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Orientador:
Prof. Dr. Frederico Rosa Borges de Holanda
Membros da Banca:
Prof. Dr. Luiz Amorim
Profª. Dra. Sylvia Ficher
3
Agradecimentos______________________________________
4
Resumo_____________________________________________
Neste trabalho são estudadas as relações sociais no espaço doméstico a partir das
informações de uso, ocupação e da organização espacial de residências. Buscou-se
verificar como as práticas cotidianas, envolvendo a relação entre habitantes, visitantes e
empregados, estão relacionadas com a configuração espacial das casas.
O objeto de estudo é constituído por 27 casas no Distrito Federal, Brasil, onde
habitam estudantes dos cursos de Arquitetura da UnB, Faculdades Planalto e UniCeub.
Para obter informações de uso e ocupação foram aplicados questionários e feitas
entrevistas, e para o estudo da configuração das residências foram utilizadas técnicas da
Sintaxe Espacial.
Esse estudo buscou identificar a possível existência de um “código espacial
doméstico”, para o universo analisado, explorando a Sintaxe Espacial como
metodologia de estudo configuracional. Procurou também, identificar um modo de vida
contemporâneo em Brasília, que se revelasse condizente ou não com sua proposta
modernista.
5
Abstract_____________________________________________
In this dissertation, the social relations are studied within the domestic space
related to informations of use, occupation and spatial organization of houses. The
intention was to verify how the daily practice, involving the relation between inhabitant,
visitors and employee are related with space configuration of houses.
The object of study is formed by twenty seven (27) houses in the Distrito
Federal, Brazil, where live students of Architecture of the Universities of Brasilia,
Faculdades Planalto and UniCeub. The informations about use and occupation were
obtained using a survey and interviews. The method of Space Syntax was used to study
the configuration of the houses.
This study tried to identify a possible existence of a “spatial domestic code” of
the studied universe, exploring the Space Syntax as a methodology of configurational
studies. It also searched for the identification of a contemporary life style in Brasilia,
which could express or not the modernist ideas and concepts.
6
Índice_______________________________________________
Introdução ......................................................................................................................... 9
Capítulo 1 – Casas: estudos e contexto ....................................................................... 12
1.1. O espaço doméstico ......................................................................................... 12
1.2. Revisão bibliográfica ....................................................................................... 15
1.2.1. Witold Rybczynski, Gérard Vincent e Antoine Prost .......................... 17
1.2.2. Gilberto Freyre ..................................................................................... 18
1.2.3. Roberto DaMatta .................................................................................. 21
1.2.4. Carlos Lemos, Francisco Veríssimo e William Bittar ......................... 23
1.2.5. Geraldo Gomes, L.L.Vauthier e Marlene Milan Acayaba ................... 25
1.2.6. Le Corbusier e o Movimento Moderno................................................ 27
1.2.7. Marcelo Tramontano ............................................................................ 30
1.2.8. Julienne Hanson e a Sintaxe Espacial .................................................. 31
1.3. Contexto social e geográfico ............................................................................ 35
Capítulo 2 - O método .................................................................................................. 39
2.1. Utilização e Ocupação dos espaços .................................................................. 40
2.2. A Sintaxe Espacial............................................................................................ 42
2.2.2. As variáveis analíticas .......................................................................... 51
2.2.2.1. Integração .......................................................................................... 51
2.2.2.2. Entropia ............................................................................................. 53
2.2.2.3. Medida de distributividade................................................................ 54
2.2.2.4. Medida de simetria ............................................................................ 55
2.2.2.5. Ordem de integração ......................................................................... 55
2.2.2.6. Grau de funcionalidade ..................................................................... 56
2.2.2.7. Grau de fechamento .......................................................................... 56
Conclusão ....................................................................................................................... 57
Capítulo 3 - Ocupação e utilização dos espaços ......................................................... 58
3.1. Espaços de maior tempo de permanência da família........................................ 58
3.1.1. A cozinha ............................................................................................. 59
3.1.2. Os quartos ............................................................................................ 63
3.2. Os espaços de menor tempo de permanência da família .................................. 67
3.2.1. Sala de estar ......................................................................................... 69
7
3.2.2. Sala de jantar ........................................................................................ 71
3.2.3. Sala de TV ............................................................................................ 72
3.2.4. Varanda ................................................................................................ 73
3.3. Espaços aos quais visitante não tem acesso ..................................................... 77
3.3.1. Escritório .............................................................................................. 78
Conclusão ....................................................................................................................... 81
Capítulo 4 - Uma análise configuracional .................................................................. 83
4.1. Características básicas do sistema espacial ...................................................... 83
4.2. Variáveis analíticas........................................................................................... 86
4.2.1. Integração média dos sistemas ............................................................. 86
4.2.2. Entropia ................................................................................................ 88
4.2.3. Distributividade.................................................................................... 90
4.2.4. Simetria ................................................................................................ 92
4.2.5. Ordem de integração ............................................................................ 94
4.2.6. Grau de funcionalidade ........................................................................ 96
4.2.7. Grau de fechamento ............................................................................. 98
Conclusão ..................................................................................................................... 104
Capítulo 5 – Espaço doméstico: morfologia e modo de vida .................................. 105
5.1 - Os espaços - seus usos e suas medidas sintáticas ......................................... 105
5.1.1. A cozinha ........................................................................................... 105
5.1.2. Quartos ............................................................................................... 107
5.1.3. Salas de estar e estar/jantar ................................................................ 109
5.1.4. Sala de Jantar ..................................................................................... 111
5.1.5. Sala de TV e Sala íntima .................................................................... 112
5.1.6. A Varanda .......................................................................................... 113
5.1.7. Escritório ............................................................................................ 114
5.1.8. Área de lazer ...................................................................................... 114
5.1.9. O Exterior........................................................................................... 115
5.2. Os sistemas e o modo de vida......................................................................... 118
Conclusão .................................................................................................................... 122
Bibliografia .................................................................................................................. 125
Anexos...........................................................................................................................129
8
Introdução __________________________________________
1
JAMESON, F. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. Ática, São Paulo, 1996.
2
HOLANDA, F. & KOHLSDORF, G. Arquitetura como situação relacional. Brasília, 1995, pág. 7.
(mimeo).
3
HILLIER, B. A lógica social do espaço hoje (mimeo), 1982. Tradução e Notas: Frederico de Holanda,
pág. 50.
9
Partindo das premissas da Sintaxe Espacial4, o objetivo é aprofundar o estudo do
espaço doméstico, seus significados e relações com o modo de vida das pessoas que
nele habitam. Nesse sentido, esse estudo exploratório pretende: a) contribuir para a
discussão sobre o espaço a partir de um enfoque arquitetônico; b) utilizar uma
ferramenta ou metodologia própria da arquitetura e verificar o desempenho dessa
técnica de análise configuracional de edifícios; c) caracterizar o modo de vida a partir
desse estudo.
Esse estudo do espaço doméstico procura entender a lógica da configuração
contemporânea nas casas dessa amostra. Uma hipótese é de que transformações
recentes no modo de vida – especialmente a exacerbação da individualidade – têm
influência direta na sua organização espacial. Essa influência ou inter-relação é aqui
estudada utilizando-se a teoria e as ferramentas da Sintaxe Espacial, comparando-se
com outros estudos realizados no Brasil e em diferentes países, procurando-se saber em
que medida existem, numa realidade “vernacular”, determinados “códigos” socio-
espaciais, e quais são suas características em um determinado conjunto de residências
em Brasília.
Este trabalho está dividido em cinco capítulos, buscando entender a relação entre
configuração espacial das residência e o modo de vida de seus habitantes.
4
Sintaxe Espacial é uma teoria de análise do espaço arquitetônico desenvolvida originalmente por Hillier
e colegas da Bartlett School of Graduate Studies – University College London, e posteriormente
enriquecida por pesquisadores de várias partes do mundo.
10
O capítulo 3 é dedicado à análise dos dados da amostra coletados através dos
questionários e entrevistas. À luz dos trabalhos mencionados na revisão bibliográfica é
feito um estudo do uso e ocupação dos vários cômodos das casas.
O capítulo 4 é constituído pela análise configuracional das residências, ou seja,
um estudo da organização espacial através da planta baixa de cada casa. Nesse capítulo
foi aplicada a técnica da Sintaxe Espacial para estudo de edifícios.
O capítulo 5 é constituído pela confrontação das informações dos capítulos 3 e 4.
Constitui uma busca pela identificação do modo de vida nessas casas, a partir da sua
configuração espacial e do uso dos espaços da amostra estudada. Esse capítulo está
dividido em duas partes: a) a primeira é uma análise dos espaços de per si, relacionando
características de ocupação e uso com os dados de configuração; b) a segunda é
constituída por uma leitura das casas como um sistema, em função dos vários níveis de
relações sociais entre habitantes, visitantes e empregados.
11
Capítulo 1 – Casas: estudos e contexto
Este capítulo está dividido em três partes e tem como objetivo apresentar o tema
a ser estudado, a revisão bibliográfica e o contexto socio-geográfico da amostra. Na
primeira parte, o tema é apresentado ressaltando a linha de abordagem e os objetivos
desse estudo. A segunda parte é composta por uma síntese de alguns estudos sobre a
casa, representando uma diversidade de trabalhos sobre diferentes aspectos e diferentes
áreas do conhecimento. Essa síntese tem como objetivo ressaltar os aspectos mais
diretamente abordados na elaboração do presente trabalho. Por último, a amostra será
apresentada quanto ao seu contexto social e geográfico. Ela será identificada,
primeiramente, por meio de informações gerais sobre as casas e suas localizações, e em
seguida será apresentado um sintético perfil socio-econômico e a constituição familiar
de seus habitantes.
5
HOLANDA e KOHLSDORF, 1995, pág. 7. (mimeo).
12
Se, por um lado, têm-se os atributos morfológicos do espaço, ou seja,
características de sua configuração, por outro lado, têm-se as expectativas humanas a
serem satisfeitas. Então, entender como se dá a relação entre uma instância imaterial ou
subjetiva - as expectativas humanas - e outra material - o espaço físico arquitetônico - é
o pano de fundo desse estudo. A partir desse enfoque surge a preocupação em entender
um tipo específico de espaço arquitetônico, o espaço doméstico.
Diante das transformações ocorridas na sociedade nos últimos séculos, o estudo
da casa é o estudo de um espaço, considerado pelo antropólogo Marc Augé, como o
“lugar” em contraposição ao “não-lugar”. Segundo Augé, a supermodernidade6 é uma
exacerbação dos princípios da modernidade7 e é caracterizada por mudanças
significativas no tempo e espaço. Essa supermodernidade é produtora do que Augé
denominou de "não-lugares". Os não-lugares, segundo ele, são espaços que não podem
ser definidos "como identitário, relacional e histórico”8.
Para ele, os não-lugares são a medida de nosso tempo, representados “...pelos
espaços públicos de rápida circulação, como aeroportos, rodovias, estações de metrô,
meios de transporte e grandes cadeias de hotéis e supermercados”9. O espaço doméstico
é precisamente a antítese do “não-lugar”, portanto, seu estudo é a afirmação da
importância do “lugar”. Para Augé, o “lugar” como espaço circunscrito ou o “lugar
antropológico”, é “aquela construção concreta e simbólica do espaço que é
simultaneamente princípio de sentido para aqueles que o habitam e princípio de
inteligibilidade para quem observa, como lar, a residência, o espaço personalizado”10.
A residência, esse lugar identitário e relacional, é o campo de maior produção
arquitetônica. Ela é normalmente estudada a partir de suas características estéticas,
semânticas e funcionais. Mas, além desses aspectos, esta deve ser estudada como uma
6
Outros autores utilizam diferentes termos para denominar o momento atual, ou seja, as mudanças
sociais, culturais, política e econômicas contemporâneas, como, por exemplo, pós-modernidade
(LYOTARD, J. The Post-modern condition: A report on Knowledge. Minneapolis, University of
Minnesota Press, 1984), e modernidade tardia (JAMESON, 1996).
7
Para Featherstone "a modernidade contrapõe-se à ordem tradicional, implicando a progressiva
racionalização e diferenciação econômica e administrativa do mundo social". FEATHERSTONE, M.
Cultura de Consumo e Pós-Modernismo. Studio Nobel, São Paulo, 1995, pág. 20.
8
Para Marc Augé um lugar é identitário no sentido de que um certo número de indivíduos pode se
reconhecer nele e definir-se através dele. É relacional no sentido de que esses indivíduos estabelecem
relações sociais nos mesmos. É histórico no sentido de que os ocupantes do lugar podem encontrar nele
rastros diversos de uma implantação antiga, o sinal de uma filiação. Para ele, Isso significa dizer que o
espaço é triplamente simbólico e estabelece uma relação de complementariedade entre as realidades
sociais” AUGÉ, M. Não-lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Papirus,
Campinas, 1992, pág. 73.
9
AUGÉ, 1992, pág. 74.
10
AUGÉ, 1992, pág. 51.
13
estrutura configuracionalmente definida que está relacionada ao modo como vivem nele
e interagem as pessoas. Para Hillier,
De acordo com Hanson, “toda casa configura um modo de vida, por meio da
construção de interfaces sociais entre homens e mulheres, mais jovens e mais velhos,
anfitriões e convidados, proprietários e empregados”12. A configuração desse espaço
constitui, então, uma concepção de relações e modos de vida. O espaço doméstico,
apesar de aparentemente simples, pode revelar muito sobre as possibilidades de
convívio. Através do estudo desse sistema - a casa - é possível saber se este facilita ou
restringe relações pessoais por meio de suas acessibilidades internas. Por outro lado,
permite entender como esse sistema de relações interage com o “exterior”.
O problema colocado é, então, entender a estrutura doméstica a partir da relação
entre o modo de vida das pessoas e os atributos morfológicos do espaço. Esse estudo é
uma tentativa de revelar um padrão que é característico das casas estudadas,
identificando um espaço doméstico contemporâneo (de início do novo milênio). Esse
espaço contemporâneo pode-se contrapor, ou não, ao espaço “moderno”, característico
das últimas décadas. Especificamente no caso de Brasília - universo geográfico da
pesquisa – esse aspecto é muito importante, uma vez que esta cidade foi concebida a
partir das premissas do modernismo arquitetônico.
Nesta linha de abordagem, serão utilizada as técnicas da Sintaxe Espacial, uma
teoria desenvolvida por Hillier e colegas da Bartlett School of Graduate Studies, de
Londres, para o estudo morfológico, ou configuracional, como ele prefere, de edifícios
e assentamentos humanos. A Sintaxe Espacial tem como proposta fundamental mostrar
11
No original: “The nature of the building as an object itself has complexities which in themselves
naturally tend to multifunctionality and diversity of cultural expression. It is only by understanding the
complex nature of the building as object that we can begin to understand its natural tendency to
multifunctionality" . HILLIER, B. e HANSON, J. The social logic of space. Cambridge University Press,
Cambridge, 1984, pág. 21. (minha tradução).
12
No original: “Every home configures a way of life by constructing social interfaces between men and
women, young and old, hosts and guests, owners and servants....” HANSON, J. Decoding Home and
House. Cambrige University Press, Cambrige, 1998, pág. 267. (minha tradução).
14
“como e porque diferentes formas de reprodução social requerem, e se materializam em,
diferentes tipos de ordem espacial”13.
13
HILLIER e HANSON, 1984, pág. xi. Citado por HOLANDA, F. O espaço de exceção. Tese de
doutorado apresentada na Universidade de Londres, 1997, pág. 76. (mimeo).
14
No original: “...imbued with cultural, social and even psychological values. Their spatial configurations
link activities and form experiences which define the quality of life of their inhabitants”. MONTEIRO,
Circe G. Activity Analysis in houses of Recife, Brasil. In. Space Syntax - First Internacional Symposium,
Volume II, London, 1997, pág. 20-13. (minha tradução).
15
No original: “...not just of how individuals and families choose to live their everyday lives, but of the
constitutions of society at large...” HANSON, 1998, pág.47.
16
No original: “The important thing about a house is not that it is a list of activities or rooms but that it is
a pattern of space, governed by intricate conventions about what spaces there are, how they are connected
together and sequenced, which activities go together and which are separated”. HANSON, 1998, pág. 02.
(minha tradução).
17
VINCENT, G e PROST, A. (org). História da Vida Privada: Da Primeira Guerra a nossos dias.
Companhia das Letras, São Paulo,1992.
18
RYBCZYNSKI, W. Casa: pequena história de uma idéia. Editora Record, Rio de Janeiro, 1986.
15
antropológicas e sociológicas encontradas, por exemplo, nos escritos de Freyre19 e
DaMatta20. Incluem também trabalhos abordando vários aspectos arquitetônicos (forma,
estilo, materiais, técnicas construtivas) como fez, por exemplo, Acayaba21. Existem
análises de mudança de uso dos espaços da casa, como por exemplo, nos trabalhos de
Lemos22 e Gomes23. Há ainda, estudos especificamente referentes aos modos de vida e
novas tecnologias, como o encontrado no trabalho de Tramontano24.
Esses estudos contribuem para um perfil da constituição social, antropológica,
cultural e arquitetônica da casa brasileira. Outros estudos têm procurado reunir alguns
desses aspectos - sociais, culturais, antropológicos - sob um novo enfoque, privilegiando
a análise do espaço doméstico a partir de suas características morfológicas como, por
exemplo, aqueles de Hanson25, Trigueiro26, Monteiro27, Amorim28 e Holanda29.
O que se segue é um breve apanhado dos vários estudos envolvendo o espaço
doméstico no século XX e final de século XIX. Todos eles abordam várias questões
relacionadas ao espaço estudado, sejam elas cultural, histórica, arquitetônica ou social.
A maneira como foram agrupados não significa necessariamente que estes abordem só o
tema em evidência. Esse é um esforço de destacar os aspectos mais diretamente
pertinentes à realização do presente trabalho.
19
FREYRE, G. Casa-Grande e Senzala: Formação da família sob o regime de economia patriarcal, 1º
volume, 7º edição. Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1952.
20
DAMATTA, R. A casa e a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. Editora Brasiliense, São
Paulo, 1985.
21
ACAYABA, M. Residências em São Paulo: 1947 – 1975. Projeto, São Paulo, 1986.
22
LEMOS, C. História da casa brasileira. Editora Contexto, São Paulo, 1989.
23
GOMES, G. Engenho & Arquitetura – tipologia dos edifícios dos Antigos Engenhos de açucar de
Pernambuco. Editora Fundação Gilberto Freyre, Recife, 1998.
24
TRAMONTANO, M. Novos modos de vida, novos espaços de morar – uma reflexão sobre a habitação
contemporânea. Tese de Doutoramento, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São
Paulo, 1998. (mimeo).
25
HANSON, 1998.
26
TRIGUEIRO, E, MARQUES, S. e CUNHA, V. The mystery of the social sector: Discussing old and
emerging spatial structures in Brazilian contemporary homes. In: Anais do 3º International Space Syntax
Symposium, Atlanta, 2001, pág. 40.1ss.
27
MONTEIRO, 1997.
28
AMORIM, L. The sectors’ paradigm: a study of the spatial and functional nature of modernist housing
in Northeast Brasil. Tese de doutorado apresentada na Faculty of the Built Environment The Bartlett
School of Graduate Studies, University College London, 1999.
29
HOLANDA, Frederico. Sintaxe de uma Casa-Átrio Moderna, In.: Cadernos Eletrônicos da Pós,
Brasília, 1999, página da Rede Mundial www.unb.br/fau/pos_graduacao
16
1.2.1. Witold Rybczynski, Gérard Vincent e Antoine Prost
30
RYBCZYNSKI, 1986, pág. 8.
31
VINCENT e PROST, 1992, pág. 8.
32
VINCENT e PROST, 1992, pág. 8.
33
RYBCZYNSKI, 1986, pág.48.
34
RYBCZYNSKI, 1986, pág.41.
35
RYBCZYNSKI, 1986, pág.41.
17
para essa separação foi a especialização dos espaços em locais de trabalho e de morar.
Com isso o espaço de morar ganha outras características como lugar de privacidade e
intimidade. Para Rybczynski, uma conseqüência importante dessa separação foi que a
casa se tornou um lugar mais privado, e “junto com esta privatização da casa surgiu um
maior senso de intimidade, que identificava a casa exclusivamente com a vida familiar,
dentro de casa, no entanto, a privacidade pessoal continuou relativamente irrelevante”36.
Para Prost e Vincent, essa separação vem “acompanhada por uma diferenciação
das normas: o universo doméstico se liberta de regras anteriormente ligadas ao trabalho
que ali se realizava, ao passo que o mundo do trabalho passa a ser regido, não mais por
normas de ordem privada, e sim por contratos coletivos”. Para eles, “não existe uma
vida privada de limites definidos para sempre, e sim um recorte da atividade humana
entre a esfera privada e a esfera pública. A vida privada só tem sentido em relação à
vida pública”37.
Após essa separação, o espaço doméstico passou a ser lugar de domínio privado,
lugar da família. A noção de intimidade e privacidade fizeram desse um lugar restrito,
de difícil penetração e o transformaram em objeto de estudo específico.
36
RYBCZYNSKI, 1986, pág.51.
37
VICENT e PROST, 1992, pág.21.
38
FREYRE, 1952, pág. 44.
39
BASTOS, E. Os descendentes de Prometeu. In: Caderno Mais – Folha de São Paulo, 12 de março de
2000, pág.18.
