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Abelhas sem ferrão, também chamadas de indígenas, constituem um grupo de abelhas que
apresentam como característica marcante o fato de possuírem o ferrão (órgão
de defesa) atrofiado, reunindo inúmeras espécies, que ocorrem diversamente
de região para região. Atualmente são conhecidas cerca de 400 espécies,
distribuídas em aproximadamente 40 gêneros, sendo que mais de 70% destas
espécies ocorrem na América do Sul, Central, do Norte e Ilhas do Caribe.
Quando animais maiores, como o homem, são considerados como elemento invasor, enroscam-se
em nossos cabelos e pêlos, beliscam com suas mandíbulas afiadas e ainda penetram nos ouvidos e
narinas, deixando o inimigo sob estado desconfortável, as vezes insuportável. Existe uma espécie
vulgarmente conhecida como "caga-fogo" (Oxytrigona tataira) que lança mão de um artifício bastante
doloroso. Quando em situação de ataque, ocorre liberação de substância cáustica a partir de suas
glândulas mandibulares, resultando em graves queimaduras quando em contato com a pele humana.
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A Superfamília Apoidea já separa as abelhas de outros insetos, muitos também sociais, como as
vespas (Vespoidea) e as formigas (Formicoidea). A grande característica dos Apoidea é basear sua
alimentação na coleta de néctar (fonte de energia) e pólen (fonte de proteína), embora ocorram algumas
exceções. Possui exatamente onze famílias: Melittidae, Colletidae, Halictidae, Oxaeidae, Andrenidae,
Megachilidae, Stenotritidae, Ctenoplectridae, Fidellidae, Anthophoridae e Apidae (pronuncia-se "Ápide").
Dentro desta última família, as abelhas caracterizam-se pela presença de uma estrutura especializada para
o transporte de pólen, a corbícula (mais detalhes no capítulo 3). Reúne
espécies desde hábitos sociais primitivos até os mais avançados. É
dividida em quatro subfamílias [figura 1]:
Aquele que está tendo sua primeira experiência foto 6 - Jataí coletando pólen em flor de laranjeira
com termos utilizados em pesquisas, deve observar que
sempre acompanhado do nome comum, também conhecido como nome vulgar, está normalmente entre
parênteses expresso o seu nome científico. O nome científico, sempre em itálico, não difere em relação a
qualquer parte do mundo, sendo universal, e representa respectivamente o gênero e a espécie nos quais
determinada abelha foi enquadrada quando da sua descoberta e catalogação no mundo científico.
Por outro lado, quando se trata do nome comum de uma abelha, este geralmente varia de região
para região, ou até mesmo dentro de uma mesma região. Por exemplo, muitas pessoas se referem a
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abelhas sem ferrão de pequeno porte como Jati, Jataí, ou Mosquito, etc.,
enquanto no norte e nordeste, chamam de uruçu diversas espécies maiores de
Melipona. Alguns nomes comuns são quase únicos para diversas regiões do
país, como "abelha-cachorro" para Trigona spinipes, outros são citados até em
músicas como "lambe-olhos", "torce-cabelos", "feiticeira", "vamo-embora", e
alguns possuem nomes bastante sugestivos como "caga-fogo" e "pau-de-velho"
[foto 7].
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PARTE I - BIOLOGIA DAS ABELHAS
CAPÍTULO 2 – POR QUÊ CRIÁ-LAS ?
Algumas abelhas da tribo Trigonini, devido ao seu reduzido tamanho e conseqüente menor
produção de mel, ainda são encaradas como criações para simples lazer, como é o caso da Jataí, Mirins e
Canudo. Porém algumas espécies, com destaque para a Jataí, cada vez mais estão se tornando
promissoras em razão da pureza e paladar de seu mel, que por vezes alcança valores até 15 vezes superior
ao mel das Apis mellifera.
Outra opção interessante de incrementar os lucros se faz pela comercialização dos enxames para
os interessados em iniciar ou aumentar uma criação. Uma colônia de Jataí (Tetragonisca angustula) tem
sido comercializada por valores que variam de R$ 30,00 a R$ 50,00, enquanto espécies maiores, como a
Mandaçaia (Melipona quadrifasciata), são negociadas por até R$ 100,00 a R$200,00, chegando ao extremo
de valer R$350,00, como já verifiquei em colônias de Tiúba (Melipona compressipes) no nordeste. É muito
importante ter em mente que, por se tratar de uma espécie nativa, não devemos comercializar
colônias de abelhas sem ferrão sem autorização dos orgãos ambientais competentes. Como veremos
durante o curso, o criador pode lançar mão de técnicas de divisão artificial de suas famílias de abelhas, que
garantem o rápido crescimento do meliponário e a disponibilidade de colônias para comercialização.
