QUALIDADE TECNOLÓGICA DE GRÃOS DE CULTIVARES DE AVEIA BRANCA

GRANÍFERA ASSOCIADAS A REDUTOR DE CRESCIMENTO

José Henrique Bizzarri Bazzo¹, Klever Márcio Antunes Arruda2, Carlos Roberto
Riede2, Claudemir Zucareli3

A aveia branca, em virtude das propriedades nutricionais de seus grãos, tem

sido classificada como alimento funcional, ou seja, apresenta em sua composição
elementos considerados benéficos à saúde humana (HARTWIG et al., 2007).
A crescente demanda por grãos e derivados de aveia de qualidade para
alimentação humana tem feito com que os programas de melhoramento genético, no
Sul do Brasil, selecionem genótipos com características superiores de grãos. Estas
cultivares devem reunir atributos físicos, nutricionais e funcionais que atendam às
exigências do mercado consumidor e possibilitem a obtenção de grãos com elevada
qualidade industrial (CRESTANI, 2010).
Sendo assim, o bom desempenho da lavoura será atingido pela elevada
produtividade e qualidade de grãos que, para atenderem às exigências da indústria,
devem ser bem formados, grandes, pesados e uniformes (ALVES; KIST, 2010).
A determinação da qualidade física e tecnológica do grão de aveia, que diz
respeito às características morfológicas que irão influenciar diretamente o
beneficiamento industrial (DE FRANCISCO et al., 2002), vem sendo realizada por
meio de diversos critérios, sendo eles: o peso do hectolitro, a massa de mil grãos, a
proporção de grãos com espessura maior que dois milímetros e o índice de
descasque (BRASIL, 1975). Estes dois últimos parâmetros, juntos com o rendimento
de grãos, definirão o rendimento industrial, também denominado Avenacor (FLOSS
et al., 2002), o qual expressa a porcentagem de produto obtido para a produção de
diversos alimentos a partir de amostras de grãos integrais (CBPA, 2014).
Kolchinski (2001) comenta que, entre outros fatores, a cultivar exerce forte
influência sobre a qualidade industrial de grãos de aveia branca. Oliveira et al.
(2011) relatam a existência de uma ampla variação no comportamento das cultivares
de aveia branca com relação à ocorrência do acamamento de plantas, problema
recorrente nesta cultura. A utilização de redutores de crescimento é uma importante
estratégia para contornar esse problema (ESPINDULA et al., 2009) e favorecer a
obtenção de grãos com melhor qualidade.
Neste sentido, objetivou-se avaliar a qualidade tecnológica de grãos de quatro
cultivares de aveia branca granífera com diferentes características agronômicas e
resposta ao acamamento, associadas ao redutor de crescimento trinexapac-ethyl.
No ano agrícola de 2014, em Mauá da Serra-PR, foram conduzidos dois
experimentos, com e sem aplicação do redutor de crescimento, sob o delineamento
experimental de blocos casualizados em esquema fatorial 4 x 2, com quatro
repetições. Os tratamentos constaram de quatro cultivares de aveia branca (IPR
Afrodite, IPR Artemis, URS Corona e URS Guria) e aplicação ou não do redutor de
crescimento trinexapac-ethyl. No experimento em que as plantas foram submetidas
¹Eng. Agr., Estudante de Doutorado, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR. E-mail:
agro.bazzo@gmail.com
2
Eng. Agr., Dr., Pesquisador, Instituto Agronômico do Paraná, Londrina, PR.
3
Eng. Agr., Professor Dep. de Agronomia, Universidade Estadual de Londrina. Londrina, PR.
à utilização do redutor de crescimento, o trinexapac-ethyl foi aplicado via
pulverização foliar na dose de 125 g i.a ha -1 durante o período de elongação do
colmo, entre o 1° e 2° nó perceptível.
Foi realizada semeadura direta, em área anteriormente ocupada pela cultura
da soja, na densidade de 300 sementes viáveis m-2. As parcelas foram compostas
por seis linhas de cinco metros de comprimento e espaçamento entre linhas de 0,17
m, com área útil de 4,25 m2. Avaliou-se: massa de mil grãos, peso hectolítrico, índice
de grãos maiores que dois milímetros, índice de descasque e rendimento industrial
de grãos. Os dados foram submetidos a análises de normalidade e homogeneidade
dos erros e, posteriormente, a análise de variância. As médias foram comparadas
pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Constatou-se efeito significativo do redutor de crescimento para o peso
hectolítrico e para o rendimento industrial de grãos. O efeito de cultivar foi observado
para todas as variáveis avaliadas. Houve interação significativa entre redutor de
crescimento e cultivar para índice de descasque e rendimento industrial de grãos
(Tabela 1).
Para a massa de mil grãos verificou-se diferença significativa entre as
cultivares, com URS Corona e IPR Afrodite apresentando o maior e o menor valor
para esta característica, respectivamente (Tabela 2).
Como pode ser observado na Tabela 3, o redutor de crescimento reduziu o
peso hectolítrico dos grãos de aveia branca, independente da cultivar. Degraf et al.
(2008) e Souza et al. (2014), avaliando o efeito do trinexapac-ethyl nas culturas do
trigo e aveia branca, respectivamente, encontraram resultados semelhantes.
As cultivares IPR Afrodite e URS Guria apresentaram os maiores valores para
o peso hectolítrico (Tabela 2). Segundo a Portaria n° 191, de 14 de abril de 1975 do
Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento (Brasil, 1975), que
estabelece o regulamento técnico de identidade e qualidade dos grãos de aveia, os
grãos podem ser classificados em quatro grupos (1 a 4), com base no peso
hectolítrico (grupo 1: PH > 50 kg hL-1; grupo 2: PH de 47 a 49 kg hL-1; grupo 3: PH
de 41 a 46 kg hL-1 e; grupo 4: PH < 41 kg hL-1). Os valores obtidos para o peso
hectolítrico neste estudo se enquadram nas classificações de tipo II (IPR Afrodite -
48,51 kg hL-1 e URS Guria - 49,13 kg hL-1) e III (IPR Artemis - 45,21 kg hL-1 e URS
Corona - 46,07 kg hL-1).
Para o índice de grãos maiores que dois milímetros, a cultivar URS Corona foi
superior às demais cultivares, apresentando 96,05% de grãos maiores que dois
milímetros (Tabela 2).
Para o índice de descasque, verificou-se que as cultivares IPR Artemis e URS
Corona foram prejudicadas pela aplicação do redutor de crescimento, pois tiveram a
porcentagem de grãos descascados reduzida, apresentando médias de 70,77% e
64,20% para este caractere, respectivamente. As cultivares IPR Afrodite e URS
Guria não diferiram estatisticamente entre os tratamentos com e sem utilização do
redutor (Tabela 4). Constatou-se que no tratamento sem o trinexapac-ethyl o maior
índice de descasque foi apresentado pela cultivar IPR Artemis. Já, dentre as
cultivares que foram submetidas à aplicação do redutor, a IPR Afrodite e a IPR
Artemis foram superiores em relação às demais, apresentando médias de 70,77% e
70,57% para o índice de descasque (Tabela 4).
Para o rendimento industrial de grãos, as cultivares IPR Afrodite e URS Guria
foram influenciadas positivamente pela utilização do redutor de crescimento (Tabela
4). O menor rendimento industrial de grãos para o tratamento sem aplicação do
redutor foi obtido pela cultivar URS Guria, a qual obteve rendimento médio de
apenas 1130 kg ha-1. Por outro lado, sob a aplicação do redutor, a cultivar IPR
Afrodite se destacou com o maior desempenho para o rendimento industrial de
grãos. As cultivares que se destacaram com os melhores desempenhos para o
rendimento industrial de grãos foram as pertencentes ao tratamento com utilização
do redutor de crescimento e que apresentaram as maiores porcentagens de grãos
descascados (Tabela 4).
O trinexapac-ethyl aumenta o rendimento industrial de grãos e reduz o índice
de descasque das cultivares IPR Afrodite e IPR Artemis, respectivamente. O peso
hectolítrico de todas as cultivares é influenciado negativamente pelo redutor de
crescimento.

