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TÉCNICAS DE COLETA

E PREPARAÇÃO DE

VERTEBRADOS
para fins científicos e didáticos

PAPEL VIRTUAL
O Centro Universitário Luterano de Palmas - CEULP / Uni-
versidade Luterana do Brasil - ULBRA tem apoiado a pesquisa
científica como subsídio à educação em nosso país.
O CEULP / ULBRA patrocinou a publicação do livro “Técni-
cas de Coleta e Preparação de Vertebrados” como parte do plano
de divulgação científica, que visa a publicação de livros e perió-
dicos científicos.

CEULP / ULBRA
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TÉCNICAS DE COLETA
E PREPARAÇÃO DE

VERTEBRADOS
para fins científicos e didáticos

Organizado e editado por


PAULO AURICCHIO & MARIA DA GRAÇA SALOMÃO

2002
TÉCNICAS DE COLETA E PREPARAÇÃO DE VERTEBRADOS PARA FINS
CIENTÍFICOS E DIDÁTICOS.
Direitos de edição em qualquer idioma reservados ao Instituto Pau
Brasil de História Natural.

Design de capa: Paulo Auricchio.


ISBN: 85-85712-04-X

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação deve ser


produzida, armazenada em sistema de recuperação, ou transmitida, de
qualquer forma ou qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou
qualquer outro, sem a permissão prévia da editora.

Ficha Catalográfica

Técnicas de coleta e preparação de vertebrados para fins cientí-


ficos e didáticos. / organização e edição Paulo Auricchio e Maria da
Graça Salomão. — São Paulo : Arujá : Instituto Pau Brasil de História
Natural. 2002.
Vários Autores.
ISBN 85-85712-04-X

1. Vertebrados - Técnicas. 2. Título I. Auricchio, Paulo. II. Salomão M.G.

591.08 596:591.08
Índices para catálogo sistemático:

1. Técnicas: Vertebrados: Zoologia 596:591.08


“A divulgação para mim envolve dois dos
maiores prazeres desta vida: aprender e repartir”.

Prof. José Reis, um dos precursores


da divulgação científica no Brasil.
Índice
PREFÁCIO ............................................................................................................. 9

APRESENTAÇÃO .................................................................................................. 11

INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 13

CAPÍTULO 1 PEIXES - ANA MARIA DE SOUZA & PAULO AURICCHIO ....................... 15

CAPÍTULO 2 ANFÍBIOS - MYRIAM ELIZABETH VELLOSO CALLEFFO ......................... 43

CAPÍTULO 3 RÉPTEIS - FRANCISCO LUÍS FRANCO, MARIA DA GRAÇA SALOMÃO &

PAULO AURICCHIO ........................................................................ 75

CAPÍTULO 4 AVES - PAULO AURICCHIO .......................................................... 125

CAPÍTULO 5 MAMÍFEROS - PAULO AURICCHIO ............................................. 149

CAPÍTULO 6 ESQUELETOS - PAULO AURICCHIO ........................................... 195

CAPÍTULO 7 DIAFANIZAÇÃO - ANA MARIA DE SOUZA ................................. 217

CAPÍTULO 8 INFILTRAÇÃO EM PARAFINA - PAULO AURICCHIO .............. 227

CAPÍTULO 9 CURTIMENTO - MARIA DA GRAÇA SALOMÃO &

JOANA D’ARC FÉLIX DE SOUZA .......................................................... 233

CAPÍTULO 10 TÉCNICA S CITOGENÉTICA S, ENZIMÁTICAS E

MOLECULARES - DENISE PECCININI-SEALE .................................. 245

CAPÍTULO 11 COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - FRANCISCO LUÍS FRANCO .......... 281

CAPÍTULO 12 DOENÇAS CONTAGIOSAS AO HOMEM - PAULO AURICCHIO. 319

CAPÍTULO 13 PROCEDIMENTOS LEGAIS - PEDRO GOMEZ ....................... 335


Prefácio
Desde tempos imemoriais várias civilizações tentaram
preservar, total ou parcialmente, partes perecíveis dos corpos
dos animais, para os fins mais diversos, utilizando técnicas
mais ou menos elaboradas. Os antigos egípcios foram
consumados mestres nesta arte, embalsamando corpos de
muitos animais divinizados, que perduraram até hoje.
Na Europa, sabemos que essa atividade teve grande
desenvolvimento durante a Renascença. As grandes viagens
de descoberta feitas por Portugal e posteriormente pela
Espanha e outras potências, mostraram faunas e floras
radicalmente diversas daquelas do continente europeu; áreas
até então pouco exploradas desse próprio continente
revelavam estranhos seres. A febre que se instalou nessa época
em colecionar essas raridades levou à criação dos famosos
“gabinetes de curiosidades”, entretidos pela nobreza ou por
ricos comerciantes. As partes de animais mais fáceis de
preservar eram naturalmente as ósseas, e surgiram logo
coleções de esqueletos, com peças isoladas ou montadas.
Coleções de conchas, também fáceis de fazer, tornaram-se
comuns. Conservavam-se igualmente nos “gabinetes de
curiosidades”, peças secas ou empalhadas, graças a técnicas
primitivas - secavam-se ou salgavam-se as peles de certos
animais que mais chamavam a atenção por suas cores ou
formas. Apenas na primeira metade do século XVIII é que se
vai, seguindo as sugestões de Robert Boyle, utilizar o “espírito
de vinho” (álcool etílico) para a preservação de partes moles
de animais. Contentavam-se os primeiros coletores
renascentistas, geralmente, em preservar as peças em sal.
Assim, foi expedida, em 1520, pelo arcebispo
norueguês Eric Falchendorff, uma cabeça de um “monstro
marinho” a Olaus Magnus; da mesma maneira, conservada em
sal, como uma sardinha, foi levada de Damieta a Roma, por
Federico Zorenghi, a carcaça de um hipopótamo (descrita por
Fábio Colonna, em 1616, em seu Aquatilium et terrestrium
aliquot animalium obervationes, Roma). Pierre Belon possuía,
“salé, conservé avec ses plumes”, um exemplar de effraye (tipo
de coruja), e havia visto um canário (serin), “sec et salé”, em
Pádua, oferecido por Turner a Mme. Antoine Martinellus. As
víboras e cerastes capturadas por Belon no Oriente foram
esvaziadas, secas, e enchidas “de bourre”.
Não havia príncipe nessa época que não colecionasse peles,
conchas, fósseis, minerais, etc. Foram esses “gabinetes de
curiosidades” os antepassados dos grandes museus de história
natural, que começaram a ser fundados na Europa no século XVIII.
Gradualmente, novas técnicas de preservação de animais foram
aperfeiçoadas e acumuladas, por vezes atingindo grande
sofisticação, permitindo que certos animais fossem apresentados
de forma mais estética ao público, ou que preservassem a maior
parte de seus caracteres, externos e internos, necessários para
estudos. Inicialmente limitadas aos grandes museus e coleções
particulares, pouco a pouco essas técnicas foram sendo dominadas
por instituições de menor porte, principalmente para fins didáticos.
A arte de conservar, para fins científicos ou didáticos, corpos de
animais ou partes deles tornou-se complexa a ponto de requerer
manuais especializados para seu aprendizado. Muitas obras foram
escritas no mundo sobre o assunto. Entre nós, como é costumeiro,
pouca atenção foi dada a esta matéria, e na apresentação deste livro
é feita uma resenha das tentativas anteriores.
É pois um fato extremamente jubiloso a iniciativa do Prof. Paulo
Auricchio e de seus colaboradores em brindar-nos este manual de
“Técnicas de coleta e preparação de vertebrados para fins científicos
e didáticos”, no qual, em linguagem clara e precisa, fornecem-nos
preciosos ensinamentos sobre este importante assunto. Esperamos
que este manual tenha o merecido sucesso, e que seja reeditado várias
vezes, para atender aos zoólogos profissionais ou amadores, na
formação de coleções científicas ou didáticas, indispensáveis para o
conhecimento de nossa riquíssima fauna, ainda tão pouco conhecida.
Sinceros parabéns aos diversos autores do livro por esta realização.

São Paulo, maio de 2001


Nelson Papavero
Apresentação
A motivação para a elaboração deste manual veio da necessi-
dade de uma divulgação mais eficiente das várias técnicas sobre
preparação de material biológico, que permanecem inacessíveis
ou dispersas na literatura, muitas vezes de difícil obtenção.
Com a crescente especialização dentro das diversas profissões,
e a biologia não é a exceção, percebe-se um despreparo de recur-
sos humanos nas atividades de preservação de material biológi-
co para depósito em coleções. Mais grave ainda, é a carência e o
desinteresse no desenvolvimento de novas técnicas e adequação
de técnicas usadas somente em alguns grupos, para preparo de
material científico e didático. No Brasil, a divulgação das técni-
cas disponíveis é extremamente precária, sendo que o mais re-
cente trabalho dessa natureza é o “Manual de Técnicas para Pre-
paração de Coleções Zoológicas” idealizado por Papavero e pu-
blicado em 1985 – 87. Infelizmente, essa obra não foi editada em
sua totalidade, pois, dos 40 grupos zoológicos previstos na pu-
blicação, apenas 21 foram impressos. Além disso, a obra teve dis-
tribuição restrita. Seu predecessor, o “Manual de Coleta e Prepa-
ração de Animais Terrestres e de Água Doce” do Museu de Zoolo-
gia da Universidade de São Paulo, datado de 1967, também ne-
cessita atualização e complementação.
Na tentativa de reunir tanto técnicas tradicionais como avan-
ços nas atividades de preparo de organismos para coleções e exi-
bição, o “Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados” foi ela-
borado por pesquisadores de várias instituições como o Instituto
Pau Brasil de História Natural, o Instituto Butantan e o Instituto
de Biociências da Universidade de São Paulo, que executam algu-
mas dessas técnicas em seus serviços de rotina científica e
didática, para que este se torne um referencial.
Assim, várias das técnicas de preparação desenvolvidas nos
últimos dois séculos, desde aquelas utilizadas no século XVIII por
naturalistas em seus gabinetes, até as mais atuais, desenvolvi-
das por pesquisadores em todo o mundo, estão aqui incluídas.
Este manual relata técnicas de coleta, acondicionamento e pre-
paração de material para fins científicos e didáticos, tais como
fixação em líquido, preparo e montagem de esqueletos,
diafanização, taxidermia artística, etc. Ele é particularmente
indicado a pesquisadores que trabalham com vertebrados, além
de guia básico a técnicos e professores de todos os níveis.

Este livro é o produto de muitas centenas de horas de trabalho


de colegas e amigos que se encantaram com a idéia de colocar
num único volume técnicas diversas de preparação de vertebra-
dos. Os autores, sem exceção, trabalharam muito e
prestimosamente (como o leitor poderá perceber) mas, devo agra-
decer a todos a paciência pelas inúmeras revisões e telefonemas
em dias e horas inoportunos, contribuindo muito mais do que
normalmente se esperaria de qualquer colega de trabalho.
Obviamente não só os autores trabalharam nesta empreita-
da. Em cada capítulo, cada autor teve a oportunidade de agra-
decer seus vários colaboradores, e aqui gostaria de reiterar os
agradecimentos a cada um deles e especialmente à Dra. Radenka
Francisca Batistic que procedeu a última revisão. Ainda, gosta-
ria de agradecer aos técnicos dos museus brasileiros, Isnard
Rubim (Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo),
Claudemir Antonio Lopes, (Departamento de Zoologia da Uni-
versidade de São Paulo), Carlos A. Caetano (Museu Nacional do
Rio de Janeiro) pelas informações fornecidas durante anos, a
Gabriel Silva Moisés pela digitação de várias partes do livro, a
Dione Seripierri pela revisão bibliográfica e a Cavani Rosas pe-
las ilustrações.
Um agradecimento especial deve ser feito ao Professor Paulo
Rotter por ter ensinado as primeiras técnicas de aves e mamífe-
ros a tantos que a ele procuraram.
A impressão deste livro teve apoio da FAPESP (Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e foi financiada pelo
Centro Universitário Luterano de Palmas, TO - CEULP / Univer-
sidade Luterana do Brasil - ULBRA.
Introdução 13

Introdução
Técnicas de preparação de material biológico vêm sendo cria-
das, aperfeiçoadas e aplicadas desde os primórdios da civiliza-
ção. Nem sempre esse material teve finalidades científicas, po-
dendo ter seu uso para fins didáticos, religiosos e também orna-
mentais. Os primeiros relatos sobre taxidermia aconteceram no
Século XVI, na Holanda. O mais antigo espécime conhecido foi
preparado perto de 1600, é um rinoceronte que está no Museo
Reale de Florença. O método de preservação deste espécime não
é conhecido (METCALF, 1987). Em 1748-9, Réaumur, coletor de
aves francês, publicou instruções para preservação de peles.
Com o desenvolvimento e sistematização da ciência, cresceu a
necessidade do acúmulo de espécimes (animais vertebrados,
invertebrados e também vegetais) em coleções para servir de base
para descrições de espécies novas, delimitações de suas distri-
buições geográficas e outros estudos. Inicialmente o material
colecionado trazia consigo, em livros de registros ou nas anota-
ções de seus coletores, apenas vagas informações sobre o local de
coleta e, em muitas vezes, somente o continente era menciona-
do. Com o passar do tempo percebeu-se a importância da quali-
dade do seu preparo para aumentar sua durabilidade, e da pre-
cisão das informações registradas sobre a procedência e condi-
ções de coleta, incluindo até dados comportamentais. Assim, gra-
dualmente foram sendo incorporados aos acervos dados tais como
margens, no caso de coletas junto de rios, coordenadas geográfi-
cas, altitude, hora da coleta, registros fotográficos e gravações
quando do caso da produção de som pela espécie em questão,
dentre outros caracteres. Atualmente, com o apoio de computa-
dores e satélites, até mesmo detalhes do ambiente podem ser
registrados, vinculando uma série de caracteres ecológicos ao
exemplar. Isto tem ampliado grandemente a utilização de coleções
científicas e a importância deste material como fonte de infor-
mações para conhecer a biodiversidade e traçar estratégias de
conservação de áreas e espécies em risco ou ameaçadas de extinção.
14 Técnicas de Prparação de Vertebrados

Atualmente centenas de técnicas de preparação e preserva-


ção são empregadas para os diversos tipos de seres, quer de exem-
plares inteiros ou suas partes, para sua conservação a seco ou
em líquidos, que são posteriormente depositados em coleções ci-
entíficas e/ou didáticas.
As coleções científicas são destinadas à pesquisa e podem con-
ter variedades de grupos animais de diversas partes do mundo,
ou ainda podem abranger apenas faunas regionais. Seu acervo
pode ser utilizado para estudos taxonômicos, biológicos, ecoló-
gicos, biogeográicos, saúde pública, etc.. Estão normalmente de-
positadas em universidades, museus e institutos de pesquisa.
As coleções didáticas destinam-se ao ensino por meio de expo-
sições, demonstrações em aula ou treinamento de pessoal. Este
tipo de acervo deve suportar o manuseio (às vezes por pessoas
inexperientes) e o transporte freqüente. Podem conter exempla-
res sem dados, pois servem apenas para mostrar semelhanças e
diferenças entre grupos de indivíduos, ou também para a práti-
ca de atividades como a identificação.
A instalação, manutenção, ampliação, organização e
gerenciamento de coleções são atividades que em seu conjunto
são conhecidas como curadoria. Sem sombra de dúvidas a
curadoria guarda em si uma extrema responsabilidade, pois trata-
se do zelo de um patrimônio e a perda de um único exemplar
pode significar a perda de muita informação para a humanidade.
A segunda metade do século XX foi um período no qual muita
atenção tem sido dedicada aos assuntos de coleções de organis-
mos no munto todo e, como conseqüência dessa preocupação, a
necessidade da prática de preparo de material biológico com
alta qualidade tem crescido sobremaneira. Desta demanda de
conhecimento, associada à carência de informações disponí-
veis, principalmente em língua portuguesa, surgiu a idéia da
elaboração deste manual que reune, além das técnicas de pre-
paro de material para coleções científicas e didáticas, algumas
considerações sobre o trabalho de curadoria. Afinal, ao contrá-
rio do que muitos possam pensar, coleções de todas as nature-
zas não são depósitos de organismos mortos, mas sim
patrimônios da humanidade com rótulo dinâmico, em constan-
te uso e expansão, uma fonte inesgotável de conhecimento so-
bre a natureza, razão primordial da ciência.
Peixes
1
PEIXES - A. M. Souza & P. Auricchio 15

Peixes
16 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Ana Maria de Souza é Professora Doutora do Departamento de Zoologia do


Instituto de Biociências da USP e coordenadora da área de Ensino do Núcleo
de Apoio a Cultura e Extensão Vale do Ribeira (NACE-VR) de 1994 a 1997. É
Vice-Presidente do Instituto Pau Brasil de História Natural e Tutora titular dos
alunos estrangeiros do Instituto de Biociências junto a Comissão de Coopera-
ção Internacional (CCINT/USP) e membro titular da Comissão de Graduação
do Instituto de Biociências da USP. É professora titular responsável pela disci-
plina, nível Bacharelado, Ictiologia Básica pertencente ao Curso de Ciências
Biológicas do Instituto de Biociências/USP e professora responsável pela disci-
plina de Pós-Graduação "Anatomia Comparada de Peixes" credenciada no Curso
de Pós-Graduação do Instituto de Biociências/USP, nível mestrado. PubIicou
06 trabalhos em anatomia de Hirudinea e 12 trabalhos na área da anatomia
de vertebrados (Elasmobranchii, Osteichthyes e Reptilia). Atua como consul-
tora científica em quatro revistas científicas nacionais e é editora do periódico
científico “Publicações Avulsas doInstituto Pau Brasil de História Natural”. Tra-
dutora e consultora científica de livros para 3° Grau e vídeos educativos (1° e 2
° Graus) pertencentes ao Projeto Escola à Distância do MEC (1998-1999).

Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo


Departamento de Zoologia
Caixa Postal 11461. CEP 05422-970 – SP - Brasil.
e-mail: amsouza@ib.usp.br
Tel.: (055) 11 3818 7618
Peixes
PEIXES - A. M. Souza & P. Auricchio 17

Peixes
Ana Maria de Souza
Paulo Auricchio

INTRODUÇÃO

Os peixes representam a maioria das espécies de vertebrados e


são encontrados em praticamente todos os tipos de corpos de
água salgada e doce do planeta. Mesmo sendo a maior diversi-
dade conhecida de vertebrados, boa parte destes extraordinári-
os animais ainda não é conhecida pela ciência. Isto se verifica
principalmente na América do Sul, que apresenta a fauna de
peixes de água doce mais rica do mundo.
Muitos dos sistemas fluviais tropicais são imensos e têm uma
história muito longa, durante a qual sua forma pode ter muda-
do radicalmente devido a diferentes fenômenos, dentre eles, as
mudanças tectônicas (LOWE-McCONNELL, 1999). Um bom exem-
plo são os rios da América do Sul que representam uma grande
parcela da água doce do planeta e neles encontra-se uma infini-
dade de habitats que propiciaram a seleção de enorme diversi-
dade de formas de peixes. Eles, conseqüentemente, apresentam
uma infinidade de adaptações, e o fato de muitas espécies ainda
serem desconhecidas pela ciência dificulta os estudos. Diante
disso, a coleta de peixes que pode ter diferentes objetivos, passa
a ter uma importância muito grande, pois toda coleta destes or-
ganismos é um esforço em ampliar as coleções científicas e con-
seqüente conhecimento desta fauna.
A coleta de peixes pode estar sendo feita com o objetivo de
formar uma coleção didática, pode contribuir também para a
ampliação das coleções científicas, enviando-se duplicatas do
material coletado para instituições de pesquisa que garantam a
conservação dos espécimes coletados. Isto beneficiará muitos
pesquisadores que poderão encontrar material de estudo proveni-
18 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

ente de maior número de locais, principalmente se originário de


regiões pouco exploradas do mundo (MALABARBA & REIS, 1987).
Nesta apresentação sobre as técnicas mais comuns para coleta
e preparação de peixes, a parte de coleções científicas foi princi-
palmente baseada em MALABRABA & REIS (1987) com
complementações.

A COLETA

Quando se coleta peixes para preparação de peças para uma


coleção, devem-se explorar todos os ambientes aquáticos exis-
tentes no corpo d’água que será amostrado. Por exemplo, nos
ambientes de água doce devem-se observar as diferentes áreas
das margens (com vegetação mais ou menos densa, profundida-
de em declive ou abrupta), o tipo de substrato, isto é, se o fundo
é recoberto por lodo, areia, cascalho ou rochas, onde cada uma
destas diferentes áreas devem ser definidas como uma área de
coleta. O mesmo cuidado deve-se ter em relação aos peixes mari-
nhos. Os hábitats presentes nos diferentes ambientes marinhos
são inumeráveis, por exemplo, as praias (rochosas, arenosas e
lodosas) as diferentes profundidades e distâncias da costa do mar
aberto, os estuários dos rios.
Por que esta preocupação? Porque cada um destes ambientes
representa pelo menos um habitat que abriga espécies diferen-
tes de peixes. Obviamente cada habitat, como as diversas pro-
fundidades da coluna d’água, as diversas áreas das margens, ou
os diversos substratos, devem ser explorados empregando-se os
diferentes tipos de artefatos e mecanismos de pesca.

EQUIPAMENTOS E SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS PARA


COLETAR PEIXES

Geralmente os equipamentos relacionados à captura dos pei-


xes são instrumentos seletivos, por exemplo, cada rede de pesca
tem um tipo de malhagem e forma peculiares; deste modo cada
uma só irá capturar peixes com um determinado tamanho e há-
bitos de vida semelhantes. Entretanto, existem métodos de coleta
não seletivos. É o caso de substâncias intoxicantes (timbó,
rotenona) cuja ação paralizante mata a maioria das espécies de
peixes, sem distinção de tamanho ou hábitat onde vivem. Este
Peixes
PEIXES - A. M. Souza & P. Auricchio 19

método não é adequado para capturar peixes que respiram o ar


atmosférico, como por exemplo, um bom número de espécies de
peixes cascudos, a pirambóia e o pirarucu.

EQUIPAMENTOS SELETIVOS DE CAPTURA DE PEIXES

a)Linha de mão e vara de pesca - é um método de pesca


muito eficiente e seletivo para capturar espécies de peixes que
vivem no fundo. As espécies capturadas dependem do tipo de
isca (natural ou artificial), do tamanho do anzol e dos movimen-
tos que o pescador realiza com a vara e isca. A vara de pescar,
assim como seus acessórios, é o equipamento utilizado na pesca
recreativa e que apresenta a maior variação de técnicas associa-
das para atrair as diferentes espécies de peixes.
b)Peneiras e puçás - as peneiras e puçás são empregados para
coletar pequenos peixes, junto à vegetação densa ou nas mar-
gens, e são mais eficientes quando o coletor pode entrar na água.
Os puçás são especialmente eficientes para coletar peixes que
vivem entre ou sob as pedras em pequenos rios rasos e correntosos
com fundo de pedras soltas (Figura 1).

Figura 1. Diferentes tipos de puçás. Podem apresentar diferentes dimensões (Desenho: Cavani).

c) Espinhel - o espinhel consiste, geralmente, em uma linha


de nylon resistente na qual muitos anzóis estão presos por meio
de chicotes e/ou empates (Figura 2). Existem variações de
espinhéis, como o específico para captura de peixes bentônicos,
por exemplo as raias. Neste caso, os anzóis são fixos a uma estru-
tura circular (uma bandeja emborcada) e este conjunto deve ser
mantido submerso (Figura 3).
20 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Figuras 2 e 3. Espinhel de mar aberto e de


fundo de diâmetro de 30 cm.(Desenho: Cavani).

d)Redes de pesca, tais como: tarrafa (Figura 4); picaré ou re-


des de arrasto (Figura 5); redes de espera (Figura 6); redes de tres-
malho. As redes de arrasto podem ser puxadas por embarcações
ou grupo de pessoas na praia.

Figura 4. Tarrafa e manejo deste tipo de rede (Desenho: Cavani).


Peixes
PEIXES - A. M. Souza & P. Auricchio 21

Figura 5. Rede de arrasto ou picaré (Desenho: Cavani).

Figura 6. Rede de espera (Desenho: Cavani).

e) Covos. É também utilizado para outros vertebrados (Capítulo


3, Fig. 3; Capítulo 4, Fig. 4). Para uso com peixes, constitui-se de uma
armação de arame ou pequenas talas de madeira fixas entre si na
forma de um cilíndro com uma abertura em forma de funil (Figura
7). No interior do cilindro é colocada a isca, geralmente suspensa
por um arame ou gancho. Este tipo de armadilha é específica para
a captura de peixes de fundo e é considerada uma pesca de espera,
pois é colocada sobre o substrato, geralmente em local com pouca
correnteza, e visitado em intervalos que variam entre 12 ou 24 ho-
ras, durante o período de tempo que se estiver trabalhando em
campo.
22 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Figura 7. Diferentes tipos de covos. Podem apresentar variados tamanhos. (Desenho: Cavani).

A manutenção destes equipamentos é normalmente muito fácil


e barata, devendo ser feita após cada expedição de coleta. Devem
ser limpos e lavados várias vezes e guardados secos após o uso. O
equipamento de pesca utilizado em água salgada deve ser lava-
do com mais cuidado para evitar a oxidação (corrosão), princi-
palmente dos anzóis.

EQUIPAMENTOS NÃO SELETIVOS DE CAPTURA DE PEIXES

Alguns produtos químicos são utilizados na captura de pei-


xes. Este é um procedimento antigo que tem origem em popula-
ções ribeirinhas de índios. Tanto a utilização de substâncias quí-
micas quanto a de explosivos é crime ambiental, de acordo com o
artigo 35 da Lei 9605 de 12 de fevereiro de 1998 (ver Capítulo 13).

a)Rotenona (Timbó). A rotenona é o nome empregado para


designar uma cetona cristalina (C23H22O6), produzida indus-
trialmente a partir pricipalmente das raízes de plantas de seis
gêneros de leguminosas, sendo a maior parte delas pertencente
ao gênero Derris. É um alcalóide que funciona como
vasoconstritor e os peixes afetados por ela morrem por asfixia.
Este produto é adversamente afetado pela luz a altas tempera-
turas, degradando-se rapidamente quando sujeito as tais condi-
ções (GILBERT et al., s.d.). O termo timbó é o nome popular do pó
resultante da ralação das raízes destas plantas. A rotenona é
Peixes
PEIXES - A. M. Souza & P. Auricchio 23

especialmente eficiente para coletar em poças deixadas pela va-


zante dos rios e marés ou em pequenos riachos pedregosos, pois
desaloja os peixes de seus esconderijos. Antes da aplicação da
rotenona estende-se uma ou mais redes de uma margem a outra
do curso d’água para assegurar que os peixes mortos pela subs-
tância sejam coletados e não levados pela corrente. Logo após a
aplicação da rotenona deve-se observar atentamente a área pois
os peixes e outros animais subirão à superfície onde devem ser res-
gatados imediatamente por meio de puças e fixados logo em segui-
da. Esta tarefa demanda um trabalho de grupo e, portanto deve ser
bem coordenado e rápido para que os organismos sejam coletados
logo após a morte e não haja tempo para se decomporem.
b)Pesca elétrica. A montagem de um equipamento de pesca
elétrica é bastante complexo e requer uma série de cuidados, pois
pode provocar acidentes graves (às vezes mortais) para as pessoas
que o manuseiam. Basicamente o equipamento é composto por uma
fonte elétrica (bateria), um conversor de corrente, dois cabos elétricos
conectados cada um deles aos polos positivo e negativo da fonte
elétrica, duas placas elétricas (ânodo e catodo) conectadas na ex-
tremidade livre dos cabos. O campo elétrico produzido pelo equipa-
mento, dependendo da intensidade e do tipo de corrente elétrica
utilizados, pode provocar paralisia, natação alterada e morte. In-
formações mais completas sobre o efeito de cada tipo de corrente
elétrica e sua eficiência na captura de peixes podem ser obtidas em
VIBERT (1967).
O incômodo de se utilizar este tipo de equipamento nas coletas
de campo deve-se à dificuldade de seu transporte devido ao peso. A
fonte de energia geralmente é levada em uma bolsa transportada
nas costas do coletor, assim como os terminais elétricos. Há um
grande perigo, quando a fonte elétrica está ativada, se a pessoa que
a carrega cair com o equipamento na água, o que pode ocasionar
acidentes gravíssimos e mesmo mortais.
A utilização deste equipamento tem sido aperfeiçoada, prin-
cipalmente com função anestésica pois, como já aventado aci-
ma, os peixes tem uma resposta diferenciada em relação a varia-
ção da intensidade de corrente produzida por este equipamento.
Dependendo do ambiente aquático, marinho ou de água doce,
deve-se trabalhar com intensidades diferentes de corrente, pois
no ambiente marinho a corrente é potencializada e seus efeitos
sobre os organismos também. Sob a ação de correntes de inten-
24 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

sidade elétrica diferentes e /ou ambientes diferentes, cada espé-


cie de peixe entra em diferentes graus ou estágios anestésicos.
Por exemplo, uma corrente de baixa intensidade promove apenas
um alinhamento dos peixes de água doce em relação ao pólo po-
sitivo, enquanto a mesma promove paralisia acentuada em pei-
xes marinhos. Este equipamento é utilizado para promover a con-
tenção e/ou anestesia de peixes submetidos a experimentação. O
equipamento é acoplado ao aquário e utiliza-se as menores in-
tensidades de corrente para promover leve paralisia e um pouco
maiores para anestesiar o peixe. Estes estágios anestésicos tam-
bém dependem do porte do animal, ou seja, exemplares de dife-
rentes dimensões de um mesma espécie apresentam respostas
anestésicas diferenciadas à uma mesma corrente. Uma mesma
intensidade de corrente pode levar um exemplar de grande porte
a um estágio anestésico leve, enquanto pode levar à morte um
espécime de pequeno porte (MALABRABA & REIS, 1987).

PROCEDIMENTOS ANTES DA PREPARAÇÃO

Deve-se ter cuidado ao retirar os peixes do anzol ou rede cau-


sando-se o menor dano possível. Deve-se fixá-los imediatamente
após a coleta e etiquetá-los adequadamente com etiquetas pa-
dronizadas. A etiqueta deve conter o nome científico do organis-
mo ou coloca-se um código individual para posterior identifica-
ção do material. A etiqueta deve conter o nome do coletor, a data
(dia/mês (em algarismos romanos) / ano) e local de coleta. Maio-
res informações quanto a etiquetas poderão ser encontradas no
capítulo sobre Coleções Zoológicas.

Os equipamentos para a fixação e de proteção são:

• Seringa hipodérmica, preferivelmente com volume mínimo de


20 ml (as melhores são seringas com gatilho, utilizadas na
vacinação do gado).
• Luvas plásticas descartáveis
• Luvas de algodão grosso
• Óculos de acrílico
• Avental
Peixes
PEIXES - A. M. Souza & P. Auricchio 25

Alguns cuidados devem ser tomados antes de se iniciar a


aplicação do fixador, a saber:
• Proteger a roupa e a pele com um avental de mangas longas.
• Proteger os olhos com uma máscara ou óculos de acrílico que
podem ser colocados inclusive sobre os óculos de grau.
• Colocar as luvas de borracha para evitar o contato da pele do
aplicador com o fixador e sobre esta luva colocar luvas de
algodão, necessárias para proteger as mãos do aplicador con-
tra ferimentos que podem ser causados por espinhos e dentes
do peixe manuseado. Esta luva evita, ainda, que o peixe es-
corregue excessivamente.

FIXADORES: São os mesmos utilizados para fixação de outros


vertebrados, a saber, formalina a 10-15% em água (1 parte de
formol para 8 a 9 partes de água). Para preparar esta solução
deve-se considerar o formol comercial 40% como formol puro.

PROCEDIMENTOS DE FIXAÇÃO E CONSERVAÇÃO

1. Espécimes de pequeno porte. A melhor fixação é obtida


colocando-se os peixes, ainda vivos em uma solução de formalina
10%, garantindo-se uma boa fixação dos órgãos internos e mus-
culatura. No campo, os espécimes provenientes de um mesmo
local de coleta devem ser fixados em um mesmo frasco utilizan-
do-se uma única etiqueta. Os peixes devem ocupar, no máximo,
2/3 do volume do frasco pois a água perdida pelo corpo dos espé-
cimes diminui a concentração do formol.

2. Espécimes de médio e grande porte. Peixes de proporções


maiores devem ser fixados através de injeções de formol 10%,
que devem ser aplicadas ao longo de toda a musculatura do ani-
mal e no interior da cavidade do corpo. As injeções na muscula-
tura devem ser espaçadas entre si de tal modo que o líquido
fixador seja injetado em toda a musculatura dorsal e ventral,
dos dois lados do corpo. As injeções devem ser aplicadas com a
agulha inclinada num ângulo menor que 30o e, nos peixes de
escamas, a agulha deve ser colocada entre as mesmas.
O líquido deve ser injetado com cuidado até que haja dificul-
dade em injetar o fixador, ou seja, dificuldade em baixar o êm-
bolo da seringa.
26 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Deve-se puxar a seringa na direção do aplicador e injetar


mais um pouco de líquido. Este procedimento é muito impor-
tante pois a dificuldade em injetar pode promover um esguicho
de fixador para fora do corpo do animal e atingir os olhos do
aplicador causando problemas sérios.
Deve-se injetar fixador na base das nadadeiras pares e ímpa-
res. Deste modo promove-se a ereção e/ou expansão das mesmas,
o que facilitará a observação da forma e disposição dos raios de
sustentação destes órgãos, importantes caracteres taxonômicos.
Para o preenchimento adequado da cavidade corpórea, onde
se alojam as vísceras, deve-se aplicar o fixador através do ânus
ou cloaca, assim como pela boca e aberturas operculares. A quan-
tidade de fixador deve ser suficiente para causar entumecimento
da cavidade e deve-se parar a aplicação quando se nota
estravazamento do fixador pelas aberturas do corpo.
Deve-se ter o cuidado de injetar uma boa quantidade de fixador
no interior do esôfago e estômago através da boca, pois pode
haver alimento no interior destes órgãos o que dificultará a fixa-
ção adequada da mucosa e/ou deterioração deste alimento.
Assim que os peixes são injetados, devem ser mergulhados em
solução de formol 10% em recipiente de dimensões adequadas,
evitando-se provocar dobramento dos corpos dos animais. Neste
banho devem permanecer por uma semana.
Existem ainda técnicas especiais de fixação, que deverão ser
empregadas de acordo com o uso que terá o material coletado.
Dentre estas, uma técnica importante para o colecionamento é
a de fixação com preservação do colorido, descrita em YOSHIDA
(1962). No entanto, esta técnica apresenta inconvenientes em
relação a pouca rigidez dos tecidos, o que dificulta o manuseio
do material e a queda das escamas, dificultando e/ou
inviabilisando os estudos de Sistemática.
Para cada estudo, são utilizadas determinadas medidas do
exemplar, porém existem as medidas mais comumente utiliza-
das, ilustradas a seguir. Normalmente para outros grupos como
Aves e Mamíferos, as medidas devem ser feitas anteriormente à
preparação, porém, para peixes isto não é necessário, já que o
espécime permanecerá inteiro, sendo possível a medição posteri-
ormente. As medidas mais usuais são:
Peixes
PEIXES - A. M. Souza & P. Auricchio 27

Figura 8. Medidas básicas para peixes. (Desenho: P. Auricchio).

1 - Comprimento total;
2 - Comprimento padrão;
3 - Comprimento da cabeça;
4 - Base da 1a. nadadeira dorsal;
5 - Base da 2a. nadadeira dorsal;
6 - Comprimento do pedúnculo caudal;
7 - Base da nadadeira anal;
8 - Comprimento da nadadeira peitoral;
9 - Altura;
10 - Distância pós-orbital;
11 - Distância pré-orbital
12 - Olho.

CONSERVAÇÃO DO MATERIAL

Os peixes devem ser conservados em álcool etílico a 70° GL.


Alguns poucos museus conservam os peixes em formol a 10% neu-
tro ou não, álcool isopropílico, ou ainda álcool a 75°GL. O ideal é
fixar adequadamente o peixe em formol 10%, manter a peça nes-
te fixador por um a dois meses no máximo, retirá-lo desta solu-
ção, colocando-o sobre uma rede, deixar evaporar o formol e, a
seguir, colocá-lo em álcool 70%. Isto é forito para que não ocorra
a descalcificação das partes ósseas, principalmente das escamas
e não se coloque em risco a saúde do pesquisador, já que a
formalina é uma substância comprovadamente cancerígena.
28 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Os peixes devem ser idealmente conservados em vidros trans-


parentes com tampa plástica de rosca ou de pressão, hermetica-
mente fechados. As tampas metálicas não são recomendadas
devido à facilidade com que se oxidam, muitas vezes danificando
o material.
Peixes muito grandes podem ser conservados em recipientes
ou tanques de polietileno ou cimento amianto. No caso de usar
tanques de cimento amianto, deve-se tomar o cuidado de revestí-
los previamente por dentro com tinta epoxi, que impermeabiliza
e não é corrosível, e usar, como conservante, formalina 10%, uma
vez que estes tanques não são hermeticamente fechados, o que
facilitaria a evaporação do álcool.
É de extrema importância que o frasco onde os peixes serão
conservados seja hermeticamente fechado, para não permitir que
a concentração do conservante se altere. De qualquer modo, a
coleção deve ser revisada periodicamente, a fim de trocar o
conservante naqueles frascos em que o nível está baixo.

2.4 TÉCNICAS ESPECIAIS PARA COLEÇÕES OSTEOLÓGICAS

As coleções osteológicas vem merecendo destaque nos últi-


mos anos, principalmente por fornecerem centenas de dados
adicionais para a filogenética. No capítulo Esqueletos há infor-
mações e técnicas gerais para vertebrados, porém algumas téc-
nicas especiais para peixes serão aqui abordadas.
Esqueletos completos ou parte destes, principalmente o crâ-
nio de peixes de médio e grande porte, podem ser preparados por
meio de duas técnicas de descarne: a maceração ou a utilização
de dermestídeos.

a - O descarne por meio da maceração com água;

Peixes ósseos:

1. Coloca-se o peixe, previamente descarnado (sem as vísceras


e a maior parte da musculatura), em recipiente com água fer-
vente por poucos minutos.
2. Retira-se a peça e inicia-se o descarne por meio de pinças.
Pode-se voltar a peça para a água fervente, por poucos minutos
Peixes
PEIXES - A. M. Souza & P. Auricchio 29

caso existam regiões onde não tenha ocorrido o descolamento


da musculatura. Geralmente todos, ou a grande maioria dos
ossos, se desarticulam. Para facilitar a montagem posterior do
esqueleto (total ou parcial) é interessante nesta fase da
preparação, agrupar os ossos das diferentes regiões esqueléticas.
3. Os diferentes conjuntos de ossos devem passar por um pro-
cesso de clareamento, utilizando-se para isso, uma solução de
água oxigenada a 30 volumes. Como esta solução é altamente
corrosiva deve-se ter o cuidado de acompanhar atentamente o
processo de clareamento, para que não haja corrosão dos ossos.
Dependendo da maior ou menor espessura do osso este deve fi-
car, respectivamente, por um período de tempo maior (várias
horas) ou menor (alguns minutos) nesta solução.
4. Retira-se os ossos da solução clareadora por meio de pin-
ças, lavando-os em água corrente, ou em diferentes banhos de
água pura, para eliminar ou diluir ao máximo a solução de água
oxigenada que fica impregnada nos poros dos ossos.
5. Em seguida, coloca-se os ossos sobre papel absorvente ou
papel de filtro para secarem e só após a secagem completa é que
se pode ter idéia do grau de clareamento do osso.
6. Reagrupa-se e identifica-se os ossos, utilizando-se atlas
anatômicos, e inicia-se o processo de montagem.

Peixes cartilaginosos:

O processo de descarne através da maceração com água deve


levar em conta as dimensões destes animais. Os tubarões de pe-
queno porte (menores de 60 centímeros de comprimento) devem
ser envoltos em um pano de algodão (pano de prato, por exem-
plo) e submersos, no máximo durante 3 minutos na água fer-
vente. Os exemplares maiores de 60 centímetros não precisam
ser envolvidos por um pano pois a massa muscular mais desen-
volvida não se desagrega tão facilmente. Os espécimes de peque-
no porte, ao serem retirados do banho, devem ser cuidadosa-
mente desembrulhados, mas devem ser mantidos sobre o pano.
Imediatamente, pele, visceras e musculatura se soltam do esque-
leto e isto pode causar a perda das peças esqueléticas de peque-
nas dimensões. Por isso deve-se manter o animal sobre o pano
para evitar esta perda.
30 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

b - Descarne por meio de larvas de dermestídeos.

Um método de descarne menos “ agressivo” , isto é, que evita a


desarticulação total do esqueleto, é o que emprega larvas de
dermestídeos. O processo completo está descrito no capítulo de
Esqueletos, porém algumas considerações especiais serão feitas
aqui.
1. Assim como o método de descarne anterior, devem ser retira-
das da peça as vísceras e a maior parte da musculatura;
2. A peça deve ser colocada em uma solução de álcool 70% du-
rante um ou mais dias (dependendo do tamanho do peixe).
Peixes com 20 à 50 centímetros, um dia, entre 50 e 80 centí-
metros, três dias, mais de um metro, uma semana a duas.
Este banho em álcool dificulta a desarticulação entre os os-
sos, preservando melhor as cartilagens;
3. Retira-se a peça desta solução alcoólica e deixa-se evaporar o
álcool;
4. A seguir coloca-se a peça seca em estufa entre 40 e 60 graus,
durante 24 horas;
5. Retira-se a peça da estufa e coloca-se em recipiente plástico,
em forma de bandeja. Pode-se utilizar garrafas plásticas cor-
tadas ao meio ao longo de seu comprimento, pois estes recipi-
entes são muito adequados para os peixes em geral pois são
organismos alongados;
6. Identifica-se o material com etiqueta de metal ou plástica,
para que não seja digerida pelas larvas.
7. Coloca-se o material a ser descarnado no interior da colônia
de dermestideos;
8. Deve-se acompanhar atentamente o descarne da peça, isto
porque, dependendo da quantidade de larvas e tamanho da
peça a limpeza pode ser mais ou menos rápida;
9. Aconselha-se colocar nas articulações, gotas de cola instan-
tânea, tipo Superbonder, conforme se processa a limpeza, para
evitar a desarticulação dos ossos mais frágeis. Deste modo, a
maioria dos ossos deve se manter na posição natural, o que
facilita sobremaneira o processo de montagem, e;
10. Após o descarne deve-se retirar as larvas da peça, através de
pincéis e/ou pinças, e esta deve ser colocada em recepiente
hermeticamente fechado com um algodão com éter, para
Peixes
PEIXES - A. M. Souza & P. Auricchio 31

matar as larvas que, por ventura, não tenham sido retiradas.


Este cuidado é muito importante pois, por se tratarem de lar-
vas que consomem material orgânico, a fuga destas pode oca-
sionar problemas.

REFERÊNCIAS

BOHLKE, J.E., WEITZMAN, S.H. & MENEZES, N.A. 1978. Estado


atual da sistemática dos peixes de água doce da América do
Sul. Acta Amazônica, 8(4): 657:677.
DAVIS, D.D. & GORE, U.R. 1947. Clearing anda staining skeletons
of small vertebrates. Fieldiana: Technique, (4): 1-16.
DINGERKUS, G. & UHLER, L.D. 1977. Enzine Clearing of alcian
blue stained small vertebrates for demonstration of cartilage.
StainTechnol., 52: 229-232.
DOLCI, D.B. 1985. Artes e métodos de pesca do Rio Grande do
Sul. Cadernos de pesca, Porto Alegre, (8), 10p.
GILBERT, C.R., SPRINGER, V.G., COUTENAY, W.R. & ROSENBLATT, R.H.
s.d. Report to ASIH by Special Comittee on Ichthyocides. American
Society of Ichthyologists and Herpetologists. (não publicado).
IHERING. H. VON, 1898. Os peixes de água doce do Rio Grande do
Sul. Ann. Est. Rio Grande do Sul, pp. 161-190.
LOWE-McCONNELL, R. H. 1999. Estudos Ecológicos de
Comunidades de Peixes Tropicais. Tradução: Anna Emília A. de
M. Vazzoler, Angelo Antônio Agostinho, Patrícia T. M.
Cunnhingham. – São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo. – (Coleção Base). 535p.
MALABARBA, L.R. & REIS,R.E. 1987. Manual de Técnicas para a
Preparação de Coleções Zoológicas. 36 - Peixes. Sociedade Bra-
sileira de Zoologia. - Campinas, SP 14p.
PAPAVERO, N. 1983. Fundamentos práticos de taxononia zoológi-
ca: coleções, bibliografia, nomenclatura. Museu Paraense
Emilio Goeldi e SBZ, Belém, 252p. “Informações básicas sobre
colecionamento, tipos de coleções e suas finalidades”.
SMITH, N. J. H. 1979. A pesca no rio Amazonas. CNPq-INPA,
Manaus.154p., il.
VANZOLINI, P.E. & PAPAVERO, N. (eds.). 1967. Manual de coleta e
preparação de animais terrestres e de água doce. Departamento
de Zoologia, São Paulo. 223p.
32 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

TAYLOR, W.R. 1967. An enzyme method of clearing and staining


small vertebrates. Proc. U.S. Nat. Mus., Washington, (3596): 1-
17.
VIBERT, R. (ed.). 1967. Fishing With Electricity. Its application to
Biology and Management. FAO. xxviii + 276 p.
YOSHIDA, L. 1962. Preserving colors in fishes with sodium
escorbate. Bull. Misaki Marine Biol. Inst., Kyoto, (3): 67-68.

LEITURAS COMPLEMENTARES

GOULDING, M 1979. Ecologia de pesca do Rio Madeira. CNPq-


INPA, Manaus. 172p. il.- (Este autor, bem como SMITH, 1979,
apresentam uma descrição detalhada das artes de pesca).
Peixes
PEIXES - A. M. Souza & P. Auricchio 33

MONTAGEM DE PEIXES PARA EXPOSIÇÃO DIDÁTICA


P. AURICCHIO

Um iniciante deve começar com um peixe de fácil obtenção e


que tenha escamas bem fixas, como o porquinho (fam. Balistidae)
ou com escamas grandes que não desprendam facilmente, como
o roncador (Conodon nobilis). Em geral, os peixes de escama dura
são preferidos para montagem. Aqueles com muita gordura, como
as carpas, não dão bons resultados.
Atualmente, em museus modernos, a montagem da maioria
dos exemplares é feita com réplicas de resina, que mesmo depois
de pintadas dão a impressão do peixe estar vivo, recém retirado
da água. Entretanto, este tipo de preparação não serve a todos
os propósitos (PRAY, 1978).

MONTAGEM PARA PENDURAR NA PAREDE

1.Ao se começar a taxidermia de um peixe, observe cuidadosa-


mente o espécime. Se se optar pela montagem para pendurar na
parede, deve-se escolher o lado mais perfeito para permanecer à
mostra;
2. Lave o peixe cuidadosamente para retirar toda a mucosidade,
sem danificar as escamas. Um ácido fraco pode ajudar nesta ope-
ração (vinagre). O excesso de umidade pode ser retirado com pa-
pel absorvente ou pano;
Figura 1. Desenho do
manequim que será feito
com isopor a partir dos
desenhos 1 e 2 .
34 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

3. Sobre um papel resistente coloque o exemplar com o melhor


lado para cima, na posição final desejada e desenhe seu perfil
com um lápis que passa por todo o contorno do exemplar como
na figura 1. Este será o desenho 1;
4. Meça as espessuras do corpo, em pelo menos 5 posições ao
longo da linha mediana (Figura 2). Marque no desenho estas me-
didas na região de onde foram tomadas;
5. Vire o peixe sobre seu melhor lado, sobre um pano absor-
vente dobrado, para que fique mais firme. Procure não movi-
mentar o peixe. Tente sempre retirar o corpo de dentro da pele e
não retirar a pele do corpo. Não levanteo peixe da mesa, ou pelo
menos, o menos possível. Não dobre a pele durante o processo,
senão as escamas pularão de seus encaixes na pele;

corte secundário corte principal

Figura 2. Peixe posicionado para retirada da pele. As


medidas devem ser feitas sobre onde será o corte principal.

6. Faz-se uma incisão como mostra a figura 2, com tesoura


fina-romba, por todo o comprimento do espécime, desde a base
da cauda até a brânquia (corte principal). Neste sentido é mais
difícil destacarmos as escamas. Corte os ossos da cintura
escapular com uma tesoura forte ou um alicate de corte;

Figura 3. Esquema
mostrando a pele
retirada em um dos
lados.
Peixes
PEIXES - A. M. Souza & P. Auricchio 35

7. Faça um corte em cruz no final da cauda onde ela se junta


ao corpo (corte secundário);
8. Comece a separar a pele do corpo com uma faca sem corte e
sem ponta (Figura 3). Todo o cuidado deve ser tomado com uma
camada de pigmento prateado que existe sob as escamas. Se esta
for retirada deve ser recuperada com tinta, papel alumínio ou
outro artifício;
9. Toda a parte superior e inferior da pele deve ser separada e
então aparecem as nadadeiras peitorais e pélvicas, que devem
ser cortadas com um alicate de corte, sempre sobrando meio cen-
tímetro da base (mais para peixes maiores)(Figura 4);
10. Disseque e limpe a pele que já está exposta, lembrando que
não se deve retirar a pigmentação prateada;

Figura 4. Corte mostrando a pele separada do corpo, e as nadadeiras


vistas pelo lado interno da pele. Observe que foram deixadas as raízes.

Figura 5. Separação da pele lateral com espátula.


36 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Figura 6. Pele aberta mostrando


inserções das nadadeiras.

11. As bases das nadadeiras dorsal e anal aparecem e devem


ser cortadas, deixando-se também boa parte da raiz dos raios;
12. Continue separando a pele por baixo do corpo na parte
mais posterior, perto da cauda. Então corte a coluna vertebral
bem na base da cauda (Figura 5);
13. Continue levantando e separando o corpo da pele até que
apareça a nadadeira peitoral e pélvica do outro lado. Corte-as
conforme descrito anteriormente;
14. Quando o corpo estiver solto da pele até a altura da cintura
escapular, a coluna vertebral deve ser cortada com um alicate de
corte ou instrumento similar, separando-o e retirando-o (Figura 6);
15. Limpe a base da cabeça com um bisturi e tesoura. Uma cureta
pode ser muito útil. Novamente, cuidado com o pigmento prateado.
Outros tecidos devem ser finalmente retirados de toda a pele;
16.Retire os globos oculares com uma pinça de ponta curva e
limpe as órbitas de gorduras e outros tecidos. Abra caminho para
remover musculatura sob o opérculo;
17. Deixe o crânio vazio. Por dentro da órbita, retire toda a
gordura de todas as partes onde forem encontradas;
18. Se o peixe for montado com os opérculos abertos, mos-
trando as brânquias, deixe-as intactas do lado que será mostra-
do. As do lado oposto devem ser retiradas. A língua pode ser
mantida se o peixe for montado com a boca aberta, mas a mus-
culatura de sua base deve ser retirada pela parte posterior.
19. Lave a pele cuidadosamente sob água corrente retirando
detritos e restos de tecidos. Seque com papel absorvente.
20. Faça um novo desenho da pele, agora sem o corpo e deixe-
Peixes
PEIXES - A. M. Souza & P. Auricchio 37

o de lado (Figura 6). Este será o desenho no. 2;


21. Nesta fase a pele pode ser mergulhada numa solução de
formalina a 10% durante algumas horas ou de um dia para ou-
tro, tomando o cuidado de não dobrar a pele e mantê-la na posi-
ção correta. Este banho não é imprescindível mas ajudará a con-
servação e também a manutenção das cores;
22. Em seguida, retire o excesso de umidade da pele com papel
absorvente ou pano de algodão e coloque bórax em pó por toda a
parte interna da pele, especialmente no crânio;
23. A pele está pronta para montagem. Não a deixe secar. Em-
brulhe-a em pano úmido e nunca enrole-a ou dobre-a;
24. Para preparar o manequim você vai utilizar os desenhos
feitos anteriormente. O material pode ser isopor de boa densida-
de ou outro similar. Com o desenho 1 faça uma escultura com o
pedaço de isopor (ou similar), utilizando uma faca muito afiada
e lixa grossa;
25. Utilize o desenho 2, originado na figura 6, para confirmar
se a pele cobre totalmente o manequim. Procure dar ao mane-
quim o formato exato do corpo do peixe;
26. Tendo o manequim pronto, escave os locais onde serão en-
caixadas as nadadeiras como na figura 7 A e B;

A B

Figura 7. Manequim esculpido com o bloco de madeira colado.

27. Como o isopor tem pequena resistência, uma pequena es-


cavação deve ser feita na lateral que ficará em contato com a
parede e um pequeno bloco de madeira deve ser encaixado e co-
lado nele com cola branca. Este bloco será o suporte do peixe
quer coloquemos um gancho ou uma perfuração para um para-
fuso para fixação no painel. Este bloco de madeira pode ser
substituido por massa de biscuit que, depois de seca tem uma
boa resistência até mesmo para receber um parafuso. Se esta
operação não for possível, pode-se simplesmente utilizar um ara-
38 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

A B

Figura 8. Manequim preparado com arame de fixação.

me inoxidável em forma de U como mostra a figura 8 A e B e


introduzir em um corte previamente feito. Observe que a base do
U é forçada a entrar no manequim até a metade deste;
28. A montagem pode ser feita simplesmente colocando-se a
pele sobre o manequim ou utilizando-se uma cola a base de cola
branca (acetato de vinila), solúvel em água;
29. Deixe a pele sobre a mesa e comece a “vestir” o manequim
encaixando a base das nadadeiras em seus encaixes, previamen-
te esculpidos. Para melhor fixação das nadadeiras pode-se utili-
zar papel-maché ou massa de biscuit;
30. Pressione a pele para que não sobrem bolhas e vá colocando
a pele no lugar. Para auxílio na fixação pode-se utilizar alfinetes
entomológicos ou outros finos que se tenha disponíveis;

Figura 9. Peixe montado e colocado em posição para secar com suportes


nas nadadeiras
Peixes
PEIXES - A. M. Souza & P. Auricchio 39

31. Costure a pele com agulha curva e linha e coloque a cabe-


ça em sua posição, preenchendo os espaços necessários com massa
de biscuit ou papel-maché;
32. Coloque o olho de vidro, somente do lado que será visto,
fixando-o com papel maché ou massa de biscuit, posicionando-o
com o cuidado de não deixá-lo muito profundo.
33. Utilize pedaços de isopor para deixar a boca ou os opérculos
abertos, prendendo-os com o auxílio de alfinetes;
34. Escove as brânquias, coloque mais bórax em pó e escove-as
novamente;
35. Com o peixe já fechado em sua posição, retire todo o excesso de
bórax da superfície das escamas com um pincel umedecido em água.
Arrume as membranas das escamas e do opérculo, esticando-as.
36. Levante as nadadeiras e fixe-as com pequenas chapas de
papelão ou isopor e alfinetes (Figura 9), e
37. Deixe secar à sombra.

Pequenos rasgos nas nadadeiras podem ser consertados com


pedaços de folhas de plástico ou PVC transparente, colados do
lado da nadadeira que fica próximo à parede.

MONTAGEM PARA APOIAR

Para preparar um peixe para apoiar em um móvel ou pratelei-


ra o método utilizado é o mesmo descrito, com poucas diferen-
ças, como a localização do corte, que deve ser na região ventral
começando no ânus, indo até a cintura escapular e depois do
ânus até a base da cauda e girando para um dos lados.

A
B

Figura 10. Posição do suporte de arame no manequim.


40 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Outra modificação é com relação ao suporte que deverá ser


um arame de espessura suficiente para que o espécime seja su-
portado por ele (Figura 10 A e B). A massa de biscuit deve ser
utilizada para preencher espaços e restaurar pequenos defeitos.

MONTAGEM PELO MÉTODO DO PREENCHIMENTO COM AREIA

Neste método, os passos de 1 a 22 devem ser observados sem


modificação, tanto com corte lateral como o ventral, seguindo-
se as etapas abaixo:
23. costure o corte cuidadosamente tomando cuidado para dei-
xar um espaço suficiente para que se possa colocar o material
para preenchimento;
24. Tampe a boca pelo lado de dentro, com papel ou outro
material, para que a areia não saia pelos opérculos ou boca.
25. Preencha o peixe com areia , sempre dando o formato apro-
priado. Depois de totalmente preenchido, costure o que faltava
para costurar;
26. Deixe secar completamente;
27. Depois de seco, retire o material que serviu de tampo para
a boca e brânquias e retire a areia completamente;
28. Utilize espuma de poliuretano para preencher o peixe. Este
material é leve, porém sua reação é extremamente rápida o que
dificulta ao iniciante ter sucesso pleno;
29. Retire o excesso de espuma e limpe todo o peixe preparan-
do-o para a pintura, e
30. Coloque o arame ou parafuso para fixá-lo na parede ou
suporte.

PINTURA
O processo de pintura é a parte mais difícil da taxidermia de
peixes. O auxílio de um artista plástico será de grande ajuda na
escolha da tinta e do processo para cada espécime. A utilização
do aerógrafo é quase que imprescindível para um bom resultado.
O pincel não dá a gradação com facilidade e muito tempo e paci-
ência são necessários.
Alguns peixes não perdem as cores ou perdem pouco sendo
que podem ser facilmente restauradas. A utilização de betume,
derivado de petróleo utilizado para escurecer peças, é de grande
Peixes
PEIXES - A. M. Souza & P. Auricchio 41

auxílio no processo. Pode ser passado com pincel ou algodão, di-


luído em água raz na proporção desejada até alcançar a tonali-
dade adequada.

ESQUELETOS DE PEIXES

Devido à fragilidade de suas articulações, esqueletos de peixes


são difíceis de preparar. Larvas e adultos de besouros dermestídeos
usualmente comem mais do que deveriam, soltando ossos, tor-
nando muito difícil a montagem. Peixes congelados previamente
são os melhores espécimes para o principiante, pois o congela-
mento é responsável pela quebra de alguns constituintes dos te-
cidos, fazendo que seja mais fácil o descarne dos ossos. A técnica
aqui descrita foi retirada de METCALF (1987).
1. Retire a pele do peixe cuidadosamente, certificando-se
que nenhum osso foi cortado ou removido. Deixe uma sobra
de pele ao redor das nadadeiras para preservá-las. Um ou 2
cm é suficiente;
2. Remova preliminarmente a maior parte dos tecidos. Procu-
re retirar a carne da ponta para o início de cada costela para
evitar que elas se soltem e que a cartilagem seja danificada;
3. Comece o processo de limpeza pela cabeça. É a parte mais
robusta e mais firmemente articulada;
4. A remoção da estrutura das brânquias é feita cortando-se
as extremidades. Estas podem ser agora limpas mais facilmente
para depois serem novamente coladas em seu lugar;
5. Remova os olhos sem retirar as cápsulas ósseas, típicas de
algumas espécies;
6. Uma limpeza geral deve ser feita, retirando-se lábios e ou-
tros tecidos;
7. O esqueleto axial pode agora ser limpo. Lembre-se de deixar
intactas as membranas que separam as massas musculares direta
e esquerda dos arcos neurais e hemais;
8. As costelas são difíceis de limpar pois as articulações são
mais frágeis. Por isto, deixe um pouco de tecido neste estágio da
preparação;
9. Depois de retirar a carne, o espécime deve ser mergulhado
numa solução de 6% de amônia e guardado em local frio por 24
horas. A amônia enrigecerá as cartilagens, clareará os ossos e os
pedaços remanescentes de tecido serão amolecidos;
42 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

10. Retire o espécime deste banho e limpe os depósitos de teci-


do que tenham ainda restado;
11. O esqueleto deve ser pincelado com hipoclorito de sódio
(água sanitária). As nadadeiras devem ser protegidas contra esta
substância. Atenção: amônia e hipoclorito de sódio, quando mis-
turados, liberam gases de cloro que são extrememente tóxicos.
Assim, isto deve ser feito em local ventilado ou sob capela; e
12. Quando a lavagem estiver completa, permita que sofra uma
secagem prévia. Se um desengorduramento não for necessário,
proceda o branqueamento com água oxigenada (peróxido de
hidrogênio) 10% por 2 ou 3 horas.
Caso o material necessite ser desengordurado, consulte o ca-
pítulo Esqueletos.

BIBLIOGRAFIA

METCALF, J. C. 1987. Taxidermy - a complete manual. Duckworth,


London. 166p.

PRAY, L. L., 1978. Taxidermy. Macmillan Publishing Co., Inc. New


York. 91p.
2
ANFIBIOS - M. E. V. Calleffo 43

Anfíbios
Anfíbios
44 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Myriam Elizabeth Velloso Calleffo é Bióloga. Licenciada em Ciências e Biolo-


gia, na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP). Cursou Pós
Graduação (Latu Sensu) em Turismo e Meio Ambiente no SENAC onde, desde
então ministra aulas sobre animais peçonhentos nos cursos de Guarda-Par-
que e Guia de Ecoturismo. Fez curso de especialização em Arqueologia Brasi-
leira e vem desenvolvendo pesquisas sistemáticas na área de Zooarqueologia
e pré-história, onde colaborou na montagem do Museu Municipal de Arqueo-
logia de Monte Alto-SP. Como membro da equipe multidisciplinar de arqueo-
logia do MAE -USP, participa de escavações e oferece cursos e palestras. Parti-
cipou de várias expedições científicas e coletas zoológicas no Brasil (SP, MG,
MT, MS, TO e PE) e no exterior (Chile, Cuba e Paraguai).
Fez parte da equipe técnica no inventário faunístico do estado de Mato Gros-
so, coordenado pelo CNEC e SEPLAN, para o qual redigiu relatórios com fotos,
além de colaborar na edição de um vídeo. Na área de educação lecionou na
rede pública de ensino durante cinco anos. Atualmente é Assistente Técnica
de Pesquisa Científica e Tecnológica do Laboratório de Herpetologia do Insti-
tuto Butantan. Ministra cursos e palestras sobre animais peçonhentos e como
membro da equipe Interdisciplinar de Arqueologia do MAE-USP dá cursos e
palestras sobre vestígios faunísticos em sítios pré-históricos. Escreve artigos
sobre assuntos diversos nas áreas em que atua e participa de projetos em
outras instituições. É também estagiária do Museu de Zoologia (MZUSP) sob a
orientação do Prof. Dr. Paulo Emílio Vanzolini com quem desenvolve traba-
lhos de campo e pesquisa em biogeografia e sistemática de anfíbios e répteis.

Instituto Butantan
Av. Vital Brasil, 1500, Butantã
São Paulo, SP – Brasil. CEP 05503-900
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Tel. (055) 11 3726 7222 R. 2179 e 2135
FAX (055) 11 3726 1505
ANFIBIOS - M. E. V. Calleffo 45

Anfíbios

Anfíbios
Myriam Elizabeth Velloso Calleffo

INTRODUÇÃO

Diante dos problemas ambientais constatados nas últimas dé-


cadas, buscam-se alternativas que conciliem o desenvolvimento
econômico e social com a conservação dos recursos naturais. As-
sim criaram-se os “Planejamentos Ambientais” (EIA/RIMA, Inven-
tários, Zoneamentos, etc) às vezes um tanto “românticos”, funci-
onais somente na teoria. Na prática a questão ambiental apare-
ce como um alarme em situações emergenciais que colocam em
perigo a mãe natureza. Através de evidências e observações “in
situ”, além das ações naturais e antrópicas causadas ao meio
ambiente, nenhum planejamento será bem sucedido se não le-
var em conta o espaço de uma área e a quantificação da
amostragem do material fitofaunístico a ser coletado nela. A
coleção de animais e a preparação de espécimes para Museus são
necessárias para pesquisas sistemáticas e atividades educativas em
Zoologia dentre outros tipos de estudos.
Pesquisas de campo com anfíbios freqüentemente envolvem
captura e coleta de espécimes que implicam em vários fatores:
preservação, registro de data, marcação, confinamento tempo-
rário ou relocação. Certo tempo após este tipo de atividade con-
tínua sem escrúpulos, ela pode causar interferências ao meio am-
biente. A coleção de amostras para Museus das populações na-
turais é crucial para:
- entender a biologia dos animais e sua variação ao passar
do tempo;
- registrar a diversidade biótica ao longo do tempo e em di-
ferentes habitats, e
- manter o material de referência taxonomicamente organi-
zado para o estudo da evolução das espécies e suas relações
filogenéticas.
46 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

O número de indivíduos coletados deve ser o suficiente para


as amostragens locais sem que se altere o ambiente. Embora al-
guns estudos de diversidade, ecologia e variação de novas espé-
cies requeiram grandes amostras, isso não torna os pesquisado-
res exterminadores (ASIH, HL & SSAR, 1997).
Coletar intencionalmente sem ser para estas finalidades pode
acarretar desequilíbrios na natureza. É importante ressaltar que
no Brasil um coletor deve ter licença específica para coleta,
expedida pelo IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis. Comercializar e manter ani-
mais silvestres da fauna brasileira em cativeiro é expressamente
proibido, Lei 7.653/88 de Proteção a Fauna/Crime Inafiançável,
exceto para criadouros, zoológicos ou Instituições com autoriza-
ção regulamentada.
Matar um indivíduo de qualquer espécie é um ato ético e mo-
ral, portanto nada pode ser desprezado e tudo tem de ser apro-
veitado científica e respeitosamente pelo maior tempo possível,
preferencialmente indefinidamente, com vistas a servir a futu-
ras gerações de investigadores do funcionamento da vida.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A FAUNA

CLASSE AMPHIBIA

Os anfíbios foram os primeiros vertebrados a colonizar a terra, e


seu ciclo de vida está intimamente ligado à água. Seus ovos são, em
geral, depositados na água, em lugares úmidos ou lameados, suas
larvas ou girinos, normalmente se desenvolvem na água onde res-
piram por brânquias. Após a metamorfose, os adultos providos
de pulmões habitam a terra, mas sempre dependentes da água
para sobreviver e perpetuar a espécie. Atualmente os anfíbios do
mundo se dividem em três ordens: Gymnophiona, os cecilídeos;
Caudata, as salamandras; e Anura, as rãs, sapos e pererecas.
A fauna brasileira de anfíbios é muito ampla, representada
pelas três ordens e mais de 15 famílias. Para a identificação das
espécies coletadas e seus dados biológicos, o coletor deve utilizar
referências bibliográficas específicas, e fazer comparações
morfológicas com espécimes depositados em coleções científicas.
Para a identificação e descrição de espécies novas, são utilizados
caracteres morfométricos e merísticos.
ANFIBIOS - M. E. V. Calleffo 47

DICAS PARA IDENTIFICAÇÃO EM CAMPO

Durante o dia, na rotina de revisão de armadilhas, enquanto

Anfíbios
os espécimes são coletados, outros locais podem ser escolhidos
para serem vasculhados à noite. Deve-se revirar e observar em-
baixo de pedras, tocos, folhas, folhiço e dentro de ocos de pau.
Geralmente são encontrados muitos artrópodes (aranhas, escor-
piões, lacraias, diplópodos e opiliões); eventualmente outros
invertebrados e vertebrados de interesse podem ser coletados.
Alguns anfíbios anuros vocalizam junto às poças e alagados e
também nas margens dos córregos, rios, lagoas e represas. A es-
tação seca é desfavorável para a reprodução desses animais. Em
períodos de campanhas chuvosas, os anfíbios anuros (sapos, rãs
e pererecas) podem ser observados e fotografados em seu habitat
natural, antes de sua captura. Os girinos, dependentes da água
para seu desenvolvimento até a fase adulta, tornam-se presas
fáceis para ser coletados através de peneiras e puçás. Embora
seja difícil determinar as espécies dos girinos coletados, salvo
exceções, é interessante coletá-los e criá-los para posteriormen-
te à metamorfose serem identificados no nível específico.
Os sapos verdadeiros, pertencentes à família Bufonidae, geral-
mente estão na beira de charcos, grandes poças ou áreas alagadas,
com parte do corpo exposta, facilitando a captura. São terrestres
e noturnos, embora vistos ocasionalmente durante o dia. Uma
espécie conhecida popularmente como “sapo cururu” é facilmen-
te encontrada por sua ampla distribuição geográfica. Geralmen-
te os sapos apresentam dimorfismo sexual em seu tamanho e
coloração (NORMAN, 1994; RODRÍGUEZ & DUELLMAN, 1994).
As pererecas da família Hylidae estão representadas por vári-
os gêneros como Hyla, Scinax, Osteocephalus, Phrynohyas,
Phyllomedusa, entre outros. Possuem hábitos diferentes dos sa-
pos e das rãs, pois são arborícolas. As pererecas têm as extremi-
dades dos dedos das mãos e dos pés em forma de discos providos
de ventosas, facilitando a subida em árvores ou superfícies lisas.
Apresentam tamanho e coloração variados. São freqüentemente
encontradas em arbustos, galhos ou camuflados sobre troncos,
no interior de bromélias, em veredas, sob pedras úmidas, em fo-
lhas verdes e rijas, perto da água, onde algumas espécies podem
desovar (Figura 6) (LUTZ, 1973; NORMAN, 1994). Eventualmente
são encontradas em banheiros e locais úmidos e frescos.
48 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

As rãs, Pseudis, Rana, Leptodactylus, entre outros gêneros,


possuem adaptações para nadar. Geralmente se encontram na
água ou em áreas alagadas e inundáveis. Algumas espécies en-
contram-se entocadas próximo à água e, às vezes, em cupinzeiros.
São difíceis de ser capturadas, pois são viscosas e escorregam
das mãos com facilidade. Adenomera, outro gênero pertencente
à família Leptodactlydae, em geral apresenta pequeno porte.
Pseudopaludicola é um gênero amplamente distribuído na re-
gião oriental da América do Sul, em diversos tipos de ambientes,
geralmente sob o folhiço no chão da mata. Desde a região
amazônica, cerrado, mata atlântica, até o Chaco na bacia do
Prata. É notável por seu pequeno tamanho, que não ultrapassa 2
centímetros (LOBO, 1994).
Microhylidae é um grupo com sistemática confusa; alguns
gêneros, Dermatonotus, Chiasmocleis e Elachistocleis, geralmente
ficam enterrados no solo úmido ou entocados em pequenos bu-
racos. Estas espécies saem com mais freqüência nas épocas de
chuva. A espécie Dermatonotus muelleri é abundante em áreas
de alagados e pântanos. É facilmente encontrada, devido a seu
canto alto e agudo, feito um berro, dentro da água, capinzal,
grama, enfim em diversos ambientes (CARVALHO, 1954).
À família Dendrobatidae pertencem os sapos venenosos, dis-
tribuídos pelas florestas tropicais, característicos pelas suas co-
res fortes e marcantes em tons de azul, amarelo e alaranjado
com fundo preto. Espécies do gênero Dendrobates e Epipedobates,
entre outros, são tóxicos ao homem e aos seus predadores
(WAALLS, 1994). Numerosos são os estudos sobre o veneno de
sapos. Para se envenenar com as secreções é necessário que se
tenha algum ferimento ou que ele entre em contato com as
mucosas ou ainda por via oral. Algumas tribos indígenas utili-
zam o veneno, a partir da toxicina existente na pele de algumas
espécies, para preparar o “curare” e envenenar as pontas de suas
flechas. Observações de que sapos lançam longe seu veneno cau-
sando cegueira não são verdadeiras. Em condições normais, eles
não oferecem perigo algum ao homem.
Os anfíbios da ordem Gymnophiona pertencem à família
Caecilidae. Os gimnofionios, são ápodes, ou seja, destituídos de
membros. De vida subterrânea, conhecidos por minhocão ou co-
bra-cega, são animais de regiões quentes. É possível surpreender
o gênero Siphonops nas hortas, no meio de hortaliças e vegetais.
ANFIBIOS - M. E. V. Calleffo 49

As pessoas geralmente o confundem com um réptil, também


ápodo, conhecido como cobra-de-duas-cabeças.
Os anfíbios da ordem Caudata, também chamada de Urodela,

Anfíbios
são anfíbios providos de cauda, parecidos com lagartos ou la-
gartixas. Só existem espécies amazônicas, arborícolas, dificilmente
coletadas.
Para identificações mais específicas e determinação das espé-
cies pode-se recorrer aos guia de campo para répteis e anfíbios,
como por exemplo HEYER, et al. (1990). Em geral esses guias tra-
zem a descrição do animal, seu habitat, sua distribuição geográ-
fica e sua fotografia.