18
Em Casa-Grande & Senzala, Freyre afirma a importância da relação entre etnias e culturas,
resgatando o papel do escravo negro como civilizador na sociedade brasileira, operando
simultaneamente no processo de mestiçagem e no de difusão e incorporação do aparato cultural
africano, isto é, há uma absorção de seus usos e costumes pelos brancos, que reconhecem a
adaptabilidade dos mesmos à realidade tropical; em Sobrados e Mucambos, ressalta o papel do
patriarcado na ordenação da sociedade nacional, operando durante séculos como garantia de sua
organicidade.40
40
BASTOS, 2000, pág. 18.
41
FREYRE, Prefácio da 1ª edição, 1952, pág.34.
42
FREYRE, Prefácio da 1ª edição, 1952, pág.36.
43
BASTOS, 2000, pág. 18.
19
Essa decadência significava a perda do poder patriarcal, como resultado das
transformações sociais, econômicas e políticas, mas especialmente culturais. Com isso,
“alteram-se os modos de agir tradicionais e a perda dessas tradições atinge nuclearmente
a forma pela qual se organizam as relações sociais no Brasil”44, inclusive as relações
familiares e uso do espaço doméstico.
Segundo Bastos, a decadência do patriarcado rural é resultado da quebra da
continuidade entre público e privado. Isso alterou o modo de organização do poder no
país afetando a própria natureza das relações sociais e familiares. Como ele afirmou,
Ressaltou que a arquitetura dessas casas expressava um modo de vida. Fez então
uma associação entre a arquitetura doméstica e um estilo de convivência entre senhores
e escravos. Para ele, o estudo da casa-grande serviu “de base a uma teoria patriarcalista
44
BASTOS, 2000, pág. 18.
45
BASTOS, 2000, pág. 18.
46
FREYRE, G. Oh de casa!, Editora Artenova S.A . Recife, 1979, pág. 61.
47
FREYRE, 1979, pág. 56.
20
de interpretação da formação social brasileira”48. Mas aquela associação entre
arquitetura e estilo de convivência limitou-se, quase que apenas, à apresentação do
desenho da casa-grande do Engenho Noruega, de Cícero Dias, em Casa-grande &
Senzala.
Em sua obra Oh de casa!, respondendo às várias críticas em relação a Casa-
grande & Senzala – inclusive ao fato de ter apresentado uma casa sem sala, lugar
opulento de festas e requinte, e de não ter dado significativa importância a isso –, Freyre
afirmou que deixou “para outros sociólogos da História, ou historiadores tão somente, o
trato de tal assunto, de quase nenhuma importância para a análise e a interpretação do
complexo ou do conjunto histórico-sociológico...”49 feitas por ele. Dessa forma, Freyre
explicita o limite de sua abordagem.
Apesar desse limite, a contribuição de Freyre é importante para o presente
trabalho na medida em que mostra a relevância da casa como chave na definição da
estrutura social brasileira, e o seu conceito de estrutura familiar. Ao explicitar o limite
da sua abordagem, ele aponta para a necessidade de aprofundar os estudos
arquitetônico sobre as casas. Esses devem investigar como a arquitetura doméstica
constitui um modo de vida como, por exemplo, nas casas construídas em Brasília nas
últimas três décadas.
48
FREYRE, 1979, pág. 53.
49
FREYRE, 1979, pág. 54.
50
Categoria sociológica “é o conceito que pretende dar conta daquilo que uma sociedade pensa e assim
institui como seu código de valores e de idéias: sua cosmologai e seu sistema classificatório; que a
sociedade vive e faz concretamente – o seu sistema de ação que é referido e embebido nos seus valores”.
DAMATTA, 1985, pág.12.
21
precisão quando em contraste ou em oposição a outros espaços e domínios. (...) ela só
faz sentido quando em oposição ao mundo exterior: o universo da rua”51.
Ao estudar a casa a partir desse elo com a rua, DaMatta explicita a defesa de um
estudo da sociedade brasileira como uma sociedade relacional. Seria preciso entender
essa como um sistema, onde, mais importante que “os elementos em oposição, é a sua
conexão, a sua relação, os elos que conjugam os seus elementos”52. Por isso não é a casa
versus a rua, mais a casa e a rua como uma situação relacional. Para ele,
A casa e a rua é uma relação sobretudo complementar porque não se pode falar de casa sem
mencionar o seu espaço gêmeo, a rua. Mas é preciso notar também a oposição casa/rua tem
aspectos complexos. É uma oposição que nada tem de estática e de absoluta. Ao contrário, ela é
dinâmica e relativa porque na gramaticalidade dos espaços brasileiros, rua e casa se reproduzem
mutuamente.53
Para DaMatta, a casa e a rua “falam” da sociedade por meio de códigos sociais
complementares. Para ele o “código da casa (fundado na família, na amizade, na
lealdade, na pessoa e no compadrio) e o código da rua (baseado em leis universais,
numa burocracia antiga e profundamente ancorada entre nós, e num formalismo
jurídico-legal que chega às raias do absurdo)”54. Essa relação entre casa e rua interessa
para esse estudo, especialmente a partir da maneira como DaMatta define essa relação,
evidenciando sua importância.
Por outro lado, os códigos sociais que caracterizam essas categorias, assim como
foram definidos, podem ser diferentes de cultura para cultura e/ou sofrer mudanças ao
longo do tempo. As possíveis mudanças nessa relação é uma das características a ser
investigada nesse estudo. Não se pode estudar o modo de vida nos espaços domésticos
em Brasília, sem considerar sua relação com o exterior: a rua. A complementariedade da
casa e a rua é, tomando as reflexões de DaMatta, semelhante à relação entre o espaço
público e o privado, para Prost e Vincent. A busca do entendimento de um exige,
portanto, o estudo do outro.
51
DAMATTA, 1985, pág. 13.
52
DAMATTA, 1985, pág. 21.
53
DAMATTA, 1985, pág. 47.
54
DAMATTA, 1985, pág. 20.
22
1.2.4. Carlos Lemos, Francisco Veríssimo e William Bittar
Para Lemos, a função básica de uma casa é a de abrigo. Ela deve ser entendida
“como um invólucro seletivo e corretivo das manifestações climáticas, enquanto oferece
as mais variadas possibilidades de proteção”. Mas ele a considera também como um
“palco permanente das atividades condicionadas à cultura de seus usuários”55. Para ele,
para que essas situações domésticas, ligadas aos hábitos e práticas de uma sociedade,
possam acontecer, devem ser favorecidos pelas condições propícias da edificação. Essas
condições propícias, para ele, são elaboradas a partir de um programa de necessidades.
Com a preocupação de entender as mudanças ocorridas nesse programa de
necessidades ao longo da história, ele resgata as origens da casa brasileira fazendo o que
ele mesmo chamou de “um passeio pelo Brasil ao longo do tempo visitando as várias
ilhas culturais que sempre nos caracterizaram”. Ele segue:
Veremos como se morou e se mora no calor úmido do norte amazônico, como se viveu no
nordeste açucareiro, no sertão agreste. Na zona açucareira fluminense e nas montanhas mineiras
plenas de ouro no século XVIII. E também como se morou na São Paulo do tempo dos
bandeirantes. No litoral sul, de Cananéia para baixo. Quem sabe, iremos compreender melhor a
casa brasileira viajando pelo tempo afora, bisbilhotando o dia-a-dia de todos.56
55
LEMOS, 1989, pág. 9.
56
LEMOS, 1989, pág. 12.
23
Em sua obra Cozinhas e etc., por exemplo, Lemos faz um precioso trabalho
histórico-cultural no sentido de mostrar o “caminho” percorrido por algumas
dependências na estrutura da casa brasileira. Espaços como a cozinha e o banheiro - que
antes eram separados da casa por questões sanitárias e, no caso da cozinha, por questões
sociais - são hoje símbolos de riqueza e privacidade. Juntamente com a evolução do
status desses espaços na estrutura doméstica surgiram outros cômodos, como a copa e a
sala de jantar, que são também comentados por ele.
Associado a essa cronologia, Lemos sempre ressaltou as mudanças tecnológicas
que provocaram transformações nos hábitos do cotidiano como, por exemplo, a chegada
da energia elétrica, da água distribuída por redes públicas, do gás que dispensou o fogão
à lenha, até a popularização da televisão em meados do século XX. Estes são alguns
exemplos dos avanços tecnológicos que mudaram o programa de necessidades do
espaço doméstico nos últimos séculos, mudando também as concepções arquitetônicas
das residências.
Ao investigar as mudanças ocorridas no programa de necessidades, Lemos
retomou a história do uso e da ocupação da casa. Reconstituiu, assim, o modo de vida
nesse espaço, nos diferentes períodos históricos. Essa é uma perspectiva fundamental
para o presente trabalho, pois permite entender as transformações históricas da
ocupação da casa brasileira, a importância e o uso de cada cômodo e o seu papel social
na estrutura doméstica.
Na mesma linha de estudo de Lemos, estão os trabalhos desenvolvidos por
Veríssimo e Bittar57, embora não cheguem ao nível de detalhe do uso dos cômodos,
como fez Lemos. Esses autores têm o mesmo objetivo, fazer uma retrospectiva das
mudanças na utilização e status dos cômodos que compuseram o espaço doméstico em
500 anos de histórica da casa brasileira, como os próprios autores o denominam.
Tanto nos estudos de Lemos quanto nos de Veríssimo e Bittar, a ênfase é dada
na utilização dos cômodos. Não há, portanto, uma perspectiva que contemple a relação
entre os diferentes espaços da residência. Esses estudos também não estabelecem
relações entre as mudanças na organização espacial e as alterações de modos de vida.
Isso impõe limites para uma compreensão mais global da estrutura da casa, objetivo do
presente estudo. Nos capítulos seguintes, será comentado mais pontualmente suas
interpretações, à luz de novas evidências.
24
1.2.5. Geraldo Gomes, L.L.Vauthier e Marlene Milan Acayaba
57
VERÍSSIMO, F e BITTAR, W. 500 anos da casa no Brasil – as transformações da arquitetura e da
utilização do espaço de moradia. Ediouro Publicações S.A, Rio de Janeiro, 1999.
58
Gilberto Freyre, abrindo um seminário sobre Arquitetura nos trópicos, promovido e realizado no Recife
pela fundação Joaquim Nabuco em 1984. Citado por Gomes, 1998, pág.10.
59
GOMES, 1998, pág.10.
60
L.L.Vauthier - ilustre engenheiro e arquiteto francês que esteve no Brasil de 1840 a 1846.
25
sobre a casa brasileira, o qual foi publicado em revistas francesas de arquitetura, e
algumas de suas cartas sobre arquitetura doméstica podem ser encontradas em Casa de
Residência no Brasil62.
No caso de Vauthier, esse esforço de apreensão tinha como objetivo a solução de
problemas técnicos, por isso o foco eram as técnicas construtivas e os materiais usados.
Segundo estudiosos como Freyre, no entanto, ele foi além disso, fazendo um precioso
trabalho de investigação das influências históricas na tipologia das casas, e a origem dos
materiais de construção. As suas cartas revelam sua compreensão dos aspectos sociais,
históricos, ecológicos e mesmo psicológicos das construções coloniais brasileiras.
Assim como Gomes e Vauthier, a preocupação com a sistematização de dados
sobre a arquitetura doméstica, levou Acayaba a fazer um levantamento arquitetônico de
casas em São Paulo, num período mais recente. Diferente de Lemos, Acayaba não tinha
o interesse em detalhar o uso dos cômodos, mas estava incluso o interesse pelo processo
construtivo. O objetivo era registrar o projeto e toda a documentação que o envolve, no
sentido de revelar as mudanças ocorridas no espaço doméstico desde o processo
construtivo até a intenção plástica de cada obra.
Segundo ela, ao fazer tal levantamento, utilizando desenhos e fotografias de um
edifício “...o objetivo é revelar o projeto, os processos construtivos, a dimensão e a
disposição dos aposentos, o partido adotado e a intenção plástica implícita nessa obra”63.
Nesse sentido, o trabalho de Acayaba é mais próximo do que Gomes fez com os
engenhos em Pernambuco, ao revelar a tipologia das casas em São Paulo.
A idéia do trabalho, segundo ela, era “constituir, a partir do levantamento de
dados empíricos, uma coleção sistemática de casas, reduzida aos principais elementos
de representação para mostrar a evolução da arquitetura doméstica em São Paulo no
período de 1947 a 1975”64. O resultado desse trabalho foi a sistematização detalhada de
material como a planta de situação, levantamentos arquitetônicos, desenhos
arquitetônicos, fotografias, fichas técnicas e memoriais descritivos.
Embora o enfoque dado no trabalho de Acayaba seja diferente do proposto nesse
estudo, ou seja, não aprofunda o estudo da organização espacial dessas residências, o
seu levantamento está entre os valiosos estudos referentes ao espaço doméstico no
61
VAUTHIER, L.L. Casas de residência no Brasil. In: Arquitetura Civil I, FAUUSP e MEC-IPHAN, São
Paulo, 1975, introdução de Gilberto Freyre, pág 3.
62
VAUTHIER, L.L., 1975.
63
ACAYABA, 1986, pág. 19.
64
ACAYABA, 1986, pág. 19.
26
Brasil. A riqueza do levantamento de Acayaba (inclusive com fotos internas das
residências, além de fotos do exterior e as plantas baixas), daria, sem dúvida, um
excelente material para estudo morfológico dessas residências.
Tanto os trabalhos de Lemos quanto de Gomes contribuíram de maneira
fundamental para o resgate das mudanças no programa de necessidade da casa
brasileira. As mudanças sociais e culturais mudaram o uso de alguns espaços assim
como criaram outros devida às novas exigências, como, por exemplo, a recente presença
da sala de TV e o desaparecimento do quarto de hóspedes do espaço doméstico.
Juntamente com Acayaba, eles registraram as mudanças de tipos da casa brasileira em
diferentes períodos da história, contribuindo para o resgate histórico das mudanças
desse objeto.
No entanto, falou-se em mudanças no espaço doméstico (seus tipos e uso dos
espaços) sem investigar como essas mudanças estavam expressas na forma de
organização espacial das casas. Não se considerava também como essa organização
espacial estava relacionada às mudanças de comportamento das pessoas nesse espaço.
Entender melhor a relação entre a organização espacial e mudanças de uso do espaço
doméstico, é a proposta deste estudo.
65
LEMOS, 1989, pág. 62.
66
KOPP, Anatole. Quando o moderno não era um estilo e sim uma causa. Editora Nobel, São Paulo,
1990, pág. 16.
27
conceitos de estética, novos materiais, novas técnicas construtivas. Mais que isto, esse
movimento implicava num novo modo de vida. Para Kopp, é esse conceito fundamental
de “cultura do modo de vida” que esteve na base de todas as teorias arquitetônicas e
artísticas da década de vinte: “é ele que faz nascer na arquitetura formas de habitação
inteiramente novas e fundadas sobre as idéias que os revolucionários – alguns deles,
pelo menos – faziam da sociedade do futuro”67.
Nessa perspectiva, Le Corbusier destacou-se pelas pesquisas feitas sobre novas
formas de habitações. Em suas pesquisas rumo a uma proposta de um novo modo de
vida, ele projetou em 1929 a Ville Savoye. Esta residência perto de Paris passou a ser
expressão dos cinco pontos que ele considerou essenciais da nova concepção de
arquitetura: pilotis, planta livre, fachada livre, janela corrida e cobertura plana ou
cobertura jardim.
Os elementos apresentado na Ville Savoye são encontrados também na sua
proposta de unidades habitacionais para a Ville Radieuse, exemplo maior de suas
concepções arquitetônicas e urbanísticas. Após um rigoroso levantamento sobre as
necessidades básicas do ser humano para habitar, ele propôs, no projeto da Ville
Radieuse, um apartamento caracterizado pela ergonomia levada ao extremo. Essa
unidade habitacional é marcada pela otimização de cada centímetro quadrado de espaço,
tornando-se uma síntese dos conceitos racionais de Le Corbusier para habitação.
A casa é concebida então como um espaço racional, dividido em núcleos,
caracterizando o conceito de funcionalidade e praticidade da proposta de moradia. O
núcleo de serviço é composto por cozinha e banheiros, com seus espaços reduzidos ao
mínimo. Os quartos são concebidos somente para atender à função de dormitório, por
isso também com seus espaços reduzidos.
Para se ter uma idéia desse nível de racionalização, nos apartamentos, além
dessas características, outras medidas deveriam otimizar o espaço. As construções eram
pensadas com uma certa capacidade de transformação em termos de uso noturno ou
diurno, através da remoção das divisórias corrediças: “quando fechados, esses
elementos subdividiam os espaços de dormir e, abertos, ofereciam uma área de lazer
para as crianças que podia ter continuidade com a sala de estar”68.
Nesse novo modo de vida, a racionalização era a palavra chave. Não apenas a
concepção e a construção deveriam ser racionalizadas, mas também o comportamento
67
KOPP, 1990, pág. 20.
28
dos habitantes dentro das residências deveria ser racional. Para Gropius, três condições
eram essenciais para essa racionalização,
Viver de outra maneira, ou seja, que cada habitante tenha seu próprio quarto, não importa quão
pequeno; que a cozinha seja concebida de maneira a simplificar ao máximo o trabalho doméstico
e que a mobília, enfim, não imite o mobiliário burguês, mas seja, ao contrário, concebida em
função de um manutenção simples, de condições de vida higiênicas e de um preço baixo. Assim,
é toda a concepção de habitação que deve ser posta em causa69.
Com essa nova concepção de espaço de morar, a cozinha é um dos espaços com
maiores mudanças. A nova cozinha é um elemento essencial para a simplificação das
tarefas domésticas. Essa lógica fazia parte de um processo que visava otimizar,
higienizar e mecanizar as cozinhas. A cozinha do final do século 19 pareceria arcaica ao
lado das novas “cozinhas-laboratório” destas habitações. Nessas cozinhas, as funções
foram meticulosamente analisadas pelo arquiteto Gete Schütte-Lihotzky, no sentido de
reduzir sua área ao mínimo necessário, contribuindo para a diminuição do tempo gasto
com os serviços domésticos. Esse estudo resultou na famosa “cozinha de Frankfurt”.
A cozinha de Frankfurt tornou-se símbolo dessa racionalização extremada, por
meio do conceito de existenzminimum. Esta redução da área ao mínimo necessário (ou
mínimo necessário à existência) foi uma preocupação que regeu toda essa concepção de
habitação. Esse conceito estava tão presente que, para Argan, “qualquer fração de
espaço que não seja efetivamente habitada, dimensionada para um ato humano preciso,
só poderá pertubar a percepção do espaço e a clareza das sensações”70.
A compreensão dos novos conceitos de modo de vida, propostos pelo
Movimento Moderno, é essencial para o presente estudo, uma vez que Brasília, universo
geográfico da amostra, é fruto das concepções modernistas de arquitetura e urbanismo.
A Investigação sobre as influências da proposta modernista de modo de vida (ou sua
negação) em casas em Brasília nas últimas três décadas é imprescindível neste trabalho.
68
FRAMPTON, K. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo, Martins Fontes, 1997, pág.216.
69
KOPP, 1990, pág. 53.
70
ARGAN, G. Walter Gropius e a Bauhaus, 1984. Citado por TRAMONTANO, 1998, pág.52.
29
1.2.7. Marcelo Tramontano
71
TRAMONTANO, M. PRATSCHKE, A ., MARCHETTI, M. Um toque de imaterialidade: o impacto
das novas mídias no projeto do espaço doméstico, 2000, pág. 3. (mimeo)
72
GHab – Grupo de Pesquisa em Habitação, da Universidade de São Paulo.
73
TRAMONTANO, M. PRATSCHKE, A ., MARCHETTI, M, 2000, Pág.2.
74
TRAMONTANO, M. PRATSCHKE, A ., MARCHETTI, M, 2000, pág. 3.
30
novas mídias; c) relação entre membros do grupo familiar e pessoas extra-grupo; d)
alteração da função dos cômodos. Estes são os eixos de sua pesquisa.
O estudo do modo de vida sob o impacto dessas novas tecnologias é, sem
dúvida, um aspecto importantíssimo e inevitável a ser abordado no espaço doméstico,
no sentido de se entender em que medida isso muda o modo de vida nesse espaço. Este
é, inclusive, um dos aspectos levantados na presente pesquisa, embora não seja o foco
específico. No entanto, partindo dos níveis de alterações possíveis, citados por
Tramontano, é provável, como veremos, que essas mudanças estejam diretamente
ligadas à configuração desses novos espaços de morar.
As mudanças na relação entre os membros do grupo familiar e desses com
pessoas extra-grupo significam também mudanças na configuração dos espaços
domésticos, de tal forma que estes suportem bem tais mudanças nas relações pessoais.
Tramontano referiu-se a um “redesenho do espaço doméstico”, implicando
possivelmente uma redefinição configuracional das casas. Veremos como esse
redesenho não se restringe somente ao tamanho ou ao uso de cada cômodo da
residência, o que não fica claro no trabalho de Tramontano.
31
[morfologia] e vida social é o obstáculo principal a um projeto melhor”75. Defenderam a
importância dessa área de estudo para a arquitetura, como forma de aliar conhecimento
teórico à competência da intuição arquitetônica.
