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353 DOI: doi.org/10.

25090/remat25269062v15n192018p353a372

OS QUADRILÁTEROS NOTÁVEIS NO 8º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: UM


ESTUDO SOB A ÓTICA DA TEORIA ANTROPOLÓGICA DO DIDÁTICO

André Pereira da Costa


Universidade Federal de Pernambuco
E-mail: <andre.pcosta@outlook.com>

Marilene Rosa dos Santos


Universidade Federal de Pernambuco
E-mail: <rosa.marilene@gmail.com>

Resumo

Este estudo teve por objetivo investigar a abordagem do conceito de quadriláteros notáveis presente
em um livro didático do 8º ano do ensino fundamental, em especial, os tipos de tarefas explorados.
Desse modo, usamos como âncora teórica a Teoria Antropológica do Didático – TAD, desenvolvida
por Chevallard (1999), e a definição de quadriláteros proposta por Lima e Carvalho (2010). Com uma
abordagem qualitativa, esta pesquisa apresenta uma análise documental, na qual, foi escolhido um
livro didático de Matemática do 8º ano do ensino fundamental, aprovado pelo Programa Nacional do
Livro Didático – PNLD 2017, especificamente, o livro dedicado ao professor. Então, realizamos a
identificação dos tipos de tarefas presentes no capítulo do livro voltado para o mencionado objeto
geométrico. Os dados construídos sinalizam que o tipo de tarefa mais evidente no livro analisado é
Determinar a medida de uma grandeza geométrica associada a um quadrilátero notável, com uma
frequência aproximada de 38,53% do geral de tarefas investigadas. O estudo desenvolvido sinaliza a
tendência em abordar os quadriláteros notáveis por meio de tarefas que explorem a produção dessas
figuras geométricas, fazendo uso, por exemplo, de seus atributos e de suas propriedades. Portanto,
destacamos a necessidade de se abordarem os quadriláteros notáveis por meio de tarefas que explorem
a produção dessas figuras geométricas, fazendo uso, por exemplo, de seus atributos e de suas
propriedades. Tal demanda poderá estimular o progresso da aprendizagem geométrica dos estudantes
do ensino fundamental.

Palavras-chave: Quadriláteros Notáveis; Livro Didático; Teoria Antropológica do Didático.


THE NOTABLE QUADRILATERALS IN THE 8TH YEAR OF THE ELEMENTARY
SCHOOL: A STUDY UNDER THE OPTICS OF ANTHROPOLOGICAL THEORY OF THE
DIDACTIC

Abstract

This study aimed to investigate the approach of the concept of notable quadrilaterals present in a
didactic book of the 8th year of elementary school, especially the types of tasks explored. Thus, we
use as theoretical basis the Anthropological Theory of the Didactic – ATD, developed by Chevallard
(1999), and the definition of quadrilaterals proposed by Lima and Carvalho (2010). With a qualitative
approach, this research presents a documentary analysis, in which a textbook of Mathematics of the
8th year of elementary school was chosen, approved by the National Program of Didactic Book -
PNLD 2017, specifically, the book dedicated to the teacher. Then, we perform the identification of
the types of tasks present in the chapter of the book directed to the mentioned geometric object. The
constructed data indicate that the most frequent type of task in the analyzed book is Determine the
measure of a geometric magnitude associated with a notable quadrilateral, with a frequency of
approximately 38.53% of the general tasks investigated. The study shows the tendency to approach
the notable quadrilaterals by means of tasks that explore the production of these geometric figures,
making use, for example, of their attributes and their properties. Therefore, we emphasize the need to
approach the remarkable quadrilaterals by means of tasks that explore the production of these
geometric figures, making use, for example, of their attributes and their properties. Such demand may
stimulate the progress of geometric learning of elementary school students.

Key words: Notable Quadrilaterals; Didactic Book; Anthropological Theory of Didactic.

