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BIO E NANOMATERIAIS
Katielly Tavares Dos Santos
Rafael Misael Vedovatte

Bio e nanomateriais

1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2019

2
© 2019 POR EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S.A.
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Beatriz Meloni Montefusco
Daniella Fernandes Haruze Manta
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Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Vedovatte, Rafael Misael


V416b  Bio e nanomateriais/ Rafael Misael Vedovatte, Katielly
Tavares Dos Santos – Londrina: Editora e Distribuidora
Educacional S.A. 2019.
150 p.
ISBN 978-85-522-1636-0
1. Evolução dos materiais. 2. Estruturas cristalinas. I. Vedovatte,
Rafael Misael. II. Santos, Katielly Tavares Dos. Título.
CDD 620

Thamiris Mantovani CRB-8/9491

2019
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/

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BIO E NANOMATERIAIS

SUMÁRIO
Apresentação da disciplina 5

Definição e classificação de biomateriais 7

Propriedades mecânicas dos biomateriais para


aplicações em próteses internas e externas 29

Biomateriais metálicos, cerâmicos e


poliméricos: estrutura e propriedades 46

Introdução à nanociência e nanotecnologia,


tipos e classificação de nanomateriais 69

Síntese eletroquímica de materiais nanoestruturados


e nanomateriais magnéticos 88

Filmes nanoestruturados, nanocompósitos


de matriz polimérica e argila lamelar 108

Incorporação de nanomateriais e
nanotecnologia com o meio ambiente 130

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Apresentação da disciplina

Esta disciplina vai tratar dos diferentes materiais referentes a Bio e


Nanomateriais que são assuntos que estão altamente em foco no meio
tecnológico, com muitas pesquisas envolvendo estes tipos de materiais
e, como consequência, há muitos investimentos. Os biomateriais
estão sendo amplamente utilizados na área da saúde, seja ela qual
for a aplicação médica, dentária ou outras diversas. Os nanomateriais
estão sendo largamente usados na área eletrônica, como dispositivos
eletrônicos e de alta tecnologia. Além disso, os nanomateriais
também são utilizados em biomateriais. Assim, no final das contas,
uma tecnologia vai se juntando a outra e a evolução dos conceitos
tecnológicos vai acontecendo.

Para os biomateriais, é importante conhecer o conceito, como eles são


classificados, quais são os tipos de classificação, quais são as aplicações
que eles têm, como eles são denominados, como eles são aplicados,
o que deve ser tratado, qual é a relevância de um biomaterial para
um implante e o que significa biocompatibilidade (interação, resposta
biológica dele com o organismo onde ele é implantado) e como toda
essa situação vai melhorar a condição de vida do ser vivo que recebeu
o implante.

Já na parte de nanomateriais, é importante conhecer seu conceito, qual


é a diferença entre eles e os outros materiais, como os micromateriais.
É importante também saber distinguir um nanomaterial e saber
quais são os meios mais comuns de aplicação. Também é relevante
o conhecimento da trajetória histórica para a criação/descoberta dos
nanomateriais – como o nanotubo de carbono –, do desenvolvimento
à aplicação desses materiais, as inovações tecnológicas, tendências e
consequências de sua aplicação.

No final, os bio e nanomateriais estão interligados, porque o mercado


já desenvolveu os bionanomateriais, que nada mais são do que

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nanomateriais mas que têm biocompatibilidade com organismos vivos.
Ou seja, podem ser implantados/usados como fármacos, fazendo o
transporte de uma quantidade exata de medicamento para um local
específico do organismo.

Assim, conseguimos compreender como estes assuntos de biomateriais


e de namomateriais podem ser complementares e trazer inúmeros
benefícios, apesar de suas diferenças. Compreendemos melhor quais
são as características desses materiais, como eles são aplicados, quais
inovações tecnológicas vem aí, como eles já são aplicados e quais são os
potencias de aplicação.

Bons estudos!!

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Definição e classificação
de biomateriais
Autora: Katielly Tavares dos Santos

Objetivos

• Compreender a definição e classificação dos


biomateriais.

• Entender a evolução histórica dos acontecimentos


até a descoberta dos biomateriais.

• Compreender as relações entre biomateriais


e a resposta biológica.

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1. Biomateriais: definição

Os materiais, em geral, podem ser basicamente divididos três grandes


categorias: metais, cerâmicas e polímeros. Eles são classificados,
principalmente, em função das características das ligações químicas
entre os átomos e das propriedades químicas e físicas apresentadas.
Contudo, outras classes de materiais vêm apresentando destaque na
ciência, como os compósitos, os materiais inteligentes e os biomateriais,
nosso objetivo de estudo (CALLISTER Jr.; RETHWISCH, 2016).

Em razão de suas especificidades, os biomateriais são considerados


uma classe especial de materiais. Por esse motivo, podem ser do tipo
metálico, cerâmico, pelomérico, compósitos ou do tipo recobrimento.
Assim, podemos definir biomaterial como um material, ou combinação
de materiais, natural ou não, utilizado para substituir, total ou
parcialmente, sistemas biológicos.

Além disso, os biomateriais compreendem um campo extenso que


tem sido desenvolvido de forma significativa e constante nos últimos
anos, abrangendo aspectos da medicina, biologia, química e ciência de
materiais. Os biomateriais têm sido utilizados para diversas aplicações,
tais como substitutos de sistemas biológicos, abrangendo placas ósseas,
cimento ósseo, ligamentos e tendões artificiais, implantes dentários para
fixação de dentes, próteses de vasos sanguíneos, válvulas cardíacas,
tecido artificial, lentes de contato e implantes mamários.

Justamente por isso, dizemos que materiais desse tipo devem ser
biocompatíveis, ou seja, provocar a menor reação possível quando
utilizados em um organismo. É importante ressaltar que esses tipos
de materiais são projetados para um fim específico, ou seja, podem
apresentar biocompatibilidade para uma função e não compatível a outra.

Para a escolha adequada e correta de um material biocompatível,


deve-se inicialmente verificar as propriedades necessárias que
esse material deve apresentar. Para isso, é de suma importância

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compreender a relação entre a microestrutura apresentada com as
propriedades obtidas.

Escolher adequadamente o material é apenas o primeiro passo para o


sucesso de sua aplicação. Contudo, o caminho para a escolha adequada
do material e o desenvolvimento do projeto é longo, passando pelas
etapas de fabricação, obtenção ou síntese, testes bioquímicos e
biológicos. E ainda, para caracterizar um material como biomaterial, e
garantir o sucesso na utilização, ele deve passar por algumas etapas de
testes específicos, denominados in vitro e in vivo.

ASSIMILE
In vitro – que apresenta significado “em vidro”, é uma
expressão designada a processos biológicos executados
externamente aos sistemas vivos, em ambientes
laboratoriais fechados, com condições controladas.
In vivo – apresenta significado “dentro do vivo”, está
relacionado com experimentos realizados no interior de
organismos ou tecidos vivos.

Em um futuro próximo, é esperado que os biomateriais aumentem a


regeneração de tecidos naturais, promovendo assim a restauração dos
mecanismos estruturais, funcionais, metabólicos e comportamento
bioquímico, bem como desempenho biomecânico.

1.1 Classificação dos biomateriais

Podemos classificar os biomateriais de duas formas: através de seu


comportamento biológico (baseada na resposta do organismo após o
implante do biomaterial) e de sua composição química (baseada nas
propriedades intrínsecas do biomaterial).

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Levando em consideração a resposta biológica causada pelos
biomateriais nos tecidos corpóreos, segundo a compatibilidade com os
tecidos adjacentes, podemos classificar os biomateriais por (PARK, 2007):

• Bioinerte: são inertes e não provocam reação no organismo onde


são implantados. Nesse caso, os implantes estão em contato
direto com o tecido e, mesmo assim, por serem inertes, não
ocorrem reações do tecido com o implante. Como exemplo temos
titânio, alumina, zircônio e carbono.

• Biotolerante: a aceitabilidade do implante com o organismo ocorre


de forma moderada. Nesse caso, normalmente ocorre a formação
de um tecido fibroso rodeando o implante. Como exemplo temos
aço inoxidável e a liga de cromo-cobalto.

• Bioativo: ocorre a interação química entre o implante e o tecido


ósseo. Como exemplo temos hidroxiapatita e vitro-cerâmicas.

• Bioreabsorvíveis: após um tempo de implantados, são absorvidos


pelo organismo. São interessantes para os casos em que é
desaconselhável uma intervenção cirúrgica para a retirada do
implante. Como exemplo temos fosfato tricálcico ou assumir
completamente a função dos tecidos não funcionais no
corpo humano são chamados de biomateriais. A utilização de
biomateriais na substituição completa ou parcial de órgãos e
tecidos danificados ou doentes, tem apresentado resultados
satisfatórios, melhorando a qualidade de vida e prolongando a
expectativa de vida média, aumentando ainda mais o interesse no
campo dos biomateriais (RATNER, 2013).

Embora o conteúdo de biomateriais seja um novo campo


interdisciplinar, suas aplicações datam de milhares de anos atrás.
Os olhos de vidro, narizes de metal e dentes de marfim descobertos nas
múmias egípcias são bons exemplos disso. E ainda, os lendários ganchos
de ferro e as pernas de madeira dos piratas também são exemplos bem
conhecidos. E mais, o crânio da mulher Tlailotlacan da antiga Teotihuacan.

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Figura 1 – Mulher da antiga Teotihuacan com implantes dentários

Fonte: Goguitchaichvili et al. (2017).

Da mesma forma, os substitutos ósseos de bronze e cobre datados


de antes de Cristo e projetados para serem implantadodos no
corpo humano também devem ser classificados como biomateriais.
Especialmente, os implantes feitos de cobre foram usados até
​​ meados
do século XIX, devido à falta de materiais melhores. Contudo, o cobre
acabou sendo substituído por aço inoxidável.

O uso de ouro na odontologia remonta há cerca de 2000 anos atrás.


Hipócrates menciona em seus escritos sobre fios de ouro sendo
usados como
​​ suturas para costurar tecidos juntos. Os aparelhos
preparados a partir de ossos de cadáveres e marfim, por volta de 1880,
para uso em ortopedia, também são classificados como biomateriais
(GOGUITCHAICHVILI et al., 2017).

No início da utilização de biomanterias para substituir partes doentes,


os tecidos e órgãos danificados rapidamente se infectavam e, por
isso, eram removidos cirurgicamente. A taxa de sucesso nesses
procedimentos cirúrgicos era bastante baixa devido à falta de
esterilização. Contudo, por volta de 1870, Joseph Lister mostrou a

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importância da esterilização e, após seu uso nas salas de operações,
os procedimentos cirúrgicos tornaram-se mais bem-sucedidos
(GOGUITCHAICHVILI et al., 2017).

Sendo assim, vemos que os biomateriais estão em uso desde os


primórdios da história, mas não eram chamados assim. Uma das
observações mais emocionantes que levou ao nascimento de um
campo completamente novo foi a do Perspex® (polimetilmetacrilato,
conhecido como PMMA), que eram lascas ou estilhaços encontrados
nos olhos de atiradores de elite da Segunda Guerra Mundial.
O Dr. Ridley, cirurgião, percebeu que essas lascas eram inertes com
o corpo humano, então comprou uma folha de Perspex Imperial
Chemical Industries (ICI) e usinou-a na forma de lentes, iniciando
a indústria de lente intra-ocular (IOL). Essas lentes Perspex®
foram usadas em pacientes com cataratas, cujas lentes naturais
perdiam sua transparência com o tempo, prejudicando a visão
(GOGUITCHAICHVILI et al., 2017).

Em linha similar, o Dr. John Charnley projetou o primeiro


implante de quadril total com cabeça femoral dirigida e corpos
de Teflon. Mas eles foram um desastre! Contudo, quando ele
substituiu o polímero por polietileno de ultra-alto peso molecular
(UHMWPE), os resultados foram tão bons que seu implante de
quadril foi comparado com um quadril moderno em termos de
vida clínica. Eles duraram de 10 a 15 anos. No final da Segunda
Guerra Mundial, outro médico e inventor, Dr. Wilhem Kolff, levou
embalagens de salsicha feitas de celulose, ligou-as a uma máquina
de lavar e dialisou o sangue de pacientes renais, salvando-os
de morte certa. Com o tempo, as propriedades exigidas de um
biomaterial foram claramente identificadas. O Quadro 1 mostra
resumidadmente o desenvolvimento do uso de biomateriais com a
evolução do tempo (LOURES, 2011).

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Quadro 1 – Olhar histórico sobre biomateriais

Ano Aplicação

600 a.C. Reconstrução nasal.


Uso de fios de ferro, ouro, prata e platina na estabilização de
XVIII/XIV
fraturas ósseas.
1860-1870 Uso de esterilização em procedimentos cirúrgicos.

1893-1912 Uso de pregos e placas de aço inoxidável em fixação de fratura.


Desenvolvimento de aço inoxidável vanádio resistente à corrosão e ligas de
1912
aço para aplicações médicas.
1926 Uso de parafusos no reparo da fratura do colo do fêmur.

1926 Preparação de ligas contendo molibidênio não corrosivo.

1931 Design de pregos de metal para uso nas fraturas do pescoço do fêmur.

1938 Primeira prótese total de quadril.

1940 Uso de acrílicos como substitutos da córnea.

1944 Desenvolvimento de sistemas de hemodiálise.


Uso de polímeros com propriedades mecânicas adequadas em prótese
1946
de quadril.
1952 Enxertos vasculares com materiais têxteis.

1953 Aplicação de balões intravasculares.

1958 Uso de cimento ósseo acrílico em prótese total de quadril.

1958 Primeira estimulação cardíaca bem-sucedida.

1960 Aplicação de válvula cardíaca.

1980s Aplicação de coração artificial.

1980s Dispositivos controlados por computador, materiais inteligentes.

1990s Engenharia de tecidos, desenvolvimento de tecidos artificiais e órgãos.

2000s Nanobiomateriais.

Fonte: adaptado de Loures (2011).

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PARA SABER MAIS
A impressão 3D é realidade em vários campos da
ciência, inclusive para biomateriais. Com o auxílio de
tinta biocompatível, os órgãos ou tecidos impressos
apresentam riscos baixos de rejeição. Leia mais sobre
isso no artigo Impressão 3D: inovações no campo da
medicina (MATOZINHOS, 2017).
Dessa forma, os estudos e aplicações mais recentes em
biomateriais estão voltadas para nanobiomateriais, com
o foco principal em desenvolvimentos de tratamentos de
superfície, administração de medicamentos e imagens,
utilizando biomateriais nanotécnicos, com as abordagens
nanotecnológicas que eram anteriormente utilizadas
apenas na indústria de eletrônicos.

1.2 Biomateriais e a resposta biológica

De acordo com o tipo de tecido a ser substituído no corpo, os


biomateriais podem ser geralmente categorizados em materiais duros,
utilizados na substituição de ossos (aplicações dentárias e ortopédicas),
ou materiais moles, utilizados em cirurgias cardiovasculares (coração e
vasos sanguíneos) e cirurgia plástica.

Os metais são utilizados como o primeiro grupo a ser considerado para


a substituição de tecidos duros, e os polímeros para a substituição
de tecidos moles. De fato, todos os três grandes grupos de sólidos
(metais, plásticos e cerâmicas) estão representados entre os materiais
de substituição óssea para várias aplicações, e novos compostos estão
surgindo em ritmo acelerado para oferecer substitutos próximos.

Em geral, dispositivos médicos e próteses são muitas vezes constituídos


de mais de um tipo de material. Por exemplo, a prótese de substituição

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da junção da cabeça femoral com o quadril, muitas vezes chamada
de anca (Figura 2), consiste principalmente em uma cabeça de metal
acoplada com um soquete de polietileno de ultra-alto peso molecular.

Figura 2 – Prótese de substituição da junção


da cabeça femoral com o quadril

Fonte: alex-mit/iStock.com.

O avanço da ciência e da tecnologia levou a um progresso considerável


no desenvolvimento de uma nova geração de implantes e dispositivos
médicos com melhor desempenho, em termos de materiais químicos,
propriedades mecânicas e características da superfície.

Dessa maneira, o uso de materiais na reconstrução de tecidos é para


fornecer estabilidade estrutural durante a cicatrização ou para substituir
o tecido comprometido. Não é de surpreender que inicialmente o
critério mais importante na escolha desses materiais era a inércia
química. Dependendo do grau de inércia de um material, a resposta
imunológica do corpo provoca encapsulamento fibroso do implante de
espessura variável. Geralmente, os materiais de implantes convencionais
apresentam força mecânica e tempo de vida, mas são biologicamente
inativos (quase inertes), ou seja, apresentam falta de ligação direta com o
tecido hospedeiro. Os implantes metálicos foram amplamente utilizados
em grandes aplicações de suporte de carga, como próteses de quadril e
implantes dentários devido às excelentes propriedades mecânicas.

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Materiais bioativos são conceitualmente diferentes dos materiais
bioinertes, pelo fato da reatividade química ser desejável e realmente
essencial. Os materiais bioativos (cerâmicas bioativas, vidros e
vitrocerâmicas) são capazes de promover a formação de osso em
sua superfície e criar uma interface que contribua para a longevidade
funcional do tecido.

Os fosfatos de cálcio são os principais constituintes do mineral ósseo.


A maioria do fosfato de cálcio é sintético e amplamente utilizado para
substituição óssea. A mais comum é conhecida como hidroxiapatita (HA),
de fórmula química Ca10(PO4)6(OH)2, em função de suas similaridades
químicas para o componente inorgânico de ossos e dentes. A Figura 3
apresenta a estrutura para a HA.

Figura 3 – Estrutura da Hidroxiapatita (HA)

Fonte: Kay et al. (1964), citado por Mavropoulos (1999).

Inicialmente, foi utilizado o aço inoxidável para cirurgias de substituição


precoce do quadril, mas com o avanço na tecnologia de processamento
de materiais, o aço inoxidável tem sido geralmente substituído por
ligas de cobalto e titânio. Apesar das preocupações com a corrosão
de metais, as ligas metálicas são os materiais utilizados nas principais
aplicações de próteses para o quadril. Por exemplo, ligas de titânio

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(Ti6Al4V) apresentam melhor resistência à corrosão em comparação
com o aço inoxidável (316 e 316L), e ligas de cobalto-cromo-molibdênio
(Co-Cr-Mo) têm sido usadas extensivamente como hastes artificiais
do quadril e dispositivos de fixação óssea. Embora essas ligas exibam
excelentes propriedades mecânicas em termos de resistência e
tenacidade, é um enorme desencontro entre os módulos elásticos
dessas ligas e do osso cortical (PIRES, 2015).

As ligas de titânio apresentam um módulo de elasticidade relativamente


baixo (110 GPa) em comparação com ligas de Co-Cr (230 GPa), mas
ainda são muito mais altas do que de osso cortical (até 30 GPa). Um
dos problemas dos implantes metálicos na prótese de quadril, como a
prótese de haste femoral, se dá no fato de que os implantes estão em
uma parte considerável do carregamento do corpo, que protege o osso
dos estresses necessários para manter sua força, densidade e “ estrutura
saudável”. Essa blindagem da força irá levar à reabsorção óssea e,
eventualmente, soltura do implante e falha do quadril artificial. Além
disso, os ions tóxicos (V3+ e Al3+) podem ser liberados no corpo e elevar
as preocupações da biocompatibilidade a longo prazo (BRANDÃO, 1997).

Dessa forma, a partir da compatibilidade de aspectos biomecânicos, o


material ideal deve não só ter rigidez compatível, mas também possuir
alta resistência mecânica e resistência à fadiga.

1.2.1 Materiais bioinertes e bioativos

Tanto os materiais não degradáveis ​​como os degradáveis são


utilizados para os reparos necessários no corpo humano, com a
utilização de biomateriais. Os materiais não degradáveis são utilizados
quando a estabilidade mecânica é essencial, tais como liga de Co-Cr
na haste femoral, cimento ósseo de PMMA e implante mamário de
silicone elastômero.

Sendo assim, uma ampla gama de materiais tem sido usada em


dispositivos médicos que reconstroem funções normais de um todo ou

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parte de uma estrutura viva. As escolhas dos materiais avançaram do
bioinerte ao bioativo e ao biorresponsivo. De maneira geral, podemos
dizer que os materiais bioinertes são aqueles que apresentam menor
risco de reação com o organismo em função de sua estabilidade
química. Já os materiais bioativos são aqueles que apresentam reações
biológicas específicas. E por fim, os materiais biorresponsivos são
aqueles sensíveis a sinais biológicos ou a anomalidades patológicas.

1.2.2 Biocompatibilidade

Os primeiros biomateriais (por exemplo, em cirurgia ortopédica e


odontológica) são quimicamente inertes, que foram considerados
compatíveis com o sistema fisiológico e meio ambiente por não
apresentarem reações químicas com o meio. O último entendimento
é que a biocompatibilidade se refere à capacidade de um biomaterial
desempenhar a função desejada em relação à terapêutica, sem provocar
quaisquer efeitos locais ou sistêmicos indesejáveis no
​​ beneficiário,
mas gerando a mais adequada resposta celular ou tecidulal benéfica
e otimizar o desempenho clinicamente relevante dessa terapia.
Atualmente, a biocompatibilidade é um dos principais critérios para a
sucesso clínico de um implante ou dispositivo (OLIVEIRA, 2010).

Um material que gera um efeito tóxico não será mais considerado


como material de implante suficientemente biocompatível. Tem de
executar ou integrar-se com o tecido hospedeiro apropriadamente.
A biocompatibilidade de um material está relacionada com uma
variedade de questões, como química, composição, micro/nano
estrutura, morfologia, cristalinidade, porosidade e características da
superfície dos materiais. Todos esses fatores apresentam impacto
no desempenho dos biomateriais, como perfil de liberação de íons e
toxicidade iônica, além das propriedades de corrosão para materiais
metálicos; e perfil de degradação, lixiviação, aditivos, catalisadores e
contaminantes para materiais poliméricos.

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Agora, o novo biomaterial de última geração visa estimular
respostas celulares específicas em nível molecular, através de
métodos embasados biologicamente. A capacidade de um material
promover interações desejáveis ​​determinará o resultado do teste de
biocompatibilidade, bem como o potencial dos novos materiais.

1.2.3 Biodegradabilidade

A relação entre materiais biodegradáveis ​​e as respostas do hospedeiro


é altamente complexa. O processo de degradação ou os produtos de
corrosão induzem a inflamação local e, ainda, os produtos de inflamação
podem, por sua vez, melhorar o processo de degradação. Portanto, as
respostas biológicas de metais biodegradáveis precisam
​​ ser totalmente
compreendidas. Por exemplo, a alta taxa de degradação do Mg em pH
fisiológico representa um grande desafio para a aplicação do material.

Acerca disso, recentemente, implantes de magnésio biodegradáveis ​​


atraíram interesse em aplicações cardiovasculares (stents) e
musculoesqueléticas (osteossíntese). No entanto, o sistema do corpo
humano deve ser capaz de remover os íons de Mg extra a uma taxa
alta, que pode não ser sustentável ao longo de um curto período de
tempo (CAUMO, 2016).

1.2.4 Biointerface

Para todas as aplicações de biomateriais, uma interface desejável entre


o material e o corpo é um dos critérios críticos para o potencial de
sucesso dos materiais. Para que ocorra a interação entre o organismo
e o biomaterial, as proteínas (principalmente) atuam como mediadoras
nas paredes celulares e os biomateriais. Proteínas reagem com a
superfície e passam mensagens para as células vivas, que reagirão
em conformidade. Entender completamente a mudança de proteínas
na interface é crucial na concepção de biointerfaces para melhorar a
proliferação e diferenciação de células vivas relevantes.

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O corpo humano considera o biomaterial como um “intruso”. Isso faz
com que uma série de reações químicas e físicas ocorram na interface.
Todo o processo começa com a adsorção de proteínas existentes no
plasma sanguíneo, como a albumina e fibrinectina na superfície do
material. Essa camada adsorvida fornece o modelo ideal para as células
agirem. As proteínas adsorvidas na superfície do biomaterial passarão
por mudança de conformação e orientação. Muitos fatores podem
afetar a adsorção de proteínas, incluindo as influências enzimáticas, as
propriedades hematológicas do hospedeiro e as propriedades físico-
químicas do material.

As propriedades físico-químicas das superfícies dos materiais de


implantes, como hidrofilicidade ou hidrofobicidade, tendem a afetar
a resposta do organismo, inflacionando a absorção de proteínas e a
ligação celular. Portanto, as propriedades da superfície dos materiais
podem ter um grande impacto no controle de biocompatibilidade de
novos biomateriais. A natureza e desenvolvimento de uma interface
estável, entre materiais implantados e tecido hospedeiro, é crítica
para o sucesso clínico do implante.

