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OCUPAÇÃO URBANA DE OURO PRETO DE 1950 A 2004 E

ATUAIS TENDÊNCIAS

i
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

Reitor
João Luiz Martins
Vice-Reitor
Antenor Barbosa Júnior
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
André Cota

ESCOLA DE MINAS
Diretor
José Geraldo Arantes de Azevedo Brito
Vice-Diretor
Wilson Trigueiro

DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
Chefe
Issamu Endo

ii
EVOLUÇÃO CRUSTAL E RECURSOS NATURAIS

iii
Oliveira, L.D., 2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências

CONTRIBUIÇÕES ÀS CIÊNCIAS DA TERRA – VOL. 67

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

N°292

OCUPAÇÃO URBANA DE OURO PRETO DE 1950 A 2004 E ATUAIS

TENDÊNCIAS

Leandro Duque de Oliveira

Orientador

Frederico Garcia Sobreira

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais do


Departamento de Geologia da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto como requisito
parcial à obtenção do Título de Mestre em Ciências Naturais, Área de Concentração: Geologia
Ambiental e Conservação de Recursos Naturais.

OURO PRETO

2010

iv
Universidade Federal de Ouro Preto – http://www.ufop.br
Escola de Minas - http://www.em.ufop.br
Departamento de Geologia - http://www.degeo.ufop.br/
Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais
Campus Morro do Cruzeiro s/n - Bauxita
35.400-000 Ouro Preto, Minas Gerais
Tel. (31) 3559-1600, Fax: (31) 3559-1606 e-mail: pgrad@degeo.ufop.br

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ISSN 85-230-0108-6
Depósito Legal na Biblioteca Nacional
Edição 1ª

Catalogação elaborada pela Biblioteca Prof. Luciano Jacques de Moraes do


Sistema de Bibliotecas e Informação - SISBIN - Universidade Federal de Ouro Preto
0482o Oliveira, Leandro Duque.
Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências
[manuscrito] / Leandro Duque de Oliveira. - 2010
xiv, 137f.: il. Color.; Grafs.; tabs.; mapas (Contribuições às Ciências da Terra,
Série M. v.67, n.292)
ISSN: 85-230-0108-6

Orientador: Frederico Garcia Sobreira

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de Minas.


Departamento de Geologia.
Área de concentração: Geologia Ambiental

1. Geomorfologia- Teses. 2. Geotecnia - teses. 3. Planejamento urbano - Ouro


Preto (MG) - Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II. Título.

CDU: 551.4 (815.1).

http://www.sisbin.ufop.br

v
Oliveira, L.D., 2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências

Agradecimentos
A Deus pela oportunidade de trabalhar e continuar meus estudos em Ouro Preto e por cercar-me de
pessoas tão especiais a vida inteira.

Aos meus pais Lúcia e Antonio, pela educação, disciplina e ensino de valores como trabalho e
honestidade;

À Emmanuelle, obrigado pelo carinho, dedicação e paciência.

À Lidia e Olivia, pelo carinho e amor de sempre;

Aos amigos Rodrigo e Fernanda, que me acolheram logo que cheguei a cidade - gratidão eterna;
Obrigado também a Dona Mirlene, Dona Silvia, Lucas, Marina e Edson Lucas (Diquio).

Aos amigos, funcionários e alguns alunos do CEFET - Ouro Preto, que conviveram comigo durante o
período na cidade, em especial, a pedagoga Clarice, Glorinha (segunda mãe e amiga), Julice e ao
amigo Venilson, pelos conselhos valiosos. Pessoas que tornaram a minha caminhada no mestrado
possível, mesmo que indiretamente.

Do CEFET - OP também, Alex Bohrer, professor de história, sábio e amigo, Arthur, Uziel, Cézar,
Flávio, Guilherme, Anésio, Moacir e ao Fábio. Aos funcionários da cozinha e do Xerox, Dona
Carminha, Antonio Cirilo, Chumbinho, Zé Gato, Sr. José Inocentes, Joana e Tainara.

Ao professor Dr. Frederico Garcia Sobreira, por ter aberto as portas para mim no mestrado, aceitando
ser meu orientador. Mas sem saber, tornando possível um sonho que um dia fora distante; Aos colegas
Leonardo, Rodolfo e Frederico, da UFES, pelas lições de ArcGIS.

A funcionária responsável pela organização das salas: Ângela (hoje no ICEB) aos porteiros: Sr.
Ricardo e Paulo e a Simone (Xerox);

Aos colegas que dividiram a mesma sala: Humberto, Renato, Paula e Érica Pimenta;

Aos inesquecíveis Miguel e Ana;

Aos que estiveram comigo na labuta do dia-a-dia e dividindo o mesmo sofrimento: Em especial à
Rafinha, Jéssica e Silvia.

Aos parceiros e amigos mais próximos (república pincelou pegou - não oficial) Enrico Sette, Adriano
Oliveira e Luis Cherem (vulgo Zé Mayer);

Agradeço a Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais - FAPEMIG, pela concessão da bolsa de
estudos; A Secretaria de Obras da Prefeitura Municipal de Ouro Preto; Secretaria de Patrimônio
Cultural da Prefeitura Municipal, em especial aos colegas Brasil e Anderson pela gentileza e por ceder
alguns dados básicos desse trabalho;

"Aquilo que pedimos aos céus as mais das vezes se encontra em nossas mãos".

William Shakespeare

vi
Sumário

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... vi
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................. x
LISTA DE QUADROS E TABELAS ...................................................................................... xii
RESUMO .................................................................................................................................. xiii
ABSTRACT .............................................................................................................................. xiv
CAPÍTULO 1. CONSIDERAÇÕES GERAIS .......................................................................... 1
1.1. Apresentação .......................................................................................................................... 1
1.2. Localização ............................................................................................................................ 3
1.3. Objetivos ................................................................................................................................ 5
CAPÍTULO 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................... 7
2.1. Ordenamento territorial e urbano ........................................................................................... 7
2.2. Estudo do meio físico em áreas urbanas .............................................................................. 13
2.2.1. Introdução ............................................................................................................... 13
2.2.2. Geologia aplicada à urbanização............................................................................. 14
2.2.3. Cartografia Geotécnica ........................................................................................... 15
2.2.4. Mapeamento de uso e ocupação.............................................................................. 17
2.2.5. Mapeamento Geomorfológico ................................................................................ 22
Geomorfologia urbana ............................................................................................ 23
Técnica de Avaliação de Terreno ........................................................................... 25
Sistemas de Terreno .......................................................................................... 26
Unidade de Terreno ........................................................................................... 27
Elemento de Terreno ......................................................................................... 27
2.3. Análise Temporal ................................................................................................................. 28
2.4. Contribuições ao uso do solo em Ouro Preto ....................................................................... 30
CAPÍTULO 3. MATERIAIS E MÉTODOS........................................................................... 33
3.1. Fase 1 - Pesquisa Bibliográfica ............................................................................................ 35
3.2. Fase 2 - Elaboração da Base cartográfica............................................................................. 35
3.3. Fase 3 - Elaboração dos mapas temáticos ............................................................................ 36
3.3.1.Mapas compilados ................................................................................................... 36

vii
Oliveira, L.D., 2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências

Mapa de ocupação urbana de Ouro Preto (MG) entre 1698 e 1940 ........................ 36
Carta de ocorrência de movimentos de massa e carta de risco .............................. 36
Mapa litoestratigráfico ............................................................................................ 37
Mapa topográfico - escala 1:5.000 .......................................................................... 37
3.3.2 Mapas temáticos gerados ......................................................................................... 38
Mapa Hipsométrico - escala 1:25.000..................................................................... 38
Mapa de áreas de mineração em Ouro Preto (MG)................................................. 38
Mapa de Landform .................................................................................................. 38
3.3.3.Mapas da área urbana de Ouro Preto........................................................................ 39
Área urbana de 1950 ............................................................................................... 39
Área urbana de 1969 ............................................................................................... 39
Área urbana de 1978 ............................................................................................... 39
Área Urbana de 1986 .............................................................................................. 40
Área Urbana de 2004 .............................................................................................. 40
Mapa de tendências de expansão na área urbana de Ouro Preto - MG ................... 40
3.4. Fase 4 - Campanhas de campo ............................................................................................. 40
3.5. Fase 5 - Análise das áreas de tendências à expansão urbana ................................................ 41
CAPÍTULO 4. ÁREA DE ESTUDO ........................................................................................ 42
4.1. Clima ................................................................................................................................ 43
4.2. Rede Hidrográfica ................................................................................................................ 43
4.3 Vegetação .............................................................................................................................. 44
4.4. Geologia .............................................................................................................................. 45
4.4.1.Supergrupo Rio das Velhas ...................................................................................... 48
Grupo Nova Lima ................................................................................................... 48
4.4.2. Supergrupo Minas ................................................................................................... 48
Grupo Caraça .......................................................................................................... 48
Grupo Itabira ........................................................................................................... 48
Grupo Piracicaba ..................................................................................................... 49
Grupo Sabará .......................................................................................................... 49
Grupo Itacolomi ...................................................................................................... 49
Formações Superficiais ........................................................................................... 49
4.5. Geomorfologia ...................................................................................................................... 50
4.5.1. Contexto regional .................................................................................................... 50
viii
4.5.2. Contexto local ......................................................................................................... 51
4.6. Geotecnia.............................................................................................................................. 52
4.7.Uso e ocupação ..................................................................................................................... 56
4.8. Processos geodinâmicos ....................................................................................................... 58
CAPÍTULO 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................. 61
5.1. Introdução ............................................................................................................................ 61
5.2.Geomorfologia urbana de Ouro Preto ................................................................................... 62
5.3.Antigas minerações x ocupação urbana ................................................................................ 72
5.4.Ocupação urbana de Ouro Preto/1950 .................................................................................. 77
5.5.Ocupação urbana de Ouro Preto/1969 .................................................................................. 80
5.6.Ocupação urbana de Ouro Preto/1978 .................................................................................. 83
5.7. Ocupação urbana de Ouro Preto/1986.................................................................................. 87
5.8. Ocupação urbana de Ouro Preto/2004.................................................................................. 91
5.9. Tendências atuais de expansão ............................................................................................. 97
5.9.1. Área 1 - São Cristovão .......................................................................................... 100
5.9.2. Área 2 - Morro São Sebastião ............................................................................... 103
5.9.3. Área 3 - São Francisco .......................................................................................... 106
5.9.4 Área 4 - Nossa Senhora de Lourdes e Jardim Alvorada ........................................ 109
5.9.5 Área 5 - Morro da Queimada ................................................................................. 111
5.9.6. Área 6 - Morro São João ....................................................................................... 114
5.9.7. Área 7 - Nossa Senhora da Piedade ...................................................................... 116
5.9.8. Área 8 - Taquaral .................................................................................................. 118
5.9.9. Área 9 - Santa Cruz ............................................................................................... 120
5.9.10. Área 10 - Novo Horizonte, N.S. do Carmo e Lagoa ........................................... 122
5.10. - Discussão dos resultados................................................................................................ 125
CAPÍTULO 6. CONCLUSÕES ............................................................................................. 129
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 131

ix
Oliveira, L.D., 2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências

Lista de Figuras

Figura 1.1. Localização da área de estudo ..................................................................................... 4


Figura 3.1. Fluxograma representando as etapas da pesquisa ..................................................... 34
Figura 4.1. Área de estudo em detalhe ........................................................................................ 41
Figura 4.2. Índices pluviométricos mensais de Ouro Preto-MG ................................................. 43
Figura 4.3. Rede hidrográfica da área urbana de Ouro Preto - MG ............................................ 44
Figura 4.4. Estratigrafia do Quadrilátero Ferrífero, destacando a geologia de Ouro Preto ......... 46
Figura 4.5. Mapa litoestratigráfico .............................................................................................. 47
Figura 4.6. Ocupação urbana em Ouro Preto (MG) entre 1698 e 1940....................................... 57
Figura 5.1. População absoluta e população urbana da cidade de Ouro Preto ............................ 60
Figura 5.2. Mapa hipsométrico da cidade de Ouro Preto ............................................................ 65
Figura 5.3. Perfis topográficos transversais ................................................................................ 66
Figura 5.4. Mapa de landform da cidade de Ouro Preto.............................................................. 68
Figura 5.5. Registro de movimentos de massa na cidade de Ouro Preto..................................... 71
Figura 5.6. Registro de processos correlatos na cidade de Ouro Preto........................................ 71
Figura 5.7. Áreas de mineração na cidade de Ouro Preto sobre MDT ........................................ 74
Figura 5.8. Ocupação urbana sobre antigas áreas de mineração ................................................. 76
Figura 5.9. Evolução da ocupação urbana sobre antigas minerações .......................................... 77
Figura 5.10. Área urbana da cidade de Ouro Preto em 1950....................................................... 78
Figura 5.11. Mapa litoestratigráfico sobre a mancha urbana em 1950........................................ 80
Figura 5.12. Área urbana da cidade de Ouro Preto em 1969....................................................... 81
Figura 5.13. Área urbana de Ouro Preto em 1969 sobre a geologia local ................................... 83
Figura 5.14. Área urbana em 1978 .............................................................................................. 84
Figura 5.15. Área urbana de Ouro Preto em 1978 sobre a geologia local ................................... 85
Figura 5.16. Área de ocupação sobre antigas minerações de ouro e bauxita .............................. 86
Figura 5.17. Área urbana de Ouro Preto em 1986 ....................................................................... 88
Figura 5.18. Área urbana de Ouro Preto em 1986 sobre a geologia local ................................... 89
Figura 5.19. Ocupação urbana sobre antigas minerações na cidade em 1986 ............................. 90
Figura 5.20. Área urbana de Ouro Preto em 2004 ....................................................................... 92
Figura 5.21. Área urbana de Ouro Preto em 2004 sobre a geologia local ................................... 93
Figura 5.22. Ocupação urbana de Ouro Preto sobre antigas minerações em 2004 .................... 94

x
Figura 5.23. Registro de movimentos de massa e áreas de antigas minerações...........................96
Figura 5. 24. Área com tendência a expansão urbana no núcleo urbano de Ouro Preto ..............98
Figura 5.25. Evolução da ocupação, geologia, declividade no bairro São Cristovão ................101
Figura 5.26. Declividade, geologia e expansão urbana no Morro São Sebastião ......................104
Figura 5.27. Declividade, geologia e expansão urbana do bairro São Francisco .......................107
Figura 5.28. Declividade, geologia e evolução da ocupação no Jd. Alvorada e N.S.Lourdes ...110
Figura 5.29. Declividade, geologia e evolução da ocupação no Morro da Queimada ...............113
Figura 5.30. Declividade, geologia e evolução da ocupação no Morro São João ......................115
Figura 5.31. Declividade, geologia e evolução da ocupação no N.S.da Piedade .......................117
Figura 5.32. Declividade, geologia e evolução da ocupação no Taquaral .................................119
Figura 5.33. Declividade, geologia e evolução da ocupação no Santa Cruz..............................121
Figura 5.34. Declividade, geologia e evolução da ocupação nos bairros Lagoa, N.S.Carmo e Novo
Horizonte....................................................................................................................................124

xi
Lista de Quadros e Tabelas
Tabela 2.1. Classes de adensamento urbano mapeadas e seus respectivos índices de impermeabilização
..................................................................................................................................................... 28
Tabela 3.1. Classes de declividade da área de estudo ................................................................. 37
Quadro 4.1. Índice pluviométrico mensal (série 1988 - 2004) .................................................... 43
Tabela 4.1. Parâmetros geotécnicos da cidade de Ouro Preto (MG) ........................................... 53
Tabela 4.2. Qualidade geotécnica dos litotipos locais ................................................................. 55
Tabela 4.3. Escala de graus de alteração ..................................................................................... 55
Tabela 4.4. Número de feições e porcentagem relativa dos tipos de mov. gravitacionais .......... 60
Tabela 5.1. Evolução da população urbana do distrito-sede de Ouro Preto-MG ........................ 61
Tabela 5.2. Número de ocorrências de movimentos de massa e processos correlatos ................ 70

xii
Resumo
A partir de 1950 o município de Ouro Preto - MG, que até então vivia uma fase de declínio em função do
esgotamento do ouro, iniciou a recuperação econômica impulsionado pela industrialização incentivando o
retorno populacional ao município. O presente trabalho objetivou cartografar as direções dos movimentos
populacionais durante as cinco décadas que se seguiram no distrito-sede do município de Ouro Preto,
numa área de 35km². A cidade, centro político, econômico e educacional evoluiu sobre condições físicas
de relevo muito especiais, vales encaixados e encostas íngremes, rochas bastante alteradas. A ocupação
sem planejamento resultou na inobservância dos métodos técnicos de construção e de utilização adequada
do meio físico. Os números de locais para a construção são reduzidos acarretando em problemas típicos
como ocupação irregular de terrenos e em áreas de risco. Fotografias aéreas foram utilizadas para elaborar
os mapas da área urbana de Ouro Preto, mapa de landform e mapa das áreas de mineração. Os
procedimentos indicaram dez áreas com tendências a expansão urbana na cidade, que foram
posteriormente analisadas utilizando informações geológicas, geomorfológicas (declividade, geometria
dos topos e vertentes, hipsometria e processos superficiais) e geotécnicas. Detectou-se setores que são
aptos a expansão enquanto outros devem ser controlados ou mesmo proibido, procurando contribuir com
a proposta de zoneamento do Plano Diretor e Lei de Uso e Ocupação do Solo do município.

xiii
Oliveira, L.D., 2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências

Abstract
From 1950 the city of Ouro Preto - MG, who until then lived a phase of decline, due to the depletion of
gold, started the economic recovery driven by industrialization, encouraging a return to the city
population. This study aimed to map out the directions of population movements during the five decades
that followed the city of Ouro Preto, an area of 35 km ². The city center of political, economic and
educational evolved over physical conditions of very special importance, valleys and steep slopes, rocks
altered. The occupation without planning resulted in the imprudence of the technical methods of set
construction and proper use of the environment. The number of sites for construction are reduced,
resulting in typical problems such as illegal occupation of land and in areas of risk. Aerial photographs
were used to produce maps of the urban area of Ouro Preto, landform map and map of mining areas. The
procedures indicated ten areas with urban sprawl trends in the city, which was subsequently analyzed
using geology, geomorphology (slope, geometry of the slopes and tops, hypsometry and surface
processes) and geotechnical engineering. Were detected sectors that are able to expand while others must
be controlled or even banned, trying to contribute to the proposed zoning of the Master Plan and the Law
of use and occupation of the city.

xiv
CAPÍTULO 1

CONSIDERAÇÕES GERAIS

1.1. APRESENTAÇÃO
O ordenamento territorial, ferramenta fundamental para criação de condições de apoio a um
desenvolvimento econômico, social e político equilibrado, tem sido promovido por diferentes meios e
com distintos graus de intencionalidade. Analisadas em qualquer escala (nacional, regional e local), as
práticas de ordenamento do território refletem as mudanças de relação nas ações do Estado
contemporâneo. De outra maneira, pode-se dizer que o arranjo espacial de uma determinada cidade,
município, estado ou nação reflete as políticas territoriais adotadas em diferentes épocas.
Como o ocorrido na fase desenvolvimentista do Brasil, as políticas de ordenamento territorial
podiam ser vistas como um instrumento do Estado centralizador e da reestruturação produtiva que
caracterizou boa parte da segunda metade do século vinte (Ministério da Integração Nacional 2006a).
O ordenamento do territorio (OT) é uma questão política associada à mudança de natureza do
Estado e do território, e da relação do Estado com seu território. O ordenamento apresenta relações
essenciais, não somente com o desenvolvimento regional, mas também com o desenvolvimento histórico
do país. Seu desdobramento e redefinição exigem horizontes temporais que não se esgotam no curto prazo
(Ministério da Integração Nacional 2006b).
O Sudeste concentra, entre as regiões brasileiras, a maior população humana. A região contava no
ano 2007 com uma população de 77.873.120 habitantes, distribuídos numa área ocupada de 930.980,8
km². Seu Produto Interno Bruto (PIB) foi estimado em US$ 49,3 bilhões (2006). Estes e outros aspectos
contribuem para as variações de média a alta no número de hab/km² nas microrregiões, conforme os
Índices de Densidade Territorial (IDT) (Ministério da Integração Nacional 2006c).
Os IDT mais altos se encontram nas microrregiões geográficas que envolvem as capitais estaduais
(São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Vitória). Mas é o Estado de Minas que apresenta os maiores
contrastes. O norte do Estado apresenta microrregiões, em sua maioria, com médios IDT. O restante do
Estado possui uma configuração mais uniforme, com médio-altos IDT.
O Estado de Minas Gerais é composto por 66 microrregiões geográficas que podem ser
consideradas de média-alta densidade demográfica. A microrregião (MRG) de Belo Horizonte destaca-se
com a de densidade muito alta (730,9 hab/km²) e as MRG de menor densidade se encontram no norte do
Estado, com destaque para Grão Mongol, com somente 4,5hab/km². Ouro Preto possui uma densidade
populacional que varia entre 41 a 70 hab/km² (Ministério da Integração Nacional 2006a).
Oliveira, L.D., 2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências

Numa análise temporal do município, percebe-se um crescimento populacional elevado,


compreendido entre as décadas de 50 e 80. Na década de 60, a população era de 33.927 habitantes,
passando a 46.165 em 1970 e 53.413 em 1980 (Gomes 2005; IBGE 2009). A ocupação que se deu sem
planejamento resultou na inobservância das técnicas de construção e de utilização adequada do meio
físico que são inerentes para a harmonia das relações entre o meio biótico e abiótico. O modelo gerado
pelo impasse está sempre na iminência de um episódio mais sério, onde o menor evento de ordem
climática ou geológica pode desencadear problemas humanos e físicos graves, pois as características
naturais locais não foram respeitadas.
Como município, Ouro Preto necessita de equipamentos que possam dar sustentação à população
local, como serviços de saneamento básico (água, lixo, esgoto, e água pluvial), além de obras de infra-
estrutura, principalmente ruas e estradas. Com cerca de 40% da área urbana exibindo feições com
declividades entre 20 e 45 % e apenas 30% com declividades entre 5 a 20% (Bonuccelli e Zuquette 1999),
é imprescindível para o município o zoneamento dos usos do solo, a fim de planejar e executar as obras
básicas da cidade.
Primeiro, a forma como essas obras são planejadas e executadas merece atenção, uma vez que as
zonas escarpadas são comuns na área urbana e qualquer decisão tomada erroneamente, poderá causar
danos maiores (Gomes et al. 1998). Alguns usos com elevado potencial de contaminação/poluição, como
aterros sanitários, depósitos de lixo ou equipamentos que provoquem a intensificação de processos
erosivos, como as vias largas, urbanização sistemática e descarte indiscriminado de terras e escombros,
não são recomendados a montante e nem dentro da área urbana (IGA 1995a)
Considerando a área total da cidade, os locais para a construção destes usos são bastante
reduzidos. Somando-se a isto, o aumento populacional recente, o que se têm são problemas típicos como:
ocupação irregular de terrenos, ocupação de áreas inadequadas gerando risco, má utilização do meio
físico, etc. Porém, alguns trabalhos que abordam essa temática (Sobreira 1990; Gomes et al. 1998;
Bonuccelli & Zuquette 1999; Sobreira & Fonseca 2001; Gomes 2005; Castro, 2006; Domingues 2006)
não evidenciam as transformações temporais da evolução da ocupação na área urbana de Ouro Preto.
Através de uma associação de imagens de sensoriamento remoto da área urbana de Ouro Preto é
possível compor um cenário de evolução da ocupação para as diferentes épocas e apontar diretivas para os
locais de tendências ao adensamento.
Variáveis do meio físico como hidrografia, geologia, geomorfologia, geotecnia, pedologia,
declividade e a geometria das vertentes são fatores que condicionam positivamente os assentamento
humanos, se fossem respeitadas suas limitações legais e físicas.

2
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Entretanto, se fossem seguidas todas as restrições legais e físicas ao parcelamento do solo nos
terrenos onde se assenta a cidade de Ouro Preto, não haveria locais propícios para o assentamento e a
expansão urbana, ou esses seriam em número reduzido e pontuais. O que se vê, ao contrário, é o contínuo
crescimento da cidade para locais potencialmente problemáticos, onde a incorreta utilização do meio
físico acaba deflagrando processos superficiais que podem ser problemático no que se refere à segurança
da população.
Para fins de planejamento, é indispensável o levantamento das possíveis áreas de crescimento do
município, não só com um olhar demográfico mas, sobremaneira, com atenção aos atributos do meio
físico, com a finalidade de disciplinar os futuros assentamentos, ao invés, de consertar o que foi
consolidado.
Diante disso, o presente trabalho visa integrar informações como vias de acesso e assentamentos
humanos - tratados aqui como variáveis urbanas - às informações do meio físico local, para compor o
estudo espaço-temporal da cidade de Ouro Preto a partir da década de 1950 do século XX. A
possibilidade de integração de imagens multi-temporais com os trabalhos do meio físico já realizados
pode fornecer informações sobre as áreas ocupadas, se estão sendo seguidas as diretrizes do plano diretor,
as características geotécnicas dos terrenos, as limitações quanto à declividade, etc.

1.2. LOCALIZAÇÃO

A área de estudo é o distrito sede do município de Ouro Preto, localizado na região central do
estado de Minas Gerais, a cerca de 100 km da capital estadual - Belo Horizonte. O acesso a partir da
capital é feito no sentido Rio de Janeiro - RJ pela rodovia BR 040 até o entroncamento com a rodovia BR
356 (Rodovia dos Inconfidentes), seguindo até o município de Ouro Preto, distante aproximadamente 60
km. Outro percurso pode ser feito a partir de Vitória, capital do estado do Espírito Santo pela rodovia BR
262, até o entroncamento com a rodovia MG 262 no município de Rio Casca - MG - seguindo até o
município de Mariana, distante aproximadamente 120 km. A figura 1.1.ilustra a localização da área de
estudo, que tem cerca de 35 km².

3
Oliveira, L.D., 2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências

Fig. 1.1. Localização da área de estudo. Distrito - sede do município de Ouro Preto - Minas Gerais

4
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

1.3. OBJETIVOS

Objetivo geral
Analisar a evolução da ocupação na área urbana de Ouro Preto nas últimas cinco décadas e
investigar suas atuais tendências, buscando elementos que auxiliem no suporte ao planejamento urbano da
cidade.

Objetivos específicos
• Identificar os atuais problemas relacionados ao uso/ocupação do solo na área urbana de Ouro
Preto;
• Estudar a evolução da ocupação e expansão da área urbana;
• Levantar o quadro atual da ocupação urbana;
• Examinar usos atuais e conflitos em relação ao meio físico, à legislação vigente e ao plano diretor
municipal;
• Analisar tendências do uso e ocupação do solo;
• Gerar produtos cartográficos que auxiliem no planejamento urbano.

Os capítulos que se seguem a esta apresentação estão organizados da seguinte maneira: o capítulo
2 - Revisão bibliográfica, trará aqueles elementos que subsidiaram a pesquisa tanto em termos conceituais
como em termos metodológicos. Os assuntos que serão tratados ali dizem respeito principalmente aos
estudos do meio físico aplicados em áreas urbanas de maneira geral - diversas modalidades de
mapeamento de uso e ocupação, análise temporal, mapeamento geomorfológico e técnica de avaliação de
terreno. A outra parte da revisão trata dos trabalhos aplicados na área urbana de Ouro Preto - Minas
Gerais.
O capítulo 3 apresenta os materiais e procedimentos utilizados para a realização do estudo. A
diagramação desse capítulo está dividida segundo fases, que foram sendo realizadas no andamento do
trabalho. Entretanto, a realização das fases - de algumas delas - se deu de maneira concomitante.
O capítulo 4 apresenta a área de estudo, principalmente com relação aos aspectos do meio físico
como clima, vegetação, hidrografia, geomorfologia, geologia, geotecnia, uso e ocupação e processos
geodinâmicos.
O capítulo 5 expõe os resultados alcançados com a análise multi-temporal da ocupação urbana, o
mapa de landform a partir da técnica de avaliação de terreno e o panorama da mineração na cidade. As
discussões encerram o capítulo.

5
Oliveira, L.D., 2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências

Por fim, as conclusões - capítulo 6 - recapitulam sinteticamente os resultados, manifestando o


ponto de vista do autor sobre a pesquisa.

6
CAPÍTULO 2

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. ORDENAMENTO TERRITORIAL E URBANO

"No Brasil os instrumentos de política territorial trataram do


crescimento econômico e da infra-estrutura correlata, pois o
ambiente construído das cidades era o objeto principal.
Apropriavam-se do meio ambiente, acessório e aparentemente
infinito na sua abundância, independentemente das conseqüências
sobre a natureza. Os mais ricos e organizados impunham a força e
a degradação correspondente, em detrimento da boa vizinhança e
do respeito ao patrimônio comum" (Santos, 2006).

