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PARTE II - TÉCNICAS DE CRIAÇÃO

CAPÍTULO 10 - INSTALAÇÃO DO MELIPONÁRIO

10.3 - flora meliponícola

Dá-se o nome de flora meliponícola ao conjunto de espécies vegetais visitadas por abelhas da
subfamília Meliponinae. Podemos definir que existem plantas que são muito, pouco ou eventualmente
visitadas por meliponíneos, sendo algumas de caráter específico, ou seja, atraem exclusivamente estas
abelhas, dependendo delas para sua multiplicação e perpetuação (através da polinização). Para se ter uma
idéia desta especificidade, em um estudo sobre plantas visitadas por abelhas na mata atlântica, verificou-se
que 33% - cerca de 1/3 - das plantas identificadas, foram visitadas exclusivamente por espécies de abelhas
sem ferrão. Em outra pesquisa, agora na floresta amazônica, em apenas 16% das plantas estudadas não
foram coletadas abelhas sem ferrão. Grande parte destas espécies vegetais são nativas, fato que dispensa
comentários sobre a importância de sua preservação para a conservação dos ecossistemas existentes.

Ao escolher o local para a implantação do seu meliponário, o criador deve atentar diretamente
para a ocorrência de uma flora adequada que comporte o número de colônias que ele pretenda criar ao
longo do tempo, já antevendo a expansão de seu negócio. Veremos, a seguir, uma tabela contemplando a
relação das principais espécies vegetais de comprovada atratividade para meliponíneos, reunindo
informações de inúmeras publicações atuais sobre o tema:

Nome científico Nome vulgar Época de floração Principais abelhas visitantes


Agave sisalana Sisal
Anadenanthera colubrina Angico branco, Cupira (Partamona helleri);
Dezembro a Abril
[foto 40] cambuí angico Frieseomelitta doerderleini
Amor
Antigonus leptopus Ano inteiro
agarradinho
Irapuá (Trigona spinipes); Mirim
Archontophoenix preguiça (Friesella schrotkyi); Mirim
cunninghamiana Palmeira emerina (Plebeia emerina); Mirim sem
[foto 40] brilho (Paratrigona subnuda); Mirim
droriana (Plebeia droryana)
Baccharis anomala Scaptotrigonas
Vassourinha,
Baccharis dracunculifolia Dezembro a Mirim droriana; Manduri (Melipona
alecrim do
[foto 41] Fevereiro marginata)
campo
Bixa orellana Urucum Abril e Maio
Borreria verticilata Vassourinha, Irapuá; Mirim droriana; Mirim sem
Fevereiro e Agosto
[foto 41] cordão de frade brilho
Beloperone guttata
Camarão Jataí (Tetragonisca angustula)
[foto 42]
Mirim sem brilho; Tubuna
(Scaptotrigona bipunctata); Guiruçu
Guaçatonga,
Casearia sylvestris (Schwarziana quadripunctata); Cupira
pau de lagarto, Junho e Agosto
[foto 43] do sudeste; Manduri; Mirim droriana;
chá de bugre
Irapuá; Uruçu (Melipona scutellaris);
Guaraipo (Melipona bicolor)
Cnidoscolus phyllacanthus
Favela
[foto 43]
Cosmos,
Cosmos bipnatus
Estrela, Ano inteiro Irapuá; Borá (Tetragona clavipes)
[foto 44]
Voadeira

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Croton floribundus Capixingui, Outubro a Tubuna; Irapuá; Mirim sem brilho;
[foto 45] velame Dezembro Manduri
Velame da
Croton mucronifolius serra; velame
de cheiro
Tubuna; Uruçu amarela (Melipona
Cupania oblongifolia Caboatã, pau
Junho e Julho rufiventris); Manduri; Guaraipo;
[foto 45] magro
Mandaçaia; Guiruçu
Davilla rugosa Cipó cabloco
Dendropanax cuneatum Maria mole Junho e Julho Muitas Trigonini
Dombéia ;
Dombeya australis Inverno Muitas Trigonini
astrapéia
Violeteira, Irapuá; Xupé (Trigona hyalinata); Mirim
Duranta repens Primavera e Verão
duranta droriana
Depende da
Eucaliptus sp Eucalipto
variedade
Setembro e
Eugenia pitanga Pitangueira
Outubro
Coroa de cristo;
Euphorbia milli Jataí; Irapuá; Mirim emerina; Mirim sem
coroa de Ano inteiro
[foto 46] brilho
espinho
Palmito doce;
Euterpe edulis Março a Junho
içara; juçara
Grevillea banksii Grevília; grevília
Quase o ano inteiro
[foto 46] anã
Beijo de frade,
Impatiens balsamina Irapuá; Mirim droriana; Mirim emerina;
bálsamo de
[foto 47] Mirim sem brilho
jardim
Ligustrum ovalifolium
Ligustro japonês Manduri, Mirins, Tubuna, Jandaira
[foto 47]
Machaerium nictitans Guaximbé, Mirim sem brilho; Cupira do sudeste;
Fevereiro a Maio
[foto 48] jacarandá ferro Uruçu amarela; Tubuna
Betônia brava,
Marsypianthes chamaedrys alfavaca de Geotrigona mombuca; Irapuá;
[foto 48] cheiro, hortelã Frieseomelitta francoi
de cheiro
Camboatã;
Outubro e
Matayba elaeagnoides camboatã Scaptotrigonas
Novembro
branco
Mimosa caesalpinifolia Sabiá
Dormideira, Mandaçaia (Melipona quadrifasciata);
Mimosa pudica sensitiva, Iraí (Nannotrigona testaceicornis);
mimosa Cupira do sudeste; Irapuá
Musa sapientum Banana da terra
Mirim guaçu (Plebeia remota); Cupira
Myrcia rostrata Guamirim da Novembro e do sudeste; Tubuna; Guiruçu; Mirim
[foto 49] folha fina Dezembro droriana; Manduri; Irapuá; Uruçu
amarela; Mirim sem brilho
Myrcia tomentosa Goiaba brava
Ocimum sellowii Alfavaca
Canela guaicá; Outubro e
Ocotea puberula guaicá Novembro