No Brasil, alguns pesquisadores estão desenvolvendo trabalhos nessa área com
intuito de identificar as diferenças configuracionais existentes na arquitetura doméstica
brasileira. Esses estudos contribuem e complementam as pesquisas anteriores sobre
residências ao revelar a estrutura do espaço doméstico sob um outro enfoque. Estudam
as casas a partir da sua configuração, ou seja, é entendida como um sistema de relações
entre os espaços que as compõem.
Para se ter uma idéia, em recente estudo, Trigueiro investigou a afirmativa de
que os sobrados – característicos da arquitetura doméstica colonial – constituíam um
único tipo. Essa afirmativa foi primeiramente feita por Vauthier, referindo-se à tipologia
das casas coloniais, quando de suas anotações sobre a casa brasileira, no início do
século. Segundo ele, “quem viu uma casa brasileira viu todas”76.
Lemos ao estudar os sobrados paulistanos, na mesma linha de Vauthier, referiu-
se às divisões internas da casa colonial urbana, afirmando que “a casa popular urbana
dos tempos coloniais praticamente teve a mesma planta pelo Brasil em geral, embora as
técnicas construtivas tenham sido diversificados”77. Em relação aos sobrados coloniais
em Pernambuco, aos quais Vauthier se referiu, Trigueiro constatou que essa premissa de
semelhança generalizada estava equivocada. Segundo ela,
75
No original: “...a lack of understanding of the precise nature of the relation between spatial organization
and social life is the chief obstacle to better design”. HILLIER, e HANSON,. 1984, pág. X – prefácio.
(minha tradução).
76
VAUTHIER, 1975, pág. 37.
77
LEMOS, C. Alvenaria Burguesa: breve história residencial de tijolos em São Paulo a partir do ciclo
econômico liderado pelo café. Editora Nobel, São Paulo, 2ª edição, 1989a, pág. 32.
32
um tipo único: os sobrados urbanos, por exemplo, são mais hierarquizados, não
permitindo acessos alternativos, enquanto os sobrados semi-urbanos e a casa de sítio são
mais integrados ao exterior, modificando a hierarquia espacial antes referida.
Além desse trabalho, Trigueiro têm uma vasta pesquisa sobre espaços
domésticos com o intuito de fazer um banco de dados sobre o assunto. Essa
sistematização envolve o estudo de casas de vários períodos arquitetônicos, desde casas
do período colonial, eclético, moderno, até casas contemporâneas79.
Outro importante trabalho, também sobre casas no Recife, foi feito por
Monteiro. Nele ela fez uma análise do padrão espacial das atividades domésticas, de
diferentes grupos sociais, baseadas na análise de cada estrutura residencial. Ao mapear
as atividades no espaço doméstico, ressaltou a importância da diferença entre o rótulo
do espaço e sua ocupação. Na grande maioria das vezes a definição do cômodo da casa
não explicita as atividades que nele acontecem. No presente estudo, para o
entendimento do modo de vida se fez necessário mapeamento similar e, de fato, as
categorias de atividades para tal mapeamento foram inspiradas no trabalho de Monteiro.
Na mesma linha de pesquisa, Amorim estudou diversas casas em Pernambuco.
Em sua pesquisa de doutoramento, dedicou-se ao estudo da relação espacial entre os
“setores” das residências. Estudou como os setores íntimo, social e de serviço
configuram a estrutura dos espaços domésticos em Recife. Para esse estudo, Amorim
trabalhou com uma amostra de 14 casas coloniais, 32 casas ecléticas e 204 casas
modernas.
Em recente trabalho, Amorim discutiu outras variáveis morfológicas para o
estudo das residências e ressaltou a importância de estudar os setores como importante
aspecto da estrutura espacial doméstica. Afirmou que os setores “podem expressar
muito das intenções dos projetistas e habitantes em isolar fortemente os diferentes
setores, diferentes categorias de usuários...”80. Para esse trabalho, é de interesse o estudo
feito por ele sobre as casas de arquitetos modernista em Recife, pois serão usados como
parâmetros para análise.
78
TRIGUEIRO, E.B.F. Sobrados coloniais: um tipo só?. Pág. 7. (mimeo).
79
TRIGUEIRO, E.B.F. The dinner procession goes to the kitchen: a suntactic approach to nineteenth and
early twentieth century British houses. In: Anais do 1º International Space Syntax Symposium, Volume
II, Londres, 1997, pág. 19.1ss.
80
No original: “can express many of the intentions of the designers and inhabitants by strongly isolating
different sectors, differents categories of users...”. AMORIM, L. Houses of Recife – From diachrony to
Synchrony, In: Anais do 3º International Space Syntax Symposium, Atlanta, 2001, pág. 3. (mimeo)
33
Esse rápido panorama ilustra a diversidade de estudos sobre os diferentes
aspectos do espaço doméstico, envolvendo desde de suas características sócio-
antropológicas, suas formas de ocupação e uso, até sua organização espacial. Essas são
algumas características que fazem do espaço doméstico um complexo objeto de estudo.
Se, por um lado, ele se mostra carregado de significados, por outro, ele possui
características físicas (ou morfológicas), concretamente relacionadas à maneira como as
atividades acontecem.
Diante desse panorama, não é a pretensão desse estudo responder a todos os
questionamentos levantados nos diferentes trabalhos. A intenção é explicitar algumas
diferenças de abordagem, sistematizar suas contribuições para esse estudo, e sua
pertinência ao tema proposto.
Lemos, na introdução do livro Alvenaria Burguesa, chamou a atenção para os
cuidados necessários ao estudar a casa, dada a interdisciplinariedade do tema. Para ele,
“a gama de conhecimentos necessários ao pleno entendimento do tema proposto, como
se verá, está a exigir de um simples professor de história da arquitetura um saber muito
além de suas limitações”81. De fato, há razões para tanto cuidado. Entretanto, a
compreensão de alguns aspectos do espaço doméstico, sob esse enfoque arquitetônico,
exige que fronteiras interdisciplinares sejam tocadas.
Como observou Monteiro, Hillier e Hanson argumentaram que a principal
dificuldade no estudo do espaço, é o paradoxo de encontrar a relação entre o “sujeitos”
imateriais abstratos (parte subjetiva) e um mundo material de “objetos” (parte
objetiva)82. Entender essa situação relacional, que exige essa interdisciplinariedade, é o
desafio deste estudo.
81
LEMOS, C.1989a, pág.7.
82
No original: “Hillier and Hanson (1984) argue that the main difficulty rests in the paradox of finding a
relation between abstract immaterial “subjects” and a material world of “objects’. What is to be sought is
a relationship between the ‘social’ subject (whether individual or group) and the spatial object acting as
distinct entities: space is desocialised at the same time as society is despatialized” (Hillier and Hanson,
1984) citado por MONTEIRO, C. 1997, pág. 20-1.
34
1.3. Contexto social e geográfico
Figura 1
35
A escolha por residências unifamiliares, é resultado da convicção de que casas
apresentam maior possibilidade de configuração que expressa a escolha do habitante
pela forma de organização do espaço. Isto é, num apartamento, a configuração padrão
para vários moradores pode, por um lado, impor uma configuração espacial e, por
outro, inibir o que poderia ser a vontade dos moradores por uma organização mais
idiossincrática do espaço.
Em Brasília, essa imposição é ainda mais freqüente uma vez que existem poucas
variações de plantas de apartamentos, especialmente no Plano Piloto. Mesmo que estes
sejam reformados, o que geralmente acontece, as possibilidades de mudanças na
configuração espacial são limitadas. As possíveis mudanças não constituem um perfil
que expressa as particularidades encontradas nas casas, embora seja claro que esse
universo constitua, igualmente, um ótimo objeto de estudo. Quanto às casas, entretanto,
por mais que o projeto sofra interferência dos arquitetos, por sobre as aspirações das
famílias, ou sofra influência de revistas de arquitetura ou de quaisquer outras fontes, a
residência unifamiliar ainda permite uma maior escolha do habitante por uma ou por
outra configuração, quando não a busca por um projeto exclusivo. Essa busca por
(assim como a maior possibilidade de) exclusividade, torna a investigação de um
possível genótipo83 (que é uma hipótese do trabalho), mais interessante.
Nesse sentido, essa amostra revelou uma característica importante: mais de 80%
dos entrevistados classificaram como “bom” e “muito bom” morar nas casas, e mais de
33% dizem não querer mudar absolutamente nada nelas. Esses altos índices de
satisfação dos entrevistados indicam a grande aceitação das residências, inclusive de
moradores para os quais as casas não foram projetadas, que de fato constituem a
maioria, pois 55,5% delas não foram projetadas para as famílias que as ocupam.
Dentre os argumentos que justificam essa satisfação foi mencionado o fato da
casa ser “confortável”, “aconchegante” e “espaçosa”. A maioria das residências são de
casas acima de 200m2 - cerca de 59,6%, dessas, quase 20% estão acima de 500 m2 de
área construída. Essas casas foram construídas a partir da década de 1970. Cerca de
18% são da década de 1970, mais de 37% são construções da década de 1980 e cerca de
45% são da década de 1990.
36
Quanto à composição familiar da amostra, esta se apresenta, relativamente
diversificada. Encontra-se famílias monoparentais, casais com dupla renda sem filhos84,
e famílias nucleares. A predominância é ainda da família nuclear (70% dos casos),
seguida de famílias monoparentais (14%) e de casais sem filhos (3,70%)85. Nessa
composição familiar, a maior renda ainda é a do pai, em mais de 59%, seguido pela mãe
com cerca de 18%.
83
Genótipo é um conceito, emprestado da biologia e usado pela Sintaxe Espacial, para identificar um
grupo com característica recorrentes, um código para identificar os objetos estudados.
84
DINKS - double income no kids . Cfr. TRAMONTANO, 2000, pág. 2.
37
índice é de pós-graduados, cerca de 22%, e na seqüência, de terceiro grau incompleto,
cerca de 11%. Essas informações colocam as famílias da amostra numa classificação
social bem acima da média.
Como veremos no capitulo 3, o universo estudado é tipicamente de classe
média, o que resulta num objeto propício para essa investigação, uma vez que é nessa
classe social onde estão expressas as novas concepções de uso, conforto e tecnologia,
graças aos recursos financeiros característicos dessa classe social. As possíveis
mudanças configuracionais e comportamentais podem ajudar a entender as tendências
mais recentes, particularmente se comparadas às residências modernas estudadas por
outros autores. Estaremos diante de um genótipo pós-moderno?
85
O restante, cerca de 12% não informaram.
38
Capítulo 2 - O método
O primeiro nível têm como objetivo fazer uma aproximação do modo de vida;
entender como as pessoas utilizam os espaços, quando, para quê e por quem são
ocupados, e o grau de satisfação em relação ao espaço habitado. A partir daí, a
investigação é uma tentativa de mapear como se dão as interfaces sociais no complexo
estudado. Para isso, os dados foram coletados em duas etapas: a) a aplicação de
questionários; b) entrevistas com público selecionado a partir dos questionários.
No segundo nível, o espaço será analisado a partir da sua sintaxe. Essa análise
possibilitará conhecer a casa numa outra dimensão. Não a dimensão social lato senso,
como no primeiro momento, mas determinadas características físicas, ou seja, um
estudo de sua configuração em termos de barreiras e permeabilidades que conformam
tipos de acesso diferenciados – mais ou menos diretos – entre os cômodos. Essa etapa
será feita a partir da análise das plantas baixas das residências e de sua implantação.
Essas relações serão analisadas sob três aspectos: a) relação entre os habitantes;
b) relação desses habitantes com os visitantes; c) relação dos habitantes com
empregados. Segundo Hanson, “casas são sensíveis a relações sociais somente quando
constróem e contêm interfaces entre diferentes tipos de habitantes e diferentes
categorias de visitantes”86. O visitante é todo aquele que não faz parte do grupo que
mora na residência.
86
No original: “Houses are sensitive to social relations only insofar as they construct and constrain
interfaces between different kinds of inhabitant, and different categories of visitor.” HANSON, 1998,
pág. 77. (minha tradução).
87
Essas categorias foram sugeridas por MONTEIRO, 1997, pág. 20.3.
40
incluída uma questão sobre a localização de tais objetos. Apenas alguns equipamentos
foram incluídos como, por exemplo, televisão, aparelho de som, computador e aparelho
de ginástica, porque esses equipamentos podem, mais diretamente, indicar mudanças de
comportamento e de utilização dos diferentes espaços da casa. Foram incluídas ainda
outras questões procurando saber se as pessoas entrevistadas gostam ou não do bairro e
da casa onde moram, tendo por objetivo pesquisar o grau de satisfação do lugar
habitado.
As casas selecionadas foram: as casas 3, 16, 17, 18 e 26. Essas casas foram
selecionadas porque formam uma amostra representativa da diversidade encontrada no
conjunto estudado. Essa diversidade foi estabelecida a partir de alguns critérios: a)
configurações mais e menos permeáveis; b) configurações mais e menos setorizadas, ou
seja, plantas que apresentam os setores de serviço, social e íntimo claramente separados,
ou não; c) casas com diferentes tamanhos, em termos de área construída; d) casas em
diferentes localidades.
88
O termo "lazer passivo" refere-se a atividades que, embora possam ser feitas coletivamente, não têm
um caráter de interação direta entre as pessoas.
89
Banco de dados feito pela autora no aplicativo ACCESS, no Windows 98.
41
formatos e natureza das relações entre os membros do grupo. Para ele, esses níveis
seriam constituídos por
uma conversa entre pai e filho, o namoro dos adolescentes, as confissões entre irmãs, a atividade
sexual de todos, das relações sexuais entre os pais aos momentos solitários dos filhos de
exploração do próprio corpo, as longas conversas entre coabitantes... A tentação de inseri-las na
esfera do entretenimento é grande, mas seria reduzir sua importância no próprio cotidiano das
pessoas90.
A Sintaxe Espacial tem suas origens no início dos anos de 1970, como visto
anteriormente. Segundo Holanda, a expressão “Sintaxe Espacial” apareceu pela
primeira vez no artigo “Space Syntax”91, publicado em 1976, embora alguns textos
anteriores de Hillier e Leaman já apresentassem as idéias básicas ali discutidas.
Entretanto, a mais completa sistematização dos conceitos, das categorias analíticas
básicas e do referencial epistemológico da teoria, foi feita no livro The Social Logic of
Space92, de Hillier e Hanson, editado em 1984.
90
TRAMONTANO, 1998, pág.231.
91
HILLIER, B, A LEAMAN, P. STANSALL e M. BEDFORD. “Space Sintax”, Environment &
Planning, 1976. Citado por HOLANDA, 1997, pág. 75.
92
HILLIER e HANSON. The social logic of space, Cambridge University Press, Cambridge, 1984.
93
No original: “...set of techniques for the representation, quantification and interpretation of spatial
configuration in buildings and settlements” (HILLIER, B. e HANSON, J. e GRAHAM, H. Ideas are in
things: an application of the space syntax method to discovering house genotypes, in: Enviroment and
Planning B: Planning and Design, 1987, v.14, pág. 363.) (minha tradução).
94
LOUREIRO, C. Classe, controle, encontro: o espaço escolar. Tese de Doutorado apresentada à
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1999, p. 50-51.
(mimeo).
42
relações humanas. Ela será utilizada, portanto, como uma metodologia capaz de
explicitar a relação entre os espaços residenciais e suas formas de uso e convívio.
relações espaciais existem onde há algum tipo de ligação entre dois espaços. Configuração existe
quando as relações existentes entre dois espaços são mudadas de acordo como relacionamos cada
um a um terceiro ou a qualquer número de espaços. Descrições configuracionais, portanto,
trabalham com a maneira pela qual um sistema de espaços está relacionado para formar um
padrão, em vez de [trabalhar] com as propriedades mais localizadas de qualquer espaço
particular95.
95
No original: “Spatial relations exist where there is any type of link between two spaces. Configuration
exists when the relations which exist between two spaces are changed according to how we relate each to
a third, or indeed to any number of spaces. Configurational descriptions therefore deal with the way in
which a sustem of spaces is related together to form a pattern, rather than with the more localised
properties of any particular space" HANSON, 1998, pág.23. (minha tradução).
96
Poincaré - famoso matemático, nasceu em Nancy - França, em fins de século XIX e morreu em 1912.
Ver BOYER, C. B. História da Matemática. Editoria Edgard Blücher Ltda. São Paulo, 1996.
97
Analysis situs - livro de Poincaré, publicado em 1895 que virou referência para os estudos em
topologia, por ser o primeiro a fornecer um desenvolvimento sistemático do assunto. BOYER, 1996, pág.
420.
98
BOYER, 1996, pág. 420.
43
Hillier, referindo-se à simetria - uma das propriedades da topologia que é
fundamental também para a Sintaxe Espacial - ressalta que “um objeto possui simetria
se ele mantém sua forma depois de alguma transformação”99. Por isso, a topologia é
popularmente chamada de “geometria de borracha” ou também de “geometria sem
medidas”, pois para ela “a natureza dos elementos não tem importância, só as relações
entre os elementos são importantes”100. Dessa forma, o conceito topológico é adotado na
teoria da Sintaxe Espacial porque lida com o espaço do ponto de vista das suas relações.
99
STEWART e GOLUBITSKY, Fearful simmetry. Citados por HILLIER in: Space is the machine – a
configurational theory of architecture. Cambridge University Press. Cambridge.1996, pág. 103.
100
BOYER,1996, pág. 432-433
101
BOYER, 1996, pág. 420
44
2.2.1. Técnicas e conceitos básicos da Sintaxe Espacial
A técnica adotada nesse estudo, no entanto, será a da convexidade, uma vez que
o que se pretende estudar é a maneira como as pessoas usam ou ocupam o espaço, onde
elas se agrupam e o que fazem nesse local. A decomposição do espaço será feita,
portanto, em unidades bi-dimensionais, ou espaços convexos, a partir da planta baixa
das residências. Os espaços convexos são unidades de duas dimensões, circunscritas por
polígonos convexos, ou seja, polígonos que não podem ser cruzados por segmentos de
retas em mais de dois pontos. A Figura 2a ilustra essa definição, enquanto a Figura 2b,
ilustra o que seria um espaço côncavo.
Figura 2 a Figura 2b
Figura 2 - ilustrando a definição de espaço convexo. cf. Hillier e Hanson, 1984, pág. 98.
102
Para Hanson, as pessoas movem-se ao longo de linhas axiais, formam grupos em espaço bi-
dimensionais - elementos convexos - e vêem em três dimensões, os campos visuais ou isovistas. Segundo
ela, as organizações convexa e axial são as dimensões arquiteturais do espaço. A convexidade relata a
casa como espaço de repouso ou permanência e a organização axial expressa a estrutura da casa em
relação ao movimento. HANSON, 1998, pág. 242 e 243.
45
A figura 3 é um exemplo de uma planta baixa decomposta com a técnica da
convexidade.
37- quintal 5
25- garagem
24- lavanderia
7- copa / cozinha
21- quarto 4
22- banho 4
20- c6
38- quintal 1
9- c1 4- sala 5- varanda
10- c2 2- c4
33- jardim int 2 29- ban 3 15- ban 2 12- ban 1 1- vestíbulo
3- lav.
28- roupeiro
14- c3 11- c4
13- quarto 1
32- jardim int 3 30- quarto 3
16- quarto 2
17- escrit 2
39 - Exterior
Figura 3b - Planta de convexidade, e as permeabilidades entre os espaços, cf. Holanda, 1999, pág. 3 e 5.
46
Da decomposição da planta baixa em espaços convexos, conforme figura 3, são
tiradas as relações diretas de permeabilidade e impermeabilidade entre os espaços. Para
detectar essa relação, algumas medidas sintáticas foram criadas a partir das chamadas
relações configuracionais básicas entre os espaços. Essas relações configuracionais
básicas são chamadas de simetria e assimetria, distributividade e não-distributividade.
Uma relação é simétrica, quando um espaço ‘a’ está para um espaço ‘b’ assim
como o espaço ‘b’ está para o espaço ‘a’, com respeito a ‘c’; assimétrica é quando ‘a’
não está para ‘b’ como ‘b’ está para ‘a’, no sentido que um controla a permeabilidade do
outro a partir de um terceiro espaço ‘c’. Uma relação é distributiva entre ‘a’ e ‘b’ se
existe mais que uma rota independente entre eles, incluindo uma passagem, pelo menos,
por um terceiro espaço ‘c’. É não-distributiva entre ‘a’ e ‘b’ se existe algum espaço “c”,
através do qual, necessariamente, deve passar a rota de ‘a’ para ‘b’103 (a figura 4 ilustra
essas relações).
Figura 4 - Ilustração das relações de simetria e distributividade, cf. Hillier e Hanson, 1984, pág. 148.
Para melhor compreender essas definições, a figura 4 mostra cinco situações das
diferentes relações entre os espaço a, b, c, d e suas respectivas representações. É
possível observar que: i) mostra ‘a’ e ‘b’ numa relação simétrica e distributiva com ‘c’;
ii) mostra ‘a’ e ‘b’ numa relação simétrica e não-distributiva com ‘c’; iii) mostra ‘a’ e
‘b’ numa relação não-distributiva e assimétrica com ‘c’; iv) mostra uma relação mais
complexa, onde ‘a’ e ‘b’ são simétrico cada um em relação a ‘c’, mas ‘d’ é um espaço
assimétrico em relação a ‘c’ e ambos assimétricos em relação respeito a ‘c’; v) mostra
‘d’ é não-distributivo e assimétrico com ‘a’ e ‘b’ os quais permanecem simétricos cada
um em relação a ‘d’ (ou a ‘c’)104.