A estratégia de desenvolvimento territorial do país contemplou ao longo do tempo, mecanismos


de indução à interiorização do desenvolvimento, como também a concentração de esforços em áreas e
segmentos capazes de gerar efeitos mais significativos sobre o restante da economia. Estas condições
privilegiavam os espaços que possuíam vantagens comparativas, com nítida tendência à concentração
ainda maior das atividades em regiões mais desenvolvidas e, portanto, mais densamente povoadas.
As relações entre infra-estrutura e desenvolvimento urbano e regional têm, portanto, demonstrado
interdependência crescente. De um lado agravou-se a primazia das cidades, como local de geração de
riqueza e de inovações, devido ao crescimento acelerado de alguns centros. Do outro lado, a
complexidade cada vez maior dos sistemas de abastecimento exigia a ampliação crescente da sua
abrangência territorial. Essas tendências somadas determinaram o surgimento, ou o entendimento, de
novas bases de articulação territorial, traduzidas em alguns casos, em novos arranjos institucionais de
gestão.
Entretanto, o conceito de ordenamento territorial, por se encontrar em construção, ainda não é
claro e definido. Isso em parte se explica pela atuação dos trabalhos de ordenamento em diferentes escalas
de abrangência (União, Estado e Município) aplicados a diferentes contextos. Algumas abordagens e
conceituações sobre o ordenamento territorial são, segundo (Ministério da Integração Nacional 2006d):
• Transformação ótima do espaço;
• Técnica de administração com preponderância da articulação institucional entre as
instâncias decisórias refletindo, como um corte transversal, todas as decisões públicas
com repercussão territorial;
Oliveira, L.D.2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências.

• Política de planejamento físico com viés regional;


• Ciência, abrangendo método de análise e modelagem do território cuja prática seria o
planejamento territorial.
O ordenamento territorial está previsto na Constituição Federal de 1988, artigo 21, parágrafo IX,
onde se destaca a competência exclusiva da União: "Elaborar planos nacionais e regionais de ordenação
do território e de desenvolvimento econômico e social". Mas, além das competências exclusivas da
União, de acordo com o art. 23 da CF é competência comum dos três entes federativos:
• Proteger os documentos, as obras e os outros bens de valor histórico, artístico e cultural,
os monumentos, as paisagens naturais notáveis, os sítios arqueológicos (inciso III);
• Proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer das suas formas (inciso
VI);
• Preservar as florestas, a fauna e a flora (inciso VII);
• Fomentar a produção agropecuária (inciso VIII);
• A promoção de programas de construção de moradias e a melhoria das condições
habitacionais e de saneamento básico (inciso IX);
• O combate às causas da pobreza e aos fatores de marginalização, promovendo a
integração social dos setores desfavorecidos (inciso X).
Segundo art.30, inciso VIII da Constituição Federal, ao município, cabe promover o adequado
ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso do solo, do parcelamento e da ocupação
do solo urbano, utilizando do plano diretor para determinado fim.
O ordenamento de áreas urbanas é particularmente importante, pois geralmente impõe problemas
no controle do crescimento. Uma estrutura urbana equilibrada necessita da implantação sistemática de
planos de ocupação do solo e da aplicação de orientações para o desenvolvimento das atividades
econômicas, para a melhoria da qualidade de vida dos habitantes da cidade.
Segundo a Carta Européia de Ordenamento do Território (1988), particular atenção deve ser dada
à melhoria das condições de vida e à promoção dos transportes públicos e a todas as medidas que
reduzam a migração dos habitantes do centro das cidades para a periferia.
A valorização do patrimônio arquitetônico, dos monumentos e dos sítios, deve ser parte integrante
de uma política geral de ordenamento do território e planejamento urbano.
Afirma Rodrigues (2008) que quando se trata de estudos do meio físico, onde se desenvolvem as
ações para as quais se planeja, sugere-se que, através com conhecimento do comportamento e inter-
relação dos sistemas naturais, seja possível otimizar os usos alternativos dos recursos, para se alcançar
uma ação ordenada do espaço e do manejo dos recursos ambientais.
8
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

De acordo com Guell (1997 apud Rodrigues 2002), a análise do meio estabelece as bases para
identificar e compreender tanto as oportunidades como as ameaças derivadas de acontecimentos externos
que afetam o sistema funcional urbano, mas que estão fora do seu controle. A necessidade de se observar
o "mundo exterior" à cidade é baseada no pressuposto de que os indicadores externos podem servir para
fixar a posição relativa interna. Em outros termos, o sucesso ou o fracasso frequentemente apresentam
significado maior quando são avaliados a partir de bases comparativas.
Nenhuma situação é, por si própria, oportunidade ou ameaça. A chave para identificar a correta
situação consiste em discernir o que ela representa para a cidade, pois, qualquer situação pode ser
entendida com tendência a um acontecimento que pode conduzir ao desenvolvimento sempre que a
resposta estratégica for adequada, aponta Guell (1997 apud Rodrigues 2008).
Os instrumentos tradicionais de planejamento urbano têm encontrado limitações devido a
dificuldade de controlar as forças externas ao processo de planejamento; a lenta assimilação de novas
tecnologias; o baixo conhecimento da evolução dos processos sociais e dificuldade para integrar eficaz e
eficientemente as equipes interdisciplinares.
Rodrigues (2008) aponta que esta situação tem propiciado a aparição de novos enfoques
metodológicos além de instrumentos de análise que enfatizam os seguintes aspectos:
• Predomínio do processo: o planejamento tradicional separava projeto e execução e não
estabelecia um caminho sistemático para gerir a evolução da cidade. Hoje em dia ressalta-
se a importância do plano como processo facilitador da gestão urbanística;
• Enfoque integrado e coordenado: o planejamento setorial das cidades tem impedido a
possibilidade de uma visão global de sua problemática e a formulação de um modelo
integrado para o desenvolvimento futuro. A fim de superar o planejamento setorizado do
passado, tem sido proposta a integração do planejamento setorial assim como a
coordenação horizontal e vertical entre os diversos níveis territoriais e administrativos do
planejamento;
• Enfoque estratégico: o planejamento nominativo e centralizado, característico das
décadas de 60 e 70 tem entrado em crise; a tendência atual encontra-se embasada nos
conceitos e nas técnicas baseadas na reflexão e gestão estratégica;
• Orientação ao custo benefício: antigamente o planejamento limitava-se a considerar
somente os objetivos e atualmente a tendência é a de estabelecer critérios de custo-
benefício que avaliam e priorizam suas determinações;

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Oliveira, L.D.2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências.

• Orientação à demanda: no passado, o planejamento era realizado com o objetivo de


satisfazer as exigências e os elementos da oferta urbana (solos, infra-estrutura,
equipamentos, etc), hoje, ao contrário, percebe-se uma crescente consideração das
necessidades da demanda urbana (cidadão, empresa, etc);
• Superação dos limites administrativos: hoje em dia, a implantação da política de
ordenação territorial requer a formação de cidades e comarcas de acordo com a ampla
gama de critérios, de forma a superar os rígidos marcos impostos pela delimitação
administrativa;
• Participação focalizada: o entendimento progressivo da complexidade dos interesses e
pessoas envolvidas no desenvolvimento sócio-econômico de uma cidade tem conduzido à
segmentação e focalização do processo participativo, frente às formulas de participação
aberta das décadas de 60 e 70.
O ordenamento territorial, no caso do planejamento, seria um processo de decisão política
executado através de planos de desenvolvimento para determinada região. Ao buscar equilíbrio entre as
várias funções sócioeconômicas do uso territorial urbano, o planejamento pretende atingir a melhor
utilização dos recursos da sociedade em uma determinada época.
Portanto, escavar a superfície para extração de bens minerais, redistribuir componentes do
substrato físico (rochas, metais, água), dispor os rejeitos sólidos e líquidos em locais específicos,
apropriar grandes extensões territoriais para uso agrícola, alterar os sistemas naturais de erosão-
transporte-sedimentação para construção de moradias e captação de água, energia, transporte; são
modificações impostas ao ambiente para o atendimento das necessidades da população que precedem de
adequados métodos e técnica de intervenção no meio físico, aponta Seignemartin (1979).
Essas atividades que alteram as características naturais do ambiente físico têm acarretado em
alguns casos, danos irreversíveis ao meio ambiente. Essa situação fez com que o planejamento da
ocupação do meio físico fosse uma preocupação dos órgãos governamentais e sociedade civil, para
garantia de um ambiente estável, afirma Oliveira (1996).
A proposta metodológico-conceitual que orienta o processo de planejamento urbano é aquela que
coloca simultaneamente as dimensões política e técnica como elementos constitutivos desse processo. A
dimensão política é que pretende explicitar o objeto da intervenção pública, enquanto a dimensão técnica
procurará responder pela operacionalização de uma proposta que foi politicamente definida. De maneira
esquemática, essas dimensões expressam o que e o como será proposta e executada a política de
planejamento (Carvalho 2001a).

10
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

O ressurgimento do plano diretor e, em associação, do planejamento urbano, nas agendas de


debate público e governamental é o resultado da imposição da sua obrigatoriedade aos municípios com
mais de 20 mil habitantes pela Constituição Federal de 1988. A Constituição Federal, ao incorporar pela
primeira vez um capítulo específico sobre política urbana, estabeleceu como competência do poder
público municipal a responsabilidade pela execução da política de desenvolvimento urbano (Carvalho
2001b).
Os problemas dos planos diretores municipais estão mais ligados com as temáticas territoriais:
desenvolvimento econômico, reabilitação de áreas centrais da cidade e núcleos históricos; avaliação e
atividades em áreas rurais; políticas habitacionais; estudos de impactos de vizinhança; instrumentos
tributários e de indução ao desenvolvimento; desenvolvimento regional e outras questões de uso do solo,
apontam Rezende & Ultramari (2007).
Segundo Moruzzi et al. (2008), o planejamento da expansão dos espaços urbanos, além de uma
necessidade, tornou-se uma exigência legal através da elaboração dos planos diretores. Contudo, é
necessário que os planos sejam constantemente atualizados, principalmente o item que se refere às regiões
de expansão urbana.
Segundo Mota (1999), um plano diretor de desenvolvimento urbano, para contemplar as
dimensões econômicas, sociais e ambientais, deve considerar as seguintes etapas:
a) Levantamento de dados
a. Meio físico (clima, topografia, geomorfologia, geologia, solos, hidrologia superficial
e hidrogeologia);
b. Meio biótico e ecossistemas;
c. Meio antrópico (aspectos demográficos, uso do solo, infra-estrutura, qualidade
ambiental existente, aspectos sócio-econômicos, políticos e institucionais);
b) Diagnóstico
a. Mapeamento de áreas próprias ou impróprias para a ocupação urbana;
b. Identificação das áreas mais suscetíveis à erosão;
c. Identificação de áreas críticas de poluição atmosférica;
d. Caracterização de recursos hídricos;
e. Indicação de áreas com vegetação e degradadas;
f. Verificação dos níveis de ruído;
g. Identificação de áreas destinadas à preservação ou ao uso controlado, de valor
ecológico, de recargas de aqüíferos, de amortecimento de cheias, etc;
h. Identificação dos recursos naturais sujeitos à degradação;

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Oliveira, L.D.2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências.

i. Identificação de usos de maior impacto ambiental;


j. Mapeamento das necessidades básicas de infra-estrutura;
k. Barreiras ao crescimento da cidade, naturais ou impostas pelo homem;
l. Análise das áreas de possível expansão urbana.
c) Prognóstico
a. Definição dos usos através de cartas de zoneamento;
b. Definição de áreas a serem ocupadas e preservadas;
c. Estabelecimento de diretrizes para o parcelamento do solo, de acordo com cada
unidade identificada no zoneamento;
d. Identificação de infra-estrutura a ser implantada;
e. Planejamento do sistema viário;
f. Especificação dos níveis de qualidade a serem alcançados;
g. Orientação ao desenvolvimento socioeconômico;
h. Definição dos objetivos para o sistema de planejamento e gestão integrados.

Considerando a alternância e renovação de instrumentos utilizados pelo planejador nacional


nessas últimas décadas, vê-se que o mesmo aconteceu com os objetos de estudo dos planos diretores.
Ampliam-se não apenas os agentes envolvidos no processo de planejamento, mas igualmente os temas de
interesse. Geralmente os planos diretores trabalhados em períodos anteriores aos anos de 1980 e 1990
reduziam suas análises a setores do uso do solo, saneamento, sistema viário, transporte, habitação, saúde e
educação, apontam Rezende & Ultramari (2007). Segundo Carvalho (2001a), o planejamento nessa época
incorporou características tecnocráticas, colocando dicotomia a relação política e técnica. Dessa forma, a
tendência que predominou era de fazer valer o elemento técnico como determinante e não como
subsidiário das decisões.
Atualmente, ambientes que antes eram considerados hostis como regiões congeladas, altas
montanhas, semi-áridos, terrenos cársticos, entre outras, passaram a incorporar os assentamentos urbanos.
Os problemas decorrentes, relacionados ao meio físico, surgem da intensa transformação de todos os
constituintes do ambiente natural, que evolui para um novo ambiente geológico, reconhecido como
antropogêneo, Oliveira (1996).

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Como resposta às questões ambientais originadas por processos geológicos desencadeados pelo
homem, idealiza-se um modo de utilização da geologia na ocupação do meio físico com o intuito de
estudar e propor soluções para os problemas que o homem enfrenta ao fazer uso da terra e a reação da
terra a esse uso. Estabelecem-se as bases da geologia ambiental. A geologia relacionada ao planejamento
urbano nasce dos obstáculos enfrentados pela geologia ambiental.

2.2.ESTUDO DO MEIO FÍSICO EM ÁREAS URBANAS

2.2.1. Introdução
O Brasil, por sua grande extensão e diversidade de condições climáticas, está sujeito aos desastres
naturais, principalmente aqueles associados às porções susceptíveis do seu relevo. Além da freqüência
elevada destes desastres de origem natural, também ocorrem no país um grande número de eventos
induzidos pela ação antrópica. Exemplo disso é o fato das metrópoles e cidades grandes conviverem com
acentuada incidência de eventos induzidos por cortes nas encostas para a implantação de moradias e
estradas, desmatamentos, atividades de extração de recursos minerais, disposição final de lixo e esgotos.
(Amaral, 1996 apud Zaidan & Fernades, 2008).
Há instrumentos legais que regulam a intervenção no meio físico, e dois dentre esses é a Lei
Federal 6766/79 (Brasil 79) e a Lei Federal 4771/65, que institui o Código Florestal (Brasil 65). A
primeira declara no Capítulo I, art 3° parágrafo único, que não será autorizado o parcelamento do solo nas
seguintes condições:
I - em terrenos alagadiços e sujeito a inundações, antes de tomadas as previdências para assegurar
o escoamento das águas;
II - em terrenos que tenham sido aterrados com material nocivo à saúde pública, sem que sejam
previamente saneados;
III - em terrenos com declividade igual ou superior a 30% (trinta por cento), salvo se atendidas as
exigências específicas das autoridades competentes;
IV - em terrenos onde as condições geológicas não aconselham a edificação;
V - em áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a poluição impeça condições sanitárias
suportáveis, até a sua correção.
A segunda Lei define em seu art.2° quais são as áreas de preservação permanente, entre elas:
I - nos topos de morros, montes, montanhas e serras;
II - nas encostas ou parte destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de
maior declive.

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Oliveira, L.D.2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências.

Segundo Carvalho (1999), a cidade é a mais complexa obra humana, compreendendo camadas
estruturais interagindo com vários agentes e na maioria das vezes sob escassa coordenação das leis. As
camadas estruturais dividem-se entre: infra-estrutura - correspondente ao sistema geológico; a meso-
estrutura - correspondente aos sistemas de transporte, água, esgoto e a super-estrutura - correspondente as
obras dos cidadãos.
Portanto, para se administrar ou legislar corretamente, é importante que o Poder Público, nas suas
três escalas, compreenda o conjunto das relações entre as camadas. Os aspectos ligados ao meio físico e,
principalmente, à infra-estrutura geológica desempenham um papel importante na interação do homem
com o meio ambiente.
A alteração no meio físico inicia-se desde o momento que antecede a construção, na fase de
implantação, podendo gerar os impactos descritos acima. Na fase posterior da ocupação, os impactos
podem ser causados pela :
• Exposição dos materiais naturais em taludes de corte e aterro;
• Saturação de solos superficiais por vazamento das redes de água pluviais, abastecimento
de água, esgotamento sanitário;
• Produção e destinação de resíduos sólidos e líquidos;
• Aumento dos níveis de ruído e vibração.
O prévio e adequado conhecimento do meio físico, ou seja, limitação e comportamento de cada
unidade geológico-geotécnica frente às solicitações impostas pela ocupação, adquirem maior importância
Em um país como o Brasil, com potencialidades de desenvolvimento e perspectivas de expansão
na ocupação territorial, é indispensável uma política de planejamento territorial do meio físico, recorrendo
ao uso de mapas que possibilitem o auxílio e interpretação de dados que posteriormente possam ser
utilizados como subsídios ao planejamento urbano e regional. A ocupação adequada do solo deve ser
realizada através da construção de obras civis adequadas às condições geotécnicas e ambientais de
determinadas localidades.

2.2.2.Geologia aplicada à urbanização


A localização dos assentamentos humanos, sua estrutura interna e funcionamento estão
fortemente influenciados por fatores ambientais e, particularmente, pela configuração do terreno, afirma
Pereyra (2004). Em países em desenvolvimento, uma gestão pouco efetiva das terras urbanas resulta em
uma generalizada degradação dos solos, água e paisagem, além da ocupação em áreas de risco.

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Dentre as várias modificações do ambiente impostas pela atividade humana, com todo seu
potencial tecnológico transformador, são os aglomerados urbanos e industriais que provocam as mais
intensas alterações em termos de magnitude, complexidade e persistência no tempo e no espaço, cuja
sinergia tem desencadeado efeitos prejudiciais à qualidade de vida da população.
Entre as consequências das mudanças na superfície original dos terrenos pode-se citar:
• As terraplanagens e aterros para novas construções, ou acúmulo de resíduos sólidos
urbanos, resultando na elevação dos terrenos;
• Rebaixamento dos terrenos para escavações para abertura de estradas, explotação de
pedreiras;
• Disposição inadequada de resíduos sólidos urbanos industriais;
• Explotação de recursos hídricos superficiais e subterrâneos
• Explotação de insumos minerais para a construção civil, como areia, pedra britada e
argilas vermelhas para cerâmica;
• Práticas agrícolas de desmatamento e queimadas;
A ocupação humana e o seu modo de produção do espaço urbano têm proporcionado o
surgimento de problemas de risco como escorregamentos e enchentes, cuja origem remonta a própria
ocupação do meio físico, aponta Oliveira (1996).
A capacidade de previsão desses fenômenos de risco é inerente ao planejamento urbano ao
caracterizar locais mais suscetíveis. Englobam essas previsões o uso dos recursos naturais, hídricos e
minerais, a disposição de resíduos e como essas manifestações do meio físico se interagem com o
ambiente construído, afirma Oliveira (1996).
Como o intuito de adotar medidas preventivas e corretivas mais adequadas tem-se utilizado
instrumentos onde é possível prever o comportamento futuro dos terrenos frente às alterações impostas
pelo uso urbano. Um desses instrumentos é a cartografia geotécnica.

2.2.3. Cartografia geotécnica


Cartografia geotécnica, cartografia geológica-geotécnica ou ainda mapeamento geotécnico,
conforme a metodologia adotada, é uma ferramenta para orientar e subsidiar as mais diversas atividades
antrópicas capazes de modificar o meio físico, afirma Zuquette (1987).
Segundo o IAEG (1976), o mapa geotécnico é um tipo de mapa geológico, que oferece uma
representação generalizada de todos os componentes do ambiente geológico, significantes ao
planejamento e ao uso da terra, em projetos, construções e manutenção de obras civis e de mineração.

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Oliveira, L.D.2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências.

Zuquette & Gandolfi (1990) relacionam os elementos a serem considerados no mapeamento


geotécnico:
• Características das rochas e dos materiais inconsolidados: englobam a distribuição dos
materiais rochosos e de cobertura, gênese, estrutura, homogeneidade e propriedades
físicas e mecânicas;
• Condições geodinâmicas internas: incluem características associadas aos fenômenos
sísmicos e vulcânicos;
• Condições geodinâmicas externas: relacionam-se aos processos erosivos, de
sedimentação, dinâmica das encostas, escorregamentos e os deslizamentos;
• Condições hidrogeológicas: nível piezométrico, direção dos fluxos, ph, teor de sais,
corrosividade e resíduos de materiais poluidores;
• Condições geomorfológicas (relevo, declividade, curvatura e amplitude): são importantes
para o planejamento urbano, contribuindo na distribuição dos elementos urbanos e na
avaliação das áreas para fins de construção civil;
• Modificações artificiais do meio físico e materiais de construção: identificam as
ocorrências de materiais utilizados na construção civil e áreas de materiais de empréstimo
e respectivas propriedades e levantamento de impactos ambientais por ações antrópicas.
Segundo Lollo (2005), a geotecnia encontrou na geomorfologia bases capaz de realizar a
compartimentação do meio físico, através das geoformas (landform) no que tange a morfometria (altitude,
declividade e sentido) e morfografia (landform, geometria de encosta e amplitude das encostas).
Desenvolver estudos, portanto, que vão além de diagnósticos nos níveis de degradação ambiental
gerados, mas sobretudo estudos que possam fornecer bases para uma intervenção eficaz no controle e
prevenção de danos ao meio físico e biótico é o que se espera de trabalhos de geotecnia, afirma Castro et
al. (2002).
A demanda das cidades sobre o meio físico são muitas e vão desde exigência por insumos básicos
como areia, argila, pedra britada, cimento, aço, madeira e água até itens essenciais de consumo como
energia e produtos agrícolas.
Portanto, a ação da cidade sobre o meio físico gera impactos que vem sendo estudados sob os
mais variados aspectos da ocupação humana, que por sua vez, recebem os mais variados títulos como:
avaliação de aptidão, avaliação da vulnerabilidade, zoneamento ambiental, mapeamento de risco,
suscetibilidade ambiental, entre outros. O item seguinte, mapeamento de uso e ocupação, trata das
metodologias empregadas nesses tipos de estudos.

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Entre os anos 2002 e 2003, foi realizado no município de São Paulo, um mapeamento das áreas
de risco envolvendo 214 áreas de encostas e margens de córregos em assentamentos precários, a fim de
elaborar planos de intervenção voltados a controlar os riscos existentes (Cerri et al., 2007). Para se
determinar a possibilidade de ocorrência de escorregamentos na encostas e nas margens dos rios, foi
criado um Termo de Referencia definindo o grau de probabilidade de ocorrência de processos de
instabilização, conforme demonstra a tabela .
Cerri et al.(2007) afirmam que a caracterização dos processos de instabilidade e a definição de
medidas alternativas de intervenção podem auxiliar na redução dos riscos locais. Algumas das sugestões
de medidas são o mapeamento geotécnico complementar, inclusive investigações de subsuperfície e para
as áreas com probabilidade alta e muito alta de instabilização, a implantação de sistemas efetivos de
monitoramento. Segundo Cerri et al.(2007), os resultados permitiram a administração municipal elaborar
um plano estratégico de intervenções para redução e controle de riscos mapeados.

2.2.4. Mapeamento de uso e ocupação


Os mapeamentos de uso e ocupação servem aos mais variados objetivos, não se restringindo a
ferramenta de uma ou outra área do conhecimento. É comum nos trabalhos dessa natureza, o zoneamento
ambiental, registros sobre expansão urbana, ordenamento territorial, mapeamentos geotécnicos, os
zoneamentos ecológicos-econômicos, etc. Os resultados, porém, seguem a diretriz de subsidiar a
execução de planos de ação, ora realizado por prefeituras, ora por empresas, organizações não
governamentais ou parcerias entre União, Estado e Município e parcerias público-privadas.
De acordo com Pereira & Collares (2007), as cidades brasileiras enfrentaram nas últimas décadas
um crescimento que não foi acompanhado de um planejamento urbano adequado. Quando o adensamento
se dá dessa forma, ignoram-se as potencialidades e limitações das áreas a serem ocupadas, determinando
a ocupação inadequada de regiões e locais potencialmente problemáticos, como áreas propícias ao
desenvolvimento de escorregamentos e erosão intensa, regiões sujeitas a voçorocas, áreas passíveis de
inundação, terrenos que podem desenvolver subsidências entre outros.
Para Borsoi e Novaes Junior (2009), as intervenções antrópicas, através do modo de vida, da
cultura, conhecimento adquirido entre outros, lesaram o meio ambiente, refletindo em uma maior
degradação da qualidade ambiental urbana. Assim, tem-se desenvolvido ferramentas para a apreensão das
características físicas do meio, a fim de ordenar a tomada de decisões pelo Poder Público.

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Oliveira, L.D.2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências.

Uma dessas ferramentas é o zoneamento ambiental ou geoambiental. Segundo Egler et al. (2003),
ele deve ser visto como um modelo de gestão do território, baseado na ampla transparência e
disponibilidade de informações e na, não menos ampla, negociação social das metas de regulação de
apropriação e uso do território. Embora pautado na identificação de áreas homogêneas, ele procura tirar
partido da diversidade territorial, promovendo a compatibilidade sistêmica entre as zonas.
O impacto do crescimento urbano sobre regiões naturais tem despertado a necessidade de
compreensão das agressões sobre o meio e um exemplo de área fortemente adensada é a Baía de
Guanabara. As condições naturais da baía fazem dela uma região fértil do ponto de vista da produção
primária, o que abrigou um conjunto diversificado de ecossistemas desde a Mata Atlântica nas encostas
até os manguezais que se estendem nas margens da baía. (Egler et al. 2003).
Na Região Metropolitana de Campinas utilizou-se a técnica de compartimentação fisiográfica
(Fernandes-da-Silva et al. 2005) ao realizar o zoneamento geoambiental para avaliar a suscetibilidade a
processos geodinâmicos superficiais e a vulnerabilidade de aqüíferos à contaminação. Essa técnica
consiste em utilizar imagens de sensoriamento remoto para individualizar os elementos do meio físico. A
abordagem fisiográfica consiste em (1) compartimentação da paisagem em unidades fisiográficas (2)
caracterização das unidades em termo de propriedades e características dos terrenos que interferem,
condicionam ou são afetadas pelas atividades humanas (3) a avaliação dessas unidades em termos de
fragilidades, potencialidades, riscos e impactos geoambientais associados.
Estudos relativos à fragilidade de ambientes são importantes ao planejamento ambiental, afirma
Sporl & Ross (2004). Ross (1994) propõe metodologia para análise ambiental da fragilidade denominado,
Modelo de Fragilidade Potencial Natural com Apoio nos índices de Dissecação do Relevo.
Para Spörl & Ross (2004) as unidades de fragilidade dos ambientes naturais devem ser resultantes
dos levantamentos da geomorfologia, solos, cobertura vegetal, uso da terra e clima que, analisados
conjuntamente proporcionam o diagnóstico dos ambientes naturais.
O modelo proposto por Ross (1994) indica que cada uma dessas variáveis seja hierarquizada em
cinco classes de acordo com sua vulnerabilidade. As variáveis mais estáveis com valores próximos de 1,0,
variáveis intermediárias em torno de 3,0 e variáveis mais vulneráveis valores próximos de 5,0.
Recurso que vem sendo utilizado com freqüência, o SIG (Sistema de Informação Geográfica) tem
auxiliado nos trabalhos de avaliação do meio físico. Ferreira et al. (2008) utilizaram a ferramenta para
elaborar mapas de suscetibilidade aos escorregamentos translacionais na Serra do Mar através de análise
multicriterial ponderada. Litologia, declividade e formas das vertentes foram os aspectos selecionados
para gerar os mapas.