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Angico de
Piptadenia moniliformis
bezerro
Pipthocarpa rotundifolia Candeia Janeiro a Março
Rhododendron indicum
Azalea Inverno Jataí; Irapuá; Mirim sem brilho; Iraí
[foto 49]
Pau de leite, Outubro a Tubuna; Mirim sem brilho; Mirim guaçu;
Sapium glandulatum
leiteiro Fevereiro Jataí
Tubuna; Mirim droriana; Guaraipo;
Tapassuaré,
Sclerobium denudatum Outubro e Uruçu amarela; Manduri; Irapuá; Mirim
passuaré,
[foto 50] Novembro guaçu; Mandaçaia; Mombucão
arapaçu
(Chepalotrigona capitata)
Manduirana,
pau fava,
Senna macranthera Dezembro a Abril Irapuá
mamangá,
fedegoso
Tabebuia impetiginosa
Ipê roxo Maio e Agosto Cupira; Frieseomelitta doerderleini
[foto 50]
Cravo de
Tagetes minuta defunto, cravo Iraí; Cupira do sudeste; Irapuá
do mato; coari
Vernonia sp. Assa peixe Junho a Julho Muitas Meliponini; Jataí, Irapuá
Ziziphus joazeiro Juazeiro Dezembro e janeiro
Fontes consultadas:
www.ib.usp.br/beeplant ; www.cepen.com.br ; www.eymbaacuay.hpg.com.br www.esam.br ;
www.casaecia.arq.br ; umbuzeiro.cnip.org.br ; Velthuis et al. (1997)

flora meliponícola (fotos)

foto 40 – angico branco (a) ; palmeira (b) foto 41 – alecrim (c) ; vassourinha (d) foto 42 - camarão

foto 45 – velame (g) ; coboatã (h)


foto 43 – guaçatonga (e) ; favela (f)

foto 44 - cosmos

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foto 46 – coroa de cristo (i) ; grevília (j) foto 47 – beijo de frade (l) ; ligustro (m) foto 48 – guaximbé (n) ; betônia (o)

foto 49 – guamirim (p) ; azalea (q) foto 50 – tapassuaré ; ipê roxo

No que diz respeito à distância que estas fontes de alimento devem estar das caixas, temos que
recorrer ao conceito do "raio de coleta" das abelhas. A expressão "raio de coleta" significa a distância média
que uma espécie de abelha é capaz de sobrevoar ao redor de uma área. Estes valores variam bastante de
espécie para espécie, porém, apesar de dados escassos acerca do assunto, alguns autores relataram estas
distâncias médias em observações de algumas espécies de meliponíneos. Acompanhe alguns destes
valores:

Espécie Raio de coleta Observadores


Jataí 500 e 900 metros Nogueira Neto / Luciana Piva
Canudo 680 e 750 metros Nogueira Neto / Warwick Kerr e colaboradores
Mandaçaia 2.000 e 2.500 metros Nogueira Neto / Warwick Kerr
Uruçu 1.500 metros Nogueira Neto
Mombucão 1.500 metros David Roubik
Irapuá 840 metros Warwick Kerr
Mirim droriana 640 metros Warwick Kerr
Tiúba 2.470 metros Warwick Kerr
Jandaíra 3.000 metros Humberto Bruening

Em posse dos dados acima, mais o recenseamento das espécies vegetais que compõem a
paisagem natural do local escolhido, o criador pode ter uma bom parâmetro para decidir sobre a viabilidade
de se instalar um meliponário com vistas aos recursos florais. Por último, vale ressaltar que, por maior que
seja a relação de espécies vegetais já pesquisadas, esta jamais estará por inteira completa, pelo fato da
complexidade dos inúmeros ecossistemas que nosso País possui. Até hoje já foram listadas cerca de 300
espécies vegetais visitadas por abelhas sem ferrão nos inúmeros trabalhos publicados (ler autores como
Barth, Absy, Camargo, Imperatriz-Fonseca e Kerr). Ou seja, só pelo fato de não haver no local as plantas
descritas acima, em hipótese alguma poderá se afirmar que não são suficientes os recursos florais para as
abelhas, servindo o estudo como um importante guia, mas fazendo-se necessária algumas observações
individuais do próprio criador.

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PARTE II – TÉCNICAS DE CRIAÇÃO
CAPÍTULO 11 – MANEJO DA CRIAÇÃO

Nas atividades do dia a dia de um meliponário, o criador deve ter em mente que na lida com
colônias de abelhas em ferrão, o que prevalece é o espírito inventivo e capacidade de improvisar. É
diferente da apicultura tradicional, onde os equipamentos e os procedimentos já estão praticamente todos
padronizados, ou seja, já existe uma cartilha básica a ser seguida por quem se lança na atividade comercial
de abelhas melíferas.