103
HILLIER e HANSON, 1984, pág. 148.
104
HILLIER e HANSON, 1984, pág. 148-149.
47
Esse é o ponto de partida para a representação e análise de permeabilidade, feitas
a partir dos grafos. Um grafo é a representação de um sistema onde elementos, e
conexões entre eles, estão envolvidos (ver detalhamento adiante). As relações de
permeabilidade e impermeabilidade, representadas nos grafos, são consideradas as
dimensões básicas da configuração do espaço.
Esse tipo de representação, desde a década de 60, tem sido largamente aplicado em estudos
preliminares das solicitações funcionais a serem atendidas, a partir do programa funcional, onde
necessidade e suas inter-relações são inicialmente listadas(...). Apresenta a vantagem de facilitar
a manipulação de um número relativamente grande de restrições ao processo de geração de
formas, por permitir o uso de computadores nesta análise, partindo de uma matriz de relações
que contempla todas as necessidades (de natureza diversas) contidas no programa, permitindo
avaliar compatibilidades e incompatibilidade.106
105
Ver STEADMAN, 1983; STEADMAN, 1976; MARCH, 1976, entre outros. Citados por LOUREIRO,
1999, pág. 183.
106
LOUREIRO, 1999, pág. 183.
107
No original: “allow a form of analysis that combines the visual decipherment of pattern with
procedures for quantification”. HILLIER e HANSON, 1984, pág. 149.
48
O estudo dos grafos justificados pode ser feito a partir de suas propriedades
configuracionais:
iii) profundidade média do sistema é dada pela média das profundidades médias
de todos os espaços do sistema, computadas segundo procedimento descrito no
item ii) acima.
Os valores de profundidade referidos nos itens ii) e iii) constituirão a base para a
medida fundamental da Sintaxe Espacial, ou seja, a integração, como veremos
posteriormente.
b) forma anelar ou árvore - outro aspecto importante dos grafos é sua forma, a
medida em que este é anelar ou em árvore. Uma estrutura é anelar quando possui rotas
alternativas formadas por espaços que se comunicam entre si. Um anel é formado
quando pode-se partir de um determinado espaço por uma direção e voltar-se a ele por
outra. Um sistema é em árvore quando não possui anéis. Isso significa que os espaços
desse sistema têm o acesso mais controlado, uma vez que há uma única rota possível
entre cada espaço e todos os outros do sistema.
49
Grafo justificado1 – residência com 37 espaços Grafo justificado2 – residência com 16
convexos espaços convexos
Figura 5 – Grafos justificados. Cf.: FRANÇA, Franciney Carreiro. Análise sintática de espaços domésticos no
Distrito Federal. In: Cadernos Eletrônicos da Pós, página da Rede Mundial, Brasília, 1999, pág. 9.
c) os tipos de espaços pelos quais são formados - os grafos podem ser estudados
também pelos tipos de espaços que os compõem. Os tipos de espaços são classificados
em termos de suas relações de permeabilidade. São eles: i) tipo ‘a’ são espaços com
uma única ligação e podem ser chamados de ‘terminais’; ii) tipo ‘b’ são os espaços com,
pelo menos, duas ligações e que fazem parte de um sub-complexo ‘em árvore’, ou seja,
fazem a ligação ou o caminho para espaços terminais; iii) tipo ‘c’ são espaços que
fazem parte de um ‘anel’ simples; iv) tipo ‘d’ espaços que pertencem, pelo menos, a
dois anéis. A figura 6 ilustra estes vários tipos.
Figura 6 - Grafo ilustrando os tipos de espaços em função de suas conexões, cf. Hillier. 1996, pág. 318.
Hillier sugeriu que existe uma relação fundamental entre o tipo de espaços
convexos e o tipo genérico de comportamento humano em edifícios. Esse tipo genérico
é caracterizado por ocupação e movimento. Ocupação é mais conveniente para o espaço
50
tipo ‘a’, onde o acesso é altamente controlado. O espaço tipo ‘d’ oferece escolhas e,
portanto, está ligado a um crescente movimento.
2.2.2.1. Integração
108
New Wave – software de geração das medidas de simetria dos sistemas, desenvolvidos na Bartlett
School, UCL, Londres.
109
Para a fórmula da integração, assim como para outros detalhes técnicos, ver PEPONIS, J. The spatial
culture of factories. Human Relations, 38, 1985, pp. 357-390
51
tem, minimamente, de percorrer para ir de uma dada posição a todas as outras. Quanto
maior o valor mais integrado ao sistema, como um todo, é o espaço em questão.
A integração média do sistema, por sua vez, “dá a medida em que o edifício,
como um todo, é mais ou menos acessível entre todas as suas partes”110. Consiste na
média das medidas de integração dos espaços convexos de cada sistema. Nesse trabalho,
o valor de integração dos sistemas foi calculado considerando o exterior como um
espaço convexo.
110
HOLANDA, F. Sintaxe de uma casa-átrio moderna, Brasília, 1999, pág. 4. (mimeo). Para maiores
detalhes, ver também HANSON, 1998.
111
HOLANDA, F. 1999, pág. 5. (mimeo)
112
HILLIER, B. Space is the machine – a configurational theory of architecture. University Press,
Cambridge, Cambridge, 1996, pág. 319.
113
TRIGUEIRO, E.B.F. 1995, pág.12-13. (mimeo).
114
AMORIM, 1999, pág. 77.
52
2.2.2.2. Entropia
No universo empírico estudado até agora (ao qual tive acesso) estão, novamente,
os trabalhos de Trigueiro117, Amorim118 e Hanson119. Dentre esses a maior entropia foi
encontrada na amostra de Amorim, com 0,87 e a menor foi de 0,42 encontrada por
Hanson, as quais serão parâmetros para comparação com as casas da amostra em
estudo. Em relação à comparação com esses outros estudos, será feita um cálculo de
entropia para cada conjunto citado, esse cálculo não é comumente usado, esta aplicação
faz parte de um exercício exploratório deste estudo. O objetivo é, dessa forma,
identificar qual o conjunto de casas mais entrópico, ou menos diferenciado, até agora
encontrado.
115
Para o cálculo da Entropia é usada a RRA (Relativa Assimetria Real) máxima, média e mínima
encontradas em cada residência. O cálculo do fator de diferenciação é dado pela expressão: DF = (H -
ln2)/(Ln3 - ln2), Onde H = - [((a/t ln (a/t)) + (b/t ln (b/t)) + (c/t ln (c/t))], Sendo a, b e c os valores de
integração máxima, média e mínima do sistema e t a soma destes valores, para maiores detalhes, ver
HANSON, 1998, pág. 31.
116
SHANON, C. WEAVER, W. The mathematical theory of communication. University of Illinois Press,
Chicago, 1948.
117
TRIGUEIRO, 2001, pág. 40.1ss. e TRIGUEIRO, 1995, pág.12-13 (mimeo).
118
AMORIM, 1999, pág. 77.
119
HANSON, 1998, pág. 84, 227 e 267.
53
2.2.2.3. Medida de distributividade
120
HILLIER, 1996, pág. 318.
121
HOLANDA, 1999, pág. 9.
122
A maior medida de distributividade encontrada nos estudos das casas inglesas foi 1,2075 e a menor,
0,4943. Valores que se encontram na variação da amostra estudada. HANSON, 1998, pág 171).
123
Medida de distributividade de 2,9, a maior dentre os estudos pesquisados. HOLANDA, 1999, pág.18.
124
Para o cálculo de normalização será usada a fórmula: Vnorm = (V – Vmin)/(Vmáx – Vmin), onde
Vnorm é o valor gerado entre 0 e 1; V é o valor a ser normalizado; Vmin é o valor mínimo da faixa de
valores definida e o Vmáx é valor máximo da faixa de variação.
54
2.2.2.4. Medida de simetria
Para melhor visualização dos dados apresentados, essa medida será normalizada
entre os valores 0 e 1, sendo que quanto mais próximo de 1 significa que o sistema é
menos hierarquizado. Nos trabalhos de Hanson126 e Holanda127, os quais usaram essa
medida, os índices encontram-se entre o menor e o maior índice da amostra em estudo.
Portanto, os extremos considerados para a normalização serão 0,571 e 6,500,
respectivamente, as medidas de simetria mínima e máxima encontradas na amostra.
125
HOLANDA, 1999, pág. 9.
126
A menor medida de simetria da amostra de Hanson é de 0,6059, e a maior é 4,6676. HANSON, 1998,
pág. 171.
127
Medida de simetria de 1,29. HOLANDA, 1999, pág.18.
55
porque: a) constituem os elementos mais importantes dos vários setores da casa - social,
serviço e íntimo; b) revelam, no caso do exterior, a relação que se estabelece entre o
setor privado (espaço doméstico) e o público (a rua).
128
AMORIM, 1999, pág. 68.
129
Amorim denomina essa variável de “grau de abertura”. Essa variável será denominada aqui de “grau
de Fechamento”, embora utilizando a mesma fórmula para cálculo, porque esse revela a proporção dos
espaços fechados em relação ao total de espaços convexos.
56
número de espaços definidos e separados entre si por paredes e portas.
Sociologicamente, esta medida também sugere o grau de separação de pessoas e
práticas no sistema: quanto maior o fechamento, mais forte é essa separação.
Conclusão
Esse estudo permitirá também testar a teoria da Sintaxe Espacial para análise de
residências, abrindo a possibilidade de aprofundar o uso dessa teoria. A sua aplicação
permitirá analisar possíveis redundâncias e inconsistências, contribuindo assim para
aprimorar essa técnica de análise morfológica na arquitetura.
130
AMORIM, 1999, pág.68.
57
Capítulo 3 - Ocupação e utilização dos espaços
Neste capítulo, as casas serão analisadas a partir dos dados fornecidos pelos
entrevistados com o objetivo de identificar a maneira como vivem as famílias nesse
edifício, seus costumes, seu dia-a-dia. Esses dados serão confrontados com outros
obtidos através de um resgate histórico da utilização e ocupação dos principais cômodos
das residências, identificando as mudanças de uso ocorridas ao longo da história da casa
brasileira.
Isso será feito através de informações quanto à utilização e a função de cada
cômodo e as preferências dos habitantes. Mais especificamente, a partir da análise dos
seguintes elementos: a) espaços mais utilizados pela família; b) espaços menos
utilizados por ela; c) espaços mais utilizados para receber visitantes; d) espaços aos
quais o visitante geralmente não têm acesso; e) espaços utilizados pelos empregados.
Esses eixos dão um perfil da ocupação e utilização dos espaços: quando, para quê, e por
quem são ocupados.
58
entrevistado expressa bem essa constatação. Quando perguntado sobre o espaço que
mais gosta na casa, ele respondeu: “Do meu quarto e da cozinha. No primeiro tenho
privacidade... e na cozinha temos integração”.
A Tabela 1 mostra os espaços mais utilizados pelas famílias da amostra
pesquisada. É possível observar que o itens “quartos” e “cozinha” apresentam os
maiores índices. À exceção da sala de TV e da sala de estar, todos os demais itens
receberam poucas citações.
3.1.1. A cozinha
131
As Tabelas 1, 2, 3 e 4, com dados de uso/ocupação, apresentam, além dos dados em relação ao
“PRIMEIRO” espaço mais citado, as colunas com dados dos segundo e terceiro espaços. Foram usados
para esta análise somente os dados da primeira coluna, mas, a título de informação foram expostos os
dados referentes às demais citações.
59
Até início do século XIX, segundo Lemos, a cozinha era espaço separado da
casa, o que ele denominou da “extroversão da cozinha”. Para Lemos, esta era a primeira
constante arquitetônica nos partidos da habitação brasileira a “Cozinha separada, no
quintal. Cozinha no alpendre. (...) Sempre a cozinha menosprezada, lugar dos negros”132.
Essa separação entre a cozinha e os demais cômodos tinha, portanto, uma conotação
social muito forte pois “na casa do branco, ou do pardo metido a branco, a cozinha está
sempre isolada da habitação, sendo o traço de união entre ambos o elemento servil”133.
Durante todo o século XIX e meados de século XX, vários acontecimentos
fizeram com que a cozinha viesse definitivamente para dentro da casa. Ela deixou de ser
um “puxado” nos fundos ou um anexo da casa para ser um cômodo que compõe o corpo
da residência. Entre esses acontecimentos são muito significativos: a) abolição da
escravatura; b) a revolução industrial; c) as Primeira e Segunda Guerras Mundiais.
A abolição da escravatura provocou uma diminuição da mão-de-obra escrava
para os serviços na cozinha. Isso fez com que crescesse a utilização de mão-de-obra
branca e, com o tempo, até as próprias donas das casas passaram a trabalhar na cozinha.
Ela deixou de ser, portanto, associada aos negros e ao trabalho escravo. A distinção
social que se refletia na distância física dos lugares começa a enfraquecer e a cozinha
aglutina-se à casa.
Com a revolução industrial, e a conseqüente evolução de alguns utensílios
domésticos, mudou-se o jeito de trabalhar na cozinha. Um bom exemplo dessa
mudança, é o grande fogão a lenha que começa a perder a importância diante dos fogões
a gás. A significativa diferença de tamanho, por exemplo, entre esses dois utensílios
domésticos contribuíram para a diminuição do tamanho das cozinhas em relação às
cozinhas das casas de engenho.
Segundo Tramontano, o que vai alterar as atribuições da cozinha, no entanto, é a
mudança do status da mulher rica dentro da sociedade. Isso gerou mudanças também
dentro de casa, já a partir da década que precede a Guerra de 1914. Para ele, a mulher
foi “empurrada à força para o papel de ‘Rainha do lar’ pela crescente falta de pessoal
doméstico qualificado - em número cada vez menor mesmo nas residência das família
mais abastadas”134.
132
LEMOS, 1978, pág. 67.
133
LEMOS, 1978, pág. 67.
134
TRAMONTANO, 1998, pág. 81.
60
Já no primeiro pós guerra, a crescente utilização da mão-de-obra feminina em
indústrias e trabalhos fora de casa, associados aos novos avanços tecnológicos,
contribuíram para mais uma mudança na cozinha brasileira. Isso exigiu a concepção de
um lugar com pouco espaço para a desordem e mais equipamentos para agilizar as
tarefas domésticas. Para Tramontano, “uma cozinha prática e funcional era a exigência
dos novos tempos, otimizar os gestos e os passos necessários às atividades de cozinhar
(...), devido à escassez de pessoal doméstico e ao desenvolvimento de novos
equipamentos”135.
Com essa preocupação, surgiu o conceito do existenzminimum, conforme
definido no capítulo 1, proposto pelo movimento moderno arquitetônico, na primeira
metade do século XX. Nessa proposta, esse espaço era pensado unicamente com a
função de preparo dos alimentos e não era prevista área para refeições, ou deveria ser
apenas para refeições rápidas, ou seja, espaços pequenos e de pouca permanência.
135
TRAMONTANO, 1998, pág. 79.
61
No conjunto analisado, além dessa característica física, a mais importante
constatação em relação à cozinha é o fato dela ser eleita como o espaço de convívio da
família. Ela é o lugar das conversas informais, das refeições em conjunto, de momentos
de lazer. Essa característica difere, e muito, do que antes era pensado da cozinha da
classe média no século XIX. Isso contraria frontalmente a afirmação de Lemos de que
“na casa proletária, tolera-se a superposição estar-serviço, ou melhor, nela a família
pode usufruir de momentos de lazer dentro da cozinha, o que jamais ocorrerá numa casa
de classe média.”136.
A preferência pela cozinha como espaço de convívio muda também sua função,
em relação às concepções das últimas décadas. Além de espaço para preparo das
refeições, passou também a ter a função de espaço coletivo da família. Ela incorporou,
então, a função de um outro espaço, surgido em meados do século XX, o espaço da
copa. A copa - que já teve o nome de office, devido à influência francesa no início do
século, foi concebida para ser um espaço de convivência, especialmente através das
refeições em família.
Segundo Tramontanto, “o office vai tomar o nome de copa, recebendo os
mesmos azulejos da cozinha e os móveis da sala de jantar [e tinha a] função de espaço
de sociabilidade - transição entre a instância ‘de rejeição’ e a ‘de prestígio’”137,
referindo-se à cozinha e à sala de jantar, respectivamente. A copa já foi, segundo
Lemos, “o local de estar preferido da família de classe média.(...) Na copa, as crianças
faziam as lições, o dono da casa lia jornais enquanto a ‘patroa’ lavava o trem da
cozinha”138.
Esse espaço, anexo à cozinha para servir as refeições, está agora perdendo lugar
para a cozinha. As cozinhas aumentaram de tamanho, como já mencionado, e passaram
a ter a função da copa, fazendo com que essa praticamente desaparecesse. É
significativo que das 27 casas estudadas, apenas 7 (25,9%) tenham especificamente
copas. As demais têm as chamadas copa-cozinhas, ou seja, cozinha com espaço para
mesa, às vezes com espaço demarcado por um balcão.
Outra importante característica das cozinhas da amostra é a presença de vários
equipamentos. Além dos eletro-eletrônicos mais comuns das últimas décadas, como
microondas, lava-louça, geladeira, outro equipamento muito presente é a televisão. A
136
LEMOS, 1989, pág. 11.
137
TRAMONTANO. 1998, pág. 108.
138
LEMOS, 1978, pág. 150.
62
cozinha aparece como o terceiro espaço que apresenta maior ocorrência de televisores
nas casas, superando inclusive os índices da sala de estar. Fica atrás somente do quarto e
da sala de TV, respectivamente, o primeiro e o segundo espaço com maior ocorrência
desse aparelho.
Na década de 1930, a copa “ganhou mais um habitante, o rádio (...) o que falava
alto dentro de artísticas caixas de madeira”139. O rádio, a grande novidade que invadia os
lares na época, é hoje substituído pela televisão. A TV é o eletro-doméstico mais
utilizado nas casas, que têm, em média, 4,15 aparelhos por residência140. Diferente do
rádio que é só ouvido, a TV precisa ser assistida, o que exige permanência no espaço.
Sua presença na cozinha é um dos fatores que ilustram o fato desse espaço ser de
permanência da família, o que novamente, contesta a visão de Lemos para as casas de
classe média, quando observa que “é na casa modesta que a televisão e o fogão
coabitam o mesmo compartimento”141.
3.1.2. Os quartos
O quarto é talvez o espaço que mais tenha sofrido alterações nas últimas
décadas. Sofreu alterações em termos de tamanho, função, conforto, sendo considerado
inclusive como símbolo de status social. Mais do que isso, o quarto pode ser um dos
principais símbolos das mudanças no modo de vida das pessoas, como reflexo das
alterações ocorridas nos últimos tempos, com o advento da modernidade.
Segundo Lemos, no final do século XIX, “as famílias receberam os benefícios
da água potável distribuída por redes públicas, do gás, do combustível para luminárias e
fogões e da energia elétrica”142. Com esse benefício o banheiro passou a ser uma das
novidades incorporadas nas casas brasileiras.
Sinônimo de conforto e motivo de ostentação, esses espaços com latrina,
banheira, ou chuveiro, e pia passaram a ser incorporados ao interior. Os banheiros,
139
LEMOS, 1978, pág. 150..
140
Para se ter uma idéia do que representa esse índice de televisores, a média de pessoas por residência
(da amostra) é de 4,74, ou seja, é quase uma TV (0.87) por habitante.
141
LEMOS, 1978, pág. 201.
142
LEMOS, 1978, Pág. 56.
63
assim como as cozinhas, deixaram de ser associados ao “sujo” para serem vistos, além
das questões sanitárias, como símbolos de status e sinal de prosperidade dos habitantes.
Primeiramente, o banheiro vincula-se à casa pelos fundos, junto à cozinha.
Depois, já na década de 1960, passou a ser localizado próximos aos quartos e também
próximo à sala de estar, dando origem aos chamados “banheiros sociais”. Para
Veríssimo e Bittar, “a localização do banheiro em relação ao organograma básico da
habitação é típica nas novas construções: apenas um na zona íntima próxima à
circulação, junto aos quartos”143.
Segundo, Bittar e Veríssimo, surge, nos anos 1970, a “febre” das suítes,
compostas do quarto conjugado a banheiro privativo e com espaço destinado a trocar
roupa e, excepcionalmente, uma pequena saleta. Segundo eles, “as casas abastadas,
projetadas por arquitetos e publicadas nas revistas especializadas, adotam
imediatamente essa solução, acoplando um banheiro ao quarto do casal, conferindo-lhes
a privacidade”144.
143
VERÍSSIMO e BITTAR, 1999, pág. 104.
144
VERÍSSIMO e BITTAR, 1999, pág. 94.
64
Esse quadro mudou nas décadas de 1980 e 1990, quando as suítes deixaram de
ser privilégio do casal e passaram a integrar os demais quartos da casa. Do universo
estudado, 22 casas foram construídas nas décadas de 1980 e 1990, sendo que 12 dessas,
mais de 50% da amostra, apresentam mais de uma suíte na casa. Algumas têm suítes
para todos os habitantes (ver casa 22 e 27). O gráfico 1 ilustra o crescimento do número
de suítes por década.