18
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Juntamente com o SIG, o sensoriamento remoto também tem executado importantes


contribuições no campo do planejamento do uso do solo. Nascimento et al.(2008), utilizaram o
sensoriamento remoto para criar um mapa de densidade de drenagem e a partir dele, utilizando krigagem
ordinária estabelecer áreas vulneráveis a processos erosivos em uma sub-bacia em São Paulo. Conforme
afirmam Nascimento et al. (2008) a alta concentração de canais indica maior capacidade de dissecação do
relevo. Nas classes altas predominam processos erosivos como voçorocas e ravinas e nas classes baixas
predominam feições erosivas que denotam sedimentação, causando assoreamento.
Correlacionando-se essas informações com os demais aspectos do meio físico como
geomorfologia, pedologia, geologia e uso e ocupação, tem-se uma visão de causa e efeito ao meio
ambiente. O estudo de Nascimento et al.(2008) estabelece que as áreas de maior e menor processos
erosivos são resultado das apropriações inadequadas do meio físico pela atividade agropecuária, como
desmatamento acelerado para pastagens e plantação de cana de açúcar.
Para Souza et al (2009), o atendimento das demandas da população urbana (serviço das redes
hospitalares e escolares, áreas de recreação entre outros) é um desafio para o planejamento. O
planejamento é um processo que teoricamente deve possibilitar a elaboração de um conjunto de ações
orientadas sobre a estrutura espacial em diferentes escalas. Dessa maneira, é de fundamental importância,
conhecer a realidade para nela atuar corretamente.
Outra forma de favorecer o desenvolvimento através do planejamento urbano é o mapeamento
geotécnico, que consiste em representar em meio cartográfico os componentes geológicos e geotécnicos
de significância para o uso e ocupação do solo e subsolo em projetos, construções e manutenções, quando
aplicados a engenharia civil, de minas e nos problemas ambientais.
Costa et al. (2008) realizaram mapeamento geotécnico no município de Campos dos Goytacazes
após identificarem que o eixo principal da cidade acontecia sobre regiões onde o nível freático era mais
baixo. Descobriram que a expansão da cidade estava se dando sobre solos areno-argilosos e solos argilo-
arenosos, locais onde estava ocorrendo problemas ambientais como inundações, poluição de aqüíferos,
rios e lagoas, assoreamento dos corpos d'água devido uso inadequado do solo.
Ferramenta auxiliar nos mapeamentos de uso e ocupação do solo, o sensoriamento remoto, tem
proporcionado níveis de detalhe e riqueza de informações cada vez melhores e maiores. A série Landsat
lançado pela Agência Espacial Americana, registra imagens da Terra desde 1972, explorando os recursos
naturais existentes . O único satélite em atividade da série Landsat é o Landsat 5, lançado em 1984, que
utiliza os sensores MSS e TM. O Brasil, através do INPE, mantém um banco de dados de imagens
Landsat desde a década de 1970, que por ter acesso gratuito, tem sido utilizado em muitos mapeamentos
de pequena escala no país.

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Oliveira, L.D.2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências.

O macrozoneamento do Estado do Rio Grande do Sul (Guasselli et al.,2006) utilizou os sensores


TM em todas as bandas espectrais disponíveis (1, 2 e 3 do espectro visível e 4, 5 e 7 da região do
infravermelho), para compor a cobertura integral do estado. O mapa do macrozoneamento foi uma síntese
das informações de cobertura vegetal, uso do solo e compartimentação do relevo. Para processar o mapa
do macrozoneamento foi necessário utilizar as seguintes bases cartográficas: mosaico de imagens Landsat
TM; combinação de imagens temporais de NDVI (Índice de Vegetação por Diferença Normalizada) a
partir de imagens do satélite NOAA; mapa geomorfológico do RS e o mapa altimétrico. Tais
procedimentos foram usados a fim de representar os padrões de uso e cobertura vegetal do RS. O
mapeamento do solo utilizando as imagens de satélites é possível à medida que, a partir das respostas
espectrais dos alvos, são determinadas as áreas com características homogêneas, por exemplo, unidades
geomorfológicas como planaltos, cuestas, depressões, escudos e planícies costeiras, além de identificar os
usos relativos como florestas, campos, áreas agrícolas, campos mistos, dunas e lagoas (Guasselli et al.
2006). Os mapas de vulnerabilidade ambiental também são uma ferramenta para apontar diretrizes para o
planejamento urbano. Os mapas de vulnerabilidade à ocupação humana indicam aquelas áreas mais
vulneráveis ao adensamento populacional, devido às restrições ambientais ligadas à geologia,
geomorfologia, solos, e vegetação (Medeiros et al. 2005).
Semelhante a grande parte dos municípios brasileiros que sofrem com o crescimento
desordenado, Parnamirím (RN), que vem enfrentando efeitos com o desmatamento de vegetação nativa,
ocupação desordenada de loteamentos, deposição de lixo urbano em locais impróprios, contaminação de
aqüíferos, exploração de areia para construção civil, contaminação orgânica dos rios e riachos e invasão
de áreas de preservação permanente, elaborou um mapa de vulnerabilidade à ocupação humana, a fim de
contribuir para o ordenamento territorial do município. O mapa de vulnerabilidade levou em consideração
somente as características ligadas ao meio físico do município, tais como: geologia, geomorfologia,
vegetação e solo. Segundo Medeiros et al. (2005), as áreas que possuem vulnerabilidade alta à ocupação
humana são as áreas próximas ao litoral por serem locais de campos de dunas, vegetação de restinga e de
mangue.
Outro exemplo de ordenamento territorial é a Reserva Natural Protegida do vulcão Auca
Mahuida, na Argentina (Navarro, 2006), uma região com chuvas deficitárias e intensas, escasso aporte
hídrico superficial e subsuperficial e solos em geral, superficiais. Essa região vem sendo alvo de um
amplo projeto de ordenamento territorial.

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

A condição árida do clima, a presença de encostas com forte inclinação e solos pouco
desenvolvidos que superficialmente se apresentam desnudos em proporção considerável, tornam a
paisagem da região sumamente frágil e susceptível de ser afetado por atividades que se desenvolvem na
região. Em sua carta de "zoneamento por condições de erosão hídrica", o autor conclui que a densidade de
drenagem está relacionada com o grau de inclinação das encostas tanto como os tipos litológicos
encontrados na região.
Garcia (2010) analisou o potencial de expansão e ocupação urbana de Timóteo, região do Vale do
Aço em Minas Gerais, atribuindo pesos e notas, técnica conhecida como "Árvore de Decisão" (Moura
2003). Para gerar o mapa de potencial expansão urbana, primeiramente elaborou-se um mapa de infra-
estrutura urbana (coleta de lixo, rede de esgoto e rede de água) utilizando o setor censitário do IBGE.
Posteriormente, elaborou-se o mapa geomorfológico de Timóteo a partir de fotointerpretação e
campanhas de campo. Utilizando a técnica atribui-se pesos e notas para os mapas de geomorfologia e
infra-estrutura, com posterior cruzamento dos mapas, resultando no mapa de potencial à expansão e
ocupação urbana de Timóteo. O mapa de geomorfologia teve um peso maior na análise pois se considerou
o meio físico como orientador mais direto na ocupação.

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Oliveira, L.D.2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências.

2.2.5. Mapeamento Geomorfológico


Segundo Christofoletti (1967), o aumento das intervenções antrópicas no meio físico, respaldado
pelos avanços tecnológicos e pelo desenvolvimento, tem acarretado mudanças à estrutura do sistema
físico ambiental, atuando na alteração dos processos naturais.
Segundo afirmam Simon & Cunha (2008), as alterações impostas pelas estruturas urbano-
industriais e agropastoris, podem ser avaliadas pelas modificações causadas à morfodinâmica do relevo,
mas, tais estudos devem se apoiar em perspectivas históricas da ocupação, para que se possa compreender
de que modo as intervenções contribuíram para a alteração do sistema e consequentemente, para a
aceleração, estagnação ou o surgimento de determinados processos evidenciados na atualidade.
Para Goes et al. (2004), a geomorfologia pode ser utilizada como um plano de informação
integrador, onde se desenvolvem os problemas e as potencialidades ambientais. Suas feições são
constituídas por solos, embasadas pela geologia e seus litotipos, ocupadas por formações florísticas e
atuações antrópicas, apresentando também, os parâmetros morfométricos como a declividade e altitude.
Além dessa convergência de elementos naturais e antrópicos, as feições estão subordinadas à geodinâmica
ambiental dia a dia, e controladas por estruturas do passado geológico e, mais recentemente, esculpidas
pelas fases climáticas mais úmidas e mais secas.
Ainda segundo Goes et al. (2004), o mapeamento geomorfológico vem se dirigindo às questões
ambientais, onde estão sendo bastante utilizados nos meios político-administrativo e acadêmico. Atende a
geologia, a pedologia, a hidrografia, entre outros ramos das geociências, também como a geotecnia, a
agronomia, a engenharia ambiental, a botânica, entre outras.
Como apontam Simon & Cunha (2008), a representação da geomorfologia através da cartografia
tem tornado possível a representação das formas de relevo e a análise dos processos geomorfológicos que
ocorrem no espaço geográfico.
Para Demek (1967), quando realizado sobre um mesmo fragmento espacial, durante períodos
históricos distintos, este mapeamento possibilita a identificação de alterações ocorridas sobre feições
originais, com destaque àquelas derivadas da ação antrópica e que ocasionaram transformações na
estrutura e nos processos, atuando na alteração da morfodinâmica.

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Um exemplo de mapeamento Geomorfológico com esse enfoque foi realizado no Arroio Santa
Bárbara, no município de Pelotas (RS) (Simon & Cunha 2008). Através da interpretação de fotografias
aéreas, de 1965 e 1995 e uma imagem orbital de 2006, checaram-se as morfografias, principalmente
aquelas formas de relevo que indicavam maior dinâmica erosiva. Os autores, por meio do
desenvolvimento de estruturas socioeconômicas que propiciam a ocupação do espaço e apropriação dos
recursos naturais, a morfologia original, por estar em contato com as ações humanas, passa a sofrer
transformações estruturais que contribuirão para a mudança na sua dinâmica.
A análise geomorfológica consiste na identificação e mapeamento dos compartimentos de relevo
determinados por fatores naturais, originados por processos climáticos passados e atuais, quando a
morfologia encontra-se praticamente em situação original. Mas há o que se considerar sobre a intervenção
humana na paisagem natural. Essa intervenção ocasionalmente altera a geometria do relevo, modificando
as formas, que ora são criadas, ora são induzidas pela atividade do homem. Dentro do contexto urbano,
surgem trabalhos que buscam a apreensão da geomorfologia dentro da cidade.

Geomorfologia urbana
Trabalhar com o ambiente urbano, sob alguns aspectos, principalmente os do meio físico, pode
apresentar-se como tarefa árdua, uma vez estando o meio abiótico já bastante alterado pela intervenção
humana. Um dos aspectos que tem sido estudado é a geomorfologia. E como o objeto é recente, sob o
ponto de visto do planejamento, este também demanda novas metodologias de estudo que se apliquem ao
ambiente urbano.
Fugimoto (2005) afirma que para uma avaliação geomorfológica é necessário incluir em sua
análise uma abordagem histórica das formas de relevo, do material de cobertura superficial e dos
processos geomorfológicos, pois estes revelam as dimensões das alterações ambientais no espaço urbano.
Ross (1992) revela que a análise geomorfológica consiste na identificação e mapeamento das
formas de relevo, no seu significado morfogenético e nas influências estruturais e esculturais.
Em uma sub-bacia pertencente à bacia hidrográfica do Arróio Dilúvio, em Porto Alegre,
Fugimoto (2005), para sua análise geomorfológica, utilizou-se da caracterização do material de cobertura
superficial, onde foram retirados parâmetros de granulometria, umidade do solo, limite de liquidez, limite
de plasticidade, índice de plasticidade e índice de consistência. Além dessa caracterização do material da
cobertura superficial, foi importante a definição dos táxons que seriam usados. As formas de relevo
decorrentes da intervenção urbanas foram classificadas em formas criadas ou construídas pela atividade
humana e em formas induzidas pelas atividades humanas. Fugimoto (2005) aponta novos padrões de
comportamento morfodinâmicos gerados pelas modificações no relevo, que podem ser identificados pela
tipologia e pelo estado de alteração da paisagem, tais como:
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Oliveira, L.D.2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências.

A- A eliminação de cobertura vegetal e a modificação através de cortes e aterros elaborados


para execução dos arruamentos e moradias acabam por alterar a geometria das vertentes, aumentando a
declividade e expondo o material anteriormente protegido da ação direta dos agentes climáticos.
B- Os arruamentos que, mesmo respeitando a topografia, acabam cortando e direcionando os
fluxos hídricos, gerando padrões de drenagem não existentes. As ruas transformam-se em verdadeiros
leitos pluviais durante os eventos chuvosos, canalizando e direcionando os fluxos para setores que
anteriormente possuíam um sistema de drenagem diferente.
C- A impermeabilização modifica o fluxo de água, tanto na superfície quanto em
profundidade. As superfícies impermeabilizadas não permitem a infiltração da água no solo, assim como
a circulação de ar e água.
D- As canalizações de águas pluviais existentes nas moradias acabam por mudar a direção
do fluxo natural das águas das chuvas ou das águas servidas.

E- Os aterros que recobrem a vegetação original e os materiais de cobertura superficial de


formação natural, criando áreas de descontinuidades entre materiais heterogêneos, além de elevarem
altimetricamente a superfície original, alterando sua declividade.
Em Juiz de Fora - MG foi aplicada outra metodologia de mapeamento geomorfológico (Goes et
al., 2004), que se mostrou exequível e com bons resultados para fins de planejamento. O procedimento
requer a utilização de uma base topográfica, imagens orbitais (fotografias aéreas, ortofotos ou imagens de
satélite) e campanhas de campo para a validação dos resultados. Os critérios utilizados para o
levantamento das feições foram:
• Morfologia (forma) das feições - É a identificação da feição, representada pela
distribuição dos meso e micro compartimentos, através da sua morfologia, desde os
grupos de interflúvios, passando pelos grupos das encostas e áreas de contato, até se
chegar às áreas mais deprimidas, dos grupos dos terraços, várzeas e depressões
associadas. A base foi a topografia local (análise de curvas de nível e espaçamento das
drenagens). Ex: Identificação de interflúvios, vales, planícies aluviais;
• Controle estrutural ou climático - Equivale à identificação de feições morfoestruturais
refletidas pela litologia e estruturas, como as escarpas de falhas, e também, por feições
morfoclimáticas, como os aplainamentos erosivos como as colinas aplainadas. As
campanhas de campo e a utilização dos produtos orbitais são a base dessa etapa. Ex:
encosta falhada ou interflúvio aplainado;

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

• Morfometria das feições - São os parâmetros geometria das encostas, altitude, e


declividade. No primeiro caso, têm-se as Encostas Convexas, Côncavas e Retilíneas e
suas combinações. Aqui se podem utilizar os mapas derivados da topografia - carta de
declividade, concavidade e convexidade e modelos digitais de terreno - facilmente
gerados por um Sistema de Informação Geográfico. Ex: Encostas estruturais convexas;
• Uso e ocupação do solo - Este critério foi determinado pela sua significância à ocupação
específica do terreno com relação a riscos ambientais, do tipo enchentes e
deslizamentos/desmoronamentos. Imagens orbitais e campanhas de campo foram os
recursos utilizados nessa etapa. Ex: Encostas estruturais convexas com pastagens,
degradadas, institucionais, urbanas ou industriais.
Para Peloggia (1998), a ação humana sobre a natureza tem conseqüências em três níveis que são a
modificação do relevo, a alteração na dinâmica geomorfológica e a criação dos depósitos tectogênicos. As
modificações no relevo proporcionam o aparecimento de formas tectogênicas, induzidas pela atividade
humana, quase sempre ocasionando o aparecimento de sulcos erosivos, cones de dejeção tectogênicos,
cicatrizes de solapamento, além das interferências nas vertentes como cortes e aterros.
Os estudos que propõem o mapeamento geomorfológico como produto devem estar atentos às
formas criadas pela intervenção humana, que nem sempre estão circunscritas às áreas urbanas. Dessa
forma, necessita-se de adoção de critérios rígidos de taxonomia de relevo, uma vez que esses variam
amplamente dentro do território nacional.

Técnica de avaliação do terreno


A Técnica de Avaliação de Terreno permite verificação dos níveis de heterogeneidade,
classificação dos atributos e generalização das informações dependendo da escala de trabalho. Propicia o
estabelecimento das possibilidades e recomendações de uso para cada faixa de escala de trabalho (Garcia
& Zuquette 2005).
A aplicação da técnica tem sido ampla e orientada para as mais diversas finalidades, como
aplicações rodoviárias, estabilidade de taludes, análise de movimentos de massa, disposição de resíduos,
planejamento urbano e regional e mapeamento geotécnico (Garcia & Zuquette 2005).
Desde que pressões técnicas, sociais, econômicas ou legais conduziram a engenharia civil no
sentido de uma melhor integração com o meio físico, teve origem uma preocupação de se criar métodos
de levantamento e apresentação das condições naturais como forma de facilitar a harmonização das obras
com o meio físico (Lollo, 1995).

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Oliveira, L.D.2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências.

Neste contexto, o mapeamento geotécnico surgiu como uma tentativa de coletar, analisar e
representar as condições do meio físico numa forma tecnicamente adequada a estudos posteriores visando
a implantação de projetos de engenharia civil (Lollo, 1995).
Na busca de processos de caracterização dos elementos naturais que conjugassem menos custo e
maior agilidade possível, o mapeamento geotécnico encontrou na geomorfologia uma ferramenta bastante
útil.
Este método de zoneamento do terreno, denominado avaliação de terreno se baseia na
possibilidade de reconhecimento (por meio de trabalhos de campo e do uso de sensores remotos) das
formas de terreno (landform) e de suas associações espaciais, e seu posterior zoneamento, considerando a
premissa de que estas unidades básicas do terreno (desde que evoluindo sob as mesmas condições
ambientais) devam se constituir em unidades básicas de materiais.
De acordo com Lollo (1995), conforme as dimensões que o "landform" apresenta e o enfoque
que se pretende dar à análise, são costumeiramente utilizados três níveis hierárquicos: 1-sistemas de
terreno - que correspondem à uma associação de formas, por exemplo um relevo composto por colinas e
vales; 2- unidade de terreno, que são formas individuais como uma colina por exemplo; e 3- elemento de
terreno, porção que compõe uma forma, como o topo de uma colina por exemplo.
Lollo (1995) observa que o terceiro nível hierárquico - elemento de terreno - requer um grande
nível de detalhamento e sua aplicação só se torna possível em escalas locais de trabalho maiores que
1:25.000, preferencialmente 1:10.000.

Sistema de Terreno
Maior dentre os níveis hierárquicos de "landform", o sistema de terreno pode ser descrito como:
associação de formas de relevo com expressão espacial determinada e que representa condições similares
de processos evolutivos e de materiais associados, representando um conjunto de processos ou um
intervalo de tempo durante o qual este conjunto de processos se encontrou ativo, esperando-se que
apresente uniformidade de substrato rochoso.
Tal processo se inicia com a observação do fotomosaico da área de estudo, permitindo um
primeiro zoneamento, o qual é posteriormente aperfeiçoado através da análise de estereopares
fotográficos, seguida da observação de mapas topográficos (em escala compatíveis com as das fotografias
aéreas) verificando-se a expressão espacial das formas delimitadas e possibilitando assim os processos de
generalização (conceitual e gráfica) efetuados a partir de uma etapa de interpretação de estereopares, para
que se obtenha então o mapa de sistemas de terreno.

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Unidade de Terreno
Primeira subdivisão do sistema de terreno, a unidade de terreno pode ser descrita como "forma
individual do terreno que se distingue das outras às quais está associada por indicar um determinado sub-
conjunto de processos do sistema de terreno no qual se situa. Estas características devem se refletir em
nível de diferenças do material inconsolidado associado à unidade.
A delimitação das unidades de terreno se dá com base em características geomorfológicas tais
como forma topográfica, amplitude de relevo, inclinação de vertentes e caracterização de organização da
drenagem em termos de freqüência e estruturação da rede de canais.
Neste ponto é importante que se destaque um aspecto importante da aplicação da avaliação do
terreno para este nível hierárquico. O processo de análise dos estereopares consiste de identificação de
padrões de formas e de sua delimitação.

Elemento de Terreno
O elemento de terreno corresponde a uma subdivisão da unidade de terreno e pode ser entendido
como "parte de uma forma individual do relevo distinguível das demais partes em termos de inclinação ou
forma da vertente, posição topográfica, ou forma topográfica, e que deve refletir condições diferenciadas
de espessura de materiais inconsolidados ou variações laterais no perfil destes materiais".
Caso este nível hierárquico seja considerado, o processo de zoneamento usado para sua
delimitação é o mesmo usado para a unidade de terreno, apenas considerando-se o maior detalhe
requerido e o uso de sensores remotos em maiores escala, usando a técnica de aerofotodedução
(associação das informações coletadas com o conhecimento do intérprete sobre o terreno e os materiais
nele presentes permitindo a obtenção de informações derivadas - não obtidas diretamente do sensor)
Outra diferença marcante a ser destacada no levantamento de elementos de terreno com relação
aos outros níveis hierárquicos é o fato de que este, por ser um trabalho de detalhe, normalmente visando a
solução de problemas específicos, requer uma amostragem mais densa, além de incluir às vezes a
abordagem paramétrica (uso de medidas das formas de terreno) e de ensaios de campo e laboratório
(dependendo do problema em estudo),visando uma caracterização o mais precisa possível da área
estudada.

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Oliveira, L.D.2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências.

2.3. ANÁLISE TEMPORAL SOBRE ÁREAS URBANAS


Análise temporal ou multitemporal tem sido empregada com frequência para estudar impactos
urbanos sobre os processos naturais como escorregamento de encostas, enchentes, impermeabilização de
bacias hidrográficas, desmatamento, perda de solo, etc. A difusão de produtos de sensoriamento remoto e
SIG tem proporcionado diagnósticos mais precisos, uma vez que possibilitam o manuseio de maior
número de informações.
Valério Filho et al. (2009) utilizaram imagens de sensoriamento remoto (fotografia aéreas,
ortofotos e imagem quickbirb) para avaliar o impacto da urbanização na infiltração numa bacia
hidrográfica em São José dos Campos - SP. Demarcando o perímetro urbano sobre as imagens foi
possível definir classes de adensamento os quais foram associados a cinco índices de impermeabilização
do solo, conforme Tabela 2.1.

Tabela 2.1 - Classes de adensamento urbano mapeadas e seus respectivos índices de impermeabilização

Classe de ocupação urbana Classe de impermeabilização


Área urbana consolidada com alta taxa de ocupação 0,70 - 0,95
Área urbana consolidada com média taxa de ocupação 0,50 - 0,70
Área urbana não consolidada com taxa média de ocupação 0,35 - 0,50
Área urbana não consolidada com taxa baixa de ocupação 0,20 - 0,35
Área urbana em implantação 0,10 - 0,20

Também utilizando técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto, Polidoro & Pereira


Neto (2009) avaliaram a expansão da mancha urbana de Londrina - PR, utilizando imagens do satélite
Landsat 5, sensor TM bandas 3, 4 e 5 nas combinações 5R 3G 4B, pois são as mais indicadas para estudo
de uso do solo.
Oliveira & Pinto (2004) analisaram as alterações no uso da terra na bacia hidrográfica do Ribeirão
São João - São Paulo utilizando fotografias aéreas e imagens de satélite Landsat/TM, bandas 3,4 e 5.
Além de possibilitar a avaliação temporal das alterações no uso da terra, os autores utilizaram o modelo
EUPS (Equação Universal de Perda de Solo) para caracterizar o potencial natural de erosão e indicar o
uso permissível de uso da terra. Os produtos do trabalho foram: mapa das classes de potencial natural de
erosão; classes de uso permissível; classe de uso inadequado (1962); classe de uso inadequado (1996);
classe de vegetação natural (1962); classe de vegetação natural (1996); cana-de-açúcar e cultural perene
(1962 e 1996);

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Mendes Júnior & Ayup-Zouain (2004), estudando a expansão urbana de Gramado, utilizaram
plantas cadastrais de 1984 e fotografias aéreas de 1999 para atualização das plantas cadastrais de 84 e
posteriormente, analisar a evolução da ocupação, na escala 1:5.000. O resultado da expansão urbana em
Gramado foi dado pelo número de edificações por bairro e pela área urbana total de Gramado para 1984 e
1999. Com base nesses dados, calculou-se o percentual e a posição dos centróides para as datas estudadas,
permitindo a determinação da magnitude e do sentido da expansão da ocupação urbana.
Souza e Costa (1998) avaliaram o processo de verticalização de São José dos Campos utilizando
fotografias aéreas de diferentes épocas, com escalas díspares. O resultado encontrado para o processo de
verticalização de São José dos Campos foi obtido com a elaboração de croquis interpretados diretamente
sobre fotografias aéreas. Na fotointerpretação deu-se ênfase em demarcar os edifícios, unidade por
unidade, obtendo posteriormente, o percentual de edifícios em relação a datas anteriores.
A utilização de imagens temporais nos estudos de expansão urbana é comumente utilizada para
trabalhos de prognóstico, ou seja, a partir de uma sucessão de imagens apontar os problemas futuros que
poderão ser encontrados caso a ocupação se mantenha neste ou naquele sentido. É comum nos trabalhos
dessa natureza, a relação entre a ocupação com aspectos do meio físico, geologia, geomorfologia,
pedologia e geotecnia.
Higashi & Hochhein (2004) analisaram a expansão urbana do município de Tubarão-SC,
utilizando imagens de três momentos distintos. As imagens foram o resultado da transformação de
arquivos vetoriais para arquivos raster. A partir de polígonos de ruas, bairros e mancha urbana de cada
época foram transformados em raster para posterior sobreposição das épocas.
A visualização do crescimento urbano de Tubarão em três momentos possibilitou a visualização
de vetores de crescimento, que os autores chamaram de vetores de crescimento externos (aqueles que
ocorriam nas adjacências do limite de cada época) e vetores de crescimento interno (aqueles que ocorriam
em espaços vazios dentro da mancha já consolidada). Relacionando os tipos de solo e declividade,
Higashi & Hochhein (2004) caracterizaram os locais de adensamento futuro.
Itabirito, município localizado a sudoeste do Quadrilátero Ferrífero - Minas Gerais, apresenta
inúmeras formas erosivas que foram mapeadas por Santos et. al., (2004). Nas bacias hidrográficas que
abastecem a região foram mapeadas voçorocas que podem atingir 300 metros de comprimento, 200
metros de largura com até 50 metros de profundidade, causando prejuízos nas propriedades rurais,
remoção da camada fértil do solo e assoreamento dos córregos.

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Oliveira, L.D.2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências.

O mapeamento foi realizado com auxilio de fotografias aéreas e ortofotos de períodos diferentes
para cadastro e análise da evolução das feições no município. As feições erosivas foram caracterizadas
segundo seus aspectos físicos, cobertura vegetal, uso do solo, tipo de solo, geologia e geomorfologia. A
geomorfologia foi descrita quanto à morfologia (forma e vertente) e morfometria (amplitude, altimetria e
declividade).
Semelhante a Itabirito - Minas Gerais, o município de São Pedro - São Paulo também sofre com a
ocorrência de inúmeras feições erosivas. Ferreira & Pejon (2004) ao mapear essas feições, realizaram
cadastro em fotografias aéreas para os anos de 1962, 1972, 1978, 1988, 1995 e 2000. As feições foram
caracterizadas segundo o tipo, evolução, localização e uso do solo.

2.4.CONTRIBUIÇÕES AO USO DO SOLO EM OURO PRETO


Em Ouro Preto já foram realizadas algumas contribuições ao planejamento do uso do solo, entre
eles destacam-se:
a) 1967 - Arquiteto Viana de Lima;
b) 1975 - Fundação João Pinheiro - Plano de conservação, valorização e desenvolvimento de
Ouro Preto e Mariana;
c) 1982 - Carta Geotécnica de Ouro Preto (Edézio T. Carvalho);
d) 1992 - Terceiro plano diretor - arquiteto Ivo Porto de Meneses;
e) 1996 - Segunda carta geotécnica de Ouro Preto - Marta de Souza;
f) 1996 - Lei Complementar n°01/96 - Plano diretor do município de Ouro Preto. Aprovada em
19 de dezembro de 1996.
g) 2006 - Lei complementar n°29/06 - Plano diretor do município de Ouro Preto. Publicado em
28/12/2006.
Numa altura que os monumentos históricos eram individualmente tratados como construções de
valor artístico e cultural, a preservação de um conjunto urbano consistiu numa inovação, levada a cabo
pela criação de um sistema de preservação do patrimônio. O conjunto arquitetônico e urbanístico de Ouro
Preto, cidade elevada a monumento nacional em 1933, foi tombado em 1937 pelo IPHAN.
Em meio à deficiência dos meios de comunicação, o IPHAN propôs a Viana de Lima, na
qualidade de consultor da UNESCO, a elaboração de um estudo de preservação sobre a cidade de Ouro
Preto.

