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São Paulo
2007
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São Paulo
2007
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DEDICATÓRIA
À Fátima, minha esposa, com amor e gratidão, por ter sido, em todo o tempo,
tudo aquilo que me falta, e por sonhar meus sonhos comigo. Aos meus filhos Pedro
Henrique, Íris e Gabriel – manifestações físicas da graça divina sobre minha vida –
pela amorosa paciência.
4
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Ms. Rev. Wilson Santana, pela orientação neste trabalho, e por
orientar meu olhar em direção à riqueza da nossa Tradição Reformada,
especialmente sua Sacramentologia.
Ao Prof. Dr. Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa, não somente por ensinar
a Teologia Reformada, mas por representar a erudição reformada diante de seus
alunos, entre os quais ainda me conto.
Ao nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, sem o qual nada disto seria
possível, e nem teria sentido algum.
5
Confissão de Fé de Guanabara, § 5
6
RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10
1 A ORIGEM NEOTESTAMENTÁRIA DA CEIA DO SENHOR ................................. 13
1.1 OS EVANGELHOS SINÓPTICOS ................................................................... 13
1.2 O ENSINO DE PAULO .................................................................................... 16
1.3 O QUARTO EVANGELHO .............................................................................. 19
1.4 CONCLUSÕES PRELIMINARES .................................................................... 22
2 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA DOUTRINA DA CEIA .............................. 24
2.1 A PATRÍSTICA ................................................................................................ 24
2.1.1 Os Primeiros Testemunhos ....................................................................... 25
2.1.2 O Conceito Agostiniano ............................................................................. 26
2.1.3 O Realismo Ganha Espaço ....................................................................... 28
2.2 A ESCOLÁSTICA ............................................................................................ 29
2.2.1 A Transubstanciação................................................................................. 29
2.2.1 A Sistematização Tomista ......................................................................... 30
3 A REFORMA PROTESTANTE E A PRESENÇA DE CRISTO NA CEIA................ 34
3.1 A POLÊMICA ANTICATÓLICA ........................................................................ 34
3.2 A “CONSUBSTANCIAÇÃO” LUTERANA ........................................................ 36
3.3 O “IDEALISMO” ZUINGLIANO ........................................................................ 39
3.4 A “PRESENÇA ESPIRITUAL” CALVINISTA .................................................... 43
3.4.1 Uma Posição Intermediária ....................................................................... 43
3.4.2 Temor Diante do Mistério .......................................................................... 45
3.4.3 Comunhão Verdadeira e Milagrosa ........................................................... 47
3.5 AS CONFISSÕES REFORMADAS ................................................................. 50
3.5.1 A Confissão Gaulesa (1559) ..................................................................... 50
3.5.2 A Confissão Escocesa (1560) ................................................................... 51
3.5.3 A Confissão Belga (1561) ......................................................................... 51
3.5.4 Catecismo de Heidelberg (1563) ............................................................... 52
9
INTRODUÇÃO
Entretanto, em nossos dias pouco se tem falado sobre este ato central da
adoração da igreja. Infelizmente, isto não se deve a uma concordância geral quanto
1
Vd. CRESPIN, J., A tragédia de Guanabara. O início das divergências deveu-se claramente à forma
de administração da Ceia, e seu significado (cf. p. 34-38).
11
aos modos e significados da Ceia, mas a uma simples negligência. Parece que a
Ceia já não ocupa um lugar de proeminência no evangelicalismo brasileiro.
Para a maioria das igrejas evangélicas a Ceia não alimenta as almas fiéis
nem nos faz participantes de seus benefícios, mas é, primariamente, um momento
de contrição, em que os membros são levados a meditar na crucificação de Cristo, e
a lamentar seus pecados. Na maioria dos casos, é um meio de manifestar a
comunhão com os irmãos.2 Pior que isso, numa das maiores denominações do país,
a Ceia já tornou-se “primariamente (embora não exclusivamente) um meio de se
alcançar saúde, cura e benefícios materiais”, pois afirma-se que, na Ceia, “Cristo
confere a sua própria saúde física ao que participa do pão pela fé”; ali admite-se à
Ceia “todos quantos se façam presentes na igreja no momento da celebração, sejam
evangélicos ou não. O convite a católicos e espíritas é feito abertamente”, 3 tornando
este momento sublime numa peça de proselitismo puro e simples. Uma outra
conhecida denominação pentecostal, por outro lado, restringe a comunhão aos
membros somente, e sustenta que os elementos consagrados tornam-se carne e
sangue de Cristo, proibindo seus obreiros de jogar fora as sobras, que devem ser
lançadas em “rio de águas correntes”.4
2
Vd. KLEIN, C. J., Os sacramentos na tradição reformada, onde o autor apresenta uma pesquisa
sobre a teologia sacramental em diversas denominações evangélicas no Brasil (cap. 6, pp.
319-343).
3
Cf. RELATÓRIO da Comissão Permanente de Doutrina da IPB sobre a Igreja Universal do Reino de
Deus. Disponível em http://www.cacp.org.br/movimentos/artigo.aspx?lng=PT-
BR&article=812&menu=12&submenu=7>. Acesso em: 24/08/2007.
4
Esta publicação reúne resoluções da diretoria da Igreja Pentecostal Deus é Amor; a participação na
Ceia é exclusiva aos membros da denominação, e ainda assim, desde que portando o cartão
do dízimo em dia.
5
NBR’s 14724/2002, 10520/2002, e 6023/2002. Disponível em
<http://www.abnt.org.br/default.asp?resolucao=800X600>. Acesso em 20/08/2007.
12
6
Cf. Mt 26.26-30; Mc 14.22-26 e Lc 22.14-20; 1Co 11.23-26. Salvo indicação, todas as referências a
textos bíblicos serão feitas conforme a tradução Almeida Revista e Atualizada (ARA), 2ª edição,
da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB).
7
Para uma harmonia das informações dos relatos sinópticos e joaninos quanto à cronologia da última
ceia, veja HENDRIKSEN, W., Marcos, p. 696-699, 722.
8
Cf. Mt 26.20 e Mc 14.17; 1Co 11.23.
9
Cf. Mt 26.2,17-19; Mc 14.1,12,14,16; Lc 22.1,7,8,11,13,15. JEREMIAS, J., The eucharistic words of
Jesus, p. 14-37, apresenta 11 razões para identificar a última ceia com a refeição pascal,
contra os críticos que questionam a fidedignidade do relato evangélico.
14
comendo apenas pães asmos durante sete dias. 10 Lucas informa que Cristo instituiu
a ceia cristã com as palavras: “Fazei isto em memória de mim”, 11 indicando
claramente uma substituição do cordeiro pascal que simbolizava salvação e
livramento para o povo de Israel ano após ano. Os evangelhos sinópticos registram
que Jesus partiu e distribuiu o pão aos discípulos para que o comessem, afirmando
“Isto é o meu corpo”;12 igualmente, ao passar entre eles o cálice de vinho, Jesus
afirma “Isto é o meu sangue”.13 Notemos que “sangue derramado” é um semitismo
para morte violenta,14 numa antecipação de sua crucificação na manhã seguinte. O
relato de Lucas traz ainda uma harmonização das palavras referentes ao pão com
aquelas acerca do cálice – o corpo é “oferecido por vós”. Obviamente, Cristo está
pretendendo acrescentar outros significados àquela refeição pascal – não mais
relacionando-a ao evento passado da libertação do Egito, mas ao evento de sua
morte na cruz, no qual seu sangue seria “derramado em favor” de seu povo.
Conforme afirma Hendriksen,
“Ao ligar tão estreitamente a Páscoa com a Ceia do Senhor, Jesus também
deixou claro que o que era essencial na primeira não havia sido perdido na
segunda. Ambas apontavam para ele, o único e suficiente sacrifício pelos
pecados do seu povo. A Páscoa apontava para isso, no futuro; a Ceia do
Senhor aponta para o mesmo sacrifício, feito no passado”.15
10
Cf. Êx 12.1-20; os três evangelistas fazem referência ao "primeiro dia da Festa dos Pães Asmos"
ao relatarem a ceia. Para uma breve descrição de comemoração da Páscoa da época, vd.
HIGGINS, A. J. B. The Lord's Supper in the New Testament, p. 45-47; JEREMIAS, J., The
eucharistic words of Jesus, p. 58-59 e HENDRIKSEN, W., Lucas, p. 559-560.
11
Cf. Lc 22.19.
12
Cf. Mt 26.26; Mc 14.22; Lc 22.19. HURTADO, L. W., Marcos, p. 254, lembra que Jesus falava
aramaico, isto é, ele provavelmente utilizou um termo que significa tanto por “corpo” quanto
“pessoa”, o que equivaleria a “Isto sou eu”.
13
Cf. Mt 26.28; Mc 14.24.
14
HURTADO, L. W., Marcos, p. 251, 255; cp. Gn 4.10-11; 9.6; Dt 19.10; 2Re 21.16; Sl 106.38, etc.
15
HENDRIKSEN, W., Marcos, p. 722 e Lucas, v. 2, p. 563; HURTADO, L. W., Marcos, p. 249. Cf. Mt
26.28; Mc 14.24; Lc 22.20.
16
HENDRIKSEN, W., Marcos, p. 723-724 e Mateus, v. 2, p. 573-574; HURTADO, L. W., Marcos, p.