G r á fi c o 1 - N ú m e r o d e c a s a s c o m s u íte s p o r d é c a d a
4
Nº de casas
3 1 s u íte
2 s u íte s
2
3 s u íte s
1 q u a tr o
0
D é ca d a d e D é ca d a d e D é ca d a d e
1970 1980 1990
145
LEMOS, 1989, pág. 73.
65
inserção desses equipamentos no espaço doméstico, e seu alto índice de inserção,
especificamente, nos quartos. Nele pode-se visualizar que o quarto está entre os espaços
com os maiores índices de ocorrência desses equipamentos na casa. Eles aparecem
como os espaços mais usados para comportar todos esses equipamentos.
A presença de tantos equipamentos revela que o quarto passa a ser um espaço de
múltiplas atividades. É lugar para descanso, sala de estudo, local de trabalho, diversão e
lazer. Essa sobreposição de atividades era esperada no final da década de 1990.
Veríssimo e Bittar já afirmavam que “para várias camadas da população, o quarto é sala
de visitas, escritório, sala de estudos, local de trabalho e, ocasionalmente, lugar de
descanso e do amor”146. Curiosamente, essa multifuncionalidade lembra a idade média
onde existia esse tipo de ocupação.
25
20
Ocorrência
15
10
0
Lazer Co pa Co zinha Qt o emp . Es c./ B ib lio . M ezanino Quart o s Sala d e Sala d e Sala d e TV Sala í nt ima Varand a
es t ar jant ar
146
VERÍSSIMO e BITTAR, 1999, pág. 95.
66
Pressupunha-se que a multifuncionalidade dos cômodos com a sobreposição de
atividades, dar-se-ia por questões de espaço físico. Em outras palavras, apenas a falta de
recurso iria justificar o uso de cômodos para várias atividades como, por exemplo, lazer
e descanso. Essa era a perspectiva de Lemos quando escreveu que
a moradia do homem rico de haveres e de poder não apresenta em seus cômodos a hipótese de
superposição de funções ou de atividades da habitação. Ali sempre houve uma dependência para
cada mister. A casa do rico sempre foi muito grande e a do pobre muito pequena, de reduzido
número de cômodos, muitas vezes resumida a uma só dependência148.
147
RYBCZYNSKI, 1999, pág. 48.
148
LEMOS, 1989, pág. 70.
67
Essa inversão indica claramente a separação dos espaços das casas em espaços
mais destinados à família, e espaços mais destinados aos visitantes. Existem, no entanto,
alguns espaços que, tanto estão entre os eleitos como de permanência da família, como
entre os espaços escolhidos para receber visitantes. Estes são os espaços de transição
dentro desse sistema de relações humanas, como será visto mais adiante.
68
3.2.1. Sala de estar
Durante todo o século XIX, a sala era o principal espaço do setor social, sendo
chamada de sala de visitas e, até meados do século XX, esse era o espaço destinado a
receber visitantes. Segundo Lemos, era espaço sempre fechado, “aguardando os
raríssimos comparecimentos previamente combinados, geralmente nos aniversários de
gente da casa, onde não havia a hipótese de qualquer tipo de superposição de
atividades”150. Gomes chamou atenção de que Vauthier já havia comentado a
hospitalidade de que havia sido testemunha “ilustrando a privacidade da parte íntima e
de serviços da casa quando explica que o salão de visitas se comunica diretamente com
a escada externa”151.
No século XX, para alguns autores, começaram a desaparecer as várias salas
para receber, como eram na casa-grande patriarcal. Segundo Veríssicmo e Bittar, na
segunda metade do séc. XX “com a influência americana e a racionalização do espaço,
surge a sala única, mantendo parte do ‘ritual ancestral de receber’”152. Mas essa parece
ser parte da proposta modernista, já na primeira metade do século. Nas casas
modernistas estudadas por Amorim, a maioria possuem somente uma sala de estar,
geralmente aberta para sala de jantar. A sala passou assim a ser, simultaneamente, de
estar para a família, e o lugar para receber os visitantes.
149
VERÍSSIMO e BITTAR, 1999, pág. 61.
150
LEMOS, 1989, pág 70.
151
VAUTHIER, 1975, pág.81, citado por GOMES, 1998, pág. 92.
152
VERÍSSIMO e BITTAR, 1999, pág.58.
69
Para Lemos, na década de 50, com a popularização da televisão, a sala de visitas
desapareceu como unidade da habitação, “a televisão uniu a sala de jantar à sala de estar
e, nisso, outra modernidade na arquitetura domiciliar. Foi o fim definitivo da sala de
visitas”153. De fato, como já foi mencionado, da década de 50 para cá a televisão invadiu
a casa brasileira. Se, num primeiro momento, ela acabou com a sala de visitas, em
seguida fez surgir outro cômodo na estrutura doméstica, ou seja, a sala de TV. A TV
entrou pela sala de estar mas, com o tempo, exigiu uma sala própria, e acabou chegando
nos quartos e até na cozinha.
Os dados levantados neste trabalho indicam uma redução drástica da presença da
TV no espaço destinado à sala de estar. Essa aparece como o quinto espaço com maior
índice de ocorrência de televisores, perdendo para a cozinha, que é o terceiro, e até para
a dependência de empregada, que é o quarto lugar com maior índice. Apenas 9 casas,
cerca de 30%, possuem TV's na sala de estar. Destas casas, apenas uma tem sala de TV.
Isso indica uma tendência de que os televisores somente ocupam a sala de estar, na falta
de um espaço próprio.
Essa crescente saída da TV, e o aumento do número de aparelhos de som na sala
de estar, conforme gráfico 2, dão a esse espaço outra característica. A sala de estar não é
o espaço coletivo da família. Alguns dos entrevistados deixaram isso bastante claro,
afirmando que a sala de estar é reservada para receber visitantes porque “foi decorada
com este intuito, possui espaços para acomodar os visitantes”. Segundo outro
entrevistado, a sala de estar é o espaço destinado para receber visitantes porque é “o
ambiente mais apropriado, pois é mais arrumado, menos bagunçado”. Outro ainda
afirmou que existe “um piano, o qual atrai os visitantes”.
A sala passa a ser um espaço mais requintado, lugar para ouvir música, para
manter conversas, para receber pessoas externas. Ela funciona assim como um filtro,
permitindo a recepção de visitantes que não são tão íntimos da família. Os mais íntimos
vão para sala de TV, ou mesmo chegam à cozinha, que é o espaço informal da casa.
Apenas as pessoas muito íntimas tem acesso aos quartos.
Os dados indicam claramente a sala de estar como um espaço formal. Essa
característica formal remete esse espaço ao status dado à chamada sala de visitas do séc.
XIX, ou seja, um lugar reservado, preparado apenas para receber visitantes, indicando
que a proposta de sala única (lugar para receber e também de convívio da família) de
153
LEMOS, 1989, pág 72.
70
fato não se consolidou. O que se tem hoje, é a permanência dessas salas, sob um outro
rótulo. A sala de estar, na maioria das casas, é de “estar” mesmo só na presença de
visitantes, que não têm acesso a outros cômodos da casa.
154
TRAMONTANO, 1998, pág. 107.
155
LEMOS, 1978, pág. 150.
71
É interessante notar, a propósito, que a sala de jantar atual resgata a tipologia da
casa de engenho. Gomes, ao estudar os vários tipos de casas de engenho em
Pernambuco, ressalta que em algumas casas “a sala de jantar não é separada do salão ou
parlatório e esta peça é a única franqueada aos estranhos”156. Essa especialização da sala
de jantar reforça ainda mais a distinção entre espaços da família e de visitantes.
3.2.3. Sala de TV
156
GOMES, 1998, pág. 92.
157
LEMOS, 1989, pág 72.
72
encontradas na sala de TV, uma chama a atenção: esse espaço, juntamente com a
chamada sala íntima, faz o papel de quarto de hóspede. Esse espaço é utilizado,
portanto, também para acomodar pessoas, em substituição aos antigos quartos de
hóspedes.
O quarto de hóspedes estava presente no programa de necessidades das
residências até fins do século XIX, bem ao lado do vestíbulo. Geralmente esse quarto
estava em posição simétrica à do escritório e, como observou Tramontano, “este
cômodo mantém com o restante da casa uma relação muito parecida com a que
mantinham as alcovas de visitantes do passado”158. Gomes ressaltou que, nas casas
grandes, os quartos de hóspedes, embora compondo o corpo da casa, eram isolados e
algumas vezes “ocupam nesse caso um local inteiramente diverso ou são situados na
outra extremidade do corredor das senzalas”159.
Somente uma casa da amostra, a casa 25, possui especificamente o quarto de
hóspede, localizado no pavimento térreo, próximo à porta de entrada principal, e fora do
setor íntimo. As residências, estudadas demonstram claramente, portanto, a tendência de
eliminar esse espaço na organização e estrutura doméstica em nossos dias. Com o seu
desaparecimento do programa de necessidades, outros espaços assumem essa função,
como é o caso da sala íntima e de TV, na amostra em estudo. É nessas salas que iremos
encontrar o sofá-cama, peça essencial para transformar esse espaço em local de repouso.
Essas múltiplas atividades fazem com que a sala de TV, por um lado, apareça
como o terceiro espaço mais utilizado pela família (ver Tabela 1) e, por outro lado,
apareça como o quinto espaço mais utilizado para receber visitantes. Segundo alguns
entrevistados, dependendo do grau de intimidade, o visitante é recebido na sala de TV.
3.2.4. Varanda
A varanda é tão presente na casa brasileira que chega a ser considerada como
uma de suas características marcantes. Mas existem várias possibilidades para explicar a
origem desse elemento arquitetônico. Apesar da grande utilização, não há uma certeza
sobre as suas origens.
158
TRAMONTANO, 1998, pág. 107.
159
GOMES, 1998, pág. 92.
73
A palavra “varanda”, segundo Lemos, "tem origem oriental e foi incorporada no
linguajar europeu pioneiramente pelos portugueses e espanhóis. Já em 1498, no roteiro
de viagem de Vasco da Gama, há menção à palavra ‘varanda’, como sendo um local
alpendrado de permanência aprazível”160.
Segundo Gomes, as varandas ou alpendres, existem nas casas portuguesas bem
antes de serem construídas no Brasil: “sua origem provável é o sequeiro mas podem ter
evoluído para um espaço de circulação, proteção e até ter encontrado sua vocação de
lazer contemplativo tão associada à modorra tropical”161. Ele enfatiza ainda que a
varanda foi encontrada em outros lugares como nas grandes casas rurais nos Estados
Unidos. As “...varandas periféricas já existiam desde o séc. XVIII, no sul dos Estados
Unidos, como a casa Parlange, na Luisiana francesa, construída em 1750, um clássico
do estilo colonial francês”162.
Na casa brasileira, a varanda aparece, primeiramente, como o alpendre, o
“telhado que se prolonga para fora da parede mestra da casa e que é apoiado em sua
extremidade por colunas”163. O alpendre aparece na frente, na parte posterior e, às vezes,
circundava toda a casa, desde o ciclo da cana - nos grandes casarões de engenho .
Gomes encontrou o alpendre ao longo da fachada principal das casas de engenho
(as quais ele chamou de nortenhas164), ao longo de uma ou duas fachadas (denominada
de solares165) e alpendres em forma de “U” em “L” (no caso do Bungalows166). Ele
concluiu que
o avarandado periférico sistematicamente construído ao longo de, pelo menos, três lados do
núcleo retangular da casa, tem sido freqüentemente considerado como uma criação brasileira. Na
realidade, esse tipo só existiu, comprovadamente, em Pernambuco, a partir do século XIX,
quando já se faziam sentir no país outras influências que não a portuguesa.167
Esse espaço tinha, pelos menos, quatro funções: a) climática, a proteção dos
raios solares e conseqüente refrescamento da casa; b) na frente da casa ele era espaço
160
LEMOS, 1989, pág 30.
161
GOMES, 1998, pág. 95.
162
MORRISON, 1953, pág. 263-264, citado por GOMES, 1989, pág.103.
163
LEMOS, 1989, pág. 27.
164
Casas nortenhas - devido à semelhança com as casas rurais do norte de Portugal. GOMES, 1998,
pág.49.
165
Solares - por sua semelhança com as casas rurais e urbanas de Portugal. GOMES, 1998, pág.53.
166
Bungalows - por sua semelhança com os bungalows anglo-indianos, um tipo de casa desenvolvido no
século XIX pelos colonizadores ingleses a partir de um padrão da região de Bengala, Índia. GOMES,
1998, pág.97.
74
para receber visitantes, uma espécie de ante-sala; c) o alpendre da frente era também
um lugar estratégico para o dono do engenho controlar os escravos em seus afazeres,
lugar aprazível de onde ele dava as ordens; d) o alpendre posterior da casa era espaço
anexo à cozinha que servia para alguns trabalhos domésticos e lugar para refeições.
Segundo Lemos, “o ciclo canavieiro transformou o alpendre posterior da casa
bandeirista na varanda, local de estar, de comer, de trabalhar”168. Essa mudança de
função fez com que o alpendre posterior deixasse de ser um puxado e integrasse o corpo
da casa, embora de forma tímida, uma vez que não era um cômodo fechado como os
demais. Por isso Lemos distingue “alpendre” de “varanda”, afirmando que varanda é
espaço “entalado entre dois compartimentos, totalmente aberta para o exterior,
possuindo, no máximo, um peitoril ou guarda-corpo”169.
Apesar dessas definições buscarem estabelecer uma clara diferença entre esses
dois espaços, o que se tem hoje sob a denominação de varanda são as duas coisas. É
possível visualizar nos exemplos abaixo a presença tanto da varanda como do alpendre.
Na casa 9 encontra-se a varanda e na casa 12 encontra-se o alpendre, tais como nas
definições acima, mas ambos sob o mesmo rótulo, ou seja, varandas.
167
GOMES, 1998, pág. 132.
168
LEMOS, 1978, pág. 197.
169
LEMOS, 1989, pág. 28.
75
casa 17 exemplifica bem essa variação, pois no segundo pavimento encontram-se as
duas, varanda e sacada (segundo a denominação do entrevistado), ambas com as
mesmas características.
Figura 10 - Planta baixa da casa 17
77
Tabela 4- Espaço onde visitante não tem acesso
Cômodos Primeiro Segundo Terceiro
No % No % No %
Quartos 18 72 3 13,04 2 10,53
Varanda 3 12 1 4,35 2 10,53
Escritório/biblioteca 3 12 12 52,17 5 26,32
Mezanino 1 4 0 0,00 2 10,53
Sala de TV 0 0 1 4,35 1 5,26
Sala de estar 0 0 0 0,00 1 5,26
Quintal 0 0 0 0,00 1 5,26
Quarto da mãe 0 0 1 4,35 0 0,00
Cozinha 0 0 5 21,74 5 26,32
Total 25 100 23 100 19 100
% de respostas 92,59 85,19 70,37
3.3.1. Escritório
170
LEMOS, 1989, pág 134.
171
LEMOS, 1978, pág. 134.
78
alguns casos, os visitantes são recebidos a negócios pelos proprietários, que são
trabalhadores autônomos. É o caso da residência 17, por exemplo, um dos poucos casos
onde o entrevistado diz ser o escritório um dos lugares de maior permanência. Isso
confirma sua função específica, o trabalho. Por outro lado, o escritório é pouquíssimo
usado pelos habitantes, como se pode perceber pela Tabela 1.
Com a popularização dos computadores, autores especulam sobre o aumento do
número de pessoas trabalhando em casa. Isso seria como uma volta a essa prática, já que
o trabalho em casa é um hábito antigo, que remonta aos tempos medievais172, para dizer
o mínimo. Em recente estudo sobre o modo de vida, Tramontano afirmou que “o local
de trabalho tende a ocupar novamente o espaço da habitação, que deverá alojar um
número mínimo de pessoas, talvez - e com, aparentemente, crescente probabilidade -
uma única, criando o cenário que abrigará um novo tipo de força de trabalho,
completamente fragmentada”173.
Essa tendência pode se confirmar em outros centros, mas essa perspectiva ainda
não se verifica no modo de vida das pessoas e famílias da amostra estudada, embora a
média de computadores seja alta, 1,7 por casa. Vale a pena ressaltar que, como são
casas de estudantes de arquitetura, muitos fazem trabalhos esporádicos (desenhos de
projetos) em casa com auxílio do computador. No entanto, essa não é a principal renda
da família, não caracterizando ainda o tipo de trabalho ao qual Tramontano se referiu.
De fato, cerca de 68% das pessoas com as duas maiores rendas na família são
empregados: a) de empresa do setor privado, público ou de economia mista; b)
empregador titular ou proprietários de empresas; c) servidores públicos; d) mais de 25%
são aposentados; e) apenas 6% são profissionais liberais.
A pequena quantidade de profissionais autônomos, pode explicar o alto índice,
mais de 80%, de pessoas que trabalham fora de casa (incluindo pessoas além daquelas
com as duas maiores rendas), e isso pode explicar, ainda, a pouca utilização do
escritório para atividades diárias dos membros das famílias. Outro fator importante que
pode provocar mudanças na função dos escritórios é o crescente número de
computadores nos quartos. É o segundo espaço com maior índice de presença dessas
máquinas possibilitando que os serviços esporádicos sejam feitos nos quartos e não no
escritório.
172
TRAMONTANO, 1998, pág. 216.
173
TRAMONTANO, 1998, pág. 216.
79
A combinação desses fatores faz com que o escritório, na maioria das casas, seja
um espaço subutilizado. Em um dos questionários, a entrevistada identifica o escritório
como um “espaço abandonado”. Talvez a presença dele nos programas de necessidades
das residências continue sendo uma relíquia do status que o “gabinete” tinha no século
XIX. Em vez de se constituírem em espaços necessários de trabalho e estudo, têm
apenas uma função marginal e “decorativa” de baixa utilização.
Tabela 6 – Atividades
Cômodos Interativo Lazer passivo Neces. comuns Neces. privadas Tar. domésticas Trab./Estudar
Área de lazer 14 15,56 10 11,24 0 0,00 1 2,38 1 3,45 1 2,86
copa 0 0,00 0 0,00 1 2,13 0 0,00 0 0,00 0 0,00
Cozinha 2 2,22 3 3,37 16 34,04 0 0,00 19 65,52 0 0,00
Qto de emp. 1 1,11 3 3,37 1 2,13 6 14,29 5 17,24 1 2,86
Esc./Biblio. 4 4,44 7 7,87 1 2,13 2 4,76 0 0,00 14 40,00
Mezanino 3 3,33 2 2,25 0 0,00 1 2,38 0 0,00 0 0,00
Quartos 5 5,56 14 15,73 2 4,26 21 50,00 0 0,00 6 17,14
Sala de estar 20 22,22 13 14,61 3 6,38 1 2,38 0 0,00 4 11,43
Sala de jantar 10 11,11 3 3,37 16 34,04 1 2,38 2 6,90 4 11,43
Sala de TV 9 10,00 18 20,22 3 6,38 3 7,14 1 3,45 3 8,57
Sala íntima 3 3,33 6 6,74 1 2,13 4 9,52 1 3,45 0 0,00
Varanda 19 21,11 10 11,24 3 6,38 2 4,76 0 0,00 2 5,71
Total 90 100 89 100 47 100 42 100 29 100 35 100
80
Conclusão
Diante desse quadro sobre a ocupação e utilização dos espaços, fica evidente a
forte divisão do espaço doméstico em áreas mais destinadas à família e área mais
destinadas a visitantes, revelando características muito interessantes da ocupação de
alguns espaços, como se segue.
a) O fato da cozinha ser o espaço de convívio da família (lugar para refeições,
conversas e até para assistir televisão), estabelece grande diferença em relação às
casas da primeira metade do século XX, quando a copa era espaço de convívio da
família. Estabelece, também, diferença em relação às casas coloniais que tinham a
varanda dos fundos como lugar de refeição e de permanência. E, definitivamente, é
diferente da cozinha laboratório da proposta modernista. Ou seja, as cozinhas dessas
casas contemporâneas apresentam-se com características próprias, fruto da
aglutinação de atividades desses outros espaços.
b) A materialização do aumento da noção de privacidade, expressas pela comodidade e
conforto encontrados nos quartos, fazem desses os espaços de maior permanência.
A generalização desse conforto aos demais membros do grupo familiar, não se
restringindo aos donos da casa (em grande parte da amostra), pode ser sinal de
alguma mudança na estrutura patriarcal característica da família nuclear.
c) O fato da sala de estar e da sala de jantar serem espaços para receber visitantes, e o
pouco uso deles por parte dos habitantes, remete esses às características encontradas
nas casas coloniais e na casa-grande de engenho. As salas de visitas eram usadas
especificamente para esse fim, e as salas de jantar eram o espaço para refeições
apenas em ocasiões especiais.
d) Outra caracterização da ocupação e uso desses espaços contemporâneos é a presença
da sala de TV como o segundo espaço coletivo da família (o primeiro é a cozinha).
Esse espaço reforça, por um lado, a sala de estar como espaço formal, a
permanência da sala de visitas e, por outro lado, a privacidade da família pelo fato
deste não ser acessível diretamente aos visitantes.
e) Mais uma característica dessas residências é o desaparecimento ou o pouco uso de
alguns cômodos como, por exemplo, o quarto de hóspedes e o escritório. O
desaparecimento do quarto de hóspedes é claramente a confirmação do espaço
doméstico como de domínio privado, restrito à família. A pouca utilização do
81
escritório, está relacionada com um uso multifuncional dos quartos, onde
encontramos aparelhos de som e computadores.