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Telles (1996 apud Ramos & Matos 2008) afirma que o projetista analisou o centro histórico e seu
sítio, propondo medidas práticas, como as de normalização do trânsito, indicação de áreas de preservação
rigorosas e implantação de unidades turísticas. A estadia se estendeu por três meses e se desenrolou entre
1968 e 1970.
Outra tentativa de planejamento foi o Plano de Conservação, Valorização e Desenvolvimento de
Ouro Preto e Mariana (1973-75), executado pela Fundação João Pinheiro. Esse plano desestimulava o
adensamento dos centros históricos de Ouro Preto e Mariana, bem como propunha áreas de expansão com
tratamentos e ocupações diferenciados em função da proximidade dos dois centros.
Os dois planos criados no final dos anos 60 e início dos 70, voltados, dentre outros fatores para
salvar Ouro Preto de uma total degradação e descaracterização, não foram implementados por não
condizerem com a realidade local. Ambos os planos resultaram na elaboração de propostas semelhantes, a
elaboração de um zoneamento da cidade e dos arredores que separasse a área de expansão da parte
histórica da cidade, afirma Cifelli (2005).
O direcionamento das ações por parte do IPHAN e Fundação João Pinheiro apesar de não terem
sido suficientes para conter o processo de descaracterização do entorno, possibilitou um grau de
preservação patrimonial satisfatório, levando ao tombamento do acervo arquitetônico e urbanístico de
Ouro Preto pela UNESCO, em 1980. Nesse momento, intensifica-se o setor industrial e de serviços no
município, causando uma intensa migração dos distritos para a sede, aumento o crescimento desordenado
e a descaracterização paisagística do entorno, afirma Cifelli (2005).
Nesse contexto, no início da década de 1980 foi elaborada a Carta Geotécnica de Ouro Preto
(Carvalho 1982). Trabalho que procurou estabelecer, no entorno do centro histórico de Ouro Preto, a
qualidade geotécnica dos terrenos. Estabelecendo três níveis de qualidade (Q1, Q2 E Q3 - boa qualidade,
média qualidade e baixa qualidade, respectivamente) para orientação da expansão urbana do núcleo
urbano, principalmente. No entanto, nos anos que se seguiram, o processo de adensamento continuou na
periferia da cidade sem a orientação de nenhum instrumento de planejamento urbano eficaz.
Na década de 1990, na tentativa de proteger seu patrimônio cultural e ambiental frente ao
desenvolvimento da cidade, em 1992 foi elaborado o plano diretor pelo arquiteto Ivo Porto de Menezes,
que nunca foi apresentado e do qual não se tem registro (Sobreira 2010, informação verbal). De 1993-96
foi elaborado outro plano diretor, iniciativa do governo municipal, mas que apesar de não ter sido
implantado pelo governo seguinte, criou as zonas de proteção especial, zonas de proteção paisagística e
ambiental, zonas de controle paisagístico e ambiental, zonas de adensamento e zonas de expansão.

31
Oliveira, L.D.2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências.

Em 2006 é aprovada a Lei Complementar 29/03 que institui o plano diretor do município de Ouro
Preto. Esta última lei em vigor atualmente está de acordo com a Constituição da República Federativa do
Brasil, com o Estatuto da Cidade e a Lei orgânica municipal. Destaca-se no texto da lei um dos objetivos
que se relacionam com o presente trabalho:

a) Planejar a expansão das áreas urbanas do município de modo a adequar sua ocupação ás
condições do meio físico e à oferta de infra-estrutura, bem como às necessidades de proteção
do patrimônio natural e cultural (art.4, parágrafo V).

O quadro de descaracterização do patrimônio arquitetônico e cultural e o crescimento


desordenado sobre áreas de risco, sítios arqueológicos e de áreas verdes fez com que a cidade sofresse
ameaças de perder o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. Problemas como tráfego de veículo
pesados, infra-estrutura de saneamento precária e obra irregulares nas encostas da cidade, continuam
precisando de ferramentas que possam auxiliar no planejamento urbano da cidade.

32
CAPÍTULO 3

MATERIAIS E MÉTODOS

A adoção dos materiais e técnicas que serão descritos teve a finalidade de atender ao objetivo
geral desse trabalho que foi a análise da ocupação urbana no distrito sede de Ouro Preto a partir de 1950.
O trabalho foi executado em cinco fases concomitantes, com exceção das fases 2 e 3 que
aconteceram uma após a outra (figura 3.1). A fase 1 - Pesquisa bibliográfica - se estendeu durante todo o
trabalho. Porém, inicialmente concentrou-se no levantamento de materiais disponíveis sobre a cidade de
Ouro Preto, principalmente dissertações, teses, laudos técnicos e material cartográfico em meio digital ou
impresso. À medida que transcorria, a pesquisa bibliográfica foi se concentrando em tutoriais do ArcGIS
9.1, artigos e teses sobre análise temporal, aspectos geotécnicos da cidade, expansão urbana, métodos de
análise do meio físico para compor a revisão bibliográfica.
A fase 2 - Elaboração da base cartográfica se iniciou à medida que eram adquiridos os materiais
cartográficos. Junto à Prefeitura Municipal de Ouro Preto conseguiram-se as informações sobre
arruamentos, nomes de bairros, limite de bairros. Junto ao Departamento de Geologia da UFOP obteve-se
a geologia, topografia nas escalas 1:5.000 e 1:25.000 e a hidrografia, tudo em meio digital. No material
impresso se obteve as informações referentes ao cadastro de movimentos de massa em Ouro Preto e a
evolução urbana de Ouro Preto entre o século XVII e 1940, além das fotografias aéreas.
Uma vez definido o recorte da área de estudo e georreferenciados todos os planos de informação
deu-se inicio a 3ª fase de elaboração dos mapas. Os mapas dividem-se entre temáticos e compilados. Os
primeiros foram aqueles elaborados pelo autor a partir da pesquisa e os que sofreram adaptações de outras
fontes. Os compilados foram aqueles que não passaram por adaptações, apenas foram vetorizados para
passar as informações para o meio digital. Entre os temáticos estão a declividade, hipsometria, geologia e
elaborados a partir da interpretação de fotografias aéreas, os mapas temporais do núcleo urbano de Ouro
Preto (1950, 1969, 1978, 1986 e 2004), além dos mapas de landform e de mineração. Entre os compilados
estão o de cadastro de movimentos de massa na área urbana de Ouro Preto e o mapa de evolução urbana
entre 1698 e 1940.
À medida que os mapas foram sendo feitos para a pesquisa em formato A4, elaborou-se um
mesmo mapa em formato A3 para as campanhas de campo - Fase 4 - para a validação das informações
levantadas em escritório.
Oliveira, L.D.2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências.

A última fase do trabalho foi a análise temporal da evolução urbana da cidade de Ouro Preto.
Partindo dos mapas das décadas de 1950, 1969, 1978, 1986 e 2004 elaborou-se o último produto
cartográfico do trabalho que foi o mapa de áreas de tendências a expansão urbana. Associando às áreas de
tendências informações de litologia, declividade, movimentos de massa, geotecnia e uso e ocupação do
solo foi possível analisar cada área separadamente quanto a capacidade de adensamento futuro.

Fase 1 - Pesquisa bibliográfica

Fase 2 - Elaboração da base cartográfica

Topografia Topografia
1:5.000 Hidrografia Geologia Arruamentos Limite de bairros 1:25.000

Fase 3 - Elaboração dos mapas


Temáticos
Compilados
Declividade Hipsometria Geologia

Movimento de massa Evolução urbana 1698


- 1940
Fotointerpretação

Landform Mineração

1950 1969 1978 1986 Fase 4 - Campanhas de campo


2004

Fase 5 - Áreas de tendências à expansão urbana

Figura3.1 - Fluxograma representando as etapas de realização da pesquisa

34
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

3.1. FASE 1 - PESQUISA BIBLIOGRÁFICA


A pesquisa bibliográfica foi uma etapa que se estendeu ao longo de todo o trabalho. Entretanto, a
pesquisa inicial teve como orientação a preparação para a fase seguinte que foi a preparação da base
cartográfica.
Inicialmente decidiu-se por buscar dados disponíveis que estivessem em meio digital. Para tanto,
foram iniciadas buscas nos órgãos da prefeitura, responsáveis pela parte de planejamento da cidade.
Foram realizadas visitas à Secretaria de Obras, à Secretaria de Patrimônio e levantamentos aos arquivos
de teses, monografias, relatórios de pesquisa e dissertações.
Junto à Secretaria de Obras, obteve-se a maior parte dos dados digitais sobre a cidade. Em sua
totalidade eram arquivos no formato DWG. Os arquivos foram produtos do plano diretor municipal de
2006, Lei Complementar Nº28/2006. Contam nesses arquivos, um Mapa do Município com informações
sobre os limites dos bairros, arruamentos, hidrografia, nome das ruas e bairros.
Na Secretaria de Patrimônio, foram cedidos somente arquivos sobre o Zoneamento do Plano
Diretor, em formato PDF (que foram utilizados para consulta a informações gerais do município).
Quanto às teses e dissertações, estas foram base para grande parte das informações compiladas ou
criadas no trabalho de confecção dos mapas básicos. A topografia, geologia, a rede hidrográfica da área
urbana de Ouro Preto são alguns desses documentos.
As fotografias aéreas (1950, 1969, 1978 e 1986), base dos mapas de evolução da área urbana,
fazem parte do acervo do Departamento de Geologia.
À medida que se desenvolvia o trabalho tornava-se necessário buscar por novos planos de
informação que complementariam os resultados gerados, principalmente quanto às características
geotécnicas dos terrenos e áreas de risco a movimentos de massa, na área urbana da cidade. Mas o
objetivo no primeiro momento foi de buscar elementos para subsidiar a preparação da base cartográfica.

3.2. FASE 2 - ELABORAÇÃO DA BASE CARTOGRÁFICA


Todos os dados do trabalho foram gerados utilizando o software ArcGIS 9.1. A base cartográfica
foi constituída pelos planos de informações considerados principais para estudos em áreas urbanas, foram
os seguintes:
• Topografia - escala 1:5.000. Levantamento aerofotogramétrico e restituição elaborada por
Planag Ltda - original em papel. A digitalização das curvas de nível está disponível no
acervo do Departamento de Geologia da UFOP;
• Topografia - escala 1:25.000 - Projeto de integração e correção cartográfica da Geologia
do Quadrilátero Ferrífero (UFMG & CPRM, 2004 - cd-rom);
35
Oliveira, L.D.2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências.

• Rede hidrográfica - extraída por fotointerpretação pelo próprio autor;


• Geologia - escala 1:25.000 - Projeto de integração e correção cartográfica da Geologia do
Quadrilátero Ferrífero (UFMG & CPRM, 2004 - cd-rom);
• Arruamentos e vias de acesso, 1:5.000 - Mapa Município Completo.dwg - CAD - 2000 -
Cedido pela Prefeitura Municipal de Ouro Preto;
• Limite de bairros - Mapa Município Completo.dwg - CAD - 2000 - Cedido pela
Prefeitura Municipal de Ouro Preto.
Reunidos todos os planos de informações, decidiu-se adotar na base cartográfica o sistema
geodésico Córrego Alegre. Para a vetorização das feições urbanas das diferentes épocas (1950, 1969,
1978, 1986 e 2004), foi utilizada uma ortofoto da CEMIG de 1987, na qual estava em Córrego Alegre.
Portanto, a escolha do datum cartográfico foi baseada na ortofoto.

3.3. FASE 3 - ELABORAÇÃO DOS MAPAS TEMÁTICOS.


Organizada a base cartográfica (topografia, vias de acesso e os bairros), se seguiram as etapas de
elaboração dos mapas que deram suporte ao trabalho. Alguns mapas de nível temático foram compilados
de trabalhos anteriores e outros produzidos pelo autor.

3.3.1. Mapas compilados


Mapa de ocupação urbana de Ouro Preto (MG) entre 1698 e 1940
Extraído do relatório técnico do IGA (1995a), em papel. O mapa elaborado pelo IGA mostra a
evolução urbana de Ouro Preto de 1698 aos dias atuais, mas sem detalhes. Dessa forma, optou-se por
manter as feições do mapa original até 1940 e excluir o restante - 1950 em diante - visto que o presente
trabalho produziu mapas com mais detalhes para essas épocas.
As feições do mapa original foram transferidas para a base cartográfica digital por vetorização. A
partir da visualização no original das feições correspondentes a cada época, foi elaborado um polígono
semelhante na base digital.

Carta de ocorrência de movimentos de massa e Carta de risco a escorregamentos de massa


Castro (2006) registrou em seu trabalho as ocorrências de movimentos de massa que aconteceram
na cidade de Ouro Preto entre 1988 e 2003. A partir das ocorrências que foram registradas, criou-se um
arquivo do tipo "ponto" para que as informações pudessem ser compiladas. Utilizou-se uma base
cartográfica que continha informações de arruamentos e topografia para a inserção dos pontos.

36
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Com ocorrências de 1988 até 2003 já compiladas, foi possível repetir o procedimento de Castro
(2006) para a geração de uma carta de risco a escorregamentos de massa em Ouro Preto. Para tal, foi
utilizado o procedimento de densidade kernel do ArcGIS9.1. Esse procedimento cria zonas
correspondentes a densidades de pontos. Portanto, os locais onde ocorreram os maiores e menores
números de ocorrências destacam-se na carta como zonas distintas. Castro (2006) adotou três classes na
carta de risco, risco baixo, risco médio e risco alto, determinadas segundo a incidência de
escorregamentos no período observado.

Mapa litoestratigráfico
A confecção do mapa litoestratigráfico foi realizada a partir do Projeto de integração e correção
cartográfica da Geologia do Quadrilátero Ferrífero (UFMG & CPRM, 2004), escala 1:25.000.
De maneira similar à topografia, aqui também foi necessário o recorte da área de estudo.
Selecionada a área, teve-se que decidir quais informações geológicas seriam úteis para esta escala de
trabalho. Decidiu-se por trabalhar com as informações de Grupos, Formações e Unidades.

Mapa topográfico - escala 1:5.000


A topografia nessa escala foi utilizada para gerar as cartas de declividade cada bairro
separadamente. Foi realizado um recorte - clip - na topografia para cada bairro com tendências à expansão
urbana em Ouro Preto. Isso foi possível pois os polígonos correspondentes aos bairros fazem parte da
base cartográfica deste trabalho. Trabalhando somente com os bairros de interesse foi possível extrair a
topografia desejada.
Realizado o recorte, o procedimento seguinte foi a elaboração da carta de declividade. Elaborada
a partir do mapa topográfico, expressa em porcentagem, como é comumente feito, foi preciso definir as
classes de declividade que seriam adotadas. Para auxiliar na definição, compararam-se alguns trabalhos já
realizados na região de Ouro Preto (Souza 1996, Bonuccelli 1999; Fontes & Pejon 1999; Fontes 1999;),
assim como a Lei Federal 6766/79 (Brasil 1979) e a Lei Federal 4771/65 (Brasil 1965). Desse modo,
ficaram estabelecidas cinco classes de declividade, conforme mostra a tabela 3.1.

Tabela 3.1 - Classes de Declividade da área de estudo

CLASSES DECLIVIDADE (%) INCLINAÇÃO (°)


1 < 15 < 8°32'
2 15 – 30 8°32' - 16°42'
3 30 – 45 16°42' - 24°14'
4 45 – 100 24°14' - 45°
5 >100 > 45°

37
Oliveira, L.D.2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências.

3.3.2. Mapas temáticos gerados:


Mapa hipsométrico - escala 1:25.000
A topografia foi retirada em meio digital do projeto de integração e correção cartográfica da
Geologia do Quadrilátero Ferrífero (UFMG & CPRM, 2004 - cd-rom). Foi necessário fazer um recorte no
arquivo original para se obter somente a área desejada, que corresponde à área urbana do distrito-sede de
Ouro Preto. No ArcGIS foi possível separar em classes altimétricas o mapa de topografia, dando origem
ao mapa hipsométrico com curvas de nível com equidistância de 20m.

Mapa de áreas de mineração em Ouro Preto (MG)


Foi elaborado por fotointerpretação das fotografias aéreas dos anos de 1950 e 1969, por
apresentarem uma ocupação urbana ainda incipiente sobre as áreas de mineração. As fotografias mais
antigas possibilitaram melhor clareza e rapidez na demarcação das feições. As feições identificadas nas
fotografias foram posteriormente vetorizadas no ArcGIS 9.1.
Depois de completo o procedimento anterior, decidiu-se comparar a evolução da ocupação
urbana, nas diferentes épocas, sobre as áreas de mineração, na cidade de Ouro Preto. Como ambos os
dados (áreas de mineração e ocupação urbana) estavam representados vetorialmente foi necessário
transformá-los para o formato raster para tornar o processo de análise mais simples.
O método escolhido foi a análise booleana. O método booleano considera cada mapa temático
como um nível de evidência. Portanto, nesse caso têm-se dois níveis de evidência ou fator, áreas de
mineração e ocupação urbana. Combinados, eles podem elaborar uma hipótese ou proposição, sendo que
cada componente de um nível é classificado com satisfazendo (1) ou não satisfazendo (0) a hipótese.
As principais operações são And e Or. A primeira resulta em uma imagem combinada que é a
interseção dos dois níveis de evidência e a segunda, resulta em uma imagem combinada que é a união dos
dois níveis.
O procedimento foi repetido três vezes, uma para cada período de ocupação urbana (1978, 1986 e
2004). Para cada período, foi realizada a operação booleana And entre o nível de informação áreas de
mineração e o nível ocupação urbana correspondente. O resultado foi a interseção dos dois níveis gerando
o mapa de ocupação sobre áreas de mineração.

Mapa de Landform
Para elaboração do mapa de landform adaptou-se a metodologia de Técnica de Avaliação de
Terreno proposta por Lollo (1995). Utilizou-se de fotointerpretação para reconhecimento das unidades de
relevo.

38
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

O reconhecimento do Sistema de Terreno - primeiro nível hierárquico - foi efetuado a partir de


treze perfis topográficos longitudinais na área de estudo. Uma análise conjunta de todos os perfis permitiu
identificar um padrão geométrico nas landforms presentes na cidade
Para a caracterização tanto do Sistema quanto das Unidades de Terreno procederam-se as
seguintes etapas: (1) Interpretação de fotografias aéreas da região de Ouro Preto. Optou-se pelas
fotografias de 1969, escala 1:10.000, por apresentar uma escala de detalhe e ao mesmo tempo uma visão
regional da área.urbana (2) elaboração de perfis topográficos longitudinais; (3) generalizações; (4)
fotointerpretação final; (5) elaboração do Mapa de Landforms.
É importante ressaltar a utilização do ArcGIS, que veio somar à análise. Neste caso, utilizaram-se
o Modelo Digital de Elevação e o Mapa Hipsométrico, geradas automaticamente pelo SIG.
Em seguida ao acima descrito e reconhecidas as geometrias do relevo, prosseguiu-se para a
classificação, adaptando a metodologia de Lollo (1995) à realidade local. Assim, ficaram estabelecidas
seis unidades de relevo.

3.3.3.Mapas da área urbana de Ouro Preto


Foram vetorizadas sobre a ortofoto da CEMIG de 1986 a partir da interpretação das fotografias
aéreas das diferentes épocas.

Área urbana de 1950


As feições da área urbana de 1950 foram identificadas por fotointerpretação em fotografias da
mesma época em escala 1:25.000. Finalizada a interpretação, o passo seguinte foi vetorizar as feições da
mancha urbana no ArcGIS 9.1. A mancha urbana que se encontra no mapa de 1950 é um atributo do tipo
polígono.

Área urbana de 1969


Semelhante ao processo anterior, o mapa da área urbana de 1969 também foi realizado a partir de
fotointerpretação em fotografias da mesma época, escala 1:10.000. Como a escala da fotografia é maior
do que a anterior, foi necessário um número maior de observações no estereoscópio, uma vez que o
número de cenas para o recobrimento da área é maior. Prosseguiu-se com a vetorização no ArcGIS 9.1. da
feições interpretadas. A mancha urbana de 1969 é um atributo do tipo polígono.

39
Oliveira, L.D.2010. Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 a 2004 e atuais tendências.

Área urbana de 1978


Foi elaborado a partir da interpretação de fotografias aéreas de 1978, na escala 1:8.000. Após a
delimitação das feições urbanas nas fotografias aéreas, partiu-se para a digitalização das mesmas. Dessa
forma, foi criado um arquivo do tipo polígono onde foram editadas as feições encontradas nas fotografias.
As feições foram lançadas em uma ortofoto de 1987 da Cemig, escala 1:10.000.

Área urbana de 1986


Foi elaborado a partir de fotografias aéreas de 1986 (Cemig), na escala 1:30.000. Buscou-se
demarcar as edificações ou os locais com o uso caracterizado como urbano.
Para a transformação em meio digital das feições urbanas de 1986, foi um criado um arquivo do
tipo polígono, onde foram editados os levantamentos realizados no estereoscópio. Os polígonos foram
lançados sobre uma ortofoto da Cemig de 1987, escala 1:10.000.

Área urbana de 2004


A área urbana deste ano foi delimitada numa imagem Quickbird. Não foi realizado nenhum
processamento digital na imagem de satélite, essa serviu de base para a vetorização das feições urbanas de
2004, que foram apoiadas por fotointerpretação, em fotografias da mesma época. A mancha urbana de
2004 é um arquivo do tipo polígono.

Mapa de tendências de expansão na área urbana de Ouro Preto - MG


Terminados os cinco levantamentos (1950, 1969, 1978, 1986 e 2004), resultado da interpretação
das fotografias aéreas, seguido de vetorização, deu-se seguimento à identificação das tendências de
expansão urbana.
A demarcação das áreas de tendências à expansão urbana se deu de forma visual, a partir da
sobreposição de todos os cinco polígonos criados por vetorização no ArcGIS. Não foi testado nenhum
modelo de simulação de crescimento em ambientes urbanos.
A partir da visualização foram destacadas dez áreas que mais se expandiram entre 1986 e 2004
para posterior análise de tendência à expansão urbana.

3.4. FASE 4 - CAMPANHAS DE CAMPO

40
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Após a etapa de criação dos mapas da área urbana de Ouro Preto, prosseguiu-se com as
campanhas de campo. Nesta etapa o objetivo foi validar as informações interpretadas e representadas nos
mapas. A validação serviu para corrigir distorções ou aspectos de difícil identificação, além de verificar a
certeza das informações geradas. As campanhas foram nas áreas identificadas com potencial à expansão
urbana, e não na cidade inteira. Foram realizadas cinco campanhas, com o intuito de visualizar algum
padrão construtivo nas áreas de tendências e se essas estavam de acordo com o identificado no mapa de
tendências à expansão urbana. Nas campanhas de campo foram utilizados os seguintes mapas:

1. Mapa dos bairros de Ouro Preto;


2. Mapa litoestratigráfico;
3. Mapa hipsométrico;
4. Mapa de Landform;
5. Carta de declividade;

3.5. FASE 5 – ANÁLISE DAS ÁREAS DE TENDÊNCIA À EXPANSÃO URBANA


Por fim, finalizadas as etapas de elaboração dos mapas temáticos da área urbana e campanhas de
campo, prosseguiu-se com a análise de cada uma das dez áreas com tendências à expansão ou
adensamento urbano. Essa análise, de caráter qualitativo, objetivou levantar o quadro atual e futuro da
ocupação e suas relações com a geologia, geotecnia e declividade, predominante em cada região.
A carta de declividade de cada área foi elaborada com base na topografia 1:5.000 com curvas de
nível com eqüidistância de 5 m. A opção por trabalhar com essa ao invés da topografia 1:25.000, foi
função da necessidade de geração de classes de declividade mais detalhadas em cada bairro.
Completada a elaboração dos mapas de geologia, uso e ocupação e declividade, a etapa final foi
apontar, principalmente para aqueles locais que ainda não foram ocupados em cada área, as características
geotécnicas de cada litotipo presente, tentando contribuir para o melhor usufruto do meio físico no futuro,
respeitando as potencialidades ou proibições de cada terreno. As informações ligadas à geotecnia e
geologia de engenharia de trabalhos anteriores na cidade deram suporte para as diretrizes de ocupação em
cada área.
Por fim, de posse de todo arcabouço necessário para julgar a qualidade dos terrenos frente às
ocupações atuais, decidiu-se comparar os resultados gerados com o zoneamento proposto pelo Plano
Diretor Municipal de Ouro Preto.

41
CAPÍTULO 4
ÁREA DE ESTUDO

A área urbana do distrito-sede do município de Ouro Preto está delimitada pelos meridianos
652.635 e 659.814 e os paralelos 7.742.078 e 7.747.059 perfazendo uma área retangular de 35km²
(figura 4.1).

Figura 4.1.- Área de estudo em detalhe.

Os dois principais acessos do distrito-sede são a av. Padre Rolim que dá acesso ao Centro
Histórico de Ouro Preto e segue em direção ao distrito de Passagem de Mariana, a leste, onde passa a
chamar av. Farmacéutico Dulio Passos. O outro acesso é a BR-356 que passa por fora do Centro
Histórico. A leste segue em direção à Mariana e a oeste para o município de Belo Horizonte.
O recorte da área deu-se em função do objetivo em estudar a ocupação urbana da cidade de
Ouro Preto e também da disponibilidade de material cartográfico, principalmente, fotografias aéreas
disponíveis desde a década de 1950. O Datum Córrego Alegre foi escolhido na elaboração dos mapas,
pois o mesmo foi utilizado nos levantamentos aéreos.
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

4.1. CLIMA
O clima de Ouro Preto possui características básicas de clima tropical de montanha, em que a
baixa latitude é compensada pela atitude e conformação orográfica regional. Os verões são suaves e os
invernos são brandos com baixas temperaturas e elevada umidade atmosférica (Castro 2006). Segundo
a classificação estabelecida por Köeppen o clima de Ouro Preto, corresponde ao tipo Cwb, clima
úmido (mesotérmico), com inverno seco e verão chuvoso. Seu índice de precipitação máximo no verão
é dez vezes maior que a precipitação do mês mais seco.
A média anual da temperatura em Ouro Preto é de 18,5ºC, sendo o mês de janeiro o mais quente
e o mês de julho o mais frio. As temperaturas mais elevadas coincidem com o período chuvoso enquanto
as temperaturas mais baixas ocorrem no período seco. A temperatura média do mês de janeiro é inferior
a 22°C (IGA 1995b). A região de Ouro Preto possui alta pluviosidade, concentrada principalmente
entre os meses de outubro e março, concentrando 87% da precipitação anual. O regime pluviométrico
é caracterizado como tropical, com uma média de 1.610,1 mm anuais (série de 1988 a 2004, in Castro
2006). A altitude elevada do município é um dos fatores responsáveis pelo alto índice pluviométrico
(IGA, 1995a). A figura 4.2 apresenta as médias pluviométricas mensais de 1988 a 2004 (Castro 2006).

Índices Pluviométricos mensais (Série 1988 a 2004)


350,0 327,3
318,9

300,0
243,9
250,0
202,8
Precipitação (mm)

200,0 182,2

150,0 121,9

100,0 76,0
62,7
39,5
50,0
10,6 18,0
6,3
0,0
Abril
Janeiro

Fevereiro

Março

Maio

Junho

Julho

Agosto

Setembro

Outubro

Novembro

Dezembro

Figura 4.2. Índices pluviométricos mensais de Ouro Preto - Minas Gerais (Castro 2006).

4.2. REDE HIDROGRÁFICA


A morfologia local, condicionada por fatores estruturais, exibe ao norte da cidade a Serra de
Ouro Preto, e ao sul a Serra do Itacolomi, onde se destaca o pico homônimo, formado principalmente
por quartzitos.

43
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

A serra de Ouro Preto é o divisor de águas de duas grandes bacias hidrográficas brasileiras: a
do rio São Francisco e a do rio Doce. O Ribeirão do Carmo, um dos afluentes do Doce é a principal
bacia hidrográfica onde se insere a cidade de Ouro Preto. A bacia hidrográfica possui 134 km de
extensão e uma área de 2.279 km2, que equivale a 2,73% da bacia do rio Doce (Tavares 2006).
Dentro da cidade de Ouro Preto, o Ribeirão do Carmo recebe o nome de Ribeirão do Funil e
passa a se chamar Ribeirão do Carmo na altura de Mariana. O padrão de drenagem no Ribeirão do
Funil é predominantemente dentrítico e, no Córrego Tripuí, um dos afluentes do Ribeirão do Funil, o
padrão é retangular, como se observa na figura 4.3

Figura 4.3. Rede hidrográfica da cidade de Ouro Preto

4.3. VEGETAÇÃO
Na área em estudo podem ser observados os seguintes tipos de cobertura vegetal: “Floresta
Estacional Semidecidual Submontanha, que incluem as áreas como a mata de Candeias, Savana
Gramíneo Lenhosa (campo cerrado) e o refúgio Ecológico Altimontano (Campo rupestre) ambas
podendo ser consideradas formações abertas (IGA 1995b)

44
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Em posição mais elevada, a vegetação é de campos naturais, compostas essencialmente de


gramíneas, com subarbustos disseminados. De acordo com Souza (1996), é comum encontrar junto a
essa vegetação áreas desmatadas, resultado de diversas atividades, como minerações, implantações de
núcleos urbanos e obras de engenharia. Mesmo com a devastação, ainda ocorrem matas naturais que
são consideradas Áreas de Preservação Permanente como a Estação Ecológica do Tripuí e o Parque
Natural Municipal das Andorinhas, que faz parte da APA Estadual Cachoeira das Andorinhas.