LOS CUADRILÁTEROS NOTABLES EN EL 8º AÑO DE LA ENSEÑANZA


FUNDAMENTAL: UN ESTUDIO BAJO LA ÓPTICA DE LA TEORÍA ANTROPOLÓGICA
DEL DIDÁCTICO

Resumen

Este estudio tuvo por objetivo investigar el abordaje del concepto de cuadriláteros notables presente
en un libro didáctico del 8º año de la enseñanza fundamental, en especial, los tipos de tareas
explotadas. De ese modo, usamos como ancla teórica la Teoría Antropológica del Didáctico - TAD,
desarrollada por Chevallard (1999), y la definición de cuadriláteros propuesta por Lima y Carvalho
(2010). Con un enfoque cualitativo, esta investigación presenta un análisis documental, en el cual se
eligió un libro didáctico de Matemáticas del 8º año de la enseñanza fundamental, aprobado por el
Programa Nacional del Libro Didáctico - PNLD 2017, específicamente, el libro dedicado al profesor.
Entonces, realizamos la identificación de los tipos de tareas presentes en el capítulo del libro orientado
hacia el mencionado objeto geométrico. Los datos construidos señalan que el tipo de tarea más
evidente en el libro analizado es Determinar la medida de una magnitud geométrica asociada a un
cuadrilátero notable, con una frecuencia aproximada del 38,53% del general de tareas investigadas.
El estudio desarrollado señala la tendencia a abordar los cuadriláteros notables por medio de tareas
que explotan la producción de esas figuras geométricas, haciendo uso, por ejemplo, de sus atributos
y de sus propiedades. Por lo tanto, destacamos la necesidad de abordar los cuadriláteros notables por
medio de tareas que exploten la producción de esas figuras geométricas, haciendo uso, por ejemplo,
de sus atributos y de sus propiedades. Tal demanda podrá estimular el progreso del aprendizaje
geométrico de los estudiantes de la enseñanza fundamental.

Palabras clave: Cuadriláteros Notarios; Libro Didáctico; Teoría Antropológica del Didáctico.

Revista de Educação Matemática, São Paulo, v. 15, n. 19, p. 353-372, mai. /ago. 2018.
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Introdução
Durante muitos anos, a Geometria foi deixada em segundo plano nos cursos de formação de
professores, das propostas curriculares, dos livros didáticos de Matemática, das práticas pedagógicas
e, consequentemente, da sala de aula no ensino básico. Fenômeno esse denominado, por Lorenzato
(1995), de omissão geométrica. Como consequência disso, tanto os professores como os estudantes
apresentavam uma grande lacuna conceitual referente a esse campo matemático.
Todavia, atualmente, esse cenário tem se modificado graças ao avanço com as pesquisas no
âmbito da Educação Matemática, que influenciaram, por exemplo, na elaboração de referenciais
curriculares nacionais e estaduais, em decorrência do reconhecimento da importância de se estudar
Geometria na escola.
Tal fato ocorreu, pois o campo geométrico possibilita o desenvolvimento motor e cognitivo
das crianças, possui um uso bastante prático em diferentes situações do cotidiano, além de ser o
combustível para o progresso em Ciência e Tecnologia sinalizado na sociedade pós-moderna
(GÁLVEZ, 1996; LIMA; CARVALHO, 2010; COSTA, ALLEVATO, MOURA, 2017). Logo, a
Geometria tem um papel muito importante na formação plena da cidadania.
Diante dessas circunstâncias todas anunciadas, os cursos de licenciatura em Matemática
retomaram a oferta de disciplinas relacionadas à Geometria, o livro didático utilizado nas escolas
básicas passou a abordar esse saber em seus capítulos, inclusive, de forma articulada com outros
campos matemáticos (PAIS, 2006; SILVA, OLIVEIRA, SANTANA, CARDOSO, 2013; LIMA,
2014; SILVA, SIQUEIRA, 2016).
Assim, o fenômeno da omissão geométrica, aos poucos, entra em declínio. Contudo, os
resultados de avaliações em larga escala, entre elas, o Programme for International Student
Assessment – PISA (OECD, 2015), o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica – SAEB
(BRASIL, 2015) e o Sistema de Avaliação da Educação Básica de Pernambuco – SAEPE
(PERNAMBUCO, 2015) mostram que alunos da educação básica de diferentes escolaridades
apresentam desempenho insatisfatório com relação aos itens sobre Geometria.
Além disso, pesquisas educacionais, sobretudo, as voltadas para a Educação Geométrica, têm
percebido que alunos do ensino fundamental (COSTA, CÂMARA DOS SANTOS; 2015b; 2016a),
do ensino médio (COSTA, CÂMARA DOS SANTOS; 2015a; 2016b), professores de Matemática
em processo de formação inicial (COSTA, ROSA DOS SANTOS, 2016; 2017a; 2017b) e em efetivo
exercício profissional (COSTA, CÂMARA DOS SANTOS, 2016c) demonstram as mesmas
dificuldades conceituais de aprendizagem referentes ao saber quadriláteros notáveis, sobretudo, em
questões sobre produção e inclusão de classe.
Com base nas orientações curriculares, os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática
(BRASIL, 1997) e os Parâmetros Curriculares para a Educação Básica de Pernambuco

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(PERNAMBUCO, 2012), propõem que o conceito de quadriláteros notáveis seja formalizado no 6º
ano do ensino fundamental. Para tanto, estudantes de escolaridades mais avançadas não deveriam
sinalizar grandes dificuldades ao lidarem com problemas sobre esse conceito.
Tais contextos parecem sinalizar que a Geometria tem sido trabalhada de forma tímida na sala
de aula do ensino básico, e que muitos docentes ainda não se sentem confortáveis em explorar esse
campo da Matemática na sua prática docente. Diante dessas evidências, é possível que a omissão
geométrica ainda sobreviva na escola básica brasileira.
Dessa forma, faz-se necessário analisar como a Geometria tem sido vivenciada na educação
básica, em especial, como os seus conceitos são abordados no livro didático de Matemática. Nesta
pesquisa, traçaremos esse itinerário, isto é, objetivamos investigar a abordagem do conceito de
quadriláteros notáveis presente em um livro didático do 8º ano do ensino fundamental, em especial,
os tipos de tarefas explorados, tendo por âncora teórica a Teoria Antropológica do Didático,
desenvolvida por Chevallard (1999), e a definição de quadriláteros, proposta por Lima e Carvalho
(2010).