INFORMAÇÕES GERAIS

Qualquer indivíduo pode começar a formar uma coleção ci-


entífica a partir de qualquer vestígio (osso, pele, cornos, ou-
tros fragmentos) ou animal encontrado, coletado, preparado
adequadamente e etiquetado. O espécime coletado se torna
um exemplar científico, integrante de uma coleção para fins
de ensino e pesquisa.
Para coletar basta técnica, disposição e vontade, além de recur-
sos financeiros. A coleta pode ser intencional ou ocasional. A pre-
paração do espécime coletado pode ser realizada ainda em campo
(provisório ou definitivo) ou posteriormente em laboratório.
Um bom colecionador explora sistematicamente o local da
coleta, o ambiente, a vegetação, a área de entorno e a fauna em
geral. Dedica maior atenção aos espécimes que busca, mas não
deixa de coletar outros espécimes de interesse que eventualmen-
te apareçam em seu caminho. É óbvio que ninguém consegue
coletar tudo o que vê pela frente. No caso de coletores zoólogos-
naturalistas, ao procurar determinado grupo de animais, en-
contram-se outros no mesmo ambiente. Os estudiosos da
Herpetologia, ciência que estuda répteis e anfíbios, geralmente
os coletam simultaneamente. Quem coleta répteis, ao revirar
troncos caídos ou vasculhar folhiço e buracos em busca de la-
gartos e cobras, encontra pererecas, sapos e uma infinidade de
artrópodes e vice e versa, quem coleta pequenos anfíbios, encon-
trará várias classes de artrópodes, lagartos raros e cobras, além
de outros animais (VANZOLINI & PAPAVERO, 1967). A experiên-
50 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

cia de cada um gera suas necessidades a respeito de técnicas e


equipamentos necessários para um bom desempenho em campo
e uma boa coleta.
A coleta então pode ser geral ou específica. Específica em rela-
ção a uma espécie e a um ambiente. É possível que o próprio
coletor busque desideratos especiais em regiões específicas, ou
então encomende-os à gente da região. Antigamente era possí-
vel a compra de animais destas pessoas; lagartixas e sapos podi-
am ser coletados por crianças em troca de um trocado ou de um
doce. Atualmente deve-se ter extrema cautela para não incenti-
var o comércio de espécies silvestres, que no Brasil é crime. Pode-
se deixar frascos contendo formol, com moradores e comercian-
tes em lugarejos e comunicar sobre o trabalho de coleta que está
sendo realizado na região e, se possível, engajar toda a popula-
ção local, mostrando a licença de coleta expedida pelo IBAMA.
Assim aparecerão curiosos, doadores e até colecionadores de bi-
chos que muito podem contribuir com a pesquisa de campo.
As coletas também podem ser específicas a um ambiente (cer-
rado, caatinga, mata atlântica, hiléia amazônica, etc) ou a micro
ambientes (bromélias, poças d´água, folhiço, etc) e ainda em oca-
siões oportunas (incêndios, desmatamento, resgate de fauna em
hidrelétricas, inventários, zoneamento ecológico, etc).
Ocasionalmente coletamos um espécime de cada espécie em
determinada localidade, freqüentemente coletamos vários espé-
cimes (séries) da mesma espécie em várias localidades. “ O estu-
do de um animal exige que se disponha de material de muitas
localidades, representando toda a sua área de dispersão geográ-
fica, e séries tão boas quanto possível de cada localidade”
(VANZOLINI & PAPAVERO, 1967).
O estudo das diferenças e semelhanças entre animais de locali-
dades diversas é muito importante do ponto de vista zoológico e
biogeográfico. Para o aproveitamento científico de um animal, al-
guns cuidados são indispensáveis (VANZOLINI et al., 1980).

RECOMENDAÇÕES

Os locais à beira d’água costumam estar infestados de


pernilongos e mosquitos; é conveniente o uso de repelentes ou de
fumo, como cigarro de palha para evitar ou diminuir a aproxi-
mação destes insetos. É prudente tomar algumas vacinas, como,
febre amarela e tétano, gratuitas e disponíveis em postos de va-
ANFIBIOS - M. E. V. Calleffo 51

cinação pública. Para a malária, não há prevenção, e para


coletores de sapos evitar locais de incidência do inseto transmis-
sor é quase impossível, pois a melhor hora para coletar sapos e

Anfíbios
pererecas no final da tarde, no “lusco-fusco”, é também o horá-
rio dos mosquitos e pernilongos atacarem.
É importante manter em lugar seco e seguro o estojo de emer-
gência para primeiros socorros no caso de febres, dores,
disenterias, gripes e resfriados. Nenhum medicamento deve ser
ingerido sem prescrição médica ou, no mínimo, leitura da bula.
É interessante ter consigo um manual de Primeiros Socorros.
Cuidados com reações alérgicas de várias naturezas, manter
sempre a mão um anti-alérgico (anti-histamínico). Evite bebidas
alcoólicas durante os percursos na mata para maior segurança.
São recomendáveis consultas ao IBGE e compra de cartas geo-
gráficas e mapas, além de verificar-se altitudes e climas em pu-
blicações especializadas tais como Normas Climatológicas e
Nivelamentos de Altitudes dos Estados.

CUIDADOS COM ARMAS DE FOGO E DE CORTE

Acidentes com armas de fogo (espingarda, garrucha, etc) e de


corte (facas e facões) são comuns, mas também podem ser evita-
dos. Não se deve andar com as armas carregadas e nem com
facas e facões sem bainha. Um tiro disparado ao acaso pode cau-
sar ferimentos graves e cortes de facas bem afiadas podem ser
profundos. Em campo, deve-se dobrar os cuidados com a saúde,
pois as dificuldades para um socorro imediato, às vezes pode im-
plicar em futuras seqüelas. É necessário verificar as armas to-
dos os dias e limpar, se possível, o material utilizado em campo.
Deve-se ter registro e porte da arma para poder carregá-la e
manuseá-la.

OBJETIVOS E METODOLOGIA DE CAMPO

OBTENÇÃO DE DADOS EM CAMPO

A tomada de dados em campo acompanhará o espécime refe-


rido para sempre em uma etiqueta ou em um rótulo e posterior-
mente os dados do caderno de campo serão transcritos para o
52 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

livro de tombo de uma coleção científica. Os dados fundamen-


tais da etiqueta são: local onde o animal foi capturado, data da
captura e o nome do coletor. Outros dados encontram-se no ca-
derno de campo que podem ser incluídos no rótulo e no livro de
tombo. Em grandes coletas e expedições, a quantidade de espé-
cimes coletados é grande, o que dificulta a rotulação de um por
um; por isso utiliza-se numeração em série, com seus dados devi-
damente anotados no caderno de campo. É importante ressaltar
que em campo, usam-se números provisórios nas etiquetas, pos-
teriormente trocadas pelo número de série de tombo da coleção
em que o espécime for incorporado.
Previamente ao trabalho de campo, deve-se fazer um levanta-
mento de dados secundários em coleções, para verificar espécies
ocorrentes na área em questão e entorno.
Deve-se também verificar a área geograficamente e estudar
sua respectiva cobertura vegetal, entendendo a que domínio
morfoclimático ela pertence (Ab’SABER, 1977).
Para coletar um maior número de indivíduos em tempo pré
determinado em pontos já amostrados, deve-se ter cautela na
escolha da metodologia para que uma maior eficiência seja
alcançada.
Durante as coletas, para otimizar o tempo, deve-se explorar
outras áreas além das já amostradas e dos pontos de armadi-
lhas. A equipe de trabalho, composta por especialistas (biólogos,
zoólogos, ecólogos, entre outros), anota os sítios de coleta onde
os animais são capturados. Em casos de levantamentos e inven-
tários zoológicos, EIA-RIMAS, etc, os respectivos sítios de coleta
são plotados em mapas e esquemas com fazendas, rios, córregos,
lagoas, rodovias, etc, demarcados.
A descrição geográfica e a localização dos ambientes, bem como
da flora e da fauna de cada região amostrada, é de suma impor-
tância para estudos biogeográficos. A localidade precisa do local
da captura é de suma importância, se possível com coordenadas
geográficas obtidas com GPS (Global Positioning System). Deve-
se ressaltar o nome do lugar, da cidade ou município e do estado.
As abreviaturas convencionais usadas como siglas para os esta-
dos e territórios brasileiros são utilizadas.
ANFIBIOS - M. E. V. Calleffo 53

ANOTAÇÕES E NUMERAÇÃO DE CAMPO

No caderno de campo devem ser anotadas as informações de

Anfíbios
coleta, data, local preciso, e informações do espécime, peso, sexo
e eventuais observações. É aconselhável o uso de caneta com tin-
ta especial, ou nanquim, para que não borre e nem manche as
anotações de campo. O nome e sobrenome do coletor devem ser
legíveis, e para coleta em grupos ou expedições, utilizam-se abre-
viações. No Instituto Butantan por exemplo, “Exp. IB”. Na data, o
dia e o ano geralmente por inteiro e em algarismos arábicos e o
mês em algarismos romanos, como por exemplo, 30.VI.1998.
O número de campo, imprescindível é a numeração crescente,
provisória de cada instituição de pesquisa ou de um pesquisador,
pode ser impresso em fita de pano, improvisado em etiqueta de
papel vegetal ou feito em rotulador do tipo “rotex”. São amarra-
dos com linha grossa do tipo cordonê. Em grandes expedições
científicas é necessário levar os números prontos e amarrados,
pois se perde muito tempo fazendo isto na hora da preparação
dos espécimes.
O espécime só leva a etiqueta com o número após a morte,
quando está relaxado e as devidas medidas e pesagens já foram
realizadas. Para sapos, rãs e pererecas amarra-se a etiqueta com
o número entre as pernas traseiras como se estivesse colocando
uma “fralda”, em gêneros de pequeno porte pertencentes a família
Leptodactlydae, como em Pseudopaludicola e Adenomera, e em
Microhylidae e girinos pode-se fazer lotes de exemplares ou
colocar a numeração diretamente dentro do pote que será
armazenado, para não danificar o exemplar. Em gimnofionas,
cobras-cegas, deve-se fixar a etiqueta como em cobras,
amarrando o número na altura do pescoço e enrolando o espécime
(Figura 7).

COLETAS

Os anfíbios são coletados de dia ou preferencialmente à noite


quando estão vocalizando (Figura 4 A e B). Por necessitarem de
ambientes úmidos e alagados para sua reprodução, tornam-se
presas vulneráveis nas chuvas de verão. Em épocas e ambientes
secos torna-se necessário explorar locais úmidos e sombrios onde
se refugiam essas populações.
54 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

As coletas variam muito de acordo com os ambientes


investigados (cerrado, mata, caatinga, etc).
Ta m b é m é d e i n t e re s s e c o l e t a r a n i m a i s m o r t o s
encontrados na natureza, acidental ou propositadamente.
Quando se encontram animais mutilados ou em decomposição,
aproveitam-se o crânio ou partes do esqueleto.
Anfíbios em geral são pequenos e frágeis. Quando mortos
e expostos à temperatura ambiente, logo se decompõem.
No caso de sapos, Bufo, freqüentemente encontrados
atropelados e amassados, pode-se tentar uma rehidratação
e depois fixá-lo convencionalmente. Mesmo quando não
coletado é interessante anotar os dados e fotografar o
espécime morto.

MÉTODOS UTILIZADOS EM CAMPO

A estratégia de amostragem a ser adotada pode constar de


exploração metódica ou ao acaso. A metodologia de transectos,
consiste em um ponto central e a partir destes, traçados
longitudinais que abarquem toda a área a ser amostrada
(VANZOLINI, 1986).
Geralmente répteis e anfíbios são coletados juntos e as coletas
podem ser ativas ou passivas.

PROCEDIMENTOS PARA COLETAS DIURNAS E NOTURNAS

A estratégia de amostragem adotada em coletas baseia-se em


diversos tipos de armadilhas que funcionam como captura
passiva. Além disso, as coletas ativas são realizadas durante os
dias e as noites em diversos tipos de ambientes. A utilização do
equipamento adequado (lanterna de cabeça e de mão, sacos para
acondicionar os espécimes coletados, entre outros), a habilidade
do coletor e o uso de roupas e acessórios necessários (bota de
borracha, camisa de mangas comprida, etc) são imprescindíveis
para um bom rendimento no esforço de captura e coleta.
ANFIBIOS - M. E. V. Calleffo 55

Armadilhas

Anfíbios
As armadilhas passivas podem ser:

1. ARMADILHAS DE QUEDA, “PIT FALL TRAPS”

As armadilhas de queda (pit-fall traps) geralmente devem estar


dispostas em linhas compostas por baldes plásticos (20 litros cada)
no seco, cada uma com dez (10) estações de quatro (4) baldes em
forma de um Y, um balde no centro, e três ramificações, separados
por cercas de lona plástica de quatro (4) metros de comprimento
e 50 cm de largura cada, fixados nas extremidades e no meio por
uma estaca de madeira de 3x3 cm, apontada, com 50 cm de
comprimento exposto. Essas cercas são colocadas de modo que
os animais ao encontrá-las, sigam-nas e caiam nos baldes;
portanto, as cercas tem de estar bem colocadas, com reforço de
terra e folhiço nas bordas, evitando que o animal passe por
debaixo delas (Figuras 1 e 2). Ao todo, podem ser instalados o
número de baldes necessários, dispostos em várias linhas e em
ambientes diferentes num mesmo local de coleta. As armadilhas
de queda têm sido utilizadas com muito êxito em levantamentos
zoológicos (GIBBONS & SEMLISTSCH, 1981).
Durante a revisão dos baldes, alguns animais repetitivos, que
caem com freqüência e em abundância, como alguns diplópodes
e pequenos leptodactilídeos, podem ser soltos. Os outros animais
que são coletados, de dentro dos baldes, devem ser acondicionados
em sacos plásticos transparentes, com anotações de campo (data,
número da estação de “pit-fall”, etc).
Em épocas de chuva, deve ser realizada manutenção nas
linhas de armadilhas de queda, diariamente. É preciso
verificar se os baldes estão enterrados corretamente no
nível do solo, se as cercas não caíram ou foram lavadas
pela água da chuva, além de esvaziar os baldes cheios de
água e recolher os animais vivos e mortos.
Em geral, os animais que caem nos baldes e estão
desidratados, devem ser rehidratados com água antes da
fixação e os demais, coletados, pesados (alguns medidos),
fixados em formalina 10%, previamente preparada e
56 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

etiquetados com número de campo. Estes espécimes e o


c a d e r n o c o m a n o t a ç õ e s d e c a m p o, e n c o n t r a m - s e
depositados em coleções científicas, havendo também o
c a d e r n o c o m a n o t a ç õ e s p e s s o a i s d o c o l e t o r. M a i s
informações sobre armadilhas de queda podem ser obtidas
no capítulo de Répteis.

4m 4m

4m

baldes
cerca de plástico

Planta Perspectiva

Figura 1. Esquema de estação de armadilha de queda (pit-fall-trap)


(Fonte:MVA planejamento e consultoria ambiental S/C Ltda. - sem escala).

Figura 2. Detalhe de uma armadilha-de-queda instalada. Observar que a


tela penetra no balde uns 10 ou 15cm por cortes nas laterais.(foto: Márcio
Martins)

2. ARMADILHAS TIPO GAIOLAS, “TOMAHAWK” E “SHERMAN”

Geralmente utilizadas para capturar pequenos mamíferos


utilizando-se de iscas, que também capturam lagartos dos
gêneros Ameiva e Tupinambis e, principalmente anfíbios do
gênero Bufo. Devem ser revisadas duas vezes ao dia e as gaiolas
ANFIBIOS - M. E. V. Calleffo 57

iscadas todos os dias. As iscas consistem de frutos e uma mistura


de sardinha, fubá e pasta de amendoim, previamente preparada.
O cheiro forte da mistura atrai animais que por sua vez, podem

Anfíbios
ser iscas para outros animais. Outros detalhes podem ser vistos
no capítulo de Mamíferos.

3. ARMADILHAS–DE–COLA, “STICK–TRAP”, “TRAP–A–ROACH”

Essas armadilhas são


eficientes, auxiliando a
captura individual de
exemplares arborícolas. São
colocadas estra-
tegicamente em troncos e
galhos para apanhar
animaizinhos que ficam
grudados ao serem atraídos
pela isca. As tiras de papel
adesivo podem ser dispostas
ao redor de árvores ou
galhos (Figura 3). Quando Figura 3. Armadilha de cola fixada em
os animais capturados são um tronco podre no chão da mata (foto:
M.E.V. Calleffo,1998)
removidos da cola adesiva,
deseja-se que não soltem a pele ou que fiquem com as patinhas
grudadas (RODDA et al., 1993). Para isto todo o cuidado deve ser
tomado. Os animais são liberados usando solventes orgânicos.
Estas armadilhas adesivas são importadas, o que limita sua
obtenção. Emplastros adesivos, encontrados em farmácias, e fitas
adesivas largas tipo “silver tape” substituem as armadilhas de
cola importadas, porém, com menos eficiência.

4. ARMADILHAS TIPO COVOS OU ARAPUCAS

Em alguns locais, de preferência em água parada ou poças,


devem ser colocados covos para capturar girinos e cobras d´água.
Os covos ficam em áreas úmidas e alagadas, amarrados a um
substrato e são iscados todos os dias com ração ou farelo de pão
para atrair peixes e girinos que, por sua vez, atraem as cobras
(Figura 4). Mais informações podem ser encontradas no ca-
pítulo sobre répteis.
58 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Fi g u r a 4 . C o v o i s c a d o
amarrado a um substrato
(Foto: M.E.V.Calleffo, 1998).

5. ARMADILHAS TIPO “BATEDOR” OU “COLETA NO PANO”

É muito utilizada para coleta de insetos e outros artrópodes,


além de capturar espécies arborícolas. Consiste de um pano, bran-
co de preferência ou de coloração clara, para visualizar os espé-
cimes que caem sobre ele; deve ser suspenso e esticado nas extre-
midades. Para a utilização desta armadilha são necessários dois
ou mais coletores. No caso de dois coletores, enquanto um deles
segura o batedor, o outro bate com um pedaço de pau em arbus-
tos e copas de árvores para coletar espécies arborícolas, que caem
sobre o pano do batedor.

COLETA NOTURNA

O trabalho deve sempre começar ao anoitecer, “ na boca da


noite”, quando algumas espécies já estão cantando. É bom sem-

Figura 5. Coleta notur-


na, em destaque, espécime
vocalizando (Foto: M. E. V.
Calleffo, 1998).
ANFIBIOS - M. E. V. Calleffo 59

pre escolher o local e examiná-lo durante o dia, pois é impruden-


te meter-se à noite em lugares desconhecidos.
Convém ir a brejos ou lagoas e margens de rios. Em geral,

Anfíbios
revistam-se as margens, folhagens ao redor e capinzais próxi-
mos. Através da iluminação focal da lanterna de cabeça locali-
za-se o animal que está vocalizando e com as mãos livres se apa-
nha o espécime que é acondicionado em sacos de pano úmido ou
sacos de plástico transparente. Para coletar em folhagens emer-
gentes da água, aguapés, etc, se não for local fundo e muito lo-
doso pode-se ir com tênis ou bota de borracha e o auxílio de um
gancho ou cajado. Em locais fundos e mais distantes é ideal o
uso de uma canoa, bote ou barco a remo, sempre com cuidado
para não espantar os animais. Geralmente, avistam-se de longe,
pares de pontos vermelhos e brilhantes que são os olhos de jaca-
rés, grandes rãs e de outros animais. De dentro do barco é fácil
coletar girinos com peneiras e pequenas pererecas que ficam so-
bre a vegetação aquática. Também é de grande valia carregar
um gravador a pilha para gravar os anfíbios anuros vocalizando
e, posteriormente, utilizar esta gravação como possível isca. Os
machos vocalizam e aguardam a emissão de outro som como
resposta. O som gravado funciona como chamarisco para se se-
guir o canto e aproximando-se dele, apanhar o espécime. Cada
espécie possui uma vocalização diferente da outra, por isso é co-
mum dizer que o sapo canta no brejo.

COLETA DE GIRINOS

A maioria das espécies tem preferência por um certo tipo de


ambiente, aspecto considerado quando se quer coletar determi-
nada espécie. Os anfíbios em geral, se reproduzem em épocas
chuvosas durante os meses de novembro a março. Sendo assim,
os girinos muitas vezes são facilmente encontrados em lagoas,
poças, interior de bromélias, buracos rasos do chão da mata,
etc. Podem ser capturados com as mãos, em pequenos covos ou
armadilhas, em peneiras e puçás. Para criá-los em cativeiro, basta
reproduzir seu ambiente natural e coletá-lo juntamente com a
água local. São extremamente vorazes e se alimentam de folhas
e restos de animais em decomposição; no cativeiro podem-se
oferecer folhas de alface, farelo de pão, ração para peixes com
60 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Figuras 6 e 7. Coleta de desovas e


de girinos (Fotos: M. E. V. Calleffo,
1997).

odor forte, carne moída, etc.. Durante a metamorfose e a vida


adulta preferem invertebrados, insetos vivos e pulantes (grilos,
baratas, tenébrios, larvas, etc.). Sapos se alimentam até de pe-
quenos vertebrados, como filhotes de roedores.Também podem
ser coletadas desovas quando encontradas (Figuras 6 e 7).

COLETAS ESPECIAIS E AMBIENTES ESPECIAIS

As coletas especiais destinam-se à obtenção de determinadas


espécies que vivem em ambientes restritos. Existem muitos
habitats específicos que abrigam faunas variadas, portanto, o
coletor de um determinado grupo está sempre se deparando com
exemplares de outros grupos que não pode desprezar, sendo as-
sim um exímio coletor.
Essas coletas ativas são realizadas geralmente nos percursos
a pé e em paradas ocasionais nos trechos percorridos pelo cami-
nho. São elas: coletas no folhiço, no interior de bambus, taquaras,
bromélias e cupinzeiros, em gravetos e paus podres, em águas
paradas e poças, troncos caídos e debaixo de cascas de árvores,
em pilhas de toras de madeira, tijolos, telhas e pedras, em cam-
pos ou áreas recém-aradas. Em abrigos e cavernas pode-se en-
contrar animais que se escondem ou se protegem de predadores
e de intempéries, ou aí caem acidentalmente, além de uma fauna
endêmica.
ANFIBIOS - M. E. V. Calleffo 61

ONDE E COMO COLETAR ANFÍBIOS ?


• virar e revirar troncos podres caídos e pedras que encon-

Anfíbios
trar no caminho;
• revolver a terra úmida do solo debaixo dos troncos podres e
caídos com o auxílio de um facão;
• verificar sob e sobre cascas de árvores, pois alguns peque-
nos anfíbios se escondem sob as cascas e se camuflam sobre elas;
• examinar o interior das bromélias, local úmido e ideal para
pequenas pererecas;
• quando caminhar pela mata, andar devagar, atento e ar-
rastando os pés no folhiço acumulado no chão; neste local vive
uma fauna interessante que muitas vezes passa despercebida;
• no interior da mata, vasculhar em buracos e em folhas po-
dres acumuladas sobre o chão, árvores, galhos, troncos, etc, sem-
pre com auxílio de pinça grande, gancho e facão;
• examinar cupinzeiros e tocas;
• percorrer margens de brejos e ribeirões, de dia e à noite;
• examinar, quando houver: valas, poças, casas abandona-
das, cisternas, manilhas, sob pontes, mata-burros, etc. Frestas e
cantos úmidos são locais prediletos de pequenos anfíbios anuros
e outros animaizinhos;
• remexer troncos caídos, pilhas de toras de madeira, de tá-
buas, de lenha, de tijolo e de telhas. Retirar as peças uma a uma,
verificando com atenção e empilhar novamente em considera-
ção e reconstituição do ambiente. Em pilhas de madeiras pode
haver animais grandes (cobras, lagartos, roedores), e,
• para uma boa coleta de fauna subterrânea como para anfí-
bios do gênero Siphonops, além de lagartos ápodas, insetos, etc,
é necessário acompanhar o arado ao revolver a terra pela pri-
meira vez em áreas agrícolas e plantações.

√ Cuidado com animais venenosos. É ideal trabalhar em du-


pla e não sozinho. Nunca coloque as mãos onde não estiver en-
xergando, sem o devido equipamento, e aja com precaução.

EQUIPAMENTOS NECESSÁRIOS PARA COLETA E CAMPO

• algodão e gaze: para estancar ferimentos, servir de


bandagens, etc.;
62 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

• baldes plásticos: recomenda-se de 20 litros, podendo vari-


ar a capacidade; estacas de madeira de 3 X 3 cm, apontadas,
com 50 cm de comprimento: para fixar as cercas das armadilhas
de queda e lonas plásticas pretas de 50 cm de largura e 4 (qua-
tro) metros de comprimento cada: para montar as cercas das
armadilhas de queda (pit fall traps) (Figura 1);
• barbante: para muitas finalidades;
• barraca: na caso de acampamentos ou pernoites no interi-
or da mata, em ilhas ou locais de pouca infra-estrutura;
• bota de borracha: para andar em locais alagados, lama e
brejos e para os dias de chuva; tênis: confortável para caminha-
das; e perneiras: para proteção de picadas por animais
peçonhentos;
• caderno de campo e caneta nanquim ou com tinta especial: para
que não borre e nem manche as anotações de campo do caderno;
• caixas de isopor: tipo geladeira para acondicionar e
transportar animais vivos e mortos;
• canetas para retro-projetor: são ideais para anotações em
sacos plásticos, em caixas de isopor e de papelão
• recipientes de plástico resistente: de capacidades variadas (5,
10, 20, 50 litros), para acondicionar e transportar o material fixado;
• chapéu ou boné: camuflado ou de cor escura para abrigar
contra o sol e a chuva e proteger a cabeça na mata;
• estojo de emergência: para Primeiros Socorros, dores, fe-
bres, diarréias, gripes e resfriados, alergias e pequenos ferimentos
(água oxigenada, algodão), esparadrapo para bolhas e cortes;
• hidroesteril: para esterilizar água (quando não houver água
mineral), verduras e frutas;
• embornal ou mochila: indispensável para acondicionar o
material pessoal e de coleta;
• enxadão e cavadeira tipo boca de lobo: para limpar e pre-
parar o terreno e cavar buracos para enterrar os baldes das ar-
madilhas de queda (“pit fall traps”) (Figura 1);
• facão: para adentrar no mato; e canivete: para muitas fi-
nalidades;
• fitas adesivas, tipo crepe ou durex: para selar sacos e cai-
xas, etiquetar material e outros fins;
• fósforos e velas: podem ser necessários em várias ocasiões;
• gancho ou cajado: para auxiliar nas andanças dentro e
fora da mata;
ANFIBIOS - M. E. V. Calleffo 63

• garrafas plásticas: de 1 ou 2 litros (tipo refrigerante gran-


de descartável) para improvisar covos e/ou armadilhas que quan-
do iscadas com farelo de pão por exemplo atraem peixes e girinos

Anfíbios
que são iscas para cobras d´água e outros animais (Figura 4);
• garrafa térmica e/ou cantil: para acondicionar água potável;
• garrucha (calibre 22) e munição adequada: eventualmente
necessárias para capturar grandes rãs e outros animais de inte-
resse que eventualmente possam aparecer (lagartos, jacarés, etc.);
• lampião a gás ou querosene: no caso de ficar muitas horas
na mata ou em acampamentos;
• lanterna de cabeça: ilumina e foca o local em direção ao
olhar e mantém as mãos livres, principalmente para coletar an-
fíbios em locais de difícil acesso; lanterna de mão: é importante
para auxiliar na iluminação e para caminhadas. Recomendam-
se sempre lâmpadas e pilhas sobressalentes para nunca ficar no
escuro;
• pilhas: pequenas, médias e grandes, preferencialmente as
alcalinas;
• lupa ou lente de mão: para observar detalhes dos espécimes
coletados;
• luvas de raspa de couro: para auxiliar na captura e coleta;
• mapas, cartas geográficas, bússola, GPS (Global Positioning
System): para se situar em campo e marcar exatamente os pon-
tos de coleta, através de coordenadas geográficas;
• número de campo: é a numeração seguida de cada institui-
ção de pesquisa ou de um pesquisador, pode ser impresso em fita
de pano, improvisado em papel vegetal ou feito em rotulador do
tipo “rotex”;
• peneira ou puçá: são essenciais para captura de girinos, rãs
ou pererecas (Lisapsus, entre outros gêneros) que ficam sobre a
folhagem dentro d´água;
• pinças grandes: 30-40 cm de comprimento, ideais para cap-
turar pequenos anfíbios em tocas, buracos ou frestas;
• potes plásticos com tampas perfuradas: de tamanhos vari-
ados para acondicionar e transportar os espécimes durante e
após a coleta;
• roupas leves, resistentes e seguras: para agüentar caminha-
das e espreitadas na mata, eventualmente roupas impermeáveis
e capa de chuva. Dê preferência a camisas de algodão, pois o
calor no interior da mata é demasiado e se transpira muito; e de
64 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

mangas compridas para proteger dos mosquitos e de plantas que


provoquem arranhões ou queimaduras (urtiga, etc). Roupas de
cores sombrias também são aconselháveis, pois cores fortes po-
dem assustar ou atrair animais;
• sacos de pano: fechados com fecho do tipo cadarço enfiado
e amarrado. Os sacos devem ter em média, cerca de 30 cm de
altura por 15 cm de largura e não devem ser muito finos, embo-
ra seja útil também ter outros tamanhos variados, e
• sacos de plástico transparente: de tamanhos variados não
muito finos para acondicionar os espécimes após a coleta; e sa-
cos de plástico preto: para cobrir as bandejas com animais fixa-
dos (Figura 7) e para acondicionar o lixo.
Em campo são muitas e raras as oportunidades de observar e
poder registrar as espécies faunísticas e florísticas. Para tanto, é
imprescindível um bom equipamento fotográfico com lentes
objetivas de alcance e detalhes. Existe uma grande variedade de
câmaras fotográficas e acessórios e também de preços no merca-
do. As câmaras do tipo mono-reflex são mais versáteis, pois pos-
suem um corpo com motor, podendo receber diferentes objetivas
e além disso o fotômetro é capaz de fornecer leitura geral ou
localizada. A revelação do filme e da folha de contato também
são fatores essenciais para uma boa foto. Pode-se processar fil-
mes branco e preto em um laboratório caseiro. Hoje em dia há
muitos recursos para se obter boas fotografias. Uma boa foto no
momento certo depende da habilidade em usar um equipamento
correto. Recomenda-se filmes para slide e fotos em papel, de pre-
ferência ASA 400, devido a locais escuros ou sombrios.

ACONDICIONAMENTO E TRANSPORTE APÓS A COLETA

Os anfíbios após a coleta devem ser acondicionados em sacos


de pano umedecidos e bem fechados com fecho do tipo cadarço
enfiado e amarrado ou sacos de plástico transparente com um
punhado de folhiço dentro para manter o ambiente úmido, evi-
tando que os animais se machuquem ou morram ressecados. De
preferência, colocar poucos exemplares em cada saco, para evi-
tar danos aos espécimes.
Algumas pererecas (Hyla, Scinax, Phrynohyas, Phyllomedusa)
são muito frágeis e vulneráveis podendo se desidratar ou mesmo
ANFIBIOS - M. E. V. Calleffo 65

morrer durante o transporte. Já os sapos (Bufo) e rãs (Rana,


Leptodactylus, Pseudis, entre outras) são mais resistentes e for-
tes, podendo furar sacos plásticos finos e fugir.

Anfíbios
Se o acondicionamento após a coleta e durante o transporte
durar mais que um dia é necessário abrir os sacos e verificar se
os bichos ainda estão vivos e bem. Como precaução, lavar os es-
pécimes em água corrente com cuidado para não escaparem, e
limpar os sacos quando não puder trocá-los. No interior do sa-
cos acumulam-se urina e fezes que, se permanecerem por muito
tempo com os espécimes dentro do saco, podem matá-los.
Cada saco deve conter anotações particulares aos respectivos
espécimes capturados. É prudente matar logo os animais captu-
rados para não se perder informações do espécime (conteúdo es-
tomacal, perda de massa e outros) e para que o mesmo não en-
fraqueça e morra. No caso de animais que serão transportados
vivos para estudos posteriores, todo cuidado é pouco.

COMO MATAR E FIXAR ANFÍBIOS APÓS A COLETA

Os anfíbios anuros devem ser mortos por afogamento em ál-


cool 40%, pesados, etiquetados e fixados em formalina 10% ou
álcool 70%, ideal para o clima tropical. Dispostos em uma ban-
deja de plástico, tipo PVC, forrada com papel toalha umedecido
em um dos líquidos acima, com o ventre para baixo em posição
normal e os dedos das patas dianteiras e traseiras arrumados
um a um com auxílio de uma pinça cirúrgica de ponta fina (Figu-
ra 7). Os espécimes são fixados com formalina 10%, com uma
agulha fina introduzida no ânus; os exemplares pequenos são
molhados com formalina 10%. Após a fixação dos espécimes, co-
bre-se a bandeja com pano úmido em formalina 10% e esta den-
tro de um saco plástico preto para que o material não resseque e
não fique exposto à luminosidade. Vinte e quatro horas após a
fixação, os espécimes fixados são retirados das bandejas e mer-
gulhados em recipientes com formalina 10%, onde permanece-
rão até a chegada ao laboratório.
Para matar sapos (Bufo) ou rãs maiores (Pseudis, Rana,
Leptodactylus) e Gymnophiona ou Caudata, introduz-se uma
agulha longa e fina no canto do olho ou na narina e injeta-se
66 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

barbitúrico (Nembutal, Tiopental, etc), álcool absoluto ou formol


diretamente no cérebro. Na falta destas substâncias, colocar os
animais em um recipiente com tampa, herméticamente fechado,
com algodão embebido em éter ou clorofórmio. Drogas como éter
e clorofórmio são extremamente voláteis, inconvenientes no
manuseio de viagens longas e pouco utilizadas para matar anfí-
bios. Para a fixação, nestes casos, a formalina 10% deve ser
injetada nas patas e no ventre.
Os girinos também podem ser afogados em álcool 40% e fixa-
dos em formalina 5%, álcool 70% ou líquido de Bouin, utilizado
para estudos histológicos. Posteriormente devem ser conserva-
dos em álcool 70%.

PREPARAÇÃO E ARMAZENAMENTO
DE ANFÍBIOS COLETADOS

Como qualquer vertebrado, os anfíbios necessitam de cuida-


dos preliminares à preparação, fixação, embalsamamento, taxi-
dermia e diafanização (CARAMASCHI, 1987; MARTINS, 1983;
SCROCCHI & KRETZSCHMAR, 1996 e VANZOLINI & PAPAVERO,
1967).
Para uma boa preparação do espécime coletado, deve-se obter
morte rápida, relaxamento muscular e ausência de lesões.
Primeiramente, anfíbios coletados e recém mortos, devem ser
limpos. Porém, antes da lavagem, é interessante verificar a pre-
sença de ectoparasitas (parasitas externos), raramente encon-
trados em anfíbios, ou algo de interesse que possa se perder du-
rante a limpeza. Sujeiras, terra, sangue, secreções tem de ser
removidos para não danificar os espécimes. Podem ser lavados
em água corrente e no caso de manchas de sangue, com água
oxigenada diluída em água. Se o espécime estiver muito danifi-
cado, vale a pena costurá-lo com agulha cirúrgica e linha de
nylon ou do tipo cordonê número 1.
A preparação do material herpetológico, anfíbios em particu-
lar, requer espécimes inteiros e completos, de preferência não
deformados, fixados em posição que facilite o manuseio do exem-
plar para estudos, desenhos e fotografias (Figura 7).
Os espécimes devem ser armazenados em coleção científica,
economizando espaços e vidros. Devem ser armazenados em meio
ANFIBIOS - M. E. V. Calleffo 67

líquido para evitar dessecamento, salvo espécimes taxidermizados,


em que as vísceras são retiradas para o preparo da pele e do
esqueleto ou espécimes diafanizados, que são conservados em

Anfíbios
glicerina.
As coleções de anfíbios podem ser de diferentes tipos:
I - coleção de espécimes em via úmida: Espécimes fixados em
formol 10% e conservados em álcool 70%, preferencialmente em
locais escuros;
II - coleção de espécimes em via seca;
IIa - coleção de crânios e esqueletos: as peças ósseas são devi-
damente acondicionadas e etiquetadas, juntamente com as pe-
les e carcaças, e
III - coleção de tipos (parátipos): mantidos em armários separa-
dos, seguindo a organização da coleção geral, com fichário à parte.

MATERIAL PARA PREPARAÇÃO


E INSTRUMENTOS DE DISSECÇÃO

• alcoômetro: para medir a concentração de solução de álco-


ol etílico preparado;
• alfinetes: para auxiliar na fixação dos dedos das patas di-
anteiras e traseiras dos anuros;
• agulhas curtas e grossas, curtas e finas, longas e grossas,
longas e finas: para fixar e injetar drogas e soluções;
• balanças ou dinamômetros: para pesar os espécimes;
• bandejas de PVC ou caixas de plástico: de 30 X 25 cm, para
fixação (Figura 7);
• bisturis de cabo destacável com jogo variado de lâminas:
para dissecções;
• etiquetas com números: para numerar os espécimes fixados;
• estilete;
• facas e facão;
• linhas de costura grossas e cordonê n° 1: para amarrar os
números e fazer suturas;
• luvas cirúrgicas: para fixação e manuseio com formol e ou-
tras drogas;
• panos de saco de estopa: (pano de chão) para cobrir os
animais após a fixação dentre outras utilidades;
• papel toalha: para forrar as caixas e etc.;
68 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Figura 8. Anfíbios e alguns répteis coletados e fixados em via úmida e


etiquetados. No detalhe o arranjo das patas e dedos e a posição da etiqueta
(Fotos M.E.V.Calleffo,1998).

• pedra de amolar: para afiar os instrumentos;


• pinças de tamanhos e pontas variadas: pequenas e de pon-
ta fina, para durante a fixação, arrumar os dedos das patas di-
anteiras e traseiras dos anuros;
• seringas grandes e pequenas: para injetar soluções e drogas;
• tesouras de vários tamanhos e tipos de pontas: para usos diversos;
• trena e/ou régua milimetrada: para medições;
Para o preparo de soluções podemos improvisar um copo gra-
duado, tipo mamadeira ou similar.

DO CAMPO AO LABORATÓRIO

Os espécimes fixados em formalina 10% são transportados den-


tro de recipientes; aconselha-se esvaziar o formol dos recipien-
tes em viagens aéreas. Espécimes taxidermizados são acondicio-
nados de preferência em caixa de isopor com pastilhas de
naftalina, para evitar que os espécimes se danifiquem e para
ANFIBIOS - M. E. V. Calleffo 69

reduzir o mau cheiro durante o transporte.


Os espécimes vivos devem ser acondicionados em potes plásti-
cos de tampas perfuradas, em sacos plásticos ou em sacos de

Anfíbios
pano umedecidos em água dentro de caixas de isopor. Quando a
viagem por terra for longa e o calor intenso, aconselha-se colo-
car pedras de gelo espalhadas dentro da caixa de isopor para
amenizar a temperatura ambiente, baixando o metabolismo dos
animais e, consequentemente, não os deixando desidratar.

TÉCNICAS E PREPARAÇÕES, VIA SECA E VIA ÚMIDA

A preparação de esqueletos muitas vezes não visa reproduzir


o animal, mas sim parte dele, garantindo que o material chegue
ao laboratório sem partes podres, para que seja identificado pelo
menos no nível de gênero.
No caso de animais mortos encontrados na natureza, vale a
pena coletar o crânio e vértebras, que são mais fáceis de se pre-
servar do que os outros ossos pequenos e que garantem a identi-
ficação. Os anfíbios, pequenos em geral, se decompõem com faci-
lidade e seus ossos frágeis também acabam desaparecendo.

PREPARAÇÃO DE ESQUELETO

O Capítulo 6 trata detalhadamente da preparação de esque-


letos. Aqui daremos somente algumas dicas especiais para anfí-
bios. Para colocar um esqueleto para maceração ou para os
dermestes, é interessante que a pele seja retirada.
Para preparação e montagem de um esqueleto de sapo, Bufo,
deve-se seguir os seguintes passos:
I. desmembramento: separam-se os membros com incisões
nas articulações;
II. descarnamento: retiram-se as partes moles, as vísceras, a
língua e os olhos. A seguir retiram-se as massas musculares prin-
cipais (coxa, perna, braço e antebraço). Para animais grandes a
técnica é bem mais complexa. Em animais pequenos (lagartixas,
pererecas) não convém ferver para retirar a carne, descarna-se
com pinça e bisturi, ou então aconselha-se deixar o animal
macerar após limpeza manual parcial;
III. maceração: o animal é mergulhado em álcool 40 % ou em
água quente até que a musculatura fique mole e se desgrude do osso.
70 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Deve-se utilizar uma lupa no caso de animais de pequeno porte;


IV. secagem: O esqueleto descarnado deve ser preparado para
secar. A carcaça (pele ou couro do animal) é fixada com formol
antes de secar. Os ossos são lavados em água corrente e secam à
sombra. A água oxigenada auxilia no tratamento de limpeza e
clarificação dos ossos;
V. acondicionamento: Os ossos secos e a carcaça podem ser
embalados em sacos plásticos resistentes ou caixas de papelão,
com as peças ósseas separadas e identificadas uma a uma. Pode-
se numerá-las, com atenção para o número do tombo. Partes
secas são guardadas separadamente das partes fixadas em via
úmida. Para um melhor acondicionamento de ossos e carcaça
deve-se envenenar peles e couros com arsênico e colocar naftalina
nas caixas e armários (VANZOLINI & PAPAVERO, 1967).
Em campo, geralmente são procedidas as etapas principais,
utilizando-se o material disponível e, às vezes, improvisando se
necessário. A preparação visa o mínimo de trabalho que garanta
a chegada do material ao laboratório sem partes podres. O pre-
paro do material em laboratório requer mais tempo e melhores
condições, nem por isso o material preparado em campo precisa
ser revisado em laboratório, mas é prudente verificar se não houve
danos e lavá-lo para acondicionamento devido na coleção.

MONTAGEM DO ESQUELETO

Para a montagem do esqueleto, deve-se recorrer a outros es-


pécimes montados em coleções e aos atlas de anatomia. É impor-
tante numerar os ossos e identificá-los para que não se percam
durante a montagem. Os anfíbios possuem os ossos frágeis, por
isso todo cuidado é pouco para colar um a um, como um que-
bra-cabeças.

EMBALSAMAMENTO

A arte de embalsamar, introduzir em um cadáver substâncias


que o isentem da decomposição, surgiu em tempos remotos. O
embalsamamento consiste em fixar o espécime para estudos
anatômicos, injetando-se formalina 10% no sistema arterial, nas
cavidades em geral e nas massas musculares. Após a fixação o
animal deve ser imerso em formalina ou envolvido com várias
ANFIBIOS - M. E. V. Calleffo 71

camadas de tiras de pano ou gaze, à maneira de uma múmia,


dispostas em volta do corpo cobrindo toda a pele. A “múmia”
deve ser ensopada e colocada em sacos plásticos para evitar o

Anfíbios
ressecamento. Quando o animal foi ferido ou teve alguma lesão
que dificulte o processo de fixação, abre-se o tórax e mergulha-
se o espécime em formalina (VANZOLINI e PAPAVERO, 1967).
Anfíbios podem também ser preparados por diafanização. Esta
técnica torna transparente os tecidos moles e colore os tecidos
ósseos e cartilagens possibilitando a observação do esqueleto por
inteiro. As técnicas referentes estão no Capítulo Diafanização.

DROGAS E SOLUÇÕES UTILIZADAS

·Água Oxigenada; utilizada para extrair manchas de sangue e


clarear ossos ou tecidos, pode ser comprada em farmácia ou su-
permercado. O ideal para estes fins é o produto a 20 volumes,
porém pode-se comprar a 130 ou 200 volumes e diluir. Cuidado!
Corrói a pele e causa muito ardor.
·Álcool: o álcool etílico de farmácia ou supermercado é de 96°
Gl que corresponde a concentração de 96%. Para diluir o álcool
96% para álcool 70%, juntam-se 26cm3 de água somados a 70
cm3 do álcool.
·Anestésicos e Barbitúricos : drogas de uso veterinário utiliza-
das para matar os animais.
·Arsênico em pó: utilizado para envenenar peles e couros de animais;
·Éter ou Clorofórmio: utilizados para matar animais na falta
de anestésicos ou barbitúricos. Por ser muito volátil é
desaconselhável o uso e manuseio em campo.
·Fixador de Bouin: utilizado para fixar girinos ou material para
cortes histológicos:
- ácido pícrico (solução saturada) 15 cm3
- formol 5 cm3
- ácido acético glacial 1 cm3
misturar os três componentes na hora de usar.
·Formol ou Formalina: o formol puro de uso comercial é uma
solução saturada que contém 40% de aldeído fórmico em água,
sendo assim o formalina 10% é composta de 9 partes de água
72 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

para 1 parte de formol (ver mais no Capítulo de Peixes).


·Hidróxido de Potássio: utilizado na técnica de diafanização,
são pastilhas para serem dissolvidas em água.
·Hipoclorito de sódio: para clarificar ossos, é o componente
principal da água sanitária ou cândida (cuidado, tem o poder de
corroer os ossos).
·Naftalina: em pastilhas, para reduzir o mau cheiro e afastar
insetos em coleções e no transporte do campo ao laboratório.

AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Paulo Emílio Vanzolini (Museu de Zoologia da Uni-
versidade de São Paulo, MZUSP) pela revisão, sugestões e críticas
do manuscrito, e à amiga Suzana César Gouveia Fernandes,
mestranda em Arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia
da Universidade de São Paulo (MAE/USP) pela colaboração e exe-
cução das fotos escaneadas.

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74 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
3
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 75

Répteis
Répteis
76 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Francisco Luís Franco é Biólogo. Nasceu na cidade de São Paulo, em 23 de


setembro de 1964. Graduou-se como Bacharel em Ciências Biológicas pela Uni-
versidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Botucatu, São Paulo. É mestre
em zoologia sistemática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul (PUC-RS), Porto Alegre, Rio Grande do Sul, e doutor em zoologia pelo
departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP.
Estuda sistemática e taxonomia de serpentes desde 1983 e participa de traba-
lhos relacionados a inventários herpetológicos. Ministra cursos sobre serpen-
tes, sistemática teórica e coleta de herpetofauna em universidades, institui-
ções de pesquisa e eventos científicos. Publica seus artigos em revistas nacio-
nais e estrangeiras. Atualmente é pesquisador científico do Laboratório de
Herpetologia do Instituto Butantan e curador da Coleção Herpetológica
“Alphonse Richard Hoge” deste Instituto, que possui, aproximadamente, 70 mil
serpentes.

Maria da Graça Salomão é Bióloga com licenciatura plena em Ciências


Biológicas e Bacharelado com habilitação em Biologia pela Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras Farias Brito, Guarulhos, SP. Cursou Pós-Graduação
em Fisiologia no Instituto de Biociências da Universidade
de São Paulo, onde especializou-se em Fisiologia Animal. Trabalha em pesquisa
há dezessete anos, tendo ingressado no Instituto Butantan, Laboratório de
Herpetologia, em 1987, onde atua no estudo de Biologia Geral de Serpentes.
Desenvolve trabalhos em nível de Pós-Doutorado em colaboração com a
University of Wales, Bangor, Liverpool Institute of Tropical Medicine e
Oxford University, sobre a Sistemática e Evolução de Serpentes peçonhentas
neotropicais. Possui quarenta trabalhos publicados. É credenciada pelo
Centro de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão da Universidade Guarulhos, na
área de Ecologia Geral e coordena projetos inter-institucionais com a
Universidade Estadual do Rio de Janeiro na área de Ecomorfologia. É membro
da Diretoria da Sociedade Brasileira de Herpetologia eleita para o biênio
2000-2002.

Laboratório de Herpetologia, Instituto Butantan,


Av. Vital Brasil, 1500, Butantã
São Paulo - SP – Brasil - CEP 05503-900
flfrancobuta@hotmail.com
mgsalomao@hotmail.com
Tel. (055) 11 3726 7222 R. 2179 e 2267
FAX (055) 11 3726 1505
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 77

Répteis
Francisco Luís Franco

Répteis
Maria da Graça Salomão

COLETA E PREPARAÇÃO DE RÉPTEIS PARA COLEÇÕES CI-


ENTÍFICAS: CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A coleta é uma atividade profissional e deve ser realizada de


acordo com as normas legais e princípios éticos, segundo os quais,
o respeito para com os seres vivos é condição “sine qua non”.
Qualquer pessoa que lide com a vida e faça ciência tem responsa-
bilidade com a sociedade atual e futura.
Toda coleta deve ser conduzida a partir da emissão nominal
de licença de captura, coleta e transporte pela Divisão de Fauna
e Flora Silvestres, Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos
Hídricos e da Amazônia Legal – MMA e Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. Até
meados de 1999 cada estado contava com uma Sede Estadual do
IBAMA. Entretanto, a partir de fins de 1999 elas foram
regionalizadas e assim, antes de programar trabalhos de campo,
o pesquisador deve submeter à regional do IBAMA mais próxima,
sua solicitação mediante projeto de pesquisa, com a justificativa
da coleta e outros documentos necessários. Somente após a emis-
são da licença os trabalhos devem ser iniciados, pois a captura,
coleta e transporte de animais silvestres sem autorização dos
órgãos competentes, são considerados crimes (Lei 7653/88). In-
formações adicionais podem ser obtidas na sede do IBAMA em
Brasília, SAIN – Av. L-4 Norte – Bl. A – Sala 44. CEP 70800-200,
Brasília, DF.
78 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

PARA QUE COLETAR

Deve-se entender a coleta e o colecionamento como uma forma


de armazenamento de informações para a humanidade. Quanto
mais informações forem obtidas, com menos interferência ao meio
ambiente, melhor terá sido a coleta. O bom senso e a seriedade
devem ser as linhas mestras do profissional que a executa.
Normalmente, as coletas são realizadas para fins de inventá-
rios ou estudos taxonômicos, embora muitas sirvam de suporte
para trabalhos em outras áreas do conhecimento ou decorrente
de exigências legais, tais como EIA/RIMAS, além de investiga-
ções em anatomia, fisiologia, genética, ou ainda para atender
finalidades didáticas. Não se deve coletar sem necessidade ou
ainda sem objetivos bem delineados. Sejam quais forem estes
objetivos, o profissional deve avaliar as implicações ambientais,
sociais, morais, políticas e legais envolvidas, para não contribuir
com projetos inescrupulosos, que visam o bem particular em de-
trimento do bem comum.
O material coletado, deve ser incorporado, assim que possível,
a coleções científicas, usualmente mantidas em Museus, insti-
tuições científicas e/ou de ensino. Juntamente com o material
zoológico, o Caderno de Campo, o Caderno de Tombo e, se possí-
vel, outros materiais como mapas e fotos, devem ser entregues
ao curador da coleção à qual foi incorporado o material.

A COLETA

Os cuidados com a precisão das informações contidas nos Ca-


dernos de Campo, Tombo e de Notas são cruciais para o sucesso
de uma boa coleta. Qualquer dúvida é motivo para excluir os
animais da amostra, ou ao menos, deixar claro a incerteza dos
dados nos Cadernos de Campo e Tombo. Se estes critérios não
forem seguidos à risca, é possível perder todo o trabalho, preju-
dicar pesquisas baseadas neste material, além de ter tirado as
vidas dos animais em vão. Mais informações sobre o conteúdo de
cada caderno citado, pode ser obtida no item “Equipamentos”,
sub-itens de Campo e de Gabinete.
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 79
QUANDO COLETAR

Em regiões tropicais, de modo geral, os répteis são mais ativos


durante as estações úmidas, quando há mais chances de amostrar
uma maior diversidade. Contudo, também deve-se coletar nas
épocas secas e frias, devido às diferenças sazonais na composi-
ção das comunidades, com possibilidade de encontro de indiví-
duos de faixas etárias ou estados fisiológicos diferentes das
amostragens obtidas em épocas chuvosas. Assim, podem-se obter

Répteis
informações preciosas sobre a biologia e ecologia das espécies.
O período do dia deve ser considerado, influenciando muito
na diversidade da amostra, devido aos hábitos particulares de
cada espécie. Além do mais, levando em conta este parâmetro,
existe a possibilidade de encontrar os indivíduos em atividade ou
repousando em abrigos. Para isso, o dia de trabalho deve ser di-
vidido em três períodos: manhã, tarde e noite. Havendo poucos
coletores em relação ao número de exemplares capturados, pode-
se proceder ao trabalho em períodos alternados, permitindo as-
sim, a execução da preparação, fixação e tombamento, no perío-
do vago. Em determinadas situações, devem-se utilizar períodos
mais longos de coleta, levando-se em conta que possam existir
dificuldades de acesso ao local, longas distâncias a serem per-
corridas ou imprevistos.

ONDE E COMO COLETAR

Certifique-se que as autoridades locais e os proprietários das


terras estejam cientes e de acordo com o uso de suas áreas para
coletas. Avise sempre com antecedência, capatazes e trabalha-
dores sobre o local preciso, data e hora que serão realizados os
trabalhos, para que não aconteçam situações desagradáveis ou
que venham, porventura, inviabilizar sua continuidade. Certa-
mente o homem é o animal mais perigoso que podemos encon-
trar, principalmente sentindo-se ameaçado ou desrespeitado.
O naturalista pode ser suspeito aos olhos da população local,
principalmente por estar vestindo roupas diferentes das conven-
cionais, carregar equipamentos desconhecidos das pessoas e por
se interessar por animais considerados perigosos e repugnantes,
como é o caso dos répteis e anfíbios.
80 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
Todas as saídas para coleta, especialmente as noturnas, de-
vem ser precedidas de reconhecimento do local antes do início
das atividades. O coletor deve ter mapas, bússola e, preferencial-
mente, um aparelho GPS (Global Positioning System – o qual,
entre outras coisas, fornece as coordenadas precisas do local de-
sejado). É aconselhável a companhia de uma pessoa familiariza-
da com a região, um “mateiro”, para servir como guia. As saídas
a campo devem ser feitas em pequenos grupos ou, pelo menos,
em duplas. Em caso de acidente, não é bom estar sozinho. Outros
cuidados, como portar aparelhos de comunicação (rádios e/ou
telefones celulares), também são recomendáveis.
O encontro com répteis é eventual, variando o número e di-
versidade de animais avistados de acordo com o local, época do
ano, hora do dia, ritmos biológicos e condições climáticas. Por-
tanto, o coletor deve estar presente nos ambientes, o maior tem-
po possível, aumentando o esforço de coleta. Além disso, as difi-
culdades de localização dos animais diminuem com a experiên-
cia do coletor, pois, permite a ele explorar melhor os ambientes,
elevando as possibilidades de encontro e aumentando a diversi-
dade amostrada. Os encontros sucessivos com os animais no seu
ambiente permitem a formação mental de imagens, também cha-
madas de moldes, que agilizam a localização desses animais. É o
famoso “olho para bicho”. Geralmente pessoas da região tendem
a ver mais animais do que pessoas de fora. Isso é mais um motivo
para a contratação de mateiros locais.
Longas caminhadas pouco adiantam se não houver o máximo
de atenção na investigação dos micro-ambientes como tocas,
buracos, embaixo de pedras e troncos, margens de rios e lagos,
etc. VANZOLINI & PAPAVERO (1967) e LEMA & LEITÃO-DE ARA-
ÚJO (1985) apresentam uma boa lista de locais e modos de
explorá-los. Deve-se tomar o cuidado após tais verificações, de
retornar pedras e troncos à posição em que foram encontrados,
para minimizar os danos aos abrigos. O coletor deve também
explorar os diversos estratos da vegetação, cavando o solo fofo
sob troncos caídos, a serapilheira, examinando bromélias, ocos,
galhos e copas de árvores, utilizando, se necessário, binóculos.
Deve-se prestar atenção para, nos ambientes muito úmidos,
procurar nos lugares secos e, nos ambientes muito secos, vascu-
lhar os lugares úmidos. Várias espécies buscam controlar o exces-
so ou a falta de umidade por esta estratégia de ocupação de habitat.
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 81
Os répteis podem ser apanhados por meio de coleta ativa, na
qual o coletor sai a procura do animal, ou através de armadi-
lhas. Na coleta ativa um integrante da equipe deve permanecer
na trilha enquanto os demais membros se distribuem paralela-
mente à ela, aumentando assim as chances de captura e evitan-
do que alguém se perca (Gabriel S. Skuk, com. pess.).
Cágados podem ser apanhados em corpos d’água, tanto manu-
almente quanto com anzóis, puçás ou com redes. LAGER (1943)
comenta sobre técnicas de coleta de quelônios de água doce. É

Répteis
possível coletar pequenos jacarés com as mãos, ou com auxílio de
laço de contenção, anzóis, puçás, redes ou tridentes. Grandes ja-
carés são animais perigosos e podem ser capturados com armas
de fogo. Estes animais são apanhados à noite quando de longe se
avistam pares de olhos vermelhos em lagoas ou braços de rios.
Para saber mais sobre jacarés do Brasil ver CARVALHO (1951).
Outro método para a coleta, manuseio e transporte de
crocodilianos é o descrito por JONES & HAYES-ODUM (1994).
Eles sugerem o uso de tubos de PVC de diâmetro adequado
para diversas classes de tamanho, suficiente para a passa-
gem do animal sem a possibilidade de seu retorno pela en-
trada, e longo o suficiente para manter a cabeça e parte da
cauda do animal dentro do tubo.
Para colocá-lo no tubo, o jacaré é laçado pela cabeça e pela
cintura pélvica e a corda da cabeça passada por dentro do tubo.
Deste modo, pode-se puxar o jacaré para dentro do tubo, com
segurança, controlando-o pela tração das cordas. O tubo deve
apresentar perfurações ao longo de seu comprimento que per-
mitam a amarração das extremidades das cordas, tencionadas,
imobilizando o jacaré. Antes de iniciar qualquer procedimento,
convém amarrar a boca do jacaré, garantindo que este não pos-
sa morder. Assim contido, é possível tomar os dados de campo ou
anestesiá-lo, usando os próprios furos do tubo ou abrindo outro
maior em região adequada. Solta-se o animal liberando a cintu-
ra pélvica do laço e puxando-o pelo laço da cabeça para fora do
tubo. Esse método pode ser utilizado no transporte dos animais
do campo ao laboratório. Vale lembrar que uma mordida de ja-
caré, mesmo de pequeno porte pode ser muito danosa, portanto,
é aconselhável o uso de luvas de raspa de couro de punho longo
ao manipular os espécimes.
82 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
Lagartos muito ágeis e ariscos podem ser capturados com ban-
das de borracha, estilingue ou laços. Os estilingues ou atiradeiras
são amplamente conhecidos e eficientes para lagartos ou ser-
pentes. Os laços corrediços podem ser feitos em varas de bambu
e linhas de nylon (Figura 1).

Figura 1. Utensilios para


coleta de répteis. a) laço de
vara de bambu e linha de
nylon para captura de
lagartos; b) laço para
captura de jacarés; c)
pinção; d) gancho para
lidar com serpentes. (Dese-
nhos: F. L. Franco).

O coletor deve aproximar-se cuidadosamente, por trás do ani-


mal, passar o laço pela cabeça do lagarto e puxá-lo rapidamen-
te, dando uma “fisgada”, quase como se estivesse pescando
(VANZOLINI & PAPAVERO, 1967). Este tipo de laço pode ser usado
como armadilha, colocado em tocas ou nos caminhos usados pelos
lagartinhos. A força que fazem para fugir facilita a apreensão
(SCROCCHI & KRETZSCHMAR, 1996). As bandas são anéis de látex.
Nos Estados Unidos há bandas boas que são utilizadas para em-
pacotar compras nos supermercados. No Brasil, pode-se fazê-las
através de punhos de luvas reforçadas “Mucambo” de látex natu-
ral reforçado. Para atirar com a banda de borracha, prende-mo-
la no dedo indicador de uma mão e, com a outra, tencionamos
para depois proceder a soltura. Caso haja necessidade, pode-se
prender duas bandas uma à outra, que aumenta a força de tração, a
massa das bandas e, conseqüentemente o impacto no lagarto.
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 83
Os lagartos podem desenvolver altas velocidades em distânci-
as curtas, depois eles se cansam e param. Por isso, vale a pena
investir em corridas para capturá-los, sem contudo, desviar o
olhar de sua rota. Eles geralmente correm, desviam rapidamente
de direção e param de repente, fazendo com que sejam perdidos
de vista. Armas de ar comprimido ou de fogo de pequeno calibre,
como um revolver ou garrucha 22 de cano longo, com chumbo
mostarda, são particularmente úteis para lagartos ágeis (ver
VANZOLINI & PAPAVERO, 1967 para uma série de recomenda-

Répteis
ções sobre o uso e cuidados necessários). O registro e o porte de
armas são documentos indispensáveis ao coletor.
Para aumentar a chance de captura de lagartos, e eventual-
mente serpentes, pode-se esticar uma cerca plástica de 10 a 50m
de comprimento por 0,5 m a 1m de altura, rente ao chão. Para
mantê-la esticada, colocam-se estacas de madeira de dois em
dois metros. A equipe avança em linha batendo moitas, troncos
e buracos, espantado os animais para a cerca, onde ficarão
acuados, podendo ser capturados. Lagartos arbóreos podem ser
capturados pelo uso de armadilhas de copa, descritas adiante,
ou de alçapão [ver ZANI & VITT (1995) para detalhes].
Outra técnica consiste em transitar vagarosamente em auto-
móveis por estradas pouco movimentadas, no período noturno
ou no início da manhã. Isso permite o encontro de diversos ani-
mais, vivos ou atropelados, principalmente serpentes.
O acompanhamento das atividades dos trabalhadores rurais
é também uma excelente oportunidade para o encontro e coleta
de répteis (VANZOLINI & PAPAVERO, 1967). Acompanhamento de
roçados, de colheitas, da aragem do solo, das trilhas de tratores
revolvendo a terra, de tombadeiras, dos esvaziamentos ou en-
chimentos de açudes, são ocasiões nas quais répteis, entre ou-
tros animais, são facilmente encontrados e capturados.
As armadilhas são muito úteis, capturando algumas espécies
que às vezes são difíceis de coletar e auxiliam na padronização
das atividades de coleta. As armadilhas de queda (pit-fall traps)
(Fig 02 e 03) são eficientes para capturar pequenos lagartos que
habitam o chão da mata, pequenas serpentes e anfisbenídeos,
dentre outros. Elas consistem basicamente em enterrar recipien-
tes grandes, com paredes lisas e verticais tais como baldes ou la-
tas de óleo de 18 litros, com a porção metálica superior removida.
84 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Figura 2. A montagem da armadilha de queda pode ser feita ao longo de


uma linha sinuosa.(Desenho: P. Auricchio).

Eles devem ser enterra-


dos até a borda, e ao seu
redor devem ser
estaqueadas de duas a
quatro cercas de plástico
de cerca de dois metros (ou
mais) rentes ao chão (Figu-
ra 2). Na extremidade de
cada cerca, pode-se colocar
outro recipiente de mesmo
modo, a fim de aumentar
a eficiência da armadilha.
Aconselha-se transpor o
balde com o plástico de
uma das cercas, para dimi-
nuir as chances dos répteis
evitarem sua queda no re- Figura 3. Sugestão para montagem de
cipiente (Marcos Di- armadilha de queda. Mais baldes podem
Bernardo com. pess.). As- ser adicionados, aumentando sua eficiên-
sim, ao se deparar com cia. (Desenho: F. L.Franco).
uma das cercas, o animal tende a segui-la em direção da armadi-
lha. Furar o fundo dos baldes e colocar folhiço, permite, respecti-
vamente, que não se acumule água no seu interior e que os ani-
mais possam se abrigar do sol ou de predadores. Quanto mais
armadilhas forem instaladas na região, melhores serão os resul-
tados da coleta.
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 85
As armadilhas devem ser vistoriadas pelo menos duas vezes
ao dia, pela manhã bem cedo e antes de anoitecer. A colocação
das armadilhas deve ser feita em função dos diferentes tipos de
ambientes que representam a região de coleta. Entretanto, o
coletor deve calcular cuidadosamente o tempo necessário para a
vistoria de todas as armadilhas e preparação dos animais captu-
rados, evitando perda de material coletado. É importante lem-
brar da necessidade da remoção de todas as armadilhas ao final
da expedição, evitando assim que ocorram mortes desnecessári-

Répteis
as de animais. Neste momento, permaneça atento para a pre-
sença de animais entre o balde e o substrato. Mais informações
sobre armadilhas de queda podem ser obtidas em SCROCCHI &
KRETZSCHMAR (1996) e CECHIN & MARTINS (2000).
Armadilhas adesivas são utilizadas para captura de anfíbios e
répteis. Informações referentes à esta técnica estão disponíveis
em BAUER & SADLIER (1992), WHITING (1998) e no capítulo de
Anfíbios deste livro.
Os covos são construídos facilmente a partir do corte das ex-
tremidades de garrafas plásticas de 2 litros, para se obter um
tubo. Os gargalos de duas garrafas, em forma de funis, são en-
tão colocados invertidos, direcionados para dentro de um corpo
da garrafa, para que o animal entre na garrafa, mas não consi-
ga sair (Figura 4).
O covo pode ter apenas uma única abertura colocando-se ape-
nas um funil invertido, deixando o fundo da garrafa fechado.
Pode-se utilizar covos para capturar serpentes em ambientes
aquáticos, colocando-se peixes e/ou girinos dentro dele, como is-
cas. Deve-se ter a preocupação de deixar um pouco de espaço

Figura 4. Modelo de covo, feito com dois gargalos de garrafas plásticas


de refrigerante de 2 litros, invertidos em um único corpo do vasilhame.
(Desenho: F. L.Franco).
86 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
com ar dentro desse covo, de modo que a serpente ou outro ani-
mal capturado possa respirar. Os covos de duas aberturas são
bons para prendermos em galhos ou passagens estreitas (tocas e
buracos). Covos grandes, de arame, podem ser usados para pe-
gar cágados e tartarugas aquáticas. SCROOCHI & KRETZSCHMAR
(1996) apresentam sugestões de manufatura e uso de covos.
Outra alternativa para a captura de répteis aquáticos ou semi-
aquáticos é a passagem de redes próximas à margem, pois, por
vezes, estas apreendem cágados, serpentes e jacarés pequenos.
LUTTERSCHMIDT & SCHAEFER (1996) apresentam alternativas
para o uso de redes. Amarrar pequenos peixes mortos em linhas e
jogá-los dentro d’água, próximo às margens, pode permitir a cap-
tura de cobras-d’água (Marcos Di Bernardo, com. pess.) e cágados.
Ovos de répteis podem ser achados no campo, em cavidades de
árvores, folhiço, formigueiros [principalmente os feitos de fo-
lhas, por formigas do gênero Acromirmex, como citado por CEI
(1986, 1993)], cupinzeiros, sob troncos, entre cascas de árvores,
etc. Estes podem ser incubados em potes plásticos com vermiculita
úmida ou por um pouco do próprio substrato em que se encon-
travam. Estes potes devem ser fechados com tampas furadas.
Deve-se cuidar da umidade, de modo que o ovo não fique desi-
dratado ou úmido demais. A vermiculita, um composto de mine-
rais e silicatos hidratados, é mais indicada, pois, é menos sus-
ceptível aos fungos que os substratos naturais e também é me-
lhor para controlar a umidade. Evidentemente, há diferenças
quanto ao grau de umidade ótimo para a incubação de ovos,
entre os diversos grupos ou espécies de répteis. Pode-se inferir
aproximadamente as necessidades de umidade, observando-se o
local onde os ovos foram depositados na natureza. De modo ge-
ral, a umidade boa para incubação de ovos de répteis pode ser
controlada, na vermiculita, pegando-se um punhado entre as
pontas dos dedos e apertando fortemente. Se a umidade apenas
aflorar, deixando-a um pouco compacta, está bom, se pingar,
está úmido demais (M. T. O. MALLMANN-FRANCO, com. pess.).
Geralmente rachaduras na casca, turgecência ou transparência
exageradas dos ovos indicam umidade muito alta desse substrato.
Em condições de campo, podemos mantê-los, por pouco dias, co-
bertos por terra, outro substrato natural como folhiços e palhas,
ou entre papel absorvente umedecido. Na chegada ao laborató-
rio, os ovos devem ser transferidos para a vermiculita.
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 87
Os ovos de répteis, normalmente são sensíveis ao manuseio e
à mudança da posição original da postura durante a incubação,
correndo o risco de morte dos embriões, se não forem devidamen-
te manuseados. Por isto, principalmente os ovos de tartarugas e
jacarés, devem receber uma pequena marca à lápis, que identifi-
que a face superior, antes de serem delicadamente manipulados.
Lembre-se de anotar o número de ovos da postura, a massa, o
comprimento e largura de cada um, bem como o aspecto geral
da postura e das cascas. O registro fotográfico é importante, prin-

Répteis
cipalmente das condições do ninho e dos ovos em si. Não poupe
observações sobre o local da postura, anotando, se possível, tem-
peratura do ar e do substrato, luminosidade e umidade.

QUANTO COLETAR

Deve-se coletar apenas e exclusivamente o suficiente aos


objetivos propostos. Se o projeto necessita de poucos animais, e
estes são abundantes na área, não há grandes questionamentos,
porém, às vezes, é difícil estabelecer quantos exemplares podem
ser considerados o bastante, principalmente no caso de
amostragens para taxonomia. Novamente, o bom senso é o guia
mestre nessas situações. Cabe aqui a pergunta: O que se conside-
ra uma espécie bem amostrada em coleções? Idealmente, uma
espécie deve ter a sua área de distribuição geográfica bem repre-
sentada, com várias séries provenientes de localidades distintas,
tomadas ao longo de diversos anos, em todas as estações do ano,
que contemple ambos os sexos e diversos estágios do desenvolvi-
mento ontogenético. A amostra deve ser um retrato da popula-
ção. Uma limitação muito importante é a quantidade de exem-
plares que temos condições de preparar, acondicionar e trans-
portar, além de haver coleções capazes e interessadas em receber
e manter adequadamente este material. VANZOLINI & PAPAVERO
(1967) e CARAMASCHI (1987) salientam que, em princípio, todos
os animais avistados de uma espécie deveriam ser coletados, desde
que não representem prejuízo para o resto da coleta e estejam
dentro dos limites de preparação e transporte em boas condi-
ções. CARAMASCHI (op. cit.) recomenda que a coleta seja feita
ao acaso, coletando-se os primeiros 5, 10, 20, 50 ou 100 encon-
trados. Este mesmo autor afirma que apenas coletores experien-
tes podem direcionar a amostra, selecionando os exemplares.
88 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
A questão da amostragem mereceria mesmo um outro livro
para abordar o tema adequadamente. Há métodos e técnicas pró-
prias para cada objetivo de cada projeto. A título de ilustração,
sugere-se a leitura de BLOMBERG & SHINE (1996) e VOGT & HINE
(1982), que tratam deste assunto de forma mais profunda.
Normalmente, se uma coleção não tem condições de receber
lotes muito grandes, estes podem ser desmembrados e distribuí-
dos para outras coleções. Por isso, a coleta deve ser realizada por
profissionais ou na presença e responsabilidade destes, que es-
tão habilitados a avaliar, com a devida propriedade, tais neces-
sidades e possibilidades. Cabe aqui uma advertência. Os projetos
devem, na medida do possível, prever as necessidades das coleções
que vão receber o material, tal como vidros, líquidos conservantes,
etc.. Portanto, o responsável pelo projeto deve contatar os
curadores das coleções nas quais pretende depositar os exempla-
res, para verificar a quantidade que a coleção suporta receber e se é
necessário outro tipo de auxílio material ou pessoal.
Para estudos taxonômicos de répteis, são consideradas boas
amostras séries de 50 a 100 exemplares por espécie de uma mes-
ma localidade. Como já foi dito, o que se pretende de uma amos-
tra, é que ela represente da melhor maneira possível a popula-
ção, abrangendo suas variações. As espécies que ocorrem em al-
tas densidades e apresentam ampla área de distribuição podem
ser coletadas em maior número, enquanto as espécies raras ou
endêmicas inspiram cuidados, e devem ter sua amostragem mui-
to bem dimensionada. A coleta de animais ameaçados de extinção
requer autorização especial, a ser emitida pelo IBAMA, e eviden-
temente, o número de animais a serem removidos da natureza
deve ser limitado. Em casos extremos, o animal pode ser captura-
do, fotografado, ter seus dados merísticos e morfométricos to-
mados, passar por um exame de apalpação, para verificação da
presença de conteúdo alimentar, estágio reprodutivo, parasitas,
dentre outras observações, e ser devolvido no mesmo local onde
foi capturado.
Argumentos a favor de coletas de séries numerosas são muitos.
A herpetofauna, principalmente neotropical, é mal conhecida, com
inúmeras espécies a serem descritas, sem contar outras tantas cujo
estado taxonômico permanece incerto. Além disso, a distribuição
geográfica da maioria das espécies é sub-dimensionada.
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 89
Não é raro que um pesquisador, ao revisar séries de répteis,
encontre exemplares de espécies ainda não descritas, confundi-
das com outras conhecidas. Este fato ilustra a importância de
formar séries grandes, mesmo de espécies que pareçam comuns
e bem conhecidas.

