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PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE

INICIAÇÃO CIENTÍFICA DO INPA


RELATÓRIO PARCIAL IC 2021-2022

ISABELE DA FONSECA SILVA

PRODUTIVIDADE DE GRÃOS DE PROGÊNIES DE FEIJÃO-MACUCO EM


LATOSSOLO ARENOSO

ORIENTADOR: CÉSAR AUGUSTO TICONA BENAVENTE

Manaus – Amazonas
2022

PRODUTIVIDADE DE GRÃOS DE PROGÊNIES DE FEIJÃO-MACUCO EM LATOSSOLO


ARENOSO

Apoio Financeiro: Realização:


SUBÁREA: Agronomia

PROCESSO SEI: 01280.000399/2021-25

FINANCIAMENTO: CNPq

Data: 28/01/2022

INTRODUÇÃO

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O uso de pesticidas sintéticos na agricultura tem sido muito questionado pelos seus efeitos
adversos sobre os alimentos e o ambiente. Desta forma, tem surgido a chamada agricultura orgânica.
Mas esta não consegue ser competitiva no mercado porque há falta de insumos e preço elevado. Ao
mesmo tempo, a agricultura tradicional não tem muitas alternativas orgânicas para manter a sua
elevada produtividade. Pesticidas orgânicos como os fungicidas ou inseticidas são escassos com
baixa quantidade e eficiência. Por esta razão, se necessitam desenvolver mais pesticidas
biodegradáveis ou biopesticidas.
Uma alternativa para a produção de biopesticidas são as sementes do feijão-macuco
(Pachyrhizus spp). Esta planta é uma espécie Amazônica da família Fabaceae que tem sido utilizada
como alimento por causa de suas raízes tuberosas (Heider et al. 2011). Seu hábito de crescimento é
trepador atingindo até 3 m. O seu ciclo vegetativo pode durar até um ano. Entretanto, as suas
sementes têm sido utilizadas pelos indígenas para a pesca elevados teores de rotenona de até 0,5% da
semente seca (Bejar et al. 2000). Substância tóxica também presente nas raízes do timbó (Derris
spp.). Este último foi muito utilizado como pesticida agrícola nos anos de 1930 a 1950. Sendo
exportado desde a Amazônia brasileira desde 1939 (Costa et al, 1999).
Estudos posteriores demonstraram a toxicidade destas sementes sobre diferentes seres vivos.
Foi observado efeito piscicida e inseticida (Alécio 2007; Costa et al. 2010; Andrade et al. 2015),
fungicida (Barrera-Necha et al. 2004; Lima et al. 2021), bactericida (Martins e Ticona-Benavente
2017) e acaricida (Machado 2012). Sobre os humanos se tem observado que pelo menos 40 sementes
imaturas cozidas consumidas oralmente podem levar a precisar atendimento emergencial, e 80
poderiam levar a coma e 100 a morte (Fu e Wang, 2012; Narongchai et al. 2005; Yu et al. 2020 ).
Estes fatos indicam que estas sementes poderiam ser a matéria prima para desenvolver biopesticidas.
O programa de melhoramento de feijão-macuco do Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia avaliou 64 genótipos quanto a toxicidade utilizando formigas Pheidole sp. e o fungo
Sclerotium rolfsii in vitro (Martins e Ticona-Benavente 2017 e Lima et al. 2021). Desta forma foram
selecionados alguns genótipos com potencial inseticida e fungicida.
Avaliações preliminares de produtividade de grãos mostraram baixo rendimento (~500 kg ha -
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). Isto pode ser explicado porque os experimentos não foram conduzidos com tutoramento visto que
a altura da planta varia de dois a três metros. Portanto, se faz necessário avaliar novamente este
material adotando o tutoramento. Portanto, o objetivo deste trabalho foi determinar a produtividade
de grãos das progênies selecionadas conduzindo-as com tutoramento em Latossolo arenoso.

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MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na Estação Experimental Dr. Alejo Von Der Pahlen do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), no Km 14 da rodovia AM-010, no município de
Manaus-AM. A região é caracterizada pelo clima tropical Af seguindo a classificação de Köppen-
Geiger (Peel et al. 2007). O solo é classificado como Latossolo com textura arenosa e pH 4,8 (Anexo
A).
O material utilizado foram nove genótipos de Pachyrhizus spp. Eles foram selecionados por
sua elevada toxicidade contra Sclerotium rolfsii (P1, P5, P14, P15, P20, P23, P46, P61, P64) (Lima
et al. 2020).
Foram feitas mudas semeando as sementes em copos de 300 ml (12/04/2021) e depois de 30
dias foram transplantadas em campo seguindo o delineamento de blocos completamente casualizados
com nove tratamentos, quatro repetições e quatro plantas por parcela. Cada parcela esteve disposta
em fileira dupla no espaçamento de 1 x 1 m (Figura 1). Depois do transplante as plantas foram
conduzidas usando estacas de 2,50 m (Figura 2).

