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Calibração de Microfones em Frequências Infrassônicas

Conference Paper · October 2018


DOI: 10.17648/sobrac-87170

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2 authors, including:

Thiago Antonio Bacelar Milhomem


National Institute of Metrology, Quality and Technology (Inmetro)
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CALIBRAÇÃO DE MICROFONES EM FREQUÊNCIAS
INFRASSÔNICAS

Milhomem, Thiago Antônio Bacelar1; Soares, Zemar Martins Defilippo2;


(1) Inmetro – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia, Av. Nossa Senhora das Graças, 50,
Prédio 1, Xerém - Duque de Caxias - RJ - CEP: 25250-020, tbmilhomem@inmetro.gov.br.
(2) Inmetro – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia, Av. Nossa Senhora das Graças, 50,
Prédio 1, Xerém - Duque de Caxias - RJ - CEP: 25250-020, zmsoares@inmetro.gov.br.

RESUMO
A medição de ruído tradicionalmente é feita na faixa de frequências audíveis, entretanto, nos últimos
anos, vem crescendo a demanda por medição na faixa de frequências infrassônicas. Apesar de existir,
no mercado, instrumentação para atender a essa demanda, ela não teve seu modelo aprovado para
medição de infrassons por falta de rastreabilidade abaixo de 10 – 20 Hz. Atento a essa demanda, a
frequência inferior das calibrações primárias de microfones de medição foi abaixada para 1 – 2 Hz tendo,
inclusive, sido realizadas duas comparações internacionais. Para permitir a disseminação dessa
calibração ao usuário final, o Inmetro desenvolveu um sistema para a calibração de microfones de
medição por comparação com um microfone de referência (calibrado pelo método primário). Esse
sistema permite a calibração de microfones, na condição em que o orifício de equalização da pressão
estática é exposto ao campo sonoro, para a faixa de frequências de 2 a 400 Hz, com uma incerteza de
medição expandida que vai de 0,3 dB, nas mais baixas frequências, a 0,2 dB, nas frequências mais altas.
Palavras-chave: calibração, microfone, frequência infrassônica

ABSTRACT
Noise measurement, traditionally, has been done in the audible frequency range, however, in last years,
the demand for noise measurement in the infrasound frequency range has increased. Despite the
existence of instrumentation, which meet that demand, it did not pass for pattern evaluation testing for
measuring at infrasound frequencies because there is not traceability below 10 – 20 Hz. In view of that
demand, the lower frequency of the primary calibration of measurement microphone was down to 1 –
2 Hz and two international comparisons were performed. In order to allow the dissemination of that
calibration to the end user, Inmetro developed a system for calibrating measurement microphones by
comparison with a reference microphone (calibrated by the primary method). This system allows
microphones calibration, when its pressure equalization vent is exposed to the sound field, in the
frequency range from 2 to 400 Hz, with an expanded uncertainty from 0.3 dB, at the lowest frequencies,
to 0.2 dB at the highest frequencies.
Keywords: calibration, microphone, infrasound frequency

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, vem crescendo a demanda por medição na faixa de frequências infrassônicas
e, apesar de existir instrumentação para atender a essa demanda, ela não teve seu modelo
aprovado por falta de rastreabilidade ao Sistema Internacional de Unidades abaixo de 10 –
20 Hz. Atento a essa conjuntura, a frequência inferior da calibração primária de microfones de
medição foi abaixada para 1 – 2 Hz e, para permitir a disseminação dessa calibração ao usuário
final, o Inmetro desenvolveu um sistema para a calibração de microfones de medição por
comparação com um microfone de referência (calibrado pelo método primário). Este artigo
apresentará a cadeia de rastreabilidade atual para a calibração em infrassom.

2. CALIBRAÇÃO PRIMÁRIA

A calibração primária de microfones de medição em infrassom é realizada pelo método da


reciprocidade em campo de pressão [1].

O método da reciprocidade consiste, usualmente, em utilizar três microfones agrupados em


pares, onde um atua como fonte sonora e o outro, como receptor sonoro. Os pares de microfones
são conectados acusticamente e são medidas as impedâncias de transferência elétrica e acústica
entre os microfones. Como o produto das sensibilidades dos microfones é igual à razão entre a
impedância de transferência elétrica e a impedância de transferência acústica, a partir de
medições com três combinações de microfones, é possível obter uma equação para a
sensibilidade de cada um dos três microfones envolvidos na calibração. O campo sonoro de
pressão é obtido montando-se os pares de microfones em dispositivos denominados acopladores
que, junto com os microfones, formam pequenas cavidades fechadas. A Figura 1 apresenta fotos
de um microfone, de um acoplador e de microfones montados no acoplador.