PROCEDIMENTOS DE MORTE, FIXAÇÃO E


PRESERVAÇÃO

Répteis
A preparação de um animal para ser incluído em uma coleção
inclui três etapas distintas: a morte, a fixação e a conservação.
Certamente não se deve desprezar o animal encontrado morto,
pois, pode-se resgatar informações importantes e tombá-lo em
todo ou em parte em uma coleção. Porém, para uma perfeita
preparação, todas as etapas devem ser seguidas da forma mais
rigorosa possível. Espera-se que o material zoológico bem prepa-
rado, dure indefinidamente em uma coleção.

MORTE
O respeito para com o animal exige que se proceda de modo a
poupá-lo, o máximo possível, de sofrimentos. Só se deve manter
um animal vivo, caso haja um real interesse. Este procedimento,
além de implicar em estresse e sofrimento para o mesmo, causa a
perda de dados, como por exemplo o conteúdo alimentar presen-
te no trato digestório.
Há uma detalhada lista de procedimentos para matar répteis
e anfíbios na publicação de COOPER et al. (1989). Foram
selecionadas algumas técnicas, que já foram utilizadas em con-
dições de campo pelo autor sênior deste capítulo, levando-se em
conta aspectos éticos e práticos.
Para répteis, a injeção de anestésicos em altas doses é eficien-
te, pois provoca paralisia completa, e posterior paradas respira-
tória e cardíaca. Além disso, promove um relaxamento muscular,
desejável para a fixação. No caso de Ketamina 50 mg/ml, deve-se
injetar de 100 a 150 mg/kg, por via intra-peritoneal (GREEN,
1979). Estas doses são suficientes para deprimir o sistema nervo-
so central e levá-los à morte. Para quelônios, atinge-se a cavida-
90 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
de abdominal pela virilha. Após um período de cerca de 30 minu-
tos procede-se ao exame dos reflexos do animal, beliscando sua
cauda ou tocando seus olhos e verificando os batimentos cardía-
cos. Caso não haja resposta a estes estímulos e o coração esteja
parado, pode-se iniciar a fixação. Caso contrário, reforça-se a
dose e espera-se mais algum tempo.
Um método muito usado, que ultimamente vem perdendo lu-
gar aos anestésicos injetáveis, é a morte por eterização. O éter
pode produzir contrações musculares permanentes além de cau-
sar mais sofrimento do que a morte por asfixia em gás carbônico
ou altas doses de anestésicos. Deste modo, sugerimos que se uti-
lize este método apenas quando for absolutamente necessário.
Os procedimentos consistem em colocar o animal em um recipi-
ente com tampa e, em seguida, um chumaço de algodão embebi-
do em éter sulfúrico. Cuidado para não colocar primeiro o éter,
pois o animal, certamente, vai resistir à entrada no recipiente,
em virtude do cheiro forte. No caso de serpentes peçonhentas
pode ser um procedimento perigoso. Recomenda-se a utilização
de recipientes de vidro, pois podemos acompanhar o efeito do
anestesico até sua completa imobilização, sem ter que abrir o
recipiente. O tempo para a morte pode variar muito de animal
para animal. Os quelônios podem demorar horas para morrer
enquanto algumas serpentes e lagartos morrem em poucos mi-
nutos. Portanto, observe a total imobilidade do animal, e faça os
testes de reflexo e pulsações cardíacas recomendadas anterior-
mente. O excesso de éter acelera a morte, porém causa o enrijecimento
do animal. A anestesia lenta leva à morte com menos contrações, o
que é recomendável para a preparação.
A morte por asfixia em gás carbônico também vem ganhando
terreno em relação à câmara de éter. Para campo, não é prático,
pois necessita de pesados botijões de gás comprimido e pode le-
var várias horas para matar. Entretanto, consiste simplesmente
em encher um recipiente com o gás, onde será colocado o animal
e fechá-lo. Embora este método venha sendo defendido por mui-
tos profissionais, COOPER et al. (1989), salientam que os répteis
são particularmente resistentes à anóxia, principalmente em
baixas temperaturas. Isto leva a crer que a anóxia pode causar
um sofrimento duradouro nestes animais, o que não é desejado.
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 91
Outros métodos, menos indicados, porém algumas vezes neces-
sários, são o congelamento, o espinhalamento, a injeção de álcool
no cérebro e medula, entre outros que podem ser melhor detalha-
dos em COOPER et al. (1989). Muitos deles não são recomendáveis,
pois implicam em sofrimento ao animal que, na maioria dos ca-
sos, poderia ser minimizado pela utilização de anestésicos
injetáveis. O congelamento não requer maiores explicações a não
ser alertar que alguns répteis demandam várias horas ou até mes-
mo dias para morrer. Isto é evidente no caso de quelônios; após 24

Répteis
horas em freezer ainda podem estar vivos. O espinhalamento con-
siste na secção da medula, logo após o foramem magnum, com o
auxílio de uma agulha grossa para desmedular e descerebrar o
animal. Para tal, introduzimos esta agulha na medula, pelo canal
medular e no cérebro, pelo foramem magnum. Em animais peque-
nos e médios tenciona-se a cabeça para baixo, geralmente man-
tendo o dedo indicador na região gular para dar apoio, forçando
a abdução da cabeça com o dedo médio, e do pescoço com o pole-
gar. Este procedimento pode ser ainda mais eficiente e rápido se
injetado álcool 70%, no cérebro e na medula. Essa injeção de álco-
ol 70% é particularmente indicado para crocodilianos e grandes
quelônios, nos quais outros métodos de morte são ineficientes ou
inadequados. FITZGERALD (1987) apud SCROCCHI &
KRETZSCHMAR (1996) recomenda este método e salienta que, em
crocodilianos, a injeção deve ser dada na metade da região nucal,
imediatamente à frente dos grandes escudos nucais, com a agu-
lha inclinada a 45o aproximadamente, e direcionada para a re-
gião cranial. Segundo SCROCCHI & KRETZSCHMAR (1996), para
grandes quelônios, o acesso à medula se dá pelo foramem magnum,
alcançado pela introdução da agulha pelo forame óptico, pela
borda do olho. Para outros répteis a injeção de álcool 70% no cére-
bro e na medula também deve ser feita pelo forame óptico, atingi-
do com a inserção da agulha pelo canto do olho. A via nasal não é
indicada pelos danos causados aos ossos do crânio, principalmen-
te em serpentes.
Atualmente, as técnicas genéticas e moleculares devem receber
especial atenção. A coleta de tecidos para análise citológica e
molecular devem ser feitas o mais rapidamente possível após a
morte, antes dos procedimentos de fixação, conforme as indica-
ções do Capítulo 10.
92 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

FIXAÇÃO
O processo de fixação estabiliza as proteínas dos tecidos do
animal, de modo a manter as características o mais próximo
possível do estado que se encontravam em vida (CARAMASCHI,
1987). O fixador mais utilizado para preparação de répteis para
coleção em via úmida é a formalina 10%, que torna as proteínas
mais viscosas.
Para uma boa fixação, é necessário injetar formalina 10% em
diversos pontos de toda a cavidade pleuro-peritonial, de modo a
permitir que o fixador preencha todo o espaço disponível, sem
contudo, deformar o animal. Antes das injeções, principalmente
para serpentes, deve-se pressionar levemente o abdome do ani-
mal de trás para a frente, retirando o ar dos pulmões. As injeções
devem seguir o sentido caudo-cranial, a partir da cloaca até pró-
ximo à cabeça. Assim injetados, são colocados na posição que se
deseja tê-los fixados. Para animais médios ou grandes, devemos
injetar as grandes massas musculares dos membros, cauda, ca-
beça, peito e costas. Para injetar caudas finas, usam-se seringas
de insulina com agulhas finas ou ainda pode-se fazer pequenos
cortes por toda a sua extensão. Após o animal ser injetado e co-
locado na posição desejada, deve ser coberto com papel ou pano
embebido em formalina 10%, mantendo-o em atmosfera saturada
por cerca de doze horas, se for um espécime de pequeno porte, ou
até 48 horas para o caso de exemplares grandes. Após este tem-
po, é recomendável a sua imersão em formalina 10%, por um
intervalo que varia de uma a três semanas, dependendo do ta-
manho do animal.
Considera-se um posicionamento correto de fixação, aquele
que permite o bom acondicionamento do animal nos frascos dis-
poníveis e seu posterior exame. É aconselhável que se coloque os
animais em posições semelhantes à postura em vida, com a re-
gião ventral para baixo. No caso de serpentes, a posição ideal é a
espiral, observando que a cabeça fique para fora da espiral
(Fig.5d). Lagartos devem ter as patas anteriores voltadas para
frente e as patas posteriores direcionadas para trás, ambas leve-
mente flexionadas (Fig. 5a e 5b). Lagartos pequenos, até 15cm de
comprimento total e cauda relativamente curtas, podem ser fi-
xados com a cauda reta (Fig. 5a), lagartos médios ou com a cau-
da longa, devem tê-la voltada para frente, dobrada para um dos
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 93

Répteis
Figura 5. Posições recomendadas para fixação de répteis e local para fixação
de números de campo. a) lagartos pequenos; b) lagartos com cauda longa; c)
quelônios; d)serpentes. (Desenhos F. L.Franco). Figuras a e c foram adaptadas
de SCROCCHI E KRETZSCHMAR (1996). Figura c, adaptada de RODRIGUES
(1987).

lados do animal (Fig 5b). Crocodilianos pequenos ou quelônios


(Fig. 5c) devem ser posicionados do mesmo modo aos lagartos. Os
números de campo podem ser amarrados no terço anterior do
corpo, no caso de serpentes (Fig. 5d), ou na articulação entre a
perna e a coxa (joelho), no caso de lagartos (Fig. 5a e 5b), tarta-
rugas e jacarés. Lagartos pequenos podem ter suas etiquetas
94 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
amarradas na cintura pélvica. Cuide para não amarrar o núme-
ro de campo forte demais, de modo a não deformar o exemplar
ou, ainda, fraco demais para não perdê-lo. VANZOLINI &
PAPAVERO (1967) e SCROCCHI & KRETZSCHMAR (1996) ilustram
os locais de injeção e posições para fixação.
O porte do animal é um dos fatores que influenciam a manei-
ra de sua inclusão em coleções, pois, o tamanho dos frascos de
acondicionamento é fator limitante. Serpentes como jibóias e
sucuris, via de regra, são muito grandes para serem acondicio-
nadas nos recipientes normais. Assim, na ausência de tambores
grandes o suficiente para manter a integridade do material, deve-
se retirar quase todo o conteúdo esquelético, muscular e visceral
do animal, mantendo-se o couro, a cabeça e a cauda intactos.
Para tal, o animal deve ser aberto por todo o ventre, da cabeça à
cloaca, secionando-se a coluna vertebral logo após a cabeça e
antes da cloaca, mantendo a pele íntegra, e rebatendo-se todo o
couro, com cuidado especial na região vertebral onde ele é mais
aderido, apartando-o da musculatura. Todo o músculo restante,
aderido ao couro, deve ser removido com auxílio de uma espátula.
Após esticá-lo em uma superfície lisa, forra-se todo o couro, in-
ternamente, com algodão, papel absorvente ou tecido, embebido
em formalina 10%, enrolando sobre si mesmo, no sentido da cau-
da para a cabeça. Recomenda-se guardar amostras de vértebras
de diferentes regiões do corpo. As vísceras podem ser guardadas,
retirando-as da musculatura, puxando-as da frente para trás,
com firmeza e cuidado para não danificar o material. Estas en-
tão, podem ser colocadas em um saco plástico, com pequenos
cortes nas pontas, e este imerso em formalina 10% para fixação.
Este saco deve estar amarrado ao resto do animal, para não se
perder, além de ter mesmo número de campo duplicado e um
rótulo de identificação.
Outro modo de se conservar peles de répteis grandes como
jacarés, sucuris e jibóias é fixá-la em uma madeira, colocar bórax
sobre a superfície interna e deixar secar à sombra.
Crocodilianos e quelônios grandes, após registro fotográfico e
dados morfométricos e fisiológicos tomados, podem ter os crâni-
os, ossos e carapaças preservados, em detrimento do restante do
corpo. Obviamente, alguns órgãos internos podem ser guarda-
dos de acordo com a necessidade ou interesse. Todas as partes a
serem preservadas a seco, devem ser meticulosamente limpas dos
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 95
músculos. A fervura auxilia a remoção da musculatura, porém
deve ser usada com cuidado nas carapaças, pois favorece o des-
prendimento dos escudos córneos. Ossos podem receber rápidos
banhos de hipoclorito de sódio (água sanitária) para auxiliar a
soltura da musculatura ou água oxigenada 10% para branquear.
Após o uso destas substâncias lave os ossos com água corrente
ou álcool, pois a ação prolongada ou residual destas substâncias
pode fragilizar o material. Nunca use água oxigenada ou sanitá-
ria em carapaças, pois, danificam os escudos córneos.

Répteis
O uso de larvas de Dermestes sp. (Coleoptera: Dermestidae)
para limpar esqueletos é muito mais eficiente e menos trabalho-
so que a técnica citada acima, porém não é viável a sua utiliza-
ção em campo devido à necessidade de um dermestário e de mui-
to tempo para a ação das larvas. Informações sobre a cultura
das larvas e preparação de peças podem ser encontradas no Ca-
pítulo 6 deste livro e em GRITTIS & BRUNNER (1990) e SCROCCHI
& KRETZSCHMAR (1996).

CONSERVAÇÃO
Depois do período de fixação, procede-se à lavagem em água
corrente, por 24 horas, e então os animais estão prontos para a
imersão em álcool etílico 70%.
A conservação permanente do exemplar deve ser feita em álco-
ol etílico 70%, em um recipiente de vidro de boca larga e tampa
que permita boa vedação, impedindo ao máximo a evaporação.
Este procedimento pode ser adotado se a coleta estiver planejada
para um período maior do que uma semana, quando a maioria do
material fixado já poderá ser transferido para o álcool. Caso con-
trário, o material pode ser mantido em solução de formalina 10%.
Ao ser incorporado em coleções, deve-se observar cuidadosa-
mente a proporção mínima de 2/3 de álcool 70% e 1/3 de material
a ser preservado. Em condições de campo, deve-se garantir que
os exemplares estejam inteiramente submersos ou, pelo menos,
enrolados em gaze e/ou algodão embebidos em álcool, e manti-
dos em sacos plásticos bem fechados para evitar a evaporação.
Use vários sacos, pois além de impedir a evaporação, evita vaza-
mentos.
96 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

PREPARO DE HEMIPÊNIS DE SERPENTES E LAGARTOS

Os hemipênis são os órgãos copuladores de serpentes e lagar-


tos. São estruturas pares e estão em repouso, invertidos na base
da cauda dos machos, na face ventral, um de cada lado. Para a
cópula são evertidos por pressão dos líquidos corpóreos e relaxa-
mento do músculo retrator do hemipênis (retractor penis magnum).
Cada hemipênis está ligado à cloaca na sua porção basal e ao
músculo retrator do hemipênis na sua porção apical. Os hemipênis
são órgãos muito importantes para os estudos taxonômicos e,
portanto, devem ser preparados com cuidado. Apenas um órgão
de cada animal deve ser preparado, mantendo-se o outro na po-
sição de repouso. O hemipênis a ser preparado não deve ser apar-
tado do exemplar.
Os procedimentos são simples, porém requerem atenção no
seu preparo. Com o animal recém morto, faz-se uma incisão cen-
tral e longitudinal, logo após a cloaca, que tome aproximada-
mente 10 escamas subcaudais. Rebatendo-se a pele, observam-
se os hemipênis, ligados aos seus músculos retratores, cujos

Figura 6. Hemipenis preparado para fixação. (Desenho: F. L. Franco, mo-


dificado de Keogh, 1996)
limites distais são visualizados como um pequeno acinturamento
e/ou uma leve mudança de coloração. Deve-se desprender um dos
órgãos do tecido conjuntivo que o envolve e cortá-lo logo após o
acinturamento, na região muscular, mantendo-o preso apenas
pela cloaca. Em seguida, pressiona-se o hemipênis na cloaca, fa-
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 97
zendo que ele se everta. Com auxílio de um bastão fino de aço
com ponta romba, deve-se garantir a total everção de seus lobos.
Assim evertidos são várias as opções de preparo, (DOWLING &
SAVAGE (1960), MANZANI & ABE (1988), PESANTES (1994) e
SCROCCHI & KRETZSCHMAR (1996)). Nestas referências, além
das técnicas de preparação, há muita informação a respeito da
estrutura dos hemipênis. Estas técnicas diferem basicamente na
substância a ser injetada para o preenchimento do hemipênis.
Todas elas requerem a introdução de uma agulha grossa de pon-

Répteis
ta romba pelo orifício da cloaca, para dentro do hemipênis e
algumas exigem que se aparte o órgão do exemplar. Na base do
hemipênis, sobre a agulha, amarra-se uma linha de algodão, com
um nó, sustentando a tensão da linha, enquanto se infla o órgão
e durante a retirada da agulha. Esta compressão da base do ór-
gão sobre a agulha impede o extravasamento da substância
injetada. Assim que a agulha sai do órgão, o nó fecha imediata-
mente a base do hemipênis, mantendo-o túrgido. A pressão a ser
exercida na seringa para a uma boa preparação, deve ser o sufi-
ciente para inflar o hemipênis, distendendo seus lobos e orna-
mentações (cálices e espinhos), porém, sem rompê-los. A prática
é a única forma de aprender este limite.
Em condições de campo, a simples injeção de formalina 10%,
na base do hemipênis após o corte da musculatura, é satisfatória,
desde que se cumpram os requisitos citados acima e se procede a
fixação completa do órgão, sem deformá-lo. Após a sua fixação,
mesmo que murchem, podem ser recuperados facilmente, desde
que tenham sido mantidos sempre em meio líquido. O ideal é a
utilização de solução de ágar 3% para o preenchimento. O ágar
solidifica-se com facilidade e, para que fique líquido antes da
injeção, deve ser mantido em banho-maria, onde também devem
estar as seringas de vidro e agulhas de ponta romba. Assim que
se completar a injeção, o hemipênis deve ser rapidamente colo-
cado em água com gelo, por alguns segundos, para acelerar a
solidificação do ágar.
98 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

RECOMENDAÇÕES

ACONDICIONAMENTO E TRANSPORTE DE RÉPTEIS

O transporte do material morto deve ser feito, preferencial-


mente, embebido em álcool, pois o formol é irritante das mucosas
nasais e dos olhos, além de cancerígeno. Mesmo em álcool, todo
o material deve ser embalado cuidadosamente em sacos plásti-
cos resistentes ou acondicionados em recipientes de plástico com
tampa boa. Os exemplares devem ser envolvidos em algodão ou
mantidos em camadas isoladas para evitar que a pressão sofrida
pelas camadas inferiores deforme os exemplares.
Transporte de répteis vivos deve ser cercado de cuidados, pois
eles são particularmente sensíveis ao calor. Portanto, mantenha-
os em ambiente sombreado e fresco. É fácil perder répteis ao pa-
rar o veículo em lugar ensolarado, mesmo que por poucos ins-
tantes se tais medidas não forem observadas. Para transporte a
longas distâncias, deve-se acondicionar répteis individualmen-
te, em sacos de pano dentro de caixas de isopor, com uma peque-
na garrafa plástica (600 ml) com gelo, ou ainda gelo reutilizável
(garrafas ou saquinhos que contém substâncias que se mantém
congeladas por mais tempo e podem ser novamente levadas a
congelar). O gelo não deve ficar em contato direto com os ani-
mais. A quantidade de gelo a ser utilizada deve ser calculada de
acordo com o tamanho da caixa de isopor. O princípio é manter
a temperatura baixa na caixa, sem congelá-los.
Serpentes peçonhentas devem ser transportadas individual-
mente em sacos de pano, em caixas de madeira forte, fechadas
com parafusos, com orifícios pequenos, de não mais que dois mi-
límetros de diâmetro, para entrada de ar. Este procedimento evi-
ta acidentes e fugas.

CUIDADOS ESPECIAIS COM SERPENTES

Serpentes devem receber especial atenção, pois os acidentes


causados por elas podem ser perigosos. Serpentes não
peçonhentas podem ser capturadas com as mãos, gancho ou
pinções (capture tongs), de acordo com a situação. As serpentes
denominadas não peçonhentas podem ser áglifas (sem dentes
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 99
sulcados para inoculação de peçonha), ou opistóglifas (aquelas
com dentes posteriores sulcados). Algumas espécies opistóglifas
dos gêneros Philodryas, Elapomorphus, Phalothris e Clelia são
conhecidas por causarem acidentes que podem requerer cuida-
dos médicos. Nesses casos, o uso de luvas de raspa de couro é
aconselhável. Se os coletores não são conhecedores de serpentes,
jamais devem capturá-las com as mãos.
Serpentes com aparato especializado para inoculação de ve-
neno, com colmilhos anteriores e glândulas de veneno bem de-

Répteis
senvolvidas (solenóglifas e proteróglifas), são conhecidas como
serpentes peçonhentas. Em nosso país, os gêneros Bothrops
(jararacas), Crotalus (cascavéis), Micrurus (cobras-corais) e
Lachesis (surucucu) são responsáveis por 60% dos acidentes
ofídicos (consultar MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998 para detalhes).
Portanto, quando se fala em coleta de serpentes, principalmente
peçonhentas, alguns cuidados são fundamentais e devem ser aqui
enfatizados.
ü Nunca trabalhe sozinho com serpentes peçonhentas;
ü Seja atento, responsável e cauteloso, trabalhando calmamen-
te, pois a pressa propicia acidentes;
ü Não subestime ou confie em “boa índole” da serpente ou na
sua aparente “calma”;
ü Jamais relaxe com a segurança, pois com o tempo, adquire-se
certa sensação de confiança, que pode levar a descuidos e
resultar em acidentes;
ü Tenha o cuidado de colocar serpentes peçonhentas em sacos
de pano, que são mais resistentes, e certifique-se que sejam
bastante grandes para evitar dificuldades durante o acondi-
cionamento. Nunca use sacos plásticos ou de papel, pois po-
dem se romper com facilidade ou permitir o bote devido ao
espaço formado pelo ar ali contido e à visibilidade que o ani-
mal tem;
ü Nunca pendure sacos contendo serpentes na cintura ou se-
gure-os abaixo do nó. O animal pode dar botes e picar o coletor
que adota estes procedimentos;
ü Redobre os cuidados quando coletar durante a noite ou ao
crepúsculo, pois é o período quando muitas serpentes
peçonhentas estão mais ativas;
ü Ao chegar ao laboratório de campanha, coloque as serpentes
100 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
coletadas em caixa de madeira, evitando assim que outra
pessoa venha a manipular ou pisar no saco;
ü Quando do uso de certos equipamentos, como por exemplo,
os tubos de contenção, certos cuidados especiais devem ser
tomados. Para isso consulte atentamente as instruções de uso
no item Equipamentos em Material para Coleta.
ü Em caso de acidente com serpente peçonhenta:
§ Não faça torniquete;
§ Não fure ou corte o local;
§ Lave o local com água e sabão;
§ Não perca tempo com qualquer tratamento caseiro;
§ Evite esforços e, se possível, mantenha o membro afetado
elevado;
§ Vá imediatamente ao Hospital ou Posto médico para receber
tratamento soroterápico;
§ Atenção pois o antiveneno (soro) é, muitas vezes, específico,
ou seja, há um tipo de antiveneno próprio para cada gênero de
serpente peçonhenta. Além do mais, a soroterapia pode causar
reações alérgicas, inclusive o choque anafilático. Portanto, o
antiveneno deve ser aplicado em ambiente adequado, por um
profissional habilitado (médico ou enfermeiro).

INFORMAÇÕES E MATERIAIS ORIUNDOS DE LEIGOS

Segundo VANZOLINI et al., (1980), o homem do campo é um


excelente botânico, passável zoólogo e um péssimo herpetólogo.
Em se tratando de serpentes, os mitos e lendas se confundem
com a realidade, impossibilitando, muitas vezes, que se utilize as
informações de leigos. Mesmo assim, podemos aproveitar o enor-
me potencial de informações a respeito dos animais que eles cap-
turam, guardam em cachaça ou em pequenas coleções de escolas
rurais.
Uma estratégia eficiente para obtenção desse material, prin-
cipalmente serpentes e lagartos, é o contato com pessoas da co-
munidade e a distribuição de baldes com tampa contendo
formalina forte, a 15 ou 20%, para que elas coloquem os animais
que encontram e freqüentemente matam. A partir de instruções
detalhadas as pessoas são persuadidas a não destruir a cabeça
das serpentes ou lagartos e a fazer pequenos cortes profundos
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 101
ao longo do ventre do animal, para melhor fixação. Ao apanhar
esse material, o naturalista avaliará a qualidade da amostra
capturada, e pelo diálogo com as pessoas envolvidas, poderá res-
gatar informações a respeito dos exemplares. É fundamental ave-
riguar se foi a própria pessoa que viu e coletou cada exemplar.
Em caso negativo, o verdadeiro coletor deve ser procurado para
fornecer as informações. Caso a resposta seja positiva, deve-se
começar perguntando a data, hora, local exato de captura, o
tipo de ambiente (mata, campo, pasto, plantação, etc.), como es-

Répteis
tava o clima, se o espécime estava na sombra ou exposto ao sol,
qual é o nome vulgar do animal na região, etc. Informações so-
bre comportamento do réptil, principalmente serpentes, são fan-
tasiadas, e portanto, devem ser ouvidas com ressalvas.

CUIDADOS PESSOAIS

O coordenador da equipe deve, antes de levar seu pesso-


al para a campanha, averiguar se todos já foram vacina-
dos contra febre amarela e tétano, a experiência de campo
de cada um, condições de saúde e particularidades tais como
alergias, remédios de uso contínuo, fobias e verificar onde
receber atendimento médico e o tempo de deslocamento até
o posto mais próximo.
Alguns princípios quanto a cuidados pessoais e primei-
ros socorros devem ser observados. Vista roupas e calçados
confortáveis, já usados, evitando assim desconfortos pro-
piciados por peças novas. Tecidos de algodão ou anti-alér-
gicos são preferíveis. É melhor que sejam resistentes, não
façam ruído por atrito e possuam cores neutras. Não use
roupas justas ou que limitem movimentos. São recomendá-
veis camisas de mangas longas e calças compridas, pois elas
evitam picadas de insetos e escoriações. Roupas com vários
bolsos são convenientes para o trabalho de coleta. Não es-
quecer de capa de chuva e botas de couro forte e flexível. Se
não se adaptar ao uso de botas de cano alto, usar um
coturno, evitar tênis, pois estes protegem apenas até o tor-
nozelo. Existem no mercado modelos apropriados, confor-
táveis e seguros. Caso tenha que usar tênis, não dispense
p e r n e i r a s ( p o l a i n a s ) d e c o u ro p a r a c o m p l e m e n t a r a
102 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
proteção. Calçados de reserva são necessários. Ao explorar
ambiente aquático ou alagadiço, é conveniente o uso de bo-
tas de borracha; elas são seguras, duráveis, baratas e se-
cam facilmente, poupando os calçados de couro. Entretan-
to, se forem usadas continuamente, botas de borracha po-
dem machucar os pés e as pernas devido ao atrito. O uso de
meias grossas sobre as barras das calças evitam a entrada
de carrapatos e outros animais indesejáveis. Não usar bo-
tas enquanto estiver embarcado, pois, em caso de ter que
nadar, elas dificultam a movimentação e tornam-se muito
pesadas. O uso de colete salva-vidas, quando estiver em-
barcado, é obrigatório.
Cuidados com o sol e com os insetos são necessários, e o
uso de chapéu ou bonés e protetores solares com filtros
potentes, além de repelentes, são fundamentais. Bonés são
mais convenientes quando do trabalho em ambientes de
mata, onde o chapéu é derrubado com facilidade.
Durante as coletas, o cuidado com a higiene é fundamen-
tal. É muito comum que o coletor permaneça grande parte
do período de trabalho com as roupas e sapatos molhados.
Durante o banho localize carrapatos e assaduras para po-
der combatê-los e depois, vista roupas secas.
Tenha um estojo de primeiros socorros para cuidar de peque-
nos ferimentos. Outros remédios, que não necessitam de prescri-
ção médica, devem ser levados, tais como sabão de enxofre,
antitérmicos, analgésicos, pomadas contra assaduras e queima-
duras e anti-diarréico. Não use anti-histamínicos em caso de pi-
cadas de artrópodes peçonhentos, pois isto pode mascarar sin-
tomas importantes para o diagnóstico médico.
Durante o trabalho de campo, o coletor deve beber bastante
água para prevenir a desidratação. Durante caminhadas lon-
gas, ou atividades que implicam em muita transpiração, aconse-
lha-se ingerir alimentos salgados e doces para repor sais e ener-
gia. Em caso de carência de água potável na região, é aconselhá-
vel ferver e clorar a água antes de beber.
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 103
EQUIPAMENTOS

MATERIAL PARA CAMPO

Obviamente não é necessário levar todo o equipamento dis-


ponível ao campo em uma única saída. O conhecimento do habitat
e o reconhecimento prévio do local indicarão as possibilidades
de coleta, norteando a seleção de materiais que devem ser leva-
dos. Abaixo estão listados alguns dos equipamentos mais impor-

Répteis
tantes na coleta de répteis. Certamente há omissões devido à
diversidade de ambientes e de espécies de répteis, que podem exi-
gir materiais específicos, bem como preferências de cada coletor.
Listas de materiais e mais citações bibliográficas podem ser acha-
das em VANZOLINI & PAPAVERO (1967), SIMMONS (1987), LEMA
& LEITÃO-DE-ARAÚJO (1985) e SCROCCHI & KRETZSCHMAR
(1996)
Mochila de ataque: é uma mochila pequena e estreita para o
transporte de material de pequeno porte. Evite o excesso de peso
pois dificulta o trabalho. Como alternativas existem os chama-
dos coletes de fotógrafo ou de caçador, o embornal e pochetes.
Sacos plásticos de diversos tamanhos devem ser levados em
grande número. São preferíveis os sacos mais resistentes e de
formato longo para facilitar o acondicionamento dos animais e
o seu fechamento. Aconselha-se, um tamanho mínimo de aber-
tura em que um punho cerrado possa passar sem dificuldades.
Materiais como gravadores, isqueiros, papel higiênico e cader-
nos de notas devem ser embalados em sacos plásticos, principal-
mente se o trabalho de coleta tiver de ser realizado junto ou nas
proximidades de corpos d’água.
Sacos de pano resistentes, com cadarços para amarrar a boca,
são muito úteis. Os sacos devem ser longos e de pelo menos três
tamanhos. Para fechá-los, deve-se costurar o cadarço pelo meio
de seu comprimento, a 10 ou 15 cm abaixo da boca do saco, no
sentido transversal. Cuidados especiais ao lidar com serpentes
peçonhentas devem ser tomados, manuseando-se o saco com o
gancho ou pinça, auxiliado por, pelo menos, mais uma pessoa. O
saco jamais deve ser tocado enquanto a cobra é guardada e o
saco amarrado.
104 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
Potes plásticos com tampas de boa vedação, em vários tama-
nhos (de 100 a 1000 ml). A tampa só deve ser furada em caso de
necessidade, pois freqüentemente, necessitam-se de potes para
transporte de líquidos.
Lona plástica para construção de cercas, de 10 a 50m de com-
primento por 1m de altura, são eficientes, principalmente quan-
do a coleta for realizada em ambientes abertos. Ripas de madei-
ra para fixação da lona aberta devem acompanhá-la. Pode-se
estaqueá-las ao chão, ou caso a equipe seja grande, dispor pes-
soas para segurá-la, enquanto outras tantas se ocupam de ten-
tar espantar os animais para junto dessa cerca.
Pinça longa, com cerca de 30 cm de comprimento, auxilia a
exploração de micro ambientes, tais como pequenos buracos, a
serapilheira, cascas de árvores, interior de bromélias, dentre
outros, com bastante segurança. A pinça deve ser amarrada à
calça com linha forte, relativamente longa, que permita seu uso
com liberdade.
Luvas de raspa de couro de cano longo, devem ser utilizadas
para virar pedras, troncos ou colocar as mãos em locais potenci-
almente perigosos. Também podem ser utilizadas para capturar
serpentes não peçonhentas. Antes de introduzir as mãos em to-
cas ou ocos de árvore, estes devem ser inspecionados com lanter-
na e um pedaço de pau.
Facão, faca e canivete: o número sugerido é de um facão para
cada duas ou três pessoas e, preferencialmente, que cada membro
da equipe carregue sua faca e canivete. Para extrair o couro de
animais grandes é necessário um jogo de facas boas e de formatos
distintos, tanto retas para furar e cortar, quanto aquelas com a
lâminas convexas, que evitam danificar o couro. Juntamente com
as facas, devemos ter uma boa pedra e chaira para afiá-las. Para
o facão, use antes uma lima e depois a pedra. Instrumentos bem
afiados evitam acidentes e desgastam menos o usuário.
Lanterna: via de regra, lanternas de 4 a 6 pilhas são suficien-
tes. Lanternas de cabeça, facilitam a caminhada e o manuseio
de animais, pois, permitem liberdade para as mãos. Uma carga
de pilhas alcalinas normalmente dura de quatro a seis horas.
Deve-se ter sempre à mão uma carga e lâmpada de reserva, para
evitar trabalhar com luz fraca. Tenha também uma lanterna leve
para uso diurno e para servir de reserva para coletas noturnas.
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 105
Gancho com ponta de aço em “L”, e pinções para lidar com
serpentes. Um instrumento de cada tipo por grupo de três a qua-
tro pessoas é considerado suficiente.
Laço de contenção de aço, semelhantes aos usados pelo Ser-
viço de Controle de Zoonoses na captura de cães vadios. Estes
laços são especialmente úteis para pegar jacarés de até um me-
tro de comprimento.
Estilingue e bandas de borracha. Os estilingues não carecem
de apresentações. As bandas de borracha são obtidas do cano de

Répteis
luvas de látex natural, cortando-as transversalmente de modo a
obter anéis de 1,5 a 2 cm de largura. Esses instrumentos são bas-
tante adequados para a captura de pequenos lagartos. Mais in-
formações no item “Onde e como coletar”, neste capítulo.
Tubos de contenção de serpentes. De plástico transparente,
de diversos diâmetros e com escala de comprimento desenhada
no seu exterior. Estes tubos permitem lidar com serpentes com
segurança. Porém, algumas instruções são de extrema importân-
cia. A serpente a ser capturada deve ser inicialmente apreendida
com um gancho ou pinção, ou em última instância pisando-se
nela (já que o coletor deve estar usando bota de couro de cano
alto), com pressão suficiente para contê-la sem machucá-la. Em
seguida, sem o uso das mãos, coloque a cabeça da serpente na
abertura do tubo, mantendo-o na horizontal, ou acompanhan-
do o movimento da cabeça do animal, de modo a direcioná-lo
para dentro do tubo. Na tentativa de fuga a serpente avança
para dentro tubo. Algumas vezes o animal não entra no tubo;
nestes casos, alguns toques na cauda podem estimulá-lo a en-
trar. Quando cerca de dois terços do comprimento de seu corpo
estiver dentro do tubo, o coletor deve segurar ao mesmo tempo o
tubo e o corpo da serpente, de tal modo que ela não conseguirá
prosseguir ou retornar. Para que essa técnica seja eficiente e não
incorra em riscos, o diâmetro do tubo utilizado deve estar de
acordo com o diâmetro da serpente, para não permitir que ela
retorne ao orifício de entrada. Após feitas as observações e as
tomadas de dados necessárias, tais como o comprimento, o sexo,
o número de folículos, a presença de conteúdo estomacal/intesti-
nal, a coleta de fezes, sangue, a provocação de regurgitação de
possíveis presas, a tomada da temperatura cloacal, ou a conta-
gem de escamas, o animal deve ser libertado. Para tal, puxamos
106 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
a serpente pelo corpo até sentir que ela está quase solta; neste
momento, retiramos rapidamente a mão que lida com animal e
damos um solavanco com o tubo para que ela caia pela abertura de
entrada, diretamente para dentro do saco de pano ou da caixa.
Caderno de notas ou gravador portátil: ambos são utiliza-
dos no registro das observações de campo. O gravador apresenta
vantagens sobre o caderno de notas, pois permite mais rapidez e
qualidade de registro. Ao final das atividades, os dados são trans-
critos para o Caderno de Campo (ver Material de gabinete), ga-
rantindo informações precisas. Por sua vez, o caderno de no-
tas é independente de pilhas ou problemas técnicos. Em caso de
informações duvidosas, elas devem ser preferencialmente igno-
radas ou ter sua condição dúbia evidenciada. A redação no Ca-
derno de Notas ou no Caderno de Campo deve ser feita à lápis ou
nanquim. Esse cuidado evita a perda de informações caso o pa-
pel seja acidentalmente molhado. Ver VANZOLINI & PAPAVERO
(1967), MARTINS (1983), CARAMASCHI (1987) e SCROOCHI &
KRETZSCHMAR (1996) para mais informações.
Rótulos de campo: Todo o material deve ser identificado indi-
vidualmente para permitir o resgate das suas informações. Para
isso, podem ser utilizados rótulos (cerca de 5,0 x 3,0 cm) de papel
vegetal, que são então colocados junto com cada exemplar. Esses rótu-
los podem ser preparados em grande número e levados para campo.
Nele se anotam as observações referentes a cada exemplar.
Termômetro cloacal e de ambiente de leitura rápida. É con-
veniente observar a temperatura do animal no momento da cap-
tura, pois o manuseio pode alterá-la rapidamente. Deve-se cui-
dar também para não se segurar o animal próximo à cloaca.
Antes e depois da introdução do termômetro, use álcool iodado
ou outro produto para desinfetá-lo, garantindo que esteja bem
limpo para ser usado em outro animal.
Higrômetro e Luxímetro: são utilizados para a tomada de
parâmetros ambientais de umidade e luminosidade respectivamente.
Na falta destes instrumentos, consulte a Estação Meteorológica
mais próxima do local de coleta.
Equipamento fotográfico: a oportunidade do registro “in loco”
de um animal, seu habitat, comportamento, interações com po-
tenciais predadores, presas e outros detalhes de seu micro-
habitat, como abrigo, ninhos, filhotes, não deve ser perdida. Para
tal o naturalista deve sair a campo com equipamentos que per-
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 107
mitam, capturar imagens de animais de variados portes e diver-
sas condições de luminosidade e distância. Fotografias de ani-
mais que se deslocam muito rapidamente, ou que vivem em am-
bientes escuros exigem filmes de alta sensibilidade (medida em
ASA). Para fotografar animais em luz abundante e estáticos, acon-
selha-se o uso de filmes de ASA 64 ou 100. Quando o objetivo é
fotografar animais em movimento ou em locais com baixa
luminosidade, pode-se usar filmes com ASA 400 ou mais. Quanto
mais ASA mais sensível o filme é à luz, porém este é mais

Répteis
granuloso, perdendo qualidade nas ampliações. Há dois tipos
básicos de filmes: os que, depois de revelados, transformam-se
em negativos, e os que, após a revelação transformam-se em di-
apositivos (slides). Os primeiros exigem ampliações em papel e os
segundos, como são positivos, podem ser projetados em telas.
O uso de filmes para diapositivos é mais recomendado do que
os de ampliação em papel. Isso se deve ao fato do diapositivo ser
muito mais útil do que o negativo, já que pode também ser am-
pliado em papel e é mais utilizado para reprodução gráfica ser-
vindo para ilustrar aulas, palestras, etc.
Para uma ordenação adequada, tanto os filmes quanto os di-
apositivos usados devem ser catalogados fazendo-se referência
ao material, número de campo, espécie, dados do exemplar, tipo
de filme, máquina fotográfica, etc., além das circunstâncias em
que foi fotografado.
Câmaras digitais são muito úteis, pois permitem armazenar
as imagens digitalizadas diretamente em disquetes ou em com-
putadores. Salienta-se que a qualidade da imagem digitalizada
é inferior às das boas máquinas fotográficas tradicionais.
Binóculos são úteis para explorar os estratos mais al-
tos da vegetação.
GPS (Global Positioning System): aparelho muito útil que per-
mite a obtenção das coordenadas dos locais de captura de ma-
neira precisa, além de fornecer a altitude, graças à sua comuni-
cação com satélites. Pode haver problemas ao usá-los dentro de
matas, o que dificulta seu contato com os satélites, porém,
atualmente já existem aparelhos e/ou antenas para superar es-
tes obstáculos.
Isqueiro e fósforos: a necessidade de se obter fogo pode acon-
tecer em muitas situações durante o trabalho de coleta. A desin-
fecção de instrumentos metálicos, na falta de substâncias apro-
priadas, pode ser feita através do calor do fogo.
108 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
Em função da quantidade de equipamentos, além da questão
de segurança, é fundamental a formação de equipes de coleta,
para possibilitar o transporte dos materiais. Um número ideal
pode variar de três a quatro pessoas, porém, essa necessidade
deve ser avaliada em função das tarefas a serem desempenhadas
em campo. O equipamento deve ser dividido entre os membros
da equipe, de modo que cada um se responsabilize sempre pelos
mesmos materiais, durante todo o tempo que a coleta durar, evi-
tando problemas quanto a esquecimento, manutenção ou extravio.

MATERIAL PARA O LABORATÓRIO DE CAMPANHA E GABINETE


O acondicionamento, transporte, manutenção de animais vi-
vos em laboratórios de campanha, ou ainda a preparação pós-
morte de animais inteiros, suas partes e seus produtos, para in-
clusão em coleções científicas necessitam de uma série de equi-
pamentos e substâncias.

MATERIAL DE LABORATÓRIO

Bandejas plásticas de dois ou três tamanhos, para a fixação.


Gaze, algodão e papel toalha: exemplares formolizados de-
vem ser envolvidos com algum desses materiais umedecidos em
formol ou álcool etílico, para impedir seu ressecamento e man-
ter sua integridade. Não utilizar materiais coloridos ou tingidos
pois podem manchar os exemplares.
Luvas cirúrgicas e de cozinha. Elas evitam o contato com
fluidos corpóreos dos animais e a ação de substâncias químicas,
tais como formol e álcool, sobre a pele.
Pesolas (dinamômetros) e trena. São úteis para tomar medi-
das de massa e comprimento dos animais.
Baldes plásticos com tampa de pressão: são facilmente en-
contrados em lojas ou depósitos de material plástico a preços
acessíveis. Geralmente os baldes de 20 a 60 litros são muito úteis.
São adequados para a montagem de armadilhas de queda e tam-
bém para distribuir aos trabalhadores rurais, além de permitir
o armazenamento e transporte de material vivo ou morto. Al-
guns baldes menores com tampa (5 litros) podem ser úteis para
manter animais vivos e podem ser obtidos por doação em esta-
belecimentos como pizzarias e restaurantes.
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 109
Caixas de madeira para acondicionamento e transporte de
serpentes vivas. Devem ser fechadas com o uso de parafusos e
nunca de pregos, que dificultam a abertura e danificam a caixa.
É fundamental que suas tampas fechem bem e que as aberturas
para a entrada de ar sejam pequenas.
Potes plásticos com tampas e sacos plásticos resistentes:
são muito úteis não só na manutenção de animais vivos, como
explicado anteriormente, como também para embalar e trans-
portar o material preservado.

Répteis
Seringas e agulhas. Os coletores devem providenciar serin-
gas de vidro e de plástico, de diversos volumes. Leve sempre agu-
lhas grossas para facilitar a fixação.
Alcoômetro: importante para garantir a exatidão da concen-
tração da solução de álcool etílico a ser preparada. São instru-
mentos frágeis e caros, porém podemos construir um alcoômetro
resistente e funcional, de maneira fácil. CARAMASCHI (1987) e
VANZOLINI & PAPAVERO (1967) recomendam a manufatura de
um densímetro tipo “Brandão” semelhante ao sugerido a seguir.
Basta usar um tubo plástico reto e resistente de 20 a 30 cm de
comprimento e 1 cm de diâmetro ou uma seringa descartável,
com um dos lados fechado com auxílio de um alicate quente. Após
colocar um pouco de areia em seu interior, põe-se em um recipi-
ente com álcool etílico 70%, previamente preparado, cuja gradu-
ação seja confiável. A quantidade de areia a ser colocada nesse
tubo deve permitir que ele afunde cerca de dois terços a três quar-
tos do seu comprimento. Quando isso acontecer faça uma pe-
quena marca no tubo, na altura em que se forma o menisco do
álcool e, com o alicate quente, feche a parte superior do tubo ou
use o êmbolo de borracha da seringa. Alternativamente, pode-se
adicionar cola à areia para evitar que ela se movimente dentro
do tubo e interfira na aferição da solução. Em caso de falta total
de alcoômetros (comerciais ou domésticos), misture três partes
de água a sete partes de álcool etílico comercial (96o GL que
corresponde a 96%), ou mais precisamente 26ml de água para
o
70ml de álcool 96 GL.
Instrumentos de dissecação: os coletores devem ter estojo
contendo tesoura grande com ponta fina e romba, tesouras pe-
quenas de ponta fina, pinças de diversos tipos e tamanhos, bis-
turis e lâminas descartáveis de formas e tamanhos variados, e
alicates para cortar ossos ou estruturas duras (pois essa atividade
110 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
danifica o corte dos instrumentos mais delicados). Alfinetes e
bastões de aço finos de ponta romba (até 1 mm de diâmetro)
para auxiliar a everção de hemipênis são úteis.
Consultar VANZOLINI & PAPAVERO (1967), CARAMASCHI
(1987) e SCROOCHI & KRETZSCHMAR (1996) para mais detalhes.

MATERIAL DE GABINETE

Caderno de Campo: nele anotam-se as informações sobre a


expedição, tais como o itinerário detalhado, nome, qualificação
e endereço dos membros da equipe, o nome, endereço e funções
dos principais contatos da região, as atividades diárias, localiza-
ção exata dos pontos de coleta e descrições da fisionomia topo-
gráfica e da vegetação, descrições e comentários sobre as
metodologias de coleta utilizadas, além de outros fatos relevan-
tes, que podem ter interferido na coleta. Recomenda-se que os
dados referentes a cada exemplar, como número de campo, iden-
tificação provisória e a transcrição do caderno de notas ou do
gravador, sejam passadas a um caderno de tombo próprio. A cri-
tério do coordenador, estes dados podem estar no caderno de
campo, prescindindo do caderno de tombo. Ver VANZOLINI &
PAPAVERO (1967), MARTINS (1983), CARAMASCHI (1987) e
SCROOCHI & KRETZSCHMAR (1996) para mais detalhes.
Caderno de Tombo ou Catálogo de Tombo: este caderno é a
lista de cada exemplar ou lote, numerado, identificado proviso-
riamente no nível taxonômico possível, com todos os dados refe-
rentes a cada um, oriundos do caderno de notas e rótulos de
campo. Deste modo, deve conter as informações sobre cada saí-
da, local preciso (país, estado, município, localidade, tais como
vila, sítio, fazenda, rio, etc., com coordenadas geográficas),
coletores, data, hora de início e término das atividades, observa-
ções da morfologia, estado fisiológico ou de saúde (fase do de-
senvolvimento, sexo, prenhez, conteúdos alimentares, doenças,
cicatrizes ou parasitas aparentes). Deve-se dar atenção aos da-
dos que podem ser perdidos com a fixação ou preservação do
exemplar, tais como padrões de desenho e colorido. Alguns dados
referentes aos ambientes e condições atmosféricas, comuns a to-
dos ou parte dos animais de cada saída a campo, podem estar no
caderno de campo, com chamadas para o caderno de tombo. Ver
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 111
VANZOLINI & PAPAVERO (1967), MARTINS (1983), CARAMASCHI
(1987) e SCROOCHI & KRETZSCHMAR (1996) para mais informa-
ções.
Mapas: com bom detalhamento, auxiliam na visualização da
área trabalhada e o planejamento das coletas. Mapas de relevo e
vegetação são de grande utilidade.
Canetas de retroprojetor: escrevem em plástico e vidro, e se
de boa qualidade, resistem ao álcool.
Rotulador tipo rotex e fitas coloridas: permitem a confec-

Répteis
ção de números de campo duráveis. Devem ser feitos com ante-
cedência à saída e levados à área de trabalho. Mesmo assim, é
importante que se tenha em mãos o rotulador e fitas para suprir
a insuficiência ou para substituir números errados e extravia-
dos. Aconselha-se o uso de apenas uma cor para cada coleta e a
elaboração de um código precedente a cada número, do tipo XX
000. Isso permite, no futuro, o imediato reconhecimento do ma-
terial nas coleções onde forem incorporados. Esse código e cor
da fita devem ser anotados nos cadernos de Campo e Tombo.
Uma alternativa ao rotulador, preferida por vários zoólogos, é o
cadarço numerado com tinta indelével. O número de campo deve
ser atado ao animal usando-se linha forte (sugestão: URSO Extra
Forte No. 0 ou 00).

DROGAS, FIXADORES E CONSERVANTES

Água oxigenada ou peróxido de hidrogênio (H2O2) deve ser


usada, com cautela, para clarear ossos que serão conservados a
seco. A concentração sugerida é 10% ou 20%. Mantenha o osso
submerso, de poucos segundos a um ou dois minutos, dependendo
do tamanho da peça, lavando-a em água corrente. Se se desejar
manter o esqueleto articulado (esqueleto ligamentário), não use
água oxigenada ou use com cuidado, pois, favorece o
desmembramento do material.
Água sanitária (hipoclorito de sódio): facilita o descarne e
limpeza de crânios e outros ossos, porém seu uso demasiado fa-
vorece a degradação das peças. Deste modo, aconselha-se a
imersão do osso por pouco tempo (não mais que um minuto) e,
logo em seguida, lavá-lo em álcool etílico 70%, como citado por
SCROOCHI & KRETZSCHMAR (1996).
Álcool etílico: é encontrado em supermercados e farmácias em
112 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
concentrações de 96oGL. Na graduação 70%, é a substância mais
usada para conservação em meio líquido. Deixe para comprá-lo
próximo do alojamento, evitando o transporte de peso e volume
excessivos. Consulte o item “Conservação” e material de laborató-
rio “alcoômetro”, para detalhes.
Anestésicos são importantes no trabalho com répteis, quer
em laboratório ou em campo. Grandes doses de anestésicos con-
duzem a uma morte calma minimizando o sofrimento do animal
(ver item “Morte” para maiores detalhes). As duas categorias de
anestésicos utilizados em répteis são os inalantes e os injetáveis.
Alguns anestésicos são mais comumente usados para répteis como
é o caso do éter, halotano (inalantes) e da Ketamina 50mg/ml
(injetável). GREEN (1979) sugere dosagens entre 60 e 80mg/kg para
anestesiar quelônios, e dosagens acima de 100mg/kg para matá-
los. Sendo os quelônios animais muito resistentes, é recomendável
uma dosagem em torno de 150mg/kg para garantir a letalidade.
Para os demais répteis, não se deve usar menos de 100mg/kg. Para
obter mais informações, consulte COOPER et al. (1989).
Formol (ou Formalina) 10%: é o fixador mais utilizado. Para
preparação e concentrações consultar o capítulo Peixes, no item
Fixação daquele capítulo.

AGRADECIMENTOS
Nossos agradecimentos ao Prof. Dr. Carlos Jared do Laborató-
rio de Biologia Celular do Instituto Butantan pela redação do tex-
to sobre “Equipamento fotográfico”. A Hebert Ferrarezzi MSc. do
Laboratório de Herpetologia do Instituto Butantan e a Gustavo S.
Skuk do Instituto de Biociências da USP pela leitura do manuscrito.

LITERATURA CITADA E RECOMENDADA


BLOMBERG, S. & SHINE, R. 1996. Reptiles. p. 218-226. In.
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Répteis
116 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

MONTAGEM DE RÉPTEIS PARA


EXPOSIÇÃO DIDÁTICA
Paulo Auricchio

Os répteis constituem um conjunto de animais divididos em 3 gru-


pos principais: os lagartos e as serpentes, também conhecidas como
cobras, os quelônios e os jacarés. Para fins didáticos, normalmente se
usa produzir réplicas em resina finamente pintados que dão, assim
como para os peixes e anfíbios, um resultado impressionante. Estes
métodos nem sempre são possíveis de serem aplicados ou não são os
preferidos, pois pode-se optar pela “coisa real”. Abaixo serão descri-
tos alguns métodos simples de preparação.

MONTAGEM DE UM QUELÔNIO

As tartarugas (marinhas), cágados (água doce) e jabutis (ter-


restres) fazem parte do grupo dos quelônios. Por possuirem cas-
co rígido que é composto por uma especialização das costelas,
estes animais são um pouco difíceis de preparar. Para compensar
isto, o resultado quase sempre é muito bom.

1.Quando começar a taxidermia de um quelônio, você deve


analisá-lo para definir onde serão feitos os cortes. Os tracajás
podem ser cortados preferencialmente como na figura 7A. Jabutís,
por possuirem pele mais rígida, podem ser abertos como na figu-

Figura 7: Possibilidades para início da retirada da pele (Desenho: P.


Auricchio, modificado de MORGANTE, 1970).
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 117
ras 7B ou 7C. Na verdade qualquer das possibilidades tem seus
problemas. Se utilizarmos o método A teremos muito trabalho
para costurar a dura pele (lembre-se de deixar espaço na pele
para a costura). Se utilizarmos os outros, apesar de não termos
tanto trabalho com a costura, teremos trabalho para cortar o
plastrão.
2. O corte no plastrão pode ser feito com uma serra de arco,
daquelas para serrar ferro, com uma lâmina a mais fina possí-
vel, de maneira reta, num local previamente furado com uma

Répteis
furadeira elétrica.
3. Depois de cortado no local escolhido, devem ser retiradas as
vísceras e a musculatura. As cinturas escapular e pélvica poderão
ser retiradas com o auxílio de um formão e um martelo. O pescoço
e a cauda também serão separados do casco desta forma.
4. Sempre será necessário procedermos cortes nas patas, como
mostra a figura 7, pois é impossível virar a pele do avesso. Por
estes cortes será possível retirar os membros.
5. O pescoço poderá ser retirado pela parte interna, sendo que
o crânio permanece na pele. Toda a musculatura deve ser retira-
da e uma cureta será um instrumento muito bom para isto.
6. Depois de tudo retirado, notamos que existe uma membra-
na resistente cobrindo internamente todo o casco e plastrão. Esta
deve ser retirada totalmente. Desta forma teremos o exemplar
limpo. Se necessário, lavar o exemplar por dentro com um jato
d’água.
7. Deve-se então secar bem por dentro e por fora com um pano
absorvente. O Bórax (Borato de Sódio cristalino) em pó deve ser
passado abundantemente por toda a superfície interna.
8. Os olhos podem ser fixados como para qualquer outro animal
com massa de biscuit, papel-maché ou massa para fixar vidros.

Figura 8. Formas de montar os arames de sustentação


interna.(Desenho: P. Auricchio).
118 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
9. Uma armação de arame deve ser feita para unir os membros,
cabeça e cauda, com amarrações como mostra a figura 8.
10. Ao redor dos arames que serão pernas e pescoço deve-se
enrolar algodão ou fibra sintética até que fiquem com a espessu-
ra ideal.

Figura 9. Os arames de sustentação já na posição (Desenho: P. Auricchio, modifi-


cado de MORGANTE, 1970).

11. A armação deve ser fixada nos membros perfurando-se a


planta dos pés e na cabeça (Figura 9), perfurando-se o topo. Deve-
se preencher o espaço restante e depois proceder a costura. No
pescoço é importante passar uma camada de massa biscuit ou
papel-maché para a modelagem, dando um aspecto rugoso no
acabamento. Se estes materiais não estiverem disponíveis, pode-
se utilizar argila ou massa de fixar vidros.
12. A armação de arames fica solta no corpo o que pode cau-
sar uma instabilidade na preparação. Algum enchimento deve
ser providenciado. Espuma de poliuretano é o ideal pois preen-
cherá todo o espaço sem somar peso, porém é cara e razoavel-
mente difícil de se encontrar. Pode-se utilizar qualquer tipo de
enchimento: algodão, fibras, papel jornal, dentre outros.
13. Todos os cortes devem então ser costurados e o plastrão
colado com cola instantânea e depois restaurado com massa de
biscuit ou outro tipo de calafetador.
14. Normalmente nenhuma pintura é necessária. Se for um
tracajá ou cágado, ou ainda uma tartaruga marinha, é possível
aplicarmos uma demão de verniz transparente brilhante para dar
aspecto de molhado. Se não for animal marinho, não utilize verniz.
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 119
MONTAGEM DIDÁTICA DE LAGARTOS

Lagartos e cobras são fáceis de preparar, mas difíceis de se


obter um bom resultado. Como não possuem pelos e penas para
“esconder” os possíveis defeitos e rugosidades, os resultados nem
sempre são os desejados.
Para preparar lagartos, todos os passos utilizados para ma-
míferos de 1 a 10 com excessão feita ao corte inicial, à remoção
da cauda e a permanência do crânio.

Répteis
O corte inicial deve ser feito como nas figuras 10, A e B.

Figura 10. Cortes principais em lagartos (Desenho: P. Auricchio, modificado


de MORGANTE, 1970).

Deve-se observar que nas patas é necessário um pequeno corte


na parte ventral para facilitar a retirada da pele. Assim como nos
mamíferos, não é necessário deixar os ossos dos membros, porém
é aconselhável para facilitar o posicionamento do exemplar.
A cauda não sai evertida como em mamíferos. Deve-se proce-
der também um corte.

Figura 11. Armação de arame como deve ficar no exemplar (Desenho: P.


Auricchio, redesenhado de MORGANTE, 1970).
120 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
Na pele vazia ficará somente o crânio devidamente limpo e
com bórax em pó.
A montagem final se faz como para tartarugas com a diferen-
ça que o preenchimento pode ser feito com palha, algodão, es-
cultura em isopor (como feito para peixes) ou com uma mistura
de serragem fina e parafina ralada. Esta mistura dá a possibili-
dade da pele ser modelada, mas dificulta fazer detalhes como
dobras de pele, comuns em lagartos. A Massa de biscuit dará um
excelente preenchimento aos pequenos exemplares e um bom ma-
terial de colagem da pele para animais maiores.
Se decidir por fazer um manequim para “vestir a pele” deve
utilizar técnicas iguais para preparação de peixes e, para isto,
leia o Capítulo 2 e o final deste capítulo.

MONTAGEM DIDÁTICA DE SERPENTES


Antes de começar a retirar a pele, deve-se decidir se a cobra
ficará com a boca aberta ou fechada e se o preenchimento será
feito de manequim de poliuretano ou de serragem. Ambos os
métodos serão descritos.
Lembrar que no caso de cobras é possivel fazer a taxidermia e
o esqueleto do mesmo exemplar. Se a opção for boca aberta, o
crânio deve permanecer, se for de boca fechada e preenchimento
de serragem, faça um molde da cabeça:
1. Procure um recipiente plástico onde caiba a cabeça da co-
bra folgadamente (Um copo descartável é ideal).
2. Limpe a cabeça da cobra de qualquer mucosidade ou sujeira.
3. Coloque a cabeça da cobra no copo e com Alginato (utiliza-
do por dentistas para modelar arcadas dentárias) preparado
despeje ao redor da cabeça e certifique-se que a cabeça está no
meio do copo, totalmente envolvida pelo alginato (este material
seca rapidamente).
4. Assim que estiver branco, o alginato está pronto. Para reti-
rar a cabeça, puxe com cuidado. Se não for possível, retire a for-
ma de alginato do copo e faça um corte longitudinal ao lado da
cabeça. Retire a cabeça da forma.
5. Coloque de novo a forma de alginato dentro do copo e der-
rame parafina derretida no molde. Coloque um arame dentro da
parafina na nova cabeça, com uma sobra de 1 ou 2 palmos para
fixar a cabeça no resto do corpo.
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 121
O resultado é muito bom e depois é só colar a pele sobre o
modelo.
RETIRANDO A PELE:
As peles de cobras podem ser retiradas da mesma forma que
as de lagartos. A diferença é que o corte deve ser feito no meio do
corpo, na região de seu maior diâmetro. Este corte deve ter, no
máximo, duas vezes o maior diâmetro da cobra (Figura 12).

Répteis
Figura 12. Pequeno corte para tirar a pele de ofídeos (Desenho: P. Auricchio,
modificado de MORGANTE, 1970).

Há quem prefira retirar a pele pela boca, porém esta prática


pode danificar ou esticar demais a pele, dificultando a montagem.
A pele deve ser afastada e o corpo cortado, separando duas
metades (figura 13).

Figura 13. Corte e início da retirada do corpo (Desenho: P. Auricchio, modifi-


cado de MORGANTE, 1970).

Desta forma pode-se everter ambas as partes até suas extre-


midades. Devido a facilidade de dilatação da pele, é importante
que, neste método, a parte interna não seja raspada. Deixe ficar
um pouco de musculatura. Quando seca, esta dará uma firmesa
maior ao exemplar e, se devidamente envenenada, não haverá
problema de decomposição.

PREENCHIMENTO COM SERRAGEM:


Deve-se preparar uma mistura de 50% serragem e 50% de pa-
rafina ralada, que será colocada no exemplar pelo corte.
1. Colocar os olhos já na cabeça de parafina.
122 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
2. Com a pele toda polvilhada de bórax, coloca-se a cópia da
cabeça na pele, colando-a. Não deixar de costurar a boca.
3. Um arame deve ser fixado no arame que sai da cabeça de
parafina. Deve ter o comprimento da cobra. Ele será a “coluna
vertebral” do exemplar.
4. Com a cabeça e o arame no lugar, e o auxílio de um funil de
papel, colocamos aos poucos a mistura, sem socar, e dando for-
ma do corpo.
5. Estando completamente preenchida, pode-se coser o corte.
6. Deve-se agora colocar o exemplar em sua posição definitiva
e, para isto utilizar toda a capacidade artística e observação de
livros.

Este processo dá resultados mas é muito mais trabalhoso do


que possa parecer à primeira vista. A pele se estica com facilida-
de inviabilizando, às vezes, o sucesso.

PREENCHIMENTO COM MANEQUIM:

A maneira mais correta de preencher uma serpente, por sua


facilidade e resultado, é a preparação do manequim em espuma
de poliuretano, já na posição em que irá ficar quando pronta. A
pele então será colada sobre o manequim.
Podemos para isto utilizar argila ou outra massa disponível.
1. Coloca-se a cobra na posição em que irá ficar.
2. Cobre-se toda a cobra com a argila de forma que toda a su-
perfície dela esteja em contato com a argila, formando um molde.
3. Vira-se o bloco e retira-se a cobra com cuidado de não es-
tragar o molde de argila. Forma-se então uma canaleta, resulta-
do da retirada da cobra.
4. Coloca-se, modelando, um arame de espessura suficiente
para servir de suporte à espuma.
5. Prepara-se a espuma e despeja-se na canaleta e dando-se
tempo de secar.
6. Retira-se a argila, desmontando-se o bloco, tomando cui-
dado de não quebrar o manequim
7. O manequim deve passar por um acabamento nas partes
onde a espuma estravasou.
8. Coloque os olhos no lugar correto e vista o manequim com a
RÉPTEIS - F. L. Franco, M. G. Salomão & P. Auricchio 123
pele, cuidadosamente. A pele, neste tipo de preparação, deve ser
limpa totalmente da musculatura, diferente do método anterior.
Polvilhe bórax.
9. Cole a pele com cola branca (Acetato de Vinila).
10. Costure o corte e costure e cole a boca na posição.
11. Limpe a pele com um pincel e água. Coloque para secar na
sombra para que seque vagarosamente. Se secar rápido, as esca-
mas enrugarão.
Se a boca ficar aberta, mesmo com este método, você poderá

Répteis
modelar seu interior com parafina ou massa de biscuit. Este mé-
todo dá melhores resultados do que o anterior.

BIBLIOGRAFIA

MORGANTE, C. 1970. Taxidermia. Hobby. Argentina. 180p.


124 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
4
AVES - P. Auricchio 125

Aves
Aves
126 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Instituto Pau Brasil de História Natural


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AVES - P. Auricchio 127

Aves
Paulo Auricchio

A COLETA DE ESPÉCIMES

Este é um ponto muito delicado para o pesquisador. Muitos


detalhes devem ser pensados sobre a coleta de espécimes. Um
deles, e um dos mais importantes, é relativo à legislação que

Aves
varia consideravelmente de um país para o outro.
A licença de coleta é obtida diretamente do governo, no caso
do Brasil, o IBAMA, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis. Esta licença deve incluir limites
como o número de espécimes ou proibições de coleta de algumas
espécies. Por isto é imprescindível citar na solicitação as espécies
que se intenciona coletar.
Outro cuidado é com relação à licença de porte de arma e o
certificado da mesma. Se a arma pertence a alguma instituição
devemos ter uma carta do responsável cedendo a arma para evi-
tar algum problema com a polícia.
Uma permissão de coleta obtida do proprietário da área a ser
estudada é outro cuidado imprescindível.
Para exportar os espécimes é necessária uma licença diferente
daquela para coletar. A permissão para coletar não implica que
o material possa ser exportado ou transportado. No Brasil, é ne-
cessário solicitar ao IBAMA uma guia de transporte tanto para
animais vivos quanto para mortos.
Programe-se. Estes papéis podem demorar até alguns meses
para serem conseguidos, e devem ser solicitados de maneira dife-
renciada no caso de pesquisadores estrangeiros. Para mais deta-
lhes sobre critérios e amostragens, consulte os capítulos de Anfí-
bios e Répteis.
128 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
EQUIPAMENTO

O material listado a seguir é o equipamento básico para coletar


pássaros no campo. É semelhante ao utilizado para mamíferos e
por isso as observações utilizadas naquele capítulo podem ser
utilizadas para aves:

· Óculos de Proteção;
· Binóculo;
· Arma: as mesmas instruções feitas para mamíferos podem
ser aplicadas aqui;
· Munição: (ídem para mamíferos);
· Saco de pano;
· Livro de notas;
· Etiquetas;
· Lápis com apontador;
· Caneta a prova d’água;
· Algodão;
· Garrafa plástica contendo material preservativo;
· Fécula de batata ou araruta. São ingredientes culinários que
tem grande capacidade de absorção;
· Papel para confecção de cones;
· Álcool;
· Seringa e agulhas hipodérmicas;
· Câmera fotográfica;
· Apitos e gravador portátil;
· Armadilhas e redes.

Aves podem ser capturadas em armadilhas ou redes como al-


ternativas ao tiro. Com o advento do anilhamento de aves mi-
gratórias para estudos, vários tipos de armadilhas têm sido uti-
lizadas. Em geral, a armadilha é somente útil como um método
de coleta se o coletor vai ficar num mesmo lugar por período
mais longo.
Em algumas áreas os moradores locais terão seus próprios
métodos de coleta, que podem ser utilizadas pelo coletor.
Iscas narcotizadas estão sendo utilizadas pelas autoridades
de algumas partes do mundo, para controle de espécies conside-
radas pragas. Algumas deixam o animal inconsciente por um
período e, já que os narcóticos variam de acordo com a espécie e
AVES - P. Auricchio 129
tamanho, eles devem ser usados com cautela para agir somente
sobre as espécies desejadas.
A Rede de Neblina é a forma mais conveniente de capturar
aves e morcegos no campo. São finas redes erguidas verticalmente
por hastes de bambu no nível do chão ou por estruturas suspensas
até a copa das árvores. Elas têm a vantagem de não danificar o
espécime coletado ao contrário do tiro, e ainda permite uma
seleção dos espécimes para que alguns possam ser desenvolvi-
dos ao ambiente. Porém, tem a desvantagem de demandar tem-
po para a montagem e desmontagem, e muito cuidado deve ser
tomado com o seu manuseio para que as folhas e insetos não se
enrolem na rede danificando-a.
A rede não deve ser colocada muito esticada. A posição de suas
linhas de sustentação deve permitir que a rede forme um “saco”
como mostra a Figura 1. Se a rede for montada muito esticada,

Aves
as aves batem e voltam, sem se enrolarem.

Figura 1. Rede de Neblina ou “mistnet” instalada.

Algumas aves raramente caem na rede. Conseguem percebê-


la e desviam. Alguns pequenos beija-flores vão de encontro à
rede, param abruptamente, dão a volta e vão embora.
A remoção de aves da rede requer um certo grau de prática e
se há interesse em preparar o animal, é melhor matá-lo antes da
retirada (ver adiante).
Atualmente estão sendo muito utilizadas gravações de can-
tos de aves para atração. Este método possui muitas vantagens
sobre os tradicionais quando se quer atrair uma espécie em par-
ticular. Se a espécie está na área, ela logo vem ao encontro da
“chama eletrônica” facilitando a captura e economizando tempo
de coleta. A fita com cantos pode ser adquirida de outros pesqui-
130 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
sadores ou até mesmo comprada no comércio. É também inte-
ressante lembrar que o canto pode ser gravado no mesmo local,
do exemplar que se pretende coletar, bastando voltar a fita.

MATANDO AVES

Um pássaro coletado deve ser morto tão logo quanto possível tan-
to por razões humanitárias como para prevenir algum dano a ele.
Em nenhuma circunstância deve ser atingido na cabeça ou ter
o pescoço destroncado, já que esses procedimentos causam
sangramentos e hemorragia, complicando a preparação.
Uma técnica eficiente e rápida é a compressão do tórax que
retarda a respiração e o batimento cardíaco, resultando em morte
em poucos segundos. Os lados do corpo, nas áreas bem abaixo
dos ombros, devem ser comprimidos combinando-se com uma
pressão na traquéia. Uma pressão no esterno ou em ambos lados
do corpo tem um resultado semelhante. Pequenas aves podem
ser mortas dessa maneira facilmente mas, para aves maiores é
necessário segurá-las no chão ou ajoelhar-se sobre elas.
Qualquer que seja o método utilizado, deve-se logo obliterar
narinas, garganta e cloaca com um pouco de algodão. Isto evita
sangramento pelo bico e cloaca.
Algumas aves como martin-pescadores, são extremamente di-
fíceis de matar por pressão. Estes podem ser mortos rapidamen-
te por injeção de uma substância como a ketamina (Ketalar ou
Rumpum), anestésicos utilizados por veterinários. São
pentobarbitúricos (HARRISON & COWLES, 1970).
Álcool ou formol também podem ser utilizados e funcionam
instantaneamente se injetados na base do crânio ou, preferenci-
almente dentro do foramen magnum.
Anestésicos como clorofórmio e éter podem também ser utili-
zados. Coloca-se o animal num saco plástico, preferencialmente
preto para que a ave não se debata, com um chumaço de algo-
dão embebido em uma destas substâncias. Normalmente os ani-
mais demoram muito para morrer, sem contar que é difícil levar
clorofórmio para o campo.
Para transportar as aves numa coleta de 2 ou 3 dias de dura-
ção, não vale a pena dispensar tempo para prepará-las em cam-
po. Para evitar a decomposição, é interessante injetar uma quan-
AVES - P. Auricchio 131
tidade de álcool comercial no ventre do exemplar. A quantidade
varia de acordo com o tamanho do espécime. Para um pardal,
0,5 ou 1cm3 de álcool é suficiente. Para animais como um socó
(Nicticorax) uns 5 cm3 devem bastar para retardar o início da
decomposição. É importante obliterar os orifícios corpóreos
antes da injeção.