Em relação à meliponicultura, ainda há muito por pesquisar e descobrir. A cada ano são idealizadas,
por exemplo, inovações nos modelos de caixas racionais já existentes, descoberta de novos instrumentos
de coleta de mel, novidades em acessórios como alimentadores artificiais, entre outros aperfeiçoamentos e
descobertas. Vejamos, a seguir, procedimentos comuns no manejo de um meliponário.

11.1 – disposição das caixas


Ao dispor as colônias em seu meliponário, o criador
deve sempre considerar dois aspectos: a distância entre as
caixas racionais, e a orientação das mesmas em relação aos
pontos cardeais (norte, sul, leste e oeste). A distância mínima
entre caixas irá variar de acordo com as espécies envolvidas
na criação [foto 51]. Tal variação está diretamente
relacionada à zona de segurança das famílias, ou seja, ao
espaço dentro do qual as abelhas se sentem invadidas e
incomodadas com a presença de outro animal. Creio que o
problema de invasão de território está mais propenso a ocorrer
quando a distância envolve espécies diferentes. Já observei foto 51 - exemplo de espaçamentos entre caixas
em uma árvore a existência de sete colônias de Iraí
(Nannotrigona testaceicornis) vivendo harmoniosamente. "A natureza é sábia" e tal fato não ocorreria se
as famílias travassem batalhas constantes.

Os meliponicultores mexicanos utilizam espaço de 5cm horizontalmente entre caixas e 15cm na


vertical (altura), em meliponários com mais de 500 famílias de Scaptotrigona mexicana. Em outros casos, os
mesmos utilizam até 15cm na horizontal, sem diferença na altura das caixas, ou ainda, encostadas umas às
outras, porém em fileiras de altura diferenciada e distanciadas em 1 metro (entre fileiras). Eu já criei Jataí
(Tetragonisca angustula) no Rio de Janeiro, com espaçamento de 10 a 15 cm e, naquela ocasião, não
presenciei qualquer conflito mais sério. Em contrapartida, aqui em Minas Gerais, tive de separar duas
colônias da mesma espécie por uns 3 metros em razão de conflitos freqüentes. Nas duas ocasiões,
observei que as Jataís molestavam a entrada das caixas de Mirim (Plebeia emerina) e tive que separá-las
por mais de 10 metros. Observe abaixo alguns exemplos de meliponários brasileiros e suas diferentes
formas de dispor as caixas de abelhas [foto 52]:

foto 52 - Meliponários (em ordem): Sr.Ezequiel Macedo - Serido(RN) ;


Sr.Roberto Menezes - Mossoró(RN) ; Sr.Francisco Chagas - meliponário paulista(PE)

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A partir do que foi exposto acima, podemos concluir
que a distância mínima entre enxames irá variar de caso
para caso. No entanto, de acordo com observações minhas
e de outros autores, podemos citar algumas distâncias já
testadas com sucesso, como referência para os
meliponicultores: Jataí - 10 a 15cm; Jandaíra (Melipona
subnitida) - 10 a 20cm; Uruçu (Melipona scutellaris) - 20 a
30cm [foto 53]; Mandaçaia (Melipona quadrifasciata) - 40 a
foto 53 - espaçamento entre caixas de uruçu (M. scutellaris) 50cm; Mirins (Plebeia sp., Friesella, Paratrigona - 5 a 10cm.
Importante: estes valores se referem a distância mínima
entre mesma espécie. A distância entre espécies diferentes, em geral, deve ser maior, tomando especial
cuidado com espécies reconhecidamente agressivas como Borá (Tetragona clavipes), Arapuá (Trigona
spinipes) e Canudo (Scaptotrigona postica). Sem falar da Iratim (Lestrimelitta limao), abelhas unicamente
pilhadoras que devem ser evitadas ao redor do meliponário.

11.2 – atividades de rotina


As atividades do dia a dia do criador englobam processos vitais para quem quer criar abelhas sem
ferrão, explorando-as racionalmente e tirando o máximo de proveito das famílias sem, contudo, desrespeitar
as suas condições de vida. O objetivo primordial destas tarefas rotineiras, é manter o criador a par de tudo o
que ocorre em seu meliponário, de forma a manter suas colônias "sadias", e permitir interferir a favor das
abelhas em situações emergenciais.

Umas das atividades mais importantes está nas revisões internas do ninho, tarefa em que o criador
tem acesso à área dos favos de cria, observando de perto as condições internas da colônia. A freqüência
destas revisões não deve ser muito numerosa, em razão do estresse que esta atividade inevitavelmente traz
às abelhas. Mesmo quando é feita por profissionais, as revisões de ninho não devem exceder em duas por
mês, porém o ideal seriam espaços de um mês entre as referidas atividades. Exceção à regra se faz
quando estamos lidando com transtornos dentro da família. Neste caso, é necessário acompanhar de perto
o dia a dia das caixas afetadas, na intenção de constatar os prejuízos e averiguar os resultados da
intervenção do criador.