No Pará, algumas espécies com alto potencial para exploração como a Uruçu Cinzenta (Melipona
fasciculata) e a Uruçu Amarela (Melipona flavolineata) chegaram a produzir 5 litros divididos em três
colheitas durante um ano, sendo comercializado localmente entre R$10,00 e R$15,00, o que representa de
duas a três vezes mais daquilo que é oferecido pelo mel de Apis mellifera, espécie também criada na região
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2.3 - razão ecológica
Esta, sem dúvida, é a razão mais nobre sob o ponto de
vista da preservação de plantas nativas, muitas em processo
avançado de extinção, que se reflete até na própria perspectiva de
sobrevivência humana no planeta. Trata-se da polinização. Ao se
movimentar sobre as flores em busca do pólen [foto 9], as abelhas
campeiras fazem com que grãos de pólen caiam do estame, órgão
masculino da flor, em direção ao estigma que é parte integrante da
parte feminina ou ovário da flor. Desta forma promovem a
autofecundação de muitas plantas. Entretanto, esta não é a única
forma de fecundação das flores. É a fecundação cruzada que
constitui o mais importante processo de multiplicação, responsável foto 9: Mandaçaia (Melipona quadrifasciata)
pela diversidade genética entre as populações de vegetais. polinizando o margaridão (Tithonia diversifolia)
Ela ocorre quando a abelha campeira, impregnada com grãos de pólen em seus pêlos do corpo,
passa de uma flor para outra, deixando cair estes grãos misturados e promovendo a fecundação da parte
feminina com gametas masculinos de outra planta da mesma espécie, assegurando a sua multiplicação e
perpetuação.
Este tipo de cruzamento promove a manutenção da variabilidade genética, fato que impede uma
cultura de tornar-se mais sensível à epidemias, variações climáticas e incidência de pragas.
A diversidade vegetal nas florestas tropicais é mantida essencialmente por abelhas nativas,
responsáveis pela reprodução de 40 a 90% dos vegetais de fecundação cruzada, enquanto o restante é
polinizado por diversos outros agentes como vento, água, morcegos, aves, borboletas, coleópteros
(besouros) e outros insetos. As abelhas sem ferrão têm, certamente, papel sobremaneira importante na
polinização de diversas plantas, especialmente as nativas. O pesquisador David Roubik afirmou que 84%
das espécies visitadas por Meliponas são potencialmente beneficiadas pelos serviços de polinização
prestados por estas abelhas. O mesmo autor, em outro trabalho, ressaltou que 80% das árvores da floresta
amazônica dependem de abelhas para reproduzirem.
Ocorre que em países do primeiro mundo, já existe um ramo comercial específico e dedicado a
explorar profissionalmente os benefícios dos insetos
polinizadores na agricultura mundial. Trata-se de uma vertente
promissora em termos de divisa, visto os impressionantes
resultados conseguidos em culturas polinizadas de forma
induzida, com a disposição de grande concentração destes
insetos ao redor das áreas cultivadas.
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Maiores detalhes do uso de insetos, em especial de abelhas, no mercado de polinização de culturas
agrícolas estão abordados na parte III, capítulo adicional nº 1.
Aliás, o Brasil foi o país que deu início ao programa conhecido hoje como "Iniciativa Internacional para a
Conservação e Uso Sustentável dos Polinizadores" (IPI), quando em setembro de 1996 pesquisadores
brasileiros apresentaram na reunião da Convenção da Diversidade Biológica (CDB) a proposta de criação
de um programa que visasse:
1. monitorar o declínio dos polinizadores, suas causas e impacto nos serviços de polinização;
2. tratar da falta de informação taxonômica sobre os polinizadores;
3. tratar do valor econômico da polinização e o impacto do declínio desse serviço; e
4. promover a conservação, restauração e uso sustentável da diversidade de polinizadores na agricultura
e ecossistemas relacionados.
Tal proposta foi consolidada em 1999 com a publicação do documento "The S. Paulo Declaration on
Pollinators", posteriormente apresentada na reunião da CDB em maio de 2000. Os resultados estão
começando a surgir, tais como o site Webee com informações sobre a biodiversidade brasileira em abelhas
nativas, e o livro "Abelhas Brasileiras - Sistemática e Identificação" com apoio do Ministério do Meio
Ambiente (MMA).
