Você está na página 1de 130

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/267332910

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Chapter · January 2011

CITATIONS READS

0 23,390

4 authors, including:

Flávia Oliveira Abrão Pessoa Kellerson Luiz da Silva


Instituto Federal Goiano Complutense University of Madrid
53 PUBLICATIONS   119 CITATIONS    12 PUBLICATIONS   15 CITATIONS   

SEE PROFILE SEE PROFILE

Eduardo Freitas
Federal University of Minas Gerais
21 PUBLICATIONS   58 CITATIONS   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Research: Rumen Microbiot View project

Rumen protozoa View project

All content following this page was uploaded by Flávia Oliveira Abrão Pessoa on 25 October 2014.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Microbiologia Básica para
Ciências Agrárias
Coleção
Bacia do Conhecimento Agrário

Microbiologia Básica para


Ciências Agrárias

Editor
Eduardo Robson Duarte
Prof. Adjunto do Instituto de Ciências Agrárias
Universidade Federal de Minas Gerais

Instituto de Ciências Agrárias da UFMG


Montes Claros – MG
2011
Copyright© 2011: Instituto de Ciências Agrárias da UFMG

Reitor: Prof. Clélio Campolina Diniz


Pro-Reitora de Graduação: Profa. Antônia Vitória Soares Aranha
Diretor do ICA: Prof. Delacyr da Silva Brandão Junior
Revisão linguística: Prof. Alex Fabiani de Brito Torres e Luciano Vieira Lima
Normalização: Biblioteca Comunitária do ICA/UFMG
Revisão: Bibliotecária Edélzia Cristina Sousa Versiani
Capa: Gilson Vieira
Impressão: Gráfica UNI-SET Ltda.
Tiragem: 300 exemplares

O conteúdo dos capítulos é de responsabilidade exclusiva de seus


autores, quanto à autenticidade, ao caráter técnico e científico.
Permitida a cópia, desde que citada a fonte.

Duarte, Eduardo Robson.

D812m Microbiologia Básica para Ciências Agrárias/Eduardo


2011 Robson Duarte, (ed.). Montes Claros: Instituto de
Ciências Agrárias da UFMG, 2011.
129 p.: il. (Bacia do Conhecimento Agrário, 1).
Inclui referências por capítulo.

ISBN: 978-85-64190-02-3.

1. Microbiologia – Ciências Agrárias. 2. Vírus. 3.


Bactérias. 4. Fungos. I. Duarte, Eduardo Robson. II.
Título.

CDU: 579

ELABORADA PELA BIBLIOTECA COMUNITÁRIA DO ICA/UFMG


Apresentação

Bacia do Conhecimento consiste na integração de ações da Rede


de Desenvolvimento de Práticas de Ensino Superior da UFMG (GIZ)
que tem como meta o reconhecimento e qualificação das atividades de
ensino na Universidade Federal de Minas Gerais.

A coleção Bacia do Conhecimento Agrário, desenvolvida no


Instituto de Ciências Agrárias, Campus Regional de Montes Claros, tem como
escopo a produção de materiais didáticos, em formatos impresso e digital,
para apoiar o ensino na área das Ciências Agrárias. A presente obra é o
primeiro livro publicado nessa coleção, tendo como objetivo principal
capacitar alunos das Ciências Agrárias com enfoque na Microbiologia Básica.
Os capítulos foram escritos com o apoio dos alunos do ICA, na busca de uma
linguagem interativa. O conteúdo é fruto de resumos e de interpretações de
livros consagrados em Microbiologia e sintetiza as informações mais
relevantes para os leitores. Os capítulos foram enfatizados e enriquecidos
com relatos de pesquisas no âmbito das Ciências Agrárias para as regiões
tropicais e para o norte de Minas Gerais.

Prof. Eduardo Robson Duarte Edélzia Cristina Sousa Versiani


Editor Bibliotecária
Prefácio

Quem de nós, enquanto educando, teve a oportunidade de estudar


com materiais didáticos que abordem conceitos relacionados ao nosso
contexto, de maneira a nos motivar, exemplificar e ilustrar nossos
questionamentos? E se tais materiais didáticos também estivessem
integrados em diferentes mídias de maneira a possibilitar múltiplos olhares,
respeitando a diversidade e possibilitando análises complementares?

Ou seja, um material com uma valorização do contexto do educando, de sua


práxis enquanto sujeito do conhecimento. Seria esse material inovador?
Relevante? Interessante?

Pois acredito ser exatamente esse o papel desempenhado pelo projeto Bacia
do Conhecimento Agrário. Materiais elaborados sobre a ótica dos próprios
educandos e de seus educadores, realizados por meio do diálogo e com a
proposta de contextualizar as Ciências Agrárias com a temática da
Microbiologia Básica, sendo motivador (para os estudantes), criterioso (para
os professores) e provocador (para ambos).

Agora, o limite desse trabalho se encontra exatamente em sua qualidade,


qual seja: a de respeitar o estudante como sujeito do conhecimento, ativo e
participante do processo, corresponsável pela relação de ensino-
aprendizagem.

A ação relevante da equipe coordenada pelo Professor Eduardo Robson,


composta por professores e alunos do ICA, contribuiu para o entendimento
do processo de ensino aprendizagem como um desafio a ser realizado com
diálogo, com alegria e, acima de tudo, com qualidade.

Demerson Luiz de A. Barbosa


Equipe Giz
Mesmo as pequenas criaturas revelam o
esplendor e a sabedoria da Criação Divina.

Eduardo R. Duarte
Agradecimentos Especiais

À Universidade Federal de Minas Grais, à Pro-Reitoria de Graduação, ao


Instituto de Ciências Agrárias da UFMG, à Rede Colaborativa de
Desenvolvimento de Práticas no Ensino Superior (GIZ).

À Coordenadora do GIZ Juliane Corrêa, ao Assessor Pedagógico do ICA


Demerson Luiz de Almeida Barbosa, à Bibliotecária Chefe Edélzia Cristina
Sousa Versiani e demais colaboradores.

Aos professores e autores do ICA, Anna Christina de Almeida, Eduardo


Robson Duarte, Fernando da Silva Rocha, Igor Viana Brandi, Maximiliano
Soares Pinto e Nilza de Lima Pereira Sales.

Aos alunos e autores do ICA, Ana Luiza Amaral Pereira, Cláudio Eduardo Silva
Freitas, Flávia Oliveira Abrão, Hugo César Rodrigues Moreira Catão,
Kellerson Luiz da Silva e Matheus Henrique Souto.
Sumário

Capítulo 1
Introdução e importância da microbiologia ..................................... 15

Capítulo 2
Classificação e evolução de micro-organismos ................................ 25

Capítulo 3
Estrutura e organização celular dos micro-organismos ..................... 35

Capítulo 4
Genética Microbiana .................................................................. 49

Capítulo 5
Metabolismo microbiano ............................................................. 61

Capítulo 6
Controle físico e químico de Micro-organismos ................................ 73

Capítulo 7
Antimicrobianos ........................................................................ 83

Capítulo 8
Microbiologia ambiental .............................................................. 95

Capítulo 9
Interações microbianas e interações hospedeiro com micro-organismo 105

Capítulo 10
Agentes fitopatogênicos ............................................................. 117
15

Introdução e importância da microbiologia

Capítulo 1

Introdução e importância da microbiologia


Prof. Eduardo Robson Duarte
Prof. Luiz Carlos Ferreira
Kellerson Luiz Silva

Resumo

Os micro-organismos ou micróbios foram descritos pela primeira vez


por Antony Van Leeuwenhoek no período compreendido entre 1670 a 1680.
No entanto, permaneceram na obscuridade ou como meras curiosidades até
meados do século XIX, quando Louis Pasteur, considerado o Pai da
Microbiologia, e Robert Koch com experimentos elegantes e clássicos deram
à Microbiologia a importância devida, fundando-a como ciência e disciplina.
Micro-organismos causam efeitos negativos como doenças em humanos,
animais e plantas, deterioração de alimentos e contaminação do ambiente.
Por outro lado os efeitos benéficos podem minimizar esses danos, uma vez
que são integrantes da microbiota autóctone, atuam na produção de
alimentos e medicamentos e podem promover descontaminação do
ambiente marinho e terrestre com a biorremediação.

Qual a importância da Microbiologia para as Ciências Agrárias?

Qual a importância da Microbiologia para sua vida?

Introdução

Microbiologia: do grego mikros (“pequeno”), bios (“vida”) e logos


(“ciência”) é o estudo dos organismos microscópicos e de suas atividades.
Preocupa-se com a forma, a estrutura, a reprodução, a fisiologia, o
metabolismo e a identificação dos seres microscópicos (FIG.1). Inclui o
estudo da distribuição natural, relações recíprocas e com outros seres vivos,
efeitos benéficos e prejudiciais sobre os homens e as alterações físicas e
químicas que provocam em seu meio ambiente. A importância dessa ciência
deve-se porque micro-organismos são os seres vivos ideais para estudo dos
fenômenos biológicos e excelentes instrumentos para compreender a
biologia molecular e, ainda, porque muitos problemas ou transformações
importantes da sociedade humana são consequência da atividade
microbiana.
16

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

A B C

Bactéria

Food
partiele

Pseudopodis

Sporangia
D E F

FIGURA 1 – Tipos de Micro-organismos: (a) A bactéria em forma de bastão


Haemophilus influenzae, uma das bactérias que causa a pneumonia, (b) Protozoário
procurando alimento, (c) Vírus da imunodeficiência (HIV), o agente causador da AIDS,
brotando de um linfócito Cd4), (d) Levedura produtora de Álcool, (e) alga lacustre,
Volvox spp., (f) Mucor spp. um mofo ou fungo comum em pães.
FONTE: Adaptada de Tortora (2005).

Efeitos das doenças nas civilizações

Talvez um dos aspectos mais negligenciados quando se estuda a


microbiologia refira-se às profundas mudanças que ocorreram no curso das
civilizações por causa das doenças infecciosas. A própria mobilização de
populações, resultando em uma aglomeração, por tempo prolongado, de
pessoas em ambientes onde as condições de higiene e de alimentação eram
geralmente inadequadas, também colaborava na disseminação de doenças
infecciosas, para as quais não existiam recursos terapêuticos.

O declínio do Império Romano, com Justiniano (565 AC), foi


acelerado por epidemias de peste bubônica e varíola.

Durante a Idade Média, novas epidemias sucederam-se como o tifo, varíola,


sífilis e a cólera. Em 1346, a população da Europa, Norte da África e Oriente
Médio era de cerca de 100 milhões de habitantes. Nessa época houve uma
grande epidemia da peste, que se disseminou via “rota da seda” (a principal
rota mercante para a China), provocando um grande número de mortes na
Ásia e posteriormente espalhando-se pela Europa, onde resultou em um total
de cerca de 25 milhões de pessoas, em poucos anos.

Vale ressaltar a importância das diferentes epidemias de gripe que


assolaram o mundo e que continuam a se manifestar de forma intensa na
atualidade. Tem-se ainda o problema mundial envolvendo a AIDS, o retorno
da tuberculose com 17 milhões de novos casos somente no Brasil e do
aumento progressivo dos níveis de resistência aos agentes antimicrobianos.
17

Introdução e importância da microbiologia

Conquistas no conhecimento das doenças

Até meados do século XIX os cientistas acreditavam que os seres


vivos eram gerados espontaneamente do corpo de cadáveres em
decomposição. Rãs, cobras e crocodilos seriam gerados a partir do lodo dos
rios.

Essa interpretação sobre a origem dos seres vivos ficou conhecida


como hipótese da geração espontânea ou da abiogênese (a=prefixo de
negação, bio = vida, genesis = origem; origem da vida a partir da matéria
bruta).

“Talvez em alguns locais, vivam pequenos


animais que não podem ser vistos a olho nu e
que podem entrar pela boca e fossas nasais
provocando grandes desastres”.
Marcos Varrão, cidadão romano e escritor,
100 a.C.

“podem existir sementes de moléstias”


Lucrécio, 55 a.C.

Para surgirem os avanços da Microbiologia, os fundamentos da


geração espontânea precisaram ser derrubados.

Teoria microbiana da doença

A doença é definida como falta ou perturbação da saúde ocasionada


por micro-organismo como agente primário, secundário ou agente
oportunista (da microbiota normal).

Primeiramente na França, Louis Pasteur estudou os métodos e


processos envolvidos na fabricação de vinhos e cervejas. Observou que a
fermentação das frutas e dos grãos, resultando em álcool, era efetuada por
micróbios. Examinando muitas amostras de “fermentos”, isolou micróbios de
espécies diferentes. Pasteur sugeriu que os tipos indesejáveis de micro-
organismos deveriam ser eliminados pelo calor, não tão intenso que
prejudicasse o gosto do suco de fruta, mas suficiente para tornar inócuos os
germes. Observou que, mantendo os sucos a uma temperatura de 62-63º C,
durante uma hora e meia, obtinha o resultado desejado. Esse processo
tornou-se conhecido como pasteurização e hoje é amplamente utilizado nas
indústrias de alimentos.

Pasteur, por volta de 1860, estudando uma doença em bicho da seda,


provou que um protozoário causava a doença e sugeriu a seleção de larvas
resistentes. Em 1840, Jacob Henle apresentou a teoria microbiana de
doença.
18

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Robet Koch (1876) estudou o sangue de cordeiros mortos com


carbúnculo hemático (Antraz). Separou a bactéria de outros micro-
organismos, inoculou em camundongos. Camundongos desenvolveram o
carbúnculo. Bactérias visualizadas, provenientes dos camundongos eram
semelhantes às inoculadas.

Postulados de Koch (1880) mostram a descoberta de numerosos


germes patogênicos e contribuiu para a teoria das doenças infecciosas,
nomeadamente fixando quais as técnicas para provar que um micro-
organismo é a causa específica de uma doença (1890). O postulado é
composto por quatro regras:

1. Micro-organismos suspeitos devem sempre ser


encontrados associados à doença.

2. O Micro-organismo deve ser isolado em cultura ou


cultivo puro.

3. Quando inoculado em cobaias susceptíveis, origina a


mesma doença.

4. O mesmo micro-organismo deve ser recuperado das


cobaias que adoeceram.

Entretanto, há doenças causadas por mais de um micro-organismo


como as diarréias, mastites, pneumonias. Um micro-organismo pode causar
mais de uma doença e em hospedeiros diferentes como a bateria Escherichia
coli. Nem sempre o micro-organismo que infecta origina a doença, pois são
necessárias as inter-relações do ambiente-hospedeiro- micro-organismo. O
micro-organismo pode não estar presente e causar a doença, como nos casos
de intoxicação alimentar como o botulismo e micotoxicoses.

Micro-organismos e alimentos

Microbiologia de alimentos trata dos processos em que os micro-


organismos influenciam nas características dos alimentos. A qualidade
microbiológica dos alimentos está condicionada, primeiro, à quantidade e ao
tipo de micro-organismos inicialmente presentes (contaminação inicial) e à
multiplicação desses no alimento. Em nosso dia a dia convivemos com os
mais diversos alimentos produzidos por micro-organismos como o vinho, a
cerveja, o queijo, picles, vinagre, pães e outros.

Os micro-organismos de interesse em alimentos podem ser os


Deteriorantes, os Patogênicos, os Produtores de alimentos e os Indicadores.

Micro-organismos deteriorantes: as psicrotrófilas entre as mais importantes.


Ex. Pseudomonas produz odores desagradáveis em carnes refrigeradas;
19

Introdução e importância da microbiologia

Leuconostoc produz “limo” em sucos; Lactococcus produz ácidos em leite. Os


fungos são agentes iniciadores de deterioração e podem produzir
micotoxinas.

Os micro-organismos causadores de enfermidades transmitidas por


alimentos podem ser:

Liberadores de toxina: S. aureus, Clostridium perfringens, C. botulinum,


Vibrio cholerae, Bacillus cereus, fungos filamentosos.

Causadores de infecções: Salmonella sp., E. coli, Shigella sp., Vibrio


parahaemoliticus, Campilobacter sp., Listeria monocytogenes, Yersinia sp..

Microorganismos na produção de alimentos

Os processos microbianos promovem alterações nos alimentos que lhes


confere maior resistência a deterioração e também o desenvolvimento de
características organolépticas (sabor, aroma, textura) mais agradáveis.
Muitos processos baseiam-se na fermentação lática e na fermentação
alcoólica (bebidas).

Micro-organismos indicadores são aqueles que o número ou a presença é


usado como indicativo da qualidade e segurança dos alimentos. Contagem
total de mesófilos e contagem de bolores e leveduras: Indicam o nível de
bactérias e fungos presentes no alimento. Coliformes totais: indica a adoção
ou não de boas práticas de fabricação durante o processamento (condições
higiênico-sanitárias). Escherichia coli: Indica exposição do alimento a
contaminação de origem fecal.

Cereais

Os cereais compõem um grupo de alimentos consumidos


mundialmente e também são utilizados como matéria-prima importante na
alimentação e nutrição humana e de animais. Os bolores (FIG. 2) podem
causar doenças de origem alimentar devido ao consumo de cereais uma vez
que podem produzir micotoxinas na superfície dos alimentos, principalmente
em condições de armazenamento e conservação inadequadas. A despeito de
os cereais serem geralmente alimentos secos, neles ainda podem ser
encontradas bactérias esporuladas, que podem conter endósporos capazes
de resistir a tratamentos térmicos como cozimento e pasteurização.
20

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

FIGURA 2 – Fatia de pão contaminada com bolor de Rhizopus stolonifer


FONTE: http://www.professorjarbasbio.com.br/pagina21.htm.

Frutas e legumes

As frutas e hortaliças são procuradas por consumidores por serem


um complemento fundamental numa alimentação saudável e equilibrada.

Hoje, frutas e legumes são alvos de atenção especial, pois habitualmente não
passam por cozimento em alta temperatura e são especialmente vulneráveis
à contaminação por organismos causadores de doenças. A colheita, a
manipulação inadequada de frutas e legumes pode constituir ou introduzir
uma contaminação microbiológica. Leveduras (FIG. 3) são os principais
contaminantes de frutas e fungos micelianos (FIG.4) e bactérias também são
importantes deteriorantes desses alimentos.

FIGURA 3 – Levedura Saccharomyces cerevisiae. A Figura nos mostra pequenos


fungos de nome científico Saccharomyces cerevisae, que é uma levedura muito
importante e bastante estudada devido ao seu potencial probiótico
FONTE: Fonte: www.musee-afrappier.qc.ca.
21

Introdução e importância da microbiologia

FIGURA 4 - Morango acometido por fungos micelianos


FONTE: http://pojinha.blogspot.com/2007/06/conservao-melhoramento-e-produo-
de.html.

Carnes

A maior importância das bactérias em relação à deterioração da


carne reside na maior atividade de água e teor protéico desse alimento. A
contaminação ocorre por contato com a pele, pêlo, patas, conteúdo
gastrintestinal, equipamentos, mãos e roupas de operários, água utilizada
para lavagem das carcaças, equipamentos e ar dos locais de abate e
armazenamento. A contaminação pode ocorrer em todas as operações de
abate, armazenamento e distribuição e sua intensidade depende da
eficiência das medidas higiênicas adotadas. Um dos gêneros bacterianos
importantes é o Pseudomonas que altera a superfície da carne e o
Clostridium, que cresce no interior e pode produzir toxinas.

Ovos

Uma alta contagem de bactérias é indesejável em qualquer produto


derivado do ovo. As bactérias multiplicam-se rapidamente em produtos de
ovos abertos e sempre surgem altas concentrações bacterianas quando
esses produtos líquidos permanecem por várias horas em temperaturas
superiores a 15°C. A maioria dos ovos, logo após a postura, é estéril
internamente. A microbiota nos ovos compõe-se de 38% de bactérias que
não formam esporos, entre elas os germens de Pseudomonas e Proteus, 30%
de bactérias que formam esporos, 25% de cocos, 4% de leveduras e 3% de
actinomicetos; no ovo de galinha é raro encontrar bactérias patógenas como
Salmonella (0,6%). Quanto aos mofos, foram encontrados gêneros como
Penicillium, Cladosporium.
22

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Leite

As bactérias lácteas são encontradas em plantas e no intestino de


animais. Os principais grupos são os bacilos e cocos. São anaeróbias
facultativas, não esporogênicas. A maioria morre a temperatura de 70°C,
mas, algumas são destruídas a 80°C. Também, alguns leites fermentados
estão sendo elaborados com Lactobacillus acidophilus e Bifidobactéria
(juntas ou não). Essas espécies possuem a capacidade de sobreviver à
passagem pelo estômago humano (pH 2,0) e contribuem para a redução do
crescimento de E. coli e outras bactérias indesejáveis, prevenindo a diarreia.

Um dos maiores problemas no tratamento e processamento do leite é


a quantidade de micro-organismos que contém. Alguns contaminam no
momento da ordenha, outros são incorporados pelo ordenhador, utensílios
mal higienizados e mesmo pelo ambiente. Os micro-organismos
psicrotróficos surgem com o uso da refrigeração do leite. Há inibição das
bactérias mesófilas, dando oportunidade para os psicrotróficos. O problema
principal são as enzimas lipolíticas e proteolíticas que possuem atividade
mesmo após a pasteurização, pois possuem grande resistência térmica.

Bactérias patogênicas provenientes dos animais e sensíveis à


pasteurização são o Mycobacterium tuberculosis e M. bovis, causam
tuberculose, Brucella abortus, causa brucelose. O Staphylococcus aureus
causa mastite e pode reproduzir e produzir toxinas durante a estocagem,
sendo que a toxina não é inativada pela pasteurização. A Listeria
monocytogenes provém da vaca com mastite ou do ambiente, problemática
especialmente em queijos frescos. A Salmonella spp. presente em fontes
externas do úbere e ambiente com fezes pode também contaminar o leite.

Formação de biofilmes: os resíduos de leite e os micro-organismos


formam filmes sobre as superfícies. As bactérias podem colonizar os
equipamentos. Uma vez aderidas à superfície torna-se muito mais difícil
retirá-las ou destruí-las com sanitizantes.

Microbiologia industrial e farmacêutica

Os usos industriais da microbiologia iniciaram-se com as


fermentações em grande escala de alimentos que produziam ácido láctico a
partir de laticínios e etanol a partir da fabricação de cervejas. Essas duas
substâncias químicas também provaram ter muitas utilidades não
relacionadas aos alimentos. Durante a Primeira e Segunda Guerras Mundiais,
a fermentação microbiana e tecnologias similares foram utilizadas na
produção de substâncias químicas relacionadas a armamentos, como o
glicerol e a acetona. A atual microbiologia industrial data da tecnologia
desenvolvida durante a produção de antibióticos após a Segunda Guerra
Mundial. Existe agora interesse renovado em algumas das fermentações
23

Introdução e importância da microbiologia

clássicas, principalmente se puderem usar estoques de alimentos


reutilizáveis ou fontes de resíduos.

Nos últimos anos, a microbiologia industrial foi revolucionada com a


aplicação de organismos geneticamente modificados. A microbiologia
farmacêutica moderna foi desenvolvida após a Segunda Guerra Mundial, com
a introdução da produção de antibióticos.

Todos os antibióticos eram, originalmente, produtos do metabolismo


microbiano. Muitos ainda são produzidos por fermentações microbianas e o
trabalho continua na seleção de mutantes mais produtivos por manipulações
genéticas e nutricionais. Pelo menos 6.000 antibióticos já foram descritos.
Um organismo, o Streptomyces hydroscopius, possui linhagens diferentes
que produzem cerca de 200 antibióticos diferentes.

As vacinas são produtos da microbiologia industrial. Muitas vacinas,


antivirais são produzidas em grandes quantidades em ovos de galinha ou
cultivos celulares ou micro-organismos modificados.

Os esteroides são um importante grupo de substâncias químicas que


incluem a cortisona, que é utilizada como droga anti-inflamatória, e os
estrógenos e progesteronas que são usados como contraceptivos orais.
Extrair esteroides de fontes animais, ou sintetizá-los quimicamente é difícil,
porém os micro-organismos podem sintetizar esteroides a partir de esteróis
ou de compostos similares facilmente obtidos.

Referências
BLACK, J. G. Microbiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 4. ed.,2002.

JAY, J.M. Microbiologia de alimentos. 6a.ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.

