abaixo de 20Klux.
As medições na Malásia mostraram que, em céu intermediário às 12h, a média da iluminância global
máxima foi de 81,26 Klux, pela manhã e pela tarde, a média ficou entre 40 a 50 Klux. Mesmo durante o céu
nublado, a iluminância global média atingiu 27,81 Klux (LIM, 2014). Esses valores se encontram muito
próximos às médias verificadas para Macapá, onde a disponibilidade para céu encoberto (nublado) foi de
28,8Klux e para céu parcialmente encoberto (intermediário) foi 39,7 Klux, caracterizando como elevada a
disponibilidade de luz natural em cidades próxima a Linha do Equador.
Segundo Lim et al., (2012), a principal desvantagem para o aproveitamento da luz do dia no clima
tropical é alta intensidade de radiação solar que resultará em energia solar indesejada e ganho de calor. A luz
do dia não controlada pode levar ao brilho excessivo, especialmente em tarefas que utilizam computador
(CARMODY et al., 2004 apud LIM et al., 2012). Dubois (2005 apud LIM et al., 2012) afirma que a
iluminância sobre o plano de trabalho superior a 500 lux é excessiva para as tarefas com computador, porém
segundo Zain-Ahmed et al. (2002) a iluminância global no céu tropical pode ser superior a 100Klux, o que
foi perfeitamente corroborado pelas medições/simulações em Macapá, Belém e Malásia, sendo assim, a
disponibilidade de luz do dia, no clima tropical é elevada e causará desconforto para os ocupantes dos
edifícios que utilizam a luz natural, sem os estudos necessários para adequação climática.

6. CONCLUSÕES
A cidade de Macapá apresenta diferenças extremas exemplificadas pelo mês de setembro, caracterizado por
ser o período menos chuvoso, menos nebuloso, com grande quantidade de radiação e insolação, com padrão
de céu claro e disponibilidade média de luz natural para plano horizontal entre 60.000 e 75.000 lux e pelo
mês de março, mais chuvoso, com maior nebulosidade, menor quantidade de radiação e insolação, padrão de
céu encoberto. Porém quanto à disponibilidade média de luz, as datas representantes do equinócio de março,
23.03.19 e 07.04.18, tem variações com valores em torno de 40.000 lux (março) e 15.000 lux (abril) e, apesar
de terem o mesmo padrão de céu, o encoberto, 07 de abril (data mais próxima do equinócio de março que foi
possível medir) está um pouco distante do momento em que o equinócio ocorre, faz-se então necessária essa
observação para a análise, que pode ter interferido no comportamento padrão dos valores do equinócio de
março. Então, após essas duas datas destacadas anteriormente, quanto à disponibilidade de luz o período com
menores valores registrados foi dezembro variando entre 10.000 lux em 2018 e 30.000 lux em 2017, meses
que seguem o mesmo padrão de março com céu encoberto, nebulosidade elevada e baixa quantidade de
radiação comparada aos outros períodos registrados.
O céu de Macapá caracteriza-se como encoberto, esta é a situação de céu mais frequente para a cidade,
diferenciando-se do tipo de céu considerado mais frequente por Souza e Pereira (2004), o céu parcialmente
encoberto, não ocorrendo variações representativas ao longo do dia, com uma disponibilidade de luz entre
10.000 e 20.000 lux, na maior parte do período registrado que compreende junho 2017 a março de 2019.

592
Nota-se que por sua localização no globo, estando numa latitude 0°, Macapá recebe grande quantidade
de radiação solar, quando o céu está claro, ou seja, limpo e sem nuvens. Como esta capital é caracterizada,
como demonstrou-se, por elevado regime de chuva e nebulosidade, este é um fator primordial que reduz os
níveis da radiação que chegam na cidade, o céu prioritariamente encoberto altera esta condição, apesar de, se
compara a outras capitais, seus níveis de radiação solar recebida ainda serem bastante elevados. Já que não
possui variação entre duração do dia no inverno e verão, e a duração dos dias é igual a das noites (FROTA e
SCHIFFER, 2003) oferecendo sempre 12 horas insolação em qualquer época do ano.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Profa. Ma. Patrícia Takamatsu pelo empréstimo dos luxímetros, por ter participado
como colaboradora desta pesquisa, ao arquiteto Tiago Vieira Pereira, que durante muito tempo foi bolsista
voluntário, a todos os alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo que participaram voluntariamente das
medições e à UNIFAP pelo provimento recente de uma bolsa de iniciação científica para o projeto de
pesquisa.

593
ESTUDO CIENCIOMÉTRICO SOBRE ILHAS DE CALOR URBANAS E
ZONAS CLIMÁTICAS LOCAIS
Camila Amaro de Souza (1); Antonio Conceição Paranhos Filho (2); Eliane Guaraldo (3)
(1) Mestre, Arquiteta e Urbanista, arq.camila.amaro@gmail.com, Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul – UFMS
(2) Doutor, Geólogo e Professor Efetivo UFMS, toniparanhos@gmail.com, Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul – UFMS
(3) Doutora, Arquiteta e Urbanista e Professor Efetivo UFMS, arq.artes@gmail.com, Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul – UFMS

RESUMO
A mudança das superfícies naturais pelas áreas urbanas construídas altera os fatores climáticos como a
temperatura do ar e a umidade relativa do ar. Desde os anos 50, as variações térmicas, no que tange os
estudos tradicionais de climatologia, são analisadas a partir da diferença entre o campo térmico urbano e o
rural, relacionadas a intensidade da ilha de calor urbana (ICU), levando a simplificação desse fenômeno e da
realidade paisagística da cidade e seu entorno. O método “Local Climate Zones” (LCZ) de Stewart e Oke
(2012) surge como uma tentativa de padronização e avanço no grau de detalhamento das análises de campo
térmico a partir da classificação da paisagem. Nesse sentido, os objetivos desse estudo foram: identificar
artigos e artigos de revisão publicados utilizando o termo “Urban Heat Island” OR “UHI”, inserido em título,
resumo e/ ou palavras-chave; identificar a quantidade de artigos e artigos de revisão utilizando o termo
“Urban Heat Island* OR “UHI” AND “Local Climate Zones” OR “LCZ”, inserido em título, resumo e/ ou
palavras-chave e a concentração dessa produção científica por país e por autor; elaborar uma sistematização
dos principais critérios adotados nos artigos filtrados para o portfólio bibliográfico. A partir desta pesquisa
foi possível interpretar o grau de relevância deste termo para pesquisas em climatologia urbana e obter
material de apoio para futuras pesquisas.
Palavras-chave: LCZ, classificação da paisagem, campo térmico.

ABSTRACT
The change of natural surfaces by built urban areas alters climatic factors such as air temperature and relative
humidity. Since the 1950s, thermal variations in traditional climatology studies are analyzed from the
difference between the urban and rural thermal fields, related to the intensity of the urban heat island (ICU),
leading to the simplification of this phenomenon and the landscape reality of the city and its surroundings.
The "Local Climate Zones" method (LCZ) by Stewart and Oke (2012) appears as an attempt to standardize
and advance the degree of detail of the thermal field analyzes from the landscape classification. In this sense,
the objectives of this study were: to identify articles and review articles published using the term "Urban
Heat Island" OR "UHI", inserted in title, abstract and / or keywords; identify the number of articles and
review articles using the term "Urban Heat Island * OR" UHI "AND" Local Climate Zones "OR" LCZ ",
inserted in title, abstract and / or keywords and the concentration of this scientific production by country and
by author; to elaborate a systematization of the main criteria adopted in the articles filtered for the
bibliographic Portfólio. From this research it was possible to interpret the degree of relevance of this term for
research in urban climatology and to obtain support material for future research.
Keywords: LCZ, landscape classification, thermal field.

594
1. INTRODUÇÃO
Climatologia urbana é uma área em vasto crescimento, entretanto, são necessários padrões para garantir
intercâmbios consistentes e significativos de dados entre regiões, culturas e áreas temáticas de pesquisa.
Os avanços tecnológicos das últimas décadas têm produzido uma variedade de modelos numéricos
para simular os processos-chave que regem os fatores e elementos climáticos como: temperatura, umidade
relativa do ar e trocas de calor no ambiente urbano (MCCARTHY et al., 2010).
Estudos como os de: MORRIS e SIMMONDS (2000), STEWART (2000), VOOGT e OKE (2003),
ARNFIELD (2003), AMORIM (2011), demonstraram que a atmosfera urbana tem apresentado diferenças
em relação à atmosfera rural, principalmente no que se refere à temperatura, ocorrendo o desenvolvimento de
ilhas de calor.
As ilhas de calor urbanas (ICU), citadas na literatura em inglês como Urban Heat Island (UHI), são
definidas tradicionalmente como as variações de temperatura (ΔT) entre o perímetro urbano e a zona rural,
conforme ilustra a Figura 1.

Figura 1 - Ilha de calor tradicional, adaptada de Oke (1987).

Isso ocorre devido à morfologia das cidades com abundância de materiais de menor albedo
(pavimentação asfáltica, concreto) e carência de cobertura vegetal, acarretando maior emissividade de
energia para o ambiente urbano, o que eleva as temperaturas e cria ilhas de calor causando,
consequentemente, desconforto para a população.
As ICUs são geradas por fatores físicos (velocidade dos ventos regionais) e artificiais (utilização de
materiais construtivos absorvedores de radiação no período diurno e que liberam o calor no período noturno),
sendo estes preponderantes na formação destes fenômenos climáticos.
A característica mais importante a ser observada na ilha de calor urbana é sua intensidade, que
geralmente é aferida como a variação máxima entre o ponto mais adensado e impermeabilizado da área
central da cidade e outro ponto na área rural (AMORIM; DUBREUIL, CARDOSO, 2015). Isso demonstra
que a ICU é um fenômeno determinante para as alterações atmosféricas no que se refere a ambientes
urbanos.
Podem ser enumeradas diversas causas do efeito ICU que representa uma modificação urbana no
balanço de energia e radiação da superfície em detrimento da ICU. De acordo com (STEWART e OKE,
2012) uma delas é a maior absorção de radiação solar devido à reflexão múltipla e captura de radiação pela
construção de muros e superfícies verticais na cidade. A maior absorção não é, como frequentemente se
supõe, devido exclusivamente ao baixo albedo de materiais urbanos. Outra causa é a maior retenção de
radiação infravermelha em desfiladeiros de ruas devido à visão restrita do hemisfério do céu radiativamente
"frio". A visão do céu torna-se cada vez mais restrita com edifícios mais altos e compactos. Stewart e Oke
(2012) ainda citam a maior absorção e liberação retardada de calor (atraso térmico alto) por edifícios e
superfícies pavimentadas na cidade. Muitas vezes incorretamente atribuído apenas às propriedades térmicas
dos materiais, este efeito também é devido à "armadilha" de radiação solar e infravermelha e à redução de
perdas convectivas na camada de dossel, onde o fluxo de ar é retardado. E a maior parte da radiação solar
absorvida na superfície é convertida em formas de calor sensível (provocando alteração de temperatura) ao
invés de calor latente (que provocaria alteração de estado físico). Este efeito deve-se à substituição de solos
úmidos e plantas por superfícies pavimentadas e impermeabilizadas, e como resultado uma diminuição na
evaporação da superfície. A maior liberação de calor sensível e latente devido a combustão de combustíveis
para transporte urbano, processamento industrial e aquecimento/ resfriamento de espaços domésticos
também é uma causa do efeito ICU. O calor e a umidade também são liberados pelo metabolismo humano,
mas isso geralmente é um componente menor do balanço de energia superficial.
Nos últimos anos, a ciência da climatologia urbana teve um progresso significativo no poder
preditivo, as relações gerais entre os critérios principais de alterações térmicas nas cidades estão surgindo, o

595
conhecimento de processos é muito melhor e a modelagem cresceu notavelmente, o que fez evoluir muito a
comunicação sobre o tema (ARNFIELD, 2003; OKE, 2006).
Contudo, um aspecto ainda não padronizado é a descrição de áreas urbanas e rurais. Para amenizar
este problema, foi criado em 2011 o conceito de classificação da paisagem Local Climate Zones (LCZ)
(STEWART, 2011a; STEWART e OKE, 2012), ou em português: zonas climáticas locais.
As zonas climáticas locais são definidas como “regiões homogêneas em relação a cobertura de solo,
estrutura da superfície, material construtivo e atividade humana e que abrangem desde centenas de metros
até alguns quilômetros em uma escala horizontal” (STEWART e OKE, 2012, p. 1884). O método permite a
elaboração de mapas temáticos em maiores ou menores escalas, e com isso a utilização de imagens de
satélite de resolução moderada e gratuita como as LANDSAT (United States Geological Service -
http://earthexplorer.usgs.gov/) até imagens de alta resolução como as SPOT e Pleiades.
Sua utilização vem sendo realizada principalmente na Europa e na Ásia e, mais recentemente, no
nordeste e sudeste do Brasil. Deste modo, existe a demanda de avaliar como se dá a ocorrência dessas
publicações e o impacto deste método de classificação para a padronização de estudos na área temática.

2. OBJETIVO
Sendo assim, este artigo tem como objetivo geral analisar a produção científica na área de climatologia
urbana de forma sistêmica.
A partir desta pesquisa foi possível interpretar o grau de relevância deste termo para pesquisas em
climatologia urbana e obter material de apoio para futuras pesquisas.

3. MÉTODO
Para o alcance dos objetivos específicos deste trabalho foram realizadas as etapas de: seleção de critérios de
busca; levantamento de dados; organização dos dados; a produção e a análise de gráficos e tabelas com os
valores encontrados para cada critério selecionado. As etapas respeitaram a metodologia ProKnow-C
(ENSSLIN et al., 2010).
De acordo com Santos, Schenatto e Oliveira (2017, p.3), o método de seleção do referencial
bibliográfico denominado ProKnow-C (ENSSLIN et al., 2010) consiste em uma quantidade sequencial de
procedimentos, sendo eles: “definição do mecanismo de busca de artigos científicos a ser utilizado, seguindo
por uma série de procedimentos até atingir a fase de filtragem e seleção do portfólio bibliográfico relevante
acerca do tema”.
O primeiro termo utilizado para a busca de dados foi “Urban Heat Island*” OR “UHI”, que em
português é traduzido como Ilha de Calor Urbana (ICU), sendo o termo mais abrangente para a pesquisa por
ser a denominação atual para anomalias e distribuição térmica no perímetro urbano e o que se pretende
pesquisar mais detalhadamente nos próximos capítulos. Este termo foi analisado na base de dados Scopus.
Foram utilizados outros dois termos para nortear a filtragem durante a busca de dados, sendo eles:
“Remote Sensing” e “Satellite Imagery”. Estes retratam o cenário atual de pesquisas que trabalham com
mapas temáticos, como as de climatologia urbana. O uso de sensoriamento remoto e com isso, imagens de
satélite, vem sendo aplicado para planejamento urbano e ambiental das cidades, mostrando-se uma
ferramenta importante para fiscalização, monitoramento, criação de cenários de qualificação e gestão.
Em seguida, analisaram-se os termos “Regression Analysis” e “GIS”. De acordo com Foissard
(2015), os modelos de regressão linear são largamente utilizados para espacialização de ilhas de calor
urbanas. Como estes cálculos estatísticos são aplicados em softwares de geoprocessamento, optou-se pela
busca também do termo “GIS”.
Já o termo utilizado para a busca de dados mais afunilada foi “Local Climate Zones” OR “LCZ” por
ser a denominação do método de classificação da paisagem para estudos de ilha de calor urbanas (e do
campo térmico em geral da cidade), criado por STEWART (2011a). É um método que possui várias camadas
de informação sobrepostas com intuito de ordenar a diversidade de temperatura através da identificação de
classes. O método LCZ foi criado com o intuito de auxiliar na comunicação e padronização de informações
sobre ilhas de calor urbanas em nível global, sendo amplamente testado por pesquisadores de diversos países
da Europa, dos Estados Unidos, da Austrália e do Brasil.
Os resultados foram obtidos a partir de filtragem, para o caso de os termos aparecerem em: título,
resumo, palavra-chave. As duplicidades foram eliminadas e houve a verificação da aderência do termo ao
título, ao resumo e ao texto, e a verificação da disponibilidade da publicação.
O levantamento de dados do termo “Local Climate Zones” OR “LCZ” foi feito por meio das bases:
Scopus, Web of Science, Science Direct, Wiley Online Library, Scielo e IEEE Xplore; a sistematização dos

596
dados foi realizada em planilhas do software EndNote, versão X8 (teste), para posterior processamento dos
dados (Figura 2).

Figura 2 - Fluxograma de sistematização dos dados da pesquisa.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da base de dados Scopus foi possível encontrar 3.247 artigos e artigos de revisão utilizando o termo
(“urban heat island* OR “UHI”), sendo este valor limitado a documentos em inglês.
Filtrando por área temática, as que mais aparecem são Ciências da Terra e Planetárias, Ciência
Ambiental. Em seguida encontram-se as áreas temáticas de Ciências Sociais e Engenharia, respectivamente.
Um percentual menor, mas ainda significativo, é atribuído para as áreas temáticas de Energia, Agricultura e
Ciências Biológicas.
Um percentual menor apareceu em áreas temáticas de medicina, enfermagem, veterinária, farmácia,
imunologia e microbiologia, neurociência, psicologia, profissões de saúde, química e matemática, economia
e finanças, negócios, ciências da computação.
A data de pesquisa sem filtros obteve o primeiro artigo publicado no ano de 1967 (DAVIDSON, B.,
1967) e o mais recente consta na base como data do próximo ano, 2019 (SEN, S., ROESLER, J., KING, D.,
2019). Ainda pela busca, foi possível detectar que apenas 3,4% deste total são artigos de revisão.
Deste total apenas 150 são disponíveis sem custo, ou seja, 4,62%. O que evidencia uma fragilidade
de pesquisa na área de climatologia urbana e mais precisamente, sobre ilhas de calor urbanas (ICU). Esta
dificuldade de acesso faz com que a divulgação de novas metodologias de coleta, processamento de dados e
de classificação de distribuição térmica em áreas urbanas seja retardada ou, até mesmo, interrompida. Desta
forma, há a necessidade vigente de publicar pesquisas com livre acesso para melhorar a padronização de
informações a respeito deste assunto e com isso permitirá aprofundar cada vez mais as caracterizações de
regiões urbanas no que tange as Ilhas de Calor Urbanas.
Ao analisar a quantidade de publicações nos primeiros 30 anos, são obtidos 256 registros de
publicações na base Scopus, representando 7,88% do total e nenhum artigo de revisão sobre o assunto foi
publicado neste período. Ainda neste período, 86 artigos publicados constam como país de origem
indefinido. O país líder de publicações era os Estados Unidos com 68, China em quinto lugar com 7 artigos e
o Brasil não aparecia no ranking. Observou-se também que OKE, T. R. liderava o número de publicações,
com 13 artigos. Em seguida constava BALLING, R. C. com 6 artigos, e BRAZEL, S. W. e NKEMDIRIM,
L.C. com 5 publicações cada. CHING, J. K. S. constava em quinto lugar com 4 publicações, mesmo número
dos demais autores até a décima colocação conforme Quadro 1.
Quadro 1 - Número de publicações por autor no período de 1967 – 1996.
Oke, T.R. 13
Balling, R.C. 6
Brazel, S.W. 5
Nkemdirim, L.C. 5
Ching, J.K.S. 4
Clarke, J.F. 4

597
Gallo, K.P. 4
Goldreich, Y. 4
Karl, T.R. 4
Tarpley, J.D. 4

Ao analisar o resultado da busca por ano de publicação, percebe-se que de 1997 até o presente
constam 2.991 publicações, o que representa 92,12% do total. Por este motivo no gráfico da Figura 2 aparece
a barra em cor laranjada com um apanhado de todas as publicações anteriores a 1997.
Há um aumento acelerado nas publicações a partir do ano de 2008, conforme gráfico da figura 3. No
quadriênio de 2008 a 2012 o número de publicações duplicou, assim como no quadriênio posterior, de 2012
a 2016. O ano de 2017 ainda consta como o mais produtivo, tendo em vista que a análise de 2018 não está
completa, comprovando o aumento no número de publicações no período.

500
Número de publicações

450
400
350
300
250 *
200
150
100
50
0
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
Anteriores a 1997

Ano de publicação

Figura 3 - Número de publicações por ano a partir da busca “urban heat island*” OR “UHI” na base de dados Scopus. *Última busca
no Scopus em 18 de junho de 2018.

Ao analisar os países que mais publicaram neste período, Estados Unidos continuam em primeiro
lugar (com 788 artigos) e China em segundo lugar (com 573 artigos). Observou-se também que o autor que
mais publicou neste período foi SANTAMOURIS, M., conforme Quadro 2.
Quadro 2 - Número de publicações por autor no período de 1997 – 2019.
Santamouris, M. 46
Pisello, A.L. 29
Weng, Q. 25
Brazel, A.J. 25
Cotana, F. 24
Masson, V. 21
Wong, N.H. 20
Akbari, H. 18
Baik, J.J. 18
Davies, M. 18

Além das palavras-chave esperadas (ilha de calor e ilha de calor urbana, temperatura atmosférica,
área urbana, urbanização, clima urbano), foram encontradas também com alta frequência: planejamento
urbano, sensoriamento remoto e uso do solo, o que mostra um cenário de revolução digital no que tange o
planejamento e uso do solo em cidades, amplamente discutido na literatura atual.
O termo “Remote Sensing” (sensoriamento remoto) aparece a partir do ano de 1989, o que demonstra
a aplicação de técnicas de sensoriamento remoto em estudos de ICUs há praticamente 30 anos. Já o termo
“Satellite Imagery” (imagens de satélite), tem início nesta filtragem de buscas a partir do ano de 1999.

598
Percebe-se então, um forte crescimento do uso de geotecnologias para a identificação, classificação e
mensuração das ilhas de calor urbanas.
Em seguida, analisou-se os termos “Regression Analysis” e “GIS”. Estes foram encontrados entre as
palavras-chave na base de dados Scopus e demonstram que o método de cálculo matemático e o
processamento de imagens de satélite são abordados atualmente quando se trata de estudos de clima urbano.
Este tipo de informação corrobora a escolha de métodos contemporâneos para o processamento de dados
sobre ICU, tendo a finalidade de auxiliar na elaboração de uma pesquisa inovadora.
E por fim, o termo (“Urban Heat Island*” OR “UHI”) AND (“Local Climate Zone*” OR “LCZ”) foi
analisado em seis (6) bases de dados: Scopus, Web of Science, Science Direct, Wiley Online Library, Scielo e
IEEE Xplore. Obteve-se um total de 67 artigos e artigos de revisão disponíveis. Destes, 57 foram utilizados
para o portfólio bibliográfico (PB) por terem como foco a aplicação do método LCZ. Sendo feita a
sistematização dos dados em formato de tabela.
Com o portfólio bibliográfico em mãos foi possível perceber que 24 deles possuem 10 citações ou
mais (Figura 4). Feita uma análise da relevância científica simplificada, identificam-se alguns destaques: o
artigo de Stewart, Oke e Krayenhoff (2014) possui 126 citações e o artigo de Bechtel et al. (2015) possui 113
citações no Google Acadêmico, sendo os únicos no portfólio com mais de 100 citações.
A partir dos dez artigos mais citados, foram analisados os critérios iniciais para a sistematização dos
dados, como: cidades e países de aplicação do método LCZ, as características urbanas encontradas, a
magnitude da ilha de calor urbana encontrada em cada artigo, os métodos de coleta de dados higrotérmicos,
simulação computacional e métodos de cálculo estatístico aplicados nas pesquisas e, por fim, o software
utilizado para processamento de dados.

130
120
N° de citações dos artigos do PB

110
100
(Google Acadêmico)

90
80
70
60
50
40
30
20
10
0

Artigos do PB a partir de 10 citações


(Google Acadêmico)

Figura 4 - Relevância dos artigos do PB no Google Acadêmico.

A partir da leitura dos textos na íntegra foi possível detectar quais parâmetros mais aparecem nos
artigos e quais as informações mais importantes para o estudo de ilhas de calor urbanas de acordo com os
autores. As cidades e países de maior ocorrência de aplicação do método, bem como seus respectivos climas
estão especializados na Figura 5. Servindo como embasamento para os resultados de coletas e análises de
caráter inédito da aplicação do método LCZ em cidades brasileiras.
Para esta etapa foram lidos 28 artigos, sendo estes os que possuem maior relevância. Europa e Ásia
são os continentes de maior aplicação do método de classificação da paisagem LCZ, seguidas

599
respectivamente pela América do Norte e África. Em relação aos climas nos quais o método vem sendo
aplicado, foi possível detectar que os artigos de maior relevância não utilizaram como área de estudos a
América do Sul e mais especificamente, o Brasil.

Figura 5 - Locais de aplicação do método LCZ.

Também foi possível detectar as características urbanas encontradas, ou seja, quais zonas climáticas
locais (LCZ) foram identificadas até o momento, nas cidades analisadas em cada um dos artigos,
colaborando para a interpretação do sucesso de adaptação do método aos diferentes países onde já foi
aplicado, incluindo países da Europa, Ásia e África. A partir do gráfico da Figura 6 é possível perceber que
as classes que mais aparecem nos artigos são LCZ 2, LCZ 6 e LCZ 5 que representam respectivamente áreas
de edificações compactas de média elevação, abertas de média elevação e abertas de baixa elevação.

PERCENTUAL DE CADA LCZ EM RELAÇÃO AO PORTFÓLIO


BIBLIOGRÁFICO
G 39,29
ZONA CLIMÁTICA LOCAL (LCZ)

28,57
E 35,71
53,57
C 35,71
46,43
A 39,29
28,57
9 57,14
46,43
7 17,86
75
5 60,71
35,71
3 57,14
75
1 39,3
0 10 20 30 40 50 60 70 80
PERCENTUAL IDENTIFICADO NO TOTAL DE ARTIGOS (%)

Figura 6 - Percentual de cada LCZ em relação ao Portfólio Bibliográfico.

Conforme o portfólio bibliográfico podemos verificar que Nagano, Vancouver, Upsala, Glasgow,
Hamburgo, Dublin, Bélgica, Nancy, Hong Kong, Kochi, Beirute, Szeged, Putrajaya, Khartoum,
Birmingham, Minneapolis, Saint Paul, Praga, Brno e Nagpur são cidades que não possuem toda a
diversidade de classes que o método propõe como passíveis de serem identificadas. Nelas ocorre grande
repetição da Classe 3, que corresponde a áreas muito compactadas e com edificações de baixa elevação.
Cabe salientar que 67,90% dos artigos analisados utilizam menos de 10 classes dentre as 17 zonas climáticas
locais propostas por STEWART (2012).
Outro parâmetro analisado foi a magnitude da ICU encontrada nos artigos analisados: Líbano, Japão
e Índia foram os países com maior intensidade aferida nas respectivas cidades: Beirute, Nagano e Kochi.
Alemanha, Inglaterra e Escócia apresentaram as menores intensidades nas respectivas cidades: Hamburgo,
Birmingham e Glasgow.
Isso é relevante pois o método define diferenças de campo térmico entre cada zona classificada na
cidade, ou seja, nos diferentes ambientes urbanos existentes, bem como no entorno rural; o método LCZ

600
apresenta-se como uma ferramenta de avaliação da paisagem urbana para o planejamento urbano e ambiental
das cidades.
No que tange a simulação computacional e métodos de cálculo estatístico aplicados nas pesquisas,
foi possível perceber que estão diretamente ligados ao número de pontos coletados e a análise do raio do
entorno de cada ponto coletado. Todos os artigos analisados nesta fase final descreveram a simulação
computacional utilizada para gerar seus mapas e realizar suas análises estatísticas e 100% deles utilizaram
métodos estatísticos para tratamento dos pixels.
Além disso, foi analisado o software utilizado, dando um indicativo do percentual de publicações
disponíveis realizadas e identificadas com programas computacionais gratuitos e as cidades onde foram
feitas as aplicações do método conforme Tabela 1. Foi possível verificar que 32,14% (9 artigos) utilizaram
software gratuito para a pesquisa, 14,29% (4 artigos) utilizaram software pago e a maioria dos autores
filtrados neste trabalho 46,43% (13 artigos) não citam o software utilizado para gerar os mapas das Zonas
Climáticas Locais (LCZ).

Tabela 1 - Artigos do Portfólio Bibliográfico em ordem de número de citações; lista de tipos de software utilizados em cada artigo.

CIDADE/ PAÍS DE APLICAÇÃO DO MÉTODO SOFTWARE N° CITAÇÕES DOS ARTIGOS


Nagano, Japão; Vancouver, Canadá; Upsala, Suécia Não cita 126
Hamburgo, Alemanha, Dublin, Irlanda, e Houston, EUA. Gratuito 113
Glasgow e entorno, Escócia. Não cita 95
Hamburgo, Alemanha Gratuito 90
Glasgow, Escócia Pago 51
Hong Kong SAR, China Não cita 50
Nancy, nordeste da França Gratuito 48
Dublin, Irlanda Gratuito 45
Hamburgo, Alemanha Gratuito 32
Putrajaya, Malásia Gratuito 26
Kochi, Índia Não cita 22
Khartoum, Sudão Gratuito 21
Minneapolis, St. Paul, e entorno Não cita 20
Madrid e seu entorno, Espanha Não cita 18
Madrid, Espanha Não cita 17
Hamburgo, Alemanha Não cita 15
Não cita 15
Brno, Hradec Králové, Olomouc, República Tcheca
Nanjing, China Pago 15
Birmingham, Inglaterra Não cita 14
Praga e Brno, República Tcheca Não cita 13
Todas as cidades, Bélgica Pago 12
Beirute, Líbano Gratuito 11
Guangzhou, China Gratuito 10
Szeged, Hungria Não cita 10
Nagpur, Índia Pago 9
Hong Kong, China Não cita 9

Ficou demonstrado que a maior concentração de uso de softwares gratuitos ocorre na Europa. É
importante salientar que a citação do programa computacional na metodologia faz com que o estudo seja
reproduzido com maior facilidade pelos pesquisadores ao redor do mundo. O percentual referente ao uso de
programas gratuitos é relevante e faz com que as pesquisas de climatologia urbana sejam acessíveis, gera
também uma probabilidade de padronização das pesquisas nesta área.

601
5. CONCLUSÕES
A partir da quantidade de publicações encontradas na base Scopus sobre ilha de calor urbano (3247) e o
amplo crescimento de publicações ao longo dos últimos vinte (20) anos, que representa mais de 90% do total
de publicações, é possível perceber a importância do tema.
Uma grande preocupação dos pesquisadores dessa área temática é o fato de que não há uma
padronização e o nível de detalhamento da distribuição térmica em escala urbana é muitas vezes
desconsiderado. No que tange o método de classificação da paisagem aqui analisado, a grande ocorrência de
citações dos artigos publicados desde seu surgimento (STEWART, 2011-a) mostra a efetividade de sua
aplicação tendo em vista que nos estudos considerados modernos, a partir dos anos 50, representa um esforço
de aprimoramento no nível de detalhamento e padronização de coleta, descrição e critérios de mensuração. A
sistematização de dados realizada é importante para ilustrar de forma didática como o presente método LCZ
ainda é passível de diversos testes e aprimoramentos.
Deste modo, este artigo colabora com as pesquisas em climatologia urbana e cria um conjunto de
dados organizados que auxiliam no planejamento de futuras pesquisas nesta área.

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2003.

602
ESTUDO COMPARATIVO DE FAIXAS DE CONFORTO OBTIDAS PARA
O ÍNDICE TÉRMICO UTCI PARA DUAS CIDADES BRASILEIRAS
Thiago José Vieira Silva (1); Simone Queiroz da Silveira Hirashima (2);
Eduardo L. Krüger (3); Eduardo Grala da Cunha (4); Luísa Alcântara Rosa (5)
(1) Arquiteto, Urbanista e Engenheiro Civil, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil
do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, vieira.thiago@gmail.com, Av. Amazonas,
7675, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil - CEP 30510-000 - +55 31 3319-6848
(2) Arquiteta e Urbanista, Dra., Professora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil do Centro
Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, simonehirashima@cefetmg.br
(3) Engenheiro Civil, Dr., Professor do Departamento Acadêmico de Construção Civil e do Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPGEC), Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR),
ekruger@utfpr.edu.br, Rua Deputado Heitor Alencar Furtado, 5000, Ecoville, Curitiba, Paraná, Brasil – CEP
81280-340 - +55 41 3279-6821
(4) Arquiteto e Urbanista, Dr., Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e do Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura (PROGRAU), Universidade Federal de Pelotas, eduardo.gralal@ufpel.edu.br,
Rua Benjamim Constant 1359, Centro, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil - CEP 96010-020 - +55 53 3284-
5500
(5) Arquiteta e Urbanista, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Pelotas, luisa.alcantara.rosa@gmail.com

RESUMO
O crescimento das cidades acompanhado de impactos na paisagem e ambientes naturais exigirá estratégias
de adensamento urbano, particularmente em países em desenvolvimento. Índices biometeorológicos, como o
UTCI, podem orientar esse processo, pois servem de suporte para estimativas dos impactos gerados na
sensação térmica de intervenções em ambientes externos. Contudo, uma etapa preliminar deve prever testes
de adequação das faixas de conforto e estresse térmico de tais índices, com procedimentos de calibração
embasados em pesquisas com a população local. Este artigo compara as faixas de conforto obtidas para duas
localidades distintas no Brasil: Belo Horizonte, 20°S, clima Cwa e Pelotas, a 32°S, com clima Cfa, as duas
cidades diferindo fortemente em termos de latitude local. Para cada cidade, campanhas de conforto em
espaços abertos foram realizadas segundo procedimentos semelhantes, cobrindo uma ampla gama de
condições microclimáticas ao longo de diferentes estações do ano. Em Belo Horizonte, a amostra obtida
compreende 1691 votos térmicos com medições em quatro locais diferentes ao longo de quatro campanhas.
Em Pelotas, a amostra foi consideravelmente menor e compreende 257 votos distribuídos em dez campanhas
de monitoramento, em cinco pontos diferentes. Os resultados obtidos indicam uma redução das temperaturas
neutras em torno de 2°C (unidades UTCI), possivelmente devido à latitude e ao clima local, para a localidade
mais ao sul. As faixas de conforto sugerem, inicialmente, maior amplitude para Pelotas do que em Belo
Horizonte. O valor inferior da zona de conforto para o UTCI foi mais baixo que o da faixa sugerida para o
índice em Pelotas. Uma possível explicação para isso é uma exposição mais longa a condições de frio, uma
vez que os edifícios raramente são providos de sistemas de calefação.
Palavras-chave: conforto em espaços abertos; índices de conforto térmico; clima urbano.

ABSTRACT
Urban growth accompanied by impacts on landscape and natural environments will require guided
compaction schemes in urban areas, particularly in developing countries. Human-biometeorological indices
such as UTCI could guide this process, as they provide a clear account of expected effects on thermal
sensation from a given change in outdoor settings. However, an earlier step should optimally include an

603
adequacy test of suggested comfort and thermal stress ranges with calibration procedures based on surveys
with the aimed population. This paper compares obtained comfort ranges for two different locations in
Brazil: Belo Horizonte, 20°S, Cwa climate type and Pelotas, at 32°S, with a Cfa climate type, thus with a
pronounced difference in local latitude. In each city, a set of outdoor comfort campaigns has been carried out
according to similar procedures, covering a wide range of microclimatic conditions over different seasons of
the year. In Belo Horizonte, the sample obtained comprises 1691 thermal votes with measurements in four
different locations over four campaigns. In Pelotas, the sample was considerably smaller (ongoing research)
and comprises 257 votes distributed in ten measurement campaigns at five different points. Obtained results
indicate a reduction of neutral temperatures around 2°C (in UTCI units) as a possible latitude and local
climate effect for the southernmost location. Comfort ranges are initially wider for Pelotas than in Belo
Horizonte. A lower UTCI value was found in Pelotas for the lower threshold of the comfort band as
compared to the suggested band for the index. A possible explanation for that is a longer exposure to cold
conditions as buildings seldom are provided with heating systems.
Keywords: outdoor thermal comfort; thermal comfort indices; urban climate.

1. INTRODUÇÃO
As ações antrópicas relacionadas à urbanização das cidades definem o clima urbano. Segundo Oke et al.
(2017), o contexto urbano influencia as características climáticas nos níveis local, regional e global. Essas
alterações climáticas proporcionam significativa interferência sobre os seres humanos. Para Steane e
Steemers (2004), o ambiente urbano é responsável pela geração de percepções de espaço diferenciadas,
afetando o comportamento de seus usuários. Nesse contexto, condições confortáveis termicamente
influenciam o uso do espaço urbano de maneira positiva, promovendo a vitalidade das relações sociais,
econômicas e culturais da cidade (NIKOLOPOULOU, 2004).
Os índices de conforto térmico buscam integrar parâmetros microclimáticos, individuais e subjetivos
relacionados aos ambientes térmicos urbanos por onde transita a população e, uma vez calibrados, figuram
como importantes ferramentas de avaliação e projeto (POTCHTER et al., 2018). Diversos índices térmicos
são citados na literatura e alguns estudos mais recentes visam à calibração de faixas de conforto e estresse
térmicos para a população local (SILVA, 2019). Calibrar estes índices permite determinar intervalos
representativos das condições de conforto térmico e prever a sensação térmica de acordo com uma escala de
avaliação (HIRASHIMA et al., 2018).
Dentre os índices térmicos existentes para espaços abertos, o Universal Thermal Climate Index (UTCI)
tem sido amplamente estudado e adotado por pesquisadores focados no conforto térmico na região. O índice
foi desenvolvido no âmbito da International Society of Biometeorology (ISB)
(https://uwm.edu/biometeorology/), inicialmente em 2000, no âmbito de uma comissão específica, a UTCI
ISB Commission 6. Em 2004, lançou-se um projeto inter-institucional para desenvolvimento do UTCI
composto por diversos parceiros europeus e apoiado pelo edital COST Action (European Cooperation in
Scientific and Technical Research). O projeto, com participação de 19 países, foi finalizado em 2009 e, a
partir de então, conforme relatório final, foi sugerido que as etapas de avaliação e validação da ferramenta
fossem realizadas em pesquisas subsequentes. As diversas categorias de conforto e estresse térmico
originalmente estabelecidas para o UTCI são apresentadas na Tabela 1.
O ambiente de referência proposto pelo UTCI é definido, segundo Staiger et al. (2019) como um
ambiente isotérmico com baixa velocidade do ar, aproximadamente 0,3 m/s, considerando uma altura de 1,1
m acima do solo, 50% de umidade relativa e uma pressão de vapor de água de 20hPa. O calor metabólico do
sujeito de referência é de 135 W/m².
Características microclimáticas e região climática, comumente baseadas na classificação de Köppen-
Geiger, são de fundamental importância para pesquisas que visualizam o conforto térmico como objetivo. A
dimensão continental do Brasil, com a heterogeneidade de fatores climáticos, afeta o desempenho de índices
térmicos quanto a votos de sensação térmica real, justificando a calibração dos índices de conforto térmico
para a população local (SILVA, 2019).

604
Tabela 1 - Faixas de estresse térmico do UTCI
Faixas de UTCI Categorias de estresse
> 46 ºC extremo estresse para o calor
38 ºC a 46 ºC muito forte estresse para o calor
32 ºC a 38 ºC forte estresse para o calor
26 ºC a 32 ºC moderado estresse para o calor
18 ºC a 26 ºC conforto térmico
9 ºC a 18 ºC sem estresse térmico
0 ºC a 9 ºC pouco estresse para o frio
0 ºC a -13 ºC moderado estresse para o frio
-13 ºC a -27 ºC forte estresse para o frio
-27 ºC a -40 ºC muito forte estresse para o frio
<-40 ºC extremo estresse para o frio
Fonte: Bröde et al. (2011)

Quanto ao uso de UTCI no Brasil, Silva e Hirashima (2018) consolidaram um Portfólio Bibliográfico
construído através da análise sistemática e bibliométrica do Knowledge Development Process -
Constructivist (ProKnow-C). Este estudo foi realizado no primeiro semestre de 2018 e encontrou apenas 13
trabalhos publicados no país (ROSSI et al., 2012; KRÜGER et al., 2012; KRÜGER et al., 2017a; KRÜGER,
2017; BRÖDE et al., 2012; BRÖDE et al., 2013; MINELLA; KRÜGER, 2016; MARTINI et al., 2014;
KRÜGER et al., 2015; KRÜGER et al., 2017b; KRÜGER; DRACH, 2016; 2017; 2017a; 2017b). Em geral, o
desempenho do índice foi avaliado quanto à geometria urbana, a variáveis pessoais, ao percentual de áreas
com vegetação, a condições de aclimatação e ao histórico térmico, dentre outros fatores. Em relação à
calibração do UTCI para a população local no Brasil, Silva e Hirashima (2018) encontraram apenas um
estudo: Rossi et al. (2012), que realizaram a calibração para a cidade de Curitiba, Paraná. Mais recentemente,
Silva e Hirashima (2018a) e Silva (2019) calibraram o UTCI para a cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais.
Os estudos sobre o clima urbano têm sido crescentemente considerados como definidores de
parâmetros de natureza urbanística. No Brasil, vários são os estudos em desenvolvimento sobre conforto
térmico em espaços abertos, no entanto a diversidade climática brasileira presume que os estudos devam ser
pontuais e metodologicamente replicáveis (SILVA, 2019), o que justifica a proposta deste artigo.

2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é comparar as faixas de conforto térmico obtidas para Belo Horizonte, localizada a
20°S, com clima Cwa e Pelotas, a 32°S, com clima Cfa, locais com significativa diferença na latitude local.

3. MATERIAIS E MÉTODOS
Este estudo foi dividido em cinco etapas, detalhadas nos itens a seguir:
6. Coleta de dados em Belo Horizonte (MG);
7. Coleta de dados em Pelotas (RS);
8. Cálculo de UTCI (software Bioklima 2.6);
9. Calibração do UTCI por regressão linear e por agrupamento de valores para variação discreta
dos valores calculados do índice;
10. Comparação das faixas de conforto calibradas para as cidades de Belo Horizonte e Pelotas.
3.1. Coleta de dados em Belo Horizonte (MG)
Belo Horizonte está localizada na porção central do estado de Minas Gerais. Segundo a classificação
Köppen-Geiger, o clima tropical com inverno seco (Aw) predomina em cerca de 67% do território do estado
(REBOITA et al., 2015) sendo tal classificação atribuída por Assis (1990) para a capital mineira.
Segundo as Normais Climatológicas do Brasil 1981-2010 do Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET, BRASIL, 2018), Belo Horizonte apresenta uma temperatura média anual de 21,8ºC, umidade
relativa do ar de 67,2 %, intensidade anual do vento de 1,7m/s e nebulosidade média anual de 0,5 décimos.
3.1.1. Banco de dados (Coleta e tratamento)
O banco de dados de Belo Horizonte considerado nesta pesquisa encontra-se descrito por Hirashima (2014) e
Hirashima et al., 2016; 2016a), somando um total de 1691 questionários aplicados. A coleta de dados foi
realizada em duas praças de Belo Horizonte, Liberdade (Figura 1) e Sete de Setembro (Figura 3), que,
segundo Hirashima (2014), apresentam diferenças significativas com relação ao Sky View Factor (SVF),

605
arborização, verticalização e adensamento do tecido urbano de seu entorno (Figuras 2 e Figura 4). A
distância entre as praças é de cerca de 1 km.

Figura 1 – Praça Sete de Setembro Figura 2 – SVF Praça da Liberdade

Figura 3 – Praça Sete de Setembro Figura 4 – SVF Praça Sete de Setembro


Fonte: Hirashima (2014)

O monitoramento dos dados ocorreu no verão e inverno de 2013, entre 7:00 e 17:00 hs. Os dados
coletados foram: temperatura do ar (Ta), umidade relativa (UR), velocidade do ar (Va) e temperatura do
globo (Tg). Os equipamentos (termohigrômetro, anemômetro e termômetro de globo) foram montados em
tripés com altura de 1,10m e posicionados nos pontos de coleta 30 minutos antes do início da pesquisa para
que o termômetro globo atingisse o equilíbrio. O termômetro de globo usado tem 40 mm de diâmetro e cor
cinza. Todos os instrumentos foram previamente calibrados. Os dados foram registrados a cada 5 minutos
(HIRASHIMA, 2014; HIRASHIMA et al., 2016; 2016a).
A percepção térmica dos usuários foi coletada por meio de entrevistas simultaneamente ao
monitoramento dos dados microclimáticos. A amostra considerou apenas a população adulta (20 a 59 anos)
residente em Belo Horizonte há mais de um ano e que estava pelo menos por 30 minutos no ambiente
externo. As variáveis consideradas pelos questionários estruturados foram: individuais (idade, sexo, altura,
peso, taxa metabólica, isolamento térmico da roupa) e subjetiva (percepção da sensação térmica, preferência
pela sensação térmica e avaliação de conforto térmico). Com relação à percepção térmica, a elaboração do
questionário considerou a norma ISO 10551 (2015), que estabelece escalas térmicas subjetivas de percepção,
avaliação preferência, tolerância e aceitação (HIRASHIMA, 2014). As normas ISO 7730 (2005), 8996
(2004) e 9920 (2007) também foram consideradas.
As escalas usadas para os aspectos abordados neste artigo estão representadas na Tabela 2.
Tabela 2 - Escalas usadas nos questionários (sensação, preferência e avaliação)
Questão Voto Resposta interpretativa
-3 Com muito frio
-2 Com frio
-1 Com pouco frio
Como se sente nesse exato momento? 0 Sem frio nem calor
1 Com calor
2 Com pouco calor
3 Com muito calor
1 Muito mais frio
2 Mais frio
3 Um pouco mais frio
Você preferiria o ambiente que estivesse... 4 Nem mais frio nem mais quente
5 Um pouco mais quente
6 Mais quente
7 Muito mais quente
1 Confortável
2 Ligeiramente desconfortável
Em relação à sua resposta anterior, você considera o ambiente...
3 Desconfortável
4 Muito desconfortável
Fonte: os autores

O cálculo da temperatura radiante média (Trm) foi realizado pela equação da convecção forçada
estabelecida pela ISO 7726 (1998). A velocidade do ar foi coletada a uma altura de 1,10m. O cálculo do

606
UTCI utiliza valores da velocidade do vento, em m/s, a 10 metros de altura, sendo assim aplicado um fator
de conversão logarítmico, proposto por Bröde et al. (2012) para este fim.

3.2. Coleta de dados em Pelotas (RS)


A cidade de Pelotas está localizada na mesorregião sudeste do estado do Rio Grande do Sul e na
microrregião Pelotas. Conforme a classificação Köppen-Geiger, o clima em Pelotas é subtropical (Cfa),
predominante no Rio Grande do Sul, com exceção de regiões do Planalto Basáltico que são mais elevadas,
cujo clima é classificado como temperado (Cfb) (ROSSATO, 2011).
Com base nas Normais Climatológicas do Brasil 1981-2010 do Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET, BRASIL, 2018), a temperatura média anual é de 18°C, a umidade relativa do ar é de 81,5%, com
intensidade anual do vento de 2,0 m/s e nebulosidade média anual de 0,6 décimos.
3.2.1. Banco de dados (coleta e tratamento)
O banco de dados de Pelotas faz parte de uma pesquisa em andamento. Considerando esse fato, a totalidade
de registros é de 257 respostas de percepção térmica. A coleta de dados ocorreu em cinco locais. Três pontos
estão localizados no centro de Pelotas, especificamente na Praça Coronel Pedro Osório (Figura 5), na Rua
XV de Novembro (Figura 6) e no calçadão da Rua Andrade Neves (Figura 7). Na Avenida Dom Joaquim
(Figura 8), na zona norte da cidade, há mais um ponto de coleta. O último está situado na Avenida Doutor
Antônio Augusto de Assunção (Figura 9), na Praia do Laranjal. Esses locais apresentam diferentes valores de
Sky View Factor (SVF), que variam de 0,52 a 0,87.

Figura 5 - Praça Coronel Pedro Osório e SVF Figura 6 - Rua XV de Novembro e SVF

Figura 7 - Rua Andrade Neves e SVF Figura 8 - Avenida Dom Joaquim e SVF

Figura 9 - Av. Doutor Antônio Augusto de Assunção e SVF


Fonte: os autores

O período de observação dos dados compreende os meses de agosto, setembro e outubro de 2018,
durante o período entre 9:00 e 17:00 hs. O aparelho utilizado nas medições é o TGD-400, foi montado sobre
um tripé instalado na altura de 1,10 m do solo. Nos dias de coleta, o equipamento é posicionado e ligado 20
minutos antes do início das medições, para que desse modo seja obtido equilíbrio térmico entre o ambiente e
o termômetro do globo. Nessa pesquisa, o globo utilizado possui diâmetro de 40 mm e cor cinza. Os dados
coletados foram: temperatura de ar (Ta), temperatura de ponto de orvalho (To), temperatura de bulbo úmido
(TBU), valores de IBUTG, temperatura do globo (Tg) e velocidade do ar (Va). O registro de informações
ocorreu a cada 5 segundos. Ressalte-se que o equipamento é novo, com certificado de calibração de fábrica.
A percepção térmica dos usuários foi analisada considerando fatores que a influenciam direta e
indiretamente, por meio de questionários aplicados durante o período que os dados microclimáticos eram
coletados. A pesquisa em Pelotas não delimitou uma faixa etária para os participantes, analisando a
população residente do município há pelo menos seis meses e que estava no ambiente externo a mais de 5
minutos. Os questionários foram estruturados com variáveis biométricas (sexo, idade, altura, peso, cor da
pele), uso do espaço (se o usuário conhece e frequenta o local e a razão de estar ali), isolamento térmico da

607
vestimenta, aclimatação (tempo que reside na cidade, utilização do ar condicionado, tempo que está no
ambiente externo), percepção térmica (como se sente, como preferiria que estivesse e avaliação de conforto
térmico), percepção da ventilação (como se sente, como preferiria que estivesse e avaliação da ventilação) e
observacionais (calor metabólico de atividade física). A elaboração do questionário levou em consideração
as normas ISO 8996 (2004), 7730 (2005), 9920 (2007) e 7726 (1998).
A temperatura radiante média (Trm) foi obtida através da equação da convecção forçada, assim como
para Belo Horizonte, estabelecida pela ISO 7726 (1998). A velocidade do ar medida foi convertida para
valores a 10 m do solo.
3.3. Cálculo do UTCI e procedimento de calibração
Os valores de UTCI foram calculados por meio da utilização do software BioKlima 2.6, um freeware
desenvolvido por Krzysztof Błażejczyk para uso na Biometeorologia e Fisiologia, possibilitando o cálculo de
diversos índices térmicos (https://www.igipz.pan.pl/Bioklima-zgik.html). No cálculo do UTCI, foram
utilizadas as variáveis Ta, Tg, UR e Va, esta última convertida para um valor a 10 m do solo por equação
logarítmica. Uma comparação inicial do conjunto completo de dados para ambas as cidades foi realizada a
partir de regressão linear simples via gráfico de dispersão com equação de regressão. A calibração foi então
realizada a partir do agrupamento dos votos de sensação térmica para cada variação de 1 grau na escala
UTCI, ou seja, média aritmética simples para os votos compreendidos em tal variação de UTCI. Nesse
processo, médias para uma quantidade de entrevistados inferior a três foram desconsideradas. A partir das
médias de sensação e preferência térmicas e avaliação de conforto térmico, foram geradas equações de
regressão para ambas as localidades, verificando-se faixas preferenciais.

4. RESULTADOS
As condições térmicas das campanhas realizadas nas duas cidades são apresentadas na Tabela 3. Verifica-se
que as respostas expressas como votos de sensação e preferência térmicas e avaliação de conforto térmico
cobrem todo o espectro de opções em Belo Horizonte e Pelotas. A variação do índice UTCI foi levemente
mais alta para as campanhas realizadas em Belo Horizonte, com correspondente aumento na média de votos
de sensação térmica e com uma diminuição dos votos de preferência térmica. A avaliação de conforto
térmico foi, em média, semelhante para as duas amostras, correspondendo em ambas a um leve desconforto
devido ao calor.
Tabela 3: Avaliações subjetivas versus condições térmicas em valores UTCI
Belo Horizonte UTCI Sensação Preferência Avaliação de Conforto
min 14,2 -3,0 1,0 1,0
méd 26,7 0,9 3,3 1,8
max 37,7 3,0 7,0 4,0
Pelotas UTCI Sensação Preferência Avaliação de Conforto
min 11,8 -3,0 1,0 1,0
méd 22,5 0,3 4,4 1,4
max 34,4 3,0 7,0 4,0
Fonte: os autores

Os resultados obtidos para os dados brutos de sensação térmica via análise de regressão linear
indicam uma redução das temperaturas neutras em torno de 3°C (unidades UTCI, obtidas para a intersecção
das linhas de tendências com o eixo das abcissas) possivelmente devida à latitude e clima local para a
localização mais ao sul (Tabela 4).
Tabela 4: Equações de Regressão e Temperatura Neutra para Belo Horizonte e Pelotas
Localidade Equação de Regressão R2 Temperatura Neutra
(dados brutos) (obtida para Voto de Sensação Térmica ST = 0)
Belo Horizonte ST = 0,2367*UTCI - 5,455 0,47 23,0
Pelotas ST = 0,1233*UTCI - 2,4473 0,29 19,8
Fonte: os autores

As faixas de conforto e estresse, devido à menor inclinação da linha de tendência para Pelotas,
sugerem maior amplitude para essa localidade do que em Belo Horizonte (Figura 10). A temperatura neutra
obtida pela nova equação de regressão para os dados agrupados permanece a mesma para Belo Horizonte
(23,0°C na escala UTCI), enquanto que, para Pelotas, há uma pequena variação para cima, passando esta a
21,2°C na escala UTCI. Os coeficientes de determinação (R²) passam a ser significativos, com menor
dispersão nos dados para Belo Horizonte.

608
Figura 10 - Dados agrupados para Sensação Térmica (ST) e equações de regressão obtidas para Belo Horizonte e Pelotas
Fonte: os autores

Um valor muito baixo de UTCI foi encontrado em Pelotas para a sensação térmica de frio, valor -1
(de 13°C, para os dados agrupados), bastante inferior ao limiar superior para desconforto para frio para Belo
Horizonte (18,3°C). A preferência térmica para as duas cidades é apresentada a seguir (Figura 11).

Figura 11 - Dados agrupados para Preferência Térmica (PT) e equações de regressão obtidas para Belo Horizonte e Pelotas
Fonte: os autores

As curvas de regressão se mostram paralelas, com uma preferência por condições mais quentes para
Pelotas. A diferença no voto de preferência térmica ultrapassa meio voto entre ambas, para valores idênticos
de UTCI. Finalmente, para a Avaliação de Conforto Térmico (ACT), a Figura 12 mostra as diferenças
encontradas. Neste caso, são geradas equações polinomiais, nas quais os pontos de inflexão indicam maior
proximidade da situação de conforto, aumentando o desconforto tanto para a condição de frio como para a de
calor. As curvas de regressão confirmam os resultados da Tabela 3, com Pelotas atingindo valor mais baixo
na escala de ACT (eixo das ordenadas) do que em Belo Horizonte. Os pontos de inflexão correspondem a um
valor de UTCI mais alto para Pelotas, corroborando a preferência dos indivíduos entrevistados por condições
mais quentes nessa localidade (cf. Fig. 11).

609
Figura 12 - Dados agrupados para Avaliação de Conforto Térmico (ACT) e equações de regressão obtidas para Belo Horizonte e
Pelotas
Fonte: os autores

Ao se definir a faixa de -0,5 e +0,5 como o intervalo de conforto, seguindo o procedimento adotado
pela norma ISO 7730 (ISO, 2005) (ambientes térmicos categoria B), determinam-se como faixas de conforto
para ambas as localidades os valores indicados na Tabela 5, definidos a partir das equações de regressão
obtidas para os dados agrupados de sensação térmica. Notam-se variações da faixa de conforto diferenciadas
entre as duas amostras, com uma faixa mais abrangente para Pelotas. Comparativamente, a faixa de Pelotas é
inferior à de Belo Horizonte. Enquanto ambas as faixas estão compreendidas no intervalo denominado
“conforto térmico” para o UTCI (Tabela 1), em Pelotas, há uma expansão do valor inferior desta faixa. Tal
expansão do limite inferior para a faixa de conforto original do UTCI também foi verificada para Curitiba
por Rossi et al. (2012), nesse caso com aumento também do limite superior, conforme se apresenta na Tabela
5.
Tabela 5: Faixa de conforto segundo a ISO 7730 para Belo Horizonte e Pelotas
Localidade Faixa de UTCI para ST entre -0,5 e 0,5 Variação de UTCI
Belo Horizonte 20,5 a 25,4 4,7
Pelotas 17,2 a 25,1 7,8
Curitiba- PR (ROSSI et al., 2012) 15,0 a 27,0 12,0
Faixa original para o UTCI (BRÖDE et al., 2012) 18,0 a 26,0 8,0
Fonte: os autores

Uma possível explicação para tais alterações dos limites de conforto originais pode ser atribuída ao
modo de operação das edificações brasileiras, principalmente com relação à ausência de sistemas de
calefação. Cidades com clima de maior variação sazonal aparentemente acarretam maior extensão da zona de
conforto. Curitiba tem uma variação da temperatura média entre inverno e verão de 7,5K, Pelotas de 11,3K e
Belo Horizonte de 4,7K (dados obtidos a partir das Normais Climatológicas brasileiras para 1981-2010 do
Instituto Nacional de Meteorologia (INMET, BRASIL, 2018)).

5. CONCLUSÕES
O presente estudo contribui para a área de climatologia urbana com um exemplo comparativo entre duas
cidades brasileiras em termos de definição de zonas de conforto para o índice UTCI. Considerando uma
década desde sua implementação e a escassez de estudos sobre esse índice no Brasil, os autores esperam ter
contribuído de forma singela para o incentivo a novos estudos utilizando o UTCI no país. Os resultados
iniciais desta pesquisa, ainda em andamento, mostraram alterações da faixa original para conforto térmico
para o UTCI, com valores mais baixos e maior amplitude para Pelotas, RS. O efeito climático, somado à
grande variação na latitude de cada cidade, além de impactos do uso restrito de sistemas de calefação são
sugeridos como fatores explicativos para os ajustes necessários na calibração do UTCI para as duas cidades.

610
Como limitações deste estudo, como este é um estudo em andamento, a amostra para a cidade de
Pelotas ainda é pouco representativa e será aumentada com a realização de novas coletas de dados em
campo, o que poderá resultar em alterações na faixa de conforto e nos valores de temperatura neutra
apresentados. Pesquisas vêm sendo realizadas no CEFET-MG e na UFMG a fim de verificar a influência do
tipo de tratamento estatístico utilizado no procedimento de calibração nas faixas de conforto obtidas. Neste
trabalho utilizou-se a regressão linear simples para uma primeira comparação entre os dados obtidos, porém
futuros passos envolverão a aplicação de métodos como regressão logística ordinal, dentre outros.

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612
ESTUDO DO AQUECIMENTO URBANO COM MÉTODOS DE
TRANSECTO MÓVEL E SENSORIAMENTO REMOTO
Daniela Werneck (1); Erondina Azevedo (2); Marta Romero (3)
(1) Arquiteta Urbanista, doutoranda do Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
daniela.werneck@gmail.com, Universidade de Brasília, Campus Darcy Ribeiro, Brasília – DF.
(2) PHD em Física, professora do Departamento de Física, erondinaazevedo@gmail.com, Universidade de
Brasília, Campus Darcy Ribeiro, Brasília – DF.
(3) Arquiteta Urbanista, professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, romero@unb.br,
Universidade de Brasília, Campus Darcy Ribeiro, Brasília – DF.

Resumo
O Brasil assumiu um compromisso voluntário de reduzir as emissões de gases do efeito estufa, como parte
da Política Nacional sobre Mudança do Clima, mas ainda faltam medidas de adaptação e mitigação para as
áreas urbanas. Neste contexto, o presente estudo visa explorar o ambiente térmico urbano de Brasília, Brasil.
A cidade foi inaugurada em 1960 e seu Plano Piloto é um Patrimônio Mundial da UNESCO projetado por
Lucio Costa baseado nos princípios do movimento modernista. O método de pesquisa consistiu em visitas in
loco, transecto móvel e imagens térmicas usadas para observar o aquecimento de áreas urbanas no Plano
Piloto: com o mesmo tipo construído de arranjo físico (LCZ 5). Durante o período de observação, os
resultados sugeriram que os valores das temperaturas são fortemente dependentes da radiação solar direta e
dos materiais urbanos e da presença ou ausência de sombreamento. A temperatura do ar na superfície
próxima atingiu cerca de 4 ° C no período da manhã e da tarde. Os métodos também enfatizam sua
aplicabilidade nas políticas de consolidação urbana, onde o papel do espaço aberto deve ser evidenciado para
mitigar os efeitos negativos do aquecimento urbano.
Palavras-chave: transecto móvel, construção de abrigos meteorológicos, clima urbano, Brasília.

ABSTRACT
Brazil has undertaken a voluntary commitment to reduce emissions, as part of the National Policy on Climate
Change, but adaptation and mitigation measures for urban areas are still lacking. In this context, the present
study aims to explore the urban thermal environment of Brasilia, Brazil. The city was inaugurated in 1960
and its Pilot Plan is an UNESCO World Heritage site designed by Lucio Costa based on principles of
modernist movement. The research method consisted of on-site visits, automobile traverses and thermal
imaging used to compare urban areas in the Pilot Plan with the same built type characteristic of open
arrangement of midrise buildings (LCZ 5). During the observation period, the results suggested the
temperatures values are strongly dependents to direct solar radiation and due to urban materials and presence
or absence of shading. The near surface air temperature peaked around 4° C in the morning and afternoon
traverse. With an emphasis on urban consolidation polices, the role of the open space should be made
effective towards mitigating urban heat effect in order to be incorporated in urban planning for more
comfortable and livable spaces for inhabitants.
Keywords: mobile traverse, meteorological shield, urban climate, Brasilia.

613
1. INTRODUÇÃO
As primeiras pesquisas publicadas sobre clima urbano iniciaram no século XIX, em Londres, onde Luke
Howard registrou um excesso de calor na cidade em comparação com o campo, atribuindo essa condição à
maior absorção de radiação solar pelas superfícies da cidade e à falta de umidade para a evaporação – fato
que reduz trocas térmicas para a retirada de calor (GARTLAND, 2010). Posteriormente ao estudo de
Howard, mais pesquisas de climatologia têm dado foco às alterações climáticas observadas ao longo do
processo de expansão urbana, agregando conhecimentos de disciplinas como meteorologia, arquitetura e
urbanismo, geografia, física, química da atmosfera, entre outras.
A pergunta que surge após esse breve panorama é: qual a importância de se estudar o clima das
cidades? A resposta está no entendimento dos efeitos decorrentes desse fenômeno (ROMERO et al., 2019).
Uma anomalia decorrente da influência antrópica na atmosfera urbana refere-se às ilhas de calor urbanas
(ICU), resultantes da elevação das temperaturas médias nas zonas centrais a mancha urbana em comparação
com as zonas periféricas ou rurais (LOMBARDO, 1985).
ICU ocorrem basicamente devido às alterações no balanço de energia nas camadas de cobertura e
limite urbanas, proporcionadas pelo aumento de absorção de radiação de ondas curtas, menor perda de
radiação de ondas longas, aumento do input de calor sensível, diminuição da evapotranspiração e diminuição
do transporte de calor turbulento (OKE, 1987).
Os efeitos negativos da ICU impactam nossa vida cotidiana nas cidades baixando a qualidade do ar e
elevando a temperatura no meio urbano. Além disso, com o aumento da temperatura no meio urbano, se
eleva o consumo de energia nas edificações com o aumento do uso de aparelhos de ar condicionado ou o
aumento da sua potência visando compensar a carga de calor externa.
Por fim, a redução da qualidade do ar e elevação das temperaturas externas implicam na redução do
potencial de aproveitamento da ventilação natural no espaço construído, aumentando ainda mais a
dependência de sistemas artificiais de condicionamento térmico nas edificações (ROMERO, 2013).
A importância da geometria urbana e da inércia térmica de materiais construtivos destaca-se no
processo de calor urbano causado por um ambiente dominado pelo calor sensível que armazena uma grande
quantidade de calor durante o dia e libera durante a noite.
Quanto à sua manifestação, as ICUs podem ser observadas nas superfícies urbanas e na atmosfera
urbana, exigindo técnicas de medição e monitoramento diferenciadas (OKE, 1987). Por natureza dinâmica e
devido à variabilidade do efeito e sua magnitude durante o dia, ainda são limitadas as pesquisas que abordam
as variações diárias de ICU e sua ressonância na utilização do espaço público aberto (AKBARI, et al., 2016).
Percebemos que iniciativas de mitigação e de adaptação com foco em eficiência energética são mais
frequentemente abordadas pelas políticas urbanas, esquecendo que o desempenho térmico da edificação será
influenciado e influenciará o entorno urbano, pensando nos diferentes componentes de uma cidade como
elementos desconectados (SHIANO-PHAN et al., 2015).
Por que fazemos observações do clima urbano? A concentração da população em áreas urbanas
continua sendo uma tendência e consequentemente observamos que a maior parte das atividades humanas
estão direcionadas ao ambiente urbano. Nossa área de estudo, Brasília, foi inaugurada em 1960 e possui uma
população estimada de 3.039.444 habitantes (IBGE, 2018) sendo que 96,5% vive em áreas urbanas que
ocupam 15,38% do seu território (EMBRAPA, 2017), evidenciando um rápido crescimento populacional e
consequentemente a expansão urbana.
Nesse sentido, a preocupação com o ambiente térmico da cidade é relevante. O monitoramento do
clima da cidade tem grande importância para a proposição de medidas de adaptação ou mitigação dos
impactos negativos de fenômenos associados ao aquecimento urbano, como ilhas de calor.

2. BRASÍLIA: CLIMA E ANTECEDENTES SOBRE O AQUECIMENTO URBANO


Quanto ao contexto climático, a cidade está localizada na região Centro-Oeste do Brasil, entre os paralelos
15°30' e 16°03' e os meridianos 47º18’ e 48º17’ (oeste de Greenwich) e aproximadamente 1.070 metros
acima do nível do mar. Apresenta o clima Tropical Brasil Central (IBGE, 2017) e Aw na classificação
climática de Köppen-Geiger com duas estações com características distintas: estação quente e úmida de
outubro até abril e estação quente e seca de maio até setembro.
Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia – INMET (2017), a temperatura média máxima
ocorre em setembro com 28.30°C e a temperatura média mínima em julho com 12.90°C, observando-se
importante amplitude térmica diária acentuada pela continentalidade. A precipitação média é mais baixa em
junho, cerca de 7 mm. A maior média ocorre em janeiro com 247.40 mm. A umidade relativa do ar diminui
com o término do período chuvoso, atingindo níveis abaixo de 30%. Foi incorporado neste estudo o mês de

614
setembro para a aplicação dos métodos de transecto móvel e sensoriamento remoto, pois é representativo do
período quente e seco, caracterizado por condições de céu claro que favorecerem altas temperaturas.
Encontramos algumas pesquisas sobre clima urbano realizadas para o Distrito Federal utilizando
métodos variados. A região administrativa de Sobradinho, por exemplo, foi local de estudo de um trabalho
que combinou dados dos satélites Landsat e Ikonos para compreensão dos efeitos do fenômeno de ICU
(BIAS; BAPTISTA; LOMBARDO, 2003). Os resultados mostraram variações de temperaturas de superfície
intra-urbanas de até 9ºC às 9:45h entre uma lagoa e o entorno com presença de grande área asfaltada,
chamando atenção para o adensamento urbano e os materiais empregados na construção civil.
O estudo de Castelo Branco (2009) analisou o comportamento microclimático em uma superquadra da
capital com foco na vegetação urbana, utilizando simulações microclimáticas. Medições em campo foram
realizadas tomando como referência os meses de setembro de 2008 e janeiro de 2009 para caracterizar o
período quente-seco e quente-úmido da cidade. Foram analisados três pontos com percentuais diferentes de
vegetação e relação W/H e as análises apontaram a importância da vegetação e seu potencial de
arrefecimento em relação à temperatura do ar entre os pontos estudados.
Baptista (2010) analisou a evolução da temperatura no Distrito Federal por meio de imagens termais
com o sensor TM5 do Landsat nos anos de 1984 e 2001 e análise estatística. O pesquisador observou na
comparação desses anos um aumento médio de 2°C da temperatura de superfície e salientou que a relação
entre o aumento de temperatura e o crescimento urbano é verificada em diversas áreas do Distrito Federal.
A pesquisa de Silva (2016) se apoiou no monitoramento com transecto móvel para caracterização
climática do Plano Piloto, sob o aspecto geográfico. Os resultados atestaram a ocorrência de respostas
diferenciadas de umidade relativa do ar e temperatura do ar na cidade durante o período analisado.
Vianna (2018) estudou as relações entre os tipos de materiais de superfície, as temperaturas e a
morfologia urbana no processo de formação das ilhas de calor com apoio de sensoriamento remoto.
Verificou-se que as áreas mais aquecidas incluem regiões mais adensadas, áreas de solo exposto e coberturas
de solo com vegetação rasteira seca em áreas pouco adensadas ou mesmo não ocupadas. As correlações
estatísticas entre materiais e temperaturas de superfície foram classificadas como fortes e ascendentes: no
Plano Piloto foram em média de 0,94 em agosto e de 0,90 em fevereiro e nas áreas das Regiões
Administrativas em média de 0,89 em agosto e de 0,80 em fevereiro. Já para as correlações entre
temperaturas de superfície e morfologia por meio do fator W/H (largura/altura) em cânions urbanos, os
resultados são: 0,94 em agosto e 0,65 em fevereiro.
Também em 2018, Werneck (2018) investigou áreas destinadas ao comércio local de Brasília com
enfoque na mitigação de ICU de superfície, simulando cenários com emprego de materiais frios e vegetação.
A simulação microclimática possibilitou uma análise quantitativa do impacto dessas ações na variação da
temperatura do ar, temperatura de superfície e temperatura média radiante, destacando o efeito de estratégias
combinadas de materiais frios e vegetação.
A partir das pesquisas citadas, percebemos que os métodos mais utilizados estudos do clima urbano
em Brasília são: primeiramente sensoriamento remoto seguido por simulação microclimática e transecto
móvel. Entretanto, ainda há muito a ser investigado na escala microclimática e sua relação com a
mesoescala.
O sensoriamento remoto pode ser empregado em metodologias aplicadas às pesquisas de clima
urbano, principalmente para fenômenos como as ilhas de calor urbanas de superfície. Em estudos de
temperaturas intra-urbanas, a partir do uso das informações de bandas termais, pode-se obter detalhes da
distribuição da temperatura superficial da malha urbana e fazer correlações com uso do solo, forma urbana,
presença de corpos d’água e áreas verdes, por exemplo.
Nesse aspecto, a resolução espectral das imagens é um fator importante na detecção e identificação
dos objetos, tendo em vista a diversidade da composição do espaço intra-urbano, onde os alvos apresentam
grande diversidade, como edifícios, loteamentos, praças, estacionamentos, gramados, asfalto, etc., cada um
com uma assinatura espectral diferente (MENEZES e ALMEIDA, 2012, p.241). Esses autores ressaltam as
interferências das condições ambientais e climáticas nessa temperatura de superfície, modificando-a em
curtos intervalos de tempo, podendo variar temporalmente os dados na faixa do termal.
Sobre o processamento das imagens destaca-se que os sensores termais orbitais realizam uma medida
indireta da temperatura de superfície, o que exige uma correção das propriedades da superfície radiativa que
influenciam a emissão e reflexão da radiação de comprimentos de ondas espectrais detectadas pelo sensor.
Os transectos móveis são geralmente utilizados de forma suplementar à estação fixa para levantamento
das variáveis climáticas. Trata-se da utilização de veículos para realizar a medição dos dados podendo
abranger diversos pontos da cidade em um percurso, mostrando as diferenças entre as variáveis medidas.
Tendo em vista a diversidade e heterogeneidade das cidades e, simultaneamente uma diversidade de

615
microclimas, esse tipo de levantamento gera avanços em climatologia urbana em termos qualitativos e
quantitativos sobre a variação das variáveis medidas.
A simulação computacional de microclimas urbanos pode ser empregada como um método de
pesquisa para a compreensão dos fenômenos relacionados ao clima urbano e avaliar as estratégias de
mitigação dos impactos da ICU antes de sua implementação. Este recurso tem sido amplamente aplicado em
trabalhos de pesquisa podendo ser uma alternativa aos trabalhos de campo para obtenção de informações
para diagnóstico (BARBIRATO et al., 2016).

3. OBJETIVO
O objetivo geral deste artigo é contribuir para o estudo sobre o aquecimento urbano em Brasília – DF,
durante a estação quente-seca com o levantamento das variáveis temperatura do ar, umidade relativa do ar e
temperatura de superfície para investigação da variação diária do aquecimento urbano.

4. MÉTODO
O monitoramento do aquecimento urbano pode ser realizado por diversas abordagens que dependerão da
escala, recursos e objetivos. Gartland (2010, p.38) cita algumas abordagens utilizadas para medição e
monitoramento, sendo as mais comuns as estações fixas, transectos móveis e sensoriamento remoto. Este
trabalho é multi-métodos e se apoia na utilização de sensoriamento remoto e transecto móvel. Para tal, os
procedimentos metodológicos foram divididos em etapas:
1. Observação da variação de temperatura de superfície intraurbana da cidade utilizando técnica de
sensoriamento remoto;
2. Observação da variação de temperatura do ar e umidade relativa do ar utilizando técnica de
transecto móvel;
3. Análises das variáveis medidas referentes às duas técnicas apresentadas.

4.1. Observação da temperatura de superfície – sensoriamento remoto


Para este trabalho foram utilizadas imagens do satélite Landsat 8, disponibilizadas gratuitamente via internet
pelo Serviço Geológico Americano (USGS). O recorte desse estudo, a cidade de Brasília, foi pesquisado na
plataforma do USGS e selecionou-se a imagem do dia 29 de setembro de 2018, correspondente ao período de
seca e com pouca nebulosidade (7%). O resumo da imagem segue abaixo:
• Data de passagem do satélite: 29/09/2018
• Horário central: 13:14h GMT
• Latitude: -14.84423
• Longitude: -48.97268

O sensor infravermelho do Landsat 8 (chamado TIRS) mede a intensidade do fluxo radiante


proveniente da superfície terrestre. Essa radiância é denominada radiância aparente por incluir influência da
atmosfera e de objetos vizinhos, sendo convertida em números digitais no próprio sensor. Para o tratamento
da imagem infravermelha termal, os números digitais da banda 10 deverão ser convertidos para radiância
espectral do topo da atmosfera (Lʎ) conforme Equação, posteriormente para temperatura de brilho em Kelvin
(K) e finalmente convertida para graus Celsius (ºC).
As equações foram disponibilizadas pelo USGS (2018) e as constantes e fatores multiplicativo e de
redimensionamento estão sumarizadas no arquivo metadado da imagem. O programa ArcMap versão 10.6.1
foi utilizado para o processamento das imagens. Ele pertence à família de ferramentas SIG (Sistema de
Informação Geográfica) e permite armazenar, organizar, processar e apresentar dados georeferenciados. O
roteiro para elaboração do mapa de temperatura de superfície é apresentado na Figura 01.

Figura 01 - Roteiro para elaboração de mapa de temperatura de superfície com método de sensoriamento remoto.

616
Lʎ = ML ∗ Qcal + AL Equação 1

Onde:
Lλ = Radiância espectral no topo da atmosfera (W / (m2 * sr * μm))
ML = Fator multiplicativo de redimensionamento da banda 10 = 0.00033420
Qcal = número digital = imagem banda 10
L = Fator de redimensionamento aditivo específico da banda 10 = 0.10000

A temperatura de brilho do sensor assume que a Terra é um corpo negro (emissividade igual a 1) e
inclui efeitos atmosféricos como absorção e outras emissões (SANTOS et al., 2014). Também chamada de
temperatura radiante, pode ser estimada pela Equação.
𝐾2
𝑇𝑟𝑎𝑑 = 𝐾1
𝑙𝑛(
𝐿𝜆
+1) Equação 2

Onde:
Trad = Temperatura radiante em Kelvin (K)
K2 = Constante termal 2 da banda 10 = 1321.08 (K)
K1 = Constante termal 1 da banda 10 = 774.89 (K)
Lλ = Radiância espectral em W / (m2 * sr * μm)

Após este processamento aplicou-se a transformação das temperaturas de unidade Kelvin (K) para
graus Celsius (°C), subtraindo o seu valor absoluto igual a 273,15.

4.2. Observação da temperatura do ar – transecto móvel


O método de pesquisa consistiu em desenhar uma rota para travessia com um automóvel equipado com
sensores de temperatura do ar e umidade relativa do ar para comparar o perfil térmico de áreas urbanas em
Brasília com o tipo de construção característica da escala residencial do Plano Piloto, orientado pela
incorporação de superquadras com edifícios de 3 andares com pilotis dispostos em blocos residenciais,
escolas, comércio local, igrejas e áreas verdes públicas.
Para melhor descrever a forma urbana da área de estudo, foi elaborado a Figura 02 baseada no método
de Zonas Climáticas Locais, proveniente do termo inglês local climate zones (LCZ). Essa classificação,
baseada na proposta de Stewart e Oke (2012), surge da divisão da paisagem urbana em classes simplificadas
de um contexto morfológico e de temperatura, onde são locais na escala, climática na natureza e zonal na
representação (STEWART e OKE, 2012, p. 1884). Nesse sentido, Stweart e Oke identificaram elementos
urbanos que podem afetar a atmosfera e para tanto descreveram as propriedades das áreas urbanas e suas
características morfológicas e propuseram uma classificação para áreas urbanas e um posterior agrupamento
por similaridade.
Esta análise foi realizada com o auxílio da imagem do satélite Plêiades do ano de 2017,
disponibilizada no Geoportal, plantas cadastrais da cidade e por observações in loco das características
urbanas. Neste estudo são utilizados como parâmetros de classificação de LCZ a relação H/W, porcentagem
de área edificada, porcentagem de área impermeável e altura dos elementos de rugosidade. Para a
determinação dos parâmetros foi determinada uma área de abrangência a partir de um ponto, com diâmetro
de 400 metros.
A rota passa pela intersecção com o eixo monumental, que concentra edifícios públicos ícones da
arquitetura do movimento modernista que atraem visitantes de todo o mundo (Figur). A aplicação do método
ocorreu na estação quente e seca (27 a 28 de outubro de 2018), em dias calmos, céu limpo e sem nuvens para
investigar a temperatura do ar. A média da temperatura do ar durante foi da ordem de 28 °C e a umidade
relativa de 38% de acordo com a Estação Automática de Brasília, um dado oficial do Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET), localizada na parte sudoeste da cidade.

617
Figura 02 – Caracterização da área urbana na rota do transecto móvel: LCZ 5.

Figura 03 – Trajeto do transecto móvel no Plano Piloto em setembro de 2018 e pontos de parada para coleta de dados (Imagem de
satélite: Pleiades, 2017)

618
A temperatura do ar e a umidade relativa do ar foram medidas durante viagens pela manhã (09:00 -
10:00h), à tarde (15:00 - 16:00h) e no início da noite (20:00 - 21:00h). O tempo máximo entre o início e o
fim das medições foi de uma hora, para evitar que a atmosfera urbana sofresse alterações meteorológicas
naturais significativas que pudessem comprometer os resultados. Para dados de referência, a estação
automática INMET foi utilizada.
Dois registradores de dados termo higrômetros (HOBO MX2301, resolução de 0,04 ° C e precisão ±
0,25 ° C) foram instalados a 2,00 metros acima do nível do solo, em um carro de passeio, protegido por um
abrigo meteorológico. Um registrador de dados colocado no sol direto ou exposto a uma fonte de calor
radiante, como um edifício, não fornecerá leituras precisas da temperatura do ar. Portanto, dois abrigos
meteorológicos foram construídos com tubo branco de PVC perfurado para evitar o efeito da radiação solar
direta e para permitir a passagem de fluxo de ar em seu interior. O abrigo horizontal foi coberto internamente
com papel laminado. O abrigo vertical foi isolado com uma esponja para eliminar a transferência de calor do
veículo (Figura 04 e Figura 05). Os dados foram registrados a cada 60 segundos enquanto o veículo se movia
a uma velocidade de 20 km/h. No total foram coletados 14 pontos, onde foi necessário esperar 2 minutos
para estabilização dos equipamentos devido ao deslocamento ponto-a-ponto realizado. As informações
registradas foram moderadas com base nos dados medidos na Estação Automática de Brasília.

Figura 04 – Construção dos abrigos meteorológicos vertical e horizontal: (a) tubulação de PVC perfurada, (b)
instalação de camada de isolamento, (c) registrador de temperatura do ar/umidade relativa do ar HOBO MX2310 e
(d) abrigo meteorológico montado (vertical).

Figura 05 – Conjuntos (abrigos meteorológicos + registradores) instalados no automóvel do Lasus –


UnB (altura de instalação = 2,0 metros).

5. RESULTADOS
Com a aplicação do método da etapa 1, foi elaborado um mapa de temperatura de superfície da cidade
apresentando as variações térmicas intra-urbanas. O resultado foi reclassificado em 12 faixas de temperaturas
conforme legenda da Figura 06.

619
Figura 06 – Distribuição da temperatura de superfície em Brasília em 29/09/2018.

Pela distribuição da temperatura de superfície, observam-se as manchas urbanas periféricas


potencialmente mais quente que o Plano Piloto, Lago Sul e Lago Norte. Os corpos d’água (Lago Paranoá e
Lagoa do Jaburu) apresentaram temperaturas em torno de 22°C. Em uma análise visual permitiu-se localizar
frações urbanas com temperaturas de superfície mais amenas entre 28°C e 30°C em áreas residenciais da Asa
Sul, Lago Sul, parques urbanos e contorno do Lago Paranoá.
Em regiões periféricas não ocupadas, áreas com solo exposto, aeroporto e nas áreas cultivadas também
ocorrem variações termais atingindo temperatura de superfície em torno de 40°C. Uma hipótese é que esse
aumento intenso de temperatura configura ocorrência de vegetação seca ou de queimadas, propiciadas pela
ausência de chuvas e baixa umidade relativa do ar, características desta época do ano.
No Plano Piloto é possível identificar um contraste entre a Asa Sul e o Eixo Monumental, com
variação de temperatura de superfície da ordem de 34°C a 38°C. A Asa Sul foi a primeira a ser construída e
possui maior arborização. Pesquisas de Romero (2011) afirmam que edifícios construídos nas superquadras,
principalmente Asa Norte, a partir de 1990 possuem elementos que prejudicam o fluxo do vento e aumentam
a temperatura do ar como pilotis descaracterizados e fachadas espelhadas.
Os resultados da etapa 2, com a utilização dos transectos móveis, na comparação dos resultados entre
os sensores instalados nos abrigos meteorológicos vertical e horizontal, o dispositivo horizontal apresentou
melhor desempenho e foi utilizado para construção do gráfico b na Figura 07.
Os resultados sugerem que os valores da temperatura do ar são dependentes da radiação solar direta
sobre os materiais urbanos e da presença ou ausência de sombreamento. No perfil térmico dos horários
monitorados, a maior temperatura do ar registrada foi de 34,09 °C e a menor umidade relativa do ar medida
foi de 53%, ambas ocorrendo nos pontos 6, 7 e 8 correspondendo à passagem em áreas com maior
quantidade de edificações e vegetação esparsa.
A diferença máxima da temperatura do ar na superfície próxima atingiu cerca de 4 °C no período da
manhã e da tarde (Figura 07). A diferença máxima de temperatura do ar de 2 °C foi observada em relação à
Estação Meteorológica Automática de Brasília no período da tarde. A diferença máxima de umidade relativa
do ar de 13% foi identificada durante a jornada da tarde. O perfil térmico teve mais flutuação durante o
horário de 9h. O transecto noturno apresentou menor variação de temperatura do ar.

620
(a) (b)
Figura 07 – (a) Comparação entre sensores em abrigos meteorológicos vertical e horizontal e (b) resultados das
medições de temperatura do ar por meio de transecto móvel.

Observando os dados de temperaturas do ar, coletados em transecto móvel e os dados de temperaturas


de superfícies, obtidos nas imagens termais de sensoriamento remoto, observamos que os métodos podem ser
utilizados de forma complementar. Muito embora os dados de temperatura do ar tenham sido coletados em
três horários ao longo do dia (9:00 h, 15:00 h e 20:00 h), em contraposição aos dados de temperatura de
superfícies, cuja imagem é obtida em horário único, aproximadamente às 10 h da manhã (GMT-3), os
resultados indicam maior aquecimento de áreas com predominância de solo exposto e superfícies
pavimentadas e menor aquecimento de áreas densamente arborizadas, sombreadas ou próximas do lago
Paranoá.

6. CONCLUSÕES
O acelerado e impactante processo de urbanização traz a demanda por ações no sentido de mitigar o
aquecimento urbano. O uso de ferramentas de geotecnologias para obtenção de dados precisos, somados a
levantamentos de campo são técnicas que podem resguardar as tomadas de decisões projetuais e também
para o ordenamento territorial.
Sobre a utilização das técnicas, observa-se que os estudos que almejem relacionar diferentes escalas de
observação (macro e microescala) deverão dispor de dados de alta a média resolução. Neste sentido, a
utilização de dados dos sensores termais Landsat8 (100 m) para análises em macroescala são adequados,
mas, para análises termais em microescala não são aplicáveis. Outra limitação é que este sensor não
imageiam à noite, representando uma restrição para estudo das variações térmicas neste horário. Entretanto,
há de se considerar a questão da sua acessibilidade, pois pelo fato de ser disponível gratuitamente oferece
uma grande possibilidade de monitoramento com baixo custo em relação às medições in situ. Outros
sensores produzem imagens noturnas (ex. MODIS) e podem ser explorados em uma continuação do estudo.
Os resultados também fornecem mais uma evidência do papel da vegetação moderando a temperatura
do ar e aumentando a umidade nas áreas urbanas através de superfícies de sombreamento e do processo de
evapotranspiração. Com ênfase nas políticas de consolidação urbana, o papel do espaço aberto deve ser
evidenciado para mitigar os efeitos negativos do aquecimento urbano.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília,
Brasília, 2018.

AGRADECIMENTOS
As autoras agradecem à FAPDF e ao CNPq pelos recursos financeiros aplicados no financiamento do
projeto.

622
EVOLUCIÓN TEMPORAL DE LA ISLA DE FRESCOR DE UN PARQUE
URBANO EN ZONA ÁRIDA. CASO PARQUE CENTRAL, MENDOZA-
ARGENTINA.

(1); M. Angélica Ruiz, (2) Erica N. Correa, (3) Claudia F. Martinez, (4) M. Florencia Colli
(3) Dra. Ing. Agr. Investigadora Asistente Conicet, aruiz@mendoza-conicet.gob.ar, INAHE-CCT Conicet
Mendoza, Av. Ruiz Leal s/n Parque Gral. San Martín, Mendoza-Argentina.
(4) Dra. Ing. Qca. Investigadora Independiente Conicet, ecorrea@mendoza-conicet.gob.ar, INAHE-CCT
Conicet Mendoza, Av. Ruiz Leal s/n Parque Gral. San Martín, Mendoza-Argentina.
(5) Dra. Ing. Agr. Investigadora Adjunta Conicet, cmartinez@mendoza-conicet.gob.ar, INAHE-CCT Conicet
Mendoza, Av. Ruiz Leal s/n Parque Gral. San Martín, Mendoza-Argentina,
(6) Geog. Becaria Doctoral Conicet, mfcolli@mendoza-conicet.gob.ar, INAHE-CCT Conicet Mendoza, Av.
Ruiz Leal s/n Parque Gral. San Martín, Mendoza-Argentina, tel. 0054 261 5244342.
RESUMEN
El enverdecimiento urbano es una estrategia eficiente para la mitigación de la isla de calor. Sin embargo, en
ciudades de zonas áridas el uso de la vegetación demanda la utilización de un recurso escaso, el agua. En este
sentido, es necesario repensar el diseño de las infraestructuras verdes a fin de garantizar su sustentabilidad en
términos de costos y beneficios. El objetivo de este trabajo es examinar el efecto del Parque Central de la
Ciudad de Mendoza en su comportamiento térmico y en la magnitud de la isla de frescor que genera sobre su
entorno construido en el período 2007-2017. El Parque Central (32°52'37.08"S y 68°50'28.03"O) se ubica en
un área residencial de media a alta densidad constructiva y posee valor estratégico para el desarrollo urbano
de ese sector. Las especies incorporadas inicialmente (año 2006) no se adaptaron a las condiciones
ambientales del sitio y en la actualidad se han consolidado únicamente las más tolerantes a condiciones de
restricción hídrica y sequía. Metodológicamente, se llevaron a cabo cuatro campañas de monitoreo durante
los veranos 2007-2008; 2010-2011; 2011-2012 y 2016-2017. En cada campaña se instalaron sensores con
canales registradores de temperatura y humedad relativa cada 15 minutos. Los resultados indican que durante
el verano 2016-2017 la estructura de bosque se encuentra hasta 37% más fresca que en la temporada 2007-
2008. Mientras que el prado se encuentra hasta 62% más fresco en la temporada 2016-2017 respecto del
verano 2007-2008. Esto significa que tanto prado como bosque evidencian isla de frescor nocturna respecto
de los alrededores. Sin embargo, la evolución del parque y la consolidación de sus masas boscosas le han
permitido a la estructura de prado comportarse con mayor eficiencia.
Palabras clave: parques urbanos, mitigación isla de calor, isla de frescor, cobertura vegetal.

ABSTRACT
Urban greening is an efficient strategy for mitigating the urban heat island. However, in arid zones cities the
use of vegetation demands the use of a scarce resource, the water. In this sense, it is necessary to rethink the
green infrastructures design in order to guarantee their sustainability in terms of costs and benefits. The
objective of this work is to examine the effect of the Central Park in Mendoza City, on its thermal behavior
and the magnitude of the cool island that it generates on its built environment, in the 2007-2017 period. The
Central Park (32 ° 52'37.08 "S and 68 ° 50'28.03" W) is located in a residential area of medium to high
construction density and has a strategic value for the urban development of that sector. The tree-species
incorporated initially (year 2006), were not adapted to the site environmental conditions and at present only
the most tolerant to water restriction and drought have been consolidated. Methodologically, four monitoring
campaigns were carried out during the 2007-2008 summers; 2010-2011; 2011-2012 and 2016-2017. In each
campaign, sensors were installed with temperature and relative humidity recording channels every 15
minutes. The results indicate that during the 2016-2017 summer the forest structure is up to 37% cooler than
in the 2007-2008 season. While the meadow is up to 62% cooler in the 2016-2017 season compared to the
2007-2008 summer. This means that both meadow and forest evidence nocturnal freshness island with

623
respect to the surroundings. However, the park evolution and the consolidation of its forest masses have
allowed the meadow structure to behave with greater efficiency.
Keywords: urban parks, heat island mitigation, cool island, plant covering.

1. INTRODUCCIÓN
En la actualidad, los entornos áridos cubren más del 30% de la superficie terrestre del mundo, un porcentaje
que aumentará con el cambio climático en el próximo siglo. Las ciudades de zonas áridas enfrentan dos
desafíos principales: el aumento de la temperatura y la escasez de agua (WATTS, 2018).
Las ciudades en ambientes áridos sufren los efectos de la isla de calor urbana (ICU), con impactos
negativos en el medio ambiente, las personas y las economías. Las islas de calor aumentan el uso de agua y
el consumo de energía en las ciudades pues incrementan la temperatura de los espacios exteriores e interiores
y, como consecuencia, la demanda de aire acondicionado para alcanzar condiciones de confort. Además,
producen un aumento de la contaminación del aire e impactan sobre la salud pública y la calidad de vida.
Se ha demostrado que el enverdecimiento de la ciudad es una estrategia eficiente para la adaptación y
mitigación de los fenómenos de la isla de calor y calentamiento urbano (GIVONI, 1991; GILL et al., 2007).
Sin embargo, en ciudades de zonas áridas, el enverdecimiento urbano demanda para su implementación la
utilización de un recurso escaso como es el agua. En este sentido, la restricción de recursos y la necesidad de
estrategias para paliar las consecuencias de la elevación de las temperaturas urbanas, obligan a repensar el
diseño de las infraestructuras verdes a fin de garantizar su sustentabilidad en términos de costos y beneficios.
La aplicación de vegetación en áreas urbanas altera los parámetros que conforman el microclima como
la temperatura del aire, la humedad relativa, los patrones de dirección y velocidad del viento, y de
precipitaciones (BYRNE et al., 2008). Es conocido que la vegetación incide sobre las ciudades
fundamentalmente a través de tres efectos: la producción de sombra, la evapotranspiración y alteración de los
patrones de viento (OKE et al., 1989). Los efectos de la sombra dependen de la altura y distribución de la
vegetación, la fisonomía y la fenología vegetal, tipo, tamaño y forma de las hojas, follaje perenne o
caducifolio, etc. Se han reportado en pequeños parques urbanos diferencias de temperatura de hasta 6.9 °C
entre espacios sombreados y asoleados (OLIVEIRA et al., 2011). La evapotranspiración es el proceso de
pérdida de agua de una planta a la atmósfera a través de la evaporación, que produce un enfriamiento de la
hoja y de la temperatura del aire alrededor de la hoja (KOTZEN, 2003; TAHA et. al., 1988). Se han
reportado diferencias de 3.1 °C en la temperatura del aire sólo como consecuencia de la evapotranspiración
(GEORGI; DIMITRIOU, 2011). La vegetación también es capaz de reducir los efectos del viento tanto en
invierno como en verano, la capacidad de la vegetación para alterar el movimiento del aire y la advección
depende en gran medida del tipo de vegetación (BONAN, 1997). Por ejemplo, un árbol de hoja caduca puede
reducir la velocidad del viento en un 30-40% (ALI-TOUDERT; MAYER, 2007). Incluso un dosel de árboles
de hoja caduca, sin hojas en invierno, puede reducir la velocidad del viento local en un 50-90% en
comparación con un área abierta.
Las infraestructuras verdes se incorporan en las zonas urbanas a través de varias tipologías. De modo
particular, los parques urbanos forman las denominadas islas frías de parque (IFP), que pueden aliviar
eficazmente las influencias negativas de las islas de calor urbano. Diversas mediciones revelaron que las
áreas verdes son generalmente más frías que sus áreas construidas circundantes, con una diferencia de
temperatura en el rango de 1 °C a 7 °C, y que el efecto de enfriamiento depende en gran medida del tamaño
del parque y de la distancia al parque (SHASHUA-BAR; HOFFMAN, 2000; SPRONKEN-SMITH; OKE,
1998; KRÜGER; GIVONI, 2007; CORREA et al., 2006; RUIZ et al., 2011).
Los parques urbanos tienen una estructura superficial compleja determinada por las características de
su diseño paisajístico. Por lo tanto, las interacciones entre los elementos que componen los parques urbanos
como por ejemplo el tipo de vegetación utilizada y su distribución dentro del espacio, la proporción y
distribución de áreas selladas y áreas permeables, la existencia de cuerpos de agua, etc., generan un entorno
con características microclimáticas específicas. En este marco resulta interesante examinar el efecto de las
características de los parques urbanos en sus temperaturas individuales y en la magnitud de la isla de frescor
que generan sobre su entorno construido, como así también evaluar la evolución del efecto de enfriamiento
con los cambios en las características del parque y del entorno. Es decir, evaluar la evolución de su impacto
sobre el entorno construido como una medida de la eficiencia del parque en términos térmicos y ambientales.

2. OBJETIVO
El objetivo de este trabajo es evaluar el impacto de un parque urbano de la ciudad de Mendoza, Argentina -
Parque Central- sobre las temperaturas del aire de su entorno construido, tomando como medida la magnitud
de su isla de frescor. Y analizar la evolución de su efecto de enfriamiento a través del tiempo en relación a la

624
evolución de la cobertura vegetal del parque y sus características de diseño paisajístico. El objetivo final, es
detectar parámetros de diseño conducentes a garantizar los efectos benéficos de los parques urbanos como
reguladores del microclima a través del tiempo.

3. MÉTODO
3.1. Descripción del caso de estudio
El Parque Central de la Ciudad de Mendoza es el cuarto espacio verde en superficie de la ciudad (14 has.
aproximadamente). Se ubica en la zona noroeste de la capital provincial (32°52'37.08"S y 68°50'28.03"O),
en un área residencial de media a alta densidad constructiva (2-4 m3/m2) y posee un valor estratégico para el
desarrollo urbano de ese sector, dados los numerosos usos y actividades artísticas, deportivas, sociales y
culturales que propicia (recreación, espacios de exposición de arte, cine, teatro, congresos, conferencias,
convenciones, entre otros eventos académicos y empresariales). Ver Figura 1.
De reciente formación (año del proyecto 2006), responde a la recuperación de un vacío urbano
remanente de los antiguos terrenos de la estación de cargas del Ferrocarril General San Martín.
De diseño racionalista, toma la geometría ferroviaria del sitio y se desarrolla con fuerte dirección
lineal N-S. Respecto de su vegetación y riqueza botánica cuenta con sectores consolidados en su forestación,
remanentes de la ex-Plaza México en el extremo Norte y de bosquecillos preexistentes en el extremo Sur.
Ambos grupos arbóreos -con mayoría de especies perennes- incluyen ejemplares adultos de Schinus molle,
Grevillea robusta, Tipuana tipu, Casuarina cunninghamiana, Morus alba, Catalpa bignonioides, entre las
principales. Se identifican también en el interior del parque, algunos ejemplares aislados y adultos de
Eucaliptus camaldulensis de gran envergadura.
Inicialmente se plantaron 1200 ejemplares arbóreos y 16000 ejemplares arbustivos, y se plantearon
dos jardines temáticos, uno constituido por especies aromáticas y otro con especies autóctonas de zonas
áridas. La totalidad de especies incorporadas al año 2006 no se adaptaron a las condiciones ambientales del
sitio de crecimiento y en la actualidad se han consolidado las más tolerantes, integrando grupos boscosos o
en alineación que evidencian el desarrollo de una cobertura vegetal (canopia) densa con significativo aporte
de sombreamiento. Estos grupos boscosos responden a las siguientes especies: Jacaranda mimosifolia,
Brachichiton spp., Chorisia speciosa, Tipuana tipu, Salix babilonica, Albizia julibrisin, y cortinas forestales
de álamos (Populus nigra cv. chilensis). El estrato arbustivo consolidado en la actualidad y que difiere del
planificado inicialmente, está integrado por especies exóticas y nativas de alto valor ornamental (Berberis
atropurpúrea, Chaenomeles sp., Teucrium sp., Nerium oleander). El sector de especies aromáticas
inicialmente plantado no prosperó y fue colonizado por especies nativas ampliando dicho sector con árboles
y arbustos de las especies Prosopis ssp., Geofroea decorticans, Cercidium praecox, Larrea spp., y Zucagnia
punctata, entre otras.
Como aporte ambiental y servicios ecosistémicos se identifican con claridad dos tipos de beneficios
según la clasificación (VEJRE et al., 2010; VASQUEZ URIBE; MATALLANA-TOBÓN, 2016), uno
basado en la regulación y el otro basado en la provisión. El parque se comporta como un regulador del clima
urbano en su zona de implantación, atemperando las temperaturas extremas especialmente en la estación
cálida. Respecto al servicio de provisión, el parque provee biodiversidad en términos de aumento de avifauna
e insectos benéficos, y un ámbito propicio para el desarrollo de actividades recreativas, sociales y culturales,
en atención a brindar una mejor calidad de vida del habitante urbano.

3.2. Campañas de monitoreo


Se llevaron a cabo cuatro campañas de monitoreo durante los veranos 2007-2008; 2010-2011; 2011-2012 y
2016-2017. Durante cada campaña, se instalaron sensores HOBO H08-003-02, con dos canales registradores
de temperatura interna y humedad relativa cada 15 minutos. Dos de ellos se ubicaron dentro del parque en
estructuras bien diferenciadas: Prado y Bosque. Además, se instalaron cuatro sensores en los alrededores del
parque (Norte, Este, Sur y Oeste). Los sensores se han colocado a una altura de 2,5 m de la calle (Oke,
2004), dentro de cajas blancas de PVC perforado, para evitar la irradiación y asegurar la circulación
adecuada de aire.
En la campaña 2007-2008, se registraron datos desde el 12/03/2008 hasta el 22/04/2008, es decir 41
días. Durante la campaña 2010-2011, se registraron también 41 días desde el 12/02/2011 hasta el
25/03/2011. Desde el 27/12/2011 hasta el 20/01/2012 (25 días) se desarrolló la campaña 2011-2012.
Finalmente, la campaña 2016-2017 tuvo lugar desde el 21/12/2016 hasta el 02/01/2017 (13 días).

625
Figura 01 – Ubicación del Parque Central. Mendoza, Argentina. Fuente: https://www.bibliocad.com/es/biblioteca/plano-mendoza-
completo_33342/ y archivo de las autoras.

A partir de los datos de temperatura del aire y humedad relativa provenientes de la Estación de
Referencia del Servicio Meteorológico localizada en el Aeropuerto de Mendoza, se seleccionó un día de cada
campaña: 25/03/2008; 21/03/2011; 12/01/2012 y 23/12/2016. Los mismos corresponden a días típicos de la
estación estival, es decir, de cielo despejado y con baja frecuencia y velocidad de vientos. La Tabla 1
muestra la temperatura y la humedad relativa mínima, media y máxima para cada día.
Tabla 1 - Caracterización de los días de medición en cada una de las campañas de monitoreo.
2007-2008 2010-2011 2011-2012 2016-2017
Temp. °C HR % Temp. °C HR % Temp. °C HR % Temp. °C HR %
MINIMA 16 48 16 35 19 23 15 18
MEDIA 24 70 23 56 27 41 25 34
MAXIMA 30 94 30 82 34 60 33 59

3.3. Relevamiento cobertura vegetal


Para el estudio de la evolución de las áreas verdes y su impacto en el contenido de humedad del aire se
trabajó con el análisis de imágenes satelitales y se determinaron los índices NDVI, SAVI y NDWI. Se
utilizaron las imágenes de Landsat 7 en las fechas 10/1/2008 y 18/1/2017.
El programa QGis se utilizó para realizar el tratamiento de las imágenes satelitales, de libre circulación
en la web. Las imágenes fueron re-proyectadas al marco de referencia Posgar 94 que emplea el elipsoide
WGS84, en el sistema de proyección Gauss Krüger faja 4. En la primera etapa del procesamiento, las
imágenes se corrigieron radiométricamente, por lo que los valores de nivel de gris de la imagen original, se
transformaron en valores de reflectancia aplicando el modelo DOS1 (Dark Object Substraction) o método de
substracción de píxeles oscuros, también conocido como el método de Chávez (CHÁVEZ, 1988).
Los índices fueron calculados utilizando las fórmulas que se indican en la Tabla 2 y luego se aplicó
una escala de color, para una mejor visualización. Los gráficos de las Figuras 2, 3 y 4 muestran los mapas
correspondientes a la determinación de los índices para la condición del parque en enero de 2008 y enero de
2017.
Para el caso NDVI que determina la cantidad y calidad de vegetación. Sus valores van de -1 a 1
correspondiendo valores cercanos a -1, vegetación seca o enferma y, cercanos a 1, vegetación sana. Para el
caso del Parque Central, el rango de distribución del NDVI en 2008 abarca valores positivos de 0.061 a
0.469, y en 2017, casi una década de después, ese rango abarca entre 0.021 y 0.574. Se aprecia una
consolidación de la vegetación dentro del parque, que evidencia mejoras en el tiempo, de modo específico
para el sector SE del parque. También se observa que los valores máximos del índice son coincidentes con la

626
localización de los sectores boscosos dentro del parque. El valor mínimo del NDVI decreció en el tiempo lo
que evidencia que en algunos sectores del parque ha empeorado la calidad y cantidad de la vegetación, pero
es necesario notar que al mismo tiempo el valor máximo del índice ha crecido en mayor magnitud.

Tabla 2 - Fórmulas de cálculo de índices.


Índices L7 Referencia
𝑵𝑫𝑽𝑰: 𝑩𝟓−𝑩𝟒 / 𝑩𝟓+𝑩𝟒 ROUSE, HAAS, SCHELL, DEERING, & HARLAN, 1974
𝑺𝑨𝑽𝑰: (𝑩𝟓−𝑩𝟒)∗(𝟏−𝒍)/ 𝑩𝟓+𝑩𝟒+𝒍 HEUTE, 1988
𝑵𝑫W𝑰: 𝑩2−𝑩𝟒 / 𝑩2+𝑩𝟒 MÉTODO MCFEETERS, 1996

Para el caso del SAVI que muestra valores de vegetación ajustados por el suelo y permite una mejor
determinación de la vegetación baja en áreas urbanizadas. Sus valores van de 0 a 1, siendo que los valores
bajos de SAVI indican menor vegetación. Del análisis comparativo de la distribución temporal dentro del
parque se observa un comportamiento análogo al del NDVI, congruente con la consolidación de sectores de
bosque en el sector SE del parque.

Figura 2 – Imágenes del índice NDVI del Parque Central para los años 2008 y 2017

Figura 3 – Imágenes del índice SAVI del Parque Central para los años 2008 y 2017

Por último, podemos emplear el índice NDWI como unidad de medida para determinar el estrés
hídrico en vegetación, saturación de humedad en suelo o realizar delimitaciones directas de masas de agua.
Al igual que en el caso del índice NDVI, los valores del NDWI oscilan entre -1 y 1 cuyos valores describirán
superficies de agua y vegetación con contenido en agua o zonas terrestres y con ausencia de humedad. Se
aprecia que el contenido de humedad del parque es muy bajo, y aunque se percibe una leve mejoría en 2016
respecto a 2008, la situación que refleja el análisis de la imagen es congruente para las zonas áridas. Además,
en la Figura 4 se aprecia cómo en coincidencia con los sectores donde predomina el bosque en el parque se

627
detectan zonas de bajo NDWI, mostrando que las especies forestales que prosperan o se consolidan son
aquellas de menor consumo hídrico o resistentes y adaptadas a la sequía, que presentan bajas tasas de
evapotranspiración. En azul oscuro se identifica el área correspondiente al lago artificial del parque, y las
zonas con mayor contenido de humedad se localizan en los sectores de prados.

Figura 4 – Imágenes del índice NDWI del Parque Central para los años 2008 y 2017

4. RESULTADOS
4.1. Evolución del comportamiento térmico de las estructuras de prado y bosque
La Figura 5 muestra el comportamiento térmico de las estructuras del parque (prado y bosque), de las
estaciones de referencia disponibles (aeropuerto y centro de la ciudad) en las cuatro temporadas estudiadas.
En términos generales, la estructura de bosque es más fresca que el aeropuerto durante las horas de sol y más
cálida a la hora de la mínima. En cambio, la estructura de prado, se calienta más que el aeropuerto durante el
día y las temperaturas mínimas son menores o iguales. Con respecto al centro de la ciudad, se observa el
efecto enfriador del parque en ambas estructuras durante las horas de la noche. Durante el día, el prado se
encuentra más caliente que el centro de la ciudad. Cabe destacar que en el 2007-2008 no se cuenta con los
datos del centro de la ciudad y en el 2010-2011, no se poseen de los datos del prado.

4.2. Análisis del efecto térmico del parque sobre los alrededores
Con el objetivo de analizar el efecto térmico del parque sobre sus alrededores se calcularon las diferencias de
temperatura entre los alrededores del parque y la estructura de bosque para las distintas temporadas
evaluadas, a la hora de la temperatura máxima y a la hora de la temperatura mínima, que presentan
variaciones en cada caso. La hora de la temperatura máxima coincide en las cuatro temporadas (17 hs). En
cambio, la temperatura mínima ocurre a las 8 hs en el 2007-2008, a las 7 hs en el 2010-2011 y a las 6 hs en
las temporadas 2011-2012 y 2016-2017. El retraso de la ocurrencia de la temperatura mínima a lo largo de la
evolución temporal evidencia el efecto del aumento y la consolidación de nuevas estructuras edilicias de los
alrededores, aumentando la inercia térmica y disminuyendo el enfriamiento radiativo y convectivo.
En el verano 2007-2008, a las 17 hs (temperatura máxima), el bosque se encuentra alrededor de 3.6ºC
más fresco que el punto Sur, 2.9ºC más fresco que el punto Norte y 3.9ºC más cálido que el punto Este. A las
8 hs (temperatura mínima), las diferencias entre el bosque y los alrededores del parque se encuentran entre
0.1 y 1.1 ºC (Figura 6a). En cambio, en el verano 2010-2011, el bosque se encuentra 4,7ºC más fresco que el
punto Oeste a la hora de la máxima temperatura (17 hs). A la hora de la temperatura mínima (7 hs), el bosque
se encuentra hasta 0.8ºC más caliente que los alrededores.
En la temporada 2011-2012, no se observan diferencias mayores a 1ºC entre el bosque y los
alrededores del parque a la hora de la máxima ni de la mínima. En la temporada 2016-2017, el bosque se
encuentra 1.6ºC más fresco que el punto Sur a la hora de la máxima temperatura (17 hs) y 0.8ºC más fresco
que el punto Oeste a la hora de la mínima (6 hs). Ver Figura 6b.

628
35 35
33 33
31 31
Temperatura del aire (°C)

29

Temperatura del aire (°C)


29
27 27
25 25
23 23
21 21
19 19
17 17
15 15
00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00 00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00
AEROP BOSQUE PRADO AEROP BOSQUE CENTRO

(a) 2007-2008 (b) 2010-2011


35 35
33 33
31 31

Temperatura del aire (°C)


29 29
Temperatura del aire (°C)

27 27
25 25
23 23
21 21
19 19
17 17
15 15
00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00 00:00 03:00 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00
AEROP BOSQUE PRADO CENTRO AEROP BOSQUE PRADO CENTRO

(c) 2011-2012 (d) 2016-2017


Figura 5 – Comportamiento térmico de cada estructura del parque, el aeropuerto y el centro de la ciudad en cada temporada evaluada.

La Figura 7 muestra las diferencias de temperatura entre los alrededores del parque y la estructura de
prado para las temporadas 2007-2008 y 2016-2017, a la hora de la temperatura máxima y a la hora de la
temperatura mínima, con las mismas variaciones que en el caso del bosque.

4 4

3 3
Diferencia de temperatura (ºC)
Diferencia de temperatura (°C)

2 2

1 1

0 0
NORTE ESTE SUR OESTE NORTE ESTE SUR OESTE
-1 -1

-2 -2

-3 -3

-4 -4
8:00 hs 17:00 hs 6:00 hs 17:00 hs

(a) 2007-2008 (b) 2016-2017


Figura 6 – Diferencias de temperatura entre los alrededores del parque y el bosque para las temporadas 2007-2008 y 2016-2017, a la
hora de la temperatura máxima y a la hora de la temperatura mínima.

En el verano 2007-2008, a las 17 hs (temperatura máxima), el prado se encuentra 3.9ºC más caliente
que el punto Oeste y a la hora de la temperatura mínima (8 hs), el prado se encuentra 2.4ºC más fresco que
los puntos Norte y Sur. En el 2011-2012, el punto que representa las mayores diferencias es el norte: el prado
se encuentra 1.4ºC más cálido a la hora de la máxima y 1.1ºC más fresco a la hora de la mínima. Durante el
2016-2017, en cambio, el Oeste es el que presenta las mayores diferencias: el prado está 2.2ºC más cálido a
la hora de la máxima y 2.6ºC más fresco a la hora de la mínima.

629
4 4

3 3

Diferencia de temperatura (ºC)


Diferencia de temperatura (ºC)

2 2

1 1

0 0
NORTE ESTE SUR OESTE NORTE ESTE SUR OESTE
-1 -1

-2 -2

-3 -3

-4 -4
8:00 hs 17:00 hs 6:00 hs 17:00 hs

(a) 2007-2008 (b) 2016-2017


Figura 7 – Diferencias de temperatura entre el prado y los alrededores del parque para las temporadas 2007-2008 y 2016-2017, a la
hora de la temperatura máxima y a la hora de la temperatura mínima.

La Figura 8 presenta las mínimas, medias y máximas diferencias de temperatura entre los alrededores
del parque y la estructura de bosque para las temporadas extremas evaluadas. Durante la temporada 2007-
2008, la máxima diferencia de temperatura es de 6.4ºC en relación al Norte y la mínima es de -5.9ºC respecto
del Este. En el 2010-2011, el bosque se encuentra hasta 8ºC más fresco que el punto Este y hasta 1.3ºC más
cálido que el punto Sur. En el 2011-2012, se encuentran las menores diferencias. Respecto del Norte, el
bosque se encuentra hasta 3.8ºC más fresco (máxima) y 1.7ºC más cálido (mínima). Durante el verano 2016-
2017, la estructura de bosque se encuentra hasta 8.8ºC más fresca que el punto Norte y 1.1ºC más cálida que
el punto Oeste. En términos porcentuales, en el verano 2016-2017 la estructura de bosque se encuentra hasta
37% más fresca que en la temporada 2007-2008. Esto evidencia la consolidación del crecimiento forestal en
términos de biomasa.

NORTE NORTE
10 10
6 6
2 2
-2 -2
OESTE -6 ESTE OESTE -6 ESTE

SUR SUR
MINIMA MEDIA MAXIMA MINIMA MEDIA MAXIMA

(a) 2007-2008 (b) 2016-2017


Figura 8 – Diferencias de temperatura entre los alrededores del parque y el bosque para las temporadas 2007-2008 y 2016-2017.

En la temporada 2007-2008, la máxima diferencia de temperatura entre los alrededores y el prado se


observa en el punto Norte, el cual es 4.2ºC más cálido que el prado (Figura 9a). La mínima diferencia es de -
4.2ºC respecto del punto Sur. El 2011-2012 es el año más parejo en cuanto a diferencias de temperatura. El
prado se encuentra hasta 2.7ºC más fresco que el punto Oeste y hasta 2.7ºC más cálido que el punto Sur. En
el 2016-2017 se observan las mayores diferencias de temperatura: el prado se encuentra hasta 6.8ºC más
fresco que el punto Sur y hasta 5.9ºC más cálido que el punto Oeste (Figura 9b). Por tanto, el prado se
encuentra hasta 62% más fresco en la temporada 2016-2017 respecto del verano 2007-2008.

5. CONCLUSIONES
El Área Metropolitana de Mendoza, ciudad implantada en una zona árida, presenta una isla de calor (ICU)
cuyas máximas alcanzan los 10 °C, con valores promedio de 6 °C a lo largo del año, y ocurrencia durante el
periodo de enfriamiento de la ciudad. Es por ello que la aplicación del enverdecimiento urbano como
estrategia de mitigación presenta beneficios y restricciones asociadas a la escasez del recurso hídrico. En este

630
marco, el presente estudio tiene como objetivo analizar la eficiencia de los parques urbanos para reducir la
intensidad de la ICU y su evolución en el tiempo, utilizando como indicador la magnitud de la isla de frescor
generada por el parque –IFP-.

NORTE NORTE
10 10

6 6

2 2

-2 -2
OESTE -6 ESTE OESTE -6 ESTE

SUR SUR
MINIMA MEDIA MAXIMA MINIMA MEDIA MAXIMA

(a) 2007-2008 (b) 2016-2017


Figura 9 – Diferencias de temperatura entre los alrededores del parque y el prado para las temporadas 2007-2008 y 2016-2017.

Si tenemos en cuenta que los parques urbanos son importantes motores del desarrollo inmobiliario de
los sectores de la ciudad en los cuales se localizan, especialmente en ciudades de zonas áridas, es de esperar
que a medida que transcurre el tiempo los sectores edilicios en los alrededores del parque aumenten su
densidad constructiva y factor de ocupación de suelo, incrementando la presión antrópica sobre el parque.
En el largo plazo, es posible que el efecto del parque como regulador del clima urbano de sus
alrededores, disminuya con el tiempo. En este sentido, resulta necesario analizar cuáles serían los criterios de
diseño arquitectónico y paisajístico necesarios a incorporar, para garantizar y maximizar los efectos
benéficos de los parques urbanos sobre sus entornos construidos, en términos térmicos, a lo largo del tiempo.
Dentro de este marco, los resultados de esta investigación muestran que el efecto benéfico del parque
está fundamentalmente regulado por las dos estructuras que lo componen mayoritariamente, espacios de
prado y de bosque, y que la incidencia o función de las mismas está claramente diferenciada a lo largo del
día.
Durante el horario de ocurrencia de las máximas temperaturas en la ciudad la estructura que se
encuentra más fresca que los alrededores es el bosque, con valores máximos de IFP que oscilan entre 3.6°C
en 2008 a 1.6°C en 2016, el descenso de la diferencia muestra el impacto del crecimiento urbano de los
últimos 10 años, que al incrementar la masa edilicia, incrementa la inercia térmica de los alrededores, y
disminuye las diferencias de temperatura con las estructuras frescas dentro del parque –bosques- en las horas
de insolación.
Mientras que, en el horario de ocurrencia de las mínimas temperaturas de la ciudad, la estructura que
se encuentra más fresca es el prado con valores de IFP que alcanzan hasta 2.5°C en 2008 y 2.6°C en 2016.
En este sentido, consecuencia del incremento de la inercia térmica de los alrededores del parque, la IFU en el
enfriamiento se ha mantenido en el tiempo.
Sin embargo, cuando analizamos los máximos valores de IFP independientemente de los horarios de
ocurrencia de las máximas y mínimas temperaturas en la ciudad, se observa que las máximas IFP registradas
entre las estructuras de bosque en el parque y sus alrededores muestran valores crecientes a lo largo del
tiempo, (6.4 °C en 2008 vs. 8.8°C en 2016), lo que representa un incremento del 37% de su efecto de
refrescamiento. Y que las máximas IFP registradas entre las estructuras de prado en el parque y sus
alrededores también muestran valores crecientes a lo largo del tiempo, (4.2 °C en 2008 vs. 6.8°C en 2016), lo
que representa un incremento del 62% de su efecto de refrescamiento.
Si tenemos en cuenta los valores de los índices NDVI y SAVI, reportados en el análisis de las
imágenes satelitales del área entre 2008 y 2016, podemos inferir que la consolidación de las áreas de bosque
y la evolución del parque le han permitido a la estructura de prado comportarse con mayor eficiencia a pesar
del incremento temporal de la presión antrópica sobre el parque.
A partir de estos primeros resultados, en tareas futuras se propone avanzar en el análisis del efecto de
la proporción y distribución espacial de ambas estructuras -bosques y prados-, sobre la intensidad de las islas
de frescor generadas.

631
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632
FLORESTA URBANA COM ELEMENTO MITIGADOR
MICROCLIMÁTICO

Daniela Maroni (1)


(1) Arquiteta, Especialista em Gerenciamento Obras, danimaroni92@gmail.com

RESUMO
Presencia-se nos últimos anos, o aumento significativo da temperatura do ar nas cidades em todo o mundo.
Esse fenômeno chama a atenção das associações governamentais, que buscam, juntamente com o âmbito
cientifico, compreender suas causas e buscar medidas para minimizar os impactos negativos provenientes
desse cenário. Sabe-se que o número de pessoas que migraram das áreas rurais para os centros urbanos
aumentou significativamente nos últimos anos, trazendo a necessidade de ampliação e implantação de novas
infraestruturas, ocorrendo a supressão do solo natural para a inserção de estruturas artificiais. Esse processo
de intensa urbanização ocasiona o aquecimento localizado, conhecido cientificamente como o efeito da ilha
de calor urbana, ocasionando o aumento da temperatura local e a redução da umidade relativa do ar, criando
um ambiente desagradável e insalubre para as pessoas que ali habitam. Inúmeros estudos internacionais
comprovam o efeito da vegetação no balaço energético das áreas urbanas, auxiliando na redução da
temperatura e no aumento da umidade do ar. O presente estudo, buscou analisar e comprovar, através de um
estudo de campo, o efeito de uma infraestrutura verde presente na centralidade urbana da cidade Erechim,
situada ao norte do Rio Grande do Sul, na redução da temperatura e no aumento da umidade do ar em seu
entorno urbanizado. Para comprovar esse afeito, a pesquisa consiste em analisar e identificar locais próximos
a infraestrutura verde, que possuem características propícias a formação das ilhas de calor, devido aos
materiais e as condições morfológicas, definindo assim pontos de coleta referentes as condições
micrometeorológicas no entorno da massa verde e em seu interior, para poder comparar os resultados
coletados, e verificar a influência da vegetação nos dados de temperatura e umidade do ar.
Palavras-chave: Mitigação, temperatura do ar, umidade do ar, urbanização.

ABSTRACT
There has been a significant increase in air temperature in cities around the world in recent years. This
phenomenon draws the attention of governmental associations, which seek, along with the scientific scope,
to understand its causes and seek measures to minimize the negative impacts arising from this scenario. It is
known that the number of people migrating from rural areas to urban centers has increased significantly in
recent years, bringing the need for expansion and implementation of new infrastructures, with the
suppression of natural soil for the insertion of artificial structures. This process of intense urbanization
causes localized heating, known scientifically as the effect of the urban heat island, causing local temperature
increase and the relative humidity of the air, creating an unpleasant and unhealthy environment for the
people who live there. Numerous international studies confirm the effect of vegetation on the energy balance
of urban areas, helping to reduce temperature and increase air humidity. The present study sought to analyze
and prove, through a field study, the effect of a green infrastructure present in the urban centrality of the city
of Erechim, located in the north of Rio Grande do Sul, in the reduction of temperature and in the increase of
humidity of the air in its urbanized environment. In order to prove this affection, the research consists of
analyzing and identifying sites near the green infrastructure, which have characteristics conducive to the
formation of heat islands, due to the materials and the morphological conditions, thus defining collecting
points referring to the micrometeorological conditions in the surroundings of the mass green and indoors, in
order to compare the results collected, and to verify the influence of vegetation on the data of temperature
and humidity of the air.
Key words: Mitigation, air temperature, air humidity, urbanization.

633
1. INTRODUÇÃO
Os autores Janković e Hebbert (2012); Argüeso et al. (2015) e Levermore et al. (2017) evidenciam que o
aumento exacerbado da urbanização, impacta significativamente nas alterações climáticas, agravando no
aumento da temperatura nas cidades, efeito esse conhecido cientificamente como ilha de calor urbana (UHI).
A formação de uma UHI tem consequências ambientais, sanitárias, sociais e econômicas. Incluindo a
redução da produtividade e desempenho de pessoas que habitam e circulam nesses locais (Sharifi et al.,
2016).
Iping et al. (2019) enfatiza que o efeito da ilha de calor urbana (UHI) é extremamente complexa para
definir e medir, porém através de inúmeras pesquisas cientificas concebidas no campo da climatologia
urbana, identificou-se alguns elementos presentes na morfologia urbana que influenciam no aumento da
temperatura, entre eles, a energia solar foi considerada a maior contribuinte para o efeito UHI (Wong et al.,
2013), baixo albedo dos materiais de construção (Razzaghmanesh et al., 2016), superfícies urbanas
impermeáveis (Argüeso et al., 2014), inibição do resfriamento por superfícies urbanas (Argüeso et al., 2013).
As mudanças na superfície do solo proveniente do processo de urbanização é um dos efeitos
intensificador da UHI, visto como um problema inevitável (Mallick et al., 2008), considerando que há uma
projeção das Nações Unidades, estimando que até 2050, 68% da população mundial viverá em áreas urbanas
(Nações Unidas, 2018). O aumento da temperatura é o impacto considerado mais nocivo, observando que
durante 2006-2015 a temperatura média global foi 0,87ºC mais alta em comparação ao período de 1850-1900
(IPCC, 2018).
Segundo Akbari et al. (2016) as condições sinóticas, as características urbanas, as características
meteorológicas, os materiais urbanos, a ausência de espaços verdes, a velocidade e direção dos ventos e as
atividades humanas, são contribuintes significativos para a formação das UHI. São inúmeras as
consequências sociais e econômicas provenientes da formação das UHI, impactando principalmente na saúde
e no bem-estar da população (Iping et al., 2019). Um conjunto de estratégias compensatórias de gestão e/ou
mitigação são consideradas eficazes, dentre elas, a introdução de vegetação ou infraestrutura verde urbana
(UGI) é vista como a estratégia mais eficaz para mitigar os efeitos da UHI (Lehmann, 2014; Norton et al.,
2015; Livesley et al., 2016; Lin et al., 2016).
A UGI pode ser definida como uma rede de planejamento e espaços verdes não planejados,
abrangendo as esferas pública e privada, e gerenciados como um sistema integrado fornecendo uma gama de
benefícios (Norton et al., 2015). Os benefícios incluem a redução da quantidade de radiação solar absorvida
em materiais de construção (Lin et al., 2016), melhorando a qualidade do ar, reduzindo a poluição sonora,
melhorando o bem-estar social e a segurança, e melhorando a capacidade adaptativa dos espaços públicos e
seus ambientes externos (Sharifi et al., 2016), através do sombreamento e da redução das temperaturas da
superfície do solo (Saaroni et al., 2018).
As pesquisas realizadas por Spronken-Smith e Oke (1998) e Bowler et al. (2010) visaram
compreender a diferença da temperatura entre os espaços verdes urbanos e seus territórios adjacentes em
microescala, verificando que o efeito de mitigação térmica está localizado na vizinhança imediata das UGI,
subestimando o efeito de resfriamento além dos limites da área verde. Em particular, grandes áreas com
coberturas arbóreas, as vezes chamadas de “florestas urbanas”, são agentes de resfriamento mais eficazes
durante o dia (Brown et al., 2015; Yoshida et al., 2015).
Devido ao canário descrito, a presente pesquisa buscou avaliar o efeito de uma floresta urbana,
presente na centralidade urbana da cidade de Erechim, situada ao norte do estado do Rio Grande do Sul, nos
efeitos da redução de temperatura do ar no seu perímetro urbanizado, no intuito de comprovar o efeito
mitigador e fornecer subsídios a futuros planejamentos urbanos, para a implementação de estruturas verdes
urbanas no cenário das cidades, com o objetivo de proporcionar um ambiente qualitativo em termos
ambientais e de conforto.

2. OBJETIVO
O objetivo da presente pesquisa é avaliar o efeito de uma floresta urbana na redução da temperatura do ar em
seu perímetro urbanizado, afim de fornecer subsídio, através dos resultados obtidos para futuros
planejamentos ou adaptações urbanas, com a finalidade de auxiliar na mitigação dos impactos gerados pelo
processo de urbanização exacerbada.

3. MÉTODO
A metodologia deste trabalho contempla 4 etapas:
1. Apresentação do local e objeto de estudo;

634
2. Mapeamento da área urbana delimitada;
3. Locação e caracterização dos pontos de monitoramento;
4. Coleta de dados de temperatura do ar.

3.1. Apresentação do local e objeto de estudo


Com o objetivo de comprovar o efeito mitigador das infraestruturas verdes no microclima urbano,
delimitamos a cidade de Erechim como local para estudo, pois apresenta uma área de preservação
contemplada por 23 hectares de mata nativa em sua morfologia urbana.
A cidade localiza-se ao norte do estado do Rio Grande do Sul (Figura 1), situado a 360 quilômetros
da capital Porto Alegre, e 40 quilômetros da divisa com o estado de Santa Catarina. Possui 430km² de área
territorial total, e 26,42km² de perímetro urbano. Está situada geograficamente a 27°38’26” Sul de latitude e
52°16’26” a Oeste de longitude. Possui um clima subtropical, com temperaturas médias de 18,7°C.

Figura 1: Localização Cidade de Erechim/RS, Brasil

O objeto estudado está situado no perímetro urbano do município (Figura 2), caracterizado como uma
Unidade de Conservação e Proteção Integral pelo Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC),
com a finalidade de preservar sua natureza, admitindo apenas o uso indireto de seus recursos naturais.

Figura 2: Localização do objeto de estudo

Segundo o Plano de Manejo Sustentável do Parque Nacional Municipal Longines Malinowski –


PNMLM (2011), a áreas possui 10 classificações diferentes no seu uso, sendo que 85,66% da área total
caracterizada por área verde. A flora do parque está em transição entre Floresta Estacional Semidecídua e a
Floresta Ombrófila Mista. A vegetação está estruturada por estratificação vertical e distribuição horizontal. A
estratificação vertical é marcada pela presença de indivíduos de grande porte, entre eles, espécies Nectandra
anceolata (canela-amarela), Cryptocarya moschata (canela-fogo), Matayba laeagnoides (camboatá-branco)
e Ateleia glazioviana (timbó) Araucaria angustifolia (pinheiro).

635
3.2 Mapeamento da área urbana delimitada
Delimitou-se um perímetro de 500 metros a partir da borda do parque para caracterizar morfologicamente a
área urbana em seu entorno imediato, a fim de descrever a paisagem e encontrar locais com características
homogêneas que apresentam a possibilidade do aumento da temperatura, segundo a revisão bibliográfica
contida na introdução do artigo.
Locais com asfalto na cobertura do solo, ausência de vegetação, presença de edificações com elevados
índices construtivos, alta rotação de veículos e pedestres, e exposição direta a radiação solar sem a
interferência de sombreamento, foram escolhidos para locar os pontos de medições, pois são as
características que influenciam no aumento da temperatura do ar.
O primeiro passo foi mapear as vias que possuem a pavimentação asfáltica (Figura 3) na área
delimitada ao estudo, pois sabe-se que a pavimentação escura absorve mais de 80% da energia da radiação
solar, emitindo calor e aumentando a temperatura do local. A partir dessa análise, observou a ausencia de
vegetação nas vias (Figura 4).

Figura 3: Superfície asfáltica nas vias Figura 4: Presença arbórea nas vias

3.3 Locação dos pontos de monitoramento


Os pontos de coleta de dados da temperatura do ar, foram locados em locais estratégicos para realizar as
análises. O primeiro ponto (P1) locou-se no interior da floresta urbana para coletar o dado de temperatura
sem a influência de materiais e estruturas urbanas e a radiação solar direta. Quatro pontos referenciais foram
locados nas bordas da estrutura verde, (PR1) situado a noroeste, (PR2) à nordeste, (PR3) à sudeste e o (PR4)
à sudoeste, para verificar a temperatura dos pontos caracterizados pela presença de vegetação e as estruturas
e materiais urbanos.
Os demais oito pontos de coleta (PA – PH) estão situados em locais onde há a ausência da vegetação,
caracterizado por possuir asfalto em sua superfície, alto fluxo de pessoas e pedestres e a radiação solar direta.
Outro parâmetro utilizado na decisão dos locais para realizar as medições, foi o tempo delimitado em uma
hora para realizar o percurso de todas as coletas, afim de evitar a interferência de mudanças significativas. A
Figura 5 apresenta a localização dos pontos. O deslocamento do percurso foi realizado com o auxílio de um
automóvel.

Figura 5: Localização dos pontos


de medição

636
3.4 Coleta de dados de temperatura do ar
Para a coleta dos dados de temperatura do ar, foi utilizada uma estação móvel CEM DT – 8820 (Figura 6),
obtendo alguns cuidados a fim de evitar possíveis interferências, entre eles, o posicionamento do aparelho a
um metro e meio da superfície do solo, afastado do corpo e de qualquer estrutura vertical na imediação.

Figura 6: Estação Móvel

O pico da temperatura no período da tarde ocorre entre as 14:00 e 15:00 horas, intervalo esse
delimitado para coletar o dado referente a temperatura do ar em todos os pontos estabelecidos, esperando três
minutos de estabilização do aparelho em cada ponto.

4. RESULTADOS
Para facilitar o compreendimento dos dados coletado, foi criada uma ficha para descrever cada ponto de
medição, contendo a localização no mapa, uma imagem, e as principais características avaliadas (cobertura
da superfície, presença de vegetação e radiação direta), e o dado de temperatura obtido. A Figura 7 apresenta
todos os dados de temperatura do ar coletados.

637
638
639
Figura 7: Dados referentes a temperatura do ar
Através dos dados coletados na área delimitada, verificou-se que os pontos PA, PB, PC E PH
obtiveram as temperaturas mais elevadas entre 30,5 e 30,6ºC. Foram analisados os elementos que
caracterizam esses pontos, que podem ser correlacionados com os dados obtidos, entre eles, a localização
topográfica em nível mais alto em relação a infraestrutura verde e os demais pontos, o vento dominante no
quadrante noroeste no dia da coleta, onde incide nos pontos sem a interferência da massa vegetativa, e a
elevada densidade construtiva das áreas que circunscrevem os pontos.
Em seguida os pontos PR1, PR2, PR4 e PD, obtiveram as temperaturas entre 30,0 a 30,3ºC. Verifica-
se que esses pontos já possuem a interferência da massa verde, pois situam em poucos metros da mesma. Os
pontos PE, PF, PG obtiveram as temperaturas entre 28,5 a 29,6ºC, recorrente a influência do vento
dominante, que passa pela infraestrutura verde e sofre a redução da temperatura até chegar nesses pontos.
A temperatura mais baixa encontrada no perímetro urbano, encontra-se no PR3, com 24,7ºC, situado
na borda sudeste, sendo o primeiro ponto que o vento atinge após a interferência da massa vegetativa. E o
dado de temperatura mais baixo, encontra-se no interior na floresta urbana, obtendo uma temperatura de
24,2ºC, essa temperatura sofre a influência direta da vegetação, não possui a interferência de materiais
estruturas artificiais e nem a ação da radiação solar direta.
Entre os pontos propícios a elevação da temperatura do ar, sem a influência de vegetação em seu
perímetro imediato, obtivemos uma diferença de 2,1ºC, sob a influência e interferência do vento dominante
como elemento primordial para essa diferença.
Obtivemos uma diferença de 6,4ºC entre a temperatura mais elevada, encontrada nos locais
urbanizados, de 30,6ºC, e a mais baixa no interior da infraestrutura verde de 24,2ºC. De acordo com esses
dados, podemos verificar nitidamente como a vegetação atua na mitigação do processo de elevação de
temperatura proveniente do processo de urbanização.

5. CONCLUSÕES
O efeito do aumento das temperaturas do ar nos centros urbanos decorrente ao processo de urbanização é
indiscutível. A presente pesquisa serviu para exemplificar o efeito mitigador de uma infraestrutura verde

640
nesse caso. O intuito do trabalho é servir de subsídio teórico para futuros planejamentos urbanos, que visem
compreender a importância do estudo da climatologia urbana no processo de aprimoramento das
infraestruturas e características morfológicas dos centros urbanos, obtendo condições adequadas
ambientalmente, fornecendo ambientes agradáveis e confortáveis, resultando no aumento da qualidade de
vida para as pessoas que habitam em centros urbanos.
É de suma importância a correlação do governo, do âmbito científico e do público em geral, no
planejamento de ações benéficas, de abordagem promissora, que objetiva o aperfeiçoamento da qualidade
dos ambientes que são resididos e usufruídos, melhorando as condições qualitativas da sustentabilidade, da
resiliência e da adaptabilidade desses espaços.
Para que isso advenha, é necessário dissipar o conhecimento adquirido por pesquisadores da área da
climatologia e da saúde, no intuito de conscientizar a população do seu direito em usufruir ambientes que
propiciem o aumento da qualidade de vida. Além de trazer inúmeros benefícios a saúde pública, ainda
mitigamos os efeitos nocivos do processo necessário da urbanização para o meio ambiente e as mudanças
climáticas.

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642
FORMA URBANA E CONDIÇÕES DE CONFORTO TERMO-ACÚSTICO:
ESTUDO NO BAIRRO DE CAPIM MACIO EM NATAL/RN
José Eugenio Silva de Morais Júnior; (1); Tamáris da Costa Brasileiro (2); Deyvid Lucas
Alexandre Marques (3); Evelyn Yasmim De Melo Maia (4); Jakeline Rayane Barros Felix (5);
Matheus Cesar De Souza Silva (6); Pedro Victor Freitas Sarmento (7);
(1) Arquiteto, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo; Professor do
Departamento de Engenharia Civil, eugeniomoraisj@gmail.com;
(2) Arquiteta, Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
tamarisbrasileiro@gmail.com;
(3) Estudante de Engenharia Civil, deyvidlucas1@gmail.com;
(4) Estudante de Engenharia Civil, evelynmaia42@gmail.com;
(5) Estudante de Engenharia Civil, jakrbf@gmail.com;
(6) Estudante de Engenharia Civil, matheusCSS2207@gmail.com;
(7) Estudante de Engenharia Civil, pvictor.sarmento@gmail.com;
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de Engenharia Civil, Natal–RN, 59078-970,
Tel.: (84) 3215 3724

RESUMO
O conforto termo-acústico de um espaço urbano está condicionado a diversos fatores, dentre os quais se
destaca a forma urbana local e os aspectos naturais, como o clima e as variáveis físicas. Este trabalho visa a
caracterização ambiental e da forma urbana do bairro de Capim Macio, localizado na cidade de Natal/RN, no
intuito de avaliar os microclimas existentes na região em comparação à cidade como um todo. Para tal são
consideradas variáveis quantitativas, medidas in loco, como aspectos qualitativos que determinaram a
escolha dos pontos de análise. Foram realizadas medições de temperatura do ar, umidade relativa do ar e
níveis de pressão sonora em função de atributos urbanos como a hierarquização viária, arborização e
influência da brisa marítima. Os dados extraídos foram comparados com os valores do Instituto Nacional de
Meteorologia – INMET e com o Mapa Sonoro de Tráfego Veicular da cidade de Natal, permitindo a
construção de um quadro geral acerca das condições de conforto do local. Os resultados mostram que as
variações na hierarquia e perfil viário, bem como a existência de intervenções de engenharia de tráfego
coincidem com os pontos de maior nível de pressão sonora, enquanto a proximidade da massa vegetal densa
e da brisa marítima contribuem para valores mais aceitáveis de temperatura e umidade relativa. A
concentração de áreas verdes, sobretudo em espaços públicos como praças, por sua vez, também evidencia as
melhores condições ambientais encontradas em relação aos microclimas existentes nos pontos analisados.
Palavras-chave: Forma urbana, conforto ambiental, clima urbano.

ABSTRACT
The thermal and acoustic comfort of urban space is conditioned to several factors. Among them, it is possible
to highlight the local urban shape and environmental aspects, such as climate and physical variables. This
work aims at the environmental and urban shape characterization of the Capim Macio neighborhood, located
in Natal/RN, to ascertain the existence of microclimates in the region in comparison to the overall values of
the city. For this purpose, are considered quantitative variables, measured in loco, as qualitative aspects
which determinate the analysis points chosen. Measures of temperature, the relative humidity of the air and
sound pressure levels have been taken, according to the urban attributes such as the hierarchy of roads,
afforestation, and sea breeze’s influence. The collected data were compared with the values of the National
Institute of Meteorology (INMET) and with the Natal noise map, allowing the creation of a general board
regarding the local comfort conditions. The results show that variations in the hierarchy and road profile, as
well as the existence of traffic engineering interventions match with the points of maximum sound pressure
level. Meanwhile, the proximity of the dense vegetal mass and the sea breeze contributes to more satisfying

643
values of temperature and relative humidity. The concentration of green areas, mainly on public spaces like
squares, also influences the best environment conditions founded about the microclimates existent on the
analyzed points.
Keywords: urban shape, environmental comfort, urban climate

1. INTRODUÇÃO
A estrutura urbana é produto de vários processos formados pela interação do ser humano com a natureza e,
portanto, se configura como um meio complexo. Sabe-se que cada vez mais as cidades têm sofrido as
consequências da ausência de planejamento urbano nas diferentes esferas, inclusive a ambiental. A
intensificação do uso do solo, a variedade de funções da cidade – e até mesmo a espacialização destas, que
reflete um modelo urbanístico típico no Brasil a partir da década de 40 (VILLAÇA, 1999) – como também a
não adoção de políticas de arborização e combate à poluição têm contribuído para o aumento das condições
de desconforto do usuário, seja pelo aumento da temperatura ou elevação dos níveis de ruído urbano.
Partindo do princípio que as variáveis climáticas são alteradas pela relação com o espaço, Romero
(2000) estabelece que o clima urbano é produto dos fatores climáticos globais – radiação, latitude, longitude,
ventos e massas de água e terra – e de fatores locais, relativos à implantação no sítio abrangendo a vegetação,
a topografia, as construções e o tipo de superfície do solo. Desta interação, mensuram-se os elementos
climáticos como temperatura, umidade relativa e a movimentação do ar, entendida popularmente como
ventilação. O clima urbano associado a outros fatores físicos – ruído, iluminação natural e artificial –
avaliados não de maneira isolada, mas a partir da resposta de um usuário, ajudam a compreender a ideia de
conforto, ou até mesmo “conforto ambiental” (SCHMID, 2005). O conforto ambiental urbano, portanto, se
trata da resposta deste usuário às variáveis ambientais, no espaço urbano.
A cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, (Latitude 05°47'42"S, Longitude 35°12'34" W)
localiza-se numa área litorânea de clima quente e úmido, enquadrando-se na Zona Bioclimática 8 (ABNT,
2005). Ao longo de seu processo de formação e expansão urbana, especialmente no século XX, sofreu
alguma interferência do modelo de planejamento urbano típico “tecnocrático-modernista” (SANTOS, 2012),
marcado pela criação de áreas com predominância de uma única função – a exemplo dos conjuntos
habitacionais da Região Administrativa Sul (QUEIROZ, 2012), e a presença da Rodovia Federal Governador
Mário Covas – BR 101, que juntamente com outras vias denominadas arteriais (NATAL, 2007), articulam o
tráfego intenso na região.
Por sua vez, o bairro de Capim Macio apresenta-se como caso particular em relação a sua forma
urbana, pois, além de incluir-se no âmbito dos conjuntos habitacionais existentes na Zona Sul e ter possuído
perfil predominantemente residencial por muitos anos, a existência de vias de alto tráfego em seu perímetro,
inclusive a BR 101, implica numa diversidade atual de usos e dinâmicas que alteram este perfil majoritário e
também trazem consequências do ponto de vista ambiental.
Ainda, o bairro sofre influência da brisa marítima e da proximidade com o Parque das dunas, o
segundo maior parque urbano do Brasil (ARAÚJO et al, 2018), reforçando a ideia de que se trata de um
espaço diversificado no que diz respeito a sua condição urbana, seja: a) pela posição de transição entre o
acesso principal à cidade e a zona litorânea, b) pela existência de vias com característica de alto tráfego, c)
pela diversidade atual de usos; d) pela proximidade de uma massa vegetal densa; e, portanto, com
características climáticas distintas.
Compreender os aspectos do conforto urbano constitui-se, portanto, como ferramenta de planejamento,
já que o modo de ocupação humana nas cidades altera as condições ambientais do espaço, e também, pode
influenciar a qualidade dos usos posteriores. Então, partindo do princípio que as particularidades da forma
urbana de um local específico (ex.: bairro) influenciam na variação das condições de conforto para a cidade
como um todo, este trabalho busca responder como os atributos da forma urbana refletem os microclimas
existentes dentro de um bairro e numa cidade. Para tal, adota-se como universo de estudo o bairro de Capim
Macio, em Natal/RN. Como hipótese inicial, considera-se que as características do bairro em questão
contribuem para formação de condições ambientais diferenciadas em relação à cidade na qual está inserido.

2. OBJETIVOS
Desta forma, o trabalho se propõe a investigar as condições de conforto termo-acústico no Bairro de Capim
Macio em relação à cidade de Natal/RN, a partir da análise de sua forma urbana e da medição de dados
ambientais (climáticos e de ruído) in-loco. Como objetivos específicos, cita-se:
-Caracterizar os atributos da forma urbana do bairro de Capim Macio que interferem nas condições de
conforto termo-acústico;
-Reunir indicadores gerais de conforto urbano para a cidade de Natal/RN;

644
-Propor diretrizes gerais para o Bairro de Capim Macio, a partir dos dados observados.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O trabalho foi realizado a partir das etapas a seguir:
1. Caracterização do bairro em estudo, destacando sua forma urbana e respectivos atributos.
2. Levantamento de dados em campo, mediante medição de variáveis ambientais conforme método e
pontos definidos previamente.
3. Seleção dos dados referentes às variáveis ambientais para a cidade de Natal;
4. Análise dos dados obtidos na medição em relação aos pontos escolhidos, ao bairro e à cidade de
Natal.

3.1. Breve caracterização da área de estudo


O bairro de Capim Macio integra a Região Administrativa Sul do município de Natal. Possui por limitantes:
Ao Norte, o bairro de Lagoa Nova e o Campus Universitário; ao Sul, o bairro de Neópolis; ao Oeste, as
Avenidas Dão Silveira e Senador Salgado Filho, que por sua vez são marginais da Rodovia Gov. Mário
Covas – BR 101; e ao Leste, Av. Engenheiro Roberto Freire, o Parque das Dunas e o bairro de Ponta Negra,
que dá acesso à Praia de Ponta Negra e às demais praias do Litoral Sul. Parte de sua extensão encontra-se na
Zona de Controle de Gabarito, definida pelo Plano Diretor por se tratar de área de entorno do Parque das
Dunas. Estes limites podem ser visualizados na Figura 1, a seguir.
Segundo os dados da Secretaria
Municipal de Meio Ambiente e
Urbanismo (NATAL, 2018), o uso
predominante do bairro é o residencial,
cuja taxa de arborização no entorno dos
domicílios chega a 79%. No que concerne
a pavimentação do solo, esta taxa chega a
93%. Existem ainda unidades de ensino,
saúde e segurança pública, além de
equipamentos tais como praças e quadras
de esporte cuja quantidade é cerca de dez,
distribuídas ao longo de sua extensão.
Por se inserir em Zona de
Adensamento Básico (NATAL, 2007),
aplica-se ao bairro um coeficiente de
aproveitamento básico que,
diferentemente de outras áreas da cidade,
restringe o processo de verticalização. Em
virtude de revisões anteriores do Plano
Figura 1 – Delimitação do bairro de Capim Macio. Fonte: NATAL (2010).
Diretor, que consideraram a área como
adensável, percebe-se uma incidência de
edificações verticais nas proximidades da Av. Eng. Roberto Freire, que dá acesso à Praia de Ponta Negra.
Por sua vez, a porção do bairro denominada “Zona de Gabarito” possui limitação na altura das construções
até o limite de 6 (seis) metros, o que sugere o caráter pouco adensável do local.
Quanto ao Parque das Dunas, trata-se de uma reserva natural de mata atlântica cujo ecossistema possui
alto grau de preservação. De acordo com Araújo (et al, 2018), a área se divide, do ponto de vista da
vegetação, em 03 zonas: “Mata de Duna Litorânea ou Mata Atlântica (80%); formação das praias e Sopé das
Dunas (10%); e formação Vegetal Tabuleiro Litorâneo (10%)” (p.2). Para os autores, a presença do parque
influencia na regulação do clima local pela recarga do aquífero subterrâneo, pela fixação das dunas e pela
purificação do ar, fatores estes que, além do forte apelo paisagístico para a cidade de Natal, implicam em
condições de conforto diferenciadas.

3.2. Processo de medição em campo


3.2.1. Determinação dos pontos de medição
A escolha dos pontos de medição se deu considerando os atributos da forma urbana do bairro de Capim
Macio que pudessem implicar em condições diferenciadas de conforto a partir da identificação de elementos
como arborização (existente ou inexistente), incidência de alto tráfego, adensamento construtivo do entorno e

645
influência da brisa marítima. Desta forma, determinam-se 05 (cinco) pontos, cuja localização é exibida na
Figura 2.

Figura 2 – Localização dos pontos de medição. Fonte: Elaboração dos autores.

O Ponto 01 é localizado na Av. Senador Salgado Filho, marginal da BR 101. Trata-se da área de
entorno de um viaduto, com incidência de tráfego intenso e arborização inexistente. Corresponde também ao
limite Norte da área em estudo, fazendo divisa com os bairros de Lagoa Nova e Candelária. O Ponto 02, por
sua vez, corresponde ao cruzamento entre a Avenida Gov. José Varela - Via de classificação hierárquica
“coletora” (NATAL, 2007) – e a Rua Prof. Antônio Henrique de Melo, via local. A escolha deste ponto se
deu mediante à possibilidade de analisar em que medida o ruído de tráfego oriundo do ponto 01, que se
distribui ao longo da Avenida Eng. Roberto Freire, incide sobre a região. Outro aspecto determinante
também é o perfil diferenciado da via, pela existência do canteiro central e de espécies arbóreas de grande
porte.
O Ponto 03 corresponde ao centro da Praça Hélio Galvão, no intuito de averiguar como a vegetação se
relaciona com a condição de microclima na região. O Ponto 04 localiza-se na Av. Eng. Roberto Freire, por
critérios de tráfego intenso e de proximidade com a massa vegetal do Parque das Dunas. Corresponde ao
ponto de maior influência da brisa marítima, devido à proximidade da praia. Por fim, o Ponto 05 foi
escolhido para a R. Énico Monteiro por se tratar de uma via local no limite Sul do bairro, com uso
residencial e sem canteiro central arborizado. Busca-se comparar os dados deste ponto prioritariamente com
o Ponto 02, para compreender se a variação no perfil da via e no tráfego incorrem em diferenças
significativas. Apresenta-se na Tabela a síntese das informações dos pontos escolhidos.

Tabela 1 – Critérios qualitativos para escolha dos pontos de medição.


Uso Pred. Brisa Proximidade Canteiro
Ponto Hierarquia Tráfego. Alto Arborização
Residencial Marítima do Parque Central
1 X X
2 X X X X X
3 X X
4 X X X X X
5 X X

3.2.2. Variáveis de análise


As informações coletadas foram divididas em duas categorias, para efeito de mensuração e análise: As
variáveis higrotérmicas e aquelas relativas ao estudo do ruído urbano. Com base no trabalho de Araújo (et al
2018), que executa procedimento semelhante com ênfase no Parque das Dunas, e mediante disponibilidade
de equipamentos, definiram-se alguns critérios.
Para verificação das condições térmicas, escolheu-se medir a temperatura de bulbo seco (em graus
célsius) em cada um dos pontos durante dois momentos do dia, seguindo o modelo proposto por Araújo,
Martins e Araújo (1998) o qual permite determinar o valor horário – aquele correspondente ao intervalo de
1h – ao longo do dia, mediante a equação Tj = Tmáx – (Tmáx-Tmín) x Fj (°C), em que a temperatura
máxima – Tmáx é aquela aferida entre 12h-13h, e a mínima - Tmín, entre 6h-7h. Fj representa o fator de

646
ajuste da curva de temperatura ao longo do dia, devendo ser inserido na equação para calcular o valor
correspondente para cada hora. Logo, os 24 valores foram extraídos do cálculo com auxílio de modelo
matemático.
De igual forma, a umidade relativa do ar (em valores percentuais) foi medida e aplicada na expressão
URj = URmáx – (URmáx-URmín) x Fj (%), a partir da variação do fator de ajuste da curva de maneira
análoga, seguindo os valores horários propostos. A medição das duas variáveis foi realizada com auxílio de
um Termo-Higrômetro-Decibelímetro-Luxímetro digital, modelo THDL-400, da Instrutherm. Em virtude da
disponibilidade de equipamentos, não foi possível realizar medições de umidade absoluta.
No que diz respeito ao ruído, seguiu-se os critérios da NBR 10151, que compreende os aspectos de
avaliação do ruído em áreas habitadas. Todas as medições – térmicas e acústicas – foram realizadas em dias
típicos de tráfego (Terça, Quarta e Quinta-Feira), observando as condições climáticas predominantes e
evitando-se os dias chuvosos. As medições de ruído foram realizadas em dois momentos distintos do dia, a
saber, entre 6h-7h e 17h-18h, por se tratar de horários de pico. Apesar de alguns trabalhos, a exemplo de
Florêncio (2018) adotarem o horário de 7h-8h para o turno da manhã, escolheu-se esta outra opção para que
se pudesse integrar os procedimentos com as medições de cunho térmico.
O equipamento utilizado foi um sonômetro digital modelo DEC-500 da Instrutherm, por meio da
função “Leq” na ponderação “A” - LAeq. Como forma de validar a medição feita e corrigir possíveis
discrepâncias, ao longo do tempo de medição do nível de ruído equivalente foi feito o registro dos valores
instantâneos – Lp, na ponderação A com auxílio do THDL-400. Observou-se ainda o posicionamento do
sonômetro na direção dos ventos predominantes, mantendo-se distância mínima de 2m de qualquer barreira
física, como muros e árvores, para evitar interferência nos valores coletados.

3.3. Parâmetros de referência para a cidade de Natal/RN


Como forma de verificação e avaliação dos dados levantados nas medições, apresentam-se nesta etapa alguns
critérios aplicáveis à cidade de Natal/RN, para que se possa investigar em que grau as condições encontradas
no bairro refletem os padrões existentes. Neste item, citam-se também algumas normas e referências que
subsidiam as análises de cada variável.
3.3.1. Parâmetros térmicos
A verificação dos dados térmicos – temperatura e umidade relativa do ar – de referência para Natal foram
extraídos da estação automática NATAL-A304 (Latitude: -5.837187º; Longitude: -35.207921º) do Instituto
Nacional de Meteorologia (INMET, 2019), considerando exclusivamente os dias de medição de cada ponto
para efeito de comparação entre os valores. A estação referida posiciona-se no Campus Universitário, no
bairro de Lagoa Nova. O tratamento dos dados consultados também se deu pelo modelo de Araújo, Martins e
Araújo (1998), através das equações descritas no item 3.2.2. Acrescenta-se ainda o entendimento de Oliveira
(2001), ao apresentar que um microclima pode ser caracterizado a partir da variação de cerca de 2°C em um
ponto determinado, em relação à referência geral do sítio.
3.3.2. Ruído
Uma das ferramentas de análise acústica do espaço urbano é o mapeamento de ruído, que se refere a um
instrumento de análise sonora do espaço urbano adequado ao estudo da poluição sonora, pois permite a
localização dos principais pontos críticos de ruído de uma determinada área (GARAVELLI et al., 2010) e
tem como objetivo principal o controle, a melhoria e a preservação da qualidade sonora urbana (PALMA,
2008). Para esse fim, os modelos computacionais se tornam imprescindíveis, uma vez que possibilitam a
realização de cálculos, análises e relatórios rápidos e com certa precisão (VENTURA et al., 2008). Com o
auxílio das ferramentas computacionais, em especial do mapeamento de ruído, é possível propor diretrizes de
planejamento urbano e comprovar sua eficácia no combate à poluição sonora.
De um ponto de vista técnico, os métodos de previsão são melhores para determinar de forma contínua
no espaço os níveis sonoros devidos às várias fontes. Permitem ainda gerar vários cenários hipotéticos, como
por exemplo, alteração no fluxo e velocidade dos veículos, mudança na pavimentação das vias, entre outros.
Ao invés, os resultados oriundos de medições dão-nos somente uma informação pontual sobre uma situação
limitada em concreto – as condições específicas em que as medidas são feitas (SILVA, 2007).
Como principal referência para análise dos níveis de ruído na cidade de Natal, utiliza-se o mapa de
ruído elaborado por Florêncio (2018), que caracteriza o ruído de tráfego veicular de toda extensão da cidade.
Os mapas foram elaborados por meio de medições acústicas, contagem de tráfego e análises estatísticas,
permitindo avaliar o comportamento do som em pontos específicos, a partir de ampliações ou seleções de
regiões predefinidas com auxílio do programa computacional. O mapa de ruído do bairro de Capim Macio,

647
apresentado na Figura 3, corresponde ao recorte do mapa de ruído da cidade de Natal, elaborado por
Florêncio (2018), e aos horários de pico dos períodos matutino e vespertino.

Figura 3 – Mapa de ruído para o bairro de Capim Macio nos períodos matutino (7h-8h, à esquerda) e vespertino (17h-18h, à direita).
Fonte: Elaboração dos autores, a partir dos dados de Florêncio (2018).

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS


A seguir serão apresentados os resultados obtidos nesta pesquisa. Todos os gráficos higrotérmicos estão
agrupados por dia de medição, para efeito de comparação com os dados extraídos da estação climática. Os
gráficos de análise do ruído estão agrupados por ponto e por dia de medição, incluindo valores medidos e
simulados por meio do mapa sonoro de Florêncio (2018).

4.1. Variáveis higrotérmicas


Partindo da observação dos parâmetros térmicos, apresentam-se a Figura 4, a Figura 5 e a Figura 6, as quais
mostram o comportamento da temperatura ao longo do dia da coleta de dados, em cada ponto. Optou-se por
apresentar os dados de temperatura e UR em relação ao dia de medição realizado, visto que os pontos foram
medidos em dias distintos, além da necessidade de comparação com os dados da estação NATAL-A304. De
modo geral, percebe-se uma semelhança no comportamento dos gráficos nos cinco pontos avaliados com
tendência de crescimento linear do valor da temperatura ao longo do dia, bem como pequenas discrepâncias
entre os valores encontrados na comparação dos pontos entre si. No entanto, ao comparar o resultado das
medições por ponto com os valores horários instantâneos da estação é perceptível que existem maiores
divergências apenas em horários específicos, como nos primeiros horários da manhã.
Ao comparar entre si os pontos
4 e 5, cuja medição foi realizada no
dia 28 de Março (Figura 4),
observa-se que os valores do Ponto
5 excedem em cerca de 1°C os
valores encontrados para o Ponto
04. Esta diferença pode ser
justificada pelo afastamento de
cerca de 900m entre os pontos, que
implica por sua vez no
distanciamento da massa vegetal
oriunda do Parque das Dunas.

Figura 4 – Comportamento térmico do dia 28 de Março, com informações dos Pontos


04 e 05 em relação aos dados da estação NATAL-A304. Fonte: Elaboração dos
autores.

648
A diferença em relação à estação automática também se justifica, visto que as condições de localização
da estação são diferenciadas em relação aos pontos medidos. De igual forma, os pontos 01 e 02 também são
comparados entre si por ocasião do dia em que foi realizada a medição (Figura 5). No período da manhã, os
valores de temperatura são superiores no Ponto 2, embora as condições físicas do local sejam mais
favoráveis pela presença de algum tipo de arborização. No entanto, o maior valor de temperatura encontrado
ao longo do dia pertence ao Ponto 01, que é de 32,2°C, às 13h.
Apesar do Ponto 01 possuir a maior temperatura medida, a variação ao longo do dia é superior à dos
demais pontos, ocasionando uma incidência de menores temperaturas pela manhã e maiores à tarde. A
distribuição da temperatura ao longo do dia no Ponto 02 é mais constante, com menos variações. Em relação
aos dados da estação, os Pontos 01 e 02 apresentam convergência sobretudo no período noturno. Por se tratar
dos pontos com maior condição ambiental desfavorável, pelo recobrimento do solo e proximidade com o
eixo viário, observam-se em geral valores superiores aos obtidos pelo INMET em cerca de 4°C,
configurando-se como um microclima desagradável.
Apesar do ponto 2 estar
localizado em uma área de maior
arborização e de uso
predominantemente residencial, a
máxima temperatura encontrada
diverge apenas 0,5ºC da máxima
obtida para o ponto 1, o qual possui
números elevados apenas para os
horários entre as 10h e 17h.
Comparando as temperaturas dos
pontos 2 e 5, por estarem
localizados em áreas de uso
predominantemente residencial,
tem-se que as máximas se
contrastam em 0,8ºC, ficando o Figura 5 – Comportamento térmico do dia 02 de Abril, com informações dos Pontos
Ponto 5 com a maior temperatura 01 e 02 em relação aos dados da estação NATAL-A304. Fonte: Elaboração dos
encontrada, igual a 32,5ºC. autores.

Essa discrepância pode ser entendida como influência direta da baixa arborização contida nesta
localidade. Quando tal valor é analisado com a máxima temperatura obtida no Ponto 3 evidencia-se uma
diferença de 2ºC, diferentemente da divergência de 1,2ºC proporcionada pelo Ponto 2, o que torna aqui a
arborização um fator relevante nas alterações das temperaturas. Por sua vez, o Ponto 03 se configura como o
mais sobressalente, pela incidência de valores mais baixos que os demais em Tmín e Tmáx, os quais são
27,1°C e 30°C, respectivamente (Figura 6).

Também é observado
que o comportamento ao longo
do dia é o mais próximo dos
valores obtidos na estação
climática, com variação máxima
de aproximadamente 2°C, por
volta das 9h da manhã. Os
valores obtidos podem ser
entendidos por se tratar de um
ponto localizado numa praça,
com arborização, entorno
predominantemente residencial e
baixo tráfego, além da maior
proximidade com o local da
Figura 6 – Comportamento térmico do dia 09 de Abril, com informações do Pontos 03 em
estação.
relação aos dados da estação NATAL-A304. Fonte: Elaboração dos autores.

De igual forma, ao explorar os resultados obtidos para o parâmetro da umidade relativa (%), têm-se
as Figuras 7, 8 e 9, as quais mostram as variações desta ao longo do dia em questão, nos pontos de análise,
bem como as registradas pela NATAL-A304. Assim como na temperatura, percebe-se uma tendência linear
de apresentação dos valores, porém de maneira descendente. O comportamento da UR (%) ocorre de maneira

649
semelhante nos cinco pontos de análise, com divergências consideráveis em relação ao INMET na maioria
dos horários calculados.

Figura 7 – Umidade Relativa ao longo do dia 28 de Março, com Figura 8 – Umidade Relativa ao longo do dia 09 de Abril, com
informações dos Pontos 04 e 05 em relação aos dados da estação informações dos Pontos 02 e 03 em relação aos dados da
NATAL-A304. Fonte: Elaboração dos autores. estação NATAL-A304. Fonte: Elaboração dos autores.

Por meio dos gráficos é perceptível que em


todos os pontos a umidade relativa – UR – se
comporta de modo crescente das 18h às 6h,
tornando todas os valores nesse horário superiores
aos 75%. Quando comparadas as umidades
obtidas para os pontos 4 e 5, é observada uma
baixa discordância, a qual mostra uma diferença
mínima de 2% em alguns horários do dia, e
máxima de 5,8%. Tal valor se assemelha a
diferença mínima de UR entre os pontos 2 e 3, o
qual equivale a 4,5%.
Figura 9 – Umidade Relativa ao longo do dia 02 de Abril, com
informações do Pontos 01 em relação aos dados da estação NATAL-
A304. Fonte: Elaboração dos autores.

Por sofrer influência direta da brisa marítima o Ponto 4 é o que contém a maior unidade relativa, a
qual equivale a 79,8%. Esta, por sua vez, é semelhante à máxima obtida para o Ponto 3, que é de 79,7%. O
menor valor UR registrado foi no Ponto 2, equivalente a 57,1%. Comparando os valores deste com os do
Ponto 5, é perceptível que por mais que integrem áreas de uso predominantemente residencial, as umidades
do Ponto 5 se sobressaem em uma ordem de no máximo 5%, em alguns horários.

4.2. Conforto acústico


Como forma de analisar o ruído ambiental da área em estudo, comparou-se o resultado obtido nas medições
acústicas com os mapas de ruído elaborados por Florêncio (2018). Sendo assim, a Figura 10 apresenta os
resultados obtidos em medição para o valor de LAeq, para os cinco pontos, em relação às simulações
realizadas com auxílio do mapa acústico da cidade de Natal (FLORÊNCIO, 2018). As linhas tracejadas
mostram os valores obtidos em simulação, enquanto as linhas cheias exibem os valores medidos.
Ao comparar os níveis sonoros resultantes na área objeto de estudo com os parâmetros estabelecidos
pela norma NBR 10.151/2002, para o período diurno, afirma-se que estes estão acima dos 55dB
recomendados pela norma para “Área mista, predominantemente residencial” em quase todos os pontos de
medição, especialmente nas principais avenidas do bairro. Os níveis sonoros nos períodos matutino e
vespertino, nos horários de pico, são bastante semelhantes, assim como o fluxo de veículos. No entanto, em
algumas áreas, é perceptível a atenuação sonora no período vespertino, com decréscimo aproximado de
5dB(A).
Em relação aos demais pontos, observa-se que o maior valor encontrado está presente no Ponto 4,
tanto na medição quanto na simulação. No geral, há pouca discrepância entre os valores medidos e extraídos
do mapa, porém nota-se diferença considerável entre os turnos “matutino” e “vespertino, superior a 5dB nos
Pontos 2 e 3. Os pontos 1 (BR-101) e 4 (Av. Eng. Roberto Freire), por estarem contidos em vias de alto
tráfego, apresentam valores próximos ao longo do dia, em ambos os métodos utilizados na coleta de dados.

650
Considerando os valores
instantâneos Lpmín e Lpmáx,
extraídos exclusivamente na
medição, observa-se que os
máximos valores encontrados estão
no Ponto 04 (Av. Eng. Roberto
Freire), enquanto os mínimos, no
Ponto 03 (Praça Hélio Galvão) em
ambos os turnos, o que confirma o
caráter contínuo do nível de ruído
nestes pontos ao longo do dia, com
variações desprezíveis. Nos demais
pontos, todos os valores
encontrados – mínimo e máximo –
são superiores ao estabelecido pela Figura 10 – Nível de ruído LAeq, por ponto de medição. Fonte: Elaboração dos autores.
NBR 10151, em todos os horários.

5. CONCLUSÕES
A partir dos resultados obtidos é possível constatar que a forma urbana do bairro é determinante nas
condições ambientais analisadas. A presença ou ausência de alguns elementos morfológicos permite prever
determinados comportamentos climáticos, bem como confirmar a hipótese levantada a partir dos dados
obtidos no levantamento in-loco. A importância de se analisar as variáveis ambientais em relação à forma
urbana se justifica, portanto, como ferramenta auxiliar ao planejamento urbano no sentido de se incorporar
decisões projetuais como arborização, zoneamentos e dimensionamento de vias na promoção de melhor
qualidade de vida e conforto aos usuários.
Os critérios qualitativos utilizados na escolha dos pontos permitiu estabelecer comparações entre as
variáveis observadas e estabelecer conclusões, como por exemplo: A mudança de hierarquia das vias implica
em diferenças consideráveis do ponto de vista do ruído urbano, a exemplo da comparação entre os Pontos 04
e 05; A existência de intervenções voltadas à resolução de problemas de engenharia de tráfego, como o
viaduto presente no Ponto 01, e a programação semafórica no Ponto 04 contribuem para a obtenção dos
maiores valores de ruído encontrados na pesquisa, além da visualização de um comportamento constante do
nível de pressão sonora médio ao longo do dia que permite identificar um fluxo de tráfego intenso e
permanente.
Ainda, os critérios como concentração vegetal, proximidade com o Parque das Dunas e influência da
brisa marítima contribuem para a incidência de baixas temperaturas e alta umidade relativa do ar, o que
implica em melhores condições de conforto mesmo em situações de alto tráfego, a exemplo do Ponto 4.
Considerando que a ideia de conforto ambiental envolve a análise conjunta dos fatores, pode-se avaliar
questões como a preferência dos usuários em relação às variáveis observadas, como indicação para uma
pesquisa posterior. Em relação aos usos, ao comparar áreas de mesma função a exemplo dos Pontos 2 e 5 –
predominantemente residencial – percebe-se que os valores encontrados se relacionam mais com os atributos
da forma urbana em si do que necessariamente ao perfil de ocupação, levando a crer que esta variável não é
tão determinante para este estudo.
Portanto, para melhoria das condições de conforto do bairro de Capim Macio recomenda-se a
promoção de arborização de modo geral em ambos os pontos, dimensionamento de vias com canteiro central
arborizado, posicionamento de lotes para uso residencial afastados das vias de alto tráfego e, sobretudo,
distribuição homogênea de equipamentos e espaços públicos como parques e praças a exemplo do Ponto 03,
que contribuiu para a obtenção dos melhores indicadores ambientais térmicos e acústicos no caso analisado.

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Csaba Deák e Sueli Ramos Schiffer (org.). São Paulo: Fupam/Edusp 1999.

AGRADECIMENTOS
Ao Laboratório de Conforto Ambiental – LABCON/UFRN pelo empréstimo do equipamento, à CAPES e ao
CNPQ pelo apoio financeiro aos pesquisadores e ao arquiteto Cleyton Santos pelas orientações adicionais.

652
GERAÇÃO DE ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS PARA EDIFICAÇÕES
EM FUNÇÃO DE DIFERENTES ZONAS CLIMÁTICAS LOCAIS DE UMA
METRÓPOLE
Natasha Hansen Gapski Pereira (1); Sergio Leandro Batista Jr. (2) Eduardo Krüger (3)
(1) Engenheira Civil, UTFPR, natasha.gapski@gmail.com
(2) Engenheiro Civil, UTFPR, sergioj@alunos.utfpr.edu.br
(3) Doutor em Arquitetura, Professor do Departamento acadêmico de construção civil, ekruger@utfpr.edu.br
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Rua Deputado Heitor Alencar Furtado, 5000,
Ecoville, Curitiba-PR, (41) 3279-6800

RESUMO
O clima urbano se constitui em função de características morfológicas e de uso do solo no espaço urbano.
Aspectos como grau de verticalização, presença de vegetação e densidade urbana influenciam diretamente
variáveis climáticas gerando microclimas diferenciados na cidade. Esta pesquisa teve por objetivo gerar
estratégias bioclimáticas em função de dados climáticos verificados em pontos distintos quanto ao uso e
ocupação do solo, exemplificados para a cidade de Londres, Inglaterra. Avaliaram-se se as variações nos
microclimas são significativas o bastante para influenciar as diretrizes projetuais de edificações, sendo
geradas as estratégias bioclimáticas pelo pacote “Climate Consultant”, versão 6.0, a partir de diagramas
psicrométricos. Para a classificação das diferentes morfologias do espaço urbano de Londres foi utilizado o
conceito de zonas climáticas locais (LCZs) desenvolvido por Stewart e Oke. Os dados meteorológicos para
cada ponto de estudo foram obtidos a partir da plataforma online “Weather Underground”. Pela análise do
perfil longitudinal das temperaturas, a pesquisa constatou a formação de ilhas de calor nos locais com maior
intensidade de ocupação e menor cobrimento vegetal. Com relação às diretrizes projetuais, notaram-se
diferenças consideráveis em função da LCZ na qual cada ponto analisado estava localizado.
Palavras-chave: clima urbano, estratégias bioclimáticas, zonas climáticas locais, LCZ.

ABSTRACT
Urban climate originates from morphology and land-use characteristics in urban spaces. The level of
verticalization, the presence of vegetation and urban density are influencing factors of climatic variables
generating different microclimates within the city. The aim of this study was to obtain bioclimatic strategies
arising from local climate data from different locations in terms of land use and occupation, exemplified for
the city of London, England. The significance of distinct microclimates was evaluated in terms of obtained
building directives using the Climate Consultant package version 6.0 and its psychrometric charts. Stewart
and Oke’s proposal of Local Climate Zones was used for classifying different morphologies. Weather data
were obtained from the online platform Weather Underground. The analysis of the longitudinal profile of
ambient temperature revealed the formation of urban heat islands in more densely occupied areas with
reduced vegetation cover. As for architectural guidelines, psychrometric charts displayed considerable
differences with respect to the LCZ of the several points analyzed.
Keywords: urban climate, bioclimatic strategies, local climate zones, LCZ.

653
1. INTRODUÇÃO
Pesquisas sobre clima urbano revelam crescente preocupação com as mudanças climáticas, principalmente
nas últimas décadas. O efeito das ilhas de calor, por exemplo, caracterizado pelo significativo aumento da
temperatura em centros urbanos em comparação às zonas mais afastadas, é um fenômeno cada vez mais
estudado e resultante da antropização dos espaços.
Sabe-se que são diversos os fatores que afetam o microclima urbano. Segundo Ugeda Júnior e
Amorim (2016), a ocupação do solo, a presença de vegetação, a intensidade de tráfego, o nível de
verticalização e os materiais construtivos empregados são fatores que distinguem bairros de uma mesma
cidade, influenciando seu microclima.
Para padronizar os estudos climáticos urbanos, Iain Stewart e Tim Oke (2012) desenvolveram uma
classificação denominada zona climática local (“Local Climate Zone” ou LCZ), que leva em consideração a
morfologia do espaço e a ocupação do solo. Zonas climáticas locais (doravante denominadas LCZs) são
definidas como regiões com características uniformes de cobertura de superfície, estrutura, material de
superfície e atividade humana em um raio que pode variar de 100-200 metros a vários quilômetros em uma
escala horizontal (STEWART; OKE, 2012).
Variações microclimáticas, por sua vez, afetam a demanda energética em climatização artificial. O
conceito de eficiência energética na arquitetura significa possibilitar conforto ambiental aliado ao baixo
consumo de energia (LAMBERTS et al., 2014). Nesse contexto, a utilização de recursos da arquitetura
bioclimática possibilita a obtenção de projetos com maior eficiência energética. Projeto bioclimático,
conforme seu idealizador Victor Olgyay (1963), é um termo utilizado para definir projetos arquitetônicos
desenvolvidos a partir dos requisitos climáticos locais. Ao considerar tais requisitos, sugere-se que a
construção deva ser projetada segundo princípios de adequação climática, muitas vezes seguindo exemplos
de construções vernaculares. No norte da China, por exemplo, onde o clima é desértico, eram construídas
edificações subterrâneas (RUDOFSKY, 1964), pois a massa térmica do solo permite que haja um
significativo atraso térmico no fluxo de calor. Dessa forma, evitava-se de maneira natural o
superaquecimento durante o dia e o resfriamento durante a noite. Exemplos mais comuns na habitação
indígena brasileira envolvem edificações leves, com estratégias de sombreamento e ventilação, embora na
região sul do país grupos indígenas como os Kaingang também utilizassem enterramento de suas habitações,
construindo os denominados “buracos de bugre” (D’ANGELIS; SANTOS, 2014).
Estratégias bioclimáticas, portanto, são orientações de projeto passivo para prevenção de possíveis
problemas de desconforto térmico. Existem diversos métodos de obtenção dessas diretrizes projetuais a partir
de dados climáticos locais. Nesta análise, é comum utilizar-se os dados climáticos de estações
meteorológicas oficiais. Porém, segundo Corbella e Yannas (2003), tais dados, tomados pelo serviço de
meteorologia, podem não ser representativos de uma grande cidade, pois a urbanização cria microclimas
diferenciados. Isto acontece principalmente em metrópoles, onde a extensão e a ocupação do espaço urbano
ocorrem de múltiplas maneiras.
Considerando que a morfologia de uma região influencia o microclima local, assume-se que deveria
haver diferenças na definição de estratégias bioclimáticas para regiões com diferentes atributos de
morfologia urbana, uso e ocupação do solo. Assim, o presente trabalho se apoia no conceito de zonas
climáticas locais de uma metrópole, analisando variações nos dados climáticos coletados em estações
localizadas no perímetro urbano, a fim de verificar se variabilidades no microclima causam diferenças
significativas na geração de estratégias bioclimáticas. O estudo se concentra na malha urbana de Londres,
Inglaterra, sendo que a escolha pela capital inglesa se deu pela disponibilidade de dados meteorológicos de
superfície em rede e devido a uma base sólida de estudos prévios de LCZs e climatologia urbana para essa
cidade.

2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é gerar estratégias bioclimáticas para diferentes LCZs de Londres, Inglaterra, a partir
de dados climáticos obtidos em estações meteorológicas não-oficiais alinhados a dois transectos: Norte-Sul e
Leste-Oeste, ambos perpassando a região central da cidade.

3. MÉTODO
A metodologia aplicada neste trabalho divide-se em quatro etapas:
• Definição de LCZs e dos transectos para análise;
• Processamento dos dados climáticos;
• Geração de estratégias bioclimáticas para cada ponto de análise;

654
• Comparação entre pontos quanto aos fatores climáticos e estratégicas bioclimáticas obtidas.
3.1. Definição de zonas climáticas locais e dos transectos de análise
A cidade escolhida para realizar os estudos foi Londres, capital da Inglaterra. A cidade está localizada na
latitude 51°30’28’’ e longitude 0°7’41’’ e a 11 metros do nível do mar. Atualmente, é a maior cidade da
Inglaterra e do Reino Unido com uma população de 8,4 milhões de habitantes (ONS, 2011). Possui clima
temperado oceânico segundo a classificação de Köppen-Geiger. A escolha dessa cidade foi pautada pela
grande quantidade de estações meteorológicas oficiais e não-oficiais distribuídas em sua área urbana,
algumas delas cadastradas na rede “Weather Underground” (http://www.wunderground.com), e pela
classificação existente das LCZs para sua área urbana. A Weather Underground é uma rede digital que reúne
dados coletados por estações meteorológicas amadoras ou não, localizadas em sítios diversos em cidades do
planeta. O serviço contempla dados de estações oficiais e privadas, o que aumenta sua rede de cobertura e
permite uma análise climática em menor escala.
A classificação das LCZs foi desenvolvida por Geletic (2016) para Londres, por meio de uma
metodologia que utiliza sistema de informação geográfica conciliando análise de imagens de satélites com
parâmetros de geometria e trocas de calor derivados das LCZs propostas por Stewart e Oke (GELETIC;
LEHNERT, 2016).
O sistema criado por Stewart e Oke (2012) consiste na classificação de sítios com diferentes
morfologias segundo até 17 diferentes categorias. Cada categoria é única por ser uma combinação da
estrutura da superfície (edifícios/altura da árvore e espaçamento), cobertura (taxa de permeabilidade),
configuração (albedo, intercâmbio de calor) e metabolismo (fluxo de calor antropogênico). As 17 zonas
climáticas locais pré-estabelecidas estão dispostas no Quadro 1.

1. Compacto e altura elevada 10. Industrial


Alta concentração de edifícios com mais de dez
Estruturas de altura baixa e média. Pouca ou
pavimentos. Pouca ou nenhuma árvore.
nenhuma árvore. Terreno pavimentado ou de
Terreno em sua maioria pavimentado.
chão de terra. Materiais de construção: metal,
Materiais de construção: concreto, vidro, aço e
aço e concreto.
pedra.
2. Compacto e altura mediana A. Concentração de árvores
Concentração alta de edifícios de três a nove
Terreno completamente coberto com árvores.
pavimentos. Pouca ou nenhuma árvore.
Terreno em sua grande maioria permeável. A
Terreno em sua maioria pavimentado.
zona é uma floresta natural ou um parque
Materiais de construção: pedra, tijolo e
urbano.
concreto.
3. Compacto e altura baixa B. Árvores espalhadas
Concentração alta de edifícios de um a três Terreno levemente coberto com árvores.
pavimentos. Terreno em sua maioria Terreno em sua grande maioria permeável. A
pavimentado. Materiais de construção: pedra, zona é uma floresta natural ou um parque
tijolo e concreto. urbano.
4. Aberto e altura elevada C. Arbustos e mato
Boa distribuição de edifícios com mais de dez Distribuição muito espaçada de arbustos, mato
pavimentos. Boa permeabilidade (árvores e pequenas árvores. Terreno em sua grande
espalhadas). Materiais de construção: maioria permeável. A zona é uma área
concreto, aço, pedra e vidro. destinada a agricultura ou matagal.
5. Aberto e altura mediana D. Vegetação baixa
Boa distribuição de edifícios de três a nove
Terreno coberto por grama. Pouca ou nenhuma
pavimentos. Boa permeabilidade (árvores
árvore. A zona representa um gramado, um
espalhadas). Materiais de construção:
parque urbano ou uma área de agricultura.
concreto, aço, pedra e vidro.
6. Aberto e altura baixa E. Pedra bruta ou pavimento
Boa distribuição de edifícios de um a três
Terreno coberto de pedras ou é pavimentado.
pavimentos. Boa permeabilidade (árvores
Pouca ou nenhuma árvore. A função da zona é
espalhadas). Materiais de construção: madeira,
um deserto de pedras ou transporte urbano
tijolo, pedra e concreto.
7. Leve e baixa altura F. Areia ou terra bruta
Concentração alta de edificações de um
pavimento. Pouca ou nenhuma árvore. Terreno Terreno natural ou coberto de areia. Pouca ou
em sua maioria de chão de terra. Materiais de nenhuma árvore. A zona é um deserto natural
construção: palha, madeira e chapas ou uma área de agricultura.
onduladas.
8. Largos e baixa altura G. Água
Boa distribuição de edifícios largos de um a três
pavimentos. Pouca ou nenhuma árvore. Grandes, abertos corpos de água como mares e
Terreno em sua maioria pavimentado. lagos ou pequenos corpos de água tais como
Materiais de construção: aço, concreto, chapas rios, represas e lagoas.
e pedra.
9. Pouco construído
Pouquíssimas construções de nível pequeno ou
médio em um ambiente natural. Muita área
permeável.

Quadro 1 – Definições das Zonas Climáticas Locais.


Fonte: Adaptado de Stewart e Oke (2012).

As zonas climáticas locais identificadas pelos números de 1 a 10 representam os tipos de construções


que compõem uma determinada região enquanto as zonas climáticas locais identificadas pelas letras de A a
G representam os vários tipos de cobertura vegetal ou processos associados a corpos d’água em uma região
(STEWART OKE, 2012).

655
Na definição dos transectos, os critérios adotados foram: 1) existência de estações meterológicas de
superfície em dois eixos com orientação axial de aproximadamente Norte-Sul e Leste-Oeste,
respectivamente; 2) verificação de completude e consistência dos dados climáticos da rede Weather
Underground; 3) simultaneidade dos dados climáticos. Estações meteorológicas com menos de um ano
completo de dados e dados climáticos com inconsistências notáveis foram desconsideradas. Definiu-se o ano
de estudo o que se inicia em setembro de 2017 até agosto de 2018. Após a filtragem de estações com dados
incompletos ou inconsistentes, traçaram-se os dois transectos, plotados na Figura 1 sobre a classificação das
LCZs por Geletic (2016).

Figura 01 – Mapa das zonas climáticas locais de Londres, Inglaterra, e transectos leste-oeste e norte-sul.
Fonte: Adaptado de Geletic (2016).

Observa-se na Figura 1 que na região central, onde estão localizados marcos históricos como o Big
Ben e a Abadia de Westminster, predominam edificações mais concentradas e altas, classificando-se como
LCZs 1 e 2. Ao redor da zona central, nota-se uma melhor distribuição de edifícios, com maiores
espaçamentos e alturas mais baixas, caracterizando a LCZ 5, proposta por Stewart e Oke. Por fim, nas
regiões perimétricas predomina a LCZ 9, com construções de pequeno porte e maior permeabilidade.
Em relação às zonas climáticas locais de cobertura natural, verifica-se principalmente a presença de
parques em todo mapa, representando as LCZs A, B e D, e a do rio Tâmisa que atravessa a cidade, LCZ G.
Definidas as estações a serem utilizadas, classificaram-se suas localidades segundo o mapa desenvolvido por
Geletic (2016). Na Tabela 1 é possível reconhecer as estações meteorológicas escolhidas, identificadas
conforme sua nomenclatura no Weather Underground, suas coordenadas geográficas em graus decimais e à
qual LCZ cada uma pertence segundo a classificação de Geletic (2016).
Tabela 1 – Estações meteorológicas transectos leste-oeste e norte-sul.
Distância a partir
Estação Ponto LCZ Latitude (°) Longitude (°)
do ponto inicial (km)
TRANSECTO LESTE-OESTE
ILONDON1172 PT 1 6 0 51,503 -0,276
ILONDON876 PT 2 2 3,7 51,506 -0,223
ILONDON636 PT 3 2 10,2 51,522 -0,133
ILONDON1407 PT 4 4 14,1 51,522 -0,077
IENGLAND499 PT 5 8 17,8 51,535 -0,028
ILONDON579 PT 6 10 19,5 51,548 -0,015
ILONDONL22 PT 7 9 23,7 51,564 0,040
TRANSECTO NORTE-SUL
ILONDON1334 PT 8 6 0 51,588 -0,094
ILONDON1449 PT 9 9 4,4 51,549 -0,101
ILONDON1407 PT 4 4 7,8 51,522 -0,077
ILONDON59 PT 10 5 10,6 51,499 -0,093
ILONDON553 PT 11 9 14,4 51,435 -0,081
Fonte: os Autores.

A coluna intitulada Distância corresponde à distância em quilômetros entre o primeiro ponto do


transecto até a estação correspondente. A estação ILONDON1407, ponto 4, é comum aos dois transectos e
representa o ponto de interseção entre eles.

656
3.2. Processamento dos dados climáticos
O pacote Climate Consultant versão 6.0 foi utilizado para o processamento dos dados climáticos de cada
ponto. O Climate Consultant possibilita a geração de saídas gráficas simplificadas para análise climática. As
variáveis utilizadas para a geração de estratégias bioclimáticas pelo Climate Consultant foram temperatura e
umidade relativa do ar. Como o programa processa os dados climáticos das 8760 horas anuais somente no
formato EnergyPlus Weather Data (EPW), foi feita a conversão dos dados coletados para o formato EPW
utilizando-se o aplicativo “Elements”, desenvolvido pela Big Ladder Software
(https://bigladdersoftware.com/projects/elements/), destinado à geração de arquivos climáticos diversos para
simulações termo-energéticas.
A fonte de dados Weather Underground abrange uma rede de estações amadoras, assim
frequentemente há falta de dados, seja por falha de conexão à internet, manutenção ou má configuração do
equipamento. Desta forma, foi necessário adaptar o estudo aos dados disponíveis, sendo que, para as estações
meteorológicas utilizadas neste estudo, não foi possível contar com dados contínuos das 8760 horas do ano
selecionado. Para possibilitar comparações a partir dos dados climáticos, compatibilizaram-se os registros
para dados horários comuns a todas as estações nos transectos. Para não reduzir muito o número de horas
comuns, procedeu-se a esta compatibilização por cada transecto, de forma que os dois transectos não são
completamente compatíveis entre si no que se refere à base de dados.

3.3. Geração de estratégias bioclimáticas


A geração de estratégias bioclimáticas foi realizada através do pacote Climate Consultant. Foi utilizado o
modelo de conforto proposto pelo Handbook of Fundamentals da ASHRAE para edificações residenciais.
Desenvolvido pela ASHRAE, nos Estados Unidos, o modelo de conforto considera que a faixa de
temperatura efetiva se situa entre 20 °C e 23,3 °C para condições de inverno com um deslocamento desta
faixa de 2,8°C para condições de verão.
A saída utilizada para obter as estratégias bioclimáticas é a carta psicrométrica, analisada no Climate
Consultant em termos da efetividade de aplicação de diferentes estratégias de projeto, isto é, para quantas
horas anuais são recomendadas cada estratégia. Ao todo são 16 estratégias projetuais, quais sejam: conforto,
sombreamento, inércia térmica, inércia térmica com ventilação noturna, resfriamento evaporativo direto,
resfriamento evaporativo duplo-estágio, ventilação natural, ventilação artificial, ganho de calor interno,
aquecimento solar passivo, baixa e alta inércia térmica, proteção contra o vento, umidificação,
desumidificação, resfriamento e aquecimento artificial. A categoria de conforto indica que as condições
higrométricas estão confortáveis, não se necessitando, no caso, de aplicar estratégias projetuais. Um exemplo
de aplicação do diagrama psicrométrico da ASHRAE (2005) com a definição de estratégias principais para
Phoenix, Arizona, EUA, é mostrado na Figura 2. As estratégias que mais se destacam são baseadas no uso de
resfriamento evaporativo e sombreamento das janelas.

Figura 2 – Zonas e estratégias para Phoenix, Arizona, geradas pelo Climate Consultant (ASHARE, 2005).
Fonte: Climate Consultant versão 6.0
Para facilitar a interpretação dos resultados, neste estudo categorizaram-se os resultados em três
possibilidades: conforto, necessidade de aquecimento e necessidade de resfriamento. As estratégias
bioclimáticas de ganho de calor interno, aquecimento solar passivo, proteção contra o vento e aquecimento
artificial foram consideradas na categoria de aquecimento; e as demais, excetuando conforto, na categoria de
resfriamento.

657
4. RESULTADOS
Os resultados do transecto Leste-Oeste são referentes às 6397 horas comuns a todos os pontos do transecto,
enquanto os do transecto Norte-Sul referem-se às 7707 horas comuns a todos os pontos. Assim, os transectos
não são comparáveis entre si. Com o objetivo de demonstrar que existem diferenças climáticas entre os
pontos analisados e observar a influência da LCZ em cada ponto, foram feitas análise das variáveis
climáticas e das estratégias bioclimáticas.

4.1. Variáveis climáticas


Para melhor visualização das variáveis climáticas, agruparam-se as médias das mínimas diárias por estação.
Optou-se por representar graficamente as mínimas diárias, pois, segundo Arnfield (2003), a intensidade da
ilha de calor é maior no período noturno.
A Figura 3 apresenta o gráfico de temperaturas mínimas para o transecto Leste-Oeste. O gráfico
evidencia o aumento da temperatura na região central da metrópole em todas as estações do ano,
particularmente nos pontos 3 e 4, caracterizando uma ilha de calor. Segundo Yow e Carbone (2006),
variações de temperatura maiores que 0,5 °C são representativas de ilhas de calor. Embora o ponto 4 seja
classificado como LCZ 4, segundo Geletic (2016), o local está a menos de 100 metros de uma ampla região
de LCZ 1. O raio de influência do microclima relaciona-se com a geometria das edificações, rugosidade da
superfície, velocidade e direção do vento. Para Stewart et al. (2014), as LCZ devem ter um raio mínimo a
partir de 100 metros, no entanto, o raio mínimo utilizado por Geletic para definição das zonas climáticas é de
50 metros. Assim, é de se supor que o ponto 4 tenha sofrido influência do entorno (LCZ 1).

Figura 3 – Perfis longitudinais de temperatura mínima diária por estação do ano para o transecto Leste-Oeste
Fonte: os Autores.

Da mesma forma, o ponto 7, com temperaturas mais baixas entre os pontos, está envolto em uma
região com LCZs A e B, com presença de vegetação. A diferença relativa entre o ponto 7 e os pontos mais
centrais foi maior ou igual a 2°C, em todas as estações do ano.
Os perfis longitudinais do transecto Norte-Sul são apresentados na Figura 4. Notam-se valores mais
altos de temperatura nos pontos 4 e 10. Esse aumento da temperatura nessa zona é justificado pelo fato
desses pontos estarem localizados na região mais urbanizada da cidade. Além de sua localização, os pontos 4
e 10 são representativos das LCZs 4 e 5 respectivamente, o que significa que a região é composta por
edifícios de altura média a elevada. Esses dois pontos localizam-se próximos à região central de LCZs 1 e 2,
sofrendo também influências do entorno.

658
Figura 4 – Perfis longitudinais de temperatura mínima diária por estação do ano para o transecto Norte-Sul
Fonte: os Autores.

Os pontos 9 e 11, embora representativos de uma mesma LCZ, apresentam entre si uma diferença de
até 1,5 °C na média por estação das mínimas diárias. Novamente, tal diferença pode ser explicada pelo
entorno da região, já que o ponto 9 se localiza em uma área mais urbanizada e o ponto 11 mais próximo a
uma área verde.

4.2. Estratégias bioclimáticas


A análise da temperatura e umidade relativa do ar ao longo do ano aponta para diferenças climáticas entre as
LCZs consideradas. Assim, quantificou-se a representatividade de cada estratégia bioclimática sugerida no
diagrama psicrométrico gerado pelo Climate Consultant. As estratégias e respectivos percentuais de horas do
ano para os pontos dos dois transectos são apresentados nas Tabelas 2 e 3, e a Tabela 4 mostra de forma
agrupada a variação máxima encontrada por estratégia (em número de horas e em porcentagem a partir da
média), identificando quais pontos foram mais díspares nos dois transectos.
Tabela 2 – Representatividade das estratégias bioclimáticas geradas no Climate Consultant para o transecto Leste-Oeste
PT1 PT2 PT3 PT4 PT5 PT6 PT7
Estratégia
Horas % Horas % Horas % Horas % Horas % Horas % Horas %

Conforto 676 7,72 723 8,25 685 7,82 710 8,11 645 7,36 611 6,97 526 6,00

Sombreamento 320 3,65 279 3,18 259 2,96 293 3,34 226 2,58 221 2,52 250 2,85

Inércia térmica 206 2,35 153 1,75 154 1,76 160 1,83 110 1,26 116 1,32 151 1,72
Inércia térmica com ventilação
245 2,80 189 2,16 194 2,21 209 2,39 138 1,58 145 1,66 179 2,04
noturna
Resfriamento evaporativo direto 300 3,42 180 2,05 149 1,70 198 2,26 131 1,50 133 1,52 123 1,40
Resfriamento evaporativo duplo-
314 3,58 205 2,34 186 2,12 226 2,58 155 1,77 156 1,78 153 1,75
estágio
Ventilação natural 50 0,57 68 0,78 81 0,92 71 0,81 71 0,81 63 0,72 135 1,54

Ventilação artificial 164 1,87 164 1,87 166 1,89 173 1,97 140 1,60 134 1,53 210 2,40

Ganho de calor interno 1894 21,62 2016 23,01 2122 24,22 2105 24,03 2016 23,01 1950 22,26 1888 21,55
Aquecimento solar passivo direto
494 5,64 523 5,97 536 6,12 533 6,08 552 6,30 547 6,24 524 5,98
- baixa inércia térmica
Aquecimento solar passivo direto
352 4,02 358 4,09 351 4,01 356 4,06 364 4,16 359 4,10 348 3,97
- alta inércia térmica
Proteção contra o vento 60 0,68 58 0,66 62 0,71 63 0,72 63 0,72 71 0,81 65 0,74

Umidificação 1 0,01 0 0,00 2 0,02 3 0,03 1 0,01 0 0,00 0 0,00

Desumidificação 13 0,15 6 0,07 20 0,23 4 0,05 13 0,15 12 0,14 68 0,78

Resfriamento artificial 0 0,00 5 0,06 5 0,06 4 0,05 0 0,00 0 0,00 12 0,14

Aquecimento artificial 3222 36,78 3143 35,88 3080 35,16 3067 35,01 3277 37,41 3370 38,47 3430 39,16
Fonte: os Autores.

659
Tabela 3 – Representatividade das estratégias bioclimáticas geradas no Climate Consultant para o transecto Norte-Sul
PT8 PT9 PT4 PT10 PT11

Estratégia Horas % Horas % Horas % Horas % Horas %

Conforto 832 9,50 907 10,35 940 10,73 1360 15,53 573 6,54

Sombreamento 447 5,10 405 4,62 381 4,35 250 2,85 379 4,33

Inércia térmica 336 3,84 254 2,90 266 3,04 128 1,46 266 3,04
Inércia térmica com ventilação
391 4,46 299 3,41 308 3,52 148 1,69 308 3,52
noturna
Resfriamento evaporativo direto 341 3,89 309 3,53 276 3,15 109 1,24 140 1,60
Resfriamento evaporativo duplo-
378 4,32 326 3,72 309 3,53 127 1,45 188 2,15
estágio
Ventilação natural 114 1,30 76 0,87 93 1,06 86 0,98 221 2,52

Ventilação artificial 255 2,91 218 2,49 236 2,69 139 1,59 321 3,66

Ganho de calor interno 2472 28,22 2520 28,77 2723 31,08 2958 33,77 2363 26,97
Aquecimento solar passivo direto
604 6,89 622 7,10 623 7,11 640 7,31 626 7,15
- baixa inércia térmica
Aquecimento solar passivo direto
464 5,30 455 5,19 457 5,22 464 5,30 447 5,10
- alta inércia térmica
Proteção contra o vento 70 0,80 70 0,80 69 0,79 52 0,59 73 0,83

Umidificação 7 0,08 11 0,13 4 0,05 0 0,00 0 0,00

Desumidificação 21 0,24 8 0,09 4 0,05 59 0,67 142 1,62

Resfriamento artificial 5 0,06 0 0,00 5 0,06 1 0,01 69 0,79

Aquecimento artificial 3676 41,96 3632 41,46 3422 39,06 2946 33,63 3931 44,87
Fonte: os Autores.

Tabela 4 – Variação relativa das estratégias bioclimáticas geradas no Climate Consultant para os dois transectos
TRANSECTO LESTE-OESTE TRANSECTO NORTE-SUL
Estratégia média variação variação PT PT média variação variação PT PT
(h) (h) (%) max min (h) (h) (%) max min
Conforto 654 197 30 2 7 922 787 85 10 11
Sombreamento 264 99 38 1 6 372 197 53 8 10
Inércia térmica 150 96 64 1 5 250 208 83 8 10
Inércia térmica com ventilação
noturna 186 107 58 1 5 291 243 84 8 10
Resfriamento evaporativo direto 173 177 102 1 7 235 232 99 8 10
Resfriamento evaporativo duplo-
estágio 199 161 81 1 7 266 251 95 8 10
Ventilação natural 77 85 110 7 1 118 145 123 11 9
Ventilação artificial 164 76 46 7 6 234 182 78 11 10
Ganho de calor interno 1999 234 12 3 7 2607 595 23 10 11
Aquecimento solar passivo
direto - baixa inércia térmica 530 58 11 5 1 623 36 6 10 8
Aquecimento solar passivo
direto - alta inércia térmica 355 16 5 5 7 457 17 4 8 11
Proteção contra o vento 63 13 21 6 2 67 21 31 11 10
Umidificação 1 3 300 4 2 4 11 250 9 10
Desumidificação 19 64 329 7 4 47 138 295 11 4
Resfriamento artificial 4 12 323 7 1 16 69 431 11 9
Aquecimento artificial 3227 363 11 7 4 3521 985 28 11 10
Fonte: os Autores.

660
Ressalta-se que as porcentagens não somam 100% pois não se obtém dados das 8760 horas anuais,
além da sobreposição de algumas estratégias. Além disso, os transectos não devem ser comparados entre si,
pois a base de dados para cada qual é distinta.
Na Tabela 4, agrupada, identificam-se as estratégias com maior número de horas no ano (negritadas
na tabela), sendo naturalmente o aquecimento artificial a estratégia mais evidente. Nos dois transectos, o
aquecimento artificial sofreu variação, com o ponto mais central tendo maior necessidade de aquecimento do
que o ponto com maior quantidade de vegetação e menos massa construída (PT7/LCZ 4 versus PT4/LCZ 9
no transecto NS; PT11/LCZ 5 versus PT10/LCZ 9 no transecto EW). A variação, neste caso, foi maior para o
transecto Norte-Sul, atingindo 28% de redução de necessidade de aquecimento na região mais central.
Consequentemente, os níveis de conforto apresentam tendência contrária, nos dois transectos.
Nas Figuras 5 e 6 são apresentados graficamente os resultados para os transectos Leste-Oeste e
Norte-Sul, respectivamente. Observa-se na Figura 5, transecto Leste-Oeste, que os pontos 2, 3 e 4,
localizados nas LCZs 2 e 4, apresentam maior porcentagem de horas em conforto. Isso ocorre, pois Londres
é uma cidade de clima predominantemente frio, sendo a urbanização benéfica para a redução do desconforto
por frio. Quanto ao aquecimento, os pontos 5, 6 e 7 têm valores mais altos, pois se localizam nas LCZs 8, 10
e 9, respectivamente, mais afastadas do centro urbano e com maior grau de arborização. No entanto, as
diferenças relativas entre as estratégias geradas para os pontos do transecto Leste-Oeste são pequenas,
chegando a apenas 2,5% entre os pontos 1 e 6 na categoria de aquecimento.

Figura 5 – Representatividade das estratégias bioclimáticas geradas no Climate Consultant para o transecto Leste-Oeste
Fonte: os Autores.

Na Figura 6, referente ao transecto Norte-Sul, notam-se maiores diferenças entre LCZs. Assim como
no transecto Leste-Oeste, as regiões de maior ocupação apresentam maior percentual de horas em conforto.
Na categoria de aquecimento, os pontos mostram valores próximos, se destacando mais os pontos 10 e 11,
com 5,2% de diferença entre eles. A diferença entre esses pontos é ainda mais evidente em termos de
alteração nos percentuais de conforto, com 9,1%. Isto se justifica pela proximidade do ponto 10 ao centro
urbano, zonas climáticas locais 1 e 2, enquanto o ponto 11 está mais afastado, em uma região arborizada.

Figura 6 – Representatividade das estratégias bioclimáticas geradas no Climate Consultant para o transecto Norte-Sul
Fonte: os Autores.

661
5. CONCLUSÕES
O clima urbano nas grandes cidades se apresenta em função das características da morfologia dos espaços
urbanos. Em Londres, é notável a influência da morfologia na caracterização do clima local.
Por meio da análise das estratégias bioclimáticas geradas, confirma-se a hipótese de que o clima
urbano de uma metrópole apresenta variações significativas o bastante para alterar as diretrizes projetuais
arquitetônicas de edificações ao longo de sua extensão. Comparativamente, no transecto Leste-Oeste as
diferenças por categoria não foram tão significativas como no transecto Norte-Sul.
De maneira geral, os ambientes mais próximos ao centro urbano (LCZs 1 e 2) se mostram mais
confortáveis termicamente, enquanto os mais afastados e/ou próximos a áreas verdes são mais
desconfortáveis e necessitam de estratégias de aquecimento. No entanto, observam-se algumas
inconsistências nos dados utilizados como base para a realização desse trabalho. Primeiramente, o mapa com
a caracterização de zonas climáticas locais proposta por Geletic, em termos de definição de escala, não é
coerente com os princípios definidos por Stewart e Oke. Geletic utiliza o valor de 50 metros como raio
mínimo de influência para a formação de uma LCZ enquanto Stewart e Oke (2012) sugerem um valor
mínimo para o mesmo da ordem de 100 metros em áreas de maior adensamento (Stewart et al., 2014),
levando em consideração as demais variáveis climáticas, como vento e radiação solar.
Outra questão é a disponibilidade de dados climáticos para cada LCZ. O Weather Underground,
embora possibilite o acesso a estações meteorológicas em diversos pontos da malha urbana, apresenta
irregularidades em seu registro histórico de dados. A falta de dados completos disponibilizados pelo Weather
Underground, a não divulgação dos erros associados a cada estação, além do não conhecimento da situação
de instalação da estação podem também ter contribuído para resultados imprecisos.

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662
ILHAS DE CALOR EM BRASÍLIA

Marta Romero
Professora Titular, Arquiteta, romero@unb.br, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Universidade de
Brasília, Caixa Postal 04431, Brasília – DF, CEP 70904-970, Tel.: (61) 3107-7445 http://www.lasus.unb.br

RESUMO
O lugar de Brasília foi escolhido principalmente por suas condições climáticas, e o Plano Piloto
desenvolvido pelo urbanista Lucio Costa possui características bioclimáticas que são verdadeiras lições sobre
planejamento urbano resiliente ao calor extremo, assim como as soluções arquitetônicas e os projetos
modernistas adotadas por Niemeyer. Porém, o crescimento desordenado tem alterado sensivelmente o clima
do Distrito Federal. As pesquisas realizadas no Laboratório de Sustentabilidade aplicada à Arquitetura e ao
Urbanismo - LaSUS da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília nos últimos anos mostram uma
diminuição significativa do conforto na cidade. Em nossos estudos sobre as formas de monitoramento do
fenômeno ilhas de calor, foram utilizadas imagens termais provenientes de sensoriamento remoto. Após o
geoprocessamento dos dados das áreas amostrais definidas, a análise do campo térmico urbano no DF
apresenta-se composta por: i) classificações supervisionadas dos materiais de superfície (software Quantum
Gis); ii) fator W/H (largura da caixa da rua / altura dos edifícios), segundo uma base teórico numérica; iii)
imagens de satélite termais, tais como transectos e imagens da câmera termográfica. Confirmada a existência
de correlação estatística entre os materiais de revestimentos das superfícies urbanas e as temperaturas de
Brasília - DF, algumas considerações podem ser feitas. Primeiro, as áreas que têm maior porcentagem de
vegetação rasteira, asfalto ou solo exposto, apresentaram as temperaturas mais altas e as correlações são mais
fortes. As superquadras com maior porcentagem de cobertura vegetal densa apresentaram as temperaturas
mais amenas. Apesar de forte, a correlação destas áreas é a de menor valor entre as áreas do Plano Piloto, o
que confirma que as correlações são ainda mais fortes nas áreas onde os materiais de superfície contribuem
com aquecimento. Nossos resultados mostram que políticas de adaptação efetivas para diminuir o
armazenamento de calor no tecido urbano constituem um verdadeiro seguro para a sobrevivência desta
cidade patrimônio da humanidade.
Palavras-chave: ilhas de calor urbanas, Brasília, políticas de adaptação.

ABSTRACT
The location of Brasília was chosen primarily due to its climatic conditions, and the Pilot Plan developed by
urban planner Lúcio Costa entails bioclimatic features that are truly lessons on urban planning resilient to
extreme heat, as are the architectonic solutions adopted by Niemeyer. However, uncontrolled urban sprawl
has significantly altered the climate of the Federal District. Researches carried out by the LaSUS Lab in the
last few years have shown a significant decrease of comfort in the city. In our studies about how to monitor
the urban heat island phenomenon, thermal images from remote sensing were used. After the geoprocessing
of the data from the chosen sample areas, the analysis of the urban thermal field of the Federal District is
composed by: i) supervised classification of the surface materials (software Quantum Gis); ii) W/H factor
(Width of the street / building height), according to a theoretical numeric base; iii) thermal satellite images
such as transects and thermographic camera images. After the statistical correlation between the surface
materials and the temperatures in Brasilia was confirmed, some conclusion can be drawn. First, the areas
with greater percentage of grass, pavement or exposed soil presented the highest temperatures and the
correlations were stronger. The Superblocks, with greater percentage of dense vegetation, presented lower
temperatures. Although the correlation for these areas was strong, it also presents the lowest values amongst
the areas of the Pilot Plan, which confirms that the correlations are even stronger in the areas where the
surface materials contribute to warming. Our results show that effective adaptation policies to decrease heat
storage in the urban fabric represent a safeguard for the future survival of this world heritage city.
Keywords: Urban Heat Island, Brasília, adaptation policies

663
1. INTRODUÇÃO
O sítio que abriga Brasília foi escolhido por suas condições climáticas, e o Plano Piloto resultado do
concurso para a capital possui características bioclimáticas que tem se demonstrado exemplar para um
urbanismo resiliente ao calor extremo, assim como projetos modernistas adotados por Niemeyer segundo
comprovação de Teixeira, 2018. Mas, as formas de ocupação posteriores mudaram em menos de sessenta
anos o clima do Distrito Federal.
A planta de suas superquadras implementou um cinturão de 20 metros de vegetação de grande porte
ao redor dos edifícios e ao redor das quadras, além de áreas verdes livres e pilotis que facilitam a mobilidade.
Pensamos que a reintrodução de cobertura vegetal densa é a principal estratégia de adaptação para áreas
urbanas, mas em concordância com os preceitos do patrimônio arquitetônico modernista, que tendo tido seu
nascimento mais recente em comparação a outros períodos históricos, ainda está em processo de
incorporação de valores e reconhecimento por parte da população em geral. A arquitetura moderna é um
produto cultural em processo de elaboração de protocolos de proteção e reabilitação. Oscar Niemeyer usa o
fundo como um espaço que define as figuras, ou seja, se comporta como um espaço-lugar, sendo tão
importante quanto os personagens. Aqui o vazio faz parte dos espaços, tanto quanto os elementos materiais
de sua arquitetura, assim sendo não podem ser recomendadas arborizações como em outras cidades, então o
desafio é diminuir o armazenamento de calor no tecido urbano, utilizando a ventilação também.
Em Brasília, os setores centrais diferem das superquadras residências em materiais, formas e
temperaturas: a Asa Norte é mais quente que a Asa Sul e os bairros Sudoeste e Noroeste, com suas
percentagens menores de área exposta e vegetação, apresentam temperaturas mais altas que as Asas Sul e
Norte. O uso e a ocupação do solo como parte da estratégia de adaptação em áreas urbanas ainda são pouco
explorados no Brasil. Os riscos de mudança climática ainda não são plenamente visíveis e reconhecidos pela
sociedade, incluído os governantes, que, assim, não veem valor no investimento pautado no princípio da
precaução.
A identificação das ICU pode ser realizada por diversas abordagens que dependerão da escala,
recursos e objetivo da análise. Gartland (2010) cita algumas abordagens utilizadas para medição e
monitoramento, sendo as mais comuns as estações fixas, transectos móveis e sensoriamento remoto. O
sensoriamento remoto é utilizado neste trabalho para observação da variação da temperatura de superfície na
cidade. Cardoso e Amorim (2017) na pesquisa realizada em Presidente Prudente trabalham transectos móveis
em episódios de verão e inverno para medir os dados de temperatura do ar na elaboração de um mapa com as
potenciais zonas climáticas locais – ZCLs (STEWART, OKE, 2012). Os resultados apresentaram correlação
positiva, indicando que há uma relação entre morfologia urbana, cobertura do solo e atmosfera local, com
temperaturas do ar mais elevadas nas ZCLs compactas e densamente construídas.
O sensoriamento remoto pode ser empregado em metodologias aplicadas às pesquisas de clima urbano,
principalmente para ilhas de calor urbanas de superfície. Existem duas classificações de monitoramento das
diferenças de temperaturas urbanas: Ilhas de Calor de Superfície e Ilhas de Calor Atmosférica (EPA, 2008).
É importante destacar que as imagens termais de satélite possibilitam o monitoramento das temperaturas de
superfície, enquanto as temperaturas obtidas em estações meteorológicas são temperaturas atmosféricas. No
contexto do clima urbano, e dos processos de trocas térmicas observados, o monitoramento das Ilhas de
Calor de Superfície é fundamental.
Dentre os sensores mais utilizados em trabalhos científicos estão o Ikonos, Modis, Aster e a série
Landsat, (utilizadas neste estudo). Em estudos de temperaturas intra-urbanas, a partir do uso das informações
de bandas termais, pode-se obter detalhes da distribuição da temperatura superficial da malha urbana e fazer
correlações com uso do solo, forma urbana, presença de corpos d’água e áreas verdes, por exemplo.
Em Brasília, Baptista (2003) utilizou em trabalhos pioneiros sensoriamento remoto em áreas urbanas
em dois períodos distintos e chegou a identificar uma variação de 10ºC no decorrer de 17 anos. Trata-se da
urbanização ao lado do Parque Nacional de Brasília, a Vila Estrutural, onde as temperaturas em 1984,
estavam na faixa de 17 a 18ºC e, em 2001, na faixa de 27 a 28ºC. O autor também identificou a relação entre
aumento de temperatura superficial e crescimento urbano em diversas outras áreas do DF. São elas: 1ºC no
Setor Comercial Sul do Plano Piloto, 2ºC nas áreas centrais de Taguatinga e de Ceilândia, 3ºC na cidade de
Sobradinho e a ex-Colônia Vicente Pires, 5ºC no Paranoá, Samambaia e Lago Oeste e 9ºC em Brazlândia
(BAPTISTA, 2010).
Assim, Baptista, Bias e Lombardo (2003) inserem o Distrito Federal nas discussões sobre o
fenômeno das ilhas de calor, sendo que os trabalhos desenvolvidos atualmente no LASUS buscam a
sequência e a ampliação destas análises, utilizando também o sensoriamento remoto como ferramenta,
desmistificando e disseminando o método de utilização no meio dos arquitetos e urbanistas (Werneck,

344
Romero, 2018), discutimos também, em mesa redonda, coordenada pela autora e composta por Magda
Lombardo, Elen Vianna, José Medeiros, esses resultados no V Encontro da Associação Nacional de Pesquisa
e Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo – V ENANPARQ realizado em Salvador em 10/2018, com as
experiências acumuladas elaboramos e-book acerca de mudanças climáticas e ilhas de calor urbanas
(ROMERO, et al, 2019). Visto que o uso de ferramentas de geotecnologias em análises termais urbanas
mostrou-se eficiente (ROMERO, VIANNA, 2018), optamos pelo geoprocessamento de ortofotos e de
imagens termais urbanas, as quais envolvem as mesmas variáveis de interesse, sendo elas: as temperaturas
das superfícies urbanas, os materiais de revestimentos destas superfícies e as formas urbanas.

2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é apresentar uma análise de trabalho com métodos de sensoriamento do campo
térmico realizado na cidade de Brasília para identificar o armazenamento de calor caracterizando ilha de
calor. Buscamos identificar as relações entre os materiais de superfície, as temperaturas e a morfologia
urbana ao comparar áreas amostrais do Plano Piloto de Brasília – DF.

3. MÉTODO
O método deste trabalho está dividido em três etapas principais:
1. Análise dos Materiais de Superfície utilizando Classificação Supervisionada;
2. Análise da Morfologia Urbana com base no fator W/H/L;
3. Análise do Campo Térmico Urbano utilizando ferramentas de Geotecnologia, tais como
sensoriamento remoto e as imagens termográficas.

3.1. Análise dos Materiais de Superfície utilizando Classificação Supervisionada


No trabalho de Vianna (2018) aluna de doutorado do PPGFAU e minha orientanda, foram definidos nove
materiais de superfície: copa de árvores, relvado, solo exposto, asfalto, sombra, água, laje, telha, cinza, e
telha cerâmica, uma vez que correspondem à predominância de materiais existentes nas superfícies urbanas
encontradas na cidade, estabelecidos como padrão mediante apoio do referencial teórico, ver as Figuras 1, 2
e 3. Estes materiais irão influenciar nas características térmicas locais e por consequência, no processo de
formação das ilhas de calor.
A classificação supervisionada realizada por Viana (2018) adotou o método Random Forest.
Posteriormente foi validada para a verificação da confiabilidade dos resultados obtidos. As bases para a
comparação entre a classificação e a verdade terrestre são as ortofotos de agosto de 2015 cedidas pelo
NUGET – Núcleo de Geoprocessamento e Topografia da Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal.
Em síntese, do ponto de vista dos materiais de superfícies urbanas, nota-se que no Plano Piloto
predomina a presença de vegetação, tanto do relvado, quanto das copas de árvores, nos espaços que
configuram a denominada escala bucólica da cidade (que não inclui os setores Noroeste e Sudoeste, assim
como a escalas Monumental do Plano Piloto estudadas). Devido ao período seco, o relvado citado transfoma-
se em solo exposto, o que influencia a elevação das temperaturas nestes locais, caracterizando-os como ilhas
de calor. Em termos dos materiais construtivos utilizados nos edifícios, observamos que devido aos grandes
afastamentos e às baixas densidades do Plano Piloto, a influência destes é menor do que a da vegetação.

665
SQS 203 1 Copa de
Árvore
1,80% 2 Relvado
9,05%
4,48% 3 Solo
Exposto
11,51% 38,61% 4 Asfalto

5 Sombra

17,00% 6 Água
6,68%
10,86% 7 Laje

Figura 1 – Super Quadra Sul 203 - SQS 203 Classificação dos materiais de superfície (VIANNA, 2018).

Ministérios 2
Copa de
Árvore
0,00% Relvado
12,73% 10,36%

4,56% Solo Exposto


1,68%
Asfalto
9,69%
35,33% Sombra

Água
19,46%
6,18% Laje

Figura 2 – Ministérios 2 Classificação dos materiais de superfície (VIANNA, 2018)

Noroeste 1 Copa de
Árvore
0,00% 2 Relvado
4,84%
9,43%
29,00% 3 Solo
Exposto
4 Asfalto
33,45%
9,10% 5 Sombra
0,59%
4,69%
8,90% 6 Água

Figura 3 – Bairro Noroeste Classificação dos materiais de superfície (VIANNA, 2018)

666
3.2. Análise da Morfologia Urbana com base no fator W/H/L
Para caracterizar a morfologia urbana das áreas e relacioná-la ao campo térmico urbano, o fator W/H/L traz
as variáveis relevantes ao processo, conforme indicação da Figura 4. Seguem a continuação exemplos das
análises de superquadras e do espaço da Esplanada dos Ministérios.
A SQS 108 é considerada quadra modelo da cidade, localizada na Asa Sul de Brasília. As zonas de
uso dividem-se entre área comercial e residencial, entremeadas pela escala bucólica de expressivas áreas
verdes. Os blocos de apartamentos têm seis pavimentos e pilotis. Segundo a classificação que propus para
classificar a percepção dos edifícios e seus entornos imediatos, Romero (2011, p. 93), a relação W/H na SQS
108 indica ambiente urbano de recolhimento para fatores W=H e W=3H, e na SQS 213 indica ambiente
urbano de recolhimento para fatores W=H e W=3H.

Figura 4 – SQS 108 Fator W/H/L e SQS 213 Fator W/H/L

A Esplanada dos Ministérios, lugar simbólico da Capital Federal, exerce importante influência sobre
o campo térmico urbano do Plano Piloto. A extensa área entre os edifícios, aberta, vazia, própria para abrigar
as manifestações populares, é também grande área de vegetação rasteira de relvado, que no período seco do
ano alcança elevadas temperaturas. Segundo a mesma classificação antes citada Romero (2011), a relação
W/H na área indica dois tipos de ambientes urbanos: ambiente de recolhimento para fator W=2H e ambiente
expansivo para o W≥4H (W=5H e W=10H). A SQN 207 (única superquadra ainda sem urbanização na Asa
Norte) indica ambiente de recolhimento na área comercial, com o fator W=2H, e ambiente expansivo na área
sem ocupação, com o fator W≥4H, ver Figura 5.

Figura 5 – Esplanada dos Ministérios Fator W/H/ e SQN 207 Fator W/H/L

3.3. Análise do Campo Térmico Urbano utilizando ferramentas de Geotecnologia


Para a análise térmica foram obtidas imagens Landsat e o processamento das Imagens Termais (banda 10 do
Landsat 8) foi realizado com o software ENVI. As imagens correspondem aos meses de fevereiro e agosto de
2016. A análise multisazonal dos resultados visuais e as análises de correlações estatísticas podem ser
visualizadas no exemplo da Figura 6 que mostra os Mapas Termais e os Transectos da SQS 206, uma das
quadras do Plano Piloto trabalhadas.

3.3.1 Imagens Termográficas


A pesquisa realizada apresenta na Figura 7, a título de exemplo, imagens obtidas com a câmera termográfica
Flir Thermal Imaging Camera for R&D: SC620, de áreas de estudos definidas em Brasília, nos pontos mais

667
aquecidos do campo térmico, observados nos mapas termais realizados para a cidade. As imagens obtidas
com a câmera termográfica permitem observar as temperaturas das superfícies urbanas sob o ponto de vista
do pedestre, relacionando o campo térmico na escala local e assim relacioná-las com o fator W/H, o qual
caracteriza morfologicamente as respectivas áreas.
Verificam-se temperaturas mais amenas devido à presença de vegetação (16ºC) nas áreas próximas
às fachadas dos edifícios residenciais – cerca de 24ºC – e temperaturas mais elevadas – até 30ºC – no
estacionamento (asfalto). As temperaturas mais elevadas entre as fachadas dos edifícios comerciais (24ºC) e
32ºC (no asfalto) são devidas principalmente às grandes áreas impermeabilizadas, ver Figura 8.

Figura 6 – Campo Térmico da SQS 206

Figura 7 – Imagem fotográfica e termal da Residencial SQN 206 (VIANNA, 2018)

668
Figura 8 – Imagem fotográfica e termal do comércio local da SQN 206 (VIANNA, 2018)

4. RESULTADOS
4.1 Correlação dos dados referentes aos materiais de superfície urbana, resultantes da
Classificação Supervisionada, com as Temperaturas provenientes do Sensoriamento
Remoto
Para fins de verificação da confiabilidade dos resultados obtidos com a classificação supervisionada dos
materiais superficiais, foi aplicada a estatística Kappa, por meio da qual obteve-se o valor de 99,96%.
Analisando a influência que os materiais de superfície exercem nas temperaturas, e diante do que foi
abordado sobre o processo de formação das Ilhas de Calor Urbanas em Brasília - DF, é possível notar que
onde encontramos as maiores porcentagens de certos materiais, também encontramos as maiores
temperaturas, e portanto estabelecemos as correlações entre estes dois fatores. O raciocínio estatístico, então,
considera a correlação entre o ranking das porcentagens dos materiais e o ranking das temperaturas nos
meses de fevereiro e agosto de 2016, ver Tabela 1.
Para correlacionar os dados dos 9 tipos de materiais de superfície urbana, definidos na pesquisa de
cada área, com cerca de 25 pontos de temperaturas obtidas nos processamentos das imagens termais, fez-se
necessário alguns ajustes.
O primeiro ajuste consistiu em verificar a importância de cada material de superfície urbana em sua
respectiva área, e se as porcentagens eram significativas. A partir desta primeira análise houve a exclusão da
água das correlações, o que reduziu o número de materiais para 8. Em algumas áreas, onde a telha cerâmica
apresentou porcentagem 0 (zero), também foi excluída, o que reduziu o número de materiais para 7, nestes
casos.
O segundo ajuste foi em relação às temperaturas obtidas nos transectos, as quais identificavam cerca
de 25 pontos em cada área de análise, e por isso tiveram que ser reduzidas para 8 temperaturas médias em
alguns casos, ou 7 temperaturas médias em outros.
Houve uma análise de exceção, que foi a área denominada Ministérios III, na qual consideramos o
material Pedra Portuguesa, de porcentagem significativa nesta área, e que não é identificado nas demais áreas
analisadas.
A seguir o exemplo de correlação entre materiais de superfície urbana e as temperaturas da área
Ministérios I. O coeficiente de Correlação (R) para as temperaturas do mês de agosto é 0,96 e para o mês de
fevereiro é 0,97, o que significa dizer que ao utilizarmos os materiais de superfície para explicar as
temperaturas 100 vezes, iremos acertar entre 96 e 97 vezes.
Na Tabela 1 foram destacadas em verde as áreas de temperaturas mais amenas, onde predomina o
material copa de árvores e, destacadas em amarelo, as áreas de temperaturas mais elevadas, onde predomina
o material relvado, o qual no período seco transforma-se em solo exposto. Em relação à morfologia das áreas
analisadas, neste estudo caracterizada pelo fator W/H (ver destaques em amarelo na Tabela 1), temos entre as
temperaturas mais elevadas a predominância de ambientes expansivos (W≥4H); e entre as temperaturas mais
amenas a predominância de ambientes de recolhimento. Assim, no contexto climático de Brasília, as
melhores proporções W/H estão entre 0,95 e 2,95 (W≤3H).

669
Tabela 1 - Ranking entre as temperaturas relativas aos materiais predominantes
Área Temp.Med. Temp.Med. Mat. Pred W/H ≤4H) W/H (W≥4H)
Fevereiro Agosto Recolhimento Expansivo
1 SQS 203 24,64 26,92 Copa de árvore 0,95 4,76
2 SQS 108 24,97 27,19 Copa de árvore 0,95 e 2,95
3 Taguatinga 27,24 Telha Cinza 2,50
4 Aguas Claras 27,39 Solo Exposto 0,83 e 1,77
5 SQN 206 25,24 27,52 Copa de arvore 1,05 5,0
6 SQN 213 24,61 27,65 Copa de arvore 1,43 e 2,85
7 Sobradinho I 27,68 Solo Exposto 3,33 6,67
8 Ministérios III 24,97 27,74 Telha Cinza 2,03
9 Setor Noroeste 28,2 Solo Exposto 1,25 e 1,67
10 Setor Sudoeste 28,21 Solo Exposto 1,67 e 3,81
11 Itapoá 28,32 Telha Cinza 2,67
12 Setor Taquari 28,34 Relvado
13 Gama 28,34 Telha Cinza 0,71 e 2, 17
14 Ministérios II 25,62 29,21 Relvado 5,33
15 Sobradinho II 29,59 Telha cerâmica 5
16 Ministérios I 26,37 30,66 Relvado 10,33
17 SQN 207 25,52 30,72 Relvado 2,4 19,43

4.2 Síntese dos resultados das correlações entre materiais e temperaturas


A área Ministérios I e a SQN 207 têm maior porcentagem de vegetação rasteira e asfalto, o que está refletido
nas temperaturas mais altas; e na sequência das temperaturas elevadas, temos o Setor Noroeste com maior
porcentagem de solo exposto. Observamos que as correlações são ainda mais fortes nas áreas que apresentam
altas temperaturas (Tabela 1, coluna Temp. Med. Agosto).
A SQS 203, representando as superquadras, tem maior porcentagem de copa de árvore e, por
conseguinte, as temperaturas mais amenas. Apesar de forte, a correlação desta área é a de menor valor entre
as áreas do Plano Piloto, o que confirma que as correlações são ainda mais fortes nas áreas onde os materiais
de superfície contribuem com o aquecimento.

4.3 Síntese das combinações entre materiais de superfície e fator W/H/L


Na SQN 206, o material de revestimento de superfície urbana com maior porcentagem é Copa de Árvore –
28,29%; fatores W=H e W=5H, indicando ambientes de recolhimento e expansivo, respectivamente.
Na SQN 213, o material de revestimento de superfície urbana com maior porcentagem é Copa de
Árvore – 33,89%; fatores W=H e W=3H, indicando ambientes de recolhimento. As temperaturas das
superfícies ficam equilibradas ao longo do período seco e chuvoso. Esta Superquadra identifica-se com as
áreas urbanas lindeiras a Parques e/ou áreas de preservação, com presença abundante de arborização.
Na SQS 108, o material de revestimento de superfície urbana com maior porcentagem é Copa de
Árvore – 33,73%; fatores W=H e W=3H, indicando ambientes de recolhimento.
Na SQS 203, o material de revestimento de superfície urbana com maior porcentagem é Copa de
Árvore – 38,61%; fatores W=H e W=3H, indicando ambientes de recolhimento. A presença de vegetação
densa proporciona temperaturas amenas e traz equilíbrio térmico ao longo dos períodos seco e chuvoso do
ano. Assim como a SQS 108, a SQS 203 é também uma típica Superquadra da Asa Sul, contudo, apresenta
cerca de 1ºC a menos de temperatura nos períodos seco e chuvoso do ano. Entre outros fatores, o principal
motivo identificado para esta diferença de temperatura é a porcentagem de Copas de Árvores.
Na SQN 207, o material de revestimento de superfície urbana com maior porcentagem é o Relvado –
29,39%; fatores W=2H, na área comercial e W≥4H, em toda a área desocupada, indicando ambientes de
recolhimento e expansivo, respectivamente.
Na Área dos Ministérios I, o material de revestimento de superfície urbana com maior porcentagem é
o Relvado – 27,28%; para o fator W=2H a indicação de ambiente de recolhimento e para o fator W≥4H
(W=5H e W=10H) ambiente expansivo. Esta área abrange os edifícios dos Anexos e seus respectivos
estacionamentos, o que torna o cenário árido e de temperaturas mais elevadas.
Na Área dos Ministérios II, o material de revestimento de superfície urbana com maior porcentagem
é o Relvado – 35,33%; para o fator W=2H a indicação de ambiente de recolhimento e para o fator W≥4H
(W=5H e W=10H) ambiente expansivo. As extensas áreas verdes, de vegetação rasteira (relvado), as quais
no período das chuvas conferem uma paisagem inigualável à Brasília, no período seco, contudo,
transformam-se em áreas aquecidas.

670
Na Área dos Ministérios III, que abrange o Congresso Nacional, o material de revestimento de
superfície urbana com maior porcentagem é o Telha Cinza – 20,91%; para o fator W=2H a indicação de
ambiente de recolhimento e para o fator W≥4H (W=5H e W=10H) ambiente expansivo. Trocamos a variável
telhado cerâmico por Pedra Portuguesa – 9,05% - material característico desta área, que é simbólica da
Capital Federal,

4.4 Correlação dos fatores W/H de cada área de estudo com as Temperaturas provenientes do
Sensoriamento Remoto
A correlação entre o fator W/H e as temperaturas (de agosto) das superfícies urbanas em Brasília é forte e
crescente, sendo o coeficiente de correlação (R) 0,94. O coeficiente de determinação R 2 indica que 89,21%
das vezes, o fator W/H explica a temperatura da superfície urbana.
A correlação entre o fator W/H e as temperaturas (de fevereiro) das superfícies urbanas em Brasília é
moderada e crescente, sendo o coeficiente de correlação (R) 0,65. O coeficiente de determinação R 2 indica
que 42,94% das vezes, o fator W/H explica a temperatura da superfície urbana.
Assim como no caso das porcentagens dos materiais, as correlações do fator W/H também são mais
fortes com as temperaturas mais altas - do mês de agosto (período seco) – do que no mês de fevereiro
(período chuvoso).

5. CONCLUSÕES
Buscamos compreender a influência que os materiais de superfície exercem nas temperaturas, e diante do
que foi abordado sobre o processo de formação das Ilhas de Calor Urbanas em Brasília, verificamos que as
maiores porcentagens de alguns materiais influenciam as maiores temperaturas detectadas e estabelecemos
as correlações.
Os resultados das correlações nos permitem afirmar que o traçado, o qual deu origem ao Plano Piloto
estava dotado de intenções assertivas do ponto de vista da qualidade ambiental.
Assim, o primeiro resultado obtido da síntese deste estudo é que ambientes expansivos, com
revestimento de superfície essencialmente de relvado tendem a virar uma Ilha de Calor Urbana no período
seco do ano. Esta constatação coloca a questão da preservação da escala bucólica de Brasília uma vez que
seu espaço simbólico está assegurado pela continuidade do tapete gramado contínuo.
O segundo vem do fato de que as Superquadras, tanto as da Asa Sul, quanto as da Asa Norte, onde a
presença de arborização densa proporciona o equilíbrio das temperaturas entre o período seco e o período
chuvoso do ano. E, neste caso, quando falamos de amplitude térmica, referimo-nos também às diferenças de
temperaturas entre os diferentes materiais de superfície da mesma área, em um único período, seja ele
chuvoso ou seco além da diferença natural de temperatura, que ocorre entre os meses de fevereiro e agosto
devido a mudança de umidade no ar. Soma-se à isto a configuração urbana de ambientes urbanos de
recolhimento, com a proporção equilibrada entre o fator W (largura do cânion) e H (altura dos edifícios), que
também favorecem as temperaturas amenas, devido à ocorrência de insolação e ventilação naturais em
medidas adequadas. Aqui a continuidade dos espaços fica assegurada uma vez que o edifício está sobre
pilotis. Desta forma o terreno não é fragmentado; ao contrário, os pilotis outorgam ao terreno um espaço
externo amplo e contínuo.
As áreas comerciais das Superquadras, de maneira geral, são mais áridas, não têm presença de
arborização e os materiais de superfície impermeabilizam o solo.
Confirmada a existência de correlação estatística entre os materiais de revestimentos das superfícies
urbanas e as temperaturas de Brasília, as áreas que têm maior porcentagem de vegetação rasteira, asfalto ou
solo exposto, apresentaram as temperaturas mais altas e as correlações são mais fortes. As superquadras com
maior porcentagem de vegetação arbórea apresentaram as temperaturas mais amenas. Apesar de forte, a
correlação desta área é a de menor valor entre as áreas do Plano Piloto, o que confirma que as correlações
são ainda mais fortes nas áreas onde os materiais de superfície contribuem para o aquecimento. Parece
evidente então propor a estratégia de aumentar vegetação arbórea em parques urbanos, conectada com
arborização nas vias, formando uma rede de infraestrutura verde na cidade, e assim contribuir diretamente
para a adaptação da população aos eventos climáticos extremos, e também, indiretamente, para a mitigação
dos fenômenos de aquecimento urbano, ao diminuir as temperaturas de superfície pelo sombreamento,
aumentando as perdas de calor por evaporação.

671
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BIAS, E. D. S.; BAPTISTA, G. M.; LOMBARDO, M. A. Análise do fenômeno de ilhas de calor urbanas, por meio da
combinação de dados Landsat e Ikonos. XI SBSR, Belo Horizonte, p. 1741–1748, 2003
CARDOSO, R., AMORIM, M. Estimativa da distribuição espacial da temperatura do ar com base em zonas climáticas locais
(LCZ) e modelos de regressão. Revista de Geografia e Ordenamento do Território (GOT), n. º 12, p. 75-99, 2017
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Disponível em: https://www.epa.gov/heat-islands/heat-island-compendium. Acesso em Agosto de 2017.
GARTLAND, Lisa. Ilhas de Calor: como mitigar zonas de calor em áreas urbanas. São Paulo: Oficina de Textos, 2010
ROMERO, M. A. B.. Correlação entre o microclima urbano e a configuração do espaço residencial de Brasília. Cadernos
de arquitetura e urbanismo. Paranoá (UnB), v. 1, p. 67-76, 2010.
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ROMERO, M. A. B.; VIANNA, E. . A relação entre os materiais de superfície, a temperatura e a geometria urbana na
formação das ilhas de calor. Uso de classificação supervisionada, imagens de satélite e fator w/h/l para o diagnóstico.
In: Pluris 2018, 2018, Coimbra. Anais Pluris 2018, 2018
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STEWART, I. D., and OKE, T. R. Local Climate Zones for Urban Temperatures Studies. 2012
TEIXEIRA, E. O. Os palácios de Oscar Niemeyer. Uma arquitetura modernista e Bioclimática. Tese (Doutorado em Arquitetura
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VIANNA, E. O. Campo Térmico urbano. Ilhas de Calor em Brasília-DF. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) -
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WERNECK, D. R.; ROMERO, M. A. B. Análise de microclimas urbanos orientada à mitigação de ilhas de calor em áreas
de comércio local do Plano Piloto de Brasília - Brasil.. In: 8° Congresso Luso-Brasileiro Para Planejamento Urbano,
Regional, Integrado e Sustentável - Pluris, 2018, Coimbra. Atas do Pluris, 2018. v. I. p. 675-688.

AGRADECIMENTOS
A autora agradece à FAPDF e ao CNPq pelos recursos financeiros aplicados no financiamento do projeto.

672
ILHAS DE CALOR NA CIDADE DE SÃO CARLOS, SP: ANÁLISE DO
CAMPO TÉRMICO ATRAVÉS DE MAPAS DE DISTRIBUIÇÃO DA
TEMPERATURA DO AR E UMIDADE RELATIVA
Bojana Galusic (1); Kelen Almeida Dornelles (2)
(1) Arquiteta, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, bojana.g@gmail.com
(2) Doutora, Professora do Instituto de Arquitetura e Urbanismo, kelend@usp.br
Universidade de São Paulo, Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Av. Trabalhador São-Carlense, 400,
Centro, São Carlos–SP, 13566-590, Tel.: (16) 3373-9285

RESUMO
Este artigo apresenta um estudo sobre a formação de ilhas de calor urbanas na cidade de São Carlos, SP,
através da elaboração de mapas da distribuição de temperatura e umidade relativa do ar. Estas duas variáveis
climáticas foram coletadas em quatro períodos de medições durante quatro estações do ano de 2017. As
medições foram realizadas durante 15 dias em 10 pontos em cada período, totalizando 36 pontos com
características urbanísticas diferentes. A fim de comparar os dados registrados em épocas diferentes, os
dados foram normalizados e extrapolados em relação ao ponto de referência, onde as medições foram
realizadas em todas as estações. A partir destes valores, foram elaborados mapas da distribuição da
temperatura e umidade relativa do ar. Além disso, calculou-se a intensidade de ilha de calor urbana como a
diferença entre temperaturas no meio urbano e meio rural. Os resultados indicam que as temperaturas mais
elevadas e umidades mais baixas foram registradas em locais densamente edificados, com predominância
dos revestimentos impermeáveis e com pouca vegetação. Trabalhos como este, que visam compreender os
aspectos ambientais do crescimento urbano, são muito importantes para as cidades de porte médio, como São
Carlos, tendo em vista que estas cidades ainda estão em fase de crescimento e podem aproveitar diretrizes
para um desenvolvimento mais sustentável.
Palavras-chave: ilha de calor urbana, campo térmico, São Carlos.

ABSTRACT
This article represents a study about the formation of urban heat islands in the city of São Carlos, SP, through
the elaboration of maps of the distribution of air temperature and relative humidity. These two climatic
variables were collected in four measurements during four seasons of the year of 2017. The measurements
were performed during 15 days in 10 points in each period, totalizing 36 points with different urbanistic
characteristics. In order to compare the data registered in different seasons, the data was normalized and
extrapolated in relation to the reference point, where the measurements were realized in all the seasons.
Based on these values, maps of distribution of air temperature and relative humidity were elaborated.
Further, the intensity of urban heat island was calculated, as a difference between temperatures in urban and
rural environment. The results show that the most elevated temperatures and lowest humidity were registered
in densely built points, with the predominance of impermeable coatings and little vegetation. Works like this,
which seek to understand environmental aspects of urban growth, are very important for medium-sized
cities, such as São Carlos, considering that these cities are still in the phase of growth and can utilize
guidelines for a more sustainable development.
Keywords: urban heat island, thermal field, São Carlos.

673
1. INTRODUÇÃO
Ilha de calor urbana é um dos fenômenos mais estudados do clima urbano, e representa o aumento
significativo de temperatura do ar e das superfícies em áreas urbanizadas em comparação às áreas rurais
circundantes. Fialho (2009) ressalta que embora o termo ilha de calor seja muitas vezes usado como o
elemento definidor do clima urbano, a ilha de calor não representa a realidade do clima urbano, mas um dos
seus aspectos.
A urbanização e a produção artificial do calor alteram a composição atmosférica, o meio urbano e,
portanto, as condições climáticas (AYOADE, 1996). De acordo com informações das Nações Unidas, 55%
da população mundial mora em áreas urbanas e pode ser eventualmente exposta aos efeitos negativos
causados por este fenômeno (ONU, 2018). As temperaturas elevadas em espaços urbanos resultam em
desconforto térmico, aumento de uso de energia para resfriamento e vários problemas de saúde,
principalmente em populações mais sensíveis, tais como crianças e idosos. Por constante crescimento deste
problema, existem diversas pesquisas sobre as causas do efeito da ilha de calor e sobre as estratégias para
reduzi-lo.
Klok et al. (2012), Lo e Quattrochi (2003) e Voogt e Oke (2003), entre outros, diferenciam entre ilha
de calor superficial, com temperaturas superficiais elevadas, e ilha de calor urbana, com temperaturas do ar
elevadas. De acordo com Lo e Quattrochi (2003), as variações das temperaturas superficiais são maiores
durante o dia, enquanto as variações das temperaturas do ar são maiores durante a noite. Similarmente, a
avaliação de ilhas de calor pode ser grosseiramente dividida em abordagem em escala ampla utilizando
sensoriamento remoto para a medição de temperaturas superficiais e abordagem em escala menor utilizando
pequenas estações meteorológicas ou dispositivos móveis para identificar ilhas de calor urbanas a partir de
temperaturas do ar (COSEO; LARSEN, 2014).
Embora a intensidade da ilha de calor urbana varie de acordo com cada localidade, existem alguns
padrões na variação diurna que são característicos para ilha de calor na maioria das cidades. A intensidade da
ilha de calor é comumente expressa pela diferença entre as temperaturas do ar no meio urbano e rural. Essa
diferença é geralmente menor pela manhã e aumenta ao longo do dia com o aquecimento das superfícies e do
ar. Em geral, a intensidade da ilha de calor é maior no período noturno, uma vez que as superfícies liberam o
calor armazenado durante o dia e assim continuam aquecendo o ar urbano (OKE, 1987).
A formação de ilhas de calor urbanas é um processo complexo e envolve vários fatores, que
influenciam o clima urbano. Segundo Oke (1982), o uso de pavimentação com baixa permeabilidade em
lugar do solo natural e a diminuição de áreas verdes modificam o balanço de energia alterando as trocas
térmicas entre a superfície e o meio. De modo similar, Akbari (1997), Gartland (2010) e Romero (2011),
afirmam que a grande quantidade dos materiais impermeáveis e ausência de vegetação no meio urbano
reduzem a umidade e afetam negativamente o processo de evapotranspiração, impossibilitando a dissipação
do calor do sol. De acordo com Givoni (1991) e Gartland (2010) a configuração urbana tipo cânion, a qual,
em combinação com revestimentos e pavimentos escuros, absorve e armazena mais energia solar, contribui
significativamente para a existência desse fenômeno.
Alguns trabalhos sobre o clima urbano realizados no Brasil mais recentemente são: Assis (2000),
Duarte (2000), Carvalho (2001), Bartholomei (2003), Saydelles (2005), Costa (2007), Fialho (2009),
Shinzato (2009) e Nogueira (2011). Atualmente, profissionais de várias áreas estudam os fenômenos do
clima urbano visando criar espaços urbanos confortáveis e saudáveis.
Embora São Carlos, SP seja uma cidade de porte médio, percebe-se que o processo de urbanização
alterou as condições climáticas, criando assim uma área urbana sujeita à formação de ilhas de calor. Existem
alguns estudos prévios que comprovam a formação da ilha de calor urbana em São Carlos: Souza (1996),
Fontes (1998), Barbosa (2009) e Silva (2011). No entanto, estes estudos não foram realizados de uma
maneira extensa, quanto ao tempo e locais de monitoramento. Tendo em vista os estudos previamente
realizados, a questão principal desta pesquisa é identificar a existência de ilhas de calor em diferentes regiões
de São Carlos, através de medições fixas durante as quatro estações do ano e análise do campo térmico.

2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é apresentar a análise do campo térmico e identificar a formação das ilhas de calor
urbanas na cidade de São Carlos, SP, a partir da coleta de dados da temperatura e umidade relativa do ar em
quatro estações do ano e elaboração de mapas da distribuição da temperatura e umidade relativa.

3. MÉTODO
Os procedimentos metodológicos adotados neste trabalho estão divididos em quatro etapas principais:

674
1. Definição dos locais de coleta das variáveis climáticas.
2. Coleta e normalização/interpolação das variáveis climáticas.
3. Elaboração e análise dos mapas da distribuição da temperatura e umidade relativa do ar.
4. Cálculo de intensidade de ilha de calor urbana
3.1. Definição dos locais de coleta
O levantamento das variáveis climáticas, temperatura e umidade relativa do ar, foi realizado em 36 pontos
espalhados na malha urbana da cidade de São Carlos, SP. Os pontos de medição foram preferencialmente
escolhidos de tal maneira a representar diferentes tipos de ocupação urbana. No entanto, essa escolha
dependeu também do número de instrumentos de medição disponíveis para monitoramento simultâneo e
também da possibilidade de instalar os equipamentos no
local de maneira segura. Foi analisada a porcentagem de
cobertura do solo permeável dentro do raio de 200 m no
entorno de locais possíveis de medição, bem como a
altitude (Tabela 1). Procurou-se também a proximidade
aos fluxos de água em alguns pontos. No final, 7 pontos
ficam à distância de menos de 200 m dos córregos. Deste
modo, o levantamento foi realizado em 10 pontos em
cada estação durante o ano de 2017.
Adotou-se um ponto de referência (Ponto 4), no
qual as medições foram realizadas em todas as estações.
O Ponto 4 foi escolhido como ponto de referência devido
ao fácil acesso e segurança no local. A Figura 1 mostra o
mapa da cidade de São Carlos com os pontos de coleta.
Destes 36 pontos, 30 são casas privadas (Pontos 4-9; 11-
18; 20-26 e 28-36), 4 estão localizados em campi
universitários (Pontos 1-3 e 27), 1 ponto situa-se em um
local de comércio (Ponto 10) e 1 ponto é o Centro de
Divulgação Cultural e Científica da USP (Ponto 19).
Figura 1 –
Mapa de São Carlos com os pontos de medição.
Tabela 1 – Altitude e porcentagem das superfícies permeáveis nos
entornos dos pontos de medição
< 800 801-820 821- 841- 861-
Altitude m m 840m 860m 880m
10 14
1 ponto 5 pontos 6 pontos
pontos pontos
Permeabilidade <15% 16-30% 31-45% 46-60% >60%
12 10
6 pontos 5 pontos 3 pontos
pontos pontos

3.2. Coleta das variáveis climáticas


3.2.1. Variáveis e períodos de medição
As variáveis climáticas registradas durante as medições foram a temperatura do ar e a umidade relativa.
Realizaram-se quatro grupos de medições durante o ano de 2017, uma para cada estação do ano (Tabela 2).
A duração dos monitoramentos foi de 15 dias consecutivos, com intervalo de registro de 30 minutos. Devido
à restrição de tempo no uso dos equipamentos, a medição durou 14 dias consecutivos durante a estação de
inverno. As cores na Tabela 2 correspondem às cores na Figur.
Tabela 2 – Períodos de medição.
Estação Período de medição Intervalo de medição Locais de medição
Verão De 15. 02. 2017 a 01. 03. 2017 De 30 em 30 minutos Pontos: 1-10
Outono De 26. 05. 2017 a 09. 06. 2017 De 30 em 30 minutos Pontos: 4 e 11-19
Inverno De 01. 09. 2017 a 15. 09. 2017 De 30 em 30 minutos Pontos: 4 e 20-28
Primavera De 03. 12. 2017 a 18. 12. 2017 De 30 em 30 minutos Pontos: 4 e 29-37

675
3.2.2. Equipamentos de medição
A coleta de dados em campo foi realizada usando 10 sensores da marca HOBO, modelo H08-003-2,
fabricados pela Onset Computer Corporation. Os sensores deste modelo registram a temperatura do ar e a
umidade relativa. Além disso, foram obtidos os dados da umidade absoluta, uma vez que o software de
leitura dos equipamentos utilizados calcula esta variável automaticamente.
De acordo com algumas pesquisas anteriores (BARBUGLI, 2004; COSTA, 2007), os medidores deste
tipo são muito sensíveis quanto à radiação solar direta. Assim sendo, todos os instrumentos foram protegidos
por uma caixa protetora de plástico, a fim de evitar a interferência da radiação solar direta nos dados
registrados. Os instrumentos foram fixados com adesivos Velcro dentro das caixas protetoras, as quais
apresentam furos nos quatro lados para viabilizar a circulação livre do ar e são revestidas por fita de alumínio
de baixa emissividade (Figura 2). Além de oferecer a proteção contra a radiação solar, as caixas protetoras
facilitaram a instalação no local da medição.
O critério principal durante a instalação dos instrumentos
foi a altura e o sombreamento. Para as medições da
temperatura do ar, é recomendado instalar o equipamento numa
altura entre 1,25 e 2 metros acima do solo em áreas rurais. Em
áreas urbanas são permitidas alturas até 5 metros (OKE, 2006).
Durante esta pesquisa, os instrumentos foram instalados em
alturas de 2 a 3 metros, com a exceção dos Pontos 2 e 6. Nestes
pontos, os instrumentos foram instalados numa altura menor
que 2 metros e maior que 3 metros, respectivamente, devido às
características do local. Também, durante a instalação
evitaram-se lugares próximos a alguns materiais, tais como
vidro ou policarbonato, pois estes materiais poderiam interferir
nos dados medidos devido às suas características termofísicas. Figura 2 – Instrumento HOBO e caixa protetora.

3.2.3. Normalização dos dados


Como o monitoramento foi feito em 4 estações diferentes, não é possível fazer uma comparação direta dos
dados climáticos levantados. Para normalizar as variáveis climáticas, trabalhou-se com diferenças dos
valores médios da temperatura e umidade entre o ponto de referência e todos os pontos restantes.
Considerou-se que a variação da temperatura e umidade de cada ponto de coleta mantinha-se constante em
relação ao ponto de referência (Ponto 4) independente do mês de medição (BARBUGLI, 2004).

3.3. Elaboração dos mapas da distribuição da temperatura e umidade relativa do ar


A partir dos dados climáticos normalizados, foram elaborados mapas térmicos e mapas da umidade relativa
para todas as estações. Utilizou-se o software QGIS, versão 2.8.9, um programa de sistema de informação
geográfica (SIG) com código livre. As coordenadas dos pontos de medições e os valores médios da
temperatura e umidade foram georreferenciados no programa, o qual interpola os dados através de algoritmo
Inverse Distance to a Power.

3.4. Intensidade de ilha de calor


Segundo proposto em Gartland (2010) e Oke (1987), a intensidade da ilha de calor urbana é calculada como
a diferença entre a temperatura do ar no meio rural e no meio urbano. Entre os locais de medição neste
estudo, adotou-se o Ponto 2 como o ponto representativo para a área rural, por apresentar grande diferença
quanto à superfície permeável em comparação com outros pontos. O Ponto 2 está situado na Faculdade de
Engenharia Ambiental na Área 2 do Campus da USP em São Carlos. A Área 2 do Campus da USP destaca-
se por ter a maioria da superfície coberta por vegetação e com edificações espalhadas pontualmente.
Portanto, foram calculadas as diferenças máximas entre as temperaturas registradas no Ponto 2 e as
temperaturas registradas em outros pontos, para o período de verão.

4. RESULTADOS
A seguir serão representados e analisados os dados obtidos nesta pesquisa, primeiramente os dados
climáticos e depois a confecção dos mapas da distribuição da temperatura do ar e umidade relativa.

676
4.1. Normalização dos dados
A fim de comparar os dados da temperatura do ar e umidade relativa registrados em períodos diferentes,
realizou-se a extrapolação dos dados. A Tabela 3 mostra o exemplo da extrapolação da temperatura média no
Ponto 2 para todas as estações. O monitoramento neste ponto foi realizado durante a primeira medição, ou
seja, durante a estação de verão. A partir das temperaturas médias medidas no Ponto 2 e Ponto 4, foi
calculada a diferença das temperaturas médias entre estes dois pontos, a qual é considerada constante. Para
obter os valores extrapolados, utilizou-se a temperatura média medida no Ponto 4 durante as três estações
restantes e a diferença das temperaturas médias entre Ponto 2 e Ponto 4 medidas no verão. Utilizando este
método, foram extrapolados valores da temperatura e umidade relativa para todos os pontos e todas as
estações. A Figura 3 mostra os valores médios da temperatura e umidade relativa do ar em todos os pontos e
todos os períodos de medição.
Mesmo com todos os cuidados durante a instalação dos equipamentos, a análise dos dados medidos
mostrou valores muito altos nos Pontos 6, 12 e 23, em comparação com os valores medidos em outros pontos
no mesmo período. Estes picos de temperatura foram registrados sempre no mesmo horário e considerando a
orientação dos locais de instalação, acredita-se que os instrumentos ficaram expostos à incidência de
radiação solar direta. Tendo em vista o acima exposto, os mapas da distribuição da temperatura e umidade
relativa foram elaborados sem considerar os Pontos 6, 12 e 23.
Tabela 3 – Extrapolação da temperatura média no Ponto 2 para todas as estações.
Estação Cálculo das temperaturas médias
Valores medidos: Tméd P2 = 24,59 °C ; Tméd P4 = 26,66 °C
1ª medição – verão Diferença: Tméd P4 – Tméd P2 = 2,07 °C (diferença constante)
Valor medido: Tméd P4 = 21,22 °C
2ª medição – outono Valor extrapolado: Tméd P2 = Tméd P4 – 2,07 °C = 19,15 °C
Valor medido: Tméd P4 = 24,15 °C
3ª medição – inverno Valor extrapolado: Tméd P2 = Tméd P4 – 2,07 °C = 22,08 °C
Valor medido: Tméd P4 = 25,03 °C
4ª medição – primavera Valor extrapolado: Tméd P2 = Tméd P4 – 2,07 °C = 22,96 °C

Figura 3 – Temperatura e umidade relativa média em todos os pontos e todos os períodos de medição.

4.2. Mapas de distribuição da temperatura e umidade relativa


A partir dos dados apresentados na Figura 3 foram elaborados mapas de distribuição da temperatura e
umidade relativa no programa QGIS. A Figura 4 apresenta mapas térmicos das quatro estações.

677
Verão Outono

Escala

Localização
dentro do
município

Inverno Primavera

Legenda
(°C)

Figura 4 – Mapas térmicos para todos os períodos de medição (Temperaturas, em ºC).

Percebe-se que a estação mais fria foi o outono, enquanto o verão foi a estação mais quente. As
temperaturas foram semelhantes durante o inverno e a primavera. Foi utilizada a mesma escala de cores para
todas as estações, com a temperatura mínima de 19,15 °C, registrada no período de outono no Ponto 2 e a
temperatura máxima de 27,66 °C, registrada no período de verão no Ponto 23. Dado que os valores dentro de
cada estação foram muito próximos (por exemplo, a amplitude térmica média durante a primavera foi
somente 1,1 °C), a diferença entre pontos não fica muito perceptível.
Os mapas da umidade relativa para as quatro estações estão representados na Figura 5.

678
Verão Outono

Escala

Localização
dentro do
município

Inverno Primavera

Legenda
(%)

Figura 5 – Mapas da umidade relativa para todos os períodos de medição (em %).

Nota-se a grande diferença entre a estação mais seca, o inverno, e as outras estações, bastante
semelhantes em termos da umidade. Foi utilizada a mesma escala de cores para todas as estações, com a
umidade mínima de 27,8%, registrada durante o período de inverno no Ponto 37 e a máxima de 71,06%,
registrada durante o período de primavera no Ponto 2.
Na Figura 6 estão representados os mapas da distribuição da temperatura e umidade relativa no
período de verão, com a escala de cores ajustada aos valores desta estação. Como o comportamento dos
pontos é semelhante em todas as estações, não serão apresentados mapas térmicos com escalas ajustadas para
as estações restantes.

679
As temperaturas variam entre a temperatura mínima de 24,59 °C, registrada no Ponto 2 e a temperatura
máxima de 27,64 °C, registrada no Ponto 23. Destacam-se duas regiões com temperaturas mais baixas: no
leste a região da Área 2 do Campus da USP (Ponto 2) e no quadrante nordeste a região da UFSCar e do
córrego Santa Maria do Leme (Pontos 3, 9, 11 e 18). Estas duas regiões apresentam uma quantidade
significativa de área vegetada e alguns corpos de água. Nestes casos trata-se de áreas verdes contínuas e de
grande extensão, o que resulta em regiões mais frias. De outro lado, a região sudoeste apresenta temperaturas
mais elevadas, uma região residencial e periférica, densamente construída, com predominância de superfícies
impermeáveis e pouca vegetação (áreas verdes pequenas e pontuais, principalmente arborização de vias).
Existe a possibilidade de que o centro da cidade seja também uma região mais quente, no entanto, a medição
foi feita em somente um ponto no centro da cidade, o que não é suficiente para uma análise mais profunda.
Analisando o mapa da umidade relativa no período de verão, percebe-se que as áreas com a umidade
mais alta são a Área 2 do Campus da USP (Ponto 2), na região leste da cidade, o Campus da UFSCar (Ponto
3) e às margens do córrego Santa Maria do Leme (Pontos 9, 11 e 18), as mesmas regiões onde foram
registradas temperaturas menores. Na região sudeste da cidade localizam-se os pontos com a umidade mais
baixa: Pontos 33, 35, 36 e 37. Ressalta-se novamente que esta região está caracterizada por ausência de
vegetação e corpos d’água e predominância dos materiais impermeáveis.

Temperatura Umidade relativa

Escala Legenda (°C) Escala Legenda (%)

Figura 6 – Mapas de temperatura (ºC) e umidade relativa do ar (%) no período de verão.

4.3. Intensidade de ilha de calor


Foram calculadas as diferenças máximas entre as temperaturas registradas no Ponto 2 e as temperaturas
registradas em outros pontos, para o período de verão (Figura 7). Os dados foram medidos nos Pontos 1 a 10
e extrapolados para outros pontos. As diferenças mais altas, em torno de 7 °C, foram registradas nos Pontos
35, 33, 7, 10 e 16. Estes picos de ilha de calor ocorreram nos dias com céu aberto, sem chuva, no período
noturno, entre as 20h e 22h, como afirmado em Gartland (2010). Estes locais são na sua maioria densamente
construídos e com pouca vegetação, sendo ela principalmente arborização de vias, pontualmente distribuída.
Os locais com menor intensidade de ilha de calor foram os Pontos 3, 9, 8 e 19. Estes locais apresentam uma

680
porção de pelo menos 30% da cobertura do solo permeável (no entorno com o raio de 200m) e alguns
também ficam próximos aos fluxos de água. Os entornos de alguns pontos mais representativos podem ser
vistos na Tabel.
Tabela 4 – Entornos de alguns pontos com maior e menor intensidade de ilha de calor urbana.
Ponto 7 Ponto 35 Ponto 2 Ponto 3

.
Figura 7 – Diferença entre a temperatura do ar no Ponto 2 e outros pontos no período de verão.

5. CONCLUSÕES
Com base nos dados climáticos coletados e na análise dos mapas da distribuição da temperatura e umidade
relativa apresentados neste trabalho, confirma-se que existem regiões da cidade de São Carlos sujeitas à
formação de ilhas de calor urbanas. Percebe-se que as temperaturas elevadas foram registradas em locais
densamente edificados, com predominância dos revestimentos impermeáveis e com pouca vegetação.
Consequentemente, nestes locais foi registrada baixa umidade relativa do ar devido ao impedimento do
processo da evaporação d’água, como afirmado em Akbari (1997) e Romero (2011), entre outros.
Concluiu-se que a presença da vegetação e de corpos d’água impacta significativamente no
microclima no seu entorno, pois os locais com a temperatura mais baixa e a umidade mais alta foram aqueles
com muita vegetação (grama e árvores) e perto de fluxos de água. Identificaram se ilhas de calor com
intensidade de até 7 °C em alguns pontos, caracterizados pela ausência da vegetação e presença de densa
construção em materiais impermeáveis.
Este estudo, como diversos outros previamente realizados no Brasil, confirma a necessidade de
considerar o conforto ambiental no planejamento urbano das cidades brasileiras. Ressalta-se a importância de
adotar estratégias para reduzir o efeito da ilha de calor, como parte de diretrizes para projetos urbanos a fim
de criar espaços termicamente confortáveis. O planejamento urbano adequado, que visa compreender os
aspectos ambientais do crescimento das cidades, é especialmente importante para as cidades de porte médio,

681
como São Carlos, tendo em vista que estas ainda estão em fase de crescimento e podem fazer uso de
diretrizes para um desenvolvimento mais sustentável.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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VOOGT, J. A., OKE, T. R. Thermal remote sensing of urban climates. Remote Sensing of Environment, v. 86, p. 370-384, 2003.

AGRADECIMENTOS
As autoras agradecem à CAPES pela concessão da bolsa de mestrado, ao CNPq pelo auxílio financeiro
(Processo CNPq 402720/2016-4), ao Prof. Dr. Victor Roriz pelo empréstimo dos instrumentos e às pessoas
que gentilmente permitiram a instalação dos instrumentos em suas residências.

682
IMAGENS TERMAIS COMO INDICADORAS DA DEGRADAÇÃO DE
SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS: O CASO DE GUARULHOS, SP, BRASIL
Anderson T. Ferreira (1); Luciana S. Ferreira (2); Alessandra R. Prata Shimomura (3)
(1) Doutorado, Geografia, andersontsferreira@gmail.com, IGc USP, Rua do Lago, 562. Cidade
Universitária. São Paulo/SP, (+5511) 3091-0505
(2) Doutorado, Arquitetura e Urbanismo, luciana.swf@gmail.com, FAU USP, Rua do Lago, 876. Cidade
Universitária. São Paulo/SP, (+5511) 30914839
(3) Pós-Doutorado, Professora do Departamento de Tecnologia da Arquitetura, arprata@usp.br, FAU USP,
Rua do Lago, 876. Cidade Universitária. São Paulo/SP, (+5511) 30914839

RESUMO
As imagens termais, além de revelarem as condições microclimáticas das áreas urbanas, constituem uma
importante ferramenta de análise da distribuição dos serviços ecossistêmicos de uma região. Essas imagens
revelam as condições térmicas locais, representando o serviço de regulação da Temperatura de Superfície
(TS), que tem forte correlação com o uso da terra e constitui um importante indicador da presença de
diversos serviços ecossistêmicos. A análise foi aplicada ao município de Guarulhos, Região Metropolitana de
São Paulo (RMSP)/Brasil de forma multitemporal, para os anos de 1985, 2003 e 2014, a partir de
geoprocessamento e interpretação das imagens dos satélites Landsat 5-TM, 7-ETM+ e 8-OLI. Observou-se
que, na região analisada, a TS média apresentou uma tendência de aumento, com diferenças de até 6ºC entre
as áreas urbanas e de vegetação arbórea. Hotspots da TS superiores a 40ºC foram observados,
principalmente, nas áreas industriais e no Aeroporto Internacional de Guarulhos. A Análise por
Componentes Principais (ACP) apontou para três zonas com diferentes graus de condições térmicas, que
indicaram o potencial de “perda”, “oferta com prejuízo” e “oferta” de serviços ecossistêmicos. A variação
espacial dessas zonas mostrou que dos 47 bairros do município, apenas um manteve 100% de sua área com
total prestação do serviço ecossistêmico de manutenção da TS; 10 oscilaram entre ofertados com prejuízo e
perda e 36 apresentaram índices muito baixos revelando uma forte perda dos serviços no processo de
urbanização de 1985 a 2014.
Palavras-chave: imagem termal, serviços ecossistêmicos, análise por componentes principais.

ABSTRACT
Thermal images, in addition to revealing the microclimatic conditions of urban areas, are an important tool
for analyzing the distribution of ecosystem services in a region. These images reveal the local thermal
conditions, representing the service of regulation of surface temperature (TS), which has a strong correlation
with land use and is an important indicator of the presence of several ecosystem services. The analysis was
applied to the municipality of Guarulhos, Metropolitan Region of São Paulo (RMSP)/Brazil in a
multitemporal way, for the years 1985, 2003 and 2014, based on geoprocessing and interpretation of the
images from Landsat satellites. It was observed that, in the analyzed region, the average tendency of
increase, with differences up to 6ºC between urban areas and vegetated areas. TS hotspots higher than 40ºC
were mainly observed in the industrial areas and at Guarulhos International Airport. Principal Component
Analysis (PCA) showed three zones with different degrees of thermal conditions, indicating the potential of
"loss", "supply with loss" and "supply" of ecosystem services. The spatial variation of these zones showed
that from the 47 districts of the municipality, only one maintained 100% of its area with total provision of the
ecosystem service of TS maintenance; 10 oscillated between “offered with loss” and “loss” and 36 presented
very low indices revealing a strong loss of ecosystem services due to the urbanization process from 1985 to
2014.
Keywords: thermal image, ecosystem services, principal component analysis.

683
1. INTRODUÇÃO
Dados sobre Temperaturas da Superfície (TS) são de primordial importância para o estudo da climatologia
urbana; pois modulam a temperatura do ar nas camadas mais baixas da atmosfera urbana e controlam, entre
outros, o intercâmbio de energia que afeta o conforto dos moradores da cidade (Voogt & Oke, 2003).
Pesquisas sobre detecção do campo térmico por meio do sensoriamento remoto orbital em áreas
urbanas têm sido desenvolvidas para diversos fins, entre eles, o da variação do padrão espacial da TS e sua
relação com o uso da terra, vegetação e ilha de calor urbana (Kim, 1992; Shoshany et al., 1994; Aniello et
al., 1995; Weng et al., 2004; Chen et al., 2006; Li et al., 2014; Lin et al., 2015; Mohan & Kandya 2015).
As diferentes TS dos alvos urbanos, obtidas pelas imagens termais de satélite, devem-se
principalmente aos diferentes comportamentos desses alvos quanto à emissão de calor ou radiação
infravermelha (Gartland, 2001; Voogt & Oke, 2003; Arnfield, 2003; Weng, 2009). Desta forma, apresentam
importante correlação com o uso da terra (Weng et al., 2007; Li et al., 2009; Buyantuyev & Wu, 2010; Zhou
et al., 2011), revelando as áreas com maior ou menor cobertura vegetal, por exemplo (Xiao et al., 2007;
Yuan & Bauer, 2007; Zhang et al., 2009; Deng & Wu, 2013).
Mais do que isso, as imagens termais podem ser consideradas como indicadoras da presença maior ou
menor de condições de conforto térmico proporcionado pela vegetação, através do serviço ecossistêmico de
regulação térmica para o bem-estar humano (Alcamo et al., 2003).
Nesse sentido, conhecer a distribuição das temperaturas de superfície, por meio da aplicação e da
interpretação de imagens de satélite; constitui uma forma eficiente de analisar a distribuição dessas
temperaturas nas cidades; bem como, o mapeamento dos serviços ecossistêmicos (Lombardo, 1985; Oliveira
et al., 2010).
Neste contexto, o presente artigo apresenta um estudo do município de Guarulhos, Região
Metropolitana de São Paulo (RMSP), São Paulo, Brasil. Por meio da análise multitemporal das imagens
orbitais da TS foram identificadas as áreas nas quais, ao longo de três décadas (1985, 2003 e 2014), houve
perda dos serviços ecossistêmicos de regulação da temperatura pela perda de cobertura arbórea, buscando
subsidiar a necessidade de ações corretivas e/ou preventivas na minimização dos efeitos do processo de
urbanização, direcionando à tomada de decisões sobre diretrizes climáticas para a ocupação da cidade de
Guarulhos, bem como de outras cidades Brasileiras.
Os Serviços Ecossistêmicos da Biosfera (SEB) são assim denominados por constituírem fontes e
fluxos de matéria, de energia e de inspiração que beneficiam direta ou indiretamente os seres humanos
(Alcamo, 2003, Oliveira et al, 2010). Esses benefícios incluem o fornecimento de alimentos, regulação
climática, suporte para as diferentes espécies, entre outros.
Assim, pode-se dizer que o meio ambiente, por meio de seus processos naturais, desempenha papéis
ou funções que beneficiam os seres humanos e que a alteração do ambiente interfere nesse desempenho e na
qualidade de vida das populações rurais e urbanas (Ferreira, 2012). Tais serviços são classificados como de
suporte, de provisão, culturais e de regulação.
Apesar de tratar-se de um conceito utilitário e antropocêntrico da natureza, os Serviços Ecossistêmicos
da Biosfera buscam evidenciar os benefícios oriundos de processos naturais para integrá-los às escolhas
políticas, e decisões de negócios (De Groot, 1992; UNEP, 2010).
O Serviço Ecossistêmico de Regulação é definido como aquele relacionado à capacidade dos
ecossistemas naturais regularem e manterem os processos ecológicos de suporte à vida na Terra. Nesta
categoria inclui-se a regulação microclimática promovida pela vegetação, tema abordado no presente artigo.
A influência da vegetação no microclima é complexa (Erell et al., 2011) e varia de acordo com a
escala de análise (Coutts, 2015). Na escala microclimática local esta influência está ligada a dois
mecanismos principais, sombreamento e evapotranspiração. Por meio destes, a vegetação é capaz de reduzir
tanto as TS quanto as temperaturas do ar, contribuindo para melhora no conforto térmico em áreas urbanas e
com a redução da intensidade da ilha de calor (Chen, 2009; Ferreira, 2015; ADAM; SMITH, 2014).
Vale destacar que além da redução das temperaturas, a vegetação também contribui com a redução do
escoamento superficial, erosão, escorregamentos, assoreamentos e, por conseguinte, inundações (Oliveira, et
al. 2009).

2. OBJETIVO
O objetivo do artigo foi identificar, por meio de imagens termais, a degradação do Serviços Ecossistêmicos
de regulação microclimática promovida pela vegetação na cidade de Guarulhos/SP/Brasil.

684
3. MÉTODO
A metodologia adotada no presente artigo consistiu nas seguintes etapas: 1) delimitação da área de estudo e
seleção das imagens; 2) elaboração e avaliação dos mapas de uso e ocupação do solo; 3) geração dos mapas
de TS; e, 4) análises das imagens de TS por Componentes Principais (CP).

3.1. Área de Estudo – cidade de Guarulhos/SP/Brasil


Guarulhos é o segundo maior município paulista em termos populacionais, com mais de 1.221.979 habitantes
(IBGE, 2015). Localizado na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), o município possui e 319,15 km2
(Figura 1).
O clima é o subtropical úmido (Cwa) segundo a classificação de Köppen (Miner, 1989) com
temperatura média anual de 19ºC, umidade relativa do ar média anual de 81%, precipitação anual média de
1.470 mm e ventos dominantes ESE. No verão a temperatura máxima média do ar alcança cerca de 33ºC
(INMET, 2015). Na Figura 1c observa-se que as áreas em verde representam a cobertura vegetal, sendo que,
as áreas em magenta/rosa indicam regiões urbanizadas na imagem Landsat 8 - OLI de 08/02/2014.

Figura 01 - Área de estudo(A) Brasil, (B) Estado de São Paulo e (C) Município de Guarulhos no Estado de São Paulo, Brasil.

3.2. Elaboração e avaliação dos mapas de uso e ocupação do solo


As imagens orbitais adquiridas para a construção dos mapas termais foram aquelas sem nuvens para as datas
de 12/03/1985, 02/02/2003 e 08/02/2014, respectivamente para os satélites da série Landsat 5-TM, 7-ETM+
e 8-OLI, cena 219/76 (USGS, 2015). O horário de passagem do Landsat sobre a área de estudo é por volta
das 10h00 e a resolução espacial, neste caso, é 30m. As imagens foram selecionadas na estação quente
(verão), quando a Temperatura de Superfície (TS) é mais elevada e a vegetação mais vigorosa, tornando
mais fácil a distinção dos padrões de distribuição na cidade (GUO et al., 2015).
Todo o processamento digital para as correções radiométricas e geométricas foi realizado com o
software ArcGIS 10.2 da ESRI®. O sistema de projeção utilizado foi a Universal Transversa de Mercator,
Fuso 23, Datum horizontal SIRGAS2000. É importante ressaltar que a data da imagem Landsat 7 ETM+, de
02/02/2003, é anterior à data do problema reportado no Scan Line Corrector (SLC), ocorrido em 31 de maio
de 2003 (USGS, 2016). Esta falha resultou numa perda de aproximadamente 22% dos dados, causando
listras negras (gaps) nas imagens de cada cena.
O mapeamento do uso e ocupação do solo foi realizado por meio da classificação supervisionada pelo
classificador de Máxima Verossimilhança (Crósta, 1993). Como resultado obteve-se para as três datas
analisadas 5 classes de uso e ocupação do solo: 1. “Zona urbana”, 2. “Solo exposto”, 3. “Corpo d’água”, 4.
“Vegetação arbustiva/herbácea” e 5. “Vegetação arbórea” (Figura 2a).
A avaliação da exatidão da classificação do mapa de uso e ocupação do solo foi realizada através da
técnica analítica do índice kappa (k) (Congalton et al. 1983; Congalton, 1991; Lillesand et al., 2004;
Richards & Jia, 2006). A classificação teve como base as imagens orbitais com composição colorida

685
correspondente às faixas do infravermelho, infravermelho próximo e do visível, respectivamente, para os
canais vermelho, verde e azul dos sensores da série Landsat (i.e. R7, G4, B1 para os sensores TM e ETM+;
e, R7, G5, B2 para o sensor OLI).
A vantagem de se mapear utilizando essas combinações de bandas é que, além de se trabalhar com
todo o espectro eletromagnético do sensor, esses comprimentos de onda ou bandas espectrais são menos
correlacionáveis entre si quando comparadas a outras combinações simples, possibilitando maior
discriminação dos alvos (Ferreira et al., 2013).
De acordo com Congalton (1991), para a análise de acurácia, deve-se utilizar no mínimo 50 amostras
por classe mapeada. No presente artigo foram usados 371 pontos de controle amostrados, aleatoriamente, e
divididos proporcionalmente entre as cinco classes. Esta observação foi corroborada, in situ, através de
fotografias aéreas oblíquas a partir de um sobrevoo de helicóptero orientado pelas coordenadas geográficas
dos pontos, realizado em 06/10/2015 (Figura 2b, 2c e 2d).

Figura 2 – (A) Resultado da classificação sobreposto às imagens de alta resolução espacial (satélite IKONOS II-PSM) do Google
Earth Pro, de 29/08/2015 (GOOGLE, 2015); (B), (C) e (D) Fotografias aéreas oblíquas obtidas a partir de um sobrevoo de
helicóptero em 06/10/2015, corroborando o resultado da classificação.

3.3. Geração das imagens de Temperatura da Superfície (TS) em ºC


As imagens termais foram geradas a partir dos dados de radiância das bandas termais dos satélites Landsat 5-
TM, 7-ETM+ e 8-OLI. A conversão de radiância para Temperatura de Superfície foi realizada de acordo
com os protocolos de cada sensor, estabelecidos pelo Serviço Geológico Americano (USGS) (USGS, 2015;
2016). Devido às diferentes resoluções espaciais dos sensores (TM, 120m; ETM+, 60m, e; TIRS, 100m),
neste caso, todas as bandas termais foram reamostradas para uma resolução espacial média de
aproximadamente 90 m.

3.4. Análise das imagens de TS por Componentes Principais (CP)


A Análise por Componentes Principais (ACP) tem como principal característica a redução do número de
variáveis correlacionadas para determinado conjunto de dados, preservando a variância total dos mesmos
(Ferreira et al., 2013). A ACP foi usada para converter as três imagens termais (1985, 2003 e 2014) em um

686
novo conjunto de dados, com a finalidade de identificar as áreas com maior ou menor variância de
temperatura superficial (Lu & Weng, 2006). A primeira Componente Principal (ACP - 1) é responsável pela
maioria da variância na imagem, enquanto os valores de variância não compreendidos na ACP – 1 são
representados nas demais principais componentes (ACP – 2, ACP - 3... ACP - n).

4. RESULTADOS
A avaliação do resultado da exatidão da classificação do mapa de uso e ocupação do solo para 2014 apontou
uma probabilidade de 88% das categorias mapeadas terem sido classificadas corretamente, representando
uma avaliação excelente, de acordo com a tabela de referência de Landis & Koch (1977).
A Figura 3a apresenta os valores da TS média para o município de Guarulhos. Os anos de 1985,
2003 e 2014 apresentaram, respectivamente, TS médias de 27ºC, 28ºC e 31ºC, indicando um incremento da
temperatura média para todo o município nos anos analisados.
Já a Figura 3b demonstra que o incremento da TS, entre os anos de 1985 e 2014, ocorreu
concomitante com o aumento das áreas urbanizadas (de 20% para 39%) e diminuição das áreas de vegetação
arbórea (de 48% para 42%); bem como, com o decréscimo das áreas referentes às classes da vegetação
arbustiva/herbácea, solo exposto e corpos d’água (de 32% para 19%, juntas). Tais resultados evidenciam a
forte correlação entre a TS e as condições de vegetação, corroborando trabalhos anteriores (NICHOL, 1996a,
1998b; Li et al., 2011; Maimaitityiming et al., 2014; Guo et al., 2015).
Correlações lineares da TS com o tipo de uso e ocupação do solo e a vegetação já foram observadas
em diversos estudos anteriores (Weng et al., 2004; Chen et al., 2006; Yue et al., 2007; Li et al., 2013; Odindi
et al., 2015); corroborando o observado neste artigo, que apontou que cerca de 74% (R² 0,74) dos valores de
temperatura superficial são explicados pelas diferentes classes de uso do solo encontrados no município de
Guarulhos. De forma semelhante, Camargo et al. (2007), através de imagens da TS, apontaram a evolução
urbana como fator influenciador da modificação e aumento do campo térmico na Região Metropolitana de
São Paulo entre os anos de 1985, 1993 e 2003.

Figura 3 – (A) Temperatura aparente média da superfície estimada por satélite em função das classes de uso e ocupação do solo para
os anos de 1985, 2003 e 2014; (B) Porcentagem de área para as classes de uso e ocupação do solo para os anos de 1985, 2003 e 2014.
Sendo: (1) copo d’água; (2) vegetação arbórea; (3) vegetação arbustiva/herbácea; (4) solo exposto; (5) zona urbana

A Figura 4 (4a, 4c e 4e) apresenta a distribuição geográfica das classes de uso e ocupação do solo
para os anos analisados. Observou-se que para o ano de 1985 a área urbanizada concentrava-se
principalmente no setor sudoeste do município de Guarulhos (Zona Urbana). Ao longo dos anos seguintes
(2003 e 2014) verifica-se crescimento da área urbana principalmente na porção leste e sudeste (Zona Urbana,
Figuras 4c e 4e), pressionando as regiões de vegetação arbórea na porção norte e nordeste (Figuras 4a, 4c e
4e).
Para todo o período estudado, as áreas urbanizadas apresentaram TS superiores àquelas não
urbanizadas. Áreas com TS superiores a 40ºC foram identificados nas regiões industriais, bem como, no
Aeroporto Internacional de Guarulhos (Figura 4d e 4f); enquanto as Figuras 4b, 4d e 4f mostram valores da
TS inferiores a 20ºC na porção florestada a nordeste do município, no Pico do Gil e Parque Estadual da
Cantareira.

687
Figura 4 – (A), (C) e (E) Mapa das classes de uso e ocupação do solo; (B), (D) e (F) Temperatura da Superfície ºC para os nos anos
de 1985, 2003 e 2014, no município de Guarulhos, SP.
Observação: Os números de 1 a 47 representam os bairros de Guarulhos: 1 - Aeroporto; 2 - Água Azul; 3 - Água Chata; 4 - Aracilia;
5 - Bananal; 6 - Bela Vista; 7 - Bom Clima; 8 - Bonsucesso; 9 - Cabuçú; 10 - Cabuçú Cima; 11 - Capelinha; 12 - Cecap; 13 - Centro;
14 - Cocaia; 15 - Cumbica; 16 - Fátima; 17 - Fortaleza; 18 - Gopoúva; 19 - Invernada; 20 - Itaim; 21 - Itapegica; 22 - Jd. Vila
Galvão; 23 - São João; 24 - Macedo; 25 - Maia; 26 - Mato das Cobras; 27 - Monte Carmelo; 28 - Morro Grande; 29 - Morros; 30 -
Paraventi; 31 - Picanço; 32 - PimenTS; 33 - Ponte Grande; 34 - Porto da Igreja; 35 - Presidente Dutra; 36 - Sadokim; 37 - Lavras; 38
- São Roque; 39 – Taboão; 40 - Tanque Grade; 41 - Torres Tibagy; 42 – Tranquilidade; 43 - Várzea do Palácio; 44 - Vila
Augusta; 45 - Vila Barros; 46 - Vila Galvão; 47 - Vila Rio.

A Figura 5 apresenta o mapa gerado pela Análise por Componentes Principais (ACP) das imagens de
TS e o mapa das Zonas de Prestação dos Serviços Ecossistêmicos. A Análise por Componentes Principais
(ACP) indicou que a CP - 1 apresentou 91,58% da variância dos dados, enquanto CP - 2 e CP - 3
representaram, respectivamente, 4,8% e 3,62% dessa variância. Na composição dos auto-vetores, as imagens
com maior participação foram respectivamente 2014 (0,76), 2003 (0,49) e 1984 (0,43). Isso indica que a
imagem que representou a maior variância de Temperatura de Superfície dentro da CP - 1 foi a de 2014.
Sendo assim, através desses parâmetros, foi possível identificar padrões na distribuição dos processos físicos
associados à variabilidade espacial e temporal da Temperatura da Superfície.
A imagem da CP aplicada às séries temporais das imagens da TS de 1985, 2003 e 2014 (Figura 5a)
indicou que as regiões com maior variância da TS são aquelas marcadas pela CP – 1 (Figura 5a) e pela Zona
– 1 (Figura 5b), que corresponde a 44% do município de Guarulhos. Essa zona é caracterizada pela alta
variância e incremento da TS ao longo do período estudado, representando os locais onde ocorreram as
maiores transformações das áreas vegetadas para zona urbana e onde, potencialmente, não há mais oferta dos
serviços ecossistêmicos.

688
Figura 5 – (A) Mapa de Componentes Principais CP – 1, CP - 2 e CP - 3 gerados na Análise de Componentes Principais das imagens
de Topografia da Superfície; (B) Mapa das Zonas de Prestação dos Serviços Ecossistêmicos.
Observação: Zona 1 (a, b, c) representa Perda Total dos Serviços Ecossistêmicos, a Zona 2 a Perda Moderada dos Serviços
Ecossistêmicos, e a Zona 3 a Manutenção dos Serviços Ecossistêmicos. Os números de 1 a 47 representam os bairros de Guarulhos
destacados na legenda da Figura 4.

A CP – 2 aponta para valores de variância da TS não compreendidos na CP – 1, observados na


Figura 5a e pela Zona 2 (Figura 5b). Essas áreas representaram 20% do município, e encontra-se com seu
potencial de serviços ecossistêmicos ofertados com prejuízo (interface entre as Zonas 1 e 3), sugerindo que
essas áreas tenham passado por eventos recentes de desmatamento e sucessão de vegetação entre 2003 e
2014. De outro modo, a baixa variância da TS descrita na CP – 3 (Figura 5a) é entendida neste artigo, como
as áreas onde houve o menor incremento da TS ao longo do período estudado. Estas áreas representam cerca
de 36% da área do município de Guarulhos, que potencialmente, ainda mantém os serviços ecossistêmicos de
regulação da Temperatura de Superfície ofertados pela vegetação arbórea. Isto se dá, muito em parte, pela
cobertura florestal do Parque Estadual da Cantareira.
Vale salientar que na imagem da Figura 5a, aparece uma região em tons de branco/amarelado.
Entende-se que tal característica pode estar associada à área do município de Guarulhos onde a TS sempre
esteve elevada. Essa porção do município corresponde, historicamente, a região densamente construída e
verticalizada do centro de Guarulhos (região no entorno do bairro nº13 - Centro).
A Figura 5b indica a variação espacial do potencial de prestação dos serviços ecossistêmicos para os
47 bairros Guarulhos. Nesta observa-se que: 1. Os 36 bairros perderam mais de 90% de suas áreas
prestadoras de serviços ecossistêmicos de regulação da TS (Zona 1 e Zona 2 na Figura 5b); 2. Os 10 bairros
oscilam entre 50% a 90%, de perda desses serviços; e, 3. Apenas um bairro, Cabuçú Cima (nº 10), manteve
100% de sua área com total prestação do serviço ecossistêmico de regulação da TS (Zona 3 na Figura 5b).
Este último manteve preservado seu potencial de prestação dos serviços ecossistêmicos, muito em função da
criação da APA Cabuçú - Tanque Grande, no entorno do Parque Estadual da Cantareira (Oliveira et al.,
2009; GUARULHOS, 2010a; 2010b).
A importância dos Serviços Ecossistêmicos da Biosfera (SEB) é crescente desde que a ONU
desenvolveu o estudo de Avaliação Ecossistêmica do Milênio (2015), realizado de 2001 a 2005. Este
documento revelou, entre outras conclusões, que nos últimos 50 anos houve perdas irreversíveis da
biodiversidade e que a degradação dos serviços ecossistêmicos constitui importante barreira para o
desenvolvimento sustentável e para a eliminação da pobreza, havendo necessidade de mudanças
significativas nas políticas e práticas de desenvolvimento.
Nesse sentido, tendo em vista que o serviço de regulação da temperatura superficial proporcionado
pela vegetação tem relevante papel para o bem-estar humano e estreita relação com o uso e a ocupação do
solo, este se torna de grande importância para o planejamento ambiental urbano e/ou territorial. Para o

689
município de Guarulhos, a metodologia apresentada nesse artigo tem grande aplicabilidade no subsídio de
informações para o cumprimento da Lei nº 6.551/2009 (GUARULHOS, 2009).
Esta lei, intitulada de Programa Ilhas Verdes (PIV), foi reconhecida pela UNESCO como exemplo
de política pública (UNESCO, 2017), por ter como principal objetivo o combate à ilha de calor urbana por
meio de ações de conservação dos remanescentes florestais existentes ou do estabelecimento de novas áreas
verdes, com base em informações de mapeamento termal por imagem de satélite.

5. CONCLUSÕES
Este estudo evidenciou que a Temperatura de Superfície na cidade de Guarulhos, SP, depende do tipo de uso
do solo e, principalmente, das condições de vegetação. Os resultados indicam que 74% dos dados de
temperatura superficial são explicados pelo tipo de classe cobertura do solo. Observou-se que, na região
analisada, a TS média apresentou uma tendência de aumento, com diferenças de até 6ºC entre as áreas
urbanas e de vegetação arbórea. Esta tendência poderá ser melhor observada, utilizando-se uma série
histórica maior de imagens.
Dessa forma, as imagens termais constituem uma importante ferramenta de avaliação dos serviços
ecossistêmicos e, consequentemente, de gestão ambiental urbana subsidiando a formulação de políticas
públicas que atuem na conservação e/ou implementação de cobertura vegetal em áreas urbanizadas. A
finalidade é melhorar a relação de área verde por habitante, contribuindo assim, com ações que visem
minimizar os impactos da urbanização sobre as áreas prestadoras de serviços ambientais e a redução dos
efeitos das ilhas de calor urbanas.

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AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Grupo SER Educacional pela infraestrutura proporcionada, ao Programa de
Mestrado em Análise Geoambiental da Universidade Guarulhos (UNG), ao Laboratório de
Geoprocessamento da Universidade Guarulhos (Lab. GEOPRO-UNG), ao Laboratório de Conforto
Ambiental e Eficiência Energética - LABAUT do Departamento de Tecnologia da Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (FAPESP) pelo apoio ao Processo 2015/17360-5.

692
IMPACTOS DA CONFIGURAÇÃO DA HABITAÇÃO NA OCUPAÇÃO DOS
LOTES, UM ESTUDO EM ÁREA DE ALTO ADENSAMENTO
CONSTRUTIVO NA CIDADE DE CUIABÁ/MT

Wennder Tharso Oliveira da Silva Martins (1); Karyna de Andrade Carvalho Rosseti (2)
(1) Graduando de Arquitetura e urbanismo, wenndermartins_93@hotmail.com, Universidade Federal de Mato
Grosso, (2) Doutora, Arquiteta e urbanista, Karyna.rosseti@gmail.com, Universidade Federal de Mato
Grosso,
Universidade Federal de Mato Grosso, Av. Fernando Corrêa da Costa, 2367 - Boa Esperança, Cuiabá - MT,
78060-900, +55 (65) 3615-8599
RESUMO
A porosidade é representada pela maior ou menor permeabilidade de uma estrutura urbana à passagem dos
ventos, sendo expressa pela relação entre espaços abertos e espaços edificados, e é formada pelos
afastamentos entre edifícios, a taxa de ocupação, a existência de espaços vazios e a largura das vias. Esta
pesquisa foi realizada em uma região de alto adensamento construtivo na cidade de Cuiabá-MT. A área de
estudo foi definida devido a atual configuração urbana do bairro, fruto de uma ocupação irregular, já
caracterizado como uma área residencial consolidada. Visto as suas condições de formação, a ocupação dos
lotes não atende ao atual código de obras, presente na lei municipal complementar lei complementar nº 102
de 03 de dezembro 2003 e também na lei complementar nº 389 de 03 de novembro de 2015, referente ao uso
e ocupação do solo. Assim, o presente trabalho visa por meio de simulação computacional, investigar de que
forma a implantação da habitação dentro de um terreno pode modificar o microclima local, a nível de
pedestre. Desta forma, foram realizadas duas simulações, a primeira considerando o atual arranjo das
habitações, e a segunda, hipotética, que incorpora os índices urbanísticos definidos pela legislação, ou seja,
aumento da porosidade com ajustes de afastamentos, aumento da taxa de permeabilidade, redução da taxa de
ocupação e a inserção de gramíneas e árvores de maior porte. O atendimento aos índices urbanísticos, para a
região estudada na cidade de Cuiabá possibilitou a diminuição da temperatura em vários pontos da região de
estudo, constatando-se a grande importância do efeito da ventilação urbana para o conforto térmico do
pedestre.
Palavras-chave: porosidade, microclima, Simulação computacional.