Antes de tudo, porém, vem a observação constante dos aspectos externos das caixas. Um bom
meliponicultor não deixa passar em branco o que ocorre ao redor de suas colônias. Assim, é importante
observar, por exemplo, as condições das caixas com relação ao seu desgaste natural e possíveis estragos,
ou a ocorrência de conflitos entre as próprias abelhas ou com outros inimigos e predadores.

Controlando a movimentação das abelhas na entrada das caixas, podemos estabelecer um


parâmetro de como está a atividade da família, e também identificar alguns eventos de suma importância na
vida da colônia. É o caso do processo de enxameação, ou ainda, da presença de rainha virgem prestes a
realizar seu vôo nupcial. Em ambas situações, é desencadeado um enorme alvoroço de abelhas à frente da
entrada e ao redor da caixa em questão.

Afora os eventuais alvoroços, a freqüência normal de abelhas que entram ou saem das caixas varia
muito de espécie para espécie, além se sofrer interferência direta das condições do tempo, especialmente
em relação à temperatura do ar, umidade relativa e velocidade do vento. Porém, quando verificamos em
dias quentes, de pouca nebulosidade e ventos brandos, que o movimento de abelhas está devagar, é muito
possível que a colônia esteja enfrentando problemas. Nestes casos, é necessário revisar imediatamente o
ninho para identificar a causa do enfraquecimento.

A seguir, estão enumerados alguns procedimentos que o


criador precisa observar em suas revisões periódicas internas, bem
como ele deve agir na presença de situações anormais:

1º) revisão dos favos de cria - os favos são as estruturas mais


importantes de uma colônia, uma vez que deles nascem e
desenvolvem-se os futuros membros da sociedade. Ao analisar a
condição dos favos, o criador deve atentar se os mesmos estão
perfeitos e bem desenvolvidos [foto 54].
foto 54 - favos de Plebeia sp.

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Para esta tarefa, deve-se utilizar uma espátula ou mesmo uma chave de fenda de ponta fina, para
remover cuidadosamente a massa de invólucro que algumas espécies constróem em torno da área de cria.
Diversas vezes, não se faz necessário nem aconselhável danificar por inteiro esta estrutura, bastando
somente conferir os discos de favos mais superiores, não esquecendo de rearrumar ao final da observação,
a camada de invólucro revolvida.

Quando, nas observações, detecta-se que os favos estão escassos e irregulares, ou ainda há falta
destes, é possível estar lidando com a orfandade de uma colônia, situação que implicará na futura extinção
da família, caso não se aja com rapidez. O procedimento para tentar sanar esta condição, faz-se através da
transferência de alguns (3 a 4) discos de favos de uma ou mais outras colônias sadias da mesma espécie.
O ideal são os favos superiores e com estágio mais avançado de idade, caracterizados por serem de cor
mais clara e com fundo escuro (deposição de fezes da larva). Tal atitude visa possibilitar o nascimento de
uma nova rainha a partir destes favos para suprir a falta ou a deficiência da rainha na colônia órfã. Contudo,
não há nada que garanta o sucesso desta providência. A caixa doadora dos favos deve estar muito bem
desenvolvida, pois na falta de colônias doadoras bem sadias, é melhor perder uma caixa afetada a
enfraquecer as em normal funcionamento.

Em espécies da tribo Trigonini, o processo é mais complicado. Estas abelhas só produzem novas
rainhas mediante a construção de realeiras. Teoricamente, em nada adianta suprir a colônia órfã com favos
normais de outras caixas, sem que neles esteja presente estes favos maiores, a não ser em casos
raríssimos, no qual uma larva fêmea perfura a parede de sua célula e penetra em outra, consumindo os dois
alimentos larvais disponíveis. Nestes casos excepcionais, em razão da grande quantidade de alimento
consumido, a larva pode vir a transformar-se em uma nova rainha. Lembre-se que na tribo Trigonini, o
nascimento de rainhas está correlacionado apenas ao fator trófico (alimentação). Aconselho não esperar por
esta incrível coincidência para salvar suas colônias.

2º) revisão dos potes de alimento - estas estruturas


respondem pelo estoque de todo material comestível que a
colônia se utilizará ao longo do ano, sendo desnecessário
ressaltar a importância de tê-los sempre numerosos e cheios
de mel e pólen [foto 55]. São exatamente estes dois pontos a
ser analisados pelo criador nas revisões internas de suas
caixas. Em casos onde o número de potes é pequeno ou os
mesmos se apresentam vazios, a família está a enfrentar um
período de "fome" ficando impedida de crescer normalmente e
susceptível à incidência de pragas e doenças.
foto 55 - caixa com boa quantidade de potes em Jataí
Na natureza, quando uma família percebe que o local
não abriga condições para seu desenvolvimento, habitualmente parte para a procura de um novo local de
nidificação (dá-se ao referido processo o nome de enxameação, destacado no subcapítulo 7.2). Em todos
as situações de comprovada escassez de alimento, o criador deve entrar de imediato com reforço próprio
disponibilizado artificialmente como será abordado à frente.

3º) raspagem de batume e cerume - algumas famílias podem eventualmente utilizar estes materiais de
construção demasiadamente e, por vezes, é aconselhável a retirada do excesso destas substâncias no
sentido de fornecer maior espaço interno para o desenvolvimento da colônia. Mais uma vez reforço a idéia
de que "a natureza é sábia", sendo assim, as abelhas não construiriam tais elementos equivocadamente.
Portanto a tarefa não chega a ser de vital importância para a criação, constituindo apenas um estímulo ao
crescimento das colônias.