250. JEREMIAS, J., The eucharistic words of Jesus, p. 31, argumenta que, a partir de Ex 12.26-
27, a interpretação dos elementos da Ceia era uma parte fixa do próprio ritual da Páscoa
15
judaica; Jeremias traz uma exposição bem documentada das interpretações acerca do pão
comido na Páscoa (p. 31-36).
17
LADD, G. E., Teologia do Novo Testamento, p. 251; JEREMIAS, J., The eucharistic words of Jesus,
p. 154; Jeremias acrescenta (p. 154-159) vasta referência bíblica e extra-bíblica para
comprovar que o conceito de comunicação de dons espirituais por meio de comer e beber era
bastante familiar à mentalidade oriental dos discípulos.
18
Cf. Mt 26.28; Mc 14.24; Lc 22.20.
19
Cf. Ex 24.1-11; Tb. Gn 15.7-18. Vd. HURTADO, Larry W., Marcos, p. 254.
20
Cf. Lc 22.20. Muitos manuscritos não trazem a qualificação "nova" para aliança em Mt 26.28 e Mc
14.24, que pode ter sido inserida posteriormente a partir do texto de Lucas. Contudo, como
nota MORRIS, L., Teologia do Novo Testamento, p. 162, "mesmo se não a incluírmos, ela está
implícita; qualquer 'aliança' que Jesus fizesse naquele momento teria de ser nova".
21
Cf. Mt 26.28.
22
Cf. Jr 31,31-34. Vd. MORRIS, L., Teologia do Novo Testamento, p. 162; LADD, G. E., Teologia do
Novo Testamento, p. 250.
16
23
Cf. Lv 6.1-7.18.
24
Cf. WALLACE, R. S.. "Ceia do Senhor", para outras nuances. In: ENCICLOPÉDIA histórico-
teológica da igreja cristã. Walter A. ELWELL (Ed.), v. 1, p. 263-4.
25
HENDRIKSEN, W., Marcos, p. 727; HURTADO, L. W., Marcos, p. 255-256. Cf. Mc 14.25; Lc 22.18;
Mt 26.29, “reino de meu Pai”.
26
MORRIS, L., Lucas, p. 287; cf. Mt 28.20.
27
HENDRIKSEN, W., Lucas, v. 2, p. 562.
28
1Co 11. 24-26; cf. Lc 22. 19; KISTEMAKER, S.,1 Coríntios, p. 546-553, discute os detalhes
diferentes nos relatos da instituição.
17
Lucas,29 podemos concluir que o apóstolo não está dizendo que lhe foi dada uma
revelação direta do Cristo ressurreto, mas que a tradição oral que ele repassava às
suas igrejas tinha sua origem diretamente na íntegra das palavras do próprio Senhor
Jesus.30
29
HIGGINS, A. J. B. The Lord's Supper in the New Testament, p. 26-37, avalia criticamente frase-a-
frase os relatos de Marcos e de Paulo, e conclui que remetem à mesma tradição, conquanto a
formulação difira, provavelmente por acomodação à fórmula litúrgica da Ceia em uso na igreja
primitiva.
30
LADD, G. E., Teologia do Novo Testamento, p. 540; BRUCE, F. F., Paulo, O Apóstolo da Graça, p.
246; KISTEMAKER, S.,1 Coríntios, p. 546-547; RIDERBOS, H., A teologia do apóstolo Paulo,
p. 466; HIGGINS, A. J. B. The Lord's Supper in the New Testament, p. 25-26, traz uma lista de
eruditos de ambas as posições. Uma defesa da interpretação de revelação direta está em
MORRIS, L., 1 Coríntios, p. 128. Ridderbos (p. 20-23) também traz um panorama da
abordagem da História das Religiões, especialmente quanto à relação entre as religiões de
mistério e o ensino paulino acerca dos sacramentos, e conclui que tais ligações mostraram-se
"ilusórias" (p. 22).
31
Cf. 1Co 10.16-17;
32
LADD, G. E., Teologia do Novo Testamento, p. 731; cf. 1Co 10.16.
33
LADD, G. E., Teologia do Novo Testamento, p. 731; cf. 1Co 10.18-21.
34
CERFAUX, L., O cristão na teologia de Paulo, p. 346-347; cf. 1Co 11.27-32.
18
35
RIDERBOS, H., A teologia do apóstolo Paulo, p. 476.
36
Cf. JEREMIAS, J., The eucharistic words of Jesus, p. 159; vd. Rm 3.25; 5.9; Ef 1.7; 2.13; Cl 1.20.
37
RIDERBOS, H., A teologia do apóstolo Paulo, p. 467.
19
É pela fé somente que Cristo é recebido no coração na Ceia [...]. Ele não
está presente à disposição da igreja, para ser dado e recebido
automaticamente, na mera realização de um ritual. Mesmo assim, ele está
presente, de conformidade com sua promessa, para a fé que busca e adora.
Ele também está presente de tal maneira que, embora os incautos e
descrentes não possam recebê-lo, não deixam de comer e beber juízo para
si mesmos (1Co 11.27).41
38
RIDERBOS, H., A teologia do apóstolo Paulo, p. 468 (cf. p. 420); tb. MORRIS, L., 1 Coríntios, p.
118 e CERFAUX, L., Cristo na teologia de Paulo, p. 108.
39
MORRIS, L., 1 Coríntios, p. 132; HIGGINS, A. J. B. The Lord's Supper in the New Testament, p. 67;
cf. 1Co 11.27, 32.
40
RIDERBOS, H., A teologia do apóstolo Paulo, p. 469.
41
WALLACE, R. S.. "Ceia do Senhor", in: Enciclopédia histórico-teológica, v. 1, p. 264.
42
Cf. abaixo, p. 24 e BERKHOF, L., História das doutrinas cristãs, p. 225.
20
última refeição é o mais extenso dos quatro evangelhos; ele menciona estarem eles
à mesa, comendo a ceia da Páscoa, fala do traidor sendo denunciado e da saída ao
Jardim – e é o único a descrever o longo discurso de consolo proferido por Jesus
aos seus discípulos.43 Mas, em momento algum parece recordar da instituição da
Ceia no contexto daquela Páscoa. Tanto pelas semelhanças presentes nos relatos,
quanto pelo exame do contexto, não há fundamento para presumirmos que se trata
de duas ceias diferentes;44 porém, não temos como saber por que João não incluiu a
cena memorável da instituição da Ceia em sua narrativa dos últimos momentos de
vida de Jesus.45
43
Cf. Jo 13.1 – 18.1.
44
Vd. HENDRIKSEN, W., João, p. 595-604, onde o comentarista apresenta uma harmonização
convincente dos relatos sinópticos e joanino; e p. 818-821 para refutar a tese de que João
apresenta a última ceia ocorrendo um dia antes da Páscoa (cf. Jo 18.28). Tb. JEREMIAS, J.,
The eucharistic words of Jesus, p. 54-57, que defende a harmonia nas narrativas, mas explica
18.28 afirmando que a tradição que João relata reflete a identificação entre a morte de Jesus e
do cordeiro pascal no imaginário da igreja primitiva, ao mostrar Jesus sendo morto na quinta,
dia em que o cordeiro era preparado.
45
Porém, cf. JEREMIAS, J., The eucharistic words of Jesus, p. 72-87, que argumenta que esta
omissão de João se deve ao desejo da igreja primitiva de guardar o rito da Eucaristia de
profanação pelos incrédulos, mantendo-o em segredo, aberto apenas aos batizados.
46
Cf. Jo 6.32-59.
47
MORRIS, L., Teologia do Novo Testamento, p. 323, 344; cf. Jo 6.53.
48
Cf. Jo 6:35-36,40,47, 63
49
Vd. LADD, G. E., Teologia do Novo Testamento, p. 411, que conclui que João "não é um
sacramentalista", pelo contrário, está combatendo "perspectivas mágico-sacramentais" que
haviam surgido na igreja. MORRIS, L., Teologia do Novo Testamento, p. 343-345, aponta a
diferença entre "comer a carne" em João e "comer o corpo", a linguagem comum da Ceia; ele
também discorda da interpretação sacramentalista do capítulo sexto, mas concorda em que
21
Primeiramente, devemos notar que, embora ali Jesus estivesse tratando com
oponentes que nada entenderam e nem deveriam compreender coisa alguma
acerca do Sacramento, o evangelista está escrevendo para um outro público,
composto de crentes que provavelmente já conheciam a vida do Senhor por meio
dos sinópticos.50 Na verdade, o evangelista “pressupõe” em seus leitores um
conhecimento “da vida e do pensamento da igreja”, sua pregação e Sacramentos. 51
C. H. Dodd, erudito do Novo Testamento, afirma: “o atento leitor cristão não pode
deixar de perceber a referência ao Sacramento da Eucaristia”; 52 Dodd inclusive
sugere que a referência à Páscoa no início da seção onde se narra o discurso sobre
o “pão da vida” (juntamente com a menção à traição de Judas no término) é uma
referência velada à última Ceia, que visa a “dar uma indicação do significado da
Eucaristia na narrativa que se segue”.53
João "ensina sobre as realidades espirituais para a qual [os sacramentos] apontam".