Figura 1: À esquerda, na parte superior, microfone padrão de laboratório de 1 polegada; à esquerda, na parte
inferior, acoplador de onda plana para microfones de 1 polegada; e à direita, microfones montados no acoplador.
É preciso especial atenção quanto à montagem dos microfones ao acoplador para evitar
vazamento. Isso é conseguido, por um lado, utilizando-se acopladores de safira com superfícies
feitas cuidadosamente planas, e, por outro lado, girando-se os microfones no momento da
montagem ao acoplador. Também é preciso corrigir a sensibilidade do microfone para os efeitos
de condução de calor e perdas viscosas numa pequena cavidade fechada. A norma IEC 61094-
2:2009 [2, 3] apresenta duas soluções possíveis, a “solução de baixa frequência” (low frequency
solution) e a “solução de banda larga” (broad-band solution), que, curiosamente, não são
consistentes entre si. A diferença entre elas é significativa quando comparada às componentes
da incerteza de medição e não há uma clara indicação de como escolher entre as duas soluções.
Até que uma resolução para essa questão seja encontrada, deve ser incluído, no cálculo da
incerteza de medição, um componente relacionado à incompleteza da teoria [4, 5].
Na calibração por reciprocidade em campo de pressão, a sensibilidade do microfone é
determinada na condição em que o orifício de equalização da pressão estática (que iguala a
pressão estática na cavidade interna do microfone com a pressão estática externa a ela) não está
exposto à pressão sonora. Isso é um detalhe importante porque, nas frequências infrassônicas,
a resposta como função da frequência na condição que o orifício de equalização não está
exposto à pressão sonora é completamente diferente da resposta na condição em que o orifício
de equalização está exposto. A Figura 2 ilustra essas duas situações e as respectivas respostas
como função da frequência [6, 7, 8].

Figura 2: Na parte superior, à esquerda, ilustração da condição em que o orifício de equalização da pressão
estática não está exposto à pressão sonora e, à direita, ilustração da condição em que o orifício está exposto à
pressão sonora. Na parte inferior, as respectivas respostas como função da frequência.

Para a validação do método, foi realizada, no período entre 2011 e 2012, uma comparação da
calibração de microfones padrão de laboratório de 1 polegada na faixa de frequências de 2 Hz
a 10 kHz, a CCSUV.A-K5, cujo relatório final foi divulgado em 2014 [9, 10]. Ela foi conduzida
pelo Comitê Consultivo para Acústica, Ultrassom e Vibração do Comitê Internacional de Pesos
e Medidas e contou com a participação de doze institutos nacionais de metrologia. O Inmetro
participou dessa comparação e apresentou desempenho satisfatório. A Figura 3 apresenta os
resultados da participação do Inmetro. Foram circulados dois microfones sendo que para um
deles só foi divulgado resultado até a frequência de 1000 Hz porque o piloto da comparação
identificou que o microfone circulante apresentou instabilidade e a comparação entre as
sensibilidades nas frequências acima dessa frequência ficou comprometida.
Figura 3: Desvio, com sua respectiva incerteza de medição expandida (Inc. Sup. e Inc. Inf.), da sensibilidade
reportada pelo Inmetro para a sensibilidade de referência da comparação. Na parte superior, resultado para um
microfone e, na parte inferior, resultado para outro microfone.

Foi realizada ainda, uma segunda comparação, no período entre 2013 e 2014, da calibração de
microfones padrão de laboratório de ½ polegada na faixa de frequências de 1 Hz a 31,5 kHz, a
AFRIMETS.AUV.A-S1, cujo relatório final foi divulgado em 2015 [11]. Ela foi conduzida pelo
Sistema Metrológico da África e contou com a participação de seis institutos nacionais de
metrologia. O Inmetro também participou dessa comparação e novamente apresentou
desempenho satisfatório.

A Figura 4 apresenta a incerteza de medição expandida (k = 2) típica declarada pelo Inmetro


para a calibração por reciprocidade em campo de pressão de microfones padrão de laboratório
de 1 polegada.
0,20

Incerteza de medição expandida (dB)


0,18
0,16
0,14
0,12
0,10
0,08
0,06
0,04
0,02
0,00
5,00
2,00

3,15

8,00

12,50

20,00

31,50

50,00

80,00

125,00

200,00

315,00

500,00

800,00

1250,00

2000,00

3150,00

5000,00

8000,00
Frequência (Hz)

Figura 4: Incerteza de medição expandida (k = 2) típica para calibração por reciprocidade em campo de pressão
de microfones padrão de laboratório de 1 polegada nas frequências centrais das bandas de um terço de oitava
para a faixa de frequências de 2 Hz a 10 kHz.