PREPARAÇÃO DE PELES DE AVES


PARA ESTUDOS TAXONÔMICOS

Um espécime ornitológico de museu consiste usualmente de


uma pele cheia. Atualmente tem-se dado atenção à coleções
osteológicas, de esqueletos completos ou parciais. Ainda, pode-
mos encontrar espécimes inteiros ou incompletos preservados
em líquido. As instruções seguintes darão condições para prepa-

Aves
ração de espécimes de alta qualidade para o aproveitamento
máximo dos espécimes coletados. É sempre conveniente acompa-
nhar a preparação de um exemplar por alguém experiente.

E QUIPAMENTOS E S UBSTÂNCIAS QUÍMICAS

O material comum de dissecação listado no capítulo de mamí-


feros com algumas modificações são adequados à preparação
de aves. Fécula de batata ou araruta são extremamente interes-
santes no processo, por terem a capacidade de absorção de lí-
quidos sem danificar a pele.

A NTES DA PREPARAÇÃO

Para armazenar espécimes frescos no freezer ou para trans-


porte, faça um cone de papel como na Figura 2 e insira as infor-
mações do espécime. Este cone com a ave e as informações de-
vem ser colocadas num saco plástico para que se evite molhar as
penas e/ou desidratar excessivamente, e ser então congelados.
Se o espécime estiver congelado, deixe-o descongelar durante
algum tempo. O tempo necessário varia de acordo com o tama-
nho do espécime e a temperatura local. Não coloque o espécime
sob o sol. Isto fará com que algumas partes descongelem antes
de outras, permitindo que estas comecem a decompor, soltando
132 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Figura 2. Cone para armazenagem de aves antes da preparação.

penas e estragando-o. A luz tem também grande capacidade de


degeneração de pigmentos, podendo descolorir o exemplar.

ANOTAÇÕES RELATIVAS À COLORAÇÃO DAS PARTES MOLES

Muitas informações valiosas para taxonomia estão contidas


nas cores das partes moles, íris e outras. Como esse caráter não é
preservado com a preparação das peles, é necessário que seja
anotado ainda em campo, preferencialmente antes mesmo de um
eventual congelamento.
Anotar cor da íris, cor das patas, carúnculas ao redor do
bico, pele visível de qualquer parte do corpo. Fotografias podem
ser muitos úteis para registrar cores “in vivo”.

COLETA DE ECTOPARASITAS

Aves devem ser examinadas para coleta de dípteros,


carrapatos, piolhos e outros ectoparasitas. A preservação
dos espécimes coletados é feita fixando-se os exemplares
em formol 10% e posterior conservação em álcool 70% em
frascos de vidro, onde devem ser colocados rótulos cons-
tando espécie, número do espécime, local onde foram
coletados, local da coleta do hospedeiro (sob a asa, no
peritônio, etc.), data e outros dados pertinentes para iden-
tificação mais precisa. Tendo sido identificados, os dados
devem ser imediatamente incluídos no catálogo de aves, jun-
tamente com as informações da ave hospedeira.
AVES - P. Auricchio 133
MEDIDAS

O processo de preparação e preenchimento da pele modifica


proporções do exemplar. Por esta razão é necessário que as medi-
das sejam tomadas antes do início da retirada da pele, já que
estas são importantes para identificação. Esta é uma etapa ex-
tremamente importante do processo.

T OMANDO DIMENSÕES DO EXEMPLAR

Peso, comprimento total, comprimento da asa, comprimento


da cauda, comprimento do bico e tarso são medidas que devem
ser tomadas para todos os exemplares, sempre em milímetros e
sempre na ordem dada acima.
Para facilitar as medidas, coloque o animal deitado sobre

Aves
a mesa, de barriga para cima e alinhe a cabeça e a cauda com a
coluna vertebral (não estique o animal).

Comprimento total: Da ponta do bico até a ponta da cauda


(Figura 3).

Figura 3. Posição tomada do comprimento total.

Cauda: Da ponta das penas da cauda até a ponta do pigóstilo


(Figura 4).

Figura 4. Comprimento da cauda.


134 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Asa: Do punho até a ponta da rêmige mais longa. (Figura 5)

Figura 5. Comprimento da asa.

Bico: Esta medida pode ser tomada de duas maneiras:


Da base do bico no crânio até a ponta do bico em linha reta
(Figura 6A). Da base do bico no crânio até a ponta, porém em
linha curva passando pelo cúlmen (Fig. 6B).

A B

Figura 6. Medidas para bicos. A - Bico; B - Cúlmen.

Ainda, para estas duas medidas, podem ser consideradas as


medidas “com cera ou sem cera”, aquela que reveste a base do
bico de algumas aves. Anote qual tipo de medida foi tomada no
rótulo e na caderneta de campo.

Tarso: Da base do tarso-metatarso até o início dos artelhos


(Figura 7)

Figura 7. Medida para tarso.


AVES - P. Auricchio 135
Envergadura: Algumas vezes é possível encontrarmos a me-
dida da envergadura que vai de uma ponta da asa à outra sem
esticar o animal.

Anote cuidadosamente as medidas no catálogo ou caderneta,


com a certeza de que estejam na ordem apropriada. Você pode
utilizar abreviações para evitar confusões, porém, como a
seqüência é universal, esta não se faz necessária. Uma seqüência
de medidas pode assim ser representada:

110-90-80-12-25 = 45g

Note que aparece no final, a massa em gramas (em kg para


uma ave muito grande). A massa deve ser tomada com o animal
fresco, porém se isto não foi possível, tome o peso do animal de-

Aves
pois de congelado e anote o tempo de congelamento juntamente
na etiqueta. Para um pequeno animal, a massa pode variar
grandemente depois do congelamento. Este aparece precedido
de três barras horizontais.

REMOÇÃO DA PELE

Diferentemente dos mamíferos, aves são invariavelmente


preparadas como peles-cheias (round-skins).

Passos:
1. Desde que parasitas tenham sido coletados, cores de par-
tes moles anotadas e tomadas as medidas, coloque o animal
sobre uma mesa forrada com várias folhas de jornal. Confor-
me o procedimento esteja em andamento, você pode retirar a
folha de cima para manter limpo o local da dissecação. Intro-
duza uma linha pelos orifícios nasais para facilitar o fim da
operação (ver abaixo).
2. A incisão inicial é feita no abdomen conforme a Figura 8,
uma incisão longitudinal na região ventral. Este corte deve es-
tender-se desde a cloaca até perto do esterno, sendo de tama-
nho suficiente para que o corpo passe sem dificuldade, porém
também deve ser o menor possível. É possível retirar a pele por
um corte ao lado do corpo, sob a asa e também pelo dorso.
136 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Figura 8. Região mais utilizada para incisão inicial.

3. Separe a pele aos lados da incisão ao máximo, até que os


joelhos apareçam. Impeça que líquidos corpóreos extravasem.
Desarticule o joelho e remova toda a musculatura da perna até o
calcanhar (Figura 9).

Figura 9. Corte do joelho.

4. Estando as duas pernas livres, corte através do reto e


ductos urogenitais. Cuidado com fluidos corpóreos (Figura 10).

Figura 10. Corte da cloaca.


AVES - P. Auricchio 137
5. O próximo passo é a separação da pele do corpo (Figura
11A). Para isto utilize os dedos ou pinça. Algumas pequenas aves
têm a pele muito friável e esta fase deve ser acompanhada com
muito cuidado. Quando as asas começarem a aparecer, proceda
a desarticulação do corpo e limpeza da mesma maneira que as
pernas (Figura 11B).

Aves
A

Figuras 11 A e B. Retirando a pele do corpo e cortando os ombros.

6. Depois das asas livres continue a separação da pele do


pescoço até que ductos dos ouvidos estejam aparentes. Encontre
onde o ducto auditivo entra no crânio. É nesta região, bem perto
do crânio, que o corte deve ser procedido para separar o crânio
da pele (Figura 12). Na maioria das aves esta operação é feita
simplesmente puxando o ducto de dentro do crânio.

Figura 13. Corte especial para reti-


Figura 12. Separando o ouvido. rada do crânio de algumas espécies.
138 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
7. Em algumas aves é necessário um segundo corte para
remoção do crânio (Anseriformes, Picidae e Galináceos). Para
isto proceda como a Figura 13 e continue a separação da pele.
Deixe a carcaça de lado para a seção Análise e Preparação da
carcaça.

8. Quando a cabeça estiver totalmente descoberta, encontre


os olhos e proceda o corte com bisturi ou tesoura bem próximo
ao crânio separando a pele em ambos os olhos (Figura 14). Cui-
dado, os olhos podem romper e deixar extravasar o humor aquo-
so, sujando a preparação.

Figura 14. Retirada dos olhos.

9. A retirada do cérebro é feita abrindo-se uma janela na


parte posterior do crânio (Figura 15A). Procure a membrana dura-
máter, que envolve o cérebro, e prendendo-a com uma pinça puxe-
a até que o cérebro saia (Figura 15B). Cuidado com a sujeira.
Utilize algodão para a limpeza.

Figura 15. A: corte na caixa craniana; B: retirada da parte occipital e lingua.

10. Tendo sido retirado o cérebro e os olhos, e observando-se a


retirada da musculatura, polvilhe abundantemente o crânio e
pele com bórax em pó e coloque uma bolinha de algodão na
órbita ocular com o mesmo volume dos olhos em ambos os lados.
Após isto proceda a volta da pele para o lado direito como na
Figura 15. A linha que foi previamente presa na narina da ave
deve agora ser utilizada para facilitar a tarefa.
AVES - P. Auricchio 139
11. Com o fundo de uma agulha, pelos olhos, arranje a pele
por dentro ajeitando as penas (Figura 16).

Figura 16. Arrumando


os olhos.

12. A musculatura das asas deve ser totalmente retirada como


na Figura 17 A e B. Em aves marinhas e outras que possuem asas
muito longas, esta operação deve ser procedida como na Figura
B, por um corte na parte inferior da asa, porém na maioria, é
necessário somente afastar a pele como na Figura 17A.

Aves
A B

Figura 17. Duas maneiras de remover a musculatura das asas.

13. Estando a pele completamente limpa, proceda o


polvilhamento com bórax com a pele virada ao avesso. O pó de
Bórax deve ser passado por toda a superfície interna de maneira
abundante. Todos os pontos da pele devem ficar cobertos de Bórax.
Este acelera o processo de secagem e diminui a possibilidade de
ataque de insetos.

14. Construa um pequeno manequim de algodão enrolado em


uma vareta com dimensões semelhantes as do animal como na
Figura 18.
140 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Figura 18. Manequim para aves.

15. Para que o acabamento do exemplar fique perfeito, pren-


da as duas pterilas dorsais das asas de forma que fiquem próxi-
mas como no exemplar vivo (Figura 19).

Figura 19. Local de costura das pterilas dorsais.

16. Para exemplares grandes, os tendões das patas devem ser


retirados pela planta do pé, conforme a Figura 20.

Figura 20. Extração dos tendões dos pés.

17. Vista a pele no boneco cuidando para que a ponta do pali-


to fique bem encaixada na base do bico. Feche a incisão inicial
com agulha e linha comuns cuidando para que porções de algo-
dão ou penas não sejam costuradas juntamente. Um melhor
AVES - P. Auricchio 141
acabamento é conseguido costurando-se da região da cloaca
para o peito e os pontos dados do lado de dentro da pele para
fora (Figura 21).

Figura 21. Costura do corte principal.

18. Arranje as asas e penas do exemplar e coloque-o de barri-

Aves
ga para cima. Manuseie o exemplar para que fique simétrico e
procure dar um formato adequado às suas asas e cauda que pre-
ferencialmente deve permanecer pouco aberta. Quando o exem-
plar estiver bem arrumado, coloque-o num tubo de papel como o
da Figura 22, para fixação das penas e asas. Isto também pode
ser feito com algodão. Cuide para que o bico fique bem fechado e
a um ângulo de 45º da linha das costas, para isto, ele pode ser
amarrado com linha através de suas narinas.

Figura 22. Tubo de papel e espécime rotulado, pronto para secagem.


19. De maneira geral as aves são preparadas como a Figura
22, porém algumas com crista são colocadas com o pescoço
virado para o lado (Figura 23B), ou dobrado para o lado do
corpo (Figura 23A e E), no caso de pescoços muito compridos.
Corujas (Figura 23C), não devem ficar com bico a 45º, mas sim a
90º. A posição dos espécimes deverá seguir um padrão definido
para a coleção.
142 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Figura 23. Posições especiais para aves (modificado de HARRISON &


COWLES, 1970).

20. Preencha o rótulo com caneta de tinta permanente imedi-


atamente e amarre-a no tornozelo do pé direito, como é conven-
cional, evitando assim troca de informações.

Algumas aves como corujas, possuem anéis escleróticos que


não devem ser retirados, especialmente se o exemplar se destina
a ser montado. Todos os tecidos moles e o humor aquoso devem
ser retirados sem movimentar os anéis escleoróticos.

ANÁLISE E PREPARAÇÃO DA CARCAÇA

CONDIÇÃO REPRODUTIVA

O sexo de aves normalmente é fácil de identificar através de


observação externa, graças à existência de dimorfismo sexual,
dada pela coloração da plumagem. Em algumas espécies, no
entanto, é necessário proceder à observação das gônadas na
cavidade abdominal (Figuras 24A e B).
AVES - P. Auricchio 143
Nem sempre é possível identificar o sexo, mesmo observando-
se internamente. Os líquidos corpóreos, o local onde o projétil
tenha atingido, um início de decomposição e outros problemas
podem impossibilitar a observação das gônadas. Se não foi pos-
sível a identificação do sexo, utilize ponto de interrogação na
caderneta ou livro de tombo para evitar possíveis enganos.

Aves
Figura 24. Órgãos reprodutivos em aves: macho e fêmea. (extraido de
HARRISON & COWLES, 1970).

Outras condições sexuais tais como dimensões dos testículos


(comprimento e largura do direito e do esquerdo) devem ser
anotadas na referida caderneta.
Depois de preparada a pele, proceda à análise do conteúdo do
proventrículo e moela do espécime, preservando-o caso exista
algum material de difícil identificação ou de um grupo que ne-
cessite de um especialista para tal finalidade.
Observe a existência de parasitas internos nos pulmões, fíga-
do e outros órgãos, que deverão ser colecionados para futura
identificação ou enviados a especialistas para estudos.
144 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
PREPARAÇÃO DE PELE SHIMU

Esta técnica somente deve ser utilizada para exemplares


extremamente raros em que não se tenha expectativa e facilida-
de de aquisição de novos exemplares, pois é uma técnica extre-
mamente trabalhosa e justifica-se somente para aproveitamen-
to máximo do exemplar. Ela permite que tenhamos em mãos a
pele e o esqueleto completos de um mesmo exemplar.
Os passos de retirada da pele devem seguir a técnica co-
mum, tendo-se em conta que nenhum osso deve ser cortado nes-
ta preparação. Ao redor do bico se faz uma incisão para livrar o
crânio da pele. Os ossos das asas devem ser retirados com uma
incisão como o feito para aves de asas longas.
As pernas devem ser livradas da pele inclusive o tarso-
metatarso (onde a pele é escamosa), podendo ser deixados ou
não os artelhos. Para isto deve-se cortar esta pele até a base dos
artelhos, pela planta dos pés (Figura 25).

Figura 25. Cortes para retirada da pele dos pés.

A pele shimu pronta normalmente não possui bico, porém se


desejarmos podemos copiá-lo com alginato para impressões, que
é barato e fácil de preparar e o molde com resina de poliéster
ortofálica, pintando ou não o novo bico. Preparado, o bico deve
ser cuidadosamente colado na pele.
A partir de então deve-se procurar restaurar com arame e al-
godão as partes ósseas retiradas, e proceder a todos os outros
passos para preparação da pele.
A pele estando pronta, rotulada e posta a secar, pode-se pro-
ceder ao preparo do esqueleto.
AVES - P. Auricchio 145
MONTAGEM DE AVES PARA EXPOSIÇÃO DIDÁTICA

A pele deve ser retirada como para preparação científica, po-


rém tomando-se o cuidado de manter os fêmures articulados ao
restante das pernas e pele.
Os olhos devem ser preparados previamente com a cor e tama-
nho presentes no espécime e colocados nas órbitas com auxílio
de algodão ou argila. Atente
para que estejam posicionados
simetricamente. O envenena-
mento e todas as outras etapas
devem ser seguidos normal-
mente.
Ainda de posse da carcaça,
deve-se esculpir um manequim

Aves
num bloco de isopor nas dimen-
sões da carcaça (Figura 26).
Um arame deve atravessar o
boneco saindo no local do pes-
Figura 26. Manequim para aves.
coço, e para adquirir espessura
conveniente deve ser espessado
com algodão. A outra ponta deve ser curvada e fixa no boneco (Figu-
ra 27).

Figura 27. Maneira de fixar o arame do pescoço no manequim.

Arames devem ser cortados com mais que o dobro do tama-


nho das pernas e uma das pontas afiladas para facilitar sua
introdução na planta do pé, naquele orifício por onde foram
retirados os tendões (Figura 28).
146 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Figura 28. Preparação das pernas.

O arame deverá ser introduzido até que, na planta dos pés, res-
te um segmento suficiente para fixação do exemplar num poleiro.
Do outro lado devemos amarrar o arame firmemente aos os-
sos das pernas e deve sobrar arame suficiente para fixação no
boneco. Isto deve ser feito com ambas as pernas e, se a intenção
é preparar o exemplar de asas abertas, o mesmo procedimento
deve ser feito nas asas (Figura 29).

Figura 29. Preparação das asas.

Com a pele devidamente limpa e “envenenada” (processo que


foi visto anteriormente em preparação de exemplares para séri-
es taxonômicas), pernas e asas com arames posicionados e o bo-
neco preparado, deve-se colocar o boneco dentro da pele na po-
sição correta (Figura 30).
AVES - P. Auricchio 147

Aves
Figura 30. Pele com pernas e asas prontas para receber o manequim.

O arame deve ser introduzido na cabeça de modo que perfure


o topo do crânio.
Antes da costura, deve-se arrumar
previamente todas as penas e as asas
para facilitar o acabamento. Costu-
ra-se e coloca-se o exemplar na base,
escolhendo-se uma posição adequada
à vida do animal em questão, consul-
tando para isto livros e figuras onde
a espécie figure.
Agora os procedimentos finais, a
colocação das penas e asas no lugar,
utilizando-se alfinetes para a fixação
(o que é facilitado pelo corpo de
isopor). O arame que sai da cabeça
facilita o posicionamento desta. Ele
pode agora ser cortado rente ao crâ-
nio (Figura 31).

Figura 31. Posicionamento dos arames na


montagem de um pica-pau.
148 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
COLEÇÃO DE OVOS

Para formação de uma coleção de ovos, os mesmos cuidados


de coleta de informações devem ser tomados.

P REPARO
É necessário esvaziar o ovo da clara e gema. Uma ferramenta
extremamente útil e que economiza tempo é um catéter plástico
flexível, fino o suficiente para ser introduzido no ovo.
1. Um orifício deve ser feito para isto, devendo ser largo o
suficiente para a introdução do catéter e saída da clara e gema.
2. Com a ponta do catéter introduzida, pela outra ponta deve-
mos assoprar para que a pressão interna expulse o líquido. A
pressão não pode ser muito grande para não romper o ovo. Uma
pinça pode ajudar a puxar o material, à medida que a chalaza e
outras membranas vão aparecendo. Pode-se também, introduzir
água pelo mesmo orifício com uma seringa hipodérmica e
solubilizar o conteúdo do ovo.
3. Continuar a operação até que o ovo esteja vazio. Introduza
e retire água várias vezes até que esta saia totalmente limpa.
Então coloque um pouco de formalina 10%, agite e deixe por al-
guns minutos. Deixe secar.
4. Se o tamanho permitir, o ovo pode ganhar inscrições sobre
a própria casca. Escolha o local mais próximo do orifício e escre-
va com caneta nanquim ou lápis, utilizando a menor superfície
possível. Se não, deve-se colocar somente o número de tombo.
Devem ser armazenados com muito cuidado em gavetas subdi-
vididas e forradas com material macio (p. ex. fibras acrílicas).

BIBLIOGRAFIA

HARRISON, C. J. O. & COWLES, G. S. 1970. Birds – Instructions


for collectors no.2A. Trustees of the British Museum Natural
History, no.561. 49p.

METCALF, J. C. 1987. Taxidermy. Ducworth, London. 2nd.


Edition. 166p. ISBN 0-7156-1565-3.
5
MAMÍFEROS - P. Auricchio 149

Mamíferos
Mamíferos
150 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Paulo Auricchio é Biólogo, especialista em Ecologia pela Universidade de


Guarulhos e Mestre e doutorando em Zoologia pelo Departamento de Zoolo-
gia do Instituto de Biociencias da USP. É professor universitário na UMC (Uni-
versidade de Mogi das Cruzes). Foi biólogo do Parque das Hortênsias - Zooló-
gico Municipal de Taboão da Serra. Foi Gerente de Campo do Projeto Mamirauá,
em Tefé, Amazonas. É consultor de criadouros conservacionistas do IBAMA e
empreendimentos de implantação de Usinas Hidrelétricas, para resgate de
fauna. Organizou dois cursos de preparação e curadoria de coleções didáticas
e científicas no Museu Nacional de História Natural de Luanda, Angola e em
diversas instituições brasileiras; além de ministrar cursos e proferir palestras
de Introdução à Primatologia, Biologia Marinha e Diversidade dos Moluscos,
em várias instituições brasileiras. Publicou 24 trabalhos científicos, princi-
palmente em Mastozoologia e o livro Primatas do Brasil. Foi consultor da
revista Ciência Hoje da SBPC e participou de várias expedições de coleta zoo-
lógica na Bahia, Rondônia, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio Grande do Sul,
Goiás, Amazonas e Pará. Atualmente é Diretor Presidente do Instituto Pau
Brasil de História Natural, instituição que trabalha na proteção ambiental e
divulgação das ciências à população.

Instituto Pau Brasil de História Natural


Caixa Postal 282, CEP 07400-970
Arujá - SP – Brasil.
Tel/fax. (011) 46552731
www.institutopaubrasil.org.br
paulo@institutopaubrasil.org.br
MAMÍFEROS - P. Auricchio 151

Mamíferos
Paulo Auricchio

INTRODUÇÃO

O conhecimento sobre mamíferos ainda é bastante incomple-


to e incipiente, mesmo considerando-se que são um dos grupos
melhor estudados do reino animal. Isto se refere principalmente
aos mamíferos de pequeno porte que normalmente tem hábitos
noturnos. Apesar de uma recente descoberta científica de um
bovídeo no Vietnã, existe pouca probabilidade de descobrirmos

Mamíferos
uma nova espécie de um grande mamífero, porém a mastofauna
de pequenos mamíferos, principalmente em florestas tropicais é
mal conhecida e as chances de novas descobertas são grandes.
Podemos citar, somente nos últimos 10 anos para primatas no
Brasil, a descoberta de umas 10 espécies, algumas já descritas e
outras em processo de descrição. Dentre elas, animais de 2 a 3 kg
de peso (1 Cebus e 2 Callicebus).
Assim sendo, continuamente novos espécimes devem ser
coletados em campo para que o conhecimento sobre a diversida-
de seja incrementado.
O objetivo de um coletor varia de uma série de espécimes de
uma dada espécie ou até o produto de uma coleta de todas as
espécies de uma região para um estudo ecológico. Para mais de-
talhes sobre critérios, cuidados e amostragens, consulte os capí-
tulos de anfíbios e de répteis.
A maioria dos mamíferos são coletados por armadilhas, sendo
que poucos precisam ser coletados a tiro.
152 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
EQUIPAMENTO

O material listado a seguir é o equipamento básico para a


coleta de mamíferos em campo:
∗ Óculos de proteção
∗ Binóculos
∗ Arma: A mais utilizada para pequenos animais é a de cali-
bre 22. Ela pode ser usada para pequenos animais a distâncias
pequenas e médias sem danificar o espécime. Para distâncias mai-
ores é necessária a utilização de calibre maior como 36 ou 28. No
Brasil não existem animais de grande porte que necessitem do
uso de calibres maiores. Carregar várias armas para espécimes
de tamanhos diferentes pode significar problemas. Isto pode ser
evitado utilizando-se um redutor. Redutor é um excelente dispo-
sitivo que colocado no lugar do cartucho, permite a utilização de
um calibre menor na mesma arma. Na maioria das vezes, só é
possível conseguir um mandando usiná-lo em um armeiro de con-
fiança.
∗ Munição: muitos caçadores preferem preparar seus própri-
os cartuchos pois escolhem o diâmetro do chumbo a ser utiliza-
do. Este é um procedimento perigoso já que é possível a explosão
da pólvora na hora do preparo;
∗ Sacos de pano: Para acomodar os espécimes coletados que
se pretende soltar depois da análise;
∗ Sacos de plástico transparentes e pretos;
∗ Livro de notas;
∗ Rótulos ou etiquetas: Há pouco tempo para etiquetar os es-
pécimes no campo. Rótulos de plástico são melhores pois podem
ser imediatamente amarrados depois de coletado o espécime;
∗ Lápis com apontador;
∗ Caneta a prova d’água;
∗ Algodão;
∗ Garrafa plástica contendo material preservativo;
∗ Álcool;
∗ Seringa e agulha hipodérmica;
∗ Câmera fotográfica;
∗ Gravador portátil;
∗ Armadilhas e redes, e
∗ Material de primeiros socorros: Via de regra são negligenci-
ados, mas são de extrema importância.
MAMÍFEROS - P. Auricchio 153
TIPOS DE ARMADILHAS

As armadilhas variam consideravelmente em seus modelos, mas


as mais utilizadas no Brasil são as do tipo Tomahawk e as Sherman.
Armadilhas Havahart são menos utilizadas no Brasil.
Armadilhas Havahart e Tomahawk são confeccionadas em grades
de arame galvanizado. As
Havahart possuem abertura em
ambas as extremidades (Figura
1), facilitando a retirada do ani-
mal. São adequadas para ani-
mais maiores como gato-do-
mato, mão-pelada, jeritataca e Figura 1. Armadilha
até um cahorro-do-mato podem Havahart.
cair nesta armadilha.
Armadilhas Sherman (Figura 2)
são feitas em chapas de alumínio
ou galvanizadas, dobráveis ou não,
em vários tamanhos. São extrema-
mente fáceis de armar.

Mamíferos
As armadilhas Longworth (Figu-
ra 3) são mais utilizadas na Améri-
ca do Norte. São de alumínio e são
constituídas de duas partes: um tú-
nel no qual está o mecanismo de fe-
chamento e uma caixa abrigo que
está acoplada na parte traseira do
Figura 2. Armadilha Sherman túnel quando a armadilha está ar-
não desmontável (acima) e mada.
desmontável (abaixo).

A caixa-abrigo tem espaço


suficiente para alimento e,
quando não está em uso, o tú-
nel encaixa-se dentro da caixa-
abrigo, economizando espaço
de armazenagem. Maiores in-
Figura 3. Armadilha
formações sobre a Long-worth
Longworth.
podem ser vistas em GURMELL
& FLOWERDEW (1994).
154 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
Armadilhas do tipo ratoeira doméstica (Figura 4), também
podem ser utilizadas com o inconveniente de esmagar parte do
animal, impossibilitando a utilização do esqueleto ou, às vezes,
do crânio. Existem as de base de metal e as de madeira. As de

Figura 4. Ratoeira doméstica.

base de madeira apodrecem com facilidade. Para evitar isto, um


banho de parafina a impermeabilizará evitando ainda que res-
tos de iscas e outras substâncias fiquem impregnadas afastando
animais nas coletas subseqüentes.
As armadilhas-de-queda, conhecidas como “Pit-fall-traps”, são
uma categoria de armadilhas que captura desde insetos e
aracnídeos até mamíferos terrestres. Consistem de baldes ou la-
tas de boca larga enterrados no chão até a boca. Pode ser so-
mente um buraco feito no chão, porém em alguns terrenos isto
não é possível. O balde ou vasilhame similar evitam que o animal
escale as paredes em fuga.
Várias armadilhas de queda podem ser montadas conjunta-
mente adicionando uma tela plástica como mostra a Figura 2, à
página 84. Mais informações sobre armadilhas de queda podem
ser encontradas nos capítulos de Anfíbios e Répteis.
Assim como para aves e anfíbios, o uso de gravações também
pode ser um sucesso para alguns primatas. As técnicas para este
procedimento podem ser vistas com mais detalhes no capítulo de
Aves.
Para morcegos, as redes de neblina ou “mistnets” são imprescin-
díveis. Devem ser utilizadas como para aves, mas obviamente a re-
tirada do exemplar pode ser mais difícil. Para isto, quando seu estu-
do necessitar, é mais fácil retirar o exemplar depois de morto.
MAMÍFEROS - P. Auricchio 155
Outras técnicas podem ser muito úteis na captura de mamífe-
ros. Fumaça pode tirar em poucos segundos o animal de uma
cova para dentro de um saco plástico colocado na saída da cova
(o saco deve ser transparente para evitar que a saída fique escu-
ra, assustando o animal e para que seja possível vê-lo).
A simples remoção de troncos caídos, folhas de palmeira e ou-
tros possíveis esconderijos pode trazer bons resultados no en-
contro e captura de mamíferos.
Se o trabalho consiste somente em listar as espécies de uma
área, a análise de pelotas de coruja, que são os regurgitos da
digestão destas aves, pode dar uma idéia dos pequenos mamífe-
ros residentes na área. Além disto, as pegadas podem fornecer
evidências muito confiáveis da presença de várias espécies numa
região. BECKER &
DALPONTE (1991) redigiram
um excelente manual de
identificação de rastros de
animais brasileiros. Se este
ou outro guia de identifica-
ção não estiver disponível,

Mamíferos
você pode “colecionar” as pe-
gadas para futura identifica-
ção. É muito simples o proces-
so, mas requer algum mate- Figura 5. Moldes de pegadas: saracura,
mão pelada, tatu-galinha, cateto, ca-
rial: gesso em pó, espátula e chorro -do -mato, veado.(Foto: P.
um recipiente para mistura Auricchio)
(Figura 5).
Encontrado o rastro, selecione uma pegada e retire, sem danifi-
car, os gravetos e folhas que por ventura estejam nela.
Coloque um pouco de água num recipiente adicionando vaga-
rosamente a mesma quantidade de gesso. O pó tem que absorver
a água e tornar-se uma massa líquida para ser despejada sobre
a pegada. Depois que o gesso estiver rígido, quase seco, deve-se
escrever a localidade e data no verso (Figura 5).
Um outro método pode ser utilizado para documentar a pre-
sença de mamíferos e aves terrestres por meio de pegadas. Para
isto são necessárias uma chapa de acrílico ou vidro e uma cane-
ta que escreva sobre este material. Coloque a chapa sobre a pe-
gada e desenhe seu contorno. Depois este desenho deve ser pas-
sado para o papel (figura 6).
156 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

figura 6. pegadas
de lobo guará e de
mão pelada (modifi-
cado de BECKER &
DALPONTE (1991)).

Outro método para documentar a presença de mamíferos numa


área, sem que seja necessário coletá-los, é a fotografia aciona-
da por um arame esticado sobre a trilha (Figura 7).
Com uma montagem simples podemos conseguir excelentes re-
sultados para carnívoros, ungulados e alguns grandes roedores.

Figura 7. Montagem para fotografar mamíferos. (Desenho P. Auricchio).


ISCAS

Iscas variam de acordo com o animal que se pretende captu-


rar podendo ser usados: toucinho (bacon), frutas secas ou fres-
cas, cenoura, pasta de amendoim, e outras preparadas em casa,
para roedores; sardinha, carne fresca e mel para carnívoros. De-
vem ter um cheiro forte para atrair a presa.
Uma mistura caseira indicada por ANTHONY (1931) é uma
mistura de uma parte de toucinho cortado em pequeninos peda-
ços, duas partes de pasta de amendoim oleosa e uma parte de
uvas passas picadas. Misture com aveia fina para dar uma con-
sistência de massa. Esta mistura pode durar por muitos meses
guardada em um recipiente de plástico.
MAMÍFEROS - P. Auricchio 157
Esta mistura não só é atraente para roedores mas também
para marsupiais e outros pequenos mamíferos. A não ser que
seja carregada pelas formigas, esta mistura fica nas armadilhas
por muitas noites, suportando até chuvas de pouca intensidade,
graças à sua natureza oleosa.
Ao montar as armadilhas, deve-se tomar o cuidado para não
se deixar o cheiro humano, o que pode afastar os animais. Até
mesmo sabonetes e perfumes muito intensos podem afastar os
animais. Lembre-se que os mamíferos têm, no olfato, seu mais
importante sentido.

LOCAIS PARA COLOCAÇÃO DE ARMADILHAS


As armadilhas devem ser colocadas ao longo das trilhas dos ani-
mais que, com um certo treino, são fáceis de perceber no chão da
floresta ou campo. Devem ser fixadas perto de troncos caídos (Figura
8), em galhos de árvores e em cavidades para animais fossoriais.
Limpe um pouco o local para que ela fique bem apoiada.
As armadilhas devem ser realmente fixadas de alguma manei-
ra. Alguns animais conseguem arrastar a armadilha por muitos

Mamíferos
metros, ou ainda algum predador pode atacá-las (figura 8).

figura 8. Uma ratoeira caseira colocada próximo a um tronco caído (modifi-


cado de Anthony, 1931).

Existem algumas técnicas sobre a distribuição das armadilhas


que não serão descritas aqui, mas serão feitas somente algumas
considerações. Existem dois padrões de distribuição para arma-
dilhas: em linha (Figura 9A) e em grade (Figura 9B).
158 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

B
A

Figura 9: Distribuição de armadilhas em linha (A) e em grade (B).

As armadilhas são colocadas ao longo de uma trilha ou linha


imaginária pré estipulada; no padrão em grade, as armadilhas
são colocadas nas intersecções de linhas imaginárias paralelas e
tranversais.
É importante marcar os locais onde foram colocadas as arma-
dilhas, já que podem virtualmente desaparecer na vegetação. Fai-
xas plásticas coloridas são um bom auxílio. Um pequeno pedaço
de algodão chama a atenção ao local e também pode ser útil para
localização das armadilhas.
Se os moradores locais são problemáticos e desarmam ou rou-
bam armadilhas freqüentemente, outro método deve ser empre-
gado. Um galho quebrado, uma marca de canivete no tronco ou
coisa assim, ajudarão neste caso.
Em nossas florestas existe uma grande variedade de animais
que atacam animais presos em armadilhas, causando danos ao
exemplar e causando morte com sofrimento. As formigas enca-
beçam a lista. Por esta razão as armadilhas devem ser visitadas
2 ou 3 vezes por dia, com cuidado para que o trânsito de pessoas
não atrapalhe a coleta.
O número de armadilhas pode variar de acordo com o ambi-
ente, tipo de armadilha a ser empregada para o material que se
deseja obter e, finalmente da abundância dos animais na área
de estudo. Via de regra, utilizam-se 100 armadilhas numa área
de 1 hectare (10.000m2), mais para locais de pouca abundância e
menos para locais de muita abundância. Este grande número
dificulta trabalhos que não sejam em equipe.
Pode-se colocar uma armadilha a cada 10 metros ou duas de
diferentes tamanhos espaçadas em um metro. Recomendam-se 3
MAMÍFEROS - P. Auricchio 159
armadilhas a cada ponto, pois os animais podem estar mais con-
centrados em algumas áreas. Outro procedimento a ser levado
em conta é com relação ao tempo de coleta. O ideal é utilizar três
dias e noites de coleta em cada local, uniformizando assim o es-
forço de captura (GURMELL & FLOWERDEW, 1994).
A coleta pode ser grandemente afetada pelo tempo. Geralmente
as capturas são menos proveitosas em lua cheia e mais proveito-
sas na minguante. A chuva normalmente não afeta as capturas,
mas pode levar as iscas das armadilhas. O frio entretanto, pode
matar os animais nas armadilhas, exigindo assim maior fiscaliza-
ção nesta época.

O ANIMAL NA ARMADILHA

Quando a armadilha é encontrada com a porta fechada, pe-


gue-a com a porta para cima. Cheiro, peso e ruidos podem acu-
sar, previamente à visão, um animal na armadilha. Para tirar o
animal da armadilha, não se deve utilizar as mãos por perigo de
mordeduras, e contágio de algum microorganismo. Ranta virus,
por exemplo, já foi descrito para roedores da Mata Atlântica (ver

Mamíferos
anexo II).
Para retirar o animal com segurança, podemos utilizar um
saco plástico colocado na porta da armadilha de forma que a
boca do saco fique firmemente presa à porta dela. Vire-a de ca-
beça para baixo e faça com que o animal caia dentro do saco.
Para remover o animal do saco faça com que a cabeça dele en-
caixe-se no canto do plástico. Com uma mão, por fora do saco,
prenda o pescoço com o dedão e o indicador, cuidando para não
interromper a respiração do animal, e então retirá-lo com segu-
rança. Luvas de borracha ou raspa de couro devem ser utilizadas
durante esta operação.
Manuseie o animal com firmeza, porém com cuidado, pois a
pele de alguns pequenos roedores pode romper-se facilmente
durante esta operação.

MATANDO O EXEMPLAR

Assim como para aves, exceto a técnica por pressão corpórea,


todos os métodos são aplicáveis. Anestésicos utilizados por vete-
160 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
rinários podem ser bons para matar rapidamente e sem dor um
mamífero. Para isto deve-se dar uma dose maior do que a
indicada.
Álcool ou formol também podem ser utilizados e funcionam
instantaneamente se injetados na base do crânio ou, preferenci-
almente dentro do foramen magnum. Anestésicos como cloro-
fórmio e éter podem também ser utilizados. Para isto, coloca-se
o animal num saco plástico, preferencialmente preto para que
ele não se debata, com um chumaço de algodão embebido numa
destas substâncias. A morte por inalação é normalmente demo-
rada, sem contar com as dificuldades e riscos do transporte des-
tas substâncias à campo.
Em coletas de 2 ou 3 dias de duração, não compensa a prepa-
ração em campo. O método de injetar uma quantidade de formol
10% no ventre do exemplar para viagens curtas pode ser útil tam-
bém para mamíferos. Isto pode dificultar a preparação posteri-
ormente, mas garante o aproveitamento do exemplar. A região
ventral é a que mais rapidamente dá sinais de decomposição. É
possível, em viagens mais longas, fixar o exemplar em formol
10% injetado em várias partes do corpo e submergi-lo na mesma
solução. Se se pretende preparar uma pele científica deste exem-
plar, deve-se tomar a precaução de posicioná-lo numa prancha,
de acordo com as normas. Isto facilitará grandemente a prepa-
ração e produzirá um espécime de qualidade.
MAMÍFEROS - P. Auricchio 161
PREPARAÇÃO DE PELES DE MAMÍFEROS
PARA ESTUDOS TAXONÔMICOS

Um espécime de mamífero de museu consiste usualmente de


uma pele (cheia ou aberta), um crânio limpo e, preferencialmen-
te, o esqueleto completo. Outras vezes, podemos encontrar espé-
cimes inteiros ou parciais preservados em líquido. Antigamente
a preparação de material referente a mamíferos resumia-se em
uma pele e um crânio. Atualmente este procedimento tem sido
encarado como um abuso contra a fauna, já que desta forma
são desperdiçadas muitas informações importantíssimas conti-
das no material descartado. Além disto, novas técnicas têm pro-
piciado a preparação de material mais completo para taxonomia
e ainda a coleta de material para estudos em outras áreas como
genética, bioquímica, fisiologia e anatomia.
As instruções seguintes são procedimentos para preparação
de espécimes de alta qualidade e aproveitamento máximo dos
exemplares coletados. Acompanhar a preparação de um exem-
plar por alguém capacitado e experiente é de enorme valia.
As figuras utilizadas foram baseadas principalmente em

Mamíferos
DeBLASE & MARTIN com alterações.

EQUIPAMENTOS E SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS

Para proceder à preparação, o material comum de dissecação


é suficiente. As ferramentas e substâncias precedidas por um as-
terisco não são imprescindíveis.
• Escala precisa (metálica de 50cm);
• Pinças de ponta fina reta ou curva (Figura 10 a e b);
•* Pinças hemostáticas. Usadas para introduzir algodão dentro
da pele;
• Tesouras cirúrgicas fina-fina e fina romba de 18cm (Figura 10d).
• Bisturi (Figura 10e);
• Linha e agulha de várias espessuras e tamanhos;
• Algodão hidrófobo para preencher peles. O hidrófilo também
pode ser usado, porém deve ser evitado. Fibras acrílicas são
excelentes para preencher peles e tem custo reduzido;
• Algodão hidrófilo para limpeza;
• Arames não corrosíveis de várias espessuras para reforço de
cauda e membros;
162 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

a.
b.
c.
d.

e.
Figura 10. Alguns instrumentos cirúrgicos para dissecação. a e b pinças, c
escova de dentes, d tesoura e e bisturi.

• Alicate de corte para arames;


• Alfinetes de cabeça e pregos finos e longos;
• Escova de dentes para “pentear os pêlos” (Figura 10c);
• Rótulos padronizados (ver em curadoria);
• Caneta permanente - Nankin ou outra com tinta permanen-
te. Na falta temporária deste ítem, utilize lápis macio. Cane-
tas esferográficas não podem ser utilizadas pois sua tinta é
solúvel em solventes como água e álcool, colocando em risco
as informações;
• Bórax (borato de sódio) para secar e preservar espécimes (nor-
malmente usado para grandes animais);
• Álcool comercial;
•* Farinha de milho. Alguns técnicos utilizam para absorção de
gordura, sangue e outros fluídos corpóreos, e
• Uma prancha (de madeira, cortiça ou similar) de superfície
plana e macia para que seja fácil a fixação com alfinetes ou
pregos.

ANTES DA PREPARAÇÃO

Se o espécime estiver congelado deixe-o descongelar durante


algum tempo. Como para aves, não coloque o espécime sob o sol.
Isto fará com que algumas partes descongelem antes de outras,
permitindo que se inicie a decomposição, soltando pêlos e estra-
gando o exemplar. Além do que, luz tem grande capacidade de
degeneração de pigmentos, podendo descolorir o exemplar.
MAMÍFEROS - P. Auricchio 163

COLETA DE ECTOPARASITAS

O animal deve ser examinado para coleta de pulgas, carrapa-


tos, piolhos e outros ectoparasitas. A preservação dos espécimes
coletados é feita fixando-se os exemplares em formalina 10% e
conservando-os em álcool 70%, em frasco de vidro, onde deve ser
colocado um rótulo constando local da coleta, nome da espécie e
número do espécime hospedeiro em que foram coletados, data e
outros dados pertinentes para posterior identificação. Tendo sido
identificados, os dados devem ser imediatamente incluídos no
catálogo de mamíferos, juntamente com as informações do ma-
mífero hospedeiro.

CONDIÇÃO REPRODUTIVA

O sexo de mamíferos normalmente é fácil de determinar por


observação externa da genitália (figura 11). Em algumas espéci-
es, no entanto, é necessário proceder observação das gônadas
na cavidade abdominal. Se não foi possível a identificação do
sexo, utilize ponto de interrogação na caderneta ou livro de tom-

Mamíferos
bo para evitar possíveis enganos.
Outras condições sexuais tais como lactação ou testículos pen-
dentes ou retraídos e dimensões dos testículos (comprimento e lar-
gura do direito e do esquerdo) devem ser anotados na caderneta.

A B C D
figura 11. Caracteres distintivos de machos e fêmeas da mamíferos: a. macho
adulto, b. macho juvenil, c. fêmea juvenil e d. fêmea adulta.
164 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
MEDIDAS

O processo de preparação e preenchimento da pele modifica as


proporções do exemplar. Por esta razão é necessário que as medidas
sejam tomadas anteriormente ao início da retirada da pele, já que
elas são importantes para identificação e para estudos estatísticos.
Esta é uma etapa extremamente importante do processo.
Peso, comprimento da cabeça mais corpo, comprimento da cau-
da, comprimento do pé traseiro e orelha são medidas para todos
os exemplares. Outras medidas são necessárias para morcegos,
como comprimento do tragus e comprimento do antebraço. Es-
tas medidas são sempre tomadas em milímetros e sempre na or-
dem dada acima. O comprimento total (cabeça + corpo + cau-
da) é utilizado pela escola norte-americana, enquanto para a
escola européia são utilizadas cabeça mais corpo e cauda sepa-
radamente. É importante que sempre se utilize somente uma das
escolas como base. A européia é a mais utilizada por fornecer as
medidas separadamente, facilitando a análise.
Para facilitar a tomada das medidas, coloque o animal deita-
do sobre uma superfície plana, de barriga para baixo e alinhe a
cabeça e a cauda com a coluna vertebral (não estique o animal),
procedendo como sugerido abaixo.

Comprimento total: Da ponta do focinho até a última vértebra


caudal. Não considere os pelos da ponta da cauda.

Cabeça mais corpo: Da ponta do focinho até a última vértebra


da coluna vertebral que não faça parte da cauda (para
reconhecê-la, levante a cauda a 90º com relação à coluna ver-
tebral) (Figura 12C).

Cauda: Da primeira vértebra caudal até a ponta da cauda, ex-


cluindo-se os pêlos da cauda (figura 12C).

Pé traseiro: Esta medida pode ser tomada considerando-se a


unha (c.u.) (sistema americano), ou mais usualmente, sem a
unha (sistema europeu). É importante que isto seja menciona-
do na caderneta. Sem unha (s.u.): da ponta do dedo mais lon-
go até o calcâneo (calcanhar) (figura 12B).
MAMÍFEROS - P. Auricchio 165

C Mamíferos

Figura 12. Medidas básicas para mamíferos.A: orelha; B: planta; C: cauda.


(Desenho P. Auricchio).
166 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
Orelha (o): Da curvatura mais baixa da orelha até a ponta da
pinna (Figuras 12a e 13).

Tragus (t) (Só para Chiroptera): Tragus


é uma projeção carnosa na base in-
o
terna da orelha na maioria dos mor-
cegos. Figura 13.
t
Antebraço (Só para Chiroptera): Fecha-
se a asa e mede-se do lado externo do
pulso até o lado externo do cotovelo.

Figura 13. Orelha e


tragus.
Anote cuidadosamente as medidas no catálogo ou caderneta,
com a certeza que estejam na ordem apropriada. Você pode uti-
lizar abreviações para evitar confusões, porém como a seqüência
é universal, estas não se fazem necessárias. Ela pode assim ser
representada:

110-90-33(s.u.)-12 = 45g para um pequeno marsupial


ou
90-40-7-15(s.u.)-6-50 = 50g para um morcego.

Alguns mamíferos não possuem cauda o que deve ser repre-


sentado com o número “0”. Quando a cauda aparecer cortada,
isto deve ser indicado ao lado da medida.
Note que aparece no final a massa em gramas (em kg para
um mamífero muito grande). A massa deve ser tomada com o
animal fresco, porém se isto não foi possível, tome a massa do
animal depois de congelado e anote o tempo de congelamento
juntamente na etiqueta. Para um pequeno animal, a massa pode
variar grandemente depois do congelamento, pois este causa de-
sidratação. A massa aparece precedida de três barras horizon-
tais, identificando esta medida.
Outras diferenças de tomada de medidas aparecem para
cetáceos e sirênios. A Figura 14 mostra alguns limites de dimen-
sões considerados para estes grupos. Para pequenos cetáceos, as
medidas recomendadas pela Sociedade Americana de
MAMÍFEROS - P. Auricchio 167
Mastozoólogos - Comitê de Mamíferos Marinhos, são:
Comprimento
1. comprimento total;
2. ponta da maxila superior ao centro do olho;
3. ponta da maxila superior ao topo do melão;
4. abertura da boca;
5. ponta da maxila superior até o meato auditório externo;
6. centro do olho até o meato auditório externo;
9. ponta da maxila superior até o orifício respiratório pela linha
média, entre os dois orifícios;

Mamíferos
Figura 14. Medidas para cetáceos e sirênios.(Desenho: P. Auricchio).

10.ponta da maxila superior até a inserção anterior da nadadeira;


11. ponta da maxila superior até a ponta da nadadeira dorsal;
12. ponta da maxila superior até o ponto médio do umbilicus;
13. ponta da maxila superior até o ponto médio da abertura
genital;
14. ponta da maxila superior até o centro do ânus;
29. inserção anterior da nadadeira até a ponta;
30. axila à ponta da nadadeira;
33. base da nadadeira dorsal;
35. nadadeira caudal - de ponta a ponta;
Largura
31. nadadeira (máximo)
34. distância do ponto mais perto do bordo anterior da nadadei-
168 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
ra caudal até o “notch”;
Altura
32. nadadeira dorsal (ponta à base);
Circunferência
21. Num plano transverso na axila;
22. Máxima, e
23. Num plano transverso pelo ânus.

A. PELES CHEIAS

REMOÇÃO DA PELE

Animais de tamanho aproximado de um gambá (Didelphis) ou um


macaco prego (Cebus), pesando cerca de 5kg, são preparados como
pele cheia (Round-skin). Exemplares maiores que estes normalmente
são preparados como pele aberta. Para este último tipo de prepara-
ção, instruções serão dadas mais adiante. Alguns animais maiores
também devem ser preparados com peles-cheias tais como lebres,
tatus, ouriços-cacheiros, etc., para sua melhor conservação.
Algumas coleções delimitam o tamanho dos mamíferos a se-
rem preparados como peles-cheia até o tamanho de um cachor-
ro do mato (Cerdocyon), demandando portanto maior espaço para
o acervo da coleção, mas atribuindo a ela maior qualidade.
Atualmente, com medidas de preservação de espécies e outras
medidas éticas, todo o material de um espécime deve ser apro-
veitado. Sendo assim, pele, crânio e esqueleto completo devem
ser considerados como meta da preparação. Os órgãos internos
e musculatura também podem ser utilizados para estudos ecoló-
gicos, bioquímicos e citogenéticos.
Se a pele necessitar, depois da remoção de parasitas e das
medidas tomadas, de limpeza, causadas por sangue, terra, gra-
xa, etc., pode-se lavar o animal ou a região atingida e em segui-
da secar com auxílio de serragem em abundância. Terebintina ou
benzina podem também ser usadas para remoção de gorduras.
Caso o exemplar tenha sido recuperado de um atropelamento,
devemos primeiramente observar se os pêlos não se soltam com
facilidade, o que impediria sua utilização para preparação da
pele. Caso os pêlos se soltem somente em algumas regiões, deve-
mos tratar esta região com formol.
MAMÍFEROS - P. Auricchio 169

ETAPAS DA PREPARAÇÃO:

1. Desde que parasitas tenham sido coletados e as medidas to-


madas, coloque o animal sobre uma mesa forrada com várias
folhas de papel jornal. Conforme o procedimento esteja em
andamento, retire a folha superior para manter limpo o local
da dissecação.
2. A região onde a incisão inicial é feita depende do tipo de ani-
mal. Normalmente faz-se uma incisão longitudinal na região
ventral (Figura 15). Animais com membros mais longos e
pelagem longa no baixo dorso, podem ser abertos pela linha
mediana dorsal. Isto facilita o procedimento além de dar um
melhor acabamento, pois a costura desaparece em meio a
pelagem mais longa e densa. Neste caso deve-se tomar o cui-
dado para que os pontos de costura sejam estreitos. Em qual-
quer caso, com os dedos levante a pele de forma que fique
ligeiramente afastada da musculatura do corpo. Use uma te-

Figura 15. Corte inicial em mamíferos.


Mamíferos
soura ou bisturi para fazer a incisão. Cuidado para não cor-
tar a musculatura do abdômen para que os fluidos corpóreos
não extravasem, tornando a operação mais difícil. Se isto acon-
tecer, coloque algodão absorvente e farinha de milho em quan-
tidades generosas. Este corte deve estender-se até bem perto
do ânus e até perto do esterno (ou no caso de estar abrindo
pelas costas, ter tamanho semelhante ao mencionado) sendo
seu tamanho suficiente para que o corpo passe sem dificuldade
porém, sendo preferencialmente o menor possível.
170 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
3. Em machos coloque o pênis para dentro da pele, tomando cui-
dado para que não seja cortado o báculum, quando presente.
Em pequenos mamíferos é aconselhável deixar este órgão,
taxonomicamente importante, junto da pele para que fique
disponível para estudos posteriores. Em grandes mamíferos, o
báculum deve ser removido e tratado como o crânio e esquele-
to. Atenção: mesmo que o esqueleto pós craniano não vá ser
preservado, o báculum deve ser guardado com o crânio.
4. Separe a pele aos lados da incisão o máximo possível, até que
os joelhos apareçam (Figura 16). Cuide sempre para que líqui-
dos corpóreos não extravasem.
5. Tome uma perna e continue separando a pele até o apareci-
mento do calcâneo. A articulação entre o calcâneo e a tíbia
deve ser desfeita com auxílio de um bisturi. Esta etapa pode
ser difícil pois a pele nesta região, em pequenos mamíferos,

Figura 16. Corte do joelho.

pode apresentar-se friável. Para facilitar, desarticule o joelho


antes ou no caso de ser aberto pelo dorso, desarticule os mem-
bros posteriores entre o fêmur e a cintura pélvica. Cuidado:
cada parte previamente desarticulada deve ser colocada em
um recipiente, para que não haja perda para posterior prepa-
ração do esqueleto. Se o esqueleto não vai ser preservado, a
tíbia e o perônio devem ficar articulados ao pé, simplesmente
sendo removida toda a musculatura. Repita a operação na
outra perna.
6. Em animais maiores que uma ratazana, as almofadas das pa-
tas devem ser retiradas conforme a figura 17, com um corte
pelo calcanhar que possibilite a retirada da almofada. Mais
aconselhável, principalmente se o esqueleto vai ser presevado
completo, é a desarticulação do carpo e dedos, retirando as-
sim estes ossos e facilitando a limpeza da parte interna da
pele. As patas devem ser juntadas ao restante da carcaça para
limpeza do esqueleto.
MAMÍFEROS - P. Auricchio 171
7. Estando as duas pernas livres, separe o reto e ductos
urogenitais da pele. Cuidado com fluidos corpóreos. Basta
colocar um chumaço de algodão nestes ductos para evitar
extravasamento.

Figura 17. Retirada das


almofadas das patas.

8. Agora deve-se proceder à retirada da cauda. Para isto, livre a


sua base e com os dedos de uma mão ao redor dela sem a pele,
force a pele na direção da ponta com os dedos de outra mão,
de modo que a pele saia inteira, sem permitir que vire do aves-
so (Figura 18). Atenção: para alguns mamíferos esta técnica

Mamíferos
não dá resultados. Para roedores da família Echimyidae (com
exceções) só é possível retirar a pele da cauda por meio de uma
incisão longitudinal e posterior reconstrução, ou ainda dei-
xando secar dentro da própria pele. Para tatus, é necessária a
retirada da cauda por meio de um corte longitudinal na parte

Figura 18. Retirada da cauda


utilizando-se somente as mãos.
172 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
inferior e posterior reconstrução. É praticamente impossível a
retirada da cauda inteira nestes animais. Outros mamíferos
com caudas escamosas (como gambás, ouriços cacheiros, etc.)
também não permitem sua retirada sem corte. Primatas da
família Atelidae (bugios, barrigudos, etc.) também não permi-
tem a remoção puxando. Como possuem “palma” na cauda,
apenas deve-se fazer a incisão lateralmente entre os pêlos, o
que permitirá ocultar a sutura entre eles.
9. O próximo passo é a separação da pele do corpo. Para isto
utilize os dedos ou pinça. Alguns pequenos mamíferos tem a
pele muito friável e esta fase deve ser acompanhada de muito
cuidado. Quando os braços começarem a aparecer, proceda
sua desarticulação do corpo e limpeza da mesma maneira que
as pernas.
10.Depois dos braços livres continue a
separação da pele do pescoço até que
as cartilagens dos ouvidos estejam
aparentes. Remova gordura e glându-
las para encontrar onde a cartilagem
entra no crânio. É nesta região, bem
perto do crânio, que o corte deve ser
procedido para separar o crânio da
pele. Para animais que possuem cor-
nos e chifres um corte como o da figu-
ra 19 será necessário.
11. Se for um animal de grandes dimen- Figura 19. Corte para
sões, a cartilagem da orelha deve ser retirada da cabeça de
separada da pele e removida toda a animais com chifres.
musculatura subcutânea da orelha.
12. Depois que ambas as orelhas estiverem soltas, encontre a
parte posterior dos olhos e proceda ao corte com bisturi ou
tesoura bem próximo ao crânio separando a pele em ambos os
olhos.
13. Continue a separação da pele até que a parte interior dos
lábios seja exposta (Figura 20). Proceda o mesma maneira que
para os olhos, cuidando para que vibrissas e pêlos não sejam
danificados.
14. Seguindo a separação da pele, em um momento, somente a
ponta do focinho se prenderá à pele (Figura 21). Proceda a
MAMÍFEROS - P. Auricchio 173

Figura 20: Fase em que somente os olhos e focinho estão presos à pele.

Figura 21. Local para o corte da pele do focinho.

Mamíferos
sua separação cuidando para que os ossos nasais e a pele não
sejam danificados.
15. Deixe a carcaça de lado para preparação conforme instru-
ções no capítulo sobre preparação de esqueletos. Não esqueça
de identificar o material (Figura 22).
16. Remova resíduos de gordura
e outros tecidos que permane-
ceram. Observe se a pelagem
está suja de gordura ou sangue.
Se estiverem lave com água
fria e sabão neutro, de ma-
neira a não esticá-la.
16. A musculatura ao redor da
boca (lábios) e ao redor do ânus
deve ser retirada com cuidado
para não perfurar a pele. Figura 22. Identificação da carca-
17. Estando a pele completa-
mente limpa, mergulhe-a em álcool comercial, com volume no
mínimo igual a três vezes o da pele, num frasco com tampa
que vede bem. Ela deve permanecer neste banho por, no míni-
174 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
mo 30 minutos, e pode permanecer assim por um longo perío-
do (no escuro, até alguns anos), sendo que deve ser providen-
ciado para que não fique em local com temperaturas maiores
que 22ºC. Nesta etapa, ela pode ser transportada do campo
ao laboratório, tomando a precaução de mexer a pele no álco-
ol, assegurando contato do álcool com toda a pele. Isto garan-
te a melhor preparação do exemplar e economiza tempo no cam-
po. A imersão no álcool desidrata as células, possibilitando se-
cagem total do exemplar em um terço do tempo comparativa-
mente ao preparado sem a imersão prévia em álcool. A utiliza-
ção de álcool é comprovadamente inerte para os pigmentos.
18. Depois de retirada do banho de álcool a pele apresenta um
aspecto ressecado, e por isto deve ser lavada com água e sa-
bão neutro até que sua elasticidade tenha sido recuperada.
Retirado todo o sabão, ela deve ser seca com pano absorvente
por dentro e por fora. Um procedimento que também pode ser
aplicado, mas não é absolutamente necessário, é a imersão da
pele em uma solução saturada de bórax durante 24h. Isto per-
mite que esta substância penetre na pele e pêlos, facilitando a
secagem e protegendo contra ataques de insetos. A pele então
deve ser virada do avesso e o pó de bórax deve ser passado por
toda a superfície interna de maneira abundante. Todos os pon-
tos internos da pele devem ficar cobertos por Bórax. Atenção:
Bórax não é recomendado para peles castanho-avermelhadas
pois causa descoloramento nestas peles. Nestes casos não uti-
lize o banho em solução saturada de bórax. Somente passe
bórax na parte interna da pele. Não permita contato do pó
com os pêlos.
19. Para costurar a boca de roedores, são necessários somente
três pontos de costura como na Figura 23.
20. Para outros animais deve-se começar a costura pela região
frontal, abaixo do nariz, dirigindo-se para um canto da boca
Figura 24. Terminado um lado, deve-se iniciar a mesma ope-
ração do outro lado. Este procedimento evita que a boca do
exemplar fique torta ou que haja extravasamento de material
de preenchimento.
21. Conforme o tamanho do exemplar, deve ser selecionado um
arame inoxidável para reforçar as patas e dar estrutura para
a cauda. É conveniente possuir em mãos uma variedade de
diâmetros para escolha.
MAMÍFEROS - P. Auricchio 175

Figura 24. Costura com vários pontos.

Figura 23. Costura da boca por 3 pontos.(Ambos desenhos: P. Auricchio).

22. Corte pedaços de arame de tamanhos suficientes como na


Figura 25. Pelo lado interno da pele, enfie a ponta do arame
na almofada da palma dos pés e mãos e amarre-os aos ossos
das pernas, se estes foram deixados no lugar. Exceto para pe-
quenos roedores e marsupiais, enrole algodão ao redor do ara-
me e ossos de forma a dar o volume da musculatura. Não exa-
gere, pois a pele poderá distender, sendo difícil fazê-la voltar
ao aspecto original. Note que a outra ponta do arame deve

Mamíferos
ser torcida de forma que esta não perfure a pele depois do
exemplar pronto. O arame da cauda deve também possuir esta
dobradura.

Figura 25. Posição dos arames de reforço para patas e cauda.

23. Para pequenos mamíferos, construa um pequeno boneco com


dimensões semelhantes às do animal, inclusive com focinho, e
comece vestindo o boneco com a pele do avesso (Figura 25) e
desvirando-a do focinho para trás. Tenha certeza de que os
arames das pernas estejam alinhados de maneira correta.
Outra maneira é, ir preenchendo aos poucos o exemplar com
algodão ou fibra acrílica com auxílio de pinça (Figura 26 a e
b). Este procedimento deve ser feito de forma que as fibras
fiquem compactadas dando firmeza e forma para o exemplar.
176 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
24. Para a cauda, já foi cortado um arame de diâmetro menor
que o da ponta da cauda e de tamanho suficiente para chegar

Figura 26. Boneco de preenchimento para pequenos roedores.


ao peito do exemplar, para que seja curvado formando um
gancho para que a ponta não perfure a pele do animal pron-
to. Este arame deve ser revestido de algodão de maneira a dar
a espessura aproximada da cauda sem pele (Figura 28). Insira
este arame encapado dentro da pele da cauda de forma que
sua outra ponta permaneça junto da parte ventral do corpo
de algodão.
25. Faça os ajustes finais colocando ou retirando algodão em
determinadas partes. O exemplar deve ficar simétrico e com
A

Figuras 27 A e B. Preenchimento de membros e corpo com algodão


solto.(Desenho: P. Auricchio).
MAMÍFEROS - P. Auricchio 177
boa aparência, o que faci-
litará a análise do pesqui-
sador.
26. Feche a incisão inicial com
agulha e linha comuns cui-
dando para que porções de
algodão ou pelagem não
sejam costuradas junta-
mente. Um melhor acaba-
mento é conseguido costu-
rando-se da região do ânus
para o peito e os pontos
dados do lado de dentro da Figura 28. Preparação da cauda.
pele para fora (Figura 29).
27. Penteie levemente o exemplar e coloque-o de barriga para
baixo numa prancha de fixação. Manuseie o exemplar para

Mamíferos
Figura 29. Costura final no corte principal.(Desenho: P.

que fique simétrico e procure dar um formato adequado à sua


cabeça e orelhas. Coloque seus membros dianteiros aos lados
da cabeça e prenda-os à prancha com alfinetes (ou pregos con-
forme o tamanho do exemplar) ( Figura 30). Coloque os pés de
sola para baixo, ao lado e paralelamente à cauda. Arranje a
cauda reta para trás e prenda-a com um par de alfinetes em
sua ponta. Deixe secar à sombra.

Figura 30. Fixação do exemplar na prancha de secagem.(Desenho: P.


178 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
28. Preencha a etiqueta com caneta de tinta permanente imedi-
atamente e amarre-a no tornozelo do pé direito, como é con-
vencional. Depois de seco, o exemplar pode ser incluido na
coleção com seu devido registro (Figura 31).

Figura 31. Cole-


ções seriadas de
mamíferos e aves
são armazenadas
em armários longe
da luz e poeira.
(Foto: P. Auricchio).

B. PELES ABERTAS
Esta técnica é utilizada para exemplares maiores que um ca-
chorro-do-mato (maiores que 5 ou 6 kg), ou para preparações
especiais para finalidades específicas. Como a preparação de ani-
mais maiores que o mencionado ocupariam muito espaço numa
coleção científica, esta técnica é a mais adequada, já que permi-
te que a pele seja armazenada sem ocupar muito espaço.
Atualmente são raros os curtumes de peles de animais, e quan-
do os encontramos suas técnicas não se aplicam às peles que
queremos curtir, recusando-se mesmo a proceder ao trabalho
(ver capítulo Curtimento).
O que se observa com freqüência nas coleções de museus, por
causa desta dificuldade, são peles abertas secas, uma técnica que
preserva bem o espécime, porém sua rigidez facilita que o simples
manuseio provoque rasgos e outros danos.
Para a preparação em seco, o procedimento segue os mesmos
passos de retirada da pele da preparação de peles cheias (passos
1 a 18 deste capítulo), porém o espécime deve receber cortes da
boca ao ânus e na parte inferior dos membros como mostra a
figura 32.
MAMÍFEROS - P. Auricchio 179
Para alguns grupos (como primatas)
adota-se o preenchimento da cabeça sen-
do que, para isto, o corte ventral chega
somente até a metade do pescoço, per-
mitindo este preenchimento.
Estando a pele totalmente livre de re-
síduos e restos de tecidos, o espécime
pode passar por um banho de álcool
(para exemplares cuja espessura da pele
não ultrapasse 1,5mm) e lavada com sa-
bão neutro. Depois disto, o procedimen-
to que também pode ser aplicado é a
imersão da pele em uma solução Figura 32. Cortes para prepa-
saturada de bórax durante 24h (Atenção: raçã o de peles abertas. O cor-
observar item 18). Isto permite que esta te pode estender até o queixo.
substância penetre na pele e pêlos, faci- (Desenho: de P. Auricchio).
litando a secagem e protegendo contra
ataques de insetos.
Uma superfície grande o suficiente deve estar disponível para
que a pele seja esticada e fixada com a parte do couro para fora.

Mamíferos
Para isto utilizam-se pregos e martelo, pregando a firmemente,
considerando-se que ela sofrerá encolhimento ao secar. Procure
posicionar a pele simetricamente. O procedimento seguinte é o
envenenamento com bórax em pó, que deve ser distribuído por
toda a superfície e deixado secar. Não secar ao sol pois este tipo
de secagem danifica a pele.
Depois de seca, a pele deve ser removida da prancha, devida-
mente escovada na parte dos pêlos sem, logicamente, danificá-
los, rotulada e armazenada.
O armazenamento deve ser feito de maneira que o exemplar so-
fra o menor número de dobras possível, para que não facilite o
aparecimento de rasgos ou vincos, que diminuem a vida útil do
exemplar. Portanto, de preferência, o exemplar deve ser armaze-
nado em gavetas de grandes proporções, como aquelas de
mapotecas. Armários onde se penduram as peles são
freqüentemente utilizados, porém não garantem o bom
armazenamento dos espécimes. Caso o exemplar tenha grandes
proporções (como um cervídeo ou ungulado ou ainda um grande
felino), a pele pode ser enrolada frouxamente e colocada na ga-
180 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
veta.
♦a vantagem é o espaço relativamente pequeno de armazena-
gem
♦a desvantagem é a fragilidade da peça que pode se rasgar fa-
cilmente sem contar que, este tipo de preparação dificulta a
análise.

C. PELES PLANAS

Outro método para preparação de pequenos e médios mamí-


feros (como roedores) é a pele plana. Esta ocupa menos espaço e,
com prática, seu preparo é bem fácil. A remoção da pele se faz de
acordo com os passos de 1 até 25, e as etapas subsequêntes estão
descritas abaixo.
26. Depois recorte um papelão (para pequenos exemplares) ou
chapa de madeira (duratex) conforme a Figura 33, de acordo
com o tamanho do exemplar. O papelão não deve ser ondula-
do pois não tem resistência e tende a dobrar ou envergar com
a secagem da pele.

Figura 33. Modelo de prancha de


papelão ou duratex para preparação
de peles planas.(Desenho: P. Auricchio).

27. Observe a posição das patas e orelhas na Figura 34. Elas de-
vem permanecer em posição antagônica para que se possa
observar facilmente ambas as superfícies;
28. Ao fixar o exemplar na prancha, é importante deixar um es-
paço para colocação das informações. Isto evita o uso de ró-
tulo, que sempre corre o risco de se soltar do exemplar.
29. Exemplares maiores devem ser costurados, de modo a manter
toda a prancha internamente à pele, como se fosse uma pele
cheia, prensada.
MAMÍFEROS - P. Auricchio 181

Figura 34. Peles planas de roedor. A: Dorso; B: Ventre .(Desenho: P. Auricchio).

Mamíferos
D. PREPARAÇÃO DE PELES DE QUIRÓPTEROS

PELES CHEIAS

O procedimento deve seguir os passos de 1 a 17, exceto que em


morcegos de cauda livre, ela não seja retirada da pele, mas ape-
nas cortada na base. Os ossos das asas e pernas devem ser man-
tidos na pele e desarticulados nos ombros, deixando os úmeros
intactos.
Um corpo de algodão em uma só peça é necessário para in-
serção na pele, depois do envenenamento.
Deve-se então costurar a abertura e evitar que a genitália
fique escondida.
O espécime deve ser preso sobre uma prancha com alfinetes,
com as asas abertas somente o suficiente para expor todos os
ossos e as membranas. As orelhas devem ser estudadas. Se muito
longas, elas devem ser deitadas sobre o pescoço, se necessário
com o auxílio de um papel (Figura 35). Procede-se então à coloca-
ção da etiqueta na perna direita.
182 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Figura 35. Posição de uma prepa-


ração de pele cheia para mor-
cegos. Uma das asas pode ser
deixada aberta (Desenho: P.
Auricchio modificado de
TRUSTEES OF BRITISH
MUSEUM, 1968).

PELES PLANAS (OU DE CARTÕES)

É também possível a preparação de quirópteros na forma de


peles planas, como nas Figuras 36 e 37.
Os procedimentos seguem os passos de 1 a 17, porém a incisão
deve ser feita por uma linha transversal atrás do ânus, seguindo
a beira do uropatágio (membrana caudal). Depois disto, corta-se
um cartão seguindo o modelo da Figura 36 (recomenda-se a uti-

a
c
b

lização de um papelão fino como o papel cartão).

Figura 36. Papelão para peles planas de morcegos. Para calcular dimensões,
a: cabeça e corpo dividido por 2; b: cabeça e corpo mais 10%; c: comprimento
da cauda. (Desenho P. Auricchio modificado de TRUSTEES OF BRITISH
MUSEUM, 1968).

A montagem do exemplar se dá como mostram as Figuras 36 e


37, de modo que a superfície ventral da membrana da asa seja
visível de um lado do cartão e a dorsal do outro lado. Prenda a
MAMÍFEROS - P. Auricchio 183

peça ao cartão com arame fino, agulha e linha. O próprio cartão


deve ser utilizado como etiqueta.
Figura 37. Morcego montado em papelão.(Desenho: P. Auricchio modificado
de TRUSTEES OF THE BRITISH MUSEUM, 1968).