50
Segundo Irineu (c. 100-165), João havia escrito seu evangelho para remover os erros que Cerinto
espalhara na igreja, negando a natureza divina de Jesus e a encarnação do Filho; ele não
deseja apenas recontar a história que seus leitores já conheciam, mas selecionar aquilo que os
ajudaria a permanecer crendo que “Jesus é o Cristo, o Filho de Deus”; vd. HENDRIKSEN, W.,
João, p. 49-55, que avalia que esta é a melhor explicação para os distintivos e o material
adicional do quarto evangelho.
51
DODD, C. H., A interpretação do quarto evangelho, p. 21. Entretanto, Dodd defende (p. 24-25) que
João tem em mente principalmente aqueles que nada sabiam acerca do cristianismo, mas que
estavam prontos para seguir o caminho cristão, se este fosse apresentado em termos
relacionáveis à sua experiência religiosa anterior; obviamente, caso esta pessoa ingressasse
na igreja, seria capaz de reler o livro e encontrar muito mais do que na primeira leitura.
52
DODD, C. H., A interpretação do quarto evangelho, p. 440.
53
DODD, C. H., A interpretação do quarto evangelho, p. 434, 497; cf. Jo 6.4 e 71.
54
Vd. BRUCE, F. F., João, p. 143; HENDRIKSEN, W., João, p. 316; cf. Jo 6.52, 60, 66.
55
Vd. Jo 6.33,40-41,47,50-51,54-55. Cf. HENDRIKSEN, W., João, p. 315; BRUCE, F. F., João, p.
143.
22
mesmo não registrando a instituição [da Ceia], neste discurso de Jesus ele
[o evangelista] nos dá elementos que preenchem a Ceia do Senhor com
uma profunda riqueza de significado para o crente. É verdade que o Senhor
neste discurso não está falando diretamente da Ceia, mas ele expõe a
verdade de que a Ceia fala.56
O ensino deste evangelista é que o Cristo que se fez carne e viveu sobre a
terra é idêntico ao Cristo que está presente na Eucaristia [...] o evangelista
deseja imprimir sobre seus leitores que a presença de Cristo na Eucaristia é
tão real quanto sua presença física era aos apóstolos.57
56
BRUCE, F. F., João, p. 146; Ênfase acrescentada.
57
HIGGINS, A. J. B., The Lord's Supper in the New Testament, p. 77; tradução minha. Não
precisamos concordar com Higgins quando afirma que a esperança de Jesus de seu retorno
23
2.1 A PATRÍSTICA
59
BERKHOF, L., Teologia sistemática, p. 595-596, e História das doutrinas cristãs, p. 225. Esta
celebração provavelmente está relacionada com as reuniões e abusos descritos por Paulo em
1 Coríntios 11. 17-34.
25
Inácio de Antioquia (c. 67-110), na sua epístola à Esmirna, adverte a fugir das
heresias; os hereges são identificados como aqueles que “se afastam da Eucaristia
e da oração, porque não professam que a Eucaristia é a carne de nosso Salvador
Jesus Cristo, que sofreu por nossos pecados e que, na sua bondade, o Pai
ressuscitou”.61 Inácio usava uma linguagem evangélica rebuscada, como
“refugiando-me no evangelho como na carne de Cristo”, “partindo o mesmo pão, que
é remédio da imortalidade, antídoto para não morrer”; por conta disto, não
precisamos interpretar sua definição da Eucaristia como uma afirmação de
transformação dos elementos, mas como denotando o poder espiritual que deveria
ser buscado neles.62
Pois não tomamos essas coisas como pão comum ou bebida ordinária, mas
da maneira como Jesus Cristo, nosso Salvador, feito carne por força do
Verbo de Deus, teve carne e sangue por nossa salvação, assim nos
ensinou que, por virtude da oração ao verbo que procede de Deus, o
alimento sobre o qual foi dita a ação de graças – alimento com o qual, por
transformação, se nutrem nosso sangue e nossa carne – é a carne e o
63
sangue daquele mesmo Jesus encarnado.
60
Cf. Didaquê, em: PADRES apostólicos (Patrística, v. 1), R. FRANGIOTTI (Ed.), p.353, 354.
61
INÁCIO de Antioquia, “Aos esmirniotas”, 6, 7. Em: PADRES apostólicos (Patrística, v. 1), R.
FRANGIOTTI (Ed.), p. 117.
62
Cf. GONZALEZ, J. L., Uma história do pensamento cristão, v. 1, p. 77-78.Vd. INÁCIO de Antioquia,
“Aos filadelfienses”, 5 e “Aos efésios”, 20, in: PADRES apostólicos (Patrística, v. 1), R.
FRANGIOTTI (Ed.), p. 111, 89.
63
JUSTINO de Roma, Patrística, v. 3, R. FRANGIOTTI (Ed.), p. 82.
26
Se, portanto, o cálice que foi misturado e o pão que foi produzido recebem a
Palavra de Deus e se tornam a Eucaristia, isto é, o sangue e o corpo de
Cristo, e se por eles cresce e se fortifica a substância da nossa carne, como
podem pretender que a carne seja incapaz de receber o dom de Deus, que
consiste na vida eterna, quando ela é alimentada pelo sangue e pelo corpo
de Cristo, e é membro deste corpo?65
Apesar das discrepâncias quanto aos detalhes da celebração (se o pão devia
ser com ou sem fermento, por exemplo), a Ceia era observada por toda a igreja, o
que certamente testemunha de sua instituição diretamente pelos apóstolos,
conforme o ensino de Cristo; “não há dúvida de que ela é o centro da adoração
cristã, embora ainda não encontremos uma discussão sistemática mais clara sobre a
natureza da presença de Cristo, nem a qualquer poder atribuído às palavras da
instituição em si mesmas”. 66 No quarto e quinto séculos ainda não há qualquer
tentativa de elaborar uma teologia dos Sacramentos; a maioria dos autores deste
período parece relacionar de algum modo a Ceia ao sacrifício que Cristo ofereceu ao
Pai – porém, não devemos pretender encontrar precisão na linguagem teológica
daqueles primeiros crentes. Há realismo e simbolismo quando falam do pão e do
vinho como carne e sangue de Cristo.
64
IRINEU de Lião, Contra as heresias, IV.18,4-5. Patrística, v. 4, R. FRANGIOTTI (Ed.), p. 423-424.
65
IRINEU de Lião, Contra as heresias, V.2,3. Patrística, v. 4, R. FRANGIOTTI (Ed.), p. 522.
66
GONZALEZ, J. L., Uma história do pensamento cristão, v. 1, p. 94.
27
Em outros momentos, porém, fazia clara distinção entre o sinal visível e aquilo
que ele significava, e parecia ensinar um recebimento espiritual do corpo de Cristo
na Ceia.69 Por exemplo, ao interpretar a declaração de Jesus quanto a comer sua
carne e beber seu sangue, ele afirma que esta é uma “expressão simbólica que nos
prescreve comungar da paixão do Senhor e guardar, no mais profundo de nós
próprios, doce e salutar lembrança de sua carne crucificada e coberta de chagas por
nós”.70 Obviamente esta é uma descrição bastante espiritualizada, e até mesmo
memorialista da Ceia do Senhor. Por outro lado, ele se referia constantemente ao
pão e ao vinho como carne e sangue de Cristo, e à Eucaristia como “o mistério
[sacramentum ] de seu corpo e de seu sangue”.71
67
GONZALEZ, J. L., Uma história do pensamento cristão, v. 2, p. 49. Para uma defesa católica de
presença real na doutrina eucarística de Agostinho, vd. PORTALIÉ, E., A guide to the thought
of Saint Augustine, p. 247-260, que conclui erroneamente que não há apoio em Agostinho para
a doutrina protestante, pois a considera apenas na perspectiva memorialista, isto é, zuingliana
(vd. abaixo). Para uma defesa reformada da presença real em Agostinho, vd. CALVINO, J., As
institutas, v. 4, capítulos 14, 17 e 18.
68
AGOSTINHO de Hipona. Comentário aos Salmos, (98.9), Patrística; v. 9/2, p. 1157.
69
Vd. BERKHOF, L., História das doutrinas cristãs, p. 226.
70
AGOSTINHO de Hipona. A doutrina cristã, III, 16.24, Patrística; v. 17, p. 172.
71
Vd. p. exp., AGOSTINHO de Hipona. Comentário aos Salmos, (3.1; 33.6), Patrística; v. 9/1, p. 31,
426.
28
72
GONZALEZ, J. L., Uma história do pensamento cristão, v. 2, p. 51. Vd. tb. KELLY, J. N. D.,
Doutrinas centrais da fé cristã, p. 339-342, que defende que Agostinho não questionou o
realismo preponderante de sua época, mas elaborou uma doutrina “radicalmente realista” e
“francamente espiritualizante”.
73
Cf. KELLY, J. N. D., Doutrinas centrais da fé cristã, p. 339-342
74
Vd. BETZ, J., “Eucaristia”, in: Dicionário de teologia, v. 2, p. 140.
29
2.2 A ESCOLÁSTICA
2.2.1 A Transubstanciação
75
HÄGGLUND, B., História da teologia, p. 131-3; BETZ, J., “Eucaristia”, in: Dicionário de teologia, v.
2, p. 140; BERKHOF, L., História das doutrinas cristãs. São Paulo: PES, 1992, p. 226.