MADIGAN et al. Microbiologia de Brock. São Paulo: Prentice-Hall, 10ª. ed.,2004.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO. Regulamento Técnico Sobre as


Condições Higiênico-Sanitárias e de Boas Práticas e Fabricação para Estabelecimentos
Elaboradores/Industrializadores de Alimentos. Portaria n°368/97. 1997.

PORTO, E. Microbiologia do Leite. Universidade de São Paulo. v. 1, p. 18, 1998.

ROÇA, R. O., SERRANO, A.M. Abate de bovinos: alterações microbianas da carcaça.


Higiene Alimentar, v. 9, n. 35, p. 8-13, 1995.

SOUZA-SOARES, L., SIEWEDT F. Aves e ovos. Pelotas: UFPEL, 2005.

TORTORA et al., Microbiologia. Porto Alegre; ArtMed, 8. ed., 2005.

TRABULSI,L. R. et al. Microbiologia,5a ed.,SãoPaulo: Atheneu, 2008.


24

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias


25

Classificação e evolução de micro-organismos

Capítulo 2

Classificação e evolução de micro-organismos


Prof. Eduardo Robson Duarte
Profa. Roberta Torres Careli
Kellerson Luiz da Silva

Resumo

Nas ciências, a padronização de nomes é essencial. Por exemplo,


todos os especialistas em química devem dizer a mesma palavra, quando
discutem sobre um elemento ou um composto. Os físicos devem concordar
com os termos, quando discutem matéria ou energia; os biólogos devem
concordar com os nomes dos organismos vivos. Este capítulo apresenta os
princípios básicos sobre a ciência da classificação de seres vivos, denominada
de taxonomia. Dessa forma, serão abordados temas como classificação
(arranjo), nomenclatura (nomes) e identificação (descrição e caracterização)
dos organismos vivos.

Os nomes das pessoas são multivariados para cada cultura,


região ou país. Como determinar nomes dos micro-organismos
e como organizá-los de forma sistemática e universal, uma vez
que estão presentes em todos os continentes?

Introdução

A grande biodiversidade microbiológica existente na natureza levou


os cientistas a procurarem um modo de organizar, ordenar e nomear essa
ampla variedade de organismos vivos. Os seres vivos são classificados de
forma universal. A área da biologia que estuda a ordenação, a classificação e
nomenclatura dos seres vivos, agrupando-os de acordo com o grau de
semelhança é denominada taxonomia.

Essa ciência estabelece relações entre um grupo e outro de


organismos e os diferencia. Fornece uma referência comum na identificação
de seres já identificados. Por exemplo, quando uma bactéria suspeita é
isolada de um paciente ou de um alimento, as particularidades desse micro-
organismo são comparadas a uma lista de características de bactérias
previamente classificadas para identificar o isolado. Portanto, a taxonomia é
ferramenta básica e necessária para os cientistas e fornece uma linguagem
universal de comunicação.
26

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Similaridades entre organismos

Entre os milhões de organismos já identificados atualmente,


apresentando características diferentes, já foram constatadas similaridades
entre diferentes grupos. Por exemplo, os organismos vivos são compostos de
células envoltas por uma membrana plasmática, utilizam ATP como fonte de
energia e armazenam informações genéticas no DNA. Essas similaridades
resultam de evolução ou descendem de um ancestral comum, ou seja, cada
espécie mantém algumas características do ancestral.

Teoria Endossimbiótica

A maior diferença entre procariontes e eucariontes é que os


eucariontes possuem organelas especializadas, revestidas por membrana,
incluindo um núcleo verdadeiro. A simbiose é uma relação entre dois tipos
diferentes de organismos que vivem em contato íntimo. Caso um deles viva
dentro do outro, a relação é conhecida como endossimbiose. De acordo com
essa teoria, as organelas das células de Eucariotos surgiram a partir da
associação de dois ou mais micro-organismos, sendo que um deles foi
interiorizado. Essa relação tornou-se obrigatória e promoveu o aparecimento
das primeiras células eucariotas.

Sugere-se que a primeira célula ancestral de Eucariotos era


semelhante a uma ameba, que, de alguma maneira, desenvolveu um núcleo.
Sabendo-se que porções de membrana celular se destacam facilmente para
formar vesículas, por isso é fácil imaginar que um cromossomo primitivo
pode ter sido envolvido por uma membrana, criando, desse modo, um núcleo
rudimentar. Esse Eucarioto primitivo era provavelmente uma célula
fagocítica, que absorvia nutrientes provenientes do meio e englobava outras
células. Apesar de a maioria das células procarióticas engolfadas ter sido
provavelmente digerida e usada para nutrir o fagócito, algumas
aparentemente sobreviveram e tornaram-se resistentes e permanentes
dentro do citoplasma. Sabe-se que muitas dessas células evoluíram como
organelas. Ambos os organismos beneficiaram-se dessa combinação. Os
procariontes absorvidos foram protegidos e nutridos. O ancestral adquiriu
novas habilidades como a respiração aeróbia, a fotossíntese e a locomoção.

Evidências atuais da teoria endossimbiótica

As mitocôndrias e cloroplastos possuem tamanhos e formatos


semelhantes às bactérias Gram negativo. Possuem DNA próprio, em forma
circular e ribossomos 70 S, semelhantes aos bacterianos. Sintetizam
proteínas de forma semelhante às bactérias. Realizam reprodução própria,
por divisão binária e possuem duas membranas como a parede celular de
27

Classificação e evolução de micro-organismos

bactérias Gram-negativo. Os cloroplastos são semelhantes à cianobactérias


e possuem clorofila.

Flagelos e cílios ocorreram da associação simbiótica com bactérias


móveis, conhecidas como espiroquetas. A incorporação de espiroquetas
contribuiu para a formação do citoesqueleto das células eucariotas.

Categorias taxonômicas

Credita-se ao botânico sueco do século XVIII, Carl von Linné, a


criação da taxonomia, pois estabeleceu a nomenclatura binominal, sistema
que ainda é usado atualmente para denominar todos os seres vivos.

Para facilitar as pesquisas, o próprio conhecimento e a comunicação,


os organismos foram organizados em categorias taxonômicas ou taxa
(singular: táxon), para mostrar o grau de similaridade entre eles. Essas
semelhanças devem-se ao grau de parentesco, pois todos os organismos são
relacionados por meio da evolução.

Os organismos que compartilham certas características comuns são


agrupados em grupos taxonômicos. O táxon básico é a espécie, que é uma
coleção de cepas com características similares. Depois segue com: gênero,
família, ordem, classe, filo (ou divisão) e reino. Para alguns grupos, há
subespécies e cepas. Em botânica, o termo divisão é utilizado e é equivalente
a filo.

Estudo das relações filogenéticas

Filogenia é o estudo da história evolucionária dos organismos. A


hierarquia dos taxa reflete relações evolutivas ou filogenéticas. Um resumo
da história evolucionária dos organismos vivos é mostrada no QUADRO 1.
Verifique no Micro book digital a figura referente a ao Sistema de classificação
em cinco reinos e três domínios.
28

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

QUADRO 1 – Relações evolutivas dos organismos vivos

Esquema de Reino/ Organismos


classificação Domínio incluídos

Carl von Linné (1735) Plantae Bactérias, fungos, algas,


Animalia plantas Protozoários e animais
superiores

Haeckel (1865) Plantae Algas multicelulares e plantas


Animali Animais
Protista Micro-organismos, incluindo
bactérias, protozoários, algas,
fungos e leveduras

Whittaker (1969) Plantae Algas multicelulares e plantas


Animalia Animais
Protista Protozoários e algas unicelulares
Fungi Bolores e leveduras
Monera Todas as bactérias (procariotos)

Woese (1977) Archaea Bactérias metanogênicas halofílicas


. e termófilas extremas
Bacteria Todas as outras bactérias, do solo,
. água, fotossintéticas, causadoras
.. de doenças.
Eucarya Protozoários, algas, fungos,
plantas e animais
FONTE: Adaptado de Black (2002).

Novas técnicas em biologia molecular evidenciam que há três tipos


de células, sendo duas procariotas e uma eucariota. Assim, em 1977, Woese
propôs elevar os três tipos de células para um nível acima de reino,
denominado Domínio. Dessa forma, classificou os organismos nos domínios:
Archaea, Bacteria e Eucarya (QUADRO 1). Woese sustentava que os domínios
Bactéria e Archaea, embora fossem semelhantes em aparência, deveriam
formar seus próprios domínios separados na árvore evolucionária.

Em uma hierarquia filogenética, o agrupamento de organismos, de


acordo com propriedades comuns, implica em que um grupo de organismos
evoluiu de um ancestral comum, ou seja, cada espécie mantém algumas
características do ancestral.

A partir da classificação dos micro-organismos por Woese (1977),


pode-se dizer que os três reinos surgiram de um ancestral comum, baseado
29

Classificação e evolução de micro-organismos

no DNA ribossomal. Assim, esses estudos evidenciam que o ancestral


universal ou comum dividiu-se nas linhagens: Bactéria, Archaea e Eukarya.

Domínio Bactéria

Inclui todos os procariotos, unicelulares que possuem o cromossomo


não delimitado por membrana. As proteobactérias são consideradas como o
maior grupo taxonômico das bactérias, sendo que podem causar ou não
doenças em humanos, em animais e em plantas. Além disso, são micro-
organismos que crescem em várias faixas de temperaturas e apresentam
diferentes formas, como bastonetes, cocos, espirilos, entre outras.

Domínio Archaea

Inclui os procariotos que não possuem peptideoglicano na parede


celular, vivem em ambientes extremos e realizam processos metabólicos
incomuns. O domínio Archaea possui três grupos principais:

- Bactérias halófilas extremas: crescem em altas concentrações de


sais, como os gêneros Halobacterium e Halococcus, que vivem em ambientes
com altas concentrações de Cloreto de Sódio e necessitam dessas condições
ambientais para o seu crescimento.

-Bactérias hipertermófilas ou termófilas extremas: crescem em


nascentes quentes, ácidas, ricas em enxofre. Assim é o gênero Sulfolobus,
que possui um pH ótimo de crescimento, em torno de 2, e temperatura ótima
acima de 70º C. Esse grupo também pode ser encontrado nas profundezas
oceânicas, próximas às fontes hidrotérmicas.

-Bactérias metanogênicas: grupo caracterizado por bactérias


anaeróbias, produtoras de metano. O gênero Methanobacterium é de
importância econômica considerável. Essas bactérias são encontradas no
intestino humano e utilizadas em tratamentos de esgoto com produção de
metano, a partir de hidrogênio e de gás carbônico.

Domínio Eucarya

É composto por protozoários, algas, fungos, plantas e animais.


Entretanto, nesse material didático, será abordado o Reino Fungi. Esse reino
inclui micro-organismos eucariotos, como leveduras unicelulares, fungos
micelianos multicelulares e espécies macroscópicas, como cogumelos. A
estrutura básica dos fungos multicelulares é formada por filamentos,
denominados hifas.
30

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Os fungos filamentosos podem tornar o alimento deteriorado,


conforme ilustra a FIG. 1:

FIGURA 1 – Exemplos de alimentos contaminados com fungos micelianos


FONTE: Arquivo pessoal.

Classificação dos organismos

Os organismos vivos são agrupados de acordo com as características


similares. A cada organismo é atribuído um único nome científico. A
taxonomia envolve a classificação, a nomenclatura e a identificação dos seres
vivos.

Classificação

A classificação é responsável, por exemplo, pelo agrupamento de


bactérias que compartilham certas características comuns em grupos
taxonômicos.

Há dois sistemas de classificação: natural ou fenético e artificial ou


felético. O sistema de classificação natural baseia-se em características
fenotípicas, principalmente morfológicas e fisiológicas dos micro-
organismos. Por outro lado, o sistema de classificação artificial baseia-se nas
relações filogenéticas dos micro-organismos, por meio da comparação de
sequências de macromoléculas ou dos genes que as codificam.

O sistema de classificação biológica baseia-se na hierarquia


taxonômica, que permite a ordenação dos grupos de organismos em
categorias ou em posições. A taxonomia classifica os indivíduos em grupos
com características similares. Essa classificação segue diferentes níveis
31

Classificação e evolução de micro-organismos

hierárquicos, ou seja, grupos pequenos compartilham de propriedades


comuns, que, por sua vez, fazem parte de grupos maiores. As categorias
frequentemente utilizadas são, em ordem ascendente: espécie, gênero,
família, ordem, classe, filo e reino. A seguir será abordado um exemplo de
classificação de uma bactéria:

Reino = Bacteria

Filo = Proteobacteria

Classe = Gama Proteobacteria

Ordem = Pseudomonadales

Família = Pseudomonadaceae

Gênero = Pseudomonas

Espécie = Pseudomonas fluorescens,

P. aeruginosa, P. mucidolens

Nomenclatura

Designa nomes aos grupos taxonômicos, de acordo com preceitos


estabelecidos em regras internacionais. O objetivo primordial da indicação de
nomes aos “taxa” é possibilitar uma forma de referência simples e sem
ambiguidades, evitando-se a necessidade da descrição das características
dos organismos.

A nomenclatura de bactérias é regulamentada pelo Código


Internacional para a Nomenclatura de Procariotos e compreende as regras,
os princípios e as recomendações para a descrição de uma nova unidade de
classificação, ou seja, espécie, gênero ou família.

Conforme essas regras, o nome de uma espécie bacteriana baseia-se


no sistema binomial, desenvolvido pelo taxonomista sueco Carl von Linné
(1707 – 1778) para plantas e animais. Esse pesquisador foi um dos primeiros
a propor um sistema de classificação natural. Em 1758, no seu Systema
Naturae, dividiu os animais conhecidos em mamíferos, aves, anfíbios
(incluíram-se os répteis), peixes, insetos e vermes (que incluíam todos os
outros invertebrados), subdividindo cada grupo até as espécies. Propôs
também regras para a nomenclatura dos seres vivos com o uso de palavras
latinas:

a) Na designação científica, os nomes devem ser latinos de origem ou, então,


latinizados.
32

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

b) Em obras impressas, todo nome científico deve ser escrito em “itálico”,


diferente do corpo tipográfico usado no texto corrido. Em trabalhos
manuscritos, esses nomes devem ser grifados.

c) Cada organismo deve ser reconhecido por uma designação binominal,


onde o primeiro termo identifica o seu gênero e o segundo, a sua espécie.

d) O nome relativo ao gênero deve ser um substantivo simples ou composto,


escrito com inicial maiúscula.

e) O nome relativo à espécie deve ser um adjetivo escrito com inicial


minúscula.

Exemplo: Oreochromis niloticus

Nesse sistema de regras, o nome de uma espécie é sempre dado


como uma combinação em latim, constituída de duas partes: o nome do
gênero e o nome específico que denota a espécie. Por exemplo, uma das
bactérias que habitam o intestino de animais de sangue quente é Escherichia
coli (nome do gênero e seguido do nome da espécie). Apenas a primeira letra
do nome do gênero é escrita com a letra maiúscula e o nome completo deve
ficar em itálico ou sublinhado (caso seja escrito).

A raiz para o nome de uma espécie ou de outro grupo taxonômico


pode ser derivada de qualquer língua, mas a terminação deve ser em latim.
Na bactéria Staphylococcus aureus, o nome do gênero é derivado das
palavras de origem grega staphyle, que significa cacho de uva, e coccus, que
significa semente. Nesse exemplo, a terminação “us” é oriunda do latim e
corresponde a uma das terminações utilizadas para substantivos
(Staphylococcus) e adjetivos (aureus) masculinos.

O nome específico é estável e não pode ser alterado. Já o nome do


gênero pode ser renomeado, conforme novas descrições de características.
Algumas vezes, é necessário subdividir uma espécie em variedades. Isso
pode ocorrer, quando há diferenças dentro de uma espécie, insuficientes para
a criação de uma nova espécie. Por exemplo, a estirpe de Streptococcus lactis
que produz um aroma de malte é designada de Streptococcus lactis var.
maltigenes.

A classificação dos vírus baseia-se no tipo de ácido nucleico, no


número de fitas de ácido nucleico, no peso percentual do ácido nucleico em
relação à particular, no peso molecular, no tamanho e na forma da partícula;
na presença ou na ausência de envelope; nas propriedades físicas, químicas,
biológicas e antigênicas, nos hospedeiros e na forma de transmissão. Com
esses critérios, os vírus são reunidos em famílias (terminação viridae) e
gêneros. Como exemplo, o HIV pertence à família Retroviridae, gênero
Lentivirus e espécie: Vírus da Imunodeficiência Humana.
33

Classificação e evolução de micro-organismos

Identificação

Consiste na comparação dos organismos em estudo com aqueles já


conhecidos, visando a determinar a sua identidade ou nome. Portanto, trata-
se de verificar se um dado organismo pertence a um grupo taxonômico
estabelecido.

A identificação compreende a determinação da espécie ou de outra


unidade taxonômica de um micro-organismo recém-isolado. Por exemplo, os
bacteriologistas clínicos frequentemente têm que verificar se uma bactéria
patogênica específica está presente em um determinado material clínico, de
modo que se possa fazer o diagnóstico de uma doença. Da mesma forma, os
microbiologistas de alimentos necessitam determinar a presença ou não de
bactérias, como Salmonella sp., Listeria spp. ou de outras bactérias
patogênicas em alimentos.

O processo de identificação assume, primeiramente, que os micro-


organismos de interesse já tenham sido descritos e nomeados. No entanto,
micro-organismos novos podem surgir e serem isolados de diversos tipos de
materiais. Na área ambiental, é comum o isolamento de bactérias novas.
Estima-se que menos de 1 % das espécies de procariotos tenha sido isolada e
estudada em laboratório.

As características usadas para a identificação são as fenotípicas,


baseadas no emprego de uma série de testes bioquímicos e as genotípicas,
baseadas na detecção de sequências genéticas específicas. Entretanto, como
a identificação é um procedimento essencialmente rotineiro, as
características utilizadas devem ser de fácil demonstração e sempre em
menor número possível. Atualmente, são encontrados vários sistemas
automatizados ou Kits de identificação.

Em alguns casos, a identificação específica não satisfaz, porque


muitas espécies englobam variedades que diferem quanto à patogenicidade
ou características epidemiológicas. As variedades mais comuns são
identificadas com o comportamento bioquímico (biotipo), a composição
antigênica (sorotipo), os tipos de receptores para bacteriófagos líticos
(fagotipo), as propriedades patogênicas (patotipo), entre outros. A divisão
de espécies em sorotipos é importante para as Enterobacteriacea, que
causam infecção intestinal, como Salmonella enterica sorotipo Choleraesuis.

As características fenotípicas taxonomicamente relevantes são o


padrão do ciclo de vida, as relações de simbiose, a capacidade de causar
doença no hospedeiro e os habitats preferenciais, de acordo com a
temperatura, o pH, o oxigênio e a concentração osmótica.

Para fazer a identificação de bactérias, o Manual de Bergey tem sido


uma referência amplamente utilizada desde que a primeira edição foi
publicada em 1923. Esse manual não classifica as bactérias de acordo com a
34

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

sua relação evolutiva, mas fornece esquemas de identificação com base em


critérios, tais como: comportamento da parede celular, morfologia, coloração
diferencial, necessidades de oxigênio e testes bioquímicos.

Quando se trata de identificação por características moleculares,


pode-se realizar, por exemplo, uma análise protéica do micro-organismo. A
sequência de aminoácidos de uma proteína reflete a sequência de ácidos
nucleicos do gene. Dessa forma, a comparação de proteínas de diferentes
indivíduos torna-se útil em taxonomia. Para muitos micro-organismos, o
sequenciamento do DNA ribossomal, que possui muitas bases conservadas e
poucas variáveis, é o determinante para a diferenciação de espécies. Em
virologia, o sequenciamento do DNA ou RNA é essencial para a identificação e
o diagnóstico definitivo de vírus.

Referências
BLACK, J. G. Microbiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 4. ed., 2002

FERREIRA, R. et al. Morfologia de frutos, sementes, plântulas e plantas jovens de


Dimorphandra mollis Benth. - faveira (Leguminosae-Caesalpinioideae). Revista
Brasileira de Botânica, v. 24, n. 3, p. 303-309, 2001. Disponível em
<http://www.scielo.br >. Acesso 23 de janeiro de 2011.

MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. 10ª. ed. São Paulo: Prentice-Hall,


2004.

TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. Porto Alegre: ArtMed, 8. ed., 2005.

TRABULSI, L. R. et al. Microbiologia, 5. ed., SãoPaulo: Atheneu, 2008.


35

Estrutura e organização celular dos micro-organismos

Capítulo 3

Estrutura e organização celular dos


micro-organismos
Matheus Henrique Souto
Prof. Eduardo Robson Duarte
Prof. Igor Viana Brandi

Resumo

Um dos princípios fundamentais da biologia é que todos os seres


vivos são formados por células. Os micro-organismos que possuem apenas
uma célula são unicelulares, e mais de uma célula, pluricelulares. Esse
conceito, que hoje nos parece simples, tem origem com as primeiras
descobertas ocorridas no século XVII, quando os primeiros microscópios
permitiram observar objetos muito pequenos de cuja existência não se
suspeitava. Todas as células vivas podem ser classificadas como
procarióticas, das palavras gregas pro (antes) e karyon (núcleo), ou
eucarióticas, de eu (verdadeiro) e karyon (núcleo). As células procarióticas
não possuem núcleo e organelas envoltas por membrana, ao passo que as
eucarióticas possuem tais estruturas. Veremos, neste capítulo, a estrutura e
a organização dos vírus, dos organismos procariontes (bactérias) e
eucariontes (fungos), bem como a diferenciação bioquímica desses micro-
organismos.

Qual a importância do conhecimento da estrutura organizacional


dos organismos no controle de doenças microbianas?

Introdução

Em 1665, o cientista inglês Robert Hooke (1635-1703), observando


uma secção de cortiça ao microscópio, notara pequeníssimas cavidades,
semelhantes às de uma colmeia, chamadas por ele de células. Seguiram-se
muitas observações e pesquisas, mas só no século XIX se reconheceu a célula
como a unidade funcional de todos os organismos vivos.

A teoria celular, formulada por volta de meados do século XIX, por


dois cientistas alemães, Mathias Schleiden (1804-1881) e Theodor Schwann
(1810-1882), defendia que todos os seres vivos são constituídos por células
(primeiro postulado), que a célula é uma espécie de "fábrica química", onde
36

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

se realizam todos os processos necessários à vida do organismo (segundo


postulado) e que cada célula deriva de uma outra célula (terceiro postulado).

Em 1830, Meyen reporta que cada célula vegetal é uma unidade


isolada, independente e capaz de construir estruturas internas. No ano
seguinte, 1831, Robert Brown identifica o núcleo celular. Em 1832, Dumortier
observa a divisão celular em algas.

Em 1858, Virchow corretamente explica que toda célula é originada


de outra célula preexistente e que as células, como unidades da vida, são
também agentes primários de doenças. Em 1907, Harrison consegue
desenvolver um meio para o crescimento de células animais em laboratório.
Assim, estudos de metabolismo celular puderam ser conduzidos sob
condições experimentais controladas.

No século XX, entre os anos de 1930 a 1946, foi desenvolvido o


microscópio eletrônico, que possibilitou estudos da ultraestrutura celular.
Paralelamente, o surgimento de técnicas de Bioquímica e Biologia Celular,
como o fracionamento celular e a histoquímica, deu avanço extraordinário ao
conhecimento sobre as células e os organismos. A partir da década de 1960,
desvendou-se o papel codificador e regulador dos ácidos nucleicos sobre o
metabolismo e o crescimento da célula, por meio da síntese de proteínas.

Morfologia e estruturas de vírus

O marco fundamental na história da virologia corresponde à


descrição do Vírus do Mosaico do Tabaco, por Stanley (1940), relatando que
esse agente era capaz de produzir doença em plantas sadias.

