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FORMAÇÃO NOVICIADO DIA 27 DE MAIO 2023

Os primeiros Carmelitas chegaram a ter uma devoção de muita


intimidade com Maria, a Mãe de Jesus. Era como a relação que todos nós temos
em casa com a mãe e as irmãs. Eles chamavam Maria de Mãe e de Irmã. Uma
ilustração bonita disso são estas três imagens de Nossa Senhora do Carmo. A
imagem em cima, chamada La Bruna, é a mais antiga de todas as imagens de
Nossa Senhora do Carmo. É do século XIII e é conservada na Igreja dos
Carmelitas em Nápoles, Itália. Nela o menino Jesus encosta seu rosto no rosto
da mãe e lhe faz cócegas. Agarrado na mãe, ele olha para nós e com um olhar de
ternura ele nos convida para ter a mesma intimidade com ela. Nesta imagem
ainda não aparece o escapulário. A outra imagem embaixo é uma reprodução
muito bonita da La Bruna, feita no século passado pelas monjas Carmelitas de
um mosteiro na Itália. Aqui o menino Jesus, nos convida com o mesmo olhar de
ternura e, além disso, nos oferece o escapulário que se torna, assim, um sinal de
ternura e de carinho. O resultado desta intimidade crescente está expresso na
imagem do meio, conservada no teto da Igreja do Carmo em Salvador, Bahia.
Com a mão esquerda Maria entrega o escapulário a Simão stock, mas ela olha
para O lado direito e permite que um frade Carmelita receba o menino Jesus nos
seus braços. A imagem sugere que, no dom do escapulário, Maria nos entrega o
próprio menino Jesus, para que possamos ter com ele e com ela a mesma
intimidade de filhos e filhas, de irmãos e de irmãs.

As Constituições da Ordem do Carmo assim resumem o exemplo de


Maria para nós Carmelitas: Maria, envolvida pela sombra do Espírito de Deus, é
a Virgem do coração novo que dá um rosto humano à Palavra que se faz carne. E
a Virgem da escuta sapiente e contemplativa, que conserva e medita no seu
coração os acontecimentos e a palavra do Senhor. E a discipula fiel da sabedoria,
que busca Jesus – Sabedoria de Deus – e pelo seu Espírito se deixa educar e
plasmar para assimilar na fé o estilo e as opções de vida. Assim educada, Maria
é capaz de ler as "grandes coisas" que Deus realizou nela para a salvação dos
humildes e dos pobres.
Maria, sendo também a Mãe do Senhor, torna-se a discípula perfeita
dele, a mulher de fé. Segue Jesus, caminhando juntamente com os discípulos, e
com eles compartilha o penoso e comprometedor caminho que exige acima de
tudo o amor fraterno e o serviço mútuo. Nas bodas de Caná ensina-nos a
acreditar em seu Filho; aos pés da Cruz torna-se a Mãe de todos os crentes e
com eles experimenta a alegria da ressurreição. Une-se com os outros discípulos
em «oração contínua» e recebe as primícias do Espírito, que enche a primeira
comunidade cristã de zelo apostólico. Maria é portadora da boa nova da
salvação para todos os homens. É a mulher que cria relações de comunhão, não
só com os círculos mais restritos dos discípulos de Jesus, mas também com o
povo: com Isabel, os esposos de Caná, as outras mulheres e os "irmãos" de
Jesus.

Na Virgem Maria, Mãe de Deus e modelo da Igreja, os Carmelitas


encontram tudo aquilo que desejam e esperam ser. Por isto, Maria foi sempre
considerada a Padroeira da Ordem, da qual é também chamada Mãe e
Esplendor, e tida sempre pelos Carmelitas, diante dos olhos e no coração, como
a "Virgem Puríssima". Olhando para ela e vivendo em familiaridade de vida
espiritual com ela, aprendemos a estar diante de Deus e juntos como irmãos do
Senhor. Maria, de fato, vive no meio de nós como mãe e como irmã, atenta às
nossas necessidades, e junto a nós atende e espera, sofre e se alegra.
(Constituições nº27)

A Bíblia fala muito pouco da Mãe de Jesus. Só sete livros a mencionam:


Gálatas (Gl 4,4), Marcos (Mc 3,20-21.31-35), Lucas (Lc 1 e 2; 11,17), Atos (At
1,13), Mateus (Mt 1 e 2), João (Jo 2,1-13; 19.25-26) e Apocalipse (Apc 12,1-17).
Ela mesma fala menos ainda, pois cinco destes sete livros só falam sobre Maria.
Ela mesma não fala. Maria só fala em dois livros: Lucas e João. E mesmo estes
dois conservam apenas sete palavras de Maria.