A grande maioria dos criadores brasileiros estão localizados nas regiões norte e nordeste do Brasil,
e se caracterizam como pequenos proprietários de terras, vivendo sob regime de produção de subsistência,
muitos deles ribeirinhos que vivem na região amazônica. Em
pesquisa realizada pelo INPA em 2000 a 2001 no Estado do
Amazonas, foram levantados dados referentes a 50 criadores de
meliponíneos, totalizando 1018 colônias de abelhas na maioria das
espécies Melipona compressipes manaosensis [foto 11], M.
seminigra merrillae, M. lateralis, M. rufiventris paraensi e M. crinita.
Todas representam espécies ainda abundantes na região
amazônica e com potencial melífero comprovado. Sabe-se que
uma colônia destas espécies produz em de 4 a 5 litros por ano,
podendo-se alcançar resultados mais satisfatórios mediante a
adoção de técnicas racionais de criação e melhoramento genético.
De acordo com os resultados obtidos, cada meliponicultor possui
em média 20 colônias em sua propriedade.
foto 11 : Japurá (M. compressipes manaosensis)
Em razão das características destas populações, as quais
não têm acesso à programas de educação ambiental e assistência
rural, muitos não possuem consciência nem conhecimento técnico para manejar as colônias de forma
racional, tanto no acesso destas na natureza como na exploração do potencial melífero da espécie e na
extração de outros produtos de alto valor nutricional e comercial. Tal condição exposta acarreta em ações
destrutivas causada por pessoas que são hábeis em encontrar ninhos, porém não possuem condições (aqui
inclui-se a falta de dinheiro, ensino e assistência) para criá-las em caixas racionais. São conhecidos como
meleiros que retiram os ninhos de forma bruta e destruidora, deixando os restos da família espalhadas no
chão constituindo presa fácil para a ação posterior das formigas e outros inimigos naturais.
Segundo o pesquisador Warwick Kerr, em Uberlândia, a ação dos meleiros eliminou, no mínimo,
quatro espécies a saber: Melipona rufiventris, M. bicolor, M. marginata e Cephalotrigona femorata. Um dos
meleiros informou ao pesquisador que, em 20 anos, somente ele retirou 200 colônias de 90 hectares de
floresta. Outra ação de grande impacto descrita é a retirada de ninhos subterrâneos de mandaçaia-do-chão,
pela queima de uma área na parte da tarde, onde os meleiros, agachados, procuram ver contra o horizonte
o voejar das abelhas que, desta maneira, indicam onde estão os seus ninhos. Foram relatados casos em
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que numa área de 100 x 100m, encontrou-se cerca de 10 colônias de Melipona quinquefasciata. Esta
espécie constrói ninhos de até 3 metros de profundidade.
Além destas questões ainda existe como causa de destruição de colônias a busca sem critérios das
serrarias por árvores antigas, justamente as que possuem ocos adequados para serem ocupados por
ninhos de abelhas, e ainda, como já citado, o uso indiscriminado de agrotóxicos,
conforme relato do Dr. Kerr, que cita a diminuição da população de pelo menos
sete espécies de meliponíneos em razão de pulverizações de “Malation” contra
o mosquito transmissor da dengue (Aedes aegypty) em Uberlândia e Goiânia,
entre outras cidades.
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PARTE I - BIOLOGIA DAS ABELHAS
CAPÍTULO 3 – O CORPO DAS ABELHAS
2º) três ocelos ou olhos simples - utilizados para a visão de perto, por
exemplo na orientação da abelha no interior da colônia e de flores;
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armazenamento de pólen e resina colhidos pela abelha campeira ou forrageadora. É uma espécie de
"cesta" de transporte utilizada para levar tais recursos coletados na natureza para o interior dos ninhos.
Destaque para a glândula mandibular, responsável pela produção de feromônios que, na rainha
(Feromônio Mandibular Real - FMR), controla diversas funções de acordo com o estágio de vida da mesma,
tais como o vôo nupcial e o ritual de postura de ovos. O feromônio mandibular, nas operárias, é atuante na
comunicação e nos trabalhos realizados na colônia. Em algumas espécies serve para outros fins, como
observado em Oxytrigona tataira (caga-fogo) a qual produz substância cáustica utilizada como eficiente
arma de defesa.
No tórax, não há grandes órgãos ou estruturas internas, salvo o esôfago e alguns pares de
espiráculos, estruturas responsáveis pela respiração das abelhas. Não são encontradas muitas glândulas,
salvo algumas ramificações das salivares existentes também na cabeça.