Há diferenças fundamentais entre os vírus e as células, que foram


enumeradas por Stainer e colaboradores (1969). Apresentam propriedades
diferentes e simples, quando comparados à unidade estrutural de um ser vivo
típico. O genoma viral geralmente observa-se DNA ou RNA. Apresentam
como constituintes orgânicos obrigatórios apenas ácido nucleico e proteína.
Podem conter uma ou mais enzimas virais, porém essas são insuficientes
para reproduzir outro vírus. São replicados a partir do material genético viral,
por uma célula hospedeira. Possuem tamanho reduzido de 20 nm (10-9
metro) a 250 nm, e possuem polímeros de ácidos nucleicos. São parasitas
intracelulares obrigatórios e, geralmente, são incapazes de crescer e
reproduzir fora de uma célula viva.

a) - Morfologia viral

Cada partícula viral ou virion é constituída por cerne ou núcleo de


ácido nucleico (DNA ou RNA), recoberto por um invólucro protéico,
37

Estrutura e organização celular dos micro-organismos

denominado capsídio. O conjunto do ácido nucleico e o invólucro proteico


constitui o nucleocapsídio. O cápsídio é formado por múltiplas subunidades,
denominadas capsômeros. Há, ainda, nucleoproteínas que envolvem o DNA
ou RNA viral, protegendo contra enzimas da célula infectada. Alguns vírus
possuem enzimas de replicação. Vírus envelopados possuem nucleocapsídeo
envolvido por uma membrana plasmática, proveniente da célula hospedeira,
onde estão inseridas glicoproteínas virais. Os vírus naturalmente construídos
sem o envelope são denominados vírus desnudos e são muito resistentes no
ambiente.

FIGURA 1 – Categorias de vírus


FONTE: www.jornalismopelobrasil.blogspot.com/2009_05_01archive.html
38

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

FIGURA 2 – Variação nas formas e nos tamanhos de vírus, comparados com uma
célula bacteriana, uma célula animal e um ribossomo eucariótico
FONTE: Adaptada de Black (2002).

Tipos morfológicos virais

a)- Vírus icosaédricos: os capsômeros organizam-se em icosaédricos


(20 faces triangulares equiláteras, 12 vértices e 30 arestas. Exemplos: vírus
da Poliemielite, Adenovírus e Herrpesvírus.

b)- Vírus helicoidais ou tubulares: os capsômeros organizam-se,


segundo, simetria do tipo helicoidal. Exemplos: vírus do Mosaico do Tabaco,
Virus Influenza.

c)- Vírus complexos: podem apresentar o envelope e são geralmente


pleomórficos, pois o envelope não é rígido. Possuem mais de um tipo
morfológico para o capsídeo. Exemplos: esféricos (Arbovirus;
arboencefalites, Poxvirus; Vírus da Varíola), Vírus da Raiva e Bacteriofago.
39

Estrutura e organização celular dos micro-organismos

FIGURA 3 – Bacteriófagos. (a) Estrutura e micrografia eletrônica de um bacteriófago T


par (T4) (191.50Ox). (b) O DNA é normalmente empacotado na cabeça do fago. A lise
osmótica liberou o DNA do fago, mostrando a grande quantidade de DNA que deve
estar empacotada dentro do fago (ou no interior de um vírus animal ou vegetal).
FONTE: Adaptada de Black (2002).

Tipos celulares básicos

As células procarióticas e eucarióticas são semelhantes em vários


aspectos. Ambas estão circundadas por membrana celular ou membrana
plasmática. Apesar de algumas células possuírem estruturas que se
estendem além dessas membranas ou de outras estruturas que as envolvem,
a membrana define os limites da célula viva. Tanto as células procarióticas
como as eucarióticas também codificam informações genéticas em
moléculas de DNA.

Esses dois tipos de células são diferentes em outros aspectos


importantes. Nas células eucarióticas, o DNA está em um núcleo, circundado
por um envoltório nuclear. Já nas células procarióticas, o DNA está em uma
região nuclear não circundada por uma membrana. As células eucarióticas
possuem também uma variedade de organelas que estão circundadas por
uma ou mais membranas. As células procarióticas geralmente não possuem
organelas desse tipo. Essas diferenças são fundamentais para o controle de
bactérias patogênicas, pois torna-se alvo de agentes antibacterianos.

Células procarióticas

Estudos detalhados sobre as células revelaram que os seres


procariontes são suficientemente diferentes para serem separados em dois
grandes grupos, chamados domínios. Há três domínios: dois procariontes e
40

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

um eucarionte, definidos respectivamente como Archaea (arqueobactéria)


(de archae, antigo); Eubactéria (bactéria patogênicas) e Eukarya (indivíduos
eucariontes).

Todos os membros dos domínios Archaea e Eubactéria são


procariontes e ambos têm sido tradicionalmente chamados de bactérias. As
diferenças entre esses dois domínios são mais moleculares do que
estruturais.

Arqueobactérias habitam ambientes de condições extremas, como


águas salinas, quentes e ácidas em regiões profundas de oceanos e
pântanos. Eubactérias são as mais estudadas e conhecidas, pois têm grande
importância ecológica, industrial e médica. Nas eubactérias, incluem-se as
cianobactérias, anteriormente denominadas algas cianofíceas ou algas azuis.

Células procariontes são geralmente bem pequenas. Apresentam, na


região conhecida como nucleoide, uma molécula circular de DNA não
combinada com proteínas básicas (histonas). Em grande número de
bactérias, há moléculas pequenas de DNA circular, conhecidas como
plasmídios. Esses são independentes do DNA do nucleoide e podem conferir
resistência a toxinas e a antibióticos. Ocorre parede celular, que têm
composição química diferente da parede celular das plantas. Nos
procariontes, a parede celular contém peptidoglicanos (polímeros de glicídio
unidos por ligações cruzadas de aminoácidos). Na superfície externa, a
bactéria pode projetar estruturas curtas, semelhantes a cabelos,
denominadas pilos, que servem para a adesão a outras células e superfícies.
A síntese de proteínas ocorre em pequenos ribossomos 70 S, livres no
hialoplasma. Os procariontes não possuem citoesqueleto, complexo de
proteínas fibrilares que dá forma e movimento aos eucariontes. Algumas
bactérias têm flagelos de estrutura simples, com aproximadamente 20
nanômetros de diâmetro. Os flagelos dão propulsão à célula no meio
ambiente (FIG 4). Na composição, a proteína flagelina é predominante,
diferentemente dos eucariontes, onde os flagelos são constituídos por
microtúbulos, constituídos por tubulinas. Alguns procariontes são
autotróficos e podem fixar o nitrogênio atmosférico via aminoácidos, usados
em síntese de proteínas. As cianobactérias possuem um extenso sistema de
membranas fotossintéticas mergulhadas no citoplasma, onde estão
presentes pigmentos, como a clorofila.
41

Estrutura e organização celular dos micro-organismos

CARACTERÍSTICAS DAS CÉLULAS


PROCARIÓTICAS E EUCARIÓTICAS

FIGURA 4 – Célula procariótica flagelada


FONTE: Adaptada de Black (2002).

Tamanho, forma e arranjo de bactérias

Os procariontes estão entre os menores micro-organismos. A


maioria mede de 0,5 a 2,0 µm de diâmetro e é três vezes menores que as
hemácias humanas, que medem, em média, 7,5 µm. É bom ressaltar que,
apesar de se usar com frequência o diâmetro para especificar o tamanho das
células, muitas delas não possuem a forma esférica.

Forma

Geralmente, as bactérias apresentam as formas esféricas, em


bastonete, cocobastonete, vibrilar, esperioqueta e em espiral (FIG.5).
42

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

FIGURA 5 – Formas mais comuns de bactérias


FONTE: Adaptada de Black (2002).

Arranjo

Os cocos, que são as formas esféricas, podem se dividir em um ou


dois planos, ou aleatoriamente. A divisão em um plano produz células aos
pares (indicado pelo prefixo diplo) ou em cadeias (estrepto). A divisão em
dois planos produz células em tétrade (quatro células dispostas em forma de
cubo). Já a divisão em três planos produz uma sarcina (oito células dispostas
em forma de cubo). Os planos de divisão aleatória produzem cachos
semelhantes aos das uvas (estafilo). Os bacilos dividem-se em apenas um
plano, mas podem produzir células conectadas pelas extremidades ou lado a
lado. As bactérias espirais, cocobastonetes, espiroquetas e vibrilares
geralmente não são agrupadas.

Os procariontes multiplicam-se por divisão binária, quando uma


nova parede celular cresce e a célula comprime-se em duas metades. No
interior, o cromossomo se duplica e é encontrado um em cada célula-filha.
43

Estrutura e organização celular dos micro-organismos

Estrutura geral das células procarióticas

Estruturalmente, as células bacterianas consistem em:

Membrana celular, geralmente sem esteroides e envolta por parede


celular e, às vezes, por uma camada exterior adicional.

Citoplasma interno, com ribossomos 70 S, região nuclear e, em


alguns casos, grânulos e/ou vesículas.

Uma variedade de estruturas externas, tais como: cápsulas, flagelos


e pili ou fímbrias podem ser encontradas.

a) - Parede celular

A parede celular semirígida externa à membrana plasmática é


encontrada em quase todas as bactérias. Em primeira função, mantém a
forma característica da célula. Caso a parede celular for digerida por
enzimas, a célula adquire forma esférica. Em segundo lugar, impede o
rompimento da célula, quando líquidos fluem para o interior, via osmose.
Apesar da parede celular envolver a membrana celular, em muitos casos essa
é extremamente porosa e não desempenha papel importante no controle da
entrada e saída de substâncias

Componentes das paredes celulares bacterianas

Peptidoglicano

O peptidoglicano é um polímero imenso, rígido, resistente, poroso e


insolúvel, constituído por uma rede de cadeias de polissacarídios,
interconectadas por pequenas cadeias peptídicas. As cadeias de
polissacarídios consistuem-se dos dois açúcares N-acetilglicosamina
(gluNAc) e ácido N-acetilmurâmico (murNAc), dispostos alternadamente. As
pontes peptídicas conferem rígida estabilidade ao peptidoglicano. Enquanto
a estrutura geral não varia em mais de cem tipos identificados, a maioria
difere na constituição do peptídeo, no tipo de ligação entre os peptídios ou
nos tipos de intercruzamentos entre esses.

Bactérias Gram-positivas

As paredes celulares dessas bactérias são espessas, formadas por


cerca de vinte camadas de peptidoglicano (20 a 40 nm de espessura), que
respondem por 50% ou mais do peso seco da célula. Apesar disso, essas
paredes permitem a difusão de muitas moléculas.
44

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Embebidas na matriz de peptidoglicano dessas bactérias,


encontram-se pequenas quantidades de ácidos teicoicos. Ácido teicoico é um
termo funcional para uma ampla variedade de diferentes polímeros contendo
açúcares, fosfato e glicerol, dispostos verticalmente às camadas de
peptidoglicano. Conferem carga negativa à superfície exterior da célula, o
que corrobora o transporte de íons positivos para dentro ou para fora da
célula. Essas substâncias, em conjunto com proteínas presentes na
superfície da parede celular, são responsáveis pela determinação antigênica
das bactérias Gram-positivas, por diferirem entre distintas espécies e
linhagens. Dessa forma, apóiam a classificação sorológica e a identificação
dessas bactérias.

Bactérias Gram-negativas

As paredes celulares de bactérias Gram-negativas são finas,


formadas por uma a três camadas de peptidoglicano (2 a 15 nm de
espessura), que respondem por cerca de 10% ou mais do peso seco da
célula. A camada de peptidoglicano situa-se dentro do espaço periplásmico.
Tanto bactérias Gram-positivas quanto Gram-negativas podem, por mutação
genética, perder a capacidade de sintetizar o peptidoglicano. Tais bactérias
são denominadas formas em L e são resistentes a antibacterianos que atuam
na parede celular.

Porinas são proteínas que se agrupam para formar poros na


membrana externa, criando pequenos canais, que permitem a difusão de
moléculas de baixo peso molecular. As porinas podem transportar moléculas
de modo seletivo ou não-seletivo, mas não podem fazê-lo contra um
gradiente de concentração. Uma vez que grandes moléculas não se difundem
por meio desses canais, o peptidoglicano das bactérias Gram-negativas está
relativamente protegido da ação da lisozima.

As porinas restringem o acesso de muitos agentes antimicrobianos


ao citoplasma das bactérias Gram-negativas, que, de modo geral, são mais
resistentes a drogas do que as Gram-positivas. Nas bactérias Gram-
negativas, o complexo peptidoglicano-membrana externa cria um
compartimento, denominado espaço periplásmico ou periplasma. Essa
camada coloidal contém grande quantidade de enzimas hidrolíticas, enzimas
inativadoras de antibióticos, quimiorreceptores e oligossacarídios, que
parecem auxiliar a bactéria a resistir à osmolaridade do meio.

A membrana externa bactérias de Gram-negativas envolve e integra


a parede celular. Essa apresenta uma estrutura incomum para membranas
celulares, por apresentar uma camada fosfolipídica, voltada para a parede
celular e outra camada superposta, constituída de um lipopolissacarídio
(LPS). A porção lipídica do LPS está voltada para o interior da membrana
externa. O LPS é tóxico e é denominado endotoxina. Fragmentos de LPS
45

Estrutura e organização celular dos micro-organismos

liberados durante infecções são responsáveis por manifestações clínicas


análogas às causadas por choques endotóxicos, ocasionados por infecções
bacterianas.

Acesse no Micro-Book digital e verifique a figura sobre a Técnica de


coloração Gram.

Fímbrias

São estruturas proteicas extremamente delgadas, presentes após as


paredes bacterianas. As fímbrias ou pili de adesão são fundamentais na
ligação a sítios nos hospedeiros, contribuindo na colonização. As fímbrias
atuam diretamente na formação de biofilmes microbianos e apresenta
variação antigênica, contribindo para a elaboração de alvos de vacinas ou
para dianóstico imunológico.

O pili ou fimbria de conjugação é um canal proteico que une o


citoplasma de duas bactérias. Contribui para a transferência de plasmídeos
com informações de resistência a antibacterinos ou para a produção de
toxinas.

Cápsula

Bactérias Gram positivas e Gram negativas podem produzir camada


viscosa ou cápsula, constituída por combinação de polissacarídios e
proteínas. A presença da cápsula permite à bactéria aderir a superfícies de
rochas, raízes de plantas, dentes, plásticos, metais dentre outras superfícies.
O muco capsular permite comunidades microbianas serem biofilmes
aderidos a superfícies.

As cápsulas variam em espessura e podem atingir duas vezes o


volume da célula produtora. Promovem proteção a compostos tóxicos que
não se difundem facilmente na matriz polissacarídica. Em processos
infecciosos, a produção de cápsula dificulta a destruição por células do
sistema imonofagocitário.

Células eucarióticas

As células eucarióticas são maiores e mais complexas do que as


procarióticas. Possuem diâmetro superior a 10 µm. Essas células são a
unidade estrutural básica de todos os organismos dos Reinos Protista,
Plantae, Fungi e Animalia, integrantes do domínio Eukária. Os protozoários,
as algas e os fungos microscópicos são, desse modo, apropriadamente
considerados na Microbiologia. A estrutura geral das células eucarióticas é
apresentada diagramaticamente na (FIG.6).
46

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

FIGURA 6 – Célula eucariótica generalizada. A maior parte dos elementos


demonstrados está presente em quase todas as células eucarióticas, porém alguns (os
centríolos, as microvilosidades e os lisossomos) ocorrem apenas em células animais, e
outros (os cloroplastos) são encontrados somente em células capazes de realizar a
fotossíntese.
FONTE: Adaptada de Black (2002).

Células de fungos

As células fúngicas são as hifas, filamentos curtos ou longos,


revestidos por uma parede celular fúngica, tendo, no interior, a membrana
plasmática, o citoplasma e as organelas. Considerando a ausência total de
plastose grãos de amido, uma vez que são heterotróficos, a célula desse
micro-organismo pouco difere das células animais e vegetais. O
polissacarídio de reserva é o glicogênio e o lipídeo estrutural de membrana é
o ergosterol, e não o colesterol.

Os fungos reproduzem sexuada ou assexuadamente e produzem


esporos, tipo de célula de cuja germinação produz novas células, hifas ou
leveduras. A membrana dos esporos é bem diferenciada, possuindo estrato
interno, denominado endospório e o externo, denominado epispório.
47

Estrutura e organização celular dos micro-organismos

São eucariotos e possuem maior semelhança bioquímica às células


de animais do que as células bacterianas.
Núcleo: organizado, com cromossomos, com dupla fita de DNA, com
nucléolo. A maioria do ciclo assexuado possui células haplóides, com genoma
de 12 a 88 Mpb. Fuso mitótico com muitos microtúbulos, que se formam
dentro do núcleo, envolto por carioteca. Possuem mitocôndria, complexo de
Golgi, vacúolos e grânulos de glicogênio, que podem representar até 10% do
peso seco da célula. Possuem ribossomos 80 S, como as células de animais,
diferindo das bactérias. Possuem alta concentração de ergosterol,
diferentemente das bactérias, que não apresentam esteróis na membrana
plasmática.
Parede celular confere boa resistência mecânica ao fungo e pode possuir
quitina, celulose, pigmentos, lipídeos e glucanas. Essa estrutura tem sido
frequentemente pesquisada como alvo de novas drogas antifúngicas.

Fungos unicelulares - leveduras- células arredondadas ou ovais - multiplicam


assexuadamente, por brotamento ou cissiparidade (FIG. 7).

FIGURA 7 – Levedura em brotamento. As marcas circulares observadas na


superfície da célula de cima representam locais de brotamentos anteriores
(7.000x).
FONTE: Adaptada de Black (2002).

Fungos multicelulares - estrutura tubular com parede rígida (Hifa) que pode
se ramificar. O conjunto de hifas é denominado micélio. Podem apresentar
parede transversal (septo), com poro septal e são denominadas hifas
septadas (FIG 8). Fungos asseptados ou cenocíticos são mais sensíveis à
fragmentação, perdendo, facilmente, os constituintes celulares.
48

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

FIGURA 8 – Micélio do fungo Aspergillus niger formado por hifas septadas e


multinucleadas
FONTE: Adaptada de Black (2002).

Fungos dimórficos - geralmente, apresentam forma leveduriforme a 37º C e


forma miceliana, à temperatura de 28º C. As formas micelianas geralmente
são infectivas e as leveduriformes são patogênicas e encontradas dentro dos
hospedeiros.

Referências
BLACK, J. G. Microbiologia. Rio de Janeiro; Guanabara Koogan, 4. ed., 2002.

MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. São Paulo: Prentice-Hall, 10ª.


ed.,2004.

TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. Porto Alegre; ArtMed, 8. ed., 2005.


49

Genética Microbiana

Capitulo 4

Genética Microbiana
Profa. Roberta Torres Careli
Prof. Eduardo Robson Duarte
Ana Luiza Amaral Pereira

Resumo

As características hereditárias dos micro-organismos incluem formas


e variáveis estruturais, metabolismo, capacidade de movimentação ou de
comportamento e capacidade de interação com outros organismos, que
podem causar doenças. Os organismos individuais transmitem essas
características à sua prole através dos genes . Este capítulo abordará a
ciência da hereditariedade, denominada como Genética Microbiana e a
importância da variabilidade para saúde de humanos, animais e para
produção agrícola.

Como o estudo da Genética Microbiana pode influenciar na vida das


pessoas e nos avanços tecnológicos para as Ciências Agrárias?

Conceitos

Genes: são segmentos de DNA, exceto em alguns vírus que são feitos
de RNA, que codificam produtos funcionais (geralmente proteínas);

Genoma: é a informação genética existente na célula;

Cromossomos: são estruturas que transportam fisicamente a


informação hereditária e que contêm os genes. As bactérias tipicamente
possuem um único cromossomo circular consistindo de uma única molécula
circular de DNA com proteínas associadas. O cromossomo é recurvado e
dobrado e está aderido à membrana plasmática em um ou vários pontos.

Introdução

O notável desenvolvimento da Genética Microbiana e o efetivo


aparecimento da Biologia Molecular levaram, nos anos setenta, à introdução
de novas tecnologias de manipulação gênica, principalmente técnicas
50

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

conhecidas popularmente como Engenharia Genética ou Tecnologia do DNA


recombinante. A contribuição dada pelos micro-organismos à genética
expandiu-se para os outros campos da ciência da hereditariedade. A
possibilidade de obtenção de células isoladas de animais e plantas superiores
e seu cultivo in vitro permitiram a utilização das técnicas relacionadas aos
micro-organismos, possíveis de serem empregadas em praticamente todos
os seres vivos. O notável desenvolvimento da genética ocorrido nas últimas
cinco décadas foi resultante em grande parte do emprego dos micro-
organismos de maneira racional e efetiva na resolução dos mais diversos
enigmas da ciência da hereditariedade.

Além da contribuição para a genética, uma vez que os micro-


organismos são cada vez mais empregados em processos biotecnológicos.
Atualmente micro-organismos são usados não só na produção de antibióticos
e outros fármacos, como também tem papel de destaque na produção de
enzimas, ácidos orgânicos, etanol, no controle biológico de pragas e doenças,
na fixação biológica do nitrogênio, na despoluição de ambientes e em muitos
outros processos de interesse em áreas de saúde, nutrição, preservação do
ambiente e agropecuária. Dessa forma, o melhoramento genético
microbiano adquiriu grande importância, com aplicação de técnicas
sofisticadas, utilização de todo o repertório fornecido pela Genética e Biologia
Molecular.

Estrutura e Função do Material Genético

A genética é a ciência da hereditariedade e inclui o estudo sobre o


que são os genes, como eles transformam informação, como são replicados e
passados para gerações subsequentes de células ou transmitidos entre
organismos, e como a expressão da sua informação dentro de um organismo
determina as características particulares daquele organismo. A informação
genética em uma célula é chamada de genoma, organizado em
cromossomos. O DNA dentro de uma célula existe como longos filamentos
retorcidos de nucleotídeos, em pares, para formar uma dupla hélice. Cada
filamento tem uma corda de grupos alternados de açúcar fosfato e uma base
nitrogenada aderida a cada açúcar na estrutura do esqueleto de DNA. Os dois
filamentos são mantidos por pontes de hidrogênio.

Boa parte do metabolismo celular está relacionada à tradução da


mensagem genética dos genes em proteínas específicas. Um gene
normalmente codifica uma molécula de RNA mensageiro (mRNA), que
finalmente resulta na formação de uma proteína.
51

Genética Microbiana

DNA e Cromossomos

As bactérias tipicamente possuem um único cromossomo circular


constituído de uma única molécula circular de DNA com proteínas associadas.
O cromossomo é recurvado e dobrado e está aderido a membrana plasmática
em um ou vários pontos. O DNA da E. coli tem cerca de 4,6 milhões de pares
de bases e possui cerca de 1 mm de comprimento, tamanho correspondente
a mil vezes o tamanho de toda a célula. Contudo, o cromossomo ocupa
apenas cerca de 10% do volume celular uma vez que o DNA é retorcido ou
superespiralado por uma enzima denominada topoisomerase II ou DNA
girase.

Fluxo da Informação Genética

A replicação do DNA possibilita o fluxo de informação genética de


uma geração para a seguinte. Como na Figura 1, o DNA de uma célula se
replica antes da divisão celular, de modo que cada célula filha recebe um
cromossomo idêntico ao da original. Dentro de cada célula realizando
metabolismo, a informação genética contida no DNA também flui de outro
modo: é transcrita em mRNA e então traduzida em proteína.

FIGURA 1 – Uma visão geral do fluxo de informação genética


FONTE: Adaptada de Tortora et al. (2005).
52

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Replicação de DNA de Procariontes

Na replicação do DNA, uma molécula de DNA “parental” de duas fitas


é convertida em duas moléculas “filhas” idênticas. A estrutura complementar
das sequências de bases nitrogenadas na molécula de DNA é a chave para a
compreensão da replicação do DNA.

Os principais agentes envolvidos nesse processo são enzimas


especiais chamadas polimerases. Enzimas que fazem a síntese de DNA são
chamadas de polimerases de DNA ou DNA polimerase. Essas enzimas
encarregam-se de adicionar os nucleotídeos um a um à fita nova, bastando
que haja na sua extremidade 3' um grupo hidroxil (OH) livre, onde é ligado o
próximo nucleotídeo pelo seu grupo fosfato. É importante, então, notar que a
síntese de uma fita nova de DNA acontece na direção 5'- 3'.

Um resumo da atividade dessas enzimas é descrito a seguir:

- DNA helicase: desenrola fita mãe para ser usada como molde;

- DNA polimerase: copia a fita de DNA (fita molde) para fazer uma fita
complementar, formando uma nova molécula de DNA dupla fita. Adiciona um
desoxirribonucleotídeo a cada vez na direção 5´ para 3´ a partir da
extremidade 3´ de uma pequena fita iniciadora de DNA ou RNA preexistente;

- RNA polimerase (primase): sintetiza pequenos pedaços de RNA a


partir do DNA molde;

- DNA ligase: une fragmentos de DNA conhecidos como fragmentos


de Okazaki.