A retirada do cerume pode ser feita com uma espátula


ou chave de fenda de ponta fina, enquanto que na raspagem do
batume, faz-se necessário utilizar ferramentas mais robustas,
como o formão de apicultor ou o de pedreiro [figura 21]. O
material retirado pode ser colocado em caixas-isca vazias como
atrativo às abelhas batedoras que estão hora a procurar um
novo local de nidificação.
fig. 21 - ferramentas para raspagem do batume

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11.3 - alimentação artificial
Conforme antes mencionado, a técnica de alimentar artificialmente as colônias decorre basicamente
da necessidade de suprir eventuais situações onde a vegetação local não é capaz, por si só, de manter as
famílias nutridas e se desenvolvendo. Semelhante como na criação de Apis mellifera, esta é uma técnica
que deve estar pautada na ética do criador, pois se utilizada de maneira indiscriminada, poderá resultar na
adulteração e conseqüente falsificação do mel armazenado. Trata-se de um reforço emergencial para
períodos de pequena disponibilidade de recursos florais, totalmente desaconselhado em fases de florada
expressiva. O que determina a utilização da técnica, é o conhecimento pelo meliponicultor do seu
"calendário meliponícola" (baseado nas espécies vegetais da flora local; veja subcapítulo 10.3), aliado às
anotações decorrentes das revisões internas da caixa.

Em casos excepcionais, o criador terá que lançar mão intensamente desta alimentação, como na
recuperação de pragas e doenças, reforçando colônias recém divididas ou estimulando famílias capturadas
a aceitarem a nova moradia. Assim como nos modelos de caixas racionais,
existem diversos tipos de alimentadores artificiais, que podem ser
classificados em internos, externos e coletivos. Como exemplo, citarei abaixo
alguns modelos para cada classe de alimentadores:

1º) alimentadores internos – caracterizam-se por serem colocados dentro da


caixa racional. São constituídos por
um recipiente contendo o xarope
fornecido, tampados com chumaço
de algodão para evitar morte por
afogamento de abelhas. Como
fig 22 - alimentadores internos exemplos, apresento o uso do tubo
de ensaio com algodão e o
pedaço de mangueira cortado
com chumaços nas duas pontas
[figura 22] e a utilização de potes
foto 56 - alimentador interno colocado em caixa
de plástico abertos com algodão modelo PNN em Uruçu (Melipona scutellaris)
embebido [foto 56].

No geral, os alimentadores internos são disponibilizados nas áreas


onde estão os potes de alimento, no caso dos modelo de caixa UFRRJ, na
melgueira. Podemos ainda fornecer alimentação interna nos próprios potes
de alimento que por ora estejam vazios, ou então confeccionar potes
artificiais utilizando para tal a cera de Apis mellifera [foto 57]. Neste último
caso, o processo se dá moldando pequenas cubas de cera mergulhando
foto 57 - potes pré-moldados de 4 a 5 vezes qualquer estrutura de ponta arredondada, umedecida (ex.:
com cera de Apis mellifera bastão de madeira), em cera derretida. É importante que os potes
artificiais sigam um tamanho próximo aos potes naturais da espécies em
questão, sob pena dos mesmos serem rejeitados e destruídos pelas abelhas.

2º) alimentadores externos - são mantidos fora do espaço interno da caixa,


porém acoplado em sua estrutura. Embora bem menos utilizados, estão
ganhando rápido espaço entre os criadores e pesquisadores, por serem
práticos, com maior volume de armazenagem e menos incômodos às
abelhas. O modelo apresentado aqui é conhecido como "alimentador de
entrada" e serve para qualquer espécies de meliponíneo [foto 58].

Em sua elaboração, o criador poderá ganhar tempo utilizando um


modelo para Apis mellifera vendido nas lojas de artigos apícolas, retirando
sua parte frontal e promovendo um furo na face posterior, em medidas
semelhantes ao orifício de entrada das abelhas.

Por último, o aparafusamos na caixa com o cuidado de coincidir os


dois orifícios e servimos a alimentação em potes de maionese invertidos e foto 58 – alimentador de entrada
com tampa perfurada (de 3 a 5 pequenos furos). para meliponineos

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Desta forma, as abelhas passam a utilizar o
alimentador como entrada e saída da colônia [foto 59]. São
indicados para todas espécies de porte médio a grande,
devendo ser evitado ou muito bem dimensionado para as
menores. Outro tipo de alimentador externo, o tipo APIME
[foto 60], possui a mesma lógica também sendo utilizado um
pote de vidro para armazenar o xarope, porém a fonte está
ligada à colônia por meio de tubos de pvc e conexões. Este
modelo foi desenvolvido pela Assoc. dos Apicultores e
Meliponicultores de Pernambuco (APIME).