ABSTRACT
The porosity is represented by the greater or lesser permeability of an urban structure to the passage of the
winds, being expressed by the relation between open spaces and built spaces, and is formed by the spacings
between buildings, the occupation rate, the existence of empty spaces and the width of the tracks. This
research was carried out in a region of high constructive density in the city of Cuiabá-MT. The study area
was defined due to the current urban configuration of the neighborhood, the result of an irregular occupation,
already characterized as a consolidated residential area. Due to its formation conditions, the occupation of
the lots does not meet the current code of works, present in the municipal law complement complementary
law nº 102 of December 3, 2003 and also in complementary law nº 389 of November 3, 2015, regarding the
use and occupation of the soil. Thus, the present work aims, through computational simulation, to investigate
how the implantation of the dwelling inside a land can modify the local microclimate at the pedestrian level.
In this way, two simulations were performed, the first considering the current housing arrangement, and the
second, hypothetical, that incorporates the urbanization indices defined by the legislation, ie, increase of
porosity with adjustments of distances, increase of the rate of permeability, reduction of the occupancy rate
and the insertion of larger grasses and trees. The attendance to the urban indices for the region studied in the
city of Cuiabá made it possible to reduce the temperature in several points of the study region, noting the
great importance of the effect of urban ventilation for the thermal comfort of the pedestrian.
Keywords: porosity, microclimate, computer simulation

693
1. INTRODUÇÃO
Os problemas ambientais observados dentro das cidades têm sido reconhecidos há algum tempo. Em 1987, a
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento identificou uma série de graves problemas
ambientais causados pelo rápido crescimento urbano, são alguns eles:
Colapso dos ecossistemas estuarinos e lacustres (...) e, como exemplo abrupto e
irreversível, o descongelamento acelerado da camada de gelo no Ártico e o derretimento de
geleiras, devido ao aquecimento global. Como exemplo de consequências graves para o
bem-estar humano, citam-se a maior incidência de malária devida ao aumento da
temperatura média em algumas localidades e a maior frequência e gravidade dos episódios
climáticos, como enchentes e secas, num patamar inédito. São mencionadas, também, as
ameaças decorrentes do aumento do nível do mar para a conservação dos bens naturais e a
segurança alimentar nos pequenos Estados insulares em desenvolvimento; as perdas
significativas da biodiversidade e constante extinção de espécies, que afetam o suprimento
de serviços ecossistêmicos, o colapso de atividades pesqueiras e a perda de espécies usadas
para fins medicinais (...) Porém, em relação aos problemas atmosféricos, a preocupação
maior segue sendo os efeitos adversos da mudança do clima, tendo em vista as dificuldades
para o alcance da meta firmada no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima, de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), para que o
aumento na temperatura mundial média permaneça abaixo de 2°C em relação aos níveis
pré-industriais. O alcance dessa meta exige o cumprimento dos atuais compromissos, a
introdução de transformações que promovam uma economia global de baixo carbono e a
elaboração e implementação dos planos nacionais de ação para mudança do clima, ações de
mitigação adequadas ao país e planos nacionais de ação para adaptação (TRIPOLI, 2013,
p.7).
Autores como Oke (1982) e Huang et al (2009) identificaram que a modificação da paisagem natural
pela incorporação de edifícios e superfícies pavimentadas provocam alterações nas propriedades
aerodinâmicas e radiativas da superfície, propriedades térmicas do substrato e propriedades hidráulicas da
superfície e do solo. Além disso, as emissões antropogênicas de calor e poluentes e as alterações nos padrões
de evaporação da superfície modificam as propriedades térmicas e radiométricas da atmosfera urbana.
Dentro de uma escala regional, nos bairros, estas mudanças podem elevar a temperatura do ar do ambiente
urbano, e consequentemente a sensação de desconforto térmico. Os estudos de climatologia urbana são,
portanto, importantes para o planejamento e a preservação da qualidade físico-ambiental urbana.
A cidade de Cuiabá, está inserida ao sul do Estado de Mato-Grosso, e está dentro da região
Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá, instituída em 2009, pela lei complementar estadual nº 359, juntamente
com as cidades de Várzea Grande, Santo Antônio do Leverger e Nossa Senhora do Livramento. Possuí o
total de 251,94 km² e localiza-se entre as coordenadas geográficas de 15°35'56" de latitude sul e 56°06'05"de
longitude oeste, com 125 metros de altitude e precipitação média anual de 1377 mm.
Segundo consta na NBR. 15220, de desempenho térmico e edificações, a cidade está localizada dentro
da zona Bioclimática 7. O clima dominante é do tipo tropical semiúmido (Köppen), mantendo temperaturas
elevadas todo o ano, com média anual próxima a 26.1 °C e médias mensais que ultrapassam 33°C
(CLIMATE-DATA.ORG, 2019). Há segundo Maitelli (1994) duas estações bem definidas: Seca (Maio a
Outubro) e chuvosa (Novembro a Abril). O fato de a cidade estar localizada em uma depressão e circundada
pelo relevo de chapadas faz com que a frequência e a velocidade média do vento sejam extremamente baixas,
com média de 1.7 m/s, o que minimiza o efeito das trocas térmicas por convecção e ressalta ainda mais a
influência do espaço construído sobre a temperatura do ar (VILANOVA,2009).
O crescimento da população do município de Cuiabá, que hoje possui 607.153 habitantes, e a
migração para a zona urbana são reflexos de um processo acelerado e desordenado de crescimento, que teve
início nos anos 70. Esse rápido aumento de pessoas demandou a construção de mais moradias, e
consequentemente provocou a criação de casas em áreas antes não habitadas, fossem vazios urbanos ou áreas
verdes.
Dessa maneira, ocorreram uma série de alterações na estrutura da paisagem e do uso da terra, e visto
que a lei de uso e ocupação do solo da cidade seja do ano de 2015 (Lei complementar nº 389 de 03 de
novembro de 2015) as habitações foram criadas sem o compromisso de seguir qualquer índice urbanístico.
Essa falta de regularidade das construções, acaba impactando na rugosidade e porosidade urbana, que
por sua vez modificam também os índices de velocidade e fluxo do vento.

344
A rugosidade e porosidade, vistas na figura 1, são características morfológicas e tipológicas que
determinam o desempenho da estrutura urbana em relação a um maior ou menor aproveitamento dos ventos
(SILVA, 2014).
(a) (b)

Figura 1 – (a) Esquema de perfil urbano demonstrando o efeito de variações na rugosidade e (b) Esquema de implantação
urbana demonstrando o efeito de variações na porosidade (SILVA,2014)

Segundo Santos (2004) a rugosidade é formada pela superfície das massas edificadas (altura das
edificações) e altera significativamente a forma de deslocamento das massas de ar, pois altera seu
movimento natural laminar para um movimento turbilhonar através do efeito de fricção que exerce sobre os
ventos. Já a porosidade é representada pela maior ou menor permeabilidade de uma estrutura urbana à
passagem dos ventos, sendo expressa entre a relação entre espaços abertos e espaços edificados (SANTOS,
2004). A porosidade urbana é formada pelos afastamentos entre edifícios, a taxa de ocupação, a existência de
espaços vazios e a largura das vias (SILVA, 2014).

Edifícios dispostos próximos uns dos outros dificultam a circulação do ar e acarretam em prejuízos
para as edificações posteriores (BITTENCOURT et al., 1997). Dessa forma, Evans e Schiller (1994)
orientam a disposição dos lotes de forma que o fluxo de ventilação alcance todos os edifícios de uma quadra,
como no arranjo tipo tabuleiro de damas (Figura 2) (SILVA, 2014).

Figura 2 – Arranjo de tabuleiro de Damas (EVANS e SCHILLER,1994)

2. OBJETIVOS
Esta pesquisa tem por objetivo principal avaliar como os parâmetros urbanísticos presentes na lei de uso e
ocupação do solo, podem interferir no microclima de regiões de ocupação predominantemente residência de
alto adensamento construtivo. Busca-se, dessa forma, a elaboração de subsídios técnicos para orientação do
planejamento do espaço urbano com foco na qualidade do ambiente criado para seus ocupantes, que será o
foco de estudo de trabalhos futuros.

3. METODOLOGIA
Esta pesquisa foi realizada seguindo as seguintes etapas metodológicas:
• Escolha da área de pesquisa.
• Levantamento das características de uso e ocupação do solo existentes.
• Modelagem e simulação computacional, dentro do Software Envimet.
• Análise de resultados.

695
3.1. Escolha da área de pesquisa
O estudo será realizado em uma região de alto adensamento construtivo dentro do bairro Pedregal, na cidade
de Cuiabá-MT (Figura 3). O bairro é fruto de uma ocupação irregular iniciada no ano de 1975.
O tamanho da área de abrangência da modelagem, 200x200m, foi determinado seguindo os critérios
estabelecidos pelos limites de área de modelagem, característicos da versão gratuita do Software Envi-Met
(100x100 grids).

(a) (b) (c) (d)

Figura 3 – (a) Estado de Mato Grosso, (b) Cuiabá, (c) Bairro Pedregal e (d) Região de estudo

3.2. Levantamento das características de ocupação do solo existentes


Os dados referentes as características de uso e ocupação do solo foram levantados com o auxílio do Software
Google Earth e também por visitas in loco. Através desse levantamento, pôde-se verificar a forma de
ocupação dos lotes, gabarito das edificações, tipo de solo, presença calçadas e de indivíduos arbóreos.
Foram elaborados dois modelos para simulação computacional: Um cenário real, e outro que será
tratado como cenário “hipotético”, em conformidade com os índices urbanísticos previstos para o bairro
definidos pela lei de uso e ocupação do solo, ou seja, aumento da porosidade pelo ajuste de afastamentos,
adequação da taxa de ocupação e de área permeável. Os índices estão abaixo descritos:
• Afastamento frontal mínimo: 6m
• Gabarito: Livre
• Permeabilidade: 25%
• Ocupação: 0,5
• Potencial construtivo: 1,00
Para realizar todas as adequações conseguindo o potencial construtivo máximo, foi utilizado o
desenho de um lote padrão, onde foram feitos todos os ajustes, que podem ser vistos na figura 4. O desenho
foi repetido para todos os terrenos da área de estudo.

Figura 4 – Elaboração do lote padrão para configuração da modelagem

696
3.3. Modelagem e simulação computacional
A partir da configuração dos lotes, foram elaborados os dois cenários para simulação dentro do software
Envi-met (figura 5) que se trata de um modelo numérico microclimático tridimensional, não hidrostático,
criado por Michael Bruse como parte de sua tese de doutorado (BRUSE; FLEER, 1998).
Esse software utiliza modelos de simulação de fluxos de ar, de turbulências, fluxos de radiação, de
estratificação da temperatura e da umidade do ar, que ocorrem entre a atmosfera e as superfícies próximas ao
solo, simulando as interações entre as superfícies urbanizadas, vegetação e atmosfera. Além disso, o software
prevê os fluxos de radiação entre as superfícies edificadas (paredes, telhados, pisos, solos e vegetação), a
partir da temperatura superficial e da emissividade de cada material (ROSSETI, 2013).
Para a modelagem dentro do software, é necessário determinar um tamanho máximo de grids. Cada
grid representa um ponto do cenário, e para cada ponto o programa oferece no fim da simulação um conjunto
de dados disponíveis para análise. Foi adotado um tamanho padrão de grid de 2m, para as dimensões X, Y e
Z, para que fosse possível detalhar elementos de dimensão menor, como as calçadas. O tamanho de ambos os
cenários ficou em 100x100 grids, correspondendo assim ao tamanho da área de estudo, que é de 200x200m.

(a) (b)

Figura 5 – (a) cenário real (b) cenário hipotético

Para a construção dos cenários, foram utilizados materiais já existentes no banco de dados do
Programa, e outros que precisaram de edição. Para cobertura da superfície foram editados: Solo (loamy soil-
padrão do software), calçada e asfalto, cujas especificações estão na tabela 1 abaixo:

Tabela 1- Configuração dos materiais de cobertura da superfície


Albedo Emissividade Rugosidade
Calçada 0,27 0,90 0,01
Asfalto 0,10 0,94 0,01
Solo nu 0,00 0,98 0,02

Quanto a vegetação, foram utilizadas duas espécies padrão para todo o cenário, gramado e arvores, as
especificações estão na tabela 2 abaixo:

697
Tabela 2- Configuração dos elementos de vegetação
Altura (m) Albedo LAD
Grama 0,05 0,20 3,00
Arborização 5,00 0,20 5,00

No tocante as habitações e seus fechamentos, foi também editado um material específico e padrão para
todas as paredes e coberturas. Como o software permite até três camadas de materiais para cada um desses
fechamentos, as paredes foram resolvidas com uma camada de lajota cerâmica de 10cm, revestida por duas
camadas de 3cm de argamassa. Já cobertura foi padronizada como telha cerâmica, contendo três camadas de
lajota cerâmica de 1cm cada. Essas camadas e suas especificidades podem ser vistas na Figura 6 e na tabela
3, respectivamente.
(a) (b)

Figura 6 – (a) Tipo padrão de parede (b) Tipo padrão de cobertura

Tabela 3- Configuração dos elementos de fechamento


Material Sigla Absorção Reflexão Emissividade Condutividade térmica
Lajota cerâmica TB 0,77 0,22 0,9 0,9
Argamassa c2 0,35 0,65 0,9 1,15

Os parâmetros de entrada para a modelagem computacional no software ENVI-Met (Tabela 4) foram


extraídos de ROSSETI (2013), que, por sua vez, foram obtidos da estação de referência (83362), localizada
no Aeroporto Marechal Rondon, em Várzea Grande, MT.

Tabela 3 - Dados microclimáticos do arquivo de entrada do Envi-Met


Parâmetro Valor
Data da Simulação : 05.08.2013
Hora de início: 20:00:00
Duração total: 24 horas
Intervalo de registro: 60 min

698
Velocidade do vento 10 m acima do solo: 2.46 m/s
Direção do vento: 170°
Rugosidade z0 no ponto de referência b: 0.1
Temperatura inicial da atmosfera: 298.33 K
Umidade específica em 2500 m c: 7.77 g/kg
Umidade relativa em 2m [%]: 56.21

4. ANÁLISE DE RESULTADOS
Com o objetivo de mensurar os efeitos das simulações, foram definidos três horários de análise, com base no
comportamento diário da ilha de calor urbana, tendo como parâmetro o nascer do sol, momentos após o pico
solar e algumas horas após o por do sol, momento no qual observa-se a ocorrência da ilha de calor positiva
na cidade (CLEUGH; OKE, 1986). A estatística de Kruskal-Wallis 8para a variável Temperatura do ar,
indicou que existem diferenças significativas entre os dados do cenário real e do cenário hipotético, em todos
os horários de análise: 06h, 13h e 19h.
De forma a possibilitar uma avaliação quantitativa dos impactos das transformações realizadas nos
cenários nas variaveis climáticas, os dados foram analisados comparativamente, podendo-se relacionar mais
diretamente as diferenças entre as simulações, seguindo a seguinte formula: 9

Dados para análise= dados do cenário hipotético – dados do cenário real

Nesse contexto, índices com valores negativos representam redução na variável estudada, e valores
positivos demonstram elevação desses mesmos índices. Devido às alterações na variável umidade específica
do ar terem sido pequenas, serão apresentados somente os dados referentes as variáveis de Temperatura do ar
ao nível do pedestre, velocidade e fluxo do vento. Esses resultados estão expressos por meio Mapas de cor e
tabelas.
No que diz respeito a distribuição espacial dos efeitos na temperatura do ar, constatam-se
comportamentos variados dependendo do horário do dia. Isso se dá pelo fato de que, ao longo de um ciclo
diário, as superfícies que constituem as ruas, fachadas dos edifícios e pavimentos em geral, experimentam
variações espaciais e temporais de temperatura, devido aos diferentes níveis de exposição solar. Os materiais
de construção são, em sua maioria, elementos com elevada absorção e baixa refletividade e, como tal, uma
grande parte da radiação solar que neles incide é absorvida (ROMERO, 2011).
A variável direção do vento foi alterada consideravelmente, como visto na Figura 07. O aumento da
porosidade gerado pela nova disposição das moradias criou corredores de canalização, que antes não
existiam devido à proximidade das mesmas. Para o nível do pedestre, a porosidade é a característica urbana
de maior influência na ventilação, pois é ela que permite o permeio do vento entre as quadras (SILVA,2014).
Segundo ROMERO (2000), canalização é o fenômeno de corrente de ar que flui por um canal a céu aberto
formado pelas edificações.

8 A estatística teste de Kruskal-Wallis (KW) consiste de um teste não paramétrico que visa comparar três ou mais populações. É
utilizada para testar a hipótese de que as populações possuem funções de distribuição iguais, contra a hipótese alternativa de que ao
menos duas das populações possuem funções de distribuição diferentes. Nesta pesquisa, a estática KW foi utilizada para avaliar se há
diferença significativa entre os resultados das simulações realizadas.
9 A pesquisa está focada na diferença entre duas simulações, no mesmo período do ano e para o mesmo local, considerando-se

alterações de ocupação. Consequentemente não foi vista a necessidade de uma calibração do software e validação dos dados, visto
que os valores encontrados, por serem resultados de uma subtração, se manteriam os mesmos.

699
(a) (b)

Figura 7 – (a) Fluxo do vento dentro do cenário hipotético (b) Fluxo do vento dentro do cenário real

Esses corredores de canalização de vento, em uma cidade como Cuiabá, que possui velocidade média
do vento anual de 1.7 m/s, podem potencializar a melhoria da qualidade térmica pela potencialização da
velocidade do vento (ROSSETI,2015). Mais pontualmente nesses corredores, há aumento da velocidade do
ar, de até 0,60m/s, representados no mapa de diferença na velocidade do ar a 1,6m do chão (figura 8), pela
tonalidade mais quente.

Figura 8 – Diferença na velocidade do vento entre o cenário hipotético e o cenário real

Quando analisada a variável temperatura do ar, observa-se que as alterações mais significativas se
concentram justamente nessas regiões de maior alteração de fluxo e velocidade do vento, que são os quintais
e os corredores entre as edificações. Essas variações são tanto aumento quanto diminuição da temperatura
ambiente.
No horário das 06h as alterações do cenário hipotético se mostraram positivas, obtendo reduções de
pelo menos 0,25°C em 79% dos pontos do cenário (grids), chegando a mais de 2°C de redução em pontos de
aumento do fluxo e velocidade do vento, onde se vê a tonalidade azul mais forte, vistos na figura 9.
Ocorre também, aumento da temperatura em cerca de 10% dos pontos do cenário, expressos
predominantemente pela cor magenta, que é a região de entrada de vento no cenário. Num quadro geral, as
diferenças de temperatura entre os dois cenários chegam a indicar aumentos na temperatura média do ar em
até 2,65°C e diminuição de até 2,72°C.
As 13h, há também redução da temperatura do ar de pelo menos 0,25°C em cerca de 78% dos pontos
do cenário, alcançando diminuições de até 1,5°C em regiões mais específicas a oeste, onde há entrada de
vento (região azulada). Há também índices de aumento da temperatura em cerca de 8% dos pontos do
cenário, na região mais central, onde há aumento do fluxo do vento e diminuição da velocidade. No geral, as
diferenças de temperatura variam de um aumento de até 0,30°C a uma diminuição de até -2,91°C.

700
Figura 9 – Diferença da temperatura do ar entre o Figura 10 – Diferença da temperatura do ar entre o
cenário hipotético e o cenário real as 06h cenário hipotético e o cenário real as 13h

No horário das 19h, observa-se apenas redução da temperatura como visto na figura 11, de pelo menos
0,25°C em todos os pontos do cenário, as diferenças de temperatura entre os dois cenários chegam a indicar a
diferença máxima de -2,21°C e mínima de -4,26°C.

Figura 11 – Diferença da temperatura do ar entre o cenário hipotético e o cenário real as 19h10

Para mensurar essa distribuição espacial, foi feita uma análise em todos os pontos do cenário, a fim
de indicar a quantidade de pontos onde houve diminuição e aumento da temperatura, expressos na tabela 3,
abaixo.
Tabela 4 – Frequência de ocorrência de pontos com variações na temperatura do ar
TEMPERATURA DO AR
Condição 06:00 13:00 19:00
% de redução acima de 0,25°C em
relação ao total 79% 78% 100%
% de redução entre 0,15°C e 0,25°C
em relação ao total 3% 5% 0%
% de redução entre 0°C e 0,15°C em
relação ao total 8% 9% 0%
% de elevação da temperatura em
relação ao total 10% 8% 0%

5. CONCLUSÕES
A ventilação urbana apresenta grande importância para o conforto térmico do pedestre, e sendo assim,

10A escala cromática foi alterada para poder contemplar as nuances desse horário. Um mapa de cores com a mesma escala dos
anteriores, não contemplaria os valores desejados.

701
precisa estar prevista dentro do código de obras das cidades. E mais do que isso, precisa ser atendida. Devido
ao aumento da porosidade dentro dos lotes, acompanhado do ajuste da área permeável, modificação do
arranjo de ocupação dos lotes, inserção de vegetação arbórea e gramíneas, constatou-se a potencialidade do
vento (fluxo e velocidade) em contribuir com os efeitos de diminuição e aumento da temperatura do ar.
O atendimento aos índices urbanísticos, para a região estudada na cidade de Cuiabá possibilitou
a diminuição da temperatura em vários pontos da região de estudo, principalmente no horário das 06h, onde
há maior quantidade de pontos com redução na temperatura, e no horário das 19h, quando todos os pontos
obtiveram redução na temperatura média do ar, proporcionando maior conforto térmico aos pedestres.

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702
INDICADORES DE RESÍDUOS SOLIDOS PARA O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL EM COMUNIDADES: APLICAÇÕES, DIFICULDADES E
COMPARAÇÕES PARA O MUNICÍPIO DE CUIABA-MT
Marcelo Martins da Cruz Neto (1); Ivan Julio Apolonio Callejas (2); Emeli Lalesca
Aparecida da Guarda (3); Luciane Cleonice Durante (4)
(1) Graduando em Engenharia Civil, marcelo_martins1234@hotmail.com, Universidade Federal de Mato Grosso.
(2) Doutor, Engenheiro Civil, ivancallejas1973@gmail.com, Universidade Federal de Mato Grosso.
(3) Mestre, Arquiteta e Urbanista, emeliguarda@gmail.com, Universidade Federal de Santa Catarina.
(3) Doutora, Engenheira Civil, luciane.durante@hotmail.com, Universidade Federal de Mato Grosso.
Av. Fernando Corrêa da Costa, 2367-Boa Esperança, Cuiabá - MT, 78060-900, +55 (65) 3615-8599.

RESUMO
Os indicadores de desenvolvimento sustentável são ferramentas essenciais para o planejamento e gestão
urbana. Dentre as problemáticas a serem enfrentadas pelos gestores municipais, a questão da destinação de
resíduos sólidos se mostra relevante, uma vez que este fator impacta diretamente na qualidade de vida da
população. Diante disso, este trabalho tem como objetivo aplicar os indicadores da seção de resíduos sólidos
da norma NBR ISO 37120 – Desenvolvimento Sustentável em Comunidades para o município de Cuiabá no
estado de Mato Grosso e, além disso, compara-los com os indicadores obtidos para município do Rio de
Janeiro. Os procedimentos metodológicos consistem em aplicar os dados obtidos por meio de bases de
informações, visitas técnicas, envio de ofícios e consultas aos órgãos responsáveis, nas equações
apresentadas pela seção de resíduos sólidos da NBR ISO 37120 para o cálculo dos indicadores. Os resultados
mostraram que tanto Cuiabá quanto o Rio de Janeiro dispõem 100% do seu lixo em aterros sanitários e não
descartam resíduos em lixões, usinas de incineração e outros meios, mostrando conformidade com a Política
Nacional dos Resíduos Sólidos. Além disso, constatou-se que ambos os municípios não possuem
disponibilidade de dados sobre descarte e reciclagem de resíduos perigosos. Assim, enfatiza-se a necessidade
da realização da consolidação dos dados pela gestão municipal e consequente aplicação dos indicadores de
desenvolvimento sustentável para o município.
Palavras-chave: NBR ISO 37120, desenvolvimento sustentável, resíduos sólidos.

ABSTRACT
Sustainable development indicators are essential tools for urban planning and management. Among the
problems to be faced by municipal managers, the issue of solid waste disposal is relevant, since this factor
has a direct impact on the quality of life of the population. Therefore, the objective of this work is to apply
the solid waste section of the NBR ISO 37120 - Sustainable Development in Communities for the
municipality of Cuiabá in the state of Mato Grosso and, in addition, to make the comparison with the
municipality of Rio de Janeiro. The methodological procedures consist of the application of data obtained
through technical visits, dispatch of letters and consultations to the responsible bodies, in the equations
presented by the solid waste section of ISO 37120 for the calculation of the indicators. The results showed
that both Cuiabá and Rio de Janeiro dispose 100% of their waste in landfills and do not dispose of waste in
landfills, incineration plants and other means, showing compliance with the National Policy on Solid Waste.
In addition, it was found that both municipalities do not have availability of data on disposal and recycling of
hazardous waste. Thus, it is emphasized the need to carry out data consolidation by municipal management
and consequent application of sustainable development indicators to the municipality.
Keywords: NBR ISO 37120, sustainable development, solid waste

703
1. INTRODUÇÃO
O planejamento e gestão sustentável de municípios têm-se tornado uma problemática relevante aos governos
por todo mundo, principalmente após o surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável. No fim do
século XX, grandes conferências por todo mundo foram realizadas e deram início a uma preocupação geral
com a gestão ambiental, entre eles, a Conferência das Nações Unidas, que estabeleceu a Agenda 21,
documento que determina as diretrizes para um planejamento que visa o desenvolvimento sustentável
(AGENDA 21, 1995).
À época, reconheceu-se a necessidade de se desenvolver indicadores do desenvolvimento sustentável
que servissem de base sólida para a tomada de decisões em todos os níveis e que contribuísse para a
sustentabilidade autorregulada dos sistemas integrados de meio ambiente e também com foco no
desenvolvimento humano. Sendo assim, muitos métodos surgiram para tentar atender as diretrizes
estabelecidas pela Agenda 21. No entanto, devido à diversidade e pluralidade de temas abarcados, não se
conseguiu estabelecer naquele momento uma padronização metodológica.
Essa padronização somente veio acontecer mais tarde internacionalmente com a publicação da ISO
37120 em 2014, sendo esta norma recebida nacionalmente a partir de 2017 a partir da publicação da NBR
ISO 37120 (ABNT, 2017). Trata-se de uma norma técnica voltada para as cidades, uma vez que estas
necessitam de indicadores para mensurar o seu nível de desempenho sustentável, uma vez que os existentes
geralmente não são padronizados, consistentes ou ainda comparáveis no tempo entre si e entre as diversas
comunidades no mundo.
A NBR ISO 37120, intitulada “Desenvolvimento Sustentável em Comunidades” estabelece 100
indicadores que estão divididos em 16 temáticas inerentes ao planejamento urbano. Entre as temáticas, a dos
resíduos sólidos se mostra relevante, visto que influencia diretamente na qualidade de vida da população e na
gestão ambiental. O descarte apropriado, transporte e tratamento dos resíduos sólidos são alguns dos
elementos mais importantes da gestão de uma cidade e uma das primeiras áreas na qual governo e
instituições deveriam focar (ABNT, 2017).
Conforme o Ministério do Meio Ambiente (2019), a Política Nacional dos Resíduos Sólidos prevê a
prevenção e a redução na geração de resíduos e também propõe práticas de consumo sustentável que
possibilitem um aumento da reciclagem. As administrações públicas que priorizam a coleta, disposição e
reciclagem dos resíduos sólidos optam pela eficiência na gestão ambiental, na saúde pública e na qualidade
de vida da população. Nesse sentido, nada mais importante que quantificar o desempenho das cidades quanto
a este requisito, preferencialmente por meio de indicadores confiáveis e universais como os fornecidos pela
NBR ISO 37120 (ABNT, 2017).
Diante desta problemática, este trabalho foca em quantificar os indicadores de resíduos sólidos para a
cidade de Cuiabá, estado de Mato Grosso, principalmente em decorrência do acelerado crescimento
populacional sofrido pela cidade, que na década de 1970, apresentava população de 88.254 habitantes e em
2018 apresenta uma população estimada em 607.153 (IBGE, 2019). A intensa concentração populacional
experimentada pela cidade desencadeia uma maior produção de lixo, tornando a gestão dos resíduos sólidos
uma problemática relevante, visto que influencia diretamente na qualidade de vida da população.
Atualmente os resíduos sólidos urbanos (RSU) gerados pela população da Baixada Cuiabana são
destinados a uma área localizada na cidade de Várzea Grande, a qual forma uma um conglomerado urbano
com a cidade de Cuiabá. De acordo com projeções realizadas pela prefeitura da cidade, diariamente são
produzidas aproximadamente 454 toneladas diárias de resíduos, totalizando anualmente 163 mil toneladas de
resíduos sólidos (SSUMC, 2013). Este resíduo se caracteriza física e gravimetricamente por ser em sua maior
parte composto por resíduos de matéria orgânica (34%), de plásticos (17%) e de papel/ papelão (13%)
(FERREIRA, 2015).

2. OBJETIVO
Este trabalho objetiva aplicar os indicadores de resíduos sólidos apresentados na norma NBR ISO
37120:2017 para o município de Cuiabá-MT. Além disso, busca-se comparar os valores obtidos com aqueles
determinados para o município do Rio de Janeiro-RJ, uma vez que este tem seus dados divulgados por meio
do trabalho de Couto (2017). Ademais, este artigo objetiva relatar as dificuldades encontradas para se
encontrar os dados necessários para a condução da pesquisa.

704
3. MÉTODO
Tendo em vista a necessidade de se analisar a gestão dos resíduos sólidos nos municípios brasileiros, este
trabalho apresenta o cálculo dos indicadores de resíduos sólidos para a cidade de Cuiabá-MT. Para isso,
utilizou-se como base metodológica a seção 16 da NBR ISO 37120 que se refere à temática dos resíduos
sólidos.
A NBR ISO 37120 separa os indicadores em três categorias principais, indicadores de perfil,
essenciais e de apoio (ABNT, 2017). De acordo com a norma, os indicadores de apoio são os recomendáveis
para demonstrar o desempenho da prestação de serviços urbanos e qualidade de vida, enquanto os essenciais
são aqueles requeridos pela norma pra demonstrar tal desempenho. Os indicadores de perfil tratam de
estatísticas e informações básicas que caracterizam o município, dados relevantes para a comparação.
A Tabela 1 apresenta as fórmulas utilizadas para realizar a quantificação dos indicadores da seção de
resíduos sólidos. Como se pode notar, as fórmulas são de fácil aplicação. No entanto, a grande dificuldade
está na disponibilização das informações requeridas para a sua aplicação, uma vez que muitos dos dados
requeridos ainda não são usuais nos levantamentos realizados por grande parte das prefeituras brasileiras.

Tabela 1 – Relação de Indicadores de Resíduos Sólidos da NBR ISO 37120 e suas equações
Resíduos Sólidos
Indicadores Essenciais
1. Porcentagem da
população urbana com 𝑛º 𝑑𝑒 𝑝𝑒𝑠𝑠𝑜𝑎𝑠 𝑠𝑒𝑟𝑣𝑖𝑑𝑎𝑠 𝑐𝑜𝑚 𝑐𝑜𝑙𝑒𝑡𝑎 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠
𝑋 100 Equação 1
coleta regular de resíduos 𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
sólidos (domiciliar)
2. Total de coleta de Σ 𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜 𝑒𝑚 𝑡𝑜𝑛𝑒𝑙𝑎𝑑𝑎𝑠
resíduos sólidos municipais Equação 2
𝑃𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
per capita
3. Porcentagem de resíduos 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑠𝑜𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑟𝑒𝑐𝑖𝑐𝑙𝑎𝑑𝑜𝑠
𝑋 100 Equação 3
sólidos que são reciclados 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑛𝑎 𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
Indicadores de apoio
4. Porcentagem de resíduos 𝑅𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑢𝑟𝑏𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑑𝑖𝑠𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 𝑒𝑚 𝑎𝑡𝑒𝑟𝑟𝑜 𝑠𝑎𝑛𝑖𝑡á𝑟𝑖𝑜
sólidos urbanos dispostos 𝑋100 Equação 4
𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑛𝑎 𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
em aterros sanitários
5. Porcentagem de resíduos
sólidos urbanos 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑑𝑒𝑠𝑡𝑖𝑛𝑎𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑖𝑛𝑐𝑖𝑛𝑒𝑟𝑎çã𝑜
𝑋100 Equação 5
descartados para 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑛𝑎 𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
incineração
6. Porcentagem de resíduos 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑞𝑢𝑒 𝑠ã𝑜 𝑞𝑢𝑒𝑖𝑚𝑎𝑑𝑜𝑠
sólidos urbanos queimados 𝑋100 Equação 6
𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑛𝑎 𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
a céu aberto
7. Porcentagem de resíduos 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑞𝑢𝑒 𝑠ã𝑜 𝑞𝑢𝑒𝑖𝑚𝑎𝑑𝑜𝑠
sólidos urbanos dispostos 𝑋100 Equação 7
𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑛𝑎 𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
em lixões a céu aberto
8. Porcentagem de resíduos 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑞𝑢𝑒 𝑠ã𝑜 𝑑𝑖𝑠𝑝𝑜𝑠𝑡𝑎𝑠 𝑒𝑚 𝑜𝑢𝑡𝑟𝑜𝑠 𝑚𝑒𝑖𝑜𝑠
sólidos urbanos dispostos 𝑋100
Equação 8
𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑧𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑛𝑎 𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
por outros meios
9. Geração de resíduos 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑎𝑛𝑢𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑝𝑒𝑟𝑖𝑔𝑜𝑠𝑜𝑠
perigosos per capita 𝑋100 Equação 9
𝑃𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑎 𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
(toneladas)
10. Porcentagem de 𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑝𝑒𝑟𝑖𝑔𝑜𝑠𝑜𝑠 𝑞𝑢𝑒 𝑠ã𝑜 𝑟𝑒𝑐𝑖𝑐𝑙𝑎𝑑𝑜𝑠
resíduos urbanos perigosos 𝑋100 Equação 10
𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑝𝑒𝑟𝑖𝑔𝑜𝑠𝑜𝑠 𝑞𝑢𝑒 é 𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑎
que são reciclados
Fonte – Adaptado da NBR ISO 37120 (ABNT, 2017)

Para obtenção dos dados necessários para o cálculo dos indicadores, torna-se necessário a busca
sistemática por informações em bandos de dados de institutos de pesquisas municipais, regionais e nacionais.
Além disso, na ausência de informações nas fontes oficiais, pode-se recorrer a dados disponibilizados em

705
trabalhos científicos ou ainda encaminhar ofícios a órgãos públicos municipais e/ ou regionais indicando as
precisamente as informações requeridas para o cálculo dos indicadores.
Com vistas a comparar os indicadores quantificados neste trabalho, utilizou-se o levantamento
conduzido por Couto (2017) no qual são quantificados os mesmos indicadores desta pesquisa para o
município do Rio de Janeiro/ Estado do Rio de Janeiro.

4. RESULTADOS
4.1. Cálculo dos indicadores
Os dados obtidos para o município de Cuiabá foram em parte disponibilizados por meio de visita técnica a
Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSU) e também por meio do banco de dados da Série Histórica
do Serviço Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). Estes indicadores podem ser utilizados para
rastrear e monitorar o progresso do desempenho da cidade. A fim de atingir o desenvolvimento sustentável,
todo sistema urbano necessita ser levado em consideração (ABNT, 2017).

4.1.1. Porcentagem da população urbana com coleta regular de resíduos sólidos (domiciliar)
Em Cuiabá, o serviço de coleta domiciliar é realizado pela SMSU e os resíduos são dispostos integralmente
em aterros sanitários. O valor quantificado para este indicador foi elevado (97,34%), refletindo a quantidade
de pessoas com acesso a serviço de coleta de lixo a eficiência do município em atender a população. No
entanto, o mesmo não consegue aferir a qualidade do serviço prestado (Tabela 2).

Tabela 2 – Porcentagem da população urbana com coleta regular de resíduos sólidos (domiciliar)
População atendida pela coleta de resíduos População estimada no ano de referência: Indicador 1
574.444 hab 590.118 hab. 97,34%
Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (ano referência: 2017)

4.1.2. Total de coleta de resíduos sólidos municipais per capita


Para o cálculo do Indicador 2, a NBR ISO 37120 orienta que os dados devem referir apenas aos resíduos
coletados pela administração local (Tabela 3).

Tabela 3 – Total de coleta de resíduos sólidos municipais per capita


Quantidade total de resíduos urbanos População estimada no ano de
Indicador 2
gerados no município referência:
162.677,643 ton/ano 590.118 hab. 0,23ton per capita
Fonte: Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (ano referência: 2017)

4.1.3. Porcentagem de resíduos sólidos que são reciclados


Para avaliar o Indicador 3, a norma exige apenas que sejam desconsiderados os resíduos perigosos
reciclados, uma vez que estes referem-se ao cálculo de outro indicador. Nota-se que a reciclagem ainda é
muito incipiente no município de Cuiabá-MT (Tabela 4).

Tabela 4 – Porcentagem de resíduos sólidos que são reciclados


Quantidade de resíduos reciclados Quantidade total de resíduos urbanos gerados
Indicador 3
no município
2643,738 ton/ano 162.677,643 ton/ano 1,625%
Fonte: Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (ano referência: 2017)

4.1.4. Porcentagem de resíduos sólidos urbanos dispostos em aterros sanitários


Conforme ABNT (2017), o aterro sanitário refere-se a uma estrutura cuidadosamente concebida que utiliza
revestimento de argila ou sintético a fim de isolar os resíduos sólidos a partir do ambiente circundante. Esta
característica é atendida pelo aterro sanitário nos quais os resíduos são dispostos (SSUMC, 2013). Os dados
fornecidos são questionáveis, pois é muito comum encontrar na cidade locais em que os resíduos sólidos
estão dispostos de forma irregular e de forma clandestina (Tabela 5).

706
Tabela 5 – Porcentagem de resíduos sólidos urbanos dispostos em aterros sanitários
Quantidade de resíduos dispostos em aterros Quantidade total de resíduos urbanos
Indicador 4
sanitários gerados no município
162.677,643 ton/ano 162.677,643 ton/ano 100%
Fonte: Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (ano referência: 2017)

4.1.5. Porcentagem de resíduos sólidos urbanos descartados para incineração


Um incinerador deve se referir a uma unidade ou serviço usado para queimar resíduos, muitas vezes referida
como uma unidade de incineração (ABNT, 2017). Em resposta ao ofício enviado ao SMSU, a prefeitura não
soube informar a quantidade de resíduos sólidos que são incinerados uma vez que este serviço é realizado
por empresas privadas que coletam de resíduos sólidos, principalmente, hospitalares. Porém, o site do
Sistema Nacional de Informações sobre saneamento informa que não há resíduos dispostos para incineração
no município (Tabela 6).

Tabela 6 – Porcentagem de resíduos sólidos urbanos descartados para incineração


Quantidade de resíduos descartados para Quantidade total de resíduos urbanos
Indicador 5
incineração gerados no município
0 ton/ano 162.677,643 ton/ano 0%
Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (ano referência: 2017)

4.1.6. Porcentagem de resíduos sólidos urbanos queimados a céu aberto


Neste caso, a norma considera para o cálculo o volume de resíduos sólidos queimados em lixões ou em
espaço aberto. Em resposta ao ofício enviado ao SMSU, a prefeitura afirma que não há resíduos sólidos
queimados a céu aberto no município de Cuiabá (Tabela 7).

Tabela 7 – Porcentagem de resíduos sólidos urbanos queimados a céu aberto


Quantidade de resíduos queimados a céu Quantidade total de resíduos urbanos gerados
Indicador 6
aberto no município
0 ton/ano 162.677,643 ton/ano 0%
Fonte: Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (ano referência: 2017)

4.1.7. Porcentagem de resíduos sólidos urbanos dispostos em lixões a céu aberto


Lixão a céu aberto deve referir-se a um espaço ou buraco descobertos onde os resíduos sólidos são
descartados sem qualquer tratamento (ABNT, 2017). Em resposta ao ofício enviado ao SMSU, a prefeitura
informou que todos os resíduos urbanos são dispostos em aterro sanitário (Tabela 8).

Tabela 8 – Porcentagem de resíduos sólidos urbanos dispostos em lixões a céu aberto


Quantidade de resíduos dispostos em lixões a Quantidade total de resíduos urbanos gerados
Indicador 7
céu aberto no município
0 ton/ano 162.677,643 ton/ano 0%
Fonte: Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (ano referência: 2017)

4.1.8. Porcentagem de resíduos sólidos urbanos dispostos por outros meios


Em resposta ao ofício enviado ao SMSU, a prefeitura informou que todos os resíduos urbanos são dispostos
em aterro sanitário, não havendo resíduos dispostos em outros meios dentro da cidade (Tabela 9).

Tabela 9 – Porcentagem de resíduos sólidos urbanos dispostos em lixões a céu aberto


Quantidade de resíduos sólidos que são Quantidade total de resíduos urbanos gerados
Indicador 8
dispostas em outros meios no município
0 ton/ano 162.677,643 ton/ano 0%
Fonte: Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (ano referência: 2017)

707
4.1.9 Geração de resíduos perigosos per capita (toneladas)
Os dados para esse indicador não foram disponibilizados pelos órgãos responsáveis.

4.1.10. Porcentagem de resíduos urbanos perigosos que são reciclados


Os dados para esse indicador não foram disponibilizados pelos órgãos responsáveis.

4.2 Interpretação e comparação


Apresenta-se na Figura 1 os indicadores de resíduos sólidos quantificados para o município de Cuiabá e os
determinados para o município do Rio de Janeiro por Couto (2017). Apesar de se tratar de municípios com
características distintas em relação ao perfil socioeconômico, comparar as cidades é oportuno uma vez que
pode auxiliar a identificar possíveis necessidades de melhoras na gestão dos resíduos sólidos.
A primeira comparação inevitável que se pode fazer é que ambos os municípios apresentaram os
mesmos indicadores que não foram passiveis de quantificação. Este fato aponta que as informações
requeridas para sua quantificação ou não são importantes para as políticas públicas ou tem sua determinação
negligenciada por parte dos agentes públicos. Portanto, para a adequada aplicação da norma, torna-se
necessário que estas informações passam a fazer parte dos levantamentos de dados por parte das prefeituras
brasileiras.

100%
Indicadores de Resíduos Sólidos da NBR ISO

90%
80%
70%
37120 (ABNT, 2017)

60%
98,67%
97,34%

100%

100%
50%
40%
30%
49%
1,625%

0,080%

20%
23%

10%
0%
0%
0%
0%

0%
0%
0%
0% 0%
Cuiabá Rio de Janeiro
Cidades

1 2 3 4 5 6 7 8
Indicadores

Figura 1 – Comparação entre os municípios de Cuiabá e Rio de Janeiro

A porcentagem da população urbana com coleta regular de resíduos quantificada por meio do
indicador 1 aponta um elevado alcance que a administração pública em relação ao atendimento à população.
Nesse sentido, é notável que ambas as cidades se assemelham nesse quesito e atingem quase a totalidade da
população com a coleta domiciliar, o que contribui não só para o meio ambiente, mas como também para
saúde pública urbana. Isso ocorre devido ao fato de que o lixo acumulado em bairros pode gerar alagamentos
e facilitar o acúmulo de água e, consequente, proliferação de mosquitos transmissores de doenças,
problemática enfrentada tanto em Cuiabá como no Rio de Janeiro.
O indicador 2 retrata da quantidade total de resíduos per capita nos municípios e revela que o Rio de
Janeiro apresenta mais que o dobro da quantidade de lixo per capita do que o município de Cuiabá, indicando
dois possíveis aspectos: que a coleta de lixo na cidade é mais efetiva, não havendo disposição em lixões ou
locais clandestinos ou ainda um possível maior renda da população, o que se reflete em maior consumo de
bens.
Ao analisar o Indicador 3, que se refere a porcentagem de resíduos reciclados, constata-se que tanto a
capital mato-grossense quanto a fluminense apresentam baixa taxa de reciclagem, apenar de maior
percentagem de resíduos destinados para reaproveitamento observado na cidade Cuiabá. Isso indica que a
Lei Federal 12.305 promulgada desde 2010, que institui a Política Nacional dos Resíduos Sólidos e que
estabelece incentivo visando fomentar o uso de matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis

708
e reciclados, não está cumprindo sua função. Desta forma, este indicador aponta para a necessidade de ambas
os municípios incentivar a reciclagem de resíduos.
O indicador 4 indica que 100% dos resíduos sólidos estão sendo encaminhados para aterros sanitários,
o que de fato não corresponde a realidade uma vez que em ambas as cidades é possíveis encontrar resíduos
dispostos de forma irregular. Portanto, este fato revela que os dados oficiais disponibilizados pelos órgão
públicos não retratam a realidade observada nas cidades brasileiras.
Em nenhum dos municípios há a queima de resíduos por incineração. Segundo ABNT (2017), isso
ocorre devido ao fato de que a incineração é necessária em cidades que geram mais resíduos sólidos do que
podem dispor. Além disso, ambos não possuem disposição de resíduos a céu aberto e/ou lixões. As respostas
das solicitações informaram que sua disposição em tais locais é proibida pela Lei Federal 12.305/2010. No
entanto, isso não corresponde a realidade observada no município de Cuiabá onde é possível encontrar em
vários locais com resíduos dispostos irregularmente, como relatado anteriormente.
Em relação aos resíduos perigosos, em Cuiabá o serviço de coleta não é realizado por instituições
públicas e sim por empresas privadas. Acredita-se que o mesmo ocorre na capital fluminense. Assim, foram
conduzidas várias solicitações tanto por meio de e-mail quanto por telefone visando a obtenção de tais dados,
ou seja, a quantidade de volume de resíduos perigosos gerados e a quantidade reciclada, porém muitas das
solicitações sequer foram respondidas e outras foram negadas, alegando confidencialidade de tais dados.
É importante ressaltar que, segundo ABNT (2017), os resíduos sólidos perigosos referem-se a
qualquer substância destinada à eliminação, uma vez que são prejudiciais para as pessoas, plantas, animais
ou ambiente. Além disso, a norma também define resíduos perigosos como aqueles que apresentam
toxicidade ou inflamabilidade, corrosividade ou reatividade. Dessa forma, a não disponibilização destes
dados demonstra a ausência de transparência pública em relação a gestão desses resíduos.

5. CONCLUSÕES
A partir dos resultados obtidos é possível verificar que o município de Cuiabá apresenta uma grande
abrangência de atendimento à população em relação a coleta de lixo. Além disso, possui regularidade em
relação a Política Nacional dos Resíduos Sólidos dentro dos indicadores de incineração, descarte por
queimada e disposição em lixões.
A NBR ISO 37120 não estabelece valores paramétricos de referência, o que de certo modo dificulta
evidenciar se os resultados encontrados para um determinado município estão dentro de valores de
reverencia e/ou aceitáveis. No entanto, a norma surge como metodologia para a troca de boas práticas de
planejamento urbano atrelado ao desenvolvimento sustentável entre as gestões municipais que possuem seus
indicadores divulgados. Assim, a comparação realizada entre o município de Cuiabá e o Rio de Janeiro
fornece informações relevantes aos gestores da capital mato-grossense, uma vez que a capital fluminense
possui um histórico de desenvolvimento urbano e de preocupação com o meio ambiente, visto que já sediou
eventos como RIO 92, RIO +20 entre outros.
Dessa forma, a comparação auxiliou na análise de que o município de Cuiabá frente ao indicador de
reciclagem dos resíduos produzidos. Ademais, os indicadores demostraram que há predominância de
disposição de lixo em aterros sanitários, revelando que as ambas administrações municipais aparentemente
adequaram-se quanto a questão ambiental e quanto a Política Nacional dos Resíduos Sólidos.
A pesquisa evidenciou que a busca pelos dados necessários para a quantificação dos indicadores é
árdua uma vez que muitas delas não são de uso recorrente na administração pública ou são negligenciadas
por parte da administração pública, não recebendo a devida atenção. Um exemplo é a não disponibilização
de dados quanto à quantidade de resíduos sólidos perigosos gerados e incinerados, uma vez que esta
informação é crucial para na definição de políticas públicas. Este fato evidencia não só ausência de
transparência à população, mas também a ineficiência na gestão pública, visto que a não sistematização de
tais dados impossibilita uma análise das deficiências e necessidades por parte do município frente a gestão de
destes resíduos.
Assim, propõe-se que os indicadores da NBR ISO 37120 sejam integrados ao processo da gestão
pública dos municípios brasileiros. Além de auxiliar o processo de tomada de decisão por parte dos agentes
públicos com vistas a alcançar o desenvolvimento sustentável, a divulgação de tais dados fornece para a
população maior transparência da gestão. Permite também sua inclusão em uma rede de cidades que
divulgam seus indicadores e compartilham as boas práticas, o que ajuda a incentiva que outros entes
municipais adiram ao caminho do desenvolvimento sustentável.

709
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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comunidades – Indicadores para serviços urbanos e qualidade de vida. 1 ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2017.
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2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 09 mai. 2019
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Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.
FERREIRA, H. F. Diagnóstico da geração e destinação de embalagens de Polietileno Tereftalato (PET), direcionadas à atual área de
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Mato Grosso, Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, Programa de Pós Graduação em Engenharia de
Edificações e Ambiental, Cuiabá, 2015.
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http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatoriopesquisa/121009_relatorio_residuos_solidos_urbanos.pdf>.
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sustentaveis/residuos-solidos/politica-nacional-de-residuos-solidos.html>. Acesso em: 09 mai. 19.
SECRETARIA DE SERVIÇOS URBANOS MUNICÍPIO DE CUIABÁ (SSUMC). PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO
BÁSICO CAPÍTULO RESÍDUOS SÓLIDOS E PLANO DE GERENCIAMENTO INTEGRADO DE RESÍDUOS
SÓLIDOS DO MUNICÍPIO DE CUIABÁ-MT. Prefeitura de Cuiabá-MT, 2013. Disponível em:
<http://www.cuiaba.mt.gov.br/download.php?id=802>. Acesso em: 09 mai. 19.

AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Ao Laboratório de Tecnologia e Conforto Ambiental
(LATECA) e a Pró Reitoria de Pesquisa (PROPeq) pela possibilidade de participação no programa
voluntário de iniciação científica (VIC).

710
INFLUÊNCIA DO TEOR DE UMIDADE NA ABSORTÂNCIA DE
PAVIMENTOS INTERTRAVADOS DE CONCRETO
Luiz Fernando Kowalski (1); Maria Eugênia Fernandes (2); Érico Masiero (3)
(1) Engenheiro Civil, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana,
fernando.kowalski@ucb.org.br
(2) Arquiteta, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Urbana,
fernandes.me88@gmail.com
(3) Doutor, Professor do Departamento de Engenharia Civil, erico@ufscar.br
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Engenharia Civil, Laboratório de Conforto, Rod.
Washington Luiz, s/n, São Carlos - SP, 13565-905, Brasil, Tel:.+55 (16) 3351-8263

RESUMO
As superfícies pavimentadas têm sido uma das causas da alteração do microclima das cidades e na formação
de ilhas de calor urbana (ICU). Por isso, o entendimento dos mecanismos de resfriamento e o estudo das
propriedades térmicas dos pavimentos frios são fatores importantes no estudo de mitigação de ICU. Sendo
assim, o objetivo deste trabalho é apresentar as variações da refletância espectral e refletância solar em
função da coloração e do teor de umidade de três tipos de blocos de pavimentos de concreto intertravados.
Para a execução deste estudo, foi empregado o espectrômetro portátil Alta II, seguindo as recomendações
normativas da ASTM C1549-16 para a obtenção da refletância solar das amostras de três colorações de
pavimentos intertravados de concreto, no estado seco e saturado. Os resultados demonstram que o pavimento
cinza no estado seco sofre um aumento de aproximadamente 13%, quando comparado à refletância solar na
condição saturada e o pavimento vermelho sofre uma variação de aproximadamente 4% entre os mesmos
estados. Esse fato é justificado pela mudança na coloração quando a amostra está saturada. A amostra cinza é
a superfície que apresenta a maior variação de absortância devido a alteração da tonalidade entre a condição
seca e saturada. Além disso, vale ressaltar que o pavimento cinza apresenta maior refletância do que o
pavimento vermelho no estado seco. Entretanto, na condição saturada a refletância espectral na faixa do
infravermelho do pavimento vermelho é superior ao pavimento de coloração cinza. Por fim, este trabalho
contribui no refinamento dos valores tabelados de albedo para pavimentos de concreto, que constitui uma das
propriedades que fazem do pavimento frio uma estratégia de mitigação das ICU.
Palavras-chave: ilhas de calor urbano, pavimento, refletância.

ABSTRACT
Paved surfaces have been one of the causes of cities microclimate change and the urban heat islands (ICU)
formation. Therefore, the understanding of cooling mechanisms and the study of thermal properties of cold
pavements are important factors in the ICU mitigation study. So, this paper aims to present the variations of
the spectral reflectance and solar reflectance in function of the colour and moisture content of three concrete
pavements. For the execution of this study, a portable Alta II spectrometer was used, following the normative
recommendations of ASTM C1549-16. The method was applied to obtain the solar reflectance of three
interlocking concrete pavements samples in the dry and saturated state. The results show that the gray
pavement in dry state increases in average 13%, when compared to the solar reflectance in the saturated
condition; and the red pavement suffers a variation of approximately 4% between the same states. This fact
is justified by the change in coloration when the sample is saturated. The gray sample between the dry and
saturated condition is the surface that presents the highest variation of the hue, which would increase its
absortance. In addition, it is worth mentioning that the gray pavement has higher reflectance than the red
pavement in the dry state. However, in the saturated condition the spectral reflectance in the infrared range of
the red pavement is superior to the gray colored pavement. Finally, this work contributes to the refinement of
the albedo values, which is one of the properties that make the cold pavement a mitigation strategy for ICUs.
Keywords: urban heat island, pavement, reflectance.

711
1. INTRODUÇÃO
O microclima das cidades tem sofrido alterações devido a processos associados à urbanização, como o
crescimento demográfico, e atividades antropogênicas. Além disso, alteração da cobertura do solo através da
utilização de materiais que promovem a absorção de energia bem como a impermeabilização da superfície
(COX, 2006).
As ilhas de calor urbana (ICU) têm sido objeto de pesquisas desde que foi descrita por Luke Howard
pela primeira vez na cidade de Londres. Pelo fato de sua intensidade variar de forma sazonal e também de
acordo com o período do dia, é considerada um processo complexo de ser compreendido. (ERELL,
PEARLMUTTER, WILLIAMSON, 2010)
Segundo Golden et al. (2006), por definição o fenômeno de ICU se refere ao aumento da temperatura
urbana de determinada área, comparada à temperatura das áreas suburbanas. A modificação da superfície
urbana é a principal causa da formação de ICU. A substituição de áreas vegetadas por materiais artificiais,
caracterizados pela baixa permeabilidade, alta absorção de radiação solar e propriedades térmicas favoráveis
ao acúmulo de energia e irradiação de calor (ROMEO, ZINZI, 2013).
Segundo Gartland (2008), os pavimentos urbanos correspondem a aproximadamente 20% da
superfície pavimentada. Por isso, Li (2016) reforça que o entendimento dos mecanismos de resfriamento e o
estudo das propriedades térmicas dos pavimentos frios são fatores importantes na mitigação de ICU.
Segundo Santamouris e Kolokotsa (2016), pavimentos frios são materiais desenvolvidos para
apresentar baixas temperaturas de superfície e mitigar as ICU. Segundo Li (2016), o entendimento dos
mecanismos de resfriamento e o estudo das propriedades térmicas dos pavimentos frios são fatores
importantes no estudo de mitigação de ilhas de calor urbana. O aumento da taxa evaporativa e da convecção
entre pavimento e ar são alguns exemplos desse mecanismo para a diminuição da temperatura superficial.
Denomina-se albedo a refletância de uma superfície em relação a toda faixa espectral de radiação de
onda curta (OKE, 1978). Em outras palavras, Gonzalez (2015) define o albedo como sendo o índice de
espalhamento (reflexão difusa) da radiação de onda curta (OC). Para materiais opacos, o albedo é o inverso
da absortância.
Segundo o Natural Stone Council (2009) apud Carpio, et al (2014, p.154), “o albedo de um material é
influenciado, inicialmente, pelos seguintes fatores: composição, textura da superfície e orientação da
radiação solar”. O desgaste da superfície e o envelhecimento podem influenciar ao longo dos anos na
alteração do albedo.
Nesse sentido, é crescente também a discussão sobre a aplicação do pavimento frio como um dos
instrumentos para mitigação das ICU. Li e Harvey (2013) afirmam que o aumento do albedo da superfície
pode reduzir significativamente a temperatura ao longo do dia nas estações quentes. Ferreira e Prado (2003)
menciona que o albedo ou refletância da superfície é o termo aplicado à refletância total de determinado
sistema, considerando a razão entre o fluxo refletido e o fluxo incidente, ambos integrados sobre todo o
espectro solar.
Além disso, cores claras geralmente apresentam grande refletância na região visível e também tendem
a ter grande refletância na região do espectro na faixa do infravermelho. No entanto, uma alta refletância na
região visível não implica num alto albedo, já que o desempenho do albedo está diretamente relacionado com
a refletância do material na região do infravermelho, a qual corresponde à aproximadamente 43% da
radiação solar que atinge a superfície terrestre (PRADO, FERREIRA, 2005).
Por fim, esta pesquisa se justifica, pois, a redução da refletância da superfície pavimentada é uma das
estratégias de mitigação de ilhas de calor urbana, e a alteração do pigmento das vias urbanas, bem como o
entendimento do comportamento desse material em diferentes cenários deve auxiliar no entendimento e
redução desse fenômeno.

2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é apresentar as variações da refletância espectral e refletância solar em função da
coloração e do teor de umidade de três tipos de blocos de pavimentos de concreto intertravados.

3. MÉTODO
O método da pesquisa se estrutura em três etapas principais:
(a) Medição da refletância das amostras de pavimento através do espectrômetro portátil Alta II;
(b) Cálculo da refletância solar;
(c) Análise da variação da refletância nas amostras no estado seco e no estado saturado.

344
Na Figura 1 está apresentado o fluxograma da pesquisa.

Figura 1 – Fluxograma da pesquisa (AUTORES, 2019).

3.1. Medição da refletância espectral


Para a execução deste estudo, foi empregado o espectrômetro portátil Alta II, seguindo as recomendações
normativas da ASTM C1549-16.
Através do espectrômetro portátil é possível obter a refletância solar das amostras de pavimento.
Segundo Muniz-Gäll, et al. (2018, p.507), “o espectrômetro portátil ALTA II mede refletâncias
correspondentes a radiações emitidas em onze comprimentos de onda, entre 470 e 940 nm (nanômetros),
sendo sete pertencentes à região visível e quatro à região infravermelha do espectro solar”.
O experimento foi realizado em laboratório, com iluminação natural e temperatura ambiente de 23˚C.
Além disso, o equipamento foi envolvido por um tecido de proteção escuro, para evitar a infiltração de luz.
As amostras submetidas ao ensaio, são blocos de pavimento intertravado de concreto, em três colorações:
cinza, vermelho e grafite, conforme apresentado na Figura 2.

(A) (B)
Figura 2 – Espectrômetro portátil Alta II (A) e amostras submetidas ao ensaio de refletância (B). (AUTORES, 2019).

3.2. Cálculo da refletância solar


O cálculo da refletância solar seguiu a metodologia apresentado por Muniz-Gäll, et al. (2018, p.507),
considerando os valores do espectro solar padrão da ASTM (2016). A equação (1) representa a base para o
cálculo da refletância solar (SANTOS. et al, 2009).

713
ρ(λ)amostra = [(Vamostra – Vfundo)/(Vreferência - Vfundo)]. ρreferência Equação 1

Sendo:
ρ(λ)amostra = refletância da amostra, para cada comprimento de onda (%);
Vamostra = voltagem da amostra (mV);
Vfundo = voltagem de fundo, respectivamente para a amostra e referência (mV);
Vreferência = voltagem da amostra de referência (mV);
ρreferência = refletância da amostra de referência, para cada comprimento de onda (%).

A análise dos resultados será em função dos valores da refletância solar e espectal de cada,
considerando as variações no estado seco e saturada, com o intuito de obter valores mais refinados de albedo
para esses materiais de pavimentação.

4. ANÁLISE DE RESULTADOS
Inicialmente são comparados os valores de refletância espectral de cada cor de pavimento na condição seca e
saturada. Em seguida, são calculdadas as refletâncias solares através do método proposto por Pereira et al.
(2015), embasado na ASTM (2016). Por fim, serão comparados os valores das amostras secas e saturadas.

4.1 Refletância Espectral


A refletância espectral de cada amostra de pavimento no estado seco está apresentada na Figura 3. A área
destacada representa a faixa do espectro infravermelho, cujo comprimento de onda (λ) varia de 735 nm ≥ λ >
940 nm.
35%

30%
Refletância Espectral

25%

20%
GRA
15%
CIN
10% VER
5%

0%
470 525 560 585 600 645 700 735 810 880 940
Comprimento de onda (nm)

Figura 3 – Refletância espectral das amostras secas (AUTORES, 2019).

Percebe-se que o pavimento cinza tanto na faixa do visível, quanto do infravermelho é o que apresenta
maior refletância espectral, seguido pelo pavimento vermelho e grafite. Além disso, no comprimento de onda
470 nm, que pertence ao espectro visível, a refletância do pavimento grafite e vermelho são semelhantes. Já
os valores com comprimento de onda superior, demonstram um comportamento que tendem a ser
proporcionalmente distintos.

714
18%
16%

Refletância Espectral
14%
12%
10%
GRA
8%
CIN
6%
4% VER

2%
0%
470 525 560 585 600 645 700 735 810 880 940
Comprimento de onda (nm)

Figura 4 – Refletância espectral das amostras saturadas (AUTORES, 2019).

Na Figura 4 está apresentada a refletância espectral das amostras saturadas. Percebe-se que nessa
condição, a refletância na faixa do espectro visível a partir do λ ≥ 600 nm e em toda a faixa do
infravermelho, o pavimento na coloração vermelha apresenta valores superiores ao pavimento cinza. Além
disso, no comprimento de onda 470 nm, assim como na amostra seca, a refletância do pavimento grafite e
vermelho são semelhantes.
35%

30%

25%
Refletância Espectral

GRA_SEC
20%
CIN_SEC
VER_SEC
15%
GRA_SAT

10% CIN_SAT
VER_SAT
5%

0%
470 525 560 585 600 645 700 735 810 880 940
Comprimento de onda (nm)

Figura 5 – Refletância espectral das amostras secas e saturadas (AUTORES, 2019).

Conforme apresentada na Figura 5, percebe-se a variação da refletância das amostras no estado seco e
saturado. A amostra cinza apresenta a maior variação da refletância espectral.

4.2 Refletância Solar


As propriedades térmicas, como absortância (ABS) e refletância solar (REF) das 3 colorações de pavimento
intertravado, foram determinadas com amostras submetidas a dois cenários; saturado e seco em laboratório.
A refletância solar corresponde à integral da área abaixo da curva de refletância espectral. Os resultados da
influência do teor de umidade na refletância solar estão apresentados na Figura 6.

715
1
0,9
0,8
0,7

Absortância
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
CIN_SAT CIN_SEC GRA_SAT GRA_SEC VER_SAT VER_SEC
Amostra
ABS REF

Figura 6 – Influência do teor de umidade na absortância do pavimento (AUTORES, 2019).

Quando comparada as três colorações no estado seco, o pavimento cinza é o que apresenta maior
refletância (11%) e o pavimento grafite a menor taxa (4%). Entretanto, a conclusão que se tem no estado
úmido, é que o pavimento cinza apresenta uma refletância equivalente ao pavimento vermelho (11%) e que
no estado seco a superfície cinza possui uma refletância solar maior (26%) do que o pavimento vermelho
(16%).
Na Figura 7 está apresentada a variação da refletância solar de uma amostra úmida em relação à
amostra seca, classificado por cores.

14% 13,23%

12%
Variação da Refletância

10%
8%
6% 4,94%
4,16%
4%
2%
0%
CIN VER GRA
αUM-αSEC Coloração

Figura 7 – Variação da refletância solar de uma amostra úmida (aUM) em relação a uma amostra seca (aSEC), classificada por cor
(AUTORES, 2019).

Nesse cenário, percebe-se que o pavimento cinza de concreto é o que apresenta maior variação de
refletância solar, em relação às amostras, vermelha e grafite. Esse fato é explicado pelo fato da amostra
cinza apresentar uma maior mudança na tonalidade da cor na condição saturada, quando comparada ao
estado seco. Essa alteração na coloração, implica em uma maior absortância do material.

5. CONCLUSÕES
O fenômeno de ICU é o produto de alterações no microclima das cidades o qual em grande parte pode ser
mitigado com o uso de pavimento frio. A alteração das propriedades de absortância e refletância dos
pavimentos e o comportamento térmico dos materiais de superfície no ambiente urbano devem ser
compreendidos mais detalhadamente de modo a favorecer a recomendação técnica de aplicação de cada tipo
de pavimento na cidade.
Por isso, este trabalho propôs comparar a alteração da refletância de três tipos de pavimentos
intertravados de concreto nas colorações cinza, vermelho e grafite, nos estados seco e saturado.
Os resultados demonstram que o pavimento cinza no estado seco sofre um aumento de aproximadamente
13%, quando comparado à refletância solar na condição saturada e o pavimento vermelho, sofre uma

716
variação de aproximadamente 4% entre os mesmos estados. Esse fato é justificado pela mudança na
coloração quando a amostra está saturada.
A amostra cinza entre a condição seca e saturada é superfície que apresenta a maior variação da
tonalidade, o que aumentaria sua absortância. Além disso, vale resaltar que o pavimento cinza apresenta
maior refletância do que o pavimento vermelho no estado seco. Entretanto, na condição saturada a refletância
espectral na faixa do infravermelho do pavimento vermelho é superior ao pavimento de coloração cinza.
Por fim, a contribuição deste trabalho está pautada no refinamento dos valores tabelados de refletância
solar, de pavimentos intertravados de concreto, que constitui uma das propriedes que fazem do pavimento
frio uma estratégia de mitigação das ICU.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Dissertação (Mestrado em Física e Meio Ambiente) – Departamento de Física, Instituto de Ciências Exatas e da Terra,
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GONZALEZ, D. E. G. Análise dos efeitos do albedo no microclima de cânions urbanos. Curitiba, 2015. 175f. Dissertação
(Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
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Construído, 2009, Canela. Anais do X ENTAC. Canela: ANTAC, 2009. p.664-660.

AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. Além disso, agradecemos à CAPES, à empresa
TATU pré-moldados e ao UNASP (Centro Universitário Adventista de São Paulo) pelo apoio no
desenvolvimento desta pesquisa.

717
INTENSIDADE E DIREÇÃO PREDOMINANTE DE VENTOS E
PRECIPITAÇÃO NO AGRESTE ALAGOANO
Ana Maria L. A. Nunes (1); Mônica F. Silva (2); Gianna M. Barbirato (3); Ricardo V. R.
Barbosa (4)
(1) Arquiteta e Urbanista, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
amnunes.arq@gmail.com
(2) Arquiteta e Urbanista, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
monica_fers@hotmail.com
(3) Drª, Professora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, gmb@ctec.ufal.br
(4) Dr., Professor do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, rvictor@arapiraca.ufal.br
Universidade Federal de Alagoas - Campus A. C. Simões, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design –
FAUD, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Maceió-AL, Av. Lourival Melo Mota,
s/n, Tabuleiro dos Martins, CEP 57.072-900

RESUMO
A ventilação natural é uma das principais estratégias recomendadas para a promoção do conforto térmico em
edificações. O conhecimento de suas direções e velocidades predominantes fundamenta o planejamento dos
arranjos construtivos urbanos e a orientação e dimensionamento de aberturas de edificações. Deste modo, o
objetivo geral deste trabalho é fornecer informações para projetos de edificações quanto a aberturas para
aproveitamento da ventilação natural e necessidade de proteção das mesmas contra penetração de chuvas, na
região do Agreste alagoano, tendo como áreas de estudo as cidades de Arapiraca e Palmeira dos Índios. A
metodologia foi desenvolvida de acordo com as seguintes etapas: obtenção e tabulação dos dados climáticos;
tratamento estatístico e inserção dos dados no software WRplot; e criação e interpretação de gráficos e
tabelas. A análise para Arapiraca mostrou que: a direção predominante dos ventos é a leste; a velocidade
principal dos ventos ocorre entre 1,6 a 3,4m/s (fraco); e as chuvas incidentes vêm principalmente da direção
sudeste. O estudo para Palmeira dos Índios revelou que: a direção predominante dos ventos é a leste; a
frequência da velocidade dos ventos foi maior entre a faixa de 1,6 a 3,4m/s (fraco); e a direção predominante
de ocorrência das chuvas é a leste. A análise da ventilação revelou que as direções dos ventos predominantes
e secundários variam ao longo do ano de maneira aproximada em cada localidade, enquanto a precipitação se
mostrou concentrada entre os meses de abril a meados de setembro para ambas as cidades.
Palavras-chave: ventilação natural, precipitação, Arapiraca, Palmeira dos Índios.

ABSTRACT
Natural ventilation is one of the main strategies recommended for the promotion of thermal comfort in
buildings. The knowledge of their predominant directions and speeds supports the planning of urban
construction arrangements and the orientation and sizing of building openings. Thus, the general objective of
this work is to provide information for building projects regarding openings for the use of natural ventilation
and the need to protect them from rainfall penetration in the region of Agreste from Alagoas, having as fields
of study the cities of Arapiraca and Palmeira dos Índios. The methodology was developed according to the
following steps: collection and tabulation of climate data; statistical treatment and data insertion in the
WRplot software; and creation and interpretation of graphs and tables. The analysis for Arapiraca showed
that: the predominant wind direction is to the east; the main wind speed occurs between 1.6 and 3.4 m/s
(weak); and the incident rains come mainly from the southeast direction. The study for Palmeira dos Índios
revealed that: the predominant wind direction is to the east; the frequency of wind speed was higher between
the range of 1.6 to 3.4m/s (weak); and the predominant direction of occurrence of rainfall is to the east.
Ventilation analysis revealed that the predominant and secondary wind directions vary throughout the year in
an approximate manner in each location, while precipitation was concentrated between the months of April
and mid-September for both cities.
Keywords: natural ventilation, precipitation, Arapiraca, Palmeira dos Índios.

718
1. INTRODUÇÃO
A ventilação natural é uma das principais estratégias recomendadas para a promoção do conforto térmico em
edificação devido à sua capacidade de remover o calor acumulado nos ambientes, conservar o ambiente livre
de impurezas, facilitar as trocas térmicas do corpo humano com o ambiente, resfriar a estrutura da edificação,
entre outros (LAMBERTS, 2011).
Apesar da região Nordeste brasileira estar sobre o regime dos ventos alísios, "originários nas regiões
subtropicais de alta pressão, [...] dirigindo-se para [...] NO, no hemisfério sul” (FROTA, 2001, p. 63), este
regime de ventos pode variar de acordo com a influência da topografia local, que pode formar barreiras,
desviando a direção e alguns outros fatores climáticos, como as diferenças de temperaturas.
Por isso, é necessário que se conheça a direção predominante e as velocidades dos ventos a fim de
fundamentar o planejamento dos arranjos construtivos urbanos e orientação e dimensionamento das aberturas
das edificações, de forma a aproveitar a ventilação natural como estratégia passiva de conforto térmico, além
de possibilitar utilização de mecanismos de proteção contra chuvas intensas.
Vários autores realizaram estudo do regime de ventos em diversas cidades do Brasil. Silva et al.
(1997) realizaram estudos sobre direção e velocidade dos ventos em Pelotas-RS e concluíram que a direção
predominante dos ventos varia de acordo com a estação do ano, porém, naquela cidade, há uma grande
incidência de ventos de direção nordeste (NE) em todas as estações do ano.
Relacionando temperatura local e velocidade dos ventos no município de Cambará-PR, Wagner et al.
(1989) obtiveram as maiores velocidades médias nos meses de outubro e novembro (com temperaturas mais
elevadas) e as menores velocidades médias em maio e junho (com temperaturas mais amenas).
Arapiraca e Palmeira dos Índios, cidades pertencentes ao Agreste alagoano, possuem poucas
informações sobre seu padrão de ventilação e precipitação voltadas para arquitetura. Porém, estações
automáticas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) foram implantadas nas cidades em 2008 e
2007, respectivamente, possibilitando o estudo das variáveis com dados horários coletados diretamente das
cidades. A presente pesquisa busca contribuir para o conhecimento do clima no semiárido alagoano e
analisar estratégias bioclimáticas que possam ser empregadas em cidades localizadas nessa região, cujos
estudos climáticos são ainda incipientes, tomando a cidade de Arapiraca (AL) como estudo de caso.

2. OBJETIVO
O objetivo geral deste trabalho é fornecer informações para projetos de edificações quanto a aberturas para
aproveitamento da ventilação natural e necessidade de proteção das mesmas contra a penetração de chuvas.
Este, tornou-se possível através dos seguintes objetivos específicos: realizar estudo do padrão de intensidade
e direção predominantes de ventos e precipitação na região do Agreste alagoano; tomar as cidades de
Arapiraca e Palmeira dos Índios como objeto de estudo; interpretar os dados climáticos das cidades
estudadas.

3. CARACTERIZAÇÃO DAS CIDADES ESTUDADAS


A seguir, são apresentadas algumas características das cidades estudadas, por meio de levantamento de dados
quantitativos e qualitativos.

3.1. Arapiraca
Arapiraca localiza-se na mesorregião do Agreste Alagoano, na parte central do estado de Alagoas, entre a
latitude 9°75’25’’ Sul e longitude 36°60’11’’ Oeste. A cidade abrange uma área de 345,65km², possui uma
população aproximada de 234.185 habitantes (estimativa para 2017) e densidade demográfica de
600,83hab/km² (IBGE, 2018a). O relevo arapiraquense apresenta poucas elevações, com altitudes
principalmente entre 200 e 300 metros e o clima predominante é o semiárido.

3.2. Palmeira dos Índios


Palmeira dos Índios está localizada a Norte do estado e pertence a mesorregião do Agreste de Alagoas. Seu
território abrange uma área de 450,96km² e sua população está estimada em 74.208 habitantes (para o ano de
2017), enquanto a densidade demográfica é de 155,44hab/km² (IBGE, 2018b). O território da cidade
apresenta relevo com poucas elevações na sua porção sul, atingindo 300 metros de altitude, e bastantes
acidentes nos seus limites ao norte, configurando o início do Planalto da Borborema, com altitudes próximas
dos 700 metros e o clima é predominantemente subúmido seco, possuindo pequena área no semiárido.

344
4. MÉTODO
A metodologia deste trabalho foi desenvolvida de acordo com as seguintes etapas: obtenção e tabulação dos
dados climáticos; verificação da disponibilidade de dados climáticos; tratamento estatístico dos dados
climáticos; inserção dos dados no software WRplot; criação e interpretação de gráficos e tabelas.

4.1. Obtenção e tabulação dos dados climáticos


Os dados climáticos utilizados nesta pesquisa foram obtidos diretamente do site do Instituto Nacional de
Meteorologia – INMET11, coletados por estações meteorológicas automáticas do INMET implantadas nas
cidades em estudo. A identificação de cada estação meteorológica, o período de abrangência e as
informações sobre a locação das estações podem ser vistos no Quadro 1.

Quadro 1 – Período de abrangência do banco de dados das cidades estudadas


Cidade Estação Início Fim Latitude Longitude Altitude
Arapiraca A353 mai/08 dez/18 -9.804551º -36.619198º 237m
Palmeira dos
A327 ago/07 dez/18 -9.420334º -36.620371º 278m
Índios
Foram obtidos dados de janeiro de 2009 a dezembro de 2018. Trata-se de dados horários de direção e
velocidade (médias e máximas) de vento e totais pluviométricos. Todos os dados foram tabulados em
planilhas do programa Microsoft Office Excel. Antes de serem inseridos no software WRPlot View -
Freeware, os dados foram organizados da seguinte maneira: estação climática, ano em que o dado foi
coletado, mês, hora, direção e velocidade média, respectivamente.

4.2. Verificação da disponibilidade de dados climáticos


Para que se tivesse uma base de dados confiável, os dados foram submetidos à verificação das lacunas, de
modo a serem eliminados os meses e/ou anos em que as falhas foram superiores a 20% de dados horários, de
acordo com recomendação da Organização Mundial de Meteorologia (WMO, 2011).
Em Arapiraca, os anos de 2017 e 2018 foram eliminados da análise por terem mais de 20% de dados
faltantes, além de outros três meses distribuídos entre 2012 e 2016. Em Palmeira dos Índios, nenhum ano foi
excluído da análise. Foram excluídos apenas 7 meses distribuídos entre os anos de 2011, 2013 e 2015.

4.3. Tratamento estatístico dos dados climáticos


Por meio de tratamento estatístico dos dados climáticos, foram identificadas características dos ventos nas
cidades quanto a direção dominante, velocidade do ar e períodos de calmaria, nas escalas temporais diárias,
mensais, sazonais e anuais. Ainda foram identificados os totais pluviométricos diários, mensais e anuais.

4.4. Inserção dos dados no programa WRplot View – Freeware


A ferramenta utilizada na análise dos dados de ventilação e de precipitação foi o programa WRplot View –
Freeware. O programa importou o arquivo com extensão “.xls” contendo dados de velocidade média dos
ventos, direção dos ventos e totais pluviométricos, gerou um arquivo no formato “.sam” e, a partir dele,
confeccionou gráficos do tipo rosa dos ventos contendo as direções predominantes dos ventos e as faixas de
velocidade em cada uma delas. Além disso, foram geradas rosas de chuvas exibindo as direções
predominantes das chuvas e suas faixas de intensidade.
Devido ao WRplot View apenas importar arquivos no formato “.xls” (modo de compatibilidade), o
programa limitou o número de anos analisados, uma vez que as planilhas em modo de compatibilidade
apenas comportam 65.536 linhas. Nesta pesquisa, foram escolhidos os 7 anos completos com maior número
de dados disponíveis para estudo, listados na Tabela 1.

Tabela 1 – Anos selecionados para análise


Cidades Anos selecionados
Arapiraca 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Palmeira dos Índios 2009 2010 2012 2014 2016 2017 2018

11
Endereço eletrônico: <http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=estacoes/estacoesautomaticas>

720
4.5. Criação e interpretação de gráficos e tabelas
A partir dos valores descritivos do comportamento climático obtidos para cada cidade referentes a cada
variável, foram gerados gráficos, cujas análises permitiram compreender os perfis climáticos dos municípios
em estudo.

5. RESULTADOS
Aqui são expostos os principais resultados encontrados durante a pesquisa e as discussões pertinentes a eles.
Os resultados são exibidos para cada cidade separadamente e, ao final, é apresentada uma síntese das
informações alcançadas.

5.1. Arapiraca
A análise da ventilação da cidade de Arapiraca mostrou que a direção predominante dos ventos é a leste,
enquanto a secundária é a sudeste, como visto no Gráfico 1. A velocidade do vento ocorre principalmente
entre 1,6 a 3,4m/s (fraco) e 3,4 a 5,5m/s (bonançoso), porém observa-se que em 13,75% do ano a velocidade
do vento é insignificante, como visto no Gráfico 1. Além disso, o período em que a ventilação se
caracterizou como aragem (0,3 a 1,6m/s) correspondeu a 18,7% das ocorrências, o que configura um período
considerável onde a ventilação tem seu potencial de uso comprometido enquanto estratégia bioclimática.

Gráfico 1 – Rosa dos ventos com média anual de frequência e direção dos ventos em Arapiraca

As rosas dos ventos mensais revelaram que, apesar da direção leste ser a predominante ao longo do
ano e a secundária ser a sudeste, há uma alteração no comportamento da ventilação ao longo dos meses. Os
ventos vindos da direção leste são mais frequentes nos meses do período seco (outubro a abril). Enquanto
nos meses do período úmido (maio a setembro), a direção predominante dos ventos é a sudeste e a direção
leste passa a ser secundária. As velocidades dos ventos diminuem durante o período úmido, como visto no
Quadro 1.

Quadro 1 – Rosas dos ventos com médias mensais de frequência e direção dos ventos em Arapiraca
Janeiro Fevereiro Março
Verão
(O

on
ut

Abril Maio Junho


o

721
Julho Agosto Setembro
Inverno

Outubro Novembro Dezembro


Primavera

Ao aprofundar ainda mais a análise, percebe-se que o comportamento dos ventos também se altera de
acordo com o período do dia. Entre 15h e 18h, a direção predominante dos ventos foi a sudeste durante quase
todo o ano. Além disso, a velocidade do vento foi maior entre 9h e 18h, como observado na Figura 1.

meia-noite
J F M A M J J A S O N D ANO
3h
→ → → → ↘ ↘ ↘ ↘ → → → → →
6h
→ → → → ↘ ↓ ↓ ↘ → → → → →
9h
→ → → → ↘ ↘ ↓ ↘ → → → → →
meio-dia
→ → → → ↘ ↘ ↘ ↘ ↘ → → → →
15h
→ → → → ↘ ↘ ↘ ↘ ↘ → → → →
18h
↘ ↘ ↘ ↘ ↘ ↘ ↘ ↘ ↘ ↘ → → ↘
21h
→ → → ↘ ↘ ↘ ↘ ↘ ↘ → → → →↘
meia-noite
→ → → → ↘ ↘ ↘ ↘ ↘ → → → →
→ → → → ↘ ↘ ↘ ↘ ↘ → → → →

Legenda:
Velocidade:
Aragens Fraco Bonançoso Moderado Fresco
0,3-1,5 m/s 1,6-3,3 m/s 3,4-5,4 m/s 5,5-7,9 m/s 8,0-10,7 m/s
Direção:
↑ N ↗ NE → E ↘ SE ↓ S ↙ SW ← W ↖ NW
Figura 1 – Diagrama de regime de ventos horário em Arapiraca

Quanto à precipitação, a rosa de chuvas anual de Arapiraca mostra que as chuvas incidentes vêm
principalmente da direção sudeste, seguida da direção leste e sul respectivamente, como observado no
Gráfico 2. A intensidade das chuvas se deu principalmente entre 0,1 a 2,5mm/h, caracterizada como
chuvisco, seguida de 2,5 a 10mm/h, caracterizada como chuvas fracas segundo a escala de Leite et al.
(2011).

722
Gráfico 2 – Rosa de chuva com média anual de totais pluviométricos e direção das chuvas em Arapiraca

A análise das rosas de chuvas mensais (Quadro 3) evidenciou que o período chuvoso tem início em
abril e termina por volta de setembro. À exceção de abril, cuja direção predominante é a leste, nos demais
meses do período úmido, a principal direção de incidência das chuvas é a sudeste, com a direção secundária
alternando entre leste e sul.
Quadro 3 – Rosas de chuva com médias mensais de totais pluviométricos e direção das chuvas em Arapiraca
Janeiro Fevereiro Março
Verão

Abril Maio Junho


Outono

Julho Agosto Setembro


Inverno

Outubro Novembro Dezembro


Primavera

723
5.2. Palmeira dos Índios
A rosa dos ventos referente a Palmeira dos Índios, revelou que a direção predominante de incidência dos
ventos na cidade é a leste, seguida das direções sudeste e nordeste, respectivamente, como visto no Gráfico
3. A frequência da velocidade dos ventos foi maior entre a faixa de 1,6 a 3,4m/s (fraco) e de 3,4 a 5,5m/s
(bonançoso). O período de calmaria correspondeu a 14,87% do período estudado, enquanto os ventos entre
0,3 a 1,6m/s (aragem) ocorreram em 18,9% do período.
Gráfico 3 – Rosa dos ventos com média anual de frequência e direção dos ventos em Palmeira dos Índios

A análise mensal dos ventos de Palmeira dos Índios mostrou que, de setembro a maio (período seco), a
direção predominante foi a leste com a secundária variando entre a sudeste e a nordeste. Nos meses de junho
a agosto (período úmido), a direção predominante é a sudeste tendo a leste como secundária. A alteração do
comportamento dos ventos a cada mês é observada nas rosas dos ventos mensais presentes no Quadro 4.
Também é possível observar que as velocidades dos ventos diminuem durante o período úmido.

Quadro 4 – Rosas dos ventos com médias mensais de frequência e direção dos ventos em Palmeira dos Índios
Janeiro Fevereiro Março
Verão

Abril Maio Junho


Outono

Julho Agosto Setembro


Inverno

724
Outubro Novembro Dezembro
Primavera

Embora, de modo geral, as direções predominantes sejam leste nos meses mais secos, e sudeste, nos
meses mais úmidos, a Figura 3 mostra que o padrão dos ventos também se altera ao longo do dia. Entre 6h e
9h e entre 18h e 21h, a direção predominante dos ventos foi a leste durante todo o ano. Entre 21h e 6h, os
ventos predominantes podem ser os oriundos do nordeste nos meses mais úmidos. A velocidade do vento foi
maior entre 9h e 18h.

meia-noite
J F M A M J J A S O N D ANO
3h
→ → → ↗ ↗ ↗ ↗ ↗ → → → → →
6h
→ → → → ↗ → ↗ → → → → → →
9h
→ → → → → → → → → → → → →
meio-dia
→ → → → ↘ ↘ → ↘ → → → → →
15h
→ → → ↘ ↘ ↘ ↘ ↘ → → → → ↘
18h
→ → → ↘ ↘ ↘ ↘ ↘ → → → → ↘
21h
→ → → → → → → → → → → → ↘
meia-noite
→ → → → ↗ ↗ ↗ ↗ → → → → →
→ → → → ↘ → ↗ → → → → → →

Legenda:
Velocidade:
Aragens Fraco Bonançoso Moderado Fresco
0,3-1,5 m/s 1,6-3,3 m/s 3,4-5,4 m/s 5,5-7,9 m/s 8,0-10,7 m/s
Direção:
↑ N ↗ NE → E ↘ SE ↓ S ↙ SW ← W ↖ NW
Figura 3 – Diagrama de regime de ventos horário em Palmeira dos Índios

O Gráfico 4 mostra a rosa de chuvas de Palmeira dos Índios, na qual observa-se que a direção
predominante de ocorrência das chuvas na cidade é a leste, seguida pela direção sudeste. As chuvas
ocorreram em maior frequência com a intensidade de 0,1 a 2,5mm/h seguida de 2,5 a 10mm/h,
caracterizando as mesmas como chuvisco e chuvas fracas (LEITE et al., 2011), respectivamente.
Gráfico 4 – Rosa de chuva com média anual de totais pluviométricos e direção das chuvas em Palmeira dos Índios

725
A análise mensal por meio das rosas de chuvas conformou que os meses mais chuvosos são os das
estações outono e inverno e mostrou que a direção predominante e a secundária durante este período alterna
entre a leste e a sudeste, como visto no Quadro 5.

Quadro 5 – Rosas de chuva com médias mensais de totais pluviométricos e direção das chuvas em Palmeira dos Índios
Janeiro Fevereiro Março
Verão

Abril Maio Junho


Outono

Julho Agosto Setembro


Inverno

Outubro Novembro Dezembro


Primavera

6. CONCLUSÕES
A análise da ventilação revelou que as direções dos ventos predominantes e secundários variam ao longo do
ano de maneira aproximada em cada localidade, havendo maior frequência dos ventos leste e sudeste de
modo geral. Além disso, os períodos de calmarias se aproximaram dos 15% nas duas cidades, demonstrando
que nem sempre a variável será efetiva para a promoção do conforto térmico em edificação.
Quanto à velocidade do vento, de modo geral, as maiores médias foram percebidas no período seco e
as menores médias no período úmido. A análise diurna mostrou que os horários mais quentes do dia possuem
ventos de maior velocidade.
A precipitação se mostrou concentrada entre os meses de abril a meados de setembro com direção
predominante sudeste para ambas as cidades.
Assim, é necessário usar estratégias de projeto que deem prioridade a edificações com aberturas nas
fachadas que recebem maior incidência de ventilação (leste e sudeste). Além disso, as fachadas sudeste
devem ser melhor protegidas contra a chuva. Também se faz necessária a proteção das fachadas que recebem

726
insolação poente. Assim, adequam-se as aberturas às necessidades climáticas da região e permite-se as trocas
térmicas com o meio externo através dos ventos.
Considera-se que as metodologias utilizadas são eficientes no auxílio a projetistas que venham a
estudar a ventilação e/ou precipitação antes da tomada de decisões projetuais uma vez que os métodos
permitiram a representação dos resultados de maneira a facilitar a compreensão do comportamento das
variáveis estudadas, assim como permitiram a apreciação do mesmo em escalas temporais diversas.
O conhecimento do perfil de ventilação e precipitação auxiliam os projetistas destas localidades a
conceber projetos de melhor qualidade quanto ao aproveitamento dos ventos e proteção das aberturas contra
as chuvas intensas, adequando-se às necessidades do clima local.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FROTA, Anésia Barros. Manual de conforto térmico. São Paulo: Studio Nobel, 2001.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Arapiraca. Disponível em:
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/al/arapiraca/panorama> Acesso em: 22 de abril de 2018a.
_____. Palmeira dos Índios. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/al/palmeira-dos-indios/panorama> Acesso em: 22 de
abril de 2018b.
INMET. Estação meteorológica de observação de superfície automática. Disponível em:
<http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=estacoes/estacoesAutomaticas>. Acesso em: 02 de abril de 2018.
LAKES ENVIRONMENTAL. WRPLOT View - Version 8.0.2. Disponível em:
<https://www.weblakes.com/products/wrplot/index.html>. Acesso em: 16 de junho de 2018.
LAMBERTS, R.; GHISI, E.; PAPST, A. L. Desempenho Térmico de Edificações. Apostila. Universidade Federal de Santa
Catarina. Florianópolis, 2011.
LEITE, M. L., ADACHESKI, P.A., VIRGENS FILHO, J. S. Análise da frequência e da intensidade das chuvas em Ponta
Grossa, Estado do Paraná, no período entre 1954 e 2001. Universidade Estadual de Ponta Grossa. Maringá, v. 33, n. 1, p.
57-64, 2011.
SILVA, J. B.; ZANUSSO, J. F.; SILVEIRA, D. L. M. Estudo da velocidade e direção dos ventos em Pelotas, RS. Revista
Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v.5, n.2, p227-235, 1997.
WAGNER, C.S. et al. Velocidade e direção predominante dos ventos no Estado do Paraná. Londrina: Instituto Agronômico do
Paraná, 1989.
WMO. World Meteorological Organization. Guide to Climatological Practices (WMO-No. 100). Geneva, 2011. Disponível em:
<https://library.wmo.int/pmb_ged/wmo_100_en.pdf> Acesso em: 9 de agosto de 2018.

AGRADECIMENTOS
A CAPES pela concessão das bolsas de estudo das mestrandas.

727
LEITURA BIOCLIMÁTICA
O USO DA SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL COMO FERRAMENTA
PARA A MELHORIA DO ESPAÇO URBANO E A GERAÇÃO DO
MICROCLIMA NA CIDADE DE PALMAS - TO
Mariela Cristina Ayres de Oliveira (1), Luana Cristina Lehnen Pereira (2)
(1) Doutor, Professor adjunto IV, e-mail: mariela@uft.edu.br; UFT, Avenida NS 15, Norte, 109 - Plano
Diretor Norte, Palmas - TO, 77001-090 Telefone:(63) 3232-8020
(2) Aluno PIBIC, e-mail: luana_lehnen@hotmail.com; UFT, Avenida NS 15, Norte, 109 - Plano Diretor
Norte, Palmas - TO, 77001-090 Telefone:(63) 3232-8084

RESUMO
A arborização urbana pode influenciar diretamente a qualidade de vida da população, pois é capaz de
melhorar o conforto térmico. A cidade de Palmas - TO apresenta em determinada época do ano clima quente
seco, chegando a temperaturas e 25°C segundo CLIMATTE-DATA (2017), o que ocasiona bastante
desconforto durante o uso dos espaços públicos, principalmente no período diurno. A vegetação como
promotora deste conforto muitas vezes se demonstra ausente ou planejada de forma incorreta. O objetivo
deste trabalho é propor uma leitura bioclimática na Avenida LO-09, situada na região central da cidade de
Palmas, com foco na melhoria do microclima urbano por meio de uma arborização planejada, tendo como
resultado um espaço melhor para todos os moradores da cidade. Através de simulações realizadas no
software ENVI-met versão 3.4 e diretrizes para a arborização de vias públicas, pretende-se promover
conforto térmico e visual favorecendo a convivência coletiva e a apropriação dos espaços públicos urbanos
por meio da geração de um microclima agradável. O estudo será simulado pelo software ENVI-met na
versão 3.4 e trará consigo diretrizes, sendo capaz de confirmar os benefícios da arborização urbana através da
interpretação dos mapas gerados pela extensão do programa Leonardo. Conforme as análises dos resultados,
entende-se que a vegetação é promotora do conforto térmico e a forma como está é distribuída no ambiente
urbano influência nos benéficos que iram trazer para o ambiente urbano.
Palavras-Chave: Clima Urbano; Arborização Urbana; ENVI-met.

ABSTRACT
Urban afforestation can directly influence the quality of life of the population, since it is capable of
improving thermal comfort. The city of Palmas - TO presents on average the season of the hot climate,
reaching temperatures of up to 25 ° C after year (2017), which causes greater discomfort during the use of
the means of entertainment, mainly during the daytime period. Fashion as a promoter is the way that is often
shown to be absent or planned incorrectly. The objective of this work is to propose a bioclimatic reading on
Avenida LO-09, in the central region of the city of Palmas, with a focus on the urban microclimate through a
planned planting, as a better space for all the residents of the city. By means of simulations, ENVI-met
version 3.4 software was not developed and the directive for the afforestation of public roads is intended to
promote thermal and visual comfort favoring a collective coexistence and an appropriation of the urban
means for the generation of a pleasant microclimate. The study will be simulated by the software ENVI-met
in version 3.4 and will bring with it guidelines, being able to confirm the advantages of urban afforestation
by interpreting the maps generated by the Leonardo program extension. Like companies, results, companies,
the media and companies that exert a competitive influence on the urban environment.
Keywords: Urban Climate; Urban Afforestation; ENVI-met.

728
1. INTRODUÇÃO
Com o surgimento dos grandes aglomerados urbanos as cidades passaram a substituir os elementos naturais,
por elementos artificiais como asfalto, edificações, pisos de concreto, telhas de cerâmica, amianto, vidros e
estruturas metálicas. Esses elementos, com elevada capacidade refletora proporcionam um microclima,
causando desconforto na população pelo aumento da temperatura, formando “ilhas de calor”. (SCHUC,
2006)
Dessa forma, consequentemente, alterações climáticas como a intensidade de radiação solar, a
temperatura, a umidade relativa do ar, a precipitação e a circulação do ar, entre outros fatores, são afetados
pelas condições de artificialidade do meio urbano, alterando a sensação de conforto ou desconforto das
pessoas. (CEMIG, 2011)
O clima urbano neste contexto ganha importância devido a sua influência direta na qualidade de vida
da população. Os espaços urbanos, extensos ou não, interferem nas características climáticas locais, criando,
o seu próprio campo de temperaturas. Essas mudanças acarretam na criação de um microclima urbano, que é
ocasionado pelas modificações realizadas no ambiente natural, como a substituição da cobertura natural do
solo, por camadas de asfalto, concreto e pedra, pela mudança da geometria urbana e da baixa atmosfera.
(GANHO, 1999)
Neste sentido, a arborização é um elemento fundamental e deve ser considerado como um dos mais
importantes na estrutura urbana. As contribuições ambientais proporcionadas pela arborização são muitas e a
sua importância na melhoraria do clima, do ar, da paisagem e de muitos outros atributos. Além disso,
valorizar as árvores que formam a paisagem natural de uma cidade é reconhecer a sua própria identidade.
(PAB, 2015)
A cidade de Palmas – TO é bastante conhecida pelo seu clima, proporcionando a população uma
sensação desagradável frente ao intenso calor, que acontece principalmente entre os meses de julho a
setembro. Este fator contribui para o esvaziamento dos espaços públicos da cidade, principalmente no
período diurno, onde as temperaturas se encontram mais elevadas, chegando a 35°C. (CLIMATE-DATA,
2017)
Nesse contexto a população evita usar os espaços públicos durante o período diurno, fazendo com
que as áreas verdes e espaços livres fiquem subutilizados. Além do seu clima, a malha urbana da cidade de
Palmas é bem dispersa e sem conectividade suficiente para modais de transporte alternativos, o que dificulta
ainda mais a locomoção de pedestres e ciclistas e acaba distanciando a população dos espaços livres.
Segundo Oliveira et al. (2017), as praças da cidade de Palmas são mais frequentadas no período
noturno, tendo em vista que durante o dia a população enfrenta grande desconforto na prática de exercícios e
do uso para o lazer ao ar livre, e já no período noturno as temperaturas são menores, permitindo maior
conforto térmico.
Percebe-se assim, a necessidade de estudos e diretrizes que estabeleçam uma melhor relação entre o
indivíduo e o meio urbano, tendo como foco a arborização urbana e a melhora do desempenho ambiental das
cidades e dos seus espaços. Diante do exposto, questiona-se de que forma o microclima gerado nos espaços
públicos a partir da utilização de uma arborização bem planejada pode melhorar a qualidade de vida da
população permitindo o uso confortável destes espaços.
O Plano de Arborização da cidade de Palmas – PAB, prima por uma arborização urbana planejada
através do uso de espécies arbóreas adequadas para o meio urbano e por espécies nativas da região em
questão, pois desta forma é possível contribuir para o conforto ambiental e da população, amenizando as
temperaturas. A contribuição da arborização nos centros urbanos abrange desde a melhoria da qualidade do
ar, a proteção térmica e acústica e a qualificação estética e paisagística até a contribuição para a manutenção
da biodiversidade do local. (PAB, 2015)

2. OBJETIVO
O trabalho tem por objetivo propor uma leitura bioclimática na Avenida LO-09 com foco na melhoria do
microclima urbano por meio de disposição de espécies arbóreas de forma adequada no espaço urbano, tendo
como resultado um espaço melhor para todos os moradores da cidade.

3. MÉTODO
O desenvolvimento do trabalho está dividido em 4 etapas diferentes: 1 Pesquisa bibliográfica – conceitos,
definições, teorias; 2 A cidade de Palmas e seu clima – entendimento sobre o clima urbano e simulações
computacionais; 3 Caracterização urbana da Av. LO 09 – coleta de dados, diagnóstico; 4 Diretrizes, análise
das simulações.

729
(1) Na primeira parte do trabalho foi realizado um levantamento do referencial teórico acerca da
temática abordada, apontando conceitos e definições dos temas: qualidade de vida, arborização urbana, clima
e microclima urbano.
(2) A segunda etapa consiste na conceituação sobre simulação computacional e a realização das
simulações da área de intervenção através do software ENVI-met, além de apresentar os resultados obtidos
fazendo as suas devidas interpretações antes e depois com a inserção das áreas vegetadas e espécies arbóreas.
(3) Na terceira parte, são levantados dados in loco para a caracterização da região de estudo e seu
entorno, servindo de base para a realização do diagnóstico que contribuirá para a formulação das diretrizes.
(4) Na última parte do trabalho serão apresentados os resultados e discussões acerca das simulações
realizadas.

3.1. Apresentação da Área de Estudo


A Avenida LO-09 está localizada na região sul da cidade de Palmas -TO entre as quadras 303 SUL E 403
SUL. Esta avenida era sede do antigo aeroporto da capital, porém com o crescimento da cidade e as novas
necessidades atende atualmente como área de Comércio e Serviço Vicinal. Devido a sua função inicial
possui uma largura maior que as demais avenidas da cidade e não contém canteiro central, uma das
características principais do traçado urbano de Palmas. Além disto, a falta de espécies arbóreas e conexões
entre as calçadas é bastante evidente e gera desconforto no deslocamento de pedestres e ciclistas.

De acordo com as Figuras 2 e 3, pode-se perceber o surgimento de comércios e estabelecimentos de


prestação de serviços. Esses comércios assim como,
lojas lanchonetes, bares e restaurantes são responsáveis
pela movimentação de pedestres, movimento este que se
evidencia mais ao entardecer e no período da noite.
Nota-se o uso da avenida para a prática de exercícios
físicos, assim como, caminhada, corrida, pedalada, esta
prática deve-se ao seu comprimento e largura,
permitindo um espaço livre e contínuo, que apesar de
ser destinado para a passagem de veículos é utilizado
também para outros fins. Destaca-se ainda as grandes
áreas impermeabilizadas e a falta de interesse público e
da população em plantar árvores que sombreiem os
estacionamentos e calçadas.

Figura 1: Localização da Avenida LO - 09

Figura 2: Avenida LO - 09 Figura 3: Avenida LO - 09

A vegetação existente na Avenida LO – 09 provêm dos comerciantes do local, os quais na tentativa


de tornar o ambiente mais agradável e demarcar os bolsões de estacionamentos usam espécies arbóreas e
faixas de grama, como é possível observar na Figura 4.

730
Figura 4: Arborização Avenida LO – 09

3.2. Software ENVI-met


Para conhecer melhor os impactos ambientais gerados através da construção e modificação do ambiente
urbano os softwares de simulação computacional são ferramentas capazes de avaliar o desempenho de
edifícios, bairros e cidades.
Segundo Silva (2013) a expressão simulação bioclimática é o processo de simulação computacional
que utiliza necessariamente dados bioclimáticos específicos do lugar para o seu desenvolvimento. Desta
forma, qualifica a simulação quando garante que esta contém dados locais, melhorando o objeto a ser
avaliado, pois indica que os resultados obtidos serão gerados a partir de uma base de dados não genérica,
mas específica de determinado sítio.
Para realizar as simulações, é necessário que se reúnam os dados necessários do sítio específico a ser
simulado. A seguir serão apresentados os dados inseridos na plataforma do software ENVI-met, conforme
Tabela 1 e 2, com o objetivo de sistematizar a coleta de informações e atribuir maior veracidade as
simulações realizadas.

Tabela 1: Dados de Localização utilizados na plataforma do Envi-met

Município de Palmas - To

Longitude -48.30

Latitude -10.18

Fuso horário UTC/GMT -3 HORAS

Tabela 2: Dados Climáticos do ano de 2013 utilizados na plataforma do Envi-met

Temp. UR Rugosidade Vel.ar Direção do Pressão


Máxima da Superfície Vento Atmosférica
Méd Méd
Período Predominante

24/4 a
14/09
39,9(°C) 58(%) 0,1 (Default) 1,3 Leste 7 (2500m,
g/kg)
(m/s)

O recorte da área de intervenção conforme a Figura 5, levou em consideração o tamanho da malha


disponível na versão gratuita do programa Envi-met. De acordo com as referências encontradas é indicada
uma malha de no máximo 3,5m x 3,5m para cada 1m no programa, desta forma as dimensões reais da área a
ser simulada devem ser no máximo de 350m x 350m. Definiu-se para a área de recorte um tamanho real de

731
135m x 350m, levando em consideração uma área que estivesse com maior consolidação das construções,
afim de obter resultados mais precisos.
As simulações da área de estudo abordaram
alguns dos elementos climáticos mais importantes para
análise de microclimas urbanos: a temperatura e a
umidade relativa do ar, a temperatura superficial dos
materiais e o vento.
Como o programa proporciona interações entre
superfície, vegetação e atmosfera, e a escassez da
arborização é bastante evidente, a vegetação conduz a
análise dos mapas, ou seja, a partir dela que é
elaborado todo um entendimento de como os
elementos climáticos se comportam diante de diversos
fatores.
Assim, para compreender melhor a análise dos
elementos climáticos nos mapas que foram simulados,
é importante observar o mapa de distribuição dos
materiais urbanos, ou seja, onde estão localizadas as
edificações, as copas das árvores, o asfalto, a grama e
Figura 5: Recorte Área de Simulação o solo natural, conforme Figura 6 e 7.
Com as modelações no software da Avenida LO–09 prontas, foram realizadas as simulações do
cenário atual e do cenário proposto conforme Figura 6 e 7. Após as simulações são gerados os mapas de
temperatura de acordo com os arquivos oriundos do processo de simulação.

Figura 6: Distribuição dos materiais na simulação do cenário Figura 7: Distribuição dos materiais na simulação do cenário
Atual Proposto

A simulação do cenário Proposto é baseada no desenho previsto pela Prefeitura de Palmas para a
Avenida LO-09, conforme o estabelecido nas outras avenidas da cidade, seguindo o mesmo padrão. Para a
inserção da arborização no software aderiu-se as diretrizes do Plano de Arborização de Palmas.
Foram inseridas 50 espécies arbóreas de porte grande no canteiro central e 80 árvores de porte médio
e pequeno nos canteiros dos estacionamentos e calçadas, paralelas a Avenida LO-09.
De acordo com o desenho têm-se um novo croqui da distribuição dos materiais urbanos, ou seja,
onde estão localizadas as edificações existentes, as copas das árvores, o asfalto, concreto, grama e o solo
natural, conforme Figura 7. Destaca-se que apenas a superfície do solo e a vegetação foram inseridos
seguindo o desenho da Avenida LO-09 conforme previsto pela prefeitura de Palmas, permanecendo a
ocupação dos lotes de modo igual a situação atual.

732
4. RESULTADOS
De acordo com as simulações realizadas para o Cenário Atual, os mapas da Figura 8 nos apresentam as
temperaturas para os horários de 10hrs, 13hrs e 16hrs respectivamente.
O primeiro mapa da Figura 8 demonstra a simulação do mapa climático gerado na plataforma
Leonardo para às 10:00 horas da manhã. Percebe-se que as temperaturas variam de 19,9°C a 31,8°C.
Permanecendo mais amenas nos edifícios.
O segundo mapa demonstra a simulação do mapa climático gerado na plataforma Leonardo para às
13:00 horas da tarde. Percebe-se que as temperaturas variam de 20 °C a 36,6°C. As temperaturas aumentam
proporcionalmente nas áreas pavimentadas, onde a pavimentação asfáltica é responsável pelo maior ganho
térmico.
O terceiro demonstra a simulação do mapa climático gerado na plataforma Leonardo para às 16:00
horas da tarde. Percebe-se que as temperaturas variam de 20,4 °C a 44,6°C.

Figura 8: Mapas climáticos, Temperatura do Ar

De acordo com as simulações realizadas para o Cenário Proposto, os mapas da Figura 9 nos
apresentam as temperaturas pros horários de 10hrs, 13hrs e 16hrs respectivamente.
A análise do primeiro mapa da Figura 9 nos mostra a simulação realizada para o horário das 10
horas da manhã, onde é possível observar que as temperaturas variam 2°C a menos para o entorno dos
edifícios e vegetação, ficando com temperaturas aproximadamente de 26°C, e nas áreas de pavimentação
artificial, asfalto e concreto, permanecem mais elevadas 2°C, ficando com temperaturas aproximadamente de
28°C.
O segundo mapa nos mostra a temperatura do ar para horário de 13 horas da tarde. As temperaturas
variam 31,7°C a 34,1°C, ficando mais elevadas nas áreas de asfalto e concreto.
O terceiro mapa é resultado da simulação das 16 horas. É possível observar o ganho de temperatura

733
dos materiais durante o dia. As temperaturas variam aproximadamente de 37°C a 41°C. É possível observar
que nas partes vegetadas se têm uma redução de até 2°C se comparada a área asfaltada.

Figura 9: Mapas climáticos, Temperatura do Ar

De acordo com as simulações realizadas, percebe-se que no de correr do dia os materiais como,
concreto e o asfalto ajudam no aumento da temperatura, tal fato pode ser observado nos mapas das Figuras 8
e 9.
Entende-se que, com os fatores limitantes acerca da versão gratuita do software ENVI-met, as
simulações tendem a apenas demonstrar que os materiais que substituem a camada natural do solo,
contribuem de forma significativa para o aumento das temperaturas no ambiente urbano e que a vegetação
atua de forma benéfica, sendo responsável por contribuir na diminuição do estresse térmico. Este fato, nos
permite dizer que é necessário possuir mais áreas vegetadas para que seja possível um melhoramento do
microclima da cidade de Palmas, amenizando desta forma a temperatura do ar.

5. CONCLUSÕES
Está bem estabelecido na literatura que a arborização urbana favorece o microclima local. Os resultados
deste estudo demostraram que a vegetação arbórea influencia os valores de temperatura do ar na região do
município de Palmas. Ficou confirmado que a formação de corredores verdes no sistema viário é capaz de
contribuir de forma significativa, amenizando a temperatura do seu entorno.
Conforme o gráfico da Figura 10, as temperaturas aumentam proporcionalmente nas áreas
pavimentadas, onde a pavimentação asfáltica é responsável pelo maior ganho térmico. Pode-se perceber que
o Asfalto gera 4°C a mais que o Solo Natural no horário de 10 horas, chegando até 7°C a mais no horário de

734
16 horas.
Apesar do aumento das áreas pavimentadas com a cobertura do solo natural por asfalto e concreto no
cenário proposto, é possível observar o efeito das áreas vegetadas e da arborização inserida, sendo estes
efeitos positivos na redução das temperaturas.

Figura 10: Gráfico comparativo de Temperatura do Ar


Ainda com relação à região de estudo, podemos confirmar como a falta da vegetação urbana pode
agravar as altas temperaturas predominantes da região. Destacando-se que o reconhecimento de como as
áreas verdes, o revestimento horizontal e a morfologia urbana influenciam na temperatura do ar é muito
importante para o desempenho ambiental dos espaços urbanos.
Conclui-se, que a população usuária do local percebe os desconfortos ocasionados pela amplitude do
espaço e a ausência da vegetação e da sombra, criando um ambiente desagradável ambientalmente. Desta
maneira, a vegetação tem papel preponderante no conforto ambiental dos espaços urbanos, pois interfere
diretamente na redução de temperatura do ar, das superfícies sombreadas, no aumento da umidade do ar e na
redução da poluição atmosférica. Neste sentido, a educação ambiental é uma das possíveis ferramentas para a
realização de ações que melhorem a região.
Como este trabalho tem caráter pioneiro na utilização do software para simulações (ENVI-met) de
desempenho ambiental de áreas urbanas na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal
do Tocantins, concluiu-se que há avanços que podem ser feitos em relação aos ajustes dos dados inseridos no
programa e ao banco de dados referente à vegetação utilizada, gerando análises mais precisas e adaptadas ao
clima do cerrado brasileiro e mais precisamente sobre a cidade de Palmas.
Assim, a utilização do software, será cada vez mais, uma importante ferramenta de auxílio para a
tomada de decisões que visem à melhoria da qualidade de vida nos espaços urbanos, ajudando arquitetos,
projetistas, engenheiros e principalmente o poder público a gerir de forma mais eficiente. O ENVI-met,
principal ferramenta utilizada nesta pesquisa, mostrou-se adequado para a simulação de áreas urbanas. As
limitações encontradas tornaram-se relevantes para um possível aprofundamento de estudos sobre o
programa e, sugere-se a necessidade de realizar medições em campo para que a análise não seja apenas
visual por meio dos mapas gerados, mas também numérica. Em relação ao software de apoio Leonardo, foi
possível uma boa utilização, facilitando a leitura dos mapas, já que permitiu comparações entre eles através
de análises visuais com legenda.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEMIG. Companhia Energética de Minas Gerais. Manual de Arborização. Belo HorizonteMG: Cemig/Fundação Biodiversitas,
2011.
CLIMATTE-DATA, 2017, Clima: Palmas. Disponível em: <https://pt.climate-data.org/america-do-sul/brasil/tocantins/palmas-
4072/>. Acessado em: 11 nov. 2018.
GANHO, N. Clima Urbano e a Climatologia Urbana - Fundamentos e Aplicação ao Ordenamento Urbano. Cad. Geografia.
Coimbra, n.°18, pp. 97-127, 1999. Disponível
em:<https://digitalisdsp.uc.pt/bitstream/10316.2/40429/1/Clima%20urbano%20e%20a%20climatologia%20urbana.pdf>. Acesso em:
13 de ago. 2018.
OLIVEIRA, M. C. A. de; CARDOSO, M.; CAMARGO, M. C. R. de; CRUZ, B. B. de La; O Novo Papel Da Praça Para O Cidadão
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Palmas: Memórias do Urbanismo. Documentação e Pesquisa sobre a Concepção Urbanística De Palmas. Disponível em:
<https://www.memourbpalmas.org/>. Acesso em: 20 nov. 2018.

735
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PREFEITURA MUNICIPAL DE PALMAS. Banco de dados GeoPalmas. Site: <http://geo.palmas.to.gov.br/> Acesso em: 10 de
janeiro de 2019.
SCHUCH, Mara Ione Sarturi. Arborização Urbana: Uma contribuição à qualidade de vida com uso de geotecnologias.
Dissertação (Mestre em Geomática) - Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, 2006.
SILVA, Caio Frederico e. O Conforto Térmico de Cavidades Urbanas: Contexto Climático do Distrito Federal. Tese
(Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, Brasília, 2013.
SILVA, Caio Frederico e.; ROMERO, Marta Adriana Bustos. Desempenho Ambiental De Vias Públicas Quanto Ao Conforto
Térmico Urbano. Estudo De Caso: Tersina – Piauí – Brasil. In: PLURIS, São Paulo, 2010. In: Disponível em: <
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SILVA, Liliane Flávia Guimarães da. Percepção Climática E Conforto Térmico: contribuição ao estudo interdisciplinar dos
aspectos objetivos e subjetivos do clima em Palmas, TO. 2018. Tese (Doutorado em Ciências do Ambiente) – Universidade
Federal do Tocantins, Palmas, 2018.

AGRADECIMENTOS
As autoras agradecem a Universidade Federal do Tocantins – UFT e ao CNPq, pelo apoio fornecido para a
realização deste trabalho.

736
MÉTODO INDIRETO PARA OBTENÇÃO DE ALTURAS DE
EDIFICAÇÕES A PARTIR DE IMAGENS DE SATÉLITE

Jeanne Moro (1); Eduardo Krüger (2); Silvana Camboim (3); Clarisse Farian de Lemos (4)
(1) Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, arquiteta , Universidade Tecnológica
Federal do Paraná – UTFPR, Rua Deputado Heitor Alencar Furtado, 5000 – Ecoville, CEP 81280- 340,
Curitiba/PR, jeannemoro@gmail.com
(2) Dr., Professor do Departamento de Construção Civil, Universidade Tecnológica Federal do Paraná –
UTFPR, Rua Deputado Heitor Alencar Furtado, 5000 – Ecoville, CEP 81280-340, Curitiba/PR,
ekruger@utfpr.br
(3) Dra., Professora do Departamento de Geomática, Universidade Federal do Paraná – UFPR, Centro
Politécnico – Jardim das Américas, Caixa Postal 19001 – CEP 81531-990 – Curitiba/PR,
silvanacamboim@gmail.com
(4) Dra., Professora do Departamento de Construção Civil, Universidade Tecnológica Federal do Paraná –
UTFPR, Rua Deputado Heitor Alencar Furtado, 5000 – CEP 81280-340-Curitiba/PR, claricelemos@utfpr.br

RESUMO
Alguns fatores influenciam o uso dos espaços públicos abertos de lazer, dentre eles a incidência solar, fatores
climáticos e de conforto, o design e ergonomia destes espaços. O sombreamento, gerado pelas elevadas
alturas das edificações de entorno, pode alterar o ambiente térmico nas diferentes estações durante o ano,
estimulando ou não o uso destes locais. A avaliação do impacto de sombreamento para a situação de inverno
pode ser feita através de dois diferentes métodos, de forma direta ou indireta. Dentre os métodos diretos
podemos citar: as informações cadastrais disponibilizadas pelos órgãos competentes do município, medições
in loco com Estação Total, medições através de aplicativos existentes, ou através de uma ferramenta do
Google Earth Pro, recurso este disponibilizado até o momento somente para as capitais brasileiras. Já o
método indireto origina-se a partir da análise das sombras das edificações projetadas no solo por meio do
sensoriamento remoto. Este estudo apresenta um método indireto para a obtenção das alturas de edificações a
partir da análise das sombras projetadas nos solos, observadas a partir de imagens de satélite disponibilizadas
em meio digital, utilizando-se de relações geométricas e da geometria solar. Os resultados obtidos na
aplicação do método indireto, demonstraram que o método é confiável. As diferenças dos resultados entre as
medições in loco e as medições através do método proposto foram, em sua maioria, pequenas.
Palavras-chave: acesso solar, sombreamento, uso de espaços abertos

ABSTRACT
Some factors influence the use of open public spaces, among them solar access, climatic and comfort factors,
the design and ergonomics of such spaces. Shading from adjacent high-rise buildings can change the thermal
environment in different seasons during the year, stimulating or not the use of these places. The evaluation of
the impact of shading in winter can be done according to two different methods, directly or indirectly.
Among the direct methods we can mention: the cadastral information made available by the competent
authorities of the municipality, in situ measurements with Total Station, measurements by means of existing
applications, or with a tool from Google Earth Pro, currently available only for Brazilian capitals. The
indirect method originates from the analysis of the shadows of the buildings projected on the ground through
remote sensing. This study presents an indirect method to obtain height of buildings from the analysis of the
projected shadows in the ground, observed from satellite images available online, based on geometric
relations and solar geometry. Results obtained in the application of the indirect method demonstrated that the
method is reliable. The differences in results between on-site measurements and measurements using the
proposed method were mostly small.
Keywords: solar access, shading, use of open spaces.

737
1. INTRODUÇÃO
Os espaços públicos abertos de lazer trazem inúmeros benefícios para a melhoria da habitabilidade do
ambiente urbano, entre eles a possibilidade de práticas sociais, encontros ao ar livre e momentos de lazer,
que favorecem o desenvolvimento humano e o relacionamento entre as pessoas (OLIVEIRA e MASCARÓ,
2007).
Alguns fatores influenciam o uso destes espaços, tais como os fatores climáticos e de conforto
térmico, o sombreamento/acesso solar, e a ergonomia e design dos espaços, e por esta razão vários são os
estudos direcionados nesta área, pois segundo Nikolopoulou et al. (2001), a não condição de conforto pode
representar a redução do uso dessas áreas.
Outro importante aspecto quanto a apropriação ou uso de um determinado local é o entorno que
circunda os espaços públicos abertos de lazer, o qual influi substancialmente sobre os indivíduos que vão
usá-lo e sobre a condição de cada pessoa, tanto no que tange aos mecanismos biológicos do corpo como
psicológicos, motivações, experiências e necessidades (BENEDET, 2008).
Portanto, é imprescindível analisar os diferentes aspectos que influenciam o uso dos espaços
públicos abertos de lazer. Um destes aspectos é o sombreamento, gerado pelas elevadas alturas das
edificações de entorno, que pode alterar o ambiente térmico nas diferentes estações durante o ano,
estimulando ou não o uso destes locais.
Para a avaliação do impacto de sombreamento proveniente de edificações sobre estes espaços é
necessário conhecer a altura das edificações de entorno. Para isto, existem dois diferentes métodos direto e
indireto.
Dentre os métodos diretos podemos citar: as informações cadastrais disponibilizadas pelos órgãos
competentes do município, medições in loco com Estação Total, medições através de aplicativos existentes a
partir dos princípios de trigonometria, ou através de uma ferramenta disponibilizada pelo Google Earth Pro
que utiliza a base de dados tridimensional, recurso este disponibilizado até o momento, no Brasil, somente
para as capitais.
Já o método indireto de obtenção das alturas origina-se a partir da análise das sombras das edificações
projetadas no solo. Estas análises podem ser efetuadas através do sensoriamento remoto, ou seja, a partir de
imagens de satélite disponibilizadas em meio digital, ou adquiridas de empresas especializadas.
Segundo Peeters e Etzion (2012), o sensoriamento remoto tem sido usado, combinado com técnicas de
processamento de imagens, com o intuito de proporcionar ferramentas que podem ser empregadas em
estudos de forma urbana. Conforme salientado por Shettigara e Sumerling (1998), este procedimento tem
aplicações significativas em monitoramento urbano e estudos ambientais.
O método é utilizado em situações onde não é possível utilizar o método direto, considerando que
nem todas as cidades possuem ou disponibilizam um registro/cadastro geral de alturas das edificações, e que
nem sempre é possível estar no local para verificar ou obter essas alturas, devido ao deslocamento e tempo
necessários para se realizar tais levantamentos ou, ainda, onde a base de dados para a medição através do
recurso do Google Earth não está disponível.
Existem algumas plataformas que disponibilizam, sob licenças de uso, imagens de sensoriamento
remoto em alta resolução, porém com metadados restritos, entre eles o Bing Maps, o Google Earth e o
Google Maps. Os dois últimos possuem a mesma base, que são imagens de satélite adquiridas de grandes
empresas como, por exemplo, a Digital Globe. Existem também outras plataformas gratuitas de acesso a
imagens de satélite, como as do INPE, da NASA, e da Agência Espacial Europeia.
Nessa linha, alguns estudos aprofundam métodos automatizados de segmentação e classificação de
objetos em imagens para obtenção de altura das edificações a partir de imagens de satélite (IRVIN e
MCKEOWN 1989; CHENG e THIEL, 1995; CORDOVA, 2005; CLUA e CARRARA, 2007; LEE e KIM
2010; COMBER et al., 2012; PEETERS e ETZION, 2012; HUANG e ZHANG, 2012; RAJU et al.,2014;
KADHIM et al., 2015; DINI et al., 2014; LIASIS e STRAVOU, 2016; QI et al., 2016; BILJECKI et al.,
2017).
Na linha de pesquisa com aplicação de extração de sombras e segmentação com finalidades de análises
urbanas, pode-se citar Peeters (2016) e Wang et al. (2016). Sendo que Peeters (2016) aplicou um método
automatizado de análises de clima urbano, mais especificamente em extensão do acesso solar que foi
utilizado em um estudo de caso em pátios internos residenciais, durante o verão, na cidade de Marrakesh. Foi
adotado o critério paramétrico de 100% de sombra no pátio às 14h com a finalidade de checar se os pátios
estavam sombreados durante o horário mais quente do dia nesta cidade, sendo que os resultados
demonstraram que a maioria dos pátios analisados (53%) estavam sombreados no horário desejado. Já Wang
et al. (2016) aplicaram um método de reconstrução em 3D de edifícios residências a partir de sombras de

738
uma cidade localizada na China com o intuito de obter a distribuição populacional usando imagens de
satélite.
A pesquisa de Comber et al. (2012) apresenta um método que complementa as abordagens existentes
para extrair alturas de construções que requerem especificações precisas das características geométricas dos
dados de detecção remota e/ou grandes quantidades de dados pré-existentes, sendo que a abordagem é
adequada para análises que requerem medidas aproximadas de altura de edifícios.
O estudo do sombreamento pode auxiliar e fornecer subsídios desde a etapa de planejamento urbano,
como por exemplo na definição dos zoneamentos, e no planejamento dos espaços públicos abertos de lazer,
contribuindo para a análise da distribuição dos subespaços e áreas de lazer e descanso, além de poder atuar
como ferramenta de avaliação do impacto de novas edificações de entorno com o objetivo de maximizar o
uso/apropriação dos espaços nas diferentes estações do ano. Dados abertos e softwares específicos ou
ferramentas de Sistemas de Informação Geográfica livres podem ser utilizados para a geração de mapas de
visualização do sombreamento no local e também permitir diferentes tipos de análises de sombra, espaciais e
quantitativas, em diferentes períodos do ano.

2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é apresentar um método indireto para a obtenção das alturas de edificações a partir
da análise das sombras projetadas no solo, observadas a partir de imagens de satélite disponibilizadas em
meio digital, utilizando-se de relações geométricas e da geometria solar.

3. MÉTODO
As projeções das sombras das edificações podem ser observadas através de levantamentos fotográficos feitos
a partir de sobrevoos de drones ou aviões, e a partir das imagens de satélite de bancos de dados de
sensoriamento remoto adquiridas ou disponibilizadas online, como, por exemplo, as imagens do Google
Earth, recurso este utilizado na pesquisa e descrito a seguir.

3.1. Seleção de Imagens Aéreas do Google Earth Pro


A primeira etapa do processo de obtenção das alturas é selecionar a imagem aérea que melhor enquadra o
objeto de estudo, pois o Google Earth disponibiliza uma ferramenta de imagens históricas, onde são
disponibilizadas todas as imagens existentes de determinada localidade. As imagens distinguem-se em
tonalidade e cor da imagem, presença ou não de nuvens e inclinação (Figura 1).

Figura 01 - Imagem de satélite da UFPR Centro Politécnico em diferentes datas (Google Earth, 2017).
Os critérios a serem adotados para a seleção são: a qualidade da imagem (nitidez), a inclinação dos
prédios e também o posicionamento da sombra (dimensão, inclinação), e a visualização do “pé da sombra”
no edifício. A imagem deve estar direcionada com o norte na parte superior.

739
3.2. Estimativa do horário de captura da imagem através de Relógio de Sol Virtual
Como as imagens são distribuídas gratuitamente pelo Google, os metadados disponibilizados são mínimos
(constando em geral apenas: data, longitude e latitude). Para se estimar a altura dos edifícios a partir das
sombras projetadas nestas imagens, utilizando-se de relações geométricas e da geometria solar, é necessário
conhecer o horário no qual essas foram capturadas, uma vez que tal horário definirá a extensão da sombra na
imagem.
Neste estudo, para se obter o horário da captura da imagem a partir da data fornecida como
metadado, baseou-se na estimativa do horário via sobreposição de um relógio de sol virtual sobre a imagem
de satélite, conforme o método descrito por Moro et al. (2017) (Figura 2).

a) b)
Figura 2 - Imagens de satélite das cidades do Rio de Janeiro (a) e São Paulo (b) com o gráfico do relógio de sol. (Moro et al., 2017)

3.3. Cálculo da estimativa da altura das edificações


Após a verificação do horário de captura da imagem, realizou-se a estimativa da altura da edificação através
da relação trigonométrica entre a altura solar e a dimensão da sombra da edificação projetada no solo (Figura
3 e Equação 1).

tga = h / d ® h = d ´ tga Equação 1


Onde:
− solar
d - dimensão da sombra da edificação projetada no solo

h

d

Figura 3 - Relação trigonométrica entre a altura solar e a dimensão da sombra

740
A dimensão da sombra da edificação foi obtida através da ferramenta “régua” no Google Earth, onde é
possível obter medidas lineares, de um caminho, poligono, circulo, entre outros. Neste caso foi utilizada a
medida linear, a partir da extremidade do edificio até o limite da sombra (Figura 4).

Figura 4 - Medição do comprimento das sombras pelo Google Earth

Para o cálculo da altura solar são necessários valores de algumas variáveis, relativos à Astronomia de
Posição e à subsequente aplicação de equações. Algumas derivações do cálculo da altura solar são
encontradas na literatura, entre elas a disponibilizada no meio digital pelo NOAA (National Oceanic &
Atmospheric Administration).
Este laboratório, através da Divisão de Monitoramento Global, disponibiliza ao público em geral e a
pesquisadores planilhas de Cálculos de Detalhes Solares (Solar Calculation Details) baseados em equações
de Meeus (1999). Os resultados do nascer e do pôr-do-sol são teoricamente precisos dentro de um minuto
para localizações entre +/- 72 ° latitude e dentro de 10 minutos fora dessas latitudes. No entanto, devido às
variações na composição atmosférica, temperatura, pressão e condições, os valores observados podem variar
de cálculos. Na planilha disponibilizada pelo NOAA, a partir da entrada de dados de longitude, latitude, time
zone e data é possível obter dados referentes à posição solar para um determinado local. Entre eles a altura
solar, ou o também chamado ângulo de elevação solar, resultante do cálculo de diversas variáveis, dentre
elas: o dia juliano, equação do tempo, hora solar verdadeira, ângulo hora, ângulo solar zenital (Equação 2)
(USA, 2016).
90 - (cos-1(sen(latitude(radianos))* sen((ângulodeclin.sol(radianos))+
Equação 2
cos(latitude(radianos))*cos(ângulodeclin.sol(radianos))* cos(ângulohorário)(radianos))

4. RESULTADOS
Para a validação do método indireto para obtenção de alturas das edificações a partir de imagens de satélite,
foram escolhidos os blocos A, L e M situados na Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR,
sede Ecoville.
Primeiramente, foram estimadas as alturas a partir das sombras projetadas no solo observadas na
imagem de satélite do Google Earth e, posteriormente, foram efetuadas medições in loco com Estação Total
TS02 para comparação dos resultados tendo como referências os pontos da base da edificação e o ponto
extremo do topo da edificação. A metodologia adotada para as medições in loco seguiu as seguintes etapas:
1. Montagem e nivelamento visual do tripé; 2. Fixação do equipamento; 3. Nivelamento do equipamento; 4.
Inserção dos dados – altura do equipamento (1,365m) e altura do prisma (1,80m); 5. No visor: Item
programas – altura remota; 5. Ponto no prisma inferior e ponto superior edificação; 6. Resultado no visor.

O critério para seleção das imagens de satélite foi o descrito anteriormente. E, novamente, a partir
das imagens aéreas selecionadas, foi estimado o horário da captura da imagem através do relógio do sol
virtual através do método apresentado por Moro et al. (2017).

741
Para a determinação da altura solar (), foi utilizada a planilha virtual da NOAA, a partir dos
metadados conhecidos de longitude, latitude e data (Tabela 1).
Tabela 1 - Dados para validação do método de obtenção das alturas das edificações de blocos da UTFPR

Dimensão Horário Altura da Altura pela


Data da Altura Solar
Bloco da sombra estimado Relógio edificação medição in Diferença (m)
imagem (Noaa)
(m) Sol obtida (m) loco (m)

29/04/13 Bloco M 17,00 11h45min 49,13 19,64 17,913 -1,727


03/05/13 Bloco L 21,7 12h 48,56 21,74 17,909 -3,831
Bloco M 18,20 12h 48,56 20,38 17,913 -2,467
01/06/14 Bloco A 29,00 9h45min 29,67 16,52 16,66 0,14
Bloco L 32,10 9h45min 29,67 18,28 17,909 -0,371
Bloco M 31,50 9h45min 29,67 17,95 17,913 -0,037
22/07/16 Bloco A 19,10 12h 44,08 18,49 16,66 -1,83
Bloco L 20,70 12h 44,08 19,85 17,909 -1,941
Bloco M 21,50 12h 44,08 20,91 17,913 -2,997
16/06/16 Bloco A 18,70 11h30min 39,80 15,83 16,66 0,83
Bloco L 20,07 11h30min 39,80 16,72 17,909 1,189
Bloco M 21,59 11h30min 39,80 17,99 17,913 -0,077

Os resultados mostraram que as diferenças entre as alturas obtidas através das sombras nas imagens
aéreas, e as medidas obtidas através das medições in loco variaram entre -0,371 e -3,831, em função do
horário ou da época do ano.
Após o estudo com os edifícios da UTFPR sede Ecoville, o mesmo método foi aplicado em 06
espaços públicos abertos em Curitiba, sendo praças e jardins ambientais, com medição de alguns edifícios do
entorno imediato. Os critérios para escolha destes espaços púbicos abertos foram: espaços com edificações
de entorno que possibilitassem projeção integral da sombra no solo; espaços com edificações de entorno de
alturas variáveis e localizadas em diferentes bairros, centrais e periféricos, da cidade. Sendo assim, os
espaços públicos abertos selecionados foram: Praça Oswaldo Cruz (Centro), Praça do Japão (Batel/Água
Verde), Praça Generoso Marques (Centro), Jardim Ambiental da Rua do Herval (Novo Mundo), Jardim
Ambiental da Rua Olga de Araújo Espíndola (Novo Mundo), Praça Alcinda Gomes Chagas (Parolin) (Figura
5).

Figura 5 - Mapa de localização das praças selecionadas para validação do método de obtenção das alturas dos edificios do entorno
imediato
Para cada local foram aplicadas as etapas da metodologia de obtenção das alturas descritas
anteriormente. Sendo que primeiramente foi feita a seleção de imagens de satélite no Google de cada local
selecionado (escolhidas entre 01 e 03 imagens); Posteriormente, foi executada a estimativa do horário de
captura da imagem aplicando Relógio de Sol Virtual a partir da sombra de uma edificação de entorno. Por
fim foi executada a estimativa das alturas edificações selecionadas a partir da equação trigonométrica

742
(Equação 1). Os resultados foram comparados a dados de medição das respectivas edificações, fornecidos
pelo IPPUC – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, realizados através de levantamento
por perfil a Laser, onde os dados são capturados por scanners laser que executam medições em três
dimensões sem contato com o objeto (Tabela 2).

Tabela 2 - Comparativo do método indireto de obtenção de alturas de edificações com dados de medição a Laser de alguns dos
espaços públicos abertos analisados

Altura a
Horário Altura Altura da partir da
Data da Dimensão da
estimado solar edificação medição Diferença (%)
imagem sombra (m)
relógio sol (NOAA) obtida (m) perfil laser
(m)
Praça Oswaldo Cruz
20/11/12 18,76 12h 84,38 190,6 61,9 -208,19%

29/04/13 63,00 11h30min 48,47 71,1 61,9 -14,99%


13/03/14 31,50 11h15min 61,08 57,0 61,9 7,83%
Praça Do Japão
21/05/09 74,10 13h30min 40,67 63,7 70,2 9,36%
28/02/16 40,50 11h 62,39 77,4 68,1 -13,78%
Praça Generoso Marques
02/05/11 14,75 11h 45,33 14,9 16,1 7,27%
10/10/09 12,22 11h30min 69,67 33,0 16,1 -104,98%
Jardim Ambiental – Herval
09/05/14 13,43 16h 20,23 4,9 12,0 58,65%
17/05/14 14,06 11h30min 43,91 13,5 11,9 -13,45%

Pode-se observar que nas imagens em que a altura solar é muito alta, com ângulos solares maiores que
65o ou com ângulos solares muito baixos, a diferença com relação à altura dos edifícios é maior. Os
resultados mais próximos se referem aos que possuem altura solar mais próxima de 45 o, pois quando o
ângulo se aproxima deste valor, por princípios baseados na trigonometria, a dimensão da sombra projetada
no solo praticamente será a mesma.
Os resultados obtidos através da aplicação do método apresentado neste estudo também foram
comparados com os resultados da medição das alturas das edificações obtidos através da ferramenta
disponibilizada pelo Google Earth Pro (Tabela 3), método este também validado através de comparação de
resultados de medição in loco e os obtidos através desta ferramenta virtual.

Tabela 3 - Comparativo entre as medições pelo método indireto e através do Google Earth

Altura da Diferença de
Altura da
Horário do Altura edificação altura – mét.
Data da Dimensão da edificação –
Relógio de Solar – método Indireto x
Imagem sombra (m) Google Earth
Sol (NOAA) indireto Google Earth
Pro (m)
(m) Pro (%)
Praça Oswaldo Cruz
20/11/12 18,76 12h 84,38 190,64 60,25 -216,42%
29/04/13 63,00 11h30min 48,47 71,13 60,25 1,4%
13/03/14 31,50 11h15min 61,08 57,02 60,25 1,8%
Praça do Japão
21/05/09 74,10 13h30min 40,67 63,67 67,62 1,6%
28/02/16 40,50 11h 62,39 77,44 67,40 1,3%
Praça Generoso Marques

743
02/05/11 14,75 11h 45,33 14,92 16,22 1,4%
10/10/09 12,22 11h30min 69,67 32,98 16,22 -103,34%
Jardim Ambiental – Herval
09/05/14 13,43 16h 20,23 4,95 11,60 -57,33%
17/05/14 14,06 11h30min 43,91 13,53 11,02 7,4%
Jardim Ambiental – Olga
31/08/14 7,2 14h 48,04 8,01 9,50 12,5%

Praça Alcinda Gomes Chagas

18/03/16 28,6 11h 57,77 45,36 41,50 2,2%


Edifício Administração UFPR Politécnico
31/08/12 17,1 13h 54,68 27,12 27,16 3,7%

Pode-se observar que os valores das alturas das edificações obtidos pelos dois métodos ficaram bem
próximos, exceto nos casos em que os ângulos solares eram muito altos, maiores que 65 o, ou muito baixos,
menores que 30o. Quando o ângulo é próximo de 45o os resultados apresentaram menor diferença, validando
a relação trigonométrica que neste ângulo, a altura da edificação e a sombra deveriam apresentar os mesmos
valores.

5. CONCLUSÕES
É imprescindível analisar os diversos aspectos que influenciam o uso dos espaços livres urbanos. Um destes
aspectos é o sombreamento gerado pelas elevadas alturas das edificações de entorno, que pode alterar o
ambiente térmico nas diferentes estações durante o ano, estimulando ou não o uso destes locais. Para a
análise de sombreamento, é necessário conhecer as alturas das edificações, e para isto foi descrito um
método indireto neste estudo.
Os resultados obtidos na aplicação do método indireto, levando em consideração o ângulo de
incidência solar, demonstraram que o método é confiável. As diferenças dos resultados entre as medições in
loco e as medições através do método proposto em sua maioria foram pequenas.
No entanto, foram observadas algumas limitações de uso para que sejam obtidos resultados mais
condizentes. São elas: evitar imagens de satélite com altura solar maior que 65 graus ou menor que 45 graus;
sombras com dimensões reduzidas geram maior erro, portanto quanto maior a sombra, melhores os
resultados; existem prováveis limitações quanto à medição da sombra que são a declividade do terreno e a
imprecisão do ponto de início da sombra/edificação.
É importante salientar que as sombras sobrepostas das edificações não foram consideradas, e que
apenas as sombras que estão totalmente no solo foram consideradas.

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745
METODOLOGIA PARA ANÁLISE E QUANTIFICAÇÃO DE SOMBREAMENTO
PROVENIENTE DE EDIFICAÇÕES DE ENTORNO SOBRE ESPAÇOS PÚBLICOS
ABERTOS

Jeanne Moro (1); Eduardo Krüger (2); Silvana Camboim (3);


(1) Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, arquiteta , Universidade Tecnológica
Federal do Paraná – UTFPR, Rua Deputado Heitor Alencar Furtado, 5000 – Ecoville, CEP 81280- 340,
Curitiba/PR, jeannemoro@gmail.com
(2) Dr., Professor do Departamento de Construção Civil, Universidade Tecnológica Federal do Paraná –
UTFPR, Rua Deputado Heitor Alencar Furtado, 5000 – Ecoville, CEP 81280-340, Curitiba/PR,
ekruger@utfpr.br
(3) Dra., Professora do Departamento de Geomática, Universidade Federal do Paraná – UFPR, Centro
Politécnico – Jardim das Américas, Caixa Postal 19001 – CEP 81531-990 – Curitiba/PR,
silvanacamboim@gmail.com

RESUMO
Este artigo faz parte de um estudo mais amplo, e tem por objetivo apresentar a metodologia desenvolvida
para realizar a estimativa de sombreamento proveniente de edificações de entorno imediato através de
ferramentas livres de Sensoriamento Remoto e SIG. Para validação foi feito um estudo na Praça do Japão,
localizada num setor de grande densidade urbana e edificações de grande altura na cidade de Curitiba/PR.
Foram feitas simulações nas datas do solstício de verão, do equinócio de primavera e do solstício de inverno,
todos num mesmo intervalo de horas. Foram gerados mapas de visualização e quantificação para a realização
das análises. A metodologia proposta mostrou-se confiável e replicável, e como que integra simulações que
podem ser executadas em parte de forma automatizada, permite que os planejadores urbanos possam aplicá-
lo no desenvolvimento de planos diretores ou análises urbanas de zoneamento.
Palavras-chave: sombreamento, sensoriamento remoto, planejamento urbano.

ABSTRACT
This article is part of a larger study, aimed at presenting a methodology to perform the estimation of shading
from surrounding buildings by freely available Remote Sensing and GIS tools. For the validation, a study
was conducted in Japan Square, located in an area of high urban density and high-rise buildings. In the city
of Curitiba/PR. Simulations were performed during the summer solstice, the spring equinox and the winter
solstice, all within a same range of hours. Visualization and quantification maps were generated for the
analysis. The proposed method proved to be reliable and replicable, and due to its simplicity and integrated
simulation nature, the method can be used in an automated way, allowing urban planners to apply the method
in the development of master plans or urban zoning analyzes.
Keywords: shadow, remote sensing, urban planning.

746
1. INTRODUÇÃO
A luz solar, um dos fatores que podem influenciar no uso dos espaços abertos, pode estimular atividades ao
ar livre e melhorar as características arquitetônicas do espaço público. Por outro lado, sombreamentos
indesejados podem afetar, além do fator de uso do espaço, o ciclo de crescimento das plantas, e o significado
arquitetônico dos recursos construídos (USA, 2014).
Alguns autores identificaram que o sombreamento é um fator impactante no uso dos espaços. Oke
(1988) afirma que o acesso solar é importante para proporcionar luz diurna suficiente para contribuir no
conforto ambiental e atitude psicológica dos pedestres. Segundo Waldron e Salazar (2013) o uso dos espaços
públicos é extremamente condicionado pela disponibilidade de radiação solar e pode ser prejudicado por
anteparos edificados. Também Huang et al. (2015) afirmam que dentre os vários atributos ambientais dos
espaços abertos, o sombreamento pode bloquear a radiação solar e influenciar o ambiente térmico. Outro
exemplo é o estudo de Lin et al. (2013), realizado em um parque público urbano na cidade de Chiayi City,
Taiwan, no qual foi observado que, em estações frias do ano, em as áreas permanentemente com acesso
solar, sem sombras, o número de visitantes aumentou seguindo o aumento nas condições térmicas, enquanto
que o número de visitantes diminui durante as estações quentes.
O estudo do sombreamento pode auxiliar e fornecer subsídios ainda durante a etapa de planejamento
urbano, como por exemplo na definição dos zoneamentos, e no planejamento dos espaços públicos abertos,
contribuindo para a análise da distribuição dos subespaços e dos elementos componentes. Além disso pode
atuar como ferramenta de avaliação do impacto de novas edificações de entorno com o objetivo de
maximizar o uso/apropriação dos espaços nas diferentes estações do ano. Dados abertos e softwares
específicos ou ferramentas de Sistemas de Informação Geográfica livres podem ser utilizados para a geração
de mapas de visualização do sombreamento no local e também permitir diferentes tipos de análises de
sombra, espaciais e quantitativas, em diferentes períodos do ano.
Os estudos que têm foco na estimativa de sombreamento em espaços públicos abertos, tema deste
estudo, não são muito numerosos. Dentre eles pode-se citar Yezioro e Shaviv (1994) que foram precursores
ao desenvolver um método e ferramenta para visualizar e analisar sombreamento entre edificações, o método
permite o cálculo da relação entre área de superfície insolada e área total de qualquer objeto examinado que
esteja sombreado por outros elementos irregulares e não planares, onde o acesso solar é definido de acordo
com o azimute e a altitude do sol no momento específico do exame. Já Leveratto (2002) analisou potenciais
modificações hipotéticas na forma urbana para permitir maior acesso solar no inverno através de ferramentas
de simulação no Autocad®, como resultado a autora estipulou que a diminuição de 10% da altura das
edificações das áreas analisadas poderia beneficiar muitos residentes, e melhorar as condições
microclimáticas em áreas de espaços públicos, pois permitiria um maior acesso solar nestes espaços no
período de inverno. Yezioro et al. (2006) apresentaram um estudo sistemático de projetos de construção no
entorno de praças, considerando-as na latitude 32o Norte, para determinar como as diferentes proporções de
praças e alturas dos edifícios de entorno influenciam a insolação da praça no inverno, a partir do método
desenvolvido por Yezioro e Shaviv (1994). Ribeiro et al. (2010) apresentaram uma metodologia para
obtenção de mapas de insolação e análise do sombreamento provocado pelas edificações, utilizando-se de
um software SIG e do software Google SketchUp®. Waldron e Salazar (2013) utilizaram-se de ferramentas
no Autocad® para calcular as áreas de radiação solar em espaços abertos através de simulações. Piaskowy e
Krüger (2015) analisaram o impacto das altas edificações em três áreas de estudo localizadas em eixos
estruturais na cidade de Curitiba através do software Google SketchUp®. Miranda et al. (2017)
desenvolveram um algoritmo para a visualização do acúmulo de sombras na cidade de Nova Iorque (Figura
1). Dentre os autores citados, somente Ribeiro et al. (2010) e Miranda et al. (2017) utilizam-se de
ferramentas de Sistemas de Informação Geográfica – SIG e/ou Sensoriamento Remoto para realizar seus
estudos, os demais foram realizados com outras ferramentas de softwares proprietários.

747
Quantidade de sombra no dia analisado
Quantidade de sombra no dia analisado

Verão Primavera/Outono Inverno


Verão Primavera/Outono Inverno
2h07min 6h03min 5h59min
7h22min 4h38min 5h59min

Figura 01 - Mapa de acúmulo de sombras para Nova Iorque (Bui, White 2017).

2. OBJETIVO
Este artigo parte de um estudo mais amplo que tem como foco a classificação do nível de sombreamento de
alguns espaços públicos de lazer na cidade de Curitiba/PR. Tem por objetivo apresentar a metodologia
desenvolvida para realizar a estimativa de sombreamento proveniente de edificações de entorno imediato
através de ferramentas de Sensoriamento Remoto e de software livre SIG, e alguns dos resultados
preliminares obtidos através das análises em um dos espaços. Tem o intuito de ser replicável, sendo que os
estudos similares internacionais se utilizam somente de ferramentas/softwares proprietários. Por ser um
método que integra simulações que podem ser executadas em parte de forma automatizada, torna o processo
menos laborioso, e permite que os planejadores urbanos ou órgãos públicos interessados possam aplicar o
método no desenvolvimento de planos diretores ou análises urbanas de zoneamento, de forma que obtenham
uma resposta rápida para análises desejadas.

3. MÉTODO
Para a verificação do impacto causado pelas projeções das sombras provenientes das edificações sobre os
espaços urbanos, se faz necessária a realização de simulações computacionais.

3.1. Local de Estudo


O estudo foi realizado para Curitiba/PR, capital do estado do Paraná, ocupa uma área de 435,036 km2 (IBGE,
2017). Localiza-se no Primeiro Planalto do Paraná com uma altitude média de 908metros acima do nível do
mar com relevo levemente ondulado. Situa-se aproximadamente a 25° 25’ 48” de latitude sul e 49° 16’ 15”
de longitude oeste, fuso horário igual ao da cidade de Brasília, UTC-3. Segundo a classificação de Köppen, a
cidade de Curitiba localiza-se em região climática do tipo Cfb, com clima subtropical úmido, mesotérmico,
sem estação seca, com verões frescos e invernos com geadas frequentes e ocasionais precipitações de neve.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia - INMET (Brasil, 2018), Curitiba apresenta temperatura
média de 22,5oC no verão e 15,50oC no inverno, pluviosidade anual de 1650 mm/ano.
Com áreas verdes idealizadas ainda no primeiro Plano Diretor da cidade desenvolvido em 1943 pelo
urbanista francês Alfred-Donat Agache, executado para organização formal do espaço urbano (SANTOS,
2015). A cidade é conhecida nacionalmente pelo número e qualidade de suas áreas verdes urbanas. De
acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SMMA, Curitiba possui 453 praças, totalizando
uma área de 2.705.038 m2 (IPPUC, 2010). Além disto, a cidade possui inúmeros jardins, jardins ambientais,
parques, bosques e largos. O IPPUC disponibiliza vários dados em meio digital, dentre eles os referentes às
praças e aos bairros de Curitiba (IPPUC, 2010; IPPUC, 2015).
Os resultados apresentados neste estudo relacionam-se à Praça do Japão, localizada no Setor
Especial Estrutural, na região do bairro Água Verde, com uma área total de 8.420,00 m2. Localizada entre os
corredores estruturais da Av. Sete de Setembro e da Av. República Argentina, a praça possui uma morfologia
urbana de entorno densa e com grandes alturas (Figura 3), o que gera grande sombreamento sobre a praça.

748
Figura 02 - Praça do Japão e edificações de entorno (Google Earth Pro, 2017).

3.2. Metodologia das simulações


Para a realização de simulações de sombreamento de edificações de entorno sobre espaços públicos abertos
foram utilizados os softwares QGIS versão 2.14.3-Essen, e o Package Shadow do software de estatística R
versão 3.3.3.
O sistema R é um software livre para computação estatística e gráficos. De acordo com Bivand et al.
(2008), a sua capacidade de analisar e visualizar dados torna o software R uma boa escolha para a análise de
dados espacial. Para alguns projetos de análise espacial, usar apenas R pode ser suficiente, mas em muitos
casos o software R é usado em conjunto com um software de SIG, assim como com uma base de dados SIG.
Nele são disponibilizados os chamados pacotes (packages) que são bibliotecas contendo funções e dados
utilizados para finalidades específicas. Segundo os autores, desde a década de 1990 o software R possui um
número crescente de pacotes que contribuem para manipulação e análise de dados espaciais.
Dentre eles, o pacote “Shadow” de análise de sombreamento em meio urbano desenvolvido por um
grupo de pesquisadores da Ben-Gurion University of the Negev. Segundo os desenvolvedores Dorman et al.
(2017), esses tipos de cálculos geralmente são restritos a softwares proprietários que lidam com modelos 3D,
onde o foco é a visualização em vez de análise quantitativa. O pacote “Shadow” possui diversas funções,
sendo as principais “shadowHeight”, “shadowFootprint” e “Sky ViewFactor- SVF”. A primeira função,
“shadowHeight”, calcula a altura da sombra em determinados pontos ou a grade completa, levando em
consideração: esboços de obstáculos, dados por uma camada poligonal com um atributo de altura e a posição
do sol, dada pelo azimute e ângulos de elevação (Figura 2).

Figura 03 – Método de obtenção da altura da sombra (Dorman et al., 2017).

Ainda de acordo com Dorman et al. (2017), o Pacote de Sombra opera em uma camada vetorial de
contornos de construção juntamente com suas alturas. Portanto, as estimativas da sombra resultantes
correspondem ao ambiente urbano, como edifícios ou fachadas individuais. Deve-se notar que a abordagem
assume um terreno plano e sem obstáculos (por exemplo, árvores) exceto os edifícios, o que pode ser
inadequado em certas situações de análise.

749
O método de simulação a partir do Package Shadow no software R foi validado através de simulação
feita sobre a imagem de satélites de alta resolução da cidade de São Paulo, disponibilizadas como amostras
pela Digital Globe. Após a geração da referida sombra o arquivo foi transferido para o software QGIS e
sobreposto à imagem raster da Digital Globe (2017), empresa de imagens de satélite, informações
geoespaciais e inteligência baseada em localização. Na imagem o polígono de uma edificação à oeste na
figura aparece ligeiramente deslocado, pois na imagem de satélite a edificação aparece distorcida (Figura 4).

Figura 04 - Sobreposição da sombra simulada sobre a imagem raster de São Paulo.

Os dados necessários para as análises foram obtidos através de bancos de dados disponibilizado pelo
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba – IPPUC (2003; 2019) sendo: um arquivo tipo
raster contendo a ortofoto da área de estudo, e um arquivo em formato shapefile do arruamento das quadras
da cidade de Curitiba.
Tendo como base os arquivos dos dados cadastrais disponibilizados, foi elaborado no software QGIS
um arquivo formato shapefile dos polígonos da morfologia urbana imediata ao redor do espaço objeto de
estudo. Todas as camadas foram adicionadas no Sistema de Referência de Coordenadas Planas SIRGAS
2000/ UTM ZONE 22S, código EPSG:31982. As edificações foram desenhadas com base nas ortofotos,
porém alternativamente, dados abertos disponíveis no OpenStreetMap podem ser usados para a localização
das edificações. Para cada polígono foi atribuída a altura obtida através da ferramenta de medição do Google
Earth Pro, recurso este validado por meio de comparação através de medição in loco da altura do edifício
Administrativo do Centro Politécnico da UFPR, com Estação Total Leica TPS407, versus altura obtida
através do plug-in do Google Earth Pro. O resultado com diferenças mínimas entre as medicoes demonstra
ser viável a utilização da ferramenta virtual (Tabela 1).
Tabela 1 – Dados de medição in loco versus Google Earth Pro 3D®

Altura obtida Altura obtida Diferença entre a altura Diferença


Data da
medição in medição Google da Medição in loco e Entre
imagem
loco (m) 3d® (m) medição Google 3d® (m) Medições (%)

31/08/12 27,875 27,25 0,625 2,2

Na sequência, tendo como base o arquivo formato shapefile dos polígonos das edificações de
entorno gerado, foi executada a simulação da trajetória das sombras das edificações de entorno imediato,
com a utilização do plug-in “Package Shadow” desenvolvido por Dorman et. al (2017), no software de
estatística R. Foram feitas simulações escolhendo-se diferentes épocas do ano, mais especificamente na data
do solstício de inverno, na data do solstício de verão e na data do equinócio de primavera. Simuladas a cada
15 minutos, no período das 8hàs 16h, totalizando 33 arquivos no formato shapefile para cada data. Para cada
simulação, foram aplicadas as etapas de geração do sombreamento de acordo com o código aberto
disponibilizado pelos autores.
Posteriormente, no software QGIS, os arquivos das sombras gerados no software R foram transformados em
arquivos formato raster. Todos os arquivos formato raster, com resolução de 50
centímetros, possuem a mesma extensão, tendo sido para isto criado o polígono envolvente com as
dimensões das coordenadas E e N mínimas (canto inferior esquerdo) e máximas (canto superior direito). A
partir da Álgebra de Mapas foram gerados os Mapas de Acúmulos de Sombra, que representam visualmente
a quantidade de sombra acumulada no período analisado a partir de um degrade de cores, e os Mapas de

750
Zoneamento das Sombras, que dividem o espaço em zonas de acordo com o período de horas atingido pelo
sombreamento, sendo estes divididos entre até 03 horas, de 03 a 05 horas e com mais de 05 horas (Figura 5).

Figura 5 - Fluxograma etapas simulação sombreamento.

3.3. Etapas de desenvolvimento das simulações


A partir da ortofoto da região da praça do Japão disponibilizada pelo banco de dados do IPPUC foram
desenhados os polígonos dos edifícios de entorno imediato da praça com potencial de sombreamento da
praça, num total de 17 (Figura 6), e atribuídas suas respectivas alturas obtidas através do recurso do Google
Earth Pro 3D.

Figura 6 - Polígonos dos edifícios de entorno da Praça do Japão-Software QGIS.

A partir da função “shadowFootprint” no software R as simulações das sombras foram executadas, a


princípio, nas datas de solstício de verão, equinócio de primavera e solstício de inverno (Figura 7A). Todos
os arquivos tipo shapefile das simulações realizadas a cada 15 minutos, num total de 33 arquivos, executadas
no software R através do plug-in “Shadow, foram inseridos no QGIS (Figura 7B).

751
Figura 7 - (A) Simulação de sombreamento dos edifícios de entorno da Praça do Japão no horário das 15:00 horas no solstício de
inverno (21/06/2016)– Package Shadow - Software R; (B) Arquivo no formato shapefile de sombreamento dos edifícios de entorno
da Praça do Japão das 8h as 16h no solstício de inverno (21/06/2016)– Software QGIS.

A seguir, foi criado um polígono nos dois horários extremos, camadas das 8h e 16h, a partir da
ferramenta de extensão de camada existente no software QGis. Posteriormente, todos os arquivos no formato
shapefile individualmente foram convertidos em raster com resolução de 50 centímetros.
Para finalizar, os arquivos no formato raster foram somados, gerando o mapa acúmulo das sombras
em cada uma das datas escolhidas para a realização do estudo.
Costa (2018) automatizou o processo descrito anteriormente, com o intuito de facilitar e agilizar o
processo de geração das sombras. A partir da programação de linguagem Python, um script que dialoga com
o software R, foi gerado um plug-in que roda no software QGIS, na plataforma Linux. Nele são inseridos
pelo usuário os dados de entrada, que são: o arquivo shapefile dos polígonos das edificações de entorno com
o atributo das alturas das edificações, a nomenclatura aplicada do atributo mencionado, as datas e faixas de
horário das simulações, além do local onde o arquivo de saída deve ser salvo. Como resultado é gerado o
arquivo no formato raster da somatória das sombras (Figura 8).

Figura 8 - Layout do plug-in de automação processo de geração de sombras (COSTA, 2018)

O tipo de renderização adotada foi banda simples falsa cor, em modo contínuo, com 9 classes de
valores correspondentes de sombreamento que variam de 0.1 a 33. Foram considerados 4 arquivos para cada
hora de sombreamento. Foram adotadas as paletas de cores: azul para inverno, laranja para verão e lilás para
primavera.

752
4. RESULTADOS
A área analisada da praça estudada engloba aproximadamente 7.500 m2. Foram analisados e elaborados os
mapas de acúmulo de sombras no espaço, e de zoneamento destas sombras em três datas: solstício de verão,
equinócio de primavera e solstício de inverno. É importante salientar que não foi considerado o
sombreamento proveniente da arborização.
Comparando-se os Mapas de Acúmulo de Sombras nas diferentes datas analisadas, foi possível observar
que, no solstício de inverno, grande parte da área da Praça do Japão fica sombreada, o que pode influenciar
na queda da quantidade de usuários que frequentam o local quando há baixas temperaturas. Durante o
solstício de verão, dia de melhor situação de acesso solar no ano, pôde-se observar que o sombreamento das
edificações atinge uma menor parte da praça. No equinócio de Primavera, o sombreamento pareceu ficar
similar ao do solstício de verão. Já no solstício de inverno grande parte da área parece ser atingida pelo
sombreamento proveniente das edificações de entorno no intervalo horário analisado (Figura 9).

(A) (B)

(C)

Figura 9 - Mapas de Acúmulo de sombras na Praça do Japão – (A) Solstício de verão, (B) Equinócio de Primavera e (C) Solstício de
inverno.

Já através das análises quantitativas pôde-se observar, em números, as diferenças entre as áreas
atingidas pelo sombreamento nos diferentes intervalos de horários (Tabela 2).

753
Tabela 10 - Resumo de áreas da praça atingidas pelo sombreamento das edificações no solstício de verão, equinócio de primavera e
solstício de inverno.

Área solstício Área equinócio de Área solstício de


Horas de sombra % % %
de Verão (m2) Primavera (m2) Inverno (m2)
Até 3 horas 7.302 97% 5.300 70% 445 6%
De 3 a 5 horas 218 3% 2.220 30% 4.872 65%
Mais de 5 horas - - - - 2.203 30%

Nos Mapas de Zoneamento de Sombras pôde-se observar as áreas atingidas nos intervalos de horários
analisados. Foi possível também observar que a análise de sombreamento proveniente das edificações pode
ser interessante quando aplicada na etapa de planejamento e concepção dos espaços públicos abertos a fim de
ajudar a setorizar as atividades e setores, dependendo do grau de acesso solar necessário para cada uma
delas, de acordo com o entorno existente (Figura 10).

(A) (B)

(C)

Figura 11 - Mapas de zoneamento de sombras na Praça do Japão – (A) Solstício de verão, (B) Equinócio de Primavera (b), Solstício
de inverno (c)

5. CONCLUSÕES
Quanto ao método proposto neste trabalho a partir de imagens de satélite e utilizando-se de ferramentas

754
aplicadas a softwares livres de SIG, com o objetivo de analisar a influência do sombreamento sobre os
espaços públicos abertos, este mostrou-se confiável e replicável, podendo ser útil desde as etapas inicias do
planejamento destes espaços ou do planejamento urbano, como também para readequações de espaços
existentes atuando como ferramenta de análise do impacto do sombreamento.
Aplicado sobre a Praça do Japão, em Curitiba, foi possível quantificar as horas de sol/sombra
proveniente das edificações de entorno e visualizar os resultados através dos mapas gerados em algumas
datas específicas, pôde-se averiguar e quantificar o impacto do sombreamento proveniente das edificações de
entorno imediato ao local. Devido às grandes alturas das edificações permitidas pelo zoneamento urbano na
região, resultou em uma grande área de sombreamento, principalmente durante o solstício de inverno, o que
poderá influenciar negativamente na quantidade de usuários que frequentam o local no período de inverno.

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755
MORFOLOGIA URBANA E MICROCLIMAS: ESTUDO DE FRAÇÕES
URBANAS NA CIDADE DE ARAPIRACA/AL
Limber Patric Santos Leal (1); Ricardo Victor Rodrigues Barbosa (2)
(1) Graduando, Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Alagoas/Campus Arapiraca,
limberpatrick@hotmail.com
(2) Doutor, Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Alagoas/Campus
Arapiraca, rvictor@arapiraca.ufal.br

RESUMO
As constantes transformações ocorridas no espaço construído, referentes ao crescimento urbano e
adensamento desordenados das cidades, comprometem a qualidade do ambiente, afetando o microclima local
e as condições de conforto térmico e ambiental. A presente pesquisa teve como objetivo analisar a influência
de diferentes frações urbanas da cidade de Arapiraca/AL no comportamento térmico local, visando
compreender a influência da morfologia urbana na escala de abordagem microclimática, através de
monitoramento in loco da variável temperatura do ar por meio de dataloggers. Os procedimentos
metodológicos adotados na pesquisa experimental corresponderam a três etapas distintas. Na primeira etapa
foram selecionadas sete frações urbanas que apresentavam características distintas, como densidade
construtiva, tipologia das construções, presença/ausência de vegetação e massa d’água. A segunda etapa foi a
caracterização destas frações urbanas e a terceira etapa correspondeu ao monitoramento da temperatura do ar
no período correspondente ao início do verão. Os dados foram então tabulados e calibrados para a análise.
Foi possível concluir que, dentre os parâmetros geourbanos e geoambientais selecionados e considerados no
presente estudo, a baixa densidade construtiva e a presença de arborização contribuíram para obtenção de
melhores resultados no comportamento microclimático das diferentes frações urbanas monitoradas, no que
diz respeito à temperatura do ar.
Palavras-chave: climatologia urbana, morfologia urbana, caracterização microclimática.

ABSTRACT
The constant changes in the built space, related to urban growth and disorderly densification of cities,
compromise the quality of the environment, affecting the local microclimate and the conditions of thermal
and environmental comfort. The present research had as objective to analyze the influence of different urban
fractions of the city of Arapiraca/AL on the local thermal behavior, aiming to understand the influence of the
urban morphology in the microclimatic approach scale, through in loco monitoring of the air temperature
variable by means of dataloggers. The methodological procedures adopted in the experimental research
corresponded to three distinct stages. In the first stage, seven urban fractions were selected that presented
distinct characteristics, such as constructive density, construction typology, presence/absence of vegetation
and water mass. The second stage was the characterization of these urban fractions and the third stage
corresponded to the monitoring of the air temperature in the period corresponding to the beginning of the
summer. The data were then tabulated and calibrated for analysis. It was possible to conclude that, among
the geological and geoenvironmental parameters selected and considered in the present study, the low
constructive density and the presence of afforestation contributed to obtain better results in the microclimatic
behavior of the different urban fractions monitored, with respect to the air temperature.
Keywords: urban climatology, urban morphology, microclimatic characterization.

756
1. INTRODUÇÃO
O acelerado crescimento urbano provoca inúmeras mudanças nas cidades no que se refere ao espaço
construído e ao microclima local. As transformações ocasionadas pela ação humana podem ter caráter
benéfico ou maléfico na qualidade de vida dos indivíduos. Segundo Minella e Krüger (2010, p. 01), “o
adensamento e a expansão horizontal das cidades quando não planejadas devidamente, podem trazer
consequências ambientais significativas”.
A cidade é entendida por Santos, Lima e Assis (2003, p. 707) como “um sistema físico pelo qual flui
energia térmica, nas suas diversas formas, e a maneira como se dão esses fluxos influencia o conforto
térmico urbano”. Nesse sentido, os microclimas provocados pela ação do homem podem ser extremamente
desconfortáveis e geralmente são desperdiçados preciosos recursos energéticos para reestabelecer o conforto
(RORIZ, 2003).
Além das atividades humanas, outros fatores influenciam diretamente no comportamento do clima
urbano. Almeida (2006) aponta o número de veículos, o asfalto, o concreto e a diminuição de áreas verdes
como fatores importantes neste processo. Dentre as alterações provocadas no microclima local, em menor
escala, e no clima urbano, em maior escala, destacam-se o aumento da temperatura, diminuição da umidade
relativa do ar e mudança na direção e velocidade dos ventos.
As condições de entorno que caracterizam e delimitam certa área também provocam alterações no
balanço energético local. Assim, as regiões de entorno “podem caracterizar-se pelo tipo de solo, vegetação,
edificações que fazem parte do local e estas características interferem diretamente na variável temperatura do
ar, umidade relativa e ganho de calor por radiação solar” (SILINGOVSCHI JUNIOR, 2006).
A elevação da temperatura é uma das mais significativas expressões da alteração climática, pois o
desconforto oriundo do aumento da temperatura é mais perceptível pelo homem que os demais aspectos
climáticos (ALMEIDA, 2006). Desta forma, a configuração urbana deve ser avaliada e planejada de forma
que seus componentes construtivos amenizem o desconforto térmico, visto que as características dos
materiais são responsáveis pela recepção, absorção e transmissão do calor.
Aliado ao emprego consciente dos materiais construtivos, o incremento de arborização e áreas verdes
trazem resultados consideráveis. Muitos são os serviços ambientais diretos ou indiretos da vegetação, entre
os quais Duarte (2015, p. 163) aponta “o aumento da umidade do ar, a diminuição da temperatura do ar, o
menor aquecimento das superfícies urbanas, a melhoria na qualidade do ar, o resfriamento passivo de uma
edificação, o manejo das águas, além do valor estético e da influência na saúde das pessoas”.
De acordo com Nogueira et al (2018, p. 73), “os estudos do microclima urbano deveriam ser mais
utilizados como ferramenta para o planejamento urbano e desenho dos edifícios, uma vez que geram
subsídios que orientam decisões que vão impactar a qualidade de vida da população”. Romero e Lima (2004)
apontam que no crescente processo de urbanização não há o projeto da cidade, mas o projeto de cada lote, de
cada espaço individualizado, resultando em um urbanismo que divide, segrega e contrasta.
O município de Arapiraca é o maior do agreste alagoano e tem se expandido de forma acelerada,
comparado aos demais municípios do estado. Destaca-se que os estudos climáticos em cidades localizadas
nessa região são ainda incipientes, devido, sobretudo, à inexistência de séries históricas de dados climáticos.
Assim, torna-se importante reunir informações concretas sobre as características climáticas locais por meio
de avaliações do desempenho térmico, para que seja possível delimitar estratégias bioclimáticas que possam
ser empregadas em cidades localizadas nessa região.
A presente investigação partiu da hipótese que devido ao crescimento urbano nos últimos anos na
cidade de Arapiraca/AL por meio de loteamentos, residenciais e condomínios, aliado ao adensamento de
áreas como o Bairro Cacimbas e a Vila do Padre, configuraram diferentes morfologias urbanas que
apresentam configurações próprias em relação a densidade construtiva, impermeabilização do solo e
presença de arborização, por exemplo, que impactam no microclima local.

2. OBJETIVO
A pesquisa teve como objetivo analisar a influência de diferentes frações urbanas da cidade de Arapiraca/AL
no comportamento térmico local, visando compreender a influência da morfologia urbana na escala de
abordagem microclimática, através de monitoramento in loco da variável temperatura do ar por meio de
dataloggers.

3. MÉTODO
3.1. Localização e caracterização da área de estudo
Considerando a regionalização político-administrativa do Estado de Alagoas, Arapiraca encontra-se na
mesorregião do Agreste Alagoano e na microrregião geográfica de Arapiraca, sob as coordenadas

757
geográficas 09º 45’ 07’’ latitude sul e 36º 39’ 39’’ longitude oeste, e compreende uma área de
aproximadamente 351,5 km2, situando-se a 128 km da capital alagoana. A Figura 1 apresenta a localização
do município de Arapiraca dentro da mesorregião do Agreste Alagoano.

Figura 1 – Mapa de Alagoas com a definição da Mesorregião do Agreste Alagoano e localização da cidade de Arapiraca.
Fonte: Abreu, 2006 (adaptado).

Arapiraca é o mais importante município do interior alagoano, localizando-se no centro geográfico do


estado de Alagoas, a 265 metros de altitude. Destaca-se como importante centro comercial da região agreste,
oferecendo empregos e serviços para arapiraquenses e moradores das cidades circunvizinhas. De acordo com
dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, divulgados pelo Ministério do Trabalho e
Emprego, Arapiraca foi o quarto maior gerador de empregos com carteira assinada no país em 2015.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, o município de
Arapiraca possuía uma população de 214.006 habitantes, ocasionando numa densidade demográfica de
aproximadamente 600hab/km², ficando atrás apenas da capital Maceió. Entretanto, segundo estimativas do
IBGE, a população de Arapiraca em 2018 seria de 230.417 habitantes, demostrando crescimento
populacional ainda crescente.
O município de Arapiraca encontra-se na zona climática intertropical de baixa latitude, de forma que
os raios solares incidem quase que perpendicularmente, ocasionando em temperaturas elevadas durante todo
o ano. De acordo com a caracterização do regime meteorológico elaborada por Silva et al (2017), há uma
alternância de duas estações bem definidas na cidade de Arapiraca, uma amena e chuvosa, entre os meses de
maio e outubro, e outra quente e seca, que se segue nos meses de novembro a abril.

3.2. Procedimentos metodológicos


Os procedimentos metodológicos adotados na pesquisa experimental corresponderam a três etapas distintas.
Na primeira etapa foram selecionadas as frações urbanas de estudo, a segunda etapa foi a caracterização
destas frações urbanas e a terceira etapa correspondeu ao monitoramento das variáveis climáticas
(temperatura do ar e umidade relativa do ar). No presente trabalho foi avaliada a variável temperatura do ar
influenciada pelos diferentes arranjos morfológicos das frações de estudo.

3.2.1. Etapa 1: Seleção das frações urbanas


Inicialmente, foram selecionadas as unidades amostrais urbanas que apresentavam características geourbanas
e geoambientais distintas, dentre elas: diferentes morfologias urbanas, presença/ausência de vegetação,
presença/ausência de massa d’água, tipologia das construções. O objetivo desta seleção foi analisar a
influência das diferentes formas de ocupação do solo na modificação das condições iniciais do clima local.
Como resultado desta primeira etapa, sete frações urbanas da cidade de Arapiraca foram escolhidas
para análise em escala de abordagem microclimática. Foram numeradas de P1 (Ponto 1) a P7 (Ponto 7),
sendo eles, respectivamente: Loteamento Luar do Cavaco, Residencial Jardim Europa, Bairro Cacimbas,
Vila do Padre, Residencial Agreste, Condomínio Ouro Verde e Loteamento Reserva Perucaba. Em cada
fração foi determinado um raio de 250m a partir do datalogger, equivalente a um diâmetro de 500m,
correspondendo a área de análise, como mostrado na Figura 2.

758
LEGENDA:

P1
P2
P3
P4
P5
P6
N
P7

Figura 2 – Localização das frações urbanas na cidade de Arapiraca.


Fonte: Geo Arapiraca, 2017 (adaptado).

P1: Loteamento Luar do Cavaco, localizado no Bairro Senador Nilo Coelho. O principal fator que
levou a escolha desta fração urbana é o fato do alto crescimento habitacional por meio de loteamentos e
residenciais na região, ocasionando aumento na densidade construtiva, aliado à ausência de áreas verdes.
P2: Residencial Jardim Europa, localizado no Bairro Senador Arnon de Melo. A escolha desta fração
urbana se deu por ser um novo residencial vertical com torres de quatro pavimentos e pela baixa presença
de vegetação no entorno.

P3: Rua João Jonas Rios, localizada no Bairro Cacimbas. O principal fator para a escolha desta fração
urbana foi a alta densidade construtiva e a baixa presença de vegetação na região.
P4: Escola de Ensino Fundamental Fundação João XXIII, localizada na Vila do Padre, no Bairro
Baixa Grande. A escolha desta fração urbana se deu pela alta densidade construtiva e pela presença de
vegetação na maioria das quadras.
P5: Residencial Agreste, localizado no Bairro Bom Sucesso. A escolha desta fração urbana deve-se a
alta densidade habitacional e escassa presença de áreas verdes. O residencial foi construído para a população
de baixa renda através do Programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal.

759
P6: Condomínio Ouro Verde, localizado no Bairro Senador Arnon de Melo. Dentre os principais
fatores que levaram à escolha desta fração urbana, destaca-se a alta presença de vegetação e áreas verdes. O
condomínio é considerado de médio/alto padrão.
P7: Loteamento Reserva Perucaba, localizado no Bairro Zélia Barbosa Rocha. A escolha dessa fração
urbana se deu principalmente pela presença de massa d’água em seu entorno, o Lago da Perucaba. Além
disso, há pouca presença de construções e predominância de terrenos vazios.

3.2.2. Etapa 2: Caracterização das frações urbanas


A segunda etapa da pesquisa objetivou caracterizar os parâmetros urbanos das unidades amostrais
selecionadas na Etapa 1. A caracterização ocorreu através de verificação in loco nas sete unidades amostrais
pré-selecionadas baseando-se nos seguintes parâmetros: densidade construtiva, altura das edificações,
permeabilidade/impermeabilidade do solo e percentual de áreas verdes. Como pode ser observado na Tabela
1, as frações urbanas apresentam características variadas, as quais foram consideradas durante a análise dos
dados.

Tabela 1 – Caracterização das frações urbanas selecionadas.


Fração urbana Densidade Altura das edificações Permeabilidade do Áreas verdes
construtiva solo
Loteamento Luar do Predominantemente 1
Média Média Baixa
Cavaco (P1) pavimento
Residencial Jardim 4 pavimentos e terrenos
Baixa Alta Baixa
Europa (P2) vazios
Predominantemente 1
Bairro Cacimbas (P3) Alta Baixa Baixa
pavimento
Predominantemente 1
Vila do Padre (P4) Alta Média Alta
pavimento
Predominantemente 1
Residencial Agreste (P5) Alta Média Baixa
pavimento
Condomínio Ouro Verde Predominantemente 2
Média Alta Alta
(P6) pavimentos
Loteamento Reserva Predominantemente
Baixa Alta Baixa
Perucaba (P7) terrenos vazios

3.2.3. Etapa 3: Monitoramento das frações urbanas


Após a seleção e caracterização das sete frações urbanas selecionadas, foram instalados dataloggers HOBO
Pro V2 da marca ONSET em pontos estratégicos para a coleta dos dados das variáveis ambientais
(temperatura do ar e umidade relativa do ar). Os equipamentos foram fixados em postes de iluminação a uma
altura média de 3m do solo, como observado na Figura 3.

(A) (B) (C)

Figura 3 – Dataloggers instalados no Loteamento Reserva Perucaba (A),


Residencial Jardim Europa (B) e Condomínio Ouro Verde (C).
Fonte: Registro dos autores (2019).
A instalação dos dataloggers ocorreu no dia 19 de dezembro de 2018 para coleta de dados no período
de 48 dias consecutivos, finalizando em 05 de fevereiro de 2019, visto que o período de verão possui
elevadas temperaturas do ar na cidade de Arapiraca.

760
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste estudo, o parâmetro utilizado para comparação das condições de conforto térmico entre os diferentes
casos é a temperatura do ar. Considerando a caracterização climática de Arapiraca, aliado aos dados
encontrados com temperatura dos pontos sempre elevadas, a preocupação está relacionada ao stress pelo
calor, desprezando-se o stress por frio. Assim, quanto menor a temperatura do ar, mais confortável é o local.
Os dados coletados foram estruturados em função dos pontos, dias e horários das medições,
possibilitando a confecção dos gráficos e tabelas de temperatura do ar. Para isso, os dataloggers foram
programados para registrar as temperaturas horárias ao longo de todo o período que ficaram instalados.
Destaca-se que, para não ser necessário a aplicação de correção dos dados climáticos em relação ao tempo
decorrido entre os pontos, o dia que os dataloggers foram instalados não foi considerado na análise.
Inicialmente, os dados foram extraídos e organizados em planilhas do Excel para facilitar a análise.
Em seguida, foram calibrados através dos dados do dia posterior a retirada dos equipamentos, que ficaram
armazenados no mesmo ambiente. Após a tabulação, foi calculada a média horária de cada fração urbana
monitorada. A Tabela 2 mostra as temperaturas mínimas e máximas, bem como a amplitude térmica, obtidas
através da média horária.

Tabela 2 – Temperaturas máximas, mínimas e amplitude térmica da média horária dos pontos monitorados.

Temperatura (°C) P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7

Mínima 22,3 21,9 22,4 22,4 21,9 22,0 22,3

Máxima 31,7 30,5 32,8 31,2 31,3 30,3 31,2

Amplitude térmica 9,4 8,6 10,4 8,8 9,4 8,4 8,9

A partir dos dados apresentados na tabela 2, é possível observar que o ponto P3 registrou as maiores
temperaturas máxima e mínima, além de maior amplitude térmica, chegando a consideráveis 10,4ºC. Este
ponto foi localizado no Bairro Cacimbas, caracterizado por apresentar alta densidade construtiva e a baixa
presença de vegetação na região. Os resultados corroboram com a análise de Branco e Araújo (2001) no
centro de Teresina/PI, na qual as autoras verificaram que as temperaturas mais elevadas são encontradas nas
áreas com maior densidade de área construída e as temperaturas mais baixas, nos locais onde existe maior
cobertura vegetal.
Em contraposição, o ponto P6, representado pelo Condomínio Ouro Verde, obteve os menores valores
de temperatura e a menor amplitude térmica, devido principalmente a alta presença de vegetação que
ocasionou na diminuição de 2,5ºC comparado ao ponto P3, de temperaturas mais elevadas. De acordo com
Duarte (2015), diferenças dessa ordem de grandeza na temperatura do ar, de 1ºC a 3ºC, são significativas
para o conforto humano. Machado e Assis (2016, p. 116) apontam que “áreas verdes internas da cidade têm
um efeito positivo sobre seu entorno imediato no aspecto microclimático, não se estendendo sobre a malha
urbana os efeitos de parques e praças arborizadas”. Ainda assim, pedestre e habitantes locais podem usufruir
de maior conforto climático através da arborização das ruas.
Os pontos P1 e P5 apresentam características semelhantes no que tange a permeabilidade do solo e a
quantidade de área verde. A ausência de áreas verdes nas frações urbanas do Loteamento Luar do Cavaco e
Residencial Agreste, respectivamente, foi fator preponderante para o segundo e terceiro lugar no ranking de
lugares com temperaturas mais elevadas no período analisado. Diversos são os efeitos provocados pela
impermeabilização do solo urbano, Oliveira (1999) destaca: altas temperaturas, redução da umidade do ar e
da evaporação, radiação térmica acumulada na estrutura urbana e ocorrência de inundações.
Por sua vez, os dados dos pontos P4 e P7, referente a Vila do Padre e ao Loteamento Reserva
Perucaba, respectivamente, demonstraram que, apesar de possuírem características morfológicas distintas, o
comportamento térmico é bastante semelhante. Uma justificativa para isso está na presença do Lago da
Perucaba como massa d’água no entorno do ponto P7 e a alta presença de arborização no ponto P4, que
atuam na amenização da temperatura do ar. Como apontaram os resultados de Duarte e Serra (2003), a ideia
é equilibrar a maior densidade construtiva com os elementos naturais, como vegetação e corpos d’água,
viabilizada quando se é exigida uma determinada área verde por lote, o que não acontece em Arapiraca.
A Figura 4 apresenta o gráfico gerado a partir das médias horárias das sete frações urbanas. Os dados
demonstram que o Condomínio Ouro Verde e o Residencial Jardim Europa, referentes aos pontos P6 e P2,
respectivamente, apresentaram os menores valores de temperatura do ar, com máximas na faixa de 30ºC,
correspondentes ao horário de 14h. Como foi apresentado anteriormente, a presença de arborização e áreas
verdes no ponto P6 foi fator determinante nesse comportamento. Já o parâmetro densidade construtiva foi

761
importante para as baixas temperaturas no ponto P2, apesar do Residencial Jardim Europa possuir torres com
4 pavimentos, seu entorno configura-se basicamente por terrenos vazios, ocasionando numa baixa densidade
construtiva na região.

Comportamento médio horário da temperatura do ar (ºC)


33,0

31,0

29,0

27,0

25,0

23,0

21,0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
Luar do Cavaco Jardim Europa Cacimbas Vila do Padre
Agreste Ouro Verde Perucaba

Figura 4 – Comportamento médio horário da temperatura do ar nas sete frações urbanas monitoradas.
Fonte: Dados dos autores.

Outra análise importante feita através do gráfico apresentado na Figura 4 é em relação às temperaturas
referentes aos horários da madrugada, onde os maiores valores foram registrados no Loteamento Reserva
Perucaba. Sabe-se que a água, por apresentar calor específico mais alto, demora mais a ganhar e perder calor.
Neste sentido, a massa d’água do Lago da Perucaba retém o calor por maior tempo que os demais pontos
monitorados e as trocas térmicas com o ar realizadas no período noturno acarretam na elevação da
temperatura do ar durante a madrugada.
O dia com as temperaturas do ar mais elevadas registradas nos sete pontos monitorados, fazendo
análise do comportamento térmico diário em cada ponto, foi o dia 30/12/2018. A Figura 5 apresenta o
gráfico do comportamento da temperatura do ar no dia em questão.

Comportamento da temperatura do ar (°C) no dia 30/12/2018


38,0

35,0

32,0

29,0

26,0

23,0

20,0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23

Luar do Cavaco Jardim Europa Cacimbas Vila do Padre


Agreste Ouro Verde Perucaba

Figura 5 – Comportamento da temperatura do ar nas sete frações urbanas no dia 30/12/2018.


Fonte: Dados dos autores.
Observando as temperaturas do dia mais quente do monitoramento, percebe-se que o comportamento
das frações urbanas coincide com os registrados pela média horária do período analisado, onde o ranking dos
pontos de temperaturas mais elevadas é o mesmo em ambos os casos. A temperatura do ar máxima de
36,5°C foi registrada no ponto P3, localizado no Bairro Cacimbas, às 15h. O ponto P1 no Loteamento Luar

762
do Cavaco registrou no mesmo horário a segunda maior temperatura de 35,5°C, seguido pelo P5 no
Residencial Agreste com a temperatura de 34,5°C.
A alta densidade construtiva e a ausência de arborização são características comuns entre os pontos, o
que acarretou nos elevados registros. Ao mesmo tempo, as temperaturas mais amenas continuaram
correspondendo aos pontos P6 e P2, no Condomínio Ouro Verde e Residencial Jardim Europa,
respectivamente, comprovando a eficácia da vegetação e áreas verdes, bem como da baixa densidade
construtiva, mesmo em dias mais quentes.
Às 15h do dia 30/12/2018 foram verificados consideráveis 3,1°C de diferença entre as temperaturas
máximas do ponto P3 no Bairro Cacimbas, que apresentou maior temperatura máxima (36,5°C), e o ponto P6
no Condomínio Ouro Verde, que apresentou menor temperatura máxima (33,4°C). A importância da
presença de áreas arborizadas, encontrados no entorno do ponto P6, também foi verificada por Martelli e
Santos Jr. (2015), que analisaram as diferenças de temperatura e umidade relativa do ar em três locais da
região central do município de Itapira-SP com variação na vegetação arbórea existente. Os autores
encontraram uma diferença de 5,3°C de temperatura entre a área sem arborização e a área bem arborizada.

5. CONCLUSÕES
A análise microclimática das sete frações urbanas da cidade de Arapiraca/AL confirmou a influência das
características geourbanas (densidade construtiva e permeabilidade do solo) e geoambientais (massas d’água
e vegetação) no comportamento térmico diário de diferentes microclimas referentes às áreas monitoradas.
A partir dos resultados foi possível notar que os pontos P3, P1 e P5 apresentaram, respectivamente, as
maiores temperaturas do ar ao longo dos 48 dias de monitoramento, devido, principalmente, às suas
características geourbanas. O ponto P3, localizado no Bairro Cacimbas, caracterizou-se pela alta densidade
construtiva, ausência de vegetação e permeabilidade do solo baixa. O bairro é um dos mais antigos e
localiza-se próximo ao centro da cidade, ocasionando um alto adensamento de pessoas que interferem direta
e indiretamente no microclima local, comprovado pelos elevados registros térmicos.
O ponto P1 apresenta média densidade construtiva, entretanto a maioria dos lotes são
impermeabilizados e, aliados a falta de arborização, provocaram altas temperaturas do ar, de forma análoga
ao ponto P5. Este último localiza-se no Residencial Agreste, construído pelo Governo Federal através do
Programa Minha Casa, Minha Vida, e abrange 999 residências que apresentam inúmeros problemas
projetuais e urbanos nas áreas de conforto, saneamento, abastecimento e mobilidade, visto que está afastado
11km do centro de Arapiraca.
Os dados obtidos pelo ponto P7, no Loteamento Reserva Perucaba, inferem que a presença da massa
d’água, oriunda do Lago da Perucaba, tem menor impacto na conformação de um microclima mais ameno se
comparada a presença de arborização, como observado no ponto P6, situado no Condomínio Ouro Verde,
que apresentou os índices mais baixos de temperatura do ar nos dias monitorados. Entretanto, não se deve
ignorar a influência positiva da massa d’água no microclima local, tendo em vista as maiores temperaturas
registradas em outros pontos.
A Vila do Padre, onde localizou-se o ponto P4, assim como o Condomínio Ouro Verde, há presença
considerável de arborização nas quadras. Entretanto, por apresentar maior densidade construtiva, registrou
maiores temperaturas do ar, revelando que os benefícios da baixa densidade construtiva se sobrepõem à
presença de vegetação e áreas verdes no entorno.
Desta forma, foi possível concluir que, dentre os parâmetros geourbanos e geoambientais selecionados
e considerados no presente estudo, a baixa densidade construtiva e a presença de arborização apresentaram
melhores resultados no comportamento microclimático das diferentes frações urbanas monitoradas da cidade
de Arapiraca/AL, no que diz respeito à temperatura do ar.

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AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e a Universidade
Federal de Alagoas (UFAL), pelo apoio dado a esta pesquisa.

764
MORFOLOGIA URBANA, ADENSAMENTO CONSTRUTIVO E
MICROCLIMA: ANÁLISE DO DESEMPENHO CLIMÁTICO DE TECIDOS
URBANOS NA REGIÃO AGRESTE DE ALAGOAS.

Maria Vitória da Silva Costa (1); Ruan Victor Amaral Oliveira (2); Aldiranny Luiza de
Oliveira Santos (3); Simone Carnaúba Torres (4)
(1) Graduando(a)- Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Alagoas –Campus
Arapiraca. E-mail: mariavitoriaah@gmail.com; (2) Graduando- Curso de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade Federal de Alagoas –Campus Arapiraca, E-mail: ruanvictoramaral@hotmail.com;
(3) Arquiteta e Urbanista. E-mail: aldirannyl@gmail.com
(4) Doutora em Desenvolvimento Urbano, Professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade
Federal de Alagoas – Campus Arapiraca. E-mail: simone.torres@arapiraca.ufal.br. UFAL –Campus
Arapiraca: Av. Manoel Severino Barbosa, Bom Sucesso. CEP: 57309-005. Arapiraca – AL. Tel.(82) 3482
1844

RESUMO
O presente estudo corresponde a uma investigação sobre a influência da morfologia urbana no desempenho
climático dos espaços externos e nos padrões de aproveitamento das estratégias bioclimáticas. O objetivo da
pesquisa foi realizar uma avaliação sobre o desempenho climático de tecidos urbanos determinados por
diferentes padrões morfológicos na cidade de Arapiraca-AL. Foi realizado monitoramento microclimático
em sete tipos de arranjos construtivos selecionados. Foi possível constatar diferenças de temperatura acima
de 2,5ºC no período analisado (dezembro/2018 e janeiro/2019), nos horários de maior intensidade de
radiação solar, entre os tecidos investigados. Neste sentido, são evidenciadas a importância da análise de
desempenho climático no processo ao planejamento e a iminente necessidade de revisão da legislação
urbanística para desenvolvimento de diretrizes baseadas no controle do adensamento construtivo com
enfoque no urbanismo bioclimático.
Palavras-chave: morfologia urbana. desempenho climático. adensamento construtivo

ABSTRACT
This study examines the influence of the urban morphology on climatic changes of urban spaces and on the
use of bioclimatic strategies. The main objective of this work is an evaluation of the climatic performance of
urban typologies, presenting different densities and morphological patterns, using the city Arapiraca-AL as
case study. Microclimatic monitoring was performed in seven selected spatial typologies. It was possible to
observe thermal difference above 2.5ºC in the period analyzed (December / 2018 and January / 2019) at the
most intense times of solar radiation between the urban spaces investigated. The importance of climate
analysis in the urban planning process could be demonstrated within this work. The results show the need to
review planning instruments and guidelines for dense urban environments focusing on a bioclimatic
urbanism.
Keywords: urban morphology. urban climate perfomace. urban built density,

765
1. INTRODUÇÃO
A compreensão das condições ambientais do espaço construído, incluindo espaços abertos, e a análise da
interface entre o edifício e espaço externo são fundamentais para a identificação de diretrizes de adequação
de assentamentos humanos. Estas diretrizes devem ser consideradas no processo de gestão e planejamento
urbano para evitar possíveis impactos ambientais decorrentes do modo de ocupação territorial das cidades.
Sobre este aspecto, a adequação do conjunto edificado às condições climáticas de cada região tem sido
apontada como importante fator para redução do aquecimento de estruturas urbanas, evitando a formação de
ambientes desfavoráveis às condições de conforto térmico, contribuindo, também, para a redução do
consumo de energia em edificações.
Evidencia-se o papel do urbanismo bioclimático como disciplina que deve ser integrada ao
planejamento ambiental, pois, adota uma abordagem associada à análise da capacidade de carga dos
elementos naturais locais a uma matriz de interações entre os aspectos ambientais (insolação, ventos,
vegetação, recursos energéticos, hídricos e geomorfologia) e as variáveis do ambiente urbano: estrutura de
circulação, espaços livres e áreas verdes, condições das quadras, lotes e edificações (HIGUERAS, 2006).
Estas considerações apresentam uma significativa interface com os aspectos conceituais da sustentabilidade e
das diretrizes recomendadas para mitigação do processo de aquecimento das cidades.
Para o alcance da adequação climática de tecidos urbanos é necessário compreender a interferência do
conjunto edificado no comportamento das variáveis ambientais. Porém, os variados tipos morfológicos
determinados por diferentes densidades construtivas podem apresentar distintas respostas quanto ao grau de
adequação climática. Assim, a necessidade de aprofundamento sobre as análises de correlação entre as
formas de ocupação do solo e o comportamento das variáveis climáticas tem sido a principal recomendação
para novos estudos e sistematização metodológica de procedimentos de subsídio ao processo de
planejamento.
As pesquisas realizadas nos trópicos apontam que o desconforto térmico nestas regiões está
diretamente relacionado com a radiação incidente, absorvida e refletida no ambiente construído
(EMMANUEL, 2005, DUARTE, 2015). Por isso, as estratégias para o controle da radiação em edifícios são
eficientes na minimização do acúmulo de calor nas estruturas arquitetônicas e urbanas. Outros estudos
destacam que, nas áreas densamente construídas, as trocas de calor predominantes são as trocas térmicas
sensíveis, sendo necessário o uso de estratégias para incrementar as trocas úmidas a partir do uso de
vegetação, solo exposto e corpos d`água para equilibrar o balanço de energia (DUARTE,2000; ASSIS, 2005;
DUARTE,2015). Portanto, a morfologia urbana deve ser estudada para favorecer a incorporação destes
princípios bioclimáticos.
A cidade de Arapiraca-AL corresponde ao caso de estudo da presente pesquisa, destacando-se por sua
fragilidade quanto ao processo de ocupação do solo. Devido à ausência de definição dos parâmetros
urbanísticos de ocupação territorial, a cidade vivencia hoje uma situação de vulnerabilidade quanto aos
impactos climáticos decorrentes dos padrões construtivos urbanos. Esta realidade assemelha-se à encontrada
na maioria das cidades de pequeno e médio porte no cenário brasileiro, principalmente, na região Nordeste.

2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é apresentar a análise do desempenho climático de tecidos urbanos da cidade de
Arapiraca-AL caracterizados por densidades construtivas e padrões morfológicos diferenciados, a partir da
comparação dos valores de temperatura e umidade relativa do ar, registrados através de monitoramento
microclimático.

3. MÉTODO
A pesquisa contemplou os seguintes procedimentos metodológicos:

3.1 Seleção de tipos morfológicos de tecidos urbanos para monitoramento das variáveis
climáticas
Foram analisados os padrões de ocupação e forma urbana predominantes na cidade de Arapiraca-AL. O
tecido urbano é configurado pelo sistema viário, pelo padrão do parcelamento do solo, pela
aglomeração e pelo isolamento das edificações, assim como, pelos espaços livres (MOUDON, 1997).
Para cada tipo morfológico identificado, foi selecionado um tecido para análise do desempenho
climático. Os tipos selecionados apresentam topografia similar e altitudes próximas para subsidiar a

766
análise comparativa das condições investigadas. Todos tecidos selecionados foram caracterizados quanto
aos elementos definidores de sua morfologia e suas características estão descritas no quadro 1:

Quadro 1: Descrição dos tecidos urbanos selecionados para o monitoramento microclimático.


PADRÃO MORFOLÓGICO
CARACTERÍSTICAS DO TECIDO URBANO
1. Horizontal geminado arborizado
Comunidade Vila do Padre
Área residencial caracterizada por edificações geminadas,
porém, as áreas centrais das quadras são arborizadas.
Apresenta configuração de quadra aberta com arborização
de médio porte. As vias possuem pavimentação poliédrica.
Caracteriza-se pela presença de solo natural na área central
das quadras. O entorno apresenta padrão morfológico
horizontal geminado denso (ausência de arborização
urbana).

2. Horizontal Disperso.
Localidade: Reserva Perucaba
Condomínio residencial fechado, caracterizado por baixa
taxa de ocupação do solo, com casas isoladas, com até dois
pavimentos. As ruas são asfaltadas. A vegetação presente é
rasteira, com gramado e pequenos arbustos. Está localizado
às margens do lago da Perucaba, o que configura um bom
condicionante de resfriamento evaporativo para o tecido.
Apesar de apresentar um tecido horizontal disperso, o
entorno é representado pelo padrão morfológico horizontal
denso geminado e, também, por alguns vazios urbanos.
3. Horizontal denso geminado.
Localidade: Cacimbas

Bairro residencial caracterizado por elevada taxa de


ocupação do solo e edificações geminadas. Pouca
permeabilidade do solo, com pavimentação poliédrica
(calçamento). A arborização urbana é inexistente. Apresenta
uso misto (habitacional e alguns pontos de comércio e
serviços). Topografia levemente acidentada. O entorno
apresenta mesmo padrão morfológico.

4. Vertical baixo disperso


Localidade: Residencial Jardim Europa
Condomínio residencial, com 10 torres residenciais de
quatro pavimentos cada. A arborização existente ainda é de
pequeno porte. A taxa de ocupação do solo é média
(aproximadamente 60%). O entorno é caracterizado por área
descampada, com baixa rugosidade e alta porosidade,
permitindo a livre passagem dos ventos até o tecido.

5. Horizontal geminado
Localidade: Luar do Cavaco
Área residencial caracterizada pela presença de edificações
térreas geminadas. Tem baixa permeabilidade do solo,
devido á pavimentação poliédrica. Entorno de baixa
rugosidade, com vazios urbanos, permitindo a passagem dos
ventos. Vegetação inexistente.

767
Quadro 1 (cont.): Descrição dos tecidos urbanos selecionados para o monitoramento microclimático.
CARACTERÍSTICAS DO TECIDO URBANO
PADRÃO MORFOLÓGICO

6. Horizontal geminado
Localidade: Residencial Agreste
Conjunto habitacional caracterizado por edificações térreas
geminadas. Apresenta solo permeável apenas nas áreas
destinadas aos espaços públicos. As ruas possuem
pavimentação poliédrica. Vegetação inexistente. O entorno
corresponde a uma extensa área descampada. O condomínio
situa-se em antiga área rural do município.

7. Horizontal baixo disperso.


Localidade: Ouro Verde
Condomínio residencial fechado caracterizado por
residências de até dois pavimentos. Apresenta taxa de
ocupação média. É significativa a presença de solo natural,
gramado e densidade arbórea. Solo asfaltado nas vias. O
entorno apresenta mesmo padrão morfológico: horizontal
disperso.

3.2 Monitoramento das variáveis ambientais nos tecidos urbanos selecionados


Todos os tecidos foram submetidos ao monitoramento das variáveis climáticas, temperatura e umidade
relativa do ar, a partir da instalação dos equipamentos HOBO Pro v2 data-logger da ONSET12 (referência
U23-001) que são coletores de dados para ambientes externos à prova d'água. Os instrumentos foram
calibrados uma semana antes do início do monitoramento microclimático13. Os sensores apresentam faixa
de operação correspondente a -40ºC a 70º C para registro de temperatura do ar, e de 0 a 100% para
registro de umidade relativa do ar, com precisão correspondente a ± 0,21ºC (a partir de 0ºC a 50ºC) e,
para umidade relativa do ar, ± 2,5% (a partir de 10% a 90% (típica)).

a) b)
Figura 1: a) Equipamento de proteção do HOBO Pro v2 data-logger (U23-001); b) HOBO posicionado no dispositivo de
proteção e, c) equipamento instalado no poste. Fonte: Os autores (2019)

12 Resolução: 0.02°C -25°C (0.04°F - 77°F)


13 Este procedimento objetivou verificar se existia diferença significativa entre os valores de temperatura do ar e umidade relativa do
ar registrados nos sete equipamentos utilizados para o monitoramento (mesma marca e modelo) empregados na pesquisa de campo, e
calibrá-los, determinando os fatores de correção para os dados medidos. As diferenças registradas entre os equipamentos não foram
superiores a 0,2°C.

768
Este monitoramento microclimático foi realizado durante o período quente e seco, segundo a
caracterização climática de Arapiraca correspondendo aos meses de dezembro (2018) e janeiro (2019).
Os hobos foram programados para registro horário dos dados climáticos, sendo posicionados no
interior de dispositivos de proteção contra radiação solar direta e refletida (referência RS1- ONSET),
fixados à sombra, em postes de iluminação, nos pontos de estudo e a 2,30m de altura14, conforme a
Figura 1. Apenas os dias de céu claro foram considerados para análise. Os pontos de monitoramento e
fixação dos equipamentos corresponderam às áreas centrais dos tecidos. Desta forma, foi possível obter a
tendência das magnitudes médias horárias das diferenças térmicas entre os diferentes tecidos
investigados, na escala microclimática para a época das medições realizadas.

4. CARACTERIZAÇÃO CLIMÁTICA DA CIDADE DE ARAPIRACA-AL


A cidade de Arapiraca está localizada geograficamente na área central do Estado de Alagoas, na mesorregião
do Agreste, pertencente à região de transição entre a costa úmida e o semiárido nordestino (Figura 2), entre a
latitude 9°75’25’’ Sul e longitude 36°60’11’’ Oeste, a 132 km de distância da capital Maceió, com maior
parte de seu território situada em superfície plana, abrangendo 410 km² (IBGE, 2010).

Figura 2: A) Localização do município Arapiraca no nordeste brasileiro, (B) Posição geográfica no Estado de Alagoas -
região do agreste alagoano. Fonte: Adaptado de IBGE (2010)

Devido a sua localização privilegiada, Arapiraca permite que seu comércio e serviços atendam aos
municípios circunvizinhos, fazendo com que seja considerada a cidade de maior importância econômica e
demográfica do interior do Estado. Segundo o último censo, a população total do município de Arapiraca foi
estimada para o ano de 2018 em 230.417 habitantes, sendo 181.481 vivendo em área urbana (IBGE, 2010).
Atualmente, seu sítio urbano está subdividido em 38 bairros.
De acordo o Ministério da Integração Nacional (2005), a cidade possui clima tropical quente
subúmido seco. Porém, devido à indisponibilidade de registros históricos das variáveis climáticas específicas
do município, estudos de caracterização do seu perfil climático vêm sendo desenvolvidos desde 2009. Em
2008, foi implantada a estação Arapiraca A353 do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), a qual tem
subsidiado pesquisas para compreensão do clima local (TORRES, 2017).
Estudos recentes realizados por Silva (2017) e Torres (2017) na cidade de Arapiraca, mostram que
seu clima é composto basicamente por duas estações: a estação quente e seca (período de outubro a abril) e a
estação quente e úmida (período de maio a setembro). A primeira é caracterizada pelo registro de
temperaturas do ar elevadas (médias acima de 25°C, podendo alcançar valores máximos acima de 33°C),
baixa umidade relativa do ar (valores mínimos absolutos abaixo de 40%), alta amplitude térmica (variações
diurnas acima de 10°C) e baixa pluviosidade. A estação quente e úmida é caracterizada por temperaturas do
ar menos elevadas (valores médios abaixo de 25ºC e mínimas absolutas de aproximadamente 17°C),
umidade relativa do ar alta (valores médios mensais acima de 85%) e baixa amplitude térmica. Silva (2017)
ainda investigou a direção predominante dos ventos em Arapiraca por meio de estudos de frequência das
observações diárias, para cada mês ao longo dos anos, na qual a partir da análise dos dados coletados,
verificou-se que as orientações Leste (E) e Sudeste (SE) ocorrem com maior frequência na cidade, sendo a

14A altura de posicionamento do instrumento de medição microclimática foi definida como 2,30 metros por questão segurança,
evitando o acesso facilitado de curiosos ou vândalos.

769
direção Leste (E) predominante, com 42,19% de ocorrências, e a Sudeste (SE) secundária, com 31,19%.

Segundo Torres (2017), a partir da análise do perfil climático de Arapiraca, as principais estratégias
que devem ser adotadas no desenho urbano para adequação dos conjuntos edificados são as seguintes:
• Ventilação Natural: Deve-se promover o aproveitamento da ventilação natural
principalmente no período noturno (na estação quente e seca) quando o rigor térmico é
favorável ao conforto térmico. Por isso, as tipologias construtivas devem apresentar uma
menor taxa de ocupação do solo e maior porosidade da malha urbana, para possibilitar
melhor distribuição das massas de ar no conjunto edificado. Assim, os tecidos podem
possibilitar o aproveitamento das massas de ar no nível dos edifícios. A variação de alturas
nas edificações, também, potencializa adoção desta estratégia.
• Resfriamento Evaporativo: Para otimizar o aproveitamento da ventilação natural, durante o
período diurno, é necessário incrementar as condições microclimáticas para o aumento da
umidade relativa do ar, favorecendo a redução da temperatura do ar. Deve-se priorizar,
portanto, a incorporação de massas vegetativas para alcançar o resfriamento evaporativo
indireto a partir do processo de evapotranspiração das plantas. A permeabilidade do solo
pode permitir a redução do acúmulo de calor na escala microclimática, em comparação com
os materiais de construção utilizados para revestimentos e impermeabilização em ambientes
urbanos;
• Sombreamento: O sombreamento associado à estratégia do resfriamento evaporativo em
decorrência da presença de vegetação urbana, favorece a redução da temperatura do ar,
principalmente, no horário de maior aquecimento diurno, promovendo a minimização do
acúmulo de energia térmica no nível microclimático.

5. RESULTADOS
Os equipamentos de monitoramento microclimático permaneceram instalados nos espaços externos dos
tecidos selecionados no período correspondente a 20 de dezembro de 2018 até o dia 05 de fevereiro de 2019,
totalizando 48 dias de coleta de dados. Partindo da confecção dos gráficos de cada um dos 48 dias, foram
escolhidos 10 dias representativos. O dia representativo é aquele que possui um padrão uniforme de
aquecimento observando os dados de temperatura do ar e radiação solar, com ausência de pluviosidade. Para
isso, foram observados os dados registrados na estação meteorológica automática do Instituto Nacional de
Meteorologia - INMET, de Arapiraca (A353). Os dias que apresentaram picos de temperatura, também,
foram considerados por representarem as situações mais adversas de acordo com o período/ estação
analisado (estação quente e seca).
Através da comparação entre os dados climáticos levantados de cada tecido urbano, observou-se em
qual tecido ocorre uma maior ou menor influência da estrutura urbana sobre o comportamento da
temperatura e umidade relativa do ar, a fim de compreender as relações existentes entre a morfologia urbana
e o microclima. Estes procedimentos contribuíram para verificação de diretrizes importantes para análise e
entendimento do desempenho climático dos tecidos analisados.
De acordo com a Figura 3, é possível observar os dados referentes ao comportamento da temperatura
do ar máxima registrada em todos os dias monitorados. O valor mais elevado de temperatura do ar foi
registrado no dia 30/12/2018, correspondendo a 36,3°C, às 15h, no tecido 3 – Bairro Cacimbas, que se
destaca em relação aos demais tecidos investigados por registrar, em todos os dias, os maiores valores desta
variável climática. Ainda no dia 30/12/2018, os tecidos que apresentaram os menores valores de temperatura
máxima foram: o tecido 4 –Residencial Jardim Europa (33,4ºC), o tecido 7- Residencial Ouro Verde
(33,6ºC) e o tecido 1- comunidade Vila do Padre (33,7ºC), registrados entre às 14h e 15h. Ou seja, a
diferença no comportamento térmico entre estes tecidos foi de até 2,9ºC, sendo considerada, portanto,
significativa em relação ao período analisado.

770
Figura 3: Gráfico referente aos dados de temperatura máxima do ar (ºC) registrados no período de monitoramento
microclimático nos tecidos urbanos investigados. Fonte: Os autores (2019)

Verificando os dados referentes aos valores médios horários da temperatura do ar, obtidos a partir do
monitoramento microclimático, é possível constatar que o padrão de aquecimento do tecido urbano 3- Bairro
Cacimbas mantem-se superior aos demais (Figura 4), principalmente nos horários de maior intensidade de
radiação solar (entre 10h e 16h). O tecido com maior capacidade de resfriamento foi o tecido 4 –Residencial
Jardim Europa e o tecido 7- Residencial Ouro Verde. A diferenciação térmica média para o horário de 13h
foi de 1,8ºC entre o tecido 3- Bairro Cacimbas (temperatura média do ar igual a 31,6ºC) e os tecidos 4 e 7
(ambos com temperatura média igual a 29,8ºC).

Figura 4: Perfil referente ao comportamento da temperatura média conforme dados coletados no período de monitoramento
microclimático dos tecidos investigados. Fonte: Os autores (2019)

As diferenças entre esses tecidos que estão mantendo um maior resfriamento quando comparado ao
Bairro Cacimbas é que cada um possui uma estratégia bioclimática diferente que propicia a diminuição da
temperatura no nível microclimático. O tecido urbano 1-Conjunto Vila do Padre, devido à concentração de
elementos arbóreos, utiliza a estratégia de sombreamento e o resfriamento evaporativo indireto através da
vegetação, como também, o tecido 4- Residencial Jardim Europa, devido à altura dos prédios (4 pavimentos),
promove sombreamento no nível externo e apresenta uma taxa de permeabilidade do solo média, além de
favorecer o aproveitamento da ventilação natural no nível externo a partir da implementação de um maior
distanciamento entre as edificações. Já o tecido 7 - Residencial Ouro Verde, apresenta arranjo construtivo
disperso e baixa taxa de ocupação do solo favorecendo o aproveitamento das massas de ar locais nos níveis
externos, como também, a manutenção de uma maior taxa de permeabilidade do solo que contribui para

771
reduzir o acúmulo de calor no conjunto edificado. Ou seja, os padrões morfológicos mais favoráveis em
relação ao desempenho climático apropriado ao clima de Arapiraca-AL foram: vertical baixo disperso
(tecido 4), horizontal geminado arborizado (tecido 1) e o horizontal baixo disperso (tecido 7). O padrão
mais desfavorável ao desempenho climático foi o horizontal denso geminado (tecido 3), devido a ausência de
estratégias bioclimáticas que auxiliem na amenização térmica, como a vegetação, sombreamento,
resfriamento evaporativo ou alta taxa de permeabilidade do solo. Como a umidade relativa do ar possui
comportamento inversamente proporcional ao da temperatura do ar, estes tecidos com maior potencial de
resfriamento foram os que apresentaram os maiores valores de umidade relativa do ar, alcançando valores
acima de 55% nos horários de maior intensidade de radiação solar.
É importante notar que embora os tecidos 4 e 7 apresentem padrões morfológicos bem diferenciados, o
desempenho climático dos mesmos aponta uma tendência referente à capacidade de resfriamento no período
analisado (período quente e seco). Para explicitar esta observação, pode-se verificar na figura 5, referente ao
comportamento da temperatura do ar no dia representativo selecionado (30/12/2018), que estes tecidos
apresentaram temperatura do ar inferior às registradas na estação automática do INMET (A353), nos horários
de maior intensidade de radiação solar. Estes tecidos apresentam diferenças significativas quanto ao padrão
de adensamento urbano, ou seja, possuem densidades construtivas diferentes. O tecido 4 possui maior
densidade construtiva15 dentre os demais tecidos avaliados e o tecido 7 apresenta o segundo menor valor de
densidade construtiva (superior apenas ao tecido 2). Ou seja, o adensamento construtivo urbano pode ser
viabilizado a partir do entendimento referente à aplicabilidade das estratégias bioclimáticas locais no
desenho urbano e no ajuste do padrão morfológico de conjuntos edificados. O estudo demostra que a
variação da morfologia de tecidos urbanos pode possibilitar o alcance de outros benefícios para as cidades,
evitando a uniformização das estruturas urbanas e contemplando outras solicitações destacadas na atualidade
como, potencialização do uso de infraestrutura urbana e integração social.

Figura 5: Comportamento da temperatura do ar registrado nos tecidos investigados no dia representativo do monitoramento
microclimático: 30/12/2018. Fonte: Os autores (2019)

Analisando os dados médios de temperatura máxima do ar registrados nos dias representativos


selecionados foram comparados os valores médios referentes à diferença entre a temperatura registrada no
tecido 3 – Bairro Cacimbas e os demais tecidos investigados (Tabela 1). Verifica-se que todos os tecidos
apresentaram redução de temperatura do ar a partir 0,7ºC. Estão destacados na Tabela 1, os valores referentes
às diferenças térmicas acima de 2ºC, identificadas nos tecidos 4 e 7 (Jardim Europa e Ouro Verde), como
também, no dia 30/12/2019, nos tecidos 1, 2 e 6 (Vila do Padre, Reserva Perucaba e Residencial Agreste).

15 A densidade construtiva corresponde à soma das áreas úteis construídas dividida pela área total do tecido urbano.

772
Tabela 1: Valores de diferenciação térmica, identificados a partir da temperatura do ar máxima média (ºC) entre o tecido 3 –
Bairro Cacimbas e os demais tecidos investigados, registrados nos dias representativos do monitoramento microclimático.
Dias Tecido 1 Tecido 2 Tecido 4 Tecido 5 Tecido 6 Tecido 7
Representativos Vila Do Reserva Jardim Luar do Residencial Ouro
Padre Perucaba Europa Cavaco Agreste Verde
23/12/18 -0,8 -1,3 -1,7 -0,7 -0,9 -1,8
28/12/18 -1,4 -1,5 -2,1 -1,2 -0,9 -2,6
30/12/18 -2,6 -2,2 -2,9 -1,1 -2,4 -2,7
31/12/18 -1,5 -1,4 -2,6 -1,1 -1,4 -2,7
01/01/19 -1,4 -2,0 -2,2 -1,4 -1,8 -2,4
12/01/19 -0,4 -2,6 -2,5 -0,9 -2,5 -2,5
14/01/19 -1,5 -1,9 -2,8 -1,7 -3,0 -2,7
27/01/19 -0,8 -1,4 -1,7 -0,9 -1,6 -2,1
30/01/19 -0,1 -1,7 -2,1 -0,3 -2,2 -1,5
01/02/19 -0,9 -0,8 -1,4 -0,6 -0,8 -1,6

O tecido 2- Reserva do Peruca, também, demostrou uma tendência de resfriamento, apresentando


diferenças térmicas acima de 2ºC em dois dias representativos (dia 30/12/2019 e dia 14/01/2019). Este tecido
está localizado às margens do lago Perucaba (um antigo açude da cidade). A presença deste corpo d’água
permite o alcance da estratégia bioclimática resfriamento evaporativo direto contribuindo para o incremento
da umidade relativa do ar e, consequentemente, para a redução da temperatura.
O tecido 6- Residencial Agreste, apesar de apresentar padrão morfológico similar ao tecido 3 – Bairro
Cacimbas, correspondendo à tipologia Horizontal Geminado, possui um entorno diferenciado, caracterizado
pela ausência de estrutura edificada, pois está localizado em uma antiga área rural. O condomínio residencial
foi implantado após a ampliação do perímetro urbano do município de Arapiraca, constituindo em conjunto
habitacional do Programa Minha Casa Minha Vida. O entorno do conjunto corresponde a uma área
descampada. Além disso, diferentemente do Bairro Cacimbas, não apresenta elementos que permitem a
concentração de calor antropogênico, como circulação de automóveis. O uso do solo no tecido é
exclusivamente habitacional. Este entorno diferenciado é favorável a inserção das massas de ar no tecido,
porém, o aproveitamento no nível dos espaços internos das edificações pode ser comprometido devido a
ausência de recuos laterais entre as edificações. O desempenho climático deste tecido, portanto, foi
possivelmente influenciado pelo tipo de entorno, pois os valores de temperatura do ar média foram inferiores
ao tecido 3- Bairro Cacimbas entre 0,9°C até 3°C (Tabela 1).
O tecido 5- Luar do Cavaco, também apresenta padrão morfológico Horizontal Geminado e situa-se
no perímetro urbano em área já consolidada da cidade, porém, apresenta proximidade em relação a alguns
vazios urbanos. Os valores médios de temperatura do ar registados neste tecido também foram inferiores ao
tecido 3, porém, com uma diferenciação menor, de -0,3º C (em 30/01/2019) até de -1,7ºC (em 14/01/2019).
Neste sentido, o estudo demostra que o tipo de entorno, pode apresentar forte influência nas condições
climáticas de tecidos urbanos, além do padrão morfológico, pois, a existência de vazios urbanos pode
auxiliar no processo de amenização das adversidades climáticas quando potencializa a inserção das massas
de ar na estrutura urbana e/ou possibilita a manutenção de solo permeável e de espécies vegetadas. O tecido
3 –Bairro Cacimbas, possui um entorno caracterizado pela ausência de vazios urbanos, sendo marcante a
existência um padrão de ocupação em áreas circunvizinhas determinadas pela elevada taxa de ocupação do
solo urbano.

6. CONCLUSÕES
O monitoramento microclimático realizado em tecidos urbanos caracterizados por distintos padrões
morfológicos possibilitou a identificação de diferenciações quanto ao desempenho climático das estruturas
investigadas. Foi possível constatar diferenças de temperatura acima de 2,5ºC no período analisado
(dezembro/2018 e janeiro/2019) nos horários de maior intensidade de radiação solar.
Os tecidos que apresentaram maior potencial de adequação climática foram os tecidos 4 (Residencial
Jardim Europa – Vertical Baixo Disperso), 7 (Residencial Ouro Verde – Horizonta Baixo Disperso) e 2
(Reserva Perucaba - Horizonta Disperso). Todos estes registraram os menores valores de temperatura do ar
nos horários de maior intensidade de radiação solar. É importante destacar que todos estes contemplam pelo

773
menos uma das estratégias bioclimáticas indicadas para adequação de estruturas urbanas locais. Apesar de
apresentarem diferentes padrões morfológicos, o desempenho climático identificado nestes tecidos aponta
tendências que indicam que o aumento do adensamento construtivo nem sempre influenciará negativamente
nas condições ambientais urbanas. Assim, o tecido 4 (Residencial Jardim Europa – Vertical Baixo
Disperso), com o maior índice de densidade construtiva dentre os tecidos investigados, em todos os dias
monitorados, registrou um dos menores valores de temperatura do ar. Para a confirmação destas tendências,
é necessária a ampliação deste estudo utilizando coleta de dados em períodos diferenciados e
monitoramentos prolongados.
Outro aspecto importante destacado no estudo é a influência do tipo de entorno no padrão de
aquecimento das estruturas, como observado nos tecidos 5 (Residencial Agreste) e 6 (Luar do Cavaco) e 3
(Bairro Cacimbas), todos com padrão morfológico horizontal geminado. Este último (tecido 3), de acordo
com os resultados do monitoramento microclimático, registrou em todos os horários, os maiores valores de
temperatura do ar, indicando a ausência de estratégias bioclimáticas e, consequentemente, maior
aquecimento nos horários de maior intensidade de radiação solar. Neste sentido, verifica-se a necessidade de
revisão dos instrumentos de planejamento urbano local, pois, o padrão morfológico horizontal denso
geminado é, ainda, dominante no sítio urbano da cidade de Arapiraca-AL, devido à ausência de parâmetros
urbanísticos adequados às solicitações climáticas locais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Encontro Nacional sobre Conforto no Ambiente Construído, 4º Encontro Latino-Americano sobre Conforto no Ambiente Construído,
2005, Maceió. Anais… Maceió: ANTAC, 2005. p.92-101.
ASSIS, E. S. de. Impactos da forma urbana na mudança climática: método para a previsão do comportamento térmico e melhoria
de desempenho do ambiente urbano. 2000. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo), Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de São Paulo, São Paulo. 2000. 253 p
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Paulo: Oficina de textos, 2015. p.155-179
DUARTE, D. Padrões de ocupação do solo e microclimas urbanos na região de clima tropical continental. 2000. Tese
(Doutorado em Arquitetura e Urbanismo), Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2000.
278p.
EMMANUEL, M.R. An urban approach to climate-sensitive design: strategies for the tropics. New York: Spon Press, 2005.
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INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA -IBGE. Censo de 2010. Disponível em:
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/al/arapiraca/panorama. Acesso em: 25/04/2017
MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. Nova delimitação do semi-árido brasileiro. Secretaria de Políticas de
Desenvolvimento Regional. 2005. Disponível em: http://www.mi.gov.br
MOUDON, A. V. Urban morphology as an emerging interdisciplinary field. Urban Morphology, v. 1, n. 1, p. 3-10, 1997
TORRES, S.C. Forma e Conforto: estratégias para (re)pensar o adensamento construtivo urbano a partir dos parâmetros
urbanísticos integrados à abordagem bioclimática. 2017. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Urbano). Departamento de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2017. 397p
SILVA, M. F. da. Estratégias bioclimáticas para o agreste de Alagoas: diretrizes projetuais para edificações em Arapiraca. 2017.
Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Alagoas- Campus Arapiraca,
2017.63p.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS pela bolsa concedida através do
Programa de Iniciação Científica –PIBIC para o desenvolvimento da presente pesquisa.

774
O DESENHO URBANO ALIADO AOS PRINCÍPIOS DE
SUSTENTABILIDADE URBANA E CONFORTO AMBIENTAL
Thyago Phellip França Freitas (1); Eleonora Sad de Assis (2); Fernando Brandão Alves (3);
(1) Doutorando em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável - UFMG, Arquiteto e Urbanista,
thyagophellip@hotmail.com, SEDUC-TO e CESUP, Av. Teotônio Segurado nº quadra 1102 sul, 4001-6884
(2) Pós - Doutora, Arquiteta e Professora, elsad@ufmg.edu.br, Universidade Federal de Minas Gerais, Rua
Paraíba, 697 - Savassi, Belo Horizonte - MG
(3) Doutor, Arquiteto, alves@fe.up.pt, Universidade do Porto, Faculdade de Engenharia, Departamento de
Engenharia Civil, Seção de Planeamento do Território e Meio Ambiente, rua Dr. Roberto Frias, s/n 4200-465
Porto – Portugal

RESUMO
O desenho urbano das cidades situadas entre os trópicos remonta-se ao período de colonizações portuguesa e
espanhola, sendo que cada um destes desenhos seguia um padrão para a implantação das urbes. Contudo,
esta implantação por mais planejada que fosse, não se adequava a todas as diversas climatologias presentes
no território brasileiro. Além disso, questões como o conforto ambiental foram trabalhadas com definições
básicas e sem foco na especificidade local o que implicou em padrões de cidades que, por vezes se tornaram-
se extremamente onerosas aos cidadãos em virtude da implantação desconexa com o ambiente construído.
Desta forma, este artigo visa contribuir para as discussões acerca do desenho urbano em cidades tropicais e
suas relações com a sustentabilidade urbana e o conforto ambiental como viés para a reorganização urbana.
Como percurso metodológico, fez-se uma revisão de literatura densa acerca dos materiais disponíveis sobre a
temática, buscando conexão com os critérios de conforto e desenhos urbanos das cidades. Cabe ressaltar que
este artigo não esgota as possibilidades do trabalho, mas busca levantar uma luz sobre estas discussões em
nível de implantação urbana. Como conclusão, percebe-se há um trabalho na discussão a nível de microclima
e alterações do espaço urbano para atender as necessidades dos transeuntes do espaço com vistas a atender o
seu bem-estar nestes espaços.
Palavras-chave: desenho urbano, sustentabilidade urbana, conforto ambiental, desenho bioclimático.

ABSTRACT
The urban design of the cities located between the tropics dates back to the period of Portuguese and Spanish
colonization, each one of which follows a pattern for the implantation of the cities. However, this
implantation is more planned than it would be, it did not fit all the light categories present in the Brazilian
territory. In addition, standard-related issues were worked on based on and not focused on local specificity,
which implied in city standards that sometimes became extremely burdensome for people involved in the
implementation of the standard. In this way, this article aims to help people to engage in urban networks and
their relationship with urban sustainability and the environment as a bias towards an urban reorganization.
As the methodological one, a literature review was done on the demand of available materials on a tool,
seeking the connection with the comfort standards and urban designs of the cities. It should be noted that this
article is not exhaustive as the possibilities of work, but that seeks a light on these issues at the level of urban
implantation. As a conclusion, there is a work at microclimate level and the alterations of the urban space to
meet the needs of the passers of space with a view to satisfying their interior spaces.
Keywords: urban design, urban susntentability, enviromental comfort, bioclimatic design.

775
1. INTRODUÇÃO
Alcoforado (1999) destaca a importância da informação climática para a regularização do desenho urbano e
melhoria do clima urbano o que corrobora com o pensamento de Assis (2007) que aduz que as
recomendações apregoadas ao planejamento urbano são geralmente generalizadas ao entendimento entre o
clima urbano e a forma urbana das urbes, e ressalta que devem ser desenvolvidos critérios específicos e
menos generalizados para cada cidade, buscando assim abarcar a síntese do desenho urbano.
A geometria dos espaços urbanos sempre foi utilizada em larga escala com vistas a possibilitar os o
bem-estar dos transeuntes no espaço da cidade, sendo que nos países entre trópicos, este estudo de seu
invariavelmente por desenhos espanhóis e portugueses com algumas adequações de território em virtude da
latitude tão influente. A expansão e o adensamento causado pelo crescimento vertiginoso populacional, fez
que com algumas cidades, no início do planejamento fossem pensadas em prol do usuário e que, após esse
boom, a implantação que não segue critérios básicos de promoção de ventilação e conforto térmico em
espaços urbanos e abertos, o que leva hoje, alguns locais passarem por retrofit urbano para atender esta
demanda, o que corrobora com Ferreira e Assis (2016) que a influência humana tende a alterar e modificar o
espaço e o espaço natural.
Calejas e Nogueira (2013) afirmam que a morfologia urbana é um elemento a ser considerado no
planejamento urbano, visando assim a mitigação da temperatura no dossel urbano, para favorecer a
circulação da ventilação e melhorar a situação termo-higrométrica da localidade
Vassalo e Figueiredo (2010, pg. 7) destacam ainda que a “revitalização urbana é cada vez mais um
instrumento-chave para a qualificação e o desenvolvimento dos territórios construídos e deve ser usada para
alcançar os objetivos do desenvolvimento urbano sustentável”. Sabe-se conquanto que pequenas alterações
em elementos de fechamento do espaço urbano, vegetação, implantação de elementos de água e mudanças de
materiais de piso tendem a melhorar consideravelmente o espaço urbano e, por conseguinte, melhorar o
acesso do transeunte do espaço sem necessitar de estratégias ativas de proteção e/ou refrigeração.

2. OBJETIVO
Identificar as variáveis que possuem relação com à “pele climática” que podem vir a auxiliar nas mudanças
dos espaços urbanos aliados ao desenho urbano das cidades tropicais e a sustentabilidade.

3. MÉTODO
Os procedimentos metodológicos adotados para esta pesquisa baseiam-se em pesquisas bibliográficas de
aprofundamento técnico conforme autores como Marconi e Lakatos (2010), Andrade (2006) e Motta-Roth e
Hendges (2010).
Tal análise consistiu por meio de livros, artigos, teses e dissertações no intuito de levantar soluções
e/ou problemáticas, que porventura possam vir a interferir no resultado apresentado, sendo que os autores
destacam a necessidade de um aprofundamento teórico da temática abordado no objeto de estudo para
possibilitar uma identificação mais consubstancial e verdadeira desta realidade.
A pesquisa levou em consideração exemplos europeus e das américas, com vistas a perceber e
levantar as semelhantes e contradições próprias em virtude das latitudes, além de correlacionar os padrões
entre cidades que estão situadas entre os trópicos.

4. NOÇÕES DE CONFORTO URBANO


O clima urbano como elemento preponderante deve atentar-se à performance dos espaços urbanos livres
associados aos edifícios, sendo que esta definição é complicada em virtude das infinitas variáveis envolvidas
no processo de definição do que seria o clima urbano de um determinado espaço/local/cidade (FAHMY,
SHARPLES e AL-KADY, 2008).
Há definições específicas de análises das formas urbanas, contudo os autores já referenciados,
estipulam 03 elementos como sendo primordiais: na camada dos edifícios, na borda urbana e o domo urbano,
conforme figura 01.

776
Figura 01: Esquemas das escalas de trabalho do clima urbano. Fonte: Grimmond, 2006.

Para cada escala, há variáveis e análises em escalas diferentes, sendo que o arquiteto e urbanista pode
trabalhar nas diversas variáveis, sendo a escala dos edifícios (microclimatologia) seu maior potencial de
alteração e correlação com a atuação profissional.
Com o crescimento das cidades e a globalização tão vigente e pujante dos anos 90 em diante, percebe-
se uma mudança no comportamento do usuários, tanto no edifício como no ambiente urbano, sendo que os
cenários de alterações climáticas, refletem essas mudanças, perfazendo assim o crescimento das cidades de
forma (des)ordenada, conflitos por questões energéticas e combate a fontes não renováveis com a construção
da arquitetura urbana (FAHMY, SHARPLES e AL-KADY, 2008).
Esta dinâmica afeta a cidade de forma que há alterações no balanço térmico de energia e, em boa
parte, acaba por ocasionar os efeitos de ilhas de calor, que tem como alguns dos fatores, a densidade das
construções e da população e a intensidades das atividades, além da morfologia urbana.
Cortesão et al (2008) destacam que os espaços urbanos possuem as chamadas “peles climáticas”, ou
seja, uma camada de variáveis microclimáticas e podem ser adequadas ao nível do usuário, com vistas à
melhoria do espaço com foco no conforto térmico, conforme figura 02.

Figura 02: Abordagem sobre a Pele Climática. Fonte: Traduzido pelo autor a partir de Cortesão, Corvacho e Alves, 2008.

De acordo com os autores, os elementos externos como fachadas, pisos e vegetação são informações
abordados que auxiliam na definição de estratégias integradas, com vistas a compreender e fazer uma
adequação baseada em critérios técnicos e orientativos à bioclimatologia local.
Com base nesses critérios de mudanças do espaço urbano, que podemos chamar de Design Urbano
Bioclimático (DUB), Brandão Alves (2017) destaca algumas informações orientativas que são: exposição a
horas solar, materiais aplicados e com vegetação inserida, água, sombreamento e orientação. O autor destaca
777
ainda que tais critérios têm por base a economia energética dos espaços urbanos, economia de custos,
proteção do ambiente biológico e urbano, além de melhoria do espaço exterior ao usuário, conforme figura
03.

Figura 03: Design Urbano Bioclimático aplicado na Praça dos Poveiros - Porto – Portugal. Fonte: Brandão Alves (2017).

Esta definição do DUB, também pode ser entendido como um “Retrofit Urbano”, o que Corvacho et al
(2016) descrevem como uma melhoria de qualidade ambiental e térmica ao usuário, ou seja, que tratam de
alterações em vegetação, materiais de piso, paredes, mobiliários e controle do gabarito, além de ações junto
ao ser humano.
Sendo assim, com estas definições em microescala pode-se alcançar a habitabilidade nos espaços
urbanos e promover verdadeiros oásis urbanos com foco no pedestre e em preceitos bioclimáticos adequados
à realidade local. No processo de desenvolvimento do desenho do espaço urbano, Franco et al (2013)
destacam que se deve prever a distribuição de vias, ocupação do solo, locação de equipamentos promovendo
a regularidade dos princípios bioclimáticos, culturais, econômicos e locais que atendam um planejamento
urbano sustentável.
Barbosa et al (2018) relatam que a malha urbana é capaz de interferir nas trocas térmicas, sendo que
deve-se atentar e perceber a relação do desenho com microclimatologia e que os espaços devem ser pensados
nessa relação a não provocar alterações climáticas de grande escala e que possam vir a se tornar uma ilha de
calor. Ainda segundo os autores, o que se discute sobre adensamento urbano para promover a ocupação
consciente do território, deve ser pensada bem em climas tropicais, pois não é solução para todos os espaços
urbanos.
Para Romero (2008), o conforto urbano em cidade deve ser pensado sobre 04 parâmetros, sendo
estrutura urbana, cobertura urbana, tecido urbano e metabolismo urbano. Na estrutura deve-se prever as
dimensões dos edifícios, espaços urbanos e vias. Na cobertura as construções, vegetação, água e solo, no
tecido os materiais de construção naturais e construídos, e no metabolismo, o calor, a água, poluição e as
atividades humanas. Sendo que o fator humano (metabólico) é dinâmico e difícil de ser controlado em
virtude das diferentes percepções humanas sobre o espaço.
Lois e Labaki (2001) relatam que há mais que se pesquisar sobre espaços externos em climas frios e
pouquíssimos pesquisas são abordadas em espaços tropicais, contudo esse fator vem sendo alterado
gradativamente com o passar dos anos e da necessidade de explicar os fatores em cada escala. Outro
destaque das autoras é que, em climas tropicais, há mais complexidade envolvida nas variáveis, sendo que
com duas de difícil apreciação como radiação solar e velocidade do vento.

4.1 Fatores operacionais que determinam o clima em trópicos


Os fatores climáticos determinam o clima regional de acordo com a sua localização e disposição perante os
espaços. Sendo assim, Romero (2000) estabelece que para a configuração climática há fatores que devem ser
observados conforme figura 04.

778
Figura 04: Fatores Climáticos Globais, Locais e Elementos Climáticos. Fonte: Romero (2000).

Há fatores que devem ser levados em consideração dependendo da localização dos espaços a serem
pesquisados, sendo assim, Alcoforado e Matzarakis (2010) destacam que, na macroescala, há fatores
regionais e zonais como latitude, relevo e distância do elemento aquoso. Na microescala destaca as
diferenças entre as morfologias urbanas topografia local, uso do solo e a influência de brisas marítimas ou
fluviais.
Em suma, os problemas climáticos urbanos devem, em sua maioria, ser tratados de forma pontual e
focal, contudo, há alguns apontamentos de modo generalizado a algumas climatologias específicas conforme
tabela 01.

Clima quente e seco Clima quente e úmido


• Minimizar o stress por calor; • Redução do ganho solar;
• Aumentar a ventilação; • Aumentar o ganho solar no inverno e em noites frias;
• Diminuir a radiação solar; • Aumentar a evaporação;
• Aumentar o resfriamento evaporativo; • Diminuir a exposição à ventilação.
• Diminuir o risco de inundação.
Tabela 1: Estratégias para climas quentes. Fonte: Alcoforado e Matzarakis, 2010, adaptado pelo autor,2019.

Dentro deste contexto, o balanço térmico e energético busca avaliar e validar essas perdas e ganhos
energéticos na escala microclimática com vistas a possibilitar possíveis alterações urbanas com foco no
pedestre e na melhoria do conforto urbano. Sendo assim, Barbirato, Souza e Torres (2016) relatam que
fatores como umidade, propriedades térmicas, do uso do solo, velocidade do vento, rugosidade e estabilidade
são alguns dos elementos que alteram o balanço térmico e tem estreita relação com os elementos climáticos.
Barbosa et al (2018) destacam quem a taxa de ocupação/uso do solo tem fator primordial sobre o
aquecimento dos espaços, sendo necessário haver uma densidade controlada.
Em espaços abertos a vegetação e a velocidade do vento agem inversamente proporcionais e auxiliam
no controlo térmico, o que pode vir a gerar espaços mais adequados se utilizada corretamente esta ferramenta
(ALCHAPAR et al, 2017).

4.2 Desenho urbano nos trópicos – Caso Brasil


O Brasil está, em sua grande maioria, dentro desta delimitação, conforme figura 05. O trópico de capricórnio
entrecorta os estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná; já a linha do Equador passa pelos estados
do Amazonas, Roraima, Pará e Amapá, sendo que neste último corta a capital do estado Macapá.

779
Figura 05: Localização do Brasil nos trópicos: Fonte: Adaptado pelo autor a partir de pronotícia, 2016.

Pensar na cidade aliando a climatologia proposta nem sempre foi prioridade, segundo Franco et al
(2013) as cidades americanas implantadas são cheias de erros e acertos quanto à adequação climatológica na
implantação das urbes. Kluppel (1990) destaca que na implantação das cidades brasileiras seguiu-se 02
padrões, sendo eles os desenhos espanhóis e portugueses bem distintos entre si conforme figura 06.

Figura 06: Mapa das cidades de São Luis (MA) e Belo Horizonte (MG), respectivamente. Fonte: Mapas blog e Pro-memória Câmara
Municipal de Belo Horizonte, 2019.

Nos desenhos de traçados espanhóis, cumprindo uma determinação das “leyes de índias” (1680) os
desbravadores deveriam seguir um planejamento mínimo para adequar os espaços ocupados por estes, sendo
que necessitaria ser levada em consideração a existência ou não de população local, com vistas a aproveitar a
mão de obra e espaço já desenvolvido. Nas cidades portuguesas, sob a tutela das Cartas Régias, Trevisan
(2009) destaca que não havia um traçado modelo ou generalistas que abarcasse as cidades em sua essência,
contudo aponta-se que a proximidade com água, rio, lago ou outro elemento aquoso era interessante, pois
facilitaria o acesso, deslocamento e escoamento da produção, sendo que a primeira via deveria ser
implantada seguindo o curso d’água na 1º cota (BARBOSA, 2004).
Rohiton (2011) destaca que há 03 pontos que são as chaves de pesquisa e desenhos para resolver
possíveis problemas das cidades, conforme tabela 2.

Estratégias de desenho - • Adequar o sombreamento dos edifícios com ventilação, propiciando


especialmente para promover o sombreamento de espaços públicos sob o aspecto do “guarda-chuva de
sombreamento, facilitando a sombra”.
ventilação • Melhorar a compreensão sobre a vegetação local para beneficiar o
arrefecimento, sem comprometer o sombreamento.
Design sensível ao clima e ao • Desenho de espaço público acessível ao pedestre;
transporte urbano • Compatibilização entre transporte, qualidade do ar, deslocamento do
usuário, ruído e ventilação.
Necessidades de dados nos • Dados em apoio a boas práticas de projeto;
trópicos urbanos • Dados necessários para a construção de monitoramento e avaliação de
desempenho;

780
• Dados necessários para o gerenciamento de emergência / preparação para
desastres no setor de ambientes construídos.
Tabela 02: Problemas e soluções nas cidades. Fonte: adaptado pelos autores a partir de Rohinton (2011).

O autor conclui ainda que após essas análises deve-se atentar para 3 pontos que são ferramentas
auxiliares, detalhar clima local e transferência de conhecimento para os trópicos. Quanto às ferramentas
auxiliares o autor destaca a necessidade de compatibilização entre os dados mínimos fornecidos com as
ferramentas BIM para que estas informações cheguem aos planejadores e se tornem ferramentas de grande
valia e melhoria do ambiente urbano com foco no usuário.
No que tange ao detalhamento do clima local há uma problemática quanto às coletas de dados
meteorológicos, uma vez que os órgãos que cuidam destas coletas, por vezes dificultam o repasse de
informações, contudo ressalta a necessidade de que se deve “calibrar” os dados coletados in loco e os dados
coletados pelo órgão (ROHINTON, 2011).
No que concerne à transferência de conhecimento para os trópicos Rohinton (2011) destaca que há
uma vasta pesquisa sobre estas informações em climas temperados, e reforça a necessidade de estudos que
visam o sombreamento em horários quentes, promovendo a ventilação, além desta ser dispersora de
poluição.

4.3. Adaptação de espaços públicos com foco em conforto térmico


Em parte dos modelos de desenhos urbanos gerados, busca-se identificar com a adequação do espaço ao
usuário e as adequações térmicas em virtude das necessidades específicas de cada local e, desta forma,
trabalhar com elementos climáticos como adequações para beneficiar arrefecimento, vegetação e ventilação
aliados aos preceitos para realizar a sustentabilidade urbana como foco no tripé ambiental e social.
Na cidade de Espinho – Portugal, conforme Marques, Corvacho e Alves (2016) foi avaliada uma
quadra em simulação computacional com 04 tipologias de modelo urbano, por meio do software Townscope
III para promover algumas adequações como ventilação, radiação solar por 4 horas no mínimo para o
inverno, evitar ofuscamento, criar rugosidades e quebras para evitar corredor de ventilação no inverno e
distribuição dos edifícios de forma a todos os espaços receberem insolação no inverno, conforme figura 07.

Figura 07: Modelos para a cidade de Espinho - Portugal Fonte: Maques, Corvacho e Alves (2016).

Cortesão et al (2008) destacam a alteração realizada na Greyfriars Road Cadiff no Reino Unido, com
260 m linear, a via possui movimento devido à questão comercial e como passagem de pedestre. No espaço
havia pouca vegetação, o que permitia um corredor de ventilação que, durante o inverno, provocava
problemática de mobilidade dos usuários na via. Para amenizar tal situação, foi implantada vegetação para
atuar como corta-vento no inverno, além de possuir função de sombreamento no verão e implantação de
arbustivas ao nível do solo para possuir mudanças de altura e alterações de materiais ao nível da via com
função de design urbano bioclimático, conforme figura 08.

781
Figura 08: Greyfriars Road Cadiff - Inglaterra. Fonte: Google Maps, 2019.

Na praça dos Poveiros, em Porto – Portugal, Corvacho e Alves (2010) destacam que a forma
trapezoidal do espaço, falta de vegetação, problemas como panadas extensas de revestimento dificultam a
habitabilidade local e, desta forma, as adequações necessárias ao espaço eram a mudança de texturas dos
pisos com vistas a permitir capacidades térmicas diferentes e formas diversas, implantação de árvores e
arbustivas densas com raízes ramificadas, pois abaixo tem um estacionamento subterrâneo, elementos
aquosos nas proximidades de acesso do usuário, gerando umidade e refrescamento no período do verão,
conforme figura 9.

Figura 09: Praça dos Poveiros - Porto - Portugal Fonte: Google Maps, 2019.

Na cidade de Campinas – SP, Abreu-Harbich, Labaki e Matzarakis (2013) destacam como diretrizes
para os espaços públicos a necessidade de implantação de arborização condizente em partes da cidade, de
acordo com a atividade, para que sejam preservadas e mantidas necessidades do espaço público, sendo assim
algumas recomendações são diversificar a densidade, alturas, materiais, de revestimento, utilização de
vegetação nativa de médio e grande porte, além da promoção contínua em áreas de circulação de pedestres
promovendo assim, sombreamento e proteção sem implicar na ventilação do espaço público, conforme figura
10.

Figura 10: Ruas da cidade de Campinas – SP. Fonte: Portal CBN Campinas

Em Hong Kong, Cheng e Ng (2006) destacam que a velocidade de ventilação, exposição à ventilação
e condições do corpo influencia no conforto do usuário, e destaca que para as adequações ao espaços
externos, deve-se promover uma velocidade de 1 a 2 m/s com sombra, e em dias típicos de verão, já para
espaços expostos ao sol, o ideal seria uma velocidade de 5 m/s para o usuário não sentir desconforto térmico,
conforme figura 11.

782
Figura 11: Cidade de Hong Kong Fonte: Melhores Destinos, 2019

Na cidade de Campinas e Medonza, Alchapar, Pezzuto e Correa (2017) em estudos sobre os espaços
da cidade, identificaram que as variáveis controláveis como a mesma porcentagem de vegetação e variáveis
incontroláveis como radiação, umidade, nebulosidade e ventilação, influenciam as condicionantes do espaços
e que em grandes cânions esses fatores incontrolados determinam o grau de intensidade do efeito, mesmo
quando a morfologia urbana é semelhante nos casos. Sendo assim há a necessidade de se rever alguns
aspectos do albedo dos materiais utilizados nos espaços com vistas a melhorar os espaços urbanos, conforme
figura 12.

Figura 12: Cidade de Campinas - Brasil e Mendonza - Argentina Fonte: trampos e viver agora, 2019.
Miyamoto (2011) em estudo sobre a cidade de Vitória (Espírito Santo) afirma que há uma conjunção
de fatores como o aumento da densidade e de materiais reflexivos, com pequenos afastamentos e baixa
vegetação, aliada a vias perpendiculares com a ventilação predominante, tende a provocar uma diminuição
na velocidade da ventilação e aumento de temperatura. Sendo assim, destaca a necessidade de produção de
novos espaços com menos densidade construtiva, aumento da arborização, pequenas quantidades de
superfícies reflexivas e, com sua relação com a proximidade ao mar, pode produzir espaços climaticamente
adequados e melhores sensações aos cidadãos.

5. CONCLUSÕES
Por fim pode-se perceber que as diretrizes bioclimáticas para implantação dos desenhos urbanos sempre
estiveram presentes desde os desenhos espanhóis e portugueses principalmente no América Central e do Sul,
ou seja, entre trópicos. Contudo, com o passar dos anos algumas estratégias de desenho bioclimático foram
esquecidos em prol do desenvolvimento urbano gerando ambientes “inconfortáveis” em virtude da supressão
de vegetação e a implantação de materiais de alta absorção de calor sensível.
Percebe-se ainda que as em climas quente e seco; e quente e úmido as variáveis de conforto para os
espaços urbanos, tem similaridades na macroescala como latitude, ventos e altitude; Contudo, já na
microescala é que estes de divergem e, por mais que cidades estejam na mesma latitude no globo terrestre, há
diferenças entre a percepção das variáveis como latitude, topografia e uso do solo que interferem nas análises
, o que implica dizer que cada cidade em determinado ponto do trópico possui uma identidade própria da
“pele climática” local. No que tange a sustentabilidade urbana os conceitos de adaptação dos espaços aliados
aos de conforto térmico, propiciam a sustentabilidade do espaço como um dos tripés da temática, ambiental e
social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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783
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AGRADECIMENTOS
A Universidade do Porto, Departamento de Planeamento do Território pelo espaço concedido para o
desenvolvimento do estágio doutoral com recursos oriundos do autor.

784
O IMPACTO DE OBSTÁCULOS DO ENTORNO SOBRE O FLUXO DE AR
NO INTERIOR DE UNIDADES HABITACIONAIS

Samuel B. M. Nazareth (1); Renan C. V. Leite (2); Amando C. Costa Filho (3); Sara
Cavalcante Ribeiro Lins (4); Stefane Barbosa Alves Macfranklin (5);
(1) Mestrando, Arquiteto e Urbanista, bmnsamuel@gmail.com, Universidade Presbiteriana Mackenzie
(2) Doutor, Professor, Arquiteto e Urbanista, renancid@bol.com, Universidade Federal do Ceará
(3) Doutor, Professor, Arquiteto e Urbanista, amandocosta@unifor.br, Universidade de Fortaleza
(4) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, saracrliins@gmail.com, Universidade Federal do Ceará
(5) Arquiteta e Urbanista, arqstefanealves@gmail.com, Universidade de Fortaleza

RESUMO
A legislação edilícia é responsável diretamente pela morfologia do solo urbano, que por sua vez, impacta na
densidade das construções, capacidade de ventilação natural no contexto urbano ou no nível da unidade
habitacional e também na parcela de insolação disponível. Todavia, pouco se utiliza de um projeto integrado
para a realização de leis adaptadas ao clima que está inserido. Este trabalho visa compreender o impacto de
uma construção dentro das leis de uso e ocupação do solo na cidade de Fortaleza, Ceará. O estudo se trata do
impacto de um condomínio recém entregue, aqui denominado de condomínio A, de aproximadamente 70
metros de altura e contando com os primeiros 12 metros de sobressolo garagem totalmente selado a
barlavento, na ventilação a um segundo condomínio aqui denominado de condomínio B. O condomínio B foi
entregue ainda na década de 80, é um condomínio composto de duas torres com 30 metros de altura cada. O
estudo conclui que o condomínio A impacta fortemente a capacidade de ventilação do condomínio B e que a
legislação edilícia que promoveu a construção do novo condomínio não está alinhada a uma necessidade do
ordenamento urbano que vise a capacidade plena de ventilação natural a todos os edifícios.
Palavras-chave: Ventilação Natural, Simulação CFD, Trocas de Ar por Hora, Conforto Ambiental.

ABSTRACT
The building legislation is directly responsible for the morphology of the urban soil, which in turn impacts
on the density of buildings, natural ventilation capacity in the urban context or on the level of the housing
unit and also on the amount of insolation available. However, little use is made of an integrated project for
the implementation of laws adapted to the climate that is inserted. This work aims to understand the impact
of a construction within the laws of land use and occupation in the city of Fortaleza, Ceará. The study is
about the impact of a newly delivered condominium, here called condominium A, with approximately 70
meters high and counting with the first 12 meters of garage underwash completely sealed to windward, in the
ventilation to a second condominium here called Condominium B. The condominium B was delivered even
in the 80's, is a condominium composed of two towers with 30 meters of height each. The study concludes
that condominium A strongly impacts the ventilation capacity of condominium B and that the building
legislation that promoted the construction of the new condominium is not aligned with a need of urban
planning that aims at the full capacity of natural ventilation to all buildings.
Keywords: Natural ventilation, CFD Simulation, Air Changes per Hour, Environmental Comfort.

785
1. INTRODUÇÃO
Um dos aspectos fundamentais da arquitetura é proporcionar conforto aos ocupantes de ambientes internos.
Nesse sentido, a discussão acerca do consumo de energia em edificações é de fundamental importância para
a economia de recursos e o bem-estar dos ocupantes.
A procura por edifícios sustentáveis impulsiona as pesquisas por tecnologias mais eficientes.
Derivados destas preocupações, instituições como ASHRAE e INMETRO, elaboram normas e ferramentas
que visam auxiliar o projetista a produzir um desenho mais eficiente. É sabido que o consumo de energia em
edifícios depende dos meios utilizados para controlar as condições ambientais internas. Muito embora o
projeto, a construção ou a readequação de edificações ecologicamente conscientes constitua uma necessidade
cada vez mais evidente no cenário atual, a economia de energia não deve condenar as condições de conforto
e a saúde dos ocupantes (OLESEN, 2007).
Muito embora registrem-se diversos estudos que abordam o consumo energético em edifícios e
medidas para redução da demanda, o aspecto urbano e sua influência são pouco abordados (CÓSTOLA,
2001). Alguns efeitos dos parâmetros da forma urbana como porosidade, rugosidade, relevo e aerodinâmica
já possuem estudados consolidados (ROMERO, 1998; OLIVEIRA, 1993), entretanto, não aplicados de
maneira integrada ao pensamento de conformação do espaço urbano. Cheung & Liu (2011) destacam que,
apesar do tema da ventilação natural urbana ter sido abordado em diversas pesquisas, a interferência da
forma urbana no potencial de ventilação para o conforto térmico e a redução do consumo de energia de
edifícios permanece pouco explorada. As principais normas disponíveis (ASHRAE, 1985; 2007; BS 5925,
1991; CISBE, 1997), apesar de reconhecerem a significativa influência das estruturas urbanas sobre o
comportamento do ar no interior das edificações, não contém informação suficiente sobre o tema.
O contexto brasileiro carece trabalhos que caracterizam a influência do espaço urbano no desempenho
energético em edificações residenciais. Mais especificamente, emissões de gás carbônico na produção e no
uso de energia elétrica no Brasil, com base no relatório composto entre os balanços energéticos nacionais de
2017 e 2018, apontam um aumento de 4,3% de emissões antrópicas associados à matriz energética das
residências brasileira (EPE, 2018).
O avanço dos recursos tecnológicos relativos à construção civil e melhoria das condições
socioeconômicas, são responsáveis, em parte, pelo afastamento do homem do ambiente natural. Este
distanciamento se dá principalmente através de edificações que se contrapõem ao seu contexto, não
aproveitando o potencial dos elementos naturais (ROGERS, 1997). Segundo Givoni (1976), quando uma
edificação não é ventilada de maneira adequada a temperatura interna tende a ser igual ou próxima a
temperatura externa. Portanto, em climas quentes, ao não propiciar a ventilação cruzada, tende-se a
necessidade do uso de ventilação mecânica. Entre as principais diretrizes passivas para condicionamento
térmico de localidades de clima quente e úmido, a ventilação natural constitui a mais simples estratégia para
obtenção de conforto quando a temperatura interna é elevada. Por outro lado, uma séria limitação à aplicação
da ventilação natural em ambientes urbanos deve-se a redução da velocidade do ar provocada pela presença
de obstáculos no entorno.
De acordo com Bastide et al (2006), as condições climáticas dos países situados na região dos trópicos
e o aumento no poder de compra são os responsáveis pelo uso crescente de aparelhos de ar condicionado,
frequentemente vistos como o único meio para atingir o conforto térmico. Por outro lado, Sant’Anna (2007),
prevê que o uso extensivo de sistemas de condicionamento de ar dará lugar a um debate entre as implicações
negativas sobre este recurso sobre o organismo humano e no consumo energético, com a negação da
utilização do clima e a validade das técnicas passivas de resfriamento.
Estes dados culminam no aumento do consumo de energia em edificações mal ventiladas. O que pode
ser ainda mais agravante quando se trata do contexto tropical. Leite (2015) observa que, do ponto de vista do
clima, as mudanças geradas pela urbanização em cidades tropicais são consideradas mais severas, gerando
situação de stress bioclimático com o aumento da temperatura do ar, diminuição de sua velocidade e o
aumento do consumo energético para condicionamento ambiental dos edifícios.
Reforça-se, assim, a necessidade de aprofundar os conhecimentos acerca da estratégia de resfriamento
passivo através da ventilação natural, compreendendo os seus limites e possibilidades de aplicação no âmbito
do adensamento urbano que atravessam as principais cidades do planeta. Portanto, a utilização de simulações
fluidodinâmicas computacionais (CFD) podem ser de grande ajuda, pois permitem avaliar em detalhes a
distribuição espacial da velocidade do ar, pressão, temperatura, concentração de contaminantes pela
resolução numérica das equações de conservação. Os resultados podem ser direta ou indiretamente aplicados
para analisar quantitativamente o ambiente interno e determinar o desempenho de sistemas de fachada
(WANG; WONG, 2009).

786
2. OBJETIVO
Avaliar os impactos sobre o potencial de ventilação natural de um apartamento residencial devido a
construção de um edifício de expressiva altura e reduzidos afastamentos em seu entorno imediato.

3. MÉTODO
3.1 Caracterização do objeto de estudo
Nos terrenos vazios lindeiros a região do Parque do Cocó, na cidade de Fortaleza, Ceará, encontram-se,
atualmente, diversas construções de empreendimentos residenciais multifamiliares em altura.
O Parque do Cocó se encontra na região leste da capital cearense. A região é privilegiada em relação
ao fluxo de ar, uma vez que não são verificados grandes obstáculos construídos a leste e a sudeste, sentidos
dos ventos predominantes na cidade. Tal característica acaba por formar uma espécie de corredor natural de
ventos. Foi considerado o sentido do vento mais perpendicular as edificações estudadas, portanto, o sentido
Leste-Oeste sendo utilizado nas simulações fluidodinâmicas a uma velocidade de 4,5 m/s que é uma média
das velocidades da figura 1 (LEITE, 2015).
O objeto de estudo se encontra em uma região de vale (figura 3), próximo ao rio Cocó, em uma
altitude que varia da cota de 5 metros a 12 metros em relação ao nível médio do mar. Ainda, cabe destacar
que a topografia do local se apresenta a favor do fluxo de ventos, uma vez que está localizada em um aclive
no sentido perpendicular a ventilação local, mitigando as possibilidades de bolsões de ar causados em
declives. Os dois condomínios descritos a seguir possuem uma quantidade de insolação na fachada a
barlavento semelhante a máscara solar da figura 2 que aponta incidência solar direta no período da manhã.

Figura 1 – Rosa dos ventos de Fortaleza - Ceará. Figura 2 – Máscara solar fachada leste do objeto de
estudo.

O condomínio residencial analisado possui duas torres com 20 pavimentos tipo, dois apartamentos por
andar e 4 pavimentos de sobressolo com aproximadamente 12 metros de altura, que por sua vez se apresenta
totalmente selado a barlavento. Os pavimentos de sobressolo estão afastados 3 metros em relação ao muro de
divisa entre os condomínios estudados e a aproximadamente 5 metros do condomínio B (Figura 3 e 4). Este
conjunto edificado foi denominado condomínio A.

Figura 3 - Localização urbana e objeto de estudo. Em amarelo: Figura 4 - Nomenclatura adotada nos objetos de estudo.
Entorno imediato considerado; Em vermelho: Objetos de
estudo.
A sotavento do condomínio A existe uma edificação de menor porte, datada da década de 1980, com
8 pavimentos, 6 apartamentos por andar e uma área de lazer entre prédios, denominado condomínio B. Para

787
melhor caracterizar as construções, o condomínio B foi dividido em torre norte e torre sul conforme as
figuras 4 e 6. O condomínio A segue estas mesmas características de nomenclatura.

Figura 5 - Condomínio A. Figura 6 - Identificação do objeto de estudo

3.2 Simulações computacionais


Uma primeira simulação CFD foi realizada considerando o ambiente construído imediato. O objetivo, nesta
primeira análise, consistia em determinar o campo de pressões incidente sobre as fachadas dos edifícios.
Mais especificamente, foram inseridos pontos de pressão monitorados no centro das janelas dos
apartamentos do primeiro e do último pavimentos das torres norte e sul do condomínio B.
Estes dados foram utilizados para esta etapa de simulação CFD, entendendo a modelagem da
unidade habitacional como o domínio (figura 7) e que todas as esquadrias são do tipo corrediças e que
metade da área é efetivamente utilizada para passagem do ar, assim, simulando uma situação com 50% de
área de abertura das janelas e 100% de aberturas das portas. Utilizou-se uma malha desestruturada composta
por tetraedros adicionada de cinco camadas de prismas sobre as paredes da unidade habitacional para
apreender o fenômeno de desprendimento da camada limite.
Em relação às condições de contorno da simulação, às janelas foram atribuídas a condição de
opening (abertura) com a indicação do valor de pressão, configurando um jogo de entradas e saídas de ar,
cabendo ao algoritmo da simulação determinar o comportamento dos fluxos internos, suas velocidades e a
vazão de ar total deste sistema.

Figura 7 - Domínio da simulação dos fluxos no interior das unidades habitacionais.

A vazão de ar no apartamento modelo e a velocidade do fluxo nos três ambientes de permanência


prolongada constituem os principais parâmetros quantitativos de análise dos resultados das simulações
internas. As trocas de ar por hora em cada situação foram calculadas a partir da equação 1, permitindo,
assim, dimensionar melhor o provável impacto do condomínio A no condomínio B.

𝐴𝑐 = (𝑀𝑓𝑠 ⋅ 3600 ⋅ 1,204) ÷ 𝑉𝑑 Equação 1


Onde:
𝐴𝑐 = Trocas de ar por hora [m³/h];
𝑀𝑓𝑠 = Fluxo de massa de saída [Kg/s];
3600= Quantidade de segundos em uma hora [s];
1,204 = Densidade aproximada do ar a 20ºC;
𝑉𝑑 = Volume do domínio [m³].
O fluxo de massa de saída é aferido de maneira precisa, se comparado a modelos empíricos. Com a
aplicação da técnica CFD nesta pesquisa, obteve-se resultados em menos tempo e de maneira mais simples e

788
econômica, ainda considerando a turbulência e ganhos e perdas de carga em consequência da geometria dos
espaços.
Desta simulação, foram monitorados três pontos equidistantes em porções centrais dos cômodos para
melhor aferir a velocidade média do ar no espaço (figura 8) e evitar possíveis erros por capturar velocidades
em trechos de correntes, desconsiderando áreas fora deste fluxo. A velocidade em cada cômodo foi
considerada como a média resultante dos valores verificados nestes três pontos. Os pontos azuis estão
marcados nos cômodos representam onde foram aferidas as velocidades.

Figura 8 - Representação das habitações estudadas, sul e norte, respectivamente. 1 - Sala; 2 - Quarto 1; 3 - Banheiro compartilhado; 4
- Quarto 2; 5 - Quarto suíte; 6 - Banheiro suíte; 7 - Dependência de empregada; 8 - área de serviço e cozinha.

4. RESULTADOS
As figuras 9 e 10 ilustram a pressão na fachada a barlavento no condomínio B, sem o condomínio A e com o
condomínio A, respectivamente. Os pontos azuis em ambas as figuras apontam onde foram retirados os
pontos de monitoramento de pressão, no centro das esquadrias.
A figura 9 representa as duas torres do condomínio B na porção da fachada a barlavento. Em ambos
os edifícios as pressões se mostram com valores positivos de pressão não menores que 5 Pa. Todavia, a
condição representada na figura 10, a qual demonstra o impacto do condomínio A, revela que grande parte
das pressões do prédio sul são negativas e que somente uma parte do edifício norte possui pressões positivas.
Na figura 9 as pressões encontradas nas fachadas a barlavento não estão simétricas, pois nãos se
encontram exatamente perpendiculares ao sentido do vento, mas mostrando comportamentos semelhantes.
Quanto mais alto o ponto analisado, maior a pressão impressa ao edifício, quanto mais baixo e mais
próximos às extremidades a pressão é menor. A figura 10 se mostra ainda mais assimétrica em consequência
das turbulências aerodinâmicas causadas por causa do condomínio A.

Figura 9 - Mapa de pressões fachada leste do Figura 10 - Mapa de pressões fachada leste do
condomínio B sem condomínio A; prédio sul e norte condomínio B com condomínio A; prédio sul e norte
respectivamente. respectivamente.

As tabelas 1 a 4 elucidam de maneira numéricas os dados vistos e discutidos das figuras anteriores.

789
Tabela 1 - Pressão nas esquadrias do prédio sul com a obstrução do condomínio A
Prédio Sul com Condomínio A
Pressões
Esquadrias Primeiro
Último Pavimento Área de Abertura
Pavimento
Janela Sala -3,77 Pa -2,72 Pa 2,71 m²
Janela Quarto -3,45 Pa -2,38 Pa 0,94 m²
Janela Banheiro Compartilhado -2,85 Pa -2,22 Pa 0,24 m²
Janela Quarto 2 -2,65 Pa -2,05 Pa 0,94 m²
Janela Quarto Suíte -2,92 Pa -2,05 Pa 0,94 m²
Janela Banheiro Suíte -2,62 Pa -2,32 Pa 0,24 m²
Janela Dependência Empregada -2,58 Pa -2,30 Pa 0,24 m²
Janela Área de Serviço -2,55 Pa -2,26 Pa 0,99 m²
Janela Cozinha -3,70 Pa -3,55 Pa 0,49 m²

Tabela 2 - Pressão nas esquadrias do prédio sul sem a obstrução do condomínio A.


Prédio Sul Sem Condomínio A
Pressões
Esquadrias Último Pavimento Área de Abertura
Primeiro Pavimento

Janela Sala 13,11 Pa 14,30 Pa 2,71 m²

Janela Quarto 12,42 Pa 12,89 Pa 0,94 m²

Janela Banheiro Compartilhado 12,15 Pa 12,59 Pa 0,24 m²

Janela Quarto 2 10,41 Pa 12,85 Pa 0,94 m²

Janela Quarto Suíte 5,40 Pa 10,78 Pa 0,94 m²

Janela Banheiro Suíte -1,11 Pa -1,29 Pa 0,24 m²

Janela Dependência Empregada -1,11 Pa -1,33 Pa 0,24 m²

Janela Área de Serviço -1,11 Pa -1,29 Pa 0,99 m²

Janela Cozinha -0,09 -0,69 Pa 0,49 m²

Em especial o prédio sul do condomínio A, o qual teve as maiores variações de pressão, chegando a
até 16 pascal de diferença entre os cenários de com e sem condomínio A na mesma esquadria. A menor
variabilidade barométrica do prédio sul indica uma menor possibilidade de fluxo de vento no interior do
apartamento. Visto que a diferença de pressão promove a circulação do ar.
Tabela 3 - Pressão nas esquadrias do prédio norte com a obstrução do condomínio A
Prédio Norte Com Condomínio A
Pressões
Esquadrias Último Pavimento Área de Abertura
Primeiro Pavimento

Janela Sala -3,87 Pa -2,27 Pa 2,71 m²

Janela Quarto 5,95 Pa 8,38 Pa 0,94 m²

Janela Banheiro Compartilhado 5,20 Pa 7,24 Pa 0,24 m²

Janela Quarto 2 5,52 Pa 11,36 Pa 0,94 m²

Janela Quarto Suíte 8,22 Pa 17,52 Pa 0,94 m²

Janela Banheiro Suíte 7,34 Pa -2,76 Pa 0,24 m²

Janela Dependência Empregada 7,70 Pa -1,34 Pa 0,24 m²

Janela Área de Serviço 7,72 Pa -2,62 Pa 0,99 m²

Janela Cozinha -3,91 Pa -4,65 Pa 0,49 m²

790
Tabela 4 - Pressão nas esquadrias do prédio norte sem a obstrução do condomínio A.
Prédio Norte Com Condomínio A
Pressões/ Área abertura
Esquadrias Último Pavimento Área de Abertura
Primeiro Pavimento

Janela Sala 8,61 Pa 13,46 Pa 2,71 m²

Janela Quarto 12,37 Pa 12,72 Pa 0,94 m²

Janela Banheiro Compartilhado 12,29 Pa 11,73 Pa 0,24 m²

Janela Quarto 2 11,68 Pa 13,79 Pa 0,94 m²

Janela Quarto Suíte 11,14 Pa 17,87 Pa 0,94 m²

Janela Banheiro Suíte 3,68 Pa 3,12 Pa 0,24 m²

Janela Dependência Empregada 6,20 Pa 2,64 Pa 0,24 m²

Janela Área de Serviço 6,11 Pa 1,81 Pa 0,99 m²

Janela Cozinha 0,70 Pa 0,31 Pa 0,49 m²

Com os dados de pressão (tabela 1 a 4), foram simulados quatro cenários do provável caminhamento
dos ventos no interior destas habitações, aferindo também as diferenças nos dados de renovação de ar por
hora. Foram simulados os primeiros e os últimos andares das torres norte e sul, nas localidades próximas às
ruas por entender que seriam as unidades habitacionais mais afetadas pela interferência aerodinâmica do
sobressolo de garagem do condomínio A.
Na Figura 11 e 12 representam o primeiro e o último andar do prédio sul do condomínio B e como
eles se comportam com a interferência do condomínio A. A velocidade média máxima encontrada nestas
duas situações foi de 0,39 m/s, com trocas de ar de 46,89 e 36,34 trocas de ar por hora, respectivamente.

Figura 11 - Fluxo de ar do primeiro andar do condomínio B Figura 12 - Fluxo de ar do último andar do condomínio B
prédio sul com obstáculo do condomínio A prédio sul com obstáculo do condomínio A
Todavia, os dados de velocidade aferidos nos mesmos apartamentos sem a interferência do
condomínio A (Figuras 13 e 14) revelam velocidades médias de até 1,22 m/s e trocas de ar de 120, 30 e
107,15 trocas de ar por hora, respectivamente.

791
Figura 13 - Fluxo de ar do primeiro andar do condomínio B Figura 14 - Fluxo de ar do último andar do condomínio B
prédio sul sem obstáculo do condomínio A. prédio sul sem obstáculo do condomínio A
As simulações referentes ao prédio norte do condomínio B, sem o condomínio A, são demonstrados
nas figuras 15 e 16. Nestas caracterizações encontra-se velocidades valores máximos médios de 1,31 m/s. As
renovações de ar por hora dos ambientes são de 111,26 e 79,50 respectivamente.

Figura 15 - Fluxo de ar do primeiro andar do condomínio B Figura 16 - Fluxo de ar do último andar do condomínio B
prédio norte sem obstáculo do condomínio A. prédio norte sem obstáculo do condomínio A
Por fim, os mesmos apartamentos ao norte, com o efeito aerodinâmico do condomínio A são
representados pelas figuras 17 e 18 que apresentam médias de 0,40 m/s e 1,02 m/s, com renovações na
ordem de 58,19 e 97,49 trocas de ar por hora, respectivamente.

Figura 17 - Fluxo de ar do primeiro andar do condomínio B Figura 18 - Fluxo de ar do último andar do condomínio B
prédio norte com obstáculo do condomínio A. prédio norte com obstáculo do condomínio A

5. CONCLUSÕES
Portanto, face os dados levantados, a construção do condomínio A fez com que a capacidade do prédio sul
perdesse 66,09% de eficiência nas trocas de ar por hora no último pavimento e 61,03% no primeiro

792
pavimento. No prédio norte os dados ilustram uma diminuição de aproximadamente 47,70% da eficiência
das renovações de ar por hora no último pavimento. Neste mesmo prédio, o último andar, diferente das
outras habitações aqui estudadas, houve um aumento de aproximadamente 23% nas taxas de renovação de ar.

Tabela 5 – Quantidade de trocas de ar por hora por pavimento.


Primeiro Pavimento Segundo Pavimento
Sem condomínio A 120,30 m³/h 107,15 m³/h
Prédio Sul
Com condomínio A 46,89 m³/h 36,64 m³/h
Sem condomínio A 111,26 m³/h 79,50 m³/h
Prédio Norte
Com Condomínio A 58,19 m³/h 97,49 m³/h

O edifício mais afetado com a construção do condomínio A foi o prédio sul do condomínio B. As
baixas trocas de ar por hora refletem também uma menor velocidade no interior do apartamento. A maior
velocidade encontrada no primeiro e no último pavimento nesta situação foi 0,39 m/s, o que não configura
uma sensível no interior da habitação. Apesar do prédio norte do condomínio B não tenha sido tão afetado
quando o prédio sul, de uma maneira geral, houve a diminuição também da taxa de renovação de ar nas
habitações, em exceção ao último pavimento desta torre.
Estes dados demonstram a imprevisibilidade dos efeitos aerodinâmicos que uma edificação pode
causar em uma região. As perdas de capacidade de ventilação do condomínio B foram sensíveis o que irá
afetar a eficiência energética consequentemente.
O condomínio A foi construído dentro das leis de uso e ocupação do solo de Fortaleza e se configura
como um edifício multiresidencial legal. Entretanto, a própria existência do condomínio A é um alerta que as
leis de uso e ocupação do solo de Fortaleza necessitam ser pensadas de maneira a propiciar o livre gozo dos
recursos naturais a todos.

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793
OPORTUNIDADES E DESAFIOS DA URBANIZAÇÃO PARA ADAPTAÇÃO
CLIMÁTICA NA MEGACIDADE DE SÃO PAULO, BRASIL

Denise Helena Silva Duarte (1); Gabriela Marques Di Giulio (2); Humberto Ribeiro da Rocha
(3)
(1) Professora Titular, dhduarte@me.com, Departamento de Tecnologia da Arquitetura, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, (11) 3091-8625
(2) Professora Doutora, ggiulio@usp.br, Departamento de Saúde Ambiental, Faculdade de Saúde Pública,
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, (11) 3061-7896
(3) Professor Titular, humberto.rocha@iag.usp.br, Departamento de Ciências Atmosféricas, Instituto de
Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, São Paulo, SP, (11) 3091-4713

RESUMO
As cidades têm um papel relevante a cumprir no enfrentamento das mudanças do clima na microescala, tanto
na condução de estratégias de mitigação, com diminuição da emissão de gases de efeito estufa, como nas
intervenções de adaptação, com processos de ajustes para antecipar impactos associados ao clima. Embora
em muitas áreas urbanas, como é o caso da megacidade de São Paulo, Brasil, os desafios sociais e ambientais
da urbanização permaneçam não solucionados, podendo ser exacerbados pela mudança climática, entende-se
que a urbanização pode ser uma oportunidade para mitigação e adaptação alinhadas aos objetivos do
desenvolvimento sustentável. Neste trabalho, propõe-se discutir alguns dos principais problemas e possíveis
oportunidades relacionadas à urbanização da cidade de São Paulo, como um meio de adaptação aos extremos
climáticos e, em especial, àqueles relacionados ao aquecimento urbano e seus desdobramentos no conforto
térmico na escala urbana e dos edifícios e nos usos da energia, abordando também o papel das políticas
públicas correlatas. A partir de uma revisão de experiências de pesquisa na cidade de São Paulo com enfoque
nas relações entre planejamento urbano, desenho urbano, projeto de edifícios e adaptação climática visando
ao conforto térmico, este trabalho discute como a infraestrutura verde e os benefícios do adensamento urbano
podem ser explorados, compatibilizando densidade urbana com amenidades microclimáticas.
Palavras-chave: urbanização, adaptação climática, conforto térmico, São Paulo.

ABSTRACT
Cities fulfill a relevant role facing climate change in the microscale regarding mitigation strategies, with a
decrease in greenhouse gases emissions, as well as in adaptation interventions, adjusting process to anticipate
associated climate related impacts. Although in many urban areas, such as the megacity of Sao Paulo, Brazil,
the social an environmental challenges remain unsolved, bound to be exacerbated by climate change, one can
realize that urbanization can be an opportunity for mitigation and adaptation aligned to the sustainable
development goals. In this paper, the authors aim to discuss some of the main problems and the possible
opportunities related to the urbanization of the city of Sao Paulo, adapting to the climate extremes, in
particular those related to urban warming and its impacts in thermal comfort and energy use, also
approaching the role of public policies. Starting from a review of research experiences in the city of São
Paulo focused on the relations among urban planning, urban and building design and climate adaptation for
thermal comfort, this paper discusses how the green infrastructure and the benefits of urban density can be
explored, aligning urban density with microclimate amenities.
Keywords: urbanization, climate adaptation, thermal comfort, Sao Paulo.

794
1. INTRODUÇÃO
Em 2018 (UN, 2018), 55% da população urbana já vivia em cidades, número que deve aumentar para 68%
em 2050. As projeções mostram que a urbanização, combinada com o crescimento da população mundial,
pode adicionar outros 2,5 bilhões de pessoas em áreas urbanas até 2050, com cerca de 90% desse aumento na
Ásia e na África. Em 2016 havia 31 megacidades (UN, 2016), e para 2030 a projeção é de 43 megacidades,
com mais de 10 milhões de habitantes, a maioria delas em países em desenvolvimento. As grandes cidades,
caracterizadas por alta densidade populacional, desigualdade social, carências de modernização de
infraestrutura e logística urbana, são marcadas nas últimas décadas também pelo fenômeno da ilha de calor
urbana, onde a temperatura média é superior às das regiões suburbanas e áreas rurais, o que vem a acentuar
extremos climáticos como as ondas de calor. É também nas áreas urbanas onde o conforto térmico é
penalizado, devido à redução do resfriamento pelas áreas verdes e ao efeito de emissão de infravermelho das
áreas pavimentadas, entre outros efeitos. A megacidade de São Paulo, com mais de 12 milhões de habitantes,
inserida numa Região Metropolitana com mais de 21 milhões de residentes, teve um aquecimento de 3º C na
temperatura média nos últimos 80 anos (SILVA DIAS et al., 2013), e a isso adiciona-se a perspectiva de
aumento da temperatura entre 2º a 4º C até o final do século 21 segundo projeções reportadas no IPCC
(SILLMAN et al. 2013a, b).
A urbanização crescente faz das cidades um foco importante de ação para clima e saúde. O número de
pessoas vulneráveis expostas às ondas de calor aumentou em 125 milhões entre 2000 e 2016, especialmente
devido às doenças cardiovasculares. Contudo, o excesso de calor continua sendo não reportado ou
subreportado, ‘as a silent killer’ (IAUC, 2018). Muitas vezes as pessoas morrem antes de chegar aos serviços
de atendimento à saúde, quando a doença não é suficientemente severa para requerer atenção hospitalar e não
é sequer contabilizada como decorrente do calor excessivo por tempo prolongado (GHHIN, 2018). O
relatório especial da WHO para a COP24, Health and climate change (WHO, 2018), documenta projetos em
saúde e adaptação à mudança climática, desde 2008; apesar de vários planos implementados na Austrália,
Estados Unidos, Canadá e Índia, nenhum foi registrado na América do Sul.
Em São Paulo, embora a questão climática esteja na agenda local desde 2003, quando a cidade passou
a integrar a campanha Cities for Climate Protection, iniciativa liderada pelo ICLEI - Local Governments for
Sustainability, e haja uma política municipal específica de mudança do clima, instituída em 2009, incluindo
entre seus eixos de estratégias a questão da saúde (DI GIULIO et al., 2017; BACK, 2012), a cidade tem
avançado pouco na adaptação às mudanças do clima. Marcada pelo adensamento de edificações e ocupação
do solo com grande limitação de infraestrutura verde, o que desfavorece o bem-estar e a qualidade de vida
dos residentes, a maior cidade brasileira enfrenta episódios de alagamentos e efeitos da ilha de calor, ambos
associados à redução das áreas verdes, e que trazem impactos econômicos e na saúde. As projeções
climáticas para este século para a cidade devem agravar ainda mais este cenário, já que indicam alterações na
distribuição, intensidade e frequência geográfica dos riscos relacionados às condições meteorológicas,
ameaçando exceder as capacidades da megacidade de absorver perdas e recuperar-se dos impactos
(AMBRIZZI et al., 2012).

2. OBJETIVO
Propõe-se neste trabalho discutir alguns dos principais problemas e as possíveis oportunidades de solução
para revisar e planejar a urbanização da cidade de São Paulo, como um meio de adaptação aos extremos
climáticos e em especial aqueles relacionados ao aquecimento do ar e seus desdobramentos no conforto
térmico, uso de energia e contextualização na condução de políticas públicas.

3. URBANIZAÇÃO COMO PROMOTORA DE PROBLEMAS AMBIENTAIS


Em 2019 o relatório GEO6 (UN Environment, 2019) concluiu que até o momento o mundo não está no
caminho para atingir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável em 2030 ou mesmo 2050. Aos dois
geradores de problemas ambientais considerados no relatório GEO5 (população e desenvolvimento
econômico), o GEO6 acrescentou mais três – urbanização (previamente incluída em população), novas
forças tecnológicas e mudanças climáticas. Embora todos estes geradores tenham levado a uma expansão
sem precedentes de prosperidade para muitos, também deixaram muitos para trás.
Enquanto a urbanização acontece em um nível sem precedentes globalmente, o relatório sustenta que
ela pode significar uma oportunidade para aumentar o bem-estar dos cidadãos por meio de melhorias na
governança, planejamento do uso do solo e infraestrutura verde. Sérios desafios sociais e ambientais da
urbanização permanecem não solucionados em muitas áreas urbanas, particularmente nas regiões tropicais,

795
que podem ser exacerbados pela mudança climática e rápido crescimento urbano em regiões e cidades que
ainda não têm capacidade para enfrentar essas pressões.
Cidades de diferentes tamanhos enfrentam diferentes desafios. Ainda que as megacidades possam ser
potências econômicas, elas não representam a maioria da população urbana, e não são os centros com as
maiores taxas de crescimento. As pequenas e médias cidades têm importante papel como pontos
intermediários entre as populações rurais e os grandes centros urbanos (UN Environment, 2019), como
possíveis polos de atração, diminuindo a pressão demográfica sobre as grandes cidades.
A urbanização carrega consigo poluição, congestionamentos, aquecimento urbano, problemas de
saúde, crime, assentamentos informais e resíduos de produção e consumo de toda ordem. A dispersão urbana
não planejada e não regulada parece ser a opção mais barata no curto prazo, mas com enormes custos para a
sociedade a médio e longo prazo, já que as cidades serão menos atraentes, mais poluídas, congestionadas e
ineficientes no uso dos recursos. Cerca de 1/3 da população urbana mundial vivem em favelas, sem serviços
básicos ou proteção social (UN Habitat, 2017). As consequências do negligenciamento da infraestrutura
verde e azul, que modulam o clima urbano, são evidentes: inundações severas e recorrentes, aquecimento
excessivo das superfícies urbanas, baixa qualidade do ar e aumento do aquecimento urbano diurno e noturno,
etc. (EMMANUEL, 2005).
No caso de São Paulo, problemas relacionados à infraestrutura verde, ao déficit habitacional e à
ocupação de áreas de preservação permanente são desafios persistentes e relacionados direta e indiretamente
ao processo de urbanização, caracterizado pelo rápido adensamento populacional e desordenada expansão da
área urbana, que destinou às populações mais vulneráveis socioeconomicamente áreas distantes dos núcleos
centrais e sem infraestrutura urbana. São Paulo apresenta, assim, uma profunda desconexão entre a cidade
legal, na qual as posturas urbanas são respeitadas, e a ilegal, aquela das periferias desequipadas e zonas de
pobreza (ROLNIK, 1997; MARICATO, 2003). Por exemplo, a população nas favelas cresceu quatro vezes
acima da média municipal entre 2000 e 2010 (PASTERNAK; D’OTTAVIANO, 2016) e aproximadamente
15% dos moradores de São Paulo vivem atualmente em assentamentos precários (CEM/FUNDAP, 2013),
muitos em áreas de preservação, fundos de vales e de mananciais, o que dificulta a implementação de
mecanismos efetivos de proteção ambiental.
O intenso adensamento populacional somado aos atrasos na implantação de serviços básicos, como
abastecimento de água potável e coleta e tratamento de esgoto, de infraestrutura urbana (como calçamentos e
arborização) e de políticas públicas voltadas para diminuição da desigualdade social, minimização da
especulação imobiliária e controle do uso e ocupação do solo, propiciou o estabelecimento de parcela
significativa da população em áreas vulneráveis aos riscos ambientais (MARICATO, 2003; CARLOS, 2009;
MARICATO, 2011). Os impactos das mudanças climáticas exacerbam ainda mais esses riscos uma vez que
medidas específicas de adaptação não são ainda satisfatoriamente contempladas na agenda política do
município (DI GIULIO et al., 2018).

4. ASPECTOS INTERDISCIPLINARES NO CONTEXTO DA ADAPTAÇÃO CLIMÁTICA


4.1. Alterações climáticas em escala local e regional
Na perspectiva de longo prazo as projeções de mudança do clima no decorrer do século 21 mostram
significativos impactos na América do Sul como um todo indicando um irreversível aquecimento do ar entre
2º e 4º C na temperatura média, o que viria provavelmente acentuar os eventos extremos de ondas de calor,
que por sua vez já se manifestam na variabilidade natural do clima, adicionado ao próprio calor antrópico
gerado na ilha de calor pelo efeito da urbanização (SILLMANN et al., 2013a,b), A associação da ilha de
calor urbana com o aquecimento global aumenta a temperatura superficial das cidades, que é responsável por
sérias consequências no balanço energético, ambiental e social urbano (SANTAMOURIS, 2014), assim
como na saúde e no conforto humano. A ilha de calor urbana nas estações mais quentes aumenta o
desconforto, o estresse térmico, a mortalidade, o custo do condicionamento de ar e a demanda por energia
(STEWART, OKE, 2012).
Há estudos na escala regional para a cidade de São Paulo, com projeções indicando aumento no
número de dias e noites quentes e redução no número de dias e noites frios (NOBRE et al., 2010). A cidade
há muito é penalizada por alagamentos e pelo fenômeno de aquecimento urbano. O aquecimento da cidade
decorre tanto do fenômeno da formação da ilha de calor urbana (SILVA et al., 2017) devido à expansão
histórica das áreas urbanizadas, como por formas de variabilidade climática naturais e do aquecimento global
de grande escala (SILVA DIAS et al., 2013). Em São Paulo os dados climáticos medidos revelam um padrão
claro de aquecimento desde o início das medições em 1933, de cerca de 3oC na média anual (IAG, 2017),
devido às várias causas prováveis, mas dentre elas a urbanização. Silva Dias et al. (2013) reportaram um

796
aumento de precipitações intensas nas últimas décadas, que é um fenômeno natural e responsável pelos
episódios de alagamento. No outro extremo a cidade passou por graves crises de escassez hídrica nas secas
de 2001 e 2014 (CAVALCANTI e KOUSKY, 2001; COELHO et al., 2015).
A vegetação tem, dentre outras, a propriedade de resfriar o ar e contribuir para o conforto térmico
humano, por processos biofísicos de resfriamento como o sombreamento e a evapotranspiração. Apesar desta
lógica simples e de pouca oposição, ainda há grande desinformação sobre a natureza e a ordem de grandeza
desses efeitos nas cidades brasileiras. Mesmo globalmente, a literatura com medidas observacionais feitas
com rigor científico para ilustrar este efeito é relativamente recente. Sem a pretensão de alongar a discussão,
são elencados alguns trabalhos em regiões temperadas, no verão, que provêm informações razoáveis para se
iniciar um embasamento para as regiões tropicais. Armson et al. (2012) mediram os efeitos de sombreamento
por árvores sobre coberturas de grama e concreto/asfalto em Manchester, UK, no verão, tendo reportado que
o sombreamento das árvores promoveu, com ou sem grama na superfície, uma enorme redução da
temperatura do solo entre 19◦C a 24◦C. Para a temperatura de globo os autores reportaram um efeito de
resfriamento muito significativo, entre 5◦C a 7◦C.
Com outra perspectiva, Coutts et al. (2016) mediram o efeito climático da presença de árvores de
urbanização no verão em Melbourne, Austrália, com uma rede estações meteorológicas automáticas, em
condições de presença/ausência de árvores, e em cânion urbano baixo e alto, respectivamente, tendo
reportado um resfriamento do ar pela arborização de até 1.5°C nas máximas diárias do cânion baixo,
enquanto no cânion alto os efeitos não se distinguiram do próprio efeito das edificações. E ainda, que a
arborização reduziu o estresse térmico significativamente de muito forte (UTCI>38 °C) para forte (UTCI>
32 °C). Numa terceira perspectiva, Renaud et al. (2010) avaliaram o efeito de resfriamento no sub-dossel
comparado com áreas abertas, para diferentes tipos arbóreos (15 tipos diferentes, entre coníferas, decíduas,
mistas, etc.) utilizando 10 anos de medições rigorosas. Os autores reportaram um efeito significativo de
resfriamento na maioria dos tipos, variando entre 1 °C até 5 °C, e aumento do umedecimento do ar entre 5 a
10% na umidade relativa.
Na escala metropolitana de São Paulo ocorrem impactos da supressão da vegetação no aumento da
temperatura de superfície, com variabilidades de efeitos diurnos e noturnos (FERREIRA, DUARTE, 2019;
FERREIRA, 2019), e na escala local, abaixo do dossel, as condições microclimáticas são fortemente
influenciadas pela temperatura de superfície e pela temperatura radiante média, que caem dramaticamente
sob a copa das árvores, onde os índices de conforto em temperatura equivalente percebida chegam a diminuir
10oC a 13oC (DUARTE et al., 2015), dependendo das variáveis da vegetação local (SHINZATO et al.,
2019). Além da escala urbana, o aquecimento global e local pode potencialmente influenciar o desempenho
térmico de edifícios.
Existe uma notável lacuna de conhecimento, em especial para as áreas urbanas tropicais, de como este
efeito de resfriamento manifesta-se nas muitas combinações possíveis da paisagem urbana. Dentre as
variáveis combinatórias de influência na quantificação do efeito, citamos: o padrão da vegetação (espécies,
senescência, agrupamento de indivíduos, etc.) e da cobertura do solo (grama, terra, asfalto, concreto, etc.), as
condições de contorno das edificações urbanas (características de absorção radiativa e de emissividade dos
materiais, configurações do cânion urbano, etc.), a distinção dos efeitos conforme a variabilidade atmosférica
(episódios frios, ondas de calor, direção e intensidade da velocidade do vento, etc.).

4.2. Adensamento urbano e planejamento energético


Levando-se em conta o clima atual e as projeções climáticas futuras, para a escala urbana o aumento da
infraestrutura verde e azul é considerado uma estratégia poderosa para a regulação do clima e economia de
energia. O crescimento urbano tipicamente diminui o espaço para áreas verdes e o ambiente urbano cria
obstáculos ao plantio de árvores, o que também inclui a compactação do solo, falta de espaço para as raízes,
e limitações de custo ao manejo adequado das árvores. A situação deteriora-se nas cidades densamente
construídas, onde a terra é escassa e há pouco espaço destinado à incorporação do verde em parques, nas
vias, etc. As pressões sobre o uso do solo e os altos valores da terra limitam o potencial para infraestrutura
verde em larga escala (ONG et al., 2012), e essas restrições exigem políticas públicas e novos instrumentos
urbanísticos para serem superadas, tais como em Singapura, com a adoção do Green Plot Ratio pela
legislação local (ONG, 2002).
Em áreas urbanas, o uso do solo e as emissões de calor dos sistemas mecânicos são os controles que
efetivamente podem ser manejados pela sociedade para adaptar-se às tendências de aquecimento global
devido ao efeito estufa, segundo Stone (2012). Se novas cidades forem construídas nas próximas duas ou três
décadas da mesma maneira, toda a esperança de se atingir os objetivos climáticos e de uso racional de
recursos serão perdidos; “the future is not ‘God-given’, but is system and path-dependent” (UN

797
Environment, 2019). Alguns estudos mostram que as cidades estão crescendo mais em tamanho do que em
população, com a expansão territorial maior do que o crescimento populacional em um fator 2 (ANGEL et
al., 2011). Mesmo em cidades que estão perdendo população, a dispersão ainda ocorre (WOLF et al., 2016).
Outro fator que afeta os impactos da urbanização é a forma urbana, que não é facilmente modificada, e
determina uso do solo, transporte e demanda de energia no longo prazo. As cidades estão iniciando uma
mudança de paradigma com relação à mobilidade, que deve trazer benefícios à segurança e ao conforto do
pedestre, compatível com o adensamento urbano, com usos mistos e viagens intermodais, uma vez que a
mobilidade, em um futuro próximo, será afetada por novas tecnologias, principalmente o compartilhamento
de carros, bicicletas e patinetes e veículos autoguiados, já testados em várias cidades no mundo. O conjunto
dessas transformações irá afetar o desenho urbano atual e os projetos futuros, sendo necessário definir como
será esta nova realidade, chamada de the next urban revolution. A propriedade e o uso dos automóveis serão
fortemente afetados. Nesse sentido, as nossas cidades devem ter uma redução na infraestrutura viária, tais
como faixas de rolamento para carros, estacionamento na rua e fora da rua, incluindo garagens em edifícios,
em direção a uma mobilidade mais inclusiva, com a oportunidade do redesenho urbano, que pode representar
um ganho enorme em áreas para o espaço público, priorizando amenidades para os usuários da mobilidade
ativa, incluindo espaços para adaptação climática, chamados cooling places nos espaços públicos e privados,
dentro e fora dos edifícios.
Os edifícios são responsáveis pelo consumo de 30% a 40% do total da energia mundial (UNEP, 2007).
O setor está ganhando expressão no consumo de energia tanto no Brasil quanto no mundo de modo que pode
responder por parcela significativa das emissões de carbono. Os progressos na direção de edifícios e
construções sustentáveis estão avançando, mas as melhorias ainda não estão acompanhando o crescimento
do setor de edificações e a crescente demanda energética (UN/IEA, 2017). Por outro lado, o setor de
edifícios é o que agrega maior potencial para reduções nas emissões segundo o IPCC (IPCC, 2007; 2014)
desde que sejam feitas alterações na concepção dos projetos e no modo de operação ao longo da sua vida útil
com adoção de estratégias passivas de condicionamento e de controle de ganhos de calor pela envoltória,
com redução no uso de ar-condicionado, entre outras ações no âmbito da eficiência energética. Questões
dessa ordem transcendem o problema das emissões por abranger também a segurança energética, porque é
necessário garantir condições de funcionamento e ocupação dos edifícios mesmo em caso de racionamento
ou de falta de energia como o apagão que ocorreu no Brasil em 2001. Os gastos energéticos das edificações
ocorrem em todas as fases do seu ciclo de vida. Na fase de operação, porém, ocorre a maior parte do
consumo (UNEP, 2007; VIANNA et al., 2009), principalmente para as funções de resfriamento e
aquecimento dos ambientes.
Contudo, como a infraestrutura verde não é a única solução, os benefícios do adensamento, do
sombreamento mútuo dos edifícios e a massa térmica urbana podem ser explorados, compatibilizando
densidade urbana com amenidades climáticas. A morfologia urbana tem um papel importante nesse processo
e pode ser parte da estratégia de regulação da temperatura urbana (GUSSON et al., 2018; ALVES, 2019).
Aumentar o adensamento apenas não é suficiente. Adensamento não faz sentido sem amenidades de toda
ordem, inclusive microclimáticas, de uso misto e de transporte. Uma vez entendida a necessidade e a
premência do adensamento urbano, a discussão muda de devemos adensar para como devemos adensar. A
questão que se coloca agora é: como compatibilizar adensamento e qualidade ambiental. Adensar onde? Sob
quais condições? Quanto? Com qual arranjo? Com qual padrão de ocupação das quadras?
Existem muitas evidências de que, mesmo em países de clima mais frio, com as mudanças climáticas
previstas, há tendência de que o aumento da demanda energética para resfriamento seja maior do que a
redução da demanda para aquecimento (SANTAMOURIS et al., 2018; GUPTA, GREGG, 2012). Nas
ocorrências de onda de calor, essa demanda tende a ser ainda maior, a exemplo dos episódios nos meses de
janeiro e fevereiro de 2014, em São Paulo, quando foi registrado aumento no consumo de energia de 4,9%
em janeiro e 8,6% em fevereiro em comparação com os mesmos meses de 2013, sendo grande parte desse
incremento devido ao aumento do consumo de ar-condicionado no período e o maior crescimento ocorreu na
parcela doméstica (BRASIL, 2014a; 2014b). Uma vez instalados, os equipamentos serão utilizados sempre
que houver aumento na temperatura (WU, PETT, 2006), o que significa que dificilmente os padrões de
consumo voltarão a ser o que eram anteriormente. A Empresa de Pesquisa Energética – EPE (BRASIL,
2016) estima que a demanda por eletricidade devido ao uso de condicionadores de ar pelas famílias pode
crescer 5,4% ao ano até 2.035.
O uso de equipamentos de ar-condicionado é dependente do consumo energético, o que acarreta em
maior suscetibilidade às flutuações do custo da energia e às questões de segurança energética, além de
retroalimentar o aquecimento urbano por direcionar a carga térmica dos ambientes internos para o meio
externo, o que contribui ainda mais para o aquecimento urbano. Estratégias projetuais que minimizem essa

798
dependência energética e potencializem a operação em modo passivo são, portanto, positivas (GUPTA,
GREGG, 2012).
De acordo com dados da EPE, o consumo de energia em edifícios é responsável por aproximadamente
14% do consumo total de energia e 47% do consumo de eletricidade gerada no Brasil (BRASIL, 2016). No
cenário global, os edifícios são responsáveis por 32% da demanda global de energia, o que vem motivando
as cidades a adotarem códigos de construção e leis de uso do solo mais rigorosas, assim como políticas de
consumo de energia mais eficientes. No Brasil, a demanda por resfriamento é muito maior do que por
aquecimento, e o consumo de energia para o condicionamento de ar é responsável por aproximadamente
20% do consumo total em edifícios residenciais e 47% em edifícios comerciais.
O consumo de energia elétrica para condicionamento de ar nas residências brasileiras mais que
triplicou nos últimos 12 anos. Após períodos de baixo crescimento econômico no Brasil, que caracterizaram
as décadas de 1980 e parte da década de 1990, a estabilidade econômica e a elevação da renda média das
famílias criaram condições para suprir parte de uma demanda reprimida por conforto ambiental, expresso
pelo aumento do consumo de eletricidade devido ao uso de aparelhos de ar-condicionado no país. Estima-se
que o consumo de energia elétrica devido aos condicionadores de ar no setor residencial tenha mais que
triplicado nos últimos 12 anos, atingindo 18,7 TWh em 2017. A posse de equipamentos nas residências
aumentou 9,0% ao ano entre 2005 e 2017, influenciado, principalmente, pelo crescimento das vendas de
equipamentos novos entre 2010 e 2015 (BRASIL, 2016).
No caso de São Paulo, considerando-se o modelo adaptativo de conforto da norma ASHRAE 55
(2017), verificou-se que edifícios residenciais com sistemas tradicionais, construídos por volta dos anos
1970, tendem a responder de maneira razoável às mudanças climáticas em curso e projetadas para o futuro,
operando em modo passivo, mantendo a maior parte das horas do ano ainda em condição de conforto;
mesmo assim, sob condições mais quentes do que aquelas consideradas dentro da zona de conforto, o
aumento gradual em graus-hora em desconforto é inevitável, da ordem de 270% nas residências avaliadas,
principalmente no período do verão e nos episódios de onda de calor (ALVES et al., 2016). Esse
sobreaquecimento pode significar desde sensação de desconforto até o estresse térmico afetando a saúde
humana e, nos casos mais extremos, chegar a ser a causa de mortes, como nos episódios de onda de calor na
Europa em 2003 (MATZARAKIS et al., 2009) e 2018 (com o mês de agosto mais quente já registrado)
(WMO, 2019a), e no episódio que atingiu a Baixada Santista, na Macrometrópole Paulista em 2010 (LIMA,
2010), assim como Índia e Paquistão em junho de 2015 (NASA Earth Observatory, 2015). Por fim, no mês
de janeiro de 2019, ainda que seja muito recente para análises de maior magnitude, é notória a onda de calor
que atingiu a Austrália, sendo o mês mais quente da história no país (WMO, 2019b).