76
GONZALEZ, J. L., Uma história do pensamento cristão, v. 2, p. 144-150, traz uma exposição e uma
análise da controvérsia.
77
BETTENSON, H., Documentos da igreja cristã, p. 239, transcreve parte da declaração: "o pão e o
vinho postos no altar são [...] o verdadeiro corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e
estes são sensivelmente tocados e rompidos pelas mãos dos sacerdotes e esmagados pelos
dentes dos crentes, não só sacramental, mas realmente". Berengário seria novamente forçado
30
mudança...83
Para fazer justiça ao filósofo grego, o teólogo R. C.Sproul nos faz lembrar de
que,
83
AQUINO, T., Suma teológica, v. 3, questão 75. Citado em BETTENSON, H., Documentos da igreja
cristã, p. 240.
84
AQUINO, T., Suma teológica, v. 3, questão 77. Citado em BETTENSON, H., Documentos da igreja
cristã, p. 242-243. Vd. SPROUL, R. C., Filosofia para iniciantes, p. 48: “É claro que a Igreja
Católica compreendeu a filosofia de Aristóteles nesse ponto e entendeu que um milagre era
necessário para transcender a relação natural entre substância e acidentes.”
85
SPROUL, R. C., Filosofia para iniciantes, p. 47-48.
32
que a hóstia ainda tinha cheiro, sabor e aparência (acidentes) de hóstia. Note que,
como lembra Sproul, na verdade este evento exige um milagre duplo: “Por um lado,
você tem a substância do corpo e do sangue de Cristo presentes sem os acidentes
do corpo e sangue de Cristo. Por outro lado, você tem os acidentes do pão e do
vinho sem a substância do pão e do vinho. 87
86
Cf. MONDIN, B., Curso de Filosofia, 1981. v. 1. p. 81-3.
87
SPROUL, R. C., Filosofia para iniciantes, p. 47, ênfase do autor. Vd. BROMILEY, G. W.,
"Transubstanciação", in: Enciclopédia histórico-teológica, v. 3, p. 571.
88
OSTERHAVEN, M. E., "Ceia do Senhor, conceitos da", in: Enciclopédia histórico-teológica, v. 1, p.
267. Ênfase acrescentada.
89
GEORGE, T., Teologia dos reformadores, p. 145.
33
Sendo o próprio corpo físico de Cristo, a graça presente nos elementos opera
soberana e independentemente da fé do recipiente ou da dignidade do ministrante
(ex opere operato). Foi esta visão que prevaleceu na Igreja Católica desde sua
oficialização em Latrão (1215).90 O Concílio de Trento (1545-1563) foi convocado
mais para uma reação polêmica aos reformadores do que para uma tentativa de
revisão doutrinária.91 Roma preferiu permanecer surda aos protestos, mantendo que
os Sacramentos causam graça, e mantendo a presença real física de Cristo na Ceia.
90
BERKHOF, L., Teologia sistemática, p. 596.
91
PIGGIN, F. S., "O Concílio de Trento", in: Enciclopédia histórico-teológica, v. 1, p. 313.
34
92
LIMA, L. A., Razão da esperança, p. 498.
35
93
GEORGE, T., Teologia dos reformadores, p. 147.
94
CALVINO, J., As institutas, v. 4, p. 401 (IV, xviii,1). Às citações da versão de 1560 das “Institutas da
Religião Cristã”, obra magna de Calvino, seguirá a referência ao volume, capítulo e artigo, entre
parênteses.
36
... seria muito mais plausível e traria consigo muito menos milagres
redundantes, se se afirmasse que não só os acidentes, mas também a
realidade do pão e do vinho permanecem neste Sacramento do altar – se a
igreja não tivesse decidido diversamente! Depois, quando compreendi que
era essa igreja que decidiu assim, a saber, a igreja tomista, isto é,
aristotélica, tornei-me mais ousado. [...] A transubstanciação deve ser
encarada como invenção humana, visto que não está baseada nem na
Escritura, nem em raciocínio sadio...96
95
Cf. BERKOUWER, G. C., The sacraments, p. 46.
96
LUTERO, M., O cativeiro babilônico da igreja, citado em BETTENSON, H., Documentos da igreja
37
E acrescenta que ainda que “cem mil demônios, juntamente com todos os
entusiastas, se adiantassem dizendo: 'Como pode pão e vinho ser o corpo e sangue
de Cristo?'“, os crentes deveriam permanecer firmes nesta verdade. 99 Percebe-se
que Lutero manteve a presença material do corpo de Cristo na Ceia, ainda que
rejeitasse as intrincadas construções filosóficas que lhe davam sustentação desde a
escolástica. Para manter tal posição, Lutero teve de recorrer à comunicação da
natureza divina de Cristo à humana, e afirmar a ubiqüidade 100 do corpo físico do
Jesus glorificado, o que significa que seu corpo físico participa da onipresença de
sua natureza divina, podendo, portanto, estar em toda parte.
Por que não poderia Cristo confinar seu corpo dentro da substância do pão,
tal como dentro dos acidentes? Fogo e ferro são duas substâncias; contudo,
no ferro em brasa estão misturados de tal modo que qualquer parte é ao
mesmo tempo ferro e fogo. O que impede que o glorioso corpo de Cristo
esteja em qualquer parte da substância do pão?101
cristã, p. 299.
97
HÄGGLUND, B., História da teologia, p. 203-5.
98
LUTERO, M., Os catecismos. Porto Alegre: Concordia, 1983, p. 487.
99
LUTERO, M., Os catecismos, p. 487.
100
Ubiqüidade é a propriedade ou estado de onipresença – no caso, referindo-se à natureza humana
de Cristo.
101
LUTERO, M., Os catecismos. Porto Alegre: Concórdia, 1983, p. 487.
38
recebem o Sacramento.”102
102
MELANCHTON, F., Apologia da Confissão de Augsburgo, p. 96.
103
GEORGE, T., Teologia dos reformadores, 1994, p. 155-156. Cf. o mesmo ensino por
MELANCHTON, F., Apologia da Confissão de Augsburgo, p. 134: "Assim, ensinamos nós que
no uso dos sacramentos deve aceder-se a fé que creia estas promessas e receba as coisas
prometidas, que são oferecidas no sacramento [...] Entretanto, de que valeriam esses milagres
e promessas ao incrédulo?"
104
Paulo e os sinópticos registram "Isto é o meu corpo...", e não "isto simboliza..."; Lutero não
aceitava qualquer interpretação que não fizesse jus a estas palavras (cf. Mt 26.26,28; Mc
14.22,24; Lc 22.19; 1Co 11.24). HODGE, C., Teologia sistemática, p. 1509, n.250, traz um
interessante arrazoado quanto às possibilidades de interpretação literal ou metonímica deste
texto.
39
105
GEORGE, T., Teologia dos reformadores, 1994, p. 150.
106
STEPHENS, W. P., Zwingli, p. 82.
107
NOLL, M. A., "Zuínglio, Ulrich", in: Enciclopédia histórico-teológica, v. 3, p. 656.
108
Cf. LEITH, J. H., A tradição reformada, p. 39.
109
GERRISH, B. A., "A ceia do Senhor nas confissões reformadas". In: GRANDES temas da tradição
40
internas e espirituais, que são denominadas pelo mesmo nome das próprias coisas
pela razão de que são Sacramentos e representações das coisas reais”.110 Mas não
devemos confundir as representações atuais com aquelas realidades que
representam, ocorridas no passado, na obra consumada de Cristo; pois, “porque os
Sacramentos significam coisas reais, que real e naturalmente ocorreram em certo
tempo, eu digo que representam tais coisas”.111
Por outro lado, também é verdade que Zwínglio foi mais radical que Lutero na
adesão ao sola scriptura da Reforma; como afirma Klein, “enquanto Martinho Lutero
procurava eliminar do culto e da disciplina eclesiástica o que lhe parecia contrário às
Escrituras, Zwínglio pretendia manter na Igreja apenas as doutrinas e práticas que
se encontravam explicitamente na Bíblia”.117
115
STEPHENS, W. P., Zwingli, p. 76,110.
116
Cf. STEPHENS, W. P., Zwingli, p. 61,65-66.
117
KLEIN, C. J., Os sacramentos na tradição reformada, p. 38.
118
ZWINGLI, U., On providence and other essays, p. 250-252, tradução minha.
42
Cristo alimenta a alma por ser morta por nós, não engolida por nós. 119 Foi como
intérprete da Bíblia que ele demonstrou que a expressão “Isto é o meu corpo”, tão
cara a Lutero, deve ser entendida metaforicamente, como “isto significa meu
corpo”.120 Assim, Zwínglio rejeitou a comunicação de atributos da natureza divina ao
corpo humano de Cristo, necessária à visão luterana.121
Ou seja, a participação na Ceia tem um significado real, pois é um ato do crente que
se une à fé que ele já tem, e que expressa externamente o recebimento espiritual
dos dons para a salvação. Seu valor está naquilo que representa ou significa. 125
119
STEPHENS, W. P., Zwingli, 1992, p. 97-8.
120
KLEIN, C. J., Os sacramentos na tradição reformada, p. 59; Klein apresenta ainda (pp. 53-64) a
interpretação de Zuínglio para diversas passagens acerca da Ceia, tomada de uma obra do
reformador de 1526.