Nos procariontes a replicação inicia-se num único ponto da cadeia


polinucleotídica e prossegue até terminar. Isto é possível, pois nestes
organismos existe apenas uma molécula de DNA e porque seu comprimento
é muito menor que o do DNA dos eucariontes.

A replicação do DNA é um processo surpreendentemente preciso.


Tipicamente, os erros são cometidos em uma taxa de somente 1 em cada 1010
bases incorporadas. Essa precisão é devido, em boa parte, à capacidade de
contraprova da DNA polimerase. À medida que cada base nova é adicionada,
a enzima avalia se essa forma a estrutura correta de pares de base
complementares. Caso contrário, a enzima remove a base inadequada e a
substitui pela correta. Desse modo, a replicação do DNA pode ser realizada
precisamente, permitindo que cada cromossomo filho seja realmente
idêntico ao DNA parental.
53

Genética Microbiana

Transcrição

A transcrição é a síntese de uma fita complementar de RNA a partir de


um molde de DNA. Existem três tipos de RNA nas células bacterianas: RNA
mensageiro, RNA ribossômico e RNA de transferência ou transportador. O
RNA ribossômico forma uma parte integral dos ribossomos, a máquina
celular para síntese proteica. O RNA de transferência também está envolvido
na síntese proteica. O RNA mensageiro (mRNA) transporta informação
codificada para produzir proteínas específicas do DNA aos ribossomos, onde
as proteínas são sintetizadas.

O processo de transcrição requer uma enzima denominada RNA


polimerase e um suprimento de nucleotídeos RNA. Permite que a célula
produza cópias de curta duração dos genes, que podem ser usadas como
fonte direta de informação para a síntese proteica. O RNA mensageiro atua
como um intermediário entre a forma de armazenamento permanente, o
DNA, e o processo que usa a informação, a tradução.

Tradução

A síntese proteica é denominada tradução, pois envolve a


decodificação da “linguagem” dos ácidos nucleicos e a conversão daquela
informação na “linguagem” das proteínas. A linguagem do mRNA está em
forma de códons, grupos de três nucleotídeos. A sequência de códons em
uma molécula de mRNA determina a sequência de aminoácidos que estarão
na proteína a ser sintetizada. Cada códon “codifica” um aminoácido
particular.

Os códons são escritos em termos de sua sequência de bases no RNA.


Existem 64 códons possíveis, mas somente 20 aminoácidos. Isso significa
que a maioria dos aminoácidos é assinalada por vários códons alternativos,
uma situação referida como degeneração do código. A degeneração permite
que ocorra certa quantidade de alteração, ou mutação, no DNA sem afetar a
proteína produzida.

Sumariamente, o processo de tradução é realizado da seguinte


maneira: ao combinar-se com os ribossomos, o mRNA tem sua sequência de
códons lida, e para cada códon o respectivo tRNA é atraído até os ribossomos,
e pela complementaridade de bases é feita a ligação entre o códon (do
mRNA) e o anticódon (do tRNA), liberando o aminoácido carregado pelo tRNA
que é então ligado à cadeia crescente do polipeptídio. Moléculas de tRNA ou
RNA transportador agem como adaptadores entre a sequência codificante
dos nucleotídeos do mRNA e o aminoácido que é codificado. Uma ponta dessa
molécula carrega o aminoácido e outra ponta consiste de uma sequência de
três nucleotídeos conhecida como anticódon. A síntese da proteína é
encerrada quando os ribossomos encontram um códon de parada no mRNA.
54

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Diferenças entre Procariotos e Eucariotos

Em procariotos o processo de tradução de um mRNA inicia-se antes


que a transcrição do mesmo tenha se encerrado. Dessa forma, a transcrição e
a tradução ocorrem concomitantemente. Já nos eucariotos, a tradução é
iniciada somente após a finalização da transcrição, e nesse caso o mRNA sai
do núcleo para o citoplasma onde é realizada a tradução.

A segunda diferença é que nos eucariotos o mRNA sofre modificações


antes de ser traduzido. Somente participarão da montagem da proteína os
pedaços de um gene chamados de éxons. Além das duas grandes diferenças
acima, uma diferença mais peculiar é que em eucariotos, um transcrito
contém apenas o produto de um único gene, já em procariotos, um transcrito
pode conter mais de um gene pelo fato da grande maioria dos genes de
procariotos estarem organizados na forma de óperons.

Regulação da Expressão Gênica Bacteriana

Os genes, por meio da transcrição e da tradução, dirigem a síntese de


proteínas, as quais servem como enzimas usadas no metabolismo celular.
Como a síntese de proteínas requer um grande gasto de energia, a regulação
da síntese proteica é importante para a economia de energia celular. A célula
conserva energia produzindo somente aquelas proteínas necessárias em um
momento específico.

Muitos genes, talvez 60 a 80%, não são regulados, mas são, ao


invés, constitutivos, significando que seus produtos são constantemente
produzidos em uma velocidade fixa. Normalmente esses genes, que estão
ligados efetivamente todo o tempo, codificam as enzimas de que a célula
necessita em quantidades muito grandes para seus principais processos
vitais.

Dois mecanismos de controle genético, conhecidos como repressão e


indução, regulam a transcrição do mRNA e, consequentemente, a síntese de
enzimas a partir dele. Esses mecanismos controlam a formação e as
quantidades de enzimas na célula, e não a atividade das enzimas.

Repressão enzimática

O mecanismo regulador que inibe a expressão gênica e diminui a


síntese das enzimas é denominado repressão. A repressão normalmente é
uma resposta a abundância de um produto final de uma rota metabólica; ela
causa uma redução na velocidade da síntese das enzimas que levam a
formação daquele produto. A repressão é mediada por proteínas reguladoras
denominadas repressoras, que bloqueiam a capacidade da RNA polimerase
de iniciar a transcrição dos genes reprimidos.
55

Genética Microbiana

Indução enzimática

O processo que ativa a transcrição de genes é a indução. Uma


substância que atua induzindo a transcrição de um gene é denominada
indutor, e as enzimas que são sintetizadas na presença de indutores são
enzimas induzíveis.

Como exemplo do processo de indução pode-se citar os genes


requeridos para o metabolismo da lactose em Escherichia coli. Um desses
genes codifica a enzima beta-galactosidase, que divide o substrato lactose
em dois açúcares simples, glicose e galactose. Se E. coli é colocada em um
meio em que não há lactose, o organismo quase não contém beta-
galactosidase. Contudo, quando a lactose é adicionada ao meio, as células
bacterianas produzem grande quantidade de enzima. Na célula, a lactose é
convertida no composto relacionado alolactose, q é o indutor destes genes.
Assim, a presença de lactose induz a célula indiretamente a sintetizar mais
enzima. Essa resposta, q está sob controle genético, é denominada indução
enzimática.

Modelo Óperon de Expressão Gênica

Os detalhes do controle da expressão gênica por indução e repressão


são descritos pelo modelo de óperon. François Jacob e Jacques Monod
formularam esse modelo geral em 1961, para explicar a regulação da síntese
de proteica. Basearam o modelo em estudos da indução das enzimas do
catabolismo da lactose em E. coli.

Na região de controle do óperon lac há dois segmentos de DNA


relativamente curtos. Um, o promotor, é região do DNA onde a RNA
polimerase inicia a transcrição. O outro é o operador, que como um semáforo,
que sinaliza para parar ou prosseguir com a transcrição dos genes
estruturais. Um conjunto de sítios operadores e promotores, e os genes
estruturais que eles controlam, são o que define um óperon; portanto, a
combinação dos três genes estruturais lac e as regiões de controle
adjacentes é denominada óperon lac.

Mutação

Uma mutação é uma alteração na sequência de bases do DNA. Essa


alteração na sequência de bases de um gene algumas vezes causa uma
alteração no produto codificado por aquele gene. Por exemplo, quando o
gene para uma enzima sofre mutação, a enzima codificada pelo gene pode se
tornar inativa ou menos ativa, pois sua sequência de aminoácidos foi
alterada. Essa alteração no genótipo pode ser desvantajosa, ou mesmo letal,
se a célula perder uma característica fenotípica de que ela necessita.
56

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

São consideradas fatores de evolução dos seres vivos, pois são


responsáveis pelo surgimento de novos alelos e, consequentemente, de
novas características em uma população. Dessa forma, a ocorrência de
mutação é um fator importante para o surgimento de linhagens bacterianas
resistentes aos antibióticos, embora seja um processo importante para a
evolução das bactérias, essa característica causa muita preocupação entre os
humanos, devido à dificuldade no tratamento de doenças causadas por esses
micro-organismos.

A resistência causada por mutação, em geral, atinge somente um


tipo de antibiótico, já que mutações ocorrem ao acaso e são raras as
situações em que vários genes serão alterados simultaneamente.

É importante ressaltar que os antibióticos não induzem mutações nas


bactérias, são agentes responsáveis pela seleção dos micro-organismos mais
resistentes de uma população.

Transferência Genética e Recombinação

A recombinação genética refere-se à troca de genes entre duas


moléculas de DNA, para formar novas combinações de genes em um
cromossomo. A recombinação geralmente acontece durante a formação das
células reprodutivas, de modo que essas células contêm DNA recombinante.
Em bactérias, a recombinação genética pode acontecer de diversas formas.

A transferência gênica vertical ocorre quando os genes são passados


de um organismo para seus descendentes. As plantas e os animais
transmitem seus genes através dessa forma de transmissão. As bactérias
podem passar seus genes não somente para seus descendentes, como
literalmente para outros micro-organismos da mesma geração. Esse
fenômeno é conhecido como transferência gênica horizontal. A transferência
gênica horizontal entre bactérias ocorre de muitas formas. Em todos os
mecanismos, a transferência envolve uma célula doadora que dá uma
proporção de seu DNA total para uma célula receptora. A transferência de
material genético entre as bactérias não é um evento frequente, pode ocorrer
em apenas 1% ou menos de toda a população.

Transformação

É definida como um processo de incorporação de DNA na forma livre,


geralmente decorrente da lise celular (Figura 2). A partir de seu
descobrimento, experimentos iniciados por Griffith em 1928 demonstraram
que o DNA era a molécula envolvida na hereditariedade.
57

Genética Microbiana

Várias bactérias Gram positivas e negativas são naturalmente


transformáveis, entretanto, dentro de um gênero, nem todas as espécies o
são. Na natureza, o processo ocorre quando uma célula sofre lise, liberando
seu DNA. Este, por ser de grande tamanho tende a sofrer quebras, originando
centenas fragmentos de aproximadamente 15 kb (o equivalente a cerca de
15 genes, em Bacillus subtilis).

FIGURA 2 – Transformação bacteriana


FONTE: klickeducacao.com.br.

Conjugação em Bactérias

A conjugação é mediada por um tipo de plasmídeo, um fragmento


circular de DNA que se replica independentemente do cromossomo da célula.
A conjugação se difere da transformação em dois aspectos. Primeiro, a
conjugação requer o contato direto célula a célula. Segundo, as células em
conjugação geralmente devem ser de tipos opostos de acasalamento.

Um tipo de célula doadora genética é F+; as células receptoras são F–.


As células F– contêm plasmídeos denominados fatores F; estes são
transferidos para as células F– durante a conjugação (Figura 3).
58

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias



+
F doador F receptor

Fator F
(plasmídeo)

Cromossomo

1. Células F+e F– são 2. Uma cópia do fator 3. Ambas as células


+
aproximadas pelo pili de fertilidade é transportada são agora F
+
sa célula fértil (F ) para a célula receptora.

FIGURA 3 – Conjugação com cruzamento entre F+ e F-.


FONTE: nehmi-ip.com.br

Transdução em Bactérias

Nesse processo, o DNA bacteriano é transferido de uma célula


doadora para uma célula receptora dentro de um vírus capaz de infectar
bactérias, denominado bacteriófago ou fago.

No processo de infecção, o fago fixa-se a parede celular da bactéria


doadora e injeta seu DNA na bactéria. O DNA do fago age como um molde
para a síntese de novos DNA de fagos. Durante o desenvolvimento do fago
dentro da célula infectada, o cromossomo bacteriano é fragmentado pelas
enzimas do fago, e pelo menos alguns fragmentos de DNA bacteriano são
erroneamente encapsulados dentro do revestimento proteico do fago.
Quando as partículas de fago liberadas infectam posteriormente uma nova
população de bactérias, os genes bacterianos são transferidos para células
receptoras recém-infectadas (Figura).
59

Genética Microbiana

a+ a+

b+

Donor bacterium b+
+
b

Phages carrying
donor genes a+

a+
+
a a– a+

a

Transduced bacterium Recipient bacterium

FIGURA 4 – Transdução generalizada


FONTE: ncbi.nlm.nih.gov.

Referências
BURNS, George W. ; BUTTINO, Paul J.; Genética. Edt. Guanabara Koogan,1991, Rio
de Janeiro.

MADIGAN,et al., Microbiologia de Brock. São Paulo: Prentice-Hall, 10ª. ed.,2004.

TORTORA et al., Microbiologia. Porto Alegre; ArtMed, 8. ed., 2005.


60

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias


61

Metabolismo microbiano

Capítulo 5

Metabolismo microbiano
Profa. Roberta Torres Careli
Prof. Eduardo Robson Duarte
Ana Luiza Amaral Pereira

Resumo

O termo metabolismo refere-se à soma de todas as reações químicas


dentro de um organismo. Uma vez que esses processos liberam ou requerem
energia, o metabolismo é considerado como um balanceamento de energia.
Consequentemente,é dividido em duas classes de processo, as que liberam
energia e aquelas que requerem energia. O crescimento microbiano é
observado para o aumento populacional da espécie e envolve etapas
contínuas de adaptação ao meio, multiplicação celular, competições com
seleções microbianas e morte celular. Este capítulo examina as classificações
dos micro-organismos, conforme o metabolismo e a influência no
crescimento microbiano.

As bactérias dos gêneros Clostridium e Streptococcus são catalase-


negativos e podem crescer em condições de anaerobiose. Entretanto,
por que a forma vegetativa de Clostridium spp. é eliminada na presença
de oxigênio, enquanto Streptococcus spp. é capaz de sobreviver?

Conceitos

Metabolismo

A soma de todas as reações químicas em um organismo vivo é


conhecida como metabolismo. As reações químicas podem ser classificadas
como:

a) - Catabolismo: refere-se às reações químicas que resultam na


quebra de moléculas orgânicas mais complexas em substâncias mais
simples. As reações catabólicas geralmente liberam energia.

b) - Anabolismo: refere-se às reações químicas em que substâncias


simples são combinadas para formar moléculas mais complexas. Essas
reações, geralmente, requerem energia para acontecer.
62

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Classificação dos micro-organismos por vias metabólicas de obtenção de


energia

Os micro-organismos podem ser classificados como autotróficos ou


heterótrofos:

Micro-organismos autotróficos

Utilizam o dióxido de carbono como precursor para síntese de


moléculas orgânicas, por meio de fotossíntese ou quimiossíntese.

Podem ser:

a) - Fotoautotróficos

Utilizam a luz como fonte de energia e dióxido de carbono como


principal fonte de carbono.

b) - Quimioautotróficos

Utilizam os elétrons de compostos inorgânicos reduzidos como fonte


de energia e dióxido de carbono como principal fonte de carbono.

Micro-organismos heterótrofos

Os seres heterótrofos não utilizam dióxido de carbono como principal


fonte de carbono. Assim, hidrolisam moléculas orgânicas sintetizadas por
outro ser vivo. Podem ser:

a) - Fotoheterotróficos

Utilizam a luz como fonte de energia, mas não podem converter


dióxido de carbono em açúcar.

b) - Quimio-heterotróficos

Utilizam especificamente os elétrons de átomos de hidrogênio,


presentes em compostos orgânicos, como fonte de energia. A maioria das
bactérias e todos os fungos, protozoários e animais é quimio-heterotrófico.
As bactérias e fungos podem utilizar uma ampla variedade de compostos
orgânicos como fontes de carbono e energia (FIG. 1)
63

Metabolismo microbiano

FIGURA 1 – Classificação nutricional dos organismos


FONTE: Adaptada de Tortora et al. (2005).

O conhecimento da diversidade metabólica microbiana pode ser útil


em processos industriais e para produção de alimentos. Determinadas
bactérias láticas utilizam, preferencialmente, a lactose como fonte de
carbono, tendo como produtos do metabolismo diversas substâncias
antimicrobianas, como: ácidos orgânicos, peróxido de hidrogênio, dióxido de
carbono, diacetil, acetaldeído e bacteriocinas, que atuam favoravelmente no
produto alimentício ao qual foram adicionados. Para conhecer e saber mais
sobre esse assunto, acesse o Micro-Book digital.

Classificação dos micro-organismos, quanto às necessidades de oxigênio

Os micro-organismos que utilizam o oxigênio, denominados de


aeróbicos, são capazes de produzir mais energia, a partir de nutrientes que
os organismos que não usam esse elemento (anaeróbios). Os organismos
que necessitam de oxigênio para sobrevivência são denominados aeróbicos
estritos ou obrigatórios.(FIG. 2).
64

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

FIGURA 2 – Efeito do oxigênio sobre o crescimento de diferentes tipos de bactérias


FONTE: Adaptada de Tortora et al. (2005).

Os anaeróbios facultativos são micro-organismos aeróbios que


utilizam o oxigênio, quando esse está disponível, mas na ausência são
capazes de crescer por fermentação (FIG. 3).

FIGURA 3 – Processo de fermentação em micro-organismos anaeróbios facultativos


FONTE: Adaptada de Madigan et al. (2008).
65

Metabolismo microbiano

Poucos micro-organismos são classificados com micro-aerófilos.


São aeróbicos por isso e necessitam de oxigênio. No entanto, são capazes de
crescer somente em concentrações de oxigênio inferiores àquelas
encontradas no ar.

Os anaeróbicos obrigatórios são aqueles que não utilizam o


oxigênio molecular para as reações de produção de energia e morrem na
presença desse elemento. O aceptor final de elétrons é diferente do oxigênio
e pode ser orgânico ou inorgânico.

O oxigênio é um poderoso oxidante e um excelente aceptor de


elétrons durante a respiração. No estado normal, não excitado, o oxigênio é
referido como oxigênio tripleto. Entretanto uma das principais formas tóxicas
de oxigênio é denominada oxigênio singleto. Outras formas altamente
tóxicas de oxigênio incluem o ânion superóxido, o peróxido de hidrogênio e o
radical hidroxil.

Os organismos aeróbios produzem enzimas que destroem os


derivados tóxicos do oxigênio. A enzima mais comum dessa categoria é a
catalase, que cliva o peróxido de hidrogênio (FIG. 4). A peroxidase, outra
enzima que destrói o peróxido de hidrogênio, diferencia-se da catalase por
requerer um redutor, geralmente NADH, originando água como produto final.
O superóxido é destruído com a enzima superóxido-dismutase, que se
combina a duas moléculas de peróxido e origina uma molécula água e outra
de oxigênio (FIG. 5).

FIGURA 4 – Teste de uma cultura microbiana para detecção de catalase


FONTE: Adaptada de Madigan et al. (2004).
66

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

FIGURA 5 – Enzimas que destroem formas tóxicas de oxigênio


FONTE: Adaptada de Madigan et al. (2004).

Classificação dos micro-organismos, quanto às variações de temperatura de


crescimento

Os micro-organismos também são classificados, conforme as


preferências nas variações na temperatura de crescimento (FIG. 6). Cada
espécie cresce a uma temperatura específica mínima, ótima e máxima e pode
ser classificada em psicrófilos, em mesófilos e em termófilos.

FIGURA 6 – Taxas de crescimento de bactérias psicrófilas, mesófilas e termófilas


FONTE: Adaptada de Black (2002).
67

Metabolismo microbiano

Psicrófilos

São micro-organismos que crescem e vivem melhor em baixas


temperaturas.

Mesófilos

Crescem melhor em temperaturas moderadas. Mesófilos


termodúricos sobrevivem em altas temperaturas, geralmente são
esporulados e mesófilos psicrotrófilos também crescem em temperaturas
próximas a 7º C.

Termófilos

São classificados termófilos os micro-organismos que crescem


normalmente em altas temperaturas.

Classificação em relação à variação de pH

Poucos micro-organismos são capazes de crescer em pH baixo,


como, por exemplo, pH 4,0. Por isso, alimentos como chucrute, pepino em
conserva e muitos queijos não sofrem deterioração tão rapidamente, pois
contêm ácidos produzidos durante a fermentação bacteriana. No entanto
algumas bactérias, chamadas de acidófilas, apresentam alto grau de
tolerância à acidez.

De acordo com a tolerância à acidez ou à alcalinidade, as bactérias


são classificadas em: acidófilas (desenvolvem-se melhor em valores de pH
de 0,1 a 5,4); neutrófilas (vivem entre valores de pH de 5,4 a 8,5) e
alcalófilas (crescem melhor em pH 7 a 11,5).

Classificação quanto à pressão osmótica

A importância da pressão osmótica está na inibição do crescimento


microbiano, por meio da plasmólise (FIG. 7). Alguns micro-organismos,
halofílicos extremos, adaptam-se às altas concentrações de sais e essas se
tornam necessárias para o crescimento. Nesse caso, são chamados de
halofílicos obrigatórios. Os halofílicos facultativos são mais comuns e não
necessitam de altas concentrações salinas para crescerem.
68

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

FIGURA 7 – Plasmólise
FONTE: Adaptada de Tortora et al. (2005).

Crescimento microbiano

Em Microbiologia, a palavra crescimento é definida como aumento no


número de células. O crescimento corresponde a um componente essencial à
função microbiana, já que todas as células apresentam tempo de vida
definido na natureza. Nesse sentido, as espécies apenas são mantidas graças
ao crescimento contínuo das populações microbianas.

Crescimento populacional

A taxa de crescimento corresponde à variação do número de células


ou massa celular, por unidade de tempo. Durante o ciclo de divisão celular,
todos os componentes estruturais de uma célula são duplicados. O intervalo
em que uma célula origina dois novos indivíduos é denominado de tempo de
geração.

a)-Crescimento exponencial

O crescimento exponencial caracteriza-se por apresentar,


inicialmente, uma taxa lenta de aumento no número de células, que,
posteriormente, é acelerada. Com isso, observa-se um aumento exponencial
do número de células nos estágios finais (FIG. 8).
69

Metabolismo microbiano

FIGURA 8 –Taxa de crescimento de uma cultura microbiana:


(a) Dados de uma população que se duplica a cada 30 min
(b) Dados plotados em uma escala aritimética e uma escala logarítmica
FONTE: Adaptada de Medigan et al. (2004).

Ciclo de crescimento

Uma curva de crescimento pode ser dividida em várias fases


distintas, denominadas: fase lag, fase log, fase estacionária e fase de
declínio.

a) - Fase lag

Quando uma população microbiana é inoculada em um novo meio de


cultura, o crescimento geralmente não se inicia de imediato. Esse período
corresponde à fase lag, que pode ser curta ou longa, dependendo do histórico
da cultura, das condições de cultivo e da genética dos micro-organismos.
70

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Nessa fase, os organismos não aumentam significativamente em


número, entretanto são metabolicamente ativos. Crescem em relativo
tamanho, sintetizam enzimas e incorporam diversas moléculas,
provenientes do meio.

b) - Fase log

Uma vez que os organismos estejam adaptados ao meio, o


crescimento da população ocorrerá em velocidade exponencial ou
logarítmica (log). Quando a escala do eixo vertical é logarítmica, o
crescimento, nessa fase, aparece no gráfico como uma linha diagonal reta.
Os organismos se dividem em velocidade máxima, em um intervalo regular,
geneticamente determinado e denominado como tempo de geração. A
população do micro-organimo dobra a cada tempo de geração.

c) - Fase estacionária

Quando a divisão celular decresce a um ponto em que novas células


são produzidas com a mesma velocidade com que as células antigas morrem,
o número de células vivas permanece constante. A cultura está, então, na
fase estacionária.

d) - Fase de declínio

À medida que as condições do meio vão se tornando cada vez menos


favoráveis para a divisão celular, muitas células perdem a capacidade de se
dividir e morrem. Nessa fase de declínio ou fase de morte, o número de
células vivas decresce em velocidade logarítmica. Durante a fase de declínio,
muitas células sofrem involução, isto é, assumem uma variedade de formas
incomuns, tornando difícil sua identificação.