4.3. Controles de mercado e políticas públicas


Uma leitura da produção recente de unidades habitacionais em edifícios verticais na cidade de São Paulo
(marcada pelo que se chamou de boom imobiliário devido à grande produção que se observa no período de
2005 a 2014) revela um padrão recorrente de distribuição de ambientes, além de tendência a reduzidas
dimensões internas, com limitadas possibilidades de operação de aberturas, assim como a ausência de
elementos de sombreamento (ALVES, 2019).
Por ser regida por questões mercadológicas, a produção praticada pelo mercado imobiliário é marcada
pelo distanciamento entre prática profissional e pesquisa em arquitetura e valoriza sobremaneira os aspectos
visuais sobre os demais, como funcionalidade e desempenho. A arquitetura, nesse caso, é tratada como
mercadoria e dirigida pela busca por baixo custo e alto lucro, para que sua realização seja viabilizada, o que
resulta, muitas vezes, em redução da qualidade da construção (VARGAS, 2014). A atividade imobiliária é
antes de tudo um investimento financeiro e não uma oportunidade de produção de arquitetura, de urbanismo
ou, num sentido mais amplo, de construção da cidade. Discute-se em especial a qualidade da produção
imobiliária do segmento econômico, principalmente devido às exigências de qualidade mínima serem
excessivamente brandas (LIMA, 2015).
Em função dos atuais padrões construtivos de unidades residenciais em edifícios praticados pelo
mercado, alcançar o conforto ambiental em modo de operação naturalmente ventilado será um desafio de
maiores dimensões nos cenários de aquecimento global e urbano futuros. A diminuição de massa térmica
aliada ao aumento das superfícies envidraçadas não sombreadas e reduzidas possibilidades de ventilação nos
ambientes são os principais fatores que contribuem para o aquecimento em edificações. A presença da
varanda, por sua vez, é positiva quando ela assume diversas possibilidades de configuração, atuando e sendo
ocupada como um ambiente de transição de fato e não como um dos cômodos internos à residência; deste
modo ela pode ser vetor das melhores práticas de operação na busca do conforto térmico (ALVES, 2019).

799
A cidade de São Paulo tem, em vigor, o Plano Diretor Estratégico (2014), a Lei de Parcelamento, Uso
e Ocupação do Solo (2016) e o Código de Obras e Edificações (2017). Especificamente sobre o Plano
Diretor Estratégico, sua análise evidencia diversas proposições conectadas à ideia de uma cidade mais
adaptada às mudanças climáticas (DI GIULIO et al., 2018), como incentivo a pagamento de serviços
ambientais para áreas protegidas, à implantação de parques transformados em ZEPAM (Zonas Especiais de
Proteção Ambiental), às edificações que contribuam para a redução das emissões de gases de efeito estufa, à
ampliação de sistema de áreas protegidas, áreas verdes e espaços livres e proteção aos remanescentes da
Mata Atlântica (BONDUKI, 2014). Embora esses textos recentes tenham significativo potencial, é preciso
destacar que a integração dos seus conteúdos às questões contemporâneas urbanas, como eficiência
energética, resultando em edifícios com qualidade ambiental e conforto aos seus usuários, deixa a desejar.
Na prática, observam-se contradições entre os seus conteúdos e as ações em curso. Efetiva implementação
das políticas públicas propostas, fiscalização dos projetos em andamento e garantia de recursos para evitar
problemas de descontinuidades são algumas das barreiras identificadas.
Particularmente no caso de São Paulo, D’Almeida (2016), ao fazer uma análise dos problemas
recorrentes dos mecanismos de gestão pública, argumenta que há desarticulação de políticas setoriais, como
as relacionadas à preservação e qualidade ambiental e habitação, por exemplo, para a qualificação integrada
do espaço urbano. Ao mesmo tempo, o autor reconhece a dificuldade de definição de competências entre
agentes e hierarquias em termos de prioridades, investimentos e ações estratégicas, dentro das próprias
secretarias municipais, entre elas e entre os níveis estadual e municipal. A existência de uma legislação
urbanística ainda muito descolada das dinâmicas urbanas e da produção do espaço urbano é outro agravante.
Na contramão de uma tendência mundial, as leis da cidade de São Paulo, especialmente o Código de
Edificações, foram perdendo, ao longo do século XX e das sucessivas atualizações, quase todos os seus
requisitos de desempenho das construções, influenciando negativamente a qualidade ambiental dos edifícios
(TSUDA, DUARTE, 2018). Indo além, D’Almeida (2016) ressalta as dificuldades de inovação e gestão de
controle público dos mecanismos de autofinanciamento de projetos urbanos de longo prazo, assim como a
própria incapacidade de financiamento público para os investimentos necessários para atender as demandas
básicas – entraves importantes para mudar o cenário de São Paulo em curto e médio prazo. Há, portanto, a
necessidade de se discutir e rever, com urgência, a legislação da cidade de São Paulo, alinhando-a à demanda
global por instrumentos regulatórios que busquem a eficiência energética, o desempenho adequado do
espaço edificado e a resiliência urbana para um futuro de desafios colocados pela mudança no clima
(TSUDA, 2019; TSUDA, DUARTE, 2018).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES


Como apontado pelo GEO6 (UN Environment, 2019), em um mundo onde os limites ambientais estão
visivelmente próximos e com a migração para as áreas urbanas ainda acontecendo em larga escala, o
crescimento da população urbana pode representar uma oportunidade de aumentar o bem-estar da população,
diminuindo a sua pegada ecológica. Isso só será possível por meio de mudanças no estilo de vida, melhorias
na governança, programas de educação e sensibilização, disponibilização de infraestrutura e serviços
adequados, além de novas soluções tecnológicas. Ainda segundo o GEO6, a urbanização é um gerador para
os desafios ambientais, particularmente da mudança do clima, e os desafios serão amplificados se não forem
gerenciados adequadamente; por outro lado, a urbanização sem precedentes pode significar uma
oportunidade para mitigação e adaptação alinhadas aos objetivos do desenvolvimento sustentável, em uma
janela de tempo que se fecha nas próximas décadas.
Para concluir, referenciando o título do pronunciamento final do IPCC Cities (2018a), “the science we
need for the cities we want: working together to implement the global research agenda on cities and climate
change”, tema este posteriormente apresentado em detalhes por IPCC Cities (2018b), os processos
decisórios devem ser embasados em evidências científicas. No ambiente construído, o desenvolvimento
científico e as políticas públicas, incluindo os planos de adaptação relacionados ao planejamento, ao desenho
urbano e ao projeto dos edifícios precisam se alinhar nessa direção (DUARTE, 2019). Na realidade brasileira
e em especial para a cidade de São Paulo, que é sob um certo ângulo o reflexo do Brasil pela sua grande
estratificação de desenvolvimento econômico e social, um desafio importante é o de quantificar a relevância
e o impacto de várias frentes de trabalho no enfrentamento às mudanças climáticas, dentre as quais a
infraestrutura verde, a ponderação entre o adensamento necessário e a expansão urbana, a mobilidade, as
questões de eficiência energética, com o objetivo de se alcançar um ecossistema urbano mais equilibrado
diante dos desafios do clima atual e futuro.
Tendo em mente a interdependência entre as edificações e o ambiente urbano, as relações entre o
espaço interior e o exterior, a concepção do ambiente construído climaticamente responsável passa

800
necessariamente pelo entendimento dos fenômenos envolvidos na questão climática urbana em seus
diferentes aspectos. Reconhecendo lacunas de informação rigorosa e específica para a cidade de São Paulo,
com diagnósticos mais amplos e futuros, recomenda-se que sejam estimuladas linhas de ações científicas
para a as grandes cidades brasileiras e, em especial, para São Paulo, dentre as quais, principalmente:
1. o levantamento de medidas observacionais microclimáticas, com instrumentação moderna e de alta
acurácia, em escala local de edificações (interior e exterior no nível do pedestre) nas condições das diversas
classes de moradia da população de São Paulo, e dos efeitos da infraestrutura verde no balanço de energia e
no conforto térmico em todas formas viáveis e meritórias de utilização na frente de infraestrutura verde como
adaptadora às mudanças climáticas;
2. a utilização de modelagem computacional do meio biofísico em toda a sua abrangência, desde
modelos de desempenho energético em edificações, até os modelos atmosféricos e de balanço de energia
para simulação de microclimas locais regionais, necessárias à avaliação e quantificação dos impactos de
extremos climáticos no conforto térmico;
3. a conexão de outros modelos ambientais (luminosos, acústicos, hidrológicos, de qualidade do ar) e
setoriais (de mobilidade, geográficos, ergonômicos, laborais, energéticos multimodais) de forma a prover
uma integração de fatores que forneça subsídios à discussão de políticas públicas na reordenação da
urbanização e aprimoramento da legislação urbana para o crescente bem estar do ser humano;
4. a reavaliação das áreas verdes como locais efetivos de uso da população, por meio de melhorias da
limpeza e segurança, estímulo ao lazer e terapias de saúde, agregando a função de cooling-places em
oposição aos ambientes fechados condicionados artificialmente;
5. a reavaliação criteriosa da urbanização e da infraestrutura verde de forma geral, integrada aos
mecanismos de parceria público-privada, quantificada em seus custos de consolidação, manutenção e
benefícios dos serviços ecossistêmicos de regulação térmica, de modo a conjugar ações de preservação
ambiental e combate à vulnerabilidade socioambiental;
6. o fomento a iniciativas de adaptação/mitigação bottom-up envolvendo diferentes setores, como
grupos privados, movimentos sociais, coletivos urbanos, incluindo análises sobre o potencial de respostas
sinérgicas que poderiam moldar caminhos alternativos para o avanço da resiliência climática na cidade.

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AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos apoios: 2016/02825-5 Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP) e CNPq 307042/2018 e 409774/2018-9 para Denise Helena Silva Duarte; 2017/50423-6,
2013/17665-5 e 2014/50313-8 Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e CNPq
446032/2015-8 para Gabriela Di Giulio; 2015/50682-6 Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (FAPESP) para Humberto Ribeiro da Rocha.

803
PALMEIRAS - ATENUAÇÃO SOLAR E CONFORTO TÉRMICO
Neusa L. S. Ribeiro (1); Lucila C. Labaki (2); Adriana E. B. Amorim (3)
(1) Mestre pelo Programa de Pós Graduação em Arquitetura Tecnologia e Cidade da Faculdade de
Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, UNICAMP, Arquiteto, neusalsribeiro@yahoo.com.br
(2) Professora Titular Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, UNICAMP
lucila@fec.unicamp.br
(3) Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia Civil,
Arquitetura e Urbanismo, UNICAMP, Arquiteto, adriana.eloa@terra.com.br
Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, LACAF -
Laboratório de Conforto Ambiental e Física Aplicada, Campinas, SP,
Fone (19) 3521-2064

RESUMO
Diversos estudos sobre o conforto térmico proporcionado por espécies arbóreas no microclima urbano
demonstraram seus efeitos no resfriamento da temperatura, promovendo maior qualidade ambiental em
regiões tropicais. Observou-se, no entanto, que existem poucos estudos sobre a atenuação térmica e a
quantificação da mitigação de calor fornecida por espécies de palmeiras. Neste contexto, o objetivo desta
pesquisa é avaliar o comportamento das palmeiras, quanto à atenuação solar e sua influência no conforto
térmico em áreas urbanas. Trata-se de uma pesquisa quantitativa, para a qual foram selecionadas três
espécies de palmeiras: "Rabo de Raposa" (Wodyetia bifurcata Irvine), "Tamareira" (Phoenix dactylifera L.) e
"Washingtônia" (Washingtonia robusta H. Wendl), que foram plantadas isoladamente. Uma quarta espécie,
"Livistona" (Loureiro) Merril ex A. Chevalier plantada em conjunto também foi analisada. A área de estudo
está localizada no campus da Universidade Estadual de Campinas, Estado de São Paulo, Brasil. As medidas
de radiação solar incidente, temperatura do ar e globo, umidade relativa e velocidade do ar foram realizadas
na primavera de 2016, no verão de 2016/2017, no outono e inverno de 2017, ao sol e à sombra das palmeiras.
Foram calculadas a Temperatura Radiante Média (Trm) e a Temperatura Equivalente Fisiológica (PET). Os
resultados obtidos mostram diferenças expressivas nas duas situações e fornecerão subsídios aos
planejadores urbanos e paisagistas sobre o uso de palmeiras, tendo em conta o seu efeito térmico.
Palavras-chave: conforto térmico; Palmeiras; Arecaceae; Atenuação solar; Sombreamento.

ABSTRACT
Several studies on the thermal comfort provided by tree species in the urban microclimate have demonstrated
their effects on temperature cooling, thus promoting higher environmental quality in tropical regions. It was
observed, however, that there are few studies about the thermal attenuation and the quantification of the
mitigation of heat provided by species of palm trees. In this context, the objective of this research is to
evaluate the behavior of palm trees, regarding solar attenuation and its influence on thermal comfort in urban
areas. This is a quantitative research, for which three species of palm trees were selected: "Rabo de Raposa"
(Wodyetia bifurcata Irvine), "Tamareira" (Phoenix dactylifera L.) and "Washingtônia” (Washingtonia
robusta H. Wendl). The trees were planted isolated from each other. A fourth species, "Livistona" (Livistona
saribus (Loureiro) Merril ex A. Chevalier planted in cluster was also analysed. The study area is located at
the campus of the State University of Campinas, in São Paulo State, Brazil. The measurements of incident
solar radiation, air and globe temperature, relative humidity and air speed were carried out in the spring of
2016, in the summer 2016/2017, in the fall and winter of 2017, in both situations: sun exposed and in trees
shade. Mean Radiant Temperature (Trm) and Physiological Equivalent Temperature (PET) were calculated.
The results show expressive difference the two situations. The obtained results will provide subsidies to
urban planners and landscapers on the use of palm trees, taking into account their thermal effect.
Keywords: Thermal comfort; Palm trees; Arecaceae; Solar attenuation; Shading

804
1. INTRODUÇÃO
A arborização urbana, compreendida como a vegetação que abrange a paisagem da cidade, além de
possibilitar uma melhoria da qualidade de vida e do bem-estar da população, é primordial para o meio
ambiente.
A presença de áreas verdes urbanas cumpre ainda funções socioambientais, e o critério de escolha,
distribuição, localização e densidade da vegetação a ser implantada fortalece os efeitos da urbanização para a
sociedade e ressalta sua importância na regulação microclimática.
Segundo Dantas e Souza (2004), a arborização, do ponto de vista estético, contribui por intermédio de
suas qualidades plásticas para reduzir o efeito agressivo das construções que dominam a paisagem urbana,
guarnecendo e emoldurando ruas e avenidas.
O projeto paisagístico e a arborização adequados intensificam o uso dos espaços públicos. Atualmente,
as praças, os jardins, os parques e os espaços livres de uso coletivo são valorizados pelos benefícios físicos e
sociais oferecidos à população. Segundo Maciel (2007), as praças públicas são espaços raros e escassos, nas
quais o recreio, o lazer e a sociabilidade opõem-se ao trabalho, à vida agitada e às atividades repetitivas.
Conforme Biondi; Batista e Ferreira, (1990); Detzel, (1990), a arborização urbana proporciona à comunidade
envolvida oportunidade de maior aproximação, aconchego e relacionamento com os semelhantes.
Segundo Selhub e Logan (2012), as pessoas estão propensas a sentirem-se bem quando estão em
contato com a vegetação urbana, e o bem-estar que decorre desta aproximação com a natureza está associado
à redução de estresse, ao favorecimento da concentração e à melhora do humor.
Os espaços livres públicos de uso coletivo, quando situados em zonas comerciais e industriais,
adquirem características referentes à pureza e à saúde, sendo um fator terapêutico e de bem-estar para o
local. Amenizam a poluição visual, sonora e de partículas e contrastam com os espaços edificados.
Diferenças térmicas entre a área urbana e a rural já foram matéria de muitos estudos urbanos (OKE,
1978; LOMBARDO, 1985), nos quais se verificou o predomínio de temperaturas amenas e umidade mais
elevada em áreas distantes do centro, nos limites urbanos e/ou na área rural, espaços notadamente menos
transformados.
Grey e Deneke (1978) afirmam que os benefícios da floresta urbana podem ser divididos basicamente
em quatro grupos: melhora climática; usos de engenharia; proveitos arquitetônicos e ganhos estéticos.
No campo das alterações climáticas, várias pesquisas relacionadas à vegetação urbana vêm sendo
publicadas com objetivo de associá-la com a melhoria do clima local e o aumento do conforto térmico
(ABREU, 2012; BUENO, 1998; BUENO-BARTHOLOMEI, 2003; KRÜGER et al., 2012; MINELLA;
ROSSI e KRUGER, 2011; MORENO, 2006; PEZZUTO, 2007). Monteiro et al. (2003, p.110) definem que
“a vegetação, enquanto fator climático, manifesta sua influência em todas as escalas de grandezas climáticas,
tendo implicações desde a formação do questionável efeito-estufa planetário até a derivação de ambientes
microclimáticos naturais, rurais ou urbanos”.
Uma das vantagens complementares do plantio de árvores em locais adjacentes a edificações é a
redução da necessidade de utilização de ar condicionado (BANDEIRANTE, 2010), além de possibilitar
economia de energia, proporciona espaços de permanência amenos.
As espécies arbóreas agem diferentemente sobre o ambiente em função de suas características:
tamanho e forma da copa, altura do tronco e densidade foliar.
A forma da copa das árvores e seu tamanho determinam a área sombreada, que varia de acordo com a
espécie, com a estação do ano e ao longo dos anos (MACEDO e MESQUITA, 1989; MASCARÓ;
GIACOMIN e CUADROS, 2007).
A área foliar está relacionada diretamente com a quantidade e com a forma de folhas da vegetação. Ao
ser interceptada pelo dossel, a radiação solar é absorvida, transmitida e refletida em proporções variáveis,
dependendo do ângulo de incidência dos raios solares e das características estruturais das plantas. A medida
da cobertura vegetal pode ser representada pelo índice de área foliar (LAI), uma grandeza adimensional que
quantifica a razão entre a área foliar total e a área do solo (KERBAUY,2008).
No entanto, os espaços verdes urbanos não estão distribuídos de maneira regular. Nessa circunstância,
para maximizar os efeitos benéficos para a saúde e a qualidade de vida das comunidades, é necessário adotar
medidas para que o planejamento e a implantação efetivos de arborização de vias e espaços públicos tenham
vegetação adequada, visando à melhoria do ambiente urbano, em particular o conforto térmico.
As palmeiras são as plantas mais características da flora tropical, elementos importantes na
composição do paisagismo nacional, sendo consideradas as aristocratas do reino vegetal, provocando
fascínio por seu porte elegante e altaneiro.
As folhas são os órgãos mais vistosos das palmeiras e apresentam uma grande diversidade de formas
(ALVES, 1987): palmadas, pinadas, pinadas com fendilhamento parcial, pinadas bífidas ou bipartidas e
344
bipinadas. Por ser considerada escultural, a palmeira é uma opção muito utilizada no paisagismo, podendo
ser plantada com alturas diversas e com as folhas já formadas, tendo efeito visual imediato (TRINDADE,
2010).
A importância ornamental e o notável valor econômico das palmeiras têm despertado o interesse de
pesquisadores, pela singularidade apresentada por esta família de plantas (ALVES, 1987).
Do ponto de vista econômico, inúmeras espécies podem ser utilizadas na alimentação humana, como
Palmito Jussara (Euterpe edulis Mart.), Palmito Açaí (Euterpe oleracea Mart), Óleo de Dendê (Elaeis
guineensis Jacq), Babaçu (Attalea brasiliensis Glassman) e Coqueiro (Cocos nucifera L.), que é utilizado
também como bebida. O Buriti (Mauritia flexuosa L.) pode ser fermentado (entre outras formas de
consumo), dando origem ao vinho de buriti (FERNANDES, 2011). A palmeira também constitui fonte de
fibras para indústria e de madeira para construção civil.
Apesar das palmeiras serem muito utilizadas na arborização urbana e no paisagismo de áreas privadas,
observa-se a presença de um número reduzido de espécies. O conhecimento de uma gama maior de espécies,
e seus benefícios específicos para a aplicação adequada aos resultados esperados, é desejado para o domínio
na execução de projetos (LORENZI, 2008).
De acordo com Lorenzi et al. (1996), com o conhecimento de diferentes espécies de palmeiras, pode-
se distribuir os indivíduos de maneira que o número e porte das espécies sejam ajustados à área disponível,
evitando-se plantas de grande porte em espaços reduzidos, de porte alto sob fiação, com espinhos próximas a
passagens, plantas que causam reações alérgicas em parques e locais de grande permanência, ou seja,
causando incompatibilidade entre as palmeiras e o lugar de plantio, ocasionando sua eliminação, na maior
parte das vezes. No entanto, quando bem utilizadas, pode-se empregá-las para a criação dos muitos efeitos
desejados.
Desde o início da colonização do Brasil muitas espécies arbóreas foram trazidas de outros países para
compor a arborização urbana. Segundo Lorenzi (2008), o plantio de espécies nativas em nossas cidades é
uma prática insignificante. Acredita-se que mais de 80% das espécies presentes em nossas praças, ruas e
parques são da flora exótica.
A pesquisa sobre o comportamento do sombreamento das espécies é um fator primordial para
contribuir com um resultado bem sucedido e adequado à arborização urbana.
Como observado na introdução, encontram-se poucos estudos sobre o comportamento das palmeiras
quanto ao conforto térmico e ao efeito que conferem aos microclimas urbanos, conforme apresentados na
Tabela 1.
Tabela 1 - Estudos sobre o comportamento das palmeiras quanto ao conforto térmico

Internacionais/Nacionais Objeto estudo Resultados Estação Referências

TelAviv -Israel Ficus retusa Redução 2,1°C a 2,5°C em relação Verão Shashua-
Tipuana tipo à estação meteorológica local, entre Bar (2010)
Phoenix dactylifera (Tamareira) 12h e 15h
Ghardaïa - Argélia áreas verdes (palmeiral) centro do palmeiral temp. inferiores Verão Bencheikh e
áreas densamente edificadas de 5°C a 10°C em relação à área Rchid
(Ksur) edificada. (2012)
Enugu - Nigéria Phoenix dactylifera (Tamareira) Trm 25°C Média Obi e
Coconut (coqueiro) Trm 26°C anual Chendo
Trm local 26,7°C (2014)
Hong Kong- China Copa densa, Redução Ta: 0,5°C Verão Kong et al.
Copa esparsa, Redução Trm: (2017)
Palmeiras 0.2°C esp. abertos
0.1°C esp. adensados
Goiânia- Brasil Roystonea oleracea (Palmeira Referência à pequena área de Weirich et
Imperial). sombra, sem quantificar --- al. (2015)
Fonte: Ribeiro (2018)

2. OBJETIVO
O objetivo desta pesquisa é avaliar o comportamento de quatro espécies de palmeiras quanto à atenuação
solar e sua influência no conforto térmico em áreas urbanas, em região de clima tropical de altitude.

3. MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa com técnicas de coleta de dados quantitativos, através de medições de variáveis
ambientais. A metodologia adotada foi adaptada de Bueno (1998), Bueno - Bartholomei e Labaki (2003) e
Abreu e Labaki (2010).

806
Como objetos de estudo, foram selecionadas três diferentes espécies de palmeiras: “Rabo de Raposa”
(Wodyetia bifurcata), “Tamareira” (Phoenix dactylifera) e “Washingtônia” (Washingtonia robusta), com
características específicas que as distinguem principalmente em relação às folhas.
As três palmeiras isoladas foram plantadas alinhadas e distantes 7,0m uma das outras (de eixo a eixo),
posicionadas a 10,0m da edificação mais próxima, distantes 9,0m da área pavimentada do estacionamento,
para evitar interferência de sombra das copas umas nas outras e de elementos externos conforme Figura 1(a).
A palmeira Rabo de Raposa apresenta tronco simples de 5,1m de altura e 0,16m de diâmetro. Possui
folhas pinadas, com a região terminal recurvada e aspecto crespo, com folíolos numerosos, agrupados de
espaço em espaço, inseridos em todas as direções, bi e trifurcados, em forma de cunha longa e estreita, com a
parte terminal mais larga e irregularmente denteada.
A Tamareira possui tronco revestido pela base de folhas já caídas, com 0,27m de diâmetro, e 4,3m de
altura. Suas folhas são pinadas, com numerosos folíolos, rijos, os da base transformados em espinhos.
A Washingtônia possui tronco revestido pela base de folhas já caídas, com 3,3m de altura e 0,35m de
diâmetro, dilatado na base. As folhas são palmadas, em forma de leque, divididas até a metade, com
segmentos rijos e pendentes, sustentadas por pecíolos fortemente denteados nas margens.
Como desdobramento e incremento da pesquisa, optou-se pelo estudo de um conjunto de palmeiras, a
fim de avaliar o potencial de atenuação solar de uma configuração onde as espécies estão plantadas próximas
umas das outras. Para a escolha do agrupamento de palmeiras, foram considerados alguns aspectos que
atingiam os atributos necessários para o desenvolvimento desta pesquisa. Elegeu-se uma espécie de folha
palmada, pois nas primeiras análises com as palmeiras individuais, na primavera, a espécie com folhas em
forma de leque obteve maior atenuação solar que as demais estudadas no mesmo período. Foram
selecionados sete indivíduos da espécie Livistona (Livistona saribus (Loureiro) Merril ex. A. Chevalier), já
existentes. Trata-se de sete palmeiras bem desenvolvidas, plantadas em terreno gramado, a uma distância
média de 7,0 m entre si, distantes 3,0 m da área pavimentada, sendo que quatro delas apresentam intersecção
entre as copas, como mostra a Figura 1(b).

Figura 1 - Palmeiras isoladas; (b) Conjunto de palmeiras


Nota: 1- Rabo de Raposa; 2- Tamareira; 3- Washingtônia

A área de estudo, está localizada no Campus da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP


(22°48’57” S; 47°03’33” O; elevação de 640m). O clima da cidade de Campinas é o tropical de altitude (tipo
Cwa, de Köppen), com chuvas no verão e seca no inverno (CEPAGRI, 2016).
As palmeiras isoladas foram transplantadas em um terreno gramado de 1280 m², com topografia pouco
acidentada, no estacionamento da FEC (Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Unicamp
como mostra a Figura 2(A).
O conjunto de palmeiras está plantado em uma área de 350m², conforme indica a Figura 2(B), com
topografia pouco acidentada, localizado na Avenida Dr. André Tosello, no Campus da Unicamp, local
seguro, acessível e sem a interferência de elementos externos.

807
Figura 2 - Locais selecionados para pesquisa: (A) palmeiras isoladas; (B) agrupamento de palmeiras
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=735uWGMpIHI

3.1. Medições das variáveis ambientais


As seguintes variáveis ambientais foram medidas: temperatura do ar (Ta), temperatura de globo (Tg),
umidade relativa do ar (Ur), velocidade do ar (Va) e radiação solar (Rad), à sombra de cada espécie de
palmeira e ao sol. Os dados foram registrados de 10 em 10 minutos, por um período de nove horas/dia, ao
longo de três dias, na primavera de 2016, no verão de 2016/2017, no outono e no inverno de 2017. As
medições ocorreram em local que adotou o “horário brasileiro de verão” e foram corrigidas para o horário
padrão de Brasília. Os processos de medição seguiram as recomendações da norma ISO 7726 (2001).
Para a medição da temperatura do ar (Ta) e umidade relativa (Ur) foram utilizados, em cada palmeira e
ao sol, um conjunto composto de: um sensor e registrador de temperatura e umidade, modelo Testo 175-T2 e
175-H1; para temperatura de globo (Tg), um conjunto composto de um sensor/registrador modelo testo 0613
171, colocado no interior de um globo cinza (diâmetro de 4 cm), instalados em um tripé, a 1,50m do solo.
Para a medição de velocidade do ar (Va) foi instalado um anemômetro/termômetro digital Testo 445,
com sensor 0635-1549, acoplado ao tripé que ficou ao Sol.
Para a radiação solar (Rad, em kW/m²) registrada ao sol e à sombra de cada palmeira foram
utilizados solarímetros de tubo, modelo TSL-DELTA- T, com registrador Delta DL2 Datalogger, instalados
a 1,0m de altura do solo.
Os equipamentos situados à sombra tiveram suas posições alteradas ao longo do dia, acompanhando o
sombreamento da copa das palmeiras, o que ocorreu no sentido anti-horário, totalizando 16 posições por dia
de medição.

3.2. Obtenção da temperatura radiante média (Trm) e da atenuação solar (At)


A Trm, para convecção forçada, foi obtida através da Equação 1, conforme ISO 7726 (2001):

1/4
1,1 × 108 × 𝑣𝑎0,6
4
𝑇𝑟𝑚 = [(𝑡𝑔 + 273) + (𝑡𝑔 − 𝑡𝑎 )] − 273 Equação 1
𝜀𝑔 × 𝐷 0,4

Onde:
Tg: Temperatura de globo, em °C;
Va: Velocidade do ar, m/s;

808
Ta:Temperatura do ar, em °C;
ε: Emissividade do globo (0,95);
D: Diâmetro do globo (0,04m).
Os dados de todas as variáveis ambientais foram compilados calculando-se as médias horárias para os três
dias de medição.
Seguindo Bueno - Bartholomei e Labaki (2003), adotou-se como referência os parâmetros obtidos nas
medições na posição Sol, e obteve-se a variação da temperatura radiante média e da atenuação da radiação
solar, conforme mostram respectivamente as Equações 2 e 3.

𝑇𝑟𝑚(𝑠𝑜𝑙) − 𝑇𝑟𝑚(𝑠𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎)
𝑉𝑇𝑟𝑚 = 𝑥 100 Equação 2
𝑇𝑟𝑚(𝑠𝑜𝑙)

Onde:
VTrm: Variação das médias da Temperatura radiante média, em %;
Trm (sol): Temperatura radiante média na posição Sol, em °C;
Trm(sombra): Temperatura radiante média nas posições de sombra, em °C;
A atenuação solar (At) é dada pela Equação 3.

𝑆𝑆𝑜𝑙− 𝑆𝑠𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎
𝐴𝑡 = 𝑥 100 Equação 3
𝑆𝑠𝑜𝑙

Onde:
At: Atenuação solar, em porcentagem (%);
Ssol: Energia total incidente ao Sol, em kWh/m² (área do gráfico correspondente);
Ssombra: Energia total incidente, à sombra, em kWh/m² (área do gráfico correspondente).
As áreas dos gráficos foram calculadas a partir das integrais das curvas obtidas para a radiação solar
incidente ao longo do período de medição e representam a média diária da energia total incidente em cada
posição (ao sol e à sombra) para os períodos analisados.

4. RESULTADOS
A seguir serão apresentados os resultados obtidos nessa pesquisa. As tabelas apresentam a média da
temperatura do ar, o cálculo de atenuação da radiação solar e da média PET, ao sol e à sombra das palmeiras.
Os gráficos mostram os valores da calibração PET proposta por Monteiro e Alucci (2008) para as palmeiras
isoladas e para o conjunto.

4.1. Temperatura do ar
Comparando-se os resultados das médias das Temperaturas do ar (Ta) obtidas à sombra de cada palmeira
isolada e ao sol, nas quatro estações, observou-se que as diferenças foram inferiores a 1°C, o que mostra que
a sombra das palmeiras não trouxe redução significativa da temperatura do ar. Essa diferença de
aproximadamente 1°C entre as médias diárias das temperaturas ao sol e à sombra também pode-se verificar
no estudo de Labaki et al. (2011) para outras espécies arbóreas.
No agrupamento de palmeiras Livistona, a redução da temperatura do ar à sombra foi mais
significativa que a apresentada nas palmeiras isoladas. No verão houve uma diferença média de 1,2°C entre
as medições ao sol e à sombra, apontando em alguns momentos diferença de até 2,4°C. No outono, a
diferença média entre a temperatura do ar ao sol e à sombra foi de 1,7°C, tendo atingido 2,6°C de diferença
máxima. No inverno, houve uma diferença média de 1,0°C na temperatura do ar entre as posições sol e
sombra, tendo alcançado a diferença máxima de até 2,4°C, como mostra a Tabela 2.

809
Tabela 2 : Média da temperatura do ar ao sol e à sombra das palmeiras
Média Temperatura do ar (°C)
Estação Palmeiras
Sombra Sol
Rabo de Raposa 28,2
Tamareira 28,4 28,1
Primavera
Washingtônia 28,4
Conjunto Não houve coleta de dados
Rabo de Raposa 30
Tamareira 30,2 29,8
Verão
Washingtônia 30
Conjunto 26,6 28,3
Rabo de Raposa 22,9
Tamareira 22,9 23,4
Outono
Washingtônia 22,8
Conjunto 26,5 28,2
Rabo de Raposa 23,7
Tamareira 23,8 24,1
Inverno
Washingtônia 23,6
Conjunto 23,5 24,5

4.2. Atenuação da radiação solar


O resultado da atenuação solar é apresentado na Tabela 3. Observa-se que a atenuação obtida para palmeiras
Washingtônia e Livistona é próxima aos valores apresentados pelas espécies arbóreas pesquisadas por
Abreu-Harbich, Labaki e Matzarakis (2015) e por Bueno-Bartholomei (2003), apesar de árvores e palmeiras
serem espécies diferentes quanto à estrutura, à forma, ao tamanho de copa e aos tipos de folhas.
Tabela 3 - Atenuação da radiação solar incidente por estação
Estação do ano Washingtônia Rabo de Raposa Tamareira Livistona (conjunto)
Primavera 71,5% 50,3% 53,8% Não houve coleta de dados
Verão 75,4% 55,0% 58,1% 86,3%
Outono 81,3% 69,6% 67,0% 85,1%
Inverno 80,3% 63,1% 60,9% 86,4%

No entanto, não se pode confundir percentual de atenuação solar com conforto térmico proporcionado
por diferentes espécies vegetais. Na análise do conforto térmico, deve-se considerar as características
inerentes às espécies utilizadas na arborização urbana tais como, forma, tamanho e densidade de folhas.
Presume-se que os indivíduos perenifólios, de folhas largas, de arquitetura arbórea aberta, copas amplas e
projeção de sombra maior, proporcionem um sombreamento mais eficiente e resultem em maior conforto
térmico quando comparados a indivíduos de menor porte, folhas de menor densidade, caducifólias e copas de
menor diâmetro.

4.3. Resultados para o PET


Para uma análise mais clara dos resultados obtidos, foi elaborada a Tabela 4, que expõe para cada palmeira,
ao sol e à sombra, em cada estação do ano, qual apresentou maior e menor média da Temperatura Fisiológica
Equivalente (PET), um indicador de conforto térmico (HÖPPE, 1999).
Verifica-se que a menor média do índice PET ao sol, 38,61, foi observada no inverno, possivelmente
devidos aos baixos valores de temperatura do ar e temperatura radiante média obtidos para esta estação.
A maior média do índice PET ao sol, 48,35°C, foi obtida no verão, provavelmente por influência dos
valores mais altos de temperatura radiante média calculados para esta estação.
A menor média do índice PET encontrada à sombra, 22,10°C, foi obtida nas Livistonas no inverno.
Para as espécies isoladas, a menor média do índice PET, 24,66°C, obtida à sombra, foi constatada na
Washingtônia, no inverno, coerente com os baixos valores encontrados para a temperatura radiante média.
A maior média PET obtida para a sombra nas espécies isoladas, 35,91°C, foi constatada na Rabo de
Raposa, no verão. Na primavera, a média mais alta foi a da Rabo de Raposa, com 35,76°C.

810
Tabela 4 - Média PET ao sol e à sombra das palmeiras, nas quatro estações
Média PET (°C)
Estação Palmeiras Gradiente (°C)
Sombra Sol
Rabo de Raposa 35,76 7,6
Tamareira 34,64 43,30 8,66
Primavera
Washingtônia 30,25 13,05
Conjunto Não houve coleta de dados
Rabo de Raposa 35,91 8,59
Tamareira 35,44 44,50 9,06
Verão
Washingtônia 31,83 12,67
Conjunto 33,05 48,35 15,3
Rabo de Raposa 32,22 9,81
Tamareira 29,50 42,03 12,53
Outono
Washingtônia 27,38 14,65
Conjunto 30,41 47,16 16,75
Rabo de Raposa 25,16 13,45
Tamareira 25,7 38,61 12,91
Inverno
Washingtônia 24,66 13,95
Conjunto 22,10 44,97 22,87

4.4. Calibração do índice PET


MATZARAKIS; MAYER e IZIONMON (1999) apresentaram uma dúvida em relação à validade dos
intervalos de PET para aplicação indistinta em todas as zonas (ou regiões) climáticas, considerando a
possibilidade de que esses intervalos possam ser diversos, de acordo com as percepções não coincidentes do
ambiente térmico ou devido às alterações fisiológicas que ocorrem nos processos de aclimatação. Daí a
necessidade de pesquisas para calibração deste índice às condições climáticas peculiares de cada região, que
satisfaçam os processos de adaptação e aclimatação, uma vez que o uso do índice em diversas pesquisas
apontou preferências térmicas da população local, distintas dos valores de referência (KRUGER, 2018).
Considerando-se o reconhecimento da importância das questões de aclimatação, como não há
calibração específica para a cidade de Campinas, para a análise do percentual de conforto térmico
proporcionado pelas palmeiras estudadas, utilizou-se a calibração do índice PET para a realidade brasileira,
em São Paulo - SP, proposta por Monteiro e Alucci (2008). Assim como Campinas, a cidade de São Paulo é
classificada como clima Tropical de Altitude, e encontra-se na Zona Bioclimática 3, segundo a NBR 15220
(Desempenho térmico de edificações) com características homogêneas quanto aos elementos climáticos que
interferem nas relações entre ambiente e conforto humano.
A calibração do índice PET para a realidade de São Paulo - SP, proposta por Monteiro e Alucci
(2008), foi utilizada para as palmeiras isoladas e é mostrada na Figura 3.

Muito calor
Calor
Período de análise

Pouco calor
Neutra
Neutra; Neutra;
Pouco frio
Neutra;
RR;Inverno
InvernoInverno T;
W;
67% Frio
61%
69%
Neutra;
Neutra; Muito frio
Neutra; Neutra; Outono W;
Primavera W; Verão Outono
Neutra;Outono RR; T;27%
2% W; 2% 6% 14%

Figura 3 - Calibração PET Monteiro e Alucci - palmeiras isoladas

A calibração do índice PET referente ao conforto térmico calculado para o agrupamento de palmeira,
proposta por Monteiro e Alucci (2008), para a realidade de São Paulo - SP é exibida na Figuras 4.

811
Figura 4 - Calibração PET Monteiro e Alucci - agrupamento

5. CONCLUSÕES
O estudo realizado preenche uma lacuna nos trabalhos realizados sobre vegetação e conforto térmico, ao
analisar, sob esse aspecto, a palmeira, com presença expressiva na arborização urbana no Brasil.
A partir dos resultados de medições em campo, dos cálculos de Temperatura Radiante Média, da
Atenuação da Radiação Solar e do índice PET, conclui-se que o sombreamento por palmeiras pode favorecer
significativamente o microclima de cidades tropicais.
Os parâmetros obtidos apontam que espécies de palmeiras com índice de área foliar mais elevado e
maior atenuação da radiação solar são aquelas que mostram maior capacidade de redução da temperatura,
com resultados satisfatórios nas sensações de conforto térmico no microclima urbano.
As espécies de palmeiras analisadas foram capazes de mitigar a radiação solar e verificou-se a sua
capacidade de melhoria do conforto térmico, evidenciando-se sua viabilidade na construção da paisagem
urbana. Em regiões onde se pretende sombrear maiores áreas, pode-se agrupá-las de forma que suas folhas se
sobreponham, aumentando seu potencial de arrefecimento.

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813
POTENCIAL BIOCLIMÁTICO EM CENÁRIOS DE AQUECIMENTO
GLOBAL: ESTUDO DE CASO PARA CLIMA TROPICAL CONTINENTAL
Emeli Lalesca Aparecida da Guarda (1); Luciane Cleonice Durante (2); Ivan Julio
Apolonio Callejas (3); Karyna de Andrade Carvalho Rosseti (4); Flávia Maria de Moura
Santos (5); Martin Ordenes Mizgier (6).
(1) Mestre, Arquiteta e Urbanista, emeliguarda@gmail.com, Universidade Federal de Mato Grosso
(2) Doutora, Engenheira Civil, luciane.durante@hotmail.com, Universidade Federal de Mato Grosso
(3) Doutor, Engenheira Civil, ivancallejas1973@gmail.com, Universidade Federal de Mato Grosso
(4) Doutora, Arquiteta e Urbanista, karyna.rosseti@gmail.com, Universidade Federal de Mato Grosso
(5) Doutora, Arquiteta e Urbanista, flavia_mms@hotmail.com, Universidade Federal de Mato Grosso
(6) Doutor, Engenheiro Civil, martin.ordenes@ufsc.br, Universidade Federal de Santa Catarina
Universidade Federal de Mato Grosso, Av. Fernando Corrêa da Costa, 2367 - Boa Esperança, Cuiabá - MT,
78060-900, +55 (65) 3615-8599

RESUMO
Pesquisas científicas evidenciam o aumento progressivo da temperatura média terrestre. Embora esse fato
encontre opositores, se reconhece, para realização deste estudo, que as mudanças climáticas são um desafio-
chave global para o século XXI para a comunidade científica internacional. Assim, este trabalho tem por
objetivo investigar o potencial bioclimático da cidade de Cuiabá-MT, considerando o cenário de emissões
A2 do Quarto Relatório do IPCC. Os procedimentos metodológicos consistem em elaboração dos arquivos
climáticos futuros; caracterização climática do local de estudo e determinação do potencial bioclimático por
meio das cartas psicrométricas dos cenários base (1961-1990) e futuros (2020, 2050 e 2080). Os resultados
evidenciam que a temperatura média do ar irá aumentar em 21,5% e a umidade relativa média do ar diminuir
em 22% no cenário de 2080, ambos em relação ao cenário base. As estratégias passivas mais suscetíveis aos
efeitos do aquecimento global serão a ventilação e o condicionamento artificial. A estratégia de
condicionamento artificial apresentou aumento expressivo do cenário base para o de 2080: de 9 para 54%
das horas anuais e, com consequentemente redução da estratégia de ventilação, de 56% no cenário base, para
21% em 2080. Assim, destaca-se que a investigação do potencial bioclimático frente às projeções climáticas
futuras torna-se um importante um instrumento visando tornar as edificações resilientes frente aos efeitos do
aquecimento global.
Palavras-chave: mudanças climáticas, arquitetura bioclimática, resiliência das edificações.

ABSTRACT
Scientific research shows a progressive increase in the Earth's temperature. Although this fact meets
opponents, it is recognized, for this study, that climate change is a key global challenge for the 21st century.
The objective of this work is to investigate the bioclimatic potential of the city of Cuiabá-MT, considering
the emission scenario A2 of the Fourth Report of the IPCC. The methodological procedures consist of
elaboration of the future climatic archives; climatic characterization of the study site and determination of the
bioclimatic potential through the psychometric charts of a base scenario (1961-1990) and future (2020, 2050
and 2080) scenarios. The results showed that the temperature increased by 21.5% and the relative humidity
decreased by 22% in the 2080 scenario, in relation to the base scenario. The passive strategies most
susceptible to the effects of global warming were ventilation and artificial conditioning. The artificial
conditioning strategy presented a significant increase of the baseline scenario to that of 2080: from 9 to 54%
of annual hours and, consequently, a reduction of the ventilation strategy, from 56% in the baseline scenario
to 21% in 2080 , Thus highlighting that the investigation of the bioclimatic potential of future climate
projections becomes important as an instrument of building resilience to the effects of global warming.
Keywords: climate change, bioclimatic architecture, building resilience.

814
1. INTRODUÇÃO
Pesquisas científicas evidenciam aumento progressivo da temperatura terrestre. De acordo com Duursma
(2002), entre o final do século XIX e início do século XX, as temperaturas apresentavam comportamento
praticamente invariável. Entretanto, nos últimos 100 anos, verifica-se tendência de elevação, quantificada em
+0,12°C em Quito, no Equador e +0,60°C em São Paulo, no Brasil. Marengo e Soares (2005) também
verificaram elevação de +0,85°C a cada 100 anos, para a cidade de São Paulo. Casagrande e Alvarez (2013)
afirmam que, a partir da década de 1920, há tendência crescente das temperaturas se elevarem, com registro
de aumento de 0,8°C no ano de 2000, em relação às médias do período de 1961-1990. Desta forma, embora o
fato encontre opositores, se reconhece, para fins de realização deste estudo, que as mudanças climáticas são
um desafio-chave global para o século XXI.
Pesquisas sobre as mudanças climáticas, motivadas pelas ações antrópicas e baseadas nas emissões de
Gases de Efeito Estufa (GEE), tem sido compilados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC), por meio de publicações de relatórios científicos, sobre os quais cientistas das mais
variadas áreas fundamentam suas pesquisas sobre o comportamento dos ecossistemas terrestres. Essas
publicações destacam que a maior parte dos eventos de aumento de temperatura observada nos últimos 50
anos foi provocada pelas ações antrópicas e alerta para o aumento médio das temperaturas globais de 1,1°C a
5,4°C, podendo atingir 6,4°C até o ano de 2100, se a população e a economia continuarem em acelerado
crescimento, com consumo intenso de combustíveis fósseis (IPCC, 2007).
Este estudo se desenvolve a partir do cenário referência A2 do Quarto Relatório de Avaliação (AR4)
do IPCC. O AR4 apresenta os Cenários de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Special Reports Emissions
Scenarios - SRES) e os seus efeitos no sistema climático para o período de 1961 a 2100. O AR4 relata que,
dos últimos 12 anos (1995 – 2006), 11 estão entre os anos mais quentes já registrados (IPCC, 2007). Desta
forma, para compreender os riscos e as vulnerabilidades, o IPCC elaborou seis cenários de emissões de
Gases de Efeito Estufa (GEE) de 2011 a 2100 (IPCC, 2007). Os modelos são divididos em quatro grandes
famílias, conhecidos como cenários A1, A2, B1 e B2, onde ‘A’ e ‘B’ significam, respectivamente, baixo e
alto comprometimento com o desenvolvimento sustentável, e ‘1’ e ‘2’, a integração (global) ou fragmentação
regional (local). Para a região de estudo, considerou-se baixo comprometimento com o desenvolvimento
sustentável e elevada fragmentação regional.
A mitigação dos efeitos das mudanças climáticas tem sido pauta de políticas públicas de muitos países
e pesquisas para adaptações das edificações aos novos cenários climáticos vêm sendo desenvolvidas em
diversas áreas da construção civil (FREITAS e AMBRIZZI, 2012; CASAGRANDE, 2013; ALVES, 2014,
TATEOKA e DUARTE, 2017). Assim, alteradas as condições externas em virtude do aquecimento global
das, o ambiente interno das edificações também fica sujeito a influência deste efeito, e o projeto bioclimático
do edifício adquire, portanto, elevado potencial na mitigação das mudanças climáticas e na resiliência do
ambiente construído.
O termo projeto bioclimático, abordado por Olgyay (1973), relaciona a aplicação da climatologia à
arquitetura e, principalmente às condições de conforto térmico no interior das edificações. Serra (1989)
define arquitetura bioclimática como a que otimiza as relações energéticas com o ambiente natural. Maciel,
Ford e Lamberts (2007) o definem como, a interação do clima de um local com a envoltória das edificações,
podendo ser utilizadas estratégias bioclimáticas de projeto para obtenção de conforto térmico em projetos.
Sob a ótica das relações que se estabelecem entre as condições externas e internas das edificações,
surge o termo potencial bioclimático (PAJEK e KOSIR, 2017; MONTERDE et al., 2016; YILDIZ, 2015 et
al.; RUBIO-BELLIDO, PULLIDO-ARCAS, CABEZA-LAINEZ, 2015), definido como a interação do
edifício com o lugar em que se insere, bem como as formas de uso das estratégias para a adaptação da
arquitetura ao clima, com maior visibilidade para as estratégias passivas que ativas. Considerando os
impactos das mudanças climáticas nas estratégias de projeto, estuda-se o potencial bioclimático dos cenários
climáticos futuros previstos pelo relatório do IPCC, com a finalidade de melhorar a compreensão e a tomada
de decisões projetuais para o planejamento das edificações.

2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é investigar possíveis alterações no potencial bioclimático da cidade de Cuiabá-MT
frente às mudanças climáticas, considerando o cenário de emissões A2 do Quarto Relatório (AR4) do IPCC.

815
3. MÉTODO
3.1. Elaboração dos Arquivos Climáticos Futuros
Toma-se como referência a metodologia “morphing” publicada por Belcher, Haker e Powell (2005) para a
elaboração de arquivos climáticos futuros, indicada pelo IPCC e adotada em diversos estudos sobre o tema
(SONG e YE, 2017; SABUNAS e KANAPICKAS, 2017; WANG, LIU e BROWN, 2017; INVIDIATA e
GHISI, 2016; TRIANA, LAMBERTS e SASSI, 2016; CASAGRANDE e ALVAREZ, 2013).
Essa metodologia modifica um conjunto de variáveis climáticas históricas (1961-1990) de 8.760 horas
anuais, sem a influência dos impactos da urbanização e incorpora os efeitos do aquecimento global nos
arquivos climáticos, permitindo desta forma obter as projeções de dados climáticos para os futuros cenários.
O processo é realizado em três etapas sequenciais: i) desvio no arquivo climático horário atual e adição da
variação média mensal projetada, ii) extensão do atual arquivo climático horário por ordenamento da
variação média mensal projetada e iii) combinação das etapas anteriores (BELCHER; HACKER; POWELL,
2005).
O processo empregado por este método é complexo e no sentido de facilitar e consolidar as operações
algorítmicas, o grupo de pesquisa “Sustainable Energy Research Group” (SERG), da Universidade de
Southampton no Reino Unido desenvolveu junto com a Microsoft® a ferramenta “Climate Change World
Weather Generator” (CCWorldWeatherGen), incorporada ao Software Excel e disponibilizada
gratuitamente. A ferramenta consiste de uma planilha eletrônica que integra os arquivos de extensão EPW ao
Modelo Climático Global (MCG) “Hadley Centre Coupled Model version 3" (HadCM3), que por sua vez,
integra-se de um modelo acoplado oceano-atmosfera, com resolução de 417km x 278km na região do
Equador e de 295km x 278km aos 45° de Latitude, compondo-se do cenário de emissões do cenário A2 do
Quarto Relatório (AR4) do IPCC, para os time-slice 2020 (período de 2011-2040), 2050 (período de 2041-
2070) e 2080 (período de 2071-2100).

3.2. O clima da Cidade de Cuiabá-MT


A cidade de Cuiabá localiza-se no Centro Sul do estado de Mato Grosso, região Centro Oeste brasileira, com
área de 3.538,17 km², com população estimada de 590.118 habitantes (IBGE, 2010). Encontra-se localizada
em uma província geomorfológica denominada Baixada Cuiabana, na Latitude 15°36’56”S e Longitude
56°06’01”W. Conforme Callejas (2012), o município situa-se em três importantes ecossistemas brasileiros, o
Pantanal ao Sul, a floresta Amazônica ao Norte e o Cerrado em seu entorno. Mato Grosso tem cerca de 90%
de seu território inserido no clima do tipo Aw (tropical com chuvas de verão) e cerca de 10%, no extremo
norte, em clima do tipo Am (tropical com clima de monção com precipitação total anual média maior que
1500mm e precipitação do mês mais seco menor que 60mm) (PEEL et al., 2007) (Figura 1).
O clima Am apresenta estação seca
de curta duração, com temperatura
média do mês mais frio superior a 18°C.
O clima Aw apresenta estação chuvosa
no verão, entre os meses de novembro a
abril, e estação seca no inverno, entre os
meses de maio a outubro, com
temperatura média do mês mais frio
superior a 18°C (SOARES et al., 2015).
De acordo com Duarte (2000), o clima
de Mato Grosso se caracteriza como
quente, apresentando temperaturas
diárias altas com frequência, podendo
ocorrer máximas superiores a 40°C nos
meses de setembro e outubro. A autora
destaca que nenhum mês apresenta
temperatura média inferior a 20°C e as
Figura 1 – Classificação Climática de Koppen (adaptada de Pell et al., 2007).
temperaturas médias anuais em geral,
são elevadas.

Durante (2012) relata que estudos que pretendam analisar o desempenho das edificações tendo o clima
como condicionante, devem se apoiar em uma descrição detalhada do clima da região. Tratando-se do clima
da cidade de Cuiabá, a autora elaborou estudo comparativo de temperaturas da cidade de Cuiabá, registradas

816
por Campelo Jr, Priante Filho e Caseiro (1992), Leão (2007), Centro de Previsão de Tempo e Estudos
Climáticos (CPTEC), Rede de Meteorologia do Comando de Aeronáutica (REDMET), Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET) e EnergyPlus Weather Data (EPW) (Figura 2). Os dados do INMET de 1981-2010
foram aqui adicionados ao trabalho de Durante (2012).
Comparando-se os dados históricos de
Campelo Jr, Priante Filho e Caseiro 30
(1992) referentes ao período de 1970 a 29

Temperatura do ar (oC)
1991 e INMET, no período de período 28
2000 a 2010, observa-se que a média
27
anual da temperatura do ar apresentou
26
aumento de 1,35°C no período de 19
anos. Esse fato corrobora com as 25
projeções apresentadas pelo IPCC, cujo 24
aumento da temperatura média global é 23
0,15°C a 0,30°C por década. Observa-se 22
que o arquivo climático EPW elimina os

Abr.

Jun.
Jan.

Jul.

Ago.

Nov.
Fev.

Mar.

Out.
Set.

Dez.
Mai.
valores extremos, constituindo-se de
Meses
uma boa referência para estudos de
Temperatura média mensal 1970-1991 [CAMPELLOJUNIOR et all, 1992] (°C)
avaliação de desempenho térmico, Temperatura média mensal 2003-2009 [CPTEC] (°C)
planejamento urbano, dentre outros. Temperatura média mensal 1981-1990 [REDEMET] (°C)
Temperatura média mensal 2001-2007 [REDEMET] (°C)
Temperatura média mensal 1987-1999 [INMET] (°C)
Temperatura média mensal 2000-2010 [INMET] (°C)
ARQUIVO EPW
LEÃO (2007) - TRY (1990-2004)
Temperatura média mensal 1987 [INMET] 1987-2010 (°C)
Temperatura média mensal 1981-2010 [INMET] (°C)
F
Figura 2 – Dados históricos do município de Cuiabá-MT (adaptado de
Durante, 2012).

3.3. Elaboração do Potencial Bioclimático por meio das Cartas Bioclimáticas de Givoni (1992)
Considerando-se a estreita relação entre o uso de estratégias passivas de projeto e as condições de conforto
térmico obtidas no interior das edificações que as adotam, buscou-se quantificar os impactos das alterações
climáticas no potencial bioclimático por meio das cartas bioclimáticas de Givonni (1992), utilizando-se o
software Analysis BIO (LABEEE, 2010). Este programa trabalha com 12 estratégias separadas por zonas:
ventilação, ventilação/alta inércia, ventilação/alta inércia/resfriamento evaporativo, alta inércia térmica para
resfriamento, alta inércia/resfriamento evaporativo, alta inércia térmica/aquecimento solar, conforto,
aquecimento artificial, aquecimento solar passivo, condicionamento artificial, resfriamento evaporativo e
umidificação. A plotagem dos dados na carta bioclimática ocorre por meio de arquivos climáticos (epw)
publicados no Solar and Wind Energy Resource Assessment (SWERA) (DOE, 2016), que disponibiliza
arquivos nesse formato para 20 cidades brasileiras. O arquivo necessita ser convertido para um arquivo de
planilha eletrônica separado por vírgula, constituído de variáveis climatológicas especificas, em um arquivo
com extensão .csv, ao partir do qual o mesmo se torna passível de ser lido pelo Analysis BIO.
De acordo com Carlo, Pereira e Lamberts (2005), o arquivo no formato .csv deve ter o cabeçalho
padrão contendo as variáveis na seguinte ordem: Mês, Dia, Hora, TBS (°C), TBU (°C), Ponto de Orvalho
(°C), Pressão Atmosférica (Pa), Umidade (Kg/Kg), Umidade Relativa (%), Entalpia (BTU/Lb), Velocidade
do Vento (m/s), Cobertura Total de Nuvens (Decimais), Radiação Horizontal Extraterrestre (Wh/m²),
Radiação Global Horizontal (Wh/m²), Radiação Direta (Wh/m²), Radiação Direta Normal (Wh/m²) e
Radiação Difusa Horizontal (Wh/m²). O cabeçalho do arquivo .epw não é compatível com o do arquivo .csv,
sendo necessário calcular as variáveis umidade relativa (em %) e entalpia (em BTU/Lb), conforme Guarda,
Durante e Callejas (2018). Procedeu-se, da forma indicada, para os arquivos da cidade de Cuiabá de 1961 a
1990 (Cenário Base) e para os time-slices 2020 (período de 2011-2040), 2050 (período de 2041-2070) e
2080 (período de 2071-2100).
Cada arquivo foi inserido no software Analysis BIO para obtenção das cartas bioclimáticas,
considerando o ano com 365 dias (01/01 a 31/12), ou seja, 8.760 horas. A partir desses arquivos, foi possível
indicar, por meio de elementos gráficos, as variáveis climáticas que serão mais vulneráveis aos efeitos do
aquecimento global em suas médias mensais, a saber: Temperatura de Bulbo Seco (TBS, em °C), Umidade
Relativa do Ar (UR, em %) e a Radiação Global Horizontal (Wh/m²). Os resultados consistiram no cômputo
das porcentagens de horas anuais requeridas pelas estratégias de maior ocorrência e nas horas anuais de

817
conforto e desconforto por calor e frio, resultando no potencial bioclimático para a cidade de Cuiabá-MT
para os quatro cenários previstos neste estudo.

4. RESULTADOS
4.1. Arquivos Climáticos Futuros
A temperatura média anual no Cenário Base é de 26,73°C, sofrendo elevação para 28,24°C no time-slice
2020 (2011-2040), 29,90°C no time-slice 2050 (2041-2070) e 32,48°C no time-slice 2080 (2071-2100).
Dessa forma, prevê-se um aumento de 21,50% até o cenário de 2080.
A umidade relativa do ar média anual no Cenário Base é de 69,08%, reduzindo-se para 64,75% em
2020, 60,41% em 2050 e 53,67% em 2080, sendo a redução deste último em relação ao primeiro, de 22%.
Já o impacto previsto na radiação solar, devido emissões de gases de efeito estufa foi de elevação de
3,66% na média anual da radiação até o final do século. A radiação solar média anual no Cenário Base é de
222,54 Wh/m², passando para 225,38 Wh/m² em 2020, 227,34 Wh/m² em 2050 e 230,69 Wh/m² em 2080.
O aumento na temperatura média do ar também foi observado por Triana; Lamberts e Sassi (2018),
nas cidades de São Paulo e Salvador, para o cenário de 2050, utilizando metodologia semelhante a deste
trabalho (método morphing, modelo climático HadCM3 e cenário de emissão A2 do IPCC). Os autores
obtiveram aumento das temperaturas médias do ar em 3°C, para ambas as cidades, principalmente entre os
meses de setembro e outubro. Essas condições também são encontradas no trabalho de Yildiz (2015), em três
cidades da Turquia, que concluiu que a temperatura média anual e a radiação global horizontal média anual
aumentarão 4°C e 7W/m², respectivamente, e a umidade relativa do ar média anual reduzirá 10%, no cenário
de 2080, se comparado ao Cenário Base.

4.2. Potencial Bioclimático do Cenário Base (1961-1990) e dos Cenários Futuros (2020, 2050 e
2080
As estratégias que obtiveram maior número de horas anuais nos cenários foram massa térmica com
aquecimento solar (MTAS), ventilação (V), condicionamento artificial (AC), massa térmica para
resfriamento, resfriamento evaporativo e sombreamento, a seguir descritas em termos de evolução em
relação aos cenários previstos neste estudo.
O sombreamento é requerido em 93, 95, 97 e 98% das horas anuais (média de todos os meses) nos
Cenários Base, 2020, 2050 e 2080, respectivamente. No Cenário Base, 100% das horas de novembro a
março, demais meses acima de 89% e julho 66% das horas. Em 2020, 100% das horas de outubro a março,
demais meses acima de 91% e julho 74% das horas. Em 2050, 100% das horas de outubro a março, demais
meses acima de 95% e julho 85% das horas. Em 2080, 100% das horas de outubro a março e em junho,
demais meses acima de 99% e julho 87% das horas. O mês de julho se caracteriza por apresentar sempre as
menores temperaturas e os menores valores de radiação horizontal global, em todos os cenários. A Figura 3
apresenta o panorama evolutivo das horas requeridas para essas estratégias.
A estratégia de ventilação é mais requerida nos meses de janeiro, fevereiro e março, em todos os
cenários. Para esses meses, no Cenário Base (1961-1990), as porcentagens das horas anuais requeridas de
ventilação são de 78,4%, 80,4% e 83,9%, respectivamente. No cenário 2020, são de 66%, 70% e 78%,
respectivamente. Em 2050, são 52%, 54% e 43% e em 2080, de 20%, 26% e 18%, respectivamente.
Observa-se tendência de diminuição nesses meses, ao longo de todos os cenários, em função do aumento da
temperatura externa. Isso também ocorre no mês de agosto: no Cenário Base, 2020, 2050 e 2080 as horas
requeridas de ventilação são de 16%, 1%, 20% e 16%, respectivamente. Verificou-se comportamento
semelhante em abril (63, 41, 37 e 18%), outubro (58, 37, 37 e 20%), novembro (65, 53, 51 e 24%) e
dezembro (69, 59, 50 e 24%).
No mês de junho, as horas requeridas são de 36, 12, 28 e 30%, nos Cenários Base, 2020, 2050 e 2080,
respectivamente. Observa-se que em junho, a estratégia de ventilação diminui do Cenário Base para o
cenário de 2020 e aumenta deste para os demais. Já no mês de julho, que é o mais frio do ano, o número de
horas requeridas para a estratégia de ventilação diminui do Cenário Base para 2020, aumenta de 2020 para
2050 e diminui de 2050 para 2080. As horas requeridas são de 19, 5, 18 e 13%, nos Cenários Base, 2020,
2050 e 2080, respectivamente. Ocorre o mesmo no mês de setembro, o mais seco do ano, com tendência de
queda ao longo dos cenários: 36, 18, 27 e 21% nos Cenários Base, 2020, 2050 e 2080, respectivamente.
As variações acima permitem distinguir comportamentos entre os meses chuvosos (outubro a abril –
a necessidade de ventilação decresce ao longo dos cenários), meses secos (julho a setembro - a necessidade
de ventilação decresce do Cenário Base para 2020, aumenta de 2020 para 2050 e diminui de 2050 para 2080)

818
e o mês de junho (a necessidade de ventilação decresce do Cenário Base para 2020 e aumenta deste para os
demais).

(A) (B)
100% 100%

80% 80%

Horas (%)
Horas (%)

60% 60%

40% 40%

20% 20%

0% 0%

Fev.

Out.
Abr.

Jul.

Dez.
Mar.
Jan.

Mai.

Set.
Jun.

Ago.

Nov.
Fev.

Abr.

Jul.

Set.
Out.
Mar.

Dez.
Jan.

Mai.
Jun.

Ago.

Nov.

(C) (D)

100% 100%

80% 80%
Horas (%)
Horas (%)

60% 60%

40% 40%

20% 20%

0% 0%
Fev.

Abr.

Jul.

Out.

Dez.
Jan.

Mai.

Set.
Mar.

Jun.

Ago.

Nov.
Fev.

Abr.

Jul.

Out.

Dez.
Jan.

Mar.

Mai.

Set.
Jun.

Ago.

Nov.

Figura 3 – Panorama evolutivo das horas requeridas de estratégia de projeto: (A) Cenário Base; (B) Cenário 2020; (C) Cenário 2050
e (D) Cenário 2080 (Autores, 2019)

A estratégia de resfriamento evaporativo é mais significativa no Cenário Base, nos meses de junho
(26%), julho (24%), agosto (35%), setembro (28%) e outubro (30%), sendo que nos demais meses, é
requerida abaixo de 15% das horas. Esses valores variam para 35, 29, 42, 29 e 19% em 2020; 43, 33, 50, 27 e
10% em 2050 e 63, 35, 52, 25 e 8% em 2080. Já o mês de maio passa de 15% no Cenário Base para 18, 20 e
22% em 2020, 2050 e 2080, respectivamente. Dezembro decresce de 14% para 9, 5, e 4%, assim como
novembro (10, 9, 6 e 5%), no Cenário Base, 2020, 2050 e 2080, respectivamente. Janeiro, fevereiro e março
decrescem ao longo dos cenários de aquecimento global, com porcentagens de horas requeridas sempre
abaixo de 5%. Em abril, passa-se de 6% no Cenário Base para 6, 6 e 7%, em 2020, 2050 e 2080,
respectivamente.
As variações acima permitem distinguir comportamentos distintos: de abril a outubro – a necessidade
de resfriamento evaporativo cresce ao longo dos cenários, de novembro a março - a necessidade de

819
resfriamento evaporativo decresce ao longo dos cenários. A estratégia de massa térmica para resfriamento é
mais requerida nos meses de junho, julho, agosto e setembro no Cenário Base (25, 25, 24 e 25%), 2020 (32,
26, 26 e 25%), 2050 (34, 24, 32 e 24%) e 2080 (43, 20, 35 e 20%), respectivamente. A tendência é crescente
em todos os cenários nos meses de junho e agosto. Já em julho e setembro, a tendência é crescente do
Cenário Base para 2020, decrescente deste para 2050 e crescente de 2050 para 2080. Janeiro, fevereiro e
março apresentam tendência de decrescer ao longo dos cenários (5, 6 e 5%, no Cenário Base, 1, 2 e 3% em
2020, 1, 1 e 0, em 2050 e 1, 1, 0 em 2080, respectivamente), assim como outubro (31, 22, 14 e 7%),
novembro (12, 11, 8 e 5%) e dezembro (16, 12, 5 e 4%). Os meses de maio e abril (transição para a estação
seca) pouco variam nos cenários: 17, 16, 16 e 16% e 8, 8,7 e 9%, nos Cenários Base, 2020, 2050 e 2080,
respectivamente. No Cenário Base, a estratégia de massa térmica para resfriamento é mais expressiva no mês
de outubro e nos demais cenários, passa a ser no mês de junho.
No cenário de 2020 (2011-2041), a estratégia de condicionamento artificial apresentou aumento
média anual de 102% em relação ao Cenário Base, passando para 2.978 horas (34%). Destaca-se que o
aumento é maior nos meses de outubro e novembro, que apresentaram aumento da temperatura do ar média
mensal de 6,0°C e redução da umidade relativa do ar média mensal de 6,0%, em ambos os meses. As horas
requeridas da estratégia de resfriamento evaporativo aumentaram do Cenário Base para o cenário 2020,
passando de 35% para 42% das horas. Em função do aumento da temperatura, o número de horas requeridas
para a estratégia de massa térmica com aquecimento solar diminuiu: em julho do Cenário Base eram
requeridas 19% das horas e no cenário 2020, 13% das horas.
O cenário 2050 apresentou aumento médio anual de 250% das horas requeridas de condicionamento
artificial, se comparadas ao Cenário Base e de 73% se comparadas ao cenário 2020. Os meses de outubro,
novembro e dezembro requeriam 16%, 12% e 11% das horas no Cenário Base, passando para 50%, 43% e
49% em 2050, resultando em aumento de 203%, 260% e 366%, respectivamente. Nesses meses, as
temperaturas médias mensais são superiores a 30,0°C e as umidades médias mensais são inferiores a 68%,
podendo justificar, desta forma, o aumento significativo das horas requeridas por essa estratégia.
A estratégia de condicionamento artificial apresentou aumento no cenário de 2080, sendo mais
representativo nos meses de outubro, novembro e dezembro, que apresentavam no Cenário Base 16,4%,
11,9% e 11% das horas requeridas, passando para 73,7%, 71,4% e 72,5% das horas requeridas,
respectivamente, no cenário de 2080. Essa variação pode ser justificada pelo aumento da temperatura da
média anual de 26,73°C no Cenário Base para 32,48°C no cenário de 2080, ou seja +22,0%. As condições de
temperatura e umidade são tais que exigem o uso do ar condicionando para proporcionar condições de
conforto térmico. Lamberts, Dutra e Pereira (2014) destacam que, quando a Temperatura de Bulbo Seco
(TBS) for maior que 44,0°C e a Temperatura de Bulbo Úmido (TBU) for superior a 24,0°C, recomenda-se a
utilização de condicionamento artificial para manter as condições de conforto térmico nos interiores das
edificações, corroborando com os resultados obtidos no cenário de 2080.
Os resultados apresentados corroboram com a pesquisa de Pajek e Kosir (2018) que verificaram
aumento das horas requeridas da estratégia de sombreamento em +12,79% para a cidade de Murska Sobota,
na Turquia, passando para 19,4% no cenário de 2020. Nas demais cidades estudadas pelos autores, o
aumento foi gradual nos cenários, destacando que a necessidade do uso da estratégia de sombreamento não é
mais limitada somente aos meses de verão, mas sim ao longo do ano. Também corroboram com Yildiz
(2015), que ao investigar os efeitos das mudanças climáticas nas estratégias passivas de projeto e a influência
nas condições de conforto térmico em três cidades da Turquia, verificaram que as estratégias de resfriamento
evaporativo e ventilação natural aumentaram em média de 3,5% até o cenário de 2080 e que, apesar de serem
fortes potenciais bioclimáticos para as edificações, é necessária a utilização de arrefecimento/resfriamento
ativo para melhorar a sensação de conforto térmico no final do século XXI. Esses resultados corroboram com
os apresentados neste trabalho, em que as horas requeridas da estratégia de sombreamento aumentam
gradualmente nos cenários, sendo necessário em 2080, em praticamente durante todo ano.
Diante deste contexto, verifica-se baixo potencial bioclimático na cidade de Cuiabá nos cenários
futuros de aquecimento global, o que compromete a adoção de estratégias passivas de projeto e,
consequentemente, aumenta-se o uso de estratégias ativas, como o condicionamento artificial, para melhorar
as condições de sensação térmica no interior das habitações. Assim, destaca-se que a investigação do
potencial bioclimático, frente às projeções climáticas futuras, torna-se uma importante ferramenta, como um
instrumento de resiliência das edificações frente aos efeitos do aquecimento global.

820
4.3. Horas de Conforto e Desconforto por Calor e Frio no Cenário Base (1961-1990) e nos
Cenários Futuros de 2020, 2050 e 2080
No Cenário Base, as médias anuais das horas de desconforto por calor e frio são de 68,2% (5.974 horas) e
5,7%, respectivamente, aumentando para 80,8% (7.078 horas) e reduzindo para 0,7% (61 horas) no cenário
de 2080, resultando em aumento de +18% e redução de -87% se comparadas ao Cenário Base.
O aumento das porcentagens anuais de horas de desconforto por calor foi progressivamente se
elevando, sendo que nos cenários de 2020 e 2050, obtiveram-se os valores de 76,0% (6.654 horas) e 80,50%
(7.051 horas), respectivamente. A redução das horas de desconforto por frio também foi progressivamente
reduzindo, sendo de 3,22% (282 horas) e 2,23% (195 horas), nos cenários 2020 e 2050, respectivamente. As
porcentagens anuais de horas de conforto foram de 23,7% (2.076 horas) no Cenário Base, reduzindo para
20,70% (1.813 horas) em 2020, para 16,70% (1,463 horas) para 2020 e para 12,50% (1.095 horas) em 2080
(Figura 4).

100% 100%
90% 90%

Horas de Desconforto (%)


80% 80%
Horas de Conforto (%)

70% 70%
60% 60%
50% 50%
40% 40%
30% 30%
20% 20%
10% 10%
0% 0%
Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Tempo (meses)
1961-1990 (conforto) 2020 (conforto) 2050 (conforto)
2080 (conforto) 1961-1990 (desconforto) 2020 (desconforto)
2050 (desconforto) 2080 (desconforto)

Figura 4 – Horas de conforto (gráfico de cor sólida) e desconforto por calor e frio (gráfico em linha) (Os Autores)

As horas de desconforto por calor e frio apresentaram nos meses de janeiro, fevereiro e março valores
superiores a 95% das horas no cenário atual, passando para 97%, 98% e 99% nos cenários de 2020, 2050 e
2080, respectivamente. Esses valores podem ser justificados pelo aumento expressivo da temperatura do ar e
pela redução da umidade relativa do ar, previstas para os cenários climáticos futuros, influenciando
significativamente no aumento das horas de desconforto, principalmente por calor e, consequentemente, na
redução das horas de desconforto por frio e das horas de conforto dos cenários.
Os meses de junho e agosto são caracterizados como meses de temperaturas mais amenas e
apresentaram maiores horas de conforto no Cenário Base: 47% (4.117 horas) e 49% (4.292 horas),
respectivamente nestes meses. Entretanto, com as novas condições climáticas futuras, as horas de conforto
nesses meses reduziram para 27% (2.365 horas) e 25% (2.190 horas), respectivamente, no cenário de 2080.
Desta forma, verificou-se que o aumento da temperatura do ar e a redução da umidade relativa do ar
influenciaram diretamente nas estratégias passivas de projeto, bem como nas horas de conforto e desconforto
térmico por calor e frio, até o final do século XXI, demostrando que a utilização de condicionamento
artificial para fins de resfriamento será necessária para obtenção de condições de conforto térmico no interior
das edificações.

5. CONCLUSÕES
Os efeitos das mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global impõem alterações nas variáveis
climatológicas, como o aumento da temperatura do ar e a redução da umidade relativa do ar.
Desta maneira, nas investigações do potencial bioclimático foi possível analisar as estratégias
passivas de projeto e as porcentagens de conforto e desconforto por frio e calor para a cidade de Cuiabá-MT.
As estratégias passivas que foram mais suscetíveis aos efeitos do aquecimento global foram a ventilação, o
condicionamento artificial e o sombreamento. A estratégia de condicionamento artificial apresentou aumento
expressivo do Cenário Base para o de 2080: de 9 para 54% das horas anuais. O aumento dessa estratégia

821
pode ser justificado pelas novas condições de temperatura e umidade que exigem o uso do condicionamento
térmico artificial para proporcionar condições de conforto térmico no interior das edificações.
Consequentemente, tem-se a redução da estratégia de ventilação de 56% das horas anuais no Cenário Base
para 21%, em 2080.
Nas cartas bioclimáticas, a porcentagem anual de horas de desconforto por calor sofreu aumento e a
de desconforto por frio redução até o cenário de 2080. Nesse cenário, tem-se condições de conforto em
apenas 1.095 horas do ano (12,50%).
Conclui-se que, as altas temperaturas da cidade nos dias atuais, já caracterizam um baixo potencial
bioclimático do local de estudo. Incorporando os efeitos do aquecimento global, as condições atuais ficam
ainda mais comprometidas, exigindo, cada vez mais, a aplicação de estratégias ativas de projeto e,
consequentemente, aumentando a demanda energética. Aponta-se, então, para a necessidade de
direcionamento dos esforços para desenvolvimento de estudos de estratégias bioclimáticas inovadoras, tais
como resfriamento evaporativo indireto, ventilação seletiva, resfriamento radiativo noturno, tubos
enterrados, dentre outras, que representam um desafio para os projetos arquitetônicos das próximas décadas
na mitigação dos efeitos do fenômeno de aquecimento global nas condições ambientais internas das
edificações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, C. A. Resiliência das Edificações às mudanças climáticas na região metropolitana de São Paulo – Estudo de caso:
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AGRADECIMENTOS
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pela concessão de bolsa. À
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Ao
Laboratório de Tecnologia e Conforto Ambiental (LATECA), ao Programa de Pós Graduação em
Engenharia de Edificações e Ambiental (PPGEEA).

823
PRAÇA BRASIL: ANÁLISE BIOCLIMÁTICA DO ESPAÇO PÚBLICO
Amanda Ferreira (1); Carolina de Jesus Santos (2); Gian Lucas Batista (3); Raphaele Samua
(4); Stephanie Ventura Sinelson (5); Marcela M. M. Monteiro (6)
(1) Arquiteta e Urbanista, estudante de Especialização em Conforto Ambiental e Sustentabilidade no Espaço
Construído, UFPA; Pós-graduanda em Master em Arquitetura e Lighting, IPOG,
amandinhanferreira@gmail.com
(2) Arquiteta e Urbanista, estudante de Especialização em Conforto Ambiental e Sustentabilidade no Espaço
Construído, UFPA; Pós-graduanda em Master em Arquitetura e Lighting, IPOG,
carolinasantts@hotmail.com
(3) Arquiteto e Urbanista, estudante de Especialização em Conforto Ambiental e Sustentabilidade no Espaço
Construído(CASEC) pela UFPA -Universidade Federal do Pará, gianlucas1895@gmail.com
(4) Arquiteta e Urbanista, estudante de Especialização em Conforto Ambiental e Sustentabilidade no Espaço
Construído, UFPA; Pós-graduanda em Master em Arquitetura e Lighting, IPOG;
raphaele.samua@hotmail.com
(5) Arquiteta e Urbanista, estudante de Especialização em Conforto Ambiental e Sustentabilidade no Espaço
Construído (CASEC) pela UFPA -Universidade Federal do Pará, stephventura.s@gmail.com
(6) Arquiteta e Urbanista, Profª Adjunto MsC. do Centro de Ciências e Tecnologia – CCET, Curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade da Amazônia – UNAMA, mmmaciel@gmail.com

RESUMO
O presente artigo tem como objeto as preocupações com as condições de conforto térmico da Praça Brasil,
importante espaço público na cidade de Belém, a qual é caracterizada pelo clima quente-úmido da região. A
escolha da praça se deu em função do grande fluxo de pessoas que circulam diariamente pelo local, por se
tratar de um espaço de passagem e do cotidiano da população, com áreas de permanência e lazer.
Considerando que a qualidade de vida neste local é fruto do tipo de objeto urbano construído para a vivência
humana em um meio ambiente com clima e características morfológicas específicas, objetivo geral desta
pesquisa foi diagnosticar a maneira como as transformações geradas pela urbanização influenciam o
microclima da praça, analisando a partir de seu entorno, base e superfície fronteiras para identificar os pontos
mais críticos da área estudada. Analisou-se o espaço urbano juntando todos os elementos que o constituem.
Para tanto, construiu-se uma fundamentação teórica sobre o clima urbano, seus conceitos, elementos
formadores e condicionantes. Em seguida, foram identificados os condicionantes do conforto térmico e seus
modelos de predição de sensação de conforto térmico em espaços externos. Realizou-se ainda a análise da
ficha bioclimática no diagnóstico do conforto térmico do espaço público, a qual pretende identificar locais
que necessitam de mudanças quanto ao conforto ambiental. Dessa forma, o estudo busca contribuir com
recomendações e diretrizes baseadas em conceitos bioclimáticos como parte de uma solução ambiental para
o espaço urbano.
Palavras-chave: Conforto Ambiental, Sustentabilidade, Bioclimatologia, Praça Brasil.

ABSTRACT
This paper is concerned with the thermal comfort conditions of Brasil Square, an important public space in
the city of Belém, which is characterized by the warm-humid climate of the region. The choice of the square
was due to the great flow of people that circulate daily through the place, because it is a space of passage and
the daily life of the population, with areas of permanence and leisure. Considering that the quality of life in
this place is the result of the type of urban object built for the human experience in an environment with
specific climate and morphological characteristics, the general objective of this research was to diagnose
how the transformations generated by urbanization influence the microclimate of the square, analyzing from
its surroundings, base and surface boundaries to identify the most critical points of the studied area. The
urban space was analyzed joining all the elements that constitute it. For that, a theoretical reasoning was built

824
on the urban climate, its concepts, forming elements and conditioning factors. After that, the conditions of
the thermal comfort and its models of prediction of sensation of thermal comfort in external spaces were
identified. The bioclimatic record was also analyzed in the diagnosis of the thermal comfort of the public
space, which aims to identify sites that need changes in environmental comfort. Thus, this research aims to
contribute to recommendations and guidelines based on bioclimatic concepts as part of an environmental
solution for urban space.
Keywords: Environmental Comfort, Sustainability, Bioclimatology, Brasil Square.

1 INTRODUÇÃO
1.1 História da Bioclimatologia – Surgimento da Ficha Bioclimática
A adaptação do abrigo do homem com relação ao clima é um princípio utilizado desde a pré-história. O ser
humano sempre buscou soluções para tornar a sua casa com condições básicas de habitabilidade, tentando
harmonizar a construção com o clima local, de forma a obter conforto para realizar as suas atividades. Essa
estratégia, a princípio, era reflexo da sua condição de sobrevivência diante as adversidades climáticas do
local. Tendo como exemplo, a arquitetura vernacular, que demonstra a harmonia da construção com o meio
não só natural, mas social e cultural. (TORRES, 2013)
Durante a Segunda Guerra Mundial, com as crescentes tecnologias, essa combinação de edificação e
meio natural foi se perdendo, surgindo a banalização da arquitetura, que se tornou apenas reprodução de
caixas de vidro, sem pensar no entorno e nem no reflexo do entorno nas edificações, buscando o conforto
através de sistemas ativos, como ar condicionados e iluminação artificial. Porém, essas condições acabaram
gerando o uso exacerbado de energia, que se espalhou por diversos países. Foi neste momento que se
começou a pensar em projetos bioclimáticos e seu impacto no conforto ambiental e eficiência energética.
(GONÇALVES, DUARTE, 2006 apud TORRES, 2013)
Na década de 80, o conceito de sustentabilidade começou a ingressar na linguagem arquitetônica
internacional trazendo consigo o conceito de arquitetura bioclimática. (TORRES, 2013)
O conceito de arquitetura bioclimática só começou a ser desassociado da sustentabilidade, tendo seu
estudo independente, na década de 60 no século XX, com as pesquisas de Aladar e Olgyay. Consistindo na
harmonia entre edificação, ambiente e energia com o objetivo de proporcionar um conforto ambiental para
seus usuários. A partir desses estudos foram criadas diretrizes e normas adaptadas a cada tipo de clima.
(OLGYAY, 1963 apud TORRES, 2013)
É importante destacar que a bioclimatologia não deve estar presente apenas nas edificações, é
necessário a ampliação desse conceito para o meio urbano. Pois as estratégias empregadas nas edificações
podem ser alteradas ou até anuladas dependendo da estrutura urbana, criando fenômenos como cânions
urbanos, ilhas de calor, mudança na direção natural do vento, entre outros efeitos indesejáveis (BAGNATI,
2018).
A ficha bioclimática foi proposta por Romero (2001) com intuito de analisar o espaço urbano considerando
todos os elementos que constituem o ambiente, através das características do entorno, base e fronteira, sendo
analisadas por inter-relações sensoriais particulares.

1.2 História, importância e descrição da rotina


Durante o período da Belle Époque, no final do século XIX e começo do século XX, Belém passou por um
grande processo de urbanização e desenvolvimento. Com a melhor fase econômica vivida pela cidade, a
riqueza da borracha promoveu uma série de melhorias urbanas, onde junto à arquitetura, os locais
tradicionais (largos, praças, avenidas e ruas antes abandonadas e insalubres) recebiam tratamento refinado
espelhado na estética francesa do Velho Mundo e tendo Antônio Lemos como grande transformador
urbanista da cidade. (ANDRADE, 2003)
Nesse contexto, surge o Largo do Esquadrão, onde é hoje o Hospital do Exército. Ali ficava o
Esquadrão de Cavalaria da Polícia Militar do Estado, o qual ligava o Largo do Esquadrão ao bairro do
Reduto, e que se estenderia até a base de Val-de-Cãns. Tendo seu nome alterado em 1º de maio de 1935, na
época do governo do Interventor Federal Major Magalhães Barata, que ganhou o nome de “Praça Brasil”
pela Prefeitura de Belém em homenagem à Pátria e a estátua do índio. Porém, em fins da década de 1960,
ante o poder do golpe militar, a Aeronáutica conseguiu a concordância da Prefeitura em mudar mais uma vez
o nome para “Praça Santos Dumont”, patrono da Força Aérea Brasileira. (ABREU, 2003)
A Praça Brasil, como é conhecida pela população belenense, se caracteriza pelo seu traçado original
com alamedas e círculo na forma da bandeira brasileira. Sendo um importante referencial na confluência dos
populosos bairros Umarizal e Telégrafo. Revitalizada há poucos anos, proporciona lazer a seus

825
frequentadores, principalmente para as crianças que usam suas opções de lazer. Além disso, ela funciona
como um local de interações e trocas de ideias, gerando bem-estar psicológico, embelezando o espaço,
proporcionando sombra e proteção, e conservando o verde na cidade. (SOARES, 2011)
Em seu entorno ficam o Hospital Geral Militar de Belém e as instalações dos prédios da Justiça do
Trabalho, o que provoca grande circulação de pessoas em seu entorno. No centro da praça, há sobre um
pedestal de granito, de aproximadamente quatro metros de altura, uma estátua em bronze chamada de
“Monumento ao Índio”, a qual representa o índio guarani e simboliza a formação étnica da nacionalidade
brasileira. (SOARES, 2011)
A estátua em bronze representando um índio guarani foi encomendada em 1905, na Alemanha, por
Francisco Monteiro, um dos herdeiros de uma das maiores lojas de ferragens da época: “Loja Guarani” que,
mais tarde, a doou à prefeitura de Belém para ser instalada na praça em 1933. (AMARAL, 1978)

1.3 Conceitos Importantes


A Arquitetura Bioclimática objetiva determinar o conforto do ser humano, estabelecendo uma relação
harmoniosa entre o clima externo e as influências do mesmo no interior do edifício, proporcionando o
conforto higrotérmico, visual, acústico, emocional e cultural (FERNANDES, 2009).
Olgyay (1963) entende que a Bioclimatologia engloba o entendimento dos condicionantes locais
durante a criação do espaço construído de forma a se manter equilibrado. Para o autor esse processo de
equilíbrio se dá em quatro etapas subsequentes e que se inter-relacionam. São elas:
• Estudo dos dados climáticos do local;
• Avaliação biológica baseada nas relações humanas em qualquer época do ano;
• Busca de soluções de conforto térmico em qualquer época do ano;
• Expressão da arquitetura, nos aspectos morfológicos e linguagem.
Os conceitos básicos a serem entendidos dentro da bioclimatologia são os que estão diretamente
ligados com os dados climáticos e morfológicos do próprio local, os que influenciam diretamente no
desempenho higrotérmico da edificação. Pode-se dividir em duas grandezas, sendo elas: grandezas
climáticas, relacionadas à temperatura do ar, ventos, radiação solar, umidade; e grandezas de implantação,
referentes à latitude, longitude e orientação solar. (FERNANDES, 2009)

2 OBJETIVO
O objetivo deste artigo é analisar, através da ficha bioclimática, metodologia proposta por Romero (2001),
um ponto localizado na Praça Brasil (Belém-PA) juntamente com os elementos formais do espaço urbano. A
partir dos resultados da análise geral, propor diretrizes com destaque para espaços de uso público.

3 MÉTODO
O método adotado para o estudo bioclimático na praça Brasil se divide em quatro etapas aqui detalhadas:
1ª Etapa: Em um primeiro momento, foi executada a revisão bibliográfica a respeito da história e
conceito da bioclimatologia com base nos conceitos de Fernandes (2009) e Olgyay (1963). Assim como a
história, importância e descrição de rotina da praça Brasil em Belém-Pará, estudado por Abreu (2003).
2ª Etapa: Em seguida, por meio da interpretação dos mapas existente do bairro, escolheu-se um
ponto de observação para aplicação dos estudos. (Figura 1)
3ª Etapa: A partir do ponto escolhido, realizou-se o levantamento in loco das variáveis
microclimáticas com respostas subjetivas, as quais descrevem as características morfológicas da área de
estudo. O que permitiu a elaboração da ficha bioclimática (disponibilizada abaixo) de Romero (2007) sobre o
entorno, a base e a fronteira, nos horários de 9h até 12h.

826
APRESENTAÇÃO DA FICHA BIOCLIMÁTICA NA PRAÇA BRASIL
ESPACIAIS AMBIENTAIS

SOL SENSAÇÃO DE COR

COR
O Sol nasce com barreira arquitetônicas, por Verde e cinza
trás dos Edifícios da Rua Cônego Jerônimo
Pimentel
VENTO RESSONÂNCIA DO RECINTO

SOM
São predominantes do Leste e Nordeste, Alta nas extremidades, sombra acústica inexistente
ACESSOS

canalizados através da Trav. Dom Pedro.

SOM DIRETA
Altos ruídos causados pelo tráfego de Intensa nas áreas expostas ao sol

RADIAÇÃO
O ENTORNO

automóveis e motocicletas, por ser uma área DIFUSA


bastante movimentada. Intensa nas esquinas da praça, em função do
maior sombreamento produzido pela
arborização de grande porte
REFLETIDA
Baixa
CONTINUIDADE DA MASSA UMIDADE RELATIVA
Apresenta descontinuidade da massa na Trav. Dom Alta -gerada pelo clima da cidade e sombreamento
Pedro e na Av. Senador Lemos as árvores.

CLIMA
TEMPERATURA DO AR
CONDUÇÃO DOS VENTOS Elevada na maior parte do período avaliado
Não existem barreiras que impeçam a entrada dos
ventos. Circulam pelas vias e entre as edificações. VELOCIDADE DO VENTO
Baixa
ÁREA DA BASE TEMPERATURAS SUPERFICIAIS
9036,21m² Elevadas nas pavimentações impermeáveis
(calçamento em concreto). Reduzida nas áreas
sombreadas.
ALBEDO
Percebe-se o valor de albedo variando de médio à
baixo, nas áreas com presença de pavimentação
em concreto e forração de grama.
PAVIMENTOS AMBIENTE SONORO

SOM
Ruídos proveniente de fluxo de veículos particulares
COMPONENTE E PROPRIEDADES

Cimentado, forração de grama, pedra e coletivos.


A BASE

FÍSICAS DOS MATERIAIS

portuguesa na área central da praça.


VARIAÇÃO SAZONAL
Inexistente
VEGETAÇÃO
CONJUNTO DE CORES

COR
Árvore de grande porte e médio porte.
Verde da vegetação e a cor cinza do calçamento de
pedestres.
ÁGUA
TONALIDADES
Inexistente
Pouca variação de tonalidades
MANCHAS DE LUZ
MOBILIÁRIO URBANO Efeito percebido nas áreas sombreadas pela
Bancos, aparelhos de ginástica e arborização.
lixeiras ESTÉTICA DA LUZ
Percebe-se uso intencional da luz para dar
destaque no monumento e nos caminhos da praça.
CONVEXIDADE LUMINÃNCIA

LUZ
Inexistente Alta no período diurno a e no período noturno é
considerada baixa decorrente dos postes com
CONTINUIDADE DA SUPERFÍCIE iluminação artificial.
Percebe-se alinhamento das fachadas em todas as INCIDÊNCIA DA LUZ
orientações. Proveniente dos postes de iluminação pública.
DIREÇÃO DO FLUXO
TIPOLOGIA ARQUITETÔNICA Direta sobre o calçamento, contudo é fraca para
Presença de edificações com características da proporcionar uma iluminação eficiente.
arquitetura moderna e, com preservação de ABSORÇÃO
algumas residências com fachadas em estilo
CLIMA

Baixa e Média absorção através dos materiais das


eclético. edificações
REFLEXÃO
A FRONTEIRA

ABERTURAS Baixa reflexão de materiais de baixo valor de albedo


Inexistente MATIZES
Tons neutros
COR

TENSÃO CLARIDADE
Baixa tensão, em função do alinhamento Média
/afastamentos.
PERSONALIDADE ACÚSTICA
SOM

DETALHES ARQUITETÔNICOS Som de ruídos, proveniente do fluxo de veículos no


Obelisco, esculturas e postes local.

NÚMERO DE LADOS QUALIDADE SUPERFICIAL DOS MATERIAIS


4 lados Média absorção, pelos materiais absorvedores de som.
Alta inércia térmica dos materiais duros, onde absorvem
ALTURA calor com mais intensidade. Contudo, pelo processo da
As edificações ao entorno da praça possuem de 2 a Evapotranspiração dos vegetais, perdem água com mais
12 pavimentos. rapidamente, o que também influencia na liberação de
água.
ÁREA TOTAL DA SUPERFÍCIE
------------------------------

4ª Etapa: Ao final com os resultados obtidos, definiu-se propostas bioclimáticas com destaque para
espaços de uso público.

827
Figura 1 – Ponto do Observador. Fonte: Google Maps, adaptado pelo Autor, 2018.

4 RESULTADOS
4.1 Base
A análise ambiental da base da praça, que possui 9.036,21 m², para a elaboração da ficha bioclimática, foi
feita a partir da observação e registro dos elementos climáticos, sonoros, luminosos e de cor. Os
componentes de propriedade física dos materiais encontrados na base da praça relacionados à pavimentação
são: o material cimentício nas vias de passagem, as pedras portuguesas nas áreas centrais da praça, e as áreas
verdes que apresentam forração de grama. A vegetação encontrada varia de árvores de médio à grande porte,
encontradas nos espaços verdes do terreno. A presença do elemento água é inexistente e o mobiliário
encontrado no local é composto pelos bancos, lixeiras e postes, distribuídos em toda a praça, academia ao ar
livre, banca de revista e o Monumento ao Índio, encontrado no centro do local. (Figura 2)

(a) (b)

Figura 2 – Imagens da praça: a) Monumento ao Índio; b) Academia pública ao ar livre.


Fonte: Autor, 2018

Os elementos relacionados ao clima da base se dão graças à absorção de calor do piso cimentício,
elevando a temperatura predominante nas superfícies dos elementos presentes nas áreas sem sombreamento.
Já o albedo pode ser considerado baixo, em virtude das cores em tons escuros presentes nos materiais de
pavimentação, encontradas em predominância no centro da praça, contudo não em quantidade suficiente para

828
alterar a sensação de calor/desconforto térmico. O ambiente sonoro é ruidoso por conta do trânsito das vias
do seu entorno. Além dos ruídos provenientes das atividades executadas na praça, como exemplo, circulação
de pessoas, sons de pássaros, e ainda outras atividades realizadas em caráter eventual, como brinquedos
infantis em dias de domingo, assim como reuniões de pessoas para fins religiosos.
Os elementos relacionados à cor, se caracterizam pelo conjunto de tons predominantemente cinza, da
pavimentação cimentícia e o verde das áreas vegetadas permeáveis, em maior quantidade. Por conta disso a
variação sazonal é baixa. Nos elementos luminosos, há manchas de luz nas áreas onde tem mais vegetação,
por conta das copas das árvores mais densas que geram manchas através da passagem de luz que suas
aberturas permitem. A estética da luz é presente apenas nos postes, que acompanham os caminhos de
passagem e os locais em que se encontram os bancos.

4.2 Entorno
Ao realizar o preenchimento da ficha bioclimática, foi escolhido um ponto inicial para análise e o primeiro
tópico a ser analisado foi o entorno do objeto em estudo. O entorno abrange os espaços adjacentes à praça e
identifica os acessos espaciais que o público apresenta aos elementos ambientais.
Nos quesitos de acessos espaciais, o sol nasce à leste com prédios de porte médio e altos e se põe no
Oeste por trás de edifícios altos. Quanto a exposição solar na praça, foi analisado que a radiação solar atinge
com mais intensidade as áreas centrais e sem muita arborização. O que é menos perceptível no contorno da
praça pela presença de arborização. Os ventos predominantes vindos do Nordeste (Figura 3 e 4), são
canalizados pelas vias adjacentes e arborização presente na praça, apresentando boa porosidade. Os ruídos
presentes são provenientes das vias que apresentam alto fluxo de veículos em praticamente todas as horas do
dia, principalmente na Avenida Senador Lemos e Travessa D. Pedro, por possuírem mais vias de rolamento.

Figura 3 – Rosa dos ventos: predominância de ventilação na cidade de Belém. Fonte: Autodesk Formit, 2017

Figura 4 – Orientação solar e ventos na área. Fonte: Sun Surveyor, 2018

Quanto a continuidade da massa edificada presente é descontínua na Tv. D. Pedro e Av. Senador

829
Lemos por apresentar edificações com gabaritos diferentes e, contínua na Rua Praça Brasil e Cônego
Jerônimo Pimentel, onde as edificações apresentam quase as mesmas alturas, e representam a rugosidade da
forma urbana estando localizadas na área de maior incidência dos ventos, não impedindo a entrada dos
ventos na praça.
Nos quesitos ambientais da sensação de cor percebível pelo usuário é a predominância de cores
neutras na fronteira e entorno, cinza e verde pela pavimentação e arborização urbana, respectivamente. A
praça apresenta ressonância alta em suas extremidades, devido as vias de alto fluxo de veículos, e não
apresenta sombra acústica por ser um espaço aberto.
Quanto ao clima, apresenta radiação direta abundante na área central que é menos arborizada, difusa
no perímetro da praça proveniente da arborização presente e refletividade escassa, com mais incidência na
parte oeste, onde a vegetação presente é de porte menor. Nas áreas centrais nota-se uma baixa umidade
relativa do ar e nas áreas mais arborizadas a umidade relativa do ar se eleva, pela presença da vegetação, que
contribui com a redução das temperaturas superficiais, melhorando a sensação de conforto no espaço e
regulando a temperatura do ar como um todo, com mínimas de 26ºc e máximas 30ºc e velocidade dos ventos
baixa, intercaladas com rajadas de ventos no decorrer do dia. (Figura 5)

Figura 5– Identificação de massa construída, radiação e arborização presentes na Praça Brasil. Fonte: Arquivo pessoal, 2018

4.3 Fronteira
O terceiro e último componente da Ficha Bioclimática analisado, foi a superfície Fronteira, que compreende
qualidades da superfície da pele, tais como: a convexidade, a continuidade da superfície fronteira, a tipologia
edificadora do construído, a tensão ou grau de progressão e regressão dessa superfície, isto é, suas entradas e
saídas em relação ao alinhamento em geral.
De acordo com o que foi observado in loco, percebeu-se a inexistência de convexidade no local da
fronteira. A praça possui uma sensação de Continuidade da Superfície, pela existência de alinhamento de
todas as fachadas existentes na fronteira dos quatro lados da Praça, assim como não foram observados
grandes afastamentos ou recuos.
Na Praça Brasil, a tipologia edificadora do espaço construído em sua fronteira, possui características
arquitetônicas no estilo moderno e contemporâneo com edificações de alto gabarito e outras no estilo eclético
preservadas. A pele da superfície não possui aberturas em sua fronteira.
Ao analisar a Tensão, percebe-se uma baixa tensão de recuos e afastamentos, assim como pouca
progressão e regressão de fachadas na localidade.
Os detalhes arquitetônicos que compõem a fronteira da praça são poucos, os que foram analisados
foram os postes de iluminação em ferro.
A fronteira da praça Brasil é constituída de quatro lados, com a altura de suas edificações variando
entre casas térreas à dois andares e edificações verticais com até 12 pavimentos. O que configura uma
situação de baixa rugosidade em sua superfície de fronteira. (Figura 6)

830
Figura 6 –Fronteiras presentes na Praça Brasil. Fonte: Arquivo pessoal, 2018

a) Luz
1. Iluminância: A iluminância considerada no momento da análise foi alta, havendo penetração da luz
natural na área central e no período da noite é baixa com postes de iluminação artificial, postes,
estes, que são insuficientes na sua totalidade e, que as vezes são encobertos por árvores.
2. Incidência Da Luz: A Incidência da Luz é Fraca, com poucos postes, difusa sobre o calçamento. A
direção do fluxo é fraca na superfície.
b) Clima
Absorção E Reflexão: A Absorção dos Materiais foi considerada média, onde os mesmos têm
grande capacidade de absorver a radiação solar, especialmente pelos materiais de pavimentação da
base, e os materiais que compõem as edificações do entorno, apresentando alta inércia térmica, duros
e que absorvem a radiação solar e calor. Em alguns locais pode-se observar o sombreamento que as
árvores promovem, contribuindo para reduzir a absorção de calor pelos materiais empregados. As
vegetações presentes no local, absorvem este calor, mas, também, perdem rapidamente pelo processo
da evapotranspiração. Foi observado que os materiais possuem baixa reflexão, pois em sua grande
maioria, seus materiais são opacos.
c) Cor
As Tonalidades neutras dominam, em seus matizes de cor, onde se destacam as cores claras e
acinzentadas e sua claridade é média. Contudo, no espaço analisado, percebeu-se uma isocromia,
uma vez que eles possuem elevada claridade e unidade.
d) Som
O som na Praça Brasil é proveniente do fluxo de veículos nas vias. Nas vias que circundam a praça,
3 (três) se destacam com a maior circulação de veículos como: a Av. Senador Lemos, a Tv. Dom
Pedro I e Rua Cônego Jerônimo Pimentel, o som é característico principalmente de veículos privados
e de transportes públicos com ruídos de tráfego. No momento da análise, foi percebido, também, que
o grau de animação sonora que o espaço adquire está relacionado diretamente com a multiplicidade
de usos que a praça comporta, como caixas de som para encontros da comunidade, assim como
outras reuniões de pessoas com pequenas e pontuais aglomerações em cantos da praça.
e) Qualidade Superficial Dos Materiais
Em geral, os materiais analisados tanto na fronteira quanto os inseridos na base, são de média
absorção, são materiais duros, como a pedra portuguesa presente na base da praça, e na superfície da
fronteira também as edificações possuem materiais duros e absorvedores. Apesar de os materiais
serem bons armazenadores de calor e com maior capacidade calorífica, os materiais na superfície e
em grande parte da base, possuem sombreamento das árvores, contribuindo assim para um melhor
conforto térmico nessas áreas.

4.4 Diretrizes urbanas


A correta abordagem da concepção de espaços públicos deve propiciar condições adequadas de conforto
físico e ambiental aos seus usuários. Para isso foi elaborado para cada área neste trabalho estratégias para
solucionar os problemas encontrados na praça, e melhorar principalmente as características de conforto

831
térmico. São elas:
• Criar áreas verdes na praça para reduzir o ruído acústico provocado pelo entorno,
melhorando o conforto acústico dentro do espaço da praça;
• Propor novos materiais para o calçamento das vias de passeio, adotando pisos de
característica drenante, que vão absorver menos calor, melhorando a sensação térmica local;
• Aumentar o sombreamento na parte sul da praça, por meio de vegetação de médio porte,
porém de modo que não prejudique a canalização dos ventos;
• Tratar os materiais das fachadas do entorno, de modo a incluir os de características refletoras
mais baixas, ou os que possuem menor absorção do calor;
• Adicionar nas áreas de banco mais expostas ao sol, pergolados para proporcionar o
sombreamento.
• Elaborar o estudo para a implantação de ciclofaixas, para incentivar a diminuição do uso de
veículos automobilísticos de modo a reduzir os ruídos acústicos locais e as emissões de
CO2;
• Tornar os espaços mais acessíveis, e incluir faixas de piso tátil, além de organizar os locais
em que as barracas de vendas ocupam, a fim de liberar mais espaço de circulação nas vias de
circulação das extremidades da praça

5 CONCLUSÕES
A análise bioclimática na Praça Brasil, em Belém-Pará, tem como objetivo a harmonização das construções
com o meio ambiente de forma a otimizar a utilização dos recursos naturais disponíveis, para geração de
conforto.
Os resultados obtidos com essa análise, reforçam a importância da contribuição acadêmica para o
bem estar social. O estudo realizado através da ficha bioclimática de Romero (2007) tornou as percepções do
espaço público, mais evidentes. Sendo assim, as estratégias propostas neste trabalho tem a intenção de
contribuir com o melhoramento desse espaço público e a vivência da população ao utilizá-lo.
É preciso preparar o bairro e a cidade para um futuro com qualidade ambiental, procurando-se
controlar seu crescimento; e é com este tipo de preocupação e cuidado que tem que ser vista uma cidade
como Belém, ainda tão cheia de encantos e possibilidades que se conservarão ou não, dependendo do que
fará cada um dos seus cidadãos. Vale, portanto, enfatizar o importante papel, não só do Poder Público, mas
principalmente da população local no envolvimento com as questões relativas ao meio ambiente urbano e no
cuidado para com este; devendo-se valorizar, por exemplo, ações de cidadania como as que podem ser
desenvolvidas pela Associação de Moradores do Bairro, como um primeiro passo no sentido de uma
conscientização ambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, Danielle dos Santos. As Praças em Belém. Mimeo: Unicamp/Campinas, 2003. (Tese de Mestrado)
AMARAL, Fernando Medina do. “O Guarani”. Jornal O Liberal, 7 de maio de 1978, 2º caderno, p.23.
ANDRADE, Paulo de Tarso. Belém e suas histórias de Veneza Paraense a Belle Époque. Belém: Paulo de Tarso, 2003. 185 p.
BAGNATI, Mariana Moura. Zoneamento bioclimático e arquitetura brasileira: qualidade do ambiente construído. Dissertação
(Mestrado em Arquitetura). Universidade do Rio Grande do Sul. 2013. Disponível em:
<https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/78378/000897077.pdf?sequence=1>. Acesso em: 30 mai. 2018.
TORRES, Simone Carnaúba, et al. Bioclimatologia e Sustentabilidade Urbana: Suas Interfaces Conceituais e as Implicações no
Processo de Planejamento Urbano. XV ENANPUR Encontro da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento
Urbano.Bioclimatologia e sustentabilidade urbana. 2013. Disponível em:
<http://www.anpur.org.br/ojs/index.php/anaisenanpur/article/view/253/245>
FERNANDES, Júlia Teixeira. Código de obras e edificações do DF: inserção de conceitos bioclimáticos, conforto térmico e
eficiência energética. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Universidade de Brasília. 2009.
SOARES, Elizabeth Nelo. Largos, Coretos e Praças de Belém: Roteiro do Patrimônio. IPHAN. Belém, 2011.
ROMERO, Marta B A. A arquitetura bioclimática do espaço público. Brasília, Editora Universidade de Brasília, 226p. (3°
reimpressão). 2007.

832
REFLEXÕES SOBRE A INFLUÊNCIA DA VEGETAÇÃO NO CLIMA
URBANO
Marina Soares Silva (1); Eleonora Sad de Assis (2); Maria Rita Scotti Muzzi (3)
(1) Arquiteta-Urbanista, Mestranda do Programa de Pós Graduação Ambiente Construído16
e Patrimônio Sustentável, arqsilvamarina@gmail.com
(2) DSc., Professora do Dep. Tecnologia do Design, da Arquitetura e do Urbanismo, elsad@ufmg.br
UFMG, Escola de Arquitetura, Rua Paraíba, 697, CEP 30130-141 Belo Horizonte - MG
(3) PhD, Professora do Dep. Botânica, mrita@mono.icb.ufmg.br
UFMG, Instituto de Ciências Biológicas, Caixa Postal 486, CEP 31270-901 Belo Horizonte – MG

RESUMO
Nas últimas décadas, constatou-se um aumento significativo de pesquisas que buscam investigar a influência
da vegetação no clima urbano. Diante da falta de uma síntese bibliográfica sobre o tema, este trabalho tem
como objetivo apresentar uma visão panorâmica da produção científica sobre a vegetação e o clima urbano
nos últimos anos, identificando as principais abordagens, metodologias e variáveis utilizadas, além de
destacar as lacunas no conhecimento produzido. O recorte temporal de referência para a sistematização do
levantamento bibliográfico foi entre os anos de 2006 a 2018, tendo como foco a relação da vegetação e o
clima urbano nas publicações em livros, capítulos de livros, teses, dissertações, artigos em periódicos ou em
anais de eventos nacionais e internacional. Observou-se, portanto que, o conhecimento científico produzido
no Brasil e em diversos países, demonstrou predominância na abordagem do tema a partir da metodologia
descritiva, principalmente, em investigações através de estudos de caso. Além disso, pode-se perceber o
interesse de grupos de pesquisas em diversas áreas do conhecimento que buscam compreender a inter-
relação entre vegetação e clima urbano em diversas escalas. Dado o caráter interdisciplinar desta temática e,
tendo em vista as lacunas do conhecimento identificadas, foi colocada a perspectiva da biologia para o
aprofundamento do tema, buscando discutir o comportamento da vegetação no clima urbano diante das
condições de estresse que podem ser apresentadas no meio.
Palavras-chave: vegetação urbana, clima urbano, condições de estresse.

ABSTRACT
In the last decades, a significant increase of researches that investigate the influence of the vegetation in
urban climate has been verified. Given the lack of a bibliographic summary on the subject, this paper aims to
present a panoramic view of the scientific production on vegetation and urban climate in recent years,
identifying the main approaches, methodologies and variables used, besides highlighting the gaps in the
knowledge produced. The temporal reference cut for the systematization of the bibliographical survey was
between the years 2006 and 2018, focusing mainly on the relationship between vegetation and urban climate
publications in books, chapters of books, theses, essays, papers in national and international conferences and
periodicals. It was observed, therefore, that the scientific knowledge produced in Brazil and in several
countries, showed a predominance approach of the subject using a descriptive methodology, mainly, in
investigations through case studies. In addition, one can perceive the interest of research groups in several
areas of knowledge that seek to understand the interrelation between vegetation and urban climate at
different scales. Given the interdisciplinary nature of this theme, and considering the knowledge gaps
identified, the perspective of biology was shown to deepen the theme, seeking to discuss the behavior of
vegetation in the urban climate in the face of the stress conditions that can be presented in the environment.
Keywords: urban vegetation, urban climate, stress conditions.

16 Apoio PROAP/CAPES-PACPS-UFMG

833
1. INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, apesar da desaceleração do crescimento populacional, o processo de urbanização
continuou em expansão no mundo todo. O ano de 2007 praticamente marcou o momento em que mais da
metade da população do planeta passou a viver em cidades (UNFPA, 2007; RITCHIE e ROSER, 2018).
Entretanto, no Brasil isso ocorreu já no final dos anos 1960 e, em 2007, o percentual da população urbana
brasileira já era de 83,5% (ALVES, 2009). Para o ano de 2030, estima-se que aproximadamente 60% da
população global estará morando em áreas urbanas (UN-HABITAT, 2008), enquanto que no Brasil esse
percentual deverá ultrapassar os 90%.
O Relatório de Avaliação (AR5) do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC,
2014a; 2014b) dedica um capítulo especialmente às cidades, trazendo uma avaliação do seu papel sobre as
mudanças do clima, além de discutir a necessidade de adaptação do ambiente urbano a riscos climáticos. De
acordo com esse relatório, as cidades são atualmente uma das principais fontes de emissões de gases do
efeito estufa, em função do seu alto consumo energético (cerca de 2/3 da energia primária produzida
mundialmente), pois 80% da matriz energética mundial é, ainda, composta por combustíveis fósseis. Por
outro lado, a concentração populacional e de atividades torna as cidades especialmente vulneráveis às
mudanças climáticas, principalmente nos países em que, como no Brasil, a expansão da urbanização ocorre
de modo precário, gerando deficiências de acesso às infraestruturas básicas, ao saneamento e à habitação
adequada.
Nesse contexto, uma das principais causas de aumento da vulnerabilidade das cidades identificadas
pelo AR5 é a supressão de ecossistemas pela expansão da urbanização, que poderiam proteger as áreas
urbanas de impactos adversos das mudanças climáticas, provendo acesso à água de boa qualidade,
arrefecendo as temperaturas e melhorando a qualidade do ar, contendo processos erosivos e sequestrando
carbono da atmosfera. Assim, uma estratégia chave de adaptação urbana para melhorar sua resiliência aos
eventos climáticos extremos é a ampliação de suas áreas verdes. A chamada “infraestrutura verde” tem sido
considerada uma estratégia relativamente rápida e barata quando comparada às obras convencionais de
engenharia, uma vez que, além dos benefícios ambientais de melhoria da drenagem e redução dos efeitos das
ilhas de calor, traz benefícios sociais e econômicos, mesmo em cenários de incerteza quanto aos reais
impactos locais das mudanças climáticas.
As pesquisas mostram geralmente a capacidade das massas de vegetação urbana em contribuir para
equilibrar o balanço de energia local (OKE, 1973; OKE et al., 1989) e sua influência em fenômenos
climáticos como as ilhas de calor (DACANAL et al., 2010; BEZERRA et al., 2018, etc.). Entretanto, o
conhecimento sobre os efeitos do ambiente urbano sobre o desenvolvimento da vegetação e, de modo geral,
sobre a diversidade ecológica necessária para mantê-la saudável e produtiva, ainda são escassos em áreas
tropicais ou estão muito dispersos por várias áreas do conhecimento, como a ecologia, a geografia, a
biologia, o sensoriamento remoto, etc. Isso dificulta bastante a construção de uma visão cientificamente
fundamentada do que deveria ser, em escala e composição, a infraestrutura verde a ser implantada numa
determinada cidade, como também a elaboração de recomendações, boas práticas para o planejamento e
desenho urbanos. Também prejudica o desenvolvimento da modelagem computacional que integra as
condições microclimáticas atmosféricas à vegetação e à superfície urbana, uma ferramenta importante para
urbanistas e arquitetos explorarem cenários futuros de desenvolvimento ou requalificação urbana mais
sustentáveis.
Assim, revisões sistemáticas da influência da vegetação sobre o clima urbano e vice-versa, do
ambiente urbanizado sobre a vegetação devem ser feitas, para que se possa avançar na concepção de áreas
verdes urbanas que sejam efetivos fatores de melhoria da qualidade ambiental, das condições sociais e
econômicas dos habitantes das nossas cidades.

2. OBJETIVO
Este artigo busca apresentar as contribuições da produção científica brasileira e internacional dos últimos
anos sobre a influência da vegetação no clima urbano, identificando os principais aspectos abordados, tais
como as metodologias e variáveis mais utilizadas e as lacunas do conhecimento. Dada a natureza do
trabalho, busca-se mostrar uma visão panorâmica sobre o tema, pontuar as contribuições mais expressivas e
identificar os possíveis avanços científicos sobre esta temática.

3. METODOLOGIA
Um levantamento do estado da arte da produção brasileira sobre a climatologia no planejamento urbano foi
publicado por Assis (2008). Nesta síntese, a produção brasileira foi identificada a partir de mais de 170

344
trabalhos, dentre eles livros, capítulos de livros, teses, dissertações, artigos em periódicos ou em anais de
eventos. O recorte temporal estabelecido nesta pesquisa, entre o período 1995 – 2005, mostrou um
crescimento quantitativo anual de publicações que relacionam os estudos de clima no ambiente urbano com o
planejamento das cidades e, além disso, pôde-se identificar os principais aspectos considerados nas
abordagens, relacionados ao uso e ocupação do solo (23% dos trabalhos), ao planejamento urbano (13%) e a
vegetação urbana (11%).
Tendo em vista o objetivo da investigação deste trabalho, foi feito um novo levantamento da
produção brasileira para o período de 2006 – 2018, tendo, desta vez, como foco a relação da vegetação e o
clima urbano nas publicações em livros, capítulos de livros, teses, dissertações, artigos em periódicos ou em
anais de eventos. São poucos os livros sobre o assunto, tanto no Brasil quanto no exterior, sendo que a
maioria trata do clima urbano e vegetação de uma maneira mais geral. Desse modo, deu-se preferência à
seleção de teses, dissertações e artigos. Os artigos em anais de eventos nacionais foram identificados por
meio de pesquisa com as seguintes palavras ou expressões-chave e suas combinações (pesquisa por assunto):
“vegetação urbana”, “arborização”, “microclima urbano”. A partir dos nomes dos autores dos artigos em
eventos e de pesquisa no GoogleTM com as mesmas palavras e expressões, as dissertações e teses foram
localizadas. A localização de artigos em periódicos foi feita usando os nomes coletados e/ou as palavras e
expressões já citadas. Dentre as publicações encontradas foram selecionadas 216, que tratavam
especificamente do estudo da vegetação no microclima urbano.
O levantamento bibliográfico no cenário internacional foi proposto para o mesmo recorte temporal
da produção científica brasileira, utilizando como referência as pesquisas publicadas na Conferência
Internacional sobre Clima Urbano (ICUC) nas edições trienais de 2006 a 2018. Foram encontradas 73
publicações, coletadas com o uso das seguintes palavras ou expressões-chave e suas combinações:
“vegetation”, “tree effects”, “urban greening”; “urban forestry”; “urban microclimate”; “urban heat island”.

4. A VEGETAÇÃO E O CLIMA URBANO NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA


No contexto da produção científica nacional até 2005, a maior parte dos estudos sobre o clima urbano ainda
tinha como foco principal a descrição das condições das ilhas de calor e da qualidade do ar (ASSIS, 2005). A
abordagem das pesquisas sobre a vegetação e o clima urbano era em grande parte feita através de
investigações empíricas e, em geral, os trabalhos buscavam, por meio de estudos de caso, quantificar e/ou
qualificar a influência da vegetação sobre as variáveis ambientais locais, principalmente a temperatura e a
umidade relativa do ar.
A distribuição anual da produção brasileira (Figura 1) no período agora considerado mostra um
aumento considerável de publicações sobre a vegetação e clima urbano, sendo que, se observado a partir do
ano de 2009, esse crescimento quantitativo tem uma tendência bianual, provavelmente em decorrência da
periodicidade dos Encontros Nacionais de Conforto no Ambiente Construído (ENCAC). Embora as
abordagens empíricas e descritivas sobre o tema continuem sendo o principal enfoque adotado (ABREU e
LABAKI, 2010; BURGOS e ROMERO, 2010; DACANAL et al., 2010; ALVES e FIGUEIRÓ, 2012;
ALVES e BIUDES, 2012; BARBOSA, 2016; etc.), observa-se uma maior diversidade nas relações
identificadas entre a vegetação e aspectos de interesse do clima urbano, tais como a resposta de conforto
térmico e a influência sobre as temperaturas superficiais.
Em relação às áreas do conhecimento vinculadas a essas pesquisas, a maior parte foi elaborada por
grupos das ciências ambientais e florestais, geografia, climatologia e tecnologia (54,63%), enquanto 45,37%
pelo grupo da arquitetura, urbanismo e/ou engenharias. Relacionando as áreas do conhecimento ao número
de publicações e o quantitativo produzido anualmente, observa-se que o primeiro grupo de áreas do
conhecimento foi pioneiro no assunto, desde o ano de 2006 (início do levantamento), mas as investigações só
foram retomadas e tiveram aumento quantitativo considerável a partir de 2011. Já os estudos feitos pelo
grupo da arquitetura, urbanismo e engenharias tiveram início em 2008 e um aumento considerável a partir de
2011.

835
Dentre o total de publicações encontradas, a
grande maioria foi de cunho prático (98%) e apenas
poucos trabalhos buscaram discutir teoricamente o
impacto da vegetação no clima urbano (2%). A
abordagem metodológica da maior parte dos
trabalhos (cerca de 73,5%) lida com os aspectos
descritivos e/ou variáveis do clima urbano
influenciadas pela vegetação, por meio de medições
fixas e/ou móveis em campo (ZAIDAN et al., 2017),
como mostra a Figura 2. Cerca de 7% destas
pesquisas adotaram o uso de questionários ou
formulários como instrumentos para o levantamento
Figura 1 – Evolução da produção brasileira sobre vegetação e
clima urbano no período de 2006 a 2018. da percepção dos usuários quanto ao conforto
Fonte: Elaboração própria. térmico em praças, parques e ruas (SANTOS e
PINTO, 2010; MARTINI et al., 2014).

Figura 2 – Principais metodologias abordadas nas publicações, Figura 3 – Modelos de simulação utilizados nas publicações, no
no período 2006 – 2018. Fonte: Elaboração própria. período 2006 – 2018. Fonte: Elaboração própria.

Apenas 17,1% das pesquisas adotaram simulação computacional (Figura 2). Nestas, conforme ilustra
a Figura 3, a grande maioria (75%) propôs a criação de cenários hipotéticos exploratórios utilizando o
programa ENVI-met© (SPANGENBERG et al., 2008; SILVA, 2016) e o programa Solène-Microclimat
(MARRA et al., 2017). Já os trabalhos preditivos corresponderam à minoria (25%) e utilizaram os
programas Energy Plus©, Autocad© e Rhinoceros (LABAKI et al., 2011; SILVA et al., 2015).
Os resultados encontrados nas pesquisas exploratórias destacaram algumas premissas mínimas para a
validade das investigações, como a calibração do modelo para as condições locais e a simplificação dos
modelos da área de estudo (ASSIS et al., 2013), além da importância de se determinar com cuidado os
parâmetros dos modelos de simulação (DOBBERT et al., 2015). Além desses pré-requisitos, foram
pontuadas limitações, como a validade dos resultados às condições do estudo de caso (ASSIS et al., 2013) e
a falta de dados relativos às espécies brasileiras no banco de dados do software ENVI-met©, o que poderia
gerar resultados incorretos (SILVA, 2016).
Além do mais, através do levantamento metodológico (Figura 2), observou-se que as pesquisas feitas
através de simulação computacional foram elaboradas predominantemente (88,9%) por pesquisadores das
áreas de arquitetura, urbanismo e engenharias (BURGOS e ROMERO, 2010). Já as pesquisas que utilizaram
dados obtidos por imagens de satélite (apesar de corresponderem apenas a 8% do total de investigações)
foram desenvolvidas, em grande parte (65%) por pesquisadores das áreas das ciências ambientais, florestais,
geografia, climatologia e tecnologia (PEREIRA et al., 2006; BARBOSA, 2016; BARROS, 2016).
Diante destes resultados, de modo geral, pode-se notar uma diferença na escala espacial dentre as
áreas do conhecimento sobre as investigações sobre a influência da vegetação no clima urbano. Em relação à
escala do território urbano, observou-se que as pesquisas feitas por cientistas das áreas das ciências
ambientais, florestais, geografia, climatologia e tecnologia buscaram abordar as cidades, fragmentos
florestais nos meios urbanos e alguns parques, utilizando imagens dos satélites Landsat e Geoeye (FEITOSA
et al., 2011; MARTINI, 2016). Diferentemente, a área da arquitetura, urbanismo e engenharias trabalharam
com a escala de bairro, ruas com e sem arborização, praças, parques e alguns experimentos conduzidos em
pátio escolares e campi de universidades (DOBBERT et al., 2017; DEBIAZI e SOUZA, 2017;

836
ZANLORENZI e SILVA FILHO, 2018). Entretanto, embora se note diferenciação nas escalas dos recortes
urbanos, a variável mais estudada em ambos os grupos foi a temperatura do ar (MACIEL et al., 2011;
ALVES e FIGUEIRÓ, 2012) tendo sido, em algumas investigações, associada à umidade relativa e ventos
(LABAKI et al., 2011; BARBOSA, 2016) e à radiação solar (ABREU e LABAKI, 2010; MASCARELLO et
al., 2017).
Em suma, observou-se uma tendência da produção brasileira em investigar a contribuição dos
indivíduos arbóreos, isolados e/ou agrupados, na variação de temperatura e umidade (ALVES e FIGUEIRÓ,
2012; ALVES e BIUDES, 2012; ZAIDAN et al., 2017), no aumento do conforto térmico das pessoas
(ROPPA et al., 2007; ABREU e LABAKI, 2010; MINELLA et al., 2011; MASCARELLO et al., 2017) e na
diminuição dos efeitos das ilhas de calor urbanas (BARROS, 2016; BEZERRA et al., 2018).
Além das temáticas mais recorrentes que perpassaram o período 2006 – 2018, destacam-se também
as investigações que relacionaram a vegetação com o clima urbano através de variáveis mais específicas,
como a captura do CO2 atmosférico pela arborização urbana (MUNEROLI, 2009; OLIVEIRA et al., 2017),
a influência de paredes/fachadas verdes na qualidade ambiental e comportamento térmico urbano
(MORELLI, 2009), a influência do sombreamento de diferentes espécies arbóreas na temperatura superficial
de materiais (SOZA et al., 2016), os efeitos de borda da vegetação sobre o microclima (DODONOV, 2011;
ANDRADE et al., 2016), o ensaio em túneis de vento da influência da vegetação (LABAKI et al., 2011) e as
investigações sobre o índice de área foliar dos indivíduos arbóreos (SHINZATO et al., 2013).

5. A VEGETAÇÃO E O CLIMA URBANO NA PRODUÇÃO INTERNACIONAL


O interesse crescente de investigações sobre a influência da vegetação no clima urbano é observado não só
na produção científica nacional, como também nas pesquisas desenvolvidas por diversos países.
Pode-se observar na Figura 4 que a produção
científica internacional apresenta um aumento
quantitativo considerável de publicações sobre o
assunto entre os anos de 2006 a 2018, tendo
praticamente quintuplicado seu número nesse
período. Ao compararmos este aumento em relação
à produção brasileira, é importante destacar que as
edições do evento internacional correspondem a um
período trienal e, conforme visto em Figura 1, a
produção científica brasileira mostrou-se maior no
recorte bianual, ou seja, o ano de 2015 (visto na
Figura 4) mostra a representatividade da expansão
Figura 4 – Evolução da produção brasileira e
internacional sobre vegetação e clima urbano no das investigações sobre o tema no Brasil.
período 2006 – 2018. Fonte: Elaboração própria. Além do levantamento quantitativo, com base
na comparação das abordagens utilizadas, ficam evidentes algumas similaridades e divergências. Em geral,
observa-se convergência entre as pesquisas brasileiras e internacionais nas investigações sobre a contribuição
da vegetação na variação de temperatura e umidade do meio urbano (GEORGIADIS et al., 2009; MUNCK
et al., 2018; ZHAOWU et al., 2018), no potencial da vegetação no arrefecimento das ilhas de calor urbanas
(THEEUWES et al., 2012; OLIVEIRA et al., 2018), na promoção do conforto térmico no meio urbano
(ROMERO, 2009; SHASHUA-BAR et al., 2009), na captura do CO2 pela arborização urbana (VELASCO et
al., 2012) e na influência de fachadas verdes no conforto térmico urbano (ACERO et al., 2018).
Foram também objetos de debate nos referidos ICUCs, a relação de evapotranspiração e absorção do
CO2 pela arborização urbana (McFADDEN, 2018), o estudo da transpiração da vegetação urbana para
recuperação do consumo de calor latente em várias condições (TESHIROGI et al., 2018), a saúde,
crescimento e efeitos de refrigeração das árvores em sítios urbanos (KONARSKA et al., 2018), a pesquisa
sobre a taxa de transpiração por pesagem de árvores e a análise dos efeitos morfofisiológicos (KIYONO et
al., 2015), a incorporação da vegetação nas simulações de micrometeorologia urbana e seus efeitos no
balanço de energia (BAILEY et al., 2015) e o impacto a longo prazo do clima em padrões de crescimento de
árvores nas ruas e suas consequências no potencial de arrefecimento urbano pelas árvores (DAVID et al.,
2015).
Portanto, diante do exposto, percebe-se uma forte tendência no cenário internacional não só nas
investigações sobre o potencial da vegetação em interferir no clima urbano, como também se observa um

837
aumento no número de pesquisas que objetivam averiguar as variáveis específicas da vegetação nas cidades e
as consequências que as alterações do clima podem causar diretamente no desenvolvimento das espécies e
nas suas capacidades em contribuir com o clima.

6. CONDIÇÕES DE ESTRESSE DA VEGETAÇÃO URBANA ALTERAM SEU


COMPORTAMENTO
Embora muito se discuta sobre o potencial da vegetação em contribuir para a melhoria climática dos
ambientes urbanos, pouco se fala sobre a influência do ambiente no crescimento, desenvolvimento dos
vegetais e os efeitos dos fatores externos nos processos funcionais da vegetação, a exemplo da
evapotranspiração, sob condições de estresse.
A compreensão sobre a dinâmica ecossistêmica da vegetação urbana é muito limitada e o que se sabe
sobre a vegetação com base em seu habitat natural ou em áreas rurais não se aplica em áreas urbanas
(PATAKI, 2013; ZHAO et al., 2016; SMITH et al., 2019). Há inúmeras restrições impostas pelo ambiente,
advindas de fatores abióticos ou bióticos, que podem levar indivíduos arbóreos ao estresse, conforme visto
na Figura 5. De modo geral, estas alterações são responsáveis pela indução a mudanças e respostas em
diversos níveis funcionais dos organismos vegetais, através de seu sistema hormonal. Os efeitos do estresse
podem ser reversíveis a princípio, ou tornarem-se permanentes. Num primeiro momento, essas mudanças
conseguem interferir diretamente sobre a produtividade do indivíduo que, em caso de estresse temporário,
apresenta uma redução no rendimento, mas é capaz de chegar a uma recuperação completa. Já em caso de
estresse permanente, a taxa de crescimento é reduzida e a perda em relação à produção é maior, podendo ser
irreversível (LARCHER, 1929).
No ambiente urbano, os principais fatores
abióticos de estresse dos vegetais são a poluição
do ar, o acesso à água (em termos de deficit de
água e/ou inundações) e as propriedades do solo
(desequilíbrio dos nutrientes e compactação).
De acordo com Mukherjee e Agrawal
(2018a; 2018b) a concentração de poluentes,
notadamente material particulado e NO2 acima
dos limites-padrão têm efeitos sobre as
características funcionais das folhas de espécies
tropicais, tanto de porte arbóreo como de porte
arbustivo, tais como os pigmentos fotossintéticos,
o grau de hidratação da folha e principalmente
sobre os antioxidantes não enzimáticos (ácido
ascórbico e polifenóis). Para as árvores, o fator de
estresse mais importante é o material particulado,
seguido pelo O3. A tolerância à poluição do ar
varia entre as espécies e depende das
características próprias de cada indivíduo, como
sua altura, tamanho da copa, forma e textura da
folha. Já no caso das espécies arbustivas, as
propriedades do solo, principalmente os níveis de
K (potássio) e o uso do solo foram os principais
Figura 5 – Fatores de estresse no ambiente e fatores de estresse depois da poluição do ar.
algumas de suas múltiplas inter-relações. Alguns dos danos causados pela poluição
Fonte: Larcher (1929), adaptado pelas autoras.
do ar à vegetação podem ser reconhecidos pela
acumulação de substâncias tóxicas ou de seus derivados nos tecidos vegetais, aparecimento de hormônios
vegetais ligados ao estresse, alteração na abertura e fechamento dos estômatos, entre outros (LARCHER,
1929).
As árvores em áreas urbanas podem também ser importantes fontes de compostos orgânicos voláteis
(BVOCs), possivelmente contribuindo para a formação do O3 na atmosfera urbana, embora tais emissões
sejam bem menores do que as antropogênicas (OWEN et al., 2003). As plantas fazem isso em resposta aos
fatores estressantes de altas temperaturas, componentes oxidantes na atmosfera e ataque de patógenos ou de
pestes de insetos herbívoros, que se desenvolvem aceleradamente nas condições mais quentes das áreas

838
urbanas e, consequentemente, das copas das árvores (CALFAPIETRA et al., 2013; DALE e FRANK, 2014)
O estresse hídrico pode ser fator suficiente para desencadear a síntese hormonal da planta através do
aumento do ácido abscísico (ABA) e do etileno. A regulação hormonal durante o estresse hídrico pode
desencadear reações como a redução da abertura estomática, o que significa para a planta um decréscimo da
transpiração, entre outras consequências (Figura 6).
Num experimento conduzido em Araras, São
Paulo, Rebelatto et al. (2013) identificaram que os
picos de queda foliar de duas espécies de ipês em
área urbana coincidiram com os de maior estresse
hídrico, enquanto o brotamento teve picos em meses
com maior precipitação, incidência solar e
temperatura.
Resultados semelhantes foram encontrados
em experimento feito com folhas de milho, como
pode ser visto na Figura 6. A retenção de água pelo
estresse hídrico gerou como consequência para a
planta a diminuição do potencial hídrico da folha, do
conteúdo de ácido abscísico e da resistência
estomática. Por se tratar de um estresse temporário,
ao ser reidratada a planta foi capaz de reverter o
processo (TAIZ et al., 2017).
Embora se observe que a efetividade da
Figura 6 - Alterações no potencial hídrico na folha do milho em
transpiração esteja diretamente relacionada com a
resposta ao estresse hídrico. Fonte: Beardsell e Cohen (1975)
disposição de água para as plantas, Pataki et al.
apud Taiz et al. (2017) adaptado pelas autoras.
(2011) levantaram a hipótese de que a mistura
incomum de espécies, inclusive exógenas, em áreas verdes urbanas afeta mais a variabilidade espacial da
transpiração vegetal do que as variações climatológicas. As espécies encontradas pelos autores nas áreas
verdes da Região Metropolitana de Los Angeles (EUA) variaram grandemente em termos de transpiração,
dependendo não apenas da irrigação, mas também da densidade arborizada de cada área.
Em geral, a vegetação também é intensamente afetada pelas propriedades do solo. Os recursos
provenientes do meio natural para a manutenção do equilíbrio saudável entre a copa e as raízes incluem
níveis adequados de oxigênio, água, nutrientes, baixa resistência de penetração da raiz no solo, equilíbrio de
pH e atividade biológica robusta (WATSON et al., 2015). No ambiente urbano, entretanto, a disponibilidade
desses recursos é frequentemente alterada pelas atividades antrópicas. De acordo com Watson et al. (2015)
grande parte dos nutrientes é naturalmente encontrada em solos levemente ácidos a neutros (pH entre 5,5 e
7,2), favorecendo o crescimento das árvores. No meio urbano foram observados níveis de pH ácido (abaixo
de 5,0) em fragmentos florestais e pH alcalinos (acima de 8,0) atribuídos à remoção da camada superficial
(topsoil) e ao uso de concreto e materiais calcários no processo de urbanização (DAY et al., 2010). Diante
dessa variação, nota-se que alguns nutrientes, como ferro e manganês, se tornam menos disponíveis em solos
mais alcalinos (pH acima de 7,2) e há falta de fósforo em solos mais ácidos, com pH abaixo de 5,5. Desta
forma, em função do deficit de nutrientes, a acidez do solo afeta o crescimento satisfatório da vegetação e a
alcalinidade compromete a saúde das plantas (DAY et al., 2010).
Já a compactação do solo é um processo de compressão das camadas naturais que consequentemente
degrada a sua estrutura, diminui a porosidade e aumenta a resistência física do solo à penetração da raiz
(DAY et al., 2010). Esse processo diminui a capacidade do crescimento das raízes (podendo variar entre as
espécies) e afeta a sua distribuição, que passa a se desenvolver lateralmente. A interrupção da troca de gases
entre o solo e a atmosfera influencia diretamente na sua aeração através da redução da concentração de
oxigênio e aumento dos níveis de gás carbônico em profundidade, em função das demandas de oxigênio
pelas raízes, fungos e microrganismos (WATSON et al., 2015). Desta forma, os elevados níveis de gás
carbônico podem danificar as raízes, e, se aliados à pobre drenagem do solo, podem favorecer a incidência
de doenças através da proliferação de fungos danosos.
Chega-se, assim, à questão: os modelos de performance e comportamento funcional da vegetação
que temos usado nas áreas urbanas consideram todos esses fatores e suas interações?

839
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse estudo mostrou um panorama geral sobre as pesquisas científicas que buscam investigar o tema
vegetação e clima urbano no contexto brasileiro e internacional. Através da revisão do estado da arte, ficou
claro que se trata de um tema interdisciplinar que vem sendo abordado por pesquisadores de diversas áreas
do conhecimento, a exemplo dos grupos de pesquisa das ciências sociais aplicadas, ciências ambientais e
florestais, entre outros.
Em geral, foi possível constatar que, nos últimos 10 anos, este tema passou a ser de interesse tanto no
Brasil quanto nos demais países. Além disso, através do levantamento do estado da arte foi possível observar
similaridades na abordagem sobre o tema entre a produção científica nacional e internacional, quanto às
lacunas do conhecimento e as possíveis contribuições da biologia para o aprofundamento da temática.
Na produção científica brasileira observou-se uma tendência de investigações que buscam
compreender a contribuição dos indivíduos arbóreos para variáveis climáticas como temperatura, umidade,
aumento no conforto térmico das pessoas e redução dos efeitos de ilhas de calor. Poucas pesquisas foram
encontradas sobre o tema investigando variáveis referentes à estrutura da vegetação e a possível alteração
comportamental diante das pressões exercidas pelo meio. Já na produção internacional, embora grande parte
aborde o comportamento da vegetação e seu impacto no clima urbano, foi possível encontrar, ainda que em
menor número, pesquisas que relacionam as mudanças do comportamento funcional de espécies vegetais,
como evapotranspiração e padrões de crescimento, em função de condições do meio urbano.
Sendo assim, diante do caráter interdisciplinar desta temática e, tendo em vista as condições de
estresse que podem ser causadas à vegetação por diversos fatores, incluindo o deficit de recursos no meio,
pode-se identificar uma oportunidade de abordagem do tema para futuras investigações. Muito além de
compreender o papel da vegetação na melhoria de condições de vida nas cidades, precisamos produzir
informações sobre a influência da vegetação sobre o meio e vice-versa, através da construção de cenários
exploratórios que deem subsídio a estratégias de planejamento e desenho urbano que ampliem a qualidade
ambiental e sustentabilidade nas cidades.

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842
TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE E FORMAÇÃO DE MICROCLIMAS
URBANOS, EM RECIFE/PE
Ruskin Freitas (1); Thatianne Silva (2); Júlia Alves (3); Jaucele Azerêdo (4)
(1) Doutor, Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, ruskin37@uol.com.br
(2) Graduanda do Curso de Arquitetura e Urbanismo, thatianne.ferreira@gmail.com
(3) Graduanda do Curso de Arquitetura e Urbanismo, juliamedeiros.ufpe@gmail.com
(4) Doutora, Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, jaucele_azeredo@hotmail.com
Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Laboratório de Conforto
Ambiental, Cidade Universitária, 50780-970, Recife–PE, Tel.: (81) 2126 8771

RESUMO
Visando à sustentabilidade ambiental das cidades, um dos caminhos a percorrer passa efetivamente pela
aplicação da informação climática nos processos de concepção e de planejamento do espaço urbano. Em
decorrência dos fatores climáticos locais, sejam naturais ou antrópicos, e de suas combinações no espaço
urbano, originam-se os microclimas urbanos. É importante que se realizem pesquisas sobre as características
morfológicas e funcionais da cidade, identificando especificidades locais que contribuam para a formação
desses microclimas. Com base nisso, foram coletados dados de variáveis microclimáticas: temperatura de
superfície, temperatura do ar, umidade relativa do ar, velocidade e direção dos ventos, no bairro da Boa
Vista, em Recife-PE, com o objetivo de associá-los à configuração do respectivo espaço urbano e de seus
materiais, além de simular possíveis modificações em seus elementos. Foram avaliados diversos materiais de
piso, de coberta e de mobiliário, onde se constatou o uso exacerbado de materiais que são termicamente
contraindicados ao contexto climático de Recife – Tropical Litorâneo Quente e Úmido. Foi possível,
também, detectar a diminuição da temperatura do ar no recinto urbano, ao se simular a inserção de
indivíduos arbóreos e a troca de materiais de pavimentação. Constrói-se, assim, um importante banco de
dados referenciais ao planejamento urbano.
Palavras-chave: conforto ambiental; microclimas urbanos; temperatura de superfície; Recife - PE.

ABSTRACT
Aiming at the environmental sustainability of cities, one of the ways to go is effectively to apply climate
information in the processes of urban space design and planning. As a result of local climatic factors,
whether natural or anthropic, and their combinations in urban space, it’s originated the urban microclimates.
It is important to carry out research on the morphological and functional characteristics of the city,
identifying local specificities that contribute to the formation of these microclimates. Based on this, data of
microclimatic variables were collected: surface temperature, air temperature, relative air humidity, speed and
direction of the winds, in the Boa Vista neighborhood, Recife-PE, with the objective of associating them
with the configuration of the respective urban space and of its materials, besides simulating possible
modifications in its elements. Several materials of floor, cover and furniture were evaluated, where the
exacerbated use of materials that are thermally contraindicated to the climatic context of Recife - Tropical
Warm and Humid Coastal. It was also possible to detect the decrease of air temperature in the urban area, by
simulating the insertion of arboreal individuals and the exchange of paving materials. Thus, an important
reference database for urban planning is built.
Keywords: environmental comfort; urban microclimates; surface temperature; Recife - PE.

843
1. INTRODUÇÃO
A necessidade da observância ao clima é extremamente importante, em meios arquitetônico e urbano,
visando ao conforto ambiental do usuário, à eficiência energética das edificações e à sustentabilidade das
cidades. No sentido de se projetar cidades resilientes e sustentáveis, é necessário conhecer o clima para onde
se quer projetar, em escalas regional e local, ou seja, como se comportam as variáveis climáticas visando à
qualidade do ambiente e ao bem-estar das pessoas.
A sensação de conforto térmico depende de grandezas físicas, tais como: temperatura do ar,
temperatura de superfície, temperatura radiante média, umidade relativa do ar e velocidade do vento. Todas
essas grandezas são relacionadas e diretamente influenciadas pela concepção arquitetônica: orientação,
disposição, dimensões, materiais, entre outros princípios da arquitetura (FREITAS, 2008, p. 46).
Diferentes tipos de padrões construtivos e de materiais podem modificar o balanço energético do
ambiente urbano, interferindo nos valores das variáveis climáticas, bem como, nas condições de drenagem
urbana. A arborização urbana, por exemplo, funciona como estratégia de controle da radiação solar incidente
no verão, nos recintos urbanos, contribuindo para mudar a reação de determinado material ao local
(HERNÁNDEZ, 2014, MASCARÓ, 1996, ROMERO, 2000). A atual preocupação com a sustentabilidade
também nos leva a refletir sobre as escolhas dos materiais, uma vez que, os materiais mais sustentáveis são
aqueles que possuem melhor desempenho a respeito do conforto térmico, nesse âmbito de estudo.
Recife está inserida em clima tropical litorâneo quente e úmido, que apresenta altos valores de
temperatura do ar e de umidade relativa do ar, durante todo o ano. As atividades antrópicas aliadas ao uso
inapropriado de materiais construtivos têm alterado o comportamento dos elementos climáticos, levando à
promoção da sensação de desconforto térmico dos usuários.
A relação entre as propriedades dos materiais e o contexto bioclimático local deve ser abundantemente
estudada, a fim de não gerar ambientes patológicos e desconfortáveis, bem como devem ser respeitadas as
características naturais da região e a tradição construtiva.
Pesquisas anteriores realizadas pelo Laboratório de Conforto Ambiental (Lacam) da Universidade
Federal de Pernambuco confirmaram a formação de microclimas urbanos em Recife a partir da conformação
do espaço urbano. Nesse estudo, realizado em 1998 e repetido recentemente em 2018, foram feitas análises
comparativas entre os valores registrados em medições de variáveis climáticas em 10 recintos urbanos
significativos para a cidade e aqueles registrados pelas estações meteorológicas de referência, convencional e
automática, do Inmet. Observou-se maior acúmulo de calor em recortes com maior densidade construtiva,
maior fluxo de automóveis, ausência de vegetação arbórea, entre outros. Os estudos também revelaram que
as mudanças causadas pelo crescimento urbano, ao longo dos últimos 20 anos, influenciaram diretamente os
microclimas, principalmente, com o aumento de acúmulo de calor.
A presente pesquisa embasou-se nesse material já produzido pelo Laboratório e avaliou um recinto
urbano, no bairro da Boa Vista, em Recife-PE (Figura 01), considerando a influência dos materiais
construtivos inseridos no recinto, na formação de microclimas; como também, foram realizadas simulações a
partir de possíveis modificações na configuração do recorte – troca de materiais e inserção de vegetação
arbórea. Os resultados foram utilizados para avaliar o impacto, no acúmulo de calor, de mudanças relativas
ao espaço construído, assim como, do crescimento urbano, visando que seja compreendido e assimilado
pelos técnicos e gestores de planejamento, de modo interdisciplinar, em busca da qualidade do ambiente.

2. OBJETIVO
O objetivo geral desta pesquisa foi analisar um recorte no bairro da Boa Vista, em Recife-PE, sob o viés de
conforto termoambiental, considerando-se os seus materiais constituintes, visando contribuir para o
planejamento urbano, a partir de diretrizes adequadas ao contexto climático da cidade do Recife.

Figura 01 – Vista panorâmica de Recife – PE, com destaque para o bairro da Boa Vista. Fonte: Ruskin Freitas (2019).

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3. MÉTODO
Foi utilizado o método hipotético-dedutivo, partindo-se da consideração de que o processo de urbanização
em Recife tem gerado acúmulo de calor, contribuindo para a formação de diferentes microclimas urbanos, a
depender da forma urbana, dos materiais de revestimento, entre outros fatores climáticos, naturais e
antrópicos. A partir da delimitação do objeto e do objetivo da pesquisa, foram realizados os seguintes
procedimentos metodológicos, com abordagens quantitativa e qualitativa:
1. Pesquisa bibliográfica, visando ao aporte teórico, sobre a formação de microclimas urbanos, em
decorrência de fatores antrópicos, tais como a forma urbana e os materiais de revestimento;
2. Medições das variáveis climáticas temperatura de superfície, temperatura do ar, umidade relativa
do ar, direção e velocidade dos ventos, em um recinto urbano no bairro da Boa Vista, Recife-PE;
3. Simulações de desempenho térmico do recinto urbano estudado, compreendido pelo entorno do
cruzamento da Avenida Conde da Boa Vista com a Rua do Hospício, a partir do programa
computacional EnviMET.
Inicialmente, foram analisadas imagens de satélite, a fim de observar as temperaturas de superfície de
coberturas e pavimentação na escala mesoclimática ou microrregional. A partir de dados do satélite
LANDSAT-8, a estimativa da temperatura aparente da superfície foi feita, utilizando a banda 10 da região do
infravermelho. Para determinação da TS foi preciso processar a imagem de satélite a partir de uma
plataforma de informação geoespacial, QGIS, versão Las Palmas. Foi necessária a obtenção de plugins para
a coleta de dados e tratamento da imagem, como o Land Surface Temperature Estimation e o SCP. Com a
imagem processada e corrigida, foi realizada uma fusão com a banda pancromática do satélite, para gerar as
cores. Para a avaliação da cidade de Recife foi usada a resolução da aresta de um pixel equivalente a 30m, e
para a caracterização do bairro, a resolução foi de 15m. Esse é um importante recurso para a análise de
temperatura superficial, em grandes áreas. Para uma análise ao nível do usuário pedestre, a precisão desse
recurso já não é satisfatória.
Para a análise da escala microclimática, foram realizadas medições utilizando termômetros
infravermelhos MINIPA MT-330, operando com emissividade de 0.95. As medições ocorreram no período
próximo ao solstício de verão, entre os dias 19 de dezembro de 2017 e 03 de janeiro de 2018. A área de
medição foi uma circunferência com raio de 120m, contemplando um recorte do bairro da Boa Vista, em
Recife-PE, o que possibilitou a comparação com uma grade de pixels, identificando os materiais presentes
em maior quantidade e com diferentes propriedades. Foram escolhidas superfícies representativas de pisos,
de cobertas e de mobiliário, verificando-se a temperatura de cada material, ao sol e à sombra. O recorte de
estudo foi escolhido de acordo com características morfológicas e de uso do solo, verificando como decisões
urbanísticas e especificações de materiais podem influenciar a sensação de conforto termoambiental. Para os
materiais de coberta, a face interna correspondeu à exposição à sombra, enquanto a externa, ao sol. Ao todo,
foram analisados vinte e um materiais, sendo treze de piso, quatro de coberta e quatro de mobiliário. Cada
material foi medido em duplicata, em trechos não distantes mais de 2m e entre sol e sombra. O resultado
apresentado corresponde à média aritmética desses valores. Além das medições, foram geradas imagens por
meio de uma câmera termográfica FLIR TG165.
Paralelamente, foi definido um ponto de medição inserido nessa circunferência de raio de 120m, para
registro das variáveis climáticas: temperatura do ar, umidade relativa do ar e direção e velocidade dos ventos,
em duas manhãs e duas tardes, aproximadamente às 9h e às 15h, no mesmo período das medições de
temperatura de superfície. Para isso, foram usados termohigrômetros e anemômetros digitais, posicionados à
altura aproximada de 1,50m do chão e afastados do corpo e de qualquer outro obstáculo, a essa mesma
distância. A partir da sistematização dos dados coletados e da comparação com os valores de referência
disponibilizados pela estação meteorológica convencional, localizada no bairro Curado, em zona de transição
urbano-rural a cerca de 10 Km do centro de Recife, foi possível comprovar o acúmulo de calor e sua relação
com as modificações ocorridas com o desenvolvimento do espaço urbano, principalmente, relacionado à
diminuição de vegetação arbórea e ao aumento da densidade construtiva e do fluxo de automóveis.
Com a sistematização dos dados da etapa anterior e com o auxílio do programa computacional Envi-
met, foram feitas as simulações de desempenho térmico no recorte de estudo. Sobre um mapa-base, gerado a
partir da imagem de satélite disponibilizada pelo Google Earth, caracterizou-se o recinto urbano em três
dimensões (x, y e z) – quanto ao tipo de solo, porte da vegetação e altura dos edifícios. Em seguida, simulou-
se o desempenho térmico do recorte, focando-se nas variáveis de temperatura do ar e umidade relativa do ar.
As simulações também foram feitas para possíveis modificações das características do espaço urbano, com o
acréscimo de vegetação arbórea e com a mudança da pavimentação, de concreto para solo natural.

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Os resultados foram analisados tendo como base os conceitos de conforto térmico, propriedades dos
materiais, acúmulo de calor em ambiente urbano e suas influências sobre a qualidade dos ambientes.

4. ANÁLISE DE RESULTADOS
Recife está inserida em clima tropical litorâneo quente e úmido, apresentando baixa amplitude térmica, diária
e estacional, médios e altos valores de temperatura do ar, com média anual de 25,5°C. A média anual da
umidade relativa do ar é alta (80%), caracterizando-se a região por duas estações bem definidas: a estação
seca e a estação chuvosa (com pluviosidade acima dos 2.000mm), com pequena variação de temperatura
entre elas. A predominância da direção dos ventos é de sudeste, seguida das direções leste e sul. Segundo a
NBR 15220-3:2005, Recife se localiza na zona bioclimática oito, tendo como principais estratégias
bioclimáticas o sombreamento e a ventilação.
A figura 02 destaca as temperaturas de superfície - um importante indicador para a formação de
microclimas urbanos. Nota-se que os maiores valores coincidem com as maiores densidades de construção e
de solos impermeáveis, sobretudo, em áreas históricas e em assentamentos populares. Ao contrário, as
menores temperaturas superficiais foram verificadas no noroeste do município, em áreas de alta densidade de
vegetação arbórea e solo permeável. No bairro da Boa Vista, em destaque, as maiores temperaturas de
superfície ocorrem no sítio histórico (no entorno da rua Velha) e na área central (no entorno da avenida
Conde da Boa Vista, em especial, entre as ruas da Aurora e do Hospício), onde ocorrem atividades
antrópicas em maior intensidade.

Figura 02 - Localização do município de Recife com divisão de bairros e determinação da temperatura de superfície, a partir do
LANDSAT-8, resolução de 30m. Fonte: IBGE, 2010 e USGS, 2017. Adaptado por Júlia Medeiros Alves, 2018.

846
4.1. A observação de microclima urbano no bairro da Boa Vista
O bairro da Boa Vista está localizado no centro comercial da cidade, sob parâmetros urbanísticos que
contribuem com a alta densidade construída, edificações altas e sem afastamentos entre as mesmas. A
avenida Conde da Boa Vista classifica-se como via arterial, constituindo um importante corredor de ônibus,
apresentando todo esse setor um intenso fluxo de veículos e de pedestres. Assim, temos a forma urbana, os
volumes edificados, a impermeabilização do solo e as atividades antrópicas, em geral, conformando a
formação de um microclima urbano, caracterizado pela elevação das temperaturas e pela diminuição da
umidade relativa do ar. (Figura 03)

Figura 03 - Delimitação do recorte de estudo (em amarelo), compreendido entre a rua do Hospício e a av. Conde da Boa Vista. Fonte:
Google Earth, 2017. Adaptado por Júlia Medeiros Alves, 2018.

Nas medições das variáveis climáticas realizadas nesse ponto do bairro da Boa Vista, a temperatura
média do ar obtida foi de 30,3ºC, com acúmulo de calor igual a 2,1°C, no período da manhã e de 1,4° no
período da tarde, quando comparada aos dados disponibilizados pela Estação Meteorológica (28,6°C) (tabela
01). Este valor só não foi mais alto, devido à ventilação que se canaliza na avenida Conde da Boa Vista e
pelo sombreamento causado, pelas edificações, em sua maioria, com 14 pavimentos e justapostas umas às
outras (Figuras 04 e 05). Nesta área, a umidade relativa do ar é cerca de 3% mais baixa que na estação
meteorológica de referência, confirmando a sua inversabilidade, em relação à temperatura do ar. A
velocidade dos ventos é reduzida nesta centralidade urbana, pelas barreiras construídas, em cerca de 1,8m/s.
Esta diminuição não é ainda maior, pois há uma certa canalização dos ventos, no seu sentido predominante,
sudeste – noroeste, na avenida Conde da Boa Vista.

Tabela 01 – Médias dos valores das variáveis climáticas no cruzamento da Avenida Conde da Boa Vista com a Rua do Hospício, no
bairro da Boa Vista. Elaboração: Thatianne Silva, 2018.
MÉDIA DOS VALORES DAS VARIÁVEIS CLIMÁTICAS NO CRUZAMENTO DA AVENIDA
CONDE DA BOA VISTA COM A RUA DO HOSPÍCIO, NO BAIRRO DA BOA VISTA

Temperatura do ar Umidade relativa Velocidade dos Acúmulo de calor


LOCAL (°C) do ar (%) ventos (m/s) (°C)
Manhã Tarde Média Manhã Tarde Média Manhã Tarde Média Manhã Tarde Média
Ponto de medição 30,6 30,0 30,3 66,7 67,8 67,3 0,5 0,7 0,6
2,1 1,4 1,8
Estação Convencional 28,5 28,6 28,6 71,2 70,2 70,7 2,8 2,0 2,4

Figuras 04 e 05 – Fotografia e imagem termográfica do cruzamento da avenida Conde da Boa Vista com a rua do Hospício, no bairro
da Boa Vista, Recife – PE. Fonte: Ruskin Freitas, 2017.

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4.2. A observação da temperatura de superfície no bairro da Boa Vista
Conforme a imagem de satélite (Figura 02), as mais altas temperaturas de superfície ocorrem nas áreas mais
densamente ocupadas da cidade. O bairro da Boa Vista, além da densidade de construções, também possui
muitas edificações cobertas com telhas de fibrocimento e solo impermeabilizado. Os materiais mais usados,
como asfalto e concreto, apresentam alta difusividade térmica (Figuras 06 e 07), sejam elas em superfícies
verticais ou horizontais, absorvendo o calor no decorrer do dia e liberando-o durante a noite, mantendo a área
sempre mais quente do que outros locais com maior cobertura vegetal e solo natural.

Figuras 06 e 07 - Fotografia e imagem termográfica de trecho de calçada na avenida Conde da Boa Vista, obtidas pela câmera FLIR
TG165. Fonte: Ruskin Freitas, 2017.

A tabela 02 apresenta a sistematização dos dados de registro de temperatura de superfície,


relacionando-a aos materiais. Quando ao sol, a vegetação gramínea registrou o menor valor (36,8°C) e o piso
emborrachado em placas, apresentou o maior valor (65,9°C). À sombra, o piso cerâmico registrou o menor
valor (27,3°C) e, novamente, o piso emborrachado apresentou a maior temperatura de superfície (37,9°C).
Foi observada a capacidade do material cerâmico em se resfriar rapidamente, assumindo a menor
temperatura registrada quando à sombra. Por ser um bom condutor de calor, o metal absorve o calor para
dentro de si, rapidamente, como também o libera quando em contato com algo que esteja em maior
temperatura, por isso, quando em ambiente ameno, sente-se o metal mais frio do que realmente está, pois, ao
tocá-lo, ele retira parte do nosso calor, aumentando a sensação de frieza no material.

Tabela 02 - Temperatura de superfície dos principais materiais de revestimento de piso no cruzamento da Av. Conde da Boa Vista
com a Rua do Hospício, com destaque para valores extremos. Fonte: Júlia Alves, 2018.
Material Concreto Asfalto Emborrachado Solo Grama Cerâmica Intertravado
em placas natural padrão

Temperatura ao sol (ºC) 49,9 48,3 65.9 50,2 36.8 45,5 49,4

Temperatura à sombra (ºC) 36,1 32,6 37,9 28,6 27,4 27,3 34,4

Figura 08 - Comparação entre temperaturas de superfície registradas por satélite e por medição in loco.
Fonte: Google Earth, 2017 e USGS, 2017. Adaptado por Júlia Medeiros Alves, 2018.

De acordo com Romero (2000, p.48-50), alguns princípios de desenho urbano podem ser
implantados para diminuir a temperatura de um recinto urbano. Neste caso, é necessário reduzir a produção
de calor e evitar a absorção de umidade, reduzindo também a pressão de vapor. Segundo Romero (2000;
2001), Mascaró (1996) e Hernández (2014), a vegetação proporciona maiores taxas de evaporação, auxilia a
filtragem do ar, promove sombreamento, diminuindo a incidência de radiação solar direta sobre as
superfícies.

848
4.3. A observação do desempenho térmico no bairro da Boa Vista a partir de simulações
Tendo como base as informações coletadas durante as medições e as análises previamente realizadas, foi
possível simular as relações entre fatores climáticos antrópicos e a criação de microclimas dos recintos
urbanos estudados, com o objetivo de detectar potencialidades e fraquezas e, com isso, propor diretrizes de
planejamento urbano que visem ao conforto ambiental, ou seja, e à sensação de bem-estar dos seus usuários.
Para as simulações, fez-se o uso do programa Envi-met, em sua versão básica e gratuita, com o
lançamento de informações acerca das edificações, vegetação e tipos de solo. As imagens criadas
compreenderam uma área de 198m x 198m cada e envolveram o cruzamento da rua do Hospício com a Av.
Conde da Boa Vista (Figura 09). A simulação foi produzida com base nos dados coletados com as medições
de temperatura do ar, umidade relativa do ar e direção e velocidade dos ventos, passando-se em um período
de 24h, em 27 de dezembro de 2017, um dos dias de medições das variáveis climáticas no recinto.

Figura 09 - Localização do ponto de medição na área de estudo para simulações de desempenho térmico na Boa Vista. Fonte:
Thatianne Silva, sobre base de GoogleMaps, 2018.

Além da simulação do desempenho térmico resultante da sua forma urbana real, foram criadas outras
imagens que simularam a temperatura do ar e a umidade relativa do ar, com o aumento do número de
indivíduos arbóreos e a mudança do tipo de pavimentação. Optou-se por não alterar informações relativas
aos edifícios por entender que mudanças reais em seus aspectos construtivos, tal como, a altura, é algo
improvável, tendo em vista uma cidade já consolidada. Os outros elementos do recorte, em contrapartida, são
passíveis de mudanças, principalmente, em cenários de revisão do Plano Diretor da Cidade do Recife, da Lei
de Uso e Ocupação do Solo e de possíveis intervenções de desenho urbano.
Para a espacialização das características físicas do recorte de estudo, criou-se sobre a base das
imagens (Figura 09) uma malha, de 99(x) x 99(y) pontos equidistantes, que preenchem 2m(x) x 2m(y) cada
um, ocupando toda a área de 198m x 198m. Verticalmente, a malha possui 25 pontos equidistantes, com 3m
cada, que seria a altura aproximada de um pavimento. As medidas escolhidas foram usadas devido às
limitações da versão gratuita do programa, que só permite malhas de 100x100x40.
Para a simulação da situação real da Boa Vista, as informações inseridas no programa foram
concernentes a edifícios com alturas entre 3 e 60m, poucos indivíduos arbóreos, de pequeno e médio porte
com copas ralas ou densas, e solos que variavam entre solo natural, concreto e asfalto (Figura 10).

N N

A B

Figura 10 – Caracterização do recinto urbano real da Boa Vista quanto a edificações, vegetação (A) e tipo de solo (B). Fonte:
Thatianne Silva, a partir do programa Envi-Met, 2018.

849
Como resultados para as simulações de temperatura do ar e umidade relativa do ar, a uma altura de
1,5m, sob condições microclimáticas, a partir da inserção dos valores medidos no cruzamento da Av. Conde
da Boa Vista com a Rua do Hospício, obtiveram-se as imagens apresentadas abaixo (Figuras 11 e 12). Elas
simulam o desempenho térmico do espaço às 15h do dia 27 de dezembro de 2017, por ser um horário em que
o acúmulo de calor é bastante representativo para o clima de Recife.

Figura 11 – Simulação de temperatura do ar em condições reais de trecho da Boa Vista, às 15h, do dia 27 de dezembro de 2017.
Fonte: Thatianne Silva, a partir do programa Envi-Met, 2018.

Figura 12 – Simulação de umidade relativa do ar em condições reais de trecho da Boa Vista, às 15h, do dia 27 de dezembro de 2017.
Fonte: Thatianne Silva, a partir do programa Envi-Met, 2018.

Observa-se, na figura 11, que entre as edificações verificam-se os valores mais baixos de
temperatura do ar (abaixo de 29,66ºC) enquanto os valores mais altos foram apontados na Av. Conde da Boa
Vista (acima de 32 ºC). Percebe-se, ademais, que os valores entre 29,66 ºC e 31,64 ºC (tons de verde e azul
mais claro) encontram-se localizados em um grande lote com solo permeável ou em vias estreitas, cujas
alturas dos edifícios possibilitam o seu sombreamento à hora da simulação.
Ao contrário da disposição das faixas de temperatura do ar, a umidade relativa, como mostra a figura
12, apresenta-se com seus valores mais baixos nas imediações da Av. Conde da Boa Vista, enquanto os
valores mais altos se manifestaram na área de solo natural. Isso ocorre porque as variáveis temperatura e
umidade são inversamente proporcionais, ou seja, na medida em que há o aumento de umidade, há a
diminuição de temperatura, e vice-versa.

850
Ao imaginar uma possível intervenção que viesse a influenciar no desempenho térmico do recinto
em questão, decidiu-se simular como as variáveis climáticas se comportariam caso houvesse o plantio de
vegetação arbórea em parte da calçada da Av. Conde da Boa Vista e da Rua do Hospício, bem como a
substituição da pavimentação para solo natural no mesmo local (Figura 13). Foram acrescentados indivíduos
de porte médio com copa densa, compatíveis com o perfil da via. As demais informações de entrada do
programa foram mantidas, como o período de simulação e os dados coletados nas medições, havendo
alterações apenas quanto à vegetação e ao solo. A partir disso, foram geradas mais duas imagens de
simulação de desempenho térmico (Figuras 14 e 15).

N N

A B

Figura 13 – Caracterização do recinto urbano modificado da Boa Vista quanto à vegetação (A) e ao tipo de solo (B). Fonte:
Thatianne Silva, a partir do programa Envi-Met, 2018.

Figura 14 – Simulação de temperatura do ar com o acréscimo de vegetação e solo natural em trecho da Boa Vista, às 15h, do dia 27
de dezembro de 2017. Fonte: Thatianne Silva, utilizando programa Envi-Met, 2018.

Figura 15 – Simulação de umidade relativa do ar com o acréscimo de vegetação e solo natural em trecho da Boa Vista, às 15h, do dia
27 de dezembro de 2017. Fonte: Thatianne Silva, utilizando programa Envi-Met, 2018.

851
5. CONCLUSÕES
A partir da pesquisa desenvolvida, referente à temperatura de superfície e à formação de microclimas
urbanos, em Recife – PE, pode-se afirmar que os materiais mais utilizados nas superfícies urbanas do recorte
estudado, no bairro da Boa Vista, são os que possuem pior desempenho térmico, atuando como
influenciadores no aumento da temperatura do ar, interferindo diretamente no conforto ambiental do usuário.
As simulações realizadas pelo programa Envi-met demonstraram a interrelação entre fatores e
variáveis climáticas, uma vez que mudanças relativas à vegetação ou ao tipo de solo geraram resultados
distintos acerca do desempenho térmico.
Caso ocorresse a inserção de vegetação arbórea e a troca de materiais de pavimentação impermeáveis
por solo natural, em alguns trechos nas calçadas da avenida conde da Boa Vista, ocorreria uma diminuição
na temperatura de superfície, como também, uma diminuição na temperatura do ar, naquele recinto urbano.
Pelas simulações efetuadas, a avenida Conde da Boa Vista seguiria sendo o trecho mais quente da área,
contudo, os valores se manteriam até os 32ºC, aproximadamente. Em relação à umidade relativa do ar, o
padrão se manteria, havendo o aumento dos valores obtidos, seguindo o princípio da inversabilidade em
relação à temperatura do ar.
Evidenciam-se as escolhas tomadas por arquitetos e urbanistas no que se refere às especificações dos
materiais, e de gestores públicos, na implantação de projetos arquitetônicos e urbanos como fundamentais
para a formação de microclimas urbanos, bem como, destaca-se a necessidade de valorização da questão
ambiental, no seu sentido mais abrangente, como uma estratégia bioclimática e, por conseguinte, como
instrumento para as questões social, cultural e econômica, visando à sustentabilidade ambiental.
Recomenda-se o contínuo estudo de conforto ambiental, em especial, relativo à temperatura das
superfícies em ambientes urbanos, a fim de monitorar como elas alteram os microclimas e assim, orientar as
intervenções, sobretudo, de requalificação urbana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREITAS, Ruskin. Entre mitos e limites: as possibilidades do adensamento construtivo face à qualidade no ambiente construído.
Recife : Ed. da UFPE, 2008.
HERNÁNDEZ, Agustín (coord.). Manual de desenho bioclimático urbano. Manual de Orientações para a Elaboração de Normas
Urbanísticas. Coordenação editorial e tradução para português: Artur GONÇALVES, Antonio CASTRO e Manuel
FELICIANO. Bragança [Portugal]: Instituto Politécnico de Bragança, 2013.
MASCARÓ, Lúcia. Ambiência Urbana. Porto Alegre: Sagra, 1996.
PREFEITURA DO RECIFE. Lei nº 17.511/2008. Plano Diretor do Município do Recife. Pernambuco: Prefeitura do Recife, 2008.
ROMERO, Marta Adriana Bustos. Arquitetura bioclimática dos espaços públicos. Brasília: Editora Universidade de Brasília,
2001.
ROMERO, Marta Adriana Bastos. Princípios bioclimáticos para o desenho urbano. São Paulo: Projeto, 2000.

Sítio eletrônico visitado:


www.envi-met.com/

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq/UFPE).
Agradecem também aos estudantes vinculados ao Lacam/UFPE e à professora Larissa Falcão, que
auxiliaram na coleta de dados; a Dra. Simone Torres, pelo suporte em relação ao uso do programa Envi-Met;
à estudante do Curso de Arquitetura e Urbanismo Bárbara Ferragut e ao estudante do Curso de Física
Naudson Lopes.

852
VARIAÇÃO CLIMÁTICA ENTRE OS MEIOS URBANO E RURAL NO
CONTEXTO DE NOVAS OCUPAÇÕES NA AMAZÔNIA LEGAL MATO-
GROSSENSE
João Carlos Machado Sanches (1); Oscar Daniel Corbella (2); Emeli Lalesca Aparecida da
Guarda (3); Renata Mansuelo Alves Domingos (4); Ana Carolina Batista Ribeiro (5)
(1) Doutor, Arquiteto e Urbanista, sanches@unemat-net.br, Universidade do Estado de Mato Grosso
(2) PhD, Físico, oscar.corbella@gmail.com, Universidade Federal do Rio de Janeiro
(3) Mestre, Arquiteta e Urbanista, emeliguarda@gmail.com, Universidade Federal de Santa Catarina
(4) Engenheira Civil, mansuelo.alves@gmail.com, Universidade Federal de Santa Catarina
(5) Graduanda em Engenheira Civil, anacarolinavicentim@gmail.com, Universidade do Estado de Mato
Grosso

RESUMO
O processo de urbanização acelerado vem forçando as áreas urbanas a se expandirem de maneira
desordenada e excludente, o que tem transformado o país em aspectos territoriais, socioeconômicos, culturais
e ambientais, influenciando no equilíbrio do ambiente climático natural, contribuindo para a formação de um
clima local, o clima urbano. Neste contexto, este trabalho tem como objetivo avaliar as diferenças climáticas
entre o meio urbano e rural em Sinop, cidade de médio porte no contexto da Amazônia Legal mato-
grossense. Os procedimentos metodológicos consistem na avaliação climática por meio de instrumentos de
medição, em duas estações meteorológicas, localizadas na centralidade urbana e no contexto rural, com
posterior tratamento estatístico. A aplicação da metodologia demostrou obtenção de dados climatológicos
eficaz, pouco onerosa e prática, por meio do uso de dois conjuntos de sensores, compactos e robustos,
organizados em estações fixas, possibilitando a comparação dos dados climatológicos da estação urbana com
a estação rural. Os resultados mostraram que na estação seca a área ocupada por vegetação densa é de 37,7%
e de solo exposto de 42,2% e na estação chuvosa é de 36,7% e de 13,8%, respectivamente, da superfície
municipal. No meio rural a direção do vento é nordeste e no meio urbano é leste, com velocidades média de
1,67m/s e de 0,75m/s, respectivamente. Destaca-se ainda a diferença de 1ºC na média anual das temperaturas
e de cerca de 30% no acumulado anual de chuva. Conclui-se que a partir dessa metodologia, torna-se
possível observar as diferenças climáticas entre os ambientes rurais e urbanos no contexto estudado, gerando
análises úteis ao desenvolvimento urbano mais sustentável.
Palavras-chave: Climatologia urbana, urbanização, Sinop-MT.

ABSTRACT
The accelerated urbanization process has forced urban areas to expand in a disorganized and exclusionary
way, which has transformed the country in its territorial, socioeconomic, cultural and environmental aspects,
influencing the balance of the natural climate environment, contributing to the formation of a local climate,
the urban climate. In this context, this paper aims to evaluate the climatic differences between the urban and
rural environment in the city of Sinop, in the context of Legal Amazon in Mato Grosso. The methodological
procedures consist of the climatic evaluation by means of measuring instruments, using two meteorological
stations, located in the urban central area and in the rural context. The application of the methodology
showed efficient, inexpensive and practical data collection through the use of two sets of compact and robust
sensors, organized in fixed stations, making it possible to compare the climatological data of the urban
station with the rural station. The results showed that in the dry season the area occupied by dense vegetation
is 37.7% and soil exposed is 42.2% and in the rainy season it is 36.7% and 13.8% of the surface of the
municipality. In rural areas, the direction of the wind is northeast and in the urban area it is east, with average
speeds of 1.67m/s and 0.75m/s, respectively. It is also worth noting the difference of 1°C in the annual
average of the temperatures and of around 30% in the accumulated annual rainfall. It is concluded that from

853
this methodology, it is possible to observe the climatic differences between rural and urban environments in
the studied context, generating useful analyzes for the more sustainable urban development.
Keywords: Urban climatology, urbanization, Sinop-MT.

1. INTRODUÇÃO
As relações do homem com a natureza tornaram-se bem mais complexas após o aparecimento e crescimento
desordenado dos aglomerados urbanos. A partir daí, o homem vem produzindo intenso impacto sobre o meio
ambiente natural, com repercussões negativas em sua qualidade de vida. Os principais impactos estão
relacionados ao desconforto térmico, às inundações, à poluição do ar, causando perdas materiais e humanas e
o agravamento de inúmeras doenças.
A partir da Revolução Industrial, a expansão populacional, a utilização dos recursos naturais e a
industrialização registraram grande ritmo de crescimento. Já a partir do século XX, as atividades humanas
tiveram atuação decisiva na mudança de fatores climatológicos, principalmente em função da atividade
industrial. Atualmente, mais de 50% da população mundial se concentra nas cidades, que ocupam menos de
3% da superfície terrestre. Esse quadro é agravado quando se observa que muitos dos citadinos são pobres e
vulneráveis a eventos extremos e às mudanças climáticas (GRIMMOND, 2010).
Atividades antrópicas como as instalações indústrias, a circulação de veículos automotores, a retirada
da cobertura vegetal, o revestimento dos solos, a pavimentação das vias de circulação e as modificações na
topografia, são algumas das interferências no sítio urbano original. Isso altera o balanço energético e o
balanço hídrico da cidade, acabando por gerar ambientes climáticos, na maioria das vezes, inconvenientes ao
pleno desempenho das funções urbanas.
É importante destacar que o estudo das correlações entre causa e efeito dessas modificações
climáticas, tem conduzido à identificação de aspectos, elementos e atributos da forma urbana que
condicionam o ambiente climático urbano. Sendo assim, acredita-se que os princípios de intervenção urbana
devem ser orientados também pela concepção bioclimática da arquitetura. Essa concepção é tida aqui como
uma interação de elementos climáticos, do sítio e culturais, sempre com a finalidade de criar ou recriar
ambientes urbanos adequados ao clima local. Reconhece-se que tais concepções, aplicadas ao espaço urbano,
podem fazer com que os ambientes resultantes sejam menos adversos do ponto de vista climático.
Para que isso aconteça, os atores envolvidos no planejamento e nos projetos urbanos devem ter acesso
a informações precisas e confiáveis, de modo a qualificar o debate e equalizar os diversos interesses
presentes nessas atividades.
No caso do Estado de Mato Grosso, esse tipo de abordagem se inicia na década de 1990, atingindo
hoje um volume considerável de publicações na capital Cuiabá e em algumas cidades do interior,
principalmente a partir da atuação de programas de pós-graduação stricto sensu nas últimas décadas.
Esses estudos apontam ocorrências de variabilidades climáticas em núcleos urbanos de cidades de
médio e pequeno porte no Estado, decorrentes da urbanização e do desmatamento do entorno dessas cidades.
Observa-se que tais ocorrências provocam diversos fenômenos e alterações nesses c1imas, em escala local,
regional e mesmo continental, e que têm consequências diretas e indiretas nas populações estabelecidas
nessas áreas.
Dentre os estudos referidos, vale destacar a contribuição de Zamparoni (2001), onde a autora identifica
fatores relacionados à variabilidade climática, principalmente no que se refere aos municípios de Sinop, Vera
e Sorriso, situados na Bacia do Médio Teles Pires na Amazônia mato-grossense. Com relação temperatura do
ar, por exemplo, esse estudo já apontava tendência de acréscimos no período estudado, que está
compreendido entre os anos de 1973 e 1998.

2. OBJETIVO
Esse trabalho tem como objetivo avaliar as diferenças climáticas entre o meio urbano e rural em uma cidade
de médio porte no contexto da Amazônia Legal mato-grossense, evidenciando o panorama das principais
alterações, bem como a extensão dessas alterações.

3. MÉTODO
3.1. Avaliação dos espaços urbanos com relação ao clima
Por meio de informações da Prefeitura Municipal de Sinop, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
e imagens de satélite Landsat e SRTM, disponibilizados pelo INPE e tratados pelo CPDIO/UNEMAT –
Centro de processamento de imagens orbitais, foram obtidos os dados para análise desta pesquisa. O
tratamento dos dados é realizado a partir dos softwares Microsoft Excel e Saga GIS para geoestatística e

854
gerenciamento de informações geográficas, e pelo CorelDraw para tratamento final das imagens geradas.
Passa-se então à caracterização climática do município, feita principalmente a partir de informações oriundas
das estações meteorológicas automáticas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), posicionadas nos arredores da cidade de Sinop (Figura
1).

Figura 1 – Mapa com o posicionamento das estações meteorológicas automáticas em Sinop (Adaptado de Google Earth, 2014).

Essas estações, em conjunto com a estação instalada no Campus da UNEMAT, fornecem o panorama
das condições climáticas no município, tanto na zona rural quanto urbana. É importante frisar que essas
estações são automáticas e registram as variáveis de hora em hora, com alcances e precisões semelhantes,
conforme a tabela 1 abaixo:
Tabela 1 – Alcance e precisão dos sensores de medição das variáveis climatológicas nas estações meteorológicas automáticas de
Sinop (CAMPBELL, 2014; DAVIS, 2014 E VAISALA, 2014)
estação/Modelo
EMBRAPA UNEMAT
INMET
Campbell Scientific Davis Instruments
Vaisala MAWS 301
EMC Vantage Pro 2
Alcance -40°C a +60°C -52°C a +60°C -40°C a +65°C
Temperatura do ar
Precisão ±0,5°C ±0,3°C ±0,5°C
Alcance 0 a 100% 0 a 100% 0 a 100%
Umidade relativa do ar
Precisão ±3% ±5% ±3%
Alcance 0 a 500mm/h 0 a 200mm/h 0 a 2438mm/h
Precipitação
Precisão ±2% ±5% ±4%
Alcance 0,5 a 60m/s 0,4 a 75m/s 0,4 a 80m/s
Velocidade do vento
Precisão 0,11m/s 0,17m/s 0,10m/s
Alcance 0 a 360° 0 a 360° 0 a 360°
Direção do vento
Precisão ±3° ±2,8° ±3°
Alcance 0 a 1750W/m² 0 a 2000W/m² 0 a 1800W/m²
Radiação solar
Precisão ±5% ±4% ±5%
É ainda importante destacar que, além das estações da UNEMAT e EMBRAPA terem precisões
semelhantes entre si e à precisão da estação oficial do INMET, ambas foram instaladas no início desta
pesquisa, tendo sido adquiridas dos fabricantes em estado novo, com certificados de calibração próprios.
Busca-se estabelecer uma comparação entre os registros das estações da EMBRAPA, instalada nos
arredores da área urbana, e a estação meteorológica instalada para esta pesquisa, na UNEMAT, próxima à
região central da cidade. Desse modo, torna-se possível verificar, de maneira continuada e com maior
quantidade de dados, as diferenças entre as variáveis temperatura do ar, umidade relativa, precipitação,
direção e velocidade do vento, medidas nas zonas urbana e rural, resultando em gráficos e tabelas
representando o comportamento anual dessas variáveis.
Organizam-se as informações sobre a direção e velocidade do vento incidente no município, a partir da
produção das rosas dos ventos para as diferentes estações do ano, com o uso do software WRPLOT View
(http://www.weblakes.com/products/wrplot/), versão 7.0.0. As rosas dos ventos mostram a frequência de

855
ocorrência de ventos em cada direção e classes de velocidade do vento para um determinado período de
tempo e local.
Para efeito de validação das informações obtidas pelas estações urbana e rural, utilizam-se as
informações da estação do INMET, disponíveis desde 2006, observando-se se o comportamento das
variáveis estudadas corresponde à série histórica registrada.
Utiliza-se, de maneira complementar, as informações contidas na classificação climática do Estado de
Mato Grosso, proposta por Maitelli (2005) e informações acerca do movimento aparente do Sol, a partir dos
softwares Luz do Sol e Sunpath, desenvolvidos pelo Prof. Maurício Roriz na UFSCar.

3.1.1 Equipamentos Utilizados


A estação meteorológica no campus da Universidade de Mato Grosso (UNEMAT) em Sinop-MT, é uma
Vantage Pro2, do fabricante Davis Instruments. Essa estação é composta por duas unidades principais, sendo
um conjunto integrado de sensores e um console de apresentação e registro dos dados obtidos. A
comunicação entre essas duas unidades se dá através de sistema “wireless” que tem alcance máximo de 300
metros (DAVIS INSTRUMENTS, 2012a). Na tela do console, é possível visualizar os dados meteorológicos
da estação (Figura 2). Fornece ainda gráficos e alarmes de funções e permite a interface com um
computador, usando o software “WeatherLink”, disponibilizado pelo fabricando na aquisição do
equipamento. O conjunto de sensores é composto por um coletor de chuva, sensores de temperatura e
umidade e anemômetro (Figura 2). Os sensores de temperatura e umidade são montados dentro de uma
proteção contra radiação de modo a minimizar seu impacto nas leituras dessas variáveis. A estação fixa foi
acrescida de um sensor de radiação solar (ausente na configuração básica do conjunto), possibilitando a
comparação com os dados fornecidos pela estação meteorológica rural.
(A) (B)

Figura 2 – Instrumentos de medições da estação Vantage Pro2: (A) Console e (B) Conjunto de sensores (Adaptado de Davis, 2014).

Alguns cuidados na instalação e operação dessa estação fixa são importantes. Deve-se buscar local de
instalação próximo à região central da cidade, de modo a evidenciar a influência do tecido urbano nas
variáveis medidas. De qualquer modo, em virtude da ocupação do campus, não foi possível a instalação do
conjunto medidor de temperatura e umidade relativa do ar entre 1,5 e 2,0 metros de altura (mais comumente
utilizada). Desse modo, optou-se pelo posicionamento do conjunto medidor de temperatura, umidade
relativa, radiação solar e precipitação a uma altura de 6,0 metros. Já o medidor de velocidade e direção do
vento foi montado a uma altura de 9,5 metros, próximo à recomendada para essa finalidade. O conjunto
medidor opera com conjunto de baterias carregadas por placa fotovoltaica, e o console, com baterias e
energia elétrica fornecida pela rede (em caso de interrupção do fornecimento pela rede, as baterias são
acionadas).

4. RESULTADOS
4.1. CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SINOP-MT
O município de Sinop está localizado na região Norte do Estado de Mato Grosso, com população estimada
em 123 mil habitantes e IDHM de 0,754, sendo considerado alto. A sede do município está nas coordenadas
11,86°S e 55,5° W, (IBGE, 2013; PNUD, 2013). Tem altitude média de 380 m e extensão territorial de 3.528
km², sendo que a sede do município encontra-se a cerca de 500 km de distância da capital do Estado (Figura
3-A). Encontra-se na região conhecida como Amazônia Legal e está localizada no bioma da Amazônia. No
entanto, de acordo com IBGE (2004), a região também sofre influência do bioma do Cerrado. Devido a essas
características, a vegetação do município é denominada mata de transição.

856
A população do município passou por rápida evolução. No ano de 1991 contava com 36.883
habitantes, sendo a taxa de urbanização de 86,98%. No ano 2000, essa população salta para 75.002, num
crescimento de 49 %, aumentando também a taxa de urbanização para 90,27 %. Já no ano de 2010, a
população recenseada era de 113.099, crescendo 66 %, com taxa de urbanização da ordem de 82,89 %
(PNUD, 2013). A diminuição da taxa de urbanização nesse último período se deve, entre outros fatores, ao
aumento das atividades agrícolas a partir do fim do ciclo de exploração da madeira, fixando mais população
nas áreas rurais.
Segundo a classificação adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que segue o
modelo climático prescrito por Köppen, o clima da região é Equatorial Quente e Úmido, caracterizado por
temperaturas médias superiores a 18 °C, em todos os meses do ano, além de apresentar três meses secos
(IBGE, 2002). No entanto, uma classificação climática mais detalhada é apresentada no Zoneamento
Socioeconômico-ecológico de Mato Grosso (MAITELLI, 2005), esquematizada na Figura 3-B.
(A) (B)

Figura 3 – Caracterização do município de Sinop-MT: (A) Mapa político, destaque para o município (adaptado de IBGE, 2014); (B)
Classificação climática de Mato Grosso (Adaptado de Maitelli, 2005).

O movimento aparente do sol na latitude da cidade de Sinop (Figura 4) mostra que a vertente Norte
tem grande incidência solar entre os meses de março e setembro, sendo a vertente Sul com menor incidência
ao longo do ano, entre os meses de novembro e fevereiro. No solstício de verão entre as 05:40 e 18:20 horas,
e no solstício de inverno entre as 06:20 e 17:40 horas e no equinócio, há presença do Sol entre as 06:00 e
18:00 horas.
(A) (B)

Figura 4 – Diagrama solar: (A) Perspectiva do movimento aparente do Sol (B) em Sinop (Software Luz do Sol e Sunpath, UFSCar)

Devido à rápida ocupação e ao modelo econômico adotado, baseado na extração de madeira, o


município de Sinop passou por um processo de desmatamento bastante acelerado, principalmente até meados
dos anos 2000, quando regras e fiscalização mais rígidas foram implantadas na região. A Figura 5 mostra a

857
evolução do desmatamento no município entre os anos de 1996 e 2011, deixando claro que a região mais
prejudicada no decorrer desse período foi o entorno da cidade, sendo que, a menos afetada, encontra-se às
margens do Teles Pires. De qualquer forma, o que se observa é um intenso desmatamento, devido, sobretudo,
à extração de madeira (até meados dos anos 2000) e, num segundo momento, à ocupação de algumas áreas
com culturas agrícolas (soja, milho e algodão).

Figura 5 – Evolução do desmatamento no munícipio de Sinop-MT (CPDIO, 2014)

Outra análise importante diz respeito à dinâmica das áreas ocupadas com vegetação rasteira, de acordo
com as Estações do ano (Figura 6). Usando o ano de 2007, como exemplo, observa-se que na estação seca,
de pouca precipitação, e devido à quase inexistência de sistemas de irrigação, a maior parte das áreas
agrícolas e demais áreas desmatadas no entorno da cidade permanecem com superfície em solo exposto. Já
na estação chuvosa, principalmente após o plantio das culturas de soja, milho e algodão, a parcela ocupada
por vegetação rasteira aumenta substancialmente, em todo município.

Figura 6 – Diferenças de ocupação de áreas no município de Sinop nas estações seca e chuvosa no ano de 2007 (CPDIO, 2014).

Em 2007, na estação seca, a área ocupada por vegetação densa era de 1.494,6 km² ou 37,7 % do total,
solo exposto correspondia a 1.676,9 km² ou 42,2 %, e vegetação rasteira estava presente em 779,5 km² ou
19,7 % do total. Já na estação chuvosa, a vegetação densa correspondia a 1457,8 km² sendo 36,7 % das
superfícies do município. O solo exposto estava presente em 547,7 km² ou 13,8 %, e as áreas ocupadas por
vegetação rasteira somavam 1.943,3 km², ou 49 % do total. Fica clara a grande diferença de valores entre as
estações, no que diz respeito às áreas ocupadas por solo exposto e vegetação rasteira, enquanto os valores de
vegetação densa e corpos d´água se mantiveram praticamente os mesmos. Isso demonstra que o regime de
chuvas dita, em grande parte, o tipo de cobertura do solo nos arredores da cidade e em todo município.
Assim, há diferenças substanciais na absorção e liberação de radiação pelas superfícies, além de diferenças
na umidade presente no ar.

858
Ocorre que superfícies em solo exposto possuem albedo maior, refletindo mais radiação solar para a
atmosfera. Isso faz com que o ar fique mais quente e seco nessas regiões, já nas primeiras horas do dia e até
o anoitecer. Já as superfícies vegetadas possuem menor albedo, absorvendo uma parcela maior da radiação
incidente. Como as plantas utilizam radiação solar nos processos de fotossíntese e evapotranspiração, e há
menos radiação refletida, o ar nessas regiões tende a ser menos quente e mais úmido, em comparação com
áreas em solo exposto. Zamparoni (2001) utilizou dados de 1973 a 1998, oriundos da estação manual
instalada no município de Vera, a cerca de 70 km de distância de Sinop. Esse estudo verificou que em
Sinop, o desmatamento nesse período foi de 47,08%, a partir do processo de ocupação da área na década de
1970. Mostrou ainda um acréscimo nas médias anuais das temperaturas do ar, das máximas e mínimas, um
decréscimo nos valores das médias anuais das chuvas e acréscimos nos valores das médias anuais da
umidade relativa, concluindo que as modificações nas variáveis climáticas possuem relações com o processo
de desmatamento e o processo de urbanização do campo no município.

4.2. Meio Rural versus Meio Urbano


As diferenças de velocidade e direção dos ventos, entre as áreas rurais e urbanas, foram analisadas a partir da
comparação entre a estação meteorológica instalada na Embrapa (rural), e a estação meteorológica instalada
na UNEMAT (urbana), ambas no período de setembro de 2013 a agosto de 2014.
A estação da Embrapa mostra que no período de um ano, a direção predominante encontrada foi a
Nordeste, com velocidade média de 1,67 m/s e 5,24% de calmarias. Os dados referentes à estação seca
mostram que a direção do vento é Leste, com velocidade média do vento de 1,8 m/s e 5,13 % de calmarias.
Já os dados da estação chuvosa mostram direção dos ventos NNE, velocidade de 1,6 m/s e 5,20 % de
calmarias (Figura 7). Fica clara a diferença entre as duas estações do ano no que se refere à direção
predominante dos ventos, o que já havia sido registrado no estudo de Santos e Sanches (2013).
(A)

(B) (C)

Figura 7 – Rosas dos ventos da estação meteorológica da EMBRAPA: (A) Período anual; (B) estação Seca e (C) estação chuvosa

Na estação da UNEMAT, em meio urbano, as condições encontradas são diferentes das encontradas
no meio rural. Neste caso, a direção predominante no período de um ano foi Leste, com velocidade média do
vento de 0,75 m/s e 42,53 % de calmarias. Mostra que na cidade, além de alteração considerável na direção,

859
os ventos ainda se apresentam com velocidade média reduzida (cerca de 55 % menor que no meio rural) e é
observado um percentual de calmarias muito maior. O atrito e as barreiras do meio urbano se mostram
relevantes nesse contexto, contribuindo com alterações significativas e prejudiciais no que se refere à
formação de microclimas. A rosa dos ventos da estação seca mostra direção Leste, velocidade média de 0,87
m/s e 21,05 % de calmarias. Já na estação chuvosa, observa-se direção NNE, velocidade média de 0,67 m/s e
23,70 % de calmarias (Figura 8). A análise das estações do ano mostra similaridades com as condições
observadas na estação meteorológica rural no quesito direção dos ventos. A diferença na estação urbana fica
por conta da maior frequência de ventos Leste registrados na estação seca, o que acaba por influenciar a
direção predominante anual.
(A)

(B) (C)

Figura 8 – Rosas dos ventos da estação meteorológica da UNEMAT: (A) Período anual; (B) estação Seca e (C) estação chuvosa

Observa-se que ao longo de todo o ano


avaliado, as velocidades médias registradas
foram sempre superiores na área rural, que
registrou sua menor média no mês de abril de
2014 (1,29 m/s) e maior média no mês de agosto
de 2014 (2,20 m/s). Já na estação urbana
(UNEMAT), o mês que registrou a menor média
foi dezembro de 2013 (0,53 m/s) e a maior
média foi registrada no mês de julho de 2014
(0,95 m/s). De qualquer forma, nota-se que
durante o ano, as diferenças entre as médias das
estações meteorológicas foram sempre
9 – Velocidades médias do ar nas estações meteorológicas
acentuadas, chegando a 1,30 m/s de diferença no Figura
da EMBRAPA e UNEMAT para o período de setembro de 2013 e
mês de agosto de 2014 (Figura 9). agosto de 2014

860
Com relação à temperatura do ar,
observam-se maiores valores médios registrados
na estação urbana, em comparação com a
estação rural (Figura 10). A estação urbana
registrou sua maior temperatura média no mês
de agosto de 2014 (28,1 °C) e sua menor
temperatura média no mês de janeiro de 2014
(24,9 °C). Já a estação rural teve seu maior
registro de temperatura média no mês de
setembro de 2013 (26,4 °C) e o menor registro
em janeiro de 2014 (24,3 °C). Analisando todo o
ano, nota-se uma diferença de 1 °C entre as duas
estações (26,1 °C, urbana e 25,1 °C, rural),
Figura 10 – Temperatura médias do Ar nas estações
sendo o mês de agosto de 2014, o que meteorológicas da EMBRAPA e UNEMAT para o período de
apresentou maior diferença entre as estações setembro de 2013 e agosto de 2014
meteorológicas (1,9 °C).
Como esperado, as médias mensais de
umidade relativa do ar apresentaram
comportamento inverso com relação às medias
de temperatura do ar (Figura 11). Porém, neste
caso, as diferenças encontradas entre as duas
estações meteorológicas foram
significativamente menores. Em quase todos os
meses pesquisados, a estação urbana apresentou
média de umidade superior à estação rural. Isso
já evidencia a maior presença de umidade no
meio urbano de Sinop, que apesar de reter
menos umidade e de possuir menos vegetação,
Figura 11 – Umidade Relativa do Ar médias do ar nas estações
possui maior ocorrência de precipitações em meteorológicas da EMBRAPA e UNEMAT para o período de
comparação ao meio rural, conforme discussão setembro de 2013 e agosto de 2014
posterior. No contexto anual, observa-se uma
diferença de apenas 1% entre as estações,
evidenciando os registros semelhantes dessa
variável em ambas as estações meteorológicas.
O gráfico da precipitação acumulada,
Figura 12, comprova a maior incidência de
chuvas no meio urbano de Sinop. Observa-se um
volume maior de água em praticamente todos os
meses do ano na estação da UNEMAT, com
exceção do mês de fevereiro de 2014. Em ambas
as estações meteorológicas, o mês com maior
registro de precipitação foi o mês de dezembro
de 2013, registrando 913,1 mm e 684,0 mm nas Figura 12 – Precipitação acumulada nas estações meteorológicas da
estações da UNEMAT e Embrapa, EMBRAPA e UNEMAT para o período de setembro de 2013 e
agosto de 2014
respectivamente.
No acumulado do ano, observa-se uma diferença de 661,6 mm (cerca de 30 % a mais), entre as
estações meteorológicas (2917,4 mm, urbana, e 2255,8 mm, rural). Os registros analisados comprovam a
tendência de maior ocorrência de chuvas em áreas urbanas, em comparação com o entorno rural. Como o
meio urbano tem temperaturas do ar maiores, há maior evaporação de água na superfície, além do fato de
que na cidade há maior presença de materiais particulados, provenientes da poluição do ar, facilitando a
formação de nuvens e, consequentemente, a ocorrência de precipitações.

5. CONCLUSÕES
O método proposto nesta pesquisa baseia-se, fundamentalmente, em procedimentos empíricos e posterior
tratamento estatístico dos dados obtidos, auxiliado pela utilização de novos equipamentos e softwares,
demonstrando obtenção de dados climatológicos eficaz, pouco onerosa e prática. A partir de apenas dois
conjuntos de sensores, compactos e robustos, organizados em estações fixas, foi possível a comparação de

861
dados climatológicos entre os meios urbano e rural. Para cidades de pequeno e médio porte, com topografia
pouco acidentada, tal configuração se mostrou suficiente para evidenciar as alterações climáticas entre essas
duas realidades.
Observou-se que na estação seca, a área ocupada por vegetação densa era de 37,7%, de solo exposto
de 42,2% e vegetação rasteira estava presente em 19,7 % do total. Na estação chuvosa, a área de vegetação
densa correspondia a 36,7%, de solo exposto a 13,8% e de vegetação rasteira a 49% das superfícies do
município. Dessa forma, constatou-se que as áreas ocupadas por solo exposto e vegetação rasteira variam
significativamente entre as estações do ano, enquanto os valores de vegetação densa e corpos d´água se
mantiveram praticamente os mesmos. Isso demonstra que o regime de chuvas dita, em grande parte, o tipo de
cobertura do solo nos arredores da cidade e em todo município, influenciando decisivamente as demais
variáveis climatológicas.
As medições de velocidade e direção dos ventos, entre as áreas rurais (EMBRAPA) e urbanas
(UNEMAT), mostram que a direção predominante no meio rural, para o período de um ano, é de nordeste
com velocidade média de 1,67m/s e, nos períodos da seca e chuva, as direções são leste (E) e norte-nordeste
(NNE) com velocidade média de 1,8m/s e de 1,6m/s, respectivamente. Na área urbana, para o período de um
ano, é de leste (E) com velocidade média de 0,75m/s e nos períodos da seca e chuva, as direções são leste (E)
e norte-nordeste (NNE) com velocidade média de 0,87m/s e de 0,67m/s, respectivamente.
Demonstra que o atrito e as barreiras do meio urbano se mostram relevantes nesse contexto, com
redução da velocidade em todos os períodos estudados, contribuindo com alterações significativas e
prejudiciais no que se refere à formação de microclimas.
Por fim, conclui-se que a partir dessa metodologia, torna-se possível observar as diferenças das
variáveis pesquisadas, mostrando as diferenças climáticas entre os ambientes rurais e urbanos, contribuindo
com o planejamento urbano e principalmente de medidas mitigadoras do aquecimento urbano.

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(Doutorado em Geografia). São Paulo, FFLCH – USP, 2001. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas,
Universidade de São Paulo, 2001.

AGRADECIMENTOS
À Universidade do Estado do Mato Grosso (UNEMAT), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes).

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VERTICALIZAÇÃO E AMBIENTE TÉRMICO URBANO: ESTUDO DE
PARÂMETROS URBANÍSTICOS EM FRAÇÃO URBANA NA CIDADE DE
ARAPIRACA/ AL
Luana K. de V. Brandão (1); Ricardo V. R. Barbosa (2); Gianna M. Barbirato (3)
(1) Arquiteta e Urbanista, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Dinâmicas do Espaço Habitado,
luana.arquiteta@outlook.com
(2) Mestre e Doutor, Professor adjunto do Curso de Arquitetura e Urbanismo, rvictor@arapiraca.ufal.br
(3) Mestre e Doutora, Professora associada da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, gmb@ctec.ufal.br
Universidade Federal de Alagoas, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Grupo de Estudos da Atmosfera
Climática Urbana, Av. Manoel Severino Barbosa, Bom Sucesso, 57309005, Arapiraca/ AL, Tel.: (82) 3214-
1309

RESUMO
O processo de desenvolvimento da urbanização nas cidades brasileiras, salvo raras exceções, ocorreu em
ritmo acelerado de densificação e sem um prévio planejamento urbano, desta forma há uma crescente perda
na qualidade de vida no meio ambiente urbano, seguida de diversos impactos ambientais, como: ilhas de
calor, enchentes, efeito smog, dentre outros. Nesse contexto, insere-se o papel da Climatologia Urbana, que
apresenta no Urbanismo Bioclimático estratégias e diretrizes que, se observadas, podem nortear uma melhor
adequação do clima local com a configuração e uso do espaço urbano. Nesse contexto, o presente trabalho
toma como objeto de estudo a cidade de Arapiraca/ AL, cujo processo de urbanização se encontra em fase
inicial de verticalização, contudo, sua legislação urbanística não apresenta parâmetros urbanísticos
equivalentes a esse desenvolvimento urbano. Assim, tem-se como objetivo analisar a influência da
verticalização no ambiente térmico urbano a partir da avaliação do desempenho climático de cenários
urbanos hipotéticos com base nos parâmetros urbanísticos atualmente em vigor e em parâmetros urbanísticos
tradicionais. Isso foi possível por meio de simulações computacionais com o software ENVI-met. Os
resultados das simulações computacionais evidenciaram a ventilação natural como a principal estratégia
bioclimática a ser adotada para favorecimento de boas condições térmicas no ambiente urbano de clima
semiárido, comprovaram a necessidade de revisão dos parâmetros urbanísticos presentes nos mecanismos
que legislam sobre o uso e ocupação do solo urbano de Arapiraca/ AL, como também, confirma a
importância do urbanismo bioclimático como ferramenta para o planejamento urbano.
Palavras-chave: Climatologia Urbana, Planejamento Urbano, Verticalização, ENVI-met.

ABSTRACT
The process of development of urbanization in Brazilian cities, with rare exceptions, occurred at an
accelerated rate of densification and without previous urban planning, thus there is a growing loss of quality
of life in the urban environment, followed by several environmental impacts, such as: islands of heat, floods,
smog effect, among others. In this context, the role of Urban Climatology is inserted, which presents in
Bioclimatic Urbanism strategies and guidelines that, if observed, can guide a better adaptation of the local
climate with the configuration and use of urban space. In this context, the present study takes as object of
study the city of Arapiraca / AL, whose urbanization process is in the initial stage of verticalization,
however, its urban legislation does not present urban parameters equivalent to this urban development. The
aim of this study is to analyze the influence of verticalization in the urban thermal environment, based on the
evaluation of the climatic performance of hypothetical urban scenarios based on the urban parameters
currently in force and on traditional urban parameters. This was possible through computational simulations
with the ENVI-met software. The results of the computational simulations evidenced the natural ventilation
as the main bioclimatic strategy to be adopted to favor good thermal conditions in the urban environment of
semi-arid climate, confirmed the need to review the urban parameters present in the mechanisms that

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legislate on the use and occupation of the soil Arapiraca / AL, as well as confirms the importance of
bioclimatic urbanism as a tool for urban planning.
Keywords: Urban Climatology, Urban Planning, Verticalization, ENVI-met.

1. INTRODUÇÃO
O relatório intitulado Perspectivas da Urbanização Mundial (ONU, 2014), afirmou que, mais pessoas vivem
em áreas urbanas do que em áreas rurais, com 54% da população mundial residindo em áreas urbanas em
2014 (ONU, 2014). O último censo realizado pelo Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2010), constatou que a população urbana brasileira corresponde a 84,36% de seu total.
Concomitantemente, “A vivência nas cidades, principalmente nas do cenário brasileiro e dos países
periféricos, tem sido caracterizada pela crescente perda da qualidade de vida, acompanhada de impactos
ambientais decorrentes dos padrões de produção e consumo.” (BARBIRATO, TORRES, BARBOSA, 2015,
p. 50). A ação antrópica no espaço natural gera um clima tipicamente urbano. Diante disso, um dos grandes
desafios dos centros urbanos é conciliar crescimento e desenvolvimento urbano e econômico com o
equilíbrio entre a geração de riqueza e qualidade de vida e ambiental.
Nesse sentido, segundo Barbirato, Torres, Barbosa (2015), insere-se o papel da bioclimatologia
aplicada ao projeto arquitetônico e urbano, fundamentada pelo princípio de adaptação dos elementos
construídos ao meio ambiente, a partir de considerações climáticas, a bioclimatologia apresenta significativa
contribuição para o alcance da sustentabilidade urbana, baseando-se no aproveitamento dos recursos passivos
(naturais) de climatização dos espaços edificados.
O equilíbrio entre inputs e outputs no sistema urbano é a base conceitual da bioclimatologia
arquitetônica e urbana. Higueras (2006) reforçou o papel da bioclimatologia no planejamento do meio
urbano, difundindo o conceito de urbanismo bioclimático. A autora ainda indica que para cada lugar deve
existir um planejamento específico. Pois, de acordo com Ugeda J. e Amorim (2016), as cidades crescem de
forma diversificada, mesmo que, muitos problemas sejam comuns, a variação de intensidade, de frequência
de ocorrência, e da população atingida confere, à cada cidade, particularidades e especificidades próprias,
com maior ou menor grau de risco e de impactos à qualidade ambiental e a qualidade de vida da população.
Logo, cada cidade apresenta particularidades quanto ao seu perfil climático e quanto aos fatores que
influenciam este perfil.
Nesse contexto, a literatura aponta o modelo de cidade compacta como ideal para o alcance da
sustentabilidade urbana, visto que o modelo de malha urbana dispersa, de acordo com Barbirato, Torres,
Barbosa (2015), gera problemas ambientais em face ao espalhamento da estrutura urbana, eliminando
coberturas vegetais nativas, aumentando demandas por consumo de energia, exigindo intenso uso de veículos
para transporte de mercadorias e pessoas (aumentando a poluição do ar através da emissão de gases
provenientes de combustíveis fósseis), afetando, também, a elevação da impermeabilização do solo natural
decorrente da pavimentação excessiva (exercendo sérios danos ao ciclo hidrológico, causando enchentes,
impactando o clima urbano).
Segundo o modelo de cidade compacta, o adensamento urbano deve ser estimulado, pois áreas
adensadas implicam na otimização de infraestrutura urbana, na diversidade de usos e na redução do tempo de
deslocamento. Vale ressaltar que, no modelo de cidade compacta é imprescindível o estudo de parâmetros de
forma e morfologia urbana para o controle do adensamento urbano por meio da verticalização, visto que “um
arranjo de alta densidade sem o planejamento necessário pode criar uma série de problemas, incluindo
também aspectos ambientais” (GUSSON, 2014, p.5). E, ao considerar que os processos peculiares à
dinâmica da urbanização da maioria das cidades brasileiras são caracterizados pelo “ritmo acelerado de
densificação e verticalização” (SCUSSEL, SATTLER, 2010, p.138), torna-se emergencial a adoção dos
conceitos do urbanismo bioclimático no processo do planejamento urbano refletido nas diretrizes
urbanísticas contidas nos planos, códigos e leis municipais.
Uma importante ferramenta para o estudo da adequação da morfologia urbana ao clima local é o
software ENVI-met. O ENVI-met corresponde hoje a uma ferramenta computacional fundamentada em um
modelo tri-dimensional de clima urbano que simula as relações entre a estrutura urbana e o ambiente,
oferecendo várias possibilidades de aplicação e associações, permitindo a simulação do ambiente térmico
urbano (BRUSE, 2010). Desta forma, esse foi o programa selecionado para realizar as simulações deste
trabalho.

2. OBJETIVO
O presente trabalho teve como objetivo analisar a influência da verticalização em microclimas urbanos,
tomando a cidade de Arapiraca/AL como estudo de caso, com base em parâmetros urbanísticos atualmente
em vigor e parâmetros urbanísticos tradicionais.

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3. MÉTODO
Os procedimentos metodológicos deste trabalho estão dividido em cinco etapas:
1. Diagnóstico do perfil climático de Arapiraca/ AL.
2. Seleção do Tecido Urbano para Análise do Desempenho Climático.
3. Elaboração dos Cenários Hipotéticos para simulação

3.1. Diagnóstico do perfil climático de Arapiraca/ AL


Segundo Santos (2011), o município de Arapiraca está inserido na mesorregião do agreste alagoano (área de
transição entre a zona da mata e a zona das caatingas interioranas), o qual possui clima do tipo Tropical
Chuvoso com verão seco.
Janeiro Fevereiro Março Abril

Maio Junho Julho Agosto

Setembro Outubro Novembro Dezembro

Figura 1 – Frequência média mensal da velocidade do vento a 3 m do solo no município de Arapiraca-AL no período de
maio de 2008 a abril de 2015.
Na Figura 1, é possível observar a frequência média mensal das direções predominantes e os dados
de velocidade média mensal do vento, em m/s, tomados a 3 m do solo, no município de Arapiraca-AL, no
período de maio de 2008 a abril de 2015. A partir dos dados observa-se que os ventos em Arapiraca possuem
a predominância dos ventos provenientes da direção Leste (E), no período de outubro a abril, e da direção
Sudeste (SE), no período de maio a setembro. Já a velocidade média anual é de 2,62 m/s. As maiores
velocidades médias foram observadas no período de verão (novembro a janeiro) e as menores médias no
período de inverno (maio a julho).
Sobre a temperatura do ar, Silva et al. (2017) realizou um estudo que, a partir de dados mensais
obtidos por meio de uma estação automática do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) no município,
foram geradas as médias de cada variável para cada mês do ano durante o período de maio de 2008 (ano em
que a estação foi instalada) a abril de 2016.

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Figura 2 – Temperatura média do ar (°C). Figura 3 – Comportamento pluviométrico (mm).

De acordo com Silva et al. (2017), a análise dos dados mostrou que o período que vai de meados de
setembro até o mês de abril e início de maio tem uma curva ascendente nos níveis de temperatura do ar,
exibindo características notáveis de uma estação tipicamente quente, como visto na Figura 2.
Arapiraca apresenta uma pluviosidade extremamente irregular, como mostra a figura 3, com maior
incidência de chuvas nos meses de maio, junho e julho. No geral, os totais pluviométricos anuais variaram
muito ao longo do período analisado.

3.2. Seleção do Tecido Urbano para Análise do Desempenho Climático


Para seleção do tecido urbano de Arapiraca/ AL com tendência à verticalização foi preciso, primeiramente,
fazer um recorte temporal para avaliar a fração urbana com maior concentração de edificações com mais de
quatro pavimentos.
Assim, utilizou-se o período temporal de 2006 a 2019, pois foi o ano de inauguração do Campus da
Universidade Federal de Alagoas no município, um marco para o desenvolvimento urbano de Arapiraca/ AL.
Um outro dado relevante foi o lançamento do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), em 2007, pelo
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), pois gerou significativo crescimento urbano na malha
urbana da cidade.
De acordo com o recorte temporal selecionado, tem-se os seguintes dados:

Figura 4 – Recorte temporal com as edificações verticalizadas construídas em Arapiraca/ AL.


A partir do recorte temporal ilustrado acima, é possível perceber que as edificações verticalizadas
variam entre os usos de residencial e empresarial e que se concentram nos seguintes bairros: Alto do
Cruzeiro, Itapoã, Novo Horizonte e Senador Arnon de Melo. Todos têm como ponto de congruência a Av.
Dep. Ceci Cunha, parte valorizada da cidade que apresenta características particulares, como: lotes com áreas
de 12m x 25m e presença de áreas verdes arborizadas. O comprimento das ruas é de 8m e das calçadas, de

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1,5m. Para simulação foi selecionado uma fração urbana com a área de 340m x 300m (x e y), que
corresponde a 102.000m²:

Figura 5 – Tipologia espacial selecionada na Avenida Deputada Ceci Cunha, Arapiraca/ AL.

3.3. Elaboração dos Cenários Hipotéticos para Simulação


Para que as simulações computacionais tivessem um resultado bem sucedido, foi preciso configurar os dados
de entrada cuidadosamente. Para a realização das simulações 02 (dois) arquivos foram gerados: um arquivo
que consta o desenho da área (arquivo de extensão .IN), e outro arquivo com a configuração dos dados
climáticos (arquivo de extensão .CF), com a determinação dos parâmetros a serem simulados.
Neste primeiro arquivo que trata da configuração da área foram editados os elementos básicos,
como: o tipo de vegetação existente, o tipo de revestimento do solo e o gabarito das edificações,
especificando também suas diferentes alturas. Nesta etapa é possível importar uma imagem, em arquivo de
extensão .BMP, que servirá de base para editar todas essas configurações. A imagem da base cartográfica
digital (planta-baixa) contendo o traçado urbanístico das áreas de estudo foram adquiridas por meio da
Prefeitura de Arapiraca, mas por ser um documento de 2013, foi necessário realizar alguns levantamentos in
loco para demarcar algumas novas áreas construídas e em construção, a vegetação existente e o tipo de
cobertura dos solos, que são dados essenciais para modelação no programa ENVI-met.
No que tange a preparação para as simulações computacionais das variáveis climáticas, no
desenvolvimento das modelagens a serem simuladas foi levado em consideração o Coeficiente de
Aproveitamento (CA) e os Recuos. Esses parâmetros urbanísticos tidos como tradicionais por Brandão
(2009), tem relação direta com a verticalização, e aqui serão analisadas a relação destes com a ventilação
natural e a temperatura do ar.
Assim, os parâmetros urbanísticos tradicionais, presentes na simulação, tiveram como base os dados
encontrados no Código de Edificações de Arapiraca/ AL, que apresenta os seguintes parâmetros
construtivos: recuo frontal de 3m e recuo lateral e posterior de 1,5m. O presente trabalho também utilizou
parâmetros construtivos presentes no Código de Edificações de Maceió/AL de zona equivalentes a fração
urbana selecionada para estudo. Desta forma, usou-se na Tipologia Espacial selecionada: o cenário atual de
ocupação; e outros três cenários hipotéticos, considerando uma ocupação urbana com CA= 2 e recuo mínimo
de 1,5m; outro com CA= 4 e recuo mínimo de 1,5m; e por fim, um último com CA= 4 e recuo progressivo,
conforme tabela 2.
Tabela 1 - Padrões Urbanísticos adotados na pesquisa
Recuo Progressivo Usado na Pesquisa*
Número de Pavimentos Frontal (m) Laterais e de Fundo (m)
1 ou 2 3 1,5
3 ou mais R= 3+(n-2) /2 R=1,0+(n-2) /2
R: recuo
n: número de pavimentos
*Dados obtidos do Código de Edificações de Maceió/AL.

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A figura 6 apresenta a modelagem dos dados de entrada no programa ENVI-met, que configuram os
futuros cenários hipotéticos.

a) Cenário Atual b) Ocupação de CA=2 e recuo=1,5m

c) Ocupação de CA=4 e recuo=1,5m d) Ocupação de CA=4 e Recuo Progressivo

Figura 6 – Modelagens da tipologia espacial selecionada.

Partindo para a calibração do arquivo de configuração dos dados climáticos, a tabela 2 sintetiza os
dados configurados no arquivo de extensão .CF do programa ENVI-met.
Tabela 2 - Dados para Configuração Básica do Programa ENVI-met
DATA DO INÍCIO DA SIMULAÇÃO 01.01.2017
Hora do Início da Simulação 21:00 Umidade Específica do Ar a 8.53
2500m (g/kg)²
Total de Horas Simuladas 48 Umidade Relativa Média a 2m 72,4
(%)
Velocidade do Vento a 10m (m/s) 3 Umidade Mínima (às 15hr) / 41,4/94,6
Máxima (às 6hr)
Direção do Vento (0:N; 90:E; 180:S; Leste Temperatura Mínima (às 6hr) / 294.6/305.6
270:W) 90* Máxima (às 15hr)
Rugosidade 0,1 Temperatura Atmosférica (K) 299
* Direção do vento adotada como Leste, de acordo com informações presentes na Figura 1.

A hora da inicialização do modelo pressupõe condições de atmosfera neutra (do ponto de vista da
estabilidade estática), onde a temperatura potencial pode ser considerada constante ao longo da altura da
camada de mistura atmosférica. Por isso, foi adotado o horário de 21:00h para simulação. O dia selecionado
para realizar a simulação foi 01/01/2017, pois corresponde ao período de verão. E sobre a Umidade
Específica do Ar a 2500m (g/kg)², ela foi obtida a partir do site do dep. Ciências Atmosféricas da
Universidade de Wyoming. Corresponde aos dados coletados em região mais próxima de Arapiraca/AL,
obtidos em Recife-PE (82900). http://weather.uwyo.edu/upperair/sounding.html.
Há outros dados a serem configurados, como mostra a tabela 4.
Tabela 3 - Dados para Configuração Básica do Programa ENVI-met
Main model área x-Grids: 170 y-Grids: 150 z-Grids: 20
Nesting grids around main área 5 Nr of nesting grids
Set soil profils nesting grids Soil A: [00] Soil B: [00]
Grid size and structure in main area Dx= 2.00 Dy= 2.00 Dz= 2.00
Method of vertical grid generation Equidistant
Default wall/ roof properties Wall material: [C2] Roof material: [R1]
Model rotation out of grid north 320.00
Position on earth - 9.75 Latitude - 35.60
Reference time zone CET/ UTC-3 Name 45.00 Reference longitude
Reference level above sea level for DEM-0 264

868
4. RESULTADOS
A análise dos resultados está baseada na avaliação do desempenho climático de uma fração urbana com
diferentes densidades construtivas e padrões morfológicos, no universo empírico, como também, a partir do
estudo de cenários hipotéticos. Isso foi possível graças a adoção de um modelo teórico para a análise
referente ao desempenho dos cenários hipotéticos, o software ENVI-met, por ser bastante promissor para
simulações a escala do microclima urbano.
Os parâmetros da configuração urbana atual foram mantidos na Tipologia 1, no entanto, o restante
das tipologias seguiram outros padrões, como: na Tipologia 2 a modelagem apresenta ocupação de CA=2 e
recuo= 1,5m; a Tipologia 3 apresenta uma modelagem com ocupação de CA=4 e recuo= 1,5m, o padrão de
recuo ; e por fim, a Tipologia 4, que contou com alguns parâmetros construtivos que se adequam ao
desenvolvimento urbano e econômico em que a cidade de Arapiraca-AL se encontra, tendo em vista um
Urbanismo Sustentável, sua modelagem apresenta ocupação de CA=4 e recuo progressivo.

4.1. Análise da Correlação entre os Parâmetros Urbanísticos Quantificados para os Cenários


Hipotéticos e as Variáveis Climáticas
A partir dos mapas gerados pelo programa Leonardo 2014, vinculado ao ENVI-met 4.0, é possível analisar
nas simulações em corte a 1,4m do solo, às 15h (figura 7, 8, 9 e 10), que os maiores valores de temperatura
se concentram nos pontos caracterizados pelo revestimento do solo com presença de asfalto e concreto, e na
proximidade de edificações a sotavento, influenciadas pelas barreiras construtivas em relação ao fluxo de ar
predominante da direção leste.
No caso da Tipologia Espacial 1, o cenário atual, a variação de temperatura, às 15h, foi de 29,96°C a
32,73°C, correspondendo a 2,77ºC (figura 7a). Nota-se que os valores máximos de temperatura distribuem-se
nas vias de direção noroeste-sudeste e nordeste-sudoeste, com presença de asfalto. A orientação da via,
influencia consequentemente na parcela de radiação solar que penetra no espaço externo, provocando o
acúmulo de calor. Partindo para as condições de distribuição dos fluxos de ar no mesmo horário (figura 8b),
percebe-se que na mesma via são registrados os maiores valores de velocidade do fluxo de ar, não
influenciando diretamente na redução da temperatura do ar. (figura 7a).

(a) (b)
Figura 7 – Resultado da simulação da temperatura potencial máxima (a) e velocidade e direção dos ventos (b), da Tipologia
Espacial 1 (Cenário atual em Arapiraca/AL), para uma condição de verão, às 15h
Com relação aos fluxos de ar, observa-se uma significativa perda de velocidade nas áreas a
sotavento, e a formação de áreas de estagnação de ar, estando este fato mais nítido na fachada posterior da
edificação verticalizada que se encontra ao centro da área simulada.
Na Tipologia Espacial 2, com ocupação de CA=2 e recuo= 1,5m, a variação de temperatura, às 15h,
foi de 29,94 °C a 32,84°C, correspondendo a 2,9ºC (figura 8c). Os valores máximos de temperatura
continuam distribuídos nas vias de direção noroeste-sudeste e nordeste-sudoeste, por conta da presença de
asfalto. Todavia, é possível observar que houve um aumento na temperatura do ar em diversos pontos da
fração urbana selecionada, demonstrado pela expansão da cor vermelha, que indica de 30,5°C a 31°C, o que
configura desconforto térmico.
Na figura 8, nota-se duas vias de sentido sudeste-noroeste, a que se encontra à direita apresenta altas
temperaturas do ar, chegando aos 32.5°C, enquanto que a outra, à esquerda, apresenta temperaturas do ar
bem mais amenas. Isso porque na primeira há somente a presença do asfalto, enquanto na segunda via a
cobertura ainda é natural – e ainda há espaços com arborização no local (a área verde). Sendo assim, torna-se

869
importante optar por revestimentos com melhor taxa de albedo e preservar os espaços com vegetação, de
forma a proporcionar conforto térmico na malha urbana.

(c) (d)
Figura 8 – Resultado da simulação da temperatura potencial máxima (c) e velocidade e direção dos ventos (d), da Tipologia
Espacial 2 (Ocupação de CA=2 e Recuo= 1,5m), para uma condição de verão, às 15h
Outro ponto importante sobre a morfologia urbana na Tipologia 2, foi o recuo= 1,5m e como o
mesmo afetou, de maneira negativa, na ventilação natural, pois os corredores de velocidade dos ventos
demostram a canalização das vias com orientação noroeste-sudeste, ocasionando uma maior estagnação do ar
no interior das quadras e nas vias orientadas para o eixo nordeste-sudeste (figura 9d).

(e) (f)
Figura 9 – Resultado da simulação da temperatura potencial máxima (e) e velocidade e direção dos ventos (f), da Tipologia
Espacial 3 (Ocupação de CA=4 e Recuo= 1,5m), para uma condição de verão, às 15h
A Tipologia Espacial 3, com ocupação de CA=4 e recuo= 1,5m, mostra variação de temperatura, às
15h, de 28,86 °C a 31,88°C, correspondendo a 3,02ºC (figura 9e). As vias com revestimento asfáltico
permanecem como pontos onde as temperaturas estão mais elevadas, principalmente na via sentido noroeste-
sudeste. E todos os lotes situados às margens desta via sofrem o dano direto das altas temperaturas. Também
é possível observar que no interior das quadras, as temperaturas chegam a atingir 31,5°C, todavia as quadras
mais próximas a área verde apresentam temperaturas mais amenas, como de 29°C, evidenciando a
importância da adoção de espaços verdes e de recuos progressivos.
Ainda sobre a análise da temperatura do ar na Tipologia Espacial 3, vale ressaltar que, apesar das
edificações apresentarem CA=4 e recuo= 1,5m, as temperaturas máxima e mínima demonstraram valores
melhores que nas Tipologias anteriores. Isso se deve ao sombreamento causado pelas edificações
verticalizadas, que ameniza o ganho de calor. Em contrapartida a este dado, o sombreamento gera a
necessidade de iluminação artificial, aumentado o consumo de energia elétrica – ponto negativo à
sustentabilidade urbana.
Aliada à análise da temperatura do ar, tem-se a da velocidade do vento, levando em consideração
também sua direção. Na Tipologia Espacial 3 este dado apresentou os piores valores, como é possível
observar na figura 9f, chegando a velocidade de 7,02 m/s em diversos pontos da fração urbana em questão. É
possível perceber que esses pontos estão configurados nas duas vias de sentido noroeste-sudeste, formando
verdadeiros canais de ventilação urbana, provocando estagnação do ar no interior das quadras e nas vias com
orientação nordeste-sudoeste.
Vale destacar que, a orientação das vias é um fator muito importante, de maneira que, quando segue
a direção dos ventos predominantes (tendo também a rugosidade a seu favor), pode oferecer um bom

870
desempenho térmico ao microclima local. Como também a largura das vias, que auxiliam a ventilação, pois
diminuem a resistência encontrada pelas correntes de ar, como fica evidente na figura 9f, onde, se
compararmos as duas vias de sentido noroeste-sudeste, a via à esquerda apresenta os melhores valores, por
ter uma dimensão maior.
Contudo, apesar dos índices de temperaturas de ar serem mais favoráveis, a ventilação está
dramaticamente prejudicada pelo uso e ocupação do solo com CA=4 e recuo= 1,5m, provocando um
ambiente desconfortável, climaticamente. Agora, partiremos para a análise da última tipologia espacial.

(g) (h)
Figura 10 – Resultado da simulação da temperatura potencial máxima (g) e velocidade e direção dos ventos (h), da
Tipologia Espacial 4 (Ocupação de CA=4 e Recuo Progressivo), para uma condição de verão, às 15h
A Tipologia Espacial 4, com ocupação de CA=4 e recuo progressivo, mostra variação de
temperatura, às 15h, de 29,64 °C a 32,23°C, correspondendo a 3,59ºC (figura 10g). Um ponto a ser
ressaltado é que, apesar da Tipologia 4 apresentar temperaturas mais elevadas que a anterior, ao longo da
fração urbana, a temperatura do ar se manteve com padrões estáveis, tendo seus níveis mais elevados apenas
nas vias com revestimento asfáltico, e em seu entorno, evidenciando o efeito positivo do recuo progressivo.
Também é nítido como a temperatura do ar é mais amena nas proximidades da Área Verde, e onde o
revestimento do solo ainda é natural, chegando aos 30,5°C (como mostra na figura 10g).
Do mesmo modo que na Tipologia Espacial 3, as edificações verticalizadas favoreceram ao
sombreamento (ponto positivo para obter temperaturas do ar mais amenas), o mesmo aconteceu na Tipologia
Espacial 4. Logo, o sombreamento dos edifícios associado à melhora da circulação dos fluxos de ar com
maior velocidade (por conta do recuo progressivo), e a presença de arborização, contribuem para o
favorecimento do desempenho térmico.
Ademais, há a análise da velocidade do vento e sua direção, e o resultado foi bastante satisfatório,
em relação aos padrões urbanísticos usados. Essa afirmação se torna evidente ao analisarmos a velocidade
máxima do vento, que foi de 4,98m/s (ver figura 10h). E esta velocidade foi alcançada apenas em alguns
pontos na via sentido noroeste-sudeste, a que fica à direita. É interessante observar também como a
ventilação se comportou positivamente na via à esquerda, do mesmo sentido; pois, como mencionado
anteriormente, a largura da rua influencia de maneira direta na ventilação.
O recuo progressivo foi um fator chave para a potencialização da ventilação natural, nota-se a
formação de inúmeros canais de ventilação urbana que diminuíram drasticamente os pontos com estagnação
do ar no interior das quadras. Além disso, é possível observar na figura 10h, diversos pontos de turbulência
de vento, isso em cidades de clima quente – como é o caso de Arapiraca/AL – proporciona conforto térmico
ao pedestre, como também dispersas os poluentes presentes no ambiente citadino.
Portanto, o presente trabalho comprova a importância da análise do adensamento construtivo por
meio da verticalização com o fim de proporcionar um clima urbano com bons índices de conforto térmico a
nível do pedestre. E, assim, gerar qualidade de vida aos habitantes do município de Arapiraca/AL.

5. CONCLUSÕES
O presente trabalho analisou a influência de parâmetros urbanísticos, por meio de simulações
computacionais, realizadas com o programa ENVI-met, de cenários futuros hipotéticos, de forma a investigar
a influência da verticalização no desempenho climático dos espaços urbanos.
No caso da cidade de Arapiraca/ AL, por estar inserida numa região de clima semiárido, os parâmetros
urbanísticos a serem incorporados na legislação local devem auxiliar no melhor aproveitamento da
ventilação natural, como é o caso do CA e do recuo progressivo. Isso porque o processo de adensamento
urbano por meio da verticalização traz como ponto positivo a sombra, no caso de cidades de clima quente.

871
Todavia, quando há pouco recuo entre as edificações, a ventilação natural é prejudicada, gerando sensação de
desconforto térmico a nível do pedestre, como fica exposto na tipologia 3 simulada.
Portanto, torna-se evidente a importância da Climatologia Urbana como instrumento para o
Planejamento Urbano que vise proporcionar qualidade de vida no meio urbano, assim como mitigar os danos
ambientais já presentes nas cidades.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAPIRACA, Lei n. 2.220, de 2001. Institui Código de Obras e Edificações no Município de Arapiraca e dá outras
Providências. Disponível em: < http://web.arapiraca.al.gov.br/leis/codigo-de-obras-e-edificacoes-e-alteracoes/ >. Acessado
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The 2014 Revisin, Highlights (ST/ESA /SER.A /352).

AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao financiamento concedido por parte dos recursos despendidos pelo governo brasileiro, por
intermédio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por concessão da
bolsa de estudos do curso de Mestrado.

872
A ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DO POC EM EDIFICAÇÕES
NATURALMENTE VENTILADAS
Tiffany Nicoli Faria Latalisa França (1); Mario Alves da Silva (2); Joyce Correna Carlo (3)
(1) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Viçosa, tiffany.franca@ufv.br
(2) Graduando em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Viçosa,
silvalves.mario@gmail.com
(3) Doutora Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, joycecarlo@ufv.br
Universidade Federal de Viçosa Avenida Peter Henry Rolfs, s/n Viçosa – MG - Brasil CEP 36570-000
Tel.: (31) 3899-1982

RESUMO
O desempenho térmico de edificações com condicionamento passivo, isto é, que não consomem energia para
modificar as condições ambientais internas de uma edificação, emprega variáveis ambientais de conforto
térmico, que podem ser estimadas por meio de simulações de desempenho de edificações. A metodologia do
conforto adaptativo proposta pela norma ASHRAE 55, considera a temperatura como fator primordial para a
determinação da aceitabilidade de conforto térmico do usuário para um determinado clima e edifício,
permitindo assim que os projetistas verifiquem se um projeto é capaz de proporcionar conforto térmico
durante as diferentes estações do ano. Diante do exposto, para uma edificação previamente modelada na qual
as características dos sistemas construtivos poderiam variar, propôs-se a simulação de desempenho térmico
utilizando a ventilação natural e partindo-se de arquivos climáticos previamente desenvolvidos para a cidade
de Viçosa-MG. A partir disso, propôs-se uma análise comparativa entre os métodos de seleção do ano
climático representativo para condições de conforto térmico, para verificar o mais confiável para o clima
brasileiro. Utilizou-se o Energyplus para modelar e simular as características dos sistemas construtivos e dos
sistemas de condicionamento natural propostos. Foram comparados arquivos climáticos desenvolvidos a
partir de uma mesma base de dados, usando alguns dos métodos que o autor citado utilizou: os dois
principais métodos utilizados no Brasil, o TRY e o TMY brasileiro; um método utilizado nos EUA, o TMY3;
o método mais utilizado na Europa, o TRY europeu; o método multianual 3 anos, em que foi identificado
um ano de referência com os valores mais baixos de temperatura e radiação, um outro ano com os valores
mais altos de temperaturas e radiação, e um ano com valores médios para os mesmos parâmetros; e, por fim,
o multianual 10 anos, no qual foram analisados os dados para cada um dos 10 anos de dados climáticos
coletados para a cidade de Viçosa-MG. Assim como como foi indicado em estudos anteriores, em que o
TMY3 foi o formato sintético mais apropriado para edifícios condicionados, este estudo confirma seu uso
para edifícios naturalmente ventilados, pois mostra como o TMY3 descreve melhor a série temporal com um
único formato.
Palavras-chave: simulação computacional, conforto térmico, arquivos climáticos.

ABSTRACT
The thermal performance of buildings with natural conditioning -or that do not consume energy to modify
the internal thermal conditions of a building - employs environmental variables of thermal comfort, that can
be estimated by building performance simulation. The adaptive comfort methodology proposed by the
ASHRAE 55 standard considers temperature as a prime factor for determining the acceptability of the user's
thermal comfort for a given climate and building, thus allowing designers to verify that a design is capable of
providing thermal comfort during the different seasons of the year. Therefore, for a previously modeled
building in which the characteristics of the construction systems could vary, it was proposed a simulation of
the thermal performance using the natural ventilation using weather files previously developed for the city of
Viçosa-MG, Brazil. Then, an analysis compared methods of selection of the representative climatic year for
thermal comfort conditions, in order to point out the most reliable for the Brazilian climate. Energyplus was

873
used to describe ad simulate the characteristics of the construction systems and the proposed natural
conditioning systems. Weather files developed from the same database were compared using some of the
methods used by the cited author: the two main methods used in Brazil, TRY and the Brazilian TMY; a
method used in the USA, TMY3; the most widely used method in Europe, the European TRY; the 3
multiyear method, in which a reference year was identified with the lowest values of temperature and
radiation, another year with the highest values of temperatures and radiation, and one year with mean values
for the same parameters; and lastly the 10 multiyear, in which the data for each of the 10 years of climate
data, collected for the city of Viçosa-MG, were analyzed. As indicated by previous studies that TMY3 was
the most suitable synthetic format for conditioned buildings, this study confirms its use for naturally
ventilated buildings, as it shows how TMY3 best describes the time series with a single format.
Keywords: computational simulation, thermal comfort, climatic archives.

1. INTRODUÇÃO
Segundo Corbella e Yannas (2009) o objetivo da arquitetura bioclimática é proporcionar um ambiente
construído com conforto físico, adaptado ao clima local, que minimize o consumo de energia convencional e
que proporcione uma permanência sadia e agradável a seus ocupantes. Na busca por uma arquitetura que
atenda a esses requisitos, informações sobre variáveis ambientais e conforto térmico, podem prever
melhorias e possíveis ajustes ainda na fase de projeto. Nesse contexto, a simulação apresenta-se como
importante ferramenta de aproximação entre o virtual e a realidade projetual.
Na contemporaneidade, o debate acerca de alternativas construtivas eficientes energeticamente tem
ganhado espaço. Entre os recursos adotados para esse fim, destaca-se a ventilação natural, vista como
importante alternativa ao condicionamento artificial e na obtenção de conforto térmico. Nesse sentido, um
dos primeiros estudos data da década de 70 e foi feito pelo pesquisador dinamarquês Ole Fanger, através de
pesquisas realizadas em câmaras climatizadas, onde ele desenvolveu um método para avaliar o conforto
térmico nos ambientes.

Atualmente, tal modelo representa um dos principais métodos de avaliação de conforto


térmico nas normas internacionais da área, como a ISO 7730 (INTERNATIONAL..., 2005)
e a ASHRAE 55 (AMERICAN..., 2013), e é essencialmente indicado para avaliações gerais
de conforto térmico em que a velocidade do ar não ultrapassa 0,20 m/s (o que comumente é
observado em espaços condicionados artificialmente). (RUPP et al., 2017, p.112).

Ao longo dos anos, pesquisas foram intensificadas e direcionadas aos ambientes construídos
naturalmente ventilados, com a finalidade de desenvolver métodos mais eficientes de avaliação e melhorar
seu desempenho. Como é o caso do método de avaliação chamado de conforto adaptativo (DE DEAR;
BRAGER, 1998; HUMPHREYS; RIJAL; NICOL, 2013; NICOL; HUMPHREYS, 2010, 2002), o qual
evidenciou limitações no modelo de Fanger quando em se tratando de ventilação natural.
Para Humphreys, Rijal e Nicol (2013), o modelo adaptativo de conforto térmico é uma abordagem que
parte das adaptações comportamentais que os ocupantes realizam para ficarem confortáveis. A metodologia
do conforto adaptativo proposta pela norma ASHRAE 55, considera a temperatura como fator primordial
para a determinação da aceitabilidade de conforto térmico do usuário para um determinado clima e edifício.
Esta relação é especialmente útil ao ser aplicada quando um edifício está operando sem qualquer sistema de
climatização artificial e permite que os projetistas verifiquem, por meio de simulação térmica ou medição, se
um projeto é capaz de proporcionar conforto térmico durante uma estação quente, sem refrigeração mecânica
(HUMPHREYS, RIJAL e NICOL, 2013). Por isso, o conforto adaptativo tem sido amplamente referenciado
como modelo de conforto para estes tipos de edifícios.
O componente adaptativo da norma é aplicável para a determinação dos índices de conforto em
ambientes naturalmente ventilados em que a atividade física dos usuários é equivalente a atividades típicas
de escritórios, entre 1,0 e 1,3 met. O método também especifica que os ocupantes podem adaptar livremente
suas roupas às condições térmicas internas e/ou externas, dentro de uma faixa entre 0,5 a 1,0 clo, e que a
temperatura média do ar esteja entre 10°C e 33,5°C (ASHRAE, 2013).
O projeto arquitetônico exerce significativa influência tanto sobre a ventilação natural, quanto na
sensação de conforto térmico dentro da edificação. Este último definido pela norma ASHRAE 55 (ASHRAE,
2013) como uma condição mental do ser humano que expressa a satisfação com as condições térmicas
ambientais. Por isso, estudos realizados sobre o conforto térmico visam à análise e estabelecem condições

874
necessárias para um ambiente com atividades e ocupação humana, a exemplo de Barbosa (2015) e Oliveira
(2017).
O uso de softwares de simulação tem contribuído muito na busca de soluções construtivas mais
eficientes energeticamente. A inserção de dados meteorológicos nesses softwares é realizada com o uso de
um arquivo climático para a estimativa do balanço térmico da edificação em uma determinada localidade.
Segundo Guimarães (2016, p.1 Crawley, 1998; Hensen, 1999; Barnaby e Crawley, 2011), são compostos de
diversos elementos do clima como: temperatura, umidade relativa, irradiação, iluminância, velocidade e
direção dos ventos, dentre outros. Estes dados são dispostos em frequência horária nos arquivos, resultando
em 8760 horas de dados, para cada um dos parâmetros.
Tais dados, entretanto, apresentam certo grau de incerteza, já que lidam com simplificações da
realidade. O que implica diretamente nas previsões feitas a partir de programas de simulação computacional,
provocando então limitações.

O modelo virtual de uma edificação pode gerar diversas dúvidas quanto à caracterização de
seus dados de entrada. Refere-se a “dados de entrada” os valores que representam, por
exemplo, a geometria da edificação, as propriedades térmicas de seus materiais
construtivos, a eficiência energética de equipamentos elétricos, a capacidade do sistema de
condicionamento de ar, os padrões de uso e ocupação do prédio, etc. Esse tipo de
informação é utilizado pelos algoritmos do programa para estimar as trocas de calor do
edifício com o meio externo, os ganhos de calor interno, a temperatura interna resultante
em cada zona térmica e o consumo de energia elétrica de cada sistema do edifício,
incluindo o condicionamento de ar, que depende de todos os parâmetros anteriores.
Raramente, o analista que está realizando a simulação terá acesso, com absoluta certeza, a
todos esses parâmetros que caracterizam o modelo. (WESTPHAL, 2007, pg.3)

Apesar disso, são esses programas a principal ferramenta para realização de previsões acerca do
desempenho de uma edificação, os quais ajudam a melhorar a qualidade construtiva dos projetos antes
mesmo de se constituírem fisicamente.
Guimarães (2016) analisou as incertezas na carga térmica de edificações simuladas com diferentes
métodos de desenvolvimento de arquivos climáticos para a cidade de Viçosa-MG, posteriormente indicou-se
os métodos mais adequados para simulações nas condições locais. O procedimento consistiu em analisar um
arquivo climático para cada um dos 10 anos de dados climáticos coletados para a cidade de Viçosa. “Este
método multianual consiste em realizar uma simulação com um arquivo climático composto de todos os
dados climáticos coletados que estejam aptos a serem processados. Neste estudo, foram coletados dados
entre novembro de 2005 a dezembro de 2015, da cidade de Viçosa-MG.” (GUIMARÃES, pg.51, 2016). Em
seguida o autor comparou esses dados com outros desenvolvidos a partir de métodos tradicionais usados
nacional e internacionalmente, que são: o TMY 3 (WILCOX e MARION, 2008), o TRY Europeu (CEN,
2005), o TRY original (NCDC, 1976), e o TMY brasileiro (CARLO; LAMBERTS, 2005 e RORIZ, 2012).
Explicando um pouco mais sobre esses métodos, o TRY, Test Reference Year, consiste na análise das
médias mensais de temperatura de bulbo seco da série de anos de dados climáticos coletados e na seleção de
um desses como o ano de referência do clima. Este ano é um ano típico de dados climáticos do local, ele é
selecionado entre vários anos de medições climáticas, eliminando os anos de dados com temperaturas médias
mensais extremas (GOULART et al, 1998).
O método TMY, adaptado para o Brasil, se assemelha ao método TRY, porém a diferença entre os
métodos é que as análises são feitas para cada mês independentemente, assim, os meses selecionados podem
ser de anos distintos, e posteriormente é feita a montagem de um ano climático artificial, com a junção dos
meses climáticos de referência selecionados (GUIMARÃES, 2016).
Ainda segundo Guimarães (2016), o conceito do método internacional TRY_eu , que é bastante
semelhante ao método TMY3, consiste em identificar a distribuição de probabilidade acumulada (DPA) de
todos os parâmetros, para assim, selecionar um ano de referência que tenha a DPA mais semelhante com a
DPA de toda a série de dados coletados.
Quantos aos métodos multianuais, estes consistem em realizar uma simulação com um arquivo
climático composto de todos os dados meteorológicos coletados que estejam aptos a serem processados 3
anos ou 10 anos, neste caso.
Neste trabalho foi feito o uso de simulação computacional para estimar o conforto térmico do usuário
em ambientes internos, utilizando como modelo preditivo o conforto adaptativo proposto pela ASHRAE 55
(ASHRAE, 2013). Os resultados das análises do autor apontaram o método Multianual 3 anos como o mais

875
confiável, com destaque também para o TMY3, que foi o melhor entre os métodos tradicionais e, portanto,
utilizado como base comparativa para as análises do presente trabalho.

2. OBJETIVO
Avaliar as incertezas nos formatos de arquivos climáticos usados para simulações de conforto térmico em
uma zona térmica de edificação em Viçosa-MG.

3. MÉTODO
A proposta se iniciou, com a seleção de uma tipologia arquitetônica de um edifício empresarial de escritórios
de baixa altura, com perímetro intermediário representando um pavimento tipo. Essa abordagem exclui a
análise do gradiente de velocidade dos ventos devido à altura.
A partir disso, propôs-se características distintas (Tabela 1), para geração de modelos de edificações
diferentes (Tabela 2) cujo desempenho foi analisado a partir de diferentes arquivos climáticos. A ordem
proposta nessa tabela seguiu a ordem crescente de temperaturas geradas pela simulação do arquivo climático
TMY3, dessa maneira, todos os demais arquivos climáticos foram organizados de forma que itens de
determinadas características no formato TMY3 fossem indicados sempre com um mesmo número nos outros
arquivos climáticos.
A presente pesquisa usou os seguintes arquivos climáticos elaborados para a cidade de Viçosa - MG (-
20°76’, -42°86’) previamente desenvolvidos por Guimarães (2016):
● TMY3; ● TMY brasileiro;
● TRY europeu; ● Multianual 3 anos;
● TRY original; ● Multianual 10 anos;

Logo, 24 modelos de edificações, naturalmente ventiladas e de características distintas, foram


simuladas com o EnergyPlus versão 8.7, com recursos de ventilação do Modelo de Rede (Airflow Network).

Figura 1 – Representação dos modelos com percentual com Figura 2 – Representação dos modelos com percentual com
abertura nas fachadas de 5% abertura nas fachadas de 30%

Figura 3 – Representação dos modelos com percentual com abertura nas fachadas de 65%
Tabela 1 – Características construtivas dos modelos simulados.
Características Formais
Razão entre fachadas 10 : 3
Dimensões das Fachadas Laterais (30 x 9) m
Número de Pavimentos 3
Pé direito de Pavimento 3
Características das aberturas
Percentuais de abertura (PAF) 5% 30% 65%
Fator Solar do vidro (FS) 0,25 0,67
Características das Paredes, Pisos e Coberturas
Transmitância Térmica (U) 0,5 4,0
Absortância (A) 0,3 0,7
Capacidade Térmica 200

876
Tabela 2 – Descrição das características das variáveis de cada um dos 24 modelos.
Transmitância
Nome % Aberturas na Fachada Fator Solar do Vidro
(W/m².°C)
Absortância
Mod 1 65% 0,25 4,0 0,7
Mod 2 65% 0,67 4,0 0,7
Mod 3 30% 0,67 4,0 0,7
Mod 4 30% 0,25 4,0 0,7
Mod 5 5% 0,67 4,0 0,7
Mod 6 5% 0,25 4,0 0,7
Mod 7 5% 0,25 4,0 0,3
Mod 8 5% 0,67 4,0 0,3
Mod 9 30% 0,25 4,0 0,3
Mod 10 30% 0,67 4,0 0,3
Mod 11 5% 0,25 0,5 0,3
Mod 12 5% 0,67 0,5 0,3
Mod 13 5% 0,25 0,5 0,7
Mod 14 5% 0,67 0,5 0,7
Mod 15 65% 0,67 0,5 0,7
Mod 16 65% 0,25 0,5 0,7
Mod 17 30% 0,25 0,5 0,3
Mod 18 65% 0,67 0,5 0,3
Mod 19 65% 0,67 4,0 0,3
Mod 20 65% 0,25 0,5 0,3
Mod 21 65% 0,25 4,0 0,3
Mod 22 30% 0,67 0,5 0,3
Mod 23 30% 0,25 0,5 0,7
Mod 24 30% 0,67 0,5 0,7

Como se pode verificar na Tabela 2, as características das edificações foram parametrizadas de


maneira que se tenha edificações mais e menos sensitivas às condições climáticas. As figuras 1, 2 e 3
mostram essas variações para a área de abertura das janelas válidas para as fachadas norte e sul.
A norma ASHRAE 55 (ASHRAE, 2013) “Thermal Environmental Conditions for Human Occupancy”
apresenta um índice baseado na teoria adaptativa de conforto térmico proposta por e De Dear e Brager
(1998), com os benefícios de se oferecer o controle de abertura das janelas aos usuários e aumentar os limites
de velocidades internas do ar. Logo, o conforto adaptativo defende padrões variáveis de temperatura interna,
permitindo adaptações dos usuários no edifício às condições ambientais, ou seja, possam abrir e fechar as
janelas e alterar a sua vestimenta de acordo com a sua preferência.
Quanto ao tipo de esquadria considerado, optou-se pela de correr, com fator de ventilação de 45% com
setpoint de 20ºC para a sua abertura.
Da mesma forma feita por Guimarães (2016), para analisar as diferenças nos resultados da simulação
causadas pela escolha entre os diferentes arquivos climáticos, os mesmos foram usados em simulações termo
energéticas idênticas.
● 24 Modelos;
● 17 Formatos;
● 6 Arquivos Climáticos;
A análise do percentual de horas em conforto (POC) foi feita considerando as 8760 horas anuais. Os
dados foram processados considerando as médias de temperatura externa de cada arquivo climático, além da
temperatura operativa interna dos ambientes. A média do POC (percentual de horas em conforto) dos 18
ambientes de permanência prolongada foi calculada para cada modelo com seu respectivo arquivo climático.
Em seguida, os POCs médios do Multianual 10 anos a zona 21 de cada modelo foram usados como
referência para obtenção de medidas estatísticas que possibilitaram comparar os resultados do Multi 10 com
os demais arquivos. Assim, foi possível quantificar as incertezas na simulação do conforto com uso de
diferentes formatos dos arquivos climáticos ao considerar diversos modelos de edificações, porém com uso
de uma zona térmica somente.

4. RESULTADOS
Os resultados das análises de Guimarães (2016) apontaram o método Multianual 3 anos como o mais
confiável, entretanto, devido a um maior custo de tempo para se realizar a simulação com três arquivos
climáticos, o TMY3, foi elegido pelo autor como sendo o melhor entre os métodos tradicionais. Assim, ele

877
foi utilizado como base comparativa para as análises do presente trabalho, e orientou a ordem da
nomenclatura dos modelos computacionais dos edifícios com seus respectivos parâmetros. Ainda, com base
nos resultados encontrados por Guimarães (2016), a análise estatística desenvolvida pelo autor indicou que a
cidade de Viçosa apresenta principalmente, taxas de desconforto por frio nos meses de inverno.
Para analisar os efeitos da ventilação natural sobre a edificação, optou-se por trabalhar apenas com a
Zona 21 de cada modelo, que em comparação com as demais zonas térmicas, mostrou-se a mais sensível
termicamente às mudanças de parâmetros. Esta zona encontra-se no último pavimento e está voltada para as
orientações Sul e Leste. É importante lembrar que fachadas com orientação sul recebem insolação no verão e
não recebem no inverno. Assim, as variações de temperatura operativa podem ser maiores nessa orientação.
Além disso, as variações de transmitância térmica e absortância solar da cobertura podem ser mais
impactantes que o contato com o solo, já que este último não foi parametrizado nos modelos.
A amplitude máxima do percentual de horas em conforto (POC) entre os casos simulados com
arquivos climáticos do formato Multianual 10 anos foi de 15% no modelo 1, e a amplitude mínima foi 4% no
modelo 17 (Figura 4). Entre os casos com formatos sintéticos, a maior amplitude foi no modelo 7 de 15%, e
média de 5% no modelo 17 (Figura 5).
Na Figura 4, o POC mínimo foi de 54% para o modelo 1, simulado com o Multi 10: ano 2010,
enquanto o POC máximo foi de 96% para o modelo 24, simulado com os Multi 10: anos 2008 e 2013. Os
POCs alcançados com os modelos sintéticos da Figura 5 são próximos aos da Figura 4: o modelo 1 alcançou
máximo de 96% com o TRY_Br e Multianual 3 anos baixo.

Figura 4 –POC da zona 21 cujos modelos de edificação foram simulados com formatos Multianual 10 anos

878
Figura 5 –POC da zona 21 cujos modelos de edificação foram simulados com formatos sintéticos
No entanto, as variações entre os parâmetros é que chamam a atenção. Na Figura 5, a maior amplitude
entre os formatos sintéticos de arquivos climáticos ocorreu no modelo 7, onde os POCs mais se afastaram
dos valores de 65% gerados pelo TMY3. Eles são causados pelos Multianuail 3 anos baixo (55%), com
temperaturas e intensidade de radiação mais baixos, Multianual 3 anos alto (70%), com temperaturas e
intensidade de radiação mais altos. Ora, o modelo 7 contém apenas a transmitância térmica das paredes e
coberturas de valor alto, de 4 W/m²K (Tabela 2); o restante das características isola mais o edifício das
influências meteorológicas. Assim, as elevadas perdas de calor do Multi 3 anos baixo o levaram a apresentar
menos horas em conforto, enquanto os elevados ganhos de calor do Multi 3 anos alto e baixas perdas devido
à pequena diferença de temperatura interno/exterior, garantiram maiores horas em conforto em um clima
que, como mencionado anteriormente, o desconforto por frio é mais relevante que por calor. Ainda, o
modelo 6 é idêntico ao modelo 7, exceto pela absortância da cobertura e paredes externas, que passou de 0,7
para 0,3. Somente a redução da absorção da radiação solar em um ambiente de com uma janela de PAF 5%
gerou uma alteração no percentual de horas em conforto em relação ao modelo 7 que inverteu os POCs de
66% do modelo 6 para 55% no modelo 7 e 64% no modelo 6 para 70% no modelo 7, simulados com o
Multianual 3 anos baixo e Multianual 3 anos alto, respectivamente. Nota-se, portanto, a participação da
absortância solar integrada à transmitância térmica no conforto dos ocupantes. Outros casos como estes
podem ser identificados na elevada amplitude dos modelos 1 a 4 e modelos 15 e 16. Nos modelos 15 e 16, a
transmitância é mais baixa (0,5 W/m²K), mas eles apresentam maior PAF (65%) e maior absortância (0,7). A
redução nos valores de POC entre os modelos 5 e 6, onde o segundo apresenta menor ganho de calor interno,
e também entre os modelos 14 e 15, onde há aumento do fluxo de ar frio para o interior pode ainda ser
explicado pelas constatações já feitas por Guimarães e Carlo (2011), que identificaram maior desconforto por
frio em Viçosa-MG. Os demais modelos 1 a 4 e 7 apresentam elevada transmitância térmica.
A Tabela 3 apresenta as medidas estatísticas observadas para as diferenças entre cada arquivo
climático em uma amostra composta dos 24 modelos, que são, respectivamente: Desvio Absoluto Médio,
MAD (Mean Absolute Deviation), Desvio Padrão Quadrático da Média, MSD (Mean Squared Deviation) e
Erro quadrático médio, RMSE (Root Mean Square Error).
Tabela 3 – Erros e desvios do POC dos 24 modelos em relação àqueles da série de 10 anos para cada formato de arquivo climático.
TMY3 TRY_br TRY_eu TMY_br Multi-3-alto Multi-3-médio Multi-3-baixo
MAD 0,60 3,81 1,55 2,09 2,79 2,39 4,46
MSE 0,54 17,83 3,16 5,93 10,34 6,65 25,73
RMSE 0,73 4,22 1,78 2,44 3,22 2,58 5,07

879
O Multianual 3 anos extremo alto e extremo baixo apresentaram MAD mais baixos em relação ao
MSD, que chegou a MAD de 4,46 para MSD de 25,73 para o Multi-3 baixo, o que indica como há soluções
fora do grupo (outliers) e, portanto, que abrangem o espectro amplo de soluções ótimas para o clima. Por sua
vez, a coesão entre o MAD de 0,60 para o MSE de 0,54 do TMY3 mostra como seus resultados foram coesos
com a série de 10 anos simulada individualmente.
Além disso, é possível perceber como TMY3 apresentou todos os indicadores estatísticos, sejam erros
ou desvios, mais baixos em relação aos demais formatos sintéticos. Seu RMSE de 0,73 é o mais baixo,
seguido de 1,78 do TRY europeu, seguido de RMSE de 2,44 do TMY brasileiro. Por outro lado, os anos
extremos naturalmente apresentaram erros maiores em relação à série temporal, visto que cada formato
baixo, médio ou alto foi comparado à toda a séria de 10 anos. O RMSE mínimo foi identificado com o Multi
3 – médio de 2,58, o que está de acordo com o esperado, e o RMSE máximo de 5,07 foi identificado com a
soluções do Multi 3 – baixo.
Assim como Guimarães (2016) indicou, o TMY3 como o formato sintético mais apropriado para
edifícios condicionados, este estudo confirma seu uso para edifícios naturalmente ventilados, pois mostra
como o TMY3 descreve melhor a série temporal com um único formato.

5. CONCLUSÕES
Este trabalho comparou os métodos de seleção do ano climático representativo para condições de conforto
térmico em edificações sujeitas a condicionamento passivo e em uma zona térmica específica, em Viçosa-
MG. Os resultados das simulações e análises, puderam gerar algumas considerações sobre os modelos
analisados.
Foi possível concluir que em relação ao modelo 7, observou-se que os seguintes arquivos de casos
com formatos sintéticos: TMY3, TMY_Br, TRY_Br e Multianual 3 anos para valores médios de temperatura
e radiação, apresentam POC próximo de 64%. Os outros formatos se distanciaram desse valor, e
aparentemente o TRY_Eu seria um ano real que gerou POCs menores em alguns modelos e portanto, seria
considerado pouco representativo. No entanto, ao comparar os POCs da série de 10 anos com os POCs dos
modelos simulados com os arquivos climáticos, o TRY_Eu teve RMSE mais baixo, 1, 78, exceto pelo
TMY3, que apresentou RMSE de 0,78. Portanto, o TMY3 foi identificado como melhor formato para
representar a série temporal para edificações naturalmente ventiladas. Este resultado reforçou a
recomendação de uso deste formato, que até então era indicado para edificações condicionadas
artificialmente.
Os resultados também mostraram como o formato Multianual 3 anos pode ser usado para abranger um
espectro de soluções que mostram o desempenho de uma mesma edificação em condições climáticas
extremas.
Acerca da análise de sensibilidade dessas edificações, foi visto que os modelos com altos valores de
transmitância térmica e de absortância, as quais relacionam-se às paredes e cobertura, se mostraram mais
sensíveis às mudanças climáticas para um ambiente orientado a sul, quando o impacto da janela é mais
significativo no verão somente. Considerando um clima com maior desconforto no inverno, esta orientação
foi a mais apropriada para análise.
A análise da zona 21 exclusivamente é a maior limitação deste trabalho, cujos indicadores estatísticos
RMSE, MAD e MSD podem ser diferentes em outras zonas térmicas menos sensíveis às variações dos
arquivos climáticos. Outra limitação é que o estudo considera apenas as condições climáticas de Viçosa –
MG, sendo necessário que outras condições com maior desconforto por calor seja consideras para confirmar
a relevância dos formatos para os climas tipicamente brasileiros.

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WILCOX, S; MARION, W. User’s Manual for TMY3 Data Sets. National Renewable Energy Laboratory, 2008.

AGRADECIMENTOS
Gostaríamos de agradecer à professora Joyce pela paciência e boa vontade em nos auxiliar e nos permitir
trabalhar voluntariamente nessa pesquisa e também ao evento pela oportunidade.

881
A ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA COMO DETERMINANTE DA
EXPERIÊNCIA ESPACIAL
Lívia Ferreira de França (1); Ruskin Freitas (2)
(1) Mestra em Desenvolvimento Urbano, Doutoranda em Arquitetura/ École Nationale Supérieure
d’Architecture de Toulouse, liviafdefranca@gmail.com
(2) Doutor, Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo/ UFPE, ruskin37@uol.com.br
Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Laboratório de Conforto
Ambiental, Cidade Universitária, 50.780-970, Recife–PE, Tel.: (81) 2126 8771

RESUMO
A arquitetura bioclimática se utiliza das características do clima e dos recursos naturais e tecnológicos para
propiciar soluções espaciais que alcancem o conforto ambiental de maneira natural, por meio do emprego de
estratégias passivas. Por sua vez, a eficiência energética tem a finalidade de fornecer determinado serviço
com a menor utilização possível de energia, o que nas edificações significa o aproveitamento das
características físicas da envoltória para o controle solar. Os dois conceitos se conectam na busca pela
sustentabilidade na arquitetura, o que deve incluir também os usuários dos espaços. Assim, o objetivo
precípuo dessa pesquisa é analisar as repercussões da arquitetura bioclimática e energeticamente eficiente na
experiência espacial dos usuários no meio edificado. A pesquisa foi construída por meio da aplicação de
formulários aos estudantes dos cursos superiores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Pernambuco (IFPE) – Campus Recife, adotando-se como objeto empírico de estudos um proposto edifício de
aulas destinado a esses estudantes. Com base nos resultados das análises das respostas obtidas dos
estudantes, é possível compreender a clara relação entre arquitetura bioclimática e eficiente e os aspectos
materiais e imateriais do conforto ambiental, o que termina por oferecer aos usuários maiores possibilidades
de experiências espaciais positivas.
Palavras-chave: arquitetura bioclimática, eficiência energética, experiência espacial do usuário, conforto
ambiental, sustentabilidade, edificações públicas.

ABSTRACT
Bioclimatic architecture uses the climatic elements as well as regional and technological resources, providing
solutions for the natural environmental conditioning. On the other hand, energy efficiency aims to afford
specific service by using the lowest rates of possible energy, which, in buildings, means the use of the
physical characteristics of the envelope for solar control. Both of these concepts connect in the quest for
sustainability in architecture, which should also include users of the spaces. Against this backdrop, this
research has as its main goal studying the bioclimatic and efficient architecture in order to evaluate the
repercussions of these factors on the spatial experience of users in the built environment. This research was
developed under application of forms among students of undergraduate courses of the Federal Institute of
Education, Science and Technology of Pernambuco (IFPE) – Campus Recife, our research locus. Our
empirical object of study was a hypothetical classroom building for these students. Considering the results of
the analysis of the answers of students forms, we can argue that the relation between bioclimatic and
efficient architecture and the material and immaterial aspects of the environmental comfort is very clear,
which ultimately gives costumer greater possibilities for positive spatial experiences.
Keywords: bioclimatic architecture, energy efficiency, customer spatial experience, environmental comfort,
sustainability, public buildings.

882
1. INTRODUÇÃO
O bioclimatismo, como abordagem conceitual e projetual de arquitetura, valoriza as características
climáticas, geográficas e culturais e filiar-se a esses princípios significa a aplicação de atributos ligados ao
conforto dos usuários por meio da escolha dos materiais, formas, recursos empregados e da economia de
energia, resultando na produção de espaços em paz com o sítio que os acolhe.
Esses mesmos valores estão presentes em diversas definições de arquitetura bioclimática, a exemplo
do enunciado de Miguel Aroztegui (1999):
Arquitetura bioclimática é aquela em que a qualidade ambiental e a eficiência energética
são obtidas através do aproveitamento racional dos recursos da natureza, de modo a
contribuir com o equilíbrio do ecossistema no qual está inserida. Suas principais
características são: adequação do espaço construído ao meio climático e às necessidades
humanas; racionalização do consumo de energia; conforto ambiental proporcionado pelo
uso otimizado de recursos renováveis.
Schmid (2005) define conforto como um conjunto composto por valores, possuindo diversos
contextos, tais como ambiental, sociocultural e psico-espiritual. Nesta mesma linha, Freitas (2008, p.251)
define conforto ambiental como “um estado de bem-estar, sentido no tempo e no espaço, em que
condicionantes ambientais, morfológicos e econômicos proporcionam satisfação física e psicológica”.
As edificações têm a função primeira de proteção climática e segurança geral do ser humano, mas essa
função vai além da dimensão meramente física, pois a construção responde também às necessidades
psicológicas. Os espaços podem oferecer possibilidade de as pessoas criarem com eles sentimento de
segurança, identidade e pertencimento. Conforme Tirone e Nunes (2008), “esta sensação de pertença faz com
que alteremos positivamente os nossos comportamentos relativamente a esses espaços e também para com as
outras pessoas” (p.14), trazendo “oportunidades positivas de interação social” (ibidem, p.42).
Os espaços de qualidade, adequados às atividades, são essenciais ao bem-estar e conseguem afetar o
comportamento das pessoas, as quais também os moldam (SEAMON, 1982). Quando bem explorada, a
experiência do usuário no espaço contribui para o relacionamento positivo entre usuário e espaço edificado e
entre usuários no espaço edificado, influenciando, assim, na qualidade de vida das pessoas, de maneira
singular e plural, simultaneamente. O meio edificado destinado à educação, por exemplo, deve ser capaz de
expandir os limites do pensamento, enriquecendo a experiência educacional e a vida. Se o espaço é adequado
e atrativo para determinado grupo, as atividades ali desenvolvidas são estimuladas, sendo bastante provável
que haja identificação dos usuários com o lugar, tornando os espaços, ainda que públicos, como lugares
próprios. Ressalta-se que, no bioclimatismo, o lugar ocupa um papel central (ROMERO, 2012).
Em face desse entendimento, a presente pesquisa parte no seguinte questionamento: de que modo a
arquitetura bioclimática e energeticamente eficiente poderia contribuir para enriquecer a experiência espacial
em edifícios públicos, trazendo para o usuário níveis de satisfação expressos na sua relação com o meio
edificado e com os outros usuários no espaço?
Investigou-se a hipótese de que a arquitetura bioclimática aporta conforto ambiental e o conforto é
indispensável para as relações positivas do indivíduo com o espaço e dos indivíduos entre si. A presente
abordagem vai além da relação usual entre bioclimatismo e conforto e, para conduzir isso, um grupo de
alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) – Campus Recife
(Figura 1) foi incluído na investigação, como usuários do espaço. Os alunos são a parte principal do conforto
ambiental e da experiência espacial no Campus Recife, não somente por serem os usuários em maior
número, como também porque sua formação representa o principal motivo da existência desses espaços.
O Campus Recife situa-se no bairro do Curado, zona oeste da cidade, considerado de baixa densidade
demográfica, que abriga duas áreas de proteção ambiental do Recife, tendo como vizinhos a Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE) e a estação meteorológica do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).
a) Acesso principal b) Espaços de convivência c) Áreas livres do entorno dos blocos

Figura 1 – Campus Recife do IFPE. Fonte: Lívia França (2018).

883
2. OBJETIVO
Analisar as repercussões da arquitetura bioclimática e energeticamente eficiente na experiência espacial dos
usuários no meio edificado, tendo como objeto empírico de investigação um proposto edifício de aulas
destinado aos estudantes dos cursos superiores do IFPE – Campus Recife.

3. MÉTODO
Adotou-se como metodologia de pesquisa a experimentação empírica, por meio da aplicação de um
formulário dirigido aos alunos dos cursos superiores do IFPE – Campus Recife, buscando-se conhecer seus
níveis de conhecimento sobre os temas conforto ambiental, eficiência energética e sustentabilidade, bem
como suas expectativas sobre as atribuições da arquitetura de prover o meio edificado de certas qualidades.
Os termos arquitetura bioclimática e bioclimatismo não foram utilizados no formulário por terem sido
considerados técnicos e restritos aos meios de ensino, pesquisa e prática profissional de arquitetura. As
perguntas foram formuladas de modo a permitir a compreensão dos alunos, porém sem prejuízo para o
significado da pesquisa.
Os cursos superiores do IFPE – Campus Recife totalizam 1.145 (mil cento e quarenta e cinco) alunos
matriculados em 2018, quando da realização dessa investigação, distribuídos da seguinte forma: Gestão de
Turismo, 246; Engenharia Civil, 213; Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, 189; Gestão
Ambiental, 149; Design Gráfico, 136; Licenciatura em Geografia, 108; Engenharia Mecânica, 54;
Radiologia, 50. Os dados foram fornecidos pela Direção de Ensino do Campus Recife (DEN/IFPE).
O formulário foi desenvolvido em meio eletrônico, com auxílio do aplicativo para computador e
celular Google Formulário, e enviado aos e-mails dos alunos por meio das Coordenações de cada curso, com
autorização e por intermédio da Direção de Ensino do Campus Recife. A ferramenta não recolheu e-mail ou
qualquer informação pessoal ou outra forma de identificação dos estudantes, pois o fato de responder em
anonimato daria ao aluno possibilidade de se expressar livremente, aportando-se respostas mais sinceras. O
formulário permaneceu aberto, recebendo respostas, durante quinze dias e o total de alunos participantes foi
de 238, o que representa 20,78% (vinte vírgula setenta e oito por cento) do total de matriculados.
O formulário foi composto por quatorze questões, das quais onze foram de múltipla escolha,
numeradas de 01 a 11. As perguntas 12 e 13 foram compostas, cada uma, por uma questão de múltipla
escolha e uma questão aberta, com um campo de preenchimento opcional, configurado como texto de
resposta curta, cujo preenchimento dependia da resposta ao item de múltipla escolha da respectiva questão.
Por fim, o formulário trazia a pergunta 14, aberta, com campo de preenchimento de texto de resposta longa.
Os alunos receberam explicações acerca do caráter e dos objetivos do formulário, além das seguintes
instruções de preenchimento:
Nas questões de 1 a 11, responda se concorda ou não com cada enunciado;
Nas questões 12 e 13, responda de acordo com suas próprias experiências, passadas ou presentes;
Na questão 14, informe, brevemente, suas expectativas sobre um edifício ideal para o seu curso.
As respostas das questões de múltipla escolha são apresentadas na forma de gráficos, gerados
automaticamente pelo programa utilizado, com posterior ajuste nosso. Todas as respostas do formulário
foram configuradas como obrigatórias, exceto os itens de resposta aberta de desdobramento das perguntas 12
e 13. Desse modo, não havia a possibilidade do envio do formulário incompleto e, consequentemente, todas
as perguntas obrigatórias foram respondidas pelos participantes e todos os formulários foram considerados
válidos para análise de dados e geração dos gráficos.
Para a análise das respostas subjetivas das questões de desdobramento 12 e 13 e também da questão
14, contou-se com a utilização de programa computacional que realiza a formação de nuvem de palavras,
uma ferramenta de realce através de cores e tamanhos, com destaque atribuído a partir de uma hierarquia
dada pela frequência com que cada palavra é citada em um conjunto, facilitando a visualização completa das
respostas. O programa utilizado foi o Word Art®, que está disponível gratuitamente no endereço eletrônico:
https://wordart.com/create.
Antes de inserir no programa gerador de nuvem de palavras os dados concernentes ao conjunto de
todas as respostas subjetivas, separadas por questão, algumas palavras foram excluídas, tais como
preposições, numerais, pronomes, artigos e verbos, pois tiveram alta frequência de citação e por isso
assumiriam um tamanho grande na nuvem, mas seu conteúdo não era significativo para o resultado da
análise e os objetivos da pesquisa. Também foi realizado procedimento de correção gramatical, mantendo a
fidelidade da palavra dada como resposta, para que não acontecesse de o programa identificar palavras iguais
como sendo diferentes, simplesmente em função da acentuação ou da troca de letras.

884
4. RESULTADOS
4.1. Análise das respostas objetivas
Pergunta 1 - Conheço bem os princípios da sustentabilidade e acredito que eles estão hoje bem assimilados
pela sociedade. Quando questionados a respeito de seu próprio conhecimento e da sua opinião sobre a
assimilação pela sociedade dos princípios da sustentabilidade, 62,2% dos participantes responderam
concordo em parte (148 pessoas), 27,7% responderam não concordo (66 pessoas), 7,1% responderam
concordo plenamente (17 pessoas) e 2,9% responderam não tenho opinião (7 pessoas). A soma das respostas
concordo plenamente e concordo em parte (165 respondentes) significa que a maioria dos alunos (69,3%)
acredita, em algum grau, que os princípios de sustentabilidade estão bem assimilados atualmente.
Pergunta 2 – Conheço bem os princípios da eficiência energética e acredito que eles estão hoje bem
assimilados pela sociedade. Para a pergunta 2, de objetivos e feições similares à pergunta 1, 58%
responderam concordo em parte (138 pessoas), 26,1% responderam não concordo (62 pessoas), 10,9% não
tem opinião sobre isso (26 pessoas) e 5% concordam plenamente com as afirmações (12 pessoas). O
somatório das respostas concordo em parte e concordo plenamente é de 63% (150 respondentes), um pouco
inferior a esse somatório na pergunta 1. Somando-se a isso o fato de que o número de respostas não tenho
opinião foi bem maior na pergunta 2 do que na 1, revela-se que existe um pouco menos de certeza dos alunos
a respeito da assimilação dos conhecimento sobre eficiência energética do que sobre sustentabilidade.
As FigurasFigura 2 e 3 a seguir apresentam os resultados gráficos das respostas dessas perguntas.

Figura 2 – respostas da pergunta 1. Figura 3 – respostas da pergunta 2.

As perguntas 3 e 4 podem ser consideradas desdobramentos, respectivamente, das perguntas 1 e 2.


Trata-se, agora, de aferir as considerações dos alunos a respeito do papel da arquitetura na aplicação dos
princípios da sustentabilidade e da eficiência energética.
Pergunta 3 – Considero importante que a arquitetura aplique os princípios da sustentabilidade. Nessa
pergunta os alunos foram enfáticos. A maioria concorda plenamente com o enunciado, sendo 93,3% do total
de respostas (222 pessoas). A opção concordo em parte foi escolhida por 4,2% dos alunos (10 pessoas),
1,3% responderam não tenho opinião (3 pessoas) e o mesmo percentual respondeu não concordo.
Pergunta 4 – Considero importante que a arquitetura aplique os princípios da eficiência energética.
Na pergunta 4, as respostas também apresentaram ampla maioria para a opção concordo plenamente, sendo a
escolha de 84,9% dos alunos (202 pessoas). Afirmaram não ter opinião 9,2% dos respondentes (22 pessoas),
afirmaram concordar em parte 5% (12 pessoas) e discordaram da afirmação 0,8% (2 pessoas).
Nas perguntas 2 e 4 houve mais respostas não tenho opinião do que nas perguntas 1 e 3. Isso significa
que, se o aluno apresenta menor segurança no conhecimento do tema eficiência energética do que do tema
sustentabilidade, isso se reflete tanto nas respostas da pergunta 2 quanto nas da pergunta 4, sendo estas
similares. As Figuras 4 e 5 seguintes mostram as respostas das perguntas 3 e 4.

Figura 4 – respostas da pergunta 3. Figura 5 – respostas da pergunta 4.

Esses resultados demonstram que, se por um lado o próprio aluno revela não ter total confiança em seu
conhecimento e no da sociedade em geral sobre sustentabilidade e eficiência energética, por outro lado, sua

885
segurança quanto a ser atribuição da arquitetura incorporar os princípios desses temas nos projetos é
extremamente elevada (altos valores para a resposta concordo plenamente nas perguntas 3 e 4).
Nas questões 1 e 2, os alunos tiveram que responder sobre seu nível de conhecimento bem como sobre
o nível de conhecimento da sociedade, em sua opinião, antes de passar para a indagação sobre o papel da
arquitetura diante dos temas, o que veio em seguida, nas perguntas 3 e 4, pois os temas sustentabilidade e
eficiência energética pertencem a todas as pessoas atualmente e, assim, deve-se ter em mente que todos
devem ser responsáveis por conhecer e tratar com seriedade essas questões.
Nas perguntas 5 a 7, o objetivo foi aferir, respectivamente, o quanto o aluno acredita que a arquitetura
deva aplicar os fundamentos da acessibilidade, levar em conta os aspectos ambientais e climáticos e estudar
os níveis de conforto ambiental físico e psicológico dos usuários. Esse foi o motivo pelo qual as perguntas
desses temas restringiram-se a aferir as expectativas dos alunos, enquanto usuários, quanto a ser ou não ser
papel dos arquitetos abordar esses elementos e empregá-los nos projetos. O fato dos usuários conhecerem ou
não sobre esses temas não interfere na presença ou ausência desses aspectos nas edificações.
Pergunta 5 – Acredito que seja importante que a arquitetura considere a acessibilidade. As respostas
da questão revelam que 95,4% escolheram a opção concordo plenamente (227 pessoas); 3,4% escolheram
concordo em parte (8 pessoas) e 1,3% declarou não ter opinião (3 pessoas). Não houve escolha pela resposta
não concordo. A acessibilidade não faz parte do universo dos demais temas ora pesquisados e foi inserida
como pergunta de controle. Uma vez que a Norma Técnica Brasileira de Acessibilidade (NBR 9050) está
incorporada há bastante tempo na prática projetual dos arquitetos, nosso intuito foi verificar se haveria
diferenças significativas entre as respostas dadas para essa pergunta e as respostas dadas para os demais
itens, na expectativa dos respondentes, quanto aos valores considerados pela arquitetura.
Pergunta 6 – Acredito que seja importante que a arquitetura considere o clima e outros aspectos
presentes no meio ambiente. Essa pergunta relaciona o papel dos arquitetos à temática do clima e, de maneira
implícita, dos recursos naturais e da envolvente ambiental. As respostas revelam como números: 93,3% de
respostas concordo plenamente (222 pessoas), 4,2% de respostas concordo em parte (10 pessoas) e 2,5% de
respostas não tenho opinião (6 pessoas). Mais uma vez, ninguém respondeu não concordo.
Pergunta 7 – Acredito que seja importante que a arquitetura considere os níveis de conforto ambiental
físico e psicológico dos usuários. Encontra-se similaridade com as respostas das questões 5 e 6: 92,9%
responderam concordo plenamente (221 pessoas), 4,6% responderam concordo em parte (11 pessoas); 2,1%
responderam não tenho opinião (5 pessoas) e 0,4% respondeu não concordo (1 pessoa). As Figuras 6, 7 e 8,
abaixo, trazem os resultados gráficos dessas respostas.

Figura 6 – respostas da pergunta 5. Figura 7 – respostas da pergunta 6.

Figura 8 – respostas da pergunta 7.

Pelos gráficos acima, verifica-se que não existiram diferenças percentuais acentuadas entre a pergunta
de controle (pergunta 5) e as demais perguntas de natureza similar, 6 e 7, demonstrando não haver maior
nível de conhecimento por parte dos alunos sobre acessibilidade do que sobre os demais temas, mas
havendo, sim, uma ligeira maior tendência à unanimidade na pergunta 5.
Nas perguntas 8 e 9 a contribuição dos alunos enquanto usuários foi extremamente valiosa para a
pesquisa, por abordarem o ponto de convergência a comprovar, isto é, a necessidade do conforto ambiental

886
para a existência da experiência espacial positiva. Procurou-se eliminar o uso de termos técnicos, de modo a
permitir que o aluno tivesse condições de participar somente com sua percepção pessoal.
As perguntas 8 e 9 convocam o respondente a opinar sobre a repercussão da arquitetura bioclimática e
eficiente na experiência espacial do usuário, ainda que o termo bioclimatismo não tenha sido usado, pelo fato
de se entender que a arquitetura pensada para o conforto ambiental é seu termo sinônimo. São apresentadas e
analisadas conjuntamente as respostas dessas perguntas, a seguir.
Pergunta 8 – Acredito que exista relação entre a arquitetura pensada para o conforto ambiental e a
possibilidade de experiências positivas dos usuários entre si no espaço; Pergunta 9 – Acredito que exista
relação entre a arquitetura pensada para o conforto ambiental e a possibilidade de relacionamentos
positivos dos usuários com o próprio espaço (apropriação espacial, satisfação com o ambiente). As
respostas apresentaram, nas duas questões, ampla maioria para a opção concordo plenamente, que foi
escolhida por 89,1% dos alunos (212 pessoas), na pergunta 8, e por 88,7% (211 pessoas), na pergunta 9. A
resposta concordo em parte foi marcada, nas perguntas 8 e 9, respectivamente, por 8% (19 pessoas) e 8,4%
dos respondentes (20 pessoas). Afirmaram não ter opinião 1,7% (4 pessoas), na pergunta 8 e 2,5% (6
pessoas), na pergunta 9. Por fim, 1,3% (3 pessoas) discordaram da afirmação da questão 8 e 0,4% (1 pessoa)
discordou da afirmação da questão 9.
Os usuários em questão revelam ter expectativas muito claras quanto às possibilidades oferecidas
pelos ambientes às suas experiências espaciais, partindo-se do pressuposto do conforto ambiental. As Figuras
9 e 10, seguintes, apresentam os resultados dessas perguntas.

Figura 9 – respostas da pergunta 8. Figura 10 – respostas da pergunta 9.

As perguntas 10 e 11 objetivaram aferir mais detalhadamente o grau de entendimento dos alunos sobre
conforto ambiental. Propositalmente, essas questões apareceram no formulário após as questões 8 e 9, que,
conforme apresentado, exploram a percepção dos alunos sobre a relação entre o conforto ambiental e as
possibilidades de experiências espaciais positivas. Essa ordem foi estabelecida para que as informações mais
detalhadas sobre conforto, presentes nos próprios enunciados 10 e 11, não viessem a induzir respostas em 8 e
9, fugindo aos nossos objetivos de captar as percepções mais imediatas e intuitivas. Apresenta-se a análise
conjunta dessas questões, na sequência.
Pergunta 10 - Acredito que exista relação entre: 1- o modo como a arquitetura articula as cores,
texturas e outras características dos materiais e 2- o conforto ambiental físico e psicológico dos usuários do
espaço; Pergunta 11 – Acredito que exista relação entre: 1- o modo como a arquitetura articula a relação
entre interior e exterior e 2- o conforto ambiental físico e psicológico dos usuários do espaço. As respostas
dessas duas questões apresentam muita similaridade.
A maioria dos alunos escolheu a opção concordo plenamente, representando 84,9% (202 pessoas), na
pergunta 10, e 85,3% (203 pessoas), na pergunta 11. A resposta concordo em parte representou, nas
perguntas 10 e 11, respectivamente, 10,5% (25 pessoas) e 10,1% dos respondentes (24 pessoas). Não têm
opinião sobre o assunto 4,2% (10 pessoas), na pergunta 10, e 3,4% (8 pessoas), na pergunta 11. Finalmente,
0,4% (1 pessoa) discordou da afirmação da questão 10 e 1,3% (3 pessoas) discordaram da afirmação da
questão 11.
Pode-se interpretar que ambos os conjuntos de respostas revelam a percepção dos alunos de que existe
clara relação entre as escolhas arquitetônicas materiais e configuracionais e o conforto ambiental. Seguem
gráficos das respostas dessas questões, nas Figuras 11 e 12.

887
Figura 11 – respostas da pergunta 10. Figura 12 – respostas da pergunta 11.

As perguntas 12 e 13 diferenciam-se das anteriores, que são todas do tipo múltipla escolha, por serem
estas divididas em uma etapa objetiva, com resposta de múltipla escolha, e uma etapa de desdobramento, de
resposta subjetiva com campo de texto curto, cujo preenchimento era solicitado de acordo com a escolha de
resposta objetiva do respondente. Essas duas perguntas e seus desdobramentos são também da maior
relevância na pesquisa, complementando as questões 8 e 9 e servindo para analisar como os temas de
conforto ambiental podem ser percebidos pelas pessoas em relação a atividades mais específicas de suas
experiências espaciais, passadas e presentes.
Os enunciados dessas questões destinaram-se a levar o aluno a pensar as ligações entre características
espaciais, conforto ambiental e estímulos positivos ou negativos para suas atividades e foram elaborados para
que, ao mesmo tempo em que pudessem dar subsídios suficientes aos participantes, não tentassem conduzi-
los a escolher caminhos ou limitassem as respostas, que deveriam ser fruto de experiências próprias.
Analisou-se, primeiramente, as respostas objetivas das perguntas 12 e 13 e, no item seguinte, as subjetivas.
Pergunta objetiva 12 – Já teve a experiência de sentir-se positivamente estimulado (para estudar, para
trabalhar) em um espaço e atribuiu isso a características do próprio espaço em questão? As respostas
objetivas foram: 72,3% responderam sim (172 pessoas); 20,2% responderam não tenho certeza (48 pessoas)
e 7,6% (18 pessoas) responderam não. Ou seja, grande parte dos alunos acredita que o espaço tem, de fato, a
capacidade de estimulá-los a realizar bem suas atividades.
Pergunta objetiva 13 - Já teve a experiência de sentir-se desestimulado em um espaço e atribuiu isso a
características do próprio espaço em questão? Na pergunta 13, que corresponde ao negativo da pergunta 12,
as respostas objetivas foram: 79% responderam sim (188 pessoas); 18,5% responderam não tenho certeza
(44 pessoas) e 2,5% (6 pessoas) responderam não. Percebe-se maior certeza dos alunos de que o espaço
consegue desestimulá-los, em relação à pergunta anterior, sobre estímulos positivos, visto que, nessa última,
mais pessoas responderam sim e menos pessoas responderam não ou não tenho certeza.
Seguem abaixo os gráficos das respostas objetivas dessas questões, nas Figuras 13 e 14.

Figura 13 – respostas da pergunta 12. Figura 14 – respostas da pergunta 13.

4. 2 Análise das respostas subjetivas


As questões de desdobramento das perguntas 12 e 13 – Se você respondeu "a" ou “b", responda à questão
seguinte: quais as características de conforto ambiental no espaço em questão? – objetivaram coletar
impressões pessoais e subjetivas dos alunos quanto à percepção sobre o conforto ambiental e sua capacidade
de influenciar comportamentos no espaço, repercutindo ou não na realização das próprias atividades.
Quando questionados sobre a atribuição espacial de estimular as atividades de estudo e trabalho, na
pergunta 12, cerca de 80% dos alunos se enquadraram no convite para responder a questão de
desdobramento, totalizando 190 pessoas. No entanto, alguns alunos deixaram de responder essa questão, da
qual foram coletadas apenas 155 respostas subjetivas, significando que alguns podem não ter compreendido
que se encaixavam no convite do enunciado ou não quiseram responder subjetivamente.
A nuvem de palavras resultante do conjunto de todas as 155 respostas subjetivas à questão 12
encontra-se na Figura 15, a seguir, onde se percebe que as palavras mais citadas pelos alunos foram

888
ambiente, espaço, iluminação, cores, conforto, realçando-se também outras ligadas ao conforto ambiental,
como ar, temperatura, acústica, silencioso, ventilação, claro, agradável, confortável e natural.

Figura 15 – Nuvem de palavras da pergunta subjetiva 12.

Destacam-se algumas respostas ou trechos de respostas dadas à questão 12, buscando apresentar os
aspectos de conforto ambiental e de bioclimatismo apontados pelos alunos, predominando conforto térmico,
acústico, lumínico e ergonômico, sendo muito citados também aspectos relacionados à vegetação, ao
ambiente natural, à acessibilidade e aos espaços de interação e convivência:
“Espaço aberto, com plantas e silêncio;
“Sim, um espaço que propicie conforto auxilia e muito nos estudos, na concentração e na convivência
entre os alunos”;
“Ambiente que não segregava, buscava propor áreas de integração”;
“Espaço amplo, com temperatura confortável, com conforto sonoro, respeitando a individualidade
mesmo sendo um espaço público ou usado por um grupo”;
“Local com clima agradável, com espaço, proporciona um melhor aproveitamento da atividade que se
faz nesse local”;
“Espaços bem iluminados, com uma temática voltada para estudos, cores "leves" (branco, verde claro,
azul) e silenciosos”;
“Estudar/trabalhar em um lugar que se preocupa com o conforto ambiental é estimulante”;
“Quando se trata de estudos, um ambiente agradável (silencioso, acessível, climatizado...) ajuda
bastante a ter um estímulo positivo”;
“Estrutura, ambiente e como a arquitetura nos faz sentir motivados. Algo aberto e bem iluminado
ajuda em minha concentração”;
“O espaço proporcionava uma ventilação natural, o edifício foi construído voltado para uma área com
maior intensidade dos ventos e incidência da luz natural”;
“Espaçoso, confortável, claro, temperatura amena, volume moderado de pessoas circulando”;
“Cores claras que criavam sensação de leveza para o ambiente e boa quantidade de espaços verdes/
arborizados”.
Quando questionados sobre a possibilidade de aspectos espaciais desestimularem os estudantes nas
suas atividades, na pergunta 13, aproximadamente 81,5%, 194 pessoas, reagiram respondendo objetivamente
sim ou não, sendo convidadas a participar de forma subjetiva da pergunta de desdobramento. Porém, foram
registradas apenas160 respostas. A nuvem de palavras referente ao conjunto dessas respostas está registrada
na Figura 16, onde se pode observar que as palavras ligadas ao (des) conforto mais mencionadas foram
ambiente, espaço, calor, barulho, iluminação, acústica, desconfortáveis, ruído, entre outras.

889
Figura 16 – Nuvem de palavras da pergunta subjetiva 13.

Apresentam-se, a seguir, algumas respostas e trechos de respostas fornecidas à pergunta subjetiva 13,
buscando sintetizar os aspectos apontados pelos alunos, que caracterizam desconforto no espaço:
“Ambiente apertado, pouco tempo de exposição à luz solar”;
“Falta de iluminação natural. Má distribuição dos espaços. Pouca circulação de ar. Ausência de área
verde”;
“Muito barulho, calor, falta de mobília”;
“Fechado, compacto demais e sem vida”;
“Ruídos excessivos, cores muito chamativas, falta de organização, equipamentos com defeitos, odores,
cadeiras e mesas desproporcionais etc.”;
“Ambiente abafado ou excessivamente frio, iluminação inadequada, desconforto dos móveis (ou, em
outras palavras, falta de ventilação, iluminação e ergonomia)”;
“Ambiente barulhento, mal organizado, ineficiente para a acessibilidade. De certa forma, insalubre”;
“Em questão de sala de aula, acho fundamental que seja um ambiente confortável, pois é onde os
estudantes mais se esforçam durante o seu dia”;
“Condições insalubres e uma arquitetura opressiva e fechada”;
“Ruído excessivo, iluminação inadequada (deficiente ou em excesso), ventilação insuficiente,
desarmonia na ambientação (quanto a cores e formas)”;
“O lugar era quente, escuro o que dificultava a concentração, principalmente por causa do calor”.
O formulário traz, por fim, na Pergunta 14 – O que você esperaria encontrar em uma nova edificação
de aulas para o seu curso e para os demais cursos superiores no IFPE – Campus Recife? – a oportunidade
de os alunos exporem de forma livre suas expectativas quanto à futura edificação dedicada aos seus cursos.
A Figura 17 traz a predominância dos termos espaço, curso, sala, estudo, aula, laboratório, ambiente. As
expectativas dos respondentes revelam atenção aos aspectos de adequação espacial, eficiência e conforto.

Figura 17 – Nuvem de palavras da pergunta subjetiva 14.