4.4. GEOLOGIA
A cidade de Ouro Preto está localizada no flanco sul de uma estrutura regional conhecida
como Anticlinal de Mariana. A estratigrafia do Quadrilátero Ferrífero compreende quatro grandes
unidades: os Complexos Metamórficos, o Supergrupo Rio das Velhas, o Supergrupo Minas e o Grupo
Itacolomi. No contexto da cidade, ocorrem as três últimas unidades. O SGRV é representado pelo
Grupo Nova Lima, com ampla distribuição a norte da Serra de Ouro Preto, já na bacia hidrográfica do
Rio das Velhas. O Supergrupo Minas é representado na cidade pelos grupos Caraça, Itabira, Piracicaba
e Sabará, distribuídos ao longo de toda estrutura antiformal, conforme ilustra a figura 4.4. A figura 4.5
mostra o mapa geológico da cidade de Ouro Preto e entorno (CPRM 2004)

45
Super-
Idade grupo Grupo Formação Litologia
quartzitos, ortoquartzitos, filitos quartzosos, filitos e
Itacolomi indiviso conglomerados com seixos de itabiritos
clorita-xisto, grauvaca, metatufos, conglomerados e
Sabará indiviso quartzitos
Barreiro filitos e filitos grafitosos
Paleoproterozóico

Piracicaba

Taboões Ortoquartzitos
Fecho do Funil filitos, filitos dolomíticos e dolomito silicoso
quartzitos ferruginosos, quartzitos, filitos
Minas

Cercadinho ferruginosos e dolomitos


Itabira

Gandarela dolomitos, filitos dolomíticos e calcários


Cauê itabiritos, itabiritos dolomíticos e hematíticos
Caraça

filitos e filitos grafitosos


Batatal
Moeda quartzitos sericiticos, conglomerados e filitos
Maquiné

quartzitos, conglomerados, sericita-quarzito-xisto e


filito
indiviso
Rio das Velhas

filitos cloríticos, filitos grafitosos, metagrauvacas e


Nova
Lima

formações ferríferas, quartzitos e metacherts,


dolomitos e rochas máficas e ultramáficas
indiviso
Arqueano

Quebra
Ossos

komatiitos, formações ferríferas e metacherts

indiviso
metamórficos
Complexos

gnaisses bandados, gnaisses migmatíticos, augen-


gnaisses e granitos

indiviso
Figura 4.4- Estratigrafia do Quadrilátero Ferrífero, com destaque para a geologia de Ouro
Preto (Cavalcanti 1999)
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Figura 4.5 - Mapa litoestratigráfico da cidade de Ouro Preto, adaptado de UFMG & CPRM (2004)

47
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

4.4.1. Supergrupo Rio das Velhas


Grupo Nova Lima

Essa unidade ocorre na porção norte da área, nas partes mais altas da serra, ocupando 20% da
área superficial. Os litotipos dessa unidade encontram-se totalmente intemperizados (Cavalcanti
1999). É composta basicamente de sericita-quartzo xisto alterados de cor rosa a roxo, formados
localmente pela intercalação de camadas milimétricas de sericita e quartzo.
O contato inferior não é observável na área. Já o contato superior com o quartzito Moeda é
altamente tectonizado, inclusive contento veios de quartzo intensamente deformados e foliação com
aspecto milonítico.

4.4.2. Supergrupo Minas


Grupo Caraça

A Formação Moeda, unidade basal, é constituída de uma sequência de quartzitos, sericita-


quartzitos e cianita-quartzitos, cianita-sericita, quartzitos brancos acizentados e amarelados de
granulometria média a fina. Observam-se também níveis conglomeráticos com seixos de quartzo e
quartzito, pouco espesso (Naline Jr. 1993). Aparece como uma escarpa contínua na forma de
homoclinal na porção central da cidade de Ouro Preto. Possui espessura de 40m e ocupa 25% da área
superficial (Cavalcanti 1999). Os contatos da Fm. Moeda com o Grupo Nova Lima (inferior) e com a
Fm.Batatal (superior) são, comumente, tectônicos.
A Fm. Batatal é constituída de níveis decimétricos a métricos de filito cinza escuro e prateado.
O mineral mais abundante é a sericita (muscovita), seguido de quartzo, zircão, rutilo e opacos.
Algumas vezes pode-se identificar finas lentes quartzíticas intercaladas. O contato da Fm. Batatal com
a Fm. Cauê é tectônico, ocorrendo grande quantidade de veios de quartzo mineralizado em ouro em
toda a extensão do contato, até a Serra de Antonio Pereira, que forma o flanco norte da estrutura
anticlinal. Tais veios foram intensamente explorados, ocorrendo inúmeras "bocas" de galeria (Naline
Jr. 1993).

Grupo Itabira

O Grupo Itabira é representado por duas formações: Cauê e Gandarela. A Fm. Cauê é
constituída de itabiritos com intensidade variável de intemperização, sendo que, em casos extremos
ocorre a formação de crosta ferruginosa. A estrutura mais marcante nos itabiritos é a alternância de
lâminas milimétricas a centimétricas de quartzo e óxidos de ferro (hematita, magnetita, martita,
limonita, etc).
O contato da Fm. Cauê com a Fm. Gandarela é gradacional, isto é, à medida que se aproxima
do contato, a porcentagem de minerais de ferro diminui e aumenta a dos minerais carbonáticos.

48
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

A Fm. Gandarela é constituída, predominantemente, por dolomitos e mármores dolomíticos de


cor creme a cinza escuro, muitas vezes bandados e localmente intercalados com níveis de óxidos de
ferro. Quando alterado, o mármore resulta em uma rocha castanho escuro possibilitando a
identificação de falhas e fraturas, as quais permitem a atuação de agentes intempéricos, promovendo a
formação de materiais de alteração ao longo das descontinuidades (Naline Jr 1993). O contato dessa
unidade com o Grupo Piracicaba não é observável.

Grupo Piracicaba

O Grupo Piracicaba é representado por quatro formações: Fm. Cercadinho, Fm. Fecho do
Funil, Fm. Taboões e Fm. Barreiro. A Fm. Cercadinho, unidade basal, é caracterizada pela presença de
quartzito ferruginoso de cor cinza esbranquiçado intercalado com níveis de filito prateado hematítico.
A Fm. Fecho do Funil, unidade que está acima da Fm. Cercadinho, é identificada por filitos, filitos
dolomíticos e clorita xistos em contato gradacional. O contato superior com as formações Taboões e
Barreiro é abrupto. A Fm. Taboões é de expressão limitada na área, representado por um quartzito
muito fino interestratificado com a Fm. Barreiro (Naline Jr. 1993), caracterizada por filito preto
grafitoso, intercalado, muitas vezes, com xisto avermelhado e sempre bastante decomposto.

Grupo Sabará

As rochas do Grupo Sabará constituem uma das unidades litológicas de maior distribuição na
área urbana de Ouro Preto. Constituí-se de xistos granatíferos amarelos a castanhos avermelhado tendo
como minerais mais comuns: quartzo, clorita, muscovita, biotita e granada. Lentes quartzíticas e
grauvacas também são identificadas. O contato com o Grupo itacolomi é tectônico.

Grupo Itacolomi

Presente no sul da área urbana de Ouro Preto, junto a Serra do Itacolomi é caracterizado por
quartzitos e metaconglomerados. Na área, apresenta estratificação cruzada tabular e acanalada de
pequeno e médio porte; o contato superior é separado do anterior por um sequência de xistos da Fm.
Sabará.

Formações superficiais

São representadas pelas cangas e ocorrem principalmente sobre itabiritos, mas também sobre
quartzitos. Formada por uma crosta ferruginosa estruturada sobre os itabiritos e com textura
fragmentária sobre os quartzitos.

49
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Portanto, como se observa na figura 4.4, segundo as características litológicas a cidade pode
ser dividida em cinco zonas diferentes. Ao norte, tem-se a Serra de Ouro Preto, área onde ocorrem as
formações Moeda, Batatal e Cauê, pertencentes ao Supergrupo Minas, sobrepostos ao xisto Nova
Lima, do Supergrupo Rio das Velhas. O morro Alto da Cruz, a leste da área urbana, é composto
predominantemente pela Formação Cercadinho e o Grupo Sabará; o Núcleo Histórico Central, no vale
principal, formado por terrenos da Formação Cercadinho; na região dos bairros Jardim Alvorada e
Vila São José, predominam as formações Barreiro e Taboões e nos bairros Morro do Cruzeiro,
Saramenha e Pocinho, na parte sul da cidade, ocorrem principalmente a Formação Fecho do Funil e o
Grupo Sabará, além do Grupo Itacolomi no bairro Novo Horizonte (Sobreira 1990).

4.5. GEOMORFOLOGIA
4.5.1. Contexto regional
Segundo a CPRM (1993 apud Tavares 2006) a geomorfologia regional é definida por duas
unidades geomorfológicas distintas: O Quadrilátero Ferrífero e os Planaltos Dissecados. A paisagem
regional evidencia a passagem do relevo típico do Quadrilátero Ferrífero, onde as serras do Caraça, de
Ouro Preto e a do Itacolomi são as feições mais marcantes a oeste, passando aos Planaltos Dissecados
na borda leste da bacia, registrando variações bruscas no relevo através da queda acentuada das
altitudes.
A primeira unidade é evidenciada na cidade, com altitudes médias em torno de 1.400-1.600 m,
sendo a morfologia marcada pelo controle estrutural e com relevos tipo sinclinais suspensos e
anticlinais esvaziados além de cristas estruturais do tipo hog back (CPRM 1993 apud Tavares 2006).
A segunda unidade é observada a partir do limite leste da cidade de Mariana, sendo um
domínio morfo-estrutural com exposição de rochas cristalinas, deformadas e deslocadas do
embasamento, atingidas por sucessivos estágios de erosão e submetidos a processos intempéricos que
produziram pacotes de alteração evoluídos (RADAMBRASIL 1983). As altitudes oscilam entre 1.000
e 1.200 m nas cristas e 500-800 m nos vales.
Os relevos de cristas e colinas constituem modelados de dissecação diferencial isolados na
primeira unidade em meio aos modelados de dissecação homogêneo, na segunda unidade. Os
primeiros são distintos pela altimetria elevada assim como pela continuidade e extensão das formas.
Estão associados os processos estruturais de elaboração do relevo, quais sejam, falhas normais como
na serra de Ouro Branco, falhas de empurrão como na serra do Caraça, ou fatores predominantemente
litológicos, como no caso da serra da Moeda (RADAMBRASIL 1983).

50
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Os relevos de dissecação homogênea, por sua vez, constituem a parte central do Quadrilátero
Ferrífero, possuindo aspectos bastante diferenciados, que abrangem desde as formas colinosas um
pouco alongadas e de topos convexizados a formas de topos aguçados e até tabulares. No fundo dos
vales, normalmente amplos e planos, formam-se pequenos alvéolos com dois níveis, sendo o mais alto
constituído por material de colúvio e o inferior, formado por sedimentos fluviais (RADAMBRASIL,
1983).
Para Marshak et.al (1997), a estruturação do Quadrilátero Ferrífero tem uma morfologia em
"domos e quilhas". Os domos correspondem a regiões em torno de 800 metros de altitude, são
constituídos por morros, com relevo "meia-laranja", formado por rochas graníticas dos complexos
metamórficos. Já as quilhas são sinclinais cujas bordas erodidas deram origem às cristas de serra,
denominado de relevo "apalachiano", num nível altimétrico acima de 1000 metros. As cristas são
formadas essencialmente por quartzitos e itabiritos da base do Supergrupo Minas. O trabalho erosivo
sobre as rochas aliado ao controle estrutural originaram o arcabouço geomorfológico da região.

4.5.2. Contexto local


O relevo da cidade apresenta uma clara dependência dos fatores geológicos. Ao norte do sítio
urbano, a Serra de Ouro Preto é o elemento principal da paisagem, exibindo cotas da ordem de 1500m
na estreita faixa do topo. O desnível em relação às partes mais baixas da cidade podem se aproximar
dos 400m de altitude. Esse interflúvio marca localmente o divisor entre as bacias do São Francisco e
do Rio Doce.
As encostas estão marcadas em vários pontos pelas formas salientes da formação ferrífera. A
essas feições morfológicas sucedem para jusante contrafortes a cotas em torno de 1150 – 1250 m que
compartimentam o meio urbano. Sobre esses espigões ou contrafortes, ou nos seus flancos,
assentaram-se as principais estruturas da cidade, como igrejas, praças, prédios públicos e ruas
principais (Carvalho 1982).
Os vales que drenam a zona urbana desembocam, no limite sul da área de ocupação mais
antiga, no Ribeirão Tripuí, que por sua vez deságua no Ribeirão do Funil. Para Carvalho (1982), a
parte principal da cidade está, portanto, situada numa faixa topograficamente deprimida, coincidente
com a parte mais antiga da Fm. Cercadinho, onde pontificam as colinas e contrafortes fundidos às
falhas da Serra de Ouro Preto, que dão lugar, no sentido sul, para os alteamentos moderados da área de
ocorrência da Fm. Sabará.

51
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Sobreira (1990) divide a área urbana de Ouro Preto em cinco domínios morfológicos
principais, com base nas características geológico-geotécnicas e de ocupação. Os domínios são os
seguintes: Serra de Ouro Preto; Morro do Alto da Cruz, Morro do Cruzeiro; Vale da Vila São José/
Jardim Alvorada e o Vale do Núcleo Histórico. Segundo Sobreira (1990) existem dois tipos básicos de
encostas: um onde o pendor é concordante com o mergulho das rochas e outro em que o pendor é
oposto ao mergulho, demonstrando o controle do relevo condicionado fortemente pela geologia.

4.6. GEOTECNIA
Atributos geotécnicos do meio físico como águas superficiais, águas subterrâneas,
morfometria e morfologia de encostas, substrato rochoso, processos geodinâmicos, materiais
inconsolidados, feições do tecnógeno, vegetação, clima e processos antrópicos são comumente usados
para a elaboração de mapas ou cartas geotécnicas, que segundo Zuquette & Gandolfi (2004) são
necessários para atender as formas de ocupação mais freqüentes no Brasil como: áreas urbanizadas,
áreas regionais e áreas rurais.
Especialmente na cidade de Ouro Preto, diversos autores estabeleceram diretrizes para o
adequado uso do solo urbano tanto no âmbito geral da cidade como em casos mais específicos, entre
eles se destacam Carvalho (1982), Sobreira (1998), Sobreira (1989), Silva (1990), Sobreira (1990),
Sobreira & Bonuccelli (1990), Sobreira (1991), Gomes & Oliveira Filho (1993), Zenóbio (1996),
Souza (1996), Sobreira (1997), Oliveira & Dias (1997), Fernandes (2000), Bonuccelli (1999), Fontes
(1999), Fontes & Pejon (1999), Zenóbio (2000), Carvalho (2001), Sobreira (2001), Pinheiro (2002),
Pinheiro et. al, (2002), Rodrigues (2002), Pinheiro et.al (2003), Pinheiro et. al, (2004), Ferreira (2004)
e Ferreira et. al, (2004).
Souza (1996) assevera que a área urbana de Ouro Preto possui uma diversidade litológica
acentuada, apresentando variados graus de alteração e arranjos estruturais complexos. Estas condições
propiciam um comportamento geotécnico diferenciado nas rochas em um mesmo perfil, como se
observa na tabela 4.1.

52
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Tabela 4.1 Parâmetros geotécnicos da cidade de Ouro Preto (MG), adaptado de Silva 1990.

DESCRIÇÃO GERAL DE ALGUNS PARÂMETROS GEOTÉCNICOS


Escoamento
Escavação Perfuração Infiltração Erodibilidade Estabilidade da encosta
superficial
Pobre para boa. Estabilidade controlada pelas
Muito difícil, Moderadamente
Canga

Devagar para fraturas e tipo de material subjacente. É arriscado


geralmente requer o Muito difícil rápido para muito Muito devagar
moderado fazer cortes que exponha o itabirito friável ou outro
uso de dinamites rápido
material de baixa capacidade de carga

Insignificante na Se o material estiver intemperizado ele pode suportar


Sabará

Fácil a moderadamente Moderadamente


Xisto

Fácil rocha ou nas Moderado para rápido estruturas leves. Estruturas pesadas devem assentar
difícil resistente
fraturas sobre a rocha sã.
Pobre a normal e controlada pela posição da foliação
Barreiro

Devagar na rocha Moderadamente e grau de intemperismo. Há risco quando a foliação


Filito

Geralmente fácil Fácil Rápido


e fraturas erodível mergulha no corte, ou quando a rocha é muito
fraturada ou muito intemperizada
Quartzito
Taboões

Fácil a moderado a rápido


Muito fácil moderadamente na rocha e nas moderado a devagar muito erodivel Muito pobre devido a alta friabilidade dessa rocha.
difícil fraturas
quartzito Fecho do

Insignificante na
Moderadamente Pobre a boa. Controlado pela direção da foliação e
Filito

Cercadinho Funil

Fácil Fácil rocha ou nas Rápido a moderado


erodível das fraturas.
fraturas

Moderadamente
Filito e

Moderado a Moderadamente Apresenta risco devido ao alto grau de fraturamento


Difícil difícil a muito moderado a devagar
rápido erodível dessas rochas
defícil
Gandarela
Dolomito

Insignificante na
Difícil, geralmente Boa a excelente, controlado pela direção dos estratos
Muito difícil rocha, devagar nas Rápido Muito resistente
requer explosivos e fraturas.
fraturas

53
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Fácil com equipamento


Itabirito Cauê

adequado quando o Pobre a boa. Controlado pela direção da foliação,


Fácil para o
itabirito está friável. moderado a rápido Geralmente fraturas e friabilidade. É potencialmente perigoso
itabirito friável,
Caso contrário, a através das moderado a devagar muito erodível quando a camada superficial mergulha na direção do
difícil para o
escavação é muito fraturas quando friável corte, ou quando a rocha é muito fraturada ou
itabirito são.
difícil e requer friável.
explosivos

Erodível quando
Devagar próximo
Filito Batatal

intemperizado, Pobre a boa. Controladao pela direção da foliação,


a superfície
Quebra facilmente moderadamente fraturas e grau de intemperismo. Oferece risco
Fácil através de fraturas, Moderado a rápido.
paralelo a foliação resistente quando a foliação mergulha no corte ou quando a
insignificante em
quando a rocha rocha é muito fraturada ou imtemperizada.
profudidade.
é nova.
Difícil com rippers e
Xisto Nova Quartzito

Boa a excelente para o quartzito são. Nesse caso,


Moeda

scrapers no quartzito Moderado a


Muito difícil Moderado a devagar Resistente alto fraturamento na rocha e encostas íngremes
são. Requer explosivos rápido
podem causar a queda de blocos.
nesse caso.
Quebra facilmente Normal a arriscado; moderado a alto risco de
Fácil a Insignificante na Moderadamente
paralelo a foliação, escorregamentos. Salvo onde o ângulo de corte na
Lima

moderadamente rocha ou nas Rápido a moderado erodível a muito


escavação facíl a encosta é controlado pela direção da foliação e
difícil fraturas erodível
moderadamente difícil. fraturas.

54
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Souza (1996), em mapeamento geotécnico de Ouro Preto efetuou a caracterização do substrato


rochoso em função dos tipos de rochas, litotipos e graus de alteração. As rochas presentes na área
foram divididas em dois grupos litológicos: as rochas brandas e as rochas duras. Rochas brandas são
aquelas que cedem facilmente à pressão, apresentando geralmente dificuldade em definir com precisão
os limites de resistência que devem ser adotados para a construção. Já as rochas duras são
predominantemente sãs e com alta resistência (à compressão simples) e durabilidade do ponto de vista
da utilização como materiais de construção. Dessa forma o substrato rochoso da cidade se apresentaria
como mostram as tabelas 4.2 e 4.3:

Tabela 4.2 - Qualidade geotécnica do litotipos locais (Souza 1996)

Tipo de rocha Litologia Litotipos Características Grau de alteração Coluna estratigráfica


principais
Dura (d) Quartzito (qz) Qzd4 Coeso/estratificações I/II Grupo Itacolomi
Qzd3 Coeso em subsuperficie II/III Fm Tabões/Barreiro
Qzd2 Coeso/ferrugionoso II/III Fm Cercadinho
Qzd1 Blocos rochosos I/II Fm Moeda
Branda (b) Quartzito (qz) QzB4 Friável III/IV Grupo Itacolomi
QzB3 Extremamente friável IV Fm Tabões/Barreiro
QzB2 Friável, película III/IV Fm Cercadinho
QzB1 protetora de óxidos III/IV Fm Moeda
níveis sericiticos,
fraturados
Dura (d) Itabirito (itb) Itb D Compacto I/II Fm Cauê
Branda (b) Itabirito (itb) Itb B Friável/fraturado III/IV Fm Cauê
Dura (d) Dolomito (dol) Dol D Fraturado II Fm Gandarela
Branda (b) Filito (fil) Fil B4 Grafitoso III/IV Fm Tabões/Barreiro
FilB3 Silicoso III/IV Fm Fecho do Funil
FilB2 Fissil/cor prata III/IV Fm Cercadinho
FilB1 Untoso, cor cinza III/IV Fm Batatal
Dura (d) Xisto (xis) XisD Coeso, sistema de II/III Fm Sabará
fraturas
Branda (b) Xisto (xis) XisB2 Pulvurulento IV Fm Sabará
XisB1 Xistosidade III/IV Grupo Nova Lima
proeminente, fraturado

Tabela 4.3 - Escala de graus de alteração (Souza 1996)

Perfis de alteração Característica do maciço rochoso Grau


Solo residual Todo material rochoso foi decomposto para solo. VI
Todas as texturas e estruturas foram destruídas.
Nenhum transporte significante de solo visível
Rocha completamente alterada Todo material rochoso está decomposto para solo. V
As estruturas e texturas estão em grande parte
preservadas.
Rocha intensamente alterada Mais da metade do material rochosos está IV
decomposto para solo. Fragmento de rochas frescas
ou descolorida podem estar presentes, como uma
estrutura descontinua.
Rocha moderadamente alterada Pouco menos da metade do material rochoso está III
decomposto para solo. Fragmentos de rocha fresca
ou descolorida podem estar presentes, como uma
estrutura continua
Rocha levemente alterada Intemperismo penetrado através de muitas II
descontinuidades e somente um leve intemperismo
no material rochoso.
Rocha sã Não são visíveis sinais de alteração no material I
rochoso, intemperismo limitado nas superfícies das
maiores descontinuidades.

55
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Em geral, a cidade de Ouro Preto não apresenta solos muito desenvolvidos, as espessuras
podem variam entre 0,5 a 15 m, o que não é muito comum em solos tropicais. Entretanto, as rochas
aflorantes apresentam perfis bem desenvolvidos, segundo o grau de alteração. Conforme Bonuccelli &
Zuquette (1999), são considerados solos na área urbana de Ouro Preto, apenas os materiais de
alteração de grau V (rocha completamente alterada) e VI (rocha residual). Cerca de 40% da área
caracteriza por apresentar solos (coluvionares, residuais e saprolíticos) com espessuras menores que
10 m, sobrepostos a rochas intensamente alteradas (grau IV). Colúvios e saprolitos com espessuras
menores que 2 m, sobrepostos a rochas duras, levemente a moderadamente alteradas (grau I e II),
recobrem 30% da área. A textura são predominantemente, siltosas, arenosas e silto-arenosas. Os
materiais lateríticos, originados na intemperização do itabirito, quartzitos, filitos e xistos
ferrugionosos, recobrem 16% da área e representam um papel importante na cidade de Ouro Preto.
Além dos materiais residuais como os descritos acima, estão presentes também na área de
estudo, depósitos de materiais transportados como colúvio, tálus e aluvião, além dos depósitos
tecnogênicos resultantes da ação antrópica como aterros não compactados, depósitos de entulhos
(bota-fora) e rejeitos de mineração (Bonuccelli 1999).

4.7. USO E OCUPAÇÃO


Tratar-se-á nesse tópico das principais passagens que marcaram as fases de formação,
consolidação, declínio e recuperação de Ouro Preto e como a cidade se organizou a partir delas. O
objetivo aqui é contextualizar, brevemente, a evolução da ocupação em Ouro Preto, de sua origem até
a década de 1940. Mais detalhes da história de Ouro Preto e das Minas Gerais podem-se buscar em
Ferrand (1887), Ferrand (1894), Derby (1899), Lima (1957), Ruas (1964), Vasconcelos (1974).
Oliveira (1977) e Meniconi (2001), dentre outros.
O início da ocupação em Ouro Preto coincidiu com o auge da corrida do ouro, ocorrendo
durante as primeiras décadas do século XVIII, com intensas atividades mineradoras subterrâneas e a
céu aberto, em vales e em encostas, principalmente na Serra de Ouro Preto (Sobreira & Fonseca
2001). A ocupação se deu rapidamente em forma de núcleos esparsos, localizados junto a córrego de
exploração aluvião, ou junto aos morros de maior ocorrência aurífera.Como mostrado na figura 4.6,
ocupação urbana em Ouro Preto (MG) entre 1698 e 1940, nota-se a localização dos núcleos iniciais do
final do século XVII e os povoados que surgiram em torno das capelas. Estes pontos estão
representados hoje pela Igreja do Pilar, Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora do Parto (Padre
Faria) (IGA 1995b).

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Figura 4.6 - Ocupação urbana em Ouro Preto (MG) entre 1698 e 1940, adaptado de IGA (1995b).

O período entre 1730 até 1765 foi marcado pelo início do declínio do ouro mas, sobretudo,
pela consolidação e expansão do tecido urbano. Nesse momento foi implantado o centro
administrativo na Praça do Morro de Santa Quitéria (hoje Praça Tiradentes). De um lado a Casa de
Câmara e Cadeira (hoje Museu dos Inconfidentes) e do outro o Palácio dos Governadores (atual
Escola de Minas). Iniciou-se um novo ciclo de crescimento, originando novos caminhos que se
desdobram em arruamentos paralelos ao principal (caminho-tronco), ligados por serventias de
passagem, travessias, vielas e becos (FJP 1975).

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Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Entre 1765 e 1900, Ouro Preto atravessou uma fase de declínio e outra de estagnação (FJP
1975). A primeira se estendeu até 1815 e foi marcada pela queda da produção aurífera. As lavras de
ouro já exauridas reduziram grande parte da população, restando apenas buracos nos morros. A
segunda se estendeu até 1900 e marcou um longo período de estagnação econômica, onde a condição
de capital da província era a principal função da cidade. Em 1897, a função administrativa foi
transferida para Belo Horizonte, provocando um esvaziamento ainda maior na cidade. A principal
conseqüência foi o despovoamento da periferia e a preservação da paisagem e das características
básicas do conjunto arquitetônico colonial, que inclui várias igrejas, capelas e prédios civis e militares
de grande porte, junto com instalações urbanas de outras épocas (Sobreira & Fonseca 2001).
Entre 1900 e 1940, iniciou-se ocupação em direção ao Ribeirão do Funil, em torno da Estação
Ferroviária (1888), que mais tarde ultrapassaria os trilhos da estrada de ferro e ocuparia as encostas do
Morro do Cruzeiro. A partir de meados da década de 40, impulsionado pela fábrica de Alumínio
(Alcan - Alumínio do Brasil), Ouro Preto iniciaria uma fase de recuperação econômica.
A incorporação dessa nova atividade econômica gerou mudanças significativas no espaço da
cidade, que passou a receber um elevado contingente populacional, essencialmente de mão-de-obra de
baixa renda. Com o Núcleo Urbano praticamente ocupado, foi a vez das áreas adjacentes serem
ocupadas (Cifelli . 2005). A conseqüência foi o aumento no número de movimentos gravitacionais de
massa com a perda de vidas humanas em alguns casos (Bonuccelli & Zuquette 1999).

4.8. PROCESSOS GEODINÂMICOS


Dentre as várias formas e processos de movimentos de massa, destacam-se os deslizamentos
nas encostas em função da sua interferência grande e persistente com as atividades do homem. Os
deslizamentos são, assim como os processos de intemperismo e erosão, fenômenos naturais contínuos
de dinâmica externa. No entanto, destacam-se pelos grandes danos ao homem, causando prejuízos a
propriedades (Fernandes & Amaral 2006). Apesar de não ocorrerem em áreas ocupadas
exclusivamente pela população de baixa renda, a ocupação inadequada das encostas, principalmente
nas grandes cidades, é ainda um dos principais fatores pela sua ocorrência (Ahrendt 2005).
O Brasil, por suas condições climáticas e grandes extensões de maciços montanhosos, está
sujeito aos desastres associados aos movimentos de massa nas encostas. Além da frequência elevada
daqueles de origem natural, ocorre no país, um grande número de acidentes induzidos pela ação
antrópica (Fernandes & Amaral 2006).

58
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Estudos geológicos-geotécnicos destinados à avaliação do potencial de ocorrência de eventos


perigosos naturais, principalmente na área urbana, vêm crescendo nos mais diferentes países. Os
agentes do meio físico associados à contínua urbanização e ao meio ambiente tropical têm originado
situações de risco nas encostas inadequadamente ocupadas. Em Ouro Preto a situação não é diferente e
a cidade apresenta graves problemas com esse tipo de ocorrência.
Há vários trabalhos gerais sobre os movimentos de massa, geralmente cadastros. Tem o da
Tecnossolo (in sobreira 1990), o de sobreira (1990), ode Bonuccelli (1999) e depois o de Castro
(2006). Você deve falar destes e depois concluir que a coisa é feia aqui
Apesar da cidade de Ouro Preto possuir um vasto histórico de acidentes, vários deles com
vítimas fatais, a avaliação das probabilidades de ocorrência dos eventos e dos danos de movimentos
gravitacionais de massa futuros pode ser baseada na comparação das condições passadas e presentes
(Bonuccelli & Zuquette 1999). Bonuccelli (1999) elaborou um cadastro dos movimentos de massa e
processos correlatos mais comuns que já atingiram a área urbana de Ouro Preto (tabela 4.4). A autora
registrou 442 feições, sendo que 364 foram avaliadas com ativas e 65 como iminentes, totalizando
2,8% da área total da cidade.