121
Cf. STEPHENS, W. P., Zwingli, p. 58: "Esta aguda distinção entre as naturezas [de Cristo] é uma
das razões por debaixo das diferenças de Zuínglio e Lutero no entendimento da Ceia do
Senhor."
122
ZWINGLI, U., On providence and other essays, p. 285.
123
ZWINGLI, U., On providence and other essays, p. 252, tradução minha.
124
ZWINGLI, U., On providence and other essays, p. 286, , tradução minha; cf. p. 252 e 253.
125
Numa passagem memorável escrita a um rei cristão, onde lista sete "virtudes dos sacramentos",
Zuínglio usa como analogia o anel que este rei dera à sua rainha: ela não o valorizava por ser
43
Como notou W. Grudem, a respeito da teologia de Zwínglio, “podemos dizer que não
é tanto o Sacramento que traz Cristo ao comungante, quanto que a fé do fiel é que
traz Cristo ao Sacramento”.126
de ouro, mas por ser um símbolo de seu real marido. Cf. ZWINGLI, U., On providence and
other essays, p. 257.
126
GRUDEM, W. A., Introducing christian doctrine, p. 354.
127
Para efeito de clareza, utilizo aqui a denominação "calvinista" ao invés de "reformado", já que a
tratamos em oposição aos conceitos de dois outros reformadores.
44
128
CALVIN, J., Short treatise on Lord’s Supper, in Tracts and treatises, v. 2, p. 195-197.
129
CALVINO, J., As institutas, v. 4, p. 368, 371 (IV.xvii.24,27).
130
CALVINO, J., Efésios, p. 117. CLOWNEY, E. P., A igreja, p. 272, afirmando que Calvino forçou
“um problema desnecessário sobre a distância do corpo físico de Cristo para o nosso” – parece
sugerir que o reformador interpretava o céu como um lugar físico no espaço celestial.
Entretanto, Calvino apenas reconhece a limitação de nossa linguagem para “falar do Reino de
Deus exceto segundo nosso próprio modo”, enquanto afirma que Cristo está posto fora de
“toda a estrutura do mundo visível”, ou seja, “para além deste mundo criado”.
131
CALVINO, J., As institutas, v. 4, p. 375, 377 (IV.xvii.29,30).
132
CALVIN, J., Confession of faith in name of the Reformed Churchs of France, in Tracts and
treatises, v. 2, p. 160.
45
Sua solução é que a presença de Cristo na Ceia não é física, mas espiritual.
Hermisten Costa nota corretamente que “a compreensão bíblica de Calvino a
respeito da Ceia, envolve uma síntese do pensamento de Lutero e de Zwínglio,
conseguindo combinar de forma adequada o 'espiritualismo' de Zwínglio com o
'realismo' de Lutero sem, contudo, limitar-se à perspectiva de ambos”.137
133
CALVINO, J., As institutas, v. 4, p.(IV.xvii.30).
134
CALVIN, J., Catechism of the church of Geneva, in Tracts and treatises, v. 2, p. 89, tradução
minha.
135
CALVINO, J., As institutas, v. 4, p. 352 (IV.xvii.11).
136
CALVINO, J., As institutas, v. 4, p. 347 (IV.xvii.5).
137
COSTA, H. M. P., Raízes da teologia contemporânea, p. 182.
46
reformado Louis Berkhof denominou este “um ponto obscuro” e “dúbio” na exposição
de Calvino138 – mas o caso não é bem este. O próprio Calvino, ao expor com
humildade o assunto ao leitor, adianta seu sentimento de inadequação para explicar
a presença de Cristo com palavras:
138
BERKHOF, L., Teologia sistemática, p. 603; Berkhof parece estar seguindo Bavinck, cf. citação em
BERKOUWER, G. C., The sacraments, p. 231.
139
CALVINO, J., As institutas, v. 4, p. 349 (IV.xvii.7).
140
CALVINO, J., As institutas, v. 4, p. 379 (IV.xvii.32).
47
141
Vd. CALVIN, J., Catechism of the church of Geneva, in Tracts and treatises, v. 2, p. 89, tradução
minha.
142
CALVINO, J., As institutas, v. 4, p. 345 (IV.xvii.3).
143
CALVIN, J., The best method of obtaining concord, in Tracts and treatises, v. 2, p. 578.
144
CALVINO, J., As institutas, v. 4, p. 350 (IV.xvii.9).
145
CALVINO, J., As institutas, v. 4, p. 352 (IV.xvii.11).
146
CALVINO, J., As institutas, v. 4, p. 380 (IV.xvii.32).
48
O Senhor nos doa este benefício por meio de seu Espírito: que nos
tornamos com ele um só corpo, espírito e alma. Portanto, o vínculo desta
conjugação é o Espírito de Cristo, de cujo nexo somos ligados e é como, por
assim dizer, o canal pelo qual nos advém tudo quanto o próprio Cristo não
só é, mas inclusive tem.
Por isso, quando fala de nossa participação com Cristo, a Escritura atribui
ao Espírito todo seu poder. [...] somente pela operação do Espírito
149
possuímos Cristo inteiro e o temos permanentemente em nós.
147
CALVINO, J., 1 Coríntios, p. 354.
148
CALVINO, J., As institutas, v. 4, p. 275 (IV.xiv.9).
149
CALVINO, J., As institutas, v. 4, p. 353 (IV.xvii.12); também no Catecismo de genebra: "Mas como
pode ser isto, sendo que o corpo de Cristo está no Céu, e nos somos ainda peregrinos na
terra? Isto ele executa pela secreta e miraculosa agência de seu Espírito, para quem não é
difícil unir coisas de outra sorte afastados por um distante espaço." Em Tracts and treatises, v.
2, p. 91, tradução minha. Cf. Confissão de fé de Westminster, cap. VIII, seção IV, afirmando
que Cristo “ao terceiro dia ressuscitou dos mortos com o mesmo corpo com que tinha
padecido; com esse corpo subiu ao céu, onde está sentado à destra do Pai, fazendo
intercessão”. Ênfases acrescentadas.
49
Sustentamos que Cristo desce até nós, tanto pelo símbolo exterior, quanto
pelo seu Espírito, para vivificar verdadeiramente nossas almas com a
substância de sua carne e de seu sangue. [...] Nada está mais além da
natureza do que tomarem as almas vida espiritual e celeste de uma carne
que recebeu da terra sua origem, e que foi sujeita à morte. Não existe nada
mais incrível do que afirmar que coisas esparsas e separadas por todo o
espaço de céu e terra sejam não só reunidas, mas até mesmo sejam
unidas, em tão grande distância de lugares, para que as almas recebam
alimento da carne de Cristo.151
150
CALVIN, J., "Confession of faith in name of the Reformed Churches of France", em Tracts and
treatises, v. 2, p. 161, tradução minha. Calvino escreveu esta confissão de fé em 1562, já com
sua saúde bastante comprometida, em defesa dos protestantes franceses que haviam sido
perseguidos pelo Duque de Guise e estavam sendo pressionados a adotar a Confissão de
Augsburgo.
151
CALVINO, J., As institutas, v. 4, p. 367-68 (IV.xvii.24).
152
CALVINO, J., As institutas, v. 4, p. 352 (IV.xvii.10).
50
se mostra aqui com tanta virtude e eficácia, que não somente trará às
nossas almas uma indubitável confiança na vida eterna, senão que também
nos dá a certeza e segurança da imortalidade de nossa carne, que já
começa a ser vivificada pela carne imortal de Cristo, e em certa maneira lhe
comunica sua imortalidade. Os que com sua exagerada maneira de falar
vão mais além disto, não fazem outra coisa senão obscurecer a verdade,
que em si mesma é tão simples e evidente.153
Cremos, assim como foi dito, que tanto na Ceia quanto no batismo Deus
nos concede de fato aquilo que nos promete, e assim nós unimos aos sinais
a verdadeira posse e gozo daquilo que nos é apresentado. Desta forma,
todos aqueles que trazem à mesa sagrada de Cristo a fé pura, como um
vaso, recebem verdadeiramente o que os sinais testificam: que o corpo e o
sangue de Jesus Cristo alimentam a alma assim como o pão e o vinho
153
CALVINO, J., As institutas, v. 4, p. 379 (IV.xvii.32).
51
alimentam o corpo.154
sem nenhuma dúvida, que os fiéis, mediante o uso reto da mesa do Senhor,
comem o corpo e bebem o sangue de Jesus Cristo, que permanece neles e
eles nele; eles, até, se tornam carne da sua carne e osso dos seus ossos de
maneira tal que, como a Divindade eterna deu à carne de Jesus Cristo vida
e imortalidade, assim também o comer e o beber da carne e do sangue de
Jesus Cristo dá-nos as mesmas prerrogativas.156
154
Em CRESPIN, J., A tragédia de Guanabara, p. 93.
155
Em CRESPIN, J., A tragédia de Guanabara, p. 93.
156
Em THE creeds of christendom. Philip SCHAFF (Ed.), v. 3, p. 467, 469, tradução minha.