1000000
fase estacionária
900000
número de indivíduos

800000
700000
600000
fase exponencial fase de declínio
500000
400000
300000
200000
fase lag
100000
0
0 60 120 180 240 300 360 420 480 540 600
tempo em minutos

GRÁFICO 1 – Curva de crescimento microbiano em um sistema fechado


FONTE: Arquivo pessoal.
71

Metabolismo microbiano

Crescimento em colônias

As fases de crescimento são exibidas de diferentes maneiras nas


colônias que crescem em meio sólido. Normalmente, uma célula se divide
exponencialmente, formando uma pequena colônia. A colônia cresce
rapidamente nas extremidades. As células que estão no centro crescem mais
lentamente ou começam a morrer, por terem menores quantidades de
nutrientes disponíveis e por estarem expostas a mais produtos tóxicos
residuais. Em uma colônia, todas as fases da curva de crescimento ocorrem
simultaneamente.

Referências
BLACK, J. G. Microbiologia Fundamentos e perspectivas. 4.ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2002

LIMA, C. D. et al., Bactérias do acido láctico e leveduras associadas com o queijo-de-


minas artesanal produzido na região da Serra do Salitre, Minas Gerais. Arq. Bras.
Med. Vet. Zootec. v. 61, p 266-272, 2009. Disponível em< http://www.scielo.br>
Acesso em 21 de dezembro.

MADIGAN, M. T. et al.,Microbiologia de Brock. São Paulo: Prentice-Hall,

10ª.ed.,2004.

TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. Porto Alegre; ArtMed, 8. ed., 2005.

TRABULSI,L. R. et al. Microbiologia - 5.ed. - São Paulo: Atheneu, 2008.


72

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias


73

Controle físico e químico de Micro-organismos

Capítulo 6

Controle físico e químico de Micro-organismos


Ana Luiza Amaral Pereira
Profa. Maximiliano Soares Pinto
Prof. Eduardo Robson Duarte

Resumo

Os micro-organismos diferem-se quanto à capacidade de causar infecções.


Enquanto alguns são inofensivos ao homem, outros podem causar infecções
graves em humanos, animais e plantas. A estrutura e organização celular
microbiana definem a resistência ás condições ambientais e aos agentes
físico e químicos, comumente empregados em processos de esterilização,
desinfecção ou assepsia. O controle microbiano com esses agentes visa
prevenir a transmissão e surgimento de novas doenças, a contaminação de
ambientes e por fim a deterioração de alimentos ou outras substâncias.

Qual a importância do controle físico e químico de micro-organismos em


sua área de atuação e para seu curso de graduação?

Alguns conceitos são importantes para se chegar a tal resposta.


Consulte o quadro “Termologia Relacionada ao controle do crescimento
Microbiano” para definição de termos importantes (Quadro 1)
74

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

QUADRO 1 – Termologia relacionada ao controle do crescimento Microbiano

Terminologia Relacionada ao Controle do Crescimento Microbiano

Termo Definições e Comentários

Esterilização Processo de destruição, inativação definitiva e/ou remoção de todas as


formas de vida de um objeto ou material. Inclui os endósporos que são
as formas mais resistentes de vida. É um processo absoluto, não
havendo graus de esterilização.

Desinfecção Destruição (morte) de micro-organismos capazes de transmitir infecção


ou intoxicação. São usadas geralmente substâncias químicas que são
aplicadas em utensílios ou superfícies.
Reduzem ou inibem o crescimento, mas não esterilizam necessariamente.

Anti-sepsia Desinfecção química da pele, mucosas e tecidos vivos. Anti-sepsia é um


caso particular da desinfecção.

Germicida Agente químico genérico que mata germes, micróbios: bactericida -


mata bactérias; viricida - mata vírus; fungicida - mata fungos;
esporocida - mata esporos etc.

Bacteriostase A condição na qual o crescimento bacteriano está inibido, mas a bactéria


não está morta. Se o agente (substância ou condição) for retirado, o
crescimento pode recomeçar. Substâncias químicas, quimioterápicos,
podem ser bacteriostáticos. Refrigeração pode funcionar como
microbiostática para a maioria dos organismos.

Assepsia Ausência de micro-organismo em uma área. Técnicas assépticas


previnem a entrada de (sem infecção) micro-organismos.

Degermação Remoção de micro-organismos da pele por meio da remoção mecânica ou


pelo uso de anti-sépticos. Antes das injeções, o algodão embebido em
álcool é passado na pele; igualmente o álcool-iodado, preparando
o campo cirúrgico.

FONTE: Adaptado de Trabulsi et al. (2008).

Métodos físicos de controle

Do ponto de vista microbiológico, os micro-organismos são


considerados mortos quando perdem, de forma irreversível, a capacidade de
se multiplicar. Métodos físicos podem ser eficientes, com baixo custo e com
poucos efeitos indesejáveis. Os principais métodos físicos para controle de
micro-organismos são:
75

Controle físico e químico de Micro-organismos

Calor

Utilizado desde épocas a antiguidade, é um dos agentes físicos mais


práticos e eficientes para a esterilização ou desinfecção. O calor pode ser
empregado, controlando-se os parâmetros tempo e temperatura.

Durante o processo de esterilização são utilizados o calor úmido ou o


calor seco. O primeiro elimina os micro-organismos por meio da
desnaturação protéica enquanto no segundo a eliminação ocorre devido a
oxidação. O calor seco requer temperaturas e tempos de exposição mais
elevados do que o calor úmido. O processo de esterilização tem como
objetivo destruir todos os micro-organismos, células vegetativas e esporos.

Calor seco

A morte ocorre com a oxidação de constituintes celulares,


desnaturação de proteínas e ácidos nucléicos. Não é a melhor maneira de
utilização do calor, uma vez que o ar é menos condutor da temperatura que a
água e por isso promove maior consumo de energia. Exemplos:

Flambagem: processo onde o material é submetido diretamente ao


fogo, seja seco ou embebido em álcool. Utilizado na desinfecção de alças e
matérias de laboratórios. A utilização de lança chamas ou vassoura de fogo é
frequentemente empregada na desinfecção final de instalações de animais
doméstico e para muitos micro-organimos ou parasitas constitui o meio mais
viável de eliminação de formas encontradas no ambiente.

Incineração: processo drástico de eliminação de micro-organismos,


que destrói por oxidação o produto e o agente. Exemplos são a queima
plantas infectadas e animais mortos contaminados com agentes infecciosos.

Estufa esterilizante: empregada para materiais que não podem


entrar em contato com umidade. Ocorre o aquecimento a 160 ºC por duas
horas ou 180 °C durante uma hora. Amplamente utilizado para vidrarias e
materiais cirúrgicos.

Calor úmido

A inativação microbiana é decorrente da desnaturação de ácidos


nucléicos e proteínas, podendo também romper membranas celulares. Além
disso, o vapor tem maior capacidade de romper pontes de hidrogênio.

Autoclavação: é o binômio tempo/temperadura mais utilizado com o


calor úmido e compreende a temperatura de 121° C durante 15 min. É
empregado na esterilização de diversos materiais e substâncias.
76

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Pasteurização: Luis Pasteur, nos primórdios da microbiologia como


ciência em 1864, desenvolveu um método de prevenção da perda de
qualidade dos vinhos destruindo, pelo calor, agentes capazes de deteriorar
essa bebida. Tal método, posteriormente aplicado ao tratamento do leite tem
como objetivo eliminar todos os micro-organismos patogênicos e parte da
microbiota saprófita do alimento em questão. Para o leite fluido existem dois
tipos: pasteurização rápida com 71 a 72º C por 15 seg e a pasteurização
lenta com 62 a 63º C por 30 minuntos.

UHT: processo de esterilização com exposição ultra alta temperatura


(140º C por 2 a 3 segundos.). Possui baixo efeitos relacionados a perdas de
valores nutricionais e prolongam a vida de prateleira de alimentos
considerados perecíveis, sem necessidade de utilização de refrigeração ou
congelamento.

Redução da temperatura

Baixas temperaturas podem proporcionar a interrupção do


metabolismo microbiano, mas muitas vezes não destrói o micro-organismo.

Refrigeração

Utilizada pra inibir o crescimento microbiano em diversos alimentos.


Os principais patógenos e agentes deterioradores em alimentos são
mesofílicos, cujas temperaturas ótimas de crescimento encontram-se entre
30 a 35 °C. A refrigeração aumenta a vida de prateleira dos alimentos em
virtude da redução do crescimento microbiano. O leite pasteurizado é um
exemplo clássico. Caso não fosse refrigerado a deterioriação ocorreria em
algumas horas. A exceção é dada para os micro-organismos psicrotróficos
que são de natureza mesofílica e que conseguem crescer a temperaturas de
refrigeração.

Congelamento

Utilizado em diversos alimentos e também na preservação de


culturas microbianas. Técnicas adequadas possibilitam a recuperação de
micro-organismos em uma cultura após décadas de congelamento. O
congelamento é a operação unitária na qual a temperatura de um alimento é
reduzida abaixo do ponto de congelamento e uma proporção da água sofre
mudança no estado físico, formando cristais de gelo. A imobilização da água
em gelo e a concentração resultante dos solutos dissolvidos na água não
congelada diminuem a atividade de água do alimento, inibindo o crescimento
microbiano.
77

Controle físico e químico de Micro-organismos

Pressão osmótica

Altas concentrações de sais ou açúcares provocam a saída de água do


interior da célula, o que dificulta o crescimento microbiano. Nota-se, por
exemplo, que a adição de solutos, sal ou açúcar, em alimentos é uma forma
racional de conservá-los, sendo em muitos casos dispensável o uso da
refrigeração.

Radiação

Radiação Não-Ionizante: A luz ultravioleta com 260 nm de


comprimento de onda é um poderoso agente bactericida. É absorvida por
proteínas e por ácidos nucléicos, podendo produzir modificações
fotoquímicas letais para o micro-organismos. A radiação UV exibe baixa
penetrabilidade, não atravessando vidros, filmes sujos e outros materiais.
Assim, é extremamente eficiente na eliminação de micro-organismos
presentes em superfícies como em blocos cirúrgicos, indústria de alimentos e
em alguns casos para o tratamento de água.

Radiações ionizantes: são de pequeno comprimento de onda,


portanto, de altíssima energia e penetrabilidade. Os dois principais tipos são
a radiação gama e o Raios X que promovem a ionização de átomos, fazendo-
os perderem elétrons. Como consequência são gerados radicais livres
extremamente reativos, que podem destruir pontes de hidrogênio, duplas
ligações, estruturas em anel do material genético de micro-organismos.

Radiação por micro-ondas: são emitidas com maior comprimento de


onda e não alteram diretamente os micro-organismos, mas geram calor que
pode ser letal.

Filtração

Processo muito útil na esterilização de materiais termolábeis, sendo


empregado para líquidos e gases. Filtros são geralmente compostos por
celulose, acetato, policarbonato, teflon, ou outro material sintético. Remoção
mecânica, sem perda de valor nutricional. Utilizada para tratamentos de
água e produção de vacinas e medicamentos.

Métodos químicos de controle

Os agentes químicos podem ser esterilizantes quando matam todos


os micro-organismos. Desinfetantes e antisséptico reduzem a carga
microbiana até níveis considerados seguros.
78

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Desinfetante é o agente químico capaz de provocar a essa redução


microbiana quando aplicado em superfícies inanimadas e antissepticos
promovem redução microbiana em tecidos vivos. Como são aplicados em
tecidos vivos, os antissépticos são, geralmente, menos tóxicos que os
desinfetantes. O mecanismo de ação de um agente químico é complexo e
difícil de ser determinado porque, geralmente, mais de uma estrutura celular
microbiana é comprometida. É fundamentam para a ação desses agentes, a
limpeza e higienização das superfícies, pois para a maioria o efeito
microbicida é drasticamente reduzido em contato com a matéria orgânica.
Essa etapa inicial é realizada com a remoção mecânica com instrumentos,
com ação de sabões, desinfetantes aniônicos e catiônicos e com o enxágüe
em água ou vapor d'agua.

Antissépticos

Álcoois

O álcool etílico e o álcool isopropílico são os mais utilizados como


antissépticos. Apresentam ação rápida e amplo espectro de efeito
microbicida em formas vegetativas de bactérias, vírus e fungos, porém, não
são esporicidas. Não são indicados para esterilização, mas são amplamente
empregados para potencializar a atividade de outros biocidas. Pouco se
conhece sobre o mecanismo específico de ação dos álcoois, mas por
apresentarem uma melhor eficácia na presença de água, acredita-se que
possam desestruturar a membrana plasmática, desnaturar proteínas
celulares, comprometer o metabolismo microbiano e promover a lise das
células. O álcool etílico a 70 % é mais efetivo pois a água corrobora a
absorção desse agente para o interior da célula.

Clorhexidina

É um dos biocidas mais frequentemente utilizados em produtos


antissépticos. É indicada na assepsia das mãos e na composição de produtos
utilizados na higiene bucal. Esse agente é uma biguanina e possui um amplo
espectro de atividade antimicrobiana na pele, um menor efeito irritante,
quando comparado a outros biocidas, e uma relativa ação residual.

A eficácia da clorhexidina é dependente do pH neutro e é muito


reduzida na presença de matéria orgânica. Essa substância ultrapassa a
parede e a membrana celular por difusão passiva e age no citoplasma e
membranas internas dos microorganismos.
79

Controle físico e químico de Micro-organismos

Iodor e Iodofor

O iodo possui efeito rápido e potente como bactericida, fungicida,


viricida e esporicida. Soluções aquosas ou alcóolicas de iodo são utilizadas
como antissépticos a mais de 150 anos. Como efeitos adversos, as soluções
de iodo podem causar uma maior irritação em feridas e mucosas, podem
manchar a pele e os pelos e podem desencadear processos alérgicos.

As soluções aquosas de iodo como as tinturas de iodo são muito


instáveis. Nessas formulações, mais de sete formas de iodo estão presentes
em um complexo equilíbrio, porém, apenas o iodo molecular (I2) é
primariamente responsável no efeito microbicida. Os problemas de
instabilidade são reduzidos em produtos iodóforos que possuem agentes
carreadores e liberadores de I2. O iodo possui um efeito microbicida similar ao
do cloro. Possui uma rápida ação antimicrobiana mesmo em baixas
concentrações. O mecanismo de ação é ainda pouco conhecido. Sabe-se que
o iodo penetra rapidamente nos micro-organismo, inativa proteínas
celulares, degradam ácidos nucléicos e ácidos graxos, culminando
efetivamente na morte celular microbiana.

Desinfetantes

O processo de desinfecção pode ser influenciado por diferentes


fatores como: limpeza prévia do material, período de exposição ao germicida
concentração da solução germicida, temperatura e o pH do processo de
desinfecção.

Características ideais de um desinfetante:

1. amplo espectro e com ação rápida;

2. não ser afetado por fatores ambientais (ex: luz);

3. deve ser ativo na presença de matéria orgânica;

4. ser compatível com sabões, detergentes e outros produtos


químicos;

5. compatível com diversos tipos de materiais (não corrosivo em


superfícies metálicas e não deve causar deterioração de
borrachas, plásticos e outros materiais);

6. atóxico (não deve ser irritante para o usuário);

7. efeito residual na superfície e fácil manuseio;


80

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

8. inodoro ou de odor agradável;

9. econômico; solúvel em água.

As soluções germicidas, para tratamento de materiais disponíveis no


mercado nacional, que possuam características de desinfetante ideal são
escassas. Não há um desinfetante ideal que seja barato, de fácil obtenção,
não tóxico, não–corrosivo e eficaz contra a maioria dos micro-organismos
indesejáveis. Portanto, é necessário adequar o uso, bem como a escolha,de
um desinfetante dentre muitos disponíveis.

Glutaraldeído

É um desinfetante de alto nível e mais utilizado para tratamento de


materiais termosensíveis. A ação germicida está relacionada à alteração do
RNA, do DNA e da síntese protéica. O efeito contra Mycobacterium spp.
requer no mínimo 20 minutos em concentração não inferior a 2%. Nomes
comerciais: Cidex ® (Jonhson & Jonhson), Glutacide ® (Ceras Jonhson),
Glutalabor ®. Essa solução apresenta a desvantagem da toxicidade para
manipulação por profissionais de saúde. Por esse motivo, como a maioria das
soluções químicas, o manuseio exige equipamentos de proteção individual.

Os resíduos também permanecem nos materiais tratados quando


não forem bem enxaguados. Apesar dessa desvantagem a característica
positiva mais evidente é o amplo espectro de ação, que permite a utilização
segura para ambientes de saúde, independentemente do tipo de patologias e
de micro-organismo possivelmente associados à contaminação local.

Peróxido de Hidrogênio (H2O2)

O peróxido de hidrogênio também é um desinfetante de alto nível,


principalmente para materiais termossensíveis. A ação germicida está
relacionada ao fato desse agente ser oxidante. Isso implica em desnaturação
proteica ,ruptura da permeabilidade da membrana celular. A inativação de
micro-organismos é dependente de tempo, temperatura e concentração.

Cloro

Esse elemento está presente em quase 100% da água tratada (água


encanada) no Brasil, permitindo que milhares de brasileiros estejam
protegidos contra doenças que são transmitidas por água contaminada. O
cloro, na forma de hipoclorito de sódio (água sanitária), é uma das formas
mais eficientes para a prevenção de contaminação com agentes microbianos
81

Controle físico e químico de Micro-organismos

de veiculação hídrica. É utilizado para o tratamento de água potável,


tratamento de esgoto, desinfecção de águas servidas, lavagem e desinfecção
de pisos, paredes, mobílias e vestuário em residências que são atingidas por
enchentes nos períodos de chuva.

O Hipoclorito de Sódio é o desinfetante mais amplamente utilizado,


apresenta ação rápida e baixo custo. Possui amplo espectro de ação,
chegando a ter ação sobre esporos de Bacillus subtillis. É incolor e inodoro e o
resíduo é pouco ativo, fazendo que seja recomendado em muitas indústrias
de alimentos, atuando como sanitizante.

Formaldeído (CH2O)

Desinfetante de alto nível, mas como é considerado carcinogênco, a


aplicação em hospitais é limitada atualmente. Entretanto, até hoje ainda é
utilizado para tratamento de hemodializadores. Quanto ao espectro de ação,
são bactericida, fungicida, viricida etuberculicida.

Apresentação é em forma líquida e sólida, mais conhecida como


formalina. No estado sólido é vaporizado com o calor na presença de
umidade. Embora seja uma opção econômica, ainda foi pouco estudada. Tem
limitações na mensuração de parâmetros aceitáveis da liberação dos vapores
em determinadas dimensões de materiais. Além disso, os resíduos são
tóxicos e podem danificar alguns instrumentos.

Fenólicos

A maior importância desse desinfetante deve-se ao fato de ter


iniciado a história dos germicidas com a utilização por Lister em seu trabalho
pioneiro sobre antissepsia cirúrgica. A ação germicida está relacionada à
destruição do protoplasma, com ruptura da parede celular.

Foi muito utilizado na década passada no Brasil. Embora ainda seja


bastante empregado para tratamento de materiais não críticos e superfícies
fixas de alguns hospitais, esta prática está cada vez mais sendo questionada.

São bactericida, viricida, fungicida e tuberculicida e possuem as


apresentações como ortho-phenilphenol e ortho-benzyl-para-clhorophenol,
ambos derivados do fenol.
82

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Compostos quaternários de amônia

Desinfetante de baixo nível. Muito utilizado como desinfetante de


superfícies e na passado foi utilizado com antisséptico. A ação germicida está
relacionada a desnaturação das proteínas celulares essências e ruptura da
membrana celular.

Hoje existem algumas resistências por parte dos Serviços de


Controle de Infecção com a publicação de pesquisas relatando a
contaminação das dessas soluções com bactérias como as do gênero
Pseudomonas. Além disso, foi contra-indicada pelo Centers for Disease
Control, em face da ocorrência de surtos relacionados á utilização com
antisséptico.

São fungicidas, bactericidas, apresentam baixo nível de toxicidade


direta, entretanto é poluente ambiental.

Atualmente, os produtos alimentícios são intensamente fiscalizados


quanto à segurança para a minimização de riscos de doenças transmitidas
por alimentos á população. Dessa forma indústrias e órgãos reguladores,
como a Anvisa e o Ministério da Agricultura, estabelecem normas para o
controle de qualidade para a produção de alimentos seguros. Micro-
organismos são a maior causa de contaminação alimentar e podem ser
minimizados quando são implantadas boas práticas de fabricação e controles
de contaminantes nas diferentes fases de produção. Acesse o Micro book
digital e verifique um estudo de caso que avaliou as condições higiênicas e
legislação para uma indústria de carne.

Referências
ELIAS, A. H. et al. Avaliação de uma indústria produtora de embutidos cárneos quanto
à higiene e legislação vigente no Brasil. Revista Brasileira de Tecnologia
Agroindústria, v. 02, n. 02: p. 71-81, 2008. Disponível em < http://www.pg.
cefetpr.br> acesso em 21 de dezembro 2010.

JAY, J. M. Microbiologia de Alimentos, 6ª ed. – Porto Alegre: Artmed, 2005.

TRABULSI, L. R. et al. Microbiologia. São Paulo: Atheneu, 5. ed. 2008

UNB - Controle microbiano por agentes físicos. Disponível em


<unb.br/microbiologia/controle/controle.html> Acesso em 31 agosto 2010.
83

Antimicrobianos

Capítulo 7

Antimicrobianos
Profa. Anna Christina de Almeida
Prof. Eduardo Robson Duarte
Ana Luiza Amaral Pereira

Resumo

O capítulo anterior abordou os agentes químicos na inibição do


crescimento microbiano fora do corpo humano e dos animais. A maioria dos
agentes químicos mencionados é muito tóxica para ser utilizada em humanos
e em animais, embora os antissépticos possam ser aplicados na pele. Para o
controle de doenças infecciosas, são essenciais compostos químicos que
possam ser de uso interno. Esses compostos são denominados de agentes
quimioterápicos, desempenhando importante papel na medicina clínica e
veterinária, bem como na agricultura. A essência da quimioterapia
antimicrobiana é a toxidade seletiva - matar ou inibir o micro-organismo,
sem afetar o hospedeiro. A descoberta de antimicrobianos foi de relevante
importância para a humanidade. Foram várias as pandemias que mataram
milhares de pessoas por infecções, como exemplo a Peste bubônica (XIV),
que dizimou cerca de ¼ da população europeia. Assim, temos um importante
marco na historia, que foi a descoberta da Penicilina e Sulfas, no século XX.

Quando você ou alguém de sua família necessitou de algum


antimicrobiano? Quais os mecanismos relacionados ao aparecimento de
bactérias resistentes a agentes quimioterápicos? Você conhece as
superbactérias?

Introdução

Histórico

1928: Alexandre Fleming observou que o crescimento da bactéria


Straphylococcus aureus era inibido na área ao redor de colônias de fungo que
haviam contaminado a placa de Petri.

1940: primeiro teste clínico da penicilina, por um grupo de cientistas da


Universidade de Oxford, liderados por Howard Florey e Ernst Chain.
84

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Que tal saber um pouco mais sobre a descoberta da Penicilina e das Sulfas?
Para isso acesse o Micro-Book digital.

Quimioterapia

Quimioterapia é o tratamento de moléstias com substâncias


químicas. Algumas são sintetizadas em laboratório e, por isso, são chamadas
quimioterápicas; outras são produzidas por seres vivos e são chamadas
antibióticos.

Quimioterápicos e antibióticos podem ter ação antibacteriana,


antifúngica, antiviral e, ainda, antiblástica. Essa ação pode levar à inibição do
crescimento, à inativação ou à morte do agente infeccioso.

Antibioticoterapia

Os antibióticos são produzidos, na sua grande maioria, por micro-


organismos que fazem a síntese total ou parcial da molécula e, nesse caso,
são concluídos em laboratório (antibióticos semissintéticos).

Propriedades gerais dos antimicrobianos

Toxidade seletiva: está relacionada à capacidade de o antimicrobiano


atuar seletivamente sobre o micro-organismo, sem provocar danos ao
hospedeiro.