Referencial Teórico

a) O conceito de quadriláteros notáveis


Na definição dos quadriláteros, consideramos quatro pontos A, B, C e D quaisquer em um
plano, de forma que três deles não podem estar localizados em uma mesma reta. Então, conforme
ilustrado na Figura 1, o conjunto de pontos pertencentes aos segmentos de reta AB, BC, CD e DA
chamamos de quadrilátero ABCD (LIMA; CARVALHO, 2010).

Figura 1 – Representação de quadriláteros

Fonte: Elaborado pelos autores.

No campo da Geometria, podemos encontrar dois grupos de quadriláteros: os notáveis e os


não notáveis. Os quadriláteros notáveis são compostos pelos trapézios e pelos paralelogramos, que
também incluem o retângulo, o losango e o quadrado. Já os quadriláteros não notáveis são
estabelecidos pelo quadrilátero trapezoidal e pelos quadriláteros não convexos.

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Na sala de aula, é importante realizar atividades voltadas para o estudo desses quadriláteros
notáveis, de forma sistemática. Para isso, o uso de softwares de Geometria Dinâmica pode ser uma
possibilidade, sobretudo, em atividades que explorem construção e classificação dessas figuras
geométricas em diversas posições. Desse modo, será possível superar algumas dificuldades
conceituais de aprendizagem dos estudantes, entre elas, a dificuldade em considerar o quadrado como
um paralelogramo que é retângulo e losango ao mesmo tempo.
Alguns estudos (COSTA, CÂMARA DOS SANTOS, 2015a; 2015b; 2016a; 2016b; COSTA,
ROSA DOS SANTOS, 2016; 2017a; 2017b) têm sinalizado que pessoas de diferentes escolaridades
apresentam o mesmo tipo de erro e, consequentemente, a mesma dificuldade em questões sobre os
quadriláteros notáveis, entre elas, as referentes à identificação desse tipo de figuras geométricas em
posições não padronizadas, exploradas em sala de aula.
Além disso, independentemente do tipo de quadrilátero e de sua posição, é importante refletir
que suas propriedades não são alteradas. Se isso não fosse válido, então, por exemplo, ao mudarmos
a posição de uma cadeira em nossa sala de aula, logo, ela deixaria de ser cadeira (o que é um absurdo).
Portanto, o papel do professor é essencial, sobretudo, na organização de intenções pedagógicas que
promovam a superação dessas e outras dificuldades acerca do conceito de quadriláteros notáveis.

b) A Teoria Antropológica do Didático


No estudo da análise do conceito de quadriláteros notáveis em um livro didático de
Matemática do 8º ano do ensino fundamental, sobretudo, as praxeologias matemáticas referentes a
esse saber matemático, foi necessário buscar sustentação na Teoria Antropológica do Didático
(TAD), que foi desenvolvida por Chevallard (1999). Concordamos com os autores Câmara dos Santos
e Bessa de Menezes (2015, p.649) quando afirmam que:

podemos ver a TAD funcionando como uma forma de explicar a transposição didática (TD)
no ecossistema da sala de aula, ou melhor dizendo, um prolongamento da teoria da
transposição didática, no momento em que amplia esses ecossistemas para relações, entre
objetos de ensino, que irão além da sala de aula.

Chevallard (1999) afirma que a TAD localiza a atividade matemática e, em consequência, a


atividade de estudo da Matemática no grupo das atividades de origem humana e das instituições de
gênese social. Por exemplo, discutir a regularidade dos processos de ensino e de aprendizagem da
Matemática demanda a discussão de certos elementos distintos: a Matemática, os alunos, os
professores, os livros didáticos, entre outros.
Nessa direção, compatibilizamos com a fala de Araújo (2009, p. 36):
[…] o saber matemático é, por conseguinte, fruto da ação humana institucional, isto é, é algo
que é produzido, utilizado, ensinado ou, mais geralmente, transposto em instituições, o que

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torna necessária a elaboração de um método de análise que permita a descrição e o estudo das
condições de realização das práticas institucionais.

Assim, de acordo com a TAD, toda ação humana pode ser explicada por uma organização
praxeológica. Essa organização é composta por quatro polos: i) tipo de tarefa, ii) técnica, iii)
tecnologia e iv) teoria. Como nessa pesquisa, nosso cerne será nos tipos de tarefas, prestamos mais
atenção a esse polo. Bessa de Menezes (2010, p. 79) argumenta que:

[…] a noção de tarefa, ou de tipos de tarefas, se encontra na raiz da noção de praxeologia.