Dentre as respostas predominantes, abrangendo os temas de conforto ambiental, convivência e


experiência entre usuários, elencou-se alguns trechos trazidos à tona pelos alunos, como segue:
“Mais relação com o meio ambiente dentro do próprio espaço”;
“Que nos traga sentimento de harmonia, de acolhimento, de convivência e apropriado para
aprendizado”;
“Um ambiente que proporcione encontros tanto físicos quanto intelectuais, das mais diversas áreas,
onde alunos convivam com alunos dos outros cursos e com os trabalhos, exposições, desses alunos.
Além de uma boa interação com o ambiente natural”;
“Pátio com área de lazer que estimule prática saudável de relações”;

890
“Um ambiente orgânico, ecoeficiente e flexível”;
“Espaços confortáveis para o estudo individual e coletivo assim como espaços de convivência para
desestressar e melhorar a qualidade de vida dos estudantes”;
“Ambiente acessível, que leve em conta princípios de sustentabilidade”;
“Que seja um ambiente além de acolhedor, que atenda a todas as expectativas impostas pela missão e
visão do Instituto Federal, que é estar sempre à vanguarda de seu tempo”;
“Eu espero encontrar mudanças na modernização dos sistemas de refrigeração, de iluminação e maior
aproveitamento da luz natural [...] visando, assim, uma construção baseada na sustentabilidade”;
“Um prédio o mais sustentável possível, com o aproveitamento da energia solar, centro de tratamento
de água, sistema de compostagem de resíduos orgânicos”;
“Áreas verdes e de descanso onde se possa passar o tempo entre aulas”.
Após análise dos resultados, constata-se que os aspectos de conforto ambiental raramente ficaram de
fora das respostas redigidas pelos alunos quando solicitados a falar livremente sobre suas experiências
passadas e presentes e sobre suas expectativas quanto aos espaços atribuídos às atividades de estudo.
Confirmou-se o alto grau de relevância, do ponto de vista dos usuários da instituição de ensino adotada na
pesquisa, do conforto ambiental para o desempenho dessas atividades, repercutindo ainda nas possibilidades
da existência de boas relações com e no espaço edificado e sua envolvente ambiental.

5. CONCLUSÕES
As respostas das questões objetivas e subjetivas do formulário deixam muito clara a relação entre arquitetura
bioclimática e eficiente e os aspectos diversos do conforto ambiental que, necessariamente, repercutem na
qualidade da experiência espacial, na visão dos próprios usuários.
Ficou evidente, também, que a expectativa dos alunos sobre o trabalho dos arquitetos é enorme,
quando se trata dos temas correlatos da sustentabilidade, da eficiência energética e do conforto, não somente
em relação aos requisitos materiais, como também em relação às possibilidades imateriais da experiência
espacial. Assim, é possível dizer que o conforto ambiental, consequência da adequação da arquitetura ao
clima e ao lugar, favorece a apropriação espacial, o sentimento de pertencimento, a corresponsabilidade pela
manutenção dos espaços coletivos e amplia as possibilidades de proximidade, troca e compartilhamento com
outros indivíduos nos espaços públicos, sobretudo de ensino, ora investigado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AROZTEGUI, Miguel. I Bienal José Miguel Aroztegui – concurso estudantil ibero americano de arquitetura bioclimática.
Fortaleza: V ENCAC/ II ELACAC, 1999.
FREITAS, Ruskin. Entre mitos e limites. A s possibilidades do adensamento construtivo, face à qualidade de vida no ambiente
urbano. Recife: Editora da UFPE, 2008.
ROMERO, Marta Adriana Bustos. Niemeyer e o sentido do lugar: uma visão bioclimática. Arquitextos, São Paulo, ano 13, n.
151.05, Vitruvius, dez. 2012. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.151/4609>. Acesso
em: 29 abr. 2018.
SEAMON, David. The phenomenological contribution to environmental psychology. Journal of environmental psychology, v. 2, n.
2, p. 119-140, 1982.
SCHMID, Aloísio Leoni. A idéia de conforto: reflexões sobre o ambiente construído. Curitiba: Pactoambiental, 2005.
TIRONE, Lívia; NUNES, Ken. Construção sustentável: soluções eficientes hoje, a nossa riqueza de amanhã. 2. ed. Lisboa: Tirone
Nunes, 2008.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Instituto Federal de Pernambuco o apoio à realização dessa pesquisa.

891
A DIMENSÃO OCULTA NA VILA MADALENA: ESTUDO DE CONFORTO
(TÉRMICO) NO ESPAÇO URBANO ABERTO

Sérgio Antônio dos Santos Júnior (1); Rafael Antonini (2)


(1) Turismólogo, Arquiteto e Urbanista, Mestre em Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Urbanismo
Moderno e Contemporâneo, Doutorando em Arquitetura e Urbanismo na área de concentração: Projeto,
Espaço e Cultura, pela Universidade de São Paulo. Professor e pesquisador adjunto na Universidade Paulista
– UNIP, arqtur.sergio@usp.br
(2) Arquiteto e Urbanista, Especialista em Docência no Ensino Superior. Professor técnico de laboratório ne
conforto e maquetaria na Universidade Paulista – UNIP, rafael.antonini@gmail.com

RESUMO
Neste ensaio pretendemos examinar uma noção: a das interações entre o meio físico-ambiental e o modo
pelo qual é experimentada. A perspectiva teórico-metodológica justifica-se de modo indutivo, por meio de
instrumentação apropriada em campo, com coleta de dados das variáveis microclimáticas ambientais;
subsequente, dá-se continuidade ao estudo de forma dedutiva, por meio de comparações entre os resultados
obtidos e a participação e observação assistida in loco. Dos resultados pretendidos, espera-se uma acoplagem
entre a coleta dos dados das variáveis microclimáticas e das observações direta para a validação do modelo
utilizado (software: CBE Thermal Comfort Tool) na realidade paulistana e, como principal resultado,
verificar se as concentrações humanas selecionaram este território boêmio da cidade apenas pela
concentração dos bares, ou se há algum elemento oculto que contribui para a permanência destes usuários no
espaço aberto.
Palavras-chave: Vila Madalena, Práticas de Lazer, Conforto Térmico.

ABSTRACT
In this essay we intend to examine a notion: that of the interactions between the physical-environmental
environment and the way in which it is experienced. The theoretical-methodological perspective is justified
in an inductive way, through appropriate instrumentation in the field, with data collection of environmental
microclimatic variables; Subsequently, the study is continued in a deductive way, through comparisons
between the results obtained and participation and assisted observation in loco. From the expected results, a
coupling between the data of the microclimatic variables and the direct observations for the validation of the
CBE Thermal Comfort Tool is expected in the São Paulo reality and, as the main result, to verify if the
human concentrations selected this bohemian territory of the city just by the concentration of bars, or if there
is some hidden element that contributes to the permanence of these users in the open space.
Keywords: Vila Madalena, Leisure Practices, Thermal Comfort.

892
1. INTRODUÇÃO
ÀQUELES QUE ESTUDAM AMBIÊNCIAS DE CONVÍVIO E LAZER, esta pesquisa trata-se de uma abordagem no
campo tecnológico da arquitetura e urbanismo, pela maneira com que espaços urbanos abertos – mais
especificamente o da rua – são corporalmente ocupados. O estudo apresenta resultados preliminares de
pesquisa que tem como mérito a união da análise do conforto térmico com questões culturais de apropriação
do espaço público de lazer ao nível do usuário.
A inquietação que orientou esta pesquisa emerge da tentativa de entender as transformações e
interações comportamentais – corpóreas e mentais – da experiência espacial arquitetônica, acontece nesse
tipo de espaço. Nesse sentido, o estudo alinha-se e referencia-se nas pesquisas de Edward T. Hall,
The hidden dimension (1966), e Roger Garlock Barker, Ecological Psychology: concepts and methods for
studying the environment of human behavior (1968), ambos, centrados nos conceitos da antropologia
cultural, que se utiliza do conceito de cultura como sendo um sistema de padrões, que são apreendidos à
maneira como interagimos e nos comunicamos no e pelo espaço. Com Pezzuto; Labaki (2007) e Labaki et. al
(2012) a orientação teórico-metodológica inclina-se as características ambientais de espaços públicos
urbanos, o que inclui aspectos físicos e microclimáticos, que contribuem para torná-los mais ou menos
atrativos à convivência humana. Os autores destacam, também, que “esses espaços ganham significados de
acordo com o contexto urbano e as características locais, que juntos irão determinar seus usos, seja de
passagem ou de permanência”. De fato, o procedimento vai amplamente ao encontro dos recursos da
avaliação pós-ocupação (APO) do ambiente construído, que, de forma quantitativa, pela coleta de dados e
seleção da instrumentação adequada, fornecem subsídios numéricos para reflexão espacial, e de forma
qualitativa, leva em conta a percepção e satisfação do usuário em relação ao meio (ORNSTEIN; et. al.,
2018.), mas, nesta pesquisa, este último procedimento não será aplicado, conforme explicaremos no método.
Ciente disso, tomou-se, enquanto estudo de caso, a Rua Aspicuelta, na Vila Madalena/SP, que catalisa a
boemia paulistana para a verificação correlata entre a atividade estacionário do público e os aspectos físicos e
microclimáticos.
De fato, aqui o ato de habitar a rua, subjaz a dimensão lúdica do entretenimento, que requer uma
espacialidade própria, para além de sua apropriação física, funcional e simbólica, pelos grupos sociais que ali
frequentam. Nesses termos, são os estímulos sensoriais que se tornam o protagonista deste texto, polarizando
e respondendo a processos psicofísicos e ambientais.

2. OBJETIVO
Na medida em que se procurava-se solucionar questões, como “o que teria levado essa rua ou uma
determinada região da cidade a ter uma apropriação particular privilegiada pelo lazer?”, nos deparamos
diante de respostas que podem, mas nem sempre são específicas. Comumente, e de maneira
simplista/reducionista, são os usos do edificado que melhor respondem e justificam a este tipo de
questionamento, entretanto, nosso intuito propositivo é buscar elementos e características do território que
contribuem para o estado de permanência destes grupos sociais na rua. E nesse viés de muitas possibilidades,
logo se desenhou o objetivo primeiro desta investigação: obter dados paramétricos para, então, estabelecer
possíveis correspondências das práticas sociais e culturais, do vaivém e/ou permanência das pessoas
expresso no espaço da rua, pelos seus modos de consumo dessa experiência espacial.
De fato, os termos conforto e permanência apresentam certa sincronia quando associados, mas, o que
se destoa neste contexto é que, espaços urbanos abertos possibilitam menor controle das variáveis ambientais
do que recintos fechados. Assim, o objeto investigativo específico é verificar os possíveis meios de
adaptação/interação térmica, pela aclimatação, que envolve: atividades metabólicas (met), caracterizadas
pelo vaivém dos pedestres nas ruas; e a escolha das vestimentas (clo), pela resistência térmica que confere ao
usuário.

3. MÉTODO
O planejamento que antecede a ida ao campo para coleta de dados quantitativos dessa pesquisa consistiu em:
• Reconhecimento prévio do território, pelo mapeamento físico-ambiental da estrutura morfológica
urbana, sendo: topografia; pontos de amenidades e espaços vegetados; envelope solar e carta dos ventos;
leitura da composição dos canyons urbanos, pelo gabarito de altura e fator de visão do céu – FVC (Ψ), com
possíveis correspondências as atividades dominantes de uso e ocupação; e materialidade. O intuito
propositivo é verificar, pela concentração das massas, onde as pessoas preferem se abrigar fisicamente em
relação ao meio e as interferências das variáveis microclimáticas correspondentes.

893
• Após compreensão da espacialidade territorial, foram evidenciados três pontos com situações
distintas para medição e coleta dos dados, realizados em trio e simultaneamente. O primeiro ponto,
localizado em um declive topográfico e com maior área de vegetação; o segundo, próximo ao topo dessa
colina com menor índice de vegetação; o terceiro, no outro declive topográfico com menor índice de
vegetação.
• O período. Privilegiou-se o equinócio, por se tratar de uma “transição” do solstício de verão e
inverno; o dia de medição em campo deveria ser um final de semana, pela maior concentração de pessoas; e
não poderia ser um dia chuvosos, pois descaracterizaria a premissa anterior.
• A seleção dos equipamentos1, foram utilizados: três tripés com termo higrômetro e termômetro de
globo – este por simular o corpo humano, recebendo a ação do calor radiante existente no ambiente é,
portanto, a peça fundamental para desenvolvimento da pesquisa – com sensor de temperatura e umidade; e
anemômetro.
• Por fim, descartamos alguns modelos preditivos, que envolvem dados subjetivos empíricos: como
entrevistas e aplicação de questionários, fundamentais para sua calibração. Acreditamos que, por estarem sob
a égide do entretenimento, os entrevistados estariam “contaminados” pela distração do momento e, talvez,
fornecessem dados pouco precisos. Privilegiamos nesse sentido, o programa CBE Thermal Comfort Tool2 da
universidade de Berkeley, que contempla normas internacionais (International Organization for
Standardization – ISOs: 7726, 8996 e 9920) e a base ASHRAE Standard 55-2017, que fornecem parâmetros
psicométricos de percepção e sensação térmica dos espaços abertos, sem consultar o transeunte, pois tomam
por base uma amostragem previamente realizada de entrevistados de diversos locais em seus levantamentos
laboratoriais, os quais permitem serem estimados e replicados sob outras condicionantes em parâmetros
aproximados.
Sob essa perspectiva, explicita-se que, no intuito de conceituar um território de lazer e uma parcela do
cotidiano das vidas humanas nesse meio urbano destinado ao vivido e aprazível – aquilo que chamamos de
“hedonista” –, pela observação direta in loco. Desse modo, a perspectiva teórico-metodológica justifica-se de
modo indutivo, por meio de levantamentos paramétricos de campo de variáveis microclimáticas ambientais;
subsequente, dá-se continuidade ao estudo de forma dedutiva, por meio de comparações entre os resultados
obtidos.

4. DESENVOLVIMENTO: LEVANTAMENTOS DE CAMPO


A operacionalização empreendida até o momento convida a precisar aspectos locais, começando por sua
dimensão física [Fig.1]. Por referência, a Rua Aspicuelta possui extensão aproximada em 750 metros, entre
as cotas 755 e 765 em relação ao nível do mar, onde a parte mais alta fica na confluência com a Rua Fidalga.
Há inúmeros pontos de arborização viária na rua e no entorno; ainda no quesito verde, ressalta-se a presença
da Praça José Afonso de Almeida, localizada na interseção com a rua Simpatia, que, por excelência, é local
do encontro social e refúgio de amenidade microclimático, um dispositivo de efeito e convidativo para as
pessoas se abrigarem.

1 Toda a instrumentação foi cordialmente cedida pelo Laboratório de Arquitetura e Urbanismo e Tecnologia da Universidade de São
Paulo – LabAUT.USP. Informações dos equipamentos: Sensor de temperatura, Fabricante: OnSet HOBO Data Logger; Precisão: ±
0,21°C de 0° a 50°C; Faixa de Medição: -40 a 70°C; Sensor de Umidade: Fabricante: OnSet HOBO Data Logger; Precisão: ±2.5%
de 10% a 90% UR Faixa de Medição: 0 a 100% RH, -40° a 70°C. Conforme especificação ISO 7726 os equipamentos dispõem de
globos com diâmetro de 15cm, coloração cinza para medição em ambiente externo. Anemômetro digital, Fabricante: Homis
Controle e Instrumentação Ltda– modelo 207/220.Precisão: ±3%; Faixa de Medição (m/s): 0.0 – 45.0.
2 Cf. Center for the Built Environment – CBE. Programa disponível em: http://comfort.cbe.berkeley.edu/ (acesso em Out.2018).

894
FIGURA 1 – Mapa e corte urbano da rua Aspicuelta, em destaque: pontos de arborização viária e topografia (curva de nível mestra).
FONTE: Prefeitura de São Paulo – GeoSampa, 2018. Edição: ANTONINI, R; SANTOS JR, S. A., 2018.

A situação de implantação da estrutura morfológica urbana da rua indica inclinação à leste, o que se
permite intuir por este sentido, longo período de insolação e maior incidência dos ventos predominantes a
sudeste. A leitura compositiva dos canyons urbanos ratifica esta reflexão, pois dificilmente o FVC está
abaixo dos 100º(Ψ). Apesar de crescentes investidas do setor imobiliário, esta rua e a Vila como um todo,
ainda apresenta certa resistência à verticalização, haja vista que poucos edifícios apresentam mais de quatro
pavimentos e estes estão em maior número entre as ruas Fidalga e Girassol [Fig. 2 e 3].

FIGURA 2 – Perímetro em destaque da


Vila Madalena/SP. De acordo com Plano
Diretor Estratégico (PDE, 2016, p.41 e
151), o local está categorizado como
“`Zona de Qualificação” e classificado
como “Zona Mista”, isso lhe permite
verticalização de até 28m, na região o
comum são casas de dois pavimentos, o
que corresponde a 6m.
FONTE: PREFEITURA DE SÃO PAULO.
Zoneamento Ilustrado, 2016.

FIGURA 3 – Estudo dos canyons pelo


FVC(Ψ) da rua Aspicuelta FONTE:
Google Earth (2018). EDIÇÃO: Sérgio A.
Santos Jr. (2018).

Em relação aos usos do edificado, observa-se o predomínio do setor comercial, mais horizontalizado
e com preferência pelo segmento de bares e restaurantes. A mancha residencial é exponencialmente menor
que a comercial [Fig. 4] e, apesar de apresentar verticalidade – com adensamento pouco significativo para o
bairro –, elucida a problemática conflitante de morar em locais onde a atividade econômica dominante se
ancora no segmento do lazer social.

895
FIGURA 4 – Em destaque isometria da rua Aspicuelta, com levantamento de uso e ocupação do solo e descrição da quantidade
percentual: em vermelho, setor comercial; amarelo, residencial; rosa, serviços; verde, praça José Afonso de Almeida; azul,
institucional (escola). Os números nas imagens são os locais onde os equipamentos foram fixados para a medição: 1) confluência
com a rua Mourato Coelho; 2) confluência com a rua Fidalga; 3) a praça. Trajetória solar e ventos dominantes – setas azuis – no
sentido sudeste/SE. FONTE: Prefeitura de São Paulo – GeoSampa, 2018. EDIÇÃO: Rafael Antonini (2018). Software: SketchUp e
CADmapper.
Considerando a rua em questão, e devido à quantidade de equipamentos disponíveis, foram
estabelecidas três bases para levantamentos simultâneos. Para tanto, foi necessário considerar que, em meio à
densidade afetiva – a preferência social para determinados estabelecimentos – cada uma das bases está
impregnada com um intuito propositivo pela observação direta dos autores. A eleição das bases se deu
buscando a diversidade de configurações tipológicas disponíveis, esses locais configuram simultaneamente
pontos de passagem e de permanência, área vegetada e pavimentada. Trata-se, por isso mesmo, de situações
urbanas reais capazes de identificar a realização das atividades comumente exercidas por esse tipo de
apropriação em espaços abertos urbanos. Os três locais selecionados na rua Aspicuelta estão na confluência
as ruas Mourato Coelho; Fidalga e na Praça José Afonso de Almeida. Esta seleção se justifica também pela
concentração dos bares e restaurantes do entorno e sua capacidade em catalisar o público [Fig. 5].

FIGURA 5 – As imagens em círculo apresentam o fundo de céu no dia da medição (27 de Out.2018) dos locais selecionados
na rua Aspicuelta e confluência com a ruas – da esquerda pra direita – Mourato Coelho, Fidalga e Praça José Afonso de Almeida.
FONTE: Sérgio A. Santos Jr., e Rafael Antonini (2018).
Para esses núcleos distinguíveis entre si, o espaço que se constitui empiricamente sob influência de
área vegetada com maior ou menor grau, foram fixadas as bases – o termômetro de globo – durante o
período das 11h00min às 21h30min (UTC-3)3. Outra característica dessa eleição é que são locais transitáveis,

3
Aplica-se Universal Time Coordinated – UTC −3 (Horário de Brasília): Distrito Federal; Regiões Sul, Sudeste e
Nordeste; Estados de Goiás, Tocantins, Pará e Amapá. é o fuso horário de referência a partir do tempo médio de
Greenwich – Nota do Autor (N. do A.).

896
desobstruído de cobertura e entre as mesas, como se o equipamento ocupasse o lugar de uma pessoa, um
organismo interativo desse convívio.
Por estudos preditivos e por observações diretas previamente concebidas pelos autores, nosso intuito
foi verificar durante o período das 11h00min às 19h30min o efeito da materialidade, haja vista que, nesse
território, as concentrações humanas encontram-se em menor proporção nesse horário, pois privilegiam o
lazer noturno, que começa a partir das 19h30min, pelo happy hour [Fig.6]. Cientes de que, após o período de
insolação, o calor armazenado na matéria tende a diminuir de forma gradual pela noite, mas há que se
considerar também inúmeras variáveis, como os materiais, FVC, ações humanas e das máquinas, entre outras.
Intuímos que, em um determinado momento, haverá estabilização térmica das condições microclimáticas, e
as variáveis subsequentes podem referir-se as ações antropogênicas: seja do vaivém de pessoas, da
aglutinação delas ao redor do equipamento e o estar momentâneo, de pé ou sentado entre as mesas. São essas
as instâncias e ações comportamentais desse vivido corpóreo, que recaem sobre esse período que
vislumbramos.

FIGURA 6 – Timelapse, cruzamento das ruas Mourato Coelho


com Aspicuelta das 12h até as 23h (UTC-3). FONTE:
CASSIMIRO, Rogério (2014).

5. RESULTADOS
Para a quantificação física das variáveis ambientais e para uma melhor compreensão deste vivido corpóreo,
nos alinhamos e nos referenciamos nas ISOs 8996 e 9920 que tratam, respectivamente, sobre valores de taxa
metabólica observando as ações comportamentais [Fig. 7] e dos valores de isolamento térmico [Fig. 8],
fornecidos pela roupagem do usuário.

FIGURA 7 –
exemplificação de taxa
metabólica para
diferentes atividades,
segundo ISO 7730 e
8996. FONTE: FIGURA 8 - Índices de resistência térmica para
LAMBETS; et al, 2014, vestimentas, segundo ISO 9920. FONTE: LAMBETS; et
p.47. al, 2014, p.49.

O procedimento vai amplamente ao encontro da circunstância de fundo que marca esta investigação,
pela observação das práticas de lazer, que leva em consideração as ações comportamentais – do vaivém ao
descanso/permanência em um local específico, nisso consiste também a maneira com que se vestem para
exercer tais atividades. A apreensão analítica desse vivido corporal, aqui, é necessariamente balizada por
fontes psicométricas conferidas por um modelo dedutivo analítico de temperatura efetiva padrão, pela
métrica dos dados obtidos em campo pelos equipamentos [Tab. 1, 2 e 3].

Tabela 1 – Base(1) nas proximidades da rua Mourato Coelho.


Horário (UTC-3) Temp.Ar (ºC) U.R (%) T.Globo(ºC) *
11h30min 20,01 68,03 20,14
13h30min 27,48 47,00 26,18
15h30min 28,39 35,97 25,29
17h30min 23,82 45,73 30,31
19h30min 17,43 49,63 18,58
21h30min 17,89 45,67 18,78

897
Tabela 2 – Base(2) nas proximidades da rua Fidalga.
Horário (UTC-3) Temp.Ar (ºC) U.R (%) T.Globo(ºC) *
11h30min 19,99 68,01 19,92
13h30min 27,43 47,02 26,10
15h30min 28,35 35,99 25,19
17h30min 23,79 45,70 30,30
19h30min 17,39 49,61 18,54
21h30min 17,84 45,65 18,76

Tabela 3 – Base(3) nas proximidades da Praça José Afonso de Almeida


Horário (UTC-3) Temp.Ar (ºC) U.R (%) T.Globo(ºC) *
11h30min 20,13 66,65 21,60
13h30min 27,19 46,60 29,64
15h30min 22,66 41,86 25,60
17h30min 19,06 48,30 27,86
19h30min 17,22 49,87 18,18
21h30min 16,70 57,53 17,73

Marcados por esses atributos, o domínio físico da rua é associado empírica e maquinicamente de
maneira contundente com a observação direta. Pelos dados dos equipamentos contidos nas tabelas acima,
percebe-se que, com medições programadas e equalizadas a cada duas horas, a base 3 – situada na praça –
apresentou temperatura mais elevada somente no primeiro período, 11h30min (UTC-3), devido a maior
exposição à incidência solar, enquanto a base 1 e 2 estavam localizadas em áreas pavimentadas e sob efeito
de sombreamento geométrico dos edifícios adjacentes. A observação prossegue e não surpreende, se
contemplada sob o rol de pesquisas outrora realizadas por outros pesquisadores, como Oke (1987), Pezzuto;
Labaki (2007) e Labaki et. al (2012), apontam que o calor tende a aumentar em áreas pavimentas após o sol
no zênite (12h00min). Aqui, o ápice térmico das medições também confirma isso às 13h30min (UTC-3) e
próximo ao horário do pôr do sol, às 17h30min (UTC-3), a temperatura começa a cair e a energia térmica
armazenada pelos materiais também, sobretudo, pelas condições de fundo de céu, que, nesse dia, se manteve
descoberto, sem nuvens. Por fim, convém salientar que, no intuito de verificar e quantificar as ações
antropogênicas – por graus Celsius (ºC) –, pela concentração de pessoas ao redor do equipamento no período
noturno – 21h30min, horário que começam as atividades do encontro social – houve aumento de
aproximadamente ¼ (um quarto) de grau, que pode ser atribuído e justificado a este fim.
Em escala urbana, o Instituto Nacional de Meteorologia – INMET (2018), registrou os seguintes
dados no dia da medição em campo: “Temperatura média de 22,6°C; umidade 76%; velocidade do vento de
0,92 (m/s); chuva 0.0 (mm)”.
No modelo preditivo foram inseridos os dados da medição de campo; fixamos a resistência térmica
das vestimentas em: calça comprida e blusa leve (clo: 0.61); e, por fim, fizemos simulações alternadas da
atividade metabólica, comumente praticadas neste ambiente de lazer: sentado/calmo (met: 1.0) e caminhando
(met: 1.7). Consideramos e testamos as 36 variáveis dos dados das bases, contudo as bases 1 e 2, por
apresentarem valores aproximados, não houve distinção gráfica no estado de conforto, exemplificamos,
portanto, 24 resultados conforme seguem [Fig. 9 a 12].

11h30min 13h30min 15h30min 17h30min 19h30min 21h30min

Figura 9 – Simulação das bases 1 e 2 sob situação sentados calmo, conversando.

Figura 10 – Simulação das bases 1 e 2 sob situação caminhando.

898
Figura 11 – Simulação da base 3 sob situação sentados calmo, conversando.

Figura 12 – Simulação da base 3 sob situação caminhando

Estão em pauta, pelo modelo preditivo ilustrado nos gráficos, determinados modos de emprego do
corpo, enquanto “ferramenta interpretativa” de como os indivíduos usam seus corpos para interagir ao
ambiente externo. Desse modo, emerge o caráter sintático dos arranjos gráficos. No que se refere as
interações e condutas que resultam desse modelo preditivo, é possível deduzir pelo ponto vermelho,
representando o indivíduo e a faixa azul, como zona de neutralidade e conforto térmico pelos padrões
ASHRAE Standard 55-2017 que, a área vegetada (base 3) se apresenta como refúgio, para abrigar-se
fisicamente, pela manhã para uma leve atividade física e, pela tarde, para sentar-se conversa; já as bases 1 e
2, apresentam-se acolhedoras no período do almoço meio da tarde, quando se para nestes estabelecimentos,
já no período noturno tornam-se convidativos ao movimento, caminhar.
Assim, elucidativo são as vivências interativas com os usos da rua, tendo como apoio os
estabelecimentos, especialmente no fim de tarde e noite, é revelador como o procedimento foi amplamente
ao encontro das circunstâncias de fundo desse vivido observado por nós. Partindo de uma descrição de cunho
etnográfico, do local de pesquisa pela observação participante, revela, por referência anunciada, a preferência
do pedestre pelo vaivém, um flâneur característico da Vila Madalena [Fig. 13 a 16].

FIGURAS 13 a 16 – Noite na Vila Madalena, sequencia de fotos na rua Aspicuelta. FONTE: cortesia do fotografo
Jorge Hynd (2018).

899
Embora estejamos no intervalo entre o mythos e o logos – de um lado, abstrações: os gostos e
preferências subjetivas; do outro, a concretude mensurável/métrica dos dados –, que subsidiam
empiricamente a constituição dos padrões de individualização, esses modos de comportamento corporal dos
pedestres, forjados sobre posturas, posicionamentos e movimentos físicos corporais específicos, nos ensinam
que interagir ao meio físico é comunicar-se pela mediação do próprio corpo.

6. CONCLUSÕES
Como consideração geral, deduzimos que, ao se apropriar fisicamente do espaço da rua, as situações do
vivido comportamental por nós observado na seara das opções dos estabelecimentos destinados ao lazer e
entretenimento, essa movimentação corpórea do vaivém não se justifica apenas pela visitação totalizante
entre os bares e da oportunidade do encontro social, mas, também, é um dispositivo, talvez não consciente,
que nos mantém em estado aprazível (conforto).
Nessa perspectiva, surpreende que o modelo preditivo analítico sem base empírica – da subjetividade
com entrevista ao pedestre –, tenha apresentado resultados correlatos significativos com o observado por
calibrações pontuais da atividade metabólica (met).
Por fim, ressaltam-se os resultados específicos dos dados obtidos em campo e das simulações e
calibrações realizadas em face do vivido corpóreo. O modelo apresentou resultados correspondentes para a
predição da percepção de sensações térmicas observadas e vivenciadas na Rua Aspicuelta e permite
reaplicações em trabalhos futuros, a fim de dar prosseguimento aos estudos dessa pesquisa pré-tese das
situações reais, mais especificamente com relação a:
• possibilidades de verificação de modelos preditivos simplificados, em situações onde se realizem
levantamentos in loco;
• possibilidades de estudos comparativos em regiões com infraestrutura semelhante, sobretudo com
relação aos usos do edificado, e estabelecer possíveis relações que conduz o prestígio do público
sobre determinada área urbana que se sobrepõe a outra;
• verificações e extrapolações teóricas além das bases qualitativas, de leituras da paisagem e
conformismo em relação e justificação aos usos existentes do edificado.

REFERÊNCIAS
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Kansas: Stanford University Press, 1968.
CASSIMIRO, Rogério. Timelapse: 11 horas de Copa na Vila Madalena, em São Paulo. Revista Época 18/06/2014.
Disponível em: https://epoca.globo.com/vida/copa-do-mundo-2014/noticia/2014/06/btimelapseb-11-horas-de-copa-na-vila-
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HALL, Edward T. The Hidden Dimension. New York: Doubleday and Company, Inc., 1966.
INMET - Instituto Nacional de Meteorologia. Estações e dados. Disponível em:
http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=estacoes/estacoesConvencionais (acesso em Nov.2018).
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estimation of the thermal insulation and evaporative resistance of a clothing ensemble. Genève: ISO, 1995.
LABAKI Lucila Chebel; FONTES, Maria Solange Gurgel de Castro; BUENO-BARTHOLOMEI, Carolina Lotufo;
DACANAL, Cristiane. Conforto térmico em espaços públicos de passagem: estudos em ruas de pedestres no estado de São Paulo.
Porto Alegre: Revista Ambiente Construído, v. 12, n. 1, p. 167-183, jan./mar. 2012.
LAMBERTS, Roberto; PEREIRA, Luciano; DUTRA, Fernando. Eficiência Energética na Arquitetura (3ª Edição). Rio de
Janeiro: LETROBRAS/PROCEL, 2014.
OKE, T.R. Boundary layer climates. 2nd ed, 1987.
ORNSTEIN, Sheila Walbe; FRANÇA, Ana Judite Galbiatti Limongi; ONO, Rosaria; e VILLA, Simone Barbosa. Avaliação
pós-ocupação: na arquitetura, no urbanismo e no design. São Paulo: Oficina de textos, 2018.
PEZZUTO, C. C.; LABAKI, L. C. Conforto térmico em espaços urbanos abertos: avaliação em áreas de fluxo de pedestres.
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CONSTRUÍDO, 2007, Ouro Preto. Anais... ANTAC, 2007.
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Center for the Built Environment, University of California Berkeley, 2017. http://comfort.cbe.berkeley.edu/ (acesso em Nov.2018).

900
AGRADECIMENTOS
À Profa. Dra. Denise Helena S. Duarte pela orientação durante e após o curso da disciplina AUT5823
Conforto Ambiental em Espaços Urbanos Abertos e ao laboratorista Ranieri Carvalho Higa, pelo preparo,
calibração dos equipamentos e processamento dos dados.

901
A INFLUÊNCIA DA CONFIGURAÇÃO GEOMÉTRICA DE MUROS
VAZADOS NOS PADRÕES DE COMPORTAMENTO DOS VENTOS EM
HABITAÇÕES TÉRREAS
Isabely Penina C. da Costa (1); Ricardo Victor R. Barbosa (2); Gianna M. Barbirato (3)
(1) Doutoranda, Unicamp - Professora do Instituto Federal de Alagoas - IFAL, isabelypenina@gmail.com
(2) Doutor, Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAU/UFAL, rvictor@arapiraca.ufal.br
(3) Doutora, Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAU/UFAL, gmb@ctec.ufal.br
Universidade Federal de Alagoas, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo, Maceió/AL, CEP 57072-900, Tel.: (82) 3214 1309

RESUMO
A ventilação natural é uma das principais estratégias para o resfriamento passivo de edificações. Seu
aproveitamento é relevante para a obtenção das condições de conforto térmico em regiões de clima quente e
úmido. Contudo, observa-se que alguns componentes construtivos presentes nas edificações acabam por
limitar o uso da ventilação natural, a exemplo do muro. Este é um elemento recorrente nas habitações
brasileiras, associado à necessidade de segurança e privacidade. Nesse contexto, a utilização de muros
vazados pode se configurar como um interessante recurso para reduzir o efeito negativo proporcionado por
esse componente. O objetivo dessa pesquisa foi avaliar a influência do posicionamento e direcionamento de
componentes laminados no desempenho de muros vazados em relação ao potencial de aproveitamento da
ventilação natural em habitações térreas de interesse social. A metodologia foi composta de análises
paramétricas realizadas por meio de simulações baseadas na Dinâmica dos Fluidos Computacional (CFD),
utilizando o software ANSYS CFX 18.1. Foram aplicadas cinco configurações de muros em um exemplar de
habitação de interesse social, uma sem aberturas e quatro com componentes vazados laminados. Os
resultados indicaram que a configuração com lâminas posicionadas na horizontal e direcionadas para baixo
foi a que apresentou melhores ganhos nos padrões de circulação do vento e nos valores de velocidade do ar
na região a sotavento do muro, comparados aos valores do modelo sem aberturas. No entanto, constatou-se
que esses ganhos não se refletiram em melhorias das condições de ventilação natural no espaço interno da
edificação. Assim, evidenciou-se a necessidade de inserção dos muros vazados aliados às outras estratégias
projetuais de aproveitamento da ventilação natural.
Palavras-chave: ventilação natural, ação do vento, muros permeáveis, CFD.

ABSTRACT
Natural ventilation is one of the main strategies for the passive cooling of buildings. Its use is relevant for
obtaining the conditions of thermal comfort in the regions of the hot and humid tropical climate. But some
building components limit the use of natural ventilation, e.g., the wall. The wall is a recurring element in the
Brazilian housing, it is related to the need for security and privacy. Therefore, the insertion of porous
elements can be configured as an interesting resource to reduce the negative effect provided by this
component. This paper aim is to evaluate the influence of the position and direction of the laminated
component in the performance of the porous walls for the use of natural ventilation in ground floor social
housing. For such, parametric analyses were used through simulations based on the Computational Fluid
Dynamic simulation (CFD), using the ANSYS CFX 18.1 software. Five wall configurations were used in a
social housing model, one without opening and four with laminated porous components. The results indicate
that the configuration with horizontal lamina directed downwards was showed better values in the wind
circulation patterns and in the air velocity in the leeward region of the wall than the without openings model.
However, these results were not reflected in improvements to the natural ventilation conditions in the
internal space of the building. Thus, it is found that the need for insertion of the porous walls allied to other
strategies of natural ventilation.
Keywords: natural ventilation, wind action, permeable wall, CFD.

902
1. INTRODUÇÃO
As regiões de clima tropical quente e úmido são caracterizadas por pequenas flutuações diárias e sazonais da
temperatura do ar, além de elevados níveis de umidade. Como o padrão do céu é parcialmente nublado, é
gerada uma quantidade significativa de radiação difusa e luminosidade. Com isso, recomenda-se que as
edificações, nessas regiões, evitem ganhos de calor advindos da radiação solar, na medida que dissipam o
calor produzido internamente. Nesse sentido, o resfriamento é o principal foco do projeto arquitetônico,
sendo a ventilação natural um fator relevante no estabelecimento do conforto térmico humano (GIVONI,
1994; ABNT, 2005).
Entretanto o conforto térmico muitas vezes fica suplantado diante de outras demandas que surgem na
elaboração do projeto arquitetônico ou durante a vida útil da edificação. Como por exemplo a busca por
segurança e privacidade, que tem transformado edificações e os bairros, criando dinâmicas e elementos
construtivos, como os muros (MOREIRA, 2007). Kowaltowski et al. (2006) afirmam que culturalmente a
população deposita mais confiança nos muros altos em detrimento ao controle do seu espaço, através da
visualização plena da área.
Dentro da perspectiva do conforto térmico, a existência de anteparos no entorno de edificações deve
ser levada em consideração, pois modifica substancialmente o fluxo de ar que incide na edificação estudada
(TOLEDO, 1999). Na literatura estudos como o de Oliveira (2009) e Marín (2017) constataram o impacto do
muro impermeável no aumento do desconforto nas habitações, sobretudo associado com a redução da
velocidade dos ventos e das taxas de renovação de ar. Outras pesquisas, como exemplo as de Chang (2006) e
Chang e Cheng (2009), demostraram que diferentes configurações e formas de inserção do muro, resultaram
em modificações nas condições da ventilação natural nas edificações.
Nesse sentido, o presente trabalho investigou a influência da configuração geométrica de muros
vazados nos padrões de comportamento do escoamento dos ventos. O estudo foi realizado com foco em
habitações térreas de interesse social, visto que estas são frequentemente caracterizadas pelas fragilidades em
relação ao conforto e segurança (SANTOS; BARROS; AMORIM, 2013).

2. OBJETIVO
O objetivo da pesquisa foi avaliar a influência do posicionamento e direcionamento de componentes
laminados no desempenho de muros vazados em relação ao potencial de aproveitamento da ventilação
natural em habitações térreas de interesse social.

3. MÉTODO
A metodologia da pesquisa foi dividida em duas etapas principais: (1) a definição dos modelos avaliados e
(2) a simulação por Dinâmicas dos Fluídos Computacional (CFD).

3.1. Definição dos modelos avaliados


Foram definidos dois modelos de muros: um sem aberturas, que foi escolhido como o Modelo de Referência
(MR), e um modelo vazado constituído de componentes laminados inclinados (MLI) (Figura 1). A opção de
utilizar componentes laminados foi motivada pelo seu potencial em gerar arranjos favoráveis à privacidade,
além da estimativa de baixo custo para execução, sendo mais acessível para às habitações de interesse social.

(a) (b)
Figura 1 - Tipologias de muros avaliadas: (a) Modelo de Referência (MR); (b) Modelo Vazado (MLI). Fonte: Os autores, 2018.

Para compor a geometria dos modelos de muros avaliados, foi escolhido um exemplar de edificação
térrea de um conjunto habitacional de interesse social existente na cidade de Maceió - AL. O exemplar foi
selecionado devido as várias intervenções realizadas pelos usuários após a entrega da edificação pela
construtora, sobretudo, a inserção de muros altos e fechados (Figura 2).
903
(a) (b) (c)

Figura 2 - Exemplar de edificação escolhido em diferentes períodos: (A) perspectiva do projeto, (B) final da execução e (C) depois da
entrega aos moradores. Fonte: Contrato Engenharia, 2012; Os autores, 2017.

A partir da escolha das tipologias de muros e do modelo de habitação de interesse social, foram
definidos os parâmetros fixos e variáveis para elaboração da matriz de referência com todas as simulações
possíveis. Para esta pesquisa foram escolhidos oito parâmetros fixos e dois parâmetros variáveis, como
descritos a seguir (Quadros 1 e 2 e Figura 3). Considerando estes parâmetros, gerou-se uma matriz com 5
casos.
Quadro 1 - Parâmetros fixos escolhidos para as simulações
Parâmetro Fixo Definições/Valores Descrição
1 Recuo para construção 5,45 m Baseado no exemplar de habitação
2 Altura do Muro 2,50 m Valor médio estimado das alturas encontradas no conjunto habitacional
3 Espessura do muro 20 cm Baseado nos elementos vazados comercializados
Central (plano
Localização da área Em observância de exemplares existentes no conjunto habitacional,
4 vertical) e Esquerda
destinada ao componente sobretudo em relação a posição do portão da garagem
(plano horizontal)
Inclinação escolhida a partir de teste preliminares, em que se avaliou os
5 Inclinação da lâmina 30º
aspectos: privacidade e distribuição do fluxo de vento
4 Baseado na análise das velocidades médias mensais e anuais do vento
6 Velocidade do vento 3 m/s¹ para a cidade de Maceió
Porosidade do Tentou-se considerar a maior porosidade possível, priorizando o critério
7 75%
componente vazado de privacidade.
Ângulo de incidência dos O objetivo foi avaliar o desempenho do muro com o vento incidindo
8 90º
ventos perpendicularmente às configurações estudadas.

Figura 3 - Ilustrações esquemáticas demonstrando os parâmetros fixos definidos: (a) planta baixa de locação; (b) corte do muro; (c)
vista muro frontal. Fonte: Os autores, 2018.
Quadro 2 - Parâmetros variáveis escolhidos para as simulações
Parâmetro Variável Definições/Valores Descrição
A lâmina na vertical é mais recorrente em muros vazados.
1 Posição da lâmina Horizontal e Vertical Optou-se por compará-la com a posição na horizontal, já que
esta pode proporcionar melhores condições de privacidade.
Para cima (posição horizontal)
Considerando o parâmetro anterior, variou-se as lâminas em
Para baixo (posição horizontal)
2 Direção da lâmina distintas direções, com intuito de investigar os diferentes
Para direita (posição vertical)
padrões de escoamento.
Para esquerda (posição vertical)

3.2. Simulação por Dinâmicas dos Fluídos Computacional (CFD)


As simulações foram realizadas utilizando o software Ansys CFX 18.1 (ANSYS, 2017). Este é um software
CFD que simula o escoamento de fluidos a partir de métodos numéricos como os elementos e os volumes
finitos (CUNHA, 2010). O software é amplamente utilizado em pesquisas internacionais e nacionais
envolvendo ventilação natural na arquitetura (ANDRADE, 2013; LUKIANTCHUKI, 2015).
Nas simulações optou-se por priorizar o detalhamento do componente vazado por conta da capacidade
computacional, assim a modelagem da edificação considerou apenas a envoltória. Os modelos analisados não
foram simulados de forma isolada, optou-se por colocar em suas laterais (direita e esquerda) réplicas

4
¹ Velocidade foi corrigida para o valor correspondente à altura de referência das aberturas da edificação, utilizando a equação
estabelecida em Building Research Establisment – BRE (1978) apud Bittencourt; Cândido (2015).
904
simplificadas da edificação. O intuito foi simular considerando o escoamento do fluxo em condições mais
próximas da realidade (Figura 4a).
Foi escolhido um domínio fluído retangular (Figura 4b) com as dimensões baseadas na altura da
edificação estudada (H = 4,60 m) conforme as recomendações de COST C14²5: a distância da entrada
(barlavento) e laterais para qualquer obstáculo = 5H (23 m), a distância da saída (sotavento) para qualquer
obstáculo = 15H (69 m) e altura do domínio = 6H (27,6 m).

(a) (b)

Figura 4 – Modelagem da geometria da edificação (a) e do domínio fluido (b). Fonte: Os autores, 2018.

Optou-se por uma malha tetraédrica não estruturada levando em consideração a capacidade de
processamento computacional, já que ela é gerada com mais facilidade e possui melhor adaptação em
geometrias mais complexas (LEITE; FROTA, 2013). Nas áreas do modelo que tinham maior importância na
pesquisa, como os elementos vazados, foi necessário refinar a malha (Figura 5). Após as definições do
modelo e da malha, foram inseridos parâmetros gerais da simulação e configurações específicas para cada
componente do modelo, conforme sintetizado no quadro a seguir (Quadro 3).

Figura 5 – Ilustração da malha gerada para os modelos analisados. Fonte: Os autores, 2018.
Quadro 3 – Síntese dos parâmetros para as condições iniciais e de contorno
Condições iniciais e de contorno Definição
Regime da simulação Permanente – condições de contorno se mantêm constantes
Domínio como fluido Gás ideal e pressão atmosférica local como referência
Regime térmico escolhido Isotérmico – desprezam-se as variações de temperatura e mistura efetiva do ar
Modelo de turbulência k-ε (k-Épsilon) – custo-benefício entre o tempo de processamento e a precisão
Funções turbulentas de superfície Scalable – funções ajustadas com as interações entre o fluido e as superfícies sólidas
-4
Critério de convergência RMS³6 = 10
Controle da solução matemática
(confiabilidade) O número máximo de iterações = 250
𝑦 + (Yplus47) = 20 < y+ < 300
Na análise da qualidade da malha verificou-se que todos os modelos alcançaram o valor estabelecido
como critério de convergência RMS. Para y+, os valores obtidos ficaram dentro do limite proposto, com
ressalvas para algumas regiões do modelo, a exemplo da região vazada do muro, que obtive valores
inferiores a 20. A dificuldade de alcance do limite proposto relaciona-se a necessidade de aumentar a
espessura da primeira camada de prisma para obter um melhor resultado de y+, em oposição a tendência de
diminuir os elementos de malha para representar melhor as pequenas dimensões da geometria do
componente vazado. Problemas semelhantes também foram encontrados nos trabalhos de Leite e Frota
(2013) e Lukiantchuki (2015). Com base nestas pesquisas, decidiu-se priorizar o nível de convergência e a

²5 European Cooperation in Science & Technology (COST) - Cost Action 14: recommendations on the use of CFD in predicting
pedestrian wind environment (COST, 2004 apud CÓSTOLA, 2006).
³6 RMS é definido como o “desvio padrão das leituras das quantidades” (LUKIANTCHUKI, 2015, p. 97).
47 O y+ fornece um valor quantitativo para a qualidade da malha em relação a sua capacidade de capturar bem o fenômeno do

escoamento próximo à parede (CÓSTOLA, 2006).


905
definição da malha com valores satisfatórios de qualidade. Estes foram escolhidos a partir dos vários testes
realizados.
Por fim, foram realizadas as etapas de processamento das simulações e tratamento dos resultados. Foi
possível obter diferentes informações qualitativas e quantitativas do escoamento. Para visualização dos
resultados qualitativos, foram determinados dois planos de corte (Figura 6), um horizontal (altura = 0,85 m) e
um vertical longitudinal (no sentido do fluxo)58. Para a análise quantitativa foram distribuídos pontos de
medição no modelo, com eles foi possível monitorar a velocidade do vento. Definiu-se uma malha com o
total de 16 pontos de medição (Figura 7), sendo 3 pontos externos ao modelo (a barlavento do muro); 9
pontos distribuídos no recuo frontal (a sotavento do muro); e 4 pontos localizados no espaço interno da
edificação (próximos às aberturas da fachada frontal).
A partir dos resultados quantitativos e qualitativos de cada modelo foi realizada a avaliação
comparativa entre o caso de referência e os casos com a tipologia vazada. Os dados de velocidade dos ventos
foram caracterizados como base na escala cromática desenvolvida por Morais (2013)69. A escala se divide
em quatro níveis de velocidades médias (Figura 8), sendo o intervalo de 0,41 a 0,80 m/s em que é possível
perceber uma redução de carga térmica.

Figura 7 – Localização dos pontos de medição da velocidade do vento.

Figura 6 – Planos de corte horizontal (a) e vertical (b) Figura 8 – Escala cromática de velocidades médias aplicadas ao
elaborados na etapa de visualização dos resultados. conforto térmico. Fonte: adaptada de Morais (2013).

4. RESULTADOS
Os resultados foram divididos em duas seções: (1) uma para análise dos resultados qualitativos, em que
foram avaliados os padrões de distribuição do fluxo de vento, e (2) outra seção para análise dos resultados
quantitativos, em que os casos foram avaliados a partir dos dados obtidos para velocidade do vento.

4.1. Análise Qualitativa


Os resultados demostraram que no modelo de referência (MR) o escoamento do vento ao encontrar a barreira
sofreu um desvio para cima do muro. O fluxo ao ultrapassar o muro se desloca para a cobertura da
edificação, esta redireciona parte do escoamento para região frontal (Figuras 9 e 10). Assim, nesta área
gerou-se uma zona de turbulência, onde houve recirculação do fluxo de ar. Como consequência desse padrão
de distribuição, observa-se a ocorrência de fluxos reversos através das aberturas da habitação, ou seja,
independentemente da localização das aberturas, seja a barlavento ou a sotavento, estas funcionaram como
entrada e saída de vento. Isso indicou o impacto que o muro provoca na distribuição das pressões nas
superfícies do modelo, fato que converge com outros estudos, com o de Chang (2006).
Nos muros vazados o padrão de circulação do fluxo de vento foi significativamente distinto do MR,
pois parte do fluxo incidiu no lote através do componente vazado. Como consequência, percebe-se o
incremento da velocidade do vento nas regiões a barlavento e a sotavento do muro. Comparando as
tipologias de muros vazados entre si, percebe-se a ocorrência de distintos comportamentos na distribuição do
fluxo de vento (Figura 9).
58
A altura do plano horizontal foi definida conforme as recomendações da norma ISO 7726:1998 (ISO, 1998). O plano
vertical foi posicionado de forma que seccionasse o componente vazado.
69
Elaborada com base nas pesquisas de Bedford (1948), Allard (1998) e Cândido et al. (2010).
906
Figura 9 - Planos de corte vertical e horizontal dos casos analisados, evidenciando a distribuição do escoamento do fluxo de vento.

Nos casos da tipologia de Muro com Lâminas Inclinadas Horizontais direcionadas para Cima
(MLIHC), o fluxo ao incidir no muro seguiu uma trajetória ascendente. Quando o escoamento se aproximou
da cobertura da edificação retornou para região frontal, gerando zonas de turbulência e reduzindo a
abrangência do escoamento (Figuras 10b). Ao analisar os casos com Muro de Lâminas Inclinadas
Horizontais direcionadas para Baixo (MLIHB), verificou-se que parte do fluxo de ar ao ultrapassar o
elemento vazado seguiu uma trajetória descendente. Após tocar no solo do modelo, o escoamento ascendeu
na direção da edificação, gerando uma zona de turbulência (Figura 10c). Percebe-se nas Figura 10c que a
distribuição do escoamento ocorreu de forma mais ampla do que nos modelos anteriores (MR e MLIHC). O
fluxo de ar incidiu no lote alcançando maiores velocidades, o que consequentemente promoveu uma redução
considerável das zonas de estagnação a barlavento da edificação. Contudo, esse padrão não se refletiu no
interior da edificação, visto que o fluxo que entrou pela abertura assumiu uma trajetória ascendente, se

907
concentrando no nível do teto (Figura 10c). Assim, ainda predominou um padrão de circulação com baixas
velocidades do vento.

Figura 10 - Ampliação do plano de corte vertical para os casos: (a) MR, (b) MLIHC e (c) MLIHB, evidenciando a distribuição do
escoamento do fluxo de vento.

Nos modelos de Muro com Lâminas Inclinadas Verticais (MLIV) o fluxo se deslocou no sentido de
direção da lâmina. Nos casos com Lâminas direcionadas para Direita (MLIVD), o escoamento foi conduzido
para a fachada frontal da edificação, incidindo na abertura próxima à lateral direita. Pela outra abertura
frontal, ocorreu o predomínio do fluxo reverso, ou seja, ela funcionou mais como saída do que entrada de
vento (Figura 11b).
Os resultados demonstraram que nos casos com Lâminas Verticais direcionadas para esquerda
(MLIVE) o fluxo de ar ao ultrapassar o componente vazado tendeu a ser conduzido para o recuo lateral.
Observa-se que o movimento de ar produzido pela configuração gerou um fluxo que incidiu paralelamente à
fachada frontal (Figura 11c). Essa condição prejudicou o aproveitamento da ventilação na edificação. Nesse
sentido, apesar do aumento na velocidade do ar na região a barlavento da edificação, nas aberturas
predominaram um fluxo reverso, ou seja, as janelas frontais tenderam a funcionar mais como saída do que
como entrada de vento, semelhante ao Modelo de Referência (MR).
Percebe-se que as Lâminas Inclinadas Verticais quando direcionadas para Direita (MLIVD)
possibilitaram uma melhor distribuição do fluxo de vento na região a barlavento da edificação, do que as
Lâminas Inclinadas Verticais direcionadas para Esquerda (MLIVE). Estas, no entanto, proporcionam
condições mais adequadas de privacidade, visto que o direcionamento para direita deixou a habitação mais
exposta à visão externa (Figura 11b e 11c).
Lateral direita

Figura 11 - Ampliação do plano de corte horizontal para os casos: (a) MR, (b) MLIVD e (c) MLIVE, evidenciando a distribuição do
escoamento do fluxo de vento.

Comparando todos os modelos vazados no que se refere ao padrão de distribuição do fluxo de vento
no recuo frontal e na sua incidência pelas aberturas da edificação, verificou-se que:
• Os melhores desempenhos foram para as tipologias de Muros com Lâminas Horizontais direcionadas
para Baixo (MLIHB) e de Muros com Lâminas Verticais direcionadas para Direita (MLIVD). Visto que a
posição e o direcionamento das lâminas conduziram de forma mais direta o fluxo para dentro da edificação.
• O MLIHB obteve maior abrangência e intensidade no recuo frontal do que o MLIVD. Contudo, sua
incidência nas aberturas é prejudicada devido ao direcionamento do fluxo para o nível do teto, reduzindo o
potencial de aproveitamento da ventilação.
• No geral, o padrão de distribuição mais desfavorável foi percebido no caso com o Muro de Lâminas
Horizontais direcionadas para Cima (MLIHC). Este se assemelhou com o Modelo de Referência (MR) no
que se refere ao predomínio de zonas de estagnação.

4.2. Análise Quantitativa


Os valores de velocidade do vento obtidos para o Modelo de Referência (MR) demonstraram o impacto
considerável do muro não permeável, pois considerando o fluxo do vento livre (1,18 m/s), onde não há
influência das obstruções, a redução da velocidade do vento a barlavento do muro foi de aproximadamente
70%. Enquanto a redução a sotavento do muro chegou a ultrapassar 80%. Nas áreas internas da edificação as
908
velocidades médias foram menores do que 0,04 m/s, uma redução de cerca de 97%. Fato que convergiu com
a literatura, principalmente com os estudos de Boutet (1987) apud Bittencourt e Cândido (2015). Os valores
de velocidade do vento no recuo frontal (sotavento do muro) alcançaram uma média de 0,22 m/s (Figuras 12
e 13). Tomando como referência a escala cromática desenvolvida por Morais (2013), esse valor
caracterizaria a ventilação natural como existente, porém muito próxima do limiar mínimo. No entanto, para
as condições internas a ventilação foi classificada como imperceptível, ou seja, indicando o não
favorecimento ao resfriamento fisiológico e da edificação (Figura 12).
Nos casos com muros vazados, o comportamento a barlavento e a sotavento do muro variaram
significativamente em comparação com o Modelo de Referência (MR). Contudo, quando se considera os
valores obtidos na área interna da edificação, nota-se que as tipologias vazadas se assemelharam ao MR
(Figuras 12 e 13).

MLIHC= Muro com MLIHB = Muro com MLIVD= Muro com MLIVE = Muro com
Legenda MR = Modelo
lâminas horizontais lâminas horizontais lâminas verticais lâminas verticais para
Sigla de Referência
para cima para baixo para direita esquerda
Figura 12 - Gráfico demonstrando o comportamento da velocidade média do vento e o rebatimento nos níveis de ventilação natural
para o conforto térmico.

No caso do muro vazado com lâminas horizontais direcionadas para cima (MLIHC), percebe-se que a
velocidade a barlavento do muro alcançou valores acima de 0,55 m/s, um acréscimo de mais 60% em relação
ao Modelo de Referência (MR). Enquanto a sotavento do muro os valores decaíram consideravelmente,
alcançando níveis em torno de 0,29 m/s, um incremento de 30% em relação ao MR (Figura 14). Os níveis de
velocidade do vento interno ficaram abaixo de 0,10 m/s, uma condição considerada, demasiadamente,
desfavorável para o conforto térmico (Figuras 12 e 13).
O muro com lâminas direcionadas para baixo (MLIHB) obtive uma velocidade média no recuo frontal
de aproximadamente 0,67 m/s, resultando em um acréscimo de mais de 200% em relação ao MR. Este nível
caracterizaria a ventilação natural como satisfatória. Ressalta-se também que no caso MLIHB, a média da
velocidade a sotavento do muro foi mais elevada do que a barlavento (Figuras 12 e 13). No entanto, quando
se observa as condições internas da edificação a média da velocidade foi menor do que o MR (Figuras 13 e
14). Este comportamento se relaciona com o padrão de movimentação do ar, que concentra o fluxo no nível
do teto, como observado na análise qualitativa.
Nota-se que as tipologias com Muros com Lâminas Inclinadas Verticais direcionadas para Direita
(MLIVD) e direcionadas para Esquerda (MLIVE) apresentaram resultados semelhantes quanto a velocidade
do vento a barlavento do muro. Comparando com o Modelo de Referência (MR), ambas tipologias obtiveram
um incremento de aproximadamente 90%. Contudo, quando se observa a região de recuo frontal (sotavento
do muro), verifica-se um comportamento distinto entre elas (Figura 14).
Como é possível visualizar na figura 12, no caso MLIVD, o fluxo de vento obteve maiores
velocidades nas áreas mais próximas do muro (s2), enquanto no caso MLIVE, os níveis mais elevados foram
na região mais próxima da edificação (s4). Para o caso MLIVD a média da velocidade do vento registrada foi
de 0,44 m/s, um incremento de 100% em relação ao MR. Já o caso MLIVE obteve uma média de 0,48 m/s,
resultando em um aumento de 120% (Figuras 13 e 14). Semelhante aos outros casos, a média registrada
dentro da edificação não gerou condições satisfatórias de ventilação natural para o conforto térmico.

909
Figura 13 - Gráficos comparando os valores médios de Figura 14 - Gráfico comparando as porcentagens de
velocidade do vento aumento/redução da velocidade média do vento das tipologias
vazadas em relação ao Modelo de Referência – MR.

Comparando todos os modelos vazados em relação aos valores de velocidade do vento, verificou-se
que quando o vento incide a 90º:
• O caso que apresentou melhor desempenho a sotavento do muro foi o com Lâminas Inclinadas
Horizontais para Baixo (MLIHB).
• O caso que apresentou pior desempenho a sotavento do muro foi o com Lâminas Inclinadas
Horizontais para Cima (MLIHC).
• Verificou-se que não existiram variações significativas nos valores obtidos para a região interna da
edificação. Os resultados demonstraram baixas velocidades do vento, sem que houvesse melhoras evidentes
nas condições de ventilação. Relaciona-se este fato às interferências da tipologia e das características da
edificação nos resultados, sobretudo em relação a certos aspectos como:
(1) a presença de apenas um recuo lateral, visto que o escoamento tende a se deslocar para essa região,
prejudicando a abrangência do fluxo no recuo frontal.
(2) o tipo de cobertura, que interfere na separação e direcionamento do fluxo.
(3) a tipologia das aberturas, do tipo de correr, que possui uma área útil pequena, reduzindo o
potencial de aproveitamento da ventilação natural.

5. CONCLUSÕES
De um modo geral, os resultados obtidos demonstraram vantagens na inclusão do componente vazado em
habitações de interesse social. Pois observou-se o incremento no desempenho da ventilação natural
promovido pela maioria dos casos de muros vazados no recuo frontal (sotavento do muro) em relação ao
Modelo de Referência (MR). Entretanto, ao comparar as diferentes tipologias de muros vazados, constatou-
se variações significativas nos resultados quantitativos e qualitativos.
Nesse sentido, o trabalho ressaltou a influência da tipologia e dos parâmetros de configuração do
componente vazado no aproveitamento da ventilação natural. Sobretudo o posicionamento e direcionamento
das lâminas, em que foi verificado o maior potencial nas lâminas horizontais direcionadas para baixo. Esta
configuração possibilitou melhor padrão de escoamento e um maior incremento nos valores de velocidade do
vento na região de recuo frontal. Além disso, pode proporcionar melhores condições de privacidade.
Foi evidenciado também que o incremento da velocidade do vento na região de recuo frontal nos casos
vazados, não se refletiu em melhorias significativas no espaço interno da edificação. Pois todos os casos
analisados apresentaram baixos desempenhos, o que ocasionou condições insatisfatórias de conforto térmico.
Relaciona-se este fato às interferências da tipologia e das características da edificação nos resultados. Nesse
sentido, ressalta-se a necessidade da inserção dos muros vazados aliados às outras estratégias projetuais de
aproveitamento da ventilação natural.

910
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TOLEDO, E. Ventilação natural das habitações. Maceió: Edufal, 1999.

911
A INFLUÊNCIA DA DENSIFICAÇÃO URBANA SOBRE O CONFORTO
TÉRMICO NO INTERIOR DE APARTAMENTOS RESIDENCIAIS
Renan C. V. Leite (1); Anésia B. Frota (2); Samuel B. M. Nazareth
(1) Doutor, Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, renancid@bol.com.br,
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-CE, 60020-181, Tel.: (85)33667300
(2) Doutora, Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, arfrota@uol.com.br, Universidade de
São Paulo, São Paulo-SP, 05508-080, Tel.: (11) 3091 4795
(3) Mestrando, Arquiteto e Urbanista, bmnsamuel@gmail.com, Universidade Presbiteriana Mackenzie

RESUMO
O conforto térmico em edificações é fortemente influenciado pela legislação urbana. As prescrições edilícias
são responsáveis diretas pelas formas resultantes do tecido urbano, alterando a permeabilidade ao vento e as
parcelas de radiação solar que incidem sobre as superfícies de edificações. Tais aspectos têm impactos sobre
o desempenho termoenergético de edifícios, questionando-se a ação combinada desses dois parâmetros.
Nesta pesquisa, buscou-se comprovar a hipótese de que há compatibilidade entre níveis mais elevados de
densidade urbana e o conforto térmico em edifícios residenciais naturalmente ventilados em 80% do ano.
Avaliou-se a ventilação urbana segundo duas direções predominantes e testada em quatro níveis de
adensamento construtivo utilizando ferramenta CFD. Estes dados foram aplicados às análises dos fluxos em
apartamentos de um edifício modelo em diferentes alturas. O modelo adaptativo da ASHRAE (2004) foi
aplicado para verificar o total de horas dentro da zona de conforto nas simulações computacionais. Em
alguns dos casos, cenários urbanos mais verticalizados apresentaram maiores quantidades de horas em
conforto mesmo com taxas de renovação do ar até 40% mais baixas que cenários menos adensados.
Contribuindo, portanto, com a discussão sobre o impacto do adensamento urbano e seus impactos
ambientais, bem como concluindo que na condição quente e úmida analisada, assegura-se a premissa de que,
desde que mantidas condições de ventilação natural para resfriamento dos ocupantes, é possível
compatibilizar maiores níveis de densidade e condições ambientais satisfatórias em edifícios residenciais
durante a maior parte do tempo.
Palavras-chave: densidade construída, conforto térmico, ventilação natural.

ABSTRACT
Thermal comfort in buildings is strongly influenced by urban legislation. The building prescriptions are
directly responsible for the resulting forms of the urban fabric, altering the permeability to the wind and the
parcels of solar radiation that affect the surfaces of buildings. These aspects have impacts on the thermal
energy performance of buildings, questioning the combined action of these two parameters. In this research,
we tried to prove the hypothesis that there is compatibility between higher levels of urban density and
thermal comfort in naturally ventilated residential buildings in 80% of the year. It was evaluated the urban
ventilation according to two predominant directions and tested in four levels of constructive densification
using CFD tool. These data were applied to the analysis of flows in apartments of a model building at
different heights. The adaptive model of ASHRAE (2004) was applied to verify the total hours within the
comfort zone in the computational simulations. In some cases, more upright urban scenarios presented
greater amounts of hours in comfort even with air renewal rates up to 40% lower than less densified
scenarios. Thus, contributing to the discussion on the impact of urban densification and its environmental
impacts, as well as concluding that in the hot and humid conditions analysed, the assumption is made that,
provided that natural ventilation conditions are maintained for occupant cooling, higher levels of density and
satisfactory environmental conditions in residential buildings for most of the time.
Keywords: built density, thermal comfort, natural ventilation.

912
1. INTRODUÇÃO
Em todo o mundo, o crescimento urbano constitui desafio na agenda de governos. As crescentes taxas de
urbanização associadas à carência de planejamento urbano amplo, includente e eficaz trazem consigo uma
série de problemas, com reconhecidos reflexos na qualidade ambiental dos principais assentamentos
humanos do planeta. Sob outro ponto de vista, no entanto, a urbanização pode ser um meio para alcançar a
desejada sustentabilidade. Ao criar espaços de interação social e efervescência cultural, aliviam-se, também,
as pressões do crescimento populacional sobre remanescentes rurais. Uma população mais concentrada
significa melhor prestação de serviços ao aproveitar a infraestrutura instalada, reduzindo investimentos,
deslocamentos e o consumo energético (UNFPA, 2011).
É válido ressaltar que a relação entre densidade construída e o conforto térmico em edifícios é um
complexo equilíbrio entre parâmetros climáticos locais, organização espacial urbana e características
arquitetônicas. Mesmo considerando as reconhecidas vantagens da maior concentração urbana, é preciso
atentar para o fato de que o adensamento vertical é determinante para a qualidade ambiental de edifícios. Em
grandes centros urbanos, a temperatura tende a ser mais elevada em função da alteração no balanço radiativo
e o comportamento dos fluxos de ar é significativamente alterado.
Por outro lado, ao reduzir parcelas visíveis de céu e sol devido à presença de obstáculos no entorno
imediato, diminui-se, também, a radiação solar incidente e absorvida por suas superfícies do edifício. Os
impactos dessa obstrução variam de acordo com a latitude e as necessidades de condicionamento local.
Em clima quente, a diminuição da quantidade de radiação solar absorvida pelas superfícies da
edificação pode ser válida para a melhoria das condições ambientais internas. Gupta (1987) investigou a
relação entre a forma urbana mais protegida em comparação à ocupação mais aberta em clima quente e seco,
enfatizando os benefícios da primeira. Lam (2000) avaliou a possibilidade efetiva de reduzir a demanda por
resfriamento em edifícios comerciais em condições mais adensadas com o uso de simulações
computacionais. Mais tarde, Li & Wong (2007) realizaram estudos semelhantes e verificaram que o aumento
nos ângulos de obstrução do céu é acompanhado pela redução na carga térmica interna nestas edificações.
A complexa morfologia verificada nos centros urbanos torna imprevisível o comportamento do vento,
impedindo a determinação de quais formas comprometerão ou mesmo incrementarão o movimento do ar
(FARIAS; RAVIOLO; CAVALCANTE, 2017). Edifícios mais altos situados em determinados contextos
desviam fluxos e elevam a turbulência, podendo gerar zonas de recirculação do ar e criar condições mais
favoráveis à ventilação natural se comparadas a trechos nos quais os edifícios possuem a mesma altura,
podendo atingir o nível de pedestre e as aberturas de edifícios mais baixos (GOLANY, 1996; GIVONI,
1998; DUARTE; SERRA, 2003; GONÇALVES, 2003; BRANDÃO, 2010; LEITE, 2015; COSTA
FILHO,2017). O planejamento criterioso da verticalização da paisagem urbana pode determinar, inclusive,
maiores velocidades aos fluxos, imprimir maior intensidade ao campo de pressões devido ao vento sobre as
fachadas, aumentando as taxas de renovação do ar e contribuindo para a qualidade do ar em edifícios
(ALLARD; GHIAUS; SZUCS, 2010).
A opção por uma cidade de clima tropical quente e úmido deve-se ao fato de que, nessas localidades,
as principais estratégias passivas para obter conforto térmico consistem na ventilação natural associada à
proteção solar (FROTA; SCHIFFER, 2003). Ademais, no processo de adensamento por verticalização pelo
qual atravessam a maioria das cidades litorâneas nordestinas, entre as quais se inclui Fortaleza, escolhida
para basear o estudo, é possível identificar, em uma série de formas urbanas, situações que retratam as
condições de obstrução de parte do percurso solar e ao fluxo de ar que são determinantes para o desempenho
térmico de edificações.
A tipologia escolhida, o edifício residencial multifamiliar vertical constitui elemento cada vez mais
incorporado à paisagem urbana. Nestes, a carga térmica interna devido à ocupação, iluminação e
equipamentos é comumente mais baixa se comparada a outros tipos de edificações, o que contribui para a
maior possibilidade de adoção de diretrizes passivas para o condicionamento térmico.

2. OBJETIVO
A partir de metodologia empreendida são avaliados os efeitos combinados da obstrução ao sol e aos ventos
que invariavelmente resultam do processo de adensamento urbano sobre a qualidade ambiental de edifícios
residenciais.

3. MÉTODO
Na presente pesquisa a metodologia em si representa um dos principais produtos da investigação. O método
teve papel fundamental ao tornar possível analisar duas das principais variáveis que influenciam o conforto

913
térmico de edifícios naturalmente ventilados na condição tropical quente e úmida: a radiação solar e a
ventilação natural. Valeu-se de simulações computacionais em diferentes escalas de abordagem, em etapas
sucessivas e que se complementam a partir de dados obtidos em fases anteriores, refinando as análises e
fornecendo condições de contorno mais precisas para o estágio seguinte.
As análises favoreceram-se de uma abordagem em escalas mais adequadas, tornando-as mais precisas.
Verificou-se o campo de vento gerado a partir de arranjos urbanos específicos que contornam um edifício
modelo elaborado com base na produção imobiliária recente na capital cearense. Posteriormente e com base
nos fluxos na escala urbana, verificaram-se os seus reflexos no comportamento dos fluxos em ambientes
internos. Paralelamente, para atender o objetivo traçado, analisaram-se os impactos de diferentes formas
urbanas sobre as parcelas da radiação solar que atingem as superfícies do edifício e seus impactos no
desempenho térmico dos ambientes de permanência prolongada escolhidos. Diferentemente de outras
pesquisas, a abordagem utiliza diferentes ferramentas de simulação computacional de acordo com o
potencial específico de cada uma, em etapas sequenciais e que se complementam a partir dos dados obtidos
na fase anterior, fornecendo condições de contorno mais definidas e precisas para o estágio seguinte.
Nesse sentido, a reconhecida qualidade dos modelos CFD foi empregada para analisar o
comportamento dos parâmetros ambientais envolvidos no processo de ventilação natural. Simulou-se o
campo de vento em quatro diferentes cenários urbanos presentes no tecido urbano de Fortaleza e escolhidos
devido à sua representatividade quanto à morfologia urbana (figura 1). A representatividade de cada cenário
espelha-se na metodologia empreendida por Martins; Adolphe; Bastos (2014).
Os cenários, contendo doze quadras, foram modelados num arranjo 3 x 4 (3 quadras de largura e 4 na
profundidade) e submetidos às duas direções de vento leste e sudeste, predominantes em Fortaleza durante
80% do ano, aproximadamente. No total, oito análises CFD nesta escala foram realizadas.

Figura 1 – Quatro cenários representativos da densidade urbana escolhidos.

Como principal resultado das oito simulações de ventilação na escala urbana, o campo de pressões
sobre as aberturas do edifício modelo formulado foi determinado, colhendo-se os valores específicos sobre as
janelas em três pavimentos diferentes, o primeiro, décimo primeiro (intermediário) e vigésimo terceiro
(abaixo da cobertura). Tais dados geraram vinte e quatro simulações dos fluxos internos, com diferentes
vazões de ar cada e a indicação do campo de pressões em cada um dos ambientes escolhidos. Para a
definição de um domínio para a simulação fluidodinâmica, utilizou-se o método de Cost (2004) considera 5
vezes a maior altura de uma edificação no modelo de estudo como a distância a barlamento, lateral e superior
e 15 vezes a sotavento. Gerando assim, portanto um modelo com uma malha tetraédrica com uma camada de
prismas nos prédios e na parte inferior do domínio para melhor apreender o desprendimento da camada
limite.
Finalmente, os dados de vazão de ar obtidos em cada simulação da ventilação interna alimentaram as
simulações anuais de desempenho térmico dos ambientes sala, suíte casal e dormitório.

914
Nas análises de desempenho térmico utilizou-se o programa DesingBuilder 3.2.0, interface gráfica do
EnergyPlus. Adotou-se o arquivo climático TMY e todos os elementos do entorno foram modelados como
elementos adiabáticos, servindo apenas para obstruir em maior ou menor nível a radiação solar, como
demonstra a figura 2.

Figura 2 – Diferença de obstrução solar provocada pelos cenários 2 (esq.) e 4 (dir.) escolhidos.

A envoltória da unidade habitacional estudada é em alvenaria convencional (15 cm) revestida por
peças cerâmicas (U = 2,356 W/m². K) e as janelas de correr com vidro simples (FS = 0,86). O padrão de
cargas internas considerou a rotina de ocupação de uma família de quatro membros em atividade sedentária,
com carga térmica de 6 W/m² devido à iluminação artificial e equipamentos. A ventilação natural
permaneceu ativa durante todo o ano.
Os dados de temperatura operativa na suíte, no dormitório e na sala foram comparados ao índice
adaptativo da ASHRAE (2004) (figura 3). Os resultados são analisados em termos da quantidade de horas
dentro dos limites da zona de conforto, adotando-se o intervalo de 2,5 graus a mais e a menos para retratar o
rigor da condição de umidade relativa elevada.

Figura 3 – Limites da zona de conforto estabelecida para Fortaleza segundo o modelo adaptativo da ASHRAE (2004)

A velocidade do ar no interior dos ambientes foi incorporada à análise dos resultados, calculada como
a média entre três pontos alinhados na largura do ambiente, a 1,5 m do solo, como demonstra a figura 4,
evitando que correntes concentradas em partes do ambiente segundo a direção do vento no exterior
apontassem valores muito elevados ou muito baixos. O potencial para resfriamento fisiológico dos
ocupantes, capaz de estender os limites aceitáveis de operativa, foi reconhecido em adendo à norma
ASHRAE 55, que definiu valores (ASHRAE, 2012). A ampliação na temperatura operativa aceitável a partir
da velocidade do ar, como previsto na figura 5.

915
Sala

Suíte casal Dormitório

Figura 4 – Contornos de velocidade do ar em


Figura 5 – redução da temperatura segundo o
simulação no apartamento modelo
movimento do ar ASHRAE (2012)

4. ANÁLISE DE RESULTADOS
As simulações de desempenho térmico foram realizadas para três apartamentos selecionados. Estas detalham
o comportamento anual das variáveis ambientais em três ambientes de permanência prolongada submetidos a
duas direções de vento, cujo comportamento é ditado pelas características específicas da morfologia urbana
de cada um dos quatro cenários avaliados. Totaliza-se, assim, um universo de setenta e dois casos.
Fundamentalmente, o DesignBuilder deveria ser sensível à obstrução causada pelo entorno, haja vista
que o programa utiliza como motor de cálculo o energyplus, utilizando séries de algoritmos certificados por
associações como a ASHARE. Todavia, os cálculos expressaram uma redução dos ganhos de calor devido à
radiação solar, com consequências sobre a temperatura operativa. Uma série de testes iniciais atestou a
capacidade dos algoritmos inseridos no programa quanto aos dois aspectos fundamentais à pesquisa.
No mais verticalizado dos cenários, o segundo, por exemplo, a carga térmica anual devido à radiação
solar no apartamento no vigésimo terceiro pavimento é 27% maior do que no pavimento intermediário e até
68% a mais se comparado ao primeiro pavimento, mais obstruído, como resume o a figura 6.

Figura 6 – Ganhos de calor devido à insolação entre os pavimentos no cenário 2

Confirmada a influência da obstrução do entorno na redução dos ganhos de calor, passou-se à


avaliação do total de horas em conforto em cada caso. Os resultados do conjunto de simulações foram
exportados para uma planilha eletrônica, reunindo-os segundo a incidência de vento (leste e sudeste) e
apresentando-os sob a forma de gráfico. Nestes destaca-se a linha de 80% das horas para representar a maior
parte do ano em situação de conforto térmico.
De maneira geral, os ambientes nos quatro cenários obtiveram a maioria das horas do ano dentro da
zona de conforto. Os casos fora dos limites estabelecidos como confortáveis somente ocorrem em função do
calor e, predominantemente, durante o período da tarde (entre 70% e 90% dos períodos em desconforto).
Credita-se a maioria expressiva de horas dentro dos limites da zona de conforto térmico às vazões de ar

916
elevadas em grande parte dos casos simulados. Além das altas taxas de renovação do ar, a menor
transmitância térmica das paredes externas, dotadas de revestimento cerâmico, contribui para a qualidade
térmica nos ambientes internos. O valor de U na envoltória do edifício modelo é 10% mais baixo do que o
admitido pela NBR 15.575.
Analisando os resultados para o vento leste, resumindo-se a figura 7, entre todos os casos, os que
obtiveram maiores quantidades de horas dentro da zona de conforto foram aqueles situados no pavimento
mais alto, independentemente do cenário urbano em questão. A quantidade de horas dentro dos limites
estabelecidos como confortáveis foi menor quanto mais baixo fosse o pavimento analisado em virtude da
redução nas taxas de renovação de ar, que na maior parte dos casos acompanhou a diminuição da altura do
apartamento em relação ao solo. Mesmo diante da menor obstrução à radiação solar verificada nos
pavimentos mais altos, tais ambientes obtiveram temperaturas operativas mais baixas do que aquelas
verificadas em ambientes nos pavimentos mais baixos, reforçando a premissa da ventilação natural como
fator preponderante para o resfriamento da construção em localidades quentes e de baixa amplitude térmica
diária.
Analisando os resultados por ambiente, o mais agravado registrou 65% de horas em situação de
conforto térmico, enquanto quatorze superaram 79% das horas do ano em que as condições foram
satisfatórias, despontando como as melhores situações. Contudo, sem considerar a velocidade do ar para
resfriamento dos ocupantes, nenhum destes atingiu o objetivo de 80% do ano (7.008 horas) em conforto,
como resume a figura 7.

CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3 CENÁRIO 4

8.000
limite de 80% das horas do ano em
7.000
Horas em conforto

6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
SUÍTE DORMITÓRIO SALA SUÍTE DORMITÓRIO SALA SUÍTE DORMITÓRIO SALA
PAVIMENTO 1 PAVIMENTO 1 PAVIMENTO 1 PAVIMENTO PAVIMENTO PAVIMENTO PAVIMENTO PAVIMENTO PAVIMENTO
11 11 11 23 23 23

Figura 7 – Total de horas em conforto por ambiente nos quatro cenários com vento leste

Com o vento leste, as mais baixas quantidades de renovações do ar ocorrem no cenário 2. Neste
arranjo, de elevada densidade construída, os ambientes situados no primeiro pavimento alcançaram os piores
resultados. No cenário 1, em contrapartida, os ambientes no vigésimo terceiro pavimento obtiveram maiores
percentuais de horas dentro da zona de conforto, em torno de 79%. Os valores alcançados pelos cômodos nos
cenários 3 e 4, nesse mesmo nível, foram bastantes próximos, como foi possível perceber na figura 7.
Conclui-se, assim, que a obstrução à radiação solar não influencia significativamente a quantidade
horas em conforto quando as taxas de vazão de ar são mais expressivas.
Entretanto, quando se analisam os três ambientes no primeiro pavimento dos cenários 1, 3 e 4,
observa-se uma discreta diferença na quantidade de horas em conforto. Entre todos os casos neste nível, o
cenário 3 apresentou os melhores resultados. As diferenças na vazão de ar neste cenário são menos de 10%
menores do que nos cenários 1 e 4. É possível afirmar, portanto, que o melhor desempenho dos ambientes
em meio ao cenário 3 ocorre devido a maior obstrução à radiação solar determinada por esse cenário, cuja
verticalização é bem mais expressiva do que nos arranjos 1 e 4.
Com o vento sudeste, as situações em conforto térmico obedecem relações semelhantes àquelas
verificadas com o vento leste. Os maiores períodos de conforto foram anotados nos ambientes de pavimentos
mais altos, sofrendo reduções nos pavimentos baixos, uma vez que são menores as taxas de vazão de ar.
O que se destaca, contudo, é a maior quantidade de horas em conforto em todos os ambientes nos
pavimentos primeiro e décimo primeiro do cenário 2 em comparação aos demais cenários. Com o vento

917
sudeste, as taxas de vazão de ar no cenário 2 foram significativamente superiores ao vento leste e
aproximam-se dos valores dos demais cenários, ainda que mais baixos.
No cenário 2, o primeiro pavimento apresenta taxa de renovação do ar 33% menor do que o verificado
no mesmo nível no cenário 3 e 43% inferior em comparação ao cenário 4. No pavimento intermediário
persistem tais diferenças, agora 31% menores em relação ao cenário 3 e 41% abaixo do cenário 4. Mesmo
diante das menores vazões de ar registradas, o cenário 2 apresenta entre 150 e 370 horas a mais em conforto
entre os casos envolvendo ambientes nos pavimentos primeiro e décimo primeiro, como percebe-se na figura
8. Tais valores atestam melhores condições ambientais neste contexto devido à redução da carga térmica em
função da forma urbana mais obstruída, que promove maior sombreamento.
No pavimento mais alto, aonde as taxas de renovação do ar são semelhantes nas diferentes
configurações morfológicas avaliadas, as horas em conforto não sofrem diferenças, como é possível perceber
na figura 8.

Figura 8 – Total de horas em conforto por ambiente nos quatro cenários com vento sudeste

Após rodar a série de simulações de desempenho térmico, acrescentou-se aos resultados os dados de
velocidade do ar nos ambientes, uma vez que as simulações CFD dos fluxos internos permitem a indicação
da intensidade das correntes em qualquer ponto do cômodo analisado.
A alteração na sensação de desconforto por calor no interior do apartamento é evidente e, então, em
85% dos casos é possível atingir a maior parte do ano (pelo menos 80% do período) em conforto térmico,
como indica a figura 9.
CONFORTO MAIS DE 80% DO ANO

15%

85%

Figura 9 – Percentual de casos com mais de 80% das horas do ano em conforto térmico
considerando o movimento do ar nos ambientes

A alteração na sensação de desconforto por calor a partir do movimento do ar no interior do


apartamento é evidente. As reduções na temperatura operativa foram da ordem 0,05 a 0,25 grau nos casos em
que o movimento de ar foi bastante baixo, como verificado em alguns casos do cenário 2, pouco
incrementando as condições ambientais internas. Em situações de menor obstrução do meio urbano e,

918
portanto, valores acima de 1 m/s, o que corresponde a grande parte dos casos, foi possível reduzir entre 1 e
2,5 graus no valor da temperatura operativa percebida pelo organismo.

5. CONCLUSÕES
É sabido que o desempenho térmico, as condições de conforto e o consumo de energia em edifícios são, em
grande parte, definidos pelas trocas térmicas que ocorrem entre sua envoltória e o entorno imediato. Na
maioria dos casos, esse meio é o contexto urbano, com suas formas, dimensões, materiais e tipologias,
responsáveis pelas características físicas, térmicas e aerodinâmicas que determinarão a qualidade ambiental
em edificações.
As simulações CFD, não detalhadas neste artigo, mas que integram o estudo, indicaram condições
específicas de circulação do ar em cada cenário e reforçaram a imprevisibilidade do comportamento da
ventilação natural em meio urbano, reforçando a necessidade de avaliar precisamente as especificidades que
o dinamismo formal inerente às cidades determina.
A análise isolada dos ganhos de calor solar atestou reduções significativas devido à obstrução de cada
cenário urbano, como esperado. Apesar de impedir que parcelas significativas de radiação solar atingissem
as superfícies verticais dos ambientes situados nos pavimentos mais baixos, sobretudo nos cenários 2 e 3, a
ventilação natural mostrou-se fator de maior peso sobre o desempenho térmico e, consequentemente, o
conforto nos ambientes avaliados.
Contudo, tomando como base seis casos do cenário 2 com vento sudeste, apresentados pelo gráfico 4,
e mais quatro casos do cenário 3 com vento leste, expostos pelo gráfico 3, pode-se concluir que, em climas
quentes e úmidos, sob condições de ventilação natural semelhantes ou até mesmo um pouco mais baixas, a
obstrução ao sol provocada pelo entorno passa a ser fator importante para a melhoria das condições
ambientais internas. Os resultados indicam que mesmo que a ventilação natural em contextos urbanos mais
verticalizados atinja valores abaixo daqueles verificados em um meio menos obstruído, como as diferenças
na vazão de ar entre 30% e 40% menores no cenário 2 em relação aos arranjos urbanos 1 e 4, dentro de
certos níveis, o sombreamento pode compensar a ausência de fluxos mais intensos e garantir condições
ambientais semelhantes àquelas possíveis em situações urbanas de baixa densidade.
Como visto, o maior nível de obstrução à radiação solar devido aos edifícios altos no entorno não
implicou na redução direta da temperatura operativa, uma vez que, em todos os cenários, os pavimentos mais
baixos do edifício modelo apresentaram menores períodos de conforto térmico comparados aos apartamentos
em níveis mais elevados. Por outro lado, considerando os casos em que não houve diferenças significativas
na vazão de ar entre os pavimentos intermediário e o mais alto, como em grande parte das situações
envolvendo os cenários 1, 3 e 4, as diferenças na qualidade ambiental interna fundavam-se somente na
quantidade de carga térmica devido ao sol acumulada e perdida durante o ciclo diário.
De maneira geral, os resultados corroboram a afirmação de Givoni (1994) quanto à necessidade de
priorizar a ventilação natural em relação à orientação solar em regiões quentes e úmidas, uma vez que a
vazão de ar mais elevada nos casos em que os ambientes estavam mais expostos sobrepôs-se à influência da
quantidade de radiação solar absorvida durante o ano.
Além de outros aspectos não descritos aqui, como valores da diferença de Coeficientes de Pressão
(ΔCp) entre as fachadas leste e oeste próximos entre os cenários simulados e baixas correlações entre a vazão
de ar e a altura média dos edifícios, a quantidade expressiva de horas dentro da zona de conforto térmico
obtida mesmo nos cenários mais verticalizados reforça a hipótese de que maiores níveis de densidade urbana
são compatíveis com a manutenção de condições térmicas adequadas em edifícios residenciais.
A inserção dos dados de cada etapa foi realizada manualmente. Acredita-se ser possível desenvolver
uma sistematização dos dados para alimentar o estágio de simulação seguinte de forma automatizada, com
interfaces integradas aos programas como forma de aprimorar a metodologia aqui empreendida.
A forma urbana adensada a partir da verticalização, recorrentemente abordada sob o viés dos impactos
negativos sobre a ventilação natural, foi aqui investigada segundo a possibilidade de contribuir para a
melhoria das condições ambientais internas.
Acredita-se que a metodologia aqui desenvolvida concorre para reduzir imprecisões e incertezas que
envolvem a especificidade de cada conjunto urbano em sua influência sobre o desempenho e o conforto
térmico em ambientes internos. Constitui-se, assim, mais um meio para avaliar, de forma mais rápida, porém
não menos precisa, o que é positivo tanto do ponto de vista do desenho de cidade como para a melhoria da
ambiência térmica nos edifícios.

919
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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UNFPA (United Nations Population Fund). People and possibilities in a world of 7 billion. United Nations. New York, 2011.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pelo suporte financeiro.

920
ANÁLISE DA ÁREA ENVIDRAÇADA E SUA INFLUÊNCIA PARA O
CONFORTO TÉRMICO DE AMBIENTES RESIDENCIAIS EM BRASÍLIA –
DF
Paulo Cabral (1); Thiago Góes (2) Cláudia Amorim (3) Caio Frederico e Silva (4)
(1) Mestre, arquiteto, pauloneto2101@gmail.com, Universidade de Brasília, Campus Darcy Ribeiro, ICC
Norte, SiCAC-FAU, 61 99983-5080
(2) Doutorando, arquiteto, tgoes@hotmail.com, Universidade de Brasília, Campus Darcy Ribeiro, ICC
Norte, SiCAC-FAU, 61 98322-8564
(3) Doutora, Professora, clamorim@unb.br, Universidade de Brasília, Campus Darcy Ribeiro, ICC Norte,
SiCAC-FAU, 61 98122-2576
(4) Doutor, Professor, caiosilva@unb.br, Universidade de Brasília, Campus Darcy Ribeiro, ICC Norte,
SiCAC-FAU, 61 98157-5708

RESUMO
A incidência de radiação solar direta nas aberturas envidraçadas dos edifícios é uma das principais causas de
desconforto térmico em climas quentes, como em grande parte do território brasileiro. O objetivo deste
trabalho é analisar a influência da taxa de envidraçamento no conforto térmico de ambientes residenciais no
contexto climático de Brasília, Distrito Federal. Investiga-se a influência dos parâmetros de taxa de
envidraçamento, orientação e emprego de sombreamento no conforto térmico. A esse fim, realiza-se um
estudo paramétrico por meio de uma análise termoenergética com o EnergyPlus (versão 8.5) com auxílio da
interface gráfica Design Builder (versão 5.01.021) de um módulo correspondente a um ambiente residencial
de permanência prolongada. Utiliza-se o modelo adaptativo de conforto e o método de graus-hora e posterior
sintetização em percentual de horas ocupadas em conforto (POC), assim como novo indicador, o iPOC, que
agrupa os resultados do POC em níveis classificatórios, um índice de porcentagem de horas de conforto. Os
resultados destacam uma relação inversamente proporcional entre a taxa de envidraçamento e o conforto
térmico, com as orientações sul e nordeste com a maior e menor percentual de horas ocupadas em conforto,
respectivamente. Para melhor compreensão dos resultados, desenvolvem-se duas ferramentas gráficas, um
diagrama e uma matriz, que copilam todos os resultados em um único elemento e auxiliam os projetistas na
leitura dos resultados e na tomada de decisão de projeto desde as etapas inicias.
Palavras-chaves: Conforto térmico, Simulação termoenergética, Envidraçamento, Estudo paramétrico,
Visualização.

ABSTRACT
Direct solar radiation in buildings glazed openings is one of the major causes of thermal discomfort in hot
climates like Brazilian’s. This paper objective is to analyze the glazed opening area influence on the thermal
comfort of residential dwellings in the climatic context of Brasília, Federal District of Brazil. The inquiry
investigates the parameter influence of the glazed area, orientation, and shading. To this end, it is carried a
parametric study by means of thermoenergetic analysis with EnergyPlus aided by Design Builder of a long-
term stay residential dwelling. The adaptative comfort model and the degree-hour method are adopted and
later the percentage of occupied comfort hours (POC) are calculated, as well as a new indicator named iPOC,
which ensembles POC results in classificatory levels, a percentage of hours of confort. The results show an
inverse correlation between glazed area and thermal comfort, and also indicate the south and
northeast orientation as the highest and lowest POCs, respectively. For better results comprehension it was
developed two graphical tools, a diagram, and a matrix, which compile all results in an only gadget that can
aid results understanding and help architectural decision making early on in the design.
Keywords: Thermal comfort, Thermoenergetic Simulation, Glazed, Parametric study, Visualization.

921
1. INTRODUÇÃO
As propriedades termofísicas da envoltória dos edifícios têm implicações diretas no seu desempenho térmico
(AZARNEJAD; MAHDAVI, 2015) e consequentemente no conforto térmico do usuário. Em climas quentes,
o calor proveniente da fachada é responsável por até 40% das cargas de refrigeração nos edifícios (HAMZA,
2004).
Jaber e Ajib (2011) em estudo sobre as ideais dimensões e tipo de aberturas colocam que embora cerca
de um terço da transmissão total de calor de edifícios ocorra através de janelas, há poucos estudos publicados
sobre a otimização do envidraçamento em edifícios. No estudo, que inclui simulações em três diferentes
climas, Amã, Ácaba (na Jordânia) e Berlim (Alemanha), os autores concluem que o ganho de energia anual é
linear conforme a área das janelas aumenta.
As aberturas envidraçadas são elementos centrais no projeto arquitetônico e desde o início da
modernidade têm ganhado cada vez mais destaque. Se por um lado, as aberturas envidraçadas possuem
grande apelo estético, também há grande preocupação em razão da sua influência no consumo de energia nas
edificações por afetar diretamente o dimensionamento dos sistemas de iluminação e de condicionamento de
ar (MARINOSKI et al., 2005). Quanto à carga térmica de resfriamento proveniente das aberturas
envidraçadas, esta não depende apenas das características térmicas do vidro e dos componentes da esquadria,
mas também do clima local, da orientação e dos componentes da envoltória (SINGH; GAR, 2009).
Segundo Corbella e Yannas (2009), o controle solar das aberturas é indispensável, qualquer que seja a
sua orientação, e deve combinar-se com outras estratégias, como a correta escolha da orientação e do cuidado
com áreas envidraçadas. Compreender a influência da abertura no desconforto térmico pode colaborar na
elaboração de projetos adequados do ponto de vista do conforto térmico. A análise desse componente da
envoltória é um dos caminhos para compreender os efeitos do projeto no conforto térmico dos ambientes. É
papel do arquiteto dimensionar corretamente as aberturas a partir do conhecimento dos conceitos de
transmissão de calor, e do entendimento de que são pelos fechamentos transparentes as principais trocas
térmicas de uma edificação (LAMBERTS et al., 2014).
Vários estudos, Ghisi, Tinker e Ibrahim (2005), Bisinotto (2012), Sales, Akutsu e Brito (2014)
utilizaram como uma das variáveis as dimensões das aberturas para observar o comportamento energético
dos ambientes. Esses estudos analisam proporções entre as aberturas e a área de fachada e zonas
bioclimáticas distintas das de Brasília.
O estudo de Ghisi, Tinker e Ibrahim (2005) avalia as dimensões de abertura preconizadas pelo Code of
practice of daylighting (BSI, 1992) para melhor vista exterior, comparando com a área ideal de janela (AIJ),
que corresponde à área na qual o consumo de energia do ambiente analisado é mínimo.
Bisinotto (2012) identificou a influência da porcentagem da área de janela no consumo de energia,
determinando, especificamente quanto à variável PAF a importância relativa dessa variável para o consumo
energético em porcentagem, quando comparada a outras variáveis, como o volume, o potencial instalado, a
ocupação, a cor da fachada e a orientação.
Sales, Akutsu e Brito (2014) verificaram o aumento de até 1°C na temperatura interna a cada 5% de
acréscimo de área envidraçada, na edificação de baixa inércia térmica, a depender das condições climáticas
do local em que a edificação está implantada.
Ainda na elaboração do estudo preliminar, várias ferramentas podem ser utilizadas para que se avaliem
as condições básicas de orientação, clima e desempenho térmico. As ferramentas podem ser simplificadas no
formato das cartas solares e dos cálculos prescritivos, assim como ferramentas mais sofisticadas, por
exemplo, softwares de simulação computacional.
Os programas de simulação computacional, mais especificadamente de eficiência energética,
permitem verificar o impacto no conforto térmico, no consumo de energia da edificação e nos custos da
energia, com diferentes formas de ocupação (OLIVEIRA; CUNHA, 2016). Por meio da simulação
computacional é possível obter um grande volume de dados, variando a proporção das áreas de abertura em
relação à área de piso de determinado ambiente.
Com custo reduzido, sobretudo se comparado aos valores e prazos de construção de um edifício ou
mesmo de diversos protótipos, os softwares de simulação auxiliam na elaboração de projetos eficientes, de
forma econômica, podendo ser utilizados desde a concepção do estudo preliminar. Neste sentido, avaliação
de modelos virtuais permite alternar as variáveis de forma rápida, variando o desenho arquitetônico, os
componentes da envoltória, o sistema de iluminação e os sistemas de ar condicionado, como propõe Mendes
(2005).
O volume de dados obtido com as simulações pressupõe sua sistematização, e gráficos, diagramas e
matrizes que compilam grande número de informação podem ser elaborados de forma a disseminar essas
informações e facilitar o entendimento e a utilização dos conhecimentos obtidos, especialmente na fase de
922
estudo preliminar, sobretudo para projetos de habitações de interesse social, para as quais os recursos na
concepção de fachadas são restritos em razão do custo limitado para execução das edificações.

2. OBJETIVO
Analisar a influência da área envidraçada de abertura no percentual de horas em conforto térmico dos
usuários de ambientes residenciais no contexto climático de Brasília, Distrito Federal, Brasil.

3. MÉTODO
Os procedimentos metodológicos foram separados em quatro etapas: definição e caracterização modelo,
definição dos cenários avaliados, caracterização da simulação e análise dos dados.

3.1. Definição e caracterização do modelo


As dimensões do modelo utilizado neste trabalho têm como referência o que é colocado no Código de Obras
e Edificações de Brasília, que exige como menor área para dormitório 8 m² com dimensão mínima de 2,4 m.
Outros estudos determinam dimensões especificas para obtenção de resultados parametrizados, similarmente
a Ghisi et al. (2002) que utilizam uma proporção de 1,5:1. A partir disso, define-se as dimensões para o
ambiente de 2,4 m x 3,6 m com área total de 8,64 m² (conforme Figura 1). Utiliza-se o pé-direito de 2,5 m
(Figura 1), dimensão mínima indicada pelo Código de Obras e Edificações de Brasília.

Figura 1 – Croqui do módulo com sombreamento (1a à esquerda) e croqui do módulo sem sombreamento (1b à direita).

Figura 2 – Esquema de alteração das dimensões das aberturas na fachada.

O sistema construtivo utilizado na envoltória segue o preconizado pela ABNT NBR 15.575/2013
para atendimento do nível mínimo, conforme indicado na Tabela 1, com características termofísicas
extraídas da Portaria Inmetro n° 50/2013. Por avaliar somente um cômodo inserido em uma edificação, que
poderia pertencer a uma edificação unifamiliar como também para uma multifamiliar – nesse caso como

923
pavimento de cobertura, as paredes em laranja foram determinadas adiabáticas, como pode ser notado na
Figura 1, e o piso, em contato com o solo.

Tabela 1 Caracterização termofísica dos elementos da envoltória

materiais dimensões absortância U(W/m2K) CT(KJ/m2K)


pintura externa
parede

argamassa externa 2,5 cm


0,6 2,97 159
bloco de concreto 9x19x39 cm
gesso interno 0,2 cm
simples incolor 0,6 cm
vidro

Fator solar 0,775 6,121


Transmissão luminosa 0,881
cobertura

telha de fibrocimento 0,6 mm


câmara de ar > 5 cm 0,65 2,06 233
laje maciça 10 cm

3.2. Cenários avaliados


No presente trabalho, definem-se os cenários a partir da combinação de 3 parâmetros distintos: taxa de
envidraçamento, orientação e sombreamento. São 8 alternativas de taxa de envidraçamento, 8 orientações e
duas de sombreamento, que totalizam 128 cenários.
Para a definição das diferentes taxas de envidraçamento, utilizam-se os valores indicados no Código
de Obras e Edificações de Brasília, também utilizados como referência para na NBR ABNT 15.575/2013,
que são dados por meio da Porcentagem da Razão de Área de Abertura pela Área de Piso (PRAP),
colaborando com o projetista quando do lançamento inicial do projeto para o cumprimento das normas
locais. Os valores utilizados são 12,5% e 15% a 45% em intervalos de 5%. A abertura possui peitoril de 1 m
em relação ao piso e 1,1 m de altura, com variação somente da largura.
Quanto às orientações utilizam-se as quatro orientações cardeais (norte, sul, leste e oeste) e as quatro
colaterais (noroeste, nordeste, sudeste e sudoeste).
Já a respeito da utilização do sombreamento, foram simuladas duas alternativas: uma sem
sombreamento e outra com sombreamento. A opção com sombreamento corresponde à utilização de um
beiral de 0,50 m no modelo, o que significa a utilização de um ângulo alfa de 22,48˚.
Além de analisar somente um tipo de sombreamento horizontal, outra limitação da pesquisa é a
avaliação de somente um tipo de vidro, incolor de 6 mm.

3.3. Caracterização da simulação


Para a realização das simulações utiliza-se o software EnergyPlus (versão 8.5) por meio da interface gráfica
Design Builder (versão 5.01.021). Desenvolvido pelo departamento de energia do EUA, o EnergyPlus é
software validado pela ASHRAE e recomendado pela ABNT NBR 15575/2013 e pelo Regulamento Técnico
da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edificações Residenciais (RTQ-R) (INMETRO,
2012) para simulação computacional termoenergética. Contudo, sua versão stand-alone não apresenta
interface amigável, por isso a opção pela utilização de um programa de terceira parte que serve de interface
gráfica ao EnergyPlus (CRAWLEY et al., 2001). O Design Builder se destaca entre as interfaces gráficas
pelo ambiente de modelagem 3D, sua vasta biblioteca de templates, materiais, componentes, rotinas e
facilidade de extração dos dados de saída (WASILOWSKI; REINHART, 2009).
Utiliza-se um arquivo climático tipo TRY (Typical Reference Year) compilado pela ASHRAE-IWEC,
disponível no próprio Design Builder. Realizam-se simulações termoenergéticas anuais, com resultados para
a temperatura interna da zona térmica em intervalos horários.
O ambiente é ventilado naturalmente, com 5 renovações de ar por hora, enquanto que os equipamentos
de HVAC (Heationg, Ventilation and Air Conditioning) são mantidos desligados. Além disso, a iluminação
artificial é mantida desligada, o que segue a determinação da ABNT NBR 15.575/2013. Pela mesma razão, o
ambiente é considerado sem ocupação.

924
3.4 Análise dos dados
Para a análise de conforto térmico, utiliza-se o modelo de conforto adaptativo, com a ideia de que ocupantes
interagem dinamicamente com o ambiente, adaptando-se a diferentes temperaturas durante variadas épocas
do ano, a partir do uso do método graus-hora, que é a obtenção do montante de horas que, a partir de uma
referência de temperatura, extrapola o referencial máximo ou mínimo (ASHRAE, 2010). Para isso, utilizam-
se dados relativos à temperatura operativa, que é a temperatura que mais se aproxima da percepção do
conforto do usuário (SANTOS, 2017). Extraem-se dados em intervalos horários que são avaliados pelo
método graus-hora e posteriormente gera-se um percentual de horas em conforto (POC) que contempla todas
as horas do ano.
Pereira e Assis (2010), em estudo que avalia os modelos de índices adaptativos, observaram que o
modelo de Aluciems (Equação 1) apresentou resultados mais próximos entre as cidades estudadas, inclusive
para localidades com amplitudes térmicas maiores, característica de climas subtropicais ou tropicais mais
secos, como o de Brasília. As autoras verificaram também que com relação à amplitude da zona de conforto
térmico, o melhor resultado encontrado para zona de leve desconforto é a faixa de Tn ±2 ºC, valor utilizado
nesse estudo.

TN = 17,6 + Tar. 0,341 Equação 1 – Temperatura Neutra (AULICEMS, 1981)

Onde:
TN é a temperatura neutra [°C];
Tar é temperatura do ar [°C].

Para avaliação dos resultados, optou-se pela utilização da classificação de percentual de horas de
conforto da indicada pelo RTQ-R (INMETRO, 2012). Essa abordagem classifica os resultados em 5
categorias, de A a E, em que A corresponde ao maior percentual de horas em conforto e E à pior avaliação.
Para melhor compreensão dos resultados, normalizam-se os resultados por meio do POC em uma
escala percentual. Esses valores são divididos níveis classificatórios em a partir dos valores de graus-hora de
resfriamento para zona climática 4 em um índice POC, denominado neste trabalho de iPOC, apresentado na
Tabela . Além disso, para melhor visualização dos níveis classificatórios, emprega-se uma escala de cores de
verde a vermelho, em que verde representa a classificação A e vermelho a classificação E.

Tabela 2 - Classificação dos níveis de conforto pelo índice de POC (iPOC)


Graus-hora de Porcentagem Porcentual de horas
Porcentagem equivalente de Índice de
resfriamento para equivalente de horas de ocupadas de conforto
horas de desconforto por calor POC (iPOC)
ZB4* conforto (POC)
727 8,30% 91,70% 100% e 91,70% A
1453 16,59% 83,41% 91,69% e 83,40% B
2180 24,89% 75,11% 83,4% e 75,11% C
2906 33,17% 66,83% 75,1% e 66,83% D
abaixo de 66,82% E
*Zona Bioclimática 4
Fonte: Baseado no RTQ-R (INMETRO, 2012) e adaptado pelos autores

4. RESULTADOS
Os resultados do POC para todas as horas do ano e para todos os cenários possíveis do cruzamento das
variáveis dos três parâmetros estudado (taxa de envidraçamento, orientação e sombreamento) são
apresentados nas Tabela 3 e 4.
O primeiro aspecto marcante que se observa é o efeito positivo do sombreamento. Para todas as
configurações de orientação e taxa de envidraçamento há aumento no POC com o emprego do
sombreamento. Observa-se uma diferença que varia desde 0,46 pontos percentuais, para taxa de
envidraçamento de 12,50% na fachada sul, até 16,01 pontos percentuais, para taxa de envidraçamento de
45% na fachada norte. Isso indica uma maior influência da proteção solar no aumento do POC para as
fachadas críticas, que apresentam menor POC durante o ano sem o emprego do sombreamento (leste,
nordeste, norte e noroeste).
925
Por outro lado, observa-se uma relação inversamente proporcional entre o parâmetro da taxa de
envidraçamento e o POC. Verifica-se esse padrão de diminuição do POC com o aumento da taxa de
envidraçamento para todas as orientações, independente do uso ou não de sombreamento. Nota-se que a
diminuição do POC é maior nas fachadas mais críticas. No pior cenário, a fachada nordeste, a diferença de
POCs entre as taxas de envidraçamento de 12,5% e 45% é de 28,57 pontos percentuais, enquanto que no
melhor cenário, a fachada sul, é de somente 9,66 pontos percentuais, em ambos os casos sem o emprego de
sombreamento, conforme mostra a Tabela 3. Também se percebe efeito similar nos casos com o emprego do
sombreamento Tabela 4, entretanto o efeito é menos acentuado. Na fachada nordeste a diferença de POCs
entre as taxas de envidraçamento de 12,5% e 45% é de 26,64 pontos percentuais, enquanto que na fachada
sul é de 6,03 pontos percentuais.

Tabela 3 - Porcentagem de horas de conforto e iPOC (TN +2) para modelo simulado sem sombreamento.
POC sem sombreamento
média anual
porcentagem de área de abertura pela área do piso
12,5 15 20 25 30 35 40 45
LESTE 90,13% 88,15% 84,34% 80,88% 76,58% 71,50% 67,19% 63,17%
NORDESTE 87,69% 85,45% 80,44% 76,34% 71,33% 66,35% 62,39% 59,12%
NOROESTE 87,35% 86,06% 82,92% 79,61% 75,92% 71,77% 68,86% 65,88%
NORTE 87,33% 85,76% 82,75% 79,84% 75,73% 71,60% 68,17% 64,95%
OESTE 90,98% 89,71% 87,33% 84,23% 80,09% 76,23% 73,23% 70,19%
SUDESTE 96,09% 95,14% 93,09% 90,94% 87,53% 84,01% 81,28% 78,60%
SUDOESTE 96,09% 95,44% 93,91% 92,12% 89,56% 86,86% 84,79% 82,63%
SUL 99,29% 99,05% 98,43% 97,56% 95,91% 93,66% 91,78% 89,63%

Tabela 4 - Porcentagem de horas de conforto e iPOC (Tn +2) para modelo simulado com sombreamento.
POC com sombreamento
média anual
porcentagem de área de abertura pela área do piso
12,5 15 20 25 30 35 40 45
LESTE 94,54% 93,20% 90,09% 86,47% 82,31% 78,55% 75,54% 71,84%
NORDESTE 94,88% 93,07% 88,95% 84,88% 79,29% 74,85% 71,56% 68,24%
NOROESTE 91,86% 90,64% 87,82% 85,60% 82,34% 79,05% 76,62% 74,26%
NORTE 93,96% 92,69% 90,04% 87,55% 84,27% 81,10% 78,26% 75,35%
OESTE 93,51% 92,65% 90,84% 88,53% 85,53% 81,87% 79,46% 76,60%
SUDESTE 98,49% 97,91% 96,42% 94,59% 92,18% 89,67% 87,03% 84,62%
SUDOESTE 97,66% 97,28% 96,10% 94,97% 93,18% 91,11% 89,22% 87,39%
SUL 99,75% 99,63% 99,40% 98,96% 98,07% 96,74% 95,26% 93,72%

A influência da taxa de envidraçamento e do emprego do sombreamento podem ser melhor


compreendidas pelos gráficos de linha expostos na Figura 3. Além dos valores de POC, os gráficos
apresentam uma estratificação por cores relativas aos níveis classificatórios do iPOC. Esse agrupamento por
iPOCs também facilita à melhor compreensão da influência desses dois parâmetros. Enquanto que a Figura
3a apresenta os resultados sem o emprego do sombreamento, por outro lado a Figura 3b expõe os resultados
com seu emprego.
Por meio dos gráficos na Figura 3, evidencia-se a relação inversamente proporcional entre taxa de
envidraçamento e POC para todas as orientações, com e sem o emprego de sombreamento, como
mencionado anteriormente.

926
Figura 3- Gráficos com a média anual de horas de conforto, sem sombreamento (3a à esquerda) e gráficos com a média anual
de horas de conforto, com sombreamento (3b à direita).

Observa-se mais uma vez a influência do emprego do sombreamento, visto que em todos os cenários
como seu emprego não há nenhum iPOC E. Enquanto que para menor taxa de envidraçamento (12,5%),
todas as orientações obtêm iPOC A, nos casos com o emprego de sombreamento. Também se nota que para
os casos sem o emprego de sombreamento é possível obter iPOC A ou B somente para taxas de
envidraçamento de até 15%, enquanto que para os casos com emprego do sombreamento esse valor de taxas
de envidraçamento sobe para até 25%.

4.1 Diagrama
Para melhor a compreensão dos resultados obtidos, parte-se ao desenvolvimento de um diagrama, uma
representação mais visual que expõe os dados de forma simples e direta, mais prática para o uso profissional
dos projetistas. Em específico, esse diagrama visa possibilitar uma compreensão mais rápida e clara da
influência da orientação e taxa de envidraçamento no iPOC. Além disso, possibilita a visualização da questão
da sazonalidade, não apresentada nas tabelas anteriormente. Assim, busca-se fornecer maior volume de
informações de maneira mais palatável.
A Figura 4 fornece as informações necessárias para compreensão do diagrama. Cada anel representa
uma taxa de envidraçamento da fachada, em ordem crescente de dentro para fora. Por sua vez, cada coluna
representa um mês do ano. Além disso, cada gomo indica uma orientação, o que facilita sua compreensão
visto que as orientações estão posicionadas da mesma forma que na rosa dos ventos. Os resultados são
expressados por meio das cores que representam os níveis classificatórios do iPOC. Além disso, a célula
mais interna de cada gomo indica um valor de iPOC médio, representativo daquela orientação.
NORTE
orientação
M J J A S O
M A N
% abertura J
F D mês
45%
40% iPOC - E
35% iPOC - D
30% iPOC - C
25% iPOC - B
20% iPOC - A
15%
12,5%

iPOC médio

Figura 4 - Legenda para o Diagrama

927
A Figura 5 apresenta dois diagramas completos, tanto para os cenários sem o emprego de
sombreamento (Figura 5a) quanto com o emprego do mesmo (Figura 5b). Nessas duas visualizações estão
expostos os resultados de todos os 128 cenários, em intervalos mensais.

Figura 5 - Diagrama do iPOC para todos os meses do ano, sem sombreamento (5a à esquerda) e com sombreamento (5b à direta).

Além de evidenciar a relação diretamente proporcional do emprego do sombreamento e


inversamente proporcional da taxa de envidraçamento em relação ao conforto térmico, a influência da
orientação e da sazonalidade ficam mais notórias.
O diagrama expressa de forma mais que os melhores iPOCs são encontrados no quadrante sul. A
essa orientação com o emprego de sombreamento estudado, pode-se propor taxas de envidraçamento maiores
sem maiores problemas com o conforto térmico. Enquanto que o quadrante em torno do nordeste é o que
possui piores resultados de iPOC e dessa forma necessita de maiores cuidados por parte do projetista.
Inclusive esse resultado demonstra que alguns conceitos tradicionalmente aceitos devem ser avaliados com
maior cuidado, visto que normalmente acredita-se que a fachada oeste é que pode causar maior desconforto,
o que não ocorre no presente estudo.
Quanto a sazonalidade, observa-se que os meses de agosto e setembro são no geral os que mais
ocasionam desconforto térmico por calor, por serem os meses mais quentes. Contudo, nota-se que o mês de
fevereiro também possui forte impacto, especialmente nos cenários com o emprego do sombreamento e para
as orientações diferentes do quadrante norte. Isso provavelmente está relacionado ao emprego de um
elemento de sombreamento como um beiral, uma proteção solar alfa, que tem efeito reduzido para essas
orientações.

4.2 Matriz
Para uma análise visual dos dados ainda mais direta, que contempla somente os resultados anuais, também
há como apresentar os resultados em forma de matriz, conforme a Figura 6. Nessa ferramenta os resultados
são apresentados em somente três níveis em relação a taxa de envidraçamento e orientação, como:
aconselháveis, aconselháveis com ressalva e desaconselháveis, do azul claro ao escuro, respectivamente.
Esses níveis são equiparados aos iPOC, em que aconselhável corresponde aos níveis A e B, o aconselháveis
com ressalva aos níveis C e D e desaconselháveis o nível E.

928
Figura 6 - Diagrama do iPOC com dados anuais, sem sombreamento.

5. CONCLUSÕES
O presente artigo apresenta um estudo sobre a influência dos parâmetros de taxa de envidraçamento, a
orientação e o emprego de sombreamento no conforto térmico de ambientes residenciais no contexto
climático de Brasília. A esse fim, realiza-se um estudo paramétrico por meio de simulação termoenergética
com o programa EnergyPlus e da interface gráfica Design Builder, para a avaliação do conforto térmico por
meio do modelo de conforto adaptativo com o método graus-hora e posterior sintetização em POC. Além
disso, propõe-se um novo indicador, o iPOC, que agrupa os resultados do POC em níveis classificatórios.
Por último, propõe-se ferramentas gráficas, em forma de diagrama e matriz, para melhor compreensão dos
resultados apresentados.
Quanto à orientação, o quadrante sul apresenta melhores resultados de iPOC, enquanto os piores são
encontrados no quadrante em torno do nordeste. Com o emprego de sombreamento, a orientação sul possui
iPOC A para todas taxas de envidraçamento, enquanto que a orientação nordeste possui iPOC A somente até
a taxa de envidraçamento de 15%.
A análise dos resultados por orientação implica a necessidade de se avaliar com cuidado
pressupostos tradicionalmente aceitos, como por exemplo que a orientação oeste é a que causa mais
desconforto térmico por calor. Outro cenário que merece atenção é das fachadas nordeste e noroeste, que
apresentaram médias de desconforto térmico acima da obtida na fachada norte, mas que em situações
específicas, a depender da área de abertura, do mês ou da proteção solar, podem indicar iPOCs com valores
menores do que os alcançados na orientação norte. Isso aponta a necessidade de se estudar as situações caso-
a-caso e que ferramentas como simulação computacional, ou outras ferramentas decorrentes de seus
resultados, como o diagrama e as matrizes apresentadas podem ser muito úteis.
Conforme previsto na literatura os resultados comprovam a relação inversamente proporcional entre
a taxa de envidraçamento e o conforto térmico. Esse padrão é perceptível para todas as orientações. No pior
cenário, a fachada nordeste, a diferença de iPOCs entre as taxas de envidraçamento de 12,5% e 45% é de
28,57 pontos percentuais, enquanto que no melhor cenário, a fachada sul, é de somente 9,66 pontos
percentuais. Apurou-se também que para todas as orientações, com área de abertura de até 15% obtém-se
iPOC A ou B, contudo essa taxa de envidraçamento sobe para 25% com o emprego do sombreamento.
A interferência do sombreamento também é perceptível, visto que os resultados constatam a sua
influência positiva no conforto térmico. Na comparação entre os cenários equivalentes, com e sem

929
sombreamento, há sempre melhoria dos resultados de iPOC, com acréscimo de até 16 pontos percentuais.
Além disso, as melhorias mais marcantes ocorrem nos cenários mais críticos, que possuem piores resultados
nos cenários sem sombreamento. Isso evidencia a relevância do sombreamento como estratégia bioclimática
no contexto climático estudado. Além disso, os resultados demonstram que o emprego de sombreamento
apresenta maiores benefícios no quadrante norte. Isso provavelmente está relacionado ao emprego de um
elemento de sombreamento como um beiral, uma proteção horizontal, que tem maior efeito nessa orientação,
porém efeito reduzido nas demais.
As ferramentas de visualização dos resultados demonstram grande potencial no auxílio ao
desenvolvimento de projeto arquitetônico desde as fases iniciais no que diz respeito ao dimensionamento das
aberturas. Ao conciliarem a representação por cores do iPOC em diagramas ou matrizes, possibilitam rápida
compreensão do impacto da orientação, taxa de envidraçamento e emprego do sombreamento, assim como
os padrões de sazonalidade no conforto térmico.
Esta pesquisa faz parte do desenvolvimento de um banco de dados de soluções bioclimáticas, que visa
a criação de uma ferramenta web interativa para auxiliar o projetista. Nesse sentido, busca-se avaliar outros
parâmetros de projeto, como dimensões do ambiente, diferentes tipologias e outros contextos climáticos.
Inclusive almeja-se a avaliação de outros materiais da envoltória, especialmente como tipos vidro, além de
uma análise mais especifica do potencial do sombreamento. Para mais do que a radiação solar, também se
visa explorar outros aspectos relacionados ao conforto térmico decorrentes da abertura, como a ventilação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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930
ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DO DISPOSITIVO DE PROTEÇÃO SOLAR EM
UMA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO NO INTERIOR DO
RIO GRANDE DO NORTE
Wiriany Kátia F. Silva (1); Eduardo Raimundo D. Nunes (2)
(1) Acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo, wirianykatia16@gmail.com, Universidade Federal
Rural do Semi-Árido
(2) Doutor, Professor do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas e Humanas, Curso de Arquitetura e
Urbanismo, eduardo.dias@ufersa.edu.br
Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Laboratório de Conforto Ambiental

RESUMO
Na análise do conforto térmico de uma edificação, diferentes elementos construtivos são estudados a fim de
garantir a eficiência edilícia. Visto isso, ao decorrer dos últimos anos, diferentes métodos são utilizados para
obter tal característica, um destes é o estudo da geometria solar, pela qual é possível analisar e estabelecer
mediante a carta solar dispositivos de proteção solar, ou seja, elementos que compõem as fachadas da
edificação com o intuito de impedir/minimizar a incidência dos raios solares diretos. Portanto, a influência da
aplicação desse mecanismo na eficiência de um edifício está na necessidade de garantir a adaptação
necessária as diretrizes construtivas de zona bioclimática no qual está localizado. Posto isto, esta pesquisa
tem como objetivo analisar a eficiência do dispositivo de proteção solar em diferentes fachadas da Escola
Estadual Professora Maria Edilma de Freitas no município de Pau dos Ferros, interior do Rio Grande do
Norte. Assim, foram realizados por meio de levantamentos de dados e análises, a determinação do
dispositivo de proteção existente e a análise da eficiência do seu mascaramento nas fachadas distintas. Para
isso, foi utilizado o programa ZZBR para determinar a zona bioclimática do município e o Software Sol-Ar
do LabEEE-UFSC para o estudo da carta solar, verificando, com isso, a influência das orientações das
fachadas na eficiência total dos dispositivos de proteção solar. Como resultado, todos os elementos
construtivos apresentaram uma máscara de sombra eficiente. Portanto, realizada a pesquisa, afirmou-se a
relevância do estudo da geometria solar na análise da eficiência dos dispositivos de proteção e suas
implicações nas máscaras de sombra.
Palavras-chave: geometria solar, diagrama solar, estratégia bioclimática.

ABSTRACT
In the analysis of the thermal comfort of a building, different constructive elements are studied to guarantee
the efficiency of the building. In the course of the last few years, different methods have been used to obtain
such a characteristic, one of these is the study of solar geometry, through which sun-protection devices can
be analyzed and established by means of solar protection. facades of the building in order to prevent /
minimize the incidence of direct solar rays. Therefore, the influence of the application of this mechanism on
the efficiency of a building is in the need to ensure the necessary adaptation to the constructive guidelines of
bioclimatic zone in which it is located. That’s why, the research objectives at the efficiency of the solar
protection device in different facades of the State School Professor Maria Edilma de Freitas, in the
municipality of Pau dos Ferros, in the interior of Rio Grande do Norte. Thus, the date of the protection
device and the analysis of the efficiency of its performance in the different façades were carried out through
data and analysis surveys. For this purpose, the ZZBR program was used to determine the bioclimatic zone
of the municipality and the SOL-Ar software from LabEEE-UFSC to study the solar process, thus verifying
one of the main tools of solar protection systems. As a result, all building elements have an efficient shadow
shade. Therefore, a research was carried out, a part of the study of solar geometry was affirmed in the
analysis of the effectiveness of the protection devices and has implications in the masks of the shade
Keywords: solar geometry, solar diagram, bioclimatic strategy.
931
1. INTRODUÇÃO
Devido aos verões quentes e a radiação solar prolongada ao longo do ano, no Brasil, torna-se imprescindível
o sombreamento das aberturas como estratégia bioclimática (LAMBERTS et al, 2014). Assim, dentre as
variáveis presentes na bioclimatologia, há uma crescente preocupação quanto ao desempenho térmico nos
ambientes construídos. Para Frota e Schiffer (2001) a arquitetura vem como modeladora na construção de
espaços que possibilitam condições de conforto ao homem, com base nisso tem-se a relevância do projeto
de aberturas nos edifícios (CARVALHO, 2018), uma vez que o sombreamento dessas pode proporcionar
diminuição no consumo de energia, devido o aproveitamento da iluminação natural, por exemplo
(CARVALHO, 2016).
Logo, a importância de utilizar a radiação solar a favor do ser humano se concerne, dentre outras, na
compreensão da sua influência no ganho térmico da edificação e sua relação com o consumo energético
(MARTINS, 2007). Visto isso, a depender do clima, da utilidade edilícia e da atividade desempenhada pelo
usuário, a radiação direta dentro do edifício pode proporcionar uma situação de conforto ou desconforto
(GUITIERREZ; LABAKI, 2007). Assim, como parâmetros construtivos que possibilitem esse controle, a
NBR 15220-3 (Norma Brasileira de desempenho térmico de edificações) apresenta o zoneamento
bioclimático brasileiro, juntamente com as recomendações e estratégias construtivas (ABNT, 2005).
Algumas das estratégias que contribuem no conforto térmico de edificações é o estudo da geometria
solar, no qual são dimensionados os dispositivos de proteção solar. Esses tornam-se indispensáveis em
localidades onde o clima é primordialmente quente, pois auxiliam contra a incidência direta da radiação solar
em superfícies translúcidas e de aberturas (FROTA; SHIFFER, 2001). Posto isto, na aplicação de qualquer
dispositivo de sombreamento, quando em climas quentes, sua orientação deve visar o máximo de
sombreamento durante o verão, a fim de garantir a redução de ganho de calor solar no interior do ambiente
(GUITIERREZ; LABAKI, 2007).
Para a determinação desses dispositivos e verificação de sua eficiência, um dos meios é uma análise
gráfica de três possíveis ângulos. Tem-se eficiência total do dispositivo quando é sombreado totalmente a
abertura durante os dias e horários determinados na carta solar, eficiência parcial, quando há o
sombreamento somente em uma parte do dia (FROTA; SHIFFER, 2001). A determinação dessa eficiência é
necessária uma vez que analisará o desempenho dos dispositivos, que segundo Carvalho (2018) dependerá
das condições climáticas, orientação, característica edilícia e tarefa a ser executada.
Posto isso, o sombreamento vai de acordo com a orientação da fachada e os ângulos de sombra. Cada
ângulo apresenta uma máscara de sombra, eles são delimitados graficamente no transferidor auxiliar (círculo
com as mesmas dimensões da carta solar). O ângulo alfa (α) varia de 0 à 90º proporcionando uma sombra na
vertical, através de um dispositivo de proteção solar na horizontal. O ângulo beta (β) varia entre 0 à 90º,
sendo esquerdo e direito, e proporciona uma máscara de sombra na horizontal, mediante um dispositivo de
proteção solar na vertical. Por fim, o ângulo gama (γ), esquerdo e direito, responsável por limitar a placa de
proteção horizontal (FROTA; SHIFFER, 2001).
Apesar, de muitos conhecerem os benefícios da utilização dos dispositivos- desde a função até a
estética- em sua maioria não há um estudo prévio sobre suas configurações e trajetória solar, sendo aplicados
de maneira inadequada. Essa intensa cultura da utilização dos dispositivos de sombreamento vem sendo
propagada no Brasil desde a Arquitetura Moderna, na caracterização estética dos edifícios projetados entre
1930 e 1960 (GUITIERREZ; LABAKI, 2007). Em vista disso, torna-se imprescindível o dimensionamento
adequado dos dispositivos de proteções solares de acordo com cada orientação, pois além do apresentar
influência no desempenho térmico está interligado com o aproveitamento de luz natural, pois para cada
orientação há a demanda de um tipo diferente de proteção (LEITZKE et al, 2017).
Ademais, trazendo sua aplicação em edifícios públicos, quanto ao desempenho térmico nos espaços
escolares, Kowaltowski et al (2011) defende que há uma relação direta entre a qualidade do espaço físico e o
desempenho dos alunos. Por consequência, as dependências do meio podem dificultar as relações
harmoniosas necessárias entre a edificação e seu entorno; o conforto e a sustentabilidade.
Mediante essa necessidade, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)
disponibilizou um manual de elaboração com parâmetros e instruções normativas para a construção de
projetos escolares, como, por exemplo, os centros de educação infantil (FNDE, 2009). Porém, houve com
esse plano uma padronização nas construções, sendo muitas vezes as escolas públicas executadas em regiões
com climas diferentes de onde são projetadas, como a analisada a seguir. A problemática existente nesse fato
é que: “questões relacionadas ao conforto ambiental não são adotadas como critérios para a verificação dos
projetos existentes ou para a concepção de novos projetos” (DORIGO; KRÜGER, 2007, p.581).

933
Em vista disso, o presente estudo é desenvolvido em uma instituição de ensino fundamental e médio
no município de Pau dos Ferros, no interior do Rio Grande do Norte, Brasil. A cidade está inserida na zona
bioclimática 7 e apresenta um clima quente e seco, com elevada radiação solar, sendo necessário segundo a
NBR 15220 o sombreamento das suas aberturas durante todo o ano (ABNT, 2005). Portanto, este estudo vem
como continuação aos levantamentos abordados na pesquisa: “Conforto Térmico e Ventilação na Escola
Estadual Prof. Maria Edilma de Freitas Silva” apresentada no Encontro Internacional de Jovens
Investigadores (JOIN) Edição Brasil, tendo como relevância a análise da eficiência de um dispositivo de
proteção solar através da geometria solar, tendo em vista que em sua maioria, sem um estudo prévio, essa
estratégia construtiva pode gerar gastos e comprometer a eficiência energética de uma edificação.

2. OBJETIVO
A presente pesquisa tem como objetivo analisar a eficiência do dispositivo de proteção solar de uma
instituição de ensino, por meio do estudo da geometria solar, e suas implicações na utilização do mesmo
dispositivo em fachadas com orientações distintas.

3. MÉTODO
Por meio de levantamentos de dados através de visitas ao local e medições, além da realização de análises
computacionais, a metodologia da pesquisa foi elencada de acordo com as seguintes etapas: (1) levantamento
de dados; (2) Estudos dos elementos de proteção existentes; (3) verificação do sombreamento do dispositivo
de proteção solar em fachadas distintas.

3.1. Levantamento de dados


3.1.1. Caracterização da edificação
Através de uma visita no dia 18 de setembro de 2018 foram obtidos os dados sobre o projeto, estrutura e
funcionamento da Escola Estadual Professora Maria Edilma de Freitas. A instituição fica localizada na Rua
Respício José do Nascimento no município de Pau dos Ferros-RN (Figura 1) sendo um projeto desenvolvido
pelo Governo Federal, fundado em 24 de setembro de 2001, a escola apresenta um total de 55 funcionários,
dentre os quais, 25 são docentes.

Figura 1 – Localização da instituição em estudo (AUTORES, 2019).

Com uma área com quase 1.720 m² a instituição atende aproximadamente 881 alunos durante todo o
turno integral através de uma estrutura física que compreende banheiros, biblioteca, sala de vídeo (TV
escola), laboratório de informática, cozinha, secretaria, diretoria, sala dos professores, salas de aula, sala do
grêmio, vestiário, despensa, serviço e pátio. Na Figura 2 estão indicados em planta baixa (fornecida pela
gerência da escola) os ambientes descritos acima por meio de legendas com cores. Visto isso, na pesquisa
será analisado o dispositivo de proteção (cobogó) da edificação, os quais recebem radiação solar direta nas
fachadas em que estão dispostos, ver Figura 3.

934
Figura 2 – Planta baixa da instituição (AUTORES, 2019).

Figura 3 – Localização dos dispositivos utilizados na análise (AUTORES, 2019).

Os cobogós na instituição são utilizados de dois modos diferentes, que variam mediante a altura em
que são empregados, em todas as salas com exceção do pátio eles estão acima da altura da porta, uma
distância do piso de aproximadamente 2,40 m, já no pátio de 1,40 em relação ao piso, ver Figura 4 e Figura
5.

Figura 4 – Cobogós do pátio (AUTORES, 2019). Figura 5 – Cobogós das salas (AUTORES, 2019).

3.1.2. Estudos dos elementos de proteção existentes


A fim de obter os dados bioclimáticos, zona bioclimática e verificar as diretrizes construtivas requeridas para
a região, principalmente durante o verão, foi utilizado o programa ZBBR (Programa de classificação
bioclimáticas das sedes dos municípios brasileiros, conforme a ABNT NBR 15220-3) desenvolvido por
Maurício Roriz no Programa de Pós-Graduação em Construção Civil da Universidade Federal de São Carlos,
nele foram preenchidos os campos correspondentes a unidade da federação e a cidade (Figura 6).

935
Figura 6 – Dados bioclimáticos da região de Pau dos Ferros-RN (RORIZ, 2019).

3.2. Estudos dos elementos de proteção existentes


3.2.1. Determinação dos azimutes das fachadas
Através de uma vetorização da imagem da vista superior da edificação retirada do Google Earth Pro (Figura
7) para o AutoCAD (Figura 8), foram obtidas as orientações das fachadas/ azimutes (distância em graus da
perpendicular da fachada em relação ao norte) que serão utilizados no estudo da geometria solar. Essa etapa é
necessária devido a influência do ângulo da orientação de cada fachada na máscara de sombra do dispositivo.

Figura 7– Vista aérea do Google Earth Pro (Adaptada do Figura 8– Azimutes das fachadas (AUTORES, 2019).
EARTH PRO, 2019).

3.2.2. Identificação do tipo de elemento


Mediante uma visita de campo no dia 29 de março de 2019, foram realizadas as medições de um dispositivo
de proteção presente na edificação, os cobogós. Por apresentarem as mesmas dimensões independente da
orientação da fachada, foi realizada a modelagem no Sketchup do dispositivo de proteção solar
demonstrando as medidas que serão utilizadas no estudo, como na imagem a seguir (Figura 9). Essas
serviram posteriormente, para obter o corte e planta desse componente construtivo, pois será necessário na
determinação dos ângulos alfa, beta e gama. Tais medidas correspondem ao espaço da abertura de cada
unidade de um bloco do cobogó que contêm 8 unidades.

Figura 9– Dimensões das aberturas dos cobogós (AUTORES, 2019).

936
3.2.3. Obtenção dos ângulos
Para identificar os ângulos alfa (α), beta (β) e gama (γ) necessários no estudo da trajetória solar (na carta
solar são as linhas em vermelho) e máscara de sombra, em primeiro plano, foi utilizada a carta solar do
Software Sol-Ar do LabEEE-UFSC, programa que disponibiliza cartas solares e máscaras de sombras de
acordo com a latitude especificada, auxiliando assim, no projeto de proteções solares através da visualização
gráfica dos ângulos citados. Desse modo, para compreender a trajetória solar e a atuação desses ângulos no
mascaramento do dispositivo, é inserida a latitude do município de Pau dos Ferros, gerando com isso, a
trajetória solar durante todo o ano (Figura 10).

Figura 10– Carta solar do Município de Pau dos Ferros (LABEEE, 2019).

Não apenas isso, foi analisada a carta solar a fim de verificar o formato dos ângulos: alfa- ângulo em
corte, beta- ângulo em planta baixa e gama- ângulo em vista. Feito isso, foi inserida as dimensões do
dispositivo em planta, corte e vista no AutoCAD objetivando estabelecer esses ângulos (Figura 11). Como o
dispositivo é delimitado lateralmente formando a unidade já representada, não são admitidos valores para o
ângulo gama (γ).

Figura 11- Ângulos alfa e beta do dispositivo de proteção (AUTORES, 2019).


3.3. Verificação do sombreamento dos dispositivos de proteção solar em fachadas distintas
Fez-se necessário compreender a trajetória solar nas diferentes fachadas da edificação, para isso, foi
adicionada o valor de cada azimute na orientação da carta solar como visto a seguir: fachada com azimute de
7º, Figura 12; fachada com azimute de 100º, Figura 13; fachada com azimute de 188º, Figura 14; fachada
com azimute de 276º, Figura 15.

Figura 12– Azimute de 7º (LABEEE, 2019). Figura 13– Azimute de 100º (LABEEE, 2019).

937
Figura 14– Azimute de 188º (LABEEE, 2019). Figura 15– Azimute de 276º (LABEEE, 2019).

Como continuação do processo metodológico, foi estudado a máscara de sombra proporcionada pelo
cobogó em cada fachada mediante a aplicação dos valores dos ângulos alfa (α) e beta (β), para assim
verificar a eficiência do dispositivo. Enfim, foram elaboradas tabelas que constam o sombreamento de cada
dispositivo, ângulos e duração da máscara de sombra, com o intuito de promover uma relação entra período
de radiação direta sobre as fachadas e o período de proteção total.

4. RESULTADOS
Realizado todo esse percurso metodológico são apresentados a seguir a trajetória solar dos cobogós nas
diferentes fachadas e a sua respectiva máscara de sombra para cada azimute. Como na NBR 15220-3 é
recomendada que na zona bioclimática 7 as aberturas ou superfícies translúcidas sejam sombreadas durante
todo o ano, segue o estudo:

4.1. Mascaramento da máscara de sombra.


Obtidos os ângulos alfa e beta do dispositivo em estudo, são analisadas nas diferentes orientações/azimutes
das fachadas o mascaramento proporcionado, verificando com isso, sua eficiência total.
Nas fachadas com os azimutes de 7º e 188º a máscara de sombra do dispositivo está na cor azul,
Figura 16 e Figura 17, respectivamente. Essa representação compreende os períodos com eficiência total no
seu mascaramento. Ademais, há eficiência parcial no restante da trajetória solar, linhas na cor vermelha.
Por se tratar dos azimutes que compreendem as fachadas norte e sul, respectivamente, como
estratégia construtiva de sombreamento há constantemente o emprego de diferentes tipos de dispositivos,
como marquises e paredes que servem de proteção vertical. Entretanto, no edifício estudado é utilizado o
cobogó como dispositivo de sombreamento para essas orientações. Ao analisar as cartas solares, é atestado
que ele atende as necessidades proteção solar durante todo o ano, sendo assim, uma solução construtiva
adequada.

Figura 16–Máscara de sombra do Azimute de 7º (ADAPTADA Figura 17–Máscara de sombra do Azimute de 188º
DO LABEEE, 2019). (ADAPTADA DO LABEEE, 2019).

Ao ler a carta solar da fachada com azimute de 7º, é verificado que no solstício de verão (22/12) a
fachada não recebe radiação solar direta. No equinócio (21/03 e 23/09) recebe radiação solar direta no

938
período das 06:00 às 15:00. No solstício de inverno (22/06) recebe radiação solar direta no período das 06:15
às 17:45. Visto isso, nos dias com radiação direta sobre as fachadas o dispositivo promove proteção total
com sua máscara de sombra (Tabela 1).
Tabela 1 – Período de sombreamento do dispositivo na fachada de azimute de 7º.
Dispositivo Ângulos Ângulos Período do ano- Sombreamento Quantitativo de horas de sombra
β d=68.20 22/06- Sombra das 06:15 às 17:45 11 horas e 30 minutos
Cobogó α=65.77
β e=68.20 21/03- Sombra das 06:00 às 15:00 9 horas

Não obstante, a fachada com azimute de 188° recebe radiação solar direta no solstício de verão
(22/12) no período das 05:45 às 18:15. No equinócio (21/03 e 23/09) recebe radiação solar direta no período
das 14:15 às 18:00. Já no solstício de inverno (22/06) não recebe radiação solar direta. Desse modo, o
dispositivo promove sombreamento total durante esses períodos do ano (Tabela 2)
Tabela 2 –Período de sombreamento do dispositivo na fachada de azimute de 188º.
Dispositivo Ângulos Ângulos Período do ano- Sombreamento Quantitativo de horas de sombra
β d=68.20 22/12- Sombra das 05:45 às 18:15 13 horas e 30 minutos
Cobogó α=65.77
β e=68.20 21/03- Sombra das 14:15 às 18:00 4 horas e 15 minutos

Nas fachadas com os azimutes de 100º e 276º, Figura 18 e Figura 19, a máscara de sombra na cor
azul demonstra a eficiência total. Por se tratar das fachadas com orientações leste e oeste, respectivamente,
em geral, os elementos constitutivos utilizados na proteção solar são os cobogós, pois essas fachadas
recebem a radiação solar do sol poente e nascente, isto é, os pontos em que o sol adquire sua menor altura.
Ao ser empregado o dispositivo de proteção já exposto, obtém-se sombreamento total durante diferentes
períodos do ano, desse modo, o cobogó resolve o problema da incidência solar direta sobre as fachadas.

Figura 18–Máscara de sombra do Azimute de 100º Figura 19–Máscara de sombra do Azimute de 276º
(ADAPTADA DO LABEEE, 2019). (ADAPTADA DO LABEEE, 2019).

A fachada com azimute de 100º recebe radiação solar direta no solstício de verão (22/12) no período
das 05:45 às 12:15. No equinócio (21/03 e 23/09) recebe radiação solar direta no período das 06:00 às 12:00.
Já no solstício de inverno (22/06) recebe radiação solar direta no período das 06:15 às 11:45. Mediante a
isso, o dispositivo proporciona o mascaramento em diferentes períodos do ano (Tabela 3)
Tabela 3 –Período de sombreamento do dispositivo na fachada de azimute de 100º.
Dispostivo Ângulos Ângulos Período do ano- Sombreamento Quantitativo de horas de sombra
22/12- Sombra das 07:30 às 12:15 3 horas
β d=68.20
Cobogó α=65.77 22/06- Sombra das 06:15 às 11:45 6 horas
β e=68.20
21/03- Sombra das 07:30 às 12:00 4 horas e 30 minutos
Todavia, a fachada com azimute de 276° recebe radiação solar direta no solstício de verão (22/12) no
período das 12:10 às 18:15. No equinócio (21/03 e 23/09) recebe radiação solar direta no período das 12:00
às 18:00. No solstício de inverno (22/06) recebe radiação solar direta no período das 11:50 às 17:45. O
período de sombreamento do cobogó está elencado na Tabela 4.
Tabela 4–Período de sombreamento do dispositivo na fachada de azimute de 276º.
Dispostivo Ângulos Ângulos Período do ano- Sombreamento Quantitativo de horas de sombra
22/12- Sombra das 12:10 às 18:15 6 horas e 05 minutos
β d=68.20
Cobogó α=65.77 22/06- Sombra das 11:50 às 16:05 3 horas e 55 minutos
β e=68.20
21/03- Sombra das 12:00 às 16:15 4 horas e 15 minutos

939
Portanto, através desses levantamentos e discussões é averiguado que esse tipo de cobogó concede
um mascaramento com eficiência total em todas as fachadas durante todo o ano para as fachadas norte e sul,
já para a leste e oeste permite incidência solar em uma parte do ano.

5. CONCLUSÕES
Ao abordar um dos mecanismos que influenciam o conforto térmico e lumínico, os dispositivos de
sombreamentos, em uma edificação educacional situada na cidade de Pau dos Ferros- RN, foi possível
indagar a importância de um estudo prévio na elaboração dos dispositivos de proteção solar tendo como base
as condições de zoneamento bioclimático apresentadas na NBR 15220 e as orientações das fachadas do
projeto analisado.
Assim, observou-se mediante a demonstração da aplicação do mesmo tipo de cobogó nas diferentes
fachadas que a sua orientação influencia na eficiência total da máscara de sombra, pois nos azimutes de 100º
e 276º devido à altura solar e orientação para leste e oeste torna-se difícil determinar um dispositivo com
sombreamento total, entretanto, o dispositivo existente na instituição atendeu de maneira eficiente as
necessidades de sombreamento nessas fachadas. Como resultado geral, tendo em vista que na zona
bioclimática 7 segundo a NBR 15220 é necessário sombreamento das aberturas total durante todo o ano
(ABNT, 2005), na fachada com o azimute de 7º o cobogó proporcionou máscara de sombra durante o
equinócio e no solstício de inverno, sendo que não há incidência solar no solstício de verão, desse modo,
nessa fachada há sombreamento durante todo o ano, o mesmo ocorre para a fachada com o azimute de 188º,
que oferece proteção no equinócio e no solstício de verão. Por fim para as fachadas com os azimutes de 100º
e 276º apesar de poucas horas sem sombreamento, foi verificado a máscara de sombra no equinócio e no
solstício de inverno e verão.
Ao explanar esse tipo de configuração de dispositivo é demonstrado a relação direta entre a
orientação da fachada e o tipo de ângulos a serem empregados em um dispositivo de proteção, sendo esses,
fatores que influenciam sobre o seu mascaramento. Contudo, em detrimento aos levantamentos apresentados,
a pesquisa contribui na difusão da relevância do estudo da geometria solar e suas implicações na elaboração
de um dispositivo de proteção eficiente em uma instituição de ensino, visto que tais mecanismo são
imprescindíveis no estabelecimento do conforto térmico e este contribui no processo de aprendizagem dos
alunos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Zoneamento bioclimático brasileiro e estratégias de condicionamento térmico passivo para habitações de interesse social. Rio
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CARVALHO, Marlise Lila Silva. Eficiência da luz solar refletida e desempenho de dispositivos de sombreamento: Estudo para
salas de aula na cidade de Maceió. Maceió, 2018.
CARVALHO, Marlise Lila Silva; CABÚS, Ricardo Carvalho. A influência do número de peças de dispositivos de sombreamento
para o comportamento da luz solar refletida em sala de aula na cidade de Maceió. São Paulo, 2016.
DORIGO, A. L.; KRÜGER, E. L. Uso de dispositivos de sombreamento em salas de aula- Avaliação de método proposto por
Olgyay. Ouro Preto, 2007.
FNDE- FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO. Manual técnico de Arquitetura e Engenharia de
orientação para a elaboração de projetos de construção de centros de educação infantil. Brasília, 2009.
FROTA, Anésia Barros; SCHIFFER, Sueli Ramos. Manual de conforto térmico. 5ª edição. São Paulo: Studio Nobel, 2001.
GUTIERREZ, G.C. R.; LABAKI, L.C. An Experimental Study of Shading Devices: Orientations Typology and Material. São
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LABEEE- LABORATÓRIO DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM EDIFICAÇÕES. Analysis Sol-Ar. Disponível em:
<http://www.labeee.ufsc.br/downloads/softwares/analysis-sol-ar>.
LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F. O. R. Eficiência Energética na Arquitetura. 3a edição. Rio de Janeiro, 2014.
LEITZKE, Rodrigo Karini et al. Avaliação de dispositivos de proteção solar fixos e automizados para edifício residencial.
PARC Pesquisa em Arquitetura e Construção, Campinas, SP, 2017.
KOWALTOWSKI, Doris. C.C.K, et al. Processos de Projeto em Arquitetura: da teoria à tecnologia. São Paulo: Oficinas de Texto,
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uma avaliação para a cidade de Maceió/AL. Maceió, 2007.
RORIZ, M. ZBBR- Zoneamento Bioclimático do Brasil. São Carlos, 2004.
SOUSA, L. G. B.; SILVA, W. K. F.; NUNES, E. R. D. Conforto Térmico e Ventilação na Escola Estadual Prof. Maria
Edilma de Freitas Silva. 2017.

940
ANÁLISE DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E CONFORTO TÉRMICO EM
DOIS EDIFÍCIOS PÚBLICOS UNIVERSITÁRIOS
Elisabeti de Fátima Teixeira Barbosa (1); Camila de Freitas Albertin (2); Giani Betelli
Antonello Borges (3); Adriana Petito de Almeida Silva Castro (4); Lucila Chebel Labaki (5)
(1) Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura Tecnologia e Cidade-ATC. UNICAMP, e-
mail: elisabeti.barbosa@gmail.com
(2) Graduanda em Engenharia Civil, ca.albertin@outlook.com, UNICAMP
(3) Graduanda em Engenharia Civil, giantonello.b@gmail.com, UNICAMP
(4) Pós-Doutoranda, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. Universidade Estadual de
Campinas, Departamento de Arquitetura e Construção, Laboratório de Conforto Ambiental e Física
Aplicada, Cx. Postal 6143, Campinas/SP, CEP 13083-889, Tel 3521-2064, dripasc@gmail.com
(5) Professora Titular, Departamento de Arquitetura e Construção. lucila@fec.unicamp.br Faculdade de
Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. Universidade Estadual de Campinas, Departamento de
Arquitetura e Construção, Laboratório de Conforto Ambiental e Física Aplicada, Cx. Postal 6143,
Campinas/SP, CEP 13083-889, Tel 3521-2064

RESUMO
A preocupação com o desempenho das edificações, seja pelo cumprimento de normas técnicas, seja, mais
recentemente, pela implementação de medidas que promovam o conforto proporcionado aos usuários, fez
com que se desenvolvesse o interesse em estudar a influência dos parâmetros construtivos e ambientais.
Neste sentido, a análise de ambientes, ainda que implantados com as mesmas técnicas, mas com divergências
em relação ao modo de ocupação dos usuários, bem como fatores externos, se faz relevante para a busca de
novas soluções nas edificações que vão ao encontro das necessidades atuais e futuras de sustentabilidade e
eficiência. Essa análise de ambientes pauta um dos objetivos deste artigo, que visa analisar em diversos
aspectos a eficiência energética de duas edificações públicas universitárias, em consonância com o
Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edificações Comerciais e
Públicas (RTQ-C - 2017). Além disso, este estudo tem como objetivo analisar o desempenho térmico de duas
salas da FEM (Faculdade de Engenharia Mecânica) da Unicamp, com orientações opostas, considerando a
percepção dos usuários. O emprego de metodologia que permitisse a obtenção de maior quantidade de
resultados plausíveis para o estudo se mostrou competente dentro das limitações existentes, uma vez que
dependeu da confiabilidade das respostas fornecidas pelos ocupantes dos ambientes, bem como das leituras
de dados dos equipamentos alocados para a avaliação. Os resultados obtidos através das análises gráficas e
dos questionários aplicados evidenciam que a presença de equipamentos de melhor tecnologia, bem como os
fatores externos como radiação solar incidente na edificação, associado às preferências térmicas dos usuários
são fatores flutuantes e que o ponto de junção entre eles recai sobre a tipologia do ambiente construído, que
pode atenuar a insuficiência dos demais parâmetros.
Palavras-chave: etiquetagem de edificação, variáveis ambientais, conforto térmico

ABSTRACT
The concern with the performance of the buildings, whether by the fulfillment of technical norms, or, more
recently, by the implementation of measures that promote the comfort provided to the users, enhanced the
interest in studying the influence of the constructive and environmental parameters. In this sense, the analysis
of built environments, even with the same constructive techniques, but with divergences in relation to the
users’ occupation, as well as to external factors, becomes relevant for the search of new solutions that meet
the current and future needs of sustainability and efficiency for the buildings. This analysis is one of the
objectives of this article, which aims to study in several aspects the energy efficiency of two public
university buildings, in accordance with the Technical Regulation of Quality for the Energy Efficiency Level

941
of Commercial and Public Buildings (RTQ-C - 2017). In addition, this study has the objective of analyzing
the thermal performance of two rooms of the FEM (Faculty of Mechanical Engineering) of the University of
Campinas, with opposite orientations, considering the perception of the users. The proposed methodology
allows obtaining more plausible results for the study in concordance with the existing limitations, since it
depends on the reliability of the answers provided by the occupants of the environments, as well as the data
readings of the equipment allocated for the evaluation. Results were obtained through graphical analysis. The
applied questionnaires show that the presence of better technology equipment, as well as external factors
such as incident solar radiation on the building, associated to thermal preferences of users are floating factors
and that the joint point relies on the typology of the built environment, which can attenuate the inefficiency
of the other parameters.
Keywords: edification labelling, environmental parameters, thermal comfort

1. INTRODUÇÃO
A recorrência de temas relacionados à preservação dos recursos naturais, à sustentabilidade, bem como
desempenho de infraestrutura no âmbito da engenharia civil e da arquitetura, despertou a necessidade de se
buscar meios, técnicas e inovações que fossem ao encontro dessas carências.
No Brasil, o setor da construção civil (incluindo residências, edifícios comerciais e públicos) é responsável
por cerca de 48% do consumo de energia elétrica e esse consumo apresenta uma tendência de rápido
crescimento, devido parcialmente aos aumentos no padrão de conforto e serviços dentro de edifícios.
(CONSELHO BRASILEIRO DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL, 2014). Conforme o Balanço
Energético Nacional de 2018, ano-base 2017 (BEN, 2018), os edifícios comerciais representam 14,4% do
consumo total de energia elétrica. Além disso, estudos realizados pela Eletrobrás (2018) indicam que ar
condicionado, iluminação e equipamentos de escritório representam os principais consumos em edifícios
comerciais e públicos.
Neste sentido, a criação do Programa Nacional de Eficiência Energética em Edificações (PROCEL
EDIFICA) veio contribuir e fornecer subsídios para a pesquisa e implementação de ações para minimizar o
alto consumo de energia elétrica. Estima-se ainda que há um potencial de redução de 50% no consumo para
novas edificações e 30% para aquelas que implementam modificações de modo a atender aos pré-requisitos
para se enquadrarem nos níveis maiores de etiqueta (nível A ou nível B) (RTQ-C, 2017).
Dessa forma, com a maior abrangência das diferentes modalidades de usos, o atendimento da NBR
15575-1 (2013) não foi suficiente para garantir as demandas tanto do mercado, visto que se espera cada vez
mais economia do uso e ocupação das edificações, bem como o conforto do usuário em suas várias nuances.
Para contribuir com essa economia e bem-estar, fatores como a envoltória, que, de acordo com o
Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de
Serviços e Públicos (RTQ-C, 2017) pode ser comparada como a pele da edificação, a qual engloba não
somente os métodos construtivos, mas os materiais empregados, devem ser levados em consideração. Outros
fatores condicionantes seriam a iluminação do ambiente, bem como o condicionamento de ar, sendo eles
naturais ou artificiais, além da disposição da fachada e a influência externa à edificação.
O trabalho de Krstic-Furundzic e Kosic (2016) avalia edifícios comerciais e mostra como diferentes
tipologias da envoltória afetam a eficiência energética da edificação. De acordo com Ihara et al. (2015), as
propriedades dos materiais da fachada devem ser consideradas para determinar quais delas mais influem no
desempenho energético da edificação, desconsiderando o formato dos edifícios, localização ideal, tipologia
construtiva, de modo a promover, assim, a eficiência energética nos edifícios.
Atualmente, há diversas ferramentas para o cálculo do conforto térmico dos ocupantes permanentes ou
não das edificações e que contribuem para o cálculo do VME (voto médio estimado), ou voto de sensação de
conforto térmico, e tem como parâmetros a atividade desempenhada pelo indivíduo e a carga térmica atuante
sobre o corpo, que é avaliada por uma escala que varia de -3 a +3, para identificar a situação correspondente
do usuário.
A realização deste trabalho foi pautada na pesquisa de Coutinho (2014), tendo sido realizada a partir
da escolha do local, contextualização do ambiente onde ele se localiza, coleta das variáveis ambientais
simultaneamente em todos os pontos em cada ambiente da edificação, estimando-se as variáveis pessoais no
momento das medições, de acordo com as normas ISO 7730 (2005). Paralelamente, foi aplicado o método
prescritivo do RTQ-C (2017), para atribuição do nível de eficiência energética das edificações, nos quesitos
envoltória, sistema de iluminação e condicionamento de ar.
Esta pesquisa faz parte de um amplo projeto denominado “Campus Sustentável”, uma parceria entre
Unicamp e CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), que engloba vários subprojetos, inclusive a

942
Etiquetagem de Edifícios, de várias tipologias diferentes (salas de aula, administrativas, hospital, biblioteca,
restaurante, dentre outros).
Especificamente este trabalho apresenta o estudo em dois edifícios que integram o complexo de 10
(dez) blocos da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp.

2. OBJETIVO
O presente artigo visa analisar em diversos aspectos a eficiência energética de dois edifícios pertencentes à
Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp (FEM), aplicando-se o método prescritivo do Regulamento
Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edificações Comerciais e Públicas (RTQ-C,
2017). Paralelamente, estudou-se o desempenho térmico de duas salas da FEM, com orientações opostas,
considerando a percepção dos usuários.

3. METODOLOGIA
A metodologia se dividiu em três etapas, sendo que a primeira foi a realização da análise de diversos
parâmetros projetuais utilizados nas edificações da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), localizadas
na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), para atribuição da Etiqueta de Eficiência Energética do
PROCEL Edifica, que faz parte do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) e foi desenvolvida em
parceria entre o Inmetro e a Eletrobrás/PROCEL Edifica. Especificamente neste trabalho, foram atribuídas as
etiquetas de eficiência energética para dois edifícios que integram o complexo de 10 blocos da FEM,
utilizando-se o método prescritivo (RTQ-C, 2017).
A segunda parte consistiu na avaliação de conforto térmico pelos usuários de duas salas
representativas, com a mesma finalidade de uso, e com orientações opostas, pertencentes aos dois edifícios
do complexo, previamente etiquetados.
Por fim, a terceira etapa da pesquisa consistiu na realização da comparação do nível de eficiência
energética com a avaliação de conforto térmico pelos usuários.
O RTQ-C (2017) regulamenta que a etiqueta de eficiência energética deve ser obtida para o prédio
como um todo, nos quesitos envoltória, iluminação e condicionamento de ar. No presente trabalho, foram
etiquetados dois dos dez blocos que integram a Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp,
considerando-se os três quesitos supracitados. Em paralelo, foram escolhidas duas salas para o estudo do
conforto térmico. Com isso, foi possível fazer uma correlação entre o nível de Etiqueta obtido e a sensação
térmica do usuário.
Dessa forma, inicialmente foram coletados os dados dos projetos e os parâmetros da envoltória da
edificação, de iluminação e de ar condicionado, para a atribuição da etiqueta de eficiência energética. Em
paralelo, em horários programados, foram instalados equipamentos para medição das seguintes variáveis
ambientais: temperatura do ar, temperatura de globo, velocidade do ar e umidade relativa. Simultaneamente à
coleta dos dados ambientais, foram aplicados 32 questionários de conforto térmico aos usuários, para
levantamento da sensação e preferência térmica nos dois ambientes selecionados.
Cabe ressaltar que o projeto foi submetido ao Comitê de Ética da Unicamp, tendo sido emitido o
CAAE (Certificado de Apresentação para Apreciação Ética), e a aprovação do processo em junho de 2018.
Os dados coletados foram inseridos no software Conforto 2.03 (RUAS, 2005), que fornece índices
baseados na ISO 7730 (2005), e os resultados foram confrontados com os parâmetros ambientais da
edificação e os dados fornecidos pelos usuários. Deste modo, foi possível também analisar os resultados do
VME (voto médio estimado) e PEI (porcentagem estimada de insatisfeitos).
Além disso, os dados de projeto, bem como os ambientais obtidos após calculados, passaram por um
tratamento analítico pautados no Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética
de Edificações Comerciais e Públicas (RTQ-C, 2017). Foi utilizado o método prescritivo para realizar os
cálculos de desempenho da envoltória, do sistema de iluminação e condicionamento de ar, a fim de se
alcançar um nível de eficiência (A, B, C, D ou E), proporcionando um melhor embasamento para a inter-
relação com os dados coletados dos usuários e os resultados das medições.
É importante ressaltar algumas dificuldades encontradas: edificação pública de grande complexidade,
composta por vários ambientes, com diversos usos, ocupações e adequações, indisponibilidade de
colaboração na pesquisa, dentre outras.

943
3.1 Caracterização do Local
O local objeto de estudo está localizado na cidade de Campinas, interior do estado de São Paulo, com as
coordenadas geográficas: latitude -22,9, longitude -47,0 e altitude de 640 metros. A região de Campinas está
inserida na zona bioclimática 3, de acordo com a NBR 15220-3 (2005), apresentando clima tropical de
altitude, com temperatura média anual de 22,4 °C. A média pluviométrica anual da cidade é de 1424,5 mm,
com predominância de chuvas entre outubro a março e com o mês de maior estiagem em agosto. A umidade
média em Campinas varia de 36% em agosto a 57% em janeiro (CEPAGRI, 2013). Em suas pesquisas
Chvatal et al. (1999) classificaram o clima de Campinas como sendo tropical continental, sendo que em
períodos de verão as temperaturas máximas variam de 28,5°C a 30°C entre os meses de novembro a março.
Já para os meses de inverno, entre junho a agosto, as temperaturas mínimas variam entre 11,3°C e 13,8°C.

3.2 Estudo de Caso: Blocos E e J


O complexo de prédios da Faculdade de Engenharia Mecânica (Figura 1) compreende 10 edifícios, sendo
nomeados de bloco B a Bloco K, todos possuindo três pavimentos. Encontram-se, também, nomeados por
seção direita e esquerda, por exemplo: bloco B, lado esquerdo e primeiro piso é nomeado de BE1. Os blocos
são interligados por corredores edificados, contendo salas hall ou não.
Especificamente neste trabalho, foram analisadas uma sala no segundo pavimento do bloco E e uma
no terceiro pavimento do bloco J, onde há o exercício de atividades classificadas como
“Escola/Universidade”, para a aplicação do método WebPrescritivo (2010), uma vez que ambas
correspondem a salas utilizadas por alunas de pós-graduação e de dois professores. As salas estudadas são a
JD 308, utilizada por professores, e a EE 202, por alunas de pós-graduação.
Ressalta-se que não havia arquivos na extensão dwg disponibilizados pela Universidade, sendo
necessária a elaboração da planta em AutoCad, para obtenção dos parâmetros necessários. A partir daí, pôde-
se realizar o estudo da direção das fachadas destes edifícios, que apresentam predominância de sol nas
fachadas nordeste e sudoeste. Nas Figuras 2 e 3 estão identificadas as salas para análise.

Figura 1 - Imagem aérea da FEM (Google Maps)

Todos os ambientes analisados (Figuras 2 e 3) são compostos por uma mesma envoltória: paredes de
bloco de concreto com revestimento cerâmico, janelas do tipo basculante, contendo aparelhos de ar-
condicionado de janela para a sala JD 308 e split para a EE 202, iluminadas por meio de lâmpadas tubulares
fluorescentes.

944
Figura 2 - Localização da sala analisada (EE 202) em seu respectivo bloco E

Figura 3 - Localização da sala analisada (JD 308) em seu respectivo bloco J

3.3 Equipamentos de Medição


Foram utilizados um conjunto contendo os seguintes equipamentos: termo higrômetro digital da marca
Testo, modelo 175-H1, Termômetro digital da marca Testo, modelo 175-T2, Anemômetro digital da marca
Testo, modelo 405V. Os equipamentos foram fixados em tripé com altura de 1,15cm, altura das pessoas
sentadas.
As figuras 4 e 5 apresentam as imagens dos equipamentos e sua localização nos ambientes
pesquisados, sala EE 202 e sala JD 308.

Figura 5 - Ponto de Medição sala JD 308 -


Figura 4 - Ponto de Medição sala EE
FEM (acervo pessoal)
202 - FEM (acervo pessoal)

As variáveis ambientais foram coletadas nos seguintes horários: 9h00, 11h30, 14h00 e 16h30.
Concomitantemente, nesses mesmos horários, foram aplicados os questionários de sensação e preferência
térmicas. A partir do registro das variáveis ambientais, bem como de dados fornecidos pelo CEPAGRI
(temperaturas e umidades externas), foi realizada a análise dos ambientes.

945
4. RESULTADOS
4.1. Etiquetagem
Foi realizada a avaliação do nível de eficiência energética pelo método prescritivo, descrito no Regulamento
Técnico da Qualidade de Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos (RTQ-C, 2017). Utilizou-se a
ferramenta online WebPrescritivo (2010), disponível no site do LabEEE, para o preenchimento dos dados
das edificações. Essa ferramenta facilita a aplicação das equações, inclui a verificação dos pré-requisitos e
fornece o nível de eficiência final da edificação.
A partir do WebPrescritivo (2010), foi realizada a etiquetagem dos blocos (envoltória) e das salas
(iluminação e condicionamento de ar), gerando os seguintes resultados, demonstrados na Tabela 1. O RTQ-C
(2017) permite que, para os quesitos iluminação e ar condicionado, sejam avaliadas algumas salas ou o
edifício como um todo.

Tabela 1 - Resultados da aplicação do método WebPrescritivo para os blocos/salas em análise

S ALA QUES ITO ENVOLTÓRIA ILUMINAÇÃO AR CONDICIONADO


EE202
ETIQUETA C B B

S ALA JD PARÂMETRO ENVOLTÓRIA ILUMINAÇÃO AR CONDICIONADO


308
ETIQUETA C B E
Nota-se que tanto para a envoltória quanto para a iluminação, ambas as salas obtiveram a mesma
etiqueta; isso se deve tanto a tipologia construtiva, bem como a mesma quantidade e tipo de luminárias
destes ambientes. Contudo, destaca-se o fato de que há uma grande discrepância entre as etiquetas
relacionadas ao condicionamento de ar. Isto pode ser explicado pela diferença de modelos de
condicionadores de ar, uma vez que o aparelho da sala JD 308 equivale a um dispositivo de janela com
muitos anos de uso e, portanto, tecnologia de certo modo ultrapassada quanto a eficiência energética e de
condicionamento. Já o aparelho da sala EE 202 é um modelo split com etiqueta de eficiência própria,
fornecida pelo fabricante. Assim, a competência dos aparelhos torna-se uma variável de grande relevância
quanto ao desempenho energético pretendido para ambos os ambientes.
Ressalta-se que o projeto como um todo (parceria entre CPFL e Unicamp) pretende realizar um retrofit
no sistema de iluminação e ar condicionado de diversos edifícios da Unicamp. Nessa fase da pesquisa, foram
analisados os ambientes com os equipamentos antigos e, na fase posterior, será realizada a troca dos
equipamentos para condicionadores e lâmpadas mais eficientes energeticamente.

4.2. Conforto Térmico


Conforme Gonçalves e Bode (2015), o conforto térmico é um tema multidisciplinar. Envolve aspectos de
projeto, engenharia, biometeorologia, fisiologia humana e psicologia. Como o corpo humano tem sua própria
temperatura e regula as respostas ao meio ambiente, a resposta de um ocupante é fortemente dependente de
sua condição física e da sua capacidade de adaptação.
As medições das variáveis ambientais ocorreram nos dias 13 e 14 de novembro de 2018, às 9h00,
11h30, 14h00 e 16h30. A condição climática foi previamente monitorada, e foram selecionados dias com
temperaturas entre 29 e 33°C para as medições das variáveis ambientais e aplicação dos questionários.
Nesses mesmos horários, foram aplicados questionários de sensação e preferência térmicas, aos usuários do
espaço. Os questionários, no total de 32, foram aplicados a todos os usuários das salas: uma delas utilizada
apenas por uma pessoa, e a outra por três pessoas. Os questionários continham questões pessoais (idade,
sexo, atividade, dentre outras) e questões sobre a sensação e a preferência térmicas.
As Figuras 6 e 7 ilustram o comportamento das variáveis ambientais, obtido pela média dos valores
entre os dois dias analisados.

946
Figura 6 - Variáveis ambientais da sala EE202 Figura 7 - Variáveis ambientais da sala JD308

Pode-se observar que os valores das temperaturas externas foram maiores que os das temperaturas
internas, principalmente no período vespertino, chegando a uma diferença de até 5ºC na sala EE202
(predominância de sol no período da manhã) e de 7ºC na sala JD 308 (predominância de sol no período da
tarde). Como nas duas salas o ar condicionado permanece ligado praticamente o dia todo, as temperaturas
internas se mantiveram sempre menores que as externas.
Nota-se, também, que, no período vespertino, a umidade relativa se apresentou maior no ambiente
externo que no interno, podendo-se dizer que o uso do ar condicionado contribuiu para a diminuição da
umidade, uma vez que há condicionamento artificial de ar praticamente o dia todo.
Além disso, os valores das temperaturas de bulbo seco e da temperatura radiante média foram
similares, podendo-se dizer que não existem grandes fontes radiantes.
Em relação a avaliação dos questionários, as figuras 8 e 9 ilustram a sensação e preferência térmicas
médias dos usuários, nos dois dias de medição.

Figura 8 - Respostas de sensação e preferência térmicas dos Figura 9 - Respostas de sensação e preferência térmicas dos
usuários da sala EE202 usuários da sala JD308
De modo geral, observa-se, como esperado, que quando as temperaturas são maiores, há uma sensação
de desconforto para calor e uma preferência para o frio. Esses resultados são confirmados também a partir da
avaliação dos questionários. Além disso, as maiores diferenças entre sensação e preferência térmica
ocorreram nos horários de maior temperatura.
Comparando-se as duas salas, observa-se comportamentos distintos ao longo do dia, o que pode ser
explicado devido às diferentes orientações desses ambientes. Também em relação ao condicionamento do ar.
O aparelho é ligado no início da manhã, às 9h00 horas, desligado às 11h30, voltando a ser ligado às 14h00.
Nesse horário, em que a temperatura externa já está mais elevada, há uma certa “demora” para atingir uma
temperatura que os usuários consideram “confortável”, principalmente, ambientes com orientação oeste
como é o caso da JD308.
Observa-se na sala JD308, uma sensação de ligeiro frio às 11h30 e uma preferência de pouco calor,
enquanto que no período da tarde há a sensação de pouco calor e a preferência por pouco frio; isso pode ser
explicado pela orientação a oeste com incidência solar no período da tarde, bem como pelos horários de
acionamento e desligamento ar condicionado: sendo ligado logo no início da manhã, às 11h30, após
algumas horas de funcionamento, a sensação dos usuários é de ligeiro frio.
Na sala EE202 nota-se sensação de pouco calor no início da manhã e uma preferência por pouco frio,
enquanto que no período vespertino há a sensação de calor às 14h00 e a preferência pela neutralidade

947
térmica. Deve-se considerar que o posicionamento das salas interferiu na sensação dos usuários de ambos os
ambientes.
A Tabela 2 mostra as categorias de ambiente térmico aceitáveis, de acordo com a ISO 7730 (2005),
apud Lamberts (2011).
Tabela 2 - Categorias de ambiente térmico
CATEGORIA PEI (%) VME
A <6 -0,2 < VM E < +0,2
B < 10 -0,5 < VM E < +0,5
C < 15 -0,7 < VM E < +0,7
(ISO 7730, 2005 apud Lamberts, 2011, adaptada)

Os resultados do PEI (porcentagem estimada de insatisfeitos) e do VME obtidos neste trabalho estão
ilustrados nas Tabelas 3 e 4.

Tabela 3 - Dados de PEI e VME para a Sala EE202 Tabela 4 - Dados de PEI e VME para a Sala JD308

Pode-se perceber que os resultados obtidos nas duas salas analisadas se encaixam na Categoria C da
Tabela 2. A ASHRAE (2017) considera um ambiente termicamente confortável quando não há mais de 10%
de ocupantes insatisfeitos. Dessa forma, pode-se dizer que as duas salas seriam consideradas desconfortáveis.
Ao se confrontar a Categoria C de ambiente térmico com o nível C de eficiência energética obtido para
a envoltória da edificação, sugere-se que, se a envoltória fosse melhor classificada, o ambiente térmico
também poderia atingir uma melhor classificação.

5. CONCLUSÕES
As etiquetas de eficiência energética obtidas pelas salas analisadas demonstram uma tendência de inter-
relação entre a eficiência da envoltória com o desempenho térmico do ambiente e a sensação térmica dos
usuários, ainda que estes possam se valer de artifícios como condicionamento artificial para se atingir níveis
de neutralidade térmica. Ainda que localizadas em regiões diferentes na edificação, as salas não se
mostraram capazes de prover o bem-estar pleno dos usuários, evidenciando-se que o método construtivo
empregado na edificação possa não ter sido a melhor opção, dentre as possíveis soluções.
Considera-se ainda que o conforto térmico é um parâmetro subjetivo e sua medição é feita de modo
laborioso, levando em consideração aspectos individuais dos usuários e acarretando em resultados distintos
de um usuário para outro. Para uma análise mais aprofundada se faz necessária uma coleta de dados de
conforto térmico mais ampla e que contemple mais salas da edificação.
Entretanto, pode-se perceber, tanto pelos dados de envoltória, iluminação, ar-condicionado e conforto
térmico, que a edificação apresenta resultados térmicos insatisfatórios, que se traduzem em altos custos de
energia com condicionamento de ar.
Também vale ressaltar que o condicionamento dos recintos fica a cargo dos próprios usuários e por
conta desse fator, podem ocorrer discrepâncias quanto ao real conforto térmico no local, uma vez que
dependendo da localização deste no ambiente pode ocorrer maior ou menor influência da radiação solar, bem
como estar sob maior ou menor interferência dos aparelhos condicionadores de ar. Estes últimos também se
mostraram determinantes para o alcance maior ou menor de eficiência energética, uma vez que as
tecnologias dos aparelhos diferem de uma sala para outra.
É importante frisar que a análise das condições ambientais do edifício onde se encontram as salas pode
contribuir para os estudos de eficiência energética em ambientes dessa natureza para as finalidades propostas
por eles. Pode-se assim, contribuir também, para a adequação ambiental desses ambientes, desde a
concepção do projeto até as etapas finais, propiciando melhores condições de trabalho aos usuários.

948
Além disso, deve-se ressaltar a complexidade das edificações públicas universitárias, principalmente
em relação a diversificação de ambientes, usos e ocupações, o que torna o trabalho investigativo desafiador
e, ao mesmo tempo gratificante.
Como continuação da pesquisa, sugere-se uma análise estatística dos dados, além do registro do
desconforto local pelo usuário, e também a proposição de melhorias e/ou intervenções com vistas a obter um
melhor nível de eficiência energética.
Por fim, como este trabalho faz parte de um grande projeto em parceria entre Unicamp e CPFL, serão
analisadas outras tipologias de edifício e ambientes representativos, o que resultará em um grande acervo de
dados para pesquisas e análises posteriores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Parte 1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro, 2013.
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15220-3: Desempenho térmico de edificações - Parte 3:
Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social. Rio de Janeiro,
2005.
ASHRAE – AMERICAN SOCIETY OF HEATING, REFRIGERATING AND AIR-CONDITIONING ENGINEERS. 2017
ASHRAE Standard 55. cap. 8. Thermal Comfort. Atlanta, 2017.
BALANÇO ENERGÉTICO NACIONAL 2018: ANO BASE 2017. Relatório Final. Rio de Janeiro, 2018.
CEPAGRI. Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas a Agricultura. Disponível em:
<http://www.cpa.unicamp.br/outras-informacoes/clima-de-campinas.html> Acesso em: 21 de março de 2019.
CHVATAL, K. M. S.; LABAKI, L. C.; KOWALTOWSKI, D. C. C. K. Caracterização de Climas Compostos e Proposição de
Diretrizes para o Projeto Bioclimático: O Caso de Campinas. In: ENCAC 1999 - V Encontro Nacional de Conforto no
Ambiente Construído e II Encontro Latino Americano de Conforto no Ambiente Construído, Fortaleza, 1999.
CONSELHO BRASILEIRO DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL. Aspectos da Construção Sustentável no Brasil e Promoção
de Políticas Públicas: subsídios para a promoção da construção civil sustentável. Ministério do Meio Ambiente.
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), 2014.
COUTINHO, B. Análise de Conforto Térmico em Ambientes Naturalmente Ventilados: Um Exemplo Em Restaurante
Universitário - Universidade Estadual de Campinas, 2014. Acesso em 28 de março de 2019.
ELETROBRÁS. Relatório Anual - 2018. Ministério de Minas e Energia e Eletrobrás, 2018.
GONÇALVES, J.C.S; BODE, K. Edifício Ambiental. São Paulo: Oficina de Textos, 2015
IHARA, T.; GUSTAVSEN, A.; JELLE, B. P. Effect of Facade Components on Energy Efficiency in Office Buildings. Applied
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ISO 7730:2005 - Ergonomics of the thermal environment - Analytical determination and interpretation of thermal comfort
using calculation of the PMV and PPD indices and local thermal comfort criteria. ISO 2005.
KRSTIĆ-FURUNDŽIĆ, A.; KOSIĆ, T. Assessment of Energy and Environmental Performance of Office Building Models: a
case study. Energy and Buildings, v. 115, p. 11-22, 2016.
LAMBERTS, R. Conforto e Stress Térmico - Universidade Federal de Santa Catarina - Centro Tecnológico Departamento de
Engenharia Civil. Laboratório de Eficiência Energética em Edificações, 2011.
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WEBPRESCRITIVO. Ferramenta de Avaliação de Eficiência Energética de Edificações Comerciais pelo Método Prescritivo
do RTQ-C. Projeto S3E. Convênio FINEP 01.09.0440.00/CT-Energia/Ref.:0509/08. 2010. Disponível em:
<http://www.labeee.ufsc.br/sites/default/files/webprescritivo/index.html>. Acesso em: 14 abr.2019.

AGRADECIMENTOS
À CPFL - Companhia Paulista de Força e Luz do Estado de São Paulo e à ANEEL pela concessão de bolsas
para as pesquisas e apoio ao Projeto “Campus Sustentável”.
À FEM - Faculdade de Engenharia Mecânica, por permitir que realizasse as pesquisas em suas
dependências.
Ao NIPE, Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético, pelo apoio organizacional.

949
ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE CONFORTO TÉRMICO DOS USUÁRIOS
EM AMBIENTES NATURALMENTE VENTILADOS: SIMULAÇÃO
APLICADA À EDIFICAÇÃO ESCOLAR PÚBLICA
Ludmylla Faria de Freitas (1); Raquel Diniz Oliveira (2); Frederico Romagnoli S. Lima (3)
(1) Engenheira, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, ludfreittas@gmail.com
(2) Doutora, Professora do Departamento de Engenharia Civil, raqueldiniz@cefetmg.br
(3) Doutor, Professor do Departamento de Engenharia Mecânica, fredericolima@cefetmg.br
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Av. Amazonas 7675, Belo Horizonte-MG,
30510-000

RESUMO
Ambientes confortáveis termicamente tendem a aumentar a produtividade das atividades humanas. Verifica-
se que, sob o efeito de temperaturas inadequadas, ruído excessivo e/ou iluminação insatisfatória, os
indivíduos tendem a buscar meios para garantir melhores condições para utilização do espaço, especialmente
em instituições de ensino, cujo desconforto ambiental pode influenciar negativamente no desempenho dos
alunos. Em muitos casos, para se atingir o parâmetro conforto térmico dos usuários, a solução universal
proposta para edificações comerciais e/ou públicas consiste no uso de condicionamento artificial. Tal
estratégia, entretanto, pode divergir das recomendações ligadas aos parâmetros de sustentabilidade,
conservação de recursos e eficiência energética. Assim, discussões acerca da adoção de estratégias passivas
para a climatização de ambientes têm se tornado recorrentes em busca da redução no consumo energético.
Nesse contexto, o presente estudo objetiva analisar as condições de conforto térmico propiciadas no Prédio
12 do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), localizado na cidade de Belo
Horizonte-MG. Para tanto, aplicou-se o método de simulação computacional estabelecido no Regulamento
Técnico da Qualidade para Nível de Eficiência Energética de Edificações Comerciais, de Serviços e Públicas
(RTQ-C), para quantificar as horas em conforto e desconforto térmico dos ambientes naturalmente
ventilados. Complementarmente, analisou-se possíveis medidas que propiciem a melhoria das condições de
conforto térmico do prédio em questão. Os resultados indicaram a possibilidade de obtenção de maiores
índices de conforto por meio de estratégias passivas aliadas a modificações construtivas, tais como alteração
do tipo de vidro, cobertura e brises da edificação. Este estudo apresenta, portanto, estratégias alternativas ao
uso de climatização artificial, fato que acarretaria em um maior consumo de eletricidade para o edifício.
Palavras-chave: conforto térmico; simulações termo energéticas; RTQ-C; ventilação natural, EnergyPlus.

ABSTRACT
The human productivity level related to their activities can be improved in thermally comfortable rooms.
People use to seek ways to ensure better environmental conditions, especially in scholar contexts that the
compliance of its lighting systems and its building thermal acoustic parameters play an important role for
student performances. Artificial conditioning systems can be used, in some cases, as a universal solution to
provided indoor thermal comfort for commercial and public buildings. However, this strategy contradicts
concerns regarding sustainable issues, natural sources conservation and energy efficiency. Thus, passive
strategies debate showed its crucial importance to reduce building energy consumption. In this context, the
aim of this work was to analyse the thermal comfort conditions provided in Building 12 of the Federal
Center for Technological Education of Minas Gerais (CEFET-MG), located in Belo Horizonte, Brazil.
Building simulation was carried out to quantify the thermal comfort and discomfort hours according to
Brazilian Building Energy Efficiency Regulation (RTQ-C). As results, passive strategies combined with
constructive changes i.e., glass type, roof materials and building shading devices can lead to better comfort
levels. This study presents, therefore, alternative strategies to artificial conditioning systems adoption, that
imply in greater electricity consumption for buildings.
Keywords: thermal comfort; thermoenergetic simulations; RTQ-C; natural ventilation; EnergyPlus

950
1. INTRODUÇÃO
Conforme dados do Anuário Estatístico de Energia Elétrica 2017 (EPE, 2017), o consumo de energia elétrica
no Brasil foi da ordem de 460.829 GWh, sendo os setores comercial e público responsáveis por 28% do
consumo total, ou seja, 128.032 GWh. Cerca de 70% da energia consumida é direcionada à obtenção do
conforto térmico dos usuários, por meio do uso de sistemas de ar condicionado e iluminação (CORCUERA,
1999; SOLOMON, 2007). Cabe salientar que, o conforto térmico é um aspecto importante que não deve ser
preterido em busca da redução do consumo de energia elétrica, uma vez que ambientes confortáveis
termicamente tendem a aumentar a produtividade dos usuários, assim como níveis desconfortáveis de
temperatura provocam redução na eficiência das atividades humanas. Verifica-se que, sob o efeito de
temperaturas elevadas, ruído excessivo e/ou iluminação inadequada os indivíduos tendem a buscar meios
para garantir melhores condições para utilização do espaço, especialmente em instituições de ensino, cujo
desconforto ambiental pode influenciar negativamente no desempenho dos alunos (LORCH E ABDOU,
1994; KOWALTOWSKI et al, 2001).
Com intuito de avaliar o nível de eficiência energética em edificações comerciais, de serviços ou
públicas o Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) criou, em 2009, o Regulamento Técnico da Qualidade
para Nível de Eficiência Energética de Edificações Comerciais, de Serviços e Públicas (RTQ-C),
apresentando procedimentos para enquadramento do edifício analisado em um dos cinco níveis de eficiência
dos edifícios: A, B, C, D, E, sendo A o mais eficiente e E o menos eficiente. Cabe ressaltar que, para atingir
a eficiência energética em um edifício, se faz necessário a manutenção das condições adequadas de conforto
térmico dos usuários por meio de um sistema de condicionamento artificial de ar com consumo de energia
reduzido (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014). Sendo assim, o RTQ-C estabelece método de simulação
que avalia, também, o conforto térmico em ambientes naturalmente ventilados e apresenta, assim como na
classificação de eficiência, cinco níveis de avaliação, sendo o nível A o mais confortável termicamente em
relação ao número de horas dentro de uma faixa de temperatura de referência.
De acordo com Lorsch e Abdou (1994), em busca de ambientes adequados em relação ao parâmetro de
conforto térmico, a solução universal proposta para edificações comerciais e públicas é o uso de
condicionamento artificial. Contudo, tal estratégia contraria preocupações acerca de consumo sustentável e
conservação de energia. Assim, discussões acerca da adoção de ventilação natural como estratégia passiva
para a climatização de ambientes têm se tornado cada vez mais recorrentes em busca da redução no consumo
energético. Para Brager et al. (2004), proporcionar aos usuários o controle das variáveis ambientais,
permitindo uso de ventiladores e abertura de janelas, tendem a elevar a expectativa dos ocupantes com
relação ao clima interno, resultando em aumento na produtividade, bem-estar e conforto térmico dos
mesmos. Desse modo, a adoção da ventilação natural como estratégia para a climatização, quando projetada
adequadamente, apresenta resultados tão efetivos quanto o condicionamento artificial na manutenção das
condições de conforto térmico dos usuários (CHOW et al., 2010).
Bellia el at. (2014) realizaram estudos utilizando dispositivos de proteção solar como estratégia
passiva de conforto térmico, evitando o aumento da temperatura interna dos ambientes, reduzindo,
consequentemente, o consumo de energia destinada a condicionamento artificial. Zhao e Yang (2017)
ressaltam que, em regiões nas quais o calor predomina, pode-se investir em medidas de sombreamento e
isolamento de janelas exteriores. Para Wang el at. (2014), é imprescindível a adoção de medidas mais
sustentáveis nas edificações que garantam tanto os níveis de conforto ambiental quanto a redução do
consumo energético. Dos Santos el at. (2017) em seu estudo de análise de conforto térmico em escolas
públicas na cidade de João Pessoa/PB, observou que a orientação, forma e materiais constituintes das salas
de aula analisadas contribuíam para a retenção do calor nos ambientes e ressaltou a necessidade de
intervenções a serem realizadas nos edifícios escolares que visem à melhoria das condições ambientais para
usuários de escolas públicas do país. Para Nico-Rodrigues el at. (2015) a utilização de janelas mais eficientes
para ventilação natural como condicionamento térmico passivo contribui para melhoria do conforto térmico
em ambientes naturalmente ventilados. Cabe ressaltar que cada projeto deve ser combinado às suas próprias
circunstâncias e condições específicas do local, por isso cada edifício requer uma análise individualizada
levando em consideração suas características específicas (ZHAO & YANG, 2017).

2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é quantificar o percentual das horas anuais de conforto térmico dos ambientes
naturalmente ventilados de uma edificação escolar pública e propor estratégias que busquem a melhoria do
conforto térmico dos usuários.

951
3. MÉTODO
O método deste trabalho está dividido em cinco etapas principais:
1. Caracterização do objeto de estudo;
2. Modelagem e simulação do edifício conforme parâmetros do RTQ-C (2014);
3. Avaliação das condições de conforto do modelo, conforme limites de conforto térmico da norma
ASHRAE 55/2010;
4. Proposição de um novo modelo com estratégias para melhoria das condições de conforto térmico
dos usuários;
5. Análise das condições de conforto dos modelos original e proposto por meio dos parâmetros da
ASHRAE 55/2010.
3.1. Caracterização do objeto de estudo
O presente estudo baseia-se no Prédio 12, construído no ano de 2005 e localizado no campus II do Centro
Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), na cidade de Belo Horizonte (Latitude:
19º28’ Sul, Longitude: 43º57’ Oeste; Altitude: 767 m), localizada no Estado de Minas Gerais com clima
subtropical úmido, temperaturas médias anuais entre 17 e 20°C e índices pluviométricos em torno de 1.300
mm anuais (CORREA et. al, 2005).
A edificação analisada trata-se de um prédio público e naturalmente ventilado, utilizado para fins
educacionais, composto por dois pavimentos, que reúnem salas de aula, laboratórios, auditório e banheiros
destinados aos alunos dos cursos Técnico em Edificações e Engenharia de Produção Civil, além de
instalações administrativas do Departamento de Engenharia Civil (DEC) como, sala dos professores e
gabinetes dos coordenadores e docentes. Nas Figura 1 e 2 estão representadas as plantas baixas do primeiro e
segundo pavimento do Prédio 12, respectivamente.

Figura 1 - Planta baixa 1º pavimento Prédio 12 Figura 2 - Planta baixa 2º pavimento Prédio 12
(Adaptado de CEFET-MG, [201-]). (Adaptado de CEFET-MG, [201-]).
Por meio do projeto arquitetônico legal e executivo fornecidos pela Divisão de Projetos do CEFET-
MG foi possível obter informações acerca de dados construtivos do edifício, localização e orientação das
fachadas. Complementarmente foram realizadas visitas em campo para coleta de dados sobre a edificação em
questão, uma vez que nem todas as informações dos projetos eram condizentes com a realidade
especialmente no que tange dados relacionados à iluminação e equipamentos instalados na edificação.
Mediante consultas dos horários das aulas e funcionamentos dos setores do DEC obteve-se dados acerca das
rotinas de uso e ocupação dos ambientes bem como especificações dos equipamentos contidos nos
laboratórios e salas de aula.

3.2. Modelagem e simulação do edifício conforme parâmetros do RTQ-C


Conforme especificações do método de simulação computacional do RTQ-C (2014), foram desenvolvidos
modelos computacionais a serem submetidos à simulação termo energética.

3.2.1. Modelo real


A edificação selecionada serviu como referência para a avaliação das condições de conforto térmico por
meio dos parâmetros estabelecidos pelo método de simulação do RTQ-C (INMETRO, 2014).
Realizou-se a modelagem simplificada da geometria tridimensional do prédio selecionado com auxílio
do software gratuito SketchUp Make versão 2017. Com auxílio do plugin Euclid versão 0.9.3 fez-se a
compatibilização do SketchUp com o EnergyPlus versão 8.7.0, programa computacional de simulação termo

952
energética gratuito escolhido para realização da simulação de modo a atender aos parâmetros estabelecidos
no método de simulação computacional do RTQ-C (INMETRO, 2014).
Para desenvolvimento do modelo real foram adotados dados de entrada no EnergyPlus conforme as
características do Prédio 12. Tais dados de entrada foram definidos pelos seguintes parâmetros:
características construtivas da edificação (propriedades térmicas dos materiais e composições construtivas),
horário em que as janelas e portas estão abertas ou fechadas, quantidade de pessoas dentro do ambiente ao
longo do dia e sua taxa metabólica, potência dos equipamentos elétricos e do sistema de iluminação,
temperatura do solo e demais características da edificação em questão.

3.2.2. Modelo de referência


O método de simulação estabelece que, além do modelo real do edifício originalmente proposto, deve ser
desenvolvido também, a título de comparação, um modelo de referência com parâmetros do nível de
eficiência e/ou conforto que se deseja obter.
Para elaboração do modelo de referência, as características de geometria, orientação, carga interna,
padrão de uso e sistema de condicionamento de ar devem ser mantidas semelhantes às características da
edificação analisada, já parâmetros relacionados à envoltória e sistema de iluminação devem ser adequados e
calculados conforme nível pretendido. Como o presente estudo busca a otimização do conforto térmico dos
usuários, foram adotados, para elaboração do modelo de referência, os parâmetros do nível A, que apresenta
melhores índices para propiciar a melhoria do conforto.
Os modelos real e de referência devem ser elaborados e simulados utilizando mesmos programas e
arquivos climáticos, ademais, ambos devem apresentar características idênticas quanto à orientação em
relação ao norte geográfico, geometria, padrão de uso e operação de sistemas, carga interna de equipamentos,
tipo de sistema de condicionamento de ar e tipo de uso de pessoas, o que permite que os mesmos sejam
comparados, e possibilita a avaliação dos sistemas em questão (INMETRO, 2016).

3.3. Avaliação das condições de conforto do modelo, conforme limites de conforto térmico da
norma ASHRAE 55/2010
Por meio dos resultados obtidos a partir da simulação dos modelos real e de referência, obteve-se os dados de
saída referentes às temperaturas operativas da edificação. Tais resultados foram utilizados na avaliação das
condições de conforto térmico dos usuários por meio do percentual de horas ocupadas em conforto (POC) e
percentual de horas ocupadas em desconforto (POD), de acordo com os limites da faixa aceitável de conforto
térmico estabelecidos na norma ASHRAE 55/2010, conforme disposto no método de simulação
computacional estabelecido no RTQ-C (INMETRO, 2014).
Para avaliação do conforto pelo modelo presente na ASHRAE 55/2010, utilizou-se as temperaturas
predominante externas (Tpe), contidas no arquivo climático TRY de Belo Horizonte, utilizado também nas
simulações. Com posse das Tpes, calculou-se a temperatura neutra (Tn), bem como os limites superior e
inferior de conforto térmico para 80% de usuários satisfeitos, conforme Figura 3.

Figura 3 - Relação entre temperatura operativa interna e temperatura média mensal externa (SILVEIRA, 2014 p.27).

Com posse dos resultados de temperatura operativa interna dos ambientes obtidos por meio do método
de simulação do RTQ-C e dos dados de temperatura limite superior e inferior de conforto térmico da
ASHRAE 55/2010, foi elaborada uma planilha comparativa para verificação da condição de conforto no
interior do edifício.

953
As temperaturas operativas internas que se enquadraram dentro dos limites de conforto foram
contabilizadas como horas de conforto, já as temperaturas simuladas que se encontrassem acima do limite
superior ou abaixo do limite inferior foram contabilizadas como horas de desconforto. Por fim, com base nas
horas de conforto e desconforto contabilizadas, foram calculados o POC e POD para cada ambiente da
edificação.

3.4. Proposição de um novo modelo com estratégias para melhoria das condições de conforto
térmico dos usuários
A proposição de um novo modela dar-se-á mediante resultados obtidos por meio das simulações realizadas
no modelo original, caso seja observado ambientes com elevado percentual de horas em desconforto térmico.
Assim, caso aplicável o novo modelo composto irá contemplar estratégias que buscassem reduzir o
desconforto térmico no prédio, resultando na melhoria do conforto térmico dos usuários.

3.5. Análise das condições de conforto dos modelos original e proposto


Com posse da avaliação do POC obtida para os modelos real e proposto, conforme parâmetros da ASHRAE
55/2010, realizou-se análise comparativa entre as condições de conforto de ambos os modelos, avaliando o
potencial de performance das estratégias adotadas no modelo proposto em relação a redução do desconforto
térmico dos usuários

4. ANÁLISE DE RESULTADOS
O edifício em estudo foi avaliado utilizando o método de simulação computacional do RTQ-C atualizado em
2014. Foram analisados os modelos real, de referência e proposto. Os resultados obtidos em cada etapa são
apresentados abaixo.

4.1. Modelo real


O objeto de estudo apresenta fachada frontal orientada para o Norte, fachada posterior para o Sul, fachada
lateral esquerda para Oeste e a fachada lateral direita para o Leste. O prédio possui aberturas em todas as
fachadas, entretanto, possui dispositivos de proteção solar (brises horizontais fixos em alumínio) apenas na
fachada Norte, a fachada Oeste apresenta uma varanda coberta nos dois pavimentos e a fachada sul possui
uma rampa de acesso para o segundo andar.
As Figuras 4 e 5 apresentam a geometria do Prédio 12 desenvolvida para simulação, nas quais são
apresentadas, respectivamente, as fachadas Norte/Oeste com dispositivos de proteção solar e a cobertura das
varandas representados superfícies de cobertura na cor roxa, e a fachada Sul/Leste. As platibandas dos
telhados em torno de toda a edificação também foram representadas como superfícies de cobertura.

Figura 4 - Modelo computacional fachadas Norte/Oeste (OS Figura 5 - Modelo computacional fachadas Sul/Leste (OS
AUTORES). AUTORES).
Os ambientes foram divididos em 37 zonas térmicas, conforme Figuras 6 e 7, das quais 9 zonas são de
permanência transitória, sanitários, hall de entrada, corredores e 2 zonas correspondem à ambientes
condicionados artificialmente, auditório e área administrativa, que não compreendem ao objeto de estudo do
presente trabalho. Sendo assim, foram analisadas 26 zonas térmicas, que compreendem os ambientes de
ocupação prolongada sendo eles: 12 salas de aula, 11 laboratórios, 2 salas de projeto e 1 sala de monitoria.
Conforme dados obtidos nos projetos arquitetônicos, complementados por visitas de campo, verifica-
se que o Prédio 12 apresenta paredes de alvenaria de vedação de blocos cerâmicos de 30x20x10 cm e 2,0 cm
de argamassa interna e externa. As paredes são pintadas na cor amarelo ocre com textura grafiato
(externamente) e tons pasteis (internamente). Sua cobertura é composta por três águas e apresenta dois tipos
composição, com e sem a presença de forro de gesso. A Tabela 1 apresenta a composição detalhada da
parede e dos tipos de cobertura com e sem forro de gesso.

954
Figura 6 - Zonas Térmicas (ZT) 1º pavimento (OS AUTORES).

Figura 7 - Zonas Térmicas (ZT) 2º pavimento (OS AUTORES).

Tabela 1 - Tipologia e transmitância térmica (SÁ, 2018 p.40).


Tipologia Vedação Composição U (w/m²K)
1. Telha metálica (6,5 mm)
2. Câmara de ar (> 5 cm)
Cobertura (Tipo 1) 3. Laje maciça de concreto (8,0 cm) 1,36
4. Câmara de Ar (> 5 cm)
5. Forro de gesso (2 cm)

1. Telha metálica (6,5 mm)


Cobertura (Tipo 2) 2. Câmara de ar (> 5 cm) 2,15
3. Laje maciça de concreto (8,0 cm)

1. Argamassa interna (2,0 cm)


2. Bloco cerâmico (30 x 20 x 10 cm)
Parede 1,94
3. Argamassa externa (2,0cm)
4. Argamassa de assentamento (2,0cm)

A absortância à radiação solar da parede foi 0,76 e a da cobertura foi 0,96. A transmitância térmica da
parede foi 1,94 W/m²K, da cobertura tipo 1 (com gesso) foi 1,36 W/m²K e a da cobertura tipo 2 (sem gesso)
foi 2,15 W/m²K (SÁ, 2018). O vidro utilizado é de 4 mm com Fator Solar (FS) igual a 0,83. A Porcentagem
de Abertura na Fachada total é 14%, sendo a área total de abertura igual a 199,68 m².
Cabe ressaltar que, o programa EnergyPlus interpreta os materiais construtivos como camadas
dispostas transversalmente ao fluxo de calor, impossibilitando a modelagem de materiais de geometria
complexa como tijolos furados, por exemplo, sendo assim, os dados dos materiais foram inseridos de forma
simplificada, a partir da equivalência de suas propriedades (WEBER el at., 2017).
O nível de atividade metabólica e o calor dissipado por pessoa foram obtidos na NBR 16401-1
(ABNT, 2008). Adotando-se um nível de atividade moderada em trabalhos de escritório e o valor do calor
dissipado utilizado foi 120 W. Cada ambiente apresentava um padrão específico quanto à quantidade de
pessoas, horários de funcionamento, uso de equipamentos, uso de iluminação e periodicidade de aberturas de
portas e janelas, lançados conforme informações obtidas no DEC.
Com base nos resultados obtidos por meio da simulação computacional, que apresentavam duração,
em média, de 5 minutos, foi possível obter o percentual de horas de conforto obtido para cada zona térmica
do modelo real, apresentado na Figura . Tal percentual foi obtido por meio das temperaturas resultantes da
simulação computacional e a faixa de conforto da ASHRAE 55/2010 calculada com base nas temperaturas
do arquivo climático da cidade de Belo Horizonte – MG.

956
Figura 8 - POC por Zona Térmica para o modelo real (OS AUTORES).
Percebe-se que, quando a edificação é analisada como um todo, a média obtida atende ao requisito
mínimo de 80% de POC para ser considerado uma edificação nível A do RTQ-C (2014). Entretanto, analisar
apenas o valor médio de todos os ambientes não é suficiente para afirmar que a edificação apresenta conforto
térmico adequado aos usuários. Com isso, analisou-se, também, os ambientes separadamente verificando-se
que os ambientes localizados no 2º pavimento do prédio apresentam nível de D ou E, piores níveis
identificados no regulamento. Foi possível observar que a absortância solar e transmitância térmica da
cobertura sem o forro de gesso em sua composição apresentou valores superiores ao nível A, fato que pode
ter contribuído para o baixo POC dos ambientes do 2º pavimento. Portanto, para melhoria das condições de
conforto térmico do Prédio 12 do CEFET-MG faz-se necessário a adoção de novas estratégias que reduzam o
desconforto térmico.

4.2. Modelo de referência


O RTQ-C (2014) explicita a necessidade da elaboração de um modelo de referência para simulação,
utilizando os parâmetros especificados no nível de eficiência/conforto ao qual se deseja alcançar. Como o
presente estudo busca a otimização do conforto térmico dos usuários do objeto de estudo, adotou-se o nível
mais alto de conforto proposto pelo regulamento, nível A. A Tabela 2 apresenta os parâmetros adotados na
simulação conforme estabelecido no RTQ-C (2014).
Tabela 2 - Parâmetros adotados no modelo de referência nível A (OS AUTORES).
Característica da edificação Modelo de Referência
Geometria – dimensões Igual ao edifício proposto
Orientação Igual ao edifício proposto
Carga interna (DCI) Igual ao edifício proposto
Padrão de uso: Equipamentos e Pessoas Igual ao edifício proposto
Sistema de condicionamento de ar Igual ao edifício proposto
Parâmetros da Envoltória:
PAZ PAZ = 2%
PAFT PAFT = 18%
AVS e AHS AVS=AHS=0
Tipo de vidro Vidro simples, 3mm
Fator solar FS = 0,87
Transmitância térmica Ucob = 2,00W/m²K | Upar = 3,70W/m²K
Absortância Solar  ≤ 0,50
Sistema de iluminação DPI ≤ 10,7 W/m²
Após simulação do modelo de referência, foram obtidos os resultados do POC, conforme Figura , que
apresentam os resultados de POC para as 8760 horas anuais.

Figura 9 - POC por Zona Térmica para o modelo de referência (OS AUTORES).
Após a adoção dos parâmetros especificados para o nível A, foi possível observar uma melhoria das
horas de conforto dos ambientes que apresentavam baixo percentual de conforto no modelo real.
Entretanto, assim como o modelo real, o modelo de referência apresenta POC para atender aos
requisitos do nível A, mas quando a análise dos ambientes separadamente é realizada, todos os ambientes do
2º pavimento ainda apresentam POC inferior a 80%. Tal resultado demonstra que, apenas a adoção dos

957
parâmetros nível A não são suficientes para proporcionar melhoria significativa no percentual de horas em
conforto do Prédio 12.

4.3. Modelo proposto


Mediante constatação do alto percentual de horas em desconforto (POD) obtido no modelo real, observou-se
a necessidade da proposição de medidas que propiciassem a melhoria do conforto térmico dos usuários da
edificação. Como o modelo de referência apresentou uma melhoria no POC, os parâmetros de referência
foram adotados para elaboração do modelo proposto.
Complementarmente a tais parâmetros, adotou-se a telha sanduíche com EPS, que, apesar do memorial
descritivo da edificação apontar a utilização da mesma, por meio de visitas de campo ao prédio em questão
notou-se que tal tipo de cobertura não foi adotada na construção do edifício como especificado nos projetos.
Ademais, como os dispositivos de proteção solar utilizados na edificação encontram-se danificados, o que
pode influenciar negativamente seu desempenho, propôs-se a implantação de novos brises.
Com base nos dados de orientação da edificação, com fachada frontal deslocada 8º para a direito
enquadrando-se na orientação Norte, área de janela (306m²) e área de piso (1200m²), foi realizado o
dimensionamento de dispositivos de proteção solar que melhor se adequem às necessidades específicas da
edificação por meio do estudo da carta solar da cidade de Belo Horizonte (LABCON UFMG, [201-]). Com
posse da relação: janela > 25% da área de piso, foi possível obter os ângulos de projeto obtidos para cada
fachada do objeto de estudo.
A Figura 10 apresenta os dispositivos de proteção dimensionados para cada fachada, adotando
implantação de brises horizontais e verticais na fachada Norte, brises verticais na fachada Sul e horizontais
na fachada Leste. Não foram dimensionados brises para a fachada Oeste, uma vez que a mesma apresenta
varanda coberta nos dois pavimentos, que proporciona proteção solar das janelas.

Figura 10 - Dimensionamento de brises de projeto para fachadas Norte, Sul e Leste (OS AUTORES).

Na Figura 11 são apresentados os resultados do POC para o modelo composto pelas melhorias
propostas.

Figura 18 - POC por Zona Térmica para o modelo proposto (OS AUTORES).
Após elaboração do modelo proposto com adoção das medidas sugeridas para melhorar o POC da
edificação, foi possível perceber que, a maioria dos ambientes do Prédio 12 apresentaram POC superior a
80%, inclusive ambientes do 2º pavimento que apresentaram desempenho insatisfatório, conforme exigido
para classificação do nível A. Apesar de alguns ambientes do 2º pavimento ainda apresentarem POC inferior
a 80%, verificou-se uma melhoria significativa nas horas de conforto dos mesmos.

5. CONCLUSÕES
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou a análise do percentual de horas de conforto para os
ambientes naturalmente ventilados de uma edificação pública existente, Prédio 12 do CEFET-MG, por meio
da aplicação do método de simulação computacional do RTQ-C (2014). Cabe ressaltar que, foram relatadas
divergências entre as informações obtidas por projetos e visitas de campo realizadas no local, adotando-se as
informações constatadas em campo para que a simulação apresentasse resultados mais próximos ao
comportamento real do edifício.
O Prédio 12 como um todo apresentou 91% de horas ocupadas em conforto, enquadrando-se no nível
A, nível mais alto de conforto apresentado pelo regulamento. Entretanto, quando se realizou a análise dos
ambientes separadamente verificou-se que, determinadas zonas térmicas localizadas no 2º pavimento
apresentaram desconforto térmico por calor elevado. Após elaboração do modelo de referência, seguindo os

958
parâmetros do RTQ-C (2014), obteve-se uma melhoria no percentual de conforto, embora alguns ambientes
ainda tenham apresentado POC muito aquém ao nível A. Mediante verificação de resultados insatisfatórios
para o conforto térmico dos usuários, foi proposto um modelo com estratégias de melhoria, no qual 22 dos
26 ambientes analisados apresentaram POC superior a 80%, conforme exigido para o nível A e, apesar de 4
ambientes não apresentarem tal classificação, verificou-se uma melhoria significativa nas horas de conforto
dos mesmos.
Desta forma, foi possível aumentar o percentual de horas anuais de conforto por meio de estratégias
passivas aliadas a modificações construtivas, descartando a utilização de aparelhos de condicionamento
artificial que poderiam aumentar o consumo elétrico do edifício e comprometer sua eficiência energética.
Cabe destacar que, as estratégias passivas devem estar dimensionadas de acordo com as características da
edificação. Cumpre destacar que os brises originais dificultavam a ventilação natural dos ambientes em
virtude do potencial de sombreamento reduzido devido ao seu dimensionamento inadequado e danos físicos
apresentados.
Dada à relevância do assunto, é importante salientar que, ainda que seja possível adequar uma
edificação já existente a fim de proporcionar sua eficiência termo energética, a etapa de projeto é a mais
adequada para planejar tais estratégias. Na fase de concepção do empreendimento existe uma maior
disponibilidade de recursos a serem planejados e o custo de implantação é reduzido em comparação com as
fases posteriores. O presente estudo apresentou contribuição prática ao identificar uma solução para um
problema real, e acadêmica ao servir de base para estudos semelhantes.

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AGRADECIMENTOS
Ao Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFETMG) pelo auxílio ao desenvolvimento
deste trabalho.

960
ANÁLISE DE INCERTEZAS DE PARÂMETROS AMBIENTAIS PARA
CONFORTO TÉRMICO HUMANO
Eliane H. Suzuki (1); Brenda C. C. Leite (2); Racine T. A. Prado (3)
(1) Arquiteta, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica, eliane.suzuki@usp.br.
Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Laboratório de Sistemas Energéticos Alternativos. Av. Prof.
Mello Moraes, 2231, Cidade Universitária, São Paulo-SP, 05508-030, (11) 3091-9671.
(2) PhD, Professora do Departamento de Engenharia de Construção Civil, bccleite@usp.br. Universidade de
São Paulo. Escola Politécnica. Av. Prof. Almeida Prado, trav.2, n 83, Cidade Universitária, São Paulo-SP,
05508-070.
(3) PhD, Professor do Departamento de Engenharia Mecânica de Energia e Fluidos, racine.prado@usp.br.
Universidade de São Paulo. Escola Politécnica.

RESUMO
A avaliação de ambientes para conforto térmico humano é parametrizada por normas nacionais e
internacionais, a partir do estudo de Fanger. A equação de balanço térmico, adaptada para o cálculo do PMV
(Predicted Mean Vote - Voto médio estimado) é uma função com seis parâmetros principais, sendo dois
pessoais e quatro ambientais. Tais parâmetros ambientais podem ser obtidos a partir de medições, por
instrumentação adequada, de acordo com os critérios da norma ISO 7726. Como há vários parâmetros a
serem avaliados de forma simultânea, faz-se necessário considerar a incerteza combinada, para determinar a
influência de cada parâmetro no valor final de PMV. O resultado de incerteza de ± 0,13 evidencia que os
critérios da norma ISO 7730 para PMV estão muito rigorosos para avaliação de ambientes térmicos, pois a
variação de PMV em torno da neutralidade para a categoria A tem valor próximo à incerteza padrão
combinada, por isso, o PMV não deveria ser considerado de forma isolada para classificação do ambiente
térmico.
Palavras-chave: conforto térmico, PMV, análise de incerteza.

ABSTRACT
The evaluation of environmental conditions for thermal comfort is parameterized by national and
international standards, based on the Fanger study. The thermal balance equation, adapted for the calculation
of the PMV (Predicted Mean Vote) is a function with six main parameters, being two personal and four
environmental. Such environmental parameters can be obtained from measurements, by appropriate
instrumentation, according to ISO 7726 criteria. Since there are several parameters to be evaluated
simultaneously, it is necessary to consider the combined uncertainty to determine the influence of each
parameter on the final value of PMV. The uncertainty of ± 0.13 shows that the ISO 7730 criteria for PMV
are very strict for the evaluation of thermal environments, since the PMV variation around neutrality for
category A has a value close to the combined standard uncertainty. For this, PMV should not be the only
parameter considered to classify the thermal environment.
Keywords: thermal comfort, PMV, uncertainty analysis.

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1. INTRODUÇÃO
Conforto térmico é a condição da mente que expressa satisfação com o ambiente térmico (ASHRAE 55,
2013).
Como a definição de conforto em geral varia muito, pois abrange tanto a percepção individual no
ambiente (quente/frio, úmido/seco, ruidoso/ silencioso, claro/escuro) como a intensidade desta sensação (por
exemplo, muito quente ou muito frio), de acordo com Rohles et al. apud ASHRAE (2009), a aceitabilidade
pode representar um conceito mais útil de avaliar a resposta do usuário, pois permite uma progressão em
direção a um objetivo concreto. A aceitabilidade implicou na criação de normas sobre conforto térmico, que
estabelecem intervalos da faixa de conforto considerando as variáveis que influenciam a satisfação térmica
dos usuários de um ambiente, assim como sobre a instrumentação adequada para avaliação de ambientes
térmicos.

1.1 Normas para conforto térmico


Entre as normas internacionais para conforto térmico, são citadas três, ASHRAE 55(2013), ISO 7730 (2005)
e ISO 7726 (1998).
A ASHRAE 55 (2013) apresenta um item de avaliação do ambiente térmico, com especificações de
instrumentação de acordo com a ISO 7726 (1998), posições (localização e altura), período e condições
climáticas para medição, condições de operação dos equipamentos de ar condicionado, tipos de avaliação e
métodos de validação. Descreve dois tipos de avaliação: o primeiro determina estatisticamente a satisfação
dos usuários do edifício por meio dos resultados de entrevistas, e o segundo estabelece as condições de
conforto por meio da análise das variáveis ambientais, verificando se estão de acordo com a própria
ASHRAE 55 (2013).
A ISO 7730 (2005) não propõe método de medição, apresentando cinco métodos de avaliação, com
procedimentos tanto para simulação quanto para medição em edifícios reais. O método “A” propõe calcular
o número ou porcentagem de horas que o PMV e a temperatura operativa estiverem fora do intervalo
especificado, no período em que o edifício estiver ocupado. No método “B”, calcula-se o tempo que a
temperatura operativa excede o intervalo especificado durante o período ocupado, ponderado por um fator
que é função da quantidade de graus que o intervalo é excedido. O método “C” é semelhante ao “B”, mas em
vez de utilizar a temperatura operativa, usa-se o PMV em função do PPD (Predicted percentage dissatisfied
– porcentagem estimada de insatisfeitos). O método “D” calcula a média de PPD durante as horas ocupadas e
o “E” soma o PPD durante as horas ocupadas.
A ISO 7726 (1998) já é específica para instrumentação e medição de quantidades físicas em ambientes
térmicos. Detalha os parâmetros que devem ser medidos e como devem ser medidos, tipos de instrumentos e
respectivos intervalos de operação, normatizando o processo de registro de medição que leva a determinação
dos índices de conforto. A ISO 7726 (1998) estabelece como quantidades físicas básicas a temperatura do ar,
temperatura radiante média, umidade absoluta, velocidade do ar e temperatura da superfície. Para cada
variável são descritos os sensores ideais e os cuidados que devem ser tomados, e estabelece que em
ambientes térmicos homogêneos deve ser feita a medição em apenas uma altura, no nível do abdômen (a 0,6
m para pessoas sentadas e 1,1 m para pessoas em pé). Já em ambientes não homogêneos, parâmetros como
velocidade do ar e temperatura, que podem causar desconforto em determinadas alturas, devem ser medidos
em três patamares (níveis dos tornozelos, abdômen e cabeça): para pessoas sentadas, 0,1 m, 0,6 m e 1,1 m
respectivamente, enquanto que para pessoas em pé, as alturas devem ser 0,1 m, 1,1 m e 1,7 m
respectivamente.

1.2 Parâmetros ambientais para avaliação do conforto térmico


Fanger (1972) estabeleceu um índice chamado PMV (Predicted Mean Vote – voto médio estimado), que
prevê a sensação térmica de um grupo grande de pessoas em um mesmo ambiente térmico por meio de uma
escala psicofísica de sete pontos. Segundo Fanger (1972), as variáveis mais importantes que influenciam a
condição de conforto térmico são: temperatura do ar, pressão de vapor de água no ar ambiente, velocidade
relativa do ar e temperatura radiante média – caracterizando as variáveis ambientais – e também nível de
atividade (metabolismo) e resistência térmica da roupa, que são as variáveis pessoais. Com o PMV é possível
determinar a sensação térmica para qualquer combinação destas variáveis. A escala varia de -3 a 3, sendo
que o valor “0” indica neutralidade (confortável):
-3 muito frio
-2 frio

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-1 levemente frio
0 neutro
+1 levemente quente
+2 quente
+3 muito quente
O conforto térmico pode ser obtido por diferentes combinações das variáveis ambientais, sendo quase
impossível considerar o efeito de qualquer um dos fatores físicos independentemente. A partir destas
informações e também a partir de experimentos com estudantes em câmara climatizada, pôde-se inferir que a
temperatura média da pele e a secreção de suor em um dado nível de atividade, combinados com o balanço
de calor do corpo humano, formam a base para a equação geral de conforto, assumindo que o corpo está no
estado de equilíbrio térmico com acumulação de energia desprezível.
A equação geral de conforto (Equação 1), que resulta no PMV, está demonstrada a seguir:

𝑃𝑀𝑉 = [0,303 ∙ 𝑒𝑥𝑝(−0,036 ∙ 𝑀) + 0,028] ∙ {(𝑀 − 𝑊) − 3,05 ∙ 10−3 ∙ [5733 − 6,99 ∙


(𝑀 − 𝑊) − 𝑝𝑎 ] − 0,42 ∙ [(𝑀 − 𝑊) − 58,15] − 1,7 ∙ 10−5 ∙ 𝑀 ∙ (5867 − 𝑝𝑎 ) − 0,0014 ∙
Equação 1
𝑀(34 − 𝑇𝑎 ) − 3,96 ∙ 10−8 ∙ 𝑓𝑐𝑙 ∙ [(𝑇𝑐𝑙 + 273)4 − (𝑇̅𝑟 + 273)4 ] − 𝑓𝑐𝑙 ∙ ℎ𝑐 ∙ (𝑇𝑐𝑙 − 𝑇𝑎 )}

Onde:
𝑀 = taxa metabólica [W/m2];
𝑊 = trabalho [W/m2];
𝑓𝑐𝑙 = fator de área da vestimenta [adimensional];
𝑇𝑎 = temperatura do ar [°C];
𝑇̅𝑟 = temperatura radiante média [°C];
𝑝𝑎 = pressão parcial de vapor d’água [Pa];
𝑇𝑐𝑙 = temperatura da superfície da vestimenta [°C].
A temperatura de superfície da vestimenta é determinada em função da atividade, isolamento da roupa,
fator de área da vestimenta, temperatura radiante média e temperatura do ar, além do coeficiente de
transferência de calor por convecção.
As variáveis de temperatura da superfície da vestimenta (𝑇𝑐𝑙 ), coeficiente de convecção (ℎ𝑐 ) e fator de
área de vestimenta (𝑓𝑐𝑙 ) podem ser deduzidas a partir das equações 2 a 6 a seguir:

𝑇𝑐𝑙 = 35,7 − 0,028 ∙ (𝑀 − 𝑊) − 𝐼𝑐𝑙 Equação 2


∙ {3,96 −8 [(𝑇 4 ̅ 4 ]
∙ 10 ∙ 𝑓𝑐𝑙 ∙ 𝑐𝑙 + 273) − (𝑇𝑟 + 273) + 𝑓𝑐𝑙 ∙ ℎ𝑐 ∙ (𝑇𝑐𝑙 − 𝑇𝑎 )}

Equação 3
ℎ𝑐 = 2,38 ∙ |𝑇𝑐𝑙 − 𝑇𝑎 |0,25 para 2,38 ∙ |𝑇𝑐𝑙 − 𝑇𝑎 |0,25 > 12,1 ∙ √𝑣𝑎
Equação 4
ℎ𝑐 = 12,1 ∙ √𝑣𝑎𝑟 para 2,38 ∙ |𝑇𝑐𝑙 − 𝑇𝑎 |0,25 < 12,1 ∙ √𝑣𝑎

𝑓𝑐𝑙 = 1,00 + 1,290𝐼𝑐𝑙 para 𝐼𝑐𝑙 ≤ 0,078 𝑚2 ∙ 𝐾 ⁄𝑊 Equação 5

𝑓𝑐𝑙 = 1,05 + 0,645𝐼𝑐𝑙 para 𝐼𝑐𝑙 > 0,078 𝑚2 ∙ 𝐾 ⁄𝑊 Equação 6

Onde:
𝐼𝑐𝑙 = Isolamento da roupa [m2.K/W];
ℎ𝑐 = Coeficiente de transferência de calor por convecção [W/(m2.K)];
𝑣𝑎 = Velocidade relativa do ar [m/s].

1.3 Instrumentação
Os princípios de medição dos instrumentos utilizados para avaliação de conforto térmico estão brevemente
descritos nos próximos parágrafos.
Para temperatura de bulbo seco, o termômetro de resistência elétrica, ou RTD (Resistance
Temperature Detector) é o tipo mais utilizado para a avaliação de conforto térmico em ambientes
moderados; é considerado estável, resistente à corrosão e capaz de medir maior faixa de temperatura se
comparado a outros componentes. Destes, o mais usado é feito com uma resistência de 100 Ω a 0°C (Pt100)

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(ASHRAE, 2009). É o tipo que apresenta melhor exatidão de medição quando devidamente calibrado e
possui uma resposta transiente razoável (HOLMAN, 1994).
O termômetro de globo negro consiste em um sensor de temperatura que é colocado dentro de um
globo negro, geralmente com diâmetro de 150 mm. É usado para obter um valor aproximado da temperatura
radiante média, a partir dos valores simultâneos de temperatura de globo (Tg), temperatura ambiente (Ta) e
velocidade do ar (va) em volta do globo (ASHRAE, 2009). Quanto à especificação do sensor de temperatura,
pode ser utilizado o mesmo tipo para medição de temperatura do ar. Usualmente, são utilizados termômetros
de resistência de platina e por isso apresentam a mesma faixa de exatidão, porém o intervalo de temperatura
pode variar, por causa do globo negro.
Para umidade relativa, são utilizados transdutores elétricos. O elemento resistivo é constituído de duas
camadas de metal nobre em uma forma de plástico, com um espaço finito entre elas. Quando as camadas são
cobertas com solução de cloreto de lítio, forma-se um caminho condutor entre elas. A resistência elétrica
deste caminho varia com a umidade relativa do ar do entorno e assim, pode ser utilizado como um elemento
sensor. A relação entre resistência e umidade relativa não é linear, e geralmente um único transdutor
consegue cobrir apenas um intervalo pequeno, da ordem de 10% da UR. Quando são necessários grandes
intervalos, são utilizados de sete a oito transdutores combinados em um único sistema, cada um projetado
para uma parte específica do intervalo total. Um único elemento sensor pode ter uma incerteza da ordem de
1,5% de umidade relativa, resolução de 0,15%, constante de tempo inferior a 3 s. Como essas unidades são
sensíveis à temperatura, deve ser realizada uma forma de compensação da temperatura. As possíveis
temperaturas de trabalho são de -40ºF a 150ºF (DOEBELIN, 1983).
Para velocidade do ar, os dispositivos mais conhecidos são os anemômetros de fio quente ou filme
quente. O anemômetro de fio quente consiste em um fio fino, apoiado em duas hastes, sendo que uma
corrente elétrica esquenta o fio a uma temperatura acima da temperatura do fluido. Normalmente, o fio
possui de 4 a 10 µm de diâmetro e 1 mm de comprimento e é de platina ou tungstênio (BECKWITH;
MARANGONI; LIENHARD, 1995), ou de platina-irídio (80% platina e 20% irídio). Estes elementos
possibilitam que os fios sejam finos e possuam altos coeficientes de temperatura, resistividade e resistência à
tração, e baixa condutividade térmica, para reduzir as perdas de calor por condução pelos suportes.
(GOLDSTEIN, 1996)

1.4 Incerteza de medição


Além da especificação correta dos instrumentos de medição, considerando as características inerentes ao
princípio de medição, deve ser realizada a análise de incerteza, que deve ser universal, sendo sua grandeza
real internamente consistente e transferível. A incerteza de medição, segundo GUM (2008), refere-se à
dúvida acerca da validade do resultado de uma medição.
Ainda segundo GUM (2008), há diversas fontes possíveis de incerteza de medição, tais como
amostragem não representativa, definição incompleta do mensurando e resolução finita do instrumento.
Para modelar a medição, normalmente o mensurando não é medido diretamente, mas é determinado a
partir de outras grandezas, a partir de uma função. O conjunto de grandezas de entrada pode ser categorizado
por grandezas cujos valores e incertezas podem ser diretamente determinados na medição, ou por aquelas
cujos valores e incertezas são incorporados a medições a partir de fontes externas. Para isto, são divididos em
dois tipos de classificação, Tipo A e Tipo B.
A avaliação Tipo A de incerteza é o método na qual é utilizada análise estatística de séries de
observações e a avaliação Tipo B de incerteza é o método que utiliza outros meios que não a análise
estatística de séries de observações, com base em eventos que tem a probabilidade de ocorrer com certo grau
de credibilidade.

2. OBJETIVO
O objetivo deste estudo é realizar a análise de incerteza da equação geral de conforto térmico, a partir das
variáveis de temperatura de bulbo seco, temperatura radiante média, umidade relativa e velocidade do ar,
para fins de avaliação de conforto térmico humano para ambientes moderados, em edifício de escritórios.

3. MÉTODO
O método contém a descrição dos instrumentos de medição para conforto térmico utilizados em pesquisas
recentes (FORGIARINI RUPP; GHISI, 2017; DE VECCHI et al., 2017; JUNGHANS; WIDERIN, 2017;

964
STAZI et al., 2017; TAKASU et al., 2017) conforme resumo descrito na Tabela 1, os dados utilizados para a
análise de incertezas e os detalhes dos cálculos tipo A e tipo B.

3.1 Instrumentação para conforto térmico


Na Tabela 1 estão descritos os instrumentos utilizados nas pesquisas recentes que tiveram como escopo a
avaliação de conforto térmico humano em ambientes moderados. Para cada parâmetro da grandeza medida,
estão especificadas as referências, o intervalo de medição e a exatidão de medição.

Tabela 1 - Resumo das informações dos instrumentos de medição das referências levantadas

Parâmetro Referência Intervalo de medição Exatidão de medição


Temperatura do (JUNGHANS; WIDERIN, 2017) Não informado 0,3 K
ar (FORGIARINI RUPP; GHISI, 2017) 0 – 60°C ±0,2ºC
(TAKASU et al., 2017) 0 – 55ºC ±0,5ºC
(STAZI et al., 2017) Não informado ±0,15ºC
(DE VECCHI et al., 2017) 0 – 60°C ±0,2ºC
Temperatura de (FORGIARINI RUPP; GHISI, 2017) 0 – 60°C ±0,2ºC
globo (TAKASU et al., 2017) -60 – +155°C ±0,3ºC
(STAZI et al., 2017) Não informado ±0,15ºC
(DE VECCHI et al., 2017) 0 – 60°C ±0,2ºC
Umidade (JUNGHANS; WIDERIN, 2017) Não informado 3%
relativa do ar (FORGIARINI RUPP; GHISI, 2017) 5 - 96% ±3%
(TAKASU et al., 2017) 10 – 95% ±5%
(DE VECCHI et al., 2017) 5 - 96% ±3%
Velocidade do (FORGIARINI RUPP; GHISI, 2017) 0 – 3 m/s ±3%
ar 0 – 20 m/s ±3%
(TAKASU et al., 2017) 0,01 – 5 m/s 0,01 – 0,99 m/s (±0,02
m/s)
1 – 5 m/s (±2% ou 0,015
m/s)
(STAZI et al., 2017) Não informado 0,01 m/s
(DE VECCHI et al., 2017) 0 – 20 m/s ±3%

A partir da descrição dos artigos e das informações da Tabela 1, conclui-se que foram utilizados
sensores do tipo termômetro de resistência elétrica de platina para temperatura do ar e para a temperatura de
globo, sensores do tipo transdutor capacitivo para umidade relativa do ar e anemômetros térmicos para
velocidade do ar. Embora a norma ISO 7726 (1998) especifique o parâmetro de umidade absoluta em vez da
umidade relativa, os critérios levantados nas normas ISO 7730 (2005) e ASHRAE 55 (2013) para conforto
térmico estão de acordo com a umidade relativa.

3.2 Análise de incertezas


Para a análise de incertezas, foram consideradas as seguintes informações disponíveis:
(1) Dados dos resultados de medições realizadas em fevereiro de 2010, na ocasião da pesquisa da
autora (SUZUKI, 2010), no Edifício I, 23º andar, localizado em São Paulo/SP, que possuía
sistema de condicionamento de ar do tipo VRV.
(2) Dados de resolução e incerteza de medição informados pelo fabricante do confortímetro
DeltaOhm, modelo HD32.1, da instrumentação utilizada para a pesquisa citada acima.
Foi realizada uma análise Tipo A para os dados de medições, citados em (1) e análise Tipo B para as
incertezas informadas pelo fabricante, citadas em (2).

3.2.1 Avaliação do Tipo A da incerteza de medição


Na pesquisa de SUZUKI (2010), realizaram-se medições dos parâmetros ambientais em edifícios de
escritórios com sistemas de climatização artificial. Para análise de incerteza, foram considerados os
resultados da medição realizada em 23/02/2010, no 23º andar de um edifício corporativo em São Paulo/SP,

965
que possuía sistema de ar condicionado central. Trata-se de um conjunto de amostras em que os parâmetros
apresentaram valores mais estáveis ao longo do tempo.
Foram calculadas a média e o desvio padrão dos parâmetros, que estão informadas na Tabela 2 e
considerados o nível de atividade de 1,2 met (69,84 W), coerente com atividade de escritório, e a vestimenta
de 0,5 clo (0,078 m2.K/W), que corresponde a traje social leve de verão.

Tabela 2 – Média e desvio padrão dos parâmetros principais para conforto térmico

Parâmetro Média Desvio Padrão


Temperatura do ar 24,03°C 0,21°C
Temperatura radiante média 26,14°C 0,42°C
Velocidade do ar 0,07 m/s 0,04 m/s
Umidade relativa 52 % 1,23 %

Com as informações da Tabela 2 e das observações dos parâmetros pessoais in loco, foi calculado o
PMV a partir da equação 1, em que se obteve o valor de -0,03, que corresponde a uma condição próxima da
neutralidade térmica conforme a Tabela E.3 para nível de atividade de 1,2 met da ISO 7730 (2005).
Os dados selecionados para análise foram coletados simultaneamente, no intervalo de um minuto,
durante 80 minutos. Portanto, a amostra possui 80 elementos de cada parâmetro. A incerteza padrão de cada
parâmetro, desta forma, foi calculada a partir do desvio padrão dividido pela raiz quadrada do número de
amostras, multiplicado pelo coeficiente de sensibilidade, conforme a Equação 7.
𝑠 Equação 7
𝜇= ∙ 𝑐𝑠
√𝑛
Onde:
𝜇 = Incerteza padrão [adimensional]
𝑠 = Desvio padrão [adimensional]
𝑛 = Número de amostras [adimensional]
𝑐𝑠 = Coeficiente de sensibilidade [adimensional]
Para encontrar os coeficientes de sensibilidade de cada um dos parâmetros, foram realizados os
cálculos de derivada parcial de PMV com relação à temperatura do ar (T a), temperatura média radiante (Tr),
velocidade do ar (va) e pressão parcial de vapor de água (pa), uma vez que a equação geral de conforto
contempla os quatro parâmetros ao mesmo tempo.
A equação de PMV final (Equação 8), após simplificações e substituição dos valores de metabolismo
de 1,2 met, isolamento de roupa de 0,5 clo e temperatura da superfície da vestimenta de 30,4°C, calculado
conforme Equação 2, foi reduzida a:
𝑃𝑀𝑉 = 0,05252[−330,3250 + 4,237 ∙ 10−3 ∙ 𝑝𝑎 − 0,09778 ∙ 𝑇𝑎 − 4,3585 ∙ 10−8 ∙ (𝑇𝑟 + 273)4 −
404,7188 ∙ √𝑣𝑎 + 13,3175 ∙ √𝑣𝑎 ∙ 𝑇𝑎 ] Equação 8

Sendo assim, as derivadas parciais foram calculadas:


𝜕𝑃𝑀𝑉 𝜕𝑃𝑀𝑉
= 0,0002225 = 0,1902
𝜕𝑝𝑎 𝜕𝑇𝑎
𝜕𝑃𝑀𝑉 𝜕𝑃𝑀𝑉
= 0,245 = −8,4595
𝜕𝑇𝑟 𝜕𝑣𝑎

Na Equação 9, é considerada então as incertezas combinadas dos quatro parâmetros citados:

𝜇𝑐 = ±√𝜇𝑡𝑎 2 + 𝜇𝑡𝑟 2 + 𝜇𝑣𝑎 2 + 𝜇𝑝𝑎 2 Equação 9

𝜇𝑡𝑎 = Incerteza padrão do parâmetro de temperatura do ar [adimensional]


𝜇𝑡𝑟 = Incerteza padrão do parâmetro de temperatura radiante [adimensional]
𝜇𝑣𝑎 = Incerteza padrão do parâmetro de velocidade do ar [adimensional]
𝜇𝑝𝑎 = Incerteza padrão do parâmetro de umidade relativa [adimensional]

966
Para a análise Tipo A, a incerteza padrão combinada resultou em 𝜇𝑐 = 0,039, utilizando as Equações
7 e 8. Como o número de amostras é relativamente grande, pode ser considerado como uma amostra infinita,
por isso foi considerado o grau de abrangência de 95% (1,96), resultando em uma incerteza expandida em
𝜇𝑐 = 0,078.

3.2.2 Avaliação do Tipo B da incerteza de medição


Além da avaliação Tipo A, foram informados pelo fabricante os dados de incerteza de medição e a resolução
conforme especificado na Tabela 3, que devem ser avaliados como tipo B da incerteza de medição.

Tabela 3 - Especificação dos sensores utilizados na pesquisa

Modelo Tipo de sensor Intervalo de medição Incerteza de medição


TP3275, TP3227K e Pt100 -10°C a 100°C Classe 1/3 DIN
TP3227PC
HP3217 Pt100 + sensor -10°C a 80°C Classe 1/3 DIN
capacitivo 5% a 98% ± 2,5%
AP3203 Anemômetro (NTC 0 m/s a 5 m/s ± 0,02 m/s (0 a 1 m/s)
10Kohm) ± 0,1 m/s (1 a 5 m/s)

A incerteza de medição da sonda de temperatura do ar pode ser calculada de acordo com normas
europeias (Equação 10):
Classe 1/3 DIN = ± 1⁄3 ∙ (0,3 + 0,005 ∙ 𝑇𝑎 ) Equação 10

Considerando Ta = 24ºC, a incerteza calculada é de ±0,14°C. Para velocidade do ar, foi considerada a
incerteza de ± 0,02 m/s (para o intervalo de 0 a 1 m/s).
Para cálculo de incerteza padrão, foi multiplicado o valor da incerteza informada pelo fabricante (por
exemplo, ± 0,02 m/s para velocidade do ar) pelo coeficiente de sensibilidade, obtido a partir das derivadas
parciais citadas no item 3.2.1 e dividido por √3, que é o divisor utilizado para distribuição retangular
(uniforme).
A resolução do equipamento e a incerteza de calibração também foram consideradas para a avaliação
Tipo B de incerteza de medição, sendo que, no caso da resolução do equipamento, para temperatura do ar e
temperatura radiante média é de 0,1°C, para umidade relativa, 0,1% e para velocidade do ar, 0,01 m/s.
Quanto à incerteza de calibração, foram utilizadas as informações disponíveis, de acordo com o laboratório
acreditado do fabricante, que é membro de organizações de acreditação (EA, IAF, ILAC¹10), sendo 0,05°C
para termômetros de resistência (na faixa de 0° a 100°C), de 0,8 a 1,5% de umidade relativa para higrômetros
e termo higrômetros elétricos e mecânicos (umidade relativa na faixa de 10 a 92% e temperatura do ar entre
0º e 60°C), e 13% de incerteza de velocidade do ar para anemômetros de fio quente, na faixa de 0,1 m/s.
Estes valores de incerteza são expressos com um nível de confiança de aproximadamente 95%.
Para a incerteza combinada, o cálculo é o mesmo do que do Tipo A. Se considerada isoladamente,
para PMV próximo da neutralidade, a incerteza combinada tipo B é de ± 0,126. Para incerteza expandida,
±0,247.

4. RESULTADOS
Os resultados estão resumidos na Tabela 4, que contém os valores, unidades, coeficiente de sensibilidade,
divisores, incerteza padrão e percentual de contribuição de cada fonte de incerteza, das avaliações tipo A e
tipo B. A Tabela 5 mostra as incertezas combinada e expandida.

Tabela 4 - Resultados das avaliações tipo A e Tipo B de incerteza de medições


Fonte de incerteza Valor Unid. Coef. Divisor Incerteza Percentual de
Sensib. padrão contribuição
Desvio padrão - medição 0,21 °C 0,1902 8,94427191 0,004465651 0,11%
de Ta

¹10 Respectivamente: EA (European Cooperation for Accreditation), IAF (International Accreditation Forum) e ILAC (International
Laboratory Accreditation Cooperation).

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Incerteza informada pelo 0,14005 °C 0,1902 1,732050808 0,015379174 1,35%
fabricante - Ta
Incerteza de calibração - Ta 0,05 °C 0,1902 1,732050808 0,005490601 0,17%
Resolução do 0,1 °C 0,1902 1,732050808 0,028867513 4,77%
equipamento - Ta
Desvio padrão - medição 0,42 °C 0,245 8,94427191 0,01150457 0,76%
de Tr

Incerteza informada pelo 0,14005 °C 0,245 1,732050808 0,019810187 2,25%


fabricante - Tr
Incerteza de calibração - Tr 0,05 °C 0,245 1,732050808 0,007072541 0,29%

Resolução da sonda - 0,1 °C 0,245 1,732050808 0,028867513 4,77%


(derivada Tg)
Desvio padrão - medição 0,04 m/s -8,4595 8,94427191 0,037832034 8,19%
de va

Incerteza informada pelo 0,02 m/s -8,4595 1,732050808 -0,097681892 54,59%


fabricante - va
Incerteza de calibração - va 0,013 m/s -8,4595 1,732050808 0,055987676 17,94%
Resolução da sonda - va 0,01 m/s -8,4595 1,732050808 0,002886751 0,05%
Desvio padrão - medição 1,23 % 0,0002225 8,94427191 3,05978E-05 0,00%
de UR
Incerteza informada pelo 2,5 % 0,0002225 1,732050808 0,000321151 0,00%
fabricante - UR
Incerteza de calibração - 1,8 % 0,0002225 1,732050808 0,000231229 0,00%
UR
Resolução da sonda - UR 0,1 % 0,0002225 1,732050808 0,028867513 4,77%

Tabela 5 - Resultados de incerteza combinada

Incerteza combinada 0,1322


Grau de abrangência (95%) 1,96
Incerteza expandida 0,2591

Portanto, para condições próximas da neutralidade térmica, PMV = -0,03, foi obtida uma incerteza
padrão combinada de 𝜇𝑐 = ±0,13 e uma incerteza expandida de 𝜇𝑐 = ±0,26.

5. CONCLUSÕES
A norma ISO 7730 (2005) estabelece uma classificação de ambientes para conforto térmico, nas categorias
A, B e C (Tabela ), sendo que todos os critérios devem ser cumpridos simultaneamente. Para a categoria A, o
estado térmico do corpo como um todo deve estar compreendido entre -0,2 a +0,2.

Tabela 6 – Categorias do ambiente térmico (Adaptado de ISO 7730, 2005)

Categoria Estado térmico do corpo Desconforto local


como um todo
PPD % PMV DR % PD %
Diferença vertical de Piso quente ou Assimetria
temperatura do ar frio radiante
A <6 -0,2 < PMV < 10 <3 < 10 <5
< + 0,2
B < 10 -0,5 < PMV < 20 <5 < 10 <5
< + 0,5
C < 15 -0,7 < PMV < 30 < 10 < 15 < 10
< + 0,7

A incerteza de ±0,13 do PMV de -0,03, implica em um resultado entre -0,16 e +0,10, que ainda estaria
dentro do intervalo da categoria A, embora muito próximo do valor limite inferior (-0,2). Se levar em

968
consideração a incerteza expandida, o intervalo de PMV seria de -0,29 a 0,23, suficiente para que o ambiente
fosse enquadrado na categoria B.
A diferença de valores de PMV entre uma categoria e outra é de 0,3 da categoria A para a B e de 0,2
da categoria B para a C. Isto implica que, considerando que os equipamentos utilizados na pesquisa de
SUZUKI (2010) estão adequados à finalidade, se comparados com pesquisas recentes realizadas no Brasil
(FORGIARINI RUPP; GHISI, 2017) e em outros países (DE VECCHI et al., 2017; JUNGHANS;
WIDERIN, 2017; STAZI et al., 2017; TAKASU et al., 2017), além dos requisitos da norma ISO 7726
(1998), os critérios da norma ISO 7730 (2005) para PMV estão muito rigorosos para avaliação de ambientes
térmicos, pois a variação de PMV em torno da neutralidade, para a categoria A, tem valor inferior à incerteza
padrão combinada expandida. Tais resultados foram levantados em um dia de verão, em que os usuários
estavam utilizando vestimentas leves adequadas ao ambiente de escritório, em ambiente climatizado e clima
subtropical úmido.
Como há outros requisitos a serem atendidos, que seriam a porcentagem de insatisfeitos (PPD) e o
desconforto local para situações específicas (PD%), a incerteza de medição poderia também ser calculada em
função de outros mensurandos, que dependem das mesmas grandezas consideradas no PMV. De acordo com
a norma ISO 7730 (2005), dos itens dispostos na Tabela , alguns requisitos são difíceis de serem alcançados
na prática, enquanto outras são mais fáceis e devido à exatidão dos instrumentos para medição dos
parâmetros de entrada, pode ser difícil alcançar o valor de PMV para a categoria A. Nestes casos, em vez
disso, a verificação deve ser baseada no intervalo de temperatura operativa equivalente.
Analisando ainda a afirmação da norma ISO 7730 (2005), referente à dificuldade ao atendimento do
valor de PMV, foi realizada uma análise da contribuição de cada parâmetro para o valor final de incerteza
combinada, conforme pode ser observado na última coluna à direita da Tabela 4. O parâmetro que apresenta
maior porcentagem, 54,59%, é a incerteza informada pelo fabricante para a medição de velocidade do ar com
anemômetro de fio quente. Em segundo lugar, com 17,94%, é a incerteza de calibração do mesmo
instrumento. A terceira maior porcentagem é referente ao desvio padrão devido a medição, também de
velocidade do ar, com 8,19%.
Sendo assim, é possível concluir que o parâmetro que mais contribui para a incerteza padrão do
conjunto do confortímetro é a velocidade do ar. Em todas as pesquisas citadas neste trabalho, foram
utilizados anemômetros de esfera ou de fio quente, que são instrumentos considerados precisos e possuem
um tempo de resposta rápido. Para esta finalidade, caso fossem utilizados outros instrumentos para medição
de velocidade do ar como LDA (Laser Doppler Anemometer), o investimento seria muito alto e poderia não
justificar a precisão necessária para este tipo de estudo.
Portanto, para avaliação de ambientes térmicos, embora a faixa de PMV seja estreita e coincidente
com a incerteza padrão combinada, o anemômetro de fio quente ainda é o melhor compromisso para medição
da velocidade do ar. Maiores investimentos para este parâmetro são necessários caso o foco do estudo seja a
avaliação de desconforto térmico localizado e de porcentagens de insatisfeitos devido aos efeitos de
turbulência do ar, pois há partes do corpo humano que são mais sensíveis à temperatura e à velocidade do ar
e podem influenciar a sensação térmica como um todo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Engineers. Thermal Environmental Conditions of Human Occupancy. Atlanta: ASHRAE, 2013. 28 p.
ASHRAE – American Society of Heating, Refrigerating and Air–Conditioning Engineers. Handbook of Fundamentals. Atlanta:
ASHRAE, 2009.
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DOEBELIN, E. O. Measurement Systems - application and design. 3. ed. [s.l.] McGraw-Hill, 1983.
FANGER, O. Thermal comfort – Analysis and application in environmental engineering. Copenhagen: McGraw-Hill, 1972. 244 p.
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INMETRO, Guia para expressão de incerteza de medição. GUM, 2008.
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________. ISO 7726: Ergonomics of thermal environment – Instruments for measuring physical quantities. Genebra, 1998. 66 p.
JUNGHANS, L.; WIDERIN, P. Thermal comfort and indoor air quality of the “Concept 22/26”, a new high performance building
standard. Energy and Buildings, v. 149, p. 114–122, ago. 2017.

969
STAZI, F. et al. Indoor air quality and thermal comfort optimization in classrooms developing an automatic system for windows
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SUZUKI, E. H. Avaliação do conforto térmico e do nível de CO2 em edifícios de escritório com climatização artificial na
cidade de São Paulo. text—[s.l.] Universidade de São Paulo, 18 out. 2010.
TAKASU, M. et al. Study on adaptive thermal comfort in Japanese offices under various operation modes. Building and
Environment, v. 118, p. 273–288, jun. 2017.

AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer a Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
pelo apoio à pesquisa.

970
ANÁLISE DO CONFORTO TÉRMICO DE ESTUDANTES
UNIVERSITÁRIOS QUANDO SUBMETIDOS À VARIAÇÃO DA
TEMPERATURA DO AR
Ruan Eduardo C. Lucas (1); Erivaldo L. de Souza (2); Luiz Bueno da Silva (3)
(1) Engenheiro de Produção, Mestrando em Engenharia de Produção, ruaneduardo94@gmail.com
(2) Engenheiro de Produção, Mestre em Engenharia de Produção, elopesouza@gmail.com
(3) PhD, Professor do Departamento de Engenharia de Produção, bueno@ct.ufpb.br
Universidade Federal da Paraíba, Departamento de Engenharia de Produção, Laboratório de Análise do
Trabalho, Conjunto Pres. Castelo Branco III, João Pessoa-PB, 58033-455

RESUMO
Os ambientes de ensino são locais em que os estudantes e professores consomem grande parte da sua rotina
diária, além disso as condições térmicas existentes influenciam na percepção de conforto e podem impactar
no desempenho. Tal situação, indica a necessidade de avaliação das condições térmicas desses locais em
busca da otimização ambiental. Diante disso, o objetivo geral desse trabalho é avaliar o conforto térmico de
estudantes universitários em um ambiente de ensino com “Video Display Terminal – VDT” localizado na
cidade João Pessoa quando submetidos à variação da temperatura do ar. Além disso, visa compreender
estatisticamente como a variação da temperatura do ar impacta na percepção térmica dos ocupantes; e por
fim, estimar uma zona de conforto com base nas respostas dos usuários. Para isso, desenvolveu-se um
experimento realizado em três dias, em que foram propostas três condições mediante fixação da temperatura
do ar: desconforto por frio; conforto; e desconforto por calor. Nos dias em que a pesquisa foi conduzida,
foram avaliadas as variáveis ambientais (temperatura e umidade do ar, temperatura radiante e velocidade do
vento) para estimação da sensação térmica por meio do uso do índice preditivo “Predicted Mean Vote –
PMV”. Posteriormente, os dados foram tabulados e utilizou-se modelos lineares generalizados para avaliar a
influência da temperatura do ar na percepção térmica; o teste Wilcox e intervalo de confiança para estimar a
zona de conforto com base na percepção térmica dos usuários. Por meio da análise dos resultados foi
possível perceber que o índice normativo (PMV) não foi capaz de predizer a percepção térmica dos usuários.
Além disso, identificou-se que o aumento de 1°C na temperatura do ar fez com que a chance de sentir
desconforto aumentasse em 18,20%. Por fim, a zona de conforto estimada variou no entorno de 23°C.
Palavras-chave: conforto térmico, percepção térmica, estudantes universitários.
ABSTRACT
Teaching environments are places where students and teachers consume much of their daily routine, and
existing thermal conditions influence the perception of comfort and can impact performance. This situation
indicates the need to evaluate the thermal conditions of these sites in search of environmental optimization.
Therefore, the general objective of this work is to evaluate the thermal comfort of university students in a
teaching environment with Video Display Terminal - VDT located in the city of João Pessoa when submitted
to the variation of air temperature. In addition, it aims to understand statistically how the variation of the air
temperature impacts on the thermal perception of the occupants; and finally, to estimate a zone of comfort
based on the users' responses. For this, an experiment was carried out in three days, in which three conditions
were proposed by fixing the air temperature: cold discomfort; comfort; and heat discomfort. On the days that
the research was conducted, the environmental variables (temperature and humidity of the air, radiant
temperature and wind velocity) were evaluated for the estimation of the thermal sensation using the
Predicted Mean Vote (PMV) index. Subsequently, the data were tabulated and generalized linear models
were used to evaluate the influence of the air temperature on the thermal perception; the Wilcox test and
confidence interval to estimate the comfort zone based on users' thermal perception. Through the analysis of
the results it was possible to notice that the normative index (PMV) was not able to predict the thermal

971
perception of the users. In addition, it was identified that the 1 ° C increase in air temperature caused the
chance of discomfort to increase by 18.20%. Finally, the estimated comfort zone varied around 23°C.
Keywords: thermal comfort, thermal perception, university students.

1. INTRODUÇÃO
O mundo contemporâneo é marcado pela rotina dinâmica das pessoas, incumbidas de realizarem suas tarefas
diárias em diferentes ambientes fechados. Tais ambientes apresentam diferenças arquitetônicas, que vão
desde variações estruturais até o tipo de sistema de ventilação utilizado.
As características do sistema de ventilação são componentes muito importantes, pois, quando
inadequados, não suprem as necessidades básicas e podem proporcionar condições insatisfatórias aos
ocupantes do espaço.
Corroborando o exposto acima, Conceição e Lúcio (2011) indicam que a qualidade térmica de
ambientes fechados pode influenciar significativamente na saúde e no conforto humano. Logo, a qualidade
ambiental interna pode ser considerada um fator importante para a saúde, conforto e desempenho das
populações, já que diversas atividades são exercidas em ambientes construídos onde as pessoas passam o seu
maior tempo (WARGOCKI, 2015).
Esse fator torna-se ainda mais importante quando se trata do âmbito educacional, pois, comprovou-se
ao longo dos anos que condições térmicas insatisfatórias ocasionam desconforto térmico, repercutindo no
desempenho e influenciando negativamente o processo de ensino aprendizagem (JIANG et al., 2018;
ZOMORODIAN, TAHSILDOOST e HAFEZI, 2016).
Além da influência comprovada no desempenho, outro fator importante é o tempo de permanência
nesses ambientes, pois, excluindo os ambientes residenciais, são os lugares que professores e alunos passam
mais tempo em comparação com qualquer outro ambiente fechado, fazendo com que seja o ambiente interno
mais importante a ser estudado (RUFO et al., 2016; YOON et al., 2011).
No âmbito educacional os ambientes de ensino inteligente ou ambientes com Video Display Terminals
(VDT) vêm ganhando destaque. Essa nomenclatura é originária das características desses locais, que
segundo Lucas e Silva (2017) são espaços de aprendizagem que dispõem de aparatos tecnológicos
(computadores, data show, entre outros) que auxiliam no processo de ensino aprendizagem.
Esses ambientes não trazem apenas benefícios, pois segundo Siqueira (2015), os ambientes que
possuem recursos tecnológicos apresentam novas fontes de calor, necessitando assim de uma investigação
mais detalhada acerca das condições térmicas nesses ambientes.

2. OBJETIVO
Avaliar o conforto térmico de estudantes universitários em um ambiente de ensino com VDT localizado na
cidade João Pessoa quando submetidos à variação das condições ambientais. Como objetivos específicos,
visa compreender numericamente como a variação da temperatura do ar impacta na percepção térmica dos
ocupantes, bem como estimar a zona de conforto térmico com base nas respostas dos usuários.

3. MÉTODO
A metodologia adotada está dividida em quatro etapas.

3.1 Características gerais do ambiente


O ambiente analisado pertence a uma faculdade privada localizada na cidade de João Pessoa, Estado da
Paraíba, região nordeste; com área de 76,44 m²; ocupado por 12 bancadas com 3 computadores cada,
totalizando 36 postos de trabalho; há um sistema de climatização tipo Split; a iluminação é artificial; e possui
duas janelas com proteções na cor preta que impedem o fluxo da energia solar e da iluminação natural.
A Figura 1 retrata o layout desse ambiente e o Quadro 1 uma análise genérica dos componentes
existentes e seus respectivos tipos de materiais identificados.

972
Figura 1 – Layout do ambiente analisado.
Quadro 1 – Componentes existentes e seus respectivos materiais
Componente do Ambiente Material
Cobertura Telha de fibrocimento

Estrutura da coberta Madeira

Forro Laje de concreto, pintada na cor branca

Estrutura da sala Concreto aparente, pintado de bege

Vedação das salas Tijolo cerâmico vazado

Esquadrias Madeira e vidro incolor comum, pintado de preto

Revestimento externo da vedação Argamassa, pintada de branco

Revestimento interno da vedação Argamassa, pintada de branco

Revestimento do piso Cerâmica

3.2 Procedimentos do experimento


Para obtenção dos dados foi desenvolvido um experimento realizado em três dias consecutivos. Em cada dia
foi aplicada uma condição térmica mediante fixação da temperatura do ar dos aparelhos de ar-condicionado.
Logo, simularam-se três situações: desconforto por frio, conforto, e desconforto por calor.
O ajuste da temperatura para cada situação foi baseado na norma ISO 7730/2005. Essa norma indica
que uma temperatura entre 22° e 24°C pode propiciar o conforto térmico, enquanto que valores abaixo desse
intervalo tendem a propiciar o desconforto por frio; e acima, desconforto por calor. Logo, visando simular as
três situações mencionadas anteriormente, manipulou-se a temperatura do ar para 20° C; 24° C; e 30°C.
Destaca-se ainda, que essa variação de temperatura também foi utilizada no procedimento metodológico de
outras pesquisas (LAN, LIAN, e PAN 2010; LAN, WARGOCKI, e LIAN 2011; SIQUEIRA, 2015).
Nos três dias, os estudantes chegaram 30 minutos antes do início da coleta, procedimento necessário
para que ocorresse a estabilização da temperatura corporal e se aclimatassem com as condições ambientais
propostas. Além disso, em cada dia eles utilizaram os computadores para acessar os questionários através da
ferramenta on-line para Survey “QUALTRICS”. Paralelamente, enquanto os estudantes respondiam os
questionários as variáveis térmicas estavam sendo aferidas.

3.2.1 Aferição das variáveis térmicas


Para aferição das variáveis térmicas utilizou-se o medidor de estresse térmico TGD 300 e a estação
microclimática BABUC A. Tais aparelhos estavam devidamente calibrados pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE) do Rio Grande do Norte (RN) e atendiam às exigências da Norma ISO 7726
(1998).
Os equipamentos foram posicionados e instalados no centro do ambiente, em altura compatível a
posição do ombro dos participantes que estavam utilizando os computadores. Esses equipamentos foram
973
instalados cerca de 30 minutos antes do início da coleta para que estabilizassem diante das condições do
ambiente. Além disso, os referidos instrumentos foram programados para registrar os dados das variáveis a
cada minuto, abrangendo variáveis como: Temperatura do ar (°C), Temperatura de bulbo úmido (°C),
Temperatura de globo (°C), Temperatura radiante média (°C), Umidade relativa do ar (%) e Velocidade do ar
(m/s).

3.2.2 Aferição da percepção térmica


A avaliação da percepção térmica abrangeu três variáveis: (I) sensação térmica; (II) desejo térmico; e (III)
percepção de conforto térmico (Figura 2). As questões foram baseadas nas escalas de sete pontos de
percepção e preferência conforme as normas ISO 10551 (1995) e ASHRAE 55 (2013) e estão indicadas na
Figura 2.

Figura 2 – Escalas utilizadas na avaliação da percepção térmica.

3.3 Amostra
A amostra era composta por estudantes universitários das ciências exatas. O número amostral foi de 86
indivíduos, sendo aproximadamente 61,3% do sexo masculino e 38,8% do sexo feminino (Figura 4). A faixa
etária predominante variava entre 18 e 24 anos (Figura 3). O índice de massa corporal da maioria dos
indivíduos estava dentro da faixa de peso normal (Figura 5).
Os indivíduos entrevistados foram os mesmos nos três dias do experimento. Em cada dia, após o
processo de aclimatação e estabilização corporal com as condições ambientais foi aplicado o questionário de
avaliação térmica.

Figura 3 – Variação de idade da amostra.

974
Figura 4 – Percentual de indivíduos por sexo.

Figura 5 – Variação do índice de massa corporal da amostra (IMC).

3.4 Análise dos dados


Os dados obtidos na aferição das variáveis ambientais e das percepções térmicas foram tabulados através do
programa Microsoft Excel® de acordo com o respectivo dia. Nesse software organizou-se as variáveis, e
calculou-se os índices normativos estipulados pela ISO 7730/2005.
Os índices utilizados pela referida norma são o “Predicted Mean Vote – PMV” e o “Predicted
Percentage Dissatisfied – PPD”, que foram desenvolvidos por Fanger (1972) e podem ser calculados
conforme mostra as Equações 1 e 2.
O principal deles é o PMV, que pode ser traduzido para o português como sendo o Voto Médio
Estimado, que prevê a sensação térmica das pessoas presentes em um dado ambiente de acordo com a escala
de sensação térmica de sete pontos (DJONGYANG et. al., 2010).
PMV = (0.303e −0, 036*M + 0.028) * [( M − W ) − 3.05 * {5,73 − 0,007 * ( M − W ) − Pa}
− 0.42 * {(M − W ) − 58.15} − 0,0173 * M * (5,87 − Pa) − 0.0014 * M * (34 − t a ) Equação 1

− 3.96 x10 −8 * f cl * {t cl + 274) 4 − (t r + 273) 4 } − f cl * hc * (t cl − t a )]

PPD = 100 − 95 * exp( −0,03353 * PMV 4


− 0,2179 * PMV 2 ) Equação 2
Na sequência, utilizando o software estatístico R-Project 3.3.1 utilizou-se a razão da chance, parâmetro
oriundo da aplicação dos modelos lineares generalizados para compreender a influência da variação da
temperatura do ar na percepção térmica. Por fim, estimou a zona de conforto preliminar com base nas
respostas dos usuários.

3.4.1 Influência da variação da temperatura do ar na percepção térmica


A aplicabilidade de um modelo linear necessita que a variável dependente apresente uma distribuição
normal. Tal situação, restringe a aplicabilidade e torna necessário a generalização desse modelo, fazendo

975
com que surja os Modelos Lineares Generalizados.
Os Modelos Lineares Generalizados permitem relacionar variáveis por diferentes funções. A função
mais utilizada é a Logit, que associada a distribuição binomial resulta no modelo de regressão logística, que
pode ser expresso pela Equação 3.

CHANCE(Y = 1) = Constante . (OR1 )X1 . (OR 2 )X2 … . (OR n )Xn Equação 3

O modelo de regressão logística pode ser facilmente interpretado por meio da razão da chance (𝑂𝑅𝑛 ),
que indica o quanto a variação de uma unidade na variável independente implica na chance de ocorrer um
evento descrito pela variável dependente.
Logo, utilizou-se modelos de regressão logística para identificar a chance de ocorrência de três
eventos: (1) Influência da temperatura do ar (variável independente) na percepção de conforto (dicotômica,
dependente); (2) Influência da temperatura do ar (variável independente) na sensação térmica (multinomial –
frio, neutralidade, calor – dependente); e (3) Influência da temperatura do ar (variável independente) no
desejo térmico (multinomial – frio, neutralidade, calor -, dependente).
As razões da chance aqui apresentadas foram originadas de modelos previamente aprovados em uma
série de diagnósticos, como análises das funções de ligação e variância; verificação da distribuição da
variável resposta e análise de resíduos. Esses diagnósticos permitiram que fossem obtidos modelos
adequados.

3.4.2 Estimação da faixa preliminar de conforto


A estimação da faixa preliminar de conforto foi dividida em duas etapas. Primeiramente, utilizou-se o teste
Wilcox para avaliar a seguinte hipótese: “Não existe relação entre a sensação de neutralidade térmica
(Neutro) e a temperatura do ar”.
Posteriormente, diante da rejeição da hipótese apresentada anteriormente foi possível adentrar na
segunda etapa. Logo, tomando como base as respostas dos indivíduos que indicaram a sensação de
neutralidade térmica e a respectiva temperatura do ar no momento da realização do experimento, estimou-se
a faixa preliminar de conforto a partir do intervalo de confiança com nível de confiança de 95%.

4. RESULTADOS
Os resultados estão divididos em quatro etapas.

4.1 Descrição das variáveis ambientais


O primeiro tópico dos resultados apresenta as condições das variáveis ambientais no momento da realização
do experimento. Conforme mostra a Tabela 1, as variáveis apresentadas são: Temperatura do ar (°C);
Temperatura radiante média (°C); Umidade relativa do ar (%); e Velocidade do ar (m/s).
Tabela 1 – Dados ambientais
Temperatura do ar (°C) Temperatura radiante Umidade relativa do Velocidade do ar
média (°C) ar (%) (m/s)
Média = 20,32 Média = 22,10 Média = 42,31 Média = 0,1
Dia 1
Média = 23,40 Média = 23,62 Média = 49,03 Média = 0,1
Dia 2
Média = 28,75 Média = 28,82 Média = 58,22 Média = 0,1
Dia 3

4.2 Análise da sensação térmica predita pelo PMV


A Figura 6 indica a variação do índice PMV para os três dias. No primeiro dia, em que foi proposto a menor
temperatura, observou-se que a concentração dos dados ficou aproximadamente entre -1,5 ≤ PMV ≤ -1. Para
o segundo dia, em que foi proposta a temperatura de conforto, a variação dos dados ficou no entorno de
PMV= -0,5. Por fim, no dia em que foi proposto a maior temperatura a concentração dos valores ficou
aproximadamente entre 0,5 ≤ PMV ≤ 1.
A zona de conforto é definida no intervalo quando a percepção térmica varia entre -0,5 ≤ PMV ≤ 0,5
pois nessa condição, segundo Fanger (1972), existem no máximo 10% de pessoas insatisfeitas dentro do

976
ambiente térmico. Utilizando esse parâmetro como análise, considera-se que apenas o segundo dia estava
dentro da faixa de conforto térmico.
O resultado mencionado anteriormente foi comprovado pelo outro índice normativo. O PPD ou
percentual de pessoas insatisfeitas foi de 23,8% no primeiro dia; 9,52% no segundo dia; e 37,08% no terceiro
dia. Ou seja, apenas o segundo dia apresentou o percentual de pessoas insatisfeitas tido como recomendável.

Figura 6 – Variação do índice PMV nos três dias.

4.3 Análise da percepção térmica


Para facilitar a análise geral da percepção térmica foi desenvolvida a Tabela 2, que expressa os percentuais
de conforto e sensação térmica. Com relação a percepção de conforto, observou-se para o primeiro dia que
aproximadamente 51,85% indicaram o estado de conforto, enquanto que 48,15% indicaram desconforto. No
segundo dia, observou-se que cerca de 54% estavam confortáveis, enquanto 46% estavam desconfortáveis.
No terceiro dia apenas 23,08% indicaram o estado de conforto, enquanto 76,92% estavam desconfortáveis
com as condições existentes.
A outra variável analisada foi a sensação térmica e também está expressa na Tabela 2. Para o primeiro
dia prevaleceu a sensação de que o ambiente estava levemente frio; para o segundo dia predominou a
sensação de neutralidade térmica, enquanto que no último dia prevaleceu a sensação de que o ambiente
estava levemente quente.

Tabela 2 – Percentuais de conforto e sensação térmica.

CONFORTO TÉRMICO

Menor temperatura Temperatura intermediária Maior temperatura


Confortável Desconfortável Confortável Desconfortável Confortável Desconfortável

51,85% 48,15% 53,85% 46,15% 23,08% 76,92%

SENSAÇÃO TÉRMICA

Menor temperatura Temperatura intermediária Maior temperatura


Levemente frio Neutro Levemente quente
(48%) (68%) (38,5%)

A avaliação da sensação térmica permite fazer uma comparação com os valores do índice PMV. Essa
comparação possibilita identificar se o referido índice está compreendendo de forma precisa a sensação
térmica dos ocupantes.
A Figura 7 apresenta as sensações identificadas e os índices PMV calculados nos três dias. A cor azul
apresenta as sensações térmicas obtidas para o dia 1, dia de menor temperatura; a cor verde indica as
sensações obtidas para o dia 2, dia em que foi proposta a temperatura de conforto; e a cor vermelha indica as
977
sensações obtidas para o dia 3, em que foi proposta a temperatura mais alta; além disso, a cor preta
representa os valores do índice PMV para cada dia.
A primeira análise que se extrai da Figura 7 é que o índice PMV não conseguiu compreender
perfeitamente a sensação térmica dos estudantes, ou seja, foram poucos os pontos em que essas duas
variáveis seguiram uma tendência similar. Outro ponto que chama a atenção foram as discrepâncias
encontradas no segundo e no terceiro dia. Em ambos os casos o índice normativo subestimou a sensação
térmica dos usuários, ou seja, previu uma sensação abaixo do que realmente foi indicado pelos estudantes.
Essa situação ficou explicita no terceiro dia, enquanto o índice normativo indicou que a sensação
predominante seria a de levemente quente, grande parte dos estudantes avaliaram o ambiente como muito
quente.
Os resultados diagnosticados anteriormente também foram identificados por outros autores, como
Yang et. al. (2015), quando explanam que o PMV pode superestimar a sensação térmica dos indivíduos em
um ambiente termicamente controlado. Além deles, Mors (2011) indica que os limites normativos
subestimam a sensação térmica e preveem temperaturas mais confortáveis do que as declaradas pelos
ocupantes.

Figura 7 – Comparação entre a sensação térmica e o índice PMV.

4.4 Análise estatística da influência da temperatura do ar na percepção térmica


Com a metodologia proposta foi possível identificar um possível comportamento da percepção térmica
mediante a variação de temperatura.
O primeiro modelo desenvolvido analisou o comportamento da percepção de conforto térmico
mediante variação de 1° C na temperatura do ar. Conforme mostra a Tabela 3, o aumento da temperatura do
ar em 1°C fez com que a chance de sentir desconforto aumentasse em aproximadamente 18,20%.
Tabela 3 – Dados do modelo 1

MODELO 1

Chance de sentir
Teste Z (valor-p) PseudoR2 Razão da chance desconforto aumenta
em:

0,000197 0,478 0,8179 18,20%

O segundo modelo desenvolvido analisou o comportamento da sensação térmica mediante variação de


1° C na temperatura do ar. Conforme mostra a Tabela 4, o aumento da temperatura do ar em 1°C fez com
que a chance de sentir o ambiente quente aumentasse em aproximadamente 82,10%.

978
Tabela 4 – Dados do modelo 2

MODELO 2

Chance de sentir o
Teste Z (valor-p) PseudoR2 Razão da chance ambiente quente
aumenta em:

0,0001 0,452 1,820 82,10%

O terceiro modelo desenvolvido analisou o comportamento do desejo térmico mediante variação de 1°


C na temperatura do ar. Conforme mostra a Tabela 5, o aumento da temperatura do ar em 1°C fez com que a
chance de desejar o ambiente mais frio aumentasse em aproximadamente 49,52%.

Tabela 5 – Dados do modelo 3

MODELO 3

Chance de querer o
Teste Z (valor-p) PseudoR2 Razão da chance ambiente mais frio
aumenta em:

0,0001 0,491 0,4952 49,52%

4.5 Estimação da zona de conforto


A partir das percepções de conforto e desconforto foi possível identificar a faixa preliminar de temperatura
confortável para a respectiva amostra. Logo, identificou-se o intervalo de conforto como sendo 23.07° ≤
Temperatura do ar ≤ 23.28°.

5. CONCLUSÕES
O objetivo desse trabalho foi avaliar o conforto térmico de estudantes universitários em um ambiente de
ensino com VDT localizado na cidade João Pessoa quando submetidos à variação da temperatura do ar.
Além disso, como objetivos específicos procurou compreender estatisticamente como a variação da
temperatura do ar impactava na percepção térmica dos ocupantes; e por fim, se propôs a estimar uma zona de
conforto com base nas respostas dos usuários.
No que tange a avaliação normativa, identificou-se que o índice PMV expresso pela ISO 7730/2005
subestimou a sensação térmica dos indivíduos, ou seja, previu uma sensação térmica inferior ao que foi
realmente indicada pelos estudantes. Essa constatação não é uma surpresa, pois vai de encontro aos
resultados encontrados na literatura. Entretanto, abre margem para discutir se o referido índice consegue
prever perfeitamente a sensação térmica dos indivíduos.
Um dos objetivos específicos era compreender como a variação da temperatura do ar impactava na
percepção térmica. Essa compreensão pode ser entendida como a principal contribuição desse trabalho, pois
diminui a subjetividade e traz indícios empíricos mediante utilização de modelos estatísticos.
Logo, identificou-se que para a referida amostra o aumento em 1°C da temperatura do ar fez com que
a chance de sentir desconforto aumentasse em 18,20%; a chance de sentir o ambiente mais quente
aumentasse em 82,10%; e a chance de querer o ambiente mais frio aumentasse em 49,52%. Esse resultado
torna-se ainda mais relevante quando associado a zona de conforto encontrada, que ficou no entorno de 23°C
(23.07°≤ Temperatura do ar ≤ 23.28°).
Diante do exposto, observa-se que conhecer a zona de conforto e compreender como a variação da
temperatura do ar influência na percepção térmica é de extrema relevância no estudo do conforto térmico.
Pois, se a temperatura proposta estiver distante da zona de conforto, provavelmente os indivíduos sentirão o
ambiente mais quente, aumentando o desconforto térmico, podendo repercutir no desempenho.

979
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980
ANÁLISE DO CONFORTO TÉRMICO NO EDIFÍCIO ESCOLAR CAP-
COLUNI EM VIÇOSA-MG

Luísa Tristão Barbosa (1); Ana Carolina de Oliveira Veloso (2)


(1) Arquiteta e Urbanista, especialista em Sustentabilidade do Ambiente Construído UFMG,
luisatristaob@gmail.com;
(2) Dra., Pós-doutoranda em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável UFMG, acoveloso@gmail.com.

RESUMO
Neste estudo foi analisado o conforto térmico do edifício escolar CAp-COLUNI, em Viçosa-MG, através de
simulação computacional utilizando o programa Energy Plus e o plugin Euclid do SketchUp. Segundo
arquivos climáticos INMET 2016 disponíveis na plataforma Projeteee (Projetando Edificações
Energeticamente Eficientes), o município apresenta cerca de metade do ano em desconforto térmico por frio.
A definição das propriedades térmicas da edificação foram retiradas da NBR 15220 Parte 2. O edifício é
naturalmente ventilado e a ventilação natural foi simulada através do AirflowNetwork
MultizoneWithoutDistribution. Foram definidas situações de alterações do projeto para adequação do
conforto térmico na edificação, pautadas em estratégias bioclimáticas estabelecidas pela NBR 15220 Parte 3.
Considerando os resultados obtidos, a edificação apresenta conforto térmico adequado no verão; entretanto
no inverno há altos índices de desconforto. Observou-se que os resultados dos padrões de aberturas de 50% e
100% não foram muito discrepantes, porém a edificação apresentou queda na temperatura de até 16% com as
janelas fechadas. As alternativas propostas, apesar de amenizarem a sensação de desconforto térmico no frio
em até 16%, não foram capazes de atender à zona de conforto estabelecida pela ASHRAE Standard 55.
Palavras-chave: arquitetura escolar, conforto térmico, simulação computacional.

ABSTRACT
In this study the thermal comfort of the CAp-COLUNI school building – located in Viçosa-MG – was
analyzed through computer simulation with the aid of Energy Plus and Euclid plugins for the SketchUp
software. According to INMET 2016 climate data, available at the Projeteee platform (Designing Energy
Efficient Buildings), the city’s population is under thermal discomfort for about half the year. The definitions
of the thermal properties of the building materials were taken from NBR 15220 Part 2 (ABNT, 2005). The
building’s natural ventilation was simulated with Airflow Network MultizoneWithoutDistribution. Project
alterations were defined to adequate the building’s thermal comfort, based on bioclimatic strategies
established by NBR 15220 - Part 3. Taking all in consideration, the obtained results demonstrate that the
school building presents adequate thermal comfort during the summer; however, there are high rates of
discomfort in the winter. It has been shown that the results of the 50% and 100% opening patterns were not
too dissimilar, but the building showed a rise of monthy zone operative temperature of up to 16% with
windows and doors closed. The proposed alternatives, albeit easing the sensation of thermal discomfort
during cold days were not able to meet the guidance defined by the ASHRAE Standard 55.
Keywords: school architecture, thermal confort, computer simulation.

981
1. INTRODUÇÃO
Para entender como se dão as relações entre o meio e usuário, Kowaltowski et al (2001) afirmam que devem
ser levantados, entre outros fatores, os indivíduos, a função do espaço e as necessidades coletivas e/ou
individuais para o exercício das funções vitais. No caso da arquitetura escolar, a percepção de conforto pelo
usuário interfere diretamente no desempenho de suas atividades. Assim, é importante garantir o conforto
térmico, lumínico e sonoro das salas de aula, a fim de proporcionar um espaço que opere com condições
adequadas para garantir o bom aprendizado aos alunos. O desconforto térmico pode causar sonolência,
alteração nos batimentos cardíacos, aumento da sudação, apatia e desinteresse pelos trabalhos desenvolvidos
nas salas de aula. Além de influenciar no rendimento escolar, um projeto termicamente confortável também
reflete no consumo de energia da edificação.
Conforme revisão bibliográfica feita por Tondo (2017), os parâmetros físicos que exercem influência
no desempenho termoenergético das edificações são: as propriedades termofísicas dos materiais, o contato da
edificação com o solo, a absortância das paredes e coberturas, a orientação solar da edificação e das
aberturas, a forma da edificação, a área das fachadas e aberturas, o tamanho dos ambientes, a área de abertura
para ventilação, o sombreamento, a disposição das aberturas e a forma como ocorre a ventilação. Além
destes parâmetros físicos, a parte 3 da NBR 15220 (ABNT, 2005) indica, como forma de adequar o espaço
edificado às condições climáticas locais, o uso de estratégias bioclimáticas nas edificações: ventilação,
resfriamento evaporativo, inércia térmica para resfriamento, resfriamento artificial, umidificação, inércia
térmica e aquecimento solar, aquecimento solar passivo e aquecimento artificial.
De acordo com a ASHRAE (2013), o conforto térmico é a combinação dos fatores ambientais e
pessoais que proporcionam sensações de conforto térmico aceitáveis para a maioria dos usuários do espaço.
Além de proporcionar a sensação de bem estar, segundo Lamberts, Dutra e Pereira (2014) o conforto térmico
também garante a qualidade do ar do espaço. Conforme Duarte et al (2016) a importância dos estudos em
conforto térmico se baseia em 3 fatores principais: o bem-estar e a produtividade do ser humano e a
conservação de energia. Esses estudos buscam analisar e estabelecer as condições necessárias para a
avaliação e concepção de um ambiente termicamente adequado para as atividades e ocupação humanas,
assim como estabelecer metodologias para análises térmicas eficazes dos espaços.
A fim de entender o desempenho térmico das edificações, atualmente, existem softwares para a análise
e simulação das edificações, como o programa Energy Plus, desenvolvido pelo Departamento de Energia dos
Estados Unidos, DOE (2018). Com o uso desse tipo de simulação computacional, aliada ao método de
cálculo estabelecido pela ASHRAE Standard 55 (ASHRAE, 2013), é possível estimar quantas horas de
desconforto térmico há na edificação.
Neste contexto, as edificações da Universidade Federal de Viçosa, em geral, utilizam de diversas
estratégias arquitetônicas para proporcionar um bom desempenho térmico aos usuários da instituição, como
o uso de brises e cobogós. Entretanto, percebe-se que em determinadas situações tais estratégias são
insuficientes para atender as demandas de conforto dos alunos, professores e servidores. Kowaltowski et al
(2001) afirmam que há estudos que indicam que no caso da arquitetura escolar as principais falhas
observadas estão relacionadas à funcionalidade e às condições de conforto térmico, e que a maioria das
escolas são consideradas quentes no verão e sem ventilação adequada. Entretanto, no caso do edifício do
colégio de aplicação da Universidade Federal de Viçosa (CAp-COLUNI UFV), o uso de cobogós e pátio
interno garantem a ventilação cruzada de forma eficiente no verão. Entretanto, conforme observações
percebidas na edificação, a edificação apresenta desconforto térmico no inverno.
Considerando este cenário, a questão central que fundamenta este estudo é como se dá o desempenho
térmico das salas de aula do COLUNI no inverno. Para responder esta questão este artigo busca investigar o
conforto térmico deste edifício ligado ao ensino, e propor soluções adequadas, caso sejam necessárias, à
realidade do contexto do colégio. Entende-se que tais soluções devem possuir uma boa relação custo-
benefício e passíveis de serem executadas em curto prazo, visto que se trata de um edifício público que usa
recursos da instituição federal para adequações e reformas.
Foram realizadas simulações termo-energéticas no EnergyPlus das condições reais da edificação, com
3 padrões de abertura diferentes, além de alternativas projetuais, pautadas em estratégias bioclimáticas, para
amenizar as situações de desconforto encontradas. Busca-se, assim, propiciar salas de aula termicamente
confortáveis para estes usuários da edificação. Estudos similares feitos por Santos, Lima e Oliveira (2018)
demostraram resultados relevantes em relação a inviabilidade de solucionar situações de desconforto térmico
por frio utilizando o aquecimento passivo em um edifício em Curitiba.
982
2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é avaliar, por meio de simulação computacional, o conforto térmico das salas de aula
do edifício escolar do COLUNI, localizado em Viçosa, MG, especialmente no período de inverno, e propor
soluções para minimizar as situações de desconforto térmico.

3. MÉTODO
O método deste trabalho consiste em 4 etapas: 1- caracterização do objeto de estudo; 2- definição do modelo;
3- definição das condições para simulação computacional no programa Energy Plus e 4- propostas de
alterações de projeto para adequação da edificação.

3.1. Caracterização do objeto de estudo


A edificação do colégio de aplicação da Universidade
Federal de Viçosa, Cap-COLUNI, está localizada no
município de Viçosa, na zona da mata de Minas
Gerais, à 225 km da capital mineira Belo Horizonte.
O município apresenta o clima tropical de altitude,
com verão quente e chuvoso e baixas temperaturas no
inverno, e segundo a NBR 15220-3 (ABNT, 2005)
está localizada na zona bioclimática 3.
Na análise do arquivo climático, utilizando o
Projeteee (2019a) o município apresenta 52% do ano
em desconforto por frio, 32% em conforto térmico e
16% em desconforto por calor. A Figura 1 mostra as
temperaturas médias mensal, mensal máxima e
mínima do município e a zona de conforto. Observa- Figura 1 – Gráfico de temperaturas médias mensais e zona
de conforto (Projeteee, 2019a).
se que em 5 meses do ano, do mês de abril ao início
de setembro, a temperatura média mensal está abaixo
do estipulado na zona de conforto para edificações
naturalmente ventiladas.
O COLUNI foi criado em 1965 e ministra
aulas para estudantes do ensino médio. O projeto do
edifício atual do COLUNI, inaugurado em 1989, foi
concebido por uma equipe de arquitetos contratados
pela UFV, e possui salas de aulas, salas de projeção,
sala de informática, pátio interno, anfiteatro,
laboratórios, gabinetes de professores entre outras
instalações. O anexo, com biblioteca, auditório e
salas de aula, foi inaugurado em 2015, como Figura 2: Localização do edifício do COLUNI no campus da
comemoração dos 50 anos da escola. UFV.
Para este trabalho, foram consideradas as salas de aula do edifício original, ilustradas a seguir:

Figura 3: Planta baixa do térreo.

983
Figura 4: Planta baixa do 2° Pavimento.

Como instruído pela NBR 15220-3 (ABNT, 2005), as edificações dessa zona bioclimática – Zona
Bioclimática 3 - devem possuir aberturas médias para ventilação e o sombreamento das aberturas deve
permitir a incidência solar durante o inverno. A norma também indica que as vedações externas devem ser
do tipo leve refletora e a cobertura leve isolada e que devem ser utilizadas as estratégias de condicionamento
térmico passivo de ventilação cruzada no verão e de aquecimento solar passivo da edificação e vedações
internas pesadas (inércia térmica) no inverno. Outras estratégias bioclimáticas para o município estabelecidas
do Projeteee (2019b), consistem em sombreamento e resfriamento evaporativo, estes com baixos índices de
aplicabilidade, 8% e 4% respectivamente.
No edifício do COLUNI, há o uso de cobogós e pátio interno com jardins que permitem a ventilação
cruzada nas salas de aula; entretanto, as salas não recebem incidência solar direta. Apesar de ser uma
estratégia bioclimática eficaz no verão, no inverno a ventilação cruzada nas salas de aula provoca sensação
maior de frio, sendo necessário fechar as janelas e, consequentemente, impedindo a ventilação higiênica,
ventilação esta necessária em um ambiente com cerca de 40 pessoas. O prédio utiliza de cobertura zenital no
anfiteatro e no pátio interno, permitindo o aquecimento interno destes espaços; porém o uso de vidro na
cobertura não é capaz de minimizar o desconforto térmico no inverno.
A edificação possui estrutura de concreto com paredes de tijolo aparente de 15 cm. Na circulação
interna que dá acesso às salas, há o uso de cobogós de concreto maciço. Devido à falta de acesso ao projeto e
à cobertura do edifício, foi estipulado a partir de imagens aéreas que a cobertura é de fibrocimento com
inclinação de 10%. O prédio também possui vidro na fachada principal e esquadrias de metal do tipo fixa,
basculante e de correr.

Figuras 5, 6 e 7: Circulação interna que dá acesso às salas de aula, pátio interno com cobertura zenital e jardins, e interior de uma das
salas de aula.

984
3.2. Definição do modelo
O modelo foi realizado com o plugin Euclid versão
0.9.3 do Sketchup 2016, e foi definido a partir de
características observadas no edifício original em
relação à volumetria, orientação solar, emprego de
materiais e tipos de aberturas. Foram feitas
simplificações para facilitar a modelagem e simulação
no Energy Plus, como a volumetria dos cobogós, que
manteve o mesmo ângulo de sombreamento, porém
com dimensões maiores.
A modelagem se deu a partir da definição de 18
zonas térmicas. Foram modeladas as 8 salas de aula e
espaços adjacentes, que incluem o pátio interno, o
anfiteatro e os laboratórios. As coberturas das salas de
aula foram modeladas separadamente. Das 8 salas, 4 Figura 8: Zonas térmicas da edificação.
foram escolhidas para serem analisadas: Z2, Z4, Z5 e
Z9. Os corredores não foram simulados, apenas os
cobogós como dispositivos de sombreamento “shade”.

Figura 9: Modelo.

As propriedades térmicas dos materiais usados, tais como condutividade térmica, densidade, calor
específico e absortância solar foram retirados da NBR 15220 e do Anexo Geral V do Catálogo de
propriedades térmicas de paredes, coberturas e vidros do RTQ- C do PBE Edifica (INMETRO, 2013).

Tabela 1– Propriedades térmicas dos materiais utilizados na simulação.


Condutividade
Material Densidade [kg/m3] Calor específico [J/kg.K] Absortância solar
térmica [W/m.K]
Argamassa 1,15 2000 754 0,7
Concreto 1,75 2400 1005 0,7
Fibrocimento 0,698 1800 921 0,7
Madeira para porta 0,12 400 2300 0,7
Tijolo cerâmico 0,90 1600 920 0,7

Tabela 2: Propriedades térmicas dos vidros utilizados na simulação.


Material Tsol Rsol1 Rsol2 Tvis Rvis1 Rvis2 Emis1 Emis2
Vidro 6 mm 0,270 0,200 0,305 0,401 0,229 0,111 0,837 0,120
Vidro 8 mm 0,450 0,090 0,160 0,540 0,110 0,190 0,840 0,840

Onde:
Tsol = Transmitância à radiação solar (incidência normal)
Rsol1 = Refletância à radiação solar na face 1 (incidência normal)
Rsol2 = Refletância à radiação solar na face 2 (incidência normal)
985
Tvis = Transmitância à radiação solar no espectro visível (incidência normal)
Rvis1 = Refletância à radiação visível na face 1(incidência normal)
Rvis2 = Refletância à radiação visível na face 2(incidência normal)
Emis1 = Emissividade em ondas longas na face 1
Emis2 = Emissividade em ondas longas na face 2

3.3. Definição das condições para simulação computacional


Após a modelagem, foi realizada a simulação no Energy Plus 8.7, com a realização de procedimentos
conforme Pereira e Loura (2012a; 2012b). Como o edifício encontra-se em um campus universitário, o
“Building terrain” foi definido como “Country” e a simulação ocorreu durante todo o ano.
Foi utilizado o arquivo climático TMY2 de Viçosa- MG disponível no LATECAE (2018), de onde
se extraíram os dados referentes às temperaturas do solo durante o ano.
Para a ventilação Natural, foi utilizado o Airflow Network MultizoneWithoutDistribution. Foram
configurados 5 tipos de abertura: fixas, em que não há ventilação, abertas, compreendidas como os vãos
entre as zonas, com 100% de abertura o tempo todo, janelas basculante e de correr e portas de abrir. Para as
portas de abrir foram considerados dois padrões de aberturas, fechadas e 100% abertas, e para as janelas do
tipo basculante e de correr foram consideradas 3 padrões de abertura: 0%, 50% e 100% abertas.
Foram considerados os ganhos internos de calor por pessoas e iluminação artificial. Não foram
considerados equipamentos eletrônicos, como datashows, nem os efeitos da ventilação artificial. O padrão de
ocupação das salas de aula foi definido como sendo de 7:00 às 9:30 e de 9:50 às 12:20 no turno da manhã, e
de 13:00 às 15:30 e de 15:50 às 18:20 no turno da tarde, com 41 pessoas em cada ambiente, sendo 40 alunos
e 1 professor. O padrão de iluminação foi estimado em 10,88 W/m² em cada sala. O anfiteatro e pátio interno
não recebem iluminação artificial no período de funcionamento da escola devido à iluminação natural
proveniente do uso da cobertura zenital. No anfiteatro foi utilizado um padrão de ocupação de 320 pessoas
de 9:30 às 9:50, e de 160 pessoas de 15:30 às 15:50.
Para dados de saída foram solicitadas os dados relativos à temperatura operativa interna mensal e por
hora e a temperatura de bulbo seco externa por hora. Em relação a avaliação do desempenho da ventilação
natural, foram realizados testes do modelo com os 3 padrões de abertura diferentes, 0%, 50% e 100% de
abertura, a fim de comparar a influência das aberturas nas temperaturas operativas internas das salas de aula,
comparando-as com a temperatura de bulbo seco externa.
Para análise das horas de desconforto térmico, foram utilizados os resultados da simulação feita com
padrão de abertura de 50%, situação tida como a mais comum no edifício. Os resultados obtidos foram
analisados ao longo do ano todo, de acordo com as condições climáticas, inverno e verão, e de acordo com
os horários das aulas. Os horários de aulas foram divididos em turnos de manhã e tarde, considerando apenas
os semestres letivos e desconsiderando as férias, compreendidas como sendo o mês de janeiro, duas semanas
de dezembro e duas de julho. Para definição de “verão” e “inverno” foi utilizado os dados retirados do
Projeteee (2019a), sendo o período de inverno considerado de abril ao início de setembro, e de verão
considerado de setembro a março.
Por fim, em relação as análises de horas de desconforto térmico, considerou-se o limite de
aceitabilidade de 80% de conforto estabelecido pela ASHRAE Standard 55 (ASHRAE, 2013) que adota
limites máximos e mínimos conforme equação abaixo:

(0,31xTbs + 14,3) < To < (0,31xTbs + 21,3) Equação 1

Onde:
Tbs é a Temperatura de Bulbo Seco Externa[ºC].
To é a Temperatura Operativa [ºC].

Os resultados da equação foram divididos pelo número de horas analisadas a fim de se obter o
resultado em porcentagem.

3.4. Propostas de estratégias bioclimáticas para adequação do projeto.


Após a análise dos resultados de horas de desconforto térmico obtidos com a simulação com padrão de
abertura de 50%, foram simuladas possíveis alterações de projeto, a fim de compará-las com a situação real.

986
Observou-se a necessidade de evitar a perda de calor no período de inverno e aumentar a inercia térmica da
edificação. Foram realizadas as seguintes alterações de projeto:

Tabela 3: Alterações de projeto para adequação do conforto térmico.


Padrão de Estratégia
Alteração Descrição
abertura Bioclimática
Substituição dos cobogós da fachada sudeste por parede de 15 cm de tijolo com
Aquecimento
A1 50% aberturas do tipo basculante com as dimensões 24,8 x 2,0 x 1,0 m no térreo e 2º
solar passivo
pav.
Substituição da telha de fibrocimento por telha sanduíche, composta por
A2 50% Inércia térmica poliestireno expandido e alumínio
Laje + câmara de ar + alumínio 1 cm + Poliestireno expandido + alumínio 1 cm
Aplicação de sistema drywall composto por lã de rocha e gesso acartonado na
A3 50% Inércia térmica
face externa nas paredes das salas de aula + Isolamento no piso
Aquecimento
A4 50% solar passivo + Conjunto das alterações 1+2+3
Inércia térmica
Aplicação de sistema Drywall composto por poliestireno e alumínio na face
A5 50% Inércia térmica
externa nas paredes das salas de aula + Alterações 1 e 2
A6 50% - Fechar as janelas durante os horários em que não há ocupação.
A7 50% Inércia térmica Conjunto das alterações 4+6
Situação real com 10% do padrão de abertura, apenas para garantir a ventilação
A8 10% -
higiênica
Aquecimento
A9 10% solar passivo + Ventilação higiênica + Conjunto das alterações 1+2+3
Inércia térmica

Tabela 4: Propriedades térmicas dos materiais utilizados nas simulações com alterações do projeto.
Condutividade térmica Densidade Calor específico Absortância
Material
[W/m.K] [kg/m3] [J/kg.K] estimada
Lã de Rocha 0,045 100 750 0,7
Alumínio 230 2700 880 0,7
Poliestireno expandido moldado 0,04 15 1420 0,7
Gesso acartonado (cor laranja) 0,35 750 840 0,7

4. RESULTADOS
Os resultados referentes à avaliação do desempenho da ventilação natural são apresentados em gráficos que
mostram a temperatura de bulbo seco externa e as temperaturas operativas médias mensais das salas de aula
de acordo com o padrão de abertura: 0%, 50% e 100% abertas.

Figura 10: Gráfico da influência dos diferentes padrões de abertura Figura 11: Gráfico da influência dos diferentes padrões de
na temperatura operativa interna mensal da Zona 2. abertura na temperatura operativa interna mensal da Zona 4.

987
Figura 12: Gráfico da influência dos diferentes padrões de abertura Figura 13: Gráfico da influência dos diferentes padrões de
na temperatura operativa interna mensal da Zona 5. abertura na temperatura operativa interna mensal da Zona 9.