Espectro de atividade: refere-se à diversidade de organismos


afetados pelo agente. Geralmente, os antimicrobianos são de pequeno ou de
amplo espectro. Atualmente, uma série de laboratórios vem trabalhando em
busca de isolar e purificar antimicrobianos de espectro restrito, que atuam
especificamente sobre um ou um pequeno número de micro-organismos.

Mecanismo de ação: vários são os possíveis alvos na célula para os


agentes antimicrobianos. O conhecimento dos mecanismos de ação desses
agentes permite entender a natureza e o grau de toxicidade seletiva de cada
antimicrobiano (FIG. 1).
85

Antimicrobianos

FIGURA 1 – Exemplos das principais estruturas ou etapas metabólicas microbianas


influenciadas por antibióticos
FONTE: Adaptada de Madigan et al. (2004).

Inibição da síntese da parede celular

Os agentes antimicrobianos que inibem a síntese da parede celular


correspondem aos mais seletivos, apresentando um elevado índice
terapêutico. Penicilinas, Ampicilina e Cefalosporinas: contêm em sua
estrutura, um anel b-lactâmico, que interage com proteínas denominadas
PBPs (Penicillin Binding Protein), inibindo a enzima envolvida na
transpeptidação, responsável pela ligação entre as cadeias de tetrapeptídeos
do peptideoglicano. Com isso, há o impedimento da formação das ligações
entre os tetrapeptídeos de cadeias adjacentes de peptideoglicano,
ocasionando uma perda na rigidez da parede celular. Acredita-se também
que tais drogas possam atuar, promovendo a ativação de enzimas autolíticas,
resultando na degradação da parede (FIG. 2).
86

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

NAG NAM NAG


NAM NAM
NAG

Sítio de ação dos


Beta-lactâmicos

FIGURA 2 – Mecanismo de ação dos antibióticos b-lactâmicos


FONTE: Adaptada de Atlas (1997).

Alteração na membrana celular

Agentes antimicrobianos que atuam na alteração da membrana


celular, muitas vezes, exibem menor grau de toxicidade seletiva.

Polimixinas: ligam-se à membrana, entre os fosfolipídeos, alterando


a sua permeabilidade (detergentes). São extremamente eficientes contra
Gram negativos, pois afetam tanto a membrana citoplasmática, como a
membrana externa.

Ionóforos: moléculas hidrofóbicas que se imiscuem na membrana


citoplasmática, permitindo a difusão passiva de compostos ionizados para
dentro ou fora da célula (FIG.3 no Micro Book digital).

Mg2+
+ + + +

+ + + +

Mg2+ Mg2+ Mg2+

FIGURA 3 – Exemplo de um antibiótico que atua como ionóforo


FONTE: Adaptada de Atlas (1997).
87

Antimicrobianos

Inibição da síntese proteica

As células procarióticas possuem ribossomo 70S. A diferença na


estrutura do ribossomo é responsável pela toxidade seletiva (lembre-se de
que as células eucarióticas possuem ribossomo 80S), mas a mitocôndria
(importante organela citoplasmática) também possui ribossomos 70S,
sendo, assim, os antibióticos que atuam no ribossomo 70S podem apresentar
efeitos adversos na célula do hospedeiro.

O Cloranfenicol e a eritromicina inibem a formação de ligações


polipeptídicas durante o alongamento da cadeia, por meio da união com a
subunidade 50S dos ribossomos.

Outros antibióticos, como a tetraciclina, reagem com a subunidade


30S, interferindo na fixação do tRNA, portanto, impedindo a adição de
aminoácidos no alongamento da cadeia polipeptídica. E ainda há aqueles que
promovem a alteração da conformação da subunidade 30S, impedindo a
leitura correta do RNA mensageiro como a estreptomicina, gentamicina e
neomicina (FIG.4).

FIGURA 4 – A inibição da síntese proteica por antibióticos


FONTE: Adaptada de Tortora et al. (2005).
88

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Inibição da síntese de ácidos nucleicos

Ação seletiva a enzimas do anabolismo microbiana na síntese de


nucleotídeos. Atuam nesse nível o metronidazol, os derivados quinolônicos e
as rifampicinas.

Metronidazol: é degradado por meio da nitroso-redutase, formando


produtos tóxicos que se intercalam na molécula de DNA quebrando-a.

Rinfamicina: o seu mecanismo de ação é a ligação com a RNA


polimerase bacteriana e, consequentemente, inibição de toda síntese de
RNA.

Derivados quinolônicos: interferem na síntese de DNA, inibindo a


ação da girases que promovem o enrolamento e o desenrolamento da
molécula de DNA.

Quimioterápicos com ação antimetabólica

As sulfonamidas e o trimetoprim interferem com a síntese do ácido


fólico precursor das purinas do DNA. As sulfas são análogos do ácido
paraminobenzóico (PABA), reduzindo a síntese do ácido fólico precursor das
purinas (FIG. 5).

FIGURA 5 – Ação dos antibacterianos sintéticos trimetoprim e sulfametoxazol


FONTE: Adaptada de Tortora et al. (2005).
89

Antimicrobianos

Efeitos colaterais de antimicrobianos

Toxicidade: deve ser seletiva aos micro-organismos. Alguns


antimicrobianos podem ocasionar anemia, diarreias, vômitos e inapetência.

Alergia: resposta imunológica ao antibiótico, ao quimioterápico ou a


seus produtos de degradação. Depende o patrimônio genético do indivíduo.

Mais informações sobre as classes de antibióticos proibidos ou com


recomendações para uso na alimentação de animais, acesse o Micro-Book
digital.

Resistência a antimicrobianos

Após a descoberta das moléculas antimicrobianos, antibióticos ou


quimioterápicos, o seu uso tornou-se muito disseminado e doenças que
anteriormente eram tidas como de mau prognóstico, passaram a ser
controladas com sucesso. Contudo, juntamente com o uso dessas
substâncias, os clínicos começaram a observar o surgimento de
determinadas linhagens microbianas resistentes.

Uma das primeiras drogas a serem amplamente utilizadas na clínica


médica, a penicilina, também foi a primeira a apresentar problemas de
insucesso terapêutico, devido à resistência bacteriana, principalmente por
Staphylococcus aureus, um organismo extremamente difundido e
responsável por grande número de casos de feridas infectadas. Grandes
foram os esforços na tentativa de se compreender os mecanismos de
aparecimento e de disseminação desse fenômeno, bem como formas de
evitá-lo.

Bactérias tornam-se resistentes a agentes quimioterápicos, por meio de


quatro mecanismos principais:

1. destruição ou inativação da droga( pela ação d β- lactamase,


por exemplo);

2. prevenção da penetração no sítio-alvo dentro do micróbio (um


mecanismo frequente na resistência à tetraciclina);

3. alteração dos sítios-alvo das drogas (por exemplo, uma simples


troca de um aminoácido pode ser suficiente para tornar um
microrganismo resistente a determinados antibióticos );

4. efluxo rápido (ejeção): micro-organismo bombeia a droga para


fora da célula antes que possa se tornar efetiva.

Infecções hospitalares tendem, em sua maioria, a serem provocadas


por linhagens resistentes a vários antibióticos. Tais bactérias são comumente
90

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

denominadas superbactérias.

Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) é uma enzima


produzida por bactérias Gram-negativas (Enterobacteriacea). A sua
detecção em isolado bacteriano confere resistência aos antimicrobianos
carbapenêmicos, além de inativar penicilinas, cefalosporinas e
monobactâmicos. Acesse “Microbiologia em Notícia” no Micro-Book digital e
saiba um pouco mais sobre os casos de infecção no Brasil em 2010
ocasionados por Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC).

Um conceito importante que deve ficar claro é que o antimicrobiano


não induz a resistência, mas sim seleciona os mais resistentes no meio de
uma população.

Resistência a Sulfonamidas

As sulfonamidas, ou sulfas estão entre as primeiras drogas


antimicrobianas sintéticas utilizadas para tratar doenças de origem
microbiana. Como mencionado, a sua ação se deve à semelhança estrutural
com o ácido paraminobenzóico (PABA).

Observou-se que alguns plasmídeos conferem maior resistência


contra essa classe de quimioterápico. Quatro mecanismos foram propostos:

1. Alteração nas enzimas que processam o PABA, que passariam a


não ligar-se às sulfonamida.

2. Produção de enzimas que hidrolizariam as moléculas das


sulfonamidas.

3. Alteração na via metabólica principal de síntese do PABA.

4. Aumento acentuado na produção do PABA, que competiria mais


eficientemente com o quimioterápico. Observou-se que células
resistentes às sulfonamidas podem produzir até setenta vezes
mais PABA que as suas células-mãe sensíveis.

Resistência a penicilinas

O termo penicilina se refere a um grupo de mais de 50 antibióticos


quimicamente relacionados. Todas as penicilinas possuem em comum uma
estrutura central contendo um anel β- lactâmico, denominado núcleo (FIG. 6)
91

Antimicrobianos

FIGURA 6 – A estrutura das penicilinas


FONTE: Adaptada de Tortotra et al. (2005).

Células resistentes às penicilinas podem apresentar dois


mecanismos básicos de desenvolvimento da resistência. O primeiro deles
envolve o bloqueio do acesso desses antibióticos à sua molécula-alvo - a
transpeptidase em bactérias Gram-negativas, uma vez que a composição das
camadas de revestimento externa dessas bactérias é mais complexa que as
das Gram-positivas. O segundo é mais comum em organismos Gram-
positivos, envolve a secreção de enzimas sintetizadas a partir de genes
contidos em plasmídeos transduzíveis e que apresentam a capacidade de
hidrolizar o anel beta-lactâmico (lactamases) constante nas moléculas dos
antibióticos, inativando-os.

Mecanismos genéticos de aquisição de resistência

Mutação, transdução, conjugação, transdução são mecanismos


eficientes de aquisição de genes de resistência a antimicrobianos. Quando na
presença de um antimicrobiano, ocorre a seleção e, consequentemente, o
aparecimento de populações microbianas resistentes.
92

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Como promover redução da seleção de mutantes resistentes

1. Administração correta do antimicrobiano por período correto de


tratamento (os resistentes são os últimos a morrerem).

2. Sinergismo de drogas (penicilina e estreptomicina) melhora a


penetração da estreptomicina e reduz possíveis resistentes da
penicilina.

3. Redução do uso desnecessário de antimicrobianos.

Mitos e realidades que envolvem o uso de antimicrobianos

Posso parar de tomar o meu antibiótico assim que começar a sentir-me


melhor?

Realidade: Mesmo que se sinta melhor, precisa continuar a tomar o


antibiótico exatamente como o seu médico receitou. Se não terminar o
antibiótico, algumas das bactérias perigosas podem não morrer. As bactérias
que estão ainda vivas poderão também se tornar resistentes e fazer com que
a infecção que tem se torne mais difícil de tratar.

Os antibióticos ajudam a curar constipações e gripes?

Realidade: Constipações e gripes - e os sintomas que as acompanham, tais


como a dor de garganta, dores, arrepios, nariz congestionado, olhos
inflamados, e tosse seca – são causados por vírus. Infecções causadas por
vírus não respondem a antibióticos. Os antibióticos só ajudam se a doença for
causada por uma infecção bacteriana.

Eu me tornei resistente aos antibióticos.

Realidade: Na realidade, são as bactérias que desenvolvem resistência aos


antibióticos, não as pessoas. Quando as bactérias se tornam resistentes, o
antibiótico já não é eficaz a inibir ou matar bactérias. Algumas pessoas
acreditam que não irão desenvolver resistência, porque tomaram sempre os
antibióticos conforme receitado ou porque nunca tiveram que tomar
antibióticos. Isso é um equívoco muito grave, porque qualquer pessoa pode
ser infectada por bactérias resistentes aos antibióticos.

Para conhecer trabalhos desenvolvidos no ICA/UFMG onde se avaliou


o perfil de resistência a antimicrobianos de cepas bacterianas isoladas de
alimentos de origem animal, consulte o micro book digital e o Caderno de
Ciências Agrárias, volume 2.
93

Antimicrobianos

Referências
ATLAS, R. M. (1997) Principles of Microbiology - 2ª ed., C. M. B. Publishers.

BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. SISLEGIS. Disponível


em:< Ato.do?method=abreLegislacaoFederal&chave=50674 > Acesso em 27 de
janeiro de 2011.

DIENSTMANN, R. et al. Avaliação fenotípica da enzima Klebsiella pneumoniae


carbapenemase (KPC) em Enterobacteriaceae de ambiente hospitalar. J. Bras. Patol.
Med. Lab. v. 46, n. 1, p. 23-27, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/>.
Acesso em 17 de dezembro 2010.

MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. São Paulo: Prentice-Hall, 10ª


ed.,2004.

MAGALHÃES, D. R. et al. Variabilidade fenotípica de estirpes de Staphylococcus aureus


isoladas em leite de vacas com mastite subclínica. Caderno de ciências agrárias, v.
2, p. 222, 2010.

MAGALHÃES, D. R. et al. Perfil de sensibilidade a antimicrobianos para bactérias


provenientes de vacas com mastite em uma propriedade no Norte de Minas Gerais.
Caderno de ciências agrárias ,v. 2, p. 209, 2010.

NERO, L. A. et al. Resíduos de antibióticos em leite cru de quatro regiões leiteiras no


Brasil. Ciênc. Tecnol. Aliment., v. 27, p. 391-393, 2007.

QUEIROZ, M. R. A. et al. Perfil de resistência antimicrobiana de cepas de


Staphylococcus sp. Isoladas de queijo minas frescal artesanal do Norte de Minas
Gerais. Caderno de ciências agrárias v. 2, p. 98, 2010.

SOUZA, V. F. S., QUEIROZ, M. R. A., MENEZES, I. R., ALMEIDA, A. C. Perfil de


resistência antimicrobiana de cepas de Staphylococcus sp. Isoladas de leite bovino.
Caderno de ciências agrárias, v. 2, p. 91, 2010.

TORTORA et al., Microbiologia. Porto Alegre; ArtMed, 8. ed., 2005.

TRABULSI, L. R. et al. Microbiologia -5.ed.- SãoPaulo: Atheneu, 2008

UNB- Universidade Nacional de Brasília- Antibióticos e Quimioterápicos. Disponível


em <http://vsites.unb.br/ib/cel/microbiologia/antibioticos/antibioticos.htm>l.
Acesso em 28 de fevereiro 2011. Acesso em 2 de maço de 2011.
94

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias


95

Microbiologia ambiental

Capítulo 8

Microbiologia ambiental
Prof. Luiz Carlos Ferreira
Prof. Eduardo Robson Duarte
Matheus Henrique Souto

Resumo

Os micro-organismos são encontrados no ar que respiramos, nos


alimentos que ingerimos, no solo onde crescem os alimentos e na água que
bebemos. Muitos micro-organismos beneficiam o homem, ao passo que
somente alguns poucos lhe causam doenças. Neste capítulo, você irá
aprender sobre as várias funções benéficas que os micro-organismos
realizam no ambiente. Micro-organismos são de fato fundamentais para
manutenção da Terra, pois atuam diretamente no ciclo de vários elementos.
Entretanto o desequilíbrio de populações ou a simples presença de uma
espécie patogênica torna determinados micro-ambientes contaminados, o
que pode promover riscos à saúde humana ou dos animais.

Por que podemos encontrar micro-organimos de


diferentes características fisiológicas e bioquímicas
em uma mesma amostra de solo?

Introdução

Natureza dos ecossistemas

Os ecossistemas estão organizados em vários níveis biológicos. A


biosfera é a região da terra habitada pelos organismos vivos. É formada pela
hidrosfera (suprimento de água terrestre), pela litosfera (o solo e as rochas
que compõem a crosta terrestre) e pela atmosfera (o envoltório gasoso que
envolve a terra).

Há grande diversidade de organismos dentro da biosfera. Os


organismos dentro de um ecossistema vivem em comunidades. Uma
comunidade ecológica consiste em todos os tipos de organismos que estão
presentes em um dado ambiente.
96

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Fluxo de energia nos ecossistemas

A energia é essencial à vida. A energia radiante proveniente do sol é a


principal fonte de energia para quase todos os organismos em qualquer
ecossistema. Os organismos chamados produtores (autotróficos) captam
energia a partir do sol, utilizam energia e vários nutrientes do solo ou da água
para sintetizar as substâncias de que necessitam para crescer e para
sustentar outras atividades. A energia armazenada nos corpos dos
produtores é transferida em um ecossistema, quando consumidores
(heterotróficos) obtêm nutrientes, por meio da ingestão dos produtores ou
de outros consumidores. Os decompositores obtêm energia, por meio da
digestão de corpos mortos ou de dejetos de produtores e de consumidores.
Assim, nos ecossistemas, os micro-organismos podem ser produtores,
consumidores ou decompositores.

Ciclos biogeoquímicos

Embora a energia esteja continuamente disponível, os nutrientes


devem ser reciclados a partir de organismos mortos e dejetos, para torná-los
disponíveis a outros micro-organismos. O ciclo da água está resumido na
FIG. 1 e o do carbono está ilustrado na FIG. 2.

FIGURA 1 – O ciclo da água


FONTE: Adaptada de Black (2002).
97

Microbiologia ambiental

Ciclo do carbono

FIGURA 2 – O ciclo do carbono


FONTE: Adaptada de Black (2002).

Ciclo do nitrogênio e bactérias do nitrogênio

A fixação de nitrogênio é a redução do nitrogênio atmosférico a


amônia. É realizada por determinadas bactérias de vida livre, principalmente
envolvendo o gênero Rhizobium. Em condições normais, tanto a leguminosa
como Rhizobium spp. são incapazes de fixar o nitrogênio; contudo a simbiose
promove tal capacidade.

A nitrificação é a conversão da amônia a nitritos e nitratos. As


bactérias do gênero Nitrosomonas são produtoras de nitritos e as do gênero
Nitrobacter convertem o nitrito em nitrato, que pode ser assimilado pelas
plantas. A desnitrificação é a conversão de nitratos a óxido nitroso e
nitrogênio gasoso, podendo ser promovida por uma variedade de
organismos, especialmente em solos alagados. Com condições de
anaerobiose, ocorre, então, a redução da fertilidade do solo. O ciclo do
nitrogênio está elucidado na FIG 3.
98

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

FIGURA 3 – O ciclo do nitrogênio


FONTE: Adaptada de Black (2002).

Verifique outros ciclos biogeoquímicos como o do enxofre e do fósforo


no Micro-Book digital.Tendo discutido alguns fundamentos da ecologia e dos
ciclos biogeoquímicos, vamos explorar, agora, os diferentes ambientes e os
micro-organismos que eles contêm.

Micro-organismos encontrados no ar

Os micro-organismos não crescem no ar. Em parte porque o ar não


apresenta os nutrientes necessários para o metabolismo e o crescimento.
Entretanto os esporos são carregados pelo ar, e as células vegetativas podem
ser carregadas em partículas de poeira e gotículas de água no ar. Os tipos e o
número de micro-organismos transportados pelo ar variam muito, conforme
os diferentes ambientes. Grandes quantidades de muitos tipos diferentes de
micro-organismos estão presentes no ar de ambientes internos, onde os
seres humanos ficam aglomerados e a ventilação é insuficiente.

Dentre os organismos encontrados no ar, os esporos dos fungos


filamentosos são certamente os mais numerosos. O gênero predominante é o
Cladosporium. As bactérias comumente encontradas no ar incluem formas
esporuladas aeróbias, como o Bacillus subtilis, e formas não esporuladas dos
gêneros Micrococcus e Sarcina. Algas, protozoários, leveduras e vírus
também são comumente isolados do ar.
99

Microbiologia ambiental

Louis Pasteur mostrou, em 1861, que os micróbios podem ser


transportados pelo ar, mas só recentemente descobriu-se que bactérias,
fungos e vírus podem viajar por milhares de quilômetros em partículas de
poeira. Tempestades de areia que atravessam oceanos podem trazer até
fungos e bactérias do Saara, na África, para a Amazônia brasileira. Uma
questão que é intrigante é a de como os micro-organismos permanecem
biologicamente ativos após longas jornadas. A poeira viaja a altas altitudes e
estão expostas a um ambiente extremamente seco e a radiações nocivas,
sendo que nem todos os micro-organismos encontrados formam esporos. O
que os pesquisadores sugerem é que os micro-organismos possam aumentar
a quantidade de pigmentos protetores, que se aderem a partículas minerais,
conferindo, assim, um grau de proteção a esses micróbios.

Micro-organismos encontrados no solo

O solo é fértil em organismos microscópicos e pequenos organismos


macroscópicos, recebendo dejetos de animais e matéria orgânica de vegetais
mortos. Os micro-organismos atuam como decompositores para clivar essa
matéria em nutrientes simples que possam ser utilizados por vegetais e por
outros micro-organismos. O solo é dividido em várias camadas, chamadas de
horizontes do solo (FIG. 4).

FIGURA 4 – Horizontes do solo


FONTE: Adaptada de Black (2002).
100

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Todos os principais grupos de micro-organismos que incluem


bactérias, fungos, algas, protozoários e vírus estão presentes no solo.
Entretanto as bactérias são mais numerosas que todos os outros tipos de
micro-organismos. Dentre as bactérias, encontram-se as autotróficas, as
heterotróficas, as aeróbicas, as anaeróbicas e, dependendo da temperatura
do solo, as mesofílicas e as termofílicas. Além das bactérias fixadoras de
nitrogênio, nitrificantes e desnitrificantes, o solo contém aquelas que
degradam substâncias especiais, como celulose, proteína, pectina, ácido
butírico e ureia.

Os fungos do solo são, na maioria das vezes, filamentosos. Tanto o


micélio quanto os esporos estão presentes principalmente na camada
superior do solo. Além dos fungos filamentosos, as leveduras são abundantes
em solos onde estão sendo cultivadas uvas e outras frutas.

Pequenas quantidades de cianobactérias, de algas, de protistas e de


vírus são encontradas na maioria dos solos. Os viróides existentes no solo
são frequentemente dispersados por meios mecânicos e podem causar
doenças nos vegetais.

Os micro-organismos do solo, como todos os outros organismos,


interagem com os seus ambientes. O crescimento é influenciado tanto por
fatores abióticos quanto por outros organismos. Os micro-organismos, por
sua vez, influenciam as características físicas do solo e dos outros micro-
organismos presentes no solo. Os fatores abióticos no solo incluem a
umidade, a concentração de oxigênio, o pH e a temperatura.

Micro-organismos encontrados na água

Todos os ambientes aquáticos constituídos por água doce, água do


mar e mesmo de água da chuva podem conter micro-organismos e
substâncias tóxicas. Grandes quantidades de micro-organismos em um
corpo de água geralmente indicam altos níveis de nutrientes na água. Águas
contaminadas por afluxo de sistemas de esgoto ou por resíduos orgânicos
industriais biodegradáveis apresentam uma contagem microbiana
relativamente alta. De forma semelhante, estuários oceânicos, alimentados
por rios, possuem altos níveis de nutrientes e, consequentemente, maiores
populações microbianas do que águas costeiras.

Na água, principalmente naquelas com baixas concentrações de


nutrientes, os micro-organismos tendem a crescer em superfícies paradas e
em materiais inclusos no ambiente aquático. Dessa forma, um micro-
organismo entra em contato com mais nutrientes, o que não ocorreria se
estivesse flutuando livremente em curso de águas.
101

Microbiologia ambiental

Ambientes de água doce

Os ambientes de água doce incluem as águas de superfície, como os


lagos naturais, os tanques ou lagos artificiais, os rios e córregos e as águas
subterrâneas que correm debaixo de camadas de rochas. Nos ambientes
aquáticos, a temperatura da água varia de 0° C a aproximadamente 100° C.
A maioria dos micro-organismos desenvolve em água com temperaturas
moderadas. Entretanto, algumas bactérias termofílicas foram encontradas
em gêiseres com temperaturas acima de 90° C. Fungos e bactérias
psicrofílicas foram encontrados em água a 0° C.

Ambientes marinhos

O ambiente marinho ou oceano cobre cerca de 70% da superfície


terrestre e é, portanto, maior que todos os outros ambientes juntos.
Comparando com a água doce, o mar é muito mais estável, tanto em
temperatura quanto em pH. Os organismos que vivem nesse ambiente
devem tolerar uma alta salinidade, por isso muitos são halófilos.