52
Cristo nos faz participar de si mesmo com todas as suas riquezas e dons e
nos deixa usufruir tanto de si mesmo como dos méritos de seu sofrimento e
morte, alimentando, fortalecendo e consolando nossa pobre alma desolada
quando comemos de seu corpo, e a reanimando e renovando quando
bebemos do seu sangue. 157
157
HARMONIA das Confissões Reformadas. J. R. BEEKE; S. B. FERGUSON (Eds.), p. 216-220.
158
HARMONIA das Confissões Reformadas. J. R. BEEKE; S. B. FERGUSON (Eds.), p. 216-218.
159
HARMONIA das Confissões Reformadas. J. R. BEEKE; S. B. FERGUSON (Eds.), p. xi.
53
160
HARMONIA das Confissões Reformadas. J. R. BEEKE; S. B. FERGUSON (Eds.), p. 218-222.
161
HARMONIA das Confissões Reformadas. J. R. BEEKE; S. B. FERGUSON (Eds.), p. xiii.
162
HARMONIA das Confissões Reformadas. J. R. BEEKE; S. B. FERGUSON (Eds.), p. 217-219.
163
HODGE, A. A., A confissão de fé de Westminster comentada, p. 477-9, citando a seguir João 6.54
e 55.
54
graça”;164 sublinha, portanto, uma atuação sacramental objetiva: Não diz que
aqueles que participam “sentem-se participantes das bênçãos”; mas, que “aqueles
que participam... tornam-se... participantes das bênçãos”.
Na resposta à pergunta 168 o Catecismo Maior ajunta ainda que aqueles que
dignamente participam “alimentam-se do corpo e do sangue de Cristo para sua
nutrição espiritual e crescimento em graça; têm a sua união e comunhão com ele
confirmadas; testemunham e renovam a sua gratidão e consagração a Deus e o seu
mútuo amor, como membros do mesmo corpo místico”. Vê-se um equilíbrio entre os
efeitos objetivos e subjetivos da Ceia. Na resposta 170 enfatiza a realidade desta
alimentação, onde os fiéis “recebem e aplicam a si o Cristo crucificado e todos os
benefícios da sua morte”, e recomenda na 172 que, sendo este Sacramento
“ordenado para o conforto até dos cristãos fracos e que estão em dúvida”, a pessoa
que está fraca na fé deve lamentar a sua incredulidade e esforçar-se para ter suas
dúvidas dissipadas; e assim fazendo, “pode e deve chegar-se à Ceia do Senhor para
ficar mais fortalecida.”165 O conceito de verdadeira nutrição espiritual através do
Sacramento brilha indubitavelmente.
164
VAN HORN, L. T., Estudos no breve catecismo de Westminster, p. 175.
165
HARMONIA das Confissões Reformadas. J. R. BEEKE; S. B. FERGUSON (Eds.), p. 217-221.
55
166
GERRISH, B. A., "A ceia do Senhor nas confissões reformadas". In: GRANDES temas, p.216.
167
GERRISH, B. A., "A ceia do Senhor nas confissões reformadas". In: GRANDES temas, p. 209.
56
Segundo Calvino, a Ceia não está vinculada tão somente com o passado, ou
seja, com o Cristo crucificado por nós – como na visão de Zwínglio; nem tampouco
deve ser entendido em termos de um presente sacrifício de Cristo, como no
romanismo. Ele entende a atuação sacramental em termos da união mística do
crente com Cristo, de forma que o corpo do Senhor permanece no céu, mas o crente
realmente (mas não fisicamente) recebe e desfruta pela mediação do Espírito Santo
da pessoa completa do Redentor e dos benefícios que ele conquistou por sua obra
salvífica. Longe de ser "um ponto obscuro", a concepção calvinista é "um ponto de
fé".
168
HODGE, C., Teologia sistemática, p. 1500. O teólogo de Princeton enfatiza os pontos em que as
posições zuingliana e calvinista concordam, tanto em seus escritos originais quanto no
Consenso Tigurino.
169
COSTA, H. M. P., Raízes da teologia contemporânea, p. 293-315, aponta as áreas de influência
57
do Iluminismo na teologia.
170
GRENZ, S. J.; OLSON, R. E., A teologia do século 20, p. 21-23; tb. KLEIN, C. J., Os sacramentos
na tradição reformada, p. 157-162.
171
Movimento unitarista surgido na Polônia, liderado pelo teólogo italiano Fausto Socino (1539-1604),
que repudiava todos os dogmas e passagens de conteúdo sobrenatural, que, segundo
postulava, não se harmonizavam com as luzes da razão.
172
BERKHOF, L., Teologia sistemática, p. 560. Arminianos são os adeptos do modelo doutrinário
criado pelo teólogo e ministro da Igreja Reformada Holandesa Jacob Arminius (1560-1609),
que rejeitava a doutrina da eleição em favor do livre-arbítrio humano; ensinava uma religião de
cunho moralista e racionalista.
173
GRENZ, S. J.; OLSON, R. E., A teologia do século 20, p. 28, 32-34.
58
174
KANT, I., A religião dentro dos limites da simples razão, p. 180-181.
175
cf. GRENZ, S. J.; OLSON, R. E., A teologia do século 20, p. 84.
176
BARTH, K., Proclamação do Evangelho, p. 27; cf. GRENZ, S. J.; OLSON, R. E., A teologia do
século 20, p. 82-83.
177
Cf. GRENZ, S. J.; OLSON, R. E., A teologia do século 20, p. 91-93.
178
BRUNER, E., O equívoco sobre a igreja, p. 81-90.
59
179
BRUNER, E., O equívoco sobre a igreja, p. 74-75.
180
BRUNER, E., O equívoco sobre a igreja, p. 76. Brunner se afasta totalmente dos efeitos cognitivos
e psicológicos que a concepção idealista da Ceia implica, pois na sua teologia a Revelação
nunca é um conhecimento sobre Cristo, mas um encontro pessoal com ele. Vd. GRENZ, S. J.;
OLSON, R. E., A teologia do século 20, p. 95-98.
181
Cf. GRENZ, S. J.; OLSON, R. E., A teologia do século 20, p. 148-154. Esta perspectiva ontológica
denomina-se Panenteísmo.
182
Cf. McKELWAY, A. J., The systematic theology of Paul Tillich, 199; vd. TILLICH, P., The protestant
era, p. 110-112. No caso da ceia, a palavra humana participa da Palavra divina, o pão e o vinho
daquele poder que sustenta o ser humano; cf. TILLICH, P., The protestant era, p. 98.
183
TILLICH, P., The protestant era, p. 96-98, tradução minha.
184
Cf. GRENZ, S. J.; OLSON, R. E., A teologia do século 20, p. 152-154
60
185
Não podemos deixar de notar que há certa ironia em que aqueles que se arrogam ser sucessores
no sacerdócio de Cristo terminem por diminuir a obra sacerdotal dele, que agora tem de ser
constantemente atualizada por seus supostos sucessores.
186
WELLS, D. F. Recent Roman catholic theology. In: TENSIONS in contemporary theology. S. N.
GUNDRY e A. F. JOHNSON (Eds.), p. 315, tradução minha.
187
CATECISMO da igreja católica, 1993, p. 329. Ênfase acrescentada.
188
WELLS, David F. Recent Roman catholic theology. In: TENSIONS in contemporary theology. S. N.
GUNDRY e A. F. JOHNSON (Eds.), p. 317.
61
189
Vd. GRENZ, S. J.; OLSON, R. E., A teologia do século 20, p. 306-310, sobre os atritos entre Küng
e o Vaticano e sua admiração pelo barthianismo, e p. 318-322 sobre sua apropriação da
dialética de Hegel.
190
KÜNG, Hans. The church, p. 287-289, tradução minha.
191
KÜNG, Hans. The church, p. 287, tradução minha.
192
Disponíveis no site do Vaticano: http://www.vatican.va/holy_father/.
62
193
Disponível em
http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/apost_exhortations/documents/hf_ben-
xvi_exh_20070222_sacramentum-
caritatis_po.html#EUCARISTIA,_MISTÉRIO_ACREDITADO_. Acesso em: 2/10/2007. Ênfase
acrescentada.
194
Disponível em http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-
63
Por outro lado, o catolicismo conseguiu manter suas posições inalteradas nos
últimos cinco séculos – o que não impediu que teólogos católicos pressionassem em
direção a uma interpretação mais espiritualizada, ou até existencialista, da
Eucaristia. Mas, graças à centralização do ensino no Vaticano, estas vozes
dissonantes permanecem à margem da teologia católica oficial.
195
Vd. BERKHOF, L., Teologia sistemática, p. 557-561; p. ex.: “tem-lhe [ao Espírito] parecido bem
submeter-se ao uso de certos meios para a comunicação da graça divina”; “os sacramentos
podem ser considerados como meio de graça, isto é, como canais objetivos que Cristo instituiu
na Igreja, e aos quais ele se prende normalmente para a comunicação de sua graça”; “Deus é
Deus de ordem que, na operação de sua graça, emprega ordinariamente os meios que ele
65
descrição bastante vaga de todos os meios que o Espírito Santo “lança mão” para
conceder “vários tipos de bênçãos ao cristãos”. 196
A glória de Deus foi contemplada pelo profeta de tal modo que Deus não
apareceu como ele realmente é, mas tanto quanto pode ser contemplado
pelo homem mortal. [...] Devemos sustentar, então, que todas as vezes que
os profetas e santos patriarcas viram Deus, eles viram como uma
semelhança ou aspecto da glória de Deus, mas não a própria glória, pois
não estavam ajustados a ela; pois isto seria medir com o palmo de nossas
mãos uma centena de milhares de céus, e terras, e mundos. Pois Deus é
infinito; e quando os céus dos céus não podem contê-lo, como poderiam
nossas mentes compreende-lo? Mas, ainda que Deus nunca tenha
aparecido em sua imensurável glória, e nunca se manifestado como ele
realmente existe, ainda assim devemos sustentar que ele apareceu de tal
modo a não deixar dúvida nas mentes e conhecimento de seus servos de
200
que eles tinham visto Deus.
mesmo ordenou. [...] na comunicação de sua graça, lhe aprouve obrigar-se [...] ao uso destes
meios. Ênfase acrescentada.