Já no abdômen, estão inseridos a maior parte dos órgãos vitais da abelha, com destaque para:
1º) coração - é alongado e fica na parte dorsal, por onde passa a hemolinfa (sangue) incolor e fria,
distribuída pelo restante do corpo através dos vasos ramificados;
2º) papo ou vesícula - onde a abelha armazena o néctar das flores, no transporte deste para suas colônias.
Existe uma válvula de controle de passagem deste néctar, passando apenas o que será aproveitado na
alimentação imediata da abelha;
3º) tubos de Malpighi - são órgãos numerosos e filamentosos, espalhados por todo o abdômen,
responsáveis pela excreção das abelhas (semelhante à função dos rins nos homens).
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4º) aparelho reprodutor nas fêmeas - composto de dois ovários, que ocupam boa parte da cavidade
abdominal, compostos por inúmeros ovaríolos, ligados por um par de ovidutos até a porção da vagina. Na
operária o aparelho não é desenvolvido, o que impossibilita esta casta de produzir ovos fecundados. A
rainha, alem de possuir estes órgãos funcionais, apresenta uma estrutura em forma de bolsa, denominada
espermateca, ligada à vagina e responsável pelo armazenamento dos espermatozóides do macho, que
servirá pela sua vida reprodutiva inteira e garantirá a possibilidade de produzir ininterruptamente ovos
fecundados. A vagina é unida também a uma região denominada "Bursa Copulatrix", onde a parte capsular
do pênis do zangão fica aderida após a cópula no vôo nupcial.
Nas patas estão inseridas diversas glândulas tarsais, responsáveis pelas chamadas "estradas de
cheiro" que são marcações com feromônio corporal (FC) utilizado pelas abelhas campeiras ao longo do
trecho que identifica a localização de recursos florais. Adiante, apresentaremos todos artifícios utilizados
pelas abelhas sem ferrão para comunicarem entre si.
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PARTE I - BIOLOGIA DAS ABELHAS
CAPÍTULO 4 – ORGANIZAÇÃO SOCIAL
As abelhas sem ferrão são verdadeiramente insetos sociais avançados, apresentando todos os
quatro requisitos característicos de uma sociedade avançada de insetos:
(confira a seguir uma síntese das funções das operárias de uma colônia).
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função número de operárias idade
manipulação de cera e cerume 40 - 65 % 0 - 35 dias
armazenamento de pólen 20 - 35 % 5 - 25 dias
limpeza e transporte de detritos 5 - 20 % 10 - 35 dias
recepção e desidratação do néctar 25 - 30 % 20 - 45 dias
guarda – soldado 2-7% 30 - 40 dias
forrageamento - procura por alimentos 30 - 40 % 20 - 60 dias
Adaptação de tabela apresentada por Simões & Bego (1991) apud Velthuis et al.
(1997) em pesquisa com três colônias de Scaptotrigona postica.
Como toda sociedade que se preza, é indispensável haver entendimento e comunicação entre
seus membros, para que a ordem social seja mantida em favor da comunidade. Nas abelhas, isto não é
diferente. Uma das tarefas mais importantes para as abelhas é a coleta de néctar e pólen, naturais da
vegetação, ou qualquer outro alimento disponível no ambiente (ex.: xarope nos alimentadores artificiais).
As abelhas melíferas (Apis mellifera) utilizam-se de um método interessante e eficaz, para indicar
a localização de recursos alimentares. As operárias, ao regressarem ao ninho, executam uma dança
giratória que, dependendo da forma como é feita, indica com precisão a distância e a direção da fonte
descoberta para as demais obreiras.
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Em meliponíneos, não se observa qualquer tipo de dança como meio de comunicação. Entretanto,
as espécies lançam mão de outras maneiras, não menos eficazes, de indicar a presença e a intensidade de
recursos, naturais ou não. Os padrões de comunicação variam entre as espécies, sendo que algumas
podem utilizar mais de um tipo. Abaixo, estão os três tipos básicos de comunicação utilizados pelas abelhas
sem ferrão:
1º) cheiro + som - A campeira retorna à colônia, impregnada com o cheiro das flores visitadas e produz som
característico. Outras campeiras também absorvem o cheiro e saem, ao acaso, a procura da fonte visitada.
Encontrado, por exemplo, em Frieseomelitta sp.