ANÁLISE E PREPARAÇÃO DA CARCAÇA

Mamíferos
Depois de preparada a pele, deve-se considerar a utilização do
restante do material. Primeiramente, verificar o interesse de se
recolher amostras para estudos moleculares. A coleta de qual-
quer tecido deve ser feita com todos os instrumentos limpos, que
devem ser flambados em chama evitando-se assim, contamina-
ção. O tecido a ser escolhido deve ser aquele que não teve toque
da mão ou instrumental, por exemplo qualquer músculo ou ór-
gão retirado da cavidade abdominal. O líquido preservativo pode
ser o álcool 80%. O congelamento também é utilizado. Detalhes
da técnica de coleta devem ser lidos no capítulo 10: Técnicas
Citogenéticas, Enzimáticas e Moleculares.
Deve-se analisar o conteúdo estomacal do espécime, preser-
vando-o, mesmo que pareça de difícil identificação.
Muitas medidas devem ser tomadas para utilização em estu-
dos ecológicos, tais como área de absorção do estômago, compri-
mento do intestino e outras partes do aparelho digestivo, etc.;
comprimento total da presa ou de partes, devem ser anotadas.
Averiguações sobre a existência de parasitas internos, quer na
cavidade abdominal ou em outros órgãos, devem ser conduzidas.
Tais órgãos devem ser retirados e colecionados para futura iden-
184 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
tificação ou enviados a especialistas para estudos. Feito isto, deve-
se proceder à limpeza do esqueleto (ver Capítulo 6: Esqueletos).
RECUPERAÇÃO DE PELES
E ESQUELETOS ATACADOS POR FUNGOS

Um dos grandes problemas em coleções zoológicas seria-


das é o ataque por fungos. Trabalhos científicos sobre como
recuperar material contaminado de coleções são muito es-
cassos.
O ataque de fungos se dá especialmente naquelas coleções
onde não há equipamento que reduza a umidade do ar, tais
como desumidificadores e aparelhos de ar condicionado. Eles
mantém a umidade do ar abaixo de 45%, condição na qual
os fungos não conseguem se desenvolver.
O tipo de preparação também determina a possibilidade
do ataque de fungos. Muitas coleções brasileiras possuem
exemplares que foram preparados em campo, sem cuidado
de uma preparação padronizada, até mesmo com braços e
cabeça pelo avesso, sem o devido envenenamento por
arsênico ou bórax, o que dificulta ou impossibilita sua uti-
lização para estudos, além de expor o material a um fácil
ataque de fungos e insetos. Este procedimento foi larga-
mente utilizado por expedições realizadas no início do sé-
culo XX e o material foi preparado parcialmente em campo
para que o processo de taxidermia fosse terminado em la-
boratório. Isto nem sempre aconteceu, devido à falta de
tempo, volume de material obtido na coleta ou outros pro-
blemas logísticos. O material neste estado, pode e deve pas-
sar pelo processo abaixo descrito sem receio de provocar
danos. Ele ser ve também para recuperar material que
porventura secou em posição inadequada.
Material preparado com arsênico resiste mais ao ataque de
fungos do que aqueles preparados somente com bórax (borato
de sódio) e mostra-se mais resistente ao ataque de fungos.
Algumas regiões da pele tendem a sofrer mais com a ação
de fungos, como aquelas em que se deixou excesso de gor-
dura, tais como plantas das patas e lábios. Materiais cur-
tidos quimicamente e atacadas por fungos tendem a sofrer
mais, sendo de difícil recuperação. No curtimento, as fi-
MAMÍFEROS - P. Auricchio 185
bras epidérmicas são partidas, facilitando a penetração das
hifas e acarretando deterioração mais rápida.
O primeiro cuidado é manter o material no qual se cons-
tatou a infestação de fungos, longe do acervo ou qualquer
outro material ou roupa que tiver acesso à coleção, pois os
esporos tem grande capacidade de transporte e podem atin-
gir o acervo. Até mesmo o simples manuseio pode levar os
esporos bem longe. O procedimento abaixo descrito foi re-
tirado de AURICCHIO (2000).
Procedimento:
1. Todo o processo deve durar uns quinze minutos no máximo
para evitar maiores danos à pele. Selecionada a pele, lava-se em
água e detergente neutro (Cuidado! Observe atentamente se o
detergente tem um pH neutro) retirando-se toda a poeira e fun-
gos. A pele vai se tornando mais e mais amolecida o que permite
que possamos esfregar cuidadosa e levemente com as mãos o lado
externo (pêlo com pêlo), sem forçar a pele.
2. A limpeza do lado interno da pele, que está também atacada,
pode ser limpa da mesma maneira, porém pode-se também utilizar

Mamíferos
uma escova de nylon para uma limpeza mais profunda e eficiente.
3. Feito isto rapidamente, deve-se retirar totalmente o deter-
gente e o excesso de água da pele, e passá-la por um banho numa
mistura de álcool e ácido benzóico ou álcool e salicilato de sódio.
A proporção é de 20 g para cada litro de álcool para qualquer
das duas substâncias citadas. O ácido benzóico e o salicilato de
sódio apresentam-se em pó cristalizado e estes, depois da evapo-
ração do álcool formam uma camada de microcristais sobre a
região, que dificulta ou retarda novo aparecimento fungos. O
álcool age como desidratante tanto para a pele como para os
esporos e hifas que tenham permanecido. Caso não estejam dis-
poníveis estes produtos químicos, pode-se utilizar somente o ál-
cool comercial puro.
4. Se a pele permitir, pode-se pentear os pêlos e retirar grumos
que tenham se formado por acúmulo de sangue na ocasião da
preparação.
5. Como na lavagem, o produto inseticida-secante (bórax ou
arsênico) foi parcialmente retirado, deve-se providenciar novo
“envenenamento” que, desta vez, tem melhor resultado com pas-
ta ou sabão arsenical. Outra substância a ser utilizada pode ser
186 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
o bórax em pó espalhado pela parte interna da pele. Não permi-
ta que o bórax entre em contato com os pêlos de animais casta-
nho-avermelhados como espécimes dos gêneros Lutreolina e al-
guns Alouatta. Estas peles perdem normalmente sua coloração e
o bórax intensifica o descoloramento;
6. Colocar a pele para secar em local aberto onde não haja
incidência direta do sol. Se a pele for aberta pode-se, se necessá-
rio, prendê-la com alfinetes ou pregos, mas geralmente isto não
é necessário. Se for uma pele cheia, deve-se enchê-la novamente
com material novo.
Este processo dá às peles aspecto de recém preparadas, com
brilho natural nos pêlos, que novamente poderão ser tombadas
na coleção. O processo não modifica a coloração dos pêlos e ain-
da, os produtos utilizados para preparação não são danosos.
O mesmo procedimento pode ser aplicado em exemplares mon-
tados, porém as patas podem sofrer com o processo. Como dito
anteriormente, os fungos atacam mais profundamente as regi-
ões onde a gordura foi deixada. As patas podem sofrer uma de-
sintegração parcial. Para evitar isto, o processo pode ser condu-
zido de forma a evitar que as patas se molhem.

Se a infestação é localizada, o seguinte tratamento pode ser


aplicado:
1. Limpeza da região com pano ou papel absorvente embebi-
do em álcool para retirada das estruturas reprodutoras do fun-
go, aquelas com aparência de veludo ou pelinhos. Cuidado para
não espalhar o fungo, pois os esporos são infinitamente peque-
nos e facilmente transportados pelo ar, o que poderia piorar a
infestação na coleção, e
2. Quando a região apresentar aparência limpa, uma solução
de 5% de ácido benzóico diluído ou salicilato de sódio em álcool
deve ser aplicada com pincel no local. Após secagem, a pele deve
ser deixada secar para ser guardada novamente na coleção. Neste
caso, a concentração do agente anti-fungo pode ser maior do que
a indicada acima, ou até mesmo ser uma solução saturada.

No caso de material osteológico, o procedimento para limpeza


de fungos é mais simples. O material deve ser lavado com água
corrente, detergente neutro e escova de nylon (de dentes). Em
seguida, ele é banhado em uma solução de álcool e ácido benzóico
MAMÍFEROS - P. Auricchio 187
e deixado secar à sombra. Cuidado para não retirar informações
grafadas nos ossos.
Não se deve esquecer que fungos estão presentes em quase
todos os lugares e, mesmo passando por estes processos, o mate-
rial não estará livre de novos ataques, mesmo porque as hifas e
micélios dos fungos estarão ainda entre a estrutura da pele ou
do osso. A solução para isto é a instalação de um condicionador
de ar ou desumidificadores.
Algumas vezes a umidade pode possibilitar que o fungo pene-
tre fundo nos ossos deteriorando sua estrutura, tornando-o
friável. Os ossos, especialmente os finos, como os da estrutura
craniana, aparecem esfarelando-se e, às vezes, não há mais o
que se fazer. Se o material não permite recuperação por via de
limpeza química, uma alternativa extrema é a “plastificação” do
osso. É importante lembrar que este é um procedimento para
aqueles casos em que não há mais outra alternativa, pois o pro-
cesso é extremamente invasivo, “plastificando” o exemplar e obs-
truindo os menores foramenes, o que pode ser extremamente in-
desejável para alguns estudos científicos.
Nestes casos, a fixação do exemplar se faz por meio de um

Mamíferos
banho de resina acrílica (resina de poliester ortofálica cristal). É
o mesmo processo e material químico utilizado para fósseis
friáveis. O solvente é o monômero de estireno (pode ser substitu-
ído por thiner ou acetona) catalizada com metil etil cetona (MEK).
Uma limpeza com pincel deve ser feita, porém sem molhar ou
umedecer mais a estrutura, pois isto pode resultar na desinte-
gração total da peça. Depois de retirado o excesso de pó, pode-se
colar os fragmentos que se soltaram, se houver possibilidade. A
resina é viscosa, mas deve ser liquefeita com o solvente até poder
penetrar bem no osso. O catalizador deve ser adicionado calcu-
lando-se mais ou menos 2 a 3% do volume de resina. Os ossos
devem ser mergulhados por uns minutos e deixados escorrer e
até limpos com pedaços de papel, para que não se perceba o ex-
cesso. Em cerca de 24 horas ele deve estar pronto.
Infelizmente, os ossos podem ganhar aspecto de diafanizado e
brilhante, mas como foi dito anteriormente, esta é a última op-
ção para não se perder o exemplar. Ele ainda se prestará para a
tomada da maioria das medidas usuais (AURICCHIO, 2000).
188 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

MONTAGEM DE MAMÍFEROS PARA EXPOSIÇÃO DIDÁTICA

A preparação de exemplares taxidermizados é um método muito


utilizado para fins de Educação Ambiental. Apesar de criticado
por muitos ambientalistas, é um material que aguça a curiosida-
de e que pode ser empregado para estimular a participação em
discussões sobre aquela espécie e o ambiente.
Muitas técnicas foram desenvolvidas desde séculos atrás. Até
mesmo exemplares-tipo (aqueles sobre os quais a espécie foi des-
crita cientificamente) foram preparados para exposição. Em pa-
íses onde a caça é permitida, é comum encontrarem-se exempla-
res taxidermizados à venda em lojas. No Brasil, devido à legisla-
ção, isto não é comum. O artigo 1o da Portaria nº 117 de 15 de
outubro de 1997 do IBAMA, reza que os animais provenientes de
zológicos e criadouros registrados pelo IBAMA podem ser prepa-
rados e utilizados para educação e exposição.
É apresentado aqui um apanhado de várias técnicas simples
que são as mais adequadas para preparação de espécimes, mes-
mo em ambientes não profissionais. Elas porém, possibilitarão a
preparação de bons exemplares.
Em qualquer caso, a pele deve ser retirada como indicado an-
teriormente no ítem Etapas da Preparação (pagina 169), com al-
guma variação na localização dos cortes.

PREPARAÇÃO DO MOLDE DA CABEÇA

Antigamente costumava-se usar o próprio crânio descarnado


para preencher e dar forma à cabeça do animal a ser empalhado.
Atualmente esta prática é condenável, pois há um desperdício de
material didático ou científico, preferindo-se a modelagem em ges-
so ou resina, que produz o mesmo resultado com a vantagem do
peso menor.
a. Logo após a retirada da pele, deve-se separar a cabeça do
pescoço entre o atlas e os côndilos occipitais, com cuidado para
não estragar esta região. A cabeça deve ser colocada com o foci-
nho para cima, de maneira que se possa confeccionar um molde
grosseiro desta região (Figura 38);
b. Preso desta forma, deve-se passar na linha sagital mediana
do crânio, uma linha de costura comum que servirá para cortar
MAMÍFEROS - P. Auricchio 189
o gêsso úmido, posteriormente;
c. Então, o crânio deve ser revestido
com uma camada de 1cm de gesso. Se a
intenção for fazer várias cópias, deve-se,
nesta camada, colocar tecido (gaze) para
aumentar a resistência ou preferencial-
mente utilizar atadura gessada utiliza-
da em ortopedia. Deve-se porém, atentar
para que o gesso não obstrua a passagem
do fio de linha que foi colocada na linha suporte
sagital mediana;
d. Depois de pouco tempo de cura,
quando o gesso tomou certo endureci-
Figura 38. Preparação
mento, deve-se puxar a linha para que do molde da cabeça.
esta corte o gesso em duas metades late- (Desenho: P. Auricchio).
rais à cabeça facilitando a retirada. Deve-
se então permitir a secagem total do gesso que possivelmente
levará cerca de uma hora.
e. Depois de seco, este molde deve ser cuidadosamente retira-
do e deve ser processada a limpeza do crânio, quer para científi-

Mamíferos
cos ou didáticos.
f. Com a fôrma seca em mãos, deve-se proceder à
impermeabilização da parte interna da forma com tinta, verniz
ou similar. Depois deste revestimento seco, deve-se passar sobre
a superfície impermeabilizada, uma camada de detergente líqui-
do ou outra substância que sirva como desmoldante (vaselina
em pasta, cera, etc.).
g. Para confecção do molde pode-se utilizar resina acrílica, papel
maché ou gesso (este último, apesar de pesado, é barato). Com o
molde já montado (as duas laterais) e devidamente untado com
desmoldante, deve-se colocar o gesso pouco líquido para que pos-
sa ser espalhado pela superfície interna do molde, deixando-o oco
ou inserir nele um pedaço de isopor. A espessura final de gesso
deve ser de 1cm aproximadamente. No caso do uso de resina
acrílica, ela deve ser preparada com talco industrial ou similar,
para dar maior textura e ainda, se disponível, utilizar lã de vidro
pela parte interna.
190 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

MONTAGEM DO EXEMPLAR

Para mamíferos até o tamanho de um cachorro-do-mato pode-


se proceder ao preenchimento da pele com palha de madeira,
como as utilizadas para proteger frutas no transporte, ou outra
fibra como algodão ou fibra sintética, bastando construir uma
armação de arame forte para sustentação. Para animais maio-
res, o preenchimento pode ser feito com um manequim sobre o
qual se assenta a pele (páginas 192 e 193).

PREENCHIMENTO COM ALGODÃO OU FIBRA

a. Quando se faz o preenchimento de pequenos mamíferos,


um arame de espessura compatível com o tamanho do exemplar
é colocado como coluna vertebral, central ao corpo. Nele são
feitas duas argolas: uma para fixar as pernas dianteiras, e outra
para fixar as pernas traseiras. A fim de dar a medida exata do
comprimento do pescoço, corpo e cauda, o ideal é medir estas
dimensões no momento seguinte ao descarne. São elas as da in-
serção do fêmur até a inserção do membro anterior ao corpo,
medidas do pescoço, e outras que possam ser úteis.
b. Fazer um boneco do pescoço com palha ou algodão, quando
a pele ainda está sendo retirada, permite que se tenha uma
noção exata de tamanho e comprimento do mesmo.
c. Com a pele devidamente limpa e “envenenada” (ítens 17 e
18 das páginas 173-174), e o molde do crânio preparado com os
olhos no lugar, deve-se colocar o molde dentro da pele, na posi-
ção correta e iniciar o preenchimento com, preferencialmente,
palha de madeira. O arame deve ser introduzido na cabeça do
modelo de modo que perfure o topo da cabeça;
d. Com a cabeça e o pescoço prontos, as patas podem ser pre-
paradas. Um arame de espessura adequada ao peso do exemplar
deve ser introduzido no pé, na região onde o animal se apoia,
sendo deixado para fora cerca de uns 10cm para fixação.
e. Pelo lado interno da pele devemos preencher com algodão e
palha de madeira ao redor do arame, firmemente, sempre mo-
delando o membro como a musculatura;
f. Nesta altura, cabeça, pescoço e membros estão prontos. Com
MAMÍFEROS - P. Auricchio 191
a outra ponta do arame que está preso à cabeça, devemos mode-
lar a cauda com algodão, e introduzindo-o na pele. As argolas
da “coluna” devem estar posicionadas e então os arames das pa-
tas bem fixados nestas argolas;
g. O corpo deve ser preenchido com algodão ou palha de ma-
deira, sempre bem apertada e sempre modelando-se o exemplar.
Um pouco de pressão e rearranjo do enchimento dará à peça
uma postura adequada. Feito isto, deve-se preencher o restante
e proceder-se a costura;
h. Agora os procedimentos finais são a colocação da pele do
focinho e região ao redor do olho e boca no lugar, utilizando-se
alfinetes para a fixação. Os melhores são os entomológicos por
penetrarem facilmente na pele e não deixarem orifícios demasi-
adamente largos e aparentes;
i. As orelhas devem ser suportadas pelo lado de fora, por ara-
mes e chapas de alumínio ou lata, para que adquiram a posição
desejada, até a hora da secagem total, e
j. De posse do tronco ou tábua que servirá de base, onde será
fixado o exemplar, deve-se colocar o animal, escolhendo-se uma
posição condizente com os hábitos de vida do animal, consul-

Mamíferos
tando para isto fotos, livros e figuras da espécie.

PREPARAÇÃO DE MANEQUINS CASEIROS PARA


MAMÍFEROS GRANDES

Uma grande variedade de materiais pode ser utilizada para


este fim: isopor, madeira, vergalhões de ferro para sustentação,
gesso, algodão, etc.. Algumas vezes é interessante preparar o
manequim antes de retirar a pele do exemplar. Esta prática nem
sempre é possível, pois demanda tempo. Assim, pode-se também
tomar várias medidas, além das usuais, tais como: comprimento
do pescoço, comprimento do corpo, comprimento da cauda, com-
primento das patas, diâmetro da barriga, diâmetro da coxa, di-
âmetro do pescoço, diâmetro do peito, altura do pescoço, dentre
outras que porventura forem necessárias para o tipo de animal
a ser preparado (Figura 39).
Note que o pescoço e pernas, etc., são cônicos e variam seus
diâmetros. Isto deve ser modelado conforme é preparado o exem-
plar. É importante também lembrar que, para espécimes mais
192 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
A-C

E
A-C
A-
Circ B
D

peludos, possíveis defeitos podem não aparecer.


Figura 39. Algumas medidas extras para montagem em manequins. A-B:
Distância da ponta do nariz ao canto interno do olho, A-C: Distância entre a
ponta do nariz ao centro da parte traseira da cabeça, E+A-C: Distância entre
a ponta do nariz à base da cauda, D: Circunferência do pescoço, Circ: Circun-
ferência do peito. (Desenho: P. Auricchio).

PREPARAÇÃO DE MANEQUINS CASEIROS COM


ESPUMA DE POLIURETANO

A espuma de poliuretano é extremamente leve e resistente, o


que permite uma preparação de qualidade. Ela é composta de
duas substâncias que devem ser misturadas em partes iguais que
reagem quase que instantaneamente aumentando seu volume
em aproximadamente 20 vezes.
Para preparar um manequim de espuma de poliuretano deve-
se fazer um molde do corpo do animal depois de retirada a pele.
Com a pele retirada, sem eviscerar o corpo, devemos colocá-lo
na posição em que se deseja obter o manequim. Para isto pode-se
pendurar o corpo utilizando-se cordões e suportes.
O molde, para obtenção do manequim, pode ser feito utilizan-
do-se atadura gessada (de ortopedia) por sobre o corpo do ani-
mal (Figura 40).
Atenção: ao cobrir o corpo, deve-se atentar para os encaixes
entre as partes.
Se a intenção for preparar vários manequins, esta etapa deve
ser feita com cuidado e a espessura do gesso deve ser maior e
MAMÍFEROS - P. Auricchio 193

Laterais

Suturas

Figura 40. Partes do molde e suturas de montagem. A = vista ventral; B =


vista posterior. A espuma de poliuretano para o manequim, pode ser despeja-
da por um dos orifícios deixados pelas pernas.(Desenho: P. Auricchio).

encaixes entre as partes devem ser bem calculados.


Depois de bem seco, o molde deve ser retirado com cuidado e
alguma imperfeição corrigida. A carcaça então pode ser separa-
da para outro procedimen-
to (ver página 173).
O molde deve ser imperme-

Mamíferos
abilizado por dentro com tin-
ta a base d’água ou óleo em
várias camadas. Depois da
tinta totalmente seca deve-se
passar várias camadas espes-
sas de cera como
desmoldante, para que a es-
puma não se fixe no molde.
Pode-se então montar o mol-
de com o auxílio de cordões,
elásticos e fitas adesivas. Figura 41. Posição da ferragem no
menequim.
Um arame ou ferro de
construção (conforme o tamanho do exemplar) deve ser colocado
no pescoço, pernas e cauda (Figura 41).
Depois de tudo preparado, faça a mistura das substâncias da espu-
ma em pequenas quantidades para evitar desperdício e acidentes.
Preenchido o molde com as armações de ferro no lugar (Figura
41), pode-se retirar o manequim do molde. Se o manequim não foi
feito com patas e pescoço, pode-se neste momento completá-lo
com enchimento de palha, algodão, etc. amarrados de modo a
dar formato ao membro.
194 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
A confecção da cabeça faz-se como explicado anteriormente.
PREPARAÇÃO UTILIZANDO MANEQUIM DE ESPUMA DE
POLIURETANO OU PAPEL MACHÊ PRÉ-FABRICADOS.

Algumas empresas especializadas em taxidermia produzem ma-


nequins de várias formas e diferentes espécies.
Para utilização de manequins pré confeccionados, devem ser
tomadas algumas medidas, anteriormente à retirada da pele,
como mostra a Figura 39.
Estas medidas podem variar de fornecedor para fornecedor,
portanto certifique-se pelo catálogo, anteriormente ao pedido.
A pele é preparada como para outras técnicas, porém cortes nas
pernas devem ser feitos como para preparação de peles abertas.
Existem colas especiais para colar reentrâncias da muscula-
tura, cantos dos olhos e outros. Colas instantâneas tipo “super
bonder” são bons substitutos.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Isnard Rubin pelas informações cedidas para ela-


boração deste capítulo; à Dra. Maria da Graça Salomão, Dra.
Ana Maria de Souza, Dr. Francisco Luís Franco e Myrian Elizabeth
Velloso Calleffo pela revisão dos manuscritos.
BIBLIOGRAFIA
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mammals for study. Guide leaflet no. 61 3rd ed. American Museum
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AURICCHIO, P. 2000. Recuperação de peles atacadas por fungos.
Publicações Avulsas do Instituto Pau Brasil de História Natural.
(3):11-14. ISSN 1516-4926.
BECKER, M. & DALPONTE, J. C. 1991. Rastros de mamíferos silves-
tres brasileiros - Um guia de campo. Ed. UnB. Brasília. 180p.
DeBLASE A.F & MARTIN, R.E. A manual of mammology - with keys
to families of the world. 2nd ed. 436p.
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GURMELL, J. & FLOWERDEW, J. R. 1994. Live trapping small
Mammals - A pratical guide. Occasional Publications no. 3. The
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MILLER Jr., G. S. 1932. Directions for preparing specimens of mammals
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PRUM, R. O. 1993. Las colecciones anatômicas de los museos de Histó-
ria Natural y la investigación de la filogenia y la evolución de las
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TRUSTEES OF THE BRITISH MUSEUM (NATURAL HISTORY) 1968.
Instructions for collectors. No. 1 Mammals 6th ed. 55p.
6
ESQUELETOS - P. Auricchio 195

Esqueletos

Esqueletos
196 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

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ESQUELETOS - P. Auricchio 197

Esqueletos
Paulo Auricchio

Esqueletos são ferramentas importantíssimas tanto para pes-


quisa científica, na identificação de caracteres para análises
anatômicas e filogenéticas, como para fins didáticos, ilustran-
do a estrutura corpórea. Ainda, podemos lembrar que o cresci-
mento de coleções osteológicas é uma ferramenta imprescindí-
vel para outras ciências como a paleontologia ou mesmo a me-
dicina veterinária.
No que se refere a coleções osteológicas, é alarmante que
quase um terço das espécies de aves não estejam representadas
em nenhuma coleção do mundo (MATTHIESEN, 1993). O mes-
mo deve acontecer com outros vertebrados negligenciados nes-
te tipo de coleção. Apesar disto, existem muitos métodos efici-
entes para se criar uma coleção.
Métodos para limpeza de esqueletos incluem fervura com lim-
peza manual, maceração, uso de produtos químicos e várias
espécies de artrópodes. O procedimento para limpeza de esque- Esqueletos
letos depende de tamanho, idade e condição do espécime, nú-
mero de espécimes a serem limpos, a finalidade do espécime e a
logística disponível para o processamento.
Existem vários procedimentos utilizados, e alguma experiên-
cia e julgamento serão necessários para desenvolver o método
mais adequado.

EQUIPAMENTOS E LOGÍSTICA

Material para preparação de esqueletos incluem os mesmos


relacionados no capítulo de mamíferos, incluindo: panelas de
vários tamanhos, fogão, carbonato de potássio ou mamão verde
198 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

ou bicarbonato de sódio, água oxigenada 10 volumes (ou outra


concentração devidamente diluída), álcool etílico. Outros pro-
dutos químicos e instrumentos podem ser necessários de acordo
com a metodologia utilizada e serão mencionados oportunamente.
Deve-se trabalhar num local onde os odores de matéria em
decomposição não atrapalhem outras atividades. Não subesti-
me a importância deste ítem. Para cada método serão indicados
materiais específicos.

OBJETIVOS DA PREPARAÇÃO DE ESQUELETOS

A preparação de esqueletos pode ter finalidade científica, para


a qual, normalmente, os ossos ficam totalmente desarticulados
ou semi-articulados e armazenados em caixa de papelão (ver
seção Armazenamento neste capítulo), ou ainda para fins
didáticos e de exposição, quando devem permanecer articulados
e montados em posição de vida.
Existem controvérsias no que se refere ao quanto o exemplar
deva permanecer articulado, semi-articulado ou inarticulado por
completo. Não há uma única maneira que traduza a satisfação
de todos os pesquisadores, sendo que, desta forma, fica impos-
sível indicar a maneira mais correta. Em geral, na maioria das
instituições os esqueletos são mantidos semi-articulados, ou seja,
os membros e crânios estão desarticulados do corpo e o tronco
permanece articulado. Para atingir este fim, o descarne pode
ser feito perfeitamente por dermestídeos.
A preparação semi-articulada é quase inútil para
paleontólogos, zoo-arqueólogos e ecólogos, que necessitam de
material comparativo para identificar espécimes, tais como os
incluídos em conteúdos estomacais ou em regurgitos de aves
rapineiras, necessitando de exemplares completamentre desar-
ticulados e livres de tecidos. Por outro lado, devemos considerar
que a desarticulação completa leva inevitavelmente a uma per-
da razoável de informações. Esta perda ocorre também na pre-
paração da pele, por razões óbvias (MATTHIESEN, 1993). Desta
forma, o ideal de uma coleção é, quando possível, ter na série um
esqueleto semi-articulado e um ou mais desarticulados.
Como já foi dito, qualquer material deve ser respeitosamente
preservado. Crânios que eventualmente tenham sido quebrados
ESQUELETOS - P. Auricchio 199
pela caça ou atropelamento, também devem ser preparados e
guardados pois, muitas vezes, o interior do crânio pode apre-
sentar muitos caracteres de interesse científico.
Muitas vezes animais encontrados atropelados estão demasi-
adamente danificados mas, nem por isto devem ser desprezados.
Alguns ossos podem ser guardados para comparação didática
com ossos de outros grupos. Esta é uma ferramenta muito útil
para dar idéia da anatomia de grupos diversos (MATTHIESEN,
1993). Outra forma de aproveitamento é constituir-se um catálo-
go anatômico, ou seja, reunir-se fêmures, ulnas e outros compo-
nentes do esqueleto, de vários táxons, para comparação. Com o
tempo, esta coleção ganhará uma importância enorme para iden-
tificação de ossos fósseis, além de sua importância didática. Exem-
plares de zoológicos ou de estimação podem também ser utilizados
para este fim. Normalmente são espécies difíceis de se conseguir.
Anteriormente à preparação do exemplar, deve-se proceder às
medidas usuais e ter anotadas outras informações pertinentes.
Uma pele de qualquer animal é, até certo ponto, facilmente
identificável, mas isto não se aplica ao esqueleto. Uma exceção
se faz a roedores, que possuem em seus dentes a fonte mais
importante de identificação, porém, outros grupos necessitam
de identificação prévia à preparação. A identificação do espéci-
me deve ser precisa, e preferencialmente no nível de espécie.
É um hábito comum de curadores negligenciar esqueletos de
exemplares jovens porque “não resultam em boas peças”
(MATTHIESEN, 1993). Esta é uma prática que forma coleções
incompletas, que não permitem comparações ontogenéticas e
filogenéticas. Este trabalho conterá subsídios, também procedi-
Esqueletos
mentos para a preparação de esqueletos de embriões.
Os métodos propostos a seguir necessitam de pouco tempo de
trabalho e podem ser utilizados para qualquer das finalidades. A
preparação para fins didáticos será explicada no final do capítulo.

LIMPEZA PRÉVIA

Qualquer que seja o objetivo em mente, uma limpeza prévia


deve ser procedida. Toda a musculatura possível deve ser sepa-
rada do esqueleto. A musculatura “intercostal” de pequenos ma-
míferos pode ser deixada.
200 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Caso o grande tamanho do exemplar necessite de cortes em


sua coluna vertebral para transporte, isto deve se feito entre o
pescoço e o tórax, entre o tórax e o abdome e entre o abdome e
a cauda. Estes são os pontos mais indicados para esta operação.
Para isto, é mais fácil encontrar as junções pelo lado interno da
coluna. Em pequenos mamíferos isto não é necessário.
Se estiver no campo, a preparação preliminar dos esqueletos
não deve ir além da remoção do excesso de carne para evitar a
putrefação, colocando-os a secar ao sol. Com exceção do álcool
ou sal comum (NaCl), ambos desidratantes, nenhum preservati-
vo deve ser utilizado. O formol dificulta muito a aceitação da
carcaça pelos dermestídeos e endurece os tecidos, dificultando
a limpeza manual e a maceração demora anos para se comple-
tar. Caso seja possível, antes da secagem, uma lavagem da car-
caça em água corrente deve ser procedida para que seja retira-
do o máximo de resíduos
sangüíneos, o que facilita a
preparação e o branquea-
mento, além de diminuir os
odores. Caso contrário, este
procedimento pode ser dis-
pensado. Não se deve utilizar
água quente, pois esta fixa
sangue nos ossos e acelera a
putrefação. A utilização do Figura 1. A identificação do material
álcool, além de auxiliar a de- previamente ao preparo é de suma
sidratação, diminui os odores. importância.
Deve-se cuidar para que to-
dos os ossos do esqueleto permaneçam unidos e numerados para
transporte ao laboratório. Todo o cuidado deve ser tomado para
que peças de diferentes espécimes não sejam misturadas, o que
inutilizaria o material. Todas as partes devem ser amarradas jun-
tas e rotuladas de maneira a assegurar a identificação de cada
uma em laboratório (Figura 1 e 2).
É importante observar a preservação de ossos aliados ao hióide,
ele próprio e ainda do ospênis (em primatas, carnívoros e roedores).
Em laboratório, não se admite que o espécime fique total-
mente desidratado. A secagem adequada permite uma prepara-
ção mais rápida e um espécime de melhor qualidade. A quanti-
dade apropriada de umidade nos espécimes atrairá os besouros
ESQUELETOS - P. Auricchio 201

Figura 2. Esqueleto pronto para transporte ou para ser colocado no


dermestário. Note que este esqueleto está muito mais limpo do que o necessário
para um pequeno animal. Uma pequena quantidade de musculatura deve ser
deixada entre as costelas e processos vertebrais. O crânio foi separado do
tronco para remoção do cérebro. Não se esqueça de identidicar o exemplar.

(no caso da preparação com dermestídeos) sem criar condições


para a presença de fungos nem de decomposição. Só a experiên-
cia dirá o ponto ideal.
No campo é possível deixar o exemplar ao sol por um período
curto para acelerar a secagem. No verão proteja o material com
um tecido de filó para prevenir a postura das moscas. Se isto acon-
tecer, uma rápida aspersão de água sanitária matará as larvas.
Após esta limpeza a carcaça deve ser lavada em água e seca.
Espécimes desidratados ou mumificados, que foram guarda-
dos por longos períodos, devem ser amaciados para permitir
que os dermestídeos aceitem ou para que outro processo de
descarne seja iniciado. Deve-se manter os esqueletos imersos
em água fria por 12 horas e repetir o procedimento 3 a 4 vezes.
Espécimes maiores necessitam de mais tempo de imersão.
Algumas vezes é desejavel preparar o esqueleto de um material Esqueletos
que foi previamente fixado com álcool ou formol. Para isto é
necessário remover o espécime do preservativo colocando em água
corrente por aproximadamente dois dias, e então, escolher o pro-
cedimento. Se a escolha foi a preparação por dermestídeos, a
colônia de dermestes pode não aceitar. Se isto ocorrer, várias lava-
gens serão necessárias. Um banho com caldo de carne pode ajudar
a aceitação pelos besouros (Francisco L. Franco com. pessoal).

MACERAÇÃO

A maceração é o processo de submergir o espécime em água


num recipiente e deixando que as bactérias decomponham os
202 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

tecidos moles, restando só o esqueleto. Deve ser empregada quando


se deseja um material completamente desarticulado. Indicado para
qualquer vertebrado que se destine à pesquisa anatômica ou
taxonômica, especialmente cetáceos, quando o tamanho permitir.
Existem diversas maneiras de macerar um espécime, porém
somente a estratégia usando bactérias será discutida aqui.
A maceração química é mais rápida, entretanto, requer a adi-
ção de substâncias químicas o que a torna difícil para a maioria
dos estudantes. Muitas vezes este método pode danificar o es-
queleto e, por isso, não é recomendado.
O método com bactérias é mais indicado para preparação ci-
entífica, quando se deseja que o material fique totalmente de-
sarticulado.
O animal deve ser descarnado o máximo possível para acele-
ração do processo, como visto na seção III, tomando-se o cuida-
do de não danificar ou perder nenhum osso, principalmente os
finos como costelas ou curtos como os do tarso, os sesamóides, e
ainda o báculum. Depois do descarnamento máximo, deve-se
colocar a carcaça para imersão e fervura (se o espécime tiver
dimensões que possibilitem este processo). A fervura deve durar,
no mínimo, uns quinze minutos. Deixe a carcaça esfriar vaga-
rosamente para evitar que os dentes trinquem. Depois, deve ser
colocada num recipiente plástico ou de vidro, e completar com
água até cobri-la. O material deve ser colocado a macerar du-
rante um tempo que varia de uma semana até alguns meses,
dependendo da temperatura ambiente e tamanho do animal.
A fervura não é obrigatória, mas acelera o processo. Somente
imersão em água também dá bons resultados.
Esporadicamente deve-se observar o andamento do processo.
É interessante, mas não imprescindível, trocar a água de
maceração mais ou menos na metade do processo (2 ou 3 sema-
nas depois do início), pois impede que os ossos tornem-se escure-
cidos. Infelizmente, neste estágio da maceração o odor é extre-
mamente forte.
Ossos longos de grandes animais devem sofrer finas perfura-
ções com brocas, numa região que não danifique as caracterís-
ticas topograficas do osso. Isto facilita a decomposição da ma-
téria orgânica, evitando o escurecimento do osso.
·As vantagens apresentadas por este processo são: diminui-
ção do tempo de trabalho ativo do técnico; limpeza total de
ESQUELETOS - P. Auricchio 203
gorduras e qualquer outro resíduo que possa posteriormente cau-
sar aparecimento de fungos ou deterioração do material.Os ossos
não sofrem ação física, assim, os ossos não são danificados.
·As desvantagens são: odor extremamente fétido exalado du-
rante o processo (deve ser procedido bem longe da passagem de
pessoas). Outro problema é a produção de uma “massa branca”,
resultado da saponificação da gordura. É necessário raspá-la do
esqueleto, depois de seco, ou escová-la com uma escova dura sob
água corrente. O processo pode levar até mais de um ano, depen-
dendo da temperatura. Entre 40 a 47oC é processado mais
satisfatoriamente. Em temperaturas mais elevadas ocorre a “maré
vermelha” (superpopulação de bactérias) que pára a maceração
(MATTHIESEN, 1993).

LIMPEZA MANUAL COM COZIMENTO

Apesar de ocupar grande tempo de preparo, este método é uti-


lizado para preparação de exemplares para montagens didáticas,
quando não se dispõe de uma estrutura adequada para outros
métodos.
Cozimento é um método para limpeza de espécimes frescos,
secos ou preservados em líquido, de médio até grande porte. O
espécime deve ser descarnado o máximo possível. Enxágüe previ-
amente os espécimes preparados com água fria por 6 a 24 ho-
ras. Esse passo não é essencial, mas removerá o sangue das
carcaças frescas e amolecerá os tecidos dos espécimes secos ou
preservados em líquido.
Desarticule os animais grandes em pedaços de tamanho con-
Esqueletos
veniente. Escolha um recipiente que permita que o espécime seja
completamente imerso. Isso evitará que a gordura que boia na
água acumule-se nos ossos. Embrulhe os pés numa tela para
manter os ossos dos pés juntos, se eles forem desarticulados. Para
um crânio com chifres ou cornos, posicione a cabeça para que o
crânio, mas não os chifres e cornos sejam imersos.
Cozinhe em água com um pouco de detergente e carbonato
de potássio (uma colher de chá para cada meio litro de água)
ou, na falta deste, pedaços de mamão verde (que contém papaina)
durante, pelo menos, 15 minutos. Espécimes grandes, secos e
preservados em líquido, demoram mais que os frescos. Quando
204 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

o tecido tomar uma aparência gelatinosa, tire a vasilha do fogo,


deixe esfriar vagarosamente para evitar que os dentes rachem e
lave sob água morna. A carne solta deve sair do osso facilmen-
te, mas pode ser necessário usar uma escova, bisturi, pinça ou
tesouras para remover ligamentos mais duros, fáscia e
tendões.Deve-se ter o cuidado de não cortar ossos. Sempre tra-
balhe sobre uma tela. Esteja certo de recuperar qualquer osso
ou dente que tenha caído. Talvez seja necessário repetir o trata-
mento. Deixe os ossos secar à temperatura ambiente. Ossos lon-
gos, secos muito rapidamente, podem rachar.
Hidróxido de amônio pode ser utilizado na fervura, mas isso
pode estragar pequenos crânios, devendo ser usado com cautela.
Em seguida deve-se proceder ao branqueamento com água oxi-
genada, da mesma forma que para outras técnicas de descarne
(ver em Branqueamento neste capítulo).
· A principal vantagem deste processo é a escolha das articu-
lações que se deseja manter, principalmente se o objetivo é uma
peça didática ou que determinadas partes permaneçam unidas
para estudo (como por exemplo o carpo ou o tarso).
· A desvantagem é o tempo despendido na preparação sem
perfeita limpeza, pois os pequenos forâmenes ficam, via de re-
gra, obstruídos por tecido, e outros inconvenientes.

LIMPEZA POR DERMESTÍDEOS

O tamanho da colônia de-


pende do tipo e quantidade de
material a ser processado. O uso
de besouros para limpeza é nor-
malmente restrito a animais
pequenos ou médios. Uma co-
lônia bem mantida resultará
numa limpeza meticulosa e es-
queletos articulados. Não há,
geralmente, perda de dentes, o
dano ao esqueleto é mínimo
ou nenhum e poupa esforço e
tempo de trabalho do figura 3. Adulto e larva de último
preparador. Uma desvantagem estádio de besouros de Dermestes sp.
(Modificados de DeBLASE & MARTIN).
Escala 5 mm.
ESQUELETOS - P. Auricchio 205

A
B

D
C
figura 4. Adulto e larva de último estádio dos besouros de A: Attagenus piceus,
B: Anthrenus scrophulariae, C: Anthrenus verbasci, D: Anthrenus vorax. (Mo-
dificados de GRISWOLD & GREENWALD, 1941).

desse método é o tempo requerido (um ou dois meses) para cons-


truir uma colônia. Uma colônia inicial de dermestídeos pode ser Esqueletos
coletada de qualquer carcaça seca durante os meses mais quen-
tes do ano ou de uma colônia já existente.
No geral os exemplares adultos de besouros do gênero
Dermestes (figura 3) medem de 5 a 12 mm possuindo formato
oval com cutículas castanho avermelhadas e superfície ventral
branca (TIEMEIER,1940). As larvas são segmentadas, alongadas,
peludas e variam de 2 a 12 mm, dependendo do número de
mudas que cada uma já sofreu.
Outras espécies de dermestídeos podem ser utilizadas para
formação de colônias. No hemisfério norte são mais utilizadas
as espécies Attagenus piceus e espécies do gênero Anthrenus
(figura 4). Apesar de menores e, portanto, mais lentos, não re-
jeitam nenhuma carcaça.
206 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Para a estabilização de uma colônia, deve-se iniciar com um


mínimo de 30 adultos e larvas. Adultos são necessários para
propósitos reprodutivos, mas são as larvas que fazem a maior
parte do trabalho.
Se uma colônia (dermestário) formada não estiver disponível,
a carcaça desidratada deve ser embrulhada em papel e pendura-
da em algum lugar protegido de umidade excessiva para que os
dermestídeos se aproximem. Se depois de alguns dias estes insetos
não atacarem o espécime, é necessário colocá-lo em uma cultu-
ra já em andamento.
A sala que abriga o dermestário deve ser bem longe das cole-
ções de peles e, de preferência em outra edificação. Toda precau-
ção é importante para prevenir o escape destes insetos, já que o
ataque às coleções tem conseqüências desastrosas. É extrema-
mente importante manter a colônia de dermestídeos muito lon-
ge de qualquer coleção de peças taxidermizadas, ou mesmo de
residências, pois os dermestes atacam livros, roupas e couros com
avidez. A sala em que o dermestário é mantido deve ser bem
ventilada e, ao mesmo tempo, bem vedada para evitar a entrada
de predadores, como formigas e aranhas. Ataques por estes pre-
dadores são de difícil controle. A ventilação removerá odores e
manterá o ar livre de “poeira de besouro” (cerdas das larvas) que
pode ser extremamente irritante para algumas pessoas. Podem
aparecer dermatites de contato e alergias respiratórias. A ob-
servação cuidadosa pode apresentar o pêlo da larva (ESCALANTE-
PLIEGO, 1993). Umidade acima de 70% favorece o aparecimento
de fungos que são repelentes para os dermestes, ou ácaros que
podem destruir a colônia. Além disto, vapores de amônia for-
mam-se com a umidade na colônia. Deve-se então providenciar
uma ventilação adequada.
Em regiões de clima frio, será necessário aquecer o ambiente
com aquecedores a gás ou outros disponíveis, caso contrário a
colônia não se forma ou pode se perder. A temperatura ideal de
manutenção deve ficar entre 25 a 28o C e deve ser mantida abrigada
da luz direta, porém, pequenas variações na umidade e intensi-
dade de luz não afetarão a colônia.
O recipiente para colônia pode ser um aquário ou um pote de
vidro, dependendo do tamanho dos exemplares a serem prepa-
rados. Recipientes de madeira, isopor, papelão não são adequa-
dos, pois as larvas escavam estes materiais para pupar. Alguns
ESQUELETOS - P. Auricchio 207
dermestários são forrados com camadas de algodão no fundo
do recipiente para providenciar lugares propíscios para
empupamento. Entretanto esse procedimento não é mais utili-
zado pois a limpeza do dermestário é extremamente dificultada.
As larvas pupam nos interstícios de tecidos secos ou mesmo soltas.
É importante introduzir material novo a cada 2 ou 4 semanas para
manter a colônia ativa, pois o material velho não tem nutrientes e
especialmente gordura e umidade necessária para manter a colônia.
Para acelerar o processo de limpeza do espécime, deve ser reti-
rado o máximo de tecidos como visto anteriormente. O hióide
dos animais maiores deve ser separado e seco para ser colocado
separadamente no dermestário. Penas e pêlos também são comi-
dos pelos dermestes, mas devem ser retirados previamente.
O espécime previamente descarnado deve ser pendurado em
local aberto para secar, evitando a aproximação de moscas e con-
seqüente desova sobre a carcaça. Isto pode ser conseguido com
um tecido de filó (tipo “mosquiteiro”). A desidratação pode ser
melhorada com a utilização de álcool (mergulhando-se a carca-
ça por alguns minutos ou aspergindo o produto sobre a mesma).
Depois de seca, a carcaça deve ser embrulhada frouxamente
com jornal e colocada em garrafas plásticas de refrigerante cor-
tadas longitudinalmente pela metade. O recipiente plástico ser-
ve para manter os espécimes separados e o jornal escurece o am-
biente e dá condições de pupagem para as larvas. O tempo ne-
cessário para limpar um crânio depende do número de besouros
da colônia. Numa colônia estável, um crânio de rato pode ser
limpo em um dia. É importante checar a colônia todos os dias,
para que se identifique o momento de retirar o esqueleto articu- Esqueletos
lado ou deixá-lo mais tempo para conseguir um esqueleto total-
mente desarticulado.
O método de preparação por dermestídeos tem muitas vanta-
gens sobre os outros métodos.
· Vantagens: Odor muito menos desagradável do que na
maceração; limpeza completa do exemplar. O exemplar pode ser
recuperado totalmente articulado para montagem didática, sendo
necessário apenas, não exceder no tempo de ataque dos
dermestídeos; pouco tempo demandado pelo preparador (um
preparador trabalhando meio período pode preparar milhares
de esqueletos em um ano); nenhum ligamento ou ossos peque-
nos são perdidos no processo.
208 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

· Desvantagens: Nem sempre os insetos atacam a carcaça. Se


fungos atacarem a carcaça só será possível a limpeza dos ossos
por maceração depois de boa fervura, ou depois de boa limpeza.
É aconselhavel aspergir um pouco de água sobre a carcaça
semanalmente, pois as larvas necessitam de umidade.
Quando o esqueleto for retirado dos dermestes, alguns teci-
dos ainda permanecem. Estes deverão ser retirados manualmen-
te. O hidróxido de amônio numa proporção de 50% com água
(preparado com uma solução de 28-30% de solução concentra-
da) pode ser utilizado para este propósito. Cuidado com a eti-
queta e arames que porventura tenham sido utilizados para
identificar o exemplar. Cada exemplar deve ficar num recipiente
de vidro ou plástico nesta solução por umas oito horas, quando
então, a solução deve ser drenada (a mesma solução pode ser
utilizada várias vezes) e então o mesmo recipiente deve ser
enchido com água. O espécime pode ficar nesta solução por
mais quatro horas.
Atenção: Este processo deve ser feito em local ventilado. Vapo-
res de hidróxido de amônio são tóxicos. Se a solução tocar a
pele, deve-se lavá-la imediatamente. O preparador deve usar
luvas de borracha e protetores de olhos.
Após a remoção dos tecidos remanescentes o material deve
ser deixado secar à temperatura ambiente. Para a retirada dos
dermestídeos remanescentes na carcaça pode-se utilizar pinça
ou pode-se imergir o esqueleto em água. Caso não se deseje mo-
lhar o esqueleto, pode-se congelá-lo ou submetê-lo a temperatu-
o
ras altas ( entre 63 a 74 C). Este procedimento também pode ser
utilizados para controlar uma infestação na coleção.
Um excelente método foi desenvolvido por Claudemir Antonio
Lopes, técnico do Departamento de Zoologia da Universidade de
São Paulo. Consiste na montagem da carcaça no substrato final
(tronco ou outra superfície), antes de ser colocado na colônia.
Este garante uma montagem mais realista com maior fidelidade
da posição e ainda, nenhum ou pouquíssimo trabalho na monta-
gem. Entretanto, é necessária muita atenção durante o processo
para que os insetos não desarticulem a peça. Os dedos e a coluna
vertebral devem ser amarrados com arame na posição desejada.
Depois de estar na posição, é procedida a secagem em banho
de álcool e estufa a 35 a 45o, como descrito anteriormente.
É importante estar atento todos os dias para que as larvas
ESQUELETOS - P. Auricchio 209
não ataquem demasiadamente as cartilagens e, para isto, deve-
se observar o trabalho dos dermestídeos a cada 2 ou 3 horas.
Durante a noite, é aconselhável a retirada do esqueleto da colô-
nia para evitar desarticulações. Uma pincelada com formalina
10% onde não se deseja que os dermestes ataquem mais e uma
gota de cola permanente em algumas articulações, garantirá o
trabalho. O branqueamento se faz com algodões embebidos em
peróxido de hidrogênio envolvendo o esqueleto.

CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS

Animais jovens, dos quais se necessite preparar o esqueleto,


são rapidamente desarticulados, e seus ossos moles podem ser
perfurados pelos besouros. Para limitar a ação dos besouros,
deve-se pincelar formalina 10% nas áreas específicas onde não
se deseja que eles atuem (como epífises e elementos do crânio
onde as suturas não tenham se firmado). Outra opção é colocar
o espécime numa colônia menor com larvas de pequeno porte.
Nunca se deve colocar um animal de cornos na colônia a não
ser que as cápsulas dos cornos tenham sido retiradas. Além dos
danos produzidos nas cápsulas dos cornos, é quase impossível
retirarar as larvas do crânio, correndo-se o risco de introduzir
dermestes na coleção inadvertidamente.
Vários outros artrópodes podem atacar a colônia de
dermestídeos. Aranhas e formigas são grandes predadores de
dermestídeos. A colônia pode ser mantida dentro de uma caixa
de vidro (aquário) tampada com uma tela de “nylon”. Aranhas,
formigas e baratas são as piores pestes num dermestário. É im- Esqueletos
portante manter estes animais longe do dermestário. Será muito
difícil acabar com uma infestação destes animais.

LIMPEZA POR LARVAS DE MOSCAS

Larvas de moscas podem ser também utilizadas para a


preparação de esqueletos desarticulados. Para isto, depois do
descarne, deve-se colocar a carcaça em um recipiente plástico
ou de vidro, onde seja permitida a entrada de moscas para depó-
sito de ovos. Depois de uma ou duas semanas o esqueleto estará
completamente limpo. Neste método não se pode permitir a se-
cagem da carcaça.
210 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

· Vantagens: economia de tempo na preparação, rapidez no


preparo e limpeza total do exemplar.
· Desvantagens: cheiro muito forte e problemas de saneamen-
to. Este processo deve ser feito sempre muito longe de moradias.

DIGESTÃO POR ENZIMAS

O uso de enzimas para limpeza é mais rápido que a maceração


bacteriana e se feita apropriadamente é menos danosa que a
maceração química por KOH. É recomendado para pequenos es-
queletos. A desarticulação é tão completa com tripsina e papaína
que esses não são recomendados para animais imaturos.
Pancreatina produz esqueletos articulados e tem sido usada com
sucesso na preparação de esqueletos pequenos e frágeis. O custo e
a difilculdade em obter esses materiais pode impedir seu uso.

DESENGORDURAR

É um dos problemas mais difíceis de resolver. Nas etapas de


preparação como maceração, um pequeno furo em locais que
não comprometam a topografia do osso pode facilitar a saída de
gordura da luz do osso.
O tratamento com hidróxido de amônio pode desengordurar
adequadamente pequenos esqueletos, mas os de tamanho mé-
dio a grande precisam de maior atenção.
Agentes que têm sido usados para desengordurar são aceto-
na, clorofórmio, tetracloreto de carbono, tricloroetileno,
triclorometileno, acetato de etila e benzina. Cozinhando-se a peça
com uma solução aquosa de perborato de potássio, a gordura
será liberada. Com excessão destes produtos, outro qualquer que
possa ser utilizado para limpeza de roupas de lã (com alta solu-
bilidade, volatilidade e pouco resíduo) será adequado para lim-
peza de peles, penas e ossos (MATTHIESEN, 1993). A acetona é
boa para limpeza e barata, porém difícil de ser encontrada por
questões de controle governamental. O tetracloreto de carbono
pode ser utilizado para ossos “teimosos” que não branqueiam.
Estes devem ser fervidos por uns 15 minutos nesta substância.
Para ossos que serão branqueados com peróxido de hidrogênio,
o desengorduramento não pode ser feito com benzina, pois esta
ESQUELETOS - P. Auricchio 211
torna o osso impermeável a substâncias aquosas como o peróxido
de hidrogênio.
Agentes desengordurantes devem ser manipulados com cautela
pois são perigosos. Eles somente devem ser usados em lugares mui-
to bem ventilados, ou sob capela com uso de filtros apropriados.

LIMPEZA POR ULTRASSOM

É utilizada quando, depois de um dos processos acima, restou


algum resíduo ou tecido preso nos ossos. Apesar do aparelho ser
caro, é muito útil e resulta em esqueletos muito bons. É interes-
sante adicionar detergentes enzimáticos em boa quantidade.

BRANQUEAMENTO

O branqueamento não é recomendado em material para estu-


do pois tende a provocar a liberação de dentes e articulações
embora seja aconselhável para esqueletos que vão ser montados
para mostra didática. Deve-se prestar atenção no branqueamen-
to, pois, quando úmido, o osso parece mais escuro do que quando
estiver seco.
Depois de qualquer um dos métodos acima mencionados, os
ossos devem passar por um banho de água oxigenada (peróxido de
hidrogênio - H2O2) 10 volumes por 10 ou 15 minutos. Este processo
pode ser estendido se o exemplar não tiver adquirido o branquea-
mento desejado e se tiver grandes proporções. Este banho tam-
bém é útil para auxílio na desinfecção do material. Ainda para
este fim, as peças podem ser imersas em álcool e depois secas.
Esqueletos
Atenção: o exagero no branqueamento do espécime põe em
risco sua qualidade para pesquisa. O peróxido de hidrogênio cor-
rói o osso se for colocado numa proporção maior que a indicada
ou se houver excesso de exposição.
Nunca se deve secar o material ao sol, pois, os ossos ficam
contorcidos, nem mesmo guardar o material se não houver seca-
gem total, pois, pode acarretar o aparecimento de fungos. Nun-
ca utilize água sanitária (hipoclorito de sódio ou outro
branqueador de cloro) que também corrói os ossos. Não é
indicada qualquer pintura ou verniz, depois que o material te-
nha sido branqueado desta forma.
212 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

ESPÉCIMES ASQUEROSOS

Vez por outra podemos encontrar um exemplar morto no qual


a decomposição possa já ter se iniciado ou até estar mesmo no
final (atropelamento, na praia ou em outra situação). Normal-
mente, nos é impossível tirar medidas de tal exemplar, porém,
mesmo assim, além da procedência, outros dados muito úteis
podem ser obtidos.
Conforme o estado em que se encontra, o espécime pode ir
direto para a maceração a frio, ou, caso haja condições, pode ser
descarnado um pouco e seco antes da preparação escolhida. Se o
destino escolhido for o dermestário, lembre-se de congelar a car-
caça antes, para que se evite introduzir uma praga no dermestário.
No caso de uma ave, remova o máximo de penas, pois isto faci-
lita a troca de água e evita a perda de pequenos ossos.
No caso de naufrágios de aves marinhas, é possível receber
muitos exemplares de uma só vez, sendo impossível prepará-los
de imediato. A melhor maneira de aproveitá-los é a preparação
de esqueletos. Os exemplares mais frescos devem ser congelados
ou ainda colocados para preparação imediata. Para os demais
deve-se providenciar embalagens individuais (sacos plásticos),
após sexagem e dissecação e etiquetagem (etiqueta plástica).
Cada saco deve ser preenchido com água e amarrado. Todos
devem ser colocados em um balde grande com água. O balde deve
ser deixado fora do prédio. Conforme o tempo disponível, cada
ave pode ser retirada de seu saco para ser processada. Este não é
um método ideal, porém é a melhor maneira de aproveitar a opor-
tunidade para se ter uma boa amostra de uma determinada es-
pécie (MATTHIESEN, 1993).

ARMAZENAMENTO

Depois de seco o esqueleto desarticulado, deve-se escrever em


cada osso, com tinta permanente (do tipo tinta da China -
Nankim), o número de tombo do exemplar. Isto evita mistura de
ossos em situações de comparação de ossos de diferentes espéci-
mes. Por exemplo, depois de alguns minutos com dois fêmures
nas mãos, procurando caracteres, é impossível ter certeza a qual
esqueleto pertence cada um. A numeração evita este problema.
ESQUELETOS - P. Auricchio 213
Depois de numerados, os ossos devem ser acondicionados em
caixas de papelão preferencialmente a frascos plásticos. Estes
últimos devem ser evitados, pois facilitam a formação de fungos
devido à falta de ventilação. Cada instituição possui seu padrão
de tamanhos de caixas e dependem da maneira com que são
armazenados.
Numa coleção mastozoológica onde se reúnem peles, crânios
e esqueletos, é ideal que cada esqueleto seja guardado junta-
mente à respectiva pele. Há uma série de inconvenientes e difi-
culdades neste caso. É difícil acomodar peles e caixas na mesma
gaveta e deve-se cuidar para que não fiquem apertados, causan-
do danos ao material. Normalmente, as caixas tem maior altura
do que as peles, causando perda de espaço entre uma gaveta e
outra. Porém, é conveniente para o pesquisador que não precisa
perder tempo procurando onde foi guardado o esqueleto de de-
terminada pele, encontrando ambas na mesma gaveta. Uma so-
lução parcial é que, no mesmo armário uma gaveta seja utiliza-
da para as peles e a seguinte para as caixas, sempre deixando
pele e caixa de esqueleto próximas.
A caixa deve levar uma etiqueta colada em sua tampa e outra
em uma de suas laterais. Ainda uma terceira deve ficar solta no
interior da caixa. No caso de coleções mastozoológicas, o núme-
ro do esqueleto e o número da pele devem ser o mesmo. Caso o
exemplar não possua pele, por ter sido perdida na preparação, o
esqueleto e o crânio recebem o número seguinte do livro de tom-
bo. Portanto cada número de tombo refere-se a um único indiví-
duo e cada indivíduo a um único número. Neste caso, um nú-
mero pode referir-se a uma pele somente, a um crânio somente Esqueletos
ou a todo o material, pele crânio e esqueleto e ainda material
em líquido. Este é o método mais indicado, porém, existem ou-
tros modos de numerar esqueletos e peles, o que pode causar
dificuldades de localização.
Para coleções de esqueletos de aves ou outros vertebrados nas
quais não é possível a preparação da pele (ver pele Shimu no
capítulo de aves), a numeração pode ser normalmente atribuida
a esqueletos separadamente da coleção de peles ou outro tipo
de preservação.
214 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

MONTAGEM DIDÁTICA

Para montagem didática deve-se ter em mente que a caixa


toráxica, mãos e pés são quase impossíveis de montar se forem
desarticulados. Portanto, sugerimos que estas partes sejam lim-
pas por dermestídeos ou limpeza manual com fervura, enquan-
to que o restante do esqueleto pode ser macerado.
É imprescindível ao principiante, antes de começar a prepara-
ção, ter em mãos figuras de esqueletos montados ou preferenci-
almente um exemplar similar para servir de guia.
Na montagem tanto de esqueletos semi-articulados como de
esqueletos fixos, deve ser passado um arame inoxidável pelo arco
neural das vértebras, sevindo como suporte, pelo menos até o
término da montagem.

ESQUELETO SEMI-ARTICULADO

O esqueleto semi-articulado é aquele utilizado nas aulas de


anatomia, onde é necessário movimentar as articulações para
melhor entendimento. Nesta preparação são utilizados muitas
perfurações e arames unindo os ossos (Figura 5).
As articulações recebem perfurações laterais onde se intro-
duzem arames inoxidáveis finos, unindo-se os ossos desejados.
Os arames de fixação ficam aparentes.

ESQUELETO FIXO

Na montagem fixa, o esqueleto é imóvel. Somente são utiliza-


das colas e alguns arames. É possível a montagem de espécimes
na qual não aparece nenhum arame, dando um aspecto bem
natural ao exemplar. É o método indicado para exposições
didáticas.
Este é um caso mais fácil, pois os arames somente são introdu-
zidos em alguns ossos dos membros para sustentação. O restan-
te da montagem se faz com cola instantânea (super bonder) e
posteriormente, o preenchimento da articulação com cola branca
(acetato de vinila).
ESQUELETOS - P. Auricchio 215

Figura 5. Opções para fixação de articulações: A: esqueleto fixo, B: esqueleto


articulado (vista lateral) e C: esqueleto articulado (vista frontal).

Nas extremidades dos ossos longos como tíbia e fêmur, são


feitas perfurações para introdução de arames galvanizados. É
importante calcular bem qual a espessura do arame a ser utili-
zado para garantir que a estrutura se mantenha em pé. Antes de
ser introduzido o arame, o orifício deve ser preenchido com cola
branca para que, depois da secagem, a estrutura tenha firmeza.
Nos pés, deve-se utilizar o mesmo procedimento que para as
articulações fixas, com a diferença que uma das pontas do ara-
me será fixa em um orifício no tronco ou chapa de madeira, onde
será colocado o espécime. Este orifício deve ser feito com furadeira.
Na extremidade anterior da coluna vertebral deve-se deixar
um bom comprimento de arame, o mesmo que deu sustentação
para a coluna vertebral, para a fixação da cabeça. Este excesso
deve ser introduzido no foramen magnum de tal forma que a
Esqueletos
ponta sustente o crânio na posição desejada.

Algumas vezes, na hora da montagem percebe-se que um ou


mais ossos foram perdidos. Uma solução para isto, ainda que
possa parecer condenável, é a substituição da peça por uma es-
cultura feita com massa biscuit, DUREPOXI ou outra semelhan-
te. Para esqueletos cuja finalidade é didática, este procedimento
não trará problemas.
O esqueleto montado não deve ficar exposto à poeira. Para
evitar este problema pode-se construir uma redoma de vidro
(como um aquário de cabeça para baixo) ou de acrílico.
216 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

AGRADECIMENTO

Agradeço a Claudemir Antonio Lopes pelas informações cedi-


das sobre técnicas especiais de preparação.

BIBLIOGRAFIA

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DIAFANIZAÇÃO - A. M. Souza 217

Diafanização

Diafanização
218 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
DIAFANIZAÇÃO - A. M. Souza 219

Diafanização
Ana Maria de Souza

INTRODUÇÃO

O estudo do esqueleto dos vertebrados requer preparações es-


pecíficas no sentido de não danificá-lo ou desarticulá-lo o menos
possível. Esqueletos delicados de pequenas formas apresentam um
alto grau de dificuldade para observação se forem preparados por
meio do descarne ou dissecações. A grande quantidade de cartila-
gem encontrada em muitas espécies também é outro problema,
pois resseca com facilidade tornando-a quebradiça e contorcida
promovendo, por exemplo, a desarticulação de estruturas.
Segundo DAVIS & GORE (1936) a necessidade da análise do
esqueleto de pequenos vertebrados levou ao desenvolvimento de
algumas técnicas tendo sido SCHULTZE (1897) quem formulou,
pela primeira vez, uma técnica de diafanização de embriões hu-
manos utilizando potassa (KOH) e glicerina. Ao longo do século
XX esta técnica foi modificada por diferentes pesquisadores e uma
importante conquista foi realizada por LUNDVALL em 1905 ao
introduzir o uso da alizarina para colorir os ossos.
Apesar do emprego de diferentes corantes, a utilização da
alizarina tornou-se universal devido a suas propriedades seletivas.
As técnicas de coloração e diafanização apresentam uma série
de vantagens, entre elas, mantêm o esqueleto íntegro e preser-
vam a posição original dos diferentes elementos entre si, possi-
bilitando o estudo, por exemplo, do complexo esqueleto dos pei-
xes. Outras características positivas destas técnicas é que não há
a perda de nenhum osso ou cartilagem por menor que seja, o que
Diafanização

é extremamente vantajoso.
A coloração e diafanização do esqueleto de larvas e embriões
por meio destas técnicas mostram-se muito adequadas, possibili-
tando os estudos ontogenéticos como a determinação do período
de tempo e dos sítios de ossificação de cada osso individualmente.
220 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

COLORAÇÃO E DIAFANIZAÇÃO

As três técnicas mais conhecidas aplicadas para a preparação


de esqueletos de exemplares de pequeno porte são as de maceração
com KOH (hidróxido de potássio) e coloração dos ossos com
alizarina de DAVIS & GORE (1936), a de digestão enzimática com
tripsina e coloração dos ossos com alizarina de TAYLOR (1967a e
b), e a digestão enzimática com a tripsina, coloração dos ossos
com Alizarina e coloração das cartilagens com azul de Alcian de
DIGENRKUS & UHLER (1977). Estas três técnicas diafanizam os
exemplares assim preparados, os quais são conservados prefe-
rencialmente em glicerina pura, acrescida de cristais de timol,
que previne o surgimento de fungos, ou opcionalmente em álco-
o
ol 70 GL. A glicerina, no entanto, torna os tecidos mais trans-
parentes e as estruturas internas mais visíveis.

DIAFANIZAÇÃO - COM ENZIMA PANCREÁTICA E TINGIMENTO DE OSSOS DE


PEQUENOS VERTEBRADOS. W.R. TAYLOR

1- colocar o espécime morto em formalina a 10% por 7-10 dias.


Adicionar ½ colher de chá de borato de sódio em pó (bórax), por
quarto de solução, após um dia;
2- enxugar todo o formaldeído da peça. Guardar em álcool
etílico a 70%, se não diafanizar imediatamente;
3- preparar uma solução saturada de borato de sódio em água
destilada;
4- preparar uma solução de hidróxido de potássio a 0.5-1.0%,
em água destilada;
5- branquear a peça: 10 partes de peróxido de hidrogênio a 3%
e 90 partes da solução de hidróxido de potássio;
6- preparar uma solução enzimática tampão de 30 partes de
solução saturada de borato de sódio (sobrenadante) e 70 partes
de água destilada, devendo o volume da solução ser igual a 10-
40 vezes o volume da peça;
7- colocar a peça diretamente na solução tampão de borato
de sódio, ou se necessário, retirar o excesso de água, álcool, ou
hidróxido de potássio, das cavidades da peça embebendo-a em
uma solução de borax, então colocar na solução tampão;
DIAFANIZAÇÃO - A. M. Souza 221

8- adcionar ¼ de colher de chá de enzima em pó, para peças


pequenas ou mais, para peças grandes; misturar e manter em
aproximadamente 25°C;
9- mudar a solução, etapas 6-8, em 7-10 dias; repetir se necessário;
10- tingir com uma solução de hidróxido de potássio e alizarina
vermelha S;
11- remover vísceras e partes indesejadas;
12- recolocar na solução digestiva, etapas 6-9, até completar
a diafanização;
13- OPCIONAL- remover substâncias oleosas banhando a peça
numa série de álcool etílico de porcentagem crescente até xilol.
Após a remoção destas substâncias, banhar numa série de álcool
etílico de porcentagem decrescente, até a remoção do xilol;
14- OPCIONAL- dissolver depósitos de guanina em solução
aquosa de hidróxido de potássio a 2-4%, e
15- colocar a peça em glicerina e adicionar alguns cristais de
timol.
***

MÉTODO DE DIAFANIZAÇÃO DE FETOS: SCHULTZE

1. Fixação prévia em preparados de álcool e bicromato de po-


tássio a 2 ou 3%, ou qualquer líquido sem propriedade
descalcificante, de pequenos embriões até o comprimento de 10 cm;
2. Deixam-se os embriões imersos em álcool de 3 a 8 dias
(curtição); o álcool deve ser trocado depois dos embriões ficarem
bem curtidos podendo se dizer que quanto mais curtidos os em-
briões estiverem mais bonitos ficarão;
3. Do álcool, as peças vão para uma solução de KOH a 3%; a
solução deve ser trocada após 24 horas e eventualmente um maior
Diafanização

número de vezes. Depois que os pontos da coluna vertebral e


outros pontos estiverem bem visíveis, transportam-se os embri-
ões para uma mistura de 25 partes de glicerina e 75 partes de
água destilada. Esta operação deve ser feita com cuidado notan-
do-se que nessa mistura as peças ficam mais visíveis. Se a glicerina
222 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

escurecer, é necessária a mudança da solução. No final, para


evitar fungos, junta-se 0,5cc de formol para cada 100cc de solução,
e
4. Para fetos maiores (6 meses), convém tirar as vísceras e o
encéfalo pela fontanela bregmática. Lavam-se as cavidades com
água e deixa-se fixar o embrião em álcool 95°, mudando-se mui-
tas vezes e durante muitas semanas, para evitar que a peça en-
tre em maceração no KOH.
***

DIAFINIZAÇÃO KHO-GLICERINA: COLORAÇÃO ALCIAN BLUE - ALIZARINA


[MÉTODO DE DIGENRIUS & UHLER,1977 MODIFICADO]

Indicações:

- Estudos de centros de ossificações em embriões e fetos.


- Ossificação diferencial (membranosa e endocondral).
- Distribuição de tecido adiposo em fetos - saponificação.
- Centros cartilaginosos.
- Patologia cartilaginosa e ósseas.
- Determinação etária.
- Ossificação ectópica.

O processo dura aproximadamente 15 dias.

1. Fixar a peça em formol 10% neutro durante 48 horas (com


50g de CaCO3 ou 4 pedaços de giz para neutralizar);
2. Colocar em água destilada durante 72 horas (trocar a cada
24 horas);
3. Eviscerar, tirar a pele e a gordura;
4. Colocar em uma mistura de 10mg de Alcian Blue 8GN, 80ml
de álcool etílico 95% e 20ml de ácido acético glacial, durante 24 a
48 horas;
5. Transferir as peças para álcool etílico 95% por 3 vezes (4
horas cada vez) para neutralizar o pH ácido;
6. Reidratar em séries alcoólicas de 90%, 80%, 70%, 40%, 15%
de água destilada (mudando cada vez que os espécimes afun-
DIAFANIZAÇÃO - A. M. Souza 223

dem);
7. Colocar a solução durante 72 horas, três vezes de 24 horas:
30 ml de solução saturada de borato de sódio - para entrar na
fase alcalina em 70 ml de água destilada;
8. Transferir a série para a solução: 5g de KOH (100 ml de
água destilada + 5 mg de alizarina RED S). Manter nesta solu-
ção até os ossos tornarem-se vermelhos. O tempo de imersão deve
respeitar as dimensões do organismo, isto é, espécimes muito
pequenos devem permanecer na solução por alguns minutos e
indivíduios maiores não devem ultrapassar 24 horas de imersão;
9. Transferir em séries de glicerina-água destilada: 1:3 ; 1:1 ;
3:1 e glicerina pura (mudar cada vez que a peça afundar) se as
peças estiverem com muito sangue ou pigmentadas, pode-se adi-
cionar água oxigenada 10 vol., 10 ml por 100ml de solução, e
10. Estocar em glicerina com cristais de Timol (Cepacal azul- lml).
***

O processo de coloração e diafanização é empregado para ou-


tros sistemas e aparelhos de vertebrados tais como a combina-
ção de coloração dos ossos e injeções de massas em vasos
sangüíneos e linfáticos. Outra possibilidade é a coloração dos
tecidos do sistema nervoso como desenvolvido, por exemplo, por
STILWELL (1957), FILIPSKI & WILSON (1984, 1985) ou NISHIKAWA
(1987).

COLORAÇÃO DOS NERVOS PERIFÉRICOS COM SUDAN BLACK B, MÉTODO


NISHIKAWA (1987)
REGRESSIVO DE

Utilizado nos estudos comparados do sistema nervoso perifé-


rico, especialmente dos anamniotas,

1. Retirar a pele e as vísceras;


Diafanização

2. Se a peça estiver fixada em solução de formol 10% lavá-la


em água destilada durante 72 horas para remover o fixador;
3. Macerar a peça durante 4 a 7 dias em tripisina tamponada
com borato de sódio aquoso saturado à 30%;
4. Colorir a peça em Sudan Black B usando o processo regres-
224 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

sivo de FILIPSKI & WILSON (1984) ou o método progressivo de


NISHIKAWA (1987), e
5. Após a coloração dos nervos em Sudan Black B o espécime
deve ser diafanizado em uma série de água destilada: glicerina
(2:1, 1:1, 1:2) e conservado em glicerina 100% em local escuro
para prevenir o desbotamento.