Podemos entender com tarefa, de acordo com a TAD, como todo e qualquer objeto que não
encontramos sua existência diretamente na natureza, ou seja, será necessário realizar
procedimentos próprios, no caso de nosso estudo: matemáticos, para encontrá-lo.

Em relação à ideia de tipos de tarefas, sustentada em Chevallard (1999), a autora Rosa dos
Santos (2015) discute que esse elemento praxeológico incide no significado antropológico da teoria,
porque abrange somente as atividades que são produzidas pelo ser humano. Em geral, a ideia de tipo
de tarefa refere-se a um objetivo explícito e correto, provavelmente sinalizado, a princípio, a partir
de um verbo de ação mais o complemento da frase. Dessa forma, essa pesquisadora argumenta que
se tomarmos somente o verbo, como por exemplo, comparar, então, corresponderia a um gênero de
tarefas, pois o que será comparado não é explicitado de maneira clara.
O teórico Chevallard (1999) alerta que os conceitos de tipos de tarefas e de tarefas, muito
embora guardem sólidas conexões entre si, eles possuem diferenças. O tipo de tarefa pode ser
concebido como um conjunto de tarefas que englobam muitas tarefas que apresentam os mesmos
atributos. Como ilustração, reparemos TM – Determinar a medida de uma grandeza geométrica
associada a um quadrilátero notável. Consideremos, também, TM1: Determinar a medida da abertura
dos ângulos internos de um quadrado inscrito numa malha quadricular, e TM2: Determinar a medida
dos comprimentos dos lados de um losango inscrito numa malha triangular, como tarefas de TM.
Dessa forma, as tarefas (TM1 e TM2) compõem um tipo de tarefa (TM).
Para que uma técnica exista, é necessário que uma justificativa, encarregada pelo estudo e pela
explicação dessa técnica em relação à sua prática e à sua validação, também exista. Nesse contexto,
a tecnologia possui a função de explicitar a técnica, além de tornar o tipo de tarefa compreendido.
Por sua vez, a tecnologia é uma proposição, uma afirmação possível de entender
relativamente. Diante de certos cenários, há a demanda por explicação da tecnologia, passando para
um momento mais abrangente de justificativa, assim, atingimos o momento da teoria. Então, a teoria
busca produzir um pressuposto amplo, cujo cerne é a análise e a explicitação da tecnologia.
Comumente, todo tipo de tarefa pode ser solucionado por diferentes formatos, mas, para
explicar determinada técnica, faz-se necessária a produção de diferentes justificativas. Contudo, com

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base na Teoria Antropológica do Didático, a identificação das técnicas é o âmago, além dos polos
tecnologia e teoria, que são específicos nas instituições.
Dessa maneira, considerando que a Matemática enquanto saber é o produto da ação humana,
tendo em vista que ela pode ser explicitada por meio da organização praxeológica, centramo-nos,
nessa pesquisa, em analisar os tipos de tarefas explorados no livro didático de Matemática do 8º ano
do ensino fundamental, acerca dos quadriláteros notáveis.
Realizando uma revisão na literatura, constatamos que no Brasil, sistematicamente, não há
estudos que investiguem o conceito de quadriláteros notáveis sob a ótica da TAD. Tal revisão,
efetuada em julho de 2017, constou de um levantamento da literatura científica brasileira publicada
on-line nos últimos cinco anos (2012-2016), em bases de dados de periódicos científicos, anais de
congressos e bancos de teses e dissertações, sobretudo Scielo, Google Acadêmico e BDTD –
Biblioteca Brasileira Digital de Teses e Dissertações. Para a busca dos trabalhos, foram utilizados os
seguintes termos: quadrilátero(s) notável(is), quadrilátero(s), paralelogramo(s), retângulo(s),
losango(s), trapézio(s), Teoria Antropológica do Didático, TAD, praxeologia(s), praxeologia
matemática, praxeologia didática, tarefa(s), tipos de tarefa, técnica, tecnologia e teoria. Não foram
encontrados estudos sobre o tema nesses bancos de pesquisa.
Todavia, em decorrência de nossa participação no Encontro Nacional de Didática da
Geometria e das Grandezas e Medidas, que ocorreu na Universidade Federal de Pernambuco, Campus
Recife, em novembro de 2016, tivemos acesso a uma pesquisa inédita e pioneira no país, que foi
apresentada durante esse evento pelos pesquisadores Costa, Câmara dos Santos e Rosa dos Santos. É
importante destacar que não houve anais desse congresso, logo, tal estudo não foi publicado.
Em tal pesquisa, Costa, Câmara dos Santos e Rosa dos Santos (2016) tiveram por objetivo
analisar os tipos de tarefas presentes em um livro didático do 6º ano do ensino fundamental acerca do
conceito de quadriláteros notáveis, no capítulo referente a esse saber. Os autores identificaram 31
itens, sendo percebidos 06 tipos de tarefas:

TR – Reconhecer quadriláteros notáveis


TM – Determinar a medida de uma grandeza geométrica associada a um quadrilátero notável
TP – Reconhecer propriedades dos quadriláteros notáveis
TD – Associar elementos da definição ao quadrilátero notável correspondente
TI – Estabelecer inclusão de classes entre os quadriláteros notáveis correspondentes
TC – Construir quadriláteros (COSTA, CÂMARA DOS SANTOS e ROSA DOS
SANTOS, 2016, p.7).