Observa-se que não há grandes alterações nas temperaturas operativas médias mensais internas das
salas de aula com os padrões de abertura de 50% e 100% abertas. Nas salas de aula com padrão de abertura
de 100%, a ventilação natural conseguiu diminuir a temperatura dos ambientes em até 3,5 ºC, uma redução
de 16% do valor da temperatura operativa com as janelas fechadas. Na Zona 2 houve aumento de 5% a 8%
na temperatura operativa média mensal com o padrão de 0% em relação ao de 100%, de 9% a 15% na Zona
4, de 9% a 13% na Zona 5, e de 11% a 16% na Zona 9.
Assim, observa-se que a Zona 2, localizada no térreo, voltada para a fachada sudoeste, apresenta as
temperaturas operativas mais baixas e a menor variação em relação à influência da ventilação natural. Além
disso, a Zona 9, localizada no segundo pavimento, voltada para fachada noroeste, apresentou maior variação
das temperaturas. Os resultados da análise das horas de desconforto térmico são demonstrados na tabela 5.
A partir da análise dos resultados, observa-se que as alterações 1 (aquecimento solar passivo) e 2
(telha sanduíche) não apresentaram melhoras significativos no desconforto das salas.
A alteração 3 (drywall) apresentou melhora em certas situações de algumas zonas. A Zona 2
apresentou melhora de 12% no inverno e a Zona 4 passou a ser termicamente confortável no período da
tarde. Os resultados das Zonas 5 e 9 não foram representativos.
As propostas 4 e 5 conseguiram amenizar o problema no pior cenário, o da Zona 2 durante o inverno,
com uma melhora de 11% no índice de desconforto. Entretanto, os índices de desconforto mantiveram-se
altos nessa zona. Percebe-se que não houveram variações discrepantes entre os tipos de materiais isolantes
utilizados no sistema drywall.
A alternativa 6, de fechar as janelas durante os horários em que não há ocupação, não representou
nenhuma alteração nas horas de desconforto. Entende-se que a edificação não é capaz de armazenar o ganho
de calor gerado pelas pessoas e iluminação artificial durante o período de ocupação. Consequentemente, a
alteração 7 não apresentou significados diferentes da alteração 4.
A proposta 8, de manter apenas uma ventilação higiênica nas salas de aula, apresentou melhoras nos
índices de desconforto térmico. Essa proposta, associada às estratégias bioclimáticas na alteração, obteve os
melhores resultados, chegando a diminuir o pior índice de desconforto térmico do cenário real, de 82% para
67%. As alterações foram capazes de diminuir em 13% o desconforto no período da manhã na Zona 2, em
14% na Zona 4, em 16% na Zona 5 e em 15% na Zona 9.
As Zonas 5 e 9, salas de aula do segundo pavimento, obtiveram melhor conforto térmico, em especial
a Zona 9, voltada para a fachada noroeste. A sala no térreo voltada para noroeste, Zona 4, apresenta melhor
desempenho do que a voltada para sudoeste, Zona 2. Percebe-se a importância da orientação solar e do
contato com o solo nos resultados. A Zona 9 foi a que apresentou menor amplitude nos resultados.
Na Zona 4, todas as propostas de alterações conseguiram deixar a sala termicamente confortável no
período das aulas a tarde, exceto a A6. Assim, apenas com a ventilação higiênica, não seria necessária
nenhuma alteração de projeto no período da tarde para a ocupação adequada dessa sala.
Conforme os resultados, observa-se que a ventilação natural funciona bem no período de verão, e que
em todas as salas de aula analisadas não há desconforto térmico por calor. Entretanto, no inverno, a
edificação chega a apresentar valores de desconforto de até 82%.
988
Apesar dos índices de conforto térmico aumentarem com as alternativas de projeto, esse aumento não
foi expressivo, mesmo utilizando estratégias de inércia térmica e aquecimento solar e altos índices de
absortância.
Tabela 5: Percentual de horas de desconforto térmico
Zona Alteração de Condições Climáticas Horário de aulas
Térmica projeto Ano todo Inverno Verão Manhã Tarde Manhã+Tarde
Situação Real 42% 82% 14% 54% 38% 46%
A1 42% 82% 14% 54% 38% 46%
A2 43% 83% 14% 54% 39% 47%
A3 39% 74% 13% 54% 29% 42%
A4 36% 71% 11% 50% 28% 39%
Z2
A5 37% 72% 11% 49% 27% 38%
A6 42% 82% 14% 54% 38% 46%
A7 36% 71% 11% 50% 28% 39%
A8 41% 81% 13% 53% 40% 46%
A9 33% 67% 8% 46% 28% 37%
Situação Real 34% 67% 9% 44% 22% 33%
A1 34% 67% 9% 44% 22% 33%
A2 34% 68% 9% 43% 21% 32%
A3 27% 55% 7% 38% 12% 25%
A4 27% 54% 7% 37% 11% 24%
Z4
A5 27% 54% 7% 35% 10% 23%
A6 34% 67% 9% 44% 22% 33%
A7 27% 54% 7% 37% 11% 24%
A8 30% 63% 7% 38% 20% 29%
A9 23% 47% 5% 30% 10% 20%
Situação Real 29% 57% 8% 43% 18% 30%
A1 29% 57% 8% 43% 18% 30%
A2 28% 57% 7% 38% 19% 29%
A3 28% 53% 9% 41% 13% 27%
A4 24% 50% 5% 32% 13% 23%
Z5
A5 24% 49% 5% 32% 12% 22%
A6 29% 57% 8% 43% 18% 30%
A7 24% 50% 5% 32% 13% 23%
A8 26% 52% 7% 38% 16% 27%
A9 20% 43% 4% 27% 12% 19%
Situação Real 26% 54% 7% 40% 16% 28%
A1 26% 54% 7% 40% 16% 28%
A2 26% 54% 6% 36% 18% 27%
A3 26% 50% 9% 40% 13% 27%
A4 23% 47% 5% 32% 11% 22%
Z9
A5 23% 46% 5% 31% 11% 21%
A6 26% 54% 7% 40% 16% 28%
A7 23% 47% 5% 32% 11% 22%
A8 23% 47% 5% 35% 15% 25%
A9 18% 37% 4% 25% 10% 18%
Legenda: Verde: resultados que estão dentro do limite das horas de desconforto (igual ou menor à 20%).
Vermelho: horas de desconforto que não atendem ao estabelecido pela ASHRAE Standard 55.

5. CONCLUSÕES
A partir da análise dos resultados obtidos observa-se que o uso eficaz da ventilação natural para o
resfriamento dos ambientes é uma boa estratégia no período de verão, mas deve-se utilizar essa estratégia
com cautela no inverno nos municípios com baixas temperaturas, para evitar a perda de calor interno dos
ambientes. Observou-se também que orientação solar e as baixas temperaturas do solo influenciaram
diretamente no conforto térmico das salas de aula. Mesmo com as alterações propostas para aumentar a
inércia térmica das paredes, pisos e cobertura, e proporcionar aquecimento solar passivo, não foi possível
tornar a edificação termicamente confortável durante todo o ano. Embora tenha sido possível amenizar as
situações de baixas temperaturas internas, estas não foram significativas, principalmente no período da

989
manhã no inverno. Percebeu-se que apenas mantendo uma ventilação higiênica, é possível diminuir este
desconforto térmico no frio.
As alterações propostas não foram capazes de suprir as necessidades térmicas do edifício, devido às
suas características físicas, como a orientação solar da edificação e das aberturas e a forma da edificação. A
área das fachadas e das aberturas também influenciam nesse aspecto, visto que a edificação apresenta o uso
extenso de cobogós e pouco uso de vidro nas fachadas para aquecimento solar passivo. Além disso, o
aquecimento passivo proveniente das coberturas zenitais no pátio interno e anfiteatro não é suficiente, devido
à grande dimensão desses espaços, para ser aproveitado nas salas de aula. Outro fator que deve ser
considerado é a forma como ocorre a ventilação, de modo que o calor produzido é facilmente dissipado.
Vale ressaltar que a NBR 15220-3 (ABNT, 2005) apresenta diretrizes construtivas e detalhamento de
estratégias de condicionamento térmico passivo recomendadas para a fase de projeto de habitações
unifamiliares de interesse social. Não há muitos trabalhos ou normas que estudam conforto térmico em
edifícios escolares já existentes.
Com este estudo verificou-se que a edificação da forma como foi projetada e executada causa um
grande desconforto aos alunos e funcionários da escola. Uma alternativa para solucionar o problema do
desconforto térmico dos alunos nesta escola é uma reformulação dos horários de uso das salas, verificando
quais horários e épocas do ano cada sala está confortável. Segundo Lamberts, Dutra e Pereira (2014), cabe ao
arquiteto integrar o uso de sistemas naturais e artificias nas edificações, ponderando os limites de
exequibilidade e a relação custo benefício de cada solução. Assim, recomenda-se também a realização de um
estudo de viabilidade para o uso de aquecimento artificial nas situações extremas de frio.

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Dissertação (Mestrado Engenharia Civil) – Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil, Universidade do Estado de
Santa Catarina, 2017.

990
ANÁLISE DO CONFORTO TÉRMICO EM UMA EDIFICAÇÃO
CERTIFICADA COM O SELO LEED V.4 LOCALIZADA EM
GOVERNADOR VALADARES-MG
Bruno Aun Mourão (1); Ana Carolina de O. Veloso (2); Roberta Vieira G. de Souza (3)
(1) Eng. Mecânico, Consultor em Eficiência Energética e Sustentabilidade, bruno.aunmourao@gmail.com
(2) Dra., Pós-doutoranda em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável UFMG, acoveloso@gmail.com
(3) Dra., Professora do Departamento de Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo, roberta@arq.ufmg.br

RESUMO
Diversas estratégias bioclimáticas são utilizadas com o objetivo de extrair o máximo potencial de uso dos
recursos naturais disponíveis no local em que se insere um projeto arquitetônico. Uma das principais formas
de avaliar o desempenho de cada estratégia no projeto é através das simulações térmicas, luminosas e
energéticas. Com o auxílio de softwares de simulação termo energéticos, é possível testar diversas soluções
com rapidez e baixo custo, se comparado aos métodos experimentais, obtendo-se assim, a melhor relação
entre a eficiência energética da edificação e o conforto térmico do usuário. Com o intuito de mensurar os
ganhos obtidos com a aplicação dessas estratégias, este artigo investiga a influência dos elementos de
sombreamento – brises, venezianas e cobogós – e a presença de ventilação natural na temperatura interna dos
ambientes, para uma edificação comercial denominada “Espaço LarVerdeLar”, construída na cidade de
Governador Valadares-MG. Além disso, o trabalho confronta o consumo energético obtido através da
simulação com os dados reais do edifício em operação. Utilizando o programa EnergyPlus versão 8.9.0,
criou-se um modelo computacional para o “Espaço LarVerdeLar”, simulado com um arquivo climático local.
Para cada estratégia adotada – brises, venezianas, cobogós e ventilação natural – foram comparados os
valores de temperatura operativa interna dos ambientes. Os resultados mostraram que o uso das estratégias
de ventilação natural e proteções solares melhoraram o conforto do usuário na edificação.
Palavras-chave: simulação computacional, desempenho energético, desempenho térmico, ventilação natural.

ABSTRACT
Several bioclimatic strategies are used in order to extract the maximum natural resources potential available
at the site of an architectural project. One of the main ways to evaluate the performance of each strategy in
the project is the use of thermal, light and energy simulations. Using these simulation softwares, it is possible
to quickly and inexpensively evaluate several solutions, when compared to the experimental methods,
obtaining, thus, the best solution regarding both the energy efficiency of the building and the user thermal
comfort. In order to measure the gains obtained from the application of these strategies, this article
investigates the influence of the shading elements – brises, shutters and cobogós – and the presence of
natural ventilation at the internal rooms temperatures, for a commercial building called "Espaço LarVerdeLar
", built in the city of Governador Valadares-MG. In addition, the paper confronts the energy consumption
obtained through simulation and real data of the building in operation. Using EnergyPlus software, version
8.9.0, a computational model was created for the "Espaço LarVerdeLar", which was simulated with a local
climate file. For each adopted strategy – brises, blinds, cobogós and natural ventilation – the values of
internal rooms operative temperatures were compared. The results showed that the use of natural ventilation
and sun protection strategies improved the thermal comfort in the building.
Keywords: computer simulation, energy performance, thermal performance, natural ventilation.

991
1. INTRODUÇÃO
A eficiência energética de edificações tem um papel fundamental no desenvolvimento social, econômico e
ambiental de uma sociedade. Atualmente, quase 50% da energia elétrica consumida no Brasil é destinada às
edificações (EPE, 2019). Por esse motivo, diversas medidas políticas e econômicas vêm sendo tomadas para
reduzir esse consumo e tornar as edificações mais energeticamente eficientes. Aliado a isso, o
desenvolvimento tecnológico abre portas para diversas possibilidades de utilização de recursos renováveis ao
projetar edifícios sustentáveis, eficientes e confortáveis (Lamberts et al., 2004).
Nesse contexto e visando reduzir o desperdício otimizando o desempenho térmico, visual e
energético, os softwares de simulação se apresentam como uma das principais ferramentas para tomada de
decisão em projeto. Com seu auxílio, é possível prever situações, avaliar diversas possibilidades, estimar o
consumo de energia e propor variadas soluções ainda na fase de concepção, com rapidez e baixo custo, se
comparado aos métodos experimentais. Os resultados gerados por essa ferramenta permitem identificar as
melhores alternativas para atender o conforto dos usuários, aliada à eficiência energética da edificação
(MENDES et al, 2015). Simulações deste tipo foram usadas, por exemplo, por Alves et al (2017) para
verificar o potencial de retrofit de edificações existentes e por Veloso, Souza e Koury (2015) para verificar o
impacto de decisões de projeto no consumo de energia de uma edificação comercial ventilada em modo
misto.
O LEED v.4 é um sistema de sistema desenvolvido para certificar edificações através da colocação de
quesitos relativos à sustentabilidade e à redução do impacto ambiental das construções que adotam práticas
ambientalmente responsáveis (USGBC, 2018). Nascimento e Nanya (2017) descrevem o sistema e apontam
suas vantagens para o mercado brasileiro.
O clima de Governador Valadares é quente e as altas temperaturas permanecem ao longo de todo o
ano, gerando desconforto por calor em 41% do tempo ao longo do ano. As principais estratégias
bioclimáticas para mitigação dos efeitos de temperatura são a ventilação natural, que promovem a retirada do
calor dos ambientes e a renovação do ar; a inercia térmica para aquecimento, que proporciona a diminuição
das amplitudes térmicas internas e um atraso térmico no fluxo de calor gerando uma defasagem em relação
ao ambiente externo; e o sombreamento, que reduz os ganhos solares através do envelope da edificação nos
períodos mais quentes, do dia e do ano, sem obstruí-los no inverno e sem prejudicar a iluminação natural
através das aberturas (ProjetEEE, 2019).

2. OBJETIVO
Esse artigo tem um caráter investigativo e tem o objetivo de verificar o conforto térmico dos usuários com a
inserção de proteções solares na edificação Edifício Espaço LarVerdeLar em Governador Valadares/MG
bem como comparar o consumo de energia simulada em relação aos dados medidos.

3. MÉTODO
Primeiramente, o artigo investiga a influência dos elementos de sombreamento na edificação e, em seguida,
faz uma correlação entre os resultados obtidos na simulação e os dados reais de consumo de energia do
empreendimento e o conforto térmico dos usuários. A metodologia é então composta da descrição do estudo
de caso, das etapas de modelagem do edifício, da inserção do projeto no Energy Plus, da definição do
período de simulação, da definição dos índices de conforto térmico, da especificação dos equipamentos e do
tratamento de dados.
3.1. Estudo de caso
O empreendimento usado como estudo de caso foi o primeiro do Brasil a receber o selo de certificação
LEED v.4. (ver figura 1).

Figura 1 – Vista lateral direita e esquerda do Espaço LarVerdeLar e seu entorno.


992
O estudo analisa apenas os ambientes de permanência prolongada, incluindo a cozinha, visto que são
os locais em que o gasto energético para climatização ou ventilação forçada podem ser maiores em caso de
desconforto térmico dos usuários. No primeiro pavimento, os ambientes analisados foram: Escritório (zona
1), Cozinha (zona 2) e Sala de Gerência (zona 3). Já no segundo pavimento: Área de Descanso (zona 6) e
Sala de Reuniões (zona 7). A figura 2 mostra a planta baixa e a nomenclatura de cada ambiente.

As lajes de cobertura possuem


quatro tipos de composição na
edificação, mostrado nas figuras 3 e 4.
O edifício possui telhados
verdes (figura 4), localizados sobre as
zonas 1, 6, 7 e sobre a garagem. Todas
as coberturas vegetais, exceto aquela
da garagem, foram consideradas na
simulação termo energética pois estão
sobre ambientes de permanência
prolongada e, possuem influência na
inércia térmica e na manutenção da Figura 2 – Planta baixa da edificação e localização dos ambientes propostos para
temperatura interna dos ambientes. estudo.

Figura 3 – Corte das lajes entre os andares. À Figura 4 – Vista em corte das lajes de cobertura que sustentam os telhados verdes
esquerda, laje com piso Marmóleum de 2,5mm sobre os ambientes (à esquerda) e garagem (à direita).
e à direita, piso porcelanato.

A realização das simulações e obtenção dos resultados seguiram algumas etapas para elaboração do
material que compõe esse artigo. Primeiramente, o edifício foi modelado no SketchUp com o plug-in
OpenStudio e, em seguida, os dados de localização, arquivo climático, materiais, aberturas, sombreamentos,
rotinas de ocupação, entre outros, foram inseridos no EnergyPlus. Feito isso, o Microsoft Excel foi utilizado
como ferramenta de geração dos gráficos e tratamento dos dados.

3.2. Modelagem do edifício no SketchUp com o plug-in OpenStudio


A correta modelagem no software SketchUp é de
fundamental importância para as etapas seguintes,
visto que cada ambiente deve ser analisado como
uma zona térmica. Cada zona térmica possui
comportamento distinto de acordo com sua
orientação, geometria, tamanho de aberturas,
exposição ao sol, elementos de proteção solar,
quantidade de equipamentos elétricos e atividade
metabólica dos usuários.
Após a modelagem, a correspondência das
superfícies e aberturas foi analisada a fim de garantir
que cada zona térmica estivesse corretamente
posicionada no espaço e em interface com seu
entorno. A não conformidade dessa etapa
Figura 5 – Vistas em perspectiva do modelo tridimensional
impossibilita a simulação térmica no software
utilizado para a simulação.
EnergyPlus. A figura 5, mostra a modelagem
tridimensional do edifício Espaço LarVerdeLar.

993
3.3. Inserção dos dados no software EnergyPlus
Essa etapa consiste em inserir todos os parâmetros da simulação, tais como, especificação dos materiais,
composição dos componentes construtivos, orientação do edifício e período de simulação.
Com relação ao método construtivo, foi utilizado bloco de concreto celular autoclavado de 15cm de
espessura, exceto por uma parede da “zona 6”, em que foram utilizados blocos de 20cm, conforme utilizado
no projeto. As características dos materiais, como condutividade, calor específico e densidade, foram obtidos
junto aos documentos de especificações técnicas e a norma NBR 15.220 (ABNT, 2005a). O piso do edifício
está sobre uma camada de 50cm de entulho e a caracterização desse material foi feita com base em uma
média dos principais componentes, como brita, ar, concreto e cerâmica.
Para definição das absortâncias dos materiais, foi utilizada como referência o trabalho de Dornelles
(2008), “Absortância solar de superfícies opacas: métodos de determinação e base de dados para tintas látex
acrílica e pva”.
A temperatura de solo foi inserida a partir do arquivo climático local. Além disso, as aberturas foram
caracterizadas com vidros simples de 5 mm e os elementos de sombreamento associados às respectivas
janelas.
Os cobogós, encontrados na fachada lateral
do edifício, foram modelados como janelas que
permanecem sempre abertas. Para bloquear a entrada
de luz e aproximar o modelo da realidade, brises
horizontais, com dimensões próximas ao formato
dos cobogós, foram posicionados à frente de cada
uma das aberturas que os representa. A figura 6
mostra os cobogós da fachada (à esquerda) e a
consideração feita no modelo do SketchUp (à
direita).
Já a rotina de ocupação e utilização de Figura 6 – Cobogós na fachada da edificação (à esquerda) e
equipamentos e iluminação foram inseridas a partir janelas que os representa no modelo do SketchUp (à direita).
de entrevistas com os usuários do empreendimento
para aproximar a simulação da realidade.
É importante citar que a janela do modelo do SketchUp se mantém sempre aberta e os brises
horizontais e verticais, modelados no EnergyPlus, limitam a entrada de ar conforme dimensões do modelo
real.

3.4. Simulação e investigação da qualidade dos dados do arquivo climático “INMET”


disponível para Governador Valadares/MG
No intuito de assegurar que a simulação feita a partir do arquivo climático de Governador Valadares-MG
fosse confiável, fez-se necessária a realização de uma simulação prévia. Para isso, considerou-se apenas um
curto período de tempo - janeiro a fevereiro - com o objetivo de avaliar se os dados de temperatura estavam
coerentes com a realidade.
Após essa investigação e validação, as simulações anuais começaram a ser feitas para coletar os
resultados, apresentados em quatro etapas, visto que é objetivo do trabalho avaliar a influência da adição de
elementos de sombreamento na temperatura interna dos ambientes. As etapas são: 1 – edificação sem
elementos de proteção solar; 2 – adição de brises e venezianas; 3 – adição de cobogós; 4 – adição de
ventilação natural. Aqui, faz-se pertinente observar que todas as simulações foram realizadas em dois
períodos completos, ou seja, dois anos de simulação. Isso se deve ao fato do primeiro ano servir apenas como
um período de estabilização para a simulação, compilação dos dados e inércia térmica de componentes,
enquanto os dados que de fato foram analisados são os correspondentes aos do segundo ano. É importante
frisar que foi considerado o horário de verão no período do terceiro domingo de outubro até o segundo
domingo de fevereiro.
Para inserir a ventilação natural no modelo na 4ª etapa, fez-se necessário definir um setpoint de
temperatura de operação das portas e janelas. Este foi definido como 20°C e a partir desta temperatura o
usuário é capaz de operar as aberturas a fim de regular a temperatura interna para atingir o conforto térmico.
Ressalta-se que o projeto arquitetônico previu duas aberturas por ambiente para favorecer a ventilação
cruzada e para promover o efeito chaminé na zona 1, com aberturas na parte superior do volume central.
994
3.5. Índices de conforto térmico
Após validação dos dados do arquivo climático, foi possível definir os limites de conforto térmico para o
local do empreendimento. A partir das médias mensais de temperatura de bulbo seco, encontradas no arquivo
climático local, foi possível obter as temperaturas operativas mensais máximas e mínimas de conforto
térmico seguindo a metodologia de conforto adaptativo da Ashrae 55-2010, mostrada na figura 7.

Figura 7 – Gráfico da metodologia Ashrae 55-2010 e tabela para definição dos limites máximos e mínimos de temperaturas
operativas de conforto térmico em função das temperaturas médias ambientes, para Governador Valadares.

Os índices de aceitação, 90% e 80% mostrados na figura, representam a variação aceitável de


temperatura para que o usuário se mantenha em conforto térmico. O limite de 90% é mais restritivo e
normalmente utilizado em hospitais ou locais que não permitam grandes variações de temperatura. Para
ambientes típicos, como o do caso em estudo, os limites de trabalhos aceitáveis estão em 80%, visto que o
usuário pode se adaptar alterando vestimentas ou operando janelas e portas.

3.6. Especificação dos equipamentos para estimar o consumo de energia elétrica


Para estimar o consumo de energia elétrica dos equipamentos em uso na edificação, foram utilizados dados
tabelados como inputs no software EnergyPlus. Esses valores podem ser observados na Tabela 1.

Tabela 1 – Equipamentos elétricos do edifício


POTÊNCIA FREQUENCIA TENSÃO
EQUIPAMENTO LOCAL MODELO FABRICANTE
(W) (Hz) (V)

Bomba de recalque de água de chuva Garagem BC-91S Schneider 240 60 127

2 Bombas de Irrigação Garagem PB-088JA WILO 120 60 127

Motor do portão eletrônico Garagem KDZ Price Garen 150 50/60 220
Escritório e Sala
Ventilador de teto SEM luminária Spirit 200 Spirit 90 60 127
de Reunião
Área de descanso
Ventilador de teto COM luminária Spirit 202 Spirit 90 60 127
e Sala de Gerência

O chuveiro não foi considerado, pois seu uso é restrito a pouquíssimos dias no ano no clima de
Governador Valadares. Isso se deve ao fato da edificação possuir um sistema de aquecimento solar, aliado ao
fato dos índices de insolação na região serem altos.

3.7. Tratamento de dados


Por fim, a partir do resultado das simulações, foi possível tratar os dados no Microsoft Excel e gerar gráficos
de temperatura operativa por período do ano, bem como consumo de energia elétrica dos equipamentos
durante o mesmo período.

4. RESULTADOS
A seguir serão apresentados os resultados obtidos nesta pesquisa. Conforme explicado na metodologia,
quatro simulações anuais foram realizadas e a influência da adição dos elementos de sombreamento foi
analisada.

995
4.1. Simulação #1: Edificação sem os brises e sem as venezianas das janelas
Nesta 1ª etapa somente as proteções solares da fachada externa de alvenaria, foram consideradas, conforme
mostrado na figura 8. Todas as janelas foram simuladas fechadas, ou seja, não há ventilação natural na
edificação. Essa condição foi considerada apenas para fins de comparação do comportamento térmico da
edificação na pior condição de operação.

Figura 8 – Elementos de proteção solar de alvenaria que foram considerados na simulação #1.

A figura 9 mostra a média das temperaturas operativas de cada zona ao longo do ano para a condição
proposta na simulação #1. As curvas na cor vermelho e azul representam as máximas e mínimas
temperaturas de conforto obtidas através da metodologia de conforto adaptativo da Ashrae 55-2010.

Figura 9 – Temperatura operativa média de cada zona ao longo do ano para a simulação #1.
A partir dos dados horários coletados através da simulação, foi possível calcular o percentual de
horas em conforto térmico (POC), aprensentado na figura 10.
PERCENTUAL ANUAL DE HORAS EM CONFORTO TÉRMICO (POC)
AMBIENTE ESCRITÓRIO COZINHA SALA DE GERÊNCIA ÁREA DE DESCANSO SALA DE REUNIÕES
% CONFORTO 64.8% 40.6% 61.4% 30.2% 32.6%
% DESCONFORTO POR FRIO 1.3% 0.0% 0.2% 0.0% 0.0%
% DESCONFORTO POR CALOR 33.89% 59.36% 38.41% 69.84% 67.35%
Figura 10 – Percentual de horas em conforto térmico durante para o período de um ano para a simulação #1.

Nesse caso, como as janelas estão sempre fechadas, os ambientes funcionam como estufas. Dessa
forma, o desconforto por calor é percebido em todos os ambientes nos períodos de janeiro a março e
setembro a dezembro.

4.2. Simulação #2: Edificação com os brises e as venezianas das janelas


Simulação da edificação com os brises nas janelas das zonas 3, 6 e 7 e venezianas na janela da zona 1,
conforme mostra a figura 11. Todas as janelas continuam fechadas e ainda não há ventilação natural na
edificação.

996
Figura 11 – Brises e venezianas das aberturas das zonas 1, 3, 6 e 7 que foram consideradas na simulação #2.

A figura 12 mostra a média das temperaturas operativas de cada zona ao longo do ano para a
condição proposta na simulação #2.

Figura 12 – Temperatura operativa média de cada zona ao longo do ano para a simulação #2.

A partir dos dados horários coletados através da simulação, foi possível calcular o percentual de
horas em conforto térmico (POC), aprensentado na figura 13.
PERCENTUAL ANUAL DE HORAS EM CONFORTO TÉRMICO (POC)
AMBIENTE ESCRITÓRIO COZINHA SALA DE GERÊNCIA ÁREA DE DESCANSO SALA DE REUNIÕES
% CONFORTO 67.9% 43.1% 72.0% 40.2% 45.7%
% DESCONFORTO POR FRIO 1.5% 0.0% 0.4% 0.0% 0.0%
% DESCONFORTO POR CALOR 30.61% 56.89% 27.65% 59.83% 54.35%
Figura 13 – Percentual de horas em conforto térmico durante para o período de um ano para a simulação #2.
O ganho de calor do ambiente continua significativo, mas a temperatura média operativa das zonas
diminuiu, ou seja, o comportamento da curva no gráfico se aproximou do limite máximo de conforto em
comparação aos resultados da simulação #1. Além disso, é possível observar que o percentual de desconforto
por calor diminuiu em todas os ambientes se comparado aos resultados da simulação #1. Ainda se tem o
efeito de estufa pela falta de ventilação natural mas é evidente o efeito de sombreamento dos brises e
venezianas na temperatura interna da edificação.

4.3. Simulação #3: Modelagem dos cobogós.


Nesta etapa foram introduzidos na simulação computacional da edificação brises horizontais, modelados no
EnergyPlus, simulando os cobogós para proteção da entrada de calor. Nessa condição, também com objetivo
investigativo, as janelas foram mantidas fechadas e ainda não há ventilação natural na edificação. Essa
simulação contém todas as características e proteções solares das simulações anteriores. A figura 14 mostra
essa condição.

Figura 14 – Brises horizontais modeladas no EnergyPlus que simulam os cobogós.

A figura 15 mostra a média das temperatura operativa de cada zona ao longo do ano para a condição
proposta na simulação #3, enquanto a figura 16 apresenta o percentual de horas em conforto térmico (POC)
997
Figura 15 – Temperatura operativa média de cada zona ao longo do ano para a simulação #3.

PERCENTUAL ANUAL DE HORAS EM CONFORTO TÉRMICO (POC)


AMBIENTE ESCRITÓRIO COZINHA SALA DE GERÊNCIA ÁREA DE DESCANSO SALA DE REUNIÕES
% CONFORTO 71.9% 43.9% 72.7% 41.6% 46.7%
% DESCONFORTO POR FRIO 1.7% 0.0% 0.4% 0.0% 0.0%
% DESCONFORTO POR CALOR 26.40% 56.13% 26.87% 58.40% 53.28%
Figura 16 – Percentual de horas em conforto térmico durante para o período de um ano para a simulação #3.

A modelagem dos cobogós gerou um desempenho ligeiramente superior em relação ao


comportamento térmico dos ambientes se comparado às simulações #1 e #2. Tal era de se esperar visto que
eles representam uma barreira física ao vidro das janelas, evitando o ganho de calor por radiação solar direta
em relação às janelas sem cobogós.

4.4. Simulação #4: Edificação com ventilação natural


Simulação da edificação com todos os elementos de sombreamento anteriores e a presença de ventilação
natural, capaz de contribuir significativamente para a retirada da carga térmica dos ambientes. A figura 17
retrata o comportamento térmico da edificação com todas as modificações propostas e a figura 18 apresenta
o percentual de horas em conforto térmico (POC) obtido.

Figura 17 – Temperatura operativa média de cada zona ao longo do ano para a simulação #4.

PERCENTUAL ANUAL DE HORAS EM CONFORTO TÉRMICO (POC)


AMBIENTE ESCRITÓRIO COZINHA SALA DE GERÊNCIA ÁREA DE DESCANSO SALA DE REUNIÕES
% CONFORTO 70.9% 73.3% 72.7% 76.2% 74.4%
% DESCONFORTO POR FRIO 18.2% 14.3% 17.9% 14.1% 14.4%
% DESCONFORTO POR CALOR 10.86% 12.35% 9.39% 9.67% 11.28%
Figura 18 – Percentual de horas em conforto térmico durante para o período de um ano para a simulação #4.

A simulação #4 mostra um comportamento bem mais adequado ao conforto térmico. Isso porque,
além da ventilação natural contribuir para a retirada da carga térmica interna, o usuário também atua na
regulagem e manutenção da temperatura. Além disso, pode-se notar que as médias de temperatura ao longo
de todo o ano se encontram dentro dos limites de conforto. Ainda assim, as médias não excluem o fato de
serem encontrados picos de temperatura fora da zona de conforto. Tal é referendado pelos valores de POC
apresentados na figura 18. Nele, pode-se observar que os ambientes de análise têm em torno de 70% de horas
em conforto e não 100% como poder-se-ia inferir a partir da figura 17.

998
4.5. Consumo energético da edificação
A figura 19 mostra o consumo de energia da iluminação e dos equipamentos elétricos ao longo do ano.
Conforme dito anteriormente, o chuveiro não foi modelado. Além disso, a edificação real não faz uso do ar
condicionado, visto que foram utilizados ventiladores de teto e há possibilidade de obtenção de conforto
adaptativo pelos usuários, através das estratégias bioclimáticas inseridas na edificação: ventilação cruzada,
efeito chaminé, prateleiras de luz e elementos de sombreamento.
As colunas empilhadas da figura 19 representam o consumo simulado dos equipamentos e de
iluminação do empreendimento. Já a linha preta mostra o consumo real da edificação a partir dos dados
obtidos na conta de luz da Cemig. Os valores reais e simulados apresentam divergências percentuais entre 15
e 40%. Credita-se que tal se deva aos erros na definição de schedule de utilização, diferenças na potência real
de equipamentos em relação ao modelo simulado, fiação elétrica do empreendimento, tarifas horárias, entre
outros.

Figura 19 – Consumo de energia dos equipamentos ao longo do ano.

5. CONCLUSÕES
A partir da análise dos resultados das simulações, pode-se observar como os elementos de sombreamento, a
ventilação cruzada e o efeito chaminé são funcionais quando bem dimensionados e, principalmente, quando
previstos na fase de concepção do projeto. Nessa etapa, a simulação se torna uma excelente ferramenta de
decisão de projeto, promovendo a análise de diversas soluções e evitando desperdícios de tempo e material.
O trabalho mostrou que as temperaturas operativas médias dos ambientes, obtidas pela simulação #4,
geraram um percentual de conforto térmico acima de 70% ao longo do ano. Para que os usuários possam
atuar na promoção de um maior conforto térmico, as venezianas podem ser abertas quando não houver
incidência de insolação na fachada e os ventiladores de teto podem ser acionados quando os mesmos
sentirem desconforto por calor. O clima de Governador Valadares-MG é quente e considera-se que os
recursos bioclimáticos utilizados favorecem o bem-estar dos usuários, aumentando a produtividade e ainda
contribuindo para a economia de recursos naturais.
A simulação não se alinhou com o modelo real em relação ao consumo energético, e esse é um ponto
que deve ser aprimorado, visto que a simulação é dotada de fontes de erro, tais como divergências no
schedule de utilização do aparelho, diferenças na potência dos equipamentos em relação ao modelo
simulado, fiação elétrica do empreendimento, tarifas horárias, entre outros. De toda forma, o trabalho
conseguiu investigar a influência das proteções solares, brises e venezianas, bem como o efeito da ventilação
natural combinada ao efeito chaminé na promoção do conforto dos usuários.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15220-2: Desempenho térmico de edificações – Parte 2:
Métodos de cálculo da transmitância térmica, da capacidade térmica, do atraso térmico e do fator solar de elementos e
componentes de edificações. Rio de Janeiro, 2005a.
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ASHRAE – AMERICAN SOCIETY OF HEATING, REFRIGERATING AND AIR-CONDITIONING ENGINEERS. ASHRAE
Standard 55-2010, Thermal Environmental Conditions for Human Occupancy. p. 30.12. Atlanta, 2010.
DORNELLES, KELEN ALMEIDA. Absortância solar de superfícies opacas: métodos de determinação e base de dados para
tintas látex acrílica e PVA / Kelen Almeida Dornelles - Campinas, SP: [s.n.], 2008.
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Disponível em: <http://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-
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FROTA, ANÉSIA BARROS. Manual de conforto térmico: arquitetura, urbanismo / Anésia Barros Frota, Sueli Ramos Schiffer –
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999
LabEEE – LABORATÓRIO DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM EDIFICAÇÕES. Simulação Termo-energética de Edificações.
Santa Catarina: LabEEE, 2018. Disponível em: <http://www.labeee.ufsc.br/linhas-de-pesquisa/simulacao-termo-energetica-
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LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F. O. R. Eficiência Energética na Arquitetura. 2a edição. São Paulo: ProLivros, 2004.
MENDES, N.; WESTPHAL, F. S.; LAMBERTS, R.; NETO, J. A. B. C. Uso de Instrumentos Computacionais para Análise do
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NASCIMETO, R. M, NANYA, L. M, Certificação LEED para o projeto de arquitetura. Revista científica, v1, n1, União das
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the city of Belo Horizonte – correlation with design decisions in a study case of a hybrid building. Energy procedia, vol
8, pp 747-752, Elsevier, 2015.

AGRADECIMENTOS
À LarVerdeLar Projetos Sustentáveis e Consultoria Ambiental e Toca Arquitetura por fornecer os projetos
arquitetônicos, dados de operação do edifício, entrevistas com os usuários e conhecimento técnico. À Kamila
Bhering por compartilhar conhecimento e revisão bibliográfica.

1000
ANÁLISE DO IMPACTO DE SOMBREAMENTO DE ABERTURAS:
ESTUDO DE CASO – PREFEITURA MUNICIPAL DE JOINVILLE/SC
Ellen Flávia Weis Leite (1); Ana Mirthes Hackenberg (2)
(1) Arquiteta, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil efw.leite@edu.udesc.br
(2) PhD, Professora do Departamento de Pós-Graduação em Engenharia Civil, ana.hackenberg@udesc.br,
Universidade do Estado de Santa Catarina, CCT, Rua Paulo Malschitzki, 200, Zona Industrial Norte,
Joinville / SC, Tel: (47) 3481-7900

RESUMO
O presente estudo trás uma análise do papel do sombreamento de aberturas na diminuição do ganho de calor em
ambientes internos por parte das superfícies translúcidas de uma edificação, através do estudo de caso do prédio
sede da Prefeitura Municipal de Joinville/SC. Utilizando as metodologias de análise de incidência solar e
máscaras de sombreamento através da Carta Solar e Cálculo de Fluxo de calor, são avaliadas as características da
edificação em comparação à hipótese de que o mesmo edifício não possuísse nenhum tipo de proteção. Os
resultados obtidos revelam que as ferramentas de sombreamento presentes na edificação diminuem
significativamente os ganhos de calor em todas as fachadas, demonstrando com nitidez a significância e impacto
do uso de elementos de proteção solar no conforto térmico.
Palavras-chave: Sombreamento de aberturas. Estudo de Insolação. Conforto Ambiental. Fluxo de calor de
aberturas.

ABSTRACT
This paper presents an analysis of the role of shading for openings in the reduction of indoor heat gain by the
translucent surfaces of a building, through a case study of the headquarters building of the City Hall of
Joinville/SC. It was used an analisys methodology of solar incidence and shading masks through the Solar
Chart and Calculation of Heat Flow. The characteristics of the building are evaluated in comparison with the
hypothesis that the same building did not have any type of protection. The obtained results show that the
shading tools present in the building significantly decrease the heat gains in all facades. It was clearly
demonstrated the significance and impact of the use of solar protection elements in thermal comfort.
Keywords: Shading openings. Insolation Study. Environmental comfort. Heat flow of openings.

1001
1. INTRODUÇÃO
Conforme Lamberts, Dutra e Pereira (2014) a utilização de estratégias arquitetônicas que visem trazer
conforto térmico e eficiência para edificações é algo genuíno da arquitetura desde as edificações vernáculas,
antes mesmo da Antiguidade, partindo do princípio de adequar habitações e construções ao clima,
aproveitando aspectos positivos e evitando os indesejáveis.
Atualmente, estes preceitos são entendidos como Arquitetura Bioclimática – soluções adotadas a
partir de um estudo dentro do projeto arquitetônico que engloba a qualidade de implantação, adaptação ao
entorno e melhorias climáticas, compreensão da influência dos condicionantes naturais para explorá-los de
maneira benéfica, e utilização de sistemas de condicionamento passivo como o controle de insolação e a
eficiência de ventilação natural no interior do edifício, tudo em benefício do conforto térmico.
Como afirmam Dreher, Jacoski e Medeiros (2016), através de um estudo Bioclimático ao iniciar o
projeto, é possível estabelecer arquiteturas que priorizem estratégias naturais, minimizando o uso de sistemas
de climatização e iluminação artificial. Esta arquitetura torna a edificação mais eficiente, uma vez que:
A edificação eficiente deve buscar prover conforto ambiental ao usuário, evitar que
os sistemas fiquem acionados quando não for necessário, minimizar a manutenção,
reduzir o impacto ambiental e reduzir os custos relacionados a consumo de energia.
(OLIVEIRA, et al., 2016, p.223)
Com base em tais definições é perceptível que a utilização de estratégias de Arquitetura Bioclimática
promove vários aspectos de sustentabilidade para as edificações, já que influencia significativamente em seu
desempenho térmico e energético, como afirmam também Babtck e Torres (2017, p. 126) “para que uma
edificação possua bons índices de desempenho é necessário o uso de estratégias adequadas desde a fase
inicial de projeto, que devem ser adotadas em função do clima, posição solar, uso, entre outros”.
Dentre as várias soluções de Arquitetura Bioclimática, as estratégias de sombreamento e proteção de
aberturas contra a radiação solar tem grande impacto do ganho de calor nos ambientes internos. Conforme
Lamberts, Dutra e Pereira (2014), a principal função de qualquer elemento de sombreamento é o controle de
ganho de calor pelas janelas. Estes elementos devem ser dimensionados e configurados conforme a
orientação solar que a esquadria se encontra, em especial quando se fala dos brises (Figura 1).

Figura 1 – Configurações para dimensionamento de brises (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).

Segundo Atem e Basso (2005) os brises são elementos criados a partir da linguagem moderna,
idealizados para proteger os edifícios que eram dotados de pele de vidro. Podendo ser horizontais ou
verticais, móveis ou fixos, brises calculados corretamente, mediante o ângulo de incidência solar, podem
diminuir o fluxo de calor de um ambiente em até 80%. Como característica básica, os brises horizontais
curtos e fixos (similares a marquises ou tipo prateleira de luz) são indicados para fachadas orientadas ao
Norte, com possíveis complementações verticais, enquanto para fachadas a Leste ou Oeste são necessário
elementos mais complexos:
A proteção mais indicada seria uma combinação de proteção vertical fixa, para o verão, e
uma proteção horizontal que poderia ter uma parte fixa e outra móvel para possibilitar
insolação no inverno e para que não sejam prejudicadas a visão do exterior, a iluminação e
a ventilação, quando o sol não estiver incidindo na fachada. Outra opção seria somente a
proteção horizontal ou a vertical com mobilidade total. (ATEM; BASSO, 2005, p.33)
Além dos brises em seus diversos formatos – em aletas, maciços, horizontais, verticais, etc, as
proteções solares podem ainda ser oriundas do uso de vegetação (pérgola sobre a janela, árvores próximas ou
outros), elementos vazados (cobogós, muxarabis ou outros), persianas internas e venezianas móveis
1002
(LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).
Afora estes elementos, as características dos materiais das aberturas também representam diferenças
significativas na diminuição do ganho de calor dos ambientes, destacando-se nesse caso a espessura do vidro
e seu tratamento, como o uso de películas protetoras (CALDEIRA, 2011).

2. OBJETIVO
O presente artigo tem por objetivo apresentar uma análise do papel do sombreamento de aberturas na
diminuição do ganho de calor em ambientes internos por parte das superfícies translúcidas de uma
edificação, através do estudo de caso do prédio sede da Prefeitura Municipal de Joinville/SC.

3. MÉTODO
3.1. Análise de Insolação com base na Carta Solar
A carta solar é uma ferramenta de auxílio para determinação das condições de insolação de determinado
lugar, que indica a posição exata do sol em certo dia e horário, com base na Latitude local. Pode ser
interpretada como uma projeção da trajetória solar ao longo da abóboda celeste durante todo o ano, com
informações também referentes ao Azimute Solar e Altitude Solar, conforme Figura 2. O azimute solar é
entendido como a projeção do sol sobre o plano do observador, e em geral é identificado como o ângulo que
a projeção do sol faz com a direção Norte. Junto ao azimute, o ângulo formato pela altitude solar é que
referencia a posição exata do sol, que pode ser analisada de acordo com a época do ano desejada
(LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).

Figura 2 - Leitura da carta solar (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).

Como explicam Lambers, Dutra e Pereira (2014), dentre várias utilidades, a carta solar pode ser
empregada para analisar a penetração solar em um ambiente e, por conseguinte, projetar elementos de
sombreamento, como os brises, para evitar a insolação indesejada. Para tal, utiliza-se como método o uso do
transferidor de ângulos, que converte para a geometria solar ângulos de elementos construtivos, titulados
como alfa, beta e gama:
- Alfa (α) representa um ângulo de altitude solar formado entre os planos horizontal e vertical, para
traçado de elementos horizontais sobre a carta solar;
- Beta (β) representa o azimute, para traçado de elementos verticais sobre a carta solar;
- Gama (γ) é um ângulo complementar à alfa (α), traçado da mesma maneira, que auxilia na
definição de bordas ortogonais dos ângulos anteriores;
Posicionando a carta solar de acordo com a abertura a ser estudada é possível traçar os ângulos
citados e definir a área de penetração solar.
Para projetar elementos de proteção nas aberturas o procedimento é posicionar a carta solar para cada
uma delas conforme sua orientação e a partir disto realizar os traçados dos ângulos para estabelecer a
máscara de sombreamento, sendo necessário neste caso utilizar dois ângulos beta (β) e dois gama (γ), para
delimitação dos elementos de sombreamento, conforme visto na Figura 3. Os ângulos Beta (β) são utilizados
apenas em proteções verticais, e alfa (α), apenas em proteções horizontais (LAMBERTS; DUTRA;
PEREIRA, 2014).
Com o traçado dos ângulos pertinentes, a área da máscara de sombreamento é hachurada sobre a
carta solar e representa o sombreamento que o elemento de proteção exercerá na abertura, identificando-se
épocas e horários em que a proteção ocorrerá.
1003
Existem diversos softwares que auxiliam no estudo e elaboração de máscaras de sombreamento
conforme a carta solar para a definição de elementos de proteção. Neste trabalho será utilizada a carta solar
desenvolvida pelo LABEEE/UFSC – através do software SOL-AR, conforme será apresentado nos
resultados.

Figura 3 - Definição de máscara de sombreamento e elementos de proteção solar (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).

3.2. Cálculo de fluxo de calor de aberturas


De acordo com Corbella e Yannas (2009), quando a radiação solar incide sobre uma superfície parte dela se
transforma em calor, onde dele parte é absorvido e parte dissipado para o meio. No contexto do envoltório de
fachada, conforme as propriedades do material, os ganhos de calor por conta deste processo podem ser
maiores ou menores. Para as esquadrias, o ganho de calor é ainda influenciado significativamente pela
transmitância.
Estas e outras variáveis são utilizadas para medir o fluxo de calor de aberturas (fechamentos
transparentes). O fluxo de calor representa a quantidade de energia que atravessa o material. De maneira
simplificada, para encontrar o valor de fluxo de calor de uma abertura deve-se utilizar a Equação 1
(LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014):
q = U. (tEXT – tINT) + Fs . I Equação 1

Onde:
q = Fluxo de calor (W/m²)
U = Transmitância Térmica: nível de transmissão de calor pela incidência da radiação solar. (W/m².K)
tEXT = Temperatura externa: temperatura do ar no exterior da edificação. (K)
tINT = Temperatura Interna: temperatura do ar em ambiente interno. (K)
Fs = Fator solar do vidro: razão entre a quantidade de energia solar que realmente penetra o ambiente pelo
que nela incide.
I = Radiação solar incidente no material. (W/m²)
Observando as variáveis é possível perceber que tanto as propriedades do fechamento translúcido
quanto a quantidade de radiação solar que incide sobre eles influenciarão no fluxo de calor pela abertura e
consequentemente, no ganho de temperatura no interior da edificação.

3.3. Procedimentos de estudo


Para avaliar o desempenho dos elementos de proteção solar serão aplicadas as metodologias apresentadas às
características originais da edificação e os valores obtidos serão comparados com a hipótese de pior caso
para o mesmo edifício (sem elementos de proteção solar).

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1. Características da edificação
Atual sede da Prefeitura Municipal de Joinville/SC, a edificação objeto de estudo foi construída entre 1994 e
1996, com a preocupação de trazer conforto ambiental interno através da arquitetura, e por isso conta com
1004
dispositivos de proteção solar para as aberturas nas fachadas frontais e de fundos, instaladas para resguardar
da insolação os ambientes de trabalho.
Localizada na região central do município, possui um subsolo com garagens e acima deste, três
pavimentos destinados ao trabalho de servidores públicos. A fachada frontal é orientada à Sudoeste, de
fundos à Nordeste, e possui ainda as fachadas laterais orientadas à Sudeste e Noroeste. Uma fotografia aérea
é apresentada na Figura 4.

Figura 4 – Prefeitura Municipal de Joinville. Fachadas Sudoeste (Frontal) e Noroeste (UNIDADE BANCO DE PROJETOS, 2018).

No estudo foram consideradas esquadrias presentes nas quatro fachadas, excluindo aberturas em
áreas de circulação ou usos secundários (depósitos e afins). Estas janelas possuem os seguintes tipos de
proteção:
• Vidros fumê: com espessura de 6mm, o vidro com este acabamento melhora o desempenho do
Fator Solar em aproximadamente 20% em comparação com o transparente, sendo seu Fs: 0,60.
• Uso de persianas: O uso de persianas contribui para um Fator Solar menor, sendo que janelas
com este tipo de proteção tem Fs: 0,54.
• Elementos de Sombreamento: Podendo ser verticais e horizontais, os elementos de
sombreamento diminuem a incidência solar sobre a superfície do vidro, o que representa que as
aberturas terão valores menores em relação à Radiação Solar Incidente (I).
Os dados de Radiação Solar são medidos conforme a latitude de cada local. Devido a
indisponibilidade de dados para cidade de Joinville/SC (26º 18' 16" S), foram adotados os dados de São
Francisco do Sul (26º 14' 36" S), cidade vizinha cuja Latitude difere somente em poucos minutos, conforme
dados apresentados na Tabela 1, por Frota e Schiffer (2001).

Tabela 1 - Dados de Radiação Incidente para Latitude 26º Sul (FROTA; SCHIFFER, 2001).
06h 07h 08h 09h 10h 11h 12h 13h 14h 15h 16h 17h 18h
S 123 197 186 137 84 68 63 68 84 137 186 197 123
SE 280 540 611 539 397 222 63 68 63 58 50 38 20
Dezembro 22

E 285 588 707 659 515 304 63 68 63 58 50 38 20


NE 134 314 419 427 367 249 88 68 63 58 50 38 20
N 20 38 50 58 63 87 98 87 63 58 50 38 20
NW 20 38 50 58 63 68 88 249 367 427 419 314 134
W 20 38 50 58 63 68 63 304 515 659 707 588 285
SW 20 38 50 58 63 68 63 222 397 539 611 540 280
H 87 289 579 813 986 1100 1137 1100 986 813 579 289 87

O município de Joinville/SC conta com um clima úmido e com altas temperaturas. De acordo com
Grunberg (2014), as temperaturas no verão podem chegar à máxima de 33,8ºC, considerando um dia típico
com nível de ocorrência de 2,5% (Tabela 2). Este dado é importante para o cálculo de Fluxo de calor, já que
para a adoção do valor de temperatura externa será adotado o pior caso.
Tabela 2 - Dias típicos para Joinville/SC (GRUNBERG, 2014).
DIAS QUENTES DIAS FRIOS
TBS UR Pressão Vento TBS UR Pressão Vento
Hora Hora
(ºC) (%) (hPA) (m/s-dir.) (ºC) (%) (hPA) (m/s-dir.)
9h 28,3 78 1011 0,6 E 9h 12,1 77 1025 0,7 E
15h 33,8 59 1008 2,2 E 15h 17,2 64 1022 0,9 E
21h 28,0 81 1010 0,7 E 21h 12,3 83 1024 0,2 E

1005
Em relação à edificação, é observada através da Carta Solar a incidência de radiação nas fachadas
nos seguintes horários e épocas, conforme Tabela 3.

Tabela 3 – Faixas horárias com Radiação Solar Incidente nas fachadas

Faixas horárias com Radiação Solar Incidente nas fachadas da edificação


Fachadas
Estações
Sudoeste Sudeste Noroeste Nordeste
Inverno 15:00h às 17:30h 06:30h às 9:00h 09:00h às 17:30h 05:00h às 12:00h
Verão 12:00h às 19:00h 05:00h às 12:00h 12:00h às 19:00h 06:30h às 14:30h
Para o estudo, houve enfoque nas condições de verão, considerando que o sombreamento representa
a diminuição do ganho de calor nos ambientes internos.

4.2. Estudo do sombreamento das aberturas


4.2.1. Fachada Sudoeste
Na fachada Sudoeste as janelas possuem dois tipos de proteção diferentes. No terceiro andar as esquadrias
estão recuadas em relação ao plano fachada, o que caracteriza uma proteção solar vertical, enquanto no
segundo e primeiro andar encontra-se no mesmo plano. Todas elas apresentam elementos de proteção
horizontal, como demonstrado na Figura 5.

Térreo e segundo pavimento


Terceiro pavimento

Figura 5 - Representação em corte de esquadrias da fachada Sudoeste

Para o terceiro pavimento, a análise do sombreamento através do elemento de proteção horizontal


mostra o bloqueio da radiação solar até aproximadamente 16:00h (Figura 6).

Figura 6 - Máscara de sombra nas aberturas Sudoeste do terceiro pavimento (proteção horizontal).Adaptado de (LABEEE/UFSC,
2018).

1006
Para os demais pavimentos a proteção solar é similar, bloqueando a insolação das 12:00h às 16:30h
(aproximadamente), permitindo a entrada de radiação solar em horários onde a radiação solar é menor.
Considerando que o horário de funcionamento dos espaços de trabalho vai até as 18h, é perceptível
que o sombreamento, apesar de resguardar as aberturas da insolação nos períodos mais quentes do dia, é
insuficiente. No terceiro pavimento, porém, a proteção vertical dada pelo recuo das janelas (demonstrada na
Figura 7) cria 100% de sombreamento das aberturas ao longo de toda a tarde, como visto na Figura 8.

Figura 7 - Representação em planta baixa de esquadrias do terceiro pavimento.

Figura 8 - Máscara de sombra nas aberturas Sudoeste do terceiro pavimento (proteção vertical). Adaptado de (LABEEE/UFSC,
2018).

4.2.2. Fachada Sudeste


A fachada lateral Sudeste conta com apenas uma abertura que
possui proteção solar através do uso de persianas, incidindo
sobre esta a radiação solar ao longo de todo o período da
manhã. Nela não existem elementos de sombreamento devido
à suas características de formato – a janela inicia no segundo
pavimento e se encerra no terceiro, com formato triangular,
como demonstrado na Figura 9.
Figura 9 - Representação em planta baixa da janela

4.2.3. Fachada Noroeste


A fachada Noroeste conta com uma abertura seguindo as mesmas características da fachada Sudeste, sendo
também protegida por persianas. Nesta abertura, porém, a incidência da radiação solar ocorre no período da
tarde.

4.2.4. Fachada Nordeste


A fachada Nordeste possui um único tipo de proteção solar, com elemento horizontal, ao longo de todas as
aberturas estudadas, similar à proteção solar já apresentada para as janelas do térreo e segundo pavimento, da
fachada Sudoeste. Através de análise da Carta Solar, se observou que este elemento protege as janelas de
maneira eficiente, já que gera sombreamento ao longo de todo o período de incidência solar dentro do

1007
horário de funcionamento (Figura 10).

Figura 10 - Máscara de sombra nas aberturas Nordeste. Adaptado de (LABEEE/UFSC, 2018).

4.3. Avaliação do impacto do sombreamento através do cálculo de fluxo de calor


Para avaliar o desempenho do sombreamento e proteção solar das aberturas da edificação, o cálculo do fluxo
de calor foi feito utilizando duas composições de variáveis:
• Dados relativos às características das aberturas da edificação;
• Dados considerando que as mesmas aberturas não tivessem nenhum tipo de proteção e/ou
sombreamento;
Conforme a Equação 1 (apresentada na Metodologia), são necessárias as seguintes variáveis:
• U (W/m².K) = Transmitância Térmica: para ambas as situações é dado o valor de 5,79
(LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).
• tEXT (K) = Temperatura externa: para ambas as situações é aplicado o valor de 33,8º C,
considerando o pior caso, ou seja, temperatura máxima registrada na localidade para o verão
(GRUNBERG, 2014).
• tINT (K) = Temperatura Interna: para ambas as situações é caracterizada como 23º C,
considerando níveis ideais de conforto.
• Fs = Fator solar do vidro: adotado para vidro fumê 0,60; para locais com persianas 0,54 e para
vidro translúcido comum 0,83 (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).
• I (W/m²) = Radiação solar incidente no material: obtida através da Tabela 1, considerando pior
caso em relação aos horários de incidência solar (FROTA; SCHIFFER, 2001).
Os cálculos são apresentados a seguir conforme cada fachada.

4.3.1. Fachada Sudoeste


Para a fachada Sudoeste os resultados obtidos para o Fluxo de Calor (Q), considerando as condições atuais e
o pior caso (Tabela 4), demonstram que o elemento de sombreamento, que diminui a incidência da radiação
solar, e o uso de vidro fumê ao invés de translúcido diminuem o ganho de calor pelas aberturas.
Tabela 2 - Cálculos de Fluxo de Calor da Fachada Sudoeste
Condições sem
Variáveis Condições atuais
proteções solares (pior caso)
U Transmitância (W/m².K) 5,79 5,79
ΔT tEXT – tINT (K) 10,8 10,8
Fs Fator Solar 0,6 0,83
I Incidência Solar (W/m²) 540 611
Q Fluxo de calor (W/m²) 386,50 569,70

4.3.2. Fachada Sudeste


Na abertura à Sudeste, o cálculo de Q (W/m²) compara o uso de persianas internas em relação à utilização do
vidro translúcido sem proteção, o que demonstra que apenas este elemento tem considerável impacto no
1008
ganho de calor, como pode ser observado na Tabela 5.
Tabela 3 - Cálculos de Fluxo de Calor da Fachada Sudeste
Condições sem
Variáveis Condições atuais
proteções solares (pior caso)
U Transmitância (W/m².K) 5,79 5,79
ΔT tEXT – tINT (K) 10,8 10,8
Fs Fator Solar 0,54 0,83
I Incidência Solar (W/m²) 611 611
Q Fluxo de calor (W/m²) 392,50 569,70

4.3.3. Fachada Noroeste


Como pode ser visto na Tabela 6, o mesmo ocorre com a abertura da fachada Noroeste.
Tabela 4 - Cálculos de Fluxo de Calor da Fachada Noroeste
Condições sem
Variáveis Condições atuais
proteções solares (pior caso)
U Transmitância (W/m².K) 5,79 5,79
ΔT tEXT – tINT (K) 10,8 10,8
Fs Fator Solar 0,54 0,83
I Incidência Solar (W/m²) 427 427
Q Fluxo de calor (W/m²) 293,11 404,13

4.3.4. Fachada Nordeste


Para a fachada de fundos, Nordeste, onde foi visualizada maior eficiência em relação ao dispositivo de
sombreamento, o Fluxo de Calor demonstra ganho térmico ainda menor que os demais, deixando claro a
relevância do correto sombreamento em relação ao conforto térmico (Tabela 7).
Tabela 5 - Cálculos de Fluxo de Calor da Fachada Nordeste
Condições sem
Variáveis Condições atuais
proteções solares (pior caso)
U Transmitância (W/m².K) 5,79 5,79
ΔT tEXT – tINT (K) 10,8 10,8
Fs Fator Solar 0,60 0,83
I Incidência Solar (W/m²) 134 427
Q Fluxo de calor (W/m²) 142,90 416,94

5. CONCLUSÕES
Com os estudos desenvolvidos, é nítido que os vários tipos de elementos de proteção e sombreamento das
aberturas trazem significativas melhorias através da diminuição do fluxo de calor destes fechamentos, e
como consequência, a redução do ganho térmico de temperatura nas edificações.
Apesar das limitações da análise, concentrando-se apenas no período de verão por ser este o mais
impactante na eficiência energética e conforto térmico considerando o clima local, o estudo de caso apresenta
como diagnóstico que a edificação atende suficientemente ao propósito de trazer conforto ambiental através
dos elementos de proteção da incidência solar horizontais existentes e do uso de persianas, apesar de que
estes elementos, em alguns casos, exercem uma proteção apenas parcial, o que pode comprometer o conforto
em determinadas faixas horárias.
O estudo demonstra que os elementos de sombreamento, pensados desde o início do projeto, e
atrelados à composição de fachada – proteções verticais ou horizontais das janelas - são mais eficientes e
potenciais promotores de conforto ambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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EDIFICAÇÕES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Analysis SOL-AR. 2018. Disponível em: <
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LAMBERTS, R; DUTRA, L.; PEREIRA, F.O.R. Eficiência Energética na Arquitetura. 3 ed. Revisada. São Paulo. Ed. Pro Livros,
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Rural do Semi-Árido, Mossoró, 2017.
UNIDADE BANCO DE PROJETOS. Projeto Arquitetônico da Prefeitura Municipal de Joinville.ctb: Joinville, 2018.
Dispositivo eletrônico.

1010
ANÁLISE DOS REQUISITOS DE CONFORTO TÉRMICO PRESENTES EM
CERTIFICAÇÕES AMBIENTAIS DE EDIFICAÇÕES COM
APLICABILIDADE EM PROJETOS DE HABITAÇÕES POPULARES
Arthur Sato Gregorio (1); Hugo Sefrian Peinado (2)
(1) Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual de Maringá, arthursatog@gmail.com
(2) Prof. Me., Departamento de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Maringá,
hspeinado2@gmail.com
Universidade Estadual de Maringá, Departamento de Arquitetura e Urbanismo/ Departamento de Engenharia
Civil, Maringá–PR, Av. Colombo, 5790, Jardim Universitário, 87020-900, Tel.: (44) 3011-4322

RESUMO
Apesar da elaboração de políticas vinculadas a moradias da população de baixa renda, o Brasil possui um
déficit habitacional alarmante, o que leva à necessidade de produção de habitações de interesse social (HIS)
em larga escala. Nessas habitações, nota-se, dentre outras questões, um elevado consumo de energia para
suprir as necessidades de conforto térmico do usuário, visto que estratégias nesse sentido geralmente não são
pensadas durante a elaboração do projeto arquitetônico. Frente a essa temática, há diversas certificações que
buscam classificar o nível de sustentabilidade das edificações e, naturalmente, um dos tópicos abordados é o
conforto térmico. Dessa forma, o presente trabalho buscou identificar a aplicabilidade das premissas de
sustentabilidade voltadas ao conforto térmico do usuário presentes nas certificações LEED BD+C v.4 e Casa
Azul em projetos arquitetônicos unifamiliares de HIS. Para isso, foram identificados os requisitos que tratam
do conforto térmico do usuário nessas certificações e, a partir deles, elaborou-se um projeto de HIS que
permitisse a aplicação desses conceitos. Assim, pode-se concluir que há a possibilidade de atender aos
requisitos de conforto térmico do usuário trazidos pelo selo Casa Azul e pela certificação LEED BD+C v.4
adotando-se estratégias projetuais na produção de HIS com esse foco.
Palavras-chave: Certificações de sustentabilidade; LEED BD+C v.4; Casa Azul; projeto arquitetônico
sustentável; habitação de interesse social.

ABSTRACT
Brazil has an alarming housing deficit despite the elaboration of policies related to housing of the low
income population, which leads to the necessity to produce social housing in large scale. In this housing, the
high energy consumption is observed to supply the user's thermal comfort needs, because strategies in this
sense were not thought during the elaboration of the buildings architecture project. Moreover, there are
several certifications that have the purpose to classify the level of sustainability of buildings and, as it is
known, one of the topics addressed in those is thermal comfort. Further, this work aim to identify the
applicability of sustainability principles focused on the thermal comfort of the user present in the
certifications LEED BD+C v.4 and Casa Azul in architectural projects of single-family social housing. For
this, the requirements that refer to the thermal comfort of the user in these certifications were identified and,
from them, a social housing architecture project was elaborated that allowed the application of these
concepts. In summation, there is the possibility of reaching the user's thermal comfort requirements brought
by the Casa Azul and by the LEED BD+C v.4 adopting project strategies with this focus in the production of
social housing.
Keywords: Sustainability certifications; LEED BD+C v.4; Casa Azul; sustainable architecture project; social
housing.

1011
1. INTRODUÇÃO
Após a 2º Guerra Mundial, houve grande progressão do desenvolvimento industrial e, consequentemente, um
êxodo rural e inchaço da população nos centros urbanos, que estimularam a expansão da malha urbana. Na
busca por suprir o déficit habitacional observado a partir desse período, houve um aumento expressivo no
consumo dos recursos naturais e geração de quantidades consideráveis de resíduos e de poluentes
atmosféricos. O impacto ambiental resultante do setor da construção civil depende de toda uma cadeia
produtiva: extração de matérias-primas, produção/transporte de materiais e componentes, projetos, execução
(construção), práticas de uso e manutenção e, ao final da vida útil, a demolição/desmontagem, além da
destinação dos resíduos gerados ao longo da vida útil (AGOPYAN; JOHN, 2011).
Segundo Agopyan e John (2011), a conscientização acerca da sustentabilidade ambiental nesse setor
começa a se destacar apenas a partir da década de 90. Nesse período, começam a surgir os primeiros sistemas
de certificação de sustentabilidade de edificações, que consistem em um conjunto de parâmetros que busca
orientar os projetistas a otimizar o desempenho das edificações e reduzir os impactos ambientais decorrentes
das suas etapas construtivas.
No cenário nacional, o selo Casa Azul, criado em 2010 por meio de uma parceria entre a Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e a Caixa Econômica Federal, apresenta posição de
destaque já que foi o primeiro sistema de classificação de sustentabilidade voltado a edificações criado para a
realidade nacional (PEINADO, 2014).
Dentre as diversas certificações existentes no contexto internacional, destaca-se a estadunidense
LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) criada em 1993 pelo USGBC (United States
Green Building Council), já tendo sido empregada em mais de 160 países. Ressalta-se que esse selo possui
um sistema específico voltado a novas construções: BD+C v.4 (Building Design and Construction)
(GBCBRASIL, 2019).
Ambas as certificações apresentadas possuem seus critérios de avaliação organizados em categorias
específicas. A Tabela 1, elaborada a partir de John e Prado (2010) e GBCBrasil (2019), apresenta quais são
essas categorias e o número de critérios presentes em cada uma delas.
Tabela 1– Categorias presentes no selo Casa Azul e na certificação LEED BD+C v.4.
Casa Azul LEED BD+C v.4
- Qualidade urbana (5); - Localização e transporte/Location and transportation (8);
- Projeto e conforto (11); - Terrenos sustentáveis/ Sustainable sites (13);
- Eficiência energética (8); - Uso racional da água/ Water efficiency (7);
Categorias
- Conservação de recursos materiais - Energia e atmosfera/ Energy and atmosphere (11);
(nº de
(10); - Materiais e recursos/ Materials and resources(12);
critérios)
- Gestão da água (8); - Qualidade do ambiente interno/ Indoor environmental quality (12);
- Práticas sociais (11). - Inovação/ Innovation (2);
- Prioridade regional/ Regional priority (1).
Total 53 66

Ao tratar da temática de habitação, observa-se que o Brasil possui um déficit habitacional


considerável: em 2010, chegava a mais de 6,9 milhões de famílias, enquanto que, em 2014, este valor ainda
se mostrava no montante de 6,2 milhões (FIEB, 2016). Nesse contexto, uma das formas do poder público
aplicar sua função social é por meio da produção de habitações populares, tratadas como Habitação de
Interesse Social (HIS).
Conforme destacado por Lucini (2003), a baixa qualidade construtiva das habitações populares e o
não conhecimento das necessidades dos futuros moradores, faz com que muitas dessas edificações, voltadas
ao público de baixa renda, apresentem falhas de desempenho severas e não tragam conforto aos usuários.
Além disso, geram maior carga ambiental, por não contemplar aspectos voltados à sustentabilidade, tal como
utilizar materiais duráveis e tecnologias construtivas que gerem menos resíduos e poluentes durante sua
produção e transporte. A partir dessas considerações, dá-se ênfase no ganho pretendido com as certificações
de sustentabilidade destinada às habitações populares, principalmente com o selo Casa Azul, que foi
desenvolvido sobretudo para esse segmento. As práticas trazidas nessa certificação, conforme destacam John
e Prado (2010), permitem o uso racionalizado de recursos naturais na construção, maior conforto ao usuário
da edificação, redução de custos de manutenção, dentre diversos outros ganhos.
Uma das premissas observadas nas certificações ambientais é o conforto térmico do usuário, uma vez
que a busca por estratégias que visam o conforto dos moradores é decisiva para práticas mais sustentáveis de
edificações. Conforme a ABNT NBR 15220-1:2005, o conforto térmico é um conceito estabelecido como
parâmetro subordinado ao bem-estar fisiológico (mais objetivo) e psicológico (subjetivo) do indivíduo em
1012
relação às condições térmicas do ambiente em que está situado.
Algumas das estratégias projetuais para habitações com foco no conforto térmico dos moradores
considerando premissas sustentáveis são: aquecimento solar com ganho direto ou indireto (efeito estufa por
superfícies de vidro, materiais com maior resistência térmica, inércia térmica), massa térmica para
aquecimento ou resfriamento, resfriamento evaporativo (incentivar o aumento da umidade relativa do ar, ex:
áreas verdes), sombreamento (beirais, brises, elementos vazados), umidificação, ventilação natural
(ventilação cruzada, efeito chaminé), aquecimento artificial (isolamento de paredes e coberturas para evitar
perdas de calor), dentre outros (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014; SILVA, 2004; SOUZA;
RODRIGUES, 2012).

2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho consiste em identificar a aplicabilidade das premissas de sustentabilidade voltadas
ao conforto térmico do usuário contidas nas certificações LEED BD+C v.4 e Casa Azul em projetos
arquitetônicos unifamiliares de Habitações de Interesse Social.

3. MÉTODO
O método empregado para o desenvolvimento deste trabalho consistiu nas seguintes etapas principais: 1)
Classificação dos parâmetros presentes na certificação LEED BD+C v.4 e no selo Casa Azul no que se refere
à etapa da edificação ao qual eles se aplicam; 2) Identificação dos requisitos presentes nos selos voltados ao
projeto arquitetônico da edificação que tratam do conforto térmico do usuário; 3) Elaboração de um projeto
de HIS com aplicação de estratégias para atendimento aos requisitos de conforto térmico dessas certificações
de sustentabilidade.

3.1. Classificação dos parâmetros sustentáveis conforme a sua etapa construtiva


Entendendo que o tipo de impacto ambiental gerado no setor da construção varia conforme o estágio da
cadeia produtiva ao qual está atrelado, foram estabelecidas categorias baseadas nas etapas que envolvem a
construção de um edifício para classificação de cada um dos critérios trazidos na certificação LEED BD+C
v.4 e o selo Casa Azul, sendo elas:
• Projeto Arquitetônico (P.A.): itens que cabe ao arquiteto utilizá-los no projeto arquitetônico;
• Projeto Complementar (P.C.): itens de responsabilidade voltados a projetos que não são o
arquitetônico (projeto estrutural, de instalação hidráulica, de instalação elétrica, de equipamentos
como ar condicionados e de telefonia);
• Materiais (MAT.): itens que englobam a escolha e especificação de materiais, além de equipamentos
e produtos que contribuem para a sustentabilidade (como, por exemplo, a escolha do tipo de
lâmpadas que estarão na edificação);
• Execução (EXE.): itens que impactam diretamente no canteiro de obras, ou seja, no momento de
execução da edificação. Essa é uma área que engloba a segurança no trabalho, gestão de resíduos e
capacidade de reutilizar formas e escoras, por exemplo;
• Uso e Manutenção (U.M.): itens que dizem respeito à etapa iniciada após a entrega das chaves da
edificação para o usuário, ou seja, são instruções sustentáveis que envolvem a orientação dos
moradores e de suas manutenções para com a habitação;
• Outros (OUT.): itens que não se enquadram aos outros tópicos mencionados anteriormente.
É importante enfatizar que, quando um dos critérios presentes nos selos não se limitava apenas a
uma dessas categorias, criou-se uma nova classificação com essa mescla de itens. Por exemplo, se um item
se referia tanto ao projeto arquitetônico (P.A.) quanto aos projetos complementares (P.C.), este foi
classificado como PA+PC. Dessa forma, tal etapa metodológica buscou filtrar quais dos critérios citados na
certificação LEED BD+C v.4 e no selo Casa Azul são pertencentes ao projeto arquitetônico e, assim, estes
foram analisados mais detalhadamente na etapa a seguir.
3.2. Identificação dos parâmetros sustentáveis referentes ao conforto térmico e à qualidade de
ar interno
Após realizar a primeira etapa, foi executada uma nova análise dos critérios apresentados pelos selos
sustentáveis. Todavia, dessa vez, o intuito foi de destacar os itens referentes ao conforto térmico e a
qualidade de ar interno da edificação. Vale ressaltar que tal classificação, apesar de considerar a avaliação
anterior (das etapas da cadeia produtiva), não utilizou esse processo a fim de descartar algum parâmetro, ou

1013
seja, foram obtidos critérios voltados ao conforto térmico que eram aplicados durante o projeto arquitetônico,
outros durante a execução da edificação e outros que englobavam desde o projeto arquitetônico até a escolha
de materiais. Essa etapa teve como objetivo averiguar em qual estágio da cadeia produtiva existiam mais
estratégias pertencentes ao conforto térmico e à qualidade de ar interno e, a partir delas, quais eram viáveis
para se aplicar em um projeto arquitetônico.

3.3. Elaboração de um projeto de HIS adotando as estratégias sustentáveis de conforto


térmico
Com as classificações feitas anteriormente, foi elaborado o projeto de uma Habitação de Interesse Social
térrea unifamiliar em que se buscou empregar tais parâmetros escolhidos. Assim, foram implementadas
soluções de projeto arquitetônico que buscaram atender à redução do impacto negativo da construção no
meio ambiente e aos requisitos de desempenho e conforto térmico para os futuros residentes.
De modo que fosse possível a apresentação das soluções projetuais para a HIS sustentável, foi
escolhido um terreno na cidade de Maringá-PR que integrasse a Zona Especial de Interesse Social (ZEIS)
para a locação do projeto proposto, conforme indicado na Figura 1. Com isso, foi possível estabelecer
critérios físicos indispensáveis para o projeto arquitetônico, como o clima, a direção dos ventos
predominantes, a insolação, a umidade, entre outros fatores.

Figura 1 - Localização da quadra escolhida a ser loteada em Maringá.

Assim, o programa de necessidades foi baseado em um número de ambientes mínimos para uma
habitação social e com uma área próxima de 50m². Além disso, adotou-se como partido o emprego de
soluções projetuais de baixo custo e que atendessem ao conforto térmico do usuário.
Sob essa ótica, o processo de elaboração do projeto arquitetônico teve como base a utilização de
diversos softwares de modo que, primeiramente, foram feitos os desenhos técnicos a partir do AutoCAD®.
Por conseguinte, utilizou-se o Fluxovento® para simular a ventilação nos ambientes internos e, dessa forma,
localizar da melhor forma as aberturas presentes na habitação.
A próxima etapa foi a exportação do desenho técnico do AutoCAD® para o Sketchup®, a fim de
modelar a volumetria da edificação e, assim sendo, analisar a insolação presente naquele terreno, além de
simular a estética vigente do projeto. Por fim, foram elaboradas as imagens e foi utilizado o Adobe
Illustrator® para gerenciar, organizar e criar as imagens/esquemas finais. O objetivo dessa etapa foi de
demonstrar como é possível adotar tais premissas sustentáveis em um projeto arquitetônico residencial de
baixa renda e de que maneira esse processo criativo é feito.

4. ANÁLISE DE RESULTADOS
Ao aplicar os procedimentos metodológicos descritos no tópico anterior, foram obtidos os seguintes
resultados: 1) Classificação dos requisitos do selo Casa Azul e da certificação LEED BD+C v.4 em relação a
qual etapa de produção da edificação cada um se aplicava e identificação dos aspectos relacionados ao
conforto térmico listados nessas certificações ambientais; 2) Elaboração de um projeto de HIS térrea
unifamiliar com emprego das premissas sustentáveis focadas no conforto térmico do usuário.

4.1. Classificação dos requisitos especificados pela certificação LEED BD+C v.4 e pelo selo
Casa Azul em relação às etapas de produção da edificação
O primeiro resultado obtido nesse trabalho foi uma classificação dos requisitos do selo Casa Azul e da
certificação LEED BD+C v.4 em relação a qual etapa de produção da edificação cada um se aplicava, que é
apresentado na Tabela 2. Assim, ao analisar cada certificação de maneira isolada, no selo Casa Azul, obteve-
1014
se que 22,64% dos tópicos presentes referem-se exclusivamente ao “Projeto Arquitetônico”; 22,64% aos
“Projetos Complementares”; 9,43% para “Materiais”; 13,21% para “Execução”; 9,43% para “Uso e
Manutenção” e; 5,66% para “Outros”. Vale ressaltar que os tópicos que foram classificados em mais de um
item somam 16,98%, sendo que 13,21% deles impactam diretamente no projeto arquitetônico. Assim, no
total, 35,85% dos critérios trazidos pelo selo Casa Azul interferem na concepção do projeto arquitetônico.
No que se refere aos critérios voltados ao conforto térmico do usuário na edificação, há um total de 5
critérios no selo, representando 9,43% do total de itens especificados nele.
Nessa mesma perspectiva de análise, o LEED BD+C v.4 possui 16,67% tópicos que impactam
exclusivamente na etapa de elaboração do “Projeto Arquitetônico”; 13,64% em “Projetos Complementares”;
6,06% em “Materiais”; 3,03% na “Execução”, 3,03% no “Uso e Manutenção” e 13,6% em “Outros”.
Observa-se que os tópicos que foram classificados em mais de um item representaram 43,94% do total de
critérios, sendo que 22,73% deles interferem na concepção do projeto arquitetônico. Assim, no total, 39,39%
dos critérios trazidos pela certificação LEED BD+C v.4 interferem na concepção do projeto arquitetônico.
Especificamente em relação aos critérios voltados ao conforto térmico do usuário na edificação, há um total
de 7 critérios na certificação, representando 10,64% do total de itens trazidos por ela.
Tabela 2 - Quantificação dos requisitos trazidos pelo selo Casa Azul e certificação LEED BD+C v.4 conforme sua aplicabilidade nas
etapas da cadeia produtiva da construção.
Selo Casa Azul LEED BD+C v.4
Relacionados a Relacionados a
Avaliação geral dos Avaliação geral dos
Classificação Conforto Térmico Conforto Térmico
critérios critérios
aplicáveis a HIS aplicáveis a HIS
Qetapa PT (%) Qetapa PT (%) Qetapa PT (%) Qetapa PT (%)
P.A. 12 22,64 2 3,77 11 16,67 1 1,52
P.A. + P.C. 4 7,55 3 5,66 6 9,09 2 3,04
P.A. + MAT. - - - - 1 1,52 - -
P.A. + EXE. - - - - 1 1,52 - -
P.A. + U.M. - - - - 2 3,03 - -
P.A. + OUT. 2 3,77 - - 2 3,03 - -
P.A. + P.C. + MAT. - - - - 1 1,52 2 3,04
P.A. + MAT. + EXE. - - - - 1 1,52 - -
P.A. + EXE. + U.M. - - - - 1 1,52 - -
P.A. + OUT. + U.M. 1 1,89 - - - - - -
P.C. 12 22,64 - - 9 13,64 - -
P.C. + MAT. 1 1,89 - - 2 3,03 - -
P.C. + U.M. - - - - 7 10,61 - -
P.C. + MAT. + U.M. - - - - 2 3,03 - -
MAT. 5 9,43 - - 4 6,06 - -
MAT. + EXE. 1 1,89 - - - - -
MAT. + U.M. - - - - 1 1,52 - -
EXE. 7 13,21 - - 2 3,03 - -
EXE. + U.M. - - - - 1 1,52 1 1,52
U.M. 5 9,43 - - 2 3,03 1 1,52
U.M. + OUT. - - - - 1 1,52 - -
OUT. 3 5,66 - - 9 13,64 - -
Total 53 100,00 5 9,43 66 100 7 10,64
Nota: Qetapa = Quantidade de itens aplicáveis a essa etapa de produção/ uso da edificação; PT = Percentual de participação dos
critérios trazidos em relação ao total de critérios

Os critérios relacionados ao conforto térmico do usuário apresentados nessas certificações são


trazidos na Tabela 3.

Tabela 3 – Critérios trazidos nas certificações de sustentabilidade Casa Azul e LEED BD+C v.4.
Critérios trazidos no selo Casa Azul relacionados ao conforto térmico
a*. Paisagismo (P.A. + P.C.);
b*. Relação com a Vizinhança (P.A.);
c*. Desempenho Térmico – Vedações (P.A. + P.C.);
d*. Desempenho Térmico - Orientação ao Sol e Ventos (P.A. + P.C.);
e*. Ventilação e Iluminação Natural de Banheiros (P.A.).
Critérios trazidos na Certificação LEED BD+C v.4 relacionados ao conforto térmico
a. Redução da área de projeção do estacionamento (P.A. + P.C.);
b. Redução de ilhas de calor (P.A.);
c. Desempenho mínimo da qualidade do ar interior (P.A. + P.C.);
d. Estratégias avançadas de qualidade do ar interior (P.A. + P.C. + MAT.);
1015
e. Plano de gerenciamento da qualidade do ar interior na construção (EXE. + U.M.);
f. Avaliação da qualidade do ar interior (U.M.);
g. Conforto térmico (P.A. + P.C. + MAT.).

Observa-se, nas Tabelas 2 e 3, 100,0% dos itens relacionados à essa temática no selo Casa Azul são
direcionados à etapa de projetos, alguns exclusivamente direcionados ao arquitetônico e outros incluindo
projetos complementares. Já em relação ao LEED BD+C v.4, 71,4% dos itens voltados ao conforto térmico
do usuário na edificação (cinco dos sete itens) presentes na certificação remetem à etapa de concepção e
elaboração dos projetos da edificação, sendo que alguns deles tratam exclusivamente do projeto
arquitetônico e outros incluem o projeto arquitetônico e outra etapa de produção (projetos complementares e
especificação de materiais).
Ao analisar os itens relacionados ao conforto térmico do usuário trazidos nas certificações em
relação às estratégias projetuais direcionadas ao projeto de arquitetura trazidas pela literatura sobre a
temática, observa-se que:
• A certificação Casa Azul engloba as principais estratégias de conforto térmico apontadas pela
revisão de literatura realizada.
• A certificação LEED BD+C v.4, apesar de possuir um tópico denominado “Conforto Térmico” (em
que cita que é necessário utilizar as normas ASHRAE, ISO e CEN), trouxe explicitamente apenas a
ventilação natural (item “c” e “d”), o resfriamento evaporativo (item “a” e “b”), o sombreamento
(item “b”), a massa térmica para aquecimento ou resfriamento (item “b”) e o aquecimento artificial
(item “g”). Seria ainda necessário incluir critérios voltados à umidificação e ao aquecimento solar
com ganho direto ou indireto;

4.2. Projeto arquitetônico da HIS empregando as premissas sustentáveis de conforto térmico


Após a análise das certificações de sustentabilidade Casa Azul e LEED BD+C v.4, foram propostas
estratégias projetuais que atendessem aos requisitos trazidos por elas no que se refere ao conforto térmico de
HIS. Essas estratégias são apresentadas na Tabela 4.

Tabela 4 - Estratégias projetuais voltadas ao Projeto Arquitetônico de edificações para o atendimento aos requisitos de
sustentabilidade no que se refere ao conforto térmico (continua).
TÓPICO ESTRATÉGIAS ADOTADAS
- Diminuição de poluentes decorrente do estímulo do uso do
transporte coletivo (item “b” do LEED BD+C v.4);
- Ventilação natural e cruzada pela distribuição das aberturas
QUALIDADE DE AR INTERNO (item “c”, “d” e “g” do LEED BD+C v.4 e item “b*” e “e*” do
Selo Casa Azul);
- Facilidade de manutenção e limpeza (item “c” do LEED
BD+C v.4).

Tabela 5 - Estratégias projetuais voltadas ao Projeto Arquitetônico de edificações para o atendimento aos requisitos de
sustentabilidade no que se refere ao conforto térmico (continuação).
TÓPICO ESTRATÉGIAS ADOTADAS
- Utilização de painéis de vedação em madeira nos ambientes de
permanência (item c* do LEED BD+C v.4);
- Piso ventilado (item “d” do LEED BD+C v.4);
- Cobertura ventilada/bolsão de ar com desempenho térmico
CONFORTO TÉRMICO satisfatório (item “d” do LEED BD+C v.4);
- Disposição dos ambientes em relação à orientação das
fachadas (item “d*” do Selo Casa Azul).
- Maximizar a área permeável do lote (item “b” do LEED BD+C
v.4 e item “a*” do Selo Casa Azul).

Vale ressaltar que alguns tópicos relacionados ao conforto térmico citados nos selos de
sustentabilidade são compatíveis com edificações de grande ou médio porte. Com isso, como esse trabalho
envolve a escala de habitação de interesse social unifamiliar, não foram tratadas estratégias voltadas ao
critério “redução na área de projeção do estacionamento” (item “a” do LEED BD+C v.4). Por fim, há outros
tópicos que possuem uma abordagem mais técnicas e prática, voltada ao momento de execução, uso e
manutenção da edificação e, dessa maneira, não são detalhados aqui por não comporem o escopo deste
1016
trabalho, como “plano de gerenciamento da qualidade do ar interior na construção (item “e” do LEED BD+C
v.4) e “avaliação da qualidade do ar interior” (item “f” do LEED BD+C v.4).
O projeto arquitetônico de HIS térrea unifamiliar elaborado atendendo aos requisitos apontados na
Tabela 4 é apresentando nas Figuras 2 e 3. Por estar na Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) de
Maringá-PR, que já possui infraestrutura consolidada, evita que sejam demandados mais investimentos nesse
quesito para áreas ainda não consideravelmente urbanizadas, além de propiciar a redução dos vazios urbanos,
o que influencia na ocupação do entorno e na geração de vitalidade para a região escolhida. Por conseguinte,
optou-se por concretar apenas o essencial para o acesso do usuário à residência, ou seja, buscar manter a
maior porcentagem de área permeável possível, já que, dessa forma, além de reduzir o impacto no ciclo
hidrológico, desestimula a criação de ilhas de calor, mesmo que em pequena escala.

Figura 2 – Planta baixa da habitação popular sustentável. Figura 3 – Corte A da habitação popular sustentável.

Dado o enfoque desse trabalho nas estratégias projetuais sustentáveis voltadas para o conforto
térmico, o macrotópico “Qualidade do ar interno” tem como uma das estratégias a escolha da localização da
habitação na malha urbana: ao estimular os residentes a utilizar o transporte público, a emissão de poluentes
é reduzida e, assim, uma parcela do ar evita tornar-se impura. Ainda, a distribuição de aberturas em paredes
paralelas propicia uma potencialização da ventilação natural cruzada (Figura 4) no interior da habitação, já
que é criada uma diferença de pressão em seu interior. Ressalta-se que as aberturas e a disposição dos
ambientes buscaram priorizar a ventilação nos ambientes de permanência (quartos e sala), visto que
cômodos, como o banheiro, não necessitam propiciar tanto conforto térmico, apenas trocas de ar para a sua
renovação e salubridade. Dessa forma, as janelas dos ambientes de maior permanência estão nas direções
predominantes de vento, ou seja, nas fachas nordeste e norte, conforme os dados extraídos do portal
ProjetEEE (2019).

Figura 4 - Simulação da ventilação cruzada na HIS com uso do software Fluxovento®.


Uma das premissas para que o ar tenha boa qualidade é que a edificação não tenha pó acumulado.
Assim, evitou-se a criação de nichos ou detalhes que pudessem dificultar a limpeza interna da residência,
tendo superfícies lisas e contínuas. Ainda, por conta de a habitação estar elevada do solo (a fim de reduzir o
contato da madeira com a umidade gerada por capilaridade e por respingos de água), tal fator retarda a
entrada de poeira nos ambientes internos, quando comparada com a situação dela nivelada com o solo.
Atrelado ao macrotópico anterior, o “Conforto Térmico” tem como estratégia inicial, além da
ventilação cruzada, a cobertura e o piso ventilados (Figura 5), o que favorece o resfriamento através das
brisas. Ainda, tais camadas, com a presença de faces externas ventiladas, criam bolsões de ar que servem
como isolante térmico.

1017
Figura 5 - Esquema da cobertura e do piso ventilados.

Em relação ao desempenho térmico das vedações, elaborou-se duas tipologias de painéis em


madeira: o de fechamento externo (Figura 6) e o de fechamento interno (Figura 7). Nessa perspectiva, foi
proposto que ambos tivessem a mesma largura (1,00 m) e altura (2,40 m), a fim de estimular a modulação, o
uso de materiais inovadores e a racionalização no canteiro de obra. Todavia, tal solução projetual tem
interferência significativa nos ganhos em conforto térmico da HIS unifamiliar.
Sob essa ótica, ao utilizar painéis em madeira, há uma contribuição para a diminuição do calor
interno, visto que é um sistema leve e apresenta baixa capacidade térmica, ou seja, capacidade em armazenar
e liberar calor, o que contribui para o atraso térmico (PAPST, 1999). Além disso, de acordo com a ABNT
NBR 15220-1:2005, por conta desse tipo de vedação apresentar uma camada de ar aprisionada, tal camada
pode ser desconsiderada, uma vez que sua densidade não é significante (ρ = 1,2 kg/m³) e, dessa forma, a
capacidade térmica do painel é reduzida ainda mais.
Ademais, segundo Giglio (2005), outra propriedade a ser ressaltada nessa solução projetual é a de
alta resistência térmica (resistência do material à passagem de calor), que se dá em função de tanto a madeira
quanto a câmara de ar apresentarem uma baixa condutividade de calor. Dessa forma, como a cidade de
Maringá-PR, de acordo com Koppen (1948) e Tamanini (2002), apresenta um clima tipo Cfa, subtropical
úmido de altitude, com verões quentes e geadas pouco frequentes, concentração das chuvas nos meses de
verão e um alto nível de radiação solar durante o ano todo, Givoni (1976) recomenda que a capacidade
térmica nas edificações seja baixa a fim de prevenir o aumento da temperatura noturna decorrente da
liberação do calor acumulado durante o dia.

Figura 6 – Painel de vedação externo proposto. Figura 7 – Painel de vedação interno proposto.

No que se refere ao desempenho térmico da cobertura, além das recomendações propostas pelos
selos ambientais, optou-se por escolher um sistema composto por telha de fibrocimento e forro de madeira,
que atende ao requisito de transmitância térmica (único requisito de desempenho térmico trazido para
sistemas de cobertura) estabelecido pela ABNT NBR 15575-1:2013, a saber: dada a Zona Bioclimática 3 em
que Maringá se encontra (conforme nota técnica publicada em 2011 pelo Centro Brasileiro de Eficiência
Energética de Edificações retificando a ABNT NBR 15220-3:2005), a transmitância térmica do sistema de
cobertura deverá ser inferior a 2,3 W/(m²K), quando a absortância (α) for interior a 0,6. Conforme aponta
LabEEE (2013), o sistema de cobertura na composição proposta apresenta transmitância térmica equivalente
a 2,02 W/(m²K) (Figura 8), atendendo ao requisito trazido pela ABNT NBR 15575-1:2013. Para atender ao
parâmetro de absortância, é necessário que a telha de fibrocimento receba pintura empregando cores claras,
como pintura acrílica fosca cor areia (α = 0,449) ou acrílica semi-brilho cor flamingo (α = 0,473), por
exemplo (valores obtidos de LabEEE (2013)).

1018
Figura 8 - Sistema de cobertura proposto para a habitação.

Por fim, os ambientes internos foram distribuídos de modo que aqueles destinados à permanência não
tivessem aberturas na fachada oeste, uma vez que é onde há maior incidência de raios solares diretos e,
ainda, no período do dia em que esses raios solares são mais intensos. Dessa forma, a cozinha/lavanderia são
os únicos cômodos que tem a abertura para oeste, visto que são locais úmidos (necessitam de iluminação
direta para evitar a procriação de fungos), nos quais a permanência é reduzida.
De uma forma geral, a partir do projeto da HIS desenvolvido, observou-se que é possível a aplicação
de estratégias na elaboração dos projetos dessas habitações com foco no atendimento aos requisitos de
conforto térmico do usuário tratadas no selo Casa Azul e na certificação LEED BD+C v. 4.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de entender que a sustentabilidade deve permear todas as etapas que envolvem a edificação (do
projeto à etapa de reabilitação/demolição), compreende-se que para que uma edificação atenda aos preceitos
de sustentabilidade, deve-se implementar as premissas sustentáveis já na etapa de concepção e elaboração
dos projetos. No que se refere especificamente ao conforto térmico, observa-se que 9,43% dos critérios do
selo Casa Azul abordam essa temática, sendo que todos esses critérios deverão ser considerados na
elaboração do projeto arquitetônico. Já na certificação LEED BD+C v.4, 10,67% dos critérios trazidos na
certificação tratam do conforto térmico do usuário, sendo que, desse total, 71,4% deverão ser atendidos na
etapa de projeto. De forma geral, observa-se a expressividade do conforto térmico dentro das certificações
ambientais, o que evidencia que tal temática possui grande importância na busca pela sustentabilidade de
edificações. Essa relevância se dá em função de que um projeto arquitetônico, ao levar em conta o conforto
térmico do usuário, pode proporcionar uma eficiência energética considerável, dispensando ou reduzindo o
uso de estratégias artificiais de ventilação e, ainda, propicia ar interno de qualidade para o usuário.
Com a realização dessa pesquisa, verificou-se também que há a possibilidade de atender aos
requisitos de conforto térmico do usuário trazidos pelo selo Casa Azul e pela certificação LEED BD+C v.4,
adotando-se estratégias projetuais na produção de HIS com esse foco. Sob essa ótica, foram trazidas oito
soluções de projeto arquitetônico voltadas para o conforto térmico (macrotópicos “Qualidade do ar interno” e
“Conforto térmico”) para HIS, são essas: diminuição de poluentes decorrente do estímulo do uso do
transporte coletivo; ventilação natural pela distribuição das aberturas; facilidade de manutenção e limpeza;
utilização de painéis de vedação em madeira nos ambientes de permanência; piso ventilado; cobertura
ventilada/bolsão de ar; disposição dos ambientes em relação à orientação das fachadas; maximizar a área
permeável do lote.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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terminologia, símbolos e unidades. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15.220: Desempenho térmico para edificações – Parte 3:
zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social. Rio de Janeiro: ABNT,
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Requisitos Gerais. Rio de Janeiro: ABNT, 2013.
COSTA, L. C. N. Aproveitamento da ventilação natural nas habitações: um estudo de caso na cidade de Aracaju – SE. 2009.
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milhoes-de-moradias-no-brasil/. Acesso em: 20 fev. 2019.

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GIGLIO, T. G. B. Avaliação do desempenho térmico de painéis de vedação em madeira para o clima de Londrina – PR.
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paredes, coberturas e vidros. Florianópolis, 2013. Disponível em:
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Maringá – PR. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002.

1020
ANO CLIMÁTICO DE REFERÊNCIA PARA CURITIBA: COMPARAÇÃO
ENTRE DADOS DE DUAS ESTAÇÕES

Cristiane Rossatto Candido (1); Francine Aidie Rossi (2)


(1) Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Construção Civil, engenheira civil,
rossattoc@gmail.com, Universidade Federal do Paraná.
(2) Doutora em Tecnologia, arquiteta, rossi@ufpr.br, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Construção Civil, UFPR. Rua Cel. Francisco H. dos Santos, 100, Centro Politécnico, Jardim das Américas,
Curitiba, Paraná, Tel.: (41) 3361-3462

RESUMO
A urbanização causou diversas alterações na paisagem natural, afetando muitos aspectos, sendo um deles o
climático. Esse estudo tem por objetivo analisar dados meteorológicos de duas estações (SIMEPAR e
Aeroporto Internacional Afonso Pena) a fim de atualizar o ano climático de referência (TRY) para Curitiba,
além de verificar alterações nas condições climáticas para os TRY gerados e os TRY determinados
anteriormente. Com a observação dos dados foi possível verificar que a locação das estações meteorológicas
tem papel fundamental na determinação de arquivos climáticos fiéis a realidade do local estudado. A
diferença entre os dados da temperatura do ar média do TRY das duas estações estudadas chegou a 4,0 ºC.
Analisando as estratégias bioclimáticas para os arquivos climáticos gerados por estudos anteriores e os
atuais, observou-se aumento do período de conforto e diminuição do desconforto por frio.
Palavras-chave: ano climático de referência, arquivo climático, dados meteorológicos.

ABSTRACT
Urbanization caused several changes in the natural landscape, affecting many aspects, one of them is the
climate. The aim of this study was to analyze meteorological data from two stations (SIMEPAR and Afonso
Pena International Airport) in order to update the climatic reference year (TRY) for Curitiba, as well as to
verify changes in the climatic conditions for previously generated TRY. It was possible to verify that the
location of the meteorological stations plays a fundamental role in the determination of climatic files faithful
to the reality of the place studied. The difference between the average air temperature data of the TRY of the
two stations studied reached 4.0 ºC. Analyzing the bioclimatic strategies for the climatic files generated by
previous and current studies, it was observed an increase of the comfort period and decrease of the cold
discomfort.
Keywords: climate reference year, climate files, meteorological data.

1021
1 INTRODUÇÃO
A construção do espaço urbano altera significativamente o meio ambiente e causa implicações como
formação de ilhas de calor, aumento da poluição e alterações no balanço energético. Além disso, parte dos
problemas discutidos por governos e organizações mundiais que visam a sustentabilidade, é advinda da
forma como ocorreu a urbanização das cidades.
Nesse contexto, um dos fatores mais afetado pela ação humana é o clima e consequentemente o clima
urbano. Segundo o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas – PBMC, para os diferentes biomas do Brasil,
indicadores demonstram aumento de temperatura, que vai de 2,5 ºC a 6 ºC, até o final do século XXI
(PBMC, 2016). Ainda, segundo esse órgão, até 2050, a porcentagem de população urbana mundial
aumentará de 64% para 69% (PBMC, 2016). Estima-se que a produção de produtos para garantir a
sobrevivência e a cultura de consumo nas cidades, por si só, já resultará na metade de emissão de gases do
efeito estufa permitidas. Dessa forma, o uso de estratégias bioclimáticas que remontem à uma arquitetura
mais natural e vernacular é imprescindível para tentar minimizar os efeitos nocivos ao planeta no processo de
construção.
Para adotar estratégias bioclimáticas adequadas é recomendado que os dados climáticos utilizados
sejam provindos de estações meteorológicas o mais próximo possível do local que será construída a
edificação (ROSSI, DUMKE e KRÜGER, 2009). Além disso, faz-se necessário a atualização desses dados
(HERRERA et al., 2017), devido as mudanças climáticas e as alterações no meio urbano. Os arquivos
geralmente utilizados para avaliação do desempenho energético e térmico das edificações são provindos de
metodologias específicas, como o Test Reference Year (TRY) e o Typical Meteorological Year (TMY).
Essas cadeias de dados são obtidas por análises estatísticas e usam dados de no mínimo 10 anos (LUZ et al.,
2018; PEREIRA et al., 2004; ROSSI, DUMKE E KRÜGER, 2009). Os arquivos climáticos disponíveis no
Brasil foram gerados primeiramente em estudo de Goulart (1998) (disponível em www.labeee.com.br),
posteriormente houveram revisões de Roriz (2012) e do Laboratório de Eficiência Energética em Edificações
(LabEEE) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 2018, no qual foram corrigidos dados de
nebulosidade.
Portanto, é proposto nessa pesquisa atualizar o ano climático de referência para cidade de Curitiba,
comparando-se dados de duas estações meteorológicas diferentes (SIMEPAR e Aeroporto Internacional
Afonso Pena), além de comparar possíveis alterações ocorridas entre os resultados obtidos para os TRY
gerados por Goulart et al. (1998) e Rossi, Dumke e Krüger (2009).

2 OBJETIVO
O objetivo desse estudo é atualizar o ano climático de referência (TRY) para Curitiba, analisando-se dados
de temperatura do ar (Ta) de 2002 a 2016. Para tanto, são usados dados de Ta de duas estações
meteorológicas distintas, a fim de comparar mudanças que podem vir a ocorrer com o uso de dados de
diferentes procedências.

3 MÉTODO
O método dessa pesquisa está dividido em três etapas. Primeiro, foram determinados os TRY atualizados
para Curitiba, com dados das duas estações mencionadas. Na segunda etapa foram realizadas três
comparações: (1) TRY obtido por Rossi, Dumke e Krüger (2009) com o TRY atualizado a partir dos dados
da estação do SIMEPAR; (2) TRY obtido por Goulart (1998) e atualizados por RORIZ (2012) com o TRY
atualizado a partir dos dados da estação do Aeroporto Afonso Pena e (3) TRY obtidos a partir estações
SIMEPAR e Aeroporto para o período de 2002 a 2016. A terceira etapa consiste em comparar as estratégias
bioclimáticas para os TRY obtidos com dados da estação meteorológica do SIMEPAR.

3.1 Caracterização do clima de Curitiba


Segundo a classificação climática de Köppen-Geiger Curitiba possui clima temperado marítimo úmido (Cfb)
(PEEL; FINLAYSON; MCMAHON, 2007), caracterizado por alta pluviosidade e por temperaturas amenas.
Além disso, segundo o zoneamento bioclimático brasileiro a cidade se enquadra na Zona Bioclimática 1
(ABNT, 2003). A temperatura média anual é 19,7 ºC e os meses mais quentes variam entre janeiro e
fevereiro e os mais frios entre junho e julho.

1022
3.2 Determinação do TRY
3.2.1 Dados meteorológicos utilizados
Os dados de Ta utilizados para elaboração do anos climáticos dessa pesquisa são provenientes de estações do
Sistema Meteorológico do Paraná (SIMEPAR) alocado no campus Centro Politécnico na UFPR,
representado na Figura 1 pelo ponto A e do Aeroporto Internacional Afonso Pena, representado na Figura 2
pelo ponto B, essas distam 10,8 km uma da outra. O período de análise para as duas estações foi de 15 anos
(2002 a 2016).

Figura 1 – Localização das estações (AUTORAS, 2019).

3.2.2 Procedimento para obtenção do TRY


O TRY corresponde ao conjunto de dados climatológicos de um ano de uma localidade¹11. Para a obtenção
do TRY é necessário no mínimo 10 anos de dados. Para desenvolvimento desse estudo foi utilizada a
metodologia apresentada pela American Society of Heating, Refrigerating and Air-Conditioning Engineers
(ASHRAE, 2009) e descrita em Goulart (1998) e Rossi, Dumke e Krüger (2009).
Segundo a metodologia da ASHRAE, o primeiro passo para o tratamento dos dados é o cálculo das
médias mensais de temperatura do ar (Ta, em ºC). Na Tabela 1 apresenta-se os valores obtidos a partir dos
dados do SIMEPAR.
Posteriormente, são excluído os anos com meses de temperaturas extremas (tanto para calor, como
para frio), seguindo uma ordem de prioridade, como pode ser observado na Tabela 2, para os dados do
SIMEPAR. Com isso, são obtidos os anos que tem os meses com temperaturas extremas (segunda coluna na
Tabela 2).
A sequência de doze meses do ano é repetida (terceira coluna), a fim de eliminar anos que tiveram
meses muito atípicos. Nesse processo, os anos que vão aparecendo na Tabela 2 são gradativamente
eliminados e o TRY é o ano que não aparece listado ou o último ano que aparece.

¹11 Ressalta-se que o objetivo é definir o ano climático para o período analisado, e não o arquivo climático completo com todas as
variáveis climáticas. A fim de mostrar que as alterações microclimáticas podem impactar a definição das estratégias bioclimáticas.

1023
Tabela 1 - Temperaturas médias mensais obtidos com dados da estação meteorológica do SIMEPAR.
Ano Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
2002 21,2 20,5 22,7 20,6 17,2 16,6 13,6 17 15,1 20 19,7 21
2003 21,4 23,2 20,6 18,9 15 16,3 14,9 13,3 15,7 17,2 18,8 19,9
2004 19,9 20,3 19,4 19 14,1 14,4 13,3 15,1 18,1 16,6 18,5 19,5
2005 20,5 20,7 20,8 19,8 17,2 16,5 14 16,4 14,1 17,8 18,6 19,5
2006 22,2 21,7 21,2 18,1 14,4 15,2 16,2 16,3 15,1 17,8 19 21,4
2007 21,5 21,9 23 19,8 15,6 16,5 13,8 15,7 18,2 18,8 19 21,3
2008 20 21,2 20,4 18,4 15,6 14,3 16 16,4 15,2 18,1 18,5 20
2009 20,5 21,4 21,3 18,4 16,3 12,5 13,1 15,3 16,2 17 22,2 21
2010 21,2 22,7 20,5 17,8 15,2 14,1 15,1 14,2 16,5 16 18,8 19,8
2011 21,8 21,6 18,9 18,7 14,9 12,9 14,3 14,6 14,8 17,3 17,6 19,7
2012 20,1 22,1 20,3 18,2 15,2 14 13,8 16,2 16,8 19 18,9 22,3
2013 19,8 21 19,3 17,7 16,1 14,8 13 14,3 15,8 17,3 18,7 21
2014 22,8 22,6 20,4 18,2 16 15,3 14,1 15,8 17,1 18,9 19,3 20,9
2015 22,6 21,1 19,9 18,1 15,5 14,4 14,5 17,2 17,9 17,8 18,5 21,1
2016 20,8 21,8 20,2 20,8 14,5 11,3 13,7 14,2 15,1 16,4 18 20,4

Tabela 2 – Seleção dos meses para obtenção do TRY com dados da estação meteorológica do SIMEPAR.
CONDIÇÃO ANO CONDIÇÃO ANO
fevereiro mais quente 2003 fevereiro mais frio 2004
junho mais frio 2016 junho mais quente 2002
março mais quente 2007 março mais frio 2011
julho mais frio 2013 julho mais quente 2006
janeiro mais quente 2014 janeiro mais frio 2013
agosto mais frio 2003 agosto mais quente 2015
dezembro mais quente 2012 dezembro mais frio 2005
setembro mais frio 2005 setembro mais quente 2007
novembro mais quente 2009 novembro mais frio 2011
maio mais frio 2004 maio mais quente 2005
abril mais quente 2016 abril mais frio 2013
outubro mais frio 2010 outubro mais quente 2002

3.3 Comparação dos TRY


Após obtenção dos TRY atualizados, tanto para a estação do SIMEPAR quanto para a do Aeroporto,
comparou-se os resultados obtidos entre si, a fim de verificar se o ano climático TRY seria alterado devido à
localização das estações dentro da malha urbana. Além disso, os TRY atualizados foram comparados com os
atualizados por RORIZ (2012) a partir de Goulart (1998) que foi 1969 (Aeroporto) e por Rossi, Dumke e
Krüger (2009) que foi 2001 (SIMEPAR).

3.4 Estratégias bioclimáticas para os TRY de 1969 e 2008


A partir dos dados horários de Ta e UR (umidade relativa) dos anos climáticos de referência de 1969 e 2008,
obtidos a partir dos dados climáticos do Aeroporto e SIMEPAR, respectivamente, foram obtidas as
estratégias bioclimáticas. Com o programa AnalysisBio (disponível em www.labeee.com.br) foram gerados
arquivos no formato try e a partir desses as estratégias bioclimáticas.

4 RESULTADOS
Os resultados estão divididos em três partes. A primeira é a análise dos anos climáticos de referência
atualizados, obtidos pelas duas estações (Aeroporto e SIMEPAR). Já a segunda parte é a comparação do ano
climático atualizados por RORIZ (2012) a partir de Goulart (1998) e por Rossi, Dumke e Krüger (2009). Por

1024
fim, é apresentado os resultados das estratégias bioclimáticas entre o TRY atualizados por RORIZ (2012) a
partir de Goulart (1998) e o resultante dessa pesquisa.

4.1 TRY atualizados


4.1.1 Estação meteorológica Aeroporto Internacional Afonso Pena
A partir dos dados de temperatura do ar da estação do Aeroporto o ano climático de referência não foi
encontrado com a primeira análise de meses com temperaturas extremas, foi necessária uma segunda
avaliação seguindo o que foi descrito em Pereira et al. (2004), com a classificação dos segundos meses com
temperaturas extremas, e ao fim da análise obteve-se o ano de 2013 como o ano climático de referência.
Como esperado as médias de temperatura mais altas ficaram entre os meses de dezembro a fevereiro, tendo o
último a maior média, de 20,9 ºC. Já as mínimas apareceram entre os meses de junho a agosto, com julho
tendo a menor média, de 12 ºC.
22 95

20 90

85

UR média mensal (%)


Ta média mensal (°C)

18
80
16
75
14
70

12 65

10 60
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
UR Ta

Figura A Figura 2 apresenta as médias mensais de Ta e UR do ano de 2013 definido como TRY, a
partir dos dados da estação meteorológica do Aeroporto. Verifica-se que os meses de julho e agosto
apresentaram as menores médias mensais, enquanto os meses mais quentes foram fevereiro e dezembro. Em
relação a UR, o mês de junho registrou o maior valor médio (91%) e agosto o menor valor médio (79%).

22 95

20 90

85
UR média mensal (%)
Ta média mensal (°C)

18
80
16
75
14
70

12 65

10 60
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
UR Ta

Figura 2 - Temperaturas médias mensais para o TRY com dados do Aeroporto de 2013. (AUTORAS, 2019).

1025
4.1.2 Estação meteorológica do SIMEPAR
O ano climático de referência obtido a partir dos dados do SIMEPAR foi 2008. As temperaturas médias para
2008 mostraram comportamento um pouco diferente do esperado para Curitiba, já que as médias mensais de
julho e agosto (meses que geralmente tem as médias mais baixas), foram mais altas que as médias mensais
de junho e setembro.
Na Figura 3 é possível observar que junho e setembro tiveram as menores médias mensais de
temperatura do ar, respectivamente, 14,3 ºC e 15,2 ºC. Já as médias mensais de fevereiro e março foram as
mais altas, atingindo 21,2 ºC e 20,4 ºC. Em relação a UR, o mês de janeiro registrou o maior valor médio
(85%) e julho o menor valor médio (72%).

22 95

20 90

85

UR média mensal (%)


Ta média mensal (°C)

18
80
16
75
14
70

12 65

10 60
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
UR Ta
Figura 3 - Temperaturas médias mensais para o TRY com dados do SIMEPAR de 2008. (AUTORAS, 2019).

4.2 Comparações dos anos climáticos de referência


4.2.1 Comparação TRY 2008 (SIMEPAR) e 2013 (Aeroporto)
A partir da análise dos TRY (Aeroporto e SIMEPAR) é possível perceber algumas diferenças entre o ano
climático de referência provindo de dados do SIMEPAR e do Aeroporto. Essa diferença se dá principalmente
pela localização dessas duas estações. Enquanto a do SIMEPAR está localizada no campus Centro
Politécnico da UFPR, em uma área densamente urbanizada, a estação do Aeroporto está localizada fora da
malha urbana de Curitiba.
Observa-se na Figura 4 que existem diferenças significativas entre os dois TRY. A tendência
observada é que pela estação do SIMEPAR estar localizada em uma área de maior densidade urbana, as
temperaturas médias do ano de referência são mais altas. Por exemplo, para o mês de julho, a diferença de
temperatura do ar média foi de 4 ºC, sendo de 16 ºC para o SIMEPAR e 12 ºC para o Aeroporto.

1026
22

20

Ta média mensal (°c)


18

16

14

12

10
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
SIMEPAR 2008 AEROPORTO 2013
Figura 19 - Temperaturas médias mensais para os TRY com dados do SIMEPAR e Aeroporto. (AUTORAS, 2019).

Outra alteração observada é que para todos os meses, exceto em dezembro, em que o Aeroporto
registrou média mais alta, o SIMEPAR apresentou médias de temperatura do ar mais altas que o Aeroporto.
Essa informação reforça a ideia de que para posterior uso do TRY em análises de conforto, de desempenho
térmico e energético de edificações e definições de estratégias bioclimáticas, é importante que os dados
climáticos utilizados sejam provindos da estação meteorológica mais próxima do contexto urbano da
situação a ser analisada.

4.2.2 Comparação entre os TRY de 1969 e 2001 - Aeroporto


A Figura 5 apresenta as temperaturas médias mensais para os anos de 1969 e 2013, anos climáticos de
referências obtidos a partir dos dados da estação do Aeroporto. É possível observar diferenças entre os dois
anos de 0,1 °C (novembro) até 2,5 °C (dezembro). De modo geral, houve pouca variação nos valores de Ta
média para 1969 e 2013. Observa-se que para os meses de janeiro, março, julho, agosto, setembro e
novembro foram registradas temperaturas médias mais altas em 1969. Já para os demais meses (fevereiro,
abril, maio, junho, outubro e dezembro) as temperaturas médias mais altas ocorreram em 2013, apresentado
as maiores diferenças.

22

20
Ta média mensal (°C)

18

16

14

12

10
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Aeroporto 1969 Aeroporto 2013
Figura 5 - Temperaturas médias mensais para os TRY de 1969 e 2013 - Aeroporto. (AUTORAS, 2019).

1027
4.2.3 Comparação entre os TRY de 2008 e 2013 - SIMEPAR
Para os dados referentes à estação do SIMEPAR (Figura 6), as médias mensais apresentaram valores mais
baixos para o ano de 2008, com exceção dos meses de maio, julho, agosto e novembro. As diferenças
máxima e mínima são de 2,1 °C em janeiro e 0,3 °C em agosto, respectivamente. Em junho e dezembro os
valores médios foram iguais para os dois anos.

24

22

20
Ta média mensal (°C)

18

16

14

12

10
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
SIMEPAR 2001 SIMEPAR 2008
Figura 6 - Temperaturas médias mensais para os TRY de 2001 e 2008 - SIMEPAR. (AUTORAS, 2019).

4.3 Estratégias bioclimáticas


A Tabela 3 compara os graus de conforto e desconforto e as estratégias bioclimáticas recomendadas para o
TRY 1969 e o TRY 2008. Nota-se que houve uma melhora de aproximadamente 7% nos níveis de conforto.
Da mesma forma, o desconforto para o frio diminuiu em 13,2% das horas do ano, enquanto o desconforto
para o calor não houve alteração significativa. A análise por estratégias mostra uma diminuição considerável
na necessidade do uso de aquecimento artificial. Enquanto em 1969 o aquecimento artificial era necessário
em 11,8% das horas do ano, em 2008 esse valor passa para 4%. A necessidade de aquecimento solar passivo
também apresenta diferenças, sendo 18,9% em 1969 contra 15,3% em 2008. Apesar de não ter uma grande
diferença nos níveis de desconforto para o calor, a análise bioclimática indica uma maior necessidade de
sombreamento para os dados de 2008 (29,6%) em relação aos de 1969 (23,2%).

Tabela 3 – Porcentagens de conforto e desconforto e respectivas estratégias para 1969 e 2008 (AnalysisBio, UFSC).
1969 2008
Conforto 20,0% 27,1%
Desconforto 80,0% 72,9%
Frio 73,2% 66,0%
Alta Inércia Termica/Aquecimento Solar 42,5% 46,7%
Aquecimento Solar Passivo 18,9% 15,3%
Aquecimento Artificial 11,8% 4,0%
Umidificação 0,0% 0,1%
Calor 6,8% 6,9%
Ventilação 6,8% 6,8%
Alta Inércia p/ Resfr. 1,0% 0,9%
Resfr. Evap. 1,0% 0,9%
Sombreamento 23,2% 29,6%

As Figuras 7 e 8 apresentam os diagramas bioclimáticos traçados a partir dos valores médios horários
de Ta e UR, para os anos de 1969 (dados Aerporto) e 2008 (dados SIMEPAR) respectivamente. Verifica-se
que para 2008 há maior quantidade de horas dentro da zona de conforto, assim como na zona de alta inercia
térmica e aquecimento solar, como já visto nos valores apresentados na Tabela .

1028
UR [%]
ZONAS:
1. Conforto
2. Ventilacao
3. Resfriamento Evaporativo
4. Alta Inércia Térmica p/ Resfr.
5. Ar Condicionado
6. Umidificação

U [g/kg]
7. Alta Inércia Térmica/ Aquecimento Solar C]
8. Aquecimento Solar Passivo [°
BU
9. Aquecimento Artificial T
10.Ventilação/ Alta Inércia
11.Vent./ Alta Inércia/ Resf. Evap.
12.Alta Inércia/ Resf. Evap.

TBS [°C]
UFSC - ECV - LabEEE - NPC
Figura 7 – Diagrama bioclimático - TRY de1969 – Aeroporto. (AUTORAS, 2019).

UR [%]
ZONAS:
1. Conforto
2. Ventilacao
3. Resfriamento Evaporativo
4. Alta Inércia Térmica p/ Resfr.
5. Ar Condicionado
6. Umidificação

U [g/kg]
7. Alta Inércia Térmica/ Aquecimento Solar C]
8. Aquecimento Solar Passivo [°
U
9. Aquecimento Artificial TB
10.Ventilação/ Alta Inércia
11.Vent./ Alta Inércia/ Resf. Evap.
12.Alta Inércia/ Resf. Evap.

TBS [°C]
UFSC - ECV - LabEEE - NPC
Figura 8 – Diagrama bioclimático - TRY de 2008 – SIMPEPAR. (AUTORAS, 2019).

5. CONCLUSÕES
Nessa pesquisa, a aplicação do método proposto pela ASHRAE para a definição do ano climático de
referência (TRY) no período de 2002 a 2016, com os dados das estações meteorológicas do Aeroporto e
SIMEPAR, resultou em diferentes anos. Para os dados do Aeroporto o ano climático de referência obtido foi
2013 e para os dados do SIMEPAR foi 2008. Essa diferença para duas estações em uma mesma região
demonstra a importância de se analisarem dados, que posteriormente seriam usados para avaliar desempenho
termo energético de edificações, assim como, para as definições de estratégias bioclimáticas de projeto. A
escolha de quais dados são mais adequados para essas análises depende da área a ser avaliada, isto é, o
contexto urbano pode ser mais uma variável a ser analisada para a definição de quais dados climáticos
utilizar.
Outra importante consideração diz respeito à atualização dos dados. A análise comparativa entre os
anos climáticos de referência, com dados provenientes da mesma estação meteorológica, mostrou que há
diferenças nos valores médios mensais. Essas diferenças, apesar de pequenas, se referem à dados médios. A
análise de conforto (TRY 1969 x TRY 2008) mostra que as porcentagens de conforto e desconforto, assim
com as estratégias, podem mudar com o tempo, indicando a necessidade de analisar as estratégias com dados
atualizados.

1029
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15.220 – parte 3: Zoneamento bioclimático brasileiro e
diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social. ABNT: Rio de Janeiro, 2003.
AMERICAN Society of Heating, Refrigerating and Air-Conditioning Engineers (ASHRAE). ASHRAE Handbook: Fundamentals.
New York, ASHRAE, 2009.
GOULART, S.; LAMBERTS, R.; FIRMINO, S. Dados climáticos para projeto e avaliação energética de edificações para 14
cidades brasileiras. Florianópolis: PROCEL/Núcleo de Pesquisa em Construção; UFSC, 1998.
HERRERA, M.; NATARAJAN, S.; COLEY, D. A; KERSHAW, T.; RAMALHO-GONZÁLEZ, A. P.; EAMES, M.; FOSAS, D.;
WOOD, M. A review of current and future weather data for building simulation. Buillding Services Engineering Research
e Technology. v. 0, pg. 1-26, 2017.
INMET – INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA. Arquivos Climáticos INMET 2018. Disponível em:
http://www.labeee.ufsc.br/downloads/arquivos-climaticos/inmet2018. Acesso em: 22 de junho de 2019.
LUZ, E. G.; CANDIDO, C. R.; NOGUEIRA, M. C. J. A.; SANTOS, F. M. M.; LEÃO, E. F. T. B. Aplicação de metodologias de
tratamento de dados do clima local para avaliação de diretrizes bioclimáticas em Sinop-MT. In: ENCONTRO NACIONAL
DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 17., 2018, Foz do Iguaçu. Anais... Porto Alegre: ANTAC, 2018.
PBMC. Painel brasileiro de mudanças climáticas. Mudanças climáticas e cidades: Relatório Especial do Painel brasileiro de
mudanças climáticas. 1º ed, Rio de Janeiro, COPPE-UFRJ: 2016.
PEEL, M. C.; FINLAYSON, B. L.; MCMAHON, T. A. Updated world map of the KöppenGeiger climate classification. Hydrology
and Earth System Sciences Discussions, v. 11, n. 5, p. 1633-1644, 2007.
PEREIRA, I.; ALVES, T.; PINHEIRO, R.; ASSIS, E. S. Metodologia de tratamento de dados climáticos para inserção em softwares
de simulação energética de edifícios. In: CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
E ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 04., 2004, São Paulo. Anais... Porto
Alegre: ANTAC, 2004.
RORIZ, M. Arquivos Climáticos de Municípios Brasileiros. São Carlos: Grupo de Trabalho sobre Conforto e Eficiência Energética
de Edificações; ANTAC, 2012.
ROSSI, F. A.; DUMKE, E.; KRÜGER, E. L. Atualização do ano climático de referência para Curitiba. In: ENCONTRO
NACIONAL E ENCONTRO LATINO AMERICADO DE CONFORTO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 2009, Natal.
Anais... Porto Alegre: ANTAC, 2009.

AGRADECIMENTOS
As autoras agradecem ao Programa de Pós-Graduação de Engenharia de Construção Civil (PPGECC) da
Universidade Federal do Paraná (UFPR). Agradecemos também ao Sistema Meteorológico do Paraná
(SIMEPAR) pelo fornecimento de dados climáticos, possibilitando a realização da pesquisa.

1030
APLICABILIDADE DE FERRAMENTAS GERADORAS DE ESTUDOS
BIOCLIMÁTICOS NO CONTEXTO DA “SALA DE AULA INVERTIDA”
João Victor de Souza Lima (1); João Roberto Gomes de Faria (2)
(1) Arquiteto, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
arq.jvlima@gmail.com
(2) Doutor, Professor do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, joaofari@faac.unesp.br,
Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Av. Eng. Luiz
Edmundo Carrijo Coube, n° 14-01, Vargem Limpa, Bauru – SP, (14) 3103-6059

RESUMO
Esta pesquisa é parte de uma dissertação de mestrado que apresenta uma discussão sobre o uso da
metodologia ativa de ensino “Sala de Aula Invertida” em disciplinas de Conforto Ambiental, de modo que
alguns problemas práticos e pedagógicos, que dificultam sua integração com as disciplinas projetuais em
cursos de Arquitetura e Urbanismo, possam ser sanados ou minimizados, enquanto a sala de aula se torna um
ateliê de projeto. Dentre as questões investigadas na dissertação, esta pesquisa se limita ao enfoque para as
ferramentas geradoras de auxílio às tomadas de decisão, no âmbito da bioclimatologia e geometria solar,
utilizadas nas atividades projetuais propostas em sala de aula, tendo o objetivo de investigar a aplicabilidade
e contribuição dessas ferramentas dentro do contexto da “Sala de Aula Invertida”. A metodologia, de caráter
exploratório e correlacional, consistiu no planejamento e aplicação da estratégia de ensino com a apropriação
das ferramentas selecionadas, avaliação dos projetos entregues pelos alunos como resultado das atividades
práticas elaboradas em sala de aula, e investigação do nível de satisfação dos estudantes para com o método,
mais particularmente com relação às atividades propostas e ferramentas utilizadas. Dentre outras questões, os
resultados sugerem que alguns aspectos da sistematização proposta foram bem sucedidos, como a utilização
da planilha de tabulação bioclimática, e a apropriação das ferramentas de sombra do software SketchUp e
das cartas solares impressas. Entretanto, o software Sol-Ar, apesar de importante para o projeto de proteções
solares, não se mostrou eficiente para o estudo de máscaras de sombra do entorno edificado. Da mesma
forma, as dificuldades de modelagem do software SunTool, assim como a sua não utilização na gravação das
videoaulas, prejudicaram sua utilização como ferramenta de estudo para as máscaras de sombra em geral.
Palavras-chave: arquitetura bioclimática; ferramentas geradoras; método de ensino, sala de aula invertida.

ABSTRACT
This research is part of a Master's dissertation that presents a discussion about the use of the "Flipped
Classroom" methodology in Environmental Comfort disciplines, so that some practical and pedagogical
problems, which hinder its integration with the design disciplines in Architecture and Urbanism courses, can
be remedied or minimized, while the classroom becomes a design studio. Among the questions investigated
in the dissertation, this research is limited to the approach of the generating tools of decision support in the
field of bioclimatology and solar geometry used in the proposed design activities in the classroom, with the
objective of investigating the applicability and contribution of these tools within the context of “Flipped
Classroom”. The methodology consisted in the planning and application of the teaching strategy with the
appropriation of the selected tools, evaluation of the projects delivered by the students as a result of the
practical activities elaborated in the classroom, and investigation of their level of satisfaction with the
method, more particularly with regard to the proposed activities and used tools. Among other issues, the
results suggest that some aspects of the proposed systematization have been successful, such as the use of the
bioclimatic tabulation, and the appropriation of the shadow tools of the software SketchUp and printed solar
diagrams. However, the software Sol-Ar, although important for the project of solar protections, was not
efficient for the study of shadow masks of the built environment. Likewise, the modeling difficulties of the
software SunTool, as well as its non-use in the video recordings, have impaired its use as a study tool for the
shadow masks in general.
Keywords: bioclimatic architecture, generating tools, teaching method, flipped classroom.
1031
1. INTRODUÇÃO
Conforto Ambiental foi incluído como área de conhecimento obrigatória nas grades curriculares brasileiras
dos cursos de Arquitetura e Urbanismo a partir de 1994 (BITTENCOURT; TOLEDO, 1997). No entanto,
até os dias atuais, é notável sua grande desvinculação com o processo de projeto, o que contribui para o
baixo desempenho térmico e energético dos projetos arquitetônicos desenvolvidos pelos alunos, os quais, de
modo geral, apresentam grandes deficiências de desempenho térmico e lumínico. Esses aspectos são
limitados, principalmente, às questões de implantação e orientação das aberturas, muitas vezes com a
utilização desenfreada de grandes superfícies envidraçadas, geralmente sem referências a elementos de
sombreamento, ou então com estes inseridos de maneira genérica, sem os estudos adequados para garantir
sua efetividade (FREIRE, 2017). Essa lacuna entre conhecimento e habilidade se deve ao fato da
transferência do conhecimento científico ao processo projetual ser bastante complexa e dificultada,
principalmente porque os princípios da física na construção são dificilmente aplicáveis aos raciocínios de
projeto em sua fase de criação (KOWALTOWSKI; LABAKI, 1993).
Segundo Vianna (2001), a disciplina de Conforto Ambiental apresenta diversos problemas práticos e
pedagógicos, os quais dificultam sua integração mais intrínseca às disciplinas projetuais, e,
consequentemente, colaboraram com essa defasagem entre teoria e prática. Dentre as questões apresentadas
pelo autor, destacam-se: a) a carga horária dedicada às disciplinas, geralmente pequena; b) o pouco tempo
que muitos alunos possuem para estudar fora da sala de aula, por geralmente trabalharem; c) o número
excessivo de alunos por classe, uma vez que o MEC não reconhece as disciplinas de Conforto Ambiental
como sendo projetuais, e sim de tecnologia; d) a falta de integração com outras disciplinas, principalmente as
de projeto, uma vez que os professores dessas disciplinas ou tratam o conhecimento como inerente a
especialistas, ou reduzem sua importância como condicionante projetual (BITTENCOURT; TOLEDO,
1997); e) a falta de laboratórios com equipamentos de conforto e de laboratórios de informática com
programas específicos para os estudos de conforto, ambos resultados de uma negligência por parte dos
cursos de Arquitetura e Urbanismo para com esse conteúdo, o que dificulta a execução de atividades
práticas.
Este trabalho é parte de um projeto de pesquisa que apresenta uma discussão sobre o uso da
metodologia ativa de ensino “Sala de Aula Invertida” em disciplinas de conforto ambiental, de modo que
esses problemas práticos e pedagógicos possam ser sanados ou minimizados. Nessa metodologia,
desenvolvida e disseminada por Bergmann e Sams (2012), ao contrário do que acontece no modelo
tradicional, os alunos estudam o conteúdo da disciplina fora da sala de aula, no tempo que possuem
disponível, e com total controle sobre o seu ritmo de estudo, dando espaço para o desenvolvimento de
atividades práticas e interativas em sala de aula, ocasião em que desenvolvem habilidades de raciocínio mais
complexas (SUHR, 2016). Dentre as categorias de questões práticas e pedagógicas investigadas na pesquisa,
este estudo se limita ao enfoque das ferramentas de auxílio às tomadas de decisão, no âmbito da geometria
solar, utilizadas nas atividades projetuais propostas em sala de aula.
Shaviv (1999) classifica as ferramentas de auxílio às tomadas de decisão no contexto projetual em
duas categorias principais: ferramentas geradoras, que auxiliam nas definições geométricas, e geralmente
requerem poucos dados de entrada, sendo bastante úteis nas fases de análise (análises dos contextos de
projeto e definição de regras e restrições) e fases de síntese do projeto (buscas de soluções); e ferramentas de
análise de desempenho, ou Building Performance Analysis (BPAs), as quais geralmente requerem muitos
dados de entrada, e acabam sendo úteis principalmente para a avaliação quantitativa de desempenho das
soluções adotadas (fases de avaliação). Nesse contexto, os programas de simulação computacional no âmbito
do desempenho térmico e energético das edificações se enquadram como BPAs (JIN et al, 2019).
Para que BPAs possam ser utilizadas como auxiliadoras às fases de síntese e às etapas iniciais do
projeto, devem apresentar análises gráficas dos resultados, e principalmente utilizar o esboço arquitetônico
como possibilidade de dados de entrada, traduzindo os resultados de desempenho em respostas para as
tomadas de decisão (MARSH, 1997). Inicialmente, essas ferramentas, de uma forma geral, não se
preocupavam com essas questões e, por esse motivo, dentre poucas exceções, os programas de simulação se
mostravam pouco eficientes como auxiliadores das buscas de soluções, sendo utilizados majoritariamente
nas fases de detalhamento, quando grande parte das decisões já foram tomadas, o que limitava o seu suporte
projetual (LIMA, 2012). Entretanto, os avanços da integração entre as BPAs com a tecnologia BIM
(Building Information Modelling) têm facilitado a realização de análises intermediárias durante os processos
de projeto, de modo que os programas acabam se tornando assistentes para as tomadas de decisões, em todas
as suas fases (JIN et al, 2019). Apesar disso, a utilização dessa tecnologia requer um conhecimento prévio do
arquiteto quanto aos princípios de bioclimatologia e física térmica (BONDARS, 2013), o que torna essas
1032
ferramentas inviáveis na aplicação didática para o ensino da arquitetura bioclimática em cursos de
graduação.
Delbin (2006) investigou a viabilidade prática de introdução de BPAs para o ensino do projeto
arquitetônico considerando intrinsicamente os conceitos de conforto ambiental. Dentre outras questões, a
autora constatou que o uso da simulação em atividades de projeto no âmbito do ensino-aprendizagem
apresenta algumas limitações, como a dificuldade de montar um ateliê informatizado e, principalmente,
quanto ao tempo não disponível para estudos complementares, necessários para que os alunos possam
aprender a utilizar as ferramentas.
Por outro lado, as ferramentas geradoras podem ser facilmente incluídas nas buscas de soluções (fases
de síntese); ao mesmo tempo, podem contribuir ao processo de aprendizagem dos alunos, se utilizadas em
conjunto, e estruturadas por um método bem definido, uma vez que naturalmente se direcionam às etapas
iniciais do projeto, concentrando-se principalmente em suas definições geométricas, e apresentando
interfaces mais amigáveis (MACIEL, 2006; SHAVIV, 1999). No entanto, Kowaltowski, Bianchi e Petreche
(2011) constatam que ainda existem poucas ferramentas de auxílio à criação voltadas às decisões iniciais de
projeto, de modo que ou se compromete seu desenvolvimento, ou resolve-se ‘corretamente’ o ‘problema
errado’. Os autores concluem sobre a necessidade de métodos de geração de ideias que contribuam para as
etapas iniciais de criação.

2. OBJETIVO
Investigar a aplicabilidade e contribuição de algumas ferramentas geradoras de auxílio à tomada de decisão
no âmbito da bioclimatologia e da geometria solar, dentro do contexto de uma estratégia de ensino baseada
na metodologia ativa da “Sala de Aula Invertida”.

3. MÉTODO
Considerando a atual escassez de investigações sobre o uso da Sala de Aula Invertida como estratégia
metodológica para o ensino de arquitetura bioclimática no contexto do processo projetual, a presente
pesquisa assumiu um caráter exploratório e correlacional, mais precisamente de estudo de relação. Dessa
forma, não foi feita a comparação entre um grupo de experimento e um grupo de controle, mas sim uma
investigação intrínseca ao processo de ensino-aprendizagem estudado, por meio de investigação
correlacional dentro de um mesmo grupo de indivíduos (alunos). Essa abordagem, segundo Coutinho (2008),
é particularmente importante em áreas do conhecimento ainda pouco investigadas, uma vez que se objetiva
compreender a complexidade do fenômeno educativo por meio dos construtos e conceitos que o integra e
explicam. No recorte desta pesquisa, são apresentadas as análises que trouxeram conclusões pertinentes
acerca da aplicabilidade das ferramentas selecionadas para a estratégia de ensino proposta.

3.1. Planejamento e aplicação da estratégia de ensino


A estratégia de ensino descrita abaixo foi aplicada para uma turma de 35 alunos do curso de Arquitetura e
Urbanismo de uma faculdade particular do interior paulista, na disciplina “Conforto Ambiental” ministrada
pelo primeiro autor deste artigo, em um período de um bimestre (5 dias com 3 horas/aula cada, já
desconsiderando as primeiras aulas preparatórias, um feriado, a aplicação da prova bimestral, e a aplicação
dos demais instrumentos de avaliação). A turma foi dividida em 7 grupos de 5 alunos, com os quais
realizaram todas as atividades práticas em sala de aula durante o bimestre. Seguindo os preceitos de
Bergmann e Sams (2012), os alunos estudaram o conteúdo teórico sobre geometria solar fora da sala de aula,
por meio de videoaulas gravadas pelo professor da disciplina, enquanto, em classe, desenvolveram projetos
escolares que os condicionavam à aplicação prática desses conceitos. A geometria solar foi selecionada como
conteúdo devido à sua importância nas decisões de projeto, e pelo fato de se dispor de métodos mais precisos
em comparação a outros estudos, como, por exemplo, o de ventilação natural (CHVATAL, 1998).
O conteúdo foi divido em dez módulos em ordem crescente de complexidade, gravados em videoaulas
com durações de 11 a 29 min, postadas online para os alunos. As aulas foram embasadas em dois livros
comumente disseminados em disciplinas de Conforto Ambiental: “Eficiência Energética na Arquitetura”
(LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2005) e “Uso das cartas solares: diretrizes para arquitetos”
(BITTENCOURT, 2004).
O programa arquitetônico escolhido para as atividades projetuais foi o escolar (Escola Ciclo II +
E.M.). A escolha se justifica por ele já ter sido desenvolvido pela turma no ano anterior, o que possibilitou o
aproveitamento de seu repertório funcional e criativo relacionado ao programa, pelo fato de possuir grande
1033
variabilidade de padrões de ocupação, o que proporcionou maior complexidade às atividades propostas, e
pelo fato de que, em sua maioria, os edifícios escolares brasileiros não possuem equipamentos de
condicionamento de ar, estando o conforto térmico a cargo do projeto bioclimático (KOWALTOWSK et al,
2007).

3.1.1. Definição das ferramentas de auxílio às tomadas de decisão


Esta pesquisa trabalhou com base na limitação de recursos (tempo e ferramentas), fatidicamente enfrentada
por muitos cursos de arquitetura brasileiros (VIANNA, 2001). Sendo assim, a definição de ferramentas a
serem utilizados pela estratégia de ensino proposta se pautou nos seguintes critérios:
I. Optou-se por não utilizar BPAs, considerando o tempo necessário para que os alunos adquiram
proficiência suficiente para a sua efetiva utilização no processo projetual, tanto no âmbito operacional
(DELBIN, 2006), quanto conceitual (BONDARS, 2013). Considerando a dificuldade de utilização das
ferramentas durante o processo de aprendizagem (principalmente em suas etapas iniciais), e confrontando a
carga horária necessária para o treinamento operacional dos alunos com a carga horária disponível para a
disciplina, sua utilização no ensino da arquitetura bioclimática se torna inviável.
II. Para otimização do tempo dedicado às atividades projetuais em sala de aula, que deve ocorrer
paralelamente ao aprendizado dos alunos, optou-se por ferramentas geradoras que pudessem ser utilizadas
tanto no âmbito didático quanto no âmbito instrumental.
III. Não existe até o momento na instituição coparticipante um laboratório de conforto ambiental
dotado de ferramentas de experimento físico. Dessa forma, apesar de se reconhecer a elevada importância
dessas ferramentas, principalmente do heliodon, na sedimentação do conteúdo de geometria solar e em sua
aplicação no processo projetual (FERNANDES; CUNHA, 2001), não foi possível integrá-las na estratégia de
ensino.
IV. Da mesma forma, a inexistência de recursos para adquirir licenças pagas condicionou a escolha de
ferramentas gratuitas, ou já possuídas pelos alunos que fariam parte da disciplina.
Considerando o enfoque na geometria solar, as duas ferramentas geradoras específicas escolhidas para
a estratégia de ensino foram os programas computacionais:
▪ SunTool (MARSH, 2001), utilizado como ferramenta de auxílio à compreensão da geometria solar e
da representação das máscaras de sombra na carta solar, uma vez que proporciona a plotagem automática
dessas máscaras enquanto permite a modelagem de janelas, proteções solares horizontais, verticais, ou
combinadas e/ou de barreiras do entorno edificado (OLIVEIRA; MACEDO, 2005). Dessa forma, os alunos
conseguem compreender, visualmente, a viabilidade de utilização de cada tipologia de proteção para cada
face estudada na determinada latitude e no determinado contexto edificado, assim como suas particularidades
e limitações, principalmente no que diz respeito aos ângulos de limite lateral das proteções.
▪ Analysis Sol-Ar (LabEEE, 2009), utilizado para a obtenção das cartas solares para as latitudes
específicas e plotagem das máscaras de sombra obtidas, tanto pelas influências de sombra das barreiras do
entorno edificado, quanto pelas proteções projetadas pelos alunos. Enquanto a primeira ferramenta pode ser
utilizada para facilitar a escolha e compreensão da tipologia das proteções, esta pode ser utilizada para a
definição mais específica dos ângulos das proteções a serem projetadas. As cartas solares geradas pelo
programa também foram impressas para a utilização pelos alunos.
Além das mencionadas acima, também foram elencadas ferramentas já utilizadas pelos alunos, como o
AutoCAD (modelagem 2D e detalhamentos), SketchUp (modelagem 3D e ferramentas de sombra), e
Microsoft Excel (tabulação bioclimática do programa de necessidades). Considerando o aspecto meramente
representativo do software AutoCAD, e não diretamente contribuinte às questões bioclimáticas, ele não foi
considerado na investigação de aplicabilidade das ferramentas.
Considerando a necessidade de métodos que otimizem a utilização das ferramentas geradoras dentro
do processo projetual (KOWALTOWSKI; BIANCHI; PETRECHE, 2011), a estruturação de inserção das
ferramentas selecionadas na estratégia de ensino (descrita com mais detalhes no tópico 3.1.2) teve como base
principal a experiência relatada por Boni (1997). O autor utilizou cartas solares, associados a diagramas com
códigos de cores, como ferramentas didáticas e instrumentais em todas as fases de projeto realizadas pelos
alunos. Como resultado, constatou que os alunos tiveram condições imediatas de analisar, de maneira
associada, as situações (problemas) e propor soluções, desde o zoneamento funcional, até o
dimensionamento exato dos protetores solares para as superfícies e aberturas, passando, assim, a explorar a
geometria como linguagem analítica. Estruturação semelhante também foi utilizada por Oliveira e Macedo
(2005), mas, nesse caso, com o uso do programa ECOTECT.

1034
3.1.2. Proposta de processo projetual
Foi estipulado um terreno hipotético para a elaboração das atividades, com área suficiente para a composição
de uma edificação térrea com certa complexidade de influência de sombra dos edifícios do entorno. As
etapas projetuais propostas em sala de aula foram estruturadas conforme o esquema da Figura 1:

Figura 1 – Processo projetual proposto: (A) identificação das estratégias bioclimáticas; (B) tabulação bioclimática do programa; (C)
influência de sombra do entorno; (D) definição do formato de implantação; (E) máscaras de sombra do entorno; (F) máscaras de
sombra para as proteções; (G) mapeamento bioclimático; (H) desenvolvimento do projeto; (I) projeto das proteções solares.

A. Identificação das estratégias bioclimáticas ideais para a cidade de Marília-SP: foi solicitado que os
alunos identificassem os dados climáticos mensais para a cidade de Marília-SP (média das temperaturas
médias, médias das máximas, médias das mínimas, e umidades relativas médias), para um ano típico de
referência (TRY). Devido à indisponibilidade de dados climáticos para a cidade de Marília, foram utilizados
os dados para a cidade de Lins, recomendados por semelhança climática pelo site ProjetEEE (disponível em:
http://projeteee.mma.gov.br/). Esses dados foram aplicados na carta psicométrica com o Diagrama de Givoni
(1992), por meio da metodologia apresentada por Lamberts, Dutra e Pereira (2005). Assim, os alunos
identificaram as estratégias bioclimáticas mais recomendadas para cada mês do ano.
B. Tabulação bioclimática do programa de necessidades: utilizando o Microsoft Excel, foi elaborada
uma planilha na qual os alunos puderam inserir, para cada ambiente do programa de necessidades, as
informações de padrões de ocupação relacionadas ao conforto térmico dos usuários (LAMBERTS; DUTRA;
PEREIRA, 2005): tempo de permanência máxima no ambiente, informado em horas; vestimenta, atividade
metabólica, e calor produzido por equipamentos, informados em uma escala comparativa de 1 a 5.
Considerando as diferentes escalas de cada parâmetro, a planilha foi elaborada com cálculos automáticos
para a normatização dos dados inseridos, assim como cálculos de média aritmética dos dados normatizados,
para cada ambiente. As médias foram geradas considerando o mesmo peso de influência para cada
parâmetro. Com base nessas médias, os alunos puderam organizar os ambientes em ordem decrescente (com
o uso do filtro do próprio Excel), de modo que fosse possível visualizar, comparativamente, quais ambientes
exigiriam maior e menor atenção em relação ao desempenho térmico de sua composição arquitetônica.
Evidencia-se que essa planilha foi elaborada para situações de climas predominantemente quentes (secos ou
úmidos). Em caso de climas predominantemente frios, seria necessária uma abordagem diferente.
C. Estudo de influência de sombra do entorno edificado: esse estudo foi realizado utilizando as
ferramentas de sombra do software SketchUp, de forma que fosse possível registrar as sombras do entorno
edificado para os meses de interesse, para a futura definição do formato de implantação.
D. Definição do formato de implantação: com base na área total definida pelo programa de
necessidades, em sua experiência passada com o projeto escolar, nos estudos realizados anteriormente no
Diagrama de Givoni, e nos registros de sombra do entorno edificado, os alunos fizeram, ainda no SketchUp,
um estudo de viabilidade de formato e posição de implantação da edificação proposta, com o principal
objetivo de adequar essa implantação à influência de sombra do entorno, aproveitando as sombras
(principalmente vespertinas) nos meses mais quentes, e evitando as sombras nos meses mais frios.
E. Estudo das máscaras de sombra para o entorno edificado: com o formato de implantação já
definido, os grupos traçaram, nas cartas solares (uma para cada face do formato de implantação), as máscaras
de sombra referentes à influência de sombra do entorno imediato. Esse estudo foi feito com base nos
1035
procedimentos apresentados por Bittencourt (2004), para cada eixo de face. As ferramentas utilizadas foram
o AutoCAD (para identificação dos ângulos de influência em planta e cortes), e o Analysis Sol-Ar ou as
cartas solares impressas (para o traçado das máscaras de sombra).
F. Estudo das máscaras de sombra ideais para cada face do formato de implantação: ainda com base no
formato de implantação previamente definido, os alunos traçaram, nas cartas solares, as máscaras de sombra
para proteções solares que consideravam ideais para cada uma de suas faces, ainda desconsiderando a
influência do entorno imediato, com base nos conceitos apresentados por Bittencourt (2004). Para isso,
utilizaram como ferramentas o SunTool (o qual facilita a visualização simultânea entre composição de
proteções e máscara de sombra resultante na carta solar), o Analysis Sol-Ar e as cartas solares impressas.
Considerando que todos os grupos decidiram por trabalhar com implantações alinhadas ao norte, o escopo
limitado (faces norte, sul, leste e oeste, para todos os grupos) permitiu a aplicação da “Jigsaw Technique”.
Segundo Fatareli et al. (2010), nessa técnica de aprendizagem cooperativa, cada aluno dos grupos base
(grupos de origem) é selecionado para integrar um outro grupo denominado grupo especialista. Cada grupo
especialista fica encarregado de resolver uma parte do “quebra-cabeças” referente ao problema coletivo (no
caso, as máscaras de sombra ideais para cada uma das quatro faces). Após as partes do problema serem
resolvidas pelos grupos especialistas, os alunos voltam aos seus grupos base com as informações
encontradas, compartilhando-as uns com os outros.
G. Mapeamento bioclimático no formato de implantação: nesse momento, os grupos associaram as
máscaras de sombra para proteções solares identificadas para cada face do formato de implantação com as
máscaras de sombra geradas para o entorno imediato. Assim, as máscaras de sombra para proteções solares
identificadas coletivamente foram adaptadas às realidades individuais de cada grupo. Foi então solicitado
que os alunos organizassem o programa de necessidades, já tabulado, no formato de implantação, com a
sugestão do uso de post-its coloridos (cada cor indicando um determinado setor), baseando-se nas
dificuldades de bloqueio seletivo da insolação identificadas nas máscaras de sombra resultantes para cada
face: os ambientes de maior atenção deveriam ser posicionados nas orientações de mais fácil bloqueio
seletivo da insolação (máscaras de sombra mais abertas, e com a presença da insolação desejável), enquanto
os ambientes de menor atenção deveriam ser posicionados nas orientações de mais difícil bloqueio seletivo
(máscaras de sombra mais fechadas, e sem a presença da insolação desejável). Como resultado, os alunos
tinham em mãos um mapeamento de arranjo bioclimático do programa de necessidades que sintetizava tanto
as necessidades bioclimáticas do padrão de ocupação, quanto as potencialidades e limitações solares da
implantação definida. Esse instrumento norteador seria utilizado como regra a ser almejada nas próximas
etapas projetuais, servindo como meio de registro, e tornando-se o elo entre as fases do ciclo de decisão
(ANDRADE; RUSCHEL; MOREIRA, 2011).
H. Desenvolvimento do projeto (anteprojeto): como síntese das informações contidas no programa de
necessidades (setores e dimensões), do repertório arquitetônico anterior com o programa arquitetônico
(desenvolvido no ano anterior na disciplina de projeto arquitetônico), e do mapeamento bioclimático no
formato de implantação (usado como conjunto de regras norteadoras), os alunos passaram para a fase de
desenvolvimento do projeto escolar (anteprojeto), definindo o arranjo funcional, dimensões, circulações,
acessos e aberturas. Após sua definição, os alunos fizeram a avaliação do anteprojeto com base no
mapeamento bioclimático desenvolvido, a fim de identificar lacunas de desempenho, as quais resultaram em
uma revisão do anteprojeto e/ou na definição das proteções solares a serem projetadas na próxima etapa
(detalhamento).
I. Projeto das proteções solares (detalhamento): identificadas as necessidades de se projetar proteções
solares, e para quais superfícies, os grupos materializaram as máscaras de sombra para proteções solares, já
definidas anteriormente, no projeto arquitetônico. Nesse momento, os alunos puderam utilizar as ferramentas
SunTool, Analysis Sol-Ar, cartas solares impressas, SketchUp e AutoCAD para criarem as melhores
composições possíveis, individualmente para cada superfície, ou coletivamente como parte das definições
volumétricas do projeto.
Apesar das solicitações sistemáticas no decorrer da disciplina, com o objetivo de tornar o processo
exequível à carga horária disponível, foi esclarecido aos alunos que, em sua adoção nas futuras disciplinas
projetuais, esse processo seria holístico, se integrando às diversas condicionantes de projeto não
desenvolvidas na disciplina Conforto Ambiental.

3.2. Avaliações e análises dos resultados


Foi solicitada a apresentação final, em forma de painel, do projeto desenvolvido durante a disciplina, como
produto de todas as atividades realizadas em sala de aula, evidenciando os processos aplicados, relacionados
1036
à arquitetura bioclimática. Foram considerados satisfatórios os projetos que demonstrassem a simultânea
preocupação com os critérios de conforto estudados, e com os critérios relacionados à adequada ocupação do
terreno, ao arranjo funcional do programa, dimensionamento dos ambientes, fluxos e circulações adequados.
Os projetos entregues pelos alunos foram avaliados quantos aos critérios: estudo de sombreamento do
entorno e definição do formato de implantação, considerando a realidade climática da cidade de estudo
(Marília-SP), principalmente quanto aos aspectos de insolação; tabulação bioclimática do programa de
necessidades, considerando as variáveis humanas referentes ao conforto térmico em cada ambiente; máscaras
de sombra do entorno edificado para cada face do formato de implantação; máscaras de sombra para as
proteções solares, também em cada face do formato de implantação; integração entre as máscaras de sombra
do entorno e as máscaras de sombra das proteções solares, adaptando-as à situação do projeto no terreno;
arranjo bioclimático, analisando o posicionamento adequado dos ambientes com base na associação entre
seus padrões de ocupação e seu posicionamento no formato de implantação com referência na geometria
solar; arranjo funcional, sendo avaliados, em conjunto, a distribuição funcional dos ambientes entre si, seu
dimensionamento, circulação e acessos; planejamento e detalhamento adequado das proteções solares; e
síntese arquitetônica final, considerando o nível de abstração alcançado na integração de todos os critérios
anteriores. Devido ao objetivo disciplinar e ao tempo limitado para as atividades em sala de aula, os demais
critérios de composição arquitetônica, como linguagem arquitetônica e materialidade, não foram
considerados na avaliação do projeto.
A pesquisa também investigou o contexto pessoal dos alunos, tanto em relação aos seus estilos de
aprendizagem, quanto à sua percepção quanto à estratégia de ensino aplicada. Essa última investigação foi
feita por meio da aplicação de um questionário composto por 21 questões, uma semana após a aplicação da
Avaliação Bimestral, mas antes das notas serem divulgadas, para que não houvesse interferências nas
respostas dos alunos. As questões foram estruturadas de modo a facilitar seu preenchimento, mas podem ser
classificadas em sete critérios de investigação: eficiência da inversão da sala de aula; exequibilidade dos
estudos propostos fora da sala de aula; nível de dificuldade encontrado pelos alunos em cada módulo da
disciplina; eficácia das videoaulas; autoavaliação; eficácia das atividades propostas em sala de aula; e
eficácia das ferramentas de auxílio à tomada de decisão utilizadas nas atividades, com o objetivo de
identificar suas potencialidades e limitações para com o método proposto, sendo assim especialmente
importantes para as conclusões levantadas neste artigo.

4. RESULTADOS
A Tabela apresenta uma síntese da avaliação dos projetos entregues. Os critérios foram estabelecidos com
base nas etapas do processo projetual proposto em sala de aula, avaliando se estas foram cumpridas
corretamente, e se podem ser identificadas no produto final (projeto arquitetônico). Os campos preenchidos
com “NA” correspondem aos critérios não avaliados, por não terem sido desenvolvidos e/ou apresentados
pelos grupos nos painéis entregues. Como resultado, dos 7 grupos, apenas 3 apresentaram um desempenho
satisfatório (grupos 2, 3 e 6).
O gráfico da Figura 2 apresenta a relação das médias de alcance dos critérios avaliados nos projetos.
Dentre os critérios mais negligenciados ou pior desenvolvidos pelos grupos estão, em ordem crescente:
integração das máscaras de sombra, síntese arquitetônica final, arranjo funcional, máscaras de sombra do
entorno edificado e projeto das proteções solares. Por outro lado, os critérios mais bem desenvolvidos foram,
em ordem decrescente: máscaras de sombra para as proteções solares, tabulação bioclimática do programa de
necessidades, arranjo bioclimático, e estudo de sombreamento do entorno com definição da implantação.
Tabela 1 – Síntese de avaliação dos projetos entregues.
GRUPO
CRITÉRIO
1 2 3 4 5 6 7
Estudo de sombreamento do entorno e definição
3 5 10 5 NA 7 0
do formato de implantação
Tabulação bioclimática do programa 3 10 10 3 10 10 10
Máscaras de sombra do entorno 4 4 - 10 NA 7 0
Máscaras de sombra para as proteções solares 10 10 10 10 10 10 10
Integração das máscaras de sombra 10 NA NA NA NA NA NA
Arranjo bioclimático NA 10 10 NA NA 10 NA
Arranjo funcional NA 6 6 NA NA 10 NA
Projeto das proteções solares 2 10 3 NA 3 10 NA
Síntese arquitetônica final NA 6 4 NA NA 8 NA

1037
Figura 2 – Médias de alcance dos critérios avaliados nos projetos.

Todos os grupos apresentaram altos desempenhos nos estudos de máscaras de sombra para as
proteções solares, individualmente. Isso pode indicar que o método cooperativo de aprendizagem Jigsaw
Technique foi bem sucedido. Em contrapartida, considerando a negligência coletiva na integração dessas
máscaras com as máscaras do entorno, é possível que os alunos tenham se apoiado nos resultados dos
estudos cooperativos, ao não adaptá-los às suas realidades de projeto. Percebe-se a necessidade de ênfase ao
processo de integração das máscaras, em associação ao decorrente mapeamento bioclimático do formato de
implantação, dedicando uma carga horária suficiente para isso (aproximadamente 3 horas/aula).
No mesmo sentido, é possível observar que, apesar de a maioria dos grupos demonstrar preocupação
com o estudo do sombreamento proporcionado pelo entorno edificado na síntese do formato e posição da
implantação (por meio do SketchUp), uma minoria utilizou corretamente a técnica de máscaras de sombra
para o entorno edificado como parte do processo metodológico para as tomadas de decisão. Isso demonstra
uma maior dificuldade dos alunos para com esse conteúdo, provavelmente resultado do pouco tempo
destinado para a sua aplicação em sala de aula (apenas 2 horas/aula), e do caráter mais abstrato da atividade.
Evidencia-se, então, a necessidade de se dedicar mais tempo (ao menos 4 horas/aula) para essas atividades
no planejamento de aplicações futuras. É importante ressaltar também que as máscaras do entorno mais bem
desenvolvidas foram feitas à mão, com o uso das cartas solares impressas, provavelmente devido ao maior
envolvimento pessoal e menores restrições no manuseio. Apesar de facilitar bastante o processo de
identificação dos ângulos solares, o Sol-Ar apresenta uma limitação de ângulos por vez, o que dificulta e/ou
torna impreciso o estudo de máscaras de sombra para entornos mais complexos, com várias edificações. Por
outro lado, o SunTool, apesar de um facilitador em potencial, não foi utilizado por nenhum grupo para esse
fim, provavelmente devido à complexidade da interface de modelagem.
Quanto ao projeto de proteções solares, os grupos que apresentaram os estudos pelo SunTool
demonstraram pouco ou nenhum domínio sobre os conceitos e procedimentos apontados por Bittencourt
(2004), o que pode indicar que a ferramenta foi utilizada como “muleta” para aqueles alunos que não
dominaram o conteúdo, ao invés de ferramenta para o auxílio da aprendizagem e/ou para facilitar a
compreensão da relação física-estereográfica das proteções solares. Entretanto, é importante evidenciar que a
ferramenta, que possui interface em inglês, foi apresentada aos alunos apenas em sala de aula, não sendo
integrada como material didático no desenvolvimento das videoaulas, o que pode ter dificultado a
familiaridade dos alunos com ela. Em contrapartida, os dois grupos que apresentaram corretamente os
detalhamentos para as proteções solares utilizaram como ferramentas as cartas solares impressas e o Analysis
Sol-Ar, instrumento bastante utilizado no desenvolvimento das videoaulas.
De fato, na opinião dos alunos, o
SunTool foi a ferramenta que menos
contribuiu no desenvolvimento dos projetos
e no processo de aprendizagem, enquanto as
cartas solares impressas e o SketchUp
(também com um tutorial postado online)
seguem como as maiores contribuintes (
Figura 3). As cartas solares impressas
também se mostraram importantes para os
alunos que não possuem notebook para
utilizar em sala de aula, considerando a Figura 3 – Médias das avaliações dos alunos quanto às contribuições
ausência de um laboratório de informática de cada ferramenta utilizada na disciplina.
disponível para esse fim.

1038
Os três projetos com plantas legíveis se enquadraram em uma boa relação entre padrões de ocupação
dos ambientes e posicionamento no formato de implantação com referência na geometria solar, o que
demonstra uma importante contribuição da tabulação bioclimática do programa arquitetônico pela planilha
eletrônica. Entretanto, o arranjo funcional só foi bem desenvolvido por um deles, o que demonstra a
dificuldade em se preocupar simultaneamente com os requisitos bioclimáticos e os demais requisitos
funcionais de projeto. Da mesma forma, no quesito bioclimático, os melhores projetos apresentaram baixos
níveis de desenvolvimento volumétrico, com implantações retangulares ou quadráticas e proteções inseridas
individualmente nas aberturas, e não como expressão volumétrica. Essa lacuna na síntese arquitetônica pode
ser resultado de uma preocupação dos alunos em não tornar os processos ainda mais complexos do que já
são. É preciso, no entanto, identificar uma estratégia de estímulo para a síntese de projetos menos contidos e
mais articulados, talvez dedicando um período da disciplina para análises de projetos correlatos com bom
desempenho térmico e energético que tenham, ao mesmo tempo, alcançado altos níveis de abstração,
estimulando assim, antes do início do processo projetual, o pensamento análogo, o qual, segundo
Kowaltowski, Bianchi e Petreche (2011), sistematiza, por meio de representações visuais e diagramas, a
busca por pontos em comum entre problemas e soluções de uma situação familiar para uma nova situação a
ser elucidada.

5. CONCLUSÕES
As análises realizadas até o presente momento corroboram com a ideia de que o processo projetual integrado
como estratégia de ensino para disciplinas de conforto ambiental pode contribuir significantemente ao nível
de habilidade de aplicação adquirido pelos alunos.
Apesar da grande contribuição constatada para alguns métodos e ferramentas, como o estudo de
sombras do entorno e definição do formato de implantação pelo SketchUp, a tabulação bioclimática do
programa arquitetônico, o estudo de máscaras de sombra para proteções solares com o uso da Jigsaw
Technique, e os estudos de máscaras de sombra em geral com o uso das cartas solares impressas, a estratégia
proposta precisa ser repensada quanto a alguns critérios: 1 - dado o baixo nível de abstração alcançado pelos
projetos, e as prioridades seletivas, por parte dos grupos, é importante exercitar, antes do início dos estudos
no próprio projeto, a análise de projetos correlatos que tenham alcançado alto nível de desempenho térmico e
energético, e, ao mesmo tempo, altos níveis de abstração, com o estímulo do pensamento análogo; 2 - a
atividade colaborativa para a definição das máscaras de sombra para as proteções solares deve ser realizada
anteriormente aos estudos de máscara de sombra para o entorno edificado, considerando seu menor nível de
abstração e maior possibilidade de auxílio colaborativo entre os alunos mais e menos engajados; 3 – é
preciso dedicar maior tempo para a atividade de integração das máscaras de sombra e mapeamento
bioclimático do formato de implantação (aproximadamente 3 horas/aula), dada a sua complexidade e
importância para as etapas seguintes; 4 – o Analysis Sol-Ar se mostrou bastante útil como ferramenta
auxiliadora à aprendizagem e ao projeto de proteções solares, devido à sua precisão na definição de máscaras
de sombra com o uso dos ângulos limitadores. Entretanto, sua limitação de ângulos por vez (dois de cada,
para cada lado), dificultam sua utilização na elaboração de máscaras de sombra de entornos edificados mais
complexos; 5 – apesar do grande potencial do SunTool para os estudos propostos, suas limitações de
modelagem dificultam os processos de aprendizagem e de aplicação nos projetos. Seria importante substituí-
lo por alguma ferramenta que apresente a mesma relação simultânea entre realidade física (representações
em perspectiva) e projeção estereográfica, porém com possibilidades de modelagens próximas às
apresentadas pelo SketchUp. Além disso, a ferramenta precisa ser incluída nas videoaulas sobre o conteúdo
teórico, familiarizando sua interface para os alunos antes de submetê-los ao contato durante as aulas práticas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1040
APLICAÇÃO DO MODELO DE FANGER NA AVALIAÇÃO DO
CONFORTO TÉRMICO DA POPULAÇÃO IDOSA FEMININA
Raiana Spat Ruviaro (1); Giane de Campos Grigoletti (2); Bruna Zambonato (3)
(1) Mestre em Engenharia Civil, Arquiteta e Urbanista, raianaruviaroarq@gmail,com
(2) Doutor, Professor na Universidade Federal de Santa Maria, ggrigoletti@gmail.com
(3) Arquiteta e Urbanista, Mestranda em Arquitetura e Urbanismo, bruzambo@hotmail.com
Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Tecnologia, Av. Roraima,
n. 1000, Cidade Universitária, Bairro Camobi, Santa Maria/RS, CEP: 97105-900 Tel.: +55553220-8144.

RESUMO
Tendo em vista o aumento acelerado do número de idosos na população mundial, é necessário criar
condições para que a terceira idade ocorra com qualidade de vida, onde o conforto térmico é fundamental na
contribuição de um panorama arquitetônico mais humano e acessível. Dessa forma, esta pesquisa pretende
contribuir com o tema a partir da análise da aplicação do modelo de Fanger para avaliar o conforto térmico
da população idosa feminina em ambientes de estar de dois residenciais geriátricos na cidade de Santa Maria,
RS. O público alvo considerado foram pessoas de 60 anos ou mais, do sexo feminino. Foram medidas as
variáveis ambientais temperatura do ar, umidade do ar, temperatura de globo e velocidade do ar, assim como
as variáveis humanas vestimenta e atividade física. Além disso, foram levantadas a sensação e preferência
térmica das idosas mediante aplicação de questionários, avaliando sua percepção térmica. Após as medições,
foi calculado o índice de sensação analítica de conforto (voto médio estimado – PMV), e a porcentagem
estimada de insatisfeitos (PPD). A análise de dados foi feita por meio de elementos gráficos, de forma
descritiva e comparativa entre aqueles obtidos em campo e os índices determinados pelo modelo PMV. O
PMV calculado foi relacionado com a sensação real dos usuários para verificar a relação mútua estabelecida
entre essas variáveis, podendo evidenciar o quanto o modelo é explicativo ou não dos dados levantados.
Como resultado, tem-se que o modelo PMV não é aplicável para a avaliação de conforto térmico
considerando a população pesquisada, onde há a tendência de as idosas sentirem-se mais aquecidas do que o
modelo estima.
Palavras-chave: Conforto térmico. Idosas. PMV.

ABSTRACT
Considering the accelerated increase in the number of elderly people in the world population, it is necessary
to create conditions for the third age to occur with quality of life, where thermal comfort is fundamental in
the contribution of a more human and accessible architecture. The present work intends to contribute to the
subject by analysing the application of Fanger’s model to evaluate the thermal comfort of elderly women
population in living rooms of two long stay nursing homes in Santa Maria, RS. The target audience
considered for this study was elderly women over 60 years old. The environmental variables of air
temperature, humidity, globe temperature and air velocity, as well as the human variables of clothing and
physical work have been collected. The research also measured the thermal sensation and preference of
elderly women by means of questionnaire application, in order to evaluate their thermal perception. After
data collection, the analytical comfort sensation (predicted mean vote – PMV) and the predicted percentage
of dissatisfied (PPD) were calculated. The data analysis was descriptive and comparative between the field
study information and the indices determined by the PMV model. The PMV was compared with the real
sensation surveyed from the occupants to verify the mutual relation established between these variables,
pointing how the model explains or not the data collected. The results indicate that the PMV is not applicable
for the thermal comfort evaluation for the population considered in this study. The findings also showed a
tendency for the elderly women to feel warmer than the model estimates.
Keywords: Thermal comfort. Elderly women. PMV.
1041
1. INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional deve ser visto como um resultado positivo do crescimento econômico e
desenvolvimento tecnológico do século XX, repercutindo também na construção civil, em que, por meio de
edificações adaptadas, busca-se atender às necessidades dos idosos e contribuir para o bem-estar, saúde física
e mental e melhoria da qualidade de vida. Dentro disto, o conforto térmico pode ser definido como uma
sensação humana expressada pela satisfação com o ambiente térmico, que depende de fatores físicos,
fisiológicos e psicológicos (ASHRAE, 2017). Nesse aspecto, verificam-se algumas particularidades em
relação ao envelhecimento, quando, de modo geral, o ser humano se torna menos tolerante e menos
adaptável às variações climáticas por motivos fisiológicos e comportamentais influenciados pelo seu
metabolismo, mesmo quando saudáveis. Assim, cabe à edificação oferecer condições de conforto térmico
com estratégias de adaptação ao clima (SATO; GONÇALVES; MONTEIRO, 2014).
A importância do estudo de conforto térmico está baseada na satisfação do usuário, seu bem-estar em
se sentir termicamente confortável, no desempenho humano e na conservação de energia. Dificilmente todos
os ocupantes de um ambiente se sentirão confortáveis termicamente devido à variação biológica entre as
pessoas. O progressivo aumento da população idosa, com previsão de dois bilhões de idosos para o ano de
2050, representando 20% da população mundial (IBGE, 2010), aponta a tendência da participação e maior
visibilidade dos idosos na vida social, destacando a importância do idoso, e sua satisfação enquanto usuário
dos mais variados espaços. No Brasil, aumentou em 4,8 milhões o número de idosos desde 2012, superando
os 30,2 milhões em 2017 (IBGE, 2018). Já em Santa Maria, no censo de 2010, a população idosa contava
com 35.931 pessoas, o que representa 13,76% da população do município (IBGE, 2010).
Nesta pesquisa, a avaliação do conforto térmico considera o Modelo de Fanger (PMV – Voto Médio
Estimado) normalizado pela ISO 7730 (2005) e ASHRAE (2017), desenvolvido em estudos em câmaras
climatizadas, baseado na teoria do balanço de calor entre o corpo e o ambiente (FANGER, 1970). O modelo
relaciona variáveis pessoais e ambientais com as condições exigidas para conforto térmico. Desde a
publicação da equação do PMV, realizaram-se muitos estudos que avaliavam o conforto térmico no dia-a-dia
das pessoas utilizando este método. Algumas pesquisas identificaram discrepâncias entre o modelo e a
realidade para diferentes situações e públicos estudados, relacionados a questões como a variação de
condições ambientais, adaptabilidade e possibilidade de controle das condições ambientais na edificação
pelos ocupantes (NICOL; HUMPHREYS, 2002; BRODAY; XAVIER, 2018). Apesar disso, não há consenso
sobre um novo modelo ou complemento que possa corrigir tais discrepâncias de forma satisfatória (VIEIRA
et al. 2018). Sendo assim, o PMV ainda é o modelo mais indicado para este tipo de aplicação, sabendo-se da
necessidade de outros estudos similares (VAN HOOF; HENSEN, 2006). Em vista disso, esta pesquisa
buscou avaliar a aplicação do modelo de Fanger para idosas que moram em residenciais geriátricos na região
de Santa Maria/RS, com estudos de campo complementares aos estudos já realizados utilizando o PMV.
O estudo de caso em dois residenciais geriátricos se deu em busca de adquirir maior número de
participantes e maior significância estatística para a pesquisa, com um público variado entre os idosos, à
medida que a vivência de cada indivíduo reflete também na avaliação do conforto dos ambientes. Dear,
Brager e Cooper (1997) afirmam que a adaptação psicológica, dada por diferentes expectativas, também é
um componente de adaptação do clima no interior das edificações, além dos ajustes comportamentais,
tecnológicos e fisiológicos. A preferência por idosas deve-se ao fato de mulheres viverem mais do que
homens. Em 2016, a expectativa de vida dos homens era 72,2 anos, enquanto a das mulheres era de 79,4
anos (IBGE, 2017). Além disso, em estudo de ambiente controlado, Parsons (2002) variou a temperatura do
ar enquanto a umidade do ar era constante, com ocupantes de ambos os sexos, utilizando a mesma
vestimenta, e observou que as mulheres eram mais sensíveis a temperaturas mais baixas do que os homens,
sentindo mais frio. Krüger et al. (2012) estudaram o conforto em espaços abertos com clima temperado, no
inverno e verão, mostrando que, na análise dos grupos por faixa etária, a sensibilidade das pessoas mais
idosas (acima de 64 anos) é maior tanto para o frio quanto para o calor. Ainda, concluíram que a amostra
feminina possui maior sensibilidade ao frio que ao calor, justificando a pesquisa de avaliação de conforto
térmico a idosas, considerada a pior situação relacionada ao público alvo.

2. OBJETIVO
Analisar a aplicabilidade do modelo de Fanger na avaliação do conforto térmico da população idosa feminina
em três salas de estar de dois residenciais geriátricos de Santa Maria, RS.

1042
3. MÉTODO
Os procedimentos metodológicos baseiam-se em levantamento físico, medições de variáveis ambientais e
pessoais, aplicação de questionário, e cálculo do PMV por modelo computacional.

3.1 Caracterização do objeto de estudo


Os residenciais estudados são a Associação Amparo Providência Lar das Vovozinhas (instituição filantrópica
que abriga 190 idosas), e o Longevità Casa para Idosos (instituição particular que abriga 9 idosas). Foram
pesquisadas três salas de estar, ambientes com maior número de idosas simultaneamente: duas no Lar das
Vovozinhas e uma no Longevità. As medições foram realizadas em épocas do ano amenas de frio (agosto e
setembro de 2017) e calor (outubro a dezembro de 2017), evitando a necessidade de condicionamento
artificial de ar, para que, durante as medições, não ocorressem variações acentuadas nas variáveis ambientais.
Os ambientes mantiveram sua configuração inicial para não modificar a aclimatação natural dos usuários.
A edificação do Lar das Vovozinhas possui 2 pavimentos, com paredes em alvenaria e lajes em
concreto entre pavimentos e cobertura em telha de zinco. A sala do térreo possui somente uma fachada
voltada ao exterior, já a sala do 2º pavimento não possui nenhuma fachada voltada ao exterior. As Figuras 1
e 2 mostram as plantas baixas dos pavimentos, e fotografias dos ambientes pesquisados em cada pavimento.

Figura 1 – (a) Planta baixa do térreo do Lar das Vovozinhas; (b) Sala de Estar A – térreo do Lar.

Figura 2 – (a) Planta baixa do segundo pavimento do Lar das Vovozinhas; (b) Sala de Estar B – 2º pavimento do Lar.

A sala de estar do térreo, chamada de Sala de Estar A, tem janelas voltadas a noroeste, para uma área
externa coberta, e sudoeste, para uma circulação coberta. Com 20 lugares, possuía um ar condicionado, um
ventilador de coluna e um aquecedor que estiveram desligados em todas as medições. A sala de estar do
segundo pavimento, chamada de Sala de Estar B, não possui aberturas para a área externa, somente vãos
voltados ao refeitório (ventilação permanente), e janelas voltadas aos corredores de circulação. Com 23
lugares, a sala possui três ventiladores, próximos à laje de forro, ligados em algumas medições já que a sala
não possui ligação direta com o exterior e circulava pouca ventilação natural.
A edificação que abriga o Longevità Casa para Idosos, com plantas baixas apresentadas na Figura 3,
possui dois pavimentos, com cobertura em telha cerâmica e fechamento em platibanda. As paredes são em
alvenaria, a laje é em concreto entre pavimentos, e é sombreada por árvores e edificações vizinhas.

1043
A sala de estar do Longevità encontra-se no térreo, chamada de Sala de Estar C, também na Figura ,
tem janelas para noroeste e sudeste, que abrem para o exterior, recebendo ventilação e iluminação naturais.
Com 8 lugares, a sala possui um climatizador móvel, desligado em todas as medições.

Figura 3 – (a) Planta baixa térreo; (b) Planta baixa segundo pavimento; (c) Sala de Estar C do Longevità Casa para Idosos.

Os questionários foram aplicados às idosas no turno da tarde, entre 14h e 17h, uma vez por semana
nos meses de agosto a outubro, e uma vez a cada quinze dias nos meses de novembro a dezembro nos três
ambientes. Alternou-se o espaçamento entre as aplicações, pois as respostas do questionário estavam se
repetindo, e as idosas estavam mostrando-se indispostas pela repetição frequente da atividade.

3.2 Pesquisa de campo


Na coleta de dados, 27 idosas participaram na Sala A, e também 27 idosas na Sala B, já na Sala C somente 7,
totalizando 61 idosas participantes da pesquisa. Entretanto, no Lar, por abrigar pessoas necessitadas, havia 8
mulheres com idade abaixo de 60 anos, cujas respostas foram desconsideradas para o cálculo do PMV, e
somente 53 idosas se encaixaram no grupo de interesse. Após estudo piloto, elaborou-se o questionário
aplicado para avaliar o conforto térmico das idosas, apresentado na Figura 4.

Figura 4 – Questionário aplicado na pesquisa.

O questionário, baseado no modelo PMV, forneceu informações sobre a sensação e preferência


térmicas das entrevistadas, indicando seu grau de desconforto com as condições momentâneas, além de duas
perguntas sobre as alternativas que as idosas utilizam para se sentir mais confortáveis. Abordou-se a
importância da fidelidade das respostas.
Antes do questionário, as entrevistadas realizavam atividades leves, de baixa taxa metabólica.
Recolheram-se os dados após mais de uma hora do almoço, quando o efeito térmico das refeições estava
completo, visto que a produção de calor é alterada nessas condições.

3.2.1 Medições das variáveis pessoais


As variáveis pessoais foram obtidas pelos questionários. No item 5, levantou-se a composição de roupa das
idosas em cada dia para posterior cálculo do clo, com valores da ASHRAE (2017) para cada peça do
1044
vestuário. Para as idosas sentadas em poltronas ou sofás, o mobiliário foi considerado para o cálculo,
aumentando em 0,2 clo, já que, para pessoas sentadas, a cadeira pode contribuir com um aumento no
isolamento de 0 a 0,4 clo (LAMBERTS et al., 2011).
Já para a atividade física, considerou-se cálculo específico da taxa metabólica de cada participante.
Não se utilizou a tabela B.1 da ISO 7730 (2005), pois a norma aconselha que, para pessoas idosas, o valor da
taxa metabólica é menor do que o estipulado. Coletaram-se informações com as nutricionistas dos
estabelecimentos sobre peso, altura e idade. Assim, a taxa metabólica de repouso (TMR) de cada idosa foi
calculada pela Equação 1 (MIFFLIN et al., 1990), adotada por apresentar o resultado mais próximo da
medição da taxa metabólica por consumo de oxigênio no público alvo.
TMR = 9,99 × peso (kg) + 6,25 x altura (cm) – 4,92 × idade (anos) + 166 × sexo – 161 Equação 1

Onde:
TMR é a taxa metabólica em repouso (kcal.dia-1)
Sexo para masculino o valor é 1; para feminino o valor é 0.

A taxa metabólica em repouso (TMR) foi multiplicada por 1,5, referente ao múltiplo do nível de
atividade desempenhado - categoria de atividade muito leve (MAHAN; STUMP, 1998). A unidade do gasto
energético é em kcal/dia, assim, dividiu-se o resultado por 24 horas, para transformá-lo em kcal/h.
Posteriormente, dividiu-se a TMR pela respectiva área da superfície corporal (ADU) de cada idosa. Obteve-
se a área da superfície corporal pela Equação de DuBois (Eq. 2) (ASHRAE, 2009). A relação da TMR pela
ADU resulta na taxa metabólica total (TMT) em kcal/h.m². Para utilização do dado da TMT, transformou-se
o resultado para met, para que fosse possível aplicar a análise com os demais dados.
ADu = 0,202 × m0,425 × l0,725 Equação 2

Onde:
ADu é a área superficial do corpo, ou área de DuBois (m²);
m é a massa do corpo (kg); e
l é a altura do corpo (m).

3.2.2 Medições das variáveis ambientais


As variáveis ambientais medidas foram temperatura do ar, umidade relativa, velocidade do ar e temperatura
de globo, convertida posteriormente em temperatura radiante média, verificadas em todos os dias que foram
aplicados os questionários. A conversão da temperatura de globo para temperatura radiante média foi feita
por meio da Equação 3 (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2014).
Trm = [(Tg + 273) 4 + 2,5 × 108 × Va 0,6 × (Tg – Ta)] 0,25 – 273 Equação 3

Onde:
Trm é a temperatura radiante média, em °C;
Tg é a temperatura de globo, em °C;
Va é a velocidade do ar, em m/s;
Ta é a temperatura do ar, em °C.

Os instrumentos de medição utilizados foram: três registradores HOBO UX100-023 External


Temp/RH data logger (mede temperatura e umidade do ar), anemômetro de palhetas (mede velocidade do ar)
e termômetro de globo digital TGD-100 marca Instrutherm (mede temperatura de globo).
Realizaram-se medições preliminares da temperatura de globo (Tglobo) e velocidade do ar (Var), já que
seriam medidas por equipamentos instalados em cada dia de medição. Evitou-se o centro do ambiente,
embora seja o que a norma sugere, pois, principalmente nas salas de estar do Lar, havia grande fluxo de
idosas e funcionárias para alimentação, medicação ou banho, o que dificultaria a estabilização do medidor, e
também o deixava exposto a possíveis acidentes e quedas. Não houve variação significativa da temperatura
de globo, com resultados próximos e diferenças na casa dos décimos após a estabilização do equipamento,
adotando-se, assim, um único ponto de medição definitiva. Já a velocidade do ar variava em função das
correntes de ar vindas das aberturas e ventiladores, sendo medida em 4 e 6 pontos. Como a V ar não foi
medida por equipamento fixo durante o turno de medição, e as leituras eram feitas rapidamente, a medição
dessa variável não causou grandes transtornos na circulação e rotina dos ambientes. Após o resultado das
medições preliminares, foram estipulados os pontos de coleta de dados das medições definitivas, mostrados
nas plantas baixas das Figura 5 e 6, com o posicionamento dos instrumentos de medição das variáveis
ambientais e demais equipamentos relativos ao conforto térmico.

1045
Figura 5 – Planta baixa Sala de Estar A (a) e B (b) do Lar: posicionamento dos instrumentos de medição e equipamentos.

Figura 6 – Planta baixa Sala de Estar C do Longevità: posicionamento dos instrumentos de medição e equipamentos.

Conforme a ISO 7726 (1998), a temperatura de globo foi medida na altura de 0,6m, na altura da esfera
do equipamento. Após 20 minutos para estabilização do instrumento, fez-se a leitura da temperatura de
globo. O termômetro de globo foi locado próximo à parede, no entanto, no Lar das Vovozinhas, nenhuma
das salas de estar é voltada diretamente ao ambiente externo, nem incide radiação solar direta. No Longevità,
a situação é similar, pois na maior janela do ambiente, onde incidiria radiação solar direta durante a tarde,
não acontecia devido ao pequeno afastamento da edificação vizinha de dois pavimentos (1,50m). Assim, a
medição realizada neste único ponto é representativa do ambiente, já que não há nenhuma fachada voltada ao
ambiente externo recebendo radiação solar direta.
A temperatura do ar e umidade relativa foram medidas por meio de registradores instalados nos
ambientes 15 dias antes das medições, registrando dados de 15 em 15 minutos, de agosto a dezembro de
2017. Por norma, os registradores deveriam ser instalados na altura de 60 cm para medir a condição mais
próxima da idosa sentada, contudo, não foi possível a instalação nessa altura no Lar, pois a fisioterapeuta
orientou que as idosas arrancariam ou mexeriam no equipamento, indicando a instalação na maior altura
possível. Os registradores foram instalados na altura de 2,50m, em posições centrais dos ambientes,
conforme a Figura 7 (a) e (b) no Lar, e Figura 7(c) no Longevità. No Longevità, era possível a instalação do
equipamento na altura indicada por norma, porém, para comparar os resultados, optou-se por manter as
mesmas condições nos três ambientes, instalando o registrador na sala C também na altura de 2,50 m.

Figura 7 – (a) Registrador instalado na Sala A; (b) Registrador instalado na Sala B; (c) Registrador instalado na Sala C.

O programa computacional HOBOware foi utilizado para acessar os dados dos registradores.
Buscando verificar o quanto as medições de temperatura do ar e umidade relativa do ar variavam
considerando a diferença de altura de 0,60m, indicado na norma, para 2,50m, altura utilizada para viabilizar a
pesquisa, realizaram-se medições teste nas duas alturas, nos três ambientes, à tarde. As leituras foram
realizadas 30 minutos depois, com a estabilização do registrador: a temperatura do ar apresentou variação de
1046
0,2ºC a 0,57ºC, e a umidade do ar variação de 0,2% a 0,6%, considerando os três ambientes. A temperatura
do ar foi maior na altura de 2,50m, como já se esperava pela maior proximidade com a cobertura, e também
pelas correntes de ventilação circularem mais abaixo na altura das esquadrias (2,10m). Como os valores
variaram na casa dos décimos, não há grandes discrepâncias nas medições desta variável pela diferença de
altura na aplicação do PMV.
O anemômetro foi ligado e posicionado na altura de 0,60m do chão, em 6 pontos próximos as idosas,
aguardando a medição estabilizar. Os equipamentos encontravam-se em conformidade com os preceitos da
ASHRAE (2017), foram calibrados antes das medições, e permitiram a medição das variáveis ambientais
com precisão, nos limites da ISO 7726 (1998), com exceção do anemômetro, que media somente velocidades
a partir de 0,8m/s, e, em algumas medições, eram perceptíveis correntes de ar com velocidade inferior, que
não foram registradas pelo equipamento.
Após as medições, calcularam-se os índices PMV e PPD pela plataforma online CBE Thermal
Comfort Tool, disponível no site da Universidade de Berkeley, nos padrões da ASHRAE Standard 55
(ASHRAE, 2017), onde são inseridas as variáveis ambientais e pessoais.

3.2.3 Obtenção dos índices de conforto e análise de dados


A partir dos valores das variáveis ambientais e pessoais, foram obtidos os índices sensação analítica de
conforto (PMV) e percentagem estimada de insatisfeitos (PPD). A análise de dados relacionou os dados
obtidos em campo e os índices determinados pelo modelo PMV. O PMV é relacionado com a sensação real
dos usuários, conseguida por meio dos questionários, com o objetivo de verificar a relação mútua
estabelecida entre estes índices, e evidenciar o quanto o modelo é explicativo ou não dos dados levantados.

4. RESULTADOS
Realizou-se a aplicação da pesquisa 26 vezes entre os 3 ambientes de estar, totalizando 240 questionários
aplicados. O número de participações válidas foi definido pela subtração das participantes com menos de 60
anos de idade e respostas espúrias. Foram consideradas espúrias as respostas que desviaram do PMV
calculado acima do valor de 2,5, em que: se uma participante relatou sensação de muito frio (+3) e seu PMV
resultou em uma sensação térmica de -0,5, o desvio verificado é de 3,5, sendo, portanto, invalidado. Dos 240
questionários aplicados, 26 questionários foram respondidos por participantes com idade inferior a 60 anos, e
14 tiveram desvio maior que 2,5, resultando em 200 questionários válidos para o cálculo do PMV.

4.1 Cálculo dos índices PMV e PPD do modelo de Fanger


A Tabela 1 apresenta os resultados médios de cada dia da pesquisa de campo, calculados de acordo com as
200 respostas válidas. A medição refere-se ao dia, ao mês de ocorrência, e à sala de medição. As demais
indicações referem-se à taxa metabólica total (TMT), vestimenta (Roupas), temperatura do ar (Ta),
velocidade do ar (Va), temperatura média radiante (Tmr), umidade relativa do ar (UR), sensação térmica
relatada (Sens.), preferência térmica (Pref.), voto médio estimado (PMV), porcentagem estimada de
insatisfeitos (PPD), insatisfeitos reais (I) e desvio (Des.), o qual é a diferença entre o PMV e a sensação.

Tabela 1 Valores médios dos resultados obtidos por medição.


TMT Roupas Ta Va Tmr UR PPD
Medição Sens. Pref. PMV I (%) Des
(met) (clo) (°C) (m/s) (°C) (%) (%)
28/ago/A 0,82 1,21 24,15 0 23,85 78,94 0,14 -0,29 -0,03 8,43 0 0,17
28/ago/B 0,82 0,96 25,47 0,10 25,73 79,86 0,67 -0,11 0,02 12,78 11,11 0,64
04/set/A 0,80 0,98 27,67 0 27,50 56,65 0,91 -0,36 0,63 15,00 27,27 0,28
04/set/B 0,77 0,84 30,44 0,36 28,74 50,48 1,00 -0,40 0,78 23,00 40 0,22
06/set/C 0,86 1,16 22,55 0 22,27 70,13 0,33 -0,33 -0,45 10,00 0 0,78
18/set/A 0,78 1,46 21,05 0 21,63 69,32 -0,33 0,33 -0,83 22,67 0 0,50
18/set/B 0,80 1,28 22,36 0 21,33 64,07 0,00 0,29 -0,79 21,00 0 0,79
19/set/C 0,80 1,52 21,88 0 21,80 78,12 -0,25 0,25 -0,51 22,50 0 0,26
25/set/A 0,79 1,13 23,32 0 23,85 82,95 -0,13 0,13 -0,44 13,20 6,67 0,31
25/set/B 0,79 1,01 25,80 0 24,60 75,21 0,44 -0,33 -0,04 8,56 11,11 0,48
26/set/C 0,77 0,86 25,91 0 25,80 73,99 0,25 -0,25 -0,25 9,50 0 0,50
02/out/A 0,80 1,13 21,87 0 22,40 48,76 -0,40 0,40 -1,20 39,20 0 0,80
02/out/B 0,78 1,21 21,78 0 22,07 53,18 -0,40 0,80 -1,19 38,80 0 0,79
03/out/C 0,77 1,03 22,21 0 22,20 41,01 0,00 0,00 -1,64 57,25 0 1,64
16/out/C 0,77 1,37 22,75 0 23,05 70,61 0,25 -0,25 -0,55 16,00 0 0,80
1047
23/out/A 0,80 1,24 22,36 0 20,97 39,04 -0,40 0,53 -1,19 37,20 6,67 0,79
23/out/B 0,79 1,23 26,63 0 22,60 33,75 0,00 0,17 -0,84 22,17 0 0,84
06/nov/A 0,80 1,22 24,21 0 24,49 49,49 -0,07 0,07 -0,28 8,40 0 0,22
06/nov/B 0,81 1,01 24,04 0 25,45 49,83 0,00 0,33 -0,47 13,67 0 0,47
10/nov/C 0,78 0,96 25,66 0 24,90 50,82 1,25 -0,75 -0,46 9,50 50 1,71
20/nov/A 0,78 0,98 26,31 0 25,80 38,81 0,13 -0,06 -0,24 7,56 0 0,36
20/nov/B 0,80 0,83 26,34 0,82 31,03 35,41 0,17 0,17 -0,74 17,00 33,33 0,90
04/dez/C 0,75 1,03 24,32 0 23,25 73,48 -0,33 0,00 -0,08 18,33 0 -0,25
11/dez/A 0,77 0,75 27,49 0 28,37 34,95 0,30 -0,20 -0,02 6,10 10 0,32
11/dez/B 0,80 0,76 29,96 0,20 28,29 28,73 0,63 -0,38 0,44 15,13 25 0,19
15/dez/C 0,78 0,57 29,85 0 31,20 47,32 1,50 -0,75 1,14 33,00 50 0,36

Para a correlação, apresentada no gráfico da Figura 8Figura , considerou-se os valores médios dos 26
pontos, de cada um dos dias de medições. A reta desenhada representa a perfeita correlação entre as variáveis
PMV e sensação térmica real, onde os pontos acima da reta indicam que os indivíduos relatam sentir mais
calor do que o modelo prevê, e os pontos abaixo da reta indicam que os indivíduos relatam sentir mais frio.

Figura 8 - Gráfico de correlação dos valores médios do PMV e as sensações térmicas médias.

Os valores de sensação térmica médios são, em sua maioria, localizados acima da reta. Dos 26 pontos,
25 foram plotados acima da reta (96,15%), e 1 ponto localiza-se abaixo da linha (3,85%). Dessa forma, a
maioria dos valores das correlações desse grupo são superiores aos valores da reta do PMV, o que aponta que
as idosas relataram sentir mais calor do que o modelo estima. A análise de correlação apresentou um
coeficiente de correlação (r) igual a 0,7480 e um coeficiente de adequabilidade ou determinação (R²) igual a
0,5595. Isto indica que 55,95% das variações das sensações térmicas relatadas são explicadas pelo modelo
PMV. Deste modo, 44,05% dos valores não são explicados pelo modelo, considerando idosas em atividade
estacionária localizadas na região estudada, observa-se que o modelo PMV não estima plenamente a
condição térmica. Considera-se a porcentagem explicada pelo modelo PMV elevada, tendo em vista a
comparação de dados obtidos em pesquisa de campo e condições ambientais variáveis com um modelo
desenvolvido em laboratório e fatores físicos ambientais controlados e homogêneos. Entretanto, não há uma
distribuição homogênea dos pontos médios no gráfico em relação à reta, os pontos concentram-se na parte
superior, indicando que as idosas se sentem mais aquecidas do que o modelo prevê.
De acordo com pesquisadores (NICOL; HUMPHREYS, 2002), as diferenças encontradas entre o
modelo e a aplicação no cotidiano das pessoas podem ser devido a erros sistemáticos, mas também devem
ser consideradas as imprecisões na estimação da taxa metabólica e do isolamento das vestimentas, assim
como as possíveis influências psicológicas no ambiente estudado, que podem afetar as respostas dos
ocupantes para o ambiente térmico. Nesta pesquisa, não se utilizou a taxa metabólica tabelada da ISO 7730
(2005). Entretanto, embora os valores calculados estimem com maior exatidão a taxa metabólica, a aplicação
do modelo PMV é indicada para a faixa de 0,8 a 4 met (46 a 232 W/m²), e várias idosas tiveram suas taxas
metabólicas calculadas inferiores a este parâmetro, com valor mínimo de 40W/m².
O isolamento térmico da vestimenta utilizada pelas idosas não implica em uma variável com grandes
imprecisões, pois as participantes utilizavam vestimentas convencionais. Além disso, considerou-se a
influência do mobiliário e também cobertores. A aplicação do modelo PMV é indicada para a faixa de 0 a 2
clo, em que todas as pesquisadas se enquadram neste parâmetro. Somente uma idosa no dia 19 de setembro
na Sala C, que utilizava cobertor sobre o corpo, sentada em uma poltrona, que obteve 2,24 clo.
A faixa de temperatura do ar de 10 a 30°C foi atendida nos ambientes internos na maioria dos dias do
período pesquisado, assim como a velocidade do ar, que se concentrou na faixa de 0 a 1 m/s, conforme
indicado para aplicação do modelo. Dos 44,05% dos dados que não se explicam pelo modelo PMV, a
imprecisão na velocidade do ar pode ter sido um limitador da pesquisa. Às vezes, na sala C, sentia-se uma

1048
leve corrente de ar, porém o equipamento não registrava por ser pouco sensível. Outra dificuldade que pode
ter contribuído com a imprecisão dos resultados foi o posicionamento do termômetro de globo. A norma
aconselha posicioná-lo no centro do ambiente, e devido ao grande fluxo de pessoas e idosas no Lar das
Vovozinhas, este posicionamento foi inviável.
As dificuldades em obter respostas precisas para as sensações térmicas são consideradas, tratando-se
de idosas em residenciais, pois as sensações térmicas também podem ser influenciadas por hábitos de vida.
Mesmo em dias com temperaturas elevadas, as idosas do Lar ainda relatavam estar confortáveis,
possibilidade estudada devido a costumes, já que elas podem ter vivido condições mais extremas de calor ou
desconforto. Já no Longevità, por ter ventilação natural, o desconforto por calor foi menos percebido,
embora as idosas fossem mais exigentes com as condições térmicas do ambiente. Em sua maioria, as idosas
residentes do Longevità foram tiradas de um ambiente familiar com maior conforto para irem ao residencial,
já as idosas do Lar das Vovozinhas saíram de uma condição ambiental mais precária antes, o que pode
influenciar a percepção ambiental das idosas.
A distribuição dos pontos médios no gráfico aponta a tendência de as idosas sentirem-se mais
aquecidas do que o modelo estima. Culturalmente, espera-se que os idosos sintam mais frio do que adultos,
justamente porque há a redução da atividade metabólica e os mecanismos decorrentes do processo de
envelhecimento. Porém, acredita-se que o resultado obtido nesta pesquisa, o qual sugere que as idosas sintam
mais calor do que o modelo prevê, pode ser justificado pela maior tolerância em relação ao frio das idosas,
decorrentes da vivência que passaram e dos hábitos de vida. É considerada a possibilidade de desconforto
cultural, observando que se têm resultados diferentes quando se compara o conforto ambiental em países
desenvolvidos e países em desenvolvimento. A pesquisa teve 200 respostas válidas, e destas, 170 respostas
foram do Lar das Vovozinhas, e 30 respostas do Longevità, observando que a maioria dos resultados se deu
em função dos ambientes do Lar. O modelo PMV relaciona-se com o perfil socioeconômico das idosas, pois
este pode influenciar na sensação térmica de determinado ambiente, considerando suas vivências.
Além disso, o clima temperado do sul do Brasil caracteriza-se por verões bem quentes e invernos bem
frios. Contudo, no ano de 2017, não foram registradas temperaturas muito baixas no inverno, podendo
justificar a sensação relatada pelas idosas de sentir mais calor do que o modelo prevê, já que estavam
aclimatadas e esperando o frio naquela situação. Nicol e Humphreys (2002) relatam que a aclimatação
fisiológica também afeta a tolerância das pessoas a uma condição térmica que difere da preferida.

5. CONCLUSÕES
Esta pesquisa buscou verificar se as condições de conforto térmico de idosas, com 60 anos ou mais, que
residem em dois residenciais geriátricos na cidade de Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul,
podem ser avaliadas pelo Modelo de Fanger. Examinou-se a adequação de um dos principais métodos de
avaliação das condições de conforto térmico para a determinação das reais sensações de conforto de idosas,
apontando se a sensação térmica percebida na terceira idade é diferenciada, já que com o envelhecimento, o
organismo apresenta uma taxa metabólica de produção de calor mais baixa. Na aplicação do modelo, a
análise de correlação das sensações relatadas pelas idosas com o PMV indicou que 55,95% das variações das
sensações térmicas reais são explicadas pelo modelo PMV, porcentagem considerada elevada. Entretanto,
verificou-se que não há uma distribuição homogênea dos pontos médios no gráfico de correlação entre a
variável sensação real x PMV em relação à reta. Os pontos concentram-se na parte superior da reta (96,15%
ficaram acima da reta), indicando que as idosas se sentem mais aquecidas do que o modelo prevê. Nessa
situação, nenhum ponto ficou localizado sobre a reta, o que indicaria a correlação perfeita das variáveis.
Portanto, o modelo PMV não é aplicável com precisão para a avaliação de conforto térmico às idosas em
atividade estacionária (sentadas, quietas), considerando a população pesquisada.

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1050
AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE CONFORTO TÉRMICO EM
ESCRITÓRIOS CERTIFICADOS LEED ID+C
Maíra Nazareth de Macedo (1); Fúlvio Vittorino (2)
(1) Arquiteta, Mestre em Habitação: Planejamento e Tecnologias pelo Instituto de Pesquisa Tecnológicas
(IPT), Máster em Arquitetura e Sustentabilidade pela Universidade Politécnica da Catalunha (UPC), Gerente
de Relações Institucionais e Governamentais no GBC Brasil, mairamacedo@gbcbrasil.org.br
(2) Engenheiro Mecânico, Doutor em Engenharia Mecânica pela Universidade de São Paulo, Pesquisador
e Diretor do Centro Tecnológico do Ambiente Construído do Instituto de Pesquisas Tecnológicas,
fulviov@ipt.br, Avenida Professor Almeida Prado, 532, Butantã.

RESUMO
As certificações para edifícios sustentáveis cumprem um importante papel ao atestarem que o
empreendimento contribuiu para o alcance de objetivos, como: reduzir o consumo de energia e de recursos
naturais; melhorar a qualidade ambiental interna; minimizar o uso de transportes poluentes; dentre outros.
Esta pesquisa se concentrou na categoria de qualidade ambiental interna na certificação LEED, dado que na
maior parte do tempo indivíduos que vivem em centros urbanos estão em ambientes internos,
particularmente em escritórios. Mais especificamente, foi avaliado o conforto térmico em três escritórios
certificados no sistema LEED CI (atual ID+C). Os múltiplos métodos de avaliação incluíram a aplicação de
questionário junto aos ocupantes, a realização de medições das variáveis ambientais (temperatura, velocidade
e umidade do ar e temperatura radiante média), a estimação das variáveis pessoais (taxa metabólica e
isolamento térmico da roupa) e a análise dos projetos. Os resultados indicaram que as condições para a
satisfação térmica geral dos ocupantes requeridas pelo LEED não estão necessariamente presentes em
escritórios certificados, realçando a importância de reavaliar os critérios do conforto térmico no processo da
certificação.
Palavras-chave: Conforto térmico; escritórios; certificação LEED.

ABSTRACT
Sustainable building certifications play an important role in attesting that the enterprise has contributed to the
achievement of objectives, such as: reducing consumption of energy and natural resources, improving indoor
environmental quality and minimizing the use of polluting transportation. This research focused on the
indoor environmental quality category of LEED certification, since individuals who live in urban centers
spend most of their time indoors, particularly in office spaces. Specifically, thermal comfort was evaluated in
three LEED CI (currently ID+C) certified offices. Thermal comfort assessment included the completion of a
questionnaire with the occupants, the measurement of environmental variables (air temperature, velocity and
humidity and mean radiant temperature), the estimation of personal variables (metabolic rate and thermal
insulation of clothes) and the project analysis. The results indicated that the conditions required by LEED
for general thermal comfort of occupants are not necessarily met in certified offices, thus emphasizing the
importance of reassessing the thermal comfort criteria during the certification process.
Keywords: Thermal comfort; offices; LEED certification.

1051
1. INTRODUÇÃO
As ferramentas de certificação para edifícios sustentáveis têm o objetivo de atestar aqueles concebidos
visando à redução dos impactos ambientais por meio da utilização de estratégias nas etapas de projeto,
construção e, em alguns casos, de operação. Esta pesquisa se concentrou em edifícios certificados LEED
devido à grande aceitação desta certificação no mercado.
O LEED é estruturado em categorias que incluem: Processo Integrativo; Localização e Transporte;
Redução do consumo de Água; Energia e Atmosfera; Materiais e Recursos; Qualidade Ambiental Interna;
Inovação e Prioridade Regional. Dentre estas, a qualidade ambiental interna vem ganhando importância dado
que, em geral, as pessoas passam a maior parte do tempo em ambientes construídos. Com efeito, esta é
influenciada por fatores, como: condições térmicas; acústica; iluminação; qualidade do ar interno e
ventilação; ergonomia; e biofilia.
Em relação a avaliação do conforto térmico, são requeridos diferentes critérios dependendo do tipo de
ventilação: natural, artificial ou mista. O atendimento aos mesmos não é um pré-requisito para a obtenção da
certificação, mas permite a obtenção de até dois pontos no processo. Sua atual versão considera, para o
projeto de climatização, o cumprimento da ISO 7730, EN 15251 ou da ASHRAE 55. Além disso, é
necessário o fornecimento de controle individual aos ocupantes.
A análise da certificação LEED aplicada a escritórios (sistema ID+C, antigo LEED CI) mostrou que,
no que tange ao conforto térmico, seu valor relativo foi sendo reduzido ao longo das atualizações do LEED:
na versão 2 este fator representava 5,3% da pontuação total da certificação, enquanto que na versão 4 (atual)
esta participação foi reduzida para 0,9%. Para verificar se esta redução foi precedida de uma melhora nas
condições de conforto térmico, esta pesquisa concentrou-se neste fator.

2. OBJETIVO
Investigar se escritórios certificados LEED em São Paulo estão proporcionando conforto térmico aos
ocupantes, de modo a justificar a perda de importância deste fator.

3. MÉTODO
Analisou-se casos reais em três escritórios LEED CI, por de um método de avaliação para ambientes
existentes (em operação) com base nas diretrizes da ISO 10551:1995 para coletar dados sobre as condições
de conforto térmico no local de trabalho, composto por: avaliação subjetiva; medições das variáveis
ambientais; estimativa das variáveis pessoais (isolamento térmico da roupa e taxa metabólica) e análise dos
projetos de layout e ar-condicionado.

3.1. Ambiente térmico aceitável segunda as normas


As normas estabelecem critérios de conforto nos quais a maioria dos ocupantes, apesar das diferentes
características pessoais, está satisfeita com o ambiente térmico. A sensação de conforto térmico geral pode
ser influenciada por desconforto local e, portanto, a ocorrência ou não deste fenômeno deve ser observada
em uma avaliação de conforto térmico no ambiente construído (ASHRAE, 2017, p. 35).
A Tabela 1 mostra a classificação do ambiente térmico segundo a ISO 7730:2005 (categorias A, B e
C), indicando percentuais máximos de insatisfação com o estado térmico do corpo como um todo e devido
ao desconforto local (CEN, 2005, p. 04; p. 08). Essas categorias são equivalentes à I, II e III da DIN EN
15251:2012, que estabelece adicionalmente uma categoria IV (VME < -0,7 ou VME > +0,7) (DIN, 2012a, p.
04).
Tabela 1 – Categorias do ambiente térmico segundo a ISO 7730:2005.¹12
Estado térmico do corpo como
Desconforto local
um todo
PIDL %
Categoria
PPI % VME TRLI % causado por
Diferença vertical na
Piso quente ou frio Assimetria radiante
temperatura do ar
A <6 -0,2 < VM E < +0,2 < 10 <3 < 10 <5
B < 10 -0,5 < VM E < +0,5 < 20 <5 < 10 <5
C < 15 -0,7 < VM E < +0,7 < 30 < 10 < 15 < 10

12¹TRLI é uma tradução nossa do termo draught rate. A ISO 7730:2005 define draught como: “resfriamento local
indesejável causado por movimento do ar” (CEN, 2005, p. 06, tradução nossa).

1052
Onde:
PPI: % previsto de insatisfeitos; VME: voto médio estimado;
TRLI: taxa de resfriamento local indesejável e PIDL: % de insatisfeitos com o desconforto local.
Por sua vez, a ASHRAE 55:2017 não estabelece categorias e sim uma região de conforto térmico na
qual a temperatura operativa (To) e umidade do ar propiciam situações de 80% de aceitabilidade dos
ocupantes, que leva em conta 10% de insatisfação geral (corpo todo) com base no índice VME-PPI e um
adicional de 10% de insatisfação devido ao desconforto local (em parte do corpo) (ASHRAE, 2017, p. 35),
correspondendo à categoria B da ISO 7730. É recomendado ainda um limite máximo para a variação da To
ao longo do tempo (desvios ou rampas), quando ela não estiver sob o controle individual dos ocupantes:
1,1°C em 15 minutos; 1,7°C em 30 minutos; 2,2°C em 60 minutos; 2,8°C em 120 minutos; 3,3°C em 240
minutos (ASHRAE, 2017, p. 12; p. 14).

3.2. Seleção e caracterização do objeto de estudo


A amostra compreende escritórios certificados LEED CI, localizados na cidade de São Paulo (maior mercado
no país). Considerou-se um mínimo de 10% de participação nos questionários enviados, com relação ao
número total de ocupantes que estava entre 100 e 950 pessoas em cada empresa. Os respondentes deveriam
exercer atividades típicas de escritório e de forma a assegurar que sua amostra fosse aleatória, os
responsáveis pelo Facilities das empresas enviaram a pesquisa simultaneamente a todos os funcionários, cuja
participação foi confidencial e voluntária.
Os escritórios selecionados ocupam entre 1 e 15 pavimentos de edifícios corporativos com fachadas
envidraçadas, sem janelas operáveis. Em relação ao ambiente interno, os mesmos possuem área que variam
entre 900m² e 1.800m² o pavimento e predomina-se o conceito de ambientes open spaces, com sistemas de
refrigeração VRV (volume de refrigerante variável) e VAV (volume de ar variável) nos quais o ar é
insuflado pelo teto por difusores de 4 vias. No que tange aos dados sobre a certificação, os escritórios foram
certificados nas versões 2 e 3 do LEED CI, entre os anos de 2013 e 2015, onde a norma de referência para as
exigências de conforto térmico era a ASHRAE 55:2004. É importante ressaltar que nem todos os escritórios
pesquisados atenderam aos créditos de conforto térmico do LEED, sendo que as Empresas B e C obtiveram
os dois pontos disponíveis neste quesito, enquanto a Empresa A não obteve nenhum ponto.
Para a seleção da amostra dos pontos das medições ambientais, buscou-se obter uma malha distribuída
no espaço com base nas plantas de layout (considerando a distribuição de pessoas, de equipamentos e as
fachadas envidraçadas) e de ar-condicionado (levando em conta os circuitos e os difusores de distribuição de
ar), que representasse as diferentes condições a que os ocupantes são submetidos. O layout dos espaços foi
apresentado nas Figuras 1, 2 e 3, onde também foram indicados os pontos de medição cujos procedimentos
foram apresentados na subseção 3.4.

Figura 1 - Indicação dos pontos de medição no escritório da Empresa A (adaptado pela autora, 2017).

1053
Figura 2 - Indicação dos pontos de medição no escritório da Empresa B (adaptado pela autora, 2017).

Figura 3 - Indicação dos pontos de medição no escritório da Empresa C (adaptado pela autora, 2017).

Onde:
Indica que foi medida a Ta e a Va no ponto;
x Indica que foi medida a Va no ponto;
Sensor fixo de medição da UR, Wa, Ta e Tg (somente próximo a janela).

3.3. Avaliação subjetiva


O questionário sintetizado nas Tabelas 2 e 3 baseou-se nas normas de referência para coletar a satisfação
geral e a sensação dos usuários em relação ao conforto térmico, bem como impressões sobre características
do ambiente térmico. Com relação à sensação térmica, foram indagadas as percepções no verão e no inverno
para verificar o possível efeito do isolamento térmico da roupa em um ambiente climatizado artificialmente.
Por questões de disponibilidade dos escritórios avaliados, os participantes responderam à pesquisa apenas
uma vez em 2016, com os sistemas de ar condicionado em funcionamento. A partir das perguntas sobre a
sensação térmica foi calculado o PPI conforme a equação da ISO 7730:2005 (CEN, 2005, p. 08).
A questão que trata do desconforto térmico local (Tabela 3) enfocou suas causas mais comuns em
escritórios, jato de ar localizado (correntes de ar), segundo a ISO 7730:2005 (CEN, 2005, p. 10) e o controle
de umidade nos espaços.

1054
Tabela 2 - Questões sobre sensação e satisfação global.
Questão Tipo de Escala Escala Normas de referência
+3 (M uito quente)
+2 (Quente)
ASHRAE 55:2017
+1 (Levemente quente)
ISO 28802:2012
Qual a sensação térmica no verão? Sensação (7 níveis) 0 (Nem frio, nem quente)
ISO 10551:1995
1 (Levemente frio)
-2 (Frio)
-3 (M uito frio)
+3 (M uito quente)
+2 (Quente)
ASHRAE 55:2017
+1 (Levemente quente)
ISO 28802:2012
Qual a sensação térmica no inverno? Sensação (7 níveis) 0 (Nem frio, nem quente)
ISO 10551:1995
1 (Levemente frio)
-2 (Frio)
-3 (M uito frio)
Totalmente satisfeito
Qual o nível geral de satisfação em relação às condições térmicas Satisfeito ISO 10551:1995
Avaliação (4 níveis)
do seu ambiente de trabalho? Insatisfeito (Escala adaptada)
Totalmente insatisfeito
Agradável
Levemente desconfortável ISO 10551:1995
Qual o conforto térmico neste momento? Avaliação (4 níveis)
Desconfortável (Escala adaptada)
M uito desconfortável
Durante a manhã
Durante a tarde
Em qual período do dia há desconforto térmico? Temporal (5 níveis) Durante o dia todo Não baseada em norma
Durante a noite
Nunca

Tabela 3 - Aprofundamento da avaliação subjetiva.


Questão Tipo de Escala Escala Normas de referência
Sempre
M uitas vezes ISO 28802:2012
Eu sinto desconforto devido a jato de ar localizado Desconforto (4 níveis)
Algumas vezes (Escala adaptada)
Nunca
Sempre
M uitas vezes ISO 10551:1995
A velocidade de circulação do ar atrapalha porque é muito alta Avaliação (4 níveis)
Algumas vezes (Escala adaptada)
Nunca
Sempre
Eu consigo controlar a ventilação do meu local de trabalho, seja
M uitas vezes ISO 10551:1995
pela abertura ou fechamento de janelas ou pelo controle da Avaliação (4 níveis)
Algumas vezes (Escala adaptada)
ventilação forçada
Nunca
Sempre
M uitas vezes ISO 28802:2012
O ar do escritório é muito úmido? Umidade (4 níveis)
Algumas vezes (Escala adaptada)
Nunca
Sempre
M uitas vezes ISO 28802:2012
O ar do escritório é muito seco? Secura (4 níveis)
Algumas vezes (Escala adaptada)
Nunca

3.4. Medições das variáveis ambientais e estimação das variáveis pessoais


As medições foram realizadas no início de 2017, com o apoio da instituição acadêmica onde foi
desenvolvida a pesquisa sustentadas nas normas ISO 7726:1998, ISO 28802:2012 e DIN EN 15251:2012. O
escopo incluiu temperatura, velocidade e umidade do ar e temperatura de globo. Também foram registradas
imagens com um termo visor infravermelho digital que estima a temperatura de superfície. Com isto,
buscou-se viabilizar o cálculo do VME, por meio da ferramenta do Center for the Built Environment (CBE)
(TYLER, 2017), bem como encontrar possíveis causas de desconforto local.
Os sensores em posição fixa coletaram, ao longo do dia, medições de temperatura e umidade do ar e
temperatura de globo (Ta, UR, Wa e Tg, respectivamente), sendo que a Tg foi medida apenas no sensor
próximo da janela (Figuras 1, 2 e 3). Já os sensores portáteis realizaram medições pontuais da temperatura e
velocidade do ar (Va) entre 14h e 15h na amostra de pontos definida para cada escritório (Figuras 1, 2 e 3). A
temperatura radiante média (Tr) foi calculada com base na equação da ISO 7726:1998 (1998, p. 16) e a
temperatura operativa (To) ao longo do dia foi obtida pela média aritmética entre a Ta e Tr, uma vez que nos
locais dos sensores fixos Va foi inferior a 0,20m/s nos três escritórios (CEN, 2001, p. 52).
Com relação às variáveis pessoais, a taxa metabólica para atividades leves, típicas de escritório, e o
isolamento térmico da roupa dos ocupantes foram estimados com base nos valores sugeridos na ASHRAE
55:2017, respectivamente 1,1met e 0,44clo (este último com base nas vestimentas observadas nos ocupantes
durante as visitas aos escritórios) (ASHRAE, 2017, p. 06-08).

4. RESULTADOS
Dado que os critérios de conforto térmico da ASHRAE 55:2004 (base das versões 2 e 3 do LEED CI) se
mantiveram na ASHRAE 55:2017 e que a NBR 16401-2:2008, de aplicação compulsória a estas situações,
considera os mesmos critérios (ABNT, 2008, p. 01), assume-se que as conclusões derivadas da ASHRAE
1055
55:2017 são válidas para escritórios projetados no Brasil.

4.1. Avaliação subjetiva


A Tabela 4 mostra, para todas as empresas, um percentual de satisfação geral aquém dos 80% recomendados
pela ASHRAE 55:2017, com situação mais crítica na Empresa B. Já a Tabela 5 indica a predominância da
sensação de frio, tanto no verão (principalmente) como no inverno. Com exceção da Empresa C no inverno,
os escritórios pesquisados apresentaram PPI acima dos 10% recomendados na norma, sendo que a Empresa
B, novamente, obteve o pior resultado. Considerando que os sistemas de ar condicionado tendem a operar de
forma similar ao longo do ano, uma hipótese para esta diferença entre as duas estações é o aumento do
isolamento térmico da roupa no inverno. Por fim, em relação ao desconforto devido a jato de ar localizado,
considerando o limite da ASHRAE 55:2017 de 20% de insatisfação em relação a correntes de ar e admitindo
que esta é relevante quando ocorre sempre ou muitas vezes, a Tabela 6 mostra que apenas a Empresa A
esteve conforme a norma, enquanto as Empresas B e C não estiveram.
Tabela 4 - Nível geral de satisfação em relação às condições térmicas no ambiente de trabalho.
Empresa Totalmente satisfeito S atisfeito Insatisfeito Totalmente insatisfeito % S atisfeitos AS HRAE 55:2017
A 24% 54% 15% 7% 78% 80%
B 4% 54% 38% 4% 59% 80%
C 12% 66% 18% 4% 78% 80%

Tabela 5 - Sensação térmica, VME e PPI.


Verão Inverno
Empresa 3 2 1 0 -1 -2 -3 VME PPI 3 2 1 0 -1 -2 -3 VME PPI
A 0% 10% 7% 37% 22% 10% 15% -0,59 12,2% 0% 5% 7% 44% 20% 15% 10% -0,61 12,8%
B 2% 3% 6% 23% 20% 23% 24% -1,19 34,8% 2% 4% 11% 27% 25% 24% 7% -0,71 15,7%
C 2% 1% 8% 24% 33% 17% 16% -0,99 25,8% 2% 2% 11% 42% 24% 12% 7% -0,46 9,4%

Tabela 6 - Desconforto devido a jato de ar localizado.


Empresa S empre Muitas vezes Algumas vezes Nunca S empre + muitas vezes AS HRAE 55:2017
A 5% 0% 33% 63% 5% 20%
B 9% 13% 25% 53% 22% 20%
C 11% 11% 32% 46% 22% 20%

Levando-se em conta que a Empresa A foi a única que optou por não atender aos créditos de conforto
térmico do LEED, é possível concluir que os resultados da avaliação subjetiva são opostos à expectativa de
maior satisfação com o conforto térmico nas Empresa B e C, que foram as que obtiveram maior pontuação
neste quesito no processo de certificação.
O tratamento das respostas das outras questões será alvo da continuidade deste trabalho.

4.2. Medições das variáveis ambientais


A Figura 4 mostra que a temperatura do ar (Ta) apresentou baixa oscilação nas Empresas B e C (entre
23,1°C e 24,1°C) durante todo o período de medição. Na Empresa A, a amplitude foi de 2,1°C (de 23,4°C a
25,5°C), acompanhando a tendência da temperatura radiante média¹13 (Tr). Por sua vez, esta variável
apresentou comportamento distinto em cada empresa, teve amplitude de 4°C na Empresa A (24°C a 28°C),
sendo uma elevação gradual ao longo da manhã e queda brusca no início da tarde, devido à ocorrência de
chuva. Já na Empresa B, Tr apresentou baixa oscilação, entre 23,8°C e 25,4°C (1,6°C de amplitude), devido
ao céu nublado e ocorrência de chuva. Por outro lado, esta variável apresentou um comportamento distinto
nas medições da Empresa C, com amplitude elevada de 7,8°C (mínima de 30,6°C e máxima de 38,4°C) e
intensa variação: entre 10h37min e 10h46min com amplitude de 7°C, estabilizando-se para cerca de 5°C a
cada 6,5min (em média) até o término das medições (12h57min), influenciada pela movimentação de nuvens
ao longo do dia que estava muito ensolarado.
O comportamento da temperatura operativa (To) caracterizou-se na Empresa A por alguns momentos
de flutuação acima dos limites da ASHRAE 55:2017 para desvios e rampas (Figura 4 e detalhe naTabela 7),

¹13 Para o cálculo da Tr foi considerada a Va do ponto mais próximo do termômetro de globo negro, a qual foi medida
apenas entre 14h às 15h. Assim, nas Empresas A, B e C a Va considerada foi de 0,12m/s, 0,10m/s e 0,15m/s,
respectivamente.
1056
problema não identificado na Empresa B. A To na Empresa C, sob influência da radiação solar, permaneceu
acima de 27°C (média de 28,7°C a 1,17m da janela), o que não a enquadra em nenhuma das categorias (I, II
ou III) de conforto térmico da DIN EN 15251:2012. Também apresentou, em diversos momentos, flutuação
acima dos limites recomendados na ASHRAE 55:2017 para desvios e rampas (especialmente dentro de
intervalos de 15 e 30 minutos) como pode ser verificado na Tabela 7.

Figura 4 - Temperatura do ar, temperatura radiante média e temperatura operativa em posição fixa.14
Nota: Empresas A e B, sensores a 1,50m da janela; Empresa C a 1,17m da janela. Altura de 0,60m.
Tabela 7 - Desvios e rampas observados nos escritórios.
Nº ocorrências acima do limite
Intervalo Limite AS HRAE 55:2017
Empresa A Empresa B Empresa C
15 minutos 1,1°C 2 0 25
30 minutos 1,7°C 1 0 24
1 hora 2,2°C 1 0 11
2 horas 2,8°C 1 0 1
4 horas 3,3°C 0 0 N. Disp.

A Figura 5 mostra o tratamento estatístico dos resultados das medições de Ta e Va nos diversos pontos
(indicados nas Figuras 1,2 e 3), obtidos pelo sensor móvel, entre 14h e 15h.
Empresa A
Empresa B
Empresa C

Figura 5 - Temperatura e velocidade do ar nos pontos de medição nas Empresas A, B e C.

No que tange à temperatura do ar, percebeu-se uma região (Sala 1) um pouco mais fria que as demais
na Empresa A, ainda que na maioria dos pontos neste escritório Ta manteve-se entre 24°C e 25°C. A Ta na
Empresa B, em geral, mostrou baixa dispersão, entre 24,5°C e 25°C, e, nos casos em que ficou abaixo deste
intervalo, Ta nunca foi inferior a 23,3°C. Na Empresa C, esta variável oscilou entre 22,5°C e 24,8°C. Os

14
Na Empresa C a medição dos sensores mantidos em posição fixa teve duração menor que nas Empresas A e B devido
a problemas técnicos no equipamento.
1057
pontos em que Ta situou-se entre 22,5°C e 23,2°C localizam-se na Região 3, a qual esteve mais fria que as
demais (média de 22,9°C versus 24,3°C nas outras regiões) possivelmente devido a um ramal desbalanceado
de ar-condicionado, o que também pode ter provocado a região fria na Sala 1 da Empresa A.
Em termos da Va, nas Empresas A e C não houve evidência de jato de ar localizado, dado que em
todos os pontos a medição foi inferior a 0,20m/s. Já a Empresa B apresentou quatro pontos com Va superior
a 0,20m/s e dois com Va igual a 0,45m/s, indicando a presença de fortes correntes de ar.
As imagens termográficas (Figura 6) indicam as ações de fortes jatos de ar e não uniformidades na
distribuição de ar pelos difusores da Empresa B. No caso da Empresa C, a terceira imagem mostra o impacto
da radiação solar na região próxima à janela, provocando grandes diferenças de temperatura entre as
superfícies internas. A quarta indica não uniformidade no difusor de ar, o que pode gerar desconforto por
jatos de ar locais.

Figura 6 - Imagens termográficas das Empresas B e C.

Os detalhes do projeto de ar-condicionado da Empresa B, mostrados na Figura 7, indicam que os jatos


de ar localizados ocorreram em pontos próximos de difusores de saída de ar. Na imagem da esquerda, pode-
se notar a proximidade do difusor de um elemento arquitetônico circular cujo efeito do jato de ar sobre o
elemento pode se refletir neste local (ver Figura 4). Esta região também sofreu a influência do difusor linear
próximo da fachada. Na imagem da direita, foi percebida a inclusão de um volume arquitetônico retangular
não previsto no projeto original, o qual pode causar a “reflexão” de um fluxo de ar oriundo de algum difusor.
Além disso, foi constatada, durante a visita ao local, a existência de uma saída de ar não presente no projeto.

Figura 7 - Detalhe em projeto dos pontos de medição que apresentaram fortes jatos de ar na Empresa B.

Onde:

Em relação à umidade do ar, em todos os escritórios, UR e Wa estiveram conforme os limites


máximos recomendados da DIN EN 15251:2012 (respectivamente 65% e 11,5g/kg), apresentados na Tabela
8 – a ASHRAE 55:2017 não estabelece limites isolados para UR e Wa.
Tabela 8 - Medições em posição fixa de UR e Wa nos escritórios pesquisados.

Empresa A Empresa B Empresa C


Variável Unidade
Mínimo Máximo Mínimo Máximo Mínimo Máximo
UR 1,50m da Janela % 47,3 59,6 51,4 58,2 53,5 57,9
UR 4,20m da janela % 47,4 60,5 49,6 56,2 - -
Wa 1,50m da Janela g/kg 8,9 11,3 9,4 10,6 9,6 10,3
Wa 4,20m da janela g/kg 8,7 10,7 9 10,2 - -

1058
4.3. VME calculado para a amostra de pontos
Os resultados do VME (Tabela 9) mostram que, de um modo geral, as Empresas A e B estiveram conforme a
ASHRAE 55:2017, ao contrário da Empresa C, que apresentou sensação estimada de calor. Este resultado foi
oposto ao da avaliação subjetiva, possivelmente devido ao forte impacto da radiação solar no dia das
medições neste escritório. No caso da Empresa B, a despeito das medições não refletirem os resultados da
avaliação subjetiva para o ambiente como um todo, elas corroboraram a percepção dos respondentes com
relação ao desconforto devido a jato de ar localizado. Conforme esperado, nos pontos que apresentaram
elevada velocidade do ar, o VME apontou sensação de frio, abaixo da média deste escritório. Também
conforme o esperado, as regiões frias das Empresas A e C (Sala 1 e Região 3) apresentaram VME inferior ao
restante desses escritórios.
Tabela 9 - VME calculado para a amostra de pontos (14h às 15h).
Empresa A Geral Open Space Sala 1 Sala 2 Sala 3 Sala 4 Sala 5 Sala 6 Salas Indiv.
VME calculado -0,47 -0,40 -0,64 -0,39 -0,53 -0,44 -0,51 -0,40 -0,50

Empresa B Geral Pontos com jato de ar localizado


VME calculado -0,48 -1,18 (média)

Empresa C Geral Região 1 Região 2 Região 3 Região 4


VME calculado +0,91 +1,00 +1,02 +0,74 N. Disp.

5. CONCLUSÕES
Os escritórios pesquisados não apresentaram condições mínimas de conforto térmico conforme as
recomendações das normas internacionais, tanto em termos da satisfação e sensação globais percebidas pelos
respondentes da avaliação subjetiva, como das medições das variáveis ambientais, as quais indicaram a
ocorrência de desvios e rampas, jatos de ar localizado e regiões frias.
Essas considerações permitem concluir que os critérios da certificação não foram efetivos para
proporcionar o conforto térmico nesses escritórios. O atendimento às recomendações das normas que regem
o tema é opcional, conforme verificado na Empresa A que não obteve este crédito e foi certificada. As
bruscas oscilações de Tr contribuíram para a ocorrência de desvios e rampas na To acima dos limites
recomendados na ASHRAE 55:2017 nas Empresas A e C (principalmente), este efeito poderia ter sido
mitigado por meio de soluções de proteção da fachada, seja por sombreamento, bem como por meio do
acionamento de algum tipo de controle individual (previsto no processo de certificação).
Além disso, destaca-se que mudanças de projeto, bem como das condições de funcionamento dos
sistemas de HVAC ao longo da operação, podem alterar as condições de conforto térmico inicialmente
previstas no momento da obtenção da certificação, como observado na Empresa B, onde a inclusão de um
volume arquitetônico e de um difusor de saída de ar não presentes no projeto original podem ter contribuído,
juntamente com a Va elevada, para o resultado do VME não conforme os limites recomendados nas normas.
Esses resultados ressaltam a importância do acompanhamento das condições de conforto térmico ao longo da
operação.
Um ponto de atenção é o fato de escritórios com resultados tão distintos em termos de conforto
térmico serem igualmente certificados. Uma síntese desta situação é a que a perda de importância deste fator
no processo da certificação não foi acompanhada pelo atendimento das condições mínimas de conforto
térmico e que há oportunidades de melhoria na certificação LEED ID+C.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Thermal Environmental Conditions for Human Occupancy. Atlanta: Ashrae, 2004. 26 p.
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Thermal Environmental Conditions for Human Occupancy. Atlanta: Ashrae, 2017. 60 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16401-2: Instalações de ar condicionado – Sistemas centrais e
unitários. Parte 2: Parâmetros de conforto térmico. Rio de Janeiro: Abnt, 2008. 7 p.
COMITÉ EUROPÉEN DE NORMALISATION. DIN EN ISO 7730: Ergonomics of the thermal environment – Analytical
determination and interpretation of thermal comfort using calculation of the PMV and PPD indices and local thermal comfort criteria.
Bruxelas: CEN, 2005. 56 p.
DEUTSCHES INSTITUT FÜR NORMUNG. DIN EN 15251: Indoor environmental input parameters for design and assessment of

1059
energy performance of buildings addressing indoor air quality, thermal environment, lighting and acoustics. Berlin: DIN, 2012a. 64
p.
DEUTSCHES INSTITUT FÜR NORMUNG. DIN EN ISO 28802: Ergonomics of the physical environment – Assessment of
environments by means of an environmental survey involving physical measurements of the environment and subjective responses of
people. Berlin: DIN, 2012b, 28 p.
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 10551: Ergonomics of the thermal environment —
Assessment of the influence of the thermal environment using subjective judgement scales. Geneva: ISO, 1995. 18 p.
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 7726: Ergonomics of the thermal environment –
Instruments for measuring physical quantities. 2 ed. Geneva: ISO, 1998. 50 p.
TYLER, Hoyt et al. CBE Thermal Comfort Tool. 2017. Center for the Built Environment, University of California Berkeley.
Disponível em: <http://comfort.cbe.berkeley.edu/>. Acesso em: 01 jun. 2018.
UNITED STATES GREEN BUILDING COUNCIL. LEED® for Commercial Interiors. Washington: U.S. Green Building
Council, 2005a. 74 p.
UNITED STATES GREEN BUILDING COUNCIL. LEED 2009 for Commercial Interiors. Washington: U.S. Green Building
Council, 2009a. 67 p.
UNITED STATES GREEN BUILDING COUNCIL. Reference Guide for Interior Design and Construction. Washington: U.S.
Green Building Council, 2013a. 474 p.
UNITED STATES GREEN BUILDING COUNCIL (Washington) (Comp.). LEED project directory. 2018. Disponível em:
<https://www.usgbc.org/projects>. Acesso em: 20 abr. 2018.

1060
AVALIAÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO RELACIONADO AO USO DE
VIDRO INSULADO EM ESCRITÓRIOS COM FACHADA ENVIDRAÇADA
EM FLORIANÓPOLIS (SC)
Mônica Martins Pinto (1); Fernando Simon Westphal (2)
(1) Me., Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
monicamartinspinto@outlook.com, LabCon - Universidade Federal de Santa Catarina
(2) Dr., Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, fernando.sw@ufsc.br, LabCon -
Universidade Federal de Santa Catarina

RESUMO
A arquitetura corporativa com fachadas completamente envidraçadas já é um modelo internacionalmente
consolidado, inclusive no Brasil. Entretanto este padrão parece ser o de maior vulnerabilidade às variações
climáticas. Portanto, o projeto de abertura deve ser adequado ao clima local e ao tipo de uso da edificação, e
seu impacto direto no consumo energético e no conforto dos ocupantes deve ser avaliado. O presente estudo
objetiva avaliar possível melhoria que o uso de sistema de vidro insulado poderia proporcionar no conforto
térmico das pessoas que permanecem por longos períodos nas proximidades de janelas em ambientes de
escritório localizados em Florianópolis. Realizaram-se simulações computacionais de um modelo de sala de
escritório no software EnergyPlus, verificando dados de conforto térmico e a temperatura radiante média
(TRM). Primeiramente, verificaram-se as oscilações nos resultados modelando o zoneamento térmico do
ambiente de diferentes formas. Após, foram avaliados e comparados o uso do vidro insulado ao uso dos
vidros cinza monolítico e incolor monolítico. Pesquisas anteriores demonstraram que o vidro insulado não
apresenta desempenho térmico e energético favorável, comparado a vidros sem isolamento, para edifícios de
escritórios no Brasil. Entretanto, os resultados indicam melhora no conforto térmico do ambiente quando o
vidro insulado é utilizado, reduzindo a sensação de calor no verão e o desconforto térmico durante o período
de ocupação, ainda que o ambiente seja condicionado artificialmente.
Palavras-chave: conforto térmico, vidros, simulação computacional.

ABSTRACT
Office buildings with fully glazed façades is already consolidated as an international architecture model,
even in Brazil. However, this pattern seems to be the most vulnerable to climate variations. Therefore, the
fenestration design must be suitable to the local climate and the building’s use, and its direct impact on
energy consumption and occupant comfort should be assessed. The present study aims to evaluate if the use
of insulated glass unit provides improvement in the thermal comfort of people who stay for long periods near
windows in offices located in Florianópolis. Thermal comfort and mean radiant temperature data of an
office-space model were verified using computer simulation on the EnergyPlus software. First, the
oscillations in the results were verified by modeling the thermal zoning of the environment in different ways.
Afterward, the use of an insulated glass unit was evaluated and compared to the use of monolithic gray and
monolithic clear glasses. Previous research has shown that insulated glass does not present favorable thermal
and energy performance for office buildings in Brazil, compared to a single-pane glass unit. However, in this
paper, the results indicated improvement in the thermal comfort of the room with the use of insulated glass.
Even though the office is artificially conditioned, thermal discomfort by heat on summer, and the thermal
discomfort on the occupancy period has been reduced.
Keywords: thermal comfort, windows, computer simulation.

1061
1. INTRODUÇÃO
Edificações com fachadas totalmente revestidas por vidro já são um modelo de arquitetura corporativa
internacionalmente consolidado. No Brasil esta situação não é diferente. A escolha por amplos planos de
vidro é justificada pela permeabilidade com o espaço externo, possibilitando maior sensação de integração
entre interior e exterior; pela maior admissão de iluminação natural; pela facilidade de instalação, limpeza e
manutenção; e por sua estética. Os avanços tecnológicos na fabricação e composição de vidros, originando
produtos com maior capacidade de controle solar, também são fator de incentivo ao se optar por amplas
áreas de vidro nas fachadas. (TRAPANO; BASTOS, 2010; HUANG; NIU; CHUNG, 2014; LAMBERTS;
DUTRA; PEREIRA, 2014)
Ulpiani (2017) atenta ao fato de que é observado um mesmo padrão arquitetônico dominado por
fachadas envidraçadas apesar da grande variedade de climas presentes no mundo, sendo que este parece ser o
modelo de maior vulnerabilidade a estas variações. O projeto de abertura deve ser adequado ao clima local e
ao tipo de uso da edificação, pois tem impacto direto no consumo energético e no conforto dos ocupantes.
Segundo a ASHRAE (2009), no momento de projeto, as aberturas devem ser definidas considerando
“requisitos arquitetônicos, desempenho térmico, critérios econômicos e conforto humano”.
Contudo, ainda que este visual proporcionado pelas fachadas envidraçadas seja desejável pelos
usuários, devem ser avaliados os efeitos desta escolha no consumo energético de edificações e conforto
visual e térmico dos usuários. Devido à transparência à radiação solar, os vidros são os elementos de
envoltória que ocasionam maior ganho de calor e impacto no conforto dos ocupantes, principalmente nos que
despendem longos períodos próximos às janelas. Cappelletti et al. (2014) enfatizam que a contribuição da
radiação solar direta transmitida diretamente nos ocupantes não deve ser negligenciada.
As pesquisas que estudam a influência da variação de parâmetros relacionados às áreas transparentes
da envoltória nos índices de conforto térmico dos ambientes internos, em geral, utilizam um método
simplificado o qual considera uma temperatura operativa homogênea em todo ambiente (HIEN et al., 2005;
STEGOU-SAGIA et al., 2007; BESEN; WESTPHAL, 2012; BURATTI et al., 2013; DUSSAULT;
GOSSELIN, 2017). Com isto, a possibilidade de desconforto localizado em áreas próximas aos fechamentos
externos, principalmente às janelas, é desprezada. Outro fato constatado é que, em geral, os modelos
utilizados nestes estudos não aplicam os requisitos de modelagem para cálculo de desempenho de
edificações, estabelecidos pela ASHRAE Standard 90.1 (ASHRAE, 2007). Neste documento, quando a
edificação ainda não possui projeto de ar condicionado definido, é requerido que se configure as zonas
térmicas separando o perímetro limítrofe à fachada, com largura de 4,57 metros (ou 15 pés). Ao atender a
esta recomendação, os resultados demonstrariam maior precisão.
Como destacado por Zomorodian e Tahsildoost (2017) a temperatura radiante média (TRM) irá variar
dependendo da localização no espaço, principalmente em relação à proximidade com superfícies externas, e
até mesmo ao longo da fachada. Desta forma, os índices de conforto, PMV (Predicted Mean Vote) e PPD
(Predicted Percentage Dissatisfied), também se alteram conforme estes fatores. Esta espacialidade não
costuma ser abordada na avaliação de conforto térmico dos ambientes.
Em pesquisa realizada por Pinto (2017), para edifícios de escritórios com fachada envidraçada nos
climas brasileiros, conclui-se que, no que concerne a desempenho térmico e economia com resfriamento do
ar, de forma geral o vidro insulado não apresenta vantagem em relação ao uso de folhas simples laminadas.
Esse estudo avaliou, por meio de simulação computacional no software EnergyPlus, o desempenho
energético de um pavimento de escritórios de planta aberta com diferentes configurações na parcela
transparente da envoltória. Na região sul do país, onde está localizada Florianópolis, os modelos que
utilizaram o vidro insulado consumiram entre 2,1% e 11% mais energia elétrica para condicionamento
térmico. Entretanto, o estudo não avaliou o conforto térmico nestes modelos.
O isolamento térmico do vidro insulado tende a diminuir a temperatura superficial interna do vidro e,
consequentemente, a irradiação de calor, o que influencia na temperatura radiante média e,
consequentemente na temperatura operativa e índices de PMV e PPD, mesmo sendo um ambiente
artificialmente condicionado. Além disso, a proximidade do usuário com a fachada envidraçada pode
ocasionar desconforto térmico localizado por assimetria de radiação. Isto pois, uma fachada envidraçada
pode agir tanto como uma superfície fria, quando não esta recebendo radiação, ao mesmo tempo em que
funciona como um irradiador de calor, quando aquecida. Além disso, o vidro permite a entrada e incidência
direta de radiação solar. Portanto, neste caso, seria interessante avaliar a variação na sensação de conforto e
possível desconforto localizado ao utilizar vidro insulado em vez do simples, apesar dos resultados de

1062
desempenho energético. Isso principalmente focando nos ocupantes que permanecem próximo às áreas
envidraçadas por períodos prolongados.

2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é avaliar possível melhoria que o uso de sistema de vidro insulado pode
proporcionar no conforto térmico dos ocupantes, principalmente os que permanecem próximo à fachada
envidraçada em ambientes de escritório localizados em Florianópolis (SC).

3. MÉTODO
A fim de atender aos objetivos deste estudo, realizaram-se simulações computacionais de desempenho
térmico de uma sala de escritório, por meio do programa computacional EnergyPlus. Para tanto, são
necessários arquivos climáticos de extensão *.epw (Energy Plus Weather File), os quais caracterizam as
condições climatológicas de um ano base para os locais estudados, a partir de dados horários. O arquivo
utilizado nesta pesquisa foi obtido na biblioteca de arquivos climáticos do próprio software.

3.1. Caracterização do clima


O estudo foi realizado para Florianópolis, cidade
litorânea localizada na latitude 27ºS. Segundo
classificação de Köppen-Geiger, sob indicador Cfa,
o local possui clima temperado, com estações do
ano bem definidas; sempre úmido, com ocorrência
de precipitação durante todo ano; e de verão quente,
com temperatura média no ar no mês mais quente
acima de 22°C (AMAZONAS, 2012).
A Figura 1 mostra os dados estatísticos
mensais sobre a temperatura do ar e a incidência
média diária de radiação solar no plano horizontal e
no plano oeste, que correspondente a fachada
externa do modelo de estudo. Estes dados foram
extraídos do arquivo climático disponível na
biblioteca online do EnergyPlus (DOE, 2016).
Mesmo possuindo estações do ano bem definidas, a Figura 1 - Temperatura do ar e incidência de radiação solar na
temperatura média mensal mantém-se entre 15ºC e no plano horizontal e fachada oeste em Florianópolis.
25ºC.

3.2. Definição do modelo


Para este estudo, optou-se por analisar uma sala de escritório condicionada artificialmente com 5m de
fachada, 10m de profundidade e pé-direito de 2,45m (distância do piso ao forro). Neste modelo, apenas uma
das paredes possui contato com o exterior, a qual possui percentual de abertura de fachada de 60%.
Considerou-se um pavimento intermediário, no décimo andar (30m de altura). Por essa razão, as paredes
internas, a cobertura e o piso foram configurados como fechamentos adiabáticos, presumindo que os
pavimentos e salas adjacentes possuem as mesmas condições térmicas. As áreas entre o forro e a laje, ou
seja, o plenum, foram configuradas como zonas térmicas distintas.
As densidades de ocupação foram definidas conforme recomendado na norma brasileira ABNT NBR
16.401-1:2008 (ABNT, 2008a), para escritórios com alta carga interna. Configurou-se a densidade de carga
de equipamentos em 21,5 W/m2 e a densidade de potência de iluminação em 16,0 W/m2. Considerou-se a
ocupação do pavimento de uma pessoa por posto de trabalho, sendo a ocupação definida em 7,7 m2 por
pessoa. A taxa metabólica de cada ocupante foi estabelecida em 126 W por pessoa, de acordo com o anexo B
da ISO 7730:2005 (ISO, 2005) para atividades sedentárias de escritório.
As rotinas de uso dos sistemas da edificação foram configuradas conforme Figura 2. A ocupação e a
utilização dos sistemas são reduzidas entre 12 e 15 horas para o período de almoço. Durante o fim de semana
não há ocupação. Determinou-se 5% da iluminação e equipamentos em funcionamento constante em

1063
períodos sem ocupação. O acionamento da iluminação artificial foi configurado de forma estática, sem
considerar a disponibilidade de iluminação natural.
O ambiente é condicionado artificialmente com sistema de condicionamento de ar de expansão direta
do tipo PTHP (Packaged Terminal Heat Pump), equivalente ao uso de aparelho split. A Tabela 1 apresenta
as características do sistema de condicionamento de ar. Este sistema deve operar das 7h às 21h, com
dimensionamento da capacidade variando conforme dados de simulação. Nos fins de semana a edificação foi
considerada desocupada e, portanto, sem funcionamento do sistema de condicionamento.
100%
75%
50%
25%
0%

Pessoas Iluminação Equipamentos


Figura 2 – Schedules de ocupação durante os dias de semana

A Tabela 2 apresenta os valores de transmitância térmica e absortância solar dos fechamentos opacos
da envoltória. Optou-se por composições de materiais que atendessem aos pré-requisitos de envoltória para
nível A em eficiência energética de edificações, definidos pelo regulamento brasileiro (INMETRO, 2013).

Tabela 1 – Sistema de condicionamento de ar Tabela 2 – Propriedade térmica dos elementos construtivos


PTHP (Packaged Terminal Heat Composição Transmitância Absortância
Sistema Placa Cimentícia
Pump)
Paredes (10mm) + Lã de Vidro
COP 3,0 W/W 0,77 W/m²K α=0,297
Externas (50mm) + Placa de
Aquecimento: 20°C gesso (12,5mm)
Termostato
Resfriamento: 24°C Placa de Gesso (15mm)
Paredes
Definida pelo auto + Lã de Vidro (50mm) + 0,69 W/m²K α =0,297
Capacidade Internas
dimensionamento do EnergyPlus Placa de Gesso (15mm)
Forro Placa de Gesso (15mm) 1,40 W/m²K α =0,297
Renovação
0,0075 m³/s por pessoa Piso Cerâmico (7.5mm)
de ar
+ Reboco (25mm) + Piso:
Taxa de Laje 2,74 W/m²
0,3 trocas de ar por hora Laje Concreto (200mm) α=0,418
infiltração + Reboco (25mm)

Estabeleceu-se que o modelo de edificação é


completamente revestido de vidro. As composições
de paredes externas de cada modelo são revestidas
com o mesmo vidro externo utilizado nas janelas,
como pode ser observado na Figura . Esta
configuração foi incluída nos modelos de simulação
no EnergyPlus como um material de isolamento
transparente utilizando um objeto de entrada
chamado “SurfaceControl: MovableInsulation”, o
qual fornece isolamento à perda de calor sem
diminuir drasticamente a transmitância de energia Figura 3 – Revestimento de vidro nas paredes externas.
solar.
Foram utilizadas persianas rolô em todas aberturas, com refletância média (50%) e baixa transmitância
(10%). As cortinas foram configuradas com controle de sombreamento ativado quando a radiação solar
incidente na fachada excede 250 W/m². Para a avaliação de possível contribuição do uso do vidro insulado
no conforto térmico de ocupantes com permanência junto às janelas, variou-se o tipo de vidro. Optou-se por
um vidro monolítico incolor, um vidro monolítico cinza e uma composição insulada, conforme Tabela 3.

1064
3.3. Avaliação de Conforto Térmico
As normas ANSI/ASHRAE Standard 55 (ASHRAE, 2013) e a NBR 16401-2 (ABNT, 2008b) recomendam
o modelo de conforto térmico de Fanger (FANGER, 1970) para determinar as condições térmicas aceitáveis
em espaços ocupados condicionados artificialmente. Este modelo analisa o Voto Médio Predito (PMV,
Predicted Mean Vote) e o Percentual Previsto de Insatisfeitos (PPD, Predicted Percentage Dissatisfied).
A partir de uma condição de conforto térmico ótima (neutralidade), o PMV define a sensação térmica
no ambiente em uma escala de -3 (muito frio) a +3 (muito quente). Diretamente relacionado ao PMV, índice
PPD indica o percentual de usuários insatisfeitos com as condições térmicas do ambiente. A NBR 16401-2
(ABNT, 2008b) define que o ambiente será termicamente aceitável quando o PPD for menor que 10% e o
PMV estiver entre – 0,5 e + 0,5. Além destes dois índices, também se analisou isoladamente a temperatura
radiante média (TRM), utilizada no cálculo do PMV.
Tanto fatores humanos, quanto ambientais influenciam na determinação das condições aceitáveis de
conforto térmico de ambientes. A taxa metabólica de cada pessoa foi definida conforme ISO 7730:2005
(ISO, 2005) para atividade sedentária de escritório, sendo 126 W/pessoa. Considerou-se o mesmo isolamento
de roupas para todos ocupantes: um traje típico em escritórios com isolamento total de 0,94 clo.

Tabela 3 – Propriedades ópticas e térmicas dos vidros


Vidro Vidro Sistema Insulado
Incolor Cinza Externo Interno Composição
Espessura (mm) 6,00 6,00 8,00 6,00 8,00 + 12,70 + 6,00
Transmissão solar 0,82 0,47 0,15 0,82 0,13
Rsol1 0,07 0,05 0,29 0,07 0,29
Rsol2 0,07 0,05 0,27 0,07 0,26
Tvis 0,89 0,43 0,17 0,89 0,15
Rvis1 0,08 0,05 0,34 0,08 0,34
Rvis2 0,08 0,05 0,27 0,08 0,30
Emissividade 1 0,89 0,84 0,84 0,89 0,84
Emissividade 2 0,89 0,84 0,84 0,89 0,89
Cond [W/m.K] 1,00 1,00 1,00 1,00 -
Processo Monolítico Monolítico Laminado Monolítico Laminado + ar + monolítico
U [W/m²K] 5,70 5,79 5,63 5,70 2,75
Fator Solar 0,84 0,61 0,28 0,84 0,23

3.4. Análises
Uma limitação da ferramenta EnergyPlus é o fato de adotar uma temperatura homogênea em todo volume de
ar da zona térmica. Com o objetivo de identificar a influência da distribuição homogênea na avaliação do
conforto térmico relacionado à definição dos fechamentos transparentes, optou-se, então, por primeiramente
verificar as alterações no conforto térmico do usuário alterando o padrão de zoneamento térmico do
ambiente.
Quatro zoneamentos foram definidos a partir de módulos de 2,5m por 2,5m, conforme esquematizado
na Figura 4. O primeiro zoneamento considera toda a área do ambiente como uma zona térmica única. No
segundo, a sala é toda dividida nos menores módulos. Comparando os resultados do zoneamento 02 com o
03, é possível verificar se há diferença significativa nos índices de conforto com o aumento da profundidade
do módulo para 5m. Ao comparar os resultados do zoneamento 02 com o 04, pode-se observar se há esta
diferença ocorre ao se aumentar a largura de fachada do módulo.
As linhas tracejadas representam
partições virtuais, sem paredes físicas entre as
zonas térmicas, mantendo a configuração de
planta aberta. Estas divisórias foram
modeladas no EnergyPlus como um material
“Infrared Transparent”. Este funciona como
um elemento transparente que permite a
transmissão da radiação visível e solar, porém
não participa com trocas convectivas e Figura 4 - Esquema dos quatro zoneamentos térmicos propostos.
condutoras entre as zonas que separa.
A análise foi realizada considerando a zona térmica 1 (Z1) de cada zoneamento. Com estas variações,
será possível identificar a influência da distribuição homogênea da temperatura no ar da sala na avaliação do
conforto térmico relacionado a fechamentos transparentes.

1065
Após, compararam-se os resultados de conforto térmico entre os tipos de vidro, tendo como objetivo
verificar possível melhoria no conforto térmico de ocupantes, principalmente os localizados próximo às
janelas, ao se aumentar o isolamento térmico das áreas transparentes. O zoneamento utilizado para esta
análise foi definido com base nos resultados obtidos na verificação anterior.
Todas as análises foram realizadas para duas semanas representativas, uma de verão e outra de
inverno. Utilizaram-se os períodos definidos no arquivo climático como extremos, sendo de 19 a 25 de
fevereiro, para verão, e 2 a 8 de setembro, para inverno. Observaram-se os dados de PMV, PPD e TRM. Este
recorte permite visualizar as variações nos índices de conforto térmico de forma mais detalhada do que
observando resultados anuais. Pôde-se então observar a alteração nos resultados conforme variação no clima
externo e também na ocupação do ambiente.

4. RESULTADOS
4.1. Comparação entre padrões de zoneamento
Os resultados obtidos nos modelos com vidro insulado são apresentados na Figura 5. Nesta, estão dispostos
os dados de PMV, PPD e TRM, para os períodos de verão e inverno, comparando-se o tipo de zoneamento.
Nos gráficos também se expõe a radiação incidente na janela e os limites de conforto.

Figura 5 – Avaliação de conforto térmico com vidro insulado comparando os resultados entre formas de zoneamentos: (a) PMV no
verão; (b) PMV no inverno; (c) PPD no verão; (d) PPD no inverno; (e) TRM no verão; e (f) TRM no inverno.

Nota-se que durante período em que o sistema de condicionamento estava ativo, os resultados entre os
diferentes zoneamentos foram semelhantes. As diferenças tendem a aumentar durante a noite quando o ar
condicionado é desligado. Neste intervalo, o modelo com zoneamento 01 apresenta maior desconforto e
maior sensação de calor. Este modelo tende a ter maior diferença comparado ao zoneamento 02, sendo de até
0,4 no PMV; 17 p.p. (pontos percentuais) no PPD e 2,1ºC na TRM. No período de inverno, os resultados do
modelo com zoneamento 03 tendem a se aproximar do zoneamento 01, porém ainda com diferença visível.
Nos fins de semana, quando ocorre o maior período ininterrupto sem condicionamento térmico, este
quadro se inverte. Principalmente nos intervalos de ganho de calor por radiação solar, os modelos com
zoneamento 02 e 04 apresentam maior percentual de desconforto e sensação de calor. Devido ao maior
ganho térmico sem o acionamento do sistema de condicionamento, os modelos de menor profundidade, ou
seja, que demonstram maior influência da fachada externa, possuem maior dificuldade em dissipar o calor
interno. O fato de os modelos possuírem fechamentos transparentes com vidro insulado amplificam esta
situação.
O modelo com zoneamento 02 apresentou maior variação em relação ao zoneamento que considera
toda área da sala. Frisa-se que houve pouca diferença nos dados de conforto entre os modelos com
zoneamento 02 e 04, indicando que a influência da fachada é proporcional à profundidade da zona.

1066
Todos padrões discorridos se mostram semelhantes entre PMV, PPD e TRM, visto que estes
indicadores estão correlacionados. Em termos gerais, o zoneamento 01 obteve resultados de maior sensação
de calor e consequentemente maior percentual de pessoas em desconforto, bem como maior temperatura
radiante média. Este modelo considera toda a sala como uma zona térmica única e o ponto de avaliação do
conforto térmico é um ocupante localizado no centro do ambiente, a cinco metros de distância da fachada
envidraçada.
Com base nos resultados obtidos nas comparações entre os zoneamentos, percebe-se que ao diminuir a
distância entre o limite da zona e a janela, maior é a influência das trocas de calor através do vidro. Por ele,
as transmissões de calor são mais intensas, seja no ganho de calor ou na sua dissipação para o ambiente
externo.
Entretanto, considerando-se apenas o período de ocupação, o qual é de maior importância na análise
do conforto térmico do usuário, os zoneamentos não apresentam diferenças significativas nos indicies de
PMV, PPD e TRM. Neste período o sistema de condicionamento de ar está ativado, mantendo a temperatura
interna do ar em um intervalo de conforto. Visto que a temperatura radiante média é calculada a partir de um
ponto médio da zona térmica e também não inclui a radiação solar direta (que atravessa o vidro e incide
diretamente no ocupante), o modelo não considera possível desconforto térmico localizado por assimetria
radiante.

4.2. Comparação entre tipos de vidro


Para todos os modelos, o ambiente, ou a região próxima a fachada envidraçada, indicou desconforto térmico
por calor em todo intervalo, mesmo nos períodos em que se encontrava com o condicionamento de ar
acionado. Isto ocorre em decorrência do aumento na TRM, principalmente, devido à alta incidência de
radiação solar direta pela fachada envidraçada. Foram considerados para esta análise os dois modelos de
zoneamento que apresentaram maior discrepância nos resultados da avaliação anterior.
Os gráficos apresentados na Figura 6 expressam os resultados de conforto térmico (PMV, PPD e
TRM) para o modelo com Zoneamento 01.

Figura 6 – Avaliação de conforto térmico comparando os tipos de vidro – Zoneamento 01: (a) PMV no verão; (b) PMV no inverno;
(c) PPD no verão; (d) PPD no inverno; (e) TRM no verão; e (f) TRM no inverno.
Estes resultados demonstram sensação de calor, entre levemente quente e quente, por todo período de
verão independente do tipo de vidro. Nota-se que esta sensação diminui com uso do vidro insulado,
comparado aos demais vidro. A maior variação ocorre entre o uso do vidro insulado e do incolor, com
diminuição no PMV de até 0,25 em dias úteis (12%) e 0,42 durante o fim de semana (15%). Na TRM esta
margem foi de 1,4ºC e 2,2ºC, respectivamente. Em relação ao PPD, esta divergência chega a 12,5 p.p.
Durante todo período, o percentual de desconforto permanece acima de 20%, chegando a 100% no período

1067
de fim de semana. Considerando apenas o período ocupado, o PPD máximo com o vidro insulado foi 45%,
enquanto o PPD alcançou a 52% e 50% com os vidros incolor e cinza, nesta ordem.
Mesmo no período de inverno o ambiente mantém-se em desconforto por calor, porém com menor
intensidade. Neste intervalo, diferentemente do verão, o uso do vidro insulado provocou maior sensação de
calor durante os dias em que houve ocupação, e o vidro cinza, menor. Entretanto, a divergência entre os tipos
de vidro foi menor, sendo no máximo 0,20 no PMV, 5 p.p. no PPD e 0,9ºC na TRM. No fim de semana essa
relação se inverte. Entende-se que esta inversão ocorreu pois, enquanto no início da semana a temperatura do
ar esteve entre 8ºC e 13ºC, a temperatura no fim de semana atingiu a 25ºC. Nesta situação, somada ao não
acionamento do sistema de condicionamento, há diminuição da transmissão do calor externo para o interior
e, consequentemente, na transmissão por radiação e convecção para o interior da sala.
A Figura 7 apresenta os resultados de conforto térmico para o modelo com Zoneamento 02. Os dados
seguem os mesmos padrões observados para o zoneamento 01. Na semana de verão, a sensação térmica
variou de levemente quente a muito quente. Neste período, a margem no PMV entre os modelos com vidro
insulado e com vidro incolor atingiu 0,4 (19%) nos dias de ocupação e 1,0 (30%) no fim de semana. No que
se refere a TRM, esta variação foi de 2,4ºC e 5,0ºC, respectivamente; e 17p.p. e 25p.p. no PPD.

Figura 7– Avaliação de conforto térmico comparando os tipos de vidro – Zoneamento 02: (a) PMV no verão; (b) PMV no inverno;
(c) PPD no verão; (d) PPD no inverno; (e) TRM no verão; e (f) TRM no inverno.

Foram registrados momentos em conforto na semana de inverno, contudo as ocorrências foram, em


geral, fora do período de ocupação. Neste período, a sensação de térmica atingiu diferença máxima de 0,6, e
3,8ºC na TRM, entre os modelos com vidro insulado e vidro incolor. Esta variação nos dados de desconforto
térmico foi menor do que entre os modelos com Zoneamento 01. Durante esta semana a diferença no PPD
entre os tipos de vidro se manteve menor do que 4p.p., todavia houve um pico mais acentuado no primeiro
dia, em que esta variação alcança 28p.p.
Confrontando os resultados entre os modelos com Zoneamento 01 e Zoneamento 02, percebe-se que,
ao criar uma divisão mais próxima à fachada externa, aumenta-se a sensibilidade nos resultados de conforto
térmico às variações climáticas e ao uso da edificação, ou seja, ocupação e acionamento do ar condicionado.
As diferenças nos resultados entre estes zoneamentos, comparando os tipos de vidro, foram intensificadas
quando o ambiente estava desocupado e semelhantes quando ocupado e o ar condicionado acionado.

5. CONCLUSÕES
Com o objetivo de identificar a influência da distribuição homogênea da temperatura no ar da sala, como é
calculado no EnergyPlus, na avaliação do conforto térmico relacionado à definição dos fechamentos
transparentes, testaram-se quatro zoneamentos térmicos para este mesmo ambiente. Quando o PMV é

1068
analisado considerando um ponto central e temperatura homogênea em todo ambiente, a sensação de calor e
a temperatura radiante média tendem a ser maiores, bem como o percentual de pessoas em desconforto.
Percebeu-se que, ao criar uma divisão com zonas térmicas mais próximas a fachada externa, a
sensibilidade às variações climáticas e ao uso da edificação é intensificada. Sugerindo, então, maior
influência do vidro nos resultados de conforto térmico, devido ao fato de as trocas de calor por este material
serem mais intensas do que através das composições opacas, tanto no ganho de calor ou na dissipação para o
meio externo.
Nos períodos ocupados, com o sistema de condicionamento funcionando, as análises entre os
diferentes zoneamentos demonstram níveis de conforto térmico similares. Este comportamento ocorre, pois,
mesmo diminuindo a profundidade da zona térmica, a temperatura radiante média tende a igualar-se entre os
modelos quando o ar condicionado está acionado, visto que o modelo de conforto PMV/PPD não considera a
influência da radiação solar direta nos cálculos.
Ao se comparar os índices de conforto térmico calculados para os modelos com os diferentes tipos de
vidro, os resultados indicaram desconforto térmico por calor em todas as análises, mesmo nos períodos em
que o condicionamento de ar estava acionado. Esta condição ocorre principalmente no verão, mas também
no inverno, com temperatura externa abaixo de 15ºC.
Nos períodos com temperaturas externas acima da temperatura de resfriamento (24ºC), o vidro
insulado proporciona menor sensação de calor em relação aos vidros incolor e cinza, com redução de até
19% na sensação de calor em dias úteis. Considerando os intervalos com ocupação, o uso do vidro insulado
diminuiu em até 7 p.p. o percentual de ocupantes em desconforto durante o verão, ao passo que no inverno, o
seu maior isolamento conserva mais o calor no interior da sala. As diferenças nos resultados entre os tipos de
vidro foram intensificadas quando o ambiente estava desocupado e significativamente atenuadas quando
ocupado e o sistema de condicionamento acionado.
Trabalhos anteriores demonstraram que o vidro insulado não apresenta desempenho térmico e
energético favorável, comparado a vidros sem isolamento, para edifícios de escritórios no Brasil. Entretanto,
observando-se pela perspectiva do conforto do usuário, os resultados desta pesquisa demonstram que o uso
do vidro insulado melhora o conforto térmico dos ocupantes, ainda que o ambiente seja condicionado
artificialmente. Mesmo com as limitações que o software utilizado apresenta, foi possível verificar
diminuição no desconforto térmico, causado pela grande permeabilidade e admissão de radiação solar
provocada pelas fachadas envidraçadas. Trabalhos futuros que considerem o desconforto térmico por
assimetria radiante oriunda não apenas da radiação direta que incide no ocupante, mas também da
temperatura superficial do viro, poderiam elucidar ainda melhor a capacidade de o vidro insulado diminuir o
desconforto térmico próximo a grandes áreas de vidro.

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AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CAPES pelos recursos financeiros aplicados no financiamento do projeto.

1070
AVALIAÇÃO DE HORAS DE CONFORTO EM RESIDÊNCIA
UNIFAMILIAR LOCALIZADA EM SÃO PAULO, CONSIDERANDO
DIFERENTES SISTEMAS CONSTRUTIVOS
Roberto Bozza Namur (1); Luana Sato (2); João Roberto Diego Petreche (3); Brenda
Chaves Coelho Leite (4)
(1) Engenheiro Civil, Mestrando do Programa de Mestrado Profissional em Inovação na Construção Civil
ConstruInova, roberto.namur@usp.br
(2) Arquiteta e Urbanista, mestre em Engenharia Civil, Pesquisadora da Unidade EMBRAPII Poli USP –
MCE, luana.sato@embrapii.poli.usp.br
(3) PhD, Professor do Departamento de Engenharia Civil, João Roberto Diego Petreche
Universidade de São Paulo, Departamento de Construção Civil, petreche@usp.br
(4) PhD, Professora do Departamento de Engenharia Civil, Brenda Chaves Coelho Leite
Universidade de São Paulo, Departamento de Construção Civil, São Paulo – SP, 05508-070, Tel.: (11)
26486238

RESUMO
É comum a escolha do sistema construtivo pelo custo de construção e pela produtividade. Porém, muitas
vezes, o aspecto que envolve o conforto do usuário e o consumo de energia é deixado de lado. Com este
artigo propõe-se avaliar, com a utilização de ferramentas de simulação computacional, o desempenho
térmico e energético de uma edificação residencial unifamiliar considerando a variação de sistema
construtivo entre Light Steel Framing e alvenaria estrutural com cobertura plana de concreto. Foram
verificadas as horas de conforto e desconforto térmico com base em normativas brasileiras considerando a
climatização artificial e os efeitos da ventilação natural. Avaliou-se o consumo de energia elétrica para fins
de climatização dos ambientes de longa permanência, para os dois sistemas construtivos. Obteve-se que, com
ventilação natural abundante, a variação no envelope é pouco significativa. Já nos casos em que não há
ventilação natural, mas sim climatização artificial, a edificação em Light Steel Framing se mostrou mais
eficiente tanto em promover o conforto quanto no consumo energético do que a opção em alvenaria
estrutural.
Palavras-chave: simulação computacional, desempenho térmico, sistemas construtivos.

ABSTRACT
The building materials are usually chosen by the cost of construction and productivity. But often, the user
comfort and energy consumption are overlooked. This paper proposes to evaluate the thermal and energetic
performance of a single-family residential building with the use of computational simulation tools,
considering the structural system variation between Light Steel Framing and structural masonry with flat
concrete slab. The hours of comfort and thermal discomfort were verified based on the Brazilian standard
considering the use of air-conditioning and the effects of natural ventilation. It was evaluated the
consumption of electric energy for the purposes of climatization of the long-stay rooms, for the two
construction systems. The results were: With abundant natural ventilation, the envelope variation is not
significant; In the cases in which there is no natural ventilation, but air conditioning, the Light Steel Framing
building has proved to be more efficient both in promoting comfort and in energy consumption than the
structural masonry option.
Keywords: computational simulation, thermal performance, constructive systems.

1071
1. INTRODUÇÃO
O sistema construtivo tradicional da cidade de São Paulo é a alvenaria, desde a vinda dos imigrantes italianos
nos anos 1850. A partir da consolidação da adoção do concreto, a construção de casas manteve a alvenaria
(conformada por novos componentes), mas a combinou ao concreto armado (SATO, 2011). Nos últimos
anos a busca pelo aumento da produtividade na construção tem sido norteadora na escolha dos sistemas
construtivos a serem adotados na produção de edifícios. O Light Steel Framing aparece como uma
alternativa de sistema construtivo atraente, em um mercado que divulga um maior potencial de
industrialização, reduções de custo indiretas por redução de cargas permanentes, e até um melhor
desempenho térmico e acústico.
O Light Steel Frame pode, ainda, ser considerado um sistema construtivo sustentável, uma vez que,
por ser um sistema industrializado e dado a sua melhor integração com os demais sistemas, gera menos
resíduos na fase de construção e apresenta melhor desempenho térmico (COSTA et. al., 2018), induzindo a
redução no consumo energético com climatizações.
É comum a seleção do sistema construtivo com base no custo da construção e produtividade,
deixando de lado o conforto do usuário e o consumo de energia. Tais aspectos podem ser verificados por
simulação computacional no momento da concepção de um projeto arquitetônico, uma vez que o sistema
construtivo da edificação é bastante relevante para as suas condições de conforto térmico, influenciando
diretamente algumas das variáveis ambientais.
O conforto térmico é definido pela ASHRAE (2013) como “a condição da mente que expressa a
satisfação com o ambiente térmico”, sendo ele influenciado por variáveis pessoais como metabolismo,
resistência térmica das vestimentas, e ambientais, como temperatura do ar, temperatura radiante média e
velocidade do ar (FANGER, 1972). Para adequado funcionamento dos órgãos vitais, a temperatura corporal
deve ser mantida constante em aproximadamente 37°C, de forma que, para ser atingido o conforto térmico
deve-se reduzir a intensidade das trocas de calor do corpo com o ambiente.
A norma brasileira de conforto térmico e instalações de ar condicionado, ABNT NBR16401:2008,
define como parâmetros para o conforto térmico intervalos de temperatura, dada a resistência térmica da
vestimenta típica e a umidade relativa do ar e sendo cumpridos os requisitos de velocidade do ar e contra
desconfortos locais.
Propõe-se neste estudo, a avaliação de horas de conforto e desconforto com base na norma citada,
além da análise de consumo de energia, alterando os sistemas construtivos, mas mantendo o projeto
arquitetônico.

2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é avaliar o desempenho térmico de uma edificação residencial unifamiliar localizada
na cidade de São Paulo, considerando a variação de sistemas construtivos (alvenaria estrutural de blocos
cerâmicos com cobertura plana de concreto x Light Steel Framing – LSF), a partir de simulações
computacionais, com foco em conforto térmico e consumo de energia.

3. MÉTODO
O método deste trabalho está dividido em três etapas principais:
1. Modelagem computacional de um projeto arquitetônico residencial preexistente, utilizando o
software EnergyPlus v.8.9.0, considerando dois sistemas construtivos: alvenaria estrutural de blocos
cerâmicos com lajes de concreto maciço e Light Steel Framing (LSF).
2. Avaliação de horas de conforto e desconforto de ambos os sistemas construtivos, considerando
somente ventilação natural.
3. Avaliação do impacto de ambos os sistemas construtivos na carga térmica do ambiente e,
consequentemente, na carga de projeto do sistema de climatização artificial, bem como seu efeito sobre o
consumo energético da edificação.

3.1. Modelagem computacional


Foi modelada uma residência unifamiliar genérica de dois pavimentos, com três dormitórios, sendo um deles
uma suíte, sala de estar, sala de jantar integrada à cozinha, lavanderia e dois banheiros, conforme plantas
baixas representadas nas Figura 1 e 2.
Como o objetivo é a comparação de desempenho entre sistemas construtivos distintos, a orientação
não foi variada, tendo sido mantida a mesma para os dois casos.
1072
(A) (B)

Figura 1 – Planta baixa da residência simulada: (A) pavimento térreo; (B) primeiro pavimento.

Figura 2 – Perspectivas do modelo da residência simulada.

3.1.1. Caracterização da Zona Bioclimática e Design Day


A cidade de São Paulo pertence à zona bioclimática 3. Segundo a ABNT (2005b), paredes leves e refletoras
e coberturas leves isoladas, com aberturas médias (com sombreamento) para ventilação no verão e que
recebam sol durante o inverno são as soluções construtivas que melhor se adequam a esse tipo de clima.
Porém, a técnica construtiva tradicional da cidade envolve sistemas pesados, como a alvenaria estrutural e o
concreto armado (SATO, 2011).
Para comparação dos resultados com a alteração de técnica construtiva, foi necessária a
determinação dos dias típicos de projeto. Para tanto, foi realizada comparação de resultados com base em
dias típicos sugeridos por Silva et al. (2014) e resultados com base no arquivo climático anual
(BRA_Sao.Paulo-Congonhas.837800_SWERA.epw).
Tabela 1 – Dias típicos sugeridos por Silva et al. (2014).
Verão Inverno
21/dez (início do verão); 31/dez (dia intermediário do verão); 21/jun (início do inverno); 31/jul (dia intermediário do
20/mar (fim do verão) inverno); 20/set (fim do inverno)
Para as análises foram adotados os dias 21/12 e 21/06 como dias típicos de verão e inverno,
respectivamente, devido à maior semelhança entre os resultados encontrados.

3.1.2. Caracterização das Zonas Térmicas


Foram modeladas 13 zonas térmicas, para os
seguintes ambientes: Sala de TV e Estar, Lavabo,
Área de Serviço, Sala de Jantar e Cozinha,
Corredor Térreo, Caixa de Escada, Corredor
Superior, Dormitório 1, Dormitório 2, Banheiro,
Suíte, Banheiro da Suíte, Caixa D’Água, conforme
a Figura 3.
Não foi realizado o agrupamento de
ambientes em uma mesma zona térmica, com
exceção da escada, por conta das diferentes Figura 3 – Zonas térmicas da residência simulada.
orientações, tipos de ocupação e equipamentos
instalados.

1073
3.1.3. Caracterização da ocupação – Pessoas e Equipamentos
A edificação foi projetada para uma ocupação de 5 pessoas, sendo um casal com três filhos.
Os corredores, a escada, o lavabo e caixa d’água, de ocupação muito esporádica, foram considerados
desocupados 100% do tempo. Logo, não foram criados schedules de ocupação, atividade metabólica,
iluminação¹15 e equipamentos²16. Os schedules fracionários de ocupação, iluminação e equipamentos dos
demais ambientes estão representados na Figura 4. Já as taxas metabólicas, as potências de iluminação e de
equipamentos consideradas em cada ambiente estão apresentadas na Tabela 2.

Figura 4 – Schedules fracionários de ocupação, iluminação e equipamentos.


Tabela 2 – Cargas internas consideradas.
Dormitório Salas de Estar
Tipo de Cargas Cozinha e Área de serviço Banheiros
s e Suíte e Jantar
Taxa Metabólica (W/pessoa) 81 108 95 95
Iluminação (W/m²) 5 6 6 5
TV (Estar):
Geladeira (coz): 250W, máquina de
300W, aparelho Chuveiros
Equipamentos considerados - secar (A.S.): 3500W, máquina de lavar
de som (Estar): elétricos: 5500W
(A.S.): 1000W
50W
3.1.4. Caracterização do envelope 1 - Alvenaria estrutural de blocos cerâmicos e cobertura plana de concreto
Nesta composição foram adotados materiais conforme Tabela 3:

¹15 Com exceção do corredor térreo e escada, nos quais considerou-se a iluminação ativada das 18h às 22h, e corredor
superior, no qual a iluminação foi considerada ativada das 18h às 6h (potência de 5 W/m²).
²16 Com exceção da caixa d’água, na qual considerou-se o funcionamento de uma bomba de pressurização (400W).
1074
Tabela 3 – Características dos materiais utilizados na simulação computacional.
Condutividade Calor
Espessura Densidade Absor Emissivi
Material Rugosidade térmica 3 específico
[cm] [kg/m ] tância dade
[W/m.K] [J/kg.K]
Argamassa colante Lisa 0,5 1,15 2000 1000 0,70 0,85
Bloco cerâmico vazado Rugosa 14,0 0,90 1500 920 0,70 0,85
Contrapiso Muito rugosa 5,0 1,15 2300 1000 0,70 0,85
Gesso Lisa 0,5 0,5 1200 840 0,20 0,85
Laje de concreto Rugosa 10,0 1,75 2300 1000 0,70 0,85
Madeira para porta Médio-Lisa 2,5 0,15 500 1340 0,90 0,90
Placa cerâmica Muito lisa 0,5 0,9 1500 920 0,20 0,85
Revestimento externo Médio-Lisa 4,5 1,15 2000 1000 0,70 0,85
Textura acrílica Médio-Rugosa 1,0 0,4 1300 1000 0,20 0,85
Vidro U = 5,78 W/(m².K)
Tabela 4 – Composições construtivas de materiais consideradas na simulação.
Elemento construtivo Composição de camadas
Piso do térreo Laje de concreto – Argamassa colante – Cerâmica
Entrepiso Laje de concreto
Paredes externas de áreas molhadas Revestimento externo – Bloco cerâmico – Argamassa colante – Cerâmica
Paredes externas de áreas secas Revestimento externo – Bloco cerâmico – Gesso
Paredes internas áreas secas Gesso – Bloco cerâmico – Gesso
Paredes internas áreas molhadas Placa cerâmica – Argamassa colante – Bloco cerâmico – Argamassa colante – Cerâmica
Paredes internas área seca / área molhada Gesso – Bloco cerâmico – Argamassa colante – Cerâmica
Portas Madeira para porta
Janelas Vidro
Cobertura Laje de concreto
As construções de padrão econômico em alvenaria costumam não considerar a adoção de um
isolante térmico sobre a laje de concreto da cobertura. Além disso, o projeto dessas casas também não
contempla as aberturas do projeto arquitetônico considerado no estudo, tanto em dimensões, quanto em
número. Por considerar adequada, simulou-se a composição acima considerando também a isolação da
cobertura em concreto. Adotou-se isolamento com espessura de 5cm e condutividade térmica de
0,035W/m.K.

3.1.5. Caracterização do envelope 2 – Light Steel Framing


Nesta composição foram adotados materiais com as seguintes características:
Tabela 5 – Características dos materiais utilizados na simulação computacional.
Condutivida Calor
Espessura Densidade Absor Emissi
Material Rugosidade de térmica 3 específico
[cm] [kg/m ] tância vidade
[W/m.K] [J/kg.K]
Argamassa colante Lisa 0,5 1,15 2000 1000 0,70 0,85
Argamassa farofa Rugosa 5,0 1,15 2100 1000 0,70 0,85
Chapa cimentícia Rugosa 1,25 0,8 1800 840 0,70 0,9
Lã mineral Médio-Rugosa 5,0 0,035 100 750 0,70 0,9
Madeira para porta Médio-Lisa 2,5 0,15 500 1340 0,90 0,90
Manta de polietileno Rugosa 0,2 0,004 930 20735 0,30 0,9
Manta impermeável à água e
Lisa 0,05 2,3 130 2300 0,70 0,9
permeável ao vapor – MIAPV
Montantes leves de aço Muito lisa 1,1 55 7800 460 0,70 0,25
Placa cerâmica Muito lisa 0,5 0,9 1500 920 0,20 0,85
Placa de drywall Lisa 1,25 0,35 880 840 0,70 0,9
Placa de OSB (Parede) Médio-Rugosa 1,11 0,17 700 2300 0,70 0,9
Placa de OSB (Piso) Médio-Rugosa 1,83 0,17 700 2300 0,70 0,9
Textura acrílica Médio-Rugosa 1,0 0,4 1300 1000 0,20 0,85
Vidro U = 5,78 W/(m².K)

1075
Tabela 6 – Composições construtivas de materiais consideradas na simulação.
Elemento construtivo Composição de camadas
Piso do térreo Laje de concreto – Argamassa colante – Placa cerâmica
Entrepiso Drywall – Montantes + Ar – OSB (piso) – Manta de Polietileno – Argamassa Farofa – Placa cerâmica
Paredes externas de áreas Textura acrílica – Chapa cimentícia – MIAPV – OSB (parede) – Lã mineral + Ar + Montantes – OSB
molhadas (Parede) – Drywall – Argamassa colante – Placa cerâmica
Paredes externas de áreas Textura acrílica – Chapa cimentícia – MIAPV – OSB (parede) – Lã mineral + Ar + Montantes – OSB
secas (Parede) – Drywall
Paredes internas áreas secas Drywall – OSB (parede) – Ar + Montantes – OSB (parede) – Drywall
Paredes internas áreas Placa cerâmica – Argamassa colante - Drywall – OSB (parede) – Ar + Montantes – OSB (parede) –
molhadas Drywall – Argamassa colante – Placa cerâmica
Paredes internas área seca / Drywall – OSB (parede) – Ar + Montantes – OSB (parede) – Drywall – Argamassa colante – Placa
área molhada cerâmica
Portas Madeira para porta
Janelas Vidro
Cobertura Chapa cimentícia – OSB (piso) – Ar + Lã Mineral + Montantes duplos – Drywall

O envelope em Light Steel Framing tem suas paredes compostas por camadas, apresentando
diferentes seções transversais, dada a presença dos montantes em perfis metálicos em “U reforçado” a cada
40cm. Para não gerar um aumento excessivo da complexidade na modelagem, uma vez que o modelo de
cálculo do programa considera que cada zona térmica possui comportamento uniforme em todo o seu
volume, desconsiderou-se os enrijecedores dos montantes, conforme Figura 5.
Os componentes compreendidos entre as placas e chapas da vedação vertical (lã mineral, aço
galvanizado e ar) foram considerados na forma de um material equivalente, de maneira a “homogeneizar”
todas as seções transversais de uma parede, gerando um dado de entrada mais adequado à complexidade do
cálculo do software utilizado. Para que a composição original pudesse ser convertida a uma composição
equivalente homogênea, o total das trocas de calor teria de ser equivalente nas duas composições. Desta
forma, igualou-se a soma das trocas de calor ocorridas nas seções dos tipos 1, 2 e 3 (representadas por Q1,
Q2 e Q3 na Figura ) à troca de calor total na seção de material equivalente.

Figura 5 – Esquema da composição original da parede a ser substituída por material equivalente - Sem escala.

Para a inserção do material equivalente no modelo de simulação é exigido pelo software a


transmitância equivalente a qual pode ser determinada pela rotina de cálculo abaixo (Equações 1 a 5).

𝑸𝒕 = 𝑸𝟏 + 𝑸𝟐 + 𝑸𝟑 Equação 1 𝐐 = 𝐔 × 𝐀 × ∆𝐓 Equação 2 𝑨𝒕 = 𝑨𝟏 + 𝑨𝟐 + 𝑨𝟑 Equação 3


𝑼𝒕 × (𝑨𝟏 + 𝑨𝟐 + 𝑨𝟑) × ∆𝑻 = 𝑼𝟏 × 𝑨𝟏 × ∆𝑻 + 𝑼𝟐 × 𝑨𝟐 × ∆𝑻 + 𝑼𝟑 × 𝑨𝟑 × ∆𝑻 Equação 4
𝑨𝟏 𝑨𝟐 𝑨𝟑
𝑼𝒕 = 𝑼𝟏 × + 𝑼𝟐 × + 𝑼𝟑 × Equação 5
(𝑨𝟏+𝑨𝟐+𝑨𝟑) (𝑨𝟏+𝑨𝟐+𝑨𝟑) (𝑨𝟏+𝑨𝟐+𝑨𝟑)
Onde:
• Ai: Área da parede com seção transversal i [m²];
• Qi: Penetração de calor por condução e convecção na área da parede com seção transversal i [W];
• ∆T: Diferença de temperatura entre as duas faces da parede [K];
• Ui: Transmitância térmica da área da parede com seção transversal i [W/(m².K)].

1076
3.2. Avaliação de horas de conforto e desconforto, somente com ventilação natural, de cada
sistema construtivo
A avaliação das horas de conforto promovidas apenas com a ventilação natural foi determinada com base nos
resultados da simulação anual, somando-se para cada ambiente as horas em que a sua condição térmica
interior pode ser considerada adequada para o conforto térmico, segundo o que prevê a ABNT
NBR16401:2008. Desta forma os dados foram agrupados pela estação do ano, dadas as diferenciações das
resistências térmicas das roupas típicas.
Para os dias de verão foram consideradas como vestimentas aquelas com resistência térmica de
0,5clo, de forma que a condição de temperatura para o conforto é compreendida pelo intervalo de 23°C e
26°C, sendo considerada umidade relativa de 35%. Já para os dias de inverno, foi admitida como resistência
térmica da vestimenta padrão 0,9clo de modo que o intervalo de temperatura para o conforto é 21°C a 24°C.
A ventilação natural foi configurada de acordo com a Tabela 7.
Tabela 7 – Caracterização da modelagem da ventilação natural.
Método de modelagem de ventilação Airflow Network
Parâmetro de Controle Temperatura
Setpoint Schedule 23°C
Configurações de abertura e fechamento das aberturas Aberturas totalmente abertas ou totalmente fechadas
Área de fachada Norte e Sul: 105,03m²; Leste e Oeste: 59,56m²
Porcentagem de área de abertura (em relação à área de fachada) Norte: 45,04%; Sul: 22,23%; Leste: 16,02%; Oeste: 16,02%

3.3. Dimensionamento de climatização artificial e avaliação de desempenho energético


Foram considerados ambientes elegíveis à climatização artificial aqueles em que a ocupação é de longa
permanência (salas e dormitórios). Para o dimensionamento, foram impostas as faixas de temperaturas
adotadas para a avaliação de conforto, ou seja, 23°C a 26°C para o verão, 21°C a 24°C para o inverno.
Para avaliação do desempenho energético observou-se o consumo requerido para climatização na
simulação anual.
Tabela 8 – Caracterização da modelagem da climatização artificial.
Método de modelagem da climatização artificial Ideal Load Air System
Parâmetro de Controle Temperatura
Setpoint de ativação (termostato) Verão: ≤ 23°C e ≥ 26°C; Inverno: ≤ 21°C e ≥ 24°C
Tipo de controle de desumidificação Nenhum
Outdoor Air Method Flow/Person – 0,0075 m³/s

4. ANÁLISE DE RESULTADOS
As curvas de temperatura dos recintos com ocupação da simulação dos dois sistemas construtivos estão
ilustrados nas Figura 6 e 7.
(A) (B)

Figura 6 – Temperaturas (°C) no verão, com ventilação natural: (A) Alvenaria; (B) LSF.

1077
(A) (B)

Figura 7 – Temperaturas (°C) no inverno, com ventilação natural: (A) Alvenaria; (B) LSF.
No caso do verão, nota-se que há pouca alteração nas curvas de temperatura com a troca dos sistemas
construtivos. Justifica-se esse fato pela orientação da edificação, pela grande área de aberturas, e pela
programação da ventilação natural, a qual foi habilitada assim que a temperatura interna do ambiente fosse
maior ou igual a 23°C, de forma que o efeito da ventilação natural se sobrepõe à alteração do envelope.
Já no caso do inverno, é possível dizer que as curvas de temperaturas internas do sistema construtivo
LSF estão mais próximas da faixa de temperatura considerada como confortável pela ABNT
NBR16401:2008. O achatamento da curva próximo aos 23ºC se dá pela ventilação natural, acionada pelo
Setpoint de Ventilação.
A adoção do isolamento na cobertura tem impacto pouco significativo na análise de temperaturas
horárias do DesignDay no verão, por conta do Setpoint de Ventilação. Já no inverno pode ser percebida leve
elevação das temperaturas dos ambientes do pavimento superior.

(A) (B)

Figura 8 – Temperaturas (°C) para a edificação em alvenaria, com isolamento na cobertura: (A) no verão; (B) no inverno.

4.1. Horas de conforto e desconforto, somente com ventilação natural


O percentual de horas de conforto (em verde) e desconforto (em azul e vermelho), de ambos os sistemas
construtivos do verão e inverno são demonstrados na Figura 9 e 10, respectivamente. Assim como na
comparação entre os resultados do DesignDay, pode-se notar que não há mudança significativa no percentual
de tempo de conforto no verão com a alteração dos sistemas construtivos. No período do inverno, em
contrapartida, evidencia-se um aumento significativo no percentual de horas de conforto no caso do sistema
construtivo em Light Steel Framing. Ainda que a presença de isolamento térmico na laje de cobertura da
opção em alvenaria tenha um impacto significativamente positivo no tempo de conforto, a opção em Light
Steel Framing ainda se mostra mais eficaz em promover o conforto térmico nos ambientes internos (Figura
11).

1078
Figura 9 – Percentual de tempo de conforto e desconforto do LSF: (A) no verão; (B) no inverno.

(B)
(A)

Figura 10 – Percentual de tempo de conforto e desconforto da Alvenaria: (A) no verão; (B) no inverno.

(A) (B)

Figura 11 – Percentual de tempo de conforto e desconforto da Alvenaria com isolamento térmico na cobertura: (A) no verão; (B) no inverno.

1079
4.2. Consumo de energia do sistema de climatização para garantir as condições de conforto
nos ambientes de permanência da edificação
Os resultados de consumo de energia no consumo de energia está no inverno, sendo o LSF
verão e no inverno estão registrados na Figura 12 mais eficiente do ponto de vista energético.
As construções de padrão econômico em
alvenaria costumam não considerar a adoção de um
isolante térmico sobre a laje de concreto da
cobertura. Porém, o projeto dessas casas também
não contempla as aberturas do projeto arquitetônico
considerado no estudo, tanto em dimensões, quanto
em número. Logo, foi realizada nova simulação com
isolamento para verificar os efeitos sobre o consumo
de energia, com a isolação da cobertura em concreto,
para verificar os resultados (Figura 12). Constatou-
se que com a adoção de isolante térmico sobre a
Figura 12 – Consumo de energia anual para resfriamento e
cobertura de concreto armado, o consumo energético
aquecimento nos três sistemas construtivos. da opção em alvenaria anual cai 31,6%, para
Encontrou-se resultado coerente com as 6.114,95 kWh, se tornando uma opção mais
análises anteriores, ou seja, a maior diferença no eficiente.

5. CONCLUSÕES
A partir dos resultados obtidos na simulação com ventilação natural observou-se que os efeitos do sistema
construtivo sobre o conforto térmico foram pouco significativos frente ao efeito da ventilação, dadas as
grandes aberturas da edificação. Desta forma, o impacto da alteração do envelope apenas pode ser
evidenciado nas situações sem ventilação natural e com climatização artificial. Tanto em relação ao conforto
térmico quanto ao consumo energético foi verificada maior eficiência na edificação com envelope em Light
Steel Framing, a qual apresentou significativamente mais horas de conforto nas ocasiões sem ventilação
natural e um consumo energético para a climatização 23% menor do que a versão com envelope em
alvenaria. Constatou-se, porém, que a opção em alvenaria se torna mais eficiente do ponto de vista
energético com a adoção de isolamento térmico na laje de cobertura, apesar de promover menos horas de
conforto apenas com ventilação natural.
Observa-se, também, que a verificação por curvas de temperaturas horárias dos DesignDays não
representa todos os aspectos relevantes para a escolha de um sistema construtivo pela viabilidade de
desempenho. A sua composição com a verificação de horas de conforto e desconforto, bem como com o
consumo de energia é interessante, principalmente se houver a intenção de adoção de climatização artificial.
Ressalta-se a importância da avaliação de eficiência do sistema construtivo, tanto em relação a horas
de conforto, quanto em relação ao consumo de energia atrelado à climatização artificial.

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1080
AVALIAÇÃO DO CONFORTO TÉRMICO SEGUNDO O MODELO DE
CONFORTO ADAPTATIVO DA ASHRAE 55: ESTUDO COMPARATIVO
ENTRE DUAS ESCOLAS NO SEMIÁRIDO POTIGUAR
Cleyton Santos de Medeiros (1); Virgínia Maria Dantas de Araújo (2); Dayany Barreto
Vasconcelos (3)
(1) Mestrando do PPGAU/UFRN, arquiteto e urbanista, cleytonsantosm@hotmail.com, Campus universitário –
Lagoa Nova, 84 996443290
(2) Doutora, Professora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo – PPGAU/UFRN,
virginiamdaraujo@gmail.com, Campus universitário – Lagoa Nova, 84 994010160
(3) Mestranda do PPGAU/UFRN, arquiteta e urbanista, vasconcelosdb@gmail.com, Campus universitário –
Lagoa Nova, 84 996224932

RESUMO
O conforto térmico é considerado uma exigência humana no campo da arquitetura, uma vez que este faz
parte de um conjunto de aspectos necessários para prover bem-estar dos indivíduos nas edificações. Em
edificações escolares, a preocupação é ainda maior com as condições de conforto térmico, pois as atividades
de ensino-aprendizagem exigem ambientes adequados em seus níveis de temperatura e umidade do ar. Dessa
maneira, a observação empírica de edificações situadas em regiões do clima semiárido nordestino levantou a
atenção de pesquisa, no intuito de saber se o ambiente construído das escolas apresenta condições adequadas
de conforto térmico. Têm-se como recorte geográfico o município de Caicó/RN como representante do
semiárido potiguar. A observação se desenvolve em duas escolas de ensino médio da rede pública. O
objetivo geral do trabalho é identificar o desempenho térmico de ambientes escolares utilizando a abordagem
do conforto adaptativo como método de avaliação de salas de aula. Os procedimentos metodológicos são
determinados pela normativa americana ASHRAE 55, a qual faz uma relação entre a temperatura operativa
dos ambientes com a faixa de conforto obtido das condições externas. O levantamento de parâmetros
ambientais foi feito em dois períodos do ano de 2018: o primeiro no período com condições higrotérmicas
mais amenas; e o segundo, com condições extremas. Os resultados apresentados, direcionam a perspectiva
comparada entre o ambiente construído das duas escolas. Tem-se que as salas de aula da escola CEJA
apresentam melhor desempenho na correlação entre a zona de conforto e temperatura operativa, enquanto a
EECAM apresenta menor desempenho pois as curvas de temperatura operativa ultrapassam o limite de
conforto com ventilação nas duas temporalidades de registro, sendo o período vespertino o que mais
apresenta desconforto térmico aos usuários. Considera-se também, nesse estudo, que aspectos da envoltória
são intervenientes para o menor ou maior desempenho térmico dos ambientes internos das edificações.
Palavras-chave: Conforto térmico adaptativo; Avaliação do conforto térmico; Salas de aula; Semiárido;
Caicó-RN.

ABSTRACT
The thermal comfort is considered as a human requirement in the field of architecture, since it is part in a set
of necessary features that provides well-being to people inside buildings In school buildings, there is even
greater concerning with thermal comfort conditions, since teaching-learning activities require environments
to be adequate in their temperature and humidity levels for this activity. Thus, the empirical observation in
buildings located at region from the northeastern semiarid climate arouses the attention of research in this
article, with the purpose of investigate if the built environment of the school provides well conditions of
thermal comfort in the inner spaces. The region of study representing the semiarid climate is the municipality
of Caicó/RN/Brazil and the investigation is performed in two public high schools. This work aims to identify
the thermal performance from the educational built environment having the adaptive thermal comfort
approach as the evaluation method in the classrooms. The methodological procedures are driven by the

1081
ASHRAE 55, where is found the relation within the operative temperature of the environment and the
comfort zone obtained from the external climate conditions. The environmental parameters collected to
develop the investigation where performed in two periods of 2018: the first period is less critical about the
climate conditions and the second is more critical. The results founded put the schools in a comparative
perspective within the schools, the classrooms in the CEJA school presents a better performance about the
correlation within the comfort zone and the operative temperature, meanwhile the EECCAM school presents
less performance because the operative temperature’s behavior exceeds the comfort limit with ventilation in
the two moments of data and the afternoons as the moment with more thermal discomfort. Also, in this
study is considered that the envelope participates actively as the aspect of better or worse performance of
thermal comfort inside the educational buildings.
Keywords: Adaptive thermal comfort; Thermal comfort evaluation; Classrooms; Semiarid; Caicó-RN.