59
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Tabela 4.4 - Número de feições e porcentagem relativa (em área) dos tipos de movimentos gravitacionais de
massa e processos correlatos (Bonuccelli, 1999).
Área atingida/ Área atingida/
Tipos de processos N° de feições área com área urbana total
processos (%) (%)
Escorregamento 79 3,7 0,09
Escorregamento translacional 54 6,6 0,16
Queda e rolamento de blocos 78 5,5 0,14
Escoamento rápido ou corridas 10 0,7 0,02
Erosões 88 20,6 0,51
Erosão de grandes dimensões 11 7,5 0,19
Inundação e assoreamento 6 4,4 0,11
Complexos 31 36 0,89
Escorregamento e corrida 12 1,1 0,03
Escorregamento e erosão 14 3,2 0,08
Escorregamento translacional e corrida 31 5,8 0,15
Corridas e rolamentos de blocos 25 4,5 0,11
Inundação e erosão fluvial 3 0,2 0,01

Por erosão de grande porte estabeleceu-se que são movimentos gravitacionais que atingiram
profundidades maiores que 10 m em área de ruptura e acumulação. Processo complexo é quando há
ocorrência de mais do que 2 tipos diferentes de movimentos gravitacionais, por exemplo:
escorregamentos associados a erosões e corrida de materiais.
Outro dado importante é a correlação entre os movimentos de massa gravitacionais com os
índices pluviométricos. Castro (2006) a partir de registros meteorológicos (1988 - 2004) e do registro de
ocorrências da defesa civil, traçou um panorama na cidade de Ouro Preto estabelecendo áreas de maior e
menor risco a escorregamento.
Segundo Castro (2006), estabelecer um índice para a quantidade de chuvas nos dias que
antecedem os acidentes é primordial, uma vez que essa determinada quantidade é suficiente para saturar o
solo e assim torná-lo instável, potencializando o escorregamento. Portanto, o valor mínimo de chuva
acumulada para desencadear escorregamentos é de 2 mm em cinco dias e 128 mm por cinco dias como
valor mínimo para o nível de atenção a grandes escorregamentos.

60
CAPÍTULO 5
RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1. INTRODUÇÃO
Neste capítulo serão apresentados os resultados referentes à ocupação do núcleo urbano da
cidade de Ouro Preto desde a década de 1950, tal como a relação com a evolução da ocupação sobre as
áreas de mineração antiga e a caracterização morfológica da área. O município de Ouro Preto é
constituído de 13distritos: Ouro Preto (distrito-sede), Amarantina, Antonio Pereira, Cachoeira do
Campo, Engenheiro Correia, Glaura, Lavras Novas, Miguel Burnier, Rodrigo Silva, Santa Rita de
Ouro Preto, Santo Antonio do Leite, Santo Antonio do Salto e São Bartolomeu. A figura 5.1, mostra a
evolução da população urbana e da população absoluta do município.

Figura 5.1 - Evolução da população absoluta e população urbana da cidade de Ouro Preto - MG

Segundo estimativas populacionais do IBGE, no município de Ouro Preto em 2009, residiam


69.495 pessoas, um crescimento de 2,3% em relação à estimativa anterior, em 2007. Considerando que
o crescimento urbano também tenha sido de 2,3%, a população urbana passaria de 58.989 em 2007,
para 61.142 em 2009, no distrito-sede. Os 8.353 habitantes restantes estão distribuídos nos 12 distritos
do município. A tabela 5.1 ilustra o percentual da população urbana.

Tabela 5.1 - Evolução da População urbana do distrito-sede de Ouro Preto - MG

Ano Pop. Urbana % Pop. Urbana


1960 21.316 62,83
1970 31.999 69,31
1980 37.996 71,14
1991 48.150 77,02
2000 56.292 84,93
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

2007 58.989 89,00


2009 61.142 87,98

A tabela 5.1 mostra que em 1960 a população já era majoritariamente urbana, com 62,8% das
pessoas residindo na cidade. Em 2009, a população urbana atingiu a marca de 61.142 habitantes, o que
representa 87,9% das pessoas vivendo na cidade de Ouro Preto. Pode-se afirmar que o município de
Ouro Preto seguiu as tendências nacionais, onde na metade do século passado, mais de 50% das
pessoas trocaram o campo pela cidade. Caso as tendências nacionais se reflitam aqui novamente,
espera-se um desaceleramento no número de pessoas morando na cidade e uma estabilização na
porcentagem da população urbana em torno dos 90% para a próxima década.
Entretanto, observa-se que o ritmo de crescimento da cidade tem sido constante e caso a
média de crescimento se mantenha (6,43%), em 2020 a população urbana de Ouro Preto poderá atingir
aproximadamente 97%do total.

5.2. GEOMORFOLOGIA URBANA DE OURO PRETO


O crescimento populacional pelo qual tem passado Ouro Preto, tem implicado um avanço
progressivo da malha urbana em todas as direções da cidade. A urbanização tem um caráter
desordenado e diversas vezes gerou problemas ambientais ao se ocupar terrenos pouco aptos, como os
enumerados por Sobreira & Fonseca (2001):
1 - Ocupação de locais de antigas lavras de ouro;
2 - Utilização de locais com forte declividade;
3 - Zonas de passagem de águas pluviais;
4 - Locais com altas declividades;
5 - Implantação de cortes e taludes ousados;
6 - Bota-foras, causando a interrupção de canais de drenagem;
7 - Progressiva remoção da vegetação;

A configuração da paisagem é resultado de uma completa interação entre multiplos fatores


(Pereyra 2007). Assim, as características do clima, a litologia, as estruturas geológicas e a vegetação
deixam suas marcas nas formas do terreno. Entretanto, a geomorfologia expressa melhor que qualquer
outra, os processos naturais que podem influir no uso e ocupação dos terrenos.
Ouro Preto é famosa pela topografia acidentada que divide espaço com a cidade histórica. A
área de estudo exibe terrenos que estão entre 910m até 1510m de altitude (Figura 5.2). Entretanto, é
entre as cotas de 1020 a 1405m que a cidade se assenta.

62
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

A irregularidade na topografia também é outro fator de destaque na paisagem da cidade. Ora


exibindo feições mais planas, ora mais acidentadas, fez-se necessário a utilização de perfis
topográficos para caracterizar a cidade junto às unidades do relevo.
Utilizando a topografia foram elaborados 13 perfis topográficos (figura 5.3) que subsidiaram a
caracterização da geomorfologia urbana.
Cada um dos perfis depois de analisados foram classificados a partir morfologia que
apresentavam. A análise conjunta permitiu concluir que a cidade de Ouro Preto está inserida num
sistema de terreno que corresponde a uma associação de escarpas abruptas e colinas onduladas
pequenas e médias.
Nas escarpas o relevo é dissecado com vales estreitos e alta freqüência de canais com padrão
retangular. No domínio das colinas o relevo é ondulado a acidentado com vales grandes e pequenos,
abertos e fechados com freqüência de canais variando de média a alta.
As análises dos perfis permitiram visualizar seis unidades morfológicas presentes na paisagem
da cidade:

• Unidade 1 - Escarpas abruptas altamente dissecadas, com alta freqüência de


canais;
• Unidade 2 - Vale grande e aberto com encostas côncavas e baixa densidade de
canais.
• Unidade 3 - Colinas com topos aplainados com baixa densidade de canais;
• Unidade 4 - Colinas com vertentes convexas dissecadas com topos ondulados
e alta densidade de canais;
• Unidade 5 - Morro com vertentes convexas e topos arredondados e alta
densidade de canais;

Unidade 6 - Morro com vertentes côncavas dissecadas e topos angulosos e alta densidade de
canais.
A partir dos perfis elaborou-se um mapa de landform (figura 5.4) buscando separar formas
homogêneas e correlacionado-as com os processos geodinâmicos mais comuns na cidade. A confecção
do mapa de landform seguiu a metodologia proposta por Lollo (1995) denominada Técnica de
Avaliação de Terreno.

63
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

A técnica de avaliação de terreno consiste em trabalhar as formas do relevo enquadrando-as


dentro de três níveis hierárquicos: sistema de terreno, unidade de terreno e elemento de terreno.
Sistema de terreno - o primeiro nível hierárquico corresponde a uma associação de formas que
evoluíram em condições semelhantes de clima ou geologia. O segundo nível hierárquico - unidade de
terreno - é uma subdivisão do sistema de terreno. O processo de representação desse nível agrupa as
formas homogêneas dentro de cada sistema encontrado. Por fim, o terceiro nível de hierarquização -
elemento de terreno pode ser entendido com a menor forma dentro de unidade de terreno. Para Lollo
(1995), "parte de uma forma individual de relevo distinguível das demais partes em termos de
inclinação ou forma da vertente, posição topográfica, ou forma topográfica, e que deve refletir as
condições diferenciadas de espessura de materiais inconsolidados ou variações laterais no perfil destes
materiais".

64
Figura 5.2 Mapa hipsométrico da cidade de Ouro Preto. Em destaque treze perfis topográficos transversais.
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Figura 5.3 - Perfis topográficos transversais

67
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Figura 5.4 Mapa de landform da cidade de Ouro Preto, destacando as Unidades


68 de Terreno
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Essas unidades por apresentarem um agrupamento de formas homogêneas, deixam de destacar


por vezes, a diversidade morfológica que pode haver dentro de cada unidade, uma vez que a litologia,
principal estruturador do relevo em Ouro Preto, varia amplamente (vertical e lateralmente) dentro de
cada uma delas. Por isso, apenas a descrição de cada unidade pouco ajuda na tomada de decisões para
o planejamento urbano de Ouro Preto. Fazem-se necessário caracterizar cada unidade segundo a
presença de feições de movimentos de massa e processos correlatos (erosão e assoreamento) presentes.
Adaptando o mapeamento geotécnico de Souza (1996) foi possível corresponder para cada
unidade os registros de movimentos de massa e processos correlatos presentes na área de estudo
conforme ilustra a tabela 5.2.

69
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Tabela 5.2 - Número de ocorrências de movimentos de massa e processos correlatos por Unidades de Terreno. Adaptado de Souza (1996).

Escorregamentos (E) Corridas de Assoreamento


Queda (Q) Erosões - E
Unidade de Translacionais material (C) Mov. Complexos (As)
Terreno Rotacionais - CX
Rocha Solo Detritos Rochas Solos Detritos Solos Detritos Ravinas Laminar Voçoroca
(EROT)
(Qr) (Qs) (Qd) (ETr) (ETs) (ETd) (Cs) (Cd) (Er) (El) (Eb)
1 12 0 4 0 7 1 0 0 21 83 25 8 0 0
2 4 0 0 5 5 6 1 0 4 19 10 4 0 0
3 2 0 1 1 7 0 0 0 1 17 6 20 5 1
4 17 1 6 2 5 2 0 1 4 25 22 4 1 3
5 8 0 0 2 0 0 0 0 0 0 1 1 1 0
6 3 0 2 2 0 2 0 2 1 15 14 6 0 1

70
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

As unidades 1 e 4, escarpa e colinas, respectivamente, foram as que mais registraram feições


de movimentos de massa e processos correlatos. No total foram 161 registros, sendo 128 de
movimentos de massa e 33 de processos correlatos (erosão e assoreamento) na unidade escarpa. Para a
unidade de colinas, foram totalizados 93 registros, 63 de movimentos de massa e 30 para processos
correlatos. As figuras 5.5 e 5.6 ilustram os demais registros.

Figura 5.5 - Registros de movimentos de massa na cidade de Ouro Preto por Unidades de Terreno

Figura 5.6 - Registros de processos correlatos na cidade de Ouro Preto por Unidade de Terreno

71
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

O elevado número de registros de erosão na unidade de escarpa, que é representada pela Serra
de Ouro Preto, em parte se explica pelas intesas atividades minerárias que a área sofreu ao longo dos
anos. Portanto, a documentação das áreas mineradas e sobremaneira das áreas ocupadas que
correspondiam às antigas minerações, também dão suporte aos estudos geomorfológicos na cidade de
Ouro Preto, através do mapa de landform, registros dos processos geodinâmicos e das ocupações sobre
antigas minerações.

5.3. ÁREAS DE MINERAÇÃO X OCUPAÇÃO URBANA


Nas últimas décadas do século XVII, centenas de jazidas auríferas de aluvião começaram a ser
descobertas nos córregos e ribeirões das adjacências de Ouro Preto, Mariana, Sabará e Caeté. As
cidades de Ouro Preto e Mariana foram palco das principais descobertas (Oliveira 1977 apud
Cavalcanti 1999).
A ocupação da atual cidade de Ouro Preto iniciou-se com a bandeira de Salvador Fernandes
Furtado de Mendonça e Miguel Garcia em 1696 quando da descoberta de ouro nas margens do
Ribeirão do Carmo, aponta Vasconcelos (1974).
Em 1698, Antonio Dias e Padre João de Faria encontraram ouro nas proximidades do Pico
Itacolomi, resultando no aumento exponencial da migração para a região. O apogeu ocorreu entre os
anos 1739 e 1759 (Ziravello et al., 1999).
Segundo Eschwege (1833), no início da explotação, os trabalhos eram limitados aos depósitos
de aluviões que eram classificados em três tipos: no leito dos rios; nos tabuleiros, depósitos nas
margens dos rios em um nível logo acima do leito e as grupiaras, mais elevadas, situadas nos flancos
das montanhas originados geralmente por meandros abandonados. Os aluviões constituíram
inicialmente o alvo das buscas devido aos maiores teores e facilidade de tratamento.
A seguir passou-se a exploração nas encostas, que rapidamente ganharam um aspecto
desnudado e inteiramente desolado, aplicando às montanhas métodos de lavra a céu aberto. Para
atingir o veio aurífero, retiravam toneladas de material de cobertura, talhando as encostas em taludes a
fim de atingir o fundo com os menores riscos possíveis. À medida que penetravam em profundidade,
os mineradores eram obrigados a alargar as bordas dessas imensas escavações, cujas jazidas com
freqüência tinham apenas alguns decímetros (Ferrand 1894).
Após 1750, iniciou-se a fase de decadência, um período de extrema carência de alimentos,
trazendo a miséria, fome e desordem, somadas aos primeiros indícios de esgotamento do ouro de
aluvião, que iria se concretizar no final daquele século (Meniconi 2001).

72
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Eschwege (1833) e Calógeras (1904) dividem os trabalhos de mineração em três categorias de


acordo com a localização do jazimento: nos vales, nos flancos (encostas) ou no interior das montanhas
(minas). Nos vales o objetivo era cavar até atingir camadas ricas, geralmente compostas por argilas
xistosas, que eram retiradas e transportadas para serem tratadas. Abriram-se dessa maneira catas
profundas, de onde muitas vezes só era possível extrair poucos centímetros da camada.
Nas encostas eram exploradas as rochas friáveis ou decompostas, geralmente xistos argilosos
vermelhos e cortados por ricos veios de quartzo que afloravam à meia encosta nas montanhas. Nas
minas as jazidas localizadas no interior das montanhas demandaram o desenvolvimento de métodos de
lavras para a extração em galerias subterrâneas. Procuravam as camadas de Itabirito cortadas por veios
de quartzo, que geralmente afloravam nas bases das montanhas e seguiam a direção do veio em
direção ao seu interior.
Contudo, mais agressivo do que os trabalhos de mineração subterrânea, foram os trabalhos de
mineração a céu aberto (356 ha), que envolveram áreas mais extensas e o passivo ambiental deixado
foi bem maior. O desmonte hidráulico era o processo mais comum, aproveitando águas de chuva e de
nascente da Serra de Ouro Preto. As conseqüências são notadas até o presente, através das alterações
nas formas das encostas, alteração da rede de drenagem, formação de grandes depósitos de detritos e
blocos rochosos a meia encosta, criação de taludes íngremes e instáveis e desencadeamento de
processos erosivos acelerados (Sobreira 1990). A figura 5.7 ilustra as áreas de mineração na cidade de
Ouro Preto.

73
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Figura 5.7 - Áreas de mineração na cidade de Ouro Preto sobre Modelo Digital de Terreno, destaque para a Serra
de Ouro Preto.

O levantamento e estudo das características da mineração do ouro ocorridas no século XVIII e


XIX na Serra de Ouro Preto (Cavalcanti et al. 1997), apontam que essas áreas guardam registros das
atividades passadas como ruínas, escavações subterrâneas, buracos de sarilho, mundéus, canais de
condução de água e até artefatos usados no processo de extração do ouro. Esses sítios, entretanto, vêm
sofrendo com a ocupação urbana desordenada, acarretando na degradação do patrimônio arqueológico
mas sobretudo, na instabilidade dos terrenos alterados pela mineração.
No século XX iniciou-se a extração de pirita em 1935 para a produção de ácido sulfúrico na
Electro Chímica Brasileira S.A. - atual Novellis (Romano 2000). Em decorrência da Segunda Guerra
Mundial, a partir de 1940 a Argentina suspende o fornecimento de enxofre para o exército brasileiro, e
o governo incentiva o aumento da extração do mineral para a retirada de enxofre usado na fabricação
de pólvora na cidade de Piquete-SP até meados da década de 1960. Começavam também as extrações
de minério de ferro e manganês em jazidas de baixo teor, porém explotáveis, no município de Ouro
Preto (Sobreira 1991).

74
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Do ponto de vista do impacto físico-social da cidade, dois aspectos devem ser destacados. O
primeiro relacionado à estabilidade das galerias. As regiões próximas à superfície topográfica das
minas são suscetíveis a escorregamentos, causando recalques e desmoronamentos nas estruturas das
casas e das ruas adjacentes. O segundo diz respeito ao aproveitamento, pela população, de água, cujas
nascentes foram direcionadas para o interior destes locais. Este processo ocorre nos bairros Piedade e
Santana (Sobreira & Fonseca 2001).
Pesquisa realizada por Borba et al. (2004) nas minas de Ouro Preto e Mariana, corroboram
com os estudos de Sobreira & Fonseca (2001) com relação à qualidade das águas da Serra de Ouro
Preto. Analisando sete pontos nas regiões das Lages, foram encontradas concentrações de As variando
entre 12µg/L a 260µg/L no bairro Piedade e na Mina do Chico Rei, respectivamente. No Brasil, o
limite máximo permitido é de 10µg/L.A partir de 1970, o crescimento da população e a conseqüente
necessidade de criação de novas áreas urbanas não foram acompanhados de planejamento prévio
adequado. Em função disso, vários locais onde se desenvolveram atividades de mineração no passado,
na maioria das vezes com características morfológicas e geotécnicas desfavoráveis, foram ocupados,
gerando assim um quadro problemático no que se refere a segurança da população e das estruturas
(Sobreira & Fonseca 2001). A figura 5.8 ilustra a evolução da ocupação urbana sobre antigas áreas de
mineração.

75
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Figura 5.8 - Ocupação urbana sobre antigas áreas de mineração na cidade de Ouro Preto - MG.
76
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Apesar de em 1950 e 1969 já haver registros de ocupação em áreas de mineração, é a partir de


1978 que esta prática se intensificou na cidade. O adensamento nos bairros Antonio Dias, Lages, Alto
da Cruz e Taquaral ocorreram sobre galerias, enquanto no Morro São Sebastião, Piedade e Morro
Santana sobre minas a céu aberto. A figura 5,9 ilustra a ocupação em área (ha) para os respectivos
anos de 1950, 1969, 1978, 1986 e 2004.

Figura 5.9 - Evolução da ocupação urbana sobre antigas minerações na cidade de Ouro Preto - MG

5.4. OCUPAÇÃO URBANA DE OURO PRETO/1950


O impulso que a cidade sofreu a partir de 1945 como a primeira corrida do alumínio, seguido
da chegada do grupo canadense Aluminium Limited em 1950, refletiu rapidamente na organização do
espaço urbano da cidade (FJP 1975). A figura 5.10, representa a mancha urbana da cidade de Ouro
Preto em 1950.
Na década de 50, a cidade assentava-se sobre as áreas basais da Serra de Ouro Preto, no vale
central e nos locais onde a morfologia condicionada pelas rochas do Grupo Sabará propiciavam a
ocupação em regiões com o relevo aplainado a suave ondulado. No núcleo urbano de 1950, portanto,
a paisagem que predominava na cidade de Ouro Preto eram ocupações iniciais sobre as escarpas da
Serra de Ouro Preto e sobre o vale central. Núcleos urbanos começavam a surgir na unidade de colinas
aplainadas da cidade, principalmente em função da empresa de mineração Alcan - alumínios do Brasil.

77
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Figura 5.10 - Área urbana da cidade de Ouro Preto - MG em 1950


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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

A área urbana de Ouro Preto em 1950 era de aproximadamente 115 hectares. Sua principal
via, que atravessava a cidade de leste a oeste, corresponde hoje às ruas, Dom Helvécio (Passa Dez de
Baixo), passando pela rua Alvarenga (Cabeças), indo até a praça Américo Lopes pela rua Conselheiro
Santana (Igreja do Pilar). Nessa praça, seguia-se pela rua do Pilar, rua Paraná até atingir a rua Conde
de Bombadela (rua direita). Ao atingir a praça Tiradentes, tomava-se no sentido leste, a rua Claúdio
Manoel, passando pela rua do Aleijadinho até alcançar o Largo Marília de Dirceu. Pelo Largo,
continuando a leste, tem-se a rua Santa Efigênia, que ao encontrar a Praça Dirceu Alves de Brito
(Igreja de Santa Efigênia) passa a chamar rua Padre Faria, até a altura da Igreja Nossa Senhora do
Bom Parto . Dali, caminhava-se pela rua Santa Rita, cruzando a avenida Farmacêutico Duilio Passos,
até encontrar a rua Águas Férreas, seguindo pela rua Presidente João Goulart até a Capela Senhor Bom
Jesus na divisa com o Município de Mariana.
Os bairros mais povoados na década de 50 eram: Cabeças, Nossa Senhora do Rosário, Nossa
Senhora do Pilar, Centro, Antonio Dias, Barra, Alto da Cruz e Padre Farias.
O caminho-tronco, principal acesso em 1950 dividia a cidade numa parte norte e outra parte
mais ao sul. A porção Norte se encontra sob domínios de itabirito dolomítico, metacalcários,
metacalcários dolomíticos e filitos do grupo Itabira, apresentando em algumas seções itabirito
anfibolítico e mármore e ainda uma formação ferrífera dolomítica das formações Cauê e Gandarela,
respectivamente. Na porção central, os domínios geológicos são os filitos (prateado, roxo e
dolomítico), quartzito e dolomito ferruginoso, rochas da Formação Cercadinho, Grupo Piracicaba. Na
porção sul encontram-se os quartzitos, os filitos, metagrauvacas e xistos cloríticos do Grupo Sabará
(UFMG & CPRM 2004).
O núcleo urbano de Ouro Preto em 1950, assentava-se sobre os quartzitos ferruginosos e
filitos acinzentados da Formação Cercadinho e os xistos do Grupo Sabará, conforme a figura 5.11. As
primeiras, são rochas extremamente fraturadas com padrão de fraturas variando amplamente,enquanto
as segundas são macias a moderadamente duras.

79
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Figura 5.11 - Mapa litoestratigráfico da cidade de Ouro Preto com destaque para a mancha urbana de 1950.

Assim, o núcleo urbano que se consolidou em 1950, seguiu os aspectos geotécnicos mais
favoráveis à ocupação da Formação Cercadinho e do Grupo Sabará, principalmente os relacionados à
trabalhabilidade do terreno, estabilidade das fundações e estabilidade de vertentes. Parte da cidade
estava assentada em locais com declividades entre 0 e 30%, com exceção de alguns locais no Centro,
na divisa com o bairro Nossa Senhora do Rosário e outros no Bairro Alto da Cruz. .

5.5. OCUPAÇÃO URBANA DE OURO PRETO/1969


Passados dezenove anos, tornou-se possível delimitar através de fotointerpretações, os avanços
que teve o núcleo urbano de 1950, graças ao impulso da industria de base local, como se observa na
figura 5.12. O crescimento da área urbanizada passou de 115ha para 246ha, um crescimento de 114%
em relação ao ano de 1950.

80
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Figura 5.12 - Área urbana de Ouro Preto - MG em 1969, com base em fotointerpretação
81
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Durante a década de 50 e 60 a avenida Padre Rolim (antiga BR-56 ) começou a ser implantada
juntamente com a BR-262, contribuindo para a preservação do núcleo histórico de Ouro Preto, uma
vez que estas vias desviaram o tráfego do centro histórico de Ouro Preto. Durante estes anos, houve a
consolidação de alguns bairros e o surgimento de outros . Dentre os bairros que sofreram adensamento
pode-se citar: Cabeças, Água Limpa, Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora do Rosário, Nossa
Senhora do Pilar, Centro, Barra, Antonio Dias, Nossa Senhora das Dores, Alto da Cruz e Padre Faria.
Dentre os bairros que surgiram e se consolidaram, destacam-se: Morro do Cruzeiro, com as obras da
universidade ,Vila Itacolomi; Vila dos Engenheiros, Vila Aparecida e Saramenha. A empresa de
alumínio Alcan foi a principal precursora da ocupação destes últimos bairros que, se tornaram o
principal indutor do crescimento urbano de Ouro Preto entre as décadas de 50 e 60. Vila Pereira; Vila
São José; São Cristovão - antigo Veloso; Morro Santana e Nossa Senhora da Piedade, também estão
entre os bairros que surgiram ou se consolidaram.
Houve ocupações na área em torno da empresa, em boa parte do Morro do Cruzeiro e entorno
do núcleo histórico. Este último, que se mantivera inalterado desde fins do século XVIII, sofreu um
processo de expansão, sendo aproveitadas todas as áreas da periferia que oferecem condições
razoáveis (FJP 1975).
Apesar de em 1969, bairros como Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora do Pilar, Antonio
Dias e Alto da Cruz, continuarem se adensando, nota-se um desenvolvimento da ocupação em direção
à Serra de Ouro Preto, principalmente no Morro Santana, São Cristovão e Morro São Sebastião, ao
norte; além da Vila Aparecida, Vila dos Engenheiros e Vila Itacolomi, ao sul.
Segundo Sobreira & Fonseca (2001), a necessidade de criação de novas áreas urbanas em
função do crescimento da população a partir dos anos sessenta, não foi acompanhado por
planejamento prévio adequado, levando à ocupação de áreas onde se desenvolveram atividades de
mineração no passado.
Na maioria das vezes, essas novas áreas de ocupação, em conseqüência da sua utilização
pretérita, apresentam características morfológicas e geotécnicas desfavoráveis, gerando assim um
quadro problemático no que se refere à segurança da população e das estruturas presentes ali (Pinheiro
et al 2003).
Em relação ao substrato rochoso, a cidade foi se adensando sobre os itabiritos, itabiritos
dolomíticos e itabiritos anfibolíticos, além do filitos e mármores da Formação Cauê; os metacalcários
e a Formação Ferrífera da Formação Gandarela, ambas formações do Grupo Itabira . É possível notar
também a expansão sobre as áreas de filitos, filitos dolomíticose dolomitos da Formação Fecho do
Funil. Bairros como a Vila Aparecida e o Morro Santana expandiram-se sobre depósitos eluvio-
coluviais, representados pelas cangas: rolados ou laterita (figura 5.13).

82
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Figura 5.13 - Mapa litoestratigráfico da cidade de Ouro Preto com destaque para a mancha urbana de 1969.

O vale formado entre as escarpas dissecadas da Serra de Ouro Preto e as colinas centrais da
cidade que concentrara a ocupação em 1950 já não seria o alvo em 1969. Durante quase duas décadas
as cidade se deslocou em direção a Serra de Ouro Preto, iniciando a ocupação nas regiões altas da
serra. Houve expansão também em direção às coberturas limoníticas, ora na Serra de Ouro Preto, ora
na região do Morro do Cruzeiro, ao sul da cidade. Entretanto, a região central do núcleo urbano
continuaria se adensando, consolidando a ocupação em torno da Praça Tiradentes.

5.6. OCUPAÇÃO URBANA DE OURO PRETO/1978


Decorridos nove anos do levantamento aerofotogramétrico anterior, a cidade continuara se
expandindo, desta vez em direção aos bairros Vila Aparecida, Nossa Senhora da Piedade, Taquaral e
Morro Santana. Observando a figura 5.14, nota-se que além do adensamento nesses bairros, houve
uma considerável expansão dos bairros adjacentes a Alcan - Alumínios do Brasil como Vila Itacolomi,
Saramenha e Vila dos Engenheiros. Foram 382 hectares de área ocupada, um crescimento de 55,3%
em relação ao período anterior.