Há fatores que variam conforme a profundidade da água do mar,


como a penetração da luz solar e a concentração de oxigênio. A luz solar, com
intensidade suficiente para permitir a fotossíntese, penetra na água do mar
até profundidades de 50 a 125 metros, dependendo da estação do ano, da
latitude e da transparência da água. O oxigênio se difunde por meio da
superfície da água e é liberado por organismos fotossintéticos nas águas
ensolaradas. Entretanto as águas profundas não possuem luz solar e nem
oxigênio. As concentrações de nutrientes variam na água do mar,
dependendo da profundidade e da proximidade com a costa.

Poluição da água

A água é considerada poluída se uma substância ou condição que


está presente a torna inútil para um determinado propósito. Logo, o conceito
de poluição aquática é relativo, dependendo tanto da natureza dos poluentes
como dos usos pretendidos da água.

Os principais tipos de poluentes da água são resíduos orgânicos, tais


como o esgoto e os adubos animais, os resíduos industriais, o petróleo, as
substâncias radioativas, os sedimentos provenientes da erosão do solo e o
calor (QUADRO 1). A bactéria Eschericia coli é o micro-organimos indicador
de contaminação fecal na água e deve estar ausente na água destinada ao
consumo humano.
102

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

QUADRO 1 – Os efeitos da poluição da água

FONTE: Adaptado de Black (2002).

A presença das bactérias do grupo dos coliformes na água de um rio


significa que esse rio recebeu matérias fecais ou esgotos. Por outro lado, são
as fezes ou a urina de humanos ou animais doentes que transportam, para as
águas ou para o solo, os micro-organismos mais patogênicos, como as
bactérias Salmonella spp., Shigella spp., Vibrio colera, Leptospira spp.,
causadoras de doenças.
103

Microbiologia ambiental

Os resíduos orgânicos suspensos na água são geralmente


decompostos por micro-organismos, considerando-se que a água contenha
oxigênio suficiente para a oxidação das substâncias. O oxigênio para tal
decomposição é chamado de demanda biológica de oxigênio (DBO).

As partículas do solo, a areia e os minerais oriundos da erosão do solo


entram na água, a partir da agricultura, da mineração e das atividades de
construção. Os nitratos, os fosfatos e outros nutrientes são incorporados na
água via detergente, fertilizante e fezes de animais. O enriquecimento
abundante da água com nutrientes, chamado eutrofização, leva ao
crescimento excessivo de algas, de vegetais e de micro-organismos. No final,
os vegetais se tornam tão densos que a luz solar não consegue penetrar na
água. Muitas algas e outros vegetais morrem, deixando grandes quantidades
de matérias orgânica na água. A alta BOD dessa matéria orgânica leva ao
esgotamento do oxigênio e à persistência de matéria não-decomposta na
água, com condição de anaerobiose.

Tratamento de esgotos

O esgoto é a água utilizada para carrear resíduos orgânicos ou


químicos. Poucos projetos de tratamento de esgoto doméstico propõem
desenvolver tecnologias voltadas à população rural. Sistemas de tratamento
anaeróbio, como tanques sépticos, lagoas de estabilização, reatores
anaeróbios e biodigestores são de baixo custo e podem constituir-se em uma
alternativa economicamente viável.

Uma opção para solucionar o problema que as atividades zootécnicas


e agrícolas causam aos recursos hídricos é o reator compartimentado
anaeróbio/aeróbio (SILVA et al. , 2005). Acesse o trabalho de pesquisa sobre
esse tema no Micro-Book digital.

Referências
BLACK, J. G. Microbiologia. Rio de Janeiro; Guanabara Koogan, 4. ed., 2002.

MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. São Paulo: Prentice-Hall, 10ª.ed.,


2004.

SILVA, H. R. G. et al. Reator compartimentado anaeróbio/aeróbio: Sistema de baixo


custo para tratamento de esgotos de pequenas comunidades. Revista brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental. v. 9, n. 2,p. 268-275,2005. Disponível em <
http://www.scielo.br/pdf/rbeaa/v9n2/v9n2a19.pdf> Acesso em 27 de dezembro de
2010.

TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. Porto Alegre: ArtMed, 8ª. ed., 2005.


104

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias


105

Microbiologia ambiental

Capítulo 9

Interações microbianas e interações hospedeiro


com micro-organismo
Prof. Eduardo Robson Duarte
Kellerson Luiz da Silva
Cláudio Eduardo Silva Freitas
Flávia Oliveira Abrão

Resumo

Células microbianas não vivem isoladamente. Este capítulo abordará


o estudo das relações entre micro-organismos e de micro-organismos e
hospedeiros. Ocorrem interações positivas e negativas entre indivíduos de
uma mesma população e entre populações diferentes. Essas interações são
responsáveis pelo balanço ecológico das comunidades. Micro-organismos
podem ser essenciais a seus hospedeiros, mas também podem ocasionar
infecções graves, culminando com a morte dos mesmos.

Como seria quantificar e avaliar as inserções de micro-organismos no


solo, com as plantas e com os animais e humanos. Seria possível
vivermos sem essas interações?

Introdução e conceitos

Hospedeiro: é qualquer organismo que abriga um outro organismo.

Simbiose: é uma associação entre duas (ou mais) espécies. O termo


simbiose, que significa “viver junto”, abrange um espectro de relações. Inclui
mutualismo, comensalismo e parasitismo.

Mutualismo: ambos os membros da associação vivendo juntos se beneficiam


do relacionamento.

Parasitismo: nessa interação, o parasita se beneficia do relacionamento, ao


passo que o hospedeiro é prejudicado. Bactérias, vírus, protozoários e fungos
podem ser parasitas.

Comensalismo: em algum lugar do meio desse espectro está o


comensalismo, no qual duas espécies vivem juntas numa relação tal que um
é beneficiado e o outro não é nem beneficiado nem prejudicado.
106

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Contaminação, Infecção e Doença podem ser consideradas como


uma sequência de condições, na qual a gravidade dos efeitos que os micro-
organismos exercem sobre os seus hospedeiros vai aumentando.

Contaminação: significa que os micro-organismos estão presentes.


Objetos inanimados, a superfície da pele e as membranas mucosas podem
ser contaminadas com uma grande variedade de micro-organismos.

Infecção: refere-se à entrada e à multiplicação de qualquer


organismo parasita dentro ou sobre o corpo do hospedeiro.

Doença: é um distúrbio no estado de saúde, acarretando, como


consequência, alterações das funções normais do corpo. Os Postulados de
Koch para definição de agente patogênico podem ser empregados para
definir um patógeno típico.

Patógenos: possuem diferentes capacidades de alterar o estado de saúde de


um indivíduo, isto é, mostram diferentes graus de patogenicidade.

Patogenicidade: é a capacidade de produzir doença que depende da


capacidade de penetrar no hospedeiro, de multiplicar-se no interior e de
resistir às defesas do hospedeiro. Um importante fator de patogenicidade é o
número de organismos infecciosos que penetram no corpo.

Virulência: refere-se à intensidade da doença produzida por um patógeno e


varia entre as diferentes espécies microbianas. Por exemplo, o Bacillus
cereus causa gastroenterite moderada, ao passo que o Vírus da Raiva causa
danos neurológicos que são quase sempre fatais. Fator de virulência é uma
estrutura ou substância produzida para aumentar a virulência dos micro-
organismos.

Interações microbianas - relação micro-organismo x micro-


organismos

Interações dentro de uma população microbiana

Com o aumento da densidade populacional, ocorrem menos


interações positivas e reduz-se a taxa de crescimento. Cooperações ocorrem
em menores densidades populacionais. Competições ocorrem em maiores
densidades. Há um ponto ótimo de densidade para uma maior taxa de
crescimento microbiano.

Nas cooperações, ocorre a redução da fase lag de crescimento dos


micro-organismos. O crescimento de pequenos inóculos (importante para
micro-organismos fastidiosos) é favorecido. Inóculos medianos possuem um
relativo maior sucesso em colonizar do que um único indivíduo. Esse fator
está relacionado à dose mínima infectante para micro-organismos
patogênicos.
107

Microbiologia ambiental

Membranas celulares microbianas precisam de metabólitos de baixo


peso molecular, que são disponibilizados somente com um determinado
número de indivíduos. Micro-organismos móveis são mais frequentemente
encontrados em colônias do que na forma móvel e dispersa, o que evidencia a
preferência por associações.

A cooperação é fundamental para a utilização de substâncias


insolúveis, como celulose, lignina e elementos do solo e de rochas. As
enzimas extracelulares de alguns indivíduos produzem substratos para todos
os membros da população. Em populações pequenas, os produtos liberados
poderiam facilmente se difundir e não serem utilizados.

Os biofilmes microbianos são mais resistentes a determinados


antimicrobianos, à ação da luz ultra-violeta e à ação do frio ou calor. Os
indivíduos externos protegem os internos.

Resistência e habilidades genéticas adquiridas por um indivíduo


podem ser facilmente transmitidas a vários outros, quando estão em uma
grande população. Ex: conjugação bacteriana precisa de densidade maior
que 105/ml.

Competições microbianas

Micro-organismos predadores competem pela presa.

Micro-organismos parasitas competem por célula hospedeira, ou


hospedeiro.

Ocorrem devido à utilização de mesmo substrato, de mesmo nicho


ecológico. Verifica-se o acúmulo de metabólitos tóxicos, principalmente
ácidos de baixo peso molecular e H2S; aumento de H2S - limita a redução de
sulfatos; aumento de ác. lático reduz a atividade de Lactobacillus sp. (ex.
iogurte muito ácido); aumento de etanol - reduz o crescimento de
Saccharomyces.

Em alguns indivíduos, ocorrem genes de peptídeos e proteínas letais.


Exemplo: E. coli , um gene em plasmídio, transcreve o peptídeo HOK, que -
altera proteínas de membrana e promove lise em populações com alta
densidade. É um gene de suicídio.

Microbiota normal ou autóctone

Antes do nascimento, um feto encontra-se em ambiente estéril e,


durante a passagem, via canal do nascimento, adquire micro-organismos
que podem se tornar permanente ou temporariamente associados. Os
108

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

organismos que vivem na superfície ou no interior do corpo, mas que não


causam doença são referidos coletivamente como microbiota normal ou
autóctone. Estabelecem uma boa relação com os seus hospedeiros e a
maioria é comensal.

Microbiota residente

Compreende micro-organismos que estão sempre presentes na


superfície ou no interior do corpo do hospedeiro.

Microbiota transiente

É formada por micro-organismos de outros sítios que podem estar


presentes, sob certas condições, em qualquer lugar onde é encontrada a
microbiota residente. Persiste por horas ou meses, mas somente quando há
as condições necessárias.

Micro-organismos oportunistas

Entre os micro-organismos que constituem a microbiota residente e


a transiente, há algumas espécies que usualmente não causam doenças, mas
podem causá-las em determinadas condições.

Classificação microbiológica de animais

Animais convencionais ou haloxênico são aqueles com padrão


sanitário convencional, pois possuem microbiota indefinida, por serem
mantidos em ambiente desprovido de barreiras sanitárias rigorosas.

Animais livres de patógenos específicos (Specific Pathogen Free,


SPF) não apresentam microbiota capaz de lhes determinar doenças, ou seja,
albergam somente micro-organismos não patogênicos. A criação é realizada
em ambientes protegidos por barreiras sanitárias rigorosas.

Animais germ-free: são animais livres de qualquer forma de vida


associada. Germ-free são usados no estudo de probiótico, em investigação e
em pesquisas de novos agentes patogênicos. O animal necessita de um
controle cuidadoso de contaminantes externos, que podem interferir no
experimento e são mantidos em câmaras, com água e alimentos estéreis.

Gnotobióticos: são animais germ-free e que, posteriormente,


possuem microbiota associada, definida e conhecida.
109

Microbiologia ambiental

Translocação microbiana

Corresponde à passagem de micro-organismos, via epitélio intacto.


Muitos fatores levam ao aumento da translocação microbiana no intestino,
como a injúria dos enterócitos, por radiação gama ou citostáticos; a redução
do fluxo sanguíneo intestinal (que pode ocorrer por trauma); a exposição à
endotoxinas ou outros agentes inflamatórios; o aumento da microbiota
resistente, após uso de antibióticos e nutrição não adequada.

Microbiota do trato digestório

Equinos e ruminantes possuem hábito alimentar semelhante,


entretanto diferem quanto ao local de degradação microbiológica da fibra.
Nos ruminantes, os alimentos são degradados no início do trato
gastrointestinal: no rúmen, enquanto que nos equinos essa degradação
ocorre no ceco, estrutura localizada na porção final do sistema digestório, no
intestino grosso.

Nos coelhos, o sistema digestório é adaptado para fermentação da


parede celular vegetal, graças à importante microbiota existente no trato
gastrointestinal (TGI). Dessa forma, o coelho consegue aumentar a eficiência
digestiva de dietas fibrosas.

O sistema digestório dos coelhos é caracterizado pela importante


relação que o ceco e o cólon expressam sobre o trato gastrointestinal, quando
comparado a outras espécies .

Como consequência, a atividade microbiana existente no ceco possui


grande importância sobre os processos de digestão e a utilização dos
nutrientes. Além disso, a cecotrofia, comportamento de ingestão de péletes
moles de origem cecal, após a digestão microbiana, é fundamental para o
total aproveitamento dos nutrientes requeridos pelos coelhos.

As bactérias autóctones ou indígenas exercem proteção ecológica


intestinal, impedindo o estabelecimento das bactérias patogênicas.

Evidências da importância da microbiota intestinal para o


desenvolvimento do sistema imune foram obtidas por meio de estudos
realizados nos animais germ-free. Nesses animais (isentos de micro-
organismos), observou-se que a mucosa intestinal apresentava baixa
densidade de células linfoides, as Placas de Peyer eram pequenas e pouco
numerosas, e era reduzida a concentração das imunoglobulinas circulantes.

Ao contrário dos ruminantes, dentre os micro-organismos cecais de


coelhos, não há fungos anaeróbicos ou protozoários.
110

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Microbiota ruminal

Os micro-organismos habitantes do rúmen possuem relação de


simbiose com o hospedeiro. A microbiota ruminal atua sinergicamente para a
bioconversão de substâncias indigeríveis, como celulose, a lignina e a amônia
em compostos, como os ácidos graxos voláteis, os aminoácidos, as vitaminas
e outras substâncias que estimulam o crescimento e a produção de carne,
leite e lã .

O ecossistema ruminal é composto por bactérias, protozoários,


fungos, micoplasmas e por vírus bacteriófagos, os quais estão distribuídos
entre a fase sólida e a fase líquida do conteúdo ruminal.

Esse ambiente é considerado estável, por possuir uma população


bem estabelecida para produzir proteínas de alto valor nutricional, a partir de
compostos de qualidade inferior. Esse ecossistema também é dinâmico,
porque pode ser fisiologicamente alterado, em função da adaptação à dieta
disponibilizada ao animal. A microbiota autóctone do rúmen foi selecionada e
adaptada para sobreviver a determinadas flutuações que podem ocorrer no
ambiente ruminal. Micro-organismos que não conseguem sobreviver a essas
flutuações são eliminados desse sítio. Consulte o Micro-Book digital.

Interação microbiana no rúmem

O rúmen abriga pelo menos 48 espécies diferentes de bactérias que


atuam na degradação da celulose, da hemicelulose, da lignina, do amido, da
proteína e de outros componentes das plantas. O número total de bactérias
no rúmen varia de 109 a 1010 ufc/grama (unidades formadoras de colônia por
grama) de conteúdo, sendo predominantes os anaeróbios estritos. As
bactérias anaeróbias facultativas podem atingir valores de até 107 ufc/grama
e estão localizadas principalmente aderidas à parede ruminal. As interações
das bactérias do rúmen com outros micro-organismos ruminais influenciam,
diretamente, a produção dos ácidos graxos voláteis e da proteína microbiana.

A bactéria Clostridium tertium possivelmente possui um mecanismo


de competição com fungos, devido a suas propriedades quitinolíticas.
Estudos sugeriram a possibilidade dessa bactéria controlar a população de
fungos. Uma cepa da bactéria Butyrivibrio fibrisolvens com capacidade de
digerir xilanas, um dos substratos dos fungos, inibiu o crescimento de seis
espécies de fungos ruminais, sugerindo a competição pelo substrato. Por
outro lado, no mesmo estudo, foi observado o crescimento de outras quatro
espécies de fungos.
111

Microbiologia ambiental

Os fungos são micro-organismos eucariotos pertencentes ao Reino


Fungi. No rúmen, podem ser encontrados os seguintes gêneros anaeróbios:
Piromyces, Caecomyces, Neocallimastix, Anaeromyces e Orpinomyces.
Consulte no Micro-Book digital o artigo anexo sobre a variação desses fungos
em bovinos e caprinos criados em pastagem tropical.

Estruturas fúngicas (FIG.1) podem ser observadas em todas as


partes do trato digestório dos ruminantes, desde as secreções salivares até
as porções finais das fezes, o que sugere estágios de resistência no ciclo de
vida desses micro-organismos.

FIGURA 1 – Estrutura de um fungo miceliano do rúmen envolvendo a fibra vegetal,


com os seus micélios. Objetiva 40x
FONTE: arquivo pessoal.

Bactérias como a Ruminococcus albus e a R. flavefaciens, que


degradam celulose, produzem uma proteína solúvel que inibe a degradação
da celulose por fungos anaeróbios do rúmen, enquanto outras inibem o
crescimento de algumas estirpes de fungos. Ao contrário, sabe-se que alguns
micro-organismos metanogênicos estimulam a degradação da celulose, por
fungos do rúmen.
112

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

FIGURA 2 – Protozoário ciliado do gênero Ostracodinium, proveniente do rúmem de


novilho de corte. Objetiva 40x.
FONTE: arquivo pessoal.

Protozoários ruminais possuem considerável atividade celulolítica e


fermentativa. Animais faunados, com população normal de protozoários em
seu rúmen, adquirem maior ganho de peso e digestibilidade, quando
comparados com os defaunados (sem protozoários).

Sabe-se que os protozoários removem partículas de amido,


ingerindo-as, bem como as bactérias aderentes, o que pode estar
relacionado ao aumento da população bacteriana amilolítica, quando se faz a
eliminação dos protozoários. Verifique o vídeo da movimentação de
protozoários no suco ruminal, no Micro-Book digital.

O papel dos protozoários no rúmen é bastante controverso. Além de


suas atividades de degradação de nutrientes, alguns estudos mostram a
importância dos protozoários no controle e na renovação da população de
outros micro-organismos ruminais, especialmente fungos e bactérias. Por
serem predadores naturais, os protozoários promovem uma constante
remoção da população desses micro-organismos, ingerindo os mais
envelhecidos e liberando espaço para que os mais jovens se reproduzam.

Os protozoários ingerem bactérias ruminais, diminuindo a taxa de


degradação da fibra. Sobre a interação entre protozoários e fungos, observa-
se a presença de protozoários próximos a esporângios, em regiões do
substrato colonizados por fungos. Ao contrário, outros estudos demonstram
a predação de zoósporos e micélios de fungos por protozoário. Essa
contrariedade observada pode ser devido à diferença entre as espécies de
protozoários.
113

Microbiologia ambiental

Desenvolvimento da microbiota dos pré-estómagos de bezerros

O desenvolvimento de bezerros recém-nascidos à condição de


ruminante funcional envolve uma série de mudanças anatômicas e
fisiológicas no seu aparelho digestivo. Ao nascer, o rúmen-retículo desses
animais é pouco desenvolvido e não funcional, representando apenas 30%
do total dos quatro compartimentos estomacais.

A fase de transição de pré-ruminante para ruminante está


relacionada ao desenvolvimento do rúmen, onde se estabelecerão bactérias
amilolíticas em um primeiro momento e, posteriormente, as celulolíticas e
metanogênicas, protozoários, fungos e bacteriófagos.

Ao nascer, o rúmen de bezerros é totalmente desprovido de bactérias


ou de protozoários, característicos da população microbiana de ruminantes.
A exposição a essa população durante e após a parição contribui para a
colonização do rúmen.

O contato animal-animal parece ser o mais importante para o


estabelecimento de micro-organismos, embora as fontes sejam as mais
diversas, como a saliva da mãe, a secreção vaginal, as fezes frescas, o
esterco, o úbere, o leite e outros alimentos.

Sabe-se que com a ingestão de alimentos fibrosos, a atividade


celulolítica no rúmen é constatada na 4ª à 6ª semana de vida. Segue, abaixo,
o cronograma de implantação da microbiota ruminal que, geralmente, ocorre
com os bezerros:


- semana - Butyrivibrio spp.(S. bovis, B. fragilis, Clostridium spp.


- semana - Ruminococcus spp.


- semana - B. succinogenes, B. ruminicola, Senomonas spp.

13ª
- semana - microbiota típica de adultos.

Protozoários são adquiridos com o contato com a saliva. Animais


isolados podem ficar sem protozoários até 2,5 anos.

Muitos criadores podem dar excesso de leite durante o aleitamento


artificial de bezerros. Esse fenômeno, conhecido como “Beber rumenal”,
pode retardar a colonização microbiana do rúmen, pois o ácido lático no
rúmen reduz o pH e, consequentemente, os micro-organismos celulolíticos.
A ingestão de fibras possui efeito tamponante, pois estimula a salivação e
favorece a colonização.
114

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Patologias causadas pelo desequilíbrio na microbiota ruminal

A retículo pericardite traumática é uma enfermidade relativamente


comum em bovinos adultos. Ocorre, especialmente, pelo fato dos bovinos
não serem muito seletivos na alimentação. Durante a passagem no aparelho
digestório, corpos estranhos são retidos no rúmen ou no retículo. Contudo, se
tratando de estruturas perfurantes, poderão dirigir-se no sentido
intrareticular, transpondo a parede reticular, causando uma peritonite focal
ou difusa, ou perfurar o diafragma e o saco pericárdico, causando uma
pericardite. Essas lesões favorecem o extravasamento de micro-organismos
da microbiota ruminal para ambientes estéreis, causando, dessa forma,
patogenias.

Acidoses ruminais: quando grãos ou outros produtos facilmente


fermentáveis são consumidos rapidamente e em grandes quantidades, há
alteração da microbiota ruminal, com predominância de bactérias Gram-
positivas, principalmente o Streptococcus bovis e produção de grandes
quantidades de ácido láctico. A grande concentração de ácido láctico leva a
uma queda no pH, com diminuição dos movimentos ruminais e à destruição
de grande parte da microbiota ruminal, passando a predominar lactobacilos e
estreptococos. Ocorre um aumento da pressão osmótica do rúmen, que
promove um afluxo de líquidos vasculares, resultando em desidratação e em
diarreia. O animal apresenta polipneia e depressão, decorrentes da acidose
sanguínea, pela absorção de grandes quantidades de ácido láctico, que
excedem a capacidade tamponante do bicarbonato plasmático (MANUAL
MERCK, 1991).

A manifestação de rumenite e laminite, assim como o


desenvolvimento de abscessos hepáticos são sequelas comuns de um quadro
de sobrecarga ruminal. A rumenite ocorre devido à alta acidez do conteúdo
ruminal, que causa lesões à mucosa, possibilitando a invasão de bactérias,
que, pela circulação, atingem o fígado, onde formam abscessos.
115

Microbiologia ambiental

Referências
BLACK, J. G. Microbiologia. Rio de Janeiro; Guanabara Koogan, 4. ed., 2002.

EULER, A. C. C. Utilização Digestiva, Metodologias de Avaliação “In Vitro” de Dietas e


Caracterização da Microbiota Cecal em Coelhos Suplementados com
Lithothamniu.Tese. Belo Horizonte UFMG - Escola de Veterinária.2009. Disponivél
em: http://www.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/doc/doc65/acidose.html. Acessado
dia 09 de Fevereiro de 2011. (Micro Book digital)

KAMRA, D. N. Rumen Microbial Ecosystem. Current Science, v. 89, p. 125- 35, 2005.

KAWASHIMA, R. (Eds.). Physiological aspects of digestion and metabolism in


ruminants. San Diego: Academic Press, p. 655-680. 1991. Disponível em: http://
www.iepec.com/noticia/digestao-da-fibra-papel-dos-fungos-e-interacao-com-
outros-micro-organismos. Acessado dia 02 de fevereiro de 2011.