1.2.5 Nanomateriais

Os nanomateriais são parcialmente caracterizados em função de seu


tamanho, medido em nanômetros (nm). As partículas de tamanho
nanométrico existem na natureza e podem ser criadas a partir de
uma variedade de materiais, como carbono ou a prata. A maioria dos
materiais em nanoescala é pequena demais para ser vista a olho nu
ou mesmo com microscópios de laboratório convencionais. Quando
as partículas são reduzidas em escala nanométrica, há um aumento
considerável na área de superfície das nanopartículas, resultando
em mudanças nas propriedades de seus correspondentes materiais
em escala macro. Os aumentos resultantes na reatividade química
também levantam a questão da biocompatibilidade ou citotoxicidade
dos nanomateriais. A Figura 4 apresenta uma escala nanométrica
comparando o tamanho de estruturas.

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Figura 4 – Escala nanométrica

Fonte: Jeremias (2015, p. 14).

• Os materiais projetados para serem utilizados em escala tão


pequena podem assumir propriedades ópticas, magnéticas,
elétricas, entre outras, diferentes das que apresentariam em
escala macro. Essas propriedades emergentes têm o potencial
de grandes impactos em eletrônicos, medicamentos e outros
campos. Por exemplo: a nanotecnologia pode ser usada para
projetar e fabricar produtos farmacêuticos, cujo obetivo é atingir
órgãos ou células específicas do corpo, como células cancerígenas,
aumentando a eficácia do tratamento.

• Os nanomateriais também podem ser adicionados ao cimento,


tecido e outros materiais, modificando suas propriedades físicas e
mecânicas. Tais como: torná-los mais fortes e ainda mais leves.

• O tamanho apresentado pelos nanomateriais os tornam


extremamente úteis em eletrônicos, podendo ser utilizados
também ​​em remediação ou limpeza ambiental para ligar e
neutralizar toxinas (PASCHOALINO, 2010).

Sendo assim, existe um enorme potencial para aplicação de


nanomateriais no aprimoramento das funções de dispositivos médicos.

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Um estudo recente mostrou que nanopartículas de HA substituídas
foram capazes de inibir o crescimento de quatro cepas bacterianas,
sendo o primeiro passo no desenvolvimento de aparelhos odontológicos
e próteses ortopédicas multifuncionais (BOSSU, 2015).

Por fim, as nanopartículas estão sendo usadas para melhorar


a eficácia da entrega de drogas, como agentes de diagnóstico e
terapêuticos para detectar e tratar doenças em qualquer ser vivo.
O material biologicamente ativo pode ser adsorvido ou quimicamente
ligado à superfície das partículas ou incorporado nas partículas por
dissolução, aprisionamento ou encapsulamento. A exposição humana a
nanopartículas parece inevitável, por isso é importante a compreensão
das propriedades das nanopartículas e seus efeitos sobre o corpo,
cruciais para evitar toxicidade indesejável antes da aplicação clínica.

Com o avanço da ciência e engenharia de materiais, particularmente


nanotecnologia, novos materiais estão surgindo em um ritmo acelerado.
O design de novos materiais para atender aos novos desafios e a
compreensão das interações entre biomaterial e tecido hospedeiro é
altamente importante. A atenção precisa ser focada na interface entre
novos materiais e o hospedeiro biológico, que é fundamental para o
sucesso na aplicação clínica de novos materiais.

TEORIA EM PRÁTICA
A classificação de um biomaterial depende da resposta
biológica que o organismo oferece ao material de um
implante. Os materiais, em geral, podem ser classificados
como tóxicos e não tóxicos. Contudo, levando em
consideração apenas os biomateriais, eles podem ser
do tipo bioinertes, biorreativos e bioativos. E ainda,
Descouts et al. (1995) incluem mais categorias: materiais
bioartificiais e bioabsorvíveis.

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Observe a Figura 5, ela apresenta a estrutura de um
maxilar (hipotético) com materiais implantados divididos
em três regiões: materiais tóxicos (região vermelha),
materiais bioinertes (região amarela) e materiais
bioativos (região verde).

Figura 5 – Biocompatibilidade
de implantes odontológicos

Fonte: Hobkirk e Watson (1996).

Explique a diferença dos biomateriais implantados em


cada uma das regiões do maxilar, apresentando suas
propriedades, classificação e as funções aos quais
foram destinados.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. Os materiais, em geral, podem ser basicamente divididos
em três grandes categorias: metálicos, cerâmicos e
poliméricos. Eles são classificados, principalmente,
em função das características das ligações químicas
entre os átomos e das propriedades químicas e físicas
apresentadas. Contudo, outras classes de materiais vêm

 23
apresentando destaque na ciência, como os compósitos,
os materiais inteligentes e os biomateriais.
Os biomaterias podem ser classificados de duas
formas: comportamento biológico e composição
química. Assinale a alternativa que expresse,
respectivamente, as características de cada tipo de
classificação dos biomateriais.

a. Ligações químicas e propriedades intrínsecas do


biomaterial.

b. Resposta do organismo após o implante do


biomaterial e propriedades instrínsecas do
biomaterial.

c. Propriedades intrínsecas do biomaterial e resposta do


organismo após o implante.

d. Resposta do material quando implantado e


propriedades mecânicas do material.

e. Propriedades químicas e físicas do biomaterial.

2. Levando em consideração a resposta biológica


causada pelos biomateriais nos tecidos corpóreos,
segundo a compatibilidade com os tecidos adjacentes,
podemos classificar os biomateriais como bioinertes,
biotolerantes, bioativos e bioabsorvíveis. Quando ocorre
a interação química entre o implante e o tecido ósseo,
estamos falando de um biomaterial:

a. Bioinerte.

b. Bioativo.

24
24
c. Biotolerante.

d. Tóxico.

e. Bioabsorvível.

3. Em um futuro próximo, é esperado que os biomateriais


aumentem a regeneração de tecidos naturais,
promovendo assim a restauração dos mecanismos
estruturais, funcionais, metabólicos e comportamento
bioquímico, bem como desempenho biomecânico.
Assinale a alternativa que expresse a definição
de um biomaterial.

a. Biomaterial pode ser definido como um material


específico, natural, utilizado para substituir, total
ou parcialmente, sistemas biológicos.

b. Biomaterial pode ser definido como uma classe de


materiais naturais, utilizados para substituir, total
ou parcialmente, sistemas biológicos.

c. Biomaterial pode ser definido como um material


sintético, utilizado para substituir, total ou
parcialmente, sistemas biológicos.

d. Biomaterial pode ser definido como um material


específico, natural ou não, utilizado para substituir
parcialmente sistemas biológicos.

e. Biomaterial pode ser definido como um material,


ou combinação de materiais, naturais ou não,
utilizado para substituir, total ou parcialmente,
sistemas biológicos.

 25
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Campinas. Campinas, 2002.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: B

Resolução: Podemos classificar os biomateriais de duas formas:


através de seu comportamento biológico (baseada na resposta do
organismo após o implante do biomaterial) e de sua composição
química (baseada nas propriedades instrínsecas do biomaterial).
Questão 2 – Resposta: B

Resolução: Bioativo, onde ocorre a interação química entre o


implante e o tecido ósseo. Como exemplo temos a hidroxiapatita e
as vitrocerâmicas.

 27
Questão 3 – Resposta: E
Resolução: Biomaterial pode ser definido como um material, ou
combinação de materiais, naturais ou não, utilizado para substituir
(total ou parcialmente) sistemas biológicos.

28
28
Propriedades mecânicas dos
biomateriais para aplicações em
próteses internas e externas
Autora: Katielly Tavares dos Santos

Objetivos

• Compreender a definição das propriedades


mecânicas dos biomateriais.

• Compreender a aplicação das propriedades


mecânicas dos biomaterias.

• Compreender as relações entre próteses


internas e externas.

 29
1. Propriedades dos biomateriais

O comportamento descrito por um material é definido pelas


propriedades mecânicas que ele apresenta quando um carregamento
externo é aplicado, ou quando o material é solicitado. Saber como
o material irá reagir e sua capacidade de resistir a esforços é de
suma importância para a escolha adequada de um material no
desenvolvimento de um projeto ou na aplicação estrutural.

Na escolha de biomaterias para a implantação a situação não é


diferente. As propriedades que um biomaterial apresenta devem
ser levadas em consideração na seleção adequada do biomaterial.
Essas propriedades podem ser mecânicas, físicas, químicas,
biológicas e são importantes para entender o desempenho que
o biomaterial apresentará, não esquecendo da importância de
estudar o tipo de processamento ao qual o material foi submetido
em seu processo de fabricação.

As propriedades mecânicas dos materiais são aquelas em que o


comportamento mecânico descrito está relacionado com a deformação
que ele apresenta em função de uma carga aplicada. As propriedades
físicas são aquelas em que resulte em fenômenos físicos, elas podem
ser extraídas e analisadas sem que haja modificação na composição
química do material, como densidade, magnetismo, expansão térmica,
entre outras. As propriedades químicas estão relacionadas com a
capacidade de um material, ou substância, se transformar em outro
através de reações químicas, como oxidação e resistência à corrosão.
Já as propriedades biológicas estão relacionadas com a reposta do
organismo após o implante do biomaterial, como bioadesão e a
resposta imune (CALLISTER JR..; RETHWISCH, 2012).

Sendo assim, compreender as propriedades mecânicas dos


biomateriais, verificando os conceitos e aplicações, está diretamente
relacionado com a eficácia do implante.

30
30
1.1 Propriedades mecânicas dos biomateriais

Na Ciência dos Materiais, os biomateriais se enquadram como uma


classe especial dos materiais. Isso ocorre pelo fato de serem utilizados
para a substituição total ou parcial de algum órgão ou tecido do corpo
humano. Eles podem ser tanto metálicos quanto poliméricos ou
cerâmicos, dependendo da aplicação, utilização e das propriedades
mecânicas do biomaterial (GONÇALVES, 2011).

De modo geral, as propriedades mecânicas que um material apresenta


descrevem as características necessárias para sua utilização. Isto
é, conhecer as propriedades mecânicas de um material possibilita
a escolha correta no desenvolvimento de um projeto, com base na
resposta que ele dará aos esforços externos que serão aplicados.
Para os biomateriais, não ocorre de maneira diferente: é necessário
conhecer as propriedades mecânicas que eles apresentam para a
aplicação correta do biomaterial.

ASSIMILE
As propriedades mecânicas estão vinculadas com os
esforços mecânicos nos materiais. Dessa forma, para
analisar e obter as propriedades mecânicas, devemos
conhecer a relação entre força, tensão e deformação
de um material quando for solicitado.

As principais propriedades mecânicas que serão abordadas para


os biomaterias, são: limite de escoamento, limite de resistência à
tração, ductilidade, tenacidade à fratura, limite de fadiga, módulo
de elasticidade, resistência à fluência e resistência ao desgaste.
Além de analisar as propriedades mecânicas dos biomateriais,
também é importante conhecer o processo de fabricação pelo qual o
biomaterial passou.

 31
Cada propriedade mecânica é importante na análise do biomaterial, pois
está relacionada com as características que ele pode apresentar quando
solicitado. Dessa forma, é de suma importância conhecer a definição e
aplicação de cada uma delas (BEER et al., 2015).

• Limite de escoamento

O limite de escoamento caracteriza a região de transformação no tipo


de deformação que o material pode apresentar. Ou seja, antes do
limite de escoamento, a deformação é do tipo elástica; após o limite de
escoamento, a deformação é do tipo plástica. Contudo, na região de
limite de escoamento, as deformações elásticas e plásticas coexistem
(BEER et al., 2015).

Essa propriedade mecânica é uma tensão que, por definição, é obtida


através de um diagrama tensão/deformação. No início desse diagrama,
na região de deformação elástica, a curva é linear, e a lei de Hooke
se aplica. Para encontrar o limite de escoamento, deve-se traçar uma
reta paralela à região elástica da curva à 0,2% de deformação, o ponto
de intersecção da curva com a reta traçada será a tensão de limite de
escoamento, como mostra a Figura 1.

Figura 1 – Limite de escoamento em um


diagrama tensão/deformação

Fonte: Beer et al. (2015, p. 55).

32
32
O limite de escoamento também é chamado de tensão de escoamento
(σe), sua unidade no sistema internacional é Newton por metro
quadrado (N/m2), conhecida por Pascal (Pa).

• Limite de resistência à tração

O limite de resistência à tração, também chamado de tensão máxima


(σmáx), é a máxima tensão que um material suporta antes de seu
rompimento. Em um diagrama tensão/deformação, é o ponto máximo
da curva, como apresentado na Figura 2.

Figura 2 – Tensão máxima em um diagrama tensão/deformação

Fonte: elaborada pela autora.

A tensão máxima (σMáx) é obtida através da divisão da força máxima (FMáx)


obtida no ensaio pela área da seção transversal (A). E ainda, sua unidade
no sistema internacional é N/m2, também chamada de Pascal.

FMáx
σ Máx =
A

A Figura 2 também apresenta um dado importante na análise de um


material, a tensão de ruptura. A tensão de ruptura é a tensão ao qual o
material sofre a fratura por completo. Ela apresenta um valor menor

 33
que a tensão máxima para materiais dúcteis e um valor igual à tensão
máxima para materiais frágeis. Por ser uma tensão, sua unidade no
sistema internacional também é N/m2 = Pa.

• Ductilidade

A ductilidade de um material é uma propriedade mecânica que está


relacionada com a maleabilidade. Ou seja, é a capacidade do material
apresentar grandes deformações sem se romper. A deformação de
materiais na formação de fios é um exemplo de materiais dúcteis.
Os metais são exemplos de materiais dúcteis.

Contudo, materiais que não possuem essa propriedade são chamados


de frágeis. Esses apresentam pequenas deformações antes do
rompimento. Materiais cerâmicos são exemplos de materiais frágeis.

• Tenacidade à fratura

O módulo de tenacidade pode ser definido pela quantidade de energia


que o material absorve antes do rompimento. Podemos obter esse valor
através do cálculo da área sob a curva do diagrama tensão/deformação,
como apresentado pela Figura 3.

Figura 3 – Tenacidade de um material através


da análise do diagrama tensão/deformação

Fonte: elaborada pela autora.

34
34
Analisando a Figura 3, podemos obter a área sob a curva através do
cálculo da integral da curva do diagrama. Entretanto, é possível obter
valores próximos utilizando uma equação obtida por Seely em 1947,
descrita em Souza (1982), para materiais dúcteis:

(s e + s m ) e
Ut =
2

E, para materiais frágeis:


2(s máx ´e)
Ut =
3

Sendo Ut o módulo de tenacidade (área sob a curva), se a tensão de


escoamento, sm a tensão máxima e e o maior valor de deformação
específica na direção da força aplicada. Dessa forma, ao analisar
os valores de tenacidade é possivel identificar se o material é frágil,
maleável, séctil (facilmente cortado), dúctil, flexível ou elástico.

Além do módulo de tenacidade, que envolve a energia total absorvida


pelo material até a ruptura, também há a tenacidade à fratura (Kc), que
é uma propriedade mecânica que indica a capacidade que um material
apresenta de resistir à propagação de trincas. Em outras palavras,
podemos dizer que a tenacidade à fratura mede a capacidade de uma
estrutura, que apresenta trincas, em suportar a tensão que será aplicada.

A tenacidade à fratura (Kc) está relacionada com a espessura que o


material apresenta. Com o aumento da espessura, Kc diminui até um
valor mínimo e constante, chamado de tenacidade à fratura no estado
plano de tensão (Klc).

A resistência que um material apresenta depende de vários fatores.


Dentre eles, os mais importantes são:

• Trincas que apresentam grandes tamanhos reduzem o valor da


máxima tensão que pode ser aplicada no material. Com isso,

 35
• técnicas especiais de fabricação dos materiais reduzem o tamanho
das trincas, melhorando a resistência à fratura.

• A capacidade de deformação plástica e a utilização do material


nessa região é um fator crítico para o surgimento de trincas.
Aumentando a resistência mecânica do material, diminui-se a
tenacidade à fratura.

PARA SABER MAIS


As propriedades mecânicas módulo de tenacidade e
a tenacidade à fratura são de suma importância para
compreensão de quanta energia o material absorve antes
de apresentar falha em sua estrutura. São propriedades
intrínsecas do material e possuem valores tabelados.
Entretanto, é possivel obter os valores com a aplicação de
equações específicas, levando em consideração o tipo de
falha apresentado pelo material.

• Limite de fadiga

Por definição, fadiga é a ruptura de um material, quando aplicado


uma carga inferior à carga máxima que o material suporta, isso ocorre
devido às solicitações cíclicas repetidas. Ou seja, quando um material é
submetido a esforços repetitivos, ele pode apresentar fratura mesmo
que o valor de carga aplicado sobre ele seja bem inferior à carga máxima
obtida em um ensaio de tração ou compressão. Em situações desse tipo,
diz-se que o material rompeu, ou apresentou fratura, por fadiga.

O limite de fadiga, que pode ser determinado por um ensaio de fadiga,


corresponde a uma tensão abaixo ao qual o material suporta, em um
número de ciclos infinito, sem que haja o rompimento.

36
36
As tensões cíclicas podem ser definidas por carregamentos, ou
esforços, que se repetem com certa regularidade. A mais comum é
representada por uma função senoidal, sendo que no eixo das abcissas
(x) estão associados o número de ciclos e, no eixo das ordenadas (y), os
valores de tensão. A Figura 4 apresenta três exemplos de gráficos para
essa situação.

Figura 4 – Dados de fadiga para (a) tensão reversa,


(b) tensão positiva e (c) tensões positivas e negativas

(a) (b) (c)

Fonte: Cozaciuc (2000, aula 15).

Estudar a fadiga apresentada por um material é muito importante para


compreender as falhas que ele pode apresentar em situação de uso e,
ainda, como será a substituição desse material.

• Módulo de elasticidade

O módulo de elasticidade é uma propriedade mecânica que caracteriza


a rigidez de um material, ou seja, é uma propriedade intrínseca que
indica a resistência de um material à deformação elástica. Ele é obtido
através da relação entre a tensão e a deformação na região elástica do
diagrama tensão/deformação.

O módulo de elasticidade também é conhecido como a constante de


proporcionalidade entra a tensão e a deformação na região linear do
diagrama, como mostra a Figura 5.

 37
Figura 5 – Módulo de elasticidade através
de um diagrama tensão/deformação

Fonte: elaborada pela autora.

A equação para o módulo de elasticidade (E) é dada pela razão entre


s
a tensão e a deformação, ou seja, E = . Como a tensão apresenta
e
unidade, no Sistema Internacional (SI), em Pascal (Pa), e a deformação
é adimensional, a unidade para o módulo de elasticidade também será
Pascal (Pa). Dessa forma, podemos concluir que essa grandeza é um
tipo de tensão que o material apresenta. Como é uma propriedade
intrínseca, cada material apresenta um valor de módulo de elasticidade
(E) característico e tabelado.

• Resistência ao desgaste

Denominamos degaste um fenômeno superficial que ocorre em


materiais em movimento, que se dá pelo fato do contato entre
superfícies, apresentando mudanças nas dimensões. Isso ocorre até
o ponto em que o material desgastado perde a função ao qual foi
designado pela mudança na estrutura, criando tensões inesperadas,
ocasionando seu rompimento em função de uma carga menor ao qual
foi projetado, por fadiga ou por outro tipo de esforço dinâmico.

O desgaste pode ser suavizado melhorando o acabamento superficial


da peça (eliminando depressões e projeções), aumentando a dureza (a
superfície deve apresentar elevada dureza) e a resistência mecânica

38
38
(quanto maior seu valor, maior a dificuldade em retirar partículas da
superfície) do material.

É possível obter as informações de resistência ao desgaste dos


materiais por meios mecânicos (trabalho a frio), térmicos (têmpera),
termoquímicos (cementação e nitretação) e revestimentos superficiais
(eletrodeposição e metalização).

O quadro 1 apresenta um resumo das principais propriedades


mecânicas dos biomaterias, a relevância de acordo com os esforços
mecânicos que eles deverão resistir, ou seja, o carregamento aplicado,
e os processos de fabricação mais comuns.

Quadro 1 – Relevância das propriedades


mecânicas e processos de fabricação dos biomateriais

Propriedades Relevância de acordo Processo de


Relevância
mecânicas com o carregamento fabricação
Limite de Importante
Importante Fundição
escoamento para metais

Limite de
Importante Importante
resistência à tração Conformação
para metais
Ductilidade Importante

Tenacidade à fratura Importante Soldagem Importante

Limite de fadiga Muito importante Brazagem Importante

Módulo de
Muito importante Usinagem Importante
elasticidade
Importante para
Resistência
Muito importante Metalurgia do pó dispositivos
ao desgaste
específicos

Fonte: elaborado pela autora.

1.2 Aplicações em próteses externas e internas

Damos o nome de prótese todo equipamento ou material que substitui,


por completo ou parte, a função de um órgão, sistema ou membro.

 39
Ela pode ser externa (substituição de função de um membro ou órgão,
como as próteses ortopédicas) ou interna (substituição da função de um
determinado órgão, ou parte dele, como articulação, válvulas cardíacas).
Como exemplo de aplicações, temos (CHEN, 2013):

a. Látex natural: polímero natural, de aspecto leitoso, extraído


da seringueira, é utilizado na neovascularização, regeneração
tecidual e formação de matriz extracelular.

b. Hidrogel: redes tridimensionais compostas entre 70 e 90% de


água. Pode ser formado de polímeros, copolímeros hidrofílicos,
óxido de polietileno, poliacrilamida e polivinilpirrolidona. É
utilizado na hidratação de feridas secas, autólise, absorve o
exsudato, alívio da dor e hidratação das terminações nervosas.

c. Biomateriais cerâmicos: são compostos inorgânicos, formados


por elementos metálicos e não metálicos, cuja ligação química é
predominantemente iônica. São utilizados como instrumentos
de diagnóstico (termômetros, fibras para endoscopia), próteses
ortopédicas, dispositivos para a reconstrução odontológica
e maxilo-facial, válvulas cardíacas, traquéias artificiais e
preenchimentos ósseos.

d. Biomateriais metálicos: são compostos inorgânicos, formados


por elementos metálicos, cuja ligação química é do tipo metálica.
Apresentam excelente desempenho mecânico e têm sido
amplamente utilizados como componentes estruturais visando
à substituição, reforço ou estabilização de tecidos rígidos, como
fios, parafusos e placas para fixação de fraturas, implantes
dentários e próteses para substituição de articulações.

e. Biomateriais poliméricos: são compostos orgânicos, formados


por elementos não metálicos, cuja ligação química é
predominantemente covalente. São muito utilizados na medicida
e apresentam como vantagens: facilidade de fabricação para
produzir formas variadas (partículas, filmes, fios, dentre outros),
processamento secundário, custo razoável e disponibilidade

40
40
f. em encontrar materiais com propriedades mecânicas e físicas
desejadas para aplicações específicas.

Os biomateriais mais utilizados recentemente, na área da saúde,


são biocompatíveis, bioativos e biodegradáveis. Contudo, os mais
pesquisados são
​​ bioativos, biodegradáveis e​​ biomiméticos. Nesso
processo, existem várias etapas a serem desenvolvidas, desde identificar
a necessidade de um biomaterial até seu uso e a análise final do produto.
É importante saber que tudo se inicia pela identificação da necessidade
do biomaterial para dada aplicação, que pode ser o tratamento de uma
doença, substituição de órgãos ou regeneração de tecidos e cicatrizes.

TEORIA EM PRÁTICA
Observe a Figura 6. Ela apresenta, em um único plano,
diagramas de tensão/deformação para materiais
diferentes. Contudo, pela inclinação da reta linear,
vemos que todos apresentam o mesmo módulo de
elasticidade (E). Como isso é possível? Qual a relação da
coincidência dos valores apresentados para o módulo
de elasticidade em cada material?
Figura 6 – Diagrama tensão-deformação
para o ferro e alguns aços

Fonte: Beer et al. (2015, p. 58).

 41
Para facilitar sua compreensão, observe que cada material
sofreu algum tipo de tratamento térmico ou termoquímico.
Apenas um material apresentado no gráfico é puro.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Na Ciência dos Materiais, os biomateriais se enquadram


como uma classe especial dos materiais. Isso ocorre
pelo fato de serem utilizados para a substituição total ou
parcial de algum órgão ou tecido do corpo humano.
A respeito dessa temática, avalie o trecho a seguir:
“Eles podem ser tanto __________ quanto ____________
ou ___________, depende da aplicação, utilização e das
propriedades mecânicas do biomaterial.
Assinale a alternativa que preencha corretamente
as lacunas.

a. Metálicos; semicondutores; materiais inteligentes.

b. Metálicos; poliméricos; cerâmicos.

c. Polímeros; metálicos; compósitos.

d. Compósitos; poliméricos; semicondutores.

e. Cerâmicos; metálicos; compósitos.

2. Cada propriedade mecânica é importante na análise do


biomaterial, pois está relacionada com as características
que ele pode apresentar quando solicitado.

42
42
Assinale a alternativa que expresse o conceito de limite
de escoamento.

a. Relação entre a tensão e a deformação, no regime


elástico, indicando a resistência do material à
deformação elástica.

b. Fratura do biomaterial devido aos ciclos de


carregamento.

c. Tensão máxima suportada pelo biomaterial.

d. Tensão limite que separa a deformação elástica da


deformação plástica.

e. Maleabilidade que um material apresenta.