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Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Figura 5.14- Área urbana em 1978, destaque para os bairros Vila dos Engenheiros, V. Itacolomi e Saramenha
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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Bairros como Alto da Cruz, Água Limpa, Barra, Cabeças e Nossa Senhora do Pilar que
vinham sofrendo o processo de urbanização nas últimas décadas tiveram seus territórios ocupados
completamente, enquanto outros começaram a surgir, tais como: Passa Dez de Cima e Passa Dez de
Baixo e Morro São João. O que caracteriza esse período é a descentralização da ocupação em direção
às áreas periféricas da cidade. O núcleo histórico e o seu entorno áreas praticamente consolidadas,
forçariam a ocupação em direção a Serra de Ouro Preto, para as regiões em torno do Morro do
Cruzeiro e da Alcan - Alumínio do Brasil.
Em relação ao substrato geológico, as áreas se expandiram sobre os filitos e dolomitos da
Formação Fecho do Funil e os filitos da Formação Barreiro. O crescimento seguiu também sobre os
itabiritos da Formação Cauê e os quartzitos, filitos, conglomerados e dolomitos da Formação
Cercadinho. Além dos xistos do Grupo Sabará e os depósitos elúvio-coluviais no norte e sul da cidade,
como apresenta a figura 5.15.

Figura 5.15 - Mapa litoestratigráfico da cidade de Ouro Preto com destaque para a mancha urbana de 1978.

85
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

No tocante às unidades de terreno (landform), a expansão se deu em direção às escarpas da


Serra de Ouro Preto e às colinas com topos aplainados e vertentes côncavas-convexas do Morro do
Cruzeiro, embora a ocupação mais densa ainda se concentrasse no vale aberto entre a Serra de Ouro
Preto e nos conjuntos de Morros que cortam a cidade.
No levantamento de 1978, é possível perceber, um movimento populacional que se iniciou
entre as décadas de 50 e 60 e que se prolongaria até os dias atuais. Esse movimento corresponde à
ocupação de áreas de mineração de ouro e bauxita que ocorreram na região, com mostra a figura 5.16.

Figura 5.16 - Áreas de ocupação sobre antigas minerações de ouro e bauxita na cidade de Ouro Preto - MG em
1978.

As principais frentes de ocupação ocorreram nos bairros São Cristovão, Taquaral, Piedade,
Morro Santana, Alto da Cruz, Lages e Morro São Sebastião, no norte da cidade. Ao sul, as antigas
áreas de mineração de bauxita deram lugar ao bairro Vila Itacolomi e à Universidade Federal de Ouro
Preto. As ocupações sobre as antigas minerações neste ano, equivaliam a 5,7 hectares; 1,6% dos 356
hectares existentes de áreas de mineração.

86
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

5.7. OCUPAÇÃO URBANA DE OURO PRETO/1986


Decorridos mais oito anos, Ouro Preto sofreu um rápido crescimento urbano, passando de 382
hectares para 568 hectares de área ocupada, um crescimento de 48,7%, em relação à ocupação em
1978 (figura 5.17).

87
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Figura 5.17 - Área urbana de Ouro Preto - MG em 1986


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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Essa expansão, em grande parte, foi conseqüência da ocupação dos bairros Morro Santana,
Morro São João, Morro da Queimada, Nossa Senhora da Piedade e Taquaral, na porção nordeste da
cidade. Na porção sul e sudeste da cidade, tiveram uma participação importante bairros como, Nossa
Senhora do Carmo, Novo Horizonte, Vila Itacolomi e Morro do Cruzeiro, estes dois últimos
favorecidos pela implantação da Universidade Federal de Ouro Preto.
As novas áreas de expansão ocorreram sobre as rochas calcissilicáticas, metaconglomerados e
as formações ferríferas do Grupo Nova Lima; sobre os quartzitos e filitos do Grupo Caraça e sobre os
itabiritos e metacalcários do Grupo Itabira. No Morro da Queimada e Morro Santana, há ocupações
sobre depósitos elúvio-coluviais, principalmente cangas e formações ferríferas detríticas cimentadas
por limonita, na porção nordeste, figura 5.18.

Figura 5.18 - Mapa litoestratigráfico da cidade de Ouro Preto com destaque para a mancha urbana de 1986.

No sul da cidade, a ocupação se deu em direção as rochas do Grupo Sabará, quartzitos, filitos,
metagrauvacas e xistos e sobre depósitos residuais detríticos recentes, sobretudo laterita e detríticos
ferruginosos não cimentados. Há ocorrência de ocupações no local, em cima de depósitos elúvio-
coluviais, semelhante aos encontrados na porção nordeste da cidade (CPRM & UFMG 2004).

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Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Em relação à geomorfologia, a cidade expandiu-se em direção à Serra de Ouro Preto, onde


predominam vertentes em escarpas dissecadas com alta freqüência de canais, e na qual o processo de
mineração também foi bastante intenso. Através da análise das fotografias aéreas anteriores, percebeu-
se essa movimentação nos bairros Morro São João, Morro da Queimada, Morro Santana, Nossa
Senhora da Piedade, Alto Santa Cruz e Taquaral além do São Cristovão e Morro São Sebastião, na
Serra de Ouro Preto. Os demais núcleos existentes na porção sul, se expandiram em direção às colinas
e vertentes das unidades de colinas aplainadas com baixa densidade de canais. Esses núcleos estão
representados principalmente pelos bairros Morro do Cruzeiro, Saramenha e Vila Aparecida.
Concomitante a essa expansão, aumentou também o número de residências sobre antigas áreas
de mineração, figura 5.19.

Figura 5.19 - Ocupação urbana sobre área de antigas minerações na cidade de Ouro Preto - MG em 1986.

Em meados da década de 1970, 12,8 hectares de antigas minerações haviam sido ocupados,
isso equivalia a 3,6% de toda extensão minerada na cidade Os bairros que mais avançaram sobre esses
locais foram o Taquaral e Morro Santana. No Morro do Cruzeiro, praticamente toda antiga mineração
de bauxita havia sido ocupada. Antonio Dias, Alto da Cruz, Piedade, São Cristovão, São Francisco,
Centro e Morro São Sebastião, seguiram a mesma tendência, entretanto em menores proporções.

90
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

5.8. OCUPAÇÃO URBANA DE OURO PRETO/2004


Em 2004, a área urbana respondeu por um total de 687 hectares, um crescimento de 21% em
relação ao levantamento de 1986. No entanto, é importante notar que entre os dois levantamentos se
passaram dezoito anos, um período consideravelmente extenso sem novas informações no que diz
respeito aos levantamentos aéreos em escala de detalhe. Assim, comparando os dados de crescimento
de épocas anteriores, entre 1986 e 2004, houve adensamento da cidade de Ouro Preto apesar do
crescimento ter sido pequeno. Nestes dezoitos anos,consolidou-se a ocupação em direção à Serra de
Ouro Preto. Morro do São João, Nossa Senhora da Piedade, Morro São Sebastião, São Cristovão e
Morro da Queimada, responderam por boa parte no adensamento populacional dessa época.
Entretanto, Jardim Alvorada, Santa Cruz e Novo Horizonte, que mantiveram um crescimento
inexpressível até 1986, se firmam como novas frentes de ocupação e adensamento em Ouro Preto ,
como mostra a figura 5.20.

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Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Figura 5.20 - Área urbana de Ouro Preto - MG em 2004


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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Chama a atenção na mancha urbana da cidade de Ouro Preto em 2004, a expansão da cidade
se dando principalmente nas margens da MG-356, com os bairros Novo Horizonte, Nossa Senhora do
Carmo e Lagoa. No levantamento de 1986 esses núcleos eram praticamente inexistentes. Em função
do esgotamento de áreas para ocupação, nos núcleos de crescimento até a década de 1990 -Serra de
Ouro Preto, vale central e adjacências da Alcan - Alumínios do Brasil - as novas frentes de ocupação
se transferiram para as margens da rodovia.
A área urbana de Ouro Preto se expandiu em direção aos quartzitos, filitos e xistos do Grupo
Sabará na altura dos bairros Santa Cruz e Novo Horizonte; quartzitos, filitos e conglomerados do
Grupo Caraça nos bairros São Sebastião, Nossa Senhora da Piedade e São Francisco; e em direção das
rochas calcissilicáticas,dos metaconglomerados e das formações ferríferas do Grupo Nova Lima, junto
aos bairros Morro São Sebastião e Morro São João, como ilustra a figura 5.21.

Figura 5.21 - Mapa litoestratigráfico da cidade de Ouro Preto com destaque para a mancha urbana de 2004.

93
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

A expansão se deu em direção às escarpas da Serra de Ouro Preto na porção nordeste,


impulsionada principalmente pelos bairros Morro Santana, Morro São Sebastião, Nossa Senhora da
Piedade e em menor proporção Taquaral. Ainda na serra, mas na porção noroeste, a expansão ficou a
cargo de bairros como São Cristovão e São Francisco e na parte central a consolidação do Morro São
Sebastião. Percebe-se na geomorfologia urbana, que a área central representada pelo vale aberto
formado entre a Serra de Ouro Preto e as colinas centrais da cidade, vai deixando de ser o local mais
ocupado em detrimentos das colinas com topos aplainados, onde estão os bairros Vila Aparecida,
Morro do Cruzeiro, Lagoa. Novo Horizonte, Nossa Senhora do Carmo e Vila Itacolomi.
O resultado da ocupação principalmente nas encostas da Serra de Ouro Preto foi o crescimento
de residências sobre as áreas de antigas minerações, figura 5.22.

Figura 5.22 - Ocupação urbana da cidade de Ouro Preto - MG sobre áreas de antigas minerações em 2004.

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Em 2004, dos 356 hectares minerados no passado, já estavam ocupados 15,7 hectares. Isso
representa 4,41% de toda área de mineração na cidade de Ouro Preto. Entretanto, é importante notar
que os problemas relacionados ao uso do solo na cidade de Ouro Preto estão ligados às práticas de
ocupação - loteamentos - inadequadas e a locais sem as condições propícias para a ocupação, dentre
eles, antigas minerações. Aliando o passado dessas áreas às práticas atuais - corte, aterros, etc -
estabelece-se muitas vezes situações de risco para a população. Uma análise sobre os registros de
movimentos de massa na cidade (Castro 2006), possibilita notar que alguns deles ocorreram sobre
essas áreas (figura 5.23), indicando que os acidentes estão relacionados a utilização de técnicas
inadequada de intervenção no meio físico, principalmente nas encostas.

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Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Figura 5.23 - Registro de movimentos de massa na cidade de Ouro Preto e áreas de antigas minerações
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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Entre 1988 e 2003, o Corpo de Bombeiros de Ouro Preto registrou 415 ocorrências de
movimentos de massa. Esses registros possibilitaram o zoneamento das áreas de maior risco a
movimentos de massa (Castro 2006). As áreas mais problemáticas se localizam na Serra de Ouro
Preto, nos bairros Padre Faria e Santa Cruz. Os acidentes ocorridos nestes locais se agravam devido às
práticas inadequadas de construção, tais como cortes impróprios nos taludes, ocupação de antigos
depósitos de mineração, deposição inadequada de lixo e resíduos de construção, esgoto e águas
servidas sem canalizações, baixa qualidade das construções residenciais, entre outros. Alguns locais
necessitam de intervenções para melhoria da infra-estrutura dos bairros e em outros pode ser
necessário até remoção da população, aponta Castro (2006).
Repassando os cinqüenta e quatro anos de ocupação analisados, pode-se dizer que Ouro Preto
vivenciou nesse período de recuperação econômica, a consolidação da ocupação na região entorno do
Núcleo Histórico enquanto à demanda por novas áreas ainda não havia cessado. Isso levou a
população na direção da Serra de Ouro Preto e colinas adjacentes ao Núcleo Histórico. A
inobservância das condições adequadas de uso do solo, premissa primordial na paisagem de Ouro
Preto, levou a deflagração de problemas de ordem de ocupação inadequada na área urbana de Ouro
Preto. Dessa maneira, é importante manter em vista que, as áreas com tendências a expansão devem
ser conduzidas de maneira que as ocupações respeitem as características do meio físico local, para que
futuros problemas possam ser evitados.

5.9. TENDÊNCIAS ATUAIS DE EXPANSÃO

As análises temporais das fotografias aéreas juntamente com as campanhas de campo


auxiliaram na definição das áreas com tendência à expansão e adensamento urbano. Sobrepondo-se as
áreas ocupadas das diferentes épocas analisadas da sede de Ouro Preto, destacou-se os locais onde o
adensamento foi mais intenso nos últimos anos, indicando assim, os possíveis alvos ao crescimento
urbano futuro. A figura 5.24 ilustra essas áreas.

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Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Figura 5.24 - Área com tendência a expansão urbana no núcleo urbano de Ouro Preto - MG
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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Ao todo, foram demarcadas dez áreas que nas últimas décadas sofreram destacado
adensamento urbano no Distrito sede de Ouro Preto. Neste item, fez-se uma análise das áreas de
expansão frente as características geológicas, geotécnicas, geomorfológicas e processos geodinâmicos,
juntamente com as leis que estabelecem as normas para o parcelamento, uso e ocupação do solo em
Ouro Preto. São essas, a Lei Complementar 28/06, que estabelece o Plano Diretor Municipal e a Lei
Complementar 30/06, que normatiza e dá as condições para o parcelamento do solo no município de
Ouro Preto. Discutir-se-á cada área separadamente.

Área 1 - São Cristovão (montante)


Área 2 - Morro São Sebastião
Área 3 - São Francisco
Área 4 - Nossa Senhora de Lourdes e Jardim Alvorada;
Área 5 - Morro da Queimada;
Área 6 - Morro São João;
Área 7 - Nossa Senhora da Piedade;
Área 8 - Taquaral;
Área 9 - Santa Cruz;
Área 10 - Novo Horizonte, Pocinho, Nossa Senhora do Carmo e Lagoa.

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Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

5.9.1.Área 1- São Cristovão


O bairro São Cristovão apresenta um padrão construtivo misto, possuindo habitações
unifamiliares e multifamiliares, além de estabelecimentos comerciais. No entanto, sobressai na região o
padrão construtivo mais simples de suas moradias. A expansão urbana neste bairro se intensificou nas
décadas que se seguiram a 1950. Em 2004, a parte baixa do bairro já estava praticamente ocupada,
enquanto que as zonas oeste e norte, se tornavam o alvo da ocupação (figura 5.25/evolução da ocupação).

100
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Figura 5.25 - Evolução da ocupação, declividade, perfil transversal e geologia do bairro São Cristovão
101
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Em 1950, a ocupação no bairro do São Cristovão era praticamente incipiente, se restringindo a


pontos isolados dentro dos limites atuais. Na fase seguinte, em 1969, o bairro cresceu significativamente,
principalmente na direção norte-sul, junto à atual Av. Padre Rolim. A ocupação no bairro continuou nos
anos seguintes e em 1978 nota-se um crescimento em direção as encostas da Serra de Ouro Preto. Em
1986, o bairro apresentou um crescimento tímido na porção norte. Sem dúvida, foi no final da década de
80 e durante toda a década de 90 que o bairro apresentou seu maior crescimento.
O bairro São Cristovão ocupa a unidade de landform escarpa, que exibe vertentes que podem
alcançar os 170m de desnível altimétrico. Os três perfis que acompanham a figura 5.25 demonstram a
variação lateral da topografia no bairro. A parte mais alta (A - A¹) apresenta vertentes íngremes e o topo
das encostas arredondado. A paisagem central (B - B¹), marcada por uma depressão, foi conseqüências
das atividades mineiras pretéritas. Por fim, a parte baixa (C - C¹) possui vertentes e topos de encostas
irregulares.
Foram registrados entre o ano de 1988 e 2004, trinta e sete ocorrências de movimentos de massa
nas encostas do bairro (Castro 2006). Destaca-se na paisagem do bairro, a presença de feições de antigas
minerações do século XVIII, que desde a década de 60 do século XX vem sendo ocupada ano após ano.
A legislação brasileira autoriza áreas que apresentam declividades até 30% a serem parceladas
para fins urbanísticos. Entretanto, estabelece que áreas acima dessa cota, não estão autorizadas ao
parcelamento do solo sem as medidas técnicas necessárias. Observando o mapa de declividade da área 1,
região compreendida pelo bairro São Cristovão, somente 29,5% da região se enquadra na classe de
declividade autorizada para parcelamento do solo. Os outros 70,5% se dividem entre áreas de preservação
permanente (acima de 100% de declividade) que respondem por 6% do bairro e áreas entre 30 e 100%,
onde o parcelamento somente autorizado sob orientação técnica (64,4%).
O bairro São Cristovão assenta-se sobre os filitos da Formação Cercadinho (rochas do Grupo
Piracicaba) que se encontram na porção sul do bairro. Ao norte os itabiritos do Grupo Itabira e na porção
noroeste, bem incipiente, quartzitos do Grupo Caraça. O conhecimento das litologias presentes no bairro
são importantes pois podem fornecer informações quanto a favorabilidade de ocupação. Atreladas a essas,
as informações geotécnicas de cada litologia são fundamentais para a correta orientação do uso do solo.

102
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

A Formação Cercadinho caracteriza-se por possuir quartzitos e filitos intercalados, ambas


litologias extremamente fraturadas. Significa dizer que taludes de corte e de aterro não são recomendados
pois as rochas são muito fraturadas, o que pode tornar a encosta instável. A predominância das fraturas
gera um aumento na infiltração de água no solo, potencializando a ocorrência de movimentos de
massa.Souza (1996) distingue os itabiritos do Grupo Itabira em dois tipos, as rochas brandas e as rochas
duras . Os Itabiritos duros apresentam-se compactos e alterados nos níveis I e II. O grau I, se refere à
rocha sã, nela não são visíveis sinais de alteração no material rochoso, intemperismo limitado nas
superfícies das maiores descontinuidades. O grau II descreve as rochas levemente alteradas. Aqui o
intemperismo ocorre através das descontinuidades. O segundo tipo de rocha, os Itabiritos brandos,
apresentam-se friáveis e fraturados, nos níveis III e IV. O nível III se refere às rochas moderadamente
alterada. Aqui pouco menos da metade do material rochoso está decomposto para solo. Fragmentos de
rocha fresca ou descolorida podem estar presentes, como uma estrutura continua. O nível IV, se refere ao
itabirito intensamente alterado. Nele, mais da metade do material rochoso está decomposto para solo

5.9.2. Área 2 - Morro São Sebastião


As fotografias aéreas da década de 1950 já mostram alguma ocupação no Morro São Sebastião,
com algumas ocupações bem pontuais. Os anos de 1969 e 1978 também não apresentaram uma evolução
significativa na ocupação mas, de em 1986 em diante, houve uma grande expansão, principalmente no
topo da Serra de Ouro Preto (figura 5.26/evolução da ocupação).

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Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Figura 5.26 - Declividade, geologia, perfil transversal e expansão urbana no Morro São Sebastião
104
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

A área do Morro São Sebastião, um pouco mais de 120ha, ocupa a unidade de escarpa no relevo
local, entretanto a parte ocupada do bairro se encontra no topo da serra e não nas encostas como
acontecem em outros bairros. Nota-se no perfil A - A¹ (figura 5.26) a presença de encostas íngremes a
oeste do bairro, um planalto central que concentra a ocupação e um talude a leste, causado pela
mineração. O perfil B - B¹ representa o topo da Serra de Ouro Preto. O interflúvio separa duas
importantes bacias hidrográficas do estado.
A área em questão apresenta uma distribuição homogênea das classes de declividade. Na porção
sul concentram-se as declividades mais acentuadas e na porção norte as encostas mais suaves. O
fragmento norte da área coincide com o topo da Serra de Ouro Preto, enquanto que o fragmento sul
corresponde às encostas da serra. Ao todo, 48,4% da área estão entre 0 e 30% de declividade; 49,4% entre
30 e 100%; e apenas 2,2% acima de 100%. Esses números ilustram o equilíbrio entre as duas classes, de 0
a 30% e 30 a 100%.
Se por um lado, a área do Morro São Sebastião não apresenta problemas em termos de
declividade, já que a parcela norte concentra classes autorizadas para o parcelamento do solo, por outro, a
expansão urbana vivida nas últimas décadas merece atenção. Desde a década de 50 do século passado, a
ocupação se concentrara ao norte do divisor de águas da Serra de Ouro Preto e atualmente ainda se
mantêm dessa maneira. Entretanto, a ocupação ao sul do interflúvio, nas encostas da serra, vem ganhando
proporções maiores. Se até 1986 a ocupação no bairro ocorria de maneira pontual, em 2004 nota-se uma
mancha urbana se estabelecendo ao sul dessa área.
A ocupação no Morro São Sebastião predomina sob dois grupos litológicos principalmente, os
xistos Nova Lima na porção leste e os filitos e quartzitos do Grupo Caraça na porção oeste.
Os xisto do Grupo Nova Lima apresentam alguns parâmetros geotécnicos (escavação, escoamento
superficial, erodibilidade e estabilidade de encostas) que desfavorecem ou são inadequados para a
ocupação humana. Entretanto, como os xisto no Morro São Sebastião coincidem com a parcela do relevo
mais plana, com declividade entre 0 e 30%, os riscos associados à movimentos de massa são bem
reduzidos.
Em situação oposta se encontram os filitos e quartzitos do Grupo Caraça que estão associados à
declividades mais acentuadas. O quartzito Moeda é uma unidade muito irregular, ora se apresenta são e
íntegro, ora intensamente diaclasado e desintegrado em blocos ou massa arenizadas. Dessa maneira
evidenciam-se dois tipos distintos para a ocupação humana, nos locais onde ocorrer o quartzito são e no
outro onde apresentar massa arenizada. Como ambos estão associados a declividades acentuadas, o laudo
técnico é que definirá se é ou não possível a ocupação humana. O filito da Formação Batatal como se
apresenta muito alterado, atribui-se má qualidade geotécnica.

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Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

5.9.3. Área 3 - São Francisco


Fotointerpretações em fotografias da década de 1950 registram ocupações pontuais em algumas
partes do bairro, entretanto a área desde o século XVIII é palco de atividades de mineração. Daí em
diante, a ocupação urbana no bairro se intensificou, notando-se um aumento significativo nos finais da
década de 1960.
Nas observações de 1978 em diante nota-se considerável avanço nas adjacências da av. Padre
Rolim com posterior ocupação das encostas da Serra de Ouro Preto como se observa na figura 5.27.

106
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Figura 5.27 - Declividade, geologia, perfil transversal e expansão urbana do bairro São Francisco
107
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

O bairro possui um desnível altimétrico em torno de 220m, com 1120m de altitude na região
próxima à rodoviária até 1340m na parte mais alta, a nordeste da região. Guardando os traços da
mineração do século XVIII, o bairro localiza-se no fundo de duas sub-bacias na Serra de Ouro Preto,
orientadas pela ação antrópica da época.
O bairro São Francisco se insere na unidade 1 do mapa de landform que corresponde às escarpas
da Serra de Ouro Preto. Localmente, as encostas de caracterizam por serem côncavo-convexas (perfis A -
A¹, B - B¹ e C - C¹). A principal área de ocupação no bairro se dá nas planícies da drenagem local
principal e está indo na direção das partes mais altas do bairro.
Dentre as áreas que vem sofrendo expansão urbana, o bairro sofre com a ausência de locais
propícios aos projetos urbanísticos. Com uma área territorial de 41,4ha, 66,6% da área está entre 30 e
100% de declividade (16º41' e 45°, respectivamente); 27% até 30% de declividade e o restante 6,4%
acima de 100% ou 45°.
Entre 1991 e 2003 foram registrados um total de 15 movimentos de massa (Castro 2006), a
maioria ocorrendo associados à ocupação sobre antigas áreas de mineração (Figura 5.27). Desses, dois ou
três somente ocorreram fora da área urbana do bairro.
Na área ocorrem, ao sul filitos e quartzitos da Formação Cercadinho (Grupo Piracicaba), ao norte
o quartzito Moeda e o filito Batatal (Grupo Caraça) e na parte intermediária o itabirito da Formação Cauê
(Grupo Itabira).
De acordo com a Carta Geotécnica de Ouro Preto (Carvalho, 1982), os terrenos localizados à
montante da av. Padre Rolim, independente da formação geológica a que pertençam, são considerados de
má qualidade geotécnica. De qualidade média, considera-se uma faixa que liga, em linha reta, a av. Padre
Rolim (terminal rodoviário) até a Igreja de São Francisco e a encosta oeste do terminal rodoviário, que é
marcado por declividades mais suaves. Por fim, uma estreita faixa leste-oeste nos fundos na igreja de São
Francisco é de boa qualidade geotécnica.
Para fins práticos, os terrenos que são considerados de boa qualidade, estão ligados aos quartzitos
da Formação Cercadinho. Os terrenos de qualidade mediana correspondem aos filitos, também da
Formação Cercadinho. Nas encostas da serra, o itabirito Cauê, o filito Batatal e o quartzito seguem os
terrenos de má qualidade.

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

5.9.4. Área 4 - Nossa Senhora de Lourdes e Jardim Alvorada


A área engloba dois bairros sujeitos ao adensamento urbano, o Nossa Senhora de Lourdes e o
Jardim Alvorada. Juntos, possuem área equivalente a 38,1 ha, ocupam as encostas de morrotes locais e
estão separados pela drenagem principal de uma sub-bacia na margem esquerda do Ribeirão Funil. A
declividade no local é bem heterogênea, no vale concentram as unidades mais suaves e nas encostas dos
morrotes as unidades mais inclinadas. Entretanto, a declividade local é bem equilibrada com 53% da área
possuindo inclinação até 30%; 45,7% entre 30 e 100% e apenas 1,1% acima de 100%.
Estão presentes na área quartzitos da Formação Taboões e os filitos da Formação Barreiro, além
do filito e quartzito da Formação Cercadinho e por fim, os xistos da Formação Sabará. Na superfície o
quartzito Taboões é muito friável, apresentando grãos de quartzo aparente. Na encosta, a estabilidade é
muito fraca devido a alta friabilidade dessa rocha. No filito Barreiro, apesar de ser menos erodível, as
encostas geralmente não possuem boa estabilidade. Isso depende de como a vertente se posiciona em
relação às foliações e fraturas. Quando a foliação mergulhar na direção do corte no terreno ou a rocha
estiver fraturada ou ainda intemperizada, o filito pode se tornar perigoso (Silva, 1990).
Apesar de todas litologias apresentarem importância em relação a sua qualidade geotécnica,
merecem atenção os xistos da Formação Sabará, que respondem por 65,8% (25,1ha) na área em questão.
A ocupação na região iniciou-se em 1978 ao longo da drenagem principal da área. Em 1986 a
parte mais baixa do vale já estava consolidada. Dali em diante, a ocupação se dirige as encostas dos
morrotes, no sentido sudeste e noroeste. A ocupação no bairro Jardim Alvorada é mais recente, em 1986
já possuía algumas ocupações pontuais, mas a partir da década de 1990 é que se dá a consolidação, como
ilustra a figura 5.28. Não há no local feições de mineração.
Foram registrados entre 1988 e 2004, quatro movimentos de massa, dois em 1992 e dois em
1996/1997 (Castro 2006). Dois deles atingindo a área urbana e dois, área não residencial.

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Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Figura 5.28 - Declividade, geologia, perfil transversal e evolução da ocupação no Jardim Alvorada e N.S.de Lourdes
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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

5.9.5. Área 5 - Morro da Queimada


O Morro da Queimada possui extensão territorial de 56,7 ha e está localizado nas encostas da
Serra de Ouro Preto. Durante o período de mineração no séc. XVIII, a região foi bastante alterada,
principalmente nas bordas leste e oeste (figura 5.29/perfil B - B¹). Ainda hoje é possível encontrar
vestígios da mineração antiga no local.
Originalmente pouco se manteve do Morro da Queimada que teve, praticamente, todo o conjunto
arqueológico destruído pela ocupação. Segundo Sobreira & Fonseca (2001), a solução foi englobar o
pouco de ruínas que restaram ao norte da área no Parque Arqueológico do Morro da Queimada.
Devido à alteração realizada no passado, praticamente toda a área (69%) possui declividades entre
30 e 100%. Assim, restam 27,7% de áreas que têm até 30% de declividade. Essas últimas, se encontram,
principalmente no interflúvio da serra e na encosta central, entre as cicatrizes da antiga mineração. Os
restantes 3,3% estão acima de 100%.
A região caracteriza-se por apresentar uma diversidade geológica acentuada. Estão presentes na
área, o quartzito Moeda, o filito Batatal, o itabirito Cauê e o xisto Nova Lima, além da canga, na região
central.
Os xistos do Grupo Nova Lima estão presente, praticamente, em todo o bairro. Geralmente
apresentam-se muito alterados, exibindo uma complexa rede de descontinuidades. Esses terrenos
apresentam elevada capacidade de retenção de umidade e são suscetíveis ao ravinamento, quando
submetidos a chuvas torrenciais ou deslizamentos. São pouco resistentes.
O quartzito Moeda, quando são, apresenta uma estabilidade que varia entre bom e excelente. No
entanto, em alguns casos, se a grau de fraturamento na rocha for alto e a encosta íngreme, podem
acontecer quedas de blocos.
O filito Batatal geralmente apresenta-se com boa estabilidade. No entanto, sua estabilidade,
principalmente na encosta, vai variar segundo a posição da foliação, fraturas e graus de meteorização. As
atividades na área podem se tornar de risco, caso a alteração superficial siga a foliação do filito, ou se o
mesmo estiver intemperizado ou fraturado.
Quanto ao itabirito Cauê na encosta, a estabilidade é boa e controlada pela direção dos estratos e
das fraturas. Ele é potencialmente perigoso quando os estratos mergulham na direção do corte, das
fraturas ou se estiverem friáveis. Segundo Carvalho (1982), onde a encosta é mais regular (parte central
do bairro), existe um capeamento de canga limonítica contínua e coesa, que resguarda a erosão superficial
mais intensa.