82
Capítulo 4 - Uma análise configuracional
Esse capítulo tem como objetivo descrever a Sintaxe Espacial das residências,
ou seja, fazer essencialmente uma caracterização dos sistemas estudados em termos das
suas permeabilidades e impermeabilidades ao movimento das pessoas no interior destes
edifícios, e em relação aos seu exterior. Esse estudo será feito com o auxílio da técnica
de convexidade e de suas variáveis analíticas, conforme descritas no capítulo 2.
Neste capítulo, serão lançadas ainda hipóteses interpretativas das implicações
sociais destes padrões espaciais, com base nos recentes estudos envolvendo o espaço
doméstico sob esse enfoque. Essas hipóteses serão posteriormente verificadas, na
medida do possível, no capítulo 5.
85
4.2. Variáveis analíticas
89
“casas de arquitetos são individuais e únicas, talvez posa vir a ser um tipo, mas nunca
como um modelo para ser reproduzido”174.
A comparação entre os dados do estudo das casas modernistas do Recife e os
dados das casas em Brasília - mais especificamente em relação à integração dessas casas
– permite verificar que essa diferenciação nem sempre acontece. A diferença é muito
pequena, o que não confirma a hipótese levantada, de que as residências de arquitetos
são muito diferenciadas entre si. É importante ficar claro que isso acontece apenas em
relação a integração dos sistemas e não quanto a outros aspectos dessas residências, que
não são objetos desse estudo. Mesmo assim, é curioso notar como uma faceta
fundamental na configuração destes edifícios (exatamente aquela mais relacionada aos
modos comportamentais que neles se desenvolvem, a saber, sua sintaxe), nega a suposta
idiossincrasia destes projetos.
4.2.3. Distributividade
174
No original: “Architect’s house are individual and unique, perhaps aimed to become a type, but never
as a model to be reproduced”. AMORIM, 1999, pág. 65. (minha tradução).
90
onde os espaços são mais segregados. Para melhor visualização dessas estruturas, ver os
grafos das casas 19 e 9 na Figura 13.
Dada a heterogeneidade das medidas de distributividade do conjunto, conforme
mencionado, elas serão comparadas com outras encontradas na literatura. Para que seja
mais facilmente visualizado, os dados foram normalizados entre 0 e 1 (mais próximo de
zero implica em sistemas menos distributivos), tendo como parâmetro a medida de
distributividade do estudo de Holanda, a maior entre os estudos a que tive acesso.
91
Figura 14 a – Grafo casa 2 Figura 14b – Grafo casa 5
4.2.4. Simetria
92
Se comparado ao conjunto estudado por Hanson, das 27 casas da amostra,
apenas o índice da casa 19 supera o maior índice encontrado por ela. Cerca de 92% dos
sistemas da amostra estão abaixo das casas consideradas por ela como sendo pouco
simétricas.
Dada a grande variação das medidas de simetria da amostra, foi feita uma
normalização desses valores, onde os parâmetros foram o máximo e o mínimo da
própria amostra. Estes foram normalizados variando de 0 a 1, sendo que, quanto mais
próximo de zero, menor a simetria. A média do conjunto, depois de normalizado, ficou
em 0,119 (Tabela 8) - esse baixo valor confirma a tendência do conjunto de ser pouco
simétrico, em comparação com os dados de Hanson. A hipótese é que baixos índices
indicam que os sistemas classificam fortemente os vários papéis e status nessas
residências.
Esse atributo caracteriza esses sistemas sob um outro aspecto, ou seja, são pouco
simétricos apesar de não serem muito diferenciados sintaticamente, conforme a medida
de entropia vista anteriormente, e de serem muito integrados. Por um lado, a correlação
entre simetria e entropia é baixíssima, praticamente nula: 0,064. Por outro lado, a
correlação entre simetria e integração é positiva, mas não é muito forte: 0,53. As baixas
medidas de simetria, em contraste com as altas medidas de entropia, e as altas medidas
de integração, colocam dificuldades na caracterização dessa amostra, uma vez que a
simetria (uma medida local) não reflete nem a entropia, nem a integração do sistema
como um todo (medidas globais).
Esse descompasso pode ser resultado de problemas como: a) uma possível
inconsistência teórica, a qual exigiria um estudo mais aprofundado, ultrapassando o
alcance do presente trabalho, e/ou b) a falta de outros estudos para comparação,
inclusive da própria região estudada, pelos quais se possa revelar uma recorrência desta
contradição entre medidas locais e globais, denotando até mesmo uma determinada
família configuracional.
No primeiro caso, o aprofundamento, do ponto de vista teórico, seria no sentido
de verificar se demonstrações formais foram feitas ou se apenas testes quantitativos175.
Estes testes não são mais do que uma verificação da hipótese levantada, diferentemente
de uma demonstração mais formal. A diferença é que um teste numérico pode-se revelar
satisfatório para um certo valor, mas, para algum valor diferente daquele testado, ele
175
Como parece sugerir em HILLIER, 1996, pág. 321.
93
pode não ser válido. Já uma demonstração matemática mais formal comprova a validade
da hipótese para qualquer valor dado.
No segundo caso, é possível que a contradição seja indicativa de configurações
que, consistentemente, investem em baixa simetria, mas em alta integração e alta
entropia. Pela literatura, isto significaria que haveria uma forte classificação em nível
local, ao mesmo tempo em que haveria uma fraca classificação em nível global176. A
evidência aqui tratada parece confirmar a hipótese da literatura em termos de categorias
excludentes, típicas de uma classificação forte. Entretanto, uma pesquisa mais
aprofundada será necessária para a verificação desta hipótese.
176
Ver, por exemplo, a discussão de Hanson sobre distributividade e simetria (HANSON 1998, pág. 188),
assim como sua citação dos conceitos de classification e frame, de Bernstein (idem, pág. 118).
94
Tabela 10 – Ordem de integração
Imóvel Ordem de integração
Casa1 S.jantar > Circ. > estar > copa > área de lazer > varanda > qto1 = escritório = exterior > qto2 > qto empregada > cozinha
1,559 1,267 1,053 1,014 0,954 0,932 0,881 0,881 0,881 0,863 0,780 0,737
Casa2 Estar > circ. > varanda > área de lazer > s. jantar = cozinha > s. TV/int. > escritório > qto. emp. > exterior = qto 1 > qto 2
1,046 1,010 0,936 0,871 0,766 0,766 0,753 0,747 0,668 0,601 0,601 0,529
Casa3 Circ. > estar > área de lazer > s.jantar > escrit. > cozinha > qto1 > varanda > exterior > copa > qto2 > TV/Int. > qto. emp.
0,908 0,816 0,772 0,765 0,730 0,687 0,678 0,671 0,666 0,580 0,562 0,504 0,436
Casa4 Estar/Jantar > TV/Int. > varanda > cozinha > circ. > área de lazer > escritório > qto1 = qto2 >exterior > qto. emp.
1,442 1,328 1,173 1,097 1,040 0,970 0,814 0,737 0737 0,696 0,677
Casa5 Área de lazer > Varanda > TV/Int. > qto1 > circ. > estar/jantar > qto2 > cozinha > copa = qto. emp.> escritório > exterior
1,513 1,496 1,333 1,202 1,161 1,077 0,997 0,983 0,863 0,863 0,847 0,761
Casa6 Estar > varanda > s.jantar > área de lazer > circ. > TV/Int. > cozinha > qto1 > qto2 > escritório = exterior > qto. emp
1,277 1,187 1,160 1,121 1,097 0,943 0,917 0,651 0,635 0,601 0,601 0,580
Casa7 Estar > circ. > cozinha > qto1 > s.jantar > exterior > qto2
1,417 1,256 1,083 1,005 0,891 0,863 0,825
Casa8 Estar > circ, > TV/Int, > s,jantar > varanda > área de lazer > qto1 > cozinha > qto2 > qto empregada > exterior
1,010 0,995 0,924 0,911 0,880 0,771 0,728 0,704 0,675 0,626 0,511
Casa9 Circ,> estar/jantar > varanda > cozinha > área de lazer > exterior > qto1 = qto2 > escritório > qto empregada
1,522 1,327 1,161 0,919 0,884 0,868 0,837 0,837 0,868 0,709
Casa10 Jantar > circ, > cozinha > estar = TV/Int > varanda > área de lazer > escritório = qto1> qto2 = exterior > qto, empregada >
1,242 1,101 1,064 0,969 0,969 0,889 0,821 0,745 0,745 0,598 0,598 0,563
Casa12 Circ,> cozinha = varanda > estar/jantar > qto1 > área de lazer > exterior > escritório> qto empregada > qto2
1,479 1,151 1,151 1,102 1,057 0,977 0,878 0,750 0,740 0,709
Casa13 Circ, > s,jantar > cozinha > s,estar > qto1 > qto2 > exterior
1,626 1,273 1,171 1,045 0,887 0,887 0,496
Casa14 Circ, > s, estar > cozinha > qto1 > qto2 > escritório > exterior
1,414 1,359 0,955 0,841 0,768 0,654 0,589
Casa15 Estar/jantar > circ,> qto1 > cozinha > exterior > qto2
1,722 1,464 0,887 0,791 0,650 0,636
Casa16 Jantar = circ, > cozinha > estar = qto1 > varanda > qto2 > exterior
1,250 1,250 1,184 0,938 0,938 0,833 0,804 0,643
Casa17 Circ, > s,jantar = TV/Int > cozinha > estar > varanda > qto1 = qto2 > área de lazer > escritório > qto empregada > exterior
1,021 0,968 0,968 0,846 0,798 0,695 0,663 0,663 0,629 0,619 0,499 0,457
Casa18 Circ, > cozinha > estar > qto1 = qto2 > s,jantar > varanda > qto, empregada > exterior
1,356 1,006 0,931 0,866 0,866 0,678 0,671 0,600 0,547
Casa19 Varanda > estar > circ, > cozinha/copa > exterior > qto1 = qto2
1,962 1,681 1,239 1,177 0,759 0,736 0,736
Casa20 Circ, > estar > copa > qto1 > qto2 > cozinha > exterior
1,757 1,387 1,146 0,976 0,909 0,850 0,538
Casa21 Estar/jantar > circ, > cozinha > qto1 = exterior > qto2
1,327 1,206 0,737 0,664 0,664 0,492
Casa22 Circ, > s,jantar > qto1 > TV/Int, > cozinha/copa > varanda > estar > área de lazer > qto emp, > escritório = exterior > qto2
1,308 1,206 1,080 1,020 0,919 0,860 0,844 0,761 0,749 0,737 0,737 0,698
Casa23 Estar > circ, > cozinha > qto1 > qto2 > exterior
1,424 1,306 1,119 0,746 0,712 0,627
Casa25 Circ, = s,jantar > estar > cozinha > area de lazer > TV/Int, > escritório > qto1 > exterior > qto2 > varanda > qto,
empregada
1,268 1,268 1,197 1,118 1,103 0,894 0,867 0,833 0,759 0,702 0,691 0,629
Casa26 S, jantar > circ, > varanda > cozinha > estar > qto1 = qto2 > exterior > qto empregada
1,569 1,263 1,233 1,177 0,941 0,822 0,822 0,664 0,595
Casa27 s, jantar > circ, > estar > copa > área de lazer > varanda = TV/Int, > cozinha > qto1 = qto2 > escritório > qto, emp,>
exterior
1,463 1,346 1,173 1,147 1,019 0,989 0,989 0,961 0,934 0,934 0,917 0,677 0,651
Casa28 Circ, > s,jantar > cozinha > área de lazer > estar > qto1 > qto2 = escritório > copa = TV/Int, > qto, emp, > exterior >
varanda
1,273 1,096 0,913 0,906 0,869 0,863 0,720 0,720 0,646 0,646 0,621 0,600 0,558
Casa29 Estar > circ, > copa > TV/Int,> cozinha > s,jantar > qto1 > escritório > área de lazer = exterior > qto2 > qto,empregada
1,327 1,185 1,071 1,046 0,916 0,898 0,787 0,735 0,705 0,705 0,640 0,630
95
A seqüência “sala > cozinha > quarto principal > exterior” aparece em quase
50% dos casos, seguida pela seqüência “sala >cozinha > exterior > quarto principal”,
com quase 26% dos casos. Essas duas seqüências mostram uma clara definição de
estrutura doméstica da amostra com as seguintes características: a) o forte investimento
nos espaços do setor social (sala de estar e jantar); b) a distância na relação com o
exterior, sinalizando uma fraca relação público/privado; c) o isolamento dos quartos
confirmando o seu status sempre diferenciado dentro da casa.
Em recente estudo sobre espaços domésticos no Distrito Federal, verificou-se
que essa seqüência também foi a predominante. Esse enfraquecimento da relação com
exterior pode “evidenciar a pouca importância da interface público/privado e a
tendência à interiorização das residências”177, sinalizando esta como uma das
características das casas em Brasília.
96
das casas dessa amostra, superam o maior índice de funcionalidade encontrado por ele.
Isso caracteriza o conjunto aqui estudado como tendo um layout de orientação mais
funcional que de transição, conforme a alta média do conjunto, de 0,79, em vista da
média das casas dos arquitetos em Recife, que é de 0,699. A Figura 15 ilustra um
sistema muito funcional, onde existe só uma circulação entre os quartos.
Segundo a hipótese, o alto índice de funcionalidade significa pouca
classificação/separação entre rótulos, ou seja, não existe a proliferação de espaços
mediadores entre os vários lugares da casa o que aumentaria a distância sintática entre
as categorias de usuários (habitantes, empregados e visitantes). Amorim chamou de
mediadores os espaços de circulação. Para ele, esses espaços são “uma típica
característica de casas modernas que é penetrantemente presente, controlando o acesso
de setor para setor, prevenindo encontros indesejáveis”178.
Figura 15 – casa 27
177
FRANÇA, 1999, pág. 4.
97
Figura 16 – Casa6
178
No original: “Mediation, however, is a typical characteristic of modern houses that is pervasively
present, controlling access from sector to sector, and preventing, undesirable enconunters.”AMORIM,
2001, pág. 19.12.
98
Figura 17 a - casa 16
Já a casa 19, com o menor grau de fechamento, apresenta mais franco acesso
entre os cômodos: a abertura da cozinha para a sala de jantar, e dessa para a circulação
que leva diretamente à sala de estar, sem portas, fazem com que os espaços fechados se
reduza à área intima, os quartos. À primeira vista, poder-se-ia dizer que esse franco
acesso é devido à pequena escala da casa 19, com cerca de 100m2., mas verificando-se a
casa 9, com mais de 400m2 e a segunda com menor índice de fechamento, fica evidente
que a questão não é simplesmente em função de característica geométricas (no caso,
tamanho global da área construída), e sim de características topológicas.
Figura17b – casa 19
99
espaços do setor social reduz os espaços fechados à área íntima e à de serviço. Isto, em
proporção ao número total de espaços convexos, gera um baixo índice de fechamento.
As casas 19 e 9 - juntamente com as casas 2, 3, 6, 7, 10, 12, 15, 17, 21, 25, 26,
ou seja, quase 50% da amostra - são menos compartimentadas que a casa de Holanda,
com 0,40. Nenhuma casa da amostra é mais compartimentada que as casas do mercado
imobiliário inglês – 0,77, citadas por Hanson. Quase 40% da amostra são tanto ou mais
compartimentadas que as casas dos arquitetos londrinos – 0,42 em média, também
citadas por ela179.
Para Hanson, o baixo índice de fechamento das casas dos arquitetos de Londres
é resultado da complexidade de seus espaços. Segundo ela, “a maioria dos cômodos é
constituída por domínios espaciais mais complexos, feitos de uma mistura de espaços
funcionais e transições, e é isto que confere às casas dos arquitetos um grau de
peculiaridade que tanto contrasta com a configuração estereotipada e ‘em caixas’ de
muitas casas modernas da especulação imobiliária”180.
Entretanto, isto não é sempre assim. Para Holanda, o baixo índice de
fechamento de sua casa, por exemplo, não é devido à proliferação de espaços convexos
em cada cômodo, como sugeriu Hanson. Ao contrário, ele resulta da “minimização do
fechamento dos espaços [onde] a economia de elementos de circulação é grande, sendo
muitas delas incorporadas aos diversos cômodos”181.
Considerando que tanto Hanson quanto Holanda concluíram que os índices
encontrados por eles são baixos, o conjunto da amostra, apresenta-se pouco
compartimentado, já que a média é de 0,43. Por outro lado, como os argumentos de
ambos para esses baixos índices são diferentes, o que justifica esse valor para a amostra
em estudo?
No conjunto analisado, pode-se encontrar tanto exemplos próximos do que
Hanson sugeriu, quanto próximos às características citadas por Holanda. A casa 17, com
a complexidade de espaços convexos, se aproxima dos exemplos do primeiro caso. A
casa 26, por sua vez, apesar de não ter um pátio interno (como na casa átrio de
Holanda), tem a cozinha aberta para sala de jantar, que também é aberta para sala de
estar. Essa configuração minimiza o fechamento e dá uma característica próxima do
exemplo estudado por Holanda.
179
HANSON, 1998, pág. 230.
180
HANSON, 1998, pág. 230, citada por HOLANDA, 2000, pág.12.
181
HOLANDA, 2000, pág. 12.
100
Figura 18 – casa 17 - Planta de convexidade
101
Na casa 3, ao mesmo tempo em que existem espaços de atividades que servem
de passagem (economizando elementos de circulação), existem espaços de atividades,
compostos por vários espaços convexos (dando complexidade aos espaços). Ela tem,
portanto, espaços abertos por motivos diferentes, ora pela complexidade dos espaços
convexos, ora pelo franco acesso a outro ambiente.
103
Conclusão
104
Capítulo 5 – Espaço doméstico: morfologia e modo de vida
5.1.1. A cozinha
182
Trigueiro concluiu, que as cozinhas eram tão segregadas quanto o alojamento dos escravos, por serem
espaços reservados aos serviçais. Para ela, “a rua é extremamente segregada como também o são todos os
espaços reservados a atividades que pressupõem a presença de estranhos ou serviçais – loja, quarto de
hóspedes homens, cozinha, alojamento de escravos. TRIGUEIRO, 1995, pág. 6.
106
Essa característica peculiar da cozinha encontrada na casa 26 remonta às
cozinhas da casa colonial paulistana do início do século XIX, descritas por Lemos.
Segundo ele, a “extroversão” da cozinha ainda permanecia, fazendo surgir a chamada
cozinha “de fora” ou cozinha “suja”, o lugar onde o serviço grosso era feito183. Neste
caso específico, dois aspectos chamam a atenção: primeiro, o caráter simbólico dado à
cozinha (“de dentro”), um lugar de representação para os visitantes; segundo, revela
uma maior distância social entre patrões e empregados. Ambos os aspectos reforçam o
status social dado à cozinha nessa casa.
Tantos os aspectos peculiares da casa 26, quanto as demais características desta
amostra, indicam as mudanças configuracionais nos sistemas estudados, em face das
residências coloniais ou modernas estudadas por outros autores. As características da
cozinha nessas casas, como sua alta integração e sua pouca profundidade em relação ao
exterior, mostram a importância e o status desse espaço dentro da estrutura doméstica
contemporânea, diferentemente das casas coloniais.
Por outro lado, essas mudanças indicam ainda que a cozinha não assumiu as
funções concebidas na proposta modernista. Ao se manterem como o lugar de convívio
e interação entre os membros da família, as cozinhas da amostra deixam de ser espaço
estritamente funcional, como proposto pelo Movimento Moderno.
5.1.2. Quartos
Diferente das cozinhas, os quartos são, em cerca de 89% dos casos espaços tipo
"a" (49%) ou "b” (40%). Esses espaços têm, portanto, características não-distributivas,
formando estruturas em árvore. Essa estrutura ramificada evidencia o controle do acesso
a esses espaços, favorecendo assim a sua segregação e dificultando, ou mesmo
impedindo, o acesso por parte de pessoas externas ao grupo familiar.
Essa segregação abrange todos os quartos da casa, desde os quartos usados pelos
habitantes até os quartos de empregada. No sistema como um todo, os quartos estão
183
“Enquanto não houver prova em contrário, podemos perfeitamente dizer, com base nos fatos sabidos e
análise dos aspectos sociais da época, que a cozinha “de fora” da casa paulista sempre foi a verdadeira
cozinha, a que sempre existiu e que as novas condições econômicas, principalmente, sugeriram ou
toleraram a segunda cozinha, a “de dentro”, aquela freqüentada inclusive pelo patrão, pelo chefe...”.
LEMOS, 1978, pág. 102.
107
entre os espaços menos integrados da casa (ver Tabela 12). Na grande maioria, cerca de
76%, estão abaixo da média de integração das residências e com poucas exceções,
aparecem acima da média, revelando bem a estratégia morfológica de isolamento desses
espaços. Os quartos só estão acima do índice de integração dos banheiros, dos
roupeiros, do exterior e do quarto de empregada, que são os espaços mais profundos e
segregados das casas analisadas.
A segregação espacial desses cômodos corresponde ao seu isolamento social.