3. Os biomateriais cerâmicos são utilizados como


instrumentos de diagnóstico (termômetros, fibras para
endoscopia), próteses ortopédicas, dispositivos para
a reconstrução odontológica e maxilo-facial, válvulas
cardíacas, traqueias artificiais e preenchimentos ósseos.
A respeito dos biomaterias cerâmicos, assinale
a alternativa que expresse, respectivamente, os
elementos que o compõem e o tipo de ligação
química predominante.

a. Elementos metálicos e não metálicos; ligação metálica.

b. Ligação iônica; elementos metálicos e não metálicos.

c. Ligação covalente; elementos metálicos.

d. Elementos não metálicos; ligação covalente.

e. Elementos metálicos e não metálicos; ligação iônica.

 43
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SOUZA, S. A. Ensaios mecânicos de materiais metálicos. 5. ed. São Paulo: Blucher,
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de látex em cães. Ciência Rural. v. 37, n. 6, p. 1719-1723, Dec. 2007. http://dx.doi.
org/10.1590/S0103-84782007000600033.

Gabarito
Questão 1 – Resposta: B
Resolução: Na Ciência dos Materiais, os biomateriais se enquadram
como uma classe especial dos materiais. Isso ocorre pelo fato de
serem utilizados para a substituição total ou parcial de algum órgão
ou tecido do corpo humano. Eles podem ser tanto metais quanto
poliméricos ou cerâmicos, depende da aplicação, utilização e das
propriedades mecânicas do biomaterial.

44
44
Questão 2 – Resposta: D
Resolução: O limite de escoamento caracteriza a região de
transformação no tipo de deformação que o material pode
apresentar. Ou seja, antes do limite de escoamento, a deformação
é do tipo elástica; após o limite de escoamento, a deformação é
do tipo plástica. Contudo, na região de limite de escoamento, as
deformações elásticas e plásticas coexistem.
Questão 3 – Resposta: E
Resolução: Biomateriais cerâmicos: são compostos inorgânicos,
formados por elementos metálicos e não metálicos, cuja
ligação química é predominantemente iônica. São utilizados
como instrumentos de diagnóstico (termômetros, fibras
para endoscopia), próteses ortopédicas, dispositivos para a
reconstrução odontológica e maxilo-facial, válvulas cardíacas,
traquéias artificiais e preenchimentos ósseos.

 45
Biomateriais metálicos,
cerâmicos e poliméricos:
estrutura e propriedades
Autora: Katielly Tavares dos Santos

Objetivos

• Compreender a classificação dos biomateriais


em metálicos, cerâmicos e poliméricos.

• Analisar a estrutura das classes dos biomaterias.

• Conhecer e entender as propriedades de cada


uma das classes dos biomateriais.

46
46
1. Biomateriais metálicos, cerâmicos e poliméricos

De maneira geral, podemos dizer que um biomaterial, também


chamado de biomédico, é designado como qualquer material,
substância ou variações de substâncias utilizado na substituição total
ou parcial de membros, órgãos ou tecidos do corpo humano. Eles são
classificados dependendo de sua origem, comportamento fisiológico,
forma de atuação e interação com o corpo e em relação à composição
química e aos arranjos atômicos (CAO; HENCH, 1996).

• Origem: autógenos, aloenxerto ou enxertos homógenos,


xenoenxerto ou enxertos heterogêneos, aloplásticos.

• Interação com os órgãos e tecidos: biotoleráveis, bioinertes,


bioativos e biorreabsorvíveis.

• Forma de atuação: osteocondutor, osteoindutor e osteopromoção.

• Composição química e arranjos atômicos: metálicos, cerâmicos


ou poliméricos.

PARA SABER MAIS


Segundo a forma de atuação dos biomateriais, Cao e
Hench (1996, p. 3), em seu artigo Bioactive materials, diz
que “os materiais osteocondutores promovem a formação
de uma superfície biocompatível no local do implante,
a qual favorece o desenvolvimento de células ósseas”
(tradução do autor). Outros detalhes sobre a forma de
atuação dos biomateriais são abordados no artigo.

Dessa forma, o objetivo desse capítulo é compreender as características


e propriedades da classificação dos biomateriais quanto à composição e
aos arranjos atômicos. Ou seja, compreender os biomateriais metálicos,

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cerâmicos e poliméricos, já que eles são utilizados n
​ a solução de
problemas de saúde humana e derivados de várias de fontes. Bem
como, conhecer os biomateriais naturais e compósitos, relacionando
suas propriedades, obtenção e aplicação.

1.1 Biomateriais naturais

Os biomateriais naturais podem ser considerados polímeros


biológicos e tecidos descelularizados. A principal diferença entre eles
diz respeito aos tecidos descelularizados já possuírem a geometria
e a textura do tecido original; enquanto os biopolímeros – com a
cartilagen apresentada pela Figura 1 – são sólidos que precisam ser
processados para
​​ chegar na forma adequada para utilização. Como
exemplo de biopolímeros temos celulose, colágeno, ácido hialurônico,
sulfato de condroitina, seda, poliésteres, quitosana (derivado da
quitina) e alginato (RAMAKRISHNA, 2001).

Figura 1 – Exemplo de um biopolímero


em alta resolução – cartilagem

Fonte: Girolamo Sferrazza Papa/iStock.com.

As propriedades químicas e mecânicas desses tipos de biomateriais


são muito semelhantes às dos tecidos e órgãos e, portanto, bastante
compatíveis com o sistema biológico. Entretanto, existem enzimas

48
48
que podem hidrolisá-los e degradá-los, dessa forma todos eles são
degradáveis ​​no sistema biológico, recebendo o nome de biodegradáveis.
E ainda, podem ser aplicados em substituições de tecidos moles,
incluindo curativos e substitutos de cartilagem (RAMAKRISHNA, 2001).

ASSIMILE
Tecidos descelularizados são aqueles em que há a remoção
(ou ausência) de todo material celular ou nuclear, diminuindo
qualquer efeito na atividade biológica. Os métodos mais
comuns para que ocorra a descelularização envolvem
agentes físicos, químicos e enzimáticos.

1.2 Biomateriais metálicos

Os biomateriais metálicos são materiais que possuem a capacidade


de suportar esforços, como o de tração, compressão, tensões de
cisalhamento e impacto. Os metais, no entanto, são altamente reativos,
sendo propensos à oxidação, como corrosão, podendo levar a uma
película de óxido altamente tenaz, como o caso da formação da camada
de óxido de titânio, atuando como uma camada passiva que impede a
corrosão e a liberação de íons (BROCK, 2007).

Os materiais metálicos apresentam estrutura cristalina, e a ligação


entre os elementos químicos é do tipo metálica, fatos que os tornam
bons condutores de calor e eletricidade. Sendo assim, são úteis
como materiais condutores de sinal em implantes do tipo sensoriais
e marcapassos, mas não são bons como superfícies em implantes
dentários, nos quais o material é sujeito a variações de temperatura.
Devido à flexibilidade e à maleabilidade dos metais, eles são
frequentemente usados como​​ fios ou grampos para fechar feridas e
estabilizar fraturas ósseas, além de transportar carga (BROCK, 2007).

 49
A organização dos átomos em metais sólidos é geralmente compactada,
apresentando estruturas cristalinas do tipo cúbica de corpo centrado
(ccc), cúbica de face centrada (cfc) ou hexagonal compacta (hcp).
Os elétrons da camada externa (de valência) dos átomos são
deslocalizados e livres para se movimentarem e formar um tipo de
nuvem ao redor dos átomos. Enquanto isso, os átomos permanecem
juntos devido às interações eletrostáticas criadas entre si. Esse tipo de
vínculo é chamado ligação metálica (CALLISTER; RETHWISCH, 2018).

Como os elétrons da camada de valência não estão fortemente


ligados à estrutura total, os elementos metálicos podem facilmente
perdê-los em reações químicas, tornando-se cátions. Os metais
podem formar ligas misturando-se com outros elementos metálicos
no nível molecular, cujo o principal objetivo da formação de ligas é a
melhora de algumas propriedades apresentadas pelo metal, como
torná-lo menos quebradiço, mais duro e mais resistente à corrosão.

Esse tipo de material apresenta diversas propriedades que o


caracterizam, como a maleabilidade (permitindo moldar o metal em
implantes) e a ductilidade (capacidade de extrair metais na forma
de fio, permitindo a fabricação de tubos intramedulares, hastes,
parafusos e hastes longas).

Devido à alta resistência, metais e ligas metálicas são amplamente


utilizados como instrumentos cirúrgicos e odontológicos, dispositivos
biomédicos, implantes, substituições de articulações e placas cranianas.
Entre os tipos mais comuns de implantes médicos estão pinos, hastes,
parafusos e placas usadas para ancorar fraturas.

Como todo dispositivo médico de implante, os biomateirias metálicos


usados nas
​​ clínicas devem atender alguns requisitos, tais como
apresentar alta biocompatibilidade, alta capacidade de resistir a
esforços mecânicos, alta resistência ao desgaste e alta resistência à
corrosão. Eles são utilizados na produção de dispositivos de suporte

50
50
de carga, como articulações do quadril e placas do fêmur, devido
ao seu alto módulo de elasticidade e tensão de escoamento. Sob
carregamento, eles não deformam e não perdem sua forma facilmente.

Uma das ligas mais conhecidas dos metais é o aço inoxidável,


comumente usado em aplicações médicas, que contém ferro
misturado com cromo, níquel, molibdênio e carbono. As ligas de
biomateriais metálicos usadas na fabricação de implantes contêm
principalmente Fe (ferro), Cr (cromo), Co (cobalto), Ni (níquel), Ti
(titânio), Ta (tântalo), Mo (molibdênio), V (vanádio) e W (tungstênio).

O aço inoxidável é uma liga de ferro muito forte, e sua primeira


utilização como biomaterial foi em tratamentos de fraturas, no início
dos anos 1900. O aço inoxidável é mais frequentemente usado em
implantes que são destinados ao reparo de fraturas, como implantes
ortopédicos, substituições de articulações, instrumentos cirúrgicos e
odontológicos, placas ósseas, parafusos ósseos, pinos, hastes e stents
coronários. Dos elementos que o compõem, o cromo, especialmente,
é um elemento muito reativo e essencial para prevenir a oxidação do
aço inoxidável. Se a quantidade de cromo for superior a 10,5%, um
filme aderente e insolúvel é formado instantaneamente na superfície,
o que impede a maior difusão de oxigênio, evitando a oxidação do
ferro na matriz.

Já as ligas de cobalto-cromo (Co-Cr) apresentam dois elementos básicos,


até 65%p de Co e 35% p de Cr. O molibdênio (Mo) também pode ser
adicionado para obter tamanhos de grão mais finos que resultam em
maior resistência após fundição ou forjamento. Essas ligas possuem
alta resistência à temperatura e ao desgaste e, portanto, são usadas em
uma variedade de implantes de substituição articular, bem como em
alguns implantes de reparo de fraturas que exigem uma vida útil longa
do material implantado. As áreas comumente usadas são odontológicas
(Figura 2b) e ortopédicas (Figura 2a), como quadril total cimentado ou
na artroplastia do joelho.

 51
Figura 2 – Uso de ligas metálicas como biomateriais (a) Co-Cr nas
articulações do joelho e (b) “Vitallium” na odontologia

Fonte: Chen (2015) e Ma e Brudvik (2008).

Contudo, o titânio e suas ligas são os biomateriais mais utilizados em


função de sua boa resistência mecânica, densidade relativamente
baixa (4,5 g/cm3), excelente resistência à corrosão e biocompatibilidade
notável. Além disso, a natureza elástica das ligas de titânio e do material
titânio é menor que a dos outros metais usados nos​​ implantes de joelho,
por esse motivo, o implante de titânio atua como uma articulação
natural e, como resultado, o risco de algumas complicações como
reabsorção óssea e atrofia são reduzidas. O titânio e as ligas possuem
grande resistência à corrosão, tornando os biomateriais inertes (não
apresentando alterações a implantação no corpo).

Já o tântalo é um metal puro que possui uma notável resistência à


corrosão e excelentes características físicas e biológicas. É um metal
maleável, dúctil e reativo. É extremamente estável em temperaturas
inferiores a 150 °C, resistente à corrosão e possui excelente
biocompatibilidade. A resistência à corrosão é resultado da formação
de uma camada protetora criada por óxidos de tântalo na superfície
do metal. Esse biomaterial metálico tem sido utilizado na fabricação
de implantes biomédicos, tanto em sua forma pura ou como elemento
de liga nas ligas de titânio. Também foi usado como revestimento
em outros dispositivos metálicos devido a sua camada estável de
óxido superficial, melhorando a resistência à corrosão do substrato e
aumentando sua biocompatibilidade.

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52
Ligas de níquel-titânio (nitinol) são ligas com memória de forma de
níquel e titânio, nas quais os dois elementos estão presentes quase na
mesma proporção atômica. Essa liga tem sido utilizada na fabricação
de instrumentos endodônticos nos últimos anos por possuírem maior
resistência e menor módulo de elasticidade em comparação com ligas
de aço inoxidável. Os fios de nitinol têm comportamento superelástico
e retornam a sua forma original ao descarregar a força que causou a
deformação e ao executar um tratamento térmico apropriado acima
da temperatura de transformação de fase. O aquecimento a essa
temperatura leva a liga a mudar de estrutura martensítica monoclínica
à estrutura austenítica cúbica. A deformação é normalmente realizada
em temperatura relativamente baixa, enquanto a memória da forma
ocorre após o aquecimento, como pode ser observado na Figura 3.
Essas propriedades são de interesse na endodontologia, pois permitem
a construção do canal radicular que utilizam essas características
favoráveis para
​​ fornecer uma vantagem ao preparar canais curvos.

Figura 3 – Transformação cristalina do Nitol.


Efeito de memória de forma

Fonte: Elahinia et al. (2012).

E por fim, nas ligas biodegradáveis de magnésio (Mg) apresentam


densidade, módulo de elasticidade, tensão de escoamento e resistência
a fratura próximas à do osso, isso pelo fato de estar presente

 53
naturalmente no osso. De fato, estima-se que aproximadamente 50% do
magnésio total é armazenado nos ossos. No entanto, a rápida corrosão
do metal puro limita seu uso em aplicações de suporte de carga.

Sendo assim, vemos que os implantes metálicos são usados para​​


dois propósitos principais: para substituir uma parte do corpo (como
articulações, ossos longos e placas do crânio) e como dispositivo de
fixação para estabilizar os ossos quebrados.

1.3 Biomateriais cerâmicos

Os biomateriais cerâmicos não degradam quimicamente, corroem


ou conduzem calor ou eletricidade. São inertes, duros e quebradiços,
fortes sob forças de compressão e possuem alta densidade. Com essas
propriedades, são semelhantes aos tecidos duros do corpo humano,
como ossos e dentes (CALLISTER; RETHWISCH, 2018).

Os biomateriais cerâmicos são materiais inorgânicos compostos


por elementos metálicos e não metálicos, cuja ligação química é
predominantemente iônica. As ligações iônicas são fortes e direcionais
e, portanto, a cerâmica apresenta temperaturas de fusão mais altas
que as dos metais e polímeros, que possuem ligações metálicas
ou covalentes, respectivamente. A cerâmica é produzida a partir
de materiais em pó pela aplicação de calor (sinterização). Elas são
duras, fortes e quebradiças, maus condutores de calor e eletricidade.
Existem inúmeras combinações dos compostos metálicos e não
metálicos, contudo os mais comuns são óxidos, hidretos, carbonetos,
fosfatos, sulfetos e silicatos. Óxidos de alumínio, fosfatos de cálcio e
nitretos de titânio estão nessa classe (BERGSCHMIDT, 2012).

Atualmente, as biocerâmicas são amplamente utilizadas na odontologia,


na produção de implantes ortopédicos para a coluna vertebral e,
particularmente, nos implantes totais do quadril devido a sua resistência
contra compressão e desgaste. Existem também biocerâmicas

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produzidas em formas porosas e moldáveis. Nos EUA, o número
estimado de cirurgias de fusão espinhal é de 300.000, muito mais do
que os implantes de quadril, joelho e ombro combinados (AL-KHAWAJA,
2016). Enquanto isso, tipos de porcelana de cerâmica têm sido usados ​​
em odontologia como coroas dentárias devido a sua estabilidade em
fluidos corporais, alta compressão e boa aparência estética.

É importante ressaltar que os biomateriais cerâmicos apresentam


vantagens inerentes, como serem biologicamente inertes, não
produzirem detritos de desgaste e possuírem alta resistência à
corrosão, compressão e alta temperatura, e ainda, apresentam a
capacidade de serem projetados para corresponder estreitamente
às propriedades do osso natural. A razão que os torna tão
resistentes às condições ambientais são as fortes ligações químicas
formadas entre os grupos metálicos e não metálicos. A alta
resistência ao desgaste e a inércia química os tornam preferíveis nas
substituições ósseas do corpo humano. O uso de fosfato de cálcio
em procedimentos cirúrgicos humanos tornou-se popular nos anos
80. A Hidroxiapatita (HA) Ca10(PO4)6(OH)2 é uma cerâmica de fosfato
de cálcio e constitui o principal componente mineral do osso e da
dentina (RIVERA-MUN et al., 2001).

Dessa forma, a cerâmica apresenta algumas propriedades preferíveis


aos metais, como resistência ao calor, produtos químicos e corrosão,
menor densidade, dureza e rigidez e facilidade de modificação, e,
portanto, são comumente usadas em ​​ aplicações médicas, especialmente
no tratamento do tecido duro como ossos e dentes. Sendo assim, classe
de cerâmica usada para apoiar, reparar ou substituir partes doentes,
danificadas ou ausentes do sistema musculoesquelético são chamados
de biocerâmica. A biocerâmica é geralmente usada em ortopedia e
aplicações dentárias com respostas biológicas personalizadas. Elas
podem ser produzidas em diferentes formas, como microesferas,
revestimentos finos em implantes metálicos ou reabsorvíveis para uso
em aplicações de engenharia de tecidos.

 55
E ainda, os materiais biocerâmicos apresentam alta resistência à
compressão, desgaste e resistência à corrosão e a capacidade de servir
como agente polidor ou abrasivo, podendo ser preparados de forma
que sejam bioinertes ou bioativos. Por outro lado, apresentam alto
módulo de elasticidade, baixa resistência à tração, baixa tenacidade à
fratura e dificuldade de fabricação.

A alumina é um exemplo de biocerâmica bioinerte, biocompatível e


altamente estável. Possui baixa tenacidade à fratura, alta resistência
à compressão, alta dureza e alta abrasão e resistência ao desgaste.
A estrutura cristalina estável do Al2O3 é hexagonal, onde os íons de
alumínio ocupam os sítios intersticiais octaédricos. Suas áreas de
aplicação incluem ortopedia (Figura 4a), como cabeça do fêmur,
articulação, prótese de joelho, parafusos e placas ósseas, revestimento
poroso para as hastes femorais, coroas dentárias, pontes e implantes
dentários e implante ocular artificial (Figura 4b).

Figura 4 – Cabeça de alumina nas articulações do quadril


(a) implante ocular artificial para uso após enucleação e antes da
aplicação da prótese ocular (b)

(a) (b)
Fonte: Dorozhkin (2002) e Rivera-Mun (2001).

Já a zircônia, como a alumina, é uma das biocerâmicas inertes. É obtida


a partir do mineral zircão, uma pedra preciosa de muitas cores.
O zircão é a forma mais popular do mineral zircônio, e se transforma
em zircônia quando é clorado duas vezes e depois precipitado com

56
56
sulfetos ou hidróxidos, e finalmente, calcinado ao seu óxido. A zircônia
tem várias vantagens sobre outros materiais cerâmicos devido aos
mecanismos de endurecimento. A adição de alguns óxidos como MgO,
CaO, CeO e Y2O3 estabiliza a estrutura cristalina tetragonal da zircônia.
Apresenta alta força mecânica e tenacidade à fratura. É produzida
geralmente por prensagem à quente ou por processos de prensagem
isostática. A zircônia é geralmente usada em aplicações ortopédicas
como cabeça femoral, substituição da articulação, joelho artificial,
parafusos e placas, além de coroas e pontes dentárias. A principal
aplicação da cerâmica de zircônia está nas cabeças de esferas de
substituição total do quadril.

Já o fosfato de cálcio está naturalmente presente na estrutura óssea e,


portanto, é aplicado com sucesso na substituição e aumento do tecido
ósseo por muitos anos. A biocerâmica de fosfato de cálcio apresenta as
propriedades de biorreabsorção e bioatividade. O fosfato de cálcio pode
estar em muitas formas diferentes, e as biocerâmicas à base de fosfato
de cálcio mais usadas em aplicações médicas são a hidroxiapatita (HA) e
o fosfato β-tricálcico (β-TCP). Sua bioatividade depende de sua estrutura
química e grau de cristalinidade. As estruturas não estequiométricas
de apatita contendo íons de CO32− e HPO42- são altamente solúveis e
reabsorvíveis. Da mesma forma, o fosfato tricálcico é reabsorvido mais
facilmente do que os apatitos.

E ainda, os vitrocerâmicos são materiais que apresentam várias


composições químicas e propriedades diferentes. Os vidros bioativos
são geralmente baseados nos grupos de sílica com SiO44- e apresentam
aplicações como próteses ortopédicas e dentárias. Eles podem ser
preparados como vidros densos ou porosos e possuem excelentes
propriedades mecânicas. Estudos realizados tanto in vivo como
in vitro demonstraram que muitos vidros bioativos não são tóxicos.
Os vidros bioativos formam fortes ligações químicas com os tecidos
e, portanto, são utilizados na fixação de implantes no sistema
esquelético (TILOCCA, 2010).

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As biocerâmicas e os biovidros são usados como ​​ andaimes de
engenharia em pó, fibra ou tecido em aplicações médicas, especialmente
em tratamentos odontológicos e ortopédicos, bem como em compósitos
com polímeros e metais. Compósitos são as substâncias que contêm
dois ou mais constituintes ou fases distintas. Nos compósitos, as
fases distintas são separadas em uma escala maior que a atômica,
e as propriedades, como resistência mecânica ou elasticidade, são
significativamente alteradas em comparação com os de um material
homogêneo. O próprio osso é um composto de colágeno (fase orgânica),
hidroxiapatita (fase cerâmica inorgânica) e outros constituintes nos
quais a fase orgânica fornece elasticidade e a fase inorgânica fornece
resistência mecânica. As forças de compressão e tração do osso cortical
estão na faixa de 130 a 180 MPa e 50 a 150 MPa, respectivamente.
Para o osso esponjoso poroso, esses valores são muito mais baixos e
estimados entre 4 a 12 MPa para resistência à compressão e 1 a 5 MPa
para resistência à tração (LINU et al., 2017).

1.4 Biomateriais poliméricos

Os polímeros sintéticos não são como os biológicos e, portanto,


não apresentam alta resistência comparável. Embora existam
polímeros hidrofílicos, em geral a maioria dos polímeros sintéticos são
hidrofóbicos (por exemplo, polimetil-metacrilato – PMMA, policloreto
de vinila – PVC, Teflon®, Dacron®, polietileno – PE) e suas propriedades
não são semelhantes aos tecidos biológicos e biopolímeros. Como
resultado, sua interação com os tecidos e o crescimento de tecidos
nesses biomateriais é limitada, e ainda, como resultado de sua
hidrofobicidade, a maioria não é degradável. Os materiais poliméricos,
biológicos ou sintéticos, podem ser processados em​​ formas complexas
sob condições suaves de processamento, o que lhes confere uma
grande vantagem sobre outros biomateriais. Quando os polímeros
não reticulados se deformam sob a atuação de um carregamento,
não podem resistir à abrasão ou forças de cisalhamento. Quando

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58
reticulados, no entanto, eles se tornam elástico como borracha natural,
adequando-os para uso em aplicações em que é necessária flexão
cíclica ou contínua. Uma densidade de reticulação muito alta os torna
tão resistentes quanto os metais (CROWNINSHIELD et al., 2007).

A reação química na qual moléculas de alto peso molecular são


formadas a partir de monômeros é conhecido como reação de
polimerização. A polimerização pode prosseguir de acordo com
dois mecanismos diferentes: polimerização do crescimento da
cadeia (ou adição) e crescimento da etapa (ou condensação). Pode-
se fazer uma distinção entre condensação e mecanismos de adição
de polimerização: na polimerização por condensação, dois grupos
funcionais se ligam, geralmente liberando uma molécula pequena
como H2O, enquanto que, além da polimerização, ligações duplas
de monômeros reagem sem liberar nenhuma molécula. No entanto,
existem algumas reações de condensação em que não ocorre
liberação de moléculas, como a polimerização de poliuretano.
Enquanto isso, esses dois métodos não são exclusivos e ambas
as abordagens podem ser usadas na polimerização do mesmo
monômero ou do mesmo polímero, podendo ser preparado por dois
ou mais monômeros diferentes através de ambas as abordagens,
desde que grupos adequados estejam disponíveis para polimerizações
individuais. O nylon 6 é um polímero com unidades repetidas do
monômero – NH(CH2)5CO – e pode ser sintetizado a partir do ácido
6-aminocapróico por condensação ou a partir de caprolactama por
polimerização por adição (HELFFERICH, 2001).