TÉCNICA DE NISHIKAWA (1987)

- Após a maceração, os espécimes devem ser imersos durante


7 a 10 dias em uma solução saturada de Sudan Black B em etanol
70% (isto é, uma solução saturada diluída 19:1 com solvente) para
o protocolo progressivo, ou por 1 minuto em uma solução
saturada 100% de Sudan Black B em etanol 70% para o protocolo
regressivo (FILIPSKI & WILSON, 1984, 1985).
- Após a coloração, os espécimes são lavados delicadamente
em água destilada e diafanizados em uma série de glicerina sem
descoloramento primeiro em etanol 70% durante mais ou menos
1 minuto e a seguir durante menos de 1 minuto em KOH 0,5%,
diferente do método progressivo onde este último banho demora
mais de 1 minuto.

M ÉTODO DE BARNARD, ROBERT E BROWN - C OLORAÇÃO


MACROSCÓPICA PARA SUBSTÂNCIAS CINZENTA E BRANCA DO SISTEMA NERVOSO.

1. Fixação em formol 10 %;
2. Lavar por 12 a 24 horas em água corrente e em água desti-
lada durante uma hora, com 3 mudanças;
3. Uma ou duas fatias são colocadas durante dois minutos em
500cc de solução de Mulligan 60-65°C:
ác. fênico cristalizado .................................. 40 g
sulfato de cobre ........................................... 5 g
ác. cloridrico concentrado ..........................1.25 g
água .................................................q.s.p.1000 g;
4. Lavar em grande volume de água durante um minuto;
5. Colocar durante 2 minutos em solução de 1% de cloreto
férrico em água destilada;
DIAFANIZAÇÃO - A. M. Souza 225

6. Lavar em água corrente durante 5 minutos;


7. Colocar em solução de ferro-cianeto de potássio a 1% em
água destilada até a substância cinzenta adquir a cor azul bri-
lhante, não ultrapassando 3 minutos. Assim que começar a co-
rar deve ser retirado da solução;
8. Lavar em água corrente durante 24 horas, e
9. Preservar em álcool 70% ou formol 10%.
Todos os cortes de um cérebro podem ser corados sem renovar
as soluções.

MÉTODO DE GIACIMINI (DIAFANIZAÇÃO DE ENCÉFALOS)

1. Fixar em formol a 10% durante 5 a 10 dias (retirar a piamater


depois do 1° dia);
2. Submeter ao álcool 90° - 95° durante 10 a 15 dias;
3. Deixar em glicerina durante 2 meses - até a peça afundar
(volume do líquido deve ser quatro vezes o peso da peça), e
4. Retirar o excesso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DAVIS, D. D. & GORE, U. R. 1936. Clearing and Staining Skeletons


of Small Vertebrates. Field Museum of Natural History. 4: 3-15.
DIGENRIUS, G. & UHLER, L. 1977. Differential staining of bone
and cartilage in cleared and stained fish using alcian blue to
stain cartilage and enzymes for clearing fish. – Stain Techn.
52 (4): 229-232.
FILIPSKI, G.T. & WILSON. M.V.H. 1984. Sudan Balck B as a nerve
stain for whole cleared fishes. Copeia: 204-208.
Diafanização

FILIPSKI, G.T. & WILSON. M.V.H. 1985. Satining nerves in whole


cleared amphibians and reptiles using Sudan Balack B. Copeia.
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LUNDVALL, H. von 1905.Weiteres über Demonstration
226 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

embryonaler Skelette. Anat. Anz., 27: 520-525.


NISHIKAWA, K.C. 1987. Staining Amphibian Peripheral Nerves
with Sudan Black B: Progressive X Regressive Methods. Copeia
1987 (2): 489-491.
SCHULTZE, O. 1897. Uber Herstellung und Conservirung
durchsichtiger Embryoens suen Stadium der Skeletbildung.
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STILWELL, D.L. 1957. A Sudan Black B myelin stain for periph-
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TAYLOR , W. R. 1967a. An enzyme method of clearing and stain-
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TAYLOR, W.R. 1967b. Outline of a method of clearinig tissues with
pancreatic enzymes and staining bones of small vertebretes.
Turtox News. 45 (124): 308 - 309.
8
INFILTRAÇÃO com PARAFINA - P. Auricchio 227

Parafina
Infiltração com
Parafina
228 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Instituto Pau Brasil de História Natural


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Tel/fax. (011) 46552731
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INFILTRAÇÃO com PARAFINA - P. Auricchio 229

Infiltração com

Parafina
Parafina
Paulo Auricchio

MONTAGEM POR INFILTRAÇÃO COM PARAFINA

Uma técnica pouco utilizada que pode ser útil didaticamente


é a infiltração com parafina. Por ser simples e de fácil prepara-
ção, ela foi incluída neste manual. A técnica aqui descrita foi
modificada a partir de NOBLE & JAECKLE (1926).
Existem certos grupos de organismos e peças anatômicas que
são, se não impossível, muito difíceis de preparar. Qualquer ver-
tebrado que não possua uma cobertura de pêlos ou penas não é
facil de preparar de maneira que pareça vivo, com brilho e sem
escamas contorcidas.
Grandes espécimes de répteis podem ter suas peles retiradas e
um manequim feito de seu corpo pode então ser revestido pela pele.
Este é um método útil para espécies grandes, de escamas firmes,
mas animais de corpo mais macio, especialmente aqueles com esca-
mas carnosas, costumam entortar. Serpentes provaram ser um dos
grupos mais difíceis de se montar com relativa perfeição.
O método de infiltração por parafina é, sem duvida, bem co-
nhecido de qualquer histologista. Este método pode também ser
utilizado para espécimes inteiros ou suas partes, como por exem-
plo, cérebros.
Depois de várias tentativas, obteve-se exemplares que se pare-
cem mais reais e “vivos” do que aqueles replicados e pintados ou
230 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

figura 1. Sapo cururu montado pelo método de infiltração (foto retirada de


NOBLE & JAECKLE, 1926).

mesmo taxidermizados. Estes espécimes retiveram sua forma e a


maioria das cores originais (figura 1). Somente olhos foram im-
possíveis de infiltrar com sucesso. Estes, em anfíbios, foram subs-
tituídos por artificiais enquanto os de répteis foram pintados
por cima da membrana.
Cores de interferência como verdes, ou cores solúveis como as
de óleos em certos anfíbios, foram alteradas pela técnica. A mai-
oria das cores, no entanto, especialmente tons de amarelo, mar-
rom, vermelho, e mesmo alguns azuis, permaneceram inalteradas.
Preparados desta forma preservam-se não só a aparência, mas
também todos os órgãos e partes internas, tais como coração,
fígado, pulmões, etc., somente pela infiltração por parafina. Como
cada célula do animal está preenchida de parafina, não há dúvi-
das quanto ao caráter duradouro da preparação.
Praticamente todos as substâncias empregadas na técnica es-
tão disponíveis num laboratório de histologia.
INFILTRAÇÃO com PARAFINA - P. Auricchio 231
ETAPAS DA PREPARAÇÃO:

1. Para melhores resultados, devem ser utilizados preferenci-


almente animais, recentemente capturados. Clorofórmio ou éter

Parafina
matam rapidamente. Entretanto, bons resultados foram obtidos
com animais fixados em formol ou álcool;
2. Depois da morte do animal, uma solução de Bouin’s formol-
acético-picrico (concentração total) e formalina 10% em partes
iguais é injetada na cavidade do corpo. Serpentes são exceção a
esta regra, já que que este líquido distorce a posição e torna difí-
cil posicionar o exemplar com naturalidade. Alfinetes
entomológicos e pranchas de isopor ou cortiça são muito úteis
para colocar o animal na posição correta;
3. Depois que a postura adequada foi conseguida, o animal
deve ser coberto com o mesmo líquido fixador. Vários experimen-
tos foram feitos até se conseguir um fixador apropriado. A
formalina, apesar de ser um excelente fixador que previne enco-
lhimento, destrói a cor. Para contra-agir com este efeito, uma
solução fraca de carbonato de sódio foi adicionada. Infelizmente
os sucessivos banhos de ácool que se sucedem diluíram a cor. A
melhor solução encontrada tem sido o Bouin’s formol-acético-
Picrico (concentração total) por não permitir encolhimento e não
alterar a pigmentação;
4. Lavar o excesso de ácido pícrico com uma solução de
formalina 10% e álcool etílico diluido a 40%;
5. Então, várias concentrações de álcool etílico, até a concen-
tração de 95%, são usadas para desidratar e endurecer o espéci-
me. Como o álcool tem a tendência de descolorir, é aconselhável
não deixá-lo mais do que o necessário nos banhos. Quando esti-
verem em banhos entre 50 e 70%, os olhos são removidos e subs-
tituídos pelos de vidro;
6. Na última etapa, o álcool absoluto pode causar problemas de
enrugamento e escurecimento da peça. Um substituto para esta
fase é o Terpineol. Transfira então gradualmente ao terpineol 90%.
Ele clareia a peça, porém não esmaece as cores e não enruga;
7. Em seguida, o exemplar deve ser lavado muito bem em xilol,
pois a parafina não é solúvel em terpineol;
232 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

8. Um banho de parafina a 56oC durante alguns minutos deve


ser providenciado. Este banho não deve ser muito prolongado já
que torna o exemplar escurecido e quebradiço. Uma mistura de
partes iguais de parafina e xilol também pode ser usada para
infiltrações, seguida de parafina pura liquefeita a 56oC;
9. Depois que o banho de parafina tenha terminado, o animal
deve ser removido e a parafina líquida injetada com uma agulha
hipodérmica quente dentro da cavidade do corpo para preen-
cher espaços vazios. Nesta hora é possivel corrigir a postura e
volume do exemplar. Certas partes podem ser distendidas e ou-
tras contraídas, tais como músculos evidenciados;
10. Depois de totalmente injetada, a peça deve ser imersa em
água gelada. Isto pode escurecer alguns espécimes; e
11. Depois de endurecido, o excesso de parafina é removido
com xilol e um pincel.
O processo todo irá variar conforme o tamanho de cada exem-
plar. É, em média, de um dia para cada solução. Em alguns espé-
cimes será necessário recolorir algumas partes. Animais muito
grandes devem ter seus abdomens abertos, já que a penetração
dos banhos é muito lenta.
Imaginação é essencial para um bom resultado com todos os
espécimens.

BIBLIOGRAFIA

NOBLE, G. K. & JAECKLE, M. E. 1926. Mounting by parafin infiltra-


tion. American Museum Novitates, 233: 1-7.
CURTIMENTO - M. G. Salomão & J. D. F. Souza 233

Curtimento
Curtimento
234 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Maria da Graça Salomão é Bióloga com licenciatura plena em Ciências


Biológicas e Bacharelado com habilitação em Biologia pela Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras Farias Brito, Guarulhos, SP. Cursou Pós-Graduação
em Fisiologia no Instituto de Biociências da Universidade de
São Paulo, onde especializou-se em Fisiologia Animal. Trabalha em pesquisa
há dezessete anos, tendo ingressado no Instituto Butantan, Laboratório de
Herpetologia, em 1987, onde atua no estudo de Biologia Geral de Serpentes.
Desenvolve trabalhos em nível de Pós-Doutorado em colaboração com a
University of Wales, Bangor, Liverpool Institute of Tropical Medicine e
Oxford University, sobre a Sistemática e Evolução de Serpentes peçonhentas
neotropicais. Possui quarenta trabalhos publicados. É credenciada pelo
Centro de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão da Universidade Guarulhos, na
área de Ecologia Geral e coordena projetos inter-institucionais com a
Universidade Estadual do Rio de Janeiro na área de Ecomorfologia. É membro
da Diretoria da Sociedade Brasileira de Herpetologia eleita para o biênio
2000-2002.

Dra. Joana D’Arc Félix de Sousa é Bacharel em Química Tecnológica pela


Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), mestre em Química (Área de
Química Orgânica) Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Doutora
em Ciências – Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). É Diretora de
Pesquisa do JFS – Centro de Pesquisa e Consultoria em Biotecnologia e Meio
Ambiente (São Joaquim da Barra/SP) e Professora da Escola Técnica Estadual
“Prof. Carmelindo Corrêa Junior” (Colégio Agrícola – Franca/SP), nos cursos de
Técnicas de Curtimento de Peles e Sistemas de Tratamento de Águas e Resíduos
Sólidos. Possui 1 Patente e publicações em Revistas Internacionais e Nacionais
tendo apresentado trabalhos em congressos internacionais e nacionais.

Laboratório de Herpetologia, Instituto Butantan,


Av. Vital Brasil, 1500, Butantã
São Paulo - SP – Brasil - CEP 05503-900
mgsalomao@hotmail.com
Tel. (055) 11 3726 7222 R. 2179 e 2267
FAX (055) 11 3726 1505
CURTIMENTO - M. G. Salomão & J. D. F. Souza 235

Curtimento
Maria da Graça Salomão

Curtimento
Joana D’arc Félix de Sousa

O couro constitui a pele do animal preservada da putrefação


por processos denominados de curtimento, e que a torna flexível
e macia.
No curtimento é mantida a natureza fibrosa da pele, porém
as fibras são previamente separadas com a remoção do tecido
interfibrilar pela ação de produtos químicos. Após a separação
das fibras e remoção do material interfibrilar as peles são trata-
das com substâncias denominadas curtentes, que as transfor-
maram em couros.
Apesar de ser uma técnica de fácil execução, o curtimento não
é empregado pela maioria das instituições científicas por desco-
nhecimento da técnica. Infelizmente, a grande maioria das peles
abertas armazenadas em museus sofreu um simples processo de
secagem, o que deixa a pele endurecida e sujeita a rasgos. Esta
técnica é simples e poderá ser utilizada também em peles que já
estão tombadas.
O inverno é a estação mais propicia para o curtimento de
peles, pois uma temperatura elevada poderá por em risco o pro-
cedimento. É uma operação fácil de realizar, rápida e sem com-
plicações, cujo o custo é muito reduzido. O que se procura é que a
pele curtida tenha fexibilidade e perfeita fixação de sua pelagem.
As informações que se seguem são para utilização em um labo-
ratório de taxidermia bem equipado, porém poderá ser adaptada
à utilização conforme a disponibilidade de cada instituição.
236 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

A PELE

A pele e os outros tecidos do corpo são compostos de compo-


nentes não protéicos como lipídios (2%), pigmentos da pele (<1%),
enzimas da pele (<1%) e glicídios (<1%); de substâncias mine-
rais (1%); de água (60 a 70%) cuja porcentagem varia com a
espécie, o sexo e a idade; e de proteínas (35%) divididas em pro-
teínas fibrosas (34%): queratinas, colágeno (33%), reticulina e
elastina, e proteínas globulares (1%).
A pele ou tegumento, possui três camadas: a epiderme, a
derme (cório) e a hipoderme. Os anexos da pele são compostos
de folículos, glândulas sudoríporas e sebáceas, órgãos digitais
(pata, garra) e por uma ampla variedade de estruturas glandu-
lares especialzadas.
Epiderme. A camada mais externa da pele, é um epitelio
estratificado pavimentoso queratinizado.
Derme. A derme (ou cório) é uma camada de fibras de tecido
conjuntivo colágeno, elástico e reticular. Folículos pilosos, glân-
dulas sudoríparas e sebáceas, vasos sangüíneos e linfáticos e
nervos estão mergulhados em vários níveis por toda a
derme2.Fibras musculares lisas podem estar presentes na derme
em áreas especializadas.
Hipoderme. A hipoderme é uma camada de tecido conjuntivo
que liga a derme ao músculo ou osso subjacente. Ela consiste em
fibras colágenas e elásticas, frouxamente dispostas, que propor-
cionam à pele flexibilidade e movimento livre sobre as estruturas
subjacentes2. Tecido adiposo também esta presente nesta cama-
da e pode assumir a forma de pequenos aglomerados celulares
ou grandes massas que compõem uma almofada de gordura, de-
nominada panículo adiposo.
Do lado carnal do couro, devem ser removidos os restos de
carne e de sebo. O conteúdo destes não pode ultrapassar de 1%
do peso da pele para uma melhor preparação.
Após a retirada da pele do animal (esfola), o material interfibrilar
endurece, cimentando todos os feixes de fibra entre si1.
A função das operações que antecedem a operação de curti-
mento propriamente dito, é justamente remover, além da carne
e materiais acessórios, todo este material de cimentação, consti-
tuído de proteínas degradadas, pois o que interessa no final são
CURTIMENTO - M. G. Salomão & J. D. F. Souza 237

os tecidos fibrosos (colágenos), e não a substância de cimentação.


As propriedades do couro são atribuídas a este formidável en-
trelaçamento da estrutura fibrosa, que é mais ou menos preser-
vada, tal como existia na pele.
Algumas vezes não é possível curtir logo após a retirada da
pele. Para isto, podemos conservá-las das seguintes maneiras:

a) diminuição da temperatura;
Os couros congelados podem ser conservados durante muito
tempo, mas a temperatura acima de 0ºC tem efeito desastroso

Curtimento
uma vez que a putrefação neste caso ocorre rapidamente1,4.

b) eliminação da umidade;
A diminuição da umidade pode ser conseguida pela secagem ou
pela ação de produtos químicos (sal) ou pelo efeito de ambos os
fatores. Os couros, durante a secagem, diminuem de superfície até
15% e de espessura até 30 – 40%. O peso dos couros possui uma
diferença de 40% sobre o peso do couro verde. Estas informações
serão úteis para expedições longas onde se pretende capturar mui-
tos animais e não há possibilidade de prepará-los em campo.
1. Secagem - Para países de clima quente como o do Brasil,
estes método de conservação é o mais importante de todos, por
que é rápido e muito eficaz, uma vez que rebaixa os níveis de
umidade até 9 -12%, que é inferior ao limite não só para o desen-
volvimento das bactérias (35 – 40%) mas também para o mofo.
Neste sentido, a natureza colabora nesta operação, ou seja, a
secagem ao sol, gratuito e abundante (lembre-se de nunca ex-
por ao sol a parte coberta de pêlos).
Não se deve esquecer que a secagem é só para conservação dos
couros por um período e por isso estes devem ter a possibilidade
de ser facilmente reidratados durante o remolho (ver afrente).
Recomenda-se secar os couros pendurados em armações de
madeira, com certo ângulo de inclinação, a fim que a armação
possa ser movida conforme o sol.
2. Salgagem - O sal penetra dentro do couro e produz o
desinchamento das fibras, fazendo com que o couro verde perca
25% de sua umidade principal. Além disso, o sal, para os proces-
sos fermentativos autolíticos, ajuda a eliminar as albuminas e
globuminas solúveis. O sal possui propriedades antisépticas e
238 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

além da diminuição da umidade pela ação do sal, a pressão


osmótica é alterada, o que também influi no crescimento dos
micróbios.
Importa atentar que existem micróbios muito resistentes à ação
do sol, como sejam o Bacilus mesentericus e outros, providos do
sal marinho e por isso podem muito bem se desenvolver no meio
salino (Micrococcus roseus).
O bom resultado da salgagem dos couros depende da quanti-
dade de sal empregado. Usando-se 20% de sal (sobre o peso da
pele), os couros salgados não podem ficar estocados mais do que
1 a 3 meses. Após este tempo, os couros começam a ficar pegajo-
sos, apresentando também manchas avermelhadas, indicando
desta forma o início da destruição das substâncias dérmicas.
Com 30 –40% de sal, os couros salgados podem ficar estocados
durante 4-6 meses em camaras frias, todavia, uma perfeita e
técnica salgagem só será conseguida usando-se 50 – 60% de sal.
Os couros assim preparados podem ficar armazenados nos fri-
goríficos durante quase cinco anos.
Existem 2 sistemas de salgagem:
1º - Salgagem com o sal cristalizado, e
2º - Salgagem na salmoura.
A salgagem com sal cristalizado, procede-se da seguinte forma:
1. O couro é bem lavado com água em excesso, escovado o lado
carnal e deixando-o bem limpo dos resíduos de carne e gorduras;
2. Colocar o lado do carnal para cima em grade que tenha
média de 35 cm de altura e nos lados 15 cm, isto é, com inclina-
ções para dar possibilidade de eliminar facilmente, junto com a
solução salina, os albuminóides e as substâncias entrefibrosas;
3. Sobre toda a superfície do couro espalha-se sal fino (grãos com
2mm); as dobras do couro incham com o excesso do sal. Os lugares
de maior espessura devem receber maior quantidade de sal.
A salgagem dura uma semana. Controla-se com o tato, sendo que
o toque no lado do carnal deve ser seco e sem manchas úmidas.
O sal ideal para conservação deve corresponder às seguintes
condições: “fineza” 2 mm; conteúdo de MgCl2 não mais que 1,0%;
CaSO4, MgSO4 até 2,5%, Al2O3, Fe2O3 não mais que 0,01%. Se este
não estiver disponível pode-se utilizar sal comercial.
O sal usado não pode ser reaproveitado sem antes ser regenerado.
O sistema de salgagem pela salmoura, é recomendado do
CURTIMENTO - M. G. Salomão & J. D. F. Souza 239

seguinte forma:
1. Depois da lavagem, os couros são carregados num recipi-
ente de cimento, ou melhor ainda, se disponível uma molineta
com 2/3 (dois terços) de solução salina a 26ºBé (Baumé); esta
densidade deve ser quase constante durante a salgagem, adici-
onando-se para isso, em cada 6 horas, a solução concentrada
de sal.
A duração do processo é de 24 horas, conforme o peso dos
couros. A relação entre o peso dos couros e a solução do sal é de
1,5 a 3,8%. A ótima temperatura é de 20ºC. Prepara-se a solu-

Curtimento
ção em recipientes especiais e a salmoura pode ser usada 4 a 5
vezes.
Os couros depois da salmoura devem ficar a esgotar 2 a 3 ho-
ras, fazendo-se após a salgagem com sal em cristais4. O consumo
de sal para a salmoura é de 25%.
c) ação química na substância dérmica.
Para ação dos fermentos na substância dérmica, é necessário
que um dos agrupamentos – COOH, NH2 ou NH – fique livre; mas
como pela ação do sal eles ficam ocupados, isso produz condi-
ções desfavoráveis para o desenvolvimento das bactérias.

REMOLHO

O remolho tem por finalidade repor, no menor espaço de tem-


po possível, o teor de água apresentado pela pele quando recobria
o animal, recuperando a hidratação e ainda limpa as peles eli-
minando as impurezas aderidas e extrai proteínas e materiais
interfibrilares.
Esta operação deve ser convenientemente conduzida pois ela
interrompe a conservação, favorecendo o desenvolvimento
bacteriano e a atividade enzimática.
A importância do remolho reside, principalmente, no fato da
água atuar como veículo dos produtos químicos das etapas poste-
riores, levando-os a entrarem em contato com as fibras da pele.
Quando possível, o remolho deve ser feito em um fulão, apa-
relho que mantém a pele em movimento. Se não, podemos pro-
ceder o remolho em condição estacionária (sem movimentação)
ou com movimentos esporádicos.
A água a ser empregada deverá, tanto quanto possível, ser
240 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

pobre em matéria orgânica, conter reduzido número de bacté-


rias e apresentar dureza relativamente baixa. A temperatura
ideal da água é de 18 a 20ºC, para 10 a 12 horas (em movimen-
to). Para temperaturas próximas a 30ºC o tempo deve ser redu-
zido para 1 a 2 horas, no máximo. Neste caso, quando for ven-
cido o tempo e o remolho ainda não estiver completo, troca-se o
banho por água nova.
Atenção: A movimentação do banho favorece o trabalho, en-
tretanto, peles conservadas por secagem requerem um pré-
remolho estacionário para evitar a quebra de fibras.
O remolho das peles frescas, congeladas ou salgadas é reali-
zado em dois banhos dentro de um fulão. No primeiro banho,
com 100 a 300% de água em peso, adiciona-se tensoativo na con-
centração de 0,1 a 0,2% em volume de água (os tensoativos
catiônicos têm efeito bactericida) e formalina 1%. O fulão é en-
tão movimentado durante uma hora com 2 a 4 rotações por mi-
nuto. No segundo banho, também com 100 a 300% de água em
peso, adiciona-se novamente tensoativo e a formalina. O fulão é
movimentado durante 3 a 6 horas.

DESCARNE

O descarne é uma operação que consiste em raspar o lado da


pele que fica em contato com o corpo do animal (carnal), visan-
do a remoção de restos de gorduras, carne, hipoderme, etc.. É
feita mecanicamente através de raspagem da pele por rolo de
facas helicoidais ou manualmente.

CURTIMENTO

O procedimento pode ser executado inicialmente, sobre pe-


quenas peles, como de coelho, lebre, gatos-do-mato, etc.
1. É conveniente realizar a operação de curtimento tão logo
tenha sido extraída a pele ou couro do animal. Se a pele tiver
sido retirada com antecedência, e sofrido processo de secagem, é
necessário submetê-la a uma operação previa de remolho.
2. Tirada a primeira água, procede-se o desengorduramento.
Esta operação, como o nome já indica, tem o objetivo de limpar
e desengurdurar os pêlos e a pele colocando-a em condições de
ser curtida.
CURTIMENTO - M. G. Salomão & J. D. F. Souza 241

A solução indicada para tal finidade é a seguinte:

Sabão Amarelo......................................30 g
Soda comum para lavar.........................15 g
Água...................................................1litro

A quantidade de solução deve ser entre 1 a 3 vezes o peso


úmido da pele.
Preparação: dentro de um recipiente esquentamos a água e,
ao ferver, acrescentamos o sabão cortado em pequenos pedaços.

Curtimento
Uma vez que estiver bem dissolvido, acrescenta-se a soda. Mexe-
se a mistura continuamente, especialmente no momento de co-
locar a soda para dissolução.
Quando o líquido entrar em ebulição novamente, retira-se do
fogo e deixa esfriar a 45oC, aproximadamente (esta temperatura
corresponde a impressão de morno, ao colocar dedo na solução).
Esta é a temperatura adequada para submergir a pele dentro da
mistura, pois uma temperatura mais elevada pode queimá-la.
3. A pele deve ser bem remexida e escorrida durante o proces-
so que dura 15 mimutos, esfregando-se como se estive-se lavan-
do um pano. Retire a pele e coloque-a pendurada, deixando es-
correr a solução. Uma vez escorrido o excesso, coloca-se em ou-
tro recipiente que terá outro líquido curtidor:
Alumen de potássio....................100g
Água.......................................1 litro
Sal comum .................................50g

Novamente calcule os volumes como para a substância ante-


rior. Estas substâncias se dissolvem em água fria. Mexa a solu-
ção para facilitar sua dissolução.
4. Tratando-se de couros pequenos, deixa-se nessa solução por
um ou dois dias. Se o tamanho for maior (como um cachorro-do-
mato um cervo grande ou uma onça) é necessária a permanên-
cia por 10 ou 15 dias.
5. Para verificar se o couro está curtido, pegamos entre as mão
e o esticamos mais ou menos com força. Se do lado da carne
aparecer umas fibras brancas é sinal de que a operação está con-
cluída. Caso contrário, volte a submergir no preparado durante
mais algumas horas, repetindo a verificação mencionada em in-
tervalos menores.
242 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

6. Curtido e escorrido, o couro deve ser esticado. Esta opera-


ção consiste em colocar o couro sobre uma madeira, com o lado
do pêlo virado para baixo, tratando de que este esteja dirigido
para um mesmo sentido. Então dá-se ao couro um tratamento
que é complementar ao anterior e tem como objetivo obter uma
curtição mais perfeita.
7. Prepara-se então uma pasta com bórax e alúmen mais ou
menos em partes iguais, e água. No lugar da água pode ser
utilizado o líquido curtidor descrito anteriormente. Esta pasta é
espalhada no lado desprovido de pêlos e deixa-se sobre a mesma
para que, desta forma, o alumem penetre mais nos poros da
pele e a pelagem se fixe melhor.
O couro esticado é deixado nestas condições na sombra, com o
cuidado de que não seque demais.
8. Ao retirar o couro esticado, e retirar a pasta, o couro deve
apresentar certa umidade. Então é hora de sovar o couro. Isto
deve ser feito para tirar a úmidade restante do couro, e amaciá-
lo com as mãos para que adquira flexibilidade.
Depois desta operação, a parte carnosa deve estar completa-
mente branca. Pode também sovar da seguinte maneira: Pegue
nos extremos com as duas mãos e se força a face desprovida de
pêlos, contra o canto de uma lâmina ou a borda de uma mesa, da
mesma forma que se passa uma flanela para dar lustro.
9. Raspe a parte carnosa com uma faca ou bisturi, para des-
prender bem os tecidos aderidos. A lâmina não deve ser afiada,
pois há perigo de danificar a pele. Pode-se realizar esta operação
antes de colocar a pele no líquido curtidor, porém a prática acon-
selha a fazê-lo depois.
10. O emparelhamento e alisamento se realiza melhor com lixa
na parte carnosa. Deve-se utilizar lixa grossa e progressivamente
lixas mais finas, até chegar à condição adequada. Como o lixamento
tem a finalidade de emparelhar a espessura do couro por toda a
extensão, é necessário palpá-lo para passar a lixa nas partes mais
espessas. É uma operação que requer muito cuidado, pois qual-
quer descuido pode ocasionar a ruptura da pele.
11. O acabamento é feito retirando-se as bordas endurecidas
que geralmente se formam. Esta operação realiza-se com uma
lâmina bem afiada, colocando o couro com o pêlo para baixo.
Deve-se evitar de cortar os pêlos nas bordas da pele.
CURTIMENTO - M. G. Salomão & J. D. F. Souza 243

Para dar ao couro maior flexibilidade, umedeça a parte carnosa


com álcool. Deve-se manuseá-lo até que se volatize completamente.
Até aqui nos ocupamos com a face sem pêlos. Para terminar o
tratamento deve-se tratar os pêlos.
Esta operação é importante, já que este lado será a parte im-
portante do couro terminado. Aconselhamos pentear no sentido
dos pelos com um pano molhado em álcool. Seguidamente se
repete no sentido contra-pêlo e logo, outra vez, a favor do mes-
mo. Cuidado com peles antigas que tenham sido recuperadas.
Para um acabamento brilhante (nem sempre isto é aconse-

Curtimento
lhável, já que pode modificar o brilho original e descaracterizar
o espécime), pode-se fazer uma última operação que consiste em
dar lustro ao pêlo. Para isso usamos uma solução de azeite de
vaselina ou vaselina líquida e nafta. Com as seguintes propor-
ções: 1 uma colher de azeite de vazelina em 1/2 litro de nafta.
Esta operação de lustro se realiza simplesmente passando a
solução com pedaço de pano sobre o lado peludo da pele e no
sentido do pelo.

ENGRAXE

O engraxe constitui uma das operações mais importantes e


críticas de todo o processo. Sua principal finalidade é dar maciez
ao couro, que é obtida pelo envolvimento das fibras com materi-
al graxo que atua como lubrificante evitando sua aglutinação
durante a secagem. Nesta operação, as características fisico-
mecânicas do couro são modificadas aumentando-se a resistên-
cia ao resgamento.
No processo de engraxe, usa-se um processo de emulsão de
óleos e água a uma temperatura de 60 a 65ºC, com agitação.
Temperaturas superiores a esta podem prejudicar a emulsão. Os
óleos emulsionados penetram no couro previamente neutraliza-
do e recurtido. As peles são colocadas nesta emulsão por um pe-
ríodo de 2 a 3 horas. O óleo de engraxe deve ser fixado na pele, e
o agente de fixação mais usado é o ácido fórmico. Assim, após o
engraxe, a pele deve ser colocada em ácido fórmico por um perí-
odo de 30 minutos, depois lavada e seca.
Os produtos mais utilizados para o engraxe são:
244 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

• Óleo de oliva = mais apreciado;


• Óleo de coco = indicado para couros brancos, e estável à
luz e à oxidação;
• Óleo de mamona = é incolor e inodoro, devendo apresentar
densidade de 0,960;
• Óleos minerais = são empregados em pequenas porções, não
se fixando à estrutura fibrosa, sua finalidade é de auxiliar a
penetração dos demais componenetes do engraxe.
Os óleos são fixados na pele com agentes catiônicos, tais como
o ácido fórmico, engraxantes ou fixadores do mercado. A seguir,
as peles são enxaguadas e colocadas sobre cavales.
SECAGEM
A secagem visa reduzir o teor de água do couro a aproxima-
damente 18%, eliminando a água superficial, retida nos espaços
interfibrilares e a água contida nos capilares grossos, permane-
cendo somente parte da água combinada (água ligada ou de
hidratação) e dos capilares finos. Podemos proceder a secagem:

SECAGEM AO AR
É o processo mais simples, porém lento e irregular. Basta co-
locar as peças esticadas em varais ou cavaletes.Nunca no sol.

SECAGEM ESTIRADO
Consiste em fixar as peles sobre tábuas (fixar com pregos nas
bordas das peles) e deixar secar à sombra.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Dr. Manoel A. C. Jacinto pelas informações im-
prescindíveis para a elaboração deste capítulo.

BIBLIOGRAFIA
JACINTO, M. A. C. Apostila do curso “Curtimento de peles al-
ternativas: tilápia, tambaqui e pacu. IPT - Instituto de Pes-
quisas Tecnológicas do Est. de São Paulo S.A.- CTCC - Cen-
tro Tecnológico de Couros e Calçados. 29p.
MORGANTE, C. 1970. Taxidermia. Hobby. Argentina.187p.
10
CITOGENÉTICA, ENZIMAS & MOLECULAR - D. Peccinini-Seale 245

Técnicas
Citogenéticas,
Citogenética
Enzimaticas e
Moleculares
246 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Denise Maria Peccinini-Seale é Bióloga. Bacharel e Licenciada em História


Natural pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São
Paulo. Mestra e Doutora em Ciências, na área de Genética, pelo Departamen-
to de Biologia, Instituto de Biociências da USP. Iniciou atividades científicas
em Genética Humana no IBUSP e como bolsista de Iniciação Científica no
Instituto Butantan em Genética de Anfíbios e Répteis. Através de financia-
mentos de bolsas de mestrado, doutoramento e auxílios à pesquisa da FAPESP
e CNPq, há trinta e três anos participa ativamente de excursões científicas
para coleta, manutenção e processamento de material biológico de répteis,
em campo; desde esta época desenvolveu técnicas citogenéticas, adaptadas
para lagartos, para trabalho em campo e em laboratório. Há vinte e sete anos
participa de Simpósios Internacionais e Congressos Nacionais e Internacio-
nais com apoio financeiro à pesquisa da FAPESP, CNPq e Conselho Britânico.
Pós-Doutoramento em Berkeley, Universidade da Califórnia, EUA com treina-
mento em técnicas de análise de enzimas para estudos de Variação Genética
de Répteis. Como Professora pesquisadora, trabalhou na Universidade Nacio-
nal de Canberra, Austrália, durante um ano em Variação Genética de Ara-
nhas. Desenvolve trabalhos científicos em colaboração com pesquisadores do
Instituto Butantan, Universidade Estadual do Rio de Janeiro e Instituto Naci-
onal de Pesquisas na Amazônia. Na área de Educação foi professora efetiva
da rede pública de ensino durante onze anos e há vinte e quatro anos é docen-
te e pesquisadora do Departamento de Biologia do IBUSP após concurso para
Professor Assistente Doutor na área Biologia/Genética.

Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo.


Departamento de Biologia
Caixa Postal 11461. CEP 05422-970 – SP - Brasil.
dmpseale@usp.br
Tel.: (055) 11 3818 7618
CITOGENÉTICA, ENZIMAS & MOLECULAR - D. Peccinini-Seale 247

Técnicas
Citogenéticas,
Enzimáticas e
Moleculares

Citogenética
Denise Peccinini-Seale

Como já visto em outros capítulos, é importante aproveitar


para pesquisa todo o material biológico possível quando dispo-
nível. Para subsidiar a coleta e preparação de material para
metodologias de estudos de variabilidade genética, foi elabora-
do este capítulo que abrangerá técnicas citogenéticas, métodos
enzimáticos e moleculares para vertebrados.

COLETA E MANUTENÇÃO DE AMOSTRAS DE TECIDOS PARA


ANÁLISE CITOGENÉTICA: CONSIDERAÇÕES GERAIS PARA VER-
TEBRADOS

Antes de proceder a qualquer tipo de amostragem em campo,


é imprescindível planejar o que, onde e como coletar. O ideal é
aproveitar ao máximo os tecidos e partes do animal para a pes-
quisa e documentação científica. Alguns exemplares, no mínimo
dois a quatro, devem ser mantidos vivos para trabalhos e
processamento de tecidos a posteriori no laboratório. É necessá-
rio elaborar um projeto de pesquisa com roteiro de trabalho e
248 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

providenciar licenças especiais junto às administrações, o IBAMA


e órgãos estaduais de fiscalização, para coletas e transporte de
amostras de tecidos animais da natureza, como já descrito em
detalhes em capítulos anteriores. Os animais devem ser
anestesiados adequadamente com os anestésicos específicos, sem-
pre que houver necessidade de utilização de tecidos internos para
o processamento das amostras. Para estudos citogenéticos são
utilizados métodos in vivo ou diretos e in vitro ou indiretos para
obtenção de preparações cromossômicas. Ambos métodos pas-
sam por três etapas básicas: bloqueio celular, hipotonização ce-
lular e fixação celular.

A - Método in vivo - A obtenção de preparações cromossômicas


ocorre a partir de amostras de tecidos internos colhidos
diretamente dos animais: injeta-se colchicina cerca de 30 minu-
tos a duas horas antes da dissecação para que ocorra um acúmulo
de metáfases. Nesta etapa de divisão celular os cromossomos es-
tão condensados e podem ser facilmente visualizados ao micros-
cópio de luz após preparação citológica. A preparação citológica
inclui tratamento em solução hipotônica, isto é, soluções de bai-
xa concentração iônica, para que as células fiquem túrgidas e os
cromossomos fiquem mais espalhados; as soluções mais utiliza-
das são cloreto de potássio, KCL 0,075M ou simplesmente água
destilada. A fixação é feita progressivamente com três banhos de
uma solução tipo Carnoy, de metanol - acético, METAC, ou seja,
álcool metílico e ácido acético glacial, na proporção de 3:1. O mé-
todo in vivo ou direto é o mais utilizado em campo; além de envol-
ver um custo operacional bem menor que o indireto, possibilita o
processamento das amostras e preparação citológica até a fixa-
ção. Equipamentos simples e poucas drogas podem ser facilmente
transportados para o campo, entretanto envolve uma grande di-
ficuldade que é a impossibilidade de manter os animais vivos.

B – Método in vitro - Este método apresenta possibilidades


grandes de manter os indivíduos vivos, mas o custo total por
experimento é elevado. Ele é mais utilizado em laboratório, pois
envolve equipamentos e condições de processamento que nem
sempre podem ser levados ao campo. É aplicado quando não é
recomendada a morte do animal, por exemplo, animais de gran-
CITOGENÉTICA, ENZIMAS & MOLECULAR - D. Peccinini-Seale 249

de porte, de zoológicos ou espécie ameaçada de extinção. Neste caso,


as preparações cromossômicas são obtidas a partir do cultivo de célu-
las.
As culturas podem ser diferenciadas em culturas de curta du-
ração, por exemplo, de linfócitos, a partir de amostras de san-
gue, ou de longa duração, por exemplo, de fibroblastos, à partir
de pequenas amostras de tecidos externos. As culturas normal-
mente levam no mínimo 72 horas para proporcionar resultados
satisfatórios. As células em crescimento no meio de cultura tam-
bém são submetidas a ação da colchicina para posteriormente
serem hipotonizadas e fixadas conforme descrito anteriormen-
te.
Amostras de outros tecidos internos também têm sido usadas
tanto em laboratório como em campo como, por exemplo, medu-
la óssea, fígado, rim, testículo e células epiteliais de intestino.
Nestes casos, porém, os animais precisam ser mortos. A suspen-
são celular de cada amostra é incubada, geralmente a 37oC, du-

Citogenética
rante um prazo curto em colchicina, para o acúmulo de metáfases
em meio mínimo de cultura, como o meio de Hanks ou em solu-
ção hipotônica KCL 0,075M. A seguir, procede-se a preparação
citológica até a etapa de fixação em metanol e ácido acético 3:1.
Atualmente, é possível obter bons resultados com a coleta de
material de aves e mamíferos sem morte dos animais trabalha-
dos. Em aves, por exemplo, como tinamídeos, etapas iniciais do
método in vitro ou indireto podem ser realizadas em campo, a
partir de penas em crescimento dos exemplares analisados; ou
ainda, quando da visita à instituições como zoológicos, os exem-
plares são imobilizados pelos tratadores, identificados por ani-
lha, e as penas em crescimento retiradas e mantidas em meio de
cultura para evitar dessecação. As metáfases mitóticas podem
então ser obtidas através de duas metodologias:
a. preparação de cromossomos mitóticos à partir de tecido de
polpa dérmica de penas jovens e cultura de fibroblastos. Este
procedimento tem sido utilizado para outros grupos de aves, como
nos psitacídeos, onde as metodologias são empregadas para de-
terminar o sexo de um grande número de exemplares de várias
espécies ameaçadas como a arara azul grande, especialmente,
de modo a colaborar com programas de reprodução em cativeiro
com vistas à preservação; ainda, este método foi utilizado com
250 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

jacutingas (Galliformes) e com tucanos de diferentes especies


(G.T.ROCHA, com. pess.; ROCHA et al. (1995); CASTRO et
al.,1996a,1996b; CALDANA et al.,1998,1999). Em vários grupos
de mamíferos, como morcegos, amostras muito pequenas de te-
cidos externos (por exemplo, orelha) foram processadas para cul-
tura de fibroblasto (G. T. ROCHA, com. pess.; SANTOS et al.,1999),
sem causar danos para os animais amostrados, que podem ser
liberados para natureza. Estas técnicas permitiem aproveitar
exemplares utilizados por outros projetos, e sua subseqüente
reintrodução no ambiente;
b. Posteriormente, culturas de fibroblasto foram feitas a par-
tir de pequenos fragmentos (2mm) de orelha ou de músculo. São
processados para análise citogenética de outros grupos de ma-
míferos, como cotias e diferentes espécies de canídeos. Os frag-
mentos de tecido externo são mantidos por um curto prazo em
meio de cultura e a seguir são encaminhados ao laboratório.
o
O congelamento a -70 C de amostras de tecidos internos e ex-
ternos de vários grupos de vertebrados em botijões criogênicos
com nitrogênio líquido, em campo ou em laboratório, possibilita
não só o processamento dos métodos citogenéticos, mas também
de métodos enzimáticos e moleculares.
Para estudos enzimáticos é possível colher, em campo, amos-
tras de sangue e tecido, tais como fígado, músculo e intestino.
Essas amostras devem ser conservadas em gelo, ou quando dispo-
nível, em botijões criogênicos de nitrogênio líquido, para que não
haja desnaturação das enzimas, antes do processamento. Para
revisão de conceitos e métodos convencionais consultar HEBERT
& BEATON (1993), RICHARDSON et al. (1986) e HILLIS & MORITZ
(1990). Em campo, quando não é possível o transporte de exem-
plares vivos, um tanque criogênico de nitrogênio líquido para trans-
porte das amostras deve fazer parte do equipamento de viagem.
Dos animais coletados, parte deve ser imediatamente morta e
conservada em formol ou álcool etílico, enquanto outra parte deve
ser mantida viva para encaminhamento ao laboratório e posteri-
or processamento dos tecidos. Se houver risco de vida para os ani-
mais durante o transporte, deve-se trabalhar em campo para apro-
veitamento máximo das amostras. Sempre que possível, conser-
var os animais em álcool etílico 70% a 100% para futuros traba-
lhos com métodos moleculares. No caso de condução de métodos
para investigações de ácidos nucleicos, o formol NÃO pode ser
CITOGENÉTICA, ENZIMAS & MOLECULAR - D. Peccinini-Seale 251

usado, pois ocorre desnaturação tanto do DNA como do RNA.


Tais métodos para estudos de variação de DNA e de RNA po-
dem ser conduzidos pela obtenção e manutenção de fragmentos
muito pequenos de tecidos, principalmente fígado e ou amostras
mínimas de sangue, esperma, saliva, escama e unha, coletadas
no campo, em museus ou laboratórios. Nas últimas decadas houve
um grande avanço nas pesquisas moleculares graças ao desen-
volvimento das técnicas de multiplicação das coletas ou segmen-
tos de cadeias de DNA ou RNA in vitro, mediadas por enzimas do
tipo polimerase. Esse método popularizou-se com o nome de PCR
(polymerase chain reaction) cuja tradução aproximada seria
reação em cadeia (de multiplicação do ácido nucleico). Estas per-
mitiram cada vez mais, que pesquisadores associem estudos
moleculares aos mecanismos de variação genética e evolução. A
grande vantagem é a obtenção de amostras sem necessidade de
matar o animal. Fragmentos de fígado, músculo e intestino (3 a
7mm), devem ser conservados em álcool 70% a 100%. No caso de

Citogenética
material raro e da indisponibilidade de álcool, já se constatou
que amostras foram bem conservadas e seu DNA replicado e
sequenciado satisfatóriamente após fixação em bebidas alcoóli-
cas, tais como aguardente (M. G. Salomão com. pess.). O conge-
lamento prévio em nitrogênio líquido, das amostras de fígado,
músculo e intestino, viabiliza tanto as análises moleculares como
as enzimáticas (ver HILLIS & MORITZ, 1990).
A seguir são apresentados alguns exemplos de pesquisa em
campo e primeiras etapas de trabalho em laboratório com amos-
tras dos diversos grupos de vertebrados.

I. PEIXES
I.1 CITOGENÉTICA

Preparações cromossômicas em peixes utilizam métodos in vivo


ou diretos e in vitro ou indiretos. Os métodos in vivo são os mais
comuns, adaptados para peixes tropicais segundo BERTOLLO et
al. (1978). Durante trabalhos de coletas de peixes há duas situa-
ções: 1- é possível desenvolver técnicas convencionais de prepa-
ração de cromossomos quando existe a possibilidade de manu-
tenção de exemplares vivos a curto prazo, em laboratórios provi-
252 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

dos de equipamento básico e centrífuga; 2 – é possível desenvol-


ver a preparação de cromossomos mitóticos através da técnica
convencional para peixes modificada por BERTOLLO et. al. (1978)
ou a de MOREIRA FILHO & BERTOLLO (1990). Os procedimentos
básicos descritos à seguir, são adaptados dos protocolos dos di-
ferentes laboratórios de citogenética de peixes existentes no Brasil,
como por exemplo, Universidade Federal de São Carlos, Universi-
dade Federal do Mato Grosso, Universidade Estadual de Londri-
na, Universidade Estadual do Maranhão, Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia, dentre outros, com sugestões e modifi-
cações (C. S. MIYAZAWA, E. FELDBERG e J. I. PORTO, com.pess.).

A - Técnica convencional de preparação de cromossomos


mitóticos adaptada por BERTOLLO et al. (1978):

1. Injetar solução de colchicina 0,0125%-0,05% intra-


peritonialmente, entre as nadadeiras peitorais e as pélvicas, na
proporção de 0,1ml/10g de massa do animal.
2. O animal deve permanecer em aquário arejado, durante 20
a 60 minutos; após a morte do animal, proceder a dissecação do
rim (cefálico e/ou caudal); no caso de organismos muito peque-
nos, retirar o rim, o fígado e raspar as brânquias. Se necessário
utilizar um estereomicroscópio. Lavar rápidamente os tecidos re-
tirados com solução hipotônica de KCl 0,075M para retirar ex-
cesso de gordura;
3. Dissociar o tecido em solução hipotônica (KCl 0,075 M), por
meio do uso de pinças histológicas e com uma seringa hipodérmica
de vidro, desprovida de agulha; aspire e expire os fragmentos de
tecido para facilitar a dissociação das células até obter uma so-
lução celular homogênea;
o
4. Colocar a suspensão obtida em estufa a 36-37 C, durante
vinte e oito minutos;
5. Ressuspender o material com muito cuidado com o auxílio
de uma pipeta Pasteur e transferir a suspensão obtida para um
tubo de centrífuga. Porções de tecido ainda não desagregados
devem ser descartados;
6. Acrescentar algumas gotas de fixador METAC, 3 partes de
álcool metílico para 1 parte de ácido acético, recém-preparado;
ressuspender o material e centrifugar durante 10 minutos, a 900
rpm, descartando o sobrenadante com uma pipeta Pasteur;
CITOGENÉTICA, ENZIMAS & MOLECULAR - D. Peccinini-Seale 253

7. Adicionar, vagarosamente, 5-7ml do fixador citado


anteriomente, recém-preparado, deixando escorrer através das
paredes do tubo da centrífuga;
8. Ressuspender o material cuidadosamente, com auxílio de
uma pipeta Pasteur;
9. Repetir duas vezes os ítens 7 e 8. Após a última centrifugação
e eliminação do sobrenadante, adicionar cerca de 1ml de fixador,
dependendo da quantidade de material sedimentado, e
ressuspender bem o material. Este poderá ser então guardado em
congelador, acondicionado em microtubos tipo “Ependorff”, por
exemplo;
10. Gotejar 3 ou 4 gotas da suspensão obtida sobre diferentes
regiões de uma lâmina limpa e seca, colocada sobre placa aquecida
entre 38 e 39ºC. É possível também gotejar sobre uma lâmina
retirada de recipiente com água fervendo, formando-se deste
modo, uma fina película de água sobre a lâmina que promove
melhor espalhamento das células na sua superficie. Outra ma-

Citogenética
neira de aplicar a suspensão celular sobre uma lâmina é colocá-
la sobre um suporte no interior de banho-maria a 70ºC; secar
em temperatura ambiente, e
11. Corar com solução de Giemsa diluída a 5% em tampão
fosfato (pH = 6.8) durante 7 – 8 minutos; lavar a lâmina com
água destilada ou água corrente e deixar secar ao ar.

B - Preparação de cromossomos meióticos adaptada por


BERTOLLO et al. (1978).

1. Injetar, intraperitonialmente, solução de colchicina 0,0125%-


0,05% na proporção de 1ml/100g de massa do animal;
2. Deixar o animal em aquário arejado durante uma hora. Após
este tempo, matar o animal com anestésico adequado e retirar
os testículos;
3. Seccionar o tecido em pequenos fragmentos; incubar em
solução hipotônica de KCl 0,075M durante 20 minutos;
4. Transferir o material para o fixador, 3 partes de álcool
metílico para 1 parte de ácido acético, recém-preparado;
5. Repetir o processo de fixação; o material pode ser guardado
o
em refrigerador a 4 C ou processado conforme as seguintes
instruções:
6. Retirar o material do fixador e transferir alguns fragmen-
254 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

tos para uma placa escavada, adicionando 2 ou 3 gotas de ácido


acético 45%;
7. Fragmentar o material com cuidado a fim de obter-se uma
suspensão celular;
8. Com uma pipeta Pasteur, colocar uma gota da suspen-
o
s ã o s o b re u m a l â m i n a a q u e c i d a e n t re 3 0 e 3 5 C ,
reaspirando-a imediatamente;
9. Repetir o item 8 em mais dois ou três campos da lâmina.
Secar em temperatura ambiente, e
10. Corar com Giemsa 5% em tampão fosfato durante 5-7 mi-
nutos; lavar em água destilada ou água corrente; secar em tem-
peratura ambiente.

C - Técnica alternativa para preparações cromossômicas


em peixes (KCl 0,075M) MOREIRA FILHO & BERTOLLO (1990)

1. Matar o peixe e retirar o rim anterior;


2. Colocar o material, previamente lavado em solução
hipotônica de KCL 0,075M, em uma cuba de vidro contendo 7 a
10ml desta solução hipotônica;
3. Dissociar o tecido renal utilizando pinças histológicas para
separar as células; com uma seringa hipodérmica de vidro, des-
provida de agulha, aspire e expire o fragmento de tecido para
facilitar a dissociação das células e obter uma solução celular
homogênea;
4. Transferir o material para um tubo de centrífuga e incubar
em estufa a 37ºC. Após 10 minutos, pingar 1 ou 2 gotas de solu-
ção aquosa de colchicina 0,0125%. Deixar na estufa por mais 15
a 20 minutos; gotejar 5 a 10 gotas de fixador (3 partes de álcool
metílico para 1 parte de ácido acético), recém-preparado,
ressuspender o material e centrifugar durante 10 minutos a 900
rpm, e
5. Retirar o sobrenadante com auxílio de uma pipeta Pasteur e
proceder a fixação; preparar as lâminas segundo a técnica de
secagem ao ar acima descrita.

I.2 ENZIMAS

Aqui são descritas técnicas básicas de coleta e preservação de


CITOGENÉTICA, ENZIMAS & MOLECULAR - D. Peccinini-Seale 255

material que podem ser conduzidas em campo. Os padrões


isozímicos são obtidos a partir de amostras de sangue, um tecido
de “baixo risco”, ou seja, que não necessita da morte do animal.

Técnica utilizada em campo (S. A. TOLEDO FILHO & S. B.


AGUIAR FONTELES com. pess.).

1. Heparinizar seringas hipodérmicas descartáveis de 1 a 3cc,


com 0,2ml de Liquemine®;
2. Coletar aproximadamente 1ml de sangue pela punção da
veia caudal do peixe; o volume de sangue coletado é diretamente
proporcional ao tamanho do animal;
3. O sangue coletado deve ser acondicionado em tubos plásti-
cos de microcentrífuga também heparinizados e imediatamente
resfriado à temperatura de 5oC, em isopor com gelo picado ou
em vasilhames com gelo reaproveitável sem que haja congela-
mento do material, até chegar ao laboratório, para

Citogenética
processamentos posteriores. O período de resfriamento não deve
chegar a 24 horas.
Em laboratório as amostras devem ser centrifugadas para a
separação do plasma e da hemoglobina que devem ser processa-
das diferentemente.
Hemoglobina. Para obtenção dos hemolisados, o sangue total
deve ser centrifugado por 4 minutos a 1.000 rpm. A após a sepa-
ração da porção plasmática as hemácias, devem ser lavadas duas
vezes com solução salina (NaCl 1,7%) e lisadas com tampão Tris-
EDTA pH 8,0, seguida de sua imediata utilização ou podendo ainda
ser acondicionadas a -20oC por no máximo um mês. Com este
material é possível obter padrões eletroforéticos de hemoglobinas
e de superóxido dismutase (SOD) usando o sistema horizontal em
gel de amido de milho, na concentração de 12 a 13% descrito por
MARCON (1998), com o sistema de tampões sugerido por VAL &
ALMEIDA-VAL (1998). A corrida eletroforética é processada du-
rante 3 a 4 horas com 150V e 20A; após isso, o gel é corado com
as técnicas apropriadas para marcador.
Plasma. Após a separação do plasma, as amostras são trata-
das com rivanol (2-etoxi 6,9 lactato de diaminoacridina) para a
purificação das transferrinas, (TEIXEIRA & JAMIESON,1985) na
proporção entre 10 e 50 % do produto em relação as amostras.
Este material pode ser congelado por um período máximo de 6
256 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

meses. As amostras de plasma proporcionaram obtenção de pa-


drões eletroforéticos de esterases e transferrinas, utilizando o
sistema vertical em gel de poliacrilamida (7,5%) com aparelho
descrito por STUDIER (1973), com sistema de tampões
descontínuos descritos por DAVIS (1964). A aplicação no gel foi
feita com o auxilio de “pentes plásticos”, na extremidade catódica
do gel. A eletroforese é feita em ambiente resfriado (5oC) durante
5h; após isso, o gel é retirado das placas e corado de acordo com
a técnica de cada marcador.

I. 3 – MOLECULAR

A- Técnica desenvolvida por S. A. TOLEDO FILHO e adapta-


da por F. M. C. FERNANDES MATIOLI (com.pess).

Esta técnica tem a vantagem de não ser necessário matar o ani-


mal e permitir cicatrização e regeneração rápidas da área lesada.
Para animais coletados no campo, o ideal é transportá-los vi-
vos para o laboratório com posterior processamento das amos-
tras, mas nem sempre o transporte de material vivo é viável.
Neste caso, deve-se colher amostras e conservá-las em botijões
criogênicos de nitrogênio líquido.
1. Retirar fragmentos de 2 a 3 mm da nadadeira por meio de
tesoura de pontas finas;
2. Colocá-los em álcool etílico comum entre 80 a 96% de con-
centração, dentro de um tubo de plástico, e
3. Transportar para o laboratório em temperatura ambiente
ou levemente resfriado e manter o material em caixas de isopor,
sem congelar.

B - Técnicas moleculares para estudo comparado da fauna


de peixes e outros vertebrados (J. I. R. PORTO e E. FELDBERG,
com. pess).

A técnica de extração de DNA é quase que padrão para os


vertebrados em geral. Diferentes quantidades de DNA podem ser
obtidas a partir de diferentes amostras de peixes tais como, san-
gue, escamas, pedaços de nadadeira.
1. Retirar fragmentos de 2 a 3 mm de tecido ou 1 ml de san-
CITOGENÉTICA, ENZIMAS & MOLECULAR - D. Peccinini-Seale 257

gue;
2. Colocar a amostra em álcool etílico comum 80 a 96% dentro
o
de um tubo de plástico, ou congelá-las a -70 C em tanques
criogênicos de nitrogênio líquido;
3. Após a fixação em álcool, pode-se transportar para o labo-
ratório em temperatura ambiente ou levemente resfriado, e
4. No laboratório, o DNA total é obtido a partir do método
descrito em SAMBROOK et al.(1989). Homogeneiza-se o tecido
numa solução de lise (Tris-HCl 10 mM; NaCl 0,3 M; SDS 1%; EDTA
10 mM e urea 4M pH 8,0 [ESTOUP et al., 1993]) e submete-se a
ação da proteinase K. Purifica-se o DNA através de lavagens su-
cessivas em fenol, fenol-clorofórmio 1:1 e clorofórmio: álcool
isoamílico (24:1)(estes dois últimos, altamente tóxicos e
cancerígenos). Precipita-se o DNA em 2V de etanol e cloreto de
sódio (2M NaCl), lava-se o precipitado em etanol 70% e final-
mente após a secagem do “pellet” ressuspende-se o DNA em solu-
ção tampão Tris-EDTA (TE 10:1) ou em água pura autoclavada.

Citogenética
O DNA extraído deve ser preservado a -10ºC até a amplificação
por PCR. Recentemente têm sido utilizados kits comerciais de
extração que não oferecerem riscos à saúde como o método de
extração fenólico.

II - ANFÍBIOS
II. 1- CITOGENÉTICA

Estudos cromossômicos em anfíbios utilizam principalmente


métodos in vivo ou diretos. Coletas de animais em campo para
preparações cromossômicas datam desde os trabalhos de pes-
quisa de BATISTIC et al. (1969). Para revisão de conceitos e méto-
dos, entre outros, consultar BATISTIC (1970, 1989) e BALDISSERA
Jr. et al. (1999).
Em campo, é possível conseguir preparações cromossômicas à
partir de processamento de células epiteliais de intestino e testí-
culos; procede-se a hipotonização com água destilada e fixação
em metanol - acético 3:1. O material fixado deve ser conservado
em gelo, até processamento posterior se não houver possibilida-
de de total execução do método em laboratório.
258 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

II.2 e II. 3- ENZIMAS E MOLECULAR

Para estudos enzimáticos e moleculares em anfíbios é possível


colher em campo amostras de tecidos, tais como, fígado, múscu-
o
lo e intestino e conservados a -70 C. Para revisão de conceitos e
métodos convencionais consultar RICHARDSON, B. J. et al. (1986)
e HILLIS & MORITZ (1990).
III - RÉPTEIS

III.1 – CITOGENÉTICA

A prática mais utilizada em campo para obtenção de prepa-


rações cromossômicas em répteis é o método in vivo ou direto, a
partir de técnicas citológicas de processamento de medula óssea
(fêmur), de testículos e, mais recentemente, a partir de células
epiteliais de intestino. Estas técnicas vem sendo utilizadas como
rotina nas coletas de campo, e foram adaptadas e desenvolvidas
para lagartos por PECCININI (1969), PECCININI-SEALE & FROTA-
PESSOA (1974) e PECCININI-SEALE & ALMEIDA(1986), podendo
também ser utilizadas para outros répteis, como exposto abaixo.

1. Injetar, intraperitonealmente colchicina 0,1% na propor-


ção de 0,1 ml para cada 10g de massa do animal. Esperar por 60
a 90 minutos para incubação, em temperatura ambiente (míni-
mo de 25oC- 30oC); caso contrário o animal deverá ser aquecido
a 35oC, ao sol ou por outra forma disponível. Para estimular o
metabolismo celular, é recomendável um aquecimento a 35oC, de
pelo menos duas horas, antes da injeção da colchicina. A
colchicina promove o acúmulo de metáfases através da
paralização do processo de divisão celular neste estágio, e
2. Matar o animal com anestésicos adequados. Proceder a dis-
secação ventral, retirando intestino, testículos e pelo menos um
fêmur, preferencialmente sem danificar a pele. Se for de porte
pequeno, usa-se todo o intestino; quando a massa do corpo for
maior que 100 gramas, utiliza-se apenas 7 a 10 cm do duodeno,
logo após o estômago.
Estão descritos abaixo, por ordem de prioridade, os melhores
processos de produção de metáfases de intestino, de testículos e
de medula óssea.
CITOGENÉTICA, ENZIMAS & MOLECULAR - D. Peccinini-Seale 259

2 a. Preparação citológica de células epiteliais de intestino.


Imediatamente após a dissecação do intestino, cortá-lo em
fragmentos de aproximadamente 0,5cm; mergulha-lo em cerca
de 20 a 30ml de solução hipotônica de água destilada ou de KCL
0,075M, durante 30 minutos, mantendo um mínimo de tempe-
ratura de 25oC. Nesta etapa ocorre a hipotonização, onde as cé-
lulas ficam túrgidas e os cromossomos ficarão espalhados no li-
mite da membrana celular. É importante não ultrapassar o tem-
po de hipotonização, caso contrário, haverá um rompimento da
membrana celular e conseqüente perda dos cromossomos. Esta é
uma etapa crucial para uma boa qualidade de preparação
cromossômica.
Pré-fixação e fixação: A pré-fixação interrompe a ação
hipotônica. Acrescentar ao material 20 gotas de metanol-acético
(3 partes de álcool metílico absoluto para uma parte de ácido
acético glacial). Esta solução deverá ser preparada no laborató-
rio e devidamente acondicionada em pequenas alíquotas de 10 a

Citogenética
20 ml, em frascos com tampa de boa vedação.
Segue-se então a fixação, desprezando a solução pré-fixadora
transferindo os fragmentos do tecido para o frasco com 10 a 20
ml de fixador, tampando-o e vedando-o com parafilme ou simi-
lar. Colocar em lugar frio (geladeira ou isopor com gelo). Se man-
tido nestas condições, o material deverá ser trabalhado no máxi-
mo dentro de um mês. Está terminada a primeira etapa de prepa-
ração citológica. Desta forma o material poderá ser transportado
até o laboratório para a preparação citológica final em lâminas.

2.b. Preparação citológica de testículos:


Após retirada dos testículos, mergulhá-los em cerca de 5ml de
água destilada ou de KCL 0,075M e mantê-los no mínimo entre
o
25 e 30 C durante 40 minutos para hipotonização. Pré-fixação e
fixação são conduzidas como descritas na preparação citológica
de intestino.

2 c. Preparação citológica de Medula Óssea


Na escolha dos ossos longos, dê preferência para o fêmur. Se o
animal apresentar tamanho médio, um deles é suficiente. Para
animais de tamanho pequeno, trabalhar com os dois. Para ani-
mais muito pequenos, com fêmures muito curtos, é aconselhável
260 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

fazer uma dissecação de cerca de 5 cm da coluna vertebral. Para


lagartos ápodos, anfisbenídeos e serpentes, deve-se processar cer-
ca de 5 cm da coluna vertebral e cortar 2 a 3 costelas; as extre-
midades dos ossos devem ser cortadas para extração da medula
óssea; lavar o interior dos ossos em água destilada ou solução de
KCL 0,075M com seringa de 3 ml e agulha 5 ou 7 mm; completar
para 5 ml de água destilada ou solução de KCL 0,075M; deixar
por 15 minutos, nas condições de temperatura já mencionadas,
para intestino e testículos. O tempo de hipotonização para sus-
pensão celular é menor que para amostras de tecido e órgãos;
A pré-fixação e fixação devem ser feitas como descritas na pre-
paração citológica de intestino; somente no caso do laboratório
de campo ter disponível uma pequena centrífuga portátil ou
manual. A centrifugação é imprescindível, pois, permite a sepa-
ração das células do líquido de suspensão, no caso água destila-
da ou KCL 0,075M. Centrifugar a 1000 rpm durante 10 minutos
após a pré-fixação. Retirar o sobrenadante e acrescentar 3 ml de
fixador metanol-acético 3:1(METAC). A conservação das amos-
tras deve ser feita como recomendado para intestino e testícu-
los.

SUGESTÕES PARA MELHORAR A QUALIDADE DAS PREPA-


RAÇÕES:

1. Quando a temperatura média ambiente é maior que 30oC,


dependendo da região geográfica e da época do ano, é necessá-
rio diminuir o tempo de hipotonização para 30 minutos. Um re-
curso de trabalho de campo, muito simples, é o uso da fonte de
o
aquecimento de nosso corpo. Temos 36 C à nossa disposição, a
qualquer hora. Basta incubar o material em pequenos tubos de
plástico, em pequena bolsa de pano mantida bem junto à cintu-
ra, durante 30 minutos. Estes procedimentos são eficientes para
medula óssea, testículos e intestino (observação pessoal).

2. Não é aconselhável proceder técnica direta para obtenção


de preparações cromossômicas em animais de tamanho muito
grande, como teiús adultos, jacarés, quelônios e serpentes de
grande porte. Nestas circunstâncias, logo após a anestesia total
e antes das técnicas de preparação para conservação do animal,
CITOGENÉTICA, ENZIMAS & MOLECULAR - D. Peccinini-Seale 261

proceder à dissecação de amostras de órgãos e tecidos mencio-


nados. É importante lembrar que tais amostras são grupos de cé-
lulas em processo constante de divisão celular e representam dife-
rentes estágios de desenvolvimento do processo; mitose, nos teci-
dos somáticos, como células epiteliais do intestino e medula ós-
sea; mitose e meiose, nas células dos testículos.
3. Estas amostras de tecido deverão ser incubadas em 5 a 20ml
de solução salina de NaCl 0,085% ou de solução de meio de
cultura mínimo segundo Hanks, com 0,1ml de colchicina 0,1%
durante 45 a 60 minutos.
4. Preparação de lâminas deve ser feita somente no laborató-
rio ou quando houver um pequeno laboratório com infra-estru-
tura básica nos locais de coleta.

III.2. ENZIMAS

MANUTENÇÃO E PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS

Citogenética
As amostras de tecidos, tanto de técnicas de campo ou labora-
tório, devem ser obtidas imediatamente após o morte do animal.
A partir de fragmentos de tecidos conservados em congelador a
20oC negativos, a curto prazo, ou mesmo em caixas de isopor
dupla com pedaços de gêlo sêco a - 78,5oC; a longo prazo devem
ser mantidos em botijões criogênicos de nitrogênio liquido ou
congelador a -78 a -80oC. Animais de pequeno porte são coloca-
dos inteiros em recipientes com gêlo sêco, em congeladores ou
em botijões criogênicos. Para estudos de sistemática e variação
genética entre indivíduos e populações os tecidos e processamento
mais utilizados são: análise de proteínas do sangue e de enzimas
a partir de homogenados de fragmentos de fígado, músculo e
intestino; microtubos, previamente etiquetados, devem transpor-
tar separadamente pequenas amostras de: sangue, cerca de 0,1
a 0,2 ml; fígado, músculos e intestino, cerca de 2 a 3 fragmentos
de 5 a 7 mm quadrados. O material, porém, deve ser transporta-
do até o laboratório e mantido a 20oC negativos, o mais rapida-
mente possível. Transportar o animal vivo até o laboratório sem-
pre é a opção melhor, quando um tanque não está disponível.
Através de técnicas de eletroforese em gel de amido, agarose,
acrilamida e acetato de celulose são obtidos dados que permi-
262 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

tem estimar freqüências gênicas, variabilidade genotípica e ní-


veis de heterozigose. Estas técnicas só podem ser desenvolvidas
em laboratório com equipamento adequado. Os valores podem
ser diferentes entre indivíduos de uma amostra de população e
entre populações. A comparação dos dados permite o cálculo de
índices de similaridade (S) e de distância genética (D) entre indi-
víduos, populações e espécies. Estes índices são parâmetros de
variabilidade importantes, pois detectam a presença de
polimorfismos gênicos entre os indivíduos e mecanismos de dife-
renciação entre populações no nível de espécie. Podemos obter
revisões de métodos e conceitos em HEBERT & BEATON (1993),
HILLIS & MORITZ (1990), SITES et al. (1990), PECCININI-SEALE
(1989) e RICHARDSON et al. (1986).