2º) cheiro + som + corrida + marcações - A campeira, também impregnada com cheiro das flores, produz
som característico e corre em ziguezague dentro da colônia. Ao voltar para a coleta no campo, conduz um
grupo de outras campeiras marcando com feromônio mandibular ou fecal, em vários pontos da vegetação,
uma trilha de cheiro, guiando estas e outras abelhas ao local do alimento. Encontrado, por exemplo, em
Scaptotrigona postica.
3º) cheiro + som + corrida + trilha aérea - A campeira, repetindo os mesmos passos iniciais (cheiro, som e
corrida), recruta outras abelhas a sair da colônia, guiando-as através também de uma trilha de cheiro,
porém aérea. A abelha guia, conhecedora do caminho, voa em forma de hélice e liberta pela glândula tergal
o feromônio corporal, constituindo assim uma larga estrada aérea em forma de tubo. As abelhas recrutas
voam exatamente no interior deste tubo, que pode variar de diâmetro de acordo com a espécie e com o
tempo (em ventos fortes, as guias aumentam o diâmetro do tubo). Pedro Cappas (por e-mail) já detalhou um
tubo de Mandaçaia (Melipona quadrifasciata) com diâmetro médio de 1 metro. Este sistema de
comunicação é utilizado por abelhas da tribo Meliponini e grande parte das Trigonini, sendo que algumas a
utilizam com mais eficácia. Sabe-se que Jataí (Tetragonisca angustula) e Mirins (Plebeia sp., Friesella,
Paratrigona) sofrem mais em presença de ventos fortes para manter suas trilhas aéreas.
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PARTE I - BIOLOGIA DAS ABELHAS
CAPÍTULO 5 – ESTRUTURA DOS NINHOS
Apesar da rápida devastação das paisagens naturais de nosso planeta, ainda podemos localizar
inúmeros locais onde as abelhas sem ferrão constróem suas moradias. Seus ninhos naturais podem se
desenvolver no interior de ocos de árvores, cupinzeiros e formigueiros abandonados, cavidades
subterrâneas, postes, paredes, muros, caixas de força, armários, pedreiras, caixas-isca, ou qualquer outro
local onde encontrem quesitos necessários para sua proteção e desenvolvimento.
Na construção e manutenção do espaço dos ninhos, as abelhas lançam mão de diversos "materiais
de construção". São eles :
A cera no seu estado puro, é produzida pelas glândulas cerígenas que estão ativas na fase mais
jovem da abelhas, na qual estas realizam trabalhos de construção (arquitetas). Espécies, como as Jataís e
algumas Mirins, armazenam esta substâncias no seu estado puro, em pequenos depósitos. Alguns autores
também denominam de cera o cerume, que será explicado a seguir, causando alguma confusão a respeito.
O cerume é resultado da mistura da cera pura com a resina coletada
pelas campeiras. É utilizado por certas espécies na formação do invólucro
que cerca toda a área dos favos de cria, e do canudo de entrada de
espécies da tribo Trigonini [foto 19].
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1º) entrada da colônia - as abelhas sem ferrão constróem seus orifícios
de entrada variando bastante quanto a sua forma, material de construção
e medidas. Conforme já mencionado, a entrada das espécies da tribo
Trigonini seguem o padrão de um canudo feito de cerume [foto 20],
embora hajam diversas exceções [foto 21], enquanto que as da tribo
Meliponini arquitetam-na utilizando o batume como material [foto 22]. A
entrada da maioria absoluta das colônia tem conexão direta com a área
de cria, através da qual a família desvia o excesso de calor produzido
principalmente pelas abelhas mais jovens através da ventilação de suas
asas. Não existe evidência de resfriamento evaporativo por meio da água
transportada até a colônia.
Em determinadas situações, é normal encontrar colônias que não se utilizam desta estrutura de
proteção, como em locais onde o ninho apresenta bom isolamento térmico em relação ao ambiente externo.
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Já tive a oportunidade de capturar uma colônia de Mirim emerina (Plebeia emerina), estabelecida
em uma cavidade dentro de uma parede lateral de uma casa. Não havia na ocasião a presença de
invólucro. Meses depois de estar acondicionada em uma caixa
racional, a colônia construiu uma camada de invólucro bastante
espessa, fato que levou-me à conclusão de que as abelhas não
encontraram na caixa racional a mesma situação de conforto térmico
semelhante àquela vivida quando do abrigo na grossa parede.
6º) depósito de detritos - está presente na parte inferior do ninho sendo de caráter provisório, ou seja, sofre
constante renovação uma vez que as operárias de função faxineira retiram o lixo produzido pela colônia
repetidamente durante o dia (ver foto 17 - cap 4.1).
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