Existem também novas técnicas de polimerização, como


polimerização por clique, polimerização por radical de transferência
de átomo e polimerização por transferência reversível de cadeia por
adição-fragmentação, que se tornou popular nas últimas décadas.
Nessas técnicas, alguns catalisadores e agentes especiais são
usados para
​​ obter polímeros especialmente projetados com pesos
moleculares controlados.

 59
Os polímeros que serão utilizados em aplicações médicas devem
ser compatíveis com os meios biológicos, sangue, tecidos ou órgãos.
Eles não devem ter efeitos tóxicos, alérgicos ou cancerígenos.

De uma perspectiva estrutural, alguns polímeros são lineares, outros


são ramificados e alguns outros são reticulados:

• Polímeros lineares, como polietileno, cloreto de polivinila, Nylon


66® e polimetilmetacrilato, são cadeias longas de monômeros
conectados ponta a ponta.

• Polímeros ramificados podem ser visualizados como galhos de


árvores. Essas estruturas poliméricas ramificadas não se conectam
com outras moléculas de polímero. Alguns exemplos de polímeros
ramificados incluem polímeros em estrela, polímeros de pente,
polímeros de escova e dendrímeros.

• Polímeros reticulados, às vezes chamados polímeros de rede,


são aqueles em que diferentes cadeias estão conectadas entre
si. Essencialmente, os ramos estão conectados a outros ramos,
formando uma rede infinita de pesos moleculares.

Os polímeros são comumente definidos por suas propriedades térmicas,


especialmente sua resposta ao calor. Termoplásticos são polímeros
compostos por moléculas independentes, lineares ou ramificadas que
podem deformar-se pela a absorção de energia térmica (por exemplo
polietileno) após aquecimento acima da temperatura de fusão e
processados (moldados,
​​ extrudados) por aquecimento. Os polímeros
termofixos são aqueles com insaturação ou outros grupos reativos que
após o aquecimento formam ligações covalentes entre as moléculas.
Se o número dessas ligações entre as cadeias, as ligações cruzadas,
forem poucas, o polímero atua como um material elástico e se estende
reversivelmente mediante a aplicação de forças de tração. Esses
materiais são chamados de elastômeros (CHAUVEL-LEBRET et al., 2013).

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Os hidrogels são redes interconectadas que consistem em polímeros
hidrofílicos (ou anfifílicos), que são tornados insolúveis por meio de
ligações cruzadas entre cadeias poliméricas separadas e, portanto,
têm peso molecular infinito. Em muitos casos, os hidrogeis são
obtidos por ligações covalentes para proporcionar uma vida útil de
longo prazo, mas ligações mais fracas e reversíveis, como aquelas
que usam íons ou ligações de hidrogênio, também são possíveis.
Eles podem ser formados a partir de monômeros e polímeros
solúveis em água (GRIESHABER et al., 2011).

1.5 Biomateriais compósitos

Compósitos são combinações de dois ou mais materiais que formam


uma estrutura ajustando as propriedades de seus componentes,
obtendo melhoria no produto final. As propriedades dos compósitos
são difíceis de generalizar, pois existem muitas combinações
diferentes de materiais possíveis. Válvulas cardíacas de pirolítico ou
tendões reforçados com fibra de carbono e grafite revestida com
carbono, e implantes revestidos com hidroxiapatita, são alguns
exemplos. No caso da válvula cardíaca, o núcleo de grafite tem baixa
densidade para tornar a válvula leve e o carbono pirolítico é vítreo,
duro e inerte. Os implantes de liga, como aço inoxidável revestido com
hidroxiapatita, titânio ou cobalto-cromo, são fortes devido à presença
do metal, mas a fixação do osso ou cimento ósseo no implante é
significativamente melhorado quando a superfície é revestida com
um material que possui uma composição semelhante à do mineral
componente do osso (BLACK; HASTINGS, 1998).

Os cientistas tentam continuamente produzir novos compósitos


com diferentes características físicas e propriedades mecânicas para
atender aos requisitos de aplicações médicas. Vários estudos em
relação aos compostos biomédicos têm se concentrado nas áreas
odontológica e implantes ortopédicos. O objetivo é melhorar a rigidez,
força e biocompatibilidade, para tornar o produto mais adequado para
o local e para obter interações com o tecido circundante.

 61
Na natureza, existem muitos compósitos como osso, cartilagem,
dentes e pele. O osso consiste em moléculas orgânicas, principalmente
colágeno, e materiais inorgânicos, como a hidroxiapatita, um fosfato de
cálcio, produzido pelas células do corpo. Componentes orgânicos dão
elasticidade e componentes inorgânicos fornecem resistência mecânica.
As propriedades do material compósito final dependem da composição
química e da forma física de cada constituinte e das interações
nas interfaces entre esses constituintes. O componente em menor
concentração deve ser homogeneamente distribuído dentro da matriz
e criar um produto com propriedades uniformes em toda a estrutura.
É possível produzir grande variedade de compósitos com propriedades
diferentes usando os mesmos materiais de partida. Controlando a
composição, organização e ordem de introdução no produto final, as
propriedades desejadas podem ser obtidas (BLACK, 1998).

As formas dos componentes (partículas, fibras, plaquetas) adicionadas


à matriz e suas frações de volume têm um controle significativo
sobre as propriedades do produto final. O método heterogêneo dos
componentes mais comumente usados são classificados em três grupos:
partículas (não têm dimensão longa, podem ser esféricas, elipsoidais,
poliédricas ou de formato irregular), fibras (têm uma dimensão longa
com tamanho na faixa de nanômetros a milímetros) e plaquetas (duas
dimensões com formas regulares ou irregulares).

E ainda, a morfologia, orientação, direção e homogeneidade dos


componentes adicionados afetam as propriedades dos compósitos.
A adição dos componentes pode ser de diferentes maneiras, como
unidirecional, camada por camada e aleatória (KERSCHNITZKI, 2011).

Desse modo, verificamos que em qualquer aplicação de biomaterial, a


composição e a estrutura de um biomaterial candidato são relevantes
para as propriedades que devem ser avaliadas. As propriedades
térmicas de um biomaterial são muito importantes, assim como as
propriedades físicas, elétricas, mecânicas, químicas e biológicas.

62
62
Propriedades térmicas fornecem informações sobre a estabilidade
da forma, efeito dos métodos de esterilização, processamento e
modelagem e armazenamento.

TEORIA EM PRÁTICA
Morais, Guimarães e Elias (2007) dizem que todo
biomaterial metálico implantado possui alguma
interação com os tecidos em contato, havendo
liberação de íons por dissolução, desgaste ou
corrosão. Nesse trabalho, eles estudam as formas
em que ocorrem a liberação de íons metálicos por
alguns tipos de biomateriais metálicos, descrevendo
a interação íon/tecido e os possíveis efeitos adversos.
Sendo assim, com base nesse artigo, explique como
ocorrem as relações entre ìons liberados e tecidos e
os tipos de liberação de íons.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. Os biomateriais são classificados dependendo de sua
origem, comportamento fisiológico, forma de atuação
e interação com o corpo e em relação à composição
química e aos arranjos atômicos.
Em relação à composição química e aos arranjos
atômicos, eles podem ser:

a. Sólidos, líquidos e gasosos.

b. Pequenos, médios e grandes.

c. Metálicos, cerâmicos e poliméricos.

 63
d. Quentes, mornos ou frios.

e. Metálicos, líquidos e poliméricos.

2. Os materiais cerâmicos apresentam propriedades


semelhantes aos tecidos duros do corpo humano,
como ossos e dentes.
Assinale a alternativa que apresenta essas propriedades.

a. Elas apresentam degradação química, corroem ou


conduzem calor ou eletricidade. São inertes, duros
e quebradiços, fortes sob forças de compressão e
possuem alta densidade.

b. Não degradam quimicamente, corroem ou


conduzem calor ou eletricidade. Contudo, não são
inertes, duros e quebradiços, fortes sob forças de
compressão e possuem alta densidade.

c. Não degradam quimicamente, corroem ou


conduzem calor ou eletricidade. São inertes, moles
e maleáveis, fortes sob forças de compressão e
possuem alta densidade.

d. Não degradam quimicamente, corroem ou


conduzem calor ou eletricidade. São inertes, duros
e quebradiços, fortes sob forças de compressão e
possuem baixa densidade.

e. Não degradam quimicamente, corroem ou


conduzem calor ou eletricidade. São inertes, duros
e quebradiços, fortes sob forças de compressão e
possuem alta densidade.

64
64
3. Os polímeros são comumente definidos por suas
propriedades térmicas, especialmente sua resposta ao
calor. Assinale a alternativa que apresenta a definição de
um polímero termoplástico.
a. São polímeros compostos por moléculas
independentes, lineares ou ramificadas, que podem
deformar-se pela a absorção de energia térmica
(por exemplo polietileno) após aquecimento acima
da temperatura de fusão e processados (moldados,
​​
extrudados) por aquecimento.

b. São polímeros compostos por moléculas


independentes, lineares ou ramificadas, que podem
derreter (por exemplo polietileno) após aquecimento
abaixo da temperatura de fusão e processados ​​
(moldados, extrudados) por aquecimento.

c. São polímeros compostos por moléculas


independentes, lineares ou ramificadas, que podem
derreter (por exemplo polietileno) após aquecimento
acima da temperatura de fusão e processados ​​
(moldados, extrudados) por resfriamento.

d. São polímeros compostos por moléculas


independentes, lineares ou ramificadas, que podem
derreter (por exemplo polietileno) após aquecimento
abaixo da temperatura de fusão e processados ​​
(moldados, extrudados) por resfriamento.

e. São compósitos compostos por moléculas


independentes, lineares ou ramificadas, que podem
derreter (por exemplo polietileno) após aquecimento
acima da temperatura de fusão e processados ​​
(moldados, extrudados) por aquecimento.

 65
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Gabarito
Questão 1 – Resposta: C
Resolução: Eles são classificados dependendo de sua origem,
comportamento fisiológico, forma de atuação e interação com o
corpo e em relação à composição química e aos arranjos atômicos
(CAO; HENCH, 1996):

• Origem: os biomateriais podem ser autógenos, aloenxerto ou


enxertos homógenos, xenoenxerto ou enxertos heterogêneos,
aloplásticos.

 67
• Interação com os órgãos e tecidos: os biomateriais podem ser
biotoleráveis, bioinertes e bioativos.

• Forma de atuação: os biomateriais podem ser osteocondutor,


osteoindutor e osteopromoção.

• Composição química e arranjos atômicos: os biomateriais podem


ser metálicos, cerâmicos e poliméricos.

Questão 2 – Resposta: E
Resolução: Os materiais cerâmicos não degradam quimicamente,
corroem ou conduzem calor ou eletricidade. São inertes, duros
e quebradiços, fortes sob forças de compressão e possuem
alta densidade. Com essas propriedades, eles são semelhantes
aos tecidos duros do corpo humano, como ossos e dentes
(CALLISTER; RETHWISCH, 2018).
Questão 3 – Resposta: A
Resolução: São polímeros compostos por moléculas
independentes, lineares ou ramificadas, que podem fundir (por
exemplo polietileno) após aquecimento acima da temperatura de
fusão e processados (moldados,
​​ extrudados) por aquecimento.

68
68
Introdução à nanociência
e nanotecnologia, tipos e
classificação de nanomateriais
Autor: Rafael Misael Vedovatte

Objetivos

• Compreender os conceitos da nanociência


e nanotecnologia.

• Apresentar os nanomateriais mais conhecidos


e sua classificação.

• Exemplificar a utilização nanotecnologia por meio


de produtos já comercializados no mercado.

 69
1. Nanociência e nanotecnologia

Desde os anos 2000 o termo “nanotecnologia” tem gerado muita


empolgação, fato que pode ser observado devido ao grande número
de publicações, livros e periódicos dedicados a esse tema. Nos canais
de comunicação, é frequente a utilização desse termo como uma
tecnologia revoluncionária que está mudando o mundo à nossa
volta, por meio da pesquisa de novos materiais para aplicação nas
mais diversas áreas, incluindo biotecnologia, eletrônica e medicina
(SENGUPTA; SARKAR, 2015) (RÓZ et al., 2015).

Neste momento, alguns questionamentos podem vir à mente em


relação a esse tema: o que são os materiais nanoestruturados?
Onde podem ser utilizados? Como podem ser fabricados e
classificados? Para responder a esses e outros questionamentos,
torna-se fundamental conhecer e compreender as bases químicas
e fisícas que permitiram o desenvolvimento da nanociência e,
consequentemente, da nanotecnologia (RÓZ et al., 2015).

1.1 Nanociência: histórico, princípios e conceitos

Nanociência e nanotecnologia compreendem inicialmente a


síntese, caracterização, investigação e exploração dos materiais
nanoestruturados. Os nanomateriais possuem essa nomenclatura pois
apresentam pelo menos uma de suas dimensões na escala nanométrica,
ou seja, 0,1 nm a 100 nm, e é esse fato que torna o trabalho com
esses materiais interessante. As propriedades físicas e químicas dos
nanomateriais podem diferir significativamente das propriedades dos
materiais atômicos moleculares ou macroscópicos de mesma composição
em micro ou macroescalas. A singularidade das características
estruturais, dinâmicas, energéticas e químicas das nanoestruturas
constituem a base da nanociência (GOGOTSI, 2006; RÓZ et al., 2015).

A nanociência pode ser conceituada segundo RÓZ et al. (2015, p. 5) como:

70
70
A ciência que rege o estudo da nanotecnologia para o desenvolvimento ou
a melhoria da matéria, graças à possibilidade da manipulação de átomos
e/ou moléculas, cujos efeitos observados estão intimamente ligados à
escala nanométrica, sendo observados na melhoria das propriedades
físicas, químicas e/ou biológicas.

Mas, quão pequena é a escala nanométrica?

Para responder essa pergunta e demonstrar o grau de grandeza


em trabalhar em escala nanométrica pode-se utilizar a relação
descrita por Róz et al., (2015), na qual os autores demonstram que
a relação de tamanho entre uma bola de futebol e o planeta Terra é
aproximadamente a mesma que a existente entre a mesma bola e uma
esfera formada por 60 átomos de carbono conhecida como fulereno
C-60 (Figura 1), que é um material nanométrico. A Terra é cerca de 100
milhões de vezes maior do que uma bola de futebol e, por sua vez, a
bola é cerca de 100 milhões de vezes maior do que uma estrutura de
fulereno, ou seja, um nanômetro (nm) nada mais é que 1 bilionésimo de
1 metro (1 nm = 1×10−9 metros) (RÓZ et al., 2015).

Figura 1 – C-60 Fulereno – esfera formada por


60 átomos de carbono (icosaedro truncado)

Fonte: Leonid Andronov/iStock.com.

Para compreender os fenômenos observados nos nanomateriais se faz


necessário ampliar os conceitos de nanotecnologia e nanociência.

 71
O termo nanotecnologia foi criado por Norio Taniguchi da Universidade
de Tóquio em 1974, o qual foi descrito como: a habilidade de criar e
manipular materiais em escala nanométrica. Entretanto, as primeiras
discussões em relação a esses conceitos remetem ao final da década
de 50, onde em 1959 o físico americano Richard Feynman em sua
famosa palestra There's plenty of room at the bottom (Há muito espaço
lá embaixo) apresentou a primeira discussão em torno da nanociência.
Feynman surpreendeu ao público exemplificando que seria possível,
proporcionalmentente, abrir todas as páginas da Enciclopédia Britânica
na área da cabeça de um alfinete, fato inconcebível para a tecnologia
disponível na época (RÓZ et al., 2015) (GOGOTSI, 2006; SENGUPTA;
SARKAR, 2015).

ASSIMILE
A nanotecnologia é a ciência e a tecnologia dos
objetos em nanoescala, cujas propriedades diferem
significativamente das de seu material constituinte
(do objeto
​​ mencionado) na escala macroscópica ou
microscópica (SENGUPTA; SARKAR, 2015).

Em 1986, os pesquisadores Gerd Binning e Heinrich Rohrer


desenvolveram um microscópio conhecido como microscópio de
tunelamento (STM – Scanning Tunneling Microscope). Esse microscópio
foi o precursor da família de instrumentos que revolucionaram
a capacidade de visualizar superfícies e materiais que não eram
observáveis anteriormente (RÓZ et al., 2015). Essa tecnologia
permitiu compreender as discussões realizadas por Feynman em sua
palestra (RÓZ et al., 2015), pois possibilitou a criação de técnicas de
manipulação de átomos e moléculas, de modo que fossem obtidos
arranjos nanométricos (MARCONE, 2015; SENGUPTA; SARKAR, 2015;
GOGOTSI, 2006).

72
72
A Microscopia de Força Atômica (AFM – Atomic Force Microscopy) é um
exemplo de uma técnica derivada do STM que tornou possível obter
imagens de materiais que não conduzem eletricidade. A partir desse
advento, muitos grupos de pesquisa demonstraram a manipulação da
matéria a partir da nanoescala (RÓZ et al., 2015).

Em RÓZ et al. (2015), os autores trazem 6 razões pelas quais é


importante estudar nanociência:

1. Estudo de propriedades que são observadas na natureza,


mas ainda não extensíveis ao mundo macroscópico.

2. O desafio na obtenção de nanomateriais, requerendo assim,


mais pesquisas e estudos nessa área.

3. Muitas das estruturas nanométricas ainda são inacessíveis,


e seu estudo pode levar a novos fenômenos.

4. Nanoestruturas apresentam uma variedade de tamanho em que


os fenômenos quânticos variam de acordo com a estrutura.

5. Compreender a funcionalização de estruturas nanométricas


para aplicações como nanofármacos em biologia.

6. A nanociência será a base para o desenvolvimento da


nanoeletrônica e fotônica.

É importante destacar que o crescimento da nanociência e da


nanotecnologia no início dos anos 2000 também se deve ao
aprimoramento da síntese de nanomateriais, reduzindo os custos
associados e aumentando a produtividade desses materiais (GOGOTSI,
2006). Para conhecimento, a síntese pode ocorrer por duas principais
abordagens, sendo a primeira chamada de bottom-up ou “de baixo para
cima”, e a segunda top-down ou “de cima para baixo”.

 73
O método up-down é mais comum, destaca-se a litografia, que
consiste em um processo à seco que utiliza a luz para fazer gravações
de padrões. Já nos métodos bottom-up baseiam-se a auto-organização
do sistema, a partir da manipulação das interações químicas e físicas
entre os átomos e moléculas. Estes métodos ocorrem com a utilização
de solventes, através de sínteses que utilizam métodos químicos,
físicos ou biológicos para a obtenção do nanomaterial de interesse
(MARCONE, 2015).

A definição do método de síntese inteferirá diretamente na estutura


e morfologia do nanomaterial, o que consequentemente afetará as
propriedades e a classificação do componente. A Figura 2 demonstra
essas duas abordagens, onde top-down está exemplificado com o
processamento de um cubo de forma a obter partículas cada vez
menores, e bottom-up representado pela manipulação de átomos de
forma a organizá-los em uma estrutura ordenada maior.

Figura 2 – Abordagens bottom-up e top-down

Fonte: Chrischon (2016).

Os nanomateriais podem ser classificados de acordo com o


seu potencial para aplicação na indústria ou também pela sua
morfologia. Neste material será trabalhada a classificação por
aplicação. Nesse caso, os nanomateriais são divididos em sete
categorias (TIELAS et al., 2014):

74
74
Fonte: elaborada pelo autor.

A seguir serão discutidas, brevemente, as categorias elencadas


anteriormente.

1.1.1 Nanomateriais à base de carbono

Os nanomateriais à base de carbono são amplamente


mencionados no campo das aplicações de energia e apresentam
potenciais aplicações nas áreas de armazenamento de hidrogênio e
de energia elétrica (TIELAS et al., 2014).

Nessa classe de materiais devem ser destacados os nanotubos de


carbono, o fulereno e o grafeno. O nanotubo de carbono (CNT –
carbon nanotube), nanofibras de carbono (CNF – carbon nanofiber),
grafeno e fulerenos são nanomateriais amplamente utilizados em
diversas aplicações industriais. Os nanotubos de carbono de parede
única (SWCNTs – single wall carbon nanotube) são distribuidos como
uma camada de átomos de carbono envolvidos em torno de si
próprios (Figura 3), enquanto os nanotubos de carbono de paredes
múltiplas (MWCNT – Multi-Walled Carbon Nanotubes) são como uma
série de SWCNTs concêntricos, com diâmetros diferentes (TIELAS et
al., 2014).

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Figura 3 – Nanotubos de carbono – Nanotubo de
carbono de parede única (SWCNT)

Fonte: johnerickson/iStock.com.

Outro nanomaterial muito estudado dentro da nanociência são os


fulerenos, devido essencialmente a sua capacidade em sintetizar outros
compostos químicos. Os átomos de carbono de C-60 (fulerenos) formam
um icosaedro no qual cada átomo se localiza num vértice. Este arranjo
geométrico, formado por 12 pentágonos e 20 hexágonos, torna todos os
átomos de carbono equivalentes (TIELAS et al., 2014).

Os fulerenos possuem propriedades fotofísicas e eletroquímicas e


na presença de oxigênio, as moléculas de fulerenos podem oferecer
alta toxicidade. A intercalação de metais alcalinos com moléculas de
C-60 pode gerar materiais supercondutores. Os fulerenos também
podem apresentar aplicações biomédicas, tais como a atividade
antiviral, antioxidante, antimicrobiana, transporte de drogas de
efeito radioterápico e contrastes para diagnóstico por imagem
(FUNDACENTRO, 2017).

O grafeno é uma das formas alotrópicas do carbono. Esse nanomaterial


apresenta a maior condutividade elétrica conhecida, além de, desde
2012, ser o material mais forte conhecido, apresentando uma resistência
à ruptura 200 vezes maior que a do aço (TIELAS et al., 2014).

76
76
Figura 4 – Camada de grafeno

Fonte: ktsimage/iStock.com.

O maior destaque, no âmbito da pesquisa de nanomateriais à base


de carbono nos últimos anos, tem sido dado à sua produção e
caracterização, como pode ser observado em projetos e em artigos de
revisão científica (TIELAS et al., 2014).

1.1.2 Nanocompósitos

Um compósito é um material com mais de um componente, porém de


origem distinta, no qual aproveita-se as melhores propriedades de cada
componente para fabricar um material superior.

Os nanocompósitos são um subconjunto da classe dos materiais


compósitos que utilizam as propriedades diferenciadas dos
materiais em nanoescala. O potencial dos nanocompósitos reside na
multifuncionalidade, ou seja, na possibilidade de realizar combinações
únicas de propriedades, quando comparadas com materiais tradicionais.
Os nanocompósitos de polímeros/material cerâmico (matrizes poliméricas
preenchidas com nanopartículas de cerâmica) são um material promissor
para produzir capacitores/condensadores incorporados em materiais
plásticos, pois esses materiais combinam a alta constante dielétrica do
material cerâmico com a flexibilidade de processamento de polímeros.
Já os nanocompósitos metálicos ou poliméricos (matrizes poliméricas
com nanopartículas metálicas dispersas) combinam desempenho e
flexibilidade de processamento (TIELAS et al., 2014).

 77
Além disso, os nanocompósitos são utilizados também em várias
aplicações médicas, como diagnóstico de doenças, materiais
biomiméticos e biológicos, aplicações dentárias e nanossensores sob a
pele (TIELAS et al., 2014).

1.1.3 Metais e ligas

Os materiais metálicos nanoestruturados e nanocristalinos oferecem


melhorias radicais de propriedades ou novas funções que podem
desempenhar um papel crucial na procura de soluções inovadoras e da
alta produtividade (TIELAS et al., 2014). Como principais exemplos temos:

• Aplicação de nanopartículas de prata e outros metais nobres,


especialmente no âmbito da saúde (função antibacteriana), mas
também algumas aplicações especiais como sensores, conversores
de energia e componentes eletrônicos (TIELAS et al., 2014).

• Aplicações estruturais, com metais mais leves com propriedades


mecânicas superiores: ligas de Al e Mg, Ti e ligas de Ti – melhoria
radical de vários tipos de propriedades mecânicas causadas por
uma mudança de mecanismo de deformação em comparação
com materiais convencionais (TIELAS et al., 2014).

Materiais nanoestruturados metálicos podem ser utilizados no


tratamento de superfície, contra desgaste e corrosão de revestimentos.
Também são aplicados por eletrodeposição, por exemplo, para a
reparação de trocadores de calor, diminuição do desgaste e atrito.
Além do revestimento, nanopartículas são utilizadas para o tratamento
de superfície de peças de metal para produzir uma camada protetora
na sua superfície. Resumindo, os nanometais têm um enorme
potencial para aplicações em eletrônica, construção, transformação de
energia, armazenamento de energia, telecomunicações, tecnologia da
informação, medicina, catálise e proteção do meio ambiente, com alto
impacto possível nas áreas de tecnologia relacionadas com a energia, a
saúde e os materiais (TIELAS et al., 2014).

