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PRÁTICAS DOCENTES
Resumo: Este trabalho apresenta o projeto de pesquisa para ingresso no doutorado do Programa de Pós-
Graduação em Ensino de Matemática da UFRJ (PEMAT/UFRJ). O objetivo geral da pesquisa que será
desenvolvida é investigar as práticas docentes que possibilitam o desenvolvimento do letramento estatístico
por parte de alunos do ensino médio. Para tanto será utilizado como embasamento teórico as ideias de Gal
(2002) para Literacia Estatística, além de Campos, Wodewotzki e Jacobini (2011) e Rumsey (2002). Como
procedimento metodológico, será utilizado o método misto, que conjuga elementos qualitativos e quantitativos
na possibilidade de ampliar a obtenção de resultados em abordagens investigativas.
Palavras-chave: Letramento estatístico. Práticas docentes. Educação estatística.
INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta o projeto de pesquisa produzido para o processo seletivo do
corpo discente do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Matemática da Universidade
Federal Fluminense. A linha de pesquisa no qual se encaixa Ensino de Matemática e de
Física, no projeto de pesquisa intitulado Desenvolvimento do Letramento Estatístico:
Formação Docente, Novos Cenários e Metodologias Ativas e sob a orientação da professora
Luciane Velasque.
Para a tese que será desenvolvida nos próximos 3 anos, pretende-se estudar as
práticas docentes manifestadas por professores de ensino médio e que favorecem o
letramento estatístico por parte dos alunos. Para tanto, utilizaremos a metodologia da
pesquisa mista – que envolve aspectos qualitativos e quantitativos.
A grande motivação deste trabalho, é a importância que a estatística tem assumido
nos últimos anos na educação básica. Como por exemplo, a presença do tema na Base
Nacional Comum Curricular, que é o documento normativo que define o conjunto de
aprendizagens essenciais que os alunos devem desenvolver ao longo das etapas da Educação
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Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ; Programa de Pós-Graduação em Ensino de Matemática
(PEMAT); doutorado em Ensino e História da Matemática e da Física; heloisa-figueiredo@hotmail.com;
orientadora: Luciane Velasque.
Básica. As mudanças que foram provocadas a partir de sua implementação, principalmente
na área de estatística enfatizando-a em todos os seguimentos do ensino básico, justificam a
atenção desta e de outras pesquisas na área.
O documento propõe a estatística e a probabilidade como uma das cinco unidades
temáticas que correlacionam e orientam a formulação de habilidades a serem desenvolvidas
ao longo do ensino básico, sendo elas: Números, Álgebra, Geometria, Grandezas e Medidas,
Probabilidade e Estatística.
Especificamente a unidade temática de Probabilidade e Estatística, propõe o estudo
da incerteza e o tratamento de dados. Recomenda-se a abordagem de conceitos, fatos e
procedimentos presentes em muitas situações-problema da vida cotidiana, das ciências e da
tecnologia.
Como deseja-se estudar as práticas docentes, os aspectos que compõem a formação
inicial do professor serão relevantes para esta pesquisa. Por isso, um dos textos intrigantes
nesse sentido é a pesquisa de Costa e Nacarato (2011), tão relevante para os desígnios que a
educação estatística tem levado no ensino superior desde então. Destaca-se o trecho em que
os pesquisadores abordam que “Estatística apresentada na licenciatura, com frequência, não
é capaz de dar subsídios aos professores para atuar nas salas de aula, exigindo que busquem
em cursos de formação continuada e capacitação para trabalhar a estocástica em sala de aula”
(Costa e Nacarato, 2011, p. 383). Esta é uma afirmação que instiga a entender como acontece
as aulas de estatística do ensino básico atualmente.
Nesse sentido, o questionamento que se faz neste projeto e que se pretende responder
na execução da pesquisa é: Quais aspectos das práticas docentes manifestados por
professores de matemática contribuem para o desenvolvimento do letramento
estatístico no ensino básico?
Esta pergunta abrange muitos aspectos da Educação Matemática que podem ser
respondidos com a utilização de diversas teorias. Pretende-se estudar formação de
professores e o letramento estatístico sob a luz da educação estatística, para que se possa
responder de forma completa e eficaz.