Nesse cenário, entre os tipos de tarefas, o mais evidente no capítulo do livro analisado é TR –
Reconhecer quadriláteros notáveis, com uma frequência próxima de 39% do total de tarefas
estudadas.

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Procedimentos Metodológicos
Nesta pesquisa, investigamos o livro didático em decorrência de sua importância como recurso
didático, bastante utilizado no ensino básico pelos professores de Matemática, em suas práticas
docentes, e pelos alunos como fonte de informação e de construção de conhecimentos. Concordamos
com Carvalho e Lima (2010, p.15) ao afirmarem que:

O livro didático traz para o ensino e à aprendizagem mais um personagem, o seu autor, que
passa a dialogar com o professor e com o aluno. Nesse diálogo, o livro é portador de escolhas
sobre: o saber a ser estudado – no nosso caso, a Matemática –; os métodos adotados para que
os alunos consigam aprendê-lo mais eficazmente; a organização curricular ao longo dos anos
de escolaridade. (itálico nosso).

Para esses autores, é definida uma teia de relações que articula quatro elementos: o
primeiro deles corresponde ao autor e ao livro didático, o segundo constituído pelo professor,
o terceiro pelo aluno e o quarto pela Matemática, como representado na Figura 2.

Figura 2 – Rede de relações entre os quatro eixos

Fonte: Carvalho e Lima (2010, p.15).

Com uma abordagem qualitativa, esta pesquisa apresenta uma análise documental, na qual,
foi escolhido um livro didático de Matemática do 8º ano do ensino fundamental, aprovado pelo
Programa Nacional do Livro Didático – PNLD 2017, especificamente, o livro dedicado ao professor.
Então, foi analisado o livro Vontade de saber matemática: Souza e Pataro, produzido pelos autores
Joamir Souza e Patrícia Moreno Pataro, 3ª edição, 2015. Logo, investigou-se o tópico destinado aos
quadriláteros notáveis.
O livro estudado possui a totalidade de 12 capítulos, entre os quais, o conceito dos
quadriláteros notáveis é abordado de modo mais sistemático no décimo primeiro capítulo,
denominado Quadriláteros e formas circulares, que explora os conceitos de quadriláteros
(paralelogramos e trapézio), circunferência e círculo, finalizando o capítulo com posições relativas.
O capítulo investigado começa na página 236 e conclui na página 259, sendo dedicadas 13 páginas
para o estudo do conceito analisado nesse estudo.

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Além dos tópicos relacionados à parte conceitual, o capítulo possui um item de introdução,
abrindo o capítulo, que discute sobre Realidade aumentada, cinco tópicos sobre exercícios acerca dos
conceitos abordados a serem desenvolvidos pelos estudantes (Atividades), um tópico referente a
atividades contextualizadas (Contexto), um tópico com questões para reflexão (Refletindo sobre o
capítulo), um tópico com exercícios de revisão do capítulo (Revisão) e um tópico, no final do capítulo,
com questões do Exame Nacional do Ensino Médio e da Olimpíada Brasileira de Matemática das
Escolas Públicas (ENEM e OBMEP).
Ainda no final do livro há os seguintes tópicos: Ampliando seus conhecimentos (com
sugestões de sites que tratam de temas relacionados aos assuntos estudados no livro), Respostas (com
as respostas dos exercícios propostos ao longo do livro) e Bibliografia (com a lista das referências
utilizadas pelos autores na construção da obra).
No caso do livro do professor, em forma de apêndices do livro, há o tópico Orientações para
o professor. Esse item apresenta propostas didáticas, procedimentos metodológicos e temas
interdisciplinares, que, segundo os autores, tem por objetivo aprimorar a prática pedagógica do
professor.
Essencialmente, a análise do livro didático foi realizada em único momento, no qual, fizemos
o levantamento e a identificação dos tipos de tarefas evidentes no capítulo do livro referente aos
quadriláteros notáveis. Na limitação do número de tarefas, foram verificados os itens apresentados
pela obra, até mesmo nos contextos que apontavam vários itens, assim, cada item foi assinalado como
uma tarefa.