3. CALIBRAÇÃO SECUNDÁRIA

A disseminação da calibração primária de microfones de medição em infrassom para o usuário


final está em fase de pesquisa e desenvolvimento. As pesquisas atuais apontam para o uso do
método da comparação com um microfone de referência calibrado pelo método primário sendo
o microfone de referência um microfone padrão de laboratório de 1 polegada.

Na calibração por comparação com um microfone de referência, os microfones são colocados


num mesmo campo sonoro e são expostos, simultaneamente ou sequencialmente, à mesma
pressão sonora. Conhecida a sensibilidade do microfone de referência, a sensibilidade do
microfone sob calibração é determinada a partir das medições dos níveis de pressão sonora
realizadas com cada microfone. As condições acústicas para a calibração em frequências
infrassônicas são obtidas com o uso de um aparato denominado câmara de pressão. A Figura 5
apresenta foto da câmara de pressão desenvolvida no Inmetro [8].
Figura 5: Câmara de pressão desenvolvida no Inmetro com 8 litros de volume e com um alto-falante totalmente
enclausurado. Dentro da câmara, totalmente imerso no campo sonoro, está o microfone sob calibração e fora da
câmara, apenas com o diafragma exposto à pressão sonora, está o microfone de referência.
Como o microfone de referência, um microfone padrão de laboratório de 1 polegada, foi
calibrado pelo método primário e consequentemente na condição em que seu orifício de
equalização da pressão estática não está exposto à pressão sonora, ele é acoplado, pelo lado de
fora da câmara de pressão, a uma abertura na sua lateral, de modo que apenas o seu diafragma
está exposto à pressão sonora. Por outro lado, o microfone sob calibração, que normalmente é
utilizado na condição em que o seu orifício de equalização da pressão estática está exposto à
pressão sonora, é colocado dentro da câmara.

Outro detalhe importante é determinar a resposta como função da frequência do pré-


amplificador porque ele possui a sua própria frequência de corte a qual varia de acordo com a
carga capacitiva (microfone) conectada a ele. A Figura 6 ilustra as respostas como função da
frequência de um mesmo pré-amplificador quando conectado a dois microfones de diferentes
cargas capacitivas, enquanto a Figura 7 ilustra as respostas como função da frequência de um
microfone, de um pré-amplificador e do conjunto microfone + pré-amplificador.

0
Resposta (dB)

-5

-10

-15
1"
-20
1/2"
-25
1 10 100
Frequência (Hz)

Figura 6: Respostas como função da frequência de um mesmo pré-amplificador quando conectado a um


microfone de 1 polegada e a um microfone de ½ polegada com diferentes cargas capacitivas.
2
0
-2

Resposta (dB)
-4
-6
-8
-10
-12 Microfone
-14 Microfone + Pré-amplificador
-16 Pré-amplificador
-18
1 10 100
Frequência (Hz)

Figura 7: Respostas como função da frequência de um microfone, de um pré-amplificador e do conjunto


microfone + pré-amplificador.
Em 2017, num projeto de cooperação entre o Brasil e a Alemanha, representados por seus
institutos nacionais de metrologia (Inmetro e PTB, respectivamente), a calibração de
microfones por comparação em frequências infrassônicas foi conjuntamente investigada.
Dentre outras atividades dessa investigação, foi realizada uma comparação da calibração de
microfones com o orifício de equalização de pressão estática exposto ao campo sonoro [12] que
apontou que ambos institutos obtiveram resultados equivalentes.

A Figura 8 apresenta a incerteza de medição expandida (k = 2) típica declarara pelo Inmetro


para a calibração em baixas frequências de microfones de medição.