Essa segregação espacial junto com as informações de uso como, por exemplo, o
superequipamento desses espaços (televisores, computadores, som, aparelhos de
ginásticas) e sua multifuncionalidade, como vimos no capítulo 3, confirma o seu status
nas estruturas domésticas das casas da amostra. Mais do que isso, esse isolamento
espacial confirma a busca, cada vez maior, por privacidade. Em entrevista com a
moradora da casa3, a casa mais segregada de toda amostra, ela disse: “até pra comer nós
usamos o quarto, no quarto nós temos tudo...”.
A grande quantidade de espaços tipo ‘b’, quanto aos quartos, é explicada pela
forte presença das suítes que caracterizam o conjunto. Nesses casos, o quarto faz o papel
de distribuidor, ou seja, dele se pode ir para o banheiro ou para o roupeiro e, em
algumas casas, também para a varanda. Desta maneira, esses espaços formam o
complexo mais segregado das residências, e também os mais profundos, considerando-
os a partir do exterior, o que é coerente com estratégia de isolamento desses espaços.
O elevado número de suítes na amostra, dando conforto e individualidade aos
moradores, como vimos no capítulo 3, e a sua segregação espacial, indicam possível
mudanças das relações no núcleo familiar. Por um lado, a generalização desse conforto
aos demais membros do grupo familiar, não se restringindo aos donos da casa (em
grande parte da amostra), indica que não há mais essa grande diferença de status
interno.
Por outro lado, o fato dessas suítes (independente de serem dos donos) estarem
no mesmo nível de profundidade em relação ao exterior (em alguns casos o quarto do
casal é menos profundos que o dos filhos – casas 12) e igualmente segregadas (abaixo
da média de integração) na maioria absoluta, sinalizam o processo de enfraquecimento
do domínio patriarcal, característico da família nuclear brasileira do passado184.
184
TRIGUEIRO, 1995, pág. 6 e 7.
108
Os quartos de empregada, por sua vez, encontram-se abaixo da média de
integração, em todas as casas, sem exceção. Essa baixa integração reproduz a
segregação da área destinada aos serviçais, como observou Trigueiro185. Embora
segregados, como nos sobrados coloniais, eles podem ser divididas em dois grupos; a)
segregados e profundos em relação ao exterior – sendo na maioria tão profundos quanto
os quartos dos habitantes ou salas de TV e Íntima - (mais de 55% dos casos); b)
segregados mas não tão distantes relativamente ao exterior, como o eram nos sobrados
coloniais, referidos por Trigueiro - (cerca de 44,5%).
Essas duas situações indicam, por um lado, que algumas casas carregam ainda
características encontradas nos antigos sobrados coloniais. Por outro, denota uma nova
relação entre empregados e patrões, sugerindo maior autonomia dos primeiros em
relação aos últimos, na medida em que empregados são menos controlados pelos
patrões, em face do âmbito público (isto é, do espaço ‘exterior’, ou da ‘rua’, conforme
DaMatta). De qualquer maneira, ambas situações indicam também, a pouca inserção dos
serviçais no contexto social das residências.
185
TRIGUEIRO, 1995, pág. 6.
109
casos. Essa alta integração da sala de estar confirma, sintaticamente, esse espaço como o
mais importante espaço do setor social.
A sala de estar juntamente com estar/jantar, são, em 87% dos casos, espaços do
tipo ‘c’ ou ‘d’, isto é, são espaços distributivos, pertencentes a anéis de permeabilidade,
ora em anéis que se formam unindo-os aos espaços do setor de serviço, ora compondo
anéis com os espaços do setor social e de lazer. Em alguns casos, ocorre em ambos.
Essa bi-permeabilidade da sala e sua alta integração, a caracteriza como espaço de fácil
acessibilidade, tanto local como globalmente.
As salas de estar e estar/jantar são também os espaços menos profundos em
relação ao exterior. São mais profundos somente em relação às garagens, varandas,
jardins e os halls de entrada. Encontram-se na grande maioria – (cerca de 77%) nos
níveis 3 e 4 de profundidade em relação ao exterior, conforme pode-se ver, por
exemplo, no grafo justificado da casa 12.
110
Esses espaços também têm a característica de ser lugar aberto, ou seja, não são
isolados dos demais cômodos por portas e paredes. Na grande maioria, cerca de 85%
dos casos, a sala de estar é aberto para a sala de jantar ou para a sala de TV, como nas
casas 8 e 1. Em outros casos são abertas para as circulações. O caso extremo acontece
na casa 16, um bom exemplo de espaço fechado, onde a sala de estar é fechada até para
a circulação por meio de uma porta.
O fato desse espaço ser pouco usado pelos habitantes não é devido à segregação
desse em relação aos demais espaços da casa. Pelo contrário, na maioria absoluta dos
casos, é espaço altamente integrado, sendo aberto, distributivo e raso em relação ao
exterior. Seu pouco uso, portanto, não está relacionado à configuração, mas a regras e
convenções que se superpõem aos padrões espaciais, negando sua potencialidade co-
presencial. Voltarei a comentar este aparente paradoxo.
111
5.1.5. Sala de TV e Sala íntima
112
As salas de TV e íntima são indicadas como o terceiro espaço de maior tempo de
permanência da família, e como os espaços reservados para atividades coletivas dos
habitantes das residências da amostra. Por outro lado, foram indicados como o terceiro
espaço usado para receber visitantes. Isto significa que esta superposição categórica
habitante/visitante é coerente com sua característica sintática de transição entre o setor
social e o setor íntimo.
5.1.6. A Varanda
As varandas estão presentes em mais de 70% das casas da amostra, num total de
41 varandas. Isso representa uma média de 1,5 varanda por casa, número significativo
que confirma a forte presença desse elemento na composição das residências do
conjunto analisado. Elas podem ser encontradas tanto junto aos quartos, como também,
próximas às salas de estar e jantar e ainda junto à área de lazer.
Quando encontradas junto aos quartos, esses espaços são profundos em relação
ao exterior, geralmente os mais profundos espaços do complexo, juntamente com os
banheiros e os roupeiros. Para se ter uma idéia dessa localização, das 41 varandas, cerca
de 30%, estão acima do nível 7 de profundidade e são tipicamente do tipo 'a' e 'b',
constituindo o topo das estruturas em árvore, típicas do setor íntimo das casas.
A grande maioria das varandas, no entanto, está localizada em níveis pouco
profundos, com relação ao exterior, variando de 2 a 6 níveis, sendo que 90% estão
localizadas entre os níveis 2 e 4. Elas constituem espaços do tipo ‘c’ e ‘d’, sendo que
45% são do tipo ‘d’, ou seja, pertencem a mais de um anel de permeabilidade.
Elas estão localizadas em anéis unindo espaços do setor social (como sala de
estar e jantar) a espaços da área de lazer. Sua pouca profundidade, é coerente com sua
utilização para receber visitantes (ver casas 8, 12, 3, 10, 9,17, 5). Esse espaço é,
também, o segundo na lista dos espaços menos utilizados pela família (ver Tabela 2).
Novamente, têm-se, por um lado, a clara definição entre os espaços destinados à família
e aos visitantes e, por outro, o fato de que não é a segregação desse espaço no sistema
configuracional que o faz ser pouco usado pelos moradores.
113
5.1.7. Escritório
114
Nas casas que têm áreas de lazer, é comum formarem-se pelo menos três anéis
envolvendo esse espaço: a) um dos anéis liga essa área a espaços do setor social,
principalmente, salas de estar e jantar; b) outro anel liga-a aos espaços do setor de
serviço e c) um terceiro anel é criado em torno da casa, através do quintal. Isso é visível,
por exemplo, nas casas 29, 5,10, 8, 9 e 17.
Esses anéis contribuem para sua pouca profundidade (entre o segundo e o quarto
nível em relação ao exterior), assim como para sua alta integração. Em mais de 73% das
ocorrências, a área de lazer é menos profunda ou igual à sala de estar, estando
localizadas nos níveis 2 e 3 de profundidade. O franco acesso à área de lazer é
favorecido pelas rotas feitas através dos quintais e jardins das casas. A ausência de
barreiras físicas facilitam o uso desse espaço para recepcionar visitantes de maneira
menos formal.
Segundo dados dos questionários, a área de lazer é o espaço destinado a grandes
recepções, como festas dançantes ou churrasco. Mais de 67% das respostas deram a ela
essa função, em vez da área interna da casa. Nesse sentido, a área de lazer também está
incluídas entre os espaços usados para receber visitantes, o sexto espaço mais citado.
Por outro lado, esse espaço nem consta da lista dos espaços de maior permanência da
família (ver Tabela 1), estabelecendo novamente a distinção entre locais acessíveis a
visitantes e lugares para os habitantes.
5.1.9. O Exterior
A relação das casas com o exterior (rua) é expressa pela medida de integração
desse espaço. Essa medida está abaixo da média de integração dos sistemas em 92,59%
dos casos, indicando a forte segregação desse espaço. Somente nas casas 3 e 8 esse
índice encontra-se acima da média.
A segregação fica evidente quando do estudo da ordem de integração das
residências. A seqüência sala > cozinha > quarto principal > exterior é predominante no
conjunto, com mais de 48,5%, sendo o exterior ainda menos integrado que o quarto
principal. Essa pouca integração com o exterior sugere a pouca importância dada à
relação entre público e privado, e aponta para a instrospecção da vida familiar nesta
amostra.
115
Diante dessa caracterização dos espaços de atividade, entendendo seus usos e
status dentro dos espaços domésticos, é possível identificar algumas características
predominantes nos sistemas dessa amostra. O gráfico 3, mostra os espaços comuns a
todos os sistemas, que foram mencionados na análise, agrupados segundo as suas
medidas de integração, da maior para a menor medida. No gráfico 4, estão os demais
espaços citados na análise, também agrupados como no gráfico 3. Esses gráficos, dão
um perfil morfológico do conjunto, indicando uma tendência da amostra, quanto a sua
organização espacial.
2
casa 1 casa 2
1,8 casa 3 casa 4
1,6 casa 5 casa 6
casa 7 casa 8
1,4
casa 9 casa 10
Integração
Demais espaços
2,2
2 casa 1 casa 2
casa 3 casa 4
1,8
casa 5 casa 6
1,6 casa 7 casa 8
1,4 casa 9 casa 10
Integração
116
Tabela 12 - Integração do cômodos
Imóvel Cômdos
Sala Circ. Jantar Estar Varanda Cozinha TV/Int. copa Lazer Qto 1 Escrit. Qto 2 Exterior Qto emp.
casa 1 1,267 1,559 1,053 0,932 0,737 1,014 0,954 0,881 0,881 0,863 0,803 0,78
casa 2 1,01 0,766 1,046 0,936 0,766 0,753 0,871 0,601 0,747 0,529 0,601 0,668
casa 3 0,908 0,765 0,816 0,671 0,687 0,504 0,58 0,772 0,678 0,73 0,562 0,666 0,436
casa 4 1,442 1,04 1,173 1,097 1,328 0,97 0,737 0,814 0,737 0,696 0,677
casa 5 1,077 1,161 1,496 0,983 1,333 0,863 1,513 1,202 0,847 0,997 0,761 0,863
casa 6 1,097 1,16 1,277 1,087 0,917 0,943 1,121 0,651 0,737 0,635 0,601 0,58
casa 7 1,256 0,891 1,417 1,083 1,005 0,825 0,863
casa 8 0,995 0,911 1,01 0,88 0,704 0,924 0,771 0,728 0,675 0,511 0,626
casa 9 1,327 1,522 1,161 0,919 0,884 0,837 0,714 0,837 0,868 0,709
casa 10 1,101 1,242 0,969 0,889 1,064 0,969 0,821 0,745 0,745 0,598 0,598 0,563
casa 12 1,102 1,479 1,151 1,151 0,977 1,057 0,75 0,709 0,878 0,74
casa 13 1,626 1,273 1,045 1,171 0,887 0,887 0,496
casa 14 1,359 1,414 0,955 0,841 0,654 0,768 0,589
casa 15 1,722 1,464 0,791 0,887 0,636 0,65
casa 16 1,25 1,25 0,938 0,833 1,184 0,938 0,804 0,643
casa 17 1,021 0,968 0,798 0,695 0,846 0,968 0,629 0,663 0,619 0,663 0,457 0,499
casa 18 1,356 0,678 0,931 0,671 1,006 0,866 0,866 0,547 0,6
casa 19 1,681 1,239 1,962 1,177 0,736 0,736 0,759
casa 20 1,387 1,757 0,85 1,146 0,976 0,909 0,538
casa 21 1,327 1,206 0,737 0,664 0,492 0,664
casa 22 1,308 1,206 0,844 0,86 0,919 1,02 0,761 1,08 0,737 0,698 0,737 0,749
casa 23 1,424 1,306 1,119 0,746 0,712 0,627
casa 25 1,268 1,268 1,197 0,691 1,118 0,894 1,103 0,833 0,867 0,702 0,759 0,629
casa 26 1,263 1,569 0,941 1,233 1,177 0,822 0,822 0,664 0,595
casa 27 1,346 1,463 1,173 0,989 0,961 0,989 1,147 1,019 0,934 0,917 0,934 0,651 0,677
casa 28 1,273 1,096 0,869 0,558 0,913 0,646 0,704 0,906 0,863 0,72 0,72 0,6 0,621
casa 29 1,185 0,898 1,327 0,916 1,046 1,071 0,705 0,787 0,735 0,64 0,705 0,63
Média 1,385 1,264 1,115 1,038 0,993 0,961 0,947 0,932 0,924 0,839 0,763 0,739 0,664 0,647
5.2. Os sistemas e o modo de vida
Diante das evidências sobre uso dos espaços e suas características sintáticas, a
clara distinção entre habitantes e visitantes é visível na configuração dos sistemas
estudados. Estes últimos podem ser classificados, a grosso modo, em dois tipos: a)
sistemas compostos por uma forte estrutura em árvore do setor íntimo em contraste com
a estrutura bem anelar que integra os setores social, de serviço e de lazer; b) sistemas
com estrutura tipicamente em árvore em todos os setores, ou que possuem, no máximo,
um anel. Nos dois grupos, existe uma constante: o isolamento espacial dos espaços
destinados aos aposentos dos moradores das residências analisadas.
Entre as casas que compõem o grupo b, chamam a atenção as casas 7, 13, 18, 20
e 14, que possuem um único anel formado pelo acesso principal e o de serviço. No
sistema formado pela casa 7 encontra-se um segundo anel, mas este é formado por uma
construção anexa, enquanto a casa 21 é uma típica estrutura em árvore, já que o único
anel existente é formado por espaços externos à casa, os quintais.
A grande maioria das residências, mais de 77% dos casos da amostra, faz parte
do primeiro grupo. Nestas casas, o número de anéis formado pelo setor social, de
serviço e de lazer dá a estas uma permeabilidade muito grande. Se por um lado, esses
setores são muito permeáveis, dando uma característica anelar ao sistema, por outro,
contrastam com a estrutura em árvore formado pelo setor íntimo (ver Anexo 3).
O controle do acesso ao setor íntimo é muito evidente. Geralmente só se tem um
único acesso, o qual é feito através dos espaços de circulação. Às vezes, este acesso se
dá por mais de um espaço convexo de circulação, o que aumenta a segregação desse
setor em relação ao setor social (ver casas 1 e 6). Em outros casos, o acesso é feito só
através das salas de TV ou íntima (ver casas 4 e 5). Nestes casos, estas salas fazem o
papel de circulação em direção aos quartos. Há situações que usam os dois recursos, ou
seja, circulação e sala íntima ou de TV, como é o caso das casas 8 e 17.
As salas de TV e íntima - assim localizadas próximas aos quartos – funcionam
como espaços de transição entre uma estrutura anelar e outra em árvore. Esses espaços,
juntamente com as circulações, fazem o papel de controladores do fluxo de pessoas para
as áreas mais isoladas do sistema. Segundo Amorim, “o acesso controlado determina
uma clara identificação da fronteira do setor, cruzar essa fronteira sem permissão pode
ser entendido como uma transgressão do código de comportamento social”186.
Isso explica porque as salas de TV e íntima são pouco usadas para receber
visitantes, como já foi mencionado. Somente as pessoas mais íntimas chegam a esses
cômodos. Estas salas são, portanto, elementos muito importantes na estrutura das casas
estudadas. São localizadas de maneira que estabelecem fronteira entre os setores,
resguardando assim a privacidade da família. Dessa forma a configuração dessas
residências revelam uma estrutura com características, ao mesmo tempo, informais
(quando do franco acesso aos espaços do setor social) e formais (na restrição aos
espaços dos setor íntimo).
Do ponto de vista da relação entre membros do núcleo familiar e pessoas extra-
grupo, essa fronteira indica que alguns espaços têm seu uso limitado para estes últimos.
Os espaços como sala de estar, jantar, varandas e área de lazer são espaços reservados
aos visitantes, uma vez que são pouco usados pelos habitantes, enquanto as salas de
TV/Íntima, como misto de espaços para visitantes e habitantes, são mais segregadas.
Os espaços do setor social são muito integrados e formam um complexo anelar
envolvendo também o setor de serviço e lazer. Aqui um paradoxo em face da literatura
existente, pois os espaços mais integrados dos sistemas, não são os espaços mais usados
pelos habitantes e sim reservado aos visitantes. Hanson, por exemplo, comentou como a
formalidade do “parlour” nas residências da classe trabalhadora inglesa, pela qual este
espaço somente é utilizado em momentos muito especiais, coincide com sua enorme
segregação.187
A estratégia configuracional detectada na localização da sala de TV e íntima,
como espaços mediadores (além das circulações) pode sinalizar ainda mais uma divisão
da estrutura doméstica que corresponde ao modo de vida nessas casas. Além da
separação entre espaços para visitante e habitantes, há uma divisão entre os cômodos
destinados aos habitantes. Basicamente, as dependências mais usadas coletivamente por
estes são a cozinha e salaTV/íntima. A cozinha é, entre estes, o espaço com acesso
menos controlado e o espaço eleito para interação familiar. Essa preferência é
explicitada pelo proprietário da casa 19 quando afirmou que: “momento em família é na
186
No original: “controlled access determines a clear identification of the sectors’ boundaries. Crossing
the ‘clear boundaries‘ without permission could be understood as a transgression of social codes of
behaviour”. AMORIM, 2001, pág. 19.4. (minha tradução)
187
HANSON, 1998, pág. 128.
119
cozinha; na cozinha tem uma mesa feita só para nós (com 5 lugares). (...) quando tem
uma visita é na sala de jantar onde tem uma mesa maior”.
Os quartos, por outro lado, são os lugares que marcam o processo de
individualização nas relações intra-grupo. Esse processo é caracterizado pelo isolamento
espacial e pela infraestrutura encontrada nesses cômodos, como vimos. Essa
individualização é reafirmada pelo proprietário da casa 18 quando declarou: “O quarto é
grande, tem TV, vídeo, tem a sacada, tem o banheiro. Onde envolve lazer (TV, vídeo) é
no quarto. Na sala tem tudo, mas é mais formal. (...) o quarto é muito agradável, eu
tenho uma liberdade, eu não fico preso.”
Essa característica foi detectada configuracionalmente quando da análise da
medida de simetria, indicando que haveria uma forte classificação das pessoas e/ou
práticas que se realizam em nível local, ao mesmo tempo em que haveria uma fraca
classificação em nível global. A evidência aqui tratada parece confirmar a hipótese da
literatura em termos de categorias excludentes, típicas de uma classificação forte, que se
manifestam na exacerbação do individualismo pela segregação dos quartos
superequipados, e pelo isolamento/exclusividade de utilização do espaço da sala como
instância formal. Por outro lado, a proliferação de anéis, que permite um aumento da
integração em termos globais, parece facilitar a re-união da família, de outra maneira
separada dos seus quartos. Isto potencializa a acessibilidade aos locais de convívio
coletivo – cozinha e salas íntima e/ou de TV. Entretanto, uma pesquisa mais
aprofundada será necessária para a verificação desta hipótese.
Se na idade média o espaço doméstico era um misto de público e privado, com a
idade moderna esse passou a ser um espaço de domínio unicamente privado. O que se
têm nesta amostra é a confirmação, ou mesmo a exacerbação, do processo de
caracterização do espaço doméstico como sendo espaço estritamente privado,
culminando no isolamento social. Isto é, essa característica do isolamento social chegou
individualmente aos membros da família, na medida em que cada um tem seu “mundo”
no próprio quarto.
Na relação habitantes e empregados, os sistemas apresentam características
interessantes. O setor de serviço, composto por área de serviço e, em muitas casas,
também pela dependência de empregada (quarto e banheiro), são espaços muito
segregados, conforme já mencionado. Segundo Trigueiro, nos sobrados coloniais
estudados em Recife, os espaços destinados aos serviçais eram, também, segregados
120
espacialmente. Assim como nos sobrados, as dependências de empregadas também são
segregadas na amostra estudada, estando em 100% dos casos abaixo da média de
integração das casas. Por outro lado, as dependências de empregada estão, em alguns
casos, tão próximas do exterior quanto os espaços para receber visitantes, e em outros
casos, tão profundas quanto as salas de TV/íntima, ou os quartos dos habitantes. Os dois
casos, entretanto, evidenciam a distância socio-morfológica dos empregados do
convívio familiar mais íntimo.