Figura 1. Croqui do experimento com feijão-macuco tutorado para avaliação de produtividade de sementes. Manaus
2021.

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Figura 2. Plantio de feijão-macuco (Pachyrhizus spp.).
Fonte: Ticona-Benavente 2021.

Antes do transplante a área foi arada com trator pesado e depois destorroado com microtrator.
Depois foi realizada a adubação com SFT e KCl cada um na dose de 40 kg/ha. Também foi realizada
a calagem no mesmo momento na dose de 2 t ha-1.
As características avaliadas a nível de parcelas foram: massa total (vagens com sementes),
comprimento, largura e massa das vagens, massa das vagens sem sementes, massa das sementes e
massa de 100 sementes. Foram realizadas três colheitas de vagens secas. Elas aconteceram em
05/10/2021, 20/10/2021 e 10/11/2021.
Os dados foram analisados pela análise da variância (ANOVA) e realizados os testes de
comparação de médias de Duncan (P<0.05) utilizando o procedimento PROC GLM do SAS (SAS
Institute Inc. Cary, NC).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As espécies Pachyrhizus spp. poderiam ser utilizadas para a produção de biopesticidas. Elas
apresentam sementes tóxicas com teor de rotenona de até 0,5% (Bejar et al. 2000). Neste trabalho foi
avaliado o potencial produtivo de sementes de nove genótipos conduzidos com tutoramento.
Os resultados mostraram que não houve diferença estatística para o estande, produtividade de
vagens e de sementes (Tabela 1). O que indica que todas as progênies tem o mesmo potencial

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produtivo. A produtividade de vagens variou de 1,47 (P5) a 2,21 t/ha (P23). A produtividade de
sementes variou de 0,56 (P5) a 0,98 t/ha (P23). Na avaliação sem tutoramento em 2019 com as
mesmas progenies, Mendoça et al. (2020) observou que a produtividade de vagens variou de 0,29
(P20) a 0,86 t/ha (P64) e a produtividade de sementes de 0,13 t/ha (P20) a 0,35 t/ha (P1). Ou seja, em
média a produtividade de vagens e sementes aumentou 200%. Considerando a progênie P23 se
observou que produziu sem tutoramento 0,16 t/ha e com tutoramento 0,98 t/ha. Balbin et al. 2005 e
Melo e Bueno 2000 recomendaram o tutoramento para aumentar a produtividade de sementes, mas
não quantificaram o ganho. Neste trabalho o ganho de produtividade de sementes variou de 200 a
500%. Em consequência, o tutoramento desta espécie deve ser realizada para aumentar a
produtividade de sementes.

Tabela 1. Análise de variância na produção de vagens de feijão-macuco em Latossolo arenoso, no


Amazonas, 2021.
  Quadrado médio    
Fonte de Progênie Coeficiente de
Bloco (GL=3) Erro (GL=24) Média
variação (GL=8) variação (%)
Estande 0,550 ns 0,17 ns 0,28 14,21 3,7
Massa de 100
5,100* 7,6 ** 1,12 5,00 21,2
sementes (g)
Produtividade
de vagens (t 0,700 ns 0,3 ns 0,31 32,20 1,74
ha-1)
Produtividade
de sementes (t 0,110 ns 0,1 ns 0,1 35,42 0,8
ha-1)
Comprimento
de vagens 0,150 ns 0,5 ** 0,11 3,10 10,9
(cm)
Largura de
0,001 ns 0,01 ** 0,002 2,90 1,4
vagens (cm)
**, *, ns. Significativo a P<0,01, a P<0,05 e não significativo respectivamente pelo teste F.
GL: Graus de Liberdade
Houve diferença significativa entre progênies para três características (Tabela 1). Estas
foram: massa de 100 sementes, comprimento e largura das vagens. Isto indica que há variabilidade
genética para estas características, podendo se realizar seleção. A massa de 100 sementes variou de
18,99 (P46) a 23,2 g (P5) (Tabela 2). Zanklan et al. (2007) obtiveram de 22,5 a 37 g na massa de 100
sementes produzidas em solos arenosos de barro vermelho. Estes resultados indicam que as sementes
utilizadas neste trabalho são menores que o encontrado por Zanzlan et al (2007).
O comprimento das vagens variou de 10,07 (P64) a 11,3 cm (P23) (Tabela 2). Trabalhos
realizados por Mendonça et al. (2020) com as mesmas progênies sem tutoramento obtiveram de 7,93