Resultados e Discussão
Ao investigar o livro didático, sobretudo, o item do capítulo do livro relacionado ao conceito
de quadriláteros notáveis, assinalamos 109 tarefas, que categorizamos em nove tipos de tarefas, como
ilustrado na Tabela 01. Aqui verificamos que além dos seis tipos de tarefas evidenciados por Costa,
Câmara dos Santos e Rosa dos Santos (2016), percebemos outros três tipos de tarefas, até então, não
sinalizadas por esses autores.

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Tabela 1 – Tipos de tarefas verificados no livro didático e suas frequências
Tipos de tarefas Quantidade
TM Determinar a medida de uma grandeza geométrica associada a um quadrilátero notável 42
TR Reconhecer quadriláteros 40
TE Nomear elementos que compõem quadriláteros notáveis 09
TC Construir quadriláteros notáveis 05
TV Validar proposições sobre os quadriláteros notáveis 05
TI Estabelecer inclusão de classes entre os quadriláteros notáveis correspondentes 02
TL Localizar em um plano cartesiano as coordenadas dos vértices de um quadrilátero 02
notável
TP Reconhecer propriedades dos quadriláteros notáveis 01
TD Associar elementos da definição ao quadrilátero notável correspondente 01
Total 109
Fonte: Dados da pesquisa.

Pela tabela acima, percebemos que o tipo de tarefa mais evidente no livro investigado é T M
(Determinar a medida de uma grandeza geométrica associada a um quadrilátero notável), que
equivale a 38,53% do total de tarefas. Nesse tipo de tarefa, constatamos que há um realce à medida
da abertura dos ângulos internos dos quadriláteros notáveis não inscritos em malhas, como ilustrado
na figura que segue:

Figura 3 – Exemplo do tipo de tarefa T M presente no livro didático analisado

Fonte: Souza e Pataro (2015, p. 243).

Geralmente, o estudante soluciona esse tipo de tarefa somente a partir da visualização, pois
como é disponibilizada a medida da abertura parcial de um dos ângulos em cada um dos itens, só é
necessário mobilizar algumas importantes propriedades e relações. Como as figuras dos dois itens
representam losangos, um importante elemento a ser utilizado na resolução são as suas diagonais.
No item (a), tendo em vista que as diagonais são bissetrizes do quadrilátero, então, a técnica
utilizada é dividir cada ângulo contido nos vértices em dois ângulos de medidas congruentes. Então,

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no item é dada a medida da abertura de um dos ângulos que formam o ângulo D, logo, a medida desse
ângulo é obtida somando 36º + 36º = 72º ou multiplicando 2 . 36º = 72º. Além disso, como os ângulos
D e B são opostos, logo, são congruentes: D = B = 72º. Para determinar a medida dos ângulos A e C,
o aluno deve mobilizar uma importante relação (a soma dos ângulos internos de um triângulo
qualquer é igual a 180º) no triângulo formado pela intersecção das diagonais do losango, e sabendo-
se que essas diagonais são perpendiculares entre si, então: 90º + 36º + C’ = 180º.: C’ = 54º, assim, C
= 2 . C’.: C = 108º. Novamente, como A e C são opostos e, consequentemente, congruentes, então, A
= C = 108º.
No item (b), são fornecidas as medidas de um dos ângulos que formam os ângulos F e H por
meio de duas equações do primeiro grau com uma incógnita: F’ = 3x – 4º e H’ = 2x + 11º. Como F’ e
H’ são ângulos alternos internos, então, são congruentes: med (F’) = med (H’), assim, 3x – 4º = 2x +
11º.: x = 15º. Dessa forma, F’ = 41º e H’ = 41º e, sabendo-se que as diagonais do losango também são
as bissetrizes dos seus ângulos, pois, F = 82º e Gº = 82º. Para determinar a medida dos ângulos E e
G, é importante mobilizar a seguinte relação: a soma dos ângulos internos de um quadrilátero
qualquer é igual a 360º. Além disso, como E e G são opostos pela diagonal, logo, são congruentes:
E + F + G + H = 360º, então, E + 82º + 82º + G = 360º, logo, E = G = 98º.
Se o aluno do 8º ano não conseguir perceber essas propriedades e essas relações, dificilmente,
resolverá a tarefa. Tal fato reforça a necessidade de ele explicar como fez o item, para o professor ter
mais condições de apreciar sua produção. Além disso, o item poderia ficar mais interessante se
solicitasse que os alunos, inicialmente, construíssem os losangos, para em seguida, determinar a
medida das aberturas dos ângulos internos.
O segundo tipo de tarefa mais abordado no capítulo é TR (Reconhecer quadriláteros notáveis),
que corresponde a 36,70% do total de tarefas. Nesse tipo de tarefa, observamos que há um destaque
no reconhecimento dos quadriláteros notáveis, inscritos em malhas quadriculadas, por meio de sua
representação geométrica, semelhante ao verificado por Costa, Câmara dos Santos e Rosa dos Santos
(2016). Tal caso encontra-se ilustrado na Figura 4.
Comumente, o estudante soluciona esse tipo de tarefa a partir da visualização e das definições
das figuras geométricas abordadas no item. Devido à malha, ele poderá comparar os comprimentos
dos lados desses quadriláteros, auxiliando-se assim na resolução. Caso o aluno reconheça as figuras
só pelo aspecto físico, então, ele não mobilizará as definições, provavelmente, considerará os
quadriláteros dos itens (a, b, d, e, f) como paralelogramos, além de considerar a representação do item
(c) como somente um retângulo.