Para ratificar a importância do tema desta pesquisa, relevância e do ineditismo da
questão que será respondida foi feita uma revisão de literatura no catálogo de teses e
dissertações da Capes. Utilizou-se as palavras-chave “Educação Estatística” e “Prática
docente”. Entende-se que para pesquisa, a revisão de literatura necessita ser mais abrangente,
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abarcando as publicações em educação estatística nas revistas que publicam artigos com esta
finalidade, principalmente em educação matemática. Por hora, o objetivo é apenas afirmar a
pertinência da pesquisa.
Obteve-se apenas 4 pesquisas que discutem o tema. Dentre elas, duas de mestrado e
duas de doutorado. Apenas uma das pesquisas chamou mais atenção na possibilidade de
contribuir com este trabalho. O título é “Saberes docentes e educação estatística: um estudo
das práticas docentes no ensino médio” de Alessandra Abreu Correa, defendida em 2011
pelo programa de Programa de pós-graduação em educação em ciências e matemática da
PUC-RS.
Esse estudo analisou os saberes mobilizados pelos professores em suas práticas ao
ensinarem Estatística no Ensino Médio. Para isso, a pesquisadora se preocupou em responder
à pergunta: “que saberes docentes estão presentes nas práticas pedagógicas dos professores
de Matemática do Ensino Médio ao ensinarem Estatística?” utilizando a abordagem
qualitativa com uma dimensão analítica compreensiva.
A autora investigou os saberes docentes que fazem parte da constituição profissional
dos professores do Ensino Médio ao ensinarem a Estatística. Como resultado desta pesquisa,
diante da análise das respostas dos professores de Ensino Médio, pôde-se constatar que o
professor faz uso de conhecimentos e concepções que, ao longo da sua formação acadêmica
e profissional, são adquiridos e postos em ação. A pesquisa ainda destaca que alguns saberes
se constituem na ação pedagógica, porém, anteriormente a isso, o docente necessita adquirir
a fundamentação teórica, ter uma visão global da Educação. Esse processo nasce na
formação inicial, na qual as primeiras concepções teóricas são construídas e perpassa ao
longo das atividades docentes, sendo assim, o professor está em constante formação.
(CORREA, 2011)
Após a leitura das pesquisas que foram apontadas através da consulta no Banco de
teses e dissertações da Capes, observa-se que há uma lacuna de trabalhos que contribuam na
investigação das práticas docentes que estimulem o letramento estatístico por parte dos
alunos, confirmando que a pesquisa que será desenvolvida é inédita e pode contribuir para
literatura existente.
Vale ressaltar que em 2020, devido a pandemia de COVID-19, houve uma
diferenciação nas práticas docentes. Para Giordano e Kian (2020), com o ensino remoto, as
dificuldades de acesso dos estudantes das escolas públicas às tecnologias digitais e o
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vivenciamento de alguns professores perante esta situação evidenciam as limitações das
políticas públicas para educação e dos programas de formação continuada para os
professores das escolas públicas.
Nesse sentindo, as práticas docentes foram alteradas devido a esta situação
inesperada, demandando ações de instituições e professores tomada de decisão de forma
rápida e despreparada. Algumas etapas do processo de transição para o modelo remoto foram
puladas de forma que não há possibilidade de tirar o máximo proveito dos recursos e
possibilidades do formato online (CASSATTI, 2020).
O objetivo geral da pesquisa que será desenvolvida é investigar as práticas docentes
que possibilitam o desenvolvimento do letramento estatístico por parte de alunos do ensino
médio.
Para alcançar o objetivo geral, traçaremos objetivos específicos que a princípio serão:
Analisar a Base Nacional Comum Curricular para o processo de ensino e
aprendizagem dos conceitos estatísticos para o Ensino Médio, visando identificar
quais os conceitos são passíveis de serem desenvolvidos de forma a estimular o
letramento estatístico.
Investigar as práticas e concepções de professores do Ensino médio sobre o
letramento estatístico e a relevância dada a esta competência.
Analisar quais foram as mudanças nas práticas docentes com o início da pandemia
e, consequentemente, do ensino remoto.
Para alcançar os objetivos descritos, no próximo item será descrito o referencial teórico
que poderá ser utilizado como embasamento para a pesquisa que será desenvolvida. Os
autores citados são referências brasileiras e mundiais neste campo de pesquisa e podem ser
acrescidos de referenciais que nos forneçam a teoria necessária de acordo com o
desenvolvimento da pesquisa.
