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UNIVERDIDADE FEDERALDO PARÁ

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO BÁSICA

Professor /Orientador: Prof. Dr. João Paulo Alvez

Discente: Vanderlei Maciel Pinheiro

RESENHA

SANTOS, José Alcides Figueiredo. Efeitos de Classe na Desigualdade Racial no Brasil.


Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Vol. 48, no 1, 2005, pp. 21 a 65.

Apresente resenha será analisada descritiva e criticamente. o artigo científico foi escrito por
José Alcides Figueiredo Santos graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de
Juiz de Fora - UFJF, Doutor em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de
Janeiro - IUPERJ e Pós-Doutorado pela Universidade de Wisconsin-Madison. Professor
Titular (aposentado) da Universidade Federal de Juiz de Fora, foi bolsista de Produtividade
em Pesquisa do CNPq de 01.03.2008 a 29.02.2020. É Professor Convidado do Centro de
Pesquisas Sociais (CPS) da UFJF. Integra o Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais
da UFJF. Tem experiência na área de Sociologia, em particular nas temáticas de classes
sociais, estratificação social e desigualdade social.

O artigo está dividido em cinco seções a primeira seção é destinada à INTRODUÇÃO,


onde o autor apresenta sua intenção de tratar sobre as divisões das classes sociais e como
essas estruturas e mecanismos geram, de forma organizada, conseqüências na vida das
pessoas e na dinâmica das instituições. Busca,também, analisar “o impacto que a esfera da
desigualdade de classe exerce sobre a desigualdade de raça no Brasil”; a segunda seçaõ, trata
da RAÇA, CLASSE E CONTEXTO BRASILEIRO, compresedendo a noção de raça e sua
relação com classe social.Nessa abordagem raça seria uma construção social, e não
determinação biológica; a terceira seção apresenta DADOS, VARIÁVEIS E MÉTODOS:
utilisa a base de microdados do levantamento de 2002 da PNAD/IBGE. O trabalho apresenta
uma amostra de 129.705 unidades domiciliares e 385.431 pessoas, entre adultos e crianças. A
abrangência do levantamento compreende todo o território brasileiro, com exceção da área
rural da região Norte (IBGE, 2003); para a quartata seção-ANÁLISE DOS EFEITOS DE
CLASSE NA DESIGUALDADE RACIAL- o autor aborda inicialmente as diferenças raciais
na classe, confrontando as diferenças de renda média entre os grupos raciais, conforme as
posições de classe , por outro lado abordar as interseções entre classe e raça, bem como , a
desigualdade racial de renda no Brasil e suas características, em seguida as interações entre
classe e raça; na quinta seção encontramos a CONCLUSÃO: de forma superficial se tem a
visão de que os empregos são ocupados e os empregados seriam remunerados, conforme os
critérios de racionalidade e eficiência, mas os estudos, de classe e raça, mostram a
diferenciação de raça entre os empregados, bem como privilégio das localizações e
apropriação que reforçam desigualdade racial. Identificou se que essa diferenciação por classe
contribui para a manutenção das distâncias de renda entre categorias de classe e reforçando a
reprodução da desigualdade racial, ou seja maior vantagem de classe significa maior
vantagem racial, dessa forma quem tem maior vantagem racial ocupa a classe mais
privilegiada. Os resultados da pesquisa demonstra que no Brasil as vantagens “dos brancos
está presente em quase todas ascategorias de classe” tendo esse efeito equilibrado pela
condição de classe. O trabalho demonstrou a importancia da classificação socioeconômica,
baseada no conceito de classe social, compreendendo a estrutura da sociedade brasileira e
como esse processo se relaciona com a renda das pessoas. Em linhas gerais, fica nítido a
importância de analisar a desiguladade racial no Brasil levando em consideração o critério de
classe.

A presente pesquisa tem como objetivo analisar o impacto que a esfera da


desigualdade de classe exerce sobre a desigualdade de raça no Brasil,bem como, encontrar
uma nova classificação socioeconômica para o Brasil,com base na teoria neomarxista de
análise de classe.

O artigo denota importância,e justifica-se, na medida em que apresenta um


conhecimento sociológico de raça associando com classe social, assim como a importância e a
especificidade da raça no contexto brasileiro. Observa-se que grande parte do estudo consiste
em analisar os resultados da aplicação de técnicas de regressão linear para mapear a
formação da desigualdade racial e revelar as manifestações mais relevantes do papel
"moderador" da categoria de classe em atenuar ou exacerbar os efeitos da renda individual
na raça.

Dessa forma, a validação da estrutura e objetivos das investigações


empíricas,procuraram demonstrar a validade estrutural e teórica levando em conta as
contribuições adicionais para a compreensão das condições sociais.O autor, durante a
validação, preucupou-se em especificar as relações teóricas entre as variáveis de
interesse,assim como avaliar as relações empíricas entre elas e interpretar os resultados. A
investigação testa proposições sobre a relação entre o conceito de classe social e o conceito
de raça com base em uma teoria para explicar padrões de desigualdade econômica.