III.3 - ÁCIDOS NUCLEICOS

Métodos moleculares para estudos de variação de DNA e de


RNA podem ser conduzidos a partir da obtenção e manutenção
de amostras no campo, de museus ou mesmo em laboratórios
pela coleta de fragmentos muito pequenos de diversos tecidos,
principalmente fígado e ou amostras mínimas de sangue, esper-
ma, saliva, escamas e unhas. Nos últimos anos houve um gran-
de avanço nas pesquisas moleculares com técnicas de PCR e de
tácnicas mais simples para obtenção de amostras. Estas técnicas
permitiram cada vez mais, que pesquisadores associem estudos
moleculares aos mecanismos de variação genética e evolução.
Uma grande vantagem é a obtenção de amostras sem precisar
matar o animal. Caso deva ser morto, sua conservação deve ser
feita em álcool 70% a 100%, que evita o enrigecimento do mate-
rial, da mesma forma que, na ausência de álcool 70%, bebidas
alcoólicas podem substituí-lo com sucesso (M. G. Salomão, com.
pess.). A formalina NÃO PODE ser usada, pois promove a
desnaturação de DNA e ou RNA. O congelamento das amostras
permite sua utilização neste e em outros métodos, entretanto
amostras coletadas em álcool podem ser transportadas a tempe-
ratura ambiente. Revisões de métodos e conceitos sobre biologia
molecular podem ser encontrados em HILLIS & MORITZ (1990),
DOWLING et al.(1990), HILLIS & DAVIS (1996), PASSONI (1998) e
PASSONI et al. (2000).
CITOGENÉTICA, ENZIMAS & MOLECULAR - D. Peccinini-Seale 263

PROCEDIMENTOS BÁSICOS PARA COLETA DE AMOSTRAS


EM CAMPO

A coleta de sangue demanda alguns outros procedimentos tais


como a adição de 1ml de EDTA sódico 0,5M (186.1g/ l), pH 8,0 em
0,1 ml de sangue em cada tubo de 10ml; em seguida transferir
para tubos contendo 6ml de 2.5% SDS (25,0g/l) preparado em so-
lução de Tris Base 125mM, pH 7,4 (15,14 g/l) e agitar (o SDS age
como detergente rompendo as membranas e o DNA fica em solu-
ção) o material é mantido em temperatura ambiente. Na falta des-
tes materiais, a fixação pode ser feita em etanol 70 a 80%.
O sangramento pode ser feito por punção da veia caudal, direto
do coração ou por cortes na ponta da cauda promovendo
gotejamento. Neste caso é recomendada a cauterização.
Coleta de amostras por congelamento total de lagartos de pe-
queno porte, em campo é um procedimento utilizado (VYAS, et

Citogenética
al.,1990; com pess.).
A possibilidade do congelamento permite a realização de cul-
tura de fibroblasto segundo técnicas convencionais e manuten-
ção do material a longo prazo (78oC - 80oC negativos).
Segundo estes autores a extração de DNA total pode ser feita
da seguinte forma:
1.Macerar um fragmento de tecido de cerca de 5mm em
microtubo tipo “Eppendorf” de 1,5ml, utilizando macerador ade-
quado (bastão de plástico com extremidade arredondada, dispo-
nível no mercado), em 300-400 µl de solução de STES (0,01M NaCl,
0,01M Tris, 0,1M EDTA, 0,25M sacarose pH 7,5); esta solução con-
tém sacarose para preservar as mitocôndrias. À seguir, adicionar
mais 400 µl a 500 µl de STES para totalizar 800 µl;
2. Centrifugar por 10 minutos a 2.500 rpm e temperatura de
4oC para precipitar os núcleos e restos teciduais;
3. Transferir o sobrenadante; centrifugar a 15.000 rpm du-
rante 20 minutos, a 4oC, para precipitar as mitocôndrias;
4. Descartar a maior parte do sobrenadante, deixando no tubo
cerca de 25 µl; ressuspender o conteúdo precipitado, em cerca
dos 25 µl de STE restantes; acrescentar 250 µl de solução STE
(0,1M NACl, 0,01M Tris, 0,1M EDTA, pH: 7,5) e misturar
vigorosamente à temperatura ambiente; a solução de STE, sem
264 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

sacarose, promove o rompimento das mitocôndrias. Acrescen-


tar, a seguir, 30 µl de SDS (solução final 1% sodium dodecyl sulfate)
e 15 µl de Proteinase K ( 10 U/ ml final);
5. Digerir por duas horas à temperatura de 55 oC e tratar com
RNAse (3µl - 10mg/ml) por 60 minutos a 37 oC;
6. A extração das proteínas do material costumava ser feita
pela adição e remoção de fenol. Devido a problemas com sua
toxicidade e descarte, muitos laboratórios usam atualmente o
acetato de amônia congelado 5M (200µl);
7. Após esse tratamento, centrifugar por 10 minutos a 10.000
rpm a 4ºC, e recuperar o sobrenadante contendo DNA;
8. Acrescentar etanol absoluto para precipitar o DNA, e deixar
no congelador a 20ºC negativos, no mínimo durante 12-14 horas.
9. Centrifugar a 15.000 rpm, 15 minutos (4ºC) em seguida es-
correr o sobrenadante. O DNA fica precipitado no fundo de tudo.
Lavar o precipitado com cerca de 500 ml de etanol 70% gelado.
Centrifugar a 15.000 rpm, 10 minutos (4ºC) e escorrer o líquido.
10. Secar o DNA precipitado e eluir em 50µl tampão TE (0,01 M
Tris 0,001M EDTA, pH=8.0) durante 30 minutos; o volume de TE
depende do volume de DNA. A quantidade de DNA vai depender
basicamente do tamanho da amostra de tecido; amostras de 4 a
5mm de tamanho, em média, produzem 3 a 4 mg de DNA.
11. Guardar a solução mãe de DNA enriquecido com fração
mitocondrial à temperatura de 20oC negativos. A solução mãe
pode ser usada para método RFLP (Restriction fragment length
polymorphisms - polimorfismos no comprimento de fragmentos
de restrição) e para seqüenciamento de DNA a partir de amplifi-
cação tipo PCR. Para fins de seqüenciamento é necessário fazer
uma solução diluída de DNA de cerca de 15 ng/ml à partir da
solução mãe. A solução mãe está diluída em solução tampão TE;
ao se fazer a diluição para 15 ng/ml, utiliza-se água deionisada
purificada por um sistema especial, e não solução TE; isto por-
que o EDTA que está na composição do TE, dificulta a reação de
PCR. Cerca de 1.0 a 1.5ml da solução diluída de DNA (aproxima-
damente 15 a 20 ng) para amplificação tipo PCR segundo J. C.
PASSONI (com. pess.).
CITOGENÉTICA, ENZIMAS & MOLECULAR - D. Peccinini-Seale 265

IV. AVES
IV. 1- CITOGENÉTICA

Os métodos in vitro ou indiretos são os mais comuns. O mate-


rial é processado a partir de células da região basal de penas
coletadas em campo, sem morte do animal. O processamento do
material pode ocorrer, incubando-se as células com meio de cul-

Citogenética
tura em colchicina 0,016% durante 20 a 30 minutos e, em segui-
da, proceder a preparação citológica até fixação; como alterna-
tiva, levar o material para o laboratório e estabelecer cultura de
fibroblastos (G. T. ROCHA, com. pess.).

A. Preparação de cromossomos mitóticos a partir de tecido de


polpa dérmica de penas jovens.
1. Retirar as penas e, em seguida, a polpa dérmica, evitando-
se a extração de material pigmentado que se forma em volta
dela, internamente ao cálamo;
2. Colocá-la em placa de Petri e cortar vigorosamente até ob-
ter uma massa celular;
3. Acrescentar cerca de 5ml de meio de cultura (RPMI) e trans-
ferir para tubo de centrífuga, completando com 10 ml de meio
de cultura;
4. Adicionar cerca de 0,5 ml de solução aquosa de colchicina a
0,016%, homogeneizar e manter em temperatura ambiente por
30 minutos;
5. Centrifugar a 1000 rpm por 10 minutos, desprezar o
sobrenadante e ressuspender o material em cerca de 10 ml de
KCl a 0,075 M. Homogeneizar e manter por 30 minutos;
6. Centrifugar a 1000 rpm por 10 minutos, desprezar o
sobrenadante e acrescentar cerca de 10 ml de solução fixadora
266 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

de metanol/ácido acético (3:1). Centrifugar novamente e despre-


zar o sobrenadante.
7. Repetir o item 6 por mais uma vez. Após a última
centrifugação, ressuspender em 1 ou 2 ml de fixador e gotejar
sobre lâminas de microscopia, molhadas e geladas.

Cultura de Fibroblasto

Em laboratório, utilizar filtro de esterilização e preparar 1l de


meio de cultura F10, acrescido de 292mg de L-glutamina, 0,5ml
de insulina (0,01UI/ml), 5ml de vitamina TC Mimmal, 2 ml de
solução de Antimicótico (penicilina, estreptomicina, anfotericina
B/10u/ml). Acrescentar bicabornato de sódio até atingir o pH 7,0.
1. Para a coleta, colocar 5ml de meio de cultura com 0,1 ml de
solução de antibiótico/antimicótico, em frascos estéreis com tampa;
2. No local da coleta, fazer a assepsia das regiões da asa onde
as penas serão coletas. Retirar de 2 a 3 penas em crescimento, e
com tesoura estéril, cortar o cálamo e mantê-lo em frascos con-
tendo meio de cultura F10 e solução de antibiótico/antimicótico;
3. Ainda no local da coleta, transferir, com pinça, os bulbos
recém coletados para outro frasco de mesmo conteúdo, manipu-
lar os frascos próximo à lamparina, evitando riscos de contami-
nação;
4 Transportar o material em isopor com gelo;
5. No laboratório, em fluxo laminar, transferir os bulbos das
penas para uma placa de Petri, retirando a polpa dérmica (evitar
material pigmentado) e dissociar as células em 3 ml de colagenase
tipo IV 0,2% durante 1 hora;
6. Transferir o material dissociado para um tubo estéril cônico
com tampa, adicionando meio de cultura e centrifugar por 10
minutos a 800 rpm;
7. Lavar o precipitado mais uma vez em meio de cultura e
ressuspender as células em 3 ml de meio F10 acrescido de 0,6 ml de
soro fetal bovino. Transferir para frascos de cultura de 25 cm3;
8. Incubar em estufa de 37oC e acompanhar o crescimento ce-
lular em microscópio invertido;
9. Quando o material apresentar crescimento, acrescentar
0,1ml de colchicina 0,0016% por 40 minutos a 37oC;
CITOGENÉTICA, ENZIMAS & MOLECULAR - D. Peccinini-Seale 267

10. Acrescentar 2 ml de ATV (solução de 0,2% de tripsina e


0,22µl. de Versene) para promover a liberação das células aderidas
aos frascos de cultura;
11. Ao observar o desprendimento do material, interromper a ação
do ATV com soro fetal bovino. Transferir para tubos de ensaio;
12. Centrifugar por 5 minutos a 1500 rpm, e desprezar o
sobrenadante;
13. Acrescentar 5 ml de KCl a 0,075 M. Deixar em estufa por
25 minutos;
14. Centrifugar novamente e desprezar o sobrenadante. Adi-
cionar 5ml de fixador metanol/ácido acético (3:1), e
15. Centrifugar e desprezar o sobrenadante. Ressuspender o
material em 1 ml de fixador, e gotejar lâminas de microscopia.

Obtenção de metáfases mitóticas a partir de maceração de


embriões.

Citogenética
1. Utilizar ovos fertilizados com cerca de 16 a 72 horas de
incubação. Cuidadosamente, fazer um pequeno orifício na casca
do ovo em seu polo mais largo (onde se encontra a câmara de ar).
Injetar 0,3 ml de colchicina a 0,05% e incubar por 2 horas;
2. Quebrar delicadamente a casca do ovo. Usando tesoura e
pinça, cortar a gema em torno do disco embrionário, liberando-
o. Remover o embrião com cuidado com a menor quantidade de
albúmen possível;
3. Macerar o embrião com o auxílio de uma lâmina de barbe-
ar em placa de Petri;
4. Acrescentar 5ml de KCl a 0,075M e manter a 37oC por 10 minutos, e
5. Retirar o sobrenadante, acrescentar 5 ml de fixador.
Centrifugar, desprezar o sobrenadante, diluir o material em
fixador. Gotejar sobre lâminas de microscopia.

Nas três metodologias, parte do material fixado é armazenado


em freezer a -20oC para melhor conservação para futuras análi-
ses. As lâminas são coradas convencionalmente, com solução de
Giemsa (1ml de corante Giemsa para 10ml de tampão fosfato pH
6,8) e analisadas em microscópio comum com objetiva de imersão
100x. As melhores metáfases são registradas, procedendo-se à iden-
tificação da morfologia dos cromossomos, pareamento dos
homólogos e o estabelecimento dos pares sexuais.
268 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

IV. 2 - ENZIMAS

É possível congelar amostras de tecidos tais como fígado e mús-


culo em botijões criogênicos de nitrogênio líquido, encaminhar
para laboratório e proceder aos métodos convencionais segundo
HILLIS & MORITZ (1990).

IV. 3 - MOLECULAR

Coleta de amostras em campo para pesquisas moleculares em


aves (R. CAPARROZ, com. pess.).

1. A coleta de um pequeno volume de sangue, no caso das aves,


répteis e outros vertebrados que possuam hemácias nucleadas, é
suficiente para a extração de grandes quantidades de DNA. Reti-
ra-se normalmente, 0,1 a 0,5 ml de sangue através da veia
braquial localizada na face ventral da asa. Este volume está
diretamente relacionado ao tamanho do animal. Não é preciso
utilizar qualquer tipo de substância anti-coagulante para esta
coleta de sangue;
2. Após coletado o sangue deve ser transferido para um
microtubo e preenchido com etanol absoluto para que o sangue
fique totalmente imerso nesta substância. Este tipo de
armazenamento dispensa refrigeração e conserva o material
coletado por vários anos, desde que o etanol não evapore. Para
tanto, o microtubo deve ser protegido do calor e da luz solar.

Outra possibilidade para obtenção de amostras de sangue, é sec-


cionando uma pequena porção da unha da ave. Deste modo, o san-
gue é coletado por gotejamento diretamente no interior do tubo.

Coleta de penas

Para extração de DNA, são utilizadas penas em crescimento, as


quais possuem na sua parte basal um tecido em divisão celular
que dará origem à estrutura da pena. Esta região é denominada
cálamo.
CITOGENÉTICA, ENZIMAS & MOLECULAR - D. Peccinini-Seale 269

1. Retirar a pena em crescimento;


2. Desinfetar a região do cálamo com algodão embebido em
álcool 70% pois este lisa as bactérias;
3. Apenas a região do cálamo deve ser colocada dentro de um
microtubo. O resto da pena deve ser descartado com o auxílio de
uma tesoura; e
4. Outra opção é espremer o cálamo no sentido de seu compri-
mento, das barbas até a extremidade do cálamo. Deste modo,
força-se a saída do conteúdo interno para o interior do tubo.
É importante lembrar que amostras de qualquer outro tipo de
tecido também podem ser armazenadas, em tubos contendo etanol
absoluto, da mesma forma que sangue e pena. Além disso, mesmo
quando os animais estão mortos, este processo pode ser realizado.
Neste caso, o DNA poderá estar degradado, mas o material será
de utilidade para determinadas técnicas moleculares, como o PCR.

Citogenética
V. MAMÍFEROS
V.1 - CITOGENÉTICA

Para obtenção de preparações cromossômicas em mamíferos


são adotados métodos in vivo e in vitro. A vantagem dos méto-
dos in vitro, através de culturas temporárias de sangue e/ou de
cultura de fibroblastos, é a de possibilitar a preservação do ani-
mal, fator essencial para mamíferos raros e/ou em extinção.
A coleta de material pode ser feita por biópsia da cauda e pos-
terior processamento via cultura de fibroblastos para prepara-
ções cromossômicas em roedores (SILVA, 1994, 1999; M. J. J. SIL-
VA, com. pess.).
As preparações citológicas para estudo de cromossomos
metafásicos somáticos podem ser obtidas in vivo a partir de cé-
lulas de medula óssea e baço e a partir de fibroblastos, in vitro,
através de cultura de tecidos (cauda ou orelha), segundo técni-
cas descritas por FORD & HAMERTON (1956), EGOZCUE (1971) e
FRESHNEY (1986), com modificações, as quais se encontram
detalhadamente descritas em SILVA (1994). As análises meióticas
podem ser realizadas a partir de preparações de testículos, se-
270 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

gundo EICHER (1966), com modificações, apresentadas em SILVA


(1994).
Para obtenção de cultura de fibroblastos, devem ser retiradas
biópsias de orelhas de alguns animais, as quais devem ser depo-
sitadas em frascos de vidro de 5ml, contendo aproximadamente
3ml de meio de cultura (DMEM - Dulbecco’s Modified Eagle’s
Medium) suplementado com soro bovino fetal (10%) e antibióti-
cos. Para as biópsias obtidas em campo, os frascos com os tecidos
devem permanecer em geladeira até o retorno para o laborató-
rio, onde as biópsias devem ser implantadas adequadamente em
fluxo laminar.
Além de substâncias necessárias para obtenção das prepara-
ções citogenéticas in vivo como, éter para anestesia e morte dos
animais, Hanks, solução hipotônica, acido acético e metanol, de-
vem ser levadas também soluções para esterilização da área a
partir da qual será retirado o tecido do animal para realização
da biopsia como acetona, álcool e merfene.
As suspensões celulares devem ser pingadas em lâminas
histológicas (cerca de 6 ou 7 lâminas de cada animal) imediata-
mente após serem obtidas em campo para garantir o perfeito
espalhamento do material. Tais laminas devem ser armazenadas
em geladeira ou congelador dois dias após serem preparadas.

Coleta e processamento de amostras de sangue para estu-


dos citogenéticos em primatas (C. KOIFFMAN, com. pess.).

1. Amostras de sangue, para estudos citogenéticos em primatas po-


dem ser obtidas de animais mantidos em Zoológicos e/ou fazendas;
2. Cerca de 0,5 a 1ml de sangue total heparinizado, é suficien-
te para pesquisas em citogenética de primatas;
3. Amostras de sangue heparinizadas são transportadas até o
laboratório para desenvolvimento das técnicas convencionais de
cultura temporária de leucócitos.

Coleta e processamento de amostras de tecidos em campo


para cultura de fibroblastos [segundo G. T. ROCHA (com.pess.)]
CITOGENÉTICA, ENZIMAS & MOLECULAR - D. Peccinini-Seale 271

Em mamíferos, como morcegos, cotias, catetos e canídeos, sem


morte dos animais pode ser feita após a imobilização do animal,
para a coleta de tecido da orelha do espécime:
1. Pressiona-se o local da biopsia com algodão embebido em
éter. Em seguida, limpa-se o local com algodão embebido em ál-
cool etílico a 70%;
2. Com auxílio de uma pinça e um bisturi estéreis, puxa-se a
extremidade da orelha e corta-se um pequeno fragmento de 2 a
3 milímetros, aproximadamente;
3. Coloca-se o fragmento imediatamente em um tubo tipo
eppendorf, com meio de cultura (F10) - mistura de nutrientes de
HAM-F-10-catálogo SIGMA-N2147 e antibiótico/antimicótico (pe-
nicilina, estreptomicina, anfortericina B/ 10u/ml), e
4. O material deve ser mantido na geladeira até poder ser pro-
cessado para a cultura de fibroblastos.

Citogenética
Cultura de fibroblastos e a obtenção de metáfases (modifi-
cado de CALDANA & ROCHA, 1998)

Para proceder a uma cultura de fibroblastos deve-se traba-


lhar sob fluxo laminar, seguindo as etapas:

1. Transfere-se o fragmento de orelha para uma placa de Petri


e, com o auxílio de um bisturi estéril, corta-se esse fragmento em
vários outros menores;
2. Através de uma pipeta Pasteur estéril, transfere-se os frag-
mentos para a parede de frasco de cultura de 25 cm3, e espera-se
de 20 a 40 minutos para que eles possam aderir à parede;
3. Após esse tempo, adiciona-se no fundo do frasco, 2 ml de
meio de cultura F10, previamente preparado e acrescido de 292
mg de L-glutamina, 0,5 ml de insulina (0,01 UI/ ml), 5 ml de vita-
mina TC Mimmal, 2 ml de solução de antibiótico/antimicótico
(penicilina, estreptomicina, anfortericina B/ 10 u/ml), além de
bicarbonato de sódio até atingir o pH 7,0;
4. Ao frasco de cultura acrescenta-se 0,40 ml de soro bovino
fetal e 0,10 ml de antibiótico/antimicótico evitando-se que essas
soluções atinjam a parede na qual os fragmentos estão aderidos,
e
272 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

5. Coloca-se o frasco na estufa, a 37oC, acompanhando-se o


crescimento celular com o uso de microscópio invertido, a cada 2
dias. Caso o material não tenha iniciado seu crescimento após
sete dias, adicionar 0,5 ml de soro bovino fetal para uma rápida
estimulação.

Montagem das lâminas. Quando se observa que há cresci-


mento celular em boa parte da superfície do frasco de cultura,
seguem-se os seguintes passos:
1. Adiciona-se 0,10 ml de colchicina a 0,0016% no frasco, es-
perando agir por 1 hora, à temperatura de 37oC;
2. Retira-se o conteúdo líquido do frasco, colocando-o em um
tubo de centrífuga;
3. Adiciona-se, imediatamente ao frasco de cultura, 3ml de
ATV (solução de 0,2% de tripsina e 0,22u. de versene), deixando
agir por 3 minutos, e, após esse tempo de ação, observa-se ao
microscópio invertido para ver se as células se soltaram da su-
perfície do frasco;
4. Volta-se o meio retirado anteriormente, misturando-se, com
o auxílio da pipeta, todo o conteúdo do frasco e passa-se o rastelo
na superfície com cultura em crescimento;
5. Despeja-se novamente no tubo de centrífuga o conteúdo do
frasco e centrifuga-se por 5 minutos a 1500 rpm;
6. Terminada a centrifugação, descarta-se o sobrenadante e
o
adiciona-se 5ml de KCL (0,075 M), à 37 C, e leva-se o tubo à estu-
fa por 30 minutos;
7. Centrifuga-se e novamente o sobrenadante é descartado;
adiciona-se solução fixadora metanol:ácido acético (3:1) até com-
pletar 5ml no tubo, repetindo-se esta lavagem duas vezes;
8. Após a última centrifugação, retira-se o sobrenadante até
restar apenas 1ml de solução que é novamente homogeneizada;
9. Sobre lâminas de microscopia lavadas, molhadas e geladas,
pinga-se de 4 a 5 gotas do conteúdo do tubo de centrífuga com
uma pipeta Pasteur, e
10. Finalmente passa-se o lado inferior das lâminas ao fogo
para que os cromossomos das metáfases fiquem espaçados uns
dos outros.

VI - EQUIPAMENTOS, MATERIAIS E DROGAS PARA COLETA


CITOGENÉTICA, ENZIMAS & MOLECULAR - D. Peccinini-Seale 273

DE MATERIAL DE VERTEBRADOS

Equipamentos e Materiais Básicos de campo


- Geladeira, quando possível
- Caixas de isopor
- Centrífuga manual e/ou elétrica portátil
- Algodão
- Álcool etílico
- Microtubos preenchidos com alcool etílico 70% - 100%
- Pinças histológicas
- Tesouras cirúrgicas de pontas finas
- Recipientes de isopor de tamanhos variáveis (pequeno e médio)
- Gelo em gel em pacotes reaproveitáveis
- Sacos plásticos
- Sacos de pano
- Botijões criogênicos com nitrogênio líquido
- Placas de Petri

Citogenética
- Pipetas Pasteur, vidro ou plástico
- Lâminas esmerilhadas (lavadas e secas)
- Tubos de centrífuga, vidro ou plástico
- Microtubos de plástico- 1ml a 5ml
- Caixas de lenço-papel
- Papel toalha
- Panos de prato

Drogas e Soluções

A maioria das drogas e soluções está relacionada no texto; a


seguir, estão citadas apenas algumas soluções básicas mais utili-
zadas em campo e em laboratório para preparações
cromossômicas.

Drogas
- Colchicina 0,1% , 0,025%, 0,05%, 0,016% e 0,0125%.
- Cloreto de potássio (KCl) 0,075M
- Álcool etílico P.A
- Cloreto de sódio (NaCl) 0,085%.
- Álcool metílico P.A.
- Ácido acético glacial
- Água destilada
274 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Soluções

A. Colchicina 0,1% - 10 mg de colchicina para 10ml de água


destilada ou deionizada. A partir desta solução são feitas as di-
versas diluições.

B. KOH (para desengordurar vidraria)


KOH 100g
Água destilada 200g
Etanol q.s.p. 1 litro
Aquecer o KOH e a água. Deixar esfriar e adicionar o etanol.
Guardar em frasco de plástico resistente. Deixar a vidraria
submersa nesta solução por 4 horas.

C. Solução para esmerilhar lâminas


Fluoreto de amônio 150 g
Ácido sulfúrico 20 ml
Ácido fluorídrico (37%) 150 ml
Água destilada 100 ml

D. Tampão fosfato (pH 6,8)


Solução A: KH2PO4 0,06 M (fosfato monobásico)
KH2PO4 4,0827 g
Água destilada q.s.p. 500ml
Solução B: Na2HP.7H2O 0,449M (fosfato de sódio bibásico)
Na2HPO4 3,1888 g
Água destilada q.s.p. 500ml
Diluir a solução A e reservar. Dissolver a solução B em um
becker de 1000ml e levar ao agitador magnético. Colocar o
eletrodo do pHmetro no becker e ir acrescentando a solução A
até atingir pH 6,8. Armazenar em frasco âmbar.

E. Cloreto de Potássio 0,075M


Cloreto de potássio (KCl) 5,56 g
Agua destilada q.s.p. 1 litro

F. Solução de Hanks
Solução A: NaCl 8g
KCl 0,4 g
Na HPO 0,047 g ou
2 4
CITOGENÉTICA, ENZIMAS & MOLECULAR - D. Peccinini-Seale 275

Na2HPO4.7H2O 0,0898 g ou
Na2HPO4.12H2O 0,12 g
Na2HPO4 0,06 g
Agua bidestilada 100 ml
Solução B:
CaCl 0,14 g
2
MgSO4.7H O 0,2 g
2
Água bidestilada 100 ml
Solução de Vermelho Fenol
Vermelho Fenol 0,14 g
NaOH 0,1 N 0,2 g
Água bidestilada 100 ml
Misturar as soluções A e B juntamente com 0,35 g de bicarbo-
nato de sódio, 1 g de dextrose e 2 ml de vermelho fenol. Comple-
tar com água bidestilada até 1 litro. Deve ficar com uma colora-
o
ção vermelha. Armazenar em frasco âmbar a 4 C.
OBS: a solução vermelho fenol deve ser armazenada no freezer.

Citogenética
VII . COLABORAÇÕES

Agradeço aos pesquisadores que colaboraram com valiosas in-


formações sobre suas experiências de trabalho em campo e eta-
pas básicas em laboratório.
Prof. Dr. CARLOS FREDERICO DUARTE DA ROCHA - UERJ, Rio
de Janeiro, RJ
Prof. Dr. CARLOS SUETOSHI MIYAZAWA -UFMT, Cuiabá, MT
Profa. Dra CÉLIA KOIFFMAN - USP, São Paulo, SP.
Profa. Dra. ELIANA FELDBERG - INPA, Manaus, AM
Dra. FLORA MARIA DE C. F. MATIOLI - USP, São Paulo, SP
Dr. FRANCISCO LUIS FRANCO - Inst. Butantan, São Paulo, SP
Prof. Dr. GUARACY TADEU DA ROCHA - UNESP, Botucatu, SP
Dra. HANNA SUZUKI - Inst. Butantan, São Paulo, SP
Prof. Dr. JORGE IVAN REBELO PORTO - INPA, Manaus, AM
Dra. MARIA DA GRAÇA SALOMÃO - Inst. Butantan, São Paulo, SP
Dra. MARIA JOSÉ DE J.SILVA - USP, São Paulo, SP
Dra. RADENKA FRANCISCA BATISTIC -Inst.Butantan,SãoPaulo,SP
SORAIA BARRETO AGUIAR FONTELES MSc.- USP, São Paulo, SP
RENATO CAPARROZ MSc. - USP, São Paulo, SP
DAVOR VRCIBRADIC MSc. - UERJ, Rio de Janeiro, RJ
276 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

JOSÉ CARLOS PASSONI MSc. - USP, São Paulo, SP

VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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280 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
11
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 281

Coleções
Coleções Zoológicas
Zoológicas
282 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Francisco Luís Franco é Biólogo. Nasceu na cidade de São Paulo, em 23 de


setembro de 1964. Graduou-se como Bacharel em Ciências Biológicas pela Uni-
versidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Botucatu, São Paulo. É mestre
em zoologia sistemática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul (PUC-RS), Porto Alegre, Rio Grande do Sul, e doutor em zoologia pelo
departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP.
Estuda sistemática e taxonomia de serpentes desde 1983 e participa de traba-
lhos relacionados a inventários herpetológicos. Ministra cursos sobre serpen-
tes, sistemática teórica e coleta de herpetofauna em universidades, institui-
ções de pesquisa e eventos científicos. Publica seus artigos em revistas nacio-
nais e estrangeiras. Atualmente é pesquisador científico do Laboratório de
Herpetologia do Instituto Butantan e curador da Coleção Herpetológica
“Alphonse Richard Hoge” deste instituto, que possui, aproximadamente, 70 mil
serpentes.

Laboratório de Herpetologia, Instituto Butantan,


Coleção Herpetológica “Alphonse Richard Hoge”
Av. Vital Brazil, 1500, Butantã,
São Paulo, 05503-900,
SP – Brasil.
flfrancobuta@hotmail.com
Tel. 55 (011) 3726 7222 R. 2179 e 2267
FAX 55 (011) 3726 1505
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 283

Coleções
Zoológicas
Francisco Luís Franco

Há muitas maneiras para formar, utilizar e manter coleções

Coleções Zoológicas
zoológicas, pois estas possuem finalidades distintas e são dinâ-
micas, adequando-se às mudanças e necessidades da sociedade.
Deste modo, não se pretende aqui impor regras ou definições,
mas sim apresentar conceitos sobre os assuntos que cercam as
coleções zoológicas. Os objetivos deste capítulo serão conside-
rados alcançados se o leitor compreender o quanto as coleções
e os museus são importantes para os seus usuários, para a soci-
edade e para a humanidade como um todo.
Por haver formas distintas de gerenciamento de acordo com
as características de cada coleção, pretende-se abordar neste
capítulo, as coleções zoológicas científicas, ou melhor, coleções
taxonômicas. Seguindo esta linha, serão apresentados tópicos
de interesse geral, expondo opiniões de vários autores, visando
estimular a discussão e a busca de caminhos próprios, adequa-
dos às diferentes instituições.

1. O QUE É UMA COLEÇÃO ZOOLÓGICA?

O conceito de colecionar implica em reunião ou agrupamen-


to de objetos. A grande quantidade de componentes acumula-
dos exige organização. A organização primordial é a determi-
284 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

nação da essência da coleção, ou seja, a particularidade comum


a todos os seus itens, que os capacita a integrar o acervo. No
caso aqui abordado, a particularidade é a origem zoológica do
material. O contínuo acúmulo de peças gera a necessidade de
organização em conjuntos e subconjuntos menores. A maioria
das coleções zoológicas tem seus acervos organizados por or-
dem taxonômica, geográfica e alfabética. Ou seja, dentro de
uma família, dispõem-se os gêneros por ordem alfabética, den-
tro de um gênero, as espécies também por ordem alfabética.
Dentro de uma espécie, não havendo subespécies, os exemplares
podem ser organizados segundo suas procedências, como por
exemplo país, estado, município e sua localidade precisa. A uti-
lização do acervo como fonte de conhecimento, testemunho de
pesquisas ou mesmo para simples comparação com outros exem-
plares, obriga que as informações contidas em seus arquivos
sejam confiáveis e seus elementos individualizados e identifica-
dos. Deste modo, uma coleção zoológica agrupa de forma or-
ganizada, amostras de populações animais, partes ou produ-
tos destes e dados associados a estas peças, visando o apro-
veitamento científico e, conseqüentemente, da sociedade. As-
sim, é importante a busca pela sua perpetuação, pela
confiabilidade de seus dados, além da facilidade de uso e
gerenciamento. Este conceito originou-se da tentativa de conci-
liar e sintetizar as opiniões de vários autores como DUCKWORTH
et al. (1993), GENOWAYS (1999), MARTINS (1994), NAVARRO-
SIGÜENZA & LLORENTE-BOUSQUETS (1997) e SIMMONS (1993).
Estes autores discutem detalhadamente o assunto, fornecendo
subsídios para o leitor contextualizar a importância de uma cole-
ção para a ciência e para a sociedade humana.
Segundo DUCKWORTH, et al. (1993), GENOWAYS (1999) e,
principalmente NAVARRO-SIGÜENZA & LLORENTE-BOUSQUETS
(1997), nestas coleções baseiam-se os conhecimentos da natu-
reza gerados pelos pesquisadores além do fornecimento e
armazenamento de material para a busca de soluções de pro-
blemas que afligem a sociedade. Dentro de um conceito moder-
no, as coleções são estruturas dinâmicas e participativas na so-
ciedade. Os responsáveis por elas procuram estar atualizados
com as inovações científicas, metodológicas e éticas devido à
grande responsabilidade que sua atividade lhes impõe.
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 285

As coleções zoológicas geralmente estão depositadas em insti-


tuições de cunho científico e/ou didáticos, como museus, univer-
sidades e institutos de pesquisa, porém, muitas estão vinculadas
a outras organizações como, por exemplo, as não governamen-
tais, empresas particulares, polícias científicas e aduaneira, ins-
tituições veterinárias, médico-sanitárias, agropecuárias, etc..
NAVARRO-SIGÜENZA & LLORENTE-BOUSQUETS (1997) e
DUCKWORT et al. (1993), sintetizam o valor e o significado das
coleções taxonômicas, além de apresentarem históricos muito
informativos sobre coleções e museus. Para outros pontos de
vista, sugere-se a leitura de GOYCOCHEA (1997), FUNK (1989) e
SIMMONS (1987 e 1993). Em CASTRO (1998a), diversos autores,
de cada área da zoologia de vertebrados, listam sucintamente
as principais coleções zoológicas com material do estado de São
Paulo e as respectivas infra-estruturas físicas. PÉFAUR (1992)
fornece uma abordagem inicial do estado atual das coleções
herpetológicas latino-americanas.

Coleções Zoológicas
2. NATUREZA DAS COLEÇÕES

Há inúmeros tipos de coleções e cada um possui suas parti-


cularidades. As coleções variam quanto a estrutura, tamanho,
abrangência, finalidade, perfil do usuário, instituição à qual
estão incorporadas, etc. Deste modo, é conveniente agrupar as
coleções em categorias relativamente uniformes para facilitar a
compreensão do leitor.
A estrutura seguida neste item é baseada em MARTINS (1994),
com contribuições de NAVARRO-SIGÜENZA & LLORENTE-
BOUSQUETS (1997) e DUCKWORT et al. (1993), além de aportes
pessoais.

2.1 COLEÇÕES DIDÁTICAS

Toda coleção tem importância didática, uma vez que a sua


utilização sempre implica em atualização e geração de conheci-
mento, e contribui para a contínua capacitação de pessoal. Isto
não implica que o material de uma coleção científica seja utili-
zado indiscriminadamente para treinamento de aprendizes, pois,
certamente, este procedimento dilapidará rapidamente o acer-
286 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

vo, provocando perda de peças de importância inestimável


(MARTINS, 1994). Deste modo, as instituições que desenvolvem
atividades de ensino, geralmente possuem coleções didáticas,
compostas por material sem procedência, excedentes, parcial-
mente danificados e especialmente adquiridos ou preparados
para esta finalidade, que não estariam adequados para incor-
poração numa coleção científica. As peças destas coleções, ha-
bitualmente, têm durabilidade reduzida devido ao manuseio
constante e, muitas vezes, inadequado, devendo ser substituí-
das freqüentemente (MARTINS, 1994).

2.2 COLEÇÕES CIENTÍFICAS

Segundo DUCKWORT, et al. (1993), existem cerca de 10 a 30


milhões de espécies viventes no mundo. Deste montante, con-
forme GOYCOCHEA (1997), apenas 1,4 milhão foram descritas e
a taxa de extinção está em torno de 17.500 espécies ao ano.
FUNK (1989), considerando 5 milhões de espécies viventes, esti-
ma que de 30% a 50% estarão extintas nos próximos 30 a 50
anos. WILSON (1988) apud GOYCOCHEA (1997), apresenta um
quadro muito pessimista sobre o futuro da vida na terra. Ele
destaca que, para vários táxons extinguir-se-ão mais espécies
nos próximos 30 ou 40 anos, que as descritas em todos os sécu-
los passados. A partir destes dados, é possível vislumbrar o imenso
patrimônio de biodiversidade que está sendo perdido antes mes-
mo de ser conhecido, podendo trazer danos incalculáveis para
as gerações futuras.
DUCKWORT, et al. (1993), estimam que os recursos naturais
(animais, vegetais e minerais) coletados e depositados em cole-
ções perfazem aproximadamente, 2,5 bilhões de espécimes em
todo o mundo. Este montante ainda é insuficiente para as ne-
cessidades da comunidade científica e da sociedade.
As principais coleções do mundo estão concentradas na Eu-
ropa e Estados Unidos da América, reunindo boa parte do mate-
rial zoológico colecionado para estudo, inclusive dos países do
hemisfério sul. É no hemisfério sul que se concentra a maioria
dos países em desenvolvimento e grande parte dos recursos na-
turais restantes do mundo, ainda praticamente inexplorados pela
comunidade cientifica, portanto, distantes de serem bem apro-
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 287

veitados pela sociedade. Assim sendo, não é surpresa serem es-


tas áreas do globo as com menos recursos humanos, financei-
ros e tecnológicos para a realização da tarefa de catalogar a
biodiversidade. A apresentação formal das espécies é o passo
inicial para que diferentes áreas da ciência busquem, entre os
seres vivos, soluções para problemas da humanidade. Devido à
importância das coleções científicas, estas são consideradas
patrimônio nacional e internacional.

2.2.1 COLEÇÕES CIENTÍFICAS DE CARÁTER GERAL

As coleções gerais conservam materiais biológicos diversos e,


às vezes, geológicos e antropológicos, oriundos de várias regi-
ões do mundo. Via de regra, são acervos seculares incorporados
a museus, embora algumas coleções estejam em universidades
ou outras instituições de pesquisa e ensino (MARTINS, 1994).
As grandes coleções gerais estão localizadas, principalmente,
nos países desenvolvidos, devido à condição de colonizadores

Coleções Zoológicas
nos séculos passados, ou de potências econômicas, passadas ou
atuais. Deste modo, tiveram e/ou têm condições de financiar
amplas viagens exploratórias e de comprar acervos de outras
instituições, especialmente de países menos afortunados. O Brasil
possui poucas coleções gerais, consideradas como modelo por
pesquisadores e diretamente responsáveis por grande parte do
conhecimento da diversidade biológica do território nacional.
Podem-se salientar as coleções do Museu de Zoologia da Uni-
versidade de São Paulo, em São Paulo, do Museu Paraense Emílio
Goeldi, em Belém, no Pará e do Museu Nacional do Rio de Ja-
neiro, no Rio de Janeiro, instituições centenárias que abrigam
material de diversos grupos zoológicos, com representação mun-
dial, incluindo muitos exemplares-tipo.
Como enfatizado por MARTINS (1994), estas coleções são muito
importantes para o desenvolvimento de estudos taxonômicos e
biológicos. Necessitam de amplas áreas físicas e vultosos recur-
sos financeiros para sua manutenção e contínua ampliação. Este
autor ressalta também que são as instituições detentoras destas
coleções que, geralmente, conseguem verbas para realização de
grandes expedições de coleta.
288 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

2.2.2 COLEÇÕES CIENTÍFICAS DE CARÁTER REGIONAL

Algumas instituições mantêm coleções que reúnem farto ma-


terial zoológico de determinada região geográfica ou localida-
de. Geralmente estão em universidades locais, escolas técnicas,
institutos de pesquisa, etc. MARTINS (1994) reclama da falta de
hábito de formarmos coleções regionais, porém, apropriadamente
lembra que os centros onde tais coleções estão depositadas,
freqüentemente sofrem com a falta de recursos financeiros ou
orientação técnica. Estas dificuldades podem pôr a perder estes
acervos, portanto, é necessária a conscientização por parte dos
curadores destas coleções e administradores das instituições que
as mantêm para que, assim que percebam tais riscos, contatem
instituições maiores interessadas em incorporar estes acervos,
ou dar-lhes apoio financeiro e técnico.
No Brasil, podemos destacar o Museu de Ciências e Tecnologia
da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, que caminha a passos largos, dentro de sua curta traje-
tória de existência, para se tornar uma coleção geral do gabari-
to das citadas anteriormente. Dentre os vários acervos zoológi-
cos que abrange, além dos paleontológicos e antropológicos,
suas coleções, principalmente de peixes e de répteis, vêm cres-
cendo muito, qualitativa e quantitativamente. Consegue, a par-
tir de uma administração moderna e da eficiência de seus
curadores, superar problemas financeiros, mesmo sendo mantida
por uma universidade particular.

2.2.3 COLEÇÕES CIENTÍFICAS PARTICULARES

Muitas vezes, pesquisadores ou amadores reúnem materiais


em coleções que são mantidas com recursos próprios. Não ha-
vendo uma instituição que garanta a perpetuação deste acervo,
há sério risco de se perder, caso as pessoas abnegadas que as
mantém venham a faltar, ou percam o interesse. Normalmente,
estes acervos são doados ou vendidos e incorporadas a coleções
maiores, como foi o caso da coleção de anfíbios do Dr. Werner
Bokermann, comprada pelo Museu de Zoologia da Universidade
de São Paulo com recursos da FAPESP.
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 289

Em alguns casos, a formação de coleções particulares se jus-


tificava pela dificuldade de acesso a coleções oficiais de maior
porte. Entretanto, este argumento se vê enfraquecido graças à
disponibilidade de instituições que atualmente abrigam cole-
ções zoológicas de bom porte e bem administradas, bem como a
facilidade de acesso aos acervos que os curadores vêm garan-
tindo aos consulentes. Por isso, não se recomenda a formação
de coleções particulares, sendo compreensível, no máximo, a
manutenção de material de referência para possibilitar a rápi-
da identificação de exemplares por comparação.

2.2.4 COLEÇÕES CIENTÍFICAS ESPECIAIS

Várias coleções reúnem material zoológico oriundo de ativi-


dades profissionais específicas, de acordo com o ramo de ativi-
dade dos usuários e finalidade de cada coleção. Deste modo,
temos a proliferação de várias coleções de características muito
peculiares. Estas coleções foram aqui agrupadas em unidades

Coleções Zoológicas
relativamente homogêneas, visando a didática, mas poderiam
facilmente ser desmembradas e reunidas em outros arranjos
diferentes. Há também, outros tipos de coleções zoológicas não
comentadas aqui, como zoológicos, criadores particulares,
biotérios, comerciantes de animais e empresas de ecoturismo,
que mantêm animais vivos ou mortos. Muitas vezes, seus
mantenedores realizam pesquisas ou contribuem para os estu-
dos de outros. Como citado por MARTINS (1994), muitas destas
coleções especiais são de interesse econômico, visando resolver
especificamente os problemas abordados pelas instituições nas
quais estão depositadas.

2.2.4.1 COLEÇÕES DE GRUPOS TAXONÔMICOS DETERMINADOS

Algumas coleções comportam apenas exemplares de determi-


nados grupos zoológicos como serpentes, coleópteros, conchas
de gastrópodes, etc., de relevante importância para a comuni-
dade científica que trabalha com o grupo em questão. Um exem-
plo disto, é a Coleção Herpetológica “Alphonse Richard Hoge”,
do Instituto Butantan, São Paulo, que é a maior coleção de ser-
pentes neotropicais do mundo e reúne cerca de 70.000 exem-
plares em seu acervo, além de muitos exemplares-tipo.
290 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

2.2.4.2 COLEÇÕES MÉDICO-SANITÁRIAS

Reúnem animais de importância médico-sanitária, causado-


res de zoonoses. No Instituto Butantan, há a Coleção Ofiológica
do Hospital Vital Brazil, vinculada à Coleção Herpetológica
“Alphonse Richard Hoge”, que reúne quase 8.000 serpentes cau-
sadoras de acidentes, muito importante para estudos sobre
ofidismo, além de fornecer dados valiosos sobre o comporta-
mento e biologia de serpentes.

2.2.4.3 COLEÇÕES DE CUNHO AGROPECUÁRIO

Algumas coleções agrupam animais causadores de danos à


lavoura ou à criação, ou úteis às atividades do homem, como
controladores de pragas e fontes de alimento. Estão, geralmen-
te, vinculadas a institutos de pesquisas agropecuárias e veteri-
nárias. GOYCOCHEA (1997) cita o (BBII) Biosistematics and
Benefical Insect, do departamento de agricultura dos Estados
Unidos da América (U.S. Department of Agriculture), que man-
tém um banco de dados com vários sistemas de informações
relacionadas à biodiversidade e controle biológico de vários gru-
pos de artrópodes.

2.2.4.4 COLEÇÕES DE REFERÊNCIA OU IDENTIFICAÇÃO

São coleções que agrupam exemplares com a finalidade de


facilitar a identificação de espécimes por comparação. É impor-
tante que seus exemplares sejam identificados por pesquisadores
especializados, que podem recorrer à bibliografia necessária e
material apropriado. Em coleções desta categoria, não é necessá-
rio um número grande de indivíduos de cada espécie, mas sim
um número mínimo, que envolva parte de sua variação
morfológica e estágios ontogenéticos encontrados na população.
MARTINS (1994) cita a coleção do Systematic Entomology
Laboratory do Agricultural Research Service do departamento
de agricultura dos Estados Unidos da América (U.S. Department
of Agriculture), o qual presta serviço de identificação para pes-
quisadores, agrônomos, vigilância alfandegária, agricultores,
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 291

etc., do mundo inteiro. Também estão nesta categoria, coleções


que facilitam a identificação de fauna regional ou de grupos
zoológicos particulares, espalhadas em instituições públicas e
privadas, de distintos ramos da atividade humana.

2.3 ANEXO ÀS COLEÇÕES E COLEÇÕES ACESSÓRIAS.

O uso dos exemplares das coleções, o interesse de pesquisa-


dores por determinados aspectos da morfologia ou biologia do
grupo animal estudado, a introdução de novas técnicas de estu-
dos, dão origem a coleções acessórias ou anexos às coleções
principais. Chamamos de anexos aqueles acervos que não exi-
gem numeração própria, além da numeração da coleção à qual
estão ligados. Nas coleções acessórias, os exemplares possuem
numeração própria, além da numeração da coleção principal. A
necessidade de numeração própria ou não, para determinados
acervos, fica a critério do curador. Estas coleções e anexos não
são menos importantes que as principais às quais estão vincula-

Coleções Zoológicas
dos, somente apresentam características próprias que justificam
sua existência.
É fundamental que, havendo na coleção principal o animal
que deu origem ao material do anexo, se faça alusão a este
material anexo no livro tombo da coleção principal. Do mesmo
modo, no caso do material estar em uma coleção acessória, é
necessário que os números estejam sempre relacionados nos
livros-tombo da coleção principal e acessória.

2.3.1 EXEMPLARES-TIPO

Os exemplares-tipo são aqueles citados na publicação na qual


o(s) autor(es) apresenta(m) formalmente uma espécie ou subespécie
para a comunidade científica, atribuindo a ela um nome científi-
co. Estes exemplares representam “o padrão de referência que de-
termina a aplicação de um nome científico”, como citado no Arti-
go 61 do Código Internacional de Nomenclatura Zoológica
(INTERNATIONAL COMMISSION ON ZOOLOGICAL
NOMENCLATURE, 1999). Táxons superiores aos do grupo espécie
também apresentam táxons de sub categorias como tipos. No caso
de Família, há um gênero-tipo e, por sua vez, um gênero possui
292 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

uma espécie-tipo. O Código Internacional de Nomenclatura Zooló-


gica determina que apenas táxons do grupo das espécies, ou seja,
espécies e subespécies, possuam exemplares-tipo.
Existem categorias distintas de “tipos” definidas no Código
Internacional de Nomenclatura Zoológica e, segundo a tradu-
ção de BERNARDI (1994), sendo as citadas abaixo, usadas para
vertebrados:
Cótipo. Termo abolido pelo Código Internacional de Nomen-
clatura Zoológica, que, no passado, tinha sentido de síntipo ou
parátipo.
Holótipo. O exemplar único ou o designado como “espécime-
tipo” de um táxon nominal do grupo da espécie (espécie ou
subespécie), na ocasião da publicação original.
Lectótipo. Um dentre vários síntipos, designado expressamente
como lectótipo, após a publicação de um nome do grupo da
espécie do táxon portador daquele nome.
Neótipo. Um exemplar pode ser designado como neótipo de
uma espécie se, por perda ou destruição, inexiste qualquer
holótipo, lectótipo ou síntipo, de acordo com as limitações e con-
dições impostas pelo Código Internacional de Nomenclatura Zo-
ológica.
Paralectótipo. Todos os síntipos remanescentes, excluindo
aquele designado como lectótipo.
Parátipos. Todos os exemplares de uma série tipo, exceto o
holótipo.
Série-tipo. A série-tipo de uma espécie compreende todos os
espécimes em que seu autor baseia a espécie, exceto aqueles
que ele assinala como variantes, ou que associa duvidosamente
com a espécie nominal, ou que dela exclui expressamente.
Síntipo. Cada espécime de uma série-tipo, da qual não se
designou holótipo ou lectótipo.
Os tipos são os exemplares mais importantes para uma cole-
ção taxonômica. Estes devem ser incluídos em coleções de porte
que possam assegurar sua perpetuação. Nestas coleções, acon-
selha-se que os exemplares-tipo sejam guardados separadamente
do restante da coleção, devendo ser os primeiros exemplares a
serem salvos, no caso de catástrofe. Os vidros com holótipos,
lectótipos, neótipos, síntipos, parátipos e paralectótipos devem
ser identificados por tarjas vermelhas.
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 293

2.3.2 PARTES OU PRODUTOS ANIMAIS

É freqüente a inclusão de peças anatômicas em coleções como


ossos, tecidos, órgãos moles, peles, embriões, hemipênis, mate-
rial diafanizado, lâminas histológicas ou preparações
citogenéticas. Em alguns casos, na dependência do volume e quan-
tidade do material, justifica-se a formação de anexos ou de cole-
ções acessórias.
Coleções de tecidos, lâminas e embriões, devido à forma pe-
culiar de uso e armazenamento, obrigam a formação de estru-
turas que são melhor administradas se tratadas como coleções
acessórias, com numeração e livros-tombo próprios.
Não é interessante a formação de acervos de peças anatômicas
indiscriminadamente, pois elas podem danificar material sem
necessidade. Como exemplo, uma coleção osteológica deve ser
montada de acordo com a necessidade de uso, pois, ao se retirar
as partes moles, perde-se informações de miologia, necessárias
para trabalhos futuros.

Coleções Zoológicas
Em se tratando de objetos ou produtos animais como fe-
zes, ninhos, abrigos, pegadas, conteúdo do trato digestório, etc.,
são importantes os mesmos cuidados requeridos às coleções de
partes, tecidos e lâminas, citados acima. Recomenda-se que o
conteúdo do trato digestório, quando possível, seja mantido no
animal ou preso a ele, assim como feito com hemipênis dos
escamados (lagartos e serpentes).

2.3.3 FAUNA ACOMPANHANTE

Durante a realização de coletas, muitos grupos animais dis-


tintos daqueles de interesse principal são coletados, voluntária
ou involuntariamente, como parasitos, comensais, simbiontes,
fauna que ocupa o mesmo ambiente, presas, predadores, etc...
Recomenda-se que este material seja entregue a pesquisado-
res do grupo em questão para que sejam incluídos em coleções
adequadas a eles.

2.3.4 COLEÇÕES INCORPORADAS E MATERIAIS DE EXPEDIÇÕES

Uma coleção, quando incorporada à outra, deve manter seus


294 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

exemplares com os números ou rótulos originais, seus livros-


tombo, e receber novos números da coleção da qual passa a
fazer parte. Expedições de coleta possuem número de campo,
caderno de campo e livro-tombo próprios. Estes números e li-
vros também devem ser mantidos junto à coleção principal, pois
eles são fontes de informações e referência para eliminação de
dúvidas que possam surgir. O livro-tombo da coleção que rece-
beu o material deve conter referências à origem e ao(s) número(s)
anteriores dos novos integrantes.

2.3.5 ARQUIVOS DE SONS E IMAGENS.

Arquivos de sons e imagens como os utilizados para aves,


podem ser utilizados para outras pesquisas – sonogramas, foto-
grafias (diapositivos ou negativos), filmes, desenhos – são regis-
tros muito úteis. Assim como para as coleções, a qualidade e
confiabilidade destes materiais são fundamentais para seu ple-
no uso. Recomenda-se que o número da coleção do exemplar, os
dados biológicos (sexo, medidas ou escala e estágio do desenvol-
vimento) e de procedência sejam mantidos junto aos arquivos.
O nome da pessoa que efetuou o registro é fundamental para a
solicitação de autorização de uso e crédito em publicações.
Antes de realizar a gravação ou o registro de imagens, o au-
tor deve citar informações de localidade, hora, ambiente, clima
e outros dados relevantes para identificar a empreitada, grava-
dos na própria fita ou, no caso de fotografias, no caderno de
campo. Referências sobre os aparelhos ou técnicas especiais são
relevantes. Após o registro sonoro ou fotográfico do animal,
deve-se procurar identificá-lo, coletá-lo e individualizá-lo, vi-
sando a confiabilidade do arquivo. É importante fazer referên-
cias sobre a situação da tomada de registro (em ambiente natu-
ral ou em laboratório).
A tomada de sons e imagens tem sido usada, freqüentemente,
como metodologia de amostragem. Um anfibiólogo experiente
pode reconhecer as espécies de anuros pelo coaxar, assim como
um ornitólogo pode identificar aves pelo canto. É recomendável
que se tenha o exemplar, do qual foi feito o registro, tomado
como testemunho e incluído em uma coleção. Porém, algumas
imagens ou sons, não apresentam testemunhos, como por exem-
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 295

plo, imagens de ambientes ou de exemplares que não foram


capturados, por falta de oportunidade, limitações metodológicas
ou impedimentos legais.
Os sons e as posturas comportamentais de cada espécie vari-
am de acordo com as diferentes fases do desenvolvimento
ontogenético e atividades biológicas, como fase da reprodução,
defesa de território ou de predadores, estratégias de caça e etc.
As informações obtidas a partir destes registros são muito im-
portantes para a taxonomia, pois os cantos são, via de regra,
específicos, assim como as imagens são fontes de informações
sobre a morfologia, biologia e repertório comportamental das
espécies. Muitas aves apresentam variações canoras e de plu-
magens, tanto entre adultos e filhotes, quanto entre machos e
fêmeas.
Particularidades sobre o material e técnicas utilizadas para to-
madas destes dados nos diferentes grupos de vertebrados podem
ser encontradas, quando relevantes, nos capítulos específicos.

Coleções Zoológicas
3. ADMINISTRAÇÃO DE COLEÇÕES

Curadoria é um conjunto de procedimentos de administração


de uma coleção. Para alguns autores, curadoria abarca as ativi-
dades de coleta, preparação, catalogação e armazenamento do
material. Outros ainda consideram que a escolha da metodologia
de catalogação, doações e permutas, empréstimos e todos os
procedimentos referentes à coleção também são encargos do
curador (Papavero, 1983). De qualquer forma, as coleções de-
vem ser organizadas para uma fácil localização do material pro-
curado, e estar periódicamente sendo revistas para manter in-
definidamente a coleção em bom estado. De maneira geral, a
curadoria deve ocupar-se dos seguintes tarefas:

• Estabelecer normas para uso da coleção que respeite não


só o usuário interno, mas também o visitante;
• Zelar e respeitar as normas internas de uso da coleção;
• Coletar;
• Administrar a preparação dos exemplares;
• Escolher a metodologia de catalogação e informatização
da coleção;
296 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

• Proceder a catalogação e tombo do material;


• Proceder ao armazenamento do material;
• Gerenciar doações, permutas e intercâmbios;
• Gerenciar empréstimos;
• Proceder a revisões periódicas, e
• Promover a criação de uma biblioteca de fácil acesso para
a coleção.

A coleção deve ser organizada visando:

1. Fácil localização do material procurado;


2. Evitar a incidência de luz. A luz do sol ou artificial dege-
nera pigmentos;
3. Evitar a entrada de poeira que traz ácaros que se alimen-
tam-se de pele seca, penas e pelos, e ainda pode dificultar a
observação de cores quando em grande quantidade;
4. Evitar a penetração de umidade, que propicia a proliferação
de fungos e bactérias e conseqüente decomposição do material;
5. Substituir ou acrescentar produtos preservativos como
naftalina, fungicidas, creosoto (para coleções em seco) e álco-
ol 70% (para coleções em líquido); este último deve ser total-
mente substituído após um período de 3 a 10 anos, dependen-
do do estado;
6. Substituir etiquetas danificadas, sem contudo adulterar
os dados originais (utilizar letra muito legível). Algumas insti-
tuições mantêm a etiqueta antiga amarrada no exemplar, prin-
cipalmente se ela não foi feita pelo técnico que está substituin-
do. Esta prática evita possíveis enganos de dados e respeita a
história da coleção, porém, depois de algumas décadas, o que
se pode ter é um exemplar com uma coleção de etiquetas pen-
duradas a ele. Para que isto seja evitado, pode-se também guar-
dar as etiquetas antigas em uma caixa ou álbum;
7. Estudar novas formas de armazenamento do acervo, tipo
de organização (taxonômica, numérica, regional, etc.), tipos de
armários a serem utilizados (atualmente são utilizados armári-
os sobre trilhos que ocupam menos espaço), tipos de recipientes
(vidros com mesmas dimensões permitem melhor aproveitamento
de espaço e dão melhor aparência à coleção);
8. Reorganizar a coleção para entrada de novos exemplares, e
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 297

9. Selecionar material para permuta ou doação;

Segundo DUCKWORTH, et al. (1993), GENOWAYS (1999) e


NAVARRO-SIGÜENZA & LLORENTE-BOUSQUETS (1997), uma
coleção deve estar sob o cuidado de um curador. O curador deve,
antes de tudo, tornar a coleção cada vez mais acessível para a
comunidade científica, fazendo com que ela cumpra cada vez
mais e melhor sua função, embasando e testemunhando as pes-
quisas oriundas da consulta do material nela incorporado. Para
tal, o curador é a pessoa responsável pela manutenção e amplia-
ção do acervo, pela elaboração de uma política administrativa,
pelo cumprimento das normas legais e das diretrizes internas da
instituição. É também responsável pelas decisões e controle de
empréstimos, permuta, seleção e identificação do material a ser
incorporado, resoluções de problemas a respeito dos dados dos
exemplares, por delegar poderes e tarefas que permitam o bom
andamento dos trabalhos, dentre muitas outras atividades.
No caso de museus ou coleções de grande porte, é recomen-

Coleções Zoológicas
dável o estabelecimento de um conselho consultivo, com mem-
bros externos à instituição, para auxiliar e acompanhar as ati-
vidades do curador (GRIFFIN, et al., 1999 e GENOWAYS, 1999).
Tanto o curador, e a direção da instituição na qual a coleção
está depositada, quanto o conselho consultivo devem saber que
suas responsabilidades principais são a perpetuação do materi-
al, a confiabilidade de seus dados e viabilização da plena utili-
zação deste acervo pela comunidade científica. Novas técnicas
e metodologias devem, na medida do possível, ser incorporadas
à rotina de trabalho bem como sua administração, visando acom-
panhar os avanços da ciência, agilizando e ampliando os servi-
ços prestados aos seus consulentes. Deste modo, uma coleção é
uma estrutura em constante transformação. Certamente a ex-
periência de outras pessoas e as histórias de instituições
congêneres, maiores e mais antigas, precisam ser levadas em
conta pelo curador, que deve selecionar o que julga positivo
para a coleção que administra e criar alternativas próprias para
melhorar os serviços prestados à ciência e a sociedade.
O gerenciamento da coleção, no que se refere às atividades
que dizem respeito à instituição que a abriga, incluindo recur-
sos humanos, financeiros e espaço físico, normalmente é com-
298 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

partilhado com o diretor do museu, ou administrador da insti-


tuição e, em alguns casos, com o conselho consultivo
(GENOWAYS, 1999 e SIMMONS, 1993).
Normas regimentais devem ser implantadas nas coleções por
meio de um estatuto e comissões competentes devem ser criadas
para avaliar e guiar o curador, ou responsável, em seus deveres
e afazeres. É importante que o curador sempre solicite verbas
de despesas para a manutenção da coleção.
O curador deve ainda evitar a utilização de critérios distintos
entre os consulentes. Para isto, recomenda-se a formulação de
normas internas, institucionais, para o gerenciamento da cole-
ção, envolvendo empréstimos, permutas, doações, utilização de
material, de tipos, etc.. Estas normas devem garantir a preser-
vação do acervo, o pleno cumprimento das funções da coleção e
a busca da satisfação do usuário.
O acesso de qualquer pessoa estranha ao serviço nas depen-
dências da coleção é vedado, sendo permitido somente mediante
autorização prévia. O acervo só pode ser consultado e os exem-
plares retirados com documentação própria (invoice). Geralmente
as coleções científicas não são abertas ao público, salvo alguma
exceção.

3.1 ATRIBUIÇÕES DO CURADOR

Antes de discorrer sobre as atribuições de um curador, vale a


pena ressaltar alguns aspectos a propósito da tomada de deci-
sões, inerente a todas as suas atividades.
MANNING (1992) ressalta a dubiedade entre a plena utiliza-
ção do acervo e sua perpetuação. Do mesmo modo que o curador
deve se preocupar em atender bem os usuários, buscando suprir
suas expectativas, não deve perder de vista seus compromissos
em manter o acervo para gerações futuras, dentro dos princípi-
os éticos, no cumprimento das leis, das normas institucionais e
o respeito à sociedade. É o equilíbrio entre estes interesses e
compromissos que norteia as decisões do curador. Tendo em
vista que tomar decisões, às vezes, implica em não cumprir as
expectativas parciais ou totais de alguém, estas decisões devem
ser balizadas por normas e princípios aplicáveis a todos os
consulentes indistintamente, tendo o bom senso como linha mes-
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 299

tra. Segundo se abstrai de GRIFFIN, et al. (1999), a autoridade


de um curador deve se basear, menos no cargo ou hierarquia, e
mais no respeito adquirido por levar seu trabalho a sério, moti-
vando seus funcionários e consulentes a fazer o mesmo.
O curador deve divulgar o conteúdo da coleção. Para isto,
deve providenciar a publicação de catálogos do material tomba-
do, em particular os de exemplares-tipo da coleção, devido ao
grande auxílio que presta aos taxonomistas, permitindo a pes-
quisadores de todo o mundo localizar, obter informações e des-
crições de seu estado geral ou morfologia.
As atribuições de um curador são assuntos muito discutidos e
controversos. Deste modo, sugere-se a leitura dos seguintes tra-
balhos: DUCKWORTH et al. (1993), GENOWAYS (1999), GRIFFIN,
ABRAHAM & CRAWFORD (1999), MANNING (1992), MARTINS
(1994), SCROCCHI & KRETZSCHMAR (1996), SIMMONS (1987,
1993) e NAVARRO-SIGÜENZA & LLORENTE-BOUSQUETS (1997).

3.1.1 GARANTIR O USO E PERPETUAÇÃO DO ACERVO

Coleções Zoológicas
O curador deve ter plena consciência de sua responsabilidade
em manter o acervo, do qual é responsável, para gerações futu-
ras. Assim, todas as atividades do curador objetivam a manu-
tenção da coleção e seu pleno uso, por tempo indeterminado.
Esta ambigüidade entre o uso e a perpetuação, mencionada por
MANNING (1992) é apaziguada, se considerarmos o exemplar
em uma coleção como conhecimento em potencial nas mãos dos
pesquisadores.
Um pesquisador que use um ou mais exemplares da coleção,
mesmo que implique em dano, transformou este conhecimento
potencial em ato, justificando a existência destes na coleção. O
acervo é dinâmico, ao mesmo tempo em que o uso depaupera ou
mesmo inutiliza exemplares, outros mais precisam ser incorpo-
rados. Para manter este dinamismo, é fundamental que o curador
busque recursos da própria instituição mantenedora, de
financiadoras de pesquisa, de projetos particulares e de tercei-
ros que utilizam o acervo ou implicam em incorporações de
exemplares, de empresas públicas e privadas, etc.. Os resgates
de fauna propiciados por enchimento de represas hidrelétricas
ou de abastecimento público e EIA/RIMAs são ótimas fontes para
300 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

obtenção de farto material para coleções. Uma vez que elas irão
receber este material, é perfeitamente compreensível que seus
curadores busquem recursos nas empresas patrocinadoras dos em-
preendimentos.
Mesmo havendo estas possibilidades de angariar recursos, de-
vemos lembrar que as verbas externas, geralmente, não possuem
periodicidade e dimensões suficientes para a manutenção das ne-
cessidades cotidianas das coleções, que devem ser sustentadas pe-
las instituições mantenedoras. Deste modo, uma vez que o curador
perceba o desinteresse ou impossibilidade das instituições
mantenedoras, que venham causar ameaças ao acervo, este deve
contatar instituições maiores, que tenham interesse de incorporar
esta coleção ou suprir as necessidades técnicas e financeiras para
garantir a perpetuação dos exemplares. Uma vez que as grandes
coleções são, via de regra, instituições públicas, é importante
que, por respeito ao contribuinte, se onere o menos possível o
Estado. Assim, o curador da coleção ameaçada deve procurar
conseguir a transferência desta para uma coleção de uma insti-
tuição mais sólida.

3.1.1.1 REMESSA DE MATERIAL

Deve-se dar preferência ao exame do material pelos


consulentes na própria instituição de origem, pois isto evita
expô-lo a riscos de extravio ou dano. Na impossibilidade disto
ocorrer, dá-se preferência para a entrega em mãos ou uso de favo-
res de terceiros. Ainda assim, muitas vezes os exemplares precisam
ser despachados.
O uso de serviços usuais do correio apresenta certas dificul-
dades, pois existem limitações de volume, peso, problemas com
material em meio líquido, ausência de cuidados especiais, viola-
ção da embalagem para vistorias, possibilidade de extravio, etc..
Portanto, recomenda-se a utilização de empresas que trabalham
no regime de remessas especiais, registradas, com aviso de che-
gada ao destinatário e que garanta o envio por via aérea na
tentativa de minimizar as inconveniências citadas acima.
SCROCCHI & KRETZSCHMAR (1996) e VANZOLINI& PAPAVERO
(1967), discutem muito bem o problema e dão valiosas suges-
tões. Entre as muitas recomendações gerais, destaca-se:
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 301

§ Verificação das normas legais para remessa de material


biológico e providência das licenças adequadas.
§ Verificação com a empresa das dimensões e pesos máximos
permitidos para o transporte.
§ Uso de caixa resistente e bem fechada, usando outra caixa
ou recipiente resistente internamente.
§ Uso de algum material para amortecer impactos e evitar
que os exemplares amassem, como espumas sólidas, esponjas
ou flocos de isopor.
§ Colocação do endereço completo, tanto do destinatário,
quanto do remetente.
§ Escrever, em destaque, em todos os lados da caixa, os
dizeres, FRÁGIL e MATERIAL BIOLÓGICO PARA ESTUDOS CI-
ENTÍFICOS, SEM VALOR COMERCIAL.
§ Se a remessa for para o exterior, redigir em vários idiomas.
§ Cuidado especial com o documento que registra o emprés-
timo. Este deve ser embalado hermeticamente ou fixado firme-
mente do lado externo da caixa.

Coleções Zoológicas
Se o material for enviado em via úmida, além das recomen-
dações acima deve-se:
§ Colocar dentro da caixa, um pedido para o fiscal da vigi-
lância alfandegária para que, ao abrir o pacote, feche-o nova-
mente e evite que o líquido conservante se extravase. Para faci-
litar este procedimento, é recomendável o envio de sacos plásti-
cos extras.
§ Envolver os exemplares em tecido de algodão ou papel
absorvente branco, sem corante, para evitar que manchem, em-
bebidos em líquido conservante.
§ Usar dois ou três sacos plásticos espessos e resistentes
superpostos e fechados em termoseladoras; na ausência destas,
dar nós firmes e usar mais sacos para proteção. Fazer embala-
gens frouxas para evitar a deformação dos exemplares.

3.1.2 IDENTIFICAÇÃO, SELEÇÃO E ROTULAGEM DO MATERIAL A SER INCORPORADO

Não é por acaso que, normalmente, os curadores são


taxonomistas. Para um exemplar ser incorporado em uma cole-
ção é desejável que se tenha uma identificação correta no mais
302 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

baixo nível taxonômico possível. Para isso, espera-se que o


curador disponha de uma boa biblioteca, laboratório bem equi-
pado e a colaboração de outros taxonomistas. É recomendável
que a identificação seja feita por um especialista do grupo. Em
uma coleção, é útil que se mantenha o histórico da identifica-
ção dos exemplares, conservando o nome do determinador e
data, junto aos dados do livro tombo. MARTINS (1994) e
DUCKWORTH, et al. (1993) abordam este tema com bastante
profundidade.
Aqui esbarra-se em um problema que, geralmente, só pode
ser resolvido a médio ou longo prazo: a ausência ou escassez de
taxonomistas formados em diversos grupos animais. Quando
um grupo animal é estudado por vários e bons taxonomistas,
tem sua representatividade aumentada em coleções e, sem dú-
vida, passa por revoluções taxonômicas que embasam e propici-
am avanços nos outros campos da zoologia. Nos grupos ani-
mais onde os taxonomistas existem em número insuficiente,
ocorre um lento aumento de conhecimento da sua diversidade.
Todavia, para a maioria dos táxons, não há ou são poucos os
taxonomistas no território nacional; deste modo, estes animais
são pobremente amostrados e representados em coleções, con-
duzindo a danos incalculáveis para estudos futuros. Segundo
CASTRO (1998b) in CASTRO (1998a), dentre os vertebrados, que
representam uma parcela pequena da diversidade biológica, este
problema é minimizado devido ao interesse especial que estes
animais causam nas pessoas, ao tamanho normalmente avan-
tajado em relação aos demais grupos, a sua importância econô-
mica, aos aspectos morfológicos, além do fato do ser humano
fazer parte deste grupo. O mesmo não acontece com relação aos
invertebrados. Assim, é extremamente importante e urgente in-
centivar a formação de taxonomistas e buscar inventariar a
biodiversidade, competindo com a incrível velocidade de degra-
dação da natureza causada principalmente pela ação antrópica.
Quanto à incorporação de material, é recomendável a forma-
ção de séries grandes de cada espécie, buscando ter represen-
tantes de toda a área de distribuição, incluindo as variações
populacionais, possíveis dimorfismos sexual e etário, além de
diferentes estados fisiológicos, atendendo às necessidades das
pesquisas nos mais diversificados ramos da ciência, pelo maior
tempo possível. Deste modo, a quantidade de exemplares a se-
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 303

rem incorporados em uma coleção, deve ser limitada apenas por


questões operacionais e de espaço. O excedente de material pode
ser encaminhado a outras instituições visando o seu melhor
aproveitamento, tais como a inclusão em outras coleções, insti-
tuições de ensino e, se os exemplares estiverem vivos, aprovei-
tando-os para coleta de tecidos, envio de pares sexuais a zooló-
gicos, doação a outros pesquisadores interessados, etc.. Como
visto em DUCKWORTH, et al. (1993) as coleções necessitam sempre
da ampliação para o conhecimento máximo da nossa
biodiversidade, minimizando perdas por extinções decorrentes
da degradação do meio ambiente.
Uma vez identificado e selecionado, o material deve ser rotu-
lado para proceder-se ao tombamento e registro.
Rotulagem: A perda de material coletado não se dá somente
pela má fixação, mas também pelo descuido na rotulagem. Dei-
xar de colocar rótulos, usar material inadequado para rotulagem
ou registrar incorretamente a procedência, são falhas graves que
acarretam a perda de informações importantes fazendo com que

Coleções Zoológicas
os exemplares tenham menor valor do ponto de vista científico.
Para evitar tais perdas, o coletor deve ir a campo sempre
munido de:
- lápis preto ou nanquim (resistentes a água, formol ou álcool);
- etiquetas de papel vegetal ou outro papel resistente à imersão
em líquidos (que podem ter tamanho aproximado de 5 x 8cm);
- caderneta ou ficha de campo;
- números de campo feitos de material resistente à imersão
em formol ou álcool (aconselha-se fitas plásticas de rotuladores
tipo “Rotex” que são resistentes, não rasgam, não oxidam e, mes-
mo que percam a cor, possuem o número impresso em relevo;
etiquetas com números impressos em cardaços largos de algo-
dão com tinta de imprensa também funcionam); uma agulha
grossa de 10 a 15 cm e linha resistente (nylon de preferência)
para prender a etiqueta no exemplar.
O rótulo de papel vegetal é utilizado na hora e local da coleta,
onde a procedência do material deve ser claramente especificada
com os seguintes itens:
Local de coleta: o mais preciso possível, indicar o nome do
rio, lagoa, igarapé, arroio, banhado, etc; bacia hidrográfica que
drena o manancial de água em questão (especialmente impor-
304 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

tante para localidades situados junto ao divisor de águas de


bacias hidrográficas contíguas); localidade, município, estado,
país e qualquer outra informação que precise melhor o local
(latitude e longitude, rodovias, etc). Um mapa rodoviário e hidro-
gráfico auxilia bastante na precisa localização do ponto de coleta.
Data de coleta: deve ser preferencialmente indicada com os
meses em algarismos romanos. Ex.: 12 de maio de 1986 repre-
senta-se como 12/v/1986. Esta uniformização é feita para evitar
enganos no intercâmbio de material científico com outros paí-
ses, uma vez que nos Estados Unidos, p.ex., os meses são indica-
dos em primeiro lugar. Ex.: May,12,1986 representa-se como v/12/
1986, e não 5/12/1986, que por nós seria lido como 5 de dezembro
de 1986.
Coletor: a indicação dos coletores no etiqueta auxilia na
elucidação de problemas que possam surgir quanto à procedên-
cia do material, além do que este poderá fornecer informações
adicionais que o pesquisador julgar importantes, como por exem-
plo sobre o tipo de ambiente em que foi coletado o animal.
Observações: o rótulo pode ainda conter informações adicio-
nais sobre o método de coleta e características do ambiente.
Estas informações podem, no entanto, ser descritas mais
detalhadamente em uma caderneta ou ficha de campo.
A caderneta ou ficha de campo serve para registrar, com mai-
ores detalhes, dados de captura (hora do dia, método de coleta,
condições climáticas) e observações sobre o habitat (transpa-
rência da água, profundidade, tipo de vegetação, altura no dossel,
tipo de substrato, etc). Estas observações são muitas vezes impor-
tantes na caracterização de espécies ou quando é necessário cap-
turar exemplares adicionais de algum grupo de interesse do pes-
quisador.
As dimensões das etiquetas para material seco (figura 1) po-
dem variar de coleção para coleção, mas devem obedecer a um
padrão dentro da coleção. Etiquetas muito grandes atrapalham
o manuseio do espécime e tendem a forçar o membro onde está
amarrada. Se muito pequenas, não comportam as informações.
Deve-se colocar o máximo de informações na etiqueta.
As etiquetas para material em líquido (figura 2) tem que ser
confeccionadas em papel que não dissolva ou metal, pois ela
será mergulhada juntamente com os exemplares, devendo per-
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 305

manecer junto com os exemplares coletados dentro do frasco


ou saco plástico. É comum a perda de rótulos presos na parte
externa dos recipientes.