196
GRUDEM, W. A., Teologia sistemática, p. 801-802; Grudem chega a uma lista de onze “meios de
graça”, que inclui evangelização e oferta, por exemplo.
197
Devo grandemente esta divisão à obra de pesquisa de R. S. Wallace sobre a doutrina da Palavra e
dos sacramentos nos escritos de Calvino: Calvin’s doctrine of the Word and sacrament, Grand
Rapids: Eerdmans, 1957.
198
É notável o fato que desde 1536 até 1559 o tópico de abertura das Institutas sempre é “O
conhecimento de Deus” – sendo, talvez, o único que nunca mudou de lugar no transcorrer das
cinco edições latinas da obra. Cf. quadro comparativo das mudanças e adições de material no
“Prefácio à 2ª edição” em CALVINO, J., Institutas, v. 1, p. 16.
199
CALVINO, J., O livro dos Salmos, v. 3, p. 351.
200
CALVIN, J., Commentaries on the prophet Ezekiel, p. 106 (Calvin’s commentaries, v. 11).
Tradução minha
66
É por esta razão, portanto, que onde quer que leiamos sobre Deus
aparecendo aos homens e estando presente com homens no Antigo
Testamento nós sempre percebemos que algo que não Deus é que
aparece, como um sinal de que Deus está ali. Este sinal ou símbolo da
presença de Deus captura a atenção do adorador e obscurece a glória
daquele que está procurando se revelar por meio dele.205
201
CALVINO, J., O livro dos Salmos, v. 3, p. 545.
202
CALVINO, J. As institutas, v. 4, p. 269 (IV.xiv.3).
203
Cf. WALLACE, R. S., Calvin’s doctrine of the Word and sacrament, p. 72. Conseqüentemente, não
há virtude no sacramento divorciado da Palavra que o interpreta, isto é, confere-lhe significado.
Cf. CALVINO, J., Efésios, p. 171: “Se a Palavra é suprimida, toda a virtude dos sacramentos
fica perdida.”
204
WALLACE, R. S., Calvin’s doctrine of the Word and sacrament, p. 4.
205
WALLACE, R. S., Calvin’s doctrine of the Word and sacrament, p. 5, tradução minha. Cf. p. ex.,
CALVINO, J., O livro dos Salmos, v. 3, p. 329 (“a arca do concerto era um símbolo de sua
presença”), p. 545 (“símbolo visível da coluna de nuvem por meio da qual Deus dignou-se
testificar em todos os tempos que sua presença estaria sempre com seu povo, segundo o
67
Deve ficar claro que Calvino mantém que tal revelação mediada é verdadeira
em si mesma, ainda que se apresente sob sinais terrenos; por exemplo, quando
falara a Moisés por meio da sarça ardente, “Deus lhe mostrara apenas um tênue
sinal de sua presença, e [Moisés] esteve longe de vê-lo tal como ele é”.208 Assim,
“onde Deus dá um sinal, ali ele próprio vem para estar presente com os homens”. 209
emprego que ele fez dos sinais temporais”), p. 283 (“Deus, é verdade, não lhes era face a face
visível; mas o trovão era uma evidente indicação de sua secreta presença entre eles”); v. 1, p.
533 (“Deus exibiu-se a seus santos na arca do concerto, e por meio delalhes deu certo penhor
de socorro imediato [...]. seu povo antigo, que era rude e ainda em sua infância, seria elevado a
ele por meio de elementos terrenos”).
206
CALVINO, J., 1 Coríntios, p. 289; cf. BERKHOF, L., Teologia sistemática, p. 571.
207
CALVINO, J. As institutas, v. 2, p. 187 (II.x.2).
208
CALVINO, J., Hebreus, p. 334.
209
WALLACE, R. S., Calvin’s doctrine of the Word and sacrament, p. 75, tradução minha.
210
Vd. CALVINO, J., 1 Coríntios, p. 292-293. Cf. WALLACE, R. S., Calvin’s doctrine of the Word and
sacrament, p. 39.
68
direito?211
Em tal ação sacramental, uma união tem lugar entre o elemento divino – o
Espírito ou ação de Deus – e a atividade humana, de modo que o evento
todo é efetivo em conduzir a mesma graça retratada em sua forma exterior.
Aquilo, portanto, que Deus representa nos Sacramentos, ele realmente traz
por intermédio de sua agência.212
Entretanto, esta identidade entre ação divina e elemento terreno não deve nos
impedir de distinguir a fonte da eficácia dos sinais, isto é, Deus, que os instituiu.
Calvino persiste em evitar a simples afirmação da objetividade do Sacramento, tanto
quanto sua mera subjetividade; sua exposição sempre fundamenta firmemente na
atuação divina a conjunção entre o sinal e o significado. No Catecismo de Genebra
pergunta-se por que se atribui ao Sacramento aquela função de aplicar as
promessas divinas às nossas mentes; a resposta:
211
CALVINO, J. As institutas, v. 4, p. 363 (IV.xvii.21); cf. CALVINO, J., 1 Coríntios, p. 295 e
WALLACE, R. S., Calvin’s doctrine of the Word and sacrament, p. 75-76.
212
WALLACE, R. S., Calvin’s doctrine of the Word and sacrament, p. 159, tradução minha; cf.
BERKHOF, L., Teologia sistemática, p. 571.
213
HORTON, M., Um caminho melhor, p. 137. Vd. tb. Maravilhosa graça, p. 201-206, onde Horton
critica o evangelicalismo contemporâneo por inventar os novos sacramentos, como
experiências de consagração após um apelo ou durante um acampamento.
69
214
CALVIN, J., Catechism of the church of Geneva, in Tracts and treatises, v. 2, p. 84, tradução
minha.
215
Cf. BERKOUWER, G. C., The sacraments, p. 87 e 240.
216
Vd. exposição e refutação de alguns argumentos luteranos e católicos em BERKOUWER, G. C.,
The sacraments, cap. 10.
217
BERKOUWER, G. C., The sacraments, p. 216-217; cf. Confissão de Fé de Westminster, cap.
XXIX.I, e Romanos 4.11, onde Paulo ensina que Abraão recebeu a circuncisão como selo da
justiça da fé que teve quando ainda incircunciso.
70
218
BERKOUWER, G. C., The sacraments, p. 72-74.
219
Vd. HODGE, A. A. A confissão de fé de Westminster comentada, p. 281. Ênfase acrescentada.
220
CALVIN, J., The best method of obtaining concord, in Tracts and treatises, v. 2, p. 579, tradução
71
Este [o incrédulo], pois, ao receber o sinal externo com sua boca, embora
deixe de receber a graça interna em sua alma, só agrava sua própria
condenação e endurece seu próprio coração pelo ato. Portanto, todos
quantos são reconhecidamente incrédulos, e cuja descrença se manifesta,
quer por sua ignorância, quer por sua impiedade, devem ser impedidos,
tanto por sua própria causa como por causa de Cristo, de aproximar-se da
Mesa do Senhor até que sejam capazes de fazer pública e confiável
profissão de sua fé.224
minha.
221
BERKHOF, L. Teologia sistemática, p. 605.
222
CALVINO, J. As institutas, v. 4, p. 381 (IV.xvii.33); cf. CALVIN, J., Confession of faith in the name
of the reformed Churches of France, in Tracts and treatises, v. 2, p. 158-159; BERKOUWER, G.
C., The sacraments, p. 250-258.
223
HARMONIA das Confissões Reformadas. J. R. BEEKE; S. B. FERGUSON (Eds.), p. 221.
72
224
HODGE, A. A., A confissão de fé de Westminster comentada, p. 487.
225
Cf. Mt 26.29; Mc 14.25 e Lc 22.18; tb. 1Co 11.26, "até que ele venha".
226
CALVIN, J., Catechism of the church of Geneva, in Tracts and treatises, v. 2, p. 92, tradução
minha.
227
WILLIAMSON, G. I., The Heidelberg catechism, p. 130, tradução minha.
228
CALVIN, J., Short treatise on Lord’s Supper, in Tracts and treatises, v. 2, p. 180-181.
229
BERKOUWER, G. C., The sacraments, p. 78.
73
230
BERKOUWER, G. C., The sacraments, p. 89,235, tradução minha.
231
GRUDEM, W. A., Teologia sistemática, p. 836-837.
232
BERKHOF, L. Teologia sistemática, p. 600-601.