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Figura 4 – Exemplo do tipo de tarefa TR presente no livro didático analisado

Fonte: Souza e Pataro (2015, p. 257).

Fazendo uso das definições, o discente poderá perceber que os quadriláteros dos itens
(a, f) não são paralelogramos, logo, são trapézios. As figuras dos itens (b, d) serão
classificadas como losangos, a representação do item (c) será considerado retângulo e a do
item (e) como paralelogramo. Além disso, se o estudante já consegue fazer inclusão de classe,
isto é, articular as propriedades das figuras geométricas representadas na questão, fará a
seguinte classificação: itens (a, f) – trapézios, itens (b, c, d, e) – paralelogramos, itens (b, d) –
losangos, item (c) – retângulo e item (d) – quadrado.
O ideal, nessa tarefa, seria que os alunos mobilizassem as propriedades dos
quadriláteros notáveis abordados no item, para isso, seria significativo que eles justificassem
como resolveram a questão. Também, em vez de fornecer construções prontas das figuras na
malha, a tarefa poderia pedir a produção (em malhas e/ou não).
Em seguida, em terceiro lugar, percebemos TE (Nomear elementos que compõem
quadriláteros notáveis) em 8,26% do total de itens investigados, com uma ênfase para os
vértices dos paralelogramos (Figura 5) e dos trapézios. Para resolver esse item, o estudante
precisa saber quais são os elementos que compõem o paralelogramo e suas respectivas
representações algébricas.

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Figura 5 – Exemplo do tipo de tarefa T E presente no livro didático analisado

Fonte: Souza e Pataro (2015, p. 238).

O quarto tipo de tarefa mais abordado no livro foi TC (Construir quadriláteros notáveis),
presente em 4,59% do total, com realce na construção de paralelogramos, como ilustrado a seguir:

Figura 6– Exemplo do tipo de tarefa T E presente no livro didático analisado

Fonte: Souza e Pataro (2015, p. 244).

Esse tipo de tarefa é bastante relevante à aprendizagem do estudante, porque nas produções
solicitadas, além das medidas dos comprimentos dos lados indicadas, o aluno poderá mobilizar as
definições e as propriedades das figuras geométricas a serem construídas. Concordamos com Costa,

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Câmara dos Santos e Rosa dos Santos (2016) ao refletirem que o livro didático deve trabalhar outros
tipos de construções, que desequilibrem os estudantes, como, por exemplo, produzir um retângulo a
partir de uma de suas diagonais: “geralmente nas aulas de Matemática, as atividades referentes à
construção de quadriláteros notáveis, solicitam que o aluno produza um retângulo apenas a partir de
um dos seus lados. Tal fato pode gerar um obstáculo didático à aprendizagem desse estudante” (p.11).
Também em quarto lugar, o tipo de tarefa mais evidente foi TV (Validar proposições sobre os
quadriláteros notáveis), com uma frequência de 4,59% do geral, conforme ilustrado na Figura 7. Na
resolução desse item, o aluno deve considerar elementos da definição, uso das propriedades e inclusão
de classe dos quadriláteros notáveis abordados na questão.

Figura 7 – Exemplo do tipo de tarefa T V presente no livro didático analisado

Fonte: Souza e Pataro (2015, p.244).

Depois, em quinto lugar, encontramos TI (Estabelecer inclusão de classes entre os


quadriláteros notáveis correspondentes), com 1,83% do total, que explora a articulação das
propriedades dos paralelogramos, dos losangos e dos retângulos, por meio do uso de diagramas de
Venn, como indicado na Figura 8.

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Figura 8 – Exemplo do tipo de tarefa TI presente no livro didático analisado

Fonte: Souza e Pataro (2015, p.244).

Esse tipo de tarefa será resolvido se o estudante já desenvolve a inclusão de classe, desde que
tenha entendido as propriedades das figuras geométricas citadas na questão. Esse tipo de tarefa
deveria ser mais presente no livro didático em situações de produção e de confrontação, de forma que
desequilibre os estudantes na busca por solução(ões).
Também em quinto lugar, notamos a TL(Localizar em um plano cartesiano as coordenadas
dos vértices de um quadrilátero notável) em 1,83% do total, com ênfase sobre as coordenadas dos
vértices que formam um trapézio, como ilustrado pela Figura 9.
Uma sugestão interessante à aprendizagem dos estudantes seria se o item solicitasse a
construção da figura, porém dadas as coordenadas dos vértices. Ainda se poderiam ter fornecidas as
coordenadas dos pontos de uma das diagonais do quadrilátero e, a partir disso, o aluno deveria
construí-lo. Além disso, outros elementos que formam o trapézio podem ser explorados como os
ângulos internos e os comprimentos dos seus lados.