REFERENCIAL TEÓRICO
Segundo Campos, Wodewotzki e Jacobini (2011), em meados de 1990, observando
as dificuldades de alunos em conceitos estatísticos, intensificaram-se as investigações
relacionadas com o ensino e a aprendizagem de estatística, dando início a uma nova área de
atuação pedagógica que foi denominada educação estatística.
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Neste sentido, as pesquisas desenvolvidas que possuem a educação estatística como
plano de fundo procuram estudar como os professores ensinam estatística e os alunos
aprendem estatística. Este é um assunto muito relevante para formação de um cidadão que é
informado e está apto a tomar decisões conscientes, por isso, há uma grande preocupação no
sentindo de saber se este objetivo final está sendo alcançado.
Campos, Wodewotzki e Jacobini (2011), defendem que o planejamento da formação
deve ser baseado em três importantes competências: a literacia estatística, o raciocínio
estatístico e o pensamento estatístico, sem os quais não seria possível aprender os conceitos
fundamentais dessa disciplina.
Segundo Gal (2002), Literacia Estatística é retratada como a capacidade de
interpretar, avaliar criticamente e comunicar informações e mensagens estatísticas.
Argumenta-se que o comportamento estatisticamente alfabetizado é baseado na ativação
conjunta de cinco bases de conhecimento (alfabetização, Estatística, matemática, contexto e
crítica).
Para Campos, Wodewotzki, Jacobini (2011), a literacia estatística é a literacia geral
aplicada à estatística, assim como para Gal (2002). Desse modo, a habilidade de trabalhar
com diferentes representações de dados, uso correto das terminologias estatísticas, seus
conceitos, vocabulários e símbolos configuram um cidadão no exercício da literacia
estatística.
Estas definições, embora com variações, conversam entre si. Mas como levar a
literacia estatística para as salas de aula efetivamente, uma vez que as definições ainda estão
passando por diferentes pensamentos de autores que pesquisam sobre o tema?
Rumsey (2002), pensando nas implicações das definições de literacia estatística, que
segundo ela é o termo mais nebuloso e abstrato de todos os tópicos estatísticos, e muitas
vezes não está incluso no currículo, diz que estatísticos e educadores precisam “[...] educar
o público sobre porque eles precisam criticar as informações que estão sendo apresentadas,
como avaliá-las criticamente e o que devem esperar da sociedade em relação à produção de
informação de qualidade.” (RUMSEY, 2002, p. 35)
Simultaneamente com a investigação que será focada no letramento estatístico
podem surgir durante o percurso recursos metodológicos que tratem as outras competências
estatísticas, que são o pensamento e o raciocínio estatísticos.
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Campos, Wodewotzki e Jacobini (2011) definem o Raciocínio Estatístico como a
conexão ou a combinação de ideias e conceitos estatísticos. Significa, ainda, compreender
um processo estatístico e ser capaz de explicá-lo, além de interpretar por completo os
resultados de um problema baseado em dados reais. Já o Pensamento Estatístico, é a
capacidade de relacionar dados quantitativos com situações concretas, admitindo a presença
da variabilidade e da incerteza, além de escolher adequadamente as ferramentas estatísticas,
enxergar o processo de maneira global, explorar os dados além do que os textos prescrevem
e questionar espontaneamente os dados e os resultados.
Porém, para a futura pesquisa que será embasada neste projeto, a ideia é que esteja
concentrada na competência da literacia estatística, isso porque Campos, Wodewotzki e
Jacobini (2011) apresentam a literacia estatística como uma competência de abrangência
geral, com o pensamento e o raciocínio incluídos em seu domínio. Ou seja, um cidadão
estatisticamente letrado tem o pensamento e o raciocínio totalmente desenvolvidos.
Segundo Gal (2002), a literacia estatística é uma das habilidades principais esperadas
dos cidadãos em sociedades que são carregadas de informação e é apresentada como um
resultado esperado da escolaridade e como um componente necessário de um aluno
alfabetizado. A literacia estatística ainda pode ser entendida para denotar um conhecimento
mínimo (talvez formal) de conceitos e procedimentos estatísticos básicos.