3º) alimentadores coletivos -


são estruturas onde
foto 59 - as abelhas moldam o tubo de
entrada por dentro do alimentador
disponibilizamos o alimento em
locais comuns à diversas
colônias de abelhas simultaneamente. Podem se constituir de uma simples
bandeja protegida das intempéries ao ar livre, ou de qualquer outro recipiente
que abrigue o xarope, tomando-se cuidados para contornar mortes por
afogamento [foto 61]. Uma boa
alternativa é a utilização de caixas
vazias contendo potes de
maionese em seu interior, tal como
utilizado no alimentador de entrada.
Assim, os vidros com xarope
precisam ser pendurados ou ficar foto 60 – alimentador
apoiados de cabeça para baixo (externo) APIME
para escoamento progressivo do conteúdo. Alguns
meliponicultores os utilizam quando possuem muitas caixas,
visando aumentar a operacionalidade do meliponário, embora tal
método possa causar intensa pilhagem de outras espécies
naturais, principalmente, de Apis mellifera. O ideal é condicionar
suas abelhas a determinados horários rígidos, de preferência pela
manhã e ao entardecer.
foto 61 - mandaçaias (Melipona quadrifasciata)
mortas por afogamento A formulação do alimento oferecido também não possui
qualquer padrão a ser seguido, ficando a critério do criador a
escolha dos ingredientes. Porém podemos dividir as alimentações em dois tipos:

1º) alimentação energética - tem função de manutenção da colônia e fornecimento de açúcares essenciais,
não influindo por si só no desenvolvimento da prole, em razão da carência de elementos essenciais como
as proteínas e seus aminoácidos. A fórmula mais comum, embora bem pobre, é a da calda de água +
açúcar cristal em proporções que variam entre 30/70%. Outra boa fonte de energia são as caldas de
fabricas de doce em compotas, muito bem aceitas pelas abelhas. Todavia, a melhor opção, sem dúvida, é o
fornecimento de mel de Apis mellifera em substituição total (100%) ou parcial (70 a 80%) ao açúcar das
misturas, uma vez que o mel é capaz de fornecer, além de açúcares simples (glicose e frutose), níveis de
vitaminas e minerais. Este tipo de alimentação é fornecida em períodos de escassez de flores, para colônias
já desenvolvidas visando não deixar enfraquece-las. Não devemos deixar as abelhas se utilizarem das
floradas expressivas para se recuperar o desenvolvimento da colônia, e sim, chegar a este período
favorável já em boas condições para armazenar o máximo possível em pólen e, principalmente, em mel.
Veja o exemplo de alimentação energética sugerida pelo pesquisador Davi Said Aidar para preparo de 1
litro da mistura - 1 parte de açúcar cristal + 1 parte de água fervida + 1 cápsula de Teragran-M ® (vitaminas
e sais minerais) + 1 pitada de sal (NaCl). Deve ser armazenado em geladeira, porém fornecido às abelhas
em temperatura ambiente.

2º) alimentação protéica - serve para o criador que pretenda estimular suas colônias a aumentar seu
contingente de abelhas, devendo ser inserido algum produto capaz de fornecer proteína na dieta
disponibilizada. O ingrediente mais utilizado é o pólen, seja de meliponíneos ou de Apis mellifera, que deve
ser misturado com mel ou qualquer calda energética procurando a formação de uma pasta a mais
homogênea possível. Cuidados devem ser tomados para que a referida pasta não entupa os furos do
alimentador de entrada. Caso esta esteja muito densa (sólida), é preferível fornecer em potes abertos ou
mesmo em tampas dentro das caixas, pois as abelhas podem transitar por sobre a mistura, não havendo
risco de afogamento. Este tipo de alimentação é destinado a colônias muito fracas, no contorno de

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situações de orfandade avançada, ou ainda nas alimentações maciças de meliponários que pretendam
produzir colônias através de múltiplas divisões forçadas, comum nos centros de pesquisa.

Outra opção se dá pelo fornecimento direto de pólen de Apis mellifera "in natura" ou moído,
diretamente nos potes de cerume vazios ou em potes artificiais, tomando o cuidado de não os encher
demasiadamente o que dificulta o aproveitamento pelas abelhas do pólen fornecido. Ocupando cerca de 1/3
da capacidade do pote, tem se demonstrado que o pólen é 100% aproveitado, pois as abelhas em 24h já
umedecem com suas secreções salivares todo o material dando início aos essenciais processos de
fermentação, próprios de cada espécies de meliponíneo.

Seja qual for a opção escolhida, cuidados redobrados com a proteção das famílias devem ser
tomados contra a incidência de pragas e inimigos. Caixas velhas, empenadas, possuem diversos pontos
fracos (frestas) para a invasão de animais a procura de alimento, tais como formigas doceiras ou carnívoras,
abelhas pilhadoras, baratas, moscas, etc. Já vi formigas doceiras, do gênero Camponotus, exterminar em
uma semana duas colônias de Jataí (Tetragonisca angustula) mantidas em caixas velhas.

No encerramento das atividades, caixas defeituosas devem, sempre que possível, ser fechadas e
lacradas com fita adesiva na tentativa de minimizar os riscos de ataques de predadores naturais, sobretudo
após a colocação de alimentadores artificiais, responsáveis pela atração destes inimigos. Nestas ocasiões,
na falta de fita adesiva, o criador pode mesmo improvisar a vedação das frestas com barro.

11.4 – infestação de forídeos


Falamos anteriormnte que predadores e pragas são obstáculos que todo criador deverá enfrentar
em um meliponário, procurando sempre se prevenir com cuidados básicos desde a escolha do local às
atividades de rotina. Alguns inimigos, como abelhas pilhadoras e mesmo algumas formigas doceiras,
embora possam até exterminar uma família quando em ataque fulminante, freqüentemente são
neutralizados pelas próprias colônias, sem mesmo precisar da intervenção do criador.