78
78
1.1.4 Nanomateriais biológicos

Uma das principais tendências para as moléculas biológicas é a


automontagem molecular para produzir nanoestruturas para vários
nanodispositivos. Atualmente, uma grande quantidade de diferentes
materiais e abordagens estão sob pesquisa (TIELAS et al., 2014).

Há um grande número de nanomateriais biológicos, que já são


produzidos e empregados com sucesso como drug deliveries (sistemas
de administração de medicamentos). São utilizados no tratamento de
várias doenças crônicas, especialmente tumores, HIV, hipertensão,
asma e diabetes (BHAT et al., 2019).

Como principais exemplos dessa categoria observam-se os lipossomas


nanopartículas lipídicas sólidas, nanocápsulas, nanoesferas,
dendrímeros, nanopartículas metálicas, pontos quânticos, nanotubos,
nanocristais, nanofios e nanobots (BHAT et al., 2019).

Esses materiais encontram-se facilmente disponíveis devido a


simples rota de síntese, são facilmente funcionalizados e apresentam
características fundamentais para sua utilização na área médica. Por
exemplo: estabilidade, baixa toxicidade e biocompatibilidade (BHAT et
al., 2019).

1.1.5 Nanopolímeros

Os nanopolímeros são um dos nanomateriais mais importantes


para o futuro e têm aplicações na medicina, ciência dos materiais e
energia. As nanopartículas de polímeros são unidades poliméricas em
nanoescala, sendo utilizados em sistemas de assimilação/distribuição
de substâncias ou como material de enchimento nos compósitos com
matriz. As nanofibras, nanofibras ocas, nanofibras de núcleo core-
shell e nanobastões ou nanotubos produzidos têm grande potencial
para uma ampla gama de aplicações, incluindo catálise homogênea e
heterogênea, sensores, aplicações de filtros e optoeletrônica.

 79
As fibras core shell de nanopartículas com núcleos líquidos e cascas
sólidas podem ser usadas para prender objetos biológicos tais como
proteínas, vírus ou bactérias, em condições que não afetem as suas
funções (TIELAS et al., 2014).

1.1.6 Nanovidros

As nanotecnologias têm potencial para sistemas de comunicação e


informação altamente eficientes, tanto para o setor da defesa como para
aplicações comerciais.

Nos últimos anos a nanociência e nanotecnologia têm seguido uma


tendência na qual se torna necessário abordar as questões fundamentais
da ótica em escala nanométrica. Em geral, a ótica near-field e a nano-ótica
abordam as questões fundamentais da ótica em escala nanométrica no
campo da tecnologia e das ciências básicas. Nesse campo a tecnologia é
representada por temas como nanolitografia e armazenamento de dados
óticos de alta densidade, enquanto temas como interações átomo/fotões
na ótica de near-field são representativos no que diz respeito às ciências
básicas. Para essa classe se destacam os vidros nanoporosos e os vidros
fotônicos (TIELAS et al., 2014).

1.1.7 Nanocerâmicas

As nanocerâmicas são utilizadas mais costumeiramente, em estudos e


pesquisas, na forma de pós para incorporação em misturas e sínteses.
Quando aplicadas a produtos comerciais observar a sua utilização como
aditivos voltados para a obtenção e aprimoramento de propriedades
associadas à tribologia, comportamento mecânico e resistência à
corrosão aos produtos recém-fabricados (TIELAS et al., 2014).

Alem disso, a produção de nanopós, principalmente com qualidade e


reprodutibilidade adequadas promove a aplicação das nanocerâmicas
em outras áreas, como a medicina. Como exemplo temos o emprego de
nanopós, em escala comercial, para atuação como pigmentos, isolantes
etc. (TIELAS et al., 2014).

80
80
1.2 Aplicações da nanotecnologia

As aplicações comerciais da nanotecnologia são verdadeiramente


diversas. Na nanotecnologia os produtos estão encontrando seu
caminho em uma variedade de diferentes indústrias, tais como
automobilística aeroespacial, biotecnologia, cosméticos, defesa, energia,
eletrônica, saúde, esportes/fitness, têxteis e calçados. A lista a seguir
dá alguns exemplos de como a nanotecnologia está pronta para ser
incorporada no mundo (SENGUPTA; SARKAR, 2015):

• Automobilística: materiais nanocompósitos resistentes e ultraleves


para carros esportivos e motos de alto desempenho, tintas
resistentes à sujeira e pára-brisas/espelhos antiembaçantes com
nanocoatings hidrofóbicos, melhores células de combustível para
veículos híbridos/elétricos.

• Aeronáutica: compósitos de fibra de carbono para aviões e


helicópteros modernos que ajudam a diminuir o peso e aumentar
a eficiência do combustível.

• Construção: concreto “autorreparável” feito de nanocompósitos e


nanobiotecnologia.

• Defesa: capacetes nanocompostos mais leves e melhores e à


prova de balas para pessoal de segurança/ contraterrorismo,
automonitoramento.

• Eletrônica: MOSFETs em nanoescala, FETs de nanotubos de


carbono (CNT), grafeno FETs, emissores de campo CNT, laser em
cascata quântica, transistores de elétrons simples (SET) .

• Cuidados de saúde: entrega de fármacos (drug delivery), em


que determinados agentes são distribuídos seletivamente para
tratar doenças complexas, como câncer, tumores e doenças
neurodegenerativas como Alzheimer.

 81
Por isso, é compreensível que tenha havido um boom nano nos últimos
anos. Com financiamento público e corporativo para pesquisa e
desenvolvimento nano-relacionados e manufatura, apenas contribuirá
ainda mais para o desenvolvimento dessa classe de materiais.

PARA SABER MAIS


Utilize ferramentas de busca para conhecer mais aplicações
dos nanomateriais em situações relacionadas à sua
formação. Um exemplo de destaque é o grafeno, descoberto
em 2004, aplicado para fabricação de dispositivos
fotovoltaicos, atuando como receptor de elétrons.

O mercado global de nanotecnologia é estimado em 2 trilhões de


dólares. Desde 1999, tem havido uma taxa média de crescimento
anual de cerca de 22% para nanobiotecnologia e cerca de 12-15% para
nanodispositivos no mercado mundial. Pode-se ver exatamente que
a nanotecnologia e a nanociência tomarão ainda mais destaque nos
próximos anos. No entanto, de todas as indicações nas últimas décadas,
parece que a nanotecnologia veio para ficar e ter um impacto científico,
tecnológico e social significativo (SENGUPTA; SARKAR, 2015).

Sendo assim, é importante conhecer essa ascendente e importante


classe de materiais para não ser surpreendido na atuação no mercado
de trabalho, em constante mudança.

TEORIA EM PRÁTICA
Em nanoescala, os materiais apresentam propriedades
físicas e químicas diferentes das propriedades do mesmo
material em micro ou macroescalas. A nanociência rege

82
82
o estudo da nanotecnologia para o desenvolvimento ou a
melhoria da matéria, graças à possibilidade da manipulação
de átomos e/ou moléculas, cujos efeitos observados estão
intimamente ligados à escala nanométrica. Um exemplo
de material que pode ser manipulado para obtenção de
diferentes características é o ouro (Au). Suponha que você
esteja em um dia comum atuando no seu laboratório
de pesquisa, quando seu aluno de iniciação científica te
aborda com uma dúvida. Seu projeto de pesquisa estuda
a dispersão de nanopartículas de ouro e, durante a análise
de resultados experimentais, não consegue compreender
o porquê a dispersão não apresentou a coloração dourada,
esperada para o material de estudo: ouro. Logo, seu aluno
te questiona sobre os motivos pelos quais isso ocorreu.
Sobre esse tema, explique por que esse metal apresenta
diferentes colorações quando se varia o tamanho da
partícula para nanoescala.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Nos últimos vinte anos, os nanomateriais têm gerado


muita empolgação, fato que pode ser observado devido
ao grande número de publicações, livros e periódicos
dedicados a essa classe de materiais. Nos canais
de comunicação, observa-se o emprego do termo
“nanomaterial” com bastante frequência, sendo descrito
como os materiais que estão mudando o mundo à
nossa volta devido à ampla área de aplicação desses em
setores tecnológicos (geração de energia e eletrônica).

 83
Sobre esse tema, assinale a alternativa que
completa corretamente o trecho a seguir:
A __________ é a ciência e a tecnologia da
matéria em nanoescala, cujas propriedades
diferem significativamente das de seu material
constituinte (do objeto mencionado) na escala
__________ ou microscópica.

a. Nanotecnologia; macroscópica.

b. Nanociência; nano.

c. Nanotecnologia; nano.

d. Nanociência; macroscópica.

e. Fotônica; macroscópica.

2. O mercado global de nanotecnologia é estimado


em 2 trilhões de dólares. Desde 1999, tem havido
uma taxa média de crescimento anual de cerca
de 22% para nanobiotecnologia e cerca de
12-15% para nanodispositivos no mercado
mundial (SENGUPTA; SARKAR, 2015).
Sobre esse tema, assinale a alternativa que apresenta
corretamente o conceito definido a seguir:
A ciência que rege o estudo da nanotecnologia para o
desenvolvimento ou a melhoria da matéria, graças à
possibilidade da manipulação de átomos e/ou moléculas,
cujos efeitos observados estão intimamente ligados à
escala nanométrica, sendo observados na melhoria das
propriedades físicas, químicas e/ou biológicas.

84
84
a. Nanomedicina.

b. Nanoengenharia.

c. Nanoestudo.

d. Nanociência.

e. Nanotecnologia.

3. Os nanomateriais à base de carbono são amplamente


mencionados no campo das aplicações de energia
e apresentam potenciais aplicações nas áreas de
armazenamento de hidrogênio e armazenamento de
energia elétrica. (TIELAS et al., 2014). Sobre esse tema,
assinale a alternativa que apresenta, corretamente, o
nome do nanomaterial apresentado a seguir:

Fonte: johnerickson/iStock (ID 453429275).

a. Grafeno.

b. Fulereno.

c. Nanotubo de carbono.

d. Pervoskita.

e. Nanofibra de carbono.

 85
Referências bibliográficas
BHAT, Aamir Hussain et al. Nanomaterials for healthcare, energy and
environment. Singapore: Springer Nature Singapore Pte Ltd, 2019.
CHRISCHON, Dieivase. Nanotubos magnéticos sintetizados por eletrodeposição
em alumina anódica porosa. 2016. Disponível em: https://www.researchgate.
net/publication/327894109_NANOTUBOS_MAGNETICOS_SINTETIZADOS_POR_
ELETRODEPOSICAO_EM_ALUMINA_ANODICA_POROSA. Acesso em: 17 ago. 2018.
FUNDACENTRO. Fulerenos. 2017. Disponível em: http://www.fundacentro.gov.br/
nanotecnologia/fulerenos. Acesso em: 19 ago. 2019.
GOGOTSI, Yury. Nanomaterials handbook. Boca Raton, London, New York: Taylor
& Francis Group, 2006. 779 p.
MARCONE, Glauciene Paula de Souza. Nanotecnologia e nanociência: aspectos
gerais, aplicações e perspectivas no contexto do Brasil. 2015. Disponível em:
https://revistascientificas.ifrj.edu.br/revista/index.php/revistapct/article/view/588.
Acesso em: 14 ago. 2019.
RÓZ, Alessandra Luzia da et al. Nanoestruturas: coleção nanociência e
nanotecnologia: princípios e aplicações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. 278 p.
SENGUPTA, Amretashis; SARKAR, Chandan Kumar. Introduction to nano: basics
to nanoscience and nanotechnology. Berlin: Springer-verlag Berlin Heidelberg,
2015. 226 p.
TIELAS, Alberto et al. Nanomateriais - guia para o espaço industrial Sudoe. 2014.
Disponível em: https://www.ua.pt/ReadObject.aspx?obj=37947. Acesso em: 18
ago. 2019.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: A
Resolução: A nanotecnologia é a ciência e a tecnologia dos objetos
em nanoescala, cujas propriedades diferem significativamente
das de seu material constituinte (do objeto mencionado) na escala
macroscópica ou microscópica. (SENGUPTA; SARKAR, 2015)
Questão 2 – Resposta: D
Resolução: A nanociência pode ser conceituada segundo RÓZ et
al. (2015) como: “A ciência que rege o estudo da nanotecnologia

86
86
para o desenvolvimento ou a melhoria da matéria, graças
à possibilidade da manipulação de átomos e/ou moléculas,
cujos efeitos observados estão intimamente ligados à escala
nanométrica, sendo observados na melhoria das propriedades
físicas, químicas e/ou biológicas”.
Questão 3 – Resposta: B
Resolução: Os fulerenos possuem propriedades fotofísicas
e eletroquímicas e na presença de oxigênio, as moléculas de
fulerenos podem oferecer alta toxicidade. A intercalação de
metais alcalinos com moléculas de C-60 pode gerar materiais
supercondutores. Os fulerenos também apresentam aplicações
biomédicas, tais como a atividade antiviral, antioxidante,
antimicrobiana, transporte de drogas de efeito redioterápico e
contrastes para diagnóstico por imagem (FUNDACENTRO, 2017).
Figura – C-60 Fulereno

Fonte: johnerickson/iStock.com.

 87
Síntese eletroquímica de
materiais nanoestruturados e
nanomateriais magnéticos
Autor: Rafael Misael Vedovatte

Objetivos

• Compreender a síntese eletroquímica de


materiais nanoestruturados.

• Apresentar a técnica de eletrodeposição para


fabricação de filmes nanoestruturados.

• Apresentar as técnicas de síntese de


nanoparticulas magnéticas.

88
88
1. Síntese dos materiais nanoestruturados

O crescimento da nanociência e da nanotecnologia não teria ocorrido


de forma tão expressiva sem a evolução das técnicas de síntese e
caracterização dos materiais nanoestruturados. Sobre esse tema,
é importante ressaltar que ainda são muito recentes as pesquisas
dedicadas à investigação da capacidade de fabricação, organização e
adaptação de materiais à nanoescala.

Logo, muitos métodos de síntese ainda se encontram em fase de


desenvolvimento e principalmente de aprimoramento por muitos
grupos de pesquisa. Mesmo assim, algumas pesquisas citadas
por Gogotsi (2006) exibem exemplos notáveis da
​​ síntese de novas
nanoestruturas, as quais se destacam:

• Nanocristais de metais, semicondutores e materiais magnéticos,


empregando métodos de química coloidal.

• O uso de métodos físicos e químicos para a síntese de


nanopartículas de materiais cerâmicos.

• Deposição de superfície de aglomerados e nanocristais em grafite


e outras superfícies metálicas ou semicondutoras para obter
novos nanosistemas tridimensionais ou bidimensionais.

• Nanotubos de carbono de paredes simples e múltiplas, bem como


nanotubos de materiais inorgânicos, como óxidos metálicos,
calcogenetos e nitretos.

• Nanofios de metais, semicondutores, óxidos, nitretos, sulfetos e


outros materiais.

• Novas estruturas poliméricas envolvendo dendrímeros e


copolímeros em bloco.

 89
• Estruturas nanobiológicas (por exemplo, centros de reação
fotossintética bacteriana e vegetal e segmentos de DNA).

Para fabricar nanoestruturas com objetivo de torná-las funcionais, se faz


necessário controlar a morfologia e o tamanho destas durante a síntese
(GOGOTSI, 2006).

1.1 Fundamentos de síntese eletroquímica

A síntese eletroquímica pode empregar várias técnicas experimentais,


porém utiliza os mesmos fundamentos teóricos relacionados com
reações em eletrodos condutores imersos em solução contendo íons.
Mas, o que torna esta síntese atraente? A resposta para essa pergunta
está na série de vantagens que este processo oferece em comparação
aos métodos químicos tradicionais, tais como (RÓZ et al., 2015;
GECKELER; NISHIDE, 2010; SENGUPTA; SARKAR, 2015; BRECHIGNAC et al.,
2006; VOLLATH, 2013; EFTEKHARI, 2008):

• Fácil fabricação.

• Baixo custo.

• Homogeneidade das amostras.

• Controle das propriedades do material.

• Boa reprodutibilidade.

Em termos gerais, a síntese eletroquímica necessita que um substrato


condutor de elétrons seja mergulhado em uma solução contendo íons
para que se inicie o processo. Nesta síntese, dois tipos de processos
eletroquímicos podem ocorrer (RÓZ et al., 2015):

90
90
Figura 1 – Processos eletroquímicos disponíveis
na síntese eletroquímica

Fonte: elaborada pelo autor.

ASSIMILE
Nos processos faradaicos, a Lei de Faraday atesta que a
quantidade do produto formado ou reagente consumido
em função da corrente elétrica é estequiometricamente
equivalente à quantidade de elétrons fornecidos, ou
seja, a quantidade, em gramas, das espécies que se
oxidarão ou reduzirão sobre o eletrodo é proporcional à
quantidade, em mols, de elétrons envolvidos.

Para realização da síntese eletroquímica necessita-se de um sistema


conhecido como célula eletroquímica (Figura 1.1.2). De acordo com
a literatura, pode-se classificar a célula eletroquímica de acordo com
a maneira pela qual a corrente elétrica passa pelos os eletrodos
(RÓZ et al., 2015).

 91
Figura 2 – Ilustração da configuração experimental
de uma célula eletroquímica

Fonte: Róz et al. (2015, p. 70).

Em uma célula classificada como galvânica, ocorrem reações


espontâneas nos eletrodos quando estão conectados externamente por
um condutor e são normalmente empregadas na conversão de energia
química em energia elétrica. Por outro lado, nas células eletrolíticas as
reações químicas são afetadas pela imposição de uma voltagem externa
superior ao potencial de circuito aberto na célula (RÓZ et al., 2015).

Por definição, as reações nas células eletroquímicas, que ocorrem


no cátodo, são denominadas como reações de redução, enquanto as
reações que ocorrem no ânodo são as reações de oxidação. Na célula
eletrolítica, o cátodo é negativo em relação ao ânodo, enquanto na
célula galvânica ele é positivo. Na síntese eletroquímica, uma célula
eletrolítica é composta por uma cuba feita normalmente de vidro, onde
o eletrólito é inserido e os eletrodos são imersos em solução. É comum

92
92
a célula ser revestida por uma camada externa isolada onde o controle
da temperatura do eletrólito é realizado com o auxílio de um banho
termostático acoplado a um sistema de circulação (RÓZ et al., 2015).

Em um experimento padrão, três tipos de eletrodos podem ser


utilizados (RÓZ et al., 2015):

• Eletrodo de trabalho: o eletrodo de trabalho é o substrato


condutor no qual ocorre a reação eletroquímica.

• Eletrodo de referência: eletrodo que possui potencial conhecido e


invariável em relação ao eletrodo-padrão de hidrogênio na faixa
de potenciais conhecidos.

• Eletrodo auxiliar: um eletrodo auxiliar ou contraeletrodo é


necessário para o fluxo de corrente elétrica e de íons, de forma a
fechar o circuito elétrico do sistema.

Também podem ser acoplados ao sistema: um agitador magnético


utilizado para manter constantes os processos físicos de transporte de
íons na interface eletrodo/eletrólito; um borbulhador para a entrada
de nitrogênio e um saturador para a extração de oxigênio dissolvido
no eletrólito e manutenção da fase gasosa inerte dentro da célula.
Este tipo de configuração de célula é comumente utilizada nas reações
de eletrodeposição, que são as reações onde os íons presentes no
eletrólito são depositados na superfície do substrato por uma reação
de redução (RÓZ et al., 2015).

Reações de oxidação anódica ou anodização, apresentam o crescimento


de um filme de óxido na superfície do eletrodo de trabalho, neste
caso, normalmente, não se utiliza o eletrodo de referência. Logo, para
determinar o potencial do eletrodo de trabalho leva-se em consideração
a diferença de potencial entre este eletrodo e o contraeletrodo.
Neste tipo de experimento (Figura 1.1.3), é habitual utilizar dois
contraeletrodos dispostos de forma simétrica e paralela ao eletrodo de

 93
trabalho, para que o campo elétrico permaneça homogêneo nas faces
do eletrodo que será submetido à anodização (RÓZ et al., 2015).

Figura 3 – Ilustração e foto de uma célula eletroquímica tradicional

Fonte: Róz et al. (2015, p. 71).

As reações eletroquímicas podem ser facilmente controladas pelo


potencial aplicado na célula eletrolítica. Por isso a importância em
compreender a relação dos compontes utilizados no equipamento.

2. Síntese de filmes nanoestruturados por


eletrodeposição

Na síntese de filmes nanoestruturados por eletrodeposição observa-


se que as reações ocorrem, principalmentne, na interface entre o
eletrodo e o eletrólito e são promovidas pelos gradientes formados
entre as diferenças de potencial químico e elétrico das espécies
envolvidas (RÓZ et al., 2015).

Durante a eletrodeposição, o eletrodo de trabalho é polarizado


negativamente em relação ao eletrodo de referência, de forma que os

94
94
íons metálicos de carga positiva presentes na solução eletrolítica são
atraídos em direção ao substrato metálico e reduzidos à sua forma
metálica na superfície do eletrodo. O resultado é a formação de um
filme compacto, denso e fortemente aderido ao substrato, sendo que
sua espessura pode ser monitorada (RÓZ et al., 2015).

Para se controlar o processo de preparação de eletrodepósitos com


dimensões na escala nanométrica é necessário um conhecimento dos
processos de nucleação, crescimento dos filmes e cinética das reações
eletroquímicas, que são influenciados por uma série de fatores, tais
como (RÓZ et al., 2015):

• Técnica eletroquímica utilizada.

• Tipo de substrato.

• Temperatura.

• Composição.

• Concentração do eletrólito.

A nucleação é a primeira etapa de formação do filme metálico.


Nesta etapa observa-se que a formação dos núcleos tende a ocorrer,
preferencialmente, sobre defeitos e imperfeições presentes na
superfície do eletrodo de trabalho. Como exemplos pode-se citar os
contornos de grãos, buracos, inclusões, camadas de óxido e moléculas
adsorvidas. A presença de impurezas adsorvidas, a estrutura e a
orientação cristalográfica do substrato atuam de forma a influenciar
o processo de nucleação promovendo morfologias e características
específicas para o filme em formação. Por isso a determinação correta
do substrato é extremamente importante. Dentre os materiais mais
comumente utilizados como eletrodo de trabalho em eletrodeposição
estão a platina, ouro, cobre, aço inoxidável, carbono vítreo e ITO (óxido
de estanho-índio). Estes materiais apresentam estabilidade química,

 95
boa resistência à corrosão, facilidade de remoção de impurezas
da superfície e possibilidade de funcionalização da superfície para
diferentes aplicações (RÓZ et al., 2015).

Mas, como controlar a reação eletroquímica?

A reação eletroquímica pode ser controlada por quatro tipos de


mecanismos (RÓZ et al., 2015):

• Reação de transferência de carga: transferência de íons e


elétrons, através da dupla camada elétrica.

• Difusão: as espécies consumidas ou formadas durante as


reações são transportadas da solução até a interface do
substrato e vice-versa.

• Reação química: correspondem às reações homogêneas em


solução ou heterogêneas na superfície do eletrodo e não
envolvem transferência de carga, não sendo então afetadas
pelo potencial aplicado.

• Cristalização: átomos são incorporados ou removidos da rede


cristalina do metal que está sendo formado.

Durante a escolha do eletrólito, deve-se levar em consideração a


composição do banho eletrolítico, o pH e a presença de aditivos,
pois estes fatores podem afetar fortemente a estrutura da interface
eletrólito/substrato, a cinética de transferência de carga e de massa,
bem como a cinética de reações químicas secundárias que podem
ocorrer paralelamente ao processo (RÓZ et al., 2015).

Definidos os parâmetros iniciais, deve-se também atentar para os


processos de nucleação e de cristalização, nos quais a nucleação é um
processo caracterizado pelas seguintes etapas: (i) difusão dos íons até
a interface eletrólito/substrato, (ii) dessolvatação parcial, (iii) adsorção
na superfície do substrato e (iv) dessolvatação completa e nucleação
(RÓZ et al., 2015).

96
96
Além do substrato, outra variável importante que afeta o processo
de eletrodeposição e as características dos filmes obtidos é a
temperatura, pois interfere na velocidade das reações, nos processos
difusionais e na viscosidade do meio. No entanto, vale ressaltar
que ao contrário de outros métodos utilizados na preparação de
materiais nanoestruturados, a síntese eletroquímica não requer altas
temperaturas (RÓZ et al., 2015).

Em relação às técnicas de eletrodeposição mais comumente utilizadas


estão a voltametria cíclica, cronoamperometria, cronopotenciometria
e métodos pulsados, que são escolhidos de acordo com o tipo e as
propriedades do material que se deseja obter (RÓZ et al., 2015).

• A voltametria cíclica é um método potenciodinâmico, isto


é, com variação simultânea do potencial e da corrente, que
consiste na varredura de potenciais em um intervalo específico
a uma velocidade constante enquanto a variação de corrente é
monitorada.

• A cronoamperometria é um método potenciostático no qual


o potencial é mantido fixo de forma que as reações tendem a
se limitar pelo potencial aplicado, e a resposta observada é a
variação de corrente em função do tempo.