1ª PALAVRA: "Como pode ser se não conheço homem?" (Lc 1,34)

2ª PALAVRA: "Eis aqui a serva do Senhor!" (Lc 1,38)

3ª PALAVRA: "Minha alma louva o Senhor!" (Lc 1,46)


4ª PALAVRA: "Meu filho porque fez isso conosco?" (Lc 2,48)

5ª PALAVRA: "Eles não têm mais vinho!" (Jo 2,3)

6ª PALAVRA: "Fazei tudo o que ele vos disser!" (Jo 2,5)

7ª PALAVRA: O silêncio ao pé da Cruz, mais eloquente que mil


palavras! (Jo 19,25-27)

A Mãe de Jesus aparece nos evangelhos como mulher silenciosa. Apenas


sete palavras! A prática do silêncio capacitava Maria para meditar e escutar a
Palavra de Deus nos fatos da vida. Cada uma daquelas sete palavras nos faz
saber como Maria fazia para escutar os apelos de Deus, mesmo lá onde não
havia palavras, mas apenas o silêncio de uma situação humana pedindo socorro.

Vamos percorrer os textos bíblicos sobre Maria para saber como ela
viveu e praticou a oração, a fraternidade e a missão profética. Seguiremos a
mesma ordem, em que os textos se encontram nos livros da Bíblia: Mateus,
Marcos, Lucas, João, Atos, Gálatas e Apocalipse. Encontramos neles os
seguintes itens que vamos destacar e analisar mais de perto e que podem servir
como critério para avaliar nossa vida hoje:

1. As companheiras de Maria na genealogia de Jesus; Os critérios de


Deus são diferentes dos nossos critérios – Mt 1,1-17

2. José, sendo justo, acolhe Maria em sua casa; Buscai primeiro o Reino
de Deus e a sua justiça – Mt 1,18-25

3. Os magos do Oriente encontraram o menino e sua mãe; O olhar de fé


gerou neles a conversão e os fez enxergar – Mt 2,1-12

4. A fuga para o Egito e a matança das crianças em Belém; A fraqueza


dos pobres vencerá o poder cruel dos grandes – Mt 2,13-23

5. Maria e os parentes buscam Jesus em Cafarnaum; Abrir a família


para a vida em comunidade – Mc 3,31-35

6. Esse homem não é o carpinteiro, o filho de Maria? Profetas não são


bem aceitos entre os seus – Mc 6,1-6
2. Mateus 1,18-25

JOSÉ, SENDO JUSTO, ACOLHE MARIA EM SUA CASA


BUSCAI PRIMEIRO O REINO DE DEUS E A SUA JUSTIÇA

Um segundo ponto é a informação de que prometida em casamento a


José e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo.
Diz ainda que José era justo. A justiça de José não era como a justiça dos
escribas e fariseus, mas já era a justiça da qual Jesus dirá: "Se a justiça de vocês
não for maior que a justiça dos escribas e fariseus, vocês não entrarão no Reino
do céu" (Mt 5,20). Se José tivesse sido justo conforme a justiça dos escribas e
fariseus, ele deveria ter denunciado Maria e ela teria sido apedrejada. Jesus não
teria nascido. Mas José já vivia o ideal definido por Jesus: "Buscai, primeiro, o
Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será acrescentado" (Mt 6,33).
Por ser justo e buscar a verdadeira justiça do Reino, José não denunciou Maria.
Avisado em sonho pelo anjo de Deus, "José, ao despertar do sono, agiu
conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher. Mas
não a conheceu até o dia em que ela deu à luz um filho. E ele o chamou com o
nome de Jesus". Assim, Jesus pôde nascer e realizar a profecia de Isaías que
dizia: "A virgem conceberá e dará à luz um filho que será chamado pelo nome de
Emanuel, que quer dizer Deus conosco". Sim, devemos muito a São José. Maria
estava