111
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Foi sobre os itabiritos e sobre a couraça limonítica que a ocupação foi se dando na região. As
bordas leste e oeste são mais irregulares devido às atividades antigas de mineração. A parte central, mais
regular (figura 5.29/perfil A - A¹) foi o local da ocupação pretérita e tem sido alvo da ocupação da década
de 1990 em diante.

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Figura 5.29 - Declividade, geologia, perfil transversal e evolução da ocupação no Morro da Queimada
113
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

5.9.6. Área 6 - Morro São João


Na encosta da serra onde se localiza o Morro São João, se destacam vertentes suaves (figura
5.30/perfil A - A¹). A amplitude do relevo é baixa no local, atingindo os 1445m na parte mais alta e
1290m nas partes mais baixas. A oeste exibindo cotas entre 1290 a 1370m, destacam-se as vertentes
côncavo-convexas com declividade, predominantemente, entre 45 e 100%. Na face leste, exibindo cotas
entre 1310 a 1445m, vertentes côncavo-convexas, com declividade bem heterogênea. A área total
corresponde a 34,7ha, distribuídos da seguinte maneira, com relação ao declive: 49,1% exibem vertentes
com até 30%, 48,5% entre 30 e 100% e 2,4% do total exibe contas acima de 100% (figura
5.30/declividades).
Encontram-se na região xistos Nova Lima, itabiritos Cauê, filitos Batatal e quartzitos Moeda. As
descrições seguem as realizadas anteriormente por Carvalho (1982) e Silva (1990). Predominam na região
os itabiritos e xistos e em menor proporção filitos e quartzitos. (figura 5.30/geologia)
Devido a isso, os itabiritos mais alterados, quando expostos, podem desencadear um processo de
erosão interna, que mais tarde poderá acarretar em remoção do material acima e talude negativos.
A ocupação na região se deu a partir dos anos de 1980, quando houve a ocupação das encostas
centrais e das encostas a oeste do vale. A partir da década seguinte, o movimento de ocupação mudou de
direção e seguiu no sentido leste do bairro. Em 2004, toda vertente sul da serra e a zona leste do bairro, já
estavam totalmente ocupados, restando assim, as encostas do morro adjacente, zona oeste (figura
5.30/Evolução da ocupação).

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Figura 5.30 - Declividade, geologia, perfil transversal e evolução da ocupação no Morro São João
115
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

5.9.7. Área 7 - Nossa Senhora da Piedade


Nossa Senhora da Piedade, região localizada a leste do centro histórico de Ouro Preto, possui uma
área de 33ha. O bairro, que está na Serra de Ouro Preto, encontra-se assentado entre 1125 a 1285m de
altitude. Possuindo vertentes, predominantemente, convexas e retilíneas nas áreas marcadas por antigas
minerações, formou-se na zona oeste do bairro, uma região deprimida onde não há ocupação (figura
5.31/perfil A - A¹). Entretanto, a jusante dessa área, encontra-se a região no bairro que mais registrou
movimentos de massa entre 1988 e 2004, foram ao todo 27 ocorrências, principalmente nas adjacências
da rua José Anastácio (Castro 2006).
Observa-se nessa região o domínio de declividade acima entre 30 e 100% (68% do total),
principalmente nas minerações antigas e nas adjacências (30,2%) até 30%. Áreas de Preservação
Permanente representam 1,6% do total (figura 5.31/declividade).
Na região prevalecem os itabiritos da Formação Cauê, quartzitos da Formação Moeda, filito
Formação Batatal e em menor proporção, os xistos do Grupo Nova Lima (figura 5.31/geologia).
O itabirito Cauê, está presente em 17,7ha dentro dessa região de expansão, o que lhe confere uma
importância significativa sob os aspectos da geotecnia e do uso e ocupação do solo. Na área, o itabirito
pode ocorrer capeado por uma couraça limonítica ou exposto na parte mais baixa da encosta. Segundo
Carvalho (1982), o que ocorre no primeiro caso é que a couraça limonítica quando contínua e coesa
resguardam o itabirito da erosão superficial, tendo a função de dispersora do escoamento.
O itabirito é xistoso e comumente se apresenta friável com um notável sistema de fratura que
acompanha a linha de declividade da encosta. Portanto, o que ocorre no segundo caso quando o itabirito
está exposto, é que linhas de fluxos se formam subparalelos à superfície, promovendo a erosão interna e a
conseqüente remoção de material (Carvalho, 1982). Assim, pode-se estabelecer que onde ocorrem
itabiritos capeados por canga, o terreno é de boa qualidade, caso contrário, a qualidade é ruim.
Desde 1950 já havia registros de ocupação na área do bairro N.S.Piedade, mas é após a década de
1970 que ela se dá mais intensamente. A partir da expansão do Alto da Cruz, o bairro foi surgindo na base
da Serra de Ouro Preto. Existem na região dois registros de minerações antigas, uma mais isolada a oeste
e a outra, uma continuação da mineração do Taquaral. Em 1986, o cenário era de ocupação na parte mais
alta do bairro, na base da mineração central e no alto da área minerada a leste. Passados dezoito anos, o
que mudou na paisagem do bairro foi a intensificação da ocupação na parte centro-leste da região. Hoje o
cenário é de um bairro praticamente ocupado, com exceção, das áreas de mineração e de topo de morro,
na parte mais alta do local (figura 5.31/ Evolução da ocupação).

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Figura 5.31 - Declividade, geologia, perfil transversal e evolução da ocupação no bairro N.S.da Piedade
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Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

5.9.8. Área 8 - Taquaral


O bairro Taquaral, localizado no extremo leste da cidade de Ouro Preto tem área de 62,8ha e
possui traços de antigas minerações, o que confere à paisagem local encostas com a predominância de
declividades acentuadas (figura 5.32/declividade) tendo 68,9% das vertentes entre 30 e 100% de
declividade; 29,1% abaixo de 30% e 2% acima de 100%.
Salienta-se na paisagem uma topografia muito irregular com vertentes côncavo-convexas e
pequenas depressões encaixadas que podem ser causa dos movimentos de massa que se concentram a
leste (figura 5.32/perfil A - A¹/declividade). O bairro encontra-se no domínio da Serra de Ouro Preto que
corresponde à unidade 1 de landform. Localmente se caracteriza por ter vertentes dissecadas e densidade
de canais acentuada.
Dominam na região os dolomitos da Formação Gandarela (33,7ha), seguido dos itabiritos da
Formação Cauê (24,4ha) e ao norte os xistos do Grupo Nova Lima (figura 5.32/geologia).
A ocupação na região do Taquaral iniciou-se efetivamente a partir da década de 1970, mas em
1950 já havia registros de ocupação em torno da capela Senhor do Bom Jesus. O eixo de crescimento do
bairro fora nas margens da rua Águas Férreas e rua Presidente João Goulart e apesar do acesso à Mariana
ter se transferido para a av. Farmacêutico Duilio Passos o adensamento continuou se dando a partir das
primeiras, de acordo com o levantamento de 2004.
Nas paisagens do Taquaral são evidentes os traços deixados pela mineração no século XVIII. As
marcas deixadas representam 65% do território do bairro e estão, consideravelmente ocupadas pela
população local (figura 5.32/evolução da ocupação).

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Figura 5.32 - Declividade, geologia, perfil transversal e evolução da ocupação no bairro Taquaral
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Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

5.9.9. Área 9 - Santa Cruz


A ocupação do bairro Santa Cruz, na região de expansão da cidade localizada a sudeste da Praça
Tiradentes, se iniciou na década de 1970, como conseqüência do adensamento do bairro Padre Faria. No
princípio a ocupação foi se dando na face nordeste de uma das colinas que compõe a paisagem local. De
1990 em diante, o adensamento continuou na mesma encosta até atingir o topo desta. Dali em diante,
seguiu descendo a vertente sul (figura 5.33/evolução da ocupação).
Assentado sobre as colinas orientais de Ouro Preto e com área de 73ha, tem sua paisagem
formada por encostas íngremes; 69,5% da região estão entre 30 e 100% de declividade; 25,3% até 30% e
4,2% acima de 100% ou 45°(figura 5.33/declividade). A amplitude acentuada e relevo acidentado
direcionaram a ocupação para as vertentes côncavas e retilíneas e para topos de morro arredondados
(figura 5.33/perfil A-A¹; B-B¹).
Nas colinas do bairro destacam-se os filitos e quartzitos da Formação Cercadinho no norte da
área, os filitos da Formação Barreiro, seguido dos filitos da Formação Fecho do Funil ao sul e por fim,
recobrindo grande parte da região os xistos do Grupo Sabará (figura 5.33/geologia). O filito que aparece
na região do bairro Santa Cruz, os terrenos são de má qualidade pois são muito alterados e localmente
grafitosos.
O Grupo Sabará, predominante na região, ocorre em 66% do bairro. Os xistos podem aparecer
capeados por canga e onde isso ocorrer a qualidade do terreno pode variar entre ruim e mediana
(Carvalho 1982). Silva (1990), descreve o xisto como uma rocha intemperizada na superfície, muito dura
e com foliação visível. Apesar de intemperizado em alguns pontos, o xisto é muito resistente a erosão e a
infiltração. A estabilidade para fundações vai depender do estado de alteração do material. Se estiver
meteorizado, estruturas leves são mais recomendadas. Para o material são, já são permitidas estruturas
mais pesadas. A estabilidade das encostas vai depender justamente do estado de alteração da rocha, mas
geralmente é estável.
.

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

Figura 5.33 - Declividade, geologia, perfil transversal e evolução da ocupação no bairro Santa Cruz
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Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

5.9.10. Área 10 - Novo Horizonte, N.S.do Carmo e Lagoa


A maior área de expansão da cidade de Ouro Preto é composta por três bairros, cujos territórios
somados possuem 176 ha. Topograficamente muito irregular, a paisagem caracteriza-se pela amplitude de
relevo que pode variar de 1025 a 1240 m de altitude. A morfologia local apresentando traços tão diversos
conferiu as encostas da área declividades bem heterogêneas. 51,3% do local exibem vertentes com até
30% de declividade; 44,7% entre 30 e 100% e 4% acima de 100% (figura 5.34/declividade).
Os limites do bairro atravessam pelo menos três unidades de landform (unidades 3,4 e 5)
ilustrados na figura 5.34/perfis A-A¹; B-B¹ e C-C¹. No perfil A-A¹ é possível observar, na porção oeste, a
topografia suave que está ligada aos depósitos elúvio-coluviais, proporcionando no local encostas e topos
de morros planos. Na sequência, a topografia, associada aos filitos e xistos conferem à paisagem uma
depressão que está marcada por vertentes côncavas, convexas e retilíneas.
Nos perfis B-B¹ e C-C¹ destacam-se as encostas mais altas a oeste que estão ligadas aos quartzitos
Itacolomi. Na sequência dos perfis aparecem vertentes convexas e retilíneas e na porção leste, duas
depressões. No perfil B-B¹ a depressão foi originada pela mineração de pirita no local, enquanto que no
perfil C-C¹ a depressão está ligada a processos erosivos que se instalaram nas rochas locais.
Destacam-se as rochas do Grupo Piracicaba (Formação Barreiro e Formação Fecho do Funil), os
xistos do Grupo Sabará e os quartzitos do Grupo Itacolomi (figura 5.34/geologia). Com exceção do Grupo
Itacolomi, as demais já foram caracterizadas, portanto, caracterizar-se-á apenas esse último.
Segundo Souza (1996), os quartzitos do Grupo Itacolomi subdividem-se em dois litotipos, os
quartzitos duros e os quartzitos brandos. Os primeiros apresentam-se coeso e geralmente na forma de
blocos rochosos distribuídos ao longo das encostas. Esse litotipo pode apresentar-se como rocha sã ou
levemente alterada. No primeiro caso, não são visíveis sinais de alteração no material rochoso e o
intemperismo se limita a superfície das maiores descontinuidades. O segundo litotipo, formado pelos
quartzitos brandos são friáveis e já se encontram moderadamente a intensamente alterados. No primeiro
caso, pouco menos da metade do material rochoso está decomposto para solo. Fragmentos de rocha fresca
ou descolorida podem estar presentes, como uma estrutura continua. No segundo caso, quando a rocha
está intensamente alterada, pouco mais do material rochoso está decomposto para solo. Fragmentos de
rocha fresca ou descolorida podem estar presentes, como uma estrutura descontinua.
A área é a região de adensamento mais recente de Ouro Preto. A ocupação no local iniciou-se a
partir da década de 1980 mas foi na década de 90 que o movimento se intensificou. No princípio a
população se concentrava próximo à Escola Técnica de Ouro Preto e nas margens da BR-356.

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

De 1990 em diante, a ocupação intensificou em torno das áreas existentes dando origem ao bairro
da Lagoa e o Nossa Senhora do Carmo. As novas áreas na margem direita da rodovia, no sentido
Mariana, deram origem ao bairro Novo Horizonte e do outro lado da estrada, na margem esquerda, no
fundo do vale, surgiram pontualmente algumas construções (figura 5.34/evolução da ocupação).

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Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

Figura 5.34 - Declividade, geologia, perfil transversal e evolução da ocupação nos bairros Lagoa, N.S.Carmo e Novo Horizonte
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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

5.10. Discussão dos resultados


A partir de 2006 foi estabelecido o novo Plano Diretor de Ouro Preto e a Lei de Uso e Ocupação
do solo urbano do município de Ouro Preto. O Plano Diretor no art. 35 estabelece, entre outros, que no
tocante a Política de Expansão Urbana o Poder Público Municipal observará as seguintes diretrizes: inciso
III - definição das áreas de expansão urbana, segundo sua adequação para ocupação, observada a projeção
do crescimento populacional do núcleo urbano para o período de dez anos.
O modelo espacial adotado no município fixa que o território será dividido em área urbana e áreas
rurais. E a área urbana por sua vez será subdividida em zonas: Zona de Proteção Especial (ZPE); Zona de
Proteção Ambiental (ZPAM); Zona de Adensamento Restrito (ZAR); Zona de Adensamento (ZA); Zona
de Especial Interesse Social e por fim, Zona de Intervenção Especial (ZIE). Buscou-se, a partir dos
resultados obtidos, um comparativo entre as áreas de expansão identificadas no trabalho com as zonas
descritas acima, a fim de contribuir com as diretrizes municipais.
Problemas envolvendo as áreas como Taquaral e São Cristovão por exemplo, já foram
exaustivamente discutidos por alguns autores (Carvalho 1982; Sobreira 1989; Sobreira 1990; Sobreira et.
al. 1990; Sobreira, F.G. 1991; Souza 1996; Sobreira 1997; Sobreira & Fonseca 1998; Bonuccelli,1999;
Bonuccelli & Zuquette 1999; Sobreira & Fonseca 2001, Pinheiro et.al 2003). O objetivo aqui não é
reeditá-los, mas trazer à luz os novos resultados com os problemas já esclarecidos.
O bairro São Cristovão (área1) é o que apresenta melhores condições de infra-estrutura e
segurança. Apesar de não ser crítica a situação do bairro, a falta de novos lotes fez com que moradores
construíssem mais a montante, onde a declividade é mais acentuada, se dirigindo para captações d'água
existentes a meia encosta. São locais inadequados pelas fortes declividades e as formas de ocupação
existentes aumentam os riscos. A parte central do bairro, do ponto de vista geológico-geotécnico, possui
boa infra-estrutura. Entretanto, nas áreas de expansão, devido à falta de qualidade das moradias, falta de
infra-estrutura e dos condicionantes geológicos associados às declividades acentuadas, a ocupação se
torna de alto risco.
O bairro São Cristovão está consolidado e situações de risco já foram contornadas por obras
públicas e pela própria ocupação pelas ruas e casas. O patrimônio antes existente, principalmente
estruturas da antiga mineração, foi totalmente alterado ou perdido no processo de ocupação, sendo sua
recuperação praticamente impossível.

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Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

A Lei Complementar Municipal 30/2006 estabelece Zona de Especial Interesse Social (ZEIS) na
área. Segundo o Art.10 da referida lei, na região há o interesse do Poder Público em ordenar a ocupação,
por meio de urbanização e regularização fundiária, ou em implantar ou complementar programas
habitacionais de interesse social. Dessa maneira, dada as condições geológicas e topográficas da região
recomenda-se que as ocupações a montante do bairro sejam restringidas e apenas autorizadas mediante
parecer favorável do grupo técnico responsável.
O Morro São Sebastião possui situação oposta do bairro anterior. Nesse, as condições
topográficas favorecem o adensamento populacional. Há que se ressaltar que o Morro São Sebastião
possui seu território dividido pela Serra de Ouro Preto, dessa forma recomenda-se que a montante da
serra, depois do interflúvio, a ocupação seja permitida. Entretanto, as encostas voltadas para a cidade de
Ouro Preto, possuem declividades mais acentuadas e a topografia é muito irregular, devido à alteração
causadas pela mineração. Nesse caso, admite-se a ocupação, somente mediante parecer técnico favorável.
O bairro São Francisco, também conhecido com Volta do Córrego apresenta os mesmo problemas
de áreas vizinhas na serra devido às atividades de mineração no passado e os problemas de ocupação
atualmente. Apesar da ocupação do bairro não ser intensa, a área possui características peculiares que
devem ser consideradas no processo de adensamento. A predominância de vertentes acima de 45% e as
características geológicas do terreno fazem da área a montante da av. Padre Rolim, um péssimo local para
a expansão da cidade. Diferentemente da lei complementar 30/06 de parcelamento e uso do solo da cidade
de Ouro Preto considera a área, Zona de Adensamento Restrito nível III, que significa que a região deve
ser alvo de controle para fins de adensamento, aqui se recomenda a restrição da ocupação imediatamente.
Os bairros N.S.de Lourdes e Jardim Alvorada de maneira contrária aos bairros anteriores, não
possuem tantas restrições, salvo algumas características do meio físico pontuais, a ocupação será
permitida em conformidade com a Lei Complementar 30/06, que delimita a área como Zona de
Adensamento.
O vale que separa os bairros está praticamente ocupado restando apenas parte das encostas. Com
relação a essas regiões ainda não ocupadas no bairro, mesmo que em número reduzido, algumas merecem
algumas considerações e apontamento para o adensamento na região.
No extremo oeste dessa área, há uma encosta que ainda não foi ocupada. Uma parcela dela está
sob o domínio das rochas das formações Barreiro e Taboões. Recomenda-se nesse caso, o adensamento
somente mediante orientação técnica responsável. Quanto a construção sobre terrenos do xisto Sabará,
apesar da boa estabilidade nas encostas, recomenda-se vistoria preliminar, pois o xisto intemperizado
possui estabilidade diferente nas vertentes.

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Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

O Morro da Queimada está restrito ao adensamento populacional. Segundo a lei de parcelamento


do solo do município a região é considerada Zona de Proteção Ambiental, nesse caso a ocupação está
proibida sem o parecer favorável do órgão responsável pelo meio ambiente. Quanto às questões
geotécnicas o terreno é de boa qualidade onde for recoberto pela couraça limonítica, em outros casos
devem ser tomadas as precauções necessárias.
No Morro São João, a área ocupada é considerada Zona de Especial Interesse Social onde, com
dito anteriormente, há interesse do Poder Público em urbanizar ou ordenar a ocupação. A área restante do
bairro que não está ocupada, setor leste, é considera Zona de Proteção Ambiental. É importante notar que
está zona está sob o domínio predominantemente de itabiritos e nesse caso, antes de qualquer intervenção,
investigação técnica é recomendada principalmente onde as encostas possuírem declividades acima de
30%.
O bairro N.S.da Piedade divide com os outros bairros da Serra de Ouro Preto condições de
ocupação e adensamento muito semelhante, restrita na maioria dos locais. O bairro apesar de apresentar
locais sem ocupação, como nas áreas de mineração, ressalta-se que nesses locais a intervenção deve ser
bastante controlada em virtude das encostas íngremes e do estado de alteração do itabirito Cauê. A região
minerada mais a oeste que está sob o domínio das rochas do Grupo Caraça, apesar de possuírem
características favoráveis à ocupação, se enquadram na Zona de Proteção Ambiental na lei de uso e
parcelamento do solo do município. Como dito anteriormente, a ocupação será permitida com aval
técnico.
O bairro Taquaral, como anteriormente exposto, ergue-se praticamente todo sobre área de
mineração antiga. Esse fato confere a paisagem atual uma diversidade morfológica sem paralelo na
região. Dividindo espaço com as habitações locais, encontram-se vertentes das mais variadas geometrias,
formando vales em toda a encosta além de uma grande bacia de captação de água pluvial, a carta de
declividade da área evidencia essa complexidade do relevo local. De acordo com a legislação municipal,
que enquadra as regiões ocupadas com Zonas de Especial Interesse Social e as demais regiões não
ocupadas com Zona de Proteção Ambiental, recomenda-se especialmente no caso do bairro Taquaral o
não adensamento, uma vez que as características do meio físico são muito restritivas.

127
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

O bairro Santa Cruz surge na paisagem de Ouro Preto como último bairro ocupando as colinas a
sudeste da Praça Tiradentes, seguindo o N.S.das Dores, Padre Faria e Alto da Cruz. Da ocupação recente,
destaca-se na área o baixo padrão construtivo e o elevado número de ocorrências de movimentos de
massa. A área caracteriza-se pela ocupação inadequada e total degradação das encostas. Ao sul, destaca-
se uma antiga mineração de pirita, que desencadeou processo erosivo que está assoreando o Ribeirão do
Funil que passa no limite sul da área. O Plano Diretor municipal, determina na região duas classes: Zona
de Especial Interesse Social, Praça Lírios do Campo a jusantes da encosta norte e Zona de Intervenção
Especial (ZIE), face sul da encosta a jusante da Praça Lírios do Campo. Segundo o texto da lei
complementar municipal 30/06, considera-se ZIE aquela que demanda recuperação ambiental em razão
da presença de processos erosivos. Quanto ao adensamento urbano da área, espera-se que nos próximos
anos possa haver uma intensificação da ocupação nos topos de morros e encostas adjacentes. Mesmo que
tomadas a devidas providências, recomenda-se cautela quanto à ocupação nos terrenos da Formação
Fecho do Funil e nos xistos do Grupo Sabará.
A última região de adensamento da cidade de Ouro Preto engloba os bairros da Lagoa, Novo
Horizonte e N.S.do Carmo que, apesar de próximos, possuem potenciais diferentes para a ocupação. O
bairro Lagoa situa-se nas encostas e topos de morros a jusante da rua Juscelino Kubistchek. Assentado
sobre os filitos e quartzitos das formações Fecho do Funil e Barreiro, respectivamente, os terrenos
possuem boa estabilidade se forem capeados por canga, caso contrário, os terrenos podem se tornar
instáveis se não observados as declividades das encostas. No bairro recomenda-se a construção onde
houver o capeamento pela couraça limonítica e em outros casos observar as condições técnicas
adequadas.
O bairro adjacente a este último, Novo Horizonte localizado mais ao sul da região está sobre
terrenos do Grupo Itacolomi e Grupo Sabará, que apresentam boa qualidade geotécnica e estão associados
a encostas com pouca declividade. O adensamento no local é permitido observando que o quartzito
quando desagregado forma uma areia fina facilmente carreada pelas águas da chuva, o que poderá causar
sulcos e ravinas nos materiais inconsolidados.
Bairro contíguo a este último o N.S.do Carmo apresenta característica litológicas semelhantes,
exceto pela presença de duas feições erosivas que marcam a paisagem. Para o adensamento no local,
recomenda-se controle, principalmente porque a ocupação vem se dando no interior das feições erosivas e
no topo do morro adjacente.

128
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

CAPÍTULO 6

CONCLUSÕES

A análise simultânea dos mapas da área urbana no período de 1950 a 2004 permitiu verificar o
comportamento do crescimento urbano que se estabeleceu na cidade. Destacam-se dois indutores do
crescimento nesse período: o Núcleo Histórico e a Alcan - Alumínio do Brasil.
O Núcleo Histórico impulsionou a ocupação em suas adjacências e posteriormente nos setores
norte da cidade, enquanto a Alcan, foi responsável pela ocupação do setor sul. Posteriormente o papel
centralizador da Alcan foi substituído pela Universidade Federal de Ouro Preto.
As conseqüências para as ocupações no setor norte apresentam um risco maior na Serra de Ouro
Preto, onde as atividades de mineração foram mais intensas, além de vertentes acentuadas (62% da área
apresentam declividades acima de 30%) e a geologia e geotecnia desfavoráveis à ocupação em muitos
pontos. O setor sul foi se edificando sobre as áreas mais planas no relevo local, onde os xistos do Grupo
Sabará condicionam mais estabilidade as fundações.
A análise temporal permitiu identificar os vetores de crescimento atual da cidade, que se
encontram ao longo dos eixos viários que dão acesso ao município de Mariana e ao Distrito de Passagem
e no Morro São Sebastião. A tendência futura é que grande parte da massa populacional se dirija para as
margens dos eixos viários.
As demais áreas de crescimento, com exceção do Morro da Queimada, mostraram que localmente
a tendência é de adensamento, isto é, nestas áreas não está havendo frentes de ocupação mas sim
ocupação dos locais que ainda não foram construídos.
O avanço da ocupação sobre as antigas áreas de mineração na Serra de Ouro Preto deve ser
controlado, assim como, ao sul da cidade, no bairro Novo Horizonte, em relação às feições erosivas.
Deve-se atentar para as áreas de mineração nos bairros Santa Cruz e Nossa Senhora do Carmo que ainda
não foram ocupadas e disciplinar a urbanização desses locais. O bairro Morro do Cruzeiro praticamente
ocupou toda a área minerada que ali existia.
O zoneamento proposto pelo Plano Diretor Municipal está coerente segundo o ponto de vista do
presente trabalho, pois considera no seu zoneamento as frentes de ocupação da cidade. O Plano Diretor do
município de Ouro Preto (Ouro Preto 2006) considera em suas diretrizes os elementos do meio físico
como geologia, topográficas, a flora e fauna e os recursos hídricos na política de expansão urbana e de
parcelamento, uso e ocupação do solo. Porém, apesar da Lei de Uso e Ocupação do Solo (Ouro Preto
2006) ser bastante clara sobre as proibições e permissões no parcelamento de terrenos, principalmente em
termos de declividade, hidrografia e vegetação, somente se refere à geologia de maneira geral.
129
Oliveira, L D., 2010, Ocupação urbana de Ouro Preto de 1950 e 2004 e atuais tendências.

As interpretações das fotografias aéreas se mostraram úteis no estudo temporal da evolução


urbana e quando integradas ao SIG possibilitaram a combinação de vários planos de informação do meio
físico como áreas mineradas, processos geodinâmicos, geologia, declividade e geomorfologia.
A análise temporal possibilitou a verificação das frentes de ocupação que surgiram ou
intensificaram após 1986. As tendências futuras foram verificadas em campo, mas as sobreposições dos
mapas de ocupação urbana mostraram o caminho para as frentes de ocupação recente.
O mapa de landform serviu para ilustração da composição do relevo. Para fins de planejamento, o
mapa generalizou as geometrias dos topos de morro e encostas e não responde a complexidade do relevo
local por ser um método subjetivo. Entretanto, quando auxiliado por perfis topográficos ao nível de
detalhe de bairro como foi feito, estabeleceram-se com segurança as geometrias, permitindo assim mais
precisão nos diagnósticos. O método utilizado Técnica de Avaliação de Terreno mostrou-se útil,
entretanto a subjetividade do método torna o seu emprego um pouco complexo.
Os outros atributos utilizados no estudo foram geologia, declividade e geotecnia. Para o
planejador não são os únicos que devem ser considerados, mas no que tange a caracterização do meio
físico, os atributos atenderam aos objetivos gerais e específicos do trabalho.
Seria interessante considerar também aspectos de infra-estrutura como vias de circulação (faixa
de domínio das rodovias e ferrovias), abastecimento de água (corpos de d'água), serviços de esgoto,
energia elétrica, coleta de águas pluviais.

Trabalhos futuros poderiam empregar modelos de simulação para ambientes urbanos onde todas
essas variáveis e ainda outras são utilizadas para a previsão de cenários futuros. Com o método utilizado
neste trabalho auxiliado pela modelagem matemática, o planejamento da cidade teria mais um suporte
para pensar as decisões.
Espera-se que todos os resultados aqui levantados possam ser efetivamente utilizados pelo Poder
Público Municipal, a fim de que o mesmo possa ganhar tempo e agilidade nas deliberações para o
planejamento urbano local.

130
Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 67. 137p

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