74
Ceia do Senhor. [...] De que maneira, então, Cristo está presente? Com
certeza há uma presença simbólica de Cristo, mas essa é também uma
presença espiritual genuína e há uma bênção espiritual genuína nessa
cerimônia.233
[a Ceia] é o alimento real do próprio Cristo que ofereceu seu corpo e sangue
para alimento espiritual. Àqueles fatigados por uma semana dura em casa
ou no escritório ou àqueles cujas consciências nunca os deixam esquecer
um pecado cometido durante a semana, o Sacramento da Santa Ceia existe
para comunicar Cristo e seus perdão. 236
233
GRUDEM, W. A., Teologia sistemática, p. 842. Ênfase acrescentada.
234
BERKHOF, L. Teologia sistemática, p. 604.
235
CALVIN, J., Catechism of the church of Geneva, in Tracts and treatises, v. 2, p. 85.
236
HORTON, M., Maravilhosa graça, p. 215-216.
237
LIMA, L. A., Razão da esperança, 506.
75
(pergunta 75) sugere que a Ceia é o meio pelo qual o fiel é assegurado de sua
participação no sacrifício de Cristo na cruz, juntamente com seus benefícios.238
238
Cf. HARMONIA das Confissões Reformadas. J. R. BEEKE; S. B. FERGUSON (Eds.), p. 216.
239
Cf. BERKOUWER, G. C., The sacraments, p. 240.
240
HODGE, A. A., A confissão de fé de Westminster comentada, p. 479.
241
CALVINO, J., As institutas, v. 4, p. 352 (IV.xvii.11).
242
BAVINCK, H., Teologia sistemática, p. 593; esta obra é a tradução de um compêndio teológico
popular feito por Bavinck, cuja obra-prima, Gereformeerde dogmatiek [Dogmática reformada]
tem cerca de três mil páginas distribuídas em quatro volumes. Ênfase acrescentada.
76
243
CLOWNEY, E. P., A igreja, p. 269.
244
Vd. BERKHOF, L., Teologia sistemática, p. 413-418; HORTON, M., A face de Deus, p. 135-136.
245
Compare, por exemplo, a Confissão de Fé, XXIX.1 (“para selar, aos verdadeiros crentes, todos os
benefícios provenientes desse sacrifício”) com o Catecismo Maior, P. 170 (“os que dignamente
participam... recebem e aplicam a si o Cristo crucificado e todos os benefícios da sua morte”).
Cf. HARMONIA das Confissões Reformadas. J. R. BEEKE; S. B. FERGUSON (Eds.), p. 217 e
219.
246
Vd. BERKHOF, L. Teologia sistemática, p. 600-601, onde trata-se das “coisas seladas na Ceia do
Senhor”.
247
Cf. CALVINO, J., As institutas, v. 4, p. 353 (IV.xvii.12).
248
BERKHOF, L. Teologia sistemática, p. 604-605.
249
Cf. CALVIN, J., Catechism of the church of Geneva, in Tracts and treatises, v. 2, p. 90: "Nós
obtemos esta comunhão pela ceia somente? De fato, não. Pois pelo evangelho também, como
77
Não é tanto para confirmar sua sacrossanta Palavra, quanto para confirmar-
nos nela. Porque a verdade de Deus é por si mesma suficientemente sólida,
firme e certa; e de nenhum lado pode receber maior confirmação que de si
mesma. Mas como nossa fé é pequena e débil, num momento vacila e cai
se não for amparada por todas as partes e sustentada por todos os
meios.255
Assim, nem a Ceia do Senhor é inferior à Palavra, nem pode subsistir sem
ela. E de modo algum a participação na Ceia será desnecessária ou inútil, pois o
Sacramento aumenta a eficiência da Palavra sobre nós e, portanto, aumenta a
porção da graça que recebemos. 258 Mas vale repetirmos que este “aumento da
eficiência” da Palavra não se dá por alguma deficiência objetiva da Escritura, mas
por uma deficiência subjetiva, ou seja, no sujeito que recebe a nutrição da Palavra –
ou, no dizer de Calvino citado acima, pela debilidade e pequenez de nossa fé.
256
LEITH, John H.. A tradição reformada, p. 296; COSTA, H. M. P., Raízes da teologia
contemporânea, p. 186-7.
257
LEITH, J. H. A tradição reformada, p. 302. Vd. COSTA, H. M. P., Raízes da teologia
contemporânea, p. 187: “Se por um lado Calvino conviveu com a separação entre a Palavra e a
Ceia, não admitia o sacramento sem a Palavra...”.
258
BERKHOF, L. Teologia sistemática, p. 604.
79
259
Cf. KUIPER, R. B., The glorious body of Christ, p. 203; tb. CALVINO, Institutas, v. 4, p. 269 (IV. xiv.
3), afirma que o sacramento é “associado como que um apêndice” à promessa.
260
BERKOUWER, G. C., The sacraments, p. 45.
261
Cf. Lc 22.19,20.
262
Cf. HARMONIA das Confissões Reformadas. J. R. BEEKE; S. B. FERGUSON (Eds.), p. 221.
80
263
Cf. SHELTON, R. M. "A teologia da Ceia do Senhor na perspectiva da tradição reformada". In:
Grandes temas, p. 226.
264
SHELTON, R. M. "A teologia da Ceia do Senhor na perspectiva da tradição reformada". In:
Grandes temas, p. 227.
265
CALVIN, J., Catechism of the church of Geneva, in Tracts and treatises, v. 2, p. 85. Esta afirmação
não se refere a quem não tenha acesso ao sacramento por razões alheias à sua disposição
espiritual.
266
VAN HORN, Leonard T. Estudos no Breve Catecismo de Westminster, p. 168, comentando a
referência ao "novo pacto", na resposta à pergunta 92. Não se refere, cf. acima (n. 246), à
omissão involuntária.
267
Cf. citações em WALLACE, R. S., Calvin’s doctrine of the Word and sacrament, p. 239-241.
81
268
Manual presbiteriano, 15.ed., p. 70.
269
Manual presbiteriano, 15.ed., p. 67. Grifos meus.
270
Cf. 1Co 11.27-29; cp. PL/IPB, art. 14: “O Conselho deve cuidar de que os membros professos da
Igreja não se ausentem da Mesa do Senhor e velar para que não participem dela os que se
encontrarem sob disciplina.”
271
No caso da carta aos Tessalonicenses, isto fica bastante claro: “Caso alguém não preste
obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para
que fique envergonhado. Todavia, não o considereis por inimigo, mas adverti-o como irmão.”
272
Cf. HARMONIA das Confissões Reformadas. J. R. BEEKE; S. B. FERGUSON (Eds.), p. 221.
82
Deste modo, se por um lado há a advertência aos indignos, por outro vemos
claramente que os que fraquejam em sua luta contra o pecado não são incluídos
entre aqueles, e têm acesso livre e incentivado à comunhão. O Manual Litúrgico,
editado pela Igreja Presbiteriana do Brasil segue no mesmo compasso, advertindo
“aqueles que, por suas vidas escandalosas, ou por sua ignorância das verdades
fundamentais do Cristianismo, mostram não pertencer ao povo de Cristo”, e
convidando os que “se acham arrependidos de seus pecados, que desejam, com a
ajuda de Deus, viver santamente”.274
Contudo, em vista de nosso estudo até aqui, cabe uma advertência: a prática
273
DIRETÓRIO de culto de Westminster, p. 48.
274
MANUAL litúrgico, p. 31.
83
275
CALVINO, J.. 1 Coríntios, p. 364; grifos meus. Cf. Institutas, v. 4, p. 392 (IV. xvii. 41): “Ora, se está
em jogo que por nós busquemos nossa dignidade, ai de nós! Só nos resta desespero e ruína
mortal! Ainda que nos empenhemos com todas as nossas forças, jamais teremos qualquer
outro proveito, senão ser ainda mais indignos, quanto mais nos preocupamos em conseguir tal
dignidade.”
276
1 Co 11.26-29. Cf. KISTEMAKER, S., 1 Coríntios, p. 556-558; MORRIS, L., 1 Coríntios, p. 131.
84
5 CONCLUSÃO
277
Cf. HAYES, Ed. A igreja. São Paulo: Hagnos, 2002, p. 131 onde o autor afirmar que na Ceia
"fazemos uma corajosa afirmação ao mundo de que somos um em Cristo"; Ceia mais
antropocêntrica, impossível.
85
definido pela emoção ou piedade que essas ações evocavam, e não pelas dádivas
celestiais que Deus concedendo por esses meios; e que participar da Ceia
significava: “Eu lembro o quanto Jesus sofreu e o quanto eu deveria, portanto, fazer
por ele”.278 Isto é uma tremenda redução do ensino bíblico, e certamente não é o
ensino dos reformadores.
Hoje, quando tantas pessoas anseiam por sinais de Deus, por sentimentos
de sua presença, por símbolos de aceitação de Deus a despeito da
fraqueza da fé e da desobediência humanas, como podemos esconder
tamanho testemunho divino dos pecadores crentes e arrependidos? Ali, na
278
HORTON, M., A face de Deus, p. 147.
279
BERKOUWER, G. C., The sacraments, p. 217, tradução minha.
86
mesa do Senhor, o Santo, cuja mera voz envia terror aos ossos de Israel, se
reveste de humildade, da mesma maneira como fez há dois mil anos
atrás.280
280
HORTON, M., Um caminho melhor, p. 141. Ênfase acrescentada.
87
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