Contudo, existe um tipo de predador que foge totalmente a esta regra natural, sendo considerados
pela maioria dos pesquisadores e criadores como o pior inimigo das abelhas sem ferrão: os forídeos, que
merecem destaque, tendo em vista a voracidade de suas larvas, que podem exterminar uma família em
pouco tempo de infestação.

Os forídeos são mosquinhas brancas que utilizam o pólen dos meliponíneos como substrato para o
desenvolvimento de seus inúmeros ovos. Estes insetos, pertencentes à ordem dos Dípteros, podem ser
encontrados parasitando ninhos de meliponíneos, principalmente os do gênero Pseudohypocera. Quando
adulto, são mosquinhas ágeis inofensivas que ficam dando
pequenos saltos dentro dos ninhos das abelhas, e por poucas
vezes voando. Entretanto, é na idade de larva que este inseto
demonstra todo seu poderio destruidor, devorando principalmente
potes de pólen, mas também atuando na área dos favos de cria
do ninho, podendo eliminar uma colônia em dias, dependendo da
intensidade da infestação.

Para se prevenir do ataque destes insetos, o


meliponicultor, deve evitar o máximo danificar potes de mel e
pólen [foto 62], seja no ato de uma transferência entre caixas,
captura ou nas revisões periódicas na colônia. Estes potes não foto 62 - potes de pólen rompidos
devem ficar com o conteúdo demasiadamente exposto, muito
menos extravasado no interior da caixa, condição esta que exerce forte atração aos forídeos e outros
inimigos, aumentando a possibilidade de uma infestação. Este detalhe será comentado no próximo capítulo,
que tratará da captura e transferência de colônias.

Uma vez infestada por forídeos, [foto 63] e [foto 64] algumas colônias conseguem por seu próprio
esforço e luta a eliminação natural destes inimigos, o que ocorre principalmente em colônias fortes de
algumas espécies mais agressivas. Porém, na maioria das vezes, a colônia vem a perder a batalha com
estes insistentes inimigos e morrem após alguns dias de intenso parasitismo. O meliponicultor não pode
esperar pela sorte de suas abelhas, e deve lançar mão de alguns procedimentos para retirar das colônias os
invasores, tais como:

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1º) raspar com espátula ou chave de fenda as larvas e adultos que transitam
pela caixa;
2º) limpar com panos ou guardanapos o conteúdo de mel e pólen
extravasados dos potes;
3º) retirar os potes de mel e pólen danificados e rompidos; e
4º) utilizar a armadilha idealizada pela Dra. Vera
Imperatriz Fonseca da USP [foto 65]

A referida armadilha se constitui de um


frasco contendo vinagre em seu interior, com
um orifício na tampa pela qual entrarão os
insetos adultos atraídos pelo conteúdo [figura
23]. O furo para a entrada pode ser bem
pequeno, pois os forídeos são menores que as
espécies de abelhas sem ferrão. O sucesso na foto 65 - armadilhas contra forídeos
eliminação desta praga não depende exclusivamente desta ótima armadilha,
fazendo-se necessária a conjugação de todos os demais procedimentos
citados. Alguns criadores mais radicais, defendem a inutilização completa dos
fig. 23 - armadilha para forídeos
materiais contidos na colônia infectada, transferindo a família para uma nova
caixa para começar tudo do zero.

foto 63 - destruição de ninho de borá (Tetragona clavipes) foto 64 - no detalhe, o tamanho algumas operárias de borá
causada por infestação de forídeos (Tetragona clavipes) rodeadas por inúmeras larvas de forídeos

Curso: Criação Racional de Abelhas sem Ferrão / Módulo III - Mario César Milward de Luna - Página 11 de 13
PARTE II – TÉCNICAS DE CRIAÇÃO
CAPÍTULO 12 – POVOAMENTO & AMPLIAÇÃO (1ª parte)

Existem inúmeros meliponicultores espalhados pelo Brasil interessados em vender colônias já em


plena produção, de forma a agregar lucros aos já obtidos com a venda do mel e, por conseguinte, aumentar
sua renda final. O negócio é lucrativo, haja vista os preços praticados hoje neste tipo de comércio. Uma
colônia de Mandaçaia pode alcançar valor de até R$200,00, enquanto espécies nordestinas, como a Tiúba,
chegam a custar em torno de R$250,00 a unidade.

Porém, não devemos nos assustar com tais preços extremos, pois, pesquisando, o criador pode
encontrar valores bem mais "honestos" (meu ponto de vista), principalmente daqueles que estão
interessados em se desfazer ou reduzir a quantidade de colônias. Comprar colônias de centros de pesquisa
é uma ótima alternativa, em razão da qualidade genética comprovada e apurada através de programas de
seleção.

Dois importantes cuidados devemos tomar ao adquirir colônias de outros criadores. O primeiro diz
respeito à fiscalização dos órgãos de defesa do meio ambiente, com destaque para o Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis - IBAMA, que em alguns raros casos já tem demonstrado se
opor ao comércio destas abelhas, por se tratar de animais da fauna nativa (ver lei n.º 9.605, de 12 de
fevereiro de 1998). Em alguns Estados, como na Bahia, parece que o referido órgão já está exigindo a
confecção de um projeto dos institutos de pesquisa para regulamentar a situação.