MADIGAN, M. T. et al. Microbiologia de Brock. São Paulo: Prentice-Hall, 10ª.


ed.,2004.

MORGAVI, D. P. et al. Effects ruminal protozoa on cellulose degradation and the growth
of an anaerobic ruminal fungus, Piromyces sp. Strain OTS1, in vitro. Applied and
Environmental Microbiology, v. 60, p. 3718, 1994.

OLIVEIRA, J. S., ZANINE, A. M., SANTOS, E. M. Diversidade microbiana no ecossistema


ruminal. REDVET: 2007, v. 3, n. 6. Disponível em: http://www.veterinaria.org/
revistas/redvet/n60607/060703. pdf. Acessado em 03 de fevereiro de 2011.

TORTORA, G. J. et al. Microbiologia. Porto Alegre; ArtMed, 8. ed., 2005.

TRABULSI, L. R. et al. Microbiologia-5. ed.-SãoPaulo: Atheneu, 2008.


116

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias


117

Agentes fitopatogênicos

Capítulo 10

Agentes fitopatogênicos
Prof. Fernando da Silva Rocha
Profa. Nilza de Lima Pereira Sales
Hugo Cezar R. Moreira Catão

RESUMO

Um fitovírus pode infectar apenas uma ou diferentes espécies de plantas.


Cada planta pode ser hospedeira de diferentes tipos de vírus, podendo, algumas vezes,
ser infectada por vários vírus ao mesmo tempo. Os avanços em estudos bioquímicos,
sorológicos, eletromicroscópicos, sequenciamento de genomas e manipulação
molecular permitiram compreender melhor a natureza dos fitovírus como importante
grupo relacionado a graves problemas em plantas de importância econômica. Para o
controle e a prevenção de fitoviroses, pode-se utilizar variedades resitentes, controlar
inseto vetor e destruir plantas infectadas. Do total de bactérias existentes, apenas 100
espécies causam doenças em plantas, sendo a maioria saprofitas facultativas e pode
crescer em meio artificial, entretanto outras exigem meios de cultura especiais, como
as bactérias fastidiosas. Essas bacteroses são de fácil disseminação e de difícil
controle, uma vez que não há bactericidas específicos. Os fungos fitopatógenos podem
colonizar diferentes espécies vegetais e produzem esporos para dispersão e
resistência. Esses agentes podem ficar viáveis por longos períodos no solo. Essa
contaminção pode, muitas vezes, inviabilizar determinadas culturas. Assim, a
preservação de áreas livres desses agentes e a produção de mudas sadias constituem
as medidas mais eficientes no controle dos fitopatógenos.

Em uma lavoura podem ocorrer diversos fitopatógenos,


dentre esses quais são de importância econômica
nacional e para regiões semiáridas?

Introdução

Os primeiros registros de doenças viróticas em plantas foram


observados em quadros de pintores europeus, que retrataram plantas de
tulipas com sintomas de variegação. Posteriormente, foram identificados
como doenças causadas por vírus por Clusius, em 1576 , na Holanda, bem
como sua forma de trasmissão em plantas. No final do século XIX, período em
que iniciaram os estudos com os vírus, as suas características bioquímicas e
estruturais permaneceram desconhecidas por décadas, devido às
dificuldades tecnológicas disponíveis na época.
118

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Em 1892, Iwanowski, trabalhando com o mosaico do fumo, provou


que suco de plantas doentes permanecia infectivo depois da passagem pelo
filtro bacteriológico. Desse período até por volta de 1920, os critérios usados
para classificar uma doença como sendo de natureza virótica baseavam-se
na filtrabilidade em filtros, na invisibilidade ao microscópio óptico e na
impossibilidade de cultivo in vitro.

A partir de então, com os avanços em fitovirologia, principalmente


nas primeiras décadas do século XX, foram descoberta diversas doenças
viróticas, a trasmissibilidade por insetos e o uso de plantas indicadoras. Os
avanços em estudos bioquímicos, sorológicos, eletromicroscópicos,
sequenciamento de genomas e manipulação molecular permitiram
compreender melhor a natureza dos fitovírus como um importante grupo de
agentes responsáveis por grandes problemas em plantas de importância
econômica.

Os pesquisadores Thomas J. Burril e Walker atribuíram a requeima da


macieira e o amarelecimento do jacinto como de causa bacteriana. Contudo a
existência de doença causada por bactéria em plantas foi demonstrada por
Erwin F. Smith, considerado o pai da fitobacteriologia, que mostrou,
cientificamente, a etiologia de Erwinia amylovora, bactéria causadora da
requeima da macieira. A partir do século XX, sabia-se que bactérias eram
importantes patógenos de plantas e várias pesquisas e trabalhos começaram
a ser publicados sobre fitobactérias.

As fitobactérias encontram-se associadas ao tecido vegetal de


diversas plantas de importância econômica, causando danos diretos sobre a
qualidade e a quantidade do produto agrícola. Além dos danos no campo, as
bactérias, particularmente as causadoras de podridões moles, continuam
causando prejuízos após a colheita sobre os produtos armazenados. A
importância das fitobactérias não se deve apenas à sua alta incidência e à
severidade, mas também à facilidade de disseminação e dificuldade no
manejo.

Fitovírus

A classificação dos fitovírus baseia-se nas seguintes caractéristicas:


tipo de ácido nucleico, número de fitas de ácido nucleico (monocatenário ou
bicatenário), peso percentual do ácido nucleico em relação à particular, peso
molecular, tamanho e forma da particular (isométrica, alongada e
baciloforme), presença ou ausência de envelope, propriedades físicas,
químicas, biológicas e antigênicas da particular, gama de hospedeiros e
forma de transmissão. Por meio desses critérios os fitovírus são reunidos em
famílias (terminação viridae) e gêneros (FIG. 1), sendo o nome de cada
gênero, geralmente, derivado dos protótipos ou membros representatives do
grupo. Como exemplo, o nome do gênero do vírus do mosaico do tabaco
(tobacco mosaic virus) é o Tobamovirus.
119

Agentes fitopatogênicos

FIGURA 1 – Diagrama esquemático de famílias e de gêneros de vírus de plantas.


FONTE: Adaptada de Agrios (2005).
120

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

A nomenclatura internacional dos fitovírus é determinada pelo nome


em inglês da planta hospedeira, seguido da doença ou sintomatologia na
planta e da palavra virus. Assim, o vírus que causa mosaico no tabaco é
chamado de Tobacco mosaic virus, enquanto o vírus da mancha anelar do
mamoeiro é chamado de Papaya ringspot virus. Em português, a
nomenclatura é realizada utilizando-se a palavra vírus, seguido do sintoma
principal e o nome da planta hospedeira. Por exemplo, Tobacco mosaic virus
em português: a sua denominação é Vírus do mosaico do tabaco (fumo).

Caractéristicas gerais de fitovírus

Apesar dos vírus não serem definidos como organismos, há


argumentos a favor e contra a inclusão dos vírus na categoria dos seres vivos.
Dentre os argumentos a favor, podemos citar: a) fato dos vírus
apresentarem reprodução, embora necessitem da ajuda da célula
hospedeira para se reproduzirem; b) presença de material genético (DNA ou
RNA) e consequentemente, a capacidade de sofrerem mutação e c)
capacidade de adaptação. Os argumentos contras são: a) o fato dos vírus
serem acelulares e b) ausência de metabolismo próprio, necessitando,
portanto, de constituintes celulares de outro organismo.

Os vírus que infectam plantas e animais possuem composição e


estrutura bastante similar, porém os de plantas são mais numerosos e mais
de 94% dos fitovírus conhecidos não possuem envelope e têm como ácido
nucleico o RNA (FIG. 1). Outras caractéristicas gerais dos fitovírus são que
infectam apenas plantas e alguns invertebrados (insetos vetores), penetram
na célula hospedeira apenas por meio de ferimentos e possuem proteínas
ricas em serina e em treonina.

Os vírus de plantas e de animais apresentam especifidade, quanto à


gama de hospedeiros e de tecidos. Assim, o vírus da Tristeza do Citrus
somente ocorre em plantas cítricas, enquanto o TMV ocorre em pelo menos
199 espécies vegetais, distribuídas em 30 famílias. As partículas virais
extracelulares não têm atividade metabólica, fisiológica e biológica, sendo
ativadas apenas no interior de células vivas do tecido da planta hospedeira,
onde ocorre a replicação do ácido nucleico e dos componentes proteicos. A
replicação viral em plantas envolve as seguites etapas: penetração, liberação
de ácido nucleico, síntese dos componentes virais, montagem ou maturação
e liberação viral.

Após a replicação viral numa célula, as proteínas de movimento se


ligam as células do parênquima, auxiliando a passagem do vírus, na forma
íntegra ou do ácido nucleico, para a célula vizinha. O movimento célula a
célula é lento, causando infecção localizada (lesões cloróticas e necróticas)
por alguns vírus, onde ficam confinados. Outros vírus são distribuidos na
forma de vírion para locais distantes do seu ponto de penetração, por meio
121

Agentes fitopatogênicos

dos tecidos vasculares, normalmente via floema, atingindo as raízes, folhas


novas e, por fim, a planta toda, caracterizando o que denominamos de uma
infecção sistêmica (mosaico, distorções foliares e etc.). Numa infecção
sistêmica, a concentração do vírus nos diferentes tecidos e orgãos é variavel,
consequentemente a sua liberação varia de acordo com o vírus, a célula
hospedeira, a quantidade de partículas inoculadas e as condições ambientais,
chegando a atingir um milhão por célula.

Dentre os processos envolvidos na indução de doença, os fatores que


mais influenciam a infecção são: a idade e o genótipo da planta, época do
ano, a interação com outros vírus e os fatores ambientais (luz, temperatura,
nutrição, etc.).

Transmissão de fitovírus

O processo de transmissão e perpetuação é uma característica


fundamental na sobrevivência dos vírus. A trasmissão dos vírus de uma
planta infectada para outra sadia pode ocorrer por meio de insetos, por
propagação vegetativa (enxertia, bulbos, tubérculos, rizomas, etc.),
mecanicamente (Ex.: vírus do TMV e o mosaico das cucurbitáceas.), por
fungos. A intíma interação entre os insetos vetores e os vírus pode
determinar uma alta especificidade ou não, o que caracteriza os diferentes
tipos de mecanismo de transmissão dos vetores como sendo não persistente,
semi-persistente, persistente circulativo não-propagativo e persistente
propagativo (QUADRO 1). Nos vetores do tipo persistente circulativo não-
propagativo e persistente propagativo, essa especificidade é maior, devido à
maior interação vírus-inseto vetor. Assim, determinados vírus são
transmitidos por vários insetos vetores, como o vírus do mosaico do pepino,
enquanto outros são transmissíveis por apenas um vetor, como o vírus da
beterraba açucareira, que é transmitida por Circulifer tenellus. Os tripes
também caracterizam por transmitir só uma espécie de vírus de planta,
como, por exemplo, no caso de Frankliniella paucispinosa, que transmite
somente o vírus do vira-cabeça.
122

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

QUADRO 1 – Insetos vetores de viroses de plantas e os mecanismos de transmissão

FONTE: Figueira, (2000); Ayrios, (2005).

Detecção, identificação e controle

A diagnose precoce, a identificação do agente causal, indicadores da


severidade e distribuição do vírus são essenciais para adotarmos medidas
rápidas e eficientes de controle. Os principais métodos de diagnose
disponíveis são: sintomatologia e gama de hospedeiro, uso de plantas
indicadoras, estudo de transmissibilidade, determinação da estabilidade do
vírus no extrato vegetal, ponto máximo de diluição, longevidade do vírus,
métodos sorológicos, microscopia eletrônica e hibridização com cDNA e RT-
PCR. Dependendo do tipo de vírus, deve-se diagnosticá-lo a nível de espécie
e de estirpe, pois uma hospedeira responde de modo distinto a diferentes
estirpes do mesmo vírus. O método sorólogico, conhecido como teste de
ELISA (Enzyme Linked Immunosorbent Assay), é um teste imunoenzimático
123

Agentes fitopatogênicos

muito utilizado na identificação de fitovírus, por ser um método sensível,


rápido, altamente específico, com alto grau de confiabilidade e acessível à
maioria dos laborátorios. Já os demais métodos apresentam alguns
incovenientes, como morosidade e alto custo, sendo inadequados para
análise de rotina.

O manejo de fitoviroses pode ser realizado com o uso de variedades


resitentes, a eliminação do inseto vetor, a remoção e a destruição da planta
infectada, a eliminação dos hospedeiros intermediários, as barreiras de
plantas não suscetíveis aos vírus, a utilização de sementes e mudas sadias, o
emprego da proteção cruzada ou preimunização, as coberturas repelentes ou
não atrativas ao vetor, as armadilhas coloridas e adesivas para captura do
vetor e o uso de tela anti-afídeo, que é recomendado na fase de produção de
mudas.

Fitobactérias

As fitobactérias estão inseridas no Reino Procaryotae. Encontram-se


em duas divisões: Gracilicutes e Firmicutes (QUADRO 2). Nessas divisões
estão incluidas as principais classes, famílias e gêneros de bactérias de
importância fitopatológica. A maioria das bactérias fitopatogênicas possui
forma de bastonetes ou bacilos, podendo apresentar outras formas como
filamentosas ou miceliais com hifas muito finas como o gênero
Streptomyces. As células podem arranjar-se conforme a forma em
diplococos, sarcina, estafilobacilos, estafilococos, estreptobacilos e
estreptococos.
124

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

QUADRO 2 – Classificação das principais fitobactérias dentro do Reino Procaryotae,


nas divisões Gracilicutes e Firmicutes, aspectos morfológicos e doença causada

Além disso, dependendo do gênero da bactéria, pode ocorrer a


presença de tipos diferentes de inserção do flagelo na célula, sendo
classificadas em: atríquia (ausência de flagelo), monotríquia (apenas um
flagelo), lofotríquia (tufo de flagelo em uma das extremidades) e peritríquia
(flagelos distribuídos ao redor da superfície).
125

Agentes fitopatogênicos

Processo de penetração

Na natureza, as bactérias fitopatogênicas estão expostas a diversas


condições extremas do ambiente, como dessecação e raios solares
(ultravioleta e actínios), podendo levá-las à morte em poucos segundos.
Como as fitobactérias não formam esporos (estrutura de resistência) e são
sensíveis aos fatores abióticos, na maioria das vezes, precisam se locomover
rapidamente sobre a superfície do tecido vegetal, por meio de um filme de
água até o local de penetração.

Diferentemente de muitos fungos e fitonematoides, as bactérias não


são capazes de penetrar mecânica ou enzimaticamente a cutícula ou a
epiderme de forma ativa. Por conseguinte, a penetração das bactérias ocorre
apenas por aberturas naturais (estômatos, hidatódios, lenticelas, tricomas,
nectárias, etc.) e também por meio de ferimentos, que liberam exudados no
filoplano e, por quimiotactismo positivo, as bactérias encontram a porta de
entrada para penetrar. O processo de penetração constitui o primeiro passo
na interação bactéria-planta, podendo estabelecer associação compatível,
isto é, iniciam-se as fases de infecção e colonização dos tecidos, culminando
com o processo de doença.

Sobrevivência de fitobactérias

As fitobactérias podem apresentar mecanismos próprios de


sobrevivência ou se associam ao tecido hospedeiro, onde se encontram
protegidas dos fatores adversos do ambiente. A principal funcão biológica da
cápsula é proteger a célula bacteriana contra dessecamento, radiações
solares, choques bruscos de temperatura, alguns produtos químicos e
antibióticos, permitindo, assim, um período adicional de sobrevivência. Essa
proteção assume grande importância, em termos de sobrevivência, quando a
bactéria está no filoplano, uma vez que as fitobactérias não-fastidiosas,
incitantes de importantes enfermidades de plantas (Erwinia, Pseudomonas,
Xanthomonas, Agrobacterium), não formam esporos e estruturas de
resistência.

O ciclo de vida típico de uma fitobactéria pode apresentar fases, que


permitem a sobrevivência de uma safra a outra, proporcionar aumento da
fonte de inóculo ou favorecer a disseminação. Tais fases são: fase
patogênica, fase residente, fase latente, fase hipobiótica, fase saprofítica.
126

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

Detecção, identificação e controle de fitobacterioses

Doenças de plantas, em sua maioria, são diagnosticadas pelos


sintomas que provocam, sinais do patógeno presentes no hospedeiro e com o
auxílio de literatura especializada (livros, folhetos, ilustrações e etc.). Porém,
há situações em que os sintomas não são característicos de nenhuma doença
particular ou podem ser associados a mais de uma doença. No caso específico
das bacterioses de plantas, podemos lançar mão de testes rápidos para
identificar se uma doença é causada por fitobactéria, usando o teste de
exsudação. O teste consiste em colocar um pequeno fragmento do tecido
foliar (cortado na região do bordo da lesão observada) em uma gota d'água
sobre lâmina de microscopia e sobre essa uma lamínula, realizando a
observação em microscópio. Observa-se um fluxo exsudando (células
bacterianas) essa indica o envolvimento de um agente etiológico bacteriano.
Caso contrário, é outro organismo fitopatogênico. Outro método bastante
utilizado em fitobacteriologia é o teste do copo, que empregando o mesmo
princípio de exsudação, é de grande auxílio no diganóstico de bactéria
causadora de mucha, como Ralstonia solanacearum, permitindo direfenciar,
assim, murcha causada por outros fitopatógenos (fungos, fitonematoides).

O isolamento por meio do tecido infectado, seguido pela análise do


tipo da colônia, características morfológicas, testes bioquímicos, sorológico,
utilização de bacteriófago e teste moleculares também são ferramentas
empregadas na detecção e na identificação de bactérias de plantas.

Doenças causadas por bactérias fitopatogênicas são de fácil


disseminação e de difícil controle. Além disso, não há bactericida específico
para o controle de bacterioses de plantas tanto em caráter de proteção,
quanto quimioterápico. Assim, a evasão (área ausente da enfermidade) e a
exclusão (mudas e material de propagação sadio) se constituem nas medidas
mais eficientes no controle de fitobactérias. Entretanto alguns fungicidas
protetores, principalmente, à base de cobre e alguns tiocarbamatos, embora
empregados no controle de doenças fúngicas, quando pulverizados sobre a
superfície do filoplano, inibem ou retardam a multiplicação, devido ao efeito
bacteriostático ou bactericida. Apesar de atuarem concomitantemente
contra fungos e bactérias, esses protetores não agem sobre bactérias que
penetram no sistema radicular (podridões moles, murcha). Dentre os
cúpricos, hidróxido de cobre e oxicloreto de cobre têm sido mais eficientes
que cloreto de cobre. Produtos químicos e antibióticos são eficientemente
empregados no tratamento de sementes na erradicação do patógeno.
Antibióticos não são recomendados em condições de campo, devido à
pressão de seleção e serem antieconômicos. A eliminação do patógeno do
ambiente (solo ou órgãos vegetais) também pode ser feita, empregando-se a
solarização, a esterilização de solo, o tratamento térmico com calor seco ou
úmido, a remoção e a queima da planta ou parte do orgão infectado, a
rotação de cultura e o uso de variedades resistentes.
127

Agentes fitopatogênicos

Fungos fitopatogênicos

Os fungos constituem um grupo com inúmeras espécies. São micro-


organismos eucariotas, aclorofilados, unicelulares (leveduras) ou
multicelulares (fungos filamentosos) e que, normalmente, se reproduzem
por esporos. Esses agentes requerem carbono orgânico para a nutrição e, por
isso, são quimioheterotróficos. O glicogênio é o carboidrato de reserva. A
absorção de nutrientes ocorre via parede celular das hifas, as quais
constituem o talo vegetativo da maioria dos fungos.

Os esporos de fungos podem ser originados da reprodução sexuada


com plasmogamia, cariogamia e meiose. Os esporos, provenientes de
reprodução assexuada, resultam de simples divisões mitóticas, que podem
ocorrer nas diferentes fases do ciclo de vida desses agentes. Os esporos
podem também se especializar para a sobrevivência do fungo, como os
macrosporos, clamidósporos e oósporos. Dessa forma, o esporo é um
propágulo especializado, constituindo-se em uma forma de resistência ou em
um elemento de dispersão, capaz de gerar um novo indivíduo, sem
necessidade de fundir-se com outra célula. Os esporos de resistência podem
permanecer viáveis no solo durante anos e, muitas vezes, essa contaminação
pode inviabilizar determinadas culturas.

O grande e diversificado grupo de organismos estudados no reino


Fungi é categorizado nas divisões Myxomycota e Eumycota. A divisão
Myxomycota inclui organismos cujo talo vegetativo é plasmodial ou
amebóide. A divisão Eumycota engloba os fungos ditos como verdadeiros,
cujo talo vegetativo é predominantemente micelial. Essa divisão apresenta
aproximadamente cem mil espécies. A maioria está distribuída em quatro
subdivisões: Mastigomicetos (Oomicetos), Ascomicetos, Basidiomicetos e
fungos Mitospóricos (Deuteromicetos). O QUADRO 3 ilustra alguns exemplos
de fungos fitopatogênicos, as doenças que causam e os principais
hospedeiros.

Os oomycetos têm como principal característica a formação do


micélio contínuo e esporos formados dentro de esporângios. Os ascomicetos
possuem micélio com septos ou divisões e esporos formados dentro de ascas
(ascósporos) protegidas por corpos de frutificação (peritécios, apotécios e
cleistotécios). Os basidiomicetos possuem micélio septado e esporos
formados sobre basídias protegidas ou não por basidiocarpos (como os
cogumelos). Já os fungos mitospóricos produzem esporos ou conídios
diretamente das hifas ou de estruturas diferenciadas como acérvulos,
sinêmios e picnídios.
128

Microbiologia Básica para Ciências Agrárias

QUADRO 3 - Principais fungos fitopatogênicos causadores de doenças em plantas


cultivadas
129

Agentes fitopatogênicos

Referências
AGRIOS, G. N. Plant Pathology. 5. ed. Burlington: Elsevier Academic Press, 2005.

BEDENDO, I. P. Vírus. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. (Eds).
Manual de fitopatologia: princípios e conceitos. 3a ed. São Paulo: Agronômica Ceres,
1995, v. 1, p. 132-160.

BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.; AMORIM, L. Manual de Fitopatologia. Ed. 3. v.1
São Paulo: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. 919 p. 1995.

FERREIRA, L. P.; SALGADO, C. L.Bactérias. In: BERGAMIN FILHO, A.; KIMATI, H.;
AMORIM, L. Manual de fitopatologia: princípios e conceitos. 3a ed. São Paulo.
Agronômica Ceres, 1995. p. 97-130.

FIGUEIRA, A. R. Manejo de doenças viróticas. Curso de pós-graduação “Lato


Sensu” (Especialização a distância), Lavras: UFLA/FAEPE, 2000. 99 p.

JACKSON, A. O.; DIETZGEN, R. G.; GOODIN, M. M.; BRAGG, J. N.; DENG, M. Biology of
plant Rhabdoviruses. Annual review of Phytopathology, v. 43, p. 623-660, 2005.

KIMATI, H.; AMORIM, L.; BERGAMIN FILHO, A.; CAMARGO, L. E. A.; REZENDE, J. A. M.
Manual de Fitopatologia. Ed.3. v. 2, São Paulo: Escola Superior de Agricultura “Luiz
de Queiroz, 1997, 686 p.

LWOFF, A.; TOUNIER, P. Remarks on the classification of viroses. In: Maramorosch &
Kurstak, E. Comparative virology. Academic Press, New York, 1971, 584p.

LWOFF, A.; TOUNIER, P. The classification of viroses. Annual Review of


Microbiology 20:45-74, 1966.

MATTHEWS, R.E.F. Fundamentals of plant virology. San Diego: Academic Press,


1992. 403p.

MIZUBUTI, E. S. G.; MAFFIA, L. A. Introdução a Fitopatologia. Viçosa: Ed. UFV, 190


p. 2007.

ROMEIRO, R. S. Bactérias fitopatogênicas. Viçosa: UFV, 2000, 283p.

SOUZA, R. M. Manejo de doenças bacterianas. Curso de pós-graduação “Lato


Sensu” (Especialização a distância), Lavras: UFLA/FAEPE, 1999. 56p.

View publication stats

Você também pode gostar