1435
IPBHN

Figura 1. Modelo de rótulos para preparação em seco: FRENTE: número do


exemplar na coleção, nome científico, sexo, localidade, coordenadas geográfi-
cas e altitude (quando disponíveis), data e coletor; VERSO: sigla da instituição,

Coleções Zoológicas
medidas, observações como conteúdo estomacal, aspectos ecológicos, material
preservado p, c, e (pele, crânio, esqueleto).

Figura 2. Rótulo adotado pela coleção de mamíferos do Instituto Pau Brasil


de História Natural. Sigla da instituição, número dos exemplares seguido do
sexo, Família, nome científico, localização (continente, país, estado, cidade, etc.)
aspectos ecológicos, data, coletor, número de campo, identificado por, condição
do espécime (em álcool, em pele ou crânio); Obs: em alguns casos o espécime em
líquido é somente o corpo sem pele ou sem o crânio pois foram retirados. Assim
é possível saber se parte do exemplar está em outro local da coleção.
306 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

A tinta deve ser nankin. Impressoras a jato de tinta não são


adequadas a este trabalho, pois a tinta se dilui com facilidade
em meio líquido. Infelizmente, etiquetas impressas em impres-
soras a laser soltam as letras conforme a porosidade do papel. É
importante um teste prévio antes da escolha final.
No caso de peixes de grande porte, em que não é possível
colocá-los em frascos ou sacos plásticos junto com o rótulo de
papel, utilizam-se os rótulos com os números de campo. Cada
exemplar receberá um número de campo. Estes rótulos são pre-
sos nos exemplares com o auxílio de uma agulha com linha
resistente, que é introduzida pela boca saindo pela abertura
opercular. Deve-se ter o cuidado de não danificar dentes e ras-
tros branquiais ao introduzir a agulha. O número de campo
utilizado deve ser registrado na ficha ou caderneta de campo,
junto com os dados de procedência correspondentes. Seguindo
este procedimento, vários exemplares grandes de diferentes lo-
calidades podem ser fixados e transportados em um mesmo re-
cipiente sendo facilmente separados pela procedência numa pos-
terior triagem de laboratório.
Os rótulos podem ser confeccionados em pano com números
impressos (como no Museu de Zoologia da Universidade de São
Paulo) ou em chapas metálicas (como no Instituto Butantan) ou
ainda com fitas rotex (como no Instituto Pau Brasil de História
Natural) que são também adequadas para trabalho de campo.

3.1.3 Organização e zelo pela coleção

O princípio normativo da atividade do curador é o seu dever


em conservar e ampliar o acervo para gerações futuras e mantê-
la em ordem para que seus dados sejam confiáveis, sua manu-
tenção seja prática e sua consulta fácil. Isto é muito simples de
conceber, porém demanda muita dedicação e competência para
execução. Alguns cuidados rotineiros são fundamentais.
O armazenamento e manutenção de uma coleção é de extre-
ma importância pois todo o esforço de coleta e preparação po-
dem ser perdidos. Uma coleção que é bem usada é menos vulne-
rável ao ataque de insetos e fungos, dois principais problemas
apresentados por uma coleção, do que uma que esteja em per-
manente armazenamento.
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 307

Uma infestação de insetos pode acabar com os exemplares


em poucos dias. Isto pode ocorrer em várias situações, como
por exemplo, quando um espécime é incorporado à coleção sem
o devido cuidado de desinfestação. Muitas vezes não é possível
perceber que existem insetos dentro do espécime. Os exemplares
que chegam de uma outra coleção, preparados há muito tempo,
são os mais sujeitos a este tipo de infestação. Eles devem ser
colocados em sacos plásticos com alguma substância inseticida,
com o cuidado para não se utilizar substâncias que mudem a
cor ou engordurem a plumagem ou pelagem (como aerossóis).
Naftalina, Paradiclorobenzeno são as mais usadas. Ainda con-
tra insetos devemos armazenar a coleção em armários à prova
de insetos e utilizar naftalina nas gavetas. Algumas bolinhas de
naftalina por gaveta serão suficientes. Elas vaporizam e pene-
tram suficientemente nos espécimes e matam ou repelem os
insetos. Acredita-se que a exposição prolongada a seus vapores
cause câncer de intestino. O Paradiclorobenzeno é extremamente
volátil e muito efetivo para fumigação, porém hoje é tido como

Coleções Zoológicas
o responsável por mudanças nas cores dos animais (mancha o
marrom e cinza e amarela o branco). Além disso acredita-se
que a exposição prolongada a seus vapores cause câncer de pul-
mão. Nunca se deve colocar os espécimes diretamente sob a luz
do sol. Peles que sofreram este procedimento são possíveis de
reconhecer. Espécimes para estudo são mais fáceis de manter do
que os montados para exposição, já que são armazenados em ar-
mários.
Em caso de um ataque de insetos ou a título de prevenção, é
recomendável uma fumigação periódica. Fumigação é o proces-
so de desinsetização de uma coleção ou de um único exemplar.
Algumas vezes, em coleções em que não há cuidado constante,
pode haver uma infestação de algum inseto. Os mais comuns
são traças, dermestídeos e carunchos. Muitos produtos quími-
cos podem ser utilizados para prevenção, conforme o tamanho
e tipo da coleção e o agente infestante. Pastilhas de formaldeído,
naftalina, dissulfeto de carbono, brometo de metila, pastilhas
de fosfina, paradiclorobenzeno são os mais usados.
Se o problema está ocorrendo com um ou poucos exemplares,
pode-se colocá-los em um saco plástico grande e colocar a subs-
tância. Fechar e deixar uma semana ou mais.
308 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Quando a infestação atinge toda a coleção, o melhor é abrir


os armários, espalhar a substância fumigadora, fechar os ar-
mários e a sala e deixá-la assim por uma ou mais semanas. É
importante verificar, depois de alguns dias, se a substância eva-
porou por completo. Se for o caso, a recolocação se faz necessá-
ria. Cumpre salientar que estas substâncias são tóxicas e algu-
mas delas cancerígenas. Portanto, não se deve trabalhar sem
proteção ou em locais sem ventilação.
Fungos estão em todos os lu-
gares ao menos em forma de
esporos, prontos para se desen-
volver caso as condições
ambientais sejam adequadas a
eles. Basicamente estas condições
são umidade elevada, associada
a sombra e calor. Para evitar o
ataque destes seres, a melhor op-
ção é a utilização de um
desumidificador (Figura 3), apa-
relho que retira a umidade do ar. Figura 3. Desumidificador.
Vários são os modelos e capaci-
dades deste equipamento.

3.1.3.1 ESPAÇO FÍSICO DA COLEÇÃO

O local onde se abriga uma coleção deve ter acesso restrito,


características físicas especiais e pessoal treinado para garantir
a perpetuação do acervo, possibilitar a ordem e a segurança dos
que ali estão. O acúmulo de material conservante, como o álco-
ol, implica em perigo de incêndio, portanto, antes de se destinar
uma área para a coleção e almoxarifado, é fundamental entrar
em contato com os bombeiros, para que estes passem informa-
ções sobre medidas de segurança, adequação do espaço, neces-
sidades especiais, tipo e distribuição de extintores ou hidrantes,
treinamento dos funcionários e formação de brigada de incên-
dio, etc.. De um modo geral, devem existir portas grandes para
facilitar o combate às chamas e para a retirada imediata do
acervo. A iluminação e tomadas devem ser especialmente
projetadas para evitar curto-circuito. O estoque de álcool puro
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 309

deve ser feito em local à parte do restante da coleção e, eviden-


temente, não se deve fumar ou executar qualquer procedimento
que possa produzir fogo, faíscas ou calor excessivo. Atualmente,
há no mercado diversos tipos de detectores de calor e fumaça e
equipamentos de combate a incêndio. Como dito anteriormente,
os exemplares-tipo devem receber cuidados especiais, sendo es-
tes os primeiros a serem salvos em caso de catástrofes.
Para material conservado em meio líquido, aconselha-se sua
guarda em local escuro, seco, fresco, preferencialmente com tem-
peratura controlada, ou pelo menos, com pouca oscilação de
temperatura. Os vidros devem ter tampas boas, com batoques,
que diminuem a perda do líquido conservante por evaporação.
Mesmo assim, cuidados diários devem ser tomados com a ma-
nutenção do seu nível (formalina 5%, álcool 70% ou outro), que
precisa cobrir totalmente os espécimes e estar em proporção
mínima de uma parte de material para três de líquido, e,
idealmente, uma para quatro partes. Deve-se verificar a gradu-
ação do álcool, para que este nunca esteja inferior a 60%. Ao se

Coleções Zoológicas
notar o decréscimo deste valor, ele deve ser filtrado em papel-
filtro e regraduado. A coloração amarelada, mas cristalina, não
significa que o álcool esteja ruim, porém quando está opaco,
indica que deva ser substituído. Para evitar que a atmosfera
fique saturada de gases incômodos e perigosos, é aconselhável
um sistema de circulação de ar ou exaustão.
Materiais mantidos a seco, como peles, ossos, moldes, inse-
tos, trabalhos dos animais (ninhos, casulos) entre outras coisas,
devem ser acondicionados em armários e gaveteiros, com pasti-
lhas de formol e naftalina, evitando-se umidade excessiva, e a
ocorrência de pragas que podem danificar as peças, como fun-
gos, traças, cupins, brocas, formigas, besouros dermestídeos, etc..
Mais detalhes e sugestões podem ser encontrados em
DUCKWORTH, et al. (1993), SCROCCHI & KRETZSCHMAR (1996),
NAVARRO-SIGÜENZA & LLORENTE-BOUSQUETS (1997) e
SIMMONS (1987).
310 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

3.1.3.2 Livros tombo e outros catálogos

Os livros e catálogos de uma coleção são a sua essência. O


acervo perderia quase todo seu valor científico se os dados dos
seus livros-tombo e catálogos fossem perdidos. Há vários tipos
de livros e catálogos que guardam informações sobre os exem-
plares ou lotes de uma coleção. Podemos citar os livros-tombo,
entre eles, o da coleção principal, das coleções incorporadas,
das expedições de coleta e dos anexos e das coleções acessórias;
os livros de campo, com os detalhes das coletas e seus itinerári-
os; os catálogos taxonômicos, geográficos, dos acervos de sons
e imagens, etc.. Os livros-tombo e catálogos devem sempre ser
guardados, por mais velhos que estejam, e qualquer informação
acrescentada, correção ou atualização deve ser acrescentada à
anterior, marcando a data e o nome daquele que fez a altera-
ção. O pesquisador deve sempre ter acesso às informações origi-
nais, pois podem resolver problemas de interpretação ou resga-
tar erros incorporados inadvertidamente.
As informações mais comuns relacionadas ao material tom-
bado são: a identificação, a procedência, o coletor e a data de
coleta. É obvio que, quanto mais informações agregarmos aos
exemplares e quanto mais precisas forem estas informações,
melhor é a qualidade do acervo e mais resultados podemos ob-
ter de sua consulta. Os dados de procedência dos exemplares
devem sempre citar o país, estado, município e localidade (fa-
zenda, acidente geográfico, vilas, etc.), lembrando da relevân-
cia das coordenadas geográficas. Quanto aos nomes das locali-
dades e municípios, sugere-se seguir gazeteres informatizados
ou os catálogos do IBGE, atualizando sempre as alterações
toponímicas. Os dados originais devem ser mantidos inalterados
e qualquer alteração a ser incorporada deve ser feita à parte,
atribuindo-se autoria e data. As informações sobre o coletor e
data de coleta podem fornecer dados importantes sobre a cir-
cunstância em que o exemplar foi capturado e outros dados
referentes à biologia e ecologia da espécie. Muitas outras infor-
mações como dados biológicos, morfológicos, sons, imagens,
números de outras coleções ou de campo, controle sobre os ane-
xos e coleções acessórias, histórico das identificações dos exem-
plares e históricos das consultas aos exemplares podem ser in-
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 311

corporadas ao livro-tombo da coleção principal ou gerarem li-


vros-tombo e catálogos próprios. A informatização facilita a
correspondência e a associação destas informações e a geração
de catálogos geográficos, taxonômicos, gazeteres, etc..
Os livros-tombo e demais catálogos devem ser guardados em
local seguro e cópias de segurança (pelo menos duas) devem ser
geradas e guardadas em lugares distintos dos originais. Cópias
magnéticas devem ser mantidas em mais de uma máquina, com
antivírus atualizado, sendo um deles sem ligação de rede ou
internet. Além disto, cópias em disquetes ou CDs devem ser pro-
videnciadas. Livros, como os de campo e coleções anexas, devem
estar sujeitos aos mesmos cuidados dos livros-tombo. Uma alter-
nativa para duplicar estes materiais é a cópia xerográfica de boa
qualidade, levando-se em conta que os escritos a lápis não pro-
duzem boas cópias e estas reproduções são solúveis em álcool.

3.1.3.3 INFORMATIZAÇÃO E INTERNET

Coleções Zoológicas
Como bem escreve GOYCOCHEA (1997), os computadores são
absolutamente dependentes do fator humano, ou seja, qualquer
resultado que se espere deles depende de quão adequadamente
programados eles sejam, além das dificuldades de conseguir os
dados que os alimentam. A informatização, tem sido um passo
importante para a melhoria do gerenciamento das coleções.
Embora este conceito seja unânime, ainda há muitas divergên-
cias sobre a melhor forma de implementar a informatização.
Cada coleção tem suas particularidades e cada curador adota
uma filosofia administrativa particular.
Existem no mercado alguns programas de gerenciamento de
coleções que já estão em funcionamento há vários anos, poden-
do ser adaptados às necessidades de cada instituição. Eles possi-
bilitam pleno trânsito de informações entre os museus que com-
partilham dos mesmos programas e, também, auxiliam na ges-
tão da coleção, entre outras coisas, controlando empréstimos e
imprimindo rótulos. Estes programas, no entanto, apresentam
alguns inconvenientes, como a língua (inglês) e a dificuldade de
adaptação às particularidades de cada coleção. Outra possibili-
dade é a produção de programas personalizados. Os programa-
dores, ou empresas, se propõem a atender às necessidades espe-
312 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

cíficas de cada coleção, porém, isso pode consumir mais tempo


e dinheiro do que o esperado. Geralmente é necessária a ade-
quação do programa para que este seja realmente um facilitador
e não mais uma fonte de problemas. Deste modo, deve-se apro-
veitar a experiência de outras instituições, é muito importante,
pois economiza tempo e recursos. A cooperação do especialista
em informática e do grupo de trabalho da coleção é fundamen-
tal e o acompanhamento constante e atento da curadoria du-
rante todo o processo de informatização é imprescindível.
Se as pretensões são limitadas e o volume de informações
pequeno, é viável o desenvolvimento de bancos de dados pela
própria equipe de trabalho. Neste caso, recomenda-se a utiliza-
ção de programas bem conhecidos e plásticos, que permitam a
transposição de seus dados para a maioria dos outros bancos de
dados com mais recursos. Entretanto, empreitadas particulares
são bastante susceptíveis à falhas que podem conduzir a falsas
impressões da inadequação dos procedimentos de informática.

São inúmeras as vantagens na informatização de uma cole-


ção. Dentre elas podem ser citadas:
a) Acesso rápido às informações, permitindo melhorar a pro-
dutividade da instituição e dos seus consulentes.
b) Possibilidade de consultas cruzadas, ou seja, seleção de
exemplares ou informações que compartilhem parâmetros co-
muns.
c) Propicia melhor controle das atividades de curadoria, em-
préstimo, doação e devolução de material.
d) Agiliza a seleção de exemplares a serem incorporados à
coleção, pois, o curador pode, facilmente, verificar a necessida-
de ou não de material de determinada espécie, localidade, ou
outro parâmetro qualquer.
e) Facilita a atualização de informações, localiza erros e agiliza
suas correções.
f) Possibilita armazenar mais e controlar melhor as informações.
g) Permite anexar sons e imagens ao acervo magnético.
h) Facilita a geração de cópias de segurança.
i) Viabiliza o intercâmbio de informações via internet.
j) Propicia a revisão de procedimentos enraizados, revelando
falhas e mostrando caminhos para implementar mudanças de
maior monta.
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 313

Do mesmo modo, há problemas gerados pela informatização,


que podem ser evitados ou facilmente superados:
a) Possibilita a perda de informações no caso de pane na má-
quina, no programa ou devido à atuação de vírus. Isto pode ser
contornado pela constante atualização de cópias de segurança
e impressão em papel, cuidando para que estas cópias fiquem
em lugares distintos e seguros.
b) Necessita de pessoal apto para lidar com o programa e
treinamento de funcionários.
c) Demanda custo para aquisição ou elaboração de progra-
ma, máquinas, entrada de dados e manutenção, bem como às
atualizações necessárias. Os benefícios originados da
informatização, como agilidade e novas possibilidades de traba-
lhos, em pouco tempo justificam o investimento.
d) Os programas já disponíveis no mercado, muitas vezes não
são adequados para as necessidades de cada coleção. Os pro-
gramas tendem a melhorar com a ampliação do número de usu-
ários e sua decorrente exposição às críticas.

Coleções Zoológicas
e) Programas encomendados geram problemas até se torna-
rem efetivos e incompatibilidades que dificultam o intercâmbio
de informações entre coleções que utilizam programas incom-
patíveis. A experiência de outras instituições tende a solucionar
estes problemas, desde que os curadores busquem caminhos e
alternativas comuns.
f) Quando ligado à internet, possibilita acesso indiscriminado
a informações. É possível selecionar as informações a serem
disponibilizadas por intermédio de filtros. Este item, quando
bem administrado, pode ser visto como ponto positivo.

Como todos programas de gerenciamento de coleções são ban-


cos de dados relacionados, é importante ressaltar os bancos mais
importantes. No banco de dados taxonômico há a listagem dos
táxons usados no tombamento dos exemplares. Outro banco im-
portante é o de procedências dos exemplares, onde listamos o
país, estado, município e localidade com coordenadas geográfi-
cas, cada vez mais utilizadas em virtude da própria informática.
Selecionando-se apenas um exemplar de cada localidade, pode-
mos obter a distribuição geográfica representada na coleção, da
espécie em questão. Relacionando-se banco de dados, obtém-se
314 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

lista de espécies que ocorrem em um determinado município ou


área geográfica. Este banco de dados possibilita gerar um gazeter
da coleção, localizando precisamente as procedências, o que
facilita muito o trabalho dos consulentes. Como dito anterior-
mente, bancos de coletores e das datas de coleta são de muita
valia, pois podem trazer informações relevantes sobre o exem-
plar. Uma série de outras informações pode gerar bancos de
dados muito úteis, onde registramos dados biológicos,
morfológicos, sons, imagens, forma de preparação e
armazenamento do exemplar, referências bibliográficas, núme-
ros de outras coleções ou de campo, controle sobre os anexos e
coleções acessórias, histórico das identificações dos exempla-
res, histórico das consultas aos exemplares, controle de em-
préstimo, devolução, permuta e doação de material, etc.
Para obter informações adicionais, consultar GOYCOCHEA
(1997), SABOURIN, et al. (1999) e SIMMONS (1986).
Conforme GRIFFIN, et al. (1999), uma das funções do curador,
cada vez mais importante, é a divulgação das atividades exercidas
ou derivadas dos museus e coleções, à população, à comunidade
científica, aos administradores de financeiras ou mesmo à pró-
pria instituição. Em grandes museus, principalmente na Europa
e Estados Unidos da América, há a contratação de serviços de
profissionais de propaganda e marketing. Esta divulgação faci-
lita a obtenção de recursos para o acervo, para coletas, aquisi-
ção de materiais, contratação de pessoal, investimento na for-
mação da equipe, tendo como conseqüência o reconhecimento
da sociedade. Segundo SARRAF (1999) um instrumento muito
eficiente de divulgação é oferecido pela Internet, podendo tam-
bém ampliar a gama de serviços prestados pela instituição e re-
ceber retorno dos usuários com sugestões, avaliações e críticas.
Embora a importância da Internet para divulgação de infor-
mações seja óbvia, há muitas discussões acerca do que deve ou
não ser disponibilizado na rede. Sem dúvida, em uma coleção
existem infinitas informações que podem servir de base para a
ciência ou mesmo com aplicações políticas e valor comercial.
Resta saber se é conveniente para a sociedade que estes dados
sejam oferecidos sem restrições. Esta questão tem gerado mui-
tas controvérsias entre os curadores. BROOKE (2000a e 2000b),
defende a ampla divulgação de dados pela Internet, em
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 315

contraponto com GRAVES (2000), SCOBLE (2000) e WIRTZ (2000),


que defendem uma divulgação criteriosa de dados selecionados.
BROOKE (2000a e 2000b) sustenta sua posição com argumentos
que destacam a realização de consultas e desenvolvimento de
trabalhos, com economia de tempo e dinheiro, e refuta argu-
mentos dos demais pesquisadores quanto a falhas de informa-
ções nos dados das coleções, recompensas por lucros obtidos,
etc.. Antes do estabelecimento de um consenso sobre a questão, é
recomendável discutir e refletir sobre a questão com o grupo de
trabalho, de curadores de outras instituições, e com a direção da
instituição. Acima de tudo, é fundamental prezar antes pela qua-
lidade dos dados disponibilizados do que pela quantidade.

3.1.3.4 CUMPRIMENTO DAS NORMAS LEGAIS E INSTITUCIONAIS

Obviamente, devemos estar cientes das leis que regem as ativi-


dades daqueles que trabalham com seres vivos, suas partes ou
produtos. No Capítulo Procedimentos Legais podem ser encon-

Coleções Zoológicas
trados comentários quanto às Lei de Crimes Ambientais (Lei no
9.605/1998), a portaria no. 117/1997 do IBAMA, sobre a criação
de animais, sua comercialização, pares ou produtos destes, trans-
porte, etc., e da Convenção Sobre Diversidade Biológica, que re-
gem várias das atividades dos curadores, pesquisadores e insti-
tuições que lidam com animais ou plantas. Convém observar as
listas de espécies ameaçadas de extinção (Portaria 1522/1989 do
IBAMA e BERNARDES, MACHADO & RYLANDS, 1990), veja, por
exemplo, GOLDENSTEIN (1998) com o Decreto no. 42838/1998.

3.1.3.5 RECURSOS HUMANOS

Uma só pessoa não pode suprir todas as atividades requeridas


por uma coleção; assim, o curador conta com uma equipe de
trabalho, com a qual divide as obrigações. Isto implica em de-
signar funções, estipular ou direcionar os modos de operação e
fiscalizar os resultados. GRIFFIN, et al. (1999) fazem uma avali-
ação dos fatores que distingüem os museus eficientes dos Esta-
dos Unidos da América, Austrália, Canadá e Reino Unido, mos-
trando a importância de uma equipe preparada e motivada para
o bom funcionamento de uma coleção. Assim sendo, é impor-
316 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

tante que o curador propicie um contínuo aprimoramento pro-


fissional seu e de sua equipe. Também precisa estar atento a
novas formas de organização da equipe, visando a melhoria no
desempenho das atividades. Deve dar apoio a seu pessoal, ofe-
recendo condições de trabalho e dando valor e créditos pelos
serviços executados e divulgando as atividades, tanto interna
quanto externamente à instituição.

4 AGRADECIMENTOS

Agradeço as prestimosas contribuições, na forma de leitura


crítica do texto e sugestões, de Cristiano Nogueira (Pós-
Graduando do Departamento de Ecologia da USP, São Paulo),
Hebert Ferrarezzi (Laboratório de Herpetologoia do Instituto
Butantan, São Paulo), Maria Tereza Osório Mallmann-Franco
(Doutoranda do Departamento de Zoologia da USP, São Paulo),
Marcos Di Bernardo (Laboratório de Herpetologia do Museu de
Ciências e Tecnologia e Faculdade de Biologia da PUC do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre), Myrian Elizabeth V. Calleffo
(Laboratório de Herpetologia do Instituto Butantan, São Paulo),
Paula Hanna Valdujo (Pós-Graduanda do Departamento de
Ecologia da Universidade de Brasília, Distrito Federal), Ronaldo
Fernandes (Laboratório de Herpetologia do Museu Nacional, Rio
de Janeiro), Rogério Bertani (Laboratório de Artrópodes
Peçonhentos do Instituto Butantan, São Paulo), Ulisses
Caramaschi (Laboratório de Herpetologia do Museu Nacional,
Rio de Janeiro) e Valdir José Germano (Laboratório de
Herpetologia do Instituto Butantan, São Paulo). Agradeço
também à Carla Suertegaray Fontana (Laboratório de Aves do
Museu de Ciências e Tecnologia da PUC do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre), Júlio César Muora-Leite (Museu de História
Natural Capão da Imbuia), Marcos Di Bernardo, Maria de Fátima
D. Furtado (Laboratório de Herpetologia do Instituto Butantan,
São Paulo), Roberto Esser dos Reis (Laboratório de Ictiologia do
Museu de Ciências e Tecnologia e Faculdade de Biologia da PUC
do Rio Grande do Sul, Porto Alegre), Rogério Bertani, e Thales
de Lema (Laboratório de Herpetologia do Museu de Ciências e
Tecnologia da PUC do Rio Grande do Sul, Porto Alegre), pelo
fornecimento de bibliografias.
COLEÇÕES ZOOLÓGICAS - F. L. Franco 317

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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DOENÇAS CONTAGIOSAS AO HOMEM - P. Auricchio 319

12
Doenças
Contagiosas
ao Homem Doenças
320 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
DOENÇAS CONTAGIOSAS AO HOMEM - P. Auricchio 321

Doenças Contagiosas
ao Homem
Paulo Auricchio

Como este manual dirige-se tanto a pesquisadores como a


professores e outros interessados das mais diversas áreas, é im-
portante descrever sumariamente algumas doenças mais
freqüentes possíveis de serem encontradas nos animais e que
podem afetar o homem. Principalmente se considerarmos a pos-
sibilidade dos animais a serem preparados não terem sua causa
morte determinada, implicando em risco para o preparador e
outras pessoas com contato direto com a carcaça.
Hábitos simples de lavar as mãos antes e depois do exame dos
espécimes já preparados e por preparar é uma boa prática, bem
como o uso de avental, que deve ser deixado no laboratório. A
presença de comida ou bebida no laboratório implica em risco de
infecção ou até mesmo de envenenamento.
A vacinação contra tétano e outras doenças é extremamente
aconselhável. Preparadores estão sujeitos a ferimentos
perfurantes e freqüentemente expostos a material espirrado da
carcaça ou a líquidos destes animais. Em muitas ocasiões, prin-
Doenças

cipalmente em campo, as condições ideais de higiene não são


possíveis e todo o cuidado (uso de luvas, óculos de trabalho e
algumas vezes máscaras de gases) é muito importante, uma vez
que a negligência pode causar problemas.
Este capítulo é uma tradução adaptada de IRVIN, et al. (1972),
com complementações do Dr. Pedro Luiz da Silva Pinto do Insti-
tuto Adolfo Lutz, a quem agradeço a participação.
322 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

DOENÇAS BACTERIANAS

ANTRAX
Espécies envolvidas - Artiodactyla e outros.
Sintomas em animais - morte repentina e hemorragia dos
orifícios; baço aumentado; sangue não coagula. Algumas espéci-
es (p. ex. Suidae) são menos sucetíveis à infecção e podem recupe-
rar-se.
Fontes do agente - esporos em couros; pó de osso; sangue de
animais infectados; feridas do gado, etc..
Rota de infecção - oral; respiratória; lesão em pele.
Resistência - esporos formados sob condições aeróbicas são
muito resistentes a agentes químicos e físicos. Em carcaças for-
mas vegetativas morrem em uma ou duas semanas. Hipoclorito
de sódio em fortes concentrações ou vapor de formalina aquecida
são mais efetivos na destruição dos esporos.
Sintomas no homem - forma cutânea - pústula maligna. For-
ma respiratória: pneumonia e septicemia; freqüentemente fatal.

BRUCELOSE
Espécies envolvidas - Bovidae, especialmente gado doméstico
e caprinos; também lebres e porcos
Sintomas em animais - aborto; membrana fetal torna-se
enrigecida como couro; infecção testicular em machos (orquite);
lesão nas juntas.
Fontes do agente - sistema genital e produtos do aborto.
Rota de infecção - oral; cutânea; conjuntiva.
Resistência - quando protegida por material hospedeiro, tal-
vez muitos meses. Sobrevive bem a baixas temperaturas. Sensí-
vel à luz do sol; fenol; formol e compostos amoniacais
quarternários.
Sintomas no homem - linfadenite ascendente; febre indulente;
orquite; infecção persistente.

ERISIPELA (Erysipelothrix rhusiopathiae)


Espécies envolvidas - Suidae, ocasionalmente aves; animais ma-
rinhos; usualmente organismos comensais de animais marinhos.
DOENÇAS CONTAGIOSAS AO HOMEM - P. Auricchio 323

Sintomas em animais - erupções na pele e febre em porcos;


Fontes do agente - secreções infectadas e sangue; muco
cutâneo de animais marinhos.
Rota de infecção - ferimentos perfurativos; oral.
Resistência - prontamente destruída pela dessecação e agen-
tes desinfetantes comuns.
Sintomas no Homem - erisipelóide - lesão local da pele;
avermelhamento; inchaço; irritação e linfadenite local.

LEPTOSPIROSE
Espécies envolvidas - roedores, especialmente Muridae; tam-
bém ouriços europeus (Erinaceus), lebres e provavelmente uma
grande variedade de outros mamíferos.
Sintomas em animais - usualmente sem sintomas; pode ser
lesão de rim e algumas vezes icterícia.
Fontes do agente - urina ou sistema urinário; material con-
taminado.
Rota de infecção - ferimentos ou penetração pela pele;
conjuntiva.
Resistência - morre rapidamente fora do corpo e ambientes
secos; sensível a agentes de desinfecção comuns.
Sintomas no homem - febre; sintomas semelhantes à gripe;
dores musculares; pode apresentar-se sob a forma de icterícia.
Em condições severas é chamada Doença de Weil.

PESTE (Pasteurella pestis)


Espécies envolvidas - forma bubônica - ratos e camundon-
gos; formas silvestres - gerbil; esquilos terrestres e outros roedo-
res de tocas.
Sintomas em animais - lesões caseosas e necróticas, especial-
mente axilares e inguinais, nódulos linfáticos (bubo). Sintomas
Doenças

generalizados. Geralmente morte.


Fontes do agente - pulgas são vetores da doença; fezes de
pulgas e poeira contaminada.
Rota de infecção - picada de pulgas; fezes infectadas ou poei-
ra inalada ou aspergida em lesões da pele.
Resistência - sobrevive na pele - poucos dias; em fezes secas
de pulga - cinco semanas; sob refrigeração - muitos anos. Mor-
324 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

re à luz do sol em três ou quatro horas. Destruído por agentes desin-


fectantes comuns.
Sintomas no homem - inflamação e dor no local infectado;
inchaço dos nódulos linfáticos e formação de bubo. Generaliza-
do - ataque repentino; febre; colapso; desordem do sistema ner-
voso central; freqüentemente fatal.
Precauções especiais - destruição de pulgas por fumigação;
evitar contato com fezes de pulgas - use luvas; destrua material
infectado.

PSEUDOTUBERCULOSE (Pasteurella pseudotuberculosis)


Espécies envolvidas - na maioria das aves, algumas vezes ro-
edores e outros mamíferos pequenos.
Sintomas em animais - nódulos necróticos em todos os ór-
gãos especialmente baço e fígado.
Fontes do agente - fezes de animais infectados e carcaças abertas.
Rota de infecção - oral; inalação; ferimentos perfurativos.
Resistência - no seco, sobrevive poucos dias; destruiídos por
desinfecção usual.
Sintomas no homem - dores abdominais podem simular apen-
dicite. Mais comum em pessoas jovens.

PSITACOSE
(causada não por uma bactéria verdadeira mas por
organismos do gênero Chlamydia)

Espécies envolvidas - primariamente Psitacídeos, muito con-


tagiosa e pode facilmente ser transmitida a aves de outras famílias.
Sintomas em aves - diarréia; descarga nasal; freqüentemen-
te fatal. Também há portadores sem sintomas; baço aumentado,
visto após morte.
Fontes do agente - fezes; carcaça; penas contaminadas.
Rota de infecção - inalação; ocasionalmente oral.
Resistência - sobrevive poucas horas, se seco; semanas, se con-
gelado. Destruído por desinfecção usual.
Sintomas no homem - ataque repentino; febre; peneumonia;
pode ser fatal, se não tratada.
Precauções especiais - umidecer as penas de todos os
psitacídeos com desinfetantes antes de manuseá-los.
DOENÇAS CONTAGIOSAS AO HOMEM - P. Auricchio 325

ORNITOSE
(semelhante a psitacose como visto em pássaros não-
Psitacídeos)

Espécies envolvidas - muito disseminada; relatadas em mais


de vinte e sete famílias de aves.
Sintomas em aves - normalmente nenhum, pode parecer uma
psitacose fraca.
Fontes do agente - como em psitacose.
Rota de infecção - como em psitacose.
Resistência - como em psitacose.
Sintomas no homem - usualmente suave mas podem ser se-
veros, sintomas de gripe muito persistentes. Nariz e olhos es-
correndo persistentemente com ataques ocasionais de febre.
Precauções especiais - como para psitacose.

SALMONELOSE
Espécies afetadas - todas as espécies, mas os tipos mais peri-
gosos ao homem provém dos roedores; ouriços europeus;
primatas cativos; répteis e de pássaros peri-domésticos (p. ex.:
pombos e gaivotas).
Sintomas em animais - pode ser enterite e febre, mas alguns
animais podem não apresentar sintomas.
Fontes do agente - tratos gastro intestinais e material contaminado.
Rota de infecção - oral; ocasionalmente outras rotas.
Resistência - pode sobreviver semanas, possivelmente meses,
especialmente se protegida em fezes secas. Formol é o melhor
desinfetante.
Sintomas no homem - febre; dores abdominais; diarréia.

SHIGUELOSE
Espécies envolvidas - Primatas.
Sintomas em animais - muito variável de fraco a agudo.
Doenças

Gastroenterite; diarréia; febre; pode não apresentar sintomas.


Fontes do agente - trato gastro-intestinal e material contaminado.
Rota de infecção - oral.
Resistência - sobrevive poucos dias sem proteção de matéria
orgânica. Facilmente destruída por desinfetantes comuns, se não
protegida.
Sintomas no homem - gastroenterite; febre; dores abdomi-
nais; diarréia; erupções.
326 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

TÉTANO
Espécies envolvidas - principalmente Artiodactila, mas qual-
quer espécie pode pegar a doença do solo.
Sintomas em animais - toxinas da bactéria são a causa dos
sintomas, espasmos musculares; paralisia.
Fontes do agente - esporos da bactéria são encontrados no
solo; poeira; fezes animais.
Rota de infecção - ferimentos profundos ou perfurações onde
a multiplicação anaeróbica pode ocorrer com liberação de toxina.
Resistência - esporos são muito resistentes; formas vegetativas
são mortas por desinfetantes comuns.
Sintomas no homem - espasmos musculares e paralisia.
Freqüentemente fatal.
Precauções especiais - profilaxia com vacina anti-tetânica;
observação do paciente em caso de ferimentos profundos e ma-
chucados. Um médico deve ser consultado e uma anti-toxina ad-
ministrada.

TUBERCULOSE (AVES)
Espécies envolvidas - todas as espécies.
Sintomas em aves - definhamento; focos amarelos ou bran-
cos no fígado e intestinos.
Fontes do agente - fezes de aves infectadas ou orgãos de car-
caças abertas.
Rota de infecção - oral; inalação; ferimento de perfuração.
Resistência - sobrevivem por meses, possivelmente anos em
materiais infectados. São destruídos por prolongada exposição
ao formol e ao fenol.
Sintomas no homem - perda de peso, inflamação local e
linfadenite ascendente sobre o ferimento por perfuração. Hu-
manos são muito resistentes à infecção.
Precauções especiais - exponha o fígado de todas as carca-
ças; se encontrado infectado, destrua a carcaça e desinfete bem
os utensílios.
DOENÇAS CONTAGIOSAS AO HOMEM - P. Auricchio 327

TUBERCULOSE (MAMÍFEROS)
Espécies envolvidas - gado, veados, animais em contato com
humanos (especialmente primatas) ou animais domésticos (es-
pecialmente Artiodactila). Relativamente incomum em animais
silvestres de vida livre.
Sintomas em animais - definhamento; tosse crônica; linfa-
denite; sintomas variáveis de acordo com o local da infecção.
Fontes do agente - lesões de tuberculose, especialmente pul-
mões e nódulos linfáticos; organismos podem ser abrigados em
saliva, fezes e lesões ósseas.
Rota de infecção - inalação; oral; ferimentos perfurantes.
Resistência - sobrevive em estado seco no escuro por duas ou
três semanas. Mais resistente a agentes químicos. Sensível a luz
ultra-violeta.
Sintomas no homem - depende da rota de infecção - pneu-
monia; tosse crônica; linfadenite.
Precauções especiais - vacinação profilática do tipo BCG.

TULAREMIA
Espécies envolvidas - roedores escavadores; lemingues; esqui-
los terrestres; Lagomorpha (lebres e coelhos).
Sintomas em animais - lesões caseosas e necróticas em nódu-
los linfáticos ingüinais e axilares; fígado e baço.
Fontes do agente - sangue, urina, saliva de animais infectados.
Carrapatos que se alimentaram de animais infectados.
Rota de infecção - altamente contagiosa. Pele; conjuntiva;
membranas mucosas; picadas de carrapato.
Resistência - sobrevive na pele - quarenta dias; carcaças -
quatro meses. Refrigeração prolonga a vida. Inativado por agen-
tes comuns como formalina 10%.
Sintomas no homem - erupções na pele e ulcerações;
Doenças

linfadenite ascendente; febre; conjuntivite; pneumonia.


328 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

DOENÇAS VIRAIS

B VIRUS (Herpesvirus simiae)


Espécies envolvidas - primatas do Novo Mundo e
cercopitecídeos (mas provavelmente todos os primatas são sus-
cetíveis, especialmente os do Velho Mundo). Viroses relaciona-
das não são incomuns em espécies do Novo Mundo, p. ex. maca-
cos-de-cheiro (Saimiri).
Sintomas em animais - ulcerações na língua e lábios simila-
res a feridas de frio em humanos. Condições mais brandas em
hospedeiros naturais.
Fontes do agente - sistema salivar e sangue.
Rota de infecção - ferimentos na pele; mordidas de primatas.
Resistência - pouco tempo de vida em estado seco; pode ser
persistente por muitos meses em carcaças congeladas. Destruídas
por dessecação e desinfetantes comuns.
Sintomas no homem - inflamação local seguida de encefalite,
usualmente fatal.
Precauções especiais - proteger mãos e braços; lave bem qual-
quer local onde tenha havido abrasão durante o manuseio do
material de primatas frescos ou congelados e relate ao médico.
Destrua material suspeito.

RAIVA
Espécies envolvidas - Mamíferos da Ordem Carnivora e mor-
cegos neotropicais, especialmente Desmodus. Entretanto todos
os mamíferos são suscetíveis à infecção.
Sintomas em animais - na maioria dos animais paralisia e
morte em convulsão. Morcegos hematófagos e poucas outras es-
pécies podem não possuir sintomas.
Fontes do agente - sistema salivar, sistema nervoso central;
gordura marrom dos morcegos.
Rota de infecção - ferimentos da pele ou mordeduras; rara-
mente inalação.
Resistência - em saliva seca, quatorze horas, em material con-
gelado, muitos meses. Em temperatura ambiente, muitas sema-
nas; congelado, anos. Imersão de cérebros em formol 4% ou álco-
ol 70% por muitas semanas inativará o vírus. São destruiídos
DOENÇAS CONTAGIOSAS AO HOMEM - P. Auricchio 329

por diversos congelamentos e descongelamentos.


Sintomas no homem - longo período de incubação, até mui-
tos meses; inquietação; depressão levando à paralisia progressi-
va; convulsão; invariavelmente fatal desde que os sintomas te-
nham iniciado.
Precauções especiais - vacinação profilática.

DOENÇA DO MACACO VERVET (AGENTE MARBURG)


Espécies envolvidas - macaco vervet (Cercopithecus aethiops);
outras espécies suscetíveis à infecção experimental.
Sintomas em animais - infecção experimental em macacos -
sintomas como no homem, mas cem por cento fatal.
Fontes do agente - sangue, urina e saliva.
Rota de infecção - aerossol e pele intacta.
Resistência - sobrevive em temperatura ambiente por mais
de cinco semanas. Sensível a desinfetantes comuns.
Sintomas no homem - febre; erupções na face e tronco; linfa-
denite; desordem abdominal. Mortalidade em 30 a 40%.

HANTAVIRUS
Espécies envolvidas - reservatórios naturais são sobretudo
roedores silvestres. Roedores urbanos e ratos de laboratórios já
foram encontrados infectados. Pequenos mamíferos como gato,
cachorros, coelhos e cobaias podem ser infectados. Recentemen-
te morcegos foram identificados como reservatórios.
Sintomas em animais - infecção assintomática.
Fontes do agente - fezes, urina e saliva de animais infectados.
Rota de infecção - contato com os excretas ou por aerossóis.
Resistência - sensíveis a desinfectantes comuns.
Sintomas no homem - 2 formas: a. Febres hemorrágicas com
síndrome, febre, calafrios, mialgias generalizadas, hemorragias
Doenças

conjuntivas, petéquias e oligúria persistente (morte em 30% dos


casos). b. Síndrome – febre, mialgias, tosse (mais letal).

EBOLA

Espécies envolvidas - primatas africanos originários sobre-


tudo do Zaire e Sudão. Primatas importados das Filipinas já fo-
330 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

ram encontrados infectados por um subtipo do vírus denomina-


do de Reston.
Sintomas em animais - desconhecidos.
Fontes do agente - sangue e líquidos corpóreos; excretas,
carcaça. Ciclo de vida desconhecido.
Rota de infecção - contato com líquidos corpóreos excretas,
carcaças e aerossóis.
Resistência - sensíveis a desinfectantes comuns (formalina e
hipoclorito de sódio)
Sintomas no homem - febre hemorrágica caracterizada por fe-
bre, cefaléia, mialgias, náuseas, vômitos, hemorragias nasais,
gengivais, intestinais e pulmonares (morte em 30 a 77% dos casos).

DOENÇAS POR FUNGOS


A maioria das doenças causadas por fungos em humanos e
animais (exceto aquela do fungo “ringworm” - considerada sepa-
radamente), são normalmente encontradas como saprofitas em
material orgânico em decomposição (p.ex. Sporotrichum,
Aspergillus) ou no solo (p. ex. Histoplasma, Coccidioides). Sob
certas condições os fungos podem estabilizar-se como “parasi-
tas”. No homem eles tendem a ser ‘invasores oportunistas’ ata-
cando o corpo quando a resistência está debilitada (p. ex.
Histoplasma e Aspergillus podem atacar os pulmões seguindo-se
de complicações respiratórias).
Homens e animais são usualmente infectados quando expos-
tos a um ambiente fortemente contaminado; transmissão de fun-
gos por animais infectados a outros animais (incluindo o ho-
mem) são raras.
Infecções fúngicas em mamíferos pequenos, incluindo morce-
gos, não são incomuns em certas áreas localizadas, mas estas
infecções são provavelmente indicativas de uma contaminação
ambiental mais do que uma infecção endêmica. Esta contamina-
ção pode persistir na lama ou solo em esconderijos de animais e
materiais de empacotamento.
O risco de contrair infecções fúngicas pela manipulação de
carcaças é provavelmente pequena, mas por formarem esporos,
fungos são muito resistentes à agentes químicos e físicos e al-
guns (p. ex. Coccidioides), podem persistir por muitos meses nas
peles. Riscos podem ser minimizados pelo uso de luvas, másca-
DOENÇAS CONTAGIOSAS AO HOMEM - P. Auricchio 331

ras faciais e ventilação adequada, particularmente quando se


desempacota material recém chegado do campo. Submergir os
espécimens em formalina a 2% também é recomendável.

ASPERGILOSE
Espécies envolvidas - todas as aves, mas especialmente as
aquáticas e galináceos que podem adquirir a doença de matéria
vegetal em decomposição. Mamíferos são ocasionalmente
afetados.
Sintomas em animais - variáveis; freqüentemente sintomas
de pneumonia e lesões de pele; o fungo é aparente se a carcaça
for aberta. Pode causar aborto em animais.
Fontes do agente - pouco perigo a não ser que o animal morto
seja aberto para expor o fungo na cavidade do corpo. Lesões de pele.
Rota de infecção - inalação.
Resistência - forma vegetetiva do fungo é sensivel à dessecação
mas os esporos podem sobreviver por meses. Desinfetantes nor-
mais o destróem, mas precisa-se de tempo considerável.
Sintomas no homem - Pneumonia.

HISTOPLASMOSE
Espécies envolvidas - pequenos mamíferos cavernícolas e ca-
vadores.
Sintomas em animais - lesões encapsuladas em pulmões; oca-
sionalmente generalizadas.
Fontes do agente - usualmente de poeira e etc.; sobre pele de
animais contaminados. Materiais de empacotamento.
Rota de infecção - respiratória. Pessoas coletando em caver-
nas estão especialmente suceptíveis devido a este fungo se de-
senvolver profusamente no guano de morcegos.
Resistência - esporos são muito resistentes para agentes físi-
Doenças

cos. Componentes quartenários de amônio são mais efetivos em


sua destruição
Sintomas no homem - usualmente fracos ou não aparentes;
problemas nas condições respiratórias detectadas somente por tes-
te sorológico. Ocasionalmente com febre e tosse crônica severa.
Precauções especiais - teste epidérmico “histosplasmim” de-
tectarão condições subclínicas em humanos. Raio-X de tórax
detectarão lesões nos pulmões.
332 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

VERME DE ANEL
Espécies envolvidas - ouriço europeu; roedores e uma grande
variedade de outros mamíferos incluindo morcegos. Ocasional-
mente pássaros.
Sintomas em animais - usualmente perda de pêlos ao redor
da crosta formada nas lesões; pode estar localizado em pele nua
ou na cabeça e cauda, sendo freqüentemente difícil de detectar.
Em aves, usualmente confinada a partes sem penas do corpo.
Fontes do agente - esporos em peles de animais ou material
contaminado.
Rota de infecção - invade a pele.
Resistência - pode persistir por vários meses em estado seco.
Muito resistente a agentes químicos e físicos destruído pela luz
solar.
Sintomas no homem - áreas circulares localizadas inflama-
das. Prurido. Usualmente as lesões são nas mãos ou na face.
Precauções especiais - alguns fungos podem ser detectados
por sua fluorescência sob luz ultra-violeta.

DOENÇAS POR RIQUETSIAS

Este grupo de doenças é transmitido por artrópodes, por mor-


didas ou por fezes contaminadas. O grupo inclui o importante
tifo e outras febres, entretanto, os agentes morrem muito rapi-
damente fora dos artrópodes vetores, com excessão da Febre Q.
Assim, são somente perigosos para pessoas em contato com
artrópodes infectados vivos.

FEBRE Q
Espécies envolvidas - vastamente distribuída em pequenos
mamíferos (p. ex.) roedores, “bandicoots” ( pequenos marsupiais
da família Paramelidae da Nova Guiné, Austrália e Tasmânia) e
em aves.
Sintomas em animais - normalmente sem sintomas.
Fontes do agente - transmitido por pulgas e piolhos. Abriga-
do em fezes de artrópodes.
Rota de infecção - aerossol de fezes de artrópodes. Ocasio-
nalmente em picadas de artrópodes.
DOENÇAS CONTAGIOSAS AO HOMEM - P. Auricchio 333

Resistência - muito resistente a agentes químicos e físicos,


incluindo dessecação. Sobrevive a grandes períodos em fezes
secas ou tecidos de piolhos, especialmente se congelados. So-
brevive a banhos de 0,5% formol por mais de 24 horas.
Sintomas no homem - semelhante à gripe, ataques repenti-
nos de dor de cabeça, febre, e algumas vezes pneumonia.
Precauções especiais - vacinação dá bons resultados.

DOENÇAS POR PROTOZOÁRIOS

TRIPANOSOMÍASE
Espécies envolvidas - mamíferos em geral, sobretudo marsu-
piais e roedores.
Sintomas em animais - geralmente produz infecção
assintomática tanto na fase aguda como na crônica.
Fontes do agente - sangue, víscera (como fígado e baço) e
carcaça de animais infectados. Em marsupiais podem ser en-
contrados nas glândulas de cheiro.
Rota de infecção - ferimentos perfurantes, mucosa oral e conjuntiva.
Resistência - sensível a desinfectantes comuns.
Sintomas no homem - infecção aguda assintomática. Sinto-
mas tais como febre, esplenomegalia e lesões (chagas da
inoculação). Na infecção crônica pode ser assintomática com
aparecimento de manifestações tardias relacionadas aos siste-
mas cardíaco, digestivo e nervoso.

TOXOPLASMA GOUNDII

Espécies envolvidas - aves e mamíferos. Domésticos e silves-


tres. Gato doméstico e felinos silvestres são os animais de maior
importância epidemiológica.
Sintomas em animais - a infecção é assintomática mas em
Doenças

algumas espécies, como em ovinos pode determinar abortos,


encefalites e lesões oculares.
Fontes do agente - na infecção aguda presença de taquizoítas
no sangue e outros líquidos biológicos. Na infecção crônica pre-
sença de cistos nos tecidos. Em felinos, na fase aguda, elimina-
ção de oócitos nas fezes.
Rota de infecção - durante a infecção aguda na manipula-
334 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

ção de carcaças e contato com o sangue e outros líquidos bioló-


gicos. Nas infecções crônicas, pela ingestão de cistos presentes
nos tecidos. Em felinos a possibilidade de ingestão de oócitos
aderidos nos pêlos e região peri-anal.
Resistência - taquizoítos são sensíveis a desinfetantes co-
muns. Os cistos contidos nos tecidos são sensíveis ao cozimento
acima de 60oC. Os oócitos são resistentes aos desinfetantes co-
muns.
Sintomas no homem - em geral a infecção é assintomática,
mais comum é a presença da linfadenopatia febril. A infecção
congênita é grave, ocorrendo quando a mãe adquire a infecção
durante a gravidez.

CONDIÇÕES NÃO ESPECÍFICAS

HIPERSENSIBILIDADE
Espécies envolvidas - pode ocorrer com qualquer espécie.
Sintomas em animais - nenhum.
Fontes do agente - pêlos, pele, pó de penas, matéria fecal, ve-
nenos, etc.
Rota de infecção - usualmente inalação ou contato.
Resistência - não aplicável. Fatores alérgicos estarão presen-
tes continuamente.
Sintomas no homem - urticária, alergias, febre-de-feno, asma,
olhos lacrimejantes, tosse crônica; exposição agravará as condições.
Precauções especiais - somente afeta certos indivíduos hiper-
sensíveis; sensibilidade nestas pessoas é, na maioria dos casos, al-
tamente específica. Ventilação e máscaras reduzirão a incidência.
Mantenha pessoas alérgicas longe da fonte. Atualmente trata-
mentos contra alergias são possíveis com vacinas específicas.

BIBLIOGRAFIA

IRVIN, A.D.; COOPER, J.E. & HEDGES, S.R.. 1972. Possible Health
Hazards associated with the collection and handling of
postmortem zoological material. Mammal Review, vol. 2 no. 2
London.
PROCEDIMENTOS LEGAIS - Pedro Gomez 335

13
Procedimentos
Legais
Leis
336 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados

Pedro Gomez é advogado pelas Faculdades Integradas de Guarulhos, atua na área de


Direito Imobiliário e Civil, e atualmente na área de Direito Ambiental. É advogado do Insti-
tuto Pau Brasil de História Natural e participou de diversos seminários relacionados ao
Direito Ambiental. É delegado regional do CRECI - SP e membro da junta de conciliação do
CRECI do Estado de São Paulo.

Instituto Pau Brasil de História Natural


Caixa Postal 282, CEP 07400-970
Arujá - SP – Brasil.
Tel/fax. (011) 6731-5090
www.institutopaubrasil.org.br
prohabite@uol.com.br
PROCEDIMENTOS LEGAIS - Pedro Gomez 337

Procedimentos
Legais
Pedro Gomez

O Direito Ambiental é um novo ramo do Direito e por esta


razão é ainda incipiente. Porém, felizmente o Brasil, desde 30
anos atrás, vem preparando farta legislação na área do direito
ambiental e este dinamismo acarreta uma constante mudança
da legislação. Neste contexto, o pesquisador deve estar sempre
atento a essas mudanças.

Desta forma, o objetivo deste capítulo não é esgotar os proce-


dimentos legais que regem a coleta da fauna brasileira, mas sim
alertar o pesquisador a respeito das principais leis atuais sobre
coleta e preparação de organismos, a obter a autorização para a
coleta e finalmente dar subsídios legais para o prosseguimento
de sua pesquisa.

As questões ambientais ganham, a cada dia, maior complexi-


dade e exigem avanços na elaboração e aplicação de leis. Porém,
não basta o conhecimento de que existe uma legislação ambiental
e uma vasta bibliografia sobre esta questão, em especial, no que
se refere às Unidades de Conservação. O maior problema reside
em como utilizar este material, já que ele se encontra disperso
em inúmeras publicações.
Leis
338 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
Com a intenção de facilitar o trabalho de consulta à legisla-
ção ambiental, o IBAMA publicou em 1996 a “Legislação Fede-
ral de Meio Ambiente”, publicação de três volumes organizada
por Waldir de Deus Pinto.
Esta coletânea está organizada por temas que trazem os
extratos de leis, decretos e portarias federais, além das resolu-
ções do CONAMA. O tema 4 trata especificamente da legislação
pertinente a Unidades de Conservação.
Este trabalho foi distribuído a todas as Unidades de Conser-
vação federais. Caso a sua Unidade não tenha recebido esta
publicação, contate o NURUC /NUC de sua região ou a Superin-
tendência para que o seu exemplo seja disponibilizado ou então
consulte o DEUC/DIGER.
Deve-se atentar cuidadosamente para todo o procedimento
burocrático para a obtenção da autorização para coleta, pois a
caça é crime no Brasil. Colocamos ao final deste capítulo parte
da lei 9.605/98 que caracteriza os crimes contra a fauna.
A pesquisa cientifica é incentivada nas Unidades de Conser-
vação. Ela constitui-se em atividades da maior relevância para
estas áreas protegidas por representarem uma boa amostragem
da biodiversidade nacional. Ela também contribui para aumen-
tar o conhecimento sobre as peculiaridades dos ecossistemas
protegidos, sua inter-relação com as diferentes formas de ocu-
pação do entorno, bem como dos aspectos sociais, culturais e
econômicos da região onde a UC está inserida. Embasam o ma-
nejo dos recursos e subsidiam a gestão dos ecossistemas (maio-
res informações no site http://www2.ibama.gov.br/unidades/
guiadechefe/guia/p-1corpo.htm). Entretanto, a coleta em qual-
quer área do país, dentro ou fora de Unidades de Conservação,
requer licenças especiais para cada atividade.

NORMAS PARA A COLETA DE ESPÉCIMES DA FAUNA SIL-


VESTRE, NATIVOS OU EM ROTA MIGRATÓRIA NO BRASIL

No Brasil, a coleta de qualquer espécime da fauna silvestre,


nativo ou em rota migratória, é crime nos termos do art. 29, da
Lei Federal 9.605, de 12 de Fevereiro de 1.998 (Lei de Crimes
Ambientais). Portanto deve-se solicitar licença da autoridade
PROCEDIMENTOS LEGAIS - Pedro Gomez 339

competente. Este artigo não se aplica aos atos de pesca. (ver parte
da lei supra, capitulo V - Dos Crimes contra o Meio Ambiente -
Seção I - Dos Crimes contra a Fauna ao final deste capítulo).

A autorização para coleta

a. Pesquisador brasileiro
Compete ao IBAMA através da Diretoria de Ecossistemas -
DIREC, e do Departamento de Unidades de Conservação - DEUC,
analisar os projetos e conceder a autorização para a realização
de atividades científicas em que esteja prevista a coleta de ma-
terial biológico. (Instrução Normativa Nº 109/97, de 12 de se-
tembro de 1997. http://www2.ibama.gov.br/formul/index0.htm;
e portaria IBAMA No 332, de 13 de março de 1990). http://
www.ambiente.sp.gov.br/leis_internet/legis_licenc.htm).

Para a autorização de pesquisa, a solicitação deve conter os


seguintes documentos:
I - Projeto de Pesquisa detalhado apresentando: objetivos, re-
visão bibliográfica, metodologia, resultados esperados e a dura-
ção provável da pesquisa;
II - Curriculum vitae dos pesquisadores participantes;
III - Declaração de anuência da instituição na qual o pesqui-
sador está ligado;
IV - Formulário padrão do DEUC/IBAMA, devidamente preen-
chido;
VI - Declaração da instituição depositária devidamente
registrada que receberá o material biológico a ser coletado, quan-
do for o caso;
VII - Declaração do curador responsável pelo depósito do ma-
terial biológico, quando for o caso.

Supletivamente poderão ser requeridas novas autorizações


pelos orgãos competentes. Por exemplo: no estado de São Paulo,
todos os pesquisadores, inclusive aqueles ligados a outras insti-
tuições oficiais, públicas ou privadas, que estiverem desenvol-
vendo pesquisas, ou pretenderem fazê-lo no interior das Unida-
des de Conservação sob a responsabilidade do Estado de São
Paulo, deverão preliminarmente, submeter o Projeto de Pesquisa
a Diretoria Geral dos Institutos para posteriormente preencher
Leis
340 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
o Termo de Responsabilidade, conforme o modelo anexo à reso-
lução; (Resolução SMA 25/2000 encontrada no site: http://
www.ambiente.sp.gov.br/leis_internet/outras_leis/geral/
resolucao.doc).

b. Pesquisador estrangeiro

Além das exigências relacionadas acima para o pesquisador


brasileiro, o pesquisador estrangeiro deverá ainda requerer au-
torização junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).
(Decreto Federal n. 98.830, de 15 de janeiro de 1990). http://
www2.ibama.gov.br/unidades/geralucs/legislacao/coletanea/
dec98830.htm

A coleta somente pode ser autorizada desde que haja a co-


participação e a co-responsabilidade de instituição brasileira
de elevado e reconhecido conceito técnico-científico, no campo
de pesquisa correlacionado com o trabalho a ser desenvolvido,
segundo a avaliação do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), além da anuência de diversos
outros órgãos governamentais, conforme as condições descritas
no art. 4 do referido decreto.

AQUISIÇÃO DE ESPÉCIMES DA FAUNA SILVESTRE DE


CRIADOUROS.

Este item diz respeito a espécimes taxidermizados ou proces-


sados por outra técnica apresentada neste livro, com finalidade
comercial, nos termos do Art 19 da Portaria IBAMA nº 117, de
15 de outubro de 1997, que normaliza a comercialização de
animais vivos, abatidos, partes e produtos da fauna silvestre
brasileira provenientes de criadouros com finalidade econômica
e industrial e jardins zoológicos registrados junto ao IBAMA.
A aquisição de animais abatidos, partes e produtos da fauna
silvestre brasileira poderão ser efetuadas de criadouros comer-
ciais ou pessoa jurídica registrada junto ao IBAMA. Os produ-
tos a serem comercializados ou beneficiados deverão possuir
um sistema de controle e marcação que pode ser carimbo, eti-
queta, lacre ou similar aprovado pelo IBAMA. A venda deste
PROCEDIMENTOS LEGAIS - Pedro Gomez 341

material deverá ser acompanhada de Nota Fiscal fornecida pelo


Criadouro, Indústria/Beneficiamento ou Comerciante.
A íntegra da Lei pode ser encontrada no site http://
www.ambiente.sp.gov.br/leis_internet/legis_licenc.htm

A CRIAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES PARA PESQUISA


CIENTIFICA

É permitido ao pesquisador manutenção e ou criação em ca-


tiveiro da fauna silvestre brasileira com a finalidade de subsidi-
ar pesquisas científicas em universidades, centros de pesquisas
e instituições oficiais ou oficializadas pelo Poder Público, desde
que seja obtido registro junto às Superintendências Estaduais
do IBAMA, mediante requerimento encaminhando Projeto de
Pesquisa, conforme Portaria IBAMA n° 16/94 http://
www.ambiente.sp.gov.br/leis_internet/legis_licenc.htm

A seguir, é apresentado um quadro sintético sobre as leis mais


importantes de nossa legislação ambiental, especialmente o Ca-
pítulo V da Lei 9.605/98 que caracteriza os crimes contra a fauna.
(Secretaria de Estado do Meio Ambiente –Governo do Estado de
São Paulo: http://www.ambiente.sp.gov.br/leis_internet/
legis_licenc.htm)

Lei Federal 9.605, de12 de Fevereiro de 1.998

Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas


de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências.

Capitulo V - Dos Crimes contra o Meio Ambiente


Seção I
Dos Crimes contra a Fauna

Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da


fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida
permissão, licença ou autorização da autoridade competente,
ou em desacordo com a obtida:
Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.
Leis
342 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
§ 1º. Incorre nas mesmas penas:
I - quem impede a procriação da fauna, sem licença, autori-
zação ou em desacordo com a obtida;
II - quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou
criadouro natural;
III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda,
tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas
ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória,
bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de
criadouros não autorizados ou sem a devida licença, permissão
ou autorização da autoridade competente.
§ 2º. No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não
considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando
as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
§ 3º. São espécimes da fauna silvestre todos aqueles perten-
centes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquá-
ticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de
vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou em
águas jurisdicionais brasileiras.
§ 4º. A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:
I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção,
ainda que somente no local da infração;
II - em período proibido à caça;
III - durante a noite;
IV - com abuso de licença;
V - em unidade de conservação;
VI - com emprego de métodos ou instrumentos capazes de
provocar destruição em massa.
§ 5º. A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do
exercício de caça profissional.
§ 6º. As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca.

Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e


répteis em bruto, sem a autorização da autoridade ambiental
competente:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem parecer técni-


co oficial favorável e licença expedida por autoridade compe-
tente:
PROCEDIMENTOS LEGAIS - Pedro Gomez 343

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar


animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exó-
ticos:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º. Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência do-
lorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou
científicos, quando existirem recursos alternativos.
§ 2º. A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre
morte do animal.

Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento de


materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática exis-
tentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou águas
jurisdicionais brasileiras:
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas
cumulativamente.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas:
I - Quem causa degradação em viveiros, açudes ou estações
de aqüicultura de domínio público;
II - quem explora campos naturais de invertebrados aquáti-
cos e algas, sem licença, permissão ou autorização da autorida-
de competente;
III - quem fundeia embarcações ou lança detritos de qual-
quer natureza sobre bancos de moluscos ou corais, devidamen-
te demarcados em carta náutica.

Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em


lugares interditados por órgão competente:
Pena - detenção de um a três anos, ou multa, ou ambas as
penas cumulativamente.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem:
I - pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes
com tamanhos inferiores aos permitidos;
II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante
a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não
permitidos;
III - transporta, comercializa, beneficia ou industrializa es-
pécimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibida.
Leis
344 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
Art. 35. Pescar mediante a utilização de:
I - explosivos ou substâncias que, em contato com a água,
produzam efeito semelhante.
II - substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autori-
dade competente.
Pena - reclusão de um ano a cinco anos.

Art. 36. Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo ato
tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou cap-
turar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos, moluscos e
vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento
econômico, ressalvadas as espécies ameaçados de extinção, cons-
tantes nas listas oficiais de fauna e da flora.

Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado:


I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou
de sua família;
II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação pre-
datória ou destruidora de animais, desde que legal e expressa-
mente autorizado pela autoridade competente;
III - (VETADO)
IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado
pelo órgão competente.

QUADRO SINTESE SOBRE LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

FAUNA
1. Código de Fauna
Lei Federal n°5.197/67- já alterada pelas Leis nº 7.584/87,
7.653/88 e 9.111/95 (Código de Proteção à Fauna).

2. Lista de Espécies Ameaçadas


Portaria IBAMA n° 1.522/89 - Dispõe sobre a Lista Oficial de
Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.

Decreto Estadual n° 42.838/98 - Declara as espécies da fauna


silvestre ameaçadas de extinção e as provavelmente ameaçadas
de extinção no Estado de São Paulo.
PROCEDIMENTOS LEGAIS - Pedro Gomez 345

3. Criação e Comercialização de Animais Silvestres

Lei Federal nº 7.173/83 - Dispõe sobre o estabelecimento e


funcionamento de jardins zoológicos.

Portaria IBAMA n° 283-P/89 - Regulamenta Registros de Jar-


dins Zoológicos.

Portaria IBAMA no 332/90 - Dispõe sobre licenciamento para


coleta de material zoológico, destinado a fins específicos ou
didáticos.

Portaria IBAMA n° 5/91 - Estabelece critérios para o


acasalamento de espécies ameaçadas da fauna brasileira.

Portaria IBAMA n° 139/93 - Dispõe sobre criadouros


conservacionistas.

Portaria IBAMA n° 16/94 - Dispõe sobre a criação de animais


silvestres para subsidiar a pesquisa científica.

Portaria IBAMA n° 29/94 - Normaliza a importação e a expor-


tação da fauna exótica e silvestre.

Portaria IBAMA n° 57/96 - Dispõe sobre passeriformes canoros


da fauna brasileira.

Portaria IBAMA n° 117/97 - Normaliza a comercialização de


animais vivos, abatidos, partes e produtos da fauna silvestre
brasileira provenientes de criadouros com finalidade econômica
e industrial e jardins zoológicos registrados junto ao IBAMA.

Portaria IBAMA n° 118/97 - Normaliza o funcionamento de


criadouros de animais da fauna silvestre brasileira com fins
econômicos e industriais.

Instrução Normativa IBAMA 1/89 - estabelece requisitos re-


comendáveis para a ocupação de alojamentos em Jardins Zoo-
lógicos.
Leis
346 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
4. Pesca

Decreto-Lei n° 221/67, já alterado pelas Leis Federais no 6.276/


75; n° 6.585/78; n° 6.631/79; n° 7.643/87; n° 7.679/88; n° 9.059/95;
e Decretos-Lei n° 1.217/72; n° 1.641/78; n° 2.057/83 e n° 2.467/88 -
Dispõe sobre a proteção e estímulos à pesca (Código de Pesca).

Decreto-Lei nº 7.679/88, já alterado pela Lei Federal no 9.605/


98 - Dispõe sobre a proibição da pesca de espécies em períodos
de reprodução.

Medida Provisória 10/98 - Dispõe sobre a proibição da pesca


de espécies em períodos de reprodução.

Portaria SUDEPE n° 466/72 - Proíbe o uso de determinados


aparelhos na pesca interior e a pesca praticada a menos de 200
metros à jusante e montante das barragens, cachoeiras,
corredeiras e escadas de peixe.

Portaria SUDEPE n° 87/73 - Proíbe a pesca da albacora-de-


laje, Thunus albacores, em águas territoriais brasileiras.

Portaria SUDEPE n° N-7/77 - Proíbe a pesca em toda a exten-


são da orla marítima próxima à Base de Pesquisa do Instituto
Oceanográfico da Universidade de São Paulo.
Portaria SUDEPE n° N-8/79 - Interdita a pesca ao redor da
Ilha das Cabras.
Portaria SUDEPE n° N-15/83 - Permite a pesca de camarão
com o uso de tarrafas que possuam malha mínima de 25 mm.

Portaria SUDEPE n° N-4/87 - Proíbe a pesca profissional e amadora


à distância de 300 metros ao redor da Ilha do Bom Abrigo.

Portaria IBAMA n° 1347/89 - Limita a captura de sardinha


verdadeira, Sardinella brasiliensis.

Portaria IBAMA n° 1583/89 - Estabelece normas para a pesca


amadora, competições de pesca e inscrição de clubes ou associ-
ações de armadores de pesca.

Portaria IBAMA n° 110-N/92 - Dispõe sobre o Registro Geral


da Pesca.
PROCEDIMENTOS LEGAIS - Pedro Gomez 347

Portaria IBAMA n° 133-N/92 - Dispõe sobre o petrecho “caceio


de praia”.

Portaria IBAMA n° 95-N/93 - Estabelece normas para o registro


de Aqüicultor.

Portaria IBAMA n° 106-N/93 - Proíbe a captura do carangue-


jo-uçá, Ucides cordatus.

Portaria IBAMA n° 44-N/94 - Dispõe sobre equipamentos uti-


lizados na pesca.

Portaria IBAMA n° 93-N/94 - Dispõe sobre as portarias


normativas de restrição à pesca para o defeso da piracema.

Portaria IBAMA n° 137-N/94 - Dispõe sobre a proibição do


exercício da pesca da lagosta vermelha, Panulirus argus e la-
gosta cabo verde P. laevicauda.

Portaria IBAMA n° 56-N/95 - Proíbe a captura do espadarte,


Xiphias gladius no litoral brasileiro.

Portaria IBAMA n° 16/94 - Dispõe sobre a criação de animais


silvestres para subsidiar a pesquisa científica.

QUADRO-SÍNTESE DA LEGISLAÇÃO REFERENTE A UNIDA-


DES DE CONSERVAÇÃO

Constituição Federal 05.10.88 - Trata da proteção ao Meio


ambiente no Artigo 225, Capitulo VI do Meio Ambiente.

Lei n.º 4.771 15.09.65 - Institui o Novo Código Florestal

Lei n.º 5.197 03.10.67 - Dispõe sobre a proteção à fauna e dá


outras providencias

Lei n.º 7.347 24.07.85 - Disciplina a ação civil pública de


responsabilidade por danos causados ao Meio Ambiente, ao con-
sumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, e dá outras
providências.
Leis
348 Técnicas de Coleta e Preparação de Vertebrados
Decreto n.º 98.830 15.01.90 - Dispõe sobre a coleta, por es-
trangeiros, de dados e materiais científicos no Brasil e dá outras
providencias.

Decreto n.º 99.556 01.10.90 - Dispõe sobre a proteção das


cavidades naturais subterrâneas existentes no Território Nacio-
nal, e dá outras providências.

Resolução CONAMA n.º 11 de 03.12.87 - Categorias de Uni-


dades de Conservação

Resolução CONAMA n.º 11 de 14.12.88 - Proteção à Unidades


de conservação.

Resolução CONAMA n.º 13 de 06.12.90 - Proteção dos


Ecossistemas do Entorno das Unidades de Conservação

Portaria n.º 887 15.06.90 - Dispõe sobre a proteção de cavi-


dades Naturais subterrâneas.

Portaria n.º 91-N 02.09.94 - Regulamenta a Pesquisa Cientifica


em Unidades de Conservação CNUC.

Decreto nº 2.519 de 16. 03. 1998. - Promulga a Convenção


sobre Diversidade Biológica, assinada no Rio de Janeiro, em 05
de junho de 1992.

Medida Provisória no 2.052/2000 - substituida pela MP no 2.126-


11 26. 04. 2001.

Medida Provisória no 2.126-11 26. 04. 2001 - Regulamenta o


Inciso II do artigo 225 da Constituição, os artigos 1o., 8o. alinea
‘j’, 10, alinea ‘c’, 15 e 16, alíneas 3 e 4 da Convenção sobre
Diversidade Biológica.

Fonte: site do Ibama


http://www2.ibama.gov.br/htdig/index0.htm

Sites de legislação:
http://www.ambiente.sp.gov.br/leis_internet/leis_principal.htm
http://www.cetesb.sp.gov.br/Legislacao/gerais.htm
http://wwwt.senado.gov.br/legbras/
http://www2.ibama.gov.br/unidades/guiadech

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