No que tange ao referencial teorico, o autor inicia afirmando que tem inspiração na
interpretação neomarxista de Erik Olin Wright e com base no referido autor, sustenta que,
classe social representa uma forma especial de divisão social gerada pela distribuição desigual
de poderes e direitos sobre os recursos produtivos relevantes de uma sociedade; ainda citando
Erik Olin Wright, propõe duas teses para o estudo dos efeitos de classe e raça : primeira,
designa de “mecanismos distintos”, considera que “classe e raça representam diferentes
formas de divisão social e identificam tipos distintos de mecanismos causais, de modo que
uma categoria não pode ser dissolvida na outra, como se não existissem efeitos
independentes”, a outra tese, chama se “interação estrutural”, leva em consideração que
“diferentes mecanismos interagem no mundo social, pois a realidade não possui uma
conformação meramente aditiva, de modo que o efeito da raça pode depender, em parte, da
classe”; segue apresentando as ideias de Wright, onde diz que “a noção de relações de classe
destaca os padrões estruturados de interação associados à propriedade dos recursos produtivos
básicos da sociedade e noção de localização ou posição de classe, por sua vez, pretende
definir a posição ocupada pelo indivíduo dentro das relações de classe”; No decorrerer da
obra faz citação de diversos autores para colaborar com seus estudos tais como: Grodsky e
Pager (2001) que contribuem na análise sobre “o Efeitos de Classe na Desigualdade Racial
no Brasil”, onde se destaca “o papel da variação sistemática na estrutura ocupacional, que
atenua ou exacerba os efeitos da raça...”;outra referência a ser destacada é a de (Telles,
2002:421) de onde tiramos que “Raça é uma construção social, mutável através do tempo e
entre os contextos sociais, e sustentada por uma ideologia racial”; com (Cashmore, 1997:303-
3) vamos ter que “As relações raciais devem ser vistas antes como um “complexo em
evolução”, em vez de uma série de eventos perfeitamente definidos”; é com base em (Mason,
1994:847-848) que sustenta se “a existência da raça como um constructo social está
constitutivamente vinculada ao racismo”; (Guimarães, 2002: 53) traz em sentido analítico
que, raça representa uma categoria usada para compreender o significado de classificações
sociais e orientações de ação informadas pela idéia de raça; (Rex, 1986:16-17 e 35-36) vai
contribuir na compreensão de que “a conexão da raça com os fatores políticos e econômicos
projeta o seu papel em relação às classes e seus conflitos, aos sistemas de Estado e à formação
dos grupos de status”; o artigo apresenta outros teóricos, como: (Westergaard, 1995:144-147)
- “As desigualdades de classe constituem estruturas fundamentais por meio das quais as
desigualdades distintas de raça são articuladas”; Edward Telles (2003) -“a desigualdade racial
pode reproduzir-se mesmo vigorando certas formas de sociabilidade inter-raciais nas relações
familiares e de comunidade”; Charles Wagley - “raça social”; (Hasenbalg et alii, 1999) - “O
cálculo racial brasileiro é influenciado pelo contexto social e apresenta uma certa
ambigüidade referencial”;(Henriques, 2001:21-22) -“os brancos ricos (10% mas ricos) são 21
vezes mais ricos que os brancos pobres (40% mais pobres) e os negros ricos são 16 vezes
mais ricos que os negros pobres”; (Valle Silva, 2000:23) - “as pessoas brancas obtêm maiores
ganhos por experiência (anos de trabalho) que as pessoas não-brancas, durante toda as suas
vidas produtivas”; (Figueiredo Santos, 2002:113-114) - “As posições de classe mais
vantajosas, quando são ocupadas por mulheres, são controladas em sua enorme maioria por
mulheres brancas”; também cabe salientar, quando abordamos as referências, é que, os
principais dados sobre a população brasileira são extraidos do Censo Demográfico de 2000-
dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios–PNAD/IBGE. Tabelas, variáveis e
outros dados estatísticos contam, dentre outros, com os seguintes estudiosos do assunto:
(Dougherty, 1992:132); Halvorsen e Palmquist (1980) e Kennedy (1998:228);(Friedrich,
1982; Hardy, 1993);(Frazier et alii, 2004:116); (Jaccard e Turrisi, 2003:55-59).; contextos
(Kreft e De Leeuw, 1998:123-126; Snijders e Bosker, 1999:140-54; Treiman, 2001:311-312;
Hox, 2002:173-184)3; (Cohen et alii, 2003:566); (Loeb, 2003; Grodsky e Pager, 2001;
Haberfeld et alii, 1998); (Figueiredo Santos, 2002).

Com relação ao método, o estudo é ancorado nos resultados de uma investigação


empírica, e busca validar uma nova classificação social e econômica para o Brasil, feita
através de análise neomarxista. Trata-se da definição da categoria de classe e raça, levando
em consideração a analise dos fatos e elementos que contribuem para investigação do
desenvolvimento e fundamentos teóricos, analíticos e metodológicos.