Referências:
ALVES, A.C.; KIST, V. Composição da espigueta de aveia branca (Avena Sativa L.). Revista
Brasileira de Agrociência, v.16, n.1-4, p.29-33, 2010.
BRASIL. Ministério da Agricultura. Legislação aplicada à agricultura classificação de
produtos vegetais. Portaria Ministerial n. 191 de 14 de abril de 1975.
CBPA - COMISSÃO BRASILEIRA DE PESQUISA DE AVEIA. Indicações técnicas para
cultura da aveia: XXXIV Reunião Da Comissão Brasileira De Pesquisa De Aveia: Fundação
ABC, 2014. 136 p.
CRESTANI, M.; HAWERROTH, F.J.; NORNBERG, R.; HAGEMANN, T.R.; SILVEIRA,
S.F.S.; MEZZALLIRA, I.; WOYANN, L.G.; CERIOLI, M.; CARVALHO, F.I.F.; OLIVEIRA, A.C.
Influência do ambiente sobre caracteres de interesse agronômico em cultivares de aveia
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DE FRANCISCO, A.; BEBER, R.C.; FULCHER, R.G.; MEDIN, T.; ALVES, A.C. Estudo
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DEGRAF, H.; ZAGONEL, J.; FERNANDES, E.C. Doses de nitrogênio, regulador de
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ESPINDULA, M.C.; ROCHA, V.S.; GROSSI, J.A.S.; SOUZA, M.A.; SOUZA, L.T.;
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HARTWIG, I.; SILVA, J.A.G.; CARVALHO, F.I.F.; OLIVEIRA, A.C.; BERTAN, I.; VALÉRIO,
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SOUZA, C.A.; SPONCHIADO, J.C.; CORREA, C.; MENDES, M.; TORMEM, M.E.;
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cultivares de aveia branca em função de doses de trinexapac-ethyl. In: Reunião da
Comissão Brasileira de Pesquisa de Aveia, 34, 2014, Castro. Resultados Experimentais...
Castro. CD-ROM.
Figura 1. Dados médios por decêndio de temperatura e precipitação pluvial para o
período de condução do experimento, em Mauá da Serra-PR.