1. INTRODUÇÃO
O conforto térmico é considerado uma exigência humana no campo da arquitetura, uma vez que este faz
parte de um conjunto de aspectos necessários para prover o bem-estar dos indivíduos nas edificações. Em
edificações escolares a preocupação com o conforto térmico se faz ainda mais presente, pois os usuários
exercem atividades de longa duração e esforço mental de concentração para o aprendizado.
As condicionantes físicas dos sítios, especificamente aquelas relativas ao conforto térmico:
temperatura do ar, umidade do ar, a ventilação e temperatura radiante, são aspectos que incidem sobre o
ambiente e, por conseguinte interagem com os usuários de maneiras distintas e que geralmente é em função
da arquitetura que o abriga, assim como, das condições geoclimáticas de cada região. Posto isso, a
observação empírica sobre as edificações escolares da região do semiárido nordestino levantou a atenção de
pesquisa sobre ambientes que podem apresentar-se como espaços de desconforto aos usuários, uma vez que
o clima semiárido apresenta: baixo índice pluviométrico, alto nível de insolação, elevadas temperaturas
máximas anuais e baixa umidade relativa do ar. Tais características climáticas hostis demandam cuidados
especiais na produção arquitetônica desta região, na intenção de criar ambientes de proteção para aqueles que
ali habitam (BORGES, 2014).
O estudo das condições de conforto térmico se desenvolve nas salas de aula de cada edificação.
Diante desta conjuntura, a investigação levantada neste artigo se desenvolve com o enfoque no conforto
térmico dos ambientes escolares, apresentando um estudo comparativo entre duas escolas de Ensino Médio
da rede pública, a partir da avaliação do conforto térmico no ambiente construído. Tendo como recorte
geoclimático o semiárido do Rio Grande do Norte, mais precisamente a cidade de Caicó, representante do
clima quente e seco e situada na Zona Bioclimática 7 (ABNT, 2005).
Neste artigo, expõe-se uma análise focada na avaliação do desempenho do ambiente construído a
partir dos parâmetros ambientais. Tem-se o modelo de conforto adaptativo como método de avaliação do
conforto térmico dos ambientes internos, o mesmo se caracteriza por ser uma abordagem dinâmica, inserida
nos estudos empíricos que se iniciaram na década de 1990, sua aplicação de pesquisas de campo junto a
correlação das variáveis ambientais coletadas levou a produção de um caminho que relaciona os parâmetros
ambientais do sítio ao potencial de adaptação de seus usuários.
Os teóricos (NICOL e HUMPHREYS, 2002; NICOL, 2004; DE DEAR, BRAGER e COOPER, 1998)
consideram essa abordagem como uma teoria alternativa e complementar à abordagem estática, alegando que
fatores para além de ambientais e fisiológicos exercem papel importante sobre as expectativas dos ocupantes
e suas preferências térmicas. Considera-se assim, a dimensão de adaptação psicológica aos contextos onde as
pessoas interagem com o ambiente, onde a diversidade de experiencias térmicas podem alterar suas
expectativas, suas satisfações e preferências. Os modelos preditivos formulados seguindo a abordagem de
conforto adaptativo combinam as características das teorias estática e adaptativa para avaliar termicamente
os ambientes, logo, as variáveis intervenientes no conforto térmico: ambientais e humanas são consideradas
também na abordagem adaptativa que se encontra na normativa americana (ASHRAE 55, 2017).
Logo, esta avaliação se baseia no comportamento da temperatura operativa das salas de aula,
enquadrando-as em uma faixa de conforto térmico proveniente das condições climáticas externas da escola
ou região em que estas edificações se encontram.
No tópico do método, são detalhados os parâmetros e ferramentas utilizados para produzir a síntese
dos resultados da avaliação.
Os resultados apresentados direcionam a perspectiva comparativa entre o ambiente construído das
duas escolas, portanto, observam-se que aspectos da envoltória são intervenientes para o menor ou maior
desempenho térmico dos ambientes internos das edificações.

1082
2. OBJETIVO
O objetivo do trabalho é identificar o desempenho térmico do ambiente escolar construído, utilizando a
abordagem do conforto adaptativo como método de avaliação das salas de aula.

3. MÉTODO
Os procedimentos metodológicos para avaliar as salas de aulas das escolas em estudo são determinados pelo
levantamento de variáveis ambientais nos espaços internos, uma vez que se tem como caminho de
investigação o comportamento destes ambientes, no tocante às condições de conforto térmico que esses
provêm aos usuários.
Avaliar o desempenho de ambientes é importante para medir a qualidade ambiental, identificar
patologias, observar as respostas humanas e as condições construtivas, e devem fazer parte do processo de
projeto, para evitar a repetição de erros. (KOWLTOWSKI, 2011). Neste estudo o instrumento metodológico
utilizado foi o conforto adaptativo, visto que sua abordagem contemporânea melhor se adequa para as
condições físicas observadas nas instituições de ensino.

3.1. ASHRAE 55 – Avaliação de ambientes naturalmente ventilados.


A normativa ASHRAE 55, pode ser utilizada para traçar recomendações para temperaturas internas
aceitáveis ou para a operação e avaliação de edifícios existentes. Diante disso, os caminhos tomados para
avaliação de ambientes naturalmente ventilados, utilizando a teoria do conforto adaptativo como caminho
teórico-metodológico, tem-se que: a normativa americana apresenta o item 5.4 – Determinando condições
térmicas aceitáveis em espaços condicionados naturalmente com controle dos ocupantes – o qual orienta
sobre os métodos e critérios a serem aplicados para avaliar ambientes naturalmente ventilados, incluindo
então, ambientes térmicos existentes no caso das salas de aula avaliadas (ASHRAE 55, 2017).
A normativa também expõe que é possível o uso de ventilação mecânica sem que o ar seja
condicionado, ou seja, o uso de ventiladores ao mesmo tempo que é essencial a utilização e operação de
fenestração nos ambientes, como reguladores das condições térmicas no espaço. Este caminho de avaliação
do conforto é aplicado somente em espaços onde os ocupantes cumprem atividades próximas às sedentárias,
com taxas metabólicas entre 1.0 a 1.3 met. Os ocupantes são livres para adaptar suas escolhas de
vestimentas, e a faixa de resistência aceitável está entre 0.5 a 1.0 clo.
Como limites de aceitabilidade, foram observados os dados das Equações 1 e 2 disponíveis na seção
5.4.2.2 da ASHRAE 55.

• Limite superior de aceitabilidade térmica (80%) (°C) = 0.31 x Tmpa + 21,3 Equação 1
• Limite inferior de aceitabilidade térmica (80%) (°C) = 0.31 x Tmpa + 14,3 Equação 2

Sendo a Tmpa = Temperatura média predominante do ar, que compreende a entrada da variável de
temperatura do ar externo, utilizado como valor as médias de temperaturas externas por um período de dias
determinados na seção 5.4.2.1 da referida norma, que recomenda uma observação mínima dos 7 dias
anteriores ao dia de observação e não mais do que 30 dias sequenciais ao dia em questão.
A avaliação dos ambientes térmicos, através da normativa americana, relaciona as temperaturas
operativas dos ambientes internos e os parâmetros meteorológicos recentes do sitio onde estes ambientes se
encontram, e dessa maneira, tem-se a definição da faixa de conforto térmico onde a maioria dos indivíduos
se encontrarão em estado de satisfação junto ao ambiente.
As duas mais recentes versões da ASHRAE 55, já consideram os efeitos da ventilação nos ambientes
como um artifício que proporciona conforto. Dessa maneira, a normativa considera e expõe uma tabela
(Tabela 1) que amplia a faixa limite de temperatura operativa, de acordo com as velocidades do ar que se
pode ter nos ambientes internos quando estas se apresentam acima de 0,3m/s:
Tabela 1 - Aumento das temperaturas operativas em função da velocidade do ar nos ambientes internos.
Velocidade média do ar 0.6m/s 0.9m/s 1.2m/s
Aumento do limite da To 1.2 °C 1.8 °C 2.2 °C

Fonte: ASHRAE 55, 2017.

Outro ponto importante da norma é a determinação da To (Temperatura Operativa), apresentada no


Apêndice A, sendo está uma equação que relaciona Tma (temperatura média do ar) com a Trm (temperatura
média radiante), na seguinte equação:
Top = A x Tma + (1 – A) x Trm Equação 3

1083
Onde:
Top = Temperatura operativa
Tma – Temperatura média do ar
Trm = Temperatura radiante média

Participa da equação um fator “A”, em função da velocidade média do ar. O fator “A” é retirado para
cálculo da equação a partir da Tabela 2, abaixo:

Tabela 2 - Obtenção do fator A para cálculo da Temperatura Operativa.


Velocidade média do ar < 0.2m/s 0.2 a 0.6m/s 0.6 a 1.0 m/s

Valor de A 0.5 0.6 0.7

Fonte: ASHRAE 55, 2017.

Considera-se então, que o levantamento das variáveis ambientais internas vai ao encontro da obtenção
da Top (Temperatura operativa), a fim de que se possa avaliar o desempenho térmico que o ambiente
construído apresenta, tendo como parâmetros os cálculos das faixas de conforto a partir da seção 5.4 da
normativa americana e seus complementos nas demais seções.

3.2 Edificações escolares analisadas.


A seleção das edificações escolares no município de Caicó se desenvolveu através dos critérios do próprio
método adotado para avaliar ambientes internos, com isso foram eleitas as duas principais instituições do
Ensino Médio da rede pública na cidade, pois as demais escolas já passam por um processo de
condicionamento artificial de suas salas, fato que impossibilita avaliar de forma mais realista o desempenho
do ambiente construído quanto às condições de conforto nos ambientes internos.
Dessa maneira, a investigação se desenvolveu em duas instituições educacionais que tem diferenças
marcantes entre suas arquiteturas. São estas:

3.2.1 – Centro Educacional José Augusto – CEJA.


A Escola Estadual Professor José Augusto, mais conhecida como Centro Educacional José Augusto (Figura
1), é uma escola de arquitetura modernista inaugurada em 1960. Na edificação as salas estão divididas entre
dois blocos edificados principais, sendo o bloco 2, o setor selecionado para a investigação pelo fator de ser
um bloco de dois pavimentos parcialmente sob pilotis. Estes blocos são implantados em suas maiores
fachadas direcionadas em Noroeste (fachada principal) e Sudeste (fachada posterior).

Figura 1 – Foto da escola CEJA analisada na pesquisa.

A escolha das salas se deu pela disponibilidade da agenda escolar, pois as salas foram monitoradas
durante o pleno funcionamento das atividades. No CEJA, foram avaliadas 4 salas, sendo a Sala 1; 2 e 3 no
pavimento térreo e a Sala 4 no segundo pavimento.

3.2.2 – E. E. Calpúrnia Caldas de Amorim – EECCAM.


A Escola Estadual Professora Calpúrnia Caldas de Amorim, mais conhecida pelas suas siglas EECCAM
(Figura 2), é uma escola de Ensino Médio que abriga a maior população de estudantes desse nível de
escolaridade na rede estadual da cidade. A escola foi inaugurada na década de 1980 e possui elementos
compositivos pré-fabricados em aço nos pórticos e cobertura, sendo a vedação de alvenaria convencional.

1084
Figura 2 – Foto da escola EECCAM analisada na pesquisa.

A observação das salas de aula no EECCAM ocorreu nos dois setores de aulas existentes, divididos
em dois blocos térreos edificados com as mesas características, com uma implantação longitudinal no sentido
Norte/Sul, deixando as menores facadas no sentido Leste/Oeste. Nesta escola foram analisadas 5 salas, sendo
as salas 2; 5.1 e 7 pertencentes ao bloco 1. Salas 1 e 5.2 pertencentes ao bloco 2.

3.3 Instrumentos utilizados para obtenção das Variáveis Ambientais.


A observação do comportamento das salas de aula, a partir das temperaturas operativas junto às faixas de
conforto, seguindo a normativa americana só é possível a partir de variáveis ambientais coletadas no
ambiente interno de cada sala. Com isso foram utilizados instrumentos que coletaram as seguintes variáveis:
temperatura do ar, umidade relativa do ar, temperatura de globo (derivando em temperatura radiante média) e
velocidade do ar.
Na pesquisa foram usados 3 termohigrômetros, Figura 3, o
mesmo permite o registro de dados de forma automática a partir de
programação prévia. Neste estudo foram programados o levantamento
no intervalo de 5 minutos a cada registro, e foram registrados o
comportamento de 24 horas do ambiente das salas de aula. O aparelho
utilizado foi do modelo HT – 500 Instrutherm, com resolução de 0,1 °C
e exatidão da medição da temperatura de +1°C. Resolução de 0,1% de
UR, e exatidão da medição de umidade relativa de +3%. Os dados
registrados são depois transferidos para um computador para
Figura 3 – Medidores do tipo HOBO. visualização.
O termômetro de globo foi produzido para a coleta de dados a partir
de experiências prévias sobre o levantamento da temperatura radiante em
outros ambientes. O globo de alumínio (GA) foi construído a partir de duas
conchas (hemisférios) para refeitório (Nº 15) em que foram soldadas para
formar uma esfera de 0.15m de diâmetro, com 2.0mm de espessura, como
observado na Figura 4. Segundo experimentos expostos por Oliveira e
Pedrini (2017), este globo de alumínio mostra-se possível de utilização em
substituição ao globo de cobre, porém deve-se considerar às exigências
relativas ao tempo de resposta para registro da temperatura. O conjunto de
se configura como um termômetro de globo com a colocação de um
datalogger dentro da esfera que registra os dados programados de
Figura 4 – Medidores do tipo HOBO.
temperatura radiante.
O anemômetro digital AD 250 da Instrutherm foi utilizado no primeiro período de coletas, por
questões técnicas (Figura 5), em seguida, no segundo período de levantamento foi utilizado o
termoanemômetro de fio quente, mais adequado para ambientes internos com baixas velocidades do ar
(Figura 6).

1085
Figura 5 –. Anemômetro digital Figura 6 –. Termoanemômetro

A velocidade do ar no presente estudo foi ponderada pela dificuldade de obter dados contínuos.
Dessa maneira foi feita convenções e ponderações sobre a ventilação e o respectivo Fator A (ASHRAE,
2017), apresentadas nas Tabelas 3 e 4:
Tabela 3 - Ventilação das salas de aula - CEJA
Período 1 Período 2
SALA
Velocidade do Ar Fator A Fator A
OBSERVADA
(m/s) (ASHRAE 55) Velocidade do Ar (ASHRAE 55)
0,3 sem aula 2,0 0,3 sem aula 1,3 durante
SALA 1 0,6 e 0,7 0,6 e 0,7
durante aulas aulas
0,3 sem aula 0,7 0,3 sem aula 0,6 durante
SALA 2 0,6 e 0,7 0,6
durante aulas aulas
0,3 durante aulas e 0,3 sem aula 0,6 durante
SALA 3 0,6 0,6
sem aulas aulas
0,3 sem aula fechada 0,0 - Sala sem ventilação
SALA 4 0,6 e 0,7 0,5
e 2,5 durante aulas cruzada e sem aula
Tabela 4 - Ventilação das salas de aula - EECCAM
Período 1 Período 2
SALA
Velocidade do Ar Fator A Fator A
OBSERVADA
(m/s) (ASHRAE 55) Velocidade do Ar (ASHRAE 55)
SALA 1 0,8 0,7 1,0 0,7
SALA 2 0,6 0,6 1,0 0,7
SALA 5.1 1,1 0,7 0,6 a 1,0 - 0,8 média 0,7
SALA 5.2 0,4 0,6 0,7 a 1,0 - 0,85 média 0,7
SALA 7 1,1 0,7 1,3 0,7

O levantamento de parâmetros ambientais foi feito em dois períodos do ano de 2018: o primeiro no
período com condições higrotérmicas mais amenas; e o segundo, com condições extremas que representa a
condições de clima quente e seco com alta amplitude térmica e registro de temperaturas máximas anuais
como visto no Gráfico da Figura 7.
A escolha dos períodos de coleta
de dados se desenvolveu a partir da
Temperatura Máxima
observação do comportamento da
Temperatura Mínima temperatura e umidade no município de
Caicó. As medições ocorreram nas
UMIDADE RELATIVA DO AR (%)

Temperatura média
TEMPERATURA DO AR (°C)

seguintes situações:
Umidade relativa
Registro no período das mínimas
temperaturas do ar no município de
Caicó = Junho e Julho.
20 40
Out…

Dez…
Ma…
Fev…

Ago…
Jan…

Set…

No…
Jun…

Registro no período quente e seco no


Julho
Abril
Maio

Nordeste brasileiro, feito entre os meses


Figura 7 – Comportamento higrotérmico anual na cidade de Caicó – INMET de Outubro e Novembro.
2018.
O registro das variáveis ambientais se desenvolveu num período de 24h em cada sala, sendo feita a
locação dos equipamentos ao fim da tarde por questões de viabilidade com a agenda escolar, registrando
assim até o fim da tarde do dia seguinte. A coleta das velocidades do ar ocorreu em quatro momentos entre
período da manhã e tarde e, por conseguinte, feitas ponderações registradas nas Tabelas 3 e 4.

1086
4. RESULTADOS
A seguir serão apresentados os resultados referentes as análises realizadas nas duas escolas pesquisadas, nos
dias 20/06 a 12/07/2018 (período 1) e 22/10 a 07/11/2018 (período 2), os resultados apresentados,
direcionam a perspectiva comparada entre o ambiente construído das duas escolas junto a observação das
curvas de comportamento das temperaturas internas de cada sala. Ao final, pontua-se que aspectos da
envoltória são intervenientes para o menor ou maior desempenho térmico dos ambientes internos das
edificações.

4.1. A avaliação do conforto na Escola CEJA.


4.1.1 O comportamento da temperatura do ar.
Nas Figuras 8 e 9, observa-se a temperatura do ar das salas de aula na escola CEJA, onde o primeiro período
houve maior ocorrência de variação entre as salas de aula devido a eventos de chuva ocorridos durante o
registro. Sobre a relação entre a temperatura do ar interna e externa, considera-se que esta relação é
discrepante quando se espera que a temperatura interna seja menor, o que não ocorre devido a temperatura
externa ser advinda de um arquivo climático por problemas na estação meteorológica da cidade à época. O
que se pode afirmar é que a temperatura interna das salas está distante em 2°C da máxima e mínima retirada
das médias externas do período. Diferente da primeira etapa de levantamento, a segunda observação
apresentou pouca variação entre suas salas, no turno matutino foi registrada a maior variação entre os
ambientes, enquanto no interior da sala foi registrado em torno de 29,5°C seu exterior apontava 25°C, às 8h.

Figura 8 - Gráfico do comportamento da Temperatura do ar no Figura 9 – Gráfico do comportamento da Temperatura do ar


período 1. no período 2.

4.1.2 A síntese entre o comportamento da Top e as faixas de conforto.


Nesta análise foi elaborada uma síntese entre o comportamento da temperatura operativa e a faixa de
conforto para as duas etapas de levantamento conforme apresenta as Figuras 10 e 11. Comparando os dois
momentos observa-se que no primeiro período de análise ocorreu uma maior incidência de salas dentro da
faixa de conforto, enquanto no segundo período de levantamento um maior número de salas permaneceu
acima do limite estabelecido, comprometendo principalmente as aulas do turno vespertino da referida escola.

Figura 10 – Gráfico do comportamento da temperatura operativa Figura 11– Gráfico do comportamento da temperatura operativa
no período 1. no período 2.

4.2. A avaliação do conforto na Escola EECCAM.


4.2.1 O comportamento da Temperatura do ar.
Na escola EECCAM os registros da temperatura do ar apresentaram variações significativas entre os dois
momentos de levantamento, como visto nas Figuras 12 e 13. No primeiro período de observação a maior
variação entre ambientes ocorreu às 6h, onde a temperatura interna registrada foi 24,8°C, enquanto seu
exterior 21°C, a diferença de dados também foi vista ao longo de todo o dia entre as salas de aula, chegando-

1087
se aos valores de 27,2°C para a sala 1 e 33,4°C para a sala 5.2, um intervalo em torno de 6°C. No período 2
de observação as temperaturas das salas tomam curvas semelhantes e se chegam aos mesmos valores das
temperaturas externas entre o fim da tarde a o início da madrugada.

Figura 12 – Gráfico do comportamento da Temperatura do ar no Figura 13 – Gráfico do comportamento da Temperatura do ar no


período 1. período 2.
4.2.2 A síntese entre o comportamento da Top e as faixas de conforto.
Analisando individualmente o cruzamento de informações entre a faixa de conforto e a temperatura
operativa, nota-se que no primeiro período de levantamento três salas ultrapassaram o limite máximo, sala 7,
5.2 e 2, sendo um maior número de horários dentro da zona (Figura 14). Durante a segunda observação
(Figura 15), nota-se que os registros estão acima do limite estipulado pela temperatura operativa, 9h às 22h
os registros foram superiores ao “limite superior com ventilação”.

Figura 14 – Gráfico do comportamento da temperatura operativa Figura 15 – Gráfico do comportamento da temperatura operativa
no período 1 no período 2.

4.3. Considerações sobre o conforto térmico nas escolas em perspectiva comparada.


4.3.1 Percentual de horas em conforto.
Na Figura 16 observa-se uma comparação entre o percentual de
horas em conforto calculadas de forma global para as salas de aula
de cada escola. desta forma sendo possível observar que na escola
CEJA 17% dos alunos estavam em desconforto, enquanto na
EECCAM 28%. No entanto, quando há ventilação em torno de 1m/s
Figura 16 – Gráfico de POC no período 1. a escola CEJA apresenta 100% das horas de funcionamento em
conforto para essa temporalidade do ano. No segundo período de
análise em ambas instituições (Figura 17), foi percebido uma maior
porcentagem de horas em desconforto para os usuários. No CEJA,
41% dos registros de Top apresentaram desconforto ao calor, e 23%
ao calor mesmo com uso da ventilação, enquanto no EECCAM 47%
de horas de análise encontraram-se acima do limite, além de 32% de
horas de desconforto mesmo com ventilação.
Figura 17 – Gráfico de POC no período 2.

1088
As porcentagens de horas em conforto são próximas nas duas escolas quando analisada dentro da
temporalidade de período quente e seco com alta amplitude térmica, no entanto se observa um maior
percentual para a escola EECCAM. Na primeira temporalidade de registro a escola CEJA apresenta um
melhor desempenho com apenas 17% de horas em desconforto e alcança 100% de horas em conforto se é
utilizada ventilação na ordem de 1m/s.
Uma consideração importante a ser feita sobre o uso da ventilação nas edificações situadas em clima quente
e seco é que em determinadas horas do dia essa estratégia considerada importante para atenuar o desconforto
nos usuários, não se efetiva em determinados períodos do ano, pois estudos expõe que massas de ar advindas
do ambiente externo acima de 33°C são capazes de potencializar o desconforto ao calor (GIVONI, 1998).

4.3.2 Considerações sobre o ambiente construído das escolas em estudo.


Entende-se que as trocas térmicas entre o ambiente construído das salas de aula e os usuários desses espaços
se dá majoritariamente através da envoltória construída, dos sistemas construtivos aplicados na materialidade
da arquitetura. Os diagramas das Figuras 18 e 19, apresentam análise de alguns aspectos do invólucro
construído das salas de aula analisadas.

1- O maior volume das salas de aula, pelo pé direito mais alto (3,50m) junto com a ventilação cruzada contribui para a dissipação
mais rápida dos ventos quentes. 2 - A ventilação nas salas de aula ocorre de forma mais efetiva por conta da disposição de elementos
vazados na parte superior das paredes, o que permite uma maior possibilidade de exaustão do vento quente. Ao mesmo tempo que
permite uma maior infiltração dessas massas de ar com altas temperaturas que não atenuam o desconforto ao calor nos meses de
clima quente e seco mais crítico. 3 - A circulação disposta de forma linear na Fachada Noroeste, adjacente às salas de aula, permite
uma proteção da radiação direta nas paredes das salas de aula. 4 - O sistema é de alvenaria convencional, porém o aumento da
espessura nas paredes externas principalmente da fachada Sudeste com cerca de 40cm proporciona maior resistência à troca da
radiação por condução e há um atraso térmico maior da energia de calor para dentro do ambiente. 5 - A cobertura apresenta alta
condutividade da radiação por ser de fibrocimento, no entanto, essa transferência de energia é atenuada pela laje de concreto armado
que oferece uma resistência e atraso térmico maior. Ao mesmo tempo, as salas do térreo recebem menos ganho de calor advinda da
cobertura.
Figura 18 – Diagrama sobre aspectos da envoltória na escola CEJA.

1089
1 - A cobertura de telha em fibrocimento não é uma solução adequada ao sistema por ser leve e de alta condutividade térmica, em
baixa latitude existe uma alta taxa de carga térmica pela cobertura. 2 - A ventilação cruzada não se efetiva nessas salas de aula de
forma completa, pois não há aberturas para a saída da pressão positiva das massas de ar, exceto a porta de entrada. 3 - O forro de
PVC, apesar de ter baixa condutividade térmica, ainda permite a passagem da radiação advinda da cobertura para o ambiente interno
da sala de aula. 4 - A infiltração de ventilação pelo ático da coberta impedida pela vedação da cobertura nas fachadas Leste/Oeste.
Isso contribui para o aprisionamento do calor que passa a ser transmitido para os ambientes internos. 5 - As aberturas são protegidas,
no entanto suas dimensões generosas permitem a infiltração de ar em momentos do ano em que a ventilação não atenua o desconforto
térmico nos indivíduos. 6 - O sistema de alvenaria convencional com 15cm de espessura geral, composta por tijolos cerâmicos e
argamassa, tem um desempenho térmico menor no aspecto de inércia térmica, provocando um menor atraso térmico e mas horas de
desconforto ao calor como atesta os gráficos de POC.
Figura 19 – Diagrama sobre aspectos da envoltória na escola EECCAM.

5. CONCLUSÕES
Como resultados, tem-se que as salas de aula da escola CEJA apresentam melhor desempenho na correlação
entre a zona de conforto e temperatura operativa, enquanto a EECAM apresenta pior desempenho pois os
dados de temperatura operativa ultrapassam o limite de conforto com ventilação nas duas temporalidades de
registro, sendo o período vespertino o que mais apresenta desconforto térmico aos usuários.
Ao mesmo tempo, no período mais crítico do ano com relação ao clima da região, as duas escolas
apresentam horas em desconforto ao calor, e pode-se considerar que a ventilação mecânica ou natural não
auxilia na atenuação do desconforto devido às altas temperaturas registradas acima de 33°C.
Observa-se que nos diagramas produzidos sobre a envoltória, são explanados de forma qualitativa
aspectos do sistema que contribui em menor ou maior grau para o desempenho do ambiente térmico das salas
de aula, onde através dos fenômenos de troca térmicas e conservação de energia o ambiente construído, as
edificações em análise pode prover os espaços internos com mais ou menos horas de conforto térmico,
dependendo das propriedades térmica dos sistemas construtivos. Em perspectiva comparada, pode-se
considerar que a escola CEJA, construída antes da escola EECCAM apresenta, apesar da temporalidade de
construção, um melhor desempenho do ambiente construído e mais horas em situações de conforto térmico
para os usuários das salas de aula. Tal situação contraria situações em que as novas construções seriam ainda
melhores com relação aos projetos anteriores como aponta Scheneider (apud Kowaltowski, 2011): a maioria
dos estudos sobre conforto e ambiente escolar demonstra que edifícios mais novos proporcionam iluminação
natural de boa qualidade, e o conforto térmico e a qualidade do ar também são melhores se comparados aos
prédios mais antigos.
A faixa de conforto estipulada para os dois momentos se aproxima em seus valores sendo o intervalo
de 23°C a 30°C no período 1, enquanto que no período 2 a faixa compreende o intervalo de 24 a 31°C,
entende-se que pelo fato do clima semiárido apresentar alta amplitude térmica, como uma amplitude de 15°C
no período 2 faz com que as médias não representem tão fielmente o comportamento da temperatura no
período diurno que atinge cerca de 5°C acima do limite de 31°C estipulado pelo algoritmo da normativa. Tal
fato pode não representar fielmente a tolerância às maiores temperaturas na região objeto de estudo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT. Desempenho térmico de edificações - parte 3: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para
habitações unifamiliares de interesse social - NBR 15220-3. ABNT. Rio de Janeiro, NBR15220-3, 2005b.
ASHRAE STANDARD 55 - 2017. Thermal environmental conditions for human occupancy. Atlanta, Georgia: American Society
of Heating Refrigerating and Air-Conditioning Engineers, 2013.
DE DEAR, R.; BRAGER, G.; COOPER, D. Developing an Adaptive Model of Thermal Comfort and Preference. Macquarie
Research Ltd., Macquarie University, Sydney, NSW 2109, Australia (1998).
GIVONI B., Climate considerations in building and urban design. John Wiley & Sons, Inc, New York (1998).
KOWALTOWSKI. Doris C. C. Arquitetura escolar, o projeto do ambiente de ensino. Oficina de textos, São Paulo. 2011.
NICOL, F; HUMPHREYS, M. Adaptive thermal comfort and sustainable thermal standards for buildings. Energy and
Buildings. 34 pp.563-572. 2002.
NICOL, F;. Adaptive thermal comfort standards in the hot humid tropics. Energy and Buildings. 36 pp.627-637. 2004.
OLIVEIRA, A.; PEDRINI, A. Aplicabilidade de globos de materiais alternativos em termômetros de globo. In: XIV Encontro
Nacional e X Encontro Latino-americano de Conforto no Ambiente Construído, 2017, Balneário Camboriú, Anais... ENCAC 2017.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq e CAPES, pelas bolsas de mestrado concedidas que ajudaram a desenvolver
a pesquisa.

1090
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DA VENTILAÇÃO NATURAL EM
AMBIENTE DE INTERNAÇÃO HOSPITALAR EM MACEIÓ/AL
Alexandre H. P. Silva (1); Fernando A. M. S. Cavalcanti (2); Érico A. de Oliveira (2); Juliana
O. Batista (4)
(1) Arquiteto, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas do Espaço Habitado,
aalexandrearq@gmail.com
(2) Dr., Professor Adjunto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, fernando.antonio@fau.ufal.br
(3) Arquiteto, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas do Espaço Habitado,
ericoalbuquerqueo@gmail.com
(4) Drª, Professora Adjunta da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, juliana.batista@fau.ufal.br
Universidade Federal de Alagoas, Cidade Universitária, Tabuleiro dos Martins, Maceió/AL. Caixa Postal:
570729-70, Tel.: (82) 3214-1309

RESUMO
A utilização de estratégias passivas visando o conforto térmico dos usuários, principalmente no ambiente
hospitalar, em que estas questões merecem maior atenção, é de suma importância, explorando os
condicionantes naturais com tecnologias que ajudem a economizar energia propondo ambientes mais
agradáveis através da ventilação natural. O objetivo deste trabalho é observar o comportamento do fluxo de
ar numa enfermaria do setor de pediatria do Hospital Universitário de Alagoas professor Alberto Antunes,
comparando com os parâmetros de conforto ambiental pela ASHRAE 55/2013, método adaptativo. Foram
realizadas seis medições da velocidade do ar e temperatura ao longo de três horas de permanência no
ambiente, sendo realizadas medições a cada trinta minutos. Em todas as medições houve ventilação com
velocidade superior a 0,3 m/s, influenciando de forma positiva na sensação térmica dos usuários em todos os
pontos e horários medidos, com maior incidência de ventilação nos leitos próximos às janelas. A velocidade
do ar, num ambiente localizado no terceiro andar, orientado a Leste, contribuiu para colocar quatro dos seis
pontos dentro da faixa de aceitabilidade da Norma, e que pelos brises verticais instalados externamente às
aberturas estarem com seu sistema de regulagem de direcionamento danificados, interferem numa melhor
distribuição dos fluxos de ar.
Palavras-chave: ventilação natural, ambiente hospitalar, velocidade do ar.

ABSTRACT
The use of passive strategies aimed at the thermal comfort of users, especially in the hospital environment,
where these issues deserve more attention, is of paramount importance, exploring the natural conditions with
technologies that help to save energy by proposing more pleasant environments through natural ventilation.
The objective of this study is to observe the behavior of the airflow in a pediatrics ward of the University
Hospital of Alagoas professor Alberto Antunes, comparing with the parameters of environmental comfort by
the ASHRAE 55/2013, adaptive method. Six measurements of the air velocity and temperature were carried
out during three hours of permanence in the environment, being measured every thirty minutes. In all
measurements, there was ventilation with velocity greater than 0.3 m / s, positively influencing the users'
thermal sensation at all points and times measured, with a higher incidence of ventilation in the beds near the
windows. The air velocity in an environment located on the third floor, orientated to the East, contributed to
place four of the six points within the range of acceptability of the Standard, and that by the vertical brises
installed outside the openings are with their steering regulation system damaged, interfere in a better
distribution of the air flows.
Keywords: natural ventilation, hospital environment, air speed.

1091
1. INTRODUÇÃO
A utilização de conceitos e estratégias considerando o clima local onde um edifício será construído pode
influenciar significativamente no desempenho e conforto térmico do mesmo e seus usuários. Isso interfere
nos próprios custos com operação e manutenção, uma vez que para promover o conforto que o usuário
necessite em casos de uma edificação não adaptada ao clima, haverá maior custo em energia para se chegar
aos índices ideais de conforto térmico. Nas últimas décadas, tem-se percebido uma busca por meios mais
sustentáveis de diminuir o consumo de energia elétrica e água também, nos ambientes hospitalares, e de
transformá-los em locais mais saudáveis e eficientes. Os hospitais são locais que demandam mais atenção no
que tange o consumo de energia elétrica, por funcionarem 24h por dia, e sobretudo à saúde, ao conforto e ao
bem estar dos usuários, pois se os usuários não estiverem em um ambiente onde o conforto ambiental não se
faça presente em suas variáreis (térmico, acústico, lumínico, ergonômico), este período de permanência tende
a ser ainda mais desgastante. Assim, conceitos para uma arquitetura bioclimática em áreas não críticas vêm
sendo consideradas e adotados em novos projetos e em reformas e ampliações nos Edifícios Assistenciais de
Saúde (EAS). A arquitetura bioclimática preocupa-se com a adequação da construção ao clima, visando ao
conforto térmico, acústico e visual do usuário. (CORBELLA; CORNER, 2011). É necessário utilizar e
explorar estes condicionantes naturais, combinados com tecnologias que ajudem a evitar ganhos térmicos
que aumentem gastos com ar condicionado, entre outros fatores.
Segundo Mills (2004) o uso de ventilação natural em espaços hospitalares, contrinui para a redução
de contaminação do ar, por exemplo, no Reino Unido, as salas de enfermaria e internação de pacientes
devem priorizar o uso de ventilação natural por meio de aberturas como janelas, enquanto que o guia de
Projeto de Refrigeração e Ar condicionado da ASHRAE (ASHRAE, 2007) recomenda que todos estes
ambientes devem ser mecanicamente ventilados, o que gera uma discussão acerca do tema, pois sabe-se que
boa parte do consumo de energia de uma edificação hospitalar é utilizada para purificação do ar em seus
sistemas de refrigeração.
Os sistemas de controle ambiental nos EAS abrangem duas dimensões: a que considera o edifício em
sua finalidade de criar condições desejáveis de salubridade, e a que observa os impactos causados pelas
construções, alterando, positiva ou negativamente, suas condições climáticas naturais (ANVISA, 2002).

2. OBJETIVO
O trabalho se propõe a observar o comportamento do fluxo de ar numa enfermaria do setor pediátrico do
Hospital Universitário professor Alberto Antunes, da Universidade Federal de Alagoas, analisando se os
dados locais encontram-se dentro do parâmetros dos requisitos adequados de conforto indicados pela
ASHRAE 55/2013, medindo in loco a velocidade e temperatura do ar e avaliando o desempenho térmico e
ventilação natural da enfermaria pediátrica, num intervalo de 3 horas (10h às 13h).

3. MÉTODO
Para atender aos objetivos propostos, a pesquisa realizou as seguintes etapas metodológicas principais:
1- Escolha do objeto de estudo para avaliação da ventilação natural;
2- Medição in loco da velocidade e temperatura do ar (externamente e internamente);
3- Avaliação do desempenho térmico e ventilação natural do ambiente de enfermaria hospitalar
utilizando como parâmetros os requisitos adequados de conforto indicados pela ASHRAE Standard
55-2013, além de dados bibliográficos disponíveis na literatura.

3.1. O objeto de estudo


Nesta etapa foi feita uma visita ao local de análise para levantamento de dados, observando as características
tipológicas e construtivas do objeto de estudo. Foram analisadas a orientação do ambiente, as estratégias de
ventilação existentes, bem como materiais utilizados, a vegetação e o entorno. Em seguida foram analisadas
a frequência e direção dos ventos ao longo de 3 horas em que foram realizadas as medições (10h às 13h).
A edificação em estudo compreende uma unidade de internação ambiental (ver figura 1), situada no
terceiro andar do Hospital Universitário de Alagoas.

1092
Figura 1 – Planta baixa 3º andar Hosp. Universitário – setor Pediatria. (Ger. Infraestrutura HU, adaptado pelos autores, 2017).

A área hachurada da figura acima corresponde à enfermaria, de área 40m², contendo 5 leitos de
internação. As janelas localizam-se a Leste, estando assim, situadas, em função da orientação do edifício,
em posição favorável à ventilação natural. As janelas constituem-se em esquadrias do tipo basculante e
maxim-ar, com bandeira central fixa (figura 2).

Figura 2 – Esquadrias maxim-ar da enfermaria

3.2. Medições in loco


As medições da velocidade e temperatura do ar foram realizadas externa e internamente, e os valores
utilizados serão a média aritmética das medições em cada ponto (Figura 3) realizados entre as 10h e 13h do
dia 06 de dezembro de 2017. Foram realizadas 6 medições ao longo de 3 horas de permanência no ambiente,
sendo realizada medição a cada 30 minutos. O monitoramento externo foi realizado em um ponto (P7),
situado na orientação Leste, defronte a parede externa da enfermaria (Figura 4). O clima no dia das medições
apresentava-se nublado e sem chuva.

Figura 3 – Pontos de medição internos. Figura 4 – Pontos de medição internos.

1093
Para a medição da velocidade do vento no ambiente interno, foi utilizado equipamento termo
anemômetro de fio quente da marca Highmed. Para a medição da temperatura do ar no ambiente interno e
velocidade do vento externo à edificação, foi utilizado equipamento termo higro anemômetro luxímetro
digital da marca Lutron, modelo LM-8000, ambos os equipamentos representados nas Figuras 5 e 6:

Figura 5 - Termo anemômetro de fio quente. Figura 6 – Termo higro anemômetro luxímetro digital.

3.3. Parâmetros para análise dos resultados


Para avaliação do desempenho da temperatura da enfermaria foram utilizados como parâmetros os requisitos
adequados de conforto indicados pela ASHRAE 55 (2013). A norma especifica as condições aceitáveis do
ambiente térmico para indivíduos saudáveis ocupando um espaço por mais de 15 minutos.
De acordo com a ASHRAE 55 (2013), para espaços naturalmente condicionados faz-se uso do
método adaptativo. O mesmo é aplicável somente quando os ambientes e os ocupantes atendam os seguintes
critérios: (a) não há sistema de refrigeração mecânica em uso; (b) as taxas metabólicas variem de 1,0 a 1,3
MET (significa uma taxa de metabolismo para uma pessoa inativa sentada ou em pé); e (c) os ocupantes são
livres para adaptar suas roupas às condições térmicas dentro de uma faixa de 0,5 a 1,0 clo (unidade de
medida da resistência térmica da roupa) (ISO 7730, 2005).
A teoria adaptativa determina que ao ocorrer mudanças de temperatura que causem desconforto, as
pessoas reagem de forma a tentar fazer com que seu corpo retorne ao estado de conforto (ASHRAE 55,
2013).
A mesma também explica que, para determinar condições térmicas aceitáveis em espaços
naturalmente ventilados, depende parcialmente do clima externo a esses ambientes (ASHRAE 55, 2013).
A ASHRAE Standard 55 (2013) sugere que, para análise de conforto térmico pessoal, seja utilizada a
temperatura do ar operativa interna e a média de, no mínimo, sete dias antes do dia da medição da
temperatura do ar externa.
A temperatura operativa é uma média ponderada entre a temperatura do ar e a temperatura radiante.
Nesse artigo, foi medida apenas a temperatura do ar. Foi considerado que a temperatura do ar equivale à
temperatura radiante média. Logo, será considerado que a temperatura operativa será igual à temperatura do
ar.
Em ambientes com temperatura operativa acima de 25ºC onde a velocidade da ventilação no espaço
seja superior a 0,3m/s, os limites da temperatura operativa aceitáveis para o conforto podem ser aumentados.
Contudo, a ASHRAE sugere que, para auxiliar na melhoria do conforto humano em climas quentes, a
velocidade do ar se limita em até 1,2m/s (Tabela 1).

1094
Velocidade do vento Aumento do limite da
temperatura operativa
0,6 m/s 1,2 °C
0,9 m/s 1,8 °C
1,2 m/s 2,2 °C
Tabela 1 – Aumento do limite da temperatura operativa resultante de velocidades do ar acima de 0,3m/s. (ASHRAE Standard55,
2013).

O recomendado para Maceió são velocidades do ar de 0,4m/s para temperaturas entre 24°C e 27°C;
0,41m/s à 0,8m/s para temperaturas entre 27°C e 29°C e acima de 0,81m/s para temperaturas entre 29°C e
31°C (QUADROS, 2016). De acordo com a ASHRAE (2013), para fins de aprovação, é necessário se ter no
mínimo 80% de aceitabilidade, embora, o ideal de confortabilidade é que a aceitabilidade seja igual ou
superior a 90% (Figura 7).

Figura 7 – Limites aceitáveis da temperatura operativa para espaços condicionados naturalmente para velocidade do ar de até 0,3 m/s.

Para análise dos resultados foi utilizada a ferramenta online de conforto térmico disponibilizado pela
CBE, que segue os parâmetros indicados pela ASHRAE-55.

4. RESULTADOS
Os resultados apresentados foram organizados dessa forma:

4.1. Análise da temperatura e da velocidade do ar


Como citado acima, para fins de cálculos da temperatura do ar externa, deve ser feita uma média de, no
mínimo, sete dias antes do dia da medição. De acordo com o INMET, a média da temperatura entre os dias
28 de novembro e 06 de dezembro (dia da medição) foi de 27,04ºC.
A figura 8 apresenta a temperatura operativa em
cada ponto nos horários de 10:30h à 13:00h. As medições
tiveram intervalo de 30 minutos entre elas, totalizando 6
medições para cada ponto.
Comparando a variação da temperatura externa
com a interna, nota-se que com exceção da medição no
P1 e P2 às 10:30h e P3 às 11:30h, a temperatura externa
se manteve abaixo da temperatura interna na maioria das
medições. Isso ocorre devido à incidência da luz solar
nascente na face externa da parede da enfermaria.
Fazendo com que haja ganho de calor, por convecção,
para o interior do ambiente nesse horário e,
Figura 8 – Temperatura operativa (°C)
consequentemente, haja aumento na temperatura interna.

1095
A figura 9 apresenta a velocidade do
TEMPERATURA OPERATIVA (°C)
ar calculada nos mesmo pontos e horários da
10:30 11:00 11:30 12:00 12:30 13:00 MÉDIA
medição da temperatura operativa. P1 29,9 30,9 30,9 31,5 31,7 31,0 31,0
P2 30,1 31,0 30,8 31,6 31,7 31,3 31,1
Embora haja variação de velocidade, P3 30,6 31,1 30,0 30,7 30,7 30,4 30,6
percebe-se que em todas as medições há P4 32,4 31,0 30,8 31,1 31,5 30,9 31,3
incidência de ventilação com velocidade P5 33,1 31,2 30,9 31,5 31,5 31,2 31,6
superior à 0,3m/s. Logo, o vento influenciará P6 31,1 31,5 31,0 31,4 31,6 31,4 31,3
de forma positiva na sensação térmica dos P7 30,4 30,5 30,1 29,7 30,3 30,0 30,2
ocupantes do ambiente em todos os pontos e
horários medidos. A velocidade mínima interna foi de 0,38 no ponto 4 e a máxima foi de 2,38 no ponto 3. Há
maior incidência de ventilação nos leitos próximos a aberturas externas.

VELOCIDADE DO AR (m/s)
10:30 11:00 11:30 12:00 12:30 13:00 MÉDIA
P1 0,60 0,90 2,04 0,86 0,90 1,35 1,11
P2 1,31 1,34 1,60 1,44 0,60 1,58 1,31
P3 2,38 1,66 1,21 0,86 2,22 1,75 1,68
P4 0,50 0,88 0,84 0,41 0,38 0,90 0,65
P5 0,70 0,63 0,71 0,64 0,72 0,54 0,66
P6 0,75 0,72 0,86 1,25 0,80 1,34 0,95
P7 2,60 2,60 2,90 2,80 4,20 2,50 2,93

Figura 9 – velocidade do ar (°C)

4.2. Análise dos pontos internos a partir da ASHRAE Standard 55


Os estudos mostram que o ponto 3 cumpre o requisitos da ASHRAE, dentro dos 90% de aceitabilidade
(Figura 10). Os pontos 1, 2 e 6 são classificados dentro dos limites de aceitabilidade de 80% indicado pela
norma em destaque (Figuras 11, 12, e 13).
Contudo, o nível de conforto nos pontos acima só são atingidos por decorrência da velocidade do
vento no ambiente, permitindo o aumento da temperatura operativa aceitável.

Figura 10 – Análise ponto 3 (velocidade do ar acima de 1,2m/s).

1096
Figura 11 – Análise do ponto 1 (velocidade do ar Figura 12 – Análise do ponto 2 (velocidade do ar
entre 0,9 e 1,2m/s). acima de 1,2m/s).

Figura 13 – Análise do ponto 6 (velocidade do ar entre 0,9 e 1,2m/s).

As análises nos pontos P4 e P5 mostram que eles não cumprem os requisitos mínimos de conforto da
ASHRAE-55. Neles, as medições quanto à velocidade do ar apresentaram os menores valores. Sendo assim,
a ventilação não é suficiente para proporcionar o resfriamento da temperatura e, consequentemente, há o
desconforto para o calor nesses leitos (Figura 14 e 15).

Figura 14 – Análise do ponto 4 (velocidade do ar entre 0,6 e 0,9m/s).

1097
Figura 15 – Análise do ponto 5 (velocidade do ar entre 0,6 e 0,9m/s).

5. CONCLUSÕES
De modo geral, a velocidade do ar possui tamanha importância que, caso ela fosse nula, todos os pontos da
enfermaria em análise estariam indo contra os parâmetros sugeridos pela ASHRAE Standard 55.
Mas a orientação, aberturas e configurações do ambiente possibilitam a entrada de ar, permitindo o efeito de
resfriamento direto na maioria dos pontos analisados, aumentando o conforto dos usuários. Embora a
tipologia das esquadrias possam permitir uma boa passagem de ar, os brises verticais móveis instalados na
área externa das aberturas podem influenciar negativa ou positivamente na qualidade e na velocidade do ar
nestes ambientes. Entretanto, devido aos seus dispositivos de regulagem encontrarem-se danificados,
comprometem a regulagem da passagem de um maior e melhor fluxo de ar no ambiente monitorado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7256: Tratamento de ar em estabelecimentos
assistenciais de saúde, Rio de Janeiro, 2005.
______. NBR 15220-3: Desempenho térmico de edificações – parte 3: zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas
para habitações unifamiliares de interesse social. Rio de Janeiro, 2005.
ASHRAE 55– AMERICAN SOCIETY OF HEATING, REFRIGERATING AND AIR-CONDITIONING ENGINEERS. Thermal
Environmental Conditions for Human Occupancy. Atlanta, 2013.
ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 50 – Regulamento Técnico para Planejamento,
Programação, Elaboração e Avaliação de Projetos Físicos de Estabelecimentos Assistenciais de Saúde. Brasília: Agência
Nacional de Vigilância Sanitária, 2002.
CORBELLA, OSCAR. Manual de Arquitetura bioclimática tropical. Rio de Janeiro: Revan, 2011.
CBE - CENTER FOR THE BUILT ENVIRONMENT (Califórnia). University Of California Berkeley. CBE Thermal Comfort
Tool: ASHRAE-55. 2017. Disponível em: <www.comfort.cbe.berkeley.edu>. Acesso em: 15 dez. 2017.

AGRADECIMENTOS
Agradecimentos à Universidade Federal de Alagoas, Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas do Espaço
Habitado (DEHA), ao Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA), à Empresa Brasileira de
Serviços Hospitalares (EBSERH), setores de Gestão da Pesquisa e Inovação Tecnológica da Gerência de
Ensino HUPAA, na pessoa de Rejane Lessa, e de Infraestrutura Hospitalar, nas pessoas de Regina
Mendonça, Arquiteta e Urbanista, e Allan Dênisson, Engenheiro Civil, além de todos os colaboradores os
quais os pesquisadores tiveram acesso e foram sempre recebidos com muita atenção e profissionalismo.

1098
CALIBRAÇÃO DE ÍNDICE PET PARA ESPAÇOS ABERTOS EM CLIMA
SUBTROPICAL ÚMIDO.
Leonardo Gonçalves Diba Padovan (1); Guilherme William Petrini da Silveira (2); João
Roberto Gomes de Faria (3); Maria Solange Gurgel de Castro Fontes (4)
(1) Arquiteto, Mestrando do Programa de Pós- Graduação em Arquitetura, leopadovan.arq@gmail.com
(2) Arquiteto Urbanista, Mestrando do Programa de Pós- Graduação em Arquitetura, guipetrini@gmail.com
(3) Doutor, Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, joaofari@faac.unesp.br
(4) Doutora, Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, sgfontes@faac.unesp.br , Universidade
Estadual Paulista (UNESP), FAAC, PPGARQ, Av. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube, nº 14-01, Vargem
Limpa, Bauru, SP, Brasil, CEP 17033-360, (14)3103-4878

RESUMO
O índice PET é uma ferramenta amplamente usada para avaliação das condições de conforto térmico em
espaços externos; no entanto ele necessita ser calibrado localmente. Este trabalho tem por objetivo comparar
faixas de conforto definidas por dois métodos de calibração do PET, a partir de dados de campanhas de
monitoramento realizados entre 2008 e 2011 em duas regiões distintas da cidade de Bauru (SP). Os métodos
de comparação foram: 1) a maior frequência de respostas térmicas de votos de sensação térmica agrupados
em faixas com variação PET de 1º C; 2) a identificação de faixas de PET estatisticamente distintas a partir do
teste Tukey. O segundo método mostrou-se o mais adequado, em que se estabelece ao final faixas distintas
de PET para situação de conforto térmico para o verão (29,3 e 33,4°C ) e para o inverno (25,3 a 30,3°C).
Dado o efeito de aclimatação do usuário propõe-se que esta calibração seja feita considerando-se as
diferentes estações do ano.
Palavras-chave: conforto térmico, índice PET, calibração, espaços abertos.

ABSTRACT
The PET index is a widely used tool to evaluate the thermal comfort conditions in outdoor spaces; however it
needs to be calibrated locally. This work aims to compare comfort ranges defined by two PET calibration
methods, based on data from monitoring campaigns conducted between 2008 and 2011 in two distinct
regions of the city of Bauru (SP). The methods of comparison were: 1) the higher frequency of thermal
responses of thermal sensation votes grouped in bands with PET variation of 1º C; 2) the identification of
statistically distinct PET bands from the Tukey test. The second method proved to be the most appropriate, in
which different PET strips were established for thermal comfort for summer (29.3 and 33.4 ° C) and for
winter (25.3 to 30, 3 ° C). Given the effect of acclimatization of the user it is proposed that this calibration be
done considering the different seasons of the year.
Keywords: thermal comfort, PET index, calibration, outdoors.

1099
1. INTRODUÇÃO
O estudo do clima urbano e sua relação com o conforto térmico do pedestre têm grande importância na
gestão e planejamento de políticas públicas para o desenvolvimento da cidade, principalmente nas brasileiras
que possuem uma grande diferença de condições térmicas ao longo do ano.
As investigações sobre conforto térmico abrangem desde os estudos sobre as condições climáticas do
local, com fatores quantificáveis como as variáveis climáticas, a avaliações psicológicas a partir de fatores
não quantificáveis como a sensação de conforto e bem-estar das pessoas. Para tal fim, com frequência se
utilizam de índices que apresentam uma faixa de condições nas quais as pessoas encontram-se em conforto
térmico. A Temperatura Fisiológica Equivalente (Physiological Equivalent Temperature – PET) de Hoppe
(1999) é um dos índices de conforto térmico em ambientes externos mais difundidos. Uma das possíveis
razões é que ele é expresso em temperatura, o que torna possível sua comparação com outros índices, como o
Universal Thermal Climate Index UTCI (ABREU, LABAKI, 2012; NINCE et al., 2013).
Como o PET se baseia no balanço térmico humano, seus intervalos de sensação térmica precisam ser
calibrados localmente para refletir os diversos fatores humanos que interferem nesse balanço. Várias
pesquisas têm sido realizadas com esse objetivo, tanto no Brasil (KRÜGER et al, 2018; HIRASHIMA et al.,
2018; ANDRADE et al., 2016; HIRASHIMA et al, 2011) como no exterior (HENG; CHOW, 2019; CHENG
et al. 2012).
A importância da calibração foi destacada por Monteiro (2006) que, mensurando variáveis
microclimáticas e aplicando questionários sobre sensação térmica na cidade de São Paulo-SP, realizou a
calibração paramétrica de vinte índices de previsão de conforto térmico, estabelecendo novas faixas de
conforto térmico para todos os índices avaliados. Na pesquisa, o autor observou um acréscimo de até 70% de
correlação entre os modelos matemáticos e a resposta do usuário em campo após a calibração. Pesquisa
semelhante foi desenvolvida para clima mediterrâneo, onde Pantavou et al (2014) avaliaram a performance
de um grande número de índices de conforto térmico em região urbana da cidade de Atenas, Grécia e
constataram alterações locais em todas as faixas de conforto.
Os processos de calibração são diversos: regressão linear (HENG; CHOW, 2019; KRÜGER et al.,
2018; CHENG et al. 2012; MONTEIRO, 2006), frequência relativa de sensação térmica (KRÜGER et al,
2018; HIRASHIMA et al., 2018; HIRASHIMA et al, 2011), análise probit (KRÜGER et al., 2018) e árvore
de decisão (ANDRADE et al., 2016). No entanto, diferentes métodos levam a resultados distintos,
prejudicando a confiabilidade dos resultados e, consequentemente, impossibilitando estudos comparativos.
Neste contexto Krüger et al (2018), em pesquisa realizada na cidade de Curitiba-PR apresentam a calibração
do índice PET por três métodos diferentes, na qual se destacam os resultados semelhantes obtidos nos
métodos de regressão linear de dados agrupados e análise probit.

2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é comparar as faixas de sensação térmicas de calibração do índice PET obtidas por
meio de dois métodos distintos em clima subtropical.

3. MÉTODO
O presente estudo utilizou um conjunto de dados levantados em pesquisas de iniciação científica
desenvolvidas junto ao Núcleo de Conforto Ambiental (NUCAM), da Faculdade de Arquitetura, Artes e
Comunicação da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Bauru, com monitoramento
microclimático térmico e entrevistas realizados em 4 campanhas entre Julho de 2010 e Março de 2011.
Os levantamentos foram feitos em duas importantes e movimentadas avenidas da cidade. De início
foi elaborado um levantamento de campo em diferentes dias e horários com o propósito de identificar as
caraterísticas de uso do espaço e desta maneira estipular os locais de medição. Definido os melhores pontos,
realizou-se o monitoramento das variáveis ambientais: temperatura do ar, temperatura de globo, umidade
relativa de ar, velocidade do ar e radiação solar e difusa, com uso de estação meteorológica móvel, de acordo
com a ISO 7726 (INTERNATIONAL..., 1998) no período das 9h às 12h e das 14 às 17h em diferentes meses
e anos (Tabela 16).
Simultaneamente ao levantamento microclimático, foram aplicados questionários aos usuários com o
intuito de identificar os votos de sensação térmica. A elaboração do questionário seguiu a orientação da ISO
10551 (INTERNATIONAL..., 1995) e além de conter questões de avaliação da percepção térmica também
identificou perfil dos usuários (altura, peso e sexo) aspectos culturais e psicológicos como motivos de uso do

1100
espaço, satisfação térmica dos usuários, questões que afetam o uso dos espaços e frequência de uso. Foi
aplicado um total de 244 questionários, conforme a Tabela 1.
Finalmente os dados foram tabulados em planilha eletrônica, comparados e utilizados para cálculo da
Temperatura Equivalente Fisiológica (PET). Esta foi calculada por uma série de macros do Microsoft Visual
Basic for Applications executadas na planilha eletrônica Microsoft Excel.

Tabela 16 – Características das campanhas da pesquisa.


Campanha Período Estação Questionários
1 06, 07 e 08/07/2010 Inverno 101
2 19/08/2010 e 21/08/2010 Inverno 58
3 27/01/2011 e 28/01/2011 Verão 56
4 26/03/2011 Verão 29
Total 244

O primeiro método adotado para a calibração foi adaptado de Krüger et al. (2018) e Silva e Alvarez
(2015), utilizado pela primeira vez por De Dear e Brager (1998). Ele é denominado neste trabalho como
método de frequência relativa de sensação térmica. Para seu uso, agruparam-se os votos de sensação térmica
declarada em faixas com variação de PET de 1º C. Para evitar resultados tendenciosos, utilizaram-se faixas
com agrupamento de no mínimo cinco respondentes, sendo descartados neste caso valores PET extremos
calculados. Considerou-se como conforto o intervalo que apresentasse percentual igual ou superior a 50%
dos votos de sensação neutra declarados nas entrevistas. As campanhas foram comparadas por estações do
ano, a fim de se avaliar a interferência da adaptação do usuário as mudanças nas diferentes condições
climáticas, assim como também observar se há grande alteração na faixa de conforto geral, esta definhada
com a utilização de todos os entrevistados.
Para o segundo método, denominado método Tukey (1949), inicialmente agruparam-se valores de
PET calculados segundo a sensação térmica declarada. Os grupos adjacentes foram comparados com o teste
Tukey a um nível de significância de 95% (se p < 0,05 os grupos não seriam iguais). Caso o teste fosse
negativo (p  0,05), os dados seriam agrupados no voto declarado de menor valor absoluto. Posteriormente,
utilizando-se da ferramenta gráfica box plot definiu-se os intervalos de valores PET dos diferentes grupos de
sensação a partir dos resultados estatísticos e valor limite do primeiro quartil (Q1) e terceiro quartil (Q3). Em
alguns casos ocorreu a sobreposição de votos declarados adjacentes, sendo determinado o intervalo para o
grupo que apresentou menor diferença entre o valor extremo PET e a mediana do grupo.

4. RESULTADOS
Inicialmente são apresentados os resultados da pesquisa de campo realizado com os usuários, a qual se
contata uma grande diversidade da amostra entrevistada. Posteriormente são analisados os dois métodos de
calibração e definidas as faixas de sensação térmica.

4.1. Condições meteorológicas das campanhas


Na tabela 2 apresenta-se uma análise das variáveis mensuradas agrupadas por campanha de monitoramento
sendo elas: temperatura, velocidade e umidade relativa do ar, e temperatura radiante média, calculada através
das variáveis anteriores e da temperatura de globo.
Observou-se nos levantamentos uma grande variedade de condições climáticas, sendo registradas
temperaturas do ar mínimas de 22,3ºC no verão e 13,7°C no inverno e máximas de 34,4ºC e 31°C para cada
uma destas estações do ano respectivamente. Similar a esta variável climática a temperatura radiante média
calculada apresentou valores mínimos de 18,4°C no inverno e 26,1°C no verão. Uma vez que as médias de
temperaturas do ar e temperatura média radiante apresentaram diferenças significativas, realizou-se a
comparação das faixas de conforto definidas para cada estação do ano pesquisada.
Conforme apresentado anteriormente na Tabela 1, durante as quatro campanhas realizadas foram
validados 244 questionários. Considerando a área de abrangência das avenidas Luiz Edmundo Corrijo Filho
e Rodrigues Alves estudadas e a densidade populacional de Bauru (510,83hab/km2), calculou-se para o
grupo de 730 pessoas uma amostra mínima de 85 pessoas para uma margem de erro de 10% e nível de
confiança de 95% da pesquisa.

1101
Tabela 2 – Análise das características microclimáticas por campanha de monitoramento.
Temperatura do Ar (°C) Umidade Relativa do Ar (%)
Mínima Máximo Média Desvio Padrão Mínima Máximo Des. Padrão Média
Campanha 1 19,50 30,20 24,80 3,38 28,90 65,40 12,35 43,90
Campanha 2 13,70 31,00 22,00 5,62 22,20 80,60 20,96 48,70
Campanha 3 22,30 34,40 28,50 3,55 41,50 84,00 12,14 63,30
Campanha 4 23,30 32,70 29,00 3,26 44,80 85,40 14,64 61,30
Velocidade do ar (m/s) Temperatura Radiante Média (°C)
Mínima Máximo Média Desvio Padrão Mínima Máximo Des. Padrão Média
Campanha 1 0,20 2,60 0,35 0,70 18,40 51,80 8,52 31,10
Campanha 2 0,20 1,80 0,36 0,80 20,50 51,30 7,70 34,10
Campanha 3 0,10 2,20 0,41 0,70 26,10 56,40 7,60 39,50
Campanha 4 0,20 1,10 0,25 0,70 30,10 52,80 7,14 39,90

4.2. Calibração método 1


O agrupamento das respostas de sensação térmica (ST) de mínimo de cinco pessoas com variação de PET de
1 ºC utilizou-se de 226 respondentes para análise considerando-se todas as campanhas (Figura 1), 150 para o
período de inverno (Figura 2a) e 65 pessoas para o período de verão (Figura 2b).

Figura 1 – Método 1: Percentual sensação térmica declarada em função do PET: verão + inverno.

Para o primeiro caso, observa-se definição de faixa de conforto (votos de sensação térmica = 0)
predominante na faixa de 18 a 31 ºC na escala PET, com descontinuidade em 23, 24 e 28 °C, esta última
temperatura onde se registra opinião majoritária dos usuários como sensação de “muito quente”. Abaixo de
17 °C registra-se sensação térmica de “pouco frio” e acima de 32 ° C observa-se predominância de sensação
de calor.
A comparação dos gráficos apresentado na Figura é possível constatar as diferentes faixas de
conforto definidas em distintas estações do ano para a cidade Bauru. Enquanto no verão a sensação de
conforto predomina entre 29 e 31 °C, no inverno ela predomina entre 18 a 32 °C. As faixas de desconforto
para o calor também são divergentes: muito quente (ST = 3) no verão varia de 32 a 37 °C e quente (ST=2) no
inverno varia de 32 a 34 °C, não existindo faixas intermediárias de transição de sensação térmica. Para a
estação de verão observa-se descontinuidade da faixa de conforto nas temperaturas de 29 e 31°C. Nesta
última temperatura se registra opinião majoritária dos usuários como de sensação “quente”, indo ao encontro
da observação de Krüger (et al, 2018) sobre a utilização do método1 para calibração do índice PET, no qual a
definição dos limites inferior e superior de cada grupo de sensação térmica declarada é pouco nítida, devido
à existência de diversas descontinuidades de predominância de sensação térmica entre os valores PET.

1102
a) b)
Figura 2 – Método 1: Percentual de entrevistas de acordo com sensação térmica declarada e distribuição do PET calculado para aos
períodos de a) inverno e b) verão

4.3. Calibração método 2


O agrupamento dos valores calculados em faixas de sensação térmica (ST) utilizou todos os 244
questionários, sendo para o período de verão 85 pessoas e para o período de inverno 159 pessoas.
Para aplicação do teste Tukey foram realizados inicialmente os testes de Levene para avaliação da
homogeneidade das variâncias e Shapiro-Wilk para a da normalidade. Com resultados p = 0,589 e W=
0,9826, respectivamente, observa-se que teste Tukey é possível de ser aplicada uma vez que os resíduos
seguem uma distribuição normal e a variância dentro de cada grupo é igual.
Considerando-se a análise para todas as campanhas da pesquisa, a aplicação do teste estatístico de
Tukey resultou em p = 0,79 entre os grupos de sensação térmica -2 e -1, indicando grande similaridade entre
ambos. Assim, agruparam-se os valores daquele neste, sem alterar significativamente as similaridades entre
os grupos -1 e 0, passando o grupo -1 de 21 para 33 respondentes. O teste estatístico mostrou também
similaridade entre os grupos 0 e +1 (p = 0,99) e entre os grupos +2 e +3 (p = 0,76). No primeiro caso
agrupou-se toda a série de valores ao intervalo de conforto (0), o qual passou a ter 135 entrevistados, e no
segundo para sensação de muito quente (+3), 76 respondentes, resultando no gráfico apresentado na figura 3,
cuja faixa de conforto é definida entre 25,8 e 31,9°C.

Figura 3 – Distribuição de valores PET por votos de sensação térmica durante todas as campanhas.

Na análise do período de inverno constatou-se semelhança entre os grupos -2 e -1 (p = 0,88).


Avaliando-se pelas diferenças entre os quartis a distribuição de menor dispersão agrupou-se o primeiro ao
segundo grupo, o qual passou a ter 32 respondentes. Assim também o teste Tukey mostrou-se negativo para
os grupos 0 e +1 (p = 0,83) e +1 e +2 (p = 0,95), agrupando-se os intervalos de valores PET da sensação de
“levemente quente” para “quente”, 38 entrevistados. O resultado apresentado na Figura a demonstra que para
a população de Bauru, nesta estação do ano não há muito sensibilidade para discernir conforto de levemente
quente ou frio, mas sim três faixas de sensação: frio, conforto e quente. Na forma apresentada no gráfico da
figura 4a, para o período de inverno definiu-se a faixa de conforto de 25,3 a 30,3°C.

1103
Finalmente, na análise para o período de verão as semelhanças entre os grupos 0 e +1, e +2 e +3
foram indicadas nos resultados de p = 0,86 e p = 0,73 respectivamente, agrupando-se os valores indicados
para sensação de “quente” para “ muito quente” (56 pessoas) e “levemente quente” para “conforto” (29
pessoas). Não foi registrado para o período declaração de sensação térmica de “levemente frio”, “frio” ou
“muito frio”, conforme Figura 4b, com zona de conforto entre 29,3 e 33,4°C.

a)
b)
Figura 4 – Distribuição de valores PET por votos de sensação térmica durante: a) inverno e b) verão.

Em resumo apresenta-se Figura 5 indicando-se as diferentes faixas de sensação térmica,


discriminadas por método de calibração utilizado. Em ambos destaca-se que são formadas faixas de PET
diferentes para as estações de ano verão e inverno. O período anual tende a proporcionar faixas mais amplas
de sensação térmica, as quais nem sempre correspondem à realidade às quais estão expostos os indivíduos,
principalmente devido à sua aclimatação diante de mudanças térmicas naturais do meio.
A utilização do método1 para calibração do índice PET, apesar de simples aplicabilidade, criou
faixas de conforto mais amplas e com limites superior e inferior poucos nítidos, devido à existência de
diversas descontinuidades de predominância de sensação térmica entre os valores PET, tendendo a
proporcionar menos acertos durante sua aplicação corroborando os estudos de Krüger et al (2018), os quais
descartam o uso deste método para calibração do índice PET em Curitiba.
Observa-se que para a definição de uma faixa anual de conforto térmico para Bauru seria necessário
a utilização de mais dados de campanhas de monitoramento, de preferência em épocas do ano com
temperaturas mais amenas. Ainda nesse caso é necessária a verificação de faixas de conforto distintas de
acordo com cada época do ano.

40,0
35,0
30,0
PET Calculado (°C)

25,0
20,0
15,0
10,0
1 - Ver. 2 - Ver. 1 - Verão 2 - Verão 1 - Inverno 2 - Inverno
Inv. Inv.
Métodos e períodos de análise

-1 0 2 3

Figura 5 – Faixas de sensação térmica, discriminadas por método de calibração utilizado e período de análise.

1104
5. CONCLUSÕES
Este trabalho teve por objetivo comparar faixas de conforto definidas por dois métodos de calibração do
PET, a partir de dados de campanhas de monitoramento realizados entre 2008 e 2011 em duas regiões
distintas da cidade de Bauru (SP).
A partir da análise dos resultados, observou-se a aplicabilidade de ambos os métodos de calibração
adotados neste trabalho. O método 1 apresentou definição dos limites inferior e superior de cada grupo de
sensação térmica declarada pouco nítida, sendo recomendado para a cidade de estudo neste trabalho o
método 2, a partir do uso de técnicas ferramenta gráfica box plot, em conjunto aplicação de teste estatístico
Tukey.
Verificam-se descontinuidades nas faixas de sensações térmicas em ambos os métodos. Elas podem
ser atribuídas ao pequeno número de dados disponível, cujos valores não cobriram de forma satisfatória toda
a gama da escala de sensações térmicas.
Destaca-se nessa pesquisa a importância da calibração do índice de conforto adaptativo PET para a
realidade local, e dado o efeito de aclimatação do usuário propõe que esta calibração seja feita considerando-
se as diferentes estações do ano. Para a cidade de Bauru/SP, objeto desta pesquisa, definiu-se as faixas de
conforto térmico para o período de verão de PET = 29,3° a 33,4 °C e para o período de inverno PET = 25,3°
a 30,3 °C.

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1105
CALIBRAÇÃO DE MAPA CLIMÁTICO URBANO DA CIDADE DE JOÃO
PESSOA/PB APOIADA POR SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL
Vladimir S. de Souza (1); Lutz Katzschner (2); Caio F. e Silva (3); Ellen L. T. de Souza (4)
(1) M. Sc., Professor do curso de Arquitetura e Urbanismo - Unipê, vladimir.souza@unipe.edu.br
(2) D.Sc., Professor do Depto. de Paisagem e Planejamento Urbano - UniKassel, katzschn@uni-kassel.de
(3) PhD, Professor do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo - UnB, caiosilva@unb.br
(4) Graduanda do Curso de Arquitetura e Urbanismo - Unipê, ellen_alcazar123@hotmail.com

RESUMO
Mapas climáticos urbanos são ferramentas de apoio à tomada de decisão para o planejamento urbano. Neles,
as áreas da cidade podem ser agrupadas em classes climáticas urbanas que representam o impacto da
estrutura urbana no conforto higrotérmico da população. Devido às constantes transformações do espaço
urbano, as classes climáticas devem regularmente serem revisadas e calibradas. Neste trabalho, descreve-se
um método de calibração para uma classe empregada no mapa climático urbano da cidade de João Pessoa –
Paraíba. A área de estudo analisada é representada por uma praça do centro da cidade, da qual se utilizaram
informações de sensação térmica dos transeuntes, características físicas-espaciais e dados de clima. O
comportamento termo-higrométrico é analisado com base em simulações computacionais desenvolvidas no
modelo micrometeorológico ENVI-met® versão 4.4.2, buscando compreender a dinâmica destes elementos
climáticos de forma espacial e temporal. Sequencialmente, com estes dados é utilizado o software Rayman®
versão 1.2 para estimar o índice de temperatura fisiológica equivalente – PET, amplamente empregado em
estudos de sensação térmica. Com os valores de PET obtidos foi aplicada uma classificação de sensação
térmica adequada às regiões de clima quente-úmido. Os resultados obtidos demonstram que a área estudada
apresenta uma sensação térmica de muito calor coerente com o encontrado no mapa climático. Este estudo
apresenta-se como uma alternativa a pesquisas futuras que busquem a calibração de classes climáticas em
mapas de clima urbano.
Palavras-chave: mapa climático, sensação térmica, simulação computacional.

ABSTRACT
Urban climate maps are tools to support decision-making for urban planning. In them, city areas can be
grouped into urban climatic classes that represent the impact of the urban structure on the hygrometric
comfort of the population. Due to the constant transformations of the urban space, the climatic classes must
be regularly reviewed and calibrated. In this work, the calibration method for a climatic class of the urban
climate map of the city of João Pessoa - Paraíba is described. The study area is represented by a square in the
centre of the city, using thermal sensation information from passers-by, physical-spatial characteristics and
climate data. The thermo-hygrometric behaviour is analysed based on computational simulations developed
in the micrometeorological model ENVI-met® version 4.4.2, seeking to understand the dynamics of these
climatic elements in a spatial and temporal way. With this data, Rayman ® software version 1.2 is used
sequentially to estimate the equivalent physiological temperature index - PET, widely used in thermal
sensation studies. With the PET values obtained, a thermal sensation classification was applied to the hot-
humid climate regions. The results obtained demonstrate that the studied area presents a very hot thermal
sensation consistent with that found in the climatic map. This study presents as an alternative to future
researches that seek the calibration of climatic classes in urban climate maps.
Keywords: climatic map, thermal sensation, computational simulation.

1106
1. INTRODUÇÃO
Intervenções humanas no espaço físico-geográfico impactam o clima local e, consequentemente, o conforto
térmico individual. Desse modo, um planejamento urbano consciente do clima precisa garantir um menor
impacto ambiental decorrente das transformações urbanas, buscando por meio de suas ferramentas de
ordenamento do município, adequar o ambiente construído às exigências de conforto humano, proteger e
desenvolver os recursos naturais, promover a redução do consumo de energia, ordenar adequadamente o
padrão urbano e adaptar-se às mudanças climáticas (OKE et al, 2017).
Uma ferramenta prática de apoio à tomada de decisão para o planejamento das cidades são os Mapas
Climáticos Urbanos (MCUs). Desenvolvidos inicialmente na Alemanha, o conceito destes mapas temáticos
de clima urbano, empregados em diversas cidades do mundo, consiste em uma série de camadas de dados
espaciais (mapas analíticos) que contém informações do clima, dados geográficos do terreno, informações
sobre vegetação, parâmetros de conforto humano e diretrizes de planejamento (KATZSCHNER; MÜLDER,
2007). Governos de cidades europeias e asiáticas têm aplicado a metodologia quali-quantitativa de MCUs em
seus planos diretores (REN et al, 2010).
No Brasil, estudos com esta metodologia são realizados nas cidades de Salvador (NERY et al, 2006),
João Pessoa (SOUZA, 2010), Campinas (PRATA-SHIMOMURA et al, 2015), Belo Horizonte (FERREIRA
et al, 2016) e Aracaju (ANJOS, 2017). Todos estes trabalhos são desenvolvidos em ambiente SIG (Sistema
de Informação Geográfica) que auxiliam no tratamento e gestão dos inúmeros parâmetros usados para
associar informações de climatologia urbana, de estrutura urbana e de gestão urbana.
Especificamente na cidade de João Pessoa-PB, Souza (2010) adaptou parte da metodologia de MCUs
desenvolvida para a cidade de Hong Kong e, baseado em aspectos climáticos e físicos-geográficos do local,
desenvolve um mapa com informações do clima urbano classificado em 8 classes climáticas. As classes
climáticas são porções de uma região que foram agrupadas e categorizadas segundo suas características
topoclimáticas e seus efeitos no balanço de energia térmica. Distingue-se dessa forma quais são as áreas de
um ambiente urbano que apresentam uma implicação negativa ou positiva no balanço de energia urbano e,
consequentemente, no conforto térmico da população. Posteriormente, Silva (2017) elabora um índice
ambiental urbano para a cidade, de modo a definir a melhor relação entre as variáveis ambientais, a
morfologia urbana e o conforto térmico urbano. Esta pesquisa apoia-se em dados do mapa climático,
pesquisas de campo e entrevistas com habitantes.
Parte fundamental de desenvolvimento dos mapas climáticos é a caracterização da sensação de
conforto humano em espaços abertos, uma vez que esta informação é parâmetro de construção das
classificações climáticas das áreas da cidade (NG; REN, 2015). Para tanto, são empregados índices de
conforto desenvolvidos para avaliar a relação entre os seres humanos e o ambiente ao qual estão expostos.
Dos diversos índices de conforto térmico existentes destaca-se o Phisyological Equivalent Temperature
(PET), apresentado por Höppe (1997). O valor calculado de PET relaciona-se às categorias de sensação
térmica humana numa escala sete pontos, variando de “muito quente” a “muito frio”. Dentre as razões para
seu uso está a aplicabilidade às diferentes escalas espaciais, o empregado em unidades Celsius (ºC), a sua
recomendação pelas normas alemãs, a sua aplicação em pesquisas na região Nordeste do Brasil e a
possibilidade de ser calculado por modelos numéricos, permitindo a sua representação gráfica
(espacialização) na forma de mapas (ANJOS, 2017).
Algumas pesquisas demonstram que devido à diversidade climática do Brasil, há a necessidade de
estudos específicos nas diferentes localidades (MONTEIRO, 2008; SOUZA, 2010; HIRASHIMA et al,
2017), determinando assim as categorias de sensação térmica adequadas dos habitantes. Estes trabalhos
enfatizam ainda que todo o balanço de calor do corpo humano deve ser considerado, o que requer
informações meteorológicas sobre a temperatura do ar, umidade do ar, velocidade e direção do vento,
turbulência e radiação de ondas curtas e longas, além de componentes pessoais dos usuários do espaço
urbano como o nível de atividade, o tipo de roupa e a adaptação fisiológica a um ambiente particular.
Como forma de facilitar o entendimento e espacializar estes inúmeros dados, são empregadas
tecnologias que decodificam a natureza urbana, como os programas de simulação computacional que fazem
o uso de arquivos climáticos, muitas vezes disponíveis em bancos de dados (SILVA, 2013). Destes, dois
programas se destacam: o modelo ENVI-met® desenvolvido pelo Departamento de Geografia da
Universidade de Bochum na Alemanha, que se apresenta como um software de modelagem tridimensional
do microclima urbano e que requer informações climáticas locais (BRUSE, 1999); e o software Rayman®
capaz de estimar valores de índices de conforto térmico, entre eles o PET, desenvolvido no Instituto
Meteorológico da Universität Freiburg para estudos do clima urbano (MATZARAKIS; MAYER;
IZIOMON, 1999).

1107
2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é apresentar um método de calibração para as classes climáticas empregadas no
mapa climático urbano da cidade de João Pessoa/PB, utilizando-se de entrevistas com usuários de um espaço
urbano e de simulações computacionais bioclimáticas realizadas nos softwares ENVI-met® e Rayman®.

3. MÉTODO
A pesquisa apresentada é experimental, apoiada em coleta de dados de campo e por simulação
computacional via programas ENVI-met® e Rayman®. A pesquisa pode ser organizada em 6 etapas:
1. Caracterização do contexto urbano e climático da área de estudo;
2. Entrevistas com usuários do espaço estudado;
3. Modelagem da área de estudo em ambiente computacional;
4. Calibração do modelo ENVI-met® para as condições climáticas locais;
5. Aplicação do modelo Rayman® para determinação dos valores do índice PET;
6. Análise dos resultados obtidos.

3.1. Contexto urbano e climático da área de estudo


A área de estudo é a Praça Vidal de Negreiros localizada no bairro Centro da cidade de João Pessoa-PB.
Conta com uma área aproximada 5200 m², cercada por um misto de edifícios de arquitetura moderna e
eclética de uso predominantemente comercial e com um gabarito em altura diversificado variando de 7m a
até 51m. A vegetação arbórea é escassa, localizada no lado nordeste e oeste da praça, com algumas árvores
alcançando 15 m de altura, o que fornece um bom sombreamento. O piso da área é composto em grande
parte por concreto armado impermeável, blocos intertravados em seu perímetro e pequena parcela de solo
permeável abaixo das árvores. Há uma movimentação significativa de transeuntes e veículos ao longo de
todo o dia. O recorte da área de estudo é demonstrado na Figura 1.

N N

a) b) c)
Figura 1 – Localização da área de estudo – Mapa de João Pessoa (a); Delimitação área estudo (b); e Fotografia do local (c).

A cidade de João Pessoa localiza-se próxima à linha do Equador (coordenadas geográficas 7°6'54"S,
34°51'47.02"W) recebendo uma radiação solar próxima das 3000 horas anuais (Silva, 1999). Este fato
determina um clima quente, caracterizado por uma temperatura média anual de 25,81 °C, sem variações
significativas e um regime de ventos predominantemente diário correspondendo durante todo o ano aos
ventos alísios de sudeste (direção média de 150 % e velocidade média de 3,6 m/s). No período compreendido
entre junho a agosto têm-se as temperaturas mais baixas - média de 24,39 ºC - e no período de janeiro a
março as temperaturas mais altas – média de 26,97 ºC. A umidade relativa média alcança o maior valor no
mês de junho (86,03 %) e menor valor no mês de dezembro (76,18%), com uma média anual registrada de
80,85% (CARVALHO, 2001).
Com base na classificação do MCU de João Pessoa, a praça Vidal de Negreiros enquadra-se na
classe climática 8. Esta classe agrupa áreas da cidade com possibilidade de formação do fenômeno “Ilha de
Calor Urbano” e que apresentam um impacto negativo muito forte no conforto térmico da população. Fatores
físicos-geográficos da região como o alto adensamento urbano, elevado volume de edificações, a escassez de
áreas verdes, a baixa altitude e constituição dos materiais da superfície do solo levam a esta classificação.
Com relação ao valor do índice PET da área, em estudo desenvolvido por Silva (2017) sobre o
conforto higro-térmico em espaços abertos da região, observou-se que a sensação de conforto era de “muito
calor” alcançando o valor máximo do índice PET de 44 ºc (cenário 1).

1108
3.2. Variáveis pessoais de usuários da praça
As variáveis pessoais relacionadas à sensação térmica dos usuários da área de estudo foram obtidas através
de questionários em 3 campanhas de quatro horas no período das 8:00 às 13:00h, realizadas nos dias 16, 22 e
23 de março de 2019. As variáveis pessoais levantadas foram: idade, sexo, reside no bairro (fator de
aclimatação), local da entrevista e tipo de atividade que vinha realizando até o momento da entrevista.
Quanto ao “local da entrevista” teve-se o cuidado de tentar realizar parte na sombra e parte no sol (meia
sombra considera-se no sol, mas com interferência do sombreamento causado por nuvens) para averiguar as
respostas em distintos cenários. Por fim, o quesito “atividade desenvolvida até o momento da entrevista” foi
estruturado a partir das questões: sentado, em pé parado e andando no plano.

3.3 Parâmetros de modelagem da área de estudo e simulação climática


Para a modelagem da área de estudo e simulação dos elementos climáticos que interferem no conforto
térmico dos transeuntes foi utilizado o modelo microclimático ENVI_met® versão 4.4.2 Winter (BRUSE,
2007). O modelo ENVI_met® permite modelar áreas urbanas em três dimensões espaciais, com um
“entorno” composto, no plano horizontal e um perfil vertical de mesoescala, que vai até a altitude de 2500 m
acima do nível do mar. O modelo é organizado sobre uma grade constituída por células ortogonais de mesmo
tamanho. Inicialmente, faz-se necessário dimensionar a célula da grade nas direções horizontais x e y. A
resolução é uma média dentro dos valores sugeridos (de 0,5 m a 10 m) e é um ajuste adequado entre a
precisão e o tempo de processamento.
Quanto à entrada de dados no modelo devem ser construídos dois arquivos de configuração básica:
configuração de áreas (modelo tridimensional) e configuração de dados climáticos. Nesta versão do
ENVI_met® é apresentada a extensão de software MONDE®, que é um editor de vetores que permite ao
usuário importar dados geográficos em formato vetorial e editar o modelo usando os métodos estabelecidos
conhecidos de modelos Computer Aided Design (CAD) e Geographic Information System (GIS) (Figura 2).
Para a digitalização da área de estudo utilizou-se uma resolução de grid de 2 m×2 m×4 m,
totalizando uma área de 100×100×35 grids, a qual corresponde à composição do recorte de estudo de 200 m
× 200 m (Figura 2). A resolução de 2 m foi escolhida para manter uma boa representatividade da área. Foram
inseridos cinco grids de borda ao redor do modelo com o objetivo de manter a estabilidade. A altura total do
modelo foi de 140 m a qual se mostrou adequado, uma vez que é recomendado uma altura mínima de duas
vezes a altura do edifício mais alto (51 m). O método de geração do grid vertical foi a equidistante.
Após a vetorização da área é possível inserir informações de materiais dos elementos constituintes
do espaço urbano: tipo solo (materiais e superfícies), edificações (materiais e superfícies) e vegetação
(rasteira e/ou arbórea). Finalizado este procedimento o arquivo é exportado para o SPACE®, outra extensão
do modelo ENVI_met® que permite a visualização e parametrização dos dados do espaço modelado.

Legenda

- Asfalto
- Piso
concreto
- Piso bloco
- Árvore
- Edifícios

Figura 2 – Vetorização na extensão Monde® e modelo tridimensional na extensão Space®.

Para a configuração de dados climáticos é necessário um conhecimento prévio sobre particularidades


do programa. O modelo não assimila dados, ou seja, há uma única entrada de dados que descrevem as
interações nas suas três camadas: atmosfera, superfície (incluindo as várias coberturas de superfície,
edificações e vegetação) e solo (BRUSE, 2017);
Na camada da atmosfera o modelo faz o prognóstico da dinâmica de ar (velocidade e direção),
temperatura potencial, umidade relativa e absoluta, e fluxos de radiação de onda curta e longa com base nas
leis fundamentais da dinâmica e termodinâmica de fluidos, usando a forma incompressível não-hidrostática
das equações de Navier-Stokes, apropriada para terrenos diversos, o que permite a simulação de processos de
trocas térmicas do ar horizontais desejável para lidar com o ambiente urbano (ASSIS, 2013). Na camada da
superfície o modelo considera a radiação incidente de ondas longas e curtas. Avalia o albedo das superfícies,
1109
o sombreamento em função do caminho solar, a evaporação do vapor d’água da vegetação e transpiração do
solo, observando o efeito modificador do fluxo de ar da vegetação. A temperatura das folhagens e seu
balanço térmico, com base em parâmetros fisiológicos e meteorológicos também são calculados
(AMBROSINI et al, 2014). E na última camada, o solo, são consideradas três subcamadas até a
profundidade de 1,75 m avaliando a combinação das superfícies naturais e artificiais da estrutura urbana.
Para a realização da simulação computacional são necessários dados do período simulado (dias 14 a
16 de março de 2019) como a temperatura e a umidade relativa do ar, além da velocidade e direção do vento
dominante. Estes dados foram obtidos a partir das Normais Climatológicas do Instituto Nacional de
Meteorologia (BRASIL, 1992). Houve uma preocupação em calibrar estes dados coletados com os da área de
estudo. Contudo, os dados médios utilizados foram semelhantes aos dados médios da estação meteorológica
de referência para o mês de março de 2019, conforme Tabela 1. Como o programa solicita temperatura e
umidade relativa do ar média horária, esses dados foram obtidos a partir da metodologia de Alucci (1992),
que propôs um procedimento para gerar a variação horária a partir de dados médios de temperaturas e
umidades máximas, médias e mínimas, a partir das Normais Climatológicas de 1992.
O ENVI_met® tem como característica gerar a curva de temperatura a partir de um impulso inicial,
processo conhecido por iteração¹17. Nesse processo é necessário um tempo inicial até que os resultados
possam se estabilizar e sejam gerados dado mais concisos. A simulação foi configurada para ter início às
21h00 do dia 14.03.19 com o objetivo de isolar a influência do aporte de radiação solar no início das
simulações. O tempo simulado equivale a dois dias (dois ciclos), total de 48 h, descartando-se as 24 h inicias,
recomendadas pelos desenvolvedores do software. Desta forma, os dados analisados são do dia 16.03.19,
especificamente os horários das 06:00h às 18:00h.
Tabela 1 – Configuração de dados climáticos para simulação microclimática no ENVI_met®

Dados da simulação Dados empregados (14 a 16.03.19)

Tempo simulado 48h (2 ciclos)


Período
Horário de início 21h – 14.03.2019

Variáveis climáticas (unidade) Valores


Configuração de Vv - Velocidade do vento a 10 m altura (m/s) 1.83
entrada Dv - Direção do vento (graus) 144
Ta - Temperatura do ar (ºC) Min. = 23,8 Máx. = 31,3
Ur - Umidade relativa do ar (%) Min. = 57,0 Máx. = 89,0
Rs - Rugosidade da superfície do solo 0.010

3.4 Cálculo do índice de conforto PET


Empregou-se o software Rayman® para calcular o índice PET. Neste programa devem ser inseridas também
informações da estrutura urbana (edifícios e árvores decíduas e/ou coníferas), assim como o dia e a hora da
análise, localização geográfica da cidade, dados climáticos locais (Ta, Ur, Temperatura Radiante Média e
Padrões de Vento) e dados pessoais: gênero, idade, altura, peso, vestimenta (clo) e metabolismo (Met). Os
dados da estrutura urbana e das variáveis climáticas utilizadas foram os similares ao do modelo ENVI_met®.
Quanto às variáveis pessoais foram consideradas as recomendadas pela IS0 8996, além de uma taxa
metabólica de 165 W/m² ou 2,8 Met (correspondente à caminhada em superfície plana sem carda a 4 km/h) e
isolamento térmico das roupas utilizadas (Clo) de 0.6.

3.5 Categorias de estresse térmico preditas pelo índice PET


Os resultados obtidos por meio das simulações do modelo Rayman® devem ser enquadrados numa escala de
7 classes de estresse térmico definido pelo índice PET, que varia de “muito quente” a “muito frio”. Para este
estudo optou-se por utilizar a escala de sensação térmica proposta por Souza (2010) para a população da
cidade de Salvador/BA, uma vez que esta cidade apresenta condições climáticas semelhantes às da cidade de
João Pessoa, além do estudo também ser desenvolvido em uma praça. Estes valores de classificação serão
apresentados na sessão 4.3.

¹17 Iteração é um processo da álgebra de resolução de uma equação mediante operações em que sucessivamente o objeto de cada uma
é o resultado da que a precede.

1110
4. RESULTADOS
A seguir serão descritos os resultados obtidos na pesquisa:

4.1 Questionários aplicados aos usuários da praça


Na tabela 2 pode ser visto o resultado por variável pessoal dos questionários aplicados aos usuários da praça.
Em sua maioria os entrevistados têm idade superior a 25 anos (32), são do sexo feminino (29) e não
residentes do bairro (38). Quanto ao local da entrevista na área de estudo foram realizadas 20 na sombra, 7 a
meia sombra e 16 em pleno sol. Referente à atividade desenvolvida pelos usuários até o momento da
entrevista, estavam sentadas 16 pessoas, estavam em pé 3 pessoas e as que andavam no plano eram 24
pessoas.
Tabela 2 – Número de respostas por variáveis pessoais
Idade Sexo Reside no Entrevista realizada Atividade*
Bairro
Menos Acima Meia
25 25 Somb Somb Pleno
anos anos M F Sim Não ra ra Sol A B C

Respo 11 32 14 29 5 38 20 7 16 16 3 24
s.
*OBS: No campo Atividade, as letras A, B e C correspondem a, respectivamente: sentado, em pé parado e andando no plano.

No caso das variáveis sobre percepção térmica (Como você está se sentindo neste momento?), as
respostas foram categorizadas em 7 pontos conforme a ISO 10551 (1995) : (+3) Com muito calor; (+2) Com
calor; (+1) Levemente com calor; (0) Neutro; (-1) Levemente com frio; (-2) Com frio; e (-3) Com muito frio.
Em relação à aceitação pessoal (De que maneira você se encontra nesse momento?), as respostas foram:
confortável, razoavelmente confortável e desconfortável. Na pesquisa constatou-se que 75% dos
entrevistados responderam que naquele momento sentiam muito calor, mesmo os que estavam na sombra.
Quanto à aceitação pessoal, 42% dos entrevistados responderam que estavam desconfortáveis. Na figura 3
são apresentadas as respostas dos usuários da praça às perguntas de sensação térmica e nível de conforto.

Figura 3 – Número de respostas dos usuários as questões de sensação térmica.

4.2 Temperatura do ar
Foram realizadas simulações no modelo ENVI_met® para os elementos climáticos, entre eles a temperatura
do ar. Para este elemento geraram-se mapas temáticos e tabelas-síntese por meio da extensão LEONARDO®
(BRUSE,2017) para os horários de 06:00h (hora do dia com o mais baixo valor de temperatura do ar), de
09:00h (meio da manhã e que apresenta uma movimentação significativa de transeuntes) e de13:00h (hora do
dia com o maior valor de temperatura do ar). A altura considerada para a leitura dos dados no modelo foi de
1,20 m que é próxima à altura padrão de medição das estações meteorológicas da rede OMM (Organização
Mundial de Meteorologia).
Ao longo dos horários analisados nos mapas temáticos relativos à temperatura do ar, os resultados da
simulação apresentaram valores distintos com uma considerável amplitude térmica (10,30ºC). Os dados
encontrados partiram de 23,73ºC e alcançaram 34,03ºC, durante as sete horas de registro. Isto pode ser
devido às características térmicas dos materiais constituintes da área, em sua grande maioria piso de concreto
com poucas áreas permeáveis (blocos intertravados nas extremidades) e edificações com paredes de
alvenaria, que retém grande quantidade de calor ao longo das horas, além da pouca vegetação.
1111
No mapa referente à espacialização da temperatura do ar às 06:00h da manhã (Figura 4a), encontram-
se valores de 23,73ºC a 25,19ºC. Como o horário do nascer do sol ocorre por volta das 05:48h da manhã, a
área não recebe uma quantidade de radiação solar significativa, o que resulta em valores baixos de
temperatura do ar. Para coletar os dados no centro da praça para uma comparação horária utilizou-se de um
receptor no modelo, que gera relatórios com as mais diversas informações climáticas. Desse modo, o valor
registrado para o centro da praça foi de 24,64ºC.
Os valores médios de temperatura do ar são encontrados no horário das 09:00h (Figura 4b). Têm-se
temperaturas entre 27,22ºC e 29,28ºC. Em sua maioria as temperaturas estão na casa dos 28,0ºC contudo, um
trecho da área representada pela cor laranja contém temperaturas da ordem dos 29,0ºC. Neste trecho situa-se
a via asfaltada e que não recebe nenhum sombreamento das edificações adjacentes, o que pode justificar este
valor mais elevado do mapa. No receptor 1 a temperatura do ar registrada é de 28,33ºC.
Por fim, na figura 4 (c) é apresentada a espacialização da temperatura do ar às 13:00h, onde se
encontram as temperaturas mais altas. Os valores registrados estão entre 30,92ºC a 34,03ºC, ocasionando a
maior amplitude térmica entre horários analisados (3,11ºC). O centro da praça (receptor 1) apresenta
temperatura de 32,73ºC e trechos da via asfaltada (cor escura do mapa) tem valores superiores a 34ºC. Um
dado interessante no mapa é registrado pela cor vermelha. Esta área pode estar recebendo influência do
sombreamento causado pelo edifício mais alto da praça (51 m), diferente dos demais que tem altura mais
baixa (média de 12 m).

a)

b)

1 1 1 c)

a) b) c)

Figura 4 –Mapas de temperatura do ar (ºC) da área de estudo. Horários: a) 06:00h; b) 09:00h; e c) 13:00h.

4.3 Umidade relativa do ar


Os valores da simulação da umidade relativa do ar são expressos em porcentagem (%) e estão apresentados
na figura 5. O maior valor registrado foi de 90,01% e o menor registro de 50,34%, uma diferença de 39,67
pontos percentuais. Estes valores percentuais encontram-se dentro da faixa considerada ideal pela
Organização Mundial de Saúde (OMS).
No mapa temático referente a umidade relativa do ar às 06:00h da manhã (Figura 5d), encontram-se
valores de 83,08% a 90,01%. O início das manhãs tende a ter valores superiores da umidade relativa devido à
pouca ação da radiação solar nas superfícies e no ar atmosférico. No receptor 1 o valor registrado para o
centro da praça foi de 85,54%.
Os valores médios da umidade do ar são encontrados no horário das 09:00h (Figura 5e). Tem-se a
umidade relativa alcançando valores entre 66,83% e 74,68%. No mapa observa-se que a umidade relativa
tem valor acima de 70% e que representa grande parte da área de estudo. Valores abaixo dos 70% são
observados ao longo da via asfaltada, que já deve começar a acumular calor a ponto de interferir rapidamente
na redução da umidade do ar ao longo de seu trecho. No receptor 1 do mapa a umidade relativa é de 70,53%.
Na figura 5 (f) é apresentada a umidade do ar às 13:00h, onde se registram os valores mais baixos. Os
números estão entre 50,34% e 59,57%. O centro da praça (receptor 1) apresenta valor de umidade relativa de
55,29% (a maior parte da praça está com valores próximos a esta ordem) e trechos da via asfaltada (cor rosa
do mapa) tem valores abaixo dos 55,00 %.
f)

e)
1 1 1 d
. )

d) e) f)

Figura 5 – Mapas de umidade relativa (%) da área de estudo. Horários: d) 06:00h; e) 09:00h; e f) 13:00h.

1112
4.4 Análise do Índice PET
Para a determinação do índice PET com o uso do software Rayman® foram necessárias informações locais
(dia, mês, ano, hora, latitude, longitude e altitude), assim como informações climáticas das simulações e
variáveis pessoais. Para as informações climáticas foram utilizados os dados da temperatura e umidade
relativa do ar encontrados nas simulações anteriores, especificamente os dados do receptor 1. Com isso, o
software estimou os dados de pressão de vapor (hPa) e temperatura radiante média (ºC), necessários para
determinação do índice. Além destes, o isolamento térmico das roupas utilizadas (clo) foi estimado em 0.6 e
a taxa metabólica (Met) foi considerada de 165 W/m². Na figura 6 são apresentados os valores de
temperatura e umidade do ar para o receptor 1 ao longo do dia.

Temperatura do Ar (ºC) Umidade relativa (%)

32,276 90
32 85 85,539
80
30 75 70,53
29,353 70 65,551
28 28,33
65
26 60
55 55,284
24,637
24 50
06h 07h 08h 09h 10h 11h 12h 13h 14h 15h 16h 17h 18h 06h 07h 08h 09h 10h 11h 12h 13h 14h 15h 16h 17h 18h

Figura 6 – Gráficos do comportamento da temperatura do ar e da umidade relativa.

Os valores de PET resultantes da análise são informados na tabela 4. As horas extremas da simulação
apresentam os menores valores de PET-17,9ºC e 24,5ºC. Isto pode decorrer da reduzida ou inexistente
quantidade de radiação solar na área de estudo. Os demais horários apresentam valores muito superiores -
37.9ºC, 43.6ºC e 42.3ºC. Observa-se também que a temperatura do ar e a temperatura radiante média
também seguem a mesma lógica de comportamento ao longo das horas.
Tabela 4 – Análise do índice PET ao longo das horas.
Dia Hora Ta Trm PET
Data Ano h:m ºC °C °C
06:00 24,6 16,3 17,9
09:00 28,3 56,2 37,9
16.3.2019 75 13:00 32,3 59,7 43,6
15:00 31,7 58,4 42,3
18:00 29,4 21,0 24,5

4.5 Relação da sensação térmica com a classe climática urbana.


Aplicando-se a classificação de sensação térmica proposta por Souza (2010) à cidade de Salvador nos
valores encontrados do índice PET desta pesquisa (Tabela 5), pode-se perceber que na hora inicial e final da
análise, onde a incidência solar é quase nula, temos valores de PET abaixo de 27ºC, levando a uma sensação
térmica de conforto e enquadramento na classe 0. Contudo, para os demais horários, que são os mais
utilizados pelos transeuntes da praça, os valores de PET foram superiores a 34ºC, ocasionando a sensação
térmica de muito calor e classificação +3.
Tabela 5 – Índice PET (ºC) do estudo e a correspondente classificação proposta por Souza (2010) para Salvador/BA.
Hora PET Classificação Souza (2010)
Data h:m °C PET (ºC) Sensação Térmica Classes
06:00 17,9 < 27 Conforto 0
09:00 37,9 >34 Muito Calor +3
16.3.2019 13:00 43,6 >34 Muito Calor +3
15:00 42,3 >34 Muito Calor +3
18:00 24,5 < 27 Conforto 0

Com esta classificação é possível fazer um comparativo com o determinado pelo mapa climático
urbano da cidade de João Pessoa (tabela 6). Na classificação proposta do mapa, a praça Vidal de Negreiros
enquadra-se na classe climática 8, que define áreas com impacto muito forte no conforto térmico de forma
negativa. Desse modo, para iniciar a comparação tomou-se a classe de sensação de conforto neutra (valor 0)

1113
em ambas classificações como idênticas, uma vez que não interferem no equilíbrio do conforto térmico dos
transeuntes.
Na sequência, as categorias de PET propostas por Souza (2010) de valor +2 e +3 foram
correlacionadas às classes climáticas 6 e 8 do mapa climático, respectivamente. Isto foi necessário devido
aos seguintes aspectos:
• A classificação proposta para Salvador emprega uma escala menor de sensações, justificada por ser
difícil quantificar as sensações do tipo “moderada ou forte”;
• As classes climáticas de João Pessoa decorrem do agrupamento de áreas da cidade com
características físicas e climáticas homogêneas, e devido à vasta quantidade de informação, gera-se
uma classificação com escala maior.
Quanto às classes relacionadas à sensação térmica frio, não há registros suficientes encontrados por
Souza (2010) para determina-lo, assim as duas últimas classes do mapa não podem ser comparadas.
Uma vez que a área de estudo se enquadra na classe +3 (muito calor) das categorias de PET de
Salvador, de acordo com o comparativo das classes dos estudos a praça continua a ser enquadrada na classe
climática 8 (muito calor) do MCU.
Tabela 6 – PET e a correspondente classe climática proposta para o MCU de João Pessoa/PB.
Categorias de PET proposta por Souza (2010) para Salvador/BA.
+3 +2 +1 0 -1 -2 -3
Sensação Muito - Calor - Leve Conforto Leve Frio Muito
térmica Calor Calor Frio Frio
PET (ºC) >34 - 29 - 34 - 27 - 29 < 27 - - -
Classes climáticas proposta por Souza (2010) para o MCU de João Pessoa/PB.
Classes 8 7 6 5 4 3 2 1 -
Sensação Muito Forte Calor Moderado Leve Neutro Leve Frio -
térmica Calor Calor Moderado Calor Calor Frio
Forte

5. CONCLUSÕES
A calibração de mapas de clima urbano requer um número significativo de dados climáticos e físico-
geográficos locais, conhecimento a respeito da sensação térmica da população, tempo expressivo para
tratamento e processamento das informações e recursos computacionais adequados. É um processo que se
torna contínuo, visto a complexa dinâmica do clima, das sensações humanas e das transformações urbanas.
O local analisado mostrou-se favorável a elevação da temperatura do ar, a redução da umidade
relativa do ar e ao desconforto térmico de seus usuários em grande parte do dia. As entrevistas de sensação
térmica constataram que a maioria dos usuários sente muito calor mesmo em áreas sombreadas, contudo um
número significativo de pessoas respondeu que se sentia confortável ou neutro, o que pode indicar uma certa
tolerância do corpo à situação de estresse térmico.
O emprego das ferramentas de simulação computacional mostrou-se eficaz, o que facilitou o
entendimento da dinâmica dos elementos climáticos ao longo do tempo e espaço, assim como para a
obtenção de informações necessárias a pesquisa. Diante do método empregado, as variáveis termo-
higrométricas foram utilizadas como parâmetro de referência e os resultados foram tratados como
indicadores de tendências. Desse modo, observou-se que o desconforto térmico acontece em momentos onde
se registram valores de temperatura do ar acima dos 28ºC e de umidade relativa do ar abaixo dos 60%.
A sensação térmica dos transeuntes pôde ser valorada pelo índice PET e apresentou uma grande
amplitude. Ainda que se encontrem horários com uma situação climática adequada ao conforto (06:00h e
18:00h), o desconforto térmico nos demais horários analisados é muito acima do considerado desejável ao
bem-estar humano. Aplicando a classificação de sensação térmica de Salvador aos resultados do índice, o
limite de temperatura confortável de 27º é superado em pelo menos 10,9ºC nos horários mais quentes.
Por fim, utilizando como parâmetro o resultado do enquadramento da praça Vidal de Negreiro nas
categorias de PET de Salvador e correlacionando-a às classes do MCU de João Pessoa, verifica-se que a área
ainda se enquadra na classe 8 de sensação térmica “muito calor”. Observando esta correlação conclui-se que
esta classe climática representa adequadamente a área de muito calor, assim não se faz necessário uma
calibração neste momento, ou seja, uma mudança nos valores de escala de sensação térmica ou um possível
reagrupamento de classes.
A análise de outras áreas da cidade de João Pessoa faz-se necessária para uma calibração completa das
classes climáticas do MCU, mas o método proposto neste estudo pode auxiliar neste processo, assim como
1114
contribuir em pesquisas que busquem compreender relações entre a dinâmica do clima e a sensação de
conforto higro-térmico humano em espaços urbanos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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e avaliação de projeto de edificações. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo). Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, USP, São Paulo, 1992.
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historical small center with the envi_met® climate model. Sustainability - Open Access Journal 2014,6,7013-7029;
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1115
CONFORTO TÉRMICO EM RESIDÊNCIAS DE DIFERENTES
CARACTERÍSTICAS CONSTRUTIVAS EM JOINVILLE/SC
Leticia Silveira Moy (1); Ricardo Forgiarini Rupp (2); Enedir Ghisi (3)
(1) Engenheira Civil, leticiamoy@hotmail.com
(2) Doutor, Pós-doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, ricardorupp@gmail.com
(3) PhD, Professor do Departamento de Engenharia Civil, enedir.ghisi@ufsc.br
Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Engenharia Civil, Laboratório de Eficiência
Energética em Edificações, Caixa Postal 476, Florianópolis - SC, 88040-900, Tel.: (48) 3721-2392

RESUMO
Considerando o cenário atual do aumento das temperaturas globais e da dependência por energia elétrica
para alcançar o conforto térmico, este trabalho tem como objetivo avaliar o desempenho térmico de
residências em Joinville/SC e o conforto térmico de seus moradores. Foram monitoradas três residências
durante 128 dias, em um período predominantemente frio. Comparou-se a temperatura externa e interna de
cada residência para a análise do desempenho térmico. O estudo de conforto térmico foi feito por meio da
aplicação de questionários, com questões referentes à preferências e sensações térmicas dos usuários no
momento da resposta, que serviram como base para estabelecer correlações entre os dados e analisar
possíveis padrões nas respostas. Buscou-se encontrar relações entre os parâmetros avaliados e comparar
temperaturas e umidades das diferentes residências e ambientes monitorados. As correlações foram avaliadas
e comparadas com resultados obtidos por estudos semelhantes. Quanto ao desempenho térmico, ao analisar
os dados de temperatura, notou-se que devido aos padrões construtivos, uma das residências registrava
valores bem mais baixos que as demais. As correlações de conforto térmico entre o isolamento das
vestimentas e os dados de sensação térmica e temperatura foram significativas, conforme a teoria de conforto
adaptativo. Os resultados obtidos neste trabalho demonstram a influência dos padrões construtivos das
residências no seu desempenho térmico. Os resultados de conforto térmico condizem com o estudo do
conforto adaptativo, podendo-se atribuir as diferenças entre as temperaturas obtidas nesse trabalho e os
demais à capacidade de adaptação dos usuários ao ambiente que vivem.
Palavras-chave: residência unifamiliar, estudo de campo, conforto adaptativo, desempenho térmico.

ABSTRACT
Considering the current scenario of increasing global temperatures and the dependence on electric power to
achieve thermal comfort, this work aims to evaluate the thermal performance of residences in Joinville/Brazil
and the thermal comfort of their occupants. Three residences were monitored over 128 days in a
predominantly cold period. The external and internal temperatures of each residence were compared for the
thermal performance analysis. The study on thermal comfort was carried out through the application of
questionnaires, with questions regarding the user’s thermal preferences and sensations at the moment of the
response, which served as a basis for establishing correlations between the data and analyzing possible
patterns in the responses. It was sought to find relationships between the evaluated parameters and to
compare temperatures and humidities of the different residences and monitored environments. Correlations
were evaluated and compared with results obtained in similar studies. As for the thermal performance, when
analyzing the temperature, it was noticed that due to the construction standards, one of the residences had
temperatures much lower than the others. The correlations of thermal comfort between the clothing
insulation and the thermal sensation and temperature were significant, according to the theory of adaptive
comfort. The results obtained in this work show the influence of the characteristics of the residence in their
thermal performance. In addition, the results on thermal comfort confirm and conform to the adaptive
comfort theory, so that the differences between the temperatures obtained in this work and the others can be
attributed to the adaptability of users to the environment in which they live.
Keywords: single family residence, field study, adaptive comfort, thermal performance.
1116
1. INTRODUÇÃO
Com a evolução da sociedade também aumenta a demanda por tecnologias que satisfaçam os novos
interesses da população. Neste contexto, o consumo de energia elétrica cresce em todos os setores,
ameaçando a capacidade mundial de suprir toda essa energia e levando a ocorrência de crises energéticas
como as de 2001 e 2005 no Brasil. No setor da Construção Civil, a possibilidade de economia de energia no
setor residencial por meio de técnicas visando maior desempenho térmico das edificações mostra-se
fundamental ao analisar-se os dados do Balanço Nacional de Energia do ano de 2016. Enquanto houve queda
total do consumo de energia de 0,9% devido à desaceleração da economia, esse setor em contraste aos
demais aumentou em 1,4%, representando 9,7% do consumo total de energia do país e 25,6% do consumo
total de eletricidade (EPE, 2017).
Somado ao alto consumo energético das edificações no país, o aumento da temperatura terrestre
devido às mudanças climáticas gera a necessidade de redução dos efeitos do aquecimento global por meio da
utilização de estratégias passivas nos futuros projetos de edificações (INVIDIATA; GHISI, 2016). As novas
soluções construtivas, compostas por diferentes composições de materiais e maiores preocupações quanto às
orientações das edificações, fizeram com que fosse possível a melhora do desempenho térmico com algumas
mudanças na elaboração dos projetos. Neste cenário, em 2005 foi criada a primeira Norma Brasileira
referente ao desempenho térmico em edificações: a ainda vigente NBR 15220 (ABNT, 2005), que tem como
objetivo diminuir o consumo de energia com condicionamento artificial e alcançar maior conforto térmico
dos usuários. Em 2013 foi lançada outra norma sobre edificações residenciais, a NBR 15575 (ABNT, 2013).
A partir da criação das normas notou-se maior preocupação quanto ao desempenho e conforto térmico,
quando estes assuntos se tornaram mais presentes em pesquisas e trabalhos acadêmicos. De acordo com o
Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edificações Residenciais
(RTQ-R), o nível de eficiência energética de uma edificação se dá por meio da avaliação da envoltória e do
sistema de aquecimento da água, que dependem da região geográfica e da zona bioclimática (PROCEL
EDIFICA et al., 2012). As características da região geográfica em que a edificação se localiza, por exemplo,
a altitude, latitude e topografia, influenciam diretamente nas condições climáticas locais, como a
temperatura, a umidade relativa do ar e a velocidade do vento (OLGYAY, 2008). Com o objetivo de adequar
as construções ao clima, a NBR 15220-3: Desempenho térmico em edificações (ABNT, 2005) divide o país
em oito zonas bioclimáticas, definidas segundo dados climáticos de temperatura e umidade. Desse modo,
existem recomendações específicas para cada uma das zonas bioclimáticas (PROCEL EDIFICA et al.,
2012).
A envoltória é um fator determinante para o desempenho térmico e é composta por elementos que
estão em contato com o meio externo, sendo divididos em quatro grupos principais: paredes, coberturas,
pisos e aberturas. As diferentes características termofísicas relacionadas aos materiais utilizados, como a
transmitância térmica, absortância e capacidade térmica, influenciam significativamente nas características
termofísicas da envoltória (FERREIRA et al., 2017). Existem também outros fatores a serem considerados
no desempenho térmico das edificações, como o microclima do local onde essas se encontram, o qual não
pode ser desprezado em termos de desempenho térmico. Por sua vez, o entorno construído afeta diretamente
o microclima da região em que a edificação está localizada (VASCONCELLOS; CORBELLA, 2007).
Dessa forma, é possível notar a importância do estudo da região em que a edificação se localiza,
identificando sua zona bioclimática e a escolha dos materiais da envoltória, garantindo assim desempenho
térmico satisfatório do projeto e, eventualmente, o conforto térmico relacionado aos usuários, definido por
Fanger (1970) como “a condição da mente em que se expressa satisfação com o ambiente térmico inserido”.
Para alcançar esse estado, existem diversos fatores a serem considerados. Nesse estudo, utilizou-se a
abordagem de conforto adaptativo, ou seja, ao passar por uma situação de desconforto térmico, as pessoas
tendem a se adaptar de modo a restaurar o seu conforto térmico (DE DEAR; BRAGER; COOPER, 1997).
Estudos de conforto térmico em edificações residenciais têm sido realizados em diferentes regiões, como na
Índia (INDRAGANTI; RAO, 2010), na Austrália (KIM et al., 2017) e na China (SONG et al., 2018).

2. OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo principal verificar a influência das características de diferentes edificações
unifamiliares no desempenho térmico da edificação e avaliar o conforto térmico dos usuários.

3. MÉTODO
O método deste trabalho divide-se em cinco etapas: Descrição do clima de Joinville/SC; Escolha das
residências; Medições em campo; Aplicação de questionários; Tratamento e análise dos dados.

1117
3.1. Descrição do clima de Joinville/SC
A cidade de Joinville encontra-se no Sul do Brasil e é a maior cidade de Santa Catarina, com 1.124,5 km².
Localiza-se na região nordeste do Estado, em latitude sul 26°18’05’’ e longitude oeste 48°50’38’’. O clima
da cidade é do tipo úmido a superúmido, com umidade relativa média anual do ar externo de 76,0%. Devido
ao seu relevo, apresenta três subclasses de microclima diferentes. A cidade pertence à zona bioclimática 5
(ABNT, 2005). As direções predominantes dos ventos são as direções leste (26,5%) e nordeste (16,4%)
(IPPUJ, 2017). A cidade possui, na maior parte do ano, temperaturas amenas, porém com diferenças claras
entre estações quentes, amenas e frias. A temperatura média anual é de 21,7°C, a máxima é de 31,0°C no
mês de janeiro e a mínima é de 13,0°C em julho. Outra característica marcante da cidade é a grande
ocorrência de chuvas, com precipitação média mensal de 169,8mm (IPPUJ, 2017).

3.2. Escolha das residências


A escolha das residências foi feita de forma a obter-se locais que possuíssem temperaturas externas
semelhantes, por meio da proximidade entre eles. Dessa forma, foram escolhidas três casas no bairro Costa e
Silva, localizado na região oeste da cidade. Duas das casas encontram-se no mesmo condomínio,
distanciando-se 80 metros entre si. A terceira casa está a 660 metros da casa mais distante, como mostra a
Figura 1.

Figura 1 – Proximidade entre as residências escolhidas.

3.3. Medições em campo


Para obter as temperaturas internas das residências, foram utilizados sensores distribuídos nos ambientes de
permanência prolongada de cada uma das residências. Os equipamentos utilizados foram do tipo Hobo data
logger H8, da Onset Computer Corporation, que medem temperatura e umidade relativa do ar. Todos os
equipamentos foram emprestados pelo Laboratório de Conforto Ambiental (LabCon) da UFSC. As
temperaturas e umidades relativas do ar externo foram obtidas a partir do requerimento de dados ao Centro
de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (CIRAM). O período de
medição foi do dia 1º de junho até dia 7 de outubro de 2018.
No total foram alocados onze sensores. Na Residência 1, foram alocados sensores em dois dos três
quartos (o terceiro quarto não foi estudado, pois não possui ocupante permanente), um na cozinha e um na
sala de estar conjugada, totalizando quatro sensores. Na Residência 2, alocou-se um sensor na cozinha e um
em cada quarto, sendo três sensores no total. Com três quartos, a Residência 3 foi contemplada com quatro
sensores, um em cada quarto e um na sala de estar. As medições foram feitas em intervalos de 30 minutos.
Optou-se por continuar as medições durante a primeira semana do mês de outubro devido às temperaturas
mais altas registradas no início desse mês.
Durante o período de estudo nas três residências, os sensores foram fixados em móveis dos ambientes,
com pedaços de velcro, de forma a não estarem diretamente encostados nos móveis. Todos os sensores foram
colocados ou no centro do ambiente, ou a pelo menos um metro de distância de cada uma das paredes
externas. Os sensores foram posicionados a uma altura de 0,6 metros acima do nível do piso, conforme
recomendações da norma ASHRAE 55 (ASHRAE, 2017) para ocupantes sentados. Todos os sensores foram
calibrados previamente à realização do estudo.

3.4. Aplicação de questionários


Foram adotados dois tipos de questionários para realizar o estudo. O primeiro questionário foi aplicado
apenas uma vez, de forma a conhecer as características dos usuários, contendo perguntas demográficas e
pessoais, como idade, altura, peso e nível de escolaridade, além de perguntas sobre hábitos para a obtenção
de conforto e práticas usuais.
O segundo questionário foi referente à percepção térmica no momento da resposta. Uma vez por
semana era enviado aos entrevistados o questionário via celular, em dias e horários diferentes, porém com

1118
predominância do período noturno devido à disponibilidade dos entrevistados, durante todo o período de
medição dos sensores. O questionário foi elaborado na plataforma Google Forms, e de forma a ser um
questionário rápido de ser respondido, com duração aproximada de dois minutos. Nesse questionário, as
perguntas eram sobre a sensação, preferência e conforto térmico dos usuários. A Figura 2 mostra o
fluxograma do questionário. Após a identificação do usuário e localização dele na residência, havia a
pergunta sobre sensação térmica, com sete possíveis respostas variando entre os extremos de -3, “com muito
frio” e +3 “com muito calor”, conforme a escala de 7 pontos de sensação térmica da ASHRAE 55. A quarta
pergunta era sobre conforto térmico, ou seja, o usuário poderia estar “confortável”, “ligeiramente
confortável”, “ligeiramente desconfortável” ou “desconfortável”. Logo após, questionava-se se o usuário
preferia estar “mais aquecido (+1)”, “assim mesmo (0)” ou “mais resfriado (-1)”. Em seguida eram feitas
perguntas sobre as estratégias que estavam sendo utilizadas no cômodo, como uso de aparelhos de ar-
condicionado, ventiladores, entre outros; além da pergunta sobre o tipo de roupa utilizada no momento da
resposta, que poderia variar entre quatro respostas (muito leve, leve, casual e pesada) e sobre o uso de
alguma peça de roupa extra como luvas e cachecóis. Maiores informações sobre os questionários aplicados
podem ser consultadas em Moy (2018).

Figura 2 – Fluxograma do questionário semanal.

3.5. Tratamento e análise dos dados


Para a interpretação dos resultados obtidos, realizaram-se análises dos dados coletados por meio de planilhas
eletrônicas e gráficos no software Microsoft Excel. Os resultados de temperatura interna obtidos foram
agrupados em planilhas eletrônicas, de acordo com seu respectivo ambiente, residência e mês de coleta. Os
dados de temperatura interna e externa foram comparados com suas respectivas respostas aos questionários
de conforto térmico.
Inicialmente, foi analisada a influência das propriedades construtivas das residências no desempenho
térmico das mesmas. Para isso, utilizou-se a diferença entre os dados obtidos de temperaturas médias diárias
internas e externas, que foi analisada e comparada com as características dos ambientes e residências. Dessa
forma, constatou-se quais fatores poderiam ter sido mais ou menos influentes nas divergências entre as
temperaturas internas e externas.
Os dados obtidos por meio dos questionários semanais foram correlacionados com os dados de
temperatura registrados no cômodo em que foi respondido o questionário, sendo possível analisar sua
influência nos parâmetros estudados. Para isso, elaboraram-se gráficos, facilitando a análise e o
entendimento da relação entre os dados. Para a correlação da temperatura com sensação térmica, conforto
térmico e vestimenta, os dados destes parâmetros foram agrupados por faixa de temperatura, realizando uma
média aritmética entre os dados existentes em cada faixa, de modo que a cada 1°C existisse apenas um valor
correspondente da outra variável. Na correlação da vestimenta e sensação térmica, realizou-se uma média
aritmética dos valores de isolamento da vestimenta correspondentes a cada um dos sete pontos de sensação
térmica. Adotou-se para fins de estudos os valores de isolamento térmico para cada tipo de roupa iguais aos
do estudo de Kim et al. (2017). Para roupas muito leves, considerou-se o isolamento de 0,2 clo; para roupas
leves, 0,4 clo; para roupas casuais, 0,6 clo; por fim, para roupas pesadas adotou-se 1,0 clo. Analisou-se
também o uso de ajustes ambientais na sensação térmica sentida.
Para a realização do gráfico de conforto, dividiu-se as respostas “Desconfortável”, “Ligeiramente
desconfortável”, “Ligeiramente confortável” e “Confortável” em faixas de porcentagem de conforto, 0-25%,
25-50%, 50-75% e 75-100%, de modo a obter-se a porcentagem de usuários confortáveis. Depois, realizou-
se a média das porcentagens para cada faixa de temperatura de modo a obter-se apenas um valor de
porcentagem de usuários confortáveis por temperatura.
Por fim, pelo método de Griffiths, obteve-se a temperatura de neutralidade térmica para cada
resposta ao questionário semanal e foi realizada a média aritmética dos valores encontrados para obter-se a
temperatura de neutralidade do estudo. O método de Griffiths é utilizado em diversos estudos relacionados

1119
ao conforto térmico (HUMPHREYS et al., 2013; RUPP et al., 2018) e consiste na obtenção da temperatura
de neutralidade para cada resposta de sensação térmica de acordo com a Equação 1.

Tneutra=Toper-TSV/G Equação 1
Onde:
Tneutra é a temperatura de neutralidade térmica [°C];
Toper é a temperatura operativa no ambiente em que a resposta foi registrada [°C]. Neste trabalho, foi adotada
a temperatura do ar;
TSV é o voto de sensação térmica [adimensional];
G é a constante de Griffiths [°C-1], adotada como 0,5 neste trabalho, de acordo com outros estudos
semelhantes, como o de Rupp (2018).

4. RESULTADOS
Apresenta-se os resultados obtidos por meio de análises e correlações dos dados gerados. Da mesma forma,
são expostas as características de cada uma das residências monitoradas, de modo a obterem-se comparações
entre as diferentes residências.

4.1. Residências estudadas e perfil dos entrevistados


A primeira residência possui quatro pavimentos, com três quartos e uma área total de 330m². Esta residência
é ocupada por quatro moradores. Sua fachada principal está localizada a oeste e seu entorno possui dois
prédios, um terreno baldio e uma casa. Suas paredes foram executadas com tijolo cerâmico de 6 furos,
revestidas com argamassa e pintadas na cor amarela. Sua cobertura é composta por telha cerâmica cinza,
manta térmica e laje. Suas esquadrias são de madeira, com veneziana e vidro simples. A Figura 3 mostra sua
fachada principal. A segunda residência é uma residência térrea, com dois quartos, área de 160m² e três
moradores. Como está localizada em um condomínio, ela é cercada apenas por outras casas, em todos os
lados. Sua fachada principal está localizada a oeste. Suas paredes foram executadas com tijolo cerâmico de 6
furos, revestidas com argamassa e pintadas na cor cinza. Sua cobertura é composta por telha cerâmica cinza e
laje. Suas esquadrias são de madeira, com vidro simples. A Figura 4 mostra sua fachada principal. A
Residência 3 possui dois andares, três quartos, área de 200m² e três moradores. Apesar de estar em um
condomínio, esta casa se localiza no extremo da rua, de forma que é cercada apenas por duas casas e nos
outros dois lados há terrenos baldios. Tem suas paredes executadas com tijolo cerâmico de 6 furos,
revestidas com argamassa e pintadas na cor cinza. Sua cobertura é composta por telha cerâmica natural. Suas
esquadrias são de madeira com vidro simples. Sua fachada principal possui orientação sudoeste, como
mostra a Figura 5.
Neste estudo foram entrevistados dez ocupantes das residências, sendo a maioria deles mulheres
(60%), com idade média dos entrevistados de 32 anos, peso médio de 69kg e altura média de 1,71m.

Figura 3 – Fachada da Residência 1. Figura 4 – Fachada da Residência 2. Figura 5 – Fachada da Residência 3.

4.2. Desempenho térmico


Por meio dos registros de temperatura e suas comparações, foi possível avaliar o desempenho térmico dos
ambientes monitorados. Totalizaram-se 67.782 medições em todos os cômodos. Comparando as
temperaturas obtidas em cada uma das residências, é possível notar a diferença de temperatura entre a
Residência 1 e as Residências 2 e 3, como mostra a Figura 6. A Residência 1 possui temperatura interna mais
baixa que as demais, estando mais próxima da temperatura externa, pois possui pé-direito mais elevado e
ambiente maiores, resultando em maior volume de ar nos espaços.

1120
As temperaturas mínimas possuem diferenças de até
3,9°C entre a residência mais fria (Residência 1) e a
mais quente (Residência 2). Quando analisadas as
temperaturas máximas, pode-se notar que a
Residência 2 é a que registra os maiores valores.
Como visto na seção anterior, este fato pode dever-
se à Residência 2 ser uma residência térrea, portanto
com maior incidência solar direta nos ambientes
monitorados, como concluído por Indraganti e Rao
(2010). Outro fator de grande contribuição para o
Figura 6 – Comparação entre as temperaturas médias diárias de aumento da temperatura nessa residência é o seu
cada residência e a temperatura média diária externa. entorno, pois ao contrário das outras duas
residências, seu entorno é composto
por outras residências, de modo que não há o resfriamento causado pela presença de vegetação, conforme
exposto por Castaldo et al. (2018). O sombreamento causado pelas casas vizinhas se mostrou pequeno
devido à distância entre elas.

Figura 7 – Comparação das temperaturas de cada cômodo da Figura 8 – Comparação das temperaturas de cada cômodo da
Residência 1. Residência 2.

Na Residência 1 nota-se que o ambiente mais quente


monitorado é a sala (Figura 7). Esse fato pode ser
devido à presença de uma esquadria existente em
toda a extensão da altura do pé-direito, facilitando a
incidência dos raios solares. A suíte, que possui a
mesma orientação da sala, registra temperaturas
maiores que os outros dois cômodos, indicando
influência da orientação solar na temperatura interna.
Nota-se casos em que a temperatura da cozinha
chega a se igualar à temperatura externa. A sua
localização térrea, proximidade a entornos com
grande presença de vegetação e orientação são
Figura 9 – Comparação das temperaturas de cada cômodo da
alguns dos fatores que influenciam nesse
Residência 3. comportamento. Pode-se observar a capacidade da
casa manter sua temperatura
relativamente constante, apesar da variação da temperatura externa. Manter as portas e janelas fechadas
durante o período da noite torna-se uma prática satisfatória para manter a temperatura constante. A abertura
de janelas, a partir do início da manhã, gera uma redução significativa nos valores registrados (2,0°C). Dessa
forma, pode-se concluir que o desempenho térmico da residência foi satisfatório e, ao analisar as respostas
do questionário (Figura 17), nota-se baixo uso de ajustes ambientais ativos (aquecedores, aparelhos de ar-
condicionado, entre outros), de modo que se atribui o desempenho aos meios passivos, como a envoltória e
aberturas.
A Figura 8 evidencia a baixa variação na temperatura por ambiente monitorado na Residência 2, com
predominância de temperaturas mais altas na suíte. Nota-se também que, apesar de variações semelhantes, as
temperaturas internas registram valores mais altos que a externa, havendo poucos pontos de equivalência.

1121
Assim como na Residência 1, é possível verificar um bom desempenho térmico da residência, sendo também
atribuído aos meios passivos.
Na Figura 9 é possível notar a pequena variação nas temperaturas, com diminuição da diferença entre
a temperatura externa e as internas com o aumento da temperatura na Residência 3. Essa pequena variação
pode dever-se ao fato de todos os ambientes monitorados possuírem pelo menos uma fachada externa para a
mesma orientação e também por nenhuma das fachadas estar paralela às orientações leste e oeste, que tem
maior incidência solar pelo período da manhã e da tarde, respectivamente.

4.3. Conforto térmico


A Tabela 1 mostra Tabela 1 – Resumo das respostas do questionário semanal.
resumidamente as respostas
referentes ao questionário Variável Residência 1 Residência 2 Residência 3
Número de observações 35 32 15
semanal. Nota-se que mesmo
Sensação térmica média -0,11 -0,40 -0,47
morando na casa com Preferência média 0,14 0,20 0,20
temperaturas mais baixas, os Conforto médio (%) 74,0 91,5 75,0
moradores da Residência 1 são Temperatura média interna (°C) 19,7 21,3 20,6
os que mais registraram votos de Temperatura média externa (°C) 17,4
sensação levemente com calor Umidade média interna (%) 73,4 71,1 73,8
no questionário, indicando uma Umidade média externa (%) 91,8
adaptação dos usuários às Isolamento médio das vestimentas (clo) 0,68 0,63 0,62
temperaturas mais baixas
encontradas na casa. Com voto máximo de +2 e mínimo de -1, a Residência 2 apresentou maior número de
usuários confortáveis. Como essa residência também se mostrou a mais quente, esse quadro poderia ser o
contrário nos períodos mais quentes do ano.

4.3.1. Relação entre sensação térmica e temperatura


Neste trabalho, correlacionou-se os votos de sensação térmica e temperatura do ar interno (Figura 10). Nota-
se que o valor da sensação térmica aumenta com o aumento da temperatura do ambiente.
Devido ao período de monitoramento deste trabalho ter ocorrido em
meses em que predominam o frio, não houve respostas registradas dos
votos mais extremos de calor (“com calor” e “com muito calor”).
Houve predominância no voto “Neutro”, correspondendo a 58% do
total de votos. Somando os votos nas sensações “levemente com frio”
e “levemente com calor” com as sensações de “neutro”, chegou-se a
um valor de 91% dos votos totais indicando poucas situações de
Figura 10 – Relação entre sensação
sensações térmicas mais extremas.
térmica e temperatura.
A linha de tendência traçada (Figura 10) possui um coeficiente de determinação (R²) de 0,61,
evidenciando certa correlação entre os dados. O estudo de Song et al. (2018), também em climas úmidos,
encontrou R² de 0,91 para os mesmos parâmetros. Essa diferença no índice de determinação deve-se à
dificuldade em haver um padrão nesse tipo de correlação, visto que está relacionada a preferências pessoais
de cada usuário.
Correlacionou-se também os dados de sensação térmica e temperatura interna por residência. Por
meio das correlações foi possível observar que, apesar de a Residência 2 ser a mais quente, seus usuários
relataram sensação térmica mais baixa que na residência mais fria (Residência 1). Isso pode indicar
habituação dos usuários da Residência 1 às temperaturas mais baixas.

4.3.2. Temperatura de neutralidade térmica


Por meio do método de Griffiths, obteve-se valor de Tneutra igual a 21,6°C. Esta temperatura obtida mostrou-
se mais baixa que as encontradas em estudos semelhantes; Song et al. (2018) encontraram temperatura de
neutralidade térmica de 24,7°C para usuários em Tianjin, China, no período de verão. Este fato pode ter
ocorrido, pois as temperaturas em Tianjin são mais altas que as temperaturas registradas durante o período de
monitoramento desse trabalho em Joinville. Dessa forma, obteve-se média mais alta de temperatura de
neutralidade térmica.

1122
A Figura 11 mostra a variação da preferência térmica para os
usuários com votos em “neutro” na sensação térmica. Observa-se que
a maioria dos votos possui preferência em continuar “assim mesmo”.
Porém, existem respostas mostrando que, mesmo com sensação
neutra, existem usuários que preferiam estar mais resfriados ou mais
aquecidos, indicando que a sensação considerada neutra pode não ser
Figura 11 – Relação entre temperatura
de neutralidade e preferência térmica.
a ideal para todos os usuários.

4.3.3. Relação entre usuários confortáveis e temperatura


Na Figura 12 é possível observar uma linha de tendência
polinomial, evidenciando que as temperaturas em que os
usuários obtêm maior conforto são as temperaturas
amenas, centrais no eixo das temperaturas. O coeficiente
de determinação foi de 0,44, mais baixo que o de 0,77
obtido por Song et al. (2018). Neste estudo, a
temperatura em que se obteve o máximo conforto foi a
de 23°C. Figura 12 – Relação entre pessoas confortáveis e temperatura.
Outra análise foi a da faixa de temperatura em que 90% dos usuários sentiam-se confortáveis. A
partir da equação da linha de tendência calcularam-se as temperaturas extremas da faixa de conforto. Dessa
forma, a faixa em que 90% dos usuários estão confortáveis é de 19,8°C e 27,6°C, com 7,4°C de variação.
Rupp (2018) encontrou um valor similar (7,6°C para 80% de conforto) no seu estudo em escritórios em
Florianópolis/SC. Song et al. (2018) obtiveram variação de 7,3°C para a faixa em que 80% dos usuários
estavam confortáveis no seu estudo em edificações residenciais em Tianjin, China.
Dessa forma, a variação encontrada nesse Tabela 2 – Porcentagem de conforto térmico em cada Residência.
trabalho é condizente com as demais
encontradas na literatura. Porém, pode-se Voto de conforto
Residência 1 Residência 2 Residência 3
notar que comparada aos demais trabalhos, a térmico
variação encontrada é maior, pois trata-se da Confortável (%) 68,6 81,2 60
faixa de 90% de conforto. Isso indica que os Ligeiramente
14,3 15,6 20
usuários do estudo toleraram maiores confortável (%)
variações de temperatura que os demais. A Ligeiramente 14,1 3,2 20
partir da Tabela 2 pode-se ver que os usuários desconfortável (%)
mais confortáveis são os da Residência 2 e os Desconfortável (%) 3 0 0
únicos votos em “desconfortável” foram de
usuários da Residência 1, que também é a
mais fria.

4.3.4. Relação entre preferência térmica e temperatura


A partir dos dados obtidos por meio do questionário,
relacionou-se a preferência térmica com a temperatura,
como mostra a Figura 13. Um fato marcante é que em
diferentes faixas de temperatura (por exemplo, de 16ºC a
18ºC e de 22°C a 25°C), os usuários preferiram estar da
mesma maneira que estavam, apesar das demais
respostas de sensação térmica e conforto térmico. Votos
de preferência térmica por estar mais resfriado foram Figura 13 – Relação entre preferência térmica e temperatura.
quase inexistentes. Na faixa entre 19ºC e 21ºC e, com
15ºC, foram reportadas preferências por estar mais
aquecido.

1123
4.3.5. Escolha da vestimenta
A escolha da vestimenta é um fator importante no
estudo de conforto térmico, visto que possibilita ao
usuário alternativa de adaptar-se ao ambiente
térmico. Por meio da Figura 14 pode-se notar a alta
correlação entre o isolamento da vestimenta e a
temperatura (R² igual a 0,84), valor próximo ao
obtido por Song et al. (2018). Constata-se o aumento
de 0,1 clo no isolamento da vestimenta a cada
decréscimo de 1,8°C na temperatura. Esse resultado
obtido é semelhante ao encontrado no estudo de Kim
et al. (2017), realizado em edificações residenciais
Figura 14 – Relação entre escolha da vestimenta e temperatura.
em Sydney, na Austrália, em que a cada 1,8°C
reduzido na temperatura havia um aumento de 0,1 clo
na faixa entre 19°C e 26°C.

4.3.6. Uso de ajustes ambientais


A Figura 15 apresenta os ajustes ambientais em
função da sensação térmica. Nota-se o uso de
aquecedores (elétricos ou a óleo) nos votos de
sensação térmica mais baixos. A estratégia de
fechar portas e janelas mostra-se mais utilizada
na sensação térmica de “com frio” a
“levemente com calor”, tendo seu pico na
sensação neutra, sendo o ajuste mais utilizado Figura 15 – Sensação térmica e uso de ajustes ambientais.
nesse voto de sensação térmica. A partir do voto
de “levemente com frio” pode-se notar o aparecimento de ajustes ligados ao resfriamento do ambiente, como
a abertura de janelas e portas e o uso de aparelhos de ar-condicionado. Nota-se também a alta quantidade de
respostas referentes a nenhum uso de ajuste, principalmente no voto de sensação térmica “neutro”.

5. CONCLUSÕES
Em um panorama geral, analisando os resultados, nota-se que as residências apresentaram resultados
satisfatórios de desempenho térmico, principalmente as Residências 2 e 3, mantendo temperaturas mais
elevadas e estáveis ao longo do período de monitoramento (predominantemente durante o inverno). Quando
a obtenção de comparações do desempenho térmico entre edificações de diferentes características como
número de pavimentos, orientação solar e entorno, nota-se que ao analisar as médias das temperaturas
internas dos ambientes monitorados, foi possível verificar que a Residência 1 apresentou registros de
temperaturas mais baixas, a Residência 3 possuiu a menor oscilação de temperatura entre seus ambientes e
que a Residência 2 foi a que registrou maiores temperaturas.
Ao avaliar o conforto térmico sentido pelos usuários dessas edificações e analisar possíveis relações
com o desempenho térmico das residências, constatou-se que, mesmo a Residência 2 sendo mais quente,
seus usuários apresentaram votos de sensação térmica mais baixos que a residência mais fria (Residência 1).
Uma possível explicação seria a adaptação dos usuários da Residência 1 ao local em que vivem, de modo
que mesmo com temperaturas mais baixas os usuários expressaram sensações térmicas mais próximas à
neutralidade. Porém, conforme demonstrado pelos resultados de conforto térmico, os usuários da Residência
2 sentiram-se mais confortáveis do que os usuários das demais residências. Dessa maneira, evidencia-se
diferenças subjetivas na relação entre sensação térmica e conforto térmico. Portanto, recomenda-se sempre
incluir a questão sobre conforto térmico em questionários.
O valor da temperatura de neutralidade térmica encontrado foi de 21,6°C, enquanto o valor médio da
temperatura externa foi de 17,4°C. Quanto à faixa de 90% de conforto, obteve-se o intervalo de 19,8°C a
27,6°C, com 7,4°C de variação, similar ao encontrado por Rupp (2018) e Song et al. (2018). Este intervalo
pode servir como referência para a operação de residências durante o inverno em Joinville e cidades com
clima semelhante. No entanto, maior número de residências e usuários tornaria o estudo mais confiável e
permitiria realizar análises mais aprofundadas. Também cabe salientar que análises incluindo as épocas mais
quentes do ano são necessárias para investigar se as residências seguem obtendo bom desempenho também
no verão.

1124
Por fim, concluiu-se com este estudo que entender os padrões de desempenho e o comportamento
das edificações é uma forma de reduzir os gastos energéticos com estratégias para alcançar o conforto do
usuário. Com relação ao conforto térmico, torna-se evidente a influência de diversos fatores no conforto de
um usuário. Estes fatores podem ser tanto pessoais, dificilmente mudados, quanto fatores que podem ser
facilmente mudados como ajustes ambientais e vestimentas, de modo que o usuário pode escolher as
estratégias utilizadas e alcançar o conforto mais facilmente, adaptando-se conforme as condições térmicas da
residência.

REFERÊNCIAS
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1125
CONFORTO TÉRMICO E HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL:
AVALIAÇÃO PÓS- OCUPAÇÃO EM UNIDADES DO RESIDENCIAL
AGRESTE, ARAPIRACA – AL
Larissa Emily da Silva Santos (1); Simone Carnaúba Torres (2)
(1) Arquiteta e Urbanista, E-mail: larissaemilyss@gmail.com
(2) Doutora em Desenvolvimento Urbano, Professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal de Alagoas – Campus Arapiraca. E-mail: simone.torres@arapiraca.ufal.br.
Universidade Federal de Alagoas - Campus Arapiraca, Avenida Manoel Severino Barbosa - Bom Sucesso,
Arapiraca - AL, CEP: 57309-005. Arapiraca – AL. Tel.(82) 3482 1844

RESUMO
A difusão de conjuntos habitacionais implantados a partir do Programa Minha Casa Minha Vida, no cenário
brasileiro, foi marcada pela padronização construtiva gerando diversas fragilidades relacionadas com as
condições de conforto ambiental nos espaços internos de unidades edificadas. O objetivo do presente estudo
é realizar uma avaliação pós-ocupação de unidades habitacionais do conjunto Residencial Agreste,
localizado em Arapiraca – AL, com enfoque nos aspectos ambientas visando a análise qualitativa de
edificações. Foram realizadas medições das variáveis climáticas, temperatura e umidade relativa do ar, como
também, a verificação do atendimento à NBR15575 e NBR12220 quanto aos requisitos para alcance da
qualidade habitacional. Embora os requisitos da NBR155575 tenham sido atendidos, a avaliação das
unidades demostra que este atendimento não reflete na garantia de um desempenho térmico satisfatório, visto
que ocorreram diferenciações térmicas significativas entre as unidades, tanto nas originais, como nas
modificadas.
Palavras-chave: Habitação. Minha Casa Minha Vida. Conforto térmico. Avaliação pós-ocupação.

ABSTRACT
In Brazil, the housing estates of the Minha Casa Minha Vida Program have been diffused. However,
constrictive standardization has been marked by the adoption of solutions that are unsuited to the local
climate leads to poor thermal performance. The objective of this study is a post-occupancy evaluation
(APO)analysis of housing conditions in Agreste Residencial housing estate built by the Minha Casa Minha
Vida Program PMCMV, in Arapiraca –AL, focusing on environmental aspects. Monitoring of environmental
variables, temperature and relative air humidity were carried out, as well as the verification of compliance
with the brazilian NBR 15575 and NBR 15220 regarding requirements for reaching the quality of housing.
Significant thermal differences were observed between the original units and the modified units. Therefore,
although the requirements of NBR155575 have been met, the evaluation of the units shows that this service
does not reflect the guarantee of a satisfactory thermal performance.
Keywords: Housing. Minha Casa Minha Vida. Thermal comfort. Reform. Post-occupation evaluation.

1126
1. INTRODUÇÃO
A moradia é um direito social de caráter fundamental do ser humano resguardado pela Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, assim como, é um dever da União, dos estados e dos municípios
promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais da população
através de políticas públicas voltadas, principalmente, para os indivíduos de baixa renda.
De acordo com os dados populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010),
a população em Alagoas é de 3.120.494 pessoas, possuindo densidade demográfica de 112,33hab/km².
Enquanto que, no ano de 2015, o número de pessoas sem moradia nesse mesmo estado, é 95.342, de acordo
com a Fundação João Pinheiro em parceria com o Ministério das Cidades, Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Tais números,
que só crescem em todas as regiões do país, evidenciando a ineficiência do Estado, especialmente, na
contenção do déficit habitacional, apesar dos recentes esforços nesse âmbito com programas direcionados a
prover moradias às classes menos abastadas.
A problemática da Habitação de Interesse Social (HIS) foi, aparentemente, negligenciada pelas
políticas públicas desde 1986, com a extinção do BNH (Banco Nacional da Habitação), tido como um dos
principais agentes da política habitacional do governo militar, até 2003 com a criação do Ministério das
Cidades, que constituiu uma nova fase nas políticas habitacionais no país (SANTOS, 2017).
A criação de um novo plano surgiu no Ministério das Cidades, na tentativa de conter o crescimento do
déficit habitacional no país. O Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), lançado em 2009 e operado
pela Caixa Econômica Federal (CEF), tinha como meta inicial a criação de 1 milhão de residências para a
população de baixa renda em parceria com o setor privado, segundo dados do programa.
O Residencial Agreste, caso de estudo da presente pesquisa, é resultado de um desses
empreendimentos do MCMV e está situado na microrregião do agreste alagoano, no município de Arapiraca,
com população, de acordo com o último censo, correspondente a 214.006 (IBGE, 2010). Foi entregue em
2014 com 999 unidades destinadas a famílias selecionadas pelo poder público municipal com base na
situação cadastral de déficit habitacional das mesmas. O conjunto habitacional, como tantos outros no país,
está implantado na área periférica e desvalorizada do município. A cerca de 8,0km das centralidades, a área
foi incorporada à malha urbana do município somente em 2016 e ainda é desprovida de equipamentos
públicos sociais, mesmo estando há quatro anos habitado, o que demonstra que a população foi simplesmente
transportada para a localidade, sem haver uma preocupação efetiva com as condições habitabilidade.
A adoção de estratégias bioclimáticas e o uso de materiais construtivos capazes contribuir com a
adequação climática da edificação não têm sido constatados nesses empreendimentos, devido a padronização
construtiva, amplamente difundida, independente das diferentes realidades climáticas, culturais e sociais,
principalmente em unidades destinadas à faixa 1 (residências para famílias com renda familiar mensal de até
1.600,00 reais). Esta situação é um resultado da lógica da escala industrial na produção das habitações
(RUFINO, 2015). Neste sentido, observa-se, recorrentemente, nestes empreendimentos, a realização de
reformas pelos usuários para autogerir mudanças nas dimensões e configurações das residências a fim de
sanar as deficiências encontradas por suas famílias, por diversos aspectos, o que nem sempre acaba por ter
um desfecho positivo no comportamento térmico da edificação.

2. OBJETIVO
Objetivo deste artigo é apresentar a avaliação das condições de habitabilidade de unidades habitacionais de
interesse social localizadas no Residencial Agreste, no município de Arapiraca – AL, considerando os
aspectos relacionados conforto térmico e as reformas realizadas pelos moradores na fase pós-ocupação.

3. MÉTODO
3.1. Caracterização climática e socioespacial do objeto de estudo
Para análise dos fatores relacionados ao desempenho térmico das edificações, foi necessária a compreensão
do perfil climático da cidade de Arapiraca-AL e identificação de estratégias bioclimáticas aplicáveis ao
projeto arquitetônico. Este entendimento é fundamental para a avaliação do padrão de adequação das
construções. Desta forma foi realizada a pesquisa bibliográfica e documental sobre a caracterização climática
da cidade.
De acordo com Silva (2017) e Torres (2017), o clima de Arapiraca é composto basicamente por duas
estações: a estação quente e seca (período de outubro a abril) e a estação quente e úmida (período de maio a
setembro). A primeira é caracterizada pelo registro de temperaturas do ar elevadas (médias acima de 25°C,
podendo alcançar valores máximos acima de 33°C), baixa umidade relativa do ar (valores mínimos absolutos
1127
abaixo de 40%), alta amplitude térmica (variações diurnas acima de 10°C) e baixa pluviosidade. A estação
quente e úmida é caracterizada por temperaturas do ar menos elevadas (valores médios abaixo de 25ºC e
mínimas absolutas de aproximadamente 17°C), umidade relativa do ar alta (valores médios mensais acima de
85%) e baixa amplitude térmica. Silva (2017) ainda investigou a direção predominante dos ventos em
Arapiraca por meio de estudos de frequência das observações diárias, para cada mês ao longo dos anos, na
qual a partir da análise dos dados coletados, verificou-se que as orientações Leste (E) e Sudeste (SE)
ocorrem com maior frequência na cidade, sendo a direção Leste (E) predominante, com 42,19% de
ocorrências, e a Sudeste (SE), secundária, com 31,19%.
As principais estratégias bioclimáticas para adequação de edificações de acordo com o perfil climático
local são: ventilação natural, sombreamento e resfriamento evaporativo (SILVA, 2017; TORRES, 2017)
A caracterização físico-espacial do Residencial Agreste foi realizada a partir da análise de aspectos
ambientais e de infraestrutura habitacional e urbana, obtidos por meio de levantamentos in loco. Estes
levantamentos foram desenvolvidos a partir de registros fotográficos e confecção de plantas e mapas e
entrevistas semiestruturadas com os moradores das unidades habitacionais. Assim, foi possível identificar
modificações realizadas pelos usuários.
O Residencial Agreste foi construído em 2013 e entregue à população (faixa 1 -MCMV) um ano
depois, com 999 unidades habitacionais – quantidade estrategicamente pensada para resguardar ao poder
público a exoneração de construir equipamentos públicos como escolas, creches, praças etc. na localidade,
entre as quais, 30 (trinta) são adaptadas a portadores de necessidades especiais. O conjunto comporta 999
famílias, com uma média de 04 integrantes por edificação, totalizando cerca de 3.996 moradores em situação
de vulnerabilidade econômica.
As unidades estão organizadas espacialmente em 28 quadras, das quais 20 estão orientadas no
alinhamento Leste e Oeste e 8 quadras estão orientadas no alinhamento Norte e Sul. As residências padrão
estão inseridas nos lotes de 135m². Cada uma conta com 41,01m² de área construída contendo sala de
estar/jantar (10,08m²), cozinha (5,39 m²), dois quartos (8,33 m² cada), banheiro (3,63 m²) e área de serviço
descoberta, caracterizada por um tanque alocado na área externa da casa. As unidades originais possuem
recuo frontal de 5,00m, posterior de 5,55m e lateral de 1,60m, em apenas um dos lados, já que a outra lateral
é geminada, seguindo a implantação do conjunto residencial (ver descrição na seção 4 deste artigo).
As residências são construídas em alvenaria de tijolos cerâmicos de seis furos revestidos com reboco
paulista de 2,5cm de espessura pintadas com cores claras tanto interna quanto externamente. Nas paredes do
banheiro, cozinha e do tanque, há revestimento cerâmico até a altura de 1,50m. O piso possui revestimento
cerâmico padrão popular de cor clara – assim como as paredes. O forro é feito com PVC e instalado a 2,50m
de altura do piso, enquanto a cobertura é composta por um telhado de duas águas com telhas cerâmicas.

3.2. Seleção das unidades habitacionais para realização de monitoramento da temperatura do


ar nas unidades habitacionais e realização de entrevistas
Foram selecionadas as duas categorias possíveis de unidades habitacionais do residencial para a realização
do monitoramento da temperatura do ar: as que sofreram reformas em sua estrutura física (frequentemente
observadas no loteamento durante a caracterização socioespacial e aquelas que se mantêm em estado
original, a fim de relacionar o impacto das alterações realizadas com o desempenho térmico das moradias.
Para tal, foi aplicado o método de avaliação pós-ocupação (APO), para uma melhor caracterização do perfil
das moradias e da percepção dos moradores quanto à sua residência, através de entrevistas semiestruturadas
que abordaram questões técnicas e comportamentais.
Foram selecionadas cinco unidades habitacionais para a realização do monitoramento térmico nos
espaços internos das habitações. Dentre estas cinco unidades, duas apresentam configuração físico-espacial
correspondente ao projeto original e três apresentavam modificações realizadas pelos moradores. Estas
unidades apresentam dois tipos de orientação da fachada principal: orientação norte e orientação sul. Para o
monitoramento, foram utilizados data loggers modelo UX100-003, da ONSET (precisão ±0.21°C de 0° a
50°C). Estes instrumentos foram fixados no interior de dormitórios com orientação coincidente com a
fachada principal das unidades habitacionais (Figura 1). Optou-se pelo monitoramento de dormitórios por
corresponderem a ambientes de longa permanência, cujos requisitos de conforto térmico são
significativamente importantes para as condições de bem-estar e saúde dos usuários e quando não atendidos,
acarretam na incorporação de dispositivos de climatização artificial.
A coleta dos dados horários de temperatura e umidade relativa do ar, a partir do monitoramento
interno, ocorreu no período de 25 de agosto a 04 de setembro de 2018 para a análise de adequação ambiental
das habitações. Tal período corresponde à estação quente e úmida, na cidade de Arapiraca, conforme a
caracterização climática local.
1128
Figura 1: Datalogger HOBO UX100-003 e sua localização na unidade habitacional monitorada.

3.3. Avaliação ambiental qualitativa das unidades habitacionais


Nesta etapa, foi realizada a avaliação do grau de adequação climática das unidades habitacionais,
considerando, também, o seu entorno imediato e o desenho urbano do conjunto edificado, a partir da análise
referente às estratégias bioclimáticas indicadas para a localidade. Foi verificado, ainda, o atendimento às
recomendações projetuais previstas pela ABNT - NBR 15575/2013: Edificações habitacionais-Desempenho,
quanto aos quesitos relacionados ao desempenho térmico de sistemas de vedações verticais externas e
sistemas de coberturas e pela ABNT -NBR 15220/2005- Parte 3: Desempenho térmico de edificações, que
apresenta o zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de
interesse social (Tabela 1):
Tabela 1: Descrição dos critérios avaliados pela NBR 15575/2013 e NBR 15220/2005 para edificações localizadas na zona
bioclimática 8 (correspondente à cidade de Arapiraca-AL).
Componentes da NBR 15575*/2013 NBR 15220-3/2005 Simbologia
envoltória
αª ≤ 0,6 αª > 0,6 Leve refletora
PAREDES EXTERNAS
U ≤ 3,7 U ≤ 2,5 U ≤ 3,60; ϕ ≤ 4,3; FSo ≤ 4,0
ABERTURAS Para a região nordeste: > 40% da área de piso U= Transmitância
PARA VENTILAÇÃO ≥ 8% da área de piso Sombrear as aberturas térmica;
α ≤ 0,4
1 α > 0,4 Leve isolada α = Absortância à
U ≤ 2,3 . FV U ≤ 1,5 . FV radiação solar;
COBERTURA U ≤ 2,30 . FV; ϕ ≤ 3,3; FSo ≤
6,5
 = Atraso térmico;
FSo =Fator solar de
αª é a absortância à radiação solar da face externa da parede. elementos opacos
* a coluna da NBR 15575 diz respeito ao nível mínimo (M) de desempenho para aceitação.
O fator de ventilação (FV) é estabelecido na NBR 15220-2
1 Na zona bioclimática 8 considera-se atendido o critério para coberturas em telhas cerâmicas,

mesmo sem a presença de forro.

4. RESULTADOS
4.1 Atendimento às normas de desempenho e aplicação de estratégias bioclimáticas
A partir do conhecimento do sistema construtivo do Residencial Agreste, assim como, das principais
características físico espaciais das unidades habitacionais verificadas in loco, foi feita uma análise para
determinar o atendimento às normas ABNT NBR 15220-3/2005 e NBR15575/2013.
Quanto ao sistema de vedações – paredes externas –, a recomendação da NBR15575/2013 é que sejam
leves e refletoras, ou seja, devem ser pintadas em tons claros, possuindo baixa absortância (α ≤ 0,6) e baixa
transmitância (U ≤ 3,70 W/m 2 .K). Este critério é atendido pela envoltória das unidades habitacionais do
Residencial Agreste, pois as paredes externas são construídas em alvenaria de tijolos cerâmicos de seis furos
quadrados e revestida com reboco paulista de 2,5cm de espessura em ambos os lados (totalizando uma
parede de 15cm de espessura), pintadas com cores claras tanto interna quanto externamente, compondo uma
transmitância correspondente a 2,39 W/m 2 K. Esta característica também atende à NBR 15220/2005 que
recomenda transmitância térmica máxima para a Zona 8 (onde está localizada a cidade de Arapiraca)
correspondendo a 3,6 W/m 2 K. Quanto ao sistema de cobertura, as residências possuem forro de PVC
instalado a 2,50m de altura do piso, e o telhado é composto por duas águas com telhas cerâmicas, sustentado
por uma estrutura de madeira, além de possuir beirais de 0,50m presentes no entorno de toda edificação. A
transmitância térmica deste sistema é de 1,75 W/m 2 K, atendendo, portanto, às duas normas

1129
relacionadas ao desempenho térmico (quanto à absortância da telha cerâmica com valor acima de
0,40, a NBR15575, para habitações localizadas na zona bioclimática 8, considera-se atendido o critério
de transmitância).
A maior divergência entre as normas NBR 15575/2013 e NBR 15220-3/2005 diz respeito ao tamanho
de aberturas recomendado para ventilação indicado para a mesma localidade. Enquanto a primeira indica
aberturas com tamanho mínimo de 8% da área de piso, a segunda aponta uma área cinco vezes maior, ou
seja, segundo a NBR15220-3 as aberturas devem possuir áreas superiores a 40% da área de piso do cômodo.
Apesar da NBR15575/2013 nortear a construção de edificações habitacionais, entende-se que o
atendimento ao requisito apresentado quanto à porcentagem de aberturas não é capaz de garantir um fluxo
de ar suficiente para o resfriamento da edificação principalmente se não houver adoção da estratégia de
ventilação cruzada, que consiste em aberturas em zonas de alta e baixa pressão para garantir o movimento
das correntes de ar. A NBR 15220-3/2005 recomenda, ainda, a necessidade de sombreamento das aberturas,
o que não foi constatado nas habitações devido à inexistência de dispositivos para proteção das janelas em
relação à incidência de radiação solar. Na Tabela 2 estão especificadas as características das aberturas quanto
às áreas efetivas para ventilação natural.
Tabela 2: Atendimento às normas quanto ao percentual de abertura
Área de Atendimento às
Área de Área de
Área do abertura Porcentagem NBRs
abertura abertura
AMBIENTE mínima de de abertura NBR NBR
piso mínima de 8% mínima para
40% atingida
(NBR15575) ventilação* 15575 15220-3
(NBR15220-3)
Estar/jantar 11,16m² 0,89m² 4,46m² 0,75m² 6,72% NÃO NÃO
6,86m² Não há
Cozinha 0,54m² 2,74 m² 0% NÃO NÃO
aberturas*
Quarto 1 8,83 m² 0,70 m² 3,53m² 0,75m² 8,49% SIM NÃO
Quarto 2 8,33m² 0,66m² 3,33m² 0,75m² 9% SIM NÃO
* A área da abertura se dá pela área útil de ventilação da esquadria, que, no caso dos cômodos apresentados, são janelas de
correr com exceção da cozinha que não possui janelas, apenas uma porta de acesso ao quintal da residência.

Quanto às estratégias bioclimáticas indicadas a partir da caracterização do clima de Arapiraca, pode-se


destacar: a) a ausência de vegetação arbórea e/ou lagos artificiais nas ruas, impedindo o resfriamento
evaporativo, tido como estratégia de extrema importância durante o período quente e seco devido aos
registros de valores baixos umidade relativa do ar e das altas temperaturas; b) a implantação do conjunto
edificado não favorece o aproveitamento da ventilação natural no nível dos edifícios devido à canalização
das massas de ar nas vias que não conseguem penetrar nas residências de forma eficiente na maioria dos
casos – residências voltadas para Norte/Sul, orientação da maioria das quadras edificadas do conjunto; c)
a inexistência de sombreamento nas aberturas.
4.2 As reformas autogeridas nas unidades habitacionais do Residencial Agreste e o
monitoramento térmico
De acordo com levantamentos realizados in loco, em agosto de 2018, mais de 70% das 999 residências
localizadas no Residencial Agreste sofreu algum tipo de modificação. Tais modificações são demonstradas,
principalmente, pela necessidade de separação entre a propriedade privada e a rua, através da construção de
muros, instalação de cercas, grades, etc. (Figura 2) e motivadas, segundo os moradores, pela falta de
segurança, visto que assaltos e furtos são recorrentes na localidade.

Figura 2: Rua do residencial demonstrando as alterações mais visíveis e recorrentes no residencial

Outros fatores impulsionam as reformas, conforme relatado em entrevistas, como o espaço limitado
dos cômodos (em especial a cozinha), que foi declarado insuficiente pela maioria dos entrevistados; e a
1130
necessidade de adicionar cômodos não previstos no programa de necessidades padrão, como varandas,
garagens, quartos extras e até mesmo banheiros, expandindo a residência até os limites frontais do lote, ou
seja, excluindo os recuos frontais e/ou posteriores. As modificações variam de acordo com o poder aquisitivo
da família. Foi observado que quanto maior a renda, maior a interferência no espaço.
Além disso, muitos moradores utilizam as residências para prestação serviços e atividades comerciais,
irregularmente, visto que não houve direcionamento de lotes específicos para esse fim. A planta baixa de
uma unidade do residencial, ilustrada na Figura 4, exemplifica algumas das alterações recorrentes
encontradas no loteamento.

a) b)
Figura 3: a) Planta baixa de uma residência reformada – Fachada principal orientação sul, b) Exemplo de modificação recorrente nas
unidades habitacionais: cobertura estendida até os limites do lote.

As unidades monitoradas, destacadas a seguir na Figura 4a, foram selecionadas respeitando,


primeiramente, o critério de localização, pois deveriam estar posicionadas preferencialmente no centro da
quadra em que estão inseridas, a fim de reproduzir o pior cenário possível no que diz respeito à implantação
de quadra quanto à ventilação, visto que estão cercadas pelas demais edificações e sofrem interferência direta
das mesmas; o segundo critério foi a representatividade dos dados e a segurança dos equipamentos, os
dataloggers que foram posicionados a 1,50m do piso e não poderiam ser deslocados e/ou removidos durante
o período de monitoramento; e o terceiro foi a preferência de unidades que possuíssem orientações opostas
para se obter uma maior variedade de dados. As unidades que se destacam em verde na Figura 4a
representam as residências reformadas, enquanto que as que estão destacadas em laranja representam as
residências sem alterações.
Na Figura 4b, também é possível analisar a incidência dos ventos predominantes provenientes da direção
Leste no conjunto habitacional e demonstra a canalização das massas de ar nas vias, principalmente, nas
quadras orientadas a leste - oeste (maior parte do conjunto), dificultando a penetração dessas massas de ar
nas edificações.

a) b)

Figura 4: a) Localização das unidades habitacionais selecionadas para monitoramento; b) Demonstração do efeito de canalização dos
ventos predominantes da direção leste nas vias do conjunto edificado (análise através do programa computacional Flow Design).

1131
Na Figura 5 é possível observar o comportamento dos ventos, através de vetores que ilustram a
incidência dos mesmos nas aberturas das residências nas quatro orientações possíveis de acordo com a
implantação das quadras do residencial.

Figura 5: Incidência dos ventos nas aberturas das edificações

Na Tabela 3, pode-se encontrar a descrição de cada unidade monitorada, tal como sua orientação,
status, identificação e horários de exposição à radiação solar direta nas aberturas durante o período de
monitoramento, identificados a partir da elaboração das máscaras de sombra das aberturas dos dormitórios
analisados.
Tabela 3: Dados gerais de unidades monitoradas
PERÍODO DE ORIENTAÇÃO DA
IDENTIFICAÇÃO UNIDADE STATUS
INSOLAÇÃO FACHADA
Unidade 1 (M) 15 – 18h Quadra A1, n° 12 Sul Modificada
Unidade 2 (O) 6 – 16h Quadra H, nº 32 Norte Original
Unidade 3 (O) 15h – 18h Quadra J, nº 8 Sul Original
Unidade 4 (M) Não registrado* Quadra J, nº 11 Sul Modificada
Unidade 5 (M) Não registrado* Quadra D, nº 37 Norte Modificada
* As Unidades 4 e 5 possuem alterações que anulam esse período de exposição à radiação solar direta

Foram analisados os dados das cinco unidades monitoradas, inicialmente, de forma geral, a partir da
análise das temperaturas médias por horário observadas durante os onze dias de monitoramento. A partir
dessa análise, foi possível verificar o padrão de comportamento médio da temperatura do ar das unidades,
observado na Figura 6.

Figura 6: Temperaturas médias por horário de cada unidade


De forma geral, foi observado que os picos de temperatura ocorreram na maioria dos casos, entre os
horários de 13h e 17h, enquanto que as temperaturas mínimas foram registradas entre 5h e 9h da manhã.
Além disso, foi percebido que duas unidades (Unidade 1 (M) e Unidade 2 (O)) apresentaram aquecimento
superior às demais, mantendo um padrão de altas temperaturas mesmo durante o período noturno. Em ambas
unidades (Quadra A1, n°12 e Quadra H, n°32) o ambiente monitorado está desfavoravelmente orientado. No
caso da Unidade 1 (M), o quarto recebe insolação na parede Sul (onde encontra-se a abertura para ventilação
do mesmo) das 15h às 18h, e na parede Oeste (comum a toda residência), durante toda a tarde, das 13h às
18h, transmitindo o calor recebido ao restante dos cômodos pelo processo de irradiação. Enquanto que no
caso da Unidade 2 (O) é ainda mais grave, pois além da parede Oeste em conformidade com a Unidade 1
(M), a parede Norte do quarto – e de toda a fachada principal (incluindo três, das seis aberturas da casa) –
recebe insolação direta no período de 6h às 16h, sem nenhuma espécie de proteção solar.

1132
Após a análise geral, foram elencados dois dias representativos do monitoramento térmico interno: 29
de agosto/2018 e 01 de setembro/2018. Foram considerados dias representativos da amostra aqueles com
ausência de pluviosidade, configurando situação de baixa nebulosidade, conforme dados da estação de
referência do INMET, localizada na cidade de Arapiraca – AL.
No primeiro dia representativo, ilustrado na Figura 7, é possível ver que todas as unidades tiveram
comportamento similar, e que a Unidade 3 (O) voltou a registrar temperaturas abaixo das demais unidades,
aproximando-se delas somente das 9h às 14h, período que registrou as temperaturas máximas diárias. A
Unidade 3 trata-se de uma habitação em estado original da Quadra “J” com fachada orientada à Sul. Essa
unidade recebe insolação direta apenas nas três últimas horas do dia, das 15h às 18h – no período do ano em
que foi feito o monitoramento – além disso, a intensidade da radiação solar é bem menor no fim da tarde, que
nos horários iniciais da mesma, tornando as temperaturas mais amenas. Ou seja, ainda que a edificação
absorva calor, é de forma mínima se comparar, por exemplo, com a Unidade 1 (M), em que uma parede
comum à toda edificação fica exposta à radiação direta ao longo de todo o dia.

Figura 7: Monitoramento térmico – dia representativo 29/08/2018

Outra unidade monitorada também se encontra na mesma quadra e orientação (Unidade 4 (M)),
porém, seu comportamento térmico diverge da Unidade 3 (O) de forma negativa. Por se tratar de uma
edificação modificada, constata-se que as alterações realizadas impactaram no desempenho térmico da
habitação. A entrada destinada à ventilação do cômodo monitorado foi comprometida pela construção de um
muro nos limites do lote e uma cobertura que se estende até esse mesmo muro, invalidando a função da
esquadria, que deixou de ligar as áreas externas e internas da casa, impossibilitando a entrada de correntes de
ar e até mesmo iluminação natural.
A Figura 8, retrata o comportamento das unidades no segundo dia representativo de monitoramento. É
possível perceber que houve baixa amplitude térmica dentro das residências em contrapartida com os dados
de temperatura externa. Também é possível observar a capacidade de armazenamento de calor das
edificações, visto que mesmo durante a madrugada as temperaturas nas unidades mantiveram-se, em
média, 3,5°C acima da identificada pela estação meteorológica. Todas as unidades começaram a aquecer
após as 11h e apresentaram picos de temperatura em entre os horários de 15h e 18h. Novamente, a Unidade 2
(O) se destaca das demais, em relação à sua temperatura máxima (26,43°C), mas só atinge esse marco no
período noturno, por volta das 18h, quando a temperatura externa já está por volta dos 21°C e a temperatura
na Unidade 3 é de 24,2°C. A Unidade 5 (M) também registra sua temperatura máxima no período noturno, às
18h, contudo ainda apresenta uma temperatura 1,4°C menor que a Unidade 2 (O).

Figura 8: Monitoramento térmico – dia representativo 01/09/2018

1133
Os resultados de monitoramento demostram uma tendência de inadequação das residências originais
identificada a partir dos dados comparados entre as unidades e esse fato pode ocorrer devido a dois fatores. O
primeiro é a implantação, visto que a fachada e as aberturas ficam expostas à incidência solar direta por
longos períodos durante o dia fazendo com que a unidade aqueça durante o período diurno e não consiga se
resfriar durante a noite, pois, o período é insuficiente para que o calor absorvido pela unidade seja dissipado;
e o segundo fator é a má orientação das aberturas, pois, além de expostas à radiação, nenhuma delas
consegue garantir um fluxo de ar satisfatório para dentro da edificação, retardando ainda mais o resfriamento
da mesma.
Conforme a tabela 4, as unidades voltadas para orientação sul, no período avaliado, apresentaram
menor tempo de exposição à radiação solar direta e, consequentemente, apresentaram valores inferiores de
temperatura do ar. As diferenciações foram superiores a 4°C considerando a média de temperatura máxima
do ar no horário de 15h entre a unidade 2 (orientação norte) e a unidade3 (orientação sul). A unidade 1,
apesar de apresentar abertura para orientação sul, possui uma parede voltada para oeste, implicando no
resultado da temperatura do ar mais elevada em relação às demais unidades de orientação sul.
Tabela 4: Dados médios de temperatura máxima do ar obtidos através do monitoramento dos dormitórios (em destaque os
valores máximos obtidos por horário).
HORÁRIO UNIDADE 1 (°C) UNIDADE 2 (°C) UNIDADE 3 (°C) UNIDADE 4 (°C) UNIDADE 5 (°C)
00:00 25,2 25,7 24,4 25,7 25,6
01:00 25,0 25,5 24,2 25,6 25,6
02:00 24,8 25,5 24,0 25,4 25,3
03:00 24,6 25,3 23,7 25,2 25,1
04:00 24,3 25,2 23,6 24,9 25,0
05:00 24,0 25,0 23,4 24,7 24,9
06:00 23,9 24,8 23,2 24,5 24,8
07:00 24,0 24,6 23,2 24,1 24,8
08:00 24,2 24,5 23,7 24,0 24,8
09:00 24,7 24,9 24,3 24,8 25,2
10:00 25,3 25,5 25,0 25,8 25,4
11:00 26,7 26,4 26,3 26,8 26,0
12:00 27,3 26,9 26,9 27,4 26,9
13:00 27,8 27,9 26,9 28,1 27,3
14:00 29,5 28,0 27,2 27,7 27,8
15:00 32,0 28,3 27,5 27,8 31,0
16:00 28,7 28,3 30,5 30,2 30,1
17:00 28,2 31,0 27,4 27,0 27,3
18:00 27,5 30,0 27,4 26,6 26,8
19:00 27,2 28,1 27,6 26,7 26,8
20:00 26,8 27,3 26,8 26,8 26,8
21:00 26,3 26,9 26,4 26,5 26,5
22:00 26,1 26,8 26,1 26,2 26,2
23:00 26,1 26,4 26,2 26,0 26,2

Embora os moradores das unidades avaliadas não tenham evidenciado situações de desconforto
térmico, devido provavelmente ao grau de satisfação com a posse da unidade habitacional, como também,
devido às características climáticas referentes ao período de monitoramento térmico- estação quente e
úmida, determinado por temperaturas do ar mais amenas em relação ao período quente e seco, os resultados
referentes às diferenciações térmicas entre as unidades habitacionais revelam a necessidade de adequação,
como também, o potencial de utilização das estratégias bioclimáticas para otimização das condições de
conforto térmico.
As modificações observadas no presente estudo demostram claramente que as necessidades dos
mesmos não foram atendidas, principalmente quanto às dimensões espaciais das unidades habitacionais.
Assim, como em outros estudos de avaliação pós-ocupação, verifica-se a necessidade de melhorias e
incremento dos projetos de habitação de interesse social para o alcance das condições mínimas de
habitabilidade nas cidades.

5. CONCLUSÕES
A análise da envoltória (propriedades térmicas dos materiais: paredes e coberturas) quanto aos requisitos
previstos pelas normas NBR 15220/2005 e NBR 15575/2013, para o desempenho térmico de edificações,
apontou adequação dos sistemas de cobertura e paredes externas existentes nas unidades habitacionais do
conjunto Residencial Agreste. Porém, foi observada a ausência de proteções solares nas aberturas das
1134
unidades habitacionais originais. Além disso, as recomendações correspondentes às áreas de aberturas para
ventilação natural previstas pela NBR15220/2005 não foram atendidas, pois, em todos os cômodos da
unidade, o percentual de área de abertura em relação à área de piso dos ambientes foi inferior à 40%.
Embora os requisitos da NBR 155575 tenham sido atendidos nos dormitórios em relação às dimensões
das aberturas, a avaliação das unidades demostra que este atendimento não reflete na garantia de um
desempenho térmico satisfatório, visto que ocorreram diferenciações térmicas significativas entre as
unidades, tanto nas originais, como nas modificadas.
De acordo com os dados coletados, os principais aspectos definidores destas diferenciações no
comportamento térmico dos ambientes internos avaliados são: I. Orientação das aberturas e das paredes
externas, que podem resultar no maior aporte de radiação solar direta e, consequentemente, no acúmulo de
energia térmica. Ou seja, para o período de monitoramento, as unidades com aberturas (sem proteção)
voltadas para orientação norte, apresentaram os maiores valores de temperatura do ar, com acúmulo de
energia nos horários vespertinos e primeiras horas noturnas; II. Ausência de estratégias e elementos para
garantir a ventilação cruzada nas unidades habitacionais, representados pela má orientação das aberturas para
recepção dos ventos predominantes locais (leste e sudeste) e, III. Implantação do conjunto edificado com
pouco potencial de aproveitamento das massas de ar. Para potencializar a ventilação cruzada, faz-se
necessário um estudo sobre a implantação das unidades para o estabelecimento de um conjunto edificado
poroso, evitando a canalização da ventilação nas vias.
Neste sentido, as principais recomendações sugeridas a partir da pesquisa são: I. Substituição dos tipos
de esquadrias/aberturas e incorporação de elementos para sombreamento (brises, beirais etc) que permitam o
aproveitamento da iluminação natural e da ventilação natural, minimizando o aporte de radiação solar direta;
II. Ampliação de estudos sobre a implantação de tecidos construtivos para otimizar o aproveitamento das
massas de ar no nível das edificações. A adoção de tipologias verticais (de até 3 ou 4 pavimentos) podem
propiciar maior área inserção das massas de ar em conjuntos edificados e permitir maior flexibilidade no
ajuste da orientação dos edifícios, pois possibilitam a ampliação de espaços livres.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR-15220-3: Desempenho térmico de edificações. Parte 3:
Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social. Rio de Janeiro: ABNT,
2005.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR-15575: Edificações habitacionais: Desempenho, Rio de Janeiro:
ABNT, 2013.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA -IBGE. Censo de 2010. Disponível em:
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/al/arapiraca/panorama. Acesso em: 25/04/2017
RUFINO, M. B. C. Um olhar sobre a produção do PMCMV a partir de eixos analíticos. In: AMORE, C. S.; SHIMBO, L. Z.;
RUFINO, M. B. C. (Org.). Minha Casa... E a Cidade? Avaliação do Programa Minha Casa Minha Vida em seis estados
Brasileiros. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2015. p. 51-72.
SANTOS, J. L. N. dos. Habitação de interesse social em Arapiraca – Al: Um estudo de caso do Conjunto Habitacional
Residencial do Agreste. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Arquitetura e Urbanismo), Universidade Federal de
Alagoas. Arapiraca, 2017.
SILVA, M. F. da. Estratégias bioclimáticas para o agreste de Alagoas: diretrizes projetuais para edificações em Arapiraca. 2017.
Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Alagoas- Campus Arapiraca,
2017.63p.
TORRES, S.C. Forma e Conforto: estratégias para (re)pensar o adensamento construtivo urbano a partir dos parâmetros
urbanísticos integrados à abordagem bioclimática. 2017. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Urbano). Departamento de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2017. 397p

1135
CONFORTO TÉRMICO EM AMBIENTES INTERNOS NO BRASIL E O
DESENVOLVIMENTO DA BASE BRASILEIRA DE DADOS
Maíra André (1); Greici Ramos (2); Carolina Buonocore (3); Cesar Henrique De Godoy
Gomes (4); Maíra Oliveira Pires (5); Renata De Vecchi (6); Christhina Maria Cândido (7);
Antonio Augusto de Paula Xavier (8); Roberto Lamberts (9)
(1) Mestre, Arquiteta e Urbanista, maira.andre@gmail.com, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LabEEE).
(2) Mestre, Arquiteta e Urbanista greici.ramos@posgrad.ufsc.br, UFSC, LabEEE.
(3) Mestre, Arquiteta e Urbanista, carolina_buonocore@yahoo.com.br, UFSC, LabEEE.
(4) Mestre, Arquiteto e Urbanista, godyarq@gmail.com, Centro Universitário de Maringá, Av. Guedner,
1610 - Jd. Aclimação - Maringá, PR
(5) Mestre, Arquiteta e Urbanista, maira.opires@gmail.com, Universidade Regional Integrada do Alto
Uruguai e das Missões.
(6) Doutora, Arquiteta e Urbanista, renata.vecchi@posgrad.ufsc.br, UFSC, LabEEE.
(7) PhD, Arquiteta e Urbanista, chrsthina.candido@sydney.edu.au, The University of Sydney, G04 -
Wilkinson Building.
(8) Doutor, Engenheiro Civil, augustox@utfpr.edu.br, Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
Laboratório de Ergonomia.
(9) PhD, Engenheiro Civil, roberto.lamberts@ufsc.br, UFSC, LabEEE.
RESUMO
Os primeiros estudos de conforto térmico no Brasil começaram a ser desenvolvidos na década de 30. Embora
uma quantidade significativa de trabalhos desse tema possa ser encontrada em diferentes regiões do país,
poucos foram publicados nacionalmente e internacionalmente. Com o intuito de resgatar esses trabalhos e
documentar os resultados encontrados, foi criada em 2014 a Base Brasileira de Dados de Conforto Térmico,
sendo o objetivo deste artigo apresentar e descrever suas características e resultados principais. O método de
trabalho baseou-se na padronização e tratamento dos dados brutos provenientes de estudos de campo
realizados no Brasil. A partir da base padronizada foram analisadas as associações entre variáveis, entre elas
destacam-se algumas variações importantes na percepção térmica entre pessoas de diferentes climas, o que
também é influenciado pelo modo de condicionamento do ambiente (ar-condicionado ou naturalmente
ventilado). Os resultados podem ser úteis na definição de normas focadas no contexto brasileiro; para tanto, é
necessário ampliar a base de dados, buscando maior variabilidade climática, bem como tipologias de
construção e características dos ocupantes.
Palavras-chave: conforto térmico, base brasileira de dados em conforto térmico, estudos de campo.

ABSTRACT
The first thermal comfort studies in Brazil began to be developed during the 30s. Although a significant
amount of work on the subject is found in different regions of the country, few were nationally and
internationally published. Thus, a Brazilian Thermal Comfort Database was created in 2014 focused in
recovering and documenting these results. The objective of this paper is to present the Database, describing
its characteristics and main results. The method based on the standardization and treatment of raw data from
field studies. From which an association analysis was performed.The results highlight some important
variations in the thermal perception among people from different climates, which is also influenced by the
environment ventilation mode (air-conditioned or naturally ventilated). Furthermore, they also can help on
standards definition considering the Brazilian context; to this end, it is necessary to expand the database,
focusing on a higher climatic variability, as well as construction types and occupants with different
characteristics.
Keywords: thermal comfort, Brazilian thermal comfort database, field studies.

1136
1 INTRODUÇÃO
A história do conforto térmico no Brasil começou a ser traçada na década de 30, quando surgiram os
primeiros estudos de campo realizados no Rio de Janeiro por Paulo Sá e Benjamin Ribeiro na cidade de São
Paulo (OLIVEIRA; LABAKI, 2003). Os dados foram utilizados nas pesquisas de Humphreys (1976), que
posteriormente deram origem ao modelo adaptativo. Os estudos seguintes, do período entre 1990 e 2005, se
concentraram principalmente na aplicação da ISO 7730 (2005), e nas equações do voto médio predito (PMV)
e percentual predito de insatisfeitos (PPD) de Fanger (1970), apresentando como principal característica a
divergência na quantidade de insatisfeitos com relação ao índice PPD. Araújo (1996) realizou medições de
conforto térmico em ambientes escolares ventilados naturalmente na cidade de Natal/RN, e verificou uma
porcentagem alta de insatisfeitos por calor a partir da aplicação do PMV/PPD. Xavier (1999) analisou dados
de conforto térmico registrados em salas de aula na cidade de Florianópolis/SC, e verificou que o PPD
relativo aos votos de calor era superior aos números encontrados nas análises de votos reais. Ruas (1999)
desenvolveu uma pesquisa de avaliação de conforto térmico buscando esclarecer o método proposto pela
ISO 7730, discutindo as incertezas provenientes das estimativas no isolamento da vestimenta e taxa de
metabolismo quando utilizados nos cálculos de conforto térmico.
Em Belo Horizonte/MG, Gonçalves (2000) definiu intervalos de temperatura confortáveis
comparando-os aos padrões internacionais, e encontrou um PPD acima da média para a condição de
neutralidade (25%). Xavier (2000) realizou experimentos em três cidades de climas distintos -
Florianópolis/SC, Brasília/DF e Recife/PE - com e sem condicionamento artificial, e desenvolveu um
algoritmo para a estimativa da taxa metabólica com base no consumo individual de oxigênio. O autor
concluiu que, mesmo que a utilização do novo algoritmo resultasse em um modelo mais adequado ao PMV,
as sensações de calor e de frio preditas ainda eram mais intensas do que as reais. Gomes (2003) avaliou as
condições de conforto térmico em escritórios na cidade de Maringá, e verificou que a vestimenta e o gênero
dos participantes impactaram diretamente na adequabilidade do modelo PMV/PPD. Barbosa (2004) e
Gouvêa (2004) analisaram as condições de conforto térmico em indústrias no interior de São Paulo, e
frisaram a inexistência de taxas de metabolismo adequadas às atividades nesse setor.
Após as recorrentes constatações de divergências entre o modelo de Fanger (1970) e os dados medidos
em espaços reais no contexto climático e cultural brasileiro, pesquisas focadas na formulação de novos
métodos e na aplicação do modelo adaptativo da ASHRAE 55 começaram a ser desenvolvidas. Nessa linha,
Andreasi (2009) estabeleceu um modelo alternativo para a avaliação de conforto térmico em cidades do
Mato Grosso do Sul com base na sensação térmica de recrutas e veteranos uniformizados. Cândido (2010) e
De Vecchi (2011) analisaram a aceitabilidade de valores de velocidade do ar acima dos limites propostos
pela ASHRAE 55 (2004) em salas de aula universitárias de Maceió/AL e Florianópolis/SC, e concluíram que
os ocupantes não só aceitavam, como preferiam velocidades mais altas (acima de 0,80m/s). De Vecchi
(2015) e Pires (2015) realizaram estudos de campo em escritórios de Florianópolis; no primeiro, foram
comparados os resultados de edificações que operam sob o modo misto de climatização e com sistema
central de condicionamento artificial, verificando adequabilidade do modelo adaptativo em todos os
conjuntos de dados. No segundo estudo, embora houvesse baixa adequabilidade do modelo aos dados
coletados no período de inverno, a aceitabilidade térmica foi alta em todo o período estudado (89%).
Estudos mais recentes focaram em questões que vão além das verificadas anteriormente. Buonocore
(2018), realizou medições de campo em salas de aula de São Luís/MA e verificou que nesse clima a sensação
térmica mais próxima à preferência das pessoas pode estar entre o voto “neutro” e de “leve sensação de frio”,
independentemente do modo de climatização utilizado. André (2019) avaliou o potencial do uso de
ventiladores de mesa para se atingir conforto térmico de forma individualizada, e verificou que durante o
verão esses equipamentos permitem que os usuários ajustem a velocidade do ar à sua preferência,
amenizando desconfortos gerados pela exposição ao ambiente externo e elevação da taxa metabólica.
Embora exista um número considerável de trabalhos que registraram dados de campo no contexto
brasileiro (e muitos deles podem não ter sido citados aqui), poucos foram publicados nacionalmente e
internacionalmente. Alguns desses trabalhos formam hoje a Base Brasileira de Dados de Conforto
Térmico¹18, projeto criado em 2014 com o intuito de reunir os resultados de estudos de campo efetuados em
território nacional. Ao todo são mais de 10.000 votos armazenados, provenientes de quatro estados
brasileiros e três tipos climáticos. Os dados reunidos nessa base até o ano de 2015 também fazem parte da
Base Global II da ASHRAE (FÖLDVÁRY LIČINA et al., 2018), projeto conduzido pelo Center for the Built
Environment (UC Berkeley) e o Indoor Environmental Quality Laboratory (USydney).

¹18 http://www.labeee.ufsc.br/projetos/base-brasileira-de-dados-em-conforto-termico
1137
2 OBJETIVO
O objetivo deste artigo é documentar o desenvolvimento da base brasileira de dados em conforto térmico,
descrevendo suas características gerais e resultados principais.

3 MÉTODO
A base brasileira de dados em conforto térmico1 consiste em um conjunto de informações relativas ao
ambiente térmico e aos usuários das edificações de uso comercial diverso. Esses dados são provenientes de
estudos de campo em ambientes internos durante a sua ocupação cotidiana (ambientes “reais” com ocupantes
geralmente habituados a esses espaços).
Até o momento, os dados documentados são provenientes de ambientes educacionais e de escritórios,
nos quais se tem uma quantidade considerável de usuários dentro de um mesmo espaço. De acordo com o
protocolo da base, os dados referentes ao ambiente térmico (temperatura do ar e média radiante, umidade
relativa e velocidade do ar) devem ser registrados por meio de instrumentos apropriados e previamente
calibrados, ao mesmo tempo em que as respostas subjetivas dos ocupantes – percepção térmica e de
movimento do ar – devem ser coletadas por meio de questionários. O método para a coleta desses dados deve
estar de acordo com a proposta de norma brasileira a ser incorporada na NBR 16401-2 (ABNT, 2017). Os
dados dos estudos de campo contidos na base atendem as exigências mínimas da Classe 2 de De Dear,
Brager e Cooper (1997), uma vez que as medições das variáveis ambientais internas foram efetuadas em
apenas uma altura de medição. Em relação aos questionários aplicados, foram reunidos os dados referentes
às características antropométricas (gênero, idade, peso, altura, taxa metabólica e isolamento da vestimenta –
estes dois últimos estimados de acordo com as tabelas da ABNT (2017), questões relacionadas à sensação,
preferência e aceitabilidade térmica e do movimento do ar. Em todos os estudos notou-se que os
pesquisadores estiveram atentos às alterações na atividade física e/ou vestimenta durante o monitoramento,
bem como aos controles e recursos disponíveis para adaptação térmica dos pesquisados. Os métodos
utilizados nos estudos de campo podem ser analisados detalhadamente a partir das referências da Tabela 1.

3.1 Organização da base brasileira de dados


Para a elaboração da base de dados unificada, foram reunidos e codificados os dados brutos dos estudos de
campo realizados no Brasil conforme a Tabela 1. O modelo para a padronização dos dados levantados pode
ser encontrado na página eletrônica do projeto1, junto com a planilha eletrônica para inserção e envio dos
dados e demais orientações para a coleta em campo. De forma geral, devem ser registradas as características
geográficas e da edificação, caracterização dos usuários e das variáveis ambientais internas e externas, e a
avaliação do ambiente térmico e do movimento do ar conforme a Tabela 2.
Na planilha eletrônica disponibilizada, cada linha corresponde a um momento de voto de um usuário,
e o total de linhas ao total de registros de dados (n). A temperatura operativa interna foi calculada para toda a
amostra com base nas recomendações da NBR 16401-2 (ABNT, 2017). Os dados de variáveis ambientais
externas (temperatura do ar e umidade relativa), quando presentes, foram obtidos por meio da estação
meteorológica mais próxima do local do levantamento. A partir da planilha organizada, adotou-se um
procedimento para a limpeza de dados discrepantes ou com respostas equivocadas, conforme:
• Respostas simultâneas de ambiente térmico “inaceitável” e “confortável”;
• Respostas simultâneas de ambiente térmico “inaceitável” e por “não mudar” o ambiente térmico;
• Respostas simultâneas de ambiente térmico “desconfortável” e por “não mudar” o ambiente
térmico;
• Respostas simultâneas de movimento do ar “inaceitável” e por “não mudar” o movimento do ar.
No total, foram excluídas 175 respostas (1,6% de um total de 11.100 dados) que se enquadraram em
pelo menos uma das condições citadas acima, resultando assim em uma amostra final de 10.925²19 votos.
Tabela 1 – Estudos de campo em conforto térmico no Brasil registrados na base de dados nacional
Título Autor Ano Amostra (n)
Predição de conforto térmico em ambientes internos com atividades sedentárias - teoria
Xavier 2000 279
física aliada a estudos de campo
Análise dos níveis de conforto térmico em um edifício de escritórios na cidade de Maringá Gomes 2003 567
Aceitabilidade do movimento do ar e conforto térmico em climas quentes e úmidos Cândido 2010 2.075

²19 Número total da amostra considerada na análise dos resultados. Não contempla os dados de Xavier (2000) devido à não
formatação de acordo com os critérios da Base Brasileira de Dados de Conforto Térmico.
1138
Condições de conforto térmico e aceitabilidade da velocidade do ar em salas de aula com
De Vecchi 2011 2.507
ventiladores de teto para o clima de Florianópolis/SC
Avaliação de conforto térmico em edificações comerciais que operam sob sistemas mistos
De Vecchi 2015 2.688
de condicionamento ambiental em clima temperado e úmido
Conforto térmico em ambientes de escritórios naturalmente ventilados: pesquisa de campo
Pires 2015 455
na cidade de Florianópolis por meio da abordagem adaptativa
Análise das condições de conforto térmico no clima quente e úmido de São Luís (MA):
Buonocore 2018 2.680
estudos de campo em salas de aula naturalmente ventiladas e climatizadas
Potencial de incremento do conforto térmico dos usuários em escritórios com o uso de
André 2019 383
ventiladores de mesa durante o verão

Tabela 2 – Descrição da planilha da base brasileira de dados


Nome do campo Descrição
Referência Referência bibliográfica da tese ou dissertação de onde provém os dados
Referência
Data Data do levantamento
Cidade Cidade brasileira na qual foi realizado o estudo de campo
ClassificaçãoClima Classificação de para o clima local (KOTTEK et al., 2006)
Caracteri- Estação Definição da estação do ano na qual o estudo de campo ocorreu (primavera, verão, outono,
zação inverno, estação chuvosa, estação seca)
ambiental TipoAmbiente Uso do ambiente (escritório, sala de aula, sala de projeto)
Tipo Sistema de climatização disponível (ar condicionado, ventilação natural com ou sem
Condicionamento ventiladores, modo misto)
ModoOperação Sistemas de climatização operantes no momento de resposta
Gênero Gênero (Masculino ou Feminino)
Idade Idade, agrupada em categorias de anos (1: abaixo de 20 anos; 2: entre 21 e 30 anos; 3: entre
31 e 40 anos; 4: entre 41 e 50 anos; 5: acima de 50 anos)
Peso Peso (kg)
Caracteri-
Altura Altura (m)
zação do
IMC Índice de massa corpórea calculado a partir do peso e altura (kg/m²)
usuário
TaxaMetabólica Taxa metabólica (unidades met)
IsolamentoTotal Isolamento da vestimenta e da cadeira do usuário somadas (unidades clo)
MemóriaTérmica Determina se o indivíduo possui vivência rotineira em ambientes com ar condicionado (1:
não e 2: sim)
Preferência Preferência do indivíduo por um sistema de condicionamento para o ambiente estudado (0:
Condicionamento ventilação natural; 1: ventilação natural e ventiladores; 2: ar condicionado; 3: ar
condicionado e ventilação natural)
ST Sensação térmica, de acordo com a escala sétima, de -3: muito frio, a +3: muito quente
PT Preferência térmica, -1: mais aquecido; 0: não mudar; +1: mais resfriado
Respostas
AT Aceitabilidade térmica, 0 (aceitável) ou 1 (inaceitável)
do usuário
CT Conforto térmico, 0 (confortável) ou 1 (desconfortável)
AMA Aceitabilidade do movimento do ar. -2: inaceitável, muito mov.; -1: aceitável, muito mov.; 0:
aceitável, suficiente; +1: aceitável, pouco mov.; +2: inaceitável, pouco mov.
AMAbinário Aceitabilidade do movimento do ar em binário: 0 (aceitável) ou 1 (inaceitável)
PAM Preferência por movimento do ar. -1: menor mov.; 0: não mudar; +1: maior mov.
Ta Temperatura do ar interno, em °C
Dados UR Umidade relativa do ar interno, em %
internos Va Velocidade média do ar interno, em m/s
To Temperatura operativa interna, em °C
AirTempExt Temperatura do ar externo, em °C
Dados RHExt Umidade relativa do ar externo, em %
externos
Tmpa Temperatura média predominante do ar externo, em °C

Para o processamento dos dados e comparação das médias de amostras não pareadas adotou-se o
Teste-T de Welch (método de Spearman para amostras de distribuição não normal e variáveis categóricas). O
teste de hipótese foi efetuado em linguagem de programação R, por meio da interface RStudio. O nível de
significância adotado para o teste foi de 5% (p-valor < 0.05).

4 RESULTADOS
4.1 Apresentação dos dados
Atualmente o banco de dados possui 10.925 votos. Estão incluídos nesse total os levantamentos realizados
em quatro cidades brasileiras como mostrado na Tabela 3. A maioria dos dados refere-se à cidade de
Florianópolis (região Sul, mais de 6 mil votos), enquanto no Nordeste esse número é superior a 4 mil
1139
questionários. De acordo com a classificação de Koppën-Geiger (Kottek et al., 2006), os dados identificados
correspondem a três tipos climáticos presentes no Brasil: Aw, Am e Cfa.
Os climas com prefixo A (Aw e Am), são caracterizados por temperaturas médias superiores a 18 °C
ao longo de todo o ano, com duas estações definidas: uma seca e a outra chuvosa. A principal diferença é que
o clima tropical de inverno chuvoso (Aw) apresenta, no geral, menor precipitação anual do que o tropical de
monção (Am). Assim, ao avaliar os resultados por estação, é necessário considerar que os climas tropicais
possuem apenas duas estações definidas, enquanto nos outros climas verificam-se as quatro estações do ano.
Tabela 3 – Localização dos dados do levantamento

Cidade Estado Região Classificação do Clima Nº de questionários


São Luís Maranhão Nordeste Aw 2.665
Maceió Alagoas Nordeste Am 2.006
Florianópolis Santa Catarina Sul Cfa 5.704
Maringá Paraná Sul Cfa 550

Dentre os dados provenientes do clima Cfa, há predominância de valores no inverno e outono,


correspondendo a 71% dos votos. Nos climas tropicais, há maior equilíbrio entre as estações de forma que
45% do total de votos foram coletados durante a estação chuvosa (ou úmida), e 55% durante a estação seca.
Com relação ao uso dos espaços onde os estudos foram realizados, a maior parte (62%) corresponde
aos ambientes escolares (universitários). Os demais dados, que correspondem a 38% do total, se referem a
ambientes de escritório. Os ambientes são, em grande parte, naturalmente ventilados (37%) ou
condicionados de forma mista (40%). Apenas 23% dos dados foram coletados em ambientes constantemente
condicionados artificialmente (AC).
Na Figura 1 podem ser observados os tipos de sistemas e modo de operação voltados à climatização
dos ambientes, que incluem: ar condicionado (AC), ventilação natural (VN), ventilação natural em conjunto
com o uso de ventiladores (VN+ventilador), apenas ventiladores, e ar condicionado em conjunto com o uso
de ventiladores (AC+vent.). Durante o tempo de respostas dos ocupantes, verifica-se que a ventilação natural
(VN) é o modo de operação predominante nos ambientes de modo misto (≅32%). Nota-se que existe um
número significativo de respostas com ventiladores ligados, principalmente simultâneos ao uso do ar
condicionado (≅28%). Os dados referentes ao agrupamento “Apenas ventiladores” (≅24%) referem-se aos
momentos em que apenas ventiladores estavam em operação, com as janelas fechadas (ver De Vecchi 2011).

Figura 1 – Número de respostas por tipo de espaço e modo de operação

Com relação às características dos usuários, há mais respostas femininas (60%) do que masculinas
(40%). Porém, as mulheres predominaram principalmente nos levantamentos efetuados nos climas tropicais
(Am e Aw). No clima subtropical úmido (Cfa), a diferença entre gêneros é muito pequena. Em relação à
idade, nota-se pela Figura 2 que a maioria dos usuários tem até 30 anos. Faixas superiores foram verificadas
principalmente no clima Cfa, pois se relacionam aos ambientes de escritório, enquanto os demais se
concentram em ambientes escolares. Além disso, em 3,4% dos dados não foi solicitada a indicação do gênero
e, em 3,8% não foi solicitada a indicação da idade (NA).
As demais variáveis pessoais e ambientais estão descritas nas Tabela 4 e Tabela 5, respectivamente.
De acordo com a distribuição de valores da Tabela , a taxa metabólica (MET) indica menor variação entre os
dados, com desvio padrão de 0,1 e média de 1,1 met (sentado em atividade sedentária). Com relação ao
índice de massa corpórea (IMC), os valores de média, mediana e desvio padrão indicam que, no geral, os

1140
usuários avaliados possuem nível de nutrição considerado normal, isto é, entre 18,5 e 25,0 (WHO, 2015).
Com relação ao isolamento da vestimenta dos usuários (CLO), existe certa predominância ao uso de roupas
mais leves, como calça e camiseta de manga curta (0,5 clo), que varia conforme a estação do ano: os valores
de clo são predominantemente superiores a 0,5 clo no inverno - quando atingem o valor máximo de 1,49 clo
– e nas demais estações, a vestimenta se mantém predominantemente abaixo de 0,5 clo.

Figura 2 – Número de respostas por tipo de clima, idade e gênero

Tabela 4 – Caracterização das variáveis pessoais contínuas³20


IMC MET CLO
Máximo 40,1 2,0 1,49
Mediana 22,0 1,0 0,50
Média 22,8 1,1 0,53
Desvio padrão 3,7 0,1 0,19
Mínimo 15,1 1,0 0,22

Com relação às variáveis ambientais internas, nota-se na Tabela 5 grande variação entre máximas e
mínimas registradas. No entanto, observa-se que os valores médios estão próximos aos predominantes, com
pequenos desvios padrão. As temperaturas do ar e operativa possuem variações próximas (os valores médios
e medianos coincidem), mostrando que a faixa principal de temperaturas está próxima de 25,9 °C, com
desvio padrão de ± 2,9 °C. Embora o valor máximo registrado para a velocidade média do ar seja alto, a
média ainda é considerada baixa (0,26 m/s), com um desvio de ± 0,29 m/s. Os valores altos (acima de 2,0
m/s) são encontrados em 37% dos dados, e ocorrem, principalmente, nos ambientes onde há ventiladores
ligados. A umidade relativa do ar interno, conforme indicado na tabela, se concentra em torno de 64%, valor
que coincide com a média.
Tabela 5 – Caracterização das variáveis ambientais
Temp. do ar (°C) Umidade relativa (%) Velocidade do ar (m/s) Temp. operativa (°C)
Máximo 32,9 89 4,17 32,9
Mediana 25,8 64 0,18 25,7
Média 25,9 64 0,26 25,9
Desvio padrão 2,9 11 0,29 2,8
Mínimo 15,4 23 0,00 16,6

Figura 3 – Relação entre: a) clima e temperatura; b) clima e umidade relativa

³20 Os valores de MET e CLO foram requeridos em todos os levantamentos; porém, 9% dos dados não possuem informações sobre
peso e altura, utilizados para o cálculo o IMC.
1141
A partir da Figura 3, é possível verificar que as condições ambientais internas analisadas também se
relacionam com os climas onde os levantamentos foram realizados. Desta forma, nota-se menor variação da
temperatura operativa em climas tropicais, pois a amplitude de temperaturas registradas no clima subtropical
é maior. A média das temperatura dos climas tropicais é de 27,6 °C, e no clima subtropical de 24,6 °C
(indicada em vermelho na Figura 3a). Apesar do clima tropical de inverno chuvoso (Aw) apresentar índice
pluviométrico anual inferior ao de monções (Am), a Figura 3b mostra que a umidade relativa dos ambientes
avaliados nesse clima foi mais alta do que nos ambientes localizados no Am. A umidade relativa média (em
vermelho na Figura 3b) registrada nos ambientes Am é mais próxima à média verificada no clima subtropical
(Cfa), apesar de apresentarem diferença estatística significativa (p<0,05). Porém, enquanto a média de Am e
Cfa têm diferença de 1 ponto percentual no valor médio da umidade relativa, a diferença em relação ao Aw é
maior, de 6 pontos percentuais.

4.2 Percepção térmica dos usuários


Analisando os votos de sensação térmica dos usuários com base na escala sétima proposta por Fanger (1970),
observa-se na Figura 4 que a sensação se relaciona diretamente com as temperaturas internas operativas.
Menores temperaturas geram sensações relacionadas ao frio (-1 a -3), enquanto temperaturas mais altas se
relacionam às sensações de calor (+1 a +3). Porém, temperaturas médias (indicadas em vermelho) não
necessariamente são diferentes entre si em um mesmo clima, mesmo que exista diferença significativa entre
eles. As temperaturas médias que geram muito frio (-3) nos dois climas são semelhantes (≅23 °C). Porém,
no clima Cfa essa média também se aproxima da temperatura que gera frio (-2) e leve frio (-1). Enquanto
isso, nos climas tropicais, há uma diferença de pelo menos 1°C entre as sensações de “-3”, “-2” e “-1”.
Exceto no caso da sensação de muito frio (-3), as temperaturas médias que geram cada sensação térmica no
clima Cfa são inferiores às dos climas tropicais. No Cfa a temperatura em torno de 24 °C gera neutralidade
térmica (0), enquanto nos climas tropicais, frio (-2). Da mesma forma, uma temperatura em torno de 27° C
gera neutralidade nos climas tropicais (0) e calor no clima subtropical (+2). Além disso, para que uma pessoa
passe a sentir frio no clima Cfa, é necessária em média, uma variação de temperatura muito menor do que
nos climas tropicais. Isso é, entre a temperatura média neutra (0) e de levemente frio (-1) no clima Cfa, há
uma diferença menor, de 1 °C; enquanto nos climas tropicais, essa diferença é de quase 2 °C. No caso da
sensação de calor, ocorre relação oposta: é necessário maior incremento da temperatura nos climas tropicais
para que se comece a sentir calor em relação ao necessário para o clima subtropical.

Figura 4 – Relação entre sensação térmica e temperatura operativa por clima

Dentre o agrupamento de votos de aceitabilidade e conforto térmico há menor quantidade de dados na


base (n=7.904). Dessa forma, é possível apenas analisar os resultados para o clima tropical de inverno
chuvoso (Aw) e subtropical (Cfa). Na Figura é possível verificar que as temperaturas médias e medianas que
geram aceitabilidade e conforto térmico não coincidem. Na primeira figura são indicadas em vermelho as
temperaturas médias que geram aceitabilidade e conforto térmico simultaneamente, para cada clima. Nota-se
que os valores são próximos às temperaturas médias de neutralidade térmica indicadas na Figura 4. Há 3 °C
de diferença entre as médias dos dois climas, de forma que a menor temperatura corresponde ao clima mais
frio (Cfa), enquanto a mais elevada corresponde ao clima mais quente (Aw). No quadro central da Figura 5,
1142
são mostradas as temperaturas consideradas desconfortáveis, porém aceitáveis termicamente. Observa-se que
a temperatura média considerada desconfortável, porém aceitável, no clima Aw é 2 °C superior à média de
conforto e aceitabilidade desse clima. Por outro lado, no clima Cfa há uma diferença de apenas 1 °C entre as
médias consideradas confortável e desconfortável. Tais resultados sugerem que os usuários do clima Cfa
podem ser mais sensíveis às alterações de temperatura do que no clima Aw. Outro ponto importante é que as
médias de desconforto térmico e aceitabilidade correspondem às médias de sensação de levemente calor
(+1), conforme Figura 4, o que indica que o desconforto térmico passa a ocorrer a partir dessa temperatura e
por conta da sensação de calor, no geral.
No último quadro da Figura 5, à direita, são apresentadas as temperaturas consideradas
desconfortáveis e inaceitáveis. Nota-se que a temperatura média do clima Aw se mantém próxima à média de
aceitabilidade e desconforto, porém há um incremento na mediana e quartil superior e inferior de 0,3 °C. No
caso do clima subtropical, o incremento é mais expressivo, de 1 °C, tanto na média quanto na mediana e
quartis em relação às temperaturas de desconforto e aceitabilidade. Isso indica que apesar dos usuários no
clima Cfa serem mais sensíveis às mudanças de temperatura, é preciso uma mudança mais expressiva para
que eles considerem o ambiente inaceitável. A maior aceitabilidade dos usuários do clima Cfa em relação ao
Aw também é verificada quando se comparam os percentuais de usuários que consideram o ambiente
desconfortável e aceitável com aqueles que consideram o ambiente desconfortável e inaceitável; a diferença
percentual é maior no Aw (30%), e menor no Cfa - diferença de apenas 18%. Entretanto, nos dois climas as
temperaturas indicadas como inaceitáveis são mais altas que aquelas consideradas desconfortáveis, se
relacionando ao incremento da sensação de calor. Ainda nos dois climas, há maior percentual de desconforto
do que de inaceitabilidade térmica.

Figura 5 – Relação entre aceitabilidade e conforto térmico por clima

A sensação térmica afeta ainda a preferência térmica dos ocupantes. No geral, espera-se que as pessoas
com calor (+1, +2 e +3) prefiram ambientes mais frios, enquanto aquelas com sensação de frio (de -1 a -3)
prefiram ambientes mais quentes. Na base nacional, apenas 83% dos dados apresentam respostas sobre a
preferência térmica (n=9.095). Ao analisar esses dados, é possível perceber que a relação entre sensação e
preferência térmica é influenciada significativamente pelo modo de condicionamento do ambiente, como
mostra a Figura 6. De forma geral, observa-se um número maior de usuários em desconforto por frio em
ambientes com ar condicionado (AC), quando comparados aos ambientes naturalmente ventilados (VN). O
percentual de usuários que prefeririram que o ambiente estivesse mais aquecido no AC é maior do que em
VN. Nos ambientes condicionados, 16,8% dos usuários prefeririam que o ambiente estivesse mais aquecido,
e 16,6% prefeririam que estivesse mais resfriado, indicando um equilíbrio entre os votos. Porém, no caso dos
ambientes VN, 59% dos usuários prefeririam que o ambiente estivesse mais frio, e apenas 4,5% preferiram
que estivesse mais quente. A preferência pelo ambiente mais refrigerado, no caso dos espaços VN (59%),
ultrapassa o percentual de votos indicando que gostariam de não modificar a condição do ambiente (37%).
No caso dos ambientes de modo misto, como a operação da ventilação natural foi mais frequente (verFigura
), houve um percentual maior de usuários que prefeririam que o ambiente estivesse mais frio (18,7%),
enquanto o percentual que preferiu o ambiente mais quente foi de 13%. Nos ambientes com modo misto
verifica-se ainda maior relação entre a neutralidade térmica e a preferência pela não modificação da condição
atual (68%), enquanto nos ambientes AC esse valor é de 66%; nos ambientes VN, 37%.

1143
Figura 6 – Relação entre sensação térmica e preferência térmica

Com base nos resultados apresentados, é possível notar que as preferências e percepções térmicas dos
usuários dentro do território nacional não devem ser unificadas, já que sofrem significativa influência do
clima e modo de condicionamento do ambiente. Além disso, as diversas relações entre as variáveis incluídas
na base podem ser mais bem exploradas para a compreensão das características gerais e conforto térmico da
população brasileira em seus diferentes contextos climáticos e culturais.

5 CONCLUSÕES
A base brasileira de dados conta hoje com 10.925 votos, resultantes de pesquisas realizadas em campo em
quatro cidades brasileiras: São Luís, Maceió, Florianópolis e Maringá, agrupadas em dois climas principais,
tropical (tropical de inverno chuvoso e de monções) e subtropical.
De forma geral, a sensação térmica dos usuários apresentou relação com o clima em que estes estão
aclimatados. O voto de neutralidade está associado a uma temperatura média de 27,4 ºC nos climas tropicais
e de 24,4 ºC no clima subtropical, com valores mais altos nos climas mais quentes. O mesmo ocorreu nas
temperaturas consideradas confortáveis e aceitáveis, com valor médio de 27 ºC e 24 ºC, respectivamente. As
temperaturas associadas à sensação de desconforto e inaceitabilidade também foram mais altas para os
climas tropicais (29 ºC nos climas tropicais e 26 ºC no subtropical). Considerando o modo de operação dos
ambientes, percebe-se a relação entre a percepção de conforto dos usuários: em ambientes condicionados,
33,5% gostariam de alterar as condições do ambiente (para mais quente ou mais frio); nos ambientes
ventilados naturalmente, 59 % preferiria que o ambiente estivesse mais frio. Em relação à preferência pela
não modificação do ambiente, constata-se maior ocorrência nos ambientes de modo misto (68% dos votos),
seguido pelos ambientes condicionados (66%), e ventilados naturalmente (37%).
Com base nos resultados apresentados, conclui-se que há importantes variações na percepção térmica
entre as pessoas de diferentes climas, sendo ainda influenciada pela forma condicionamento do ambiente.
Ainda há muito a ser explorado na base nacional; entretanto, para que os resultados possam auxiliar na
definição de normativas apropriadas ao contexto brasileiro, é necessário expandir a amostra buscando maior
variabilidade climática, bem como tipos de construção e ocupantes com características distintas.

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1145
CONSIDERAÇÕES SOBRE O RACIONAMENTO DO USO DO AR
CONDICIONADO EM SALAS DE AULA NO PERÍODO DA MANHÃ NO
CLIMA QUENTE E ÚMIDO.
Rafael Ponce de Leon Amorim (1); Laís Serafim da Rocha (2); Sheila Elisabeth da Silva(3);
Marina Reis de Moraes (4)
(1) Professor do CST em Design de Interiores, rafael.ponce@ifpb.edu.br, IFPB, Av. Primeiro de Maio, 720 -
Jaguaribe, João Pessoa - PB, 58015-435, (83) 36121304.
(2) Discente do CST em Design de Interiores, isi.rocha13@gmail.com.
(3) Discente do CST em Design de Interiores, sheila.elisabeth@outlook.com.
(4) Discente do CST em Design de Interiores, marinamorae@hotmail.com.

RESUMO
O condicionamento artificial do ar tem se tornado cada vez mais comum em ambientes escolares. Como
principal justificativa destaca-se a necessidade de se obter um ambiente mais uniforme, com menor variação
de temperatura, menor interferência dos ruídos externos e maior controle do ofuscamento proporcionado
pelos elementos internos de proteção solar. Por outro lado, destacam-se como pontos negativos o aumento do
consumo de energia elétrica e a redução da qualidade do ar interno. Neste cenário, o Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB, campus João Pessoa, assim como os demais campi, tem
substituído os ventiladores por aparelhos condicionadores de ar em todos os ambientes acadêmicos e
administrativos, aumentando assim a demanda por energia elétrica. Porém, com a redução orçamentária
destinado ao campus em cerca de 13% para o exercício 2019, diversas medidas de contenção de despesas
foram implementadas, dentre elas, o desligamento dos aparelhos condicionadores de ar nos horários das 7:00
às 9:00h e das 15:00 às 17:00. Neste sentido, o presente artigo teve como objetivo avaliar a viabilidade de
implantação dessa recomendação, além de apontar alternativas para a adequação dos ambientes térmicos e
para a redução da demanda por energia elétrica. Com este intuito, foi realizado o monitoramento térmico da
sala de conforto ambiental do Curso Superior de Tecnologia em Design de Interiores - CSTDI do IFPB no
período de verão, ficando a análise restrita ao horário de funcionamento do curso, turno da manhã. A
avaliação dos dados foi realizada de acordo com a metodologia proposta pela norma ASHRAE-55/2017 para
ambientes condicionados naturalmente. Constatou-se que o ambiente térmico analisado pode ser considerado
aceitável por até 80% dos usuários em apenas 49% dos horários avaliados quando considerado velocidades
do vento com até 0,3m/s, contudo a aceitabilidade térmica pode alcançar 97% dos horários quando
possibilitado o ajuste da velocidade do ar entre 0,3m/s e 1,2m/s. Estes resultados comprovam a possibilidade
de se obter conforto térmico sem utilização de condicionamento artificial do ar durante o verão no período da
manhã, desde que seja permitido o controle da movimentação do ar de acordo com as preferências dos
usuários.
Palavras-chave: conforto térmico, ventilação, modelo adaptativo.

ABSTRACT
The use of artificial air conditioning is increasing in schools. The main justification is the need for a more
uniform environment with lower temperature variation, lower external noise interference and greater glare
control by sun shading devices. On the other hand, the negative aspects are the increase in electric energy
consumption and the poor indoor air quality. Thus, the Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia
da Paraíba - IFPB, campus João Pessoa, as well as the other campuses, has replaced the fans for air
conditioners appliances in all academic and administrative environments, increasing the consumption of
electricity. However, due to the reduction of 13% of the campus budget for the year 2019, several cost
containment measures were implemented, for example the shutdown of the air conditioners from 7:00 am to
9:00 am and from 3:00 p.m. to 5:00 p.m. The purpose of this article is to evaluate the viability of this

1146
recommendation, as well as propose alternatives for the thermal suitability of the environments and for the
reduction of the electric energy consumption. Thermal monitoring was performed in the comfort classroom
of the CSTDI/IFPB in the summer, with analysis restricted to the morning period, course opening hours. The
data evaluation was performed according to methodology proposed by the ASHRAE-55/2017 standard for
naturally conditioned spaces. It was found that the thermal conditions can be considered acceptable by up to
80% of users in only 49% of the morning hours when considering wind speeds of up to 0.3 m/s, however
when it is possible to adjust the air velocity between 0,3 m/s and 1.2 m/s, thermal acceptability can reach
97% of the time. These results confirm that it is possible to obtain thermal comfort without artificial air
conditioning during summer mornings, if air movement control is allowed according to user preferences.
Keywords: thermal comfort, ventilation, adaptive method.

1 INTRODUÇÃO
A substituição dos ventiladores por aparelhos condicionadores de ar tem se tornado cada vez mais comum
em ambientes escolares devido à necessidade de se obter um ambiente térmico mais ameno e estável,
redução de ruídos externos e possibilidade de controle da iluminação natural por cortinas e persianas. Por
outro lado, quando mal utilizados, estes aparelhos podem gerar ambientes termicamente desconfortáveis, seja
pela baixa temperatura do ar ou pela incidência direta de correntes de ar, além da redução da qualidade do ar
devido à insuficiência na renovação do ar interno, assim como, aumento do consumo de energia elétrica.
A busca por edifícios mais sustentáveis e energeticamente mais eficientes tem contribuído com o
desenvolvimento de pesquisas voltadas para os ambientes naturalmente ventilados. Neste sentido, destacam-
se os estudos de conforto térmico adaptativo, que consideram o homem como sujeito ativo que interage com
o ambiente de acordo com as suas sensações e preferências, podendo estes ajustes ser tanto no edifício com a
abertura de uma janela para ventilação, quanto em sua vestimenta com a retirada ou sobreposição de peças
de roupa.
O princípio da adaptação foi sintetizado por Nicol e Humphreys (2002) ao afirmar que se uma
mudança ocorre de tal forma a produzir desconforto, as pessoas reagem de forma a restaurar seu conforto.
Outro ponto fundamental considerado pelo modelo adaptativo é a inclusão da expectativa térmica e da
adaptação fisiológica relacionada ao processo de aclimatação dos indivíduos, que envolve tanto ajustes
fisiológicos quanto psicológicos que reduzem a sensação de desconforto. Como consequência obtém-se a
ampliação dos limites da zona de conforto térmico.
Neste sentido, a norma americana ASHRAE-55/2017, que determina as condições para aceitabilidade
do ambiente térmico interno, inclui a avaliação de ambientes naturalmente ventilados e controlados pelos
ocupantes através de um modelo adaptativo. A avaliação é realizada a partir da determinação da temperatura
operativa neutra obtida por uma equação baseada na temperatura média mensal, sendo a zona de
aceitabilidade térmica estabelecida em uma faixa de ±3,5°C, considerando 80% de aceitabilidade. O limite
superior de temperatura pode ainda ser ampliado em até 2,2°C quando permitido ao usuário ajustes na
velocidade do ar em até 1,2m/s.
No Brasil ainda não há uma norma específica para conforto térmico, por isso observa-se
frequentemente a recomendação da adoção dos parâmetros da Norma Regulamentadora NR17 – Ergonomia
(BRASIL, 1990) que estabelece valores bastante restritivos: faixa de temperatura efetiva entre 20°C e 23°C,
velocidade do ar máxima de 0,75m/s e umidade relativa do ar mínima de 40%. Alguns esforços individuais
tentam preencher esta lacuna como a proposta de norma brasileira de conforto térmico elaborada por
Lamberts (2013) e as diretrizes propostas por Cândido et al (2011) para edifícios naturalmente ventilados.
Outros dois estudos realizados nas regiões Nordeste e Sul do Brasil contribuem com esta discussão ao
avaliar a relação entre temperatura e umidade do ar. O primeiro realizado na cidade de Maceió/AL por
Cândido, de Dear e Lamberts (2010) demonstrou a possibilidade da adoção de temperaturas e velocidades do
ar menos restritivas, os pesquisadores observaram que a velocidade mínima do ar requerida foi 0,4m/s em
temperaturas entre 24 e 27°C, 0,41-0,8m/s entre 27 e 29°C, e velocidades superiores à 0,8m/s foram
desejáveis entre 29 e 31°C.
O segundo estudo, realizado em Florianópolis/SC por Vechio, Cândido e Lamberts (2013) avaliou a
estratégia da utilização simultânea de ventiladores de teto e aparelhos condicionadores de ar controlados
pelos usuários para possibilitar a adoção de temperaturas mais elevadas de setpoint, entre 25°C e 28°C,
resultando na redução do consumo energético para condicionamento do ar. Neste estudo, foi verificado que
os usuários podem aceitar e até mesmo preferir velocidades do ar superiores à 0,9 m/s.
Diante dos estudos aqui apresentados, percebe-se a importância da movimentação do ar para o
conforto térmico e para a redução da demanda por energia elétrica em clima quente e úmido, pois, enquanto
1147
nos ambientes naturalmente ventilados os ventiladores mecânicos têm a função de ampliar os limites
superiores aceitáveis de temperatura do ar, nos ambientes condicionados artificialmente estes equipamentos
permitem a adoção de setpoints de temperatura do ar mais elevados, contribuindo assim para a redução do
consumo de energia elétrica.

2 OBJETIVO
Esta pesquisa teve como objetivo avaliar a viabilidade do desligamento dos aparelhos condicionadores de ar
nas salas de aula no período das 7:00h às 9:00h no Campus João Pessoa do IFPB, visando à redução do
consumo de energia elétrica.

3 MÉTODO
Esta pesquisa foi realizada em três etapas. Inicialmente foi realizado a caracterização física da sala de aula,
em seguida, o monitoramento térmico e, por fim, a tabulação e análise dos dados.
O monitoramento térmico foi realizado com auxílio de dois registradores de temperatura e umidade do
ar, marca ONSET, modelo HOBO U10 e um medidor de stress térmico, marca Instrutherm, modelo TGD-
400. Estes equipamentos foram programados para registrar dados em intervalos de trinta minutos. Também
foram utilizados os dados obtidos pela estação meteorológica do Instituto Nacional de Meteorologia -
INMET localizada na cidade de João Pessoa/ PB disponibilizados pela plataforma online
http://www.inmet.gov.br/portal/.
Os dados de temperatura do ar e umidade relativa do ar do ambiente externo foram registrados por um
HOBO U10, localizado no corredor de acesso à sala de aula e protegido por um abrigo meteorológico, marca
ONSET, modelo RS1. Internamente foram utilizados um HOBO U10 e um medidor de stress térmico TGD-
400, localizados no centro da sala.
Foram realizadas duas análises. A primeira considerou o período de 01 de fevereiro à 26 de março de
2019 (54 dias), nos horários das 7:00 às 12:30, onde foi identificado o percentual de horas em que as
condições térmicas se enquadravam dentro da faixa de 80% de aceitabilidade. Nesta análise, para a
caracterização térmica do objeto em estudo foram considerados os dados registrados pelo equipamento
localizado no corredor de acesso à sala de aula, enquanto, para o cálculo da temperatura neutra, empregou-se
os dados registrados pela estação meteorológica do INMET. Na segunda análise, para caracterização do
ambiente térmico interno, utilizou-se um medidor de temperatura HOBO U10 e o medidor de stress térmico
TGD-400, localizados no centro da sala. Sendo esta última coleta de dados realizada apenas no período da
manhã do dia 26 de março de 2019.
Para análise e tabulação dos dados foram utilizados um software de planilha eletrônica e o software
online The CBE Thermal Comfort Tool que utiliza os parâmetros estabelecidos pela norma ASHRAE
Standard 55-2017, disponível em: http://comfort.cbe.berkeley.edu/.

3.1 Objeto de Estudo


O ambiente monitorado foi a sala de conforto ambiental do IFPB, Campus João Pessoa, localizado no bloco
do CSTDI. A cidade de João Pessoa, inserida no litoral nordestino brasileiro, latitude 7° 08’S e longitude
34°53’W, é caracterizada pelo clima quente e úmido, registrando médias anuais de temperatura do ar de
25°C e de umidade relativa do ar de 80%.
O edifício do CSTDI tem dois pavimentos, estrutura em concreto armado, vedações externas em
tijolo cerâmico furado rebocadas e pintadas na cor branca, vedações internas de gesso e esquadrias de
alumínio e vidro, como pode ser observado na Figura 1. O telhado é composto por telhas de fibrocimento sob
estrutura metálica sem laje. Todas as salas de aula possuem forro de gesso.

1148
Figura 1: (a) Vista superior do Campus João Pessoa do IFPB com destaque para o bloco de sala de aulas do CST em Design de
Interiores. (b) Vista frontal da fachada leste do bloco CSTDI.

O ambiente em estudo tem planta retangular com aproximadamente 52m2 de área. As aberturas estão
localizadas nas paredes leste e oeste, permitindo o aproveitamento da ventilação cruzada. As janelas não têm
distribuição uniforme, como pode ser verificado na Figura 2. A fachada leste possui duas janelas baixas com
folhas de correr e a fachada oeste possui três janelas altas do tipo projetante. O corredor de acesso à sala de
aula na fachada leste funciona como elemento de proteção solar, enquanto a fachada oeste não dispõe de
nenhum elemento externo de proteção. Internamente, todas as esquadrias possuem persianas verticais na cor
cinza claro. A sala conta com dois aparelhos condicionadores de ar de 24000 BTUs e não há ventiladores.
a) b) c)

Figura 2: (a) Vista interna da sala de conforto ambiental, (b) Corredor de acesso com destaque para o equipamento registrador de
dados e (c) Planta baixa do ambiente em estudo.

4 RESULTADOS
4.1 Análise dos meses de fevereiro e março de 2019
Os dados coletados nos meses de fevereiro e março são representativos do período de verão e correspondem
à estação mais quente do ano. Nesse período, a temperatura média do ar registrada foi de aproximadamente
28°C, com amplitude térmica diária por volta de 7°C. Para esta análise, foram considerados os dados obtidos
pelo registrador de temperatura e umidade localizado no corredor de acesso à sala de aula.
Para cada dia analisado foi calculada a média aritmética das médias diárias dos últimos quinze dias,
seguindo o procedimento descrito pela ASHRAE 55 (2017). Neste cálculo utilizou-se os dados coletados
pela estação meteorológica do INMET localizada na cidade de João Pessoa. Em seguida, foram estipulados
os valores limites de temperatura operativa para a zona de aceitabilidade térmica de 80%.
Como as aulas do curso de Design de Interiores ocorrem apenas no período da manhã, a avaliação
foi realizada nos seguintes horários: 7:00h às 9:30h (início das aulas até o intervalo), 10:00h às 12:30
(intervalo até o final das aulas da manhã) e 7:00 às 12:30 (turno completo). Por fim, avaliou-se a ampliação
do limite superior da zona de aceitabilidade térmica em 1,2°C, 1,8°C e 2,2°C proporcionado pelo aumento da
velocidade do ar em até 0,6m/s, 0,9m/s e 1,2m/s, respectivamente, conforme ASHRAE 55 (2017).
No gráfico da Figura 3 é demonstrado o percentual de horas dentro da zona de 80% de aceitabilidade
térmica para cada período analisado por faixa de velocidade do ar permitida. É possível observar que no
período total da manhã, 7:00h às 12:30, o percentual de horas na zona de aceitabilidade térmica foi de apenas
49% quando considerado o estado de calmaria com velocidade do ar de até 0,3m/s. Decompondo o turno da
manhã no período anterior e posterior ao intervalo tem-se respectivamente 69% e 29%, demonstrando a
consequência direta no conforto térmico do aquecimento do ar resultante do aumento da incidência da
radiação solar e do acúmulo da energia térmica no ambiente construído.
1149
Figura 3: Percentual de horários dentro da faixa de 80% de aceitabilidade térmica nos horários das 7:00h às 9:30h, 10:00h às 12:30h
e 7:00h às 12:30h, com velocidades do vento de até 0,3m/s, 0,6 m/s, 0,9 m/s, e 1,2 m/s.

Observa-se também, que quando permitido ao usuário o ajuste da velocidade do ar para até 0,6m/s, o
percentual de horas em que até 80% das pessoas consideram o ambiente térmico aceitável aumenta de 29%
para 90%, demonstrando que a ventilação é uma estratégia eficiente na busca pelo conforto térmico. Quando
possibilitado o ajuste da movimentação do ar para velocidades ainda mais altas, até 0,9m/s ou até 1,2 m/s,
esse percentual é ainda mais expressivo, respectivamente 95% e 97% dos horários analisados. Destaca-se
que estas observações corroboram com os resultados obtidos por pesquisas realizadas em clima quente e
úmido no Brasil, como demonstrado por Cândido, de Dear e Lamberts (2010) e Vechio, Cândido e Lamberts
(2013).
É importante relembrar que a metodologia de análise aqui empregada considera um comportamento
ativo dos usuários na adaptação do ambiente. Sendo assim, os usuários devem ter a liberdade para ajustar a
qualquer momento a sua vestimenta, operar portas, janelas e os elementos de proteção solar, além de ter
autonomia para controlar a intensidade da movimentação do ar.

4.2 Análise da sala de aula no período da manhã do dia 26/03/2019


A coleta de dados realizada no dia 26 de março de 2019 teve como objetivo inicial a verificação da
representatividade dos valores de temperatura do ar registrados no ambiente externo (corredor de acesso à
sala de aula) em relação aos dados medidos no ambiente interno.
Na Figura 4 observa-se a variação de temperatura do ar no ambiente externo (linha contínua cinza
claro) e na estação de referência do INMET (linha pontilhada), além da variação da temperatura operativa
calculada a partir dos valores de temperatura do ar e temperatura de globo do ambiente interno (linha
contínua cinza escuro). O primeiro registro de dados ocorreu às 6:30h ainda com a sala de aula fechada
visando compreender a influência da inércia térmica do edifício na diferença de temperatura entre o ambiente
interno e externo, sendo registrada uma diferença de 2,5°C. Às 6:55h as portas e janelas foram abertas,
simulando uma situação cotidiana com a entrada de professor e alunos.

Figura 4: Comparativo entre os valores de temperatura do ar do ambiente interno e externo, com indicação da temperatura do ar
registrada na estação meteorológica do INMET referente ao dia 26.03.2019 no período das 6:30 às 12:30.

Às 7:00h, foi realizada a segunda medição, representativa do primeiro horário de aula do turno da
manhã. Com os dados plotados, observou-se a incoerência dos dados de temperatura do ar registrados no

1150
ambiente externo durante o período das 6:30h às 8:30h. O comportamento observado foi atribuído à
incidência direta da radiação sobre o abrigo meteorológico e as superfícies circunvizinhas, assim como a
insuficiência da ventilação para dissipação do calor absorvido. Sendo assim, optou-se pela correção dos
dados através da interpolação dos valores medidos. No gráfico da Figura 4 observa-se os valores corrigidos
plotados em linha tracejada cinza claro. Diante dessa constatação, procedeu-se também a correção de todo o
conjunto de dados de temperatura registrados nos meses de fevereiro e março utilizados na análise anterior.
Após a abertura das esquadrias, foi observada a aproximação dos valores de temperatura do ar no
período entre 7:00h e 8:30h, ocasionado pelo aumento da circulação do ar proporcionado pela ventilação
cruzada. A diferença de temperatura foi reduzida para cerca de 0,5°C e manteve-se constante até
aproximadamente 12:00h. Em seguida, com o acúmulo de nuvens e a ocorrência de precipitação, os valores
de temperatura do ar registrados no ambiente externo e interno voltaram a divergir, comportamento que deve
ser atribuído ao resfriamento mais lento característico do ambiente interno quando comparado ao ambiente
externo.
Após a verificação do comportamento térmico buscou-se avaliar a aceitabilidade térmica dos
ocupantes em três horários distintos: 7:00h, referente ao primeiro horário de aula do turno da manhã, 9:00h,
referente ao início do horário permitido para acionamento dos aparelhos condicionadores de ar e 12:00h,
referente ao último horário de aula do turno da manhã. Para esta análise utilizou-se o software online The
CBE Thermal Comfort Tool que permitiu a plotagem dos dados sobre a carta do modelo adaptativo.
Os gráficos da Figura 5, 6 e 7 a seguir apresentam a zona de aceitabilidade térmica definida pela
norma ASHRAE (2017), no eixo X pode-se ler os valores de temperatura do ar externo referente à média dos
dias anteriores ao dia analisado, enquanto no eixo Y pode-se ler o valor de temperatura operativa interna do
horário analisado. A zona central em azul escuro representa as combinações em que as condições térmicas
são aceitáveis para 90% das pessoas, enquanto a área expandida em azul claro corresponde a 80% de
aceitabilidade térmica.
Para o dia 26 de março de 2019 o valor de referência da temperatura média do ar externo calculada a
partir da média dos quinze dias anteriores foi de 27,8°C. O gráfico da Figura refere-se ao primeiro horário
de aula do turno da manhã, 7:00h. O ponto vermelho representa as condições térmicas do ambiente em
estudo no momento da análise. Sendo assim, pode-se observar que com temperatura operativa de 29,3°C, o
ambiente em estudo oferece condições térmicas dentro da zona delimitada para 80% de aceitabilidade
térmica.

Figura 5: Condição térmica às 7:00h da manhã do dia 26 de 03 de 2019 plotada (ponto em vermelho) sobre a carta do modelo
adaptativo.

Os gráficos da Figura 1 referem-se ao primeiro horário em que é permitido o acionamento dos


aparelhos condicionadores de ar, às 9:00h. Neste horário, a temperatura operativa registrada foi 0,7°C,
permanecendo fora da zona de 80% de aceitabilidade térmica em situações em que a velocidade do ar não
ultrapassa 0,3m/s (a). Porém, observa-se que é possível reestabelecer a aceitabilidade térmica do ambiente
quando permitido o aumento da velocidade do ar, alcançado 80% de aceitabilidade térmica para velocidade
do ar de até 0,6m/s (b) e 90% com velocidade do ar com até 1,2m/s (c).

1151
a) b) c)
Figura 6: Avaliações térmicas às 9:00h da manhã do dia 26 de 03 de 2019 plotadas (ponto em vermelho) sobre a carta do modelo
adaptativo com velocidades do vento de até 0,6m/s (a), 0,9m/s (b) e 1,2m/s (c).

Destaca-se, que os gráficos da Figura 6 foram gerados a partir de uma mesma situação térmica, porém
permitindo-se diferentes valores de velocidade máxima do ar. Como discutido no item anterior, a ASHRAE
55 (2017) permite o aumento do limite superior de temperatura operativa em 1,2°C, 1,8°C e 2,2°C para
faixas de velocidades do ar de até 0,6 m/s, 0,9 m/s e 1,2 m/s, respectivamente, desde que seja permitido aos
usuários a possibilidade de realizar os ajustes requeridos.
Por fim, como pode ser observado no gráfico da Figura 7, com cerca de 32,5°C de temperatura
operativa às 12:00, o percentual de usuários que avaliam o ambiente térmico como aceitável é inferior à
80%, mesmo quando permitido a adoção de velocidade do ar com até 1,2 m/s. Dessa forma, o acionamento
dos aparelhos condicionadores de ar torna-se indispensável para possibilitar um ambiente térmico aceitável.

Figura 7: Avaliação térmica às 12:00h da manhã do dia 26 de 03 de 2019 plotada (ponto em vermelho) sobre a carta do modelo
adaptativo.

5 CONCLUSÕES
Este artigo teve como objetivo avaliar a viabilidade de implantação de uma recomendação que visa à redução
de consumo de energia elétrica no IFPB Campus João Pessoa a partir do racionamento do uso dos aparelhos
condicionadores de ar. A pesquisa foi realizada apenas durante o período da manhã restringindo-se aos
horários de aula do CST em Design de Interiores. A pesquisa foi realizada nos meses de fevereiro e março de
2019, representativos do período mais quente do ano. Foi observado que a aceitabilidade térmica de 80%,
como recomendada pela ASHRAE 55 (2017), só foi alcançada em 49% dos horários avaliados,
representando 69% dos horários de 7:00h às 9:30h e 29% das 10:00h às 12:30h. Porém, quando a
movimentação do ar é de até 0,6m/s a aceitabilidade térmica alcança 90% dos horários e 97% quando a
velocidade do vento permitida é de até 1,2 m/s.
Estes resultados comprovam a possibilidade de se obter conforto térmico sem a utilização do
condicionamento artificial do ar no período da manhã mesmo no período mais quente do ano, desde que seja
garantida a movimentação do ar com velocidades superiores a 0,3m/s ajustáveis de acordo com as
preferências dos usuários. Dessa forma, entende-se que aproveitamento da ventilação natural complementada
pela utilização de ventiladores é uma estratégia viável e de baixo custo, podendo contribuir não apenas para a
redução do consumo de energia elétrica, mas também, para a manutenção da qualidade do ar interno.

1152
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1153
CONTROLE DE OPERAÇÃO DE EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIOS COM
VENTILAÇÃO HÍBRIDA: UMA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO
USUÁRIO
Eduardo Rodrigues Quesada (1); Leticia de Oliveira Neves (2)
(1) Graduando de Engenharia Civil na Universidade Estadual de Campinas, edurquesada@gmail.com
(2) Professora Doutora do Departamento de Arquitetura e Construção da Faculdade de Engenharia Civil,
Arquitetura e Urbanismo, leticia@fec.unicamp.br, Universidade Estadual de Campinas, Rua Saturnino de
Brito, 224, Cidade Universitária, Campinas, SP, CEP 13083-889, Tel.: (19) 3521-2384

RESUMO
Edifícios que aliam o uso do ar-condicionado com a ventilação natural, também conhecidos como edifícios
com modo-misto de ventilação, têm sido recorrentemente pesquisados ao longo das últimas duas décadas,
em função de seu grande potencial de economia de energia. Sob a promessa de garantir conforto térmico a
um baixo consumo energético, tais edificações enfrentam o desafio de ter o comportamento de seu usuário
pouco conhecido e uma lacuna em normas internacionais, no que diz respeito a modelos de conforto térmico
que atendam às suas especificidades. Este artigo relata a pesquisa de campo desenvolvida por meio de quatro
rodadas de medição, compreendidas no intervalo de um ano, em três saletas comerciais de edifícios híbridos
localizados na cidade de São Paulo, tendo por objetivo analisar o comportamento do usuário em edifícios de
escritórios de modo misto, em situações em que se provê total liberdade para que os usuários do ambiente
abram/fechem as janelas e/ou operem o equipamento de ar-condicionado. Variáveis climáticas internas
foram monitoradas, assim como a operação do ar-condicionado e da ventilação natural por parte dos
usuários. Os dados monitorados foram comparados com os modelos preditivos de conforto térmico das
normas ASHRAE 55-2017 e EN 15251-2007, de forma a identificar que modelo de conforto melhor
representa a situação encontrada. Como resultados, observaram-se: semelhança entre os setpoints adotados
para os períodos de uso do ar-condicionado e da ventilação natural; usuários passivos em suas interações
com as estratégias de climatização (poucas alterações entre os sistemas ao longo do dia); inadequação do
modelo estático de conforto térmico e boa compatibilidade do modelo adaptativo, em comparação com os
dados aferidos, podendo-se considerar as vertentes das normas ASHRAE 55-2017 e EN 15251-2007
igualmente eficazes.
Palavras-chave: comportamento do usuário, modelos preditivos de conforto térmico, edifícios de escritórios,
ventilação híbrida.

ABSTRACT
Buildings that combine the use of air conditioning with natural ventilation, also known as mixed-mode
ventilated buildings, have been a recurrent subject of research over the past two decades, due to its great
potential for energy saving. Under the promise of ensuring thermal comfort at a low energy consumption,
these constructions face the challenge of having its occupant behavior barely known and a gap in
international standards, concerning thermal comfort models that fulfill its specificities. This paper reports the
field research developed through four measurement rounds, comprised within the interval of one year, of
three office rooms from mixed-mode buildings located in the city of São Paulo, aiming to analyze and
understand occupant behavior in buildings where users are able to freely operate both windows and air-
conditioning equipment. Indoor environmental variables were monitored, as well as user control variables
(manual operation of air-conditioning and natural ventilation systems). Measured data were compared with
predictive thermal comfort models from ASHRAE 55-2017 and EN 15251-2007, in order to identify which
thermal comfort model best represents the situation found. The results observed were: similar setpoints
adopted for air-conditioned and naturally ventilated periods; passive users regarding interactions with
ventilation strategies (few alterations between both systems during the day); inadequacy of the static model

1154
and good compatibility of the adaptive model, being possible to consider the strands from ASHRAE 55-2017
and EN 15251-2007 equally effective.
Keywords: occupant behavior, predictive thermal comfort models, office buildings, mixed-mode ventilation.

1. INTRODUÇÃO
Os edifícios com modo-misto de ventilação (MMV) têm sido recorrentemente pesquisados ao longo das
últimas duas décadas, demonstrando haver um esforço acadêmico para não só popularizar essa tipologia
construtiva, por conta de suas vantagens, como também para preencher lacunas científicas a respeito da
mesma. Sabe-se que as edificações híbridas são uma ótima solução para promover resfriamento, ar fresco,
qualidade do ar interno e conforto térmico para seus usuários (BRAGER et al., 2000). Tais benefícios são
obtidos aliando os sistemas de ventilação natural (VN) e mecânica, o que os torna mais confortáveis para os
usuários do que as tipologias que funcionam apenas com ventilação natural e ainda garante menor consumo
de energia com relação a edifícios que operam apenas com ar-condicionado (AC).
No entanto, apesar das diversas vantagens, pouco se sabe sobre o comportamento dos usuários e o
perfil de uso dessas edificações. Algumas das principais normas internacionais que tratam da temática do
conforto no ambiente construído (ASHRAE, 2017; ISO, 2005; CEN, 2007) não abordam tal estratégia e/ou
não são específicas ao definirem requisitos para operação e estratégias de controle dessas edificações. Essa
limitação normativa afeta a eficácia de simulações computacionais que visam estabelecer o consumo
energético dessa tipologia construtiva, sendo comum encontrar consideráveis divergências entre as demandas
reais dos prédios e o que apontam os resultados obtidos por softwares (ANDERSEN et al., 2007; HALDI &
ROBINSON, 2008; SCHWEIKER & SHUKUYA, 2009; FABI et al., 2013).
Nesse contexto, diversas revisões literárias investigaram a produção acadêmica sobre edifícios
híbridos e os respectivos modelos preditivos comumente utilizados (BORGESON & BRAGER, 2008; FABI
et al., 2012; GUNAY et al., 2013; SALCIDO et al., 2016). O que se encontra recorrentemente em artigos
científicos é o emprego dos modelos adaptativo e estático de conforto térmico, utilizando as normas
internacionais ASHRAE 55 (2017) e EN 15251 (2007) como referências prescritivas de tais modelos, para
uma análise de sua compatibilidade com dados oriundos de medições de campo nas edificações com modo
misto de ventilação. Como resultados, alguns pesquisadores sugerem o uso do modelo teórico adaptativo
(DEUBLE & de DEAR, 2012; FU & WU, 2015), outros o recomendam só para os períodos de uso da
ventilação natural (RUPP & GHISI, 2017; RUPP et al., 2018) e há trabalhos que vão além e apontam para a
inadequação da aplicação do modelo estático nessa tipologia construtiva (DEUBLE & de DEAR, 2012).
Tendo em vista a necessidade de mais estudos de campo com edificações que associam os sistemas de
ar-condicionado e ventilação natural (ACKERLY et al., 2011), este artigo visa contribuir com a discussão da
aplicabilidade dos modelos teóricos de conforto térmico em edifícios com modo misto de ventilação e com a
investigação do comportamento do usuário dessas edificações. Para isso, apresentam-se os resultados da
pesquisa de campo desenvolvida em três escritórios comerciais de edifícios de modo misto localizados na
cidade de São Paulo, onde o clima é subtropical úmido, em que foram monitoradas variáveis climáticas
internas e a livre operação dos sistemas de ar-condicionado e ventilação natural (operação de janelas) pelos
usuários. Vale ressaltar que este artigo dá sequência ao trabalho iniciado por Neves et al. (2018), em que já
havia sido feita uma análise de amostra parcial dos dados.

2. OBJETIVO
Este artigo tem por objetivo identificar que modelo preditivo de conforto térmico melhor se adequa ao
padrão de uso verificado por medições de campo em edifícios de escritórios de modo misto, em situações em
que há total liberdade para que os ocupantes do ambiente abram/fechem as janelas e/ou operem o
equipamento de ar-condicionado.

3. MÉTODO
Esta pesquisa fundamenta-se em um estudo de caso realizado por meio de medições em campo. Para
levantamento dos dados requeridos, quatro rodadas de medições de campo, uma em cada estação do ano,
foram realizadas em três salas comerciais de edifícios de escritórios de modo-misto localizados na cidade de
São Paulo, onde o clima característico é o subtropical úmido. No monitoramento, foram aferidos os valores
de variáveis climáticas internas e foi monitorado o comportamento dos usuários das salas com relação ao uso
do aparelho de ar-condicionado e do sistema de ventilação natural (janelas operáveis). O estudo será
explicado em detalhes nos subitens a seguir.
1155
3.1. Saletas comerciais
A seleção dos escritórios que seriam objeto de estudo desta pesquisa baseou-se no banco de dados elaborado
por Neves et al. (2017), que contém informações sobre 153 edificações de escritórios com modo misto de
ventilação localizadas em São Paulo. Após contato com os proprietários, três saletas comerciais foram
escolhidas, sendo duas delas pertencentes a um mesmo edifício.
O escritório 01 fica no 4º andar de uma edificação de 13 andares (Figuras 1a e 2a), tem área de 25 m²,
ventilação unilateral com orientação Noroeste e ar-condicionado tipo janela. O escritório 02 encontra-se no
6º andar dessa mesma edificação, possui área de 33 m², ventilação natural cruzada nas fachadas de orientação
Nordeste e Noroeste e ar-condicionado tipo janela. O escritório 03 localiza-se no 4º andar de uma edificação
de 11 andares (Figuras 1b e 2b), tem área de 29 m², ventilação unilateral voltada para a fachada de orientação
Sudoeste e aparelho de ar-condicionado tipo split.
Em todos os escritórios, o modelo das janelas é máximo ar e os usuários possuem completa liberdade
para operar tanto o sistema de ar-condicionado quanto o de ventilação natural, em modo concorrente, a
qualquer momento.

(a) (b)
Figura 1 – Edifícios monitorados: (a) escritórios 01 e 02 (4º e 6º andar, respectivamente); (b) escritório 03 (4º andar).

(a) (b)
Figura 2 – Plantas do pavimento-tipo dos edifícios monitorados: (a) escritórios 01 e 02; (b) escritório 03.

3.2. Monitoramento de campo


O monitoramento de campo foi realizado em quatro períodos, escolhidos de forma que houvesse uma rodada
de medições para cada estação do ano. Nessas quatro rodadas, foram aferidas as seguintes variáveis
climáticas internas: temperatura do ar, temperatura de globo, velocidade do ar e umidade relativa do ar.
Foram também monitoradas as variáveis de controle do usuário sobre os sistemas de ar-condicionado e
ventilação natural (janelas operáveis). A Figura 3 apresenta a planta das saletas comerciais monitoradas,
sendo a legenda de ícones coloridos referente ao posicionamento dos equipamentos de medição das variáveis
climáticas internas, do sensor de monitoramento da operação da janela para ventilação natural e do sensor de
monitoramento da operação do aparelho de ar-condicionado.
A Tabela 1 apresenta os equipamentos utilizados nas medições e suas localizações em cada escritório.
Um sensor de estado foi utilizado para monitorar a operação das janelas e um datalogger de temperatura do
ar e umidade relativa foi fixado nas aletas do aparelho de ar-condicionado e programado para realizar
registros a cada 5 minutos, de modo a permitir a identificação dos instantes de acionamento do aparelho. Os
demais equipamentos foram montados em um tripé, posicionado próximo a um canto da sala (onde não
atrapalhasse o uso cotidiano da mesma), a uma altura de 1,10 m do piso (correspondente à altura da cabeça

1156
de uma pessoa sentada ou do abdômen de uma pessoa em pé) e protegidos de exposição direta à luz solar. As
medições foram realizadas a cada 15 minutos.
As variáveis climáticas externas tiveram seus valores coletados a partir da base online de uma estação
meteorológica automática localizada a pouco menos de 10 km dos edifícios (INMET, 2018). Um resumo das
particularidades de cada rodada de medições é apresentado a seguir, na Tabela 2.

Figura 3 – Salas comerciais monitoradas: (a) escritório 01; (b) escritório 02; (c) escritório 03.

Tabela 1 – Especificações técnicas dos equipamentos usados nas medições de campo.


Equipamento Intervalo de medição Precisão
-20 °C até +55 °C ± 0,4 °C
Datalogger de temperatura e umidade relativa do ar
0 até 100% ± 2%
Datalogger de temperatura do ar (para temperatura de globo) -35 °C até +55 °C ± 0,5 °C
Datalogger de temperatura e velocidade do ar 1 até +20 m/s ± (0,03 m/s + 5%)
Sonda de velocidade do ar 0 até +10 m/s ± (0,03 m/s + 5%)
Sonda de temperatura do ar -50 °C até +125 °C ± 0,2 °C
Datalogger de temperatura e umidade relativa do ar (para monitorar -20 °C até +85 °C ± 0,5 °C
operação do ar-condicionado) 0 até +100 % 0,60%
Datalogger sensor de estado (para monitorar operação das janelas) Frequência máxima 1 Hz ± 1 minuto por mês a 25 °C

Tabela 2 – Principais informações sobre o monitoramento de campo.


Estação Período de Monitoramento Taxa metabólica (met) Vestimenta (clo)
Inverno 20 de junho a 02 de julho de 2017 0,97
Primavera 03 a 26 de outubro de 2017 0,55
1,20
Verão 19 de janeiro a 05 de fevereiro de 2018 0,45
Outono 04 a 18 de abril de 2018 0,57

Os valores adotados para taxa metabólica correspondem a atividades de escritório (ASHRAE, 2017) e
os valores adotados para vestimenta foram calculados a partir de observações em campo. Como velocidade
do ar interna, adotou-se o valor médio de 0,05 m/s para todas as rodadas do monitoramento, uma vez que os
valores de medição obtidos eram extremamente baixos. Vale ressaltar que o padrão horário considerado ao
longo de todas as medições e por todos os equipamentos foi o solar, ignorando-se o horário de verão.

3.3. Análise dos dados


Por meio das prescrições da norma ASHRAE 55 (2017), calcularam-se a temperatura radiante média e a
temperatura operativa com auxílio dos dados climáticos internos aferidos. Procedeu-se, então, com a
organização de todos os dados em tabelas e a extração das análises gráficas, as quais viabilizaram traçar um
perfil de uso para os edifícios comerciais de modo-misto analisados.

3.4. Modelos preditivos de conforto térmico


Os intervalos de conforto estabelecidos pelos modelos de predição estático e adaptativo foram comparados
com os dados coletados em campo. Para tal verificação, utilizaram-se como base a norma americana
ASHRAE 55 (2017) e a norma europeia EN 15251 (2007). Para o cálculo dos índices de Fanger (1970), fez-
se uso da calculadora online “Thermal Comfort Tool” do Center for the Built Environment (CBE, 2018).
1157
Para o cálculo das temperaturas externas usadas pelo modelo adaptativo de ambas as normas, foi utilizada a
Equação 1 a seguir (ASHRAE, 2017; CEN, 2007).

Tmep = (1 −  )  Ted −1 +   Ted −2 +  ²  Ted −3 ... Equação 2

Onde:
α é uma constante entre 0 e 1, adotada como sendo 0,8 por recomendação das normas;
Ted-n é a temperatura média externa diária de n dias atrás, para 1 ≤ n ≤ 7 [ºC];
Tmep é a temperatura média externa predominante ou média externa exponencialmente ponderada [ºC].

O cálculo dos limites superior e inferior de temperatura operativa, utilizados como base para avaliação
pelo modelo adaptativo, variam de acordo com cada uma das normas. A Equação 2 refere-se ao que
prescreve a norma ASHRAE 55 (2017) e a Equação 3 é indicada pela EN 15251 (2007), na qual foi
considerada a categoria III (edifícios já existentes) para as edificações monitoradas. Ambas as normas
preveem um índice mínimo de 80% de ocupantes satisfeitos.

LS / LI (80 %) = 0,31  Tmep + 17,8  3,5 Equação 2

LS / LI (80 %) = 0,33  Tmep + 18,8  4,0 Equação 3

Onde:
Tmep é a temperatura média externa predominante calculada pela Equação 1 [ºC];
LS/LI(80%) são os limites superior e inferior para 80% de aceitabilidade dos usuários [ºC].

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Variáveis climáticas e perfil de usuário


Com base nos dados horários de períodos em que o ar-condicionado ou a ventilação natural estiveram em
funcionamento, extraíram-se as seguintes análises estatísticas da amostra: média, desvio padrão (DP),
mínimo (Mín) e máximo (Máx). O resultado, apresentado na Tabela 3, evidencia a semelhança entre as
condições climáticas internas que levam ao uso de ambos os sistemas; contudo, a ventilação natural é
recorrente em um intervalo mais abrangente de temperaturas externas. A Figura 4, também referente aos
períodos estiveram acionados o ar-condicionado ou a ventilação natural (janelas abertas), mostra boa
correlação entre a temperatura operativa interna e a temperatura externa, para o uso da ventilação natural (R²
= 0,5648 – Figura 4a), o que não é válido para os dados de ar-condicionado (R² = 0,0131 – Figura 4b).

Tabela 3 – Síntese estatística das principais variáveis climáticas para os períodos de uso do ar-condicionado (AC), da ventilação
natural (VN) e de ambos combinados.
Período AC (N = 484 h) Período VN (N = 237 h) Períodos combinados
Parâmetro
Média DP Mín Máx Média DP Mín Máx Média DP
TBS (°C) 24,31 1,42 20,88 30,23 24,40 2,05 20,00 29,10 24,34 1,65
TRM (°C) 24,09 1,65 20,53 33,11 24,66 2,26 19,79 30,67 24,28 1,89
Top (°C) 24,20 1,51 20,75 31,28 24,53 2,15 19,89 29,89 24,31 1,75
UR (%) 47,11 8,34 31,38 70,95 61,38 7,41 44,30 81,98 51,80 10,47
Text (°C) 24,98 4,19 13,20 34,60 21,08 3,90 13,40 30,20 23,70 4,49

TBS = temperatura de bulbo seco interna, TRM = temperatura radiante média, Top = temperatura operativa, UR
= umidade relativa do ar, Text = temperatura externa do ar.

1158
(a) 33 R² = 0,5648
(b) 33
31 R² = 0,0131
31

Temperatura Operativa (ºC)


Temperatura Operativa (ºC)

29 29
27 27
25 25
23 23
21 21
19 19
10 15 20 25 30 35 10 15 20 25 30 35
Temperatura Externa (ºC) Temperatura Externa (ºC)

Figura 4 – Temperatura externa versus temperatura operativa interna:


(a) período de uso da ventilação natural (VN); (b) período de uso do ar-condicionado (AC).

Visando compreender o efeito da sazonalidade no setpoint de temperatura operativa, a Figura 5


apresenta um diagrama de caixa dividido por tipo de sistema (ar-condicionado ou ventilação natural) e por
estação do ano. Podem ser observadas alterações sazonais predominantemente nos períodos de uso da
(ventilação natural (janelas abertas), quando os indicadores gráficos de média, mediana, mínimo e máximo
cobrem um maior espectro de temperaturas.

Figura 5 – Análise estatística da temperatura operativa interna ao longo dos períodos de uso do ar-condicionado (AC) e da ventilação
natural (VN) para cada uma das estações do ano monitoradas. As linhas horizontais internas representam a mediana, as externas
representam o mínimo e o máximo, as extremidades das caixas são o primeiro e o terceiro quartis, o “x” é a média e os pontos são os
outliers.

A Figura 6 apresenta a frequência com que cada sistema esteve acionado nas diferentes horas do dia,
visando melhor investigar o comportamento do usuário ao longo do dia. Observa-se um pico de uso do
aparelho condensador de ar-condicionado entre 14 e 15 h, o que coincide com o período do dia em que as
temperaturas externas são mais altas. Em contrapartida, no caso da ventilação natural, nota-se uma queda no
acionamento desse sistema nesse mesmo horário, mas há uma incidência quase constante de seu uso nas
demais horas, entre 11 e 18 h. Verifica-se, assim, que a operação do sistema de ar-condicionado está
correlacionada com os horários do dia em que a temperatura externa é mais elevada. O uso da ventilação
natural (abertura de janelas), por sua vez, é distribuído mais uniformemente ao longo do dia.

1159
(a) 16 (b) 16
14 14

Frequência (%)
Frequência (%)
12 12
10 10
8 8
6 6
4 4
2 2
0 0
7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Horários do dia (h) Horários do dia (h)

Figura 6 – Distribuição de frequência do uso de cada sistema nas diferentes horas do dia:
(a) período de uso da ventilação natural (VN); (b) período de uso do ar-condicionado (AC).

Com o intuito de investigar a atividade e/ou passividade dos usuários das saletas comerciais
monitoradas – isto é, o quanto eles interagem com os sistemas no ambiente de trabalho – analisou-se quantas
vezes ao dia os ocupantes ligam ou desligam os sistemas de ar-condicionado e/ou ventilação natural e, depois
de acionados, por quanto tempo os sistemas permanecem em operação ininterrupta. Os resultados destas
análises são apresentados na Figura 7, correspondendo aos dados de acionamento tanto do ar-condicionado
como das janelas operáveis e considerando apenas os dias em que houve pelo menos uma interação com
algum dos sistemas.
Pelos gráficos, nota-se que na maioria dos dias (89%) houve, no máximo, duas interações dos usuários
com os sistemas de climatização do escritório (Figura 7a). Além disso, verifica-se que, apesar de haver uma
distribuição relativamente uniforme das durações de uso de algum dos sistemas, entre 1 e 12 h (Figura 7b),
as maiores frequências se dão para 8 e 9 h de operação ininterrupta, ou seja, um dia inteiro de trabalho.
Ambos os resultados convergem para a constatação de que os usuários das salas monitoradas têm perfil de
uso passivo das estratégias de climatização.

(a) (b) 20
3% 4%
8%
Frequência (%)

15

1 10
2
5
4
6 0
85% 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Duração do evento (h)

Figura 7 – Distribuição de frequência combinando os dados de ambos os sistemas: (a) quantidade de interações dos usuários com os
sistemas de ar-condicionado e/ou ventilação natural ao longo do dia (liga/desliga ou abre/fecha); (b) quantidade de horas
ininterruptas de operação de um sistema.

Para averiguar a veracidade dessa constatação, levantaram-se também os horários exatos de todos os
instantes em que algum dos sistemas, ar-condicionado ou ventilação natural, foi ligado ou desligado. Os
dados compilados são apresentados na Figura 8, onde as colunas amarelas se referem à ativação de um
sistema e as cinzas à sua desativação. Apesar de haver frequências não desprezíveis em diversas horas do
dia, nota-se o seguinte padrão: para a função ON, há dois picos, um às 9 h e outro às 13 h, horários de início
da jornada diária e de almoço; já para a função OFF, há três picos, por volta de 12 h, 17 h e 19h30,
respectivamente os horários de almoço e dois possíveis horários de fim da jornada diária de trabalho. Apesar
destas constatações não serem conclusivas, já representam a identificação de uma tendência de intervir nas
estratégias de ventilação dos escritórios prioritariamente em horários de chegada e saída dos mesmos. Isso
reafirma o caráter passivo no perfil dos usuários aqui monitorados, ou seja, a pouca interação com o
ambiente, em termos de conforto térmico, durante a atividade de trabalho.

1160
8
ON OFF
7
6
Frequência (%)

5
4
3
2
1
0

Horário do dia
Figura 8 – Horários de acionamento (ON) e desligamento (OFF) dos sistemas de ar-condicionado (AC) ou ventilação natural (VN).

4.2. Modelos preditivos de conforto térmico


Considerando-se os modelos estático e adaptativo de conforto térmico prescritos tanto pela ASHRAE 55
(2017) quanto pela EN 15251 (2007), a amostra de dados levantada nesta pesquisa para os períodos de uso
do ar-condicionado e da ventilação natural foi submetida aos critérios estabelecidos por tais normas
internacionais, a fim de comparar os dados e identificar qual modelo preditivo melhor se aplica à realidade
dos edifícios de escritórios com ventilação híbrida aqui monitorados. Vale ressaltar que esta análise parte do
pressuposto que os usuários se encontravam em situação de conforto durante a operação de ambos os
sistemas, o que não chegou a ser averiguado por meio de investigação direta com os ocupantes.
Para o modelo estático, a norma americana ASHRAE 55 (2017) estabelece como aceitável um
percentual de pessoas insatisfeitas (Predicted Percentage of Dissatisfied – PPD) menor que 10%, enquanto a
europeia EN 15251 (2007) estabelece um PPD menor que 15% para edificações de categoria III, que é o caso
dos edifícios monitorados nesta pesquisa. No caso do modelo adaptativo, o critério de conforto das normas é
o mesmo – a temperatura operativa deve se enquadrar entre os limites superior e inferior definidos para 80%
de aceitabilidade – mas o que difere são as fórmulas que originam tais limites (Equações 2 e 3).
Os resultados obtidos – apresentados na Tabela 4 – indicam variações consideráveis nos resultados da
aplicação dos diferentes modelos para cada estação do ano e para cada estratégia de climatização. Contudo, o
modelo adaptativo se mostra mais aderente do que o estático em todas as estações e para os períodos de uso
tanto do ar-condicionado quanto da ventilação natural. No conjunto anual de dados, conclui-se que o modelo
estático europeu (CEN, 2007) é mais adequado que o americano (ASHRAE, 2017), mas a comparação entre
os modelos adaptativos evidencia um empate entre as normas. A Figura 9 ilustra a comparação entre os
modelos adaptativos.

Tabela 4 – Resumo estatístico dos cálculos de comparação entre os modelos estático e adaptativo das normas ASHRAE 55 (2017) e
EN 15251 (2007) e os dados monitorados em campo para os períodos de uso do ar-condicionado (AC) e da ventilação natural (VN).
Período AC (N = 484 h) Período VN (N = 237 h)
Modelo preditivo de conforto
Estação % de % de
térmico Média DP Média DP
atendimento atendimento
Estático - ASHRAE (PMV) 65 65
0,41 0,28 0,31 0,30
Estático - EN (PMV) 80 89
Inverno
Adaptativo - ASHRAE (Top) 100 100
23,6 1,3 22,6 1,4
Adaptativo - EN (Top) 100 93
Estático - ASHRAE (PMV) 88 77
-0,01 0,40 0,26 0,53
Estático - EN (PMV) 92 77
Primavera
Adaptativo - ASHRAE (Top) 97 92
24,0 1,4 25,0 1,9
Adaptativo - EN (Top) 99 100
Estático - ASHRAE (PMV) 83 41
0,05 0,39 0,52 0,36
Estático - EN (PMV) 91 65
Verão
Adaptativo - ASHRAE (Top) 99 98
24,6 1,3 26,1 1,2
Adaptativo - EN (Top) 98 100
Estático - ASHRAE (PMV) 80 39
Outono 0,01 0,49 0,58 0,43
Estático - EN (PMV) 90 62

1161
Adaptativo - ASHRAE (Top) 95 96
24,2 1,8 25,7 1,6
Adaptativo - EN (Top) 93 99
Estático - ASHRAE (PMV) 83 52
0,03 0,43 0,45 0,39
Estático - EN (PMV) 91 74
Anual
Adaptativo - ASHRAE (Top) 97 98
24,2 1,5 24,5 2,1
Adaptativo - EN (Top) 97 97

(a) (b) 32
32
AC VN AC VN

Temperatura operativa interna


30 30
Temperatura operativa interna

28 28
26 26
24 24

(°C)
(°C)

22 22
20 20
18 18
17,00 19,00 21,00 23,00 17,00 19,00 21,00 23,00
Temperatura média predominante externa (°C) Temperatura média predominante externa (°C)

Figura 9 – Plotagem dos pontos do monitoramento dos períodos de uso do ar-condicionado (AC) e da ventilação natural (VN) sob as
retas-limite de 80% (preta contínua) e 90% (vermelha tracejada) de aceitabilidade do modelo adaptativo das normas:
(a) ASHRAE 55 (2017); (b) EN 15251 (2007).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Medições de campo foram realizadas sazonalmente em três saletas comerciais de edifícios de escritório que
operam em modo misto, localizados da cidade de São Paulo. Com os resultados, analisou-se o
comportamento do usuário com relação à operação dos sistemas de ventilação natural e de ar-condicionado e
averiguou-se que modelo preditivo de conforto térmico melhor representa a realidade expressa pelos dados
monitorados.
Com relação ao padrão de uso das estratégias de climatização, notou-se semelhança entre as condições
climáticas nas quais foi atingido o conforto térmico para os períodos de uso do ar-condicionado e da
ventilação natural, porém observa-se uma correlação entre a temperatura do ar externa e a temperatura
operativa interna apenas para os períodos em que os ambientes encontravam-se naturalmente ventilados. A
utilização do sistema de ar-condicionado se apresentou mais frequente nos horários mais quentes do dia,
enquanto a ventilação natural teve seu uso distribuído quase uniformemente ao longo das horas do dia.
Quanto ao comportamento dos usuários, verificou-se um perfil passivo no que diz respeito ao uso das
estratégias de climatização. Este perfil se mostrou consistente pelos seguintes fatores: baixo número de
interações com os sistemas ao longo do dia, longos períodos de uso ininterrupto da mesma estratégia de
climatização e tendência de concentração dos instantes de ativação e desativação do ar-condicionado e da
ventilação natural nos momentos de chegada e saída do escritório.
Por fim, uma análise comparativa entre os modelos preditivos de conforto térmico e os dados
monitorados em campo mostrou o modelo adaptativo de conforto como o mais adequado para representar a
realidade das saletas monitoradas, com porcentagens de atendimento sempre superiores a 92%. Os resultados
obtidos pela aplicação do modelo adaptativo da norma americana ASHRAE 55 (2017) e da europeia EN
15251 (2007) mostraram-se semelhantes. Já o modelo estático se mostrou inadequado para considerável
parte do ano e, principalmente, para os períodos de uso das janelas operáveis (ventilação natural) – chegando
a mostrar um atendimento em apenas 39% das situações, para a análise de outono. Dentre as duas opções de
modelo estático analisadas, a norma europeia EN 15251 (2007) apresentou melhor aderência.
Os autores identificaram que, em futuras análises, seria interessante monitorar uma maior quantidade
de salas comerciais, de forma a permitir traçar um perfil de uso típico desta tipologia de edificações e
contribuir para a elaboração de estratégias de projeto e operação mais realistas e centradas no
comportamento do usuário.

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AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer à Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo (FAPESP),
pelo apoio financeiro ao desenvolvimento desta pesquisa (projetos FAPESP n° 2016/02734-0 e nº
2016/19464-5).

1163
DESEMPENHO TÉRMICO DE UM FORRO COMPOSTO POR GESSO E
FIBRA DE SISAL PARA USO EM RESIDÊNCIAS DE INTERESSE SOCIAL
Carolina Carvallo (1); Ricardo Fernandes (2)
(1) Mestre em Engenharia Civil, Arquiteta, Programa de Pós-Gradução em Engenharia Civil,
carvallo.pinto@gmail.com, Universidade Federal da Bahia, Rua Aristides Novis, 02, 5°andar. Departamento
de Estrutura e Construção, Federação, Salvador, Bahia, Brasil. 71-992812405
(2) Doutorado em Ciência e Engenharia de Materiais, Professor permanente do Departamento de Estrutura e
Construção, Engenheiro, ricardoc@ufba.br, Universidade Federal da Bahia. Departamento de Estrutura e
Construção, Rua Aristides Novis, 02, 5°andar. Departamento de Estrutura e Construção, Federação,
Salvador, Bahia, Brasil. 71- 32839729

RESUMO
Diversas são as ferramentas de análise térmica para placas de forro em compósitos com matriz de gesso e
reforçadas com fibras de sisal em laboratório, mas é necessário o aprofundamento da analise com
ferramentas computacionais para a avaliação do desempenho térmico. Este trabalho teve como objetivo a
realização de simulações computacionais de uma residência de interesse social protegida com um forro
conformado por três tipologias: gesso, gesso-manta-gesso, gesso-manta-manta-gesso, gesso-manta-gesso-
manta-gesso, visando analisar o desempenho térmico destes materiais. A residência foi simulada nas três
cidades produtoras dos materiais constituintes para a formação dos compósitos: Salvador, Pernambuco e
Campina Grande. Para isso, durante simulação foram registradas as temperaturas do ar no interior da
residência e nos dois cômodos com orientação mais desfavorável. Os dados climáticos de radiação solar,
velocidade do vento, temperatura e umidade do ar foram obtidos através do Instituto Nacional de
Meteorologia. Utilizando o programa Energy Plus, reproduziu-se o modelo residencial, simulado com o
arquivo climático para cada cidade em análise. Foram comparados os valores de temperatura do ar obtidos
nas simulações para a residência e para os quartos, sendo que tanto na residência como nos quartos, os
compósitos diminuem em 2ºC as temperaturas internas do ambiente construído. Em relação à análise de
horas de resfriamento, os compósitos gesso-manta-manta-gesso e gesso-manta-gesso-manta-gesso, não
precisam de resfriamento durante o dia.
Palavras-chave: simulação computacional, compósitos, desempenho térmico.

ABSTRACT
Several thermal analysis tools are used for composite ceiling panels made with gypsum matrix and
reinforced with sisal fibers in the laboratory, but it is necessary to deepen the analysis with computational
tools for the evaluation of thermal performance. The aim of this work was to carry out computational
simulations of a social interest residence with a lining conformed by three composite types: gypsum,
gypsum–blanket-gypsum, gypsum-blanket-gypsum, gypsum-blanket-gypsum-blanket-gypsum, so the
thermal performance of these materials can be analyzed. The residence is located in three cities that are the
biggest producer of gypsum and sisal fiber in Brasil: Salvador, Pernambuco and Campina Grande. During
the simulation the air temperatures inside the residence and in the two rooms with the most unfavorable
orientation were registered. The climatic data of solar radiation, wind speed, temperature and humidity were
obtained through the National Institute of Meteorology. Using the Energy Plus program, we reproduced the
residential model with the climatic file for each city under analysis. The air temperature values obtained in
the simulations for the residence and the rooms were compared. In the residence and in the rooms, the
composites decrease the internal temperatures of the built environment by 2ºC. Regarding the analysis of
cooling hours, the gypsum-blanket-balnket-gypsum- and gypsum-blanket-gypsum-balnket-gypsum
composites do not require cooling during the day.
Keywords: computer simulation, composites, thermal performance.

1164
1. INTRODUÇÃO
As residências de interesse social se caracterizam pelo ganho de calor e as altas temperaturas internas no
espaço construído, não atingindo o conforto térmico nem os requisitos da NBR 15575. E nestas, são
comumente utilizados materiais que requerem um alto consumo de energia e geração de CO 2 (ARANHA,
2009; CHERKI et al, 2014).
Deve-se enfatizar que os materiais que serão utilizados para melhorar o desempenho térmico nas
residências de interesse social devem minimizar a transferência de calor entre o ambiente externo e interno,
providenciando soluções construtivas que atingem o conforto térmico do espaço construído. Estas novas
soluções também protegerão o meio ambiente e garantiram os requisitos de conforto, saúde e qualidade
(PINTO et al., 2011). Por tanto, é fundamental introduzir materiais inovadores que contribuam com o
desempenho térmico do espaço construído, auxiliando na evolução dos materiais convencionais usados como
isolamento térmico.
Entre os materiais inovadores utilizados na construção civil, estão os materiais compósitos, que
combinam as propriedades de dois ou mais materiais, melhorando as prestações deles (físicas, mecânicas,
térmicas e acústicas). Os compósitos são formados por uma fase de matriz e uma fase de reforço, a matriz
atua como um envelope que protegerá o reforço. Porém, o reforço proporcionará maior resistência à matriz,
evitando a quebra e o abrupto colapso do material, permitindo a percepção de falhas e diminuição de suas
propriedades mecânicas.
Atualmente, pesquisas sobre o uso e o comportamento das fibras naturais como reforço para compósitos,
a fim de substituir as fibras sintéticas usadas na construção. Esse interesse no desenvolvimento de
compósitos reforçados por fibras naturais deve-se às vantagens apresentadas pelas fibras, como sua leveza,
origem em fontes renováveis, estética, facilidade de manuseio, manutenção e versatilidade. Portanto, fibras
de sisal são utilizadas como componente para o painel de forro, beneficiando-se de sua flexibilidade,
resistência à tração, elasticidade, densidade e alta porosidade, a fim de melhorar o comportamento térmico
do compósito. Paralelamente, a matriz escolhida foi gesso, utilizada no setor de construção por suas
propriedades físico-químicas, desempenho acústico, térmico e com diversas aplicações na construção civil.
Portanto, foi conformado um painel para forro leve para uso em habitação social como solução de baixo
custo e visando a redução do consumo de energia dos edifícios (CHIKKI et al., 2013).
Diversos estudos têm abordado o impacto sobre as propriedades térmicas de fibras naturais nos
compósitos. Krüger e Michaloski (2002) avaliaram diferentes tipos de painéis feitos com madeira
industrializada, blocos de concreto, painéis de chapa dura e impermeabilização de epóxi. Foi avaliado o
intervalo de erro das medidas pelo coeficiente de correlação, R2 e conforto em horas com leitura de
temperatura para inverno e verão. Os resultados mostraram que uma configuração de painel único produziria
um desempenho térmico bastante pobre, concluindo que uma configuração de painel duplo pode alcançar um
desempenho térmico superior aos materiais convencionais usados na construção civil.
Baker (2004) analisou um painel de compensado homogêneo opaco por um período de oito dias,
estimando um erro nas temperaturas de 3% a 16%. Os resultados deste trabalho permitiram concluir que a
transmitância térmica e a resistência do material influenciam diretamente a temperatura interna da célula-
teste. Maior transmissão térmica do material, temperaturas internas mais altas na célula de teste.
Alonso (2007) analisou três tipologias de fachadas em: alvenaria massisa, alvenaria com cavidades,
alvenaria com cavidades e isolamento térmico, e em concreto. Por um período de três dias para cada test-cell,
com um erro estimado de 0,5ºC. Nesta pesquisa obteve-se para as fachadas alvenaria com cavidades e
isolamento térmico, uma economia de energia de 15,4% em relação às paredes de cavidade não isolada
padrão, no entanto quando as fachadas com cavidades e isolamento são ventiladas, exibiram uma economia
de energia de 13,3% sobre a parede padrão da cavidade não isolada.
No entanto, pode-se observar que existem poucas análises dos compósitos através de simulações
computacionais que permitam identificar o melhor uso dos materiais compósitos com matriz cerâmica no
ambiente construído. Por tanto, a contribuição deste trabalho é propor uma placa de gesso e fibra de sisal que
atinge o conforto térmico do espaço construído na cidade de Salvador.

2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é apresentar a simulação de um modelo computacional para análise de desempenho
térmico de uma residência unifamiliar de interesse social, nas cidades de Salvador, Petrolina e Campina
Grande, a partir da comparação entre valores de temperatura do ar simulados para a residência.

3. MÉTODO
O método deste trabalho está dividido em quatro etapas:
1165
1. Simulação de uma residência de interesse social, realizando medições de temperatura no software
Energy Plus.
2. Definição das caraterísticas para um modelo residencial de interesse social.
3. Definir as configurações de in put dos componentes construtivos do modelo.
4. Indicar as cargas térmicas representativas de uma residência de interesse social.

3.1. Simulação do modelo residencial de interesse social: Software


Nesta etapa foi analisada a sensibilidade das propriedades térmicas de 5 tipologias de placas de gesso com
1% de aditivo e compósito: placa de gesso padrão (G), placa de gesso – manta – gesso (GMG), placa de
gesso – manta – manta – gesso (GMMG), e placa de gesso – manta – gesso – manta – gesso (GMGMG). As
placas foram avaliadas numa residência de interesse social e sua resposta para os cômodos com orientação
mais desfavoráveis da residência. Destaca-se que o pé direito da analise das placas é de 2,50m, mas foi
necessário avaliar as residências de interesse social que na atualidade são construídas sem forro ou com forro
de gesso, sendo que nas residências sem forro o pé direito é de 3,0m. Portanto, as placas propostas matem o
pé direito (2,50m) das residências típicas de interesse social.
As simulações também foram feitas no software Energy Plus com os dados climáticos (INMET) e as
propriedades térmicas analisadas no laboratório (CARVALLO, CUNHA e FERNANDES, 2018),
especificando as caraterísticas da residência.
As simulações do modelo residencial foram realizadas para o dia 9 de dezembro de 2017,
correspondente ao dia mais quente do ano na cidade de Salvador. Nesta data, foram avaliados os forros na
residência, considerando as vedações verticais em alvenaria com reboco nas duas faces. A Tabela 1 apresenta
as configurações a serem analisadas nas duas fases da simulação do modelo residencial.
Tabela 1. Configurações simulação residencial.
Vedações Forro
Fase 1
Alvenaria com reboco G GMG GMMG GMGMG
SF1
SF2
SF3
SF4
SF: simulação do forro

Uma vez determinado os melhores sistemas de forro para a conformação da residência, foi avaliado
seu desempenho em outras duas localizações. Primeiramente em Petrolina e depois em Campina Grande,
com o intuito de determinar o desempenho dos materiais das cidades do semiárido nordestino, região
produtora dos materiais que estão sendo analisados.
Os resultados das simulações para a residência e para os cômodos mais desfavoráveis foram
avaliados a partir do método de somatório graus hora, que consiste em avaliar todas as temperaturas que
estão fora da temperatura de conforto indicada para a zona bioclimática da NBR 15575 (SPOSTO, 2007;
KRÜGER e MICHALOSKI 2003). Portanto, quanto maior seja o tempo em que as temperaturas são
superiores a temperatura de conforto, maior será a necessidade de resfriar o ambiente construído.
Ilustra-se na Figura 1ª composição das quatro placas de forro para cada compósito, nas quais as
camadas de gesso atuam como proteção das camadas de fibra de sisal. Nas placas as fibras atuam como o
isolante térmico da placa.

Figura 1. Conformação dos compósitos.


3.2. Caraterísticas da residência de interesse social
Foi escolhido um conjunto habitacional localizado na cidade de Salvador BA, com data de inauguração em
2017 mais que ainda não foi construído. O projeto consta de 20 casas para 20 famílias de baixa renda com
1166
dimensões de 8,50 x 8,10m aproximadamente, com pé direito de 2,5m e com uma área construída de 60,87
m². Esta residência está composta por um quarto principal, quarto do filho, sala de estar, sala de jantar,
varanda, um banheiro, cozinha e área de serviço externa, ilustrado na Figura 2.

Figura 2. Planta baixa edificação. Fonte. Adotado de Estudiofarol.


O projeto arquitetônico apresenta a fachada com orientação norte, na qual se situam os quartos 1 e 2,
sem proteção das vedações ou das esquadrias, sendo os cômodos mais desfavoráveis e considerados para
análise específica. A partir dos desenhos técnicos do projeto arquitetônico foi realizado o estudo volumétrico
no software Sketchup e o plug-in Open Studio, como indicado na Figura 3 e 4. O estudo volumétrico é a
base geométrica para a simulação no Energy Plus.

Figura 3 e 4. Perspectivas da edificação, Sketchup e Open Studio (Autor)

3.3. Configuração dos componentes construtivos


Para a primeira etapa das simulações as vedações verticais externas da edificação estão compostas por
alvenaria e reboco na fase externa e interna, e esquadrias sem sistemas de sombreamento. Destaca-se que
estas esquadrias não necessariamente correspondem à faixa adequada indicada pela NBR 15575 de 8 a 15%
da área útil nem aos níveis de sombreamento adequados, portanto, a pesquisa foi desenvolvida com a
situação mais desfavorável para esta residência (SORGATO et al., 2012). A cobertura é composta por telha
de fibrocimento sem acabamento e com forro em G, GMG, GMMG e GMGMG, segundo cada simulação.
Para as propriedades físicas e térmicas dos componentes construtivos, foram adotados os valores
entregues pela NBR 15220:2005, indicado na Tabela 2.
Tabela 2. Propriedades dos componentes construtivos (CARVALLO, CUNHA e FERNANDES, 2018; NBR 15220:2005)
Alvenaria Reboco Telha fibrocimento Vidro
Espessura (m) 0,09 0,02 0,004 0,006
Densidade (Kg/m3) 1600 2000 1800 2500
Cond. térmica (W/mK) 0,9 1,15 0,95 1,0
Calor específico (J/kgK) 0,92 1,0 0,84 0,84
Absortância 0.65 0.4 0.3 0,15
Emissividade 0.85 0.9 0.9 0.84
3.4. Definição das cargas térmicas
A NBR 15575:2013 e o Laboratório de Eficiência Energética em Edificações da Universidade Federal de
Santa Catarina indicam que os ambientes de permanência prolongada das edificações devem ser simulados a
partir de suas cargas internas de ocupação, taxa metabólica e iluminação artificial considerando que estes
parâmetros devem ser iguais para todo o período de análise. Estes padrões de ocupação e iluminação dos
espaços são determinados pelo uso ideal para uma família (SORGATO et al., 2012).

1167
Para os padrões de ocupação foram consideradas duas pessoas para os dormitórios nos horários entre
21h às 7h, para a sala de estar é considerado um 50% do total de pessoas da residência nos horários entre 14h
às 18h e um 100% da ocupação da residência nos horários entre 18h às 21h.
As taxas metabólicas só foram consideradas para as áreas com atividade de uso prolongado, por
tanto, é considerado nos dormitórios um total de 81W para cada pessoa e na sala de estar 108W para cada
pessoa.
O parâmetro de iluminação artificial considerado na simulação é nas horas da manhã são entre 6h e
7h para dormitórios, sala, sanitários, circulação e cozinha, já no período noturno foi entre 21h e 23h para os
dormitórios e circulação, e entre 17h e 21h para a sala de estar. A Tabela 3 resume os dados de entrada para a
simulação residencial.
Tabela 3. Dados de entrada para a simulação residencial.
Taxa Iluminação
Área Área janelas Ocupação
Ambiente 2 Metabólica artificial (h)
útil (m )
m2 % Pessoas Horário W/Pessoa Manhã Tarde
Varanda 10,69 0 0 0 - 0 - -
2 14-18h 108
Sala 11,17 1,2 10,74 6-7 17-21
4 18- 21h 108
Quarto 1 7,83 1,2 15,33 2 21-7h 81 6-7 21-23
Quarto 2 5,67 1,2 21,16 2 21-7h 81 6-7 21-23
Circulação 1,12 0 0,00 0 - - 6-7 17-23
Sanitário 2,15 0,5 23,26 0 - - 6-7 -
Cozinha 6,09 0,5 8,21 0 - - 6-7 -
Serviço 3,52 0 0 0 - - - -

4. RESULTADOS
As simulações do modelo residencial resultaram em temperaturas internas da residência e dos cômodos mais
desfavoráveis orientados ao norte (quarto 1 e 2) na cidade de Salvador para um dia típico de verão,
considerado o dia 9 de dezembro, permitindo avaliar a resposta térmica da edificação segundo as definições
da norma. Na Figura 5 são apresentados os resultados das temperaturas internas obtidas na residência para
as diferentes tipologias de forros avaliados e para a residência sem forro. É possível observar que a
residência sem forro atinge uma temperatura interna máxima de 31,29ºC considerando um pé direito de
3,0m, não obstante, quando é colocado um forro em gesso (com 1% de aditivo) a uma altura de 2,50m, as
temperaturas internas aumentam até 32,14ºC devido à diminuição da área livre para ventilação e circulação
de ar da residência.
Analisando comparativamente os sistemas de forro, todos os materiais compósitos apresentaram uma
temperatura interna máxima de 29,72ºC, com um deslocamento da curva em relação à residência sem forro,
iniciando o aumentando das temperaturas no interior da residência às 6h, diferentemente da residência sem
forro que aumenta sua temperatura internas às 9h.

Figura 5. Comportamento dos materiais para forro.


É possível observar na Figura 6 que as temperaturas indicadas no inicio do gráfico às 1h respondem
a propriedade de calor específico do material, capacidade térmica, atraso térmico e a quantidade de calor
necessária para que a temperatura do material seja modificada. Percebe-se que o gesso com 1% de aditivo e o
compósito GMG apresentam temperaturas similares, 19°C, de igual forma que os valores apresentados para
o calor especificam com 0,88 KJ/(kgK) e 0,92 KJ/(kgK), respectivamente. No entanto, os valores de
calor específico para os compósitos GMMG e GMGMG diminuem, em relação ao gesso com 1% de aditivo
1168
e do GMG, atingindo 0,80 KJ/(kgK) e 0,82 KJ/(kgK), respectivamente. Estes valores se refletem nas
temperaturas (20°C) e no afastamento das curvas no gráfico.

Figura 6. Curva de temperaturas para diferentes tipologias de forro.


Observa-se que o intervalo de temperaturas entre as curvas de temperatura interna e externa em um
mesmo período de tempo estão relacionadas à capacidade do material de conduzir o calor desde o exterior
para o interior da residência. O gesso com 1% de aditivo apresenta uma condutividade de 0,75W/mk, valor
que diminui com o uso da manta de sisal no compósito GMMG atingindo 0,53W/mk. Estas diferenças na
condutividade são visíveis na curva, pela diferença da temperatura, atingindo 5°C e 5,5°C, respectivamente.
O mesmo acontece com os compósitos GMMG e GMGMG que atingiram os valores mais altos durante os
ensaios de condutividade com 0,84W/mk e 0,91W/mk, com uma diferença de temperatura de 6°C.
Continuando com a análise das curvas de temperatura, a Figura 7 destaca que o aumento das
temperaturas se inicia as 4hrs da manhã, no gesso com 1% de aditivo e para o compósito GMG. O GMG
aumenta a resistência térmica do gesso com 1% de aditivo de 0,02 m2K/W para 0,028 m2K/W o que
determinará os gradientes da curva no gráfico. Os compósitos GMMG e GMGMG aumentaram ainda mais a
resistência térmica do gesso com 1% de aditivo, com 0,035 m2K/W e 0,030 m2K/W, deslocando mais ainda
os gradientes da curva.

Figura 7. Deslocamento da curva de temperaturas para diferentes tipologias de forro.


O gesso com 1% de aditivo apresenta valores de transmitância de 50 W/(m 2K), valor que diminui
com o acréscimo de camadas de manta de sisal e gesso nos compósitos atingindo 36,25 W/(m2K), 29,2
W/(m2K) e 33,44 W/(m2K), respectivamente. A diminuição dos valores para a transmitância térmica está
representada no deslocamento da curva, correspondente a um tempo de 1h.
O ponto dentro da curva de temperatura, na qual a gradiente positiva de temperatura atinge o pico
(ilustrado na Figura 8), está relacionado às propriedades de transmitância e resistência térmica dos materiais.
O gesso com 1% de aditivo apresenta as temperaturas mais altas com 32°C, seguido pelos compósitos que
atingem 29,5°C aproximadamente. Esta diferença nos valores também pode ser observada na transmitância e
resistência térmica, já que todos os compósitos apresentam um comportamento similar, aumentando em
média um 35% a resistência do gesso e diminuindo em média um 26% a transmitância térmica.
O ponto de encontro entre a inclinação da curva e o inicio das temperaturas homogêneas também
estão relacionadas à transmitância térmica dos materiais. Os compósitos diminuem a transmitância do gesso
com 1% de aditivo, transferindo de forma homogênea as temperaturas internas a partir das 17h, o que não
acontece com o gesso, que continua aumentando sua temperatura a partir das 16h. A transferência de calor
homogênea deve-se a capacidade da manta de sisal de absorver o calor, que é transmitido pela camada de

1169
gesso, e redistribui-lo entre as fibras e os espaços vazios no interior da manta, criando não só a transferência
de calor as outras camadas do compósito mais também condensações internas que dissipam o calor.

Figura 8. Pico da curva de temperaturas internas para diferentes tipologias de forro.


As diferenças nas temperaturas noturnas se devem ao funcionamento da residência. Na simulação foi
considerado que a residência é habitada entre 14h e 7h com uma taxa de iluminação entre 17h e 23 h. O
gesso com 1 % de aditivo apresentou maiores valores de capacidade térmica e calor específico, seguido pelo
GMG, o que explica o afastamento do gradiente negativo entre as 14 e 23h, indicadas na Figura 8.
Quando as curvas de temperatura dos materiais são avaliadas, existe um tempo entre o início do
gradiente positivo e o fim do gradiente negativa, ilustrada na Figura 9. O intervalo de tempo está
determinado pelas propriedades de atraso térmico dos materiais. O gesso com 1% de aditivo e o compósito
GMG apresentam os menores valores de atraso térmico com 14,8h e 13,33h, respectivamente. No entanto, os
compósitos aumentam em 1h o tempo em que ocorre a variação de temperatura, considerando que o gesso
acontece em um período de tempo de 11h, no entanto, para os compósitos esta variação acontece em 12h.

Figura 9. Atraso térmico para diferentes tipologias de forro.


A partir das simulações, foram estimadas as temperaturas máximas no interior da residência e dos
cômodos mais desfavoráveis, permitindo avaliar o desempenho térmico da residência segundo os requisitos
indicados pela NBR 15575:2013. A seguir a Tabela 4 traz todos os valores obtidos na simulação.
Tabela 4. Temperaturas máxima da residência e quartos para diferentes forros.
Residência Quarto 1 Quarto 2 T° Externa Nível de
Forro T°Max T°Max T°Max Máx. desempenho
G 32,14 34,37 33,09 Não atinge
GMG 29,44 32,87 29,81 Superior
31,31
GMMG 29,32 30,21 25,76 Superior
GMGMG 29,48 30,12 25,74 Superior

As temperaturas máximas atingidas pela residência determinaram que o desempenho da residência


com forro de gesso não é atingido, mas quando é utilizado um forro conformado pelos compósitos é possível
atingir o desempenho superior solicitado pela NBR 15575, diminuindo em 2ºC a temperatura inicial. Este
comportamento também é observado nos quartos 1 e 2 da residências. A análise do somatório graus hora
determina o tempo em que as temperaturas obtidas nas simulações excedem a temperatura externa para o dia
analisado, com o intuito de determinar a quantidade de energia necessária para atingir o desempenho mínimo
indicado pela norma. Quanto maior for o tempo em que as temperaturas internas são superiores a externa,

1170
maior será a energia necessária para resfriar o ambiente. A Tabela 5 apresenta os resultados do somatório
graus hora para cada material, tanto para a residência como um todo e para os quartos mais desfavoráveis.
Tabela 5. Resultados somatório graus hora.
°C.h Residência Quarto 1 Quarto 2
G 60,47 173,08 137,04
GMG Não precisa 128,44 Não precisa
GMMG Não precisa Não precisa Não precisa
GMGMG Não precisa Não precisa Não precisa
Entre os resultados obtidos para a residência observa-se que o forro de gesso com 1% de aditivo
requere de 60,47ºC.h de energia necessária para resfriar a residência. Quando é avaliado o quarto 1, o mesmo
forro de gesso requer de 173,08ºC.h de energia para ser refrigerado, energia que diminui um 26% quando é
utilizado o forro de GMG. Para o quarto 2, o forro em gesso requer de 137,04ºC.h de energia para atingir o
desempenho mínimo indicado pela norma.
Os resultados de desempenho térmico atingido na residência e nos quartos determinam que as
melhorias obtidas na residência com os compósitos GMMG e GMGMG são similares as do GMG, já no caso
dos quartos existe uma melhoria no caso do forro GMGMG e GMMG, mas considerando o custo do material
e mão de obra para sua confecção, eles não são considerados o material adequado para a residência. Quando
o desempenho térmico da residência é analisado com uma temperatura de conforto de 24ºC, (Tabela 6)
observa-se uma diminuição nos graus horas da residência e dos quartos quando são acrescentadas as camadas
dos compósitos, no entanto, existe uma diferença pequena entre o desempenho dos compósitos.
Tabela 6. Resultados somatório graus hora para 24ºC.
Residência Quarto 1 Quarto 2
°C.h °C.h °C.h
G 192,96 499,08 341,36
GMG 172,84 484,66 295,25
GMMG 171,40 467,72 278,42
GMGMG 171,86 438,19 227,03
Portanto, o trabalho deu continuidade à análise da residência com forro em GMG com o intuito de
determinar o desempenho térmico e a necessidade de refrigeração da residência em Petrolina e Campina
Grande, principais produtores regionais dos materiais constituintes do compósito. Conforme a NBR
15575:2013, a cidade de Petrolina está localizada na Zona Bioclimática 7 e a cidade de Campina Grande na
Zona Bioclimática 8. A análise da residência foi realizada com os mesmos dados de in put utilizados nas
simulações para a cidade de Salvador, diferenciando as condições climáticas de cada cidade a partir dos
dados climáticos da base meteorológica do INMET. As duas cidades foram analisadas no dia mais quente do
ano, no caso de Petrolina corresponde ao dia 25 de setembro e para Campina grande, o dia 21 de setembro.
Analisando comparativamente os resultados da Figura 10 para a residência, a cidade de Petrolina atinge as
maiores temperaturas externas com 36,82°C com uma oscilação térmica de 13°C durante o dia, enquanto a
cidade de Campina Grande alcança uma temperatura máxima de 36,2°C com uma oscilação de 15°C.
A cidade de Campina Grande exibe as maiores temperaturas internas para a residência analisada
atingindo 33,11°C, com uma diminuição da temperatura externa em 3,09°C e com um deslocamento dos
gradientes de temperatura, atingido as temperaturas internas menores que as externas entre 9h e 16h.
Enquanto, Petrolina apresenta temperaturas internas menores que Campina Grande com uma máxima de
31,37°C, diminuindo em 5,45°C a temperatura interna da residência.