Seguindo os referidos referencias teóricos e com a finalidade de responder à pergunta de
pesquisa, no próximo tópico trazemos os procedimentos metodológicos que nos auxiliarão
a alcançar os objetivos estabelecidos.
Sobre formação de professores, seguiremos as ideias de Lopes (2006) quando diz
que as transformações sociais, econômicas e políticas pelas quais passa a sociedade têm
solicitado um novo modelo de escola, trazendo um repensar para aqueles que exercem a
função docente. Neste trabalho, vamos discutir as ideias sobre como podemos repensar as
práticas docentes que favorecem a literacia estatística.
Seguindo os referidos referencias teóricos e com a finalidade de responder à pergunta
de pesquisa, no próximo tópico trazemos os procedimentos metodológicos que nos
auxiliarão a alcançar os objetivos estabelecidos.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
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A metodologia de pesquisa que nos ajudará a responder à questão de pesquisa.
Utilizaremos o Método Misto de Pesquisa, que é composto por uma combinação das
abordagens qualitativas quantitativas em um único projeto de pesquisa (MORSE, 2013).
Para Souza e Kerbauy (2017), na pesquisa educacional brasileira, ainda há pouca literatura
no país sobre os desdobramentos teóricos e metodológicos, nesse sentido, com esse trabalho
espera-se contribuir para promoção desta forma de fazer pesquisa.
Seguimos a ideia de Souza e Kerbauy (2017), quando diz que um estudo não é mais
qualitativo do que quantitativo ou vice-versa. A pesquisa de métodos mistos se encontra no
meio deste continuum porque incorpora elementos de ambas as abordagens qualitativa e
quantitativa. Esperamos desenvolver de forma igual as duas abordagens, pois combinação
de duas abordagens pode possibilitar dois olhares diferentes, propiciando uma visualização
ampla do problema investigado.
A ideia é usar o desing sequencial explanatório, ou seja, iniciaremos com uma
abordagem quantitativa seguida por um acompanhamento qualitativo. Com base neste
modelo, procuramos explicar de maneira aprofundada com a utilização de informações
qualitativas os resultados advindos da abordagem quantitativa.
Para Ortigão e Pereira (2016), pesquisas quantitativas e qualitativas não são polos
opostos e antagônicos; são complementares e oferecem diferentes perspectivas. No trabalho
que pretendemos desenvolver, vamos observar de forma quantitativa os aspectos ligados ao
letramento estatístico e suas configurações, tanto para alunos, quanto para professores. Após
a tabulação dos dados de forma quantitativa, as entrevistas com participantes selecionados
deverão esclarecer as questões que surgirem da leitura dos dados.
Os resultados serão gerados de duas formas: a primeira, de forma quantitativa, por
meio de um questionário. No segundo momento, é planejado uma entrevista com alguns dos
professores que responderam a primeira fase da pesquisa. Os resultados encontrados de
forma qualitativa são mobilizados para interpretar ou explicar os resultados quantitativos. O
público-alvo da pesquisa são professores da educação básica, que estejam atuando no ensino
médio. Por isso, a participação e integração de professores do ensino básico é extremamente
importante. Não apenas como sujeitos de pesquisa, mas como parte integrante da pesquisa.
Para análise dos resultados quantitativos, que serão gerados a partir de questionários
feitos de forma online, utilizaremos o software R. Para explicar os resultados quantitativos
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e produzir os dados qualitativos será realizado entrevistas com os participantes. Os dados
serão validados ou refutados de acordo com o embasamento teórico.
Ainda para Ortigão e Pereira (2016), é de interesse geral que os profissionais da
educação, sobretudo professores, tomem para si a capacidade de lidar com dados
quantitativos, bem como refletir sobre suas análises. Com o crescimento da tecnologia capaz
de analisar cada vez de forma mais precisa os dados e que possibilita a participação na
pesquisa de professores de diferentes lugares do Brasil, é interessante que a análise dos dados
colhidos de forma quantitativa seja aconteça de acordo com a teoria descrita na educação
matemática.
CONSIDERAÇÕES PROVISÓRIAS
REFERÊNCIAS
BATANERO, C. Didáctica de la Estadística. Granada. Universidad de Granada, Espanha,
2001.
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2011.Disponívelem: http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/bolema/article
/view/5092. Acesso em 8 ago. 2016.