• Os métodos pulsados envolvem a aplicação de pulsos de corrente


ou de potencial durante um intervalo de tempo específico.

Dependendo da técnica utilizada, os processos de nucleação e a


cinética de crescimento dos filmes mudam, levando à formação de
eletrodepósitos nanoestruturados com propriedades e características
distintas (RÓZ et al., 2015).

3. Síntese de nanopartículas magnéticas

Diversos trabalhos (GECKELER; NISHIDE, 2010; SENGUPTA; SARKAR, 2015;


BRECHIGNAC et al., 2006; VOLLATH, 2013; EFTEKHARI, 2008) expõem a

 97
busca por diferentes métodos de síntese de nanopartículas magnéticas.
O foco dessas pesquisas é desenvolver métodos que permitam um
controle maior sobre as propriedades finais da nanopartícula. Segundo
Beck Júnior (2016), os métodos mais comuns são:

• Coprecipitação.

• Sistemas micelares ou microemulsões.

• Síntese hidrotérmica.

• Pirólise à laser.

• Decomposição/redução térmica.

O Quadro 1 mostra as peculiaridades de cada método de síntese de


nanopartículas.

Quadro 1 – Resumo comparativo de quatro diferentes


métodos de síntese de nanopartículas

Tempe- Controle
Tempo Agentes de Distribuição
Método Síntese ratura Solvente de
de Reação Superfície de tamanho
Reação (ºC) forma

Muito sim- Necessário


Co- Relativamen-
ples, condi- 20-90 Minutos Água durante ou Ruim
precipitação te estreira
ção ambiente após reação

Complica- Necessário
Decomposi- Muito
do, atmos- 100-320 Horas/dias Orgânico duran- Muito estreita
ção térmica bom
fera inerte te a reação

Complica- Necessário
Micro- Orgânico/ Orgânico/ Relativamen- Muito
do, condi- 20-50 duran-
emulsão água água te estreita bom
ção ambiente te a reação

Necessário
Síntese Simples, al- Água/ Muito
220 Água-etanol duran- Muito estreita
hidrotérmica tas pressões etanol bom
te a reação

Fonte: Beck Junior (2016, p. 23).

Dentre os métodos apresentados, dois se destacam: microemulsão e


decomposição térmica.

98
98
3.1 Microemulsão

Microemulsões são nanodispersões coloidais formadas por dois líquidos


imiscíveis estabilizados pela ação de um surfactante que diminui a tensão
superficial do sistema, geralmente água e óleo (BECK JUNIOR, 2016).

Nas microemulsões, é possível a utilização de um co-surfactante,


normalmente um álcool de cadeia curta, que atua promovendo uma
maior estabilidade do sistema. Dependendo da razão entre água, óleo e
surfactante, ocorre a solubilização de uma fase sobre a outra, na qual a
fase dissolvida fica recoberta pelo filme surfactante (BECK JUNIOR, 2016).

As microemulsões são termodinamicamente estáveis e,


macroscopicamente, podem apresentar-se como um meio líquido
isotrópico. De acordo com o tipo da fase dispersa e do meio de
dissolução, as microemulsões podem ser classificadas como direta
(óleo em água), formada por uma fase apolar dissolvida em um meio
de dissolução polar; inversa (água em óleo), em que a fase dispersa é
polar e o meio de dissolução apolar; e bicontínua, na qual água e óleo
encontram-se organizadas na forma de canais separados por um filme
surfactante (BECK JUNIOR, 2016).

As dispersões de substâcias tensoativas possuem algumas propriedades


características em pequenas contrações atuando como simples eletrólitos,
mas quando utilizadas em uma faixa específica de concentração, sofrem
consideráveis variações em suas propriedades físico-químicas, tais como:
pressão osmótica, condutância, turbidez, tensão superficial ou medidas
de espalhamento. Tais alterações podem ser explicadas em termos da
formação de agregados organizados, conhecidos como micelas, as quais
surgem acima de uma determinada concentração, chamada concetração
micelar crítca (cmc) (BECK JUNIOR, 2016).

Em pequenas concentrações, as moléculas do surfactante se encontram


aleatoriamente dispersas por todo o sistema na forma de monômeros.

 99
Quando a cmc é atingida, esses monômeros passam a se organizar
de modo a buscar um estado de menor energia, formando assim as
micelas. Concentrações muito superiores à cmc resultam na perda da
organização e as micelas são quebradas, conforme as Figuras 4 e 5
(BECK JUNIOR, 2016).

Figura 4 – Tipos de microemulsão: (a) Direta; (b) Inversa

Fonte: adapatado de Taylor e Ferrari (2013).

Figura 5 – Comportamento dos surfactantes em solução


(solvente com caráter apolar)

Fonte: Beck Junior (2016, p. 25).

Tanto as microemulsões quanto as soluções de substâncias tensoativas


são exemplos de sistemas nanoheterogêneos por possuírem pequenos
domínios separados em determinadas composições. Em síntense
de nanopartículas, tais domínios podem atuar como nanorreatores,
aprisionando as espécies precursoras das NP’s (nanopartículas) e
disponibilizando um ambiente único para sua nucleação e crescimento.
O acúmulo dessas espécies precursoras e o crescimento das
nanopartículas no interior dos nanorreatores são limitados pelo espaço
disponível, promovendo satisfatório controle sobre o tamanho e forma
dessas nanopartículas (BECK JUNIOR, 2016).

100
100
3.2 Decomposição térmica

Outros métodos utilizados para síntese de nanopartículas metálicas


são os métodos químicos que envolvem decomposição térmica
dos precursores organometálicos. Estes têm demonstrado grande
eficiência quanto ao controle do tamanho, morfologia, arranjos
bi e tridimensionais, composição, entre outras propriedades das
nanopartículas obtidas. Em sua grande maioria, tais métodos consistem
na utilização direta, ou com pequenas modificações, do método poliol.
O método poliol foi relatado por Fievet et al. (1989) na síntese de
micropartículas através da utilização de etilenoglicol na redução de
íons metálicos em altas temperaturas. Entretanto, ficou amplamente
conhecido após trabalhos realizados por Sun (2006) e colaboradores,
nos quais o etilenoglicol foi substituído por alcanodiol de cadeia
longa, sendo assim obtidas nanopartículas monodispersas. A Figura
3.2.1 apresenta o método poliol sendo empregado na síntese de
nanopartículas (BECK JUNIOR, 2016).

Figura 6 – Ilustração da síntese de nanopartículas bimetálicas


de FePt via método poliol

Fonte: Sun (2006, p. 395).

O tamanho das partículas pode ser controlado pelo ajuste da razão


molar entre os estabilizadores e o precursor e pelo controle da taxa de
aquecimento e temperatura de refluxo. Atualmente diversas variantes
do método poliol são empregadas, nas quais a principal modificação é
a substituição dos precursores metálicos carbonílicos, por precursores

 101
de menor toxicidade, tais como acetatos e acetilacetonatos. Além
da toxicidade, outro problema associado à utilização de compostos
carbonílicos em sínteses de decomposição térmica é a alta volatilidade
desses compostos, o que faz com que parte do reagente adicionado
à síntese acabe por não participar da reação, dificultando assim o
controle sobre a composição das partículas. Neste ponto reside a
maior vantagem da utilização de sais acetatos e acetilacetonatos como
precursores metálicos, uma vez que, por apresentarem volatilidade
desprezível, o controle sobre a composição do produto é amplamente
facilitado (BECK JUNIOR, 2016).

PARA SABER MAIS

As nanopartículas magnéticas podem ser utilizadas


em diversos ramos da tecnologia e também na
área médica, na forma de biossensores e no
desenvolvimento de novos medicamentos.
Para conhecer mais métodos de síntese utilzados
para o desenvolvimento de nanomateriais
magnéticos, leia o artigo Nanopartículas magnéticas:
o cobalto, publicado por Sargentelli e Ferreira (2010).

O processo utilizado para a síntese do nanomaterial impacta


diretamente na morfologia e consequentemente no desempenho
dele. Sendo assim, é essencial relembrar que as pesquisas dedicadas à
investigação da capacidade de fabricação, organização e adaptação de
materiais à nanoescala encontram-se em constante desenvolvimento.

Por isso, essa classe de materiais traz tanto interesse, devido a esse
universo inteiro que pode ser explorado desenvolvendo assim, materiais
para aplicações e solicitações ainda desconhecidas.

102
102
TEORIA EM PRÁTICA
Suponha que você foi contratado para sintetizar uma
nanopartícula metálica magnética, por meio de um
método que ofereça um excelente controle de forma
(morfologia). Além disso, devido ao setup do experimento,
o processo de síntese não pode ultrapassar um limite de
temperatura fixado em 100 ºC.
Sobre essa demanda, responda qual é o método de
síntese mais indicado? Justifique!

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. A busca por diferentes métodos de síntese de


nanopartículas magnéticas. O foco dessas pesquisas
é desenvolver métodos que permitam um controle
maior sobre as propriedades finais da nanopartícula
(BECK JUNIOR, 2016).
Assinale a alternativa que apresenta corretamente
dois métodos utilizados para síntese de materiais
nanopartículados:

a. Decomposição térmica e fotossíntese.

b. Contração e microemulsão.

c. Solidificação e contração.

d. Microemulsão e decomposição térmica.

e. Fotossíntese e fusão térmica.

 103
2. A síntese eletroquímica pode empregar várias técnicas
experimentais, porém utiliza os mesmos fundamentos
teóricos clássicos relacionados com reações em
eletrodos condutores imersos em solução contendo
íons (RÓZ et al., 2015).
Sobre o tema, assinale a alternativa que apresenta
corretamente os três tipos de eletrodos utilizados na
síntese eletroquímica padrão:

a. Referência, sacrifício e trabalho.

b. Trabalho, referência e auxiliar.

c. Sacrifício, auxiliar e referência.

d. Trabalho, síntese, cátado.

e. Ânodo, sacrifício, trabalho.

3. Para se controlar o processo de preparação


de eletrodepósitos com dimensões na escala
nanométrica é necessário um conhecimento dos
processos de nucleação, crescimento dos filmes
e cinética das reações eletroquímicas. A reação
eletroquímica pode ser controlada por quatro tipos
de mecanismos (RÓZ et al., 2015), sendo eles:
__________: envolve a transferência de portadores
de carga, tais como íons e elétrons, através da dupla
camada elétrica.
__________: as espécies consumidas ou formadas durante
as reações são transportadas da solução até a interface
do substrato e vice-versa.

104
104
__________: correspondem às reações homogêneas em
solução ou heterogêneas na superfície do eletrodo e
não envolvem transferência de carga, não sendo então
afetadas pelo potencial aplicado.

__________: átomos são incorporados ou removidos da


rede cristalina do metal que está sendo formado.

Assinale a alternativa que completa, corretamente, as


lacunas acima.

a. Difusão; Reação química; Cristalização; Reação de


transferência de carga.

b. Cristalização; Difusão; Reação química; Reação de


transferência de carga.

c. Reação química; Cristalização; Reação de


transferência de carga; Difusão.

d. Difusão; Reação de transferência de carga;


Cristalização; Reação química.

e. Reação de transferência de carga; Difusão;


Reação química; Cristalização.

Referências bibliográficas
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superparamagnéticos do tipo core-shell para aplicação em catálise e
biomedicina. 2016. 147 f. Tese (Doutorado) – Curso de Química, Universidade de
São Paulo – USP, São Carlos, 2016.
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VOLLATH, Dieter. Nanomaterials: an introduction to synthesis, properties and
applications. Weinheim: Wiley-vch Verlag Gmbh & Co. Kgaa, Boschstr, 2013.

Gabarito
Questão 1 – Resposta: D
Resolução: Apenas a letra D apresenta dois métodos que, segundo
a referência (BECK JUNIOR, 2016, p .23), são utilizados para síntese
de nanomateriais. Já os demais métodos (fotossíntese, contração,
fusão térmica e solidificação), apesar de se tratarem de conceitos
existentes na literatura, não se aplicam especificamente à síntese
de nanomateriais.
Questão 2 – Resposta: B
Resolução: Em um experimento padrão, três tipos de eletrodos
podem ser utilizados:

106
106
Eletrodo de Trabalho: o eletrodo de trabalho é o substrato condutor
onde ocorre a reação eletroquímica (RÓZ et al., 2015).
Eletrodo de Referência: eletrodo que possui potencial conhecido e
constante em relação ao eletrodo-padrão de hidrogênio dentro da
faixa de potenciais conhecidos (RÓZ et al., 2015).
Eletrodo Auxiliar: um eletrodo auxiliar ou contraeletrodo é
necessário para o fluxo de corrente elétrica e de íons de forma a
fechar o circuito elétrico do sistema (RÓZ et al., 2015).
Questão 3 – Resposta: E
Resolução: A reação eletroquímica pode ser controlada por quatro
tipos de mecanismos (RÓZ et al., 2015):
• Reação de transferência de carga: transferência de íons e
elétrons, através da dupla camada elétrica.
• Difusão: as espécies consumidas ou formadas durante as
reações são transportadas da solução até a interface do
substrato e vice-versa.
• Reação química: correspondem às reações homogêneas em
solução ou heterogêneas na superfície do eletrodo e não
envolvem transferência de carga, não sendo então afetadas pelo
potencial aplicado.
• Cristalização: átomos são incorporados ou removidos da rede
cristalina do metal que está sendo formado.

 107
Filmes nanoestruturados,
nanocompósitos de matriz
polimérica e argila lamelar
Autor: Rafael Misael Vedovatte

Objetivos

• Conhecer como são obtidos os filmes


nanoestruturados.

• Compreender os diferentes mecanismos


de nucleação e crescimento de filmes
nanoestruturados.

• Apresentar os conceitos associados aos


nanocompósitos de matriz polimérica e
argila lamelar.

108
108
1. Filmes nanoestruturados

Filmes nanoestruturados têm recebido muito destaque como tema de


pesquisa. Isso se deve especialmente pelo desenvolvimento de métodos
de deposição, o que tornou possível controlar, com mais rigor, as
características dos filmes fabricados (CAO, 2004). Filmes com morfologia,
rugosidade e espessuras controladas permitiram o emprego desses,
por exemplo, em dispositivos fotovoltaicos; em que, a resposta elétrica
do dispositivo, em termos de eficiência de conversão de energia, está
relacionada com o tamanho e com a homogeneidade dos grãos que
formam o filme nanoestruturado.

Controlar a espessura e a morfologia do filme, por meio do método


de deposição, é um procedimento muito utilizado em nanociência e
nanotecnologia, pois permite fabricar os filmes de acordo com a área
de aplicação: biotecnologia, eletrônica, medicina, entre outras. Este
fato confere aos filmes nanoestruturados uma posição de destaque no
desenvolvimento tecnológico (RÓZ et al., 2015).

Além da reconhecida importância tecnológica de filmes ultrafinos,


existe ainda um grande interesse científico nas questões fundamentais
envolvidas na formação destes, devido à grande variedade de arquiteturas
e materiais existentes atualmente. (RÓZ et al., 2015, p. 39)

Sendo assim, é importante discutir com mais detalhes o processo de


formação dos filmes nanoestruturados por meio do método de deposição
atrelado aos fenômenos de nucleação e crescimento. A Figura 1, mostra
exemplos de diferentes morfologias obtidas para um filme de Iodeto de
Chumbo Metilamino (CH3NH3PbI3) aplicados em dispositivos fotovoltaicos,
obtidas pela variação de parâmetros de deposição.

 109
Figura 1 – Exemplo de morfologias de filmes de
Iodeto de Chumbo Metilamino (CH3NH3PbI3), preparadas por
modificações nos parâmetros instrumentais

Fonte: Petrus et al. (2017, p. 8).

1.1 Fenômenos de nucleação e crescimento

O crescimento de filmes finos envolve os processos de nucleação e


crescimento em um substrato. Para deposições com espessuras em
escala nanométrica, o controle da nucleação é fundamental para obter a
morfologia final desejada (CAO, 2004).

Na prática, a interação entre o filme e o substrato desempenha um


papel muito importante na determinação da nucleação inicial e do
crescimento do filme (CAO, 2004).

Na Figura 2 são demonstrados os três modos básicos de nucleação,


o crescimento do tipo ilha, crescimento camada ou crescimento
ilha-camada:

110
110
Figura 2 – Modos básicos de nucleação inicial no crescimento do filme

Fonte: adaptada de Cao (2004).

• O crescimento do tipo ilha ocorre quando as espécies em


crescimento possuem mais interação umas às outras do que ao
substrato. Esse exemplo de crescimento pode ser observado
em muitos sistemas metálicos em substratos isolantes, haletos
alcalinos, grafite e substratos de mica, nos quais se observa
este tipo de nucleação durante o depósito inicial do filme.
O crescimento subsequente faz com que as ilhas se aglutinem
para formar um filme (CAO, 2004).

• O crescimento camada é o oposto do crescimento ilha, no qual


o crescimento das espécies está mais fortemente ligado ao
substrato do que entre si. Neste modelo a camada subsequente
só pode ser formada após a total formação da camada anterior.
O exemplo mais importante do modo de crescimento camada é o
crescimento epitaxial de filmes de cristal único (CAO, 2004).

• O crescimento ilha-camada é uma combinação intermediária do


crescimento camada e crescimento ilha (CAO, 2004).

Independentemente do método de crescimento, deve-se atentar para


alguns fatores fundamentais associados ao tipo de filme que se deseja
fabricar (cristal único, amorfo ou policristalino) (CAO, 2004).

 111
O crescimento de filmes de cristal único é mais difícil e requer um único
substrato de cristal com uma correspondência próxima da estrutura,
um substrato com superfície limpa, a fim de evitar possíveis nucleações
secundárias, alta temperatura de crescimento, de modo a garantir
uma mobilidade suficiente do crescimento e baixa taxa de impacto
das espécies em crescimento, a fim de garantir tempo suficiente para
difusão da superfície e incorporação de crescimento de espécies na
estrutura cristalina (CAO, 2004).

A deposição de filmes amorfos ocorre tipicamente quando se aplica uma


baixa temperatura de crescimento e/ou quando o influxo de espécies
em crescimento na superfície de crescimento é muito alta, assim, as
espécies em crescimento não têm o tempo suficiente para encontrar os
locais de crescimento com a menor energia (CAO, 2004).

As condições para o crescimento de filmes policristalinos caem


entre as condições de crescimento de cristal único e filme amorfo
por deposição. Em geral, a temperatura de deposição é moderada,
garantindo uma mobilidade superficial razoável das espécies em
crescimento (CAO, 2004).

Com base nas informações discutidas até agora, é possível compreender


dois métodos de deposição que, segundo Róz et al. (2015), se destacam
pelo controle molecular da espessura e morfologia dos filmes, os
métodos Layer-by-Layer (LbL) e Langmuir-Blodgett (LB).

1.2 Método Layer-by-Layer (LbL)

A técnica layer-by-layer (camada por camada) é um procedimento muito


utilizado para obtenção de filmes nanoestruturados que permite, com
elevado controle de espessura, depositar camadas subsequentes de
diferentes materiais como polímeros, nanopartículas, enzimas, células
etc. A produção de filmes ultrafinos através do método LbL permite
a obtenção de nanoestruturas utilizáveis em diferentes aplicações,

112
112
como em dispositivos ópticos, eletrônicos, sensores, em biotecnologia,
entre muitas outras (RÓZ et al., 2015). Um exemplo de processo de
deposição LbL pode ser observado na Figura 3, onde a deposição
ocorre por imersão.

Figura 3 – Ilustração do processo de deposição


e formação de um filme por LbL (esquerda) – Imersão do substrato
(vidro) em solução precursora de um filme nanoestruturado (direita).
A seta indica o sentido do movimento para imersão

Fontes: Róz et al. (2015) e Vedovatte (2018).

Neste processo, o substrato é imerso em uma solução contendo


espécies carregadas, por exemplo, poliânions (etapa A). Durante
essa etapa, o polieletrólito aniônico é adsorvido sobre a superfície do
substrato, tornando negativa a rede de cargas da superfície. Na etapa
B, o substrato é imerso em uma solução de enxágue para a remoção
do material fracamente adsorvido no substrato, a fim de evitar a
contaminação da próxima solução. Na sequência, o substrato é colocado
na solução contendo o policátion, que por sua vez gerará uma nova rede
de cargas na superfície, agora positiva (etapa C). Por fim, o substrato é
novamente imerso em uma solução de enxágue (etapa D). Ao final deste
procedimento tem-se uma bicamada dos materiais utilizados, nesse
caso, de polieletrólitos. Este ciclo pode ser repetido por várias vezes,
possibilitando a obtenção de filmes multicamadas com estruturas e
espessuras controladas (RÓZ et al., 2015).

 113
1.2.1 Método LbL por spray e rotação

Além do método convencional de imersão, outros procedimentos de


fabricação são frequentemente encontrados na literatura, como o
método via casting (gotejamento), rolo por rolo (R2R), spin-assisted e
spray. No spin-assisted LbL, os materiais de interesse são adicionados
alternadamente sobre o substrato, que é submetido a uma dada rotação
em um equipamento conhecido como spin-coated, enquanto no spray
LbL o material é atomizado em pequenas partículas líquidas sobre a
superfície do substrato (RÓZ et al., 2015).

Figura 4 – Ilustração dos processos de deposição


spin-assisted por (a) spray e (b) LbL

(a)

(b)
Fonte: Róz et al. (2015).

Essas variações da técnica podem exibir vantagens e desvantagens em


relação ao método convencional que, dependendo das características
do filme e da aplicação desejada, tornam suas escolhas mais ou menos
apropriadas. Os métodos spin-assisted LbL e spray LbL são mais rápidos
que o método convencional, principalmente na produção de filmes com
espessuras, uma vez que não dependem da cinética de difusão das

114
114
espécies no meio líquido, além de consumirem menores quantidades de
concentração dos reagentes (RÓZ et al., 2015).

Entretanto, o método spin-assisted LbL, por exemplo, tem seu uso


limitado a substratos planos e exibe baixa uniformidade na produção de
filmes em substratos de grande área, situações em que o procedimento
por spray é mais apropriado. Filmes produzidos por spin-assisted LbL são
geralmente pouco rugosos devido à diminuição da interpenetração das
cadeias, por exemplo, no caso de polieletrólitos, enquanto pelo método
spray os filmes produzidos possuem características muito próximas aos
preparados pelo método convencional (RÓZ et al., 2015).

1.3 Método Langmuir-Blodgett (LB)

As monocamadas de Langmuir e filmes LB são obtidos a partir do


espalhamento na interface ar-água de um volume conhecido de uma
determinada solução, geralmente de um composto solúvel em um
solvente orgânico ou em uma mistura de solventes. Durante a fabricação
do filme, o solvente evapora após alguns minutos e as moléculas são,
então, comprimidas até atingir máximo ordenamento. A Figura 5 mostra
o dispositivo utilizado para essa operação (RÓZ et al., 2015).

Figura 5 – Representação – Cuba Langmuir

Fonte: Róz et al. (2015, p. 126).

 115
Segundo Róz et al. (2015), os materiais empregados na técnica de
Langmuir eram, inicialmente, compostos anfifílicos, ou seja, moléculas
contendo uma cabeça polar (hidrofílica) e cauda apolar (hidrofóbica)
e insolúveis em solventes polares. Assim, as moléculas se organizam
de maneira que a parte polar se orienta para água e a parte apolar
para o ar. A parte hidrofóbica da molécula, formada de cadeias
apolares, favorece a diminuição da solubilidade da cadeia na subfase
aquosa. Já a parte hidrofílica, por outro lado, é a responsável pelo
espalhamento devido à sua maior interação com as moléculas de água.
O comportamento observado nos contatos da cadeia com a água visa
minimizar a energia livre do sistema.

Nesta técnica, as moléculas encontram-se em um estágio inicial análogo


à fase gasosa, nas quais estão dispersas e não interagem entre si.
À medida que as moléculas são comprimidas, ocorre a formação de um
estágio denominado líquido-expandido, devido à aproximação entre
elas. Quando a densidade superficial das moléculas aumenta, ocorre a
formação de arranjos regulares no filme formado, resultando em uma
estrutura compacta chamada de fase líquido-condensada. A Figura 6 traz
o esquemático do processo em questão (RÓZ et al., 2015).

Figura 6 – Isoterma de Langmuir (ácido esteárico)

Fonte: Róz et al. (2015, p. 127).

116
116
O uso, entretanto, de filmes LB, seria muito restrito se as moléculas
utilizadas fossem apenas anfifílicas tradicionais, já que estas possuem
propriedades limitadas. Na busca de novas aplicações tecnológicas,
uma série de materiais passou então a ser utilizada, como polímeros,
fosfolipídios, enzimas, peptídeos, dentre outros (RÓZ et al., 2015).

A organização, homogeneidade e outras características de filmes


de Langmuir e LB podem ser verificadas experimentalmente por
diversas técnicas como difração de raios X (DRX), microscopia de
ângulo de Brewster (Brewster Angle Microscopy) (BAM), espectroscopia
de infravermelho por reflexão e absorção com polarização modulada
(Polarization Modulation Infrared Reflection Adsorption Spectroscopy –
PM-IRRAS), microscopia de força atômica (Atomic Force Microscopy –
AFM), dentre outras (RÓZ et al., 2015).