A análise configuracional das residências estudadas permitiu constatar alguns
elementos do jeito de viver em família em Brasília, para a faixa social que estudei. Esse
jeito combina concepções modernas (conquista da individualidade), heranças históricas
(a permanência da sala de visitas), e novas escolhas (a cozinha como espaço de convívio
familiar), que apontam para uma nova síntese socio-espacial do espaço doméstico
contemporâneo.
121
Conclusão___________________________________________
122
coerente com a separação entre habitantes e visitantes, até o isolamento dos membros do
núcleo familiar, quando cada um tem seu “espaço” de privacidade.
Do ponto de vista estritamente sintático, esse conjunto revela características
próprias que o difere de alguns estudos de casas pré-modernistas (coloniais ou ecléticas)
e modernistas. Essas casas têm características diferentes das casas modernistas como,
por exemplo, seu alto grau de funcionalidade (significando pouco investimento em
espaços de circulação). Por outro lado, têm características muito modernistas como a
fluidez espacial, detectada pelo baixo grau de fechamento. O isolamento do setor íntimo
em relação exterior e da integração da cozinha, indicam uma configuração mista de
características modernas e pré-modernistas nessas residências.
Além disso, esse conjunto é homogêneo em relação às médias de integração dos
seus sistemas (que são consideradas altas) e possui uma certa uniformidade quanto à
ordem de integração dos seus principais espaços. Essas características sinalizam uma
tendência na configuração espacial dessas casas. Diante dessa tendência é possível
afirmar que existe um genótipo do conjunto estudado, o qual indica um misto de
características pré-modernistas, modernistas e pós-modernistas. Isso revela que as casas
estudadas em Brasília, ao mesmo tempo em que adotam apenas algumas das premissas
do Movimento Moderno, resgatam alguns atributos seculares do espaço doméstico
brasileiro, e exploram novas possibilidades em sua constituição morfológica.
Em relação à aplicação da teoria da Sintaxe Espacial, é certo que uma teoria é
criada com o objetivo de se constituir em “linguagem universal” onde comparações
possam ser feitas e, justamente por isso, ousamos em comparações com estudos feitos
em outras regiões do país e em até em outros países. No entanto, a falta de estudos de
casas da região Centro-Oeste, utilizando a Sintaxe Espacial, para uma maior
aproximação da análise feita nesse trabalho, reforçou a convicção da importância da
continuidade dessa pesquisa, em Brasília. Nesse sentido, alguns aspectos ainda precisam
ser investigados como, por exemplo, a alta integração do setor social em contraste com
o seu pouco uso por parte dos moradores. A possibilidade de entender esse paradoxo
exige maior tempo de pesquisa e talvez uma fonte maior de dados.
Outro aspecto, em relação à teoria é a necessidade de aprofundar o estudo de
suas hipóteses. Conforme foi mencionado no capítulo 4, percebeu-se uma possível
inconsistência teórica em relação à medida de simetria. Isso porque as hipóteses
123
levantadas não foram verificadas na amostra, sinalizando para a necessidade de um
maior rigor na demonstração matemática de algumas variáveis da Sintaxe.
Finalmente, o estudo do espaço arquitetônico sob esse enfoque, além de
importante, como já foi mencionado, é extremamente interessante. Embora, em alguns
momentos, tenha sido muito exaustivo, dadas as dificuldades enfrentadas em um estudo
exploratório (isso leva a considerar possível margem de erro), o desafio de fazê-lo o
tornou ainda mais prazeroso. A experiência desse estudo me inspira a continuar
pesquisando o que mais a configuração espacial pode nos revelar sobre os espaços
arquitetônicos.
124
Bibliografia__________________________________________
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29. LEMOS, Carlos A .C. Cozinhas, etc. Editora Perspectiva, São Paulo, 1978.
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30. LEMOS, Carlos A. C. Alvenaria Burguesa: breve história da arquitetura residencial
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31. LEMOS, Carlos A. C. História da casa brasileira. Editora Contexto, São Paulo,
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34. MONTEIRO, Circe Gama. Activity Analysis in houses of Recife, Brasil. In.: Anais
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39. SHANON, C E WEAVER, W. The mathematical theory of communication.
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40. TRAMONTANO, Marcelo, PRATSCHKE, Anja e MARCHETTI, Marcos. Um
toque de imaterialidade: O impacto das novas mídias no projeto do espaço
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41. TRAMONTANO, Marcelo. Habitação, hábitos e habitantes: tendências
contemporâneas metropolitanas. 1998. (mimeo).
42. TRAMONTANO, Marcelo. Novos modos de vida, novos espaços de morar – uma
reflexão sobre a habitação contemporânea. Tese de Doutoramento, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 1998.
43. TRIGUEIRO, Edja, B.F, MARQUES, Sônia e CUNHA, Viviane. The mysterry of
the social sector: Discussing old and emerging spatial structures in Brazilian
127
contemporary homes. In: Anais do 3º International Space Syntax Symposium,
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44. TRIGUEIRO, Edja, B.F. Sobrados coloniais: um tipo só?. 1995 (mimeo).
45. TRIGUEIRO, Edja, B.F. The dinner procession goes to the kitchen: a suntactic
approach to nineteenth and early twentieth century British houses. In: Anais do 1º
International Space Syntax Symposium, Volume II, Londres, 1997, pág. 19.1ss.
46. VAUTHIER, L.L. Casas de residência no Brasil. In: Arquitetura Civil I, FAUUSP e
MEC-IPHAN, São Paulo, 1975.
47. VERÍSSIMO, Francisco Salvador & BITTAR, Wiliiam Seba Mallmann. 500 anos
128
Anexos
129
Anexo 1
Universidade de Brasília
Mestrado em Arquitetura e Urbanismo
Tema: Espaço Doméstico Contemporâneo em Brasília
Aluna: Franciney Carreiro de França
QUESTIONÁRIO
I – IDENTIFICAÇÃO DO ENTREVISTADO
1.1 - Nome:________________________________________Período:_______Turma:_______
II – IDENTIFICAÇÃO DA MORADIA
130
IV – UTILIZAÇÃO DOS ESPAÇOS
4.1. Enumere, de acordo com a importância, os 3 espaços de maior tempo de permanência da família:
1 – para o primeiro espaço de maior tempo;
2 – para o segundo espaço de maior tempo;
3 – para o terceiro espaço de maior tempo.
Sala de estar Cozinha Mezanino
Sala de jantar Quartos Varanda
4.5. Qual o espaço MAIS utilizado quando há festas/recepções? (Escolha apenas uma das opções).
a) Área social interna da residência
b) Área externa (jardins, pátio, área de lazer, etc)
V – INFORMAÇÕES GERAIS
5.1 – Quantos veículos há no domicílio? _______________
5.2 – Quantos televisores? ________________
5.3 – Quantos vídeos-cassete? _____________
5.4 – Quantos computadores? _________ Com acesso à Internet ? Sim Não
132
5.5 – Morar neste bairro é: a) muito ruim
b) ruim
c) regular
d) bom
e) muito bom
Por
que?_______________________________________________________________________
5.7 – O que você mais gosta da casa quanto à distribuição dos espaços ou dos espaços em si? Por que?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
5.8 – O que você mudaria na casa em relação à distribuição dos espaços ou dos espaços em si? Por que?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
6.1 – Nº de habitantes:______
6.2 – Nº de adultos (acima de 18 anos):______
6.3 - Nº de adolescentes (de 12 a 18 anos): _____
6.4 - Nº de crianças (abaixo de 12 anos): ______
6.5 – Quantos trabalham (ocupação remunerada): ______
6.6 – Grau de instrução das pessoas que possuem as maiores rendas (citar o grau de parentesco):
Primeira pessoa (pai, mãe, etc):______________ Segunda pessoa (pai, mãe, etc): _____________________
Instrução: a - nenhum Instrução: a - nenhum
b - primeiro grau incompleto b - primeiro grau incompleto
c - primeiro grau completo c - primeiro grau completo
d - segundo grau incompleto d - segundo grau incompleto
e - segundo grau completo e - segundo grau completo
f - terceiro grau incompleto f - terceiro grau incompleto
g - terceiro grau completo g - terceiro grau completo
h - pós-graduação incompleta h - pós-graduação incompleta
i - pós-graduação completa i - pós-graduação completo
6.7 – Classificação da ocupação das pessoas que possuem maiores rendas:
Primeira pessoa: a – Empregado em empresa de setor privado, público ou de economia mista;
b – Profissional liberal ou trabalhador sem vínculo de emprego;
c – Empregador titular ou proprietário(a) de empresa;
d – Vive de rendimentos de capital, inclusive aluguéis;
e – Aposentado;
f – Servidor público
g – Outra
Segunda pessoa: a – Empregado em empresa de setor privado, público ou de economia mista;
b – Profissional liberal ou trabalhador sem vínculo de emprego;
c – Empregador titular ou proprietário(a) de empresa;
d – Vive de rendimentos de capital, inclusive aluguéis;
e – Aposentado;
f – Servidor público
g – Outra
133
6.8 – Local de trabalho da principal ocupação da:
Primeira pessoa com maior renda: a - em casa
b - fora de casa (empresa, órgão público, outros, indeterminado)
c – não trabalha
Segunda pessoa com maior renda: a - em casa
b - fora de casa (empresa, órgão público, outros, indeterminado)
c – não trabalha
Outras pessoas (citar o grau de parentesco):
Quem: ______________________ a – em casa b – fora de casa c – não trabalha
Quem: ______________________ a – em casa b – fora de casa c – não trabalha
134
Anexo 2 – Roteiro de entrevista
descreva as atividades;
descreva as atividades;
d) Há um momento em que todos (ou a maioira) dos habitantes se reúnem ? Para quê ?
e) Descreva os espaços mais usados para receber visitantes, porque esses espaços?
g) O que gostaria de fazer em casa e não o faz por falta de lugar apropriado ?
135
Anexo 3 – Plantas baixas, Plantas de convexidade
e Grafos justificados
Casa 1
Grafo – casa 1
Casa 2
Casa 2
Grafo – casa 2
136
Casa 3
Casa 3
137
Casa 4
Casa 5
138
Casa 6
Casa 7
Casa 7
139
Casa 8
Casa 8
Casa 8
140
Casa 9
Casa 9
Casa 9
141
Casa 10
Casa 12
Casa 10 Casa 12
142
Casa 13
Casa 14
Casa 13 Casa 14
143
Casa 15
Casa 16
Casa 15 Casa 16
144
Casa 17
Casa 17
145
Casa 18
Casa 18
146
Casa 19
Casa 20
Casa 19 Casa 20
147
Casa 21
Casa 23
Casa 21 Casa 23
148
Casa 22
Casa 22
Casa 22
149
Casa 25
Casa 25
Casa 25
150
Casa 26
Casa 27
Casa 26 Casa 27
151
Casa 28
Casa 28
152
Casa 29
Casa 29
Casa 29
153
Anexo 4 – Tabelas de Integração
CASA 1
154
CASA 2
155
CASA 3
157
CASA 4
158
CASA 5
Número Espaço Integração Tipo (a,b,c,d)
14 Área de lazer 1,513 d
11 Varanda 1,496 d
13 Varanda 1,374 c
15 Varanda 1,346 c
12 Sala íntima 1,333 d
10 Sala de TV 1,295 d
20 Corredor lateral externo 1,202 d
34 Suíte do casal 1,202 c
16 Área de serviço 1,171 d
4 Corredor lateral externo 1,161 c
7 Circulação 1,161 d
5 Sala de estar/jantar 1,077 d
19 Circulação 1,052 d
28 Circulação 1,028 b
1 Quintal 1,005 d
6 Circulação 1,005 c
32 Suíte1 0,997 b
21 Corredor lateral externo 0,990 c
17 Cozinha 0,983 c
3 Hall de entrada 0,962 c
33 Suíte2 0,962 b
35 Suíte3 0,962 b
36 Circulação suíte do casal 0,942 b
2 Garagem 0,910 c
31 Sauna 0,880 a
18 Copa 0,863 c
24 Quarto empregada 0,863 b
26 Circulação 0,863 b
23 Quarto empregada 0,852 a
38 Banheiro suíte do casal 0,852 a
8 Banheiro 0,847 a
9 Escritório 0,847 a
29 Banheiro 0,774 a
30 Banheiro 0,774 a
39 Closet1 0,765 b
22 Lavabo 0,761 a
45 Exterior 0,761 a
41 Closet3 0,744 b
43 Closet2 0,744 b
37 Closet suíte do casal 0,724 a
25 Banheiro empregada 0,677 a
27 Quarto do caseiro 0,677 a
40 Banheiro suite1 0,615 a
42 Banheiro suíte3 0,601 a
44 Banheiro suíte2 0,601 a
Média 0,960
159
CASA 6
160
CASA 7
161
CASA 8
162
CASA 9
163
CASA 10
164
CASA 12
número Espaço Integração Tipo (a,b,c,d)
12 Circulação 1,479 d
8 Hall de entrada 1,328 c
16 Circulação suíte 1,177 c
10 Cozinha 1,151 c
23 Varanda 1,151 d
13 Sala de estar/jantar 1,102 c
11 Varanda 1,079 d
21 Suíte do casal 1,057 c
2 Garagem 1,035 d
7 Área de serviço 1,035 c
15 Circulação 1,015 b
3 Entrada 0,996 c
5 Pátio de serviço 0,977 c
6 Área de lazer 0,977 d
1 Jardim 0,925 d
24 Exterior 0,878 c
4 Corredor lateral externo 0,809 c
20 Banheiro suíte 0,784 a
14 Escritório 0,750 a
9 Quarto empregada 0,740 b
17 Quarto 0,709 a
18 Banheiro 0,709 a
19 Quarto 0,709 a
22 Banheiro empregada 0,563 a
Média 0,964
CASA 13
número Espaço Integração Tipo
(a,b,c,d)
7 Circulação 1,626 c
5 Sala de estar/jantar 1,273 c
9 Cozinha 1,171 c
3 Sala de estar/jantar 1,045 c
8 Área de serviço 1,045 c
2 Garagem 0,944 c
6 Quintal fundos 0,887 c
10 Lavabo 0,887 a
11 Jardim interno 0,887 a
12 Quarto 0,887 a
13 Quarto 0,887 a
14 Banheiro social 0,887 a
15 Quarto 0,887 a
4 Corredor lateral 0,770 c
16 Depósito 0,681 a
1 Quintal 0,665 b
17 Exterior 0,496 a
Média 0,937
165
CASA 14
número Espaço Integração Tipo (a,b,c,d)
6 Circulação 1,414 c
9 Sala estar 1,359 b
2 Hall de entrada 1,140 c
10 Circulação 0,955 b
14 Cozinha 0,955 b
8 Corredor lateral 0,930 c
7 Quarto 0,841 a
1 Quintal 0,822 c
4 Suíte 0,768 b
3 Corredor lateral 0,752 c
5 Banheiro 0,736 a
15 Área de serviço 0,707 b
11 Banheiro 0,654 a
12 Escritório 0,654 a
13 Quarto 0,654 a
19 Exterior 0,589 a
17 Banheiro suíte 0,561 a
16 Quintal fundos 0,544 b
18 Quintal fundos 0,431 a
Média 0,814
CASA 15
número Espaço Integração Tipo (a,b,c,d)
5 Sala de estar/jantar 1,722 d
7 Circulação 1,464 b
16 Quintal fundos 1,220 d
2 Garagem 1,171 c
6 Circulação 1,045 c
1 Quintal 0,976 d
3 Corredor lateral 0,976 d
8 Circulação 0,944 b
11 Suíte 0,887 b
4 Corredor lateral 0,861 c
9 Banheiro 0,836 a
14 Cozinha 0,791 c
15 Área de serviço 0,714 c
17 Exterior 0,650 a
12 Quarto 0,636 a
13 Quarto 0,636 a
10 Banheiro suíte 0,610 a
Média 0,949
166
CASA 16
167
CASA 17
168
CASA 18
169
CASA 19
número Espaço Integração Tipo (a,b,c,d)
2 Varanda 1,962 d
5 Sala de estar 1,681 d
1 Quintal 1,308 d
4 Varanda 1,308 d
12 Corredor lateral 1,308 d
7 Circulação 1,239 d
8 Circulação 1,239 c
3 Varanda 1,177 d
6 Cozinha/copa 1,177 c
13 Quintal fundos 0,942 d
14 Corredor lateral 0,905 d
15 Exterior 0,759 a
9 Quarto 0,736 a
10 Banheiro 0,736 a
11 Quarto 0,736 a
Média 1,147
CASA 20
número Espaço Integração Tipo (a,b,c,d)
4 Circulação 1,757 c
3 Sala de estar 1,387 c
2 Garagem 1,146 c
10 Copa 1,146 c
7 Suíte 0,976 b
5 Quarto 0,909 a
6 Banheiro 0,909 a
8 Quarto 0,909 a
9 Quarto 0,909 a
12 Cozinha 0,850 c
15 Corredor lateral 0,850 c
1 Quintal 0,753 a
13 Área de serviço 0,753 c
14 Quintal fundos 0,676 c
11 Banheiro suíte 0,643 a
16 Exterior 0,538 a
Média 0,945
170
CASA 21
número Espaço Integração Tipo (a,b,c,d)
2 Sala de estar/jantar 1,327 b
1 Quintal 1,206 c
3 Circulação 1,206 b
6 Cozinha 0,737 b
8 Corredor lateral 0,737 c
10 Corredor lateral 0,737 c
4 Quarto 0,664 a
5 Banheiro 0,664 a
11 Exterior 0,664 a
9 Quintal fundos 0,531 c
7 Quarto 0,492 a
Média 0,815
CASA 23
171
CASA 22
número Espaço Integração Tipo (a,b,c,d)
17 Circulação 1,308 c
12 Escada 1,255 b
10 Sala de jantar 1,206 d
19 Suíte1 1,080 c
5 Garagem 1,055 c
23 Sala superior 1,020 c
1 Garagem 0,998 c
11 Bar 0,967 c
16 Circulação 0,967 c
6 Escada 0,938 b
18 Circulação suíte do casal 0,929 b
20 Circulação suíte2 0,929 b
21 Circulação suíte3 0,929 b
7 Cozinha/copa 0,919 c
4 Hall de entrada 0,910 d
14 Varanda 0,860 b
13 Sala de estar 0,844 a
32 Banheiro suíte1 0,780 a
9 Lavabo 0,767 a
24 Área de lazer 0,761 b
3 Quarto empregada 0,749 b
2 Escritório 0,737 a
35 Exterior 0,737 a
22 Sala de TV 0,731 b
27 Banheiro suíte do casal 0,698 a
28 Banheiro suíte3 0,698 a
29 Suíte3 0,698 a
30 Suíte do casal 0,698 a
31 Suíte2 0,698 a
33 Banheiro suíte2 0,698 a
15 Depósito 0,693 a
34 Área verde (fundos) 0,659 a
25 Lavanderia 0,599 a
8 Banheiro empregada 0,591 a
26 Banheiro 0,580 a
Média 0,848
172
CASA 25
173
CASA 26
174
CASA 27
175
CASA 28
176
CASA 29
177
Anexo 5 – Integração normalizada
188
Para o cálculo de normalização será usada a fórmula: Vnorm = (V – Vmin)/(Vmáx – Vmin), onde
Vnorm é o valor gerado entre 0 e 1; V é o valor a ser normalizado; Vmin é o valor mínimo da faixa de
valores definida e o Vmáx é valor máximo da faixa de variação.
178
Tabela 5 a- Casa vernaculares Tablea 5b - Casas de arquitetos Tabela 5c - Casa das
da Normandia - França em Londres "estrelas" arquitetônicas
(HANSON, 1998, pág.84) (HANSON, 1998, pág.227) (HANSON, 1998, pág. 267)
Imóvel RRA
Imóvel RRA Entropia
(média) Imóvel RRA
média casa10 1,912 (média)
casa7 1,52 0,61 casa18 1,880 Loos 1,968
casa15 1,40 0,72 casa9 1,842 Hejduk 1,832
casa6 1,30 0,71 casa14 1,667 Botta 1,396
casa17 1,646 Meier 1,388
casa9 1,15 0,49
casa13 1,490 Média 1,646
casa17 1,15 0,68
casa11 1,449 Entropia 0,975
casa16 1,14 0,68
casa2 1,434 do conj.
casa1 1,12 0,76 casa5 1,379
casa10 1,12 0,78 casa1 1,342
casa11 1,10 0,86 casa4 1,313
casa3 1,02 0,84 casa3 1,297
casa12 0,96 0,69 casa12 1,294
casa13 0,96 0,76 casa6 1,292
casa2 0,95 0,66 casa16 1,280
casa4 0,93 0,60 casa8 1,197
casa5 0,89 0,66 casa7 1,038
casa8 0,60 0,42 casa15 0,815
Média 1,08 Média 1,420
Entr. do conj. 0,841 Entr. do conj. 0,865
179
Tabela 5e - Sobrados coloniais em Recife
(TRIGUEIRO, 1995, pág.12-13)
RRA Entropia Integração
Imóvel Máxima Média Mínima
Sobrado 1 1,390 1,009 0,575 0,855 1,053
Sobrado 2 1,317 0,952 0,467 0,809 1,137
Sobrado 3 2,337 1,538 0,827 0,803 0,711
Sobrado 4 2,029 1,512 0,854 0,861 0,693
Média 1,25 0,83 0,90
Entropia do conj. 0,954
180