24. João 19,25-27


MARIA EM SILÊNCIO AO PÉ DA CRUZ
O DISCIPULO AMADO RECEBE A MAE DE JESUS EM SUA CASA

Um vigésimo quarto ponto é a atitude de Maria ao pé d Cruz, em


silêncio total, silêncio mais eloquente que mil palavra Jesus viu sua mãe e, ao
lado dela, o discipulo que ele amava Então disse à mãe: "Mulher, eis aí o seu
filho. Depois disse ao discipulo: "Eis aí a sua mãe". E dessa hora em diante, o
discipulo a recebeu em sua casa. No evangelho de João, a mãe de Jesus
representa o Antigo Testamento, o povo de Deus que vinha caminhando desde
os tempos de Abraão. O discípulo amado representa o Novo Testamento, a nova
comunidade que nasceu e cresceu ao redor de Jesus. A pedido de Jesus, o Filho
recebe a Mãe em sua casa. O Novo Testamento recebe o Antigo Testamento. Por
isso, até hoje, temos o Antigo Testamento na nossa Bíblia. Antigo e Novo, os
dois devem caminhar juntos. E como fé e vida: fazem uma unidade. O Novo não
se entende sem o Antigo. Seria um prédio sem fundamento, uma pessoa sem
memória. E o Antigo sem o Novo ficaria incompleto. Seria uma árvore sem
fruto. Dizendo: "Mulher eis ai teu filho!" e "Filho, eis aí tua mãe!", Jesus realizou
a transição do Antigo para o Novo. Cumpriu a sua missão e podia morrer: "Tudo
está realizado!" E inclinando a cabeça, entregou o espírito (cf Jo 19,30).

O LIVRO DOS ATOS traz uma única informação sobre a Mãe de Jesus:
ela está junto com os apóstolos, aguardando a vinda do Espírito Santo. Aquilo
que dissemos a respeito do Evangelho de Lucas vale também para os Atos.

27. Apocalipse 12,1-17

A MULHER VITORIOSA COM A LUA DEBAIXO DOS PÉS


MARIA, IMAGEM DOS QUE LUTAM EM DEFESA DA VIDA

Um vigésimo sétimo ponto é a grande visão do Apocalipse, na qual


aparece uma mulher em dores de parto, pronta para dar à luz. Diante dela está
um dragão imenso que quer devorar o filho logo que nascer. A mulher
representa Maria, símbolo da humanidade que luta para fazer nascer a vida
contra o dragão da maldade e da morte que quer destruí-la. Apareceu no céu um
grande sinal: uma Mulher vestida com o sol, tendo a lua debaixo dos pés, e
sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas. Estava grávida e gritava, entre as
dores do parto atormentada para dar à luz. Apareceu, então, outro sinal no céu:
um grande Dragão, cor de fogo. Tinha sete cabeças e dez chifres. Sobre as
cabeças sete diademas. Com a cauda ele varria a terça parte das estrelas do céu,
jogando-as sobre a terra. O Dragão colocou-se diante da Mulher que estava para
dar à luz, pronto para lhe devorar o Filho, logo que ele nascesse. Nasceu o Filho
da Mulher. Era menino homem. Nasceu para governar todas as nações com
cetro de ferro. Mas o Filho foi levado para junto de Deus e de seu trono. A
Mulher fugiu para o deserto. Deus lhe tinha preparado aí um lugar onde fosse
alimentada por mil, duzentos e sessenta días. A vida, apesar de frágil, vence o
poder da morte com a ajuda de Deus. A visão da Mulher e do Dragão oferece um
resumo da história da humanidade, desde a criação até a época da redação do
Apocalipse, quando as comunidades estavam sendo perseguidas pela política do
império romano. No momento da Criação, Deus tinha pronunciado a sentença
contra a serpente e anunciado a vitória da descendência da Mulher (Gn 3,15),
símbolo da humanidade que luta em defesa da vida, símbolo de Maria, a mãe de
Jesus. Esta vitória acabou de realizar-se pelo nascimento, vida, morte e
ressurreição de Jesus. Encarando a história desta maneira, o povo das
comunidades perseguidas pelo império romano encontrava força e coragem
para continuar na resistência e na luta em defesa da vida, sem desanimar.

Até aqui as informações do Novo Testamento sobre a Mãe de Jesus.


Posteriormente, nos séculos seguintes, quando o povo começou a perceber
melhor a importância de Maria, foi crescendo a devoção à Mãe de Jesus, e a
tradição da Igreja foi completando as informações que faltavam. Nenhum outro
santo ou santa é tão conhecido, venerado e amado como Maria, a Mãe de Jesus.
Aqui poderiamos dizer o que João disse a respeito de Jesus: "Jesus fez ainda
muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que não caberiam
no mundo os livros que seriam escritos" (João 21,25). Nem caberiam no mundo
os livros que relatam os nomes, as festas, as devoções, as práticas, as
homenagens que a Mãe de Jesus recebe do povo cristão até hoje. É sinal da
nossa enorme gratidão por ser ela a mãe de Jesus que nos revelou o amor de
Deus.

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