O outro cuidado, este de efeito já comprovado e demonstrado, é a comercialização de colônias para


regiões nas quais estas espécies não existem na fauna nativa. É o caso de comercializar Uruçu nordestina
para Minas Gerais. Primeiro porque dificilmente as mesmas se adaptarão e, segundo, em razão dos
impactos gerados pela introdução de espécies não nativas. Até hoje, a introdução de Apis mellifera no
continente americano causa impacto na questão da competição alimentar com nossas abelhas nativas.

Adquirir colônias mediante a compra, apesar de ser o meio mais imediato de se completar a
implementação de um meliponário, não pode ser encarado como maneira exclusiva, visto os altos
investimentos iniciais para se juntar, por exemplo, um grupo de 50 colônias de Mandaçaia (algo em torno de
R$10.000,00). Meliponicultor que se preze, e pretenda fazer da criação de meliponíneos uma atividade
lucrativa, deve buscar determinados caminhos para a obtenção de colônias sem maiores custos adicionais,
na intenção de multiplicar o seu número de caixas. A seguir serão abordadas técnicas que, embora
despendam mais trabalho, constituem meios bem econômicos de se adquirir famílias de abelhas sem
ferrão.

12.1 - Captura de colônias


Analisando o que fora descrito no subcapítulo 7.2, sobre a enxameação nas espécies de abelhas
sem ferrão, podemos concluir que capturar colônias por meio da atração em caixas-isca é um processo com
pequena probabilidade de sucesso, embora não impossível. Em se tratando se meliponíneos, a captura
"direta" deve ser encarada como regra para se alcançar
resultados satisfatórios em termos de quantidade de colônias
adquiridas. Quando falo em "captura direta", refiro-me ao fato
do criador ter de ir ao encontro dos ninhos e captura-los
pessoal e manualmente exatamente em seu local natural.

Apenas uma ressalva: desaconselha-se


radicalmente a captura de colônias em áreas de preservação
ambiental (APA) ou preservação permanente (Reserva
Ecológica, Parque Nacional, Santuário Ecológico, etc.), ou
quando, em qualquer local, o processo de captura depender
inevitavelmente da derrubada de árvores. A captura é
recomendada sem restrições em locais nos quais as famílias
estão sujeitas ao extermínio, como, por exemplo, obras em foto 66 - abertura de tronco para captura de ninho
cujo planejamento esteja prevista a destruição de um local
onde se encontre um ninho. A técnica da captura será narrada a seguir em partes:
Curso: Criação Racional de Abelhas sem Ferrão / Módulo III - Mario César Milward de Luna - Página 12 de 13
1º) após localizar a entrada da colônia, devemos retirar com cuidado o
material (pedra, tijolo, madeira, solo, etc.) que esconde as abelhas até
obter o contato direto com a área do ninho [foto 66]. É necessário
tempo e paciência, sob pena de condenar a colônia à morte, situação
esta comum entre os principiantes;

2º) transferir para a caixa o conjunto de favos de cria protegido pelo


invólucro, tomando o devido cuidado para não amassar os favos e nem
coloca-los de cabeça para baixo. Não sendo possível transferir todos os
discos de favos de maneira compacta, ao empilha-los na nova caixa,
devemos sempre preservar o "espaço abelha" que as operárias edificam
naturalmente entre os discos através da construção de pilares [foto 67].
Para tal, podemos fazer bolinhas com o próprio cerume do invólucro, ou
mesmo com cera de Apis mellifera, para servir como pilastras de
sustentação destes discos sobrepostos.

É necessária toda a atenção neste momento, pois a rainha


certamente estará caminhando por entre os favos [foto 68]. Em caso de
queda da rainha, deve-se sempre
evitar toca-la com as mãos, o que
foto 67 - "o espaço abelha"
em Trigona dallatorreana
poderia levar as operárias a não
aceita-la novamente no ninho.
Nestes casos, uma folha por exemplo pode ser usada para recoloca-la
sobre os favos.

3º) proceder a transferência dos potes de alimento que


estiverem fechados ou intactos, guardando os potes rompidos ou
danificados para retornarem vazios no futuro. Como já exposto no
capítulo anterior, potes abertos, com o alimento exposto, atraem foto 68 - rainha de Jataí sobre favos de cria
formigas, outras abelhas, moscas, forídeos e outros inimigos;

4º) ao término das atividade, as caixas deverão ser obrigatoriamente fechadas e lacradas com fita
adesiva, podendo-se usar até barro na falta deste material. Vedar bem as caixas tem relevância devido ao
fato das caixas, velhas ou novas, dificilmente possuírem acomodação perfeita entre suas partes, expondo
frestas que permitem a penetração de inimigos;

5º) espere o anoitecer para fechar a entrada


da caixa e conduzi-la definitivamente ao meliponário,
permitindo desta forma o retorno das abelhas, que
por hora estavam coletando alimento e materiais no
campo (forrageando). Podemos utilizar uma gaze, ou
qualquer outro material que permita a troca de ar,
para vedarmos o orifício de entrada sem deixar a
família sufocada.

Os mesmos procedimentos deverão ser


tomados, quando se tratar da transferência de uma
caixa antiga [foto 69] para uma nova caixa racional.
foto 69 - colônia de Jataí em caixa rústica A única diferença está na tarefa de localizar o ninho
que, nesta tarefa, é bem simplificado.

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