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Figura 9 – Exemplo do tipo de tarefa TL presente no livro didático analisado

Fonte: Souza e Pataro (2015, p.257).

O sexto tipo de tarefa presente no livro foi TP (Reconhecer propriedades dos quadriláteros
notáveis), com 0,92% do geral. Como ilustrado na Figura 10, há um destaque para as propriedades
dos paralelogramos e dos trapézios.

Figura 10 – Exemplo do tipo de tarefa TP presente no livro didático analisado

Fonte: Souza e Pataro (2015, p.256).

Como podemos observar no tipo de tarefa ilustrado acima, o estudante poderá perceber que
as duas figuras são quadriláteros, mas, o paralelogramo apresenta dois pares de lados paralelos e o
trapézio tem apenas um único par de lados paralelos. Esse item poderia ter solicitado que o aluno,
inicialmente, construísse os dois quadriláteros para, em seguida, estabelecer as semelhanças e
diferenças.
Finalmente, ainda temos TD (Associar elementos da definição ao quadrilátero notável
correspondente) com uma frequência de 0,92% entre os 109 itens verificados. Conforme ilustrado a
seguir, existe um realce na definição do quadrado.

Figura 11 – Exemplo do tipo de tarefa TD presente no livro didático analisado

Fonte: Souza e Pataro (2015, p.248).

Nesse tipo de tarefa, o estudante poderá responder que se o paralelogramo possui medidas dos
comprimentos dos lagos iguais, isso não é suficiente para ser um quadrado, mas sim para ser um

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losango. Para ser um quadrado, a figura deverá apresentar também as medidas dos ângulos internos
congruentes. Nessa direção, a construção desses quadriláteros pelo aluno poderá ajudá-lo na solução
da questão.

Considerações Finais
Ao iniciar o estudo, tínhamos por problemática analisar como a Geometria tem sido
vivenciada na educação básica, em especial, como os seus conceitos são abordados no livro didático
de Matemática. De forma mais específica, esta pesquisa buscou investigar a abordagem do conceito
de quadriláteros notáveis presente em um livro didático do 8º ano do ensino fundamental, em especial,
os tipos de tarefas explorados, tendo por sustentação teórica a Teoria Antropológica do Didático –
TAD, desenvolvida por Chevallard (1999), e a definição de quadriláteros proposta por Lima e
Carvalho (2010).
Com base nos dados construídos no estudo, evidenciamos que a TAD, sobretudo, o
reconhecimento dos tipos de tarefas, possibilita realizar a caracterização da maneira como o conceito
de quadriláteros notáveis é abordado no livro didático analisado. Então, foi possível constatar quais
elementos são considerados e, também, os que não são trabalhados.
A análise do capítulo referente aos quadriláteros notáveis permitiu verificar que há um grande
movimento de apresentar esse saber a partir das medidas de grandezas geométricas associadas a esses
objetos geométricos, entre elas: abertura de ângulo, comprimento, perímetro e volume. É importante
salientar que essas grandezas são vinculadas ao campo das Grandezas e Medidas, logo, parece que o
campo geométrico fica em segundo plano nesse tipo de tarefa. Além disso, o estudo das propriedades
dos quadriláteros é reduzido e situações de produção são pouco verificadas ao longo do tópico
investigado.
Portanto, destacamos a necessidade de se abordarem os quadriláteros notáveis por meio de
tarefas que explorem a produção dessas figuras geométricas, fazendo uso, por exemplo, de seus
atributos e de suas propriedades. Tal demanda poderá estimular o progresso da aprendizagem
geométrica dos estudantes do ensino fundamental, especificamente, os do 8º ano. Infelizmente, no
livro analisado, não houve essa tendência.
Como trabalhos futuros, pretendemos realizar a praxeologia matemática pontual dos tipos de
tarefas verificados nesta pesquisa, em especial, analisar as técnicas, as tecnologias e a teoria que
justifica tais tarefas, de acordo com o quadro teórico da TAD.

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Recebido em 29/08/2017

Aceito em 27/11/2017

Sobre os autores

André Pereira da Costa


Doutorando e Mestre em Educação Matemática e Tecnológica pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE). Professor de Matemática da rede pública estadual de Recife, Pernambuco,
Brasil.

Marilene Rosa dos Santos


Doutora em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE). Atualmente é vice-coordenadora do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade
de Pernambuco – UPE, Garanhuns, Pernambuco, Brasil.

Revista de Educação Matemática, São Paulo, v. 15, n. 19, p. 353-372, mai. /ago. 2018.
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