Figura 10. Desempenho da residência em Petrolina e Campina Grande.


O desempenho da residência, localizada em Petrolina, melhorou a partir do deslocamento dos
gradientes de temperatura, indicando que as temperaturas internas são menores que as externas entre as 7h a

1171
20h, prolongando o período de tempo da cidade de Campina Grande. A diminuição das temperaturas em
Petrolina se deve em parte a diminuição de 20% da umidade relativa e no aumento da velocidade dos ventos
no dia de análise, em relação a Campina Grande. Na Tabela 7 é possível avaliar as temperaturas máximas
que atingiram a cidade de Petrolina e Campina Grande na avaliação da residência, com uma diferença de
1,74°C. No entanto, quando são analisados os quartos 1 e 2, Petrolina exibe uma diminuição de 2,8°C no
quarto 1 e de 5,33°C para o quarto 2, enquanto na cidade de Campina Grande existe uma diminuição das
temperaturas interna de 3,56°C no quarto 1 e 2,2°C no quarto 2.
Tabela 7. Temperaturas máxima da residência para Petrolina e Campina Grande.
T°Max
Nivel de desempenho
Petrolina Campina Grande
Residência 31,37 33,11 Petrolina e Campina Grande o nivel superior
Petrolina atinge o nível intermediário e Campina Grande não
Quarto 1 34,02 39,76
atinge o desempenho térmico
Quarto 2 31,49 34,00 Petrolina e Campina Grande o nivel superior
Externa 36,82 36,20 -
Por tanto, ao avaliar o desempenho térmico da residência e dos quartos segundo a NBR 15575:2013,
foi possível determinar que a residência em Petrolina e Campina Grande atinge o nível superior. O quarto 1,
Petrolina atinge o nível intermediário e em Campina Grande não atinge o nível de desempenho mínimo. O
quarto 2, tanto para Petrolina como para Campina Grande, atingem o nível de desempenho superior. No
entanto, na cidade de Campina Grande, o quarto 1 não atingiu o desempenho térmico mínimo, por tanto foi
analisada a quantidade de energia necessária para refrigeração. Os resultados amostraram uma necessidade
de 235°C.h para atingir o desempenho térmico mínimo para a Zona Bioclimática 8.
Ao avaliar as cidades de Petrolina e Campina Grande foi possível determinar que os materiais
minimizaram as temperaturas em relação ao ambiente externo satisfatoriamente para a residência como um
todo e para quarto 2, a partir dos requisitos da norma. No entanto, foi possível perceber que existem alguns
momentos do dia em que a residência encontra-se na zona de conforto térmico e abaixo dos 24°C, por
exemplo, em Petrolina entre as 0h e 5h as temperaturas estão abaixo de 24ºC e para Campina Grande as
temperaturas estão na faixa entre as 0h e 6h. Quando o desempenho térmico da residência é analisado com
uma temperatura de conforto de 24ºC, na cidade de Petrolina a residência e os quartos requerem de
refrigeração durante todo o dia já que as simulações não apresentam nenhuma temperatura abaixo dos 24ºC.
No entanto, em Campina Grande, a residência precisa de refrigeração a partir das 6h até as 0h, mas quando
os quartos são analisados em forma independente, vão precisar de refrigeração durante todo o dia.
Considerando as residências de cada localização, existe um melhor desempenho na cidade de
Petrolina que em Campina Grande. Embora as temperaturas máximas sejam similares para as localidades,
existem diferenças nas zonas bioclimáticas destas cidades, indicadas pelas médias mensais de temperatura
máxima e mínima, umidade relativa do ar e velocidade do vento. Assim, estas variáveis climáticas
determinaram o melhor e pior desempenho da edificação, em conjunto com as soluções arquitetônicas para
os requisitos apresentados pela NBR 15575:2013. Portanto, é fundamental dar continuidade à análise da
residência até atingir uma melhora no desempenho térmico e atingir o conforto térmico, a partir das
exigências e requerimentos da NBR 15575:2013 e NBR 15220:2005.

5. CONCLUSÕES
A partir dos resultados obtidos é possível verificar que a introdução de novos materiais é mais uma
alternativa eficiente para atingir o desempenho térmico no espaço construído. Os compósitos analisados
melhoram a eficiência térmica dos materiais convencionais mais prepondera um estúdio específico para cada
localidade, já que não pode ser utilizado de forma padronizada para todas as situações. Portanto, o
desempenho térmico da residência de interesse social é uma articulação entre as soluções propostas pelo
projeto arquitetônico, os materiais e as soluções construtivas que devem atingir os requisitos da NBR
15575:2013.
Outra questão a ser discutida são as divisões das zonas bioclimáticas apresentadas pela norma, já que
ao avaliar uma mesma zona climática (8), neste caso Salvador e Campina Grande, obtemos resultados
diferentes de desempenho térmico. Portanto, as exigências padronizadas da norma para as soluções projetais
não necessariamente vão permitir atingir o conforto térmico no espaço construído já que tem uma influência
muito grande as variáveis climáticas na avaliação da edificação.

1172
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AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CAPES pelos recursos financeiros aplicados no financiamento do projeto.

1173
DETERMINAÇÃO DA TEMPERATURA DE NEUTRALIDADE EM
EDIFICAÇÕES COMERCIAIS, PÚBLICAS E DE SERVIÇO NAS ZONAS
BIOCLIMÁTICAS 7 E 8 NO ESTADO DE MATO GROSSO
Luciana Tozzo (1); Alexandra Marsaro Cella (2); Karen Wrobel Straub Schneider (3);
Marlon Leão (4)
(1) Engenheira Civil, lucianatozzo27@gmail.com, UNEMAT - Sinop, (66)99961-2276
(2) Engenheira Civil, alexandramcella@gmail.com, UNEMAT - Sinop, (66)99672-9214
(3) Me., Professora do Departamento de Engenharia Civil, karen.straub@unemat.br, UNEMAT – Sinop, (66)
(66)3511-2100
(4) Dr.-Ing., Professor do Departamento de Engenharia Civil, leao@unemat.br, UNEMAT – Sinop,
(66)3511-2137

RESUMO
Um importante fator responsável pelo conforto é a neutralidade térmica, definida como a temperatura em que
uma pessoa está em provável conforto térmico no ambiente em que se encontra, não preferindo nem mais
calor nem mais frio. O estado de Mato Grosso apresenta grandes variações climáticas, necessitando que
sejam definidas as temperaturas de neutralidade para as suas zonas bioclimáticas. O objetivo da pesquisa foi
determinar as temperaturas de neutralidade em edificações comerciais, públicas e de serviço climatizadas
artificialmente, nos períodos chuvoso e seco. Evidenciou-se a necessidade de estudos específicos nestas
edificações, visto que estas abrigam ocupantes por longos períodos e sabe-se que o desconforto térmico
influencia diretamente nas atividades a serem executadas, deixando o ocupante desatento, aumentando as
incidências de erros e dispersão. A metodologia do estudo baseia-se na realização de medições e aplicação de
questionários aos ocupantes simultaneamente. Foram estudadas duas cidades, Cuiabá e Cáceres,
representantes, respectivamente, das zonas bioclimáticas 7 e 8 do estado de Mato Grosso. Sendo assim, a
temperatura de neutralidade média encontrada, por meio de regressões lineares, para as zonas bioclimáticas 7
e 8, considerando as medições realizadas nas estações chuvosa e seca, foi de 24,70 °C.
Palavras-chave: pesquisa de campo; conforto térmico; abordagem adaptativa; questionários; sensação
térmica.

ABSTRACT
An important factor responsible for comfort is thermal neutrality, defined as the temperature at which a
person is likely to be in thermal comfort in the environment in which they find themselves, preferring neither
more heat nor colder. The state of Mato Grosso presents great climatic variations, necessitating the definition
of neutral temperatures for its bioclimatic zones. The objective of the research was to determine the
neutrality temperatures in commercial, public and service buildings artificially cooled in the rainy and dry
periods. It was evidenced the need for specific studies in these buildings, once they shelter occupants for
long periods and it is known that thermal discomfort directly influences the activities to be performed,
leaving the occupant inattentive, increasing the incidences of errors and dispersion. The methodology of this
study is based on the measurement and application of questionnaires to the occupants simultaneously. Two
cities, Cuiabá e Caceres, representing, respectively, the bioclimatic zones 7 e 8 of the state of Mato Grosso
were studied. Thus, the average neutrality temperature found by linear regressions for the bioclimatic zones 7
and 8, considering the measurements performed in the rainy and dry seasons, was 24,70 ° C.
Keywords: field research; thermal comfort; adaptive approach; questionnaires; thermal sensation.

1174
1. INTRODUÇÃO
No decorrer de muitos anos, ao se projetar e construir edificações, apenas as tendências estéticas e exigências
técnicas eram consideradas, não tendo como preocupação o conforto ambiental a ser proporcionado ao
ocupante no ambiente interno. Como consequência desse fato, inúmeras edificações existentes apresentam os
mais variados problemas em relação ao conforto térmico do usuário, comprometendo a sua saúde física e
psicológica e provocando um aumento excessivo do consumo de energia elétrica para resfriar tais ambientes
(GRZYBOWSKI, 2004). Apesar da busca em alcançar o bem-estar físico, fisiológico e psicológico do ser
humano ter se iniciado há vários anos, somente nas últimas décadas têm se intensificado as pesquisas sobre
quais são os efeitos do conforto térmico sobre as pessoas em espaços internos (BATIZ et al., 2009).
O alcance de um ambiente termicamente confortável para os ocupantes é um dos objetivos do estudo
do conforto térmico, termo este definido pela ASHRAE 55 (2017) como “A condição de mente que expressa
satisfação com o ambiente térmico e é avaliada de forma subjetiva”. Este tipo de estudo propõe-se a analisar
as condições necessárias à satisfação do ser humano, permitindo-o sentir-se confortável termicamente no
ambiente em que se encontra, onde supõe-se que o seu rendimento físico e intelectual seja elevado em
condições de conforto (ANDREASI, 2009). Visto que segundo Frota e Schiffer (2001), o desconforto
térmico influencia diretamente nas atividades a serem executadas, deixando o ocupante desconfortável,
desatento, aumentando as incidências de erros e dispersão durante a execução das atividades.
O estudo do conforto térmico se iniciou com pesquisas em câmaras climatizadas em que todas as
variáveis eram controladas e apenas mais tarde surgiu uma nova linha adaptativa na qual as variáveis
deixaram de ser controladas e as análises começaram a ser feitas em espaços reais. Essa nova linha de
pesquisa possibilitou o conhecimento da influência das variáveis sobre o estado de conforto e contribuiu para
a identificação de novas variáveis que afetam a adaptabilidade do ser humano.
De acordo com Lamberts et al. (2016), o conforto térmico depende de fatores físicos, fisiológicos e
psicológicos. Os fatores físicos referem-se às trocas de calor que o corpo realiza com o meio; os fatores
fisiológicos relacionam-se com a resposta fisiológica do organismo devido à exposição à determinada
condição térmica; os fatores psicológicos são aqueles que variam de acordo com a percepção de cada pessoa,
dependendo das experiências ou costumes adquiridos ao longo do tempo.
Um dos principais trabalhos na área do conforto térmico foi desenvolvido por Fanger (1970). Este
estabeleceu um método de avaliar termicamente o ambiente baseando-se em fatores como: taxa de
metabolismo, isolamento térmico da vestimenta, umidade relativa, temperatura e velocidade relativa do ar e
temperatura radiante média. A combinação desses fatores é o principal determinante da sensação de conforto
ou desconforto térmico. Além disso, as equações de Voto Médio Predito e percentual de pessoas
insatisfeitas, que hoje auxiliam nos cálculos de conforto, também são provenientes dessa pesquisa
(LAMBERTS et al., 2016).
Humphreys (1979), por sua vez, realizou pesquisas em campo e verificou que os resultados
encontrados em câmaras climatizadas divergem dos encontrados em ambientes reais. Também concluiu que
a aclimatação afetava a temperatura escolhida como temperatura neutra, pois os índices de conforto
mudavam em relação à temperatura média do local em que cada pesquisa era realizada, visto que a
população se adapta ao lugar que vive.
Fanger (1970) define que a neutralidade térmica ocorre quando uma pessoa está em conforto no
ambiente térmico em que se encontra, não preferindo nem mais calor nem mais frio.
Kuchen e Fisch (2009) desenvolveram um modelo de pesquisa baseado em parâmetros objetivos e
subjetivos para definir a temperatura de neutralidade e para estabelecer uma zona de conforto, considerando
características locais, próprias do edifício e de seus usuários. A metodologia dessa pesquisa aplica uma
fórmula para descobrir o percentual de pessoas insatisfeitas com as condições locais, com o intuito de
futuramente reduzir o consumo de eletricidade, ao avaliar termicamente as edificações.
O voto de conforto ou voto de sensação térmica está relacionado com a opinião dos ocupantes em
relação ao ambiente térmico em que estão inseridos, sendo obtido através de uma escala de sete pontos
apresentada na ASHRAE 55 (2017). Nessa escala, a estimativa da sensação térmica do usuário é obtida
através da escolha de um valor que varia de -3 à +3, em que 0 representa o conforto, os valores negativos (-3,
-2 e -1) representam a sensação de frio e os valores positivos (+1, +2 e +3) caracterizam a sensação de calor
(KUCHEN; FISCH, 2009).
Kuchen e Fisch (2009) afirmam que a partir do voto de preferência térmica pode-se determinar um
índice de insatisfação térmica que complementa o voto de conforto. É obtido por meio de uma escala de 3
pontos, onde -1 representa que o usuário deseja que o ambiente esteja mais frio, 0 representa o conforto e +1
caracteriza o desejo do ocupante por um ambiente mais quente.

1175
A ausência de um índice de referência de zonas de conforto e temperatura de neutralidade conhecidas
contribui para edificações que apresentem um baixo desempenho no que diz respeito à condição térmica do
ambiente, ou seja, acarretando em gastos, muitas vezes desnecessários, com climatização artificial para
refrigeração, que segundo Andreasi (2009), é a estratégia atual mais utilizada para obtenção de ambientes
mais confortáveis, contrariando fatores importantes relacionados com o consumo e a conservação de energia.
Portanto, em edificações que tenham um bom desempenho térmico, o uso do sistema de climatização
artificial é menor.
No Brasil, os estudos sobre desempenho de edificações estão relacionados com a normativa NBR
15575 (ABNT, 2013). Esta norma considera questões acerca do desempenho térmico e eficiência energética
na edificação, apresentando padrões mínimos que interferem diretamente nas condições térmicas do local,
como por exemplo padrões de transmitância térmica, capacidade térmica, aberturas para ventilação e
desempenho de coberturas. Apesar da importância desses parâmetros para se projetar um ambiente
termicamente confortável, eles nem sempre são suficientes para determinação de uma temperatura de
neutralidade.
No ano de 2011, as edificações comerciais, residenciais e públicas representaram cerca de 46,7% do
consumo total de energia elétrica no Brasil, sendo que o setor comercial representou 15,4% do total e o setor
público, 8,0% do total. Os grandes responsáveis por tamanho consumo de energia elétrica nesses setores são
a iluminação e o ar condicionado, sendo que este último chega a representar no setor comercial cerca de 47%
do total do consumo de energia na média nacional. Já nas edificações públicas, esse valor é de cerca de 48%
do total do consumo (LAMBERTS et al., 2014).
Apesar da diversidade climática do Brasil, país de ampla extensão territorial e que apresenta condições
climáticas muito diferentes, o estudo sobre o conforto térmico em edificações é um ramo recente, não
havendo normas específicas brasileiras para os diferentes tipos de edificações em cada uma das regiões do
país, sendo necessário usufruir de alguns parâmetros estabelecidos em outros países, o que pode não ser tão
preciso. Portanto, verifica-se a importância da determinação da temperatura de neutralidade para regiões
específicas, justamente devido à condição de aclimatação do ser humano.

2. OBJETIVO
O objetivo desta pesquisa, de um modo geral, foi determinar a temperatura de neutralidade dos usuários de
edificações comerciais, públicas e de serviço nas zonas bioclimáticas 7 e 8, através de coleta de variáveis
pessoais e ambientais.

3. MÉTODO
A presente pesquisa dividiu-se em duas etapas principais: pesquisas de campo, abrangendo medições
ambientais e aplicação de questionários, e tratamento estatístico dos dados.
Este método corresponde ao modelo de Spot – Monitoring utilizado por Kuchen e Fisch (2009). O
objetivo deste método é desenvolver uma pesquisa pontual sobre as condições térmicas em ambientes reais,
em conjunto com a percepção térmica dos ocupantes nestes lugares. O método se resume na realização de
medições e aplicação de questionários aos ocupantes simultaneamente.

3.1. Área de Estudo


O estado de Mato Grosso tem um território extenso e apresenta grandes variações climáticas, necessitando
que sejam definidas as zonas de conforto térmico e a temperatura de neutralidade.
Segundo a NBR 15220-3 (ABNT, 2005), que classifica as zonas bioclimáticas brasileiras, o estado de
Mato Grosso apresenta 5 zonas bioclimáticas das 8 zonas presentes no Brasil.
Portanto, como o estado apresenta uma grande variedade de zonas bioclimáticas, torna-se necessária a
verificação da temperatura de neutralidade em cada zona bioclimática para determinar uma temperatura de
neutralidade capaz de atender à condição de conforto para todo o Estado.
A pesquisa faz parte de um estudo maior, porém essa análise foi realizada em duas cidades, Cuiabá e
Cáceres, representantes, respectivamente, das zonas bioclimáticas 7 e 8 do estado de Mato Grosso, apontadas
na Figura 1.

1176
Figura 1 - Zoneamento bioclimático do estado de Mato Grosso, adaptado (SANCHES et al, 2011).

O estudo foi realizado em farmácias, lojas, bancos, supermercados e prédios públicos. Nas medições
foram consideradas as duas estações bem definidas das cidades, sendo elas chuvosa e seca, e as suas
variações térmicas. As Tabelas 1 e 2 trazem a caracterização das edificações avaliadas, sendo elas todas em
alvenaria comum, algumas com divisórias internas. Nas edificações com dois pavimentos foram realizadas
medições nos dois ambientes.
Tabela 1 – Caracterização das edificações avaliadas em Cuiabá -MT.
N° DE TIPO DE ABERTURAS CORTINA SISTEMA DE
LOCAL
PAVIMENTOS Porta Janelas DE AR CLIMATIZAÇÃO
Farmácia 1 De correr - Vidro Não Sim 3 unid. Ar condicionado Split
Loja varejista 1 De correr - Vidro Não Sim 16 unid. Ar condicionado Split
Supermercado 1 De correr - Vidro Não Sim Ar central
Banco 2 Porta giratória - Vidro Não Não Ar central
Órgão público 1 De correr - Vidro Alta para iluminação Não 3 unid. Ar condicionado Split

Tabela 2 – Caracterização das edificações avaliadas em Cáceres -MT.


N° DE TIPO DE ABERTURAS CORTINA SISTEMA DE
LOCAL
PAVIMENTOS Porta Janelas DE AR CLIMATIZAÇÃO
Farmácia 1 De correr - Vidro Não Sim 2 unid. Ar condicionado Split
Loja varejista 1 De correr - Vidro Alta para iluminação Sim 6 unid. Ar condicionado Split
Supermercado 1 De correr - Vidro Alta para iluminação Sim Ar central
Banco 2 Porta giratória - Vidro Alta para iluminação Não Ar central
Órgão público 1 De correr - Vidro Não Não 1 unid. Ar condicionado Split

Por apresentar temperaturas elevadas ao longo do ano, grande parte das edificações públicas,
comerciais e de serviço do estado de Mato Grosso adotam a técnica de climatização artificial. Sendo assim, a
medição aconteceu apenas em edificações com esse tipo de artifício e as quais apresentassem ambientes
homogêneos e estacionários. Nessa pesquisa não foram medidos dados externos, como temperatura do ar e
umidade relativa, limitando-se apenas ao interior da edificação.
Um ambiente homogêneo, segundo a ISO 7726 (ISO, 1998), é aquele onde em um determinado
momento as variáveis ambientais (temperatura e velocidade do ar, radiação e umidade) apresentem uma
variação menor que 5% no espaço ao redor do ocupante, podendo ser consideradas uniformes.
A ISO 7726 (ISO, 1998) classifica ainda o ambiente como estacionário ou não com relação ao usuário,
sendo que o local é considerado estacionário quando os parâmetros físicos empregados para apresentar o
nível de exposição ao calor para o ocupante sejam praticamente independentes do tempo.
As edificações estudadas foram definidas por meio de acordos de cooperação e permissão dos
responsáveis. Tais acordos foram feitos garantindo absoluto sigilo quanto ao nome do estabelecimento e
localização e quanto aos usuários que responderam os questionários.

1177
3.2. Instrumento para medição
As variáveis climáticas ambientais - temperatura do ar, temperatura radiante média, umidade relativa e
velocidade do ar - foram coletadas a partir de um conjunto de sensores conectados ao datalogger HD 32.1
Delta OHM. Para a presente pesquisa foram utilizados três sensores de medição: a sonda combinada,
utilizada para medir a temperatura e umidade relativa do ar, o anemômetro de fio quente, utilizado para
determinar a velocidade do ar e o termômetro de globo negro, empregado na determinação da temperatura
média radiante. Estes sensores foram conectados ao datalogger, para que este armazenasse as leituras dos
mesmos. A Figura mostra o Datalogger e as sondas utilizadas.

Figura 2 - Equipamento e sensores utilizados.

3.3. Consulta de opinião e coleta de dados


Para a coleta da opinião dos ocupantes foi utilizado um questionário baseado na metodologia proposta por
Kuchen e Fisch (2009). Tal questionário constitui uma medição do tipo subjetiva e auxilia na caracterização
dos usuários, suas sensações térmicas e características pessoais.
Para a identificação das pessoas pesquisadas foram feitas perguntas a respeito da idade, sexo e peso.
Para verificar a adaptabilidade do usuário às condições climáticas do ambiente fez-se uma pergunta sobre a
quantidade de horas de permanência no local. A sensação térmica foi obtida com base na escala sétima da
ASHRAE 55 (2017) e a preferência térmica com base na escala de 3 pontos proposta por Kuchen e Fisch
(2009).
Foram realizadas perguntas referentes ao consumo recente de determinado tipo de alimento para
verificar as possíveis influências na percepção térmica do usuário. Se o ocupante que ingeriu alimentos ou
líquidos demonstrou sensação de conforto muito divergente dos demais ocupantes, seu questionário foi
desconsiderado.
Para avaliar as taxas metabólicas de cada pessoa foram feitas perguntas referentes à realização de
atividades antes da medição. Já para estimar a resistência térmica questionou-se ao usuário sobre a sua
vestimenta.
O aparelho foi montado no centro do ambiente avaliado a uma altura de 1,10 metro do chão, conforme
a ISO 7726 (ISO, 1998), e permaneceu em aclimatação por um período de 30 minutos ou até que as variáveis
se mantivessem estáveis, tendo em vista as distintas condições climáticas entre o interior e exterior dos
ambientes. Após esse período, iniciou-se a coleta dos dados e a aplicação dos questionários.
A coleta dos dados pelo HD 32.1 teve duração de 5 minutos em cada medição, totalizando 254
medições, sendo que a cada 30 segundos efetuou-se o registro dos dados, estes foram integrados aos 5
minutos de medição para determinar os valores médios das variáveis ambientais.
A coleta ocorreu nos períodos matutino e vespertino durante as estações chuvosa e seca em cada uma
das zonas bioclimáticas estudadas.

3.4 Análise dos resultados


Para o cálculo do PMV utilizou-se o roteiro que segue a pesquisa realizada por Fanger (1970), que se
encontra normatizado na ISO 7730 (2005). A pesquisa utilizou também o método proposto por Lamberts et
al. (2014) em sua pesquisa relacionada ao conforto e ao stress térmico, presente na ASHRAE 55, para o
cálculo do PPD. Além disso, para determinar a temperatura operativa e a temperatura radiante média
utilizou-se a ASHRAE (2017) e para determinar a taxa metabólica e do isolamento térmico das vestimentas,
utilizou-se das tabelas presentes na ISO 7730 (ISO, 2005).
Pelos votos de sensação térmica dos ocupantes coletados no momento das medições foi calculada a
média dos votos por cidade em cada estação, obtendo-se assim o voto médio de sensação térmica.

1178
A temperatura de neutralidade foi determinada por meio de análises de regressão linear simples de
mínimos quadrados, através das quais foi possível determinar uma equação para cada zona bioclimática e
cada estação (chuva e seca).
Obteve-se a temperatura de neutralidade térmica inserindo nas equações de regressão o voto de
sensação de conforto, ou seja, o voto de sensação térmica igual a “zero”.
A significância das regressões se deu por meio de análises de variância e testes de normalidade de
Kolmogorov-Smirnov.

4. RESULTADOS
Foram realizadas 254 medições, nas quais foram aplicados 2.400 questionários (120 questionários por
edificação) nos dois períodos do ano nas cidades de Cáceres e Cuiabá. De tais medições, obtiveram-se 2.286
questionários válidos, sendo uma média de 1.143 questionários por cidade, este valor aproxima-se de outras
pesquisas realizadas nessa área de estudo, como a de Fanger (1970), com 1.300 questionários, a de Xavier
(1999), com 1.415, e a de Kuchen e Fisch (2009), com 1.100.
Dentre os 2.286 questionários válidos, 45,39% foram respondidos por homens e 54,61% por mulheres.
Sobre a permanência no local avaliado, 92,16% das pessoas se encontravam nas edificações por um período
menor que 3 horas. Sobre o peso, 57,32% das pessoas consideravam seu peso normal, 3,53% abaixo do
normal e 39,15% acima do normal. A média da idade dos entrevistados é 34,53 anos, sendo a idade mínima
igual a 15 anos e a máxima, 85 anos.
A Tabela 3 apresenta as médias das principais variáveis pessoais e ambientais para as zonas
bioclimáticas 7 (Cuiabá) e 8 (Cáceres), durante os períodos chuvoso e seco.
Tabela 3 - Média e desvio padrão das variáveis coletadas.
Período Chuvoso
M R Ta Va Tr UR PMV PPD Top S I
Zona
(met) (clo) (°C) (m/s) (°C) (%) (-) (%) (°C) (-) (%)
Média 1,76 0,40 26,45 0,10 26,89 58,08 0,84 29,43 26,67 0,43 20,09
7
Desvio
0,35 0,06 1,38 0,06 1,52 6,08 0,68 12,63 1,45 0,44 21,25
padrão
Média 1,65 0,41 25,63 0,11 26,39 55,09 0,64 16,82 26,00 0,14 7,83
8 Desvio
0,29 0,04 0,79 0,06 0,99 6,81 0,40 8,58 0,84 0,24 11,23
padrão
Período Seco
M R Ta Va Tr UR PPD Top I
Zona PMV S
(met) (clo) (°C) (m/s) (°C) (%) (%) (°C) (%)
Média 1,68 0,40 24,63 0,11 25,41 40,62 0,43 14,86 24,99 0,02 12,39
7
Desvio
0,33 0,06 1,74 0,07 1,65 2,72 0,54 7,23 1,68 0,37 14,39
padrão
Média 1,61 0,42 25,10 0,08 26,06 40,02 0,52 16,96 25,58 0,09 7,39
8 Desvio
0,30 0,04 1,28 0,05 1,29 4,05 0,55 9,68 1,27 0,23 9,83
padrão

Sendo:
M: taxa metabólica média, em met;
R: isolamento térmico médio das vestimentas dos entrevistados durante a medição, em clo;
Ta: temperatura média do ar, em °C;
Va: velocidade média do ar, em m/s;
Tr: temperatura média radiante, em °C;
Ur: Umidade relativa média do ar, em %;
PMV: voto médio predito, proposto por Fanger (1970), adimensional;
PPD: porcentagem de pessoas insatisfeitas, proposta por Fanger (1970);
Top: temperatura operativa média, em °C;
S: voto médio de sensação térmica, calculado por meio da média aritmética de todos os votos emitidos pelos
ocupantes, através dos questionários, durante as medições, adimensional; e
I: porcentagem de insatisfeitos real verificados na medição, encontrado somando-se todos aqueles que
votaram -3, -2, +2 e +3, mais 50% dos que votaram +1 e -1 por meio do questionário, conforme realizado por
Xavier (1999).
1179
A correlação entre os votos médios de sensação térmica reais e a porcentagem de insatisfeitos reais
(obtidos por meio do questionário) pode ser verificada na Figura . Pode-se perceber que a correlação obtida
não é tão estreita e acentuada quanto à proposta pelo modelo de Fanger (1970), pois para este estudo de
campo encontrou-se um valor de R² igual a 0,75.
100%
I = 0,2869S2 + 0,0911S + 0,0569
90% R² = 0,7504
Porcentagem de Insatisfeitos Real (I)

n = 254
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
-3 -2 -1 0 1 2 3

Voto de Sensação Térmica (S)

Figura 3 - Correlação entre o voto de sensação térmica e a porcentagem de insatisfeitos real.

Onde:
I: porcentagem de insatisfeitos reais verificados na medição, em %; e
S: voto médio de sensação térmica, adimensional.
A Figura apresenta uma regressão linear entre o PMV, calculado conforme estudos de Fanger (1970),
e os votos de sensação térmica reais. Analisando o gráfico, encontra-se um valor de R² igual 0,2168, ou seja,
apenas 21,68% das sensações reais correspondem ao modelo de PMV proposto por Fanger. Desse modo,
percebe-se que o modelo de PMV apresenta uma baixa representatividade para esta pesquisa. O modelo de
Fanger faz as relações com usuários e ambientes totalmente controlados. Quando se tem uma situação que
foge disso, sem que as variáveis ou pessoas sejam controladas (como foi o caso desta pesquisa), o modelo de
Fanger não é muito representativo.
3
PMV = 0,7206S + 0,4917
R² = 0,2168
2 n=254
Voto Médio Predito (PMV)

-1

-2

-3
-3 -2 -1 0 1 2 3
Voto de Sensação Térmica (S)

Figura 4 – Regressão linear entre PMV e sensações térmicas reais encontradas por meio dos questionários.

Onde:
PMV: voto médio predito, proposto por Fanger (1970), adimensional; e
S: voto médio de sensação térmica, adimensional.

1180
A Figura 5 representa as regressões lineares realizadas para as zonas bioclimáticas 7 (a e b) e 8 (c e d)
comparando a temperatura operativa com os votos médios de sensação térmica dos ocupantes nos períodos
de chuva e de seca.

(a) Período Chuvoso S = 0,1863Top - 4,5388 (b) Período Seco S = 0,1429Top - 3,557
R² = 0,3698 3 R² = 0,427
3
p = 2,14 E-09 p = 1,13 E-07

Sensação Térmica (S)


Sensação Térmica (S)

2 2
1 1
0 0
-1 -1
-2 -2
-3 -3
20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
Temperatura Operativa, Top (°C) Temperatura Operativa, Top (°C)

(c) Período Chuvoso S = 0,1211Top - 3,0135 (d) Período Seco S = 0,0991Top - 2,4368
R² = 0,1776 R² = 0,3084
3 3
Sensação Térmica (S)
p = 1,3 E-05
Sensação Térmica (S)

p = 5,8 E-04
2 2
1 1
0 0
-1 -1
-2 -2
-3 -3
20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
Temperatura Operativa, Top (°C) Temperatura Operativa, Top (°C)

Figura 5 - Regressão linear entre a sensação térmica real e a temperatura operativa para zonas bioclimáticas.

Sendo:
S: voto médio de sensação térmica, adimensional;
Top: temperatura operativa média, expressa em °C;
p: probabilidade de significância, adimensional;
R²: coeficiente de determinação, adimensional.
As análises de variância demonstraram que as equações de regressão determinadas eram significativas.
Além disso, os testes de Kolmogorov-Smirnov revelaram a normalidade dos resíduos.
A Tabela 4 traz o resumo dos valores encontrados de temperatura de neutralidade o valor do
coeficiente “a” das equações de regressão para cada zona bioclimática estudada. Vale ressaltar que todas as
análises de regressão linear foram realizadas com um intervalo de confiança de 95%.
O coeficiente "a" pode ser um indicador de adaptação térmica ao intervalo de temperatura
proporcionado pelo sistema de climatização e valores mais baixos deste coeficiente podem corresponder a
um maior grau de adaptação térmica dos usuários ao ambiente construído.
Portanto, sabendo-se que este coeficiente está relacionado com a adaptação dos ocupantes aos
ambientes estudados, optou-se por determinar a temperatura de neutralidade por zona bioclimática,
fornecendo, assim, subsídios mais específicos para cada região.
Analisando a Figura 5, evidencia-se que intervalo de aceitabilidade não é aplicável para este estudo,
pois houve uma extrapolação do mesmo. Acredita-se que a causa dessa variação tenha sido gerada pela
grande amplitude dos dados.
Straub et al. (2017) buscaram determinar uma temperatura de neutralidade em salas de ensino superior
nas zonas bioclimáticas do Estado de Mato Grosso e obtiveram uma temperatura de neutralidade de 26,6°C.
A partir desse resultado nota-se que apesar de utilizar a mesma metodologia encontrou-se resultados
diferentes.

1181
Tabela 4 - Temperatura de Neutralidade por zona bioclimática e estação
Temperatura de
Período Zona Bioclimática Coeficiente (a)
Neutralidade
7 0,19 24,43 °C
Chuvoso
8 0,12 24,88 °C
7 0,14 24,90 °C
Seco
8 0,10 24,59 °C

5. CONCLUSÕES
É possível notar, a partir dos resultados encontrados nesta pesquisa, a necessidade de um estudo das
características regionais para a concepção de uma edificação, visto que para atender à necessidade ambiental
da mesma, é preciso considerar as particularidades culturais dos ocupantes e as condições climáticas locais.
Mesmo sabendo que as pesquisas de campo e as pesquisas realizadas em câmaras climatizadas são
divergentes em suas metodologias e resultados, percebe-se que as duas apresentam os objetivos de alcançar
um aumento no conhecimento sobre do conforto térmico e de determinar um modo de proporcioná-lo aos
ocupantes das edificações. Como foi possível perceber, encontraram-se nesta pesquisa, grandes variações
entre as sensações térmicas reais levantadas em campo e as propostas pelo modelo do PMV de Fanger, desse
modo, é possível perceber a importância da realização de pesquisas em campo, sem que as variáveis sejam
controladas pelo pesquisador.
A temperatura de neutralidade média encontrada para as zonas bioclimáticas 7 e 8 do estado de Mato
Grosso, considerando as medições realizadas nas estações chuvosa e seca, foi de 24,70 °C. A temperatura
operativa média encontrada foi 25,90°C e a máxima, foi 28,63°C, ou seja, esses valores superam o valor
ideal encontrado (24,70°C).
Assim, percebe-se que através da análise de equações de regressão linear foi possível determinar a
temperatura de neutralidade e o intervalo de aceitabilidade térmica para as zonas bioclimáticas 7 e 8 do
estado de Mato Grosso, nos períodos chuvoso e seco. Contudo, devido a quantidade de variáveis, percebe-se
que o intervalo de aceitabilidade não é aplicável para esta pesquisa. Portanto, ressalta-se que uma nova
pesquisa pode ser feita estudando apenas um grupo de pessoas que estejam desenvolvendo a mesma
atividade, que apresentem vestimentas com uma resistência térmica semelhante ou que permaneçam nas
edificações por um maior período de tempo.
No que se refere ao desempenho térmico, nota-se que devem ser adotadas medidas para a construção
de novas edificações e devem ser analisadas alternativas construtivas para as edificações já existentes.
Acredita-se que por meio dessa análise, seja possível oferecer aos ocupantes, melhores condições de conforto
ambiental e espera-se que um retorno financeiro seja estabelecido, já que sabendo a temperatura de
neutralidade térmica para cada zona bioclimática, os gastos com condicionamento artificial podem ser
reduzidos.
Portanto, a presente pesquisa traz importantes contribuições no que diz respeito ao alcance do conforto
térmico em ambientes reais de trabalho nas edificações comerciais, públicas e de serviço no Estado de Mato
Grosso.

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1183
DETERMINAÇÃO DA TEMPERATURA DE NEUTRALIDADE EM
EDIFICAÇÕES PÚBLICAS, COMERCIAIS E DE SERVIÇO NAS ZONAS
BIOCLIMÁTICAS 5 E 6 DO ESTADO DE MATO GROSSO
Alexandra Marsaro Cella (1); Luciana Tozzo (2); Karen Wrobel Straub Schneider (3);
Marlon Leão (4)
(1) Engenheira Civil, alexandramcella@gmail.com, UNEMAT - Sinop, (66)99672-9214
(2) Engenheira Civil, lucianatozzo27@gmail.com, UNEMAT - Sinop, (66)99961-2276
(3) Me., Professora do Departamento de Engenharia Civil, karen.straub@unemat.br, UNEMAT – Sinop,
(66)3511-2100
(4) Dr.-Ing., Professor do Departamento de Engenharia Civil, leao@unemat.br, UNEMAT – Sinop,
(66)3511-2137

RESUMO
A neutralidade térmica representa a condição em que uma pessoa em um determinado ambiente não sinta
calor e nem frio, estando em equilíbrio térmico, fator condicionante para se alcançar o conforto térmico. O
Estado de Mato Grosso não possui zonas de conforto e temperaturas de neutralidade conhecidas,
contribuindo para o baixo conforto térmico das edificações. O objetivo geral dessa pesquisa foi determinar a
temperatura de neutralidade de edificações públicas, comerciais e de serviço, para as zonas bioclimáticas 5 e
6 do estado de Mato Grosso. O estudo aplicou o conceito Spot-Monitoring que relaciona a coleta de dados
ambientais (por meio de aparelho com sensores) com simultânea aplicação de questionários que coletam as
sensações e preferências térmicas dos usuários. Foram realizadas 247 medições e obtidos 2223 questionários
válidos nas cidades de Sinop e Primavera do Leste. Utilizando-se regressões lineares de mínimos quadrados
que correlacionaram o voto médio de sensação térmica com a temperatura operativa, obteve-se equações que
determinaram a temperatura de neutralidade. Para essas edificações em ambos os períodos, nas referidas
cidades a temperatura de neutralidade média foi de 24,6°C.
Palavras-chave: Conforto Térmico; Abordagem adaptativa; Sensação térmica; PMV; Spot-Monitoring.

ABSTRACT
Thermal neutrality represents the condition in which a person in a given environment does not feel heat or
cold, being in thermal balance. This is a conditioning factor for achieving thermal comfort. There are not
known zones of comfort and neutrality temperatures in the State of Mato Grosso, contributing to the low
thermal performance of buildings. This study aimed to determine the neutral temperature of public,
commercial and services buildings, for the 5 and 6 bioclimatic zones in the Mato Grosso state. It was applied
the Spot-Monitoring concept, which relates the collection of environment data (by the usage of equipment
with sensors) with a simultaneous appliance of questionnaires that collects sensations and thermal
preferences of the users. A total of 247 measurements were performed and 2223 questionnaires were applied
to the cities of Sinop and Primavera do Leste. By utilizing linear least-squares regressions analysis that
correlates the thermal sensation vote with the operative temperature, equations that determine the neutral
temperature were obtained. For these buildings, in those cities, the neutrality temperature average was
24,6°C.
Keywords: Thermal comfort; Adaptive approach; Thermal sensation; PMV; Spot-Monitoring.

1184
1. INTRODUÇÃO
A obtenção de um ambiente termicamente confortável para o usuário é um dos objetivos do estudo do
conforto térmico. Segundo Nicol (2007), Nicol e Humphreys (2002) e Batiz et al. (2009), o conforto térmico
pode melhorar a saúde do trabalhador e sua eficiência no ambiente de trabalho.
Segundo Frota e Schiffer (2001), as primeiras pesquisas realizadas a respeito da influência do conforto
térmico no rendimento dos trabalhadores tiveram início em 1916, com a Comissão Americana de Ventilação
(American Society of Heating and Ventilating Engineers - ASHVE). Posteriormente, Fanger (1970),
desenvolveu sua pesquisa na Dinamarca que auxiliou normas internacionais importantes. Fanger analisou
uma amostra de pessoas em câmaras climatizadas, em que todos os parâmetros de conforto e variáveis
pessoais eram constantes e a temperatura operativa era controlada. Com base nessa análise, desenvolveu
duas equações: o Voto Médio Predito - PMV e o Percentual de Pessoas Insatisfeitas - PPD.
Em contrapartida Humphreys (1976) observou que a aclimatação afetava a temperatura de
neutralidade e índices de conforto variavam em relação à temperatura média da região estudada. Em 1979, o
autor propôs que as pessoas têm diferentes respostas ao meio que estão inseridas. Essas respostas são
medidas adaptativas do corpo para se ajustar ao meio térmico. Sua pesquisa mostra que os resultados obtidos
das câmaras climatizadas e controladas pelo pesquisador têm divergências com ambiente climatizado
naturalmente. Essas divergências acontecem, pois naturalmente o indivíduo se adapta ao ambiente em que
vive, e, por isso, a abordagem adaptativa traz resultados mais reais.
O conforto térmico depende de variáveis quantificáveis (temperatura e velocidade do ar, umidade,
entre outros) e não quantificáveis (hábitos, estado mental, cultura, entre outros) e a combinação entre essas
variáveis tem grande influência sobre o conforto em espaços reais de trabalho.
Vários autores como Hellwig e Bischof (2006), Boestra (2006), Raue et al. (2004), Nicol e Humphreys
(2002), De Dear (2004), sustentam que a utilização de normas que se baseiam no modelo de abordagem
estática de Fanger, como a ISO 7730 (ISO, 2005), apresentam desvios que são próprios do método de
obtenção do mesmo.
Rupp et al. (2017) destaca que no Brasil são poucos os resultados publicados de estudos de campo
focados na adequabilidade do modelo PMV/PPD, porém em seus estudos em Florianópolis verificaram que o
método é inadequado para o clima da região por superestimar a sensação de frio, além de não estimar
adequadamente a insatisfação térmica em ambientes condicionados artificialmente.
Apesar de a abordagem adaptativa ter suas origens posteriores à estática e ser mais completa em suas
considerações, o objetivo das duas pesquisas tem um fator comum: alcançar o conforto térmico em
ambientes reais.
Oseland (1994), realizou sua pesquisa no Reino Unido e buscou determinar uma temperatura de
neutralidade comparando os votos médios preditos, PMV, de Fanger, com as sensações relatadas por
moradores de casas nos períodos de inverno e verão. Assim, notou que em ambos os períodos, os limites
demostrados pelos moradores foram superiores aos calculados.
Pesquisas internacionais buscam determinar temperaturas de neutralidade em edifícios de escritório
climatizados artificialmente. De Dear e Fountain (1994), em Townsville (Austrália), determinaram uma
temperatura operativa neutra de 22°C no inverno e 22,6°C no verão. Uma pesquisa realizada em Hong Kong
(MUI; WONG, 2005) encontrou uma temperatura de neutralidade de 23,6°C para o verão e 21,4°C para o
inverno.
Em suas pesquisas na Alemanha, Kuchen e Fisch (2009), avaliaram 25 edifícios de escritórios,
realizando medições e aplicando questionários no local. Assim, puderam desenvolver um método estatístico
para determinar a temperatura de neutralidade, 22,7°C, menor que a encontrada pelo método de Fanger. O
método Spot-Monitoring utiliza medições pontuais e simultâneas das variáveis ambientais, utilizando a
abordagem adaptativa para determinar uma zona de conforto térmico, com uma temperatura de neutralidade
definida a partir das características do local e de seus ocupantes.
Straub et al. (2017) buscaram determinar uma temperatura de neutralidade em salas de ensino superior
nas zonas bioclimáticas do Estado de Mato Grosso e obtiveram uma temperatura de neutralidade de 26,6°C.
Andreasi e Lamberts (2009) realizaram uma pesquisa no Mato Grosso do Sul, com voluntários em
atividades sedentárias em ambientes ventilados naturalmente. Verificaram um intervalo de aceitabilidade
térmica de 23°C a 31°C.
Essas divergências ocorrem principalmente em razão do clima, e por isso, nota-se a importância de se
conhecer a temperatura de neutralidade em cada região.

1185
Os edifícios de domínios públicos e privados, de forma comercial e de serviço, possuem um grande
número de usuários que necessitam de um conforto térmico tanto para um rendimento adequado no ambiente
de trabalho, quanto aquele que utiliza de forma transitória o espaço comercial.
A solução normalmente adotada para a obtenção de ambientes mais confortáveis termicamente é a
utilização de condicionamento artificial, estratégia atual que contraria fatores importantes como consumo e
conservação de energia (ANDREASI, 2009).
O Estado de Mato Grosso possui um território extenso, grande diversidade climática e topográfica,
sendo necessária a definição de zonas de conforto térmico e temperaturas de neutralidade. A falta de uma
temperatura de neutralidade nas edificações acarreta na má utilização da edificação. E como consequência,
compromete o rendimento do trabalhador, bem como o conforto do usuário.
Há uma necessidade de se obter um ambiente confortável termicamente nessas edificações para a
melhoria da produtividade e saúde humana. Pesquisas realizadas por Lorsch e Abdou (1994), entre outros
pesquisadores, mostram que quando a temperatura atinge níveis desconfortáveis a produtividade, o bem-estar
e a disposição dos ocupantes diminui.
Segundo Bernardi (2001) e Lan, Wargocki e Lian (2011) o desconforto térmico pode levar o usuário à
sonolência, aumento do suor, alteração de batimentos cardíacos, e tanto a longo quanto a curto prazo
comprometer assim, a saúde e a produtividade.
O estudo sobre o conforto térmico em edificações é um ramo recente no Brasil, com normas
específicas brasileiras pouco abrangentes, sendo necessário usufruir de alguns parâmetros estabelecidos em
outros países, o que pode não ser tão preciso. Portanto, verifica-se a importância da determinação da
temperatura de neutralidade para regiões específicas, justamente devido à condição de aclimatação do ser
humano. O desenvolvimento desse estudo no Estado de Mato Grosso e nas edificações públicas, comerciais e
de serviço pode contribuir em pesquisas e nortear projetos e normativas no âmbito do conforto térmico e em
zonas de conforto.

2. OBJETIVO
Esse trabalho tem por objetivo determinar a temperatura de neutralidade em edificações públicas, comerciais
e de serviço para as zonas bioclimáticas 5 e 6 do Estado de Mato Grosso, através de coleta de variáveis
pessoais e ambientais.

3. MÉTODO
Para a determinação da temperatura de neutralidade em edificações públicas, comerciais e de serviço foram
realizadas coletas de dados em duas cidades escolhidas para representar as zonas bioclimáticas 5 e 6 do
Estado de Mato Grosso. A pesquisa foi feita nos períodos de chuva (janeiro e fevereiro/2017) e seca (julho e
agosto/2017). A Tabela 1 traz as datas das coletas de dados em cada edificação e zonas bioclimáticas, nas
duas estações analisadas.
Tabela 1 - Data e horário das medições em cada estação e zona bioclimática analisada.
Estudo de campo 01 - ZB 5 02 - ZB 5 03 - ZB 5 04 - ZB 5 05 - ZB 5
Data 01/02/2017 14/02/2017 18/12/2017 11/02/2017 18/02/2017
Horário Comercial Comercial Comercial Comercial Comercial
Estação Chuva Chuva Chuva Chuva Chuva
Estudo de campo 07 - ZB 6 08 - ZB 6 09 - ZB 6 10 - ZB 6 11 - ZB 6
Data 05/01/2017 04/01/2017 06/01/2017 09/01/2017 10/01/2017
Horário Comercial Comercial Comercial Comercial Comercial
Estação climática Chuva Chuva Chuva Chuva Chuva
Estudo de campo 01 - ZB 5 02 - ZB 5 03 - ZB 5 04 - ZB 5 05 - ZB 5
Data 02/08/2017 01/08/2017 28/07/2017 30/07/2017 31/07/2017
Horário Comercial Comercial Comercial Comercial Comercial
Estação climática Seca Seca Seca Seca Seca
Estudo de campo 07 - ZB 6 08 - ZB 6 09 - ZB 6 10 - ZB 6 11 - ZB 6
Data 11/08/2017 10/08/2017 12/08/2017 14/08/2017 15/08/2017
Horário Comercial Comercial Comercial Comercial Comercial
Estação climática Seca Seca Seca Seca Seca

1186
A coleta de dados foi baseada no conceito Spot-Monitoring desenvolvido por Kuchen e Fisch (2009).
Esse método relaciona a coleta de dados ambientais com simultânea aplicação de questionários que coletam
as sensações e preferências térmicas dos usuários.
A pesquisa foi dividida em dois momentos: a medição dos índices em pesquisa de campo e a obtenção
e análise estatística dos dados. Nas pesquisas de campo, coletou-se variáveis ambientais e pessoais. O
questionário utilizado para a coleta das variáveis pessoais é semelhante ao utilizado em outras pesquisas de
conforto térmico, como a de Kuchen e Fisch (2009) e Straub et al. (2017). Para a obtenção das variáveis
ambientais, utilizou-se um Datalogger conectado a sensores que coletaram e armazenaram dados como
temperatura, umidade relativa, e velocidade do ar e temperatura radiante média.

3.1. Área de estudo


Segundo a NBR 15220-3 (ABNT, 2005), que classifica as zonas bioclimáticas brasileiras, o estado de Mato
Grosso apresenta 5 zonas bioclimáticas (Figur 1) das 8 zonas presentes no Brasil. As cidades classificadas
nesse estudo são: Sinop, zona bioclimática 5 (11°50′53″ S, 55°38′57″ W; 384m); e Primavera do Leste, zona
bioclimática 6 (15°31′40″ S, 54°20′45″ W; 636m).

Figura 1 - Zoneamento bioclimático segundo NBR 15220-2003 para o Estado de Mato Grosso, adaptado (SANCHES et al., 2011).

3.2. Objeto de estudo


A pesquisa foi realizada em edificações públicas, comerciais e de serviço. As edificações foram definidas por
meio de permissões e acordos de cooperação que garantiram total anonimato na pesquisa, referente tanto ao
nome e localização da instituição como aos usuários que responderam ao questionário. Entretanto, todas as
edificações localizavam-se em região central da cidade, portanto, possuindo condição climática semelhante.
Cinco setores foram avaliados em função da atividade desenvolvida, sendo eles: farmácias,
supermercados, bancos, lojas varejistas e órgãos públicos. Foi determinado para cada setor, uma edificação
para medição. Desse modo, a medição foi realizada em cinco edificações em cada cidade.
Todas as edificações são de alvenaria comum, algumas com divisórias internas. Foi avaliado o
ambiente com interação de funcionários e clientes, por isso com número de ocupantes variável. Nas
edificações com dois pavimentos, foram realizadas medições nos dois ambientes. Os ambientes estudados
eram homogêneos e estacionários, assim não havia diferença entre ambientes para os usuários
experimentarem situações diferentes. Os equipamentos no interior das edificações se limitavam aos
utilizados nas atividades cotidianas dos setores avaliados, como computadores, com exceção dos mercados
que possuem diversos tipos de equipamentos em seu interior. As Tabelas 2 e 3 trazem as principais
características das edificações, referentes às aberturas, número de pavimentos e sistema de climatização.
Nessa pesquisa não foram medidos dados externos, como temperatura do ar e umidade relativa. A
pesquisa limitou-se a medição do interior das edificações apenas.

1187
Tabela 2 – Caracterização das edificações avaliadas em Sinop-MT.
N° DE TIPO DE ABERTURAS CORTINA SISTEMA DE
LOCAL
PAVIMENTOS PORTA JANELAS DE AR CLIMATIZAÇÃO
Farmácia 1 De correr - Vidro Não Sim 3 unid. Ar condicionado Split
Loja varejista 1 De correr - Vidro Não Sim 12 unid. Ar condicionado Split
Supermercado 1 De correr - Vidro Alta para iluminação Sim Ar central
Banco 2 Porta giratória - Vidro Não Não Ar central
Órgão público 1 De correr - Vidro Alta para iluminação Não 3 unid. Ar condicionado Split

Tabela 3 – Caracterização das edificações avaliadas em Primavera do Leste - MT.


N° DE TIPO DE ABERTURAS CORTINA SISTEMA DE
LOCAL
PAVIMENTOS PORTA JANELAS DE AR CLIMATIZAÇÃO
Farmácia 1 De correr - Vidro Alta para iluminação Sim 4 unid. Ar condicionado Split
Loja varejista 1 De correr - Vidro Não Sim 10 unid. Ar condicionado Split
Supermercado 1 De correr - Vidro Não Sim Ar central
Banco 1 Porta giratória - Vidro Não Não Ar central
Órgão público 1 De correr - Vidro Alta para iluminação Não 2 unid. Ar condicionado Split

3.3. Instrumentação
A coleta dos dados ambientais foi realizada pelo aparelho HD 32.1 Delta OHM utilizando o programa A:
análise de microclima e medidor de stress térmico. O instrumento apresenta oito entradas para sondas
módulo SICRAM. A calibração do aparelho estava no período de validade durante a realização da pesquisa.
O aparelho é portátil e para a medição foram conectados sensores que fizeram a leitura das variáveis
armazenadas no datalogger (Figura 2a) e posteriormente foram transferidos para um computador.
Foram utilizados três sensores de medição: a sonda combinada (Figura 2b), utilizada para medir a
temperatura e umidade relativa do ar, o anemômetro de fio quente (Figura 2c), utilizado para determinar a
velocidade do ar e o termômetro de globo negro (Figura 2d), empregado na determinação da temperatura
média radiante.

(c) (a) (d)

(b)

Figura 2 - Equipamento com sensores utilizados.

3.4. Medições ambientais


Para a realização das medições o aparelho foi posicionado no centro de cada ambiente a uma altura
equivalente ao nível do abdômen das pessoas em pé, conforme sugere a ISO 7726 (ISO, 1998) a 1,10m do
solo. As medições aconteceram no período diurno, de acordo com o horário comercial de cada edificação.
Em cada edificação analisada, o equipamento foi posicionado no centro do ambiente e permaneceu em
estabilização por 30 minutos, conforme indicado no manual do equipamento.
Foram realizadas 247 medições ao total e cada medição teve duração de 5 minutos. Cada uma dessas
medições é uma média de registro de dados a cada 30 segundos.

3.5. Consulta de opinião


Para a coleta das variáveis pessoais foram aplicados questionários simultaneamente a coleta das variáveis
ambientais. O modelo de questionário utilizado, é baseado em outras pesquisas de conforto térmico
(STRAUB et al., 2017; KUCHEN; FISCH, 2009).

1188
O questionário possui perguntas de caráter subjetivo, referentes a aspectos psicológicos, e fisiológicos
e físicos do usuário com relação ao ambiente estudado.
As perguntas de aspecto psicológico coletaram os dados de voto sensação térmica (S) a partir da escala
sétima (ASHRAE, 2017). O voto de sensação térmica foi utilizado para os cálculos da temperatura de
neutralidade.
As perguntas de aspecto fisiológicos e físicos são referentes a atividade metabólica e isolamento da
roupa. A vestimenta interfere na resistência térmica do usuário com relação ao ambiente. As atividades
recentes influenciam na taxa metabólica.

3.6. Análise dos resultados


Para o cálculo do isolamento térmico das vestimentas, utilizou-se da tabela presente na ISO 7730 (ISO,
2005). Para a taxa metabólica foi utilizada a atividade do ocupante nos últimos 10 minutos e relacionado
com a tabela, também, presente na ISO 7730 (ISO, 2005).
Para o cálculo do PMV foi utilizada a metodologia descrita na ISO 7730 (ISO, 2005), seguindo estudo
realizado por Fanger (1970). A pesquisa utilizou também o método proposto na ASHRAE 55, para o cálculo
do PPD.
Para determinar temperatura operativa e a temperatura radiante média seguiu-se os cálculos propostos
pela ASHRAE (2017). O cálculo da neutralidade térmica seguiu o método utilizado por Straub et al. (2017).
Para a determinação da temperatura de neutralidade, dois índices foram correlacionados, a temperatura
operativa e os votos de sensação térmica. Para essa correlação foram realizadas regressões lineares simples
de mínimos quadrados. Através da regressão obteve-se equações que determinaram a temperatura de
neutralidade.
A análise da intersecção da reta da equação, com os valores de +1 e -1, pode demonstrar um intervalo
de temperatura operativa. Esse intervalo resulta na aceitabilidade térmica dos ocupantes. A determinação dos
valores de neutralidade térmica é realizada a partir da inserção dos votos de sensação térmica de conforto
(voto “zero”) nas equações de regressão obtidas, resultando em uma temperatura operativa coincidente com a
temperatura de neutralidade.
A validação das regressões se deu por meio de análises de variância e testes de normalidade de
Kolmogorov-Smirnov, conforme utilizado por Kuchen e Fisch (2009) e Straub et al. (2017).

4. RESULTADOS
Nos períodos de chuva e seca, foram realizadas 247 medições e obtidos 2400 questionários para as duas
zonas bioclimáticas avaliadas. Questionários com erros de preenchimento, incompletos ou rasurados foram
considerados inválidos. Portanto, ao total, 2223 questionários foram considerados válidos. Cada cidade,
portanto, obteve, em média, 1112 questionários. Esse valor é encontrado em outras pesquisas da mesma
linha, como a pesquisa de Fanger (1970) com 1300 questionários, Xavier (1999) com 1415 questionários,
Kuchen e Fisch (2009) com 1100 questionários e Straub et al. (2017) com 1151 questionários.
Dos questionários válidos, 58% foram respondidos por mulheres e 42% por homens, entre 15 e 79
anos. Desses, 58% consideraram-se com peso normal.
As variáveis pessoais e ambientais estão diretamente ligadas a sensação de conforto térmico do
usuário. A taxa metabólica, medida em W/m², e o isolamento térmico das vestimentas, medido em clo, são
variáveis pessoais de grande influência. Na cidade de Primavera do Leste, a taxa metabólica média foi de
93,49 W/m². Para a cidade de Sinop, a taxa metabólica média obtida foi de 93,39 W/m².
A Tabela 4 traz os principais indicadores pessoais e ambientais, com média e desvio-padrão para as
zonas bioclimáticas estudadas no período de chuva e seca.
Ao se avaliar os dados, nota-se que apesar de possuir variáveis de edificações diferentes, o desvio-
padrão das temperaturas demonstrou pouca divergência entre zonas bioclimáticas. Percebe-se essa mesma
relação com o isolamento térmico das vestimentas e as taxas metabólicas. Apesar de serem edificações com
atividades distintas, o padrão de vestimentas é semelhante e as atividades metabólicas permaneceram
próximas. Como isso, podemos entender que essas edificações podem ser avaliadas de maneira conjunta para
cada zona bioclimática, por apresentarem na maioria das variáveis um desvio-padrão pouco divergente.
Entretanto, ao avaliar o PPD há uma disparidade entre as zonas bioclimáticas estudadas, o que pode
significar, comparado ao percentual real de pessoas insatisfeitas uma possível falha no método de obtenção
do mesmo.

1189
Tabela 4 - Média e desvio padrão das variáveis coletadas no período de chuva.
Período de chuva

Zona Ta Va Tr UR Top PMV PPD Icl S I


Bioclimática (°C) (m/s) (°C) (%) (°C) (-) (%) (CLO) (-) (%)

Média 24,10 0,11 24,80 55,78 24,40 0,17 11,36 0,40 0,00 16,87
5 Desvio
1,29 0,06 1,32 4,38 1,29 0,53 6,21 0,07 0,50 19,07
padrão
Média 25,10 0,13 25,75 51,98 25,39 -0,14 32,46 0,41 0,12 13,08
6 Desvio
1,60 0,06 1,70 6,46 1,64 1,22 26,17 0,07 0,40 17,75
padrão
Período de seca

Zona Ta Va Tr UR Top PMV PPD Icl S I


Bioclimática (°C) (m/s) (°C) (%) (°C) (-) (%) (CLO) (-) (%)

Média 24,60 0,11 25,20 39,39 24,90 0,37 9,76 0,42 0,01 6,93
5 Desvio
0,80 0,07 1,35 3,09 1,07 0,30 3,80 0,06 0,24 9,68
padrão
Média 25,80 0,10 26,30 31,77 26,00 0,69 21,17 0,43 0,13 7,70
6 Desvio
1,48 0,02 1,53 3,38 1,49 0,54 8,32 0,05 0,20 9,11
padrão

As variáveis indicadas na Tabela 4 representam:


Ta: temperatura do ar, em °C;
Va: velocidade do ar, em m/s;
Tr: temperatura média radiante, em °C;
UR: umidade relativa do ar, em %;
Top: temperatura operativa, em °C;
PMV: voto médio predito, conforme Fanger (1970), adimensional;
PPD: percentual de pessoas insatisfeitas, conforme Fanger (1970);
Icl: isolamento térmico das vestimentas utilizadas pelos ocupantes, em clo;
S: voto de sensação térmica real, obtido através da média de votos emitidos de todos os ocupantes,
adimensional, faixa de resposta de +3 a -3;
I: percentual real de pessoas insatisfeitas, obtido conforme proposto por Xavier (1999), com todos os
ocupantes que votaram +3, +2, -3, -2 somado a 50% daqueles que votaram +1 e -1.
A Figura 3 mostra a correlação entre o percentual de insatisfeitos real e os votos médios de sensação
térmica real, ambos obtidos através do questionário, podendo-se verificar que existe uma dispersão no
percentual de insatisfeitos quando analisada a sensação de conforto, ou seja, o voto 0 (zero). Para essa
pesquisa, verificou-se R²=0,714. O resultado dessa correlação também demostra que o comportamento dos
dados não é tão acentuado e estreito quanto o proposto por Fanger (1970).

Figura 3 - Correlação entre a porcentagem de insatisfeitos real e votos médios de sensação térmica.

1190
Sendo:
I: percentual real de pessoas insatisfeitas;
S: voto de sensação térmica real, adimensional.
A Figura 4, expõe a correlação entre o PMV (FANGER, 1970) e os votos médios de sensação térmica
real dos ocupantes. Verificou-se que apenas 6,5% dos dados coincidiu com os valores propostos pela fórmula
de Fanger (1970). Esse valor indica que o modelo do PMV possui uma baixa representatividade para essa
pesquisa, corroborando que o modelo de Fanger seria representativo apenas em ambientes controlados pelo
pesquisador.

Figura 4 - Correlação entre PMV e votos médios de sensação térmica real.

Sendo:
PMV: voto médio predito, adimensional;
S: voto de sensação térmica real, adimensional.
p: probabilidade de significância, adimensional.
A Figura 5 representa a regressão linear feita para a zona bioclimática 5 (a e b), correspondente a
cidade de Sinop e 6 (c e d), correspondente a cidade de Primavera do Leste comparando a temperatura
operativa com os votos médios de sensação térmica dos ocupantes nos períodos de chuva e de seca.

(a) Período Chuvoso S = 0,2308Top - 5,6346 (b) Período Seco S = 0,0889Top - 2,2108
R² = 0,3503 R² = 0,163
Sensação Térmica (S)
Sensação Térmica (S)

3 3
p= 6,82 E-08 p = 1,5 E-03
2 2
1 1
0 0
-1 -1
-2 -2
-3 -3
19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29
Temperatura Operativa, Top (°C) Temperatura Operativa, Top (°C)

(c) Período Chuvoso S = 0,1089Top - 2,6522 (d) Período Seco S = 0,0252Top - 0,4872
R² = 0,1878 R² = 0,0033
3 3
Sensação Térmica (S)

Sensação Térmica (S)

p = 4,8 E-04 p = 4,5 E-02


2 2
1 1
0 0
-1 -1
-2 -2
-3 -3
19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29
Temperatura Operativa, Top (°C) Temperatura Operativa, Top (°C)

Figura 5 - Regressão linear entre a sensação térmica real e a temperatura operativa para zonas bioclimáticas 5 e 6.

1191
Sendo:
Top: temperatura operativa, em °C;
S: voto de sensação térmica real, adimensional;
p: probabilidade de significância, adimensional;
R²: coeficiente de determinação, adimensional.
As regressões lineares foram validadas pelos testes de Kolmogorov-Smirnov, indicando normalidade
dos resíduos, as análises de variância indicaram a significância das equações das regressões.
A Tabela 5 apresenta o resumo dos valores encontrados de temperatura de neutralidade e o coeficiente
“a” das equações de regressão para cada zona bioclimática, para as estações de chuva e seca.
Tabela 5 - Caracterização dos resultados das zonas bioclimáticas 5 e 6.
Temperatura de
Período Zona Bioclimática Coeficiente (a)
Neutralidade (°C)
5 0,231 24,4
Chuva
6 0,109 24,3
5 0,089 24,9
Seca
6 0,037 22,6

Optou-se analisar o conjunto das edificações, sem separação por tipologia construtiva ou roupas e
metabolismo, pelo fato de o objetivo da pesquisa ser determinar uma temperatura de neutralidade geral para
esses tipos de edificações, corroborado pelos resultados apresentados na Tabela 4.
O coeficiente “a” pode demonstrar a habilidade dos ocupantes de se adaptarem ao ambiente. Verifica-
se através da análise da Tabela 5 que houve grande variação desse coeficiente, tanto quando analisado entre
estações da mesma zona bioclimática, tanto avaliando entre as zonas bioclimáticas. Valores baixos desse
coeficiente indicam grande capacidade de adaptação dos usuários, como encontrado nessa pesquisa.
Os intervalos de aceitabilidade de temperatura não puderam ser determinados, pois apresentaram-se
extrapolados. Uma explicação deve-se aos baixos valores encontrados do coeficiente “a”. Acredita-se que a
obtenção desses intervalos tenha advindo da grande amplitude dos dados.

5. CONCLUSÕES
Através da realização de 247 medições e 2223 questionários válidos, foram obtidas as variáveis ambientais e
pessoais de edificações públicas, comerciais e de serviço climatizadas artificialmente, além de sensações e
preferencias térmicas dos usuários, o que possibilitou avaliar e comparar os resultados obtendo as
temperaturas de neutralidade de 24,6°C para a zona bioclimática 5 e 23,4°C para a zona bioclimática 6.
Por meio dessa pesquisa, foi possível perceber as divergências entre as pesquisas de campo e as
pesquisas realizadas em câmaras climatizadas, pois os resultados mostraram grandes variações entre as
sensações térmicas reais levantadas em campo e as calculadas pelo modelo do PMV de Fanger, mostrando
que esse modelo pode não ser tão preciso na região estudada. Notando assim, a importância de se realizar
pesquisas de campo.
Espera-se que por meio dessa análise possa ser possível oferecer aos ocupantes dessas edificações
melhores condições de conforto e que um retorno financeiro possa ser estabelecido através das temperaturas
de neutralidade.
Verificou-se que é possível determinar a temperatura de neutralidade para as zonas bioclimáticas
estudadas através das equações de regressão, apesar de não poder ser determinados os intervalos de
aceitabilidade. Porém, vale ressaltar que essas equações devem ser utilizadas somente para as zonas
bioclimáticas e os ambientes relacionados nessa pesquisa.
Ademais, juntamente com outras pesquisas realizadas no Estado de Mato Grosso, esse trabalho
contribui para a formação de estudos de conforto térmico do Estado e suas edificações, trazendo importantes
contribuições ao alcance do conforto térmico em ambientes reais de trabalho no Estado de Mato Grosso.

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1999.

1193
DISCONFORT LUMÍNICO Y TÉRMICO GENERADO POR LA
PROGRAMACIÓN DE LAS CLASES EN LA UNIVERSIDAD NACIONAL
DE COLOMBIA, SEDE MEDELLÍN

(1) Juan Pablo Arango*; (2) Luisa María Barrientos*; (3) Santiago Barahona*;
(4) Carolina Patiño Vasquez*; (5) David Palacio Zapata*
*
Estudiantes pregrado de Arquitectura -Universidad Nacional de Colombia.
(1) jupararangopl@unal.edu.co , (2) lmbarrientosm@unal.edu. co , (3) sbarahonas@unal.edu.co , (4)
cpatinov@unal.edu.co , (5) dpalacioz@unal.edu.co

RESUMEN
El confort térmico y lumínico en las aulas tiene un efecto significativo en el rendimiento académico de los
estudiantes, por tal motivo esta investigación cuantifica el disconfort acumulado por los estudiantes durante
los dos periodos académicos del año 2018 en la Universidad Nacional de Colombia; para ello se cruzaron
tres bases de datos que permiten cruzar información tanto administrativa como del espacio físico y
simulaciones de rendimiento lumínico y comportamiento térmico de las aulas, buscando que únicamente al
redistribuir las clases, mejoren las condiciones de habitabilidad y aprendizaje, sin generar cambios en la
infraestructura física. Los resultados obtenidos arrojan que las horas de disconfort sufridas las tuvieron que
soportar el 60% de la totalidad de estudiantes que habitan las aulas evaluadas, a su vez demuestran que entre
las 8:00 am y las 10:00 am la totalidad de las aulas se encuentran en condiciones de confort óptimo y que el
rango de disconfort mayor está entre las 12:00 pm y 5:00 pm. Esta tendencia permite considerar una
redistribución programática de las clases que aproveche el rango de confort de las aulas de estudio.
Palabras clave: Confort adaptativo, simulaciones dinámicas, distribución programática.

ABSTRACT
Thermal and visual comfort in classrooms have a significant effect on the academic performance of the
students, for this reason this research quantifies the discomfort experienced by the students enlisted in the
two academic periods of 2018 at the National University of Colombia; For this, three databases were crossed
that allowed to cross both administrative and physical information with simulations of light performance and
thermal behavior of the classrooms, hypothesizing that, with a redistribution of classes, there would be
improvement of habitability and learning conditions, without generating changes in the physical
infrastructure. The results obtained show that the hours of discomfort suffered were experienced by 60% of
the total number of students who study in the classrooms evaluated, which in turn show that between 8:00
a.m. and 10:00 a.m. there was optimal comfort conditions in the classrooms, and that the highest discomfort
range is between 12:00 pm and 5:00 pm. This tendency allows to consider a programmatic redistribution of
the classes that takes advantage of the comfort range of the classrooms.
Keywords: Adaptive comfort, dynamic simulations, program distribution.

1194
1. INTRODUCCIÓN
Actualmente la distribución de las actividades académicas en las aulas de la Universidad Nacional de
Colombia sede Medellín, son concebidas considerando variables de densidad máxima de estudiantes y
disponibilidad horaria que determina en gran cantidad de casos el uso ineficiente de las aulas disponibles,
muchas veces asignan las aulas con mejor iluminación a las clases con requerimientos de proyección o
asignando en las horas más calientes clases con numerosos estudiantes que termina en gastos energéticos por
uso de iluminación artificial, refrigeración o problemas de disconfort tanto térmico y lumínico, creando
posibles problemáticas como la disminución de la concentración, la incomodidad térmica y el
deslumbramiento; entorpeciendo así el proceso de aprendizaje.
Se desarrolla un estudio de caso en la Universidad Nacional de Colombia en la ciudad de Medellín,
que está ubicada en 6°14′N 75°34′O, a 1495 msnm. La latitud y altitud de la ciudad dan como resultado un
clima tropical monzónico (Am) templado y húmedo, con una temperatura promedio de 22°C, variando
anualmente entre mínimo 17°C y máximo 28°C. La humedad relativa entre 40% y 93% y la velocidad del
viento es de aproximadamente 6 m/s. (IDEAM, 2018).Donde se evalúan las aulas más representativas de dos
bloques, 21 y 46 con un total de 19 aulas, agrupadas en 8 tipologías.

Figura 2. De izquierda a derecha bloque 46 y 21 respectivamente

Figura 3. De izquierda a derecha planimetría bloque 46 y 21 respectivamente

Figura 4. Secciones bloque 46 y 21

Diversos estudios han determinado desde distintas perspectivas la relevancia temática aplicada en el
campo del confort térmico y lumínico para las aulas de clase; en primer lugar Matysiak (2004) fundamenta
su trabajo en la preocupación por los efectos en el rendimiento escolar a causa de la temperatura en el aula
pues se hace importante analizar el ambiente interior de estas y formas de disminuir los posibles efectos de
disconfort en los estudiantes. Otros autores como Wong; Khoo (2003) y Buratti; Ricciardi (2009) demuestran
el nivel de disconfort que puede generar el no tomar en cuenta estos valores ambientales y que a partir de
estos se puedan plantear modelos de correlación de datos para determinar rangos de aceptabilidad de confort
térmico en los usuarios. Se soporta en esta investigación como metodológicamente se cuantifican los valores
de disconfort en relación entre las personas y el lugar.
En el contexto local, Ortega (2014) realizó un estudio piloto de la caracterización térmica de dos
1195
aulas de la Universidad Nacional de Colombia mediante mediciones en sitio de temperatura, humedad y
simulaciones de ventilación, que pretendían buscar una reprogramación del horario de clases. Se concluyó
que horarios en la mañana y en tarde se encontraban en confort, mientras en medio día sufría problemas de
sobrecalentamiento. Este contó con bajo alcance al tener sólo dos aulas evaluadas, por lo que se hace
necesario una metodología que pueda ser aplicada al diagnóstico y organización a la totalidad de aulas con
las que cuenta un campus universitario.

2. OBJETIVO
Cuantificar el nivel de disconfort térmico y lumínico generado durante el año 2018, al programar las aulas de
la Universidad Nacional de Colombia sin priorizar las calidades ambientales de cada una de ellas, así poder
estimar el potencial de mejoramiento de confort de los estudiantes, en función de una nueva distribución
programática.

3. METODOLOGÍA
El desarrollo metodológico empleó como material de base la selección de bloques con características
espaciales similares como orientación, materialidad, tipología edilicia y planta arquitectónica; que permite
evaluar a partir de su similitud las diferentes condiciones de cada bloque con su entorno. Se toma en cuenta
la información administrativa que tiene la universidad para el planteamiento de la distribución de las clases,
tomando en cuenta el horario de cada clase y el dia para dictarse; a partir de lo mencionado se realizan
simulaciones dinámicas de temperatura operativa, rendimiento lumínico e ingreso solar que permiten la
integración de bases de datos para diagnosticar la problemática de disconfort de manera global.

3.1 Información física preliminar


Se realizó una revisión de la información planimétrica con el
fin de reconocer posibles tipos de:
Bloques: Los factores que se tuvieron en cuenta para la
definición de 2 bloques en el campus universitario fueron su
similitud en la ubicación norte - sur, la planta rectangular,
tipología de patio central, materialidad: estructura en concreto,
cerramiento en mampostería y vidrio, cuatro pisos y su
destinación especial a cursos teóricos.
Aulas: Se consideró para la definición de 8 tipologías,
el nivel de piso en el que se ubican, la orientación con respecto
a los puntos cardinales, las dimensiones del aula, el número y
tipo de ventanas y su disposición espacial respecto a cada uno
de los bloques (adosado, al lado de un corredor y la disposición
de sus fachadas).
Cursos: se encontró la clasificación de los cursos
divididos por dos categorías, teóricas y prácticas,
diferenciándose únicamente por el tipo de mobiliario utilizado
y la posible carga calórica por la interacción entre las personas
con sistemas electrónicos. Se
seleccionan únicamente cursos con destinación teórica y de
lunes a sábado. Figura 4. Bloque 46 y 21 dentro del campus.

3.2 Criterios de clasificación


Se hizo la integración de dos bases de datos que permiten cruzar información administrativa y del espacio
físico; con resultados de confort en las aulas. Éstas se organizan de la siguiente manera:
Cursos: Es la base de datos con la que se realiza la distribución programática día a día y hora a hora
en el semestre; presenta datos como el nombre del curso, cupo teórico del aula y número de inscritos en el
curso, el día en que se dicta, su hora de inicio y finalización, así como la nomenclatura de su ubicación física
en el bloque.

1196
Salones: Definición de 8 tipologías con el fin de acotar y agrupar las aulas para la modelación
energética y lumínica. En esta base de datos se encuentran, el nivel de piso, el número del salón, su
clasificación en tipo , la orientación, la existencia de superficie de sombreamiento o no, el tipo de actividad,
y promedio de inscritos.

Figura 5.Características Físico-espaciales de las Tipologías

Características físicas simuladas: A partir de la definición de tipologías se dieron los siguientes


datos; el tipo de salón, la fracción de ventana operable, metros cuadrados de ventilación adicional (no
translúcido), coeficiente de fricción de ventilación adicional, capacidad física de la tipología, y la ocupación
promedio.
Para el estudio realizado no se tiene en cuenta la orientación de las tipologías a pesar de que el
mayor ingreso solar sea por el sur, todas las aulas cuentan con dispositivos de sombreamiento por lo que los
resultados generan métricas similares entre tipologías.

1197
Figura 6: Tipologías Representativas simuladas bloque 46 y 21 respectivamente

3.3 Características de los modelos


Se tomó como unidad de estudio las aulas, por lo que se modelaron independientes como 1 zona térmica y
lumínica con las superficies de techo, piso y muros laterales como adiabáticas. Todos los parámetros
lumínicos y térmicos de este modelo, como coeficientes de reflexión de las superficies opacas, y los
coeficientes de Transmisión Visual, SHGC y Valor U de las superficies translúcidas se visualizan en la
Tabla 2:

Opacas Superfícies Reflectividad Valor R (SI) Translúcidas Superfícies Reflectividad SHGC U-Value
[W/m. K]
Muros Exteriores 0.5 1.5 Ventana 0.2 0.9 5.8
Muros Divisórios 0.5 -
Techo 0.6 -
Piso 0.3 -
Contexto 0.5 -
Tabla 2– Características de los materiales utilizados en la simulación computacional. Superficies sin valor R corresponden a
condiciones adiabáticas.

3.4 Métricas de evaluación


El rendimiento lumínico se evaluó empleando la Iluminación de Luz Día Útil (UDI) Nabil; Mardaljevic
(2006), esta es una métrica de disponibilidad de luz día que corresponde al porcentaje del tiempo ocupado
cuando la luz diurna cumple con un rango objetivo de iluminaciones en un punto de un espacio.
Para medir el ingreso solar se implementó la Exposición Solar Anual (ASE) Illuminating
Engineering Society (2013), que indica el porcentaje del plano de trabajo horizontal que excede un nivel de
iluminancia directa de la luz solar especificado, más un número específico de horas por año durante un
programa diario específico con todos los dispositivos de sombreado operables retraídos. En éste estudio se
presenta los valores de ASE en m2.
El desempeño térmico del aula se cuantificó empleando la Temperatura Operativa (To) resultante de
la simulación con EnergyPlus. Además, se cualifica el estado de confort filtrando la temperatura operativa
con respecto a los rangos de confort adaptativo antes mencionados.
Las luminancias de luz día en el rango de 100 a 300 lux se consideran efectivas ya sea como la única
fuente de iluminación o junto con la iluminación artificial. Las iluminaciones de luz diurna en el rango de
300 a alrededor de 2000 lux a menudo se perciben como deseables (MARDALJEVIC, 2006).
Con el propósito de conocer el número de estudiantes afectados, se calcula el Disconfort Acumulado
en Horas por el Estudiante (DAHE), relacionando las características dimensionales y proporcionales del aula
con su capacidad de ocupación y su condición de confort durante el transcurso del día; lo que permitió
relacionar el estado térmico del aula en horas específicas con el número de estudiantes que la ocupan en esas
horas determinadas. Esta métrica evidenciará entonces el número de personas que estarán en disconfort,
diferente al número de horas que estará en disconfort el aula.
A partir de estos dos análisis, se determina las franjas horarias del confort térmico y lumínico. Se
define un rango de confort térmico adaptativo a partir de los datos proporcionados por el plugin Ladybug
para Grasshopper que implementa una versión nativa de la herramienta Berkeley Confort Tool, CBE (2017).
Se concluye que, para la semana más caliente el rango de confort se encuentra entre 22,3°C y 27,3°C y para
la semana más fría entre 21,56°C y 26,62°C, rangos con los cuales es posible estimar los horarios en
estado de disconfort.
Se utilizaron programas de simulación paramétricos implementando EnergyPlus (NREL, [s.d.])
1198
como motor térmico siendo una de las herramientas de simulación más eficientes y confiables que modela
intercambios energéticos entre diferentes superficies teniendo en cuenta la multiplicidad de variables; y
Radiance (WARD, [s.d.]) como motor de iluminación de luz día; ambos integrados en los plugins de
Ladybug y Honeybee Roudsari, Sadeghipour(2009).Posteriormente fueron analizados y graficados los
resultados haciendo uso de programas de hojas de cálculo.

3.5 Simulaciones
Se ejecuta una revisión sobre el comportamiento térmico y lumínico de las tipologías de salones obtenidas,
con el fin de generar un promedio para cada día y época del año; para reconocer el disconfort que se presenta
en cada espacio. Para los resultados térmicos se simularon las semanas más críticas según lo obtenido en el
archivo climático recolectado en dos semanas; es decir 7 días que se promedian hora a hora para obtener los
rangos más extremos; la semana más fría y la más caliente; para tener dos series de 11 datos en 11 horas
analizadas, dando como resultado un total de 22 datos para el análisis térmico.
Para el análisis lumínico y solar se toman 2 días de cada mes (1 y 15), exceptuando los días entre
enero y diciembre al no presentar actividad académica, evaluando 11 horas por día y promediando la
información de estos 20 días para determinar el promedio del salón en todo el año.

3.5.1. Variables
Se identificaron tres variables globales: Tipología de Aula, condiciones de sombreamiento y orientación que
generaron un total de 32 simulaciones permitiendo explorar las 19 aulas estudiadas.
1) 8 Tipologías de Aula donde se determina sub-variables como capacidad promedio, coeficiente de
apertura de ventana, coeficiente de fricción de ventilación y área de ventilación adicional.
2) 2 Condiciones de sombreamiento donde se determina si el aula posee sombra por efectos del
contexto o no; es decir si se encuentra cerca a otros edificios o si el aula específicamente por su
ubicación espacial dentro de la edificación está posicionado en un lugar que pueda generar un
sombreamiento adicional.
3) 2 Orientaciones determinadas en este caso por la disposición Norte-Sur.

4. RESULTADOS Y DISCUSIONES
Con el fin de entender los resultados globales del estudio, se presentarán los datos térmicos y lumínicos
obtenidos por las simulaciones de la semana más caliente, siendo más pertinentes en nuestro contexto
geográfico. En cuanto al comportamiento térmico, se hace evidente como entre las 8:00 am y las 6:00 pm
las aulas se encuentran en un ambiente de disconfort, con algunos casos donde la zona de confort se extiende
hasta las 10:00 am, como en la tipología C. Con respecto a la información lumínica se presenta que las
únicas horas que se encuentran debajo del confort visual es en las horas de la tarde (5:00 pm a 6:00 pm), y de
la mañana (6:00 am a 7:00 am) (Figura 7 y 8). De esto inferimos que, para optimizar el nivel de confort de
las tipologías, es necesario utilizar la mayor cantidad de ocupación en el mejor rango horario térmico (6:00
am a 8:00 am), y disminuir las clases que se encuentran entre las 12:00 am a 4:00 pm.

1199
Figura 7 y 8. Representación de los valores de disconfort térmico y lumínico en un día típico.
En rojo, las horas en disconfort.

Se encuentra entonces que, en promedio, de las 12 horas en que hay


disponibilidad lumínica para dictar clase (6:00 am a 6:00 pm), 8 de ellas
están en disconfort térmico, y 3 en lumínico, por lo cual el análisis de estos
datos se enfocara en el disconfort térmico, dado que el disconfort lumínico
es causado principalmente por el contexto geográfico del estudio. Si los
estudiantes inscritos se distribuirán equitativamente en estas condiciones,
60% de ellos estarían afectados. Sin embargo, tanto la distribución de las
clases en las distintas tipologías como la infraestructura de estas aumentan el
porcentaje de disconfort al que se ven expuestos los estudiantes, como en el
caso de la tipología H, que posee un porcentaje de ocupación (relación del
número de estudiantes con capacidad física del aula) del 98.86%, siendo esta
la tipología que presentó un porcentaje de mayor tiempo en disconfort
lumínico y térmico.

Al cruzar estos datos con las bases de datos de ocupación de los


bloques, se demuestra que en total un tercio de las clases dictadas entran en
las horas de disconfort. Sin embargo, la ocupación de las horas de mayor
confort térmico no son optimizadas. Como fue previamente mencionado, en
el mejor de los casos la distribución de las clases implicaría que aquellas que
poseen la mayor cantidad de estudiantes se encontrarán en las horas de la
mañana, representando un porcentaje de tiempo ocupado (Figura 11). En
total, se presenta un aumento de disconfort de 6.8% en las clases dictadas,
sin contar el número de estudiantes. Figura 9 y 10. Porcentaje de
disconfort térmico y lumínico
total en las aulas.

1200
Figura 11. Porcentaje de disconfort térmico causado por la distribución administrativa

Se pueden llevar a cabo otros cambios en la distribución administrativa de las clases; actualmente en
todas las tipologías no se optimizan las horas de mayor rendimiento térmico, tanto las horas de la mañana
como de la tarde; están llegando a un 49.75% de rendimiento, generando que el 32.82% de las clases
dictadas están en horas de disconfort cuando se podrían redistribuir.

Figura 13. Porcentaje de disconfort térmico causado por la distribución administrativa

Figura 12. Comparación disconfort generado actual (derecha) con disconfort generado por propuesta (izquierda). En rojo, las horas
en disconfort.

1201
Desde las tipologías, se observan los horarios
donde se podría mejorar la situación de los
estudiantes. Tomando como ejemplo la tipología A
(figura 13), que se compone por dos aulas y un
número de inscritos en promedio de 140 por hora, de
las cuales ninguna tiene programación de clase el día
lunes a ninguna hora del día, condicionado por el
número de lunes festivos que genera de manera
significativa pérdida de clases; mientras que para el
día viernes se tienen programadas clases a todas las
horas del día. Hablando de la totalidad de estudiantes
comparando por días hay una relación de que el día
lunes hay un total de 433 estudiantes a un promedio
de 2391 para el resto de los otros cuatro días que se
resume además en la cantidad de horas y de tipologías
ocupadas.
Se podría plantear el usar las horas óptimas de
confort del día lunes de esta tipología para desplazar
las clases del día viernes que no están en condiciones
óptimas y así disminuir el disconfort durante todo el
semestre. Esta condición es repetitiva en casi todas las
tipologías estudiadas en las que por días;
especialmente las del día lunes, donde las clases que
están programadas se encuentran en las horas más Figura 13. Cantidad de capacidad posible y actual de
críticas del día; es decir entre las 12:00 am a 4:00 pm. habitantes en la tipología A. Disconfort representado en rojo.

De acuerdo a los resultados obtenidos y en búsqueda de soluciones al producto de la cuantificación


del nivel de disconfort sufrido por los estudiantes en el año 2018, es posible plantear un nuevo horario en
donde el inicio de la jornada académica comience a las 7:00 am en vez de las 6:00 am para algunos salones
de los bloques analizados que no presentan las mejores condiciones de confort especialmente entre las 12:00
am del medio día y las 4:00 pm ,tomando como referencia que entre las 7:00 am y las 9:00 am son las horas
más óptimas en condiciones tanto lumínicas como térmicas y de menor gasto energético. Al desplazarse el
horario se tendrán dos jornadas de horarios en la tarde en vez de tres; siendo este el peor momento del día.
Lo que evidencia la falta de distribución en los horarios de la Universidad Nacional es que algunas aulas se
encuentran desocupadas a horas en las que están en condiciones óptimas de confort. Dando un ejemplo, la
clase de Inglés clasificada en la tipología D, está programada en la mañana de 6:00 am a 8:00 am y de 8:00
am a 10:00 am. Se puede plantear que se realicen las mismas dos clases pero que comiencen una hora
después, es decir a las 7:00 am para así evitar un consumo energético adicional y posible disconfort lumínico
causado por la falta de iluminación en las primera hora de la mañana o proponer en su defecto que sean
programadas a estas primeras horas, clases que requieran el uso de video beam y la falta de luz natural no
afecte el desarrollo de la misma.
Estas respuestas administrativas que buscan reducir el disconfort sufrido por los estudiantes durante
todo el periodo académico se complejizan al cruzarse con los otros fines de la distribución actual: Los
horarios de los estudiantes y profesores, la pérdida o dificultad de las clases de los días lunes por los días
festivos y sábados por el mismo funcionamiento de la universidad, el aumento del consumo energético al
redistribuir las clases hacia las horas de la tarde y la mañana, y la capacidad total de las aulas, debido a la
diferencia de ocupación que ponen en cuestión la jerarquía que debería poseer el confort dentro de los
procesos administrativos de las universidades y sus clases.

5. CONCLUSIONES
Para lo térmico: La población estudiantil que tuvo clase en los dos edificios estudiados durante el año 2018
tuvieron que soportar 234 horas de disconfort térmico;110 para las tipologías representativas del bloque 46 y
124 para el 21, sin embargo, si se plantea redistribuir las clases según sus horarios más óptimos: de 8:00 am -
10:00 am 4:00 pm - 6:00 pm, se puede reducir 14 horas de disconfort térmico.
Para lo lumínico: Ambos bloques estudiados se encuentran en posición norte a sur, en resultados se
evidencia con porcentajes de UDI de 84% de optimización, lo que no representa un problema de
1202
deslumbramiento, teniendo en cuenta otros factores como los aleros de la edificación, representado un
0.46m² en ASE, un valor casi despreciable; para las aulas con insuficiencia lumínica la redistribución
horaria, podría asignar clases que sean compatibles con sus condiciones lumínicas; para así evitar el uso
inadecuado de blackouts en aulas con eficiencia lumínica.
Los datos generales del estudio arrojan que de las 479 clases. teniendo en cuenta las 8 tipologías
establecidas, 259 se encuentran en el rango de disconfort y 220 en el rango de confort adaptativo,
considerando tanto el confort térmico como lumínico. Si se modifican los horarios de tan solo el 22% de
clases para reubicarlos de salón, en el año 2018 se hubiera podido reducir el porcentaje de estudiantes
afectado en un 60% que representan una cantidad total de 8000 estudiantes enfrentado al total de estudiantes
del campus universitario que es de 12000 estudiantes; es decir, que la población afectada hubiera podido ser
reducida a sólo un tercio.

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2003.

AGRADECIMIENTOS
El presente trabajo de investigación fue realizado bajo la supervisión del profesor Jorge Hernán Salazar
Trujillo; a quien expresamos un agradecimiento muy especial por hacer posible la realización de este trabajo.

1203
EFEITO DE ORIENTAÇÃO DE JANELA NO AMBIENTE TÉRMICO E NA
PERCEPÇÃO DO USUÁRIO
Eduardo Krüger (1); Livia Yu Iwamura Trevisan (2); Gabriel Celligoi (3); Sergio Leandro
Batista Junior (4); Deize Lellys da Silva (5); Cintia Akemi Tamura (6); Clarisse di Núbila (7);
Rodrigo José de Almeida Torres Filho (8); Daniele Abe Ribeiro (9)
(1) Doutor em Arquitetura, Professor do Departamento acadêmico de construção civil, ekruger@utfpr.edu.br
(2) Doutoranda em Engenharia Civil, Arquiteta e Urbanista, livia.iwamura@gmail.com
(3) Mestrando em Engenharia Civil, Arquiteto e Urbanista, gabrielcelligoi@gmail.com
(4) Engenheiro Civil, sergioleandrobj@gmail.com
(5) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, laylahh22@gmail.com
(6) Doutora em Tecnologia, Arquiteta e Urbanista, cintiatamura@gmail.com
(7) Mestranda em Engenharia Civil, Engenheira Civil, clarissedinubila@yahoo.com.br
(8) Doutorando em Engenharia Civil, Engenheiro Civil, rodrigotorresfilho@yahoo.com.br
(9) Mestranda em Engenharia Civil, Engenheira Civil, danielaberibeiro@gmail.com
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil
(PPGEC), Rua Deputado Heitor Alencar Furtado, 5000, Ecoville, Curitiba-PR, (41) 3279-6800

RESUMO
No desenho bioclimático, estratégias como o uso de envelope solar ressaltam a importância de fachadas
equatoriais de modo a favorecer ganhos térmicos, uso de iluminação natural e aproveitamento energético
pela edificação, recomendando um “volume de desobstrução solar” para tais fachadas. Em Curitiba, o
mercado imobiliário se utiliza da orientação da fachada norte na diferenciação do valor do imóvel ou, no
mínimo, como argumento de venda, sendo que tal estratégia vem sendo aplicada em outras cidades do sul do
Brasil. Em vista disso, o presente artigo analisa o efeito da orientação solar em termos de desempenho
térmico e na percepção do ocupante em dois ambientes termicamente equivalentes, porém com orientações
solares opostas da fachada com janela. Para isso, faz-se uso de técnicas de Avaliação Pós-Ocupação (APO) e
medições de desempenho em ambientes-teste de mesma escala e proporção, submetidos a condições
climáticas de inverno em Curitiba, PR. Os resultados das medições objetivas de desempenho foram
corroborados pela percepção dos usuários, comprovando-se o benefício térmico de fachadas com janela
voltadas para norte em situação de inverno em Curitiba. Orientações solares opostas da janela mostraram
alterações na temperatura do ar e das superfícies internas, com efeitos no perfil vertical de temperatura e nos
níveis de desempenho, mesmo para condições de uso de persiana, sem ganhos diretos no ambiente.
Resultados da APO indicaram desconforto por calor mais acentuado para a fachada norte, comprovando
dados objetivos coletados.
Palavras-chave: desempenho térmico, monitoramento térmico, avaliação pós-ocupação, câmaras climáticas.

ABSTRACT
In bioclimatic design, strategies such as the use of solar envelope emphasize the importance of equatorial
façades in order to promote thermal gains, use of daylight and energy generation, and recommending
unobstructed solar access for such façades. In Curitiba, the real estate market uses the north façade
orientation for differentiating property value or, at least, as a sales argument; such strategy is usually applied
in other cities in southern Brazil. In this context, the present article analyzes the effect of solar orientation in
terms of thermal performance and occupant perception in two thermally equivalent environments, but with
opposite solar orientations of the window façade. For this, techniques of Post-Occupancy Evaluation (POE)
and performance measurements were employed in test environments with same scale and proportion,
exposed to winter climatic conditions in Curitiba, PR. Results of the objective measurements were
corroborated by the perception of the users, proving the thermal benefit of north-facing window façades in
winter in Curitiba. Opposite solar orientations of the window showed changes in air and internal surface

1204
temperatures, with effects in the vertical profile of temperature and in thermal performance levels, even for
window configurations with closed shutters, thus without direct gains in the environment. POE results
indicated more pronounced heat discomfort for the northern façade, corroborating objective data outcomes.
Keywords: thermal performance, thermal monitoring, post-occupancy evaluation, climate chambers.

1. INTRODUÇÃO
A orientação de fachadas com abertura sabidamente afeta as condições de conforto internas de uma
edificação. No Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edifícios
Comerciais, de Serviços e Públicos (RTQ-C), no âmbito do programa brasileiro de etiquetagem, o fator
orientação é devidamente reconhecido e, em seu Manual de Aplicação (versão 4.1), o assunto ‘fachadas’
inicia com um método a ser utilizado pelo projetista na definição das fachadas predominantes da edificação.
No regulamento, a fachada oeste merece tratamento especial (sendo um dos fatores avaliados o percentual de
área de aberturas na fachada oeste ‘PAFo’), devido à carga térmica envolvida no período vespertino.
No caso do desenho bioclimático, estratégias como o uso de envelope solar ressaltam a importância de
uma fachada equatorial de modo a favorecer ganhos térmicos, uso de iluminação natural e aproveitamento
energético pela edificação, recomendando um “volume de desobstrução solar” para tais fachadas
(KNOWLES, 2003). Do ponto de vista térmico, em regiões subtropicais ou em latitudes altas, o espaçamento
entre edificações com vistas a privilegiar fachadas equatoriais pode significar economia de energia em
sistemas de climatização (ABANDA; BYERS, 2016). No caso de Curitiba, por exemplo, alterações na
implantação de uma moradia do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) podem significar variações
de até 3% na demanda por aquecimento anual, equivalente a aumentos da espessura da parede ou de seu
revestimento interno (DÖRFLER; KRÜGER, 2016).
Em Curitiba, o mercado imobiliário se utiliza da orientação da fachada norte na diferenciação do valor
do imóvel (APOLAR IMÓVEIS, 2019) ou, no mínimo, como argumento de venda. Tal estratégia vem sendo
aplicada em outras cidades do sul do Brasil. Em vista disso, o presente artigo analisa o efeito da orientação
solar em termos de desempenho térmico e na percepção do ocupante em dois ambientes termicamente
equivalentes, porém com orientações solares opostas. Para isso, faz-se uso de técnicas de Avaliação Pós-
Ocupação (APO) e medições de desempenho.
Define-se a APO como uma análise da efetividade de ambientes ocupados por usuários (ZIMRING;
REIZENSTEIN, 1980). O termo APO refere-se a uma série de técnicas aplicadas ao longo do uso do
ambiente, para avaliar seu desempenho sob a perspectiva de especialistas e usuários. A partir da APO
elabora-se um diagnóstico dos aspectos funcionais do ambiente, bem como dos sistemas de construção e
manutenção, conforto ambiental e da relação do comportamento humano com o meio construído
(ORNSTEIN, 2005). Diferentemente de avaliações de desempenho físico realizadas em institutos de
pesquisa, a APO toma por base o nível de satisfação e/ou o atendimento das necessidades dos usuários. A
aplicação de testes psicológicos em conjunto com a APO permite relacionar o desempenho cognitivo do
usuário às condições ambientais. Essa técnica é difundida na psicologia ambiental, a exemplo dos estudos
sobre a relação entre conforto térmico, desempenho em termos de produtividade (LAN; WARGOVKI;
LIAN, 2011) e respostas fisiológicas (LAN et al., 2011).
Embora trabalhos apresentados no ENCAC já tenham abordado estudos de desempenho termo-
energético relacionados à orientação solar em edificações, esses estudos, em sua maioria, se baseiam em
simulações computacionais, nas quais a orientação figura como um dos parâmetros testados (QUADROS;
ORDENES, 2017; PACHECO; SCHAEFER; GHISI, 2017; PINTO; WESTPHAL, 2017; SOARES; SILVA;
CUNHA, 2017; FONSECA et al., 2017). Considerando as dificuldades inerentes de se realizar
monitoramentos térmicos em um mesmo ambiente, porém sob diferentes condições de exposição solar da
fachada com janela, a plataforma criada para o presente estudo facilita tal análise, valendo-se de ambientes-
teste em mesma escala e proporção, submetidos a condições climáticas reais.

2. OBJETIVO
O objetivo do artigo é analisar o efeito da orientação solar em termos de desempenho térmico e na percepção
dos ocupantes de dois ambientes termicamente equivalentes, com orientações solares opostas.

3. MÉTODO
O estudo foi realizado na “Câmara Bioclimática de Baixo Custo” (CBBC), localizada em Curitiba, PR
(TREVISAN et al., 2018). A CBBC é composta por dois módulos independentes de 5,4m², providos de um
sistema de rotação manual que possibilita orientá-los para pontos cardeais distintos, característica a ser
explorada em pesquisas futuras. No presente trabalho, são analisadas exclusivamente as orientações Norte e
1205
Sul. Além disso, a manutenção da configuração original do Módulo de Controle (MC) e a possibilidade de
alteração da envoltória do Módulo Experimental (ME) é outro atributo a ser explorado em pesquisas
comparativas, sob a influência das mesmas condições climáticas – como, por exemplo, em estudos de
percepção de conforto no ambiente construído.
Neste estudo, adotou-se a seguinte orientação geográfica: em MC, a fachada com janela foi orientada
para Norte, ao passo que em ME, a mesma fachada foi orientada para Sul, conforme ilustrado na Figura 1
(A). A foto aérea foi registrada às 11h30 da manhã, em 06 de maio de 2018 - data que corresponde
exatamente ao meio da estação de outono, que tem início em 20 de março e vai até o solstício de inverno, em
21 de junho.

Árvores N
H ≈ 12-15m Chapa de aço corten
(#2mm)

Poliuretano expandido
(#15mm)

Painel Wall (#55mm)

Câmara de ar (#45mm)
MC
Painel OSB (#11,1mm)
ME
Painel gesso acartonado
Edificação (#12,5mm)
A B
H ≈ 24m
A A
Figura 1 - CBBC: (A) orientação geográfica de MC e ME; (B) detalhe da envoltória (Autoria própria, 2019).

Quanto à vista da janela de MC, nota-se na Figura 1 (A) que não há obstruções provenientes da via
externa, do recuo frontal ou do estacionamento. Cumpre destacar que a base das janelas está 1,85m acima do
nível do piso externo, altura correspondente ao somatório da estrutura do sistema de rotação (H=0,60m), da
estrutura do piso (H=0,20m) e do próprio peitoril da janela (H=1,05m). Com isso, veículos de passeio que
estiverem no estacionamento não chegam a sombrear a janela ou obstruir a visão do ocupante do módulo.
Em contrapartida, a orientação Sul da janela de ME faz com que a vista seja parcialmente obstruída por uma
edificação de quatro pavimentos. Tanto MC quanto ME situam-se a cerca de 10m dessa edificação. No
exterior do prédio há uma escada em estrutura metálica, a cerca de 6m de distância de ambos os módulos.
No projeto da CBBC, os pontos de partida foram: atendimento às exigências legais; exposição das
câmaras ao meio externo; módulos walk-in possibilitando uso como ambiente de escritório e a padronização
da construção em container. Para este estudo, ressalte-se a premissa de rotação independente dos módulos
para estudos de orientação solar, tendo-se optado por um sistema de rotação manual, com eixo central fixado
sobre um bloco estrutural de concreto.
A concepção da CBBC partiu da NBR 15220-3/2005: Desempenho térmico de edificações, a qual
define o Zoneamento Bioclimático brasileiro e estratégias construtivas para otimizar o desempenho térmico
da edificação (ABNT, 2005). No Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética
de Edificações (RTQ), por sua vez, são avaliados os sistemas de iluminação e de condicionamento de ar e a
interface da edificação com o exterior (PROCEL, 2013). Com base no RTQ, o dimensionamento da
envoltória da CBBC foi norteado pelo cálculo da Transmitância (U) e da Capacidade Térmica (CT).
A comparação foi realizada nos dois módulos, de forma independente, porém simultânea. As
características da envoltória são apresentadas na Tabela 1 e Figura 1 (B). Buscou-se atingir uma envoltória
equivalente em todas as faces do módulo - sendo a composição das quatro paredes e da cobertura idêntica.
Tabela 1 - Caracterização da envoltória da CBBC (Autoria própria, 2019).
Materiais da envoltória (espessura em mm)
U CT
Vedação Aço PU Painel Camada Gesso Piso Madeira
OSB [W/(m².K)] [kJ/(m².K)]
corten expandido Wall* de ar acartonado vinílico naval
Paredes 2,00 15,00 55,00 11,10 45,00 12,50 - - 0,87 122,54
Cobertura 2,00 15,00 55,00 11,10 45,00 12,50 - - 0,87 122,54
Piso - 15,00 55,00 - - - 3,00 28,00 1,00 121,95
* Painel Wall: sanduíche de placas cimentícias (4,00mm), com miolo em aglomerado de madeira
A janela é em vidro temperado (1,40m × 0,90m) e tem uma folha fixa e outra folha de correr.
Descontando o caixilho e a sobreposição de folhas, as áreas de iluminação natural (1,26m²) e ventilação
natural (0,63m²) satisfazem os requisitos da Resolução SESA nº 318/2002 (PARANÁ, 2018). O

1206
dimensionamento das aberturas também levou em conta parâmetros estabelecidos por normas como a NBR
15220-3/2005 e a NBR 15575/2013.

3.1. Clima local


Curitiba (25°25’40” S, 49°16’23” W, 934 m – IBGE, 2019) está situada na região Sul do Brasil e possui
clima temperado marítimo úmido (Cfb), segundo a classificação de Köppen-Geiger. Insere-se na Zona
Bioclimática 1 (ZB1), sendo a capital mais fria do país (ABNT, 2005). Trata-se de um tipo climático
mesotérmico, subtropical, com verões frescos, sem estação seca e com ocorrência frequente de geadas
severas no inverno (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007). Segundo as normais climatológicas de
Curitiba no período de 1981-2010, a precipitação média anual é de 1575,8 mm e a temperatura média anual
(TMA) é de 17,4°C, sendo fevereiro o mês mais quente (TMM=21,0°C) e julho o mês mais frio (TMM=13,5°C)
(INMET, 2018).

3.2. Avaliação de desempenho térmico


Testou-se a influência da orientação solar no desempenho térmico dos dois módulos da CBBC, sendo MC
voltado para norte e ME, voltado para sul. Complementarmente, no mesmo período de monitoramento,
procurou-se avaliar se o comportamento térmico de ambos os módulos era compatível para uma mesma
orientação solar. A avaliação do efeito da orientação solar, ou seja, comparando-se MC e ME, se deu entre
22 e 29 de junho de 2018 enquanto que o balizamento em relação ao comportamento térmico dos módulos da
CBBC ocorreu entre 30 de junho e 13 de julho de 2018, com ambos os módulos com fachada com janela
voltada para norte. Nas duas condições, duas opções foram monitoradas: módulos com persiana interna
fechada e aberta.
Além das diferenças entre temperaturas internas nos módulos e relativamente às condições externas,
adotaram-se níveis de desempenho térmico conforme a NBR 15575-1/2013.
Os equipamentos usados foram previamente equalizados a partir da média dos registros em ambiente
termicamente estável. A Tabela 2 apresenta os tipos de sensores, posicionamento e variável de interesse
medida em cada módulo. O intervalo de medição foi de 5 minutos, sendo os dados posteriormente tratados
em base horária. Externamente, dados referenciais de temperatura foram obtidos a partir da estação Curitiba-
A807 (Código OMM: 86933) da Rede do INMET.
Tabela 2 - Instalação de sensores em MC e ME
Posição Variável MC ME
1,70m TA, UR Hobo Temp/RH H08-003-02 N3/N4 Hobo Temp/RH H08-003-02 N1
1,20m TA TagTemp Stick Novus N5 TagTemp Stick Novus N3
1,10m TG Globo com Hobo Temp U10-001 N4 Globo com Hobo Temp U10-001 N3
1,10m TA Hobo Temp U10-001 N2 Hobo Temp U10-001 N1
0,60m TA, UR Hobo Temp/RH H08-003-02 N2 TagTemp Stick Novus N2
0,10m TA TagTemp Stick Novus N4 TagTemp Stick Novus N1
Teto TagTemp-NFC Novus N6 TagTemp-NFC Novus N3
Parede 1 TagTemp-NFC Novus N5 TagTemp-NFC Novus N2
TS
Parede 2 Sensor Hobo Pro V2N4 Sensor Hobo Pro V2 N3
Piso TagTemp-NFC Novus N4 Sensor Hobo 12-Bit S-THB-M002 N1
Onde: TA é a temperatura do ar (°C), UR é a umidade relativa (%, TG é a temperatura de globo (°C) e TS é a temperatura de
superfície (°C). Alturas dadas conforme a ISO 7726/1998 e a ANSI/ASHRAE Standard 55/2017.

3.3. Avaliação Pós-Ocupação


Utilizou-se a APO na análise das condições de conforto proporcionadas pelos módulos em situações opostas
de acesso solar. A população de uma edificação pode ser fixa e/ou flutuante, conforme o tempo de
permanência e a familiaridade dos ocupantes com o ambiente. Considerando que a CBBC é um laboratório
de experimentos acadêmicos, o enquadramento dos participantes da APO pode ser entendido como
população flutuante. Contudo, cada módulo da CBBC foi mobiliado de modo análogo a um escritório,
perfazendo condições adequadas para que a pessoa ficasse no ambiente e realizasse a APO, como se fosse
parte da população fixa.
O projeto de pesquisa “Avaliação Pós-Ocupação em Câmara Bioclimática de Baixo Custo” foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UTFPR em 09 de agosto de 2018, sob o Certificado de
Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) nº 92497018.5.0000.5547. A APO CBBC considerou a
participação de um número mínimo de 120 voluntários conforme definição da amostra mínima, distribuídos
em duas amostras de 60 pessoas (uma amostra para cada módulo da CBBC). A amostra consiste de alunos
dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e de Engenharia Civil da UTFPR, cursos com foco no estudo do
1207
ambiente construído. A APO foi realizada de 21 a 31 de agosto de 2018, conciliando o calendário acadêmico
com um período com predomínio de frio, levando em conta as normais climatológicas de Curitiba em 1981-
2010 (INMET, 2018). Durante a APO, adotou-se o protocolo de operação descrito na Tabela 3.
Tabela 3 - Protocolo de operação da CBBC, durante a APO
Elemento Configuração inicial Ação do participante
Módulo de controle Janela orientada para Norte Ajuste não permitido
Módulo experimental Janela orientada para Sul Ajuste não permitido
Portas de madeira e metálica Fechadas Abrir se necessário
Janela Fechada Ajuste permitido
Persiana Aberta até metade da altura da janela Ajuste permitido
Sistema de climatização Ativado apenas no modo ventilação, velocidade alta, função swing Ajuste não permitido
Sistema de iluminação Complementação da iluminação natural Ajuste não permitido
Instrumentos de medição Monitoramento TA, TRM, UR, TCOR, E Ajuste não permitido
Cadeira Assento, encosto, apoio de braços Ajustes permitidos
Alimentação Garrafa d’água e barra de cereal Alimentação permitida

Conforme indicado na Tabela 3, a iluminação natural foi complementada com iluminação artificial,
cuja temperatura de cor (TCOR) era alterada gradativamente, de forma a compensar a dinâmica da insolação.
Essa configuração partiu da correlação entre fonte luminosa e TCOR equivalente (ROCHA, 2010). Para tal, foi
utilizado o aplicativo Hue Pro (PRISMATIC, 2016), com a alteração dos padrões de iluminação de hora em
hora, das 8h00 às 18h00. Adotou-se a mesma configuração em ambos os módulos.
De modo a assegurar aclimatação no curto prazo, segundo critérios da NBR 16401/2008 e da
ANSI/ASRAE Standard 55/2017, sendo recomendável estar no ambiente há pelo menos 15 minutos, os
participantes completaram o Teste Psicológico G-38, um teste não verbal de inteligência com 38 questões em
ordem crescente de dificuldade, sobre compreensão de relação de identidade e raciocínio por analogia
(BOCCALANDRO, 2003). Os resultados do Teste G-38 estão sendo utilizados em estudo paralelo, no qual
que condições ambientais são relacionadas à capacidade de raciocínio. O tempo total de cada participante
nos módulos foi de aproximadamente meia hora, sendo 20 minutos dedicados ao Teste G-38 e 5-10 minutos
ao Questionário de APO.
Quanto ao Questionário de APO, elaborou-se um questionário personalizado para a APO da CBBC,
abordando questões interferentes na atividade do ocupante, nas áreas do conforto térmico, lumínico, acústico
e funcional tomando-se por base as seguintes referências: ISO (1995), LiTG (2018), Riccardi e Buratti
(2018), Gomes (2007) e Resende (2011). O questionário proposto foi validado e testado antes de sua
aplicação com turmas da pós-graduação da universidade, sendo este aperfeiçoado e sua consistência interna
avaliada pelo Coeficiente Alfa de Cronbach. Durante a APO, este foi aplicado online a partir de uma rotina
computacional dedicada, na qual se definiu o tempo exato para início de preenchimento.
Paralelamente à APO, realizou-se o monitoramento das condições térmicas internas. Cumpre
ressaltar que o interior da CBBC estava em temperatura ambiente, com o equipamento de ar condicionado
em modo ventilação apenas, assim suscetível a variações das condições climáticas externas. As variáveis
climatológicas (TA, UR) foram monitoradas complementarmente por um datalogger HOBO, modelo Temp
U10-001, posicionado a 2m do solo. O monitoramento interno foi efetuado por diversos equipamentos, os
quais são apresentados na Tabela 4.
Tabela 4 - Instalação de sensores em MC e ME
Posição Variável MC ME
1,70 TA TagTemp Stick Novus N2 TagTemp Stick Novus N4
1,10 TA, UR Sensor e Estação Hobo N2 Sensor e Estação Hobo N1
1,10 TRM Globo com datalogger Hobo N2 Globo com datalogger Hobo N1
0,10 TA TagTemp Stick Novus N1 TagTemp Stick Novus N3

4. RESULTADOS
Apresentam-se separadamente os resultados da avaliação térmica e, em seguida, da APO.
4.1. Avaliação de desempenho térmico
A similaridade do comportamento térmico nos dois módulos para uma mesma orientação solar mostrou
resultados satisfatórios (Figuras 2 e 3), expressos na Tabela 5 como coeficientes de correlação (R), Raiz do
Erro Quadrático Médio (RMSE) e erro médio (Ē) entre MC e ME.

1208
Figura 2 - Boxplot de temperaturas internas para orientações iguais com persiana aberta

Figura 3 - Boxplot de temperaturas internas para orientações iguais com persiana fechada
Tabela 5 - Comparativo de temperatura do ar entre os módulos
persianas abertas
Posição/variável 0,10 m 0,60 m 1,10 m 1,70 m
R 0,99 0,99 0,99 0,99
RMSE 0,75 0,56 0,55 0,62
Ē -0,13 0,11 -0,07 -0,23
persianas fechadas
Posição/variável 0,10 m 0,60 m 1,10 m 1,70 m
R 1,00 0,99 0,99 0,97
RMSE 0,19 0,36 0,30 0,43
Ē 0,09 0,23 0,13 0,11

Tanto com a persiana aberta como fechada, os coeficientes de correlação entre temperaturas
registradas nos módulos situaram-se acima de 0,98, indicando o comportamento térmico similar entre os
módulos. O RMSE, na maioria das situações esteve abaixo ou próximo à precisão dos equipamentos
utilizados. Enquanto que, no caso da persiana aberta, eventuais sombreamentos do entorno (árvores distantes
a oeste) podem ter acarretado pequenas diferenças de temperatura entre os módulos; com a persiana fechada,
é possível observar menos variações térmicas entre eles. Tomando por base a situação com persiana aberta,
com ganhos solares diretos pela janela, a temperatura do ar mínima registrada a 1,10m do piso nos módulos
esteve aproximadamente entre 3°C a 4°C acima da temperatura mínima registrada internamente, atingindo o
desempenho mínimo ‘M’ (mínimo) pela NBR 15575-1. Já em relação aos módulos com persiana fechada,
considerando as máximas internas a 1,10m, a redução da máxima externa supera 2°C, o que classifica o
desempenho dos módulos como ‘I’ (intermediário).
A Figura 4 apresenta resultados em termos de TA a 1,10m do piso para os módulos em orientações
opostas, com persianas fechadas.

1209
Figura 4 - Temperaturas internas do ar em MC (Norte) e ME (Sul), persiana fechada (22-25.06.2018)

As medições de TA mostram valores mais elevados em MC que em ME, devido à orientação


divergente das janelas. Além disso, notou-se que a estratificação vertical de TA é mais acentuada em MC: a
máxima variação entre os sensores a 0,10m e 1,70m (∆TA) foi de 4,40°C. Esse valor é o dobro da variação
registrada no período em ME, que foi de 2,01°C. Essa proporção 2:1 se repete na média de ∆TA em MC
(1,48°C) e em ME (0,80°C). Mesmo sem aporte solar direto em MC devido à persiana fechada, houve
ganhos térmicos significativos durante o período de insolação, com efeito de estratificação vertical da
temperatura ambiente. No período noturno, contudo, as condições térmicas praticamente se igualaram nos
dois módulos, mostrando que o calor recebido não foi suficiente para que houvesse armazenamento interno
de longo prazo. Em termos de desempenho, analisando as mínimas diárias para o dia mais quente (24/06),
ambos, MC e ME, atingiram nível ‘M’ de desempenho (cerca de 4°C acima da mínima externa). Já quanto às
máximas diárias no mesmo dia, TA em ME trouxe uma redução da temperatura máxima externa de
aproximadamente 4°C (com nível de desempenho ‘S’, superior) comparativamente a 2°C em MC (nível ‘I’,
intermediário).
As temperaturas de superfície (TS) em MC e ME, com medições em quatro pontos: piso, teto, parede
da caixa de energia (parede 1, oposta à fachada com janela) e parede leste (parede 2), constam na Figura 5.

Figura 5 - ∆TS na CBBC: MC, à esquerda; ME, à direita (22-26.06.2018)

Na Figura 5, nota-se que a amplitude térmica diária de todos os dados de TS é maior em MC que em
ME. Esses registros indicam outra influência da orientação da janela de MC para Norte: a radiação que levou
ao incremento de TA também serviu para o aquecimento de TS em MC, mesmo com a persiana fechada.
Na sequência, abriram-se as persianas e a segunda rodada de medições foi iniciada a 00h00 de 26 de
junho de 2018. Os dados de TA são apresentados na Figura 6, novamente a 1,10m do piso.

1210
Figura 6 - Temperaturas internas do ar em MC (Norte) e ME (Sul), persiana aberta (26-29.06.2018)

Nota-se um aumento mais acentuado da temperatura interna com o aporte solar direto no ambiente,
atingindo-se o pico na diferença de TA entre MC e ME de 5,90°C. Essa diferença, embora tenha pequena
repercussão nas mínimas internas, afeta o nível de desempenho dos módulos. Se considerados os valores das
máximas diárias, MC fica aquém do nível ‘M’ (com Ti,máx>Te,máx) e ME atinge o nível ‘I’, segundo os limites
da NBR 15575-1 (2013). Os dados de TS do piso, teto e paredes em MC e ME são apresentados na Figura 7.

Figura 7 - ∆TS na CBBC: MC, à esquerda; ME, à direita (26-29.06.2018)

Constata-se novamente que a amplitude térmica de TS é maior em MC que em ME, nos quatro
sensores. Além disso, a abertura da persiana levou a incidência de irradiação solar no interior de MC,
especialmente nos sensores do piso e da parede 1, oposta à janela.

4.2. Avaliação Pós-Ocupação


A APO mostrou diferenças de percepção dos usuários durante a permanência nos módulos. A APO da CBBC
foi realizada no período de 21 a 31 de Agosto de 2018. No total, a APO contou com a participação de 136
voluntários, distribuídos conforme consta na Tabela 6.
Tabela 6 - Distribuição dos participantes nos módulos da CBBC
Módulo Orientação Sexo biológico Curso de graduação Amostra
CBBC da janela Feminino Masculino Arq. Urb. Eng. Civil total
MC Face Norte 34 35 36 33 69
ME Face Sul 36 31 36 34 67
Total 70 66 69 67 136

No que concerne à percepção térmica no interior da CBBC durante a APO, constatou-se um


equilíbrio entre voluntários dos sexos feminino e masculino:
- Confortável: 115 pessoas (84,6%), sendo 60 mulheres e 55 homens;
- Desconfortável: 16 pessoas (11,8%), sendo oito mulheres e oito homens;
- Não soube dizer: 5 pessoas (3,7%), sendo duas mulheres e três homens.
Essas respostas são classificadas na Figura 8, com a divisão dos participantes nos módulos da CBBC.

1211
Figura 8 - Percepção da temperatura nos módulos da CBBC

A quantidade de pessoas que considerou a temperatura confortável foi similar em MC e ME;


contudo, a quantidade de pessoas que declarou que a temperatura estava desconfortável em MC foi duas
vezes maior do que em ME. Das 11 pessoas que alegaram desconforto em MC, oito gostariam que a
temperatura estivesse um pouco mais baixa. Supõe-se que, pelo fato de MC estar com a janela voltada para
Norte e ME, para Sul, os participantes estiveram mais propensos a sentir calor em MC que em ME.
Também foram analisadas possíveis correlações entre a percepção da temperatura na CBBC e a
condição climática externa. Durante a realização da APO, foram utilizadas três classificações para identificar
a condição do céu: claro, com nuvens ou encoberto. O cruzamento da condição do céu com a percepção da
temperatura em MC e em ME é apresentado na Figura 9.

Figura 9 - Conforto térmico CBBC versus condição do céu: MC, à esquerda; ME, à direita

Quanto à incidência solar sobre os módulos da CBBC, cabe relembrar que a janela de MC foi
orientada para Norte e a janela de ME, para Sul. Nesse contexto, do total de 16 participantes (11 em MC e
cinco em ME) que alegaram desconforto térmico, nove estavam em MC, em condições de céu claro – sendo
que sete destes gostariam que a temperatura estivesse um pouco mais baixa.

5. CONCLUSÕES
A pesquisa mostrou de forma simultânea a diferença térmica obtida para uma mesma edificação para
orientações solares opostas. Os resultados das medições objetivas de desempenho foram corroborados pela
percepção dos usuários. Dos achados deste estudo, comprova-se o benefício térmico de fachadas com janela
voltadas para norte em situação de inverno em Curitiba. Pode-se também obter insights sobre efeitos
térmicos devidos à obstrução de edificações em função de tendências de adensamento urbano. Ademais, o
estudo apresenta as vantagens da CBBC para avaliação do efeito de orientação solar em edificações de
pequeno porte.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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AGRADECIMENTOS
Agradecemos à UTFPR, pelo suporte ao desenvolvimento desta pesquisa; ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo auxílio financeiro; à Delta Containers, pelo
fornecimento e execução da CBBC, e à Eternit, LP Brasil, Pado, Philco Eletrônicos S.A. e Placo Saint-
Gobain, pelas doações de aparelhos e insumos.

1213
EMPREGO DO UNIVERSAL THERMAL CLIMATE INDEX (UTCI) NA
AVALIAÇÃO DO CONFORTO TÉRMICO DA PRAÇA NOVE DE JULHO,
PRESIDENTE PRUDENTE-SP.
Murilo O. F de Araújo (1); Carolina Lotufo Bueno-Bartholomei (2)
(1) Arquiteto e Urbanista, muriloof@hotmail.com, FCT – UNESP (Universidade Estadual Paulista)
(2) Doutora, Professora do Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente,
carolina.lotufo@unesp.br, FCT – UNESP (Universidade Estadual Paulista), Rua Roberto Simonsen, 305,
Presidente Prudente, (18) 3229-5689

RESUMO
A condição de vida nos meios urbanos está diretamente relacionada à qualidade de seus espaços urbanos.
Assim, o microclima local e o conforto são fatores essenciais que impactam usos, podendo atrair ou repelir
usuários. Nesse sentido, o presente estudo de iniciação científica visou aplicar o Universal Thermal Climate
Index (UTCI) nas análises de conforto da Praça Nove de Julho, praça central de Presidente Prudente-SP,
comparando os dados obtidos com o conforto dos usuários e avaliar a capacidade preditiva desse índice para
as condições climáticas locais. Para tal, utilizou-se a metodologia do projeto RUROS (Rediscovering the
Urban Realm and Open Spaces), monitorando o microclima local com aplicação simultânea de questionários
a respeito da sensação e satisfação térmica dos usuários. Isso permitiu o cálculo do índice de conforto
térmico UTCI e o confronto de seus resultados com o conforto térmico real (satisfação e sensação térmica).
Os resultados obtidos indicaram que o índice necessita de calibração para maior efetividade na previsão do
conforto térmico de usuários em espaços abertos de regiões com a mesma característica climática de
Presidente Prudente/SP.
Palavras-chave: Conforto térmico. Espaços público urbanos. Microclima urbano.

ABSTRACT
The living conditions in the urban environment is immediately associated to its urban spaces quality. Thus,
local microclimate and comfort are essential agents that impact uses, attracting or repelling users. This study
aimed to apply the Universal Thermal Climate Index (UTCI) in the thermal comfort analysis of the Nove de
Julho Square, the main public square in the city of Presidente Prudente, by comparing the data obtained with
the users thermal comfort and evaluating this index predictive capacity to the local climate conditions. For
this purpose, the project methodology RUROS (Rediscovering the Urban Realm and Open Spaces) was used,
monitoring the local microclimate with the simultaneous application of surveys about users sensations and
thermal perceptions. That allowed the thermal comfort index UTCI to be calculated and the comparison of its
results with the real feel of thermal comfort (sensations and thermic perceptions). The results obtained
showed the need to calibrate the index so it can me more efficient in the prediction of open spaces thermal
comfort in regions with the same climate characteristics of Presidente Prudente/SP.
Keywords: Thermal comfort. Public urban spaces. Urban microclimate.

1214
1. INTRODUÇÃO
O conforto térmico é, segundo a American Society of Heating Refrigerating and Air-Condicioning Engineers
(2003), a condição da mente que expressa satisfação com o ambiente térmico. No entanto, ela está associada
a fatores subjetivos, físicos, fisiológicos e psicológicos dos indivíduos, bem como às características
ambientais do local em que estão inseridos. Segundo Freitas (2005), o conforto térmico dos usuários de um
ambiente depende principalmente da temperatura do ar, das temperaturas de superfícies, da umidade do ar e
da velocidade do vento. Sendo esses elementos influenciados pelas características arquitetônicas e espaciais
do local como: dimensões, materiais, orientação, disposição, entre outros.
A dependência desses diversos parâmetros influenciadores faz com que Gatani et al (2005) afirmem
que o conforto térmico é um conceito relativamente complexo. Os mesmos autores acrescentam que, além
dos fatores físicos, existem parâmetros externos que influenciam o cálculo das condições de conforto
térmico, como o nível da atividade realizada pelos usuários, definido pela taxa metabólica, e a sua
vestimenta, interface entre o corpo e o ambiente.
Freitas (2005) acrescenta que o conforto está diretamente relacionado com o local vivido diariamente.
Por exemplo, os fatores causadores de sensação de conforto no ambiente rural são diferentes daqueles do
meio urbano; mostrando, dessa forma, que o clima urbano é importante na compreensão do conforto térmico
da população das cidades. Rossi e Kruger (2013) explanam que o clima urbano é afetado pelas formas
criadas pelo homem, pelo uso e ocupação do solo, largura e orientação das vias, características arquitetônicas
das edificações, dentre outros elementos. Nesse contexto, o planejamento e o desenho urbano são capazes de
intervir na climática urbana minimizando ou maximizando o impacto ambiental nos centros urbanos (ROSSI,
2012).
Os fenômenos resultantes do processo de urbanização acabam por criar diferentes condições
atmosféricas e, consequentemente, diferentes microclimas (FREITAS, 2005). Isto é, as diversas
características físicas e ambientais do meio urbano criam condições climáticas e atmosféricas diferentes nos
inúmeros espaços inseridos no meio urbano, ocasionando variações nos graus de conforto e desconforto tanto
em espaços abertos quanto internos (ROSSI, 2012). Cruz e Babirato (2013) afirmam que o microclima é o
elemento dos espaços urbanos que mais afeta o comportamento humano. Sobre isso, Nikolopoulou (2002)
acrescenta que as características microclimáticas afetam as atividades desenvolvidas nos espaços urbanos,
mesmo que inconscientemente.
Devido a grande importância do conforto térmico para o uso efetivo e adequado dos espaços, vários
estudiosos do tema desenvolveram índices preditivos de conforto com a finalidade de prever a condição de
conforto térmico em determinadas situações. Rossi e Kruger (2013) afirmam que a maioria dos estudos da
área utilizam o “Voto Médio Predito” (PMV), criado por Fanger (1970), e o “Temperatura Fisiológica
Equivalente” (PET), desenvolvido por Mayer e Hoppe (1987).
O PET é baseado no modelo de balanço energético para indivíduos de Munique (MEMI),
representando uma temperatura fictícia gerada pela interação das condições físicas ambientais (LABAKI et
al., 2012). Sua aplicação se dá tanto para ambientes internos quanto externos, considerando temperatura do
ar, umidade relativa, velocidade do vento e temperatura radiante média. O índice resulta numa temperatura
do ar de um ambiente em que a temperatura radiante média é igual a temperatura do ar, a velocidade do ar é
fixa em 0,1 m/s e a pressão do vapor de água é 12 hPa (HOPPE, 1999). A faixa de conforto para o PET está
entre os 18 ºC e os 23 ºC (MAYER e MATZARAKIS, 1998).
O Predicted Mean Vote (PMV) prevê a sensação térmica dos usuários por meio de uma escala de
sensações (LAMBERTS, 2011). Para Shimakawa e Bueno-Bartholomei (2009), o índice se baseia no
balanço entre o corpo humano e o ambiente, combinando as variáveis climáticas (temperatura do ar,
temperatura radiante média, velocidade do ar e umidade relativa) com o isolamento térmico das vestimentas
(clo) e a taxa de metabolismo (met). O índice estima o conforto através de dois parâmetros: o voto estimado
médio (PMV) e porcentagem de pessoas insatisfeitas (PPD) (LIMA et al., 2005). Segundo Lima et al. (2005),
há um consenso atual de que o índice não é muito adequado para regiões de clima tropical. Um dos
principais questionamentos sobre a eficiência do modelo é a sua aplicabilidade em ambientes ventilados
naturalmente ou com sistemas híbridos (RUPP, 2015).
No entanto, para o presente estudo utilizou-se o Universal Thermal Climate Index (UTCI), elaborado
pela ISB Comission 6 da Sociedade Internacional de Biometeorologia (ISB, 2001). Este índice foi criado
com base no modelo termorregulatório multimodal Fiala, o mais avançado modelo, segundo Nince et al
(2013).
Sua função é a de avaliar as condições térmicas de espaços externos através das reações fisiológicas do
corpo humano podendo ser utilizado em todos os tipos de clima e não considera as características individuais
dos usuários. O UTCI segue o conceito de temperatura equivalente, definindo um ambiente de referência

1215
com o qual as outras condições climáticas são comparadas (JEDRITZKY, 2012). As condições de referência
são:
-velocidade do vento de 0,5 m/s a 10m de altura;
-temperatura radiante média igual à temperatura do ar;
-pressão de vapor que representa a umidade relativa de 50%; em altas temperaturas (maiores que
29°C), o valor da umidade torna-se constante a 20 hPa;
-Atividade metabólica de 2,3 met ou 135 W/m² que representa uma pessoa caminhando a 4 km/h;
A igualdade das condições fisiológicas é baseada na equivalência da resposta fisiológica dinâmica
apresentada pelo modelo para o ambiente de referência. Como essa resposta é multidimensional (temperatura
do corpo, taxa de sudorese, umidade da pele, etc em diferentes tempos de exposição), um índice de estresse
térmico unidimensional foi calculado como principal análise da resposta do modelo (JENDRITZKY, 2012).
Desse modo, Blazejczyk et al. (2010) explicam que o valor obtido pelo índice é a temperatura do ar que
causaria as mesmas condições fisiológicas de estresse térmico provocado pelo ambiente real.
No que diz respeito às características de vestimenta, Blazejczyk et al. (2010) afirmam que o índice
utiliza o modelo de vestimenta europeu obtido em pesquisas dos hábitos comportamentais dos europeus ao
longo das estações. Ainda segundo os autores, os estudos de dados publicados e de pesquisas não publicadas
realizadas na Suécia e Polônia revelaram que o isolamento térmico das vestimentas (Icl) é dada em função da
temperatura do ar, conforme a seguinte fórmula:

Icl = 1,374 – 0,013847.Ta – 0,00043804.Ta² - Equação 1 – Equação de isolamento térmico das


0,0000238383.Ta³ vestimentas utilizado pelo UTCI
(BLAZEJCZYK et al., 2010)

Esse modelo pode ser utilizado para temperaturas superiores a -20ºC. No entanto, outros fatores são
considerados pelo índice com a finalidade de obter valores mais precisos do isolamento térmico das
vestimentas. De acordo com Jendritzky (2012), esse modelo considera:

1) O comportamento adaptativo de isolamento térmico das vestimentas observados na população


urbana europeia,
2) A distribuição da rouba em diferentes partes do corpo causando isolamento térmico diferenciado
em cada porção corporal, e
3) A redução da resistência térmica e evaporativa causada pelo vento e movimento dos usuários a 4
km/h.

As faixas climáticas englobadas pelo UTCI são: -50 °C ≤ Ta ≤ 50 ºC, -30 ºC ≤ Trm-Ta ≤ 70 ºC,
velocidade de vento entre 0,5 e 30,3 m/s e umidade relativa de 5% a 100% (pressão de vapor máxima de 5
kPa) (ROSSI et al., 2012).
Blazejczyk et al. (2010) apresentam as seguintes faixas de conforto para o índice na tabela 1:

Tabela 1 – Faixas de UTCI e graus de conforto (BLAZEJCZYK et al, 2010).


Faixa de UTCI (°C) Categoria de Estresse Grau de Conforto
Acima de +46 Estresse de calor extremo
+38 a +46 Estresse de calor muito forte
Desconfortável
+32 a +38 Estresse de calor forte
+26 a +32 Estresse de calor moderado
+9 a +26 Nenhum estresse Confortável
+9 a 0 Estresse de frio leve
0 a -13 Estresse de frio moderado
-13 a -27 Estresse de frio forte Desconfortável
-27 a -40 Estresse de frio muito forte
Abaixo de -40 Estresse de frio extremo

Apesar das inúmeras variáveis e complexidade para a prever o conforto, algumas pesquisas apontam
que o UTCI precisa de calibração para regiões diferentes. Silva et al. (2017) demonstra em seu estudo que o

1216
UTCI superou a avaliação térmica de desconforto dos usuários de espaços públicos centrais de Palmas-TO e
sugere que mais pesquisas sobre o tema são necessárias para uma possível calibração do índice para a região.
O estudo realizado por Rossi (2012) em espaços abertos de Curitiba-PR evidenciou que o UTCI, assim como
o PMV e PET, não previram adequadamente a quantidade de pessoas em conforto, superestimando a
quantidade de indivíduos submetidos a estresse térmico para o calor e para o frio, indicando a necessidade de
calibração para a região estudada.

2. OBJETIVO
Esse trabalho tem como objetivo verificar a pertinência do uso do UTCI em clima brasileiro, bem como
avaliar as condições de conforto térmico na Praça Nove de Julho, localizada em Presidente Prudente-SP.

3. MÉTODO
O estudo seguiu as seguintes etapas para a obtenção e avaliação dos dados:
1. Monitoramento dos dados microclimáticos da praça com a aplicação simultânea de questionários
aos usuários.
2. Tabulação dos dados obtidos e cálculo do índice UTCI a partir do software Bioklima 2.6,
desenvolvido por Michael Blazejcyk.
3. Análise dos dados obtidos e comparação do conforto térmico calculado pelo UTCI e do conforto
real dos usuários.

3.1. Monitoramento dos dados microclimáticos – Praça Nove de Julho, Presidente Prudente-
SP
O local escolhido para o estudo é localizado em Presidente Prudente, interior do estado de São Paulo, cerca
de 587 km da capital. De acordo com o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), a cidade tem 207.610 mil habitantes e 562 km² de área, a maior cidade de sua microrregião. O clima
é tropical chuvoso com estação seca de inverno, Aw na classificação climática de Koeppen, segundo o
Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas aplicadas à Agricultura (CEPAGRI). Esse grupo climático
possui climas megatérmicos, mês mais frio com média superior a 18°C, inverno ausente e forte precipitação
anual. A temperatura média anual é de 23,6°C com temperatura máxima média anual de 29,2°C e mínima
média anual de 17,8°C. De acordo com Amorim (2005), o clima de Presidente Prudente é derivado da
alternância dos sistemas tropicais e polares com domínio das massas de ar tropical marítima e da Frente
Polar Atlântica.
A praça estudada está localizada na área central de Presidente Prudente (figuras 1 e 2), sendo
importante por seu caráter histórico, uma vez que que seu surgimento está atrelado ao início da urbanização
local na década de 20. Por estar numa posição estratégica e importante, que conta com pontos de ônibus e
variados comércios (figura 3), ela é um dos espaços públicos mais visitados da cidade, servindo de ponto de
lazer, comércio e passagem. Além desses pontos, ela constitui um espaço democrático com a convivência de
diversas faixas etárias e estratos sociais no mesmo local.

Figura 1 – Localização da praça na malha urbana Figura 2 – Vista de satélite da praça com destaque
(Google Maps, 2018. Editado pelo autor) nas vias circundantes. (Google Maps, 2018.
Editado pelo autor)

Os monitoramentos climáticos foram realizados em três pontos da praça (figura 3) utilizando a estação
meteorológica portátil desenvolvida pelos técnicos da UNICAMP (figuras 4 e 5), com a qual se registrou a
1217
temperatura de bulbo seco, temperatura de globo e radiação global. Simultaneamente, foram aplicados
questionários aos usuários a respeito de suas sensações e percepções térmicas. A cada entrevista, a
velocidade do ar adquirida por uma sonda omnidirecional e anotada manualmente.

Figura 3 – Planta baixa da praça e posição dos


pontos de monitoramento (Prefeitura Municipal de
Presidente Prudente. Editado pelo autor.)

Figura 4 – Estação meteorológica portátil geral. Figura 5 – Estação meteorológica portátil interior.

Durante o outono e inverno de 2018, ocorreram 5 monitoramentos climáticos distribuídos da seguinte


forma: dois pela manhã nos dias 03 de julho e 13 de setembro de 2018 e três durante as tardes dos dias 21 de
junho, 11 de julho e 06 de setembro de 2018. Ao longo da primavera e verão de 2018 e 2019, 7 períodos
foram monitorados sendo eles: as manhãs dos dias 20 de novembro, 05, 06 e 13 de dezembro de 2018 e
tardes dos dias 05 e 06 de dezembro de 2018 e 28 de janeiro de 2019.
A média de temperatura do ar diária fornecida pela estação automática do Instituto Nacional de
Meteorologia implantada na cidade variou entre 14,4 ºC, alcançada em 11/07/2018, e 28,11 ºC, valor
registrado no dia 05/12/2018. No que diz respeito a umidade relativa do ar, o período mais seco se deu no dia
06 de dezembro de 2018 (43,05%) e o mais úmido no dia 28 de janeiro de 2019 (64,33%). A média geral de
temperatura e umidade relativa do ar nos dez dias analisados foram de 23,5 ºC e 53%, respectivamente.
As medições ocorreram em três pontos da praça durante a manhã, entre as 08:00 horas e as 11:00
horas, e à tarde das 14:00 horas às 17:00 horas, alternando os pontos ao completar cada hora. Ao longo dos
dias, trocou-se a ordem dos pontos a fim de adquirir dados de cada um no decorrer de todas as horas.
O Ponto 1 (figura 6), localizado próximo à Rua Barão do Rio Branco, fica embaixo de árvores de
grande porte que sombreiam o local durante grande parte do dia. Já o Ponto 2 (figura 7), próximo ao Teatro
Arena, não possui adensamento de árvores no seu entorno e por isso recebe insolação direta ao longo de todo
o dia. O último deles, Ponto 3 (figura 8), está posicionado em completo sol em todos os períodos por
apresentar apenas arbustos pequenos e poucas árvores altas ao seu redor.
1218
Figura 6 – Vista do Ponto 1. Figura 7 – Vista do ponto 2.

Figura 8 – Vista do ponto 3.

3.2. Universal Thermal Climate Index (UTCI)


Com os dados microclimáticos levantados foi possível utilizar o software Bioklima 2.6 para calcular o índice
UTCI de todos os entrevistados.
Contudo, o cálculo desse índice leva em consideração a velocidade do vento a 10 metros de altura,
algo inviável para esse estudo. Assim, utilizou-se o fator de escala indicado por Brode et al (2011) para
determinar esse valor:

va = vaxm x log (10/0,01) ÷ log (x/0,01) Equação 2 – Fator de escala para a velocidade do vento (BRODE et al, 2011).

Onde:
va= velocidade do vento a 10 m de altura, em m/s;
vaxm= velocidade do vento medida a x metros, em m/s;
x = altura na qual a velocidade do vento foi medida, neste caso a 1,2m.

3.3. Avaliação do conforto dos usuários


O conforto térmico dos frequentadores da Praça Nove de Julho, Presidente Prudente-SP, foi obtido por meio
dos questionários aplicados simultaneamente às medições da estação meteorológica portátil. Neles, os
usuários responderam qual era a sua sensação térmica, baseada em como estava o microclima no momento
(“muito frio”, “frio”, “pouco frio”, “nem frio nem quente”, “pouco quente”, “quente” ou “muito quente”),
sua percepção térmica (como o indivíduo gostaria que estivesse o microclima local) e se estavam
confortáveis ou não com as condições microclimáticas (satisfação térmica), além de características
individuais, como: peso, altura, vestimenta, sexo, idade, entre outros. Dessa forma, foi possível também
identificar o perfil dos entrevistados e as atividades praticadas.

1219
4. RESULTADOS
Ao longo da pesquisa, foram aplicados 277 (duzentos e setenta e sete) questionários, 54,87% com usuários
do sexo masculino e 45,13% do sexo feminino. A partir dos dados obtidos pela estação meteorológica e os
adquiridos por meio do questionário, tornou-se possível comparar os resultados do conforto térmico
calculado pelo UTCI e o conforto real indicado pelos entrevistados.
De maneira geral, o UTCI não se mostrou adequado para prever o conforto térmico real dos usuários
sob as condições microclimáticas da praça nos dias de medição. Segundo seus resultados, mais de 60% dos
usuários estariam em situação de estresse térmico, sendo que mais de 70% que responderam estar
confortáveis no momento (figura 9). Analisando por ponto (figura 10), o mesmo padrão de resultado foi
encontrado, onde o UTCI conseguiu porcentagens mais próximas da sensação térmica do que da satisfação
térmica, indicando que o fator psicológico é o provável responsável pela divergência dos resultados.

Figura 9 – Gráfico de análise de conforto geral. Figura 10 – Gráfico de análise de conforto geral por ponto.

Durante o período do outono e inverno (figuras 11 e 12), o UTCI apresentou maior capacidade
preditiva do conforto real dos usuários, especialmente no Ponto 1. Cerca de 60% dos resultados obtidos pelo
índice indicaram ausência de estresse térmico, enquanto quase 90% dos usuários demonstraram estar
confortáveis com o microclima local. Nos pontos 2 e 3, o índice registrou maior diferença em relação às
respostas dos entrevistados, enquanto no ponto 1 houve concordância tanto com a satisfação quanto com a
sensação térmica. Nesse caso, tanto o UTCI quanto a sensação e satisfação térmicas apontaram boas
condições de conforto na praça.

Figura 11 – Comparação do conforto térmico real e calculado Figura 12 – Comparação do conforto térmico real e calculado por
durante o outono/inverno. ponto durante o outono/inverno.

Os resultados da primavera e verão foram distintos dos obtidos durante o outono e inverno (figuras
13 e 14). O UTCI indicou desconforto para quase 90% dos indivíduos abordados, concordando com os quase
60% dos entrevistados que responderam estar com sensação térmica desfavorável para o conforto. Já a
satisfação térmica apontou condição oposta com mais de 70% de pessoas dizendo estar confortáveis, mais
uma evidência do fenômeno de aclimatação nos habitantes locais.
Nesse período, o UTCI foi incapaz de prever o conforto real, ficando muito distante da satisfação
térmica obtida pelo questionário ao superestimar o estresse térmico dos usuários. De acordo com o índice,
mais de 80% dos frequentadores estariam submetidos a condições de desconforto, enquanto apenas 30% dos
1220
usuários indicaram estar desconfortáveis com a situação microclimática da praça. Ao analisar essa
divergência por ponto, é possível identificar que nos pontos 1 e 3 houve maior dificuldade do índice em
concordar com as respostas dos usuários.

Figura 13 – Comparação do conforto térmico real e calculado Figura 14 – Comparação do conforto térmico real e calculado por
durante a primavera/verão. ponto durante a primavera/verão.

5. CONCLUSÕES
Considerando exclusivamente os resultados obtidos pelo Universal Thermal Climate Index (UTCI), seria
possível concluir que as condições de conforto térmico na praça não são adequadas, pois o índice indicou
grande porcentagem de usuários submetidos a estresse térmico nos períodos avaliados, especialmente
durante a primavera e o verão. No entanto, quando comparado com a satisfação térmica obtida pelos
questionários, a capacidade preditiva do índice se mostrou muito limitada para prever o conforto térmico dos
usuários de um espaço público aberto com as condições microclimáticas da Praça Nove de Julho, Presidente
Prudente-SP. A menor porcentagem de acertos ocorreu na primavera e no verão quando as temperaturas são
mais altas e os usuários mais adaptados a essas condições climáticas, evidenciando o fator psicológico no
estudo. A discrepância dos resultados do UTCI com o conforto real pode ser corrigida através de uma
calibração para faixas de conforto mais indicadas para cidades com condições semelhantes às de Presidente
Prudente. Dessa maneira, o UTCI poderia ser aplicado com maior eficácia na área a fim de obter dados mais
precisos para fomentar estratégias do planejamento urbano.

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1222
ESPAÇOS DE TRANSIÇÃO E CONFORTO TÉRMICO: UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA DA LITERATURA
Iara Nogueira Liguori (1); Lucila Chebel Labaki (2)
(1) Arquiteta, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Tecnologia e Cidade da
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), iara.liguori@gmail.com
(2) Professora da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), lucila@fec.unicamp.br
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo
(FEC), Laboratório de Conforto Ambiental e Física Aplicada (LACAF). Rua Saturnino de Brito, 224 -
Cidade Universitária, Campinas - SP, 13083-889. Tel.: (19) 3521 2064.

RESUMO
Os espaços de transição oferecem conforto ambiental através de técnicas passivas de condicionamento. Esses
ambientes funcionam como barreiras para a radiação solar direta e colaboram com uma melhor receptividade
do usuário ao meio. Além disso, proporcionam um espaço de interação social e descanso. Entretanto, as
varandas necessitam de pesquisas mais aprofundadas, que investiguem a real participação dos espaços de
transição na manutenção do conforto térmico interno da edificação. Deste modo, o trabalho apresentado é
parte de um mestrado em andamento pela Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC),
na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e possui como principal objetivo realizar uma Revisão
Sistemática da Literatura (Review Systematic - RSL) do tema exposto. A revisão sistemática permite
organizar trabalhos publicados na área de interesse, observar lacunas de conhecimento e divulgações
científicas. A fim de atingir os objetivos estabelecidos foram realizadas pesquisas em bases de dados
conhecidas na área, utilizando como palavras-chave “Transition Spaces” e “Thermal Comfort”. Os dados
foram sistematizados em forma de planilhas, analisados de forma conjunta e dispostos graficamente a fim de
verificar as contribuições teóricas sobre os espaços de transição e sua relação com o conforto térmico. Ao
analisar os artigos pode-se confirmar a importância dos espaços de transição para a atenuação climática,
além da contribuição à admissão do usuário ao meio interno. Dessa forma, conclui-se que é necessário
pesquisas mais aprofundadas, uma vez que o tema conta com um baixo número de publicações divulgadas,
apesar dos espaços de transição estarem presentes de maneira intrínseca ao ambiente construído.
Palavras-chave: Espaços de Transição, Varanda, Conforto Térmico, Revisão Sistemática da Literatura.

ABSTRACT
Thermally comfortable school environments contribute with user learning and attention. Transition spaces
provide environmental comfort through passive conditioning techniques, due to the fact that they act as
barriers to direct solar radiation. In addition, they collaborate in user's receptivity to the environment and
provide a space for social interaction and rest. However, the balconies need a more in-depth research,
investigating the transition spaces participation in the maintenance of building thermal comfort. The main
objective of this paper is to present a Systematic Literature Review. The systematic review allows organizing
published works in the area of interest, observe knowledge gaps and scientific observations. In order to
achieve the established objectives, a research on known databases using keywords such as "Transition
Spaces" and "Thermal Comfort" has been done. The obtained results have been systematized in spreadsheets,
and then analyzed and arranged graphically for a verification of the theoretical improvements on the
transition spaces and their relation with thermal comfort. Analyzing the articles, it is clear the importance of
the transition spaces for climate attenuation, besides the contribution for user's admission to the internal
environment. Thus, it concludes that balconies need more in-depth research, since the subject has a few
number of publications, although the transitional spaces are present intrinsically on built environments.
Keywords: Transitional Spaces, Balcony, Thermal Comfort, Review Systematic.

1223
1. INTRODUÇÃO
Os espaços de transição são soluções construtivas que intermediam os ambientes e contribuem com a
sustentabilidade do edifício. A etimologia do termo refere-se a um conceito de temporalidade, a palavra
espaço alude à “ideia de distância entre dois pontos, uma área ou volume entre determinados limites”
(BALSINI, 2014). Já a expressão transição pode ser entendida pelo sentido ou efeito de transitar, passagem,
caminho ou trajeto.
Esses elementos projetuais acenam, portanto, àqueles ambientes que estão entre o “dentro” e o “fora”,
o particular e o público, o vedado e o livre (MARAGNO; COCH, 2011). Criam mediações que colaboram
para uma melhor receptividade do usuário ao ambiente e tornam menos bruscas as diferenças de temperatura.
(ZHANG et al., 2014)
Os ambientes transicionais podem ser divididos em três categorias: a primeira refere-se àqueles que
estão contidos dentro de edifícios, como por exemplo, halls de entrada e lobbys. A segunda categoria diz
respeito aos que estão conectados ao edifício, como as varandas; e a terceira é ilustrada pelos espaços que
não fazem contato direto com a edificação, como é o caso de coretos e pergolados (CHUN et. al, 2004).
Em climas quentes e úmidos os espaços de transição fornecem proteção à precipitação e evitam o
superaquecimento no interior do prédio, especialmente quando a temperatura externa excede a zona de
conforto (TAIB et al., 2014). Possuem importante papel para manutenção do conforto térmico passivo, ao
funcionar como uma barreira e impedir que a radiação solar direta incida sobre o interior do edifício.
(SKUBS, 2009)
Os espaços de transição também contribuem com a ventilação cruzada, outro importante fator para a
atenuação climática. Combinado com as janelas criam um efeito de alta para baixa pressão, resultando em
uma ventilação contínua e com velocidades internas mais elevadas (GIVONI, 1976). A ventilação cruzada,
além de manter um ambiente benéfico, também auxilia na redução dos custos em consumo de energia para
resfriamento.
Esses ambientes, especialmente as varandas, proporcionam um ambiente de interação social e
descanso ao estender a área de privacidade e incentivar a tranquilidade no interior da edificação. Segundo
Botelho (2010) as zonas de transição distanciam os espaços de grande movimento daqueles onde o silêncio e
calma são necessários e isolam o interior das edificações do mundo externo.
Apesar de sua importância, pouco tem sido pesquisado sobre a relação desses espaços com o conforto
térmico. Dentre os trabalhos internacionais Jitkhajornwanich (2000) e Potvin (2000) despontam de maneira
pioneira, ao realizar estudos de transição espacial em microclimas urbanos. Pesquisas realizadas por Chun e
Tamura (2004 e 2005) estabeleceram métodos e revisões bibliográficas na área de estudo. No âmbito
nacional Skubs e Labaki (2005) realizaram medições de espaços de transição em edifícios educacionais, e
Maia (2017), Balsini (2014), Maragno e Coch (2009) discutiram a importância dos espaços de transição de
forma teórica. Entretanto, as normas ASHRAE 55 (2003), ISO 7726 (1998) e ABNT NBR 15220 (2005) não
especificam claramente os requisitos de conforto térmico para os espaços de transição.
Ao realizar uma Revisão Sistemática de Literatura (Literature Systematic Review - RSL) este trabalho
pretende agrupar as contribuições teóricas sobre os espaços de transição, além de analisar os principais
resultados e conclusões já fornecidos em outras pesquisas.

2. OBJETIVO
A partir da necessidade de estudos sobre o desempenho térmico e energético em espaços de transição, o
objetivo deste trabalho é analisar o estado da arte sobre o tema. A pesquisa pretende observar quais são as
principais contribuições na área e relacioná-las de modo sistemático.

3. MÉTODO
A Revisão Sistemática de Literatura é uma forma de pesquisa que permite organizar trabalhos publicados na
área de interesse, observar lacunas de conhecimento e divulgações científicas.
As revisões sistemáticas possibilitam integrar as informações de um conjunto de estudos e avaliar a
consistência dos resultados a partir da formação de filtros, ou strings (SAMPAIO e MANCINIU, 2007). A
revisão se deu em cinco etapas de seleção (RUIZ e GRANJA, 2013; GUEDES e BERTOLI, 2015), são elas:
a) formulação da pergunta, b) busca por evidências e palavras-chave, c) seleção das bases de dados e string
de busca, d) critérios de seleção, c) codificação, análise e síntese de dados. O método de cada etapa será
explicado a seguir.

1224
3.1. Formulação da Pergunta
Os espaços de transição são ambientes intrínsecos ao processo de projeto na arquitetura, dessa forma,
destaca-se o seguinte questionamento: Como os espaços de transição interferem no conforto térmico da
edificação?

3.2. Busca por Evidências e Palavras-Chave


Ao buscar evidências e trabalhos na área, as seguintes palavras-chave foram empregadas: Transition Space,
Transitional Spaces, Balcony, Verandah, Thermal Comfort; com tradução para o português nas bases de
dados nacionais.

3.3. Seleção das Bases de Dados e String de Busca


Para alcançar um panorama do estado da arte sobre o tema optou-se por utilizar bases de dados reconhecidas
e com grande número de publicações na área de interesse. Dessa forma as bases de dados escolhidas foram
Scopus, Science Direct, Web Of Science, Scielo, Ambiente Construído, Infohab e Google Scolar.
A string de busca foi: ((“Transition* Space*”) OR (Balcony) OR (Verandah)) AND (“Thermal
Comfort”).
A formulação da string de busca objetivava abarcar de maneira específica os artigos na área de
interesse, dessa forma ao utilizar os termos booleanos OR/AND esperava-se encontrar apenas artigos na área
de conforto térmico, que citassem os termos espaços de transição, balcão ou varandas. O asterisco na palavra
“transition* space*” designava que a palavra poderia ter variações, como por exemplo, “transitional space”,
“transition spaces”, dentre outros.

3.4. Critérios de Seleção


Como principal critério de seleção destaca-se a análise de artigos publicados em revistas ou anais de eventos
com temas aderentes à pesquisa, nas línguas inglesa e portuguesa. Não foram computados livros, capítulos
de livros, dissertações ou teses.

3.5. Codificação, Análise e Síntese de Dados


Após a seleção dos artigos foi realizada uma primeira amostragem em tabela para verificação de duplicidade,
seguida pela leitura dos títulos, resumos e palavras-chave, chegando por fim à leitura total dos textos. Em
cada etapa os artigos que não eram aderentes à pesquisa foram subtraídos.

4. RESULTADOS
A partir da seleção e leitura dos artigos foi possível sistematizar e organizar os dados, encontrando dessa
forma o estado da arte na área de estudo. Como resultado inicial nas plataformas de busca obteve-se 239
trabalhos, que foram organizados em planilhas e submetidos a critérios de subtração.
Em um primeiro momento 21 trabalhos estavam em duplicidade e foram descartados, restando 218
artigos. A leitura de títulos e resumos (abstracts) possibilitou a exclusão daqueles que não eram aderentes à
pesquisa; nessa etapa 158 artigos foram descartados.
Por fim, pela utilização de filtros de seleção restaram 60 artigos aderentes que tratavam sobre o
conforto térmico em espaços de transição. A leitura dos textos possibilitou encontrar outros 4 artigos que não
haviam sido computados, totalizando 64 trabalhos.
Quadro 01: Método de filtragem dos artigos
ARTIGOS SELECIONADOS INICIALMENTE 239
Duplicidade -21
Leitura de Títulos -104
Filtros
Leitura de Resumos -54
Bola de Neve (Snowball Sampling) +4
TOTAL DE ARTIGOS ADERENTES À PESQUISA 64
Fonte: A autora

Pela plataforma “Scopus” obteve-se o maior número de resultados, com 70,3% de artigos aderentes
ao tema de pesquisa. Já a plataforma “Science Direct” forneceu um resultado alto em um primeiro momento,
seguido por uma queda após a seleção.
Dentre os trabalhos latino-americanos destaca-se o “Encontro Nacional e Latino-Americano de
Conforto no Ambiente Construído – ENCAC/ELACAC”. O evento obteve 18,7% de artigos relevantes sobre
o tema, todos na língua portuguesa.
1225
Nas plataformas de buscas “Google Scholar”, “Scielo” e “Ambiente Construído” não foram
encontrados trabalhos que associassem os espaços de transição ao conforto térmico.
Figura 01: Artigos encontrados nas plataformas após filtragem

Fonte: A autora

A sistematização dos dados permitiu uma amostragem do total de publicações por ano, com
primeiros trabalhos datados do ano 2000. Houve um crescente, porém irregular número de publicações, com
melhores resultados no ano de 2017 (Figura 2).
Figura 02: Artigos publicados por ano

Fonte: A autora

O Quadro 02 permite observar o número de publicações aderentes em cada continente. A Ásia, com
especial destaque à China, obteve o maior número de publicações, tendo também os primeiros trabalhos na
área. A América do Sul, em especial o Brasil, segue abaixo com 26,5% de artigos relevantes.
Quadro 02: Número de publicações / continente
Continente Nº de Publicações % de Publicações
Ásia 34 53,12%
América do Sul 17 26,57%
Europa 11 17,19%
América do Norte 1 1,56%
Oceania 1 1,56%
Fonte: A autora

Ao relacioná-los por periódico ou congresso de publicação, a “Building and Environment” ficou com
o maior número de artigos publicados, seguido pelo ENCAC.

1226
Figura 03: Artigos aderentes em cada periódico ou congresso

Fonte: A autora

Dentre os principais métodos utilizados, a maioria era representada por estudos de caso, sendo que
aqueles com medições in loco foram os mais significativos. Os métodos por entrevista ou simulação ficaram
equiparados.
A análise bibliográfica, dentre eles Revisões Sistemáticas de Literatura (Literature Systematic
Review), representaram apenas 3 no total de 64 trabalhos, evidenciando a necessidade de maiores estudos
teóricos sobre o tema.
Alguns trabalhos possuíam a combinação de dois ou mais processos, sendo mais evidente o método
de medições associado com as entrevistas aos usuários.
Figura 04: Métodos empregados nos artigos analisados

Estudos de Caso
Fonte: A autora

Por fim, têm-se as diferentes conclusões resultantes dos artigos. Assim como realizado para a
contagem do número de métodos, alguns artigos apresentavam uma combinação de dois ou mais diferentes
resultados.
Quadro 03: Principais conclusões dos trabalhos analisados
Principais Conclusões Nº de Publicações Principais Conclusões Nº de Publicações
Os Espaços de transição auxiliam na
O espaço de transição media a perda ou
36 receptividade dos usuários ao 17
ganho térmico do edifício
ambiente adjacente
Escolhas projetuais erradas interferem
Diretriz de Projeto e/ou pesquisa para
9 no rendimento dos espaços de 6
os ambientes transicionais
transição para atenuação climática
Os espaços de transição como
4 Melhora da ventilação 3
elementos vernaculares da arquitetura
Disparidade entre os espaços de
Aumento do conforto térmico 3 2
transição pesquisados

1227
A importância dos espaços de transição
2 Diminuição do gasto energético 2
para a adaptação espacial do usuário
Necessidade de alocar de forma
Importante dispositivo de
1 correta os espaços de transição no 1
sombreamento
clima urbano
Fonte: A autora

Como evidenciado pelo Quadro 03 ficou evidente que os espaços de transição auxiliam na obtenção do
conforto térmico de forma passiva nas edificações. Também foi substancial o número de trabalhos que
chegaram à conclusão de que os espaços de transição contribuem com uma melhor receptividade do usuário
ao ambiente exterior.
Outras pesquisas reafirmaram a importância de alocar o espaço de transição de forma correta,
respeitando o clima e materiais apropriados. Caso contrário poderia haver uma distorção do resultado
desejado.

5. CONCLUSÕES
A pesquisa possibilitou avaliar o estado da arte atual sobre os espaços de transição ao sistematizar a busca
por artigos aderentes ao tema. Em um primeiro momento foram encontrados 239 artigos, com posterior
seleção para 64 trabalhos, ou seja, 26% dos artigos encontrados eram relevantes para a área de interesse.
Ao analisar os artigos por locais de publicação a Ásia, com especial destaque à China, obteve o maior
número de publicações e um pioneirismo na área. O Brasil foi o único representante da América do Sul,
obtendo 26,5% dos artigos publicados. O elevado interesse nacional pelos espaços de transição pode ser
devido às vantagens dos espaços transicionais para atenuação climática passiva das edificações, além de ser
um elemento construtivo vernacular, próprio do saber projetual nacional.
O periódico com maior número de artigos relevantes foi o “Building and Environment”, todos na
língua inglesa, com 21,8% de participação. O “Encontro Nacional e Latino-Americano de Conforto no
Ambiente Construído – ENCAC/ELACAC” também obteve um grande número de trabalhos, com 18,7% de
artigos aderentes.
A da análise por ano de publicação constatou que os estudos na área ainda são recentes, tendo um
acréscimo ao longo do tempo. Os métodos utilizados evidenciam que medições in loco, entrevistas e
simulações representam a maioria dos trabalhos.
Apesar da distribuição geográfica distinta dos trabalhos as conclusões foram similares, reafirmando a
importância dos espaços de transição para o conforto térmico passivo e na recepção dos usuários ao ambiente
adjacente.
A principal contribuição da Revisão Sistemática de Literatura foi a possibilidade de observar lacunas
do conhecimento e estabelecer o padrão de publicações em periódicos e eventos na área. Ficou evidente que
há uma carência de pesquisas sobre a importância dos espaços de transição e em como esse elemento pode
contribuir com diferentes exercícios projetuais.

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1230
ESTUDO DA TEMPERATURA DE GLOBO EM RELAÇÃO À
TEMPERATURA DO AR DURANTE ATIVIDADES COGNITIVAS EM
AMBIENTES DE ENSINO COM ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS EM ÁREAS
DAS REGIÕES BRASILEIRAS
Flávia Brandão Ramalho de Brito (1); Luiz Bueno da Silva (2).
(1) Mestre, Engenheira de Produção Mecânica e Engenheira de Segurança do Trabalho,
flavia_britoo@hotmail.com, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Av. Prof. Moraes Rego, 1235 -
Cidade Universitária, Recife - PE, 50670-901, (81) 2126-8645.
(2) Doutor, Professor titular-UFPB, bueno@ct.ufpb.br, Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
Laboratório de Análise do Trabalho, CT, Bl K, n° 199, 2° andar, João Pessoa, PB

RESUMO
Ambientes com inovações tecnológicas de comunicação e informação (Information and Communications
Technology - News ICT), incluindo instituições de ensino, proporcionam maior interação entre indivíduos em
qualquer parte do mundo e contribuem para maior flexibilidade de aprendizagem. Sendo assim é importante
uma atenção extra à radiação dissipada por equipamentos tecnológicos presentes nestes ambientes. Objetivo:
Investigar se o comportamento da temperatura de globo (Tg) em relação à temperatura do ar (Ta) poderia
afetar o desempenho de estudantes em laboratórios de informática (LI). Métodos: Os procedimentos
metodológicos adotados consistiram das seguintes análises em sete laboratórios de informática (LI-A; LI-B;
LI-C; LI-D; LI-E; LI-F; LI-G): variáveis térmicas - temperatura radiante média (Trm) e (Tg-Ta) e desempenho
dos alunos (Dt). Resultados: LI- G foi o LI com maior incidência de radiação térmica, assim, um modelo
matemático foi proposto para esta amostra para determinar se (Tg-Ta) e Trm estão relacionados ao
desempenho geral do estudante (Dt). Para cada aumento de um grau na diferença entre a temperatura do
globo e a temperatura do ar (Tg-Ta), o desempenho dos estudantes na instituição G diminuiu em
aproximadamente 29%. Conclusão: Assim como a produtividade pode ser alterada devido a mudanças na
temperatura do ar em ambientes de ensino com ar condicionado, neste caso específico, se Tg > Ta,
possivelmente a radiação térmica pode interferir no desempenho das pessoas presentes no ambiente com
News ICT. Contribuição da pesquisa: Quanto maior a temperatura radiante média, maior será a radiação
térmica nesse laboratório, e esse aumento poderá comprometer o desempenho dos estudantes.
Palavras-chave: radiação térmica, temperatura de globo, temperatura radiante média, desempenho.

ABSTRACT
Environments with information and communication technology innovations, including educational
institutions, provide more interaction among individuals anywhere in the world and contributing to higher
learning flexibility. Therefore, it is important to pay extra attention to the radiation dissipated by
technological equipment in these environments. Objective: Investigate whether the behavior of the globe
temperature (tg) in relation to the air temperature (ta) could affect the performance of students in information
technology laboratories (ITLs). Methods: The methodological procedures adopted consisted of the following
analyses in seven technology laboratories (ITL-A; ITL-B; ITL-C; ITL-D; ITL-E; ITL-F; ITL-G): thermal
variables - mean radiant temperature (trm) and (tg-ta); and students' performance (Dt). Results: ITL G was the
ITL with the highest incidence of thermal radiation, thus a mathematical model was proposed for this sample
to determine whether (Tg - Ta) and trm are related to overall student performance (Dt). For each increase of
one degree in the difference between the globe temperature and the air temperature (Tg-Ta), the students'
performance in the institution G decreased by approximately 29%. Conclusion: As well as productivity can
be altered due to changes in air temperature in air-conditioned teaching environments, in this specific case, if
Tg > Ta, possibly the thermal radiation may interfere with the performance of the people present in the News
ICT. Research Contribution: The higher the average radiant temperature, the higher the thermal radiation in
this laboratory, and this increase may compromise student performance.
Keywords: Thermal radiation; Globe temperature; Mean radiant temperature; Student performance
1231
1. INTRODUÇÃO
O conforto térmico está intimamente relacionado com o consumo de energia das instalações, com a
produtividade dos ocupantes e, no caso das instalações escolares, com o desempenho e aprendizagem de
estudantes (WONG et al., 2014). Nesse sentido, conforme Silva (2013), o conforto térmico propiciado pelo
ambiente interno das salas de aula, dos laboratórios e dos demais ambientes de aprendizagem ganha especial
relevo, apresentando-se, segundo recentes estudos já realizados, como um parâmetro capaz de influenciar
significativamente no desempenho escolar dos estudantes. Ele representa o efeito combinado de seis
parâmetros: temperatura, umidade do ar, radiação térmica, velocidade relativa do ar, atividades pessoais e
nível de vestimenta tal como formulado por Fanger (1970) através de sua equação de conservação de calor.
O campo de pesquisa nesta área nos últimos anos tem atraído à atenção de muitos pesquisadores
devido ao aumento da discussão pública sobre as alterações climáticas do planeta (RUPP et al., 2015).
Desta forma, levando-se em consideração que os ambientes providos de news ICT, incluindo os de ensino,
estão proporcionando maior interação entre as pessoas em qualquer parte do mundo, contribuindo para uma
maior flexibilidade na obtenção do conhecimento, torna-se necessária uma atenção especial para as radiações
dissipadas pelas tecnologias presentes nestes ambientes. Conforme Silva (2013), estas radiações são de baixa
frequência e são transformadas em radiação térmica, que somada às do homem, do ambiente e das variáveis
climáticas e pessoais, resultam na elevação total desta radiação no recinto.
Nas revisões da literatura sobre pesquisas e práticas de conforto térmico por Rupp et al., (2015), De
Dear et al., (2013) e Van Hoof (2008), as pesquisas no entorno da radiação térmica têm recebido pouca
atenção, o que, em grande parte, tem limitado o desenvolvimento de estudos nessa área. Na equação
formulada por Fanger (1970), o fator de radiação térmica é representado pela temperatura radiante média
(Trm), mas seu impacto sobre o conforto térmico é muitas vezes ignorado. A temperatura de globo é uma das
variáveis das equações para o cálculo da temperatura radiante média e a mesma corresponde à temperatura
que permite avaliar o nível de radiação térmica das superfícies existentes em um ambiente (COUTINHO,
2011), donde uma diferença significativa entre a temperatura de globo e a temperatura do ar pode demonstrar
certo aumento da radiação térmica no ambiente de trabalho. Vários estudos foram realizados sobre conforto
térmico, mas, em grande parte desses estudos, a temperatura radiante média era assumida como sendo igual à
temperatura do ar do ambiente (LANGNER et al., 2013; HALAWA et al., 2014; WALIKEWITZ et al.,
2015).
De acordo com Alfano et al. (2013) a temperatura radiante média é uma das variáveis mais
importantes na avaliação do conforto térmico, especialmente durante condições climáticas quentes e
ensolaradas. Para Akimoto et al. (2010), a elevação da temperatura radiante média de um ambiente interno
pode causar redução da produtividade dos que ali se encontram, visto que, o conforto térmico tem uma
significativa influência sobre a produtividade e satisfação dos ocupantes em um ambiente. O estudo realizado
por Halawa et al. (2014) proporcionou uma visão crítica dos impactos da presença do campo da radiação
térmica no conforto térmico, no controle e no consumo de energia dos edifícios. Esta visão crítica mostrou
que o campo da radiação térmica é um parâmetro essencial do conforto térmico.
Desta forma, considerando as condições adversas ambientais externas, as quais podem estar
vinculadas às mudanças climáticas com implicações na elevação da temperatura do ar, emerge assim mais
um fator a contribuir para o aumento dessa carga térmica. Portanto, torna-se importante investigar o
comportamento da temperatura de globo em relação à temperatura do ar, com possível efeito na elevação da
temperatura radiante média, quando da realização de atividades cognitivas por estudantes em ambientes de
ensino providos de news ICT submetidos à variação da temperatura do ar.

2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é investigar o comportamento da temperatura de globo em relação à temperatura do
ar, com possível efeito na elevação da temperatura radiante média, quando da realização de atividades
cognitivas por estudantes em ambientes de ensino providos de news ICT submetidos à variação da
temperatura do ar.

3. MÉTODO
Os procedimentos metodológicos adotados neste trabalho consistem no desenvolvimento das seguintes
etapas: análise das variáveis térmicas, desempenho dos estudantes, tratamento dos dados e modelagem
matemática.
O estudo foi realizado no Brasil em laboratórios de informática (LIs) climatizados com News ICT
(sistemas multimídia, wireless, climatização e de iluminação; personal computers, laptops, impressoras on-
line) nas seguintes instituições: Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina-Piauí (A); Universidade
1232
Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis – Santa Catarina (B); Universidade de Brasília (UnB)-
Campus Gama, Brasília- Distrito Federal (C); Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF),
Petrolina-Pernambuco (D); Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da Universidade de
São Paulo (USP), São Carlos- SP (E); Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Manaus – Amazonas
(F); Centro de Educação da Academia de Polícia Militar da Paraíba, João Pessoa, Paraíba (G). O quadro 1
apresenta detalhes das amostras por instituição. Os alunos que mostraram interesse em participar da pesquisa
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Quadro 1– Detalhes das amostras por instituição
Instituição Localidade Tamanho da Faixa Peso médio Altura média Período
amostra etária
A - UFPI Teresina- PI 21 homens (H) 22 ± 2 anos 64,8 ± 7,8 Kg (H) 1,74 ± 0,06 m (H) 15 a 17/09/2015
7 mulheres (M) 64,5 ± 8,1 Kg (M) 1,67 ± 0,02 m (M)
B- UFSC Florianópolis- SC 13 homens (H) 26 ± 6 anos 79,4 ± 19,61 Kg (H) 1,79 ± 0,04 m (H) e 21a 23/03/2016
6 mulheres (M) 63,93 ± 13 Kg (M) 1,62 ± 0,03m (M)
C- UnB Brasília -DF 18 homens 19 ± 2 anos 73,2 ± 10,2kg 1,80 ± 0,1 m 26 a 28/04/2016

D- UNIVASF Petrolina- PE 10 homens (H) 22 ± 2 anos 78,5 ± 9,80kg (H) 1,82 ± 0,02 m (H) 23 a 25/05/2016
5 mulheres (M) 68,1 ±18,35kg (M) 1,69 ± 0,05 m (M)
E- ICMC São Carlos- SP 11 homens (H) 23 ± 2 anos 78,75 ± 13 Kg (H) 1,82 ± 0,08 m (H) 17 a 19/11/2014
4 mulheres (M) 57,73 ± 7,5 Kg (M) 1,65 ± 0,02 m (M)
F - UFAM Manaus -AM 16 homens (H) 19 ± 1 ano 75,1 ± 9,5 Kg (H) 1,72 ± 0,07 m (H) 01 a 03/08/2016
12 mulheres (M) 60,1 ± 8,1 Kg (M) 1,61 ± 0,04 m (M)
G – CE da João Pessoa -PB 34 homens (H) 22 ± 2 anos 76,6± 5,54 kg (H) 1,72±0,05 m (H) 18 a 20/07/2012
PM 6 mulheres (M) 59,3 ±4,72 kg (M) 1,63±0,01m (M)
Total 163 estudantes

Os dados foram obtidos durante a realização das medições nos LIs, sendo uma sessão por dia. Em
cada LI as medições foram efetuadas a três níveis de temperatura de bulbo seco do ar (Ta), 20°C, 24°C e
30°C, conforme os preceitos das normas ASHRAE 55-2010, ISO 7726/2002 e ISO 7730/2005. Todos os
dados foram medidos em períodos contínuos ao longo de toda a coleta, com intervalo de 1 minuto, no
sentido de verificar a constância das condições do ambiente térmico. As atividades realizadas pelos
estudantes durante as medições ocorreram por meio de Personal Computers (PCs) e/ou laptops (Instituição
G) para acessar o endereço eletrônico (link) contendo uma bateria de testes de raciocínios. Os estudantes
foram orientados a utilizar roupas similares nos três dias de coleta. Ressalta-se que antes dos alunos
realizarem suas atividades nos laboratórios, os mesmos foram conduzidos a uma sala com condições
climáticas favoráveis, proporcionando um período de descanso para estabilização de seus organismos, a qual
foi constatada através de suas pressões arteriais, avaliadas pelo monitor de pressão arterial automático
modelo HEM-7220 e tensiômetro Polar FT7.

3.1. Variáveis térmicas


As medições das variáveis térmicas: temperatura de bulbo seco (Ta), temperatura radiante média (Trm),
temperatura de globo (Tg) e umidade relativa (UR) foram coletadas por meio da estação microclimática
BABUC- A e do medidor de estresse térmico TGD300 (figura 1). Os equipamentos atendem às exigências da
Norma ISO 7726 (2002). A velocidade do ar foi considerada constante, V= 0,1 m/s, estimativa para
ambientes fechados (COUTINHO, 2011; ASHRAE 55-2010).

Figura 1 - Estação microclimática BABUC-A e TGD-300

Seguindo o que estabelece a norma ISO 7726 (2002), e tendo em vista que os ambientes apresentavam
uniformidade na distribuição das temperaturas, a estação microclimática foi instalada nos centros dos
laboratórios, a 0,6m de altura em relação ao solo, tendo em vista que os estudantes se encontravam sentados.
Os equipamentos foram programados para registrar as medidas a cada minuto, a partir da entrada dos
1233
estudantes na sala de aula. Para estabilização, os equipamentos foram instalados nos laboratórios 30 minutos
antes de iniciar a coleta.
Ainda, no sentido de verificar se havia ou não troca de calor por radiação entre o aluno e seu ambiente,
hipóteses foram testadas à luz da equação da temperatura radiante média (equação 1), de acordo com a ISO
7726 (2002), a saber:
• Se Tg = Ta, então Trm = Tg, donde não há troca de calor por radiação
• Se Tg > Ta, então Trm aumenta proporcionalmente à elevação da Tg, caracterizando assim troca de
calor por radiação
• Se Tg < Ta, então Trm decresce proporcionalmente à diminuição da Tg, constatando assim não haver
troca de calor por radiação
4 ℎ𝑐𝑔
𝑇𝑟𝑚 = √𝑇𝑔4 + . (𝑇𝑔 − 𝑇𝑎 ) equação 1
𝜀 𝑔𝜎

Onde: Trm = Temperatura radiante média; Tg = Temperatura de globo; hcg= 6,3 v 0,6/ D 0,4 onde v é a velocidade do ar, D= Diâmetro
do globo; εg = Emissividade do globo negro (adimensional); σ = Constante de Stefan-Boltzman = 5,67x10-8 W/m2.K4.

3.2. Desempenho dos estudantes


Concomitantemente à realização das medições térmicas nos LIs, avaliando principalmente o comportamento
da temperatura de globo em relação temperatura do ar (Tg-Ta), os estudantes realizaram atividades vinculadas
à Bateria de Provas de Raciocínio (BPR-5) com o propósito de determinar o desempenho cognitivo geral ao
longo das variações climáticas nos LIs. Segundo Primi e Almeida (2004), a BPR-5 é constituída por 5
subtestes que medem a capacidade cognitiva dos indivíduos. Consiste em um instrumento de avaliação das
habilidades cognitivas que oferece estimativas do funcionamento cognitivo geral e das forças e fraquezas em
cinco áreas específicas, analisadas por meio de cinco subtestes, a saber: Prova de Raciocínio abstrato (RA),
Prova de Raciocínio Verbal (RV), Prova de Raciocínio numérico (RN), Prova de Raciocínio espacial (RE) e
Prova de Raciocínio mecânico (RM). Conforme os autores, a BPR-5 é um instrumento para auxiliar os
profissionais no psicodiagnóstico, na seleção profissional, orientação profissional, avaliação escolar, entre
outras áreas, isto é, para verificar o funcionamento cognitivo geral.
Neste estudo optou-se por decompor a BPR-5 e reorganizá-lo em 3 testes resumidos de mesmo nível
de dificuldade, a serem aplicados a cada dia. Para este fim, Siqueira (2015) elaborou um survey na
plataforma qualtrics, que possibilitou a aplicação e medição do tempo de resposta de cada questão. O valor
do número de acertos pôde variar de 0 a 20, visto que o teste de raciocínio total consistia no somatório das
notas nos 5 subtestes, dos quais cada subteste era composto de 4 questões, sendo 1 o valor de cada questão.

3.3. Tratamento dos dados


Após as coletas de dados, estes foram tabulados no software Microsoft Excel® e preparados para serem
utilizados nos softwares R, SPSS®, STATISTICA, com a finalidade de realizar análise descritiva dos dados,
elaboração de gráficos, correlações entre as variáveis e a modelagem matemática. Foram utilizados os testes
não paramétricos de Kruskal-Wallis para testar a hipótese de que as distribuições dos parâmetros avaliados
eram similares em todos os dias do experimento. Para verificar as correlações entre as variáveis de interesse
foi utilizada a correlação de Spearman.

3.4. Modelagem matemática


Foi construído um modelo matemático por intermédio das classes de Modelo Linear Generalizado (MLG)
para investigar o comportamento de (Tg-Ta) e da Trm no desempenho cognitivo (índice Dt - desempenho total
em relação ao tempo) de estudantes, pois (Tg-Ta) >0 poderá caracterizar aumento da trm com reflexos na
elevação da carga térmica interna, e tais características precisam ser analisadas sob o ponto de vista de seus
efeitos na variabilidade do desempenho cognitivo dos estudantes.
Os MLGs correspondem a uma grande classe de modelos estatísticos definidos em termos de um
conjunto de variáveis aleatórias independentes, onde cada uma delas possui alguma distribuição da família
exponencial (DOBSON e BARNETT, 2008). Este modelo será composto por duas partes:
1. Distribuição de probabilidade de Y(Dt), Y ~ N(μ, σ2)
2. Função de ligação para o valor esperado Y(Dt), com combinação linear das variáveis explicativas
Trm e (Tg-Ta), conforme equação (2).

1234
𝑬(𝑫𝒕) = 𝜷𝟎 + 𝜷𝟏 𝒕𝒕𝒓𝒎 + 𝜷𝟐 (𝒕𝒈 − 𝒕𝒂 ) equação 2

4. RESULTADOS
4.1. Análise das variáveis térmicas
A tabela 1 apresenta as médias relativas a cada variável térmica mensurada nas três sessões das coletas de
dados por laboratório de informática (LI).

Tabela 1– Condições térmicas médias das coletas de dados por Laboratório de Informática

LI - A LI - B LI - C LI - D LI - E LI - F LI - G
Variável
Sessão 20,07 ± 0,01 22,64 ± 0,01 24,53 ± 0,01 22,43 ± 0,00 23,09 ± 0,07 23,58 ± 0,12 20,28 ± 0,30
20°C
Sessão 22,95 ± 0,01 24,21 ± 0,03 24,58 ± 0,01 23,04 ± 0,01 23,30 ± 0,03 25,93 ± 0,12 23,00 ± 0,20
Ta(°C)
24°C
Sessão 33,74 ± 0,01 29,08 ± 0,04 24,79 ± 0,01 28,52 ± 0,04 28,80 ± 0,01 30,85 ± 0,12 29,50 ± 0,44
30°C
Sessão 21,03 ± 0,01 23,28 ± 0,01 24,37 ± 0,01 23,27 ± 0,00 23,72 ± 0,03 22,94 ± 0,03 22,13 ± 0,08
20°C
Sessão 24,12 ± 0,01 24,72 ± 0,02 24,47 ± 0,01 24,04 ± 0,02 23,94 ± 0,01 25,33 ± 0,01 25,24 ± 0,31
Tg(°C)
24°C
Sessão 33,55 ± 0,17 28,72 ± 0,04 24,48 ± 0,05 28,64 ± 0,05 27,78 ± 0,05 29,92 ± 0,00 29,59 ± 0,59
30°C
Sessão 21,66 ± 0,01 23,66 ± 0,01 24,27 ± 0,01 23,71 ± 0,01 24,10 ± 0,06 22,55 ± 0,07 23,26 ± 0,15
20°C
Sessão 24,82 ± 0,01 25,02 ± 0,02 24,41 ± 0,00 24,64 ± 0,03 24,33 ± 0,02 24,98 ± 0,06 26,56 ± 0,38
Trm(°C)
24°C
Sessão 33,46 ± 0,17 28,51 ± 0,04 24,50 ± 0,01 28,70 ± 0,05 27,19 ± 0,08 29,39 ± 0,06 29,64 ± 1,16
30°C
Sessão 0,97 ± 0,00 0,64 ± 0,01 -0,11 ± 0,01 0,83 ± 0,00 0,63 ± 0,07 -0,64 ± 0,11 1,86 ± 0,26
20°C
Sessão 1,17 ± 0,00 0,51 ± 0,02 -0,16 ± 0,01 1,00 ± 0,02 0,65 ± 0,03 -0,60 ± 0,11 2,25 ± 0,17
tg –ta (°C)
24°C
Sessão -0,17 ± 0,01 -0,36 ± 0,00 -0,32 ± 0,00 0,12 ± 0,01 -1,01 ± 0,04 -0,93 ± 0,11 0,09 ± 1,03
30°C
Sessão 69,20 ± 0,16 65,51 ± 0,05 66,12 ± 0,07 64,95 ± 0,16 48,16 ± 0,73 51,33 ± 1,04 43,59 ± 1,64
20°C
Sessão 67,57 ± 0,24 66,67 ± 0,15 58,04 ± 0,21 64,53 ± 0,03 53,90 ± 0,59 55,36 ± 1,16 49,27 ± 2,53
UR(%)
24°C
Sessão 64,63 ± 0,86 82,67 ± 0,33 71,70 ± 0,18 71,83 ± 0,16 45,37 ± 0,33 69,30 ± 0,47 62,87 ± 9,31
30°C

A partir da tabela 1 e da equação 1 foram realizadas a análise da troca de calor por radiação entre o
ambiente e o indivíduo em cada sessão por laboratório de informática apresentada no quadro 2.
Quadro 2– Quadro síntese da troca de calor por radiação por sessão e por Laboratório de Informática (LI)

LI
SESSÃO 20°C SESSÃO 24°C SESSÃO 30°C

Tg > Ta Tg > Ta Tg < Ta


A 0,97 °C ± 0,0 1,17 °C ± 0,0 -0,17 °C± 0,0
Houve troca de calor Houve troca de calor por Não houve troca de calor por
por radiação radiação radiação
Tg > Ta Tg > Ta Tg < Ta

B 0,64 °C ± 0,0 0,51 °C ± 0,0 -0,36 °C ± 0,0


Houve troca de calor Houve troca de calor por Não houve troca de calor por
por radiação radiação radiação
Tg < Ta Tg < Ta Tg < Ta

C -0,11 °C ± 0,0 -0,16 °C ± 0,0 -0,32 °C ± 0,0


Não houve troca de Não houve troca de calor Não houve troca de calor por
calor por radiação por radiação radiação
Tg > Ta Tg > Ta Tg > Ta
D 0,83 °C ± 0,0 1,00 °C ± 0,0 0,12 °C ± 0,0
Houve troca de calor Houve troca de calor por Houve troca de calor por radiação
1235
por radiação radiação
Tg > Ta Tg > Ta Tg < Ta

E 0,63 °C ± 0,0 0,65 °C ± 0,0 -1,00 °C ± 0,0


Houve troca de calor Houve troca de calor por Não houve troca de calor por
por radiação radiação radiação
Tg < Ta Tg < Ta Tg < Ta
F -0,64 °C ± 0,0 -0,60 °C ± 0,0 -0,93 °C ± 0,0
Não houve troca de Não houve troca de calor Não houve troca de calor por
calor por radiação por radiação radiação
Tg > Ta Tg > Ta Tg > Ta

G 1,86 °C ± 0,2 2,25 °C ± 0,0 0,09 °C ± 1,0


Houve troca de calor Houve troca de calor por
Houve troca de calor por radiação
por radiação radiação

Observa-se que a maior troca de calor por radiação térmica ocorreu no laboratório de informática G,
referente à cidade de João Pessoa. Este resultado pode ter ocorrido devido à quantidade de laptops presentes
no ambiente (40 laptops), pois estes emitem mais radiação do que os personal computers, e/ou devido às
características arquitetônicas da sala que podem ter ocasionado uma maior incidência de radiação térmica no
recinto. Não houve troca de calor por radiação nos laboratórios de informática C (Brasília) e F (Manaus).
Estes resultados ocorreram possivelmente devido a temperatura externa ter sido baixa ou aos elementos
arquitetônicos e envelopes constituintes da sala favorecendo a não incidência de radiação térmica no
ambiente.
Para melhor visualizar esses achados, de acordo com a figura 2, observa-se que a elevação da
temperatura de globo em relação à temperatura do ar foi mais acentuada no laboratório de informática G, nas
sessões à 20 e 24°C e à 30°C, a elevação da Tg foi alternada ao longo do tempo. Dessa forma é provável que
em um ambiente climatizado provido de diversas fontes de calor interna como news ICT, estudantes,
revestimentos de paredes e superfícies, onde Tg>Ta, esses fatores podem influenciar em termos de troca de
calor por radiação entre o aluno e seu ambiente.

1236
Figura 2 – Representação da temperatura de globo (Tg) e da temperatura do ar (Ta) por laboratório de informática

4.2. Análise do desempenho dos estudantes


O quadro 3 apresenta o resultado da análise do desempenho cognitivo dos estudantes por LI de acordo com a
classificação de Almeida e Primi (2004) apresentada na metodologia.

Quadro 3- Resultado da análise do desempenho dos estudantes por Laboratório de Informática (LI)
Capacidade LI- A LI- B LI- C LI-D
cognitiva: 20°C 24°C 30°C 20°C 24°C 30°C 20°C 24°C 30°C 20°C 24°C 30°C
Abaixo da 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0%
média
Na média 85,2% 69,2% 77,8% 58,8% 73,7% 60% 38,9% 52,9% 66,7% 73,3% 35,3% 50%

Acima da 14,8% 30,8% 22,2% 41,2% 26,3% 40% 61,1% 47,1% 33,3% 26,7% 64,7% 50%
média
Capacidade LI- E LI- F LI- G
cognitiva: 20°C 24°C 30°C 20°C 24°C 30°C 20°C 24°C 30°C
Abaixo da 0% 0% 0% 3,6% 0% 0% 0% 0% 0%
média
Na média 60% 53,3% 27% 85,7% 85,7% 92% 50% 33,3% 26,6%

Acima da 40% 46,7% 73% 10,7% 14,3% 8% 50% 66,7% 73,4%


média

LI - A=UFPI; LI - B= UFSC; LI - C =UnB; LI - D =UNIVASF; LI - E=USP; LI - F= UFAM; LI - G= Centro de Educação da PM da PB


Quanto ao desempenho nas provas de raciocínio, observou-se que em nenhum laboratório de
informática os estudantes apresentaram desempenho cognitivo abaixo da média, com exceção do laboratório
F, na sessão à 20°C, onde aproximadamente 4% dos estudantes apresentaram desempenho insatisfatório.
Nota-se que os laboratórios de informática E e G apresentaram um resultado em média mais satisfatório do
que as demais. Já o laboratório F apresentou em média um resultado menos satisfatório se comparada com as
outras instituições.

4.3. Modelagem matemática


À luz dos resultados das trocas de calor por radiação foi constatada que a maior incidência de radiação
térmica ocorreu no laboratório de informática da instituição G no Centro de Educação da Academia de
polícia militar da Paraíba, em João Pessoa. Assim, foi proposto um modelo matemático a fim de avaliar se a
(Tg-Ta) e Trm poderiam ter relação com o desempenho total dos estudantes (Dt).
Foi observado que a distribuição dos dados referentes ao Dt se aproximava de uma distribuição da
família exponencial (figura 3), o que permitiu a utilização de um modelo da classe do Modelo Linear
Generalizado (MLG). Aplicando o teste de normalidade de Shapiro-Wilk para a variável dependente
verificou-se que (para um nível de significância igual a 0,05) a distribuição é significativamente diferente de
uma distribuição normal. Assim, o modelo adequado de regressão ajustado foi o da família gaussiana inversa
com função de ligação log na forma da equação (2).

1237
Figura 3 – Distribuição de frequência de Dt – Amostra G
 = exp (1 .trm +  2 .(tg − ta) ) equação 3

Em complemento foi verificado no modelo a presença de desvios sistemáticos mediante análise de


adequação da distribuição, da função de variância e da presença de pontos influentes inconsistentes. Este
procedimento de análise de desvios sistemáticos foi repetido até que não houvesse mais pontos influentes
inconsistentes. Todas as vezes que era retirado o ponto de influência inconsistente um novo modelo era
gerado e analisado novamente cada desvio sistemático. Desta forma, ajustando-se o modelo final sem esses
pontos obteve-se as seguintes estimativas as quais estão apresentadas no quadro 4.
Quadro 4- Estimativa dos coeficientes do modelo final

Coeficiente Estimativa Desvio Padrão Valor t Pr(>|t|)


Trm -0,0726 0,0063 -11,421 5,04e-15
(Tg-Ta) -0,341 0,0850 -4,017 0,0002

Com estas análises ratifica-se a consistência do modelo. Desta forma, com base nas informações das
estimativas apresentadas no quadro 4, substituindo os respectivos coeficientes β1, β2 na equação tem-se:
Dt = e −0, 073Trm − 0,341( tg − ta ) equação 4
Salienta-se que no quadro 4 os p-valores<0,05, mas o pseudo R2 (0,1548) é baixo. No entanto, sobre o
ajuste de modelos lineares generalizados, Cordeiro e Demétrio (2008, p.107) ressaltam que, na prática, um
resultado favorável do teste da razão de verossimilhança (para um dado nível de significância) pode ser
considerado uma evidência de que um modelo se ajusta razoavelmente bem aos dados. Assim, como o p-
valor do teste da razão de verossimilhança foi <0,001, então a equação 3 é bem ajustada.
A partir do modelo 4 observa-se que mantendo constante a temperatura radiante média (Trm) a cada
aumento de um grau na diferença da temperatura de globo em relação à temperatura do ar (T g-Ta) o
desempenho diminui em torno de 29%. Esta afirmação pode-se ser constatada no gráfico 1, pois ao fixar três
valores para temperatura radiante média (23°C, 25°C e 28°C), variando (Tg-Ta) entre 1 e 4°C, observa-se, de
acordo com o gráfico 1, que o desempenho tende a diminuir com o aumento de (Tg-Ta).
Gráfico 1 - Comportamento do desempenho em função de (tg-ta)

Os resultados apontaram que o laboratório de informática da Instituição G, em João Pessoa, com os


alunos portando laptops, apresentou a maior incidência de radiação térmica no ambiente de coleta, visto que,
Tg> Ta. Dessa forma, assim como a produtividade pode sofrer alterações devido às mudanças de temperatura
do ar em ambientes de ensino climatizados, conforme já comprovado por publicações internacionais, neste
1238
caso específico, se Tg>Ta, possivelmente a radiação térmica poderá interferir no desempenho das pessoas
presentes em ambiente providos de inovações tecnológicas de comunicação e informação (News ICT).

5. CONCLUSÕES
Diversos fatores podem contribuir para o aumento da radiação térmica num ambiente de trabalho. Dentre
eles pode-se considerar as condições térmicas externas - mudanças climáticas; o projeto arquitetônico; os
materiais que revestem a edificação; as tecnologias de comunicação e informação do ambiente; e o homem,
que segundo Fanger (1972) o fator de área de radiação efetiva para os ambos os sexos na posição sentada
está no entorno de 0,696±0,017, o qual independe do sexo, peso, da altura, da área de superfície e da
característica do corpo humano, além de se levar em consideração que o fator de área da roupa utilizada pelo
homem é próximo de 1,11±0,03 para pessoas sentadas, como as deste estudo, pois o aluno realizava suas
atividades na posição sentada.
Assim todos esses parâmetros podem contribuir para o aumento da radiação térmica em um ambiente
climatizado, que neste artigo o ambiente referido foi laboratórios de informática das instituições de ensino
brasileira, pelo qual se investigou a radiação térmica através do comportamento da temperatura de globo em
relação à temperatura do ar, observando a variação da temperatura radiante média, quando estudantes
exerciam atividades cognitivas. Nesse sentido constatou-se que nos três dias consecutivos quando a
temperatura do ar era 20, 24 e 30°C, respectivamente, só não houve troca de calor por radiação entre o aluno
e seu ambiente nos laboratórios das instituições C e F, demonstrando que nos outros laboratórios das
instituições A, B, D, E e G houve troca de calor por radiação. Mas ressaltando que no laboratório da
instituição G essa troca de calor foi mais acentuada, tal que a temperatura radiante média em dado instante
ℎ𝑐𝑔
superou a temperatura de globo em 2,25 °C𝜀𝑔𝜎 .

A partir desta informação percebe-se que provavelmente as fontes de calor no interior do laboratório
devem ter proporcionado aumento da radiação térmica, haja vista que o número de estudantes e laptops eram
representativos. Assim, no sentido de confirmar esses achados, constatou-se conforme modelagem
matemática que a cada aumento de um grau na diferença entre a temperatura de globo e a temperatura do ar
(Tg-Ta), o desempenho dos estudantes no laboratório de informática da instituição G diminui em torno de
29%, constatando que, quanto maior a temperatura radiante média, maior será a radiação térmica nesse
laboratório, e esse aumento poderá comprometer o desempenho dos estudantes.

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1240
ESTUDO DE CONFORTO TÉRMICO EM SALAS DE AULA VENTILADAS
NATURALMENTE NO CLIMA QUENTE E ÚMIDO

Jullyanne Ferreira de Souza (1); Mayara Cynthia Brasileiro (2); Lumy Noda (3); Solange
Maria Leder (4).
(1) Designer de Interiores, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo –
PPGAU / UFPB, jullyannefe@gmail.com; (2) Arquiteta, Doutoranda do PPGAU / UFPB,
frogoyo@hotmail.com; (3) Arquiteta, Doutoranda do PPGAU / UFPB, lumynoda@gmail.com; (4) PhD,
Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo - UFPB, solangeleder@yahoo.com.br.

RESUMO
É importante entender os fatores que influenciam o conforto dos estudantes em salas de aula, uma vez que,
nesses ambientes os usuários desenvolvem processos cognitivos. Diante das poucas pesquisas sobre o
conforto térmico de crianças no Nordeste brasileiro, o presente estudo analisa a percepção e sensação de
conforto térmico em escolas da Rede Municipal de João Pessoa – PB, tendo como participantes 129
estudantes do ensino fundamental na faixa etária de 8 a 11 anos. A metodologia da pesquisa consistiu na
medição das variáveis ambientais (temperatura do ar, velocidade do ar e umidade relativa) simultânea à
aplicação de questionários. A pesquisa em campo, realizada durante o mês de agosto de 2018, abrangeu duas
escolas municipais e salas de aula cuja ventilação natural era a estratégia adotada para o conforto térmico dos
usuários. Sobre os resultados, verificou-se a temperatura média do ar nos ambientes internos em 28,78°C,
condição na qual 45,53% dos estudantes apontaram desconforto por calor. Por outro lado, aqueles que
indicaram neutralidade térmica (31,71%) encontravam-se sob condições térmicas no intervalo de 27,10°C até
30,00°C – demonstrando que paralelamente há uma tolerância por temperatura mais elevadas. O estudo
destaca a divergência dos votos reais dos estudantes em comparação com o Modelo Adaptativo da
ASHRAE, e ainda, a ocorrência de diferentes votos de sensação térmica das crianças nas mesmas faixas de
temperatura do ar.
Palavras-chave: ventilação natural, conforto térmico, percepção de crianças, escolas.

ABSTRACT
It is important to understand the factors that influence students’ comfort inside classrooms, as in these
environments users develop many cognitive processes. Since there is a small amount of research on the topic
of children’s discomfort in the Northeast of Brazil, the present study analyzes the perception and sensation of
thermal comfort in municipal schools in the city of João Pessoa, Paraíba, having had as participants 129
primary school students aged between 8 and 11 years old. The research’s methodology consisted in
measuring environmental variables (air temperature, average radiating temperature, relative air humidity, air
speed), while applying questionnaires to the children. The field research, carried out in August 2018, covered
two municipal schools and classrooms in which the natural ventilation was the adopted strategy to achieve
users thermal comfort. Regarding the results, on one hand, we observed the average temperature of 28,78°C,
a condition in which 45,53% of the students reporting discomforted by heat. On the other hand, the students
which reported thermal neutrality (31, 71%) were placed in thermal conditions ranging from 27,10°C and
30,00°C – demonstrating that, concurrently, there is a tolerance for higher temperatures. The study
emphasizes the divergence between the real votes of the students in comparison with the Adaptive Model of
ASHRAE, and also, the occurrence of different votes of thermal sensation in the same air temperature
ranges.
Keywords: natural ventilation, thermal comfort, children's perception, schools.

1241
1. INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, em razão da necessidade de serem adotadas ações para economia de recursos
energéticos, a quantidade de pesquisas relativas ao conforto térmico aumentou exponencialmente (DE DEAR
et al., 2013). Entretanto, a maior parte desses estudos são realizados em ambientes de escritório com usuários
adultos, sendo considerada inadequada a extrapolação dos resultados para os usuários de pouca idade (TELI
et al., 2012; YUN et al., 2014; MONTAZAMI et al., 2017). Assim, este artigo se propõe a analisar a
sensação e percepção térmica de crianças em ambientes educacionais públicos ventilados naturalmente no
clima quente e úmido.
Segundo Dalvite et al. (2007) um ambiente educacional adequado ultrapassa aspectos dimensionais e
econômicos, sendo necessária a contemplação das sensações humanas, a fim de alcançar o bem-estar dos
usuários. Para Nogueira et al. (2012), a desvalorização do desempenho térmico nas escolas públicas
compromete as condições de conforto térmico; o ensino e a aprendizagem; a saúde física e psicológica dos
seus ocupantes; além de promover um elevado consumo energético. Ambientes de ensino – independente da
faixa etária dos estudantes – têm em sua condição ambiental térmica, uma relação causal com o desempenho
e/ou produtividade dos alunos, como pôde ser observado por De Brito et al. (2019), De Brito e Silva (2017) e
Torres (2016). Portanto, além da adequação dos espaços para a realização das atividades educacionais, é
imprescindível que esses sejam projetados para promover o conforto térmico dos seus ocupantes.
Em pesquisa conduzida em instituições de ensino superior no município de Belo Horizonte / MG
(MARÇAL et al.,2018), 70% dos estudantes relataram que o conforto térmico influenciou na atividade de
estudo, sendo o desconforto térmico um promotor da falta de atenção e impaciência; e 80% consideraram
necessário o uso de equipamentos artificiais para melhorar as condições ambientais térmicas das salas de
aula. Ao estudar o conforto térmico com crianças na faixa etária de 4 a 5 anos em jardins de infância, Fabbri
(2013) observou que as crianças compreendem o conceito do conforto térmico e conseguem discernir as
condições térmicas ambientais percebidas e preferidas. Ao verificar que a escala confortável do PMV foi
maior do que a de um adulto, a pesquisadora reiterou a inadequabilidade do modelo PMV clássico para
aquela faixa etária em razão das diferenças metabólicas e posturais, indicando a necessidade do
desenvolvimento de modelos adaptativos considerando aspectos psicopedagógicos.
Além do metabolismo, o tipo de roupa utilizada e as atividades realizadas pelas crianças serem
distintas do contexto dos adultos; as crianças possuem uma menor oportunidade adaptativa (TELI et al.,
2012; YUN et al., 2014; MONTAZAMI et al., 2017). Estudos desenvolvidos com o intuito de analisar as
oportunidades adaptativas em ambientes escolares demonstram que a interferência do usuário (estudante)
dentro do ambiente é mínima, sendo desencadeada através de estímulos e muitas vezes oriundas do professor
(BERNARDI, 2001). Além da pressão social envolvida neste processo, muitas vezes a importância da
manipulação de esquadrias, brises, cortinas e outros dispositivos são desprezados pelos estudantes
(BERNARDI, 2001).
Para De Dear et al. (2018) e Xavier (2000), é questionável a aplicabilidade de índices de conforto
térmico como sendo universais, desconsiderando questões como o público que frequenta o espaço, o clima
local, o tipo de condicionamento ambiental (se ventilada naturalmente ou condicionada artificialmente) e as
atividades a serem realizadas. Neste entendimento, Teli et al. (2012) verificaram que a temperatura de
conforto adaptativo é 2°C menor para crianças em relação a adultos; já Yun et al. (2014) e Montazami et al.
(2017) apontaram que esta diferença chega a 3°C.
Considerando que pesquisas de conforto térmico com crianças no Nordeste brasileiro ainda são
escassas, esta pesquisa procura contribuir com estudos sobre a temática.

2. OBJETIVO
O objetivo desse artigo é relacionar as variáveis ambientais térmicas com sensações e preferências térmicas,
de crianças na faixa etária de 8 a 11 anos, em salas de aulas ventiladas naturalmente no clima quente e
úmido.

3. MÉTODO
O método adotado para esta pesquisa caracteriza-se, primordialmente, pela simultaneidade da medição das
variáveis térmicas ambientais com a aplicação de questionários sobre a sensação e preferência térmica dos
ocupantes dos ambientes investigados na pesquisa de campo.
Os procedimentos metodológicos são do tipo indutivo experimental e observacional em conjunto com
o método dedutivo computacional. A mesma pode ser dividida em três etapas metodológicas: I) Delimitação
da população, amostra, escolha dos objetos empíricos, formulação dos questionários, calibração dos
equipamentos e estudo piloto; II) Pesquisa de campo, caracterizado pela coleta de dados quantitativos e
1242
qualitativos, através dos equipamentos, questionários e observações in loco; III) Tabulação dos dados
(Excel), análises descritivas e inferenciais.

3.1. Caracterização da amostra e objeto de estudo


O recorte espacial deste estudo, conduzido em região de clima quente e úmido, foi delimitado pelo município
de João Pessoa, capital do estado da Paraíba, latitude -7.10° e longitude -34.8°. De acordo com as normais
climatológicas do INMET 1981-2010, a cidade de João Pessoa apresentou temperatura máxima mensal de
30,9 °C (março) e mínima mensal de 21,8 °C (julho e agosto). A umidade relativa do ar compensada anual
de foi de 75,9%; precipitação acumulada mensal máxima de 355,2 mm no mês de junho com precipitação
anual de 1914 mm; intensidade do vento mensal entre 2,9 m/s e 3,7m/s e anual de 3,3 m/s (INMET, 2018).
Para delimitação da amostra, foram selecionadas escolas municipais na cidade de João Pessoa nas
quais lecionam turmas do terceiro ao quinto ano do ensino fundamental. A cidade conta com 90 escolas de
nível fundamental na rede Municipal, e quase que sua totalidade integra programa de instalação de sistema
de climatização artificial em suas salas de aula (PMJP, 2018). Dentre aquelas que ainda não possuem ar-
condicionado e fazem uso da ventilação natural ou de ventiladores, para este estudo foram selecionadas duas
escolas municipais: Escola A – Leônidas Santiago e Escola B – Francisco Edwar; localizadas em bairros
vizinhos (Figura 1) e com tipologia arquitetônica similar. A população da pesquisa consiste em 129 crianças
na faixa etária entre 8 e 11 anos, que utilizam no período letivo salas de aula naturalmente ventiladas, no
contexto do clima quente e úmido.

3.2. Medição das variáveis ambientais térmicas


Foram monitoradas e registradas as variáveis temperatura de globo, temperatura de bulbo úmido,
temperatura de bulbo seco e velocidade do ar; utilizando-se dois medidores de stress térmico TGD-300 /
Instrutherm e um termo anemômetro Tafr 180 / Instrutherm (Tabela 1).
Para a coleta dos dados pressupôs-se que os ambientes eram homogêneos, assim, optou-se por instalar
os equipamentos em áreas centrais nas salas de aula, posicionados na altura correspondente à cabeça e ao
abdômen das crianças. Como o mobiliário das salas de aulas possuía ergonomia para adultos, observou-se
que não existia diferença representativa entre a altura do abdômen de um adulto e de uma criança; já em
relação à altura da cabeça, foi considerada como similar. Deste modo, os equipamentos foram instalados a
altura de 0,60 m para o abdômen e 1,1 m para a cabeça, conforme o prescrito na norma ISO 7726:1998.
Após período de estabilização, o monitoramento das variáveis em cada ambiente teve duração de 15 minutos,
com registros a cada minuto.
Os equipamentos utilizados foram calibrados através do método de comparação com outros
equipamentos com certificação de calibração. Os testes foram conduzidos no Laboratório de Conforto
Ambiental – LabCon UFPB, procedidos pela calibração a partir de equações com diferentes linhas de
tendência, e em seguida calculado o coeficiente de determinação. O modelo escolhido para calibração foi de
regressão linear, no qual obteve-se o menor erro médio.
Tabela 1 – Instrumentação utilizada, faixa de precisão e incertezas da Instrumentação
EQUIPAMENTO VARIÁVEL FAIXA DE MEDIÇÃO PRECISÃO TEMPO DE RESPOSTA
Temperatura do ar -5 a +60°C ± 0,5°C 1 segundo
Medidor de stress
Umidade Relativa (UR) 0 a 85% - 1 segundo
térmico - TGD 300
Temperatura de globo -5 a +60°C ± 0,5°C 1 segundo
Termo anemômetro
Velocidade do ar 0,2 a 20m/s ± 3% + 1 dígito 0,8 segundo
TARF 180

3.3. Aplicação de questionários


O questionário aplicado entre os estudantes foi elaborado através da colaboração de profissionais distintos,
incluindo designer, arquiteto e urbanista, pedagogo e psicólogo. O processo construtivo desta ferramenta
também contou com testes pilotos e entrevistas não estruturadas com os alunos, a fim de compreender o que
estes entendiam do mesmo. Observou-se que o uso de cores nas respostas facilitava a compreensão das
crianças e incitava o seu interesse.
O questionário utilizado foi composto de três perguntas, sendo duas delas baseadas no questionário da
ASHARE (2017), adotando a escala de 07 pontos (Tabela 2), entretanto, com adaptação do enunciado e das
respostas para o público alvo. O primeiro questionamento se referia a sensação térmica: “Sobre calor ou frio,
como você está se sentindo agora?”; enquanto o segundo traduzia a preferência térmica: “Sobre calor ou
frio, como você gostaria de estar se sentindo agora?”. A terceira pergunta que complementa o questionário

1243
se refere a preferência das crianças quanto a ambientes condicionados artificialmente ou ventilados
naturalmente: “Você prefere ambientes com ou sem ar condicionado?”.
Tabela 2 - Descrições e escalas da ASHRAE 55 2017
Descrição Equivalência Sensação Térmica Preferência Térmica Cor
da ASHRAE numérica (descrição adaptada) (descrição adaptada) referência
Quente 3 Muito quente Bem mais quente
Aquecido 2 Quente Mais quente
Levemente aquecido 1 Um pouquinho quente Um pouquinho mais quente
Neutro 0 Bem, nem com calor, nem com frio Assim, nem mais quente nem mais frio
Levemente resfriado -1 Um pouquinho frio Um pouquinho mais frio
Resfriado -2 Frio Mais frio
Frio -3 Muito frio Bem mais frio

A execução da pesquisa em campo foi precedida pela aprovação do projeto de pesquisa e questionário
pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba; pela
autorização da Secretaria de Educação do município de João Pessoa; e anuência das gestões administrativas
de cada escola. Durante a pesquisa em campo, na entrega dos questionários, era explicado aos estudantes
brevemente o contexto e os procedimentos da pesquisa, e em seguida, sequencialmente, cada pergunta do
questionário – a medida em que respondiam. Quando os alunos apresentavam dúvidas, estes eram
assessorados individualmente.

3.4. Análises dos dados


Os dados foram tabulados e analisados em planilhas eletrônicas Excel. As análises dos resultados foram
realizadas a partir da comparação dos dados das variáveis ambientais térmicas coletadas (variáveis
independentes) e as respostas dos questionários aplicados (variáveis dependentes).
O modelo preditor de conforto térmico utilizado nestas análises foi o adaptativo da ASHRAE (2017),
considerando que o mesmo é indicado para ambientes ventilados naturalmente. O seu cálculo foi efetuado
através da ferramenta online CBE - Thermal Comfort Tool (TYLER et al. 2017).

4. RESULTADOS
A pesquisa de campo ocorreu no período de inverno, nos dias 08 e 24 de agosto de 2018, nos períodos
letivos das escolas nos turnos manhã e tarde. Somaram-se seis salas de aulas monitoradas, nas quais se
obteve um total de 141 questionários aplicados, dos quais 19 foram descartados por possuírem respondentes
além da faixa etária de 08 a 11 anos, constituindo 129 questionários válidos.

4.1. Caracterização das escolas


As escolas municipais onde o estudo foi
desenvolvido estão localizadas numa região central
de João Pessoa, em bairros vizinhos e imediatamente
ao lado do maciço vegetal do Jardim Botânico do
município (Figura 01). As duas escolas caracterizam-
se pela tipologia arquitetônica horizontal, com um
pavimento e blocos independentes de salas de aula
com cobertura em duas águas com telha cerâmica.
As quatro salas de aula monitoradas na escola
A – Leônidas Santiago (Figuras 2 e 4) possuem área
entre 44 e 51m², teto inclinado com laje, pé direito
médio de 2,70m, com aberturas voltadas para
orientação distinta (Leste / Oeste). Já as duas salas da
escola B – Francisco Edwar (Figuras 3 e 5), com
esquadrias voltadas para orientação leste, possuem
área de 49,60m², cobertura inclinada sem forro e pé Figura 1 – Localização das escolas A e B no município
de João Pessoa – PB.
direito médio de 2,80m.
Nas duas escolas as salas são constituídas por alvenaria com revestimento interno cerâmico em meia
parede; revestimento externo em pintura na cor branca; esquadrias em madeira (com folhas móveis e
venezianas fixas); e ocupação média de 24 alunos por sala. Embora os ambientes analisados possuíssem
1244
ventiladores, percebeu-se que o principal sistema de ventilação adotado era o natural, por meio da ventilação
cruzada através das esquadrias (operáveis pelos professores e alunos), e em algumas salas, em conjunto com
cobogós nas alvenarias opostas às esquadrias. Os beirais das coberturas constituem as únicas proteções
externas das esquadrias nas edificações, que minimizam a radiação direta nas salas de aula durante período
letivo.

Figura 2 – Planta baixa da Escola A - Leônidas Santiago Figura 3 – Planta baixa da Escola B - Francisco Edwar
(PMJP, 2018, adaptado pelos autores). (PMJP, 2018, adaptado pelos autores).

Figura 4 – Salas de aula da Escola A. Figura 5 – Salas de aula da Escola B.

4.2. Caracterização dos ocupantes


A partir das respostas obtidas nos questionários aplicados e anotações paralelas durante pesquisa em campo,
pôde-se traçar o perfil da amostra dos ocupantes. Dentre as crianças participantes, 48,36% são do gênero
feminino e 51,64% do gênero masculino. A faixa etária predominante é de 9 anos, com 44,26% dos os
respondentes, seguido pela faixa etária de 10 anos (30,33%), 8 anos (22,13%) e 11 anos (3,28%).
As atividades que as crianças estavam realizando antes e durante o período da aplicação da pesquisa
eram de leitura e escrita com taxa metabólica de 1,0 met (ASHRAE 55-2017). Em relação à vestimenta,
todas as crianças estavam usando a camisa do uniforme, porém com variações nas demais peças, tendo sido
observado o de calça, bermuda, sandália e tênis, resultando em valores da resistência térmica que oscilaram
entre 0,35clo e 0,50clo.

4.3. Variáveis ambientais


As medições das variáveis ambientais nas salas de aula ocorreram durante período nos quais as crianças
estivessem em horário de aula, nos turnos da manhã (entre 07:30h e 08:30h) e da tarde (entre 14:00h e
16:00h). Em razão dos turnos nos quais são lecionadas as turmas de nível fundamental, na escola A as
medições ocorreram no período da tarde e na escola B no período da manhã, totalizando seis salas de aulas
monitoradas. Adicionalmente, procedeu-se à verificação dos registros da temperatura no ambiente externo
nos mesmos horários das medições internas, disponibilizado pelo INMET (2018). A Tabela 3 apresenta os
valores médios obtidos das variáveis ambientais monitoradas durante a pesquisa em campo.
Tabela 3 – Condições ambientais do conjunto das salas de aula durante período da pesquisa em campo.
Temperatura do ar - TBS (°C) TEMP. EXT. UMID. REL. VEL. AR
H = 0,6m H= 1,1m MÉDIA (°C) (RH%) MÉDIA (m/s)
MÉDIA 29,08 28,48 28,78 26,4 68,04 0,200
MÁXIMA 30,63 29,62 30,00 27,30 78,65 0,520
1245
MÍNIMA 27,26 26,90 27,10 24,80 62,42 0,000
D. P. 1,18 1,15 1,15 0,96 6,40 0,151

Na Figura 6, ao se sobrepor os resultados da temperatura do ar (eixo y – lado esquerdo) e velocidade


do ar (eixo y – lado direito) por medição/estudante (eixo x), podem ser observadas as diferenças nas
condições ambientais entre as escolas em razão do turno no qual foi realizada a medição: à tarde na escola A
e pela manhã na Escola B. Soma-se como possível razão para a diferença observada, questões construtivas
das edificações: enquanto a escola A possui laje sob a cobertura, a escola B possui estrutura do telhado em
madeira e telhas cerâmica sem forro. Sobre os resultados da temperatura do ar no ambiente interno percebe-
se uma diferença média de 0,6°C entre as alturas que correspondem ao abdome (h = 0,60m) e cabeça (h = 1,1
m) do aluno na posição sentado. Ao analisar o valor médio da temperatura do ar nas duas alturas, percebe-se
que, enquanto esta variável ficou em torno dos 27°C na escola B, na escola A chegou a atingir a temperatura
de 30°C. Em todas as salas de aula monitoradas os valores registrados da temperatura do ar foram superiores
à temperatura do ar no ambiente externo, atingindo até 2,6 graus de diferença .

Figura 6 – Variáveis ambientais (temperatura do ar e velocidade do ar) nas escolas A e B.

Em relação à velocidade do ar dentro das salas de aula, a ventilação era praticamente imperceptível,
sendo em média 0,2 m/s, enquanto que a umidade relativa média foi de 68,04%. Em apenas uma das salas
monitoradas, cuja temperatura do ar interno atingiu 30,5°C, percebeu-se o uso de ventiladores, resultando na
velocidade média do ar de aproximadamente 0,5m/s.

4.4. Votos de Sensação e Preferência térmica


De acordo com as respostas sobre a sensação térmica (Figura 7), enquanto o total de 31,71% das crianças
relataram estar se sentindo ‘bem, nem com calor, nem com frio’ (voto 0) no momento das medições, uma
quantidade considerável delas (45,53%), sentiu algum desconforto por calor, sendo a sensação de ‘pouco
calor’, a segunda mais votada na escala de sensação térmica, indicando que a maioria das crianças não estava
se sentindo confortável no momento das medições (‘um pouquinho quente’: 20,33%; ‘quente’: 8,94% e
‘muito quente’: 16,26%). Simultaneamente, 22,77% das crianças indicaram os diferentes níveis de sensação
relacionada ao frio.
Relacionando com os resultados da preferência térmica dos respondentes embora 31,71% das crianças
tenha apontado a condição de neutralidade térmica no voto de sensação térmica, uma porcentagem inferior
(27,64%) afirmou que não gostaria de mudanças no ambiente térmico quando perguntados sobre a
preferência térmica (‘permanecer como estavam’ - voto 0), conforme Figura 8. Além disso, apesar 45,53%
das crianças ter indicado desconforto relacionado ao calor, uma quantidade maior (47,97%) respondeu que
gostaria de estar ‘um pouquinho mais frio’ (-1), ‘mais frio’ (-2) e ‘bem mais frio’ (-3), demonstrando a
preferência dos alunos por ambientes mais resfriados do que as condições térmicas ambientais no momento
do estudo.

1246
Figura 7 – Votos sensação térmica (n=129). Figura 8 - Votos preferência térmica (n=129)

Distinguindo-se os votos de sensação e preferência térmica por gênero, os resultados indicam que as
crianças do gênero feminino possuem uma leve tendência em sentir mais frio (Figura 9), enquanto que na
preferência térmica (Figura 10), os alunos do gênero masculino tendem a preferir ambientes mais resfriados
e do gênero feminino preferir ambientes mais aquecidos. Ressalta-se que esta diferença é tênue, sendo
necessário um aprofundamento da análise para fins conclusivos.

Figura 9 – Percentual de votos sensação térmica, por gênero. Figura 10 - Percentual de votos preferência térmica, por gênero.
Na sobreposição dos resultados da temperatura do ar (eixo y – lado esquerdo) com os votos de
sensação térmica dos respondentes (eixo y – lado direito) por medição/estudante (eixo x), Figura 11, notam-
se as diferenças por escola e os votos predominantes por faixas de temperatura: nas condições ambientais
com temperaturas entre 30°C e 30,5°C percebe-se uma concentração equilibrada dos votos relacionados às
sensações de calor (1, 2 e 3), enquanto que nas faixas de temperatura do ar entre 27°C e 28,5°C ocorrem
votos de sensação térmica relacionada ao frio – muito embora os resultados de movimento do ar nessas
condições não ultrapasse 0,4m/s (Figura 6). Os votos de neutralidade ocorreram, primordialmente, no
intervalo de temperatura do ar entre 27°C e 29,5°C.
No que diz respeito ao movimento do ar nas salas de aula monitoradas, à exceção do ambiente cuja
temperatura atingiu 30,5°C (e a velocidade média do ar atingiu 0,52m/s), a partir da Figura 12, percebe-se
que as situações em que a velocidade do ar atingiu 0,2m/s e 0,3m/s, concentram os votos relacionados à
sensação de frio (-1; -2 e -3), demonstrando a influência da velocidade do ar nos votos de sensação térmica
das crianças. Sobre a situação no ambiente que apresentou temperatura interna de 30,5°C e velocidade média
do ar de 0,52m/s, destaca-se que foi o único ambiente que fazia uso de ventiladores no momento da pesquisa;
e, apesar da ventilação ser uma estratégia no clima quente e úmido para promover o conforto térmico quando
a temperatura interna se torna elevada (FROTA e SCHIFFER, 2001), os votos relacionados ao desconforto
por calor nesse ambiente demonstram que, sob aquela temperatura, o movimento do ar não foi suficiente
para promover o conforto térmico.

1247
Figura 11 - Resultados da temperatura do ar e votos de sensação térmica dos respondentes.

Figura 12 – Resultados da velocidade do ar e votos de sensação térmica dos respondentes.

Relacionando os votos de sensação térmica com os registros da temperatura do ar (média das altura de
0,60 m e 1,10m), no gráfico Boxplot (Figura 13) é possível identificar que os votos 0 (‘bem, nem com calor,
nem com frio’) e 1 (‘um pouquinho quente’) apresentaram uma maior variabilidade das condições de
temperatura do ar, com limite inferior em 27,10°C e limite superior em 30°C, o que representa que os
estudantes apresentaram uma tolerância às temperaturas mais elevadas. A condição de neutralidade ocorreu
na temperatura média de 28,52°C e mediana 29,15°C. Dos resultados é possível verificar o fato de ocorrerem
diferentes votos nas mesmas faixas de temperatura do ar, entretanto destaca-se que estes dados não foram
correlacionados com o isolamento da vestimenta ou outras variáveis que possam influenciar a percepção
térmica.
Ao se relacionar a temperatura com os votos de preferência térmica (Figura 13), verifica-se igualmente
uma maior variabilidade na temperatura do ar relacionada aos votos 0 (‘permanecer como estavam’), cuja
média foi 28,80°C e mediana 29,15°C. Ainda sobre a preferência térmica, adicionalmente os estudantes
opinaram sobre a utilização de ar-condicionado para promover conforto térmico nas salas de aula - embora
se tratasse de um item indisponível no ambiente onde estudam. Além de usar as salas de aulas medidas, as
crianças também têm acesso ao laboratório de informática. A sala do laboratório é climatizada, porém elas
não fizeram uso desta no dia de medição.

1248
Figura 13 – Boxplot relação votos de sensação térmica com temperatura do ar.

Das respostas, 84,43% disseram preferir ambientes com ar condicionado quando comparados ao
naturalmente ventilados, o que pode indicar que no entendimento e experiência dos respondentes, o uso dos
aparelhos é necessário para o alcance do conforto térmico. Essa preferência pode ter refletido nos votos
relacionados ao desejo dos alunos pelo ambiente mais resfriado (votos -1; -2 e -3), que somaram 47,97% das
crianças participantes do estudo.

Figura 14 – Boxplot relação votos de preferência térmica com temperatura do ar.

4.5. Modelo adaptativo


Adicionalmente, no que tange à sensação térmica, foram comparados os resultados do Modelo Adaptativo
(ASHRAE, 2017) com os votos reais dos estudantes. Considerando o percentual de 80% de aceitabilidade, a
partir das condições ambientais registradas nos ambientes, de acordo com o Modelo, apenas uma sala de aula
teria as condições ambientais como desconfortável, classificada como muito quente – no entanto, apenas
31,45% dos afirmaram estar em conforto. Já para 90% de aceitabilidade, quatro salas de aulas analisadas
tiveram o status de desconfortáveis (muito quentes). Essas quatro salas são da escola A, onde foram
registradas as maiores temperaturas do ar (TBS) e a maior parte dos votos de desconforto por calor. Pelo
modelo adaptativo, as salas de aulas da escola B, foram consideradas confortáveis com 80% ou 90% de
aceitabilidade, porém 35,71% dos alunos as considerou confortáveis, 33,33% desconfortáveis por frio e
30,95% desconfortáveis por calor.

5. CONCLUSÕES
É inegável a importância da realização de estudos de campo de conforto térmico para compreender a opinião
do usuário e relacionar com variáveis que influenciam na sensação de conforto térmico dos mesmos. Os
estudos em ambientes reais podem auxiliar no entendimento da percepção humana em relação ao ambiente
térmico e no desempenho térmico dos edifícios, e isso não é diferente com crianças que também podem
fornecer informações confiáveis.
Sobre os resultados, nas condições ambientais das salas de aula monitoradas, cuja temperatura média
foi de 28,78°C, observou-se o total de 45,53% de crianças relatando desconforto por calor. Algumas salas
chegaram a atingir a temperatura de 30,5°C – condição na qual nem mesmo a ventilação mecânica do
ventilador mitigou o desconforto por calor. Por outro lado, aqueles que indicaram neutralidade térmica
1249
(31,71%) encontravam-se sob condições térmicas no intervalo de 27,10°C até 30,00°C – demonstrando que
paralelamente há uma tolerância por temperatura mais elevadas. Ainda sobre o percentual de desconforto,
embora 45,53% das crianças tenham apontado o calor como motivo, um percentual maior (47,97%) indicou
a preferência por ambiente mais resfriado, o que vai ao encontro do relato de 84,43% das crianças pela da
preferência por ambientes com ar-condicionado, quando comparado ao naturalmente ventilado. Ainda que a
maioria das crianças tenham indicado desconforto por calor, uma quantidade considerável delas (22,77%)
votaram nos diferentes níveis de sensação relacionada ao frio.
O presente estudo destaca a divergência dos resultados dos votos reais dos estudantes em comparação
com o Modelo Adaptativo da ASHRAE; ainda, a ocorrência de diferentes votos de sensação térmica das
crianças nas mesmas faixas de temperatura do ar – entretanto esses dados não foram correlacionados com o
outras variáveis que possam influenciar na percepção térmica das crianças participantes do estudo. Esse fato,
por sua vez, evidencia um cenário propício a estudos mais aprofundados.

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Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas, Universidade Federal de Santa Catarina.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o suporte financeiro concedido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes).
Agradecimento ao apoio recebido do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico –
CNPq, através do edital do edital MCTIC/CNPq Nº 28/2018 - Universal/Faixa B (Processo: 434583/2018-9).

1250
ESTUDO DE CONFORTO TÉRMICO EM SALAS DE AULAS
CONDICIONADAS ARTIFICIALMENTE EM CLIMA QUENTE E ÚMIDO

Jullyanne Ferreira de Souza (1); Amanda V. P. Lima (2); Pollyanna Padre de Macedo (3)
Solange Maria Leder (4).
(1) Designer de Interiores, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
jullyannefe@gmail.com, Universidade Federal da Paraíba;
(2) Arquiteta Urbanista, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental,
amandavieiraarquitetura@gmail.com, Universidade Federal da Paraíba;
(3) Arquiteta Urbanista, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
pollyannapadre@hotmail.com, Universidade Federal da Paraíba;
(4) PhD, Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, solangeleder@yahoo.com.br,
Universidade Federal da Paraíba.

RESUMO
O desconforto térmico em escolas pode comprometer o processo de aprendizagem e a saúde de alunos e
também professores. Uma solução encontrada para o conforto térmico em ambientes escolares é a aquisição
de aparelhos de ar-condicionado, destacando-se a ação do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE) para facilitar a aquisição dos equipamentos de condicionamento artificial nas instituições públicas
ligadas à educação. Contudo, pouco se sabe sobre o resultado do condicionamento artificial nesses espaços.
Em virtude da importância de pesquisas no ambiente construído em escolas, e da realização destas no
Nordeste brasileiro, o presente trabalho visa identificar as sensações e preferências térmicas de estudantes (8
a 11 anos) em escolas municipais climatizadas na cidade de João Pessoa, Paraíba, no período do inverno.
Para isso, foram realizadas medições das variáveis ambientais (temperatura do ar, temperatura radiante
média, umidade relativa e velocidade do ar) em salas de aula condicionadas artificialmente, aplicando,
simultaneamente, os questionários adaptados às crianças, com quatro perguntas a respeito de sensação e
preferência térmica Quatro escolas foram analisadas, cujas salas de aula obtiveram médias de temperatura do
ar entre 26,31°C a 27,13°C; médias de temperatura externa entre 25,8°C e 28,6°C; e médias de umidade
entre 64,85% a 71,24%. Nessas escolas as temperaturas do ar variaram entre 25,26°C e 27,80°C. As
respostas dos 269 questionários aplicados, indicam que nas quatro escolas 39,37% dos alunos indicaram
votos de sensação de calor, 25,54% de sensação de frio, 35,09% sensação de neutralidade, 14,4% preferência
por mais quente, 29,9% neutralidade, 55,7% preferência por mais frio e 7,8% das crianças votaram na
preferência por ambientes ventilados naturalmente, o que pode indicar uma relação entre o uso dos aparelhos
e a sensação de conforto térmico.
Palavras-chave: conforto térmico, condicionamento artificial, escolas.

ABSTRACT
Thermal discomfort in schools can compromise the learning process and the health of students as well as
teachers. One solution found for thermal comfort in school environments is the acquisition of air-
conditioning equipment, highlighting the action of the Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE) to facilitate the purchase of artificial conditioning devices in public institutions attached to
education. However, little is known about the outcome of artificial conditioning in these spaces. Due to the
importance of researches in the environment built in schools, and the realization of these in the Brazilian
Northeast, the present work aims to identify the thermal sensations and preferences of students (8 to 11 years
old) in municipal air-conditioned schools in the city of João Pessoa, Paraíba, in the winter period. For this,
measurements of the environmental variables (air temperature, mean radiant temperature, relative humidity
and air velocity) were carried out in artificially conditioned classrooms, applying, simultaneously,
questionnaires adapted to the children, with four questions regarding sensation and thermal preference. Four
schools were analyzed, whose classrooms obtained averages of air temperature between 26.31 ° C and 27.13
° C; external temperature means between 25,8°C and 28,6°C; and averages of humidity between 64.85% and
1251
71.24%. In these schools air temperatures varied between 25.26 ° C and 27.80 ° C. The answers of the 269
questionnaires applied indicate that in the four schools, 39.37% of the students indicated feelings of heat,
25.54% of cold sensation and 35.09% neutrality sensation; in addition, 14.4% of children showed preference
for hotter, 29.9% preference for neutrality and 55.7% preference for cooler; and 7.8% of students voted for
preference for air-conditioned environments, which may indicate a relationship between the use of these
equipment and the sensation of thermal comfort.
Keywords: thermal comfort, artificial conditioning, schools.

1. INTRODUÇÃO
A falta de atenção com as condições mínimas de conforto requeridas pelos usuários, principalmente em
escolas municipais no Brasil, pode comprometer o ensino, a aprendizagem, a saúde física e psicológica dos
seus alunos. Segundo Pereira et al. (2009), vários estudos já constataram que a produtividade e a qualidade
do trabalho realizado estão diretamente relacionadas com as boas condições do ambiente em que se
desenvolvem as atividades. Labaki et al. (2001), explica que situações de desconforto causadas por
temperaturas extremas, falta de ventilação adequada, umidade excessiva combinada com temperaturas
elevadas e radiação térmica, por exemplo, podem ser bastante prejudiciais e causar alterações físicas e
psicológicas, podendo provocar apatia, sonolência e desinteresse pelo trabalho, ocasionando situações
extremamente desfavoráveis para um ambiente escolar.
Outro aspecto a ser levado em consideração é que o Ministério da Saúde (2009) identifica as crianças
como uma população vulnerável, que sofrerão maiores dificuldades de adaptação, frente aos impactos das
mudanças climáticas na saúde humana. Todavia, na área de conforto térmico não se tem muitas pesquisas
onde se colhem dados diretamente com crianças, pelo desafio metodológico que representa a comunicação
entre adultos pesquisadores e crianças (VÁSQUEZ et al. 2017, apud, CRUZ et al., 2010).
Hox et al. (2003) explicam a importância de investigações com crianças afirmando que, em vez de
usar os pais ou cuidadores como informantes, as crianças são cada vez mais responsivas sobre suas próprias
experiências, perspectivas, atitudes e comportamentos. Além disso, o acesso às opiniões das crianças é
facilitado pelos diferentes instrumentos e técnicas, desenvolvidos e validados nas pesquisas da educação,
ciências forenses e psicologia.
Teli et al. (2017), destaca que é um grande desafio em projetar edifícios escolares com desempenho
térmico e energético aceitável durante todo o ano, bem como, estabelecer padrões mais elevados nesse tipo
de projeto, usando critérios baseados especificamente em crianças. Porém é imprescindível o conhecimento
das condições térmicas desses usuários e as suas preferências para a elaboração de boas escolas. Para
Lazzarotto et al. (2007), as análises oriundas de pesquisas de campo são muito importantes, pois, só através
delas, é possível conhecer a influência de condições climáticas e culturais diversas daquelas sob as quais os
modelos normalizados foram desenvolvidos.
É importante observar também o crescimento do uso de equipamentos artificiais, como
condicionamento de ar, em escolas nos últimos anos. No setor público, a aquisição de aparelhos de ar-
condicionado para escolas é uma ação do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) (2018),
que é responsável por executar ações do relacionadas à Educação Básica, proporcionando apoio financeiro e
técnico aos municípios e executando ações que contribuam para uma Educação de qualidade. O FNDE
possui um instrumento/processo para facilitar a aquisição dos equipamentos nas instituições públicas ligadas
à educação.
Porém, não há garantias que o incentivo a implantação de sistemas de condicionamento artificial em
salas de aula é uma estratégia que alcance os objetivos pretendidos. Além da quantidade de energia e despesa
demandada para a manutenção desses sistemas, existem evidências de que espaços condicionados
artificialmente possuem um maior nível de rejeição térmica por parte dos seus ocupantes, principalmente
ambientes com sistemas centrais de ar (NODA et al., 2016). Na pesquisa de Bernardi e Kowaltowski (2006),
indícios demonstram que muitas vezes os professores ficam incumbidos de adequar os ambientes às
necessidades das crianças, enquanto elas têm pouca autonomia que em proporcionar o seu conforto
individual. O problema de os professores ficarem nesta tarefa é que, como destacado anteriormente, a
percepção de conforto entre um adulto e uma criança, é diferente.
Nesse contexto, esse trabalho tem como objeto de estudo escolas municipais na cidade de João Pessoa
é uma cidade litorânea (7,11°S; 34,86ºO), que de acordo com o zoneamento bioclimático brasileiro, presente
na norma de desempenho térmico (NBR 15220), encontra-se na Zona Bioclimática oito, possuindo clima
tropical úmido. De acordo com dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Meteorologia – INMET,
João Pessoa registrou em 2018 a temperatura média máxima de 31° e mínima de 23°C, com umidade relativa

1252
média entre 53% e 94% ao longo do ano, apresentando-se, assim, como um clima característico para os seus
habitantes.
Silva (1999), explica que de acordo com a Classificação Bioclimática de Köppen (1884, atualizada
para os dias atuais), o clima da cidade de João Pessoa é denominado mediterrâneo ou Nordestino sub seco,
tipo de 3dth. A cidade de João Pessoa tem como característica estações não muito definidas, mas com
estação úmida definida, com índice pluviométrico acentuado durante o período de inverno. De acordo com a
Prefeitura de João Pessoa (2015), na cidade de João Pessoa a meta da gestão atual é climatizar todas as
escolas municipais da rede pública de ensino integral e creches, porém, não existe um estudo prévio nessas
escolas que garanta que essa medida será eficaz na obtenção de conforto térmico de alunos ou professores.
Em relação às análises de conforto térmico Lamberts (2016), aponta Povl Ole Fang como o principal
representante da linha analítica de avaliação das sensações térmicas humanas. As suas equações e métodos
têm sido utilizados mundialmente e forneceram subsídios para o equacionamento e cálculos conhecidos hoje
como PMV (Predicted Mean Vote) e o PPD (Predicted Percentage of Dissatisfied). O PMV é um índice que
prediz o valor médio dos votos de sensação térmica de um determinado grupo de pessoas a uma escala de
sete pontos de sensação expressa a partir de -3 a +3, enquanto o PPD é um índice que estabelece uma
previsão quantitativa da percentagem de pessoas insatisfeitas determinada a partir dos votos do PMV.
(ASHRAE, 2017).
Nesse contexto, o questionamento do conforto térmico no ambiente escolar assume grande relevância,
pois a avaliação das reais situações vivenciadas pelos estudantes é fundamental para dotar os espaços
escolares de melhores condições de habitabilidade e assim contribuir para um processo educativo de melhor
qualidade.

2. OBJETIVO
Este estudo tem por objetivo identificar as sensações e preferências de conforto térmico de alunos em salas
de aula de escolas de ensino fundamental da rede municipal em João Pessoa, cuja faixa etária é de 08 a 11
anos, e analisar os resultados das variáveis térmicas medidas sob a perspectiva das crianças que utilizam os
espaços.

3. MÉTODO
O método utilizado no presente estudo tem como principal característica a simultaneidade da coleta de dados
(por meio de levantamentos in loco) e da obtenção das respostas dos alunos (através da aplicação de
questionários). Os dados apresentados nesse trabalho compõem uma pesquisa em desenvolvimento no
âmbito do Laboratório de Conforto Ambiental da UFPB, na qual investiga-se parâmetros de conforto térmico
e lumínico em salas de aula com ventilação natural e condicionamento artificial.
Este trabalho restringe-se à análise dos aspectos de conforto térmico dos alunos em salas de aula com
uso de ar-condicionado e as análises foram realizadas a partir de aplicação de questionários e medição de
variáveis ambientais térmicas nas salas de aula. a) identificar as sensações e preferências de conforto térmico
de alunos em salas de aula climatizadas numa amostra de escolas de ensino fundamental da rede municipal
em João Pessoa, cuja faixa etária é de 08 a 11 anos, b) Realizar medição das variáveis ambientais térmicas
(quais) c) confrontar a opinião dos alunos com as variáveis ambientais térmicas medidas d) a partir das
variáveis ambientais medidas e adotando um modelo de conforto comumente utilizado, estimar o percentual
de conforto nos ambientes analisados.

3.1. Caracterização da amostra e objeto de estudo


Foram escolhidas como objetos desse estudo quatro escolas da rede Municipal de Ensino da cidade de João
Pessoa/PB, cujo condicionamento térmico das salas de aula é exclusivamente artificial. No total as medições
ocorreram em quatorze salas de aula distribuídas entre escolas localizadas em diferentes bairros da cidade.
Levando em consideração o objetivo de identificar a opinião dos indivíduos, a faixa etária (8 a 11
anos) foi definida pensando no entendimento destes em relação ao questionário. Os estudantes dessa faixa
etária caracterizam as turmas do terceiro, quarto e quinto ano do ensino fundamental, já alfabetizados, mas
ainda se enquadram na categoria de pessoas vulneráveis.
A prefeitura de João Pessoa adotou um projeto padrão para construção de novas escolas de ensino
integral. Com planta única, a edificação possui dois pavimentos e tem todas as salas de aula localizadas no
primeiro pavimento com dimensões de 7,05 metros de largura e 7,05 metros de profundidade. O projeto
arquitetônico padrão tem sido construído em diferentes bairros da cidade, assim, a implantação das escolas e
a orientação das fachadas são diferentes. As escolas participantes (Figura 1) do presente estudo foram:
Leonel Brizola, Chico Xavier, Radegundis Feitosa e Luiz Augusto Crispim. A coleta de dados ocorreu nos
1253
dias 15, 21 e 27/08 e 05/09 de 2018, os dias de coleta foram determinados através da disponibilidade das
escolas de acordo com as atividades do ano letivo.
Para conhecer as condições do clima nos dias de medição, foram utilizados os dados climáticos da
estação do INMET aberta em no ano de 2007 com latitude de -7.165409º, longitude de -34.815627º e altitude
de 34 metros.

Figura 1 - Imagens de satélite das escolas Escola Municipal Leonel Brizola, Escola Municipal Chico Xavier, Escola
Municipal Radegundis Feitosa e Escola Municipal Luiz augusto crispim, respectivamente. (GOOGLE MAPS, 2018)

3.2. Medições quantitativas


Na pesquisa de campo foram coletados dados para quantificar as variáveis ambientais como as temperaturas
de bulbo seco e bulbo úmido, temperatura de globo e a velocidade do ar. As medições tinham como padrão
duas alturas, a do nível do abdômen (0,60 m) e do nível da cabeça de pessoas sentadas (1,10m), conforme
prescrito na norma ASHRAE STANDARD-55 (2017). Observa-se ainda que as crianças têm em geral altura
média menor que os adultos, porém em razão de o mobiliário presente nessas escolas serem projetados para
acomodar adultos, as alturas de abdômen e cabeça não tiveram uma diferença significante.
As medições nas salas de aula aconteciam pelo período de 15 minutos (além do tempo de
estabilização) e em áreas centrais das salas, no momento das medições as crianças estavam em atividade de
leitura e escrita com taxa metabólica de 1.0 met (ASHRAE 55-2017), não realizando qualquer outro tipo de
atividade metabólica que impactasse na sensação de conforto.
Todos os alunos usavam a camisa do uniforme e demais peças
diferentes, tendo isolamento da vestimenta entre 0,35 e 0,50
clo. Os equipamentos (Figura 2) foram fixados em dois tripés
respeitando as alturas pré-estabelecidas, para medições das
temperaturas e umidade utilizaram-se dois medidores de
stress térmico TGD-300 e dois Hobos U12, para as medições
de velocidade do ar um termo anemômetro Tafr 180 foi
fixado no tripé mais alto, a 1,10m do piso.
Após a instalação dos equipamentos na sala de aula,
os alunos recebiam uma breve explicação sobre a pesquisa e
suas ferramentas, a fim de esclarecer possíveis dúvidas, gerar
interesse e informar sobre a importância da sua colaboração
para o estudo.
Figura 2 - [a] TGD-300, [b] Tarf- 180, [c] Hobo U12-012.
3.3. Medições qualitativas
Os questionários foram respondidos simultaneamente a medição das variáveis ambientais, as crianças
estavam sentadas em seu mobiliário e não recebiam radiação solar direta no decorrer dos 15 minutos de
duração do estudo, para facilitar a compreensão das crianças as perguntas foram lidas e explicadas em voz
alta, uma de cada vez, após a leitura de uma pergunta os alunos deveriam respondê-la para só então a
pergunta seguinte ser lida. Os questionários elaborados eram adaptados para as crianças e consideraram a
faixa etária da amostra, as descrições presentes nas questões tinham como objetivo estimular que os
estudantes dessem a resposta mais aproximada do que realmente eram as suas sensações e preferências em
relação ao ambiente térmico. Optou-se pelo uso de cores para facilitar a explicação e a identificação das
opções, diferenciando as respostas e gerando maior interesse nas crianças.
No total, haviam quatro perguntas relacionadas ao conforto térmico nas salas de aula, porém no âmbito
desse artigo, apenas os resultados das três primeiras questões serão analisados. A primeira questão indagava
sobre a sensação da criança no momento da aplicação do questionário (“Sobre calor ou frio, como você está
se sentindo agora?”), a segunda tinha como objetivo entender sua preferência térmica ( “Sobre calor ou frio,
como você gostaria de estar se sentindo agora”?) e a terceira almejava identificar a preferência dos alunos
em relação ao uso de condicionamento artificial (“Você prefere ambientes com ou sem ar-condicionado”?).
As perguntas foram baseadas no questionário da ASHARE (2017), onde é adotada uma a escala de 07 pontos
1254
(Tabela 1), que foi associada a sete cores, cada uma representando uma opção de resposta.
Tabela 1 - Descrições e escalas da ASHRAE 55 2017
Descrição da ASHRAE Equivalência numérica Descrição adaptada a crianças Descrição adaptada a crianças
(preferência) (sensação)
Quente 3 Bem mais quente Muito quente
Aquecido 2 Mais quente Quente
Levemente aquecido 1 Um pouquinho mais quente Um pouquinho quente
Neutro 0 Assim, nem mais quente nem mais Bem, nem mais quente nem mais
frio frio
Levemente resfriado -1 Um pouquinho mais frio Um pouquinho frio
Resfriado -2 Mais frio Frio
Frio -3 Bem mais frio Muito frio

Com a finalidade de relacionar os votos das crianças com as variáveis ambientais térmicas e os dados
de metabolismo e resistência térmica das vestimentas, foi calculado através da ferramenta online CBE -
Thermal Comfort Tool (TYLER et al. 2017), o PMV, índice baseado no balanço de calor.

4. RESULTADOS
A partir de uma análise descritiva das informações coletadas (variáveis objetivas e subjetivas), nas medições
e entrevistas realizadas no período de inverno do ano de 2018, surgiram resultados que serão apresentados a
seguir.
As escolas mostradas a seguir fazem parte do modelo padrão da Prefeitura Municipal de João Pessoa.
Todas as escolas desse modelo são climatizadas, tem o mesmo projeto arquitetônico e foram construídas nos
anos 2000 com a finalidade de funcionamento para ensino integral. A instalação do sistema de ar-
condicionado foi posterior, pois, esta etapa decorreu do projeto da prefeitura para a climatização de todas as
salas de aula das escolas municipais.

4.1. Escolas monitoradas


Ao todo trezentos e um alunos participaram da pesquisa nas quatro escolas medidas, porém, trinta e dois
desses questionários foram descartados por apresentar respostas falhas. Esses alunos fazem parte de turmas
de terceiro, quarto e quinto ano que compreendem os últimos anos do ensino fundamental sendo, 57,07%
meninos e 42,92% meninas, 15,7% tem oito anos, 21% nove anos, 51,4% dez anos e 11,7% onze anos.
Nas escolas Luiz Augusto Crispim e Leonel Brizola as medições aconteceram no turno da tarde, entre
13:00h e 17:00h e as temperaturas do ar variaram entre 26,43°C e 27,59°C, na primeira, e 26,16°C e
27,80°C, na segunda. Nas escolas Chico Xavier e Radegundis Feitosa as medições ocorreram no período da
manhã, entre 07:40h e 11:00h, e as temperaturas do ar variaram entre 26,3°C 27,29°C, na primeira, e 26,8°C
e 27,80°C, na segunda.
Nas escolas Luiz Augusto Crispim e Leonel Brizola as medições aconteceram no turno da tarde,
entre 13:00h e 17:00h e as temperaturas do ar variaram entre 26,43°C e 27,59°C, na primeira, e 26,16°C e
27,80°C, na segunda. Nas escolas Chico Xavier e Radegundis Feitosa as medições ocorreram no período da
manhã, entre 07:40h e 11:00h, e as temperaturas do ar variaram entre 26,3°C 27,29°C, na primeira, e 26,8°C
e 27,80°C, na segunda. Os resultados de PMV e PPD variaram nas escolas de acordo com as variáveis
ambientais térmicas e as vestimentas utilizadas pelos alunos em cada sala de aula.
Reformada e climatizada em 2015, na escola municipal Leonel Brizola três salas de aulas foram
monitoradas, uma de terceiro, uma de quarto e uma de quinto ano, no turno da tarde. Nessas salas, os
aparelhos de climatização de ar estavam ligados e adaptações em relação a janelas ou temperatura dos
mesmos não eram possíveis. Cinquenta e três questionários foram aplicados com vinte meninas e trinta e três
meninos. Observando os votos nas opções de escala individualmente, durante as medições a maioria das
crianças respondeu que estava confortável e preferia não mudar (29,1%), porém 45,8% votaram em alguma
opção de desconforto por calor ‘+3,+2,+1’ e 25% alegaram sentir algum desconforto por frio. Em relação aos
votos de preferência a maioria votou em alguma das opções por mais frio ‘-1,-2,-3’. No que diz respeito a
questão de preferência pelo ar condicionado, apenas seis crianças informaram que preferem ambientes sem
ar condicionado. O PMV nessa escola variou entre 0,25 e 0,56, sendo considerado neutro para crianças com
até 0,45 clo de isolamento, e levemente quente para crianças com isolamento de 0,5clo. O PPD variou entre
6% e 12%.

1255
Inaugurada em abril do ano de 2011, a Escola Municipal Chico Xavier é de ensino integral. As salas
analisadas, que possuíam aparelhos refrigeradores instalados e em funcionamento. Três salas de aula do 5°
ano foram medidas nesta escola e quarenta e três desses alunos foram entrevistados nas medições, vinte e um
meninos e vinte e duas meninas. A maioria dos alunos relatou estar se sentindo “bem” (36,3%) e o segundo
maior número de votos foi para “um pouco de frio” (30,3%). No que diz respeito a preferência em relação ao
ambiente térmico, na escola Chico Xavier, 51,5% das crianças votaram em preferir não mudar, 30,3%
preferiram que estivesse “um pouquinho mais frio” (-1) e 9% “um pouquinho mais quente” (+1). Nessa
escola 22,8% das crianças afirmaram preferir ambientes sem ar condicionado. Na escola Chico Xavier os
resultados do PMV indicaram neutralidade para todas as salas variando entre -0,04 e 0,36. O PPD variou de
5% a 9%.
Também inaugurada no ano de 2011, na escola de ensino integral Radegundis Feitosa, quatro turmas
foram medidas, duas de terceiro ano, uma de quinto e uma de quarto ano, contabilizando um total de 83
questionários aplicados com quarenta e quatro meninos e trinta e nove meninas. No período de inverno a
maioria votou estar se sentindo “bem” (33,3%), mas a segunda maioria votou em “um pouquinho de frio”
(19,2%), demonstrando que uma quantidade considerável de alunos estava em desconforto por frio. No que
diz respeito a preferência a maioria optou por “muito mais frio” (33,3%) seguido de “não mudar” (25,6%).
Nas medições seis crianças disseram preferir ambientes sem ar condicionado. Observando as salas de aula
individualmente, nessa escola, em uma das salas todos os alunos que estavam sentados mais próximos as
janelas relataram desconforto por calor votando em “muito calor”, mesmo não recebendo radiação direta,
enquanto os demais alunos votaram em “bem”, e nas opções de desconforto por frio. Sobre os votos em
relação a preferência por ar condicionado seis crianças alegaram preferir ambientes sem os aparelhos. Os
resultados do PMV nessa escola variaram entre 0,13 e 0,64, sendo considerado neutro em algumas salas e
levemente quente em outras. O PPD variou entre 6% e 14%.
A escola Luiz Augusto Crispim foi entregue no ano de 2009, mas ela só recebeu a climatização no ano
de 2015. Noventa questionários foram aplicados na escola, vinte e seis meninas e sessenta e quatro meninos.
Os aparelhos de refrigeração permaneceram ligados durante o período das medições e as janelas e porta
fechadas em todos os momentos nas duas salas medidas. Os professores relataram não achar os aparelhos de
ar condicionados suficientes para deixar a salas confortáveis. Nas medições a maioria das crianças
responderam que estavam confortáveis (40,2%), porém a segunda maior quantidade de relatos foi sobre
estarem com um pouco de calor (31,9%). Em relação a preferência a maioria respondeu que preferiam um
pouco mais de frio (27,7%). A respeito dos votos de preferência sobre ar condicionado, uma criança votou na
opção de preferir ambientes sem o condicionamento do ar. De acordo com o modelo de predição essa escola
foi a que teria mais desconforto por calor, com resultados de PMV de 0,24 a 0,86 (de neutro a levemente
quente) e PPD de 6% a 21%.

4.2. Análises
As quatro escolas em estudo apresentaram resultados similares em relação aos votos de sensação e
preferência. Nas escolas Luiz Augusto Crispim e Leonel Brizola a maioria dos votos de sensação foi de
desconforto por calor (48,6% e 45,8%) e preferência por frio (58,1% e 60,8%), já na Chico Xavier a maioria
dos alunos relatou estar bem (36,3%) e na Radegundis Feitosa a maior parte dos alunos (37,1%), votou em
uma das opções de desconforto por frio. O número de alunos entrevistados em cada escola e a quantidade de
salas analisadas foram outra semelhança entre as escolas, mesmo em dias de medição diferentes, como pode
ser observado na tabela 2.
Para obtenção de um panorama geral dos votos de sensação e preferência das quatro escolas padrão,
foram elaborados gráficos que mostram a quantidade de votos de sensação e preferência. (Figura 3 e Figura
4)

Figura 3 - Sensação relatada pelos alunos. Figura 4 - Preferência relatada pelos alunos

1256
Analisando os votos de preferência e sensação, das escolas quatro escolas, 39,37% dos alunos
sentiram algum desconforto por calor, 35,09% votaram na opção de neutralidade, 25,54% sentiram algum
desconforto por frio, 14,46% preferiam o ambiente mais quente, 29,9% preferiam não mudar e 55,7%
preferiam o ambiente mais frio. Comparando esses votos, a maioria sentiu calor e preferiu mais frio, porém,
mais alunos preferiram mais frio do que sentiram calor, demonstrando que parte dos alunos que relataram
neutralidade também preferiam mais frio.
Os dados com as médias das variáveis no momento da medição podem ser observados na tabela
abaixo (Tabela 2).
Tabela 2 - Médias das variáveis nas escolas padrão
Temperatura do ar (C°) Text (C°)
Escolas Altura(m) UR (%) Va (m/s) INMET (2018)
Média Máxima Mínima DP
(média)

A 1,10m 27,1 27,46 27,12 0,10


Luiz Augusto
Crispim 0,60m 26,7 27,59 26,43 0,12 64,8 0,0 28,6

1,10m 26,8 27,80 26,35 0,19


B
67,8 0,0 27,5
Radegundis Feitosa
0,60m 26,9 27,75 26,47 0,18

1,10m 26,8 27,80 26,35 0,19


C
Leonel Brizola 68,6 0,0 28,4
0,60m 26,5 27,68 26,16 0,16

1,10m 26,6 27,29 25,75 0,08


D
Chico Xavier 71,2 0,0 25,8
0,60m 26,3 26,96 25,26 0,09

Nas escolas A, B e C foram encontradas médias de temperatura do ar mais baixas no interior das salas
de aula do que no exterior, porém, na escola D a temperatura externa foi 0,8°C a menos que no interior a
1,10m e 0,5°C a menos que na altura de 0,60m. A maior diferença entre as médias de temperatura do ar nas
salas de aula, de acordo com as diferentes alturas em cada escola, foi de 0,4°C, valor menor que a precisão
do equipamento utilizado que é 0,5 °C. As médias de temperatura do ar nas salas de aula também foram
parecidas nas quatro escolas padrão e variaram entre 27,1°C, média da escola A, e 26,3°C média da escola D.
A diferença nas médias de temperatura exterior foi de 2,8°C nessas duas escolas, sendo a média de umidade
na primeira 64,8% e na segunda 71,2%.
Não foram captados pelos equipamentos médias significativas de velocidade do ar nas salas de aula de
nenhuma das quatro escolas medidas. Isso se deu, pois, os aparelhos condicionadores de ar foram instalados
numa altura muito superior à altura do equipamento de medição, o que acarretou na ausência de ventilação
no sensor desses equipamentos.
A escola A, foi a que, teve o maior percentual de votos de desconforto por calor, 49% dos alunos
votaram nas opções da escala que representam +3,+2 ou +1, e também é a escola com maior média de
temperatura nas salas de aula (27,1ºC), menor percentual de umidade (64,8%) e maior temperatura exterior
(28,6ºC).
Na escola C a maioria dos votos também foi de desconforto por calor (45,8%), sendo % com médias
de temperatura do ar de 26,8°C e 26,5°C e 68,6% de umidade. Na escola B a maioria dos votos de
desconforto foi por frio (37%), mesmo com diferença de apenas 0,4°C da temperatura medida na altura de
1,10m em comparação com a escola A.
Na escola D a distribuição de votos foi a mais balanceada entre as quatro escolas, já que, 33,3% dos
alunos votaram nas opções +3, +2 e +1, 36,4% na opção “bem” e 30,3% nas opções -1,-2 e -3. As médias de
temperatura na escola D foram 26,6ºC e 26,3°C as menores entre todas as escolas. A relação entre os
diferentes votos de sensações e preferências relatadas pelas crianças e as faixas de médias de temperatura do
ar registradas nas salas de aula, podem ser observadas nas figuras 5 e 6.

1257
Figura 5 - Relação da sensação térmica com temperatura do ar. Figura 6 - Relação de preferência térmica com temperatura do ar.
Foram realizadas análises relacionadas ao gênero, sensação e preferência dos ocupantes que podem
ser observadas nas figuras 7 e 8. As análises de sensação apontaram que as meninas votaram mais nas
sensações 3, 2 e -3 e pareceram ter uma leve tendência a sentir mais calor que os meninos, já em relação à
preferência os votos foram muito parecidos. Destaca-se que esta diferença identificada no cruzamento de
dados de votos e gênero é tênue, sendo necessária uma análise mais aprofundada para resultados mais
conclusivos.

Sensação e Gênero Preferência e Gênero


40% 40%

20% 20%

0% 0%
1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7

Meninas Meninos Série1 Série2

Figura 7 - Relação da sensação térmica com gênero. Figura 8 - Relação de preferência térmica com gênero.
Sobre a preferência em relação aos condicionadores de ar, as crianças foram perguntadas se em geral
elas preferem ambientes com ou sem climatização e 7,8% das crianças das quatro escolas votaram na opção
de preferência por ambientes sem o ar-condicionado, ou seja, crianças que votaram em qualquer das opções
de sensação, ou na opção de preferência por “não mudar” (0), também optaram por preferência a ambientes
climatizados em todas as escolas, o que pode indicar que elas fizeram uma associação em relação a conforto
e ambientes climatizados.
Comparando os resultados dos votos de sensação das crianças e os resultados do voto médio predito,
podemos observar que o PMV só previu o neutro e o levemente quente, enquanto as crianças votaram em
todas as opções: neutralidade, opções de desconforto por frio e opções de desconforto por calor. Ou seja, as
crianças se mostraram mais sensíveis a calor e frio do que demonstraram os resultados encontrados no
modelo, como pode ser observado na figura 9.

1258
Figura 9 - Relação entre os votos de sensação térmica e o PMV.

5. CONCLUSÕES
Através dos resultados encontrados foi possível entender a sensação das crianças e a opinião delas sobre
como preferem se sentir nas suas salas de aula. Destaca-se a importância do questionamento do conforto
térmico no ambiente escolar para a avaliação das reais situações vivenciadas pelas crianças, pois essas
informações são fundamentais para prover espaços escolares com melhores condições de habitabilidade
possíveis e assim contribuir para um processo educativo de melhor qualidade.
As variáveis medidas nas quatro escolas tiveram valores muito próximos. Em relação às médias de
temperaturas do ar, poucas variações foram encontradas nas duas alturas medidas, sendo a maior diferença
de 0,4°C na escola A. Numa comparação sobre as médias de temperatura das quatro escolas, a maior
diferença encontrada foi de 0,8°C entre a escola A e a escola D. As médias de umidade relativa variaram
entre 64,8% e 71,2% e as temperaturas externas foram maiores que as das salas de aula nas escolas A, B e C.
Nas escolas A e C, onde as medições aconteceram no turno da tarde, as temperaturas do ar variaram entre
26,43°C e 27,59°C, na primeira, e 26,16°C e 27,80°C, na segunda. Nas escolas D e B, onde as medições
ocorreram no período da manhã, as temperaturas do ar variaram entre 26,3°C 27,29°C, na primeira, e 26,8°C
e 27,80°C, na segunda.
Os votos das crianças sobre sensação e preferência tiveram semelhanças entre as escolas separando
por turno, mesmo com as medições em dias diferentes e com temperaturas parecidas. A escola que teve o
maior número de votos de desconforto por calor foi a A (49%) que também teve a maior temperatura e a
menor umidade relativa identificadas, seguida pela escola C (45,8%), ambas medidas no turno da tarde. As
escolas B e D foram medidas no período da manhã. A escola que teve o maior número de votos de
desconforto por frio foi a escola B (37,1%). Na escola D a maioria dos votos (36,3%) foi na opção de
neutralidade. Comparando os votos de sensação e preferência, a maioria sentiu calor e preferiu mais frio,
porém, mais alunos preferiram mais frio do que sentiram calor, demonstrando que parte dos alunos que
relataram neutralidade também preferiam mais frio. Relacionando o gênero e os votos, foram encontrados
resultados parecidos, sendo necessárias análises mais aprofundadas para encontrar possíveis correlações. O
índice de predição utilizado, o PMV, não obteve resultados satisfatórios quando confrontado com votos das
crianças, pois não previu sensações de desconforto por frio e nem sensações de calor (+2) e muito calor (+3).
A maioria das crianças em todas as escolas alegaram preferir ambientes com aparelhos de ar-
condicionado, ou seja, ao todo apenas 7,8% de uma amostra de duzentos e sessenta e nove crianças das
quatro escolas analisadas, votaram na opção de preferência por ambientes sem o ar-condicionado, o que pode
demonstrar que as crianças associam o conforto a ambientes climatizados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Heating, Refrigeration and Air-Condition Engineers, Inc. Atlanta, EUA. ISSN 1041-2336, 2017.
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AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o suporte financeiro concedido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes).
Agradecimento ao apoio recebido do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -
CNPq, através do edital MCTIC/CNPq Nº 28/2018 - Universal/Faixa B (Processo: 434583/2018-9)

1260
ESTUDO DO CONFORTO TÉRMICO DE UMA HABITAÇÃO DE
INTERESSE SOCIAL (HIS) COM ALVENARIA DE TIJOLOS
ECOLÓGICOS PRODUZIDOS COM REJEITOS DE RESÍDUOS SÓLIDOS
URBANOS EM ARACAJU/SE
Maria Paula Dunel (1); Carla Fernanda Teixeira Barbosa (2).
(1) Arquiteta e Urbanista, Professora Substituta do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal da Bahia, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil na
Universidade Federal de Sergipe, pauladunel@hotmail.com, Alameda dos sombreiros, 179, Caminho das
Árvores, Salvador, Bahia, (71) 98261-8078.
(2) Arquiteta e Urbanista, Docente Adjunta do PROEC-UFS, cafbt@yahoo.com.br, Universidade Federal de
Sergipe, campus José Aloísio de Campos - Av. Mal. Cândido Rondon, s / n - Jd. Rosa Elze, São Cristóvão -
SE, 49100-000, 079-3194-7576.

RESUMO
A crescente urbanização e a industrialização das sociedades modernas têm gerado a produção em grande
escala de resíduos sólidos, constituindo a proliferação destes, portanto, um problema a nível mundial, com
consequências imediatas à saúde pública e ao meio ambiente. Os resíduos sólidos urbanos devem ser geridos
e controlados de forma a reduzir o seu volume e periculosidade, minimizando os prejuízos da poluição
ambiental e os impactos sobre a saúde das populações. Atualmente, as técnicas de controle de resíduos mais
comuns são a reciclagem e a compostagem. Tais técnicas são conhecidas como ferramentas que possibilitam
o aproveitamento dos resíduos. Neste contexto, a utilização de materiais recicláveis na construção civil vem
crescendo dia a dia. No entanto, no Brasil, não foi encontrada abordagem referente a algum material para a
construção civil que tenha como base o resíduo sólido domiciliar, como é o caso do tijolo ecológico. Neste
trabalho, foi analisado o conforto térmico do tijolo ecológico, um tijolo de baixo impacto ambiental e de fácil
aplicabilidade, que pode ser utilizado na melhoria do conforto térmico das construções brasileiras em geral,
inclusive nas habitacionais para a população de baixa renda. O principal objetivo do estudo foi verificar a
eficácia do tijolo ecológico quanto ao conforto térmico. A metodologia consiste em se mensurar o conforto
térmico em um modelo de referência de residência de baixa renda, com alvenaria de tijolos ecológicos
produzidos com rejeitos de RSU, logo foram realizadas alterações no envelope, como o acréscimo de
argamassa de revestimento e pintura de cor branca e a substituição da alvenaria de tijolo ecológico pela
alvenaria de tijolo maciço cerâmico com e sem revestimento com o fim de comparar os valores de
temperatura interna da residência. A mensuração foi realizada por simulação computacional com o software
EnergyPlus® utilizando o protótipo em escala real da casa padrão popular brasileira, no dia típico de verão.
Nos resultados, notou-se que a residência de tijolos ecológicos obteve uma diferença de temperatura
sensível, em comparação a residência de tijolos maciços cerâmicos, o protótipo construído com tijolo
ecológico contribuiu para melhores condições de conforto térmico, pois proporcionou menores temperaturas
internas, e, consequentemente, menor ganho de calor. Portanto, constatou-se alteração nos valores de
transmitância e atraso térmicos referentes ao comportamento das alvenarias nos diferentes ambientes da
edificação. Quanto à influência do acréscimo da argamassa de revestimento e da pintura externa com cor
clara, nota-se que houve significativa melhoria do desempenho térmico das alvenarias. Portanto, para melhor
conforto térmico dos usuários das edificações da zona bioclimática-8, é indicado que a vedação composta
por tijolos ecológicos seja rebocada e tenha a sua fachada pintada com cores claras.
Palavras-chave: simulação computacional, conforto térmico, tijolo ecológico, resíduos sólidos urbanos.

1261
ABSTRACT
The increasing urbanization and industrialization of modern societies has led to a large-scale production of
solid waste, and its proliferation is therefore a global problem with immediate consequences for public health
and the environment. Urban solid waste must be managed and controlled so as to reduce its volume and
hazard, minimizing the damage of environmental pollution and the impacts in the population health.
Currently, the most common waste control techniques are recycling and composting. Such techniques are
known as tools that allow waste reuse. In this context, the use of recyclable materials in civil construction
has been increasing day to day. However, in Brazil, no approach was found regarding material for the civil
construction that is based on domiciliary solid residues, as the ecological brick. In this work, the thermal
comfort of the ecological brick was analysed, a brick of low environmental impact and of easy applicability
that can be used to improve the thermal comfort of the Brazilian constructions in general, including the
housing for the low-income population. The main objective of the study was to verify the effectiveness of the
ecological brick regarding the thermal comfort. The methodology consists of measuring the thermal comfort
in a reference model of low-income residence with ecological bricks masonry produced with waste from
urban solid waste. Changes in the envelope were soon made, such as the addition of coating mortar and
white paint and the replacement of the ecological brick masonry with the ceramic brick masonry with and
without coating in order to compare the values of the residence internal temperature. The measurement was
performed by computational simulation with the EnergyPlus® software using the real-scale prototype of the
popular standard Brazilian house, on the typical summer day. In the results, it was noticed that the residence
of ecological bricks obtained a sensitive difference in temperature in comparison to the residence of solid
ceramic bricks. The prototype built with ecological brick contributed to better conditions of thermal comfort,
as it provided lower internal temperatures, and, consequently, lower heat gain. Therefore, it was verified a
change in the values of thermal transmittance and delay related to the behaviour of masonry in the different
environments of the building. As for the influence of the addition of the coating mortar and the external paint
with a light color, it was observed that there was a significant improvement in the thermal performance of the
masonry. Therefore, for a better thermal comfort of the users of the buildings in the Brazilian bioclimatic
zone number 8, it is indicated that the seal composed by ecological bricks is towed and its facade painted
with light colors.
Keywords: computer simulation, thermal comfort, ecological brick, urban solid waste.

1. INTRODUÇÃO
Atualmente, tem-se discutido muito a respeito dos impactos ambientais no mundo. Tanto os governos quanto
as empresas e a sociedade buscam novas formas de reverter ou minimizar os danos causados ao meio
ambiente. Segundo dados da Organização das Nações Unidas – ONU Brasil (2016), metade da população
mundial vive nas cidades, e a estimativa para 2030 é que 60% viverão em áreas urbanas. Além disso, a
população global deve chegar a 9,6 bilhões até 2050, sendo necessários três planetas para gerarem recursos
naturais capazes de sustentar o estilo de vida atual (SANTOS; ROVARIS, 2017).
Com crescimento populacional, cresce, também, o consumo, principalmente de produtos descartáveis
ou com embalagens descartáveis, como plástico, alumínio, papel, entre outros. Essa condição provoca o
aumento na geração de Resíduos Sólidos Urbanos (RSUs), especialmente nos grandes centros, diminuindo
assim a vida útil dos aterros sanitários e provocando maiores impactos ambientais (ROCHA, 2012). Sabe-se
que a extração de recursos naturais para produzir bens de consumo e a produção de resíduos sólidos causam
inúmeros danos ao meio ambiente. Por isso, para minimizar esses efeitos negativos ao ambiente, é
fundamental realizar um gerenciamento adequado dos resíduos sólidos produzidos pela população. De
acordo com Rocha (2012), uma alternativa ambientalmente correta e sustentável de reciclagem dos RSUs é a
coleta seletiva, já que diminui o volume de depósito dos rejeitos nos aterros sanitários, aumentando sua vida
útil.
Segundo Santos e Rovaris (2017), neste contexto, o desafio é reduzir a produção excessiva dos
resíduos sólidos e, por meio da coleta seletiva, promover o reaproveitamento dos materiais recicláveis, com o
intuito de minimizar o descarte desses resíduos em aterros sanitários ou em locais inapropriados, que
prejudiquem a saúde pública e o meio ambiente. Segundo dados da Organização das Nações Unidas – ONU
Brasil (2016), o país descarta de maneira inapropriada em torno de 80 mil toneladas de RSUs todos os dias,
isto é, cerca de 40% dos RSUs coletados.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), editada por meio da Lei nº 12.305/2010, aponta que
os resíduos sólidos devem ter uma destinação final ambientalmente adequada, o que inclui a reutilização, a
reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético, e somente depois de findadas
todas as alternativas de tratamento e recuperação dos resíduos, por intermédio dos processos tecnológicos e
1262
economicamente viáveis disponíveis, que os resíduos podem ser rejeitados. Entretanto, é visível o atraso de
parte dos municípios brasileiros quanto ao cumprimento dessa lei, por falta de recursos financeiros
(BRANDÃO; GUTIERREZ, 2016).
Internacionalmente, sem ir muito longe, em um país limítrofe como Argentina (pontualmente na
cidade autônoma de Buenos Aires), que tem o regime de políticas de resíduos sólidos urbanos similar ao do
Brasil, foi implantada a técnica de reciclagem e coleta seletiva e por meio destas, foram fabricados os tijolos
ecológicos produzidos com rejeitos de RSUs (BRANDÃO; GUTIERREZ, 2016).
O Projeto do tijolo ecológico é uma iniciativa da Coordinación Ecológica Área Metropolitana
Sociedad del Estado (CEAMSE), destinado a aproveitar a fração fina e orgânica dos rejeitos de RSUs para a
produção de tijolos. Estes são produzidos a partir da mistura e combinação de tais rejeitos com outros
materiais utilizados na construção (cal, cimento e areia).
Uma vez que os resíduos sólidos chegam à planta de tratamento, os resíduos orgânicos são separados
mecanicamente e, em seguida, degradados e estabilizados por meio da aplicação de um tratamento biológico,
por um período de três semanas, até que as bactérias consumam todo o orgânico e parem de gerar líquidos
(figura 01), desse modo, o rejeito é utilizado para construção de cobertura do solo de aterros sanitários e para
fabricação de tijolos ecológicos.
Na fábrica de tijolos ecológicos, o rejeito orgânico estabilizado é recebido, e realizado um novo
processo, que consiste no esmagamento fino para, em seguida, ser peneirado para atingir o tamanho
apropriado para uso posterior na fabricação de tijolos (figura 02).
Ato contínuo, misturam-se todos os materiais secos (rejeitos orgânicos, cal, cimento e areia) e se
adiciona água para amassar e homogeneizar. Uma vez alcançada à consistência adequada, o tijolo é formado
por preenchimento mecânico de moldes. Finalmente, os tijolos elaborados podem secar por cerca de 20 dias,
tempo em que o material adquire dureza e resistência (figura 02).

Figura 1 – sequência do tratamento mecânico e biológico dos resíduos sólidos urbanos.

Figura 2 – sequência da fabricação do tijolo com o aditivo de cal, areia e cimento.

Assim, o tijolo ecológico produzido pela CEAMSE, na Argentina, possui atributos sustentáveis, já que
os rejeitos que iriam ao aterro sanitário formam parte da matéria prima do material, gerando uma redução
nos “gases efeito estufa” dos aterros sanitários e, por sua vez, uma redução no impacto ambiental. Os tijolos
se encontram habilitados, na Argentina, para fins sociais.
A utilização de materiais recicláveis na construção civil vem crescendo dia a dia, e tem potencial de
maior crescimento nos próximos anos (MIRANDA et al., 2009). Por essa razão, o setor necessita de novos
produtos e soluções, já existindo muitas pesquisas e estudos sendo desenvolvidos com excelentes resultados,
como, por exemplo, o trabalho dos pesquisadores Espósito et al (2014) demonstra o êxito do Tijolo de
Rejeito-Cimento (TRC), muito similar na sua fabricação, porém com matéria prima diferente, sendo este de
rejeito de mineração. Entretanto, no Brasil, não foi encontrada abordagem referente a algum material para a
construção civil que tenha como base o resíduo sólido domiciliar, como é o caso do material em estudo.
O interesse da pesquisa está no desempenho térmico do material aplicado no Brasil, especificamente,
na zona bioclimática brasileira 8, vez que possui um alto grau de sustentabilidade comparado com um
material de características físicas similares ao material em estudo, como pode ser o tijolo maciço cerâmico.
1263
No Brasil, quando há um crescimento demográfico muito grande em uma região, é comum existir, em
paralelo, a necessidade de ampliação do sistema de produção que fornece os mais diversos itens que são
utilizados nas construções civis e urbanização (PRADO FILHO, 2014). Assim, surge a demanda de produtos
do setor cerâmico para suprir a necessidade do mercado.
Prado Filho (2014) afirma que dentro do setor da cerâmica o segmento da cerâmica vermelha é o que
causa mais impactos negativos ao meio ambiente. Os problemas ambientais gerados dizem respeito,
especialmente, à extração e ao consumo de matérias-primas: argila, água, lenha etc.; bem como, aos rejeitos
de produção, principalmente, dos produtos defeituosos, e emissões gasosas (material particulado) oriundas da
queima na fabricação.
Diante dos flagrantes impactos ambientais causados no processo de produção do tijolo cerâmico
maciço e o aumento de produção deste material frente ao crescimento da construção civil, mostra-se
relevante à utilização de alternativas ambientalmente mais adequadas, como é o caso do tijolo ecológico, a
fim de que a agressão ao meio ambiente seja reduzida.
Avaliar o desempenho dos sistemas construtivos é um avanço para o setor da construção civil e
constitui o caminho para a evolução de todos que compõem a cadeia (CBIC, 2013). Nas últimas décadas,
além da racionalização, o setor da construção civil vem procurando aprimorar os sistemas construtivos sob a
lógica da eficiência energética, por meio do universo de soluções arquitetônicas e tecnológicas, de forma a
garantir melhor desempenho às edificações e propiciar maior conforto aos seus usuários.
A envoltória do edifício é o parâmetro mais importante no condicionamento passivo, além de ser o
fator principal para a definição do clima interno, responsável pelos fluxos de calor em seu interior, e,
portanto, determinante para o desempenho térmico (MANIOGLU; YILMAZ, 2006).
Na pesquisa de Pereira (2009) ratifica-se a ideia ao afirmar que, dentre todos os parâmetros que afetam
o conforto térmico e a conservação de energia nas edificações, entre eles a orientação do edifício, distância
entre edifícios, forma do edifício e propriedades termofísicas do envelope do edifício, este último é o mais
importante. Isso porque o envelope é o responsável por separar o ambiente externo do interno.
Devido ao acréscimo da argamassa de revestimento à vedação, a barreira térmica aumenta em razão do
aumento da massa térmica do fechamento opaco da edificação, o que faz com que os recintos internos
recebam mais lentamente a energia térmica transmitida por meio da envoltória. Esse comportamento pode
ser explicado por meio de dois fenômenos: o amortecimento e atraso térmico que, juntos, compõem a inércia
térmica. Conforme Frota e Schiffer (2001), uma parede apresenta maior ou menor inércia segundo seu peso e
sua espessura, e, por isso, os revestimentos desempenham importante papel, pois os revestimentos isolantes
reduzem as trocas de calor com a parede, assim como, sua inércia.
Segundo Givoni (1994), utilizar uma cor mais refletiva no envelope da edificação é a característica
arquitetônica de controle climático mais eficaz e a maneira mais viável de minimizar as cargas térmicas das
edificações, principalmente no verão.
Por essa razão, considerando-se a necessidade de proteção do meio ambiente degradado, a busca atual
por materiais sustentáveis para inserção no setor da construção civil, e a necessidade de redução da
disposição dos rejeitos em aterros sanitários, a presente pesquisa se denota relevante, a fim de avaliar a
adaptação do tijolo ecológico produzidos com rejeitos de RSUs no Brasil, a partir da análise de sua
adequação às regras relativas ao desempenho térmico na zona bioclimática 8.

2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é avaliar o conforto térmico de uma Habitação de Interesse Social (HIS) com
alvenaria de tijolos ecológicos produzidos com rejeitos de RSUs, em uma cidade da Zona bioclimática 8, por
meio de simulação computacional.

3. MÉTODO
A avaliação do conforto térmico pode ser feita de forma simplificada, com base em propriedades térmicas
das fachadas e das coberturas, ou por simulação computacional, onde são cotejados, simultaneamente, todos
os elementos e todos os fenômenos intervenientes. A norma NBR 15220 (ABNT, 2005) recomenda que a
simulação computacional seja realizada por meio do software EnergyPlus® e determina que a edificação
habitacional deve reunir características que atendam às exigências de desempenho térmico, considerando-se
a zona bioclimática definida na norma. Diante disso, na presente pesquisa foi realizada a simulação
computacional por meio do software EnergyPlus®, a fim de se obter a avaliação do conforto térmico dos
tijolos ecológicos produzidos por rejeitos de RSUs no clima da cidade de Aracaju/SE, localizada na Zona
Bioclimática 8.

1264
Para o estudo do conforto térmico foi criado um modelo de referência de uma HIS, no software
EnergyPlus®, e a partir desse modelo, foram executadas variações relacionadas aos materiais utilizados no
envelope da edificação. As variações nos elementos construtivos do envelope podem resultar em diferentes
desempenhos térmicos da edificação. Foi realizada uma análise comparativa entre o conforto térmico
oferecido pelo tijolo ecológico produzido com rejeitos de RSUs e pelo tijolo maciço cerâmico, a fabricação
deste último material gera um impacto negativo ao meio ambiente e dentro das características físicas é
similar ao tijolo ecológico estudado.
O procedimento foi dividido em duas etapas:
1.Definição do modelo de referência de uma HIS.
2.Variações no envelope da edificação.

3.1 Definição do modelo de referência de uma HIS


Definiu-se para o modelo de referência uma edificação residencial unifamiliar, padrão Caixa Econômica
Federal (CEF) para Habitação de Interesse Social (HIS), em fase de projeto, sendo definida sua localização
na cidade de Aracaju/SE. A edificação tem área construída de 48 m², com dimensões de 6,00m x 8,00m x
2,80m, é composta por três quartos, sala, um sanitário e cozinha.
A partir das informações disponibilizadas pela CEF, foi reproduzida a planta baixa da edificação
(figura 3) no software AutoCad 2015, bem como foi realizada a modelagem de zonas térmicas no software
SketchUp. Estas peças gráficas serviram de base para os dados requeridos, referentes à geometria da
edificação, para simulação computacional no software EnergyPlus®.

ZONA COZINHA

ZONA QUARTO 03

ZONA BCW

ZONA QUARTO 02

ZONA SALA

ZONA QUARTO 01

Figura 3 – Planta baixa da edificação.

3.1.1 Geometria da edificação


A edificação foi modelada no programa EnergyPlus® com seis zonas térmicas: zona quarto 1, zona quarto 2,
zona quarto 3, zona cozinha, zona bwc e zona sala (figura 4 e 5). A simulação ocorre em todos os recintos da
unidade habitacional, mas a avaliação dos resultados é realizada apenas para quartos e salas.

Figura 4 - Esquema das zonas térmica da edificação. Figura 5 – Perspectiva da edificação Norte-Este

1265
3.1.2 Temperatura externa
Nesta pesquisa, o protótipo foi simulado utilizado o arquivo climático do INMET da cidade de Aracaju (zona
bioclimática 8), durante o mês de dezembro de 2015, disponibilizado pelo LabEEE/UFSC e foi analisado o
dia típico de verão, 21 de dezembro, como está estipulado na norma NBR 15220 (ABNT, 2005). Com isso,
foi possível comparar as temperaturas internas do edifício em relação à temperatura externa.

3.1.3 Resistência térmica dos materiais


As propriedades térmicas da maior parte dos materiais usados, tais como condutividade térmica, densidade,
calor específico e absortância para radiação solar, foram obtidas na norma NBR 15220 (ABNT, 2005).
Apenas as características utilizadas para o tijolo ecológico foram obtidas dos resultados do laboratório do
Instituto Nacional de Tecnologia (INTI) da Argentina, cujas amostras do tijolo foram enviadas pela
Coordinación Ecológica Área Metropolitana Sociedad del Estado (CEAMSE), em 2015 para análise das
características físicas, mecânicas e térmicas do material. Esses dados são apresentados na Tabela .
Tabela 7– Propriedades térmicas dos materiais.
Condutividade térmica
Material Densidade [kg/m3] Calor específico [J/kg.K] Absortância
[W/m.K]
Tijolo ecológico 0,43 1408 1000 0,70
Concreto maciço 1,75 2200 1000 0,70
Telha cerâmica 1,05 2000 920 0,70
Piso contrapiso 1,15 2000 1000 0,70
Argamassa comum 1,15 2000 1000 0,70
Piso cerâmico 0,90 1600 920 0,60
Madeira para porta 0,16 600 2300 0,70
A norma NBR 15220 (ABNT, 2005) recomenda que as paredes sejam leves refletoras, portanto, o
modelo possui vedação vertical externa e interna composta por tijolo ecológico produzidos com rejeitos de
RSUs assentados com argamassa na menor dimensão (figura 6).

Figura 6- Sistema de parede equivalente de tijolo ecológico produzido com rejeitos de RSU.
De acordo com Weber et. al, (2017), o método de cálculo para determinação do desempenho térmico
utilizado pelo programa EnergyPlus® dispõe os materiais constituintes da parede em camadas em série,
perdendo assim, informações importantes quanto a geometria do componente que são necessárias para a sua
correta quantificação energética. Frente a isso, este estudo foi modelado com um sistema de parede
equivalente (figura 4).
Considerou-se o elemento construtivo equivalente, apresentado na Figura 4, composto por um módulo
de tijolo ecológico 12 cm x 05 cm x 25 cm com argamassa de assentamento de 1 cm na face superior e
posterior.
Os procedimentos para os cálculos da transmitância térmica total (𝑈𝑇), da resistência térmica total
(𝑅𝑇) e da capacidade térmica total (𝐶𝑇) foram os mesmos considerados pela NBR 15220 (ABNT, 2005b)
(tabela 2).
Tabela 2: Dimensões e propriedades termo físicas do sistema de parede equivalente.
Propriedade Tijolo ecológico
Altura m 0,06
Largura m 0,12
Comprimento m 0,26
Área m² 0,0186
Percentagem Argamassa % 33
Densidade kg/m³ 1602,2
Condutividade W/(m K) 0,91
Calor específico cp kJ/(kg K) 1,00
Resistência m²K/W 0,13
Transmitância W/(m² K) 7,62

De acordo com a norma NBR 15220 (ABNT, 2005), o tamanho da abertura das esquadrias para
ventilação e iluminação é de 40% em relação à área do ambiente, com vidro comum 4 mm. A cobertura é
composta por telha cerâmica sem laje nem forro sob o telhado, esse tipo de cobertura é muito comum no

1266
nordeste brasileiro (NORONHA et.al 2014). As portas internas e externa são de madeira. A edificação
encontra-se em contato com o solo e é composta por base de concreto, contrapiso com impermeabilização,
regularização, argamassa comum e piso cerâmico com rejunte.
Para considerar a influência do solo, foi realizada uma simulação preliminar, adotando os valores
médios mensais de temperatura do solo, fornecidos pelo arquivo climático de referência da cidade em
questão. Em seguida, utilizou-se o pré-processador Slab integrado ao EnergyPlus®, para obter as
temperaturas médias mensais do solo subjacente à edificação. Para isso, foi necessário informar os seguintes
parâmetros (objetos): base de concreto de 10 cm, contrapiso com impermeabilização de 5 cm, regularização
com 3 cm de argamassa comum e piso cerâmico com rejunte. O Slab foi montado pelo tipo
Site:GroundDomain:Slab.

3.1.4 Absortância dos materiais


No modelo de referência, os valores de absortância dos materiais foram definidos pela observação das cores
na edificação estudada (tabela 1).

3.1.5 Ganhos internos de calor por equipamentos


Para realização da simulação computacional, um dos parâmetros a ser definido é a carga térmica presente na
edificação, determinada pelos padrões de ocupação e iluminação. Para que a simulação pudesse se aproximar
ao máximo da realidade de uso, foram adotados alguns procedimentos propostos por Sorgato et al. (2012).
Para cada dormitório da edificação deve ser adotado o padrão de ocupação de duas pessoas, entre as
21h e 7h. A sala de estar da edificação deve ser simulada com um padrão de ocupação de 50%, entre às 14h e
18h e com 100% entre às 18h e 21h.
A taxa metabólica para cada atividade é determinada em função do tipo de atividade desempenhada
em cada ambiente. Para a atividade no dormitório (dormindo ou descansando), o valor de calor dissipado de
81 W/pessoa. Para a atividade na sala (sentado ou assistido televisão), o valor considerado é de 108 W/
pessoa.
Considera-se que os usuários utilizam a iluminação artificial no dormitório nas primeiras horas da
manhã, entre 6h e 7h, e no período noturno entre 21h e 23h, e na Sala de estar, das 17h às 21h.
Foi estipulada uma potência de uso de iluminação de 9,86 watts para os quartos, 13,45 watts para a
cozinha, 7,0 watts para o bwc e para a sala uma potência de 10,07 watts.
Para a sala considerou-se o uso da TV com uma potência de uso de 80 watts, nos horários das 6h, 7h,
12h, 13 h e das 18h às 22 h. Para a cozinha foi considerado o uso de geladeira com 33,19 watts de potência
de uso e fogão com 60 watts nos horários: 6h, 7h, 12h, 13h, 18h, 19h e 21h.

3.1.6 Infiltração de ar
Considerando que a residência estudada possui boa vedação, adotou-se uma taxa de 5 trocas de ar/hora, para
todas as zonas.

3.2 Variações no envelope da edificação


A partir do modelo de referência, foram executadas variações relacionadas aos materiais utilizados no
envelope da edificação. As variações nos elementos construtivos do envelope podem resultar em diferentes
desempenhos térmicos da edificação.

3.2.1 Acréscimo de argamassa de revestimento e pintura.


Na presente pesquisa, procurou-se melhorar o desempenho térmico do material com o acréscimo de
argamassa de revestimento e pintura de cor branca. Para conseguir inserir os dados de entrada no software
EnergyPlus®, foi preciso criar um novo sistema de parede equivalente e realizar os cálculos manualmente
para inserir no software (Resistência= 0,35 m²K/W e Transmitância =2,90 W/ (m² K). A camada de emboço,
tanto externo quanto interno, é composta por argamassa de 2,5 cm de espessura. A espessura total da parede
leve é 17 cm (figura 7). O valor de absortância da pintura de cor branca (α=0,20) foi inserido diretamente no
software.

1267
Figura 7 - Composição do sistema de parede equivalente de tijolo ecológico com revestimento.

3.2.2 Substituição do tijolo ecológico pelo tijolo maciço cerâmico


Outra das variações no envelope do modelo de referência foi a substituição do tijolo ecológico pelo tijolo
maciço cerâmico, com o objetivo de comparar o desempenho térmico dos materiais. O tijolo maciço
cerâmico tem características físicas similares ao ecológico (ver figura 8).
Para a substituição, foi criado um sistema de parede equivalente com o tijolo maciço cerâmico
assentado com argamassa na menor direção (figura 8). Os dados do tijolo e da argamassa foram colhidos da
norma NBR 15220 (2005) e, em seguida, foram realizados os cálculos das propriedades termo físicas do
sistema de parede equivalente, dada pela combinação dos materiais (tabela 3).
Tabela 3- Dimensões e propriedades termo físicas
do sistema de parede equivalente.

Figura 8 - Sistema de parede equivalente com tijolo maciço cerâmico


e argamassa de assentamento com e sem revestimento.
4. ANÁLISE DE RESULTADOS
A seguir, serão apresentados os resultados obtidos nesta pesquisa. Todos os gráficos são referentes ao dia 21
de dezembro de 2015, nos horários de 1h, 3h, 6h, 9h, 12h, 15h, 18h, 21h e 24 h; os dois primeiros gráficos
mostram os valores de temperatura média do ar externa para cada horário do dia típico de verão e os valores
de temperatura média do ar interna simulados na edificação com alvenaria de tijolo ecológico e alvenaria de
tijolos maciços cerâmicos sem revestimento e pintura. No último gráfico, apresenta-se os valores de
temperatura interna na sala com o tijolo ecológico com revestimento e pintura. Na figura 9, observam-se os
valores para o ambiente da sala e na figura 10, os valores são referentes aos quartos.
Esta simulação adotou o valor de temperatura externa igual a 26,27°C para a 1h, 25,83°C para 3h,
25,57°C para 6h, 27,55°C para 9h, 30,00°C para 12, 30,90°C para 15h, 29,81°C para 18h, 27,90°C para 21h
e 26,61°C para 24h, que constam nos arquivos climáticos TRY.

Figura 9 - Resultados da Sala: edificação com tijolo ecológico e tijolo maciço cerâmico sem revestimento e pintura.

1268
Figura 10 - Resultados dos quartos: edificação com tijolo ecológico e tijolo maciço cerâmico sem revestimento e pintura.