0,30
Incerteza de medição expandida (dB)

0,25

0,20

0,15

0,10

0,05

0,00
6,30
2,00
2,50
3,15
4,00
5,00

8,00
10,00
12,50
16,00
20,00
25,00
31,50
40,00
50,00
63,00
80,00
100,00
125,00
160,00
200,00
250,00
315,00
400,00

Frequência (Hz)

Figura 8: Incerteza de medição expandida (k = 2) típica para calibração por comparação com microfone de
referência nas frequências centrais das bandas de um terço de oitava para a faixa de frequências de 2 a 400 Hz.
4. CONCLUSÃO

A calibração primária de microfones de medição em frequências infrassônicas é realizada pelo


método da reciprocidade em campo de pressão. Embora seja um método tradicional e bem
conhecido na faixa de frequências audíveis, a sua extensão para as frequências infrassônicas
(até 1 – 2 Hz) ainda enfrenta alguns desafios, como a indefinição da correção para condução de
calor e perdas viscosas numa pequena cavidade fechada. Até que essa questão seja
harmonizada, deve ser incluída uma componente, no cálculo de incerteza de medição,
relacionada à incompleteza da teoria. Para a validação desse método já foram realizadas duas
comparações internacionais. O Inmetro participou das duas e obteve desempenhos satisfatórios.
A incerteza de medição expandida típica declarada pelo Inmetro para a calibração de
microfones de 1 polegada varia entre 0,04 e 0,19 dB dependendo da frequência.

A calibração secundária de microfones de medição em frequências infrassônicas está em fase


de pesquisa e desenvolvimento. As pesquisas atuais apontam para o uso do método da
comparação com um microfone de referência calibrado pelo método primário. Para criar as
condições acústicas para a calibração em frequências infrassônicas o Inmetro desenvolveu um
aparato denominado câmara de pressão que permite a calibração de microfones na faixa de
frequências da 2 a 400 Hz. A calibração realizada pelo Inmetro foi comparada com a calibração
realizada pelo instituto alemão de metrologia, PTB, e a análise apontou que ambos institutos
obtiveram resultados equivalentes. A incerteza de medição expandida típica declarada pelo
Inmetro varia entre 0,2 e 0,3 dB dependendo da frequência.

REFERÊNCIAS

[1] Milhomem, T. A. B. e Soares, Z. M. D. Primary Calibration in Acoustics Metrology. Journal of Physics


Conference Series, v. 575(1), 012008, 2015.

[2] International Electrotechnical Commission. IEC 61094-2 Electroacoustics - Measurement microphones - Part
2: Primary method for pressure calibration of laboratory standard microphones by the reciprocity technique.
2009. Norma técnica.

[3] Milhomem, T. A. B. e Soares, Z. M. D. Apresentação da série IEC 61094 que trata de microfones de medição.
In: XXV Encontro da Sociedade Brasileira de Acústica, Sobrac 2014, Campinas, SP, 2014.

[4] Olsen, E. S. Heat conduction correction in reciprocity calibration of laboratory standard microphones. In: 41st
International Congress and Exposition on Noise Control Engineering, Internoise 2012, Nova Iorque, EUA, 2012.

[5] Jackett, R. J. The Effect of Heat Conduction on the Realization of the Primary Standard for Sound Pressure.
Metrologia, v. 51, p. 423-430, 2014.

[6] Frederiksen, E. Low Frequency Calibration of Acoustical Measurement Systems. Technical Review, n. 4, p. 3-
15, 1981.

[7] Rasmussen, G. e Nielson K. M. Low Frequency Calibration of Measurement Microphones. Journal of Low
Frequency Noise, Vibration and Active Control, v. 28, n. 3, p. 223-228, 2009.

[8] Milhomem, T. A. B. e Soares, Z. M. D. Low frequency calibrations of measurement microphones. In: IV


Congresso Brasileiro de Metrologia, Metrologia 2017, Fortaleza, CE, 2017.

[9] Avison, J. e Barham, R. Report on key comparison CCAUV.A-K5: Pressure calibration of laboratory standard
microphones in the frequency range 2 Hz to 10 kHz. 2014. Relatório técnico. Disponível em:
https://www.bipm.org/en/about-us/. Acessado em: Maio/2018.
[10] Milhomem, T. A. B. e Soares, Z. M. D. Primary Calibration of Measurement Microphones in the World: State
of Art. Journal of Physics Conference Series, v. 733(1), 012054, 2016.

[11] Niel, R.; Barrera-Figueroa, S.; Dobrowolska, D.; Soares, Z. M. D. e Hof, C. AFRIMETS.AUV.A-S1 Final
Report. 2015. Relatório técnico. Disponível em: https://www.bipm.org/en/about-us/. Acessado em: Maio/2018.

[12] Kling, C.; Fedtke, T.; Soares, Z. M. D. e Milhomem, T. A. B. Metrology for infrasound measurements. In:
24th International Congress on Sound and Vibration, ICSV24, Londres, ING, 2017.

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