2. Nanocompósitos de matriz polimérica e


argila lamelar

Um compósito é um material com mais de um componente, porém


de origem distinta, no qual aproveita-se as melhores propriedades
de cada componente para fabricar um material superior. Estes
componentes são escolhidos com o intuito de obter compósitos com
propriedades físicas e mecânicas características, e estas propriedades
são geralmente melhores que as propriedades que os componentes
possuem individualmente. Entre as propriedades que podem ser
aprimoradas, destacam-se o módulo elasticidade, tenacidade à fratura,
propriedades de barreira, retardador de chama, condutividade elétrica,
entre outras (ADVANI, 2007).

Devido ao grande interesse e demanda pela indústria aeroespacial e


aeronáutica pelos materiais compósitos, tanto em macro quanto em
microescala, muitas pesquisas foram conduzidas, e a otimização do
desempenho desses materiais alcançou um limite de desenvolvimento

 117
associado com as propriedades finais obtidas sem o emprego da
nanotecnologia. Mas, em nanoescala, onde os componentes dos
compósitos apresentam pelo menos uma dimensão menor que 100 nm,
é possível elevar ainda mais esse limite? A resposta é SIM! Por meio do
desenvolvimento dos nanocompósitos, onde será dado enfoque aos de
matriz polimérica com argila lamelar (ADVANI, 2007).

Em geral, três características principais definem e formam a base do


desempenho de nanocompósitos poliméricos (ADVANI, 2007):

• O confinamento das cadeias da matriz polímerica, em nanoescala.

• A presença de nanocomponentes inorgânicos.

• Arranjo tridimensional, em nanoescala, desses componentes.

A completa exploração destas características facilita o aprimoramento


das propriedades dos nanocompósitos (ADVANI, 2007).

Entre os vastos nano-reforços disponíveis para fabricação de


nanocompósitos poliméricos, pode-se destacar a argila, composta
por minerais naturais que se encontram amplamente disponíveis
comercialmente, exibe uma morfologia em camadas com elevadas
áreas de superfície e substanciais capacidades de troca de cátions
composta por filossilicatos. Estes possuem como estrutura principal
uma camada 2D contínua de tetraedros compostos por átomos de
oxigênio coordenado ao silício e às vezes átomos de alumínio ou ferro.
Esta estrutura tetraédrica está ligada a uma camada com coordenação
octaédrica na qual oxigênios ou hidroxilas (OH) coordenam cátions de
Al3+, Mg2+, Fe3+, Fe2+ ou Li+ (BRECHIGNAC; HOUDY; LAHMANI, 2006).

Se observarmos a estrutura das argilas, verifica-se uma estrutura


formada pela ligação de uma camada octaédrica com uma camada
tetraédrica, chamada de estrutura 1:1, Figura 7. Se nesta estrutura
for adicionada mais uma camada tertraédrica à camada octaédrica,
obteremos a estrutura 2:1 (BRECHIGNAC; HOUDY; LAHMANI, 2006).

118
118
Figura 7 – Estruturas encontradas nos filossilicatos (argilas):
(a) 1:1 e (b) 2:1

(a)

(b)
Fonte: PUC-RIO (2019, p. 14).

As estruturas 1:1 e 2:1 não são necessariamente neutras, devido


a substituições iônicas na estrutura do cristal que geram um
desbalanceamento de cargas positivas, o que consequentemente
reflete uma carga negativa. A neutralidade elétrica é então mantida por
espécies presentes entre as camadas, que podem ser cátions anidros
como K+, cátions hidratados ou uma camada contínua de hidróxidos
como observado nos cloretos (BRECHIGNAC; HOUDY; LAHMANI, 2006).

O tipo de camadas, sua carga elétrica e a natureza das espécies do


interlayer podem ser utilizadas para classificar os diferentes tipos de
argila. Cada família possui estruturas, morfologias e características
específicas que interferem na capacidade de nano-reforço dentro dos
nanocompositos poliméricos. Por isso a importância de conhecer cada
um desses nano-reforços (BRECHIGNAC; HOUDY; LAHMANI, 2006):

 119
Figura 8 – Exemplos de Nano-reforços que
podem ser utilizados em nanocompósitos poliméricos

Fonte: elaborada pelo autor.

2.1 Caulinita

A caulinita, Figura 9, é uma argila típica 1:1, com carga total igual a zero,
constituída por camadas de tetraedros e octaedros, onde o silício é o
elemento central presente nos tetraedros. Os cristalitos resultantes
dessas camadas são placas rígidas com extensões laterais típicas
de algumas centenas de nanômetros, e espessura de dezenas de
nanômetros (BRECHIGNAC; HOUDY; LAHMANI, 2006).

Figura 9 – Caulinita

Fonte: jxfzsy/iStock.com.

Apesar da ausência de uma carga, o equilíbrio ácido-base dos grupos −


OH presentes nas superfícies laterais das placas conferem uma pequena
carga elétrica às partículas de caulinita que dependem do pH do meio
(BRECHIGNAC; HOUDY; LAHMANI, 2006):

120
120
• Positivo em meio ácido, quando esses grupos têm a forma −OH2+ .

• Negativo em um meio alcalino, quando eles têm a forma −O−.

A caulinita não é um nano-reforço genuíno. As espessuras das placas


estão tipicamente na faixa de 50 a 100 nm e uma área superficial
é da ordem de 10 a 20 m2/g. No entanto, ainda é muito um reforço
finamente dividido, com um alto fator de forma (BRECHIGNAC;
HOUDY; LAHMANI, 2006).

2.2 Esmectita

Esmectitas têm praticamente as propriedades opostas às observadas


nas caulinitas. Possuem uma carga elétrica significativa na estrutura 2:1.
Esta é equilibrada por cátions presentes na camada intermediária que,
em esmectitas naturais, geralmente são íons cálcio, magnésio ou sódio
(BRECHIGNAC; HOUDY; LAHMANI, 2006).

A grande energia de hidratação desses íons permite que a água penetre


entre as camadas, causando inchaço intracristalino, e isso facilita
a troca com outros cátions metálicos ou orgânicos (BRECHIGNAC;
HOUDY; LAHMANI, 2006).

Cada camada 2:1 tem uma extensão lateral extremamente grande


em comparação com esta espessura. Isoladamente, as camadas são
extremamente flexíveis, embora essa flexibilidade diminua quando elas
são conectadas por cátions presentes entre as camadas (BRECHIGNAC;
HOUDY; LAHMANI, 2006). Os representantes mais comuns da família
esmectita são os montmorilonitas, que têm o nome comercial de
bentonita, Figura 10, para um certo nível mínimo de pureza, e a
hectorita, sinteticamente produzida e conhecida comercialmente como
Laponita (BRECHIGNAC; HOUDY; LAHMANI, 2006).

 121
Figura 10 – Bentonita

Fonte: zoomstudio/iStock.com.

2.3 Argilas fibrosas

As argilas fibrosas, Figura 11, formam um terceiro grupo importante.


Estas são fabricadas a partir de estruturas 2:1, mas com extensões
laterais de apenas alguns tetraedros e octaedros. Isso significa que as
camadas são mais parecidas com fitas com seção transversal retangular
que se associam umas às outras para formar fibras nanoporosas
(BRECHIGNAC; HOUDY; LAHMANI, 2006).

Figura 11 – Imagem por microscopia eletrônica


de transmissão de uma argila fibrosa (sepiolita)

Fonte: Brechignac, Houdy e Lahmani (2006, p. 362).

122
122
Uma sepiolita típica possui fibras de 2 a 3 µm de comprimento e
diâmetro de 50 nm. As folhas 1:1 também podem formar nano-
objetos. Por exemplo, os nanotubos de silicato com diâmetro de 2 nm
e comprimentos micrométricos. Este é o caso da imogolita, comum em
solos vulcânicos (BRECHIGNAC; HOUDY; LAHMANI, 2006).

Argilas naturais ou sintéticas são hidrofílicas. Portanto, para sua


utilização em nanocompósitos, deve-se submeter o componente a
um tratamento de superfície que os torne compatíveis com a matriz
(BRECHIGNAC; HOUDY; LAHMANI, 2006).

O método mais comum para esse fim é a troca de cátions, íons


alquilamónio, com um cátion orgânico anfifílico. Isso torna a superfície
da argila menos polar à medida que a cadeia alquílica é mais longa. Em
altas densidades de carga, as cadeias adotam uma organização do tipo
parafina (BRECHIGNAC; HOUDY; LAHMANI, 2006; BEALL; POWELL, 2011).

Em resumo, nos nanocompósitos polímero-argila, para alcançar o


máximo em alguma propriedade, é necessário buscar uma máxima
interação interfacial entre a nanopartícula e a matriz polimérica. Para
produzir sistemas otimamente esfoliados, é necessário que métodos
diretos estejam disponíveis para medir o nível de esfoliação (BEALL;
POWELL, 2011).

O método analítico ideal deve ser rápido, não destrutivo, aplicável


para muitas matrizes de amostras, de baixo custo, e deve exigir uma
amostra mínima de preparação. Métodos analíticos para confirmar o
nível de esfoliação incluem microscopia eletrônica de varredura (SEM),
microscopia eletrônica de transmissão (TEM) e microscopia de força
atômica (AFM) (BEALL; POWELL, 2011).

Existem também vários métodos indiretos para medir o nível de


esfoliação, mas todos eles exigem um método direto com o qual se
padronizam (BEALL; POWELL, 2011).

 123
PARA SABER MAIS
Para saber mais sobre as aplicações de
nanocompósitos poliméricos e argila lamelar leia o
artigo Panorama da Pesquisa Acadêmica Brasileira em
Nanocompósitos Polímero/Argila e Tendências para o
Futuro (ANADÃO et al., 2011) .

As propriedades únicas de filmes nanoestruturados envolvendo os


mais variados tipos de materiais, aliadas à versatilidade dos métodos
LB e LbL, são atualmente alguns dos responsáveis por fazerem da
nanotecnologia uma realidade. Os métodos LB e LbL têm permitido
investigar características dos materiais nunca antes exploradas
nas mais diversas arquiteturas e aplicações tecnológicas, desde a
eletrônica à medicina. É importante ressaltar que cada método possui
suas peculiaridades e limitações, acabando por serem tecnicamente
complementares. A área de fabricação de filmes ultrafinos é um
campo aberto e aquecido com diversas possibilidades ainda a serem
exploradas (RÓZ et al., 2015).

Já os nanocompósitos de matriz polimérica e argila lamelar,


apresentam como principal destaque a enorme área de interface e o
confinamento interpartículas gerado pela dispersão de nanopartículas
na matriz polimérica. Este fato altera consideravelmente as
propriedades da peça, ou mesmo todo o polímero através de efeitos
de interface. Sendo assim, quando se deparar com um nanocompósito,
deve-se observá-lo não mais como uma mistura simples, mas sim como
um compósito, cujas propriedades podem ser descritas como uma
relação entre os seus constituintes, comportanto-se como um novo
material (BEALL; POWELL, 2011).

124
124
TEORIA EM PRÁTICA
Controlar a espessura e a morfologia do filme, por meio do
método de deposição, é um procedimento muito utilizado
em nanociência e nanotecnologia. Pois, permite fabricar os
filmes de acordo com a área de aplicação: biotecnologia,
eletrônica, medicina, entre outras. Este fato confere aos
filmes nanoestruturados uma posição de destaque no
desenvolvimento tecnológico (RÓZ et al., 2015).
Sobre essa temática, descreva três exemplos,
demonstrando a forma como os nanofilmes ou
filmes nanoestruturados são aplicados nas diferentes
áreas do conhecimento.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Assinale a alternativa que completa corretamente o


trecho a seguir:

O crescimento de filmes finos, como toda transformação


de fase, envolve os processos de __________ e __________
no substrato ou superfícies de crescimento. Para
deposições com espessuras na escala nanométrica, o
processo inicial de formação é fundamental (CAO, 2004).

a. Crescimento; Expansão.

b. Expansão; Adesão.

c. Adesão; Nucleação.

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d. Nucleação; Crescimento.

e. Adesão; Decomposição.

2. Assinale a alternativa que apresenta corretamente o


conceito definido a seguir:
É um material com mais de um componente, porém
de origem distinta, no qual aproveita-se as melhores
propriedades de cada componente para fabricar um
material superior. Estes componentes são escolhidos
com o intuito de obter propriedades físicas e mecânicas
características, sendo que estas propriedades são
geralmente melhores que as propriedades que os
componentes possuem individualmente.

a. Metais.

b. Compósitos.

c. Cerâmicas.

d. Gases.

e. Fluidos.

3. Filmes anoestruturados têm recebido muito destaque


como tema de pesquisa. Isso se deve especialmente
pelo desenvolvimento de métodos de deposição, em
que se tornou possível controlar, com mais rigor, as
características dos filmes fabricados (CAO, 2004).
Sobre os processos de deposição de filmes
nanoestruturados, assinale a alternativa que
apresenta, corretamente, o nome do processo
demonstrado a seguir:

126
126
Fonte: Róz et al. (2015).

a. Mergulho LbL.

b. Spray LB.

c. Spin-assisted LbL.

d. Spray LbL.

e. Spin-assisted LB.

Referências bibliográficas
ADVANI, Suresh G. Processing and properties of nanocomposites. University of
Delaware, Usa: World Scientific, 2007.
ANADÃO, Priscila; WIEBECK, Hélio; VALENZUELA-DÍAZ, Francisco R. Panorama da
Pesquisa Acadêmica Brasileira em Nanocompósitos Polímero/Argila e Tendências
para o Futuro. Polímeros, [s.l.], v. 21, n. 5, p. 443-452, 1 dez. 2011. FapUNIFESP
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BEALL, Gary W.; POWELL, Clois E. Fundamentals of polymer– clay
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PUC-RIO, Departamento de Engenharia Civil. Argilominerais – propriedades
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RÓZ, Alessandra Luzia da et al. Nanoestruturas: coleção nanociência e
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SENGUPTA, Amretashis; SARKAR, Chandan Kumar. Introduction to nano: basics
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VEDOVATTE, Rafael Misael. Estudo de filmes finos para aplicação em dispositivos
fotovoltaicos. 2018. 72 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em
Engenharia e Ciência dos Materiais, Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
Londrina, 2018.

Gabarito
Questão 1 – Resposta: D
Resolução: O crescimento de filmes finos, como toda
transformação de fase, envolve os processos de nucleação e
crescimento no substrato ou superfícies de crescimento. Para
deposições com espessuras na escala nanométrica, o processo
inicial de nucleação é fundamental (CAO, 2004).
Questão 2 – Resposta: B
Resolução: Os compósitos são uma classe de materiais
desenvolvidos a partir de diferentes componentes que apresentam
entre si propriedades sinérgicas. Estes componentes são
escolhidos com intuito de obter compósitos com propriedades
físicas e mecânicas características, e estas propriedades são
geralmente melhores que as propriedades que os componentes
possuem individualmente. Entre as propriedades que podem
ser aprimoradas, destacam-se o módulo elasticidade, tenacidade
à fratura, propriedades de barreira, retardador de chama,
condutividade elétrica, entre outras (ADVANI, 2007).

128
128
Questão 3 – Resposta: C
Resolução: O método spin-assisted LbL tem seu uso limitado
a substratos planos e exibe baixa uniformidade na produção
de filmes em substratos de grande área, situações em que o
procedimento por spray é mais apropriado. Filmes produzidos
por spin-assisted LbL são geralmente pouco rugosos devido
à diminuição da interpenetração das cadeias, por exemplo,
no caso de polieletrólitos, enquanto pelo método spray os
filmes produzidos possuem características muito próximas aos
preparados pelo método convencional (RÓZ et al., 2015).

 129
Incorporação de nanomateriais
e nanotecnologia com o meio
ambiente
Autor: Rafael Misael Vedovatte

Objetivos

• Rever os conceitos inerentes aos nanomateriais.

• Compreender a interação entre os


nanoestruturados, nanomateriais e o
meio ambiente.

• Conhecer as ferramentas para qualificar o risco


em caso de acidentes com nanomateriais.

130
130
1. Ocorrência dos nanomateriais no
meio ambiente

O estudo dos materiais com dimensões em nanoescala (1–100 nm) tem


sido o centro do desenvolvimento de novas tecnologias nas últimas
décadas. Isto se deve, principalmente, aos estudos dedicados à transição
de materiais “bulk” (micro ou macroescalas), com propriedades a rigor
definidas, para nanopartículas (NPs) (BRAR et al., 2015).

Quando se trabalha com nanopartículas é possível observar um


aprimoramento da reatividade superficial dos nanomateriais (NMs),
propriedade fundamental para a descoberta de novas características
físico-químicas (GOGOTSI, 2006; SENGUPTA; SARKAR, 2015; RÓZ et
al., 2015). No geral, a porcentagem de átomos associados a sítios,
arestas, cantos ou defeitos aumenta, levando a mudanças na energia
de superfície e também a variações na estrutura eletrônica dessa classe
de materiais. A capacidade de ajustar e utilizar essas variações é o que
continua a impulsionar o desenvolvimento e o uso de nanomateriais em
uma ampla gama de aplicações (BRAR et al., 2015).

A quantidade exata de NMs presentes no mundo é um tanto


especulativa se considerarmos os vários tipos de ambientes que podem
conter nanopartículas. Além de materiais artificiais, as NPs também
ocorrem em sistemas naturais, incluindo solos, sedimentos, bacias
hidrográficas, aerossóis e ambientes atmosféricos (BRAR et al., 2015).

A manipulação de nanomaterias apresenta novos desafios para a gestão


de riscos. Se por um lado as nanotecnologias estão cada vez mais
presentes em pesquisas e na produção de materiais inovadores, por outro
lado faltam dados sobre quais são os impactos destes materiais sobre a
saúde humana e sobre o meio ambiente. (ANDRADE et al., 2013, p. 25)

Por este fato, a presença de NPs no ambiente de manufatura e no


ambiente natural tornou-se um tópico controverso, particularmente
associado aos impactos toxicológicos e na saúde pública. Atualmente

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existe pouco consenso sobre os riscos à saúde das NPs, mas muitos
estudos demonstram as preocupações com os efeitos adversos das NPs
em seres humanos, animais e o meio ambiente (BRAR et al., 2015).

Alguns destes estudos sugerem que os nanomateriais podem


apresentar maior permeabilidade com partes do corpo humando,
especialmente mucosas e membranas, devido a superior reatividade
decorrente do aumento da área superficial dos nanomateriais. O ouro,
quando trabalhado em nanoescala, apresenta reatividade superior se
comparado ao ouro ‘bulk’ (PASCHOALINO et al., 2010).

2. Nanomateriais em ambientes de manufatura

Neste ambiente observa-se que as tecnologias baseadas em


nanociência se expandiram significativamente, como pode ser
observado pelo aumento do número de patentes em nanotecnologia,
que aumentaram de 224, em 1991, para 12.776 em 2008, indicando
um aumento de 5000% em todo o mundo. Em 2009, o comércio global
em nanotecnologia representava um quarto de trilhão de dólares e
projeções do mercado mundial sugeriam que mais de 1 trilhão de
dólares em produtos contendo as NPs fossem produzidos na década
seguinte (BRAR et al., 2015; SORIANO et al., 2018).

Logo, à medida que a produção e o consumo de NMs de engenharia


aumentava com o tempo, surgiam dúvidas sobre o final da vida
útil desses produtos e sobre os riscos associados ao descarte em
ambientes naturais e de manufatura (BRAR et al., 2015; ASMATULU;
TWOMEY; OVERCASH, 2012).

Para alguns NMs inorgânicos, a reciclagem é um caminho mais


vantajoso devido, principalmente, ao reaproveitamento dos reagentes
iniciais e à disponibilidade atual de tecnologias de reciclagem para
os materiais “bulk” associados. Já os produtos que não podem ser

132
132
reciclados, que contêm NPs, resta como destino a liberação no meio
ambiente, que pode ocorrer, acidentalmente, por meio de falhas em
processos de produção, descarte de resíduos líquidos ou sólidos ou,
também, pela decomposição a longo prazo de produtos comerciais
em aterros sanitários. A incineração é outro método empregado para
o descarte de produtos, tanto para a redução dos possíveis impactos
ambientais quanto para a produção de energia (BRAR et al., 2015;
POURZAHEDI; ECKELMAN, 2014).

Vale destacar que, no caso de liberação acidental de NMs em uma


instalação, observa-se que esta pode ocorrer devido a uma falha
crítica durante o processo de produção ou como uma única liberação
acidental. Liberações acidentais de NPs, em larga escala, até o momento
não foram relatadas; portanto, o impacto, devido à exposição aguda,
de uma grande liberação de NPs em colaboradores, socorristas e ao
meio ambiente ainda é desconhecido. Fato que reforça a importância
em desenvolver pesquisas nessa área de estudo (BRAR et al., 2015;
ALAVIITALA; MATTILA, 2015).

No campo das pesquisas pode-se observar que a maioria dos estudos


sobre riscos ocupacionais e toxicologia das NPs em ambientes de
manufatura se concentram no estudo da liberação crônica em instalações
de produção e processamento. Nesta categoria estão incluídos os
NMs amplamente utilizados em produtos comerciais, como: os metais
inorgânicos ou partículas à base de carbono e, em menor grau, compostos
poliméricos ou orgânicos (BRAR et al., 2015; MITRANO et al., 2015).

A maioria dos NMs, incluindo carbono, nanotubos e nanopartículas


de dióxido de titânio (TiO2) e prata (Ag),tendem a se agregar após a
liberação no ar para formar estruturas em aerossol maiores que a
definição convencional de nanopartículas (< 100 nm). Estes podem
ser absorvidos por meio de controles de engenharia, como filtros e
respiradores HEPA (do ingês High Efficiency Particulate Air), ou seja, filtros
com alta eficiência na separação de partículas no ar (BRAR et al., 2015).

 133
Entretanto, a principal rota para liberação de NPs em sistemas
ambientais continua sendo o descarte de resíduos líquidos conectados
ao sistema público de água. Além disso, NPs podem entrar no sistema
de água através de descargas: agudas (eliminação de resíduos
industriais) ou crônicas (decomposição de produtos que liberam
NPs em sistemas de drenagem de águas pluviais) (BRAR et al., 2015;
POURZAHEDI; ECKELMAN, 2014).

Por fim, existem os aterros sanitários; estes representam um estágio


significativo no fim da vida útil para NMs. Segundo Brar et al., (2015),
aproximadamente 50% dos produtos comerciais acabarão nessas
instalações de descarte. Os autores reforçam que NMs não devem
permanecer indefinidamente em aterros, devido à incapacidade dos
aterros em reter esses materiais (BRAR et al., 2015; POURZAHEDI;
ECKELMAN, 2014).

Atualmente, não existem limites, regulamentações ou diretrizes sobre a


exposição ocupacional à liberação de NMs que são usados em produtos.
O estabelecimento dessas diretrizes é fundamental. Entretanto, se faz
necessário, primeiramente, realizar uma avaliação para determinar
a extensão da contaminação pela liberação NPs em manufatura em
ambientes naturais (BRAR et al., 2015).

3. Nanomateriais em ambientes naturais

Os nanomateriais naturais estão disponíveis em todos os sistemas


ambientais, incluindo a atmosfera, solos, sedimentos, águas superficiais
e subterrâneas. Devido à disseminação natural dessas partículas e a
dificuldade em caracterizar, ou mesmo em alguns casos, identificar
as nanopartículas nos sistemas naturais, tem sido difícil catalogar a
distribuição global (BRAR et al., 2015).

O intemperismo terrestre e os processos de formação de minerais em


solos e sedimentos são a maior fonte de fases nanominerais. As NPs de

134
134
argila são a fonte mais abundante, mas óxidos metálicos, como sulfetos,
carbonatos e fosfatos também compõem um componente significativo
de NMs naturais dentro dos sistemas do solo (BRAR et al., 2015).

A importância das NPs nos sistemas naturais é generalizada e abrange


processos geoquímicos fundamentais. Algumas das geoquímicas e
minerais mais essenciais nos processos aquáticos são impactados
diretamente por NMs naturais, por exemplo: interações biológicas,
transporte de contaminantes, transformações catalíticas, crescimento
mineral, transformação estrutural e intemperismo (BRAR et al., 2015).

As reações químicas na atmosfera também são influenciadas por NMs


naturais, porque elas são um precursor para formação de partículas
maiores que impactam o clima global e o transporte de poluentes e/ou
nutrientes para outras regiões do globo (BRAR et al., 2015).

ASSIMILE
Até o momento pode-se reparar que os nanomaterias
sempre estiveram presentes nos mais variados ciclos
naturais por meio dos nanomateriais naturais. Entretanto,
com o desenvolvimento de tecnologias para síntese de
nanoetruturas, houve a produção de NMs de engenharia
e são sobre essas estruturas que moram as dúvidas em
relação a sua presença e impacto no meio ambiente.