O autor deixa nítido que sua investigação pretende, abordar raça do ponto de vista
sociológico, dessa forma, estabelecer relação entre raça e classe social,introduzindo a variável
renda e buscando, principalmente, analisar,entender e comparar os dados identificados,
através do processo de validação teórica entre as variáveis quantitativas aferidas na
investigação empírica.

Tem-se a descatar - na seção que aborda - raça, classe e contexto brasileiro, -


mportante observação sobre desigualdades de raça no Brasil, que o presente estudo levou em
consideração a composição da população do Brasil em três principais grupos de cor ou raça:
brancos 54% , pardos 40% e pretos 6%. No que se refere a renda o Brasil branco é cerca de
2,5 vezes mais rico, em termos de renda média, que o Brasil negro (pardos e pretos), por outro
lado, os brancos são mais desiguais entre si que os negros. Trabalhando com dados da
PNAD/IBGE de 1999 a renda apropriada pelos 10% mais ricos e pelos 40% mais pobres
mostra que os brancos ricos (10% mas ricos) são 21 vezes mais ricos que os brancos pobres
(40% mais pobres) e os negros ricos são 16 vezes mais ricos que os negros pobres.
Geograficamente encontramos uma distribuição desigual dos grupos raciais, em parte como
fruto da geografia pregressa da escravidão, da migração européia e da história reprodutiva da
população.

Os resultados apresentados, inicialmente , foram obtidos por meio de análise,


aplicando um modelo de regressão multinível aos dados, deve-se considerá que tal modelo
“demanda a comparação de um número suficiente de contextos de modo a tratá-los como
observações e usar as variações das variáveis neste nível para explicar as variações dos
coeficientes ao nível micro.” Nesse contexto, apresentam que a investigação das diferenças de
classe valoriza a construção de uma classificação com um número relativamente reduzido de
categorias, o que se choca com a lógica estatística dos modelos multiníveis, que demandam
mais contextos para obter poder estatístico. Seguindo esse raciocínio o autor deixa
esgtabelecido, que diversos estudos adotam modelos multiníveis ao abordarem as influências
“entre ocupação e fatores atribuídos, como raça ou gênero, não encontram diferenças
substantivas maiores na comparação com a análise de regressão OLS (Loeb, 2003; Grodsky e
Pager, 2001; Haberfeld et alii, 1998).”

Para o bom entendimento das análises feitas, até aqui, entre classe e raça é preciso
pontuar o seguinte: no setor privado, ao considerarmos gerentes e empregados especialistas,
observou-se a maior distancia entre todas as categorias que existem no setor privado. O que,
segundo o autor, cria se a falsa ideia de empregos ocupados e remunerados por critérios de
racionalidade e eficiência, no entanto ao dissecar a pesquisa surge “a ampliação do valor
quantitativo relativo das diferenças “qualitativas” de raça entre os empregados. As
localizações privilegiadas de apropriação aparecem, igualmente, como os sítios privilegiados
da desigualdade racial.” Por tanto, vantagem racial diferenciada por classe contribui para a
manutenção das distâncias de renda entre as categorias de classe e reforça a reprodução da
desigualdade racial, ou seja “entre assalariados de classe média maior vantagem de classe
significa maior vantagem racial e vice-versa”

Em relação aos trabalhadores proletarizados e classe capitalista, a pesquisa revela uma


difereça racial menor entre os primeiros, onde , podemos identificar na teoria marxista,
conforme registrado na obra do autor “que a condição de exploração de classe comum
restringe, em certa medida, o impacto das divisões raciais no interior da classe trabalhadora”;
já entre os capitalistas , não se observa significativa desigualdade racial na classe, isso ,
“deve-se ao controle de avantes de capital e aos mecanismos geradores de renda
característicos da classe capitalista, que parecem tornar ineficazes os “procedimentos” da
discriminação racial, ainda que se mantenham vivas as motivações raciais dos atores.”

Sobre os resultados obtidos, apontam uma desigualdade racial afavor dos brancos,
constatado em quase todas as categorias de classe, no entanta a condição de classe consegue
equilibrar esse cenário. A associação entre indivíduo e sua posição na classe contribui, sem
ajustar, para alocação de classe. As desigualdades raciais ocorrem nas categorias de classe,
mesmo após o controle dos vários mecanismos de alocação que podem explicar a distribuição
dos grupos raciais entre as posições de classe. As diferenças raciais de renda continuam
associadas ao pertencimento de classe, já que não dependem apenas dos níveis de renda
média, pois podem ser elevadas ou baixas com níveis altos ou baixos de renda média. A
pesquisa aqui resenhada apresentou dois importantes aspectos, um, a relevância da
classificação socioeconômica, baseada no conceito de classe social, dois, a importância de
introduzir o “critério de classe”, por via dessa classificação, na análise da desigualdade racial
no Brasil

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