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a 10,24 cm. reduzindo em 21% o comprimento. A largura das vagens variou de 1,32 (P64) a 1,46 cm
(P5 e P23).
Tabela 2. Médias de características de vagens e sementes de progênies de feijão-macuco produzido
em Latossolo arenoso, no Amazonas, 2021.
Progênie P1 P5 P14 P15 P20 P23 P46 P61 P64
Estande 3,5 3,5 4 3,75 4 3,75 3,5 3,75 3,5
21,7 ab 23,2 a 19,63 20,93 20,90 22,2 ab 18,99 d 22,64 20,52 bcd
Massa 100 sementes (g)
cd bc bc a
Produtividade de vagem (t h-1) 1,88 1,47 1,84 1,50 1,98 2,21 1,49 1,69 1,57
Produtividade de sementes (t h-1) 0,80 0,56 0,83 0,66 0,86 0,98 0,61 0,74 0,69
11,15 a 10,9 a 11,11 a 10,7 a 10,9 a 11,3 a 10,8 a 10,91 10,07 b
Comprimento de vagens (cm)
a
1,41 1,46 a 1,37 1,40 1,35 cd 1,46 a 1,40 1,43 1,32 d
Largura de vagens (cm)
abc bcd abc abc ab
Letras diferentes indicam diferença significativa das médias pelo teste de Duncan (P<0,05)

Em conclusão, as progênies avaliadas tem produtividade de 0.66 a 0,98 t/ha quando tutoradas. Isto
equivale a um aumento de 200 a 500% quando comparado ao método de condução sem tutoramento.

REFERÊNCIAS

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Cerotoma arcuatus Olivier (Coleoptera: Chrysomelidae). Acta Amazônica, 40:719-728.
Andrade, J.N.; Costa Neto, E.M.; Brandão, H. 2015. Using ichthyotoxic plants as bioinsecticide: A
literature review. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, 17:649-656.
Balbin, I.O.; Delgado Vásquez, O.; Sorensen, M.; Kvist, L.P.; Mejía Carhuanca, K. 2005. El
cultivo de chuin: una alternativa para la seguridad alimentaria y recuperación de suelos
degradados en la Amazonía peruana. 1ra ed. Instituto de Investigaciones de la Amazonía Peruana,
2005, 42p.
Barrera-Necha L.L.; Bautista-Banos, S.; Bravo-Luna, L.; García-Suárez, F.J.; Alavez-Solano,
D.; Reyes-Chilpa, R. 2004. Antifungal activity of seed powders, extracts, and secondary metabolites
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Phytopathology, 22: 356–361.
Costa, J.P.C. et al. 1997. Efeitos de espécies de timbó (Derris spp.: Fabaceae) em populações de
Musca domestica L. Anais da Sociedade Entomológica Brasileira, 26: 163-168.

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Heider, B.; Tumwegamire, S.; Tukamuhabwa, P.; Ndirigwe, J.; Bouwe, G.; Bararyenya, A.
et al. 2011. Nutritional improvement of yam bean and sustainability of farming systems in Central
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Lima, R.G.; Ticona-Benavente, C.A.; Silva Filho, D.F.; Sousa, L.S.; Guimarães, R.G.V.;
Hanada, R.E. 2021. Pachyrhizus spp. seed extracts control the Sclerotium rolfsii Sacc. mycelial
growth. Journal of Medicinal Plants Research, 15: 289-296.
Martins, A.K.B.; Ticona-Benavente, C.A. 2017. Uso de extratos de jacatupé (Pachyrhizus
spp.) no controle de Pheidole sp. e Ralstonia solanacearum. Anais do VII congresso de iniciação
cientifica do INPA, CONIC. ISSN 2178-9665
Machado, A.F. 2012 Atividade biológica de timbó (Lonchocarpus floribundus) sobre
carrapato bovino. Dissertação (Mestrado) - Universidade do Estado Amazonas - Programa de Pós-
Graduação em Biotecnologia e Recursos Naturais da Amazônia, Manaus: Universidade do Estado do
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Melo, Z.L.; Bueno, C.R. 2000. Desenvolvimento de feijão-macuco em área de várzea.
Horticultura Brasileira, 18: 9-15. Doi: 10.1590/S0102-05362000000100003.
Mendonça, N.P.S.; Silva-Filho, D.F.; Ticona-Benavente, C.A. 2017. Produtividade de grãos
de feijão-macuco de genótipos com elevada toxidez. Anais do XIX Congresso de Iniciação Cientifica
do INPA, CONIC. ISSN 2178-9665.
Peel, M.C.; Finlayson, B.L.; McMahon, T.A. 2007. Updated world map of the Köppen-
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10.5194/hess-11-1633-2007.
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(Pachyrhizus spp. Fabaceae) based on morphoagronomic traits in the Brazilian Amazon. Acta
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Silva, E.S. 2019. Interação genótipo x ambiente de componentes agronômicos e físico-
químicos de feijão-macuco (Pachyrhizus spp.) em terra firme e várzea na região metropolitana de
Manaus-AM. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Amazonas, Manaus, Amazonas. 93p.

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Zanklan, A. S.; Ahouangonou, S.; Becker, H. C.; Pawelzik, E.; Grueneberg, W. J. 2007.
Evaluation of the storage root-forming legume yam bean (Pachyrhizus spp.) under west African
conditions. Crop Science, 47: 1934-1946.

ANEXO A

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