As preocupações sobre a presença de NPs de engenharia em


ecossistemas é dificultada pela falta de conhecimento sobre a forma
como estas se integram ao ambiente e pelas transformações que
podem ocorrer em sistemas ambientais. Atualmente, as taxas de
liberação são desconhecidas, mas modelamentos estimam que estas
encontram-se em torno de 0,003 ng/L para fulereno e 21 ng/L para TiO2
em águas naturais (MITRANO et al., 2015; BRAR et al., 2015).

 135
A liberação de esgoto de forma incorreta é um fator que deverá
aumentar as concentrações de nanoparticulados de engenharia,
particularmente para TiO2, que poderá ser encontrado em níveis μg/L.
A deposição de efluentes sólidos em campos agrícolas também pode
introduzir entre 1 ng e 89 μg de NMs por quilo de biossólidos. A química
complexa e diversos mecanismos de transformação de NPs no ambiente
geram incertezas adicionais quanto à potencial risco à saúde ambiental.
Cada classe de nanopartículas possui propriedades químicas únicas e
pode também se comportar de maneira diferente com base no método
de preparação ou no tipo de superfície que atuam como revestimento.
Uma vez que essas partículas são liberadas no ambiente, elas podem
sofrer transformações, incluindo agregação química, biológica, física
e interações com macromoléculas. Algumas transformações podem
levar à diminuição da mobilidade ou toxicidade, mas outras podem
promover o aumento das concentrações de metais pesados no ambiente
e estresse celular (BRAR et al., 2015). Devido a essa incerteza, o impacto
das nanopartículas modificadas no ecossistema e saúde ambiental
continuam sendo um tópico que requer muito estudo e pesquisa. Para
destacar a complexidade da presença de NPs de engenharia no ambiente
natural, exemplificaremos com os nanotubos de carbono, nanopartículas
de prata e NPs antrópicas. Esses NMs foram escolhidos devido ao seu
amplo uso em produtos comerciais, as quantidades insignificantes de
análogos naturais e a grande quantidade de pesquisas iniciais sobre as
suas transformações em sistemas ambientais (BRAR et al., 2015).

Nanotubos de carbono

Os nanomateriais como o negro de fumo, fulerenos, nanotubos


de carbono de parede simples ou múltipla são amplamente
empregados na indústria devido a suas diferentes formas e aplicações.
Nanopartículas provenientes da queima de combustível, como por
exemplo, em aeronaves, constituídas principalmente por nanofibras
de carbono, podem influenciar diretamente fenômenos atmosféricos,
gerando a alteração do clima relacioando à absorção/reflexão da

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136
radiação solar, na formação de nuvens e no processo de destruição de
ozônio (PASCHOALINO et al., 2010; MITRANO et al., 2015; ALAVIITALA;
MATTILA, 2015).

Em especial, os nanotubos de carbono são muito utilizados em materiais


compósitos e continuam sendo investigados por aspectos relacionados
à entrega de medicamentos. Nanotubos de carbono puros são
minimamente solúveis e resistem à dispersão na água, portanto não é
esperado que sejam móveis em sistemas ambientais (BRAR et al., 2015).

Entretanto, devido à sua solubilidade limitada, os nanotubos de


carbono podem se acumular em solos e sedimentos, o que propicia sua
interação com microrganismos, em particular com bactérias presentes
no solo. Estudos utilizando microrganismos em ambientes de cultura,
como Escherichia coli, relataram que nanotubos suprimiram a atividade
metabólica das bactérias, pois mais de 80% das células ligadas às
paredes nanotubulares estavam mortas após um período de incubação
de 60 minutos (BRAR et al., 2015).

A transformação da superfície dos nanotubos de carbono também


pode ocorrer dentro do sistema ambiental, incluindo a oxidação através
de interações com radicais hidroxila que ocorrem naturalmente.
A funcionalização da superfície pode ter um impacto significativo
na interação com os sistemas naturais. Nanotubos de carbono são
tipicamente modificados em produtos comerciais para melhorar a
solubilidade, com reações de oxidação (formação grupos carboxilato)
ou a funcionalização adicional com ligantes como polietilenoglicol
ou ácido sulfônico. Superfícies funcionalizadas reduzem a toxicidade
geral para as comunidades microbianas permitindo sua recuperação.
Entretanto, a composição da comunidade recuperada também muda,
o que pode gerar impactos sobre o carbono em geral e na ciclagem de
fósforo no ambiente (PASCHOALINO et al., 2010).

Nanotubos funcionalizados também estão sujeitos a biotranformações,


incluindo degradação dos revestimentos dos nanotubos de carbono

 137
para agregar e precipitar soluções. A adição de grupos funcionais
hidrofílicos utilizada para aumentar as interações com superfícies
minerais ou matéria orgânica natural pode aumentar ou diminuir
o transporte com base em condições ambientais exatas, por isso a
complexidade em compreender o comportamento desses NMs no
ambiente natural (BRAR et al., 2015).

3.1 Nanopartículas de prata (NPs Ag)

Mais de 400 toneladas de nanopartículas de prata são produzidos


anualmente, das quais 30% são utilizados em medicina devido às
suas propriedades antibacterianas. O uso generalizado de NPs Ag tem
gerado implicações em todo o ciclo de vida de produtos médicos, desde
a produção até o descarte, incluindo, mas não limitado a libertações
ambientais de nanomateriais (POURZAHEDI; ECKELMAN, 2014).

As NPs de prata são utilizadas em uma ampla variedade de produtos


comerciais, incluindo têxteis e cosméticos. A liberação dessas
nanopartículas ocorre através da rede pública de água, na forma de
partículas primárias ou como o cátion oxidado, Ag+. A maioria dos
nanoparticulados de prata é encontrada no iodo de esgoto, onde
pode acabar retornando ao solo após o descarte em aterros sanitários
(BRAR et al., 2015; POURZAHEDI; ECKELMAN, 2014). As propriedades
antimicrobianas dos NPs de prata são o fator principal para seu uso
em produtos comerciais; no entanto, é essa propriedade benéfica
que pode impactar de forma negativa os sistemas ambientais.
As NPs de prata são relativamente não-tóxicas (200 mg/L) sob
condições anaeróbicas. Já a exposição a certos ambientes resulta
na oxidação química do metal Ag0(s) para a Ag+(aq), que possui
propriedades bactericidas conhecidas (BRAR et al., 2015).

Para células eucarióticas in vitro, as concentrações tóxicas são de 1


a 10 mg/L para Ag+, comparadas a 10 – 200 mg/L para os NPs de prata.
A dissolução da nanopartícula de prata é impactada pelos revestimentos

138
138
de superfície que geralmente são usados para impedir a agregação
durante o processo de fabricação. Após a degradação do revestimento
da superfície, a partícula de prata pode dissolver-se incongruentemente,
deixando a casca em solução. Reações com enxofre inorgânico também
podem afetar a dissolução e resultar em maiores liberações de Ag+(aq)
no ambiente (BRAR et al., 2015).

3.2 Nanopartículas antrópicas

Uma fonte importante de NPs antrópicas são os processos de


combustão. A combustão de combustíveis fósseis ou biomassa é
muitas vezes incompleta, levando a reações de condensação na fase
gasosa e formação de grandes partículas aromáticas compostas.
Nos ambientes de fabricação, partículas ultrafinas de fuligem são
comuns e se originam do processamento de materiais, emissões
de veículos e soldagem. As concentrações dessas partículas variam
amplamente dependendo das atividades industriais e do fluxo de
ar em toda a instalação. A fuligem também é liberada diretamente
para o meio ambiente por meio da produção de energia, processos
industriais e queima de biomassa (BRAR et al., 2015).

Abordagens para a gestão dos riscos à saúde associados aos


nanomateriais

Segundo ANDRADE et al. (2013), pode-se organizar as estratégias,


para gestão dos riscos à saúde, relacionados às operações com
nanomateriais, de acordo com os princípios definidos pelo International
Center for Technology Assessment (ICTA). Estes princípios são necessários
para regulação de atividades com nanomateriais. Sendo estes:

• Princípio da precaução.

• Regulação nano específica compulsória.

• Saúde e segurança do público e dos trabalhadores.

 139
• Proteção ambiental.

• Transparência.

• Participação do público.

• Inclusão de amplos impactos.

• Responsabilidade do produtor.

Neste contexto, a abordagem Control Banding (CB) merece destaque.


Esta é utilizada para a gestão de riscos em situações que envolvem
substâncias químicas potencialmente perigosas onde ainda não se
conhece os dados sobre a toxicidade, no nosso caso, os NMs (ANDRADE
et al., 2013). A Figura 1 apresenta a probabilidade de exposição a
nanopartículas durante atividades das categorias de exposição I,
II e III e correlaciona com a descrição do perigo de cada grupo de
nanopartículas, nas categorias de perigos 1, 2 e 3.

Figura 1 – Metodologia Control Banding (CB)

Fonte: Andrade (2012, p. 17).

140
140
Nesta abordagem, os níveis de risco são determinados em função
da exposição e da periculosidade, classificando a situação avaliada
em um determinado grupo (faixa ou banda); de forma que, para
cada faixa haverá ações específicas para o controle dos riscos
(ANDRADE et al., 2013).

Logo, essa metodologia é classificada como qualitativa, ou seja, o


risco não é mensurado, mas sim avaliado, de forma a proporcionar
uma ferramenta para condições onde exista muita incerteza, como
é o caso dos impactos dos nanomateriais sobre a saúde humana
e sobre o meio ambiente. Foi no âmbito da indústria farmacêutica
que a abordagem de CB se expandiu para a indústria química em
geral e, mais recentemente, tem sido aplicada a novas tecnologias,
especialmente às nanotecnologias (ANDRADE et al., 2013).

A metodologia CB pode utilizar seis ferramentas para auxiliar na


caracterização do risco. Normalmente estas ferramentas se limitam
a indicar uma faixa ou banda para determinada operação e ações
associadas para reduzir ou evitar os riscos. Desta forma estas
precisam estar inseridas em um conjunto maior de ações para que
de fato possa se produzir a efetiva gestão do risco. A seguir são
apresentadas algumas ferramentas para análise qualitativa dos riscos
associados aos nanomateriais (ANDRADE et al., 2013).

• Precautionary matrix.

• CB Nanotool 2.0.

• Working Safely with Engineered Nanomaterials and Nanoproducts –


A Guide for Employers and Employees.

• Stoffenmanager Nano 1.0.

• ANSES CB tool for nanoparticles.

• Nanosafer.

 141
A Precautionary matrix é uma ferramenta que, por meio de uma
pontuação, classifica os riscos associados a uma substância em classes
de acordo com nível do risco. O principal parâmetro para definição
da pontuação é a relevância do material, considerando, por exemplo,
características como (o tamanho e características da partícula) condições
específicas de uso e potenciais efeitos de exposição. O uso deste
parâmetro indica ou não a necessidade de treinamento para realização
da atividade a qual se aplica o nanomaterial (ANDRADE et al., 2013).

O CB Nanotool trabalha com quatro níveis de risco, predeterminados,


para operações com nanomateriais. Cada nível é definido de acordo
com a relação entre o nível de gravidade associado às características
das nanopartículas (reatividade) e sua toxicidade versus a relação entre
a quantidade de material utilizado, frequência e duração das operações,
número de pessoas envolvidas e o grau de dispersão e no ar do
material (ANDRADE et al., 2013).

O guia da União Europeia, Working Safely with Engineered Nanomaterials


and Nanoproducts – A Guide for Employers and Employees, avalia
quantitativamente os ambientes de trabalho, por meio de estratégias
que permitem avaliar os limites de exposição. Nesta ferramenta,
as atividades são classificadas em três níveis de controle, baseados
na relação entre níveis de exposição versus categoria de perigo.
A exposição é definida pela avaliação da possibilidade de ocorrer
a emissão de nanopartículas, enquanto o perigo define-se por pelas
propriedades dos nanomateriais como, por exemplo: biopersistência e
morfologia (ANDRADE et al., 2013).

A ferramenta Stoffenmanager Nano 1.0, é um aplicativo disponível


na internet e, segundo seus autores, não há necessidade de
conhecimentos específicos sobre segurança e saúde no trabalho para
sua utilização. Entretanto, em situações em que não há informações
sobre as nanopartículas, este sistema classifica o perigo pelos dados
da substância “bulk”. Desta forma, classifica-se em categorias de

142
142
perigo, as nanopartículas. Quando se refere à exposição, utiliza-se um
conjunto de 14 parâmetros que permitem a determinação da faixa de
exposição. Os parâmetros se relacionam a aspectos como a quantidade
de material, grau de dispersão no ar, formas de manipulação, tipos
de processo, existência de equipamentos de proteção coletiva e
equipamentos de proteção individual (ANDRADE et al., 2013).

4. Caracterização, quantificação e avaliação da


toxicidade dos nanomateriais

A caracterizaão adequada do nanomaterial é de fundamental


importância para avaliação da toxicidade. Pois, a atividade biológica
dos nanomateriais pode se alterar durante a interação desses com
o meio ambiente, sendo este observado na variação de algumas
propriedades físico-químicas na NPs. O tamanho médio das
partículas, a área superficial e a composição química são os principais
parâmetros avaliados na caracterização da toxidade. Por exemplo,
nanopartículas dificilmente são encontradas isoladamente no meio,
geralmente estas se agregam formando partículas que podem variar
de tamanho (> 100 nm) pela mudança das condições ambientais,
como força iônica e pH. Estes aglomerados são mantidos por forças
relativamente fracas, como interações hidrofóbicas, influenciando
diretamente no modo como os nanomateriais podem estar dispersos
no ar e em fase aquosa, sendo este estado de dispersão uma das
características mais difíceis de quantificar (PASCHOALINO et al., 2010).

Outros fatores importantes a serem considerados no estudo da


toxicidade dos nanomateriais são associados às diferentes morfologias
às quais as partículas podem se apresentar após o contato com outros
ambientes, podendo ser encontradas em sua forma livre ou como
aglomerados (PASCHOALINO et al., 2010).

 143
Outros fatores que também são apontados em estudos dedicados aos
riscos em trabalhar com NMs (ALAVIITALA; MATTILA, 2015; BRAR et al.,
2015) são a toxicidade desses materiais e a identificação da emissão de
nanopartículas. Logo, compreender os fenômenos associados aos NMs e
assim relacioná-los com os possíveis efeitos à saúde e ao meio ambiente
são fundamentais para o desenvolvimento de novas tecnologias no
campo dos nanomateriais (PASCHOALINO et al., 2010).

Embora não exista um protocolo para se determinar quais parâmetros


físico-químicos são mais relevantes para serem medidos em testes
toxicológicos, é consenso, na maioria dos artigos que abordam a
toxicidade de nanotubos de carbono, a necessidade do conhecimento do
diâmetro e comprimento do material, além de sua pureza, que pode ser
bastante alterada, principalmente de acordo com o catalisador utilizado.
Nos trabalhos com TiO2, as propriedades mais comumente descritas
são o tamanho da partícula, medidopor DRX (Difração de Raios X) e a
área superficial avaliada por MEV (microscopia eletrônica de varredura)
e pelo AFM (microscópio de força atômica). Contudo, grande parte dos
trabalhos da literatura não observa a capacidade das nanopartículas
em formar aglomerados, o que seria fundamental em estudos sobre a
translocação destas nos organismos (PASCHOALINO et al., 2010).

Possivelmente, o aspecto menos desenvolvido nos estudos


toxicológicos são as técnicas para quantificação de nanomateriais no
ambiente. Estes materiais, por possuírem características físico-químicas
muito diferentes de seus precursores macroscópicos, necessitam
do desenvolvimento de adaptações validadas das técnicas analíticas
comumente empregadas. Poucos estudos realizam a quantificação do
material após testes toxicológicos, já que normalmente a concentração
inicial da nanopartícula adicionada é conhecida. No entanto, para
estudos de bioacumulação, a quantificação dos materiais em diferentes
órgãos do receptor necessita de técnicas específicas para cada tipo de
material (PASCHOALINO et al., 2010).

144
144
5. Avaliação de riscos

A avaliação de riscos tem como principal objetivo caracterizar o nível de


risco, utilizando por exemplo, uma pontuação ou classificação relativa.
Por meio dessa avaliação é possível realizar uma avaliação de risco e
obter informações úteis para avaliar alternativas de controle. Geralmente,
a avaliação de risco é dividida nas etapas a seguir (BRAR et al., 2015):

• Avaliação da dose-resposta.

• Avaliação da exposição ambiental.

• Caracterização de risco.

As etapas envolvidas na avaliação de riscos englobam reconhecer e


caracterizar os perigos, estabelecer a ligação entre dose e resposta e
assim, prevenir a probabilidade de exposição (BRAR et al., 2015).

Um fator essencial para avaliação de riscos é a determinação da dose-


resposta, que pode ser definida como “o processo de caracterizar a
relação entre a dose administrada ou recebida, e os consequentes efeitos
adversos à saúde sobre a saúde um indivíduo” (BRAR et al., 2015, p. 364).

Normalmente, dose refere-se à 'dose em massa' (ou seja, μg, mg,


g). No entanto, com base nas experiências adquiridas na dose de
resposta, observa-se que a atividade biológica das NPs pode não
depender somente da massa, mas de fatores que, geralmente, não são
considerados em estudos de toxicidade (BRAR et al., 2015).

O segundo fator, exposição, é um aspecto importante para


avaliação de riscos de NMs, pois este fator é considerado como uma
pré-condição para os potenciais efeitos toxicológicos e ecotoxicológicos.
É por meio da determinação dos níveis de exposição que são definidas
as concentrações e formas biodisponíveis de um contaminante no
ambiente. Sempre se levam em consideração os efeitos no organismo-
alvo associados ao destino e o período de exposição (BRAR et al., 2015).

 145
Por fim, a caracterização de risco (CR) é considerada a etapa final do
procedimento de avaliação de risco e é definida como avaliação da
incidência e gravidade de efeitos adversos que, provavelmente, podem
ocorrer em uma população humana ou em um compartimento ambiental
devido à exposição real ou prevista a uma substância (BRAR et al., 2015).

Importante destacar que para quantificar e qualificar um risco se


faz necessário integrar todas as informar adquiridas durantes as
etapas de avaliação do risco. Logo, as informações coletadas durante
a identificação de perigos, dose-resposta e exposição são avaliadas
em conjunto para concluir a probabilidade de risco às populações
expostas (BRAR et al., 2015).

PARA SABER MAIS

A compreensão dos impactos ambientais causados pelos


nanomateriais depende da análise do seu ciclo de vida. Até
o momento, os estudos de ciclo de vida de nanomateriais
têm sido focados nos efeitos ambientais e de saúde que
causam durante a produção e o uso. Porém, como aponta
o artigo Life cycle and nano-products: end-of-life assessment, a
análise do estágio final do ciclo de vida dos nanomateriais
também é crítica, pois nessa fase podem surgir diversos
impactos ou benefícios significativos para o meio ambiente
(ASMATULU; TWOMEY; OVERCASH, 2012).

A incorporação de NMs em produtos de consumo tem crescido de


forma vertigionosa nas últimas décadas e este aumento deve continuar
nos próximos anos. A nanotecnologia tem causado um forte impacto
positivo na economia global, o que conseguentemete gera o aumento
da produção de nanomateriais. Isto impacta diretamente os meios

146
146
ambiente e de manufatura devido, principalmente, à liberação crônica
desses materiais após a conclusão do seu ciclo de vida (MITRANO et al.,
2015; BRAR et al., 2015; ASMATULU; TWOMEY; OVERCASH, 2012).

Estudos estimam que, provavelmente, 2 milhões de novos


colaboradores serão expostos a NMs na próxima década. Além disso,
o não controle da liberação de NMs em sistemas ambientais por meio
de efluente de esgoto, acidentes ou decomposição de produtos em
aterros sanitários, resultará em algum impacto ambiental (BRAR
et al., 2015; MITRANO et al., 2015; ALAVIITALA; MATTILA, 2015).
O entendimento atual da ocorrência de impactos naturais e NMs na
fabricação, construção e o ambiente global está significativamente
ausente. A complexidade química, a metaestabilidade e os amplos
mecanismos de transformação também contribuem para o disperso e
incompleto conhecimento sobre os riscos de materiais de engenharia
para o ecossistema e a saúde (BRAR et al., 2015).

Ao longo deste capítulo, várias áreas foram destacadas com relação às


lacunas de conhecimento sobre a ocorrência de NMs em ambientes
de manufatura e naturais. Esforços significativos devem continuar
para preencher essas lacunas de conhecimento e fornecer uma
compreensão aprimorada desses sistemas que incentivarão o
desenvolvimento de NMs avançados, mitigando seus riscos potenciais
para o ambiente global (BRAR et al., 2015).

TEORIA EM PRÁTICA
A manipulação de nanomateriais apresenta novos desafios
para a gestão de riscos. Se por um lado as nanotecnologias
estão cada vez mais presentes em pesquisas e na produção
de materiais inovadores, por outro lado faltam dados sobre
quais são os impactos destes materiais sobre a saúde
humana e sobre o meio ambiente (ANDRADE et al., 2013).

 147
Sobre esse tema, você foi indaqado pelos seus colegas
a respeito dos riscos em trabalhar com nanomateriais.
Logo, querendo tranquilizar a todos, você precisa
explicar o porquê se deve desenvolver pesquisas e
estudos para compreender os possíveis impactos,
associados aos nanomateriais, no meio ambiente,
a fim de garantir operações seguras.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Assinale a alternativa que completa corretamente o


trecho a seguir:

Nos útimos vinte anos, pôde-se observar que o estudo


dos materiais com dimensões em nanoescala __________
tem sido o centro do desenvolvimento de novas
tecnologias. Isto se deve, principalmente, aos estudos
dedicados à transição de materiais na escala bulk ou
escala macro, com propriedades a rigor definidas, para
nanopartículas (NPs) (BRAR et al., 2015).

a. (1–100 nm).

b. (1–100 m).

c. (1–100 µm).

d. (1–100 cm).

e. (1–100 mm).

148
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2. Assinale a alternativa que apresenta corretamente a
ferramenta da metodologia CB para determinação
do risco em operações com materiais em que não
se conhece a toxicidade para um dado período de
exposição, descrita a seguir:

Trabalha com quatro níveis de risco,


predeterminados, para classificar uma determinada
operação com nanomateriais. Cada nível é obtido
definido de acordo com a relação entre o nível de
gravidade associado às obtidas pelas características
físico-químicas das nanopartículas (reatividade) e
sua toxicidade, (ou do material em escala macro, na
falta de informações específicas do nanomaterial)
versus o nível de probabilidade que leva em conta
a relação entre a quantidade de material utilizado,
frequência e duração das operações, número de
pessoas envolvidas e o grau de dispersão e no ar do
material (ANDRADE et al., 2013).

a. Nanosafer.

b. Stoffenmanager Nano 1.0.

c. CB Nanotool.

d. Precautionary matrix.

e. N ANSES CB tool for nanoparticles.

3. Assinale a alternativa que completa corretamente o


trecho a seguir:

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A caracterização adequada do nanomaterial
é de fundamental importância para avaliação
da toxicidade. Pois, a atividade biológica dos
nanomateriais pode se alterar durante a interação
desses com o meio ambiente, sendo este observado
na variação de algumas propriedades físico-químicas
na NPs. Nesta caracterização, alguns parâmetros,
tais como o(a) __________, a área e a(o) __________
superficial, se tornam essenciais.

a. Coloração; Composição química.

b. Tamanho médio das pertículas; Coloração.

c. Composição química; Coloração.

d. Tamanho médio das partículas; Composição química.

e. Composição química; Tamanho médio das partículas.

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Gabarito

Questão 1 – Resposta: A
Resolução: Nos útimos vinte anos pôde-se observar que o estudo
dos materiais com dimensões em nanoescala (1–100 nm) tem sido
o centro do desenvolvimento de novas tecnologias. Isto se deve,
principalmente, aos estudos dedicados à transição de materiais na
escala bulk ou escala macro, com propriedades a rigor definidas,
para nanopartículas (NPs) (BRAR et al., 2015).

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Questão 2 – Resposta: C
Resolução: O CB Nanotool trabalha com quatro níveis de risco,
predeterminados, para operações com nanomateriais. Cada nível
é definido de acordo com a relação entre o nível de gravidade
associado às características das nanopartículas (reatividade) e
sua toxicidade, versus a relação entre a quantidade de material
utilizado, frequência e duração das operações, número de
pessoas envolvidas e o grau de dispersão e no ar do material
(ANDRADE et al., 2013).
Questão 3 – Resposta: D
Resolução: A caracterizaão adequada do nanomaterial é de
fundamental importância para avaliação da toxicidade. Pois, a
atividade biológica dos nanomateriais pode se alterar durante a
interação desses com o meio ambiente, sendo este observado
na variação de algumas propriedades físico-químicas na NPs.
O tamanho médio das partículas, a área superficial e a
composição química são os principais parâmetros avaliados
na caracterização da toxidade. Por exemplo, nanopartículas
dificilmente são encontradas isoladamente no meio, geralmente
estas se agregam formando partículas que podem variar de
tamanho (> 100 nm) pela mudança das condições ambientais,
como força iônica e pH (PASCHOALINO et al., 2010).

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