Tabela 1. Valores do quadrado médio da análise de variância de quatro cultivares de

aveia em função da aplicação do redutor de crescimento trinexapac-ethyl. Mauá da
Serra, 2014.
MMG PH IG>2mm ID RIG
Fonte de variação
(g) (kg hL-1) (%) (%) (kg ha-1)
Bloco 0,01 1,51 3,39 1,37 6515,04
Redutor (R) 0,05 15,29* 0,29 4,19 415915,32*
Cultivar (C) 0,59* 28,41* 19,87* 126,39* 157387,42*
R*C 0,03 2,94 4,47 6,96* 75804,46*
CV (%) 3,84 3,16 1,30 1,89 16,28
*: Estatisticamente significativo a 5% de probabilidade pelo teste F; CV: coeficiente de variação.
MMG: massa de mil grãos; PH: peso hectolítrico; IG>2mm: índice de grãos maiores que 2 mm; ID:
índice de descasque; RIG: rendimento industrial de grãos.

Tabela 2. Valores médios de massa de mil grãos (MMG), peso hectolítrico (PH) e
índice de grãos maiores que dois mm (IG>2mm) de quatro cultivares de aveia. Mauá
da Serra, 2014.
MMG PH IG>2mm
Cultivar
(g) (kg hL-1) (%)
IPR Afrodite 29,70 c 48,51 a 92,94 b
IPR Artemis 32,97 b 45,21 b 92,54 b
URS Corona 36,12 a 46,07 b 96,05 a
URS Guria 31,46 b 49,13 a 94,13 b
CV (%) 3,84 3,16 1,30
Médias seguidas de mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05).
Tabela 3. Valores médios do peso hectolítrico (PH) de quatro cultivares de aveia, em
função do redutor de crescimento trinexapac-ethyl. Mauá da Serra, 2014.
PH
Tratamento
(kg hL-1)
Sem Redutor de Crescimento 47,92 a
Com Redutor de Crescimento 46,54 b
CV (%) 3,16
Médias seguidas de mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste F (P<0,05).

Tabela 4. Valores médios do índice de descasque (ID) e rendimento industrial de

grãos (RIG) de quatro cultivares de aveia em função do redutor de crescimento
trinexapac-ethyl. Mauá da Serra, 2014.
ID (%) RIG (kg ha-1)
Cultivares Redutor de crescimento
Sem Com Sem Com
IPR Afrodite 69,06 aB 70,57 aA 1.815,69 bA 2.824,17 aA
IPR Artemis 73,19 aA 70,77 bA 1.970,64 aA 2.158,47 aB
URS Corona 66,29 aC 64,20 bB 2.102,07 aA 2.204,35 aAB
URS Guria 63,34 aD 63,44 aB 1.130,38 bB 1.977,77 aB
CV (%) 1,89 16,28
Médias seguidas de mesma letra minúscula na linha e maiúscula na coluna, não diferem entre si pelo
teste de Tukey (P<0,05).