Temperatura externa

Por meio desses gráficos é possível verificar que o horário de maior radiação e incidência solar
costuma ser ao meio-dia, mas no interior dos protótipos a maior temperatura foi obtida entre às 14 e às 15
horas. Isso porque, nos materiais opacos, como os tijolos, é preciso considerar o armazenamento do calor
durante a transmissão, na qual a massa vai se aquecendo, faixa por faixa, provocando o atraso térmico. O
horário em que as temperaturas são menores é às 6horas, resultado esperado, pois o sol nasce na face leste e
as janelas dos protótipos estão posicionadas na fachada norte. A maior diferença de temperatura é das 12
horas às 15 horas em que a temperatura aumenta notavelmente em relação às demais. O horário em que o
protótipo de tijolo ecológico comparado com o de tijolo maciço cerâmico obteve valores de temperaturas
semelhantes, quase nulas, foi entre as 01h às 09h, podendo-se dizer que não há muita diferença na
temperatura interna dos ambientes nos momentos de nascer do sol.
É importante notar que existe uma diferença de temperatura interna entre o protótipo de tijolo
ecológico comparado com o maciço cerâmico, de 0,12ºC para a sala, de 0,13ºC para o quarto 01e 03 e de
0,09ºC quarto 02, isso aconteceu às 15 horas, no horário mais crítico da edificação, beneficiando ao tijolo
ecológico.
Comparando a edificação simulada com alvenaria de tijolo ecológico sem revestimento com a
simulação de alvenaria de tijolo ecológico com revestimento e pintura de cor de baixa absortância, verifica-
se que o tijolo com revestimento e pintura tem um melhor desempenho térmico, chegando a uma diferença
de 1,28°C na sala, 1,85º C no quarto 01, 1,06ºC no quarto 02 e 1,40ºC no quarto 03, às 15h (figura 9).

Sala
Quarto 01
Quarto 02
Quarto 03

Figura 9 - Resultados dos quartos e da sala: edificação com tijolo ecológico com revestimento e pintura às 15h.

Os resultados desta pesquisa indicam, por conseguinte, que para climas quentes, como é o caso da
ZB-8, recomenda-se que a alvenaria em tijolos ecológicos seja revestida e tenha a sua superfície externa
pintada com cores claras, a fim garantir melhores condições de conforto térmico.

5. CONCLUSÕES
Por meio dos resultados apresentados, pode-se concluir que, apesar de se tratar de diferença sensível, o
protótipo construído com tijolo ecológico contribuiu para melhores condições de conforto térmico, pois
proporcionou menores temperaturas internas, e, consequentemente, menor ganho de calor. Além disso, esse
tipo de tijolo é produzido sem queima, ou seja, com menor emissão de gases efeito estufa, e se revela uma
alternativa mais econômica, sendo, por isso, mais acessível à população de baixa renda e utilizado com mais
facilidade nos mutirões de autoconstrução.
O tijolo ecológico, portanto, mostra–se como uma alternativa viável do tijolo maciço cerâmico,
considerando não apenas a sua característica ambiental, como também, de acordo com os resultados obtidos,
pela inexistência de perda para fins de conforto térmico.
Quanto à influência do acréscimo da argamassa de revestimento às alvenarias, nota-se que houve
significativa melhoria do desempenho térmico, quando comparada às alvenarias não rebocadas, em razão do
1269
aumento da massa térmica, refletindo na otimização das propriedades térmicas, a exemplo do aumento da
resistência térmica, acarretando, com isso, menor ganho de calor pela vedação, de forma a proporcionar
melhores condições de conforto térmico. O mesmo pode ser notado quando a alvenaria rebocada tem sua
superfície externa pintada com cor branca, causando a redução do fator de calor solar em torno de 70%
quando comparado ao valor da alvenaria não rebocada, e de aproximadamente 65% em relação à alvenaria
rebocada não pintada, o que reflete na redução de ganhos de calor para o interior da edificação. Portanto, a
pintura exerce impactos significativos e positivos no desempenho térmico das alvenarias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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comparada. 40º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais,2016.
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1270
ESTUDO DO DESEMPENHO ENERGÉTICO E DE ESTRATÉGIAS PARA A
GERAÇÃO DE CONFORTO TÉRMICO EM REFEITÓRIO ESTUDANTIL
Matheus de Andrade Duarte (1); Frederico R. Silveira Lima (2); Raquel Diniz Oliveira (3)
(1) Estudante, Graduando em Engenheira Mecânica, matheusdeandradeduarte@gmail.com, CEFETMG,
Departamento de Engenharia Mecânica
(2) PhD, Professor do Departamento de Engenharia Mecânica, fredericolima@cefetmg.br, CEFETMG,
Departamento de Engenharia Mecânica, Av. Amazonas, 7675. Prédio 06, Campus II. Belo Horizonte–MG,
30510-000, Tel.: (31) 3319 6850
(3) PhD, Professor do Departamento de Engenharia Civil, raqueldiniz@cefetmg.br, CEFETMG,
Departamento de Engenharia Civil, Av. Amazonas, 7675. Prédio 12, Campus II, Gabinete 221. Belo
Horizonte–MG, 30510-000, Tel.: (31) 3319 6810

RESUMO
No cenário brasileiro, de modo geral, verifica-se temperaturas internas elevadas, bem como, desconforto
térmico dos usuários em espaços com aglomeração de pessoas e fontes significativas de geração de calor, tais
como refeitórios. Além disso, edificações brasileiras muitas vezes não foram concebidas visando suas
eficiências energéticas e, portanto, sua performance pode ser melhorada visando o racionamento do consumo
de energia elétrica para climatização. O objetivo do presente trabalho consistiu na análise de sistemas de
ventilação mecânica e condicionamentos de ar capazes de propiciarem condições adequadas de conforto
térmico aos usuários. Neste contexto, a eficiência energética de exaustores eólicos e condicionadores de ar
do tipo Split e Fluxo de Gás Refrigerante Variável (VRF) etiquetados com melhor eficiência para a categoria,
classe A, foram analisados por meio de simulação computacional, via EnergyPlus, considerando o
restaurante estudantil do CEFET-MG Campus II, localizado em Belo Horizonte-MG, como referência.
Verificou-se que a utilização de exaustores, em complemento a ventilação natural, não proporcionou
condições aceitáveis de conforto térmico, aos usuários, conforme faixa de conforto adaptativa estabelecida
pela ASHRAE 55/2010, para 80% de aceitabilidade. Analisou-se, também, a viabilidade econômica do uso
de condicionadores de ar do tipo Split e VRF. O sistema Split do ponto de vista financeiro apresentou
viabilidade econômica melhor do que o sistema VRF, apesar de possuir gasto energético significativamente
maior. O presente trabalho apresentou, portanto, uma solução de climatização que possibilitaria garantir
condições adequadas de conforto térmico aos usuários de refeitório estudantil além de atender aos
parâmetros de eficiência energética e comprovada viabilidade financeira.
Palavras-chave: Exaustores eólicos, Sistema VRF, Sistema Split, Conforto Térmico, Desempenho
energético.

ABSTRACT
In Brazil, human thermal discomfort and high indoor temperatures can be observed in crowded spaces
characterized by significant sources of heat, such as school cafeteria. Besides, Brazilians edifications were
not normally built aimed its energy efficiency, therefore, their performance can be upgraded aiming the
electric energy consumption rationing to air conditioning. The authors aimed at analyzing exhaust and air
conditioner systems that under RTQ-C/2013 energy efficiency criteria are able to provide human thermal
comfort in the school cafeteria of CEFETMG (Belo Horizonte, Brazil). Were analyzed three systems through
EnergyPlus thermal simulation: eolic exhaust fan, VRF and Split. Eolic Exhaust Fan was not able to provide
thermal comfort according to ASHRAE 55/2010, 80% acceptability range. In a financial perspective, Split
system was a better option than VRF, even though its bigger energy consumption. In summary, this paper
offers, an efficiency and financially viable, conditioning solution that provide human thermal comfort
conditions for a student cafeteria.
Keywords: Eolic Exhaust Fan, VRF system, Split system, Thermal Comfort, Thermal performance.

1271
1. INTRODUÇÃO
O projeto de edificações naturalmente ventiladas, muitas vezes, pode não ter sido concebido para garantir
condições adequadas para conforto térmico dos seus usuários. Neste sentido, durante o uso e operação de
edificações existentes deverão ser analisados meios para garantir tal condição com reduzido consumo de
energia elétrica. Estudos prévios diagnosticaram, por meio de simulação computacional, situações de
desconforto térmico de usuários em diferentes tipos de edificações, em variadas cidades do território
nacional. Castro (2018) verificou que no verão os níveis de temperatura na biblioteca universitária no
Campus Santa Bárbara D'oeste da Universidade Metodista de Piracicaba ultrapassavam os limites de
conforto térmico estabelecidos pela ABNT NBR 6401 /1980 e Trinkley (2001). Em Alagoas, verificaram-se
altos percentuais anuais de desconforto térmico em creches padronizadas do programa proinfância (Araújo,
2018). Já em Belo Horizonte-MG, o restaurante estudantil do CEFET/MG localizado no campus II
apresentou temperaturas internas elevadas durante o seu período de funcionamento sendo que no horário do
almoço, quando ocorre maior incidência solar, a temperatura interna pode ultrapassar 30°C (DUARTE et al,
2018). A alta incidência solar sobre o prédio, o intenso fluxo de pessoas e a quantidade de equipamentos
elétricos e a gás fazem com que o calor dissipado no local seja acentuado, aumentando significativamente a
sensação de desconforto térmico pelos usuários. Logo, se faz necessário o estudo do seu desempenho
energético de edificações, bem como, de estratégias para condicionar seus ambientes internos.
Cumpre destacar que as estratégias artificiais de condicionamento além de proporcionarem ambientes
confortáveis termicamente aos usuários, devem operar dentro dos limites de eficiência energética. A
demanda elevada por eletricidade impacta de forma negativa o meio ambiente e a economia do país. A
produção de energia elétrica pode ser nociva ao meio ambiente devido à emissão de gases de efeito estufa
(no caso das termoelétricas) ou ao impacto social e ambiental do represamento do rio (no caso das
hidroelétricas). Na área econômica, o Brasil possui a 14º energia elétrica mais cara do mundo e a segunda
maior carga tributária cobrada sobre as tarifas de energia elétrica (IEA, 2016). Este cenário se mostra
determinante para viabilizar ou não a implementação de sistemas elétricos para climatização artificial nas
edificações, entre outras tecnologias. Diante dessas informações, verifica-se a importância do estudo da
eficiência energética e de estratégias para atingir o conforto térmico em edificações, melhorando a qualidade
de vida das pessoas e contribuindo para o desenvolvimento sustentável. Neste contexto, alguns autores
fizeram uso da estimativa do Período de Retorno do Capital para analisar a viabilidade financeira de
estratégias de climatização de edifícios utilizando condicionadores de ar (Carneiro, 2012).

2. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é analisar o desempenho termoenergético de modelo computacional calibrado
representativo de um refeitório estudantil e verificar as estratégias de condicionamento mais econômicas e
eficientes do ponto de vista energético.

3. MÉTODO
O método proposto nesse trabalho está dividido em três etapas principais:
1. Caracterização do modelo de referência selecionado para o estudo de caso.
2. Análise da viabilidade técnica de três estratégias de climatização (exaustor eólico, Split e VRF)
aplicáveis ao modelo de referência.
3. Análise da viabilidade financeira dos sistemas elétricos de condicionamento de ar (Split e VRF)
simulados para o modelo de referência.
Dentro dessas três etapas, busca-se analisar se o uso de exaustão eólica permite ao refeitório atingir
níveis de conforto térmico aceitáveis, simular a carga térmica que incide no refeitório para estimar a
capacidade de resfriamento necessária para que a edificação atinja níveis de conforto térmico adequados,
analisar qual sistema de condicionamento de ar possui a melhor viabilidade do ponto de vista econômico.

3.1. Caracterização do modelo de referência do presente estudo de caso


A edificação objeto deste estudo foi o refeitório estudantil do CEFET-MG campus II localizado na cidade de
Belo Horizonte-MG. O modelo termoenergético para simulação foi definido com características semelhantes
a edificação existente no que tange a volumetria, orientação solar, materiais, componentes construtivos e
aberturas, conforme se observa na Figura 1 e 2. Para a sua elaboração foi utilizado o software SketchUp
Make 2017, versão gratuita, associado ao plugin Euclid, a partir da definição das zonas térmicas do modelo.

1272
O prédio possui aproximadamente 681m² e é composto por cozinha (84,0m²), almoxarifado (32,0m²), sala
dos laváveis (SL) (9,0m²), sala de nutricionista (SN) (4,0m²), salão de refeições (190,0m²), recepção
(54,0m²), além do Diretório Central dos Estudantes (9,8m²) e demais espaços conjugados como xerox, sala
de jogo, entre outros (298,2m²). Desta forma, a edificação foi modelada com sete zonas térmicas conforme se
observa na Figura 3.

1 2
Figura 1 e 2 - Vista Isométrica da Edificação (Autoria Própria, 2018).

Figura 3 - Vista Superior da Edificação (Autoria Própria, 2018).

O estudo termoenergético foi realizado para o salão de refeições, pois é o cômodo no qual há maior
fluxo pessoas e dissipação de calor. O pé direito é de 2,85m. A envoltória da edificação é caracterizada por
diferentes tipos de vedação vertical e uma opção de vedação horizontal conforme pode ser observado na
Tabela 1. A absortância à radiação solar das superfícies externas foi de 0,7, para a parede e 0,4, para a
cobertura obtida por meio de cálculo (SANGOI; RAMOS; LAMBERTS; 2010), a partir de medição
realizada com auxílio de espectrômetro de refletância ALTA II, da marca Vernier. As portas do tipo
venezianas e esquadrias são de alumínio com acabamento na cor preta e janelas são do tipo máximo ar, com
vidros simples de 4mm.
Tabela 1 - Composição da vedação horizontal e vertical do estudo de caso.
CT
Tipologia Vedação Composição U (w/m²K)
(kJ/m²K)

1) Revestimento cerâmico (8mm)


2) Argamassa externa (3,0cm)
Parede
3) Bloco cerâmico (9,0 x 14,0 x 29,0cm) 2,28 186
(15cm)
4) Argamassa interna (3,0cm)
5) Revestimento cerâmica (8mm)

1) Argamassa externa (2,5cm)


Parede 2) Bloco cerâmico (9,0 x 14,0 x 29,0cm)
2,00 185
(20cm) 3) Argamassa interna (2,5cm)
4) Revestimento cerâmica (8mm)

1) Revestimento cerâmica (8mm)


2) Argamassa externa (2,5cm)
Parede 3) Bloco cerâmico (9,0 x 14,0 x 29,0cm)
1,49 462
(25cm) 4) Argamassa interna (2,5cm)
5) Revestimento cerâmica (8mm)
6) Pedra (1,5cm)

1273
Tabela 1 - Composição da vedação horizontal e vertical do estudo de caso – Continuação.
Tipologia Vedação Composição U (w/m²K) CT (kJ/m²K)

1) Telha metálica 0,43mm


2) Poliestireno Expandido (30mm)
Cobertura 3) Telha metálica 0,5mm 0,85 15
4) Câmara de Ar (> 5 cm)
5) Forro de madeira (1,5 cm)

Fonte: Adaptado de NBR 15220 (ABNT, 2005).

Em relação ao número de pessoas considerou-se 120 no salão de refeições, 10 na cozinha e 15 na


recepção para o horário de funcionamento do prédio, das 8h00 às 20h00 para a cozinha e das 10h45 às 13h30
e das 17h45 às 19h00 para o salão de refeições. Atribuiu-se para o salão a taxa de liberação de calor por área
de 120 W/m² por pessoa, para a atividade de repouso e sentada e, 175 W/m² por pessoa, para a atividade de
cozinhar, na cozinha (ASHRAE, 2010). Quanto à dissipação de calor devido aos equipamentos elétricos, o
somatório da potência de todos os equipamentos é de 26.175 W e a fração radiante considerada foi igual a
1,0.
O arquivo climático utilizado foi do tipo Solar and Wind Energy Resource Assessment (SWERA) para
a cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais (ENERGYPLUS, 2017). A temperatura do solo foi estimada
subtraindo 2°C a temperatura média mensal indicada no arquivo climático conforme recomendação
estabelecida no manual do próprio software utilizado (DOE, 2016).
A calibração do modelo termoenergético foi feita com base nos resultados obtidos para a temperatura
interna via simulação em comparação com os valores aferidos por medições realizadas no ano de 2017, por
dois data loggers modelo HOBO U12 da marca ONSET (DUARTE et al., 2018). Os valores de temperatura
de bulbo seco do arquivo climático foram substituídos pelos dados aferidos pela estação meteorológica
(Hobo Remote Monitoring System da Marca Onset), localizada a um raio de aproximadamente 120m do
estudo de caso. Por meio de simulação complementar, verificou-se correlação linear dos valores das
temperaturas internas simuladas e medidas entre 0,82 e 0,96, sendo, portanto consideradas fortes conforme
Costa (1998).

3.2. Análise da viabilidade técnica das estratégias de climatização


Para a análise da viabilidade técnica adotou-se o método de simulação computacional por meio do software
EnergyPlus, versão 8.7.0. Desta forma, avaliou-se o desempenho termoenergético de três estratégias de
climatização (exaustores eólicos, condicionador de ar do tipo Split e VRF) para o modelo calibrado do
refeitório estudantil selecionado.

3.2.1. Simulação do Sistema de Exaustão Eólico


A escolha do sistema de exaustão foi motivada pela eficiência dos modelos disponíveis no mercado. Para a
sua estimativa considerou-se a ASHARE (2010), bem como, a taxa de renovação de ar de 20 trocas/horas,
definida para restaurantes. Considerando a limitação do EnergyPlus para caracterizar o exaustor eólico de
telhado, utilizou-se diretamente a taxa de renovação do volume do ar por hora para simular o efeito deste
sistema no ambiente. Para a simulação deste sistema, considerou-se a contribuição do sistema de exaustão
eólico associado a ventilação natural (janelas). As janelas e portas permanecem abertas durante o período de
funcionamento do refeitório. No restante do tempo considerou-se as aberturas fechadas. O funcionamento
do exaustor foi de 24h. Como dado de saída obteve-se os valores de temperatura operativa para avaliação do
atendimento das condições de conforto térmico para 80% de aceitação dos usuários conforme a ASHRAE
55/2010.

3.2.2. Simulação dos Sistemas elétricos de Condicionamento de Ar


Para o sistema de condicionamento do ar foi realizada duas simulações. Na primeira utilizou-se as entradas
dos módulos relacionados ao sistema de condicionamento de ar em autosize para o software dimensionar a
potência de resfriamento demandada pelo sistema. Nessa simulação o coeficiente de performance do
equipamento (COP) foi definido considerando a carga térmica a ser retirada pelo sistema de
condicionamento. Além do valor do COP, a taxa de renovação de ar de 17 m³/horas/pessoa necessária para o
conforto térmico na zona definida pela ANVISA (2003) foi utilizada como entrada na simulação autosize

1274
para estimar a carga ideal de resfriamento para a zona em estudo. O valor da potência de resfriamento do
sistema foi definido como semelhante a carga térmica na zona. Com base nesse valor estimado, escolheu-se
um COP dentro do nível A de eficiência energética indicado pelo Regulamento Técnico da Qualidade para o
Nível de Eficiência Energética de Edificações Comerciais, de Serviços e Públicas (INMETRO, 2013). A
capacidade máxima de resfriamento calculada pelo software foi usada como base para a escolha dos
equipamentos nos catálogos da linha de condensadores e evaporadoras VRF e Split com classe A na Etiqueta
Nacional de Conservação de Energia (ENCE). A segunda simulação foi realizada para estimar o consumo
energético dos sistemas durante o uso.
O EnergyPlus não permite a simulação de mais de um sistema de condicionamento de ar na mesma
zona. Em razão disso, a segunda simulação exigiu que a zona que representa o salão do refeitório fosse
dividida em três zonas menores, pois a potência de resfriamento a ser retirada do ambiente é maior que as
capacidades nominais das evaporadoras do VRF e dos aparelhos tipo Split apresentadas pelos catálogos.
Destaca-se que essa modificação não altera carga térmica total dissipada no modelo simulado uma vez que a
entrada dessa variável no software na primeira simulação se deu pela energia dissipada por unidade de área.
Por consequência, na segunda simulação foram inseridas as cargas térmicas totais dissipadas em cada uma
das três zonas resultantes. Na Figura 3 apresenta-se a divisão que foi feita no salão de refeições do refeitório
estudantil com auxílio do programa SketchUp Make 2017 associado ao Plugin Euclid.

³
Figura 4 - Divisão da área do refeitório.
A temperatura de setpoint definida foi de 23°C, respeitando os limites de temperatura para conforto
térmico em restaurantes estabelecidos pela ANVISA, que utiliza a norma NBR 16401 (ABNT, 2008) como
referência (ANVISA, 2003). Como dado de saída obteve-se o consumo anual dos sistemas analisados.

3.3. Análise da viabilidade econômica dos Sistemas elétricos de Condicionamento de Ar


Analisou-se a viabilidade econômica dos dois sistemas de climatização elétricos simulados: condicionador
de ar do tipo Split e VRF. Para tanto, considerou-se o Período de Retorno do Capital baseado nas equações 1
a 4. A análise de custos não foi realizada para os exaustores eólicos, uma vez que estes não consomem
energia elétrica tendo sido, portanto, analisado o seu potencial para garantir condições adequadas de conforto
térmico aos usuários. O método Período de Retorno do Capital estima o investimento inicial, o custo
operacional, receitas do investimento e o tempo de retorno do capital (REBELATTO, 2004), sendo:
(I) Investimento Inicial: Cálculo da diferença do custo de instalação dos dois projetos, mostrado na
Equação 1:
Ii = C1 − C2 (1)
Onde: Ii = Investimento inicial
C = Custo do projeto
(II) Custo Operacional: Cálculo do custo operacional anual do projeto levando em conta basicamente o
gasto de energia do projeto, conforme a Equação 2:

CO = Ce × E (2)
Onde: Co = Custo Operacional
Ce = Custo de energia elétrica
E = Energia elétrica consumida
(III) Receitas do Investimento: Receita anual que considera o custo da diferença de energia gasta entre
os equipamentos, conforme a Equação 3:
Ri = CO1 - CO2 (3)
(IV) Tempo de Retorno Capital: Segundo Carneiro (2012), “é tempo no qual a soma das receitas de
um projeto reproduz o total do capital investido para sua implantação”. A relação está mostrada na Equação
4:
TRC = RI i

i
(4)

1275
Este método considera o investimento inicial, os custos do projeto e da energia elétrica, a quantidade
de energia consumida e o tempo de retorno do capital. O valor do quilowatt-hora foi considerado para o
período de ponta, das 17h00 às 20h00, e fora de ponta, segundo tarifário vigente para a Companhia
Energética de Minas Gerais (CEMIG) para o ano de 2018 (CEMIG, [201-]). O custo dos equipamentos foi
estimado por consulta de preços junto a empresas locais e sites especializados. A vida útil dos sistemas foi
extraída de informações técnicas prestadas (ASSISTÊNCIA TÉCNICA MG, [201-]), sendo de 10 a 15 anos,
para ambos os sistemas, dependendo das condições de conservação e manutenção do aparelho. Para efeito
deste estudo considerou-se, hipoteticamente, a vida útil de 15 anos para ambos os equipamentos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1. Análise de viabilidade técnica do Sistema de Exaustão eólico
Para o sistema de exaustão eólico, selecionou-se o equipamento industrial da marca Marivent (MARIVENT,
2019) com diâmetro de 610 mm e vazão máxima de 4.000 m³/h (aproximadamente 1,11 m³/s). Desta forma,
obteve-se o valor de 10.830 m³/h de renovação para o volume de 451,5 m³ do refeitório (ASHARE, 2010).
Considerando a vazão do exaustor escolhido, foi estimado o uso de três exaustores no salão de refeições, dois
na cozinha e um no hall de entrada.
Na Figura 5 verificam-se as temperaturas operativas do ar simulada no salão de refeições, sem e com o
sistema de exaustão eólico, em contraste com a faixa de temperatura de conforto térmico adaptativa para
80% de aceitação dos usuários (ASHRAE, 2010), calculada pelo software para Belo Horizonte-MG, além da
temperatura externa de bulbo seco estabelecida no arquivo climático utilizado. A simulação foi realizada
para 6625 horas de um ano letivo21. Nota-se que utilização de exaustores eólicos para climatização do
restaurante foi insuficiente para proporcionar condições adequadas de conforto térmico aos usuários. Em
períodos mais frios do ano a utilização de exaustores tende a diminuir a temperatura da zona. Os exaustores
aumentam a renovação de ar na edificação, retirando com mais frequência a massa de ar quente que é gerada
pela dissipação de calor dentro da zona e colocando massa de ar frio exterior.
35
Temperatura [°C]

30
25
20
15
10
5
0
02/26 01:00:00 04/10 23:00:00 05/30 23:00:00 08/05 23:00:00 09/24 23:00:00 11/13 23:00:00
Data/Horário
Temperatura Externa [°C] Temperatura Operativa sem Exaustão [°C]
Temperatura Operativa com Exaustão [°C] Limite Inferior de Temperatura de Conforto [°C]
Limite Superior de Temperatura de Conforto [°C]

Figura 5 - Comparação entre temperaturas relacionadas ao salão de refeição.

A porcentagem de horas de desconforto térmico considerando a teoria adaptativa (ASHRAE, 2010)


para a simulação com e sem o uso de exaustão foi de 41,17% e 32,54%, respectivamente. Pode-se afirmar,
portanto, que não houve uma melhorar significativa das condições de conforto no refeitório com a utilização
de exaustores eólicos.

4.2. Análise de viabilidade técnica dos Sistemas elétricos de Condicionamento de Ar


A análise da viabilidade técnica dos condicionadores de ar foi feita considerando a carga térmica total da
zona como base para estimar a capacidade de resfriamento dos condicionadores de ar, obtendo, assim, um
COP dimensionado para atender aos critérios de eficiência energética do RTQ-C (INMETRO, 2013).
A Figura 6 apresenta a taxa de carga térmica total na zona obtida na simulação anual. A carga
térmica analisada consiste na parcela de calor sensível, que pode ser dividido em ganho de calor radiante, e
ganho de calor convectivo e latente. A carga térmica máxima obtida na simulação foi de 22.600 W. Tal valor
incidiu de forma predominante sobre a zona do salão de refeição na simulação ao longo do ano. O RTQ-C

21
O ano letivo considerado foi o de 2018 que compreende do dia 26 de fevereiro ao dia 15 de dezembro, com recesso escolar do
meio de ano entre 14 de julho a 1 de agosto. Foi considerada as 24 horas de um dia letivo na simulação, com os sistemas de
condicionamento funcionando durante o horário de funcionamento do prédio.

1276
(INMETRO, 2013) define que para capacidade de resfriamento entre 19 e 45 KW o COP mínimo para o
nível A de eficiência energética deve ser de 3,28 para o modelo Split e 3,22 para o sistema VRF.
30

Térmica [KW]
Carga 20
10
0
02/26 00:15:00 04/29 12:15:00 07/01 00:15:00 09/18 12:15:00 11/20 00:15:00
Data/Horário
Figura 6 - Carga térmica anual para o refeitório estudantil.

Para sistema VRF, na Figura 7 verifica-se a carga térmica total do sistema em comparação a
capacidade de resfriamento estimada pelo software no modo autosize para o dia 27 de abril. Foi escolhido
esse dia pois é o que apresenta maior incidência de carga térmica. A relação para o sistema Split está na
Figura 8. Nota-se que enquanto a carga térmica da zona se mantém constante, a potência de resfriamento
exigida de ambos os sistemas aumenta gradativamente durante o horário de operação. Isso pode ser
explicado pelo atraso que o calor externo tem para ser convertido em calor interno. A energia solar que é a
principal responsável pelo nível de temperatura na zona é absorvida pela superfície externa do prédio e só
depois é transferida para o interior. Além disso, o calor sensível responsável pelo aumento da temperatura do
ar se dá por radiação e convecção. A parcela convectiva é imediatamente convertida em carga térmica,
enquanto a maior parcela que é a devido à radiação requer algum tempo para ser convertida em carga
térmica. Logo, a temperatura do ar não aumenta de forma instantânea com a incidência da carga térmica,
necessita-se de certo tempo para o aumento da temperatura do ar, exigindo, portanto, uma maior potência de
refrigeração para climatizar a zona. Outro fato a se observar é que parte da carga térmica no prédio
corresponde ao calor latente que não é responsável pelo aumento de temperatura do ar.
40
Potência [KW]

30
20
10
0
27/04 10:00:00 27/04 11:45:00 27/04 13:30:00 27/04 18:15:00
Data/Horário
Capacidade Resfriamento Evaporadora [KW] Capacidade Resfriamento Condensadora [KW]
Ganho de Calor Radiante [KW] Ganho de Calor Convectivo [KW]
Ganho de Calor Latente [KW] Carga Térmica Total [KW]

Figura 7 - Capacidade de resfriamento VRF no dia mais extremo.


45
Potência [KW]

30
15
0
27/04 10:00:00 27/04 11:15:00 27/04 12:30:00 27/04 18:00:00 27/04 19:15:00
Data/Horário
Capacidade Resfriamento Sistema Split [KW] Ganho de Calor Radiante [KW]
Ganho de Calor Convectivo [KW] Ganho de Calor Latente [KW]
Carga Térmica Total [KW]
Figura 8 - Capacidade de resfriamento Split no dia mais extremo.

A Tabela 2 apresenta a capacidade de resfriamento máxima calculada pelo software considerando a


simulação de um ano letivo para o sistema Split e VRF, respectivamente. Esses valores foram utilizados para
a escolha dos equipamentos. Assim, para o sistema elétrico de condicionamento de ar selecionou-se as
condensadores e evaporadoras VRF SET FREE Σ, bem como, o equipamento da linha Split Utopia R-410,
ambos da Hitachi (ENCE Classe A), conforme especificações técnicas obtidas nos seus respectivos catálogos
técnicos (HITACHI, 2019).
Tabela 2 - Capacidade de Resfriamento dos Equipamentos Escolhidos
Equipamento Potência Evaporadora VRF [KW] Potência Condensadora VRF [KW] Potência Split KW]
Indicado pelo Software 32,32 34,17 35,52
Escolhido em Catálogo 33,6 40,0 39,57

1277
O modelo para a condensadora do sistema VRF foi o RAS14FSNS(5/7)B da linha SetFree da Hitachi
com capacidade nominal de resfriamento de 40 KW. O modelo abaixo desse, o RAS12FSNS(5/7)B, possui
capacidade de resfriamento de 33,5 KW, que não atenderia as demandas do sistema. Considerando o volume
a ser resfriado foram escolhidas três evaporadoras do modelo RPC4,0FSN3B4 cada uma com capacidade
nominal de resfriamento de 11,2 KW. Para o sistema Split foram escolhidas três unidades do conjunto
evaporadora e condensadora RCI48CP/ RAP48CQ com capacidade de refrigeração nominal de 13,19 KW,
cada unidade.

4.3. Análise da viabilidade econômica dos Sistemas elétricos de Condicionamento de Ar


O custo do quilowatt-hora fornecido pela CEMIG depende da bandeira vigente na cobrança de energia
elétrica conforme o horário do uso e cenário da Companhia para a geração de energia. A instituição de
ensino público objeto do presente estudo possui isenção dos seguintes impostos: PIS/PASEP, IRPJ, COFINS
e CSLL. Assim, considerando o valor médio do quilowatt-hora cobrado em 2018, tem-se para o horário fora
de ponta e de ponta (das 17h00 às 20h00) a tarifa de R$ 0,40 e R$ 1,60, respectivamente. O sistema de
condicionamento de ar projetado funcionará no horário das 10h45 às 13h30 e das 17h45 às 19h30. Desta
forma, o consumo energético de ambos os sistemas foi separado entre o horário fora de ponta e de ponta. As
Tabelas 3 e 4 apresentam o consumo energético do sistema VRF e Split, respectivamente, além do custo do
consumo de eletricidade para cada horário, além do consumo total.
Tabela 3 - Consumo VRF de um Ano Letivo Completo.
Preço do QuiloWatt-Hora Consumo de Energia Valor a ser pago por Valor total a ser Pago
Horário
[R$] [KWh] cada horário [R$] [R$]
Fora de Ponta 0,40 1.412,36 564,94
2.240,30
De Ponta 1,60 1.047,10 1.675,36
Tabela 4 - Consumo Split de um Ano Letivo Completo.
Consumo de Energia Valor a ser pago por Valor total a ser Pago
Horário Preço do QuiloWatt-Hora
[KWh] cada horário [R$] [R$]
Fora de Ponta 0,40 2.883,62 1.153,45
3.997,00
De Ponta 1,60 1.777,21 2.843,54

Nota-se que o consumo de energia do sistema Split é significativamente maior comparado com o
consumo do sistema VRF. Isso pode ser explicado pela capacidade de refrigeração de ambos os
equipamentos. O COP do equipamento VRF escolhido foi de 4,15 enquanto o do sistema Split foi de 3,28.
Tal fato faz com que o VRF seja mais econômico. Na Tabela 5 apresenta-se o custo médio para aquisição
dos equipamentos analisados nesse trabalho.
Tabela 5 - Custo Equipamentos
Equipamento Preço Unitário [R$] Unidades Preço Total [R$]
Condensadora VRF 50.000,00 1 50.000,00
Evaporadora VRF 5.000,00 3 15.000,00
Modelo Split 6.000,00 3 18,000,00

Na Tabela 6 são apresentados os valores calculados de acordo com as equações 1 a 4. O custo do


investimento inicial considerado foi o preço de aquisição de cada equipamento. O preço de instalação
depende das condições do edifício em que será instalado o sistema de condicionamento de ar e é obtido por
meio de vistoria de um técnico especializado no local. Diante disto, não foi considerado nos cálculos do
presente estudo o custo da instalação dos sistemas analisados. Considerou-se, hipoteticamente, uma vida útil
de 15 anos, para ambos os sistemas (VRF e Split), em um cenário de boas condições de uso, conservação e
manutenção dos aparelhos.
Tabela 6 - Viabilidade Financeira
Investimento Custo de Operação do Custo de Operação Custo de Energia Tempo de Retorno
Inicial [R$] Sistema VRF [R$] Sistema Split System [R$] Evitada [R$] do Capital [Anos]
47.000,00 2.240,30 3.997,00 1.756,70 26,45
Neste contexto, considerando o período de duração estimada dos equipamentos em uso, verificou-se
que, não haverá tempo hábil para a recuperação do investimento feito com a aquisição do sistema VRF em
detrimento do Split, conforme Tempo de Retorno do Capital obtido. O tempo necessário para se ter retorno
financeiro pela economia de energia elétrica ao escolher o sistema VRF será maior que o tempo de vida (15
anos) de ambos os equipamentos. Logo, pode-se afirmar que economicamente a instalação do sistema Split é
mais vantajosa do que a do sistema VRF, apesar de esse apresentar menor consumo de energia para
operação.

1278
4.4. Discussão dos resultados
Diferentemente dos sistemas VRF e Split, que apresentam custo de operação referente ao consumo de
energia elétrica, os exaustores eólicos, apresentam apenas o custo de aquisição, instalação e manutenção.
Desta forma, esta estratégia apresenta potencial para melhorar a circulação do ar por meio da movimentação
natural das massas de ar quentes internas e/ou correntes de vento externas. Entretanto, nas condições
analisadas, este sistema não proporcionou resultado significativo para melhoria das condições de conforto
térmico no refeitório. A simplificação do modelo computacional por meio da renovação do volume do ar por
hora pode não ter sido suficiente para emular o efeito chaminé proporcionado pelos exaustores de cobertura.
Ademais, as simulações mostraram que a temperatura interna do restaurante tende a ser igual à temperatura
externa em períodos mais frios do ano, gerando desconforto térmico no ambiente, em dias muito quentes ou
frios.
Quanto aos sistemas elétricos de condicionamento de ar, apenas o sistema Split, apesar de apresentar
maior consumo de energia que o VRF, se mostrou, viável economicamente, para garantir condições
adequadas de conforto térmico aos usuários. O maior consumo energético do sistema Split se deve ao fato de
que o seu coeficiente de desempenho na refrigeração foi menor do que para o VRF. O COP considerado para
o equipamento do tipo Split foi de 3,28, enquanto que o do VRF em carga nominal foi de 4,15. Tal fato fez
com que o consumo energético do sistema Split fosse consideravelmente maior durante o horário fora de
pico, quando a edificação possui cargas térmicas mais elevadas e os equipamentos escolhidos têm que
funcionar próximo a suas capacidades de refrigeração nominal. Tal estratégia, portanto, não se mostrou uma
solução eficiente do ponto de vista do desenvolvimento sustentável em comparação com o VRF. Entretanto,
o sistema VRF possui um custo de aquisição elevado. Considerando um tempo de vida útil para ambos os
sistemas de 15 anos, a análise de investimento baseada no Método do Período de Retorno do Capital indicou
que a recuperação do investimento feito no VRF em detrimento do Split seria de 26 anos, tempo que supera a
vida útil dos equipamentos. Tal resultado diverge dos obtidos por Carneiro (2012), cujo trabalho indicou que
a recuperação no capital inicial investido no VRF levaria 5 anos, sendo uma opção mais viável
economicamente que o Split. A diferença entre a potências dos equipamentos e regime de funcionamento
podem explicar essa diferença. Portanto, do ponto de vista financeiro, a sistema Split se mostrou uma melhor
opção. Em síntese, no quesito técnico ambos possibilitariam climatizar o ambiente de forma eficiente uma
vez que apresentam ENCE nível A além de terem sido dimensionados sobre medida para refrigerar volume
de ar do refeitório. Contudo, as soluções propostas para o modelo de referência não abarcaram alterações nos
sistemas construtivos da envoltória, variação do pé-direito, mudança na dimensão da abertura das janelas,
inclusão de dispositivos de sombreamento, ajuste da orientação da edificação, entre outros, por se tratar de
imóvel existente. Complementarmente, verificou-se, carga térmica significativa (pessoas e equipamentos
elétricos), fato que contribuiu para aumentar a demanda de equipamentos de condicionamento do ar e,
consequentemente, aumentar o investimento inicial. Logo, o diagnóstico da edificação deve realizado
previamente a sua construção possibilitando o estudo conjunto de soluções e estratégias que propiciem
comportamento termoenergético adequado e reduzido consumo de energia para a manutenção das condições
de conforto térmico dos usuários.

5. CONCLUSÕES
Por meio de modelo termoenergético calibrado de restaurante estudantil foi possível simular a viabilidade
técnica da adoção de exaustores eólicos e de condicionadores de ar para garantir condições adequadas de
conforto térmico aos usuários. Complementarmente, avaliou-se dentre os sistemas elétricos de
condicionamento testados (VRF e Split) aquele mais viável do ponto de vista financeiro. Como resultado
apenas o sistema Split apresentou viabilidade técnica e econômica para prover condições adequadas de
conforto térmico aos usuários de refeitório estudantil em Belo Horizonte-MG. O presente trabalho
apresentou, portanto, uma solução de climatização que possibilitou garantir condições adequadas de conforto
térmico aos usuários para um modelo de referência calibrado que emula as condições de uma edificação
existente. Ademais, os parâmetros de eficiência energética foram atendidos além de ter sido comprovada a
sua viabilidade financeira também. Contudo, em edificações existentes, o estudo isolado de estratégias de
condicionamento pode não privilegiar soluções passivas e/ou com menor custo de investimento. Recomenda-
se, neste sentido, aplicação de outras soluções que possam se aplicar em casos semelhantes, além de estudos
complementares tais como a análise da influência do entorno e/ou da umidade no comportamento
termoenergético da edificação, análise do escoamento do ar e/ou ganhos internos, quantificação da vazão de
insuflamento dos sistemas de condicionamento de ar, verificação do potencial de melhoria nas condições de

1279
conforto dos usuários a ser obtido por meio de alterações na envoltória e/ou no aproveitamento do espaço,
análise de outras soluções de ventilação natural, artificial ou híbrida, bem como o estudo de outras normas e
critérios tanto de conforto térmico quanto de eficiência energética.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Desempenho térmico de edificações - Parte 1: Definições, símbolos e unidades. Rio de Janeiro, 2005.
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TRINKLEY, M. Considerações sobre preservação na construção e reforma de bibliotecas: planejamento para preservação. Rio de
Janeiro: Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos: Arquivo Nacional, 2001.

AGRADECIMENTOS
À Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) e ao CEFETMG pelo auxílio ao
desenvolvimento deste trabalho. À Ares Arquitetura pelo empréstimo do espectrofotômetro de Refletância
Alta II e ao LABCON da EAUFMG pelo empréstimo dos Hobos utilizados nesta pesquisa.

1280
FERRAMENTAS DIGITAIS PARA O ENSINO DA ARQUITETURA E
URBANISMO ORIENTADOS PELO CLIMA
Nathália Mara Lorenzetti Lima (1); Pedro Renan Debiazi (2)
(1) Mestre, Docente do ensino superior, Arquiteta e Urbanista, nathalia.lorenzetti@gmail.com,
Faculdade Estácio de Carapicuíba, Rua Maria Leonete da Silva Nobrega, 207, São Paulo, 014981705665.
(2) Mestre, Coordenador do ensino superior, Arquiteto e Urbanista, pedro.debiazi@estacio.br, Faculdade
Estácio de Carapicuíba, Rua Avanhandava, 40, apto 406, São Paulo, 017997913199.

RESUMO
Este artigo destina-se a docentes, estudantes e arquitetos interessados em ampliar seu repertório técnico e
científico a respeito das plataformas digitais livres para simulação e desenvolvimento de bases para projetos
orientados pelo clima. O objetivo deste trabalho, portanto, é reunir apontamentos bibliográficos, evidenciar e
contextualizar as diferentes plataformas disponíveis para pesquisa e ensino do clima e conforto ambiental em
edificações e espaços abertos. Para isso, foram realizados levantamentos bibliográficos para averiguação a
respeito das principais variáveis climáticas e diretrizes projetuais levadas em consideração na elaboração de
projetos arquitetônicos e urbanísticos, que posteriormente foram cruzados com dados sobre as plataformas
popularmente conhecidas e disponíveis livremente na internet, por fim, quadros sínteses foram
desenvolvidos para apresentação e discussão dos resultados. Acredita-se que o presente artigo contribui para
difundir e ampliar o conhecimento sobre conforto ambiental, auxiliando o ensino a partir da aplicação das
ferramentas digitais para melhora no desempenho térmico das edificações e espaços abertos, de modo a
favorecer o desenvolvimento sustentável e a melhora na qualidade de vida dos usuários.
Palavras-chave: conforto ambiental, ferramentas digitais, conforto térmico, rayman, projeteee, energyplus.

ABSTRACT
This article is intended for teachers, students and architects interested in expanding their technical and
academic repertory about free digital platforms for simulation and development of basis for projects oriented
by climate. The purpose of this work, therefore, is to collect bibliography appointments, evidencing and
contexting different systems available for research and teaching of climate and environmental comfort on
buildings and open spaces. For that, bibliographic researches were done to indicate the main climate
variables and design guidelines taken in consideration in projects of architecture and urbanism which were,
afterwards, crossed with the most popular digital systems that are available on internet, lastly, synthesis
graphics were developed to show and discuss the results. It is believed that this article will contribute to
disseminate and magnify the knowledge about environmental comfort, helping and supporting the teaching
process from the application of these digital instruments for improving thermal performances in building and
open space, in order to favor the sustainable development and quality of life by users.
Keywords: environmental comfort, digital system for thermal comfort, rayman, projeteee, energyplus.

1281
1. INTRODUÇÃO
Num cenário global majoritariamente urbano no qual dados apontam que, atualmente, mais de 55% das
pessoas vivem em cidades (UNITED NATIONS, 2015), os estudos a respeito do conforto ambiental em
espaços urbanos e abertos tornam-se essenciais para garantir a qualidade de vida da população. Isto porque,
segundo Carfan e Galvani (2012) e Gómez, Higueras e Escalona (2014), os elevados índices de estresse
térmico que podem ser experimentados pelos usuários dos espaços abertos e públicos nas cidades, causam
efeitos nocivos à saúde humana. Neste aspecto, Cohen, Potchter e Matzarakis (2013), relatam que à grande
diversidade morfológica das cidades podem desencadear diversos problemas sociais, submetendo os usuários
dos espaços abertos urbanos a diferentes microclimas e episódio de estresse térmico durante um mesmo
período, agravando o desconforto ambiental.
Abreu-harbich, Labaki e Matzarakis (2015) reforçam que as geometrias dos arranjos arquitetônicos e
paisagísticos das cidades interferem no regime de entrada e saída de energia, afetando consequentemente as
trocas térmicas entre os elementos da paisagem. Segundo Oke (1973), a forma construtiva altera o ambiente
microclimático das cidades, pois, podem influenciar a temperatura do ar no nível do solo, alterando também
o regime, a direção e a velocidade dos ventos, que afeta consequentemente o balanço energético urbano.
Não somente o conforto térmico pode afetar a qualidade de vida nas cidades, mas também a
exposição a níveis indesejados de ruído pode causar efeitos prejudiciais ao bem-estar físico, emocional e
psíquico dos usuários, podendo causar fadiga auditiva e até mesmo perda definitiva da audição (MAGIOLI e
TORRES, 2018). Ampliando a discussão Da Silveira Hirashima e Assis (2017), explicam que a percepção
humana é multissensorial, isto é, não acontece de maneira isolada e inclui outras formas de estímulo
sensorial, perpassando os aspectos acústicos, incluindo iluminação, térmica e ventilação.
No contexto da arquitetura e urbanismo, em específico do seu ensino por meio das práticas
pedagógicas relacionadas ao ambiente construído e seu impacto social para transformação e
desenvolvimento sustentável, normalmente, a abordagem climática está mais próxima e íntima dos ateliês de
projeto arquitetônico e das disciplinas específicas de conforto ambiental, enquanto a exploração técnica dos
recursos e estudos relacionados a contribuição relativa dos parâmetros urbanísticos sobre o clima urbano
pouco se aproximam das disciplinas de planejamento urbano e regional, ou mesmo, das próprias disciplinas
de ateliê de urbanismo. Tal distanciamento pode contribuir para a consolidação de modelos de ocupação
altamente concentradores, preocupados apenas com os parâmetros do conforto ambiental dentro das
edificações e condescendentes com os prejuízos causados pelo cenário delineado.
Os conceitos de planejamento climaticamente orientado e o aparato tecnológico da arquitetura da
informação para gestão das cidades podem corroborar para mitigar as mudanças climáticas e minimizar os
impactos desencadeados pelo desequilíbrio do balanço energético nos espaços abertos. Há também notório
conjunto de informações e plataformas digitais disponíveis para auxílio do projeto arquitetônico e
planejamento urbano bioclimático, ferramentas que facilitam e contextualizam os conteúdos teóricos do
ensino do conforto ambiental e das práticas de ateliê nos cursos de arquitetura.
O planejamento urbano orientado pelo clima busca minimizar os efeitos prejudiciais à saúde,
causados pelo estresse térmico, por meio do controle dos parâmetros urbanísticos associados à morfologia,
geometria e atributos da paisagem urbana, nesse sentido Debiazi e De Souza (2017) utilizaram inteligência
artificial de redes neurais artificiais para avaliar a contribuição relativa de determinados parâmetros
urbanísticos e desenvolveram modelos adequados para previsão da temperatura do ar no período diurno,
estes estudos corroboram para a criação de métodos e ferramentas para previsão de cenários futuros
decorrentes dos processos de urbanização.
A grande quantidade de informações disponibilizadas na rede de computadores, são muitas vezes
conjuntos de conhecimentos pulverizados ou com baixo alcance acadêmico, mas que possuem grande
potencial para auxílio dos professores em suas atividades, por essa razão essa pesquisa tem como
justificativa a necessidade de reunir essas informações para divulgar e propagar o uso dessas ferramentas
digitais, contribuindo para a melhora da qualidade do ensino nas disciplinas de conforto ambiental e projeto
arquitetônico.

2. OBJETIVO
Essa pesquisa surgiu a partir de discussões entre os autores a fim de ampliar o conhecimento acadêmico
sobre abordagens climáticas na formação de arquitetos e urbanistas. Sendo assim, o objetivo principal desse
trabalho é reunir, apresentar e contextualizar diferentes ferramentas que podem atuar como aporte digital no
ensino do clima, demonstrando o estado da arte das ferramentas tecnológicas como estratégias de mitigação

1282
das mudanças climáticas e dos efeitos nocivos do desconforto ambiental. Como objetivo secundário, visa
aproximar os profissionais à prática da investigação climática para obtenção de projetos adequados ao
contexto climático em que estão inseridos.

3. MATERIAIS E MÉTODOS
Para analisar o contexto proposto e atingir objetivo da pesquisa, websites, plataformas e programas
computacionais de uso livre22 foram reunidos e suas funcionalidades testadas e listadas para contextualizar o
emprego dessas tecnologias no aporte ao ensino do conforto ambiental em edificações e espaços abertos.
Os dados coletados dizem respeito ao nome das plataformas, seus requisitos de sistema, o tipo de
ferramenta, website ou software, o meio de divulgação e disponibilidade, e, a descrição de suas
funcionalidades. Desta maneira, foram elencadas as seguintes ferramentas digitais:
1. SunEarthTools
2. Windfinder
3. Projeteee
4. Analysis SOL-AR
5. Energyplus
6. Rayman

4. RESULTADOS
De acordo com o método utilizado para reunir e organizar os dados coletados, as informações foram
distribuídas e discutidas nos quadros de 1 a 6 apresentados a seguir.
Ao analisar as questões relacionadas ao conforto térmico, um primeiro aspecto é relacionado à
radiação solar, diretamente correspondente à posição relativa do sol, ao período do ano e à hora do dia,
contribuindo com diferentes níveis de radiação solar direta. Essas informações são reunidas e visualizadas
também através da carta solar gerada para uma determinada coordenada.

Nome: SunEarthTools Requisitos: Navegador com acesso a internet

Tipo: Website Disponível em: https://www.sunearthtools.com

O website SunEarthTools é
uma plataforma gratuita para
designers e usuários de energia
solar que disponibiliza diversas
ferramentas interessantes,
primordiais para o projeto
arquitetônico e para o
planejamento urbano orientado
pelo clima. É possível gerar
cartas solares para qualquer
coordenada, além de cálculo de
elevação solar, com
possibilidade de exportação
para softwares de planilhas
digitais.
Figura 1a: Carta solar gerada para cidade de São Figura 1b: Elevação solar
Paulo para cidade de São Paulo

Quadro 1: Website SunEarthTools

Maestre López-salazar (2016) destaca que há grande variedade de informação a respeito das cartas

22 Programa computacional que pode ser executado, copiado, modificado ou redistribuído gratuitamente.
1283
solares em livros e artigos científicos, contudo é na internet que se encontram, atualmente, a maior
quantidade e facilidade para obter informações e imagens a respeito do assunto. O autor também cita outras
fontes para cálculo e obtenção das cartas solares, mencionando a dificuldade em ensinar a leitura das cartas
para aplicação prática nos projetos de arquitetura e frisa a importância da utilização deste instrumento para a
concepção arquitetônica, contribuindo para a construção de métodos pedagógicos práticos de simulação da
luz solar com uso de maquetes.
O projeto de arquitetura envolve diversas variáveis, dentre elas a combinação dos conhecimentos
associados ao programa arquitetônico, aos aspectos estéticos, legais, urbanísticos e culturais, e ainda aos
custos, tecnologias construtivas e a outras circunstâncias funcionais. Entretanto, muitas vezes, as questões a
respeito do conforto ambiental e do clima são negligenciadas ou abordadas de maneira trivial dentro do
processo do projeto (BOGO, PEIXER, e KOBALL, 2016).
Para ajudar arquitetos, professores e estudantes, a Plataforma Projeteee (Quadro 2) foi desenvolvida
com intuito de reunir informações a respeito do clima, das estratégias bioclimáticas e dos componentes
construtivos para aplicação nos projetos de arquitetura, e objetiva-se em facilitar o acesso à informação e a
compreensão das diretrizes descritas nas normas brasileiras de desempenho das edificações.

Nome: Projeteee Requisitos: Navegador com acesso a internet

Tipo: Website Disponível em: http://projeteee.mma.gov.br

O Projeteee é uma plataforma pública,


inicialmente desenvolvida pelo
PROCEL/Eletrobrás em parceria com a
Universidade Federal de Santa Catarina –
UFSC, hoje mantida pelo Ministério do
Meio Ambiente (MMA). O website
oferece ferramentas de apoio didático
para estudantes e professores de
arquitetura. Reúne dados climáticos de
mais de 400 cidades brasileiras e conta
com biblioteca de estratégias
bioclimáticas, calculadora de
componentes e equipamentos de sistemas
de climatização e geração de energia
solar, tudo de acordo com as normas
brasileiras de desempenho (NBR 15.220
Figura 2a: Biblioteca de estratégias bioclimáticas e NBR 15.575).

Figura 2b: Calculadora do desempenho térmico de componentes construtivos

Quadro 2: Plataforma Projeteee

1284
Muitas vezes tratada com descaso, o uso adequado da ventilação natural nas edificações pode
contribuir para a redução da necessidade de utilização de sistemas de climatização, auxiliando também na
melhora da qualidade do ar (SIMÕES, 2016). Desta maneira, além do dimensionamento correto das
aberturas é necessário que sua distribuição no projeto se encontrem satisfatoriamente direcionadas às
fachadas com maior ocorrência de ventos. Portanto, é preciso que se identifique, de acordo com o clima
local, a direção predominante das correntes de ventilação natural. O website WindFinder pode ajudar na
concepção arquitetônica ao oferecer análises estatísticas baseadas em estações meteorológicas distribuídas ao
redor do planeta e conectadas via internet.

Nome: WindFinder Requisitos: Navegador com acesso a internet

Tipo: Website Disponível em: https://pt.windfinder.com/

O website WindFinder reúne dados de mais de


vinte mil estações meteorológicas ao redor do mundo e
disponibiliza gratuitamente análises estatísticas e
previsão climática em tempo real. Por meio da
plataforma é possível obter, por exemplo, gráficos a
respeito da distribuição, direção e regime dos ventos
(Figura 3ª), disponibilizando também mapas interativos
e em tempo real para previsão climática sobre a
velocidade e regime dos ventos, temperatura do ar e
precipitação (Figura 3b). O site também conta com
calculadora para conversão e classificação da velocidade
do vento e seus impactos em terra e mar.
É possível utilizar os recursos fornecidos para
dimensionamento e posicionamento das aberturas para
ventilação nos projetos arquitetônicos, melhorando o
desempenho térmico nas edificações e evitando a
criação de túneis de vento nos espaços abertos, que
podem causar incômodo e desconforto térmico. Figura 3a: Rosa dos ventos para cidade de São
Paulo – Aeroporto de Congonhas

Figura 3b: Mapa climático interativo

Quadro 3: Website WindFinder

O ganho de calor nas edificações, que gera consequente aquecimento dos ambientes interiores, está
relacionada a intensidade e incidência da radiação solar sobre as fachadas e seus materiais, é preciso
considerar também o aquecimento ocasionado pela incidência de radiação solar no interior das edificações
através das aberturas para ventilação e iluminação, fato que torna a proteção dessas aberturas desafios
emblemáticos do projeto arquitetônico.

1285
As proteções solares são indispensáveis em determinados climas para garantir o conforto ambiental,
pois podem garantir a entrada de iluminação sem interferir na ventilação natural, barrando a incidência direta
de radiação solar no interior das edificações. Townsend e Vieira (2016), apontam que para o bom e correto
dimensionamento deste dispositivo de sombreamento é necessário que se conheçam as trajetórias aparentes
do sol, diante disso, Leitzke et al. (2017), explicam que o tipo de proteção solar adotada, seja ela fixa ou
móvel, depende da orientação de cada fachada.
Caldas (2016), reforça que proteções solares mal dimensionadas podem obstruir a entrada da radiação
solar direta, necessária em alguns climas, bem como impedir a entrada da radiação difusa do céu, bastante
desejada para a iluminação natural. A autora esclarece ainda que a morfologia do entorno urbano também
pode atuar como barreira para a insolação das fachadas, reforçando a necessidade desta avaliação no
momento do projeto.
Tendo em vista a importância do tema, para facilitar a concepção e dimensionamento dos elementos
de sombreamento, o programa computacional Analysis SOL-AR pode auxiliar arquitetos no cálculo das
máscaras solares, tal procedimento fornece os dados a respeito dos ângulos de incidência da radiação solar
para aplicação direta no projeto das proteções solares.

Nome: Analysis SOL-AR Requisitos: Sistema operacional Windows

Tipo: Software livre Disponível em:


http://www.labeee.ufsc.br/downloads/softwares/analysis-
sol-ar

O programa computacional Analysis


SOL-AR permite gerar gráficos a respeito da
carta solar para as principais cidades brasileiras,
é possível também alimentar seu banco de dados
e gerar carta solares estereográficas para
qualquer coordenada do globo terrestre. Além
disso, o programa permite visualizar os
intervalos térmicos anuais de algumas cidades
disponíveis em sua base de dados. Porém, a
maior contribuição do software está na
possibilidade de gerar máscaras de
sombreamento a partir da visualização dos
ângulos de proteção solar, para alfa (α), gama
(γ) e beta (β).
Figura 4a: Cálculo das máscaras de sombreamento

Quadro 4: Software Analysis SOL-AR

Além das proteções solares, também há uma série de outros fatores que contribuem para o ganho de
calor pelas edificações. Estão também relacionados aos materiais utilizados, seja na superfície externa dos
edifícios bem como nos ambientes internos, como materiais construtivos, acabamentos e até mesmo a pintura
e as respectivas espessuras. Isso tudo é resultado das diferentes características térmicas dos materiais, como
transmitância, condutibilidade, densidade, calor específico, coeficiente de absorção de radiação solar,
emissividade, entre outros.
Entender quais superfícies e aberturas recebem radiação solar ao longo do dia e em quais horários isso
ocorre é fundamental, mas também importante é compreender como as superfícies – opacas ou translúcidas –
reagem à radiação, permitindo a entrada de calor nos espaços internos em diferentes quantidades. Além dessa
fonte de aquecimento dos ambientes internos, também há o calor interno gerado tanto pelos equipamentos
em funcionamento e pelos usuários e as atividades que exercem. Associando todas essas influências sobre os
ambientes projetados, o software Energyplus fornece dados resultantes de simulações, como temperatura,
radiação solar, temperatura superficial, temperatura interna (por zona criada), ou seja, determinantes para
1286
entender o balanço térmico das edificações.
Além disso, esse software possibilita a inserção de dados a respeito de sistema de condicionamento de
ar (SPLIT) e de consumo energético da edificação (inclusive lâmpadas e equipamentos), o que garante a
possibilidade de simular diferentes implantações e materiais, comparando assim os diferentes resultados de
consumo quando alternativas artificiais de resfriamento se fizerem necessárias, fornecendo subsídios
necessários para que se obtenha a melhor opção de projeto quanto à eficiência energética. O Energyplus
também permite integrar essas informações à diferentes fontes de energia, como por exemplo a fotovoltaica.

Nome: Energyplus Requisitos: Sistema operacional Windows

Tipo: Software livre Disponível em: https://energyplus.net/

O software Energyplus permite a modelagem das edificações a serem estudadas bem como seu entorno a
fim de reproduzir a situação real de implantação do projeto e, consequentemente, gerar resultados de
balanço térmico muito próximos ao que ocorrerá quando consolidado. Ele fornece resultados numéricos
que podem ser facilmente transformados em formulários e convertidos em planilhas e gráficos para
análises dos dados e comparações entre diferentes resultados.

Figura 5a: Gráfico de teste para sombreamento


Fonte: https://energyplus.net/sites/all/modules/custom/nrel_custom/pdfs/pdfs_v9.1.0/OutputDetailsAndExamples.pdf

Quadro 5: Software Energyplus

A maneira com que o usuário sente e percebe o ambiente térmico está diretamente relacionado aos
índices de conforto ambiental, tais como temperatura e umidade relativa do ar e velocidade do vento, mas
também e, segundo Zaninovic e Matzarakis (2009), ainda mais determinante é a temperatura radiante média,
que permite determinar o balanço energético humano. Este índice contribui para a obtenção de valores acerca
da Temperatura Fisiológica Equivalente (Physiologically Equivalent Temperature), ou simplesmente PET,
que representa a sensação térmica no corpo humano numa escala de sete pontos, distribuídos entre
muito frio, frio, pouco de frio, sensação neutra, pouco quente, quente e muito quente. Para isso, há
também outros fatores que devem ser considerados, como o albedo, a vegetação, a geometria e materiais
do entorno, que, na maioria das simulações são desprezados e considerados apenas as condições de
clima do local, consequentemente, afastando tal resultado das condições reais geradas por um local com
densidade edificada e vegetação.
Tendo em vista essas influências tanto do microclima quanto das condições físicas locais, o
programa computacional RayMan auxilia no fornecimento de valores de PET a cada hora do ano,
garantindo estudos de conforto ambiental tanto em espaços internos quanto externos. Nele é possível
indicar posição e geometria dos edifícios e valores de medições in loco, além de inserir dados a respeito
da vegetação, tais como tipo de árvore (decídua ou conífera, por exemplo) e suas dimensões de copa,
inserir fotografias de olho de peixe para determinação de fator de céu visível, entre outros dados.
1287
Nome: RayMan Requisitos: Sistema operacional Windows

Tipo: Software livre Disponível em: https://www.urbanclimate.net/rayman/

O software RayMan fornece dados


para o entendimento de sensações
térmicas (PET) para espaços internos
ou externos, inserindo dados climáticos
e referentes ao usuário (sexo, idade,
altura, peso, atividade exercida, entre
outros). Também é possível, além de
indicar posição e geometria dos
edifícios, também fornecer dados da
vegetação, inserir fotografias de olho
de peixe para determinação de fator de
céu visível, entre outros dados.
Figura 6a: Diagrama de fator de céu visível

Figura 6b: Quadro com valores obtidos

Figura 6c: Resultado hora/dia com valores de PET para o mês de agosto de 2003 na cidade de Freiburg
Fonte: Amelung B., Blazejczyk K., Matzarakis A., Climate Change and Tourism – Assessment and Coping
Strategies. 2007.

Quadro 6: Software RayMan

5. CONCLUSÕES
Os espaços estão sempre sofrendo com as consequências climáticas, seja em ambientes internos ou externos,
e esse reflexo é influenciado pela arquitetura. Muito priorizado é o estudo do conforto térmico no interior das
edificações, que é instigado no ensino através das disciplinas de ateliê, a fim de se garantir conforto ao
mesmo tempo de alcançar maior sustentabilidade nas edificações – objetivo explorado atualmente tanto na
1288
vida acadêmica quanto profissional. No entanto, seus reflexos no espaço urbano ainda são bastante
negligenciados, o que pode contribuir para ampliar os problemas relacionados às ilhas de calor e no conforto
térmico dos pedestres de modo geral, por exemplo.
A fim de auxiliar o estudo e o entendimento das consequências das propostas de projeto, algumas
plataformas digitais livres foram estudadas e exploradas a fim de inseri-las num contexto de pesquisa e
exploração de possibilidades no que tange implantação do projeto, disposição de aberturas, tipos de
proteções solares, materiais, acabamentos, entre tantos outros, permitindo obter resultados tanto em relação
aos espaços projetados internamente à edificação quanto no reflexo dela no meio externo, nas áreas de
entorno ao projeto.
O uso de tais ferramentas pode contribuir para o melhor entendimento dos aspectos relacionados ao
conforto ambiental, entendendo o movimento aparente do sol, a influência da velocidade do vento e como os
edifícios reagem à todas essas influências em concordância com a geometria do entorno, sendo possível
relacionar conteúdo de ensino com reações testadas em plataformas digitais.

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1289
HABITAÇÃO MULTIFAMILIAR EM SANTO ANDRÉ: INFLUÊNCIA DO
POSICIONAMENTO DOS DORMITÓRIOS NA TEMPERATURA INTERNA
Helenice Maria Sacht (1); Andrea de Oliveira Cardoso (2); Victor Figueiredo Roriz (3)
(1) Doutorado, Docente, helenice.sacht@yahoo.com, Instituto Latino-Americano de Tecnologia,
Infraestrutura e Território – ILATIT, Universidade Federal da Integração Latino-Americana - UNILA, Foz
do Iguaçu-PR
(2) Doutorado, Docente, andrea.cardoso@ufabc.edu.br , Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências
Sociais Aplicadas da UFABC – CECS, Universidade Federal do ABC, Santo André-SP.
(3) Doutorado, vfroriz@gmail.com, Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo –
Brasil

RESUMO
A temperatura interior dos dormitórios, além de influenciar diretamente nas condições de conforto e saúde
dos ocupantes, influencia diretamente no consumo de energia. A análise de temperatura interna é ainda mais
importante para dormitórios, quando se observa as mudanças no modo de vida moderno, na qual os usuários
dos espaços passam cada vez mais horas ausentes de suas residências e um dos espaços mais utilizados são
os dormitórios. Diante disso, no presente estudo foi analisada a influência do posicionamento dos
dormitórios na temperatura interna dos mesmos, para uma habitação multifamiliar padrão, que atualmente
vem sendo repetida no município de Santo André no ABC Paulista. Para tal, foi realizado um levantamento
das características dos edifícios habitacionais predominantes no município de Santo André-SP e
posteriormente o desenvolvimento de um modelo e execução de simulações computacionais utilizando a
interface gráfica Design Builder, para o programa Energy Plus. Foram obtidas as temperaturas internas para
dois casos, com dormitórios no centro e nas extremidades dos andares, para o primeiro e segundo pavimento
e orientações solares leste e oeste. Os resultados indicaram a influência do posicionamento dos dormitórios
na temperatura interna observada. A quantidade de paredes expostas ao exterior foi o que mais influenciou
nas diferenças de temperaturas interiores observadas, e a posição em termos de andar não indicou grandes
diferenças.
Palavras-chave: Habitação Multifamiliar, Dormitórios, Temperatura Interna, Posicionamento, Santo André,
ABC Paulista.

ABSTRACT
The conditions of comfort and health of the occupants is influenced by the indoor temperature of the
bedrooms, as well as energy consumption. Indoor temperature analysis is even more important when one
observes the changes in the modern way of life, because nowadays users spend more and more hours away
from their homes and bedrooms are the most used spaces. Therefore, the influence of the positioning of the
dorms on their internal temperature was analyzed for a standard Multi-Family Housing, which is currently
being repeated in the municipality of Santo André in ABC Paulista. A survey of the characteristics of the
predominant residential buildings in the city of Santo André-SP was carried out and was developed a model
and performed computational simulations using the Energy Plus interface Design Builder. Indoor
temperatures for two cases were obtained, with bedroom in the center and at the edges of the floors, for the
first and second floors and solar orientations east and west. Results indicated the influence of the bedroom
positioning on indoor temperature. The number of exposed walls to the exterior was the most influential in
indoor temperatures differences, and the position on floor did not indicate great differences.
Keywords: Multi-Family Housing, Bedrooms, Indoor Temperature, Positioning, Santo André, ABC Region.

1290
1. INTRODUÇÃO
A região do ABC Paulista, localizada no setor sudeste da Região Metropolitana de São Paulo é considerada
uma das regiões mais importantes do estado, pelo seu perfil industrial e dinamismo econômico. Porém, a
partir da década de 1990, o processo dinâmico de transformação das cidades do ABC Paulista apresenta
mudanças produtivas que determinaram uma “desindustrialização”, conduzindo-as à “cidade do terciário”
(ROLNIK; FRÚGOLI, 2001).
Atualmente observa-se um cenário no qual ocorre o crescimento do número de edifícios habitacionais,
como é o caso do município de Santo André, que está adquirindo um perfil de “cidade dormitório”, no qual
boa parte dos trabalhadores reside, porém exercem suas atividades em São Paulo. No caso de Santo André,
237.773 moradores (35,15% do total) se deslocam para outras cidades, sendo 10,62% para São Paulo e
10,32% para São Bernardo (PEREIRA, 2015). Nessas novas iniciativas habitacionais e adaptações, são
repetidas soluções corriqueiras, sem considerar aspectos do clima local e bioclimáticos.
Sobre o clima, o município de Santo André caracteriza-se com clima subtropical úmido mesotérmico,
e de acordo com a classificação climática de Köppen-Geiger é do tipo Cfb (verões quentes e invernos
amenos). No período de dados disponível (2011 a 2018) para o local estudado, na estação meteorológica
Camilópolis (Utinga), a temperatura média anual foi em torno de 20ºC, sendo o mês mais quente fevereiro,
com temperatura média de 23,3°C, e o mês mais frio (julho) com a temperatura média de aproximadamente
17°C. Nesse período, os recordes de temperatura foram de 38°C, no dia 17 de janeiro de 2015, e a mínima
foi de 5,5°C, no dia 13 de junho de 2016. De modo geral, esses valores observados são semelhantes aos
divugados pela Prefeitura de Santo André, exceto no caso dos recordes que indicam os valores de 3°C para a
mínima e de 35°C para a máxima (PREFEITURA DE SANTO ANDRÉ, 2013).
Observa-se diante de tais especificidades, que é necessário um estudo criterioso das características
climáticas, de forma a estabelecer as decisões projetuais adequadas ao clima, que se determinadas de forma
criteriosa, vão influenciar na diminuição de consumo energético para o resfriamento durante o verão e o
aquecimento durante o inverno para edifício, e no aspecto urbano favorecer a implantação de novos projetos.
Em termos de projeto arquitetônico, no município de Santo André não são exigidos de forma
detalhada parâmetros técnicos para os ambientes das habitações, além da especificação de áreas para alguns
ambientes. Considera-se pela lei que prover tais características de forma a proporcionar melhores condições
de habitação e habitabilidade é de responsabilidade do profissional encarregado do desenvolvimento dos
projetos, mediante a consulta de normas técnicas e legislação específica, tais como o Código Sanitário de
São Paulo (Decreto n°. 12.342), cuja versão mais antiga de 1978 engloba parâmetros relacionados às áreas
dos ambientes, entre outras características. Diante disso, muitos profissionais ainda consideram os
parâmetros de projeto existentes nessa legislação para o desenvolvimento de projetos habitacionais. De
acordo com o mesmo decreto, toda habitação deverá dispor de pelo menos um dormitório, uma cozinha, uma
instalação sanitária e uma área de serviço (SÃO PAULO, 1978).
O que se observa são habitações multifamiliares sendo construídas de forma a se obter o maior número
de unidades com áreas mínimas, sem uma preocupação maior com condições de conforto ambiental e
habitabilidade. As condições de conforto térmico de um dormitório, por exemplo, são de grande importância
para a Região do ABC Paulista, uma vez que essa região está se tornando um conjunto de cidades dormitório
para pessoas que desempenham suas atividades em São Paulo. Considerando um tempo de descanso de oito
horas por dia e retirando cerca de um mês de ausência por ano, uma pessoa permanece em torno de
2680 horas nesse ambiente. A temperatura interior dos dormitórios, além de influenciar diretamente nas
condições de conforto e saúde dos ocupantes, influencia diretamente no consumo de energia.
Na literatura, os principais exemplos de pesquisas de avaliação de temperatura interna são estudos
comparativos do efeito de uso de diferentes tecnologias em termos de paredes, coberturas e janelas, por
exemplo, sendo que, praticamente não se observam pesquisas avaliando posicionamento dos ambientes
analisados, em relação à disposição em planta e em termos de posicionamento em diferentes pavimentos.
Tendo em vista esses aspectos e a necessidade de estudos de desempenho térmico para os climas do
ABC, foram levantadas características construtivas de uma solução padrão habitacional que vem sendo
construída no município e avaliada as condições de temperatura interna observada nos dormitórios.

2. OBJETIVO
O objetivo do presente estudo foi analisar a influência do posicionamento dos dormitórios na temperatura
interna dos mesmos, para uma habitação multifamiliar padrão, que atualmente vem sendo repetida no
município de Santo André no ABC Paulista.

1291
3. MÉTODO
O procedimento metodológico incluiu o levantamento das características dos edifícios habitacionais
predominantes no município de Santo André e posteriormente o desenvolvimento de um modelo e execução
de simulações computacionais utilizando a interface gráfica Design Builder, para o programa Energy Plus.

3.1 Modelo Simulado


O modelo base considerado para a execução das simulações computacionais foi um ambiente de
permanência prolongada, inserido numa tipologia típica construída em Santo André, cujas dimensões foram
adotadas observando os valores mínimos estabelecidos, e ainda, parâmetros das seguintes normas e
regulamentos: RTQ-R (INMETRO, 2012), Código de Obras de Santo André (SANTO ANDRÉ, 2000) e
Código Sanitário de São Paulo (SÃO PAULO, 1978).
Foi considerada para a análise a faixa de conforto estabelecida pelos estudos da aplicação do conceito
Passive House para climas quentes: acima dos 20°C e abaixo dos 26°C (PASSIVE-ON, 2007).
Recentemente, o conceito Passive Houve está sendo adaptado à realidade brasileira, por isso o fato de ser
escolhido para o presente estudo, a faixa de conforto do mesmo. Uma pesquisa recente sobre o assunto, cujo
objetivo foi adaptar as estratégias do conceito a residências unifamiliares da Região Sul do Brasil, está sendo
finalizada. Foi verificado ainda, qual o seu desempenho termo energético e os impactos no projeto
arquitetônico (VETTORAZZI, 2019).
Para estabelecer o modelo a ser simulado, realizou-se um levantamento de dados de quinze projetos
habitacionais multifamiliares mais recentes executados no município (BARBOSA, 2018; 2018b), cujas
características observadas foram: as áreas totais dos pavimentos tipo, a área das escadas, área do poço de
ventilação, afastamentos em relação aos fundos, números de apartamentos por andar, e ainda características
específicas dos ambientes a ser simulados, tais como a área média dos dormitórios e o pé-direito dos
mesmos, de forma a estabelecer um modelo o mais próximo possível das tipologias habitacionais recentes
construídas no município.
O modelo inicial apresenta um total de 4 pavimentos, sendo o primeiro destinado à garagem e o
último à cobertura (metade coberto), construção habitacional predominante no município, de acordo com
dados levantados. Os pavimentos simulados foram o 1° e o 2°, por terem a maior concentração de unidades e
serem o posicionamento usual das unidades. Foi selecionada a fachada leste para duas unidades e
consequentemente a oeste para as outras duas unidades restantes, o que normalmente ocorre em tipologias
com quatro unidades. A escolha da orientação leste e oeste foi devido ao fato da orientação leste, ser
normalmente escolhida para o posicionamento de dormitórios, e tendo em vista a simetria das plantas,
consequentemente a outra orientação seria a oeste, o que ainda caracteriza uma situação crítica do ponto de
vista térmico.
As dimensões do modelo são apresentadas na Tabela 1 e as Figuras 1 a 4 abaixo apresentam as
configurações esquemáticas dos modelos simulados. As plantas baixas com variações de posicionamento dos
dormitórios com a configuração abaixo foram simuladas considerando o posicionamento no primeiro e
segundo andar.
Tabela 1 - Modelo habitacional para Simulação.
ÁREA DO PAVIMENTO TIPO (m²) ÁREA DA ESCADA (m²)
Largura Comprimento Área Largura Comprimento Área
10,00 23,00 230,00 2,40 4,80 11,52
Obs.: Desconsiderando os afastamentos. Obs.: Centralizada no pavimento.
AFASTAMENTO APARTAMENTOS PÉ DIREITO
ÁREA DE POÇO (m²) -04 Poços
FUNDOS (m) POR ANDAR (n°.) (m)
Largura Comprimento Área
1,50 2e4 2,70
1,50 3,31 6,41
Obs: Para o Obs: fazer para as duas
Obs.: 04 unidades, distribuídas de maneira uniforme.
pavimento tipo. variações.
QUARTO (m²)
Largura Comprimento Área
2,70 3,10 8,37
JANELAS PORTAS
Largura Altura Peitoril Largura Altura
1,20 1,00m 1,10 0,70 2,10

1292
Figura 1 - Modelo com os dormitórios posicionados no centro Figura 2 - Modelo com os dormitórios posicionados nas
das fachadas oeste e leste. extremidades das fachadas oeste e leste.

Figura 3 - Modelo em 3D – Vista 01 Figura 4 - Modelo em 3D – Vista 02

As características construtivas da tipologia simulada são apresentadas na Tabela 2 e foram obtidas por
meio de entrevistas realizadas com o arquiteto Silvio Mariano Barbosa, sobre Projetos Residenciais em Santo
André. O profissional entrevistado atua há 10 anos na Secretaria de Desenvolvimento e Geração de Emprego
– Diretoria de Controle Urbano, Gerência de Aprovação de Projetos da Prefeitura de Santo André.
Tabela 2 – Características construtivas do Modelo.
CARACTERÍSTICAS DE HABITAÇÃO MULTIFAMILIAR PADRÃO – SANTO ANDRÉ
Propriedades Cobertura Inclinada Laje1 Paredes Esquadrias
Blocos cerâmicos2
Laje painel treliçada Parede de tijolos 6 furos Janela de correr,
Cobertura de telha de
Material aliviada (com quadrados, assentados na com duas folhas
barro sem forro.
utilização de EPS). menor dimensão. e vidro.
Cor clara.
Dimensões do tijolo:
1.20x1.00m
9,0x14,0x19,0 cm
Peitoril: 1,10m
Espessura da argamassa de
Dimensões e Espessura da telha: Espessura do
14cm assentamento: 1,0 cm
Espessuras 1,0 cm Vidro simples,
Espessura da argamassa de
transparente:
emboço: 2,5 cm
6mm
Espessura total da parede: 14cm
Resistência
Térmica Total 0,2198 0,3115 0,4032 -
(m²k)/w
Transmitância
Térmica Total 4,55 3,21 2,48 -
w/(m²k)
Capacidade
Térmica (CT) 18 271,8 159 -
KJ/(m²k)
Atraso Térmico φ
0,3 2,8 3,3 -
(h)

1293
Ilustração

Fonte: 1 (DALBERTO, 2017); 2 (ABNT, 2005).

3.2 Parâmetros para Simulações Computacionais


O arquivo climático foi elaborado no formato EPW a partir de dados nas estações meteorológicas do Semasa
(Serviço Municipal de Saneamento Ambiental) de Santo André, para o período de 01/2011 a 04/2018, com
dados referentes à temperatura e umidade do ar, pressão atmosférica, radiação solar incidente, direção e
velocidade do vento e precipitação. Em termos de predominância de construção de unidades habitacionais
em Santo André, o local que mais se destaca, segundo informações obtidas na Prefeitura é a área do entorno
da Estação 01 Camilópolis (Bairro Utinga).
Após uma análise geral dos dados brutos e do preenchimento das típicas lacunas de registros (pela
reprodução dos valores horários da variável em questão do registro do dia anterior), foi avaliado o ano
climático de referência para a localidade. Entre os diversos conceitos e métodos existentes sobre o tema,
considerou-se a adoção de um ano real (completo com todos os 12 meses) selecionado pela exclusão
sucessiva dos anos mais quentes e mais frios, restando apenas um, a ser considerado como o típico do lugar,
nesse caso o ano de 2016.
A taxa metabólica considerada para as simulações computacionais foi de 81W/pessoa e a densidade de
potência instalada de iluminação de 5W/m². De acordo com o RTQ-R (INMETRO, 2012), o padrão mínimo
de ocupação dos dormitórios deve ser de duas pessoas por ambiente e a sala deve ser utilizada por todos os
usuários dos dormitórios.
Os perfis de ocupação e uso de iluminação artificial utilizados foram os indicados pelo Regulamento
Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edificações Residenciais (RTQ-R)
(INMETRO, 2012) e são apresentados nas Figuras 5 e 6.

Figura 5 - Perfil de ocupação para dormitórios.


Fonte: Adaptado de INMETRO (2012).

1294
Figura 6 - Perfil de uso de iluminação artificial para dormitórios.
Fonte: Adaptado de INMETRO (2012).

4. RESULTADOS
Os resultados apresentam temperaturas mensais para dormitórios posicionados no centro e nas extremidades
das unidades, bem como um comparativo entre as mesmas (variação de temperaturas por andar e orientação
solar usual).

4.1 Caso 01: Dormitórios Posicionados no Centro das Unidades - Variação de temperaturas
por andar e orientação solar usual
A Figura 7 apresenta as temperaturas para os quatro dormitórios simulados no primeiro pavimento,
posicionados no centro das fachadas oeste e leste. Observam-se temperaturas mais elevadas de dezembro a
abril, considerando a faixa de conforto estabelecida pelos estudos da aplicação do conceito Passive House
para climas quentes: acima dos 20°C e abaixo dos 26°C (PASSIVE-ON, 2007). Os dormitórios posicionados
à leste apresentaram as temperaturas mais elevadas e à oeste apresentaram menores temperaturas. As
temperaturas mais baixas foram observadas para os meses de maio e junho e as mais elevadas para fevereiro
e abril. Porém, todas as temperaturas de dezembro a abril estão acima de 26°C.
Ao fazer um comparativo entre as temperaturas dos dois pavimentos simulados para o Caso 01
(dormitórios posicionados no centro das unidades), observa-se que as temperaturas dos dormitórios a leste
foram bem próximas. Já os dormitórios a oeste apresentam maiores variações, principalmente de maio a
novembro, sendo que as temperaturas internas foram um pouco menores para os dormitórios posicionados no
2° pavimento, o que pode estar relacionado as trocas de calor proporcionadas pela ventilação natural que é
incrementada nos pavimentos mais elevados. Ao comparar os dormitórios na mesma posição e em andares
diferentes, observou-se que as temperaturas internas estão bem próximas, possivelmente devido ao fato dos
mesmos possuírem apenas uma parede exposta ao exterior.

1295
Figura 7 - Caso 01: Resultados das temperaturas mensais para o modelo com os dormitórios posicionados no centro
das fachadas oeste e leste – 1°. e 2°. Pavimentos.

4.2 CASO 02: Dormitórios Posicionados na Extremidade das Unidades - Variação de


temperaturas por andar e orientação solar usual
A Figura 8 apresenta um comparativo entre as temperaturas dos dois pavimentos simulados para o Caso 02.
Para os quatro dormitórios simulados no primeiro pavimento, posicionados nas extremidades das fachadas
oeste e leste, observa-se novamente temperaturas mais elevadas de dezembro a abril, considerando a faixa de
conforto estabelecida (PASSIVE-ON, 2007). Os dormitórios posicionados a oeste apresentam maiores
temperaturas e a leste apresentam as temperaturas mais baixas. No caso 02 os dormitórios apresentam as
duas paredes expostas, o que faz com que as temperaturas internas sejam mais elevadas. Os meses de maio e
junho apresentam as menores temperaturas e os meses de fevereiro e abril as mais elevadas. De dezembro a
abril as temperaturas internas ultrapassam os 26°C.
Para os quatro dormitórios simulados no segundo pavimento, posicionados nas extremidades das
fachadas oeste e leste, observa-se temperaturas ainda mais elevadas de dezembro a abril. Os dormitórios
posicionados a oeste apresentaram as temperaturas mais elevadas e à leste as menores temperaturas. Maiores
temperaturas foram observadas para fevereiro e abril. As temperaturas acima dos 26°C foram observadas
novamente de dezembro a abril, com destaque para os dormitórios a oeste.
Em termos de pavimentos, as temperaturas dos dormitórios a oeste foram bem próximas. Já para os
dormitórios a leste apresentaram maiores variações, principalmente de maio a novembro. Ao comparar os
dormitórios na mesma posição e em andares diferentes, observou-se que as temperaturas internas, no caso 02
(dormitórios nas extremidades) estão mais elevadas para os dormitórios a oeste do 2° pavimento,
possivelmente devido ao fato dos mesmos possuírem duas paredes expostas ao exterior. Isso indica que as
temperaturas mais elevadas são observadas para dormitórios com maior número de paredes expostas.

1296
Figura 8 - Caso 02: Resultados das temperaturas mensais para o modelo com os dormitórios posicionados das
extremidades das fachadas oeste e leste – 1°. e 2°. Pavimentos.

4.3 CASO 01 x CASO 02 – Comparação (CASO 01 Dormitórios Posicionados no Centro das


Unidades x CASO 02: Dormitórios Posicionados na Extremidade das Unidades)
No caso do 1°. pavimento, para os dormitórios a oeste, as temperaturas foram bem próximas, para ambos os
Casos 01 e 02, ou seja, tanto para dormitórios posicionados na parte central da planta (uma parede exposta),
quanto nas extremidades (duas paredes expostas). Destacou-se o Caso 02 (paredes expostas) a oeste em abril,
com a maior temperatura interna (28.32°C). Para os dormitórios a leste, as maiores temperaturas internas
foram para o Caso 01 e as menores para o Caso 02 (Figura 9).

Figura 9 - Caso 01 (dormitórios no centro da planta) x Caso 02 (dormitórios nas extremidades): Resultados
comparativos das temperaturas mensais para o modelo nas fachadas oeste e leste – 1°. Pavimento.

No caso do 2°. pavimento, para os dormitórios a oeste, as temperaturas mais elevadas foram
observadas para o Caso 02 (duas paredes expostas), com uma diferença em relação ao Caso 01 de 2 a 3 °C
nos meses mais frios (maio, junho e julho). Novamente destacou-se o Caso 02 (paredes expostas) a oeste em
1297
abril, com a maior temperatura interna (28.63°C). Para os dormitórios a leste, as maiores temperaturas
internas foram para o Caso 01 (uma parede exposta) e as menores para o Caso 02 (duas paredes expostas)
(Figura 10).

Figura 10 - Caso 01 (dormitórios no centro da planta) x Caso 02 (dormitórios nas extremidades): Resultados
comparativos das temperaturas mensais para o modelo nas fachadas oeste e leste – 2°. Pavimento.

Em síntese, para o Caso 01 (uma parede exposta), ao comparar os dormitórios na mesma posição e em
andares diferentes, observou-se que as temperaturas internas estão bem próximas, possivelmente devido ao
fato dos mesmos possuírem apenas uma parede exposta ao exterior.
Para o Caso 02 (duas paredes expostas), ao comparar os dormitórios na mesma posição e em andares
diferentes, observou-se que as temperaturas internas estão mais elevadas para os posicionados a oeste do 2°
pavimento, possivelmente devido ao fato dos mesmos possuírem duas paredes expostas ao exterior, e ainda
estar mais próximo à cobertura (Figura 11).

Caso 02: 2 . Pav - Temperaturas Internas mais elevadas


C
30

29 28,63
28,24
28 27,67
26,86 26,86
27
25,87
26 25,51 25,32
24,86
25 24,44
24 23,76

23 22,33 Caso 02:


DORM_02_01_Oeste
22
Caso 02:
21
DORM_02_02_Oeste
20
Outubro
Abril

Junho

Julho
Fevereiro
Janeiro

Março

Agosto

Novembro
Maio

Setembro

Dezembro

Meses

Figura 11 - Caso 02 (dormitórios nas extremidades): Resultados com temperaturas mais elevadas – 2°. Pavimento –
Dormitórios a Oeste.

1298
5. CONCLUSÕES
Os resultados indicam a influência do posicionamento dos dormitórios na temperatura interna. A quantidade
de paredes expostas ao exterior foi o que mais influenciou nas diferenças de temperaturas interiores. A
posição vertical (em termos de andar) não indicou grandes diferenças, possivelmente pelo fato de não ter
sido avaliado um pavimento com a cobertura exposta ao exterior, pois para o município, a predominância de
uso desse pavimento (quarto pavimento) é como terraço.
Para o Caso 01 (uma parede exposta para o exterior) analisado, ao comparar os dormitórios na mesma
posição e em andares diferentes, observou-se que as temperaturas internas estão bem próximas,
possivelmente devido ao fato dos mesmos possuírem apenas uma parede exposta ao exterior. Para o Caso 02
(duas paredes expostas para o exterior), ao comparar os dormitórios na mesma posição e em andares
diferentes, observou-se que as temperaturas internas estão mais elevadas para os posicionados a oeste do 2°
pavimento, possivelmente devido ao fato dos mesmos possuírem duas paredes expostas ao exterior, e ainda
estar mais próximo à cobertura.
A próxima etapa da presente pesquisa foi comparar os resultados das temperaturas internas do
Dormitório 02 do Caso 02 (duas paredes expostas ao exterior), com aberturas posicionadas a oeste
localizados no 2° pavimento (situação mais desfavorável), com e sem estratégias bioclimáticas inseridas, que
incluem: alteração dos tipos de vidros, inserção de dispositivos de proteção solar, alteração de paredes,
incremento de ventilação natural, entre outras soluções.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 15220: Desempenho térmico de edificações. Parte 3:
Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social. Rio de Janeiro,
2005.
BARBOSA, S. M. Entrevista aberta - Áreas de Predominância dos Projetos Residenciais em Santo André. Secretaria de
Desenvolvimento e Geração de Emprego – Diretoria de Controle Urbano, Gerência de Aprovação de Projetos - Prefeitura de
Santo André. Santo André, Junho, 2018a.
BARBOSA, S. M. Entrevista aberta sobre Projetos Residenciais em Santo André. Secretaria de Desenvolvimento e Geração de
Emprego – Diretoria de Controle Urbano, Gerência de Aprovação de Projetos - Prefeitura de Santo André. Santo André,
Maio, 2018b.
DALBERTO, E. Análise comparativa de isolamento térmico entre lajes pré-moldadas e laje painel treliçada com a utilização
de tavelas cerâmicas e blocos de poliestireno expandido (EPS) para fins de conforto térmico. Trabalho de Conclusão de
Curso. Engenharia Civil, do Centro Universitário UNIVATES. Lajeado, Junho de 2017.
VETTORAZZI, E. Contribuições das estratégias do conceito Passive House para edificações energeticamente mais eficientes
na Região Sul Brasileira. 2019. 361f. Tese (Doutorado em Arquitetura) – Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em
Arquitetura, UFRGS, Porto Alegre, 2019 (no prelo).
INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, NORMALIZAÇÃO E QUALIDADE INDUSTRIAL (INMETRO). Programa
Brasileiro de Etiquetagem (PBE). Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de
Edificações Residenciais (RTQ-R). Residencial. 2012. Disponível em:
http://www.pbeedifica.com.br/sites/default/files/projetos/etiquetagem/residencial/downloads/RTQR.pdf Acesso em: 10 Mai.
2019.
PASSIVE-ON. A Norma Passivhaus em Climas Quentes da Europa: Diretrizes de Projeto para Casas Confortáveis de Baixo
Consumo Energético: Parte 1. Revisão de casas confortáveis de baixo consumo energético. 2007.
PEREIRA, L. Mais de 850 mil moradores do ABC se deslocam para estudar ou trabalhar. Universidade Metodista de São Paulo.
2015. Disponível em: http://www.metodista.br/rronline/noticias/cidades/2015/03/quase-70-dos-moradores-de-sao-caetano-
trabalham-e-estudam-em-outra-cidade Acesso em: 10 Mai. 2019.
ROLNIK, R.; FRÚGOLI JR, H. Reestruturação urbana da metrópole paulistana: a Zona Leste como território de rupturas e
permanências. Cadernos Metrópole, n. 06, p. 43-66, 2001.
SANTO ANDRÉ. Lei nº 8.065 de13 de julho de 2000. Código de Obras e Edificações do Município de Santo André. Publ. "D. do
Grande ABC" 14.07.00, Cad.Class., 2000.
SÃO PAULO. Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Decreto n°. 12.342, de 27 de setembro de 1978. Código Sanitário.
1978. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1978/decreto-12342-27.09.1978.html Acesso
em: 10 Mai. 2019.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo
financiamento da presente pesquisa.

1299
IMPACTO DO FATOR DE VISÃO DO CÉU NO TEMPO DE
PERMANÊNCIA DE USUÁRIOS EM BANCOS DE PRAÇAS
Eduarda de Mattos Previero (1); Renata Braga Aguilar da Silva (2); Maria Solange Gurgel de
Castro Fontes (3); João Roberto Gomes de Faria (4)
(1) Arquiteta e Urbanista, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
dudampreviero@gmail.com, Universidade Estadual Paulista, Av. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube nº14-01
- Vargem Limpa – Bauru/SP, (14) 3103-4878
(2) Arquiteta e Urbanista, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo,
renataaguilar@hotmail.com.br, Universidade Estadual Paulista, Av. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube
nº14-01 - Vargem Limpa – Bauru/SP, (14) 3103-4878
(3) Doutora, Arquiteta e Urbanista, solange.fontes@unesp.br, Universidade Estadual Paulista, Av. Eng. Luiz
Edmundo Carrijo Coube nº14-01 - Vargem Limpa – Bauru/SP, (14) 3103-4878
(4) Doutor, Engenheiro de Produção-Materiais, joao.rg.faria@unesp.br, Universidade Estadual Paulista, Av.
Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube nº14-01 - Vargem Limpa – Bauru/SP, (14) 3103-4878

RESUMO
O uso e apropriação em espaços públicos de lazer, como praças, estão associados com suas características de
conforto, segurança, qualidade dos mobiliários e equipamentos, entre outros. Em relação ao mobiliário
urbano, o banco exerce papel fundamental, pois favorece a permanência dos usuários no local. Neste
contexto, o objetivo do estudo é identificar se existe relação entre o Fator de Visão do Céu (FVC) e o tempo
de permanência dos usuários em bancos de praça. O método selecionado foi a observação dos usuários
através de fotografias tiradas a cada 10 minutos e imagens hemisféricas com lente olho de peixe, que foram
inseridas no software Rayman para determinar o valor do FVC. Os resultados demonstram que existe relação
entre o FVC e o tempo de permanência dos usuários em bancos de praças, uma vez que os valores mais
baixos do FVC apresentam em média cerca de quatro vezes mais usuários e maior tempo de permanência nos
bancos. No período da manhã, essa diferença de tempo de permanência não foi muito significativa;
entretanto, no período da tarde o tempo médio de permanência nos bancos com FVC baixo foi de 20 min,
praticamente o dobro do tempo em relação aos com FVC médio, que foi de 11 min. Os métodos adotados
foram eficientes para compreender a relação entre o tempo de permanência dos usuários em banco e o FVC e
podem ser replicados em estudos semelhantes em diferentes contextos climáticos e de condições de tempo
(verão e inverno).
Palavras-chave: tempo de permanência, fator de visão do céu, praças, bancos.

ABSTRACT
The use and appropriation in public spaces, such as squares, are associated with its characteristics of comfort,
safety, quality of furniture and equipment, among others. Regarding urban furniture, benches play a
fundamental role, as it favors the permanence of the users in the place. In this context, the objective of the
study is to identify if there is a relation between the Sky View Factor (FVC) and the length of permanence of
the users in square benches. The method selected was the observation of the users through photographs taken
every 10 minutes and hemispheric images with fisheye lens, which were entered into the Rayman software to
determine the value of the FVC. The results show that there is a relation between the FVC and the length of
permanence of the users in squares benches, since the lower values of the FVC present on average about four
times more users and longer time of permanence in the benches. In the morning, the difference in length of
stay was not very significant; however, in the afternoon the average length of stay in benches with low FVC
was 20 min, practically double the time in the medium FVC, which was 11 min. The methods adopted were
efficient to understand the relation between the length of permanence of benches users and FVC and they can
be replicated in in similar studies in different climatic contexts and weather conditions (summer and winter).
Keywords: length of stay, sky view factor, squares, benches.
1300
1. INTRODUÇÃO
A praça possui um papel importante na vida das cidades e dos cidadãos, é o lugar mais favorável para as
pessoas permanecerem se encontrarem e desenvolverem atividades sociais, culturais e de manifestações
(LAMAS, 19993; ROMERO, 2007; SANTOS, 2008; MORO, 2011; GIL, 2011). Para essa diversidade de
atividades acontecerem o espaço público deve proporcionar qualidade ambiental, atrativos para diversas
faixas etárias, além de promover conforto físico e térmico para que os usuários permaneçam no local. A
existência de bancos variados, com boa localização e quantidade de insolação adequada que proporcione
conforto aos usuários, permite que as pessoas compartilhem experiências e façam novos contatos
(MARCUS, FRANCIS, 1998; ALVES, 2012; GEHL, 2015; ISSUU, 2018).
Caso localizados corretamente, os bancos públicos podem transformar o local, como explicam
Minda (2009) e Luz et al. (2012), que mostraram que esse mobiliário localizado em áreas sombreadas é mais
frequentado pelos usuários. Jacobs (2000) discorre sobre os bancos locados em lugares onde há movimento
de pessoas durante todo o dia, onde a vida urbana acontece: esses são normalmente mais frequentados do que
os localizados em espaço vazios, sem a presença de pessoas em seu entorno. Holly Whyte, em seu artigo
“Please, Just a Nice Place to Sit”, mostrou que os espaços que as pessoas mais gostavam na cidade de Nova
York eram os sentáveis, lugares convidativos e sociáveis e, consequentemente, espaços mais seguros
(PEINHARDT, 2017).
Vários trabalhos (MORI, NISHIWAKI, 2004; GIL, 2011; BANISTER, 2014; RISHBETH,
ROGALY, 2017; PEINHARDT, 2017; ISSUU, 2018) tratam sobre bancos nos espaços públicos, sua
importância para a sociabilização, encontros e descansos, a evolução do seu design durante os anos, com o
fim de proporcionar conforto e permanência por longos períodos e o comportamento dos usuários no
mobiliário.
Neste contexto, o artigo focaliza os bancos nos espaços púbicos como mais do que peças de design
necessárias para a harmonização do local, mas como assentos que possam contribuir para o bem-estar
durante o tempo de permanência. Com esse intuito, é utilizado o Fator de Visão do Céu (FVC) juntamente
com a observação de campo para compreender a relação entre esses dois aspectos do espaço onde o banco
está localizado e como eles afetam seu uso e apropriação.

2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é identificar a relação entre o tempo de permanência dos usuários em bancos de
espaços públicos de permanência e seus respectivos FVC.

3. MÉTODO
O trabalho foi desenvolvido a partir de um estudo de caso, através dos passos metodológicos descritos a
seguir:
1. Seleção de um espaço público de permanência e do período de levantamento;
2. Identificação da quantidade de bancos (universo) e tamanho da amostra (quantidade de bancos a
serem avaliados);
3. Levantamento do FVC nos bancos selecionados;
4. Observação da quantidade de usuários e tempo de permanência nos bancos.

3.1. Seleção de um espaço público de permanência e do período de levantamento


Foi selecionada a Praça Rui Barbosa em Bauru-SP (lat. -22.35768° - log. -49.02799°), cidade de médio porte
com população estimada de 374.272 habitantes em 2018, com área territorial de 667,684 km². A cidade está
localizada no Centro Oeste Paulista, distante 330 km da capital do Estado (IBGE, 2017). Seu clima, úmido
mesotérmico, com inverno seco, pode ser classificado como BB'sb segundo Thornthwaite (FIGUEIREDO;
PAZ, 2010). De acordo com dados do IPMET (2018), a temperatura média da cidade nos últimos 17 anos é
de 22,7ºC, sendo que julho é o mês mais frio (média de 19,4ºC) e fevereiro o mais quente (média de 25,2ºC).
A Praça Rui Barbosa (Figura 1) foi selecionada por ter intenso uso durante o dia, grande importância
histórica e por possuir bancos com diversas condições de exposição solar.

1301
Figura 1 – Imagens da Praça Rui Barbosa (acervo dos autores, 2018)

3.2. Identificação da quantidade de bancos e tamanho da amostra


A praça possui 48 (quarenta e oito) bancos. Desses, foram selecionados 25 (vinte e cinco) para a coleta de
dados, devidamente locados e numerados na Figura . A escolha dos bancos foi baseada em dois critérios: 1º)
deveriam estar localizados na parte interna da praça, para que a coleta de dados fosse facilitada; 2º) não
deveriam ter atividades comerciais fixas (vendedores ambulantes e carrinhos de lanches), como acontece na
lateral sudoeste, destacada na figura 02, para não interferir nos resultados.

18 02
N
16
03
20 01
17 21 04

22
05
23 06

24

19 25
08 07

15
14
09
Área de comércio
informal
10
11
13
12
Catedral

Figura 2 – Localização dos bancos avaliados, sem escala (Google Maps, editado pelos autores, 2018)

3.3. Levantamento do Fator de Visão do Céu nos bancos selecionados


O FVC é um valor definido através da razão entre a porção de céu visível visto de um determinado ponto e a
abóbada celeste a partir deste ponto. Esse índice varia de zero a um, sendo que zero significa uma área 100%
obstruída e um a um espaço completamente sem obstáculos (OKE, 1987). Para a análise dos resultados esses
valores foram divididos em faixas de FVC baixo (0 - 0,33), médio (0,34 - 0,66) e alto (0,67 - 1).
1302
As fotos hemisféricas para determinar o fator de visão do céu de cada banco foram feitas com uma
câmera de lente hemisférica de 180º, posicionadas sobre um tripé a 1,20 m do chão e direcionada a norte. A
Figura 3 mostra o exemplo da foto hemisférica do banco 12 e ao lado a imagem gerada pelo software
Rayman (MATZARAKIS et al. 2000). A trajetória solar sobreposta à imagem mostra que o banco recebe
radiação solar no período da tarde nos dias do levantamento. A partir da foto hemisférica o software
consegue gerar outros dados como o FVC e tempo de exposição ao sol durante o dia.

(a) (b)
Figura 3 – Foto hemisférica do banco 12: (a) imagem original; (b) Imagem tratada no RayMan com a trajetória solar (acervo dos
autores, 2018)

3.4. Observação da quantidade de usuários e tempo de permanência nos bancos


A observação é um método utilizado por diversos autores (SANTOS et al, 2009; MORAES, SILVA,
CARVALHO, 2010; MONTELLI, REIS, 2008; FONTES ET AL, 2005; GEHL, SVARRE, 2018) que gera
registros gráficos sobre o uso dos espaços através de mapas comportamentais (Figura 4). Trata-se de um
instrumento que proporciona interpretar as características de uso e ocupação do espaço e, consequentemente,
verificar a apropriação que os usuários têm dos bancos, quantidade de pessoas e tempo de permanência. A
observação foi realizada durante três dias úteis e não contínuos (21, 26 e 28 de novembro de 2018), das 10 às
12 h e das 14 h 30 min às 16 h 30 min.

Figura 4 – Mapa comportamental esquemático elaborado no 1º dia de coleta. Os pontos vermelhos (•) representam as pessoas
presentes no horário das 10 h às 12 h (acervo dos autores, 2018).

Por se tratar de um estudo experimental, buscaram-se dias sem chuva e com condições tem tempo que
estivessem dentro das médias históricas de temperatura do município (temperatura média 22,7ºC; média da
1303
temperatura mínima 17,1ºC; média da temperatura máxima 28,3ºC. Em novembro no mesmo período,
temperatura média 24,0 ºC; média da temperatura mínima 18,3ºC; média da temperatura máxima 29,7 ºC)
(IPMET, 2018). Não foram feitas coletas microclimáticas do local devido à quantidade de pontos avaliados,
mas foram utilizados dados climáticos do INMET (2019) para caracterizar o clima durante os dias de coleta.
A temperatura média dos três dias de levantamento durante os horários de coleta foi de 24,2 ºC, sendo que
durante a manhã (média 20,0 ºC) as temperaturas eram sempre mais baixas do que a tarde (média 27,0 ºC).
No último dia, entretanto, teve um aumento na temperatura à tarde (média 29,1 ºC) que chegou a ultrapassar
os 30 ºC (Figura 5).

Figura 5 – Temperatura do ar nos dias de levantamento, destaque em azul para os períodos em que a pesquisa foi realizada (Dados do
INMET, 2018, editado pelos autores)

Para determinar o tempo de permanência dos usuários nos bancos foram feitas fotos a cada 10
minutos. Esse intervalo foi escolhido em função do tempo necessário para dar uma volta completa na praça
para o levantamento das fotos e mapas comportamentais. Foram feitas fotos em 6 pontos específicos
(conforme Figura 6), selecionados para abranger a maior quantidade possível de bancos.

Figura 6 – Pontos fotografados para determinar tempo de permanência dos usuários (acervo dos autores, 2018).

Posteriormente os usuários foram contabilizados e catalogados de acordo com o tempo de


permanência em 12 intervalos de 10 min cada, divididas da seguinte maneira: 0 a 10, 11 a 20, 21 a 30, 31 a
40, 41 a 50, 51 a 60, 61 a 70, 71 a 80, 81 a 90, 91 a 100, 101 a 110, 111 a 120. Para fazer a contagem e
verificação do tempo os usuários foram observados foto a foto. A Figura 7 mostra uma sequência de imagens
da primeira manhã de levantamento, com destaque para uma usuária, que aparece em 4 fotos seguidas, ou
seja, ela ficou pouco mais de 30 minutos no banco e se enquadrou na categoria de 31 a 40 min de
permanência. O mapa comportamental foi transformado numa tabela de quantidade de pessoas por banco por
período. O tempo de permanência foi calculado banco a banco, a partir da contabilização do maior número
de minutos que o usuário poderia permanecer de acordo com as faixas de tempo pré-determinadas, ou seja,
todos os usuários da primeira faixa foram contabilizados como se estivessem permanecido por 10 min no
banco, os da segunda faixa 20 minutos e assim por diante. Em seguida essas informações foram unificadas
para fazer a correlação dos resultados.
1304
10 h 10 h 10 min 10 h 20 min

10 h 30 min 10 h 40 min 10 h 50 min


Figura 7 – Contagem de tempo de permanência dos usuários do ponto 25 em uma manhã (acervo dos autores, 2018).

Os resultados foram avaliados a partir de testes de correlação de Pearson (r), quando a distribuição das
variáveis era normal ou de Spearman (rs) quando a distribuição de uma das variáveis não era normal. O teste
de normalidade empregado foi o de Shapiro-Wilk (W), com nível de significância de 95% (p  0,05). A
interpretação dos valores de correlação foram extraídas de Shober, Boer e Schwarte (2018) (Tabela 8).
Tabela 8 – Interpretação das magnitudes absolutas dos coeficientes de correlação
Magnitude absoluta do Interpretação
coeficiente de correlação
0,00 a 0,10 Correlação negligenciável
0,10 a 0,39 Correlação fraca
0,40 a 0,69 Correlação moderada
0,70 a 0,89 Correlação forte
0,90 a 1,00 Correlação muito forte

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 sumariza os resultados dos levantamentos e a Tabela 2 os resultados da aplicação do teste de
normalidade às variáveis medidas.
Tabela 1 – Quantidade de usuários e tempo de permanência médio por período dos bancos com FVC.
Tempo de permanência Tempo Horário
Faixa Quantidade de pessoas
médio (min) diário de diário de
Banco FVC do
exposição exposição
FVC1 Manhã Tarde Total Manhã Tarde Geral ao sol (min) ao sol
1 0,127 Baixo 19 37 56 16,3 28,1 24,1 106 9 – 11 h
2 0,16 Baixo 29 16 45 12,1 13,8 12,7 108 12 – 14 h
3 0,184 Baixo 19 7 26 26,7 12,9 23,2 254 12 – 17 h
4 0,207 Baixo 35 7 42 16,9 11,4 16,0 202 13 – 17 h
5 0,125 Baixo 16 21 37 20,9 18,9 20,5 89 16 – 18 h
6 0,145 Baixo 28 16 44 16,1 26,3 19,8 129 15 – 18 h
7 0,192 Baixo 28 17 45 20,7 28,2 23,6 24 16 – 17 h
8 0,317 Baixo 20 2 22 20,0 10,0 19,1 177 14 – 17 h
9 0,088 Baixo 28 29 57 25,4 20,3 22,8 39 16 – 17 h
10 0,301 Baixo 18 7 25 13,9 12,9 13,6 397 08 – 14 h

1305
Tempo de permanência Tempo Horário
Faixa Quantidade de pessoas
médio (min) diário de diário de
Banco FVC do
exposição exposição
FVC1 Manhã Tarde Total Manhã Tarde Geral ao sol (min) ao sol
11 0,285 Baixo 22 7 29 31,8 12,9 27,2 273 13 – 17 h
12 0,288 Baixo 20 11 31 35,0 11,8 26,8 204 13 – 16 h
13 0,206 Baixo 31 28 59 21,0 20,4 20,7 135 07 – 12 h
14 0,078 Baixo 26 28 54 20,0 23,2 21,7 49 07 – 08 h
15 0,169 Baixo 32 9 41 20,9 18,9 20,5 102 14 – 17 h
16 0,268 Baixo 21 29 50 24,8 24,8 24,8 179 08 – 10 h
17 0,164 Baixo 8 9 17 10,0 11,1 10,6 74 16 – 17 h
18 0,087 Baixo 32 23 55 22,2 19,1 20,9 21 16 – 17 h
19 0,204 Baixo 25 24 49 44,0 57,5 50,6 62 07 – 08 h
20 0,098 Baixo 30 34 64 19,3 25,6 22,7 94 16 – 17 h
21 0,514 Médio 5 4 9 34,0 10,0 23,3 510 09 – 17 h
22 0,555 Médio 11 5 16 18,2 10,0 15,6 536 08 – 17 h
23 0,562 Médio 6 6 12 13,3 10,0 11,7 548 08 – 17 h
24 0,547 Médio 7 4 11 12,9 12,5 12,7 576 07 – 16 h
25 0,487 Médio 3 3 6 20,0 13,3 16,7 514 07 – 16 h
1 As faixas do FVC adotadas foram: baixo (0,00 – 0,33), médio (0,34 – 0,66) e alto (0,67 – 1,00)

Tabela 2 – Valores do teste de Shapiro-Wilk (W) e das respectivas probabilidades da variável ter distribuição normal (p).
As colunas coloridas indicam a normalidade da distribuição
Tempo de permanência médio Tempo
Quantidade de pessoas
(min) diário de
Banco FVC exposição
Manhã Tarde Total Manhã Tarde Geral ao sol
(min)
n 25 25 25 25 25 25 25 25
W 0,848 0,931 0,987 0,942 0,911 0,741 0,791 0,831
p (normal) 0,002 0,093 0,016 0,160 0,033 < 0,001 < 0,001 0,001

Foram encontradas correlações inversamente proporcionais de moderadas a fortes entre o FVC e a


quantidade total de pessoas nos bancos (rs = –0,76; p < 0,001), pela manhã (rs = –0,58; p = 0,002) e à tarde
(rs = –0,76; p < 0,001). Em relação ao tempo de permanência, a correlação inversamente proporcional e
moderada apenas entre o FVC e o período da tarde (rs = 0,65; p < 0,001). Quando se analisam os FVC da
faixa “baixo” (até 0,33), as correlações são significativas apenas para a quantidade total de pessoas nos
bancos (rs = –0,55; p < 0,011) e à tarde (rs = –0,60; p = 0,005). O número de dados na faixa de FVC "médio"
é muito pequeno para que se façam análises estatísticas válidas.
Ao observar as fotos, verifica-se que apenas 20% dos bancos recebem sol pela manhã, ou seja, a
insolação ocorre principalmente no período da tarde. A análise evidenciou significativa diferença entre
quantidades médias de usuários e tempo de permanência entre bancos de FVC baixo e médio, além de
diferenças entre os períodos da manhã e tarde. Para bancos localizados em áreas com FVC baixo o valor
médio de pessoas por banco foi 42,4 usuários. Ao analisar individualmente os períodos da manhã e tarde,
percebeu-se que durante a manhã existe mais movimentação em ambas as faixas de FVC: a faixa “baixo”
recebeu em média 24,4 pessoas de manhã e 18,1 a tarde, aproximadamente 75% a menos. Quanto ao tempo
de permanência dos usuários nos bancos, obteve-se o valor médio de 22,1 min, essa permanência varia pouco
entre a manhã (21,9 min) e a tarde (20,4 min), apenas 1,5 min de diferença. Outro dado relevante na análise
de quantidade de pessoas e tempo de permanência é o tempo de exposição solar durante o dia naquele ponto:
os bancos nessa faixa tiveram uma média de 2 h 16 min de exposição por banco (Tabela 04).
Para bancos localizados em áreas com FVC médio o valor médio de pessoas por banco foi 10,8
usuários, cerca de 25% da quantidade apresentada nos bancos com FVC baixo, comprovando que bancos
sombreados possuem mais uso. Ao observar os períodos separadamente, observa-se que durante a manhã os
bancos receberam uma média de 6,4 usuários por banco, enquanto à tarde esse número diminuiu para 4,4
usuários, uma redução de 30%. O tempo médio de permanência dos usuários nesses bancos foi de 16

1306
minutos, 4 minutos a menos do que a média dos bancos com FVC baixo. Porém essa diferença muda muito
entre períodos, pois de manhã a média é de 19,7 minutos enquanto a tarde é de 11,2 minutos. Isso significa
que durante a manhã a divergência entre as faixas de FVC baixo e médio é de 2,2 minutos enquanto a tarde é
de 9,2 minutos. Em relação ao tempo de exposição solar, os bancos com FVC médio ficam expostos por
aproximadamente 9 horas durante o dia, ou seja, eles têm incidência solar durante quase o dia todo (Tabela
3).

Tabela 3 – Quantidade média de usuários e tempo de permanência por período e por faixa de FVC
Quant. Média de Pessoas por Tempo de Permanência Médio
banco por banco (minutos) Tempo médio de exposição
Faixa de FVC
solar durante o dia
Manhã Tarde Total Manhã Tarde Total
Baixo (0,00 – 0,33) 24,4 18,1 42,4 21,9 20,4 22,1 136 (2 h 16 min)
Médio (0,34 – 0,66) 6,4 4,4 10,8 19,7 11,2 16,0 537 (8 h 57 min)

As diferenças de quantidade de pessoas e tempo de permanência entre manhã e tarde nos bancos
podem ocorrer devido ao fato de que durante a manhã as condições microclimáticas geralmente são mais
amenas, fazendo com que seja mais confortável a permanência nesse período. No entanto, os bancos com
FVC baixo ficam expostos ao sol por pouco mais de 2 h por dia, o que explica somente as diferenças entre as
faixas de FVC médio e baixo.
Para compreender as diferenças entre manhã e tarde nos bancos com FVC baixo foram observadas as
trajetórias solares nesses pontos através das imagens de FVC (Figura ). Percebeu-se que apenas quatro (20%)
dos 20 bancos possuem incidência solar durante o período da manhã. Os outros 16 (80%) ficam distribuídos
entre praticamente nenhuma incidência (30% dos bancos) e com exposição ao sol durante a tarde (50% dos
bancos). Isso explica as diferenças de quantidade de usuários e tempo de permanência entre a manhã e à
tarde.
O banco 14 apresentou o menor FVC (0,078) e teve apenas 49 min de exposição solar no dia da
coleta, entre 7 h e 8 h. Por outro lado, o banco 23 obteve o maior FVC (0,562) e ficou exposto ao sol durante
9 h, das 8 às 17 h (Figura 8). Essas diferenças influenciaram no uso dos bancos, sendo que o 14 registrou
mais de 50 usuários durante os três dias de coleta, enquanto o 23 teve apenas 12. Os tempos de permanência
neles também foram bastante distintos, 21,7 min no 14 e 11,7 min no 23, ou seja, os usuários permaneceram
praticamente o dobro de tempo no banco mais sombreado.

(a) (b)
Figura 8 –Trajetória solar sobre os bancos: (a) banco 14; (b) banco 23 (acervo dos autores, 2018).

Os dados apresentados comprovam que o FVC influência o uso de bancos em praças, não só na
quantidade de pessoas que o utilizam, mas também no tempo de permanência no local.
Ao considerar que a incidência solar afeta o conforto térmico dos usuários, os resultados obtidos
condizem com a pesquisa de Minella, Rossi e Krüger (2010) na qual foi observada uma relação entre o FVC
e os índices de conforto térmico PMV e PET, sendo que em dias quentes as áreas com pouca obstrução do
céu obtiveram um maior desconforto para calor. Nesse caso, o sombreamento dos bancos do presente estudo
faz a diferença.
Quando se trata de bancos em espaços públicos é importante que exista variedade (MARCUS,
FRANCIS, 1998; ROMERO, 2007; ALVEZ, 2012; PPS, c2018), em relação à localização, dimensões,
design, e condições de sombreamento. Esse foi um importante aspecto observado na pesquisa, pois os bancos
com alta incidência solar possuem uso durante o dia, apesar de terem um número consideravelmente menor
de usuários e tempo de permanência.
1307
5. CONCLUSÕES
Os resultados obtidos na presente pesquisa comprovam que o FVC tem influência no uso de bancos de
praças, pois os bancos com valor mais baixo apresentaram uma quantidade quatro vezes maior de usuários.
O tempo de permanência das pessoas também sofre alterações devido ao FVC: quanto menor é o FVC, maior
é o tempo que os usuários ficam no local. A diferença de tempo de permanência é acentuada no período da
tarde, pois entre as faixas de FVC seu valor dobra em relação ao do período da manhã.
Um elemento extremamente importante ao trabalhar com as imagens de FVC é a trajetória solar. Ao
analisar as horas de exposição solar juntamente ao valor do FVC, ela pode ajudar a compreender melhor
quando a exposição à radiação solar direta acontece e permite uma análise mais aprofundada sobre os
períodos de maior uso do local. Essa ferramenta foi muito importante na pesquisa para compreender o
porquê de haver uma diferença tão grande no tempo de permanência de manhã e de tarde (principalmente na
faixa de FVC médio).
Os métodos adotados foram eficientes para compreender as diferenças de quantidade e tempo de
permanência dos usuários em bancos, bem como a sua relação com o FVC. Ainda assim a pesquisa apresenta
limitações devido à quantidade de dias monitorados, tamanho da amostra e ausência de monitoramento das
condições microclimáticas e de conforto térmico em cada banco. Por isso, sugere-se que o estudo seja
replicado em outros espaços públicos de permanência para identificar se os resultados encontrados são
recorrentes, e se outros fatores também podem interferir na permanência dos usuários em bancos.

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AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao mestrando Fábio Albert Basso por sua colaboração nas coletas de dados.

1309
INFLUÊNCIA DA CONFIGURAÇÃO DA FACHADA NO CONFORTO
TÉRMICO DO USUÁRIO: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE SALAS
ADMINISTRATIVAS EM EDIFÍCIOS PÚBLICOS
Elisabeti Barbosa (1); Larissa Grego (2); Letícia Tomé (3); Adriana Petito de Almeida Silva
Castro (4); Lucila Chebel Labaki (5)
(1) Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura Tecnologia e Cidade-ATC. UNICAMP, e-
mail: elisabeti.barbosa@gmail.com
(2) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, larissasgrego@gmail.com, UNICAMP
(3) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, letomerosa@gmail.com, UNICAMP
(4) Pós-Doutoranda, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. Universidade Estadual de
Campinas, Departamento de Arquitetura e Construção, Laboratório de Conforto Ambiental e Física
Aplicada, Cx. Postal 6143, Campinas/SP, CEP 13083-889, Tel 3521-2064, dripasc@gmail.com
(5) Professora Titular, Professora do Departamento de Arquitetura e Construção. lucila@fec.unicamp.br,
Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. Universidade Estadual de Campinas,
Departamento de Arquitetura e Construção, Laboratório de Conforto Ambiental e Física Aplicada, Cx. Postal
6143, Campinas/SP, CEP 13083-889, Tel 3521-2064

RESUMO
O presente artigo investiga os resultados de uma avaliação do conforto térmico e a interferência da
configuração de fachada em duas salas administrativas da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM),
Universidade Estadual de Campinas. O recorte é feito a partir da tipologia construtiva analisada que se
replica no campus universitário sem nenhuma reflexão sobre uso e implantação; adaptando-se de acordo com
as necessidades pré-existentes. Duas salas foram escolhidas de forma comparativa com as análises de
conforto que foram levantadas da edificação. As salas administrativas escolhidas possuem orientações
solares opostas, estão localizadas no mesmo pavimento e anexo da edificação. Como método, foram
realizadas análises do desenho dos brises existentes, avaliações da incidência solar nas fachadas
selecionadas, empregando simulações computacionais e medições in loco. Foram aplicados questionários a
fim de investigar as sensações e preferências térmicas de seus ocupantes, além da coleta de informações
sobre a envoltória e os dados climáticos fornecidos pelo Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas
Aplicadas a Agricultura (CEPAGRI). Os dados levantados foram organizados, tabulados e analisados sob
critérios quantitativos e qualitativos. Como parte do processo de análise quantitativa, os dados foram
comparados preconizado na norma NBR 15220-2 (2008). Para a determinação da sensação térmica dos
usuários, foram utilizados os índices VME - Voto Médio Estimado e PEI - Porcentagem Estimada de
Insatisfeitos. As conclusões mostraram a ineficiência da configuração da fachada como articulador de
melhoria do conforto e do desempenho térmico dos ambientes analisados. Detectam-se situações de
desconforto dos usuários que podem ser remediadas ou alteradas, harmonizando os parâmetros ambientais às
necessidades do trabalhador, proporcionando assim, além da satisfação, um melhor desempenho.
Palavras-chave: Desempenho térmico. Insolação. Edificações públicas. Ambientes Administrators.

ABSTRACT
This article investigates the results of a thermal comfort investigation and how the facade configuration
impacts on two administrative rooms in the Mechanical Engineering School of State University of Campinas.
An analytic view has been created by the repetition of a constructive typology that is replicated in the
University campus without any reflection about its implantation and use; adapting according to the pre-
existing need. The two rooms were chosen in a comparative manner with the comfort analysis that were
drawn from the building. The chosen administrative rooms have opposite solar orientations, are located in
the same floor and annex of the building. As a method, analysis of the existing breezes, solar incidence
1310
evaluations in the selected facades, using computational simulations and in loco measurements were
performed. Thermal comfort questionnaires were applied in order to investigate the sensations and thermal
preferences of its occupants, in addition to a data collection from the built environment around and climate
data provided by CEPAGRI - Center for Education and Research in Agriculture. The collected data were
organized, tabulated and analyzed under quantitative and qualitative criteria. As part of the quantitative
analysis process, the data collected were compared to the standard situations. For the determination of the
thermal sensation experienced by the occupants, PMV- Predicted Mean Vote and PPD - Predicted
Percentage of Dissatisfied indexes were used. The conclusions showed the inefficiency of the configuration
of the facade as articulator of acceptable thermal environmental conditions performance analyzed.
Discomfort situations for the occupants can be detected and can be prevented or altered, harmonizing the
environmental parameters with the needs of the worker, thus providing, in addition to satisfaction, a better
performance.
Keywords: Thermal performance. Insolation. Public buildings. Administrative Environments.

1. INTRODUÇÃO
Evidências empíricas e teóricas indicam que as tecnologias e procedimentos existentes podem melhorar os
ambientes internos e aumentar a saúde e a produtividade (FISK, 2000). A termorregulação do ser humano
age em resposta ao esforço muscular juntamente com a carga térmica do ambiente em que se está inserido.
As sensações de desconforto podem variar desde um leve grau de incômodo até níveis insuportáveis
(SILVA, 2001). Pensar no desenvolvimento do projeto desses espaços são também questões intimamente
relacionadas com o consumo de energia do edifício. Considerando o alto gasto energético em serviços de
aquecimento, ventilação e ar condicionado é essencial avaliar criticamente as condições térmicas dos
ocupantes do edifício (LOU et al, 2016).
Um dos fatores principais que influenciam diretamente o conforto térmico do usuário é a envoltória
da edificação. Esse elemento construtivo é responsável pelas trocas térmicas com o entorno e pela admissão
da luz natural, fatores essenciais para o estudo do desempenho energético da edificação e para o alcance do
balanço térmico. Bader (2010) afirma que a radiação solar superaquece os ambientes diretamente afetados e
avalia que as estruturas de sombreamento têm a capacidade de promover a redução de no mínimo 32% de
incidência direta da radiação solar.
A escolha do estudo dessas condições em edificações públicas surge a partir da constatação de que as
construções na Universidade Estadual de Campinas são antigas. Mais de 50% das edificações destinadas a
ensino e pesquisa possuem acima de 30 anos de construção. Dessa forma, fica evidente a necessidade de
modernização do campus para atender às atuais demandas termoenergéticas (FERNANDES, 2015).
Em atenção a esses fatos, se objetiva com este artigo a caracterização do comportamento térmico de
ambientes internos construídos e da influência das envoltórias na avaliação do conforto do usuário, através
da observação de características da envoltória como área de janela, tipo de vidro, existência e dimensões de
proteções solares, forma e método construtivo e das avaliações do comportamento dos usuários. Essa
avaliação do usuário é feita por meio dos parâmetros existentes na norma ISO 7730 (2005) que utiliza os
critérios do PMV para inferir a adequação ou não das condições térmicas do ambiente.
Considerando a importância das edificações no consumo energético, assim como a participação ativa
dos elementos da envoltória em determinar a sensação de conforto dos usuários é importante indicar as
implicações geradas pelas decisões de projeto e especificação de materiais relativos às configurações de
fachadas.
Esta pesquisa faz parte de um amplo projeto denominado “Campus Sustentável”, uma parceria entre
Unicamp e CPFL - Companhia Paulista de Força e Luz, que engloba vários subprojetos, inclusive a
Etiquetagem de Edifícios (Subprojeto 7), de diferentes tipologias. Aqui se apresenta uma das primeiras
abordagens dos dados levantados. A leitura ocorre em diversos prédios de diferentes usos, como por
exemplo, da área da saúde, alimentação, salas de aulas, salas administrativas, escritórios de professores, salas
de alunos de graduação e pós-graduação e áreas de estudo como bibliotecas. Dentro dessa diversificação de
funcionalidades, ambientes representativos destes edifícios são analisados para facilitar a leitura global,
sendo assim, ao final desse processo espera-se uma resposta quantitativa de dados e qualitativa de análises.

2. OBJETIVO
Este artigo tem a finalidade de analisar qualitativamente a influência das configurações das fachadas no
desempenho térmico de ambientes internos, de acordo com dados de insolação, materialidade, variáveis
ambientais e pessoais.
1311
3. MÉTODO
Com base nos preceitos de pesquisa experimental, foram analisados dois ambientes administrativos da
Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), aliados à análise da configuração da fachada, com o objetivo de
investigar o desempenho dos elementos já construídos como ferramentas de controle solar.
Primeiramente, foram escolhidos os ambientes para posicionamento dos equipamentos de medição
das variáveis ambientais e aplicação dos questionários para coleta dos dados pessoais. De posse desta
informação, foram selecionados dias consecutivos e horários representativos com temperaturas entre 29oC e
33oC para compor o estudo.
A partir do levantamento dessas averiguações, foram instalados os equipamentos e coletadas as
seguintes variáveis ambientais: temperatura do ar, temperatura de globo, velocidade do ar e umidade relativa.
Simultaneamente à coleta dos dados ambientais foram aplicados questionários sobre a preferência e sensação
térmica dos usuários, que ocorreram nos dias 13 e 14 de novembro de 2018, nos horários das 9h00, 11h30,
14h00 e 16h30 horas. Os questionários foram respondidos pelos usuários juntamente com um termo de
consentimento livre e esclarecido. Cabe destacar que o projeto foi submetido ao Comitê de Ética da
Unicamp, com a emissão do CAAE (Certificado de Apresentação para Apreciação Ética), e a aprovação do
processo em junho de 2018. Os dados climáticos da temperatura externa foram gentilmente compartilhados
pelo Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas a Agricultura - CEPAGRI. A fim de
estabelecer uma relação de causa e efeito, foram calculados os dados de PMV utilizando o programa
Conforto 2.03 (RUAS, 2002) para uma comparação dos dados reais dos usuários dos ambientes com as
temperaturas externas.
Com o propósito de compreender as informações sobre a insolação do edifício, utilizou-se o software
SOL-AR para fazer as análises das máscaras de sombra reproduzidas pela volumetria. Na intenção de
auxiliar os estudos, foi executada uma maquete volumétrica do objeto de estudo com o prédio do entorno
com finalidade de avaliar a sua influência, com o auxílio do plugin Ladybug, componente do software
Grasshopper.

3.1. Caracterização do local


A pesquisa foi realizada no Campus da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, localizada na cidade
de Campinas, no distrito de Barão Geraldo. O clima da cidade é o tropical de altitude, com predominância de
temperaturas mais elevadas no verão e inverno seco. A temperatura média máxima registrada no verão é de
aproximadamente 33ºC e no inverno variam entre a mínima de 6,9°C e máxima de 29,5 (CEPAGRI, 2019).
Segundo Chvatal, Labaki e Kowaltowski (1999) na cidade há a predominância do período de calor no
decorrer do ano, uma vez que é um período mais quente e mais longo que o inverno.

3.2. Os Prédios da FEM


O conjunto de edificações da Faculdade de Engenharia Mecânica possui, ao todo, 18.913,894m² e suas
maiores fachadas longitudinais são orientadas a nordeste e sudoeste enquanto que as maiores fachadas
transversais são cegas. Sua tipologia construtiva deriva de um projeto base implantado por todo o campus;
recebendo algumas alterações de acordo com o uso destinado.
A estrutura da edificação é de bloco de concreto estrutural. O revestimento da envoltória é composto
por partes pintadas com tinta tipo PVA (Poliacetato de Vinila) e outras com bloco cerâmico. As divisões
internas das salas são feitas com divisórias tipo ‘Duratex’ e dos laboratórios tipo wall amianto. Os dados de
materialidade foram obtidos a partir de entrevista com o gestor responsável pela edificação.
A Figura 1 mostra a imagem aérea da FEM, com destaque para o bloco de estudo. A Figura 2 ilustra
a localização dos ambientes estudados no recorte do prédio (espaço de transição entre o bloco H e o bloco I -
HI2) dentro do complexo.

Figura 1 - Imagem aérea da FEM adaptada de


Figura 2 - Localização das salas analisadas adaptada
Google Maps (2019) do acervo da UNICAMP (2018)
1312
3.3. Os Ambientes Analisados
Dentro do complexo foram selecionadas as salas administrativas de finanças e a secretaria de extensão,
localizadas no segundo andar do espaço de transição entre o bloco H e o bloco I - HI2. A escolha dos
ambientes deve-se aos longos períodos em que são usadas durante o dia, por serem locais administrativos e
por suas características de insolação.
A sala de finanças possui 39,84m² e a secretaria de extensão 31,22m². Dispõem a mesma orientação
que a maioria das salas do complexo, se tornando um caso representativo para o conjunto. A fachada com
aberturas da sala de finanças está direcionada para sudoeste e a da secretaria de extensão para nordeste.

3.4. Equipamentos de Medição


Para a coleta das variáveis ambientais recomenda-se o uso da norma ISO 7726 (1998), que especifica o
método e as características dos equipamentos. Segundo esta norma, os equipamentos devem permanecer a
1,10 cm do piso para pessoas sentadas. Entretanto, neste caso em que os usuários se encontravam sentados,
os equipamentos foram fixados e padronizados a 1,15 cm acima do assoalho, pois no momento de alocar os
equipamentos, devido a configuração espacial das salas, houve a necessidade de elevar 5 cm na altura em
alguns pontos. Como forma de garantir a coleta dos dados de forma uniforme, optou-se por utilizar os
equipamentos um pouco mais alto.
Nesta etapa, foram avaliados os dados ambientais, utilizando-se 3 conjuntos de medidores, com os
seguintes equipamentos: termo higrômetros digitais da marca Testo, modelo 175-H1; Termômetro digital da
marca Testo, modelo 175-T2 e anemômetro digital da marca Testo, modelo 405V. A Figura 3 indica a
localização exata das instalações dos aparelhos para coleta dos dados dentro dos ambientes. A Figura 4
mostra os equipamentos instalados nas salas avaliadas.

Figura 3- Desenhos no formato DWG, com a posição dos


pontos de medição nas salas de finanças e da secretaria de extensão.
(Fonte: acervo pessoal) Figura 4- Sequência de fotos que destacam os
equipamentos instalados nas salas, respectivamente P1 da
secretaria de extensão e P1 e P2 da sala de Finanças. (Fonte:
acervo pessoal)

Segundo Lamberts (2008) os equipamentos podem ser influenciados pela presença de radiação de
onda longa, podendo apresentar um erro médio de 0,4ºC de diferença nos resultados registrados no sensor.
Isso ocorre devido a presença dos medidores em proximidade principalmente às janelas e as paredes. No
caso estudado, os equipamentos foram fixados neste local devido a configuração de layout da sala, pela
proximidade à mesa de trabalho dos usuários e representar a realidade de uso dos ambientes.

3.5. Máscaras de sombra


Com o intuito de evidenciar as relações entre a proteção solar existente, os dados ambientais levantados na
etapa anterior e as análises de conforto foi utilizado o software SOL-AR. Essa análise possibilita a
visualização da quantidade de horas em que a edificação recebe a insolação direta nas fachadas das salas
escolhidas através da carta solar gerada pelo software.

1313
3.6. Incidência solar na fachada
Para complementar as análises de máscaras de sombra foi utilizado nesta etapa o plugin Ladybug no software
Grasshopper para a análise da trajetória solar, incidência de insolação nas fachadas da edificação e a relação
com as possíveis barreiras solares do entorno. Os dados climáticos para a avaliação no software foram
extraídos do site do Energyplus.

4. ANÁLISE DE RESULTADOS
Para uma melhor leitura dos resultados a avaliação foi dividida em três etapas: configuração da fachada,
dados ambientais e o conforto térmico dos usuários. Para a primeira parte foram analisadas a trajetória solar,
a identificação das barreiras solares, a composição geométrica e material da fachada e também seus índices
de transmitância. Em seguida, são analisadas as variáveis ambientais de temperatura, velocidade e umidade
relativa do ar dos ambientes avaliados juntamente com a temperatura externa do ar. Por fim, foi determinada
a avaliação térmica dos ambientes por meio do método VME ou PMV; somadas a essa avaliação foram feitas
observações do comportamento do usuário.

4.1 Configuração da fachada


A partir da modelagem das volumetrias e do terreno, aliada ao estudo da trajetória solar, foi possível
observar que a edificação próxima do entorno imediato não se configura como uma barreira solar na fachada
sudoeste, onde está localizada a sala de finanças, do edifício analisado. Na Figura 5, pode-se observar a
insolação incidente na edificação analisada. A edificação à direita no desenho corresponde ao edifício
analisado sendo o prédio à esquerda o edifício do entorno.

Figura 5- Visualização da trajetória solar e da insolação incidente na edificação.


(Fonte: gerado pelo software Rhinoceros com o plugin Ladybug)

Como pode ser observado nas figuras 6 e 7, há os desenhos técnicos com as dimensões das proteções
verticais e horizontais. A mesma proteção solar é usada nas duas fachadas analisadas. Foi feito o estudo
dessa proteção por meio de cartas solares para as orientações sudoeste e nordeste (Figuras 9 e 10). Pode-se
inferir que a forma dos brises existentes oferecem proteção solar nos horários das 11h da manhã às 12h30 na
fachada nordeste e na fachada sudoeste durante o período das 12h às 13h. Isso comprova que a atual
configuração dos brises verticais é incipiente para a quantidade de insolação que ambas as fachadas recebem.
A carta demonstra que os brises externos têm um baixo de controle de ganho térmico e controle de luz solar
que entram na edificação.

1314
Figura 6 - Corte esquemático em dwg com destaque das Figura 7 - Planta esquemática em dwg com destaque para configuração
dimensões do brise horizontal da FEM e seus ângulos do brise vertical da FEM e suas dimensões (Fonte: Autoria própria)
(Fonte: Autoria própria)

Figura 8 - Carta solar para a orientação sudoeste com máscara de


Figura 9 - Carta solar para a orientação nordeste com máscara
sombreamento para a sala de finanças
de sombreamento para a secretaria de extensão
(Fonte: Gerado pelo software Sol-ar)
(Fonte: Gerado pelo software Sol-ar)

Nas figuras 11 e 12 destacam-se a localização das salas de extensão e de finanças, respectivamente,


na envoltória do edifício. Percebe-se a interferência da vegetação do entorno na secretaria de extensão
(Figura 11) que bloqueia o sol da manhã. Em frente a sala de finanças (Figura 12) se nota que não existe
interferência da vegetação sobre as aberturas selecionadas.

1315
Figura 12 - Destaque da localização da sala de
Figura 11- Destaque da localização da secretaria de extensão em relação à finanças em relação à fachada do edifício.
fachada do edifício. (Fonte: acervo pessoal) (Fonte: acervo pessoal)

Foram levantadas as áreas superficiais da envoltória de acordo com o tipo de materialidade. A sala
de finanças possui 22m² de bloco de concreto, 17,6 m² de bloco de concreto com revestimento cerâmico e
40,5m² de área envidraçada, 3,15m² das áreas envidraçadas sendo estas de modelo de janelas maxim-ar. Já a
secretaria de extensão apresenta 17,46m² de bloco de concreto, 14,64m² de bloco de concreto com
revestimento cerâmico e 8,10m² de área envidraçada, 1,89m² de área de abertura com o modelo maxim-ar de
janelas. Os valores de transmitância térmica dos materiais foram comparados com os dados preconizados
pela NBR 15220, que determina que, para a zona bioclimática 3, as paredes externas devem ser leves
refletoras, isto é, o valor de transmitância térmica deve ser no máximo 3,6 W/m2K. Assim, as propriedades
térmicas das paredes analisadas, com os valores de 2,87 W/m²K para o bloco de concreto e 2,48 W/m²K para
o bloco de concreto com revestimento cerâmico, estão de acordo com o preconizado pela norma.

4.2 Variáveis ambientais


As Figuras 13 e 14 ilustram o comportamento das variáveis ambientais, nos dois pontos da sala de finanças e
do único ponto da sala de extensão.

Figura 13- Dados coletados da sala de finanças. Sendo eles de temperatura de bulbo seco (TBS),
temperatura radiante média (TRM), Umidade relativa (UR), temperatura do ambiente externo (Tar).
(Fonte: autoria própria)

Figura 14- Dados coletados da secretaria de extensão. Sendo


eles de temperatura de bulbo seco (TBS), temperatura radiante
média (TRM), Umidade relativa (UR), temperatura do
ambiente externo (Tar). (Fonte: autoria própria)

1316
Pode-se observar que as temperaturas do ar externo estiveram, em grande parte dos horários, com
valores superiores às temperaturas internas, salientando o uso de condicionamento artificial praticamente
durante o dia todo. Apenas no horário das 9h00 às temperaturas externas estavam mais próximas às internas,
pois, nesse momento o ar condicionado havia sido ligado há apenas alguns minutos. Além disso, as
temperaturas radiantes médias ficaram próximas às temperaturas internas, demonstrando que não existem
grandes fontes radiantes.
Em complementação ao parecer de conforto, dados sobre a radiação incidente na fachada foram
coletados, sendo no dia 13 de novembro de 2018 o valor de 181,9 kW/m2 e no dia 14, 103,8 kW/m2.
Comparando as informações da média de radiação incidente, obtidos pelo CEPAGRI, com os dados de
transmitância dos materiais, foi percebido que o fluxo de calor que incide no ambiente é elevado; segundo
(Lamberts, 2013), pois nos horários medidos a temperatura do ambiente externo (Tar) é maior que a
temperatura de bulbo seco (TBS), logo, essa diferença de temperatura promove o ingresso do calor para
dentro do edifício.

4.3 Conforto Térmico


O equilíbrio térmico é uma adaptação do corpo humano para a manutenção da própria sobrevivência ao meio
ambiente (SANTOS, 2018). Consoante a ASHRAE Standard 55 (2017), o conforto térmico é determinado
como a condição de contentamento térmico em relação ao ambiente e que pode ser aferido por uma avaliação
subjetiva. Logo, foram levantadas informações de análise de sensibilidade relevantes sobre o ponto de vista
da sensação do usuário e de suas preferências térmicas, que evidenciam o desconforto relacionado ao calor.
As análises mensuram as variações de temperatura dos diferentes ambientes, tanto com medições de
temperatura interna quanto com medições da temperatura externa. Assim, infere-se que as temperaturas das
superfícies da envoltória influenciam nas condições ambientais internas da edificação, e no conforto térmico
dos ocupantes (SILVA, 2010).
Os resultados da avaliação de conforto térmico (VME) podem ser analisados na Figura 16, e
apresentam a leitura de 16 questionários de duas pessoas presentes na secretaria de extensão e na Figura 15,
32 questionários de quatro pessoas presentes na sala de finanças. Percebe-se que nos dois ambientes há a
existência de sensação de desconforto para o calor, e a porcentagem estimada de insatisfeitos chega a quase
25% na sala de finanças e a 27% na sala de extensão. A ASHRAE 55 (2017) estabelece que um ambiente
pode ser considerável confortável quando se tem até 20% de insatisfeitos. Dessa forma, as duas salas
analisadas podem ser consideradas desconfortáveis termicamente.

Figura 15- Análise das condições térmicas preferidas pela Figura 16- Análises das condições térmicas preferidas pela maioria
maioria das pessoas (VME) da sala de finanças das pessoas (VME) da secretaria de extensão
(Fonte: autoria própria) (Fonte: autoria própria)

Em relação a confiabilidade dos resultados, foi considerada a distribuição normal e calculado o


intervalo de confiança para os ambientes analisados. Na sala de extensão, o intervalo de confiança da média
de VME e PEI foi de 95%, enquanto que a sala de finanças apresentou o VME com distribuição mais
homogênea, ou seja, apresentou uma menor dispersão quanto aos limites do intervalo de confiança (tabela
01).
Tabela 01- Intervalo de confiabilidade
Sala de Finanças VME PEI Sala de Extensão VME PEI
Média 0,35 8,82 Média 0,32 9,85
Desvio Padrão 0,28 4,86 Desvio Padrão 0,38 7,9
Intervalo de confiança 1,31 7,84 Intervalo de confiança 1,00 6,9
Limite inferior da média 0,24 6,79 Limite inferior da média -0,69 2,95
Limite superior da média 0,47 10,85 Limite superior da média 1,07 4,95
1317
4.4 Discussão dos Resultados
De acordo com os as análises realizadas, entende-se que a configuração da fachada interfere diretamente na
condição de conforto do usuário. As possíveis barreiras solares do entorno próximo não se configuram como
interferência direta e efetiva nas duas orientações estudadas. Os principais de interferência no conforto são a
materialidade e o desenho dos brises. A análise das máscaras de sombra evidencia que o brise existente não
protege efetivamente os usuários da exposição à radiação solar direta. Como uma tentativa de solução a esse
problema, parte da fachada possui sombreamento por meio de venezianas retráteis internas e colocação de
insulfilm em alguns vidros nas duas fachadas analisadas.
Em relação às porcentagens dos insatisfeitos foi identificado na sala de finanças, direcionada a
sudoeste, um índice de 25%. Na secretaria de extensão, a nordeste, obteve-se o percentual de 27%.
Analisando os índices em relação a orientações de suas fachadas entende-se que a insolação direta durante
período vespertino na fachada sudeste, sendo o período com temperaturas mais elevadas apresentadas nos
levantamentos é um dos fatores que comprovam que as altas temperaturas externas são responsáveis pelo
aumento do índice de insatisfeitos.
Complementando as avaliações in loco, foram considerados alguns hábitos dos usuários em relação
ao uso do ar condicionado. Percebeu-se uma interação questionável de deixar o ar condicionado ligado com
uma temperatura amena - aproximadamente 18ºC - e ao mesmo tempo a cultura de acondicionar com
algumas janelas abertas, para ‘equilibrar’ a temperatura média do ambiente. O uso de maneira incorreta dos
condicionadores de ar, pode ocasionar o desgaste de alguns componentes internos; o alto consumo energético
e comprometer a qualidade da refrigeração. Percebe-se assim que a informação e instrução dos usuários é
parte fundamental para as boas condições de uso e consequentemente conforto do espaço; mesmo que parte
do uso inadequado dos equipamentos de ar condicionado seja devido à dificuldade de acesso aos controles,
uma vez que são equipamentos antigos, de janela, e necessitam de acesso manual.

5. CONCLUSÕES
Este artigo teve como objetivo avaliar e comparar os condicionantes térmicos de salas administrativas em um
edifício público institucional, de acordo com parâmetros estabelecidos pela Norma ISO 7730 (2005). Através
da análise dos dados levantados, aliado às tecnologias computacionais e as medições dos parâmetros
ambientais, compreende-se que a composição da envoltória se apresenta como imprescindível para o
entendimento de conforto térmico do usuário.
Os resultados mostraram que a configuração atual da fachada se faz ineficiente como articulador de
melhorias ao conforto e desempenho térmico dos ambientes. Um melhor desempenho pode ser alcançado
através da instrução dos usuários sobre o uso eficiente dos condicionadores de ar e da adoção de estratégia
passivas, como por exemplo a ventilação noturna; evidenciada como estratégia viável de resfriamento
passivo da edificação em estudo realizado por Fernandes (2015) em um edifício de mesma tipologia
construtiva. Dessa forma, seria possível uma maior satisfação dos usuários, uma vez que a porcentagem
estimada de insatisfeitos ultrapassou, em alguns momentos, o valor de 20%, recomendado pela ASHRAE 55
(2017).
Por fim, se reitera a importância das decisões projetuais em direção à uma qualidade maior ao
conforto do usuário. Análises sobre as condições ambientais das edificações podem preveem erros
recorrentes que o arquiteto não observaria. Assim, é essencial o estudo das condições bioclimáticas para o
estabelecimento de uma relação mais saudável entre o usuário e o edifício.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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cálculo da transmitância térmica, da capacidade térmica, do atraso térmico e do fator solar de elementos e componentes de
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School of Architecture, 2010.
BARBOSA, Miriam Jerônimo; LAMBERTS, Roberto; GUTHS, Saulo. Uso de barreiras de radiação para minimizar o erro no
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CEPAGRI - Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas a Agricultura. Clima de Campinas. Disponível em:
03/04/2019 - https://www.cpa.unicamp.br/graficos.
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Desempenho%20termico%20paredes%20e%20coberturas.pdf.
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2001. 8p. - Universidade Federal de Santa Catarina.

AGRADECIMENTOS
À CPFL - Companhia Paulista de Força e Luz do Estado de São Paulo e à ANEEL, pela concessão de bolsas para a pesquisas e apoio
ao Projeto “Campus Sustentável”.
Ao CEPAGRI, pelo compartilhamento de informações climáticas.
À Faculdade de Engenharia Mecânica, por permitir a realização das pesquisas em suas dependências.
Ao NIPE, pelo apoio organizacional.
Ao PIBIC/CNPq, pela concessão de bolsa para realização da pesquisa.

1319
INFLUÊNCIA DA UMIDADE DO AR NO CONFORTO TÉRMICO DE
USUÁRIOS DE EDIFICAÇÕES DE ESCRITÓRIOS LOCALIZADAS NO
CLIMA SUBTROPICAL ÚMIDO DE FLORIANÓPOLIS/SC
Candi Citadini de Oliveira (1); Ricardo Forgiarini Rupp (2); Enedir Ghisi (3)
(1) Graduanda em Engenharia Civil, candi.c.oliveira@gmail.com
(2) Doutor, Pós-Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, ricardorupp@gmail.com
(3) PhD, Professor do Departamento de Engenharia Civil, enedir.ghisi@ufsc.br
Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Engenharia Civil, Laboratório de Eficiência
Energética em Edificações, Cx Postal 476, Florianópolis–SC, 88040-900, Tel.: (48) 3721-2392

RESUMO
Cada vez mais, o conforto térmico apresenta elevada importância para a conservação de energia, bem como
para a satisfação e a performance dos usuários. Um fator importante a ser considerado nas análises de
conforto térmico é a umidade do ar. Com base nisso, este estudo foi realizado com o objetivo de investigar a
percepção térmica e a percepção quanto à umidade do ar de usuários de escritórios localizados no clima
subtropical úmido de Florianópolis/SC. A partir de dados previamente coletados em campo, foram efetuadas
análises estatísticas considerando a umidade do ar e as respostas subjetivas dos usuários obtidas por meio de
um questionário eletrônico. Analisou-se a percepção térmica e da umidade do ar de ocupantes de uma
edificação com sistema central de ar-condicionado e duas edificações híbridas, onde houve alternância entre
os modos de operação por ventilação natural e por ar-condicionado. Os resultados obtidos apontam que a
maioria das pessoas considerou a sensação térmica e a sensação de umidade neutras, e o ambiente térmico
aceitável e confortável. Isto pode estar relacionado à aclimatação dos usuários e à ausência de condições
internas com elevadas temperaturas e altas umidades do ar simultaneamente. Ademais, assim como apontam
outros autores, verificou-se a importância da utilização da umidade absoluta em vez da umidade relativa nas
análises de conforto térmico.
Palavras-chave: umidade do ar, conforto térmico, ventilação híbrida.

ABSTRACT
More and more, the thermal comfort presents a high importance for energy conservation, as well as user
satisfaction and performance. An important factor to be considered in thermal comfort analysis is the air
humidity. Based on this, this study was carried out with the aim of investigating the thermal perception and
the air humidity perception of users in office buildings located in the humid subtropical climate of
Florianópolis/SC, southern Brazil. From field data previously collected, statistical analysis were performed
considering the air humidity and users subjective responses obtained by means of an electronic
questionnaire. The thermal perception and the air humidity perception of occupants of a building with central
air-conditioning system and two mixed-mode buildings, in which there was alternation between the natural
ventilation mode and the air-conditioning mode, were analysed. The results obtained indicate that most
people considered the thermal sensation and the humidity sensation neutral, as well as acceptable and
comfortable thermal environment. This may be related to the acclimatization of users and the absence of
indoor conditions with simultaneously high temperatures and high air humidity. In addition, as other authors
have pointed out, it was verified the importance of the use of absolute humidity instead of relative humidity
in the analysis of thermal comfort.
Keywords: air humidity, thermal comfort, hybrid ventilation.

1320
1. INTRODUÇÃO
O conforto térmico apresenta elevada importância para a satisfação e a performance de usuários de diferentes
tipos de edificações, visto que melhora o seu bem-estar e rendimento. Além disso, exibe alto potencial de
conservação de energia, uma vez que o conhecimento das condições e dos parâmetros relacionados ao
conforto térmico permite selecionar a melhor alternativa de condicionamento do ambiente térmico e ajustar
as condições ambientais de acordo com as preferências dos ocupantes.
Um fator importante a ser considerado nas análises de conforto térmico é a umidade do ar. Esta
variável ambiental já foi estudada em diferentes locais, como em câmaras climáticas (CHOW et al., 2010;
JING et al., 2013; TOFTUM; JORGENSEN; FANGER, 1998; ZHAI et al., 2013; ZHAI et al., 2017), em
salas de aula (BUONOCORE et al., 2018; GIVONI et al., 2006), em residências (RIJAL et al., 2015) e em
edificações de escritórios (DAMIATI et al., 2016; WAGNER et al., 2007). Destaca-se que a maioria dos
estudos envolvendo a umidade do ar foi realizada em locais de clima quente e úmido.
Apesar de a maioria dos estudos considerar em suas análises a umidade relativa do ar, Nicol,
Humphreys e Roaf (2012) e Givoni et al. (2006) sugerem a utilização da umidade absoluta do ar, que pode
ser expressa pela pressão parcial de vapor da água ou pela razão de umidade. A justificativa dos autores
refere-se ao fato de a umidade relativa estar associada à temperatura do ar, o que pode confundir o efeito da
umidade no conforto térmico, enquanto isso não acontece para a razão de umidade.
No que diz respeito à redução no consumo de energia por parte dos sistemas de ar-condicionado,
Chow et al. (2010) sugerem que é mais eficiente elevar a velocidade do ar no ambiente do que reduzir a
temperatura e a umidade do ar, considerando-se o mesmo nível de conforto térmico. Por outro lado, Damiati
et al. (2016) e Zhai et al. (2013) afirmam que valores adequados de umidade do ar apresentam potencial de
conservação de energia devido à ampliação dos limites aceitáveis de temperatura interna. Ademais, mantêm
os ocupantes confortáveis, visto que intensificam o processo de evaporação no corpo, aumentando, assim, a
perda de calor para o ambiente em locais quentes.
Buonocore et al. (2018) e Jing et al. (2013) afirmam que, a altas temperaturas, elevados valores de
umidade relativa estão geralmente relacionados à menor aceitabilidade térmica do ambiente e ao maior
desconforto térmico, além de implicarem em maiores votos de sensação térmica. Em contrapartida, Chow et
al. (2010), Givoni et al. (2006) e Zhai et al. (2017) observaram fraca influência da umidade relativa sobre a
sensação térmica. Givoni et al. (2006) sugerem que a insensibilidade dos usuários aclimatados quanto à
umidade do ar possa ser explicada pelo fato de as pessoas estarem acostumadas com a elevada umidade da
região, porém apontam a necessidade de outros estudos em ambientes quentes e úmidos para confirmar esta
análise.
Damiati et al. (2016) e Rijal et al. (2015) não identificaram influência da umidade relativa e da
umidade absoluta em relação à temperatura de conforto térmico, mas verificaram que as duas variáveis
apresentam forte relação com os votos subjetivos de umidade. No entanto, Wagner et al. (2007), ao
correlacionar os valores de umidade relativa e umidade absoluta com a percepção de umidade por parte dos
ocupantes, não encontraram evidência de relação entre essas variáveis.
Toftum, Jorgensen e Fanger (1998) avaliaram o efeito da umidade da pele na percepção e no conforto
térmico dos usuários para a condição de neutralidade térmica. Os autores observaram que, à medida que a
umidade da pele aumenta, menor é a aceitabilidade dos usuários em ambientes com elevada umidade do ar.
Rijal et al. (2015) observaram que a umidade relativa e a umidade absoluta do ar estão relacionadas à
umidade da pele, cujo aumento gera redução na temperatura interna de conforto. Isso ocorre pelo fato de a
umidade reduzir o processo de evaporação que acontece entre o corpo e o ambiente, havendo menor perda de
calor. A partir disso, é possível compreender que as umidades relativa e absoluta do ambiente apresentam
influência indireta no conforto térmico dos ocupantes, sendo que valores mais baixos de umidade
possibilitam maiores temperaturas de conforto e, com isso, redução da necessidade de condicionamento
artificial do ar.
Desta forma, a comparação de estudos relacionados aos efeitos da umidade do ar no conforto térmico
permite perceber a disparidade de resultados obtidos quanto à importância desta variável. Algumas pesquisas
apontam a tendência de melhoria da sensação térmica e do conforto térmico, bem como o aumento da
aceitabilidade térmica dos ocupantes, com a redução da umidade do ar e da umidade da pele, enquanto outras
não verificaram influência desta variável no conforto térmico dos usuários analisados. Portanto, verifica-se a
importância de realizar novos estudos e investigações a respeito da influência da umidade do ar no conforto
térmico, principalmente em regiões de clima quente e úmido.

1321
2. OBJETIVO
O objetivo deste estudo é investigar a relação entre percepção térmica e a percepção quanto à umidade do ar
de usuários de escritórios localizados no clima subtropical úmido de Florianópolis/SC.

3. MÉTODO
Este estudo baseia-se na análise de dados previamente coletados sob a perspectiva da variável umidade do ar.
Utilizou-se parte dos dados referentes aos anos de 2015 e 2016 da tese de Rupp (2018), que foram coletados
em três edificações de escritórios situadas em Florianópolis, Santa Catarina. A fim de não identificar as
empresas envolvidas, as edificações foram designadas H1 e H2, para as edificações híbridas, e CC para a
edificação com sistema central de ar-condicionado. Destaca-se que as edificações híbridas apresentam
sistemas de ar-condicionado instalados e janelas acessíveis e operáveis pelos ocupantes, sendo que a
alternância do modo de operação ocorre de acordo com a preferência dos usuários.

3.1. Contextualização dos dados utilizados


Os dados utilizados neste trabalho são oriundos de estudos de campo em escritórios. Simultaneamente, foram
efetuadas medições das variáveis ambientais nos ambientes internos das edificações selecionadas para o
estudo e coletados dados subjetivos dos usuários a partir de um questionário eletrônico (RUPP, 2018). Para a
realização das medições das variáveis ambientais internas, foram usadas estações microclimáticas
(confortímetros) para medir a temperatura do ar, a temperatura de globo, a velocidade do ar e a umidade
relativa do ar. Utilizou-se também um termoanemômetro portátil para medições pontuais de temperatura do
ar e velocidade do ar.
Quanto à coleta de dados subjetivos dos usuários das edificações estudadas, aplicou-se um
questionário eletrônico o qual os usuários
Tabela 1 – Opções de resposta e respectivos valores atribuídos para
acessavam por meio de seus computadores cada questão do questionário
pessoais. O questionário continha questões gerais
sobre as características antropométricas e Questões do questionário Opções de resposta Valores
(variáveis subjetivas) atribuídos
demográficas dos usuários e questões sobre a
percepção térmica e da umidade do ar. A Tabela 1 Com muito calor +3
apresenta as opções de resposta e os respectivos Com calor +2
valores atribuídos para cada questão considerada Levemente calor +1
no questionário. Sensação térmica Neutro 0
Maiores informações sobre a coleta de Levemente frio -1
dados em campo podem ser encontradas em Rupp Com frio -2
(2018). Com muito frio -3
Mais resfriado +1
3.2. Análise de dados Preferência térmica Assim mesmo 0
Mais aquecido -1
Com o intuito de avaliar a relação entre os dados
ambientais coletados em campo e os dados Inaceitável +1
Aceitabilidade térmica
Aceitável 0
subjetivos obtidos a partir do questionário
eletrônico, foram realizadas análises estatísticas Desconfortável +1
Conforto térmico
envolvendo essas variáveis. Para que isto pudesse Confortável 0
ser efetuado, calculou-se a umidade absoluta do ar Muito úmido +3
com base nas medições de temperatura do ar e de Úmido +2
umidade relativa do ar. Devido ao fato de que a Pouco úmido +1
umidade relativa se encontra associada à Sensação de umidade* Neutro 0
temperatura, considerou-se melhor utilizar a Pouco seco -1
umidade absoluta nas análises, conforme sugerem Seco -2
Nicol, Humphreys e Roaf (2012). De acordo com Muito seco -3
a ISO 7726 (1998), a umidade absoluta pode ser Diminuir a umidade +1
Preferência quanto à
expressa por meio da pressão parcial de vapor da Não mudar 0
umidade*
água (Equações 1 e 2) ou da razão de umidade Aumentar a umidade -1
(Equação 3). Inaceitável +1
Aceitabilidade da umidade*
Aceitável 0
* As questões referentes à umidade do ar apresentam uma opção
extra em que se pode assinalar "Não sei responder".

1322
17,27Ta
Pas = 0,611exp ( ) Equação 3
Ta+273
Onde:
Pas é a pressão de vapor da água saturada [kPa];
Ta é a temperatura do ar [°C].
Pas*RH
Pa = Equação 2
100
Onde:
Pa é a pressão parcial de vapor da água [kPa];
Pas é a pressão de vapor da água saturada [kPa];
RH é a umidade relativa [%].
Pa
Wa = 622,0 Equação 3
P - Pa
Onde:
Wa é a razão de umidade [g/kg];
Pa é a pressão parcial de vapor de água [kPa];
P é a pressão atmosférica total [kPa], igual a 101,325 kPa.

A fim de resumir e possibilitar melhor compreensão visual dos dados referentes às variáveis
ambientais, apresentou-se em uma tabela o número de observações, a média e o desvio padrão para cada
edificação e modo de operação. O mesmo foi realizado quanto às seguintes variáveis antropométricas: idade,
altura, peso, isolamento da vestimenta e atividade metabólica. Com o intuito de verificar de que maneira
ocorre a distribuição dos dados referentes à sensação térmica e à sensação de umidade, foram feitos
histogramas de frequência. Para as demais variáveis subjetivas, as frequências dos votos foram analisados
por meio de uma tabela de acordo com o tipo de edificação e o modo de operação.
Efetuaram-se regressões lineares entre a temperatura do ar e as variáveis umidade relativa e razão de
umidade. O mesmo foi realizado entre a sensação térmica e as duas variáveis ambientais. Foram criados
gráficos de linha relacionando a temperatura do ar e a média dos votos de sensação térmica e preferência
térmica de acordo com a razão de umidade. Também foram feitas regressões lineares entre a razão de
umidade e a sensação, a preferência e a aceitabilidade da umidade. Realizaram-se ainda gráficos de barras
empilhadas para avaliar a frequência dos votos de sensação, preferência e aceitabilidade da umidade em
relação à razão de umidade. Destaca-se que, nos gráficos em que os valores de razão de umidade foram
agrupados a cada 1 g/kg, consideraram-se apenas os intervalos com número de observações maior ou igual a
30.

4. RESULTADOS
A fim de investigar a influência da umidade do ar no conforto térmico de usuários de escritórios situados em
Florianópolis, foi analisada a relação entre esta variável ambiental e a percepção térmica e quanto à umidade
do ar.

4.1. Apresentação e caracterização dos dados


Os dados utilizados consistem de 2644 medições referentes às variáveis ambientais, sendo 268 da edificação
H1, 1767 da edificação H2 e 609 da edificação CC. No total das respostas ao questionário eletrônico, 1570
foram feitas por homens e 1074 por mulheres. Nas edificações H1 e H2 foram, respectivamente, 147 e 688
respostas do gênero feminino e 121 e 1079 do gênero masculino, enquanto na edificação CC foram
contabilizadas 239 respostas de mulheres e 370 de homens. Desta forma, percebe-se que, em duas das três
edificações, a maior parte dos usuários é do gênero masculino.
Realizou-se a análise descritiva das variáveis ambientais para cada edificação e modo de operação,
apresentada na Tabela 2, onde constam o número de observações, a média e o desvio padrão. As variáveis
em questão são: temperatura do ar (Ta), temperatura externa do ar (Text), velocidade do ar (Va), umidade
relativa (RH), pressão parcial de vapor da água (Pa) e razão de umidade (Wa). Pode-se observar que, de
maneira geral, a média da temperatura do ar e da velocidade do ar mantém-se semelhante para as três
edificações e nos dois modos de operação. Por outro lado, a média de temperatura externa do ar foi inferior
para as edificações híbridas no modo de operação por ventilação natural, indicando que a ventilação natural

1323
foi utilizada principalmente em estações intermediárias e durante o inverno. Quanto à umidade relativa, à
pressão parcial de vapor da água e à razão de umidade, verificaram-se valores superiores para o modo de
operação por ventilação natural em relação ao ar-condicionado, o que pode estar relacionado à redução da
umidade do ar pela utilização de aparelhos de ar-condicionado.

Tabela 2 – Análise descritiva das variáveis ambientais de acordo com a edificação e o modo de operação
Edificação H1 H2 CC
Modo de operação Modo de operação Modo de operação
Variável (média
± desvio padrão) Ventilação natural Ar-condicionado Ventilação natural Ar-condicionado Ar-condicionado
(n=132) (n=136) (n=1002) (n=765) (n=609)
Tar (°C) 23,0 ± 1,4 24,4 ± 1,2 23,5 ± 1,3 23,9 ± 1,2 24,0 ± 0,9
Text (°C) 18,6 ± 2,4 26,8 ± 1,1 18,8 ± 1,7 22,4 ± 2,8 23,6 ± 1,8
Var (m/s) 0,10 ± 0,01 0,19 ± 0,15 0,11 ± 0,08 0,11 ± 0,03 0,12 ± 0,08
RH (%) 69 ± 4 55 ± 8 66 ± 8 60 ± 5 63 ± 4
Pa (kPa) 1,614 ± 0,091 1,394 ± 0,232 1,590 ± 0,202 1,478 ± 0,147 1,558 ± 0,118
Wa (g/kg) 10,07 ± 0,58 8,68 ± 1,46 9,92 ± 1,28 9,21 ± 0,93 9,72 ± 0,75

Foi efetuada também a análise descritiva das variáveis antropométricas idade, altura, peso, isolamento
da vestimenta e atividade metabólica. Na Tabela 3, encontram-se o número de observações, a média e o
desvio padrão destas variáveis para cada edificação e modo de operação. É possível observar que, de modo
geral, a média de idade, altura, peso e atividade metabólica é similar para os usuários das três edificações.
Quanto ao isolamento da vestimenta, pode-se identificar valores levemente maiores para o modo de operação
por ventilação natural em relação ao ar-condicionado, o que pode ser justificado pelo fato de que a ventilação
natural foi predominantemente usada em estações intermediárias e no inverno.

Tabela 3 – Análise descritiva das variáveis antropométricas de acordo com a edificação e o modo de operação
Edificação H1 H2 CC
Modo de operação Modo de operação Modo de operação
Variável (média
± desvio padrão) Ventilação Ar-condicionado Ventilação Ar-condicionado Ar-condicionado
natural (n=132) (n=136) natural (n=1002) (n=765) (n=609)
Idade (anos) 41 ± 10 38 ± 9 38 ± 11 37 ± 10 38 ± 10
Altura (m) 1,68 ± 0,09 1,73 ± 0,09 1,70 ± 0,10 1,71 ± 0,10 1,72 ± 0,09
Peso (kg) 72 ± 13 76 ± 17 75 ± 15 76 ± 16 76 ± 17
Isolamento da
0,83 ± 0,28 0,55 ± 0,08 0,76 ± 0,20 0,62 ± 0,11 0,62 ± 0,10
vestimenta (clo)
Atividade
1,2 ± 0,2 1,2 ± 0,1 1,2 ± 0,1 1,2 ± 0,1 1,2 ± 0,1
metabólica (met)

A fim de verificar de que forma ocorre a distribuição do conjunto de dados, foram feitos histogramas
de frequência da sensação térmica e da sensação de umidade, conforme as Figuras 1 e 2. Pode-se observar
que, para todas as edificações, a maior parte dos votos indicou sensação térmica neutra – isto é, a maioria dos
usuários não sentiu frio nem calor nas condições consideradas. Destaca-se que, nas edificações híbridas,
houve uma quantidade levemente maior de votos referentes à sensação térmica de calor do que de frio,
enquanto na edificação com sistema central de ar-condicionado observou-se o contrário. Também é possível
verificar que, para as três edificações, a maioria dos ocupantes considerou a sensação de umidade neutra.
Ademais, nota-se que houve maior quantidade de votos indicando ambiente úmido do que ambiente seco nas
edificações híbridas para o modo de operação por ventilação natural, enquanto o oposto foi observado nas
edificações híbridas para o modo de operação por ar-condicionado e na edificação com sistema central de ar-
condicionado.

1324
(A) (B)

Figura 1 – Histograma de frequência dos votos de sensação térmica para (A) edificações híbridas de acordo com o modo de operação
(n=2010) e (B) edificação com sistema central de ar-condicionado (n=609)

(A) (B)

Figura 2 – Histograma de frequência dos votos de sensação da umidade para (A) edificações híbridas de acordo com o modo de
operação (n=1870) e (B) edificação com sistema central de ar-condicionado (n=556)

Na Tabela 4, é possível observar, para cada tipo de edificação e modo de operação, as frequências dos
votos das seguintes variáveis subjetivas: preferência térmica, aceitabilidade térmica, conforto térmico,
preferência quanto à umidade e aceitabilidade da umidade. Pode-se constatar que, para as três edificações, a
maioria dos votos indicou preferência térmica neutra – ou seja, a maior parte dos ocupantes preferia
continuar se sentindo da maneira que estava no momento em que respondeu ao questionário. Além disso,
percebe-se que todas as edificações apresentaram maior quantidade de votos nos quais as pessoas preferiam
estar mais resfriadas do que mais aquecidas. Quanto à aceitabilidade térmica e ao conforto térmico, verifica-
se que, em todas as edificações, mais de 80% dos participantes consideraram-se em conforto térmico e
aceitaram o ambiente térmico no momento em que responderam o questionário eletrônico. Destaca-se que,
nas edificações híbridas, o percentual de votos de aceitabilidade e conforto térmico foi superior no modo de
operação por ventilação natural. Em relação à preferência quanto à umidade, observa-se que a maioria dos
votos indica preferência por não mudar a umidade nas três edificações. Ademais, pode-se verificar
preferência por diminuir a umidade nas edificações híbridas para o modo de operação por ventilação natural
e preferência por aumentar a umidade nos demais casos, o que indica correspondência entre os votos de
sensação de umidade e preferência quanto à umidade. Nota-se ainda que a aceitabilidade da umidade foi
superior a 80% para todas as edificações. Destaca-se o significativo percentual de votos “Não sei responder”
para as variáveis envolvendo a umidade do ar, sendo em torno de 10%.

4.2. Análise estatística dos dados


As variáveis razão de umidade e pressão parcial de vapor da água foram calculadas de acordo com equações
determinadas na ISO 7726 (1998), sendo que a razão de umidade depende unicamente da pressão parcial de
vapor da água. Neste estudo, a nível do mar, obteve-se que a relação entre as duas variáveis é linear e pode
ser expressa de maneira simplificada por meio da Equação 4.
Wa = 6,3362*Pa - 0,1563 Equação 4

Onde:
Wa é a razão de umidade [g/kg];
Pa é a pressão parcial de vapor de água [kPa].

1325
Tabela 4 – Frequência dos votos das variáveis subjetivas de acordo com a edificação e o modo de operação
Edificação Híbridas CC
Modo de operação Modo de operação
Votos da variável subjetiva
Ventilação natural Ar-condicionado Ar-condicionado
Preferência térmica (n=1134) (n=876) (n=609)
+1 16,9% 18,3% 20,9%
0 72,4% 70,9% 64,7%
-1 10,7% 10,8% 14,4%
Aceitabilidade térmica (n=1134) (n=876) (n=609)
+1 4,9% 8,3% 6,6%
0 95,1% 91,7% 93,4%
Conforto térmico (n=1134) (n=875) (n=609)
+1 12,9% 16,6% 17,4%
0 87,1% 83,4% 82,6%
Preferência quanto à umidade (n=1134) (n=901) (n=609)
+1 15,7% 4,2% 2,3%
0 67,0% 70,9% 62,7%
-1 7,7% 11,7% 19,7%
"Não sei responder" 9,6% 13,2% 15,3%
Aceitabilidade da umidade (n=1134) (n=901) (n=609)
+1 5,9% 6,2% 3,9%
0 87,2% 83,4% 84,4%
"Não sei responder" 6,9% 10,4% 11,7%

As análises, referentes às Figuras 3 a 14, foram realizadas considerando-se os dados conjuntos de


todas as edificações e modos de operação.
As Figuras 3 e 4 apresentam a relação entre a temperatura do ar e as variáveis umidade relativa e razão
de umidade. À medida que ocorre elevação da temperatura do ar, pode-se observar a leve tendência de
redução da umidade relativa e de aumento da razão de umidade.

Figura 3 – Relação entre temperatura do ar e umidade relativa Figura 4 – Relação entre temperatura do ar e razão de
(n=2644) umidade (n=2644)

Nas Figuras 5 e 6, é apresentada a sensação térmica em função da umidade relativa e da razão de


umidade, respectivamente. Conforme o aumento da umidade relativa, pode-se observar a tendência de
redução da sensação térmica. Por outro lado, o aumento da razão de umidade tende a gerar elevação da
sensação térmica. Resultados consoantes foram obtidos por Givoni et al. (2006), que os justificaram pela
tendência de elevados valores de umidade relativa estarem geralmente associados a baixas temperaturas,
sendo que estas podem apresentar influência sobre o efeito da umidade no conforto térmico. Em
contrapartida, os autores verificaram que a razão de umidade praticamente não varia conforme a temperatura
do ar.

1326
Figura 5 – Sensação térmica em função da umidade relativa Figura 6 – Sensação térmica em função da razão de umidade
(n=2644) (n=2644)

Portanto, uma vez que as variáveis pressão parcial de vapor da água e razão de umidade são
correspondentes, sendo que esta é utilizada mais frequentemente em cartas psicrométricas, e que o esperado
é a sensação térmica aumentar conforme a umidade, as próximas análises envolvendo umidade foram
baseadas apenas na razão de umidade.
Com o intuito de analisar a relação entre a temperatura do ar e a média dos votos de sensação térmica
e preferência térmica de acordo com a razão de umidade, foram efetuadas as Figuras 7 e 8. De maneira geral,
é possível verificar que a média dos votos de sensação térmica e de preferência térmica apresentou pouca
variação em torno de “neutro” e “não mudar”, respectivamente. Houve leve tendência de aumento da
sensação e da preferência térmica conforme a elevação da temperatura do ar para todos os valores de razão
de umidade considerados, com exceção de 11 g/kg.

Figura 7 – Relação entre a temperatura do ar e a média dos Figura 8 – Relação entre a temperatura do ar e a média dos
votos de sensação térmica de acordo com a razão de umidade votos de preferência térmica de acordo com a razão de
(n=2363) umidade (n=2363)

Foram realizadas regressões lineares e correlações entre a razão de umidade e a sensação, a


preferência e a aceitabilidade da umidade (Figuras 9 a 11). Pode-se observar que, com o aumento da razão de
umidade, há a tendência de aumento da sensação e da preferência quanto à umidade e a tendência de redução
da aceitabilidade da umidade. No entanto, a correlação entre as variáveis é bastante fraca.
Avaliou-se a frequência dos votos de sensação, preferência e aceitabilidade da umidade em relação à
razão de umidade (Figuras 12 a 14). Destaca-se que os dados referentes à opção de resposta “Não sei
responder” não foram inclusos nestas análises. É possível observar que, para todos os valores de razão de
umidade considerados, a maioria dos votos indicou sensação de umidade neutra e preferência por não mudar
a umidade. Com o aumento da razão de umidade, verifica-se a tendência de aumento dos votos indicando
sensação de ambiente úmido e preferência por diminuir a umidade. Simultaneamente, ocorre a tendência de
redução dos votos indicando sensação de ambiente seco e preferência por aumentar a umidade, conforme o
esperado. A única exceção a estes resultados foi a razão de umidade igual a 12 g/kg, em que se observa o
contrário. Nota-se ainda que a aceitabilidade da umidade foi superior a 80% para todos os valores de razão
de umidade.
Número de observações (n)
292 767 909 310 48 39

Figura 9 – Regressão linear entre a razão de umidade e a Figura 12 – Frequência dos votos de sensação da umidade de
sensação de umidade (n=2426) acordo com a razão de umidade

Número de observações (n)


279 733 870 301 45 39

Figura 10 – Regressão linear entre a razão de umidade e a Figura 13 – Frequência dos votos de preferência quanto à
preferência quanto à umidade (n=2323) umidade de acordo com a razão de umidade

Número de observações (n)


285 773 892 303 47 39

Figura 11 – Regressão linear entre a razão de umidade e a Figura 14 – Frequência dos votos de aceitabilidade da
aceitabilidade da umidade (n=2401) umidade de acordo com a razão de umidade

5. CONCLUSÕES
Neste estudo, foram considerados dados de edificações reais e, por isso, houve distribuição desigual de dados
para cada intervalo das variáveis ambientais consideradas. Apesar de dificultar a realização de algumas
análises devido ao pequeno número de observações em alguns casos, a coleta de dados em edificações
existentes permite representação mais fiel da realidade no que diz respeito às variações das variáveis
ambientais e à complexidade do ambiente real em que estão os usuários. Destaca-se que neste trabalho foram
considerados dados apenas de edificações de escritórios situadas em clima subtropical úmido.

1328
De maneira geral, para todas as edificações e modos de operação, pode-se observar que a maior parte
dos usuários considerou a sensação térmica e a preferência térmica neutras, além de ambiente térmico
aceitável e confortável. Em relação à umidade do ar, verifica-se que a maioria dos dados indica sensação de
umidade neutra e preferência por não mudar a umidade, além de aceitabilidade da umidade superior a 80%.
Visto que a umidade do ar em Florianópolis é elevada durante o ano todo devido à proximidade com o mar, é
possível que os usuários estejam adaptados às condições de umidade locais. Além disso, destaca-se que, para
elevados valores de temperatura do ar, os ocupantes optaram por utilizar o sistema de ar-condicionado, que
reduz a umidade do ambiente. Assim, problemas de desconforto térmico apontados em outros estudos
(BUONOCORE et al., 2018; JING et al., 2013; ZHAI et al., 2013) associados a elevadas umidades com
temperaturas elevadas não foram observados neste trabalho.
Os resultados obtidos apontam que a razão de umidade e a pressão parcial de vapor da água
apresentam uma relação linear entre si que pode ser expressa por uma equação simplificada. Também se
observa que a elevação da temperatura do ar e da sensação térmica está relacionada à redução da umidade
relativa e ao aumento da razão de umidade. A partir disso, verifica-se que a razão de umidade é a variável
que melhor representa a umidade do ar. Assim, apesar de a umidade relativa ser mais frequentemente
utilizada em estudos sobre conforto térmico, recomenda-se o uso da razão de umidade em pesquisas futuras.
De modo geral, não se identifica significativa influência da razão de umidade em relação à sensação, à
preferência, à aceitabilidade e ao conforto térmico. No entanto, os resultados indicam concordância entre a
variação da razão de umidade e as respostas subjetivas de sensação, preferência e aceitabilidade da umidade.
Assim, percebe-se a necessidade de serem realizados novos estudos a respeito do efeito da umidade do ar na
percepção térmica e na percepção quanto à umidade do ar, principalmente em locais de clima quente ou
subtropical e úmido.

REFERÊNCIAS
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thermal perception in classrooms in a hot and humid climate. Building and Environment, v. 146, p. 98-106, 2018.
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speed, temperature and humidity in air-conditioned environment. Building and Environment, v. 45, n. 10, p. 2177-2183,
2010.
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Malaysia, Indonesia, Singapore, and Japan during hot and humid season. Building and Environment, v. 109, p. 208-223,
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INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 7726: Ergonomics of the thermal environment –
Instruments for measuring physical quantities. 2. ed. Geneva: ISO, 1998. 54 p.
JING, S.; LI, B.; TAN, M.; LIU, H. Impact of Relative Humidity on Thermal Comfort in a Warm Environment. Indoor and Built
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ZHAI, Y.; ZHANG, H.; ZHANG, Y.; PASUT, W.; ARENS, E.; MENG, Q. Comfort under personally controlled air movement in
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ZHAI, Y.; ARENS, E.; ELSWORTH, K.; ZHANG, H. Selecting air speeds for cooling at sedentary and non-sedentary office activity
levels. Building and Environment, v. 122, p. 247-257, 2017.

1329
INFLUÊNCIA DE FACHADAS VERDES NOS MICROCLIMAS DE UM
ESPAÇO DE TRANSIÇÃO
Luiza Sobhie Muñoz (1); Maria Solange Gurgel de Castro Fontes (2)
(1) Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Arquiteta e Urbanista,
luiza.smunoz@gmail.com
(2) Doutora em Ciências da Engenharia Ambiental, Arquiteta e Urbanista, Profa. Dra. da Faculdade de
Arquitetura, Artes e Comunicação, sgfontes@faac.unesp.br
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação,
Departamento de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo, Av. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube, n° 14-01,
Vargem Limpa, Bauru – SP, 17033-360, Tel: (14) 3103-6059.

RESUMO
Estudos científicos confirmam o papel amenizador térmico das fachadas verdes, em ambientes internos e
externos às edificações, mas ainda existe uma escassez de estudos em espaços de transição. As fachadas
verdes utilizam espécies de trepadeiras que podem crescer e desenvolver diretamente na edificação (diretas)
ou utilizar suportes para seu desenvolvimento (indiretas). Ao buscar contribuir com esta questão, este estudo
experimental teve como objetivo identificar o efeito amenizador térmico de fachadas verdes indiretas em um
espaço de transição, orientado à Oeste, de um ambiente universitário na cidade de Bauru-SP. Para isso,
foram construídos três módulos de fachadas verdes, com três diferentes espécies de trepadeiras, e realizado o
monitoramento das variáveis microclimáticas: Temperatura do ar (TAR) e Temperatura Radiante Média
(TRM) e Umidade Absoluta do ar (UA) em três pontos com a influência do sombreamento das fachadas
verdes e um ponto controle desprotegido. Os resultados demonstraram reduções máximas de 4,0 °C e
18,8 °C para TAR e TRM, respectivamente, nos pontos protegidos pelas fachadas verdes em relação ao
ponto controle, além de um aumento de 1,1 g/Kg de umidade absoluta em relação ao ponto controle. Estes
resultados confirmam o potencial amenizador térmico das fachadas verdes, em razão dos efeitos de
sombreamento e evapotranspiração em espaços de transição e evidenciam que elas constituem importantes
estratégias bioclimáticas. Além disso, a pesquisa contribuiu para maior conhecimento acerca do potencial
amenizador térmico das fachadas verdes em espaços de transição e a influência de aspectos morfológicos das
espécies vegetais selecionadas na atenuação da radiação solar.
Palavras-chave: fachada verde, trepadeiras, espaços de transição, conforto térmico, microclima.

ABSTRACT
Scientific studies confirm the thermal mitigation effect of green façades, both indoors and outdoors, but there
is still a shortage of studies in transitional spaces. The green facades use species of climbers that can grow
and develop directly in the building (direct) or use supports for their development (indirect). The objective of
this experimental study was to identify the thermal mitigation effect of indirect green façades in a transitional
space, oriented to the West, of a university environment in the city of Bauru-SP. Three green façade modules
were constructed with three different climber species, and the microclimatic variables were monitored: Air
Temperature (TAR) and Mean Radiant Temperature (TRM) and Absolute Air Humidity (UA) at three points
with the influence of the shading of the green facades and an unprotected control point. The results showed
maximum reductions of 4,0 °C and 18.8 °C for TAR and TRM, respectively, in the points protected by the
green façades in relation to the control point, in addition to an increase of 1,1 g/Kg of absolute humidity in
relation to the control point. These results confirm the thermal mitigating potential of the green façades due
to the effects of shading and evapotranspiration in transitional spaces and show that they are important
bioclimatic strategies. In addition, the research contributed to a better knowledge about the thermal
mitigating potential of green façades in transitional spaces and the influence of morphological aspects of the
selected plant species in the attenuation of solar radiation.
Keywords: green facade, climbers, transitional spaces, thermal comfort, microclimate.
1330
1. INTRODUÇÃO
Jardins verticais são todas e quaisquer formas de vegetação que crescem e se desenvolvem em superfícies
verticais. Eles promovem benefícios nos âmbitos sociais, econômicos, psicológicos, a interação entre o
edifício e a natureza, aumento da biodiversidade, diminuição dos efeitos das ilhas de calor e melhoria da
qualidade do ar (MUÑOZ et al., 2019). Além disso, quando desenvolvidos um bom projeto e manutenção,
esses recursos são importantes estratégias para a melhoria do desempenho térmico das edificações (PERINI
et al., 2013; PÉREZ et al., 2014; SAFIKHANI et al., 2014b).
As fachadas verdes, que constituem uma das tipologias de jardins verticais, utilizam espécies de
trepadeiras ou pendentes e podem ser: diretas ou indiretas. Nas fachadas verdes diretas as espécies vegetais
crescem e se desenvolvem diretamente na estrutura da edificação, enquanto para as indiretas são necessárias
estruturas de suporte através das quais as espécies irão crescer e se desenvolver (PERINI et al., 2013;
HUNTER et al., 2014; SAFIKHANI et al., 2014a; MANSO e CASTRO GOMES, 2015; BESIR e CUCE,
2018; MUÑOZ et al., 2019). Para as fachadas verdes indiretas, o espaço formado entre a edificação e a
estrutura de suporte é chamado de cavidade de ar e tem um importante papel no desempenho térmico dessas
estruturas. Apesar das diferenças entre os tipos de fachadas verdes, em ambos os casos a vegetação pode
estar plantada em jardineiras ou diretamente no solo (CRUCIOL BARBOSA; FONTES, 2016).
A melhoria do desempenho térmico das edificações é resultado de quatro mecanismos de ação das
fachadas verdes: sombreamento, isolamento térmico, influência na dinâmica da ventilação e resfriamento
evaporativo (PÉREZ, et al, 2011; HUNTER et al., 2014; SUSOROVA et al., 2015; WONG; BALDWIN,
2016). O sombreamento e isolamento térmico são resultado do bloqueio de parte da radiação solar incidente
promovido pela vegetação e cavidade de ar, que reduzem as trocas de calor entre ambiente interno e externo
(WONG et al., 2010; PÉREZ et al., 2011; HUNTER et al., 2014; WONG; BALDWIN, 2016). Quanto à
influência na dinâmica da ventilação, as fachadas reduzem as trocas de calor convectivas através do bloqueio
de parte da ventilação (SUSOROVA; AZIMI; STEPHENS, 2014). Em relação ao resfriamento evaporativo,
a presença da vegetação promove o aumento da umidade relativa do ar em seu entorno imediato devido à
função biológica chamada evapotranspiração (WONG et al., 2010; SUNAKORN; YIMPRAYOON, 2011).
Apesar do grande enfoque dado à aplicação de fachadas verdes nas edificações como estratégia para
melhorar a qualidade térmica e suprir a deficiência de áreas verdes no espaço urbano (JAAFAR et al., 2013;
KONTOLEON; EUMORFOPOULOU, 2010; PÉREZ et al., 2011; PERINI et al., 2011; PERINI et al., 2013;
SAFIKHANI et al., 2014; SHARP et al., 2008; SHEWEKA; MOHAMED, 2012; VOX; SHETTINI, 2014;
WONG et al., 2010), os estudos científicos sobre o potencial de amenização microclimática dessas
infraestruturas verdes ainda são recentes e não apresentam grande variedade de locais. Destaca-se aqui a
concentração de trabalhos desenvolvidos em países asiáticos e da região mediterrânea (MUÑOZ et al.,
2019).
Além disso, a maioria desses trabalhos analisa a influência das fachadas verdes em ambientes externos
e internos das edificações ou em espaços urbanos, mas apenas os autores Jaafar et al. (2013) estudaram a
influência térmica em espaços de transição, que são importantes locais de conexão entre as áreas interna e
externa dos edifícios, segundo Chun et al. (2004).
Ao buscar um maior conhecimento com essa questão, foi desenvolvido um estudo experimental para
averiguar a influência de fachadas verdes indiretas nos microclimas de um espaço de transição em um
campus universitário.

2. OBJETIVO
Identificar o efeito térmico de fachadas verdes indiretas em um espaço de transição em condições de tempo
frio.

3. MÉTODO
O estudo foi conduzido em um espaço de transição (Figura 1) localizado na Central de Laboratórios da
FAAC – Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista - UNESP
campus de Bauru (Lat. 22°21’30” e Long. 49°23’ Oeste). Essa cidade do centro Oeste Paulista é
caracterizada por clima Aw, segundo a classificação de Koppen (CEPAGRI, 2016) e possui temperatura
média anual de 21 °C. O espaço analisado faz a transição entre os laboratórios do edifício e a área externa e
possui orientação Oeste, o que faz com que receba forte incidência solar durante o período da tarde.

1331
Figura 1 – O espaço de transição.

A primeira parte do estudo contemplou a construção de um conjunto de três fachadas verdes,


compostas por três treliças modulares fixadas a três jardineiras. Em cada jardineira foi plantada uma espécie
de trepadeira, assim denominadas: Passiflora edulis (maracujá azedo), Ipomoea horsfalliae (ipomea rubra) e
Thnbergia grandiflora (tumbérgia azul) (Figura 2).
Em seguida, foi realizada uma campanha de monitoramento das variáveis microclimáticas
(temperatura de bulbo seco e úmido e de globo) durante três dias do inverno de 2018 (26 e 27 de agosto e 6
de setembro), no período da tarde (das 12h às 18h). As variáveis foram monitoradas a cada meia hora e com
altura de 1,10 metros em três pontos imediatamente atrás das fachadas verdes (P1, P2 e P3) e em um ponto
controle (P4). Este ponto não sofria influência de sombreamento das fachadas verdes e nem do espaço
edificado e encontrava-se completamente exposto (Figura 3). Para a análise dos resultados, foi gerado um dia
médio com todos os valores encontrados para cada variável.
Durante o período monitorado o maracujá, ipomea e tumbérgia apresentaram, respectivamente, 88, 65
e 60 cm de espessura foliar e 70, 82 e 52% de percentual de cobertura verde (porcentagem de área coberta
por vegetação em cada treliça). Além disso, o maracujá, a ipomea rubra e a tumbérgia azul apresentavam,
respectivamente, folhas de tamanhos grandes e médios e espaçamento grande, pequeno e médio entre as
mesmas. Todas essas quatro características constituem um conjunto de fatores que influenciam, diretamente,
no potencial de sombreamento de cada uma das espécies, o que promove maior ou menor sombreamento do
espaço de transição.

1332
Figura 2 – As fachadas verdes e suas espécies.

Figura 3 – O esquema de monitoramento.

Para o monitoramento da temperatura do ar e de globo foi utilizado o equipamento Hobo H8 Pro


Series e adaptado a ele um globo cinza de 4 cm de diâmetro. A temperatura de globo foi utilizada para o
cálculo da temperatura radiante média através do software Conforto 2.0 (RUAS, 2002). Destaca-se aqui que,
nesse software o cálculo da temperatura radiante média utiliza a Equação 1. As temperaturas de bulbo seco e
úmido foram monitoradas através de termohigrômetro analógico e foram utilizadas para o cálculo da
umidade absoluta do ar. Com o fim de evitar o superaquecimento dos equipamentos, os hobos foram
protegidos por anteparos e os termohigrômetro pelo próprio pedestal utilizado de apoio para os equipamentos
em cada ponto (Figura 4). As variáveis monitoradas, os equipamentos e sua precisão podem ser observados
na Tabela 1. Para a calibragem dos equipamentos, os mesmos foram dispostos lado a lado num mesmo
ambiente e os resultados apresentados foram comparados durante um período de 24 horas para os Hobos e 4
horas para os termohigrômetros. As características das condições do tempo nos dias de monitoramento foram
extraídas do Centro de Meteorologia de Bauru (IPMet).

0, 25
 1,110 8  v 0,6 
Trm = (Ta + 273,15)4 +  (Tg − Ta ) − 273,15 Equação 1
  D 0, 4


Onde:
Emissividade do globo ε = 0,95;
Diâmetro do globo D = 0,038 m;
Coeficiente de convecção médio do globo = 1,1 x 108 x v0.6 (NIKOLOPOULOU et al., 1999).

1333
A partir dos dados do IPMET (2018), verificou-se que a velocidade do vento no período foi constantemente
baixa, de forma que se adotou v = 0,1 m/s.

Figura 4 – Proteção dos equipamentos e posição dos termohigrômetros.


Tabela 1 – As variáveis e os equipamentos utilizados.
Variáveis Equipamento
Datalogger de temperatura (Modelo HOBO H8 PRO Series). Faixa de temperatura: -40 ºC - +100 ºC.
Temperaturas do ar e
Precisão do tempo: aprox: ± 1 minuto p/ semana (±100 ppm a +20 ºC). Sonda externa com globo cinza (Ø 4
de globo
cm; Emissividade 0,95).
Temperaturas de
Termohigrômetro analógico Incotherm. Escala: -10 ºC à 50 ºC. Divisão: 1 ºC. Limite de erro: ± 1 ºC;
bulbo úmido e seco

Para a análise estatística dos dados foi realizado o teste ANOVA de fator único, que faz a análise das
variâncias e dependências entre os dados microclimáticos apresentados, e, posteriormente, o Teste de Tukey,
para avaliar a magnitude dessas variâncias. Esse tratamento estatístico foi aplicado para as duas variáveis
microclimáticas: TAR e TRM.

4. RESULTADOS
No período de monitoramento de dados, o Centro de Pesquisas Meteorológicas local (IPMET) registrou uma
variação de temperaturas máxima e mínima de 25,0 °C e de 20,9 °C às 16 e 18h, respectivamente. Dados
esses dentro dos valores da média histórica registrada para a cidade de Bauru (mínima de 12,0 e máxima de
25,0 °C). Os resultados de cada variável monitorada são apresentados a seguir.

4.1 A influência na temperatura do ar (TAR)


A figura 5 apresenta os resultados do monitoramento em relação à influência das fachadas verdes indiretas
na temperatura do ar. Verifica-se que até próximo às 13h30, os valores são semelhantes, visto que, o espaço
de transição começa a receber radiação apenas depois das 12h. Assim, a partir das 13h30 observam-se
diferenças significativas entre os pontos, com melhores desempenhos em termos de amenização térmica para
os pontos P1 e P2.
Devido à orientação solar no período de inverno, o ponto P3, mesmo localizado atrás da tumbérgia
azul, estava exposto à radiação solar, e assim permaneceu até às 15h30. Por isso, obteve desempenho muito
semelhante ao P4, que corresponde ao ponto controle, ou seja, que não está protegido pelas fachadas verdes.
Os pontos P1 e P2 apresentam desempenho muito semelhante e o maior diferencial entre esses dois foi de
1,4 °C. No entanto, o P1, localizado na borda e atrás da fachada com a espécie de maracujá, registrou
menores temperaturas e, consequentemente, melhor desempenho. Esse ponto se encontrava na extremidade
oposta ao ponto controle e, portanto, permaneceu sombreado durante todo o período de monitoramento,
enquanto P2, devido à inclinação dos raios solares no período, recebeu insolação direta das 13h30 às 14h30.

1334
Figura 5 – O desempenho da variável TAR durante o monitoramento.

Em relação ao ponto controle, as temperaturas foram muito próximas até às 13h30, e a maior diferença
de temperatura ocorreu às 14h30 com atenuações de 4,0 e 3,3 °C para os pontos P1 e P2, respectivamente.
Para o P3, o maior diferencial em relação ao controle ocorreu às 15h00 e foi de 2,4 °C. Esse atraso e valor
inferior de redução em relação aos outros dois pontos, influenciados pelo jardim, é decorrência da insolação
que esse ponto recebe até às 15h30.
Esses diferenciais, em relação ao ponto controle, são semelhantes ao encontrado no estudo de
Sunakorn e Yimprayoon (2011), que registraram reduções máximas de 6,3 °C entre TAR externa e interna e,
ambiente sem influência da ventilação. Suklje, Ankar e Medved (2014) também obtiveram resultados
semelhantes, com redução máxima de 5,0 °C para TAR na fachada verde indireta quando comparada com o
controle.
Destaca-se aqui que, a partir das 17h30, os pontos influenciados pelo jardim vertical passam a registrar
valores de TAR superiores ao ponto controle (P4). Essa inversão demonstra a ação do mecanismo de ação
isolamento térmico, que diminui a troca de calor por convecção e mantém o ambiente aquecido durante a
noite dos períodos de frio. Esse resultado se relaciona ao encontrado no estudo de Pérez et al. (2011), que
registraram aumento de 3,8 °C para TAR na cavidade de ar em relação à área externa durante o inverno.
Destaca-se aqui, que a proximidade entre os resultados à partir das 17h30, é devido à diminuição da radiação
solar.
No trabalho desenvolvido por Cameron, Taylor e Emmett (2015), durante período rigoroso de inverno,
as fachadas verdes indiretas também demonstraram a atuação do mecanismo de ação isolamento térmico,
visto que, em situações de temperaturas externas abaixo de zero, as temperaturas do ar interna e superficial
externa das caixas teste encontravam-se superiores às registradas para a superfície controle.

4.2 Influência na temperatura radiante média (TRM)


A Figura 6 apresenta os resultados obtidos para a variável temperatura radiante média em todos os pontos,
onde é possível observar que os pontos P1, P2 e P3 apresentaram seus valores máximos às 14h. Entre esses
pontos, o P1 foi o que apresentou menor resultado (31,4 °C), seguido pelos pontos P2 e P3. Quanto aos
valores mínimos, todos os pontos atingiram esses valores às 18h e apresentaram resultados muito próximos,
em torno dos 20,0 °C.

1335
Figura 6 – O desempenho da variável TRM durante o monitoramento.

Em relação ao ponto controle, os diferenciais máximos ocorreram às 15h e variaram entre 18,6, 18,8 e
19,0 °C para os pontos P1, P2 e P3, respectivamente. A partir das 17h os resultados se alteram e o ponto
controle passa a registrar resultados inferiores aos demais. Apesar de ter apresentado valores muito próximos
entre si, o ponto P3 obteve o melhor desempenho térmico para esta variável em relação aos demais, seguido
pelos pontos P2 e P1, respectivamente, visto que apresentou maior redução de TRM em relação ao controle.
Em trabalho realizado por Morelli e Labaki (2013), com fachadas verdes indiretas implantadas em
caixas teste de cores vermelha, verde e azul, foram encontradas reduções de 1,0, 1,9 e 0,5 °C para a
temperatura de globo, respectivamente. Essas reduções são bastante inferiores às encontradas nesse trabalho,
visto que a redução máxima de temperatura de globo em relação ao ponto controle foi de 12,2 °C para o
ponto localizado imediatamente atrás da fachada verde com espécie de maracujá (P1).

4.3 Influência na umidade absoluta do ar (UA)


A Figura 7 mostra os resultados da variável umidade absoluta do ar (g/Kg), que representa a massa de vapor
de água (m água) por quilograma de ar seco (m ar seco), onde se pode observar que, entre os três pontos
localizados imediatamente atrás das jardineiras, o P3 apresenta melhor desempenho, visto que registrou
valores superiores para esta variável, durante todo o monitoramento, seguido pelo ponto controle (P4). Os
pontos P1 e P2 apresentaram resultados próximos, mas, durante a maior parte do monitoramento, os valores
encontrados para P2 estiveram superiores em relação ao P1. Em relação ao P3, este apresentou valores
superiores em relação aos demais durante todo o período de monitoramento.

Figura 7 – O desempenho da variável UA durante o monitoramento.

1336
Em relação ao ponto controle, apenas às 12h e às 17h30 o ponto P1 apresentou valores superiores (0,1
g/kg) e sua diferença máxima ocorreu às 16h30, em que P1 apresentou umidade absoluta 0,7 g/kg mais baixo
que o controle. O ponto P2 apresentou desempenho semelhante, com resultados superiores ao controle entre
o período das 12h até às 13h e diferencial máximo de 0,6 g/kg às 15h. O ponto P3 apresentou valores
superiores aos encontrados para o ponto controle durante todo o período de monitoramento, com diferenciais
máximo e mínimo de 1,1 e 0,3 g/kg.
Esse resultado contraria a hipótese de que os pontos localizados próximos às fachadas verdes
apresentariam resultados superiores ao ponto controle, mas pode ser explicado através da dinâmica da
ventilação, ainda que baixa, mas existente. O frescor produzido pelas fachadas verdes com as espécies de
maracujá (P1) e ipomea (P2) através do mecanismo de ação resfriamento evaporativo era transportado pelo
vento e, somado ao frescor produzido pela tumbérgia, os pontos P3 e P4 obtiveram os melhores resultados.
Nesse contexto, quando comparados entre si, os pontos P1, P2 e P3 apresentam um padrão de resultados em
que o primeiro obteve resultado inferior, o segundo intermediário e o último superior. Dessa maneira, o
ponto P3, localizado atrás da tumbérgia azul, alcançou melhor desempenho.

4.4 Análise estatística


As Tabelas 2 e 3 apresentam os resultados da análise estatística aplicada para as variáveis TAR e TRM.
Observa-se que a variável TAR não apresentou relações de dependência significativas entre os grupos e,
portanto, não foi realizado o Teste de Tukey para esse parâmetro.

Tabela 2 – ANOVA de fator único da variável TAR para os pontos analisados no experimento.
Fonte de variação SQ Gl MQ F Valor-P F crítico
Entre grupos 9,040898 3 3,013633 0,587176 0,626362 2,798061

Dentro dos grupos 246,3559 48 5,132414

Total 255,3968 51

Tabela 3 – ANOVA de fator único da variável TRM para os pontos analisados no experimento e Teste de Tukey.
Fonte de variação SQ Gl MQ F Valor-P F crítico
Entre grupos 533,6345 3 177,8782 4,926938 0,004603 2,798061

Dentro dos grupos 1732,953 48 36,10319

Total 2266,588 51

Tukey P1 P2 P3 P4

P1 0,9996 0,999 0,01856

P2 0,1468 1 0,01407

P3 0,1976 0,05077 0,01276

P4 4,321 4,468 4,519

A variável TRM, por sua vez, apresentou relações de dependências significativas entre grupos e o
Teste de Tukey indicou valores de dependência próximos entre si, em que o ponto P3 apresentou maior
dependência em relação ao controle, seguido pelos pontos P2 e P1, respectivamente. Além dos dados
apresentados em relação às reduções e desempenho das variáveis em relação ao ponto controle, esses
resultados estatísticos confirmam o potencial amenizador térmico das fachadas verdes.

5. CONCLUSÕES
Este trabalho mostrou a influência de três fachadas verdes indiretas com diferentes espécies de trepadeiras na
amenização microclimática de um espaço transição em comparação com um ponto controle, que não possui
interferência do sombreamento dessas fachadas. Na investigação experimental realizada, foi comprovada
uma amenização térmica ocasionada pelo sombreamento, mecanismo de ação das fachadas verdes que
bloqueia parte da radiação solar incidente. Nesse contexto, foram obtidas reduções máximas de TAR e TRM
de 4,0 e 18,8 °C, respectivamente. Juntamente a isso, o sombreamento do piso proporcionado pelas
jardineiras também influenciou nas reduções de TRM, uma vez que reduziu as temperaturas superficiais.

1337
Destaca-se aqui que, todos os resultados obtidos se relacionam e seguem a tendência daqueles
apresentados na literatura sobre o tema em alguns casos, ou até mesmo os superando em termos de redução
térmica, o que enriquece o trabalho e confirma o papel amenizador térmico das fachadas verdes. A umidade
absoluta, por sua vez, registrou aumento máximo de 1,1 g/Kg em relação ao ponto controle para o ponto P3,
fruto da combinação do resfriamento evaporativo proporcionado pelo conjunto de fachadas verdes e da
ventilação.
Para um maior entendimento dos resultados obtidos com os valores de umidades absolutas,
recomenda-se observar, em futuros estudos, a variável ventilação com equipamento de alta precisão, além da
direção do vento, com método de fitas. Além disso, o monitoramento durante o tempo quente também é
imprescindível, para que o desempenho dos jardins possa ser analisado em diferentes condições de tempo.
Nesse contexto, a pesquisa contribuiu não apenas para o aumento de conhecimento acerca do
potencial amenizador térmico das fachadas verdes, mas também de sua importância nos espaços de transição,
tão pouco estudados. Além disso, o trabalho contribuiu para o avanço nos estudos de aspectos morfológicos
das espécies vegetais selecionadas, que são fatores essenciais para o sucesso e eficiência das fachadas verdes
na atenuação da radiação solar.

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AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Instituto de Pesquisas Meteorológicas – IPMET, pelos dados fornecidos e à
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC) da UNESP, Campus de Bauru, por ter financiado o
experimento.

1339
INFLUÊNCIA DE FATORES PESSOAIS E SUBJETIVOS NAS RESPOSTAS
TÉRMICAS EM ESPAÇOS ABERTOS NA CIDADE DE PALMAS, TO
Liliane Flávia Guimarães da Silva (1); Lucas Barbosa e Souza (2)
(1) Doutora em Ciências do Ambiente, Arquiteta e Urbanista, lilianeg@ifto.edu.br, Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins – IFTO, Campus Palmas, AE 310 Sul, av. LO-05, s/n, Plano
Diretor Sul, Palmas, TO, 77021-090, (63) 3636-4000
(2) Doutor em Geografia, Geógrafo, lbsgeo@uft.edu.br, Universidade Federal do Tocantins – UFT, Campus
Porto Nacional, r. 3, qd. 17, s/n, Setor Jardim dos Ipês, Porto Nacional, TO, 77500-000, (63) 3363-9452

RESUMO
As pesquisas específicas no campo do conforto térmico humano sob o aspecto biometeorológico têm
apresentado um caráter pragmático, baseadas principalmente nos índices de conforto térmico, e poucas vezes
incluindo os aspectos subjetivos relacionados à percepção. A presente pesquisa tem preocupação voltada à
relação do ser humano com o ambiente térmico a partir do indivíduo e sua percepção, sob uma abordagem
quali-quantitativa como complementar à abordagem analítico-objetiva. A proposta metodológica foi
efetivada por meio de entrevistas estruturadas com questionários, além de levantamento dos dados
microclimáticos. Foram selecionados dois grupos de variáveis que possivelmente afetam o conforto térmico:
pessoais, como sexo, idade, índice de massa corpórea (IMC), vestimenta e atividade; e subjetivas,
relacionadas à experiência de longo e curto prazo (tempo de moradia, uso do ventilador e ar condicionado
em casa e no trabalho, tempo de exposição, frequência e motivo de uso do local) e à experiência afetiva com
o clima. A pesquisa demonstrou a influência dos fatores pessoais e principalmente subjetivos sobre as
respostas térmicas, demonstrando a necessidade de ampliar as investigações neste campo, com técnicas e
linguagens apropriadas ao tipo de variável analisada.
Palavras-chave: Percepção térmica, Experiência térmica, Abordagem quali-quantitativa.

ABSTRACT
The specific researches in human thermal comfort from the biometeorological aspect presents a pragmatic
characteristic, based mainly on the indices of thermal comfort, and few times including the subjective aspects
related to the perception. This research is concerned with the relation between the human and the thermal
environment from the individual and your perception, through a quali-quantitative approach as
complementary to the analytical-objective approach. The methodological proposal was carried out by
structured survey with questionnaires, as well as measurement of microclimatic data. Two groups of
variables were selected that possibly affect thermal comfort: personal, such as sex, age, body mass index
(BMI), clothing and activity; and subjective, related to the experience of long and short time (residence time,
use of the ventilator and air conditioning at home and at work, exposure time, frequency and reason for use
of the place) and related to the affective experience with the climate. This research demonstrated the
influence of the personal and mainly subjective factors on the thermal responses, demonstrating the need to
expand the investigations in this focus, using appropriate techniques and method to the type of variable
analyzed.
Keywords: Thermal perception, Thermal experience, Quali-quantitative approach.

1340
1. INTRODUÇÃO
A cidade de Palmas possui clima caracterizado por altas temperaturas, superando os 40ºC nos meses mais
quentes do ano, e mínimas superiores a 20ºC na última década, conforme dados do Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET). Tais condições climáticas trazem consequências para a percepção dos moradores
acerca da sensação térmica na cidade, essencialmente voltada aos aspectos subjetivos, como a memória
climática, que não têm o mesmo sentido para o conforto térmico das pessoas.
No entanto, as pesquisas específicas no campo do conforto térmico humano sob o aspecto
biometeorológico têm apresentado um caráter pragmático, cujo foco é muitas vezes voltado à quantificação
dos efeitos da ambiência atmosférica nas pessoas, e poucas incluem os aspectos subjetivos relacionados à
percepção. A avaliação do complexo térmico é muitas vezes baseada nos índices de conforto térmico,
expressos em cálculos e gráficos, que permitem a quantificação da influência de parâmetros físicos e
fisiológicos no ser humano. Os estudos que avaliam os aspectos subjetivos (muitas vezes denominados
psicológicos), são geralmente influenciados por métodos adaptativos de avaliação do conforto térmico,
muitos oriundos dos estudos de Humphreys (1975), como as pesquisas do projeto Rediscovering the Urban
Realm and Open Spaces (RUROS). As pesquisas desse projeto foram realizadas em locais de descanso em
áreas externas, e avaliaram variáveis pessoais subjetivas no conforto, como experiência de curto e longo
prazo, expectativas (tendo relação com a memória), tempo de exposição, adaptação física como vestimenta e
calor metabólico, entre outros (NIKOLOPOULOU; STEEMERS, 2003; NIKOLOPOULOU; LYKOUDIS,
2006). Além de incluir enfoques não quantitativos de avaliação dos processos adaptativos no conforto
térmico, as pesquisas no âmbito desse projeto influenciaram diversos outros trabalhos subsequentes com
dados subjetivos, como afirmaram Cheng e Ng (2012) em uma revisão de pesquisas com conforto térmico
em áreas externas na primeira década do século XXI.
Apesar de sua complexidade, tais trabalhos apresentam uma tentativa, tanto de avaliar o impacto
relativo de cada um dos parâmetros da adaptação, como de compreendê-los para fins de comparação de sua
importância relativa no projeto e no planejamento urbano. Por esse motivo, a presente pesquisa tem
preocupação voltada à relação do ser humano com o ambiente térmico não só por meio da homeostasia, mas
a partir do indivíduo e sua percepção, sob uma abordagem quali-quantitativa como complementar à
abordagem analítico-objetiva. Verificou-se a possibilidade de fatores pessoais, da experiência e da relação
topofílica do sujeito com o clima da cidade, influenciarem a relação térmica com o ambiente. Cabe ressaltar
ainda, que esta pesquisa é parte do trabalho de tese da autora, que investigou a percepção climática e o
conforto térmico na cidade de Palmas (SILVA, 2018).

2. OBJETIVO
O objetivo desta pesquisa é verificar a influência de fatores pessoais e subjetivos na sensação, avaliação e
preferência térmicas das pessoas em espaços abertos, na cidade de Palmas, TO.

3. MÉTODO
A metodologia foi efetivada por meio de questionários, além de levantamento dos dados microclimáticos. As
variáveis analisadas foram selecionadas em pesquisas específicas com aspectos subjetivos no conforto
térmico, e voltadas à relação entre clima e percepção, como Lin (2009); Yin et al. (2012); Fuller e Bulkeley
(2013); Sartori (2000); as pesquisas do projeto RUROS, anteriormente citadas, entre outros. Foram
selecionados dois grupos de variáveis que possivelmente afetam o conforto térmico: pessoais, como sexo,
idade, índice de massa corpórea (IMC, calculado a partir do peso, altura e idade, dados solicitados aos
entrevistados, constantes no questionário), vestimenta e atividade; e subjetivas, relacionadas à experiência de
longo e curto prazo (tempo de moradia, uso do ventilador e ar condicionado em casa e no trabalho, tempo de
exposição, frequência e motivo de uso do local) e à experiência afetiva com o clima. Tanto a vestimenta,
como o metabolismo foram baseados nas normas referentes, ISO 9920 (ISO, 2007) e ISO 8996 (ISO, 2004).
Na relação com o ambiente térmico, foram selecionadas as variáveis sensação, avaliação e preferência
térmica, de acordo com a ISO 10551 (ISO, 1995), excetuando-se a tolerância e aceitabilidade térmicas, por
trazerem dificuldade de compreensão, como citado em parte destas pesquisas.
A aplicação dos questionários foi realizada simultaneamente ao levantamento de dados
microclimáticos, em dias contínuos, de segunda a sexta-feira, em três semanas distintas do ano, em períodos
selecionados de acordo com a metodologia constante em Silva (2018), de 28 set. a 2 out. 2015, de 29 fev. a 4
mar. 2016 e de 13 a 17 jun. 2016, das 9h às 16h, em uma avenida comercial da cidade, a Avenida Juscelino
Kubistchek (JK), sendo apresentados os resultados alcançados pelo somatório dos três episódios. As
medições de campo de temperatura do ar, umidade e ventilação, utilizaram duas estações meteorológicas
1341
compactas, uma à sombra e uma exposta ao sol, a 1,10m do solo, com registro a cada 5 minutos. Mais
detalhes sobre o equipamento e sua aferição podem ser consultados em Silva (2018).

4. RESULTADOS
Foram efetivadas 1558 entrevistas, sendo que destas, foram totalizados 1095 respondentes válidos, sendo
consideradas apenas as entrevistas com tempo de exposição mínimo de 15 minutos (ASRHAE, 2017). Foram
analisadas as frequências relativas em cada categoria, mas apenas nas categorias com um número não tão
reduzido de votantes, para evitar distorções, e por isso também não foi incluída nenhuma das categorias de
sensação de frio, que foram mínimas. Isso ocorreu porque, praticamente, não ocorreram situações frias
durante os horários das entrevistas, apenas nos raros momentos de chuva. Ao observar os valores das
características microclimáticas, mostrados na Tabela 1, percebe-se que a cidade é caracterizada por altas
temperaturas, chegando a 42,2ºC ao sol e 38,6ºC à sombra (com médias sempre acima de 32ºC), umidades
relativas médias baixas, em torno de 40%, mas com muita variação (com desvio padrão de até 26,1%) e
velocidades do ar também baixas, de médias com pouco mais de 1,0m/s.

Tabela 1 – Descrição estatística das características microclimáticas nos três episódios analisados.
28 set. a 2 out. 2015 29 fev. a 4 mar. 2016 13 a 17 jun. 2016
Variáveis Máx Mín. Méd. DP Máx Mín. Méd. DP Máx Mín. Méd. DP
Temperatura do ar Sol (ºC) 42,2 21,3 34,2 ±5,07 41,0 26,2 34,6 ±3,22 37,4 28,7 33,8 ±2,08
Temperatura do ar Sombra (ºC) 38,6 21,3 33,4 ±4,18 37,3 25,9 33,4 ±2,75 34,1 27,6 32,0 ±1,39
Umidade Relativa Sol (%) 94 10 39,9 ±26,1 84 24 47,2 ±13,4 56 23 34,5 ±6,52
Umidade Relativa Sombra (%) 94 10 38,9 ±24,9 88 30 50,6 ±12,9 62 31 38,1 ±6,41
Velocidade do ar Sol (m/s) 3,7 0,0 1,1 ±0,69 3,7 0,0 1,1 ±0,65 5,4 0,0 1,8 ±0,93
Velocidade do ar Sombra (m/s) 4,8 0,0 1,3 ±0,82 3,1 0,0 0,9 ±0,62 4,8 0,0 1,4 ±0,89

Dentre os fatores pessoais, as pessoas do sexo masculino apresentaram maior tendência a sentir
neutralidade térmica e conforto térmico que as pessoas do sexo feminino, além de menor desejo a mudanças
(Figura 1). As mulheres apresentaram percentuais maiores de sensação de calor e de desconforto,
principalmente nos extremos, e de preferência para bem mais frio. A diferença ficou mais clara na avaliação
térmica, com maior diferença no voto confortável entre homens e mulheres. Diferente do que foi verificado
na presente pesquisa, nos estudos de Yin et al. (2012), os resultados finais demonstram que homens e
mulheres tinham uma percepção semelhante de calor. Contudo, resultados semelhantes foram encontrados
por Gobo (2018), em que as mulheres expressaram maior insatisfação que os homens em condições quentes,
corroborando com estudos anteriores desenvolvidos em laboratório por diversos pesquisadores: Beshir e
Ramsey (1981), Gerrett et al. (2014), Golja, Tipton e Mekjavic (2003) e Karjalainen (2007) já haviam
observado em suas pesquisas que mulheres possuem maior insatisfação e uma sensação de calor mais forte
para um estímulo quente do que os homens.
Sensação Térmica Avaliação Térmica Preferência Térmica

Figura 1 - Frequência da Sensação, Avaliação e Preferência Térmica em função do Sexo dos entrevistados.

Em relação à idade (Figura 2), os votos de conforto e de preferência a não ter mudanças foram
crescentes, o que não ocorreu com a sensação térmica. As pessoas do terceiro grupo etário, com 50 anos ou
mais, apresentaram maior voto de conforto térmico (a única faixa etária com mais de 50% de votos
confortáveis), de sensação térmica neutra e menor preferência a mudanças. Nesta faixa etária, também
ocorreram os menores percentuais nos votos de desconforto em todos os níveis, mas apresentou mais
variações na sensação térmica, ora aumentando, ora diminuindo. Os resultados corroboram com os estudos
de: Havenith (2001), que diz que idosos não percebem o conforto térmico da mesma forma que indivíduos
adultos mais jovens, porque têm um nível de atividade mais baixo, o que implica em menor produção de
calor metabólico, e, portanto, requereriam maior temperatura ambiente; Trezza et al. (2015), em cujos
estudos com idosos em São Paulo, identificou que pessoas com 60 anos ou mais apresentavam baixo desvio

1342
para a percepção de estresse térmico; e Gobo (2018), que encontrou resultados próximos a estes, em que
houve aumento do percentual de sensação neutra e de voto confortável na mesma faixa etária (≥ 50 anos).
Sensação Térmica Avaliação Térmica Preferência Térmica

Figura 2 - Frequência da Sensação, Avaliação e Preferência Térmica em função da Idade dos entrevistados.

Com relação ao IMC, verificou-se que as pessoas acima do peso apresentaram percentual levemente
maior de voto de conforto, de sensação térmica neutra, e percentual um pouco maior de preferência a pouco
mais frio. No entanto, também indicaram maior percentual nos extremos de sensação térmica (muito calor e
calor extremo), assim como do voto extremamente desconfortável. Dessa forma, não ficou clara a influência
do IMC no voto de conforto e na sensação térmica. As pessoas com IMC abaixo do peso apresentaram
maiores diferenças entre uma categoria e outra na sensação e na avaliação térmica e foram as que
apresentaram os menores percentuais de conforto e de preferência a não ter mudanças (Figura 3). Diversos
estudos indicam que as pessoas com maior porcentagem de gordura corporal têm redução da perda de calor
do interior do corpo para a pele, e, portanto, sentiriam mais calor (SAVASTANO et al., 2009; ZHANG et
al., 2001), no entanto, pesquisas mais recentes, que afirmam que, em ambientes frios, o músculo tem muito
mais influência na sensação térmica do que a gordura (GARCIA; OLIVEIRA JUNIOR; MADY, 2016), e
que pessoas que têm maior IMC sentem mais frio, e se sentem mais confortáveis com as condições do tempo
do que as que possuem menor IMC (GOBO, 2018). Na presente pesquisa, só foi possível verificar a sensação
e o conforto em ambiente quente, e mesmo assim, não apresentou alterações com padrão claro. Tem-se que
levar em consideração também, que o IMC pode não fornecer uma precisão requerida na relação entre massa
muscular e de gordura no organismo para análise térmica, pois é muito simples, como já descrito pela WHO
(1995). Além disso, a distribuição do tecido adiposo ao longo do corpo também pode interferir sobremaneira
na forma como o organismo responde à termorregulação (SAVASTANO et al., 2009).
Sensação Térmica Avaliação Térmica Preferência Térmica

Figura 3 - Frequência da Sensação, Avaliação e Preferência Térmica em função do IMC dos entrevistados.

Na Figura 4, foram avaliadas as pessoas em três níveis de atividades no momento da entrevista:


repouso, atividade metabólica baixa e atividade metabólica moderada (os três níveis mais frequentes nas
entrevistas). As pessoas em atividade metabólica moderada apresentaram maior percentual de voto
confortável, na sensação térmica, além de apresentarem percentuais superiores de neutralidade e menor
preferência a mudanças. Além disso, houve pouca mudança entre as pessoas em atividade metabólica baixa e
em repouso, cujas atividades corresponderam a andar devagar, ficar sentado ou em pé, parado. A relação não
foi linear nos níveis de desconforto, das sensações de calor e das preferências a mais frio. Nos níveis mais
baixos de atividade, em repouso e atividade metabólica baixa, as pessoas apresentaram maiores níveis de
sensação de calor e de preferência a um pouco mais frio. Em suas pesquisas, Yin et al. (2012) encontraram
tendência ao aumento do desconforto térmico à medida que os níveis de exercício diminuem, além de que, as
pessoas que se exercitam mais acostumaram-se ao sol intenso, já que muitas delas se exercitam durante dias
ensolarados. Na presente pesquisa, a atividade metabólica moderada apresentou tal tendência, mas o inverso

1343
não ocorreu com as pessoas em repouso. De forma inversa, as pessoas em repouso estavam em sua totalidade
sentadas ou em pé. A ocupação de metade dessas pessoas em repouso era de comerciantes e autônomos, ou
seja, o fato de estar em pé ou sentado não necessariamente representa que estivessem sem exercer atividade,
pois esta é a posição necessária à sua ocupação profissional. Foi o caso dos vendedores ambulantes, por
exemplo, que mesmo descrevendo atividade em pé, estavam em constante movimento. Além disso, como a
maior parte das pessoas em atividade moderada estava andando rápido, o efeito do vento pode ter sido
acelerado, influenciando a sensação, o voto de conforto e a preferência térmica dessas pessoas.
Sensação Térmica Avaliação Térmica Preferência Térmica

Figura 4 - Frequência da Sensação, Avaliação e Preferência Térmica em função da Atividade.

O isolamento da vestimenta praticamente não apresentou alterações com o voto de conforto, na


sensação e preferência térmicas, mas apresentou certa variação no voto nos níveis de desconforto, de
sensação de calor e nos níveis de preferência a mais frio. As variações não foram claras, ora aumentando e
ora diminuindo nas diferentes categorias (Figura 5). Segundo Yin et al. (2012), a vantagem da roupa em altas
temperaturas envolve uma redução do calor radiante absorvido pelo corpo, aumentando a resistência térmica,
e por isso, em suas pesquisas no verão da China, as pessoas que usavam uma jaqueta afirmavam que seu
nível de conforto térmico era maior do que as pessoas que usavam apenas uma camisa. Na presente pesquisa,
o isolamento da vestimenta nas pessoas foi muito baixo, não chegando a 1,0 clo para nenhum dos
entrevistados, não sendo possível identificar o que foi apontado por Yin et al. (2012). No entanto, pode ter
sido difícil identificar a influência da vestimenta devido a outra variável: a baixa umidade relativa do ar (ver
Tabela 1). As pessoas que usavam pouca vestimenta, abaixo de 0,4 clo, apesar de ter a redução ao calor,
expunham o corpo não só à insolação, como ao ressecamento da pele, pela baixa umidade.
Sensação Térmica Avaliação Térmica Preferência Térmica

Figura 5 - Frequência da Sensação, Avaliação e Preferência Térmica em função do Isolamento da Vestimenta.

Dentre os fatores subjetivos, analisando a experiência de longo prazo, em relação ao tempo de


moradia, os moradores mais antigos em Palmas apresentaram o maior percentual de voto confortável, o
maior percentual de sensação de neutralidade e o maior percentual de preferência a não ter mudanças (Figura
6). No entanto, nos diversos níveis de desconforto, de sensação de calor e de preferência a mais frio, houve
muitas variações. Da mesma forma, entre as pessoas que moravam há menos de 5 anos e as que moravam
entre 5 e 15 anos, não houve uma relação crescente ou decrescente, só sendo possível identificar alguma
influência do tempo de moradia na experiência térmica das pessoas quando o tempo foi bem mais longo,
acima de 15 anos.

1344
Sensação Térmica Avaliação Térmica Preferência Térmica

Figura 6 - Frequência da Sensação, Avaliação e Preferência Térmica em função do Tempo de Moradia.

Verificando a relação ao uso de refrigeração artificial (ventilador e ar condicionado), a redução da


capacidade de tolerância ao calor parece ser mais evidente. Nos dois ambientes, na residência e no local de
trabalho ou estudo, as pessoas que não utilizam ar condicionado nem ventilador apresentaram na maioria das
vezes, maior percentual de voto confortável, de sensação neutra, e de preferência a não ter mudanças, com
exceção apenas na sensação térmica no ambiente de trabalho (Figura 7). De forma inversa, quem utiliza
algum equipamento de refrigeração, como ventilador, ou ar condicionado, apresentou os menores
percentuais, com diferença mais destacada em casa que no trabalho ou local de estudo. Nas pesquisas de
Fuller e Bulkeley (2013), as configurações de temperatura confortável para as pessoas que consideram o ar
condicionado essencial foram, em geral, mais baixas do que aquelas que achavam que o ar condicionado era
menos necessário, o que também explica as diferenças apresentadas na presente pesquisa, principalmente
levando em consideração que boa parte das pessoas que indicaram usar o ventilador, indicaram também o
uso do ar condicionado (39,4% das pessoas que usavam ventilador em casa, e 37,1% no trabalho). Além
disso, Ji et al. (2017), em recente pesquisa (em laboratório), também identificaram que as pessoas
demonstraram gostar do ambiente dinâmico (com alterações na temperatura), e o ambiente com ar
condicionado é o que oferece menor possibilidade a esse efeito variante.
Sensação Térmica Avaliação Térmica Preferência Térmica
Em casa Em casa Em casa

No local de trabalho ou estudo No local de trabalho ou estudo No local de trabalho ou estudo

Figura 7 - Frequência da Sensação, Avaliação e Preferência Térmica em função uso do Ventilador e Ar condicionado.

No que diz respeito à frequência de uso do local, as pessoas com frequência de cinco a seis vezes por
semana apresentaram o maior percentual de voto confortável, sendo crescente à medida que a frequência
semanal aumentava (Figura 8). Os níveis de desconforto apresentaram maior variação, não demonstrando
uma relação nem crescente nem decrescente com a frequência. De forma semelhante, na sensação térmica,
tanto no voto neutro, como nas sensações de calor, não foi identificada nenhuma sequência crescente ou
decrescente.

1345
Sensação Térmica Avaliação Térmica Preferência Térmica

Figura 8 - Frequência da Sensação, Avaliação e Preferência Térmica em função da Frequência de uso do local.

Na experiência térmica de curto prazo, o tempo de exposição ao ar livre apresentou influência nas
respostas das pessoas que estavam expostas por um longo período, há quatro horas ou mais, tendo
apresentado os maiores percentuais de voto confortável, de sensação neutra e de preferência a não ter
mudanças, assim como, os menores percentuais dos votos de desconforto em todos os níveis, e na maioria
dos níveis nas sensações de calor e na preferência a mais frio (Figura 9). Segundo Nikolopoulou e Steemers
(2003), a exposição ao desconforto muitas vezes não é vista negativamente pelas pessoas, a menos que
ameace a sobrevivência do organismo. Ji et al. (2017) verificaram em pesquisas que o tempo de exposição
influencia sobremaneira na sensação térmica das pessoas, pois as avaliações do ambiente térmico baseiam-se
não apenas na sensação atual, mas também nas acumulações de um período anterior de tempo (no entanto,
verificaram que a estimulação pelo frio é mais intensa que pelo calor). Na presente pesquisa, essa influência
também se confirmou, mas com um tempo maior de exposição, talvez pela menor sensibilidade ao calor,
como descrito por Ji et al. (2017).
Sensação Térmica Avaliação Térmica Preferência Térmica

Figura 9 - Frequência da Sensação, Avaliação e Preferência Térmica em função do Tempo de exposição no ambiente externo.

Com relação ao motivo de uso do local, as pessoas que estavam no momento da entrevista para
procurar emprego apresentaram os menores percentuais de sensação de neutralidade, de voto confortável e
de desejo de mudanças na preferência térmica (Figura 10). Na avaliação do conforto, também apresentaram
os maiores percentuais nos extremos desconfortável, muito e extremamente desconfortável, assim como, na
preferência térmica, os maiores percentuais de preferência a mudanças nos extremos mais frio, e bem mais
frio, no entanto, na sensação térmica, apesar de apresentarem os maiores percentuais de sensação de pouco
calor a muito calor, não apresentaram nenhum voto para calor extremo. As pessoas que estavam ali para
conversar, passear, almoçar ou encontrar alguém apresentaram o maior percentual de sensação neutra; as que
estavam no local para trabalhar, realizar negócios ou estudar apresentaram o maior percentual de voto
confortável; e as que estavam ali para fazer compras ou realizar serviços, obtiveram o maior percentual de
preferência a não ter mudanças. Os dados encontrados contrastam com o encontrado em Nikolopoulou e
Steemers (2003), em cujas pesquisas, a quantidade de pessoas sentindo-se desconfortáveis e insatisfeitas com
o ambiente térmico foi maior quando a única razão para estar lá foi se encontrar com alguém, ao invés de
outras razões (as outras razões foram englobadas como presença por livre escolha). Para Lin (2009), a
possibilidade de escolha de visitar o lugar influencia significativamente na tolerância ao ambiente térmico,
pois como a pessoa tem autonomia na escolha daquela atividade, ela pode facilmente mudar o horário e a
localização, ou seja, tem flexibilidade e alternativas, o que contribui para sua alta tolerância a altas
temperaturas. Na presente pesquisa, o motivo para permanecer no local da entrevista apresentou influência
apenas de forma negativa nas respostas térmicas, no caso, apenas para pessoas em situação do desemprego,
talvez em certo estado de desânimo pela situação pessoal desfavorável.

1346
Sensação Térmica Avaliação Térmica Preferência Térmica

Figura 10 - Frequência da Sensação, Avaliação e Preferência Térmica em função do Motivo de uso do local.

No que diz respeito à experiência afetiva com o clima da cidade, como foram muitas categorias
indicadas pelos transeuntes (Figura 11), foram elencadas apenas as mais frequentes. Parte dos entrevistados
não soube indicar um ou outro fator que gostava no clima, mas apenas que gostava de tudo, ou do clima de
uma forma geral. Estes apresentaram os maiores percentuais de voto confortável, de sensação térmica neutra
e de preferência a não ter mudanças, seguidos dos que declararam gostar do calor, sendo estes percentuais
bem maiores que os mesmos percentuais nos outros fatores apontados. No conforto térmico, os percentuais
de conforto destes dois fatores representaram quase que dois terços dos votantes. Os entrevistados que não
indicaram nada que gostam no clima de Palmas apresentaram o menor percentual de conforto e de
preferência a não ter mudanças, e os maiores percentuais extremos de desconforto e preferência a bem mais
frio. Não ocorreu o mesmo na sensação térmica, pois os que declararam gostar do vento e da chuva
apresentaram menor percentual de neutralidade que as pessoas que responderam que não gostam de nada,
apesar deste último grupo ter apresentado os maiores percentuais nas sensações de muito calor e calor
extremo. Ao contrário do motivo de uso do local, a relação topofílica com o clima influenciou de forma
positiva na relação térmica do indivíduo, principalmente no voto de conforto.
Dentre os fatores que não gostam no clima palmense apontados pelos transeuntes, os que responderam
que não tem nada que não gostem no clima representaram os maiores percentuais de voto confortável, de
sensação neutra e de preferência a não ter mudanças, seguidos dos que declararam não gostar da secura e do
período de estiagem. Novamente, na avaliação térmica, os percentuais de conforto destes dois fatores
representaram quase que dois terços dos votantes, que, junto aos fatores que gostam no clima, superam as
demais variáveis analisadas. Da mesma forma, as pessoas que não têm nenhum fator que não gostam no
clima, apresentaram os menores percentuais em todos os níveis de desconforto e de preferência a mudanças
para mais frio, no entanto, na sensação térmica, os níveis de sensações de calor foram muito variáveis.
Quando Sartori (2000) investigou a relação afetiva (denominado pela autora de atitude de gostar, não
gostar ou ser indiferente) dos moradores de áreas rurais e urbanas em Santa Maria, RS, com relação a
eventos meteorológicos específicos (Vento Norte), identificou que a sensação geral de mal-estar estava
relacionada à atitude de não gostar do evento especificado, enquanto a sensação de bem-estar estava
relacionada à atitude de gostar ou ser indiferente. Na presente pesquisa, a relação positiva com o clima e com
o calor foi refletida no voto confortável dos transeuntes, na sensação neutra, e na preferência a não ter
mudanças, mas a relação negativa não foi direta, pois os que declararam não gostar do período de estiagem e
da secura (período de maiores temperaturas na cidade), também apresentaram altos percentuais nas respostas
térmicas neutras e de conforto.

1347
Sensação Térmica Avaliação Térmica Preferência Térmica
O que você gosta no clima de Palmas? O que você gosta no clima? O que você gosta no clima?

O que você NÃO gosta no clima de Palmas? O que você NÃO gosta no clima? O que você NÃO gosta no clima?

Figura 11 - Frequência da Sensação, Avaliação e Preferência Térmica em função da Experiência afetiva com o clima.

5. CONCLUSÕES
As variáveis relacionadas a fatores pessoais e à experiência de curto e longo prazo influenciaram de alguma
forma nas respostas de conforto, não em sua totalidade, mas, na maioria das vezes, parcialmente, e de forma
discreta. Dentre os fatores pessoais, o sexo apresentou diferenças no conforto e na sensação térmica, pois as
mulheres sentiram mais desconforto, sensação de calor e preferência a ambientes mais frios. A idade só
apresentou alterações no terceiro grupo etário (≥ 50 anos), aumentando o conforto e a sensação de calor e
reduzindo a preferência a lugares mais frios. O IMC e a vestimenta apresentaram mudanças muito sutis,
enquanto na atividade metabólica, a influência nas respostas térmicas surgiu apenas quando no nível
moderado, carecendo de maiores investigações. No que diz respeito à experiência de longo prazo, diversos
fatores influenciaram no conforto, como o tempo de moradia, mas apenas aos moradores mais antigos (≥ 15
anos de moradia), como também uso mais frequente de refrigeração artificial (principalmente ar
condicionado), que incorreu em aumento da sensação de calor e desconforto, e na preferência a locais mais
frios. Sentiram-se mais confortáveis e com maior preferência a não ter mudanças no ambiente térmico as
pessoas que frequentam constantemente o local (≥ 5 vezes por semana), demonstrando maior adaptação ao
ambiente. De forma semelhante, na experiência de curto prazo, o tempo de exposição influenciou quando
ocorreu por um período mais longo, por mais de quatro horas, revelando uma maior adaptação ao ambiente
térmico, possibilitando sentir menos calor, maior conforto e menor preferência a locais mais frios. Também
teve influência, mas de forma negativa, o motivo de uso, pois as pessoas que estavam em situação pessoal
desfavorável sentiram-se menos confortáveis e neutras que as demais, além de preferir estarem em locais
mais frios. Já a experiência afetiva, com relação ao gostar ou não gostar do clima (tudo ou nada), e gostar ou
1348
não gostar do calor, demonstrou ter uma relação com a resposta das pessoas de forma mais evidente que as
demais variáveis, sendo quase sempre positiva, ou seja, declararam sentir-se mais confortáveis, com
sensação neutra e reduzida preferência a locais mais frios, as pessoas que gostam “de tudo” no clima da
cidade, ou que gostam do calor. A pesquisa demonstrou, portanto, a influência dos fatores pessoais e
principalmente subjetivos sobre as respostas térmicas, demonstrando a necessidade de ampliar as
investigações neste campo, com técnicas e linguagens apropriadas ao tipo de variável analisada.

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AGRADECIMENTOS
A autora agradece ao IFTO pelos recursos financeiros aplicados à pesquisa.

1349
O CONFORTO TÉRMICO EM SALAS DE AULA DE EDIFÍCIO DE ENSINO
SUPERIOR
Tatiana Paula Alves (1); Wellington Guilherme Ribeiro de Assis (2); Lucas Teixeira da Silva
(3); Aureliana Karen Rodrigues Amancio (4)
(1) Phd, Arquiteta e Prof. do Dep.de Arquitetura do Centro Universitário UNA, tatiana.alves@prof.una.br,
Centro Universitário UNA, Rua da Bahia 1764, Belo Horizonte- MG. 30160-011, Tel.:(31)992010321
(2) Graduando de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário UNA, wellingtongra@hotmail.com.br
(3) Graduando de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário UNA, lucas.teixeira72@gmail.com
(4) Graduando de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário UNA, aurelianaamancio@gmail.com

RESUMO
O conhecimento do comportamento termo-energético dos edifícios é uma importante ferramenta para o
desenvolvimento de estratégias eficientes de melhoria do desempenho ambiental dos mesmos. O objetivo
principal deste trabalho é analisar o conforto térmico do conjunto de salas de aula do edifício de ensino
superior UnaLiberdade. O procedimento metodológico propõe os seguintes passos: levantamento de dados
através de visita de campo, simulação termo-energética no software EnergyPlus e modelagem de diferentes
cenários de condicionamento ambiental para análise do conforto térmico das salas de aula. Neste estudo
foram propostos três cenários. O Cenário 1 simula o uso exclusivo de ventilação natural, o Cenário 2 simula
o uso de ventilação natural associada ao uso de ventiladores de teto enquanto o Cenário 3 simula o uso de
ventilação natural associada ao uso de ar condicionado. Os resultados das simulações indicam que no
Cenário 1 o conforto térmico é atingido em 62% das horas de operação das salas de aula ao longo do ano,
enquanto nos Cenários 2 e 3 os percentuais são 74% e 86% respectivamente. Como resultado ainda vemos o
consequente crescimento das intensidades energéticas dos cenários à medida que são introduzidas as
tecnologias ativas (ventiladores e ar condicionado). Do ponto de vista do desempenho termo-energético
observa-se a possibilidade de melhoria dos sistemas prediais (climatização e iluminação artificial) e
principalmente do sistema de janelas da edificação estudada. Identificar estas possibilidades abre
oportunidade real de ações voltadas para a eficiência energética na edificação e em uma perspectiva mais
ampliada o desenvolvimento de políticas internas de eficiência energética para as demais edificações da
instituição de ensino superior.
Palavras-chave: conforto térmico, desempenho energético, simulação computacional.

ABSTRACT
Knowing thermal and energy building patterns is an important means of being effective in propose
environmental performance improvement. This study develops a framework to analyse the thermal comfort
of a set of classrooms in the UnaLiberdade Building. The methodology consists of the following steps: field
study data collection, dynamic modelling and simulation using the software EnergyPlus, and the
development of building thermal conditioning scenarios. Three building thermal conditioning scenarios were
developed. Scenario 1 simulates natural ventilation only. Scenario 2 simulates natural ventilation together
with the use of ceiling fans and Scenario 3 simulation combines natural ventilation and split air conditioning.
The simulation results indicate that in Scenario 1, 62% of the classroom operational hours lays on acceptable
thermal comfort range while in Scenarios 2 and 3 this value increases to 74% and 86% respectively. The
results also indicate that the energy use intensity increased as fans and splits were introduced. From the
thermal and energy performance perspective, there is room for technological (splits and artificial lighting)
and envelope improvement (specially window facades). Identifying these possibilities opens real
opportunities for energy consumption reduction and in a broader perspective it could allow the development
of internal energy efficiency policies regarding other buildings of the institution.
Keywords: thermal comfort, energy efficiency, dynamic simulation.

1350
1. INTRODUÇÃO
Em contextos onde a renovação do estoque de edifícios é pouco representativa o retrofit de edificações
aparece como um forte indicador de melhoria de performance energética principalmente em cenários urbanos
consolidados com um elevado estoque de edifícios tecnologicamente ultrapassados. Assim, é essencial o
conhecimento do comportamento energético e do padrão de consumo de energia para que seja desenvolvido
estratégias e técnicas para a melhoria do desempenho energético e ambiental do estoque de edifícios
existentes (GONÇALVES; BODE, 2015).
De modo geral, os estudos de retrofit de edificações comerciais e de serviço estão ligados a usos tais
como o de escritórios sendo pouco explorados os estudos focados em edifícios educacionais, principalmente
os voltados ao Ensino Superior. Dentre os estudos existentes podemos citar o de Frandoloso et al. (2010),
Amorim et al. (2011), Benavides (2014) e Mendonça, Villa e Da Costa (2018). Frandoloso et al. (2010)
avaliou dois edifícios universitários da Universidade de Passo Fundo (UPF) – RS, com a finalidade de
identificar fatores que incidem no desempenho térmico e no consumo de energia dos edifícios universitários
para a proposição de diretrizes para a otimização energética. As informações das características gerais dos
edifícios, dos espaços internos, a caracterização das instalações, os dados dinâmicos para a identificação do
padrão de uso e ocupação dos espaços foram analisados com base nos dados obtidos no monitoramento do
consumo de energia (sistemas on-line e analógico). Os resultados obtidos foram utilizados para o diagnóstico
de pontos positivos e negativos de ambos os edifícios favorecendo a proposição de iniciativas de melhoria do
desempenho energético dos mesmos. De modo similar, Mendonça, Villa e Da Costa (2018) realizaram
através de monitoramento o levantamento dos perfis de consumo dos sistemas de climatização, iluminação e
equipamentos elétricos com o intuito de propor uma otimização dos recursos energéticos da edificação
vertical de ensino superior (11 pavimentos) localizado na cidade de Maceió, Alagoas.
Amorim et al. (2011) investigou o Edifício FIOCRUZ, localizado em Brasília/DF, e propôs avaliar o
conforto ambiental, o desempenho térmico, a eficiência energética, e as condições de iluminação natural no
interior da edificação. O estudo mostrou que o conforto ambiental bem como a redução do consumo de
energia, podem ser alcançados com a otimização de aspectos projetuais para uma melhor utilização da luz
natural, mantendo satisfatórios os níveis de conforto térmico e luminoso. Benavides (2014) utilizou uma
metodologia de auditoria energética para identificar o comportamento energético de três edificações
pertencentes a Universidade de São Paulo (USP), sendo um prédio administrativo, um prédio de laboratório e
um datacenter. O estudo apurou que as melhores oportunidades de eficiência energética para os prédios
administrativo e laboratório estavam relacionadas a iluminação e condicionamento ambiental. No caso da
datacenter as melhores oportunidades estão relacionadas a melhoria do sistema de condicionamento
ambiental representativo neste contexto de aproximadamente 42% do consumo de energia do edifício.
De modo geral os estudos mencionados apontam para um futuro promissor na melhoria do
desempenho energético dos edifícios de Ensino Superior ao mesmo tempo que registram os desafios no
desenvolvimento de metodologias capazes de identificar o comportamento energético dos mesmos, visto a
existência de uma estreita relação entre as atividades internas dos edifícios educacionais e a distribuição
energéticas dos seus usos finais de energia. Dentro deste contexto, estudos de análise do comportamento
térmico e energético voltados para as instituições de ensino superior representam uma importante ferramenta
para geração de dados e informações capazes de subsidiar proposições eficientes de economia de energia no
setor.

2. OBJETIVO
O objetivo geral deste trabalho é avaliar o conforto térmico do conjunto de salas de aula do edifício de ensino
superior UnaLiberdade, pertencente ao Centro Universitário UNA em Belo Horizonte, a partir da análise de
três cenários que exploram a multiplicidade de arranjos de condicionamento ambiental presentes nas salas de
aula do edifício.

3. MÉTODO
O procedimento metodológico proposto apresenta três passos principais: (1) levantamento de dados através
de visita de campo, (2) modelagem do edifício para a simulação e (3) modelagem de diferentes cenários de
condicionamento ambiental para análise do conforto térmico e desempenho energético das salas de aula.
3.1. Levantamento dos dados do edifício
Para a compreensão primeira do edifício, principalmente das salas de aula que é o objeto principal deste
estudo, foi realizada uma leitura dos desenhos técnicos fornecidos pela instituição de ensino. A Figura 1
apresenta a síntese das informações dos desenhos técnicos utilizados.
1351
Figura 1 - Síntese do projeto do edifício de ensino superior UnaLiberdade . (A) Planta de Situação, (B) Pavimento tipo bloco
principal (térreo, 1º Pavimento e 2ºPavimento), (C) Corte do edifício.
A Figura 1B apresenta a configuração interna do bloco principal de salas de aula. Esta mesma
configuração acontece nos pavimentos térreo e superiores. Estes pavimentos contam com um total de 16
salas de aula que são o foco principal deste estudo. A Figura 2 apresenta as nomenclaturas das salas de aula e
suas respectivas localizações nos pavimentos. Neste estudo cada sala de aula foi considerada como uma zona
térmica.

Figura 2 – Identificação das Salas que serão objeto de estudo - (A) Nomenclatura das salas do 2º Pavimento, (B) Nomenclatura das
salas do 1º Pavimento, (C) Nomenclatura das salas Pavimento Térreo.
Para levantamento das informações físicas, de equipamentos e dos sistemas prediais (iluminação e
condicionamento ambiental) foram realizadas visitas in loco durante o mês de junho de 2018. As rotinas de
uso e funcionamento foram levantadas junto ao gestor de manutenção do edifício.
Os dados observados foram subdivididos em duas categorias: (1) informações físicas (dimensão dos
ambientes e esquadrias, acabamentos internos e externos das superfícies, propriedades construtivas das
paredes, pisos, tetos, cobertura e esquadrias), (2) caracterização técnica e de uso dos equipamentos e dos
sistemas de iluminação e condicionamento térmico. Para aferição do conforto térmico foi necessário ainda a
medição da velocidade do ar no interior das salas. Para a medição foi utilizado um anemômetro digital
(MDA-01-Minipa) posicionado no centro do ambiente e na altura de 0.75m. Sobre a medição, observa-se
que o mês do levantamento não exercerá influência sobre os dados obtidos uma vez que a cidade de Belo
Horizonte apresenta direção e velocidade predominante bastante uniforme ao longo de todo o ano.

3.1.1 Caracterização do objeto de estudo


O edifício em estudo foi originalmente construído no ano de 1997 com a finalidade de abrigar uma escola
particular de ensino fundamental e médio cuja atividade principal era diurna. O edifício ocupa um terreno da
ordem de 2.442m2, e possui área construída estimada em aproximadamente 3.350m2. No ano de 2005, o
edifício foi incorporado ao complexo de edifícios de ensino superior denominado de Campus Urbano pelo
Centro Universitário UNA. Atualmente, as atividades educacionais do Edifício UnaLiberdade se concentram
no turno da manhã e no turno da noite. A Figura 3 apresenta o edifício em seu contexto urbano atual.

1352
Figura 3 - (A) Vista aérea do contexto urbano atual, (B) Vista aérea ampliada do Edifício UnaLiberdade.
Fonte: Google Earth
Dentre as principais características construtivas do bloco de salas principal está a de possuir estrutura
em concreto armado e paredes externas e internas de alvenaria de tijolo furado. A cobertura da edificação é
laje de concreto com telha metálica. Tanto as paredes externas como a cobertura são brancas, mas devido a
ação do tempo encontram-se sujas e desgastadas. O percentual de aberturas nas fachadas da edificação é da
ordem de 38,5%. Uma das principais característica das aberturas é a de possuir filme opaco preto (salas 1, 2,
4,5,12,13,14,15,16, 21, 24, 25), o que elimina a entrada de luz natural nas salas durante o dia, sempre que as
esquadrias estão fechadas. Outra característica importante é a da área de ventilação da esquadria. A esquadria
padrão do prédio apresenta dimensão de 2,30 x 2.45m, no entanto sua área de ventilação se reduz a 1/3 desta
extensão. Internamente, as salas apresentam piso vinílico cinza, paredes e tetos (laje) pintados de branco.
Quanto ao sistema de iluminação artificial das salas de aula observa-se a predominância de luminárias
de sobrepor, sem aletas, para 2 lâmpadas. As lâmpadas utilizadas são predominantemente LEDs tubulares de
18W que correspondem a aproximadamente 58%, seguidas por fluorescentes tubulares de 32W que
correspondem aos 42% restante. Quanto ao sistema de condicionamento ambiental das salas, observa-se que
o edifício possibilita uma multiplicidade de arranjos, uma vez que as salas, na sua maioria, apresentam a
possibilidade de ventilação natural, ventilação mecânica (ventiladores) e ar condicionado (Splits de teto). De
modo geral os sistemas são acionados e regulados pelo próprio usuário do espaço. Quanto a densidade de
potência instalada (DPI) dos ventiladores, observa-se uma grande variação principalmente associada a
quantidade de ventiladores disponíveis nas salas (o número de ventiladores varia de 5 a 2 por sala, com
exceção das salas 2, 16 e 25 que não apresentam ventiladores). Os ventiladores instalados apresentam
potência de 200W e eficiência Classe A. Quanto aos equipamentos de ar condicionado, eles estão presentes
em todas as salas com exceção das salas 11, 13,14 e 15. Os equipamentos predominantes nas salas
apresentam capacidade de 48.000 BTU/h e eficiência Classe B. De modo geral, as salas apresentam um
equipamento por sala, com exceção das salas de grande porte (2, 16, 26) que recebem dois equipamentos.

3.2. Caracterização do modelo para simulação computacional


As informações necessárias a caracterização térmica e energética do edifício foram subdividas em três
categorias: envoltórias, sistemas prediais e padrões de uso e ocupação. O Quadro 1 apresenta os parâmetros e
os valores utilizados na construção do modelo termo-energético para a simulação das salas de aula. As
informações de densidade de potência instalada (DPI) para o sistema de iluminação artificial e para os
ventiladores de teto de cada sala estudada estão apresentadas na Tabela 1. Ambas as informações foram
originadas a partir dos dados coletados no levantamento de campo da edificação em estudo. Na coluna de
DPI – Ventiladores de Teto, onde os valores forem ausentes significa a não existência dos equipamentos
neste ambiente.
Quadro 1 - Parâmetros de Desempenho e referências utilizadas no desenvolvimento do modelo para simulação
Envoltórias
Parâmetros Valores de referência Fonte
(1) Transparente com filme refletor prata
Cor do vidro (Salas 11,22,23,26). (2) Transparente com Levantamento de Campo
filme opaco cor preta (Demais salas);
Espessura do vidro (1) 6mm; (2) 6mm Levantamento de Campo
Percentual de Abertura nas fachadas (WWR) 38,5% Levantamento de Campo
Simulação das
Transmitância Vidro (W/m².k), SHGC, FS (1) 5.02, 0.402, 0.395 (2) 5.80, 0.466, 0.001 informações de Campo
no Window7.7
Transmitância térmica paredes externas (W/m².k) 1.85
Transmitância térmica paredes internas (W/m².k) 2.39 (INMETRO, 2013)
Transmitância térmica cobertura (W/m².k) 2.06
Absortância paredes (α) 0.4 (INMETRO, 2013)

1353
Absortância cobertura (α) 0.4
Sistemas Prediais
DPI iluminação (W/ m²) Variável de acordo com cada sala – Tabela 1 Levantamento de Campo
1 computador desktop (350w) e 1 projetor
DPI equipamentos de apoio (W/m²) Levantamento de Campo
(215w) por sala de aula.
Ventilação natural, Ventilação Mecânica
Tipo de condicionamento (Ventiladores de teto) e Ar Condicionado Levantamento de Campo
(Split)
DPI Ventiladores de teto Variável de acordo com cada sala – Tabela 1 Levantamento de Campo
Áreas Condicionadas Sala 1, 2, 4, 5, 12, 16, 21, 22, 23, 24, 25, 26 Levantamento de Campo
Coeficiente de performance Ar condicionado Split
3.05 Levantamento de Campo
(COP), (W/W)
Padrões de Uso e Ocupação
Ocupação (área/pessoa) 1.5 Levantamento de Campo
Horas de Ocupação 7h as 12h e 18h as 22h Levantamento de Campo
Horas de uso Iluminação 7h as 12h e 18h as 22h Levantamento de Campo
Horas de uso equipamentos de apoio 7h as 12h e 18h as 22h Levantamento de Campo
Nas horas de ocupação onde o conforto térmico Levantamento de Campo
Horas de uso ventiladores de teto
não é atendido – Desconforto por calor.
Nas horas de ocupação onde o conforto térmico Levantamento de Campo
Horas de uso Sistema de Ar condicionado
não é atendido - Desconforto por calor.

Tabela 1 – Valores de DPI do Sistema de Iluminação Artificial e Ventiladores de Teto das Salas de Aula
DPI - Iluminação DPI - Ventiladores DPI - Iluminação DPI - Ventiladores
Local Local
Artificial (W/ m²) de Teto (W/ m²) Artificial (W/ m²) de Teto (W/ m²)
Sala 01 5.12 6.15 Sala 15 2.78 13.39
Sala 02 3.92 - Sala 16 2.78 -
Sala 04 3.08 6.90 Sala 21 7.96 14.15
Sala 05 4.69 6.78 Sala 22 6.17 14.11
Sala 11 3.04 14.15 Sala 23 9.3 13.17
Sala 12 2.77 9.46 Sala 24 9.39 15.86
Sala 13 2.77 13.17 Sala 25 2.65 -
Sala 14 4.15 15.86 Sala 26 7.13 3.57
O programa utilizado para as simulações do conforto térmico e desempenho energético das salas de
aula foi o EnergyPlus 9.1 (DOE, 2019). As simulações foram realizadas em base anual (8.760horas)
utilizando o arquivo climático TRY (Test Reference Year) para a cidade de Belo Horizonte disponível no
site do Laboratório Eficiência Energética em Edificações da Universidade Federal de Santa Catarina
(LABEEE, 2016). A Figura 4 apresenta a perspectiva do modelo de simulação.
Dentre as características determinantes do edifício está a da ventilação natural. A simulação da
ventilação natural foi realizada no EnergyPlus através do Airflow Network, multi-zona, sendo os coeficientes
de pressão do vento calculados pelo próprio software. As aberturas das janelas são controladas pela
temperatura, ou seja, quando a temperatura do ar do ambiente é igual ou superior a temperatura do
termostato e quando a temperatura do ar do ambiente é superior a temperatura externa as janelas são
acionadas. A temperatura de termostato utilizada foi de 20ºC, valor referenciado no RTQ-R (INMETRO,
2012). Os coeficientes e expoentes de fluxo de ar para as aberturas são mostrados no Quadro 2

Figura 4 – Modelo do Edifício UnaLiberdade desenvolvido no software OpenStudio 2.7 e caracterização do sistema da esquadria das
salas de aula no software Window7.7.

Quadro 2-Parâmetros utilizados na simulação da ventilação natural


Componente Janela pivotante de metal, eixo vertical, sem vedação.
Coeficiente Fluxo de ar quando as aberturas estão fechadas. (kg/sm) 0.00030
Expoente de fluxo de ar quando aberturas estão fechadas. (adimensional) 0.66
Coeficiente de Descarga para fator de abertura 2 (adimensional) 0.6
Fator de altura para fator de abertura 2 (adimensional) 0.33
1354
Fator de largura para fator de abertura 2 (adimensional) 1
Fonte: (LIDDAMENT, 1986)

3.3 Modelagem dos cenários de condicionamento ambiental


Neste estudo foram considerados três cenários base para análise do conforto térmico dos usuários e do
desempenho energético das salas de aula. Para a análise do desempenho térmico dos cenários foi utilizado o
indicador de intensidade de consumo de energia (EUI) expresso em função de quilowatt-hora por metro
quadrado por ano [kWh/m2/ano]. O valor de EUI do cenário foi adquirido como sendo a média aritmética
obtida dividindo a soma dos valores de EUI das salas pela quantidade de salas.
Para o Cenário 1, o conforto térmico foi simulado considerando o uso exclusivo da ventilação natural
em todas as salas. O índice utilizado para aferição do conforto térmico foi o modelo adaptativo de conforto
térmico ASHRAE Standard 55 (ASHRAE, 2004). Para as horas de operação das salas de aula estudadas
foram estabelecidos os limites de aceitabilidade de 90%. A velocidade do vento adotada para a simulação do
conforto térmico foi de 0.2m/s (velocidade média obtida no levantamento in loco). A taxa metabólica da
atividade utilizada foi de 70W/m2. Os valores do índice de resistência térmica das vestimentas foram 0.5clo
para os meses de primavera e verão, e 1clo para os meses outono e inverno.
Para o Cenário 2 a simulação considerou o uso da ventilação natural em todas as salas e o uso dos
ventiladores de teto nas salas que apresentam este recurso (exceção são as salas 2, 16 e 25 que continuaram
apenas com ventilação natural pois não apresentam ventiladores de teto). Para estabelecer uma rotina de
utilização dos ventiladores, foi estabelecido que para as horas de operação das salas em que os valores
provenientes da simulação do cenário 1 se encontravam dentro dos limites de aceitabilidade de 90%
ocorreria o uso exclusivo da ventilação natural, caso contrário os ventiladores seriam acionados
simultaneamente ao uso da ventilação natural. Nos meses frios de junho, julho e agosto não foram
considerados acionamento dos ventiladores. A partir destas informações foram montados os schedules de
acionamento dos ventiladores para registro do consumo de energia dos mesmos. Foram adotados schedules
em base horária para as 8760 horas do ano. Os schedules de acionamento dos ventiladores indicam em cada
hora, o valor correspondente a 0 (zero) ou 1 (um), que significa quando 0 (zero) que não há uso dos
ventiladores e quando 1 (um) que os ventiladores estão acionados. Para que o acionamento dos ventiladores
fosse capaz de influenciar o conforto térmico foram desenvolvidos os schedules de alteração da velocidade
do ar durante a simulação. Os schedules de alteração da velocidade dos ventiladores são espelhos dos
schedules de acionamento e indicam em cada hora, o valor correspondente a 0.2 ou 1, que significa quando
0.2 (velocidade de 0.2m/s) e quando 1 (velocidade de 1m/s – velocidade média obtida com os ventiladores
ligados no levantamento in loco). A velocidade 0.2m/s é utilizada durante o uso exclusivo de ventilação
natural (similar ao Cenário1) e a velocidade 1m/s é utilizada durante o período de acionamento dos
ventiladores.
Para o Cenário 3 a simulação considerou o uso de ventilação natural em todas as salas e o uso do ar
condicionado nas salas que apresentam este recurso. A exceção são as salas 11,13,14 e 15 que não
apresentam ar condicionado, sendo mantido o acionamento dos ventiladores conforme rotina descrita no
cenário 2. Para as salas com sistema de condicionamento de ar, foram considerados os acionamentos do ar
condicionado nos períodos em que o conforto térmico não foi atingido exclusivamente com a ventilação
natural. Os equipamentos splits foram considerados apenas para o resfriamento dos ambientes. Nos meses
frios de junho, julho e agosto não foram considerados os acionamentos dos splits. A temperatura de setpoint
foi considerada 25ºC (valor referenciado na NBR 16401). A partir destas informações foram montados os
schedules de funcionamento dos splits. Foram adotados schedules em base horária para as 8760 horas do
ano. Os schedules de acionamento dos splits indicam em cada hora, o valor correspondente a 0 (zero) ou 1
(um), que significa quando 0 (zero) que não há uso dos splits e quando 1 (um) que os splits estão acionados.
Os schedules da ventilação natural apresentam rotinas opostas as rotinas dos splits.

4. RESULTADOS
No contexto deste estudo, foram analisados o conforto térmico das 16 salas de aula considerando 3 cenários
de condicionamento ambiental. A Figura 5 apresenta as horas de atendimento (A) e não atendimento (NA) ao
conforto térmico para os três cenários base estudados.

1355
Figura 5 Distribuição por salas do número de horas de operação cujo conforto térmico é atendido ( A) ou não atendido (NA) durante o
período de operação do ambiente. (A) Cenário 1, (B) Cenário 2, (C) Cenário 3.
No Cenário 1 em 62% das horas de operação das salas de aula ao longo do ano o conforto térmico é
atingido com uso exclusivo de ventilação natural. As salas que apresentam maior quantidade e horas de não
atendimento ao conforto térmico são as salas 4, 14 e 24. Uma análise mais próxima da arquitetura destes
espaços, permite identificar que estas salas têm em comum a não possibilidade de ventilação cruzada
permanente e orientação oeste. As salas com menor número de horas de não atendimento ao conforto térmico
apresentam faces direcionadas para leste e sul, explicitando o papel determinante da orientação solar neste
cenário. No Cenário 2 as salas 2, 16 e 25 não apresentam modificações em relação ao Cenário 1, visto não
possuírem ventiladores de teto, sendo neste cenário contabilizado para estas salas apenas o uso exclusivo da
ventilação natural (estas salas aparecem em tons de cinza na Figura 5B). Nas demais salas observa-se que o
uso dos ventiladores de teto permitiu a diminuição do número de horas de não atendimento ao conforto
térmico. De modo geral, em termos percentuais, o número de horas de atendimento ao conforto térmico
subiu de 62% (Cenário 1) para 74%. No Cenário 3 as salas 11, 13, 14 e 15 não apresentam modificações em
relação ao Cenário 2 por não possuírem equipamentos de ar condicionado instalados (estas salas aparecem
em tons de cinza na Figura 5C). Nos demais ambientes observa-se que o percentual do número de horas de
atendimento do conforto térmico subiu. De modo geral o percentual de horas de atendimento ao conforto
térmico subiu de 74% (Cenário 2) para 86%.
A Figura 6 apresenta a distribuição mensal das horas de atendimento (A) e não atendimento (NA) para
a Sala 24 ao longo dos três cenários. A Sala 24 foi selecionada para ilustrar esta análise por ter apresentado
no Cenário 1 o maior número de horas de não atendimento ao conforto térmico. Uma análise mais próxima
desta sala permite visualizar que no Cenário 1 os meses de fevereiro e março apresentam os maiores
percentuais de não atendimento (superiores a 65%), enquanto os meses de maio, junho, julho e agosto
apresentam os menores percentuais de não atendimento (inferiores a 25%). Uma análise do Cenário 2
permite visualizar um aumento expressivo do número de horas de atendimento nos meses de fevereiro e
março. Nestes meses os percentuais de atendimento subiram na média de 30% (Cenário 1) para
aproximadamente 55%. Nos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro estes aumentos percentuais
são também expressivos subindo de aproximadamente 50% (Cenário1) para 70%. O Cenário 3 permite
visualizar que para todos os meses do ano os percentuais de atendimento passam a ser superiores a 80%,
sendo os meses mais frios (junho, junho e agosto) os que passam a ter a maior contribuição nos percentuais
de horas de não atendimento ao conforto térmico.

Figura 6 –Distribuição mensal das horas de atendimento ou não atendimento do conforto térmico para a Sala 24. (A) Cenário 1, (B)
Cenário 2, (C) Cenário 3.
1356
A Figura 7 apresenta a intensidade de consumo de energia (EUI) dos três cenários estudados. Uma
progressão na intensidade do consumo de energia é observada à medida que os equipamentos de
condicionamento ambiental são incorporados aos cenários analisados. No Cenário 1, o EUI é da ordem de
19kWh/m2/ano. Neste cenário apenas os sistemas de iluminação e equipamentos de apoio a sala de aula são
contabilizados na intensidade energética. O Cenário 2 apresenta EUI da ordem de 25 kWh/m2/ano. Neste
cenário as rotinas de uso dos ventiladores de teto passam a ser contabilizadas na intensidade energética e
representam em termos percentuais um valor de aproximadamente 25% do EUI total. O Cenário 3 apresenta
EUI da ordem de 36 kWh/m2/ano. Neste cenário, o EUI do ar condicionado é responsável por
aproximadamente 40% do valor do EUI total, enquanto os ventiladores representam aproximadamente 7%
do EUI total. Do ponto de vista da performance energética observa-se oportunidade de melhoria da eficiência
dos equipamentos de ar condicionado visto serem atualmente todos Classe B. Análise similar pode ser feita
em relação ao sistemas de iluminação artificial do ambiente, visto ainda existir espaço para substituição de
lâmpadas fluorescentes por lâmpadas Leds.

Figura 7 – Intensidade do Uso da Energia (EUI) para os Cenários 1, 2 e 3.


Para melhor compreender a contribuição dos componentes físicos, equipamentos e quantidade de
pessoas na caracterização térmica do ambiente foi analisado o ganho de calor do ambiente. A Figura 8 ilustra
a contribuição destes itens no ganho de calor da Sala 25. A Sala 25 foi selecionada para ilustrar esta análise
pela sua localização no contexto do edifício. Na Figura 8A observa-se o peso das janelas no ganho de calor
da sala, principalmente no período da tarde. Este fato deve-se principalmente a posição da sala no pavimento
(fachada noroeste) e alto percentual de área envidraçada do ambiente. A Figura 8B mostra a expressiva
contribuição do componente pessoas no ganho de calor do ambiente. Esta alta parcela se relaciona
principalmente a alta densidade populacional do ambiente bastante característico do uso educacional de
ensino superior. Do ponto de vista da performance térmica das salas de aula, observa-se a possibilidade de
melhorias principalmente do sistema de janelas. Na edificação as janelas têm tamanhos significativos, pouca
área de ventilação e com exceção das janelas da fachada leste não apresentam nenhum elemento de
sombreamento, revelando assim grandes possibilidades de melhoria.

Figura 8 - (A) Ganho de calor das envoltórias do ambiente – Sala 25, para o dia típico de verão. (B) Ganho de calor das envoltórias,
pessoas e equipamentos – Sala 25, para o dia típico de verão.
Tendo em vista este contexto, foi estudado o impacto do retrofit das esquadrias sobre o número de
horas de atendimento ao conforto térmico. Foi simulado neste estudo a ampliação da área de ventilação das
esquadrias atuais de 1/3 para 2/3 do área do vão da esquadria. A Figura 9 ilustra para o Cenário 1 a
modificação proposta bem como as alterações no número de horas de atendimento ao conforto térmico.
Observa-se de um modo geral um aumento percentual da ordem de 8% no número de horas de atendimento
ao conforto térmico ao longo do ano, passando de 62% (Cenário 1) para 70% (Cenário 1 – Retrofit Janelas).

1357
Figura 9 - Distribuição por salas do número de horas de operação cujo conforto térmico é atendido (A) ou não atendido (NA) durante
o período de operação do ambiente. (A) Cenário 1, (B) Cenário 1 Retrofit área de ventilação janelas.
A ampliação do número de horas de atendimento ao conforto térmico tem repercussão direta na
diminuição do acionamento do ar condicionado e ventiladores, com consequente diminuição dos valores de
EUI nos Cenários 2 e 3. A Figura 10 ilustra o impacto do retrofit das esquadrias sobre os valores de EUI para
os Cenários 2 e 3. A diminuição dos valores totais de EUI é da ordem 8% para o Cenário 2 Retrofit e da
ordem de 11% para o Cenário 3 Retrofit.

Figura 10 - Intensidade do Uso da Energia (EUI) para os Cenários 2 e 3 Retrofit Janelas

5. CONCLUSÕES
Este estudo analisou o conforto ambiental e desempenho energético de 16 salas de aula em três cenários: (1)
uso exclusivo de ventilação natural, (2) uso da ventilação natural associada ao uso dos ventiladores e (3) uso
de ventilação natural associada ao uso de ar condicionado. Os resultados das simulações indicam que o
conforto térmico é atingido em 62% das horas de operação das salas de aula para o Cenário 1, e o percentual
aumenta à medida que são introduzidas ações de melhoria do conforto térmico. No Cenário 2 a introdução
dos ventiladores permite subir para 74% este percentual enquanto no Cenário 3 com a introdução do ar
condicionado este percentual sobe para 86%. A introdução destas tecnologias ativas melhora o conforto
térmico, mas consequentemente aumenta a intensidade de consumo energético das salas. O EUI do Cenário 3
chega a ser 85% superior ao do Cenário 1.
Uma análise mais próxima dos ganhos de calor nos ambientes indica que as envoltórias, e no contexto
destas principalmente as janelas, representam um parcela significativa do ganho de calor nas salas de aula.
No contexto das salas de aula a contribuição do componente pessoas no ganho de calor também é bastante
relevante visto ter um associação direta com o tipo de uso do espaço.
Do ponto de vista do desempenho energético observa-se a possibilidade de melhoria da eficiência dos
sistemas de ar condicionado e iluminação artificial. Do ponto de vista da performance térmica, observa-se a
possibilidade de melhoria principalmente do sistema de janelas, onde foi identificado o potencial de aumento
das horas de atendimento ao conforto térmico com consequente diminuição dos valores de intensidade do
uso de energia. Conhecer estas potenciais melhorias abre oportunidade real de ações voltadas para eficiência
energética da edificação e em uma visão mais ampliada abre caminho para o estudo termo-energético de
outros prédios da instituição de ensino superior, o que permitirá no futuro o desenvolvimento de políticas
internas de eficiência energética na instituição.

1358
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT, N. NBR 16401. Instalações de ar condicionado–sistemas centrais e unitários. Associação Brasileira de Normas Técnicas,
2008.
AMORIM, C. N. et al. Avaliação do módulo educacional edifício Fiocruz–Brasília: uso da luz natural e eficiência energética. XI
Encontro Nacional e VII Encontro Latino-americano de Conforto no Ambiente Construído. Búzios, RJ, 2011.
ASHRAE, A. Standard 55-2004, Thermal environmental conditions for human occupancy. American Society of Heating,
Refrigerating and Air-Conditioning Engineering, Atlanta, GA, 2004.
BENAVIDES, J. R. R. A auditoria energética como ferramenta para o aproveitamento do potencial de conservação da
energia: o caso das edificações do setor educacional. PhD Thesis—[s.l.] Universidade de São Paulo, 2014.
DE MENDONÇA LEITE, L.; VILLA, A. A. O.; DA COSTA, J. Â. P. Estudo do Consumo Energético de um edifício de Ensino
Superior em Alagoas-Brasil. CIENTEC-Revista de Ciência, Tecnologia e Humanidades do IFPE, v. 9, n. 3, 2018.
DOE. EnergyPlus Engineering Reference. USA: Department of Energy, mar. 2019.
FRANDOLOSO, M. A. L. et al. Avaliação do desempenho térmico e da eficiência energética no parque construído da universidade
de Passo Fundo-RS. ENTAC 2010, v. 13, p. 2010, 2010.
GONÇALVES, J. C. S. (ORG); BODE, K. (ORG). Edifício Ambiental (Environmental Building). São Paulo: Oficina de Textos,
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INMETRO. Anexo geral V da Portaria INMETRO No 50/2013- Catálogo de propriedades térmicas de paredes, cobertura e
vidros, 2013. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/consumidor/produtosPBE/regulamentos/AnexoV.pdf>. Acesso
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Disponível em: <http://www.pbeedifica.com.br/etiquetagem/residencial/regulamentos>. Acesso em: 21 jun. 2019.
LABEEE. Arquivos climáticos em formato TRY, SWERA, CSV e BIN (TRY, CSV and BIN Weather files). Disponível em:
<http://www.labeee.ufsc.br/downloads/arquivos-climaticos/formato-try-swera-csv-bin>. Acesso em: 15 jan. 2016.
LIDDAMENT, M. W. Air infiltration calculation techniques: An applications guide. [s.l.] Air Infiltration and Ventilation Centre,
1986.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Centro Universitário Una pelo fornecimento dos dados do edifício e pelo financiamento do
Projeto de Iniciação Científica do qual este estudo foi parte integrante.

1359
O IMPACTO DA PRESENÇA DE EDIFÍCIOS ALTOS NA EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA DE UNIDADES HABITACIONAIS NO ENTORNO
IMEDIATO
Samuel B. M. Nazareth (1); Renan C. V. Leite (2); Amando C. Costa Filho (3); Tainah Frota
Carvalho (4)
(1) Mestrando, Arquiteto e Urbanista, bmnsamuel@gmail.com, Universidade Presbiteriana Mackenzie
(2) Doutor, Professor, Arquiteto e Urbanista, renancid@bol.com, Universidade Federal do Ceará
(3) Doutor, Professor, Arquiteto e Urbanista, amandocosta@unifor.br, Universidade de Fortaleza
(4) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, tainahfrota@arquitetura.ufc.br, Universidade Federal do Ceará

RESUMO
O clima urbano tem influência direta na eficiência energética das construções e em seu entorno imediato,
entretanto, é sabido que ainda há muito o que se desenvolver na promoção de projetos urbanos
multidisciplinares integrados que levem em consideração a necessidade do usufruto pleno do espaço urbano
pelo cidadão, sobretudo em relação às variáveis ambientais insolação, ventilação e iluminação naturais. Tais
condicionantes têm impactos significativos na eficiência termoenergética de edifícios habitacionais e de
serviços. Este estudo tem como objetivo analisar o impacto de um edifício vertical em altura (condomínio A)
no contexto urbano sob o viés da ventilação natural. Paralelamente, avalia-se o conforto térmico no interior
de habitações de um edifício no entorno imediato deste a partir do índice da ASHRAE 55 (2004). A
metodologia aplicada neste artigo se inicia com o levantamento tridimensional do local de estudo separando
em dois cenários de análise, um o qual o edifício alto existe e outro sem sua construção. Posteriormente,
realiza-se análise a partir de simulações fluidodinâmica com um contexto urbano, objetivando aferir a
provável pressão nas esquadrias em um edifício a sotavento do condomínio A (condomínio B), seguindo,
portanto, a simulações fluidodinâmicas no interior dessas habitações; simulações de ganhos térmicos e
sombreamentos, respectivamente. Concluindo, portanto, que a construção do condomínio A aumentou o
tempo de conforto do condomínio B em consequência de seu sombreamento de acordo com o método
adaptativo da ASHARAE (2004). Todavia, as velocidades encontradas no condomínio B após a construção
do condomínio A revelam baixas velocidades, revelando a importância dos protetores solares nesta
localização.
Palavras-chave: Ventilação natural, conforto térmico, eficiência energética, radiação solar.

ABSTRACT
The urban climate has a direct influence on the energy efficiency of buildings and their immediate
surroundings, however, it is known that there is still much to develop in the promotion of integrated
multidisciplinary urban projects that take into account the need for full use of urban space by the citizen ,
especially in relation to environmental variables such as natural insolation, ventilation and lighting. Such
determinants have a significant impact on the thermoenergy efficiency of residential buildings and services.
This study aims to analyze the impact of a vertical building in height (condominium A) in the urban context
under the bias of natural ventilation. At the same time, the thermal comfort within the dwellings of a building
in the immediate surroundings of this building is evaluated from the index of ASHRAE 55 (2004). The
methodology applied in this article starts with the three-dimensional survey of the study site separating into
two analysis scenarios, one of which the tall building exists and the other without its construction.
Subsequently, an analysis of fluid dynamics simulations with an urban context is carried out, aiming to
verify the probable pressure in the frames in a building to leeward of the condominium A (condominium B),
followed, therefore, to fluid dynamics simulations inside these dwellings; simulations of thermal gains and
shading, respectively. In conclusion, therefore, the construction of condominium A increased the comfort
time of condominium B as a consequence of its shading according to the adaptive method of ASHARAE

1360
(2004). However, speeds encountered in condo B after the construction of condominium A reveal low
speeds, revealing the importance of sunscreens at this location.
Keywords: Natural Ventilation, Thermocomfort, Energy efficiency, Solar radiation.

1. INTRODUÇÃO
Nas grandes cidades brasileiras, a dinâmica acelerada do crescimento urbano e uma legislação pouco eficaz
na orientação e controle deste desenvolvimento impedem, muitas vezes, a adequação bioclimática do espaço
construído. A ventilação natural e a insolação são duas variáveis climáticas estruturalmente alteradas pela
influência da forma urbana. O tipo de ocupação do solo e a forma dos edifícios geram obstáculos ao vento e
a radiação solar, modificando seu comportamento e a possibilidade de aproveitamento de seu potencial para
a eficiência energética de edificações.
Acioly e Davidson (1998) comentam que a densidade urbana é um assunto controverso, complexo e
por muitas vezes confuso. Decisões tomadas no âmbito urbano podem ter impactos significativos no meio
ambiente, no processo de desenvolvimento da cidade e na saúde e produtividade de seus cidadãos. Os
mesmos autores ainda completam que a falta de iluminação e ventilação natural acrescidos às elevadas taxas
de umidade do ar, resíduos sólidos e vetores de doenças são alguns dos fatores que aumentam os riscos e
susceptibilidade às doenças no meio urbano.
A densificação urbana constitui um meio de alcance de uma sustentabilidade econômica, social e
ambiental. No entanto, comumente o desenvolvimento do projeto urbano revela o descaso com as
características ambientais locais, reverenciando uma sociedade de consumo que não promove um projeto
integrado às necessidades da utilização de meios passivos de resfriamento e iluminação (CÓSTOLA, 2001).
Os impactos da densificação urbana variam de acordo com as condicionantes locais, bem como a
latitude do local. Ao se edificar em altura, diminui-se o fator visão de céu e bloqueia-se o sol, assim,
impedindo que haja radiação solar direta em algumas superfícies. Li e Wong (2007), verificaram que as
obstruções urbanas podem afetar diretamente edifícios de escritórios, uma vez que com a diminuição do fator
visão de céu, existe uma redução da carga térmica interna absorvida.
O Brasil possui, em alguns municípios, um processo de agravação de problemas socioambientais em
consequência de diretrizes urbanísticas e de construção civil que são potencialmente lesivas ao ambiente
urbano. A cidade de Fortaleza, em função dos ventos constantes durante todo o ano, que sopram nos sentidos
de leste e sudeste, com médias de velocidades acima dos 4,0 m/s, apresenta potencial para aproveitamento da
ventilação natural para arrefecimento do espaço urbano e de edificações. Além disso, há que se considerar
que a capital cearense localiza-se próxima ao equador, que por sua vez determina elevados índices de
radiação solar, contribuindo para elevação da temperatura do ar e altas taxas de evaporação, além de intensa
luminosidade.
Neste trabalho se focou no estudo do impacto de um edifício alto, com aproximadamente 70 metros,
aqui denominado de condomínio A, sobre o conforto térmico de ocupantes de uma segunda construção,
denominada condomínio B, que se encontra na região a sotavento deste primeiro. Atentando-se
principalmente para as perturbações aerodinâmicas no contexto urbano e como elas refletem em uma
possível diminuição ou aumento do fluxo de ar no interior de unidades habitacionais, bem como as perdas ou
os ganhos de carga solar em decorrência do sombreamento do condomínio A.

2. OBJETIVO
Avaliar os impactos da presença de um edifício alto no conforto higrotérmico de ocupantes de um edifício de
menor porte localizado em seu entorno a partir de simulações computacionais combinadas da ventilação
natural e do desempenho termoenergético.

3. MÉTODO
Metodologicamente, partiu-se da caracterização do objeto de estudo, sua modelagem e preparação das
simulações computacionais em etapas distintas e sequenciais, variando a escala de análise e o enfoque em
relação a cada variável ambiental analisada. As informações obtidas em cada das etapas alimentam a
simulação seguinte, produzindo resultados mais precisos e adequados do ponto de vista de cada fenômeno
físico envolvido. Os softwares utilizados neste estudo foram o AutoCAD para desenho e modelagem dos
modelos estudados e o Ansys em seu modo de análise CFX, utilizando o método de elementos finitos para
produzir uma malha desestruturada tetraédrica com uma cama de prismas para melhor aferir o
desprendimento da camada limite dos objetos de estudo. Por fim, o Rhinoceros 3D foi utilizado para
simulação de tempo de horas de sol e o software DesignBuilder foi empregado para a realização do cálculo

1361
de ganhos térmicos levando em consideração o entorno imediato e as propriedades físicas dos materiais de
construção. Foi seguido os passos a seguir (Figura 1).

Figura 1 - Passos da metodologia aplicada


A fim de compreender o impacto do condomínio A no contexto urbano e no condomínio B,
construiu-se dois cenários, um aonde o novo condomínio não existe e outro o qual foi construído. Após
levantamento de dados das construções da área de análise, modelou-se com o uso da ferramenta AutoCAD as
volumetrias dos entornos sem e com condomínio A. Portanto, com este modelo, se simula, respectivamente,
ventilação urbana, tempo de sol, ventilação no interior das habitações e conforto térmico. Realizou-se duas
simulações fluidodinâmicas urbanas, oito simulações fluidodinâmicas no interior das habitações, quatro
simulações relativas ao sombreamento da região e ganhos solares nas esquadrias do condomínio B e oito
simulações de desempenho térmico em 4 habitações do condomínio B.

3.1. Caracterização do objeto de estudo


O objeto de estudo se encontra na região leste da capital cearense. Identifica-se na região o potencial de
aproveitamento da ventilação natural, uma vez que os prédios se encontram próximos a um parque de
grandes dimensões na cidade e que, portanto, não concentra grandes obstáculos construídos nos principais
sentidos dos ventos da cidade, leste e sudeste
O condomínio residencial analisado possui duas torres com 20 pavimentos tipo, dois apartamentos por
andar e 4 pavimentos de sobressolo com aproximadamente 12 andares de altura, que por sua vez se apresenta
totalmente selado a barlavento. Os pavimentos de sobressolo estão afastados 3 metros em relação ao muro de
divisa entre os condomínios estudados e a aproximadamente 5 metros do condomínio B (Figura 2 e 3). Este
conjunto edificado foi denominado condomínio A.

Figura 2 - Localização do entorno e objeto de estudo. Em Figura 3 - Nomenclatura dos adotada dos objetos de estudo
amarelo: Entorno imediato considerado; Em vermelho: Objetos
de estudo
A sotavento do condomínio A existe uma edificação de menor porte, datada da década de 1980, com
8 pavimentos, 6 apartamentos por andar e uma área de lazer entre prédios, denominado condomínio B. Para
melhor caracterizar as construções, o condomínio B foi dividido em torre norte e torre sul conforme as
figuras 3 e 4. O condomínio A segue estas mesmas características de nomenclatura.

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3.2. Simulações computacionais
Com o aumento da capacidade computacional as simulações se fazem cada vez mais presentes e necessárias
para o melhor planejamento urbano e arquitetônico. Com estas ferramentas é possível analisar, com um bom
nível de precisão, prováveis impactos ambientais que podem ocorrer com um edifício desde a escala da
cidade até o ambiente interno das edificações.
No caso da ventilação natural, a dinâmica dos fluidos computadorizada, mais conhecida pela sigla
CFD (Computacional Fluid Dynamics), proporciona uma análise qualitativa e quantitativa do desempenho
da ventilação natural em várias fases do projeto.
Este estudo se utiliza dessas ferramentas para analisar o objeto de estudo em etapas distintas. Em um
primeiro momento foi aplicada a simulação fluidodinâmica para avaliar a ventilação natural desde a escala
urbana e verificar os efeitos aerodinâmicos do condomínio A sobre as fachadas do condomínio B, extraindo
dados de pressões sobre as esquadrias deste último.
Nas análises dos dados do estudo fluidodinâmico é necessário a criação de um local para a interação
do fluido com os objetos de estudo, denomina-se domínio, o qual foi construído seguindo as proporções de
Cost (2004) em um domínio circular (Figura 6). Para aproximar a simulação a um ambiente urbano, utiliza-
se a Equação 1 (BRE 1978) para emular o gradiente do vento a partir da rugosidade do meio. Considerou-se
a região de implantação do objeto de estudo como campo dotado de obstáculos esparsos com coeficientes de
k = 0,52 e a = 0,20 e com a velocidade inicial de 4.5 m/s. Nesta primeira simulação busca-se as pressões no
centro das esquadrias externas do condomínio B.

Figura 6 - Modelagem e domínio circular.

𝑉 = 𝑉𝑀 × 𝐾 × 𝑍 𝑎 Equação 4
Onde:
V = velocidade média do vento à determinada altura [m/s];
Vm = velocidade inicial de referência do estudo [m/s];
z = altura determinada [m];
k, a = coeficientes de rugosidade do terreno.
Em um segundo momento, tomando como base estes dados, simulou-se o comportamento da
ventilação natural no interior dos apartamentos. Considerou-se as janelas com 50% de abertura lateral e
100% das portas internas abertas. Utilizou-se uma malha desestruturada composta por tetraedros adicionada
de cinco camadas de prismas sobre as paredes da unidade habitacional para apreender o fenômeno de
desprendimento da camada limite. Com estas simulações, foi possível monitorar a velocidade interna em
diversos cômodos das quatro unidades habitacionais. Três pontos foram posicionados de forma equidistante
no centro de todos os ambientes a fim de aferir uma velocidade média do ar, como demonstrado na figura 7.

Figura 7 - Representação das habitações estudadas, sul e norte, respectivamente. 1


Sala; 2 Quarto 1; 3 Banheiro compartilhado; 4 Quarto 2; 5 Quarto suíte; 6 Banheiro
suíte; 7 Dependência de empregada; 8 área de serviço e cozinha.

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Uma segunda variável possível de extração de simulações fluidodinâmicas é o fluxo ou vazão
mássica, que pode ser transformado em trocas de ar por hora a partir da Equação 2, a seguir. Tal informação
é fundamental para análises de desempenho térmico de edifícios naturalmente ventilados nos trópicos
(BITTENCOURT 1997).

𝐴𝑐 = (𝑀𝑓𝑠 ⋅ 3600 ⋅ 1,204) ÷ 𝑉𝑑 Equação 2


Onde:
𝐴𝑐 = Trocas de ar por hora [m³/h];
𝑀𝑓𝑠 = Fluxo de massa de saída [Kg/s];
3600= Quantidade de segundos em uma hora [s];
1,204 = Densidade aproximada do ar a 20ºC;
𝑉𝑑 = Volume do domínio [m³].
Bittencourt (1997) também aponta que o sombreamento é importante para o conforto térmico de uma
edificação em clima tropical. Em um quarto momento foi simulado as sombras do contexto urbano para a
compreensão de como o condomínio A afeta a disponibilidade de insolação ao condomínio B. Estas
simulações de sombreamento, outra etapa do presente estudo, foram realizadas no software Rhinoceros com
seu complemento, Grasshopper utilizando um plug-in Ladybug. Os dias escolhidos para este estudo foram
nos solstícios de verão e inverno no período diurno.
Finalmente, a última etapa de simulação, que se refere aos cálculos de desempenho térmico, foi
realizada pelo programa DesignBuilder em sua versão de testes. O arquivo climático utilizado foi o ano teste
de referência (TRY) de Fortaleza, Ceará. Os edifícios no entorno imediato do condomínio B foram
simulados como elementos adiabáticos, servindo, portanto, como bloqueio solar (Figura 8 e 9). O material
utilizado para as paredes de todos os modelos simulados foram paredes simples de tijolo 8 furos com
transmitância térmica de 2,238 W/m²k, o vidro utilizado foi simples de 3 mm com fator solar de 0,81.
Ganhos térmicos utilizados para esta simulação foi 50 W/m2, considerando a soma da energia produzida por
uma rotina composta por quatro usuários em atividade sedentária somados ao ganho energético dos
equipamentos típicos de uma residência. A ventilação natural se faz presente em todas as simulações,
considerando janelas de correr com 50% de abertura e com as devidas trocas de ar por hora determinadas
pelas simulações fluidodinâmicas realizadas na etapa anterior.
Portanto, os resultados comparados são as temperaturas operativas resultantes de toda habitação
comparados com o índice adaptativo da ASHRAE (2004) (Equação 3). Os resultados são analisados em
termos de quantidade de horas dentro do limite da zona de conforto, esta zona de refere a um intervalo de 2,5
graus para mais (Desconforto por calor) ou menos da temperatura média mensal (Desconforto por frio) do ar
externo (Figura 10).

Figura 8 - Modelo de análise DesignBuilder com condomínio A Figura 9 - Modelo de análise DesignBuilder sem condomínio A

𝑂𝑇𝑁 = 17,8 + 0,32 × 𝑇𝑚𝑚 Equação 3

Onde:
𝑂𝑇𝑁 = Temperatura operativa neutra [ºC];
Tmm = Temperatura média mensal do ar externo [ºC].

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Figura 10 - Área de conforto segundo cálculo do índice adaptativo da ASHRAE 55 em Fortaleza.

4. RESULTADOS
O índice adaptativo da ASHRAE indica que houve um ganho no tempo de conforto térmico no interior das
habitações do condomínio B como pode ser percebido na tabela 1. Ressaltando principalmente este aumento
nos primeiros andares das torres norte e sul.

Tabela 1 – Tempo de conforto na unidade habitacional com e sem condomínio A


TEMPO DE CONFORTO SEM CONDOMÍNIO A TEMPO DE CONFORTO COM CONDOMÍNIO A
LOCALIZAÇÃO
CONFORTO CALOR FRIO CONFORTO CALOR FRIO

PRIMEIRO
5206 HORAS 3546 HORAS 8 HORAS 6082 HORAS 2671 HORAS 7 HORAS
ANDAR SUL

ÚLTIMO
5482 HORAS 3270 HORAS 8 HORAS 6121 HORAS 2631 HORAS 8 HORAS
ANDAR SUL

PRIMEIRO
5060 HORAS 3693 HORAS 7 HORAS 5853 HORAS 2899 HORAS 8 HORAS
ANDAR NORTE

ÚLTIMO ANDAR
5436 HORAS 3314 HORAS 8 HORAS 5879 HORAS 2872 HORAS 9 HORAS
SUL

As figuras de 11 a 14 representam o tempo de insolação de forma comparativa, com o condomínio A


e sem condomínio A durante 12 horas do dia, das 6 da manhã as 18 horas nos solstícios de verão e inverno.
No solstício de inverno (Figuras 12), em um primeiro momento, antes da construção do condomínio
A, havia poucas horas de insolação direta na fachada leste dos edifícios do condomínio B. Após a construção
do empreendimento a frente, o tempo de sombra se intensificou, principalmente nas fachadas a leste (figura
14).

Figura 11 - Tempo de sol 21/12 de 6 às 18 horas sem Figura 12 - Tempo de sol 21/06 de 6 às 18 horas sem
condomínio A condomínio A

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No solstício de verão (figuras 13) o condomínio B se encontra com áreas aonde não haveria
insolação direta durante todo o dia, em contrapartida, antes da construção do obstáculo, estas edificações
recebiam insolação plena durante todo o dia (figura 11).

Figura 13 - Tempo de sol 21/12 de 6 às 18 horas com Figura 14 - Tempo de sol 21/06 de 6 às 18 horas com
condomínio A condomínio A
A Figura 15 demonstra graficamente os ganhos de radiação solar nas esquadrias o condomínio B
antes e depois da construção do condomínio A durante um ano inteiro. Com diminuições na ordem de 47%
no primeiro andar, esta é a habitação mais sombreada.

Figura 15 - Comparativo de ganhos solares com e sem condomínio A


A partir da simulação da ventilação na escala urbana foi possível determinar as pressões nas
esquadrias do condomínio A nós dois cenários: com a presença do condomínio A, nas tabelas 3 e 5, e sem o
condomínio A, nas tabelas 2 e 4.
As tabelas 2 e 3 reiteram, ainda, a diminuição abrupta das pressões nas esquadrias no primeiro e no
último pavimentos, demonstrando diferenças de até maiores que 12 Pa decorrentes da presença do
condomínio A, que alterou sobremaneira o comportamento do vento sobre a fachada principal do
condomínio B ao inverter o campo de pressões sobre esta.

Tabela 2 - Pressão nas esquadrias do prédio sul sem a obstrução do condomínio A.


Prédio Sul Sem Condomínio A
Pressões
Esquadrias
Primeiro Pavimento Último Pavimento
Janela Sala 13,11 Pa 14,30 Pa
Janela Quarto 12,42 Pa 12,89 Pa
Janela Banheiro Compartilhado 12,15 Pa 12,59 Pa
Janela Quarto 2 10,41 Pa 12,85 Pa

Janela Quarto Suíte 5,40 Pa 10,78 Pa

Janela Banheiro Suíte -1,11 Pa -1,29 Pa

Janela Dependência Empregada -1,11 Pa -1,33 Pa

Janela Área de Serviço -1,11 Pa -1,29 Pa

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